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www.sciam.com.br SCIENTIFIC AMERICAN BRASil 7

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PRIORIDADE PARA AS ÁREAS DE CONSERVAÇÃOSão vários os esforços globais para de-finir áreas prioritárias para conservação,mas dois implementados pela Conser-vação Internacional têm sido parti-cularmente bem-sucedidos em afetarpolíticas públicas, inclusive no Brasil:

1) Os hotspots, ou "pontos quen-tes", de biodiversidade são 34 áreasno planeta que se caracterizam porcombinar altas taxas de perda dehábitats com elevada diversidade de

países megadiversos, ou seja, as 18 nações que,em conjunto, abrigam cerca de 70 % das espé-cies animais e vegetais do mundo.

Se considerarmos que a ciência conheceapenas uma pequena fração das espécies doplaneta - alguns estimam em algo inferior a10% (ver dados interessantes sobre a "biodi-versidade despercebida" na pág. 42) -, literal-mente não sabemos o que está se perdendo.Porém, ainda que a ciência saiba pouco sobreessa fantástica riqueza que se esvai, ela entendebem a escala do problema.

A biodiversidade salvaguarda uma série deprocessos vitais para o planeta e a humanida-de, os chamados serviços ambientais. Essesserviços são diversos, e sem eles a vida, comoa conhecemos, fica seriamente comprometida.A título de exemplo, alguns serviços ambien-tais que têm a biodiversidade como funda-mento são: a) equilíbrio do clima; b) qualidadee quantidade de água; e c) produção de ali-mentos. A perda de biodiversidade afeta de talmaneira o clima que o desmatamento é hoje asegunda maior fonte de contribuição para as

espécies e grande taxa de endemismo.No Brasil. Mata Atlântica e Cerrado seencaixam nessa categoria.

2) As grandes regiões naturais daTerra são 37 áreas no planeta, inclusi-ve a Amazônia e o Pantanal brasilei-ros, que se caracterizam por combinaralta diversidade com grandes exten-sões de território ainda com cober-tura vegetal não significativamentealterada pelo homem.

mudanças climáticas em curso. A vegetaçãoprotege nascentes e cursos d'água, e na ausên-cia dela tanto a qualidade como a quantidadede água ficam comprometidas. Com a dimi-nuição de espécies, se perde, por vezes, polini-zadores essenciais para à produção de alimen-tos, ou inimigos naturais de pragas, ou aindaa base genética que pode conferir resistência àsculturas agrícolas. Além de prestarem serviçosao ambiente, as espécies compõem o acervogenético potencialmente capaz de oferecercura para uma diversidade de doenças, tantoque compostos derivados inicialmente de es-pécies silvestres contribuem com mais da me-tade de todos os medicamentos comerciaisdisponíveis. Por fim, mas não menos impor-tante, as espécies carregam valores estéticos,espirituais, morais e culturais que são a basepara a maioria das tradições e mitologias dosmais diferentes povos.

Como sair dessa crise? A resposta a essapergunta não é fácil. Tanto pela escala que aperda da biodiversidade tomou como pelacomplexidade dos fatores sociais, econômicos

• Biodiversidadeé umtermo cunhadopelobiólogoe entomólogoamericanoEdwardO.Wilson,fundadorda sociobiologia,para definira diversidadebiológicaem váriosníveis:ecossistemas,espéciese genes.

• O Brasillideraa listados paísesmegadiversos.as 17 nações que,em conjunto,abrigam cercade 70%das espéciesanimaise vegetaisdo mundo.

• biodiversidade salvaguarda uma série de processos vitais para o planeta e a humanidade, osdanados serviçosambientais. Essesserviçossão diversose, sem eles,a vida,como a conhecemos,ficaria comprometida.

relação à biodiversidade e aos serviços ambientais a ela associados, não há outro papelpara o Brasilsenão assumir a liderança em uso sustentável e conservação e dar bons

ea!I.os para o mundo..(]tlJlillll!'laperde espécies como nunca, mas ainda não sabemos quais são os efeitos decorrentes.

.' cp! ponto podemos nos dar ao luxo de perder espécies?

e ambientais que atingem e são diretamenteatingidos pela biodiversidade. Assim, dividire-mos o tratamento dessa questão em três itens:histórico, pragmático e filosófico. A criação deunidades de conservação (UCs) ou áreas pro-tegidas para salvaguardar áreas de grande va-lor natural é historicamente uma das principaisferramentas de que dispõe o movimento con-servacionista para lidar com a crise da biodi-versidade. O artigo de Fonseca e colaboradores(verpág. 18) dá um interessante panorama his-tórico e descreve o cenário atual da criação deáreas protegidas no Brasil. Essas áreas, porconta de diferentes critérios, são consideradasprioridade para conservação e assim passam ater seu uso controlado ou até mesmo impedidointegralmente. Em escala global, os chamadosbotspots de biodiversidade, inicialmente defi-nidos por Myers e em seguida transformadosem prática pela ONG Conservação Internacio-nal (CI) no mundo todo, são apontados comoprioritários pela alta diversidade de espécies,elevada taxa de endemismo (isto é, uma grandeproporção de espécies com ocorrência geográ-fica restrita a pequenas áreas) e significativograu de destruição e ameaças. A Mata Atlânti-ca e o Cerrado brasileiro se enquadram nessacategoria. Outro tipo de prioridade, tambémimplementado pela CI, diz respeito às grandesregiões naturais da Terra, áreas que tambémapresentam alta diversidade, mas que aindaforam pouco impactadas pelo homem, comoa Amazônia e o Pantanal brasileiros. O estadode conservação desses biomas é tratado noscapítulos liderados por Tabarelli (pág. 60), Ca-valcanti (pág. 66) e Feamside (pág. 54). Apesarda importância histórica das áreas protegidasem conter o avanço desenfreado do homemsobre importantes ecossistemas e sua biodiver-sidade, essa estratégia é claramente insuficien-te, mais ainda em países em desenvolvimento,onde a terra e os recursos naturais são os maio-res bens de que populações carentes dispõem.

A forma pragmática e mais recente de lidarcom a crise tem sido atribuir valor à biodiver-sidade. O artigo de Prado (pág. 72) trata jus-tamente desse desafio, que de certa forma es-tabelece uma linguagem comum entre odesenvolvimentista e o conservacionista: oca-pital e o valor econômico. Por exemplo, umdocumento muito utilizado atualmente, Theeconomics af ecosystem and biadiversity, istoé, "A economia dos ecossistemas e da biodi-versidade" (TEEB, na sigla em inglês), produ-zido pelo Programa das Nações Unidas para

BIODIVERSIDADE

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OS HOTSPOTS NO MUNDO

1) Andes tropicais, 2) Tombes-Choco-Magdalena (Panamá, Colômbia, Equador, Peru), 3) Mata Atlântica (Brasil, Paraguai, Argentina), 4) Cerrado, 5) FlorestasValdívias (Chile central), 6) Mesoamérica (Costa Rica, Nicarágua, Honduras, EI Salvador, Guatemala, Belize, México), 7) Ilhas do Caribe, 8) Província Florística daCalifórnia, 9) Floresta de Pinho-Encino de Sierra Madre (México, Estados Unidos), 10) Florestas da Guiné (África ocidental), 11) Província Florística do Cabo (Africado Sul), 12) Karoo das Plantas Suculentas (África do Sul, Namíbia), 13) Madagascar e ilhas do oceano Indico, 14) Montanhas do arco oriental, 15) Florestas deAfromontane (Africa oriental), 16) Maputaland-Pondoland-Albany (Africa do Sul, Suazilândia, Moçambique), 17) Chifre da África, 18) Bacia do Mediterrâneo, 19)Cáucaso, 20) Ghats Ocidentais (India e Sri lanka), 21) Montanhas do centro-sul da China, 22) Sunda (lndonésia, Malásia e Brunei), 23) Wallacea (Indonésia), 24)Filipinas, 25) Regiões da Indo-Birmânia, 26) Himalaia, 27) Região Irano-anatólica, 28) Montanhas da Asia central, 29) Japão, 30) Sudoeste da Austrália, 31) NovaCaledônia, 32) Nova Zelândia, 33) Ilhas da Polinésia e Micronésia (incluindo Havaí) e 34) Ilhas da Melanésia oriental.

o Meio Ambiente (Pnuma), afirma que a per-da de biodiversidade terrestre somente na úl-tima década custará US$ 500 bilhões anuaispara a economia global. Como no caso dasáreas protegidas, essa estratégia é muito ade-quada e já tem tido alguns bons resultados,mas, sozinha, não bastará para conter a perdade biodiversidade provocada pelo homem.

Com o eixo histórico consolidado e o prag-mático em curso, a grande mudança deve sedar no campo filosófico. Mas essa é justamen-te a tarefa mais difícil. A modernidade pôs ho-mem e Natureza em caixas diferentes e, de cer-ta forma, opostas. Daí, especialmente a partirda Revolução Industrial, surgiu a noção de quea Natureza é um obstáculo ao desenvolvimen-to e, rapidamente, emergiu o dualismo conser-

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vacionismo versus desenvolvimentismo. Essedualismo persiste e se arraigou às tradições dohomem contemporâneo - basta ver os cons-tantes embates dentro do governo brasileiroentre a ânsia por expansão infraestrutural, bemsimbolizada pelo PAC, de um lado, e a açãoambiental de preservação e licenciamento, dooutro. A fase que começa a se descortinar naárea ambiental e na própria ciência é aquela emque esses dois lados começam a reconhecer quedevem dialogar. Em especial em países em de-senvolvimento, como o Brasil, isso deve ocor-rer de forma integrada com a conservação e obom uso dos recursos naturais, e não à custadeles. Sustentabilidade, a palavra-chave quan-do se pensa em modelos alternativos de desen-volvimento, demanda conciliação entre con-

servação, produção e bem-estar humano.Naturalmente, isso é bem mais fácil de ser ditoque feito, especialmente porque ainda não jun-tamos na mente aquilo que a modernidade se-parou - homem e Natureza.

Nesse contexto, há alguns riscos de in-terpretação que devem ser evitados. Nopassado, áreas protegidas eram vistascomo áreas que excluíam o homem. Hoje,ainda que em alguns tipos de unidade deconservação não possa haver acesso ouuso, estas também devem ser vistas comoprotetoras de serviços ambientais que sãode benefício ao homem. Outro risco a serevitado é o de se confundir espécie comcarbono. Trata-se de uma forma de medirvalor econômico, mas sabemos que o valor

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o Brasil não tem alternativa a não ser assumir a liderança emuso sustentável, dando o bom exemplo

metafísico da vida é imensurável. Na pós-mo-demidade o homem não pode correr o riscode continuar, na teoria e na prática, separadoda Natureza. Esse é um passo difícil, mas fun-damental para o sucesso da transição em di-reção a um modelo de desenvolvimento eco-nômico que, ao mesmo tempo, favoreça ohomem e não dilapide os recursos naturais.

Um Papel para o BrasilEm relação à biodiversidade e aos serviçosambientais a ela associados, não há outropapel possível para o Brasil senão assumira liderança em uso sustentável e conserva-ção e dar bons exemplos para o mundo. Opaís tem cerca de 10% das espécies do pla-neta, 14% da água potável e renovável domundo, é um celeiro de produção de ali-mentos e dispõe de amplos estoques de car-bono florestal. Em contra posição, 55% doterritório nacional já sofreu algum tipo dealteração pelo homem, que nitidamentenão se reverteu para o bem-estar do povobrasileiro, uma vez que o Brasil ostenta ain-da um índice de desenvolvimento humanobaixo para um país com a pujança econô-mica de que dispõe e uma precária distri-buição de renda. O desafio deste século éfazer com que esse fantástico capital natu-ral possa se reverter em benefício das pes-soas e efetivamente melhorar a qualidadede vida do povo brasileiro. O artigo de Weyde Brito (pâg. 12) mostra algumas das ini-ciativas que estão sendo tomadas nessa di-reção, enquanto o de Silva e colaboradores(pâg. 24) discute desafios que o país aindatem pela frente.

Um leitor mais pessimista pode avaliarque a velocidade da perda do capital natu-ral é sempre maior que a da geração pelohomem de alternativas sustentáveis. Entre-

íNDIOS CORTAM pau-brasil (em gravura de1558): interesse econômico ameaça espéciede extinção.

tanto, no Brasil, começam a aparecer exem-plos de práticas e ações com sinalizaçãomuito positiva de que o jogo pode virar afavor da biodiversidade. De um lado, ondehá pouca economia e muito verde, como naregião amazônica, a qualidade de vida daspessoas tem começado a melhorar por con-ta da criação de mercados para produtos deorigem natural. De outro, onde há poucoverde e muita economia, como no Sudeste,já existem grandes esforços para restaura-ção da floresta atlântica, tanto para prote-ger corpos hídricos e cumprir determina-ções legais como para investir em umaeconomia de baixo carbono.

OS AUTORESFABIO RUBlO SCARANO, diretor-executivo da Cl-Brasil, é professor associado do Departamento de Ecologia daUniversidade Federal do Rio de Janeiro e coordenador da área de ecologia e meio ambiente na Coordenaçãode Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes)/Ministério da Educação. Atua como conselheirodo Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) na área de biodiversidade e integra o quadro de membros daLinnean Society of London. CLAUDE GASCON, é vice-presidente executivo da Conservação Internacional paraa unidade dos programas de campo. Completou seu Mestrado em Ecologia pela Universidade de Québec emMontreal, Canadá, e seu Doutorado em Ecologia pela Universidade Estadual da Flórida, EUA. RUSSELL A.MITIERMEIER é o presidente mundial da Conservação Internacional. É primatólogo graduado pelo DartmouthCollege com Ph.D. em Antropologia Biológica pela Harvard University.

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Na região Norte, Amazonas e Pará dis-põem de amplas redes de unidades de con-servação federal e estadual. O Acre tem senotabilizado pelo dinamismo e diversifica-ção de sua economia florestal. O Amapátem cerca de 90% de suas terras intoca-das, 70% do território preservado emUCs, e, desde a criação do Corredor deBiodiversidade do Amapá, em 2003, o ín-dice de desenvolvimento humano (IDH)no estado tem crescido significativamente.Em 2005 foi o que mais cresceu no Brasil,graças a uma economia baseada em pro-dutos naturais. Do Sul ao Nordeste, estáem curso o Pacto pela Restauração daMata Atlântica - assinado por duas cente-nas de empresas, instituições acadêmicas,governos e sociedade civil com o objetivode duplicar a área florestal hoje cobertapela Mata Atlântica com plantios de espé-cies nativas. Assim, esse bioma começa ater uma curva ascendente de ganho de co-bertura vegetal, associada em parte ao in-teresse por uma economia de carbono,que a torna o primeiro hotspot de biodi-versidade em "fase de cicatrização" - fatosurpreendente para quem imaginava quea ferida do desmatamento era incurável. Abase científica que sustenta essas novas ex-periências está fortemente ligada a umaampla rede nacional de cursos de pós-gra-duação voltados para o tema da biodiver-sidade: já gira em torno de 200 o númerode cursos de mestra do e doutorado nasáreas de ecologia, botânica, zoologia, oce-anografia biológica e ciência ambientais.Essa vigorosa formação de jovens resultano fato de o Brasil ter hoje a oitava maiorprodução científica do mundo na área deconservação da biodiversidade.

Os vários exemplos acima deixam claroque biomas, ecos sistemas e vegetações, co-letivamente, são de grande importância edão a base de sustentação ao bem-estar hu-mano. Todas essas unidades biogeográficascobrem territórios maiores ou menores. Adegradação da Mata Atlântica comprome-te corpos d'água, a do Cerrado reduz poli-nizadores e inimigos naturais que são abase de uma boa agricultura e, na Amazô-nia, afeta o clima global. Mas e a perda

BIODIVERSIDADE

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individual de uma espécie, a unidade básicada biodiversidade? O planeta perde espé-cies como nunca, mas ainda não sentimosesse efeito. Será que podemos nos dar aoluxo de perder espécies? Como já discuti-mos antes, ainda sabemos pouco sobreelas, mas alguns exemplos dos problemasdecorrentes da perda de uma espécie po-dem ser contundentes.

Um desses exemplos é urna espécie que,apesar de muito ameaçada de extinção, fe-lizmente ainda não está extinta. Trata-se dopau-brasil (Caesalpinia echinata), nadamenos que a espécie que deu seu nome ànação que abriga a maior biodiversidadedo planeta. A madeira dessa espécie - des-cobriu-se séculos após ter sido praticarnen-

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te dizimada pelos colonizadores - produzo melhor arco para instrumentos de cordacomo violinos, violas, violoncelos e contra-baixos. A superioridade do pau-brasil étanta em relação a outras espécies de plan-tas ou alternativas sintéticas que nenhumgrande músico ou orquestra do mundoprescinde dos arcos produzidos a partir desua madeira. Ainda assim, sua comerciali-zação só é permitida se extraída de plantioslegalizados. Isso demonstra que essa plantaameaçada está ligada a várias atividadeseconômicas: a da grande indústria fonográ-fica, das grandes orquestras, dos archetá-rios (produtores dos arcos; em sua maioriabrasileiros residentes na região serrana doEspírito Santo) e de plantadores. A extin-ção da espécie implicaria a falência ou pelomenos sérios prejuízos a qualquer uma des-sas atividades. Pesquisas científicas de bo-tânicos brasileiros dão base para saberonde a espécie ocorre, como conservá-Ia ede que forma cultivá-Ia para fins comer-ciais. Mostram também que o pau-brasil éum produtor de prolina, aminoácido rela-cionado à resistência à seca, o que sugereque a espécie tem uma carga genética quemerece estudos mais profundos, talvezaplicáveis até à agricultura.

O caso do pau-brasil torna-se aindamais interessante pelo fato de ele ter sidotransformado em um excelente documen-tário poético para o cinema, A árvore damúsica (2008), do diretor Otávio julia-no. O filme tem a lucidez de superar aproposta moderna que coloca "Homem"e "Natureza" em caixas opostas, ganhan-do assim um viés tipicamente pós-rnoder-

no ao mostrar a interdependência e obalanço frágil entre harmonia e desequi-líbrio, sem se preocupar em nomear mo-cinhos ou bandidos. Homem e Natureza,artistas e cientistas, operários e políticosestão todos no mesmo barco no filme, as-sim como na vida real. Esse exemplomostra o valor cultural, artístico, históri-co e econômico de uma única espécie. Re-vela também as íntimas ligações entrebiodiversidade e arte, tema que o espaçodesta edição não comporta.

Assim, a edição não esgota, evidente-mente, os temas: biodiversidade/arte, bio-diversidade/comunidades tradicionais, bio-diversidade/tecnologia, biodiversidade/saúde,biodiversidade/produção de alimentos,manipulação genética da biodiversidade/biodiversidade e educação, biodiversidade/mídia, são alguns dos ângulos que não pu-deram ser abordados. Quem sabe em umfuturo próximo? !im

PARA CONHECER MAISBiologia e mudanças climáticas. M. S. Buck-eridge (org.). Rima, São Carlos, 2008.Wilderness. R.A. Mittermeier et aI. (eds.). Cemex,Cidade do México, 2003.Hotspots revisited. R.A. Mittermeier et aI. (eds.).Cemex, Cidade do México, 2004.Perspectives on biodiversity science in Brazil.F.R. Scarano, em Scíentia Agrícola 64, págs. 439-447,2007.A expansão e as perspectivasda pós-graduaçãoem ecologia no Brasil. F.R. Scarano, em RevistaBrasileira de Pós-Graduação 5, págs. 89-' 02,2008.TEEB: The economics of ecosystems andbiodiversity for national and internationalpolicy makers. Unep, Bonn, 2009.

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