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CONCEITUAL #02 vermelhos MAIO/JUNHO 2012

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CONCEITUAL#02

vermelhos

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Uma vida mais bonita começa com você. Você

pode mudar tudo com pequenos gestos.

Do mesmo jeito que uma nova sala transforma

a casa, um sorriso transforma o dia, um novo

espelho muda o olhar e uma fl or transforma os

sentimentos. Decoração faz a vida mais bonita,

porque de um jeito ou de outro, tudo é decoração.

ABERTO DE SEGUNDA A SEXTA DAS 10H ÀS 22H, SÁBADOS DAS 10H ÀS 20H E DOMINGOS DAS 14H ÀS 19H | PRAÇA DE ALIMENTAÇÃO, AOS DOMINGOS DAS 12H ÀS 19H AV. DAS NAÇÕES UNIDAS, 12.555 | BROOKLIN | SÃO PAULO | WWW.DEDSHOPPING.COM.BR | DDSHOPPING | @DEDSHOPPING

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EDITORIAL 07

Amigos, parceiros e colaboradores:Depois de dedicar a edição inaugural da revista ABD

Conceitual ao branco, agora celebramos o vermelho: a cor que simboliza elegância, paixão, conquista, liderança, entu-siasmo, sedução, força, dinamismo.

Entre tantas significações, vale lembrar que o vermelho também representou muitos dos movimentos estéticos, po-líticos e culturais de vanguarda do século 20. Vermelho é a cor da inquietação. E é exatamente a inquietação, a busca pelo novo, a transformação constante, que movem a ABD – a primeira associação de profissionais do design de inte-riores criada no Brasil, em 1980.

Hoje, sabemos que a nossa categoria é cada vez mais relevante e requisitada e, ao olharmos para trás, revendo a nossa trajetória, percebemos que a ABD sempre seguiu pelo caminho certo, conseguindo construir ao longo des-ses 32 anos uma ampla plataforma de relacionamento entre profissionais, empresas e serviços que compõem o design de interiores.

A revista ABD Conceitual é mais um passo à frente. Um veículo de comunicação e mudanças, que tem como objetivos aproximar os profissionais da área, apontar ideias, resgatar ten-dências, inspirar projetos, valorizar a arte da decoração.

Para isso, nesta edição, desvendamos as histórias da laca, o verniz natural obtido a partir da seiva de uma árvore, e do ceramista catalão Josep Llorens Artigas, responsável por transformar a cerâmica em forma de arte. O rutilismo, ca-racterística genética das pessoas com “cabelos de fogo”, surge fascinante no ensaio fotográfico da inglesa Jenny Wicks.

Em uma edição dedicada ao vermelho, não podíamos deixar de fora o “Garden from Hell”, o salão escarlate-ex-travagante de uma das mulheres fundamentais na história da moda: Diana Vreeland. Também descobrimos um objeto vermelho não-identificado em um escritório no centro de Shangai, na China. Além dos tecidos em três dimensões

dos designers Helen Amy Murray, Mika Barr e Borre Akkersdijk.

Apertem os cintos e embarquem com a ABD nessa segunda viagem ao universo das mil e uma possi-bilidades que o design de interio-res pode oferecer como referência, conceito e inspiração.

Carolina Szabó

Vermelhou

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CAPA revista ABD Conceitualterá cinco edições em 2012. A cada número, a publicação vai abordar uma cor e as incontáveis possibilidades que ela oferece. Na edição 02, o tema é o vermelho.

*

Publishers André Poli e Roberta Queiroz

Consultoria Editorial Eduardo Logullo | Marcos Guinoza

Conselho Editorial Carolina Szabó, Renata Amaral, Jéthero Cardoso,

Roberto Negrete e Alex Lipszyc

Diretora Executiva ABD Maria Cecília Giacaglia

Colaboradores Alex Lipszyc, Alvaro Tedesco, Amer Moussa,

Carico, Gustavo Garcia (Papanapa), Edmundo Gallo Rodrigues,

Jéthero Cardoso, Marcella Áquila, Renato Elkis, Roberto Negrete

Editor de Fotografia Renato Elkis

Projeto Gráfico Cinthia Behr

Arte Cinthia Behr (Diretora de Arte) e Evelyn Leine (Designer)

Jornalista Responsável Marcos Guinoza MTB 31683

Revisão Ana Cecilia Chiesi

Pesquisa de Imagens Charly Ho

Analista de Conteúdo Lívia Maturana

Agradecimentos Madereira Harpia, Espaço TIL

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Para anunciar [email protected]

VELVET EDITORA LTDA 11 3082 4275

www.velveteditora.com.br

ABD Associação Brasileira dos Designers de Interiores

www.abd.org.br

Presidente SP Carolina Szabó, Vice Presidente SP Renata Duarte Amaral,

Diretora Financeira SP Márcia Regina de Souza Kalil, Diretora Nacional SP

Maria Luiza Junqueira da Cunha (Malu), Diretora Nacional RJ Paula Neder de

Lima, Diretora Nacional PR Fabianne Nodari Brandalise, Diretor Nacional MG

Carlos Alexandre Dumont (Carico), Membro Efet. Cons. Delib. SP Alexander

Jonatan Lipszyc, Membro Efet. Cons. Delib. SP Brunete Frahia Fraccaroli,

Membro Efet. Cons. Delib. BA Delma Morais Macedo, Membro Efet. Cons.

Delib. SP Fernando Piva, Membro Efet. Cons. Delib. SP Jhétero Cardoso de

Miranda, Membro Efet. Cons. Delib. RJ Luiz Saldanha Marinho Filho, Membro

Efet. Cons. Delib ES Rita de Cássia Marques da Silva (Garajau), Membro

Efet. Cons. Delib. SP Roberto Daniel Negrete, Suplente Cons. Deliberat. SP

Luciana Teperman, Suplente Cons. Deliberat. SP Maria do Carmo Brandini,

Suplente Cons. Deliberat. SP Terezinha Nigri Basiches, Membro Efet. Cons.

Fiscal DF Denise Fátima de Faria Zuba, Membro Efet. Cons. Fiscal SP Marília

Brunetti de Campos Veiga, Membro Efet. Cons. Fiscal SP Maurício Peres

Queiroz dos Santos, Suplente Cons. Fiscal RJ Ana Maria de Siqueira Índio da

Costa, Suplente Cons. Fiscal BA Eneida Márcia da Silva Alves, Suplente Cons.

Fiscal MG Jaqueline Miranda Frauches

Sugestões

[email protected]

MAIO/JUNHO 2012

CONCEITUAL#02

Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade

dos autores e não refletem a opinião da revista.

3 Form

SUMÁRIO 08

013 POR FAVOR, NÃO PARE AGORA!Os múltiplos significados do vermelho que grita, faz parar, avança, derruba governos, inventa nações, atrai, escandaliza

022 VERSÁTIL E DURÁVELComo teve início a história da laca, o verniz natural obtido através do refinamento da seiva de uma árvore

026 A TERCEIRA DIMENSÃOOs tecidos em 3D dos designers Helen Amy Murray, Mika Barr e Borre Akkersdijk são topografias que podem ser aplicadas nas mais diversas superfícies

032 OGGETTO ROSSODescobrimos um objeto vermelho não-identificado no interior de um escritório em Shangai, na China

036 FACÇÃO VERMELHAEnsaio fotográfico da inglesa Jenny Wicks celebra as pessoas com “cabelos de fogo”, que representam menos de 2% da população mundial

040 AL ROJO VIVOCor carregada de intenções e desejos, o vermelho percorre a obra do cineasta espanhol Pedro Almodóvar

042 HOMEM DO FOGOConheça a obra do catalão Josep Llorens Artigas, o artista que transformou a cerâmica em arte

046 DO TIJOLO À TIGELAQuando o homem descobriu o fogo, inventou também uma forma mágica de extrair da lama um universo infinito de artefatos, utensílios e componentes

048 DIANA VREELANDGarden from Hell: a sala “infernal” da mulher que revolucionou a moda e passou a vida em busca do vermelho perfeito

050 MIL TONSO vermelho nas obras de Tomie Othake, Mark Rothko, Jean Nouvel e Olafur Eliasson. Por Carico

052 VOULEZ-VOUS COUCHER AVEC MOI?Amante do rei Luís XV , Madame de Pompadour usou as nuances do vermelho para seduzir a realeza. Por Alex Lipszyc

054 A PRIMEIRA-DAMA E O DESIGNERDa parceria entre Jacqueline Kennedy e Stéphane Boudin surgiu o Salão Vermelho da Casa Branca. Por Roberto Negrete

056 FATORES DE EXPANSÃOPesquisa da ABD mostra crescimento do ensino de design de interiores no Brasil. Por Jéthero Cardoso

058 É PRIMAVERA!Espirros de água e nuvens de corantes em pó colorem a Índia durante o Holi, o Festival das Cores

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v e r m e e m l At i m , m A s d e r i vA d o p r i m A r i A m e n t e d o g r e g o. r o m A ,

e n t r e tA n to, f o i m A i s i n t e n s A e v e r m e l h A d o q u e A g r é c i A , A z u l e

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m A i s pA r A c i m A . q u e v e r m e l h o é A q u e l e l á lo n g e ?

p o d e s e r u m A r e A ç ã o f í s i c A . es t e l A r . i n e x p l i c áv e l . q u A n d o é

v e r m e l h o, p r ovo c A i n t i m i d A ç ã o. p o r q u e i n t i m i d A? m i s t é r i o. o

v e r m e l h o A p r ov e i tA es s e d o m d e i n t i m i d A r pA r A AvA n ç A r p o r

o u t r o s t e r r e n o s : t i n g e m i n e r A i s , r e v es t e v e g e tA i s , i n s i n u A- s e

n A s p e l es , to r n A es c A m A s m A i s i n t r i g A n t es , p i n tA p e lo s , p i n tA

p e n A s , p i n tA A n i m A i s A n f í b i o s . b At r á q u i o s v e r m e l h o s s ã o e v i -

tA d o s p o r o u t r o s A n i m A i s : o s i n A l d e A l e rtA es tá A l i , m óv e l ,

n ã o d e c i f r A d o.

n A s c Av e r n A s , p i n t u r A s r u p es t r es t r A z i A m o v e r m e l h o c o m o

u m h A lo p i c tó r i c o d A s c A ç A d A s , d o p e r i g o d o s p r e d A d o r es , d A

e m b o s c A d A q u e fA z j o r r A r l í q u i d o q u e n t e , v e r m e l h o, es t r A n h o.

pA r A A l i v i A r m A i s es s e m i s t é r i o d o l í q u i d o q u e s A ltA d e d e n t r o

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f e rt i l i d A d e e d o b o m A g o u r o.

A e q u A ç ã o f í s i c A n A d A r es o lv e . é A p e n A s b e l A . o v e r m e l h o

s e r i A u m A lu z c o n s t i t u í d A es s e n c i A l m e n t e p e lo s m A i o r es

c o m p r i m e n to s d e o n d A v i s í v e i s p e lo o l h o h u m A n o, A p r ox i m A-

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m A i s lo n g o s s ã o c h A m A d o s d e i n f r Av e r m e l h o s e n ã o p o d e m

s e r v i s to s A o l h o n u p o r p es s o A s . A m A i o r i A d A s Av es e n x e r g A

lo n g e A s o n d A s i n f r Av e r m e l h A s . v e r m e l h A r - s e n o A r .

e b A s tA . e o l h A o s i n A l d e t r â n s i to. e o c A rtã o d e i m p e d i m e n -

to. e A c o n f u s ã o d o d A ltô n i c o. e o m u s tA n g d o p l Ay b o y. e o

t e l e f o n e d o p o d e r . e o l á b i o d A A m A n t e . e o b Ato m d A d i vA .

e A c A b i n e t e l e f ô n i c A lo n d r i n A . e o b e i ç o d o A s t r o n A u tA . e A

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Obtida a partir da seiva de uma árvore, a laca é um verniz natural usado para revestir os mais diferentes objetos

Versátil & duráveltexto Álvaro Tedesco fotos renaTo elkis

N i N G U é M S A B E , com exatidão, quando teve início a história da laca, mas os estudiosos acreditam que esse verniz natural tenha sido utilizado pela primeira vez por volta de 2000 a.C. Um dos mais antigos objetos em laca está exposto na Freer Gallery of Arts, em Washington. Trata-se de uma xícara do perío-do Chou, na China dos séculos V-iV a.C.

A laca é um verniz obtido através do refi-namento da seiva da árvore Rhus vernicífera, encontrada em países como Índia e China. O método de extração é parecido com o da borracha. Faz-se uma incisão no tronco da árvore, deixando a seiva escorrer para dentro de um recipiente.

Ao longo do tempo, a laca foi usada para re-vestir uma infinidade de objetos: de utensílios domésticos a instrumentos musicais e mó-veis. A laqueação é realizada principalmente em madeira, mas também pode cobrir peças produzidas em bambu, vime, cerâmica, seda, papel, couro e metal.

Existem diversas técnicas de laqueação. E todas são bastante semelhantes. Basicamente, é aplicada uma camada de laca sobre a su-

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LACA022

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chinaA laca vermelha

entalhada surgiu durante a dinastia Ming (1368-1643)

e é considerada uma das mais

refinadas técnicas de laqueação

LACA024

perfície do objeto. Depois de seco, o objeto é polido, recebe outra camada de laca e é no-vamente polido. Esse processo – demorado e complexo – é repetido quantas vezes forem necessárias até o revestimento atingir várias camadas de espessura.

A laca resulta numa cobertura compacta, sólida e durável, o que faz com que os objetos mantenham-se protegidos da corrosão e da desintegração causadas por ácidos, solventes, calor e umidade. Na China, falam que a laca acompanhava as pessoas do nascimento – a comida era servida em recipientes laqueados – até a morte – quando eram enterradas em caixões também revestidos por laca.

E foi na China que surgiu a laca vermelha entalhada. Produzida durante a dinastia Ming (1368-1643), é considerada uma das mais re-finadas técnicas de laqueação e era constitu-ída por cem ou mais camadas de laca sobre a qual eram talhados – com o uso de cinzéis, facas e agulhas – vários motivos ornamentais.

Se os chineses inventaram, foram os japone-ses que aperfeiçoaram essa arte. Como conta Huon Mallalieu no livro História ilustrada das Antiguidades, a laca saiu da China e chegou ao Japão no século Vi e, inicialmente, foi usada em esculturas religiosas. “Foi a perfeição da técnica do maki-e que deu início a um estilo japonês de trabalhar com a laca realmente diferente.”

O maki-e é uma técnica em que “o desenho era salpicado com pó de ouro ou prata sobre uma camada de laca úmida aplicada sobre ou-tra já seca e polida. Essa camada decorada era então também polida. O processo era repeti-do várias vezes, uma camada decorada após outra até que se atingisse o efeito desejado: uma aparência pontilhada chamada nashiji.”

O apogeu do trabalho em laca no Japão, segundo Mallalieu, aconteceu durante o perí-odo Edo (1615-1868), quando mestres como Kõrin e Ritsuo produziram peças extraordi-nárias com o material.

Do Oriente, a laca viajou para a Europa, onde virou moda no século 18, no revesti-mento de mobiliário.

A laca é um material versátil. Pode adquirir diversas tonalidades se for misturada a pig-mentos e, sobre a laca, podem ser executadas diferentes técnicas de decoração: pintura, gra-vura, incrustação, entre outras. n

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Quando o assunto é laca, o processo de laqueamento de pianos é sempre uma referência pela qualidade e perfeição do acabamento. Marcelo Pereira, da Fritz Dobbert, com mais de 60 anos no ramo, explica a complexidade do trabalho. “São sete aplicações de verniz poliuretano e poliéster intercaladas com lixamento. Para finalizar, a superfície é novamente lixada e polida até a obtenção do acabamento perfeito.” Diferentemente do laqueamento antigo, a utilização da resina poliéster proporciona “um processo mais rápido e resultado final mais duradouro.” Pereira acrescenta que esse mesmo laqueamento pode ser usado no setor moveleiro e não existe qualquer restrição de cores.

PIAno, PIAno

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TECIDOS TRIDIMENSIONAIS026

Bloom: painel de parede criado pela designer inglesa Helen Amy Murray para o restaurante Diana, do St Regis Hotel, na Cidade do México

De paredes a objetos, os tecidos tridimensionais podem ser aplicados

em diferentes superfícies

texto Marcella aquila

a terceira dimensão

abd magazine mai/jun 2012

Defensora do trabalho desenvolvido manualmente, Helen Amy Murray

parece herdar a influência de um movimento fundamental na história

do design: o arts & crafts

TECIDOS TRIDIMENSIONAIS028

Ao lado, obra da israelense Mika Barr, que trabalha com estruturas geométricas e orgânicas.

Acima, Tropical e, na página ao lado, Autumn: painéis de parede com tecidos tridimensionais de Murray

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abd magazine mai/jun 2012

D E S D E Q U E J A M E S C A M E R O N ocupou as telonas do mundo com o filme Avatar, em 2009, o termo 3D se tornou quase sinônimo de cinema. E, de lá para cá, todas (ou quase todas) as produções viraram tridimensionais. Se o grande barato no cinema é transformar a imagem 2D em algo visual-mente 3D, para o design, a tridimensionalidade pode significar um avanço sobre o campo tátil. É, portanto, na direção de estimular esse sentido que surgem tecidos com essa característica.

Do encontro entre uma das técnicas mais antigas desenvolvidas pela humanidade – a tecelagem – e um contexto de novas tecnologias, abre-se um panorama amplo de possibilidades. Cientes dessa abertura e dispostos a experimentá-la, os designers da linguagem têxtil criam “planos” de caráter cada vez mais escultóricos. Os chamados tecidos tridimensionais são topo-grafias que podem ser aplicadas nas mais diversas superfícies: de paredes a objetos, como almofadas ou cadeiras.

Entre os designers que se aventuram nessa área, ainda pouco explorada, estão Mika Barr, Borre Akkersdijk e Helen Amy Murray.

A israelense Mika Barr possui inúmeras variações sobre os dois temas fundamentais de seus tecidos, de estruturas ora geométricas ora orgânicas, lembrando nervuras de plantas. O holandês, Borre Akkersdijk, produz peças têxteis exuberantes e altamente tecnológicas que são, por si, a própria estru-tura das roupas que cria. E, diametralmente oposta à linha de Borre, está o trabalho da inglesa Helen Amy Murray, com peças produzidas à mão.

Inventora de uma técnica exclusiva, premiada e patenteada, a inglesa diz que “queria criar o efeito da pedra que entalha um material macio”. De fato, os relevos atingem o efeito desejado pela designer nos mais variados tipos de tecido: do couro à seda. Em relação aos padrões, predominam os florais, mas há também peças significativas com estampas geométricas.

Defensora do trabalho desenvolvido manualmente – “Minha fi-losofia é centrada na importância do trabalho artesanal.” – Murray parece, muitas vezes, herdar a influência de um movimento fun-damental na história do design: o Arts & Crafts (artes e ofícios). Idealizado e experimentado pelos ingleses William Morris e John Ruskin em meados do século XIX, o movimento teve papel essencial no desenvolvi-mento do que veio a ser a Art Nouveau – cujos motivos de Helen também se aproximam bastante – e, posteriormente, da escola moderna Bauhaus.

As criações de Helen Amy Murray se tornaram conhecidas após a de-signer desenvolver uma série independente de cadeiras revestidas com seus tecidos. Partindo de um repertório de desenhos consagrados – entre vernaculares e de designers famosos –Murray realizou intervenções em ca-deiras como a “egg”, de Arne Jacobsen; na tradicional cadeira “barril”, de estilo eduardiano; em outra desenhada por Philipp Hurel. E por aí vai.

Mas a aplicação de suas peças têxteis não se limitam às superfícies de sofás e cadeiras. Podem tomar as formas que se desejar. A produção de Mur-ray é exclusiva, sempre desenvolvida por encomenda e atendendo às deter-minações específicas de cada cliente. Seu trabalho independente, no en-tanto, será em breve representado por galerias em Londres, Paris e Milão. n

www.helenamymurray.com | www.byborre.com | www.mikabarr.com

Ao lado, vestido com tecido em 3D do designer holandês Borre Akkersdijk. Na página ao lado, trabalho de Mika Barr, que lembra nervuras de plantas

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TECIDOS TRIDIMENSIONAIS030

Se o grande lance no cinema é transformar imagens 2D em recursos

3D, no Design a tridimensionalidade significa avanços sobre o campo tátil

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