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MENSAGEIRO DO CORAÇÃO DE JESUS MARÇO | 2015 MULHERES: TER VOZ E LUGAR NA IGREJA IDEAL DE UM VERDADEIRO CARTUXO pág. 10 A MEDICINA AO SERVIÇO DA PESSOA pág. 4

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MENSAGEIRODO CORAÇÃO DE JESUS

MARÇO | 2015

MULHERES: TER VOZ E LUGAR NA IGREJA

IDEAL DE UM VERDADEIRO CARTUXO pág. 10

A MEDICINA AO SERVIÇO DA PESSOA

pág. 4

Março 2015 Ano CXL n.º 3

DirectorAntónio Valério, s.j.

AdministraçãoRua S. Barnabé, 324710-309 BRAGA (Portugal)

Telefones:Geral: 253 689 440Revistas: 253 689 442Fax: 253 689 441E-mail: [email protected]: www.revistamensageiro.pt www.apostoladodaoracao.pt

Direcção de arte e produção gráficaFrancisca Cardoso

PaginaçãoEditorial A. O.

Impressão e acabamentosEmpresa Diário do Minho, Lda. Rua de Santa Margarida, 4 4710-306 BRAGA Contr. nº 504 443 135

Redacção, Edição e PropriedadeSecretariado Nacional do Apostolado da Oração Província Portuguesa da Companhia de Jesus (Pessoa Colectiva Religiosa – N. I. F. 500 825 343)

Depósito Legal 11.762/86ISSN 0874-4955Isento de Registo na ERC, ao abrigo do Decre to Regulamentar 8/99 de 9/6, artigo 12º, nº 1 aTiragem: 9.000 exemplares

ASSINATURA PARA 2015

Portugal(incluindo as Regiões Autónomas): 14,00€

Portugal (2 anos): 27,00€Europa: 20,00€ 25,00 Fr. SuíçosFora da Europa: 26,00€ 40,00 USD 40,00 CAD

Para pagar a sua assinatura por transferência bancária: De Portugal: NIB – 0033 0000 0000 5717 13255 (Millennium.BCP – Braga);Do Estrangeiro: IBAN – PT50 – 0033 0000 0000 5717 13255 Swift/Bic: BCOMPTPL (Millennium.BCP – Braga).

Agradecemos o envio do comprovativo da transferência bancária (data, valor, titular da conta e número de assinante).

MENSAGEIRODO CORAÇÃO DE JESUS

Promoção válida até 31 de Maio:(com portes de correio incluídos)Portugal: 18,00€;

* Estrangeiro: 20,00€

Pedidos E-mail: [email protected]; telefone: 253 689 443 Secretariado Nacional do A.O. Rua S. Barnabé, 32 – 4710-309 Braga

(O envio só é feito mediante pagamento por cheque, vale postal ou transferência bancária, à ordem de Secretariado Nacional do Apostolado da Oração)

PACK 3 LIVROS POR 18 EUROS*

CAMINHO DE LIBERTAÇÃO (3ª EDIÇÃO)

COMPREENDER, CELEBRAR E VIVER A RECONCILIAÇÃO E O PERDÃO

A ALEGRIA DA CONVERSÃO

Todos são FILHOS E FILHAS

Na intenção para a Evangelização, o Papa Francisco propõe, neste mês de Março, que rezemos «para que se reconheça cada vez mais o contributo específico da mulher na vida da Igreja». Contributo específico. É exactamente aqui que se coloca a questão: porquê específico e não o mesmo contributo que os homens? Esta e outras questões são tratadas no Dossier deste número da Revista Mensageiro do Coração de Jesus, que as aborda de um modo, esperamos, bastante claro e que ajudará a esclarecer vários pontos rela-cionados com isto.

Nesta questão, como noutras, a feliz proclamação da igualdade entre todos corre também o risco de extremar posições. A igualdade não pode anular a riqueza da diferença. E o tema do contributo especí-fico da mulher, tal como o contributo específico do homem na vida da Igreja, ajuda-nos a reflectir em duas questões:

O critério fundamental das funções na Igreja não é o poder, mas o serviço. Tudo está orientado para servir o reino de Deus, em particular nos mais pobres. O poder de servir não está reservado ao ministério sacerdotal, mas a cada cristão, que o deseja pôr em prática nas próprias circunstâncias.

Como afirma S. Paulo, não há judeu nem grego, escravo ou livre, homem ou mulher, pois todos somos filhos e filhas amados pelo Pai em Jesus Cristo. Transmitir a experiência deste amor é um desafio enorme, pois exige um coração capaz. E nisso, uma coisa parece bastante óbvia: no âmbito do amar com a vida, as mulheres têm um dom parti-cular. E esse dom não pode ficar apenas no âmbito afectivo e sentimental, terá de levar a uma prática eclesial, iniciada nas instâncias de decisão pastoral. A Igreja precisa das mulheres, e muito.

P. António Valério, s.j.SUMÁRIOABERTURA - Todos são filhos e filhas P. António Valério, s.j ................................................................. 1

INTENÇÕES DO PAPA António Coelho, s.j. .....................................................................2

DESTAQUE - «É um privilégio descobrir algo que tenha impacto na saúde dos outros»Rui Henrique, médico e investigador do IPO-Porto ................4

TIRAR A BÍBLIA DA ESTANTE -A Bíblia: como ler esta história? Miguel Gonçalves Ferreira, s.j.................................................... 7

INformar - Quaresma: tempo de descanso, silêncio e encontro Paulo Duarte, s.j. .........................................................................8

ANO DA VIDA CONSAGRADAIdeal de um verdadeiro CartuxoAnónimo de Porta Coeli .............................................................10

OPINIÃOTodas as manhãs - Isabel Figueiredo .....................................12

DOSSIER - Mulheres: ter voz e lugar na IgrejaStella Morra / Elias Couto .........................................................13

VIVER O AO - Um ritmo diário de oraçãoAntónio Valério, s.j. ...................................................................22

REUNIÃO DE GRUPO - Esquema de reunião de grupo Manuel Morujão, s.j. .................................................................23

1ª SEXTA-FEIRA - As mulheres na vida da Igreja Dário Pedroso, s.j. ......................................................................24

NOTÍCIAS Elisabete Carvalho .....................................................................26

À CONVERSA COM...Paula Moura Pinheiro ............................32

FOTOS págs. 5 e 6: © IPO-Porto; págs. 10 e 11: © Ricardo Perna/Família Cristã; pág. 27 : © Lusa/EPA/Dennis M. Sabangan; pág. 28 : © Lusa/EPA/Alessandra Tarantino/Pool; pág. 29 : © Lusa/EPA/Ettore Ferrari; pág. 31 : © Fundação AIS; Arquivo AO.

ABERTURA

4 | Mensageiro

POR ANTÓNIO COELHO, S.J.

A investigação científica ocupa, nos nossos dias, um papel muito importante e, dada esta investiga-ção, têm-se feito progressos inimagináveis há rela-tivamente poucos anos atrás.

Esta investigação é boa em si, mas possui também uma grande e importante ambiguidade que é necessário ter sempre em conta. Com efeito, muitas vezes, sobre o optimismo generalizado do saber científico estende-se a sombra do pensa-mento. O homem do nosso tempo é rico em meios, mas não em fins, vivendo, não raras vezes, condi-cionado por um relativismo que o leva a não perce-ber o significado das coisas. Deslumbrado pela eficácia técnica, esquece o horizonte fundamental da pergunta do sentido que vai descobrindo, que conduz a um empobrecimento ético, senão mesmo antiético, esquecendo as referências normativas dos valores.

A ciência não é um fim, mas um meio que deve ter como horizonte a pessoa humana. Quando isto não acontece, a ciência fica empobrecida. Por outras palavras, sempre que a ciência esquece ou inclusi-vamente vai contra a pessoa humana, não pode ser verdadeiramente ciência.

Todos os homens, em especial os cristãos, são chamados a dar testemunho de que ciência e fé,

fé e religião podem e devem conviver pacifica-mente e ajudar-se mutuamente. E isto acontecerá quando e só quando tiverem como horizonte a pessoa humana, ao serviço da qual devem estar. E neste sentido, os cientistas experimentam, hoje em dia, grandes desafios que ultrapassam o mero campo da investigação.

Todos somos chamados a ser instrumentos de paz e reconciliação também no campo da ciência, ajudando a curar as feridas abertas no passado na comunidade científica e na comunidade eclesial. É certamente este um ponto importante na evange-lização, hoje em dia.

INTENÇÃO UNIVERSAL PARA QUE TODOS AQUELES QUE SE

DEDICAM À INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA

SE PONHAM AO SERVIÇO DO BEM

INTEGRAL DA PESSOA HUMANA.

A CIÊNCIA AO SERVIÇO DA PESSOA

INTENÇÕES DO PAPA

Março 2015 | 5

INTENÇÃO PELA EVANGELIZAÇÃO PARA QUE SE RECONHEÇA CADA VEZ

MAIS O CONTRIBUTO ESPECÍFICO DA

MULHER NA VIDA DA IGREJA.

A MULHER NA IGREJA

Como é sublinhado na Exortação Apostólica Evangelii gaudium, a Igreja reconhece a contribuição indispensável da mulher na sociedade em geral e na Igreja em particular, por meio da sensibilidade e outras qualidades femininas que não encontra-mos nos homens. Esta sensibilidade encontra-se, por exemplo, na maior atenção aos demais e em muitos outros níveis. Isto demonstra a importância da mulher, que tem que ser tida em conta, não só pela sociedade, mas também pela Igreja.

Se recorremos à Escritura, damo-nos também conta desta importância. Segundo referem os Evangelhos, Cristo era acompanhado por um grupo de mulhe-res que proviam às suas necessidades e dos apósto-los. Foram também elas as primeiras testemunhas da ressurreição, podendo afirmar-se que, nalgum sentido, foram elas as apóstolas dos apóstolos.

S. Paulo também se rodeou de mulheres para orga-nizar as primeiras comunidades cristãs, como acon-teceu com Lídia e Priscila. Delas também pôde dizer: «Lutaram comigo pelo Evangelho».

Nos últimos tempos, têm-se dado passos impor-tantes na contribuição da mulher na vida da Igreja. Contudo, o Papa reconhece, na já citada Exortação Apostólica, que «é necessário alargar os espaços para uma presença feminina mais incisiva na Igreja».

As reivindicações dos legítimos direitos das mulhe-res, a partir da firme convicção de que homem e mulher têm a mesma dignidade, colocam à Igreja perguntas muito sérias, que não podem ser ignora-das. Esta igualdade de direitos provém do baptismo, no qual todo o baptizado recebe o dom de sacerdote, profeta e rei, o dom da filiação divina, sem qualquer distinção de homem ou mulher.

Rezemos neste mês para que a contribuição da mulher na vida das comunidades seja cada vez maior, em ordem a uma eficiência mais concreta daquilo que Cristo pede à Igreja, seu Corpo Místico, em que todos os membros são importantes e necessários.

6 | Mensageiro

DESTAQUE

«Poder investigar na área da Oncologia e descobrir algo que venha a ser útil e que tenha um impacto sobre a saúde dos outros isso é um privilégio». Quem o diz é o médico Rui Henrique, do Instituto Português de Oncologia – Porto, que nesta entrevista ao Mensageiro fala do pano-rama da investigação científica em Portugal, das motiva-ções inerentes ao seu trabalho de investigador e da evolu-ção do cancro na sociedade.

Que diagnóstico faz do estado da investigação cien-tífica em Portugal?

A investigação científica está numa fase de grande vigor, em termos da qualidade e do número das pessoas que a fazem, sobretudo quando comparada com aquilo que era a investigação científica há 20 ou 25 anos atrás.

Como tenho tempo de vida suficiente e estou envolvido em projectos científicos desde há mais ou menos esse período, tenho a noção de que real-mente passamos de uma fase em que existia um número relativamente pequeno de pessoas a reali-zar investigação e em que o contacto com o exte-rior e com os grandes centros de investigação era algo relativamente raro, ou pelo menos infrequente, para uma fase de enorme expansão, que fez com que hoje muitos dos investigadores portugueses sejam reconhecidos internacionalmente pelo seu mérito. Muitos deles estão a trabalhar em institui-ções estrangeiras, outros fizeram uma parte muito importante da sua formação em grandes centros reconhecidos internacionalmente e voltaram ao país para aqui desenvolverem os seus grupos e fazerem já uma nova geração de investigadores, baseados na sua experiência e nos conhecimentos adquiridos num centro de excelência.

É um privilégio descobrir algo que tenha impacto na saúde dos outros

Rui Henrique, médico e investigador do IPO-Porto

Nasceu no Porto em 1968.Licenciou-se em Medicina pelo Instituto de Ciências

Biomédicas Abel Salazar - Universidade do Porto (ICBAS-UP) em 1992, realizando posteriormente o internato médico de Anatomia Patológica no Instituto Português de Oncologia do Porto, que concluiu em 2001.

Obteve o grau de Doutor em Ciências Médicas pelo ICBAS-UP em 2006 e o título académico de agregado em Patologia e Genética Molecular em 2011.

Desenvolve actividade profissional como Especialista no Serviço de Anatomia Patológica do Instituto Português de Oncologia do Porto, do qual é director desde 2006, actividade científica como investigador sénior do Grupo de Epigenética e Biologia do Cancro do Centro de Investigação do mesmo Instituto, e acti-vidade docente como Professor Catedrático Convidado do ICBAS-UP.

A sua actividade de investigação científica está centrada na descoberta de biomarcadores epigenéticos em neoplasias urológicas e na compreensão do papel das alterações epigenéticas na carcinogénese prostá-tica, vesical e renal.

Rui Manuel Ferreira Henrique

Março 2015 | 7

O que o levou a querer trabalhar e investigar na área da Oncologia?

A investigação nesta área vem da minha actividade profissional. Sou médico especialista em Anatomia Patológica, cuja função profissional de base é reali-zar diagnóstico anátomo-patológico. E essa é uma área crítica, ou básica, na área da Oncologia, porque, em regra, na Oncologia o tratamento de um paciente requer um diagnóstico que esteja comprovado anátomo-patologicamente. Como elemento deste Instituto, tenho outras actividades e outros deveres, nomeadamente nas áreas da formação, ensino e investigação. Mas o meu trabalho base é o trabalho assistencial. Como sempre tive a vontade de querer desenvolver investigação – uma vez que toda a minha formação foi feita no Instituto de Oncologia e permaneci aqui no final dessa formação, como elemento do Serviço – então obviamente aquilo que seria lógico era desenvolver a minha actividade nesse âmbito.

A Oncologia é uma área privilegiada em termos de investigação?

Poder investigar na área da Oncologia e descobrir algo que venha a ser útil e que tenha um impacto sobre a saúde dos outros, isso é um privilégio. Nem toda a gente tem ao longo da sua vida certamente o privilégio de, através de algo que faz, e faz com gosto, conseguir tocar dessa forma a vida dos outros, muitos dos quais não conhece.

Todos nós, ao longo da vida, temos muitas formas de chegar à relação com os outros, de os ajudar, mas nós sentimo-nos particularmente realizados quando o fazemos, porque estamos com o pensamento colo-cado naqueles que hoje em dia têm cancro, mas mais ainda naqueles que um dia podem vir a ter.

Quem investiga tem a noção dos efeitos práticos do seu trabalho, neste caso na vida dos pacientes oncológicos?

Depende do tipo de investigação que se faz. De uma forma genérica, podemos distinguir no nosso trabalho três grandes áreas de investigação: inves-tigação básica, investigação clínica e uma área que está entre estas duas, uma área intermédia, a inves-tigação de translação.

Quem trabalha na investigação básica trabalha muito com modelos que não estão directamente relacionados com os pacientes. Trabalha com modelos animais ou com modelos in vitro de linhas celulares ou ainda com bactérias ou leveduras, por exemplo. Quem trabalha na investigação clínica tem

obviamente, e de forma imediata, o paciente como o alvo primordial da sua investigação, porque se centra exactamente à volta do seu tratamento ou da sua avaliação. O paciente é, desde logo, o alvo da sua atenção. Quem trabalha na área da investigação de translação tem a visão deste dois mundos; utiliza os conhecimentos que são realizados pelos colegas que trabalham na área básica e tenta transferi-los para a área clínica, tentando torná-los úteis aos pacientes.

A área em que trabalho é neste interface da investi-gação de translação.

Estas três áreas são necessárias e complementa-res. Não podem ser vistas nem como competidoras, nem como elementos completamente desconecta-dos entre si. E a melhor forma de o fazer é exacta-mente tentando, em projectos científicos, incorporar conhecimentos das várias áreas.

Havendo tantos avanços ao nível da investigação científica, porque é que há cada vez mais pessoas que são vítimas de cancro?

Há relativamente pouco tempo saiu um artigo numa revista científica de grande renome que tentava dar resposta a essa questão.

Uma das primeiras razões para que o cancro conti-nue a ser uma doença cada vez mais relevante em termos do número de pessoas que dela sofre, tem a ver, por um lado, com o envelhecimento da população, pois todas aquelas doenças que seriam capazes de nos matar numa idade mais jovem estão a ser eficazmente combatidas, seja pela prevenção, como a vacinação, seja pelo tratamento, como por exemplo os antibióticos.

8 | Mensageiro

A partir do momento em que a nossa esperança de vida se centra nos 60, 70, 80 anos, como hoje em dia acontece em Portugal, então o cancro passa a ser um problema muito relevante, prioritário, diria eu, em termos de saúde pública.

O que esse artigo científico tenta demonstrar é que cerca de um terço dos cancros terão na base do seu desenvolvimento sobretudo factores externos, ou seja, a nossa exposição a factores de risco, e que em dois terços dos casos a causa é intrínseca à nossa biologia. Porquê? Porque de cada vez que uma das nossas células se divide, incorpora sempre um pequeno erro. Isto faz compreender que, à medida que as nossas células, que são as responsáveis pela manutenção dos nossos tecidos, se vão replicando para manter a nossa estrutura, vão acumulando progressivamente alterações e erros que, ao fim, de um determinado número, e se atingirem áreas sensíveis, acabam por conduzir à transformação dessa célula e ao seu desenvolvimento num tumor.

Qual é a consequência prática de tudo isto? É que, sobretudo para aqueles tumores que derivam da exposição a agentes ambientais, a prevenção é um factor extremamente importante.

Mas simultaneamente há um conjunto muito alargado de tumores que vão continuar a existir por muito que nós façamos prevenção. A única forma de os tentar debelar passa por detectá-los precocemente. A detecção precoce é de facto muito importante, porque a nossa capacidade de terapêu-tica será melhor, a probabilidade de cura também maior e o sofrimento do paciente é muito menor. E também os custos que derivam desse tratamento, sejam os custos humanos sejam os custos mate-riais, são também inferiores.

E o cancro nas crianças?Os tumores pediátricos são relativamente raros. Na

criança, muito provavelmente, uma parte substan-cial dos tumores malignos tem como base alterações genéticas que são herdadas. Igualmente, o cancro pediátrico desenvolve-se especialmente em tecidos que nas crianças têm um crescimento extremamente elevado nesta fase da vida. Por exemplo, na criança são muito comuns os tumores do sistema hemato--linfóide, como as leucemias. Isso tem muito a ver com o facto de o desenvolvimento que nós temos nesse sistema ocorrer sobretudo nos primeiros anos de vida.

Os investigadores vêem o bem integral da pessoa humana como o objectivo do seu trabalho?

Das pessoas com quem eu contacto, dos colegas que eu conheço e que trabalham nesta área e já agora, de uma forma que para mim é transversal à nacionali-dade, às crenças religiosas e aos ideais políticos, para quem trabalha nesta área do saber, o nosso objectivo último é o benefício da pessoa humana.

Nenhum de nós trabalha nesta área com a pers-pectiva única de se satisfazer a si próprio naquilo que são os seus ideais de investigação ou de reali-zação pessoal. Todos nós certamente trabalhamos com a visão de que aquilo que nós fazemos pode vir a ser útil para alguém, para alguém que tem cancro hoje ou que um dia irá padecer desta doença.

Entrevista por:Cláudia Pereira e Elisabete Carvalho

Março 2015 | 9

A Bíblia: como ler esta história?

Miguel Gonçalves Ferreira, s.j.

Para uma leitura proveitosa da Bíblia é necessá-rio estar consciente dos géneros literários, através dos quais se expressa «em linguagem humana aquilo que Deus quis dizer para nossa Salvação» (Constituição Dei Verbum, Concílio Vaticano II). Para além disso, quando um cristão lê a Bíblia não pode deixar de estabelecer pontes entre o que lê e a pessoa de Jesus. É Jesus Cristo que dá, aos que n’Ele crêem, o seu Espírito. A Igreja ensina que o mesmo Espírito Santo que ontem inspirou a escrita, inspira hoje a leitura. Por isso, a leitura da Sagrada Escritura é um exercício espiritual.

Como podemos buscar, no que está escrito, uma inspiração espiritual que traga sentido novo – e rele-vante – à vida quotidiana? Esta pergunta foi posta pelos cristãos desde os primeiros séculos, e levou a que, a partir da Idade Média, com autores como Hugo de S. Vitor e Nicolau de Lyra, se passasse a falar em quatro sentidos que podem emergir na leitura da Bíblia:

1. literal (o que diz o texto?); 2. alegórico (que diferença faz para a minha fé em Jesus Cristo?); 3. moral (como motiva a minha caridade e responsa-bilidade?); 4. anagógico (como inspira e anima a minha esperança?).

Estes sentidos tornaram-se de tal forma relevan-tes na compreensão do texto bíblico que um autor medieval chega a dizer que sobre eles, «como se fossem rodas, se move toda a sacra pagina» (Guiberto de Nogent, Moralia in Genesim. Patrologia

Latina 156, 25). Tudo então nos leva a concluir que para progredir na leitura pessoal da Escritura é necessário um método. A esse método a tradição da Igreja chama Lectio Divina. É este o modo como, ao longo dos séculos, se foi exercitando – sobretudo em contexto monástico – a leitura contínua da Sagrada Escritura. (São relevantes os nomes de Orígenes, Santo Ambrósio, Santo Agostinho, S. Bento e toda a tradição beneditina, chegando até à obra de Guigo II, Scala Claustralium). Na sua versão mais antiga (A Escada dos Monges, de Guigo II), este método é composto por quatro passos, que posteriormente são completados por outros três:

1. Lectio: leitura atenta da Palavra de Deus; 2. Meditatio: meditação à procura do sentido da Palavra; 3. Oratio: oração de resposta à Palavra escutada; 4. Contemplatio: contemplação (visão) da Palavra incarnada na história humana; 5. Discretio: discernimento (procura) da vontade de Deus à luz da Palavra; 6. Collatio: confronto do meu entendimento da Palavra com o de outros; 7. Actio ou Operatio: a acção como efeito ou fruto da Palavra.

Podemos então concluir que, para ler a Bíblia, é necessário compreender o ambiente em que as Escrituras surgiram, alcançar o sentido da sua mensagem e buscar o tempo e o modo da sua actua-lização. Estas são as «escadas» e as «rodas» que nos ajudarão a «subir» na compreensão, «andando para a frente» e sentindo que estamos a tirar proveito.

TIRAR A BÍBLIA DA ESTANTE

10 | Mensageiro

Paulo Duarte, s.j.

Quaresma: tempo de

DESCANSO, SILÊNCIO E ENCONTRO

Sou daqueles que se emociona com histórias humanas. Umas com finais felizes, outras nem tanto. Contudo, todas, se são bem escutadas, têm o efeito de abrir à conversão. A vida não é coisa pouca, não pode ser. Daí que de vez em quando é neces-sário viver o tempo que nos permita parar e fazer o balanço da história pessoal, para também perce-ber onde nos perdemos ou podemos estar a perder de nós mesmos. A rapidez dos tempos actuais faz com que tudo passe a tal velocidade que facilmente as coisas podem resumir-se ao «trabalho – casa» ou «laudes – vésperas», deixando os dias diluírem-se na monotonia. Não dá para viver sempre o extraordiná-rio, mas de vez em quando os seus impulsos ajudam a dar sentido ao quotidiano. Parece-me que tempos que saem do comum, como a Quaresma, são ideais para parar ou descansar, permitindo o silêncio que leva ao encontro. Como proposta, detenho-me nestes três pontos: descanso, silêncio e encontro.

O descanso que permite o silêncioMorando numa cidade grande, é fácil ver o ritmo frenético com que se vive. Mesmo que o próximo metro venha apenas dois minutos depois daquele que está na estação, são muitas as pessoas a correr até ele como se já não houvesse mais nenhum a passar o resto do mês. A vida, depois, passa também muito rapidamente e quando nos obriga a parar apercebemo-nos de que, ao longo dos dias, fomos perdendo o essencial. Então, porque não começar por aproveitar verdadeiramente o descanso? Este tempo pode ser aquele que nos faz respirar e também «amar a nós mesmos», como nos recorda o mandamento. O descanso é uma necessidade. Desde o famoso descanso ao sétimo dia, passando pelo texto de Qohelet que recorda o «há tempo para tudo», junto com a passagem em que Jesus convida os discípulos a descansar (Mc 6, 31), podemos tomar consciência da importância destes momentos. Há muitas pessoas que têm cada vez menos tempo para si. Podemos dizer que é o ritmo da vida, mas do pequeno ao maior cansaço, ele vai entrando. Pouco a pouco, passa do nível físico ao emocional, depois ao social e, claro, ao espiritual. E é aí que pode entrar o extraordinário e a criatividade, impedindo o cansaço de se apoderar da nossa vida. Às vezes basta ir ao básico e começar por olhar a semana que entra, programando as coisas de forma a eliminar o que impede de ter esse tempo que ajuda a tomar consciência que somos humanos e não máquinas produtivas de algo. E depois de eliminar, perceber o que há a fazer para tornar esse descanso momento de silêncio.

O silêncio habitado da existênciaO silêncio é muitas vezes relacionado como ausên-cia de som. No entanto, pode ser de movimento ou de acções. Conseguir fazer silêncio, algo por vezes difícil mas que se aprende, faz com que se possa digerir ou tomar consciência do que somos chama-dos a fazer ou viver perante os acontecimentos da vida. Há silêncios vazios e há os que são habi-tados de densidade de existência, que não neces-sitam justificar que se é alguém a partir do fazer coisas, muitas coisas. O silêncio habitado, ora da história pessoal visitada sem culpabilizações, sem vergonha, sem medos, ora de compreensão para viver humanamente essa existência, ajuda a ir ao essencial. Percebe-se que diante de Deus não há

Março 2015 | 11

necessidade de provar que se é bom aluno ou bom professor, boa mãe ou bom pai, boa mulher ou bom marido, bom padre ou boa religiosa, mas de viver a riqueza da aprendizagem e a beleza das relações, permitindo o crescimento humano. Nesse silêncio, depois de agradecer a vida, em atitude de cresci-mento, pode-se ver onde houve erros nas palavras, nos actos ou nas omissões, onde houve a falha que levou à desumanização do entorno.

O encontro que humanizaNós somos chamados a humanizar, a ser co-cria-dores com e em Deus. O descanso e o silêncio bem vividos recordam-nos a vocação do encontro, por também sermos em relação. O encontro estabele-cido com muitas ramificações, mais ou menos fortes e simbólicas, com maior ou menor sentido, entre pessoas, pensamentos, linguagens, culturas, modos de ver e sentir, convida-nos a viver, ou pelo menos perceber, outras perspectivas da realidade, saindo, assim, do perigo de absolutizar o meu querer e inte-resse. O encontro inevitavelmente leva à conversão, abrindo as portas de novos mundos. Ao vivermos a plenitude de nós, nos limites e nas capacidades, em especial nas relações, nesse reconhecimento de co-criação, renovamos o olhar para a vontade divina, fazendo caminho de pacificação entre nós próprios e entre aqueles que nos acompanham.

No final? A RessurreiçãoSou daqueles que se emocionam com histórias humanas, em filmes ou conversas. Bem escutadas, levam a parar e fazer silêncio, nesse encontro que convida à conversão, impedindo o diluirmo-nos na monotonia ou fecharmo-nos no nosso pequeno mundo. A Quaresma bem vivida apresenta uma nova oportunidade de fazer caminho onde, entre o «trabalho – casa» ou «laudes – vésperas», há tanto de Deus a acontecer, deixando-nos encontrar e ser amados por Ele. Nesse impulso, o quotidiano ganhará arejo, dando-nos mais alento e disponibili-dade para mais amar e servir quem nos é confiado. Aí, tocaremos Ressurreição.

INformar

12 | Mensageiro

IDEAL DE UM VERDADEIRO CARTUXO

O VERDADEIRO CARTUXO É UM HOMEM QUE, DESILUDIDO DA VAIDADE DO MUNDO E DOS SEUS ENCANTOS, SE CONSAGROU PARA SEMPRE À PENITÊNCIA EM PROFUNDA SOLIDÃO

Texto: Anónimo de Porta CoeliFotografia: Ricardo Perna/Família Cristã

ANO DA VIDA CONSAGRADA

Março 2015 | 13

O verdadeiro cartuxo é um homem que, desilu-dido da vaidade do mundo e dos seus encantos, se consagrou para sempre à penitência em profunda solidão, e se sepultou como em um sepulcro, para morrer a si mesmo e às suas paixões. Separado fisicamente do resto do mundo, muito mais o está com o espírito e o coração, convencido de que a um solitário é sempre perigosa a sua recordação, para quem são mais comuns as vivas impressões. Procura apagar inteiramente de sua memória o mundo, e proíbe à sua imaginação toda a liberdade de passear por ele. Descuidado de quanto acontece, medita continuamente os anos eternos, que devem seguir os poucos dias de vida que lhe sobram; e sempre atento ao término da sua carreira, só pensa em acabá-la felizmente.

Compenetrado da presença real de Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento do altar, assiste à celebra-ção dos Sagrados Mistérios com uma fé viva e terna, por ter consciência de que nunca saberá purificar-se o bastante, seja para oferecê-los, seja para partici-par deles. Procura limpar sua consciência com uma confissão humilde, perfeita e sincera. Não contente em orar com fervor pelas necessidades de toda a Igreja, estende a sua caridade a todas as criaturas racionais, para que Deus as conduza ao seu conhe-cimento, as santifique segundo a ordem da sua Providência e na medida das graças a elas designa-das. Somente trabalha para humilhar o seu corpo, e não para satisfazer os seus desejos. Também não busca ocasião de manter algum trato exterior por meio de presentes.

Zeloso unicamente da pureza da alma, pela qual pode agradar a Deus, não finge uma pureza dema-siado indiscreta e escrupulosa sem, contudo, descui-dar a decência exterior, enquanto o permite a simpli-cidade do seu estado. Só se alimenta por necessidade e nunca por mera satisfação; sempre está contente com o alimento que lhe dão, nunca se queixando se não gosta, nem fazendo dele murmurações.

Como renunciou a todos os conhecimentos profa-nos, que só servem para enfeitar o entendimento sem ordenar o coração, não estuda para ser mais sábio, mas unicamente para instruir-se mais profun-damente em sua religião e dispor-se a cumprir com mais piedade as obrigações do seu estado. Só se aplica ao estudo da ciência dos Santos, que retira das Sagradas Escrituras e dos livros ascéticos. Todas as suas leituras se orientam à sua própria instrução, por isso não lê senão o que trata das obrigações do

seu estado, deixando de lado livros eruditos que não é capaz de compreender. Não busca mais utilidade no que estuda do que conhecer a verdade, e apren-der a segui-la em tudo.

Unido inviolavelmente à antiga fé da Igreja, nem a um anjo ouviria se lhe anunciasse doutrinas desconhecidas.

Convencido de que o silêncio e a oração são as ocupações de um solitário que não está destinado a ensinar, limita todo o seu zelo em oferecer a Deus fervorosos votos pela tranquilidade da Igreja e pela conversão dos que a perturbam. Alegre com o seu estado de vida escondida, não cria nenhum pretexto para sair dele. Livre de toda a pretensão de ofícios, ambiciona unicamente as virtudes do seu estado e a vantagem de ser o mais humilde, sem procurar pare-cê-lo. Limita todas as suas aspirações neste mundo a quatro paredes enquanto vive, e a alguns pés sob a terra depois que morre. Numa palavra, livre de todo o temor e de toda a esperança humana, faz um santo uso do presente e vive sem projectos para o que virá; eleva-se sobre tudo o que é terreno e sensí-vel e, feliz com a esperança do que será na glória da eternidade, só por ela suspira, cuidando de prepa-rar-se, pela continuação dos santos exercícios, nos quais persevera até ao último suspiro. E, entregando a sua alma nos braços de Jesus e de Maria, morre a morte dos justos.

14 | Mensageiro

TODAS AS MANHÃSIsabel Figueiredo

NAQUELE GABINETE, COM UMA ÚNICA

FLOR POR COMPANHIA, VIA CAMPOS

COBERTOS DE JACINTOS, SONHAVA

COM DIAS DE MAR E DEIXAVA ENTRAR,

POR ALI ADENTRO, AQUELE AZUL DO

CÉU QUE TORNA EVIDENTE A PRESENÇA

DE DEUS NO MUNDO.

Todas as manhãs descia a rua cheia de lojas e os seus passos não se ouviam nas pedras da calçada. Só parava uma vez. No vão de uma velha escada, em frente de uma montra de flores. Verdes, rosas, vermelhas, amarelas, brancas… E parava, quieta a olhar. Deslumbrada, dava os bons dias. E lá do fundo do vão da escada, aparecia a dona daquele jardim. Era quase um ritual. Uma vez por semana, esco-lhiam uma única flor e despediam-se com o sorriso de quem partilha cumplicidades.

Abria a porta do seu gabinete de trabalho, uma pequena cela carmelita, como gostava de lhe chamar, e na sua secretária, entre o teclado do computador, os livros e os papéis, colocava com delicadeza a sua flor.

Naquele gabinete, com uma única flor por compa-nhia, não via as paredes e a solidão perdia a sua força. Naquele gabinete, com uma única flor por companhia, via campos cobertos de jacintos, sonhava com dias de mar e deixava entrar, por ali adentro, aquele azul do céu que torna evidente a presença de Deus no mundo.

Porque a beleza torna a vida mais suave, traz consigo a capacidade de nos tornar melhores, mais felizes. Torna possível ver o mundo com outros olhos.

E agora, que a Primavera começa a respirar, a beleza está aí, com toda a sua força, à nossa volta, ao alcance de um olhar, de uma respiração, de uma pausa.

As planícies caladas e o verde intenso; as praias batidas pelo vento  e  as suaves de areia quente. O murmúrio dos rios que correm e a dureza das pedras nas serras. Os castelos que se erguem nos montes e as pequenas casas caiadas em aldeias vazias.

As amendoeiras em flor, as videiras alinhadas, as searas que sobrevivem ao tempo.

As cidades onde ainda se ouvem os sinos, o bulício nos mercados, o pão amassado e quente, as praças cheias de gente, o som das guitarras no anoitecer das ruelas; as igrejas que guardam tesouros, as flores que tombam em muros de jardins, pequenos e grandes, cuidados e abandonados… A poesia que teima em não se esconder na intimidade de cada um. E sempre, sempre a imensidão do mar. Portugal.

Precisamos de estar conscientes do que se passa no mundo; precisamos de estar atentos, de conhecer o medo, a maldade, a pobreza e a tristeza. Precisamos de falar claro, de denunciar o que está errado, o que estraga o mundo. É verdade.

Mas o renascer de cada Primavera traz sempre consigo uma promessa de beleza e de abundância. Uma promessa que nos fala da eternidade.

OPINIÃO

Março 2015 | 15

MULHERES:ter voz e lugar na Igreja

MENSAGEIRO | DOSSIER 3

Stella Morra / Elias Couto

16 | Mensageiro

NÃO SÓ DE SUFRAGISTAS: UMA HISTÓRIA DE EMANCIPAÇÃO?Stella Morra

O tema das mulheres é um tema bastante longo na história europeia contemporânea: desde os inícios do século XIX em diante, as mulheres reflec-tiram acerca de si mesmas e lutaram por aquilo que achavam justo, para si e para os outros.

E podemos individuar algumas fases nesta história; uma primeira fase é a da Emancipação, a luta pelos direitos, para serem consideradas sujeitos para todos os efeitos: desde a luta das sufragistas pelo direito de voto ao feminismo dos inícios dos anos 60 do século XX. Uma segunda fase, mais complexa, é a conhecida como «questão da diferença»: sujei-tos de igual dignidade, quer dizer sujeitos iguais? Sensatamente, não, mas a questão é «em que é que consiste a diferença»? Fazer as mesmas coisas, aceder aos mesmos trabalhos, ter os mesmos direi-tos torna-nos necessariamente «mulheres masculi-nas»? Uma terceira fase, a dos dias de hoje, anda à volta da difícil e complexa questão do género: com esta palavra tenta-se definir a diferença que não é identificável apenas como uma diferença de natu-reza (nascemos homens e mulheres), nem unica-mente de cultura e educação (tornamo-nos homens e mulheres), nem muito menos reduzível à nossa

O facto era que, mesmo estando convencido que ao menos metade das coisas da vida fossem mistérios da vontade divina, Frantziscu Pisu sabia bem que a outra metade eram frutos da estupidez dos homens.

Michela Murgia, Accabadora, Einaudi, Turin 2009, p. 94

Março 2015 | 17

decisão biográfica (somos este homem ou esta mulher, específico e irrepetível).

Como talvez saibamos, esta última passagem é usada muitas vezes de modo muito ideológico, e a própria palavra «género» é usada de muitos modos e muitas vezes demonizada: na realidade, na grande pluralidade dos usos que hoje se fazem dela, aquilo que se quer indicar é que compreender--se a si mesmos como homens e mulheres é uma questão complexa, que tem juntamente elemen-tos de natureza e cultura, que recebemos e não dependem de nós e, junto a isso, uma elaboração de liberdade pessoal, na qual cada um interpreta o seu próprio modo de ser. Indica, além disso, que o problema não é (mais) apenas das mulheres: todos têm um género e são chamados a ser conscien-tes da própria parcialidade, do próprio ser não a humanidade no seu conjunto, mas uma parte dela, chamada a interagir com os outros, respeitando a dignidade comum.

Permanece o facto de, a nível estrutural ou das coisas (direitos civis, instrução, saúde, direito de família, tutela do trabalho…), a igualdade ainda não ser uma realidade: basta recordar que o assim

chamado gender pay gap (isto é, a diferença de salário no desempenho de funções iguais) é, na média euro-peia, ainda de 16% desfavorável às mulheres.

E mais grave ainda é, ao menos na nossa opinião, a questão simbólica e relacional: a nível educativo e do imaginário, há muito trabalho a fazer para que as mulheres tenham pleno respeito por si mesmas e os homens saibam que são apenas uma parte do mundo… As estatísticas relativas à violência sobre as mulheres falam por si mesmas. Espero que não aconteça mais aquilo que me aconteceu há pouco tempo, com a minha sobrinha de quatro anos, que saía da escola em lágrimas porque as suas compa-nheiras não quiseram brincar com ela, porque, segundo elas, tinha «sandálias de homem» (sic!... isto é, sem lacinhos, florzinhas e borboletas…): levou-me tempo, muitas palavras e um gelado para explicar à pequena Sofia que, especialmente aos quatro anos, existem sandálias bonitas, feias, cómodas, incómo-das, de que gosto ou de que não gosto, mas… não «de homem» ou «de mulher». Ocupamo-nos muito pouco da cada vez mais precoce sexualização este-reotipada que uma lógica de consumo nos impõe…

18 | Mensageiro

MULHERES E IGREJA: UM AMORCONTROVERSOStella Morra

As mulheres têm desde sempre uma relação intensa e complexa com a experiência cristã: desde o tempo de Jesus, a boa notícia libertou-as e reconheceu-as como sujeitos e interlocutores (João mostra-as, por exemplo, como imagens da fé do discípulo quase mais eficazes que os apóstolos, sempre fora de tempo e de lugar…), mas contem-poraneamente nem sempre no curso da história as Igrejas souberam reconhecer isto, libertando-se dos lugares comuns das culturas onde viviam.

É muito difícil, por isso, resumir em poucas linhas o quanto é controversa e complexa esta relação: hoje, por exemplo, muitas coisas nas nossas paró-quias não funcionariam se as mulheres não estives-sem lá, mas, ao mesmo tempo, muitas mulheres e muito das suas vidas é silenciosamente estranho à vida das Igrejas… O risco é que nos lembremos delas apenas quando se fala de Nossa Senhora ou quando se lamenta o tempo em que o abc da fé era ensinado em casa, pelas mães e pelas avós, por mulheres que não tinham um trabalho profissional e «cuidavam» da família…

Março 2015 | 19

A verdadeira questão, pelo menos hoje, é que as mulheres e a sua vida possam ter uma voz e um lugar na Igreja, não tanto por aquilo que fazem ou podem fazer, mas sobretudo por aquilo que são e pelo que sentem e compreendem acerca de si próprias e do seu percurso. De facto, o risco é que a Igreja, hoje, seja pensada apenas por homens e do modo como os homens a pensam, desde a escolha dos horários à escolha dos temas, só para apresentar alguns exem-plos concretos…

Quais são as questões que atravessam verdadeira-mente a cabeça e o coração das mulheres? E do que sentem falta para se sentirem verdadeiramente parte activa da comunidade cristã? Duvido que estejamos verdadeiramente em condições de o dizer.

Mas, em parte, como quisemos indicar com o breve poema de Emily Dickinson, a questão está também sobre os ombros das mulheres, que não têm, no âmbito da fé, o sentido da profunda dignidade de si mesmas e das próprias perguntas e exigências, e confundem os objectos banhados com a prata! Mulheres que se põem ainda demasiadas vezes num canto, pensando que aquilo que são não é suficiente,

DULCE COUTO

que não sabem, que não sabem explicar, que não têm tempo… e às vezes vão-se embora silenciosamente, quando a distância se faz muito grande.

A Igreja tem necessidade de mulheres e as mulhe-res têm necessidade da Igreja, tal como os homens, os jovens, os idosos, as crianças… Mas é necessário que saibamos reencontrar a delicadeza, o tempo e o modo de nos ouvirmos, acima de tudo.

E, a propósito disto: Maria, a Mãe de Jesus, era uma mulher, certamente; mas quando se fala dela, como nos ensina o Concílio Vaticano II, fala-se do ícone do discípulo e da Igreja, não do ícone das mulheres… Fala-se Nela da humanidade que diz o seu sim a Deus na liberdade, que é questão de homens e mulheres; tem-se Nela uma advogada e um modelo para os homens e para as mulheres… Não vos parece?

Stella MorraSocióloga e teóloga, docente na Pontifícia Universidade Gregoriana e no Pontifício Ateneu Sant’Anselmo (Roma).

Cai tão em baixo – na minha consideração

Que o ouvi bater na terra – e

Despedaçar-se nas pedras

No fundo da minha mente

Mas reprovei a sorte que o abateu – menos

De quanto denunciei a mim mesma,

Por ter objectos banhados

Sobre a mesa das pratas

Emily Dickinson

20 | Mensageiro

PERGUNTAS&RESPOSTAS Elias CoutoA IGREJA CATÓLICA NÃO CONFERE O SACRAMENTO DA ORDEM ÀS MULHERES. PORQUÊ?

Como recorda o Papa Francisco, na Exortação Apostólica Evangelii gaudium, «O sacerdócio reser-vado aos homens, como sinal de Cristo-Esposo que Se entrega na Eucaristia, é uma questão que não se põe em discussão» (n. 104). Este «não se põe em discussão» não é uma simples opinião, como outras que o Papa Francisco ou outro Papa qualquer pode emitir sobre os mais variados assuntos. Resulta de uma Tradição bimilenar, que o Papa João Paulo II resumiu na Carta Apostólica Ordinatio sacerdotalis, na qual afirma: «para que seja excluída qualquer dúvida em assunto da máxima importância, que pertence à própria constituição divina da Igreja, em virtude do meu ministério de confirmar os irmãos (cfr. Lc 22, 32), declaro que a Igreja não tem absolu-tamente a faculdade de conferir a ordenação sacer-dotal às mulheres, e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja» (n. 3). E a Congregação para a Doutrina da Fé, a uma pergunta dirigida à mesma Congregação sobre se esta doutrina pertence ao «depósito da Fé», respondeu de modo afirmativo, salientando que esta doutrina não muda e deve ser acolhida assim pelos católicos (28 de Outubro de 1995). Ou seja, não se trata de a Igreja, na pessoa do Papa, não «querer» conferir a ordenação sacerdotal às mulheres; pelo contrário, a Igreja, partindo do exemplo de Jesus, «não pode» fazer de modo diferente.

É VERDADE QUE, NO INÍCIO DA IGREJA, AS MULHERES EXERCE-RAM MINISTÉRIOS ORDENADOS?

Alguns estudiosos defendem esta perspectiva. Mas não é fácil encontrar textos que o comprovem. Alguns recorrem aos Actos dos Apóstolos ou às Cartas de S. Paulo. No entanto, essa teoria não encon-tra um fundamento claro na Bíblia e a interpretação mais sustentável nos estudos é que, de facto, não há notícia de mulheres ordenadas. Pelo contrário, o Papa

Paulo VI, em carta ao Primaz da Igreja Anglicana, lembrava que a Igreja Católica «defende que não é admissível ordenar mulheres para o sacerdócio, por razões verdadeiramente fundamentais. Estas razões compreendem: o exemplo – registado na Sagrada Escritura – de Cristo, que escolheu os seus Apóstolos só de entre os homens; a prática constante da Igreja, que imitou Cristo ao escolher só homens; e o seu magistério vivo, o qual coerentemente estabeleceu que a exclusão das mulheres do sacerdócio» corres-ponde àquilo que a Igreja entende ser o desejo de Deus a seu respeito (Carta de 1975).

AS MULHERES PODEM EXERCER FUNÇÕES«DE PODER» NA IGREJA?

Na Igreja, por mandato de Cristo, o «poder» deve ser entendido como serviço: «o primeiro entre vós seja aquele que serve» (Mt 20, 27). Isto aplica-se a todos. Sendo, no entanto, uma sociedade humana, há serviços na Igreja que implicam tomar decisões e exercer alguma espécie de poder. Nos casos em que o desempenho de um determinado serviço na Igreja não implique necessariamente o ministério sacer-dotal, tais serviços podem e devem ser desempe-nhados por quem tenha mais competência, carisma e disponibilidade. E o âmbito destas situações deve ser alargado, pois há muitos casos em que o minis-tério sacerdotal está indevidamente associado ao desempenho de certas funções na Igreja, desde a Cúria Romana até às paróquias, passando pelas Cúrias diocesanas e pelos mais diversos serviços na Igreja. A propósito, afirma o Papa Francisco: «é preciso ampliar os espaços para uma presença femi-nina mais incisiva na Igreja. Porque “o génio femi-nino é necessário em todas as expressões da vida social; por isso, deve ser garantida a presença das mulheres também no âmbito do trabalho” e nos vários lugares onde se tomam as decisões impor-tantes, tanto na Igreja como nas estruturas sociais» (Evangelii gaudium, n.103). Porque não havemos de ter mulheres a presidir a confrarias, centros paroquiais, departamentos diocesanos... e mesmo em nuncia-turas apostólicas ou em congregações romanas?

Março 2015 | 21

A IGREJA DEFENDE A SUBMISSÃO DAS MULHERES AOS HOMENS?

No Evangelho, nada indica que Jesus pensasse na relação homem-mulher como uma relação de submis-são desta àquele – pois o importante, para Jesus, era instituir novas relações entre as pessoas, à imagem da sua relação com o Pai do Céu. Esta mudança no modo de viver as relações entre as pessoas é uma conver-são pedida a todas as culturas onde o Evangelho é anunciado. Acontece que as culturas são realidades muito profundas e de evangelização difícil. Assim se compreende que, por exemplo, seja possível encon-trar nas Cartas de S. Paulo passagens claramente devedoras da sua cultura judaica – «mulheres, sede submissas aos vossos maridos» (Col 3, 18, cf. 1 Cor 14, 34) – e outras verdadeiramente evangelizadas – «Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem e mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus». Ambas as passagens são Palavra de Deus, mas devemos fazer a sua interpretação, pois a Palavra de Deus não deixa de ser também palavra de homens, que escreveram, como diz o Concílio Vaticano II, de acordo com o modo e a cultura comuns no seu tempo (cf. Dei Verbum, n. 12). O modo como a Igreja olhou e olha a relação homem-mulher não é, portanto, estático, mas acompanha as mudanças culturais e, não raro, contribui para elas, através da força transformadora do Evangelho. Hoje, a Igreja não promove um modelo de submissão na relação entre homem e mulher, mas um modo de viver, segundo o Evangelho, que afirma a igual dignidade, vivida no reconhecimento das dife-renças e no respeito mútuo.

O CASAMENTO É PARA SUPORTAR, MESMO EM CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA?

Há uma confusão entre indissolubilidade do casa-mento válido e separação dos esposos. A indissolubili-dade é uma característica do sacramento do matrimó-nio que não pode ser posta em causa. Outra coisa é a esposa que sofre violência doméstica ser obrigada a manter a convivência conjugal em nome da indissolu-bilidade do casamento. Manter a convivência conjugal numa situação dessas é alimentar o mal e permitir a violência. Em vez disso, a esposa deve utilizar os meios legais para se defender, de preferência não pondo em causa o matrimónio, mas recorrendo à separação, se esta for necessária para evitar a violência exercida sobre ela, não pactuando, deste modo, com o pecado do agressor.

22 | Mensageiro

Nasci no seio de uma família católica, no hemisfério sul, onde as noites são quentes e os dias cheios de sol. Este pormenor para mim é importante porque, na minha infância, ir à missa nunca foi algo aborrecido. Não me recordo da duração das eucaristias, mas recordo a alegria das celebrações e ainda “oiço” o som das violas e, sobretudo, o som dos batuques. Na minha juventude, já em Portugal, fiz um largo percurso num movimento

católico de jovens, que me marcou profundamente. Muito daquilo que hoje sou devo a esse mesmo percurso. Quando chegou a altura de ir para a universidade, não entrei em gestão por

algumas décimas e, sem saber muito bem como, acabei a estudar teologia. O início não foi particularmente fácil, pois ninguém percebia porque é que uma rapariga iria tirar uma licenciatura naquela área, ainda por cima trabalhando já num estúdio regional de uma rádio nacional. Mas porque nada acontece por acaso, nunca me arrependi das escolhas que fiz, nem mesmo quando optei pela leccio-nação de EMRC (Educação Moral e Religiosa Católica). Nunca me tinha passado pela ideia ser professora, muito menos de uma disciplina que era e, nalguns casos, ainda é vista como menor e mal amada. Se ser professora é algo normal para uma mulher, ser professora de EMRC, na altura, não era propriamente algo normal para uma mulher. No entanto, nunca me senti discriminada, quer nas escolas por onde passei, quer pela Igreja que me confiou essa missão. Aliás, nunca senti que o meu lugar e missão na Igreja fosse questionado pelo facto de ser mulher. Evidentemente, existe todo um peso cultural e civilizacional que tem de ser compreendido, mas se encararmos a vida como dom e missão, os pequenos obstá-culos apenas servem para nos incentivar a sermos mais e melhores. Resido em Braga e trabalho numa diocese com séculos de história, mas sempre

senti que o que estava em causa era o meu testemunho de vida e o que contava era a qualidade do meu trabalho e não o facto de ser mulher. Existiram dificuldades? Algumas. Puseram em causa as minhas convicções? Nunca! Actualmente, além de professora e de todo um trabalho paroquial intenso, sou

directora de um departamento diocesano que durante décadas teve à frente sacer-dotes. Mas não vejo isso como uma promoção pelo facto de ser mulher, antes pelo trabalho desenvolvido e que mereceu a confiança do meu bispo. Nunca considerei que a igualdade significasse que todos fizéssemos as mesmas

coisas, acho até essa ideia muito redutora. Também em Igreja não acho que todos podemos ser tudo. Acho que todos temos o direito, e sobretudo o dever, de ocupar o nosso lugar e de desenvolver a missão que somos chamados a viver com empenho, determinação e, sobretudo, com a alegria de sermos cristãos!

A participação da mulher na vida da Igreja e da sociedade, através

dos seus dons, constitui, ao mesmo tempo, a estrada necessária para

a sua realização pessoal – na qual justamente tanto se insiste – e o

contributo original da mulher para o enriquecimento da comunhão

eclesial e para o dinamismo apostólico do Povo de Deus.

(João Paulo II, Vocação e Missão dos Leigos na Igreja e no Mundo, n. 51)

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Março 2015 | 23

REVISTA MENSAGEIRO JÁ DISPONÍVEL ON-LINE

A revista Mensageiro já pode ser consultada na internet. Para além de consultar, é possível ainda descarregar a revista e fazer um arquivo das diferentes edições.

O acesso à versão on-line é gratuito até ao dia 31 de Março. Mas quem fizer a assinatura digital para 2015 até ao fim deste mês beneficiará de uma assinatura digital gratuita para 2016.

Os assinantes da revista em papel têm acesso gratuito à versão digital. Apenas têm de efectuar, a

www.revistamensageiro.pt

partir de 1 de Abril, um registo no site. No número de Abril impresso estará disponível toda a informação necessária para este efeito.

Cada assinante terá um link e um código de acesso para cada mês. O link e o código de acesso são alterados todos os meses e constam sempre na revista em papel.

Fazendo o login como assinante da versão em papel, tem ainda a vantagem de aceder aos números anteriores da revista.

24 | Mensageiro

Um ritmo diário de oraçãoAntónio Valério, s.j.

O percurso espiritual do Apostolado da Oração quer conduzir aquele que o faz a criar e desenvolver uma espiritualidade quotidiana muito próxima da vida. Esta espiritualidade leva a uma atitude de dispo-nibilidade interior a realizar a vontade de Deus no dia-a-dia. É a disponibilidade própria dos Apóstolos, tocados pelo amor de Jesus e desejosos de O seguir sempre e em cada momento, com simplicidade e radicalidade. Nada está fora, na nossa vida, da força e da alegria do Evangelho que Deus quer que se concretize na nossa vida.

Para isso, são propostos três momentos de oração, simples e breves, em três momentos diferentes, ao longo do dia, que ajudam a pôr em prática esta atitude de disponibilidade apostólica.

Pela manhã, começar o dia com um olhar agrade-cido sobre o dom da vida e sobre o mundo, pedindo a Deus a graça de estar disponível para fazer aquilo que Deus for pedindo ao longo da jornada e ofere-cendo o dia, com tudo o que vier a acontecer, unido às intenções do Santo Padre para esse mês.

Durante o dia, cada pessoa é convidada a fazer um momento de paragem, mais ou menos longo,

em que renova, diante de Deus, o seu compromisso de disponibilidade assumido pela manhã, para não deixar “adormecer” a paixão do seguimento, mas recuperar continuamente a presença de Deus em cada momento e diante das situações que vai encarando.

E, por fim, ao terminar o dia, fazer um exame de consciência numa lógica de avaliar a disponibili-dade que se teve ao longo do dia para fazer aquilo que Deus foi pedindo, ou, pelo contrário, avaliando os obstáculos que foram colocados à realização da vontade de Deus. Num momento de sinceridade, agradecer o ter sido apóstolo, ou pedir perdão por não ter sido diligente em cumprir a vontade de Deus, fazendo um propósito concreto para melhorar alguma coisa no dia seguinte.

Não se pode ser apóstolo na vida diária sem um contacto frequente com a origem da própria missão, que é a Pessoa de Jesus. Estes três momentos de oração criam um ritmo que ajuda a facilitar o encon-tro com o Senhor, a experimentar a sua misericórdia e a acertar, nas coisas grandes e nas coisas peque-nas, com os desafios que nos são pedidos em cada dia. Procuremos exercitar-nos, cada dia, no encon-tro com Jesus, que muda a nossa vida.

VIVER O AO

Março 2015 | 25

Esquema de reunião de grupoManuel Morujão, s.j.

«Reunir» é um verbo que temos de conjugar muitas vezes, na família, no trabalho, na convivência social. Como cristãos, a nossa principal reunião é a participa-ção na Eucaristia, convocados por Cristo que Se nos oferece como pão que sacia a nossa fome mais profunda. Sabemos que nem todos os encontros e reuniões nos despertam interesse e, por vezes, temos a sensação de perder tempo… Mas, em qualquer caso, importa aprovei-tar essas ocasiões para encontrar Deus no meio de um grupo de irmãos e irmãs que têm garantida a presença do Senhor: «Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estarei no meio deles». É esta presença, miste-riosa mas real, de Cristo que nos deve animar a aprovei-tarmos da melhor maneira uma reunião.

Oração inicial – Oração do Oferecimento(com a fórmula tradicional ou com outra)

1.ª Parte Intenções do Papa para o mês de Março

O responsável, ou outra pessoa do grupo, poderá fazer uma apresentação de uma ou das duas inten-ções do Papa Francisco. A intenção universal fala dos que se dedicam à investigação científica: «Que todos aqueles que se dedicam à investigação cientí-fica se ponham ao serviço do bem integral da pessoa humana». O serviço da pessoa humana, e não os interesses económicos ou ideológicos, deve ser a meta de todas as actividades, também da investiga-ção científica. A intenção pela evangelização recor-da-nos o papel das mulheres na vida da Igreja: «Que

se reconheça cada vez mais o contributo específico da mulher na vida da Igreja». Cristo, em tempos em que as mulheres eram claramente secundarizadas e mesmo menosprezadas, deu-nos corajoso exemplo de acolher e valorizar mesmo as mulheres que eram mal vistas e marginalizadas. É fácil de ver que a Igreja conta muito com a colaboração das mulhe-res: as nossas paróquias e movimentos reduziriam substancialmente a sua capacidade de fazer o bem se deixassem de contar com o contributo das mulhe-res. Importa examinar como esta participação pode e deve ser reforçada e valorizada.

2.ª ParteOs grupos do AO são grupos de oração e de acção

Dar algum tempo para partilhar o que os membros do AO poderão fazer na linha das propostas que o Papa Francisco nos dirige, talvez respondendo às seguintes perguntas:

- Como é valorizada nesta paróquia e no nosso movimento a participação das mulheres na vida da Igreja?

- Que se poderá fazer para melhorar esta participação?

3.ª ParteAssuntos práticos do grupo do AO

Terminar com uma leitura da Palavra de Deus (por exemplo, o Evangelho do domingo seguinte à reunião) e com uma oração ou um cântico.

REUNIÃO DE GRUPO

26 | Mensageiro

As mulheres navida da Igreja

Dário Pedroso, s.j.

O Papa propõe-nos que rezemos este mês para que se reconheça cada vez mais o contributo específico da mulher na vida da Igreja. Vamos rezar com uma Celebração da Palavra.

1 – Meditar a PalavraO Evangelho coloca diante de nós muitas atitudes de Jesus em que Ele

respeita, ama, acolhe, perdoa a muitas mulheres: Como tratou Ele a viúva de Naim que ia sepultar o seu único filho? Como

tratou a Samaritana pecadora, que tinha um amante, mas que Ele conver-teu, levando-a a mudar de vida, dando-lhe a água viva? Como Se compade-ceu de Marta e Maria, que choravam a morte do seu irmão, Lázaro, chorando com elas? Como elogiou e colocou como modelo a pobre que no Templo deu tudo quanto tinha e ficou sem nada? Repassar em oração silenciosa cada uma destas cenas. Recolhamo-nos em silêncio orante.

2 – Cântico de oferta e de oblação

3 – As mulheres que serviram Jesus Na vida pública de Jesus aparecem várias mulheres que O serviam, cuidavam

d’Ele, partilhavam os seus bens e a sua amizade. Na sua caminhada para o Calvário, algumas mulheres boas e amigas, compadecidas, fazem-Lhe compa-nhia, choram e querem aliviar o seu sofrimento. Junto à Cruz, com Maria, a Mãe, a grande Mulher, estão outras que assistem à morte e ajudam na sepul-tura. Depois de Ressuscitado, aparece a Madalena e a outras mulheres, digni-ficando o seu encontro e dando paz e alegria. Rezar cada uma destas cenas em silêncio orante.

4 – Cântico de louvor a Jesus, ao jeito da homenagem de Maria, que deu o perfume de nardo puro.

1ª SEXTA-FEIRA

Março 2015 | 27

5 – As mulheres na IgrejaDesde os Actos dos Apóstolos até hoje nunca faltaram, na vida da Igreja, mulhe-

res heróicas, generosas, dedicadas, serviçais, humildes que se puseram ao serviço da Igreja e do mundo. O que seria a Igreja sem elas, sem a sua dedicação, o seu trabalho, o seu dom, a sua ajuda? E que dizer da maravilhosa história das mulhe-res santas e místicas, tantas delas canonizadas, verdadeiros tesouros e catedrais na vida da Igreja e no amor ao mundo, aos pobres e necessitados? Rezar esta história e parar com serenidade nalguns exemplos maravilhosos. Fazer silêncio.

6 – Rezar com MariaCom Nossa Senhora, rezar pela Igreja, Esposa e Mãe, e por todas as mulheres,

solteiras, casadas ou viúvas, que entregam o seu tempo e a sua vida à família, à Igreja, aos doentes, aos mais pobres. Digamos três Ave Marias…

7 – Contributo específico das mulheresAs qualidades, a sensibilidade feminina, o modo de pensar, de olhar o mundo, os

problemas e suas soluções encontram na inteligência, no coração, na sabedoria e na doação das mulheres um contributo precioso. Muitas são verdadeiras catedrais em generosidade e em sabedoria, como foram Teresa de Ávila ou Catarina de Sena. A Igreja, em todos os seus sectores, mesmo ao nível das Congregações Romanas, das estruturas das dioceses, etc., tem que se abrir à sua contribuição preciosa. É este o desejo do Papa e a sua intenção pela evangelização deste mês de Março. Em silên-cio, rezemos por esta grande intenção, para que se concretize mais.

8 – Dar graçasTerminemos dando graças por todas as mulheres que, de muitos modos, já

contribuem para a vida e o serviço da Igreja: mulheres filósofas, teólogas, artistas, sociólogas, psicólogas, educadoras, médicas, enfermeiras, consagradas pelos votos, mães de família, mulheres simples no serviço paroquial, missionário, etc., etc. Profunda oração de acção de graças, trazendo à memória tantas e tantas benfeitoras da Igreja. Terminemos com um cântico de acção de graças pelo dom precioso das mulheres na Igreja.

28 | Mensageiro

AO É NOTÍCIA

200 pessoas no encontro diocesano em ViseuNo dia 17 de Janeiro, no Centro Pastoral Diocesano

de Viseu, teve lugar mais um Encontro diocesano do Apostolado da Oração, com a presença activa e entusiasmada de perto de 200 pessoas, vindas de cerca de 30 paróquias.

Os temas foram tratados pelo P. Dário Pedroso, s.j. e versaram sobre o “Caminho do Coração”. O encon-tro, organizado pela direcção diocesana, constou de

Paróquias da Lourinhã aprofundam espiritualidade do AO

No domingo, dia 18 de Janeiro, teve lugar, na Lourinhã, Patriarcado de Lisboa, um encontro do Apostolado da Oração, que contou com a participa-ção de cerca de cem pessoas, vindas de oito paró-quias da Vigararia. A iniciativa foi organizada pela direcção local da Lourinhã.

Foi com alegre surpresa que se viu o salão quase cheio e um tão grande número de participantes, o que aconteceu graças ao trabalho e esforço dos sacerdo-tes da zona e da direcção local da Lourinhã.

O tema – A espiritualidade e vida do Apostolado da Oração – foi desenvolvido pelo P. Dário Pedroso, s.j. a colaborar com a Direcção Diocesana de Lisboa até à nomeação do novo Director Diocesano.

Ficou marcado novo encontro para 17 de Maio, tendo-se todos comprometido a convidar mais pessoas, sobretudo da zona de Peniche e de Torres Vedras, desejando que haja participação de mais paróquias.

Um grande obrigado aos respectivos párocos, à direc-ção local da Lourinhã e a todos aqueles que nas diver-sas paróquias procuraram entusiasmar a participação no Encontro.

duas palestras, um tempo longo de Adoração ao Santíssimo e a celebração da Eucaristia.

Com a manifestação positiva e entusiasta de todos os presentes, marcou-se o próximo encontro para dia 16 de Janeiro de 2016, um sábado. Todos se comprometeram a rezar ao Senhor pedindo a nomeação de um novo Director Diocesano.

NOTÍCIAS

Março 2015 | 29

IGREJA É NOTÍCIAReconciliação e solidariedade na bagagem do Papa para o Sri Lanka e Filipinas

Em menos de seis meses, o Papa deslocou-se duas vezes à Ásia. Em Agosto de 2014, Francisco foi à Coreia do Sul pedir paz e reconciliação. Em Janeiro deste ano, viajou para o Sri Lanka e Filipinas. Ao Sri Lanka levou uma mensagem de reconciliação. O país viveu durante mais de 30 anos uma guerra civil que opôs a maioria cingalesa à minoria tamil. Nas Filipinas, alertou para a necessidade de comba-ter as desigualdades sociais e manifestou a sua soli-dariedade para com os habitantes daquele território tão fortemente atingido por catástrofes naturais. Os apelos ao diálogo inter-religioso foram uma cons-tante nos encontros ecuménicos que manteve com

líderes religiosos dos dois países.No Sri Lanka, onde decorreram os primeiros três

dias de viagem, o Sumo Pontífice assumiu uma atitude inédita a favor da paz e da reconciliação: dirigiu-se ao santuário de Nossa Senhora do Rosário, em Madhu, um lugar simbólico por se situar na linha da frente da guerra. Francisco orou e pediu reconciliação.

Momentos antes, no Centro de Congressos Bandaranaike Memorial de Colombo, Francisco manteve um encontro inter-religioso com líderes budistas, hindus, muçulmanos e cristãos. No Sri Lanka, convivem várias confissões religiosas. Numa

Papa Francisco cumprimenta sobreviventes de Tacloban, Filipinas

30 | Mensageiro

população de 20 milhões, apenas 7% são católicos e 10% muçulmanos.

Um dos momentos altos da visita ao Sri Lanka foi a canonização de Joseph Vaz, o missionário que nasceu em Goa, no século XVII, e que passou a ser o primeiro santo do país. Foi ordenado sacer-dote na Congregação de São Felipe Neri e enviado como missionário para o Sri Lanka, onde budistas e calvinistas exerciam uma forte pressão contra a Igreja Católica. No Sri Lanka, Vaz fundou mais de 15 Igrejas e 400 capelas e traduziu o Evangelho nos dois idiomas do país, o tamil e o cingalês.

Na Missa, que incluiu a cerimónia de canonização, o Papa falou de Joseph Vaz como «um exemplo de tolerância religiosa que deve ser seguido por todos no Sri Lanka» e reforçou a importância da recon-ciliação e do respeito pelas diferentes confissões religiosas.

A caminho do aeroporto, antes da viagem para as Filipinas, o Santo Padre visitou o Instituto Bento XVI, criado para reconstruir o país, depois da guerra civil, e fomentar o diálogo inter-religioso.

“Escandalosas” desigualdades sociais nas Filipinas

O quarto dia de viagem cumpriu-se nas Filipinas, um país em que 80% da população é católica e que, há um ano, foi devastado pelo tufão “Yolanda”, que causou sete mil mortos e afectou cerca de um milhão de pessoas.

No encontro com as autoridades e com o corpo diplomático, que decorreu no Palácio Malacanang, em Manila, o chefe da Igreja Católica pediu ao presi-dente das Filipinas, Benigno Aquino, empenho no combate à corrupção, de forma a acabar com as «escandalosas» desigualdades sociais no país.

«A grande tradição bíblica prescreve para todos os povos o dever de ouvir a voz dos pobres e quebrar as cadeias da injustiça e da opressão, que dão origem a óbvias e verdadeiramente escandalosas desigualda-des sociais», afirmou Francisco, acrescentando que «é necessário que os dirigentes políticos se distin-gam pela honestidade, integridade e responsabili-dade quanto ao bem comum».

Oração no Santuário de Madhu, no Sri Lanka

Março 2015 | 31

O Papa abordou directamente a questão que mais intefere com o desenvolvimento económico e social daquele país: a corrupção, tida como endémica. Em 2008, o Banco Mundial considerou as Filipinas o caso mais grave de corrupção na Ásia e, na última Tabela do Índice de Transparência, que lista 176 países, o país aparece em 85º lugar.

O combate às desigualdades voltou a ser o assunto na Missa celebrada na Catedral da Imaculada Conceição e que reuniu bispos, sacerdotes, religio-sos e religiosas. O Santo Padre disse que os membros da Igreja Católica filipina têm que «reconhecer e combater as causas da muit0 enraízada desigual-dade na sociedade».

Visita aos sobrevivente de Tacloban

Apesar da chuva e dos ventos fortes, o Papa deslo-cou-se a Tacloban, cidade das Filipinas completa-mente destruída pelo tufão Haiyan, em 2013, para manifestar a sua solidariedade aos sobreviventes.

Comovido, Francisco pôs de lado os discursos e explicou que quando soube da catástrofe o seu senti-mento foi de que tinha de ir a Tacloban. «Hoje estou aqui junto de vós, mas cheguei um pouco atrasado», referiu, remetendo-se, por momentos, ao silêncio.

«Aquilo que me vem ao coração, a razão pela qual vim aqui, é para vos dizer que Jesus não abandona nunca. Vocês podem dizer: fui abandonado, perdi a minha casa, o meu pai, a minha mãe… Eu respeito esses sentimentos. Mas o Senhor da Cruz é capaz de chorar, de caminhar ao vosso lado nas piores circunstâncias», continuou o Papa.

Depois do encontro, Francisco cumpriu o resto do programa em Tacloban apressadamente, dada a adversidade das condições climatéricas. Percorreu a multidão no seu papamóvel descoberto, parou cerca de dez minutos para falar com uma família de pescadores pobres, benzeu sem sair do carro um centro de acolhimento para pobres, almoçou rapi-damente com um grupo de sobreviventes e foi à pequena catedral de Palo, a 12 quilómetros do aero-porto, para abençoar a assembleia.

Seis milhões na Missa em Manila

Seis milhões de Filipinos assistiram à Missa cele-brada no Parque Rizal, em Manila, pelo Papa, um dia antes do regresso a Roma. Um mar de gente, junto ao mar, debaixo de chuva e num verdadeiro ambiente de festa. Na homilia, Francisco desafiou os filipinos a serem «missionários» em toda a Ásia.

Deus «escolheu cada um de nós para ser testemu-nha, neste mundo, da sua verdade e da sua justiça», assinalou o Bispo de Roma, lamentando que, «pelo pecado», o homem tenha destruído a «unidade e a beleza da nossa família humana, criando estruturas sociais que perpetuam a pobreza, a ignorância e a corrupção».

O Pontífice aludiu novamente à necessidade de combater a corrupção e congregou a população nesse sentido, evocando Cristo Menino, o padroeiro das Filipinas: «Uma criança frágil trouxe ao mundo a bondade de Deus, a misericórdia e a justiça. Resistiu à desonestidade e à corrupção, que são a herança do pecado, e triunfou sobre elas com o poder da cruz. Agora, no final da minha visita às Filipinas, entrego--vos a Jesus que veio estar entre nós como criança. Que Ele torne todo o amado povo deste país capaz de trabalhar unido, de se proteger mutuamente a começar pelas vossas famílias e comunidades, na construção de um mundo de justiça, integridade e paz», concluiu.

Depois da Eucaristia, o porta-voz do Vaticano, Frederico Lombardi, adiantou que «o Papa quis nesta viagem dar um impulso para uma sociedade filipina mais coerente com os valores cristãos», justificando assim a insistência de Francisco nas desigualdades que persistem naquela população muito católica.

Durante os quatro dias nas Filipinas, o Santo Padre manteve ainda um encontro com famílias, durante o qual se reportou à defesa da família tradicional, denunciando o «relativismo», as «ameaças insidio-sas» e a confusão sobre o casamento.

Encontro Inter-religioso no Sri Lanka

32 | Mensageiro

O grupo terrorista Boko Haram terá assassinado mais de duas mil pessoas na cidade de Baga, na Nigéria, maioritariamente crianças, mulheres e idosos que não conseguiram fugir. Testemunhas descrevem um cenário de total destruição e morte.

Baga, que tinha uma população de 10 mil pessoas, já não existe. Desde o fim do ano, mais de 10 mil pessoas abandonaram a região com medo da chegada dos terroristas, já que a cidade era a única que ainda resistia ao avanço dos islamistas radicais do movi-mento Boko Haram no Nordeste da Nigéria.O Boko

Dois mil mortos na Nigéria

Haram é um grupo islamita, fundado em 2002, que começou por se opôr à educação ocidental. Depois do atentado ao jornal Charlie Hebdo, em França, que colocou o mundo em alerta máximo contra os fundamentalistas islâmicos, várias vozes têm aler-tado para o terror que se vive em alguns territó-rios africanos, alguns completamente aniquilados, como Baga, sem qualquer consideração pela vida humana. Em causa, está o supremo valor e defesa da vida humana, seja em África, na Europa ou em qualquer outro continente.

O Papa tem prevista, para o final deste ano, uma viagem a África. Francisco pretende visitar a República Centro-Africana (RCA) e o Uganda. A bordo do avião de regresso a Roma, após oito dias de viagem à Ásia, o Sumo-Pontífice anunciou ainda, para Julho, uma visita ao Equador, Bolívia e Paraguai. Chile, Uruguai e Argentina farão parte da agenda para 2016.

A data exacta da deslocação a África vai depender do clima, pois há que ter em conta «a estação das chuvas», explicou o Papa, assinalando que a viagem

África na agenda do Papa ao Sri Lanka e Filipinas «foi atrasada por causa do Ébola». A República Centro-Africana está a tentar sair de uma crise política e de segurança que deixou um rasto de milhares de mortos entre as milícias cristãs (anti-balaka) e os rebeldes Seleka, essen-cialmente muçulmanos. A presença de três forças internacionais - a francesa Sangaris, a Eufor centro--africana e a missão da ONU para a RCA (Minusca) - ajudou a estabilizar a situação, mas ainda não conseguiu pacificar o país inteiro.

Março 2015 | 33

Elisabete Carvalho Fontes: Ecclesia / Público / www.vatican.va

2014 foi o ano «mais sangrento da guerra civil» na Síria, desde o início do conflito, em 2011. Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, há registo de mais de 76 mil mortos, entre os quais estão cerca de 18 mil civis e 3500 crianças. Os restantes mortos pertencem a militantes de grupos jihadistas, como o “Estado Islâmico” e a Frente al-Nusra, que se opõem ao presidente sírio, e ainda elementos das tropas do

Ano sangrento na Síria

Um grupo de investigadores do Departamento de Ciências das Religiões da Universidade Lusófona criou o Observatório para a Liberdade Religiosa (OLR), com o objectivo de «observar analiticamente o fenómeno religioso» e as suas «vivências».

«Há muitas outras instituições que fazem recolha de dados. O nosso objectivo é, a partir de todos esses dados de recolha sobre as vivências religiosas em Portugal e no mundo, dar o passo que faltará em Portugal, criar um dinamismo de análise e debate», adiantou Joaquim Franco, um dos coordenadores do OLR. O jornalista observou que os promotores não querem entrar em colisão com os organismos que já existem, mas fazer uma «observação analítica» do fenómeno religioso, das vivências e da forma como

Portugal já tem Observatório para a Liberdade Religiosa «estão ou não consubstanciadas na Lei da Liberdade Religiosa».

«Nenhuma liberdade está à partida garantida, é um processo que tem de ser trabalhado, analisado. A própria forma como vemos a liberdade obriga-nos a fazer exercício de reflexão sobre a nossa própria responsabilidade para com essa liberdade», alertou Joaquim Franco.

Neste sentido, o jornalista revela que o OLR não tem como objectivo «indicar um ou outro caminho de interpretação», mas ajudar, a partir da compreen-são do fenómeno religioso - em termos sociais, polí-ticos ou religiosos -, a «avançar para caminhos» de uma melhor «integração, coexistência, coabitação do diferente e das diferenças».

governo e milícias fiéis a Bashar al-Assad.A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) recorda

que o conflito começou em Março de 2011 e a ONU calcula que neste período morreram «mais de 200 mil pessoas». A AIS revela ainda que há organiza-ções que têm monitorizado o conflito e que apontam para números «bem mais graves»

34 | Mensageiro

Paula Moura Pinheiro

O que a levou a enveredar por uma actividade profissional ligada ao jornalismo? Foi uma opção pensada ou um acaso que não quis desperdiçar?Decidi estudar Comunicação Social quando me ia inscrever na Faculdade de Direito. Foi uma mudança repentina de que nunca me arrependi. O mundo é vasto e diverso e eu sou infinitamente curiosa e interessada por tudo. O jornalismo revelou-se a melhor profissão para mim.

Já trabalhou em imprensa, rádio e televisão. Qual destes meios mais a fascina? Porquê?Gosto dos três meios por diversas razões. A televisão é o mais exigente sob o ponto de vista da quantidade de competências que envolve - saber comunicar de viva voz e com a própria imagem é complexo. A rádio encanta-me pela intimidade que gera com o ouvinte e pela simplicidade do dispositivo. A imprensa, a escrita é o meu primeiro elemento. Tudo o que faço passa sempre pela escrita que é, finalmente, a minha mais preciosa ferramenta.

Actualmente, é responsável pelo programa semanal “Visita Guiada”, exibido na RTP e transmitido na Antena 1. Como tem vivido esta experiência de dar a conhecer aos portugueses alguns tesouros do património cultural português?O Visita Guiada tem sido um projecto muito gratificante. Portugal é um país mara-vilhoso, com um património muito interessante, pouco conhecido dos portugueses. Viajar pelo país a conhecer e a dar a conhecer os nossos tesouros pela mão dos histo-riadores mais qualificados é um privilégio que tem sido muito bem acolhido pelo público.

Que trabalho jornalístico ainda não desenvolveu e gostaria que fosse a “cereja em cima do bolo” da sua carreira jornalística?Gostaria ainda de fazer um documentário.

Como se auto-define Paula Moura Pinheiro, a pessoa que se “esconde” atrás da jornalista?Alguém abençoado com o dom da alegria.

Considera-se uma mulher de fé? Como a vive no dia-a-dia?Tento estar à altura da minha fé em Jesus. É um compromisso muito exigente a que não consigo sempre corresponder. Mas tento. Acrescentar beleza e bondade ao mundo e nunca olhar para os outros de uma forma instrumental são as minhas maiores apostas.

À CONVERSA COM...

ACTIVIDADES INACIANAS Março / Abril

Em Soutelo (Vila Verde): CEC – Casa da Torre Av. dos Viscondes da Torre, 80 – 4730-570 SOUTELO – Tel. 253 310 400; Fax: 253 310 401; E-mail: [email protected]

No Porto: CREU – Centro de Reflexão e Encontro Universitário Inácio de LoyolaR. Oliveira Monteiro, 562 – 4050-440 PORTO– Tel.: 226 061 410; E-mail: [email protected]

NO RODÍZIO – Casa de Exercícios de Santo InácioEstrada do Rodízio, 124 – 2705-335 COLARES – Tel. 219 289 020; Fax: 219 289 026; E-mail: [email protected]

05-08 Mar. Exercícios Espirituais – P. Miguel Gonçalves Ferreira05-13 Mar. Exercícios Espirituais – P. António Costa e Silva08 Mar. Exercícios Espirituais “Vida corrente” (em colaboração com CVX e ACI)12-15 Mar. Exercícios Espirituais – P. Nuno Branco12-15 Mar. Exercícios Espirituais “pé-descalço” (para Universitários) – P. Miguel Almeida19-22 Mar. Exercícios Espirituais – P. Filipe Martins20-22 Mar. Desafio da meia-idade (dos 40 aos 55 anos) – P. Vasco Pinto de Magalhães 20-22 Mar. Rezar com Daniel Faria e Maria Gabriela Llansol – P. Mário Garcia20-22 Mar. Porta estreita (Mt 7, 13): O caminho singular dos místicos-D. António Couto, Emília Providência, Joana Serrano, Patrícia Calvário 26-29 Mar. Exercícios Espirituais – P. Manuel Morujão27-30 Mar. Exercícios Espirituais – P. João Carlos Onofre Pinto27 Mar.-04 Abr. Exercícios Espirituais – P. Gonçalo Eiró02-04 Abr. Páscoa em Soutelo – Filósofos, s.j. e P. Miguel Almeida12 Abr. Exercícios Espirituais “Vida corrente” (em colaboração com CVX e ACI)16-19 Abr. Exercícios Espirituais – P. António Santana16-24 Abr. Exercícios Espirituais – P. Luís Maria da Providência18-19 Abr. O relógio da família – P. Álvaro Balsas e grupo de casais24-26 Abr. ”Modos de orar” ao longo dos Exercícios – P. António Santana e P. Nuno Branco30 Abr.-03 Mai. Exercícios Espirituais – Alzira Fernandes30 Abr.-03 Mai. Exercícios Espirituais – P. Rui Nunes30 Abr.-03 Mai. Exercícios Espirituais (para CVX) – P. Vasco Pinto de Magalhães (Inscrições no CREU)

05 Mar. Conversas D’ouro – Encontro com as artes e os artistas06-07 Mar. 1 Noite & 1 Dia: Onde é que está o mal? Biografia das melhores tentações – P. Miguel Almeida14-15 Mar. Relações Humanas – P. Vasco Pinto de Magalhães18 Abr. Fé e Ética

Em Lisboa: CUPAV – Centro Universitário Padre António VieiraEstrada da Torre, 26 – 1769-014 LISBOA – Tel. 217 590 516; E-mail: [email protected]

06-08 Mar. Formação da Consciência – P. Alberto Brito07-08 Mar. Fim-de-Semana para Noivos – P. Carlos Azevedo Mendes e grupo de casais12-15 Mar. Exercícios Espirituais – P. Alberto Brito12-15 Mar. Exercícios Espirituais – P. António Santana12-15 Mar. Exercícios Espirituais Temáticos: “Comprometer-se” – P. Sérgio Diz Nunes26 Mar.-02 Abr. Exercícios Espirituais – P. Luís Maria da Providência02-05 Abr. Tríduo Pascal – P. Hermínio Rico30 Abr.-03 Mai. Exercícios Espirituais – P. António Júlio Trigueiros30 Abr.-03 Mai. Exercícios Espirituais – P. Manuel Morujão30-Abr.-03 Mai. Exercícios Espirituais Temáticos “A vida como liturgia” – P. Roque Cabral

Em Coimbra: CUMN – Centro Universitário Manuel da NóbregaR. Almeida Garrett, 4 – 3000-021 COIMBRA – Tel. 239 829 712; E-mail: [email protected]

03 Mar. Rezar com os ícones – P. José Carlos Belchior10 Mar. Orar, comer e gostar (com Círculo Loyola)15 Mar. Atravessar o deserto: Dia de retiro – P. Miguel Gonçalves Ferreira e Círculo Loyola19-22 Mar. Exercícios Espirituais “pé-descalço” (em Ourém) – P. António Santana e Margarida Alvim14 Abr. Orar, comer e gostar (com Círculo Loyola)17-19 Abr. Fim-de-Semana para Noivos – P. Nuno Branco e equipa de casais

12-15 Mar. Exercícios Espirituais “pé-descalço” (para Universitários) – P. João Goulão20-22 Mar. Nós e Deus – P. Nuno Tovar de Lemos e animadores20-22 Mar. CaFé: Curso de Aprofundamento da Fé – P. Carlos Azevedo Mendes e P. João Goulão10-12 Abr. Curso de Eneagrama – Clara e João Pedro Tavares17-19 Abr. Experiência de Oração – P. Carlos Azevedo Mendes25 Abr. Fé e Justiça30 Abr.-03 Mai. Exercícios Espirituais – P. Carlos Azevedo Mendes

PAPA FRANCISCO,DISCURSO AOS PARTICIPANTES NO

SEMINÁRIO SOBRE A CARTA APOSTÓLICA «MULIERIS DIGNITATEM» DE JOÃO PAULO II

Também na Igreja é importante perguntar-se: qual é a presença da mulher? Sofro – digo a verdade – quando vejo na Igreja ou em determinadas organizações eclesiais que o papel de serviço – que todos nós temos e devemos ter – da mulher diminui para uma função de servidumbre. Não sei se se diz assim em italiano. Compreendeis-me? Servidão. Quando vejo mulheres que desempenham tarefas de servidumbre, não se entende qual é o papel que a mulher deve desempenhar. Qual é a presença da mulher na Igreja? Pode ser valorizada em maior medida? É uma realidade que me está muito a peito e foi por isso que eu me quis encontrar convosco – contra o regulamento, porque não está previsto um encontro deste tipo – e abençoar-vos, bem como o vosso compromisso.