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AGÊNCIA DE COMUNICAÇÃO 2017 COMPARTILHANDO CUIDADOS NA TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDADE MANUAL Corte Interamericana de Direitos Humanos (CorteIDH)

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AGÊNCIA DE COMUNICAÇÃO

2017COMPARTILHANDO CUIDADOS NA

TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDADE

MANUAL Corte Interamericana de

Direitos Humanos (CorteIDH)

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GUIA DE ESTUDOS

Corte Interamericana de Direitos Humanos – Corte IDH

Caso 12.879, Vladimir Herzog e outros vs. Brasil

Nara Castro da Silva Andrade

Pedro Henrique Araújo Santiago

Rafael Lima Barbosa

Sarah Dam Freitas

1.! COMPOSIÇÃO E DETALHES ACERCA DA CORTE

A Corte Interamericana de Direitos Humanos (doravante, Corte) é um dos

órgãos responsáveis pela proteção regional de tais direitos no Sistema Interamericano de

Proteção, desenvolvido pela Organização dos Estados Americanos (OEA). Mais

especificamente, a Corte é o órgão judiciário desse sistema, como estabelecido pelo seu

Estatuto: “A Corte Interamericana de Direitos Humanos é uma instituição judiciária

autônoma cujo objetivo é a aplicação e a interpretação da Convenção Americana sobre

Direitos Humanos” (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS [OEA], 1979,

art. 1º). O Estatuto da Corte entrou em vigor em 1º de janeiro de 1980, estabelecendo

também as competências, funções, estruturas, composição e outros detalhes

procedimentais e materiais da Corte (OEA, 1979).

É importante lembrar que a criação da Corte Interamericana de Direitos

Humanos já estava prevista na Convenção Americana sobre Direitos Humanos

(doravante, Convenção), adotada em 1969 e também conhecida como Pacto de São José

da Costa Rica. A criação da Corte foi incluída na Convenção por meio de uma proposta

da delegação brasileira (PEREIRA, 2014). O Pacto tem grande importância no contexto

internacional, visto que é o primeiro tratado genérico e regional vinculante sobre a

temática de direitos humanos dentro da OEA, foi o documento que criou a Corte e,

junto com a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (1948), definiu o

patamar mínimo que deve haver para a efetiva proteção dos direitos humanos no

continente americano, ou seja, o mínimo que deve ser garantido nos Estados para a

efetividade da dignidade da pessoa humana (SALVIOLI, 2007).

A Corte é composta por 7 juízes, “nacionais dos Estados membros da OEA,

eleitos a título pessoal dentre juristas da mais alta autoridade moral, de reconhecida

competência em matéria de direitos humanos” (OEA, 1979, art. 4º), e que não devem ter

a mesma nacionalidade. O mandato desses juízes é de seis anos e cada um pode ser

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GUIA DE ESTUDOS

reeleito apenas uma vez. Eles são eleitos pelos Estados-membros da OEA durante a

Assembleia Geral a partir de uma lista de candidatos propostos por esses mesmos

Estados-membros (OEA, 1979).

O funcionamento da Corte se dá em sessões ordinárias e extraordinárias. Um

Presidente e Vice-Presidente são eleitos pelos membros da Corte para conduzir as

sessões durante o período de dois anos (OEA, 1979). A Corte tem normas de

funcionamento e Regulamento específicos e, segundo eles, a Comissão Interamericana

de Direitos Humanos (CIDH) é representada por Delegados designados para tais fins e

os Estados parte de um caso são representados por Agentes. Durante o curso do

processo, as supostas vítimas, familiares ou representantes podem participar de forma

autônoma, apresentando petições, argumentos e provas (OEA, 2003).

As audiências da Corte são públicas e acontecem na sede do Tribunal, em São

José da Costa Rica, podendo ser audiências públicas sobre casos contenciosos,

audiências sobre medidas provisória e audiências sobre supervisão do cumprimento de

sentenças (STF, [s.d.]). As deliberações se dão de modo privado, participando delas

apenas os juízes, e as decisões são comunicadas em sessões públicas e por escrito para

as partes (OEA, 1979). Ademais, as sentenças do Tribunal são definitivas e inapeláveis

e, caso seja concluído que o Estado violou algum direito como previsto nas convenções,

ele será responsabilizado internacionalmente (STF, [s.d.]).

A Corte exerce uma função jurisdicional e outra consultiva (OEA, 1979). Para

que a Corte efetive sua função jurisdicional é necessário que todos os outros possíveis

meios de solução amistosa tenham sido esgotados, isto é, todas as possíveis medidas da

CIDH sobre o caso em questão devem ter sido exauridas (OEA, 1969). Somente os

Estados Parte ou a CIDH tem direito de submeter um caso à Corte, porém só poderão

ser processados aqueles relacionados com Estados que tenham reconhecido a

c o m p e t ê n c i a do órgão jurisdicional (OEA, 1969). Atualmente, os Estados que

reconhecem a competência da Corte são: Argentina, Barbados, Bolívia, Brasil, Chile,

Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México,

Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Suriname, Uruguai e

Venezuela (STF, [s.d.]).

Através da função jurisdicional, a Corte determina se o Estado em questão

violou os direitos compreendidos na Convenção Americana ou em outras convenções de

direitos humanos em vigor no sistema interamericano, agindo também na supervisão e

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cumprimento de sentenças (STF, [s.d.]).

A segunda função da Corte é a consultiva, sendo estabelecido pelo art. 64º da

Convenção Americana sobre Direitos Humanos:

1.! Os Estados membros da Organização poderão consultar a Corte sobre a interpretação desta Convenção ou de outros tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos. Também poderão consultá-la, no que lhes compete, os órgãos enumerados no capítulo X da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires. 2.! A Corte, a pedido de um Estado membro da Organização, poderá emitir pareceres sobre a compatibilidade entre qualquer de suas leis internas e os mencionados instrumentos internacionais (OEA, 1969, art. 64º).

A competência consultiva é essencial para que haja uma maior coerência entre a

jurisprudência interna dos Estados e as obrigações de direitos humanos estabelecidos

pelo Sistema Regional de Proteção, além de garantir que não aconteçam interpretações

equivocadas da Convenção de 1969 e de outros tratados. A Corte já elaborou mais de 20

opiniões consultivas até os dias atuais, sendo algumas um grande marco para

consolidação do Direito Internacional, como a opinião número 10 feita em 1989 para

esclarecer os direitos do imigrante no sistema interamericano, sobretudo em relação aos

Estados que não ratificaram a Convenção Americana (PEREIRA, 2014). As opiniões

consultivas se tornaram, no decorrer das décadas, fontes jurisprudenciais importantes,

sendo recorrente seu uso para o embasamento de decisões.

Além dessas duas funções primordiais, a Corte também pode emitir medidas

provisórias, no caso de extrema gravidade e urgência. Elas são “uma resposta

institucional urgente a uma violação ou ameaça de violação de direitos, cujos danos

podem ser irreversíveis” (VENTURA; CETRA, 2012, p. 4). As medidas provisórias não

devem ser confundidas com as medidas cautelares estabelecidas pela CIDH, apesar de

ambas serem respostas a casos emergenciais e extremamente danosos. As medidas

provisórias da Corte estão previstas na Convenção de 1969 e as medidas cautelares

surgem apenas como uma decisão de um órgão político e quase-judicial, não tendo um

caráter obrigatório e funcionando mais como uma ferramenta política de pressão

(VENTURA; CETRA, 2012).

2.!HISTÓRICO DA CORTE

O melhor entendimento do histórico da Corte só é possível através de um

conhecimento mais amplo do próprio Sistema Regional de Proteção dos Direitos

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Humanos dentro das Américas. O primeiro documento que abordou os direitos humanos

em um nível internacional foi a Declaração Americana dos Direitos e dos Deveres do

Homem, proclamada em uma conferência da OEA em 1948, 7 meses antes da

Declaração Universal dos Direitos do Homem declarada pelas Nações Unidas

(GORCZEVSKI; DIAS, 2012). Ambos documentos, no entanto, não são de natureza

jurídica vinculante se considerarmos o ponto de vista formal, tendo um baixo grau de

obrigatoriedade entre os países.

A partir de então, foi se desenvolvendo dentro do âmbito da OEA um consenso

sobre a necessidade de mecanismos efetivos e discussões frequentes a respeito da

proteção regional dos direitos humanos. Como resultado, na conferência de 1959 foi

criada a CIDH, que de início tinha apenas a função de promover os direitos humanos no

sistema americano e posteriormente teve suas atribuições ampliadas. Por uma emenda à

Carta da OEA, em 1967, a CIDH subiu ao status de um dos órgãos principais da

Organização, aumentando o seu grau de normatividade, e também estabeleceu o

compromisso da construção de uma convenção para os direitos humanos nas Américas.

Essa convenção foi concretizada em 1969, com o Pacto de São José da Costa Rica, que

entrou em vigor somente em 1978 (GORCZEVSKI; DIAS, 2012). Atualmente, 25

países ratificaram a convenção, sendo que o depósito do instrumento de ratificação

brasileiro ocorreu em 1992 (OEA, [s.d.]).

É preciso entender também o contexto histórico do continente que construía esse

Sistema Regional de Proteção. Tanto a Comissão quanto a Corte foram desenvolvidas

dentro de um contexto paradoxal, na medida em que esses órgãos defendiam os direitos

fundamentais do ser humano, mas estavam inseridos em um ambiente de regimes

ditatoriais. Dos 11 países que haviam ratificado a Convenção na época em que entrou

em vigor (1978), menos da metade tinham seus governantes democraticamente eleitos.

Ao contrário de outros regimes regionais de proteção, o americano não surge como

resultado de um processo de integração e consolidação da justiça social compartilhada,

mas sim como um dos pontos de partida para futuras mudanças na estrutura político-

social dos Estados-parte (PIOVESAN, 2012).

Dessa forma, a Corte, junto com a CIDH, foram essenciais no período de

transição democrática para a maioria dos países americanos. A democracia de muitos

desses países ainda se encontra em fase de consolidação, sofrendo com reminiscências

do legado das ditaduras, com uma cultura de violência e impunidade e com a baixa

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tradição de respeito aos direitos humanos no âmbito interno. Nesse sentido o Sistema

Interamericano de Proteção, principalmente seu órgão judicial, atua de forma

fundamental para suprir a ausência ou omissão do Estado, contribuindo fortemente para

o avanço do regime de direitos humanos (PIOVESAN, 2012).

Ações que ilustram essa característica da Corte são o caso Velasquez Rodriguez

versus Honduras a respeito de desaparecimento forçado e o caso Almonacid Arellano

versus Chile sobre o perdão de crimes cometidos entre 1973 e 1978 no regime Pinochet.

No primeiro citado, a Corte condenou, em 1989, o Estado de Honduras a pagar uma

compensação aos familiares da vítima, além de reforçar o dever de prevenir, investigar,

processar, punir e reparar as violações cometidas. No segundo caso, a Corte invalidou o

decreto lei que proporcionava o perdão de tais crimes considerando que ele gerava a

denegação de justiça às vítimas e afrontava os deveres estatais de investigar, processar,

punir e reparar graves violações de direitos humanos que constituem crimes de lesa

humanidade. Há também o caso Gomes Lund e outros versus Brasil de 2010, por meio

do qual as disposições da Lei de Anistia brasileira de 1979 são questionadas à luz das

convenções de direitos humanos do Sistema Interamericano (PIOVESAN, 2012).

As opiniões consultivas emitidas pela Corte também endossam esse papel do

órgão no contexto de transição. A opinião a respeito da impossibilidade de adoção de

pena de morte pelo Estado da Guatemala (CORTE INTERAMERICANA DE

DIREITOS HUMANOS [CORTE IDH], 1983) e a opinião que reforça a inviabilidade

da suspensão da garantia judicial de habeas corpus, incluindo em casos de emergência,

com base na Convenção de 1969 (CORTE IDH, 1987) são exemplos que merecem ser

citados. Outro aspecto que demonstra essa relação entre sistema de proteção regional e

redemocratização é a ratificação de diversos tratados sobre direitos humanos por países

recém-saídos de uma ditadura, a qual se dá em grande número. A grande influência dos

mecanismos de proteção na nova estrutura constitucional desses Estados

redemocratizados que, na sua maioria, tendem a ser mais flexíveis e a reconhecer a

hierarquia superior dos tratados de direitos humanos também revela a importância dessa

conexão (PIOVESAN, 2012).

Com relação ao o Estado brasileiro, é importante lembrar que este aceitou a

competência da Corte em 2002 (BRASIL, 2002). Até a época atual, o Brasil sofreu seis

ações contenciosas na Corte Interamericana de Direitos Humanos (CORTE IDH,

[s.d.]a).

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3.! APRESENTAÇÃO, REQUISITOS E TRAMITAÇÃO DAS PETIÇÕES

O presente tópico tem por finalidade esclarecer os conceitos de petição e de

demanda. Além disso, objetiva-se apontar como se dá a apresentação e tramitação das

petições e quais seus respectivos requisitos no âmbito da Corte Interamericana de

Direitos Humanos, segundo seu regulamento.

Antes de compreender a ideia de petição, urge-se entender como se inicia o

procedimento perante a Corte. Segundo a Convenção Americana sobre Direitos

Humanos, somente os Estados Partes e a Comissão têm direito de submeter um caso à

decisão da Corte, isto é, a Corte não está autorizada a atender petições formuladas por

indivíduos ou organizações.

Desta maneira, os indivíduos ou organizações que considerem que existe uma

situação violadora das disposições da Convenção e desejem acudir ao Sistema

Interamericano, devem encaminhar suas denúncias à Comissão Interamericana, a qual é

competente para conhecer de petições que lhe apresente qualquer pessoa ou grupo de

pessoas, ou entidade não governamental legalmente reconhecida que contenham

denúncias ou queixas de violação da Convenção por um Estado Parte (SUPREMO

TRIBUNAL FEDERAL [STF], [s.d.]).

Assim, pode-se passar à análise do que é a petição apresentada perante a

Comissão Interamericana. Segundo Didier Junior (2017), o processo nasce com a

propositura da demanda e, a partir desse ponto, o processo irá se desenrolar com a

prática de novos atos, como a produção de provas, por exemplo. A demanda constrói

uma relação de forma-conteúdo com a petição inicial, isto é, a demanda traz os pedidos

do autor da ação para fixar limites à atividade judicial (que não pode decidir além,

aquém ou fora do que foi pedido), que requer um formato especial, sendo ele a petição.

“Costuma-se dizer que a petição inicial é um projeto de sentença: contém aquilo que o

demandante almeja ser o conteúdo da decisão que vier a acolher o seu pedido” (DIDIER

JUNIOR, 2017, p. 618).

A apresentação das petições na Corte se dá por escrito, mas podem ser

apresentadas pessoalmente ou por algumas outras vias dispostas no art. 26 do

regulamento [da Corte Interamericana de Direitos Humanos] (OEA, 2003). Essas

petições deverão incluir, conforme o Regulamento:

1.! Os pedidos (incluídos os referentes à reparações e custas); as partes no caso; a exposição dos fatos; as resoluções de abertura do procedimento e de admissibilidade da denúncia pela Comissão; as

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provas oferecidas, com a indicação dos fatos sobre os quais as mesmas versarão; a individualização das testemunhas e peritos e o objeto de suas declarações; os fundamentos do direito e as conclusões pertinentes. Além disso, a Comissão deverá indicar o nome e o endereço do denunciante original, bem como o nome e o endereço das supostas vítimas, seus familiares ou seus representantes devidamente acreditados no caso de ser possíveis. 2.! Os nomes dos Agentes ou dos Delegados. 3.! O nome e endereço dos representantes das supostas vítimas e seus familiares. No caso de que esta informação não seja assinalada na demanda, a Comissão será a representante processual daquelas como garantidora do interesse público sob a Convenção Americana, de modo a evitar a falta de defesa das mesmas. Junto com a demanda se acompanhará o relatório a que se refere o artigo 50 da Convenção, se é a Comissão quem a apresenta (OEA, 2003, artigo 33).

Os pontos interessantes são a atuação do presidente da Corte, o qual pode pedir

que o demandante supra as lacunas, no exame preliminar, no prazo de vinte dias (art. 34

do regulamento da Corte Interamericana de Direitos Humanos) e pode, mediante

consulta com a Comissão permanente, rejeitar qualquer petição das partes que considere

improcedente, de modo a determinar a devolução, sem que ocorra nenhum tipo de

trâmite ao processo do interessado. Porém, isso não significa que as escolhas da Corte

sempre serão negativas ao interessado, já que, no art. 27 do regulamento da Corte

Interamericana de Direitos Humanos, pontua que, em casos de não comparecimento ou

de falta de atuação por uma das partes, a Corte, ex officio (“por dever do cargo”), dará

continuação ao processo até sua finalização (OEA, 2003). A finalização do processo

passa por diversas etapas, descritas minuciosamente no regulamento em questão.

Passaremos por tanto, de forma sucinta, por cada um dos tópicos.

Após a proposição da petição, nos termos elencados acima, o Secretário notifica

o presidente e os juízes da Corte, o Estado demandado, a Comissão, o denunciante

original, a suposta vítima, seus familiares ou seus devidos representantes, de modo que

o Estado demandado designe seu Agente no prazo de trinta dias e que a vítima ou seus

representantes apresentem, autonomamente, suas petições, argumentos e provas no

prazo improrrogável de dois meses (OEA, 2003). É de praxe, então, que se apresentem

a contestação à demanda, no prazo de quatro meses, a qual possuirá os mesmos

requisitos da petição inicial e virá em conjunto aos argumentos e provas e, caso

necessário, às exceções preliminares (matérias de defesa prévias alegadas com o intuito

de evitar o julgamento perante a Corte), além disso, “o demandado deverá declarar em

sua contestação se aceita os fatos e os pedidos ou se os contradiz” (OEA, 2003).

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GUIA DE ESTUDOS

Dessa forma, os procedimentos escritos são encerrados e há a abertura do

procedimento oral, posteriormente, o Presidente indicará as audiências necessárias. Nas

audiências em questão, os juízes poderão formular as questões que considerem

pertinentes a qualquer um que compareça perante a Corte – ou seja, para além das

partes, as testemunhas e os peritos, por exemplo, também poderão ser questionadas. É

importante destacar que o Presidente está facultado a resolver quanto à pertinência das

perguntas formuladas e possui o poder de desobrigar de respondê-las a pessoa à qual

foram dirigidas, de modo a delimitar a competência do magistrado.

Serão, então, apresentadas as provas e, posteriormente, ocorrerá o encerramento

do processo – que pode se dar pela desistência do caso (a Corte ainda julgará se cabe ou

não a desistência), pela solução amistosa (as partes concordam em uma solução, um

acordo ou outro fato capaz de solucionar o litígio) ou pelo prosseguimento do exame do

caso. No último caso, será elaborada uma sentença, com diversos requisitos dispostos

no artigo 56 do regulamento da Corte Interamericana de Direitos Humanos, dando,

enfim, conclusão ao processo.

4.! ARGUMENTOS PARA CADA PARTE

a.! Posição da parte requerente

O regime ditatorial brasileiro teve início com um golpe militar em 31 de março

de 1964 e vigorou até 1985. A morte de Vladimir Herzog, portanto, ocorreu durante este

período. A parte requerente alega que este foi um momento em que as forças de

segurança estatais perpetraram graves violações de direitos humanos de maneira

generalizada e sistemática contra membros da sociedade civil que representavam uma

ameaça à estabilidade do regime, como sindicalistas, jornalistas, dissidentes políticos e

estudantes (COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS [CIDH],

2015). Dentre as graves violações de direitos humanos praticadas pelo Estado, os

requerentes citam prisões arbitrárias, tortura e execuções extrajudiciais. Reforçam,

ainda, a censura aos meios de comunicação para impedir que opiniões contrárias às do

regime fossem difundidas, preservando, assim, sua imagem perante a população (CIDH,

2015).

De acordo com a parte requerente, Vladimir Herzog era um destes indivíduos

vistos pelo Estado como uma ameaça, principalmente após a publicação de uma notícia

de sua autoria que fazia uma análise dos primeiros dez anos da ditadura militar no

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Brasil, em 1974. Em 24 de outubro de 1975, o Destacamento de Operações de

Informação do Centro de Operações de Defesa Interna do II Exército (“DOI/CODI”) de

São Paulo tentaram localizar e prender Vladimir Herzog para que o jornalista prestasse

declarações, sem êxito. No dia seguinte, porém, Herzog compareceu voluntariamente ao

DOI/CODI, momento em que foi arbitrariamente detido, sem a ordem de uma

autoridade competente (CIDH, 2015).

No mesmo dia, o então comandante do DOI/CODI anunciou que Vladimir

Herzog fora encontrado morto em sua cela, supostamente por suicídio. A parte

requerente, por sua vez, alega que a morte de Herzog se tratou de “uma execução

extrajudicial perpetrada por meio de tortura, e que foi disfarçada como um suicídio,

prática reiterada durante a ditadura militar brasileira” (CIDH, 2015, p. 4).

Segundo a parte requerente, um Inquérito Policial Militar (IPM N° 1.173/75) foi

iniciado após a morte do jornalista, cuja conclusão para a causa da morte foi suicídio

por enforcamento. Em seguida, o inquérito foi arquivado em 8 de março de 1976. Para

os requerentes, a investigação realizada não foi satisfatória, visto que foi orientada para

assegurar a legalidade da versão segundo a qual Herzog teria se suicidado. Desta forma,

o ocorrido permaneceu impune (CIDH, 2015).

Além do inquérito, uma ação declaratória civil (Ação Declaratória N° 136/76)

foi apresentada pelos familiares de Herzog, requerendo a responsabilização da União

Federal pela prisão arbitrária, tortura e morte do jornalista, além de solicitar uma

indenização. A ação civil foi objetada depois que elementos que disfarçavam a morte

por tortura de Herzog como suicídio foram descobertos, sobretudo através de

depoimentos de outros presos políticos do DOI/CODI de São Paulo. A parte requerente

ressalta que essa ação declaratória estabeleceu, sem dúvidas, a prisão arbitrária, tortura e

assassinato de Vladimir Herzog nas dependências do DOI/CODI em São Paulo (CIDH,

2015).

Em 28 de agosto de 1979, foi sancionada a Lei 6.683 (também conhecida como

“Lei de Anistia”), que revogou a responsabilidade penal dos indivíduos que haviam

cometido crimes políticos no período de 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979.

A referida lei continua em vigência e, para os requerentes, representa um obstáculo à

responsabilização penal de graves violações de direitos humanos, como as do presente

caso; representam, ainda, uma violação das obrigações do Estado presentes na

Convenção Americana sobre Direitos Humanos, de 1969 (CIDH, 2015).

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Mesmo com o obstáculo da Lei de Anistia, diversas tentativas posteriores de

responsabilização dos envolvidos na morte de Herzog foram feitas. O Ministério

Público Estadual de São Paulo, por exemplo, solicitou à Polícia Civil uma investigação

a respeito da morte do jornalista em 1992, após a publicação de uma notícia na qual um

oficial do DOI/CODI declarou ter interrogado Herzog, além de estar envolvido em sua

morte. O inquérito policial foi arquivado, com base na Lei de Anistia, após a

interposição de um recurso de habeas corpus à 4ª Câmara do Tribunal de Justiça de São

Paulo pelo oficial do DOI/CODI citado na notícia. O Ministério Público Estadual ainda

tentou uma apelação, mas a decisão foi confirmada pelo Superior Tribunal de Justiça

em 1993 (CIDH, 2015).

A parte requerente também chamou atenção para fatos posteriores que

esclarecem cada vez mais a ocorrência de graves violações de direitos humanos durante

a ditadura militar brasileira. Através da Lei 9.140/95, por exemplo, “o Estado

reconheceu sua responsabilidade pelas mortes e pelos desaparecimentos ocorridos

durante o período do regime militar” (CIDH, 2015, p. 4). Ademais, houve a criação de

uma Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, que resultou na

publicação de um relatório intitulado “Direito à Memória e à Verdade”. De acordo com

a parte requerente, o Estado reconheceu sua responsabilidade pela tortura e morte de

Vladimir Herzog no livro “Direito à Memória e à Verdade”. Vale ressaltar, também, a

sentença emitida pela Corte Interamericana de Direitos Humanos em 24 de novembro

de 2010 acerca do caso Gomes Lund e outros (Guerrilha do Araguaia) vs. Brasil

(CIDH, 2015).

Em 5 de março de 2008, representados do Ministério Público Federal de São

Paulo solicitaram ao Procurador da República de São Paulo uma investigação a respeito

da morte de Herzog. O responsável pela área criminal deste mesmo Ministério

discordou dos demais colegas e solicitou o arquivamento do processo (CIDH, 2015).

Em suma, a parte requerente alega que a Lei de Anistia e outras disposições de

direito interno impedem que Vladimir Herzog e seus familiares tenham acesso à

proteção judicial, ao seu direito de serem ouvidos por uma autoridade competente e

impedem a obtenção de uma reparação adequada. A atual impunidade dos fatos também

configura uma violação dos artigos 4, 5 e 7 da Convenção Americana, que estão

diretamente relacionadas ao dever geral estabelecido no artigo 1.1 do mesmo

instrumento. Ao violar as disposições da Convenção Americana, o Estado também

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assume uma responsabilidade internacional por omissão (CIDH, 2015).

A sentença da Corte Interamericana no caso Gomes Lund e outros, que

responsabilizou o Estado brasileiro, é um grande referencial para a argumentação da

parte requerente no caso de Vladimir Herzog. Nesta sentença, o tribunal determinou que

a Lei de Anistia não poderia representar um obstáculo à investigação e punição das

graves violações de direitos humanos, tanto para os fatos referentes ao caso Gomes

Lund e outros, como para quaisquer outras violações ocorridas no Brasil (CIDH, 2015).

b.! Posição do Estado

O Estado brasileiro negou ter se omitido quanto aos fatos denunciados, e alegou

ter reconhecido formalmente, em âmbito interno, sua responsabilidade pela prisão

arbitrária, tortura e assassinato de Vladimir Herzog por agentes do Estado. Para tanto,

citou a sentença de 1978 da Justiça Federal. O Estado argumentou, ainda, ter adotado

medidas de reparação e não repetição em relação à morte de Herzog, incluindo a

reparação monetária de R$ 100.000,00 à sua viúva, Clarice Herzog, através da

Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (CIDH, 2015). O Estado

brasileiro destacou que a morte do jornalista foi um acontecimento revelador que

chamou atenção para as violações de direitos humanos cometidas durante a ditadura

militar, o que abriu espaço para discussões sobre a redemocratização do país (CIDH,

2015).

O Estado também acredita que o livro “Direito à Memória e à Verdade”,

elaborado pela Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, é uma das

iniciativas que visa preservar o direito à memória do jornalista. Ademais, o Estado

apoiou a criação do Instituto Vladimir Herzog em 2009, contribuindo assim para a

proteção do direito à vida e do acesso à justiça. Em dezembro de 2011, a Secretaria de

Direitos Humanos da Presidência da República deu ao Instituto Vladimir Herzog o

prêmio nacional de direitos humanos na categoria de “Verdade e Memória” (CIDH,

2015).

Em 2012, por sua vez, a Casa Civil da Presidência da República criou a

Comissão Nacional da Verdade (doravante, CNV) com o objetivo de esclarecer as

graves violações de direitos humanos perpetradas durante a ditadura. Apesar de não

possuir caráter persecutório ou jurisdicional, a importância da CNV estava na

identificação dos responsáveis e na publicação do resultado de suas apurações (CIDH,

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2015).

O mandato da CNV teve fim em 2014, e o Relatório apresentado neste ano

trouxe esclarecimentos sobre diversos casos de violações de direitos humanos no

período da ditadura, incluindo o de Vladimir Herzog. O Estado afirma que as

informações presentes no relatório apontam as circunstâncias da morte do jornalista,

bem como a lista de agentes que poderiam ser responsabilizados pelas violações

perpetradas contra ele. Desta forma, o Brasil considerou inexistentes quaisquer dúvidas

acerca das circunstâncias da morte de Herzog (CIDH, 2015).

O Estado brasileiro informou também que, em 2012, a 2ª Vara de Registros

Públicos do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo requereu a retificação do

atestado de óbito de Vladimir Herzog. O pedido foi feito para constatar que a morte do

jornalista fora em consequência de “lesões e maus tratos sofridos sob a custódia do

Exército” (CIDH, 2015, p. 7).

O Brasil indicou que a CNV, cujo caráter não persecutório foi constatado na

seção anterior, recomendou em seu relatório final a continuidade das investigações

penais para identificar e responsabilizar os agentes envolvidos nas violações de direitos

humanos verificadas. Além disso, reforçou que três projetos de lei tramitam no

Congresso Nacional e duas ações de controle de constitucionalidade tramitam no

Supremo Tribunal Federal (doravante, STF) visando alterar a Lei de Anistia (CIDH,

2015).

Desde 2012, tomando como base as recomendações da Corte na sentença do

caso Gomes Lund e outros (Guerrilha do Araguaia), o Estado brasileiro iniciou

aproximadamente

290 procedimentos de investigação criminal e foram ajuizadas 12 ações penais contra 24 agentes civis e militar envolvidos ligados à ocultação de cadáveres, sequestro, homicídio, associação criminosa armada, fraude processual e transporte de explosivos (CIDH, 2015, p. 8).

Ainda visando seguir as recomendações estabelecidas pela Corte no caso Gomes

Lund e outros (Guerrilha do Araguaia), o Estado brasileiro criou, em 2011, o Grupo de

Trabalho “Justiça Transicional” na 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério

Público Federal. Este Grupo de Trabalho fez um levantamento das 434 pessoas

indicadas como vítimas de morte ou desaparecimento durante a ditadura militar

presentes no relatório da CNV, com o objetivo de dar início a novas investigações. O

Brasil ressaltou que a atuação do Ministério Público Federal não se limita às violações

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ocorridas na Guerrilha do Araguaia e que a sentença da Corte referente a este caso está

recebendo uma interpretação ampla. Informou, também, sobre um acordo assinado

entre a Procuradoria Geral da República e a Procuradoria Geral da Nação Argentina

para a criação da primeira equipe conjunta de investigação com foco na Operação

Condor1 (CIDH, 2015).

O Estado brasileiro também se comprometeu com a implementação de outras

medidas relacionadas ao direito à verdade e à memória, bem como à justiça transicional.

A discussão acerca destas medidas ocorre sobretudo nos âmbitos da Comissão de

Anistia do Ministério da Justiça, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da

República e do Ministério Público Federal (CIDH, 2015).

5.! PRECEDENTES DA CORTE RELEVANTES

Para o caso Vladimir Herzog, é importante a definição da lei aplicável. Isso

porque os fatos cometidos pelo Brasil são antigos: “a suposta detenção arbitrária, tortura

e morte da presumida vítima teriam ocorrido em 25 de outubro de 1975, antes que o

Brasil tivesse ratificado a Convenção Americana e a Convenção Interamericana para

Prevenir e Punir a Tortura” (CIDH, 2012). À época, o Brasil já havia ratificado,

contudo, a Carta da Organização dos Estados Americanos (OEA, 1948), a qual já

previa, em seu artigo 106, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos como

responsável por “promover o respeito e a defesa dos direitos humanos”, direitos esses

que estariam esculpidos na Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem,

também já ratificada pelo Brasil à época. Na Opinião Consultiva 10/89, a Corte

declarou que “para os Estados Membros da Organização, a Declaração é o texto que

define os direitos humanos referidos na Carta” (CORTE IDH, 1989, tradução nossa).

Com base nesse entendimento, a CIDH solicita a condenação do Brasil por violação à

Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem. Ressalta-se, contudo, que,

conforme a decisão, a Corte pode emitir opiniões consultivas sobre a interpretação dessa

declaração, dentro dos limites de sua competência e em relação com a Carta da

Organização dos Estados Americanos e a Convenção Americana. Caso semelhante a

1 A Operação Condor, formalizada em reunião secreta realizada em Santiago do Chile no final de outubro de 1975, é o nome que foi dado à aliança entre as ditaduras instaladas nos países do Cone Sul na década de 1970 – Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai – para a realização de atividades coordenadas, de forma clandestina e à margem da lei, com o objetivo de vigiar, sequestrar, torturar, assassinar e fazer desaparecer militantes políticos que faziam oposição, armada ou não, aos regimes militares da região (COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE [CNV], [s.d.]).

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esse é o da Opinião Consultiva 19/05 (CORTE IDH, 2005, parágrafo 18). Questiona-se,

portanto, se seria possível uma decisão baseada unicamente na Declaração Americana.

A Opinião Consultiva referida, de todo modo, como já afirmado pela Corte, tem

força vinculativa para todos os Estados Membros da OEA, mesmo aqueles que não

ratificaram a Convenção Americana (CORTE IDH, 2003, parágrafo 50 e 64; CORTE

IDH, 2014a).

Outra questão relevante para o caso Vladimir Herzog é a existência de uma

obrigação estatal e uma ação ou omissão na qual se incorreu em falta. Destaca-se, para

tanto, o caso Massacre de Dos Erres vs. Guatemala (CORTE IDH, 2009, parágrafo 197)

e o caso Velásquez Rodríguez vs. Honduras. Neste último, afirmou-se:

A obrigação de garantir o livre e pleno exercício dos direitos humanos não se esgota com a existência de uma ordem normativa dirigida a fazer possível o cumprimento desta obrigação, mas comporta a necessidade de uma conduta governamental que assegure a existência, na realidade, de uma eficaz garantia do livre e pleno exercício dos direitos humanos (CORTE IDH, 1988, parágrafo 167).

Caso importante que também envolve anistia a atos de violação aos direitos

humanos é o caso Gelman vs. Uruguai. Nesse caso, a aplicação da Ley de Caducidad

feita pelo Uruguai foi considerada uma não-adequação do Estado Membro à Convenção

Americana, motivo pelo qual o país foi condenado (CORTE IDH, [s.d.]b). O país não

cumpriu a sentença e a Corte IDH requereu informações sobre as medidas que já foram

adotadas para o cumprimento (CORTE IDH, 2013). Disposições semelhantes sobre a

necessidade de controle de convencionalidade por parte do Estado Membro estão nos

casos Almonacid Arellano e outros vs. Chile (Corte IDH, 2006, parágrafo 124) e Liakat

Ali Alibux vs. Suriname (CORTE IDH, 2014b, parágrafo 124).

Já especificamente sobre tortura, destaca-se o caso Cantoral Benavides Vs. Perú,

em que a Corte IDH utilizou definições de tortura da Convenção contra a Tortura e

outro Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, com referência a

interpretação da Corte Europeia de Direitos Humanos, quanto definição da Convenção

Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (CORTE IDH, 2000, parágrafo 97 e

seguintes).

6.! GLOSSÁRIO

a.! Adesão

Meio pelo qual um Estado assume os compromissos de um acordo internacional

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após o período especificado durante o qual o acordo ficou disponível para ser assinado

(vide “Assinatura” abaixo), mesmo não tendo participado das deliberações ocorridas. O

procedimento de adesão é regulado pelo artigo 15 da Convenção de Viena sobre o

Direito dos Tratados (SECRETARIADO-GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS, 1969)

b.! Admissibilidade (“juízo de”, “critério de” ou “exame de”)

Análise, por um juiz ou um tribunal (ou, no caso do sistema americano de

direitos humanos, da CIDH), das condições formais de uma ação ou petição. Leis e

tratados estabelecem requisitos para um processo ser iniciado ou um pedido ser feito, e,

antes de o mérito do processo ou do pedido ser analisado, os tribunais e juízes devem

saber se esses requisitos estão sendo cumpridos.

No caso da Corte, para um caso como o de Vladimir Herzog, um processo deve

estar adequado aos seguintes requisitos dispostos no art. 46 da Convenção Americana

de Direitos Humanos (OEA, 1969):

•! que hajam sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdição interna, de

acordo com os princípios de direito internacional geralmente reconhecidos;

•! que seja apresentada dentro do prazo de seis meses, a partir da data em que o

presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisão

definitiva;

•! que a matéria da petição ou comunicação não esteja pendente de outro processo

de solução internacional; e

•! que a petição contenha o nome, a nacionalidade, a profissão, o domicílio e a

assinatura da pessoa ou pessoas ou do representante legal da entidade que

submeter a petição.

A CIDH já declarou a petição do caso Vladimir Herzog e outros vs. Brasil

admissível, conforme o relatório nº 80/12 (CIDH, 2012).

c.! Assinatura e ratificação

A assinatura traduz-se em ato importante na fase de elaboração de um tratado

internacional por garantir às partes envolvidas, a autenticidade e a definitividade do

texto produzido, não sendo admitida posterior modificação, salvo se as partes

acordarem novamente sobre o caso (AQUINO, 2010).

A assinatura se difere da ratificação, esse ato sim que, por final, “torna o tratado

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obrigatório no âmbito internacional, mas, no direito interno de todos os países, deve-se

observar o trâmite para a integração no ordenamento jurídico interno” (AQUINO,

2010).

d.! Controles de constitucionalidade e de convencionalidade

São mecanismos de defesa da integridade da constituição de um Estado e de

convenções que ele adota, respectivamente. No Brasil, são exercidos pelo Poder

Judiciário, que pode decidir pela nulidade de certo ato do Poder Público (seja do Poder

Executivo, seja do Poder Legislativo) frente à Constituição ou a normas supralegais

(BRANCO; MENDES, 2012).

e.! Convenção

Atos multilaterais, oriundos de conferências internacionais e que versem assunto

de interesse geral, como por exemplo, as convenções de Viena sobre relações

diplomáticas, relações consulares e direito dos tratados; as convenções sobre aviação

civil, sobre segurança no mar, sobre questões trabalhistas. É um tipo de instrumento

internacional destinado em geral a estabelecer normas para o comportamento dos

Estados em uma gama cada vez mais ampla de setores. No entanto, existem algumas

poucas convenções bilaterais, como a Convenção destinada a evitar a dupla tributação e

prevenir a evasão fiscal celebrada com a Argentina (1980) e a Convenção sobre

Assistência Judiciária Gratuita celebrada com a Bélgica (1955) (BRASIL, [s.d.]).

f.! Denúncia (de um tratado)

Por meio da DENÚNCIA, o Estado manifesta sua vontade de deixar de ser parte

no acordo internacional. Há título de exemplo da ratificação e da adesão, a denúncia é

um ato unilateral. O artigo 56 da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados

admite também a denúncia quando ela é consagrada implicitamente "pela natureza do

tratado” (SECRETARIADO-GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS, 1969). Determina

ainda que o lapso de tempo entre a apresentação da denúncia e a data a partir da qual ela

produzirá efeito é de 12 meses (AQUINO, 2010).

g.! Direito internacional

Trata-se de uma ordem jurídica criada por Estados e para ser aplicada entre eles

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(como é o caso do Sistema Interamericano de Direitos Humanos da Organização dos

Estados Americanos), sempre preservada a soberania estatal. Diferencia-se das noções

de direito supranacional, que se trata de uma ordem com instituições próprias que

podem submeter os Estados à sua vontade (como a União Europeia), num

enfraquecimento da soberania, e de ordem transnacional, que se trata de uma ordem

criada independentemente de um Estado e baseada em legislação, contratos e

jurisprudência autônomos (NEVES, 2013; TEUBNER, 2003).

h.! Direitos Humanos

Tentativa de inclusão de pessoas do modo mais generalizado possível e

independentemente de vontades políticas ou econômicas (NEVES, 2005).

Internacionalmente, tem base em convenções internacionais tais como a Declaração

Universal de Direitos Humanos de 1948, o Acordo de 1966 sobre Direitos Econômicos,

Sociais e Culturais e o Acordo de 1966 sobre Direitos Civis e Políticos

(INTERNATIONAL COMMITTEE OF THE RED CROSS, 2010). A Declaração

Americana dos Direitos e Deveres do Homem de 1948 e a Convenção

Americana sobre Direitos Humanos de 1969 também são exemplos.

i.! Doutrina

A doutrina corresponde a estudos científicos elaborados por juristas no âmbito

da Academia – em outras palavras, ao que os livros dizem sobre as leis (CONDE,

2016). Não se deve confundir com a expressão “law on the books”, utilizada em países

de common law para fazer referência à legislação pura (num contraposto à “law in

action”, que corresponde à lei tal qual é interpretada pelos tribunais, ou seja,

corresponde à “jurisprudência”, na nomenclatura portuguesa).

j.! Duplo grau de jurisdição

Configuração de tribunais que permite que um caso possa ser julgado em uma

primeira instância e, depois, sofre recurso para ser reavaliado em uma segunda

instância. No Brasil, não é previsto expressamente na Constituição atual, embora se

afirme (RIBEIRO, 2006) que o direito está implícito nas garantias constitucionais do

contraditório, ampla defesa e devido processo legal. O Supremo Tribunal Federal,

contudo, já reconheceu que o duplo grau de jurisdição não é garantido

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constitucionalmente, de modo que mesmo a previsão expressa sobre o tema na

Convenção Americana (artigo 8.2.h) seria inconstitucional (BRASIL, 2000, BRANCO;

MENDES, 2012).

h. Estado

A análise da grande variedade de conceitos revela duas orientações fundamentais: ou se dá mais ênfase a um elemento concreto ligado à noção de força, ou se realça a natureza jurídica, tomando-se como ponto de partida a noção de ordem. (...) tendo em conta a possibilidade e a conveniência de se acentuar o componente jurídico do Estado, sem perder de vista a presença necessária dos fatores não-jurídicos, parece-nos que se poderá conceituar o Estado como a ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado em determinado território. Nesse conceito se acham presentes todos os elementos que compõem o Estado, e só esses elementos. A noção de poder está implícita na de soberania, que, no entanto, é referida como característica da própria ordem jurídica. A politicidade do Estado é afirmada na referência expressa ao bem comum, com a vinculação deste a um certo povo e, finalmente, territorialidade, limitadora da ação jurídica e política do Estado, está presente na menção a determinado território. (DALLARI, 2010, p. 44).

l.! Execução

Como afirmado no Federalista nº 78 (HAMILTON, 1788), o Judiciário é o mais

fraco dos poderes, visto que ele não detém nem a espada (a força militar do Executivo),

nem a carteira (o controle financeiro do Legislativo). Para executar suas decisões, ele

depende de outros poderes – no caso da Corte, do próprio poder do Estado condenado,

já que, conforme o art. 68.2 da Convenção Americana, a sentença da Corte que

determina “indenização compensatória poderá ser executada no país respectivo pelo

processo interno vigente para a execução de sentenças contra o Estado” (OEA, 1969).

No caso do Brasil, se uma sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos não

for cumprida espontaneamente (como ocorreu no caso Damião Ximenes Lopes,

conforme o Decreto nº 6.185/2007), o caso seria julgado por juiz federal conforme o

procedimento vigente para execução contra a Fazenda Pública (PEREIRA, 2009). Não

existe norma específica na Convenção Americana sobre trechos de sentenças da Corte

que não tratam de indenização compensatória.

m.! Fontes do Direito

São a origem das normas a serem seguidas (CONDE, 2016). No Brasil, o art. 4º

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da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro dispõe que os juízes devem

decidir de acordo com a lei e, na omissão dessa, de acordo com a analogia, os costumes

e os princípios gerais do direito (BRASIL, 1942). Por outro lado, a Academia estabelece

a lei, os costumes, a jurisprudência e a doutrina como fontes do direito (CONDE, 2016),

fontes essas que auxiliariam o juiz a entender o que constitui, afinal, a lei que ele deve

interpretar em primeiro lugar. No direito internacional, do Estatuto da Corte

Internacional de Justiça é tradicionalmente apontado como indicador das fontes do

direito internacional:

A Corte, cuja função é decidir de acordo com o direito internacional as controvérsias que lhe forem submetidas, aplicará: a.! as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes; b.! o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como sendo o direito; c.! os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas; d.! sob ressalva da disposição do Artigo 59, as decisões judiciárias e a doutrina dos juristas mais qualificados das diferentes nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de direito. A presente disposição não prejudicará a faculdade da Corte de decidir uma questão ex aequo et bono, se as partes com isto concordarem (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1945, artigo 38).

n.! Integridade pessoal

É garantida pela Convenção Americana, da qual destacam-se os seguintes

trechos:

1.! Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua integridade física, psíquica e moral. 2.! Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada da liberdade deve ser tratada com o respeito devido à dignidade inerente ao ser humano. 6. As penas privativas da liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma e a readaptação social dos condenado (OEA, 1969, artigo 5).

Esse artigo foi complementado por outra convenção assinada no âmbito da

Organização dos Estados Americanos: a Convenção Interamericana para Prevenir e

Punir a Tortura (ratificada pelo Brasil em 1989). De acordo com essa outra convenção:

Para os efeitos desta Convenção, entender-se-á por tortura todo ato pelo qual são infligidos intencionalmente a uma pessoa penas ou sofrimentos físicos ou mentais, com fins de investigação criminal, como meio de intimidação, como castigo pessoal, como medida preventiva, como pena ou com qualquer outro fim. Entender-se-á

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também como tortura a aplicação sobre uma pessoa, de métodos tendentes a anular a personalidade da vítima, ou a diminuir sua capacidade física ou mental, embora não causem dor física ou angústia psíquica. Não estarão compreendidos no conceito de tortura as penas ou sofrimentos físicos ou mentais que sejam consequência de medidas legais ou inerentes a elas, contanto que não incluam a realização dos atos ou a aplicação dos métodos a que se refere este artigo (OEA, 1985, artigo 2).

o.! Jurisdição

A jurisdição é a função atribuída a terceiro imparcial (a) de realizar o Direito de modo imperativo (b) e criativo (c), reconhecendo/efetivando/protegendo situações jurídicas (d) concretamente deduzidas (e), em decisão insuscetível de controle externo (f) e com aptidão para tornar-se indiscutível (g) (DIDIER JÚNIOR, 2011, p. 89).

p.! Jurisprudência

conjunto de decisões uniformes e constantes dos tribunais, resultantes da aplicação de normas a casos semelhantes, constituindo uma norma geral aplicável a todas as hipóteses similares ou idênticas (DINIZ, 1993, p. 265).

q.! Liberdade de expressão

Conforme a Convenção Americana,

Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento e de expressão. Esse direito compreende a liberdade de buscar, receber e difundir informações e ideias de toda natureza, sem consideração de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer outro processo de sua escolha (OEA, 1969, artigo 13.1).

r.! Liberdade pessoal

Conforme a Convenção Americana,

1.! Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoal. 2.! Ninguém pode ser privado de sua liberdade física, salvo pelas causas e nas condições previamente fixadas pelas constituições políticas dos Estados Partes ou pelas leis de acordo com elas promulgadas. 3.! Ninguém pode ser submetido a detenção ou encarceramento arbitrários. 4.! Toda pessoa detida ou retida deve ser informada das razões da sua detenção e notificada, sem demora, da acusação ou acusações formuladas contra ela. 5.! Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade autorizada pela lei a exercer funções judiciais e tem direito a ser julgada dentro de um prazo

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razoável ou a ser posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo. 6.! Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente, a fim de que este decida, sem demora, sobre a legalidade de sua prisão ou detenção e ordene sua soltura se a prisão ou a detenção forem ilegais. Nos Estados Partes cujas leis prevêem que toda pessoa que se vir ameaçada de ser privada de sua liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente a fim de que este decida sobre a legalidade de tal ameaça, tal recurso não pode ser restringido nem abolido. O recurso pode ser interposto pela própria pessoa ou por outra pessoa. (...) (OEA, 1969, artigo 7).

O direito também é assegurado pelo art. XXV da Declaração Americana de

Direitos e Deveres do Homem. A liberdade pessoal ainda se relaciona ao princípio da

legalidade, abordado mais abaixo.

s.! Petição

A petição é, na relação entre o particular e o Estado, o meio pelo qual o

particular faz reclamações, queixas e pedidos em geral. Pode-se dizer que, no âmbito do

sistema americano de direitos humanos, o direito de petição é garantido pelo artigo 25

da Convenção Americana de Direitos Humanos, sob o nome de “direito à proteção

judicial”:

Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a qualquer outro recurso efetivo, perante os juízes ou tribunais competentes, que a proteja contra atos que violem seus direitos fundamentais reconhecidos pela constituição, pela lei ou pela presente Convenção, mesmo quando tal violação seja cometida por pessoas que estejam atuando no exercício de suas funções oficiais (OEA, 1969, artigo 25).

Dentro do âmbito do sistema americano de direitos humanos, o direito de

reclamação contra violação a direitos fundamentais é garantido pelo art. 44 da

Convenção Americana a “qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não-

governamental legalmente reconhecida em um ou mais Estados membros da

Organização” (OEA, 1969), os quais podem apresentar queixas perante a CIDH.

O direito de petição também se encontra no art. XXIV da Declaração

Americana dos Direitos e Deveres do Homem.

t.! Presunção de inocência

Conforme o artigo 8.2 da Convenção Americana, “toda pessoa acusada de delito

tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua

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culpa (...)” (OEA, 1969). O direito também se encontra no art. XXVI da Declaração

Americana dos Direitos e Deveres do Homem. É discutível qual é o tipo de declaração

necessária e em que momento ela deve ser feita para que exista a referida comprovação

legal da culpa.

u.! Princípio da legalidade

O cidadão deve poder distinguir, com segurança, a conduta regular da conduta criminosa, mediante lei anterior, estrita e certa. (...) em outros termos, a prática de um ato, ainda que reprovável de todos os pontos de vista, somente poderá ser reprimida penalmente se houver lei prévia que considere a conduta como crime (MENDES; BRANCO, 2012, p. 687).

No âmbito do sistema americano de direitos humanos, o princípio da legalidade

é garantido em questões criminais, conforme dispõe o art. 9 da Convenção Americana:

Ninguém pode ser condenado por ações ou omissões que, no momento em que forem cometidas, não sejam delituosas, de acordo com o direito aplicável. Tampouco se pode impor pena mais grave que a aplicável no momento da perpetração do delito. Se depois da perpetração do delito a lei dispuser a imposição de pena mais leve, o delinquente será por isso beneficiado OEA, 1969, artigo 9).

Disposições semelhantes são garantidas pela Constituição brasileira vigente nos

incisos XXXIX e XL do seu art. 5º e no art. 2º do Código Penal brasileiro em sua

redação atual, de 1984, ou original, de 1940.

v.! Protocolo

Protocolo é um termo que tem sido usado nas mais diversas acepções, tanto para

acordos bilaterais quanto para multilaterais. Aparece designando acordos menos formais

que os tratados, ou acordos complementares ou interpretativos de tratados ou

convenções anteriores. É utilizado ainda para designar a ata final de uma conferência

internacional. Tem sido usado, na prática diplomática brasileira, muitas vezes sob a

forma de "protocolo de intenções", para sinalizar um início de compromisso (BRASIL,

[s.d.]).

Protocolos adicionais à Convenção Americana são o Protocolo de São Salvador

(ratificado pelo Brasil em 1999), que reconhece o direito à não-discriminação,

estabelece certas limitações às relações de trabalho e reconhece a obrigação dos Estados

de prover certos direitos sociais (como direito à previdência social, à saúde, ao meio

ambiente, à alimentação, à educação, à cultura, etc.); e o Protocolo Referente à Abolição

da Pena de Morte (ratificado pelo Brasil em 1998).

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w.! Recurso

Ato de revisão judicial solicitado por uma das partes após o julgamento ter sido

concluído. “Remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma,

a invalidação, o esclarecimento ou a integração de decisão judicial que se impugna”

(MOREIRA, 1998, p. 207). Não necessariamente envolve fatos novos – as hipóteses

que possibilitam um recurso são definidas nas regras de processo aplicáveis.

No caso da Corte Interamericana de Direitos Humanos, não são admitidos

recursos: conforme o art. 67 da Convenção Americana, “a sentença da Corte será

definitiva e inapelável”, sendo possível apenas que a Corte interprete o sentido ou o

alcance de suas sentenças, caso solicitado pelas partes (OEA, 1969).

x.! Responsabilidade

Dever de reparar que surge com a realização de ato ilícito – em geral, a violação

de algum dever instituído legalmente. O dever que existe para a Convenção Americana

está inscrito em seu artigo 1º:

Os Estados Partes nesta Convenção comprometem-se a respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja sujeita à sua jurisdição, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição social (OEA, 1969).

Essa discussão ganha contornos interessantes em âmbito internacional devido à

necessidade de definição de até onde vai o poder de controle dos “Estados Partes”

citados para saber se um Estado-parte realmente tinha controle sobre a situação cuja

decorrência é, alegadamente, uma violação à Convenção Americana ou não.

y.! Supralegalidade

No ordenamento jurídico brasileiro, desde decisão do STF de 2008 (Recurso

Extraordinário nº 466.343/SP e Habeas Corpus 87.585/TO), tratados internacionais de

direitos humanos devidamente ratificados são considerados superiores às leis ordinárias

e complementares (ou seja, aos atos do Congresso) e inferiores à Constituição. Essa

posição é denominada de supralegalidade (BRANCO; MENDES, 2012). As convenções

relacionadas ao sistema interamericano de direitos humanos todas ocupam essa posição

hierárquica.

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7.! MATERIAL RECOMENDADO

a. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF). O quê, como, quando, onde e o porquê

da Corte Interamericana. [s.d.].

Este documento de autoria do Supremo Tribunal Federal ilustra

satisfatoriamente a organização da Corte (e, de maneira mais geral, o próprio Sistema

Interamericano de Direitos Humanos) enquanto instituição. Portanto, é bibliografia

básica para o entendimento de como funciona o próprio comitê.

b. COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (CIDH). Relatório

nº 71/15, Caso 12.879. Washington, D.C., 2015.

O Relatório de Mérito da Comissão sobre o caso Vladimir Herzog aborda os

fatos e as questões jurídicas (como vistas tanto pela Comissão, quanto pelo Brasil)

envolvidas no caso de maneira detalhada e é, afinal, a peça instauradora do processo a

ser julgado. Por fim, o relatório analisa também as possíveis violações de artigos da

Convenção Americana sobre Direitos Humanos ocorridas. É bibliografia essencial para

conhecimento primário do caso, bem como orientação para direcionamentos futuros a

pesquisas de aprofundamento.

c. ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS (OEA). Convenção Americana

sobre Direitos Humanos. São José: nov. 1969.

O estudo da Convenção Americana sobre Direitos Humanos é essencial para que

se compreendam as disposições do instrumento envolvidas no caso Vladimir Herzog e

outros vs. Brasil.

d. ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS (OEA). Estatuto da Corte

Interamericana de Direitos Humanos. La Paz: out. 1979.

O estudo do Estatuto da Corte Interamericana de Direitos Humanos é essencial

para que se compreendam as regras da Corte Interamericana de Direitos Humanos, o

que permitirá um melhor fluxo do debate nos dias da simulação, minimizando a

necessidade de interrupções por parte da Mesa Diretora e tornando a discussão mais

verossímil.

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8.! QUESTIONAMENTOS FINAIS PARA ORIENTAR A ATUAÇÃO DAS

DELEGADAS

•! A Corte tem competência para julgar o caso?

•! Quais foram os dispositivos da Convenção Americana sobre Direitos Humanos

violados (se violados), indubitavelmente, pelo Estado brasileiro?

•! Existe dispositivos de outras convenções que foram violados? Se sim, quais são

e qual é a competência da Corte IDH para punir o Brasil por uma violação a

eles?

•! Como as violações identificadas podem ser compensadas pelo Estado brasileiro?

•! A Corte tem competência para ordenar a compensação como desejado?

9.! REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AQUINO, L. G. Tratados Internacionais (Teoria Geral). In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIII, n. 75, 2010. Disponível em: <http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7652>. Acesso em: 3 mar. 2017. BRANCO, P. G. G.; MENDES, G. F. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2012. BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Sistema Atos Internacionais. Denominações dos atos internacionais. [s.d.]. Disponível em: <http://dai-mre.serpro.gov.br/apresentacao/tipos-de-atos-internacionais/>. Acesso em: 3 mar. 2017. _______. Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942. Diário Oficial da União, Brasília, 1942. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657.htm>. Acesso em: 16 mai. 2017. _______. Supremo Tribunal Federal. Recurso em Habeas Corpus nº 79.785/RJ. Jorgina Maria de Freitas Fernandes vs. Ministério Público Federal. Relator ministro Sepúlveda Pertence. Brasília, 2000. Informativo 187 do Supremo Tribunal Federal. _______. Decreto nº 4.463, de 8 de novembro de 2002. Diário Oficial da União, Brasília, 2002, Seção 1, p. 1. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2002/decreto-4463-8-novembro-2002-485 986-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 16 abr. 2017. COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (CIDH). Relatório nº 80/12. Washington, D.C., 2012. _______. Relatório nº 71/15, caso 12.879. Washington, D.C., 2015.

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