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CHRONICA SEMANAL R EDICIOA POR UMA SOCIEDADE O "HO MENS SEM L.ETTRA3
PROPRIETARIO - H UMBERTO .$. PXNTO CORRE SPONOtHC IA Á L I VRARIA PO PU LAR , R , A U GU STA , 222 - l..I SBOA
lPlUXIX..XCA•S )(l: ÁN Q'l(J)Q:ol.r'K"A.S•lFlEXX•A.S
PREÇO POR UMO OU 62 R." l&oOO RÍIS - CIDA M.' 20 RbS
ANNO :Lº li LISBO.\, t8 DE DEZEMBRO DE tm _j(NÚMER9 ~
CHRONICA DA SEMANA
su."""'"'º -A sessão rC3l dn abc:rtur.i dns c6rtesRcpublicas-Falta de policia.
F1NA1..~1ENTE: estão abertas as côrtes const ituintes e vae começar a discussão das refo rmas politicas.
A sessão da a bertura foi mu ito concor rida e observaram-se n 'ella as formalidades do estylo, que nos dispensamos de mencionar, porque trouxemos d'alli uma unica impressão, a impressão desagradavel da pobreza de decorações e do aspecto de miseria, que ofTerece a sala do parlamento nacional.
Não conhecemos nada mais pelintra do que tudo aqui llo, desde as passadeiras da escada, até as alcatifas dos corredores, que dão ingresso para a sala das sessões, onde mais sens ive l se to rna o desconforto, onde ma is avulta a pobreza e onde se manifesta a miseria nas desbotadas sedas do doce( e das cor tinas.
Entre o luxo e a indigencia ha o meio termo do aceio e esse meio termo é o que nós reclamamos em nome do decoro nacional e cm nome da significação da palavra - parlamento-e em nome dos actos solemnes, que alli se praticam, tão solemnes, q ue exigem exterioridades, que imponham o respeito que se deve ao sanctuario das le is .
É necessario reformar aqu illo tudo. Vão reformar-se a lg uns artigos da carta , reforme-se ta mbem a sala elas sessões, reforme-se o ed ificio FUZILEIRO ABYSSINIO
A ILLUSTRAÇÃO POPULAR
interiormente e se não podêmos dispeader o nccessar io para termos um cdificio como o da ca· mara dos pares, ao menos façam-se as obras in· dispensa veis para que fique decente e d ecoroso .
Não somos exigentes, pedimos apenas o quanto baste para nos livrar da vergonha, que elevemos sentir, quando qualquer cstangeiro appareça nas tribunas para assistir a uma secção parlamentar.
_\ economia não pôde ir tão longe que nos obrigue a parecer ridículos.
X ·/~epublicJs ! t um nome de baptismo litte
rario e político, que nos agrada, quando a fe do ncophito é garantida por um padrinho que se chama T homaz Ribei ro.
f~ um semanario ele combate, que escolheu o ponto arriscado entre as alas aguerridas dos inimigos da liberdade e da monarchia, em que ju· rou bandeiras o denoclaclo carnpeüo, com apra· zirnento dos proprios inimigos, que sabem ter n'elle ad,•ersario tüo leal corno esforçado.
Saudamos com prazer o aparecimento das Rep11blic:is, porque ternos a certeza de que o seu syrnpatico prograrnma político hadc ser religiosamente cumprido e ele qu..: nunca as paixões particlarias perturbarão a tranquilidade d 'alma do illustrc publicista, que o clictou, o qual na sua vida publica tem dado sobejas provas ela sua illustração e magnanim idade.
Sob o ponto ele vista littcrario esta publica· ção não tem advcrsario~, tem só admiradores; não tem quem lhe cli,put..: primazias, só tem quem lhe reconheça os mcritos: não tem quem queira usurpar-lhe a gloria, porque todos adoram o prosador das ]orn:id:is, todos rc~peitam o cantor do {). ]:iyme.
O primeiro numero e um primor. Lê-se de um folcgo e fica-se com pena ele nào ser extenso, de não ser um grande volume o excellcnte hebdomadario, cm que collaboram os mais dist inctos escriptorcs do paiz.
Dem vindo, pois. X
Lisbõa está outra \ºCI. Ín\'adida pela praga das borboletas nocturna~.
São enxames dºcllas por essas ruas e perseguem os que passam com uma tenacidade, que incommoda.
la rua dos Douradores, por exemplo, é um perigo arriscar-se qualquer a transpôr o quar· t eirào, que medeia entre n trarcssn da Assumpção e a de St.' j usta.
t uma alu,•ião de noctiv.igas, que cabem so· bre o desgraçado transeunte, que não consegue com facil idade livrar-se cl 'cllas.
Pedimos á policia p rovidencias contra o facto e peclimol-as c m nome da mo ralidade e da dcccncia.
Não se pódeconscntir uma desvcrgonha d'csta ordem, nem se cornprchcndc, corno no centro mais populoso e concorrido da capital se toleram os cscandalos, que se praticam com uma desfaçatez, que vexa os que os prcsencciam e dcsautorisa a policia, que os não cohibe.
O sr. governador civil e os dignos commissarios de policia de certo ignoram isso; mas é necessario que o saibam para providenciarem, como lhes cumpre, porque e intolcravel o abuso, com que aquellas desgraçadas se di rigem a quem passa, se reunem cm grupos, que estacionam nos portacs e nos passeios, e convertem a baixa cm burgo de toleradas.
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DESCRIPÇÃO DAS NOSSAS GRAVURAS
ANOSSh primeira gra,·ura representa um/it{Í
lciro abyssinio. A maior parte dos auctores collocam
os ab_yssinios na raça b ranca e na farn ilia semitica.
Esta opinião é fundamentada, apesar ele que a raça abyssinia actual é um producto do cruzamento de duas raças, que segundo o doutor Ruppcl constituem dois typos principaes-o arabc e o negro. Os abyissinios pertencentes ao primeiro grupo (o arabe) possuem bcllas fórmas e nas feições e na expressão da physioaomia parecem-se com os Beduínos. Rosto oval, nariz delgado e bem contornado, bocca graciosa com labios finos, olhos vivos, den tes formosos e cabellos um pouco fri zados, e uma estatura bem proporcionada são os caracteres d istinctivos que carectcrisam os habitantes das elevadas monta· nhas de Samcn e dos valles que cercam o lago T czana.
Os abyssinios do segundo grupo dcstinguemsc pelo nariz menos afilado, pelos olhos rasgados lateralmente e pouco animados, pelos cabcllos muito encarapinhados, quasi lanosos e por tal modo espessos que se mantcem levantados na cabeça.
Este g rupo habita a província de 1 lamasem e outras regiões visinhas da fro nte ira austral da Abyssin ia .
A ILLUSTRAÇÃO POPULAR
O exercito abyssinio eleva-se a quarenta mil homens. divididos cm dilfcrcntcs armas.
A nossa gravura representa um fuzileiro. X
A nossa segunda gravura representa um salão de uma casa da ,\rmenia.
A Armcnia é um paiz privilegiado, não só pelas suas condições climatericas, como pela fcrtiliclacle cio seu solo.
Os cereaes, os vinhos, as fructas, o tabaco e o algodão dão abundantes colheitas.
Nas montanhas encontram-se jazigos ele ou ro, de prata, ele cobre, ele ferro e ele chumbo, mas estes jazigos tcem sido pouco explorados. Os caval los ela Armenia passam por ser os melhores ela Asia Occidcntal. i\ cochon ilha, p roducto impo rta nte d'cstas regiões, vive em grande quantidade ao pé cio monte Ararat. N'estc paiz ha cxcclle ntc maná e a ílora armen ia é rica cm variedades.
O caractcr dos povos da Armenia é alfavel, hospitaleiro, grave e intelligcntc e na maior parte vivem com invcjaveis commodidades e meios de conforto appctcciveis.
X A nossa terceira g ravura apresenta uma tenda
de arabes nomadas. Os arabes distinguem se pelo perfil alon
gado, pelo nariz aquilino, pela linha das maxilas um pouco reentrante, pela bocca pequena, pelos dentes bem dispostos, pelos olhos um pouco cavados, pela elegancia das fórmas, pelo apurado dos sentidos, pela intelligencia brilhante e pelos sentimentos profundos e perseverantes.
Todos esses caracteres manifestam uma ver· dadeira e notavcl superioridade sobre todas as raças, e o barão J,arrey encontrou essa superioridade até na conformação c raneana e no desenvolvimento d;is circumvoluções do cerebro, na consistcncia dos nervos, nc. aspecto da fibra muscular e do tecido ossco, r>a regularidade e desenvolvimento do coração e cio systema arterial.
Os arabcs ou vivem em tribus sedentarias, como os cultivadores, ou são nomadas, como os pastores.
Os beduínos, filhos do deserto, são ageis, sobr ios, valentes, e apesar de franzinos, supportam com faciliiiade as fadigas e as privações da sua vida errante.
Os agricultores ou fchles são mais altos e de uma apparencia mais robusta. Os primeiros tcem um ar desconfiado e feroz.
X
A nossa ultima gr:l\•ura representa um joven principe de Siam.
O reino de Siam tem cinco milhões de habitantes.
Os siamezcs, segundo os apontamentos de viagem de.\\. llenri de .\\ouhot, naturalista fran· cez, conhecem-se sem clilliculdade pelo seu andar desleixado e preguiçoso e pela sua physionomia servil.
Téem quasi todos o nariz achatado, as maçãs do rosto sal ientes, o olhar sem intelligencia, narinas la rgas, a bocca grande, os labio!. ensanguentados pelo uso do bctcl e os cientes negros como o ebano. Usam a cabeça completamente rasgada exceptuando o alto da cabeça, onde deixam crescer uma especie de penacho.
Os cabcllos são pretos e asperos. Os siamezes adoram as joias, e com quanto
que brilhem, pouco lhes importa que sejam lisas ou falsas.
O filho do rei anda de tal modo carregado, que o pezo das joias é superior ao do corpo.
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CARTEIRA UTIL
A LO:--cEv10AoE depende de causas independentes da vontade do homem e de causas absolutamente sobordinadas ao seu liHe
arbi trio e de umas e outras faremos menção para utilidade dos nossos leitores.
As causas independentes são: 1 . • A boa constit11iç:io. Elia é a base princi
pal sobre que repousa a longevidade; porque ella por s i só imprime ao organismo essa força de resistencia vital, que se oppõe á consumpção dos orgãos.
2 .• A lur111011ia entre todas as funcções orga-11icas, e principa lmente aqucllas sobre as quaes repousa a vida, isto é a innervaçào, a circulação e a respiração e conseguintemente o preenchimento regula r elas outras funcções, por meio das quaes a vida se conserva e se sustenta, como são as funcções nutritivas (digestão e nutriçüo) e finalmente a regularidade das que conservam a saude, ás quaes se chama funcções depurativas.
3.• q'{egularidade do desenvolvimento phisico. Esta reconhecido que os indivíduos que crescem lentamente e de uma maneira regular, sem abalos nem crises notaveis de saude, sobre tudo quando a estatura é mediana, nem muito acanhada, nem muito desenvolvida, têem probabilidades de durar mais que os que nasceram
A ILLUSTRAÇÃO P OPULAR
rachiticos ou se desenvolvem extraordinariamente.
A p:itria. Esta circumstancia, que depende cm parte da vontade do homem é, em geral, favoravel ou desfavoravel â longevidade; porque o homem não chega a edade avançada nos climas da zona torrida, nem tão pouco na gel ida circumfusa dos paizes polares: todavia encontram-se mais velhos nas regiões do norte, do que nas meridionaes, como a Italia e a
desde que o homem subjei ta os seus instinctos â razão, conserva a harmonia do phisico e do moral, sobre os quaes repousa a saude, e por tanto a duração da vida.
2.0 O soccf!O do espirito. E' facil de apreciar a influencia que t~em na duração da vida a consciencia tranquilla, os costumes puros e as doces emoções da família; porque tudo isso concorre para desenvolver a actividadc das funcções vitaes e irradiar cm todo o organismo esse
SALÃO D'UMA CASA NA ARMl::N IA
1 lespanha. Po r exemplo no norte da Ing laterra, na Escossia, na Succia e na Noruega, ha exemplos e numerosos de individuos, que chagaram aos 110 annos e mais.
í-:ntre as causas de longevidade, que dependem absolutamente do homem, mencionaremos as seguintes:
1 .º . '\ harmonia entre o pliisico e o mornl. Essa harmonia resulta dos princípios de uma boa educação até á puberdade, desde a puberdade até â edadc viril e desde a edade viril até â velhice e resume·sc no uso regular e com·eniente, que o homem faz das duas faculdades essenciaes, que possuc, a iotcligencia e o senso moral; porque
principio de energia e de força , que sustentam a saude e robustecem a vida.
'3 ·º O exercicio regular e com1enicnle das forças e das j:iculdades.
É pelo exercício das suas funcções organicas que o homem dispcndc a somma de vitalidade, que recebeu e e facil de provar que o organismo se gasta na porporçào da actividade.
l~ pois ncccssario regularisar o exercício das funcções organicas de modo que o organismo se não gaste inutilmente, ou antes de tempo, e só assim podemos chegar a essa edade provecta, a que chegaram nossos avós, os quacs, por uma regularidade de habitos, contrahidos pela educa-
A ILLUSTRAÇÃO POPULAR 197
ção e impostos pelo uso do tempo em que viveram, chegaram á senilidade, sem os achaques que que nós contraimos na mocidade, pelos excessos que praticamos e pelas irregularidades de que fazemos norma de vida.
poesia espiritualista, ungidos de caridade evangelica, entretecidos de naturalismo, passa todo um mundo de visões luminosas a desdobrar oo azul as brancas azas de cysne.
O seu inspirado e casto lyrismo manifesta-se arrancando·nos ao temperamento emint:ntemente realista, á plastica tangivel, para nos levar a ai-
TENDA D'ARABES NOMADAS
MINIATURAS
T l-l O MA Z Rll:lEIRO
PARECE que toda a nossa alma se illumina e reflori na madre silva das suas lucidas primaveras, quando rei~ os poemas de Tho
maz Ribeiro. A vasta imaginação, que tem de posse, traos
luz sempre em suas obras com a opulenta frescura de Rubens.
Nos seus livros reavivam-se extinctas memorias, reaccendem-se, na chamma latente da saudade, a esperança perdida, as illusões desfeitas, a mocidade fugitiva, tudo quanto ha de bom e suavisador.
Ao longo dos seus cantos, repassados de
ma , espontaneamente preza, aos ideaes da esthetica, á methaphysica translucida, aos ethereos platonismos de Miguel ./\ngclo e Dante.
Scintilla nos seus versos, delicadamente lapidados, o bom e alegre devaneio; palpita n 'el · les uma boa phantazia sonhadora, no azul da qual enxameiam as doiradas chimeras, iriantes, ligeiras como o capricho d'uma meiga adoles· cente, viçosos como um ramalhete de margaritas, colhidas de madrugada.
Leiamos Thomaz Ribeiro, e esqueceremos Zola, Baudelaire e o pessimista Fitche, ao passo que sentiremos desejos de evocar a theoria de Leopardi n'este mundo extravagante das suas antitheses, coberto de ílôres e de ceus profundos e lucilantes.
Effecti1·amente, cada volume que nos trans-
A ILLUSTRAÇ.\O POPULAR
mitte, elegante, clistincto e perfumado, como alcova nupcial, impregnada de ixonia brion ia, tem a irradiação, a candu ra, o fie profundamente pathetico, a pratica relig iosa e a lição moral, que nos accendem o sentimento fervoroso, a incomparavel vassallagem para todo um desabrochamento collossal de crenças, quando as viboras do cynismo se vão enroscando ao coração humano e matam n 'elle lentamente as mais ferteis illusões.
É preciso ser J ob para saber-se, como Thomaz Ribeiro, um espírito inventivo, organisar resistencia ao esboroamento de todas as fel icidades, sem que d 'essa derrocada nüo surja, sob a escuridão cio solTrimento, o phantasma da descrença.
Deve ter soffrido mu ito o poeta, que hoje apresentamos em miniatura; os seus suspiros descobrem-lhe as tempestades da alma, a resignação, mesmo a candura.
O infinito do sentimento, que elle infiltra no rithmo, deixa advinhar-lhe o genio e os pensamentos que, o inspiram .
As flores e os passaros, os prados e as fontes, os amores c os canticos, as saudad es e o patriotismo, a virtude e a fami lia, os perfumes e os zephyros, os beijos e os abraços, as tranças e os labios, tudo o que é bom e grande, como a alegria interior e o ecco da natureza, logram perfumar·lhe a atmosphera inspirativa, t ransparente, onde só ha pureza e sinceridade.
Um deslumbramento! Parece que o poeta bebeu no seio do chris
tianismo essa paixão febril do Oriente, irradiada da As ia por todo o orbc; a sua poesia ideal isa, entristece e dóe como a flor cortada do caule viriden te .
cl1 Delpliina do tJvfa l : !) . J ayme, Vesperas e Sons que passam, além de algumas comedias e poesias soltas, formam o reportorio poetico que todos lhe admiramos.
.\l A:"UEL PLORES.
CORRESPONDENCIA
AGRADECE)!Os aos nossos collegas ela imprensa o favo r que nos tccm dispensado recommendando o nosso despretencioso se
manario e enviando-nos os seus jornaes. Aprovei tamos a occasião de accusar e agra
decer tambem a recepçâo do exce llente jornal artístico e li tterario a Ga:eta [;\fusical, que entre
as publicações d'aquelle genero se torna distincta, não só pela belleza da impressão, como tambem pela sclccçüo dos seus ar tigos e especialmente pela novidade dos trechos ele musica que offercce aos seus assignantcs.
Para firmar os creditos, de que já gosa a Ga::o_eta ;;\fusical, basta dizer que é dirig ida pela illustre professora madame Amann, nome vantajosamente conhecido no mundo artístico e respeitado entre nós, que lhe devemos aquelles magnifieos concertos, que fizeram do Passeio Publico o rendez.-vous da alta sociedade lisbonense.
Lisboa.
---Tfi+-
UM CONSELllO BE"1 ACATADO
Quando eu era pequenino, minha mãe me disse um dia. - :"ão ,·cjo, filho. a alegria cm teu rosto scintillar ! Que fizeste dos teus risos das loucuras de <reança, orgulho, jubilo, esperança do nosso modesto lnr? Já não és meu amiguinho; já te custa dar·me um beijo; envergonhas-te, tens pejo, se um ca rinho cu te fize r ! ... - Minha mãe, respondi cu, Se meu pac inda hontem disse que o homem que se sentisse nunca beijava a mulher?! ... - E a santa, na doçura d'um sorriso, dõces gozos mostrou no paraizo.
JoR<a; SA'<DOYAo,.
~~-~~+-~~-
POR U:!v.1: BEIJO
ROMANCE OE ERNESTO CAPENOU
IContinuado d4 numero a1ttectdentet
xm As •ny o;;oot:c ...
- N ÃO, mi~ha s~nhora, res~ondi eu. Nada ha mais seno que a minha resolução.
- O que! Pois deseja deveras mor-rer?
- Desejo . - Pois nada o prende á vida ? -Nada. -Nem o amor, nem uma saudade, nem uma
esperança?
A ILLUSTRAÇAO POPULAR 199
- Se no meu coração houvesse uma recordação, se no meu ccrebro se balouçasse uma esperança, evidentemente eu não sentiria o tedio da 1·ida e ficaria no mundo para recordar-me e para esperar.
Chega1·amos n'cstc momento a Bale. Eu offereci a mão á marqucza e clla saltou
com rapidez para a gare. -Eis o trem de D. Paco, disse-me ella, in
dicando-me um elegante caleche, que estacionava all i perto. :\leu cunhado está alli com certeza ...
-Consinta, marqucza, que a acompanhe até lá, disse cu, segurando-lhe o braço, que ella tratava de desprender do meu.
./\travessamos o pequeno intervallo, que nos separava da sala de espera . Quando cstavamos perto a marqucza parou e disse-me em voz baixa:
-Prohibo·o de matar-sc.-Prohibo-o, ouveme bem? Não responde? O senhor disse-me, ha pouco, que para viver carecia de uma recordação e de uma esperança. Pois bem! Eu dou-lhe essa recordação e essa esperança. Ordeno-lhe que viva.
E deixando escorregar o seu braço pelo meu depoz·me na mão aberta um ramo de flores de amyosotis, que uma creança lhe ti nha offerecido na gare de .\lulhausen.
Fiquei assombrado e senti subir-me em ondas o sangue ao rosto. O peito pareceu-me pequeno para amparar as pulsações do coração.
- E a esperança? balbuciei eu. J\ marqueza não me respondeu, deixou-me
bruscamente e entrou na sala. Eu segui-a. Um grave personagem, o mesmo que o se
nhor viu esta noite na opera, dir igiu-se para ella e beijou-lhe a mão.
A marqucza voltou-se para mim. -Alylord, disse clla, tenho a honra de apre
sentar-lhe meu cunhado o duque ele Sancloval. E, cm quanto cu me inclinava, ella innume·
rou os meus nomes, titulos e qualidades, a D. Paco, que se incl inou lambem.
- Este cavalheiro, continuou clla, apontando para mim, foi meu companheiro de viagem e devo-lhe tantas attenções, que nunca as poderei esquecer.
- Eu irei pessoalmente agradecer-lhas, disse D. Paco com frieza, e pcrmitta-me Vossa Graça que pergunte cm que hotel vac alojar-se.
Em quanto o duque me foliava cu olha1·a para Regina e via-a contrair-se e cmpallidecer.
Voltei-me para D. Paco e respondi: -Para o hotel dos Trcs Reis. -~·esse caso, mylord, amanhã o procurarei. -Terei a honra de esperai-o, senhor duque. O. Paco saudou-me gravemente e offereceu o
braço á marqucza. Xo momento, cm que clla subia para o trem,
cahiu-lhe o leque. O duque abaixou-se para apanhai-o e ella dis
se-me vivamente: -Parta hoje mesmo. Sou cu que o quero. O. Paco deu-lhe o leque, saudou·me de novo,
e o trem partiu a trote largo. -Que significa isto ?-perguntei a mim pro
prio, conservando-me immovel no mesmo logar . Depois meus olhos fixaram-se nas pequeni
nas flores azucs, que cu t inha na mão esquerda . P ois Tony perderia o seu tempo encommen·
dando o fatal aparelho ?- disse cu interrogando-me a mim mesmo. O meu coração parecia agitado por sensações nunca sentidas. A marqueza é realmente encantadora e bem feliz seria o homem que tivesse o direito de dizer-lhe ao ouvido palavras de amor, murmurava eu. Elia ordena-me que viva, clla dá-me uma recordaç.ão. Quanto á esperança, o meu pedido era destituido de senso commun, e uma mulher não podia attendel-o. Agora quer que cu parta hoje mesmo. Partir! E porque? Não posso pois tornar a vel-a n'esta cidade? Se cu ficar é para vel-a partir e seguil-a. A questão é saber se a amo ou não. Ora n'este momento é me impossível responder. Tenho cento e quinze dias deante de mim para rcflectir e resolver o problema.
Raciocinando assim, dei ordem ao criado que me acompanhava de fazer conduzir as bagagens ao hotel dos trez Reis.
Eu nunca gostei de lfalc, meu caro Roberto, mas a prohibição, que me fez a marqucza de demorar-me, in spi rou-me o desejo de passar alli algum tempo. Eu não so desejava tornai; a vcl-a, como tambem conhecer a direcção que el la seguiria deixando a cidade. Alem d'isso aparecia-me tão cercada de mystcrios, que era nccessario que eu os desvendasse. Para isso era preciso que eu podesse vigiai-a.
Todo o dia estive mergulhado n'um verdadeiro oceano de estranhos pensamentos, cujo fluxo e refluxo me faziam a cada instante mudar de opinião.
Finalmente, depois de ter lançado o chumbo da sonda o'esse abysmo, a que se chama coração humano, sem conseguir determinar-lhe a pro-
200 A ILLUSTRAÇÃO POPULAR
fundídade, semilhante ao navio que se aventu ra a naveg, r n 'um dcdalo de syrthcs, deixei-me arrastar pela corrente dos meus pensamentos entregando-me á mcrçê cio oceano.
Eu tí nha a certeza de encontrar , sempre que eu quizesse, o porto da morte e esse jogo de azar a que ía entregar-me, pareceu-me uma distracção agradavel para os quatro mezes de espera, que tinha deante de mim.
XIV
.A .s l o.ra njas d o A lic unt e e o s l nrn njno;i
d o l\-Cal tu.
No dia seguínte, às oito horas da manhã, víeram annunciar-me a visi ta do duque de San· doval.
JOVEN PRINCIPE DE SIM\
Tratei de vesti r-me e não me demorei a apparecer na sala, muito mal mobilada, do hotel, a qua l os creados davam o pomposo titulo de sal5o.
D. Paco eaperava-me de pé. Eu apressei-me a fazer as honras da casa. Depois dos comprímentos do estyllo: - ,\lylord, disse-me elle, venho renovar os
agradecímentos que lhe foz hontem a senhora de Sandoval. Parece que v. ex.· foi para ella um companheiro de viagem tão galante, como bem educado, e, por não duvidar d'isso, é que me apressei a vir aqu i. Talvez minha cunhada abusasse mesmo da ext rema bondade de v. ex.•, e n 'esse caso, peço lícença para apresentar em meu e no nome d'ella as nossas descu lpas.
As palavras que acabava de pronunciar D. Paco, eram deéerto muito delicadas, mas havía na sua pronuncia um não sei quê de iron ico e motejador, que me obrigou a levantar bruscamente a cabeça.
(Contimía.) ----~g~~~-
PASSATEMPO CJIARAOAS
Tu me vês onde ha lad róes-1.
Vivo n'agua e cm chão enchuto-J. Marco á terra as dimcnsões-1.
A rvore, foi ha, Oor e fructo tudo tem mil perfciçócs.
o. J\I. c. Q.
Entre muitas irmãs sou a primcira-1 E' primeira a segunda em gernrchio-2. E o mesmo que a primeira é a tcrccira-1.
O todo é mineral. commum producto Como é, por commum, dos mais valiosos E onde ma is e melhor se encon tra sempre É junto ao mar e aos rios caudalosos.
D. M. C.Q.
CHARADAS NOVISSIMAS
A primeira conduz esta ave-1-2 . A segunda é um animal liquido--1-2. A terceira é um pronome no inferno--1-1. A quarta é um estimulo que gcrn os vicios-1-2 A quinta é do jogo camarnda-1-2.
EXPLICAÇÃO DO PASSATE~IPO DO N. 0 24
Enigma-Pelas e obras e não pelo vestido é o homem co11hecido.
Pergunta enigmatica-Passadei1·a. C harada cm quadro-Charadas novissimas- Arpáo-Desp1·e;o-Solla- Doca
-Cunhado.