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* Doutora, Mestre e Especialista em Dentística pela UFSC, Professora do Curso de Especialização em Dentística da ABO, Seção de Goiás, Goiânia

** Especialista em Dentística pela ABO, Seção de Goiás

*** Mestre em Odontologia pela UFG, Especializanda em Dentística pela ABO, Seção de Goiás

**** Especialista em Dentística pela ABO, Seção de Goiás, Professor do Curso de Especialização em Dentística da ABO, Seção de Goiás

***** Mestre em Dentística pela SLM, Campinas, Professor do Curso de Especialização em Dentística da ABO, Seção de Goiás

****** Mestre em Reabilitação Oral pela UFU, Uberlândia, Professor do Curso de Especialização em Dentística da ABO, Seção de Goiás

Rafael de Almeida DecurcioAvenida Itália, 1184, 74325-110, Goiânia, GO

[email protected]

Data de recebimento:27/02/2014Data de aprovação: 07/03/2014

Paula de Carvalho Cardoso *Cassiana Araújo Luz **

Ana Paula Rodrigues Magalhães ***Marcus Vinícius Perillo ****

Lúcio José Elias Monteiro *****Rafael de Almeida Decurcio ******

Facetas Cerâmicas: Como Remover os Excessos do Cimento Resinoso?

Ceramic veneers: Removing the excesses of the resin cement?

RESUMORecomendados para a cimentação de restaurações

cerâmicas parciais do tipo facetas, os cimentos resinosos fo-

toativados escoam nas margens pós-assentamento das peças

cerâmicas nos substratos dentários. O escoamento resulta na

formação de excessos marginais de cimento, que devem ser

removidos adequadamente, pois comprometem o resultado

estético, a saúde periodontal e a longevidade do processo re-

abilitador. O objetivo deste artigo é apresentar um caso clínico

detalhando a etapa de cimentação, com foco na remoção de

excessos do cimento resinoso, e apresentar ilustrações de mi-

crografias em Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) sobre

duas diferentes técnicas de remoção de excessos do cimento

resinoso. Conclui que a técnica de pincel para remoção de ex-

cesso de cimento resinoso é a melhor opção para a rotina clíni-

ca, tendo em vista seus bons resultados e simplicidade técnica.

PALAVRAS-CHAVE Cimentação. Facetas dentárias. Cerâmica.

ABSTRACTRecommended for cementation of Partial Ceramics

Restorations Veneer-type, photoactivated resin cements seep

into the margins of post-settlement of the dental ceramic subs-

trates. The flow results in the formation of marginal cement

excesses that must be properly removed as it may compromi-

se the aesthetic result, periodontal health and longevity of the

rehabilitation process. The purpose of this paper is to present

a case detailing the cementing step focused on removal of the

excess resin cement and display Scanning Electron Microsco-

py (SEM) micrographs of two different techniques for excess

removal of the resin cement. It was concluded that the brush

technique is the best option for excess removal of the resin

cement for the clinical routine, motivated by the good results

and technical simplicity.

KEYWORDS Cementation. Dental veneers. Ceramics.

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INTRODUÇÃOA constante demanda social por resultados estéticos, em

associação com a evolução dos sistemas adesivos e materiais

cerâmicos, originou uma nova era odontológica, impulsionando a

confecção de restaurações totalmente cerâmicas com resultados

funcionais duradouros e estéticos.1-3 Esses avanços permitiram a

aplicação de modernos princípios restauradores: 1) máxima pre-

servação; 2) máxima prevenção; e 3) mínimo desgaste,4-5 que cul-

minaram na modificação dos preparos tradicionais e na criação

de uma nova denominação: Restaurações Cerâmicas Parciais

(RCPs), incluindo inlay, onlay, overlay, fragmentos e facetas.

RCPs do tipo facetas convencionais (RCPs convencionais)

exigem a confecção de preparos com redução vestibular, proxi-

mal e incisal, e do tipo facetas cerâmicas sem preparo (RCPs sem

preparo) ou mínimo desgaste preconizam a utilização de finas lâ-

minas cerâmicas (0,1mm a 0,7mm de espessura) sobre estrutura

dental com mínimo ou nenhum desgaste, fortemente unidas ao

esmalte dental. Nessa técnica, o desenho dos mínimos desgas-

tes é orientado exclusivamente pelo defeito preexistente no dente

a ser restaurado, como por exemplo: correções de forma e bordo

incisal, dentes fraturados, conóides e diastemas.

As RCPs convencionais, com mínimo desgaste e sem

preparo, exigem que a cerâmica permita o tratamento superficial

com ácido hidrofluorídrico, seguido de silanização, para então ser

adesivamente cimentada.6-7 Para tanto, são recomendados, para

a cimentação das RCPs, os cimentos resinosos fotoativados que

escoam em toda a margem da restauração após assentamento

das peças sobre os dentes. O escoamento resulta na formação

de excesso de cimento, que deve ser removido para permitir me-

lhor higienização, evitando, assim, acúmulo de biofilme e conse-

quente desenvolvimento das doenças cárie e periodontal,8-9 bem

como para prevenir o manchamento do excesso de cimento resi-

noso, comprometendo a longevidade do resultado estético.

Dessa forma, a remoção do excesso do agente cimen-

tante é fundamental, embora muitas vezes seja negligenciada.8-9

Diferentes instrumentos são recomendados na literatura para a

remoção de excesso do agente cimentante,10-17 entretanto, ne-

nhum tem se mostrado completamente efetivo.18

O objetivo deste artigo é apresentar um caso clínico em

que se detalha a etapa de cimentação com foco na remoção de

excessos do cimento resinoso, a qual é complementada com

ilustrações de micrografias em MEV, com duas diferentes técni-

cas de remoção de excessos do cimento resinoso.

REVISÃO DA LITERATURAA seleção adequada do material para cimentação é o pri-

meiro passo para a longevidade de RCPs. Preconiza-se o uso

de cimentos resinosos fotopolimerizáveis, pois apresentam va-

riedade de cores e diferentes graus de opacidade. Além disso,

os cimentos resinosos fotopolimerizáveis apresentam maior es-

tabilidade de cor, quando comparados aos cimentos resinosos

de dupla polimerização.19 Ainda, o tempo de trabalho e o grau

de escoamento dos cimentos de dupla polimerização dificultam

sobremaneira sua indicação. Em contrapartida, os cimentos fo-

topolimerizáveis possibilitam menores espessuras da linha de ci-

mentação, pela alta fluidez e pelo excelente grau de escoamento,

facilitando a remoção de excessos.20

Os cimentos resinosos fotoativados selecionados, geral-

mente, têm cor muito próxima da cor da estrutura dental natural,

para proporcionar excelência no resultado estético, o que pode

dificultar a remoção do excesso de cimento.18 Com isso, pode

permanecer cimento resinoso nas margens da restauração, con-

tribuindo para aumento da rugosidade, acúmulo de biofilme9 e

consequente desencadeamento dos processos das doenças cá-

rie e periodontal.21-22 Portanto, a remoção do excesso de cimento

é fundamental para a longevidade do tratamento.

Na literatura, há controvérsia com relação ao momento

de remoção do excesso de cimento, podendo ser imediatamente

após o assentamento da peça com pincel9, 23-26 ou após uma pré-

-polimerização de cinco segundos.27-28 Nessa técnica, o excesso

de cimento11,28 deve ser removido somente após fotopolimeriza-

ção de três a cinco segundos, nesse período, o cimento resino-

so torna-se um gel, devendo-se ter cuidado ao removê-lo, para

evitar danos à restauração e à estrutura dental. Na cimentação

de facetas de porcelana,24 a remoção sistemática do excesso de

cimento resinoso não polimerizado, antes da polimerização pela

luz, simplifica o acabamento pós-cimentação.

Pesquisadores29 descreveram a cimentação de uma face-

ta indireta. A restauração é vagarosamente assentada com suave

pressão digital, e o excesso grosseiro de cimento resinoso, re-

movido com a ponta de um explorador umedecido em adesivo,

movimentado em paralelo à margem, para evitar a remoção do ci-

mento na junção marginal. Os autores afirmaram que não se deve

utilizar fio dental nas áreas interproximais, quando o cimento não

estiver polimerizado, para não promover trincas, deslocamentos

ou remoção da peça do dente.

CASO CLÍNICOA paciente ST, 30 anos de idade, compareceu à Clínica

do Curso de Especialização em Dentística da ABO-GO insa-

tisfeita com seu sorriso em função do manchamento no dente

21. Ao realizar análise dentofacial (Fig. 1-7), observou-se que

os dentes se apresentavam alinhados, linha do sorriso anterior

alta, arco e dentes quadrados, papilas saudáveis e contorno

gengival alterado nos elementos centrais (Fig. 8). Nas figuras

9, 10 e 11, é possível verificar os detalhes da microestética,

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tais como a desarmonia do zênite gengival do dente 11 e a

interessante textura superficial do dente 11.

Diante do delineamento da queixa da paciente e das

informações obtidas por minucioso exame clínico, radiográfi-

co e fotografias extra e intrabucais, realizou-se o enceramento

diagnóstico para correção da forma do elemento 21. Apesar

de indicada, não foi executada cirurgia periodontal para cor-

reção de contorno gengival, pois a paciente não aceitou a

proposição e optou apenas pela resolução da queixa relatada

anteriormente.

Preconizou-se a realização de clareamento profissional

com peróxido de carbamida a 37% (Power Bleaching, BM4,

Brasil). O agente clareador foi aplicado sobre a superfície

dental, sem aplicação de barreira gengival, e mantido por 45

minutos. Foram realizadas quatro aplicações, por quatro dias

consecutivos.

Em seguida, realizou-se o preparo dental com pontas

diamantadas de extremo arredondado e polimento da estru-

tura dental preparada com sistemas de borrachas à base de

óxido de alumínio (Jiffy Polishers, Ultradent, EUA), usadas na

seqüência decrescente de abrasividade (Fig. 12 e 13). A Figura

14 mostra a seleção de cor do substrato para comunicação

com o ceramista responsável pelo caso.

Na mesma sessão, foi realizada uma moldagem em

Figura 1: Fotografia de face frontal inicial em repouso.

Figura 5: Análise em repouso.

Figura 7: Sorriso lateral esquerdo.

Figura 6: Sorriso Inicial.

Figura 8: Intraoral inical. Observe a presença de restauração deficiente.

Figura 2: Fotografia de face frontal sorrindo.

Figura 3: Fotografia lateral direita. Figura 4: Fotografia lateral esquerda.

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dois passos, com moldeira total adequadamente adesivada

(Universal Tray Adhesive, Zhermack, Itália) e silicona de adi-

ção (Virtual, Ivoclar Vivadent, Liechtenstein). Na primeira etapa,

realizou-se a moldagem com o componente pesado, com so-

breposição de uma película de policloreto de vinila (PVC). Na

segunda etapa, procedeu-se o afastamento gengival pela téc-

nica de duplo fio, inserindo-se inicialmente o fio 00 (Ultrapack,

Ultradent) (Fig. 15) e, em seguida, o segundo fio 0 (Ultrapack,

Ultradent) (Fig. 16). A próxima etapa consistiu na retirada do

segundo fio e na imediata aplicação do material leve sobre

os preparos e sobre o primeiro molde e o posicionamento da

moldeira, finalizando o processo (Fig. 17).

Após a obtenção dos moldes em silicona de adição

(Virtual, Ivoclar Vivadent, Liechtenstein) (Fig. 18), executou-se

um ponto de condicionamento ácido (Fig. 19a) (Power Etching,

BM4), aplicação de adesivo (Excite F, Ivoclar Vivadent) (Fig.

19b) em todo o substrato, e inserção de uma camada única de

resina composta (Empress Direct, Ivoclar Vivadent) (Fig. 19c),

que foi devidamente acomodada para confecção da restaura-

ção provisória (Fig. 20).

Figura 9: Detalhe do defeito e restauração deficiente no dente 21.

Figura 11: Intraoral lateral esquerda inicial.

Figura 13: Visão lateral do preparo finalizado.

Figura 10: Fotografia aproximada para análise da textura pré-existente.

Figura 12: Preparo finalizado.

Figura 14: Seleção da cor do substrato.

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Figura 15: Inserção do primeiro fio retrator de menor calibre. (Ultrapack 000, Ultradent)

Figura 17: Remoção do segundo fio e inserção do material leve.

Figura 19a: Ponto de condicionamento previamente à confecção da provisória.

Figura 19c: Inserção da resina composta para provisória.

Figura 16: Aspecto do segundo fio instalado, maior calibre. (Ultrapack 00, Ultradent)

Figura 18: Aspecto da moldagem.

Figura 19b: Aplicação do adesivo previamente à provisória.

Figura 20: Provisória finalizada.

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Os moldes superior e inferior, registro de mordida, encera-

mento diagnóstico, ordem de serviço e fotografias extra e intrabu-

cais foram enviados ao ceramista Murilo Calgaro, para confecção

da faceta com sistema feldspático convencional (Fig. 21).

Após adequada profilaxia do substrato, a faceta cerâmica

foi criteriosamente avaliada no modelo de gesso de trabalho e

troquéis enviados pelo ceramista (Fig. 22), sendo manuseada em

recipiente plástico com considerável profundidade, a fim de evitar

uma situação irreversível, como queda da peça cerâmica no solo

e sua consequente fratura.

Previamente à etapa clínica de prova e cimentação, a pro-

visória foi cuidadosamente removida, para preservar a integrida-

de do tecido gengival marginal. A Figura 23 revela a redução do

volume da provisória em resina composta com ponta diamantada

e, em seguida, o uso de lâmina de bisturi para remoção total da

provisória. Após profilaxia do substrato dental, a RCP foi posicio-

nada para avaliação da adaptação.

Em seguida, iniciou-se a prova da cor do conjunto RCP-

-cimento resinoso, realizada com a pasta matizada de prova

(Variolink Veneer Try In, Ivoclar Vivadent). O primeiro passo foi

a inserção da pasta de prova Medium, transparente na super-

fície interna da RCP, seguida do posicionamento no substrato,

remoção do excesso da pasta e, finalmente, a avaliação da cor.

A análise detalhada revelou que o resultado estético com a pas-

ta Medium proporcionou baixo valor à RCP, oportunizando sua

substituição por uma pasta matizada de alto valor. Na Figura

Figura 21: Fotografias montadas em Keynote para melhor comunicação com o ceramista.

Figura 23: Remoção da restauração provisória.

Figura 22: Aspecto da faceta feldspática finalizada.

Figura 24: Prova da faceta com pasta de prova.

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Figura 25: APosicionamento da faceta na pasta densa da silicone de adição.

Figura 26: Preparo da faceta com ácido fluorídrico e silano.

24, observa-se a inserção da cor +3 na face interna, e posterior

confirmação da seleção adequada do cimento resinoso a ser

utilizado na etapa de cimentação.

Confirmada a cor final desejada para o conjunto, iniciou-

-se o preparo da RCP, com a proteção da superfície externa da

cerâmica com pasta densa da silicona de adição (Fig. 25), sendo

a peça manuseada dentro de recipiente plástico.

Em seguida, aplicou-se ácido hidrofluorídrico a 10% na

superfície interna e margens internas da cerâmica, respeitando-

-se o tempo de condicionamento de dois minutos, indicado para

cerâmicas feldspáticas convencionais. Após lavagem abundan-

te com jato de ar e água por 30 segundos, a superfície foi seca,

e o silano, que é um agente de união química entre o adesivo à

base de metacrilato e a rede de sílica das cerâmicas condicio-

náveis, foi aplicado. Após 60 segundos, foi seco com leve jato

de ar (Fig. 26).

O tratamento do substrato dental foi realizado pela técnica

de condicionamento ácido total de dois passos. Inicialmente, um

fio retrator de menor calibre para selamento do fundo de sulco

gengival e os dentes adjacentes foram protegidos com fitas de

politetrafluoretileno contra a ação ácida, a fim de evitar transtor-

nos advindos do excesso de cimento resinoso e adesão inde-

sejada ao substrato adjacente. O ácido fosfórico a 35% (Power

Etching, BM4) foi aplicado no substrato dental, respeitando-se

o tempo de condicionamento de 30 segundos para o esmalte e

15 segundos para a dentina (Fig. 27).

A B C

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Após o período, promoveu-se enxágue abundante e se-cagem adequada, de acordo com a característica da estrutura dental, e, em seguida, o sistema adesivo (Excite F, Ivoclar Viva-dent) foi aplicado, de acordo com as instruções do fabricante, seguido de leve jato de ar (Fig. 28), sem fotopolimerização, para evitar a formação de uma película que impede o assentamen-to passivo da cerâmica. Em seguida, as fitas protetoras foram removidas dos dentes adjacentes. De forma concomitante ao preparo do substrato, a peça cerâmica foi preenchida com o cimento resinoso fotopolimerizável +3 (Variolink Veneer, Ivoclar Vivadent), previamente definido na etapa de prova (Fig. 29a). A restauração foi posicionada com leve e contínua pressão digital, e os excessos de cimento extravasados foram removidos com pincel, conforme demonstrado na Figura 29b.

A fotoativação foi feita por 60 segundos pela vestibular,

com fotoativador calibrado (Bluephase, Ivoclar Vivadent), e, na sequência, deu-se início ao processo de remoção dos excessos e acabamento das margens da restauração. Inicialmente, utili-zou-se tira serrilhada na proximal (Fig. 30), seguida da lâmina de bisturi 12 (Fig. 31) e do fio dental (Fig. 32). Após acabamento, removeu-se o fio retrator do interior do sulco com instrumental de ponta extremamente fina (Espátula Sofia, Golgran) e depois com pinça (Fig. 33).

Após a cimentação, pequenos ajustes foram realizados para o estabelecimento do equilíbrio oclusal. Em seguida, a su-perfície desgastada foi devidamente polida com borrachas de polimento cerâmico (Shofu, Japão). O resultado final das res-taurações é observado nas figuras 34-39. A RCP do tipo faceta resultou em excelente aspecto estético, devolvendo a harmonia

para face e sorriso, com absoluta naturalidade.

Figura 27: Após instalação do fio retrator e proteção dos dentes vizinhos, aplicou--se ácido fosfórico por 15 seg na dentina e 30 seg no esmalte.

Figura 29a: Posicionamento da faceta com cimento resinoso.

Figura 30: Remoção do excesso proximal com tira serrilhada.

Figura 28: Aplicação do adesivo.

Figura 29b: Remoção do excesso com pincel.

Figura 31: Uso do bisturi na região gengival.

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Figura 32: Fio dental auxiliando na remoção do excesso.

Figura 34:Aspecto final intraoral.

Figura 36: Vista lateral final com detalhe para anatomia estabelecida.

Figura 33: Remoção do fio retrator.

Figura 35: Detalhe frontal do resultado final.

Figura 37: Repouso final.

Figura 38: Sorriso final. Figura 39: Face, sorriso, gengiva e dente em harmonia.

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PreParação dos esPécimes Para microscoPia eletrô-

nica de varredura

Inicialmente, realizou-se a cimentação de duas facetas

cerâmicas reforçadas com dissilicato de lítio em dois incisivos

centrais, extraídos por condenação periodontal, sem nenhum tipo

de preparo, variando a técnica de remoção de excesso, conforme

desenho esquemático. Na primeira técnica, flash de luz, realizou-

-se pré-polimerização de três segundos, seguida da remoção

dos excessos, e, na segunda, o excesso foi removido com pin-

cel. Na sequência, realizaram-se preparos convencionais em dois

caninos, com redução vestibular de 1,2mm, extensão proximal e

término incisal em 0o. As facetas cerâmicas foram cimentadas,

variando-se a técnica de remoção de excesso, conforme dese-

nho esquemático (Fig. 40).

Os dentes foram cortados no sentido longitudinal para

avaliação em microscopia eletrônica de varredura (MEV),30 em

máquina de corte metalográfico Isomet 1000 (Buehler, Estados

Unidos). Cada metade do lado coronal foi polida com lixas abra-

sivas, com decrescente abrasividade (até 1200). Os espécimes

foram então montados em bases de alumínio, metalizados com

ouro (Polaron SC7620, Quorum Technologies, Inglaterra) e obser-

vados sob o MEV (JSM 6060 LV, JEOL, Japão).

As micrografias estão expressas nas figuras 41-46, em

diferentes ampliações, 50x, 100x e 1000x, respectivamente, com-

parando-se a técnica do flash de luz (lado direito) e a técnica do

pincel (lado esquerdo), nas duas situações, com e sem preparo.

DISCUSSÃOA cimentação adesiva é considerada a etapa mais crítica

e minuciosa da rotina clínica, em função de inúmeras variáveis

e tempo de trabalho. Evidências científicas norteiam a execução

protocolar desse processo, para o alcance de resultados previ-

síveis.31

A remoção do excesso de cimento imediatamente após

o assentamento da peça, previamente à polimerização, deve ser

feita em fase fluida,32 preferencialmente, com pincel na face vesti-

bular,9 e nas áreas interproximais, com fio dental, simplificando o

acabamento pós-cimentação.24 Eliminou-se o uso do pincel29 e se

incluiu o uso da ponta de um explorador umedecido em adesivo,

movimentado em paralelo à margem, para evitar a remoção do

cimento na junção marginal.

Na pré-polimerização, realiza-se a fotopolimerização de

três a cinco segundos, imediatamente após o assentamento da

Figura 40: Desenho esquemático da micrografias para comparação da técnica de remoção de excesso do cimento resinoso.

Figura 42: Micrografias da remoção de excesso com flash de luz (a) e com pincel (b) em facetas cerâmicas cimentadas sob substrato sem preparo com aumento de 100X.

Figura 44: Micrografias da remoção de excesso com flash de luz (a) e com pincel (b) em facetas cerâmicas cimentadas sob substrato com preparo com aumento de 50X.

Figura 43: Micrografias da remoção de excesso com flash de luz (a) e com pincel (b) em facetas cerâmicas cimentadas sob substrato sem preparo com aumento de 1000X.

Figura 45: Micrografias da remoção de excesso com flash de luz (a) e com pincel (b) em facetas cerâmicas cimentadas sob substrato com preparo com aumento de 100X.

Figura 41: Micrografias da remoção de excesso com flash de luz (a) e com pincel (b) em facetas cerâmicas cimentadas sob substrato sem preparo com aumento de 50X.

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RCPs. Consequentemente, o cimento resinoso torna-se um gel,

produzindo um cimento suavemente polimerizado. Segundo au-

tores,27-28 a técnica facilita a remoção do excesso, que pode ser

retirado com instrumental de ponta afiada, fio dental ou com lâmi-

na de bisturi 12. Entretanto, diante do presente estudo, observou-

-se que técnica de remoção de excesso após pré-polimerização

deve ser evitada, pois se constatou a formação de pequeno gap

e ausência de cimento nas margens cavossuperficiais.

Alguns autores afirmam que, em todas as margens cavos-

superficiais, deve-se deixar uma quantidade residual de cimento,

visando a limitar a inibição de polimerização pela presença de oxi-

gênio nessas margens, prevenir fendas e compensar a contração

de polimerização do cimento.26

Cabe lembrar que a contração de polimerização do ci-

mento resinoso se restringe à linha de cimentação, sendo essa

uma situação altamente desfavorável. Tal fato deve-se à relação

direta com o Fator de Configuração Cavitário (Fator C), que trata

da razão entre o número de superfícies (paredes) adesivas e o

número de superfícies livres.33 Os cimentos resinosos utilizados

para cimentação são premiados com a configuração cavitária

mais desfavorável a esse relaxamento,34 pois esta apresenta ape-

nas a linha de cimentação para liberação do estresse de contra-

ção de polimerização.

Em relação à estrutura dental, deve ser considerado o

substrato no qual as paredes cavitárias estão localizadas. Neste

artigo, as margens do preparo estavam quase totalmente em es-

malte dental, confirmando a eficiência do condicionamento ácido

e do adesivo em superfície e, consequentemente, a diminuição

da microinfiltração, indicando a superioridade clínica dessa situa-

ção, em relação aos preparos em dentina. Pesquisadores35 expli-

caram que a maior infiltração em margens de dentina ocorre pelo

fato de esse substrato ser heterogêneo quando comparado ao

esmalte, resultando em adesão deficiente, incapaz de resistir aos

efeitos negativos do estresse de polimerização.

Diante dos resultados apresentados, somados às infor-

mações científicas disponíveis, a técnica de pincel para remoção

de excesso de cimento resinoso parece ser a melhor opção para

a rotina clínica, por seus bons resultados e simplicidade. Novos

estudos devem ser realizados, comparando as duas técnicas de

remoção de excessos em RCPs com e sem preparo, incluindo-

-se análises de rugosidade, formação de biofilme e adaptação

marginal.

CONCLUSÃOA técnica de pincel para remoção de excesso de cimento

resinoso é a melhor opção para a rotina clínica de cimentação

de RCPs do tipo facetas, por seus bons resultados e simplici-

dade técnica, o que promove saúde dental e periodontal, assim

como aumenta a longevidade estética dos resultados.

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