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UNESP Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá Guaratinguetá 2010

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Page 1: UNESP · Figura 11. Votação final para escolha da cidade sede dos jogos olímpicos de verão de 2016.....58. Lista de siglas AHP Analytic Hierarchy Process

UNESP Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá

Guaratinguetá

2010

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VALÉRIO ANTONIO PAMPLONA SALOMON

CONTRIBUIÇÕES PARA VALIDAÇÃO DE TOMADA DE

DECISÃO COM MÚLTIPLOS CRITÉRIOS

Tese apresentada ao Departamento de

Produção, Faculdade de Engenharia,

Campus de Guaratinguetá, Universidade

Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho,

para a obtenção do título de Livre-Docente

em Engenharia de Produção.

Guaratinguetá

2010

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S174c

Salomon, Valério Antonio Pamplona

Contribuições para validação de tomada de decisão com múltiplos

critérios / Valério Antonio Pamplona Salomon.- Guaratinguetá : [s.n.],

2010.

68f.: il.

Bibliografia: f. 65

Tese (Livre-Docência) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de

Engenharia de Guaratinguetá, 2010.

1. Processo decisório I. Título

CDU 65.012.4

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À Sandra.

Por tornar a sua vida compatível com a minha.

E a minha vida válida por isso.

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Agradecimentos

Esta tese resulta de pesquisas que desenvolvi após, e durante, meu estágio de

pós-doutorado no exterior. Expresso aqui minha gratidão às pessoas e instituições

que contribuíram para a concepção e elaboração da tese:

Prof. Fernando Augusto Silva Marins, Sra. Margarida Corrêa Leite,

Profs. Jorge Muniz Junior, Maurício César Delamaro, Messias Borges

Silva, Ubirajara Rocha Ferreira e demais colegas do Departamento de

Produção. Reconheço no Marins, mais que um colega, um verdadeiro

amigo, pelo seu incentivo e pela sua orientação no início da elaboração

desta tese.

Prof. Thomas L. Saaty, Universidade de Pittsburgh, e Sra. Rozann

Whitaker Saaty, Creative Decisions Foundation. Tom criou o método

AHP, sem o qual este tese não existiria, ou seria muito diferente. Além

disso, tenho Tom e Rozann como amigos e colaboradores de pesquisas.

Eng. Claudio Garuti Anderlini, Fulcrum Ingeniería, Santiago, Chile.

Um entusiasta de aplicações de AHP e do trabalho em equipe. Claudio

Garuti também deu muitas contribuições teóricas à MCDM, com

destaque para seus estudos sobre a compatibilidade entre vetores de

decisão.

Alunos Angelo José Castro Alves Ferreira Filho, Dimas Campos de

Aguiar, Deborah Campos de Paula, Eduardo Gomes Salgado, Lucio

Garcia Veraldo Junior, Marco Aurélio Reis dos Santos, e Maria Stella

de Alvarenga Lazarini, et al., cujas pesquisas contribuíram para meu

conhecimento no método AHP e na MCDM.

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, Fundação

para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico e Fundação para o

Desenvolvimento da UNESP, pelo apoio financeiro às minhas viagens

e estadas durante o estágio de pós-doutorado no exterior e em

congressos científicos.

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Resumo

A tomada de decisão considerando mais de um critério, às vezes conflitantes

entre si, como custos e qualidade, é conhecida como tomada de decisão com

múltiplos critérios, ou MCDM, sigla da expressão em inglês. Existem diversos

métodos para esta tomada de decisão. Estes métodos são, geralmente, identificados

pela sigla de seu nome: AHP, ELECTRE, MACBETH, MAUT, etc. O método mais

aplicado, no Brasil e no mundo, é o AHP. Contudo, alguns poucos, mas

importantes, pesquisadores brasileiros possuem um estranho preconceito com

relação a este método. Esta tese ajuda a provar que isto se trata de um equívoco.

Mais do que isto, a tese apresenta contribuições para a análise de aplicações de

MCDM. Compatibilidade entre vetores de decisão e validação de uma aplicação são

temas recentes incluídos no estudo apresentado nesta tese. Como consequência do

estudo, e contribuição original da tese apresenta-se um índice de compatibilidade

ordinal. Para se atender o objetivo de apresentar contribuições para a análise de

aplicações de métodos de MCDM, a elaboração da tese seguiu uma estratégia

qualitativa-quantitativa. Ou seja, a Modelagem Matemática foi o método de

pesquisa adotado. No entanto, não se apresentou um número exaustivo de exemplos

destas contribuições. Aplicações ex-ante, ex-post e sine solutio de métodos de

MCDM estão apresentadas e índices de compatibilidade estão calculados para a

validação destas aplicações.

Palavras-chave: AHP. Compatibilidade. MACBETH. MCDM. Validação.

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Abstract

The decision making considering two or more criteria, sometimes conflicting

as costs and quality, is known as multiple criteria decision making, or MCDM.

There are several methods to make this decision, usually, identified by their

acronym: AHP, ELECTRE, MACBETH, MAUT, etc. AHP is the most applied

MCDM method, in Brazil and all over the world. However, a few of important

Brazilian researchers have a strange prejudice against this method. This thesis

helps to prove that this is a mistake. Moreover, this thesis presents contribution for

the analysis of MCDM application. Compatibility between decision vectors and

validation of an application are new research themes included in the study this

thesis reports. As a consequence from the study, and an original contribution, it is

presented an ordinal compatibility index. In order to satisfy the objective of present

contributions for the analysis of MCDM methods application , this thesis’s

conception followed a qualitative-quantitative strategy. Or else, the research

method adopted was Mathematical Modeling. However, it is not presented an

exhausting number of examples from these contributions. Ex-ante, ex-post e sine

solutio applications of MCDM methods are presented and compatibility indices are

computed to validate these applications.

Keywords: AHP. Compatibility. MACBETH. MCDM. Validation.

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Conteúdo

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 15

1.1. Apresentação do Tema .............................................................................................................. 15

1.1.1. Metodologia da tomada de decisão com múltiplos critérios ........................................ 15

1.1.2. Generalidades: matrizes e vetores de decisão .............................................................. 17

1.2. Aspectos Metodológicos da Tese .............................................................................................. 21

2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS ......................................................................................................... 23

2.1. Considerações Iniciais ............................................................................................................... 23

2.2. Fases de Medição e Síntese ....................................................................................................... 23

2.2.1. ELECTRE .................................................................................................................... 23

2.2.2. MAUT.......................................................................................................................... 27

2.2.3. AHP ............................................................................................................................. 28

2.2.4. MACBETH .................................................................................................................. 32

2.3. Validade da Aplicação de um Método de MCDM .................................................................... 36

2.3.1. Exemplos de aplicações válidas de AHP ..................................................................... 36

2.3.2. Exemplo de aplicação válida de AHP e inválida de MACBETH ................................ 37

2.3.3. Questionamentos sobre a validade do método AHP .................................................... 42

2.4. Compatibilidade entre Vetores de Decisão ................................................................................ 46

2.4.1. Índice de compatibilidade ............................................................................................ 46

2.4.2. Exemplos da utilização de índice de compatibilidade ................................................. 47

3. CONTRIBUIÇÕES PARA A VALIDAÇÃO DE APLICAÇÕES DE MÉTODOS DE MCDM ..... 50

3.1. Considerações Iniciais ............................................................................................................... 50

3.2. Um Estudo Aprofundado do Índice de Compatibilidade ........................................................... 50

3.2.1. Domínio da função índice de compatibilidade ............................................................. 50

3.2.2. Índice de compatibilidade ordinal ................................................................................ 52

3.2.3. Comportamento do índice de compatibilidade ordinal ................................................ 54

3.3. Validação de Aplicações de Método de MCDM ....................................................................... 57

3.3.1. Aplicações ex-ante, ex-post ou sine solutio ................................................................. 57

3.3.2. Exemplo de aplicação sine solutio de AHP, MACBETH e MAUT ............................ 59

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................. 63

4.1. Atendimento de Objetivos e Contribuições da Tese .................................................................. 63

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4.2. Temas para Futuras Pesquisas ................................................................................................... 64

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................... 65

Page 10: UNESP · Figura 11. Votação final para escolha da cidade sede dos jogos olímpicos de verão de 2016.....58. Lista de siglas AHP Analytic Hierarchy Process

Lista de figuras

Figura 1. Número de artigos publicados em periódicos científicos ................................................. 17

Figura 2. Grafo orientado obtido com aplicação de ELECTRE I .................................................... 18

Figura 3. Resultados obtidos com aplicações de três métodos de MCDM ...................................... 20

Figura 4. Exemplo de dados iniciais para aplicação de um método de MCDM .............................. 23

Figura 5. Grafo orientado, com aplicação de ELECTRE I .............................................................. 26

Figura 6. Exemplo de gráfico de Análise de Sensibilidade, com aplicação de MAUT ................... 28

Figura 7. Exemplo de gráfico de Análise de Sensibilidade com aplicação de AHP ....................... 32

Figura 8. Categorias semânticas para comparações ........................................................................ 33

Figura 9. Exemplo de gráfico de Análise de Sensibilidade, com aplicação de MACBETH ........... 35

Figura 10. Hierarquia para estimativa da fatia de mercado de lojas de departamento norte-

americanas .................................................................................................................................................. 48

Figura 11. Votação final para escolha da cidade sede dos jogos olímpicos de verão de 2016 ........ 58

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Lista de siglas

AHP Analytic Hierarchy Process

AMD Apoio multicritério à decisão

COP condition of order preference

ELECTRE Elimination et Choix Traduisant la Réalité

IOC International Olympic Committee

ISO International Organization for Standardization

MACBETH Measuring Attractiveness by a Categorical Based Evaluation Technique

MAUT Multiple Attribute Utility Theory

MCDA Multiple criteria decision aid

MCDA Multiple criteria decision analysis

MCDM Multiple criteria decision making

RR Ranking reversal

mpg milhas por galão

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Lista de símbolos

Autovalor máximo de uma matriz

H Índice de consistência de uma hierarquia

ij Índice de consistência de uma matriz

S Índice de compatibilidade cardinal, ou índice de compatibilidade

V Índice de compatibilidade ordinal

A = [aij] Matriz de comparações

D = [dij] Matriz de decisão

e = [ej = 1] Matriz-coluna com todos os componentes iguais a 1

S = [dij] Matriz de superação

o = [oi] Vetor ordinal de decisão

v = [vi] Autovetor direito de uma matriz

w = [wj] Vetor de pesos dos critérios

x = [xi] Vetor cardinal de decisão, ou vetor de decisão

Cij Conjunto de concordância

Dij Conjunto de discordância

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Lista de tabelas

Tabela 1. Matriz de decisão com m alternativas e n critérios .......................................................... 17

Tabela 2. Exemplos de vetores cardinal e ordinal ........................................................................... 18

Tabela 3. Vetores de decisão com aplicações de três métodos de MCDM ..................................... 19

Tabela 4. Exemplo de matriz de decisão, com aplicação de ELECTRE I ....................................... 24

Tabela 5. Exemplo de matriz de concordância, com aplicação de ELECTRE I ............................. 25

Tabela 6. Exemplo de matriz de discordância, com aplicação de ELECTRE I............................... 25

Tabela 7. Exemplo de matriz de superação, com aplicação de ELECTRE I ................................... 25

Tabela 8. Exemplo de nova matriz de superação, com aplicação de ELECTRE I .......................... 26

Tabela 9. Exemplo de matriz de decisão, com aplicação de MAUT ............................................... 27

Tabela 10. Exemplo de vetor de decisão com a aplicação de MAUT ............................................. 27

Tabela 11. Exemplo de comparações entre critérios, com aplicação de AHP ................................. 29

Tabela 12. Exemplo de matriz de decisão, com aplicação de AHP ................................................ 29

Tabela 13. Exemplo de índices de consistência, com aplicação de AHP ........................................ 30

Tabela 14. Exemplo de vetor de decisão, com aplicação de AHP .................................................. 31

Tabela 15. Exemplo de comparações entre níveis de desempenho, com aplicação de MACBETH33

Tabela 16. Exemplo de matriz de decisão, com aplicação de MACBETH ..................................... 34

Tabela 17. Exemplo de comparações entre critérios, com aplicação de MACBETH ..................... 34

Tabela 18. Exemplo de vetor de decisão, com aplicação de MACBETH ....................................... 35

Tabela 19. Distância a Filadélfia ..................................................................................................... 36

Tabela 20. Custos de se possuir um automóvel ............................................................................... 37

Tabela 21. Pesos dos critérios, com aplicação de AHP ................................................................... 38

Tabela 22. Matriz de decisão, com aplicação de AHP .................................................................... 38

Tabela 23. Vetor de decisão, com aplicação de AHP ...................................................................... 38

Tabela 24. Limites de desempenho para os critérios, com aplicação de MACBETH ..................... 39

Tabela 25. Matriz de decisão, com aplicação de MACBETH ......................................................... 39

Tabela 26. Pesos dos critérios, com aplicação de MACBETH ....................................................... 39

Tabela 27. Vetor de decisão, com aplicação de MACBETH .......................................................... 39

Tabela 28. Novos pesos dos critérios, com aplicação de MACBETH ............................................ 40

Tabela 29. Novo vetor de decisão, com aplicação de MACBETH ................................................. 40

Tabela 30. Custos com um automóvel, em dólares ......................................................................... 41

Tabela 31. Vetores de decisão com aplicações de AHP, MACBETH e soma de custos ................. 41

Tabela 32. Preferência entre quatro modelos disponíveis para um produto .................................... 43

Tabela 33. Preferência entre três modelos disponíveis para um produto ........................................ 43

Tabela 34. Exemplos de vetores compatíveis e incompatíveis ........................................................ 46

Tabela 35. Fatia de mercado de lojas de departamento norte-americanas ....................................... 48

Tabela 36. Exemplos de vetores de decisão, com aplicações de AHP, MACBETH e MAUT ....... 49

Tabela 37. Três vetores compatíveis, mas com alto índice de compatibilidade .............................. 51

Tabela 38. Vetores ordinais de decisão com aplicações de AHP, MACBETH e soma de custos ... 53

Tabela 39. Índice de compatibilidade ordinal entre vetores com dois componentes ....................... 54

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Tabela 40. Índice de compatibilidade ordinal entre vetores com três componentes........................ 55

Tabela 41. Exemplos de vetores cardinais com cinco componentes ............................................... 55

Tabela 42. Dados de simulação de um sistema de produção ........................................................... 59

Tabela 43. Matriz de decisão, com aplicação sine solutio de MAUT ............................................. 59

Tabela 44. Pesos dos critérios, com aplicação sine solutio de AHP ................................................ 60

Tabela 45. Comparações entre alternativas para tempo de fluxo, com aplicação sine solutio de

AHP ............................................................................................................................................................ 60

Tabela 46. Comparações entre alternativas para reprogramações, com aplicação sine solutio de

AHP ............................................................................................................................................................ 60

Tabela 47. Matriz e vetor de decisão, com aplicação sine solutio de AHP ..................................... 61

Tabela 48. Comparações entre alternativas para tempo de fluxo, com aplicação sine solutio de

MACBETH ................................................................................................................................................ 61

Tabela 49. Comparações entre alternativas, para reprogramações, com aplicação sine solutio de

MACBETH ................................................................................................................................................ 61

Tabela 50. Pesos dos critérios, com aplicação sine solutio de MACBETH .................................... 62

Tabela 51. Matriz e vetor de decisão, com aplicação sine solutio de MACBETH .......................... 62

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15

1. INTRODUÇÃO

1.1. Apresentação do Tema

1.1.1. Metodologia da tomada de decisão com múltiplos critérios

Decisão é a “ação de decidir” (PRIBERAM INFORMÁTICA S.A., 2009). Decidir

é “determinar”, “resolver”, ou “emitir opção, preferência, ou voto”. Num entendimento

prático, quando um problema possuir apenas uma solução, então, uma ação é

necessária. Quando houver mais de uma solução então, antes da ação, será necessário

tomar-se uma decisão: ou seja, por exemplo, escolher uma entre as soluções

alternativas.

A tomada de decisão com múltiplos critérios (MCDM, do inglês, multiple criteria

decision making) é o estudo da inclusão de critérios conflitantes na tomada de decisão

(INTERNATIONAL SOCIETY ON MCDM, 2009). É uma disciplina em que se produz

uma grande quantidade de artigos e livros, desde a década de 1960 (ROY, 2005).

Existem dois tipos de problemas que podem ser solucionados com a MCDM: os

problemas discretos e os problemas de otimização. Os problemas discretos ocorrem

quando há um número pequeno de soluções alternativas factíveis. Nos problemas de

otimização, há um número elevado de alternativas, geralmente, identificadas por meio

de equações (DOUMPOS, et al., 2002).

Os problemas discretos são objetos de estudo desta tese. Há quatro tipos de

problemas discretos (ROY, 1996): Classificação, Descrição, Escolha e Ordenação

(MIRANDA, et al., 2003). O Problema de Classificação é distribuir as soluções

alternativas em categorias predefinidas. No Problema de Descrição descrevem-se as

soluções alternativas, formalmente, com suas consequências. O Problema de Escolha é

identificar um subconjunto, o menor possível, com as soluções alternativas mais

satisfatórias para o problema. O Problema de Ordenação é estabelecer uma ordem de

preferência do conjunto de alternativas.

Dentre os vários métodos de MCDM, para solução de problemas discretos, podem

ser citados, entre outros:

Analytic Hierarchy Process (AHP).

Elimination et Choix Traduisant la Réalité (ELECTRE).

Measuring Attractiveness by a Categorical Based Evaluation Technique

(MACBETH).

Multi-Attribute Utility Theory (MAUT).

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16

Devido à grande variedade de métodos de MCDM, algumas classificações foram

propostas e adotadas. Acadêmicos europeus, como o francês Prof. Bernard Roy e o

belga Prof. Philippe Vincke, propuseram uma divisão do conjunto de métodos de

MCDM em duas escolas de abordagens (ROY, et al., 1996) (VINCKE, 1992):

Escola Europeia, com métodos de subordinação e síntese.

Escola Norte-americana, com métodos baseados na função utilidade.

Os métodos da Escola Norte-americana, como AHP e MAUT, são,

tradicionalmente, referenciados como métodos de MCDM (BELTON, 1986)

(VAIDYA, et al., 2006). Já os da Escola Europeia, por exemplo, os métodos da família

ELECTRE, também são denominados de métodos de auxílio à decisão com múltiplos

critérios (MCDA, multiple criteria decision aid) (BRASIL F., et al., 2009). A sigla

MCDA também é utilizada para a análise da decisão com múltiplos critérios (em inglês,

multiple criteria decision analysis) (FIGUEIRA, et al., 2005). No Brasil, alguns

pesquisadores (GOMES, et al., 2009), preferem o uso da expressão “apoio multicritério

à decisão” (AMD), embora esta última contenha um neologismo. Portanto, AMD,

MCDA e MCDM podem ser entendidos como sinônimos.

A classificação por nacionalidade é controversa com relação ao método

MACBETH, proposto por europeus, mas, conceitualmente, inserido na Escola Norte-

americana. Esta classificação também dificulta a classificação de contribuições por

equipes internacionais (OLSON, 1996). Mas, a principal inconveniêcia gerada pela

classificação foi o surgimento de uma rivalidade entre as escolas. Isto ocorreu, de facto,

na década de 2000, em nosso país.

Os métodos da Escola Europeia foram considerados superiores, por permitirem o

novo Paradigma Construtivista (ENSSLIN, et al., 2001). No Paradigma Racionalista

dos métodos da Escola Norte-americana, busca-se “a solução ótima do problema

decisório”; no Paradigma Construtivista busca-se “gerar conhecimento”. Embora a

discussão pareça interessante, ela não obteve repercussão nos meios acadêmico e

empresarial. Conforme apresentado na Figura 1, recente pesquisa bibliográfica no banco

de dados do Institute for Scientific Information apontou que, desde a década de 1980, os

métodos AHP e MAUT possuem bem mais artigos publicados do que todos os métodos

da Escola Europeia (WALLENIUS, et al., 2008).

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17

Figura 1. Número de artigos publicados em periódicos científicos

(Adaptada de WALLENIUS, et al., 2008)

1.1.2. Generalidades: matrizes e vetores de decisão

Matriz de decisão, D, é a ferramenta principal na aplicação de qualquer método de

MCDM. Conforme apresentado na Tabela 1, os componentes da matriz de decisão

indicam o desempenho, possibilidade, preferência, ou utilidade das alternativas com

relação a cada critério. O que distingue um método de MCDM dos demais é a maneira

com que os componentes da matriz de decisão são obtidos e processados.

Tabela 1. Matriz de decisão com m alternativas e n critérios

Alternativa Critério 1 Critério 2 ... Critério j ... Critério n

1 d11 d12 ... d1j ... d1n

2 d21 d22 ... d2j ... d2n

i di1 di2 ... dij ... din

m dm1 dm2 ... dmj ... dmn

A aplicação de ELECTRE I, em um problema com quatro alternativas, poderá

gerar o grafo orientado apresentado na Figura 2. Se for um Problema de Escolha, a

escolha da Alternativa 3 será a melhor solução do problema. Caso esta alternativa não

esteja mais disponível, então as Alternativas 2 ou 4 podem ser escolhidas, pois, estão

empatadas. Neste exemplo genérico, a pior solução seria a escolha da Alternativa 1.

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18

Figura 2. Grafo orientado obtido com aplicação de ELECTRE I

Em aplicações de ELECTRE I, o quanto uma alternativa supera outra não é

quantificado. Nas aplicações de métodos da Escola Norte-americana, e dalguns métodos

da Escola Europeia, esta quantificação é possível. Isto porque a matriz de decisão gera

um vetor de decisão, x. Os componentes do vetor de decisão representam o desempenho

global, pontuação global, preferência global, ou utilidade média das alternativas. Para

esta síntese, um vetor de pesos dos critérios, w, pode ser necessário. O vetor de decisão

pode ser obtido conforme a Equação (1), ou seja, com a multiplicação entre a matriz de

decisão, uma matriz m×n, e o vetor de pesos dos critérios, uma matriz n×1.

x = D w (1)

A solução de um Problema de Escolha, então, será a alternativa com o maior valor

de xi. Se for um Problema de Ordenação, a solução do problema se dará com a obtenção

do vetor ordinal de decisão, o, conforme a Equação (2), onde a função “ordem” associa

um número inteiro de 1 a m, baseando-se na ordem decrescente dos componentes do

vetor cardinal de decisão, x.

)(ordem1

i

m

ii xo

(2)

A Tabela 2 apresenta exemplos de vetores de decisão, cardinais e ordinais. A

solução do Problema de Escolha seria a escolha da Alternativa 3, para a qual se observa

x3 = 0,9 e o3 = 1.

Tabela 2. Exemplos de vetores cardinal e ordinal

i xi oi

1 0,6 4

2 0,8 2

3 0,9 1

4 0,8 2

Alternativa 3

Alternativa 1

Alternativa 2 Alternativa 4

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19

Em aplicações de AHP, a matriz de decisão é, geralmente, estocástica quanto às

colunas, ou seja, os componentes de suas colunas são normalizados, conforme a

Equação (3). O vetor de pesos dos critérios e o vetor de decisão também são

normalizados, conforme as Equações (4) e (5).

mjdm

i

ij ...2,111

(3)

1

1

n

j

jw (4)

1

1

m

i

ix (5)

Em aplicações de MAUT, a matriz de decisão não é uma matriz estocástica. Os

componentes das colunas desta matriz são idealizados, conforme a Equação (6).

njdij

m

i

...2,11)(max1

(6)

AHP, MAUT e MACBETH foram aplicados ao mesmo problema de decisão:

terceirizar ou não um serviço interno em uma fábrica (FERREIRA F., et al., 2006).

Critérios como custo e qualidade foram considerados. A Tabela 3 apresenta os vetores

de decisão obtidos com aplicações destes métodos nos mesmos dados iniciais.

Tabela 3. Vetores de decisão com aplicações de três métodos de MCDM

(Fonte: FERREIRA F., et al., 2006)

Alternativa AHP MACBETH MAUT

Contratar pessoal 0,15 24 0,22

Manter o efetivo 0,37 64 0,61

Terceirizar 0,48 71 0,72

Observa-se na Tabela 3, que as aplicações de diferentes métodos de MCDM

geraram vetores de decisão diferentes entre si. Mas, os respectivos vetores ordinais são

iguais: (1, 2, 3). Ou seja, com qualquer uma das aplicações, a solução de um Problema

de Escolha ou de um Problema de Ordenação seria a mesma. No caso, a solução

indicada pelas aplicações foi, de facto, a que a empresa decidiu: Terceirizar.

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20

A coincidência relatada anteriormente era esperada, uma vez que os mesmos

dados iniciais foram utilizados. Mas, isto não ocorreu em uma aplicação teórica de

AHP, ELECTRE I e MACBETH em um problema de seleção de fornecedores

(SALOMON, et al., 2006). Os mesmos dados iniciais foram utilizados. Os resultados

das aplicações estão apresentados na Figura 3.

Método Resultados

AHP Selecionar o Fornecedor B.

Se o peso do Critério Preço for maior que 80%, então selecionar o Fornecedor C.

ELECTRE I Selecionar os Fornecedores B ou C.

Evitar selecionar o Fornecedor A.

MACBETH Selecionar o Fornecedor B.

Se o peso do Critério Preço for maior que 40%, então selecionar o Fornecedor A.

Figura 3. Resultados obtidos com aplicações de três métodos de MCDM

(Fonte: SALOMON, et al., 2006)

Embora todas as aplicações resultem na seleção do Fornecedor B, há certa

divergência entre elas. Do exposto na Figura 3, surgem duas questões:

1. Os resultados podem ser considerados compatíveis ou não?

2. Se os resultados forem incompatíveis, qual deles é o correto?

Ao se tentar responder a estas questões, temas de recentes pesquisas sobre

MCDM podem ser abordados. Entres estes temas, incluem-se validade de uma

aplicação (WHITAKER, 2007) e compatibilidade entre vetores de decisão (GARUTI,

2007), objetos de estudo desta tese.

Compatibilidade e validade de aplicações de métodos de MCDM são temas de

publicações recentes. Mas, o questionamento de resultados de aplicações de métodos de

MCDM não é uma novidade. Um exemplo é a questão de inversão de ordem (RR,

ranking reversal). RR ocorre quando há inversão de ordem, ou prioridades, das

alternativas, quando, por exemplo, se inclui ou exclui uma alternativa. RR é

apresentada, frequentemente, como sendo uma “fragilidade do método AHP”

(MORITA, 2003). Porém, existem exemplos da ocorrência de RR em aplicações de

métodos ELECTRE (HORA, et al., 2009) (WANG, et al., 2008). Além disso, conforme

detalhado no Capítulo 2, em algumas situações a RR pode ser considerada legítima. Ou

seja, há casos de decisões reais em que a RR ocorreu. Assim, nestas situações,

aplicações de métodos que permitem a RR seriam mais adequadas, ou válidas, do que as

de outros métodos que buscam robustez à RR.

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21

1.2. Aspectos Metodológicos da Tese

Ainda existem, no Brasil, pesquisadores que alimentam a rivalidade entre as

Escolas Europeia e Norte-americana de MCDM. Infelizmente, estes pesquisadores

desempenham funções importantes como revisores de artigos, em congressos e

periódicos, ou assessores de órgãos de fomento a pesquisa. Estas pessoas tem uma

equivocada convicção da superioridade da Escola Europeia. Mais do que isto,

consideram que o AHP, o método de MCDM mais utilizado no mundo é um método

falho.

Uma das pretensões desta tese é contribuir para o fim deste preconceito. Espera-se

contribuir para que os pesquisadores brasileiros continuem a aplicar o AHP,

sistematicamente, em suas tomadas de decisões, assim como ocorre em todo o mundo.

O objetivo geral desta tese é apresentar contribuições para a análise de aplicações

de métodos de MCDM. Entre os objetivos específicos destacam-se:

Incluir, no estudo, temas recentes ou pouco abordados como compatibilidade e

validade de aplicações de métodos de MCDM em problemas discretos.

Identificar situações ou fragilidades em aplicações de métodos de MCDM, de

modo a evitar aplicações inválidas por usuários inexperientes.

Propor um procedimento para que uma aplicação possa ser considerada válida

ou não.

Espera-se atender aos objetivos e pretensões da tese utilizando-se um método de

pesquisa de estratégia quantitativa: Modelagem Matemática (BERTRAND, et al.,

2002). A estratégia quantitativa é impulsionada por considerações prévias; na

estratégia qualitativa, busca-se o que é importante para aqueles que atuam no universo

pesquisado (BRYMAN, 2008). Outra clara diferenciação entre as duas estratégias de

pesquisa é a quantidade de objetos pesquisados. Na estratégia qualitativa, apenas um

objeto de pesquisa pode ser suficiente, como em um estudo de caso. Na estratégia

quantitativa, o número de objetos pesquisados pode ser tão grande que estes nem

existam ainda, como no caso de uma Simulação.

Estratégias mistas de pesquisa também podem ser adotadas. Pois, aspectos

qualitativos podem auxiliar pesquisas com estratégia quantitativa e vice-versa

(BRYMAN, et al., 2007). Assim, a elaboração desta tese seguiu uma estratégia

qualitativa-quantitativa. Ou seja, pretendeu-se atender os objetivos e apresentar as

contribuições, com um número não exaustivo de exemplos.

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22

A Modelagem Matemática da aplicação de um método de MCDM consiste,

basicamente, de três fases:

1. Identificação do objetivo da decisão (ou seja, do tipo de problema), dos

critérios e das alternativas.

2. Atribuição de valores de importância para os critérios e valores de

desempenho para alternativas.

3. Síntese dos resultados

A Fase 1 da modelagem pode ser denominada de Estruturação; a Fase 2 é a

Medição, ou coleta de dados; e a Fase 3 é a Síntese dos Resultados. As duas últimas

fases são o foco desta tese. Há duas justificativas para o uso da palavra Fase ao invés de

Passo, na divisão da modelagem. A primeira é que as fases podem ser executadas com

simultaneidade ou iterações. Ao contrário disso, de acordo com o ditado popular, “um

passo de cada vez”. Por exemplo, em Problema de Escolha, após se medir o

desempenho das alternativas, pode haver dominância, o que implicaria na eliminação de

alguma alternativa. Assim, a Fase de Medição interage com a Fase de Estruturação. A

segunda justificativa é para que passo seja associado aos métodos. Ou seja, um passo

em uma aplicação de um método de MCDM é como está sendo realizado um

procedimento necessário para uma fase da modelagem do problema. Assim, se

estabelece a distinção conceitual entre Modelagem Matemática e aplicação de um

método de MCDM.

Esta tese está dividida em mais três capítulos, além deste introdutório. No

Capítulo 2 estão detalhados os conceitos teóricos para aplicação de métodos de MCDM

na solução de problemas discretos. Também estão apresentados conceitos como

compatibilidade entre vetores de decisão e validade da aplicação de um método de

MCDM. No Capítulo 3 apresentam-se a contribuições para a análise de aplicações de

métodos de MCDM. No Capítulo 4 estão as considerações finais da tese.

Após o último capítulo, encontram-se as Referências Bibliográficas. As citações

na tese e as fontes bibliográficas após o texto foram inseridas com utilização do

software Microsoft Word no padrão da Organização Internacional para Padronização

(ISO, do inglês, International Organization for Standardization), a norma ISO

690:1987. De acordo com este padrão, a expressão “e outros” (do latim, “et al.”) é

utilizada nas citações de obras com mais de um autor e nas referências bibliográficas

com mais de três autores.

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23

2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS

2.1. Considerações Iniciais

Neste capítulo, conceitos de MCDM são apresentados. Inicialmente, na Seção 2.2

estão apresentados como, na aplicação de alguns métodos de MCDM, são realizadas as

Fases de Medição e Síntese. Nas Seções 2.3 e 2.4, respectivamente, a validade e a

compatibilidade de aplicações de métodos de MCDM são apresentadas em detalhe.

Ainda nesta seção inicial do capítulo é introduzido um exemplo teórico de um problema

discreto de MCDM. Este exemplo será utilizado em toda a Seção 2.2, com aplicações de

quatro métodos de MCDM: AHP, ELECTRE I, MAUT e MACBETH.

Na Figura 4, observam-se exemplos de dados iniciais de um problema discreto de

MCDM: a qualificação do desempenho das alternativas com relação a cada critério.

Alternativa Critério 1 Critério 2 Critério 3

1 Excelente Razoável Razoável

2 Razoável Excelente Excelente

3 Muito bom Muito bom Ruim

4 Bom Bom Ruim

Figura 4. Exemplo de dados iniciais para aplicação de um método de MCDM

Em se tratando de um Problema de Escolha, a Alternativa 4 deve ser eliminada.

Pois, seu desempenho é no máximo igual ao da Alternativa 3, às vezes pior. Assim,

pode-se dizer que o desempenho da Alternativa 3 domina o da Alternativa 4. Não há

nenhuma outra relação de dominância evidente. Mas, em se tratando de um Problema de

Ordenação, então a Alternativa 4 não pode ser eliminada. Pois, mesmo sendo dominada

pela Alternativa 3, seu desempenho global pode ser superior ao de outra alternativa.

Além do desempenho das alternativas, o peso dos critérios pode ser necessário,

dependendo do método de MCDM que será aplicado. A título de exemplo, considere-se

que: o Critério 2 é o mais importante; os Critérios 1 e 3 são igualmente importantes.

2.2. Fases de Medição e Síntese

2.2.1. ELECTRE

Em aplicações de alguns métodos de MCDM, a matriz de decisão é obtida com a

atribuição direta de valores. Em aplicações de métodos ELECTRE adota-se, geralmente,

uma escala linear de 1 a 5 (COSTA, et al., 2004). Assim, a matriz de decisão

apresentada na Tabela 4 pode ser obtida a partir dos dados apresentados na Figura 4.

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Tabela 4. Exemplo de matriz de decisão, com aplicação de ELECTRE I

Alternativa Critério 1 Critério 2 Critério 3

1 5 2 2

2 2 5 5

3 4 4 1

4 3 3 1

A atribuição de valores numéricos para o desempenho qualitativo pode depender

de opiniões pessoais. Ou seja, os valores da Tabela 4 podem variar, dependendo de

quem fez o julgamento, e de quais são seus objetivos e preferências (SAATY, 2005).

Ao contrário de invalidar a aplicação, esta dependência a torna legítima para a solução

do problema, conforme discutido no Capítulo 3.

Com exceção de ELECTRE IV, os pesos dos critérios são necessários para

aplicação de métodos ELECTRE (GOMES, 2007). Estes pesos podem ser obtidos com

vários procedimentos. A atribuição direta de valores é, geralmente, adotada. Assim,

como o Critério 2 é o mais importante, pode-se atribuir w2 = 1. Como os Critérios 1 e 3,

são igualmente menos importantes, pode-se atribuir w1 = w3 = 0,5. Então, obtém-se o

vetor de pesos dos critérios, w = (0,5; 1; 0,5). Este vetor pode ser normalizado, de

acordo com a Equação (4), resultando em w = (0,25; 0,5; 0,25).

Na Etapa de Síntese, em aplicações de ELECTRE, trabalha-se com o conceito de

superação entre as alternativas. Procura-se identificar se o risco de considerar uma

alternativa tão boa quanto outra é aceitável (GOMES, et al., 2003). Para se chegar a esta

aceitação são utilizados os conceitos de concordância e discordância.

A partir de uma matriz de decisão podem ser obtidos conjuntos de concordância,

Cij, e conjuntos de discordância, Dij. Um conjunto de concordância é composto pelos

critérios em que o desempenho da Alternativa i é melhor ou igual ao da Alternativa j. Já

no conjunto de discordância estão os critérios em que o desempenho da Alternativa i

não é melhor que o da Alternativa j.

A cada conjunto de concordância se atribui um índice, obtido com a soma dos

pesos dos critérios que compõem o respectivo conjunto. Os vários índices de

concordância compõem a matriz de concordância. A cada conjunto de discordância se

atribui um índice, obtido com a razão entre a maior diferença entre djk e dik (k = 1, 2... n)

e a maior diferença entre dois componentes de uma coluna da matriz de decisão.

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As Tabela 5 e Tabela 6 apresentam as matrizes de concordância e discordância,

respectivamente, obtidas com a matriz de decisão apresentada na tabela 4 e com o vetor

de pesos dos critérios normalizado.

Tabela 5. Exemplo de matriz de concordância, com aplicação de ELECTRE I

Alternativa 1 2 3 4

1 0,25 0,50 0,50

2 0,75 0,75 0,75

3 0,50 0,25 0,75

4 0,50 0,25 0,25

Tabela 6. Exemplo de matriz de discordância, com aplicação de ELECTRE I

Alternativa 1 2 3 4

1 0,75 0,50 0,25

2 0,75 0,50 0,25

3 0,25 1 0

4 0,50 1 0,25

O passo seguinte é a obtenção de limites de concordância e discordância.

Inicialmente, as médias aritméticas dos componentes das matrizes podem ser adotadas

como limites. Neste caso, para os valores das Tabela 5 e Tabela 6, ambos os limites de

concordância e discordância seriam iguais a 0,50.

A matriz de superação, S, pode ser obtida da seguinte maneira: quando o índice de

concordância for maior ou igual ao seu limite e quando o índice de discordância for

menor ou igual ao seu limite, então, sij = 1. Caso contrário, sij = 0. A Tabela 7 apresenta

a matriz de superação para o exemplo em questão.

Tabela 7. Exemplo de matriz de superação, com aplicação de ELECTRE I

Alternativa 1 2 3 4

1 0 1 1

2 0 1 1

3 1 0 1

4 1 0 0

Da Tabela 7 pode-se obter o grafo orientado apresentado na Figura 5.

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Figura 5. Grafo orientado, com aplicação de ELECTRE I

A interpretação do grafo é a seguinte: não há preferência entre as Alternativa 1 e 3

e entre 1 e 4; as Alternativas 1 e 2 são incomparáveis; a Alternativa 2 supera as

Alternativas 3 e 4; A Alternativa 3 supera a Alternativa 4.

Se os limites de concordância e discordância variarem em 10 pontos percentuais

(aumentando o de concordância para 0,60 e diminuindo o de discordância para 0,40), as

relações de superação também se alteram. A Tabela 8 apresenta uma nova matriz de

superação obtida com os novos limites.

Tabela 8. Exemplo de nova matriz de superação, com aplicação de ELECTRE I

Alternativa 1 2 3 4

1 0 0 0

2 0 0 1

3 0 0 1

4 0 0 0

A interpretação da nova matriz de superação é: as Alternativas 2 e superam a

Alternativa 4; as demais alternativas não são comparáveis entre si. Um grafo orientado

também pode ser obtido a partir da nova matriz. Mas, como são poucas as relações de

superação (ao contrário da Tabela 7), esta figura não será tão útil.

Das matrizes de superação obtidas, conclui-se que, se o problema em questão for

um Problema de Escolha, a aplicação de ELECTRE I apresentada nesta seção não pode

ser considerada eficaz. Pois, a aplicação não indica uma solução para o problema. O

mesmo pode ser considerado para um Problema de Ordenação. Ou seja, neste exemplo,

a aplicação de ELECTRE I seria mais adequada para Problemas de Classificação ou

Descrição.

A adequação de um método a um tipo de problema é discutida no Capítulo 3. Nas

Seções 2.2.2 a 2.2.4 apresenta-se como o problema poderia ser solucionado com

aplicação de outros métodos de MCDM.

Alternativa 1 Alternativa 3

Alternativa 2

Alternativa 4

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2.2.2. MAUT

Em aplicações de MAUT, os componentes da matriz de decisão devem ser

idealizados, conforme a Equação (6). Contudo, desta equação apenas pode-se obter

d11 = d22 = d23 = 1. Os demais componentes da matriz são obtidos com a Equação (7),

ou com interpolação linear entre 0 e 1.

njdij

m

i

...2,10)(min1

(7)

Assim, a matriz apresentada na Tabela 9 pode ser obtida.

Tabela 9. Exemplo de matriz de decisão, com aplicação de MAUT

Alternativa Critério 1 Critério 2 Critério 3

1 1 0 1/4

2 0 1 1

3 2/3 2/3 0

4 1/3 1/3 0

Em aplicações de MAUT, o vetor de pesos dos critérios também deve ser

normalizado. Ou seja, pode-se utilizar o mesmo w obtido para aplicação de ELECTRE,

apresentado na Seção 2.2.1. Substituindo valores na Equação (1), obtém-se o vetor de

decisão apresentado na Tabela 10. Este vetor é também um vetor de utilidade média, ou

vetor da utilidade esperada com a escolha de cada alternativa.

Tabela 10. Exemplo de vetor de decisão com a aplicação de MAUT

Alternativa Utilidade esperada

1 0,31

2 0,75

3 0,50

4 0,25

Se o problema em questão for um Problema de Escolha, então a aplicação de

MAUT indica a escolha da Alternativa 2. Se o problema for de ordenação, o vetor de

decisão ordinal obtido com a aplicação da MAUT é o = (3, 1, 2, 4).

Um procedimento interessante na Fase de Síntese dos Resultados é a Análise de

Sensibilidade. Nota-se na Tabela 10, que a Alternativa 2 possui utilidade nula de acordo

com o Critério 1. Assim, a Figura 6apresenta como a utilidade esperada das alternativas

variaria se o peso do Critério 1 fosse aumentado.

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Figura 6. Exemplo de gráfico de Análise de Sensibilidade, com aplicação de MAUT

O gráfico apresentado na Figura 6, ás vezes é, erroneamente, denominado de

Análise de Sensibilidade. O gráfico em si é apenas uma ferramenta. A análise será a

interpretação dos elementos do gráfico. Por exemplo, nota-se que caso o peso do

Critério 1 seja dobrado, ou seja, aumente de 25% para 50%, a Alternativa 2 deixará de

ser a alternativa com maior utilidade esperada, sendo ultrapassada por duas Alternativas

1 e 3. Julgar se este aumento é viável pode depender de opiniões de especialistas ou de

pessoas envolvidas com a solução do problema.

2.2.3. AHP

Em aplicações de AHP, os pesos dos critérios são obtidos com um procedimento

mais sofisticado do que a simples atribuição direta de valores. Uma matriz de

comparações entre os critérios, dois a dois, deve ser preenchida. Para as comparações,

geralmente, se adota uma escala linear de 1 a 9, a Escala Fundamental de Números

Absolutos (SAATY, 2005), ou, simplesmente, Escala Fundamental. Os pesos dos

critérios são obtidos baseando-se em uma teoria bem conhecida da Álgebra Linear.

Dada uma matriz de comparações, A, os pesos dos elementos comparados podem

ser obtidos como o autovetor direito da matriz, v, conforme a Equação (8), onde é o

maior autovalor da matriz.

A v = v (8)

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1

Utilidade esperada

Peso do Critério 1

Alternativa 1

Alternativa 2

Alternativa 3

Alternativa 4

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A Equação (8) gera um sistema com n equações lineares e n+1 variáveis. Existem

diversas marcas de software comercial que realizam este cálculo. O serviço online

Wolfram Alpha (WOLFRAM RESEARCH COMPANY, 2010), também realiza o

cálculo, instantânea e gratuitamente. Além disso, devido às características da Escala

Fundamental, os componentes do autovetor podem ser facilmente estimados com

planilhas eletrônicas. Assim, ao contrário do que ocorre com alguns métodos de

MCDM, aplicações de AHP não necessitam de um software proprietário. Esta abertura

no conhecimento é uma das justificativas para o maior número de aplicações do AHP.

A Tabela 11 apresenta um exemplo de matriz de comparações entre os critérios,

utilizando a Escala Fundamental. Observa-se que o Critério 2 foi julgado “um pouco

mais importante” que o Critério 1. A este julgamento corresponde o valor 3 na Escala

Fundamental. Os pesos dos critérios foram obtidos com a normalização dos

componentes do autovetor direito. Para esta matriz obtém-se = 3.

Tabela 11. Exemplo de comparações entre critérios, com aplicação de AHP

Critério 1 2 3 Peso

1 1 1/3 1 20%

2 3 1 3 60%

3 1 1/3 1 20%

O mesmo procedimento adotado para a obtenção de pesos dos critérios pode ser

utilizado para os valores de desempenho das alternativas. Ou seja, as alternativas podem

ser comparar duas a duas, para cada critério. Do autovetor direito normalizado de cada

matriz de comparações obtém-se o vetor de desempenho, ou de prioridades das

alternativas, para o critério em questão. Assim, a Tabela 12 apresenta a matriz de

decisão. Na linha inferior da tabela está apresentado o maior autovalor obtido para cada

matriz de comparações.

Tabela 12. Exemplo de matriz de decisão, com aplicação de AHP

Alternativa Critério 1 Critério 2 Critério 3

1 0,57 0,06 0,18

2 0,06 0,56 0,69

3 0,24 0,26 0,07

4 0,14 0,12 0,07

4,39 4,11 4,04

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Observa-se que as matrizes de comparações que originaram os componentes da

matriz de decisão possuem autovalores próximos de 4, ou seja, n. Isto é um

indicador da qualidade das comparações: as comparações possuem coerência entre si.

De acordo com a Equação (9), o índice de consistência, , mede o afastamento

entre e n. Este índice não deve ficar próximo de 0,10 (SAATY, 2006).

1

n

n (9)

A Tabela 13 apresenta os índices de consistência das matrizes de comparações

que geraram o vetor de pesos dos critérios (Tabela 11) e a matriz de decisão (Tabela

12).

Tabela 13. Exemplo de índices de consistência, com aplicação de AHP

Variável Tabela 11 Tabela 12

Critério 1 Critério 2 Critério 3

3 4,39 4,11 4,04

0 0,13 0,04 0,01

Observa-se que as matrizes de comparações entre as alternativas não podem ser

consideradas 100% consistentes como a matriz de comparações entre os critérios. Uma

das justificativas é o aumento no número de itens comparados. A questão que surge é se

as comparações com relação ao Critério 1 precisam ser revisadas. Estas comparações

geraram um valor de desempenho superior a 0,5 para a Alternativa 1 e outro valor

inferior a 0,1 para a Alternativa 2. Este deve ser o primeiro foco do tomador de decisão,

caso, não esteja contente com este resultado, ele deve alterar as comparações. A mesma

revisão deve ser feita com relação aos demais critérios. Caso ele esteja satisfeito com o

resultado, isto é com a matriz de decisão, ele pode, sim, aceitar a matriz de decisão, isto

não será um “grande pecado”1.

Caso se opte pela revisão da matriz de comparações, o uso de software específico

para o AHP, como Expert Choice (EXPERT CHOICE, INC., 2009) ou Super Decisions

(CREATIVE DECISIONS FOUNDATION, 2009), pode ser útil. Pois, o software

1 “This is not a big sin” foi uma frase proferida pelo Prof. Thomas Saaty, durante o 6º Simpósio

Internacional sobre o AHP, em referência a = 0,15.

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realiza cálculos, como a diferença entre as matrizes aij e vi/vj, que indicam rapidamente

qual comparação está mais incoerente com as demais.

O índice de consistência da hierarquia, H, pode ser calculado conforme a

Equação (10) (SAATY, 2006 p. 127):

h

j

n

i

jiijH

ji

w1 1

1,

1,

(10)

Substituindo valores das Tabela 11 e Tabela 13, na Equação (10):

H = 1×0 + 0,20×0,13 + 0,60×0,04 + 0,20×0,01 = 0 + 0,026 + 0,024 + 0,002 = 0,052

Assim, as matrizes de comparações podem ser consideradas consistentes.

Substituindo valores na Equação (1), obtém-se o vetor de decisão apresentado na Tabela

14.

Tabela 14. Exemplo de vetor de decisão, com aplicação de AHP

Alternativa Desempenho global

1 0,18

2 0,49

3 0,22

4 0,11

Os resultados obtidos com a aplicação de AHP são os mesmos da aplicação de

MAUT. Se o problema em questão for um Problema de Escolha, então, a aplicação de

AHP indica a escolha da Alternativa 2. Se for um Problema de Ordenação, o vetor de

decisão ordinal obtido com a aplicação da AHP é o = (3, 1, 2, 4).

A Figura 7 apresenta um gráfico da variação do desempenho global das

alternativas com relação ao peso do Critério 1. Novamente, a opinião de especialista e

do tomador de decisão definirá a Análise de Sensibilidade. Contudo, percebe-se do

gráfico que o desempenho da Alternativa 2 foi um pouco superior na aplicação de AHP,

comparada com a aplicação de MAUT.

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Figura 7. Exemplo de gráfico de Análise de Sensibilidade com aplicação de AHP

2.2.4. MACBETH

AHP e MACBETH estão entre os métodos mais aplicados para a solução de

problemas discretos de MCDM, no Brasil, durante a década de 2000 (SALOMON, et

al., 2006). Uma fraca justificativa apresentada por alguns adeptos do MACBETH é que

ele se trata de um método mais recente que o AHP. De facto, o 1º artigo sobre

MACBETH (BANA C., et al., 1994) é 20 anos mais novo que 1º o sobre AHP

(SAATY, 1974). No entanto, AHP e MACBETH têm tantos elementos em comum, que

se pode dizer que o segundo não é muito mais do que uma nova versão do primeiro.

Tanto nas aplicações de AHP, quanto nas de MACBETH, se mede atributos intangíveis

das alternativas com julgamentos inseridos em matrizes de comparações. A qualidade

dos julgamentos, em aplicações de ambos os métodos, é verificada com a coerência

entre as comparações. As principais diferenças entre os métodos incluem a escala

utilizada para as comparações e o procedimento de se obter prioridades através dos

julgamentos.

Em aplicações do MACBETH as comparações entre as alternativas devem

preceder as comparações entre os critérios. As comparações também são inseridas em

uma matriz de comparações. Mas, a escala adotada para as comparações não é uma

escala de números absolutos. Adota-se uma escala de categorias: seis [sic] categorias

semânticas de diferença de atratividade são oferecidas como possíveis respostas para as

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1

Desempenho global

Peso do Critério 1

Alternativa 1

Alternativa 2

Alternativa 3

Alternativa 4

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comparações (BANA C., et al., 2005). De facto, conforme apresentado na Figura 8, são

sete categorias.

Categoria Descrição

0 Sem diferença de atratividade

1 Diferença de atratividade muito fraca

2 Fraca diferença de atratividade

3 Moderada diferença de atratividade

4 Forte diferença de atratividade

5 Muito forte diferença de atratividade

6 Extrema diferença de atratividade

Figura 8. Categorias semânticas para comparações

Os vetores de desempenho, possibilidade ou prioridades, das alternativas com

relação aos critérios são obtidos com um modelo de programação linear (PL). No

entanto, muitos usuários do método desconhecem os elementos do modelo como a

função objetivo, variáveis e restrições. As comparações são, geralmente, inseridas no

único software disponível para aplicação do método: M-MACBETH (BANA

CONSULTING LDA., 2007).

Um procedimento, geralmente, adotado nas aplicações de MACBETH é o

estabelecimento de níveis de desempenho para cada critério. Realizam-se comparações

entre estes níveis e o modelo de PL retorna valores de desempenho para cada nível,

conforme a Tabela 15. De acordo com o software M-MACBETH, esta matriz de

comparações pode ser aceita, ou seja, os julgamentos podem ser considerados coerentes

entre si.

Tabela 15. Exemplo de comparações entre níveis de desempenho, com aplicação de MACBETH

Nível N1 N2 N3 N4 N5 Desempenho

Excelente (N1) 0 2 4 5 6 100

Muito Bom (N2) 0 3 4 6 80

Bom (N3) 0 2 4 50

Razoável (N4) 0 3 30

Ruim (N5) 0 0

A matriz de decisão apresentada na Tabela 16 pode ser obtida associando os

dados qualitativos de desempenho apresentados na Figura 4, com os níveis de

desempenho apresentados na Tabela 15. Para todos os critérios foram considerados os

mesmos níveis desempenho.

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34

Tabela 16. Exemplo de matriz de decisão, com aplicação de MACBETH

Alternativa Critério 1 Critério 2 Critério 3

1 100 30 30

2 30 100 100

3 80 80 0

4 50 50 0

Após a obtenção da matriz de decisão, o passo seguinte em aplicações de

MACBETH é a obtenção de pesos para os critérios. Assim como no AHP o vetor de

pesos dos critérios é obtido de uma matriz de comparações. As comparações, no

entanto, não são entre os critérios, mas, sim entre a diferença de atratividade entre duas

alternativas virtuais. Ou seja, aij representa qual a diferença de atratividade entre a

escolha de uma alternativa com o melhor desempenho no Critério i ao invés da

alternativa com o melhor desempenho no Critério j.

Devido ao modelo de PL utilizado no software M-MACBETH, um critério

fictício, Inferior, deve ser inserido na matriz de comparações. Trata-se de uma

alternativa com o pior desempenho em todos os critérios. Assim, esta alternativa terá o

peso nulo, e o critério menos importante terá um peso não nulo, sendo também

considerado na tomada de decisão. A Tabela 17 apresenta um exemplo de matriz de

comparações com aplicação de MACBETH. De acordo com o software M-MACBETH,

os julgamentos podem ser considerados coerentes.

Tabela 17. Exemplo de comparações entre critérios, com aplicação de MACBETH

Critério 1 2 3 Inferior Peso

1 0 4 6 26%

2 4 0 0 5 48%

3 0 5 26%

Inferior 0 0

Nota-se que, se o Critério Inferior não fosse inserido, os pesos dos Critérios 1 e 3

seriam iguais a zero. Ou seja, a tomada de decisão seria baseada apenas no Critério 2.

Assim, a inserção do Critério Inferior, mais do que um artifício é um procedimento

necessário nas aplicações de MACBETH.

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35

Substituindo-se a matriz de decisão (Tabela 16) e o vetor de pesos dos critérios

(Tabela 17) na Equação (1), obtém-se o vetor de decisão apresentado na Tabela 18.

Tabela 18. Exemplo de vetor de decisão, com aplicação de MACBETH

Alternativa Pontuação global

1 48,4

2 81,6

3 58,4

4 36,8

Os resultados obtidos com a aplicação de MACBETH são os mesmos da

aplicação de AHP e MAUT. Se o problema em questão for um Problema de Escolha,

então, a aplicação de MACBETH indica a escolha da Alternativa 2. Se for um Problema

de Ordenação, o vetor de decisão ordinal obtido com a aplicação da MACBETH é

o = (3, 1, 2, 4).

A Figura 9 apresenta um gráfico da variação do desempenho global das

alternativas com relação ao peso do Critério 1. Percebe-se que o gráfico obtido com

aplicação de MACBETH está mais parecido com o gráfico da aplicação de AHP, do que

o do gráfico obtido com a aplicação de MAUT.

Figura 9. Exemplo de gráfico de Análise de Sensibilidade, com aplicação de MACBETH

(Software M-MACBETH)

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36

2.3. Validade da Aplicação de um Método de MCDM

2.3.1. Exemplos de aplicações válidas de AHP

A scaling method for priorities in hierarchical structures (SAATY, 1977) é um

dos primeiros artigos sobre o AHP. Neste artigo são apresentadas duas tabelas,

reproduzidas na Tabela 19. Os componentes da matriz de comparações são respostas à

pergunta: o quanto a cidade i é mais distante de Filadélfia do que a cidade j é? Filadélfia

foi a cidade onde o Prof. Thomas Saaty residiu na década de 1970. Suas respostas foram

dadas com base no cansaço durante voos entre as cidades.

Tabela 19. Distância a Filadélfia

(Fonte: SAATY, 1977)

Cidade CAI TYO ORD SFO LGW YMX Autovetor Distância

[milha]

Distância

normalizada

Cairo (CAI) 1 1/3 8 3 3 7 0,263 5.729 0,278

Tóquio (TYO) 3 1 9 3 3 9 0,397 7.449 0,361

Chicago (ORD) 1/8 1/9 1 1/6 1/5 2 0,033 660 0,032

São Francisco (SFO) 1/3 1/3 6 1 1/3 6 0,116 2.732 0,132

Londres (LGW) 1/3 1/3 5 3 1 6 0,164 3.658 0,177

Montreal (YMX) 1/7 1/9 1/2 1/6 1/6 1 0,027 400 0,019

O índice de consistência da matriz de comparações é = 0,09. Portanto, abaixo do

limite de 0,10. A maior diferença absoluta entre um elemento do autovetor e o vetor de

distâncias normalizadas é igual a 0,036, para Tóquio. Um índice de consistência abaixo

de 0,10 e a pequena diferença entre os componentes dos dois vetores permitem que a

matriz de comparações seja aceita. Ou seja, estes indicadores validam a matriz.

Portanto, este é um exemplo de validação de uma aplicação de AHP.

A validação foi possível porque existe uma solução real para o problema. Como a

solução já existia antes da aplicação de AHP, esta foi uma aplicação ex-post. Outros

exemplos de validação de aplicações ex-post de AHP incluem estimativa de áreas de

figuras geométricas, pesos de objetos em um escritório, e consumo relativo de energia

elétrica de eletrodomésticos (WHITAKER, 2007). Na Seção 2.3.2 apresentam-se

aplicações ex-post de AHP e MACBETH no mesmo problema.

A validação de uma aplicação pode ocorrer também quando se realiza uma

aplicação ex-ante, ou seja, antes que exista uma solução real para o problema. Eventos

econômicos, esportivos, políticos etc. podem ser estudados e o resultado da aplicação

pode ser verificada, posteriormente. Um exemplo ocorreu na previsão do resultado do

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campeonato mundial de xadrez em 1980 (SAATY, et al., 1991). Foram considerados 2

grupos de critérios (comportamental e técnico), totalizando 18 critérios, como

capacidade de cálculo, ego, experiência etc. A previsão com aplicação de AHP foi que

Anatoly Karpov venceria seis jogos contra Viktor Korchnoi. E foi o que aconteceu.

Assim, quando existir uma solução real para um problema, a validade da

aplicação de um método de MCDM pode ser verificada. Caso os resultados coincidam,

ou pelo menos possam ser considerados próximos, a aplicação pode ser validada; caso

os resultados sejam muito diferentes, a aplicação deve ser invalidada. Com o índice de

compatibilidade apresentado na Seção 2.4.1, pode-se estimar se os resultados estão

próximos ou distantes.

2.3.2. Exemplo de aplicação válida de AHP e inválida de MACBETH

Esta seção apresenta um Problema de Escolha real relacionado com uma decisão

pessoal: a compra de um automóvel. Os métodos AHP e MACBETH seriam aplicados.

Foram consideradas três alternativas. Mas, seus desempenhos foram muito similares em

critérios como beleza, conforto, segurança, status etc. Assim, seria uma decisão

baseada em um único critério financeiro: custos. Mas, há vários tipos de custos

envolvidos com a propriedade de um automóvel, conforme apresentado na Tabela 20.

Os valores foram obtidos de informações de fabricantes ou revendedores.

Tabela 20. Custos de se possuir um automóvel

(Fonte: SALOMON, 2008)

Alternativa Preço

[dólar]

Consumo de combustível

[mpg]

Manutenção anual

[dólar] Depreciação em 3 anos

1 26.000 20 1.200 70%

2 27.000 27 1.320 60%

3 28.000 25 840 50%

O comprador enfrenta alguns trade-offs. Se escolher a Alternativa 1, irá gastar

menos com o custo inicial, preço. Mas, se escolher a Alternativa 2 gastará menos com

combustível, já que este automóvel possui o melhor desempenho em consumo de

combustível, medido em milhas por galão (mpg). Há ainda a Alternativa 3, que se for

escolhida, fará o comprador gastar menos com manutenção anual e recuperar mais

dinheiro com uma revenda após 3 anos, já que este automóvel se depreciará menos.

Assim, não há uma alternativa dominante.

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38

A Tabela 21 apresenta comparações entre os critérios, com aplicação de AHP. O

índice de consistência da matriz de comparações é = 0,04. Assim, a matriz pode ser

considerada consistente.

Tabela 21. Pesos dos critérios, com aplicação de AHP

Critério P C M D Pesos

Preço (P) 1 3 5 7 56%

Consumo de combustível (C) 1/3 1 3 5 26%

Manutenção anual (M) 1/5 1/3 1 3 12%

Depreciação (D) 1/7 1/5 1/3 1 6%

Os dados da Tabela 20 podem ser aproveitados para se obter o desempenho das

alternativas com relação a cada critério. Primeiramente, deve ser observado que os

dados de consumo de combustível foram medidos proporcionalmente ao desempenho da

alternativa: ou seja, quanto mais alto for o valor, em mpg, mais preferível será a

alternativa. Para os outros critérios, os dados foram medidos de maneira inversa. Ou

seja, para o preço, por exemplo, quanto maior o valor, pior o desempenho da alternativa.

A Tabela 22 apresenta os valores de desempenho obtidos para as alternativas com a

normalização dos dados de consumo de combustível e com a harmonização dos dados

para os outros critérios. O procedimento de harmonização consiste na soma dos dados,

seguida pela divisão da soma pelo dado inicial e, finalmente, pela normalização.

Tabela 22. Matriz de decisão, com aplicação de AHP

Alternativa Preço Consumo de combustível Manutenção anual Depreciação em 3 anos

1 81/26 → 0,346 20/72 → 0,278 3,36/1,20 → 0,298 180/70 → 0,280

2 81/27 → 0,333 27/72 → 0,375 3,36/1,32 → 0,275 180/60 → 0,327

3 81/28 → 0,321 25/72 → 0,347 3,36/0,84 → 0,426 180/50 → 0,393

A Tabela 23 apresenta o vetor de decisão, obtido substituindo-se a matriz de

decisão e o vetor de pesos dos critérios na Equação (1). O resultado da aplicação de

AHP é a seleção da Alternativa 3.

Tabela 23. Vetor de decisão, com aplicação de AHP

Alternativa Desempenho global

1 0,319

2 0,337

3 0,345

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39

Os dados apresentados na Tabela 20 também podem ser aproveitados em uma

aplicação de MACBETH. Primeiramente, devem ser estabelecidos intervalos de

desempenho aceitáveis para cada critério, conforme apresentado na Tabela 24.

Tabela 24. Limites de desempenho para os critérios, com aplicação de MACBETH

Desempenho Preço

[dólar]

Consumo de

combustível [mpg]

Manutenção

anual [dólar]

Depreciação

em 3 anos

Melhor 25.000 30 600 50%

Pior 29.000 20 1.800 90%

A Tabela 25 apresenta as pontuações das alternativas de acordo com cada critério.

Para o melhor valor da Tabela 24 atribuiu-se 100 pontos; para o pior valor foi atribuído

zero. Os demais valores da Tabela 20 foram interpolados linearmente.

Tabela 25. Matriz de decisão, com aplicação de MACBETH

Alternativa Preço Consumo de combustível Manutenção anual Depreciação em 3 anos

1 75 0 50 50

2 50 70 40 75

3 25 50 80 100

A Tabela 26 apresenta comparações entre os critérios. O vetor de pesos dos

critérios foi obtido com utilização do software M-MACBETH. De acordo com este

software a matriz de comparações pode ser considerada consistente.

Tabela 26. Pesos dos critérios, com aplicação de MACBETH

Critério P C M D I Pesos

Preço (P) 0 1 2 3 4 40%

Consumo de combustível (C) 0 1 2 3 30%

Manutenção anual (M) 0 1 2 20%

Depreciação (D) 0 1 10%

Inferior (I) 0 0%

A Tabela 27 apresenta o vetor de decisão obtido com a aplicação de MACBETH.

Tabela 27. Vetor de decisão, com aplicação de MACBETH

Alternativa Pontuação global

1 45,0

2 56,5

3 51,0

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40

A Alternativa 2 é a que possui maior pontuação global, devendo ser a escolhida.

Este resultado diverge do obtido com a aplicação de AHP. É importante salientar que a

aplicação de MACBETH foi revista por duas pessoas experientes na utilização do

software M-MACBETH.

A grande dificuldade encontrada pelo tomador de decisão, neste exemplo, foi

realizar as comparações com relação à última coluna. Por exemplo, a comparação entre

Preço e Inferior é uma resposta à pergunta: qual a perda de atratividade entre a escolha

de uma alternativa com o melhor preço e outra com o pior preço? Na Tabela 26 a

resposta é “forte”, ou seja, categoria 4. Mas, o tomador de decisão ficou em dúvida

achando que todas as comparações da coluna Inferior deveriam ser “extrema”, conforme

apresentado na Tabela 28.

Tabela 28. Novos pesos dos critérios, com aplicação de MACBETH

Critério P C M D I Pesos

Preço (P) 0 1 2 3 6 30%

Consumo de combustível (C) 0 1 2 6 27%

Manutenção anual (M) 0 1 6 23%

Depreciação (D) 0 6 20%

Inferior (I) 0 0%

De acordo com o software M-MACBETH a matriz de comparações apresentada

na Tabela 28 pode ser considerada consistente. A Tabela 29 apresenta o novo vetor de

decisão obtido com o novo vetor de pesos.

Tabela 29. Novo vetor de decisão, com aplicação de MACBETH

Alternativa Pontuação global

1 44,2

2 58,0

3 59,5

Observa-se que a Alternativa 3 passa a ser de maior pontuação global. Os dois

usuários experientes no software M-MACBETH foram, novamente, contatados. Um

deles não viu problemas na nova ordenação das alternativas. Considerou ainda que o

preenchimento de todos os componentes de uma coluna da matriz de comparações, com

valores iguais a 6, faz sentido. Mas, não é usual. O segundo especialista não entendeu a

alteração e preferiu não comentar os novos resultados.

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41

Os resultados da Tabela 27 devem ser mantidos como resultado da aplicação de

MACBETH nesta seção. Afinal, a aplicação que gerou estes resultados foi validada por

dois especialistas no software M-MACBETH.

Apesar da divergência entre os resultados das aplicações de AHP e MACBETH, o

Problema de Escolha apresentado nesta seção possui uma resposta correta. Ou seja, o

problema pode ser resolvido com Matemática Financeira. Deste modo as aplicações de

AHP e MACBETH podem ser consideradas aplicações ex-post. No entanto, todas as

comparações realizadas com AHP e MACBETH precederam a aplicação de Matemática

Financeira para não enviesar os julgamentos.

Considerando 15 mil milhas dirigidas por ano (a média dos Estados Unidos), dois

dólares por galão de combustível e uma taxa anual de juros de 5%, a Tabela 30

apresenta os custos para cada alternativa ao final de três anos.

Tabela 30. Custos com um automóvel, em dólares

Alternativa Preço de compra Consumo de combustível Manutenção anual Preço de revenda

1 30.098 4.729 3.783 (7.800)

2 31.256 3.503 4.161 (10.800)

3 32.414 3.783 2.648 (14.000)

A Tabela 31 apresenta o vetor de custos totais obtidos com a soma dos custos. É

importante observar que os componentes deste vetor são inversamente proporcionais à

preferência relativa a cada alternativa. Assim, a Alternativa 3 deve ser preferida, pois

possui o menor custo total.

Tabela 31. Vetores de decisão com aplicações de AHP, MACBETH e soma de custos

Alternativa Custo total [dólar] AHP MACBETH

1 30.810 0,319 45,0

2 28.120 0,337 56,5

3 24.845 0,345 51,0

Além do vetor de custos totais, os vetores de decisão com a aplicação de AHP e

MACBETH estão reapresentados na Tabela 31. Em se tratando de um Problema de

Escolha, a aplicação de AHP é válida, pois, indica a seleção da Alternativa 3. A

aplicação de MACBETH deve ser considerada inválida, pois, indica a seleção da

Alternativa 2.

A divergência entre os resultados da aplicação de MACBETH com os de AHP, e,

consequentemente, com os dados reais de custo total, tem duas causas prováveis. Estas

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causas são características intrínsecas do método. Ou seja, elas podem estar presentes em

qualquer aplicação de MACBETH. A primeira característica é o uso da escala de 0 a 6.

A segunda característica é a inclusão de um elemento virtual nas comparações entre os

critérios. No Capítulo 3 discute-se se estas características podem invalidar mais

aplicações de MACBETH.

2.3.3. Questionamentos sobre a validade do método AHP

AHP é o método de MCDM com maior quantidade de publicações científicas

(WALLENIUS, et al., 2008). Também é um método bastante utilizado no ambiente

corporativo, em parte, devido à disponibilidade de empresas de consultoria e de

software para facilitar a sua aplicação (CREATIVE DECISIONS FOUNDATION,

2009) (EXPERT CHOICE, INC., 2009). Contudo, este método tem sido alvo de criticas

no meio acadêmico. Boa parte destas críticas é totalmente indevida e já foi refutada

(GARUTI A., et al., 2008) (SAATY, et al., 2009). As principais críticas podem ser

generalizadas em seis tipos (GOMES, 2007):

Dificuldades na conversão de comparações linguísticas em numéricas.

Inconsistências impostas pela escala linear de 1 a 9.

Entendimento das questões por quem faz as comparações.

Inversão na ordem de prioridade das alternativas existentes, com a exclusão ou

inclusão de alternativas ou critérios.

O número de comparações necessárias pode ser alto.

Os axiomas do método.

As três primeiras críticas referem-se, principalmente, à Escala Fundamental. De

facto, existem outras escalas que já foram adotadas para a aplicação do AHP

(TRIANTAPHYLLOU, et al., 1994). Assim, este conjunto de críticas logo se tornou um

tema para pesquisas.

Variantes do AHP original chegaram a ser desenvolvidas a partir de contestações

da Escala Fundamental. Dois exemplos são o AHP Multiplicativo (LOOTSMA, 1993) e

o AHP Revisado (TRIANTAPHYLLOU, 2000). Contudo, por meio de vários

experimentos e pela utilização do AHP na prática, a habilidade da Escala Fundamental

para capturar informação e retratar, precisamente, a intensidade de preferência de um

indivíduo está demonstrada (HARKER, et al., 1987).

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43

A inversão na ordem de prioridade das alternativas, com a exclusão ou inclusão de

alternativas ou critérios, é um tema recorrente entre os críticos do AHP. Esta crítica é

denominada de ranking reversal (RR). A seguir, apresenta-se um exemplo de RR.

Suponha-se que se deseja comprar um produto. Um fornecedor já foi escolhido e

este informa que pode oferecer quatro modelos diferentes para este produto: A, B, C ou

D. Assim, trata-se de um Problema de Escolha. As condições de preço, de entrega e

pós-venda (no caso, pós-compra) são as mesmas para os quatro modelos. Então, apenas

um critério é utilizado nas comparações: a qualidade do produto.

A Tabela 32 apresenta comparações da preferência pessoal do comprador entre

os modelos. Baseou-se na Escala Fundamental para se realizar as comparações. Para a

matriz de comparações obtém-se um índice de consistência, = 0,06. Ou seja, as

comparações podem ser consideradas coerentes entre si. O vetor de preferências, obtido

com o autovetor, indica a escolha do Modelo B.

Tabela 32. Preferência entre quatro modelos disponíveis para um produto

Modelo A B C D Preferência

A 1 1 3 7 0,37

B 1 1 7 5 0,45

C 1/3 1/7 1 3 0,11

D 1/7 1/5 1/3 1 0,06

Suponha-se que, antes de ser informado da preferência pelo Modelo B, o

fornecedor comunique que o Modelo C se esgotou. Esta é uma informação irrelevante,

pois se trata de um modelo que não seria escolhido, nem em segundo lugar. Ou seja, a

priori, esta informação não alteraria a decisão. A Tabela 33 apresenta as preferências

obtidas apenas com a exclusão das comparações envolvendo o Modelo C.

Tabela 33. Preferência entre três modelos disponíveis para um produto

Modelo A B D Preferência

A 1 1 7 0,49

B 1 1 5 0,44

D 1/7 1/5 1 0,08

O índice de consistência da nova matriz de comparações é < 0,01. Ou seja, as

comparações são mais coerentes entre si de que as apresentadas na Tabela 32. Mas, na

Tabela 33 ocorre uma inversão na ordem de preferência das alternativas, com o Modelo

A passando o Modelo B, e assumindo o primeiro lugar. Esta inversão é um RR.

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44

As Tabela 32 e Tabela 33 apresentam violações a um axioma da MCDM: a

condição de preferência ordinal (COP, do inglês, condition of order preference). Ambas

as matrizes de comparações ferem a este axioma. Observa-se que a comparação entre os

Modelos A e B feriu a COP, ao se considerar que a comparação entre ambos os modelos

possuem a mesma preferência (número 1 na Escala Fundamental). Mas, há uma

diferença de preferências no autovetor obtido com as comparações. No entanto, AHP

não é um método concebido com o intuito de atender a este axioma. Isto porque não

existe uma comparação mais importante do que as outras. Assim, não se pode dizer que

a comparação entre os Modelos A e D e a entre os Modelos B e D são menos

importantes do que a entre os Modelos A e B. Aliás, o cálculo do autovetor considera-

as, igualmente (GARUTI A., et al., 2008).

A exclusão de uma alternativa ou de um critério pode ferir a outro axioma da

MCDM: as alternativas e critérios devem ser mutuamente exaustivos. Ou seja, assim,

por exemplo, ao se excluir uma alternativa, a decisão não estará sendo tomada levando-

se em consideração todas as informações necessárias.

Existem vários exemplos de decisões reais em que situações de RR ocorrem. A

eleição para presidente dos EUA, no ano 2000, é um exemplo clássico. Com a saída do

candidato do Partido Verde, a disputa que, estava, claramente, a favor do candidato do

Partido Republicano ficou, tecnicamente, empatada; pois, os candidatos dos Partidos

Democrata e Verde disputavam eleitores com perfil muito parecido. Assim, a discussão

inicial sobre RR deve ser se a inversão é legítima ou não. A seguir apresenta-se um

exemplo mais simples de situação em que RR é legítima (CORBIN, et al., 1974):

Em uma pequena cidade, uma senhora deseja comprar um chapéu para usá-lo

em um evento noturno. Ao entrar na única loja da cidade especializada em

chapéus, ela encontra dois modelos, A e B, que atendem à sua necessidade.

Embora goste dos dois, o chapéu A lhe agrada mais. Entretanto, o vendedor

descobre mais uma caixa e ao apresentar-lhe, percebem que se trata de outro

chapéu, mas, idêntico ao A. Assim, para evitar o constrangimento de ver

outra pessoa usando o mesmo chapéu que o dela, a senhora escolhe o chapéu

B.

O Prof. James Dyer, da Universidade do Texas, em Austin, argumenta que os

axiomas do AHP não estão, suficientemente, fundamentados. Trata-se de uma crítica

não apenas ao método AHP, mas, a todos os métodos de MCDM que se baseiam em

matrizes de comparações, como por exemplo, MACBETH.

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45

Em Remarks on the Analytic Hierarchy Process, o procedimento para obtenção

dos pesos das alternativas é considerado arbitrário. E a solução para o problema seria a

síntese do AHP com os conceitos da MAUT (DYER, 1990). Crítica tão polêmica foi

discutida (HARKER, et al., 1990) (SAATY, 1990) logo no mesmo exemplar de

periódico em que foi publicada. As comparações aos pares são, de facto, baseadas no

comportamento racional. Trabalhos em diversas áreas como Ciência Política,

Neurologia e Psicologia (SAATY et al., 2008) comprovam com esta afirmação.

Outra crítica ao método AHP diz respeito ao esforço para a tomada de decisão,

que pode ser medido pelo número de comparações necessárias. Para uma decisão com

nove alternativas e cinco critérios, uma aplicação de AHP necessitará de 190

comparações. Em princípio, esta não é uma critica direta à validade de uma aplicação.

Mas, um maior esforço na tomada de decisão pode gerar impactos na qualidade das

comparações. Assim, dois comentários são pertinentes com relação a esta critica. O

primeiro é que a aplicação de outros métodos, como MACBETH, por exemplo, pode

necessitar de uma maior quantidade de comparações. A inserção de um critério virtual

contribui para isto. O segundo comentário é que esta critica se tornou um tema de

pesquisa. Com o propósito de reduzir o número de comparações necessárias, “o que

permitirá ao grupo focar-se no debate e não na trabalhosa tarefa de preencher, por

completo, cada matriz de comparações” o algoritmo Incomplete Pairwise Comparisons

foi proposto (HARKER, 1987). Este algoritmo apresenta uma maneira científica para

redução do número de comparações necessárias. Contudo, talvez devido à sua

complexidade de cálculo, o algoritmo foi pouco utilizado na prática: existem apenas três

aplicações no Brasil, registradas em uma única tese de doutorado (SALOMON, 2004).

Com o uso de software, como Expert Choice e Super Decisions, é possível se obter o

autovetor a partir de matrizes de comparações incompletas. Porém, o algoritmo vai

além, informando se as comparações já podem ser encerradas ou, se não, qual a próxima

comparação irá trazer mais impacto de acordo com a derivada do autovetor.

Na Seção 2.4 apresenta-se o conceito de compatibilidade entre vetores de decisão.

Este conceito contribui para a validação de aplicações de métodos de MCDM. O

assunto validação também está discutido no Capítulo 3.

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46

2.4. Compatibilidade entre Vetores de Decisão

2.4.1. Índice de compatibilidade

Quando os componentes de dois vetores estão próximos, então, os vetores são

compatíveis (GARUTI, 2007). Para medir a compatibilidade entre vetores, de maneira

significativa, o índice de compatibilidade, S, foi proposto (SAATY, 2005). O uso do

índice de compatibilidade é um assunto recente. O artigo Utilização de indicadores na

análise da aplicação de métodos de tomada de decisão com múltiplos critérios

(SALOMON, et al., 2008) é o primeiro e único artigo em português.

O índice de compatibilidade mede o distanciamento entre dois vetores, x e y. S é

obtido da Equação (11), onde e é uma matriz-coluna com todos componentes iguais a 1,

A e B são matrizes obtidas a partir dos vetores (aij = xi/xj, bij = yi/yj) e A • B é o Produto

Hadamard entre as matrizes, ou seja, aij • bij = aij bij.

eBAeTT

2

1

nS (11)

Quanto mais compatíveis são dois vetores, mais próximo S está de 1. Para

vetores idênticos, S = 1. Ou seja, para x = y, tem-se A = B. Assim, A • BT = A • A

T, ou

seja, aij • bT

ij =aij • aT

ij = aij aji. Então, aij • bT

ij = xi/xj xj/xi = 1. Assim, para x = y, A•BT

será uma matriz com todos os componentes iguais a 1. Substituindo na Equação (11):

11

1

1

1

111

111

111

1111 2

22

n

nnS

Tal qual para o índice de consistência, , o índice de compatibilidade deve estar

próximo de 1. O limite 1,1 foi, inicialmente, estabelecido (SAATY, 2005). Assim,

vetores com índice de compatibilidade S > 1,1 não devem ser considerados compatíveis.

A Tabela 34 apresenta três vetores normalizados. Os componentes dos Vetores 1

e 2 estão próximos. Os componentes dos Vetores 1 e 3, não.

Tabela 34. Exemplos de vetores compatíveis e incompatíveis

Alternativa Vetor 1 Vetor 2 Vetor 3

1 0,50 0,52 0,10

2 0,40 0,41 0,60

3 0,10 0,07 0,30

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47

Para os Vetores 1 e 2, o índice de compatibilidade é S = 1,03. Como S < 1,1,

estes vetores são compatíveis. Este resultado era esperado. Pois, os componentes dos

vetores estão próximos e, inclusive, possuem o mesmo vetor ordinal: (1, 2, 3). Para os

Vetores 1 e 3, S = 3,13. Assim, estes vetores são incompatíveis. Este resultado também

era esperado. Pois, os componentes destes vetores não estão próximos e eles possuem

vetores ordinais distintos: (1, 2, 3) e (3, 1, 2), respectivamente.

Um aspecto conceitual interessante no índice de compatibilidade é a não

exigência de que os vetores possuam características semelhantes, como idealização ou

normalização. Isto se deve ao fato de que, no cálculo do índice, os componentes dos

vetores não entram, diretamente. Apenas a proporção entre os componentes dos vetores

é considerada nas matrizes A e B. Este aspecto possibilita a utilização do índice para

vetores obtidos por métodos diferentes como AHP e MAUT.

Conforme apresentado na Seção 2.4.2, o índice de compatibilidade pode ser

utilizado até para medir a compatibilidade de vetores cujos componentes possuam

unidades de medida diferentes, como, por exemplo, porcentagem e unidades monetárias.

Assim, o autovetor apresentado na Tabela 19 (Distância a Filadélfia) pode ser

comparado diretamente com o vetor de distância em milhas. Ou seja, para o autovetor e

o vetor de distância em milhas tem-se S = 1,02. Para o autovetor e o vetor de distâncias

normalizadas, tem-se o mesmo S = 1,02.

2.4.2. Exemplos da utilização de índice de compatibilidade

O índice de compatibilidade é, sistematicamente, utilizado no livro The

Encyclicon (SAATY, et al., 2005). Este livro traz cerca de 100 aplicações diferentes de

AHP, em áreas como educação, energia, governo, medicina e saúde, indústria etc. Para

várias aplicações, o índice de compatibilidade é apresentado logo após os resultados. É

uma forma de expressar, numericamente, a validade da decisão. A seguir, apresenta-se

uma das aplicações: a determinação das fatias de mercado entre grandes lojas de

departamentos norte-americanas. As redes de lojas Kmart, Target e Wal-Mart foram

consideradas.

A Figura 10 apresenta uma estrutura hierárquica para este problema, obtida com

aplicação de AHP (ADAMS, 2005). Observam-se cinco grupos de critérios:

características da loja, clientela, localização, merchandise e propaganda. Em cada

grupo há de três a cinco subcritérios: por exemplo, para propaganda tem-se e-mail,

material impresso, rádio e TV.

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Figura 10. Hierarquia para estimativa da fatia de mercado de lojas de departamento norte-americanas

(Adaptada de ADAMS, 2005)

A Tabela 35 apresenta o vetor de decisão obtido com a aplicação do AHP e

valores reais, obtidos com a normalização das vendas de 1998 (SAATY, et al., 2005).

Não há relatos se a aplicação de AHP ocorreu antes das vendas ocorrerem ou depois.

Assim, esta pode ter sido uma aplicação de AHP, ex-ante ou ex-post.

Tabela 35. Fatia de mercado de lojas de departamento norte-americanas

(Fontes: ADAMS, 2005; SAATY, et al., 2005)

Alternativas AHP Real

Kmart 0,18 0,26

Target 0,18 0,19

Wal-Mart 0,64 0,55

Os vetores apresentados na Tabela 35 possuem um índice de compatibilidade,

S = 1,05. Como S < 1,1, os vetores podem ser considerados compatíveis. Entretanto

observa-se uma pequena diferença entre os componentes dos vetores ordinais: (2, 2, 1),

para a aplicação do AHP, e (2, 3, 1), para os valores reais. Este exemplo indica que o

índice de compatibilidade deve ser estudado com mais aplicações, para se concluir se é

realmente um indicador confiável da validade de uma aplicação.

A Tabela 36 reapresenta os vetores de decisão apresentados nas Seções 2.2.2 a

2.2.4. Observa-se que os vetores possuem características diferentes: o vetor obtido com

aplicação de AHP é normalizado; o obtido com aplicação de MACBETH é idealizado

para 100; e o obtido com aplicação de MAUT é idealizado para 1.

▪ Urbana ▪ Suburbana

▪ Rural

Características da loja

▪ Iluminação ▪ Organização ▪ Limpeza ▪ Empregados

▪ Estacionamento

Propaganda

▪ E-mail

▪ Material impresso ▪ Radio

▪ TV

Merchandise

▪ Preço baixo ▪ Qualidade

▪ Variedade

Clientes

▪ Colarinho branco ▪ Colarinho azul ▪ Famílias

▪ Adolescentes

Alternativas

▪ Walmart ▪ Kmart

▪ Target

Estimativa da fatia de mercado das lojas de departamentos norte-americanas

Localização

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Tabela 36. Exemplos de vetores de decisão, com aplicações de AHP, MACBETH e MAUT

Alternativa AHP MACBETH MAUT

1 0,18 48,4 0,31

2 0,49 81,6 0,75

3 0,22 58,4 0,50

4 0,11 36,8 0,25

Para os vetores de decisão obtidos com as aplicações de AHP e MACBETH, o

índice de compatibilidade é S = 1,07; entre AHP e MAUT, S = 1,03; e entre MACBETH

e MAUT, S = 1,02. Assim, todos os vetores podem ser considerados compatíveis. Este

resultado era esperado, uma vez que as aplicações tiveram o mesmo resultado: a escolha

da Alternativa 2. Além disso, os vetores ordinais de todos os vetores de decisão são

idênticos: (3, 1, 2, 4).

A Tabela 31, reapresentada a seguir, apresenta os vetores de decisão com

aplicações de AHP, MACBETH. Há também um vetor de decisão não adimensional, ou

seja, a soma de custos em dólares.

Tabela 31. Vetores de decisão, com aplicações de AHP, MACBETH e soma de custos

Alternativa Custo total [dólar] AHP MACBETH

1 30.810 0,319 45,0

2 28.120 0,337 56,5

3 24.845 0,345 51,0

Para os vetores de decisão obtidos com a aplicação de AHP e com a soma dos

custos, o índice de compatibilidade é S = 1,01. Assim, estes vetores são compatíveis, o

que era esperado, pois, a aplicação de AHP foi considerada válida. O índice de

compatibilidade entre os vetores de decisão obtidos com a aplicação de MACBETH e

com a soma dos custos é S = 1,02. Assim, os vetores também podem ser considerados

compatíveis. Este último resultado não era esperado. Pois, conforme a Seção 2.3.2, esta

aplicação de MACBETH pode ser considerada inválida.

A conclusão desta Seção 2.4 é que o índice de compatibilidade, S, possui vários

aspectos interessantes. Mas, este índice não pode ser o único indicador da validade da

aplicação de um método de MCDM. No Capítulo 3 propõe-se uma contribuição inédita

para utilização do índice de compatibilidade.

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50

3. CONTRIBUIÇÕES PARA A VALIDAÇÃO DE APLICAÇÕES DE

MÉTODOS DE MCDM

3.1. Considerações Iniciais

Validar é “tornar válido” (PRIBERAM INFORMÁTICA S.A., 2009). E válido

pode ser entendido como “adequado”, “bom” ou “correto”. Assim, uma aplicação

inválida de um método é entendida como uma aplicação que gerou resultados

incorretos, ou como uma aplicação executada de maneira incorreta.

Quando existir uma solução real para um problema, a aplicação de um método de

MCDM pode ser facilmente validada. Basta se comparar a solução real e o resultado

obtido com a aplicação do método. O índice de compatibilidade pode ser utilizado para

esta validação. No entanto, como se trata de um tema recente, este índice foi pouco

estudado. Ou seja, sua teoria ainda não foi consolidada. Assim, na Seção 3.2 apresenta-

se um estudo mais aprofundado da utilização do índice. Também nesta seção é proposta

um novo procedimento para se calcular o índice de compatibilidade.

Existem, contudo, casos em que não há uma solução real. Ou seja, após aplicar-se

um método de MCDM, não se tem como saber se, caso outra solução fosse seguida, as

consequências da decisão seriam melhores, iguais, ou piores. Neste caso, a decisão pode

ainda ser validada, conforme as considerações apresentadas na Seção 3.3.

3.2. Um Estudo Aprofundado do Índice de Compatibilidade

3.2.1. Domínio da função índice de compatibilidade

A utilização do índice de compatibilidade, S, relatada nesta tese, é a análise da

compatibilidade entre vetores de decisão. Mas, este é o seu propósito e não o seu ser.

Ou seja, antes de ser um índice que pode ser utilizado na análise da aplicação de um

método, S deve ser entendido como um número. Ao longo desta Seção 3.2, o índice de

compatibilidade é, primeiramente, estudado como um número obtido a partir de dois

vetores. Em seguida, o seu uso para vetores de decisão é comentado.

Conforme a Equação (11), o cálculo de S envolve três matrizes: A, B, e e. Uma

das matrizes, e, é constante; as matrizes A e B dependem dos vetores, x e y, que se

deseja analisar a compatibilidade. A primeira questão respondida nesta seção é: qual é o

domínio da função índice de compatibilidade, S = f (A, B, e)? Ou seja, existe alguma

condição em que o índice de compatibilidade não possa ser obtido? A resposta é Sim.

Como aij = xi/xj e bij = yi/yj, então, nenhum componente de x e y pode ser nulo.

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51

Em se tratando de vetores de decisão, o domínio xi ≠ 0 e yi ≠ 0, significa que uma

alternativa não pode possuir desempenho global, pontuação global ou utilidade

esperada nula. No entanto, este é um caso raro na prática. Pois, por exemplo, em

aplicações de AHP, esta alternativa precisaria ter desempenho nulo em todos os

critérios. Assim, esta alternativa não precisava ser considerada.

Na Seção 2.4 apresentam-se vários exemplos de utilização de índice de

compatibilidade. Em alguns desses exemplos obtém-se S < 1,1 para vetores que

conduzem a resultados diferentes. Mas, em nenhum desses exemplos, se obtém S > 1,1

para dois vetores compatíveis. Assim, a segunda questão a ser respondida nesta seção é:

existe a possibilidade de se obter um índice de compatibilidade S > 1,1 para dois vetores

compatíveis? Sim, conforme apresentado na Tabela 37.

Tabela 37. Três vetores compatíveis, mas com alto índice de compatibilidade

i xi yi zi

1 0,450 0,490 0,499

2 0,300 0,300 0,300

3 0,200 0,200 0,200

4 0,050 0,010 0,001

Os vetores x e y são, em princípio, bem compatíveis: possuem o mesmo vetor

ordinal, (1, 2, 3, 4), e a máxima diferença absoluta entre dois componentes dos vetores é

0,040. Mas, para estes vetores tem-se S = 1,63. Os vetores y e z parecem ser mais

compatíveis entre si do que x e y, pois a máxima diferença absoluta entre dois

componentes de y e z é 0,009. Mas, para y e z, o índice de compatibilidade é ainda

maior: S = 2,53.

Os vetores da Tabela 37 mostram, portanto, que o índice de compatibilidade

apresenta uma sensibilidade a componentes de valor pequeno. Salienta-se que esta

sensibilidade não é com relação ao valor absoluto do componente, mas, sim, seu valor

relativo. Por exemplo, para vetores idealizados em 100, como em aplicações de

MACBETH, um componente de valor 10 já pode impactar o índice de compatibilidade.

Em princípio, a sensibilidade a componentes, relativamente, pequenos pode não

ser um problema na prática. Mas, para um número grande de alternativas, esta

sensibilidade pode gerar resultados incorretos, como a incompatibilidade entre os

vetores x, y e z, do exemplo anterior.

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52

As respostas das duas primeiras questões estão, de certo modo, relacionadas. Ou

seja, se algum componente de um vetor for nulo, então, o índice de compatibilidade não

pode ser calculado. Se algum componente for relativamente pequeno, então o índice de

consistência obtido pode indicar incompatibilidade entre vetores compatíveis. Assim,

surge outra questão: existe uma maneira de se utilizar índice de compatibilidade, sem as

dificuldades apontadas nas duas questões anteriores? Isto é respondido na Seção 3.2.2

3.2.2. Índice de compatibilidade ordinal

Nesta tese propõe-se o índice de compatibilidade ordinal, V, entre vetores x e y,

calculado pela Equação (12). Trata-se da mesma equação utilizada no cálculo do índice

S. Porém, as matrizes C e D, utilizam os vetores ordinais o e p, dos vetores, x e y,

conforme as Equações (13) e (14). Assim, cij = oi/oj, dij = pi/pj.

eDCeTT

2

1

nV (12)

)(ordem1

i

n

ii xo

(13)

)(ordem1

i

n

ii yp

(14)

Para dois vetores idênticos, x = y → S = 1. Este comportamento também é

observado com o novo índice de compatibilidade. Pois, x = y → o = p → V = 1. Assim,

propõe-se V ≤ 1,1 como limite para a compatibilidade ordinal.

O domínio da função V é mais abrangente que S. Pois, não há possibilidade de um

vetor ordinal possuir um componente nulo. Então, mesmo que algum dos vetores que se

deseja obter o índice de compatibilidade tenha um componente nulo, o índice de

compatibilidade ordinal poderá ser obtido. Por exemplo, para x = (0,6; 0,3; 0,1) e y =

= (0,6; 0,4; 0), tem-se o = p = (1, 2, 3) e V =1.

Para os vetores x, y e z apresentados na Tabela 37, tem-se o mesmo vetor ordinal,

então, para estes vetores tem-se V = 1. O que significa que eles são ordinalmente

compatíveis, de acordo com o novo índice.

Para os vetores cardinais da Tabela 36, tem-se os vetores ordinais apresentados na

Tabela 38. Os vetores ordinais da aplicação de AHP e da soma de custos são idênticos,

portanto, tem-se V = 1. Para os vetores ordinais da aplicação de MACBETH e da soma

dos custos, tem-se V = 1,36.

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53

Tabela 38. Vetores ordinais de decisão com aplicações de AHP, MACBETH e soma de custos

Alternativa Custo total AHP MACBETH

1 3 3 3

2 2 2 1

3 1 1 2

De acordo com o índice de compatibilidade ordinal, o resultado da aplicação de

AHP é compatível com a soma dos custos, pois, V = 1. Mas, o resultado da aplicação de

MACBETH é incompatível com a soma dos custos, pois, V = 1,36. Ou seja, neste

exemplo, V indica incompatibilidade entre dois vetores cardinais que apresentam

diferença de ordem na 1ª posição. Devido à proximidade dos componentes dos vetores

cardinais, tem-se S < 1,1. Assim, S e V apresentam resultados contraditórios sobre a

compatibilidade entre a solução real e os resultados da aplicação de MACBETH.

A Tabela 36 (Exemplos de vetores de decisão com aplicações de AHP,

MACBETH e MAUT) reapresenta os vetores de decisão do exemplo apresentado nas

Seções 2.2.2 a 2.2.4. Estes vetores possuem vetores ordinais idênticos: (3, 1, 2, 4).

Assim, qualquer combinação destes vetores, dois a dois, resulta em V = 1. Contudo,

para nenhuma destas combinações se obtém S = 1. Assim, pode-se dizer que, neste

exemplo, o índice de compatibilidade S possui um poder discriminatório superior a V.

Por exemplo, S indica que os resultados entre MACBETH e MAUT são mais

compatíveis entre si do que os de AHP e MACBETH.

A Tabela 35 (Fatia de mercado de lojas de departamento norte-americanas)

apresenta dois vetores cardinais relativamente, próximos, para os quais se obtém

S = 1,05. Há uma pequena diferença entre os componentes dos vetores ordinais:

(2, 2, 1), para a aplicação do AHP, e (2, 3, 1), para os valores reais. Para estes vetores

ordinais, se obtém V = 1,04. Assim, como, neste exemplo, os vetores não são idênticos,

S apresenta, novamente, um poder discriminatório superior a V, porque S > V.

Conforme Seção 2.4.1, para o autovetor apresentado na Tabela 19 (Distância a

Filadélfia) e para o vetor de distâncias reais, S = 1,02. Mas, como ambos os vetores geram

o mesmo vetor ordinal, o = (2, 1, 5, 4, 3, 6), então, tem-se V = 1. Novamente, o poder

discriminatório de S é superior a V.

Na Seção 3.2.3 com análise combinatória em planilhas eletrônicas, o

comportamento de V é analisado. As diferenças entre os valores de S e V, nos exemplos

apresentados nesta seção e uma análise sobre o maior poder discriminatório de S é

apresentada na Seção 3.2.4.

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54

3.2.3. Comportamento do índice de compatibilidade ordinal

Existem apenas três vetores ordinais possíveis, com dois componentes: o1 = (1, 1),

o2 = (1, 2) e o3 = (2, 1). A Tabela 39 apresenta o índice de compatibilidade ordinal

obtido para todas as combinações possíveis, sem repetições de ok e oh.

Tabela 39. Índice de compatibilidade ordinal entre vetores com dois componentes

o1 e o2 o1 e o3 o2 e o3

1ko 1 1 1

2ko 1 1 2

1ho 1 2 2

2ho 2 1 1

V 1,13 1,13 1,56

Os dados da Tabela 39 apresentam um aspecto interessante do comportamento do

índice de compatibilidade ordinal. Para vetores ordinais com dois componentes, o e p,

se o = p, então, V = 1; senão, ou seja, se o ≠ p, então V > 1,1. Assim, vetores com dois

componentes só podem ser considerados compatíveis, ordinalmente, se gerarem vetores

ordinais idênticos.

Vetores de decisão com apenas dois componentes são frequentes. Exemplos de

decisões com apenas duas alternativas incluem eleições políticas, em segundo turno;

finais de campeonatos esportivos; na Engenharia de Produção, há a famosa decisão de

make or buy; e no dia-a-dia, uma decisão simples, e nem sempre fácil: sim ou não.

Resumindo o comportamento do índice de compatibilidade ordinal, para vetores

de decisão com dois componentes, é o seguinte. Caso os vetores de decisão apresentem

a mesma ordem, então há compatibilidade ordinal entre os vetores. Caso contrário, não

há compatibilidade.

Por exemplo, para os vetores de decisão (0,6; 0,4) e (0,5; 0,5) tem-se S = 1,04 e

V = 1,13. Assim, estes vetores são compatíveis, cardinalmente, e incompatíveis,

ordinalmente. Esta divergência pode ser legítima a favor de V, se o primeiro vetor for,

por exemplo, o resultado real de uma partida de futebol, e o segundo vetor for uma

previsão com aplicação de um método de MCDM. A diferença entre um empate e uma

derrota, pode ser decisiva, e, portanto, estes resultados não são compatíveis. Assim, este

é um exemplo em que V possui um maior poder discriminatório do que S.

Existem treze vetores ordinais possíveis com três componentes: o1 = (1, 1, 1),

o2 = (1, 1, 3), o3 = (1, 2, 2), o4 = (1, 2, 3), o5 = (1, 3, 1), o6 = (1, 3, 2), o7 = (2, 1, 2),

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o8 = (2, 1, 3), o9 = (2, 2, 1), o10 = (2, 3, 1), o11 = (3, 1, 1), o12 = (3, 1, 2), o13 = (3, 2, 1).

Portanto, há 78 combinações possíveis, sem repetição, destes vetores, dois a dois.

Conforme comentado na Seção 1.2, a elaboração desta tese seguiu uma

abordagem qualitativa-quantitativa. Ou seja, pretendeu-se atender aos objetivos e

apresentar as contribuições, com um número não exaustivo de exemplos. Assim, das 78

combinações possíveis 12 foram analisadas. Ou seja, todas as combinações envolvendo

um vetor. Escolheu-se o vetor o4 = (1, 2, 3). A Tabela 40 apresenta o índice de

compatibilidade ordinal obtido para os vetores o4 e ok (k = 1, 2, 3, 5, 6... 13).

Tabela 40. Índice de compatibilidade ordinal entre vetores com três componentes

o1 e o4 o2 e o4 o3 e o4 o4 e o5 o4 e o6 o4 e o7 o4 e o8 o4 e o9 o4 e o10 o4 e o11 o4 e o12 o4 e o13

1ko 1 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 3

2ko 1 1 2 3 3 1 1 2 3 1 1 2

3ko 1 3 2 1 2 2 3 1 1 1 2 1

V 1,22 1,11 1,04 1,47 1,11 1,41 1,36 1,67 1,77 2,27 1,77 2,09

Observa-se da Tabela 40 que apenas para um caso, o3 e o4, se têm V < 1,1. Este é

o mesmo caso dos vetores da Tabela 35 (Fatia de mercado de lojas de departamento

norte-americanas), conforme apresentado na Seção 3.2.2. No entanto, os vetores da

Tabela 35 são o9 e o10, para os quais se obtém o mesmo V = 1,04. Nestes dois casos, o

maior componente do vetor x corresponde ao maior componente do vetor y.

A Tabela 41 apresenta exemplos de três vetores cardinais com cinco

componentes, yk (k = 1, 2, 3). Índices de compatibilidade cardinal e ordinal, S e V, para

os vetores x = (0,40; 0,30; 0,15; 0,10; 0,05) e yk também são apresentados nesta tabela.

Tabela 41. Exemplos de vetores cardinais com cinco componentes

x e y1 x e y2 x e y3

1ky 0,40 0,40 0,30

2ky 0,30 0,30 0,40

3ky 0,15 0,05 0,15

4ky 0,05 0,10 0,10

5ky 0,10 0,15 0,05

S 1,21 1,60 1,03

V 1,02 1,11 1,21

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56

Entre os vetores x e y1, os três maiores componentes são, exatamente, os mesmos.

Ou seja, apenas há uma inversão entre os dois menores componentes dos dois vetores.

Mas, com os índices de compatibilidade obtidos, S > 1,1 e V < 1,1, os vetores podem ser

considerados incompatíveis, cardinalmente, e compatíveis, ordinalmente. Em se

tratando de vetores de decisão, uma troca entre a quarta e a quinta alternativa não

justifica considerar incompatíveis. Assim, o menor poder de discriminação de V torna-

se irrelevante, neste caso.

Entre os vetores x e y2, os dois maiores componentes permanecem os mesmos. Ou

seja, há uma permutação entre os terceiro maior e o menor componente dos dois

vetores. Mas, com os índices de compatibilidade obtidos, S e V < 1,1, os vetores podem

ser considerados incompatíveis, cardinalmente e ordinalmente. Em se tratando de

vetores de decisão, é uma situação dúbia. Maioria das alternativas teve sua ordem

trocada. Mas, as duas alternativas mais preferíveis, não. O índice V = 1,11 não deve ser

entendido como uma obrigação de se considerar x e y2 incompatíveis. Ao invés disso,

este indicador deve servir como um alerta. Em uma situação menos rigorosa ou em um

problema de escolha os vetores podem ser considerados compatíveis. Em uma situação

mais rígida, como num Problema de Ordenação, a terceira posição pode ser importante,

o que justificaria a incompatibilidade entre os vetores.

Entre os vetores x e y3, os dois maiores componentes se permutaram. No entanto,

os três menores componentes dos dois vetores mantiveram-se os mesmos. Mas, com os

índices de compatibilidade obtidos, S < 1,1 e V > 1,1, os vetores podem ser

considerados compatíveis, cardinalmente, e incompatíveis, ordinalmente. Para vetores

de decisão a incompatibilidade está clara, uma vez que os vetores indicariam

alternativas diferentes na primeira posição. Tanto um Problema de Escolha quanto um

Problema de Ordenação teriam soluções diferentes com cada vetor.

O exemplo apresentado na Tabela 41 não tem o propósito de evidenciar a

superioridade do índice de compatibilidade V sobre S. Até porque, mesmo quando se

segue uma abordagem qualitativa-quantitativa de pesquisa, um exemplo não evidencia,

teoricamente, nada. O propósito destes exemplos, desta seção e desta tese é recomendar

que os índices S e V sejam utilizados conjuntamente, pois, apresentam resultados,

conceitualmente, distintos: compatibilidade cardinal e ordinal. O fato de se obter valores

diferentes, numéricos e conceituais, para S e V, em vários exemplos, evidencia a

necessidade de utilizá-los em conjunto. Pois, se fosse obtido o mesmo resultado em

todos os exemplos, bastaria um índice.

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57

Outro destaque do exemplo apresentado na Tabela 41, é que o poder de

discriminação de um índice não deve ser considerado sua característica mais importante.

Afinal, um índice com alto poder de discriminação, no caso extremo, gera vários

alarmes falsos. As principais características que um índice de compatibilidade deve

apresentar são as suas capacidades de indicar compatibilidade entre vetores compatíveis

e incompatibilidade entre vetores incompatíveis.

3.3. Validação de Aplicações de Método de MCDM

3.3.1. Aplicações ex-ante, ex-post ou sine solutio

Na Seção 2.3, exemplos de validação de aplicações ex-ante e ex-post de AHP são

apresentados. Uma aplicação ex-ante ocorre quando a aplicação antecede o

conhecimento de uma solução real, ou oficial, para o problema. Uma aplicação ex-post

ocorre quando a solução para um problema já existe no momento em que se aplica um

método para a tomada de decisão. Há ainda um terceiro tipo aplicação, sine solutio,

quando uma solução real não existe ou não será conhecida. Para os dois primeiro tipos

de decisão, os índices de compatibilidade podem ser utilizados. Assim, a validação de

uma aplicação de um método.

Uma aplicação ex-post de um método de MCDM pode parecer inútil. Afinal, para

que aplicar um método em um problema que já se conhece a solução? Existem muitas

justificativas. A primeira é que pode se tratar de um Problema de Descrição. Assim, o

que se deseja é conhecer as alternativas e critérios. A segunda justificativa é que um

problema que já se conhece a reposta pode ser utilizado para validar um método de

MCDM, para validar um modelo (isto é, os conjuntos de critérios e alternativas) e até

mesmo validar um instrumento, um método, ou um procedimento de validação. As

primeiras três justificativas podem justificar uma quarta, e mais importante: um

problema de decisão similar pode ser ocorrer no futuro.

A primeira justificativa, o entendimento de uma tomada de decisão tem um

exemplo recente, importante e, metodologicamente, interessante. O Problema da

Escolha da cidade sede dos jogos olímpicos de verão de 2016. A Figura 11 apresenta o

número de votos obtidos pelas cidades candidatas. A maior quantidade de voto em cada

rodada está destacada em negrito.

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Cidade candidata 1ª rodada 2ª rodada 3ª rodada

Rio de Janeiro 26 46 66

Madri 28 29 32

Tóquio 22 20 0

Chicago 18 0 0

Total 94 95 98

Figura 11. Votação final para escolha da cidade sede dos jogos olímpicos de verão de 2016

(Fonte: INTERNATIONAL OLYMPIC COMMITTEE, 2009)

O processo de escolha do Rio de Janeiro se iniciou em maio de 2007 e só

terminou em outubro de 2009, durante Sessão do Comitê Olímpico Internacional (IOC,

do inglês, International Olympic Committee). A escolha se dá por meio de votação

eletrônica. Todos os membros do IOC votam, com exceção dos membros cujo país

possui cidade candidata na disputa. A cidade com menos votos é eliminada da rodada

seguinte. Assim, os membros do IOC deste país passam a votar na rodada seguinte.

Observa-se na Figura 11 uma situação de RR. Ou seja, na 1ª rodada, Madri foi a

cidade com mais votos. Na 2ª, com a saída de Chicago, o Rio de Janeiro passou Madri,

e se manteve na frente também na 3ª rodada, que foi a decisiva. Um estudo aprofundado

deste processo decisório é, particularmente, interessante para cidades que pretendem

concorrer à sede de jogos olímpicos futuros. Assim, podem entender o que determinou a

vitória da candidatura do Rio de Janeiro.

Na Seção 2.3.2 está apresentada uma aplicação ex-post válida de AHP e inválida

de MACBETH para o mesmo Problema de Escolha. Duas justificativas para a invalidez

da aplicação foram a escala de 0 a 6 e a inclusão do Critério Inferior na matriz de

comparações entre critérios. Porém, existe outra diferença entre as aplicações de AHP e

MACBETH apresentadas naquela seção. Os dados da Tabela 20 (Custos de se possuir

um automóvel) foram utilizados em cada aplicação de maneira distinta. Assim, a Seção

3.3.2 apresenta outra aplicação de AHP, MACBETH e MAUT para outro problema de

escolha. Estas são aplicações sine solutio, pois, não existe uma solução conhecida para

o problema.

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59

3.3.2. Exemplo de aplicação sine solutio de AHP, MACBETH e MAUT

Este exemplo é baseado em um estudo preliminar sobre a análise do desempenho

de alternativas de controle da produção em um ambiente com muitas interrupções

(BRENNAN, et al., 2004). Foi desenvolvida simulação de um sistema de produção

composto por quatro estações de trabalho.

No caso de uma interrupção havia quatro alternativas possíveis:

1. Ignoram-se as listas de programação e inicia-se a processar os pedidos com

maior tempo de processamento.

2. O sistema de produção pede, imediatamente, uma reprogramação.

3. O sistema apenas espera a interrupção acabar.

4. Quando ocorre uma interrupção, espera-se por um intervalo de tempo, em

seguida solicita uma reprogramação.

A Tabela 42 apresenta os dados obtidos com a simulação. A única afirmação do

estudo preliminar é que embora a Alternativa 3 não gere nenhuma reprogramação, seu

desempenho em tempo de fluxo foi muito ruim. Assim, esta é a pior alternativa.

Tabela 42. Dados de simulação de um sistema de produção

(BRENNAN, et al., 2004)

Alternativa Tempo de fluxo [min] Reprogramações

1 154,5 57

2 158,5 57

3 175,0 0

4 155,0 32

A Tabela 43 apresenta a utilidade obtida para cada alternativa. Conforme

observado no estudo, o tempo de fluxo é o atributo mais importante do desempenho de

uma alternativa de controle da produção. Assim, adotou-se w = (0,67; 0,33).

Tabela 43. Matriz de decisão, com aplicação sine solutio de MAUT

Alternativa Tempo de fluxo Reprogramações Utilidade esperada

1 1 0 0,67

2 0,80 0 0,54

3 0 1 0,33

4 0,98 0,44 0,80

Conforme apresentado na Tabela 43, a Alternativa 3 é a de menor utilidade

esperada. Este resultado está compatível com a conclusão do estudo preliminar. A

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Alternativa 4 é a de maior utilidade esperada. Este resultado vai além das conclusões do

estudo preliminar.

A Tabela 44 apresenta as comparações entre os critérios, considerando

observações do estudo preliminar.

Tabela 44. Pesos dos critérios, com aplicação sine solutio de AHP

Critério Tempo de fluxo Reprogramações Peso

Tempo de fluxo 1 5 83%

Reprogramações 1/5 1 17%

Ambos os critérios da Tabela 42 são medidos de maneira inversamente

proporcional ao desempenho da alternativa. Assim, os dados desta tabela podem ser

aproveitados, sendo harmonizados. Mas, os números de reprogramação não podem ser

harmonizados porque, para a Alternativa 3, este valor é zero. A harmonização dos

números de reprogramação resultaria em um desempenho infinito para a Alternativa 3 e

desempenhos nulos para as demais. Com relação ao tempo de fluxo, a harmonização

também não retornaria valores adequados, pois os valores de tempo estão na mesma

ordem de grandeza. Mas, no chão-de-fábrica, 20min são uma eternidade.

As Tabela 45 e Tabela 46 apresentam comparações entre as alternativas de acordo

com tempo de fluxo e número de reprogramações, respectivamente. Observa-se na

Tabela 46 que nas comparações envolvendo a Alternativa 3 usou-se o valor máximo da

Escala Fundamental, 9. Ambas as matrizes possuem < 0,1, podendo, então, serem

consideradas consistentes.

Tabela 45. Comparações entre alternativas para tempo de fluxo, com aplicação sine solutio de AHP

Alternativa 1 2 3 4 Desempenho

1 1 1 7 1 0,31

2 1 1 7 1/3 0,24

3 1/7 1/7 1 1/7 0,04

4 1 3 7 1 0,41

Tabela 46. Comparações entre alternativas para reprogramações, com aplicação sine solutio de AHP

Alternativa 1 2 3 4 Desempenho

1 1 1 1/9 1/3 0,06

2 1 1 1/9 1/3 0,06

3 9 9 1 9 0,74

4 3 3 1/9 1 0,14

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61

A Tabela 47 apresenta a matriz e o vetor de decisão, com aplicação de AHP.

Assim como na aplicação de MAUT, a Alternativa 3 é a de pior desempenho global e a

Alternativa 4 é a de melhor.

Tabela 47. Matriz e vetor de decisão, com aplicação sine solutio de AHP

Alternativa Tempo de fluxo Reprogramações Desempenho global

1 0,31 0,06 0,27

2 0,24 0,06 0,21

3 0,04 0,74 0,17

4 0,41 0,14 0,36

As Tabela 48 e Tabela 49 apresentam as comparações entre as alternativas, de

acordo com tempo de fluxo e reprogramações, respectivamente. As pontuações foram

fornecidas pelo software M-MACBETH. Observa-se que em ambas as matrizes foram

inseridas duas alternativas: Superior e Inferior. Estas são alternativas de referência e

suas pontuações são 100 e zero, respectivamente. Observa-se na Tabela 49 que como a

Alternativa 3 foi julgada preferível à Alternativa Superior, então, sua pontuação é maior

do que 100. De acordo com o software, ambas as matrizes podem ser consideradas

consistentes.

Tabela 48. Comparações entre alternativas para tempo de fluxo, com aplicação sine solutio de

MACBETH

Alternativa Superior 1 2 3 4 Inferior Pontuação

Superior 0 1 1 6 1 6 100

1 0 0 5 0 5 78

2 0 5 0 5 78

3 0 1 78

4 5 0 5 11

Inferior 0 0

Tabela 49. Comparações entre alternativas, para reprogramações, com aplicação sine solutio de

MACBETH

Alternativa Superior 1 2 3 4 Inferior Pontuação

Superior 0 1 2 2 5 100

1 0 1 1 3 67

2 0 0 2 50

3 5 6 6 0 6 6 200

4 0 2 50

Inferior 0 0

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62

A Tabela 50 apresenta as comparações entre os critérios, com o software M-

MACBETH.

Tabela 50. Pesos dos critérios, com aplicação sine solutio de MACBETH

Critério Tempo de fluxo Reprogramações Inferior Peso

Tempo de fluxo 0 4 6 64%

Reprogramações 0 5 36%

Inferior 0 0%

A Tabela 51 apresenta a matriz e o vetor de decisão, com aplicação de

MACBETH. Observa-se que a aplicação de MACBETH resula na Alternativa 3 com a

maior pontuação global. Este resultado é o único que contradiz à análise dos estudos

preliminares.

Tabela 51. Matriz e vetor de decisão, com aplicação sine solutio de MACBETH

Alternativa Tempo de fluxo Reprogramações Pontuação global

1 78 67 74

2 78 50 68

3 11 200 79

4 78 50 68

Para os vetores de decisão da Tabela 47 e da Tabela 51, tem-se S = 1,11 e

V = 2,08. Ou seja, os vetores são um pouco incompatíveis cardinalmente e muito

incompatíveis ordinalmente. Assim, este é mais um exemplo de resultados

incompatíveis com aplicações de AHP e MACBETH. Também é mais um exemplo de

aplicação inválida de MACBETH, pois a aplicação do método resultou na Escolha da

Alternativa 3, julgada como a pior das quatro, em estudo preliminar que gerou os dados

do problema.

Portanto nesta tese apresentam-se duas aplicações inválidas de MACBETH

quando se dispõe de dados numéricos para a solução do problema. No Capítulo 4

apresentam-se as considerações finais da tese.

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63

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

4.1. Atendimento de Objetivos e Contribuições da Tese

O objetivo geral desta tese é apresentar contribuições para a análise de aplicações

de métodos de MCDM. A hipótese relacionada com este objetivo é que é possível

analisar aplicações de métodos de MCDM. Com a apresentação de diversos exemplos

de validação, ou invalidação, de aplicações de métodos de MCDM, nos Capítulos 2 e 3,

esta hipótese foi demonstrada.

No Capítulo 2 apresentam-se alguns exemplos de aplicações ex-ante e ex-post de

AHP que podem ser consideradas válidas. Com a utilização dos índices de

compatibilidade cardinal e ordinal esta validação se torna, matematicamente, mais forte.

Contudo, a utilização do índice de compatibilidade cardinal pode não ser adequada.

Assim, um estudo aprofundado sobre este índice está apresentado no Capítulo 3. Nesta

mesma seção, apresenta-se o índice de compatibilidade ordinal, a principal contribuição

inédita da tese.

O índice de compatibilidade cardinal mostrou-se em vários exemplos, com um

maior poder de discriminação que o índice ordinal. Contudo, coforme discutido no

Capítulo 3, as principais características que um índice de compatibilidade deve

apresentar são as suas capacidades de indicar compatibilidade entre vetores compatíveis

e incompatibilidade entre vetores incompatíveis. O comportamento do índice de

compatibilidade ordinal com relação a estas características se mostrou adequado nos

exemplos apresentados.

Uma importante pretensão desta tese é contribuir para o fim do preconceito contra

o AHP entre pesquisadores brasileiros. Não há dúvidas de que esta contribuição está

apresentada na tese. Não só pelos dois exemplos em que aplicações de MACBETH

geraram resultados incorretos. Mas, principalmente, porque se apresentou que, nestes

mesmos exemplos, os resultados de aplicações de AHP são válidos. No Capítulo 3, uma

discussão sobre criticas ao método AHP é apresentada. Do exposto, entende-se que a

aceitação destas críticas como verdadeiras não tem mais embasamento cientifico.

Finalmente, a estratégia qualitativa-quantitativa da pesquisa se mostrou eficaz

com o atendimento do objetivo e com a apresentação de exemplos não exaustivos.

Contudo, os exemplos apresentados cobrem boa parte do assunto estudado. A utilização

de exemplos de aplicações ex-ante e ex-post se tornou, qualitativamente, exaustiva com

uma nova categoria de aplicações: sine solutio.

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4.2. Temas para Futuras Pesquisas

O estudo do comportamento do índice de compatibilidade ordinal é o primeiro

tema destacado para estudos posteriores. Como este índice é contribuição inédita da

tese, carece de estudos. Um tema sugerido no Capítulo 3 é a extensão da análise das

combinações apresentadas na Tabela 40, para todas as combinações possíveis.

Simulação matemática, e o uso de software como ExpertChoice ou SuperDecisions,

podem contribuir nestes estudos.

O estudo da aplicabilidade dos índices para aplicações de outros métodos de

MCDM, como PROMETHEE e TOPSIS é um tema interessante para pesquisas em

nível de iniciação científica. Aliás, um dos relevantes usos do método AHP, em

faculdades de engenharia norte-americanas, é o ensino de Álgebra Linear.

Outra oportunidade de pesquisas futuras é a realização de aplicações ex-ante de

métodos de MCDM. Existem vários eventos em que se pode realizar este tipo de

aplicação. Particularmente, este ano eleitoral de 2010 oferece inúmeras oportunidades,

em vários níveis: do municipal ao federal; do executivo ao legislativo.

Aplicações ex-post também podem ser utilizadas para validar os índices de

compatibilidade. Do exposto nesta tese há duas grandes oportunidades:

1. Modelar matematicamente o resultado da escolha do Rio de Janeiro como

sede dos jogos olímpicos de 2016 (Figura 11).

2. Mais aplicações com dados numéricos do método MACBETH, pois os

dois únicos exemplos de aplicações invalidas do método nesta situação

sugerem uma possível fragilidade.

Aplicações sine solutio de métodos de MCDM podem ser conduzidas seguindo

conceitos apresentados nesta tese. Os benefícios da estratégia qualitativa-quantitava de

pesquisa adotada na elaboração desta tese pode ser buscados na condução de pesquisas

de vários níveis.

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65

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