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Para citar esse documento: BARBOSA, Levi Santos; et al. A forma como processo: espacialidade, participação e precariedade em caminhando (1963) de Lygia Clark. Anais do V Congresso Nacional de Pesquisadores em Dança. Manaus: ANDA, 2018. p. 877-887. www.portalanda.org.br

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Para citar esse documento:

BARBOSA, Levi Santos; et al. A forma como processo: espacialidade, participação e precariedade em caminhando (1963) de Lygia Clark. Anais do V Congresso Nacional de Pesquisadores em Dança. Manaus: ANDA, 2018. p. 877-887.

www.portalanda.org.br

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A FORMA COMO PROCESSO: ESPACIALIDADE, PARTICIPAÇÃO E PRECARIEDADE EM CAMINHANDO (1963) DE LYGIA CLARK

Levi Santos Barbosai

Sarah Marques Duarteii

Thulio Jorge Silva Guzmaniii

Tiago Nogueira Ribeiroiv

RESUMO: O artigo propõe a realização de uma ação. Consiste em um experimento formal de investigação acerca dos modos de produção e compartilhamento de conhecimento em artes. Neste afã, toma como ponto de partida o estudo de Caminhando (1963) de Lygia Clark. Uma das atitudes fundamentais no processo da artista consistiu no gesto de aproximação entre arte e vida, refutando a ideia de obra como objeto estático projetado para a contemplação. Nesse sentido, propõe-se Caminhando como um paradigma artístico para o pensamento em torno à indissociabilidade entre forma e conteúdo. O escrito articula os conceitos espacialidade, participação e precariedade com a proposição de Clark. A experiência deste artigo relacional só se completa na ação, não sendo restrita à ‘leitura’. É necessário que o leitor/participador imprima e construa seu próprio Caminhando. O instrutivo para a impressão da banda de Moebius com o conteúdo encontra-se no link: https://bit.ly/2LM9Q4u

PALAVRAS-CHAVE: Caminhando, Participação, Precariedade, Espacialidade.

ABSTRACT: The article proposes to carry out an action. It consists of a formal research experiment on the ways of producing and sharing knowledge in arts. In this effort, it takes as a starting point the study of Lygia Clark's Caminhando (1963). One of the fundamental attitudes in the artist's process consisted in the gesture of approaching art and life, refuting the idea of work as a static object designed for contemplation. In this sense, it is proposed Caminhando as an artistic paradigm for thinking about the inseparability between form and content. The paper articulates the concepts of spatiality, participation and precariousness with Clark's proposition. The experience of this relational article is only complete in action, not restricted to 'reading'. It is necessary for the reader / participant to print and build their own Caminhando. The instructive for the printing of the Moebius strip with the content is in the link: https://bit.ly/2LM9Q4u

KEY-WORDS: Caminhando, Participation, Precariousness, Spatiality.

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Da intersecção entre três investigações de doutorado em andamento no programa de

pós-graduação em Artes Cênicas da UFBA, surge o desejo de experimentação de um artigo

relacional, ........................................................ A fala para o ANDA apresentou-se como

desdobramento da escrita surgida do encontro dos pesquisadores envolvidos no contexto do

seminário Formas do Espetáculo ministrado pelo professor Dr. Gláucio Machado Santos em

2017.

Para o desenvolvimento do artigo refletimos acerca de questões referentes à

precariedade,................................................................................................................................

.............................,participação.....................................................................................................

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........................ e espacialidade,

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a partir da forma Caminhando (1963) de Lygia Clark.

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Na tentativa de diálogo entre conteúdo e forma, chegamos ao formato de um artigo

relacional. ...................................................... ......................................................

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A investigação da participação nas artes, partindo de uma perspectiva decolonial tem

como ponto de inflexão os conceitualismos latino-americanos. Este é eixo reflexivo da

pesquisa Arte de Ação e Participação - Da abertura da poética à emancipação da experiência

879

estética em desenvolvimento pela doutoranda Sarah Marques Duarte. O estudo parte da

observação da atuação do ‘espectador’ como agente de reconfiguração e

redimensionamento da fruição artística e objetiva identificar as particularidades da arte de

ação participativa na América

.....................................Latina........................................................................................................

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Thulio Guzman, estuda as espacialidades em composições nas artes do

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...................................................... corpo, a partir da observação de criações/propostas que se

relacionam com o espaço ‘casa’. Como entre corpo e espaço reverberam as danças nestes

contextos, modificando relações habituais entre espectadores-artistas,

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......................................................palco-plateia, publico-privado, processo-finalização, entre

outros. ...................................................... ......................................................

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A pesquisa de Tiago Ribeiro consiste no estudo do trabalho da artista cearence Silvia Moura,

cujo principal referente conceitual para a leitura de suas produções é a precariedade.

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A hipótese a ser levantada na tese é a da complementariedade entre o que é

precariedade para a artista Lygia Clark (em um âmbito estético-relacional) e o que significa o

mesmo termo para a filósofa Judith Butler (em um contexto geopolítico).

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Há uma pergunta central na investigação: de que maneira os gestos que sobrevivem

na história se atualizam em um corpo que dança?

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“Pela primeira vez descobri uma realidade nova não em mim, mas no mundo. Encontrei um

Caminhando, um itinerário interior fora de mim.” Lygia Clark, 1965.

PRECARIEDADE-PARTICIPAÇÃO-ESPACIALIDADE. No percurso de Lygia Clark as

propostas “[...] se tornam acontecimento. A obra deixa de se interromper na espacialidade

finita do objeto,” (ROLNIK, s.p.). PROTOCOLOS DE VIVÊNCIA:“Faça você mesmo

um Caminhando com a faixa de papel que envolve o livro, corte-a na largura, torça-a e cole-a

881

de maneira a obter uma faixa de Moebius, tome então uma tesoura, enfie uma ponta na

superfície e corte continuadamente no sentido do comprimento.” (CLARK, 1964).

Para leitura deste artigo, é necessário que se imprima as páginas disponíveis no site:

XXXX e cole-as conforme indicado.

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Para leitura deste artigo, é necessário que se imprima as páginas disponíveis no site:

XXXX e cole-as conforme

indicado. .......................................................................................................................

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.......................................................................Para leitura deste artigo, é necessário que se

imprima as páginas disponíveis no site: XXXX e cole-as conforme indicado.

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.............Para leitura deste artigo, é necessário que se imprima as páginas disponíveis no site:

XXXX e cole-as conforme indicado.

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.............Para leitura deste artigo, é necessário que se imprima as páginas disponíveis no site:

XXXX e cole-as conforme indicado.

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.............Para leitura deste artigo, é necessário que se imprima as páginas disponíveis no site:

XXXX e cole-as conforme indicado.

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Escrever como uma tesoura cortando uma fita de Moebius,

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gesto continuo de repetição com diferença,

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sem voltar ao mesmo ponto, mas dividindo-se em bifurcações.

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Fazer a fita, entrecruzar conceitos e enquadramentos dos pesquisadores. Encontramos

em Caminhando as inquietações que perpassam distintos interesses de pesquisa.

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Reencontramos por que procuramos,

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rastreamo-lo: no ato de realizar Caminhando; na proposição aos colegas da turma; em textos

escritos por Lygia; em outros escritos de autores como Suely Rolnik, Eleonora Fabião,

Ferreira Gullar, ou ainda nas cartas que foram trocadas por Hélio Oiticica e

Lygia..............................................................................................................................................

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Caminhando, nos deparamos com o desafio de entrecruzar nossas falas, ‘rastrear’

aonde cada um dos nossos ‘interesses’ se encontravam, se chocavam, forqueavam, e assim

como em Caminhando, propor uma totalidade: este artigo relacional.

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O abrir e fechar da tesoura que vai cortando a fita, é um gesto repetitivo e continuo que

provoca a nossa atenção perceptiva. ......................................................

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De início, parece difícil coordenar os movimentos das mãos com os cortes, na sequência de

algumas repetições, o entorno parece ir invadindo- nos, diluem-se sujeito e objeto no tempo

da ação, nada para ver, só experienciar.

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Inicialmente, o Caminhando é apenas potência. Vocês e ele formarão uma realidade única,

total, existencial. Nenhuma separação entre sujeito-objeto.

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É um corpo-a-corpo, uma fusão. As diversas respostas surgirão de sua escolha. (CLARK,

s.p.,1964) Apesar do continuo e da eminencia dessa totalidade subjuntiva, há decisões, e

estas podem inclusive cortar a fita.

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Como o fez Marta, nossa colega desde o início.

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......................................................Ou ainda acontecer de cortar a fita acidentalmente como

aconteceu com Gilmário.

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As respostas surgem das escolhas, e a escolha não é somente de quem realiza a

ação, pois há em Caminhando: “escolha, imprevisibilidade e a transformação de uma

virtualidade em um empreendimento concreto.” (íbid.)

Considerações Finais

Ajuste o alinhamento da sua impressora, imprima as páginas que seguem. Em caso da

impressora não imprimir frente e verso, prossiga para este fim manualmente: as páginas

deverão ficar assim: 1-4, 2-5, e 3-6. Recorte as marcações pontilhadas. Encaixe os triângulos

de referência e verifique se as linhas do texto correspondem nas sobreposições marcadas e

cole-as com cola branca. O fragmento 6 deverá ser colado ao fragmento 1 realizando uma

volta na fita resultante. Criando a fita de Moebius. Espere a secagem. De pé, e com uma

tesoura na mão, realize um furo no símbolo de corte inicial no fragmento 1, encaixe a ponta

da tesoura no buraco, e comece a cortar seguindo a leitura. Realize as pausas que achar

conveniente. Boa leitura!

Referências bibliográficas

BUTLER, Judith. Quadros de Guerra: quando a vida é passível de luto. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.

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CLARK, Lygia. Da supressão do objeto (anotações). Em: Escritos de Artistas: anos60/70. org. FERREIRA, Glória, COTRIM, Cecilia. ed. Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 2006, pp. 350-357

CLARK, Lygia; OITICICA, Hélio: Cartas, 1964-74. Org. FIGUEIREiDO, Luciana. 2.ed. Editora UFRJ, 1998. _____.A Descoberta da Linha Orgânica. Disponível em <http://www.lygiaclark.org.br/arquivo_detPT.asp?idarquivo=6>

Consulta em: 03/08/2018

______ Bichos. Disponível em: <http://www.lygiaclark.org.br/arquivo_detPT.asp?idarquivo=15>

Consulta em: 01/08/2018

______ .Caminhando. Disponível em: <http://www.lygiaclark.org.br/arquivo_detPT.asp?idarquivo=17>

______ . Do ato. Disponível em: <http://www.lygiaclark.org.br/arquivo_detPT.asp?idarquivo=18>

Consulta em: 02/08/2018

______ .Nós recusamos....Disponível em: <http://www.lygiaclark.org.br/arquivo_detPT.asp?idarquivo=24>

Consulta em: 02/08/2018

GULLAR, Ferreira, Arte neoconcreta uma contribuição brasileira 1962. Em: Crítica de Arte no Brasil: Temáticas Contemporâneas. Org. FERREIRA, Glória. Funarte, Rio de Janeiro, 2006. p.55-72

______ .Manifesto Neoconcreto. Jornal do Brasil (“Suplemento Dominical”), Rio de Janeiro, p. 4 e 5, 23 de março. 1959.

ROLNIK, Suely. Afinal, o que há por trás da coisas corporal?;

Disponível em:

<http://www.pucsp.br/nucleodesubjetividade/Textos/SUELY/coisacorporal.pdf>

Consulta em: 20/08/2018

______. Molda-se uma alma contemporânea: o vazio-pleno de Lygia Clark;

Disponível em: <http://www.pucsp.br/nucleodesubjetividade/Textos/SUELY/Molda.pdf>

Consulta em: 19/08/2018

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i Levi Santos Barbosa é graduando no bacharelado Interdisciplinar em Artes da UFBA. Designer/artista visual, buscando relacionar o cotidiano de bixas pretas, periféricas, drag queers, e todas as formas de monstruosidades em Salvador. Passou pela universidade húngara de belas artes em 2014, também pela faculdade de arquitetura da UFBA, trajetória que influencia sua produção até hoje, visando principalmente a relação corpos x cidade. emal: [email protected] iiSarah Marques Duarte é doutoranda do Programa de Pós-graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia, na linha de pesquisa Somática, Performance e Novas Mídias com orientação da prof. Dra. Ivani Santana. É mestre em Lenguajes Artísticos Combinados pela Universidad Nacional de las Artes e Bacharel em Artes Cênicas pelas Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. email: [email protected] iiiThulio Jorge Silva Guzman. Dançarino, coreografo, pesquisador e performer. Reside em Salvador-Ba, como doutorando no Programa de Pós-Graduação em Artes cênicas da Universidade Federal da Bahia, com pesquisa em configurações performáticas que se desenvolvem em casas, e suas espacialidades. Mestre em dança pelo programa de Pós-graduação em dança da UFBA. email: [email protected] Nogueira Ribeiro é doutorando em Artes Cênicas, mestre em Dança e graduado em Dança pela Universidade Federal da Bahia. Professor, coreógrafo, performer, pesquisador com interesse na relação entre corpo e cidade, entre artes do corpo e urbanismo e entre gesto e sobrevivência. A pesquisa consiste no estudo do trabalho da artista cearence Silvia Moura, cujo principal referente conceitual para o estudo de suas produções é a precariedade.email: [email protected]