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EditorialSalve, salve a GIRO!A revista-laboratório do curso de Jornalismo da Univale, a Girô,

retoma suas atividades com muito vigor e compromisso de informar bem.

A você, estimado leitor, trazemos as produções jornalísticas dos nossos

alunos que se esforçaram para escrever sobre temas universais, mas com

ângulos e personagens diferenciados, desvendando, assim, o cotidiano de

nossa cidade e de nosso povo. As reportagens passeiam por temáticas

diversas como moda, patrimônio histórico e cultural, economia, esporte,

sexualidade e cotidiano. A revista conta também com seções opinativas

com artigo, crítica e crônica, além, claro, de uma instigante entrevista so-

bre migração, onde são reveladas novas interpretações para o fenômeno.

Desde a concepção, passando pelo planejamento até chegar à

execução da revista, trabalhamos com os alunos de forma participa-

tiva e democrática. Foram muitas aulas para chegarmos a um consenso

sobre o formato, bem como o papel, as seções, as pautas e até mesmo a

linha editorial e o público-alvo. Afinal, a disciplina se propõe a ser um

laboratório para que possam experimentar novas linguagens e forma-

tos jornalísticos, inovar nos processos produtivos e, claro, experenciar

e praticar a reportagem que, como bem disse o escritor colombiano

Gabriel García Marquéz, “requer tempo, investigação, reflexão e um domínio

certeiro da arte de escrever”.

A realização da revista-laboratório Girô/2010 é fruto de um

trabalho interdisciplinar com o curso de Design Gráfico, que nos presenteou

com o projeto gráfico e a diagramação, e com o curso de Letras, que contri-

buiu com a revisão textual do material. Esperamos dar continuidade a essas

boas parcerias no próximo semestre.

Amigo leitor, contamos com a sua opinião sobre essa edição da Girô

no intuito de avaliar a qualidade das produções dos nossos discentes e para

que nós, professores do curso de Jornalismo da Univale, alcancemos cada

vez mais a excelência no processo formativo de nossos futuros jornalistas.

Boa leitura e até a próxima edição!

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GIRÔ - Revista-laboratório do curso de Comunicação Social - Jornalismo desenvolvida por meio da disciplina Revista-Laboratório.

Presidente da Fundação Percival FarquharEdvaldo Soares dos Santos

Reitora da UnivaleProfª Ana Angélica Gonçalves Leão Coelho

Pró-Reitora AcadêmicaProfª Fabíola Alves dos Reis

Pró-Reitor AdministrativoProf. Marle José Ferrari Júnior

Assessora de GraduaçãoProfª. Denise Coelho Chaves

Assessor de Pesquisa e Pós-graduaçãoProf. Carlos Alberto Dias

Assessora de Extensão e Assuntos ComunitáriosProfª. Fátima Martins Dias Oliveira

Diretora da Área de Ciências Humanas e SociaisProfª Cláudia Gonçalves Pereira Coordenadora do Curso de JornalismoProfª Nagel Medeiros

Editora e jornalista responsávelProfª Fernanda de Melo Felipe da Silva – MG 11497 JP

Textos - Discentes do 8º período de Jornalismo (2007 - 2010)

Ana Eliza Pereira de Oliveira, Bárbara Gonçalves de Freitas, Carlos Augusto de Albuquerque, Carlos Magno de Souza, Darlisson André Dutra, Diego Dunga Alves de Oliveira, Dilvo Rodrigues Batista, Fernanda Resende Alves Nominato, Gabriel da Penha Sobrinho, Gabriela Gonçalves de Araújo, Kaio Henrique dos Santos, Lucas Mafra Braga, Marcella Werner de Lemos, Marialda da Consolação Barreto Costa, Maurício Cancilieri de Oliveira, Nathália Barcelos Schubert, Nery das Dôres Albuquerque Júnior, Roberta Vieira de Paula, Saniele Barbosa Lopes Pinto, Vivian Lopes Cangussú.

Projeto Gráfico e DiagramaçãoProfª Zaira Beatris Andrade Bernardes(Coordenação Geral)Discentes do Curso de Design Gráfico/Univale: Larissa Rodrigues Menezes (6° Período)Lívia Furtado Moura (4° Período)Luciana Murta de Tassis (4° Período)

IlustraçãoDiscente do Curso de Design Gráfico/Univale: Abraão Barbosa (4° Período)

Revisão TextualProfª Elisângela Rodrigues Andrade Vieira Helal (Coordenação Geral)Discentes do 4º Período de Letras/Univale: Bárbara Carla Gomes Francisco, Cíntya Francielle Gomes Soares Nascimento, Daniela Delfino dos Santos, Fernanda Soares de Almeida, Jaqueline Angélica Pereira, Janete Ferreira da Silveira, Jeorge Martins Dias, Joel Carlos Fernandes Junior, Joice Sérgio Monteiro, Kássio Victor Pereira Vidal, Kelly Adriene Gomes Marques, Leisiane Aparecida Cruz, Lucas Magalhães Fernandes, Namara Oliveira Teixeira Rocha, Ney Luiz de Souza, Priscila Alves Marques, Rubens Soares Ribeiro, Sâmara Patrícia da Silva Tetzner, Sara Dias de Oliveira, Silvana Keli da Silva, Vanussa de Oliveira Pinto

Agradecimentos Especiais:Profª Rosilene Conceição Maciel (Design Gráfico) e Profª Cátia Cristina Degan Fernandes (Letras)

Apoio EditorialBrian Lopes Honório (Editora Univale)

Impressão / TiragemGráfica O LUTADOR / 200 exemplares

Contatos(33) [email protected]

Expediente

É permitida a reprodução parcial ou total de textos, fotos e ilustrações, por qualquer meio, desde que citada a fonte corretamente.

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Sumário 04 GV QUE VOCÊ OLHA, MAS NÃO VÊ

07 TURISMO NO PICO: O QUE FALTA PARA ALAVANCAR?

10 SEXUALIDADE EM BAIXA

14 DE OUVIDO NA CONVERSA DOS OUTROS

16 O m² MAIS CARO DA CIDADE

18 ENTREVISTA - Profª Drª Sueli Siqueira

QUANDO O MUNDO MUDA DE COR, CHEIRO, FORMATO... 22

PELA CULTURA DA PAZ 25

A PRIMEIRA DÉCADA DO DESIGN GRÁFICO 32

DANÇANDO PARA SOBREVIVER 37

MOSTRA-ME O QUE TU VESTES E EU DIREI QUEM TU ÉS 42

FAMA E GRANA – O FUTEBOL AINDA É CAMPO PARA ISSO 46

PATRIMÔNIO CULTURAL - Museu da Cidade 28

UNIVALE - Programas e projetos que beneficiam a comunidade 29

CRÍTICA - A janela indiscreta da mídia 36

DICAS CULTURAIS - Bom para ler, ouvir e ver 40

CRÔNICA – Formaturas: sequência da vida 13

E MAIS....

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CID

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Governador Valadares

Jovem, com apenas 72 anos de emancipação

política, Governador Valadares até pouco tempo era

invejada pelos turistas que passavam por aqui. As

ruas e avenidas do Centro eram planas e largas e

os motoristas não precisavam disputar espaço no

trânsito. Entretanto, seus governantes, sem con-

sultar aos moradores, acharam por bem construir

canteiros e ciclovias e, assim, a Princesa do Vale,

como é carinhosamente conhecida, perdeu um

pouco do seu encanto e peculiaridade. Mas não

é só esse desenho geográfico diferenciado que

descaracteriza o município de ser tipicamente

mineiro. A cidade não ostenta uma catedral no

centro e muito menos conta com casarões e

árvores centenárias em suas ruas. Mas, isso não

quer dizer que faltam sombras para se esconder

do sol, que não haja religiosidade entre o seu

povo e que seu passado recente não seja glorioso.

Em toda a cidade, são centenas de igrejas,

pequenas e grandes, para todos os tipos de fé.

Nas calçadas, pés e mais pés de oitis. No último

levantamento da administração municipal, 80

mil árvores dessa espécie foram contabilizadas.

As copas, sempre cheias de folhas verde-escuro,

amenizam um pouco o clima quente. No verão, os

termômetros chegam a registrar temperaturas de

40 graus. Os oitis, que já fazem parte da paisagem

e formam a identidade da Princesa do Vale, estão

praticamente em todos os bairros. Porém, é no Centro

da cidade que essas árvores escondem imóveis com

mais de meio século de história. Estruturas que ainda

preservam traços arquitetônicos de tempos passados.

Ao caminhar pelas ruas, Harley Cândido, bacharel em Direito, músico

e ex-membro do Conselho Deliberativo do Patrimônio Histórico Cultural

de Governador Valadares, um eterno apaixonado pelo passado da cidade

nos faz ver o que poucos veem. O passeio pelo Centro, no início da noite

de uma sexta-feira, poderia até desanimar pelo calor de quase 30 graus

em pleno inverno. Mas, mesmo assim, o historiador busca aguçar a nossa

curiosidade. Tenta abrir os olhos de quem não consegue ver além dos oitis.

POR DETRÁS DOS OITIS

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TEXTO: Marialda Barreto [[email protected]] + Albuquerque Júnior [[email protected]]

Prédio onde funcionou a primeira Prefeitura de Governador Valadares

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A casa da família Hilel

Quem olha por olhar, enxerga pouco. Apenas reconhece prédios modernos

misturados a casas e sobrados antigos. A maioria reformada e adaptada

para estabelecimentos comerciais. E são muitas lojas, afinal, o comércio é

um dos pontos fortes da cidade e atrai pessoas de toda a região.

Outro prédio historicamente importante fica

localizado à Rua Marechal Floriano com Avenida

Minas Gerais e pertencia à família Hilel. Por mais

de 60 anos a propriedade pertenceu ao libanês

Seleme Hilel. Ele veio para o Brasil por volta de

1910 e trabalhava como mascate, nome dado no

Brasil aos mercadores ambulantes e vendedores de

“porta em porta”. Chegou a Governador Valadares

em 1919 e aqui criou raízes. Foi dono de vários

imóveis e, em 1924, se tornou o maior exportador

de café do Vale do Rio Doce, além de um grande

atacadista de cereais. Também exerceu o cargo de

vice-prefeito de Valadares por 45 dias com a auto-

rização do, então, governador de Minas, Benedito

Valadares.

Terezinha Hilel, 75 anos, sobrinha do em-

presário, explica que o prédio diferenciava-se dos

imóveis pela altura, pois foi o primeiro de três anda-

res construído na cidade. “Contava ainda com uma

fonte no segundo andar, jardins suspensos, um salão

de peças de artes e móveis centenários”. Terezinha

lembra que quase todo fim de semana o tio recebia

políticos e personalidades da sociedade para festas.

Hoje, o prédio tem finalidade comercial

e quem chega à loja “Varejão das Fábricas” não

vê nenhuma lembrança do passado festivo do

casarão. No segundo andar, salas vazias desper-

tam a nostalgia para quem viveu ali uma época de

sonhos. Pouco a pouco a história vai se perdendo e

mudanças são feitas no prédio. O imóvel, vendido

há cinco anos para empresários de Belo Horizonte,

passa por reformas. “A família não quis investir e

preferiu desfazer do casarão”, lamenta Terezinha.

A histórica casa da família Hilel foi vendida há cinco anos e é hoje um ponto comercial

Algumas dessas casas e sobrados tiveram seus dias de ouro num

passado recente, por volta dos anos de 1940. Dois bons exemplos ficam

na esquina da rua e da avenida mais conhecidas e frequentadas da cidade:

Marechal Floriano e Minas Gerais. Nelas se encontram ainda de pé

dois prédios que hospedaram grandes nomes da nossa política como

Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves e Benedito Valadares.

Esse último recebeu homenagem especial em 30 de janeiro de 1938,

quando a cidade ganhou sua emancipação política. Antes desta data, Governador

Valadares era distrito do município de Peçanha e se chamava Figueira.

Tanta história esquecida e escondida caprichosamente pelos oitis.

Mas, quem deixar a rotina diária de lado e não prestar atenção aos

milhares de caminhões, carros e motos que passam pelo trecho poderá co-

nhecer um pouco desse passado não tão longínquo. Um dos imóveis ganhou

as cores da bandeira do Brasil. O motivo é incerto. Mas quem sabe os tons

em verde e amarelo representem inconscientemente um grito de alerta,

um protesto quando se observa que o desenho arquitetônico da década de

40 já se mistura com o contemporâneo. Nas varandas de onde discursaram

tão ilustres personalidades políticas, grades de ferro mostram que os tem-

pos são outros. A insegurança é mais presente do que nunca e não dá mais

para ficar de janelas e portas abertas em nome da preservação histórica.

No sobrado funcionava o Hotel Rio Doce, muito frequentado na épo-

ca, por ser o único da cidade. Atualmente, a parte superior foi adaptada para

escritórios e no térreo para ponto de lojas de diversos segmentos. Uma

loja de bijuterias e uma agência de turismo estão entre as atividades

exercidas no local.

Memória política

“Em toda a cidade, são centenas de igrejas, pequenas e grandes, para todos os tipos de fé. Nas calçadas, pés e mais pés de oitis.”

“Os oitis, que já fazem parte da paisagem e formam a identidade

da Princesa do Vale, estão praticamente em todos os bairros.”

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Cinema das antigas

A Prefeitura de Governador Valadares aposta num projeto que vai

mudar a paisagem da cidade. Os oitis estão com os dias contados e deverão

ser substituídos por outras 18 espécies de árvores, entre elas o ipê-roxo,

ipê-amarelo, palmeira imperial, sombreiro, flamboyant e até árvores frutí-

feras como o figo e a castanhola. Segundo o Secretário Municipal do Meio

Ambiente, Agricultura e Abastecimento, Celton Godinho de Assis, “esse novo

desenho urbano vai ser feito aos poucos, de tal forma que os moradores

nem perceberão”. Os bairros Lagoa Santa, Santo Agostinho e Belvedere já

receberam o projeto e não registram pés de oitis plantados.

Harley Cândido avalia que a troca das árvores pode ajudar a trazer

um pouco desse passado, mas, mesmo assim, é preciso um projeto específico

de educação patrimonial junto às escolas. “As pessoas não conhecem esses

imóveis, não só porque não olham por detrás dos oitis, mas também porque

não contaram a história desses prédios para elas. E esse trabalho deve ser

feito pelas escolas com a ajuda do poder público”.

O historiador denuncia que, ao longo dos anos, o passado da cidade

não vem sendo respeitado e que muitos imóveis já foram derrubados para a

construção de lojas comerciais. Contudo, alerta que ainda há tempo de sal-

var o que resta. Só na Avenida Minas Gerais ele aponta várias construções

que precisam ser preservadas. Uma delas é o prédio onde já funcionou a

Prefeitura, a Câmara de Vereadores e o Fórum da cidade. Os cômodos, antes

usado pelo poder público, viraram salas de aula do colégio Cip Con. O imóvel

mantém alguns traços arquitetônicos da época no estilo “art déco”.

COM OSDIAS CONTADOS

“Algumas dessas casas e sobrados tiveram seus dias

de ouro num passado recente, por volta dos anos 40.”

Prédio onde funcionava o Hotel Rio Doce, único da cidade na década de 1940

Imóveis que resistem ao tempo e preservam um pouco da história da cidade

Outro imóvel histórico destacado é a antiga

residência da família Habib, usada hoje como de-

pósito de lojas. O dono, Nacle Miguel Habib, foi um

rico comerciante de origem sírio-libanesa. O prédio

da década de 40 ainda conta com uma varanda sus-

tentada por colunas do estilo neoclássico. O imóvel

fica ao lado do colégio e da casa da família Hilel.

Três histórias que se abraçam e resistem ao tempo.

Na mesma avenida, outro ponto interessan-

te é onde se localiza hoje a loja “Americanas”.

Por 40 anos funcionou no antigo sobrado deste

ponto o “Cine Teatro Ideal” e, depois, o “Cine Sir”.

Harley Cândido ressalta que, no segundo andar, tem

uma sacada de onde discursou, em 1950, o então

presidente da república, Getúlio Vargas.

Outros segredos da história de Governador

Valadares estão escondidos por detrás dos oitis.

Para conhecer essas preciosidades é preciso in-

vestir tempo. Só assim, um cenário diferente pode

despontar diante dos olhos e revelar surpresas e

até certa beleza, dependendo da sensibilidade de

quem observa. O belo pode estar nos pequenos

detalhes. Detalhes de um passado que precisa ser

recuperado na memória dos filhos da cidade. y

OItIS

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Pico da IbiturunaPotencial turístico a ser explorado

Em seus 1.123 metros de altitude acima

do nível do mar e 990 metros do nível do Rio

Doce, encontramos belezas exuberantes, como

montanhas, lagoas e trilhas, onde várias espécies

de pássaros, mamíferos e da flora podem ser apre-

ciadas. Além disso, a Ibituruna se destaca pelo vôo

livre por possuir as melhores térmicas do mundo,

segundo os praticantes desse esporte. A Pedra

é também local para outros esportes de aventu-

ra, como escalada, rapel, caminhada ecológica,

downhill - forma de ciclismo que consiste em descer

Se lhe pedissem para listar os cinco maiores símbolos de Governador

Valadares, muito provavelmente ele ganharia o primeiro lugar ou, no

máximo, o segundo. Estamos falando do Pico da Ibituruna, um dos mais

importantes pontos turístico-paisagístico da cidade, considerado Área de

Proteção Ambiental (APA) desde 1992. Possui ainda dois tombamentos:

um como patrimônio paisagístico pela Constituição Estadual, de 1989, e o

chamado “Complexo Monumentos do Ibituruna”, que compreende, além do

Pico, a Santa e a Capela/Pedestal, tombado em 2003 pelo município.

o mais rapidamente possível um dado percurso -

e o cross country, uma modalidade de mountain

bike. Pousadas, a charmosa Casa do Papai Noel e

a estátua de um ET e um disco voador completam

o cardápio de atrativos do local. Por lá, se encon-

tram pessoas em busca de descanso e tranquilidade

e também aquelas que querem aventura e dinamis-

mo. O Pico da Ibituruna oferece de tudo um pou-

co. É um lugar singular para se passar um fim de

semana, ouvindo o som de pássaros, num clima de

montanha, com programação para o dia todo.

Mas com todos esses atributos positivos

do Pico da Ibituruna uma questão persiste: o que

falta para esse importante símbolo de Governa-

dor Valadares tenha todas as suas potencialidades

turísticas, econômicas, paisagísticas e culturais

exploradas ao máximo e de forma sustentável?

Para responder a essa indagação, conversamos

com três empresários que se aventuraram a inves-

tir no local e que vivem diariamente os prazeres e

desprazeres de serem empreendedores no Pico.

Apesar das dificuldades e do pouco incentivo, empresários

continuam investindo no local. Cobram mais apoio do poder público, como infraestrutura

básica, serviço de telefonia, internet e benefícios fiscais

Pico da Ibituruna, um dos símbolos identitários de Governador Valadares

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TEXTO: Saniele Barbosa [[email protected]]

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Para a turismóloga e proprietária da Pousada

Vale Silvestre, Viviane do Vale Silvestre, 39 anos,

o turismo na Ibituruna já é uma realidade, mas

ainda pode ser melhor. Ela afirma ter um grande

fluxo de turistas no local, ou seja, a Pedra já é um

atrativo fomentado. No entanto, faltam melhorias,

principalmente no que diz respeito à infra-estru-

tura básica do local. “Não podemos negar que a

estrutura hoje no Pico é boa, mas precisamos da

construção de estradas, de banheiros públicos,

placas de informações e sinalizações turísticas

e funcionamento do Centro de Apoio ao Turismo

(CAT) que já foi construído e ainda não está em

funcionamento”, avalia. Viviane lista ainda outro

fator importante, como uma política pública de

incentivo fiscal para os empreendedores.

Na opinião da turismóloga, para que o turismo

realmente aconteça na Ibituruna e em outros locais

da cidade seria importante que os valadarenses e

todos os setores da sociedade assumissem de vez

que Valadares possui atrativos para ser, de fato,

uma cidade turística. “Temos que assumir isso e nos

dar conta de que esta é a realidade. Somos um povo

hospitaleiro e poderíamos usar isso mais a nosso

favor, através do turismo receptivo”, afirma.

Outro empresário que também atua no setor de turismo da cidade e

que acompanhou de perto a história da ocupação turística da Ibituruna e o

seu desenvolvimento é Francisco Luiz Teixeira, 81 anos. Ele concorda que

ainda há muito que ser melhorado para que a área se desenvolva plenamente

e, assim como Viviane, aponta a necessidade de melhorias na infra-estru-

tura básica e estímulo aos empresários que lá estão e também a novos. “Os

empreendedores que desejam construir lá têm muitas dificuldades. É um

processo muito burocrático, mesmo que o projeto seja comprovadamente

positivo para a Ibituruna. Poderia ser criada uma lei de incentivo fiscal, já

que uma construção na Ibituruna ou mesmo a manutenção de pousadas,

restaurantes e atendimento logístico lá tem custo mais elevado do que o

das construções na área urbana da cidade”, analisa.

Mais um empresário que corrobora com as opiniões de Viviane e

Francisco é Antônio Rodrigues Coelho Júnior, 64 anos, proprietário do es-

paço de lazer e restaurante Casa do Papai Noel. “Comparado há alguns

anos, muita coisa foi feita, mas ainda podemos avançar mais. As estradas,

por exemplo, hoje tem uma estrutura boa, mas acredito que a construção

de banheiros, instalação de telefone e internet são os pontos fundamentais

que devem ser melhorados no Pico para que a área possa se desenvolver e o

empresariado consiga avançar nos seus negócios”, opina.

O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico de Governa-

dor Valadares e presidente do Conselho Municipal de Turismo (COMTUR),

Valter Luiz Machado da Silva, informa que as questões levantadas acima

pelos empresários só podem ser resolvidas após a criação de um Plano

de Manejo da Ibituruna, no qual se faz um estudo da área sobre vários

aspectos, como impactos ambientais, regularização de construções e refor-

mas, entre outros. Quanto ao funcionamento do Centro de Apoio ao Turismo

(CAT), que já está construído e só falta ser “ativado”, o secretário explica

que, após o fim do período eleitoral, a Secretaria Municipal de Desenvol-

vimento Econômico e os demais órgãos relacionados ao turismo na cidade

tomarão as providências cabíveis, como, por exemplo, contratar funcionário

e estruturar e equipar o espaço físico do Centro.

Promessas

Falta de dinheiro ameaça campeonatos de voo livre em 2011

Eles acontecem anualmente, principalmente nos meses de fevereiro

e março, e atraem diversos turistas para a cidade. Contudo, os campeonatos

nacional e mundial de vôo livre de 2011 correm o risco de não acontecerem,

principalmente o Paragliding Open de Voo Livre. De acordo com o atual pre-

sidente da Associação Valadarense de Voo Livre (AVVL) e também coorde-

nador de eventos da entidade, Paulo Cezar Silva, 42 anos, os campeonatos

Viviane do Vale Silvestre

Francisco Luiz Teixeira

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Queimadas: fauna e flora pedem socorro

podem não acontecer por causa de dívidas da entidade, que gira em torno de

R$ 70 mil. “No último campeonato que realizamos, uma verba que deveria ser

repassada para nós por um político não se concretizou. Só recebemos 25% do

valor prometido. Isso é uma pena, já que a realização do campeonato é essen-

cial para o turismo e destaque de Valadares no Brasil e no exterior”, afirma.

Na opinião do presidente, para realizar o campeonato sem preocu-

pações financeiras, deveria haver uma parceria das instituições privadas

com o poder público. “Na parte de logística, a Prefeitura já nos ajuda;

estamos na expectativa de que haja também uma ajuda financeira para

2011. Mesmo insistindo com algumas empresas da cidade, elas não apóiam.

Os campeonatos deveriam ser mais valorizados e ‘abraçados’ pelo empresa-

riado local. Espero que com as próximas reuniões e tentativas essa situação

dos campeonatos seja resolvida”, almeja. De acordo com o presidente da

AVVL, o custo total do campeonato é de aproximadamente R$ 135 mil.

Não somente a falta de infra-estrutura

básica ou o pouco incentivo fiscal aos empreende-

dores locais dificultam o desenvolvimento do turis-

mo no Pico da Ibituruna. Fatores como degradação

do meio ambiente, principalmente as queimadas,

podem pôr em risco as belezas naturais do local e,

consequentemente, o Pico enquanto ponto turístico.

De acordo com um levantamento feito pelo Corpo

de Bombeiros, no ano passado foram registradas

26 ocorrências de incêndio florestal (mata/pasto)

nos meses de julho, agosto e setembro. Neste ano,

foram registradas 38 ocorrências apenas em agos-

to, e até o mês de setembro mais cinco. De acordo

com a entidade, no mês de outubro, ainda não havia

sido registrada nenhuma ocorrência de incêndios no

local, graças ao período chuvoso, que vai até o mês

de fevereiro. As principais causas do fogo desordena-

do, segundo o Corpo de Bombeiros, são as queimadas

nos pastos, feitas por donos de propriedades rurais e

que avançam fortemente por grande parte da mata.

Em setembro deste ano, o Pico da Ibituruna

teve uma das maiores queimadas da sua história,

consumindo uma área equivalente a 60 campos

de futebol. As chamas se alastraram rapidamente

por causa do vento forte e do mato bastante seco.

As causas deste incêndio ainda são desconhecidas.

“É lamentável o que ocorre na Ibituruna.

Acredito que toda a fauna e flora sejam prejudicadas.

Um bem natural como este, de tanta importância para o

turismo e para a cidade, deveria ser mais preser-

vado”, opina o tenente do Corpo de Bombeiros

Hoberdan Inácio da Silva.

Outro membro do Corpo de Bombeiros,

sargento Célio Pereira Ramos, também acredita que

as queimadas trazem vários prejuízos à biodiversidade

do local. Para ele, leis e posições mais enérgicas por

parte de órgãos ambientais pode ser um dos caminhos

para diminuir esse problema. “Há incêndios que são

de causas naturais, como os raios, resultado de des-

cargas elétricas. Há outros ocasionados pelo homem,

de forma acidental ou criminosa. Os que acontecem

por aqui causam danos somente ao meio ambien-

te, por isso, punir quem pratica essa ação de forma

criminosa pode ser uma das saídas para se amenizar

um pouco as agressões ao meio ambiente”, conclui.

O orquidófilo autodidata e diretor cultural da

Sociedade Orquidófila Valadarense (Soval), Reginal-

do de Vasconcelos Leitão, 27 anos, também afirma

estar preocupado com a atual situação ambiental

da Ibituruna, principalmente devido às queimadas.

Segundo ele, espécies raras da fauna e também da

flora, como as bromélias e orquídeas, correm o risco

de desaparecer. Ele afirma que, há algum tempo, eram

cerca de 100 espécies de orquídeas e 50 de bromélias

catalogadas. Atualmente, esses números caíram para

uma média de 30 e 25, respectivamente.

“As orquídeas são as espécies que mais sofrem

com isso, pois têm maior dificuldade de se reproduzi-

rem do que as bromélias. Eu tenho uma ‘dívida’ com a

Ibituruna e amo muito a sua biodiversidade, por isso

faço esse alerta sobre a extinção dessas espécies.

Acredito que temos que fazer algo rapidamente para

não perdermos aquelas preciosidades”.

De acordo com Leitão, na queimada ocorrida

no local em setembro deste ano, as orquídeas foram

as mais prejudicadas, principalmente, porque gran-

de parte dos exemplares estava situada na parte

onde ocorreu o incêndio de forma mais duradoura e

intensa e também porque as plantas estavam em

fase de florescimento. y

Extinção de espécies

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O amor é alimentado através da convivência

que geram laços de confiança. Mas, e quando a pes-

soa com quem vivemos precisa se mudar para outro

país para garantir uma vida economicamente está-

vel para a família? Como as esposas de migrantes

se sentem em relação à vida sexual após a partida

do marido? Para responder a essa questão, o Grupo

de Pesquisa Saúde, Indivíduo e Sociedade (SAIS),

da Universidade Vale do Rio Doce (Univale), de-

senvolveu a pesquisa Impactos da emigração sobre

a sexualidade da esposa do emigrante, financiada

pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de

Minas Gerais (FAPEMIG). A proposta era conhecer a realidade vivida por

mulheres que possuem os maridos no exterior, focando o modo como vivem

sua sexualidade, identificando as mudanças psíquicas e sociais geradas pelo

isolamento sexual. Ao todo, foram entrevistadas 247 mulheres e quatro

anos de investigação científica.

Joana Miranda Silva* tem 37 anos, dois filhos e há cinco anos

seu marido migrou para os Estados Unidos pela segunda vez. Na primei-

ra vez, ficou por dois anos e teve de retornar quando a família começou

a passar por dificuldades financeiras. De lá, ele manda dinheiro para

as despesas mensais da família. A meta do casal é comprar uma casa e

montar um comércio para que no futuro a separação não seja novamente

necessária. “Sinto falta do meu marido; é uma situação muitíssimo difícil.

Parece comum, mas é um assunto delicado que não gosto de ficar falando.

Para matar a saudade eu comecei a fazer aulas de dança, para inibir meu

desejo, tomei muitos remédios. É complicado você estar com alguém que, ao

mesmo tempo, está longe de você”, desabafa.

Gir

ô •

SO

CIE

DA

DE

elas ficamPesquisa revela que religião, remédios e traição são algumas das saídas encontradas pelas esposas dos

imigrantes para driblar o desejo sexual, a solidão e a saudade do companheiro que parte para o exterior

em busca de uma vida melhor para a família

TEXTO: Bárbara Freitas [[email protected]]

“Para matar a saudade eu comecei a fazer aulas de dança,

para inibir meu desejo, tomei muitos remédios.

É complicado você estar com alguém que, ao mesmo tempo, está longe de você.”

Quando

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11

O meio de comunicação mais usado pelo casal é o MSN, programa

de mensagens instantâneas. Todos os dias, às 20 horas, eles discutem pela

Internet os problemas normais que toda família tem, mas também falam

de amor e da saudade. “Acabo me sentindo muito sozinha, não conversando

com as pessoas para evitar fofocas. Afinal, sou uma mulher casada e não

quero que pensem que o fato do meu marido estar fora influencia em algo”,

argumenta Joana.

“Ele foi para poder nos proporcionar uma vida melhor para nós e,

por isso, espero por ele.”

Já a dona de casa Tânia Vasconcelos

Gusmão* se apegou mais à família e à religião para

superar a falta do esposo. Ela não trabalha fora e,

para se distrair, passa boa parte do dia na Igreja.

“Um grande presente foi minha neta. Ela tem um

ano e é uma benção na vida da minha família, ajuda

a diminuir a ausência do meu marido. Superar e

não sentir falta é impossível. Ele foi para poder nos

proporcionar uma vida melhor para nós e, por isso,

espero por ele. Este ano João volta e vamos viver

todos juntos de novo”, garante.

Estudo desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Saúde, Indivíduo e Sociedade (SAIS), da Univale, sob a coordenação do Prof. Dr. Carlos Alberto Dias. A pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).

Ao todo, 247 mulheres foram entrevistadas

49,4%

15%

44,7%

4%

12,6%

29,6%

2%

Simplesmente ignoram o fato (desejo sexual)

Ás vezes tem desejo sexual

Sexo por telefone

Tomam remédios para inibir o apetite sexual

O auto-erotismo

A religião é válvula de escape

Mulheres que traem

Resultado da pesquisa “Impactos da emigração sobre a sexualidade da esposa do emigrante”

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Para tentar exemplificar o universo de solidão e isolamento social pelo

qual passam as esposas dos migrantes dos, o professor faz uma comparação

da situação com um parque de diversão desativado. “Imagine-se em um

parque de diversão onde todos os brinquedos estão desligados por faltar

energia, não tem ninguém que lhe faça companhia, que faz muito frio, você

está com muita fome e não sabe como sair da situação”.

Maria de Jesus Cordeiro*, 45 anos, faz parte dos 2% da pesquisa

das mulheres que traem o marido. Sentia falta não só das relações sexuais,

mas de uma pessoa que estivesse com ela para dividir alegrias e tristezas.

“Acabei traindo meu marido por vários motivos. Sentia falta de alguém

que me desse um carinho diferente, de homem mesmo. Meu casamento

hoje dura porque há interesse econômico e não quero que a família dele

interfira na minha decisão. É complicado ele lá nos Estados Unidos e eu

aqui no Brasil criando nossos filhos sozinha”, lamenta. Maria explica que

gosta do esposo, mas um relacionamento à distancia é arriscado. Mesmo

que haja amor, muitas vezes, o desejo fala mais alto. “No início me sentia

muito mal em traí-lo, chorava, sabia que estava fazendo algo errado, mas

hoje já não enxergo as coisas desta maneira. O que mais me incentivou foi

descobrir que ele me traía lá”, relata.

O coordenador da pesquisa conclui que, embora o casal deva, a partir

do casamento, buscar meios para estar sempre junto, em função de oferecer

a si mesmos e aos filhos melhores condições de vida, inúmeras mulheres se

vêem obrigadas a viverem distantes do marido. Existem, é claro, vários ca-

sais que consideram importante que a mulher permaneça no país para que

ela administre e invista o dinheiro enviado do exterior pelo marido. y

“O fato de o marido estar no exterior

tende a melhorar a vida econômica da família e, por

isso, durante o período em que o marido continua

ausente, esposa e filhos deixam de viver qualquer

tipo de restrições financeiras. Por outro lado, se a

família adquire uma situação financeira confortá-

vel o mesmo não ocorre com o que se refere aos

aspectos afetivos”, explica o professor e psicólogo

da Univale. Ele ressalta que a religião para as mu-

lheres, muitas vezes, é uma forma que encontram

para vivenciar alguma atividade social que seja

aceita pela própria família, quanto pela do parcei-

ro. Com essa vivência social conseguem um pouco

de apoio e compreensão para o que estão vivendo;

configura-se como uma fonte de inspiração ou fonte

de energia para continuarem sobrevivendo.

O pesquisador evidencia que, desde a infân-

cia somos incentivados a seguir os passos de Cris-

to, baseados na frase “Cada um deve carregar sua

cruz”, o que explica muitos comportamentos das

mulheres entrevistadas. “Quando o marido mora

no exterior a esposa passa a ter sentimentos de

menos valia. É como se o ser dela deixasse de exis-

tir pela distância e, muitas vezes, pelo descuido do

parceiro em relação à situação em que ela fica aqui

no Brasil. As pessoas se casam ou passam a viver

juntas acreditando que isto garantirá a presença

do outro, bem como inúmeras oportunidades de vi-

venciar momentos agradáveis e intensos juntos”.

“No início me sentia muito mal em traí-lo, chorava, sabia que estava fazendo algo errado, mas hoje já não enxergo as

coisas desta maneira. O que mais me incentivou foi

descobrir que ele me traía lá.”

“Imagine-se em um parque de diversão onde todos os brinquedos

estão desligados por faltar energia, não tem ninguém que lhe faça companhia, que faz muito frio,

você está com muita fome e não sabe como sair da situação.’

* Para resguardar o anonimato das mulheres envolvidas na pesquisa utilizamos nomes fictícios.

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13

Gir

ô • C

Nic

a

Formar... transformar

De quatro em quatro anos, de cinco em cinco,

de três em três... Depende do curso. A cada vesti-

bular, os aprovados formam uma nova turma. No fim

do curso, essa mesma turma se forma outra vez.

E assim, o verbo formar tem emprego garantido, tanto

na entrada como na saída do estudante da faculdade.

E não é que a vida é uma sequência de

formaturas? O bebê recém-nascido começou a se

formar nove meses antes, quando um espermatozóide

valente venceu a corrida e se encontrou com um óvulo

e os dois formaram um ovo, que virou embrião e... você

sabe. Aliás, essa brincadeira começou mesmo mais

cedo, quando homem e mulher formaram um casal,

que se acertou na cama e deu no que deu!

Depois do nascimento, começa um processo

que vai acabar também em formatura! Pai e mãe

de primeira viagem aprendem, em pleno voo, a

pilotar esse avião, chamado família. Meu Deus!

É menino querendo mamar, a chorar, a espernear,

aprendendo a falar, caindo para aprender a andar.

E aí, pronto! Quatro anos se passaram, cinco, seis,

sete... E o diploma? Não vão entregar para os pais?

Nada disso! Está pensando que formar um filho é

TEXTO: Carlos Albuquerque [[email protected]]

simples como formar um jornalista, um médico ou um advogado? Não dá

para fazer artigo científico ou monografia sobre a profissão de pai ou mãe

sem que se passe pela fase da adolescência. Haja bibliografia, haja re-

gras para ser descartadas, substituídas, reinventadas. Normas da ABNT?

De nada valem. Dicas da revista Nova, da Pais e Filhos, do programa de TV

da Super Nanny? Já não é mais bibliografia, é multimidiografia. E, mesmo

assim, sempre vem a conclusão de que é cedo para entregar o diploma aos

pobres pai e mãe. E mais cedo ainda para entregar o canudo para os filhos.

Ao passar da infância para a adolescência e, daí, para a fase

adulta, o homo sapiens participa de algumas formaturas na escola.

As fotos não deixam mentir: formatura na educação infantil, no ensino

fundamental, no ensino médio, na faculdade.

Assim caminha o formando! Nessa espécie de existencialismo

gerundista. Está sempre indo, ensinando e aprendendo, conquistando,

decepcionando-se, surpreendendo-se. E acaba por se formar várias

vezes, sem solenidades. Ou você se lembra com precisão do dia e da hora

da formatura dessa pessoa aí, que as outras pessoas chamam de você?

Em algum instante, o verbo formar ganhou o prefixo trans e a gente virou

isso que a gente é. Ainda hoje, às 8h32min, ou amanhã, às 11h25min, ou

quem sabe, exatamente agora, você pode estar colando grau. O mestre

de cerimônias chama-se Tempo. Preste bastante atenção: quando ele

chamar o seu nome, suba ao palco e saboreie os aplausos. y

“O mestre de cerimônias chama-se Tempo. Preste bastante atenção: quando ele chamar o

seu nome, suba ao palco e saboreie os aplausos.”

“Em algum instante, o verbo formar ganhou o

prefixo trans e a gente virou isso que a gente é.””

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Pérolasda Comunidade

Conversa entre dois pedreiros enquanto

terminavam, lentamente, o acabamento da

calçada de uma farmácia na Ilha dos Araújos

localizada em frente a uma padaria.

POSSO COMER UMA ROSQUINHA

Dúvida de uma testemunha de

um júri popular em Governador

Valadares após o Juiz apresentar os

detalhes do funcionamento da sessão.

“”?

Nossa, mas você está tão mais jovem nessa foto! Você fez um ‘workshop’

Eleitor para um candidato a deputado

estadual das eleições 2010 no momento

em que este entregava santinhos.

“”?

- Nossa! Cheirou um trem bão, hein Um trem gostoso doce,

com banana, parece.- Um pão, né?!

- Não! Pão, né não- Podia ser novidade pra degustação.

Ali tem direto.

?

!

Gir

ô •

CO

TID

IAN

O

Ôh, mãe, de que parte do boi vem a carne moída

Filha no supermercado após

pedido da mãe ao atendente.

“”?

ILUSTRAÇÕES: Abraão Barbosa

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“ - Comadre, faz tempo que o seu marido está nos Estados Unidos, né?- Sim, faz cinco anos. Ele foi para lá tentar dar uma vida melhor pra família.- E ele já conseguiu melhorar a vida da família, comadre?- Já sim. Conseguiu melhorar a vida da outra família que ele arrumou lá.Conversa entre duas amigas, em alto e bom som, durante o trajeto do ônibus.

Moça ao celular em conversa com uma amiga enquanto aguardava a fila quilométrica do banco.

- Ele terminou comigo. Disse: - ‘Você é muito boa, prendada, é menina pra casar, mas não dá pra continuar.

Esse meu trabalho de ficar viajando, ficando longe com frequência, não vai dar certo. É melhor parar por aqui. Agradeço a pessoa prestativa e boa que você é, mas não dá.’

- Mas tudo bem, amiga! Bola pra frente que atrás vem gente. Vou começar a ‘distribuir currículo’. Tô tranqüila! Tá doendo, mas vai passar.

Mas não me chame pra sair porque não quero ver ele. Vou deixar passar pra depois começar de novo.

OLHA, MÃE, PARTIDO VERDE, MARINAMenino aparentando oito

anos na garupa da bicicleta de sua mãe ao ver

um adesivo no para-choque de um carro na rua

com os dizeres “43 Partido Verde”.

“”!

Da mesma forma que o Juiz não é punido quando marca e não comparece para a audiência, nós também não devíamos ser. Se aqui é o local da justiça, tem que ser justo, uai

Homem para seu colega enquanto esperavam

ser chamados para audiência no Juizado Especial Cível

de Governador Valadares.

”?

Eu acho que o Mourão vai ganhar

Afirmação categórica de um menino

aparentando seis anos em conversa

com a mãe que caminhava no calçadão

da Ilha dos Araújos enquanto ele a

acompanhava de bicicleta.

“”!

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16

Gir

ô •

EC

ON

OM

IA

Número reduzido de imóveis comerciais para aluguel na área central da cidade faz preços subirem. Localização estratégica, tamanho e potencial de rentabilidade são os principais

elementos que definem o preço

TEXTO: Ana Eliza Oliveira [[email protected]] + Vivian Cangussú [[email protected]]

AluguelALTURAS

Considerada cidade pólo do Leste de Minas Gerais, Governador

Valadares sempre foi famosa por possuir um centro comercial de envergadura

considerável. Mas, nos últimos anos, devido a várias empresas fecharem

suas filiais na cidade, imóveis comerciais de grande porte acabaram

desocupados. Por serem grandes e poucos no mercado imobiliário, o

resultado já era previsto pelos economistas: os preços dispararam.

Estima-se que a cidade tenha cerca de 1.500 imóveis comerciais

disponíveis para locação. O valor cobrado pelo aluguel, segundo o Conselho

Regional de Corretores de Imóveis de Minas Gerais (Creci/MG), depende

de fatores primordiais como a localidade do ponto, o tamanho e a rentabi-

lidade que o imóvel pode gerar ao locatário.

Em Valadares, as áreas mais valorizadas comercialmente no Cen-

tro se localizam na Avenida Minas Gerais e nas Ruas Israel Pinheiro e

São Paulo. Nesses locais podem ser encontrados imóveis com preços que

variam de R$ 2 mil a R$ 20 mil. Este, trata-se de um ponto comercial de

890 m², composto de loja e sobreloja, na Rua Israel Pinheiro. Na Rua São

Paulo, outro imóvel é ofertado ao preço de R$ 15 mil.

Alguns pontos residenciais também apresen-

tam valores de aluguéis elevados. Na Avenida Brasil,

por exemplo, uma casa com piscina é ofertada por

R$ 2.800. No bairro Esplanada, há aluguéis residenciais

no valor de R$ 6 mil. Porém, devido ao preço cobra-

do pelos proprietários, em muitos casos, o ponto

comercial fica fechado por meses ou até mesmo,

por anos.

“O preço de compra dos imóveis comer-

ciais na região central de Valadares é muito caro.

Por isso, os donos, geralmente empresários

que investem no ramo, alugam o ponto por um

preço mais elevado,” explica o delegado do

Conselho Regional dos Corretores de Imóveis,

Edison de Paula Brandão.

De acordo com informações da Segurança

Imóveis, na imobiliária existem cadastrados ape-

nas meia dúzia de aluguéis com preços elevados. “O

maior imóvel que possuímos é de 890 m² e o pro-

prietário não aluga por menos de R$ 20 mil. Apesar

de ter aparecido algumas propostas, falta negociação

entre as partes”, afirma o proprietário da imobiliá-

ria, Paulo Tadeu Cabral.

Mas será que os valores cobrados pelos

aluguéis condizem com a realidade dos comercian-

tes? A gerente de uma loja de artigos fotográfi-

cos localizada na Avenida Minas Gerais, Selenita

Fernandes, afirma que “apesar da loja ter uma

boa localização, o preço do aluguel é muito alto”.

O economista Flávio Augusto Guilherme Júnior

compartilha da afirmação de Selenita. “Os valores

destes imóveis comerciais no Centro são muito altos

devido às suas características e das empresas que os

alugam. Mas, levando em conta a pouca oferta do

mercado, eles podem alcançar valores ainda mais

elevados”, analisa.

nas

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Milton Mariano é advogado e tem 20 imó-

veis comerciais de aluguel, entre salas e lojas,

todos na área central de Governador Valadares. Na

Rua Peçanha são dois em pontos estratégicos: em

um deles está localizada a “Boroto Calçados” e no

outro a “Itapuã Calçados”. Já no Edifício Fabíola

Coelho, na Rua Bárbara Heliodora, são 18 salas

comercias. O aluguel das salas varia de R$ 220 a

R$ 250, sendo mais barato os de frente para o sol.

O valor aproximado de cada sala comercial é de

R$ 40 mil.

Além do advogado, outros moradores da

cidade concentram um grande número de imóveis.

João Marcos* sempre morou em Governador Vala-

dares. Percebendo a oportunidade de negócios na

área de locação de imóveis, desde cedo, começou

a investir no setor. Hoje, possui cerca de 30 imó-

veis, entre apartamentos e casas. Desses, apenas

dois estão desocupados. A maioria dos imóveis está

localizada nos Bairros de Lourdes e Grã Duquesa.

Os valores dos aluguéis variam de R$ 350 a R$

550, gerando para João Marcos uma renda mensal

de aproximadamente R$ 15 mil.

Para o proprietário da Perim Imóveis,

Fausto Perim Monte Alto, apesar de alguns alu-

guéis terem um preço elevado, o valor de retorno

dessas locações não tem sido satisfatórios. Isso

tem ocorrido porque Valadares apresenta uma

grande oferta de imóveis. “Isso pode ser ruim

para a economia da cidade porque os preços só

têm caído. A longo prazo, as pessoas podem parar

de investir no setor”, analisa. y

*A pedido da fonte que não quis se identificar, utilizamos nome fictício.

Muito nas mãos de poucos

No Centro, é possível encontrar vários pontos comerciais à espera de locatários; alguns ficam fechados por meses, ou até anos

Esquina da Avenida Minas Gerais com a Rua Marechal Floriano, uma das áreas centrais da cidade mais valorizadas comercialmente

FO

TO

S: S

amuel R

ibeiro

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São cinco artigos apresentados anualmente,

quatros livros sobre movimentos imigratórios já

publicados, inclusive um deles nos Estados Unidos

pela Universidade de Harvard. Nesta entrevista,

a revista Girô dará de corpo inteiro aos leitores

a pesquisadora e coordenadora do Núcleo de Es-

tudos sobre Desenvolvimento Regional (NEDER),

Sueli Siqueira, professora da Univale desde 1979.

Em um bate-papo que durou pouco mais de uma

hora, a pesquisadora conta histórias de vários

brasileiros que encontrou nos EUA, afirma que

a imigração dentro do contexto capitalista está

atrelada ao consumismo exagerado e pontua que a

economia de Valadares nunca dependeu da moeda

norte americana.

Há quanto tempo você estuda o tema da imigração e por que?

Gir

ô •

en

tr

ev

ist

a

SenhoraMIGRAÇÃO

“Cheguei a resistir a pesquisar esse tema.”

Meu primeiro trabalho sobre imigração

foi em 1998. Cheguei a resistir a pesquisar esse

tema, tanto que minha dissertação de mestrado foi

sobre as mudanças no setor informal a partir do

modelo de reestruturação econômica. Ao fazer esse

trabalho, que também foi em toda a microrregião,

percebi que grande parte dos novos empreendedores

que entrava no setor informal era de imigrantes

retornados. Isso me chamou à atenção e comecei

a investigar.

Tem alguma história em particular que chamou sua atenção nessas pesquisas?

Várias! (risos). Algumas eu até relato em um dos meus livros -

Sonhos, sucesso e frustrações na emigração de retorno: Brasil/Estados

Unidos - outras, nos artigos. Mas, tem uma história muito interessante.

Um rapaz me contou que trabalhava muito, em torno de 14 horas por dia,

em três empregos e a semana inteira porque ele queria juntar um valor “X”

e voltar para o Brasil. Ele juntava o dinheiro, mas não confiava em deixar

com ninguém e mandava para a família apenas o necessário para a subsis-

tência. Por não ser documentado, ele achava melhor não abrir uma conta

no banco e o dinheiro era escondido em um forno velho que ficava no quarto

da casa onde morava. Um dia, chegou uma prima dele do Brasil. Para retri-

buir o favor de recebê-la, deu uma faxina na casa e resolveu fazer um bolo

para ele. Aí, você sabe o que aconteceu, né? (risos). O fogo queimou parte

da casa, mas para ele, a maior tragédia era ter perdido um valor que havia

juntado há quatro anos. Ele acabou não voltando para o Brasil e teve que

ficar mais tempo lá pra tentar recuperar tudo novamente.

TEXTO: Carlos Albuquerque [[email protected]]

Darlisson Dutra [[email protected]]

Kaio Henrique [[email protected]]

FO

TO

S:

Leo

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19

É uma boa oportunidade, principalmente com jornalistas internacio-

nais, para esclarecer coisas que a mídia publica de uma forma não muito

clara e de maneira sensacionalista. Eu busco sempre fazer a correção da

ideia do imigrante como o “ilegal”. Na verdade, ele é um trabalhador que

vai em busca de condições de trabalho que são desigualmente distribuídas

no mundo, principalmente dentro desse processo de capitalismo avançado.

A visão é de que os imigrantes são miseráveis, de que eles saem do país de

origem por causa das condições precárias. Na verdade, eles vão em busca

do consumo, que é disseminado exatamente pelos países mais ricos, para

onde eles acabam indo, porque lá existe um mercado de trabalho secundá-

rio que possibilita ganhar dinheiro e, principalmente, porque se cria a ideia

de que é possível ganhar muito dinheiro, mas apenas alguns conseguem. No

imaginário popular, a conquista dos sonhos de forma rápida é através da

imigração, inicialmente para os EUA e, atualmente, para a Europa.

Você se tornou fonte nacional e internacional quando a questão é movimento migratório. Como avalia esse “assédio” midiático?

“O processo de imigração representado pela mídia não corresponde com a realidade.”

E qual a sua avaliação quanto à cobertura jornalística sobre a imigração?

Continuamente é colocada na mídia, e às vezes em trabalhos acadê-

micos, a ideia de que os americanos que vieram para cá na década de 1940

foram os que levaram os primeiros valadarenses para os EUA. Fiz uma

pesquisa exatamente com os 17 primeiros imigrantes que foram aos

Estados Unidos trabalhar e não há nenhum relato de imigrantes que foram

para lá na década de 1940 levados por norte-americanos. Inclusive, eu

entrevistei famílias de alguns americanos que estiveram aqui há 70 anos

e ficou constatado que isso nunca aconteceu. Os valadarenses descobriram

os Estados Unidos há mais ou menos 50 anos, mais precisamente no ano

de 1964. Os primeiros imigrantes eram de classe média, da elite valada-

rense. Eram filhos de fazendeiros e comerciantes. O outro erro é de que

o imigrante é pobre e vai em busca de sobrevivência. Eles querem muito

mais do que isso. Como disse, os imigrantes querem uma inserção no mundo

do consumo e nos países desenvolvidos e não querem consumir apenas o

básico da vida, mas tudo que é de ultima geração. Há também o equívoco de

que o país de origem do imigrante é um lugar extremamente pobre. Recebi

recentemente um jornalista alemão da revista Der Spiegel que ficou admi-

rado quando chegou aqui. Achou a cidade grande e pensava que Valadares

era pequena e sem emprego. O processo de imigração representado pela

mídia não corresponde com a realidade. Por último, a mídia internacional

se equivoca ao relacionar o imigrante ao terrorismo. Todos que fizeram

terrorismo não eram trabalhadores, pelo contrário, eram documentados.

Há tempos, percebe-se a diminuição no fluxo imigratório para os EUA.

Qual a razão dessa queda?

Não é a fiscalização na fronteira, nem

a fiscalização da imigração dentro dos Estados

Unidos, mas a queda do custo-benefício da imigra-

ção, como as baixas no valor do dólar e a redução

do valor da hora de trabalho. A crise econômica

reduziu a atividade no setor secundário, principal-

mente na construção civil e, por isso, a demanda

para a mão-de-obra é menor.

Há muita gente que retorna em situação até

pior do que estava quando foi?

Às vezes, ganha dinheiro, às vezes, não.

O custo de vida lá é muito alto, mas é preciso que

você domine algumas coisas, como dirigir. Não

há possibilidade de trabalhar nos EUA sem saber

dirigir. Outro aspecto é o desejo de ser um cida-

dão americano. O imigrante compra uma casa no

valor muito alto e, daí, começa o consumo para

manter aquela casa e deixa de ter o projeto de

retorno para o Brasil e faz menos poupança. Acaba

que ele se endivida muito. Eu conheci pessoas lá,

documentadas, com grandes lojas no centro de

Framingham, mas voltaram a ser faxineira depois

de 20 anos porque entrou nessa “ciranda” de

financiamento e acabou falindo.

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20

Como o migrante se sente quando retorna ao seu local de origem?

O desejo de todos os imigrantes é de voltar.

Só que esse retorno, para alguns, sempre é adia-

do porque ele não consegue se encaixar aqui [em

seu lugar de origem]. Como a pessoa volta para

trabalhar e recebe só no final do mês, sendo que

lá ela recebe semanalmente ou por dia? Durante

esse tempo ele começa a reconstruir no imaginário

a ideia do seu local de origem: a cidade é linda,

o aconchego do lar que é tudo de bom, a cerve-

ja no fim de semana com os amigos, as festas e

etc. Mas, ele esquece que havia atritos. Aí, quando

volta, aquilo que construiu lá em cinco ou dez anos

ele não encontra aqui. A pessoa vive 40 anos em

Valadares e cinco nos EUA e reclama, por exemplo,

do calor, das folhas na rua, já consideradas por ela

como sujeira. Então, começa esse estranhamento

do local de origem. Aí, o imigrante retornado sente

o desejo de voltar para o estrangeiro.

“Muita gente ganhou dinheiro com os dólares, mas a economia de Valadares

nunca foi sustentada pela moeda americana. “

Você acredita que há uma forma de impedir a entrada desses imigrantes ilegais?

E qual é o impacto da migração na estrutura familiar?

Muita gente diz que, sem os dólares americanos, Governador Valadares quebraria. Pelas pesquisas que fez, é possível comprovar isso?

Muros podem ser levantados, cercas elétri-

cas podem ser colocadas, podem exigir o visto, mas

sempre vão ser descobertas novas rotas. Isso não

vai impedir as pessoas de entrarem. O estímulo ao

consumo e as impossibilidades de atender a essa

demanda no local, leva o sujeito a fazer essa aventura.

Ao longo desses 50 anos, os imigrantes formaram redes

sociais em que parte das famílias está lá e outra

aqui, e criam à cultura da imigração: é uma ideia de

que através da imigração pode-se acessar bens de

consumo muito mais rápido e que os problemas eco-

nômicos podem ser resolvidos por esse movimento.

Tem um pesquisador que diz que o migrante pode voltar para o

mesmo local, mas ele não volta para o mesmo tempo de partida, porque

teve outras experiências. Por mais que ele acompanhe a família pela

internet e fale ao telefone todos os dias com os filhos, essa relação não é

a mesma do cotidiano, do “estar junto”. Então, quando ele chega aqui não

recebe o abraço esperado da filha porque é um estranho para ela. Alguns

conseguem contornar e se readaptar, mas outros não. Vivem sem poder

voltar e idealizando os EUA e negativando seu local de origem, o que traz

muita infelicidade e doenças psicossomáticas, como a Síndrome do Pânico,

que é bastante comum em função desse estranhamento.

Muita gente ganhou dinheiro com os dólares, mas a economia de

Valadares nunca foi sustentada pela moeda americana. É um dinheiro que

circulava na economia, mas não de forma produtiva. A construção civil na

cidade foi o único seguimento que teve investimentos consideráveis. Isso

deu uma movimentação na economia local, mas totalmente ilusória porque

nenhum ciclo econômico se mantém com remessas dessa natureza.

“O desejo de todos os imigrantes é de voltar. “

“Muros podem ser levantados, cercas elétricas podem ser colocadas, podem exigir o visto, mas sempre vão ser descobertas novas rotas. “

“Só que esse retorno, para alguns, sempre é adiado porque ele

não consegue se encaixar aqui .“

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É mito dizer que o Brasil recebe os imigrantes de braços abertos?

Em agosto deste ano duas pessoas de Sardoá e Santa Efigência de Minas foram mortas em um massacre

na fronteira do México com os EUA quando tentavam imigrar. Até que ponto a violência na fronteira influencia no processo imigratório?

Para terminar, você está com alguma pesquisa atualmente em desenvolvimento?

Os imigrantes mudaram a rota: dos Estados Unidos para a Europa. Por que?

Depende. Recebe de braços abertos quem?

Os alemães, italianos, americanos e todos de

países ricos sim. Mas olha o que acontece com os

colombianos e bolivianos em São Paulo. Eles são

explorados, ganham um real por dia nas fábricas de

costura e dormem em cima dos fardos de tecido.

Não influencia. As pessoas de Sardoá, por um tempo, vão deixar de

migrar. Mas, logo, o fluxo continua o mesmo, se for vantajoso. Dificilmente

a violência influencia. Eu tenho o relato de uma mulher que foi estuprada

por um “coiote” quando atravessou a fronteira pela primeira vez. Ela vol-

tou para o Brasil e, depois de oito anos, atravessou novamente a fronteira.

Ela sabia do risco? Sim, mas o desejo de estar nesse mundo do consumo é

maior do que o medo.

Várias. Tenho uma sobre o movimento imigratório dos descendentes

de italianos da cidade de Aimorés para a Europa. Outra sobre o empode-

ramento das mulheres que aqui permanecem quando os maridos migram.

Nessa condição, elas passam a ter visibilidade pública porque antes de eles

migrarem elas não resolviam assuntos de bancos nem administravam a casa.

Então, elas se tornam provedoras. A pesquisa mostra que se há um impacto

para quem vai também há para quem fica. Temos também um outro estudo

que discute como a mídia tem tratado a questão da imigração, fazendo uma

análise do discurso midiático. y

A América do Norte já não é mais viável.

Para a Europa há uma perspectiva diferente:

ir para não ficar mais de cinco anos, trabalhar,

juntar dinheiro e voltar correndo. O imigrante que

vai para Inglaterra ou para o Reino Unido, por

exemplo, não precisa de visto, pega uma permis-

são de estudante e vai com a intenção de estudar.

Lá, ele pode trabalhar quatro horas e estudar mais

quatro. Muitos acabam deixando o estudo e traba-

lham. Já para Portugal, migram porque a língua é

mais fácil e as relações são mais tranquilas, mas são

discriminados da mesma forma do que nos EUA.

O migrante é sujeito estranho, principalmente se

vem de países mais pobres.

“O migrante é sujeito estranho,

principalmente se vem de países mais pobres.”

“(..) o desejo de estar nesse mundo do

consumo é maior do que o medo.”

“Dificilmente a violência influencia.“

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Al Um novo

mUndO no velho MUNDO

Nas minhas leituras, eu sempre tinha en-contrado informações sobre o perfil dos alemães. Ou seja, o modo como vivem, gostam de ser tra-tados etc. Pessoalmente, no entanto, tudo muda. A tendência é agir como se você estivesse na sua casa, no seu país. Foi assim comigo.

Na primeira noite, eu já chamava todos de “tu”, o que, para os padrões do país, é certa falta de educação. O correto é tratar por “Senhor” ou “Senhora” (Sie) seguido do sobrenome. Conve-nhamos, soa estranho para um brasileiro, não é? Minha reação era quase sempre de pedir desculpa depois. Mas eles entendiam o momento de transição pelo qual eu passava. Tinham paciência. Amém!

Nunca tinha visto o mundo mudar de cor. Nem achava que isso fosse possível. Mas é. Acon-teceu quando desembarquei no aeroporto de Frank-furt, na Alemanha, na tarde do dia 26 de janeiro de 2010. Eu havia deixado um Brasil de paisagem tão plural e me vi em cima de um asfalto coberto apenas de branco. Foi estranho, confesso. Era só neve, carros, gente, metal, vidro e alguns tratores puxando o gelo. Aquilo tudo tinha uma beleza tam-bém, até então desconhecida pra mim. Além disso, eu precisava cumprir o meu objetivo: pesquisar um pouco da cultura e da imprensa do país.

Quem me buscou no Flughafen (aeroporto - todo substantivo em alemão é escrito com letra maiúscula) foi o Sr. Heinz Siebenbrock, professor de economia da universidade de Bochum, no es-tado da Vestfália, bem ao norte da Alemanha. Ele mora em um distrito chamado Drensteinfurt, onde me hospedei, bem perto de Münster, uma das cida-des pólo da região, como Governador Valadares. Só com uma diferença básica: a idade. A diocese de lá, por exemplo, tem 1.200 anos. Nasceu praticamen-te junto com o município. A nossa, ao contrário, tem 54 anos. Muito jovem para os europeus, conhecidos por morarem no “Velho Continente”, onde a histó-ria da humanidade começou.

A comida já não estranhei muito. Sabia que não encontraria nem arroz nem feijão. Na Alemanha, come-se muita batata cozida, assada, frita etc. É a chamada Kartoffel. Por sinal, gostei bastante. Principalmente quando faziam com um bife de porco empanado (Schniztel). Tem ainda uma variedade imensa de linguiças, presuntos e salsichas. Eles adoram.

No mais, os alemães leem muito. Percebi isso de cara. Todo mundo fica com um livro ou uma revista nas mãos dentro do trem ou em qualquer lugar. Até andando. Televisão eles também assistem, claro. Mas os canais não apresentam campanhas publicitárias o dia todo. Há um horário específico e muitos detes-tam. Querem ter acesso à programação da TV na íntegra, sem interrupções.

TEXTO: Maurício Cancilieri [[email protected]] FOTOS: Arquivo pessoal

O primeiro contatoPortão de Brandemburgo, símbolo da cidade de Berlim

Münster, uma das cidades pólo da região, como Governador Valadares

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Jornais, rádio e TV

Eu tinha muitas ideias e convicções sobre o que era notícia. Estava acostumado aos acidentes, aos problemas dos bairros, às queixas relaciona-das à Prefeitura, até aos escândalos. Lá, fui surpreendido, principalmente com a valorização de fatos corriqueiros, nada fora do comum, com perso-nagens comuns. A imprensa alemã, nesse caso a local, observa a rotina da comunidade e mostra o que ela faz.

Mas não podemos nos iludir. Os europeus não têm muitos dos nossos problemas, não passam pelas mesmas dificuldades. Portanto, é natural mesmo perceber essa diferença. E isso não significa que o jornalismo brasileiro não valorize os acontecimentos, digamos, de “pequenas” proporções. O fato é que, na hora de selecionar o que entra em um jornal, há critérios de noticiabilidade que precisam ser levados em conta.

E tem mais. Na Alemanha, a imprensa gosta bastante de se envolver na política. É difícil de veicularem acidentes, coisas trágicas. Sabe por quê? Porque quase não acontecem. Nunca vou me esquecer de uma matéria sobre um galho de árvore que havia caído no carro de uma mulher. O capô só trincou. Nem vi direito a rachadura. O jornal mostrou aquilo como se fosse um absurdo. E era mesmo. Para eles era. Não costumam ver todo dia.

Maurício Cancilieri no Muro de Berlim

Na TV é que vieram várias surpresas. Não há mais operadores de câmera de estúdio. Tudo é feito por quem está no “master”. Eles usam con-trole remoto para redirecionar a lente e ajustar o foco. Além disso, a tecnologia, naturalmente, é toda digital, desde os monitores à transmissão. A apare-lhagem é um show! Na Rádio, é a mesma coisa. E ainda gravam novelas lá. Tem um tapete cheio de pedras embaixo e vários objetos para fazer sons típicos e adequados a cada história.

Fora isso, os jornalistas se reúnem inú-meras vezes separadamente, em grupos de dois, dependendo do horário e do volume de serviço e, em seguida, fazem um encontro com o chefe para decidir o que vai ao ar ou não. Em coberturas mais complexas e previsíveis, o agendamento é com, no mínimo, três semanas de antecedência. Outro detalhe: na Alemanha, ainda existem os redatores. Eles auxiliam o trabalho da edição e, claro, contribuem substancialmente para agilizar o trabalho de todo mundo.

Fiz o estágio na sucursal do Westälische Nachrichten, em Drensteinfurt, em um escritório modesto. Também fui à sede deles, em Münster. O lugar é perfeito. Redação grande, diversificada e silenciosa. A construção de dois andares, além de abrigar todas as editorias, é onde se imprime o jornal. Aliás, essa parte do prédio é gigantesca, cheia de máquinas.

Em Drensteifurt visitei dois jornais, o Anzeiger e Dreingau. As coisas são bem parecidas com o Brasil e a realidade de Governador Valadares. São lugares de médio porte, equipe reduzida e muita neve para noticiar. Pelo menos entre de-zembro e meados de março.

Jornalismo alemão

Sede do governo alemão

Centro de Berlim com Praça de Alexander ao fundo

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Universidade

compraram a ideia: um regional e outro estadual. As publicações saíram poucos dias depois.

No fim da segunda semana de Alemanha, eu já havia me adaptado ao clima e aos costumes. Conheci então um rapaz de Drensteinfurt, Dainel Drepper, que estudava jornalismo na Universidade de Dortmund. Ele me convidou para ir até lá e assistir a uma aula. Pegamos o trem no dia seguin-te; lá, participei de dois seminários: um sobre jornalismo na internet e o outro sobre cobertura de casos de dopping. No primeiro, o palestrante dis-cutia o papel do blog na grande rede e levantava bandeira ética a respeito do assunto, principalmente pelo fato de nem todo blogueiro ter formação acadêmica em comunicação e falar que publica “notícias”. No segundo, os alunos de cursos das áreas da Saúde e Educação Física fizeram um debate com os de Jornalismo.

Naquele mesmo dia, Daniel sugeriu que escrevêssemos um artigo para algum jornal de Dreinsteinfurt. Como o meu idioma me limitava um pouco na escrita, eu falaria o que pensava de um jeito mais fácil, respon-deria a várias perguntas e, assim, iríamos redigir em parceria uma matéria sobre como um brasileiro vivia e se sentia em Drensteinfurt. Dois jornais

Como já era de se esperar, a imprensa começou a se mexer antes disso. Cristina entrou em contato com alguns jornalistas, me apresentou a eles e fomos juntos pra lá. Era um prédio de dois andares, pilastras gigantescas, escadarias com tapetes vermelhos e por aí vai... Nem dava pra ver detalhes do teto de tão amplas as salas. Em uma delas, havia dezenas de fotógrafos, repórteres, câ-meras etc. Escutei alguns políticos influentes agra-decerem a Biermann por suas atitudes anti sepa-ratistas. Falavam rápido, mas dava para entender algumas coisas.

O homenageado cantou, declamou poesiais e, ao fim, conversou separadamente e de um jeito bastante informal com alguns repórteres. Descobri, ali, que não haveria qualquer coletiva. Um jornalis-ta me explicou, depois, que isso é bastante comum em Berlim. Cada profissional respeita sua vez e não fica “em cima” do entrevistado fazendo “empurra empurra”. Mas percebi que foi desse jeito também porque o pessoal do impresso não tinha de colocar a notícia no jornal do dia seguinte. Já eram dez horas da noite. Os fotógrafos é que não paravam de man-dar imagens pela internet para as redações online.

BerlimAh, Berlim!... Eu estava convicto, desde o

início da viagem, de que se não fosse a Berlim, não teria ido à Alemanha. Mas a intenção era ir também para conhecer alguns jornalistas e conversar com eles. Consegui. Fiz contato com uma parente da minha professora de alemão que mora na cidade e peguei o famoso Intercity Express, uma espécie de “trem bala”. Pelo menos a velocidade indicada no display do vagão era de 250 km/h.

A menina que me hospedou, Cristina, namorava o filho de um homem chamado Wolf Biermann. É um dos artistas mais conhecidos da Alemanha. Protestou contra a antiga República Democrática Alemã, lutou pela queda do Muro, pela reunificação. Dei sorte. Quando cheguei à capital da Alemanha soube que, na noite seguin-te, Biermann participaria de um evento na Câma-ra de Representantes do município (o equivalen-te ao poder legislativo no Brasil). Ele receberia uma homenagem como cidadão honorário.

A voltaBerlim é uma cidade ao mesmo tempo clássica e moderna.

Tem construções monumentais e uma rua imensa que corta o Portão de Brandemburgo e, consequentemente, quase todo município: “Unter den Linden” (debaixo das Linden - esse nome é porque você, literalmente, caminha com as folhas das árvores Linden acima da sua cabeça).

Mas eu deixei aquele paraíso com a sensação clara de que os alemães ainda se discriminam no que diz respeito a ser ocidental ou oriental. O lado oriental, que antes de 1989 era um outro país, é considerado por muitos menos desenvolvido, pobre, de gente esquerdista (como se isso fosse um problema). O lado ocidental, ao contrário, elegante, cheio de futuro e pessoas distintas. Vai entender, né?! O muro já caiu, mas o que restou dele e que hoje serve de

tela para pintores do mundo inteiro parece, de fato, dividir o país. y

Festa de Carnaval em Münster

Teatro Municipal de Berlim

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Esse ensaio fotográfico encontrou inspiração no projeto

“GV da Paz, GV do Bem”, idealizado pela odontóloga, professora

universitária, escritora e poetisa Maria Paulina Freitas Sabbagh.

Valadarense, Maria Paulina concebeu a campanha educativa

e cultural com o intuito de valorizar a cultura do povo de Governador

Valadares, suas habilidades e competências, divulgar a poesia como

forma de expressão e buscar valorizar e disseminar a cultura da paz

e do bem como princípios de cidadania. Uma das ações da campa-

nha foi o lançamento do livreto “Poemas de Amor para Governador

Valadares”, de sua autoria.

Somando forças à proposta da campanha, o trabalho fotográ-

fico aqui apresentado lança um olhar sobre Governador Valadares

tendo como inspiração o poema Minha Cidade, Minha Terra, de

Maria Paulina.

TEXTO + FOTO: Carlos Magno de Souza* [[email protected]]

*Carlos Magno é repórter fotográfico profissional e graduando em Jornalismo pela Univale.

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da Paz, do BemGVGV

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MINHA CIDADE MINHA TERRA

Minha cidade tem um Rio, Doce.

Onde canta o Bem-Te-Vi.

Minha cidade tem uma pedra.

Que, de qualquer lugar que olho lá de cima.

Avisto o céu azul.

Minha cidade, minha terra é do bem, é da paz.

Minha cidade é tudo de bom.

É onde moro.

Valadares, Valadares.

Quem é o governador? É o calor!

Minha cidade tem pássaros-homens

de toda nacionalidade.

E como é lindo!

O vôo colorido deles no céu é sua maneira

de rezarem em silêncio

do alto olhando a terra pequena.

Minha cidade tem Democrata e bicicletas.

Mineiros, brasileiros, americanos.

Pedra cristal e turmalina.

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9Minha cidade tem um sonho a ser construído:

Ser limpa e florida. Jardins e espaços de convivência.

Memorial do Rio

Memorial da pedra: Ibituruna!

Nosso passado indígena e nosso futuro cosmopolita.

Memorial cultural na Açucareira.

Para sempre guardar para as outras gerações.

Poemas de amor pela cidade.

Horta de fartura nos quintais,

pão do alimento em toda mesa.

Trabalho justo e povo educado.

Segurança de valores:

solidariedade, saúde e educação.

Aqui árabe é amigo de judeu.

Há igreja para toda fé.

O que vejo, o que sinto,

é que aqui é um chão plano e é de paz.

Porque tem muita gente boa.

Donas Marias e Seus Josés,

Joãos e tem também Deivides,

Mailcos, Carolaines.

GV da paz, GV do bem.

E você, vem comigo, meu amigo, nesta canção?

Minha cidade, terra do meu coração.

Tem um Rio, Doce, onde canta o Bem-Te-Vi.

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Tudo começou no ano de 1953, quando o professor italiano Paulo

Zappi chegou à Governador Valadares. Ele fundou a biblioteca pública da

cidade, que leva o seu nome, e começou a colecionar objetos para um futu-

ro museu. Eis que, em 1983, o sonho se concretizou. O prefeito da época,

José Fernandes, colocou em prática a ideia de Zappi e criou o museu, que

teve sua primeira sede no Palácio da Cultura, atual prédio da Secretaria

Municipal de Cultura, Esporte e Lazer (SMCEL).

Tudo ia bem até que, em pouco tempo, a Prefeitura precisou do

espaço e o acervo ficou por um tempo embalado. Em 1990, o presidente

da Fundação Serviço de Educação e Cultura (Funsec), Antônio Rodrigues

Coelho, preocupou-se com o estado de má-conservação no qual os objetos

se encontravam e providenciou um novo local, alugando uma casa no Centro

da cidade, onde o museu ficou instalado por um período, até sua próxima

mudança. Ela aconteceu desta vez para a Companhia Açucareira Rio Doce

(Cardo), popularmente conhecida por Açucareira. Para os que pensavam

que o período migratório do Museu se findara, enganou-se. Até chegar ao

atual local onde funciona hoje, na Rua Prudente de Morais, próximo ao

prédio do Correios, o Museu da Cidade funcionou também no prédio do

Centro de Educação Ambiental (CEAM), próximo ao GV Shopping.

O acervo do Museu da Cidade possui

atualmente 1.500 peças, todas advindas de doações

de pessoas da cidade e região. Segundo a gerente do

Museu, Gabriela de Almeida Figueiredo, as doações

acontecem com frequência e garantem a renovação

do Museu. O consultor técnico e responsável pelo

setor administrativo do Museu da Cidade, Gideo-

ne Malta, explica que o aluguel, três funcionários

efetivos e dois comissionados são mantidos com os

recursos vindos da Secretaria Municipal de Cultura,

Esporte e Lazer (SMCEL), assim como outras des-

pesas. O valor destinado pela Prefeitura ao Museu

não foi revelado, mas o consultor garante que não é

o suficiente para custear todas as despesas. Malta

pondera que é preciso haver um maior envolvimento

da população na renovação e participação no Museu.

“Se a população não se envolver, o Museu não vai

pra frente. De que adianta mantê-lo?”.

Quanto aos projetos para melhorias futuras

do Museu da Cidade, a Prefeitura informou que tem

analisado algumas propostas, uma delas é infor-

matizar o espaço. Uma das primeiras ações seria

digitalizar todas as fotos do acervo no intuito

de facilitar a localização e pesquisa do público

visitante. O recurso financeiro para tais propostas

viriam através de projetos apresentados junto aos

principais mecanismos de fomento da área cultural e

também através de emendas parlamentares de

políticos da região. y

Falta envolvimentocomunitário

MUSEU DA CIDADERua Prudente de Morais, 711- Centro. (33) 3271.8560Funcionamento: Terça a sexta, das 7h às 18h Sábado, das 8h às 13h

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Bicicletas Phipis [EUA] - Era usada pela senhora Jandira de Carvalho Soares, funcionária do Serviço de Metrologia de 1944 a 1976. Doação: Marly (filha)

museu migranteTEXTO + FOTO: Marcella Werner [[email protected]]

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UnIVAlE comunidade

Desde 2003, o EAJ presta atendimento jurídico gratuito à população que

não tem condições de arcar com os custos de um advogado. Ao procurar o

escritório, as pessoas são entrevistadas e, em seguida, começam a receber o

atendimento jurídico prestado pelos professores e alunos do curso de Direito.

O EAJ funciona no Campus II.

Informações: (33) 3279-5922 / 3279-5542 ou [email protected]

Escritório de Assistência Jurídica – EAJ

Programa Pólo de Promoção da Cidadania

Projeto Informática e Educação Inclusiva

Realiza atendimento interdisciplinar à população de baixa renda ou em

situação de risco social e também às instituições sócio-assistenciais que

trabalham pela garantia e defesa dos direitos da criança e do adolescente

de Governador Valadares, contribuindo para a promoção e defesa da cida-

dania. Além disso, promove a interação entre ensino, pesquisa e extensão,

desenvolve estudos para a difusão, promoção e defesa da cidadania e da

democracia. Funcionando desde 2003, o Pólo conta com apoio de profes-

sores e alunos dos cursos de Psicologia, Serviço Social e Pedagogia.

Informações: (33) 3279-5564 ou [email protected]

Desde 2005, proporciona o acesso à informá-

tica aos alunos da Associação dos Pais e Ami-

gos dos Excepcionais (APAE), aos alunos da

Escola Estadual Paulo Campos Guimarães,

ao público atendido pelo Centro de Referên-

cia e Apoio à Educação Inclusiva (CRAE-

DI) e membros da Associação de Surdos de

Governador Valadares oriundos de famílias de

baixa renda. Professores e alunos dos cursos

de Sistema de Informação e Direito objetivam

com a ação garantir a inclusão digital a esse

público, preparando-os para o mercado de tra-

balho, desenvolvendo afinidades na utilização

do computador e elevando a auto-estima dos

beneficiados. O Projeto funciona nos laborató-

rios de informática do Campus I da Univale.

Informações: (33) 3279-5570

TEXTO: Gabriel Sobrinho [[email protected]] + Lucas Mafra [[email protected]]

paraa

FOTOS: Samuel Ribeiro

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Desde 2003, o projeto desenvolve atividades de

educação em promoção à saúde bucal com crianças

de baixa renda que tenham até 10 anos de idade.

Elas são encaminhadas pelas instituições sociais,

creches, escolas públicas, associações de bairros e

outros projetos comunitários da Univale. Os atendi-

mentos são feitos por professores e alunos do curso

de Odontologia da Univale. As atividades aconte-

cem nas Clínicas Odontológicas do Campus II.

Informações: (33) 3279-5964 / 3279-5965

Desde 2004, o ambulatório presta atendimento bio-psico-

social aos portadores de lesões crônicas degenerativas de

médio e grande porte como, úlceras de pressão venosas,

arteriais, mistas e pé diabético. Além do tratamento às

lesões, os alunos e professores dos cursos de Enfermagem,

Fisioterapia, Farmácia, Nutrição e Psicologia ainda reali-

zam um trabalho de orientação aos familiares, visando a

continuidade do tratamento para obter uma recuperação

mais rápida. Os interessados devem procurar o Ambulató-

rio de Lesões que fica no Campus II.

Informações: (33) 3279-5969

ou [email protected]

Projeto Levantamento Elétrico para Instituições Carentes

O objetivo do projeto é promover melhorias e

garantir a segurança nas instalações elétricas das

instituições filantrópicas da cidade. As instalações e

reparos feitos pelos alunos do curso de Engenharia

Elétrica passam a atender os requisitos da NR-10

(Norma Regulamentadora de Instalações Elétri-

cas). Após o diagnóstico feito pelos professores

engenheiros é analisado o custo para os reparos

das instalações elétricas e todas as despesas são

pagas pelos parceiros do projeto: VALE, Cemig e

Mundo Elétrico.

Informações: (33) 3279-5548

ou [email protected] Ambulatório de Lesões Dermatológicas

Projeto Cuidando em CasaO projeto iniciou suas atividades em 2010 e visa

promover atendimento domiciliar aos pacientes com

lesões dermatológicas que estejam cadastrados no

Ambulatório de Lesões da Univale e que morem próximos

ao Campus II. Destinado às pessoas de baixa renda e sem

condições físicas de se locomover, além do tratamento

são ofertadas dicas de como fazer curativos e alimentos

que facilitam a cicatrização, exercícios fisioterapêuticos

e assistência psicológica. Os interessados podem se diri-

gir ao Ambulatório de Lesões, no Campus II.

Informações: (33) 3279-5969

Projeto Mágico de Educação em Promoção de Saúde Bucal

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Programa Materno Infantil

O Programa é realizado em parceria com alunos e profes-

sores dos cursos de Odontologia, Enfermagem, Psicologia

e Nutrição. Desde 2005, as gestantes e os bebês de 0 e 3

anos de famílias de baixa renda recebem atendimento à

saúde para garantir uma melhor gestação e qualidade de

vida para a criança, evitando complicações futuras para

ambos. Os interessados devem se dirigir ao Ambulatório de

Lesões, no Campus II. Informações: (33) 3279-5969

Projeto De Bem com a Vida

Pólo de Assistência Odontológica ao Paciente Especial – PAOPE

Centro de Fisioterapia

Clínicas Odontológicas

Iniciado em 2010, o projeto atende pessoas com deficiência física na

faixa etária de 7 a 29 anos, e objetiva promover o desenvolvimento

social, educacional e da coordenação motora. O atendimento, feito de

forma inclusiva, é realizado por meio de atividades físicas ministradas

pelos professores e alunos dos cursos de Fisioterapia e Educação Física.

O projeto também faz parte das atividades do Ambulatório de Lesões.

Informações: (33)3279-5969

Funciona desde 2000 e tem como objetivo promover a saúde do portador

de deficiência mental de baixa renda, seja pura ou associada a outras

patologias. Os pacientes são acompanhados por uma equipe multipro-

fissional formada por professores e alunos dos cursos de Odontologia,

Psicologia, Serviço Social, Enfermagem e Fisioterapia. O PAOPE

funciona no Campus II da Univale. Informações: (33) 3279-5970

Além de integrar as atividades acadêmicas do curso

de Fisioterapia, desde 2006 presta atendimento fisio-

terapêutico à comunidade de Governador Valadares

e região. Com aproximadamente 1.500 m² de área,

os laboratórios e a clínica escola contam com diver-

sos ambientes onde são executadas as atividades com

equipamentos modernos. O Centro prioriza o atendi-

mento às pessoas de baixa renda e é realizado por

alunos e supervisionados pelos professores do curso.

Os pacientes contribuem com uma taxa simbólica de

R$ 4 reais por sessão. O Centro de Fisioterapia fica

na Rua João Dias Duarte, 288, Vila Bretas.

Informações: (33) 3277-9852 / 3277-9861

Prestam serviços odontológicos à população de baixa

renda de Governador Valadares e região, oferecendo

não só tratamento contra doenças mas, atendimento

preventivo e restaurador em saúde bucal. O serviço

é realizado, desde 2003, pelos professores e alunos

da Univale. Os interessados podem marcar uma con-

sulta ou tirar dúvidas pela Central de Marcações de

Consultas. Informações: (33) 3279-5964

Campus Armando Vieira - Campus IRua Moreira Sales, 850 - Vila Bretas

Campus Antônio Rodrigues Coelho - Campus II Rua Israel Pinheiro, 2000 - Universitário

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fic

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design Gráfico da Univale é 10!

“Design gráfico não é só um belo desenho.

Design gráfico é um belo desenho, com um sentido,

uma tarefa a cumprir”, atestou certa vez o arquiteto

e designer Chico Homem de Melo. Por essa linha,

caminhou o curso de Design Gráfico da Univale

que, em setembro deste ano, completou uma

década de existência. E na bagagem, além do dever

cumprido, professores e alunos trazem e renovam

suas próprias histórias, sejam elas contadas através

de imagens, sons, texturas ou cores.

Desde a idealização do curso, proposta

pelo jornalista e teólogo Jaider Batista da Silva,

passando pelo desenvolvimento do projeto e

implantação, etapas que estiveram a cargo das

professoras Zaira Bernardes e Christiane Pitanga,

já se graduaram no curso cerca de 200 estudantes.

Isso, considerando que a primeira turma se formou

em 2004. Nesses dez anos, é notável o quanto o

curso de bacharelado em Design Gráfico contribuiu

para a profissionalização do setor, bem como para

o desenvolvimento sócio-cultural e a inovação

tecnológica da cidade e região.

“A proposta do Jaider para implantação do curso de Design Gráfico

nasceu a partir de uma palestra que vim ministrar para os alunos do curso

de comunicação social. Na época, funcionava a habilitação dupla em

Jornalismo e Publicidade e Propaganda. Então, vim mostrar como o Design

funcionava e o convite foi feito”, rememora professora Zaira. O projeto

pedagógico começou a ser elaborado em março de 2000, juntamente com

a montagem da equipe de professores. Ela lembra que foi contratada

em início de abril, assumindo a dianteira do processo de implantação. O

primeiro vestibular foi em julho de 2000 e o início das aulas foi marcado

para 4 de setembro do mesmo ano. “Não houve muita necessidade de

investimento no começo porque já existiam alguns laboratórios utilizados

pelos outros cursos de comunicação que poderiam ser compartilhados. Na

verdade, dividíamos salas até com o pessoal da Engenharia que funcionava

só no Campus I. Assim, tínhamos aulas duas vezes por semana no Campus I

e três vezes no Campus II”, conta.

Uma das pessoas que esteve presente em boa parte dessa história

é a atual coordenadora do curso, Rosilene Conceição Maciel. Ela iniciou

suas atividades na Univale como docente, em 2004, e conta que, como

muitos profissionais do curso, deixou sua cidade de origem para desbravar o

Design que, até então, era quase ou totalmente desconhecida por essas

bandas. “Quando cheguei, a primeira turma estava se formando. Percebi

que eles estavam com muita vontade de lutar por um ‘lugar ao sol’. Eles

acreditaram e, hoje, o desenvolvimento e a valorização do designer na re-

gião são notórios. O avanço que a comunicação visual obteve na cidade é um

exemplo disso”, aponta. A abertura de vagas de estágio e de possibilidades

de trabalho, assim como o aumento e a diversificação dos produtos comuni-

cacionais gerados, são outros exemplos ressaltados pela coordenadora.

“O desenvolvimento e a valorização do designer na região são notórios. O avanço que a comunicação visual obteve

na cidade é um exemplo disso.”

TEXTO: Dilvo Rodrigues [[email protected]]

Selo comemorativo dos 10 anos do curso, criado pelo estudante Pablo Souza Meira

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“Foi um choque cultural incrível; muito bacana poder discutir o Design que é aprendido aqui no Brasil com os

estudantes e professores italianos.”

O egresso Plínio Nunes Lacerda, que hoje é professor no curso,

é um dos que representa a evolução da área e da ampliação do merca-

do do Design na cidade e região. Em 2003, ao iniciar o curso, Plínio

não fazia idéia do que encontraria pela frente. Havia feito o vestibu-

lar apenas como experiência. “O curso era recente e desconhecido

na cidade e eu não fazia idéia de como era o mercado. Os primeiros

semestres foram uma incógnita e, aos poucos, fui me identificando com

as disciplinas mais específicas”, conta.

O primeiro estágio, em um escritório de arquitetura, apareceu

quando cursava o 4° período. Já no 5°, foi convidado para estagiar na TV

Univale, sendo contratado antes mesmo da formatura. Ao todo, são cinco

anos de serviços prestados à TV. E foi na TV universitária, que apareceu

a oportunidade de lecionar pela primeira vez, apesar de nunca ter se

imaginado professor, revela. “Editei o documentário de uma turma de

Jornalismo de uma faculdade de Teófilo Otoni. Então, comecei a manter

contato com o pessoal de lá. Mais tarde, a coordenadora do curso fez

o convite para que eu fosse dar aula. Fiquei um ano por lá”, explica.

Como docente, Plínio também lecionou para a última turma do curso de

Publicidade e Propaganda da Univale.

“A experiência foi única. Sem dúvida foi algo que vai ficar para a vida

toda. Foram 45 dias de intensa imersão cultural, social e de conhecimento.

Tive a oportunidade de estudar em uma das melhores escolas de Design

da Europa, aprender conceitos novos e importantes para a minha área”,

conta com entusiasmo o egresso do curso de Design Gráfico Gustavo Ferraz,

formado na turma de 2009. Ele explica que sempre foi interessado por

imagens e comunicação e que a

idéia de fazer o curso veio quando

fazia pré-vestibular na capital

mineira. “Eu fiquei fascinado com

a grade de disciplinas do curso,

principalmente com matérias

como composição, plástica e

história da arte. Confesso que não

sabia o que iria fazer. Não é como

o curso de medicina, por exemplo, que você entra e

sai da faculdade sabendo do que se trata. Foi uma

descoberta, um desafio”, avalia.

O processo de seleção do intercâmbio

se deu em duas etapas. Na primeira, com

análise de currículo e portfólio, participaram

alunos de três universidades de Minas Gerais:

Univale, Universidade Estadual de Minas Gerais

(UEMG) e Fundação Mineira de Educação e

Cultura (FUMEC). Nesta etapa, 40 alunos foram

selecionados. A segunda e última etapa contou com

uma prova de italiano e entrevista, onde 25 foram

aprovados para o intercâmbio. Além de Gustavo,

outros três estudantes de Design da Univale

também conquistaram vagas para o intercâmbio

internacional na Itália.

“Pude conhecer vários lugares interessantes,

visitar museus, fazer cursos e workshops, visitar

cidades históricas, além de saborear a maravilhosa

comida italiana. Foi um choque cultural incrível;

muito bacana poder discutir o Design que é

aprendido aqui no Brasil com os estudantes e

professores italianos”, garante.

Gustavo conta que, na época da seleção

do intercâmbio, havia acabado de chegar de

Pirinópolis, Goiás, já muito feliz com a notícia de

que a Univale sediaria o Encontro Regional de

Estudantes de Design, conhecido como R-Design.

O projeto foi apresentado e encabeçado por ele e

mais alguns amigos do curso. Atualmente, Gustavo

trabalha como diretor de arte na Agência ZP, em

Governador Valadares.

De estudante a professor

Design da Univale na Itália

Plínio foi aluno do curso de Design Gráfico e hoje é professor, além de trabalhar como gerente de pós-produção da TV Univale

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Gustavo Ferraz foi um dos quatro alunos do curso de

Design Gráfico selecionados no Programa Jovens Mineiros na Itália

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O Atelier de Design é um laboratório que compõe o conjunto

de ambientes do curso de Design Gráfico. Nele, acontecem atividades

diversas como, aulas práticas e teóricas, projetos de extensão, reuniões

do corpo docente e discente do curso e, até mesmo, momentos de

integração entre os estudantes. No início do curso, em 2000, o Atelier

funcionava no Campus I, no Bairro Vila Bretas, de forma compartilhada

com os cursos de Engenharia, que usava o espaço para aulas da disciplina

de Desenho Técnico.

No ano de 2003, devido ao crescimento do número de alunos do

curso de Design Gráfico e a transferência da Faculdade de Engenharia

para o Campus II, houve a necessidade de toda a estrutura do Atelier

ser transferida. O novo espaço foi projetado para atender às demandas

Um dos que estiveram presente desde o início da constituição do

Atelier de Design foi o professor Sebastião de Meira Pimenta Junior, mais

conhecido como “Professor Pimenta”. Ele é formado em Comunicação Visual

pela Fundação Mineira de Artes (FUMA), hoje Universidade Estadual de

Minas Gerais (UEMG). O professor Pimenta também é um renomado artista

plástico, reconhecido internacionalmente como ceramista. Foi premiado

em 1º lugar na Bienal Internacional de Curitiba, Paraná; além de ter sido

convidado para participar de duas exposições na China no segundo semestre

de 2010: a Exposição Internacional de Cerâmica Contemporânea, em

Jingdezhen e a Exposição Internacional de Chaleiras Contemporâneas, em

Xangai. Ele ainda ministrou palestras e oficinas no 3º Congresso Nacional

de Cerâmica em Curitiba, Paraná. E, também, no 6º Congresso Nacional

de Técnica para Artes do Fogo (CONTAF) que aconteceu entre os dias 20

e 22 de outubro em São João Del Rey, Minas Gerais, com discussões das

produções em cerâmica, porcelana e vidro.

Espaço de criação

Sebastião Pimenta participa com frequência de eventos na China, onde pesquisa novas técnicas

e matérias-prima para a arte cerâmica que desenvolve há anos

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Alunas no Atelier de Design durante atividades práticas

O curso promove com frequência exposições dos trabalhos dos alunos

Professor Pimenta - ceramista de renome internacional

do curso de Design Gráfico e passou a contar com

ambientes especializados: duas alas para atividades

práticas, uma para aulas teóricas, outra duas de

apoio ao corpo docente e para gravação de telas

de serigrafia. Possui ainda um almoxarifado e salas

de apoio aos discentes para armazenamento de

materiais e trabalhos. Na área externa às salas, um

pequeno anfiteatro e área de convivência rodeada

por árvores frutíferas como acerola, pitanga, jambo

e manga, criando, assim, um espaço interativo

bastante agradável, o que fez o Atelier de Design

receber dos alunos o carinhoso nome de “sítio”.

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Da faculdade para a própria empresa

Professor e roteirista da Turma da Mônica

“Polly, aqui tem uma profissão que é a sua

cara, Design Gráfico, já ouviu falar? Respondi: -

Mais ou menos! Já ouvi falar muito do Hans Donner,

da Globo! Foi quando ele pegou o guia e me passou

dizendo: - Então, lê aqui sobre a profissão; acho que

vai gostar”, conta Pollyana Cassimiro Ferraz, 24,

bacharel em Designer Gráfico pela Univale e empre-

sária. Durante o Ensino Médio, a dúvida sobre que

curso fazer tirava o sono da futura designer. “Em-

polgadíssima, li tudo a respeito sobre a profissão.

Pesquisei sobre mercado, áreas de atuação, conversei

com profissionais. Tudo isso para que eu me sentisse

mais motivada para ingressar no curso”, conta.

Ela se formou em 2007 e destaca que o curso

a ofereceu um rico embasamento teórico e prático,

Ele começou a trabalhar aos 14 anos como chargista e ilustrador

em um jornal do Vale do Aço. Mas, tudo começou mesmo por influência do

pai que “consumia todo tipo de leitura”, revela o professor João Marcos

Parreira Medonça. O jovem levou o ofício a sério e, mais tarde, concluiu o

curso de Belas Artes, na UFMG. Em 2001, veio para Governador Valadares

compor o quadro de professores do, ainda desconhecido, curso de Design

Gráfico da Univale. “Eu havia acabado de trabalhar também em alguns pro-

jetos de extensão da UFMG que envolviam a formação de professores. Essas

experiências me deram coragem para tentar a vaga aqui. Uma amiga me

avisou que o curso estava começando e precisando de professores da área

de desenho e quadrinhos e, graças a Deus, deu certo. No início eu vinha toda

semana de Ipatinga e retornava, mas um tempo depois me mudei”, conta.

Além de ilustrador e quadrinista, João Marcos também é

um dos roteiristas da Maurício de Sousa Produções. Ele conta que

tudo começou quando foi conhecer o estúdio em São Paulo. “Dei ao

Maurício de presente uma revista em quadrinhos desenvolvida num proje-

to de pesquisa da Univale sobre emigração internacional, no qual o curso

“Dei ao Maurício de presente uma revista em quadrinhos desenvolvida num projeto de pesquisa sobre emigração

internacional. Ele gostou da história e perguntou se eu tinha interesse em produzir roteiros da Turma da Mônica.”

FOTO: Sidney Gusman

de Design Gráfico participou. Essa revista era

destinada ao público infantil da região e foi distribu-

ída gratuitamente nas escolas. Ele gostou da história

e perguntou se eu tinha interesse em produzir roteiros

da Turma da Mônica. Eu fiz algumas histórias para ele

avaliar e, para minha alegria, tenho trabalhado com

ele desde então, fazendo parte da equipe de redação.

O trabalho é feito à distância, via internet, e de vez

em quando temos reuniões em São Paulo”. y

com uma boa visão do mercado de trabalho e, ainda, com uma visão inova-

dora para o desenvolvimento de produtos, projetos e prestação de serviços.

No ano seguinte, a designer começava a traçar seus primeiros planos como

empresária. Durante uma feira de empreendimentos do Leste de Minas

Gerais, a primeira edição da revista na qual é sócia foi lançada. A Revis-

ta Mista conta hoje com 11 funcionários, que além do material impresso

abastecem um site, como também colunistas colaboradores e empresas

terceirizadas. A revista circula gratuitamente em Governador Valadares e

em mais 12 cidades vizinhas.

“A cada dia aprendo mais e me apaixono pela minha profissão. É

uma área do futuro que, assim como tantas outras, é infinita de aprendiza-

do, mas com o diferencial de ser moderna por resolver muita coisa através

da internet, buscar soluções imediatas e rápidas, funcionais e inovadora,

estimula muito a criatividade e praticamente está presente em tudo. É um

aprendizado que me guiará por resto da minha vida”, garante.

João Marcos Parreira Mendonça (à esquerda) com Maurício de Sousa, criador da Turma da Mônica

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Janela Indiscreta é um filme do diretor Alfred Hitchcock,

de 1954. A estória é sobre um fotógrafo profissional chamado Jeff

(interpretado pelo ator James Stewart) que, impossibilitado de exercer a

profissão por estar com o pé quebrado, passa a bisbilhotar a vida de quem

mora em frente ao seu prédio. Da janela do apartamento, o personagem

vigia tudo o que se passa com uma máquina fotográfica e um binóculo.

Em determinado momento, ele desconfia de um assassinato e começa a

investigar o suposto crime. O telespectador é colocado na mesma perspec-

tiva do personagem, descobrindo as coisas com ele, aguçando o sentido da

curiosidade e tentado a resolver o mistério. Em resumo, o filme é todo um

voyerismo: o interesse pela privacidade do outro e as conseqüências desta

incursão. O filme pode ser sintetizado como “o espetáculo da vida alheia”.

Traçar relação dessa produção de meio século atrás com a comunica-

ção praticada hoje não é nada difícil. Há semelhanças tanto no jornalismo,

como nos conteúdos de entretenimento produzidos pelos veículos de co-

municação de massa. O que é afinal o jornalista senão um observador da

realidade? Cada detalhe leva a uma investigação, levantamento de dados

e questionamentos que pode terminar em uma página de jornal, revista,

programa de rádio ou na tela da TV. Nesse contexto, fica a pergunta: qual

o limite do jornalismo? Para responder tal questionamento, a ética é o viés

que conduz à verdade – muitas vezes subjetiva. Os programas populares,

sobretudo os policiais, podem ser enquadrados em uma expressão

comumente atribuída de “showrnalismo”, conceito cunhado pelo jornalista

TEXTO: Darlisson Dutra [[email protected]]

José Arbex Júnior. Significa a espetacularização da

notícia, através de elementos ficcionais, geralmente

dramáticos, que atingem a comoção pública e que

pretendem conduzir o espectador como em uma

novela. Esses artifícios são usados por diretores de

filmes de suspense e fica bem ilustrado por Alfred

Hitchcock em Janela Indiscreta.

No filme, uma máquina fotográfica e um

binóculo são os equipamentos utilizados para espio-

nar o que se passa na vizinhança. Hoje, são escu-

tas telefônicas, grampos, câmera escondida; tudo

em busca da “verdade”. Utilizados como pretextos

para quebrar regras e códigos éticos. Espiar a vida

alheia é um espetáculo que mantém o noticiário

diário interessante e garante a audiência. Acusar,

julgar e se esconder atrás da Justiça, investigação

policial ou o direito de manter a fonte em sigilo é

uma alternativa covarde do jornalista e um abuso à

ignorância de parte da sociedade, que vê tudo como

prática natural da profissão.

Janela Indiscreta é um retrato antigo da

forma de se produzir informação nos dias de hoje.

Jeff não seria a transposição dos atuais jornalis-

tas, e os leitores os telespectadores do filme? A TV

ou outros suportes midiáticos não seriam a tela do

cinema? Afinal, somos todos curiosos. É cultural.

E, enquanto esse tipo de jornalismo for praticado

pelas grandes redes, não há esperança de que um

modelo de resistência social, de fato, se firme. y

entre espetáculo e Jornalismo

FOTO: coversblog.com.br

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Quem pega a estradinha de terra e segue

pelas curvas e serras não imagina que está prestes

a chegar a um lugarejo em sintonia com a moder-

nidade. Não se trata de um cenário futurista, ou

algum pólo de informática. A modernidade está na

forma que a comunidade encontrou para enfrentar

um problema: o da moradia. No distrito de Penha

do Cassiano, com os seus pouco menos de 1.500

habitantes, casas novas, todas em um mesmo pa-

drão arquitetônico, chamam a atenção do visitante.

As moradias foram feitas pela Caixa Econômica

Federal, em parceria com o Conselho de Desen-

volvimento Comunitário de Penha do Cassiano. Os

beneficiários são pessoas de baixa renda que re-

ceberam as casas sem pagar nenhum centavo por

elas. A associação de moradores soube da existên-

cia do Programa “Produção de Moradia Social”,

uma modalidade de financiamento a fundo perdido

para a construção de casas que não precisa, neces-

sariamente, passar pelo poder público. Diminuiu-se

a burocracia, ganhou-se em tempo e cidadania.

Moradores do distrito de Penha do Cassiano, em Governador Valadares, se empenham para preservar suas raízes culturais por meio dos

ensaios e apresentações dos grupos de Caboclinhos e Marujadas

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'Preservacao cultural

sem medir esforçosTEXTO: Carlos Albuquerque [[email protected]]

A comunidade olha para o futuro e dá passos importantes, mas

também sabe valorizar o passado, a sua história. Com esse compromisso,

há dez anos, o comerciante José Daniel da Silva, 53 anos, decidiu que não

iria deixar morrer toda a riqueza cultural que ele conheceu quando criança.

“Meu pai me levava para assistir às apresentações de Caboclinhos e Maru-

jadas. Eu cresci nesse habitat cultural, ligado às raízes, que vêm lá de trás

na história do Brasil”, explica.

“A comunidade olha para o futuro e dá passos importantes, mas também

sabe valorizar o passado, a sua história.“

“Meu pai me levava para assistir às apresentações de Caboclinhos e Marujadas.

Eu cresci nesse habitat cultural, ligado às raízes, que vêm lá de trás na história do Brasil.“

FOTOS: Dió Freitas

O trabalho de Daniel foi fazer um levantamento dos grupos folclóri-

cos existentes na região. Descobriu doze grupos,entre eles um de Marujada

em Tronqueiras (distrito de Coroaci) e outros dois em Virgolândia e São

Geraldo da Piedade. Em Penha do Cassiano, ele assumiu a direção de um

grupo de Caboclinhos, formado por 24 pessoas e, rapidamente, começaram

as apresentações. Em 2002, Daniel organizou um encontro de folclore da

região. No mês de agosto, o distrito se transformou: a praça principal se

encheu de cores, movimentos, ritmos e alegria. Moradores se orgulhavam e

visitantes se impressionavam com as apresentações dos grupos de Maruja-

da, Caboclinhos, Pastorinhas, Batuque, Folia de Reis e Bumba-Meu-Boi.

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O entusiasmo com as apresentações não tira de Daniela preocupação

da falta de informação de parte da população sobre a cultura brasileira.

Sem citar os locais, ele relata episódios em que os integrantes dos grupos

folclóricos se sentiram constrangidos diante da maneira preconceituosa que

as danças foram recebidas. “Uma vez, uma mulher me falou que aquilo era

pemba, macumba, que o pessoal era tudo preto”. Mas, o comerciante não

deixou por menos e reagiu. “Falei com ela: a senhora precisa respeitar o

meu grupo, que representa a cultura do nosso povo, e também esses outros

grupos que a senhora citou, porque também fazem parte da nossa cultura.”

Daniel sugere que a cidade que quiser a apresentação dos Caboclinhos e

Marujadas tenha o cuidado de preparar a platéia. “Acho que uma pequena

palestra, por exemplo, pode ajudar o público não familiarizado com essas

manifestações a compreender o que vai ser mostrado. Nossos caboclinhos

ficam muito inibidos e chateados quando percebem que não estão no seu

habitat”, explica.

Daniel preocupa-se em eliminar a necessidade de que, no futuro,

outra pessoa tenha que repetir o trabalho de resgate dos grupos culturais.

É preciso que a tradição sobreviva até mesmo à morte dos que estão à

frente dos grupos, situação contrária ao que aconteceu com o grupo de

Marujadas de Tronqueiras. “O mestre estava muito idoso. Ele morreu e

não deixou sucessor. Infelizmente, parece que o grupo de Marujadas aca-

bou morrendo junto com ele”, lamenta. Mais uma vez, Daniel faz a parte

dele colocando seus três filhos para participarem do grupo de Caboclinhos.

“Eles me vêem vestido de Caboclinho e se vestem também. O Jean, de 14

anos, quando vai chegando o mês de agosto, ele me cobra: - Pai, quando

vai ser o festival? Vai ter, né?”, comemora. Em 2010, o grupo comemorou

a décima edição do festival.

“É preciso que a tradição sobreviva até mesmo à morte dos que estão à frente dos grupos,

situação contrária ao que aconteceu com o grupo de Marujadas de Tronqueiras.”

Com o encontro de folclore organizado

por Daniel, entrou novamente em cena uma das

vocações desse povo: fazer parcerias. Funcioná-

rios da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte

e Lazer da Prefeitura de Governador Valadares

se encantaram com a descoberta da sobrevivên-

cia das manifestações culturais ali preservadas. O

município propôs a revitalização dos grupos por

meio da doação de roupas novas, instrumentos,

agendamentos de apresentações e a oficialização

anual do Encontro Regional de Folclore, no mês

de agosto. O resultado de toda essa renovação

é que os grupos começaram a ficar conhecidos,

passaram a se apresentar em eventos diversos,

como nas comemorações do aniversário da cidade,

em 30 de janeiro. Nessas condições, moradores da

área urbana de Governador Valadares tiveram a

possibilidade de ver a exibição dos Caboclinhos e

da Marujada.

Ampliação, preconceito e persistência

“Uma vez, uma mulher me falou que aquilo era pemba, macumba, que o

pessoal era tudo preto”.

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Os Caboclinhos são uma dança de origem

indígena. De acordo com os estudiosos, uma das

mais antigas do Brasil. Já em 1584, o Padre Fer-

não Cardim mencionava a dança no livro “Tratado

e terra da Gente do Brasil”. Os caboclinhos podem

ser considerados uma elegia à miscigenação bra-

sileira. O termo caboclo define o cruzamento de

índio com branco. Os caboclinhos são, portanto, os

filhos dos caboclos. A dança faz alusões às caçadas,

batalhas e colheitas. A música é leve e ligeira. O

ritmo é ditado por instrumentos como reco-reco,

ganzás, maracás, pífanos, tarol, sanfona, surdo e

uma caixa de couro de carneiro. Para participar da

dança, é preciso se vestir de uma das personagens:

cacique, cacica ou índia-chefe, capitão, tenente,

pêros (crianças), porta-estandarte, caboclos de

baque (músicos), caboclas e caboclos. Fantasiados

de índios, com cocares e colares, os participantes

fazem um bailado que simula situações de ataque

e defesa, entre tribos inimigas.

As Marujadas são uma tradição folclórica herdada dos escravos

africanos. Os negros dançavam e cantavam para homenagear e agrade-

cer pelos milagres de Nossa Senhora. Homens, mulheres e crianças par-

ticipam das apresentações. É comum, em alguns lugares, os dançarinos

se apresentarem descalços. De acordo com o historiador Dario Benedito,

a Marujada também está ligada à devoção a São Benedito.

A apresentação é feita com rodas de dança e instrumentos como,

rabeca, pandeiro, tambor e banjo, tocados com a marcação e o ritmo

do batuque dos negros. Quando os marujos formam o círculo, no centro,

ficam a capitoa e a vice-capitoa. Elas pedem licença ao público para co-

meçar os passos de dança. Tudo como na época da escravidão, quando os

negros pediam permissão aos senhores para dançar de casa em casa.

Caboclinhos

Marujadas

“O termo caboclo define o cruzamento de índio com branco.”

“A dança faz alusões às caçadas, batalhas e colheitas.

A música é leve e ligeira.”

“As Marujadas são uma tradição folclórica herdada dos escravos africanos.”

Com muito entusiasmo e com o desejo de preservar suas raízes, integrantes dos grupos folclóricos do Distrito de Penha do Cassiano fazem apresentações na região

Com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura de Governador Valadares, os grupos renovaram o figurino e os instrumentos e conseguiram mais apresentações, inclusive na festa de aniversário da cidade

A manifestação recebe nomes diferentes em diver-

sas regiões do país: Nau Catarineta, Chegança de Marujos,

Barca ou Fandango. y

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dicasMÚSICAS, LIVROS e FILMES

TEXTO: Gabriel Sobrinho [[email protected]] + Lucas Mafra [[email protected]]

Sou apaixonado por música. Gosto de vários estilos, mas principalmente jazz, bossa nova e black music. Todo esse tempero o Ed Motta consegue reunir em seus álbuns. Ele tem um swing muito bom, uma levada que poucos atualmente têm. Só de saber que ele é sobrinho do Tim Maia já dá um peso enorme. Seus sucessos são variados, os mais conhecidos são Manuel e Vamos Dançar, lançados em 1980. De todos os seus álbuns, o que reúne os melhores sucessos é o CD Ao Vivo- Duplo, de 2006.

”Ouço louvores porque são momentos em que falo com Deus, e as canções da Fernanda Brum expressam exatamente essa particularidade. Ouço louvores porque são momentos em que falo com Deus e as canções da Fernanda Brum expressam exatamente essa particularidade. Acompanho a carreira dela desde 1992, quando lançou o primeiro trabalho. Ela é uma artista completa, tanto musicalmente quanto espiritualmente. O álbum que mais gosto e recomendo é o Cura-me, de 2008. Possui canções lindas e bastante profundas.

Meu hobby preferido é ouvir música. Gosto de vários gêneros musicais: rock, samba, MPB. Se fosse para eu ressaltar os que mais gosto seriam: Seu Jorge, Cazuza, Scorpions, Alcione e Fábio Júnior. Mas tem um em especial que recomendo: Djavan. Um artista mágico, com canções mara-vilhosas. Me perco ouvindo por horas as coleções deste artista. As músicas dele despertam para diversos sentimentos, realidades, sonhos que carregamos dentro de nós. O álbum que prefiro é o CD Ao Vivo, de 1999, que reúne as melhores canções do artista.

Lívia da Penha Campos ] 29 anos [ PSICÓLOGA

Wagner de Oliveira Andrade ] 30 anos [ RELATOR

Marizete Belo da Silva ] 41 anos [ ASSISTENTE COMERCIAL

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Marynna Porto Magalhães ] 18 anos [ UNIVERSITÁRIA

”Abier Antônio ] 53 anos [ APOSENTADO

Um dos livros que recomendo é Ensaio Sobre a Cegueira de José Saramago. Apesar do autor ter falecido, ele deixou um arsenal de obras bastante valiosa. Este livro, em especial, me encantou bastante. A história é fantástica; faz uma crítica pesada aos valores da sociedade e mostra o que acontece quando um dos sentidos vitais falta à população: a visão. Recentemente, em 2008, fizeram o filme baseado na história do livro. Era o elemento que faltava para enriquecer e valorizar ainda mais o trabalho de Saramago.

Recomendo um livro que me trouxe vários ensinamentos e bons momentos de leitura. Trata-se da obra do escritor Khaled Hosseini, O Caçador de Pipas. O livro conta a história de um menino rico chamado Amir, que mora em Cabul, no Afeganistão. Ele é perseguido pelo próprio remorso de ter traído o seu melhor amigo, Hassan. A obra ainda retrata vários pontos críticos na política do país, época que dá início à queda da Monarquia no Afeganistão, em 1979. Esse romance, posteriormente, foi adaptado para filme em 2007, levando o mesmo título.

Comédias românticas geralmente têm um enfoque mais voltado ao público feminino, certo? Pode ser, mas Alta Fidelidade (High Fidelity, 2000, de Stephen Frears) é uma película capaz de agradar em cheio as pessoas com nível um pouco mais elevado de testosterona. Rob Gordon (interpretado por John Cusack) é dono de uma loja de discos e aspirante a DJ que é abandonado pela namorada. Ao lembrar as cinco piores desilusões amorosas de sua vida, Rob tenta reencontrar as “ex” para entender porque seus relacionamentos sempre fracassam. Filme baseado em livro homônimo de Nick Hornby, com Jack Black no elenco e uma trilha sonora sob medida para homens na casa dos 30 anos, com medo de relacionamentos e que odeiam o emprego — assim como o protagonista.

Gosto muito de filmes de ação, principalmente daqueles que mexem com o intelecto, e que é preciso ‘quebrar a cabeça’ para juntar peças do filme. Uma trama que resume tudo isso é Onze homens e um segredo. O longametragem conta a história de uma quadrilha, de onze homens, liderada por Danny Ocean (interpretado por George Clooney). O bando tem um plano bastante ousado: roubar três casinos de Las Vegas ao mesmo tempo. Mas para que tudo dê certo eles seguem sempre três regras: não ferir ninguém, não roubar quem não mereça e seguir o plano aconteça o que acontecer. O filme ainda conta com atores renomados como: Andy Garcia, Brad Pitt, Matt Damon.

Simão Lopes Pereira ] 26 anos [ EMPRESÁRIO

Eu não recomendo somente um, e sim toda a saga de Harry Potter. A série de filmes é composta por seis longas metragens. A primeira trama foi gravada em 2001, Harry Potter e a Pedra Filosofal e a última foi gravada no ano passado, Harry Potter e o Enigma do Príncipe. Harry Potter é uma série de aventuras fantásticas, baseada nos livros escritos pela britânica J. K. Rowling. Boa parte do filme gira em torno da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, a saga é centralizada nos conflitos entre Harry Potter e o bruxo das trevas Lord Voldemort. O mais interessante é que apesar de ser muitas vezes assustador, o filme explora temas como amizade, ambição, escolha e preconceito.

Samuel da Silva Fagundes ] 14 anos [ ESTUDANTE

Thiago Ferreira Coelho ] 28 anos [ JORNALISTA

Na minha opinião literatura se resume a Carlos Drummond de Andrade. E em se tratanto dele é difícil falar somente de uma obra, mas posso sugerir uma que é bastante conhecida, A Rosa do Povo. Um livro mágico que traduz com maestria os sentimento, as dores e as agonias de seu tempo. A obra é considerada por muitos amantes de Carlos, a tradução de uma época sombria. Cada verso dos poemas deixam mensagens que, mesmo depois de vários anos, se encaixam perfeitamente no nosso cotidiano.

Marinês da Penha Sobrinho ] 49 anos [ DONA DE CASA

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DA Qual

é a sua?Rodeadas de códigos, as tribos urbanas

são caracterizadas, principalmente,

pela sua indumentária e são um fenômeno dos

grandes centros. Ditando comportamentos,

gostos musicais, amizades e até baladas

frequentáveis ou não, elas se multiplicam

a cada dia tornando a diversidade

a palavra de ordemBeatniks, mods, glams, clubbers, hippies,

yuppies, new wavers, skaters, hip hoper, grunges,

punks... O século 20 foi marcado por movimentos

que refletiram as inquietações de uma parte da

juventude e acabaram alterando a história do

comportamento humano.

As tribos urbanas surgiram como uma das

formas de mostrar insatisfação com algo ao seu

redor ou, simplesmente, para mostrar que deter-

minado grupo é diferente ou pensa diferente. Elas

ditam comportamentos, gostos musicais, amizades,

e até baladas freqüentáveis ou não. Obviamente,

não poderia deixar de entrar na lista de “regras”

os acessórios e as roupas típicas de cada grupo.

Em Governador Valadares não é diferente.

Sendo uma cidade de porte médio, no interior de

Minas Gerais, as variadas faces da juventude local

refletem que as inquietações por uma afirmação da

identidade não ficaram restritas ao século 20.

“Anarquia, corporation, não me diga o que usar...”

No dicionário, o termo punk quer dizer “estilo de música agressiva

associada com protestos contra o status quo e o sistema”. Para Eduardo

Yep, um dos protagonistas da cena em Governador Valadares, “punk é aci-

ma de tudo liberdade, apesar de que muitos punks acabam esquecendo este

princípio básico de um movimento anarquista e se tornam rótulos”, explica.

Ser anarquista é não estar subordinado às forças do governo ou leis. O

equilíbrio social estaria num contexto de racionalidade e equilíbrio entre

as vontades e as necessidades. Para os anarquistas, o fim da propriedade

privada também acabaria com a luta entre classes.

Na adolescência, Eduardo se vestia na maioria das vezes com

calças rasgadas, coturno preto com as calças para dentro, camisa com

alguma frase ou símbolo de protesto (muitas com o símbolo anarquista) e

correntes para completar o visual. “Meu cabelo eu não sei até hoje como não

caiu (risos)! Já foi roxo, verde, vermelho, de moicano, satélite, dread. O inte-

ressante é que sempre tínhamos um motivo diferente para explicar o visual.

Pense em um grupo de punks. A primeira ima-

gem que vem à sua cabeça é a de garotos com cotur-

nos, calças rasgadas, cabelos coloridos com moicano?

Este foi o estereótipo disseminado depois da década

de 70 pela estilista Vivianne Westwood e seu marido

Malcom McLaren, empresário da banda Sex Pistols.

No entanto, até aí, algumas bandas americanas não

apresentavam nenhuma dessas características e, ape-

sar disso, foram chamadas de punk, como New York

Dolls, Velvet Underground e MC5.

Ou era por rebeldia, ou era para se igualar a guer-

reiros em luta, ou era para protestar qualquer coisa.

Mas o motivo mais legal e que eu considerava o meu

motivo era a luta contra o ‘pré-conceito’. Aquele con-

ceito de achar a pessoa errada só pela forma como

ela se veste. Acabar com este conceito pré concebi-

do nas pessoas após uma conversa me fazia feliz”,

conta. Segundo Yep, os rótulos de punk inglês,

na certa, inspiraram a maioria dos punks brasi-

leiros e do mundo em se tratando de visual. Mas

a banda que o influenciou na questão estética e a

muita gente da época, em Valadares, foi o Rancid,

banda da Califórnia.

TEXTO: Gabriela Gonçalves [[email protected]]

Nathália Schubert [[email protected]]

Roberta Vieira [[email protected]]

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enfiaram eles em camisetas e vendem muito pela carga referencial de cada

movimento ou personagem. E não estão errados! Errado é quem pensa que

vai para o céu comprando a camisa de Jesus ou que vai virar punk por usar

um All Star e ouvir CPM22”, enfatiza.

Outra tribo presente no cotidiano valadarense é a do movimento

hip hop, em suas quatro vertentes: o break, o MC, o DJ e o Graffiti. Os

adeptos do movimento são facilmente identificados, normalmente porque

são encontrados em um único ponto, a Praça dos Pioneiros, mas princi-

palmente pelo modo de se vestir, que complementa e reflete, ao mesmo

tempo, a postura e a identidade desses jovens.

O hip hop surgiu no final da década de 60, em bairros periféricos

dos Estados Unidos, como o Bronx, habitados em sua maioria por negros e

latinos. Nesses locais, chamados guetos, a população sofria com vários proble-

mas sociais, como o racismo, a violência, o tráfico de drogas, a pobreza, falta

de infra-estrutura e escolaridade. Os jovens encontravam nas ruas a única

forma de lazer disponível, e esse espaço era dominado pelas gangues, que im-

punham regras e lutavam violentamente entre si pelo domínio do território.

Nas ruas dos guetos aconteciam festas com equipamentos sonoros

de alta potência, os chamados Sound System, que foram levados para o

Bronx pelo DJ Kool Herc. Ele introduziu o Toast, modo de cantar em ri-

mas em cima de um reggae instrumental, dando origem ao rap. A partir

daí, começaram a nascer diversas manifestações artísticas das ruas, como

poesias, danças, músicas e pinturas, feitas por esses jovens. As gangues

enxergaram nessas manifestações uma forma de canalizar a violência à

qual estavam submersas e passaram então a competir através do break.

Essa idéia foi proposta pelo Afrika Bambaataa, considerado hoje o padri-

nho do hip hop, e a pessoa que deu o nome ao movimento.

Um movimento composto por jovens de personalidades fortes, com

ideais concretos e uma forma, muitas vezes, agressiva de se expressar,

pede um visual impactante e próprio e, a moda, não ficaria isenta às

tendências lançadas pelos integrantes do hip hop. Bandanas, calças

largas, tênis chamativos, bonés grandes, entre outros elementos, fazem

parte do guarda-roupas dos adeptos.

Yep, que hoje, aos 28 anos, é designer e

produtor audiovisual, conheceu o movimento em

1997. E como muitos, a experiência veio pela música.

“A primeira banda pela qual me aproximei, não

posso negar, foi o Green Day. Logo depois, como

uma graduação, fui conhecendo Bad Religion,

Misfits, NOFX, Sex Pistols. Acho que, por isso

comecei a pensar em movimento punk; principal-

mente por ouvir Bad Religion. A banda traz em

suas letras muita informação sobre um movimen-

to anti-religião e protestos que, com algum estudo

sobre o anarquismo e sobre o próprio movimento,

fui me envolvendo e me engajando”, lembra.

Nos Estados Unidos, o punk nasce como

uma resposta natural ao rumo que o rock havia

tomado. A preocupação artística crescente pare-

cia ter deixado de lado sua verdadeira essência:

a diversão. Quando perguntado sobre a “comer-

cialização” da ideologia anarquista e a sua trans-

formação em material para a Indústria Cultural,

Yep é categórico. “Eu não acho que a indústria

conseguiu isto. Acho que ela nem entendeu ainda

o movimento punk, ou entendeu e apenas usa o que

é comercial para fazer dinheiro com isto. Não é

possível se vender ideologia. Podemos tentar, mas a

pessoa só será punk com vontade e atitude própria.

Mas, tratando de música e de moda, eu acho que

a indústria fez com o punk o que fez com o Rock

n’ Roll de Chuck Berry e o próprio Jesus Cristo:

Poesia de concreto

“Um movimento composto por jovens de personalidades fortes, com ideais concretos pede um

visual impactante.”

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esso

alPara Eduardo Yep, o punk é acima de tudo liberdade

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New wave

50’: enquanto uma parte da sociedade usava ternos bem-comportados, os Beatniks cho-caram o mundo adotando um visual despoja-do e moderninho, calças Levi´s 501, boinas, camisetas de manga comprida, suéteres de gola roulê. Junto com a vestimenta vinha também um sentimento de repúdio aos valores do American Way Of Life, e um grito pela autenticidade e liberdade individual.

BeatNiks60’: os Hippies quiseram ir bem mais: com seus cabelos grandes e roupas coloridas, colocaram-se em guerra contra a Guerra e a favor do amor livre. Com um modo de vida comunitário e um estilo nômade, negavam o patriotismo exacerbado e a Guerra do Vietnã e estavam em desacordo com valores tradicionais da classe média americana. Couro cru, tié-di, saiões, cola-res de semente e miçanga, bolsas de cro-chê: tudo muito leve e colorido.

70’: O New Wave surgiu no final dos anos 70, como um desdobramento natural de uma vertente do punk. Uma espécie de lado alegre e debochado do rock and roll, o movimento juntou a estética andrógina dos anos 70 com roupas e acessórios dos anos 60, cabelos punk, cores vibrantes e cítricas, ombreiras, gel e músicas bem hu-moradas, que misturavam rock, pop, funk e reggae. Blongie, Madonna, Cyndi Lauper e Boy George foram ícones desta tribo.

Hippies

LINHA DO TEMPO

Yuri Vinícius Gomes Silveira e Thamirys

Millena de Oliveira Campos, ambos de 21 anos,

formam um casal ligado pelo movimento. Eles se

conheceram através da dança, ela, já praticante do

street dance, e ele, apaixonado pelo break. “Eu já

tinha visto a Bombom (Thamirys) dançar e esta-

va começando a me familiarizar com a cultura hip

hop. Acabei assistindo um cara de BH dançando na

praça e aí surgiu a vontade de fazer a mesma coisa.

O hip hop é a cultura do gueto e, através das quatro

vertentes do movimento, acontece a manifestação

cultural de quem vive na periferia,” explica Yuri.

Enlace musical

Bombom tem um grupo de dança e, durante suas apresentações, o

figurino das meninas é mais um elemento da coreografia. “O street dance é

um estilo de dança coreografado, não é como o break, que tem movimentos

mais bruscos. Nossa dança tem uma sensualidade característica e o visual

tem que corresponder à essa intenção”, explica. As roupas características

das mulheres do hip hop são as calças largas, o tênis grande e chamativo, a

camiseta curta, deixando a barriga de fora, bandanas, bijuterias, penteados

chamativos como o rabo-de-cavalo preso no alto da cabeça ou o cabelo

solto com bastante volume e, para não haver choque com esse visual extra-

vagante, nada de maquiagem muito carregada.

Já para os meninos, o que manda são as T-shirt’s com frases de efeito, os

bonés tipo foam cap (mais largos e com abas dobradas), os coletes, e as calças

variam entre as largas e a skinning (justas na perna). “O visual de hoje em dia

acaba sendo retro. No início as pessoas já se vestiam assim. Uma das caracte-

rísticas, principalmente dos homens, é a customização dos tênis. Se estrago um

tênis treinando, ou se ele fica muito velho, já dou um jeito de pintar de outra

cor, fazer uma arte ou uma reforma, que ele tá novo,” comenta Yuri.

Eles são a cara da rua e a rua é o palco

deles. O gosto pela dança já conquistou vários

jovens e, atualmente, a cultura urbana de Gover-

nador Valadares é conhecida em outras cidades,

graças aos campeonatos e eventos promovidos por

esses jovens que recebem convidados de várias

partes de Minas Gerais. “O movimento é unido e já

temos um ponto certo de encontro, que é a Praça

[dos Pioneiros]. Aqui, quem não tem condições de

treinar numa academia, que é uma ‘parada’ pri-

vada, pode tá aprendendo e passando o que sabe.

Os encontros aqui são assim: você passa o que sabe

e aprende com os outros”, afirma.

Thamirys Millena

Yuri Vinícius

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CluBBer

90’: O Grunge surgiu em Seattle no fim dos anos 80 e seus maiores ícones são as bandas Nirvana, Alice in Chains, Pearl Jam e Stone Temple Pilots. Ironia, sarcasmo, crítica so-cial, revolta, desespero, são algumas das ca-racterísticas de seus integrantes. Os grunges se colocaram contra os valores da socieda-de, o consumismo exagerado e a beleza su-perficial, não se importando com a própria aparência e adotando um jeito largado de se vestir. Camisas de flanela, calças rasgadas e o tênis All Star são símbolos dessa época.

2000’: Gerado pela frustração do ‘pós- tudo’, o impulso Clubber é uma propos-ta sem proposta, uma pura e simples alienação do tempo e do espaço, impul-sionado pelos psicotrópicos. O movimento clubber teve início na Inglaterra, com a acid house e o advento da música eletrô-nica junto o uso de roupas fluorescentes, piercing e cabelos coloridos.

GruNGe

Glam

80’: O movimento Glam – cujo nome vem do glamour das roupas extravagantes, perucas de cores psicodélicas e sapatos plataforma – foi bastante relacionado à música. Passava a idéia de uma “sexu-alidade ambígua” e buscava resgatar o impacto da rebeldia associada ao rock and roll. Alguns de seus maiores expoentes foram Gary Glitter, Slade e David Bowie.

Se antes eles eram chamados de maurici-

nhos e patricinhas, no pejorativo, hoje o chique é ser

“It”. Esse termo foi usado pela primeira vez pela

romancista britânica Elinor Glyn para descrever a

atriz Clara Bow, quando ela surgiu, em 1927, no

filme-mudo “It”, de cabelo curto, lábios em forma

de coração, olhos redondos, um jeito todo faceiro

de andar, alegre, viva, muito sensual e totalmen-

te emancipada. A expressão foi cunhada como um

eufemismo para a sexualidade ou para a atração

sexual, o ‘sex appeal’. Para Glyn, “‘It’ é a qualidade

possuída por alguns que atrai todos os outros com

sua força magnética. É uma expressão para o “algo

a mais” que as mulheres precisam ter.

Hoje, as “It Girls” e os “It Boys” estão

pelas ruas do mundo. São mulheres e homens ante-

nados, têm guarda-roupas impecáveis, influenciam

de forma resistente a moda e ainda se comportam

de um jeito irreverente, despertando a curiosidade

das pessoas sobre o seu modo de vida. Ser “It” é

possuir originalidade e interpretar a seu favor as

“Ser chique é ser It”

tendências lançadas pela moda. Não é apenas ter as roupas de grifes como

possuir uma bolsa Chanel, um sapato Louboutin e um mergulho na Daslu.

A galera “It” dita a moda e o comportamento na alta sociedade. A moda,

por sua vez, se tornou uma linguagem instantânea, que traduz no primeiro con-

tato visual de qual tribo é aquela pessoa. Ser da tribo urbana “It” significa ter

uma forma exageradamente arrumada de se vestir, porque são pessoas sempre

preocupadas com a aparência. Rafael Vasconcelos de Carvalho, 22 anos, estu-

dante, conta que mesmo “pertencendo” a esta regra, ele tem as suas exceções.

“A forma como eu me visto depende muito do meu humor. Não tenho um único

estilo que sigo porque gosto de ser diferente, de coisas diferentes e que chamem

atenção. Gosto de usar o que me faz sentir bem, desde que seja em um estilo

mais leve como esporte fino e o casual”, explica. Ele ainda ressalta que, nestes

estilos “It”, ele pode destacar o uso do jeans básico, camisas de mangas curtas

e compridas, camisetas e tênis, desde que esteja sempre combinando. “Quando

estou de bom humor, uso e abuso do meu look. E, se a primeira impressão é a

que fica, o vestuário de uma pessoa é o que pode formar a opinião sobre ela”.

Na hora da diversão, a turma dos “Its” possui um forte gosto musical

para o pop e a música eletrônica. “Eu curto todos os tipos de balada. Até

porque, quem faz o lugar somos nós mesmos. Mas admito que tenho pre-

ferência por baladas eletrônicas como raves, boates e PVT´s (Tradução de

privado em inglês – private – e que significa uma rave de pequeno porte,

uma festa privada). Estar na balada é curtir os amigos, conhecer pessoas,

esbarrar no amor, ser livre por um instante fazendo algo que agrade, é dei-

xar a música levar o corpo para um estágio de prazer. Enfim, o que nunca

pode faltar é alegria e responsabilidade”, conclui.

Ainda existem aqueles que preferem não ter tribo ou os que transi-

tam por diversas tribos adaptando para si as características de cada uma

que mais lhe agradam. Os “sem tribo” não costumam se juntar a um grupo por causa de uma característica específica apenas.

Eles têm amigos, por exemplo, com gostos culturais

absolutamente diferentes dos seus. Isto talvez dei-

xe claro que a motivação inicial por se unir a uma

“tribo” recebeu outros ingredientes, como estilo,

sentimento de proteção, amizade, submissão, ou

mesmo união em torno de determinado ideal.

Para esses a pergunta se abre e se transforma:

Quais são as suas? y

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“Quem não sonhou em ser um jogador de

futebol”. O trecho do refrão da música “É uma

partida de futebol”, da banda mineira Skank, ilus-

tra o desejo comum de muitos jovens espalhados

pelo Brasil que buscam um futuro melhor para a

família por meio dessa modalidade esportiva. No

futebol amador não é diferente. Em Governador

Valadares, as categorias de base dos principais

clubes amadores sempre foram um grande celeiro

de novos atletas que, após alcançarem destaque

no time, seguem para o Esporte Clube Democrata,

clube profissional da cidade ou, até mesmo, para

testes nos grandes clubes da capital mineira.

Um exemplo é o ex-jogador e atual presi-

dente do União Santa Rita, Walber Cota. “Come-

cei a jogar com 11 anos de idade no Coopevale, do

bairro São Paulo. Fiquei lá até os 16 anos, quando

fui campeão do time principal pela primeira vez,

ainda sendo juvenil. Depois disso fui para o Demo-

crata, em 1993, onde fiquei até 1998”.

Aquele esportista que havia saído do fute-

bol amador ganhou destaque na Pantera (mas-

cote do time valadarense) durante os cinco anos

que ficou no estádio José Mammoud Abbas, o

que acabou chamando a atenção dos lusitanos.

“Com a minha atuação no Democrata, acabei sendo vendido para o

futebol português. Depois disso, retornei ao Brasil, onde atuei em clubes

como Ipatinga, Uberaba, América-RN, Santa Cruz-PE, XV de Piracicaba

e União Barbarense”. A carreira de Walber no futebol profissional foi en-

cerrada em 2005, quando o Democrata foi campeão mineiro da Segunda

Divisão, levando a equipe novamente para a elite do futebol mineiro.

s

'Superacao e amor

ao futebol amadorTEXTO: Diego Dunga [[email protected]] + Fernanda Nominato [[email protected]]

Lutas e esperanças marcam a vida de jogadores amadores que buscam melhores condições de vida por meio do futebol

Atualmente, Walber é presidente do União Esporte Clube, equipe

do Módulo A do Campeonato Amador da cidade. Seu clube sempre figura

entre os favoritos ao título. Nos últimos três anos, a equipe do bairro Santa

Rita chegou em todas as decisões, conquistando dois títulos e perdendo o

último para o Internacional, do bairro Nova JK. “A iniciativa de mexer

com o futebol amador foi da necessidade de se ter no bairro Santa Rita

um time competitivo, além de ter um compromisso com um amigo que foi

o presidente do clube, Oriel Moreira, que faleceu em 2009. Nesses quatro

anos que estou no União, já fomos a três decisões”.

O ex-jogador completa que seu trabalho à frente de um clube ama-

dor nunca foi fácil, principalmente, por causa da escassez de apoio e patro-

cínios. “As dificuldades são grandes para um time amador. Os amigos é que

nos ajudam todos os dias porque senão o clube não anda”.

De jogador a presidente

FOTOS: Arquivo Pessoal - Geraldo Lopes | Arquivo DRD

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Outro caso de superação no futebol amador na cidade aconteceu

com o vice-presidente da Liga de Futebol Amador de Governador Valada-

res, Célio de Souza Gonçalves, mais conhecido como Celinho. Ele conta

que também apresentou sua técnica futebolística nos gramados amadores e

profissionais em vários clubes do país. “Comecei como amador e depois fui

para o profissional. Iniciei com 16 anos no juvenil do Democrata e fiquei no

clube até os 20 anos de idade, que também foi o meu primeiro clube como

profissional. Aos 36 anos, fiz reversão para jogar no amador novamente”.

Ao ser indagado sobre a média de valores dos salários, Celinho

explica que isso nunca foi prioridade para ele enquanto jogava pelos clubes

amadores da cidade. “Sempre joguei para me divertir. Só atuei por clubes

onde tinha amizade. Nunca cobrei para jogar no amador. Quando morei em

Central de Minas, por exemplo, os clubes pagavam a gasolina do meu carro

para vir jogar em Valadares”. Entre os clubes profissionais que ele já jogou

estão o América-MG, Fluminense-RJ, Santo André-SP e Caxias-RS. Ele já

foi campeão amador duas vezes com o Internacional, do bairro Nova JK,

além de atuar na categoria dos veteranos, também em Valadares.

Agora, o ex-jogador trabalha no outro lado do esporte: como

vice-presidente da organização que promove o futebol amador na cidade.

“Trabalhar como dirigente é mais difícil, ter que ajudar na organização e

acompanhar os eventos da Liga de Futebol é mais trabalhoso e a responsa-

bilidade agora é maior”, analisa.

Giros diversos

Gasolina para jogar

Com a camisa do Democrata, Geraldo Lopes conquistou o seu último título como jogador profissional, em 2005

O Esporte Clube Democrata foi o primeiro time profissional de Walber Cota

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Geraldo Lopes, o famoso “Gera”, também

passou pelo futebol amador de Valadares, mas

terminou sua carreira como jogador profissional.

O ex-meia começou no desporto aos 17 anos, no

juvenil do Esporte Clube Democrata, de Governa-

dor Valadares. Somente em 1993 ele entrou para

o futebol profissional, na equipe do Novorizontino,

time do interior de São Paulo. Ele teve outras

passagens em clubes como o Sport, Bahia, Bragantino, ABC-RN, Santo

André e América-MG. Foi a partir daí que o valadarense conheceu o co-

biçado futebol europeu. “O pessoal do Boavista, de Portugal, me observou

e depois me contrataram para atuar lá. Logo no primeiro ano, a gente

conquistou o primeiro campeonato português da equipe na tempora-

da 2000-2001. Tive uma lesão no joelho e acabei retornando ao Brasil,

atuando em clubes como América-RN, Gama, até encerrar a carreira no

Democrata, onde conquistamos a Segunda Divisão Estadual, em 2005”.

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“Existe um contraste entre o amador e o profissional. A infraestrutura não se compara.

Em um clube amador, todo mundo é voluntário”.

O Democrata já utilizou muitos jogadores

do futebol amador mas, segundo o supervisor de

futebol da equipe, Darcy Menezes, como o clube

não disputa um número alto de campeonatos, fica

complicado dar a chance para os garotos da cida-

de. “O futebol amador hoje não oferece nenhuma

contribuição, pelo fato do Democrata não estar

participando de nenhum campeonato. O futebol

amador da cidade já revelou excelentes jogadores e

ajudou muito o nosso time em outros anos”.

Ele lembra que a Pantera já utilizou vários

desses atletas para a disputa de competições de

categoria júnior, como na conquista do Mineiro

dessa categoria, em 2003. “Essa busca por joga-

dores amadores foi mais intensa quando tinha os

campeonatos de juniores, pois era uma oportuni-

dade de revelar os jogadores tanto para a equipe

profissional do Democrata como para o Brasil”. y

O meio-campo Geraldo Lopes (à esquerda) atuou em tradicionais times do Brasil como ABC, América-MG, Santo André, Bahia e Sport

Falta campeonato

Após a aposentadoria no futebol profissio-

nal, Geraldo ingressou na área de treinador de ca-

tegoria de base, buscando revelar novos talentos da

cidade para o esporte. “Fui convidado para traba-

lhar num projeto de captação de atletas de base no

Internacional. Nesse trabalho, procurei me aper-

feiçoar como técnico, onde consegui a formação de

treinador pelo CREF-MG (Conselho Regional de

Educação Física) no final de 2009”.

Entre 2007 e 2008, Geraldo teve a expe-

riência de jogar nos campos de futebol amador

em Valadares com a camisa do Internacional. Ele

explica as diferenças e as peculiaridades que esta

categoria possui em relação ao profissional “Exis-

te um contraste entre o amador e o profissional. A

infraestrutura não se compara. Em um clube ama-

dor, todo mundo é voluntário. Na hora da preleção,

você escuta os jogadores passarem as dicas e não

o treinador, como é no profissional. Outra coisa que

chamava a minha atenção é que não existe o com-

promisso de acordar cedo”.

O ex-jogador também nunca chegou a co-

brar uma “pechincha” para bater uma bola no

futebol amador. “Era como uma troca de favores.

O Internacional me deixava atuar no trabalho das

categorias de base e eu me inscrevia para jogar.

Nunca cobrei nada. Clube amador é voluntariado.

Pode até acontecer de um jogador de 25, 26 anos

do amador ir para um time profissional, mas não

será uma equipe de ponta no futebol brasileiro”

No primeiro ano como jogador do Boavista de Portugal, ‘Gera’ levantou o único título nacional da equipe

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