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EDIÇÃO Nº 6 zzzumbido Daniel Senna Gabriel Gonzalez André Albuquerque Carolina Alves Luiz Henrique Soares Mariana Xavier Lívia Rodrigues Bruno Brasil

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EDIÇÃO Nº 6zzzumbido

Daniel SennaGabriel Gonzalez

André AlbuquerqueCarolina Alves

Luiz Henrique SoaresMariana XavierLívia Rodrigues

Bruno Brasil

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2z z z u m b i d o

03

ZunindoOs editores

06

Os padrões mais bonitos da cidade

Daniel Senna

09

ResoluçõesGabriel Gonzalez

10

Ode às sardinhasGabriel Gonzalez

12

Enquanto apenas

lembrançaAndré Albuquerque

14

e logo, a pélvis desfraldada

fermentandoCarolina Alves

17

Mães, filhos e pedras

Luiz Henrique Soares

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TuMariana Xavier

21

CremaçãoLívia Rodrigues

22

Discurzo impático inritant...

Bruno Brasil

Í n d i c e

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Z U N I N D Oos editores

Encerramos o ano com resoluções metafísicas e odes aos que se acotovelam na multidão. Encerramos o ano com lembranças e luxúria. Encerramos o

ano com pedras, tu e fogo. Encerramos o ano com causos e desconfiança. Encerramos para recomeçar,

diferentes, entenda, é inevitável, e recomeçamos como encerramos, pelo fim, buscando princípios.

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C O L A B O R A D O R E Szunindo

Daniel Senna, 1991, Porto Alegre, um rapaz legal, você sabe.

Gabriel Gonzalez é mineiro. Não se conforma com a força do verbo ser. Aguarda ansiosamente um algoritmo que seja e o deixe livre pra fluir. No ínterim, termina seu infindo estudo-trabalho em terras cariocas.

André Albuquerque (Recife – PE, 1956), é médico , colabora em diversos sites literários , sua preferência pelo conto é determinada pela concisão e objetividade inerentes ao gênero . Possui trabalho premiado em concurso nacional (Dois homens célebres, 2010 - Sociedade Brasileira de Diabetes) por júri especializado.

Carolina Alves é poeta, catarinense e estudante de Cinema na UFSC.

Luiz Henrique Soares é graduado em Letras pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP). É vencedor do XXXVIII Concurso Nacional de Contos e Poesias, realizado pela FAFIMAN. Possui textos publicados em diversas revistas de literatura do país.

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Mariana Xavier é mulher, mãe e leão. Entre os 20 e os 30, diz-se professora historiadora pesquisadora de gênero e sexualidade. Escreve a partir de sua experiência enquanto mulher que caminha sempre com uma pressa que não é sua pela urbe. Em dezembro de 2017 lança o livro “Ínfimo”, pela Macabéa Edições.

Lívia Rodrigues é nascida em Volta Redonda, fez da sua lua sua morada, e do mundo mistérios aser desvendado. Curiosa, sonhadora e indecisa, questiona-se a todos os caminhos que devem ser tomados e as formas de olhar pra esse caminho. Cursa Letras na UFRRJ, lugar em que pela companhia, pelas conversas, pela aula e pelo lugar, muitas vezes contribuem para os pensamentos se transformarem em textos no papel.

Bruno Brasil é o nome dado a certo organismo pluricelular vertebrado mamífero concebido no hemisfério sul há mais de 33 anos. Costuma ser bípede. Tem membros, se alimenta de sólidos & líquidos diversos, dotado de poucas anomalias. Em período incerto foi submetido à interação com semelhantes, ao que, aparentemente para sobrevivência, se viu forçado a se expressar em algum tipo de linguagem. Seu sistema reprodutor funciona.

OS EDITORES:

Junior Cazeri deu tilt.

Tânia Souza é natural de Mato Grosso do Sul, é educadora, escritora, cronista e poetisa. Já publicou em diversas antologias, entre elas À Sombra do Corvo - Poesias Sombrias, Histórias Fantásticas - Vol 1, Cursed City - Onde as Almas Não Têm Valor, Olympus - Histórias da Mitologia, Crônicas da Fantasia e Quando o Saci Encontra os Mestres do Terror além de contribuir em diversos blogs de literatura e ter participado do site Quotidianos. Seu primeiro livro solo foi DESAMORES E OUTRAS TERNURINHAS e o segundo, ESTRANHAS DELICADEZAS acaba de sair pela Editora Estronho.

Facebook: Tânia Souza

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O S P A D R Õ E S M A I S B O N I T O S D A

C I D A D E

por Daniel Senna

“(...) Quis-lhe eutu mais próximalonge a circunstânciaque longe nos pôs

A adaga da famíliapode me matarmas ela nunca vai me matar tantoquanto o veneno em nossos lábios – nunca saberão!

Far-se-áuma farsa, e háum meio de nós destruirmoso meio

lábios juntos, Julieta e Romeu”

declamou ele com os exóticos olhos de safira e pele bronzeada no tom certo – apenas e não mais. Foi R$ 5 o expresso dele, R$ 13 o mocaccino com chantilly dela. A mesa era redonda e ambos olhavam-se em lados opostos. O óculos dela era de aros grossos, os olhos sombreados por uma franja bem aparada, o restante do cabelo como uma capa cobrindo a nuca até os ombros. A regata e a saia estavam de acordo com a sua classe média, orientação política. Assim como a roupa branca e shorts de jeans acima dos joelhos dele, encaixando-se perfeitamente no corpo dele: tão bom ao ponto de ser amorfo.

Seus sapatos usados, o dela vermelho – e do outro, preto –, atuavam a destruição de uma réplica de guitarra usada.

Ouvindo o poema, o coração dela palpitou, sorvendo todas as entradas necessárias para abrir a sua alma: fora a aparência do rapaz, o jogo de palavras, o tom da poesia remetendo a um rebuscamento primitivo – mas não em excesso –, similar primitividade no apelo ao romantismo – misturado, como uma camuflagem, em meio

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a facas e venenos. Terminando o envio desta longa chave à alma da menina, ele baixou os olhos, rindo-se timidamente, fingindo a inexistência de sua autoconfiança. Levantaria a cabeça e a olharia nos olhos em algum segundo (“que bonito, tu que fez?”, sairia da boca dela em tom macio), mas não precisava disso para saber – já sabia – que ela era dele.

Mas não seria hoje que ele colheria: levaria-a até a parada de ônibus, esperaria pelo automóvel, mas talvez só nos últimos segundos sugaria a fragrância hormonal do hálito dela, colando os lábios por três breves segundos.

Ela sobe no ônibus. Agora são 15h e ele continua o itinerário do sábado ensolarado, partindo da parada: vai visitar a orientadora da faculdade, que acolheu ele logo no primeiro semestre, oferecendo-o discretamente, no final da última aula do semestre, uma Iniciação Científica. Vive num confortável apartamento de classe média no bairro de classe média que também comporta o café de onde acabara de sair, este com um pátio que dava para a rua, com mesas e cadeiras, gradeado mas não trancado. Frequentemente mendigos pediam coisas através das grades. Ele iria a pé. Ele tinha todos os cigarros e todas as conversas de comiseração para todos os mendigos que encontraria a caminho.

Atravessando a avenida movimentada e fedorenta, ele se dirige ao interior do bairro, na direção do do apartamento da orientadora. Passa de novo pela

frente do café, assim como por outros inúmeros outros estabelecimentos bem-limpos, com cores claras e neutras, e quadros demonstrando latinoamericanidade com palavras espanholas quentes e flores e corações nas placas com nomes e preços. O total de mendigos no percurso foi 2. Nº 1 um pouco antes do supermercado em que entrou: um cigarro, R$ 0,75 e toda atenção à história de necessidade monetária envolvendo café ou um cachorro-quente mas com certeza mulher e filhos – tantos eram os mendigos na sua vida que o seus discursos afundavam numa massa psíquica disforme. Nº 2 foi depois do supermercado. R$ 0,25 e um pacote de salgadinho industrial que ele havia comprado especificamente para este propósito. Durante o supermercado, comprou um refrigerante 500ml e tal salgadinho e observou os jovens rostos femininos comprando, alguns óculos de aro grosso, alguma mecha verde ou azul, algum resquício da mania de fade lateral do ano passado, as bundas um tanto mais compactas, europeias. Observou as velhinhas saudáveis e o casal que veio de bicicleta e ainda trouxe o cachorro junto. Até as moças no caixa eram mais bonitas lá. A sua fila preferencial não demorou e ele pagou e depois doou ao mendigo, trocando algumas palavras e ausentando-se com timing perfeito antes que outro mendigo viesse.

Continuou a rua bairro adentro e subiu a rua íngreme, bonita e com algumas casas que não eram condomínios, cercadas com cerca elétrica no topo. As árvores também eram muito bonitas; a sua favorita era o ipê roxo que

reconhecia por sua flor roxa, assim como reconheceria um ipê amarelo por sua flor amarela.

***

Ele está sentado agora no amplo, puído sofá do apartamento compartilhado. Um amigo verifica algo no laptop e outro olha da janela para a rua movimentada embaixo; o dia escurece. O outro amigo sai da janela e passa o baseado para ele. Ele traga e segura, calibrando os segundos necessários para estar alterado mas não debilitado. Ele exala a fumaça, que aparenta tentar soterrar os seus olhos azuis, mas eles veem através dela. Na mente dele, ele sabe como o banner para o IC usará as seguintes palavras: “paradoxo”, “disjuntura”, “infraestrutura”, “plutocracia”, “ideário”. Os resultados evidenciarão os novos deslocamentos do A do B mediante o vácuo deixado pela C D do E. Ele sabe da tensão sexual da orientadora, cujo marido – outro professor acadêmico, parceiro de artigos e pesquisas – não estava lá antes, quando a visitou, mas ele não sente a necessidade de consumar. Embora a ideia tenha um certo glamour.

Ele saca o celular que deixou a seu lado e verifica as notificações. Duas mensagens da menina que encontrou antes e uma mensagem nova da menina que encontrará esta noite. O bar onde vão tem grades de onde podem olhar todas as pessoas passando.

– Vou tomar um banho e largar, gurizada.

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R E S O L U Ç Õ E Spor Gabriel Gonzalez

Vou parar de fumarMesmo adorando o sorvo quente do cigarro

Que escorre arranhando a gargantaVou parar de comer carne

De porco, de vaca, de genteVou parar de gozar

Quero brecar a energia sexual e sua destruiçãoMas amo a destruição

Vou me alimentar de brisaVazia e fresca

E de autofagiaDescobrir o meu sabor

Vou parar de lerConservar minha vista para o ocaso derradeiro

Vou parar de amarO amor carrega o ódio em seu rabo

Pararei de vangloriarA geometria exata de tudo

Sua simetria monótona e repetitivaAtuarei o mais performático dos meus atos

Exortando-me à tragédia celesteAno que vem, quero respirar duas vezesE segurar o fôlego pelos anos seguintes

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O D E À S S A R D I N H A Spor Gabriel Gonzalez

(A todos nós onibusunfantes e às sardinhas, é claro)

Oh sardinhas, vós que sois peixanamente humanas Vós de coletivo espirito de reuniãoVós de nadar rápido e saracuteanteVós desbravadoras de mundos de aquática escuridãoMorrereis nas arcadas de predadores,Se sorte tiverdes.Se desfortunadas fordes,Jogadas às traças, presas às latas,Nas lotadas prateleiras de um mercado barato, esquecidas sereis.Sois humanas em generosas porções!

Nós, humanos, doutos de consciente liberdade Não nadamos com seu encanto sapecaMas podemos, como vós, nos levar Aos mais remotos recônditos recintos.Mandriões que somos O caminhar nos fadigaE, em mecânicas latas de combustão,Nos enfurnamos, Assim mesmo,Por força do nosso querer.Ali somos espremidos, oprimidos e esquecidos, Como |sardinhas|Vós sois humanas Nós, sardinhas suicidas.

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E N Q U A N T O A P E N A S L E M B R A N Ç A

por André Albuquerque

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“Minha anti-Lolita foi uma comoção de saias, que iniciou (sem querer) na vida dos homens, quem tinha medo de ser homem sem nenhuma causa de ter medo de ser homem. Deu-me um convívio de formação (também sem querer) terrível e maravilhoso. Andrajoso e vagabundo, perdido no mato sem cachorro, em terras sem mato e sem cachorro, quantas vezes fiquei?

Minha anti-Lolita, hoje um monumento sob a cinza dos anos. Enquanto apenas lembrança, excita e intumesce uma vida que apenas quer ser vivida na paz e recolhimento de quem muito já sofreu. De quem se deu ao mundo e nada o mundo lhe deu, em tépida indiferença. Vida morna de sentimentos frios, até esbarrar na flor da minha obsessão. Alegoria desbotada dos vinte e seis anos de minha vida. Seria obsessão aos cinquenta, aos setenta e cinco, com certeza será. Decidida, atirou-me no aprendizado de ser homem. Todos os afetos de medo e prazer, à espreita de mim mesmo.

Uma comoção, forte demais para mim e para si mesma. Passou, na velocidade da luz. Hoje, recordação num recesso da mente. Ficou no armário destinado aos rebotalhos da existência, tal uma roupa velha, sapatos de destino incerto, bonecos mutilados, livros sediciosos à minha impaciência. Recordações com vocação ao pó, vez por outra manuseadas. Tudo revolvido pelo pensamento crítico, que um dia não o foi. Passageiro da stultifera navis, embarcado sem bilhete de retorno. Que desgraça maravilhosa era a minha vida. Sobre a cama rangente, atracados o dia inteiro. Dois animais felizes e insaciados.

O telefonema de um vizinho avisou-me de sua morte. O odor da putrefação obrigara o arrombamento do imóvel. Vivera e morrera sozinha.

Falou que durante três dias

ninguém reclamara o corpo, do caixão e flores, comprados numa cota entre vizinhos. Ah, sim: morrera de infarto, o segundo. Agradeci. Liguei para uma sua irmã em Mato Grosso da qual ainda conservava o endereço (ato falho e falido, penso hoje). Mostrou-se comovida e prometeu enviar-me dinheiro para o traslado do corpo. Era uma tarde fria de junho. Na TV, National Kid exterminava os Incas Venusianos e o mundo era quase perfeito.

No aeroporto, ao lado da pista e do ataúde, penso em minha vida e na sua morte. Tudo, uma tapa na cara, a lembrar-me da própria finitude. Da carcaça podre do verbo, ergue-se a única certeza: o fim à espera de transporte. Aguardo um avião em transito para um lugar seco e esmaecido, tal a minha vida. Ventos talvez conhecidos de outras paragens, abraçavam-se e rolavam pela pista, como filhotes de cães, ondulando a grama ao redor. MP,1966.”

Fechei o diário do professor Manasses Paletakis. Achei-o após mudar-me para o apartamento, onde ele residira durante sua longa vida de solidão plácida e erudita, até suicidar-se aos noventa anos. Atirou-se no vão da escada interna do prédio, com um charuto havana aceso entre os dedos e um exemplar de Tabela Periódica, de Primo Levi, num dos bolsos internos do seu casaco, junto a um bilhete de suicídio. Informações prestadas à polícia, pela senhora R.S, vizinha de pavimento e suposta ex-amante do falecido, confirmavam a vida reclusa e isolada do professor. O bilhete de suicídio, parte integrante do processo, foi analisado por estudantes de Psicologia, Psiquiatria e Letras, como obra – prima de autoconsciência, concisão e estilo, aliás, como todo bilhete de suicídio, já dizia o escritor T.D, notório desafeto do professor.

Vi-me entre as caixas e móveis da mudança, ainda amontoados por

preguiça. Depois de tantos anos, aquele diário incomodava como uma espinha dentro do nariz. Fez-me analisar a vida e sentir-me personagem do Inquilino, um filme já antigo de Polanski. Estava ali, sozinho, divorciado aos sessenta anos, entregue à solidão libertária ou suicida. Lembrei da professora do cursinho que me ensinara a trepar e a diferença entre trepar e fazer amor. Com todas as preliminares, de bônus. Depois de dois anos de sexo, drogas e discotecas, deu-me um pontapé na bunda. Encontrara um antigo caso e descobriram “muitas situações inacabadas, muitos fios soltos na relação... sabe, fiz uma Gestalt disso tudo. Sinto muito, mas é algo que ainda me persegue e do qual preciso me livrar, indo em frente, em busca da definição, de um desfecho”.

— Não precisa tanta psicologia para me fazer andar. O velho “não dá mais, fiquemos por aqui” funcionaria bem melhor que todo esse palavrório de psicologia ultrapassada – argumentei

A resposta foi a retirada do maço e o acender de mais um dos quarenta cigarros, que fumava diariamente. Tragou e expirou a fumaça na minha cara. Estávamos bem próximos. O cigarro que a levaria para a quimioterapia e a morte, dez anos depois. Penso que daqueles dias até hoje, o que tenho feito na vida foi tentar uma compensação maluca daquela perda.

Sentado no sofá desconjuntado, pensei no destino daquele diário. Sopesava o volume e imaginava que direito teria eu de dar um fim naquele feixe de lembranças. Era uma vida inteira dialogando consigo mesma. Encontrara ali um siamês emocional. Peguei a caneta e continuei o diário, a partir da página que havia lido. Fodam-se Polanski e seu personagem.

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E L O G O , A P É L V I S D E S F R A L D A D A F E R M E N TA N D O

por Carolina Alves

a principio, o leão-marinho persegueos fios de pêssego abandonadosque fazem seu colo e acariciam os pentelhos cegoscomo quem fode procurando gelatinas podresquando pensar nas vezes que fui gostosa e comos bicos do peito pra cimaestive morta de olhos sepultados e magnéticosh. tem o sêmen preso na panturrilha e gengiva cortadao pênis duro de anteontem amputou meu cóccix, eu perguntoo que foi a boca baratinada encostada em granitohá sempre do que fugir com a onda sísmica formigandoonde a úlcera seguinte se encontrai) na raiz das coxas vomitadasii) na baleia deteriorada em taquicardiasiii) numa viúva lânguida em telhados redondosh. de orelhas cortadas dissolvendo flâmula te calcificae deus te permite sangrar antes do almoço, você disse?o maxilar preso em inchaços lambe os ováriosno socorro póstumo e chanfradogalopando em duas hipertensõesa sua fé bastava em paus circuncidadosestrangulando a febre adotivaporque cristo finge que a campainha não toca enquantosuas filhas se masturbam com facas de tomate

não é fácil observar:a casa emoldurando com pingos de chuvaou os mamilos lacrimejando feridas na terra quente

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M Ã E S , F I L H O S E P E D R A S

por Luiz Henrique Soares

O trabalho de Rubiano é rolar pedras. O trabalho de Rubiano é rolar pedras maiores do que seu próprio corpo, pedras que se encaixam nas costas, como asas de concreto. Asas brutas. O trabalho de Rubiano é vestir as asas de concreto no mundo nu. Em troca disso, recebe um tanto de dinheiro e o entrega à sua mãe. Ela paga as contas e o que sobra vai para a economia. O dinheiro que guarda do carregamento e rolamento das pedras é pra reformar o banheiro, também bruto e indigno.

O trabalho de Rubiano é deslocar o peso das coisas. Isso porque a força depositada no levantamento de pedras sai na forma de suor e dores nas costas, sai na forma de mãos e testas cortadas, vistas empoeiradas. Mas o atrito entre pele e pedra é também afeto. Rubiano costuma almoçar no meio das pedras, tomar café e descansar no meio das pedras. E, de tanto concreto, esqueceu-se que tem voz, que é carne. Se o chamam pelo nome, demora a responder: “Rubiaaaaaano! O que tá achando do preço do feijão?”. Não tem opinião, prefere sempre o silêncio.

As pedras roubam um pouco das palavras de Rubiano, constroem essas fronteiras cambiantes entre o que é vida e o que é cimento. Quando derruba

pedra nos pés - e isso sempre acontece -, é líquido vermelho que sai e se mistura na poeira. É choro de pedra, choro do coração de pedra de Rubiano. Esse diacho de homem não grita, nunca grita, nem esperneia de raiva chamando trezentos diabos. É o bater da pedra na outra que nasce o fogo primitivo, a luz do mundo que Rubiano vive.

E vive no silêncio que é nada e pedra. De vez em quando, esquece de tudo e some sem avisar pra onde vai. Sai igual louco, possuído, bebe o diabo do salário em pinga e depois volta pra casa. Volta miúdo, destruído, cara suja de terra e rua.

“Rubiano, deixe essa vida de rolar pedras, meu filho!”. É o que sua mãe sempre diz, mas Rubiano nunca ouve, prefere lidar com pedras a lidar com gente, não sabe responder. Fica pensando sozinho no outro dia, no sol, no atrito afetuoso do seu corpo com a dureza da vida.

“Rubiano, deixe essa vida de rolar pedras, meu filho!”. Sua mãe sempre diz. Mãe que também é um pouco pedra, um pouco terra, mas não menos mãe. Quer o melhor pra Rubiano. Sabe que a vida é assim, mas não desiste. Rubiano não saiu de dentro dela, não foi pedra na barriga de mãe nenhuma no mundo, só daquela

que o abandonou e sumiu sem dizer palavra. E Rubiano prefere o silêncio, nunca gostou de remexer coisa que é dura demais. Sabe que filho é o que entra na gente, não o que sai.

E por isso a mãe de Rubiano é tão mãe, mais ainda do que pedra. Ama também na forma bruta que o amor tem, na forma de nascer da terra, de ser plantado no coração e brotar pra fora, no mundo. Ama porque é só isso que precisa fazer, é só isso que consegue fazer. Gosta de abraçar Rubiano depois que chega do trabalho, de sentir o gosto da poeira do filho na boca, gosta de dividir a vida com ele. A pedra afetuosa que carrega, a concretude. Mas a vida de pedra Rubiano não deixa não. As pedras são só um pouco dessa coisa de se entender filho, de se entender homem, de se entender gente.

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T Upor Mariana Xavier

TuE teu silêncio-ditoTeu jeito de desdizerFala nubladaImportância inventadaPautadaSem coresSem imagensSem notasE seus sobretons

Tu E essa leveza que grita E esse nada que não passa E não fica Constantes não-lugares Onde estamos Sempre estamos E estamos E estamos

Tu E teus intermináveis livros Letras em cataratas Acabadas Infladas Por um quê (dê) Não-presente

Tu E esses olhares mornos Tampados em luto Ou protegidos Perdidos e turvos Não sei por quê Não sei por quem

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TuE teu riso escandalosoDa boca entreabertaQue não posso lembrarVivo desses flashesVirtuais

Tu E essa nicotina Nas pontas dos dedos amarelados Nas cinzas Na vida

Tu E teu corpo gelado Garganta em cócegas E febre

Tu E essa distância Irreal

Tu E teu corpo

Tu

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C R E M A Ç Ã Opor Lívia Rodrigues

Inspiro, inspiro, inspiro. Meus pulmões estão vazios e começam a doer exigindo atenção. Inspiro, inspiro, inspiro. Mas a fumaça me invade a cada momento, o ar me falta, oxigênio me falha, vida me ausenta. Sinto-me a beira da cremação, um círculo de fogo me prende da caminhada e me confundo em vítimas e culpados.

Procuro minhas asas, mas me assaltaram no meio do caminho e quebraram-na retirando de toda a capacidade de voar. O fogo faz a introjeção e minha pele arde. Querem que eu vire pó para que possam me pegar, segurar-me. Querem do pó me modelar para que as vozes externas se transformem em cabresto me guiando até mesmo em cada rápida piscada.

Falta de ar, ardência, um grito de socorro interno não ecoado. Passam por mim e não veem a carne borbulhando. Entro correndo na primeira rua que vejo. Espelho. Espelho para todos os lados, espelhos me rondeiam e eu paraliso. Vejo o fogo a minha volta, mas no reflexo me vejo aberta, exposta, com todas minhas faces, com toda a escuridão sendo iluminada pelo fogo que me desfaz aos poucos. Vejo tudo o que eu fui e o que não fui, mas que está em mim pulsando, piscando, procurando um vazamento para transbordar. Vejo os outros e o eu que estava sendo cremado. Vejo a tênue limitação entre vida e morte, entre liberdade e prisão. Vejo a salvação.

Pego o que não quero mais e transformo em muro a minha volta para ser desmanchado primeiro. Aquilo que não faz parte de mim, mas que em mim estava por descuido meu e por projeção alheia. Na dispensa, pego o resto do frasco de coragem que me resta. Pingo em meu coração jorrando a todo meu corpo refrescância. Em minhas asas, o efeito químico é de liberdade. Ela se reconstitui. Deixo para trás aquilo que não me pertence. Limpa e pura, voo. Inspiro, inspiro, inspiro. O oxigênio me preenche para vida. E ao longe vejo virar pó o que queriam fazer ser minha carne.

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D I S C U R Z O I M P ÁT I C O I N R I TA N T À S I Ñ O R A M U I A M I G A D D A M I Ñ A M Á I S Q Ñ N O M E I A R E I P Q S I A P P O N TA R É F Ê O N O M E I A R É D S G R A C C I D A M E N T E P Y O R

por Bruno Brasil

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ATENSÃO q isso é un advertensionament, siñora. Obrigaddo pella atensão. Vaecommeçar sommente agóra, intão qdá a igmnorar o scripto atté aqi. Intão: Si a siñora acha normáo ser uma pssoa stressada, raevosa, irritadiça, q si ncomoda com tuddo, não conseggue sperar 3 menudos na fila do buffet por kilo ou mesmo 30 segundos ao sygnáforo nquanto os peddestres stão a travessear a calle sin soar ao klaxon; si a siñora chingga os ciclystes q stão cycleando a metros de dstâncea d seu autocarro, chingga os caninos q fazem totô pellas veredas, chinga os donnos desses caninos (porconquanto razante a crê-los donnos dos totôs), chingga todos sin pudorismos, enfin, vivente chêa d pensamentos de ódyo y vil ammargura fascinorista d máos rancores imunditistas d’alma y não conseguinte a relaxar; sinlograr ao reglutêo dun bon domingo d sol con seos familliares – até pq chinggarse-los-ia sin pestanejar, a todo segundo, a siñora –, nen mesmo dsfruttoar un bon gelactto chupant por conta d tantas preocupazões, tantos incómodos, tanta raeva reprymmida y tantos plobremas – plobremas nascidos unament das spectativas da siñora sobre si mesma y, quen sabbe, taménd alguns tráomas q a siñora nem sabbe q tein –; numa siptuação en q a siñora soffre não só psycológica como physicament, poisq commo dis o CEO da Caza da Braguília “ment y e corppo são uma côesa q só”, y porquanto, si a gallant siñora sommatiza dores córno-crómnicas, ou inda dores de stômago, dores pelo corpo toddo, nclusive os dents y aquellesmúsculos y microvilozidaddes q a siñora nensabia q existiam, como a sympática úvula; y sia siñora, ademais, anda co as imunidads baexa, ficca facilment débil ao desarranjo intestínico & cualquer gripeziña é tormento inenarrável, fora a quedda de pellos, a sudoreze, osolores corporaes pesti-mórbidos q entra anno sae anno vão ficando pyores, un cuadro general q já dexou a vida socialda siñora, cara siñora, ir ao spaço-cósmoà muito, d forma q un bon programma

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p/ o sábado à noyte é chourar, trankar osdeddos às gevvetas a proposital y mastiggar cegament as quinnas do criado q é mudo,ou pyor: assistir reprizes d comédias de auidiotório commo aquella favoritda viziña idosa viúva do militar q torturalhoumilhares y q accabou desvivendo impaz, deixant todavia a umma aura d pavor, deprezão y formol no apartmentda idosa; y tal sendo q nen consideroq a siñora, miña siñora, staria si alimentanddo bein – serya possível a deglutilhacão sadia en taes condicçóes? –; stá-se encontexto en q si acabba por si entupyr d tuddo quanto é porcalhonisse processada às gorduras invegetaes, senddo q a essa haltura podde star a siñora tendo ventre rouliço tão envergadado p/ máis y con as carnaduras tão flácyddas q só d penzar en levvantar do cannapé teme-sien sparramar-si ao solo como si a siñorafosse en vendad un môlio ou caldo grosso d’si próprea, zen fallar nos gastro-químicos máos ares: ulceraçóens últimas qa longo prazzo acaban na lástyma das lástymas – o CÂNZER – *** Somnoplastia aos trovõens ***tryst facto q tal vez nen xoq en sério a siñora, afináo, levando tal stylo de vida, a pssoa queda crak en tommar remédios, tanto remédios p/ alívio da dor quanto remédios para alívio da alma, digamos – me refiro à gama de medicamentos que vai da aspirina ao antidepressivo, tudo coisa que, é claro, o paciente começa a tomar numa dosagem X para aumentá-la logo em seguida; quando se dá conta o sujeito está absolutamente dopado, cheio de efeitos colaterais e quebrado, financeira & fisicamente, e tudo o que o médico dessa hipotética pessoa faz é receitar mais remédios, baita bola de neve com novos efeitos colaterais e novos rombos no bolso, desandando em novas preocupações e fragilidades psicológicas mil; em suma, sem mais delongas, se a senhora acha que ser assim é normal, viver essa vida é normal, absolutamente triste mas normal, sobretudo se a senhora é, de fato, assim, tendo se identificado com todas as situações enumeradas anteriormente, si isso tuddo, alén d cabývel, comum y corrente, accaso inda reflecte na moral da siñora, comopar example si a siñora ainda por cysma é mamãi y par example subbtrae violentament o bico do seyo à orifícia bucal do bebé y spreya leit gordo à testa y ao zólhosda prântica creança por, par example,pura gozatividade, ora, si a siñora stáa respondder sin a todda essas malezza pestiabunda, intãotuddo bein, fazzer o q

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z z z u m b i d o - n º 0 6 - d e z e m b r o d e 2 0 1 7 - m e n s a l d i s t r i b u i ç ã o g r a t u i t a - e d i t o r e s : j u n i o r c a z e r i e t â n i a s o u z a

e - m a i l : c o n t a t o . z z z u m b i d o @ g m a i l . c o m . b r s i t e : r e v i s t a z z z u m b i d o . w o r d p r e s s . c o m /

c o l a b o r a d o r e s : d a n i e l s e n n a , g a b r i e l g o n z a l e z , a n d r é a l b u q u e r q u e , c a r o l i n a a l v e s , l u i z h e n r i q u e s o a r e s , m a r i a n a x a v i e r , l í v i a r o d r i g u e s e b r u n o b r a s i l . t o d a s a s i m a g e n s q u e i l u s t r a m e s t e n ú m e r o s ã o d a o b r a d o f o t ó g r a f o e s c o c ê s d a v i d o c t a v i u s h i l l ( 1 8 0 2 - 1 8 7 0 ) . O s d i r e i t o s d e t e x t o s p e r t e n c e m a o s a u t o r e s e n ã o p o d e m s e r r e p r o d u z i d o s e m a

e x p r e s s a a u t o r i z a ç ã o d o s m e s m o s .

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