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© arco voltaico cm tfícrapeutica (LUPUS TUBERCULOSO) DISSERTAÇÃO INAUGURAL APRESENTADA Á ESCOLA MEDICO-CIRURGICA DO PORTO PORTO Typographia A. F. Vasconcellos, Successores Rua de Sá Noronha, 51 1904 //*Í

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© arco voltaico cm tfícrapeutica

( L U P U S TUBERCULOSO)

DISSERTAÇÃO INAUGURAL APRESENTADA Á

ESCOLA MEDICO-CIRURGICA DO PORTO

P O R T O Typographia A. F. Vasconcellos, Successores

Rua de Sá Noronha, 51

1904

//*Í

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ESCOLA MEDICO­CIRIMICA DO PORTO D I R E C T O R

A N T O N I O J O A Q U I M DE MORAES C A L D A S L E N T E S E C R E T A R I O

Clemente (Joaquim dos Santos ÇPinto

C o r p o G a t h e d r a t i o o Lentes Cathedratieos

I.a Cadeira — Anatomia descripti­

va geral Luiz de Freitas Viegas. 2." Cadeira — Physiologia . . . Antonio Placido da Costa. 3." Cadeira—Historia natural dos

medicamentos e materia me­

dica Illydio Ayres Pereira do Valle. ■i." Cadeira — Pathologia externa

e therapeutica externa . . Antonio Joaquim de Moraes Caldas 5." Cadeira—Medicina operatória. Clemente J. dos Santos Pinto. 6." Cadeira —Partos, doenças das

mulheres de parto e dos re­

cem­nascidos Cândido Augusto Corrêa de Pinho. 7." Cadeira — Pathologia interna

e therapeutica interna . . José Dias d'Almeida Junior. 8.a Cadeira—Clinica medica . . Antonio d'Azevedo Maia. 9.a Cadeira —Clinica cirúrgica . Roberto B. do Rosário Frias.

10." Cadeira —Anatomia patholo­

gica Augusto H. d'Almeida Brandão. 11.* Cadeira —Medicina legal . . Maximiano A. d'Oliveira Lemos. 12.a Cadeira—Pathologia geral, se­

íneiologia e historia medica. Alberto Pereira Pinto d'Aguiar. IH." Cadeira—Hygiene . . . . João Lopes da S. Martins Junior. 14.'' Cadeira— Histologia normal. José Alfredo Mendes da Magalhães lõ.a Cadeira— Anatomia topogra­

phica Carlos Alberto de Lima. Lente* .jubilados

Secção medica j José d'Andrade Gramaxo.

„„„ ­„ „■ . \ Pedro Augusto Dias. secção cirúrgica *

/ Dr. Agostinho Antonio do Souto. Lentes substitutos

Secção medica I Vaga.

Secção cirúrgica ! A n t o n i o J ^ 1 " i m ^ Sousa Junior. I Vaga.

Lente demonstrador Secção cirúrgica Vaga.

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A Escola não responde polas doutrinas expendidas na dissertação e enunciadas nas proposições.

(Regulamento da Escola), de 23 d'abril de 1840, artigo 155.°)

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Á MEMORIA

DE

MEUS PAES

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A MEMORIA

DE

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A MEUS TIOS

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nink w minha c&fopa

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AOS MEUS PARENTES

Aos meus amigos

Aos meus condiscípulos

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AC Id EU DÍGNISSIMO PRESIDENTE DE THESE

O Jl.L.m» E f ix ."" gNR

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Primeira Parte

NOÇÕES GERAES

I. Estudo physico da luz

a) Historia. Natureza da luz

As moléculas componentes cios corpos, quando em um movimento vibratório de ex­trema rapidez, e este communicado ao ether, dão-nos uma das varias sensações de natureza objectiva, ferida na concavidade da retina como preparo inicial a todos os conhecimen­tos do mundo externo que nos dá o órgão da, visão.

Chama-se-lhe luz. Raio, a sua propagação sempre recta atravez do espaço; claridade, a resultante homogénea dos seus reflexos.

Mantem-se sempre em volta de nós essa vibração extranha descida do sol á terra, a aju­dar as radiações solares — outro movimento

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vibratório, calor — na manutenção e provoca­ção das reacções da vida.

Foi o primeiro conhecimento humano, a base do nosso saber extenso, o impulso que o impellc sempre e o avantaja como uma onda mysteriosa pela vida do universo fora, atravez de todos os séculos.

Sendo uma das causas de vida, o seu estu­do não pertencia somente aos physicos mas aos phyBiologistas dentro da normalidade dos actos reaccionaes orgânicos e aos patholo-gistas no desequilíbrio d'esses mesmos actos ; de resto, os therapeutas de ha muito que se embrenharam n'um estudo grandemente profí­cuo, apresentando-nos a luz em todas as suas modificações como remédio de muitos ma­les.

Ha cerca d'um século somente, dados po­sitivos teem sido adquiridos sobre o seu modo d'aeçao ; a utilisação therapeutica da luz arti­ficial remonta apenas a alguns annos. Posto que não saibamos, relativamente á natureza intima d'esta força, mais que a das outras for­mas de energia, podemos considerar como um dos progressos mais consideráveis da sciencia do século xix a noção das relações que a unem ás outras modalidades: som, calor, electrici­dade e movimento.

Innumeras são as hypotheses inventadas, desde a mais remota antiguidade, para expli-

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car a natureza e formação dos plienomenos luminosos.

Empédocles attribue estes plienomenos a um escoamento continuo de materia para fora dos corpos luminosos; Demócrito, Epicuro, Lucrécio encaram a luz como formada de cor­púsculos de espécie particular lançados por aquelles corpos. Aristóteles admitte que a im­pressão da luz é devida á presença de corpos transparentes que nos separam dos corpos lu­minosos com a propriedade de deixar vêr os objectos collocados atraz d'elles.

Os platonicistas consideravam a luz como uma emanação partindo do órgão da visão e que ia apalpar os corpos.

Gassendi, no século xvn, admitte e desen­volve a theoria de Demócrito, segundo a qual os corpos luminosos enviariam particulas vi-siveis como certos corpos lançam particulas odoríferas.

Descartes suppõe o espaço cheio de parti­culas contíguas, o sol, os corpos luminosos impellem-nas e esta impulsão transmitte-se logo elasticamente em todos os sentidos ; ora, a experiência demonstrou depois que a luz não se transmitte instantaneamente.

No século xviii apparece a theoria da emissão, devida a Nevrton, e que predominou na sciencia durante muito tempo.

Este illustre physico considerava a luz

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como unia verdadeira substancia emanando de certos corpos, susceptível de atravessar o espaço e ser absorvida, reflectida ou retracta­da, segundo os meios que encontrava.

Esta tbeoria, impotente para explicar cer­ta ordem de pbenomenos, é hoje geralmente abandonada.

Vem depois a tbeoria d'Huyghens, que, fundando-se sobre certas experiências, admit-te que a luz é o resultado do movimento on­dulatório muito rápido das moléculas dos cor­pos luminosos que se communica ao ether — meio muito elástico que enche o espaço e cer­ca os átomos dos corpos — e n'elle se propa­ga, vindo excitar as terminações nervosas do fundo do olho.

No começo do século xix, os trabalhos de Fresnel confirmam a tbeoria de Huyghens, também conhecida pela theuria das radiações.

Veio Ampere um pouco mais tarde conso­lidar estes conhecimentos demonstrando, pelo estudo das acções reciprocas das correntes eléctricas, a existência do ether.

Faraday descobre a polarisaçâo rotatoria da luz e demonstra a sua analogia com a ele­ctricidade.

Pela mesma época, Ilelmholtz publicou uma memoria sobre a conservação da energia, em que prova o seguinte: todas as vezes que uma força qualquer — movimento, som, calor,

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luz e electricidade — parece extinguir-se, não faz mais que transformar-se n u m a outra mo­dalidade de energia que permanece egual á que lhe deu origem.

Após estas constatações, o caminho estava naturalmente aberto para as descobertas scien-tificas e resultados práticos obtidos hoje.

Assim é que, em 1868, Maxwell * apresenta a sua theoria electro-magnetica da luz, que parece dar hoje a melhor interpretação dos factos conhecidos e permitte comprehender certas analogias das acções physicas, chimi-cas, physiologicas e therapeuticas da luz e da electricidade.

Verifica experimentalmente Maxwell a sen-sivel egualdade das unidades de velocidade electro-magnetica e luminosa. C a q u i concluiu que a luz poderia muito bem ser devida a vi­brações electro-magneticas do ether, pois que as velocidades d'estas variando de 440 a 770 trilhões por segundo, é a mesma que a das radiações visiveis do espectro. Esta experiên­cia foi depois confirmada por Hertz 2, em 1888, que, graças ao seu appardho resoador collo-cado na visinhança de excitadores eléctricos, se pôde convencer de que, como a luz, a vi­bração electro-magnetica se propaga em linha

1 Journal de Physique, 2 e serie, t. VIII, pag, 116. 2 Idem.

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recta e segue as mesmas leis de refracção e reflexão ; emfim, medindo a sua velocidade, encontrou-a egual á da luz.

Estes resultados foram depois confirmados por Lecher, Tumlitz e outros *.

Actualmente pôde, portanto, admittir-se que a hypothèse de Maxwell corresponde á realidade dos factos, c que luz e electridade são, senão uma mesma força, pelo menos mo­dalidades nrnito visinhas de energia.

Como a luz, possue a electricidade duas curiosas propriedades que Ekeloff viu c Tesla observou nas correntes de alta frequência, tal­vez causas de muitas reacções não bem co­nhecidas a inda—ora desperta nos corpos um brilho esverdeado similhante á cor do fluor visto na obscuridade—fluorescência; ora lhes communica umas radiações suaves a que, por analogia, se chamou phosphorescencia.

Uma experiência simples dá-nos com pre­cisão o relacionamento da luz e electricidade com as outras formas da energia.

Supponhamos um fio de platina collocado n'um quarto escuro e intercalado no circuito d u m a pilha cuja intensidade podemos variar â nossa vontade.

Perto d'esse fio colloquemos um papel photographico sensibilisado e uma pilha ther-

1 Journal de Physique, 3.° serie, t. I.

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mo-electrica cujo galvano-metro está colloca do fora do quarto escuro. Lancemos uma fra­ca corrente ao fio: este fica invisível e o papel photographico não é impressionado, mas a mão, approximada d'aquelle, percebe uma pe­quena sensação de calor que vae augmentan-do com a intensidade da corrente.

Em breve o fio adquire uma côr verme­lho sombrio e torna-se visivel ; á medida que a incandescência augmenta, as sensações opti­cas e colorificas tornam-se mais fortes; emfim, quando attinge o rubro branco, o papel pho­tographico é a seu turno impressionado.

Por esta singela experiência se verifica que a electricidade se transforma em calor, em luz, em acção chimica e que, ao mesmo tempo, pôde haver calor sem que nós tenhamos a per­cepção de luz.

Portanto, calor e luz teem uma existência independente, em determinadas circumstancias, das outras modalidades de energia,

E ' um assumpto de interesse para o medi­co, pôde bem calcular-se, esta separação de çnergias, que vulgarmente se nos apresentam de mãos dadas nos corpos em incandescência —sol, arco voltaico, lâmpadas de Edison, cham-mas de azeite, velas, gaz illuminante. A mais simples analyse a que submetíamos estas va­rias incandescencias mostra-nos bem clara­mente a relatividade do quantum com que, em

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M

cada uma d'ellas, contribuem as duas energias —luz e calor.

b) Spec t roscop ia

Analyse (la IllZ.—Newton por uma experiên­cia sensacional, tão vulgar hoje que nos é axiomática, divide pelo prisma o raio solar, d'uma brancura extrema, supposto simples, in-decomponivel, até então, em um feixe de vá­rios raios diversamente corados collocando-se em um mesmo plano, segundo a gamma das cores, em gradação perfeita desde o vermelho ao violei a, assim constituindo o espectro.

Os raios da maior parte das fontes lumi­nosas dão um espectro composto das mesmas cores, mas geralmente menos brilhante que o do sol. Estes raios são chamados monochro-maticos, porque recebidos a seu turno, separa­damente, sobre um segundo prisma, a sua re-fracção produz apenas um simples desvio da luz, sem apparição de cores novas. Os raios monochromaticos são caracterisados pelo seu grau de refrmgencia que vae crescendo pro­gressivamente do vermelho ao violeta e sobre­tudo pelo seu comprimento d'onda, isto é, a distancia que separa duas ondas em que os movimentos vibratórios são synclironos.

Não viu tudo Newton no seu espectro, que

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não notou as riscas mais tarde observadas por Wollaston (1815) e estudadas ainda depois por Fraunhofer qne as classificou em oito gru­pos marcados pelas lettras A, B, C, D, E, F , Gr, H.

O conhecimento d'estas riscas, dispostas parallelamente á aresta do prisma, tem sido objecto d'uni grande numero de trabalhos im­portantes e tem prestado serviços assignala-dos á chimica; sabe-se agora que são em nu­mero muito maior do que se julgava, mas as oito principaes, tendo sempre a mesma posição relativa, servem vantajosamente de pontos de referencia no estudo dos espectros de nume­rosos metaes. Estas riscas mostram que a luz solar não contém todos os graus de refrangi-bilidade entre o vermelho e o violeta; falta-lhe um grande numero de cores simples cujo grau de refrangibilidade seria determinado pelo lugar occupado pelas riscas escuras.

Constituição do espectro dado por uma luz qual­quer ; espectros luminosos, caloríficos e clítmicos.

No estudo do espectro de qualquer raio luminoso, pelos nossos actuaes meios de pes­quisa, logo a attenção nos fica presa pela tri-plicidade de acções, porquanto não é somente a directa sobre a retina que objectivamente conhecemos, mas ainda as colhidas pelo ther-mometro e placa photographica.

Cada um d'estes meios de investigação

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revelou: raios luminosos que, actuando sobre a retina, constituem o espectro propriamente dito; uma região que não impressiona a vista e que é denunciada, para áquem do vermelho, pela pilha tliermo-clectrica—região dos raios calorificos ou infra-vermellia — de potencia calorífica muito maior que o resto do espe­ctro ; e, para além do violeta, pela placa pho-tographica— região dos raios cliimicos ou ultra-violeta.

Ha, portanto, na luz branca tres espécies de radiações: luminosas, constituidas pelas sete cores identificadas por NeAvton, indo do vermelho o menos refrangivel ao violeta o mais refrangivel ; caloríficas, constituidas pelas ra­dineries menos refrangiveie que as radiações vermelhas e cuja existência é demonstrada por effeitos calorificos; chimicas, constituidas pe­las radiações mais refrangiveis que as radia­ções violetas e assignahmdo-se pelos seus efFeiton chiniicos sobre a placa photographica e saes de prata. Mas as tres acções—luz, calor, acção chimica—não pertencem exclusivamente a cada uma das tres regiões do espectro.

A parte sensivel, estendida da côr verme­lha ao violeta, não se limita á impressão lumi­nosa. Ha n'esta região raios thermicos e outros que reduzem os saes de prata, estes somente nas cores azul e violeta.

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Não é a parte chimica, porem, absoluta­

mente fria, salvo na região ultra­violeta. Portanto, os três effeitos—luz, calor, acção

chimica—são três modos pelos quaes se traduz um só e mesmo agente—a radiação.

Esta não deve ser caracterisada por algu­

ma das suas três propriedades subjectivas, mas simplesmente pelo seu comprimento d'on­

da. Cálculos bem estabelecidos na determina­

ção em [■>■ do comprimento d'onda, demonstram que estas diminuem progressivamente do es­

pectro infra­vermellio ao espectro ultra­vio­

leta. Radiações caloríficas. —Como já dissemos, en­

contra­se calor nos différentes pontos do es­

pectro. Julgava­se antigamente que a parte mais brilhante do espectro era a mais quente e esta primitiva hypothèse está confirmada hoje so para o espectro formado por um jnis­

ma de sal gemma, como o demonstrou Lan­

gley pelo seu engenhoso apparelho; o ponto de coincidência das intensidades calorífica e luminosa foi descoberto no amarello­alaran­

jado, perto da risca 1). Herschell, em 1800, procedendo a expe­

riências por meio de pequenos thermometros que collocou nos différentes pontos do espe­

ctro formado por um prisma de flint-glass, constatou (ao contrario da ideia corrente de então) que esse máximo calorífico se encontrava

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na parto escura alem do vermelho, isto é, zona infra-vernielha '.

Investigações mais recentes feitas por Mou­ton mostraram que o máximo calorífico exis­tia no amarello e verde e que os resultados obtidos por Herschcll deviam ser attribuidos á maneira como o flint-glass dos prismas dis­persava a luz.

Portanto, o máximo do calor não coincide com o máximo de intensidade luminosa—ex­cepção feita para o prisma de sal gemma—e aquelle máximo muda de lugar com a natu­reza do prisma.

No ponto de vista pratico, esta categoria de radiações é pouco empregada em pliototlie-rapia e tem tão somente uma acção análoga á que poderia apresentar qualquer outra fonte de energia calorífica.

Radiações luminosas.—A' similhança do que se passa com os raios caloríficos, os raios lu­minosos não teem a mesma intensidade em todos os pontos do espectro.

Herscliell, fazendo incidir as différentes partes do espectro sobre uma pagina impres­sa, observou o máximo de intensidade lumi­nosa nas zonas amarella e verde.

1 Reconliece-se que os raios calorificos são de espécie différente nos diversos pontos do espectro, constatando que são absorvidos em proporção desegual por uma mesma lamina diathermana, isto é, por uma lamina que se deixa atravessar pelo calor radiante sem deter as suas radiações.

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Langley demonstrou corn as suas expe­riências que as radiações amarellas são as que dão ao órgão da visão a maior acuidade vi­sual.

Fraunhofer reconheceu, com o auxilio do seu photometro cliromatico, que a parte mais brilhante está collocada no limite do amarello entre as riscas Ï) e E.

Radiações cliimieas ou actinieas.—De todas as radiações do espectro são estas, incontesta­velmente, as mais importantes no ponto de vista, medico e n'ellas se resumem, por assim dizei-, as applieações da luz á therapeutica.

A luz deve a estas radiações um numero considerável d'acçoes ehimicas, taes como: a combinação do chloro com o hvdrogenio, a decomposição dos saes de prata, d'ouro, de platina, etc.

Gay-Lussac e Thenard observaram a de­tonação da mistura do chloro e hydrogenio sob a influencia dos raios violetas e a falta d'acçao dos raios vermelhos sobre a dita mis­tura .

Todos conhecem a acção dos raios solares sobre as matérias corantes d'origem orgânica que, applicadas aos tecidos, fazem-se brancas quando expostas ao sol.

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II. Es tudo biológico da luz

a) Acção da luz sobre os v e g e t a e s

A luz é necessária aos plienomenos cliimi-cos que teem sua sede no tecido das folhas das plantas durante o acto da respiração, á forma­ção da cldoropliylla e da materia corante das flores. E ' um facto d'observação diária, e ao alcance de todos, o estiolamento das partes das plantas que vegetam na obscuridade, compa­rado á cor normal das que vivem sob a acção da luz.

Estudos feitos sobre a respiração das plan­tas, n'uma e n'outra condição, teem demons­trado que as partes verdes absorvem acido carbónico e desenvolvem oxygenio quando expostas á acção dos raios solares ou de qual­quer outra fonte artificial, com a condição, po­rem, de ser muito intensa e conter notável porção de raios cliimicos; o contrario se pro­duz quando collocadas na obscuridade, isto 6, a ausência da luz supprime a funeção cldoro-pliyllina, mus não a da respiração, que se dá tanto na obscuridade como á luz, plienomenos estes completamente independentes c oppos-tos d.

1 Bonnier et Mangin. L'action chlorophyllienne séparée de la respiration.

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Innumeros trabalhos devidos a botânicos celebres e outros sábios são concordes em ad-mittir que a acção benéfica exercida pela luz nos vegetaes é devida, em grande parte, aos raios chimicos do espectro solar.

b) Acção da luz sobre as bac t é r i a s

O poder bactericida da luz é hoje um fa­cto.

A Downes e Blunt cabe a honra de terem sido os primeiros a assignalar o poder bacte­ricida da luz, e se, em alguns pontos,* as suas experiências peccam por falta de rigorismo, não é menos verdade também que tiveram o grande mérito de attrahir, pela primeira vez, a attenção sobre esta propriedade da luz e ser­vir de base ás innumeras experiências que se seguiram depois sobre este assumpto.

Em uma pequena dissertação inaugural— elaborada com o único fim de satisfazer o re­gulamento da Escola—não é possivel apresen-tar-se todos os trabalhos relativos a um deter­minado assumpto e, por isso mesmo, passarei a mencionar, de entre numerosos trabalhos,

1 Não fazerem as suas experiências sobre uma espécie microbiana bem definida, empregarem um meio de cultura impróprio, não medirem exactamente o tempo de insolação e d'ahi elevação de temperatura nos seus tubos de experiência.

3

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aquelle que nie pareceu mais completo e de resultados mais positivos.

Até ao anuo de 1902 as experiências de vários investigadores permaneciam contradi­

ctorias sobre o seguinte ponto, que convinlia resolver: a que espécie de raios devia a luz o seu poder bactericida ? Foi o que parece terem resolvido A. Chatin e S. Nicolau.

Estes dois experimentadores, querendo de­

terminar a acção bactericida dos raios chimi­

cos e estudar comparativamente a potencia ba­

ctericida de dois focos luminosos desegual­

mente fornecidos em radiações clnmicas, em­

pregaram dois apparellios—arco voltaico de carvões mctallicos de Broca e arco voltaico ordinário — aquelle mais rico em radiações chimicas, este em radiações physicas.

Servindo­se da mesma technica geral na applicação d'estes dois focos luminosos sobre placas de Petri contendo culturas frescas (da­

tadas de 48 boras) de différentes micróbios— Staphylococci dourado, bacillos pyocyanico, da diphteria, colicommum, deKoch e anthracis ■—um e outro chegaram aos resultados seguin­

tes: 1." a acção bactericida da luz mostrou­se muito mais notável com os carvões mctallicos, (pie desenvolvem pouco calor, do que com os carvões ordinários, mais ricos em radiações caloríficas; 2.° a distancia A qual exposeram suas culturas é egual áquella em que estão

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collocados os doentes atacados de lupus tra­tados pela luz; ora, a esta distancia estes doen­tes não experimentam a menor sensação de queimadura; mais, o agar, queé muito fusível, não funde; 3.° a curta duração de exposição 1

exclue egualmente a acção do calor que não teve tempo de actuar durante tão poucos ins­tantes; 4.° conhecemos a resistência dos espo­ros bacillares a temperaturas elevadas, ora ba-cillos csporulados teem soffrido a esterilisação comportando-se, portanto, como se o não fos­sem.

Como conclusão a esta série de experiên­cias estamos, portanto, no direito de admittir: 1.° a luz natural (sol) e artificial (arcos voltai­cos de différentes espécies) actua sobre as ba­ctérias e seus esporos, retardando o seu des­envolvimento; 2.° é aos raios actinicos (azues, violetas e ultra-violetas) que ella deve as suas propriedades.

c) Acção da luz sobre os a n i m a e s

Toda a gente conhece a differença d'aspe-cto que apresentam os animaes que vivem em

1 A exposição maxima para provocar a esterilisação dos ditos bacillos com o emprego dos carvões metallicos de Broca foi de um minuto, com os carvões ordinários de cinco minutos.

Comptes rendus de l'Académie des Sciences, janeiro de 1903. Vide Archives d'électricité médicale.

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plena luz do dia d'aquelles que estão sujeitos a permanecer em espaços escuros e não saliir senão á noite. E ' verdade que, a temperatura ambiente, o estado hygrometrico, podem con­tribuir, até certo ponto, como factores úteis; mas não ha duvida que as radiações desempe­nham um papel capital n'estas influencias.

Béclard 4 foi o primeiro, segundo cremos, que em 1858 estudou experimentalmente o effeito das différentes radiações sobre o desen­volvimento dos animaes. Collocando debaixo de campanulas de vidro, differentemente co­radas, ovos de mosca (musca cornaria) tirados d'uni mesmo grupo, observou cinco dias de­pois que todos estes ovos tinham dado larvas, mas de desenvolvimento desegual; os mais de­senvolvidos encontravam-se nas campanulas violeta e azul e os menos desenvolvidos na campanula verde.

E ' bem interessante a experiência de Yung 2. No estudo da acção das radiações verdes e violetas sobre différentes espécies de rãs chegou ás mesmas conclusões de Béclard — os raios verdes que retardam, os violetas que favorecem o desenvolvimento.

1 Béclard. Comptes rendus de l'Académie des Sciences, t. XLVI—1859.

Leredde et Pautrier. Photototherapie. 2 Yung-. De l'influence des différentes couleurs du spectre

sur le développement des animaux. Archive de zoologie ex­périmentale, 1878, t. VII .

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Posteriormente, tendo estado na estação de Nápoles, teve occasião d'observar sobre os ovos de peixes, mais uma vez, a veracidade d'essas conclusões.

Leredde e Pautrier d retomaram a seu tur­no, em 1902, a questão da influencia das dif­férentes radiações sobre o desenvolvimento dos animaes ; escolheram para assumpto de suas experiências os embryões da rana tem­

porária. Dividiram praticamente o espectro solar

em duas zonas, uma compreliendendo o ver­melho, alaranjado, amarello e tendo como ca­racterística a producção de luz e calor; a outra compreliendendo o verde, azul, indigo e violeta, cavacterisados especialmente pela sua acçào chi mi ca sobre os saes de prata.

Para suas experiências mandaram cons­truir dois aquários, um de vidro vermelho de photographia, corado com protoxydo de co­bre, outro de vidro azul, corado com azul de cobalto, com tampa de vidro egualmente co­rado, deixando só espaço necessário para o renovamento do ar.

Estes embryões, não apresentando nenhu­ma differença de tamanho e desenvolvimento, foram divididos em três lotes e collocados,

1 Leredde et Pautrier. Pliototherapie et Photobiologie, paginas 66 e seguintes.

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uns, no aquário vermelho, outros, no azul e o terceiro lote foi conservado como testemunha n'uma campanula de vidro branco. Salvo para a luz, como fica descripto, todas as demais condições ficam bem nitidamente eguaes.

Um mez depois, os embryões tratados á luz vermelha c os tratados á luz azul apre­sentavam as maiores differenças ; os primeiros estavam todos ainda no estado de embryão e tinham membrana caudal, os outros, pelo con­trario, não apresentavam já membrana, esta­vam completamente formados os dois pares de patas e respiravam pelo modo pulmo­nar.

A luz, além da acção que exerce no des­envolvimento dos seres, é um agente de exci­tabilidade muito importante e as suas diver­sas radiações produzem movimentos différen­tes sobre os seres que estão submettidos á sua influencia.

Finsen dá-nos também a contribuição de uma experiência captando a nossa confiança pelo rigor de sciencia que a cerca. Este collo-cou n'uma caixa, disseminando-as, umas vinte lombrigas; a tampa d'esta caixa era formada por uma série de vidros de différentes cores e dispostos na ordem do espectro.

Passados alguns minutos, todos os vermes estavam debaixo do vidro vermelho, voltando a tampa de modo a substituir aquella côr pelo

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azul, viu que, alguns instantes depois, todos os vermes estavam de novo debaixo da luz vermelha.

Finsen, desejando conhecer a maneira co­mo reagiriam animaes que vivem habitualmente em plena luz, collocou um certo numero de borboletas n'uma caixa cuja tampa era com­posta por metades de vidro vermelho e vidro azul, e em seguida expôl-a ao sol.

Logo depois de se encontrarem presas ba­teram vivamente as azas ; no fim d'alguns minutos, as que recebiam luz vermelha, esta­vam em repouso, emquanto que as da parte azul continuavam a agitar-se ; mais tarde, cessando a luz, as borboletas reuniram-se to­das na zona azul, á excepção de uma que fi­cou na zona vermelha.

Estes resultados demonstram da maneira mais nitida que a acção dos raios chimicos, que vimos já tão activos sobre os micróbios e as plantas, comparada á das radiações calori-ficas e luminosas, é muito mais considerável. A complexidade do phenomeno que se nos apresenta é, sem duvida, devido a combina­ções moleculares do protoplasma e j;>arecendo ser, mais simplesmente, para Finsen, uma ex­citação do systema nervoso.

Esta acção dos raios chimicos é pronun­ciada em toda uma série de seres différentes e

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são verdadeiramente promotores de vida e energia (Finsen) \

d) Acção da luz sobre o o rgan i smo h u m a n o

Ignora-se qual seja o mechanismo bioló­gico da acção da luz sobre o organismo Inu­mano, mas, á similhança do que se passa com os outros animaes, esta acção existe e é um facto.

A experiência de todos os dias ensina-nos que os indivíduos, que vivem em locaes onde a luz solar chega cm pequena quantidade, ou onde não penetra, enfraquecem pouco a pou­co, tornam-se anemicos, emquanto que aquel-les, cuja profissão os obriga a permanecer longas horas expostos á acção do ar c da luz solar, são cm geral vigorosos e corados. E' verdade que, n'estes casos, devemos attender também ;í differença de ventilação e regimen alimentar, mas as experiências de physiologia e a clinica permitte-nos pensar que estas duas condições são apenas accessories.

Ora, se a acção da luz sobre o organismo humano é com cffeito muito obscura, a sua acção sobre a pelle é, pelo contrario, nítida,

1 Finsen. La photothernpie. Paris, 1899.

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precisa e bem observada depois de um grande numero de experiências feitas n'estes últimos annos, constituindo a base do methodo da therapeutica cutanea fundada sobre o empre­go dos raios chimicos concentrados da luz, posto em pratica a primeira vez pelo profes­sor Finsen.

Erythema SOlar.—Desde antigo tempo que a acção da luz sobre a pelle humana tem sido observada.

Esta acção manifesta-se por um erythema que apparece nas partes descobertas do corpo, cara, mãos, braços, nuca, pernas, em seguida a uma exposição mais ou menos prolongada aos raios luminosos.

O erythema solar, insolação, é mais fre­quente na primavera, o que é devido por um lado a que, durante o inverno, a pelle dcsha-bitua-se á acção do sol, e, mais, n'esta estação, a atmosphera sendo mais clara e muito pura deixa-se atravessar mais facilmente pelos raios chimicos.

Estes accidentes traduzem-se, nos casos mais simples, por um rubor mais ou menos intenso (pelle da côr da lagosta) e por eleva­ção de temperatura da pelle; o rosto tume-faz-se muitas vezes.

Em geral, estes accidentes não ultrapassam este conjuncto de symptomas; passados al­guns dias, o erythema desapparece e uma des-

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carnação, mais ou menos pronunciada, pôde preceder a cura. Por vezes, o erythema acom-panha-se de largas bolhas, chatas, contendo um liquido amarello claro (phlyctena).

A vida corrente offerece-nos diariamente constatações d'esta natureza; os barqueiros que, na primavera, fazem longas excursões, de braços nús e cujo pigmento desappareceu durante o inverno, apresentam um erythema nas regiões descobertas dos braços em virtude do qual se pigmentam de novo e não reagem mais aos raios chimicos.

Considera-sc esta pigmentação produzida pela luz nas camadas da derme como um pro­cesso util de defeza do organismo ; a materia corante fixada na pelle serve d'uma espécie de écran contra os raios chimicos e protege os tecidos da profundidade contra a sua acção inflammatoria.

Os trabalhos de Unna, de Widmarck, { de Hammer, de Finsen 2 em menção especial, mostraram em absoluto que devemos criminar os raios chimicos—os ultra-violetas mais—na producção do erythema, e não os raios calorifi-cos do espectro como se pensava. Finsen, emit-tindo a hypothèse de que a côr dos negros é o resultado d'uma defeza do organismo contra a

1 Widmarck. Hy«ion. FestbanH, n.° 3, 1889. 2 Mittheilungen ans Fiiisen's, Liehtinstitut. Leipzig, 1900.

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luz do sol, fez em si mesmo interessantes ex­periências.

Traçou no ante-braço, com tinta da China (Nankin), uma faixa da largura de 2 pollega-das, a fim de imitar a cor da pelle dos negros, e depois expol-o durante três horas á acção d'um sol muito forte. Passado este tempo, ao tirar a tinta, encontrou a pelle absolutamente branca na região correspondente a esta faixa, emquanto que, de cada lado da mesma, esta­va vermelha; algumas horas depois, desenvol-veu-se um erythema acompanhado de tume-facção; a pelle conservou uma pigmentação muito pronunciada, a despeito de ter desappa-recido o erythema.

N'uma segunda experiência, Finsen expoz, ainda uma vez, o mesmo ante-braço ao sol, mas sem o ter ennegrecido. O resultado foi absolutamente contrario; a zona branca tor-tou-se a sede d'um erythema, emquanto as partes lateraes se tornaram mais pigmentadas.

E' em virtude d'esta mesma acção, que um europeu habitando ha pouco tempo os paizes tropicaes, vê a sua pelle tomar uma côr mais escura, emquanto que a dos negros que vêem á Europa se atténua e torna-se ligeiramente branca.

Os excursionistas dos Alpes, os touristes que fazem ascensões ás montanhas e os explo­radores do mar do Norte, apresentam pheno-

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menos absolutamente análogos ao erythema solar, caracterisados, como este ultimo, por uma viva rubefacção da pelle, calor, prurido, uma sensação de queimadura e, finalmente, uma descamação mais ou menos abundante.

Erythema photO-electrico—Charcot ' foi o pri­meiro que, em 1858, se referiu a accidentes cutâneos devidos á illuminação eléctrica.

N'uma observação que publicou, conta o seguinte caso: dois chimicos que faziam expe­riências sobre a fusão e vitrificação de certas substancias pela acção d'uma filha de Bunsen de 120 elementos, experimentaram, na mesma tarde, perturbações da visão, e, no dia seguin­te, appareceu-lhes na face um erythema acom­panhado d'uma, sensação de peso e tensão.

Este erythema, localisado ás partes da face voltadas para o foco e absolutamente seme­lhante ao erythema solar, foi seguido de des-carnação no quarto dia.

Estes dois experimentadores, estando col-locados a 50 centímetros do foco, não se po­dia attribuir estes accidentes aos raios calorí­ficos, o que leva Charcot a emittir a hypothè­se de que deveriam ser imputados á acção dos raios chimicos.

Perfeitamente racional esta hypothèse, fal-tava-lhc no entanto uma base scientifica.

1 CliHi'cot, C imptea rendus Sor. de biol. 1858

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Bouchard, l em 1862, no decurso de suas investigações sobre a pellagra, empreliendeu uma série de experiências para elucidar a acção da luz sobre a pelle humana. Fez pas­sar, para isso, um feixe luminoso atravez d um prisma e, sobre este feixe assim dissociado, observou a acção dos diversos raios. Receben­do successivamente as différentes radiações sobre uma lente, no foco da qual collocou a face dorsal do seu ante-braço, observou que os raios vermelhos não produziam nenhum effeito, os amarellos um prurido passageiro, os verdes um erythema, os azues prurido e ery­thema, c os violetas uma verdadeira phlyetena.

N'uma segunda experiência, Bouchard, procurando saber qual era, para cada radia­ção, o tempo necessário para produzir uma mesma lesão, encontrou os seguintes dados nu­méricos: vinte segundos para os vermelhos, dezesete para os amarellos, dezoito para os verdes, quinze para os azues e doze para os violetas.

Emfim, n'uma nova série de experiências, filtrou o feixe luminoso atravez d'uma camada d'agua para supprimir os raios caloríficos; as duas séries de experiências deram resultados idênticos.

1 Bouchard. Recherches nouvelles sur la pellagre. Paris, 18 62. Comptes rendus Soc. de biol., 1877.

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FinsQja, Widmarck, Hammer, André Bro­ca, demonstram experimental e «cientificamente que a hypothèse de Charcot era verdadeira- e que os accidentes cutâneos observados em se­guida á exposição da pelle a qualquer foco luminoso, não podem ser attribuidos aos raios calorificos, mas simplesmente aos raios actini-cos—violetas e ultra-violetas.

O papel da luz apparece-nos agora com­pletamente elucidado: não é uma a acção the-mica, é uma a acção chimica que se exerce so­bre o nosso tegumento.

Se o foco luminoso desenvolve quantidade sufficiente de calor, pôde determinar na pelle lesões da mesma natureza d'uma queimadura superficial, mas isto não 6 mais que um epi-plienomeno, uma lesão accessoria. De resto, as duas reacções differenciam-se nitidamente: a que depende dos raios calorificos, apparece logo, attiuge rapidamente o máximo de inten­sidade para depois decrescer; a outra, a ver­dadeira reacção luminosa, apparece algumas horas mais tarde, por vezes 2 dias depois.

Esta noção bem estabelecida explica-nos a intensidade das reacções cutâneas produzidas pelo arco voltaico que, como sabemos, 6 mui­to rico em radiações chimicas.

Acabamos de passar rapidamente cm re­vista algumas das lesões inflammatorias agu­das produzidas pela luz sobre a pelle, quando

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a sua acção dura um lapso de tempo relativa­mente curto; restava-nos estudar agora os effeitos das radiações quando muito tempo prolongadas c os accidentes que produzem so­bre tegumentos anormaes, por predisposição congenita ou por causa interminada (eczema solar, prurigo d'Hutchinson, hydroa vernal, ephelides, chloasma, etc.) ou sobre uma pelle j á previamente doente (variola, pellagra). O facto, porém, d'esté trabalho constituir uma synthèse d'um assumpto, cujos elementos co­lhi na leitura d'alguns tratados, sendo por isso mais ou menos restricto, assim como á min­gua de recursos intellectuaes, obrigam-me a pôr ponto final sobre as noções geraes que acabei de expor e que vão servir de base para o estudo das applicações therapeuticas da luz, ou precisando mais, do arco voltaico.

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Segunda Parte

I. A luz em therapeutica

a) Algumas palavras sobre os banhos de luz

A Finsen deve a therapeutica uma das propagandas mais honestas e mais humanas, prendendo a attenção medica com os seus es­tudos e seus conhecimentos sobre as proprie­dades physicas e biológicas da parte chimica do espectro.

Em consequência d'uma longa série de trabalhos, e depois de ter estudado separada e experimentalmente a acção, umas vezes util, outras vezes nociva, do agente luminoso, Fin­sen dividiu clinicamente os effeitos da luz em duas categorias bem distinctas: umas vezes manifestando a sua acção d'uma maneira fa­vorável (variola), por exclusão methoclica dos raios chimicos — phototherapia negativa; ou­tras, exercendo sobre a pelle do homem uma

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acção prejudicial contra a qual esta se defen­de pelo processo da pigmentação—photothe-terapia positiva, mais conhecida por methodo de Finsen.

Só o ultimo d'estes methodos exige uma instrumentação e technica apropriadas, c das quaes fallaremos mais adiante.

N'este ligeiro trabalho ha a transparência teimosa pelo estudo histórico. Mais uma vez a insistência. . . que me perdoe quem me 1er.

A acção da luz sobre o organismo humano é um facto d'observaçao de toda a gente, des­de a mais remota antiguidade, mas só com Finsen é (pie foi aproveitada para um fim therapeutico, baseado em conhecimentos scien-tificos previamente adquiridos. Assim é que já os antigos Gregos—no campo das descobertas ninguém leva a palma a gregos e chinezes!— faziam uso dos banhos solares (arenação) para o que cercavam o corpo até ao pescoço, ou uma parte qualquer, com areia aquecida ao sol. Ainda em nossos dias, estes banhos são correntemente applicados no Oriente, em Afri­ca e em diversas regiões da Europa, banhadas pelo mar.

Hameau prescreveu com suecesso estes banhos solares contra os accidentes da escró­fula e lymphatismo ; Marchant e Pouget obti­veram resultados animadores contra o rheu-matismo chronico.

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No Tyrol, e mais recentemente em Ber­lim, tem-se utilisado também a acção da luz solar para o tratamento de numerosas affec-ções ou mesmo mais simplesmente como au­gmente de energia vital, mesmo em pessoas bem constituidas.

Os doentes, ou não doentes, absolutamente nús, jogam e correm em extensos espaços de areia fina fortemente aquecida.

N'estes casos felizes deve-se attribuir, em nossa opinião, os resultados obtidos muito mais á acção tonificante do sal marinho e ao calor solar que ás radiações luminosas, pois que os raios são completamente detidos pela camada d'areia '.

Em todos estes casos recorria-se á luz na­tural que hoje tende a ser substituida pela luz artificial, para applicação da qual se in­ventaram diversos apparelhos.

0 único inconveniente da heliotherapia reside na variabilidade muito grande da illu-minaçào e na dificuldade de a regular. Por isso, Kellog teve a ideia de a substituir pela luz eléctrica. Em 1895 communicou á Ameri­can medicai Association, os resultados obtidos e descreveu os apparelhos de que se utilisou e que mais tarde serviram de modelo áquelles que se empregam actualmente.

1 A. Chatin et M. Carie. Phototherapie, pag. 79.

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0 apparelhó consistia em uma grande caixa de madeira, de forma c dimensões va­riáveis segundo a posição que o doente deve conservar (de pé, sentado, deitado) e cujas paredes inferiores são revestidas de espelho. Nos cantos das paredes da caixa estão dispos­tas 50 lâmpadas de incandescência e á tampa, que apresenta uma abertura para dar sabida á cabeça do doente, está adaptado um ther­momètre que permitte verificar a temperatura do banho.

Em 189G, o engenheiro inglez Dowsing inventa uma lâmpada de incandescência inte­ressante, cuja característica consiste em trans­formar directamente, no vacuo da ampola, a corrente eléctrica em calor radiante luminoso.

A lâmpada eléctrica de Dowsing, de forma alongada e composição especial, possue a propriedade de desenvolver ao mesmo tempo raios chimicos e caloríficos, predominando es­tes últimos pela sua intensidade.

F . Allard i e Gueynot 2 mostraram que, em todas as affecçôes para as quaes estão in­dicados os banhos d'ar quente, locaes ou ge-raes, eram tratados com vantagem pelo calor radiante. Assim é, pois, que o utilisaram com

1 F. Allard. La chaleur radiante lumineuse appliquée à la thérapeutique. Presse médicale, 1902.

2 G-ueynot. La chaleur radiante lumineuse. Bulletin de Therap.. 1901.

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successo ria gotta aguda e chronica, rheuma-tismo, arthrites blennhorragicas e tuberculo­sas, entorses, fracturas, etc.

Ha poucos annos a esta parte tem-se em­pregado também, com successo vario, os ba­nhos de luz corada, baseados no emprego da luz vermelha nos variolosos.

Concluindo o estudo dos banhos de luz, que passamos rapidamente em revista, julga­mos poder affirmai* que em todos estes pro­cessos são só os effeitos caloríficos os apro­veitados—pois que todas estas fontes de luz são pobres em radiações cliimicas—e por isso não constituem mais que excellentes meios para provocar a transpiração e são uma mo­dificação elegante do banho de vapor e estufa sècca.

b) Os raios chimicos concentrados perante o lupus tuberculoso

Uma vez estudada a acção therapeutica da luz sobre o organismo, vamos agora estu­dar a sun acção local no tratamento d'uma das dermatoses de natureza microbiana (lupus tuberculoso) e expor o partido que, sob a in­fluencia dos trabalhos de Finsen 4, sobretudo, se tirou das radiações actinicas.

1 Finsen. Traitement <in lupus par les rayons chimiques concentres. Semaine médicale, 21 décembre de 1897.

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Finsen teve predecessores. Sem querermos remontar até Oterbein que mencionou um caso de lupus tratado por um empírico por meio de um vidro ardente—pratica esta que foi depois também utilisada por Maxiiuilien Mehl — ve­mos que as primeiras tentativas dermothera-picas foram feitas por Thayer que submetteu alguns lupicos á acção da luz solar concen­trada por meio d'uma lente biconvexa.

Lahman serviu-se da luz eléctrica d'uma lâmpada d'arco de 12 ampères, collocada no foco d'uni espelho parabólico e expunha, du­rante dez minutos, os seus doentes aos raios parallelos que emanavam d'esta lâmpada.

A fraca intensidade luminosa n'um caso e o parallélisme dos raios no outro, tornavam pouco apreciáveis os effeitos obtidos por estes dois últimos experimentadores.

Finsen, retomando as antigas experiências respeitantes á acção da luz sobre o organismo, publicou, em 1893, uma memoria em que mos­trou o interesse que havia em subtrahir os va-riolosos á influencia da luz branca, tratan-do-os em quartos somente iliuminados pela luz vermelha ' ; depois, n'uma serie de interes­santes trabalhos apparecidos nos annos imme-diatos, reconheceu-se o partido que se podia

1 Finsen. Les rnyons chimiques et la variole. Semaine médicale. 1894.

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tirar dos raios actinicos para tratar certas der­matoses e em especial apelada e o lupus.

Apéri (de Constantinopla), conhecendo, pe­los auctores antigos, os effeitos da cauterisa-ção solar e insolação, preconisou, desde 1898, sob o nome de phacotherapia, um metliodo no qual aconselha o emprego das três variedades de radiações concentradas com o auxilio de uma lente e applicadas successivamente sobre as regiões doentes l.

Este methodo não é mais que uma varian­te da phototherapia localisada que se recom-meuda sobretudo pela simplicidade do appa-relho, mas que, na verdade, não permitte uma verdadeira selecção dos raios.

Portanto, a actividade chimica das radia­ções luminosas não foi utilisada scientifica-mente, pode dizer-se, senão depois dos traba­lhos de Finsen.

E ' a elle, pois, que pertence o mérito de ter creado um methodo racional, activo, edifi­cado sobre bases seientificas, e que, se não convém a todos os casos e c', por causa da instrumentação e experiência accessorias,inac-cessivel á maior parte dos medicos e doentes, constitue, na opinião de todos aquelles que.o tem experimentado, uma descoberta das mais preciosas.

1 Apéri — Héliothérapie. I'hototlierapie. Phacotherapie. X I I I Cong, intern, de medic., Sec. de tlierap., 1900.

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r.<;

Conhecidas as pesquizas biológicas e ex-perimentaes da luz a que Finsen e outros ho­mens de sciencia se entregavam, e por elles perfeitamente elucidada a sua acção bacteri­cida e a reacção innammatoria que determina, quando posta em contacto com a pelle, estava naturalmente indicada a utilisação d'esté agen­te para o tratamento de certas dermatoses e d'ahi a ideia de o pôr cm pratica, contra o lu­pus vulgar.

Pallidamehte esboçada a historia da luz nas suas múltiplas manifestações, vamos agora expor o methodo de Finsen que constitue a base da phototherapia e, d'esta maneira, en­trar no verdadeiro objectivo d'esté modestis-simo trabalho — o arco voltaico em therapeu-tica.

Em nossa exposição descreveremos, resu­midamente, os apparelhos mais conhecidos em phototherapia positiva, em que entre o arco voltaico, desde o primitivo de Finsen até ao de Finsen-Reyn ; depois diremos duas pala­vras sobre o seu modo d'applicaçao.

A P P A R E L H O S

Appardho lie FillSCll.—O primitivo apparelho eléctrico de Finsen compôe-se d'uni arco vol­taico de corrente continua, da intensidade de

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60 a 80 ampères; d'uni apparelho concentra­dor e d'uni compressor.

O arco occupa o centro d'uma manga que apresenta, na sua extremidade inferior, um circulo de ferro de 80 centímetros de diâme­tro, o qual supporta quatro, ou mais, tubos concentradores. Cada um d'estes tubos tem a forma d'um telescópio com dois systemas de lentes de crystal de rocha; que tem a proprie­dade de deixar passar integralmente os raios chimicos. Um primeiro systema está collocado na extremidade do tubo condensador voltado para o arco, com o fim de tornar parallelos os raios divergentes do foco luminoso; um se­gundo systema de duas lentes occupa a extre­midade voltada para o doente e tem a pro­priedade de tornar convergentes os raios pa­rallelos contidos na primeira metade do tubo. As lentes do segundo systema estão separadas entre si por uma certa quantidade d'agua dis-tillada que é destinada a absorver os raios ca­loríficos.

A' volta da extremidade inferior de cada tubo deslisa uma manga metalliea onde cir­cula uma corrente d'agua fria, destinada a evitar o aquecimento do tubo condensador. Para que o arrefecimento seja completo ao ní­vel da pelle, applica-se no ponto a tratar um apparelho compressor formado d'uma camará ôcca de dupla parede de crystal de rocha sus-

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tentada por um annel nikelado, e onde cir­cula egualmente uma corrente d'agua.

Este apparelho accessorio é destinado, como o seu nome indica, a comprimir os teci­dos, ischemiando-os, pois que sendo o sangue uma solução vermelha, representa o papel d'uni verdadeiro écran absorvente e, por isso, com a propriedade de transformar os raios actini-cos em calor absolutamente inactivo sob o ponto de vista microbiano e esclerogenico que nos interessa.

Apparclho de Lortet et Genniid. — O primitivo apparelho de Finsen apresentava alguns in­convenientes— complexidade de dispositivo, intensidade eléctrica de 60 a 80 amperes, des­pesas elevadas na sua montagem, sessões lon­gas de 1 a 2 horas — o que levou M. M. Lor­tet e Genoud, na, volta d'uma viagem de es­tudo á Dinamarca, a substituirem-no por um apparelho mais simples e que utilisasse mais economicamente os raios chimicos, permit-tindo, por conseguinte, uma intensidade me­nor e sessões menos longas.

N'um primeiro ensaio, apresentado a 4 de fevereiro de 1901 á Academia de S ciências de Paris ', concentravam os raios do arco vol-

1 Lortet et Genoud. Appawil très simple pour l'applica­tion de la méthode plmtotlierapique de Finsen. (Comptes ren­dus de l'Académie des Sciences, séance, 4—902.) Archives d'électricité médicale, 15 - 4 — 901.

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taico por meio d'um balão condensador de vidro cheio d'agua, que se renovava sem ces­sar. Os raios assim concentrados cabiam so­bre um ponto determinado adiante do balão e onde se collocava o compressor.

Este apparelho, apesar de ser mais pratico e menos dispendioso que o de Finsen, com-tudo, não deixava de ser ainda complexo.

Era uma segunda communicaçào á Aca­demia de Sciencias, sessão de 25 de março do mesmo anno, Lortet e Gènoud ' apresenta­ram ura novo apparelho phototherapico sem condensador.

N'este apparelho, a lâmpada d'arco de que se servem é muito mais fraca (pie a lâm­pada de Finsen, e permitte uma intensidade de 10 a 20 amperes. %

Os carvões estão inclinados um em rela­ção ao outro, sendo assim dirigida para a frente a maior parte dos raios.

Deante do foco luminoso, encontra-se uma espécie de bacia alongada de metal, de dupla parede, na qual circula constantemente uma corrente d'agua, e que é aberta na sua parte central para deixar passar os raios luminosos. Este ûrificio é fechado por um apparelho iden-

1 Lortet et Genoud. Appareil phototlierapique sana con­densateur (Comptes rendus de l'Académie des Sciences, 25—3 —901). Archives d'électricité médicale, 15—4—«01.

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tico áqnelle que serve de compressor no ap-parelho de Finsen, e onde circula uma cor­rente contínua d'agua.

A luz do arco voltaico é projectada para a frente, segundo um eixo antero-posterior, por um pequeno espelho movei collocado atraz do arco.

As vantagens que os seus inventores at­tribuent a este apparelho sobre o de Finsen são: obter os mesmos effeitos therapeuticos com uma intensidade eléctrica cinco vezes mais fraca; utilisai- maior numero de raios cbimicos e empregar sessões mais curtas, 15 a 20 minutos.

Um e outro d'estes apparelhos funecionam sob corrente contínua.

Apparelho do Dr. H. Schall ' . — O Dr. Schall, medico electricista cm Cbambéry, preoceu-pado com a desvantagem com que luetavam os medicos das cidades onde só ha redes elé­ctricas de corrente alternativa, inventou um apparelho que pôde functional- indifferente-mente com qualquer das duas correntes.

A vantagem da corrente contínua na pro-ducção do arco voltaico, 6 cavar o carvão ne­gativo em forma de cratera, formando assim um écran acima do arco, limitando a diffusão

1 Dr. Schall. Lampa á are pour la phototherapie. Archi­ves de l'électricité médicale, pag. 550. 15—9—901.

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dos raios luminosos e permittindo eaptal-os em grande par te; a corrente alternativa gasta os dois carvões na ponta, de tal sorte que se produz uma enorme dispersão da luz em to­dos os sentidos.

Para restringir esta dispersão, o Dr. Scliall emprega um reflector apropriado á alta tem­peratura que deve supportai-.

O seu apparelho compõe-se: «d'um disco de barro (ao qual, antes da moldagem, se misturou oxydo de magnésio), tendo ao cen­tro d'uma das faces uma cavidade cylindrica onde vêem fazer saliência, por aberturas es­pecialmente feitas, os dois carvões impellidos por molas helicoidaes.

Uma parte mais saliente do bloco refra­ctário interpõe-se aos dois carvões, que devem ter entre si um intervallo quasi fixo para a producção do arco. Esta saliência é indepen­dente do bloco e pôde substituir-se logo que se consuma.

Os carvões não podendo ser postos em contacto, a illuminação faz-se intercalando entre as suas extremidades um terceiro carvão que se retira logo que o arco é estabelecido.

A lâmpada pode funecionar sob corrente contínua ou alternativa c dispende 8 a 10 am­peres sob 50 a 60 volts.

Os carvões empregados são impregnados d'uma solução de chloreto de zinco e cliloreto

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de magnésio, destinados a augmentai- a acti­vidade pliotocliimica do arco.»

Este appareils©, muito interessante no pon­to de vista theorico, não tem ainda, que o sai­bamos, sido utilisado praticamente.

Lâmpada de Hang.—Emquanto alguns me­dicos electricistas procuravam utilisai* os raios chimicos contidos nos efrluvios produzidos pelas machinas estáticas c de inducçào — Dr. Leduc d, Strebel — outros medicos procura­vam augmentai- o rendimento em raios ultra­violetas, dirigindo a sua attençao para a lâm­pada d'arco modificada para este fim.

Com effeito, constata-se pela analyse chi-mica (pie certas substancias, acerescentadas aos eléctrodos, augmentant o rendimento em raios ultra-violetas. Strebel fez ensaios n'este sentido ajuntando aos carvões oxydos de ma­gnésio, de alumínio, de zirconio, obtendo ex­cellentes resultados.

Ultimamente, o Dr. Bang 2, director do laboratório do Instituto de Finsen, construiu uma lâmpada cujos eléctrodos são de ferro — metal (pie dá um espectro muito rico em raios

' Leduc Comptes rendus de l'Académie des Sciences, seance du 12 juin 189Í).— Production électrique pour les appli­cations médicales. Annales de eleetrobiologie, mars avril. 1901.

3 S. Hanfr. Lampe phototherapique construite d'après un principe nouveau. Archives d'électricité médicale. 15 janvier, 1902.

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ultra-violetas. Estes eléctrodos são ôccos e energicamente arrefecidos por uma corrente d'agua que percorre a sua cavidade.

Esta lâmpada, segundo Leredde e Pau-trier, muito seductora no ponto de vista tbeo-rico, não tem, infelizmente, dado na pratica os resultados que se esperavam.

No tratamento do lupus não deu ainda re­sultados práticos, devido isto aos seus raios não penetrarem profundamente nos tecidos pela falta d'uni apparellio compressor. Deve ser, pois, abandonada para o tratamento do lupus, podendo ser util, comtudo, para o tra­tamento de affecçôes mais superficiaes.

Apparellio de líIOCa-Chatill.—A' Sociedade de Dermatologia e Syphiligraphia Franceza (abril de 1902) André Broca e Cliatin d apresentaram um novo apparellio de pliototlierapia, funda­do sobre o mesmo principio do de Bang, mas differindo d'esté .pela ausência de qualquer apparellio de refrigeração e pelo emprego d'uma corrente muito mais considerável, com um regulador d'arco ordinário.

0 apparellio, em si muito simples, resume-se no seguinte: «um regulador de carvões ver-ticaes e de positivo inferior, automático ou não, é collocado n'um pé e cercado por uma clia-

1 André Broca et Chatin. Appareil phototherapique. Ar­chives d'électricité médicale, mars-mai de lí)02.

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miné de latão, com quatro orifícios á ultura do foco do arco. Esta chaminé mede 0m,70 d'alto por 0"',14 de diâmetro e é destinada a prote­ger os doentes e os assistentes contra os ery­themas e as oplitalmias. Três dos seus orifí­cios permittem tratar três doentes ao mesmo tempo, e o quarto é destinado a vigiar os car­vões. Na sua base apresenta aberturas que evitam o aquecimento, estabelecendo a venti­lação.

O pé do apparelho sustenta três peças de supporte, permittindo aos doentes conservar sem fadiga a posição desejada.

Duas corrediças, de que uma permitte a rotação da liaste de supporte, levam essas peças á altura e distancia convenientes do arco.

O apparelho compressor compõe-se d'uma calote metallica que se colloca na cabeça do doente, o que dá uni sólido ponto d'apoio c é interiormente forrada por uma almofada pneu­mática.

0 bordo d'esta calote tem uma série de botões destinados a prender frágeis laminas d'aço com orifícios e por meio das quaes nós fixamos o compressor. Este comprehende duas peças, uma lente de quartzo e duas hastes que deslisam livremente em orifícios praticados n'uma rodella metallica que, por sua vez, está fixa ás laminas d'aço. Esta rodella ainda é

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atravessada por três parafusos que se apoiam na armação da lente.

Para exercer a compressão n'um ponto determinado, começa-se por collocar o com­pressor de quartzo n'esse ponto, fíxando-o por meio das laminas d'aço mas sem grande pres­são. Collocado o apparelho, enche-se a almo­fada pneumática, e, acaba-se de apertar os pa­rafusos que permittem imprimir ao quartzo a direcção conveniente e a compressão necessá­ria para que os tecidos se tornem completa­mente exangues. As lentes de crystal de rocha são de formas variadas, podendo adaptar-se ás diversas regiões a tratar. Como teem arma­ção movei, podem voltar-se, o que permitte utilisai- as duas faces que apresentam curva­turas différentes.

Pode também utilisar-se um outro svste-J

ma de compressão mais simples e por isso mesmo mais pratico.

Os compressores de quartzo são montados em três eolumnas solidas, collocadas em frui­té dos orifícios que dão sabida aos raids lumi­nosos; o doente apoia-se fortemente contra o compressor e anemia assim muito naturalmen­te a região a tratar. ,

Este apparelbo, que funcciona a lí> ou 20 amperes, 6 commodo por causa da suppressão completa das correntes d'agua que complicam consideravelmente os apparelhos de Finsen e

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Lortet-Genoud e absorvem, no compressor ar­refecido, numerosas radiações úteis. Além d'is-so, a realisação da compressão antes da appli-cação da luz, permitte regulai-a perfeitamente e ter um único enfermeiro para vigiar o trata­mento de três doentes.»

ApparelllO FillSCn-Rcyil.—Como vimos na des-cripção de todos os apparellios precedentes, os seus auetores, inventando-os, tiveram em vista dois objectivos principaes: reduzir a in­tensidade do foco luminoso e encurtar a du­ração das sessões.

O professor Finsen, que desde o s=eu pri­mitivo appareil LO eléctrico tem procurado sem­pre reforçar a intensidade luminosa, faz a cri­tica d'estes apparellios da seguinte maneira : 1.° não devemos julgar a pliototlierapia pelos resultados obtidos com o auxilio d'estes appa­rellios fracos; 2." não devemos esperar obter resultados tão satisfatórios como os seus se não recorrermos a apparellios tão poderosos como os d'elle e a uma luz com a força da que elle empregou; 3.° por consequência, de-ve-se, para o futuro, juntar ;i publicação dos resultados obtidos em pliototherapia a desi­gnação do apparelho, a indicação da intensi­dade da luz e da duração das sessões» '.

1 Leredde et Pautrler, já citado.

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Um dos grandes inconvenientes dos appa-relhíos de luz muito intensa, é o elevado preço das sessões; ora, para remediar esta desvan­tagem, Finsen e o seu assistente Reyn inven­taram um apparellio semelhante ao de Lortet-Genoud pela sua disposição, mas possuindo, deante do arco, o apparellio concentrador de Finsen.

Este apparelho, que funcciona a 20 am­pères pelo menos, offerece, na opinião de seus auctorcs, resultados análogos ao primitivo de Finsen e muito superiores ao de Lortet-Ge-noud.

Compressores. — A compressão da pelle é a condição indispensável para a penetração dos raios actinicos á profundidade dos tecidos.

Para realisar este fim, Finsen, Lortet-Ge-noud, Broca e Cliatin, mandaram construir compressores apropriados para os seus appa-relhos phototherapicos.

Mas estes compressores, justamente pela sua forma arredondada, excellentes para tra­tar lesões das faces ou lados do nariz, tornam-se inapplicaveis quando haja necessidade de attingir certas regiões menos accessiveis—an­gulo oculo-nasal, face inferior dos rebordos nasaes, do infra-septo — ou certas mucosas, taes como face interna das faces, orinsrívas e mucosa nasal.

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M. M. Leredde e Pautrier !, propondo-se vencer esta difficuldade, mandaram construir dois novos modelos de compressor, baseados sempre nos mesmos princípios : refrigeração e compressão das regiões tratadas.

«Um d'estes modelos, o compressor cónico, compõe-se d'mna camará d'agua, de forma cónica, de paredes metallicas e á qual estão adaptados dois tubos: um para a entrada e outro para a sabida da agua. Esta é munida na sua parte anterior d'um cone de quartzo de quatro centímetros e meio de comprimento, o qual é talhado perpendicularmente ao eixo óptico de crystal, para evitar a dupla retrac­ção, de maneira que a luz o atravesse em todo o seu comprimento, sem perda de raios, e se liberte unicamente pela sua extremidade. Esta é arredondada, ligeiramente arqueada e mede um centímetro de diâmetro; para attingir os mais pequenos recantos das pregas naso-ge-nianas ou do angulo oculo-nasal, mandaram construir um segundo compressor similhante a este, mas cuja extremidade do cone de quartzo mede 6 millimetros de diâmetro.

0 segundo compressor é acotovelado e destinado a attingir as lesões das mucosas: entrada das fossas nasaes, mucosa da cavida-

1 Leredde et Pautrier. Phototherapie pag. 155 e seguin­tes, 1903.

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de buccal. Comprehende uma camará d'agua, com dois tubos metallicos para a circulação da agua; mas, n'este, a camará prolonga-se n'um tubo metallico de 8 centímetros de com­primento, que permitte atacar lesões profun­damente situadas na bocca; á extremidade d'esté tubo atarraclia-se, em angulo recto, um pequeno- cone de quartzo, talhado ao viez se­gundo a sua grande extremidade; a superficie de secção é argêntea e serve assim de espelho reflectindo completamente os raios.

Além dos apparelhos que acabei de des­crever, outros ha — Foveau-Trouvé, Marie (Toulouse), etc. ,—que, pela sua restricta ap-plicação ou não representarem mais que sim­ples modificações dos já mencionados, não merecem, a meu ver, uma descripção especial.

De todos os apparelhos phototherapicos que acabo de descrever, é o de Broca-Chatin o único que conheço de visu, cujo funcciona-mento e applicação me foi permittido obser­var nos Institutos Pasteur e Dermotherapico, d'esta cidade.

Aos illustres directores d'estes Institutos, Ex.mos Snrs. Drs. Joaquim Arantes Pereira e José Joaquim Vieira Filho, e ao meu bom amigo Dr. José Carteado Mena, expresso aqui o meu reconhecimento indelével pela requin­tada amabilidade que tiveram para commigo, j á fornecendo-me preciosos esclarecimentos e

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já também franqueando-me as suas biblio-tbecas.

Manual Operatório. — Cada apparelho tem um manual operatório que lhe é próprio, mas cuja descripção seria, além de fastidiosa, de ne­nhuma utilidade pratica; por isso, restringirei a minha exposição a três methodos mais ge­ralmente conhecidos: de Finsen, de Lortet-Genoud c Broca-Chatm.

O de Finsen consiste no seguinte: depois d'uni exame prévio do doente, no qual se de­termina a situação, forma e extensão da lesão, manda-se deitar este n'uma mesa já destinada a esta operação, preferindo-sc esta posição em virtude do comprimento das sessões. Em se­guida, estabelece-se o arco e a circulação de agua no compressor, emquanto um ajudante applica este fortemente contra a placa lupica e de maneira que esta fique collocada perto do foco do apparelho concentrador, para que os raios chimicos venham ferir perpendicular­mente uma superficie de dois centímetros de diâmetro, pouco mais ou menos.

Os raios caloríficos não teem nenhuma in­fluencia, visto que, já absorvidos em grande parte pela agua distillada contida na extremi­dade do apparelho concentrador voltado para o doente, o são completamente na sua passa­gem pelo apparelho compressor.

Sendo a preterição de Finsen, nitidamente

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affirmada, utilisai- sobretudo os effeitos bacte-cidas da luz, abi está porque, estes produzin-do-se só lentamente, é indispensável concen-tral-a com o auxilio de espelhos e lentes e excluir as radiações caloríficas que, n'estas condições, determinariam uma verdadeira com­bustão dos tecidos.

Conforme a extensão da lesão, assim o doente é tratado uma ou duas vezes por dia ; a cada sessão, uma região da pelle doente é escolhida para receber durante uma hora a acção da luz.

Com o apparelho Lortet-Genoud, o ma­nual operatório resume-se no seguinte: toma­das as precauções ordinárias—especificadas mais adiante—do lado da lesão e do compres­sor, estabelece-se n'este a circulação da agua e verifica-se se contem ou não bolhas d a r que, no caso afirmativo, se eliminam pela in­versão do mesmo.

O doente senta-se e colloca a região a tratar em relação com o compressor e apoia o queixo n'um supporte sobjacente. Procede-se então á illuminação do arco e, estando os car­vões nas condições exigidas para começar a operação, faz-se passar a corrente e approxi­m a t e um do outro. Logo que o arco se apre­sente puro, sem fumo nem chammas, appro-xima-se da bacia metallica até á distancia de 2 ou 3 centímetros, de maneira a conservar-se

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sempre no prolongamento do eixo do com­pressor.

Um só enfermeiro basta para vigiar o doente e regular o arco, cujos carvões devem ser appro-ximados á medida, que se forem consumindo.

As sessões com este apparelho duram 15 a 20 minutos.

O apparelho de Broca-Chatin exige a se­guinte maneira de operar: o doente senta-se e cólloca-se-lhe na cabeça a calote metallica ; depois applica-se o compressor de quartzo no ponto que se deseja tratar, fixando-o pelas la­minas d'aço á calote, mas sem grande pressão.

Collocado o apparelho compressor, enche-se a almofada pneumática e acaba-se de aper­tar os parafusos que permittem imprimir ao quartzo a direcção conveniente e a compres­são necessária para que os tecidos se tornem absolutamente exangues.

Realisada a compressão, approxima-se o doente do apparelho, apoia-se-lhe o queixo no supporte vertical elevado á altura do orifício que dá passagem ao cone de luz e depois es-tabelece-se a corrente para a, illuminação do arco, que se régularisa á mão ou automatica­mente. A sessão dura, em média, meia hora. Durante a sessão, e qualquer que seja o appa­relho, o tratamento é absolutamente indolor, salvo nos casos em (pie exista ulcerações que a, compressão torne um pouco sensíveis.

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LUPUS TUBERCULOSO

De todas as dermatoses d'origem micro­biana, o lupus é, sem duvida, a mais desagra­dável e a mais rebelde aos esforços da thera-peutica. Teem sido preconisados muitos me-tliodos — alguns dos quaes mencionarei n'uni dos capítulos seguintes — para o combater, mas nenhum, á excepção do de Finsen, deu até agora resultado satisfatório, c, quando a cura é obtida, quasi sempre deixa cicatrizes mais ou menos visiveis, muitas vezes defei­tuosas e que são, para os seus portadores, uma causa constante de pesar.

A esta affecção, pela sua propagação pro­funda, pela presença de focos liypodermicos cercados de tecido fibroso denso, sua marcha invasora em superficie, e emfim a resistência aos methodos therapeuticos empregados até então, estava naturalmente reservada a prio­ridade do emprego dos raios chimicos con­centrados.

Como de todas as formas lupicas é esta que apresenta maior numero de curas e, por­tanto, a que mais dados positivos tem forne­cido para avigorar os créditos da photothera-pia, é a ella, pois, que dedicarei tóVla a minha attenção; demais, procedendo assim, não faço

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mais que obedecer á indole do meu modesto trabalho.

Assim é que, para facilidade de estudo, descreverei as diversas phases pelas quaes passa um lupico, desde o inicio do seu trata­mento ate á cura completa.

PRECAUÇÕES A TOMAR ANTES DO TRATAMENTO. — Conhecidos já os principaes apparelhos e o manual operatório respectivo, vamos agora indicar quaes as precauções a tomar antes de seriniciado o tratamento phototherapico.

Em certos lupicos, de sensibilidade anor­mal da pelle ao agente luminoso, é necessário proteger da acção dos raios chimicos as re­giões visinhas d'aquella que se vae tratar; para isso, cobrem-se estas com uma folha de papel prateado, ao qual se corta, um circulo tendo justamente as dimensões da placa lupi-ca. Leredde emprega, para, o mesmo effeito, pequenos quadrados de seda vermelha.

N'estes individuos, cuja reacção é muito violenta, convém espaçar mais as sessões e diminuir a duração d'ellas.

As formas lupicas ulceradas, hypertrophi-cas, végétantes, cuja superfície fungosa é li­mitada por vegetações friáveis e sangrando facilmente, exigem uma preparação prévia para ser submettidas, com êxito, ao tratamen­to phototherapico. Sem duvida, estes gomos fungosos desappareceriam com a acção repe-

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tida das applicações luminosas, mas é mais simples raspal-os previamente e applicar, du­rante alguns dias, um penso de permanganato de potassa, solução forte, ou um emplastro salicylado que limpa suficientemente as su­perficies.

Nos casos de lupus erythematosos, de reac­ção epidérmica importante, é necessário, não só desembaraçal-os das suas escamas visíveis, mas ainda limpar completamente a superficie de todos os detrictos da camada cornea, que representam outros tantos obstáculos á passa­gem dos raios actinicos.

Para este fim, Finsen serve-se d'uma po­mada d'acido pyrogallico ; Lortet e Genoud preconisam as fricções com essência de cravo ; Leredde emprega o metliodo seguinte: um quarto d'hora antes da sessão, passa na região a tratar uma camada espessa de sabão de po­tassa e, no momento da sessão, tira-o com uma pequena cureta, limpando depois com ether até desapparecer todo o vestígio de gor­dura.

Os lupus secundariamente infectados, pu­rulentos, são egualmente limpos, pensados asepticamente até desapparição dos elementos pyogenicos.

Alguns minutos antes da operação, faz-se uma nova lavagem com agua quente afim de tirar as poeiras recentes, limpa-se com etlier,

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tapam-se os olhos, se a escolha da região as­sim o exige, e depois dispòe-se o doente em frente do apparelho.

Quando a placa lupica é muito extensa, começa-se o tratamento por toda a peripheria da lesão e attinge-se pouco a pouco as partes centraes, para voltar em seguida aos lupomas isolados periphericos.

O bom resultado do tratamento depende da maior ou menor compressão que se fizer, por isso esta deve ser o mais forte possivel. Finsen e Darbois l demonstraram experimen­talmente a necessidade de anemiar a região a tratar.

O primeiro, collocando um pedaço de pa­pel photographico n'uni dos lados do lóbulo da orelha e applicando do outro o cone lumi­noso do appaxelho concentrador, observou o seguinte: não havendo compressão, o papel só era influenciado no fim de cinco minutos; no caso contrario, era-o já no fim de vinte se­gundos.

Darbois querendo provar que os raios chi-micos podem atravessar a espessura da face, fez a seguinte experiência: com dois vidros de relógio, defrontando-se pelas suas concavida­des, formou uma espécie de caixinha onde in-

1 Darbois. Traitement du lupus vulgaire suivant les in­dications. Thèse, Paris, 1901.

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troduziu um fragmento de papel photographi-co; depois do que collocou esta na sua bocca.

Em seguida, fez a compressão forte da região que submetteu á acção dos raios chi-micos, e, ao fim d'uni minuto, retirando o pa­pel photographico nas condições exigidas em photographia, constatou que este apresentava riscas pretas e brancas, prova evidente da pe­netração d'estes.

REACÇÃO MACROSCÓPICA CONSECUTIVA Á SES­SÃO PHOTOTHERAPICA.—No momento em que termina a sessão, o doente não experimenta ne­nhuma modificação ao nivel da placa lupica que se acaba de tratar. Mas, passadas algumas ho­ras, 8, 24 e por vezes dois dias, o effeito do tratamento caracterisa-se por uma rubefacção local acompanhada de uma sensação d'arden-cia mais ou menos intensa, geralmente seguida de edema e formação d'uma vesícula cheia de liquido (phlyctena). Esta reacção termina 6 ou 8 dias depois da sessão por descamação epi­dérmica, o que permitte observar os resulta­dos obtidos na região tratada.

A reacção phototherapica tem, portanto, por característica ser muito tardia, como to­das as reacções photo-chimicas, e differencia-se assim das reacções devidas a uma queima­dura produzida pelos raios caloríficos que são precoces e attingem logo o seu máximo de in­tensidade para decrescer depois.

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Facto extremamente importante, esta reac­ção nunca ê destructive/, ainda mesmo que as sessões sé prolonguem até 2 horas; apenas se nota que esta se manifesta mais tardiamente, é de duração egualmente mais longa e á phly-ctena pôde succéder uma simples erosão que se repara em alguns dias.

Possue esta reacção mais um caracter im­portante: não 6 dolorosa. Os doentes accusant apenas alguma tensão no momento da appa-rição do edema, sensibilidade á pressão e um ligeiro prurido quando se forma e cáe a crosta.

CUIDADOS A DAR A ESTA REACÇÃO.—A reac­ção phototherapica não deve ser despresada; devemos protegêl-a contra as infecções exter­nas, isolando-a do ar e de qualquer objecto infectado que, porventura, venha a pôr-se em contacto com a superficie tratada.

Durante os dois primeiros dias 6 inutil fazer qualquer penso, mas, caso o medico o julgue necessário, então basta applicar uma pomada qualquer até á appariçâo da inflam-mação característica.

«Logo que esta, o edema c a serosidade apparreçam, o penso torna-se obrigatório. Em-quanto houver crostas, este penso será húmi­do ou semi-humido e feito d'agua fervida ad-dicionada de 80 grammas de borato de soda por litro.

O doente não deve arrancar as crostas,

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mas, renovando o sen penso duas vezes por dia, esforçar-se-ha por destacal-as docemente passando-llies um tampão d'algodao embebido da solução boratada tépida.

Cabidas as crostas, substitue-se o penso semi-liumido pela applicação d'uma pasta que pôde ser a de Lassar:

Oxydo de zinco . . I Amido f _. T I - ' aa partes eguaes Lanohna . . . .1 Vaselina . . . . 1

A applicação d'csta pasta impede a for­mação de novas crostas; apressa, além d'isso, como todas as pastas, a descongestão e acal­ma a inflammação sob-jacente x».

DURAÇÃO E RESULTADOS TJLTERIORES 150 TRATAMENTO. — Os bons effeitos da luz, appli-cada a esta dermatose, são bem manifestos e evidentes a todos aquelles que tenham acom­panhado um lupico nas suas diversas phases de tratamento.

Algumas sessões bastam, ás vezes, para verificarmos a desapparição gradual d'esta af-fecção ; assim c que as ulcerações se enchem e

1 Leredile et, Pautrier. Phototherapie, pag. 169.

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se apertam pela transformação fibro-esclero-sica da pelle, as nodosidades se abaixam e o» nódulos confluentes são separados entre si por pelle sã que, cada vez mais, invade as regiões doentes até desapparecimento completo de todo o vestígio de lupus.

Obtido este resultado n'um período de tra­tamento variável que, segundo Finsen, é de quatro mezes e meio, interrompe-se este fican­do o doente em observação durante algum tempo, pois que, quasi sempre, subsistem de­baixo da pelle pequenos focos que se desen­volvem mais tarde e cuja apparição impõe uma segunda serie d'applicaçoes menos longa que comprehende dois períodos de 3 semanas cada, o que dá uma média de 6 mezes de tra­tamento effectivo para cada doente.

Demais, após esta segunda phase, as reci­divas não são para recear desde que tenhamos o cuidado preciso de começar a applicação da luz pela peripheria da placa e dirigil-a simul­taneamente sobre a pelle apparentemente sã que a limita e a parte doente.

Is,to no que respeita a resultados curati­vos.

Sob o ponto de vista esthetico, ninguém ignora os bellos resultados plásticos obtidos com este methodo e que muito bem demons­tram a sua superioridade sobre todos os ou­tros. Assim, d'unia maneira geral, a cicatriz

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phototherapica é lisa, plana, branca, perfeita­mente regular e tornando-se, por vezes, invi­sível.

Uma outra vantagem séria, e que nenhum outro method© anterior possuo, é a sua appli-cação absolutamente indolor. Todos os medi­cos que empregam os antigos methodos conhe­cem bem a difficuldade com que luctam para conseguir d'alguns doentes a sua persistência no tratamento uma vez encetado.

Emfim, as estatísticas que passo a apre­sentar são mais eloquentes do que tudo quan­to se possa dizer para consolidar os bons cré­ditos do methodo therapeutico instituído por Finsen.

Estatísticas

Estatística de Finsen *. — A' conferencia do Bureau central internacional para a lueta con­tra a tuberculose, realisada em Berlim em 1902, Finsen apresentou uma estatística de 804 casos de lupus tuberculosos que foram re­cebidos no seu Instituto até 31 de dezembro de 1901.

1 Annales de Dermatologie et Syphiligraphie. Tome iv — octobre de 1903.

6

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HL'

Em 1 d'outubro de 1902, o estado d'estes doentes era o seguinte:

I —Curados 412 a) sem recidivas após 2 a 6 an-

nos 124 b) tempo d'observaçâo inferior

a 2 annos . . . . 288 II. — Quasi curados (apenas com leves ves­

tígios da doença) . . . . . . 192 III.— Ainda em tratamento 117

a) melhora manifesta ou cura parcial 91

l) melhora insignificante ou transitória . . . . 26

IV.—Tratamento interrompido (cura incom­pleta) 83

a) resultados não satisfatórios 16 b) fallecidos (31) ou padecendo

d'outra doença grave (13) 44 c) por circumstancias estra­

nhas 23

Total. . . 804

Por esta estatística se verifica a enorme percentagem de curas realisadas pelo methodo de Fin s en.

Subtrahindo o grupo iv b) e c), ao todo 67 casos, restam, portanto, 7?>7. D'estes não obti-

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veram resultados satisfatórios, os grupos III b) e iv a), ao todo 42, o que corresponde a uma média de 6 por cento. Os restantes 695 casos, que foram influenciados favoravelmente, re­presentam, pois, 94 por cento de curas, nu­mero este bastante elevado para demonstrar, com toda a evidencia, a efficacia do methodo pliotoríierapico.

Estatística de Leredde e Pautrier '. — O nu­mero de doentes atacados de lupus tubercu­loso tratados no Estabelecimento dermatoló­gico de Paris, desde o começo d'outubro de 1900 até 15 de novembro de 1901, eleva-se a 43 distribuídos da seguinte maneira:

Tratamento phototherapico inutil . . 4 Tratamento phototherapico interrom­

pido 5 Eesultados excellentes mas exigindo ainda

tempo mais ou menos longo 5 Curas segmentares2 10 Curas quasi completas mas exigindo ainda al­

guma vigilância . 7 Curas definitivas 8 .Resultado completo incerto . . . 4

Total das curas. . 30 1 Leredde et Pautrier. Phototherapie. * «Cura segmentar é a das regiões extensas nas quaes

não se pode encontrar mais, após vários exames distanciados uns dos outros, vestígio algum de lesões tuberculosas e onde a cicatriz é perfeita..) Leredde pag. 199.

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E' para notar que todos estes doentes, á excepção de três, tinham experimentado inu­tilmente, durante muitos annos, os antigos methodos de tratamento.

Todos elles foram tratados com os appare-lhos de Finsen e, sobretudo, com o de Lor-tet-Genoud.

Estatística de Gastou, Baudoin et Chatin (com o apparellio Lortet-Genoud). «Em 30 lupus tu­berculosos houve:

Curas totaes. 11 Curas parciaes 12 Sem alterações apreciáveis 7

Devemos notar que esta estatística diz res­peito a doentes da clientela hospitalar, tardia­mente tratados pela maior parte, e nos quaes a regularidade das sessões é muitas vezes dif-ficil d'obter».

Estatística Gastou et Chatin.—(Apparelho Bro-ca-Chatin funecionando no Laboratório de Chimica da Faculdade, em S. Luiz).

Esta estatística comprehende não só os lu­pus tuberculoso e erythematoso mas também outras affecções cutâneas:

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I. — Lupus tuberculoso : a) Curados objectivamente . . . 5 h) Muito melhorados com cura seg­

mentar parcial 10 II. — Lupus erythematoso :

a) (Aberrantes) curados . . . . 3 b) (Lupus fixo) objectivamente cura­

dos 2 III.— Epithelioma superficial curado . . . 1 IV. — Sycosis não tricophytica muito melho­

rado após 10 sessões 1

Total das curas . . . 22

Este numero representa a totalidade de curas obtidas em 50 doentes em tratamento, assim classificados:

Lupus tuberculosos nodulares 40 » erythematosus aberrantes . . . . 3 » » fixos 5

Epithelioma superficial 1 Sycosis não tricophytica 1

Estatística de SI. Carie (HospHal Antiquaille, Lyon.). —«O tratamento foi tentado em 32 doentes de lupus. D'estes, temos de subtrahir 14 que in­terromperam as applicações em virtude de ra­zões extra-medicas. Restam, portanto, 18 doen­tes cujos resultados therapeuticos foram os seguintes :

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KG

Insuccessos absolutos 3 Em tratamento 3 Eecidiva, quatro mezes depois da cura obtida

em três mezes e meio com 39 sessões . . 1 Curados objectivamente 11

A média do tempo necessai-io para obter a cura foi de 4 a 5 mezes. Ha grandes diffe­rences no numero das applicações e isto é de­vido á maior ou menor liberdade dos doentes obrigados a supportai- as sessões a liora fixa, e, sobretudo, á reacção muito variável que el­les apresentavam. Por duas vezes observamos verdadeiras reacções erizypelatoides, desappa-recidas em breve, e rapidamente acalmadas por simples pomadas e alguns pensos húmi­dos».

Estas três ultimas estatísticas foram ex-traliidas d'uni livro recentemente publicado: A. Chatin et M. Carie. Phototlierapie. Pag. 132 e seguintes.

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OBSERVAÇÕES

l . a — Dr. F . , delegado do ministério pu­blico n'uma comarca da província.

Ha vinte annos soffre d'um lupus tuber­culoso do angulo interno do olho direito. A doença apresenta-se com caracteres typicos que me poupam o trabalho de fazer a sua des-cripção, tanto mais que o diagnostico havia sido confirmado pelos exames couqietentes de mestres, que tinham procurado tratar o mal por todos os meios antigos, principalmente pe­las escarificações.

Os antecedentes pessoaes e hereditários ne­nhum pormenor offerecem digno de menção.

A lesão residia justamente no angulo in­terno do olho e estendia-se á face pelos sulcos naso-facial e palpebro-facial.

Como a principio não houvesse compres­sor de quartzo sufficientemente fino para appli-cação phototherapica no canto do olho, tirou-se-lhe o modelo em gesso e fez-se a encom-menda d'elle para Paris, sujeitando o doente ao tratamento da região accessivel, isto é, a parte facial.

ÍSÍo fim d'um niez de tratamento, duas fe­ridas profundas, perfeitamente sangrantes e

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sem fungusidades, se mostravam ao longo dos sulcos já citados.

Interrompido aqui o tratamento, foi este de novo encetado, d'alii a dois mezes, com os novos compressores e só no angulo interno do olho, pois que a lesão facial estava comple­tamente curada, não apresentando cicatriz sen­sível.

Após outro mez de tratamento o doente retirava-se, levando a ferida perfeitamente lim­pa e por carta communicou a sua cura radical.

!8.a—M. J., 60 annos, mulher de campo, é portadora d'um lupus tuberculoso na aza direi­ta e parte correspondente da ponta do nariz, es-tendendo-sc um pouco para o interior da narina.

Os seus antecedentes nada tinham de par­ticular.

E ' um caso em começo. Vinte sessões d'applicaçao de luz, duran­

do cada uma, meia hora, produziram a cura completa e sem cicatriz alguma déformante.

3.a-—D. M. C , esposa d'um distincte advo­gado, soffre de um lupus erythematoso cuja parte principal reside no dorso e face esquer­da do nariz; existem também algumas placas nas regiões lateraes da face, fronte e lóbulos das orelhas.

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O diagnostico foi confirmado por vários medicos.

Os anamnesticos nenhum indicio revelam que nos possa guiar na pesquisa da pathoge-nia d'esté caso.

Tratamento. Cada uma das zonas affecta-das foi sujeita á acção da luz da lâmpada Bro-ca-Chatin, pelo espaço de meia hora; a zona tratada apresentava, no dia seguinte, uma queimadura circular e funda que, lentamente, ia desapparecendo apresentando-se a nova cu­tis completamente livre do seu lupus.

Devido ao grande numero de pequenas placas erythematosas, a doente continua pre­sentemente o tratamento começado lia dois mezes, pois que as placas revelam ainda al­guns signaes da doença.

Ordinariamente fazem-se applicaçòes to­dos os dias, mas só de dez em dez se repete a cauterisação no mesmo ponto. Desapparecidos os vestígios da cauterisação, a pelle mostra-se perfeitamente normal e sem pigmentação acci­dental.

Todos estes casos foram por mim colhidos e observados no Instituto Pasteur d'esta cida­de, a 'cujo director devo a fineza de me ter permittido assistir a algumas sessões e seguir o tratamento d'alguns doentes.

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II.—Considerações sobre os outros methodos therapeuticos

Anteriormente á phototherapia diversos methodos therapeuticos tinham sido, e são ain­da, empregados para combater o lupus tuber­culoso.

E ' indiscutível que todos elles, em deter­minados casos, teem dado resultados excellen­tes e mesmo algumas curas, mas não podemos deixar de reconhecer também os seus múlti­plos inconvenientes e a sua inferioridade (pian-do comparados ã phototherapia, sob os pon­tos de vista curativo e esthetico, sobretudo.

Em um estudo resumido vamos analysai-os principaes processos anteriores ao methodo de Finsen. Assim, os cáusticos mais enérgicos (ácidos salicylico, láctico, nitrato de prata, creosota, etc.,) a curetagem, a ablação ao bis­turi, actuando d'uma maneira brutal, produ­zem deformações, cicatrises viciosas, bridas esclerosicas que, indifférentes nos membros, não o são quando applicados a um lupus da face—região esta que exige, sob o ponto de vista esthetico, a escolha d'um methodo de re­sultados plásticos mais perfeitos.

Os cáusticos menos activos, o permanga-

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nato sobretudo, originam uma cicatrisação su­perficial, apparente, debaixo da qual o tecido fungoso continua a sua invasão, preparando assim uma próxima recidiva.

Nas formas exuberantes, ulcerosas e végé­tantes, onde é necessário nivelar os tecidos ou acalmar uma inflammação, o permanganato produz bons resultados; mas estes são nullos nas lesões profundas—dérmicas e hyp o dérmi­cas. Portanto, o permanganato de potassa, applicado em solução ou em pó, não é umme-tliodo curativo (Leredde), 4 mas, em certos ca­sos, pôde ser empregado como adjuvante.

A escorificação é, de todos os methodos antigos, acpielle que merece do pratico mais particular attenção.

Não é um processo curativo por excellen-cia, mas a sua fácil applicaçâo, que o colloca ao alcance de todos, e a perfeição dos resul­tados plásticos tornam-no util nas formas lu-picas molles, superficiaes, dando resultados maravilhosos, quando manejado por mãos há­beis. Por consequência, n'estes casos e nas for­mas végétantes, cuja espessura e vascularisa-ção é preciso reduzir, as escorificações repre­sentam um methodo adjuvante, excellente e digno de ser tentado.

A galvano-cauterisação, cuja teclmica foi

Leredde et Pautrier. Phototlierapie, pag. 177.

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regulada e vulgarisada pelo Dr. Besnier, cons­tituiu durante muito tempo, a par da escari­ficação, o methodo de escolha dos principaes dermatologistas.

Este, como os outros, não nos offerece ga­rantia alguma de cura, a não ser praticado de maneira a produzir uma cauterisação em massa; mas, quando applicado a um lupus da face, intervém a rasão de esthetica que o contra-indica absolutamente.

Assim, supponhamos, n'um primeiro caso, que se trata d'um lupus formado por peque­nos lupomas isolados. Se introduzirmos pro­fundamente a ansa de platina, levada ao rubro sombrio, no centro de cada lupomia, succède que só esta região é cauterisada emquanto que a peripherica continua a ser invadida, pois que esta, como a central, é bacillifera.

Imaginemos agora um lupus infiltrado. Se applicarmos as pontas de fogo muito distan­ciadas, resulta naturalmente a persistência de focos mórbidos occupando as zonas não attin-gidas pela cauterisação; quando muito appro-ximadas, produzem uma eschara que mais tarde se transforma n'uma cicatriz viciosa, o que devemos evitar.

Comtudo, o emprego d'esté methodo, co­mo o da escarificação e extirpação, é, n'alguns casos, um poderoso adjuvante da photothera-pia, quando não seja demasiadamente prolon-

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gado, pois que, como sabemos, a producção d'um tecido escleroso, denso, ditficulta a pe­netração dos raios nas camadas profundas da pelle.

Outros methodos—radiotherapia, radium-therapia, coiTentes d'alta frequência, etc.— teem sido empregados para tratar o lupus tu­berculoso e outras dermatoses, mas, sendo todos de origem recente, não é possivel fazer-se já o seu estudo critico, visto que o numero de observações é muito limitado e curto o tempo decorrido após os primeiros ensaios.

Analysemos agora os principaes inconve­nientes attribuidos ao methodo photothera-pico.

Assim, d'estes, o principal é a longa du­ração do tratamento. Ora, Leredde ', n'uma estatística curiosa, em que reuniu a duração dos tratamentos anteriores seguidos pelos doentes da sua clinica, demonstra que os 40 doentes observados por elle tinham feito um total de 98 annos e 7 mezes de tratamento, o que dá uma média de 2 annos e 40 dias para cada, isto é, 25 mezes e meio sem resultado, quando o methodo de Finsen exige G mezes, em média, para réalisai' uma cura.

Outra objecção dirigida a este methodo, é o preço do tratamento.

1 Leredde et Pautrier, Phototherapie, pag. 208—215.

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«M.

E' mnegavel que, com os primitivos appa-relhos de Finsen, o preço era muito elevado, poisque, além d'uma installação bastante dis­pendiosa, havia a contar também com um consumo maior de electricidade. Mas hoje, com os novos apparelhos de.Lortet-Genoud, Broca-Chatin e, mais recentemente, de Finsen-Reyn, todas essas rasões deixaram de existir e, portanto, uma relação equitativa entre o preço do tratamento e o estado social do doente pôde ser, e já o é, estabelecida pelo medico.

A descoberta dos compressores de Leredde fez cahir por terra a ultima das objecções le­vantadas contra este processo therapeutico: a impossibilidade de tratar o lupus das muco­sas.

Em ultima analyse, -o tratamento photo-therapico não 6 mais longo que os outros, é indolor, attinge profundamente o tecido doente, provoca a formação d'uma cicatriz lisa e ho­mogénea, e, sob o ponto de vista curativo — como o demonstram as estatísticas já ennun-ciadas—nenhum outro methodo o eguala; re­quisitos estes que justificam demasiadamente a cxcellencia d'esté processo therapeutico e a sua preferencia a qualquer outro no trata­mento do lupus tuberculoso.

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PROPOSIÇÕES

Anatomia. — A morphologia óssea é modelada pelo mister individual.

Physiologia. — A luz é um excitante vital.

Pathologia geral.— A pigmentação é um processo d'adaptaçao do organismo aos raios chimicos do espectro.

Therapeutica. — No tratamento do lupus tuberculoso prefiro o rnethodo phototherapico.

Anatomia pathologica. — A precisão do diagnostico diphterico depende, em exclusivo, da preponderância das colónias do bacillo de Loffler.

Pathologia externa.—No tratamento das dermatoses não devemos descuidar a evolução da flora intestinal.

Pathologia interna.— A crepitação laryngea perma­nente é um symptoma de tuberculose pulmonar incipiente.

Medicina operatória. — Em operações prefiro aos antisepticos os solutos phvsiologicos estereíisados

Partos. — O aleitamento materno é um dever, todas as vezes que não haja contra-indicação.

Hygiene — O attestado de sanidade dos nubentes de­veria ser o primeiro documento exigido para legalisar o ma­trimonio.

Medicina legal.—Ho crime de infanticídio a lei é protectora do principal culpado.

Visto. Pode imprimir se. Cat.to» L iwa , a'ltotaeí> (Saldai,

^RESIDENTE. piRECTOR.