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Page 1: ) DÇP{f) ~,.q'!-~~-...CI Seqüência cronológica das classes de idade: padrinho de 1. Etepá 2 ( o que está formando em 1996/7) 2. Nodzo'u 3 3. Tsadaró 4 4. Hotorã 1 5. Airere

l ·lNSTITUTO SOCIOAMBENTAL. Anotações de campo, de Eugênio Gervásio Wenzel Data I I

Caderno A - Parabubu:r julho e agosto / 96 J Cod ... i. \) DÇP{f) ~...,.q'"!-~~- '"'"=- ••• -· •••••

c:\winword\laudos\ TIPbba Nova Xavantina / ago.96

16 - a caça é uma atividade que objetiva não somente a obtenção de alimentos, como é uma oportunidade de reprodução da estrutura organizacional. A caçada, especialmente a grande caçada, é um testemunho da organização social. Por meio da caça o Xavante vincula-se à terra de uma forma caça é uma realização do ser Xavante, sua concretização; Xavante parar de caçar, deixa de ser Xavante.

peculiar. A isto é, se

17 - como há "donos" de animais há "donos" de espécies vegetais, como do capim navalha.

Na economia ritual manifestam incremento dos rituais de curta duração, assegurando a sua identidade. A corrida de buriti, por exemplo, é hoje mais frequente do que antigamente, enquanto o Wai 1á é praticado mais raramente, e em sigilo, devido à proibição imposta por pastores.

18 Postos Indf genas l Parabubu : Paraisa { Ubawawê) Couto Magalhães ( Xavante) Campinas (Ita - Egito) Estrela

19 Aldeias Parabubu Pedra Preta S. Luzia S. João B. S. Jorge S. André Palmeiras Santo do Céu

PI Xavante E. Santo S. Maria S. Domingos S S. José S. Clara S. Felipe S. Pedro

área de interesse: 2 e 3 1, 5 { 4) 3 (4) . I ~;;- ~_..., 2 ( ? ) -- (/IV"""

4

Cacique Celestino Thomas J Josué Felipe Eduardo Geraldo Angelo Tibúrcio

- vinculadas ao PI Parabubu - Carlos

Luiz Oribiwen João Paulista (Couto Magalhães) Joãozinho Pedrinho - ( mais antiga) Caboclinho José Luiz Benjamim

1.tJ-S,~~ - . 1 l"- a.- .. a , . )/1 /~ - s A...C>- s. f~ - f a-ui.e

23 - 26.07 .96, sala de Jorge em NX, informante Carlos, do PI Parabubu Cac. Celestino nasceu em Rituwa'wire idade aproximada: 75 anos

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Lembra do massacre que ocorreu por volta de 1951/52, onde é hoje a aldeia Palmeira. Carlos devia ter uns 12 anos [Abare1u]; hoje tem entre 56-8 anos.

Os fndios ( Xavante) foram caçar o branco para matar e matou dois brancos. Quando soube disso, branco chamou Bororo para seguir batida de índio. Fazendeiro ajuntou em General Carneiro. Aí os Bororo acompanharam a batida do índio; se fosse só branco não ia encontrar a aldeia. Quando chegou na aldeia, o branco mandou foguete, e todo mundo acordou (quando amanhecia). E nós corremos de medo de tiro de branco; aí matou uma família inteira. Matou tudo. Aí fugimos para outra aldeia. Aí nós fomos na aldeia (atual) s. Maria, que se chamava Parawã1~r~. Z

Aí ficamos três anos. Os brancos não foram mais atrás. Aí voltaram para General Carneiro. Bororo e Xavante era inimigo antigamente. Xavante matou muito Bororo, por isso que Bororo não gosta de Xavante. Os Bororo estão do lado direito do Rio das Mortes e no lado esquerdo estão os Xavante. Nós, avô, bisavô, tartaravô é muito caçador e mata qualquer um seja branco, Bororo, qualquer índio.

1954/ Depois de três anos dividimos em outra aldeia - onde existe hoje S. J. Batista - nome antigo é Zépá, porque ali fazia panela de barro. Aí nós (turma de Sangradouro) ficamos dois anos. Quando começou doença, sarampo. Com isso fomos até o branco e tivemos o . primeiro contato pacífico com o Manoel Gomes FÂmça, em começo de 1956. Ele í morava perto de S. Joaquim, que na época não existia. 24 Foi o cacique Celestino que teve o primeiro contato com ele, quando ele era moço ainda L Fizeram aldeia perto de onde hoje é sede de S. Joaquim - Ete~1rãire~ere, onde foi sepultado meu pai.

O primeiro contato foi realizado por 8 índios? Celestino [ Etepá], Apowen [Tirowá], Lourenço [Tirowá], Narciso [ Hõtõra], Egfdio [Tirowá], José Carlos [ Hõtõra], Salvador [ Etepá], Manoel [ Hõtõra]. Fizeram sinais para o branco com arco e flecha para dizer que estava tudo tranqüilo. dez./ 1956 - morreu meu pai Serewatã 1wé. jan/ 1957 - seguem para a missão. O padre Salvador Papa já entrava em contato no mato, com tropa, depois de ter visto de avião. Salvador era de Meruri, mas o grupo de Carlos foi para Sangradouro. O finado padre Bruno acompanhou os fndios pelo caminho até entregar para os missionários de Sangradouro. Eram muitos indios.

O nosso tio mais velho é Pedro - Tsiriptsé Depois Manoe 1 _ Depois Adão \ ~~ Depois Luiz = Tsadmia ~ Depois Ramiro = Temrité Depois Narciso = Simisuté Depois Celestino = Depois Angelo = Numusé. -----

o que tinha família. Esse o grupo que foi primeiro na missão de Sangradouro, onde chegou no dia 24.02.57. No mesmo ano, veio mais gente para Sangradouro. Muitos iam primeiro para Meruri e de lá para Sangradouro. Veio depois o R upawén; depois vem Aniceto, Lourenço. 45 Egídio, Constantino - pai dele, velhinho, chama Tsimri 1hu, depois vem Dario, André, Mauro, Moreira, Raimundo. Cada um veio com família.

~

Foram para lá porque teve sarampo, morrendo muito índio; teve também coceira braba (sarna?), uma peste. Por isso fomos para Sangradouro. Morria muita gente.

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íl Nós não querfamos contato com os brancos, e retornar para essa lJ região. Af ficamos 21 anos na missão.

1978 em 1978 Celestino veio brigar com fazendeiro para retomar essa terra do índio.

Celestino veio com um grupo: Angelo, Dario, Ari, João, Roberto, Eduardo, Gabriel, João Evangelista. Vieram com família. O Angelo mais novo voltou para D. Bosco. Depois veio o Mário, Marcos com família; José Maria.

Eu vim com família em 1980, em mudança no avião, direto para Couto Magalhães, para ajudar meu irmão. Celestino veio com caminhão de um candidato, e ficaram todo mundo no Couto Magalhães, onde já tinha aldeia há muito tempo: Benedito Loaza. O Governo não queria demarcar essa terra, e eu fiquei na luta também.

Ficou muita gente no Sangradouro. Depois vieram seguindo o finado sobrinho (Miguel), Davi, Egídio. Af depéoís veio mais gente. Af dividimos aqui: Palmeiras - 1982 S. J. Batista - 1983 Pedra Preta - 1988 S. Jorge - 1985 S. Luzia - 1986 ( ?) Santo do Céu - 1995 (Tiburção1) S. André - 1989 (1. no Baixão, 1983).

Plantação de Banana: algumas aldeias plantam e vendem a banana, enquanto outras, deixam plantar à meia, como ocorre com S. Jorge. Semelhante associação é feita para criação de gado, a que o Xavante não gosta de se dedicar, e acertam para que uma família de vaqueiros tomem conta, e morem dentro da Terra Indígena, por algum salário.

CI Seqüência cronológica das classes de idade: padrinho de

1. Etepá 2 ( o que está formando em 1996/7) 2. Nodzo'u 3 3. Tsadaró 4 4. Hotorã 1 5. Airere 8 6. Abare'u 7 7. Anarowá 5 8. Tirowá 6 1. Etepá

Há um lapso de tempo de 5 a 6 anos, entre o início de um e outro grupo de idade. O menino é destinado a participar não pela idade cronológica, mas pelo tamanho físico. A duração da reclusão depende do crescimento, desenvolvimento, o que vai depender da obediência deles aos exercícios. Antigamente incluía treinamento de guerra.

O maior do grupo é escolhido como "comandante'tdo grupo.

if?_; Após furar a orelha, tem ~gani - corrida de preparação para __. chegar a Sá1u1riwá - que é a corrida teste de resistência - antigamente

1 Observaram: Ele é doido, grita para todo mundo. Nunca ficou muito num lugar.

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incluía resistência a remédios. O que não aguentasse a corrida, desmaiasse, eles acabavam de matar, seguindo antropofagia.

Nooni - é pesado, e só um que carrega, o que é mais forte, o que foi mais respeitado, o que seguir melhor, dentro do grupo de padrinho, que teve melhor comportamento, que teve mais respeito, o mais forte, que é escolhido para carregar o Nooni. Este é um feixe de varas e folhas de buriti, trançado em torno de um pau.

Aldeia Palmeiras 06 casas Cac. Angelo [Poria'ono] Os 7 filhos aprenderam na escola de Sangradouro, e um deles, Mário, é atendente de enfermagem da F. em Palmeiras. Vice-cac. é Adalberto, cunhado de Angelo [Owawen]

Awén Optabe - gente de verdade.

Animais de caça, conforme listagem de Celestino: anta, tamanduá bandeira, veado do campo e mateiro, queixada, caitetu, tamanduá-mirim, coati, tatu (diversos), jaboti, sucuri (sara qualquer doença), paca. Não comem carne de cutia, de macaco, de onça ( que apenas matam); A raposa - wapsan awén (cachorro do mato) - menino come, homem não. jacaré - só velho comia (tradicionalmente)

Conforme Carlos, raposa quase não come. O osso de cauda de sucuri é usado na confecção de colar para criança não adoecer. Capivara - só velho comia (tradicionalmente) animal feroz n~ come: onça, cobra, jaguatirica. jibóia - criança e velho come (antigamente e hoje)

Peixe: matrinchã, pintado (velho come, novo não), pacu, piau - outro nome não conhece

Aves: Ema, siriema, mutum, jaó, jacú, pato, marreco. gavião ( wanihêiw, simorarein) não come, só utilizam pena - tem muito tipo de gavião.

Insetos: cf. !safas, comiam tanajura assada e algum outro inseto.

(-L

No Noidore tem muita matrinchã, cf. Angelo

Aldeia São João Batista: 11 casas 1 igreja da Congregação do Brasil 1 Hõ - casa de wapté. Fundado em 1983 pelo cac. João Evangelista, sogro do atual. Cac. Felipe * em Sangradouro, em 1957. Vieram em 1981 para Parabubu e depois para cá.

O índio aprende a fazer fuxico e aí espalha.

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Os Indics não vivem no campo, mas perto de rio, córrego onde tem mato. Mato é lugar bom para fazer roça (de toco). Não fazem roça no campo, porque a terra é ruim. Boa distância entre as aldeias (atualmente) - 10Km.

JE: discursa no meio do pátio, após o banho, à noitinha. O índio quer aumentar legítima terra nosso. O nosso direito é ter a terra para cuidar da nossa vida. A nossa tradição é ouvir passarinho cantar, olhar por do sol... Precisa pouca coisa. O índio é racional muito respeitado. Não pode dizer que índio é vagabundo; deixa o índio na vida dele. Precisamos terra para caçar, para cerimônia, para obter seda de buriti, raiz para comer. Antigamente ninguém passava miséria, tinha tudo, agora tem falta. Nós merecemos essa área, que é área legítima do Xavante, até perto do Xingu.

~ Perto do Noidore é lugar de cemitério de meu irmão.

O branco já arrancou, já desmatou, já é tudo invernada. A terra não vai acabar. As coisas que o governo oferece acabam como dinheiro, ferramenta ...

Nossa tradição não acaba nunca. Isso precisa conservar. para a cerimônia da conclusão da festa, empreende-se uma grande

caçada, realizada por um grupo de homens, com lugar de caça, cercando com fogo: 4 a 5 Km de diâmetro, onde procuram caçar animais como: queixada, anta (principalmente) tamanduá, veado. O fogo pode cercar campo ou mato; se for tabocal, melhor.

Chegando no lugar, em questão de 1,30hs fecha o círculo de fogo, o que se executa correndo. Essa caçada é muito bonita, muito gostosa, que faz parte de nossa tradição. Espingarda e flecha são as armas utilizadas.

Antigamente nós fabricávamos arco, flecha, borduna. Até hoje morre caitetu, porco, anta na flecha, flecha especial. Mas usa mais a carabina, e o 22; aí mata tudo.

João Evangelista - primeiro cac de São João Batista. - História de vida. Nasceu em S. Jorge - Rituwa'wê (ficando até 5 anos) [Nodzo1u] Com 5 anos foi para S. Domingos Sávio - Wedetede. Aos a, para a antiga Parabubu, Palmeiras. Quando tinha 11 anos, ocorreu o massacre ck 1952, com ataque de branco. Aí morreu uma casa, quase toda a família: irmão, mãe, irmã, sobrinho, esposa e 5 crianças (meninos). Na minha casa feriu minha mãe, meu pai feriu na coxa, e fugiu arrastando. Aí, na minha casa tinha dois feridos: um menino, no braço; uma menina, espancada nas costas e minha cunhada grávida sofreu um tiro que atingiu a barriga, do qual a criança escapou; um primo foi machucado na paleta. Um colega de idade foi baleado na barriga, saiu toda a tripa dele e morreu na hora.

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Aí fomos para Santa Maria, onde tinha outro grupo Parãwãtsaratsa, onde fiquei três meses. Daí mudamos para o outro lado da ponte do Couto Magalhães, onde ficamos dois anos.

Tinha 13 anos quando houve epidemia de malária, peste. Aí abandonamos a aldeia e pegamos rumo e fomos. ,.__

Nessa época tinha três grupos aqui, muito grandes:

l Parãwãtsaratsa Parabubu - Palmeira Ogni'utura - Aldeona.

Aí nós fomos para a missão, e os índios morriam. Aqui em S. João Batista, é sepultura de minha mãe, por causa de doença. Primeiro meu pai morreu onde era a aldeia (S. Maria ?) / · A praga (peste, epidemia) quase acabou com índio. -

' Na caminhada em direção à missão encontramos uma família de posseiros - Manoel Gomes França. Manoel Gomes curou ( da sarna) bastante índio com uma pomada. Ele comunicou-se com a Missão de Meruri, que era dos Salesianos católicos. Aí os salesianos vem ao encontro dos índio~ a cavalo. Aí o padre Salvador Papa veio ao encontro dos índios. Trazendo calças, camisetas, farinha, rapadura para oferecer algum alimento para os índios. 1P

Outro posseiro que ajudou o França foi o José Goiâno. Esses ~­ protegeram o índio contra os fazendeiros que queriam acabar com o índio. Ele ajudou através da ordem da missão.

Os grupos daqui e do Meruri se encontraram no Meruri. Aí o nosso grupo não queria aceitar. Aí o padre arrumou outro canto para acampar.

Ficamos no Meruri uns dois meses. Aí resolveram alugar (o governo do Estado) a área que hoje é São Marcos, por meio dos missionários. Era o tempo do SPI. Aí ficaram (os Xavante) amigo dos Bororo. Os Bororo ficaram em Meruri e os X avante em S. Marcos. 1957 Outro grupo foi a pé para Sangradouro. Parece que não havia acordo entre os Xavante, e foram embora para Sangradouro, onde alguns brancos eram atendidos, formando uma vila. Antes disso tinha sido uma fazenda muito rica. Os salesianos compraram essa colônia.

A separação foi por causa de fofoca, quem matou ... Em Sangradouro o padre deu um cantinho para acampar. Fui para

Sangradouro. Nessa época o Xavante andava pelado, e o padre ficou com vergonha.

Os padres internaram os meninos e as meninas para estudar. Em relação aos meninos, continuaram com o sistema Wapté. No entanto, as meninas fugiam do internato.

Estudei em Sangradouro

[O pessoal de Suyá foi levado para S. Marcos e de lá , juntos começaram a vo 1tar em 1964] .

~ p

Para cá (TI Parabubu) primeiro veio o grupo do finado Benedito A~ ( de S. Marcos} com sua família, e depois vieram mais três com suas famílias. Quando vieram, a faz. Xavantina já estava instalada (Armando Conceição é sócio), assim como a fazenda Rudimar no Tsibsibipá ( Pedra Preta). A primeira sede da faz. Xavantina foi onde é hoje Couto Magalhães, onde instalaram uma serraria movida com motor a vapor.

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Depois veio outro grupo de S. Marcos: Joãozinho (SDSávio), 2. Pedrinho (S. José), com toda a família. Os dois são irmãos entre si.

Vieram alguns do grupo do Suyá, e outros permanecem até hoje em S. Marcos. [Os do Suyá mataram um filho de Benedito, aí os outros expulsaram os do Suyá, que foram para Areões (79) e depois para Agua Branca (PB).)

Celestino chegou em jun/jul (1979). Xico buscou-o em Sangradouro. 3 É o primeiro que veio de Sangradouro. Angelo veio de Sangradouro em 1981. Eu vim em 1984. Primeiro vim, em 81, com Angelo, para ver e voltei para lá e em 84 para ficar, com minha família, parente, irmão.

Quando veio cac Celestino, Angelo e eu - çieclaramos que não estava certo que o branco ficasse na área de Parabubu.

Nessa época contava-se apenas com uma doação para o Benedito, de 10.000 ha. Depois foram acrescentados mais 13.000 ha - formando a RI Couto Magalhães. O clima que se criou foi de revolução. [O papa era sócio da faz. Xavantina; contam que o papa é sócio da faz. Suyá-Missu]

Os Xavante de Sangradouro são os principais responsáveis pela>" desapropriação da faz. Xavantina. --------até aqui inf. de João Evangelista, S. João Batista

Lagoa Encantada, fica próxima à aldeia Wedetede. Diz que na beira dela, de um dos 1ados, tem uma caverna. Esta, segundo Xico, passa debaixo da estrada, onde seguimos, tendo passagens estreitas, lugares em que sobe/desce..J1:aracterísticas atribuídas à Lagoa: a. sempre mantém o mesmo nfvel de água, seja nas chuvas ou na seca; b. não tem peixe; c. não há córrego que a abasteça; d. segundo Xico, verificaram ( ele junto) num córrego maior, para descobri( algum olho de água mais significativo, e nada, que explicasse o escoamento da água; e. a água é salobra (salgada).

Mapas antigos registram aldeia (antiga) em sua proximidade, com a denominação de Lagoa1 ~ r:Je,cl,vÀ d.o.~ -

Aldeia Espírito Santo. fundada no dia 02. 07. 86 tem 8 casas, sendo uma/, a do cacique, de tábua. uma escola (sem parede) há um monitor de saúde (Aldo) uma quadra de volei no pátio, e uma quadra de futebol nos fundos. Cac. Luiz Oribiwen - fundou a aldeia. nasceu em S. D. Sávio - Wedetede ( nome antigo) . em 1957 fomos no rumo de S. Marcos, Meruri

1 1985 - voltamos de S. Marcos para cá, primeiro para Couto Magalhães; daqui até Couto Magalhães tem um atalho que se percorre em duas horas (a pé). Em Couto Magalhães reuniu a maior parte dos Xavante que vieram de S. Marcos. De Sangradouro não veio nessa época.

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Reivindica o córrego Jatobá. Há certo tempo, encontraram garimpeiros que ~, os índios expulsaram. Essa área foi reivindicada desde antes fazerem pasto. É uma área de coleta bem antiga.

Frutas dessa área 3: Jaboticaba (Wairê), piqui, mangaba, babaçu,

Eduardo, chefe do PI Xavante. Com a chegada dele, a E. Santo, levantou-se a polêmica do nome da TI. Defendem o termo: Norõ1tsurã = coco / folha grossa, bem verde. Pode significar também: mata de babaçu, babaçual. Eduardo quer esse termo para a TI. Já antes do contato 1,nha esse nome, do qual tem orgulho. De repente chega um estranho ( Celestino) que coloca o nome de Parabubu.

Na época que o tio-avô (Benedito) conquistou a área de Couto Magalhães, tinha esse nome. Aí teve a luta contra a faz. Xavantina, passando a denominar-se Parabubu. Com a frequência dele, do Celestino, em Brasília, acataram o termo Parabubu. Ele, Celestino, se afirma como líder dos caciques, mas não é bem assim. Mas muitos Xavante reclamam desse nome, querendo alteração, quando regularizar a TI.

Se quer manter o nome de Parabubu, tem que definir o nome de cada área. Wairê é um nome provisório.

Antes tinha dois nomes, como duas capitais: Norõ1tsurã e Onhiudu ( Kuluene). Parabubu existe como algo recente, com a fama dele (Celestino) em Bsb, colocaram o nome dele.

Para resgatar a memória, exigem a mudança do nome. Cri santo - jovem defensor do nome de Norõ 'tsurã.

Cf. Xico, na região de João Farias tem cavernas, grutas. Eduardo manifesta medo em relação a essas cavernas, mencionando a presença de morcegos. Segundo Xico, alí antigamente o índios faziam ganela de b~, sendo que a qualidade da argila era tão boa que vitrificava - Sé1a. Essa argila também era utflizada para aterrar a casa, cujo assoalho endurece qual cimento. Utilizado também na construção de fogão ( de chapa).

Aldeia Parabubu - (re) iniciada em 1980. 9 casas, 1 escola (onde era sede da fazenda) casa de posto ( a reformar) farmácia Isaías, filho de Carlos, reside na ex-sede da fazenda, mantém uma espécie de escritório. Arvores frutíferas à vista: mangueira, laranjeira, mamoeiro. Informação: Carlos; na ex-sede da faz. Xavantina. (segunda feira, sem Xico, e com Celestino ao lado).

46 Ano passado plantaram mandioca, em redor da aldeia. Para esse ano tkÁ vão plantar mais, para fazer farinha (ralada). A mandioca é também assada e cozida. Qualquer coisa nós comemos: batata do mato, tem dois tipos uma mais amarga - Parabubu ;- e outra que todo mundo come, e o patede. Essas batatas encontram-se em lugar de várzea, com muitas.

~ babaçu: palmito, folha para cobrir, fruta para comer. Nós come fruta: piqui do cerrado, buriti ( cozinha em cova, ou em panela, ou deixa fruta cair madura). A tora de buriti é utilizada para corrida; vista

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por eles como exercfcio físico; o grupo que não corre, perde; o mais forte ganha.

Raiz (tubérculos): Wededú (mato); Pidzi - é· branquinho, com casca mole, assemelhando-se à mandioca, e é muito gostoso. Mooni'ho'irê e Mooní (mata), tem muito na beira do rio Couto Magalhães, que é comestível

O serviço de coleta cabe principalmente à mulher. Coletam ainda o coco de Macaiúba ( para comer a fruta, cozida ou assada - depois quebra a csca para extrair a castanha; é da mata); coco de indaiá (do cerrado) - Norõ1rê (cozinha para quebrar a casca e extrair a castanha), sua palha é aproveitada para cobertura de casa. Outras frutas: Tinini (cerrado); mangaba - ri1tó (cerrado); coroadinho - riti'topré (cerrado), Otatsiri (parecido com cacau; coração de anta - cerrado) .

.Beça - milho, feijão, urucum, abóbora, porongo, cabaça, mandioca. Com exceção da abóbora, dos demais cultígenos tem sementes / mudas tradicionais em Parabubu. Espécies de milho: branco = nodzup1a riscadinho - nodzuwauwawi amarelinho - nodzup'uzé vermelho - nodzupré preto - nodzup'ranrê cedo - nodzup1rãritopré ( que amadurece mais cedo)

Subprodutos da lavoura (transformações)

Algodão - para fazer enfeite, na flecha; gravata (para ficar da'iuno) quando o rapaz já é maduro;

mandioca - farinha, cozida, assada, beiju. milho - fubá para bolo, torrado (mesmo seco), mingau (sem mistura); o mingau pode ser feito a partir de milho verde ou maduro; assado na brasa sem palha; quando seco, pila e faz o bolo assado na brasa, enrolado na folha (ou diretamente).

C. Material - tradicionalmente tinham panela de barro que não mais existe; hoje ninguém pode fazer, porque antigamente, para fazer panela de barro, necessitava muita coisa ( grande variedade) para misturar. Tarefa feminina. Talvez falte vontade de fazer, ou esqueceram a mistura. Waurá continua a tradição, enquanto aqui esqueceram.

em 1997 - vai ter dai'uno; quando se forma novo grupo · de rikté'wá, quando houver nova furação de orelha; depois de furar a orelha.

Só quando o grupo de moços todo furar a orelha, quando passa a ser rikte'wá. Ai'hõ1ubuni - toma conta do grupo, o lider, que é responsável pelo grupo. Quando fura faz festa. Para essa festa, os pais e parentes dos wapté realizam uma caça; pode ser caçada de fogo, na seca (julho a setembro). Começa no tempo de corrida de nooni -é o padrinho que carrega; sacode o nooni e sai correndo. Eles não correm muito quando pequenos. Após essa corrida partem para a caçada, na qual todos participam - homem, moço, velho; mulher também vai para coletar fruta e ,.

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tubérculos para comer, cozinha para o marido e filhos - é a mulher que faz tudo. Essa caçada dura até quinze dias, podendo distanciar-se bastante. Por isso que precisa aumentar a área, porque precisa espaço ( para caçar, para queimar, porque a terra é do índio. Nessa caçada, o acampamento é feito com abrigos (casas) para cada família. Caçam: anta, caitetu, veado, cervo, bandeira, queixada.

A região de ampliação tem muita caça, muito peixe, muito ohõre \ (caitetu), o'hõde (anta), ai'hõ (veado), poné (veado mateiro), potsé \ (cervo), padi (bandeira), padtire (T. mirim). Caça até obfter a quantidade necessária para distribuir.

Os Wapté (grupo de meninos) fica separado do pai e da mãe. A irmãzinha pode ir no Hõ, porque ainda não é riktei'w~AI

~ -- tÍ-,tl,.. l,,~ c1J- ~ 49 Çaçada de JAbe: l CJ> ,-~;~ \N.

Para a caçada de Taebe (Owawen), Pari'J~(~á (mesmo grupo, clã) do Poria'ono. Os parente Taebe ajuntam a carríê para ver a quantidade - uma vez suficiente, retornam para a aldeia. Os Pari'huá também tem que obter uma determinada quantidade. Se a caça for em conjunto, repartem o seu resultado.

A decisão é de um velho. Na aldeia, ai' começa primeiro Taebe -os homens, os moços levam seda de buriti na mata para fazer enfeite ('máscara), que será utilizado por todo o grupo de T~ebe. Pelas 14-15hs os Taebe se enfeitam e vem; depois levam carne, bolo , toda a variedade de comida é distribuida (trocada) entre eles. Ajuntam a carne perto do Weretede, - é um aricá; L é um esteio - para o Wapté empurrar o Weretede. Levam toda essa !omida aí. O Wer~tede fica no fundo da aldeia, próximo do hõ do WajJté. 55 Aí os Taebe vão se~ pintar (untar) com urucum (de vermelho). Untam o corpo todo até acima do joelho; abaixo do joelho, a perna e canela, é pintada de preto .{carvão). Tem uma pessoa encarregada que pintam os dois Taebe. Um~ ve lho Taebe distribui a comida para a comunidade, sendo todos cont:&lpladof. A comida reunida junto ao Weretede é distribuída para os velhos. Aí começa a enfeitar os Taebe, pondo primeiramente a máscara; acrescenta pena de arara, atrás da cabeça. Barbante de algodão é utilizado como testeira para prender as penas de arara, que assim ficam .mals seguras. Essa tarefa de enfeite é realizada fora da aldeia, no mato,' junto a um córrego.

Pelas 15 hs, sai um padrinho: o _!!g.QOi - e fica sentado na frente do Taebe, e esse fica assobiando e fica batendo - o nooni (Waidji-watsy - o feixe de buriti) . -----..__ [ nesse instante o Celestino entoou o canto da queimada. Quando queima, às vezes escapa fogo para outros lados, só que não passa do córrego; para o outro lado também para] Esse que vai carregar o nooni. O grupo de rapazes fica ao redor do nooni, e dois Taebe ficam próximos. k Quando o sol se põe, vão para a frente de cada casa, durante a noite~.inteira,.- ficam só assobiando, só os dois Taebe. ··:. ·

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[Interrompido porque o Carlos e Celesti-n<:i'S;;êercaram dois carros do pessoal- de S. Paulo. Reuniram todos na escola :l~~l~stino prefer-iu um discurso formal - parece queixar-se de ser mal · ~~~!ª1º a respeito dos que .-,. -'

ou de mandioca; boje pode ,ec ~ arroz. ~~'

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estiveram em S. André. Na interpretação, o Carlos interrompeu para reclamar que foram combinado. O branco que gosta do índio, o índio tem que tratar bem. Se fizer alguma coisa para S. André, podem fazer, é isso. branco: Nossa idéia é ajudar. . .. 56 J

\

Os outros acompanham para formar a roda, em frente às casas. Não canta, só assobia. Imita um passarinho - Té'perê. Quando amanhece, aí termina de correr o nooni, junto com o grupo; vai balançando o fj€lxe e vai correndo, todos os rapazes juntos, e chega no Weretede - aí termina. Tiram enfeite, as máscaras (só os Taebe) .

No outro dia tem o Parihiwá (festa). É a mesma coisa. A pintura começa pelas 9hs. Carrega também carne, bolo perto do Weretede. Aí pinta com urucum, deixando um quadrilátero, que tem como centro o .umbiqo; a perna é pintada de preto. As costas com urucum; testeira de fio de algodão, na orelha introduzem dente de capivara; ornam com pena de arara (verm. ou azul), na parte posterior da cabeça, utilizando um suporte de bambu.

Quem pinta é o Parihiwá velho. É continuação da festa dos moços. Aí depois, bate o pé no chão e olha para o sol, sem~ piscar o olho ( quase ao meio dia). Aí levanta, batendo o pé, vai até ºI' undo do círculo das casas. Aí termina. Aí tira a testeira; aí coloca a máscara, e põe na cabeça e fica escondido perto do Weretede. Aí mulher vai cantando até chegar perto e aí, eles levantam devagar e vai correndo devagar e as mulheres ( madrinha) vão atrás para tirar a máscara.

Aí leva para casa - aí vem todos os homens da aldeia, com máscara, correndo em volta do Weretede, tanto homem jovem quanto velho, todos ~ª· Aí reunem, dançam e cantam. Aí vai esparramando e cada, ' homem vai para sua casa, para guardar a máscara. Quando à tarde, (/ · · Tafíunhuiwá vai no centro do Warã e canta durante a noite toda. Pelas · 2'°3, 24 hs o Parihiwá, é a última parte da festa do ~á, w se enfeita com urucum, enfeites na perna e tornozelos. Pelas 0,30 h os padrinhos esperam em frente à casa do Parihiwá. Quando termina de enfeitar, e vai correndo, o padrinho tira máscara, os enfeites. Aí os Parihiwá correm até o Weretede, para sacudir o Weretede, ainda de noite.

Aí o padrinho canta o restante da noite até de madrugada. Pelas 02,00 hs se pintam, de qualquer jeito, preto, riscado, ... Aí

começa a cantar no Warã, junto com um grupo de Tafhmhuiwá ( homem e mulher); só ele que canta os outros assistem.

Pelas 6,30 hs um grupo de Wapté sai de casa com a máscara e o Tanunhuiwá, sai correndo para pegar os Wapté que estão com máscara. Os Tafíunhuiwá tiram a máscara, e iniciam a dançar, cantar, no que passam o dia inteiro, sem parar - na frente de cada casa, até desaparecer o sol, quando encerra.

No seguinte amanhecer, um grupo de wapté, que ainda é wapté, sai do hõ , ao grito de um velho, a correr pela frente das casas, ao mesmo tempo que a mulheres (incluindo as moças) destróem a casa dos wapté ( hõ). Os wapté se posicionam no centro do Warã; pegam um fogo (tição) e seguem para o mato, onde recebem o corte de cabelo, à Xavante, incluindo a tonsura. A partir desse momento são ~iJ<tewá.

A seguir se pintam de urucum, na frente, nas costas. Outros Taebe pintam de vermelho. Concluindo a pintura, saem do mato, onde os. Ta'hiwá (outro grupo) estão esperando; e os wapté está indo para lá ....•

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(ainda é wapté). Quando chega lá, os Tafíunhuiwá estão atrás dos wapté.

Ai' quando chega lá, os Tanunhuiwá sai na frente dos wapté, dançando, batendo o pé o Tafíunhuiwá e o wapté corre, e os Taf'íunhuiwá correm · atrás, joga8'o alguma coisa na frente para matar o wapté ( não é feitiço) . Dessa forma correm~: lo, yerrado. Correm grandes distâncias (muitos km), acho que é li~~ Am, é longe. Começa pelas 9 hs e continua até mais ou menos 12,30hs, quando chegam na aldeia. Se alguém cair, a mãe ou irmã joga água nele para reanimá-lo. Diz-se que antigamente quem cafsse , era sacrificado e comido - e por isso tinha muito medo. Essa tradição meu avô cortou, porque não dá certo. Era para dar medo, para o novo correr mais .. ~sa corrida termina na aldeia, aí descansa no warã. Agora é novo Riptewá. Quando termina de descansar, dança na frente de cada casa.

Pelas 15 hs já a mãe da moça vai oferecer a noiva para o rip~wá. A mãe da moça que escolhe o genro. Já vai começar a ter amizade . A partir desse ato, formaliza-se um compromisso entre o jovem riptewá e a família da moça: toda a caça que trouxer para a casa de seus pais, será levada, pela mãe para a sogra do filho, não ficando com nada. A sogra faz o bolo e leva para a casa do jovem. O moço tem que ficar na casa dos pais. O bolo é comido pelo pai, pela mãe do moço.

O casamento, em termos clânicos, é exogâmico. A pertença a um ou outro clã é determinada pelo pai ou pela mãe da criança.

Ai' termina.

Antigamente, os wapté ficavam de JJ>, 1;8, 20, 25 anos. A moça casa com 18 anos. Hoje casa mais novo. Antigamente a vida era dura. Hoje só 1 moleza. Eu casei com a idade de 25 anos e minha esposa tinha, .. 16 anos.

Para oferecer mais de uma filha, a mãe e o pai decidem, ou mesmo o irmão, por último. Hoje tem novamente poligamia. Missionário que cortou tudo. Eu podia casar com duas mulheres, e a nossa tradição não pode acabar, desmanchar. A poligamia preferencial é a sororal.

A partir da apresentação da moça até o casamento, pode durar um ano, ou casa no mesmo ano. A caçada de casamento é semelhante à anterior.

O pai do moço, junto com os seus irmãos, decide a caçada. A n,Qiva tem que ser da mesma aldeia.

~~a grande caçada, é da comunidade toda. É a caçada mais em geral. ( p:-- -,~µa..

Dieta: mulher grávida come' barriga de saúva, para que a bunda da criança ficar grande, bonita, forte, sadio. Pode comer torrado. Ela mesma procura obter.

Quando no mato (antigamente), comia batata (noni1huiré), frutas do mato, formiga , que tem cheiro que nem chá - cavoca, e pega às mancheias, esfrega e recolhe em vasilha; pode consumir essa formiga com castanha de babaçu. Hoje não come mais, argumentando que não é tamanduá para comer, e por isso fica fraco. Antigamente não, criança nascia forte, sadia, não tinha doença.

3 Antigamente era muito dificil namorar.

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Quando a criança nasce, a mãe e o pai não comem nada de origem animal; se não afeta a criança, fazendo-lhe mal; pode até matar a criança. Essa dieta é seguida por um ano, até a criança engatinhar. Aí pode começar com um pouco por vez. Se não criança morre.

Quando os homens velho; adoece, tem que dar todo tipo de caça.

Tabela - Pi Parabubu Aldeias habitantes Gado Bananal Madeira

Parabubu 71 G2 Mo Palmeira 35 Gl Mo S .João Batista 45 Mo s. André 35 82 Mo S. Jorge 81 G2 B3 Mo Pedra Preta 25 B2 Santa Luzia 25 Santo do Céu 12

Total 329

G = Gado (para ter carne e leite, para vender) B = Banana (vender) M = Madeira (vender)

o = o que já fez 1 = está em fase de preparação. 2 = começando a obter resultado 3 = vendendo.

Antigamente só criava filhote de caça; bem antigamente pegava galinha de branco para criar como .~rimbabo. Hoje acostumamos a comer galinha. Antes só comia ovo de ema, jaó e siriema. fndio cria siriema, emalpapag~o (pena do rabo), arara. Da ema usa pena para espanador, quando a mata. Hoje cria galinha, gato, cachorro, porco ( vi na aldeia Aparecida) .

Não trabalham em fazendas como diaristas. Fazem artesanato para vender: bakté (cesto), arco e flecha,

cabacinha, bolsa, colar de semente de capim navalha. Realizam as compras em N. Xavantina, Campinápolis, principalmente

para obter roupa, comida (arroz, trigo, óleo, açúcar, café, sal, refrigerante), sabão. Os aposentados recebem nestas duas cidades.

62 Remédio - para explicar é complicado - não disposto a informa~

1 Posteriormente fui saber que esse conhecimento é rivalizado entre os clãs, de modo que é considerado secreto. Um levantamento etnográfico pode constituir um canal que vaza informação não desejada, como já ocorreu entre eles.

Para fortalecer os wapté, tem que riscar com osso de anta, na coxa, para correr mais. O osso pode ser tab de veado, ema, si riema. O importante é que seja osso de animal macho; osso de fêmea não usa para riscar. O padrinho é o que risca, no dia da festa, que pode ser ocasião de corrida de buriti.

As vezes também dá remédio para não ficar cansado, chá de raiz do mato, do cerrado; essa raiz encontra-se em qualquer parte. Essa aumenta a resistência. É usada quando tem corrida de buriti, isto é, toda a vez

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que tem corrida de bur+ti, toma esse chá, preparado pelo padrinho - Tenehuiwá.

Quando fica velho, ombro fica duro. Carlos, informante, considera­ se velho.

O médico dos índios é o pajé. Tem bastante, até cura bauru (ferida}, parecida com leishmaniose. Para isso tem remédio do mato. Xavante também tem tipo de ferida que nem kayabf , e aí usa outro remédio que só o pajé sabe. Para pneumonia usa compressa de pano quente, imerso frequentemente em chá, o que é feito pelo pajé , Só tem pajé masculino.

Para ser tem que fazer jejum para ser especialista. Não pode comer coisa grossa, não pode beber muita água, tem que fazer meditação, quando também se comunica. Ele obtém ajuda espiritual para curar os doentes.

63 Antigamente não conhecida arma de fogo, só arco e flecha. Hoje predomina o uso da arma de fogo, espingarda. A borduna serve para defender ou matar branco, antigamente.

A técnica de espera na caça é realizada individualmente, para surpreender paca à noite, ou em fruteiras, animais como : veado, paca, anta (come mais o cajá do mato). Utilizam, eventualmente o cachorro na caça a animais como caitetu, queixada, patdire (tamanduá mirim), tatu, tatu bola, coati, . . . tudo cachorro acha, cutia. Eu gosto de caçar sozinho, para não ser estorvado pelo cachorro.

Há interesse em estabelecer aldeias na área nova .-

fJ. ,

Trabalhando com mapa de Celestino e meu (Jorge)'/ Pai de Celestino ficou em S. Joaquim, rio Manso./ Em Campinápolis teve uma aldeia antiga, cemitério, onde hoje é fazenda Jam~. ~ Procura-se um local perto de Placa Nativa. , Na cabeceira do Noidore, cemitério de sobrinho Fazenda 1fiúva (região 3) tem um cemitério Magalhães ( Angelo / Celestino}. Cabeceira do córrego Grande ( região 4) tem cemitério de avô de Celestino. --- No Chão Preto Celestino Cemitério de Chõri - no Chão Preto/ aí tem muita gente que morreu. Chão Preto pertence a Parabubu Celestino manifesta a queixa de outros Xavante que afirmam: "Celestino não presta". Parece que saboreiam situações de conflito. (65} Outros Xavante - do Kuluene, Campinas falam que Celestino não presta. Então, porque vem para Parabubu. Chão Preto pertence a Parabubu, mas Campinas também quer. 11Eu resolve quem morar na terra depois11• O nome vai ser Parabubu para tudo. O nome de Norõ1tsurã é a denominação a partir de PB, que chamavam aqui de Norowede (babaçu). Daqui chamávamos PB de A'apê. Norowi - fruta de babaçu, Aqui é Parabubu No tempo dos pais de Celestino, guerrearam com os Xavante de PB. índio de Parabubu. é brabo. Comendo a batata parabubu provoca dor na boca.

de Celestino, e um avô./ mais perto do rio Couto t)

- cemitério de avô e aldeia do tio - Tserriudatsú - de . ~

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Em Onhoturê - Aldeona, havia muito índio antigamente. be Onhoturê ( Kuluene) vem para Parabubu.

65 Rios mais piscosos: Noidore - onde mulher pode bater timbó e homem vai caçar. Tem pintado, matrinchã, pacu, piau , lá tem muito. Couto Magalhães - é bom para pescar.

Nomes de aldeias, português e Xavante =

São Domingos São Pedro São Paulo Barreiro Esteira

Sávio - Weretede - Abatsi 'fíiorõsé Sibsibi1pá Sibsibi'pá Ata'arê Tempere (cabeceira de Sibsibi'pá) Wairêné (morro) Ariwedê'rãpá (arco, tem madeira para) Opawõn 'pá ( nome do rio

São José Santa Clara São Felipe

67 Retomar a história de vida de João Evangelista, para situar a história, a história dos Xavante.

A habitação inicial do índio foi Sõ1ripré, que é perto de Belém do Pará. Depois formou outra aldeia. No começo era povo muito grande, só tribo Xav ante. Quando veio, aí em 1500 foi descoberto pelo branco. fn dia morava tudo junto, nessa época: Kaiepõ, Carajá, ... , naquele canto (lugar): Aí veio o explorador, o branco. Com isso os índios assustaram e começaram a fugir cada familia com grupo para um lado. Aí, quando branco descobriu esse Brasil, o navegador pulou no rio e teria afogado, se A:i6--· índio não o tivesse salvo. O índio, ( um chefe) teve que tirar o branco que sufocava (afogava) no rio.

Independente no Brasil, só o índio mesmo. O independente. O branco é um explorador, que procurava perdeu no mar e veio parar aqui. Por isso que índio vem terra. Porque índio pensa assim. O índio quer recuperar o espaço que tinha antes.

Todo o índio Xavante morava no Sõ1ripré. Aí mudaram para Zup'ase, que era muito grande. Já era um pouco mais para cá. Aí veio, porque o índio gosta de lugar novo. Mudou de Sup'ase para Wap1tserehu. Esse é morada Xavante; os outros índios já estavam fugindo do branco há muito tempo .. Depois de Wap'tserehu, a tribo de Xavante se dividiram em dois grupos muito grandes, o grupo de PB e o grupo nosso, que veio morar aqui. Af se dividiram mais o PB com Areões. PS ficou lá mesmo. Aí nós dividimos em três grupos: 1. Parawãn'tsarase (S. Maria, S. Pedro, S. Marcos) 2. Parabubu 3. Oniture ( Kuluene} Todos os três formando aldeias grandes.

Aí essa história é importante para o governo acreditar. Aí os três grupos se ajuntaram de novo no Weretede. Isso no começo do século. Aí mudaram para Ritu'wawé (S. Jorge), aí mudaram para Palmeira = Parabubu, sempre os três grupos juntos. O Xavante é unido, sempre unido.

branco não é outro rumo, se defendendo sua o mais possível

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Aí que repararam que não tinha animal (piranha) d1água, mudaram para Kuluene - Etesirire. Aí todo mundo foi para lá.

Córrego das Piranhas - Etesirire. Tem sua cabeceira no vale em meio a uma montanha.

Depois retornaram para Palmeira ( Parabubu) • Hõtõra - Simi'uda - um velho de 75 anos, era pequeno então.

Em Palmeira ficaram muitos anos, ficando todos juntos. Até que sofreram o ataque dos outros Xavante, do Areões e PB que atacaram aí. Depois disso dividiram tudo: 1. um grupo ficou 2. um grupo - Ofíi 'uture 3. um grupo - Parawan'tsarase

Daí, do Parabubu mudaram meio Km para fora, para ter um lugar novo. Aí voltaram para Ritu'wawé. Aí mudaram para a beira do Noidore, a sua margem esquerda, onde está sepultado o irmão mais velho; quando ele tinha 03 anos, e o Hõtõra já era moço (namorando). Noidore = Ywarare Noidorinho = Noro1yãma1wawé.

No outro lado do Noidore, onde é a fazenda do Ildefonso, tem cemitério, lá tem sepultura do pai do Carlos, Chefe do Posto.

Queria que nossa terra juntasse com Xingu, para ficar com sossego. Eu conheço toda essa região. Isso o governo precisa reconhecer ao Xavante. ·

O outro lado do rio das Mortes, que o governo emprestou, nós vamos negociar.

Do Noidore, onde era para fazer a festa de furar a orelha, voltou para S. Jorge, onde ficaram muitos anos. Daí mudaram para Palmeira ( Parabubu) até hoje.

Nome geral, legítimo, para toda essa região é Parabubu. Aí é que, em 1952 sofreram ataque, quando o informante, JE, tinha ,

uns 10 all anos de idade.

Aldeia S. André - cac acamado, com reumatismo. Cac. Geraldo Sere'tsapti [Abare1u] Bernardo - Mãrã'zabuiwã , irmão do Cacique, [Etepá] , com 79 anos.

JE é intérprete - Como conhece a história do descobrimento. Pedro Alvares Cabral descobriu o Brasil; Como pode, se tinha habitante, se o 1'

habitante era o índio. Como é que o branco é ganancioso, e foi tomando as coisas do índio - ouro, pedra, terra e até mataram muitos índios, e escravizaram um pouco de índio, batendo de chicote, ... e foram assim. Não pode continuar a exploração, de tirar as coisas, a terra, a madeira do índio. Nesse caso que foi descoberto, o branco vai pagar por essa marcação das novas áreas. O Brasil é um país que foi destruído muita f coisa no mato, no rio.

A respeito do limite, segue aquele limite indicado, mesmo que tenha invernada - vai voltar a crescer a vegetação nativa, daí a importância do~ ambientalista.

Se branco continuar a invejar, a não gostar de índio, se quer prejudicar o índio, que venha a pé, pelo chão e não de avião, ou de foguete. Se é para lutar, que venha no chão, para ser de igual para igual.

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Essa área é legítima do Xavante, até o rio das Mortes. 1' Anteriormente o índio Xavante ia até São Paulo, Goiania, Rio - antes do descobrimento. 73/Naquele tempo não tinha branco, fazenda perto, como tem agora. Antigamente o índio X avante tem muitos pesquisadores (espiões) - Sawõ'rõwá

Nós precisamos de lugar aberto, amplo para poder ter espaço para caçar para casamento, se ficar perto da aldeia, queima a casa dos outros. Nós precisamos de distância, para circular. O bicho fica na sombra, na fruteira. A caçada do casamento é muito importante. A gente tem saudade do sistema passado. Wapensede f.~~ Tape1ensí T Impesede 1lfÍ..

Por isso quero voltar ao sistema do passado. Como não tem lugar J Pf"'. para caçar, vão mexer na fazenda, para realizar a caçada de casamento. Com isso assusta os animais ( gado) porque vai lá caçar. Mesmo com a 1 terra demarcada, os X avante vão caçar nas áreas circunvizinhas. Tem necessidade dessa terra para conservar sua cultura, sua tradição.

As aldeias estão muito próximas umas das outras. Daqui a Parabubu são 12 Km. Não tem condições de fazer nossa festa.

,Porqyg sem caça, sem carne, ninguém faz cerimônia. Anta, cervo, caitetu, queixada, tamanduá, veado - todo bicho pode matar.

A cr-iação de .9ado não é pensada como substitutivo da caça. O gado pode servir para manter a casa, as despesas decorrentes das necessidades advindas com o contato. Xavante não se entende sem caça.K Caçada não é só para casamento.

Ficando 2, 3 dias fora de casa, uma semana, aí traz muita comida para casa.

Imanõ1ty - o conjunto para uma festa, que implica roupa, comida, e o conjunto de necessidades para realizar uma festa.

Abasi'rãihidibá - cerimônia para dar nome à moça. Precisa ter roça grande, com milho, arroz, feijão. O índio não é vagabundo. O índio tem seu modo tradicional de conduzir a economia. Precisa de muito algodão, para trançar uma veste (manta) para a moça. Cerimônia do menino que passa a ser Riktewá ( Ritei 'wá). Com essa cerimônia do rapaz - existe 4 chefe importantíssimo: 4 comandante do próprio rapaz. Aí os dois primeiros chefes chamam,tie Pahyriwa; os outros ? dois chefes são os Taebe. Esses 4 chtes precisam ter um grande Imamady - uma caçada grande - na qual toda a aldeia participa para trazer carne. Dessa caçada, quando retornam para a aldeia, a mulher soca milho, arroz para fazer bolo para essa festa.

Tabatsa - caçada para casamento. Isso o padre, o branco está destruindo. Agora que índio está vendo que o padre está acabando com o costume, a tradição do índio. Padre Giaccaria e o padre Jorge vem de vez em quando aqui. O padre ficou gordo à custa do índio. Segundo JE, o padre registrou erroneamente a idade dos Xavante e por isso atrasou a aposentadoria.

Na aldeia S. André tem cemitério antigo, incluindo seu sobrinho; faleceu em 1956. Seren 'waíde - pai de Renato cachaceiro.

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75 Arnaldo - Sereza1é [ Ubare'u] - é de S. J. Batista, acompanha JE. 7 Nasceu· em Ritu'wawé, onde é sepultura do Pari1huá (avô}, chefe de cerimônia de jovens. Wa'õrinãtsé.

Em S. André, recebi, via Xico, umas batatas assadas, que comi ~ imediatamente, ainda quentes.

parece que o Xavante se proíbe de trabalhar à noite. Chega à _. tardezinha eles se desfazem de mim para cuidar de seus afazeres domésticos.

Posto Indígena X avante. Fundação aldeia população 12. 7. 85 E.Santo 54 1976 S. D. Sâvio 94 1981 S.Pedro 1976 S. José 90 1989 S . Clara 153 1989 S. Felipe 140 1963 e.Magalhães 1988 Aparecida 1985 S. Maria

casas 8 B3 11 83 27 B2 11 B3 15 83 12 B3

83

Gl

G2

02 P2

Kk CAD. B Xico: história do inglês em PB - morto e a partir daí dividiu o X de Soripré. Naquela época, qq fofoca se resolvia na hora, às vezes

A argumentação comum é de que a terra é deles, que necessitam daquele espaço para caçar, coletar e pescar. Sua vida, em termos de sobrevivência físico-cultural não se entende e nem é possível sem isso, pelo menos. Inclue-se uma agricultura que ocupa mais tempo e importância J,. .JAA paro. sua vida, coagidos à sedentarizaç~lativa, decorrente da ocupação ti4 ~ de suas terras tradicionais.

Há situações como o da aldeia São Pedro (27 casas) que, segundo o oJ,J,u;"'" hábito Xavante, estabeleceu-se nas proximidades de um córrego, para ~~...,_ essequr-ar o abastecimento de água para seus moradores. Inicialmente, o córrego mantinha um fluxo de água no decorrer de toda a seca. Nos últimos anos, no entanto, o córrego seca a partir de meados de agosto; pode ser resultante das alterações climáticas impostas à região que sofreu drástica interferência ecológica - a saber pela rápida colonização da região. Com isso surgem novas necessidades, melhor, novas exigências para suprir as mesmas necessidades. Como a aldeia conta com edificações em alvenaria, e também por dificuldade em encontrar lugar mais adequado, procuram solu;ção mediante encanamento de água a partir de uma fonte distante 6 Km.

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Segundo o chefe de posto de Pbb, Carlos, há gente morando nas cavernas. Só que a caverna da Lagoa Encantada está com a entrada quase totaTmente obstruída, segundo ele.

O cesto Xavante se vê em abundância, espalhado pelo chão, pendurado nas paredes interna e externamente, sem contar ele em uso por pessoas, que nele transportam diversos objetos e, também, crianças - estas cuidadosamente protegidas do sol com uma esteirinha ou um pano.

Aldeia Espírito Santo 54 pessoas. Cacique Luiz Oribiwen 1937 ( aproximadamente) nasceu em Wedetede CI -[AnorowáJ Seu padrinho foi Joãozinho. Um grupo de idade é padrinho de outro grupo. Não se estabelece uma relação individual.

1957 - saiu de PI Xavante e foi para Meruri tfv saiu por causa de feitiçaria que resultou num surto de sarna.

58/59 :- foi para São Marcos. (outros foram para Sangradouro). Essa área ficou sem Xavante por um período aproximado de 6 anos (57- 63). em 1963/4 - Benedito voltou para Couto Magalhães

Foi-lhe destinado uma área de 10. 000 ha. A fazenda Xavantina já se instalara. 1979 - Celestino com Benedito e com o pessoal do Ku1uene lutaram pela { TI Pbb - que foi demarcado. Naquela vez tinham solicitado toda a área de ; perambulação, mas por pressão da política regional, reduziram a área para ' passar na divisa no Noidore e Jatobá.

Algo semelhante aconteceu no PB e Areões, Kuluene . Do rio das Mortes para o Norte, inquestionávelmente, esse grupo \

considera como área de seu domínio. São Marcos e Sangradouro é dos Xavante de lá.

PB está reivindicando área onde era antiga aldeia. ) ;

O interesse concentra-se na área do Uwai're:' Sua importância encontra-se na variedade de frutas de seu consumo que ai se encontram; \ soma-se o ponto que implica no resgate histórico, que vincula essa área com seus pais .

. ver relação de Joãozinho: Ritó - mangaba Tidnirri - jaboticaba Titopré - puçá Wai're - - a figo

- babaçu

O coco do babaçu é imprescindível como matéria prima para indústria das tinta's que ornam ( untam) os personagens certmorrieis , máscaras ... É comestível cru ou assado. Sua palha é largamente utilizada em suas construções.

Uiwõde - Buriti - tem variadas utilizações: corrida de tora cobertura de casa

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4) '

cesto de casamento - tsiotõhõpó seda (broto) para cesto - tsi'ono seda para fazer máscara - wam 1iõro 1 seda para fazer bolsa esteira : para dormir ( cama) e para cobrir bolsa de tiracolo o talo ( braço) é utilizado para se obter o carvão para pintura a fruta - alimento; pode ser colhida madura ou amadurecida ao fogo, depositando num buraco, cobrindo as frutas com folhas e armando fogo por cima. /

(}) Xavante não se entende sem buriti. 1 Na festa He'erê usa o material do buriti. Essa festa é parte do processo - de iniciação do Wapté, quando ainda adolescente.

Região de João Farias tem caverna, que antigamente usava como abrigo. Em algumas cavernas tinha Ze1há

? L l

Norõ1hõ - Tucum - usa-se para fazer corda. quando verde.

O Wai'á - foi inibido na área protestante - Campinas e Kuluene. É uma festa-cerimônia para inibir e afastar más influências, purificação espiritual e é dirigida por um iniciado. Também é realizado para iniciar alguém' na pajelança. Durante essa cerimônia relacionam-se com diversos espíritos; Daimitê - espírito de paz Simihy pãr1 - espirito mau PPu - espírito de ataque (abelha), mais facilmente machuca. Corresponde ao Exu do candomblé (cf. Xico).

Seu coco é consumido

Construç_ães: Certas construções que a Funai realiza em aldeias tem implicações não contabilizadas: a construção de alvenaria, de uma escola, imobiliza os habitantes naquele local, 1; se os seus habitantes mudarem, resta um "elefante branco". Além disso, a construção de palha é uma adaptação cultural a esse clima, mantendo uma temperatura agradável em seu interior, contrastando com o calor diurno e o frio noturno; permite também o arejamento junto com o escoamento de fumaça de ulgum fogo em seu interior.

Aldeia São José População, contada na hora, somou 90 pessoas/ daqui a pouco vai ter mais dois, acrescentaram. Cac. Pedrinho - Tsitomowé [ Etepá] r"\f' * em Couto Magalhães como wapté foi para PB como ritei 1wá, para Meruri e S Marcos voltou para Couto M depois de Benedito ( +- 65}, com Joãozinho. De CM veio para S José. Nesse tempo era chefe de posto o Agapito

Na fazenda Ipê Amarelo é lugar de cemitério, como de aldeamento antigo.

7 L

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costumem caçar para além da área demarcada, e mesmo com a técnica de ~-f{ fogo, em área de fazenda na "área 311, onde praticam coleta, entre outros produtos, de piqui (do cerrado), coco (de babaçu), macaúba. Caça mais freqüente nessa área, por eles procurada: anta, porco, jaboti, veado. Em 1996, dois funcionários da Funai foram na área para apaziguar os ânimos dos fazendeiros que se queixavam da invasão em sua propriedade e queima' de pastagens provocadas pelos Xavante.

Reclamam da "tela" colocada pela fazenda do~. Plantação: bananal comunitário - muito bem cuidado, sem mato, sem folha ~o primeiro ano de plantação de bananeira, a roça é repartida entre as famílias, para plantarem arroz. milho, mandioca, arroz (comum de 4 meses; e agulhinha de 5 meses), feijão,· abóbora, batata-doce, cará, pepino, quiabo.

Homem planta, mulher cuida.

7 Dasi w.ai wêrê - festa de cura, dirigida pelos mais velhos, só os homens. Xico é· Nodzo'u ( 41 anos de idade). 1973 formou Anorowá ( PB) Orõpowen era homem de 25 anos quando do contato de Meirelles.

Santa Clara Cac. Ismael Caboclinho - Wamoté [Nodzo1u] * em PB 1989 veio com a familia O cunhado (Anorowá) do finado Apowên, com aproximadamente 90 anos de idade,, é o mais velho da aldeia. Todos· os adultos provêm de PB. O Perçurso: PB (60,61) -> São Marcos (65) - > CM (89) - > Santa Clara. Tem ?ananal desde 90, e atualmente tem 8 alqueires.

São Felipe - visita ao por do sol, 18, 20hs. Estão construindo todas as casas novas, num total de 12. Cac. José Luiz - Tsereté * Aldeia S. Jorge - Ritu'wawen, que era aldeia Grande em 1946. [Nodzo'u]

Com a idade de Waptepremin ( menino) foi para Meruri ( um dia), seguindo )4,-v logo para Sangradouro. 1983 - voltou para CM 1987 - mudou para S. Felipe.

Bananal de 8 alqueires, que esse ano vai ampliar para 10 alqueires. É contra a venda de madeira. tem escola, com monitos rádio da F. religiijo do X

Geral: informante Xico- Uma aldeia, para fechar um grupo de wapté, para separar para a iniciação, tem que reunir pelo menos 10 meninos. De modo que em aldeia

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menor .' o espaçamento entre um e outro grupo de idade pode ser maior. Implica num tamanho mínimo tolerável para manter a estrutura soei a 1. O grupo de idade se constitui numa espécie de time vitalício nas corridas de buriti. A corrida de buriti não pode ser realizada com poucas pessoas. Há um: mínimo necessário. Nisso afirma-se a cooperação, a par do faccionàhsmo.

I

Qacique Xavante, em geral, conta com um "secretér ío". Esse desempenha as funções de intermediário na relação como os Waradzu, contando com alguma escolarização que lhe permite redigir carta e fazer contas.: Normalmente o secretário é um parente próximo> irmão, filho ou sobrinho, correspondendo à confiança do cargo.

Mentalidade Xavante: (ML, 98) é hábil na arte de importunar, com a finalidade de obter o que deseja.

Pode ser relacionado com sua atividade (mentalidade) de coletor: obter ! sem ter o encargo do cultivo. Assim, o que alguém, momentaneamente, tem a mais é passível de saque, como sendo um ato de coleta. · Isso, aliado ao facciona11ismo, ao treinamento que recebem para supor-tar contendas, pelo menos verbais, leva a que alcancem sucesso na sua relação com a nossa sociedade - que o percebe como um ser curioso e incômodo, um pedinte que pode ser acalmado com uma esmola. O Xavante aceita sem pecha qualquer oferta, mas retoma a atitude de insistência para sacar bens de quem eles consigam mover a isso.

cr observação de Angela: a personalidade do cacique imprime um tom no; comportamento da aldeia toda. Por exemplo: Pedrinho (S. José) é um cacique 11Zen11, calmo. Ao lado dele tem uma figura, o Zacar-ia, que é a eminência parda e que já viveu bastante entre civilizados e tem muita história para contar. Lucas, secretário, é filho de Pedrino.

Joãozinho (Wedetede) é o tipo mais "à vontade", deixando que as crianças dêem o tom.

Benjamim (S.Pedro) não se expõe muito, e tem hora que parece se omitir demasiadamente.

daboclinho (Santa Clara), parece insigneficante, mas sabe tomar o pulso quando quer.

Má mulheres que lideram certas aldeias, embora elas sempre afirmem: "Fulano, cacique forte! 11 O fulano pode ser o marido ou um suposto pai. Essas figuras são encontradiças em aldeias da região oeste.

/

Informações prestadas por Xico para mim e Jorge, na residência deste, no dia 06.08. 96.

Há Xavante que trabalha em fazenda. Um (Adalberto) da aldeia Estrela~ trabalha (braçal) na Faz. Xavantina. Gedeão, da aldeia Sucuri, trabalhs na Fazenda. Um filho de Gabriel vive em Jataí, casad com uma ex-funcionária da Funai. Há Xavantes que são funcionários da Funais, como Grestes, que presta serviços. Hugo Ajawé é casado com uma atendente de enfermagem, e tem casa própria.

índios do Xingu trazem penas trocam por caramujos, principalmente com os i Xavante de Areões. Nessas oportunidades também jogam futebol.

Caça: técnicas - flecha, arma de fogo, fogo, borduna.

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tipos de, caçada ( Abá) : a) Hõmono - participam somente os homens, indo praticamente todos da aldeia. ·

Os mais velhos que decidem. Saem e acampam a um dia de caminhada. Partem em grupos de

idade para caçar, desde os ritei'wá. Os wapté não participam. utilizam: flecha, borduna e arma de fogo (fogo não). Seguem rasto. Para cada tipo de caça tem um tipo de grito; só não usam grito para padi're , Nessa caça, abatem de tudo, mas a preferência recai sobre a anta e o cervo. É realizada mais frequentemente na seca. Como exigem pouco tempo, e precisa andar muito, não pode ser concretizada no perfodo chuvoso. A duração, depende do tempo necessário para completar determinada quantidade; pode durar mais ou menos uma semana. Se o acampamento não estiver situado em bom local de caça, mudam o acampamento a uma distância de meio dia de caminhada.

Local para caçar (de acampamento), que seja meio 11vargem11

(várzea,), onde tenha visão bem ampla, que inclue, frequentemente buritizal.

A tarde, quando da chegada da caçada, os v~hos que ficaram, os si1re1wá (lado oposto) recebem.

Agostinho é topdató (dono do porco) - comanda caçada de um dia. Poria1ono (inclui os donos de - anta, veado, cervo) - Essa caçada

não usa fogo, e dura um dia; pode usar cachorro. [ Apêtse - Apê)

Para essas Abá (caçadas) servem os donos de animais para decidir - a distribuição da caça é feita pelos Si're1wá; a distribuição é feita principalmente por quem determinou a caçada. Pode ser praticada em qualquer época do ano.

Na Abá não há a organização por grupo de idade. Vão em grupos de 3/4, sem se distanciar muito entre si. A comunicação é feita por assobio', para indicar o animal, há quanto tempo passou, e para que lado seguiu . - com isso os outros sabem que posição devem tomar, por exemplo, para cercar queixada.

Há dois tipos de casamento e correspondente caçada: Hõmono - saem de manhãzinha, pelas 4 hs e seguem até pelas llhs,

descansando junto a um córrego. Os ritei'wá providenciam, par-a si e para seus padrinhos, os

barracos, a lenha. Não participam da caçada propriamente. Podem se dedicar à pesca. Cabe a eles a construção de jiraus. Quando os homens trazem a caça, os Ritei'wá evisceram e tiram o couro, pondo a carne para assar, já a partir da noite. Os miúdos são consumidos no acampamento. O produto do primeiro dia de caça destina-se à manutenção dos caçadores.

No retorno à aldeia, cada metade recebe o produto da outra metade. A caçada é uma maneira de manter a união entre as classes de idade, as metades e com os que permaneceram na aldeia.

b) Dzó1mõri - caçada familiar. Um velho decide e convida as outras casas.

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Somente os membros de uma família participam, incluindo os moradores de ! residências.

Partem cedinho, e afastam-se por meio dia de caminhada, levando alguma coisa para comer. Escolhem local onde possam banhar-se, onde pousam e seguem por mais meio dia até o local pré-determinado para acampar.

Pode durar de uma a duas semanas. Tipo de caça: inclui todo tipo de caça, também aves, tatus, peixes. Finalidade: para abastecimento, e e para manter um bom

relacionamento entre as famílias. É um recurso utilizado para evitar doenças, como gripes, desinterias, que eventualmente se propagam nas aldeias. Serve também para arejar a cabeça de fuxicos, intrigas.

Mais freqüente durante as chuvas, quando a caça é mais farta. Durante os primeiros dias de caça, procuram abater o suficiente

para seus sustento imediato; somente nos dois últimos dias intensificam essa atividade para obter um excedente que permita distribuir aos parentes mais próximos que permaneceram na aldeia.

A coincidência de várias expedições de caça faz com que, por vezes, quase metade da aldeia esteja empenhada em caça. Nesse caso, tomam o cuidado para que os acampamentos não fiquem demasiadamente próximos.

Antes do contato, essas expedições eram mais prolongadas. Nova Xavantina, Barra do Garças, São Joaquim, Primavera do Leste

{Aé1tá1a = tempo de colar; isto é, tempo de coletar semente de capim navalha mais encontradiço nessa região).

As construções do acampamento do Hõmono são mais provisórias. Enquanto as do Ozo'mõre, mais duráveis, podendo ser utilizada ainda no ano seguinte.

Nas expedições de caça, os padrinhos dos wapté do Hõ não participam, ou apenas alguns deles participam.

Nas caçadas levam suprimentos que necessitem diariamente, contando com os produtos de coleta. Estes, somam-se ao produto da caça.

Aba1dji - coleta de todo tipo de tubérculo

Apê (Apõ) lagoa.

Dzo1mõre - escolhem lugares abertos, próximo a água, rio ou

Abá - mais em área fechada, onde se concentra mais o porco.

Du - caçada com fogo. Decisão dos velhos, na véspera, para preparar as flechas.

O lugar é escolhido em função de algum córrego, ou mata que intercepte o fogo, para que não se alastre demasiadamente. Parece que a alteração climática faz com que o fogo se mantenha por mais de um dia. Esse fator inibe a utilização dessa técnica, além dos limites de sua terra, parcialmente ocupada por fazendas com pastagens. Antes tinham perfeito controle da área a ser atingida pelo fogo.

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Duração - um dia. Pode haver grupo que decide continuar no dia seguinte, perseguindo os rasto deixado na queimada; mas é muito raro acontecer, pois a caça que escapou distancia-se demasiadamente.

Partem pelas 5 ou 6 hs, após cantarem, para o local pré­ determinado. No local da caçada cantam novamente, e os donos de animais desempenham seus papéis. .

Pelas 10 ou 11 hs, já no local, põem fogo. No local, ou em suas proximidades, dividem em três grupos de caçadores: dois grupos abrem em forma de leque, e o terceiro fecha o leque, dando uma hora de tempo, o suficiente para os outros percorrerem uns 5 Kms.

Não há uma pré-determinação quanto à pessoa que deve por fogo. Mas alguns são escolhidos para essa tarefa. Fazem um facho com taboca amassada e põe fogo na corrida.

Entre eles há os que são considerados como melhores flechadores ou atiradores (com arma de fogo.

A distribuição espacial dos caçadores é feita pelos "donos" Os animais abatidos são reunidos para eviscerar; com exceção de

animais de porte maior como a anta e o cervo, que são eviscerados e esquartejados no local de abate. Os animais são levados aos "donos" que os cortam e procedem à distribuição. A caça menor ( paca, cutía, [aboti , tatu) é dada para Si1re1wá; pode ser objeto de apossamento direto.

É a única caçada em que o caçador pode escolher a parte de carne de sua caça.

É uma caçada perigosa. Por isso, os mais novos agem acompanhados por alguém mais experiente nessa prática.

O retorno à aldeia ocorre no final do dia. Na aldeia tem os Dane'ware (pedintes); é obrigação dar a quem

pede.

Há caçada individual, em que utilizam o cachorro e arma de fogo. Quando caçam em dois, não ficam juntos, mas cercam uma área, comunicando-se com assobios.

Watsini {Mitfater) é a relação entre os sogros (pais) de um casal.

A caça de casamento pode ser realizada em qualquer época do ano. 1. Dabatsa - derivado da moça - caça para o casamento. Decisão parte dos Watsini (pais dos noivos), com eventual

participação dos irmãos mais velhos. Duração - uma a duas semanas, dependente da quantidade de caça. Participação: as duas familias - que sejam parentes mais próximos

das duas famílias. Participa também o padrinho da noiva, o que é responsável pela distribuição da carne, sendo este seu papel principal.

Só pode ser padrinho de criança de clã oposto, especialmente dos filhos da irmã ( relação tio paterno). A irmã pode pedir ( Danewê1wudzuá) ou seu irmão pode se oferecer para tal. Uma mesma pessoa pode ser padrino de vários sobrinhos. Alguém pode perder a relação de apadrinhamento, em desfavor de outro, se não cumprir com suas obrigações. O padrinho da noiva é considerado como sogro, por parte do noivo, O padrinho exerce uma ascendência sobre o pai da noiva em questão de decisões relativas à conveniência de determinado jovem para noivo

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As associações entre os elementos Xavante dependem, não tanto da pertence a um clã, mas é resultante das relações construídas no quotidiano. Em decorrência, um Watsini pode levar outro a tomar decisões que 'não queira; o padrinho é um dos Watsini.

Pela caça o Xavante consegue ser Xavante.

Essa semana o pastor da Igreja Universal do Reino de Deus informou que semana passada os Xavante do PI Campinas foram até próximo de Primavera do Leste e caçaram emas e coletaram broto de buriti para ay;tesanato.

[ ver inf. sobre Wedetede ]

2 .• Insereré: outro tipo de caça para casamento. Nesse caso, 1) - sê no decorrer do relacionamento entre os noivos, ela engravidou, a caçada é de um dia, e o que obtiver serve. Pode ser utilizada a técnica do fogo. 2) A caça está difícil, há escassez; ela era praticada mais vezes.

A gravidez pré-nupcial é encarada mais tranqüilamente hoje. Antes, essa caçada objetivava abafar os comentários.

3. Caçada tipo Tabatsa - para casamento precoce. O padrinho pode decidir com os pais dos noivos, mesmo que a noiva

sja ainda pequena. Ainda não está com direito de coabitação.

Caça de espera - supõe arma de fogo, e é raramente utilizada. Corresponde a uma apropriação individual.

Se a arma for emprestada, seu dono tem direito sobre parte da caça.

Sempre: o caçador não tem direito à distribuição. Pode, em caso como no Ou, pedir uma parte.

Geralmente é o Owawen que corta o animal. O informante lembrou que, de uma anta que abatera, fora contemplada por uma porção correspondente a 4 bifes.

Venda: só Areões vendem caça; No Couto Magalhães venda de matrinchã.

Pesca - Técnicas - abawa'tii (timbó); flecha; linhada e anzol; mais

raramente, rede e tarrafa (se tiverem capturado). O peixe não integra nenhum cardápio ritual. A pesca de timbó é decidida no conselho (Warã) - quando e onde se

realizará. A iniciativa, geralmente cabe aos Owawen ( que são os homens do rlo, da água grande) e os Poria'ono concordam. Na véspera, coletam o cipó.

Coleta Frutas - Abadji. Decisão tomada no Warã.

Cabe às mulheres coletar frutas, lenha, batatas, buscar água, limpar a roça. Na colheita trabalham em conjunto com os homens. Cortam e batem o

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arroz também com os homens. A elas cabe também cortar e carregar a palha para a construção da casa; no local, macetam o talo e cobrem. O homem· corta a madeira e ergue os esteios; a ele cabe também a copa (cume da casa).

A casa tradicional mantém um clima interno estável, libera facilmente a fumaça. A estrutura casa adotada dos regionais provoca problemas respiratórios, por não facilitar o escoamento da fumaça, além de permitir grande oscilação termométrica.

Por exemplo, para o Wai1á, coletam diversos tubérculos. Durante o dia, enquanto os homens preparam o ritual do Wai'á, as mulheres ficam preparando os tubérculos. No entanto, a mulher que passar. por perto dos homens está sujeita a ser estruprada pelos homens. Não é transa. Inclue mordidas, beliscões. A semelhança, uma moça meio danada, que não se contenta com um, pode ser pega por esse grupo, que a retem por uma noite e a devolvem toda machucada.

Durante o Wai1á, podem pisar no pé, machucar, e antigamente chegavam a matar.

Retomadas: 1965 -: Couto Magalhães AA 1973 - A ldeona AA 1975 - Novo Paraíso 1979 - Parabubu AA

AA - em local de antiga aldeia, que eram as principais na época do contato.

(Ver Aracy) Aldeinha, é anterior a Paraíso.

'De S. Marcos foram para Couto Magalhães, e daí partiram grupos para: São Domingos Sávio (Wedetede) em 1976 São José em 1976. S. Pedro - 1981 Espírito Santo - 1985 Santa, Maria - 1985 Santa Clara - 1989 ( origem remota de PB) São Felipe - 1989 Pizato - 1981-95 ( quando seguiu para Agua Branca ( PB) - é o grupo de Suyáf

De Batovi e Marechal Rondon retornaram para Kuluene - Aldeona. Daí pertiu um grupo para PI Estrela - 1979. O grupo de Nossa Senhora Auxiliadora Padroeira do Brasil (1985) veio e voltou para Sangradouro(1990), passando por Couto Magalhães

Namukurá - é uma aldeia em S. Marcos fundada por Juruna. Grupos que vieram de Sangradouro, passando por Parabubu. S. Paulo - 1988 Santo André - 1988 São João Batista - 1985. Pedra Preta - 1987 (8)

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São Jorge

Santa Luzia - 1988 ( de S. Marcos) Santo do Céu - 1995 (de São Jorge)

i

Principais matérias primas utilizadas em adereços cerimoma,s: semente de capim navalha; buriti ( diversas partes); algodão; urucum; coco de babaçu; dente de capivara. Até aq:u; caderno B

)

Anotações de campo, do perfodo de 27. 07. 96-02. 08. 96

Aldeia São Domingos Sávio - Wedetepá ou Aldeia da Lagoa.

* 1976: 11 casas 94-5 - pessoas Cac. J,oãozinho - Tehia'tsé [Ubare'u] HV: nasceu numa aldeia na vizinhança daqui, em que o pai era cacique. Nessa época era uma aldeia grande. Daqui saiam para caçar, pescar, vigiar: a terra. Já em meados da década de 40· expulsaram garimpeiros do corregp do Jatobá.

J J Sua primeira aldeia, no retorno é essa.

Antes do êxodo, fora uma aldeia muito grande Após a demarcação separaram três aldeias. Interesse pela área 3, Wairê.

Pesca; principalmente no córrego da Aldeia, no Couto Magalhães, no córreg'o Felipe. Caça: o principal local era a Lagoa Encantada, onde os bichos iam matar a sede. Iam até a Placa Nativa, Noidore, e onde hoje é Campinápolis. Havia uma aldeis próximo do local. onde hoje é essa cidade; no local onde é a Chácara do Tião Neca, e já morou (Joãozinho) aí. Coleta - essa região é propícia para coleta de: frutas: Jatobá, jaboticaba, babaçu, wairê, tinini, a'odo (coco de macaúba), udzu (coco de buriti), abare (piqui do mato); castanha do coco de babaçu tubérculos: inhame do cerrado, parabubu, Wy {raiz), wededu, uiapódo, pone'e.ri, pedzi, moni'a, moni'hoi'ré (inhame), patede (batata),

~ noroipó (palmito de bebaçu) , tsé (palmito de rnacaúba)

Busca-se maior quantidade de frutas e raízes para ocasiões festivas, para complementar a caça.

!

Na Area 4/5 encontram-se frutas, que se desenvolvem somente nessa região que inclue zona de várzea/banhado, que amadurecem pelo mês de setembro - Wededjê, Wederã1watsa.

'Obs , Em Xavantina plantaram o Wererã 'watsa, mas não frutifica, por não ser lugar apropriado.

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O coco de babaçu é MP imprescindfvel nas diversas cerimônias, rituais - pois entra na composição da pintura, misturando-se seu óleo ao carvão e urucum. O carvão é obtido do talo da folha de buriti. A pintura mais frequente combina o preto e o vermelho; só é ritos especiais, como o wai'á, utilizam algumas listas brancas.

Interrogado quanto às raízes, esvaiu-se com a desculpa que lembrava poucos nomes. Posteriormente fui saber que o conhecimento de rafzes é disputado entre os especialistas das diversas facções, implicando em não· revelar o que é de dominio de um. A minha anotação pode servir de canal que vaza indevidamente informação para o outro, como já ocorreu com outras pesquisas.

Mesmo assim enumerou algumas rafzes, que seriam utillizadas para "várias doenças": Uhõtepá, utõ'parané, wede1wa1udzé, wede'wa'wahõ.

Tanto a caça para a cerimônica do Wapté quanto para o casamento, é realizada também em áreas de fazendas, resultando em reclamação dos fazendeiros contra os Xavantes, dirigidos à ADRX.

Sa'wriwá - é uma corrida cerimonial , integrando a parte final da cerimônia da passagem do Wapté para Ritei'wá. Os homens fazem um cercado de folha no meio do pátio, por volta do meio dia. Todos participam.

Entre as 17 e 18, 30hs começa. A noiva leva um bolo ( que pode ser de milho ou de mandioca) para o noivo que se encontra nesse cercado. O padrinho (é o mesmo do período Wapté) recebe o bolo do noivo, e procede à distribuição do bolo para os velhos. Isso dura de uma hora a 1,30h. Consiste na cerimônia de apresentação da noiva ao noivo - momento em que também é decidido o dia da caçada para o casamento. Essa decisão é tomada pelos pais e os irmãos do noivo, podendo participar outros parentes mais próximos de ambas as partes dos noivos.

Essa caçada do casamento dura de uma a duas semanas. É necessário reunir mais ou menos 80 Kg de carne assada. Somente homens participam nessa caçada; eventualmente a família do noivo pode acompanhar, dependendo da distância. As mulheres, na caçada, cuidam da carne, principalmente dos miúdos (coração, fígado ... ). Além dessa atividade, as mulheres pode colher frutas e tubérculos. Mas o emprendimento da caçada objetiva unicamente obtenção de carne para a festa. A carne requerida para tal, não é determinada unicamente pela quantidade, mas pela qualidade e variedade proporcional: duas a tres antas - das quais são selecionadas as seguintes partes: os quartos e costelas; cabeça, pescoço e vísceras não servem; dez a quinze porcos (caitetu ou queixada) - selecionando as mesmas partes; quatro a cinco veados ( do campo) dois a três cervos Obs: ( adjé e pooneri - não fazem parte )

Ave e outros animais não são incluídos, ·nem peixe. Toda a preparação da carne, incluindo o cesto de broto de buriti é

feito no cerrado e mato. A meio deia de caminhada, fazem o cesto, que é um tipo especial, só utilizado para o casamento .. Com dimensões aproximadas: 80 cm de altura, e 1,Sm de diâmetro. Esse cesto o noivo carrega, com as carntes dentro, nos últimos 100m para chegar na casa da noiva, o que deve acontecer pelo meio dia . Seria o primeiro ato do casamento, confirmando a cerimônia.

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10 ,.,

O padrinho da noiva - Sorê diu 1wá - distribui a carne para cada família - as pessoas vão buscar na casa da noiva. Principalmente as mulheres - Dani 'ware - que buscam a carne. Aqui encerra essa parte da cerimônia.

Lá pelas 15/16hs inicia o 2Q ato, que é da noiva - Adabá A mãe ou Sorê dju1wá (padrinho) pinta - unta o corpo todo com

urucum e perna (Teerã) de preto. Antigamente era sem outra indumentária, hoje acrescenta um short. A mãe leva uma esteira ( virgem) até uns 30-40 m de sua casa, isto é, no pátio, onde deposita a esteira. Af vem a noiva e senta sobre os calcanhares. Após ela sentar, uma moça não casada sai de uma casa do lado oposto, correndo em direção à noiva e leva um presente tirando uns enfeites da noiva, correspondendo a uma troca formal. Após essa troca de presentes, a noiva retorna para sua casa, para a parte reservada para ela. Com isso encerra formalmente o casamento.

O noivo só se encontra com a noiva à noite, após o sogro se recolher, e se retira de madrugada, antes do sogro levantar. Durante o dia fica com os pais dele. Somente após o primeiro ou segundo filho passa a residir na casa no sogro.

I

Além desse casamento, tem outro que é mais rápido.

A partir do momento em que há uma combinação formal entre os pais para o· casamento - pode ser entre um rapaz com orelha furada - ritei'wá

com uma menina pequena - o rapaz fica obrigado a contribuir economicernente com a família da noiva. Por exemplo, traz a caça para casa e sua mãe leva para a casas de seus sogros. A mãe da noiva tem obrigação de levar comida preparada para a casa do noivo - como bolo, arroz,. pouco de carne.

O pai da noiva pode oferecer as outras filhas para o seu genro, se acha que é bom, que merece. Para cada novo casamento faz nova cerimônia.

A viuvez não é tolerada. Uma viúva é oferecida pelo pai ou irmão mais velho a alguém que possa recebê-la como segunda esposa; A mulher que fica sozinha pode criar problema para os demais casais. Por isso que é bom casá-la. Se um homem fica viúvo, procura-se uma mulher adulta, mesmo que seja 2ª esposa de alguém, para receber como cônjuge.

Em São Marcos e Sangradouro, os padres separavam as moças da família. Só devolveram após muitos desentendimentos com os índios e funcionértos da Funai.

Perto do ponto 17 ( Chão Preto - área 2) , na serra, tem cavernas { cf. Joãozinho)

Dietas: Criança pode comer qualquer coisa. ·Mulher grávida dá preferência para frutas e batatas (tubérculos) do

mato;:pode comer carne de anta, porco, veado; mas não de ave. Dentre os peixes, só come matrinchã e piau; outros peixes, como traíra, pacu não pode comer.

'segundo um informante, quando criança nasce, a mãe deve comer pouco, o que vale também para o pai. A quantidade de comida vai

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'2 J .. ).

aumentando progressivamente, até retomar o nível normal, quando a criança tem uns seis meses ( quando engatinha) .

11 Eu não acreditei, e transgredi a dieta e a criança ficou ruim. Agora acredito. Enquanto criança pequena não pode matar cobra ( qualquer tipo) se não criança morre. Durante a gravidez o marido também não pode matar, se não a criança vai ter problema de saúde.

11Uma vez no Couto Magalhães, estava com vontade de comer peixe (outro peixe). Os velhos não deixaram, mas eu não acreditav. Aí comi. No mesmo dia minha filha de três meses adoeceu. Na aldeia já sabiam que tinha feito uma coisa. Já vieram com carro para me buscar que minha filha tinha ficado doente. Aí acreditei. Se fosse filha de um mês teria morrido na hora.

11Se o pai ou a mãe come muito quando a criança é pequena, à noite ela passa mal. Além disso, a comida, deve ser ingerida fria. Se comer quente, o nenê não faz bem o xixi.

[nessa perspectiva, olha as crianças doentes no hospital - como atendente de enfermagem].

Aldeia N.S.Aparecida. 02 casas há criação ele porco. casa do padre sem telhado (isto é, paredes de alvenaria e um esteio central) Era aldeia grande, que se dividiu devido a desentendimentos.

Aldeia São Pedro. Cacique Benjamim - Anorowá 27 casas escola de alvenaria ( nova) com duas salas atendente de enfermagem. casa das freiras que moram aqui e atendem outras aldeias em termos de escola, saúde, também no bordar e crcchê , rádio da Funai.

Ele se interessa mais pela área 4/5 Ele, com isso, pretende recuperar, resgatar a história. Naquele tempo chamava de Norõ Tsurã, e quer que essa parte receba esse nome. Xi está intermediando para ter denominações diversas. Hoje não tem mais onde caçar. Falta espaço para caçar, para coletar frutas. A tua lmente utiliza área de fazenda para caçar.

Perto do rio Sete de Setembro, no rio Couto Magalhães, o Banco Safra tem uma fazenda (antiga fazenda Campo Alegre) e alf colocam tela no rio par-a impedir a passagem de peixes, especialmente na piracema. Em 1983 houve um conflito em Campinápolis por causa do peixe, resultando em duas vftimas entre os não fndios.

[Tsitsire - é um córego onde vai passar divisa da área 4).

Um Xavante velho se mostra contente com a perspectiva da ampliação, porque tem saudade do tempo que andava e caçava, e hoje só

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encontra fazenda. Está contente com o ~rabalho de Benjamim, de resgatar essa área, e com iso poder caçazr em paz sem se perturbar e sem perturbar ninguém. Antigamente tinha caça, peixe, muito tatu, araras para enfeite. Hoje não tem nada. O que entraram, quebraram o cerrado - plantando erroz e com o agrotóxico matou e afugentou caça e pesca. Os Xavante querem que a mata possa se necuperar da devastação provocada pelos fazendeíros, e com isso também a água, os animais e os peixes.

Tsomore - caçada familiar A1amã - caçada dos adolescentes (antes de furar as orelhas, em que os padrinhos vão junto.