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UMA PUBLICAÇÃO DO INSTITUTO ACENDE BRASIL #14 SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA AMBIENTAL SOCIAL O OBSERVATÓRIO DO SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO ANO 2012 LEGISLAçãO O que existe para ser regulamentado. Pág. 3 DEBATE O processo de consulta e a repartição de benefícios. Págs. 5 a 11 DIAGNóSTICO Quem são e onde estão os povos e terras indígenas. Pág. 4 POVOS INDÍGENAS EOSETORELÉTRICO Nosso maior potencial hidrelétrico está na bacia do rio Amazonas, da qual 17% foram explorados. Utilizar todo o recurso hídrico disponível na região, entretanto, significa enfrentar desafios para equilibrar questões que envolvem geração e transmissão de energia, vida em comunidade e meio ambiente. Isso porque metade dos aproveitamentos interfere em unidades de conservação ou em terras indígenas.

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UMA PUBLICAÇÃO DO INSTITUTO ACENDE BRASIL

#14SUSTENTABILIDADE • ECONÔMICA • AMBIENTAL • SOCIAL

O OBSERVATÓRIO DO SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO

Ano 2012

LegisLaçãoO que existe para ser regulamentado. Pág. 3

DebateO processo de consulta e a repartição de benefícios. Págs. 5 a 11

DiagnósticoQuem são e onde estão os povos e terras indígenas. Pág. 4

POVOS INDÍGENAS ��E�O�SETOR�ELÉTRICONosso maior potencial hidrelétrico está na bacia do rio Amazonas, da qual 17% foram explorados. Utilizar todo o recurso hídrico disponível na região, entretanto, significa enfrentar desafios para equilibrar questões que envolvem geração e transmissão de energia, vida em comunidade e meio ambiente. Isso porque metade dos aproveitamentos interfere em unidades de conservação ou em terras indígenas.

A exploração do potencial hídrico da bacia do rio Amazonas representa um grande desafio para o Brasil. Metade dos aproveitamentos potenciais para a construção de hidrelétricas em território nacional interfere em unidades de conservação ou terras indígenas. Desse modo, o planejamento e a construção de hidrelétricas precisam não só avaliar o nível de interferência de grandes empreendimentos em terras indígenas, mas propor alternativas para reduzir este impacto.

Dos 19.673 mw de potência adicional de energia elétrica necessários e previstos para o período 2017-2021, 16.089 mw - ou 82% - interferem em terras indígenas.

Nossa Constituição Federal prevê que o aproveitamento dos potenciais hídricos em terras onde vivem povos indígenas só pode ser feito mediante autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas. Mas essa parte da nossa Constituição, que estabelece “quando”, “ como” e “quem” deverá ser ouvido neste processo, ainda não foi regulamentada.

A Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, da qual o Brasil é signatário, define alguns critérios para a consulta aos povos indígenas, mas também está longe de estabelecer como a consulta deve ser feita.

Assim, vivemos um momento de insegurança jurídica tanto para os povos indígenas quanto para os empreendedores que desenvolverão o projeto. Sem contar a sociedade, que precisa dessa energia para crescer. Não por acaso, hoje, assistimos ao Ministério Público contestando, de forma subjetiva, a regularidade do processo de licenciamento ambiental.

Buscando diminuir a insegurança jurídica e a subjetividade das manifestações, concebemos o VIII Fórum Instituto Acende Brasil – Povos Indígenas e o Setor Elétrico, evento no qual colocamos representantes do governo, da academia, dos povos indígenas e de empreendedores do Setor Elétrico Brasileiro para debater algumas alternativas de caminhos mais harmoniosos para a geração de energia.

Claudio J. D. Sales

Presidente do Instituto Acende Brasil

O Instituto Acende Brasil é um Centro de Estudos que desenvolve ações e projetos para aumentar o grau de transparência e sustentabilidade do Setor Elétrico Brasileiro. Para alcançar este objetivo, adotamos a abordagem de Observatório do Setor Elétrico Brasileiro.

Atuar como um observatório significa pensar e analisar o setor com lentes de longo prazo, buscando oferecer à sociedade um olhar que identifique os principais vetores e pressões econômicas, políticas e institucionais que moldam as seguintes dimensões do Setor Elétrico Brasileiro:

MEIO AMBIENTE E SOCIEDADE

GOVERNANÇA CORPORATIVA

LEILÕES

OFERTA DE ENERGIA

IMPOSTOS E ENCARGOS

AGÊNCIASREGULADORAS

RENTABILIDADE

TARIFA E REGULAÇÃO

Este Energia contém a transcrição editada do VIII Fórum Instituto Acende Brasil – Povos Indígenas e o Setor Elétrico, realizado em novembro de 2012, em Brasília-DF.

Presidente: Claudio J. D. Sales Diretor Executivo: Eduardo Müller Monteiro Assuntos Econômicos e Regulatórios: Richard Lee Hochstetler Desenvolvimento Sustentável: Alexandre Uhlig Pesquisa e Desenvolvimento: Alia Rached Assuntos Administrativos: Eliana Marcon Cursos e Eventos: Melissa Oliveira

São Paulo: Rua Joaquim Floriano, 466 Edifício Corporate, conj. 501 CEP 04534-004, Itaim Bibi – São Paulo, SP, Brasil Telefone: +55 (11) 3167-7773

Email Corporativo: [email protected]

Assessoria de Imprensa: Tania Regina Pinto Telefone: +55 (11) 3704-7733 / (11) 8383-2347

Energia, uma publicação do Instituto Acende Brasil, aborda a sustentabilidade nas suas três dimensões: econômica, ambiental e social.

Versão impressa e online: www.acendebrasil.com.br

Jornalista Responsável: Tania Regina Pinto (Mtb 11.580) Projeto Gráfico: Cacumbu Design Diagramação: Amapola Rios Fotos: Studio Art Fotografia

SUSTENTABILIDADE SOCIAL 3

constituição federalCapítulo VIII – Dos Índios

Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organiza-ção social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicio-nalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.

§ 3º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indíge-nas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei.

convenção 169 da oitO direito de consulta prévia constitui inovação para a legislação brasileira e representa uma oportunidade para a construção conjunta de novas regras de enten-dimento entre povos indígenas e tribais e o Estado.

artigo 5ºNa aplicação das disposições da presente Convenção:

c) Políticas para mitigar as dificuldades enfrentadas por esses povos, diante das novas condições de vida e trabalho, deverão ser adotadas;

artigo 6º1. Ao aplicar as disposições da presente Convenção, os governos deverão:

a) consultar os povos interessados, mediante pro-cedimentos apropriados e, particularmente, através de suas instituições representativas, cada vez que sejam previstas medidas legislativas ou administra-tivas suscetíveis de afetá-los diretamente...;

b) criar meios pelos quais esses povos possam parti-cipar livremente ou, pelo menos, na mesma medida assegurada aos demais cidadãos, em todos os níveis decisórios de instituições eletivas ou órgãos admi-nistrativos responsáveis por políticas e programas que lhes afetem...;

artigo 7º2. A melhoria das condições de vida e de trabalho e dos níveis de saúde e educação dos povos inte-ressados, com sua participação e cooperação, deverá ser considerada uma prioridade nos planos gerais de desenvolvimento econômico elaborados para as regi-ões nas quais vivem...

POVOS INDÍGENAS E O SETOR ELÉTRICO

Hoje o principal desafio no campo dos direitos indígenas não consiste mais no seu reconhecimento jurídico, mas em sua aplicação real. Perto de completar 25 anos, nossa Constituição ainda tem artigos não regulamentados, como o 231, que prevê que o aproveitamento dos potenciais hidráulicos em terras indígenas deve partir de autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas. A somar-se a este cenário, existe o artigo 6º da Convenção 169 sobre Povos Indígenas e Tribais em Países Independentes, que prevê a obrigatoriedade da realização de consulta prévia aos povos indígenas toda vez que estes estiverem suscetíveis de serem diretamente afetados. A Convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho, ratificada em Genebra em 2002, está em vigência em território nacional desde 2003. Ela regula os dispositivos constitucionais sobre os direitos indígenas e está em linha com a nossa Constituição. O que emperra estas regulamentações que poderiam pacificar as relações entre nossa população indígena e a sociedade?

A letrA e a prática

4 Uma pUblicação do institUto acende brasil

1

26

34 5

250.000 mw

897.000 índios

19.673 mw

520.000 vivem em regiões banhadas pelo rio Amazonas e seus afluentes.

16.089 mw sairão de usinas instaladas na região do rio Amazonas. 85% desse total serão produzidos por 6 usinas próximas a terras indígenas.

25.000 MW podem ser gerados em rios espalhados pelo país.

75.000 MW Já foram aproveitados.

100.000 MW estão na bacia do rio Amazonas.

  usina bem querer Rio Branco, no Amazonas:

709 mwVivem 754 índios da tribo indígena Waimiri-Atroari.

  usina são luiz do tapajós Rio Tapajós, no Pará:

6.133 mwVivem 5.825 índios da tribo indígena Andira-Marau.

  usina são simão do alto Rio Juruena, entre Amazonas e Mato Grosso:

3.509 mwVivem 6.518 índios das tribos indígenas Caiabi e Mundurucu.

  usina salto augusto baixo Rio Juruena, entre Amazonas e Mato Grosso:

1.461 mwVivem 297 índios da tribo indígena Caiabi.

  usina são manoel Rio Teles Pires, entre Pará e Mato Grosso:

700 mwVivem 297 índios da tribo indígena Caiabi.

  usina marabá Rio Tocantins, no Pará:

2.160 mwVivem 340 índios da tribo indígena Mãe Maria.

Veja no Mapa a localização dos 6 projetos:

Usina Hidrelétrica

Terra IndígenaApenas 17% do potencial do Amazonas foram aproveitados.

O potencial hidrelétrico brasileiro é de 250 mil mw. Até hoje, 30% foram aproveitados. O maior potencial disponível está na bacia do rio Amazonas (100 mil MW), do qual 17% foram explorados. No entanto, a exploração da bacia do rio Amazonas representa um grande desafio, pois metade dos aproveitamentos potenciais interfere em unidades de conservação ou em terras indígenas.

Terras indígenas, que abrigam 505 comunidades, cobrem uma extensão de 106,7 milhões de hectares e representam 12,5% do território nacional. Nestas terras, cuja maior parte encontra-se na Amazônia Legal, vivem 58% da população indígena, um total de 897 mil pessoas, divididas em 305 povos que falam 274 línguas diferentes.

Dos 19.673 mw de potência adicional de energia elétrica previstos no Plano Decenal de Energia para serem viabilizados no período 2017-2021, 16.089 mw (82%) interferem em ter-ras indígenas. Isto mostra a complexidade de explorar o potencial hidráulico na Amazônia, tendo em vista a falta de definições e a pouca experiência sobre este tema no Brasil. Portanto, o planejamento e a construção de hidrelétricas precisarão incorporar a avaliação das inter-ferências de tais usinas em terras indígenas e propor alternativas para reduzir este impacto.

Diagnóstico

a bacia do amazonas concentra os rios que podem ser aproveitados para a geração de energia elétrica.

Potencial energético total dos rios do Brasil:

na região amazônica também vive a maior parte da população indígena do brasil.

Total da população indígena no Brasil:

o governo planeja aproveitar mais o potencial da bacia do amazonas. A partir de 2013, será leiloada uma série de usinas que deve entrar em operação entre 2017 e 2021.

SUSTENTABILIDADE SOCIAL 5

Povos Indígenas e O SetOr elÉtrICOO que poderia pacificar a relação entre nossa população indígena e as demandas de expansão do setor elétrico? Qual a melhor maneira de se ouvir as comunidades afetadas? Quem ouvir? Quando ouvir? Como fazer a repartição dos benefícios? Estas são algumas questões que permearam o debate do VIII Fórum Instituto Acende Brasil – Povos Indígenas e o Setor Elétrico, evento que contou com a participação de representantes do governo, dos povos indígenas, da academia e de empreendedores do setor elétrico.

Regulamentar a forma de fazer Consulta, da maneira que propõe o Instituto Acende Brasil, é a solução para os problemas que envolvem a geração de energia e o respei-to às comunidades? Ou, pelo menos, um caminho para minimizá-los?

Gil Maranhão Neto, diretor de Novos Negócios da GDF Suez Brasil: Consulta não é solução para o problema indí-gena brasileiro quando há impactos gerados por uma hidrelétrica. Há mais coisas a serem discutidas.

Rogério Duarte do Pateo, prof. dr. de Antropologia da Universidade Federal de Minas Gerais: Tudo converge para a necessidade das Consultas desde o início do pro-cesso. Não apenas para que os povos tenham informação sobre como vai ser o projeto e o que vai acontecer com eles. O espírito do processo é que os rumos do projeto sejam fei-tos a partir de uma discussão conjunta na qual se definam os critérios de impacto, inclusive impactos intangíveis,

Debate

propostA 1: A consultA

O planejamento e a construção de hidrelétricas precisam incorporar a avaliação das interferências das usinas em terras indígenas e buscar alternativas para reduzir os impactos.

A partir deste entendimento, o instituto acende brasil propõe:

• Consulta Livre, Prévia e Informada aos povos indígenas…

• desde a fase inicial do planejamento e em todas as fases subsequentes…

• com os líderes que representam as comunidades afetadas, sendo franqueada a participação de todas as pessoas da comunidade para…

• tratar da inundação/redução de parte do território; dos impactos positivos e negativos provocados pelo empreendimento; e da repartição dos bens.

6 Uma pUblicação do institUto acende brasil

ligados às formas particulares de ocupação do território, que só vão surgir em discussão com a população.

Francisco Romário Wojcicki, secretário executivo adjunto do Ministério de Minas e Energia: A Consulta vai diminuir o risco do empreendimento. Quanto mais se antecipar o diálogo, menor o risco. A judicialização nada mais é que falta de informação. Porém, para conversar com a comunidade, é preciso entrar na comunidade indígena, entrar na área para efetivamente estudá-la. A entrada não necessariamente implica que algum empreendimento será feito. Mas são necessários dados para decidir se e onde pode ser construída uma usina. Precisamos acabar com a guerra da desinformação, da boataria.

Rogério do Pateo: O verbo não é informar, é compartilhar. É envolver todos na construção do próprio desenho do empreendimento. E isso não está só na Convenção 169. As grandes agências de cooperação internacional afirmam de forma contundente que a Consulta não é um evento, é um processo que consolida uma relação entre empreendedor e comunidades afetadas desde o planejamento.

Silvio Albuquerque, ministro chefe de Temas Sociais do Itamaraty: A OIT é bastante explícita ao dizer que não reconhece a legitimidade do processo de Consulta quando não conduzido por agente do Estado. O empreendedor pri-vado não tem qualquer papel relevante concedido pela Convenção 169 para realizar o processo de Consulta.

As propostas de regulamentação do processo de Consul-ta aos povos indígenas em estudo pelo Grupo de Traba-lho Interministerial da Secretaria Geral da Presidência da República têm algo em comum com as propostas do Instituto Acende Brasil?

Silvio Albuquerque: O Grupo de Trabalho Interministerial, o qual coordeno, tem o final de 2013 como horizonte para terminar o trabalho e apresentar uma proposta de regu-lamentação à Presidência da República. Os avanços até agora são a retomada do diálogo e da confiança dos povos indígenas. Uma série de incidentes e também um grande passivo histórico existente entre Estado e povos indígenas causou uma dificuldade natural na evolução dos trabalhos, mas acredito que neste momento temos sedimentadas estruturas de diálogo que não existiam e que nos permi-tirão ter uma proposta concreta sobre como regulamentar os mecanismos da Consulta Prévia.

Francisco Romário: Entendo que a ideia, nesse primeiro momento, é criar um protocolo que será composto de informações, tais como: o que eles devem conhecer, quando devem conhecer, quem será ouvido.

Gil Maranhão: Tenho observado que alguns projetos foram desenhados de forma a evitar certos impactos. Mas tenho a impressão de que os impactos chegaram mais perto dos empreendimentos. O processo de licenciamento de grandes projetos de infraestrutura é muito complexo. O empreendedor se compromete com um preço de venda de energia de longo prazo sem que exista previsibilidade de todas as regras e de todos os custos. O empreendedor

Palavra de índio“Na minha região, fizemos vários movimentos para que esses empreendimentos não fossem construídos. Nada resolveu. É importante, para os povos indígenas, conhe-cer o projeto antes. Queremos mais informação sobre impacto social e ambiental. Nós indígenas estamos sendo consultados só depois que o governo decide, só depois do decreto ou da portaria.

“Recentemente passamos a pensar que temos que apresentar nossa proposta para o governo, falando do que a gente precisa também. Eu, como representante do meu povo, não sou contra o desenvolvimento do país, mas desde que a gente cresça junto. O governo está cada vez mais construindo usina próxima às nossas terras.

“Falta muito a fazer para nós, povos indígenas. A demar-cação das terras indígenas precisa acontecer. Mas não pode faltar fiscalização, tem que ter proteção garantida. Dentro da aldeia, precisamos de saúde, de recursos sufi-cientes para escolas indígenas, que são diferenciadas, que valorizam nossa cultura.

“Desenvolvimento não interfere na cultura do índio. Desenvolvimento é bem-vindo. Não tem como a gente impedir estes empreendimentos. Mas, muitas vezes, nós, indígenas, principalmente os caciques, que são mais tradicionais, somos muito pressionados pelas organizações não governamentais que são contra os

O ministro Silvio Albuquerque coordena grupo, no governo, que estuda a regulamentação do processo de consulta aos povos indígenas.

SUSTENTABILIDADE SOCIAL 7

é um repassador de bens e serviços de energia elétrica, mas na prática tem arcado também com custos que origi-nariamente não são dele. Nas comunidades indígenas há uma insatisfação com o que existe de leis e regras de pro-teção. Assim, cada conceito novo que é estabelecido cria um custo adicional para o empreendedor. A regulamen-tação da Convenção 169 vai tornar mais pontuais concei-tos que vieram flexibilizando-se ao longo dos anos sobre quem consultar, e tornar mais precisos conceitos como: impacto direto, impacto indireto, área de influência, área de entorno, índio isolado.

Silvio Albuquerque: O coração da Convenção 169 são os dispositivos que dizem respeito à Consulta; e o artigo 6º estabelece critérios objetivos e subjetivos para definição de quem são os povos indígenas e tribais a serem consul-tados. Critérios subjetivos são basicamente definidos pela autoidentificação: não me cabe definir quem é indígena, mas cabe a ele próprio se definir como indígena. Critério objetivo, quando o assunto é povos indígenas, tem relação direta com os povos originários da terra ocupada, além de

características sociais, econômicas e culturais que os dis-tinguem do conjunto da sociedade. Estes são aqueles que devem ser consultados, os representantes legítimos dos povos indígenas. E essa adjetivação não é ocasional porque a busca da legitimidade, por mais subjetiva que possa pare-cer essa expressão, é necessária e fundamental. Não basta consultar um conjunto impreciso de representantes de um povo indígena específico. É preciso que sejam consultadas lideranças legitimamente reconhecidas como tais.

Rogério do Pateo: O que temos de pensar é que, em tese, a Consulta deve adaptar-se às especificidades culturais dos índios. Temos que treinar os índios para entenderem a nossa lógica, a nossa forma de explicar. O Estado brasileiro tem que vencer essa dificuldade de comunicação. A Análise de Equidade Ambiental é um instrumento interessante, proposto pela Rede de Justiça Ambiental. É um novo tipo de relatório de impactos sociais e culturais para produzir uma espécie de normalização entre as nossas lógicas totalmente diferentes. Olhamos para o território, para os recursos, com uma lógica patrimonialista, achando que o pagamento de

“Quero dizer em nome do povo Kayabi que estamos conversando entre nós para partir para o diálogo, para conversar sobre os empreendimentos.” Taravy Kayabi, líder da aldeia Kururuzinho

empreendimentos. Os caciques também, muitas vezes, acham que porque nós líderes falamos com o governo esta-mos do lado do governo.

“Antes eu pensava que o empreendedor não tinha nada a ver. Mas o governo está jogando toda a responsabilidade para o empreendedor e se não é o empreendedor a gente não tem nada porque o governo não faz.

“Quando se fala que o índio é incapaz me sinto discrimi-nado. Hoje tem muito índio preparado, advogados, e em outras áreas de formação. Não somos incapazes.

“Os caciques dizem que a Funai é o pai do índio, mas a gente não sabe como a Funai pode ajudar a gente. Nós somos a favor da Funai. Mas se a Funai ficar com o dinheiro das popu-lações indígenas vamos continuar tendo as mesmas dificul-dades porque Funai é governo.

8 Uma pUblicação do institUto acende brasil

indenização resolve tudo. E as populações tradicionais em geral, sobretudo as indígenas, vivem uma lógica totalmente diferente: não há dinheiro que pague certas coisas. A lin-guagem não é essa. Temos que buscar aproximar as duas lógicas para poder dimensionar impactos que simples-mente não aparecem a partir da lógica patrimonialista.

Silvio Albuquerque: Todos os países que ratificaram a Convenção 169 e regulamentaram o mecanismo de Consulta o fizeram de forma a compreender a flexibilidade necessária da legislação a ser implementada, de modo a abarcar toda a complexidade da variedade de um país como o Brasil que, por exemplo, tem um número bastante expres-sivo de povos com características muito específicas. Os paí-ses que buscam disciplinar a Consulta Prévia sabem que irão cometer um erro se engessarem o processo de Consulta com regras que não possam comportar as diversas circuns-tâncias que envolvem relacionamento de Estado com povos com características culturais muito específicas.

Rogério do Pateo: Na discussão sobre desenvolvimento regional e impacto nas populações indígenas não deve-mos esquecer a diversidade cultural e histórica da popu-lação indígena. Na Amazônia temos povos que têm 200, 300 anos de contato com setores do Estado e, pelo menos, 50 referências de grupos em isolamento voluntário. Entre esses extremos existem, ainda, gamas variáveis de estilo de vida. Duzentos e trinta e oito povos indígenas no Brasil falando 180 línguas diferentes não são apenas núme-ros estatísticos. São 238 culturas e realidades específicas e, muitas vezes, a proximidade entre um grupo indígena e outro é a mesma que entre Brasil e Japão. Existe uma política indígena, complexa, cheia de facções... Por isso há tensão em relação à representatividade nos processos de Consulta. Os índios não são homogêneos nem dentro de uma terra indígena nem dentro de uma aldeia. Por isso, também, é fundamental a análise caso a caso.

Mas como isso pode ser feito sem a regulamentação da Convenção 169 e do artigo 231 da Constituição?

Silvio Albuquerque: O artigo 231 da Constituição está vigente, apesar de não ter sido regulamentado. É preciso acabar com a falsa impressão de que o vácuo legislativo decorrente da não regulamentação do artigo 231 e da Convenção 169 deixa o país sem elementos legais e práti-cos para cumprir a lei na obrigação de consultar os povos afetados por empreendimentos.

Gil Maranhão: Mas a falta de regulamentação faz com o que Ministério Público faça sua própria interpretação da lei.

Rogério do Pateo: O que é possível preestabelecer é jus-tamente uma forma de regulamentação dos processos, desde o nível do planejamento, para que a população afe-tada possa participar do dimensionamento dos termos de referência, de como definir esses impactos.

Gil Maranhão: Isso me parece lógico. Mas no Tapajós, por exemplo, não sabemos quais os dados concretos. O Ministério Público tentou provocar uma Consulta Prévia, mas os dados não estão disponíveis.

E se as comunidades indígenas não aceitarem a obra? Elas têm direito a veto?

Silvio Albuquerque: É preciso que não se coloque, já no inicio do processo de diálogo, a possibilidade de inexistên-cia de acordo. A OIT é muito clara: o governo deve ser bas-tante explicito nas razões pelas quais decide programar um projeto específico contra a vontade dos povos afetados. A Consulta não é um evento informativo, mas um processo de diálogo exaustivo entre iguais (povos indígenas e Estado), que não tem tempo para acabar. Questionar o direito a veto das comunidades indígenas é inverter a lógica da discussão do que dispõe a Convenção 169 sobre o direito à Consulta. É dificultar a interlocução...

Francisco Romário: Nós teremos que dobrar nossa infra-estrutura em energia em 10 anos porque a sociedade exige isso. O tempo é fundamental para nós. Os empreendimen-tos precisam de definição. Não ter um prazo para concluir o diálogo é preocupante.

Silvio Albuquerque: Nós enxergamos a regulamentação da Consulta como um antídoto perfeito para evitar maio-res problemas do Estado na relação com os povos indíge-nas. Quando me refiro ao tempo, na verdade, existe um princípio da razoabilidade.

Rogério do Pateo: Um bom processo de Consulta acelera o desenvolvimento do empreendimento. Quando se atrope-lam condicionantes, o resultado são dezenas de processos, manifestações, complicações locais, ocupação de canteiro de obras... É melhor para o empreendedor e para o empre-endimento respeitar as regras, os interlocutores, fazer acordos desde o começo. Isso vai garantir um desenvolvi-mento mais suave de todo esse processo.

Francisco Romário: No Grupo de Trabalho Interministerial estamos discutindo um número de cfurh + 0,6%, que viria da União, uma vez que terra indígena é terra da União, ou rateio externo, envolvendo estados e municípios. Fizemos alguns cenários que incidem em cima da geração de energia. O professor de Antropologia Rogério Pateo defende o compartilhamento permanente de informação entre o Estado e os povos indígenas.

SUSTENTABILIDADE SOCIAL 9

Rogério do Pateo: É fundamental discutir o impacto do dinheiro nas mãos das comunidades indígenas. Grandes volumes de dinheiro nas mãos de comunidades indígenas em geral produzem um mal pior do que a ausência des-ses recursos. Existem casos de comunidades que recebe-ram fortunas de indenização e fretaram avião para ir à cidade comprar pão. Dizem que eles se tornam capitalistas quando chega o dinheiro. Mas não tem nada menos capi-talista do que fretar avião para comprar pão. O dinheiro entra em um processo de transformação realmente intenso das relações produzindo, inclusive, desigualda-des internas em sociedades que, na grande maioria dos casos, tendem a ser mais equilibradas, mais igualitárias. Dependendo de quem são os atores envolvidos no recebi-mento do dinheiro, produz-se ainda hierarquias internas. Por isso a questão é extremamente delicada.

É possível manter cultura e costumes das comunidades in-dígenas quando se começa a receber recursos financeiros?

Rogério do Pateo: Temos que avançar um pouco na visão de que a cultura é uma coisa congelada. Não existe cul-tura congelada. Toda cultura se transforma. Por isso não somos iguais aos nossos avós. No que se refere aos povos isolados, todos tendem a pensar que eles vivem da mesma forma que viviam antes da chegada dos povos europeus. Nada mais falso do que isso. Direta ou indiretamente, eles são fruto do mesmo processo de transformação do con-tinente que ocorreu com a colonização nos últimos 500 anos. Mesmo os índios isolados não estão vivendo como viviam antes. Eles também estão fugindo dos avanços, da expansão. A Constituição fala que os povos indígenas têm direito de viver segundo seus usos, costumes e tra-dições. Isso faz com que a ideia da assimilação caia por terra. Então, quando se discute levar desenvolvimento para o índio, isso não necessariamente significa que eles vão desenvolver-se no sentido de ficar cada vez mais pare-cidos conosco. Se eles optarem por isso, é um direito deles. Mas eles podem optar por outros caminhos e têm prote-ção constitucional para fazer isso.

Gil Maranhão: A proposta de repartição de benefícios é interessante, mas só resolve o problema da origem do recurso. Há necessidade de regras claras sobre como isso será gerido de forma a isentar o empreendedor de algu-mas responsabilidades. Uma medida como essa deveria garantir que cessassem algumas responsabilidades do empreendedor no que se refere ao tratamento dos impac-tos diretos e indiretos. O setor elétrico tem uma estra-nha mania de retroagir taxas e encargos. As Licenças de Operação, por exemplo, são emitidas e, quando renovadas, incorporam muitas vezes novos custos que não existiam. Uma vez definido o que o empreendedor deve fazer, os custos devem ser fixados previamente. O problema é a falta de previsibilidade na extensão da responsabilidade.

Antes de o governo colocar os empreendimentos na re-gião, não seria interessante o governo investir em in-fraestrutura, saúde, educação nas áreas de influência,

propostA 2: repArtição dos benefícios

Além dos programas de mitigação e de reparação dos impactos socioambientais sobre as comunidades indígenas, é fundamental identificar a fonte que garantirá a compensação dos povos indígenas.

Nesse item, o instituto acende brasil propõe a redistribuição da compensação Financeira por Uso do Recurso Hídrico, a cFURH, e a inclusão das comunidades indígenas no recebimento deste recurso. O dinheiro deste encargo equivale a 6,75% da receita financeira da geração hidrelétrica no país.

“A utilização dos rios para gerar energia tem garantido a entrada de bilhões de reais nos cofres da União, de 21 estados e 696 municípios que têm usinas hidrelétricas em suas regiões”, comenta Claudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil.

Só em 2012, o montante arrecadado com compensação financeira cobrada das usinas hidrelétricas pelo uso da água atingiu o patamar recorde de R$ 2,205 bilhões.

Em 2011, segundo relatório da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), foram arrecadados R$ 2,005 bilhões em CFURH. Esses cálculos consideram o comportamento de 177 hidrelétricas.

Ao propor a repartição dos benefícios da cfurh, o Instituto Acende Brasil não sugere o aumento dos encargos sobre a conta de luz. A proposta é manter o repasse de 0,75% para a Agência Nacional de Águas e de 45% para os municípios, e reduzir os percentuais da União e dos estados.

Dessa forma, o Ministério de ciência e tecnologia receberia 2% ao invés de 4%; os Ministérios de Minas e energia e de Meio ambiente receberiam 1,5% ao invés de 3,0%, cada, e os estados receberiam 35% no lugar de 45%. com a nova repartição, as comunidades indígenas passariam a receber 15% da compensação Financeira dos empreendimentos que interferem em suas terras.

Em números absolutos, a compensação financeira proposta pelo Instituto Acende Brasil, de 15% da cfhur, levando em conta os 16 mil mw previstos no Plano Decenal 2021 que afetarão terras indígenas, representaria um repasse para comunidades indígenas de cerca de quatro milhões de reais por mês, ou cerca de R$ 50 milhões anuais.

Com este dinheiro (depositado em conta bancária específica, de titularidade da comunidade indígena, que os administrará, podendo assessorar-se da Funai) investir-se-ia em políticas de melhoria das condições de saúde, de educação e geração de renda. O repasse da verba, entretanto, estaria vinculado à elaboração de um Plano de Investimentos, a ser revisto periodicamente, voltado ao benefício da comunidade indígena que sofreu interferência do empreendimento.

10 Uma pUblicação do institUto acende brasil

tendo em vista que os estudos de impacto ambiental já identificaram esses aspectos?

Francisco Romário: O problema é que a instalação de um plano de desenvolvimento regional – segurança, saúde, educação, transporte – é incompatível com a velo-cidade da obra. Nossa ideia é chegar primeiro, mas ainda não conseguimos.

Gil Maranhão: Não é mais objetivo do Estado substituir a iniciativa privada em empreendimentos de infraestrutura. Isso seria um retrocesso, um modelo econômico ultrapas-sado. Deve haver parceria entre Estado e empreendedor, mas com divisão de responsabilidades clara. O problema é que o modelo atual gera distorções. Os empreendimentos devem ser um vetor de desenvolvimento, minimamente naquilo que impactaram, mas é preciso haver previsi-bilidade e cogestão do Estado naquilo que é sua respon-sabilidade. O problema não é o que deve ser feito, mas a ausência de clareza sobre de quem é a responsabilidade. Não adianta só construir a escola, o hospital... Muitas vezes escola e hospital estão lá, prontinhos, mas não há profes-sores e não há médicos.

Quem administraria o dinheiro dos povos indígenas? Haveria um fundo único para todos?

Francisco Romário Wojcicki: O que se tem discutido é um fundo específico para cada empreendimento, para os que sofrem impacto mesmo. A ideia é fazer uma gestão tripar-tite: empreendedor, Estado e comunidade.

Gil Maranhão: O ideal seria que o empreendedor não tivesse a responsabilidade de gerir os fundos. Isso é papel do Estado, mas o Estado teria que se equipar. Existem pro-gramas que são ligados nitidamente a impactos causa-dos pelo empreendimento e outros que são nitidamente tarefa do Estado.

Rogério do Pateo: Acho problemático um fundo único. É mais uma questão de justiça, de equidade da gestão em cada lugar. Um fundo único pode acabar financiando uma aldeia no Rio Grande do Sul, enquanto a comunidade diretamente afetada é do norte do país. Não dá para usar empreendimentos particulares para financiar a política pública para povos indígenas do Brasil.

Programas de geração de renda, saúde e educação são su-ficientes para atender às demandas dos povos indígenas?

Rogério do Pateo: As principais demandas identificadas, a partir de projetos já existentes, são, por exemplo, ligadas à gestão territorial, não só no que se refere à demarcação, mas sobre como gerir os recursos, controlar fronteiras etc. Os índios já estão acessando essas fontes de financia-mento para uma série muito grande de ações que não são

só ligadas à geração de renda, saúde e educação. A questão territorial é fundamental. Parece meio surrealista discu-tirmos tudo isso em um cenário onde existe insegurança do ponto de vista da consolidação dos direitos territoriais. Não é possível discutir tudo isso sem um processo de regu-lamentação fundiária concluído. Sem terra demarcada não se tem a base de consolidação de direito para todo o resto, a gestão desses territórios. O Estatuto do Índio, por exemplo, é de 1973, anterior à Constituição de 1988, pro-duzindo um paradoxo jurídico incrível, porque obedece a uma lógica da tutela, enquanto a Convenção da OIT e a Constituição falam em autodeterminação. Existe certo imbróglio até para definir qual o papel da Funai.

Rogério Pateo e o secretário Francisco Romário Wojcicki, do MME (foto 1); Gil Maranhão, da GDF Suez (foto 2); e Taravy Kayabi e Silvio Albuquerque (foto 3).

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SUSTENTABILIDADE SOCIAL 11

Os Waimiri e os Atroari são povos voltados à caça e à agricultura em florestas tropicais. Em 1974 eles somavam 1.500 pessoas. Passados cinco anos, estavam reduzidos a 374 indivíduos.

Hoje, passados quase quarenta anos, os Waimiri-Atroari somam 1.515 índios, que falam uma língua da família Karib, divididos em cerca de vinte aldeias, às margens do rio Branco na região sul do estado de Roraima e norte do Amazonas.

A ameaça de extinção foi afastada a partir da implemen-tação do Programa Waimiri-Atroari (PWA). Por meio de um programa voltado para a área de saúde foi possível rever-ter a tendência de desaparecimento da população indí-gena, que sustentava uma taxa de redução de 20% ao ano, substituindo-a por uma taxa de crescimento de 6% ao ano.

O convênio entre a empresa responsável pela hidrelétrica de Balbina e a Funai, que deu origem ao PWA, foi assinado 14 anos antes da ratificação da Convenção 169 da OIT pelo Estado brasileiro. Em outras palavras: os critérios adotados para a definição da população atingida teve como foco os afetados pela inundação decorrente da instalação do reservatório, ampliando as indenizações aos efeitos sobre algumas áreas de ocupação não inundadas; a definição quanto à indenização não incluiu consulta prévia, livre e informada nem participação dos indígenas no processo.

A Usina Hidrelétrica Balbina alagou 30 mil hectares da área de ocupação Waimiri-Atroari, impondo a realocação de duas aldeias e produzindo reflexos em áreas de uso de outras aldeias, criando necessidade de compensações financeiras aos impactos ambientais e sociais provocados.

O PWA é considerado referência no Brasil e no mundo porque o programa indígena deu início a um novo rela-cionamento institucional entre o setor elétrico e as comu-nidades indígenas.

Atualmente, os Waimiri-Atroari possuem grandes roças e estoques de animais para abate; têm 22 escolas implanta-das em suas terras com 62 professores indígenas; recebem assistência preventiva à saúde, mediante cobertura vaci-nal de 100% da população; e não vivem mais situação de dependência alimentar.

O programa viabilizou também a consolidação dos direitos territoriais dos Waimiri-Atroari. Os indígenas foram inde-nizados pelas roças localizadas na área de inundação, pelo desmatamento provocado pela construção de um dique de proteção do reservatório dentro da tribo, e receberam dinheiro para a construção de novas aldeias. A terra foi demarcada, homologada e registrada em cartório, permane-cendo livre de invasores, mediante fiscalização sistemática.

Entre as principais características do programa estão: a formação de uma equipe multidisciplinar e interins-titucional - com profissionais da Funai, da Secretaria da Educação do Estado do Amazonas, do Instituto de Medicina Tropical de Manaus, da Universidade do Amazonas e da Eletronorte -, e a definição de quatro linhas básicas de atuação - educação, saúde, apoio à pro-dução agrícola e proteção dos recursos naturais.

A gestão do programa ficou a cargo da Funai, que nomeou um de seus indigenistas para coordená-lo, com o apoio de seis funcionários e de um conselho consultivo que avalia as ações desenvolvidas a cada trimestre e elabora o plane-jamento de ações futuras, sempre de acordo com as aspi-rações dos Waimiri-Atroari .

Fontes: Instituto Acende Brasil, www.waimiriatroari.org.br

Programa Waimiri-Atroari,UM EXEMPLO

Desenvolvido no norte do país, o programa foi citado várias vezes durante o VIII Fórum Instituto Acende Brasil como exemplo de sucesso no tratamento da população indígena diante da chegada de um empreendimento hidrelétrico.

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12 Uma pUblicação do institUto acende brasil

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2013

Temas:

Tributos e encargos sobre a eletricidade: eficiência econômica e social

Energia, comunidades locais e povos tradicionais: participação e inclusão

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