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38 I ÉPOCA I 25 de abril de 2016

I NVESTIGAÇÃO

VALOR

R$5MILHÕES

O QUE ACONTECEUEm 2014, Antunes diz que foi avisado pelo presidente doBNDES, Luciano Coutinho, que seria procurado por EdinhoSilva, tesoureiro da campanha da presidente Dilma. Edinho,segundo Antunes, pediu R$ 5milhões . Em outro caso, aindasegundo a proposta de delação, o lobistaMilton Pascowitch,ligado ao ex-ministro José Dirceu, pediu e levou três contratosapós a Engevix conseguir um investimento da Funcef, fundo depensão dos funcionários da Caixa, em uma de suas subsidiárias

O QUE DIZ A PROPOSTA DE DELAÇÃO“Que Luciano Coutinho escreveu em um papel queSobrinho (Antunes) seria procurado por Edinho Silvapara cobrar valores. Que entre julho e outubro de 2014,Sobrinho foi procurado por Edinho Silva para realizaruma doação ao Partido dos Trabalhadores”

PROPINASPARAOPTAntunes narra que, assim como

Ricardo Pessôa, da UTC, e OtávioAzevedo, da Andrade Gutierrez, foiprocurado na campanha de 2014 peloentão tesoureiro da equipe da presi-dente Dilma Rousseff, o petista Edi-nho Silva. Na casa de Antunes, em SãoPaulo, Edinho se comportou comoum lorde – falou com calma, tergiver-sou a respeito do motivo da reuniãoe deu seu recado nas entrelinhas. Se-gundo o delator, Edinho disse que adoação era necessária para “que ogoverno continuasse tendo boa von-tade com o grupo”. Antunes entendeuque, se não liberasse o dinheiro, a En-gevix perderia contratos.

De acordo com a proposta de de-lação, Edinho procurou Antunes porindicação de Luciano Coutinho, pre-sidente do BNDES, o mesmo que li-berara dinheiro à empresa. Antunesdiz que encontrara Coutinho umpouco antes e, na ocasião, “escreveunum papel” que Edinho procuraria osócio da Engevix para pedir dinheiropara a campanha de Dilma. Estavatudo dominado: Coutinho, indicadopelo PT, liberava financiamentos efazia a ponte para que Edinho, do PT,cobrasse a propina. Em nota, Couti-nho afirma que “nunca tratou de as-suntos relacionados a doações eleito-rais e que nunca houve nenhumareferência a esse tipo de questão du-rante qualquer contato com executi-vos da empresa Engevix”.

Antunes diz que, no encontro comEdinho em São Paulo, perguntou aocaixa do PT que valor seria razoável.“Uma empresa como a de vocês, nósimaginamos alguma coisa em torno deR$ 5 milhões”, disse Edinho, segundoAntunes. Antunes e dois sócios deci-diram dar R$ 500 mil cada um. Nosegundo turno da campanha eleitoral,Edinho procurou mais uma vez Antu-nes, mas não levou. Edinho, hoje mi-nistro da Secretaria de ComunicaçãoSocial, afirma que “o diálogo suposta-mente contido na delação premiada deJosé Antunes Sobrinho nunca existiu”e que “todas as doações à campanhapresidencial Dilma-Temer 2014 foramrealizadas por livre e espontânea von-

O lobista MiltonPascowitch,com empresasde fachada,repassava odinheiro daempreiteirapara o PT

R$ 267milhõesde umfinanciamentopara construçãode três parqueseólicos na Bahiada Desenvix

AS FONTES

OMEIO

DESTINO FINAL

SÓPARAOPTAs fontes das propinas repassadas pelaEngevix ao partido pelo lobista MiltonPascowitch, segundo a proposta de delação

R$ 340milhõesinvestidosna Desenvix,subsidiária criadapela Engevix

R$ 31 milhõesdepropinaporcontratosdoBancodoNordeste (BNB)

Funcef

Engevix

Petrobras

Fotos: Rogério Cassimiro/ÉPOCA e Eraldo Peres/AP

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tade, de maneira ética e dentro do quedetermina a Legislação”.

Ainda segundo Antunes, em 2009,a Desenvix, uma das subsidiárias dogrupo Engevix, fez um negócio dossonhos: a Funcef, fundo de pensãodos funcionários da Caixa EconômicaFederal, topou pagar R$ 260 milhõespelo equivalente a 25% de participa-ção na empresa. Mas havia um pedá-gio embutido. Pouco depois, o lobis-ta Milton Pascowitch, operador doex-ministro José Dirceu, apareceupara cobrar pagamentos, narra An-tunes. Em 9 de outubro de 2009, foifeito um contrato de R$ 1,3 milhãocom o lobista e outro em 1º de outu-bro de 2010, de R$ 2,1 milhões. Tam-bém foi feito um terceiro contratocom o lobista de R$ 2,5 milhões comorecompensa pela vitória de um leilãode linhas de transmissão. “Que foidito ao colaborador que tais contri-buições eram necessárias para que ogrupo Engevix pudesse ‘manter boasrelações com o Partido dos Trabalha-dores’”, diz a proposta de delação.

Antunes diz que sabia que Pasco-witch era o braço do PT e de Dirceunos negócios ligados à Petrobras. Em2007, segundo Antunes, Pascowitchsugerira à dupla que contratasse aconsultoria de Dirceu para negóciosem países da América Latina – o quefoi prontamente aceito. No caso daDesenvix, portanto, Antunes tinhanoção de que a conversa de Pascowitchera séria. Além do mais, o presidenteda Funcef, Guilherme Lacerda, foracolocado no cargo pelo PT. Antunesafirma aos investigadores que foi “pro-vavelmente Lacerda” quem comuni-cou ao então tesoureiro petista, JoãoVaccari Neto, ou a Pascowitch que onegócio entre Funcef e Engevix forafechado. A comunicação foi feita, se-gundo Antunes, para que fosse cobra-da uma propina para abastecer o caixado PT. Pascowitch também fez acordode delação premiada, mas em depoi-mento de julho de 2015 negou à Polí-cia Federal que tivesse recebido repas-ses da Engevix para repassar ao PT.Procurados, os advogados de Pasco-witch não quiseram comentar as acu-sações do delator da Engevix. s

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I NVESTIGAÇÃO

R$2MILHÕESPARAERENICEEm 2013, o Tribunal de Contas da

União recomendou que a Eletronorteexecutasse uma garantia de R$ 10 mi-lhões da Engevix por obras na usina deTucuruí, em uma pendenga que já du-rava quase uma década. Antunes contaem sua proposta de delação que queriauma saída para recuperar o prejuízo. Se-gundo ele, por indicação do ex-ministrode Minas e Energia Silas Rondeau, entãoconselheiro de Administração da En-gevix, Antunes foi em busca da ajudade Erenice Guerra, ex-ministra da CasaCivil, ex-colaboradora da presidenteDilma Rousseff e sua sucessora na CasaCivil – posteriormente derrubada poracusações de corrupção.

Erenice e a Engevix assinaram doiscontratos que previam uma “taxa desucesso” caso ela revertesse a ordem doTCU. “A Engevix contratou EreniceGuerra, pois sabia que esta poderiautilizar-se de sua influência políticapara reverter tal decisão”, diz Antunesno depoimento. No fim de abril de 2013,o plenário do TCU efetivamente rever-teu a decisão. Logo depois de a Eletro-norte devolver os R$ 10 milhões, a En-gevix pagou R$ 2 milhões a Erenice.

Antunes afirma que a ausência dedocumentos jurídicos sobre o assun-to demonstra o tráfico de inf luênciada ex-ministra: não houve nenhumapetição assinada por Erenice, “de-monstrando assim que esta realmen-te resolveu o problema internamente,sem usar os caminhos do processo”,de acordo com Antunes. As revela-ções de Antunes esclarecem comofuncionavam os negócios de Erenice.Em outubro do ano passado, ÉPOCArevelou que Erenice movimentou R$23 milhões entre agosto de 2011 eabril de 2015, sendo R$ 12 milhões defaturamento e R$ 11,3 milhões dedespesas. Parte desse ganho, se o con-teúdo da proposta de delação for con-firmada pelos investigadores, podeter vindo da Engevix. Procurada, aex-ministra disse que “não fala coma imprensa” e não quis comentar asacusações ou sua atuação pela Enge-vix. A Eletronuclear não respondeuao pedido de informação até o fecha-mento da reportagem.

VALOR

R$2MILHÕES

O QUE ACONTECEUEm 2013, a Engevix foi obrigada pelo TCU a pagar R$10 milhões à Eletronorte. Antunes diz que contratou osserviços da ex-ministra Erenice Guerra para tentar revertera decisão. Erenice conseguiu e levou R$ 2milhões pelonegócio. Segundo Antunes, não há nenhuma petição deErenice no processo, o que demonstra que ela usou apenassua “influência” no Tribunal para reverter a questão

O QUE DIZ A PROPOSTA DE DELAÇÃO“Que após alguns meses foi revertida a decisãodo TCU e posteriormente a Eletronorte devolveuà Engevix o valor da garantia executada e foifeito o pagamento a Erenice Guerra”

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OEX-MARIDODEDILMAEm janeiro,ÉPOCA revelou como José

Antunes Sobrinho articulou um encontrocom o advogado Carlos Franklin PaixãoAraújo, ex-marido da presidente DilmaRousseff, para pedir ajuda em nome daEngevix.Em sua proposta de delação,An-tunes confirma a reportagem. ÉPOCAconversou,em janeiro,com Paulo Rober-to Zuch, diretor de um braço da Engevix,e Nilton Belsarena, amigo de longa datade Dilma eAraújo.Os dois intermediaramos encontros entre Antunes e Araújo.An-tunes diz que pagou R$ 239 mil a Nilton,por meio de Zuch.Funcionou assim: apósos encontros, Zuch transferiu o dinheiropara Nilton e, um mês depois, recebeu omesmo valor de uma fornecedora da En-gevix. À época, ambos negaram que fosseum pagamento pelos encontros.

Antunes diz que Carlos Araújo jamaiscobrou valores diretamente; diz, inclusi-ve, não saber se Nilton apenas usava onome de Araújo ou se era um operadordele. Os encontros aconteceram em pe-ríodos em que a Engevix enfrentava di-ficuldades. Na primeira vez, em 2013, oassunto eram os aeroportos de Brasília ede Natal.Antunes afirma, na proposta dedelação, que recebeu recados do Paláciodo Planalto que denotavam a insatisfaçãocom as obras. Decidiu recorrer, então, aAraújo.Antunes não sabe se Araújo agiuou não – mas, segundo ele, os prazos dasobras foram cumpridos e as tensões di-minuíram. “Sendo que não houve maisrecados do Palácio do Planalto, e o cola-borador entende que esta confiança sedeu pelo apoio e interferência de CarlosAraújo”, diz a proposta de delação.

Em outro encontro,em 2014,Antunespediu ajuda a Araújo para destravar a li-beração de uma parcela de R$ 62 milhõesde um financiamento do Fundo da Mari-nha Mercante para a Engevix. “(Araújo)Dizia que iria tomar providências paraajudar”,afirma o delator.Até o momento,a liberação continua travada.Questionadosobre a razão de ter recorrido a Araújo, oempreiteiro não hesitou. “Eu tinha umestaleiro quebrando e ele conhecia todomundo, além de ser ex-marido da presi-dente”,disse a ÉPOCA.“É lógico que eu iafazer de tudo para impedir.”Carlos Araú-jo e Paulo Zuch não responderam aosrecados deixados por ÉPOCA. u

VALOR

R$200MIL

O QUE ACONTECEUAntunes pagou a intermediários para conseguir dois encontroscomCarlos FranklinAraújo, ex-marido dapresidenteDilmaRousseff, comoÉPOCA revelou em janeiro. Naproposta de delação,Antunes confirmaahistória. Diz que o fez emduas ocasiões:quando soubeque o governo estava insatisfeito comobras emaeroportos e no casode umfinanciamento. Ele diz que noprimeirocaso “as tensões diminuíram”; no segundo, nada aconteceu

O QUE DIZ A PROPOSTA DE DELAÇÃO“Desejava manter uma relação com Carlos Araújo, poiseste era ex-marido da presidente Dilma Rousseff e tambémnotadamente exercia influência e aconselhava a presidente epoderia obter algum benefício para as empresas do grupo”

Fotos: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo e Ag. RBS

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