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AGÊNCIA DE COMUNICAÇÃO
2017COMPARTILHANDO CUIDADOS NA
TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDADE
MANUAL Corte Interamericana de
Direitos Humanos (CorteIDH)
GUIA DE ESTUDOS
Corte Interamericana de Direitos Humanos – Corte IDH
Caso 12.879, Vladimir Herzog e outros vs. Brasil
Nara Castro da Silva Andrade
Pedro Henrique Araújo Santiago
Rafael Lima Barbosa
Sarah Dam Freitas
1.! COMPOSIÇÃO E DETALHES ACERCA DA CORTE
A Corte Interamericana de Direitos Humanos (doravante, Corte) é um dos
órgãos responsáveis pela proteção regional de tais direitos no Sistema Interamericano de
Proteção, desenvolvido pela Organização dos Estados Americanos (OEA). Mais
especificamente, a Corte é o órgão judiciário desse sistema, como estabelecido pelo seu
Estatuto: “A Corte Interamericana de Direitos Humanos é uma instituição judiciária
autônoma cujo objetivo é a aplicação e a interpretação da Convenção Americana sobre
Direitos Humanos” (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS [OEA], 1979,
art. 1º). O Estatuto da Corte entrou em vigor em 1º de janeiro de 1980, estabelecendo
também as competências, funções, estruturas, composição e outros detalhes
procedimentais e materiais da Corte (OEA, 1979).
É importante lembrar que a criação da Corte Interamericana de Direitos
Humanos já estava prevista na Convenção Americana sobre Direitos Humanos
(doravante, Convenção), adotada em 1969 e também conhecida como Pacto de São José
da Costa Rica. A criação da Corte foi incluída na Convenção por meio de uma proposta
da delegação brasileira (PEREIRA, 2014). O Pacto tem grande importância no contexto
internacional, visto que é o primeiro tratado genérico e regional vinculante sobre a
temática de direitos humanos dentro da OEA, foi o documento que criou a Corte e,
junto com a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (1948), definiu o
patamar mínimo que deve haver para a efetiva proteção dos direitos humanos no
continente americano, ou seja, o mínimo que deve ser garantido nos Estados para a
efetividade da dignidade da pessoa humana (SALVIOLI, 2007).
A Corte é composta por 7 juízes, “nacionais dos Estados membros da OEA,
eleitos a título pessoal dentre juristas da mais alta autoridade moral, de reconhecida
competência em matéria de direitos humanos” (OEA, 1979, art. 4º), e que não devem ter
a mesma nacionalidade. O mandato desses juízes é de seis anos e cada um pode ser
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reeleito apenas uma vez. Eles são eleitos pelos Estados-membros da OEA durante a
Assembleia Geral a partir de uma lista de candidatos propostos por esses mesmos
Estados-membros (OEA, 1979).
O funcionamento da Corte se dá em sessões ordinárias e extraordinárias. Um
Presidente e Vice-Presidente são eleitos pelos membros da Corte para conduzir as
sessões durante o período de dois anos (OEA, 1979). A Corte tem normas de
funcionamento e Regulamento específicos e, segundo eles, a Comissão Interamericana
de Direitos Humanos (CIDH) é representada por Delegados designados para tais fins e
os Estados parte de um caso são representados por Agentes. Durante o curso do
processo, as supostas vítimas, familiares ou representantes podem participar de forma
autônoma, apresentando petições, argumentos e provas (OEA, 2003).
As audiências da Corte são públicas e acontecem na sede do Tribunal, em São
José da Costa Rica, podendo ser audiências públicas sobre casos contenciosos,
audiências sobre medidas provisória e audiências sobre supervisão do cumprimento de
sentenças (STF, [s.d.]). As deliberações se dão de modo privado, participando delas
apenas os juízes, e as decisões são comunicadas em sessões públicas e por escrito para
as partes (OEA, 1979). Ademais, as sentenças do Tribunal são definitivas e inapeláveis
e, caso seja concluído que o Estado violou algum direito como previsto nas convenções,
ele será responsabilizado internacionalmente (STF, [s.d.]).
A Corte exerce uma função jurisdicional e outra consultiva (OEA, 1979). Para
que a Corte efetive sua função jurisdicional é necessário que todos os outros possíveis
meios de solução amistosa tenham sido esgotados, isto é, todas as possíveis medidas da
CIDH sobre o caso em questão devem ter sido exauridas (OEA, 1969). Somente os
Estados Parte ou a CIDH tem direito de submeter um caso à Corte, porém só poderão
ser processados aqueles relacionados com Estados que tenham reconhecido a
c o m p e t ê n c i a do órgão jurisdicional (OEA, 1969). Atualmente, os Estados que
reconhecem a competência da Corte são: Argentina, Barbados, Bolívia, Brasil, Chile,
Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México,
Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Suriname, Uruguai e
Venezuela (STF, [s.d.]).
Através da função jurisdicional, a Corte determina se o Estado em questão
violou os direitos compreendidos na Convenção Americana ou em outras convenções de
direitos humanos em vigor no sistema interamericano, agindo também na supervisão e
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cumprimento de sentenças (STF, [s.d.]).
A segunda função da Corte é a consultiva, sendo estabelecido pelo art. 64º da
Convenção Americana sobre Direitos Humanos:
1.! Os Estados membros da Organização poderão consultar a Corte sobre a interpretação desta Convenção ou de outros tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos. Também poderão consultá-la, no que lhes compete, os órgãos enumerados no capítulo X da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires. 2.! A Corte, a pedido de um Estado membro da Organização, poderá emitir pareceres sobre a compatibilidade entre qualquer de suas leis internas e os mencionados instrumentos internacionais (OEA, 1969, art. 64º).
A competência consultiva é essencial para que haja uma maior coerência entre a
jurisprudência interna dos Estados e as obrigações de direitos humanos estabelecidos
pelo Sistema Regional de Proteção, além de garantir que não aconteçam interpretações
equivocadas da Convenção de 1969 e de outros tratados. A Corte já elaborou mais de 20
opiniões consultivas até os dias atuais, sendo algumas um grande marco para
consolidação do Direito Internacional, como a opinião número 10 feita em 1989 para
esclarecer os direitos do imigrante no sistema interamericano, sobretudo em relação aos
Estados que não ratificaram a Convenção Americana (PEREIRA, 2014). As opiniões
consultivas se tornaram, no decorrer das décadas, fontes jurisprudenciais importantes,
sendo recorrente seu uso para o embasamento de decisões.
Além dessas duas funções primordiais, a Corte também pode emitir medidas
provisórias, no caso de extrema gravidade e urgência. Elas são “uma resposta
institucional urgente a uma violação ou ameaça de violação de direitos, cujos danos
podem ser irreversíveis” (VENTURA; CETRA, 2012, p. 4). As medidas provisórias não
devem ser confundidas com as medidas cautelares estabelecidas pela CIDH, apesar de
ambas serem respostas a casos emergenciais e extremamente danosos. As medidas
provisórias da Corte estão previstas na Convenção de 1969 e as medidas cautelares
surgem apenas como uma decisão de um órgão político e quase-judicial, não tendo um
caráter obrigatório e funcionando mais como uma ferramenta política de pressão
(VENTURA; CETRA, 2012).
2.!HISTÓRICO DA CORTE
O melhor entendimento do histórico da Corte só é possível através de um
conhecimento mais amplo do próprio Sistema Regional de Proteção dos Direitos
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Humanos dentro das Américas. O primeiro documento que abordou os direitos humanos
em um nível internacional foi a Declaração Americana dos Direitos e dos Deveres do
Homem, proclamada em uma conferência da OEA em 1948, 7 meses antes da
Declaração Universal dos Direitos do Homem declarada pelas Nações Unidas
(GORCZEVSKI; DIAS, 2012). Ambos documentos, no entanto, não são de natureza
jurídica vinculante se considerarmos o ponto de vista formal, tendo um baixo grau de
obrigatoriedade entre os países.
A partir de então, foi se desenvolvendo dentro do âmbito da OEA um consenso
sobre a necessidade de mecanismos efetivos e discussões frequentes a respeito da
proteção regional dos direitos humanos. Como resultado, na conferência de 1959 foi
criada a CIDH, que de início tinha apenas a função de promover os direitos humanos no
sistema americano e posteriormente teve suas atribuições ampliadas. Por uma emenda à
Carta da OEA, em 1967, a CIDH subiu ao status de um dos órgãos principais da
Organização, aumentando o seu grau de normatividade, e também estabeleceu o
compromisso da construção de uma convenção para os direitos humanos nas Américas.
Essa convenção foi concretizada em 1969, com o Pacto de São José da Costa Rica, que
entrou em vigor somente em 1978 (GORCZEVSKI; DIAS, 2012). Atualmente, 25
países ratificaram a convenção, sendo que o depósito do instrumento de ratificação
brasileiro ocorreu em 1992 (OEA, [s.d.]).
É preciso entender também o contexto histórico do continente que construía esse
Sistema Regional de Proteção. Tanto a Comissão quanto a Corte foram desenvolvidas
dentro de um contexto paradoxal, na medida em que esses órgãos defendiam os direitos
fundamentais do ser humano, mas estavam inseridos em um ambiente de regimes
ditatoriais. Dos 11 países que haviam ratificado a Convenção na época em que entrou
em vigor (1978), menos da metade tinham seus governantes democraticamente eleitos.
Ao contrário de outros regimes regionais de proteção, o americano não surge como
resultado de um processo de integração e consolidação da justiça social compartilhada,
mas sim como um dos pontos de partida para futuras mudanças na estrutura político-
social dos Estados-parte (PIOVESAN, 2012).
Dessa forma, a Corte, junto com a CIDH, foram essenciais no período de
transição democrática para a maioria dos países americanos. A democracia de muitos
desses países ainda se encontra em fase de consolidação, sofrendo com reminiscências
do legado das ditaduras, com uma cultura de violência e impunidade e com a baixa
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tradição de respeito aos direitos humanos no âmbito interno. Nesse sentido o Sistema
Interamericano de Proteção, principalmente seu órgão judicial, atua de forma
fundamental para suprir a ausência ou omissão do Estado, contribuindo fortemente para
o avanço do regime de direitos humanos (PIOVESAN, 2012).
Ações que ilustram essa característica da Corte são o caso Velasquez Rodriguez
versus Honduras a respeito de desaparecimento forçado e o caso Almonacid Arellano
versus Chile sobre o perdão de crimes cometidos entre 1973 e 1978 no regime Pinochet.
No primeiro citado, a Corte condenou, em 1989, o Estado de Honduras a pagar uma
compensação aos familiares da vítima, além de reforçar o dever de prevenir, investigar,
processar, punir e reparar as violações cometidas. No segundo caso, a Corte invalidou o
decreto lei que proporcionava o perdão de tais crimes considerando que ele gerava a
denegação de justiça às vítimas e afrontava os deveres estatais de investigar, processar,
punir e reparar graves violações de direitos humanos que constituem crimes de lesa
humanidade. Há também o caso Gomes Lund e outros versus Brasil de 2010, por meio
do qual as disposições da Lei de Anistia brasileira de 1979 são questionadas à luz das
convenções de direitos humanos do Sistema Interamericano (PIOVESAN, 2012).
As opiniões consultivas emitidas pela Corte também endossam esse papel do
órgão no contexto de transição. A opinião a respeito da impossibilidade de adoção de
pena de morte pelo Estado da Guatemala (CORTE INTERAMERICANA DE
DIREITOS HUMANOS [CORTE IDH], 1983) e a opinião que reforça a inviabilidade
da suspensão da garantia judicial de habeas corpus, incluindo em casos de emergência,
com base na Convenção de 1969 (CORTE IDH, 1987) são exemplos que merecem ser
citados. Outro aspecto que demonstra essa relação entre sistema de proteção regional e
redemocratização é a ratificação de diversos tratados sobre direitos humanos por países
recém-saídos de uma ditadura, a qual se dá em grande número. A grande influência dos
mecanismos de proteção na nova estrutura constitucional desses Estados
redemocratizados que, na sua maioria, tendem a ser mais flexíveis e a reconhecer a
hierarquia superior dos tratados de direitos humanos também revela a importância dessa
conexão (PIOVESAN, 2012).
Com relação ao o Estado brasileiro, é importante lembrar que este aceitou a
competência da Corte em 2002 (BRASIL, 2002). Até a época atual, o Brasil sofreu seis
ações contenciosas na Corte Interamericana de Direitos Humanos (CORTE IDH,
[s.d.]a).
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3.! APRESENTAÇÃO, REQUISITOS E TRAMITAÇÃO DAS PETIÇÕES
O presente tópico tem por finalidade esclarecer os conceitos de petição e de
demanda. Além disso, objetiva-se apontar como se dá a apresentação e tramitação das
petições e quais seus respectivos requisitos no âmbito da Corte Interamericana de
Direitos Humanos, segundo seu regulamento.
Antes de compreender a ideia de petição, urge-se entender como se inicia o
procedimento perante a Corte. Segundo a Convenção Americana sobre Direitos
Humanos, somente os Estados Partes e a Comissão têm direito de submeter um caso à
decisão da Corte, isto é, a Corte não está autorizada a atender petições formuladas por
indivíduos ou organizações.
Desta maneira, os indivíduos ou organizações que considerem que existe uma
situação violadora das disposições da Convenção e desejem acudir ao Sistema
Interamericano, devem encaminhar suas denúncias à Comissão Interamericana, a qual é
competente para conhecer de petições que lhe apresente qualquer pessoa ou grupo de
pessoas, ou entidade não governamental legalmente reconhecida que contenham
denúncias ou queixas de violação da Convenção por um Estado Parte (SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL [STF], [s.d.]).
Assim, pode-se passar à análise do que é a petição apresentada perante a
Comissão Interamericana. Segundo Didier Junior (2017), o processo nasce com a
propositura da demanda e, a partir desse ponto, o processo irá se desenrolar com a
prática de novos atos, como a produção de provas, por exemplo. A demanda constrói
uma relação de forma-conteúdo com a petição inicial, isto é, a demanda traz os pedidos
do autor da ação para fixar limites à atividade judicial (que não pode decidir além,
aquém ou fora do que foi pedido), que requer um formato especial, sendo ele a petição.
“Costuma-se dizer que a petição inicial é um projeto de sentença: contém aquilo que o
demandante almeja ser o conteúdo da decisão que vier a acolher o seu pedido” (DIDIER
JUNIOR, 2017, p. 618).
A apresentação das petições na Corte se dá por escrito, mas podem ser
apresentadas pessoalmente ou por algumas outras vias dispostas no art. 26 do
regulamento [da Corte Interamericana de Direitos Humanos] (OEA, 2003). Essas
petições deverão incluir, conforme o Regulamento:
1.! Os pedidos (incluídos os referentes à reparações e custas); as partes no caso; a exposição dos fatos; as resoluções de abertura do procedimento e de admissibilidade da denúncia pela Comissão; as
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provas oferecidas, com a indicação dos fatos sobre os quais as mesmas versarão; a individualização das testemunhas e peritos e o objeto de suas declarações; os fundamentos do direito e as conclusões pertinentes. Além disso, a Comissão deverá indicar o nome e o endereço do denunciante original, bem como o nome e o endereço das supostas vítimas, seus familiares ou seus representantes devidamente acreditados no caso de ser possíveis. 2.! Os nomes dos Agentes ou dos Delegados. 3.! O nome e endereço dos representantes das supostas vítimas e seus familiares. No caso de que esta informação não seja assinalada na demanda, a Comissão será a representante processual daquelas como garantidora do interesse público sob a Convenção Americana, de modo a evitar a falta de defesa das mesmas. Junto com a demanda se acompanhará o relatório a que se refere o artigo 50 da Convenção, se é a Comissão quem a apresenta (OEA, 2003, artigo 33).
Os pontos interessantes são a atuação do presidente da Corte, o qual pode pedir
que o demandante supra as lacunas, no exame preliminar, no prazo de vinte dias (art. 34
do regulamento da Corte Interamericana de Direitos Humanos) e pode, mediante
consulta com a Comissão permanente, rejeitar qualquer petição das partes que considere
improcedente, de modo a determinar a devolução, sem que ocorra nenhum tipo de
trâmite ao processo do interessado. Porém, isso não significa que as escolhas da Corte
sempre serão negativas ao interessado, já que, no art. 27 do regulamento da Corte
Interamericana de Direitos Humanos, pontua que, em casos de não comparecimento ou
de falta de atuação por uma das partes, a Corte, ex officio (“por dever do cargo”), dará
continuação ao processo até sua finalização (OEA, 2003). A finalização do processo
passa por diversas etapas, descritas minuciosamente no regulamento em questão.
Passaremos por tanto, de forma sucinta, por cada um dos tópicos.
Após a proposição da petição, nos termos elencados acima, o Secretário notifica
o presidente e os juízes da Corte, o Estado demandado, a Comissão, o denunciante
original, a suposta vítima, seus familiares ou seus devidos representantes, de modo que
o Estado demandado designe seu Agente no prazo de trinta dias e que a vítima ou seus
representantes apresentem, autonomamente, suas petições, argumentos e provas no
prazo improrrogável de dois meses (OEA, 2003). É de praxe, então, que se apresentem
a contestação à demanda, no prazo de quatro meses, a qual possuirá os mesmos
requisitos da petição inicial e virá em conjunto aos argumentos e provas e, caso
necessário, às exceções preliminares (matérias de defesa prévias alegadas com o intuito
de evitar o julgamento perante a Corte), além disso, “o demandado deverá declarar em
sua contestação se aceita os fatos e os pedidos ou se os contradiz” (OEA, 2003).
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Dessa forma, os procedimentos escritos são encerrados e há a abertura do
procedimento oral, posteriormente, o Presidente indicará as audiências necessárias. Nas
audiências em questão, os juízes poderão formular as questões que considerem
pertinentes a qualquer um que compareça perante a Corte – ou seja, para além das
partes, as testemunhas e os peritos, por exemplo, também poderão ser questionadas. É
importante destacar que o Presidente está facultado a resolver quanto à pertinência das
perguntas formuladas e possui o poder de desobrigar de respondê-las a pessoa à qual
foram dirigidas, de modo a delimitar a competência do magistrado.
Serão, então, apresentadas as provas e, posteriormente, ocorrerá o encerramento
do processo – que pode se dar pela desistência do caso (a Corte ainda julgará se cabe ou
não a desistência), pela solução amistosa (as partes concordam em uma solução, um
acordo ou outro fato capaz de solucionar o litígio) ou pelo prosseguimento do exame do
caso. No último caso, será elaborada uma sentença, com diversos requisitos dispostos
no artigo 56 do regulamento da Corte Interamericana de Direitos Humanos, dando,
enfim, conclusão ao processo.
4.! ARGUMENTOS PARA CADA PARTE
a.! Posição da parte requerente
O regime ditatorial brasileiro teve início com um golpe militar em 31 de março
de 1964 e vigorou até 1985. A morte de Vladimir Herzog, portanto, ocorreu durante este
período. A parte requerente alega que este foi um momento em que as forças de
segurança estatais perpetraram graves violações de direitos humanos de maneira
generalizada e sistemática contra membros da sociedade civil que representavam uma
ameaça à estabilidade do regime, como sindicalistas, jornalistas, dissidentes políticos e
estudantes (COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS [CIDH],
2015). Dentre as graves violações de direitos humanos praticadas pelo Estado, os
requerentes citam prisões arbitrárias, tortura e execuções extrajudiciais. Reforçam,
ainda, a censura aos meios de comunicação para impedir que opiniões contrárias às do
regime fossem difundidas, preservando, assim, sua imagem perante a população (CIDH,
2015).
De acordo com a parte requerente, Vladimir Herzog era um destes indivíduos
vistos pelo Estado como uma ameaça, principalmente após a publicação de uma notícia
de sua autoria que fazia uma análise dos primeiros dez anos da ditadura militar no
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Brasil, em 1974. Em 24 de outubro de 1975, o Destacamento de Operações de
Informação do Centro de Operações de Defesa Interna do II Exército (“DOI/CODI”) de
São Paulo tentaram localizar e prender Vladimir Herzog para que o jornalista prestasse
declarações, sem êxito. No dia seguinte, porém, Herzog compareceu voluntariamente ao
DOI/CODI, momento em que foi arbitrariamente detido, sem a ordem de uma
autoridade competente (CIDH, 2015).
No mesmo dia, o então comandante do DOI/CODI anunciou que Vladimir
Herzog fora encontrado morto em sua cela, supostamente por suicídio. A parte
requerente, por sua vez, alega que a morte de Herzog se tratou de “uma execução
extrajudicial perpetrada por meio de tortura, e que foi disfarçada como um suicídio,
prática reiterada durante a ditadura militar brasileira” (CIDH, 2015, p. 4).
Segundo a parte requerente, um Inquérito Policial Militar (IPM N° 1.173/75) foi
iniciado após a morte do jornalista, cuja conclusão para a causa da morte foi suicídio
por enforcamento. Em seguida, o inquérito foi arquivado em 8 de março de 1976. Para
os requerentes, a investigação realizada não foi satisfatória, visto que foi orientada para
assegurar a legalidade da versão segundo a qual Herzog teria se suicidado. Desta forma,
o ocorrido permaneceu impune (CIDH, 2015).
Além do inquérito, uma ação declaratória civil (Ação Declaratória N° 136/76)
foi apresentada pelos familiares de Herzog, requerendo a responsabilização da União
Federal pela prisão arbitrária, tortura e morte do jornalista, além de solicitar uma
indenização. A ação civil foi objetada depois que elementos que disfarçavam a morte
por tortura de Herzog como suicídio foram descobertos, sobretudo através de
depoimentos de outros presos políticos do DOI/CODI de São Paulo. A parte requerente
ressalta que essa ação declaratória estabeleceu, sem dúvidas, a prisão arbitrária, tortura e
assassinato de Vladimir Herzog nas dependências do DOI/CODI em São Paulo (CIDH,
2015).
Em 28 de agosto de 1979, foi sancionada a Lei 6.683 (também conhecida como
“Lei de Anistia”), que revogou a responsabilidade penal dos indivíduos que haviam
cometido crimes políticos no período de 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979.
A referida lei continua em vigência e, para os requerentes, representa um obstáculo à
responsabilização penal de graves violações de direitos humanos, como as do presente
caso; representam, ainda, uma violação das obrigações do Estado presentes na
Convenção Americana sobre Direitos Humanos, de 1969 (CIDH, 2015).
GUIA DE ESTUDOS
Mesmo com o obstáculo da Lei de Anistia, diversas tentativas posteriores de
responsabilização dos envolvidos na morte de Herzog foram feitas. O Ministério
Público Estadual de São Paulo, por exemplo, solicitou à Polícia Civil uma investigação
a respeito da morte do jornalista em 1992, após a publicação de uma notícia na qual um
oficial do DOI/CODI declarou ter interrogado Herzog, além de estar envolvido em sua
morte. O inquérito policial foi arquivado, com base na Lei de Anistia, após a
interposição de um recurso de habeas corpus à 4ª Câmara do Tribunal de Justiça de São
Paulo pelo oficial do DOI/CODI citado na notícia. O Ministério Público Estadual ainda
tentou uma apelação, mas a decisão foi confirmada pelo Superior Tribunal de Justiça
em 1993 (CIDH, 2015).
A parte requerente também chamou atenção para fatos posteriores que
esclarecem cada vez mais a ocorrência de graves violações de direitos humanos durante
a ditadura militar brasileira. Através da Lei 9.140/95, por exemplo, “o Estado
reconheceu sua responsabilidade pelas mortes e pelos desaparecimentos ocorridos
durante o período do regime militar” (CIDH, 2015, p. 4). Ademais, houve a criação de
uma Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, que resultou na
publicação de um relatório intitulado “Direito à Memória e à Verdade”. De acordo com
a parte requerente, o Estado reconheceu sua responsabilidade pela tortura e morte de
Vladimir Herzog no livro “Direito à Memória e à Verdade”. Vale ressaltar, também, a
sentença emitida pela Corte Interamericana de Direitos Humanos em 24 de novembro
de 2010 acerca do caso Gomes Lund e outros (Guerrilha do Araguaia) vs. Brasil
(CIDH, 2015).
Em 5 de março de 2008, representados do Ministério Público Federal de São
Paulo solicitaram ao Procurador da República de São Paulo uma investigação a respeito
da morte de Herzog. O responsável pela área criminal deste mesmo Ministério
discordou dos demais colegas e solicitou o arquivamento do processo (CIDH, 2015).
Em suma, a parte requerente alega que a Lei de Anistia e outras disposições de
direito interno impedem que Vladimir Herzog e seus familiares tenham acesso à
proteção judicial, ao seu direito de serem ouvidos por uma autoridade competente e
impedem a obtenção de uma reparação adequada. A atual impunidade dos fatos também
configura uma violação dos artigos 4, 5 e 7 da Convenção Americana, que estão
diretamente relacionadas ao dever geral estabelecido no artigo 1.1 do mesmo
instrumento. Ao violar as disposições da Convenção Americana, o Estado também
GUIA DE ESTUDOS
assume uma responsabilidade internacional por omissão (CIDH, 2015).
A sentença da Corte Interamericana no caso Gomes Lund e outros, que
responsabilizou o Estado brasileiro, é um grande referencial para a argumentação da
parte requerente no caso de Vladimir Herzog. Nesta sentença, o tribunal determinou que
a Lei de Anistia não poderia representar um obstáculo à investigação e punição das
graves violações de direitos humanos, tanto para os fatos referentes ao caso Gomes
Lund e outros, como para quaisquer outras violações ocorridas no Brasil (CIDH, 2015).
b.! Posição do Estado
O Estado brasileiro negou ter se omitido quanto aos fatos denunciados, e alegou
ter reconhecido formalmente, em âmbito interno, sua responsabilidade pela prisão
arbitrária, tortura e assassinato de Vladimir Herzog por agentes do Estado. Para tanto,
citou a sentença de 1978 da Justiça Federal. O Estado argumentou, ainda, ter adotado
medidas de reparação e não repetição em relação à morte de Herzog, incluindo a
reparação monetária de R$ 100.000,00 à sua viúva, Clarice Herzog, através da
Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (CIDH, 2015). O Estado
brasileiro destacou que a morte do jornalista foi um acontecimento revelador que
chamou atenção para as violações de direitos humanos cometidas durante a ditadura
militar, o que abriu espaço para discussões sobre a redemocratização do país (CIDH,
2015).
O Estado também acredita que o livro “Direito à Memória e à Verdade”,
elaborado pela Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, é uma das
iniciativas que visa preservar o direito à memória do jornalista. Ademais, o Estado
apoiou a criação do Instituto Vladimir Herzog em 2009, contribuindo assim para a
proteção do direito à vida e do acesso à justiça. Em dezembro de 2011, a Secretaria de
Direitos Humanos da Presidência da República deu ao Instituto Vladimir Herzog o
prêmio nacional de direitos humanos na categoria de “Verdade e Memória” (CIDH,
2015).
Em 2012, por sua vez, a Casa Civil da Presidência da República criou a
Comissão Nacional da Verdade (doravante, CNV) com o objetivo de esclarecer as
graves violações de direitos humanos perpetradas durante a ditadura. Apesar de não
possuir caráter persecutório ou jurisdicional, a importância da CNV estava na
identificação dos responsáveis e na publicação do resultado de suas apurações (CIDH,
GUIA DE ESTUDOS
2015).
O mandato da CNV teve fim em 2014, e o Relatório apresentado neste ano
trouxe esclarecimentos sobre diversos casos de violações de direitos humanos no
período da ditadura, incluindo o de Vladimir Herzog. O Estado afirma que as
informações presentes no relatório apontam as circunstâncias da morte do jornalista,
bem como a lista de agentes que poderiam ser responsabilizados pelas violações
perpetradas contra ele. Desta forma, o Brasil considerou inexistentes quaisquer dúvidas
acerca das circunstâncias da morte de Herzog (CIDH, 2015).
O Estado brasileiro informou também que, em 2012, a 2ª Vara de Registros
Públicos do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo requereu a retificação do
atestado de óbito de Vladimir Herzog. O pedido foi feito para constatar que a morte do
jornalista fora em consequência de “lesões e maus tratos sofridos sob a custódia do
Exército” (CIDH, 2015, p. 7).
O Brasil indicou que a CNV, cujo caráter não persecutório foi constatado na
seção anterior, recomendou em seu relatório final a continuidade das investigações
penais para identificar e responsabilizar os agentes envolvidos nas violações de direitos
humanos verificadas. Além disso, reforçou que três projetos de lei tramitam no
Congresso Nacional e duas ações de controle de constitucionalidade tramitam no
Supremo Tribunal Federal (doravante, STF) visando alterar a Lei de Anistia (CIDH,
2015).
Desde 2012, tomando como base as recomendações da Corte na sentença do
caso Gomes Lund e outros (Guerrilha do Araguaia), o Estado brasileiro iniciou
aproximadamente
290 procedimentos de investigação criminal e foram ajuizadas 12 ações penais contra 24 agentes civis e militar envolvidos ligados à ocultação de cadáveres, sequestro, homicídio, associação criminosa armada, fraude processual e transporte de explosivos (CIDH, 2015, p. 8).
Ainda visando seguir as recomendações estabelecidas pela Corte no caso Gomes
Lund e outros (Guerrilha do Araguaia), o Estado brasileiro criou, em 2011, o Grupo de
Trabalho “Justiça Transicional” na 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério
Público Federal. Este Grupo de Trabalho fez um levantamento das 434 pessoas
indicadas como vítimas de morte ou desaparecimento durante a ditadura militar
presentes no relatório da CNV, com o objetivo de dar início a novas investigações. O
Brasil ressaltou que a atuação do Ministério Público Federal não se limita às violações
GUIA DE ESTUDOS
ocorridas na Guerrilha do Araguaia e que a sentença da Corte referente a este caso está
recebendo uma interpretação ampla. Informou, também, sobre um acordo assinado
entre a Procuradoria Geral da República e a Procuradoria Geral da Nação Argentina
para a criação da primeira equipe conjunta de investigação com foco na Operação
Condor1 (CIDH, 2015).
O Estado brasileiro também se comprometeu com a implementação de outras
medidas relacionadas ao direito à verdade e à memória, bem como à justiça transicional.
A discussão acerca destas medidas ocorre sobretudo nos âmbitos da Comissão de
Anistia do Ministério da Justiça, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da
República e do Ministério Público Federal (CIDH, 2015).
5.! PRECEDENTES DA CORTE RELEVANTES
Para o caso Vladimir Herzog, é importante a definição da lei aplicável. Isso
porque os fatos cometidos pelo Brasil são antigos: “a suposta detenção arbitrária, tortura
e morte da presumida vítima teriam ocorrido em 25 de outubro de 1975, antes que o
Brasil tivesse ratificado a Convenção Americana e a Convenção Interamericana para
Prevenir e Punir a Tortura” (CIDH, 2012). À época, o Brasil já havia ratificado,
contudo, a Carta da Organização dos Estados Americanos (OEA, 1948), a qual já
previa, em seu artigo 106, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos como
responsável por “promover o respeito e a defesa dos direitos humanos”, direitos esses
que estariam esculpidos na Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem,
também já ratificada pelo Brasil à época. Na Opinião Consultiva 10/89, a Corte
declarou que “para os Estados Membros da Organização, a Declaração é o texto que
define os direitos humanos referidos na Carta” (CORTE IDH, 1989, tradução nossa).
Com base nesse entendimento, a CIDH solicita a condenação do Brasil por violação à
Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem. Ressalta-se, contudo, que,
conforme a decisão, a Corte pode emitir opiniões consultivas sobre a interpretação dessa
declaração, dentro dos limites de sua competência e em relação com a Carta da
Organização dos Estados Americanos e a Convenção Americana. Caso semelhante a
1 A Operação Condor, formalizada em reunião secreta realizada em Santiago do Chile no final de outubro de 1975, é o nome que foi dado à aliança entre as ditaduras instaladas nos países do Cone Sul na década de 1970 – Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai – para a realização de atividades coordenadas, de forma clandestina e à margem da lei, com o objetivo de vigiar, sequestrar, torturar, assassinar e fazer desaparecer militantes políticos que faziam oposição, armada ou não, aos regimes militares da região (COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE [CNV], [s.d.]).
GUIA DE ESTUDOS
esse é o da Opinião Consultiva 19/05 (CORTE IDH, 2005, parágrafo 18). Questiona-se,
portanto, se seria possível uma decisão baseada unicamente na Declaração Americana.
A Opinião Consultiva referida, de todo modo, como já afirmado pela Corte, tem
força vinculativa para todos os Estados Membros da OEA, mesmo aqueles que não
ratificaram a Convenção Americana (CORTE IDH, 2003, parágrafo 50 e 64; CORTE
IDH, 2014a).
Outra questão relevante para o caso Vladimir Herzog é a existência de uma
obrigação estatal e uma ação ou omissão na qual se incorreu em falta. Destaca-se, para
tanto, o caso Massacre de Dos Erres vs. Guatemala (CORTE IDH, 2009, parágrafo 197)
e o caso Velásquez Rodríguez vs. Honduras. Neste último, afirmou-se:
A obrigação de garantir o livre e pleno exercício dos direitos humanos não se esgota com a existência de uma ordem normativa dirigida a fazer possível o cumprimento desta obrigação, mas comporta a necessidade de uma conduta governamental que assegure a existência, na realidade, de uma eficaz garantia do livre e pleno exercício dos direitos humanos (CORTE IDH, 1988, parágrafo 167).
Caso importante que também envolve anistia a atos de violação aos direitos
humanos é o caso Gelman vs. Uruguai. Nesse caso, a aplicação da Ley de Caducidad
feita pelo Uruguai foi considerada uma não-adequação do Estado Membro à Convenção
Americana, motivo pelo qual o país foi condenado (CORTE IDH, [s.d.]b). O país não
cumpriu a sentença e a Corte IDH requereu informações sobre as medidas que já foram
adotadas para o cumprimento (CORTE IDH, 2013). Disposições semelhantes sobre a
necessidade de controle de convencionalidade por parte do Estado Membro estão nos
casos Almonacid Arellano e outros vs. Chile (Corte IDH, 2006, parágrafo 124) e Liakat
Ali Alibux vs. Suriname (CORTE IDH, 2014b, parágrafo 124).
Já especificamente sobre tortura, destaca-se o caso Cantoral Benavides Vs. Perú,
em que a Corte IDH utilizou definições de tortura da Convenção contra a Tortura e
outro Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, com referência a
interpretação da Corte Europeia de Direitos Humanos, quanto definição da Convenção
Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (CORTE IDH, 2000, parágrafo 97 e
seguintes).
6.! GLOSSÁRIO
a.! Adesão
Meio pelo qual um Estado assume os compromissos de um acordo internacional
GUIA DE ESTUDOS
após o período especificado durante o qual o acordo ficou disponível para ser assinado
(vide “Assinatura” abaixo), mesmo não tendo participado das deliberações ocorridas. O
procedimento de adesão é regulado pelo artigo 15 da Convenção de Viena sobre o
Direito dos Tratados (SECRETARIADO-GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS, 1969)
b.! Admissibilidade (“juízo de”, “critério de” ou “exame de”)
Análise, por um juiz ou um tribunal (ou, no caso do sistema americano de
direitos humanos, da CIDH), das condições formais de uma ação ou petição. Leis e
tratados estabelecem requisitos para um processo ser iniciado ou um pedido ser feito, e,
antes de o mérito do processo ou do pedido ser analisado, os tribunais e juízes devem
saber se esses requisitos estão sendo cumpridos.
No caso da Corte, para um caso como o de Vladimir Herzog, um processo deve
estar adequado aos seguintes requisitos dispostos no art. 46 da Convenção Americana
de Direitos Humanos (OEA, 1969):
•! que hajam sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdição interna, de
acordo com os princípios de direito internacional geralmente reconhecidos;
•! que seja apresentada dentro do prazo de seis meses, a partir da data em que o
presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisão
definitiva;
•! que a matéria da petição ou comunicação não esteja pendente de outro processo
de solução internacional; e
•! que a petição contenha o nome, a nacionalidade, a profissão, o domicílio e a
assinatura da pessoa ou pessoas ou do representante legal da entidade que
submeter a petição.
A CIDH já declarou a petição do caso Vladimir Herzog e outros vs. Brasil
admissível, conforme o relatório nº 80/12 (CIDH, 2012).
c.! Assinatura e ratificação
A assinatura traduz-se em ato importante na fase de elaboração de um tratado
internacional por garantir às partes envolvidas, a autenticidade e a definitividade do
texto produzido, não sendo admitida posterior modificação, salvo se as partes
acordarem novamente sobre o caso (AQUINO, 2010).
A assinatura se difere da ratificação, esse ato sim que, por final, “torna o tratado
GUIA DE ESTUDOS
obrigatório no âmbito internacional, mas, no direito interno de todos os países, deve-se
observar o trâmite para a integração no ordenamento jurídico interno” (AQUINO,
2010).
d.! Controles de constitucionalidade e de convencionalidade
São mecanismos de defesa da integridade da constituição de um Estado e de
convenções que ele adota, respectivamente. No Brasil, são exercidos pelo Poder
Judiciário, que pode decidir pela nulidade de certo ato do Poder Público (seja do Poder
Executivo, seja do Poder Legislativo) frente à Constituição ou a normas supralegais
(BRANCO; MENDES, 2012).
e.! Convenção
Atos multilaterais, oriundos de conferências internacionais e que versem assunto
de interesse geral, como por exemplo, as convenções de Viena sobre relações
diplomáticas, relações consulares e direito dos tratados; as convenções sobre aviação
civil, sobre segurança no mar, sobre questões trabalhistas. É um tipo de instrumento
internacional destinado em geral a estabelecer normas para o comportamento dos
Estados em uma gama cada vez mais ampla de setores. No entanto, existem algumas
poucas convenções bilaterais, como a Convenção destinada a evitar a dupla tributação e
prevenir a evasão fiscal celebrada com a Argentina (1980) e a Convenção sobre
Assistência Judiciária Gratuita celebrada com a Bélgica (1955) (BRASIL, [s.d.]).
f.! Denúncia (de um tratado)
Por meio da DENÚNCIA, o Estado manifesta sua vontade de deixar de ser parte
no acordo internacional. Há título de exemplo da ratificação e da adesão, a denúncia é
um ato unilateral. O artigo 56 da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados
admite também a denúncia quando ela é consagrada implicitamente "pela natureza do
tratado” (SECRETARIADO-GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS, 1969). Determina
ainda que o lapso de tempo entre a apresentação da denúncia e a data a partir da qual ela
produzirá efeito é de 12 meses (AQUINO, 2010).
g.! Direito internacional
Trata-se de uma ordem jurídica criada por Estados e para ser aplicada entre eles
GUIA DE ESTUDOS
(como é o caso do Sistema Interamericano de Direitos Humanos da Organização dos
Estados Americanos), sempre preservada a soberania estatal. Diferencia-se das noções
de direito supranacional, que se trata de uma ordem com instituições próprias que
podem submeter os Estados à sua vontade (como a União Europeia), num
enfraquecimento da soberania, e de ordem transnacional, que se trata de uma ordem
criada independentemente de um Estado e baseada em legislação, contratos e
jurisprudência autônomos (NEVES, 2013; TEUBNER, 2003).
h.! Direitos Humanos
Tentativa de inclusão de pessoas do modo mais generalizado possível e
independentemente de vontades políticas ou econômicas (NEVES, 2005).
Internacionalmente, tem base em convenções internacionais tais como a Declaração
Universal de Direitos Humanos de 1948, o Acordo de 1966 sobre Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais e o Acordo de 1966 sobre Direitos Civis e Políticos
(INTERNATIONAL COMMITTEE OF THE RED CROSS, 2010). A Declaração
Americana dos Direitos e Deveres do Homem de 1948 e a Convenção
Americana sobre Direitos Humanos de 1969 também são exemplos.
i.! Doutrina
A doutrina corresponde a estudos científicos elaborados por juristas no âmbito
da Academia – em outras palavras, ao que os livros dizem sobre as leis (CONDE,
2016). Não se deve confundir com a expressão “law on the books”, utilizada em países
de common law para fazer referência à legislação pura (num contraposto à “law in
action”, que corresponde à lei tal qual é interpretada pelos tribunais, ou seja,
corresponde à “jurisprudência”, na nomenclatura portuguesa).
j.! Duplo grau de jurisdição
Configuração de tribunais que permite que um caso possa ser julgado em uma
primeira instância e, depois, sofre recurso para ser reavaliado em uma segunda
instância. No Brasil, não é previsto expressamente na Constituição atual, embora se
afirme (RIBEIRO, 2006) que o direito está implícito nas garantias constitucionais do
contraditório, ampla defesa e devido processo legal. O Supremo Tribunal Federal,
contudo, já reconheceu que o duplo grau de jurisdição não é garantido
GUIA DE ESTUDOS
constitucionalmente, de modo que mesmo a previsão expressa sobre o tema na
Convenção Americana (artigo 8.2.h) seria inconstitucional (BRASIL, 2000, BRANCO;
MENDES, 2012).
h. Estado
A análise da grande variedade de conceitos revela duas orientações fundamentais: ou se dá mais ênfase a um elemento concreto ligado à noção de força, ou se realça a natureza jurídica, tomando-se como ponto de partida a noção de ordem. (...) tendo em conta a possibilidade e a conveniência de se acentuar o componente jurídico do Estado, sem perder de vista a presença necessária dos fatores não-jurídicos, parece-nos que se poderá conceituar o Estado como a ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado em determinado território. Nesse conceito se acham presentes todos os elementos que compõem o Estado, e só esses elementos. A noção de poder está implícita na de soberania, que, no entanto, é referida como característica da própria ordem jurídica. A politicidade do Estado é afirmada na referência expressa ao bem comum, com a vinculação deste a um certo povo e, finalmente, territorialidade, limitadora da ação jurídica e política do Estado, está presente na menção a determinado território. (DALLARI, 2010, p. 44).
l.! Execução
Como afirmado no Federalista nº 78 (HAMILTON, 1788), o Judiciário é o mais
fraco dos poderes, visto que ele não detém nem a espada (a força militar do Executivo),
nem a carteira (o controle financeiro do Legislativo). Para executar suas decisões, ele
depende de outros poderes – no caso da Corte, do próprio poder do Estado condenado,
já que, conforme o art. 68.2 da Convenção Americana, a sentença da Corte que
determina “indenização compensatória poderá ser executada no país respectivo pelo
processo interno vigente para a execução de sentenças contra o Estado” (OEA, 1969).
No caso do Brasil, se uma sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos não
for cumprida espontaneamente (como ocorreu no caso Damião Ximenes Lopes,
conforme o Decreto nº 6.185/2007), o caso seria julgado por juiz federal conforme o
procedimento vigente para execução contra a Fazenda Pública (PEREIRA, 2009). Não
existe norma específica na Convenção Americana sobre trechos de sentenças da Corte
que não tratam de indenização compensatória.
m.! Fontes do Direito
São a origem das normas a serem seguidas (CONDE, 2016). No Brasil, o art. 4º
GUIA DE ESTUDOS
da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro dispõe que os juízes devem
decidir de acordo com a lei e, na omissão dessa, de acordo com a analogia, os costumes
e os princípios gerais do direito (BRASIL, 1942). Por outro lado, a Academia estabelece
a lei, os costumes, a jurisprudência e a doutrina como fontes do direito (CONDE, 2016),
fontes essas que auxiliariam o juiz a entender o que constitui, afinal, a lei que ele deve
interpretar em primeiro lugar. No direito internacional, do Estatuto da Corte
Internacional de Justiça é tradicionalmente apontado como indicador das fontes do
direito internacional:
A Corte, cuja função é decidir de acordo com o direito internacional as controvérsias que lhe forem submetidas, aplicará: a.! as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes; b.! o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como sendo o direito; c.! os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas; d.! sob ressalva da disposição do Artigo 59, as decisões judiciárias e a doutrina dos juristas mais qualificados das diferentes nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de direito. A presente disposição não prejudicará a faculdade da Corte de decidir uma questão ex aequo et bono, se as partes com isto concordarem (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1945, artigo 38).
n.! Integridade pessoal
É garantida pela Convenção Americana, da qual destacam-se os seguintes
trechos:
1.! Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua integridade física, psíquica e moral. 2.! Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada da liberdade deve ser tratada com o respeito devido à dignidade inerente ao ser humano. 6. As penas privativas da liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma e a readaptação social dos condenado (OEA, 1969, artigo 5).
Esse artigo foi complementado por outra convenção assinada no âmbito da
Organização dos Estados Americanos: a Convenção Interamericana para Prevenir e
Punir a Tortura (ratificada pelo Brasil em 1989). De acordo com essa outra convenção:
Para os efeitos desta Convenção, entender-se-á por tortura todo ato pelo qual são infligidos intencionalmente a uma pessoa penas ou sofrimentos físicos ou mentais, com fins de investigação criminal, como meio de intimidação, como castigo pessoal, como medida preventiva, como pena ou com qualquer outro fim. Entender-se-á
GUIA DE ESTUDOS
também como tortura a aplicação sobre uma pessoa, de métodos tendentes a anular a personalidade da vítima, ou a diminuir sua capacidade física ou mental, embora não causem dor física ou angústia psíquica. Não estarão compreendidos no conceito de tortura as penas ou sofrimentos físicos ou mentais que sejam consequência de medidas legais ou inerentes a elas, contanto que não incluam a realização dos atos ou a aplicação dos métodos a que se refere este artigo (OEA, 1985, artigo 2).
o.! Jurisdição
A jurisdição é a função atribuída a terceiro imparcial (a) de realizar o Direito de modo imperativo (b) e criativo (c), reconhecendo/efetivando/protegendo situações jurídicas (d) concretamente deduzidas (e), em decisão insuscetível de controle externo (f) e com aptidão para tornar-se indiscutível (g) (DIDIER JÚNIOR, 2011, p. 89).
p.! Jurisprudência
conjunto de decisões uniformes e constantes dos tribunais, resultantes da aplicação de normas a casos semelhantes, constituindo uma norma geral aplicável a todas as hipóteses similares ou idênticas (DINIZ, 1993, p. 265).
q.! Liberdade de expressão
Conforme a Convenção Americana,
Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento e de expressão. Esse direito compreende a liberdade de buscar, receber e difundir informações e ideias de toda natureza, sem consideração de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer outro processo de sua escolha (OEA, 1969, artigo 13.1).
r.! Liberdade pessoal
Conforme a Convenção Americana,
1.! Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoal. 2.! Ninguém pode ser privado de sua liberdade física, salvo pelas causas e nas condições previamente fixadas pelas constituições políticas dos Estados Partes ou pelas leis de acordo com elas promulgadas. 3.! Ninguém pode ser submetido a detenção ou encarceramento arbitrários. 4.! Toda pessoa detida ou retida deve ser informada das razões da sua detenção e notificada, sem demora, da acusação ou acusações formuladas contra ela. 5.! Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade autorizada pela lei a exercer funções judiciais e tem direito a ser julgada dentro de um prazo
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razoável ou a ser posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo. 6.! Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente, a fim de que este decida, sem demora, sobre a legalidade de sua prisão ou detenção e ordene sua soltura se a prisão ou a detenção forem ilegais. Nos Estados Partes cujas leis prevêem que toda pessoa que se vir ameaçada de ser privada de sua liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente a fim de que este decida sobre a legalidade de tal ameaça, tal recurso não pode ser restringido nem abolido. O recurso pode ser interposto pela própria pessoa ou por outra pessoa. (...) (OEA, 1969, artigo 7).
O direito também é assegurado pelo art. XXV da Declaração Americana de
Direitos e Deveres do Homem. A liberdade pessoal ainda se relaciona ao princípio da
legalidade, abordado mais abaixo.
s.! Petição
A petição é, na relação entre o particular e o Estado, o meio pelo qual o
particular faz reclamações, queixas e pedidos em geral. Pode-se dizer que, no âmbito do
sistema americano de direitos humanos, o direito de petição é garantido pelo artigo 25
da Convenção Americana de Direitos Humanos, sob o nome de “direito à proteção
judicial”:
Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a qualquer outro recurso efetivo, perante os juízes ou tribunais competentes, que a proteja contra atos que violem seus direitos fundamentais reconhecidos pela constituição, pela lei ou pela presente Convenção, mesmo quando tal violação seja cometida por pessoas que estejam atuando no exercício de suas funções oficiais (OEA, 1969, artigo 25).
Dentro do âmbito do sistema americano de direitos humanos, o direito de
reclamação contra violação a direitos fundamentais é garantido pelo art. 44 da
Convenção Americana a “qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não-
governamental legalmente reconhecida em um ou mais Estados membros da
Organização” (OEA, 1969), os quais podem apresentar queixas perante a CIDH.
O direito de petição também se encontra no art. XXIV da Declaração
Americana dos Direitos e Deveres do Homem.
t.! Presunção de inocência
Conforme o artigo 8.2 da Convenção Americana, “toda pessoa acusada de delito
tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua
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culpa (...)” (OEA, 1969). O direito também se encontra no art. XXVI da Declaração
Americana dos Direitos e Deveres do Homem. É discutível qual é o tipo de declaração
necessária e em que momento ela deve ser feita para que exista a referida comprovação
legal da culpa.
u.! Princípio da legalidade
O cidadão deve poder distinguir, com segurança, a conduta regular da conduta criminosa, mediante lei anterior, estrita e certa. (...) em outros termos, a prática de um ato, ainda que reprovável de todos os pontos de vista, somente poderá ser reprimida penalmente se houver lei prévia que considere a conduta como crime (MENDES; BRANCO, 2012, p. 687).
No âmbito do sistema americano de direitos humanos, o princípio da legalidade
é garantido em questões criminais, conforme dispõe o art. 9 da Convenção Americana:
Ninguém pode ser condenado por ações ou omissões que, no momento em que forem cometidas, não sejam delituosas, de acordo com o direito aplicável. Tampouco se pode impor pena mais grave que a aplicável no momento da perpetração do delito. Se depois da perpetração do delito a lei dispuser a imposição de pena mais leve, o delinquente será por isso beneficiado OEA, 1969, artigo 9).
Disposições semelhantes são garantidas pela Constituição brasileira vigente nos
incisos XXXIX e XL do seu art. 5º e no art. 2º do Código Penal brasileiro em sua
redação atual, de 1984, ou original, de 1940.
v.! Protocolo
Protocolo é um termo que tem sido usado nas mais diversas acepções, tanto para
acordos bilaterais quanto para multilaterais. Aparece designando acordos menos formais
que os tratados, ou acordos complementares ou interpretativos de tratados ou
convenções anteriores. É utilizado ainda para designar a ata final de uma conferência
internacional. Tem sido usado, na prática diplomática brasileira, muitas vezes sob a
forma de "protocolo de intenções", para sinalizar um início de compromisso (BRASIL,
[s.d.]).
Protocolos adicionais à Convenção Americana são o Protocolo de São Salvador
(ratificado pelo Brasil em 1999), que reconhece o direito à não-discriminação,
estabelece certas limitações às relações de trabalho e reconhece a obrigação dos Estados
de prover certos direitos sociais (como direito à previdência social, à saúde, ao meio
ambiente, à alimentação, à educação, à cultura, etc.); e o Protocolo Referente à Abolição
da Pena de Morte (ratificado pelo Brasil em 1998).
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w.! Recurso
Ato de revisão judicial solicitado por uma das partes após o julgamento ter sido
concluído. “Remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma,
a invalidação, o esclarecimento ou a integração de decisão judicial que se impugna”
(MOREIRA, 1998, p. 207). Não necessariamente envolve fatos novos – as hipóteses
que possibilitam um recurso são definidas nas regras de processo aplicáveis.
No caso da Corte Interamericana de Direitos Humanos, não são admitidos
recursos: conforme o art. 67 da Convenção Americana, “a sentença da Corte será
definitiva e inapelável”, sendo possível apenas que a Corte interprete o sentido ou o
alcance de suas sentenças, caso solicitado pelas partes (OEA, 1969).
x.! Responsabilidade
Dever de reparar que surge com a realização de ato ilícito – em geral, a violação
de algum dever instituído legalmente. O dever que existe para a Convenção Americana
está inscrito em seu artigo 1º:
Os Estados Partes nesta Convenção comprometem-se a respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja sujeita à sua jurisdição, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição social (OEA, 1969).
Essa discussão ganha contornos interessantes em âmbito internacional devido à
necessidade de definição de até onde vai o poder de controle dos “Estados Partes”
citados para saber se um Estado-parte realmente tinha controle sobre a situação cuja
decorrência é, alegadamente, uma violação à Convenção Americana ou não.
y.! Supralegalidade
No ordenamento jurídico brasileiro, desde decisão do STF de 2008 (Recurso
Extraordinário nº 466.343/SP e Habeas Corpus 87.585/TO), tratados internacionais de
direitos humanos devidamente ratificados são considerados superiores às leis ordinárias
e complementares (ou seja, aos atos do Congresso) e inferiores à Constituição. Essa
posição é denominada de supralegalidade (BRANCO; MENDES, 2012). As convenções
relacionadas ao sistema interamericano de direitos humanos todas ocupam essa posição
hierárquica.
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7.! MATERIAL RECOMENDADO
a. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF). O quê, como, quando, onde e o porquê
da Corte Interamericana. [s.d.].
Este documento de autoria do Supremo Tribunal Federal ilustra
satisfatoriamente a organização da Corte (e, de maneira mais geral, o próprio Sistema
Interamericano de Direitos Humanos) enquanto instituição. Portanto, é bibliografia
básica para o entendimento de como funciona o próprio comitê.
b. COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (CIDH). Relatório
nº 71/15, Caso 12.879. Washington, D.C., 2015.
O Relatório de Mérito da Comissão sobre o caso Vladimir Herzog aborda os
fatos e as questões jurídicas (como vistas tanto pela Comissão, quanto pelo Brasil)
envolvidas no caso de maneira detalhada e é, afinal, a peça instauradora do processo a
ser julgado. Por fim, o relatório analisa também as possíveis violações de artigos da
Convenção Americana sobre Direitos Humanos ocorridas. É bibliografia essencial para
conhecimento primário do caso, bem como orientação para direcionamentos futuros a
pesquisas de aprofundamento.
c. ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS (OEA). Convenção Americana
sobre Direitos Humanos. São José: nov. 1969.
O estudo da Convenção Americana sobre Direitos Humanos é essencial para que
se compreendam as disposições do instrumento envolvidas no caso Vladimir Herzog e
outros vs. Brasil.
d. ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS (OEA). Estatuto da Corte
Interamericana de Direitos Humanos. La Paz: out. 1979.
O estudo do Estatuto da Corte Interamericana de Direitos Humanos é essencial
para que se compreendam as regras da Corte Interamericana de Direitos Humanos, o
que permitirá um melhor fluxo do debate nos dias da simulação, minimizando a
necessidade de interrupções por parte da Mesa Diretora e tornando a discussão mais
verossímil.
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8.! QUESTIONAMENTOS FINAIS PARA ORIENTAR A ATUAÇÃO DAS
DELEGADAS
•! A Corte tem competência para julgar o caso?
•! Quais foram os dispositivos da Convenção Americana sobre Direitos Humanos
violados (se violados), indubitavelmente, pelo Estado brasileiro?
•! Existe dispositivos de outras convenções que foram violados? Se sim, quais são
e qual é a competência da Corte IDH para punir o Brasil por uma violação a
eles?
•! Como as violações identificadas podem ser compensadas pelo Estado brasileiro?
•! A Corte tem competência para ordenar a compensação como desejado?
9.! REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AQUINO, L. G. Tratados Internacionais (Teoria Geral). In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIII, n. 75, 2010. Disponível em: <http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7652>. Acesso em: 3 mar. 2017. BRANCO, P. G. G.; MENDES, G. F. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2012. BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Sistema Atos Internacionais. Denominações dos atos internacionais. [s.d.]. Disponível em: <http://dai-mre.serpro.gov.br/apresentacao/tipos-de-atos-internacionais/>. Acesso em: 3 mar. 2017. _______. Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942. Diário Oficial da União, Brasília, 1942. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657.htm>. Acesso em: 16 mai. 2017. _______. Supremo Tribunal Federal. Recurso em Habeas Corpus nº 79.785/RJ. Jorgina Maria de Freitas Fernandes vs. Ministério Público Federal. Relator ministro Sepúlveda Pertence. Brasília, 2000. Informativo 187 do Supremo Tribunal Federal. _______. Decreto nº 4.463, de 8 de novembro de 2002. Diário Oficial da União, Brasília, 2002, Seção 1, p. 1. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2002/decreto-4463-8-novembro-2002-485 986-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 16 abr. 2017. COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (CIDH). Relatório nº 80/12. Washington, D.C., 2012. _______. Relatório nº 71/15, caso 12.879. Washington, D.C., 2015.
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