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Zanoni  por Edward Bulwer- Lytton Prefácio de Zanoni: comentário preliminar Zanoni, de Bulwer Lytton - essa obra de excepcional envergadura, que, sob a forma contemporânea do romance, é uma grande epopéia esotérica e idealista. Zanoni, impresso em Inglês em torno de 1.842, foi trazido para nosso idioma aos cuidad os de um hábil in rprete, cu ja elegante trad ução foi pub lic ada pela Livraria Hac het te (1.867, 2 vol s. in 12 fólios). Infelizmente, por motivos que nos escapam, os responsáveis pela edição Francesa entenderam ser dispensável o Prefácio, que, na realidade, constitui não só a introdução literária, como também a chave mágica de toda a obra. Julgamos essas poucas páginas omitidas de uma importância tal, que não hesitamos, com o consentimento de quem de direito, em repara r o esquecimento de um primeiro tradutor. Por mais biza rro que possa parecer o oferecimento ao público de um prefácio isolado do texto que o motiva, eis estas páginas preliminares, ilustradas com algumas anotações substanciais.  Avaliar as partes respectivas da verdade, do simbolismo e da fi ão , não apenas no co ntex to do Pr ef ác io como também nas peri cias do romanc e, é fazer ap reci ão pe ss oal. As sim, nã o tomaremos a liberdade de emitir nenhuma conjetura a esse respeito. 1

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Zanoni

 por Edward Bulwer-Lytton

Prefácio de Zanoni:

comentário preliminar 

Zanoni, de Bulwer Lytton - essa obra de excepcional envergadura,que, sob a forma contemporânea do romance, é uma grande epopéiaesotérica e idealista

Zanoni, impresso em !ngl"s em torno de #$%&, foi tra'ido paranosso idioma aos cuidados de um (ábil intérprete, cu)a elegantetradu*+o foi publicada pela Livraria ac(ette #$./, & vols in #&f0lios1 !nfeli'mente, por motivos que nos escapam, os responsáveispela edi*+o 2rancesa entenderam ser dispensável o 3refácio, que, narealidade, constitui n+o s0 a introdu*+o literária, como também a c(avemágica de toda a obra

4ulgamos essas poucas páginas omitidas de uma importância tal,que n+o (esitamos, com o consentimento de quem de direito, emreparar o esquecimento de um primeiro tradutor 3or mais bi'arro quepossa parecer o oferecimento ao p5blico de um prefácio isolado dotexto que o motiva, eis estas páginas preliminares, ilustradas comalgumas anota*6es substanciais

 7valiar as partes respectivas da verdade, do simbolismo e dafic*+o, n+o apenas no contexto do 3refácio como também nasperipécias do romance, é fa'er aprecia*+o pessoal 7ssim, n+o

tomaremos a liberdade de emitir nen(uma con)etura a esse respeito

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8e qualquer maneira, Bulwer Lytton vos previne disso em váriaspassagens, 0 Leitores curiosos dos oráculos da 9agia, :v0s, a quemc(egar+o estas páginas sibilinas, plenas de enigmas sombrios emisteriosos; guardai-vos de crer em magn<ficos excessos deimagina*+o 7s apar"ncias podem enganar

= 35blico profano abomina ou menospre'a a >erdade desnuda?la escandali'a os @artufos que velam seu rosto multiplicando os sinaisda cru', e ri dos céticos que se permitem, sob os seus ol(os,indecentes grace)os ou ol(ares criminosos Ae a mais alta Aapi"ncia é,por ve'es, redu'ida a tomar a máscara e o bast+o da Loucura, n+oserá para mel(or se disfar*ar diante das babas venenosas de todos osfanatismos e do ultra)e das indiferen*as obscenas

Zanoni é um livro c(eio de revela*6es e de arcanos Aob um véude delirante fantasia, o autor ocultou as tradi*6es secretas da Cosa-

Dru' e até o long<nquo reposit0rio de fraternidade mais antigas eocultas ainda, de que a =rdem institu<da por CosenEreut' é apenas o5ltimo prolongamentoF :>enerável Aociedade, t+o sagrada e t+o poucocon(ecida, v0s, cu)os arquivos secretos e preciosos forneceram omaterial desta narra*+oF v0s que conservastes de Aéculo em Aéculotudo o que o tempo poupou da Di"ncia venerável e augustaG e gra*as av0s que (o)e, pela primeira ve', o mundo irá con(ecer,imperfeitamente, por certo, os pensamentos e os atos de um 9embrode vossa =rdem cu)os t<tulos n+o s+o nem falsos, nem tomados deempréstimo >ários impostores usurparam a gl0ria de vos pertencerGvários pretendentes mentirosos foram colocados entre os vossos, pelaignorância pedante que até (o)e está redu'ida por sua impot"ncia aconfessar que nada sabe de vossa origem, de vossos ritos e de vossasdoutrinas, que nem mesmo sabe se ainda (á na terra um lugar que v0s(abiteis

:H gra*as a v0s que eu, o 5nico de meu 3a<s a quem nesteAéculo foi dado pIr um pé indigno em vossa misteriosa academia,recebi de v0s poder e mandato para colocar ao alcance dos esp<ritosprofanos algumas das resplandecentes verdades que reverberavam naJrande A(emaia da sabedoria Daldaica e que pro)etavam ainda

luminosos reflexos através da Di"ncia obscurecida de vossosdisc<pulos mais recentes, quando eles buscavam, como 3selus e4âmblico, reanimar o fogo que crepitava nos amarim do =riente Hbem verdade que n0s, cidad+os de um mundo vel(o e arrefecido, )án+o temos o segredo deste nome que, segundo os antigos oráculos da@erra, se precipita nos mundos do infinitoG mas podemos e devemosassinalar a renascen*a das verdades de outrora, em cada novadescoberta do astrInomo e do qu<mico 7s Leis de atra*+o, deeletricidade e desta 2or*a mais misteriosa ainda do grande 3rinc<piovital - o qual, se desaparecesse do universo, deixaria, em lugar douniverso, uma tumba -, todas essas Leis eram apenas o c0digo em que

a antiga @eurgia (auria as regras que erigiu em legisla*+o e ci"ncia

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:7o procurar construir, com palavras incompletas, os fragmentos destaest0ria, parece-me que, em uma noite solene, percorro as ru<nas deuma vasta cidade de que s0 restam t5mulos 8a urna e do sarc0fago,evoco o g"nio do 7rc(ote apagado, e essa apari*+o tanto seassemel(a a ?ros, que Ks ve'es n+o sei qual de v0s dois me inspira

0 amor 0 morte

?m v+o buscamos saber a que ramo da 2raternidade Cosa-Dru'Bulwer Lytton se afiliara = seu con(ecimento cabal das tradi*6essecretas da =rdem permite-nos, todavia, afirmar rela*6es diretas8ese)osos de precis+o, se poss<vel, a esse respeito, voltamo-nos paraum personagem que sabemos ter vivido na mais estreita intimidadecom o Dabalista romancistaG porém, esse testemun(o da vidaquotidiana do 9estre n+o nos pIde dar satisfa*+o quanto a esse pontocapital de nossa quest+o ?m compensa*+o, consentiu em nosesclarecer diversos detal(es de interesse maior - e n+o poder<amos

encerrar mel(or este Domentário 3reliminar, do que transcrevendoalgumas lin(as de sua respostaF

: ?u )á notara, com pesar, a omiss+o do 3refácio na tradu*+o2rancesa de Zanoni publicada por ac(ette 7legra-me saber que osen(or tem a inten*+o de reparar essa omiss+o M+o me seriaposs<vel di'er com precis+o até que ponto Bulwer Lytton travoucon(ecimento com os adeptos da Cosa-Dru', nem até que ponto eleconsiderava os ensinamentos deles = lado m<stico do seu esp<rito,embora muito forte, sempre foi dominado pelo lado prático e por umalto bom senso, que o fa'ia t+o pouco (omog"neo, por assim di'er,com os m<sticos da sua época, que me seria dif<cil precisar a suaatitude quanto K eles e K suas doutrinas 7 sua personalidade era,também, muito complexa Daberia di'er que (avia nele diversos(omens o m<stico, o racional, o artista, o (omem do mundo1 que emnada se assemel(avam Dreio que os seus estudos astrol0gicos odeixaram muito indiferente, para n+o di'er cético, com rela*+o a essaci"ncia tal como subsiste (o)e

:3or ra'6es muito longas para serem explicadas aqui, ele eramais afeito K Jeomancia 3or várias ve'es eu o ouvi rir de certos

Dabalistas modernos 3or outro lado, era, sem d5vida, versado naliteratura e nas tradi*6es de todas as ci"ncias ocultas e de todas asfilosofias m<sticas

:?studara a fundo alguns aspectos da 9agia - e, creio poder di'er queele possu<a alguns dos dons naturais t+o imprescind<veis K prática damagia, que sem eles todas as f0rmulas de nada servem &% de4aneiro de #$N#1;

Stanislas de Guaita

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INTRODUÇÃO

H poss<vel que entre os meus leitores (a)a alguns poucos que ainda

se recordem de uma antiga livraria, que existia, (á alguns anos, nasimedia*6es de D=>?M@ J7C8?MG digo poucos, porque certamente, para agrande maioria das pessoas, muito escasso atrativo possu<am aquelespreciosos volumes que toda uma vida de cont<nuo trabal(o (avia acumuladonas empoeiradas estantes do meu vel(o amigo 8OOO

 7li n+o se encontravam tratados populares, nem romancesinteressantes, nem ist0rias, nem descri*6es de viagens, nem :Bibliotecapara o povo;, nem :Leitura recreativa para todos;

= curioso, porém, podia descobrir ali uma rica cole*+o de obras de

 7lquimia, Dabala e 7strologia, que um entusiasta conseguiu reunir e que, emtoda a ?uropa, talve', era a mais notável em seu g"nero

= seu proprietário (avia despendido uma verdadeira fortuna naaquisi*+o de tesouros que n+o deviam ter sa<da

9as o vel(o 8 n+o dese)ava, na realidade, vend"-las = seu cora*+on+o se sentia bem, quando um fregu"s entrava em sua livrariaG ele espiava osmovimentos do intruso, lan*ando-l(e ol(ares vingativosG andava ao redordele, vigiando-o atentamenteG fa'ia carrancas e dava suspiros, quando m+osprofanas tiravam dos seus nic(os algum dos seus <dolos

Ae, por acaso, a alguém atraia uma das sultanas favoritas do seuencantador (arém, e o pre*o dado n+o l(e parecia ser demasiado exorbitante,muitas ve'es era duplicado esse pre*o

Ae vacilasse um pouco, o proprietário com vivo pra'er, l(e arrebatavadas m+os a venerável obra que o encantavaG se aceitasse as suas condi*6es,o desespero se pintava no rosto do vendedorG e n+o eram raros os casos que,no meio do sil"ncio da noite, tin(a bater K porta da moradia do fregu"s,pedindo-l(e que l(e vendesse, nas condi*6es que dese)asse, o livro que batia

comprado, pagando-l(e t+o esplendidamente o pre*o estipuladoPm crente admirador do seu 7verrois e do seu 3aracelso, ele sentia a

mesma repugnância, como os 2il0sofos que (avia estudado, em comunicaraos profanos o saber que tin(a adquirido

Aucedeu, pois, que, nos anos )uvenis da min(a exist"ncia e da min(avida literária, senti um vivo dese)o de con(ecer a verdadeira origem e asdoutrinas da estran(a seita a que se dá o nome de :Cosacru'es;

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M+o satisfeito com as escassas e superficiais informa*6es que,acerca deste assunto, se pode ac(ar nas obras comuns, opinei que talve' nacole*+o do Ar 8, que era rica, n+o s0 em livros impressos, como também emmanuscritos, encontrasse alguns dados mais precisos e aut"nticos sobreaquela famosa 2raternidade, escritos, qui*á, por algum dos 9embros da

=rdem, e que confirmassem, com o valor da sua autoridade e com certasparticularidades, as pretens6es K sabedoria e K virtude que Bringaret atribu<aaos sucessores dos Daldeus e dos Jinosofistas

8e acordo com estas suposi*6es, encamin(ei os meus passos ao ditolocal, o qual era, indubitavelmente embora eu ten(a que me envergon(ardisso1, um dos meus passeias prediletos

3orém, n+o existem, acaso, nas crInicas dos nossos pr0prios dias,erros e enganos t+o obscuros, como os dos 7lquimistas dos tempos antigos ? poss<vel que até os nossos peri0dicos v+o parecer K nossa posteridade t+o

c(eios de ilus6es, como aos nossos ol(os parecem os livros dos 7lquimistasGe, talve', ac(em até estran(o que a imprensa é o ar que respiramos, quandoeste ar é t+o nebuloso

 7o entrar na livraria, notei em um fregu"s de venerável aspecto, aquem nunca antes ali (avia encontrado, e cu)a presen*a c(amou a min(aaten*+o Aurpreendeu-me também o respeito com que era tratado pelocolecionador, de ordinário desden(oso

- Aen(or, - exclamou este, com "nfase, enquanto eu estava fol(eandoo catálogo, - nos quarenta e cinco anos que levo dedicado a esta classe deinvestiga*6es, é voc" o 5nico (omem que ten(o encontrado digno de ser meufregu"s Domo pode nestes tempos t+o fr<volos, adquirir um saber t+oprofundo

? quanto a esta augusta 2raternidade, cu)as doutrinas, vislumbradaspelos primeiros 2il0sofos, l(es ficaram sendo misteriosas, diga-me se existerealmente, na terra, um livro, um manuscrito, em que se possam aprender asdescobertas e os ensinamentos dessa Aociedade

 7o ouvir as palavras :7ugusta 2raternidade;, excitou-se muito a

min(a curiosidade e aten*+o, e escutei com avide' a resposta dodescon(ecido

- ?u n+o )ulgo - disse o vel(o caval(eiro - que os mestres da ditaescola ten(am revelado ao mundo as :suas verdadeiras doutrinas, a n+o serpor meio de obscuras insinua*6es e parábolas m<sticas;, e n+o os censuropor sua discri*+o

8epois de ter dito estas palavras, calou-se e parecia que ia retirar-se,quando eu me dirigia o colecionador, di'endo-l(e, de um modo algo brusco F

- M+o ve)o em seu catálogo, Ar 8, nada que ten(a refer"ncia aosCosacru'es

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- =s Cosacru'es - repetiu o vel(o caval(eiro, ol(ando-me fixamente,com certa surpresa

- Quem, a n+o ser um Cosacru', poderia explicar os mistérios

Cosacru'es ? o Ar poderá imaginar que um membro dessa seita, a mais'elosa de todas as Aociedades Aecretas, ten(a querido levantar o véu queoculta ao mundo a !sis da sua sabedoria

 7( 3ensei eu comigo, esta será, pois, a :7ugusta 2raternidade; deque falou Louvado se)a o céu Dom certe'a, topei agora com um membrodessa 2raternidade

- 3orém, - respondi em vo' alta, - aonde poderia eu, sen(or, obteralguma informa*+o, se n+o se encontra nos livros ?m nossos dias, n+opode um literato arriscar-se a escrever sobre qualquer coisa, sem con(ec"-la

a fundo, e quase nem se pode citar uma frase de A(aEespeare, sem citar aomesmo tempo o titulo da obra, o cap<tulo e o vers<culo 7 nossa época é aépoca dos fatos, sen(or, a época dos fatos

- Bem, - disse o anci+o, com um amável sorrisoG - se nos virmos outrave', poderei talve', ao menos, dirigir as investiga*6es do sen(or K fontemesma do saber

?, ditas estas palavras, abotoou o, sobretudo, c(amou com umassobio o seu c+o, e saiu

Quatro dias depois da nossa breve conversa*+o na livraria do Ar 8,encontrei-me de novo com o vel(o caval(eiro

?u ia tranqRilamente a cavalo em dire*+o a ig(gate, quando, ao péda sua clássica colina, distingui o descon(ecido, que ia montado em umcavalo preto, e diante dele marc(ava o seu c+o, preto também

Ae voc" encontrar, pre'ado leitor, o (omem que dese)a con(ecer,cavalgando ao pé de uma longa subida, de onde n+o pIde se afastar muito,por certa considera*+o de (umanidade K espécie animal, a n+o ser que ande

no cavalo de estima*+o de algum amigo que l(e emprestou, )ulgo que seriasua a culpa, se n+o o alcan*asse antes dele c(egar em cima da colina

?m suma, favoreceu-me tanta a sorte que, ao c(egar a ig(gate, ovel(o caval(eiro me convidou a descansar um pouco em sua casa, queestava a curta distância da povoa*+oG e era uma casa excelente, pequena,porém confortável, com um vasto )ardim, e das suas )anelas go'ava-se deuma vista t+o bela que seguramente Lucrécio a recomendaria aos 2il0sofos

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?m um dia claro, podia-se distinguir perfeitamente as torres e asc5pulas de LondresG aqui estava o tranqRilo retiro do eremita, e lá longe o:mare-magnum; S Jrande 9ar, relacionado ao :mar; de informa*6esbibliográficas arreban(adas para a)udar os cientistas e universitários domundo inteiro T do mundo

 7s paredes dos principais aposentos estavam decoradas compinturas de um mérito extraordinário, pertencentes Kquela alta escola de arteque é t+o mal compreendida fora da !tália

?u fiquei admirado ao saber que essas pinturas (aviam sido feitaspela m+o do mesmo proprietário

 7s demonstra*6es da min(a admira*+o pareceram agradar ao meunovo amigo, e levaram-no a falar sobre este ponto, e notei que ele n+o eramenos inteligente no que se referi a Ks teorias da arte, do que consumado na

prática da mesma

Aem querer molestar o leitor com )u<'os cr<ticos desnecessários, n+oposso deixar, entretanto, de observar, a fim de elucidar em grande parte odes<gnio e o caráter da obra, K qual estas páginas servem de introdu*+o,digo, n+o posso deixar de observar em poucas palavras, que ele insistia muitosobre a rela*+o que existe entre as diferentes artes, de igual modo como umeminente autor o tem feito com respeito Ks ci"nciasG e que também opinavaque, em toda a classe de obras de imagina*+o, se)am estas expressas pormeio de palavras ou por meio de cores, o artista, pertencente Ks escolas maiselevadas, deve fa'er a mais ampla distin*+o entre o real e o verdadeiro, - ou,em outras palavras, entre a imita*+o da vida real e a exalta*+o da Mature'aaté o !deal

- = primeiro - disse ele - é o que caracteri'a a escola olandesaG osegundo, a escola Jrega

- o)e, sen(or, - repliquei, a ?scola olandesa está mais com voga

- Aim, na arte de pintar, pode ser, - respondeu o meu amigo, porémna literatura

- 2oi precisamente K literatura que me referi =s nossos poetas maisnovos est+o todos pela simplicidade e por Betty 2oyG e o que os nossoscr<ticos apreciam mais em uma obra de imagina*+o, é poder-se di'er que assuas personagens s+o exatamente como tiradas da vida comum 7té naescultura

- Ma escultura M+o, n+o 7li o ideal mais elevado deve ser, pelomenos, a parte mais essencial

- 3erdoe-me, sen(orG parece-me que n+o viu Aouter 4o(nny e @om

=UA(anter

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- 7( - exclamou o vel(o caval(eiro, balan*ando a cabe*a, - pelo queve)o, vivo muito apartado do mundo Aupon(o que A(aEespeare deixou de seradmirado, n+o é

- 3elo contrárioG as pessoas adoram A(aEespeare, porém esta

adora*+o n+o é mais que um pretexto para atacar a todos os outrosescritores 9as os nossos cr<ticos descobriram que A(aEespeare é t+orealista

- A(aEespeare realista = poeta que nunca delineou umapersonagem que se pudesse encontrar no mundo em que vivemos, - e quenem uma ve' sequer desceu a apresentar uma paix+o falsa, ou umapersonagem real

?stava eu pronto a replicar gravemente a este paradoxo, quandoadverti que o meu compan(eiro come*ava a perder a sua calma (abitual ?

aquele que dese)ava pescar um Cosa-Dru', deve cuidar de n+o turvar a água 7ssim, pois, ac(ei que convin(a mais dar outro giro K conversa*+o

- Cevenons K nos moutons >oltemo-nos ao nosso tema1, - disse-l(eG- o sen(or me prometeu dissipar a min(a ignorância acerca dos Cosacru'es

- 9uito bem - respondeu-me ele, em tom sérioG - porém, com queprop0sito 8ese)a talve' entrar no @emplo somente para ridiculari'ar osritos

- 3or quem me toma o sen(or Dertamente, se tal fosse o meuintento, a infeli' sorte do 7bade de >ilars seria uma li*+o suficiente paraadvertir K todas as pessoas que n+o se deve tratar com frivolidade os reinosdas Aalamandras e dos Ailfos

@odo o mundo sabe como misteriosamente foi privado da vida aquele(omem de talento, em paga das sat<ricas burlas do seu : Donde de Jabalis;

- Aalamandras e Ailfos >e)o que incorre no erro vulgar de entenderao pé da letra a linguagem aleg0rica dos m<sticos

?sta observa*+o deu motivo ao vel(o caval(eiro para condescender afa'er-me uma rela*+o muito interessante e, como me pareceu, muito erudita,acerca das doutrinas dos Cosacru'es, dos quais, segundo me assegurou,alguns ainda existiam, continuando ainda, em augusto mistério, as suasprofundas investiga*6es no dom<nio das ci"ncias naturais e da 2ilosofiaoculta

- 3orém, esta 2raternidade, - disse o anci+o, - se bem que respeitávele virtuosa, porque n+o (á, no mundo, nen(uma =rdem 9onástica que se)amais r<gida na prática dos preceitos morais, nem mais ardente na fé Drist+, -esta 2raternidade é apenas um ramo de outras Aociedades ainda mais

transcendentes nos poderes que adquiriram, e ainda mais ilustres por suaorigem Don(ece o sen(or a 2ilosofia 3latInica

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- 8e ve' em quando me ten(o perdido em seus labirintos - respondi - 7 min(a fé, os 3latInicos s+o caval(eiros que n+o se deixam compreenderfacilmente

- ?, contudo, os seus problemas mais intrincados nunca forampublicados 7s suas obras mais sublimes conservam-se manuscritas, econstituem os ensinamentos da !nicia*+o, n+o s0 dos Cosacru'es, comotambém daquelas 2raternidades mais nobres a que me referia (á pouco3orém, ainda mais solenes e sublimes s+o os con(ecimentos que podemrespigar-se dos seus antecessores, os 3itag0ricos, e das imortais obrasmestras de 7polInio

- 7polInio, o impostor de @yana ?xistem os seus escritos

- !mpostor - exclamou o meu amigo - 7polInio impostor

- 3erdoe-me, sen(orG eu n+o sabia que ele era um dos seus amigosGe se o sen(or me garante por sua pessoa, acreditarei com gosto que ele foium (omem muito respeitável, que di'ia s0 pura verdade quando se gabava depoder estar em dois lugares distintos ao mesmo tempo

- ? isto é t+o dif<cil Ceplicou o anci+o - Ae l(e parece imposs<vel, épor que nunca son(ou

 7qui terminou a nossa conversa*+oG porém, desde aquele momento,ficou formada entre n0s uma verdadeira intimidade que durou até que o meuvenerável amigo abandonou esta vida terrestre 8escansem em pa' as suascin'as ?le era um (omem de costumes muito originais e de opini6esexc"ntricasG mas a maior parte do seu tempo empregava em atos defilantropia, sem alarde e sem ostenta*+o alguma

?ra entusiasta dos deveres do Aamaritano, - e assim como as suasvirtudes eram real*adas pela mais doce caridade, as suas esperan*as tin(ampor base a mais fervorosa fé

Munca falava sobre a sua pr0pria origem e da (ist0ria da sua vida, eeu nunca pude elucidar o mistério obscuro em que estava envolvida

Aegundo parece, tin(a via)ado muito pelo mundo, e (avia sidotestemun(a ocular da primeira Cevolu*+o 2rancesa, a respeito da qual seexpressava de um modo t+o eloqRente como instintivo

M+o )ulgava os crimes daquela tempestuosa época com aquelafilos0fica indulg"ncia com que alguns escritores ilustrados que t"m as suascabe*as bem seguias sobre os seus ombros1 se sentem, atualmente,inclinados a tratar as matan*as desses tempos passadosG ele falava n+ocomo um estudante que tin(a lido e macio raciocinado, mas como um (omemque tin(a visto e sofrido

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= vel(o caval(eiro parecia estar s0 no mundoG e eu ignorava que eletivesse algum parente, até que seu executor testamentário, um primo seu emgrau afastado, que residia no estrangeiro, me informou do bonito legado quefi'era o meu pobre amigo

?ste legado consistia, em primeiro lugar, em uma quantia de din(eiro,a qual, )ulgo que convém guardar, em previs+o de um novo imposto sobre asrendas e bens im0veisG e, em segundo lugar, em certos preciososmanuscritos, aos quais este livro deve a sua exist"ncia

Aupon(o que devo este 5ltimo legado a uma visita que fi' Kquelesábio, se me permitem c(amá-lo com tal nome, poucas semanas antes dasua morte

?mbora lesse pouco da literatura moderna, o meu amigo, com aamabilidade que o caracteri'ava, permitia-me afavelmente que o consultasse

acerca de alguns ensaios literários, pro)etados pela irrefletida ambi*+o de umestudante novo e sem experi"ncia

Maquele tempo, procurei saber o seu parecer a respeito de uma obrade imagina*+o, em que eu me propun(a pintar os efeitos do entusiasmo nasdiversas modifica*6es do caráter ?le escutou, com sua paci"ncia (abitual, oargumento da min(a obra, que era bastante vulgar e prosaica, e dirigindo-se,depois com ar pensativo, K sua cole*+o de livros, tirou um volume antigo, doqual me leu, primeiro em Jrego, e em seguida em !ngl"s alguns trec(os doteor seguinte F

:3lat+o fala aqui de quatro classes de :mania;, palavra que, a meuentender, denota entusiasmo, a inspira*+o dos deuses F 3rimeira, a musicalGsegunda, a teléstica ou m<sticaG terceira, a proféticaG a quarta, a pertencenteao amor;

= autor citado pelo meu amigo, depois de sustentar que na alma (áalgo que está acima do intelecto, e depois de afirmar que em nossa nature'aexistem distintas energias, - uma das quais nos permite descobrir e abra*ar,por assim di'er, as ci"ncias e os teoremas com uma rapide' quase intuitiva,ao passo que, mediante outras, se executam as sublimes obras de arte, taiscomo as estátuas de 2idias, - veio di'er que :o entusiasmo, na verdadeira

acep*+o da palavra aparece quando aquela parte da alma, que está por cimado intelecto, se eleva, exaltada até aos deuses, de onde provém a suainspira*+o;

3rosseguindo em seus comentários sobre 3lat+o, o autor observa que:uma destas manias; isto é, uma das classes de entusiasmo1 especialmentea que pertence ao amor, pode fa'er remontar a alma K sua divindade e bem-aventuran*a primitivasG porém que existe uma intima uni+o entre elas todas, eque a ordem progressiva, pela qual a alma sobe, é esta F primeiro, oentusiasmo musicalG depois, o entusiasmo telético ou m<sticoG terceiro, oproféticoG e, finalmente, o entusiasmo do amor;

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?scutava eu estas intrincadas sublimidades, com a cabe*a aturdida ecom aten*+o relutante, quando o meu mentor fec(ou o livro, di'endo-me comcomplac"ncia F - 7li tem voc" o mote para o seu livro, a tese para o seutema- 8avus sum, non Vdipus, - respondi, a cabe*a e com ar descontente

- @udo pode ser muito belo, mas, perdoe-me o Déu, - eu n+ocompreend inem uma s0 palavra de tudo o que acaba de di'er-me =smistérios dos Cosacru'es e as 2raternidades de que fala, n+o s+o mais doque brinquedos de crian*as, em compara*+o com a geringon*a dos3latInicos

- ?, contudo, enquanto o sen(or n+o tiver compreendido bem estapassagem, n+o poderá entender as mais elevadas teorias dos Cosacru'es oudas 2raternidades ainda mais nobres, das quais fala com tanta leviandade

- =( Ae assim é, ent+o renuncio a toda esperan*a de consegui-lo

3orém, uma ve' que está t+o versado nesta classe de matérias, porque n+oadota o sen(or mesmo, aquele mote para um dos seus pr0prios livros

- 9as, se eu )á tivesse escrito um livro com aquela tese encarregar-se-ia o meu amigo de prepará-lo para o p5blico

- Dom o maior gosto, respondi eu, infeli'mente, com bastanteimprud"ncia

- 3ois eu o tomo pela palavra, - replicou o anci+o, - e quando eu tiverdeixado de existir nesta terra, receberá os manuscritos 8o que di' a respeitodo gosto, que (o)e predomina na literatura, dedu'o que n+o posso lison)ear-l(e com a esperan*a de que ven(a a obter grande proveito em sua empresaGe advirto-l(e de antem+o que ac(ará bastante trabal(osa a tarefa

- H a sua obra um romance

- H romance, e n+o é H uma realidade para os que s+o capa'es decompreend"-laG e uma extravagância para os que n+o se ac(am neste caso

3or fim, c(egaram Ks min(as m+os os manuscritos, acompan(ados

de uma breve carta do meu inolvidável amigo, na qual me recordava da min(aimprudente promessa

Dom o cora*+o oprimido, e com febril impaci"ncia, abri o embrul(o,avivando a lu' da lâmpada 4ulguem qual foi o desalento que se apoderou demim, quando vi que toda a obra estava escrita em caracteres que me eramdescon(ecidos

 7presento aqui ao leitor uma amostra deles F e assim por diante, asnovecentas e quarenta páginas de grande formato

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 7penas podia dar crédito aos meus pr0prios ol(osG comeceia pensarque a lâmpada estava lu'indo com um a'ul singularG e assaltaram K min(adesconcertada imagina*+o vários receios a respeito da profanada <ndole doscaracteres que eu, sem dar-me conta disso, (avia aberto, contribuindo paraisto as estran(as insinua*6es e a m<stica linguagem do anci+o Dom efeito,para n+o di'er outra coisa pior, tudo aquilo me parecia muito misterioso,imposs<vel

4á estava eu querendo meter, precipitadamente, esses papéis em umcanto da min(a escrivanin(a, com a pia inten*+o de n+o me ocupar maisdeles, quando a min(a vista, de improviso, fixou-se em um livro,primorosamente encadernado em couro

Dom grande precau*+o, abri este livro, ignorando o que podia sairdali, e - com uma alegria que é imposs<vel descrever W vi que ele contin(auma c(ave ou um dicionário para decifrar aqueles (ier0glifos

3ara n+o fatigar o leitor com rela*+o Ks min5cias do meu trabal(o, mecontentarei em di'er que por fim, c(eguei a )ulgar-me capa' de interpretaraqueles caracteres, e pus m+os K obra, com verdadeiro afinco

 7 tarefa n+o era, porém, fácilG e passaram-se dois anos antes que eufi'esse um adiantamento notável

?nt+o, dese)ando experimentar o gasto do p5blico, consegui publicaralguns cap<tulos desconexos em um peri0dico, em que tin(a a (onra decolaborar, (avia alguns meses

?stes cap<tulos pareceram excitar a curiosidade do p5blico muito maisdo que eu (avia presumidoG dediquei-me, pois, com mais ardor do que nunca,K min(a trabal(osa tarefa

3orém, ent+o me sobreveio um novo contratempo F ao passo que euia adiantando no meu trabal(o, ac(ei que o autor tin(a feita dois originais dasua obra, sendo um deles mais esmerado e mais minucioso do que o outroGinfeli'mente, eu tin(a topado com o original defeituoso O1, e, assim, tive quereformar o meu trabal(o, desde o princ<pio até o fim, e tradu'ir de novo oscap<tulos que )á escrevera

3osso di'er, pois, que, excetuando os intervalos que eu dedicava Ksocupa*6es mais perempt0rias, a min(a desditosa promessa me custou algunsanos de trabal(os e fadigas, antes de poder v"-la devidamente cumprida

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 7 tarefa era tanto mais dif<cil, porque o original estava escrito em umaespécie de prosa r<tmica, como se o autor (ouvesse pretendido que a suaobra fosse considerada, em certo modo, como uma concep*+o ou um debuxopoético

M+o foi poss<vel dar uma tradu*+o que conservasse tal forma, e ondetente fa'"-lo, é, freqRentemente, necessário pedir a indulg"ncia do leitor =respeito natural com que, ordinariamente, ten(o aceitado os capric(os dovel(o caval(eiro, cu)a 9usa era de um caráter bastante equ<voco, deve ser amin(a 5nica desculpa onde quer que a linguagem, sem entrar plenamente nocampo da poesia, apare*a com algumas flores emprestadas, um tantoimpr0prio da prosa

?m (onra da verdade, (ei de confessar também que, apesar de todosos esfor*os que fi', n+o ten(o a certe'a absoluta de ter dado sempre overdadeiro significado para cada um dos caracteres (ierogl<ficos do

manuscritoG e acrescentarei que, em algumas passagens, ten(o deixado embranco certos pontos da narra*+o, e que (ouve ocasi6es em que,encontrando um (ier0glifo novo, de que n+o possu<a a c(ave, vi-me obrigadoa recorrer a interpola*6es da min(a pr0pria inven*+o, que, sem d5vida, sedistinguem do resto, mas que com pra'er recon(e*o, n+o est+o emdesacordo com o plano geral da obra

?sta confiss+o que acabo - de fa'er, leva-me a formular a seguintesenten*a, com a qual vou terminar F Ae neste livro, o caro leitor, encontraralgo que se)a do seu gosto, sabe que é, com toda a certe'a, produ'ido pormimG porém, onde ac(ar algo que o desagrade, diri)a a sua reprova*+o aoendere*o do vel(o caval(eiro, o autor dos (ier0glifos manuscritos

Londres, 4aneiro de #$%&

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LIVRO PRI!IRO O "SI#O

CAPÍTULO I 

:>ergine era8Ualta beltK, ma sua beltK non cura 8inatura, dUamor, de cieli amiciLe negligen'e sue sono artifici;

Jerusal L!b, canto !!, #%-#$

S ?ra uma virgem de grande bele'a, mas da sua bele'a n+o fa'iacaso 7 neglig"ncia mesma é arte nos que s+o favorecidos pelaMature'a, pelo amor e pelos céus T

Ma segunda metade do Aéculo X>!!!, vivia e florescia em Mápoles um(onrado artista, cu)o nome era Daetano 3isani

?ra um m5sico de grande g"nio, mas n+o de reputa*+o popularG (aviaem todas as suas composi*6es algo capric(oso e fantástico, que n+o era dogosto dos :dilettanti; de Mápoles

?ra ele amante de assuntos pouco familiares, nos quais introdu'iamtoadas e sinfonias que excitavam uma espécie de terror nos que as ouviam=s t<tulos das suas composi*6es l(es dir+o, )á por si mesmos de que <ndoleera

 7c(o, por exemplo, entre os seus manuscritos F :7 2esta dasarpias;, :7s bruxas em Benevento;, :7 descida de =rfeu aos !nfernos;, :=mau ol(ado;G :7s ?um"nides;, e muitos outros, que demonstram nele umagrande imagina*+o que se deleitava com o terr<vel e o sobrenatural, mas Ksve'es se elevava, com delicada e etérea fantasia, com passagens deesquisita bele'a, até ao sublime

H verdade que, na escol(a dos seus assuntos, que tomava da fábula

antiga, Daetano 3isaniera muito mais fiel do que seus contemporâneos Kremota origem e ao primitivo g"nio da Ypera !taliana

Quando este descendente, embora efeminado, da antiga uni+o doDanto e do 8rama, depois de uma longa obscuridade e destronamento,tornou a aparecer empun(ando o débil cetro e, coberto com mais bril(antep5rpura, nas margens do 7mo, na ?tr5mia, ou no meio das lagoas de>ene'a, (auriu as suas primeiras inspira*6es das desusadas e clássicasfontes da lenda pag+G e : 7 8escida de =rfeu;, de 3isani, era apenas umarepeti*+o muito mais atrevida, mais tenebrosa e mais cient<fica da : ?ur<dice;,que 4acopo 3eripIs em m5sica S#T quando se celebraram as augustas

n5pcias de enrique de Mavarra com 9aria de 9édicis

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@odavia, como )á disse, o estilo do m5sico Mapolitano n+o eraagradável em tudo aos ouvidos delicados, acostumados Ks suaves melodiasdo diaG e os cr<ticos, para desculparem seu desagrado, apoderavam-se dasfaltas e das extravagâncias do compositor, que facilmente se descobriam emsuas obras, e ponderavam-nas, muitas ve'es, com inten*+o maligna

2eli'mente, - pois do contrário o pobre m5sico teria morrido de fome, -ele n+o era somente compositor, mas também um excelente tocador de váriosinstrumentos, e especialmente de violino, e com este instrumento gan(avauma decente subsist"ncia, tendo encontrado uma coloca*+o na orquestra doJrande @eatro de A+o Darlos

 7qui, os deveres formais e determinados, dados pela sua coloca*+o,serviam necessariamente de tolerável barreira Ks suas excentricidades efantasias, ainda que se saiba que n+o menos de cinco ve'es deposto do seulugar por (aver desgostado os executantes e levado em confus+o toda a

orquestra, tocando, de repente, varia*6es de uma nature'a t+o frenética eespantadi*a que se podia pensar que as (arpias ou as bruxas, que oinspiravam em suas composi*6es, se (aviam apoderado do seu instrumento

 7 impossibilidade, porém, de se encontrar um violinista de igualnotabilidade isto é, em seus momentos de maior lucide' e regularidade1 era acausa da sua reinstala*+o, e ele, agora, quase sempre se conformava a n+osair da estreita esfera dos :adágios; ou :alegros; das suas notas 7lém disso,o audit0rio, con(ecendo sua propens+o percebia imediatamente quando elecome*ava a desviar-se do textoG e se o m5sico divagava um pouco, o que sepodia descobrir tanto pela vista como pelo ouvido, por alguma estran(acontor*+o do seu semblante, ou por algum gesto fatal do seu arco, um suavemurm5rio admonit0rio do p5blico tornava a transportar o violinista, das regi6esdo ?liseu ou do @ártaro K sua modesta estante

?nt+o parecia ele despertar, sobressaltado, de um son(oG lan*ava umrápido, t<mido e desculpante ol(ar em redor de si, e com ar abatido e(umil(ado, fa'ia voltar o seu rebelde instrumento ao carril tril(ado da vol5velmonotonia ?m casa, porém, se recompensava desta relutante servilidade

 7garrando com dedos fero'es o infeli' violino, tocava e tocava muitas

ve'es até ao aman(ecer, fa'endo sair do instrumento sons t+o estran(os edesenfreados, que enc(iam de supersticioso terror os pescadores que viamnascer o dia na praia cont<gua K sua casa, e até ele mesmo estremecia comose alguma sereia ou algum esp<rito entoasse ecos extraterrestres ao seuouvido

= semblante deste (omem oferecia um aspecto caracter<stico dagente da sua arte 7s suas fei*6es eram nobres e regulares, porem magras eum tanto pálidasG os negros cabelos descuidados formavam uma multid+o decarac0isG e os seus grandes e profundos ol(os costumavam permanecerfixos, contemplativos, son(adores

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@odos os seus movimentos eram particulares, repentinos e ligeiros,quando o frenético impulso dele se apoderavaG e quando andavaprecipitadamente pelas ruas, ou ao longo da praia, costumava rir e falarconsigo mesmo

Dontudo, era um (omem pac<fico, inofensivo e amável, que partia oseu peda*o de p+o com qualquer dos :la'aroni; pregui*osos, parando paracontemplá-los como se estendiam ociosos, ao Aol

M+o obstante, esse m5sico era totalmente insociável M+o tin(aamigosG n+o adulava a nen(um protetor, nem concorria a nen(um dessesalegres divertimentos, de que gostam tanto os fil(os da 95sica e do Aul

3arecia que ele e a sua arte eram feitos para viverem isolados e umpara o outro F ambos delicados e estran(os, irregulares, pertencentes aostempos primitivos ou a um mundo descon(ecido F

?ra imposs<vel separar o (omem da sua m5sicaG esta era ele mesmoAem ela, 3isaniera nada, n+o passava de uma máquina Dom ela, era o reidos seus mundos ideais ? isto l(e bastava, ao pobre (omem

?m uma cidade fabril da !nglaterra, (á uma lousa sepulcral, cu)oepitáfio recorda :um (omem, c(amado Dláudio 3(ilips, que foi a admira*+o dequantos o con(eceram, devido ao despre'o absoluto que manifestava pelasrique'as, e devido K sua inimitável (abilidade em tocar violino;

Pni+o l0gica de opostos louvores @ua (abilidade no violino, 0 J"nio,será t+o grande, quanto o se)a o teu despre'o pelas rique'as

= talento de Daetano 3isani, como compositor, se (avia manifestadoprincipalmente em m5sica apropriada ao seu instrumento favorito, que é,indubitavelmente, o mais rico em recursos e o mais capa' de exercer o podersobre as paix6es

= violino de Dremona é, entre os instrumentos, o que A(aEespeare éentre os poetas

@odavia, 3isani tin(a composto outras pe*as de maior ambi*+o emérito, e a principal era a sua preciosa, a sua incomparável, a sua n+opublicada, a sua n+o publicável e imortal 0pera :Aereia;

?sta grande obra prima tin(a sido o son(o dourado da sua infância, adona da sua idade virilG e, K medida que ele avan*ava na idade, :estava aoseu lado como sua )uventude;

?m v+o 3isani tin(a se esfor*ado para apresentá-la ao p5blico 7té oamável e bondoso 3aisielo, mestre de capela, balan*ava a gentil cabe*a,quando o m5sico o obsequiava com algum ensaio de uma das suas cenas

mais marcantes Dontudo, 3aisielo, ainda que essa m5sica difira de tudo oque 8urante te ensinou como regras de boa composi*+o, pode ser que

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 3aci"ncia Daetano 3isani 7guarda o tempo, e afina o teu violino

3or mais estran(o que possa parecer K bela leitora, esta grotescapersonagem (avia contra<do aqueles la*os que os mortais ordinários s+o

capa'es de considerar o seu especial monop0lio, - tin(a-se casado, e era paide uma fil(a

? o que parecerá mais estran(o ainda, a sua esposa era fil(a de umcalmo, s0brio e concentrado !ngl"s F tin(a muito menos anos de idade do queo m5sicoG era formosa e amável, com um doce semblante !ngl"sG (avia-secasado com ele por escol(a pr0pria, e cr"-lo-eis 1 amava-o ainda

Domo aconteceu que ela se casou com ele, ou como este (omemesquivo, intratável, impertinente se (avia atrevido a propor-l(e, s0 possoexplicá-lo, convidando-l(e a dirigir o seu ol(ar em redor de si, para depois

explicar, primeiro K mim, como a metade dos (omens e a metade dasmul(eres que voc" con(ece, puderam encontrar o seu cIn)uge

?ntretanto, refletindo bem, esta uni+o n+o era coisa t+oextraordinária

 7 mo*a era fil(a natural de pais demasiado pobres para recon(ec"-laou reclamá-la

2oi levada K !tália para aprender a arte que devia proporcionar-l(e osmeios de viver, pois a )ovem tin(a gosto e vo'G vivia em depend"ncia, e via-setratada com dure'a

= pobre 3isaniera seu mestre, e a vo' dele era a 5nica que a )ovem(avia ouvido desde o seu ber*o, e que l(e parecia n+o a escarnecer oudespre'ar

? assim o resto n+o é uma coisa muito natural Matural ou n+o,eles se casaram ?sta )ovem amava o seu maridoG e, )ovem e amável comoera, podia di'er-se quase que era o g"nio protetor dos dois

8e quantas desgra*as tin(a-o salvo a sua ignorada media*+o oficiosacontra os déspotas de A+o Darlos e do Donservat0rio

?m quantas enfermidades, - pois 3isaniera de constitui*+o delicada, -tin(a-l(e assistido e dado alimenta*+o 9uitas ve'es, nas noites escuras,esperava-o K porta do teatro, com a sua lanterna acesa, dando-l(e o seurobusto bra*o em que ele se apoiava, para ser guiado por elaG se n+o ofi'esse, quem sabe, o m5sico, em seus abstratos son(os e desvarios, n+o seteria arro)ado ao mar, em busca da sua :Aereia;

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3or outra parte, a boa esposa escutava com tanta paci"ncia poisnem sempre o bom gosto é compan(eiro do verdadeiro amor1 e com tantopra'er, aquelas tempestades de exc"ntrica e capric(osa melodia, até que, pormeio de constantes elogios, conseguia levá-lo K cama, quando ele, no meioda noite, se pun(a a tocar

?u disse que a m5sica era uma parte desse (omem, e esta gentilcriatura parecia ser uma parte da m5sicaG com efeito, quando ela se sentava )unto dele, tudo o que era suave e maravil(oso em sua mati'ada fantasia,vin(a mesclar-se imperceptivelmente com a agradável (armonia

Aem d5vida, a presen*a dessa mul(er influ<a sobre a m5sica,modificando-a e suavi'ando-aG 3isani, porém, que nunca perguntava de ondeou como l(e vin(a a inspira*+o, ignorava-o

@udo o que ele sabia era que amava e aben*oava a sua esposa

?le pensava que l(e di'ia pelo menos vinte ve'es por diaG mas, narealidade, n+o l(e di'ia nunca, pois era muito parco S modesto T de palavras,até para a sua esposa 7 linguagem de 3isani era a m5sicaG assim como alinguagem da sua mul(er era os seus cuidados

?le era mais comunicativo com seu :barbiton; S ou barbitos, grego, liraou (arpa T, como o sábio 9erseno nos ensina a c(amarmos K todas asvariedades da grande fam<lia da viola

Dertamente, bárbito soa mel(or do que :rabeca;G deixemo-lo, pois, serbárbito

3isani passava (oras inteiras falando com este instrumento, -louvando-o, censurando-o, acariciando-oG e até pois assim é o (omem, pormais inocente que se)a1 )á o (avia ouvido )urar por seu bárbitoG mas esteexcesso sempre l(e causava, em seguida, remorso e penit"ncia

? o instrumento tin(a a sua linguagem particular, sabia responder-l(eGe quando ele, o bárbito, ral(ava, fa'ia-o Ks mil maravil(as

?ra um nobre compan(eiro, este violino Pm @irol"s S 7ustr<aco T, que(avia sa<do das m+os do ilustre instrumentista Ateiner

avia algo de misterioso em sua grande idade

Quantas m+os, agora )á convertidas em p0, tin(am feito vibrar assuas cordas, antes que passasse a ser o amigo familiar de Daetano 3isani

 7té a sua caixa era venerávelG tin(a sido belamente pintada, segundose di'ia, por Daraci

Pm !ngl"s colecionador de antiguidades ofereceu a 3isani maisdin(eiro pela caixa, do que este tin(a gan(ado com o violino

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3orém, o m5sico, a quem pouco importava morar em uma c(oupana,orgul(ava-se de ter um palácio para o bárbito, ao qual considerava como seufil(o primog"nito

9as ele tin(a também uma fil(a, da qual agora nos vamos ocupar

Domo deverei fa'er, 0 >iola, para descrever-te

Dom certe'a, a 95sica foi, de algum modo, responsável pelo adventodesta )ovem descon(ecida

3ois tanto em sua forma, como em seu caráter, pode-se descobriruma semel(an*a familiar com essa singular e misteriosa vida do som, que,noite ap0s noite, andava nos ares, imitando os divertimentos dos esp<ritos doselementos nos mares estrelados

>iola era formosa, porém de uma formosura pouco comumG era urna

combina*+o (armoniosa de atributos opostos

=s seus cabelos eram de um ouro mais rico e mais puro do que osque v"em no MorteG mas os ol(os, totalmente pretos, eram de uma lu' maisterna e mais encantadora do que os ol(os das !talianas, sendo quase deesplendor =riental

  7 sua fisionomia era extraordinariamente linda, mas nunca amesma F ora rosada, ora pálidaG e, com a varia*+o da sua fisionomia, tambémvariava a sua disposi*+o F ora era muito triste, ora muito alegre

Ainto ter que di'er que esta )ovem n+o tin(a recebido dos seus pais,em grau satisfat0rio, o que n0s c(amamos, com ra'+o, educa*+o

M+o resta d5vida que nen(um deles possu<a grandes con(ecimentosque pudessem ensinarG e, naquela época, a instru*+o n+o era t+o espal(adaentre o povo, como o é (o)e

9as o 7caso ou a Mature'a favoreceram a )ovem >iola

?la aprendeu, como era natural, a falar tanto a l<ngua materna como a

paterna @ambém aprendeu, em breve, a ler e a escreverG e a sua m+e, queera Dat0lica Comana, ensinou-l(e, )á na infância, a re'ar

3orém, em contraste com todas estas aquisi*6es, os estran(oscostumes de 3isani e os incessantes cuidados e ocupa*6es que elereclamava da sua mul(er, fa'iam com que, muitas ve'es, a menina ficassecom uma vel(a aia que, com certe'a, amava-a ternamente, mas n+o estava(abilitada para instru<-la

8ona Jianetta, a aia, era uma !taliana e Mapolitana completa 7 sua )uventude era todo amor, e a sua idade madura era toda supersti*+o

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?ra uma mul(er loqua' e indiscreta, - uma palradora S tagarela TPmas ve'es falava K menina de caval(eiros e pr<ncipes prosternados a seuspés, outras ve'es l(e gelava o sangue nas veias, aterrori'ando-a com(ist0rias e lendas, talve' t+o vel(as como as fábulas Jregas ou ?truscas, dedemInios e vampiros, - das dan*as ao redor da grande nogueira de

Benevento, e da ben'edura contra o mal ol(ado

@odas estas coisas concorreram silenciosamente para gravarsupersticiosas idéias, na imagina*+o de >iola, que nem a idade, nem areflex+o puderam dissipar

? tudo isso fe' com que se afei*oasse, com uma espécie de misturade temor e alegria, K m5sica do seu pai

 7quelas toadas visionárias, lutando sempre por tradu'ir em tonsselvagens e desconcertados a linguagem de Aeres extraterrestres, rodeavam-

na desde o ber*o

3ode-se di'er, pois, que sua imagina*+o, a sua mente estava c(eiade m5sicaG encontros amorosos, recorda*6es, sensa*6es de pra'er ou desofrimento, - tudo estava mesclado, inexplicavelmente, com aqueles sons queora a deleitavam, ora a enc(iam de terrorG isto a afagava e saudava quandoabria os ol(os ao Aol, e fa'ia-a despertar sobressaltada, quando seencontrava s0 em sua cama, rodeada da escurid+o da noite

 7s lendas e os contos de Jianetta serviam somente para que a )ovemcompreendesse mel(or o significado daqueles misteriosos tonsG forneciam-l(eas palavras para a m5sica

?ra, pois, natural que a fil(a de tal pai manifestasse cedo algum gostopela sua arte

 7inda era muito crian*a e )á cantava divinamente

Pm grande Dardeal - grande igualmente no ?stado e noDonservat0rio - tendo ouvido elogiar o seu talento, mandou buscá-la

8esde aquele momento, a sua sorte ficou decidida F estava destinadaa ser a futura gl0ria de Mápoles, a :prima dona; do A+o Darlos

= Dardeal, insistindo em que se cumprisse a sua predi*+o S sina,profecia T, l(e deu os mais célebres mestres

3ara despertar nela o esp<rito de emula*+o, 7 sua ?min"ncia levou-a,em uma noite, ao seu camarote, crendo que serviria de alguma coisa ver arepresenta*+o e ouvir os aplausos que se prodigali'avam Ks deslumbrantesartistas, as quais ela devia superar um dia

=( Domo é gloriosa a vida teatral, e como é belo o mundo dem5sica e de canto, que come*ava a bril(ar para ela

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3arecia ser o 5nico que correspondia a seus estran(os e )uvenispensamentos

2igurava-l(e que, tendo vivido até ent+o em terra estrangeira, via-se,enfim, transportada a uma regi+o onde encontrava as formas e ouvia a

linguagem do seu 3a<s natal

Belo e verdadeiro entusiasmo, elevado pela promessa do g"nio

 9enino ou (omem, nunca será poeta, se n+o sentiste o ideal, oromance, se n+o viste a il(a de Dalypso diante dos teus ol(os, quando, pelaprimeira ve', levantando-se o mágico véu, se te apresentar o mundo dapoesia sobreposto ao mundo da prosa

? agora come*ou a !nicia*+o para a )ovem

!a ler, estudar, descrever com um gesto, com um ol(ar, as paix6esque depois devia expressar no palcoG li*6es perigosas, na verdade, paraalgumas pessoas, mas n+o para o puro entusiasmo que nasce da arte F paraa mente que a concebe exatamente, a arte n+o é mais que o aparel(o ondese reflete o que se p6e sobre sua superf<cie, enquanto está sem mácula, >iolacompreendeu a nature'a e a verdade, intuitivamente

 7s suas audi*6es estavam impregnadas de um poder de que ela n+oera conscienteG a sua vo' comovia os ouvintes até as lágrimas, ou inspirava-l(es uma generosa ira

9as estas emo*6es eram produ'idas pela simpatia que manifestasempre o g"nio, até em seus anos de infantil inoc"ncia, por tudo o que sente,aspira ou sofre

?la n+o era uma mul(er prematura que compreendesse o amor ou oci5me que as palavras exprimiamG a sua arte era um daqueles estran(ossegredos que os psic0logos podem explicar-nos, se l(es apra', di'endo-nos,ao mesmo tempo, porque crian*as de uma mente singela e de um cora*+opuro sabem distinguir t+o bem, nos contos que l(es s+o relatados ou noscantos que ouvem, a diferen*a entre a arte verdadeira e a falsa, entre a

linguagem apaixonada e a geringon*a, entre omero e Cacine, - e porqueressoam, dos cora*6es que n+o t"m ainda sentido o que repetem, osmelodiosos acentos, t+o naturalmente patéticos

2ora dos seus estudos, >iola era uma menina singela e afetuosa,porém um tanto capric(osa, - capric(osa n+o em seu caráter, pois que esteera sempre afável e d0cil, mas em sua disposi*+o de ânimo, que, como )ádisse, passava da triste'a K alegria e vice-versa, sem uma causa aparente

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Ae existia alguma causa, s0 podia atribuir-se Ks precoces emisteriosas influ"ncias que )á referi, ao tratar de explicar o efeito produ'idoem sua imagina*+o por aquelas estran(as e arrebatadoras correntes de somque constantemente a rodeavamG pois convém notar que aqueles que s+odemasiado sens<veis aos efeitos da m5sica, se v"em incessantemente

acossados, nas suas lidas mais ordinárias, por melodias e tons que osatormentam e inquietam

 7 m5sica sendo uma ve' admitida K alma converte-se em umaespécie de esp<rito, e nunca morre

?la percorre, perturbadoramente, os recantos e as galerias damem0ria, e é ouvida, freqRentemente, t+o viva e distinta como quando fendeuos ares pela primeira ve'

8e quando em quando, pois, estes fantasmas de sons vagavam pela

imagina*+o de >iolaG fa'iam aparecer um sorriso em seus lábios, se eramalegresG anunciavam o seu semblante, se eram tristesG e ent+o elaabandonava de repente a sua infantil alegria e sentava-se em um canto,muda e meditativa

Dom ra'+o, pois, em sentido aleg0rico, podia-se c(amar a estaformosa criatura, de forma t+o aérea, de bele'a t+o (armoniosa, depensamentos e costumes t+o pouco comuns, mais )ustamente fil(a da m5sicado que do m5sicoG um ser do qual se podia imaginar que l(e estava reservadoalgum destino, menos da vida comum do que do romance, desses que, peloque os ol(os podem ver, e pelo que os cora*6es podem sentir, desli'amsempre, )unto com a vida real, de corrente em corrente, até ao =ceano Megro

3or isso, n+o parecia estran(o que >iola, mesmo )á em sua meninice,e muito mais quando come*ava a florescer na doce serenidade da )uventudevirginal, cresse ser a sua vida destinada a participar, fosse em bem ou mal, doromance, c(eio de son(os, que formava a atmosfera da sua exist"ncia

2reqRentemente penetrava nos bosque'in(os que cercavam a grutade 3osillipo S ou Dripta Mapolitana, em Mápoles T , - a grande obra dos antigosDimerianos S ou Dimérios, antigo povo da regi+o do 9ar Megro e da C5ssia T, -

e, sentada ao lado da @umba de >irg<lio, entregava-se a essas vis6es, aessas sutis divaga*6es que nen(uma poesia pode tornar palpáveis edefinidasG porque o poeta que excede a todos que t"m cantado, é o cora*+oda )uventude son(adora

9uitas ve'es também, sentada ali no umbral, sobre o qual pendiamas fol(as de parreira, e ol(ando o a'ulado e sereno mar, passava a )ovem as(oras do meio-dia outonal, ou os crep5sculos do ver+o, construindo os seuscastelos no ar

Quem é que n+o fa' a mesma coisa, - n+o s0 na )uventude, como

também no meio de débeis esperan*as da idade madura

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Pma das prerrogativas do (omem, desde o rei até ao campon"s, éson(ar

9as esses son(os eram em >iola mais (abituais, mais distintos oumais solenes do que a maior parte de n0s desfruta 3areciam ser como o

=rama dos Jregos, - fantasmas proféticos S son(os ou vis6es proféticas T

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CAPÍTULO II 

:2u stupor, fu vag(e''a, fu dileto ;

:2oi uma admira*+o, foi um pra'er, foi um deleite ;

Jerusal L<b, canto !!, &#

?nfim, a educa*+o art<stica ac(a-se terminada

>iola tem perto de de'esseis anos

= Dardeal declara que c(egou o tempo de inscrever um novo nomeno Livro de =uro, reservado aos fil(os da 7rte e do Danto, mas com quecaráter

Qual o g"nio a que >iola deve dar forma e vida

 7( 7qui está o segredo

Dorrem rumores de que o infatigável 3aisielo encantado da maneiracom que a )ovem executou o seu :Mel cor piu non misento;, e o seu :!o sonLindoro;, quer produ'ir alguma nova obra mestra para a estréia da novaartista

=utros insistem em que >iola é mais forte no cImico, e que Dimarosaestá trabal(ando assiduamente para dar outro :9atrimInio Aecreto;

 7o mesmo tempo, se observa que, em outras partes, reina umareserva diplomática, e que o Dardeal está de (umor pouco alegre

?le disse publicamente estas portentosas palavras F - ?sta tolamenina é t+o sem )u<'o como seu paiG o que ela pede é absurdo

Delebra-se uma confer"ncia atrás de outraG o Dardeal fala muitosolenemente, em seu gabinete, K pobre )ovem, - tudo em v+o

Mápoles se perde em um mar de curiosidade e con)ecturas

 7 leitura termina em uma dissens+o e >iola regressa para a sua casa,enfadada e teimosa F n+o representará, - desfe' o contrato

3isani, que n+o con(ecia os perigos do teatro, tin(a concebido alison)eira esperan*a de que ao menos uma pessoa da sua fam<lia aumentariaa celebridade da sua arte

 7 obstina*+o da fil(a causava-l(e grande desgostoG todavia, n+o

disse uma s0 palavra de enfado

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3isani nunca ral(ava com palavras, mas contentava-se em agarrar oseu fiel bárbito

= fiel bárbito, de que (orr<vel maneira te ral(ava

= instrumento crocitava, gral(ava, gemia, rosnava

? os ol(os de >iola enc(iam-se de lágrimas, porque ela compreendiaaquela linguagem

 7 )ovem aproximou-se da sua m+e e fal(ou-l(e ao ouvidoG e quando opai voltou do teatro, onde fora tocar, viu que a m+e e a fil(a estavamc(orando

?le as contemplou com admira*+oG e, em seguida, como se sentisse(aver sido demasiado duro para com elas, correu outra ve' para agarrar o

violino

? agora, eis que se fa' ouvir o arrul(o S canto T melodioso de umafada, tratando de consolar um fil(o impertinente que (avia adotado

Aons suaves, influentes, argentinos S que soa quando se bata naprata T, brotavam do instrumento, tocado pelo mágico arco

= mais intenso pesar desaparecia diante daquela melodiaG e,contudo, Ks ve'es ouvia-se uma nota estran(a, alegre, repicante S sons curtoscomo uma badalar o uma batida T, parecida a um riso, porém n+o ao risomortal

?ra um dos trec(os mais excelentes da sua querida 0pera, - a Aereiano ato de encantar as ondas e adormecer os ventos

= Déu sabe o que teria acontecido em seguida, se o seu bra*o n+otivesse sido detido

>iola se lan*ava ao seu peito, abra*ando-o e bei)ando-o, com osol(os radiantes de felicidade, que se refletia nos seus dourados cabelos

Meste mesmo instante, abriu-se a porta, para dar entrada a ummensageiro do Dardeal

>iola devia apresentar-se imediatamente K casa da sua ?min"ncia

 7 m+e a acompan(ou

2e'-se a reconcilia*+o, e tudo ficou arran)ado em um instanteG >iolafoi de novo admitida, e escol(eu, ela mesma, a sua 0pera

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Y sombrias Ma*6es no Morte, ocupadas com suas dissens6es e seusdebates, em suas trabal(osas vidas do 3nyx e do gora SOT - n+o se podeimaginar que grande movimento e ru<do produ'iu entre a classe musical deMápoles o rumor de uma nova 0pera e de uma nova cantora

SOT Pn$% W 7ssembléia 3opular em edif<cio pr0prio embora aberta Kstodos os cidad+os

&'ora  W pra*a principal das cidades Jregas, espa*o p5blico porexcel"ncia, aonde além das feiras ocorriam as discuss6es pol<ticas e os@ribunais 3opulares, sinInimo de cidadania

9as que 0pera será esta Munca tin(a sido t+o secreta a intriga degabinete, como desta ve'

3isani voltou, uma noite, do teatro, evidentemente enfadado e irado

3obres dos seus ouvidos, leitor, se tivessem escutado o bárbitoaquela noite

aviam-no suspenso do seu emprego, temendo que a nova 0pera e aprimeira representa*+o da sua fil(a, como :prima dona;, afetassemdemasiadamente os seus nervos

?, em tal noite, as suas varia*6es, as suas endemonin(adas sereias e(arpias, produ'iram uma alga'arra que n+o se poderia ouvir sem terror

Aeparado do teatro, e isso exatamente na noite em que a sua fil(a,cu)a melodia n+o era sen+o uma emana*+o da sua, ia representar pelaprimeira ve'

?star K parte e ausente, para que ocupasse o seu posto algum novorival F isto era demasiado para um m5sico de carne e osso

3ela primeira ve', o artista se expressou em palavras sobre este

assunto, perguntando, com muita gravidade, - pois nesta quest+o o bárbito,apesar da sua eloqR"ncia, n+o podia expressar-se claramente, - qual era a0pera que devia executar-se, e qual o papel que a )ovem devia representar

? >iola respondeu, também com gravidade, que o Dardeal l(e tin(aproibido que o revelasse

3isani n+o respondeu, mas desapareceu com o seu violinoG foi aomais alto da casa onde, Ks ve'es, quando estava de péssimo (umor, serefugiava1, e, em seguida, a m+e e a fil(a ouviram o violino lamentar-se esuspirar de um modo capa' de partir o cora*+o

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 7s afei*6es de 3isani manifestavam-se muito pouco no seusemblante

M+o era um desses pais carin(osos, cu)os fil(os est+o semprebrincando ao redor dos seus )oel(osG a sua mente e a sua alma pertenciam

t+o inteiramente K sua arte, que a vida doméstica desli'ava para ele como sefosse um son(o, e o cora*+o, a forma substancial, o corpo da exist"ncia

 7s pessoas que cultivam um estudo abstrato, especialmente osmatemáticos, costumam ser assim

Quando o criado de um célebre 2il0sofo 2ranc"s foi correndo di'er Keste F - :Aen(or, a casa está em c(amas ; - respondeu o sábio, apenaslevantando por um momento a vista dos seus problemas F - :>ai di'"-lo Kmin(a esposa, imbecil @en(o eu que cuidar de assuntos domésticos ;

- ? que s+o as matemáticas para um m5sico, e, sobretudo para umm5sico que n+o s0 comp6e Yperas, mas também toca o bárbito

- Aabem o que respondeu o ilustre Jiardini, quando um principiantel(e perguntou quanto tempo deveria empregar para aprender a tocar violino

=u*am e desesperem os impacientes, que dese)am dobrar o arco emcompara*+o com o qual o arco de Plysses foi a penas um brinquedo F - :8o'e(oras todos os dias, por espa*o de vinte anos seguidos ;

- 3oderá, pois, um (omem que toca o bárbito, estar sempre brincandocom seus fil(in(os

- M+o, 3isani 9uitas ve'es, com a fina suscetibilidade da suainfância, a pobre >iola se tin(a retirado da sua presen*a, para c(orar,pensando que n+o a amava

?, contudo, debaixo desta superficial abstra*+o do artista, se ocultavaum afetuoso carin(oG e K medida que a )ovem foi crescendo, um son(ador foicompreendendo o outro

? agora, n+o s0 l(e era fec(ado o camin(o da fama, mas até n+o sel(e permitia saudar a gl0ria nascente da fil(a - e esta fil(a (avia entrado emuma conspira*+o contra ele

@aman(a ingratid+o era mais cruel do que a picada de uma serpenteGe mais cruéis e dolorosos foram ainda os lamentos do bárbito

D(egou a (ora decisiva

>iola dirigiu-se ao teatro, acompan(ada da sua m+e

= indignado m5sico ficou em casa

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Pma (ora depois, Jianetta entrou correndo no quarto e disse-l(e F - 7carruagem do sen(or Dardeal está K portaG o seu protetor manda buscá-lo

3isani teve que deixar a um lado o seu violinoG era necessário por acasaca bordada e os pun(os rendados

- 7qui est+oG ligeiro, ligeiro

? )á rola a luxuosa carruagem, e o coc(eiro, sentado ma)estosamentena boléia, a*oita os briosos cavalos

= pobre 3isani, envolto em uma nuvem de confus+o, n+o sabe o quese passa

D(ega ao teatroG desce K porta principalG come*a a ol(ar de um ladopara outroG sente que l(e falta alguma coisa, - onde está o violino 7i a sua

alma, a sua vo', o seu pr0prio ser, ficou em casa

= m5sico n+o era ent+o outra coisa sen+o um autImato que oslacaios condu'iam, por entre corredores, ao camarote do Dardeal

Que surpresa, ao entrar ali

?staria son(ando

= primeiro ato (avia terminado

M+o quiseram mandar buscá-lo até que o sucesso estivesseassegurado

= primeiro ato decidiu o triunfo

3isani advin(a isto pela elétrica simpatia que se comunica de cora*+oem cora*+o em uma grande reuni+o de pessoas

Aente-o no sil"ncio profundo que reina entre o audit0rioG compreende-o até pela atitude do Dardeal, que o recebeu com o dedo levantado

3isani v" a sua >iola no cenário, deslumbrante em seu vestidosemeado de pedras preciosas, - ele ouve a sua vo' que extasia mil(ares decora*6es

3orém, a cena, o papel, a m5sica

H outra fil(a sua, - a sua imortal fil(aG a fil(a espiritual da sua almaG asua fil(a predileta que ele acariciava, por muitos anos, na obscuridadeG a suaobra primaG a sua opera :7 Aereia ;

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?ste, pois, foi o mistério que tanto o atormentara, - esta a causa dasua dissens+o com o DardealG este o segredo que n+o devia revelar-se atéque o "xito estivesse garantidoG e a fil(a tin(a unido o seu triunfo ao do seupai

? ela estava ali, enquanto todos os cora*6es se inclinavam diantedela, - mais formosa do que a mesma Aereia que l(e inspirava aquelasmelodias

=(, longa e doce recompensa do trabal(o

Que pra'er (á, na terra, igual ao que desfruta o g"nio, quando, porfim, abandona a sua obscura caverna, para aparecer K lu' e cercar-se defama

3isani n+o falava, nem se moviaG estava deslumbrado, sem respirarG

grossas lágrimas rolavam-l(e pelas facesG s0, de quando em quando,moviam-se suas m+os, - maquinalmente procuravam o seu fiel instrumentoGpor que n+o estaria ali, para participar do seu triunfo

3or fim, o pano caiuG mas que tempestade de aplausos

= audit0rio levantou-se como um s0 (omem, - aclamando, comdel<rio, aquele nome querido

>iola apresentou-se, tr"mula e pálida, e, em toda aquela multid+o,n+o viu sen+o a face do seu pai

= audit0rio, seguindo a dire*+o daquele ol(ar umedecido, adivin(ou oimpulso da fil(a, e compreendeu o seu significado

= bom e vel(o Dardeal puxou delicadamente o m5sico para diante-95sico indomável voc" acaba de receber da sua fil(a uma coisa de maiorvalor do que a vida que l(e deu

- 9eu pobre violino - exclamou 3isani, enxugando os ol(os, - agoranunca mais tornar+o a tocá-lo

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CAPÍTULO III 

:2ra si contrarie tempre in g(iaccio e in foco,!n riso e in pianto, e fra paura e speme,

LUingannatrice 8onna;

:?ntre t+o contrárias misturas de gelo e fogo, riso e pranto, temor eesperan*a, a 9ul(er enganadora;

Jerusal Lib, canto !>, %%

M+o obstante a vit0ria definitiva da atri' e da 0pera (ouve ummomento, no primeiro ato, e, por conseguinte, antes da c(egada de 3isani,em que a queda da balan*a parecia mais que duvidosa

2oi em um coro c(eio de todas as singularidades do autor

? quando este 9aelstrom de Dapric(os rolava e espumava,dilacerando os ouvidos e os sentidos com toda a variedade de sons, oaudit0rio recon(eceu simultaneamente a m+o de 3isani

3or precau*+o, (avia-se dado K 0pera um t<tulo que afastava toda asuspeita da sua proced"nciaG e a introdu*+o e o princ<pio dela, em que (aviauma m5sica regular e suave, fe' o p5blico crer que ouvia algo do seu favorito3aisiello

 7costumado desde muito tempo a ridiculari'ar e quase despre'ar aspretens6es art<sticas de 3isani, como compositor, o audit0rio )ulgou que (aviasido ilicitamente enganado e sedu'ido para os aplausos, com que saudara aintrodu*+o e as primeiras cenas

Pm ominoso S agorento, funesto T 'unido circulou por todo o teatro F osatores e a orquestra, - eletricamente impressionados com o desagrado dop5blico, - come*aram a agitar-se e a desmaiar, deixando de emprestar aosrespectivos papéis a necessária energia e precis+o, que era o 5nico recursocom que se podia dissimular o grotesco da m5sica

?m cada teatro, sempre que se trata de um novo autor e de um novoator, s+o numerosos os rivais, - partido impotente quando tudo vai bem,porém urna perigosa emboscada desde o momento em que qualquer acidenteintrodu' a menor confus+o no curso dos acontecimentos

Levantou-se um murm5rioG é verdade que era um murm5rio parcial,mas o profundo sil"ncio que reinava por toda parte, pressagiava que aqueledesgosto n+o tardaria em se tornar contagioso

3ode-se di'er que a tempestade pendia de um cabelo

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?m t+o cr<tico momento, >iola, a rain(a Aereia, emergia pela primeirave' do fundo do =ceano

 [ medida que ia aproximando-se das lu'es, a novidade da suasitua*+o, a fria apatia dos espectadores, - sobre os quais nem a vista daquela

singular bele'a parecia produ'ir, no in<cio, a mais ligeira impress+o, - ococ(ilar malicioso dos outros atores que (avia no cenário, o resplendor daslu'es e sobretudo aquele recente murm5rio que c(egara aos seus ouvidosenquanto se ac(ava no seu esconderi)o, todas estas coisas gelaram as suasfaculdades e suspenderam-l(e a vo'

?, em ve' da grande invoca*+o, na qual devia imediatamenteprorromper, a régia Aereia, transformada em t<mida menina, permaneceupálida e muda ante aquela multid+o de frios ol(ares que a ela se dirigiam

Maquele instante, quando parecia )á abandoná-la a consci"ncia da

sua exist"ncia, e quando dirigia um t<mido ol(ar suplicante sobre a multid+osilenciosa, >iola percebeu, em um camarote do lado do cenário, umsemblante que, de repente e como por magia, produ'iu sobre a sua mente umefeito incapa' de poder-se analisar nem esquecer

3areceu-l(e que despertava em sua imagina*+o uma daquelas vagase freqRentes reminisc"ncias que acariciara nos momentos das suas ilus6esinfantis

M+o podia apartar a sua vista daquele semblante e, K medida que ocontemplava, o terror e o frio, que se apoderavam dela ao apresentar-se anteo p5blico, dissipou-se como a névoa diante do Aol

Mo escuro esplendor dos ol(os que encontravam os seus, (aviarealmente uma do*ura que a reanimava tanto, e uma admira*+o benévola ecompassiva, - tanta coisa que aquecia, animava e revigorava, - que qualquerque fosse o ator ou espectador, que (ouvesse observado o efeito que produ'um sério e benévolo ol(ar da multid+o dirigido K pessoa que se apresentaante esta, e pela dita pessoa é percebida, teria compreendido a repentina einspiradora influ"ncia que o ol(ar e o sorriso do estrangeiro exerceu sobre aestreante

?, enquanto >iola ainda o mirava, e o ardor voltava ao seu cora*+o, oestrangeiro levantou-se, como para c(amar a aten*+o do p5blico sobre odever de cortesia para com uma )ovem t+o formosaG reanimada, come*ouesta a cantar e, apenas se fe' ouvir a sua vo' o p5blico prorrompeu em umasalva de generosos aplausos

?ste estrangeiro era uma personagem notável, e, além da nova0pera, fora a sua c(egada a Mápoles o ob)etivo principal das conversa*6esnaqueles dias

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? quando cessou o aplauso, a Aereia renovou o seu canto com vo'clara, c(eia e livre de todo o embara*o, como o esp<rito libertado do pesadobarro

8esde aquele momento, >iola esqueceu o audit0rio, o acidente, o

mundo inteiro, - exceto esse para<so ideal ao qual ela presidia

3arecia que a presen*a do estrangeiro servia somente para maisainda acrescentar essa ilus+o, na qual os artistas n+o v"em cria*+o algumafora do c<rculo da sua arte

>iola sentia como se aquela fronte serena e aqueles ol(os bril(antesl(e inspirassem poderes anteriores nunca con(ecidos F e, como se buscandouma linguagem para expressar as estran(as sensa*6es produ'idas pelapresen*a do descon(ecido, esta mesma presen*a l(e insuflasse a melodia eo canto

Aomente quando terminou a fun*+o, e >iola viu o seu pai e sentiu aalegria dele, cedeu aquele estran(o encanto, para dar lugar K pura expans+odo amor filial S amor dos fil(os para com os seus pais T

Dontudo, quando se retirava do cenário, virou a cabe*ainvoluntariamente, e o seu ol(ar encontrou-se com o do estrangeiro, cu)otranqRilo e melanc0lico sorriso l(e caiu até ao fundo do cora*+o, - para aliviver e despertar em sua alma recorda*6es confusas, meio rison(as e meiotristes

8epois das congratula*6es do bom Dardeal->irtuoso, admirado, comotoda Mápoles, de (aver vivido tanto tempo no erro a respeito desse assuntodo gosto, - e mais admirado ainda de ver que toda Mápoles confessava esteseu erroG depois de ter ouvido murmurar mil elogios que aturdiam a pobreatri', esta, com o seu modesto véu e o seu tra)e singelo, passou por entre amultid+o de admiradores que a aguardavam em todos os corredores doteatroG depois do terno abra*o do pai com a fil(a, retornam K sua casa nacarruagem do Dardeal, atravessando as ruas iluminadas s0 pelas estrelas, eao longo da estrada desertaG a escurid+o n+o deixou ver as lágrimas da boa esens<vel m+e

?i-los )á em sua casa e no seu bem con(ecido quarto, - :>enimus adlarem nostrum; S&TG ve)a a vel(a Jianetta, intensamente atarefada empreparar a ceia, observe 3isani como tira o bárbito da sua caixa paracomunicar-l(e tudo o que sucedeuG escute como a m+e ri com toda a alegriatranqRila de um riso !ngl"s

3or que, >iola, estran(a criatura, senta-se so'in(a em um canto comas faces apoiadas em suas lindas m+os e com os ol(os fixos no espa*o

 Levante-se @udo deve rir em sua casa, esta noite

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2eli' era o grupo que se sentou em redor daquela mesa (umilde F erauma festa capa' de causar inve)a ao pr0prio L5culo, em sua sala de 7poloG(avia uvas secas, delicadas sardin(as, rica :polenta; e o vel(o vin(o:Lácrima;, presente do bom Dardeal

= bárbito, colocado em uma alta cadeira, ao lado do m5sico, pareciaparticipar da festiva ceia

 7 sua (onesta e enverni'ada lace bril(ava K lu' da lâmpadaG e (aviaalgo de astuta gravidade em seu sil"ncio, quando, depois de cada bocadoengolido, o seu amo se dirigia a ele para di'er-l(e alguma coisa que seesquecera de contar-l(e

 7 boa esposa ol(ava afei*oada de um lado para outro, e a alegria queexperimentava n+o l(e permitia comerG até que, levantando-se de repente,correu para colocar sobre as fontes do artista uma coroa de louros, que o seu

carin(o l(e fi'era preparar )á antecipadamenteG e >iola, sentada ao outro ladodo seu irm+o, o bárbito, arrumava o boné e alisava os cabelos do seu pai,di'endo-l(e F - Querido papai, n+o deixará, daqui para diante, que :ele; meral(e, n+o é verdade

?nt+o, o pobre 3isani, louco de pra'er entre sua fil(a e o violino, e umtanto excitado pelo :Lácrima; e pelo seu triunfo, voltou-se para >iola, e, coming"nuo e grotesco orgul(o, disse-l(e F

- M+o sei a quem dos dois devo estar mais agradecido >oc" mecausou um grande pra'er, querida fil(a, e estou orgul(oso de voc" e de mim9as ele e eu, pobre compan(eiro, temos passado )untos tantos momentos desofrimento

= sono de >iola foi inquieto, perturbado, e isso era natural

 7 embriague' da vaidade e do triunfo, e a sua felicidade, pelafelicidade que causara, eram coisas mel(ores do que dormir

M+o obstante, o seu pensamento voava seguidamente atrás daquelesol(os expressivos e daquele doce sorriso, aos quais deveria ir para sempreunida a recorda*+o do seu triunfo e da sua felicidade

=s seus sentimentos, como o seu caráter mesmo, eram estran(os epeculiares

M+o eram os de uma )ovem cu)o cora*+o, alcan*ado pela primeira ve'pelo ol(ar, suspira sua natural e original linguagem do primeiro amor

 7inda que o rosto, que em todas as ondas da sua desassossegadaimagina*+o se refletia, ostentasse uma singular ma)estade e bele'a, n+o eratanto a admira*+o, nem a lembran*a agradável e amorosa que a vista desseestrangeiro despertara no seu cora*+o F mas era um sentimento (umano de

gratid+o e pra'er, mesclado a outra idéia misteriosa de medo e respeito

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?stava certa de que tin(a visto, )á antes, aquelas fei*6esG porém,quando e onde

Aem d5vida, s0 quando os seus pensamentos (aviam tratado depenetrar no seu futuro, e quando, apesar de todos os esfor*os para

apresentar em sua imagina*+o um porvir semeado de flores e c(eio deagradáveis raios solares, um negro e glacial pressentimento a fa'ia retrocederao seu mais profundo interior

3arecia-l(e como se tivesse ac(ado uma coisa que, desde muitotempo, buscara por entre mil tristes inquieta*6es e vagos dese)os, menos docora*+o que da menteG n+o como quando o estudante, depois de ter-sefatigado, correndo muito tempo atrás de uma verdade cient<fica, a v" bril(arconfusamente diante de si, porém ainda longe, e a v" lu'ir, apagar-se,reaparecer, e novamente sumir-se

3or fim, >iola caiu em um sono inquieto, povoado de disformes,fugitivos, vagos fantasmasG e, ao despertar, quando os raios do Aol,rompendo por meio de um véu de nebulosa nuvem, bril(avam indecisosatravés da )anela, ouviu seu pai que desde muito cedo (avia se entregado Ksua tarefa quotidiana, arrancando do seu violino um lento e triste som,parecido a um canto f5nebre

- Domo é, - perguntou >iola, quando desceu ao quarto de 3isani, -como é, meu pai, que a sua inspira*+o foi t+o triste, depois da alegria da noitepassada

- M+o sei, min(a fil(a ?u queria estar alegre e compor algo paradedicar-l(e, mas este obstinado n+o quis dar outras notas além das que voc"ouviu

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CAPÍTULO IV 

:? cosi i pigri e timidi desiri Aprona;

:? assim estimula os lentos e t<midos dese)os;

Jerusal Lib, Dant !> LXXX>!!!

?ra costume de 3isani, exceto quando os deveres da sua profiss+ol(e exigiam o sacrif<cio do seu tempo, dedicar uma parte do meio-dia ao sonoGcostume que n+o era tanto um luxo, como uma necessidade para um (omemque dormia pouco de noite

Dom efeito, as (oras do meio-dia eram exatamente o tempo em que3isani n+o podia fa'er nada, nem compor, nem se exercitar, mesmo que o

quisesse

= seu g"nio assemel(ava-se Ks fontes que est+o c(eias de man(+cedo e ao entardecer, abundantes de noite, e inteiramente esgotadas aomeio-dia

8urante este tempo que o m5sico consagrava ao descanso, a suaesposa costumava sair de casa, a fim de comprar o necessário para a fam<lia,ou para aproveitar e qual é a mul(er que n+o gosta de fa'"-lo 1 a ocasi+ode poder conversar um pouco com outras pessoas do seu sexo

? no dia seguinte ao daquele bril(ante triunfo, quantas felicita*6es aesperavam

>iola, por sua ve', costumava sentar-se, nessas (oras, fora da portada casa, debaixo de um toldo estendido para preservar do Aol, mas que n+oimpedia a sua vis+o

 7li, com o livro posto sobre os )oel(os, no qual seus ol(os se fixavamnegligentemente de ve' em quando, voc" a veria contemplar as fol(as daparreira que pendiam da latada S treli*a - grade de madeira ou metal T que

(avia por sobre a porta, e os ligeiros barcos que, com as velas brancas,desli'avam, levantando flocos de espuma, ao longo da praia que se estendiaa perder de vista

?nquanto >iola estava assim sentada, entregue antes a um son(o doque a pensamentos, um (omem que vin(a ao lado de 3osillipo S bairroresidencial de Mápoles T com passo lento e os ol(os baixos passava pordiante da casa e a )ovem, levantando os ol(os de repente, ficou sobressaltadaao ver diante de sio estrangeiro que a (avia ol(ado no teatro

?la deixou escapar uma involuntária exclama*+o, e o caval(eiro,

virando a cabe*a, avistou-a e parou

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2icou por um instante mudo diante da )ovem, contemplando-aG aquelesil"ncio era demasiado sério e tranqRilo para que pudesse interpretar-secomo uma demonstra*+o de galanteria

3or fim, falou F - H feli', min(a fil(a, - perguntou-l(e em tom quase

paternal, - na carreira que escol(eu

8os de'esseis anos aos trinta, a m5sica do suave rumor dosaplausos é mais doce do que toda a m5sica que sua vo' pode exprimir

- M+o sei, - respondeu >iola, em tom vacilante, porém animada peloafável acento da vo' que se l(e dirigia, - n+o sei se sou feli' ou n+o, nestemomentoG mas fui feli' ontem K noite ? também sinto, ?xcel"ncia, que devoagradecer-l(e, ainda que, talve', n+o saiba o motivo disso

- ?ngana-se, - disse sorrindo o caval(eiroG - eu assisti ao seu

merecido sucesso, e voc" talve' n+o saiba de que maneira = :porqu";, eul(e direi F porque vi que se albergava no seu cora*+o uma ambi*+o maisnobre do que a vaidade de mul(erG foi a fil(a que me interessou @alve' voc"preferisse que eu admirasse a artista

- M+oG o( n+o

- Bem, eu creio ? agora, )á que nos encontramos assim, quero dar-l(e um consel(o Quando for outra ve' ao teatro, terá aos seus pés todos os )ovens galantes de Mápoles 3obre menina 7 fama que deslumbra a vista,pode queimar as asas M+o esque*a que a 5nica (omenagem que n+omanc(a, é a que nen(um desses aduladores l(e fornecerá ? por maiselevados que se)am os seus son(os futuros, - e eu estou vendo nestemomento, enquanto falo contigo, como s+o extravagantes e exagerados

- =xalá que s0 se reali'em aqueles que se refiram K vida tranqRila dolar

Quando o descon(ecido se calou, o peito de >iola palpitavaagitadamente sob o fino corpete

?, c(eia de uma natural e inocente emo*+o, compreendendoimperfeitamente, apesar de ser !taliana, a gravidade do aviso, exclamou F

 - 7(, ?xcel"ncia M+o pode fa'er idéia de como )á me é caro esselar ? o meu pai - a( 3ara mim n+o (averia lar, sem meu querido pai

= semblante do caval(eiro cobriu-se de profunda e melanc0licasombra

?le ol(ou a tranqRila casa, constru<da entre as parreiras, e fixou outrave' os seus ol(os na v<vida e animada face da )ovem atri'

- ?stá bem, - disse

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- Pma )ovem singela n+o necessita outro guia que o seu cora*+oinocente 7vante, pois, e prospere 7deus, bela cantora

- 7deus, ?xcel"nciaG porém - e um impulso irresist<vel, uma espéciede ansiedade, um vago sentimento de temor e de esperan*a, a impeliu a

perguntar F - tornarei a v"-lo em A+o Darlos

- M+o, pelo menos por algum tempo o)e deixo Mápoles

- Aim - ?, ao di'er isto, >iola sentiu-se desfalecer = teatro perdiapara ela toda a sua poesia

- ?, - disse o caval(eiro, voltando atrás, e pondo suavemente a suam+o sobre a da )ovem - e, talve', antes que tornemos a nos ver, voc" terásofrido, e con(ecido as primeiras dores agudas da vida (umana, e saberáqu+o pouco tudo o que a fama pode dar, substitui o valor do que o cora*+o

pode perderG mas se)a forte e n+o ceda, nem ao que possa parecer triste'adevida ao amor filial =bserve aquela árvore no )ardim do seu vi'in(o >e)acomo cresce, curvada e torcida 7lgum sopro de vento trouxe o gérmen, doqual ela brotou, K fenda da roc(aG cercada de roc(edos e edif<cios, oprimidapela Mature'a e pelo (omem, a sua vida tem sido uma cont<nua luta pela lu',- lu' que é a necessidade e o princ<pio dessa vida mesma F ve)a como se temagarrado e enroscadoG como, onde encontrava uma barreira, esfor*ou-se,criando o caule e os ramos, por meio das quais conseguiu elevar-se e pIr-seem contato com a clara lu' do céu Que é o que a tem preservado e protegidocontra todas as desvantagens do seu nascimento, e contra as circunstânciasadversas 3orque s+o as suas fol(as t+o verdes e formosas como as daparreira que est+o aqui, e que, com todos os seus bra*os, desfruta o ar e oAol, sem empecil(os 9in(a fil(a é porque o instinto, que impelia a lutar,porque os esfor*os que tem feito para alcan*ar a lu', a levaram a alcan*arpor fim, essa lu' que tanto procurava 7ssim, pois, com o cora*+o valente,atravesse os adversos acidentes e as mágoas do fado, dirigindo o ol(arinterno ao Aol, e lutando para alcan*ar o céuG é esta luta que dá saber aosfortes, e felicidade aos fracos 7ntes que nos tornemos a ver, voc" teráol(ado mais de uma ve', com ol(os tristes e pesados Kqueles ramos, equando ouvir como as aves trinam, pousando neles, e quando vir como osraios do Aol, vindo, de esguel(a, do roc(edo e da cumeeira da casa, brincam

com as suas fol(as, aprenda a li*+o que a Mature'a l(e ensina, e lute,atravessando as trevas, para c(egar K lu'

 7ssim que o descon(ecido acabou de falar, afastou-se lentamente,deixando >iola admirada, silenciosa, tristemente impressionada pela predi*+odo pr0ximo mal, e, contudo, encantada pela sensa*+o desta triste'a!nvoluntariamente os ol(os da virgem seguiram o estrangeiro, -involuntariamente estendeu os seus bra*os, como se quisesse det"-lo com ogestoG teria dado um mundo para v"-lo voltar, - para poder ouvir outra ve'aquela vo' suave, calma e sonora, e para poder sentir outra ve' aquela levem+o na sua

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 7 presen*a desse (omem produ'ia o efeito dos débeis raios da Luafa'endo ressaltar bele'a dos ângulos que iluminaG - e, como quando a Luadeixa de bril(ar, os ob)etos reassumem seu aspecto ordinário, de aspere'a evi da prosaica, quando o estrangeiro se retirou, a >iola apareceu novamentesombria a cena que se apresentava aos seus ol(os

= estrangeiro seguiu andando pelo longo e pitoresco camin(o quecondu' aos palácios em face dos )ardins p5blicos, e dali aos bairros maispopulosos da cidade

Pm grupo de )ovens cortes+os, desses que passam a vida em 0cio eorgias, tendo invadido a porta de uma casa estabelecida para o favoritopassatempo do dia, e onde se reuniam os mais ricos e ilustres )ogadores, -abriu passo ao estrangeiro, quando passou diante deles, saudando-oscortesmente

- :3er fede; S\T - disse um, - n+o é esse o rico Zanoni, de quem falatoda a cidade

- 7( 8i'em que a sua rique'a é incalculável

- 8i'em, - mas quem é que o di' Quem pode afirmá-lo comautoridade á muito poucos dias que ele está em MápolesG e n+o pudeencontrar uma s0 pessoa que soubesse di'er algo a respeito do seu lugar denascimento, da sua fam<lia, nem, o que é mais importante, dos seus bens

- H verdadeG porém ele c(egou ao nosso porto em um magn<fico navioque, segundo di'em, é de sua propriedade >e)a-o - n+o, voc" n+o pode v"-lodaquiG mas está ancorado lá na Ba<a =s banqueiros com quem Zanoni trata,falam, c(eios de respeito, das quantias que depositou em suas m+os

- 8e onde veio ele

- 8e algum porto do Levante S Leste T = meu lacaio soube, por bocade alguns marin(eiros do 9ol(e, que ele viveu muitos anos no interior da]ndia

- 7( ?u ouvi di'er que na ]ndia se encontra o ouro assim comoaquios seixos, e que lá (á vales onde os pássaros constroem os seus nin(oscom esmeraldas, para atrair os insetos 7i vem Detoxa, o nosso pr<ncipe dos )ogadoresG estou certo de que ele )á con(ece este rico caval(eiro, pois onosso amigo sente tanta atra*+o para o ouro, como o im+ para o a*o =lá,Detoxa Que novidade nos tra' a respeito dos ducados do sen(or Zanoni

- =( - disse Detoxa, com indiferen*a, - falavam do meu amigo

- 7( 7( =uviu-oG o seu amigo

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- AimG o meu amigo Zanoni foi K Coma, onde permanecerá por algunsdiasG ele me prometeu que, quando estiver de volta, me designará um diapara vir cear comigo, e ent+o o apresentareiaos meus amigos, e K altaAociedade Mapolitana 8iávolo 7sseguro-l(es que é um caval(eiro muitoagradável e espirituoso

- 2a*a o favor de contar-nos o que fe' para ser, t+o de repente, seuamigo

- Mada mais natural, meu caro Belgioso Zanoni dese)ava ter umcamarote em A+o DarlosG creio n+o ter necessidade de di'er-l(es que, setratando de uma 0pera nova a( e que 0pera t+o magn<fica - esse pobrediabo, o 3isani - quem o (averia pensado 1 e de uma nova cantora querosto e que vo' - a( 1 estavam tomados todos os lugares do teatro =uvidi'er que Zanoni dese)ava (onrar o talento de Mápoles, e como mandam asboas normas da civilidade, quando se trata de um distinto estrangeiro, mandei

por K sua disposi*+o o meu camarote ?le aceitouG fui visitá-lo nos entreatosGé um (omem encantador Donvidou-me para cear com ele Daspita Quecomitiva ?stivemos K mesa até muito tarde, - eu l(e contei todas as not<ciasde MápolesG tornamo-nos muito amigos 7ntes de separar- nos, obrigou-me aaceitar este diamante - :H uma bagatela;, - disse-meG - :os )oal(eiros aavaliam em ^___ :pistolas;: S%T á de' anos que eu n+o tin(a passado umanoite t+o divertida

=s caval(eiros agruparam-se para admirar o diamante

- Aen(or Donde Detoxa, - perguntou um (omem de aspecto grave,que se (avia persignado O1 duas ou tr"s ve'es, enquanto o Mapolitano fa'iaesta narra*+o, - n+o sabe que coisas estran(as se contam a respeito desse(omem ? n+o l(e causa medo o ter recebido dele um presente que podetra'er-l(e as mais funestas conseqR"ncias M+o sabe que se di' que esse(omem e um feiticeiro Que possuio mau ol(ado Que

O1 3ersignar-se F Ben'er-se, fa'endo com o dedo polegar da m+o

direita uma cru' na testa, outra na boca e outra no peito

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- >amos, poupe-nos de ouvirmos essas antiquadas supersti*6es, -interrompeu Detoxa, com despre'oG - elas est+o )á fora da moda Mos nossosdias, n+o impera sen+o o ceticismo e a 2ilosofia ?, depois de tudo, quem ouo que é que fe' surgir estes boatos Pm vel(o mentecapto de oitenta e seisanos ?m suas tolices, assegura solenemente (aver visto esse mesmo Zanoni

em 9il+o, (á setenta anos quando ele, o narrador, era ainda rapa'1G mas,como sabem, Zanoni n+o é mais vel(o do que eu ou o sen(or, Belgioso

- 3ois bem, - disse o sério caval(eiro, - este é, precisamente, omistério = vel(o 7velidi' que esse Zanoni n+o parece estar um dia maisvel(o do que naquele tempo, quando o encontrou em 9il+o ?le di' também,note-se isto, que )á ent+o, embora sob um nome diferente, este Zanoni seapresentou naquela cidade com o mesmo esplendor, e envolto no mesmomistério, pois (avia lá um (omem que se lembrava de t"-lo visto, sessentaanos antes, na Auécia

- Ba( - replicou Detoxa, - o mesmo se tem dito do c(arlat+oDagliostro, meras fábulas, em que eu acreditarei s0 quando este diamante setransformar em uma manc(eia S o memso que m+o-c(eia F um pun(ado T defeno 7lém disso, - acrescentou com ar sério, - considero este ilustrecaval(eiro meu amigo e qualquer conversa*+o que no futuro tenda a manc(ara sua reputa*+o ou a sua (onra, considerarei como uma ofensa feita K mimmesmo

Detoxa era um terr<vel espadac(im, e possu<a uma (abilidadeparticular, que ele mesmo tin(a inventado, para aumentar a variedade deestocadas

= bom e sério caval(eiro, se bem que ansioso pela felicidadeespiritual do Donde, n+o perdia de vista a sua seguran*a corporalG assim éque se contentou em dirigir-l(e um ol(ar de compaix+o, e entrou para a casa,subindo, em seguida, K sala onde estavam as mesas de )ogo

- 7( a( - exclamou Detoxa, rindo, - o nosso bom Loredano cobi*a omeu diamante Daval(eiros, est+o convidados para cearem comigo esta noite?u l(es asseguro que nunca, em min(a vida, encontrei uma pessoa maisamável, mais sociável e mais espirituosa do que o meu querido amigo, o

sen(or Zanoni

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CAPÍTULO V 

:Quel!o !ppogrifo, grande e strano augelloLo porta via;

:7quele ipogrifo, grande e maravil(oso pássaro, leva-o embora;

=rlando 2urioso, canto >!, #$

 7gora, acompan(ando este misterioso Zanoni, ten(o que deixar, poralgum tempo, Mápoles

9onta, leitor amigo, na garupa do meu (ipogrifo, coloque-se nele damel(or forma que puder

á poucos dias que comprei a sela de um poeta amante da

comodidade, e depois rec(eia-a para voc" se acomodar nela mel(or 7ssimpois, montemos

>e)a como nos levantamos nos ares, - ol(e - n+o tema, os (ipogrifosnunca trope*am e, na !tália, est+o acostumados a carregar cavaleiros deavan*ada cidade

8iri)a o seu ol(ar K terra, debaixo de n0s

 7li, perto dos rumas da antiga cidade =sca S referente aos D<clopesda !tália T , c(amada `tela, se levanta 7versa, outrora uma pra*a forte dosnormandosG ali bril(am as colunas de Dápua, sobre a corrente do >ulturno

?u os sa5do, férteis campos e vin(as, célebre pelo famoso vel(ovin(o de 2alerno

?u os sa5do, ricas campinas onde crescem as douradas laran)as de9ola di Jaeta

Aa5do também os lindos arbustos e flores silvestres, :omnis copianarium; S e todos os tesouros das narinas T, que cobrem as ladeiras da

montan(a do silencioso Látula 3araremos na cidade volsca de 7nxur, - a moderna @erracina, - cu)o

sublime roc(edo se assemel(a a um gigante que guarda os 5ltimos limites dameridional terra do amor

 7diante 7diante e reten(amos o fIlego enquanto voarmos porcima dos 3ântanos 3ontinos 9edon(os e desolados, os seus miasmas s+o,para os )ardins que temos atravessado, o que a vida comum é para o cora*+oque deixou de amar

L5gubre Dampagna, que se apresenta â nossa vista em toda a suama)estosa triste'a

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Coma, cidade das sete colinas Cecebe-nos como a 9em0ria recebeo via)ante cansadoG recebe-nos em sil"ncio, no meio das suas rumas S montesT

=nde está o via)ante que procuramos

8eixemos o (ipogrifo apascentar-se, solto F ele gosta do acantoS planta espin(osa T que sobe por aquelas colunas rompidas

Aim, aquele é o arco de @ito, o conquistador de 4erusalémG ali está oDoliseu

3or um, passou em triunfo o divini'ado invasorG no outro, caiamensangRentados os gladiadores

9onumentos de matan*as, como pobres s+o os pensamentos, ecomo mesquin(as as lembran*as que despertam, comparados com o quedi'em ao cora*+o do (omem as alturas de 3(yle, ou o seu solitário dique,pardo 9arat(on

?stamos no meio de cardos, espin(os e ervas silvestres

 7qui, aonde estamos, reinou, outrora, MeroG aqui estavam os seuspavimentos marc(etadosG aqui, :como um segundo céu;, se elevava aabobada de tetos de marfimG aqui, arco sobre arco, pilar sobre pilar,resplandecia ante o mundo o dourado palácio do seu sen(or, - a Dasa de=uro de Mero

=l(em como o lagarto nos observa com os seus ol(os bril(antes et<midos 3erturbamos o seu reino

Dol(am aquela flor silvestre F a Dasa de =uro desapareceu, mas a florsilvestre talve' se)a da fam<lia das flores que a m+o do estrangeiro espal(oupor cima do sepulcro do tiranoG ve)a, como a Mature'a fa' crescer ainda asflores silvestres sobre este solo, que é a tumba de Coma

Mo meio desta desola*+o, levanta-se um vel(o edif<cio do tempo da!dade 9édia 7li mora um singular recluso

Ma época das febres, os camponeses daquela regi+o fogem da vi*osavegeta*+o destes lugaresG mas ele, que é um estrangeiro, respira sem temoro ar pestilento

?ste (omem n+o tem amigos, s0cios, nem compan(eiros, a n+o seros livros e instrumentos cient<ficos

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9uitas ve'es é visto como anda pelas verde)antes colinas, ou comopasseia pelas ruas da cidade nova, n+o com o ar negligente de estudantes,mas com os ol(os observadores e penetrantes, que parecem sondar oscora*6es dos transeuntes

H um (omem vel(o, porém robusto, - alto e direito, como se estivessemo*o

Minguém sabe se ele é rico ou pobre

M+o pede, nem dá esmola, - n+o fa' mal a ninguém, mas tambémcorno parece, n+o confere bem algum

Aegundo todas as apar"ncias, este (omem vive s0 para siG mas asapar"ncias s+o enganadoras, e a Di"ncia como também a Benevol"ncia,vivem para o Pniverso

H pela primeira ve', desde que esse (omem (abita esta morada, quenela entra um visitante

? este é Zanoni

>e)a esses dois (omens sentados um ao lado do outro, econversando seriamente

9uitos anos (aviam transcorrido desde que se viram pela 5ltima ve',- ao menos corporalmente, face a face

3orém, se s+o sábios, o pensamento de um pode ir ao encontro dopensamento do outro, e o esp<rito daquele voa em busca do esp<rito deste,embora os oceanos separem as formas

Mem a morte mesma é capa' de separar os sábios

>oc" se encontra com 3lat+o, quando os seus ol(os umedecidos sefixam sobre o seu 3(edon

=xalá omero viva eternamente com os (omens =s dois (omens est+o conversandoG comunicam um ao outro as suas

aventurasG evocam o passado e o reprovamG porém, observe com que modosdistintos afetam as recorda*6es

Mo semblante de Zanoni, apesar da sua calma (abitual, as emo*6esaparecem e se somem

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?le agiu no passado que está recordandoG ao passo que nem o menorvest<gio dessas triste'as ou alegrias, de que participa a (umanidade, podedescobrir-se no semblante insens<vel do seu compan(eiroG para este, opassado, o mesmo que o presente, n+o é mais do que a Mature'a para osábio, ou o livro para o estudante, - uma vida tranqRila e espiritual, um estudo,

uma contempla*+o

8o passado dirigem-se ao futuro

 7( 7o término do Aéculo X>!!!, o futuro parecia uma coisa tang<vel, -estava enla*ado com os temores e as esperan*as do presente

 7os limites daquele Aéculo, o omem, o fil(o mais maduro do @empo,estava como no leito de morte do >el(o 9undo, ol(ando o Movo ori'onte,envolto entre nuvens e ensangRentados vapores, - n+o se sabendo serepresentava um cometa ou um Aol

=bserve o frio e profundo desdém nos ol(os do anci+o, - a sublime etocante triste'a que obscurece o imponente semblante de Zanoni

H que, enquanto um ol(a com indiferen*a a luta e o seu resultado, ooutro a contempla com (orror e compaix+o

 7 sabedoria, contemplando o g"nero (umano, s0 condu' para estesdois resultados F ao desdém ou K compaix+o

Quem cr" na exist"ncia de outros mundos, pode acostumar-se aconsiderar este mundo assim como o naturalista considera as revolu*6es deum formigueiro ou de uma fol(a

= que é a @erra para o !nfinito

= que valor tem a sua dura*+o para o ?terno

=( quantas ve'es a alma de um s0 (omem é mais importante emaior do que as vicissitudes de todo o globo

2il(o do céu, e (erdeiro da imortalidade como, e quando residindoem uma estréia, ol(ará depois o formigueiro e as suas como*6es, desdeDlovis até Cobespierre, desde Moé até o 4u<'o 2inal

= esp<rito que sabe contemplar, e que vive somente no mundointelectual, pode subir K sua estrela, embora ainda viva neste cemitérioc(amado @erra, e enquanto o sarc0fago c(amado >ida, encerra em suasparedes de barro a ess"ncia eterna

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3orém voc", Zanoni, - se recusou a viver somente no mundointelectualG voc" n+o mortificou o cora*+oG o seu pulso bate ainda com a docem5sica de paix+o dos mortaisG a (umanidade é para voc" ainda uma coisamais atrativa do que o abstrato, - voc" quis ver essa Cevolu*+o em seu ber*o,que a tempestade embala, e quis ver o mundo enquanto os seus elementos

lutam para sair do caos

- >ai, pois

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CAPÍTULO VI 

3récepteurs ignorants de ce faible univers - >oltaire

Mous étions K table c(e' un de nos confr"res K !U7cadémie,unJrand Aeigneur et (omme dUesprit - La arpe

3receptores ignorantes deste fraco Pniverso >oltaire

?stavamos K mesa com um dos nossos confrades da 7cademiaumJrande Aen(or e (omem de esp<rito; oe La arpePma tarde em 3aris,alguns meses depois da data do nosso cap<tulo precedente, ac(avam-sereunidos alguns dos (omens mais eminentes da época, em casa de umapersonagem distinta, tanto por seu nobre nascimento, como por seusprinc<pios liberais

Quase todos os presentes eram partidários das opini6es que ent+oestavam em voga

3ois, assim como vei o, depois, um tempo em que nada (avia t+oimpopular como o povo, naqueles dias nada (avia t+o vulgar como aaristocracia

= mais fino caval(eiro e a mais altiva nobre'a falavam de igualdade elu'es

?ntre os mais notáveis membros daquela reuni+o, estava Dondorcet,que se ac(ava, naquele tempo, no apogeu da sua reputa*+oG era ocorrespondente do rei da 3r5ssia, <ntimo de >oltaire, membro da metade das 7cademias de ?uropa, - nobre de nascimento, de maneiras distintas e deopini6es republicanas ?ncontrava-se também ali o venerável 9ales(erbes, :oamor e as delicias da na*+o;, como o c(amava o seu (istoriador, Jaillard

  ?stava lá o erudito 4ean Ailvam Bailly, o aspirante pol<ticoDelebrava-se uma dessas festas denominadas :petits soupers;, que tornaramfamosa a capital de todos os pra'eres sociais

 7 conversa*+o, como é de supor, versava sobre assuntos literários ecient<ficos, animada, por graciosas facécias

9uitas das sen(oras daquela antiga e orgul(osa nobre'a, - pois anobre'a existia ainda, se bem que as suas (oras )á estavam contadas, -aumentavam o encanto da AociedadeG elas se convertiam, de ve' em quando,em cr<ticos atrevidos e, com freqR"ncia, fa'iam alarde dos seus sentimentosliberais

9uito trabal(o me custaria, - e quase me seria imposs<vel, com o

meu idioma materno, - o poder fa'er )usti*a aos bril(antes paradoxos quecorriam de boca em boca

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= tema favorito da conversa*+o era a superioridade dos modernossobre os antigos

Aobre este assunto, Dondorcet esteve eloqRente, até o ponto dedeixar convencidos muitos dos ouvintes

3oucos eram os que se atreveram a negar que >oltaire fosse maiordo que omero

Cidiculari'ou-se sem compaix+o o torpe pedantismo que quer quetudo o que é antigo se)a necessariamente sublime

- @odavia, - disse o gracioso 9arqu"s de OOO, enquanto o c(ampan(edan*ava no seu copo, - mais rid<cula ainda é a supersti*+o que santifica tudoo que n+o compreende 9as a intelig"ncia circulaG e, como a água, encontra oseu n<vel = meu cabeleireiro disse-me esta man(+ F - :7inda que eu n+o se)a

mais que um pobre diabo, creio t+o pouco como o mais fino caval(eiro;

- !ndubitavelmente, a grande Cenova*+o marc(a para o seu auge, apassos de gigante, como disse 9ontesquieu da sua pr0pria obra imortal? os(omens de saber e os (omens de nobre'a, os cortes+os e os republicanos,formaram um (armonioso coro, elogiando antecipadamente as bril(antescoisas que :a grande Cevolu*+o; produ'iria Aobre este ponto, Dondorcetfalou com eloqR"ncia ainda maior

- :!l faut absolutement que la Auperstition et le 2anatisme fassentplace K la 3(ilosop(ie; H absolutamente necessário que a Aupersti*+o e o2anatismo cedam o lugar K 2ilosofia1 =s reis perseguem as pessoas, ossacerdotes perseguem as opini6es Quando n+o (ouver reis, os (omensestar+o segurosG quando n+o (ouver sacerdotes, o pensamento será livre

- 7(, - murmurou o 9arqu"s, e como esse querido 8iderot cantou t+obem F :?t des boyaux du dernier pr"treS^T Aerre' le cou du dernier roi;

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- ? ent+o, - prosseguiu Dondorcet, - ent+o come*ará a !dade daCa'+o !gualdade de instru*+o, igualdade de institui*6es, igualdade defortunas =s grandes obstáculos que se op6em K difus+o dos con(ecimentoss+o, em primeiro lugar, a falta de uma linguagem comumG e, em seguida, acurta dura*+o da exist"ncia 3elo que toca ao primeiro, porque n+o (á de

(aver um idioma universal, uma ve' que todos os (omens s+o irm+os Quanto ao segundo, sendo indisputável a perfectabilidade orgânica do mundovegetal, seria menos poderosa a Mature'a, tratando-se de uma exist"nciamuito nobre, a do (omem pensante 7 destrui*+o das duas causas maisativas da deteriora*+o f<sica, - a exorbitante rique'a de um lado, e adegradante miséria do outro, - devem necessariamente prolongar o termogeral da exist"ncia 7ssim como (o)e se tributam (onras K arte da guerra, queé a arte de assassinar, dar-se-ia ent+o toda a importância K medicina F todasas mentes privilegiadas se entregariam K busca dos descobrimentos quetendessem a minorar as causas que produ'em as enfermidades e a morte ?uadmito que n+o se possa eterni'ar a vidaG mas creio que se poderia prolongá-

la quase indefinidamente ? assim como o mais insignificante animal lega oseu vigor K sua prole, da mesma forma o (omem transmitirá aos seus fil(os asua aperfei*oada organi'a*+o mental e f<sica =(, sim, para conseguir istodevem dirigir-se os esfor*os do nosso Aéculo

= venerável 9ales(erbes suspirou @emia, talve', que esta reforman+o viesse a tempo para ele

= belo 9arqu"s de OOO e as sen(oras, ainda mais belas do que elaspareciam convencidas e deleitadas

?stavam ali, entretanto, dois (omens sentados um ao lado do outro,que nen(uma parte tornaram na conversa*+o geral F um era estrangeiro,recentemente c(egado a 3aris, onde a sua rique'a, a sua pessoa e as suasmaneiras distintas l(e alcan*aram )á certa reputa*+o e n+o poucas aten*6esGo outro, um anci+o que contava uns setenta anos de idade, era o espirituoso,virtuoso, valente e bondoso Da'otte, o autor do :=s 7mores do 8iabo;

?stes dois (omens conversavam familiarmente, separados dosdemais, e s0 de ve' em quando manifestavam, por um ocasional sorriso, aaten*+o que prestavam K conversa*+o geral

- Aim, - disse o estrangeiro, - sim, n0s )á nos temos encontrado váriasve'es

- 7 sua fisionomia n+o é descon(ecidaG e, contudo, em v+o procurorelembrar-me do passado em que a vi

- ?u vou auxiliá-lo a recordar-se Lembre-se do tempo quando, levadopor curiosidade, ou talve' pelo nobre dese)o de alcan*ar con(ecimentoselevados, voc" procurava a maneira de obter a S.T !nicia*+o na misteriosaOrde( de artine) de Pas*uall$ 

- 7( H poss<vel >oc" pertence Kquela !rmandade @e5rgica

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- M+oG s0 assisti Ks suas cerimInias para ver como debalde tratavamde ressuscitar as antigas maravil(as da Dabala

- Josta desses estudos ?u, por min(a parte, expulsei para longe ainflu"ncia que outrora exercia sobre a min(a imagina*+o

- >oc" n+o a sacudiu, - retrucou o estrangeiro gravemente - aquelainflu"ncia ainda o domina 8omina-o nesta (ora mesmoG ela bate no seucora*+oG ilumina a sua ra'+o e falará com a sua l<ngua

? ao di'er isto, o estrangeiro continuou a falar-l(e, em vo' ainda maisbaixa, recordando-l(e certas cerimInias e doutrinas daquela seita, -explicando-as e acomodando-as K atual experi"ncia e K ist0ria do seuinterlocutor, causando K Da'otte uma grande admira*+o o fato de ser a suavida t+o con(ecida a esse estrangeiro

= tranqRilo e amável semblante do anci+o anuviava-se gradualmentee, de ve' em quando, dirigia ao seu compan(eiro, ol(ares pesquisadores,curiosos e penetrantes

 7 encantadora 8uquesa de 8OOO fe' observar K animada reuni+o ool(ar abstrato e a enrugada testa do poetaG e Dondorcet, que n+o gostava quefosse levada a aten*+o a outrem quando ele estava presente, disse a Da'otteF

- ? que nos di' voc" da Cevolu*+o =u, ao menos, qual a suaopini+o sobre a maneira como ela influirá sobre n0s

Da'otte sobressaltou-se ao ouvir esta perguntaG as suas facesempalideceramG grossas gotas de suor corriam por sua fronteG os seus lábiostremiamG os seus alegres compan(eiros miraram-no c(eios de surpresa

- 2ale - murmurou o estrangeiro, pondo a sua m+o, suavemente,sobre o bra*o do anci+o

 [ esta palavra, a fisionomia de Da'otte tomou uma express+o grave er<gida, o seu ol(ar errou pelo espa*o e, com vo' baixa e rouca, respondeu ovel(o poeta F

- 3ergunta-me voc" que efeito a Cevolu*+o produ'irá sobre os seusmais ilustrados e desinteressados agentes >ou responder-l(e = 9arqu"s deDondorcet, morrerá em uma pris+o, mas n+o pela m+o do verdugo MatranqRila felicidade daquele dia, o 2il0sofo levará consigo n+o o elixir, mas oveneno

- 9eu pobre Da'otte - disse Dondorcet, com o seu amável sorriso -que t"m que ver as pris6es, os verdugos e os venenos com uma era deliberdade e 2raternidade

- + e( no(e da Li,erdade e da -raternidade *ue as .ris/esestar0o c1eias2 e o al'o) terá (uito *ue fa)er3

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- Aem d5vida, voc" se refere ao reinado dos padres, e n+o ao da2ilosofia, Da'otte, - disse D(ampfort S/T

- ? a mim, o que está previsto

- >oc" abrirá as suas pr0prias veias para escapar K 2raternidade deDaim Donsole-seG as 5ltimas gotas n+o seguir+o a naval(a 3ara voc",venerável 9ales(erbesG para 7imar MicolaiG para o douto Bailly - ve)o levantar-se o cadafalso ?, entretanto, 0 grandes 2il0sofos, os seus assassinos n+ofalar+o sen+o de 2ilosofia

= sil"ncio era completo e geral, quando o pupilo de >oltaire, - opr<ncipe dos céticos acad"micos, o ardente La arpe, -exclamou com risosarcástico F

- M+o me lison)eie, 0 profeta, excluindo-me do destino dos meus

compan(eiros M+o tere ieu nen(um papel para representar, neste drama dassuas fantasias

 [ esta pergunta, o semblante de Da'otte perdeu aquela estran(aexpress+o de terror e rigide'G o seu constante (umor sardInico tornou aopoeta e brincou nos seus ol(os bril(antes

- Aim, La arpe, reservo K voc" o papel mais maravil(oso de todos = de se transformar em Drist+o

!sto era demasiado para o audit0rio que, um momento antes,parecera sério e meditabundo, e todos, menos o estrangeiro, ca<ram em umaforte gargal(ada, ao passo que Da'otte, como se estivesse exausto por essassuas predi*6es, caiu sobre a cadeira, respirando pesada e dificilmente

- 7gora, - disse 9me 8e JOOO, - que nos predisse coisas t+o gravespara n0s, é dever profeti'ar também algo para si mesmo

Pm tremor convulsivo sacudiu o involuntário profeta, - e, a seguir, asua fisionomia animou-se de urna express+o de resigna*+o e calma

- Aen(ora, - respondeu Da'otte, depois de uma longa pausa, - o(istoriador de 4erusalém nos di' que, durante o cerco daquela cidade, um(omem andou sete dias consecutivos ao redor das mural(as, gritando F :7i deti, 4erusalém, e ai de mim ;

- Bem, Da'otte, e que mais

- ? ao cabo dos sete dias, enquanto ele assim falava, uma pedraarro)ada pelas máquinas dos Comanos, esmagou-o

8itas estas palavras, Da'otte se levantouG e os (0spedes,

profundamente impressionados, contra a sua vontade, também fi'eram omesmo, e retiraram-se

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#4P5TULO VII

:Qui donc tUa donn" mission dUannoncer au peuple que la diviniténUexiste pas

Quel avantage trouve-tu K persuader K lU(omme quUune force aveuglepresideK ses destlnées et frappe au (asard le crime et la vertu ;

Cobespierre, 8iscours, 9ai, _/, #/N%

:Quem, pois, l(e deu a miss+o de anunciar ao povo que a divindaden+o existe

Que vantagem ac(a no persuadir ao (omem que uma for*a cegapresidea seus destinos e fustiga ao acaso o crime como a virtude ;

?ra um pouco antes da meia-noite, quando o estrangeiro entrou emsua casa

=s seus aposentos estavam situados em um daqueles grandesedif<cios que poderiam c(amar-se uma miniatura de 3aris mesmaG - os s0t+oseram alugados por pobres operários, apenas um pouco mel(or alo)ados doque mendigosG e n+o raras ve'es eram também (abitados por proscritos efugitivos, ou por algum atrevido escultor que, depois de (aver espal(ado entreo povo as mais subversivas doutrinas, ou algum libelo contra o Dlero, oministro ou o rei, retirava-se para viver entre ratos, a fim de evadir-se dapersegui*+oG os pavimentos térreos destas vastas casas eram ocupados porvendas ou lo)asG as sobrelo)as, por artistasG os primeiros andares por nobresGe os s0t+os S as águas-furtadas T por )ornaleiros ou por aprendi'es

?nquanto o estrangeiro subia a escada, passou apressadamente porseu lado um )ovem de fisionomia duvidosa e pouco simpática, tendo sa<do deuma porta da sobrelo)a

= seu ol(ar era furtivo, sinistro, fero' e, contudo, t<midoG a face desse(omem era de uma palide' cin'enta, e as fei*6es se moviamconvulsivamente

= estrangeiro parou, observando-o com ol(os pensativos, quando omo*o descia correndo pela escada

8ali a instantes, ouviu-se um gemido dentro do quarto que aquelemo*o acabara de deixarG e, apesar deste, ao sair, ter puxado a porta para si,com viol"ncia, algum ob)eto, provavelmente uma lasca de len(a, n+o a deixoufec(ar bem, e agora estava entreabertaG o estrangeiro empurrou-a, e entrouna (abita*+o

3assou por uma pequena ante-sala, pobremente mobiliada, e deteve-

se em um dormit0rio de aspecto desagradável e s0rdido

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?stendido na cama, e torcendo-se de dor, estava um anci+oG apenasuma vela ardia no quarto, e iluminava fracamente o enrugado e quasecadavérico rosto do enfermo

M+o (avia em casa pessoa alguma que dele cuidasseG o doente

parecia prestes a exalar o 5ltimo alento, ali, abandonado e s0

- gua - gemia ele, com vo' fraca, - água Domo me queima agarganta

= intruso, aproximando-se do leito, inclinou-se sobre o enfermo,tomando-l(e a m+o F

- =( 9uito grato 4ean, muito grato - disse o paciente - )á trouxe omédico Aen(or, sou pobre, mas pagar-l(e-ei bem ?u n+o queria morrerainda, por amor a este )ovem

?, ao di'"-lo, sentou-se o enfermo na cama, fixando os ol(osenfraquecidos sobre o visitante

- Que tem - perguntou este - Que mal o aflige

- @en(o fogo no cora*+o e nas entran(as 3arece-me que estouardendo

- Quanto tempo fa' que tomou o 5ltimo alimento

 - 7limento A0 esta ta*a de caldoG fora dela, n+o tomei nem cominada durante as 5ltimas seis (oras ? apenas a tin(a provado, quandocomeceia sofrer estas dores

= estrangeiro examinou a ta*aG uma pequena por*+o do conte5doficara ainda nela

- Quem l(e deu isto

- Quem (avia de dar-me, sen+o 4ean M+o ten(o criado algum,

sen(or Aou pobre, muito pobre 9as n+o =s médicos, n+o gostam deassistir aos pobres Aou rico 3ode curar-me

- Aim, se o céu o permitir ?spere alguns instantes

= anci+o quase )á sucumbia sob os rápidos efeitos do veneno

= estrangeiro foi a os seus aposentos, e voltou dali a instantes,tra'endo um po*+o, que produ'iu o resultado instantâneo de um ant<doto

 7penas o anci+o tomou este remédio, cessaram as suas dores,

desapareceu a cor a'ulada e l<vida dos seus lábios, e o doente adormeceuprofundamente

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= estrangeiro deixou, ent+o, cair as cortinas em redor do leito,agarrou a vela na m+o, e pIs-se a inspecionar essa (abita*+o

 7s paredes de ambos os aposentos estavam adornadas com pinturasde grande mérito

avia ali também uma carteira c(eia de desen(os igualmentepreciosos, - porém estes eram, em sua maior parte, assuntos queespantavam os ol(os e revoltavam o gosto F exibiam a figura (umana emgrande variedade de sofrimentos, - o cavalete, a roda, a for*aG tudo o que acrueldade inventou para aumentar as ang5stias da morte, parecia ainda mais(orr<vel com o gosto apaixonado e a for*a séria de veracidade com que oexpressava o pintor

? algumas dessas figuras assim desen(adas se afastavam bastantedo ideal, para mostrar que eram verdadeiros retratosG com grandes letras

irregulares, e m+o atrevida, estava escrito debaixo destes desen(os F :=2uturo dos 7ristocratas;

?m um canto do quarto, perto de um vel(o armário, estava umpequeno pacote, por cima do qual, como se o devesse ocultar, uma capa,estendida negligentemente

 7lgumas estantes estavam c(eias de livros, quase todos obras de2il0sofos do tempo, - 2il0sofos da escola materialista, especialmente os?nciclopedistas, aos quais mais tarde Cobespierre atacou t+o veemente,quando o S$T covarde )ulgou perigoso deixar a sua Ma*+o sem um 8eus

Aobre uma mesa, estava um livro, - era uma obra de >oltaire, e apágina estava aberta na passagem SNT que apresentava os argumentos paraprovar a exist"ncia do Aer Aupremo, a margem estava coberta de notastra*adas a lápis, por uma m+o ri)a, porém que a idade fi'era tremerG todasestas notas tendiam a refutar ou ridiculari'ar a l0gica do sábio de 2erney F>oltaire n+o tin(a ido t+o longe como o dese)ava o anotador

= rel0gio batia duas (oras, quando se ouviu, fora, o ru<do de passos

= estrangeiro sentou-se silenciosamente no canto mais afastado dacama, cu)as cortinas o ocultavam K vista de um (omem que entrou nospontin(as dos pésG era o mesmo que tin(a descido na escada, ao lado doestrangeiro, quando este vin(a subindo

= recém-c(egado agarrou a vela e aproximou-se da cama

= rosto do anci+o estava voltado no travesseiroG mas ele estava t+oquieto, e a sua respira*+o era t+o impercept<vel, que o seu sono, ante aqueleol(ar intranqRilo, tr"mulo e culpável, podia equivocar-se muito facilmente como repouso da morte

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= recém-c(egado retirou-se, e um sorriso sinistro apareceu-l(e nosemblante F o mo*o tornou a colocar a vela sobre a mesa, e, abrindo oarmário com uma c(ave que tirou da algibeira, apan(ou alguns cartuc(os deouro que ac(ou nas gavetas

Meste instante, o anci+o come*ava a voltar a sido letargo em que )a'ia

9oveu-se no leito, abriu os ol(osG dirigiu o ol(ar K lu' que come*ava )á a apagar-se, e viu o que estava fa'endo o ladr+o

9ais admirado do que aterrori'ado, sentou-se por um instante, edepois saltou da cama para ir colocar-se em frente ao malfeitor

- 4usto céu - exclamou W ?starei son(ando >oc", para quem tantotrabal(ei e sofri, privando-me, Ks ve'es, até do necessário >oc"

= ladr+o, sobressaltado, deixou cair o ouro da m+o, e o metal roloupelo assoal(o

- Domo - disse o )ovem, - ainda n+o está morto = veneno n+oagiu

- >eneno, rapa' 7( - gritou o anci+o, cobrindo o rosto com asm+osG e, em seguida, com uma energia repentina, exclamou F

 - 4ean, 4ean Cetire essa palavra Coube-me, saqueie-me, se querGporém n+o diga que quis assassinar a quem tem vivido somente para ti 7quitem o ouro, tome-oG eu o (avia acumulado para seu proveito >ai, vai

? o anci+o, que em sua ira abandonara a cama, caiu estendido aospés do assassino confuso, e torcia- se sobre o assoal(o, atormentado pelaagonia mental, muito mais intolerável do que a que antes experimentara o seucorpo

= ladr+o contemplou-o com frio desdém

- Que l(e fi' eu, infeli' - continuou di'endo o anci+o, - sen+o amá-loe alimentá-lo toda a min(a vida >oc" era um 0rf+o desamparado, e eu oalimenteiG dei-l(e educa*+o, e até adotei-o como fil(o Ae os (omens mec(amam de avarento, é porque eu n+o queria que pudesse ser despre'adoquando eu deixasse de existir, )á que a Mature'a o fe' t+o desgra*ado edisformeG voc" devia ser o meu (erdeiro, e teria tudo o que acumulei M+opodia deixar-me viver alguns meses, ou dias, - que é nada para a sua )uventude, porém tudo o que sobrou K min(a vel(ice Que é que l(e fi'

- Dontinuou vivendo, e n+o fa'ia o testamento

- Y meu 8eus 9eu 8eus

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- := seu 8eus;, imbecil M+o me di'ia, desde a min(a infância F :M+o(á 8eus ; M+o me alimentou com 2ilosofia M+o me di'ia F :Ae)a virtuoso,se)a bom, se)a )usto, por amor K (umanidade F porém, n+o (á outra vidadepois desta vida;G n+o me di'ia 7 (umanidade 3orque devo eu amar esta(umanidade ?sta (umanidade que 'omba de mim, porque sou feio e

desgra*ado, e me escarnece quando passo pelas ruas Que é que me fe' @iraram de mim, que sou o escárnio deste mundo, as esperan*as de um outromundo M+o (á outra vida depois desta Bem, ent+o eu quero ter o seuouro, para go'ar, ao menos, tudo o que se possa nesta vida

- 9onstro Que a min(a maldi*+o caia sobre ti

- ? quem ouvirá a sua maldi*+o Bem sabe que n+o (á 8eus =uve ?u ten(o tudo preparado para fugir =l(a, - aqui está o meupassaporteG os meus cavalos que me esperam na rua, e )á est+o dadasordens a respeito dos cavalos de muda ? ten(o eu o din(eiro ? o miserável,

ao di'"-lo, enc(ia friamente as suas algibeiras com cartuc(os de ouro1 ?agora, se poupo a sua vida, como estarei seguro de que n+o me denunciará

? o malvado aproximava-se do anci+o, com cara sinistra e gestoamea*ador

 7 c0lera do vel(o, que se (avia acovardado diante aquele selvagem,transformou-se em medo

- 8eixe-me viver - 3ara que- 3ara que

- 3ara que eu o perdoe Aim, n+o terá nada que temer de mim 4uro-l(e

- 4ura 3orém, por quem e por que, desgra*ado ?u n+o posso crer,uma ve' que voc" n+o cr" em 8eus algum 7( 7( >" os resultados dassuas li*6es

Pm momento mais, e as m+os do assassino teriam estrangulado a

sua v<tima 3orém, entre os dois se interpIs uma sombra imponente eamea*adora que l(es pareceu um Aer vindo desse mundo em que nen(umdos dois cria

= ladr+o recuou, ol(ou-o aterrori'ado e fugiu

= anci+o caiu outra ve' ao c(+o, desmaiado

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CAPÍTULO VIII 

:Ae quereis saber como um (omem mal age quando atinge opoder,analisai todas as doutrinas que ele prega, enquanto está ocupando um

lugar obscuro;A 9ontaigne

:7s antipatias formam também uma parte daquilo que falsamente1 sec(ama magia

= (omem tem naturalmente o mesmo instinto que os animais, o qualadverte involuntariamente contra as criaturas que s+o (ostis ou fatais K suaexist"ncia

9as o (omem descuida-se t+o mequin(amente desse instinto, queele fica latente e adormecido

M+o fa' assim, porém, o cultivador da Jrande Di"ncia;, etc@rismegistus, o Quarto; Pm Cosa-cru'1

Quando o estrangeiro, no dia seguinte, tornou a ver o anci+o,encontrou-o tranqRilo, e restabelecido do sofrimento da noite anterior

= anci+o manifestou o seu agradecimento ao seu salvador, com aslágrimas nos ol(os, e disse-l(e que )á (avia mandado c(amar um parente quecuidasse da sua futura seguran*a

- 7inda me sobrou din(eiro, - disse o anci+oG - e daqui por diante n+oterei motivo algum para ser avarento

?m seguida, pIs-se a l(e contar a origem e as circunstâncias que o(aviam posto em rela*+o com o )ovem que o tentou assassinar

Aegundo parece, o anci+o, quando ainda era )ovem, desaviera-se

com os seus parentes, - por causa de diversidade de cren*as

Ce)eitando toda religi+o como uma fábula, cultivava, contudo,sentimentos que o inclinaram pois embora a sua intelig"ncia fosse fraca,tin(a bom cora*+o1 a essa falsa e exagerada sensibilidade, que as pessoas,por ela sedu'ida, confundem t+o freqRentemente com a benevol"ncia

?le n+o tin(a fil(osG resolveu adotar um :fil(o do povo;

Quis educar este rapa' conforme a :ra'+o;

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?scol(eu, pois, um 0rf+o da mais baixa classe social, cu)os defeitosf<sicos serviram ainda de est<mulo K compaix+o, e, finalmente, aumentaram asua afei*+o

Mo seu protegido, n+o s0 amava um fil(o, como também amava uma

teoria

?ducou-o de uma forma de todo filos0fica

elvécio l(e provava que a educa*+o fa'ia tudoG e, antes que opequeno 4ean tivesse oito anos de idade, as suas express6es favoritas eram F:La lumiere et la vertu; 7 lu' e a virtude1

= rapa' revelava bastante talento, sobretudo para as artes

= protetor procurou um mestre que, como ele, estivesse livre de toda

:supersti*+o;, e encontrou o pintor 8avid

?ste (omem, t+o feio como o seu disc<pulo, e cu)as disposi*6es eramt+o vi*osas como era inegável era a sua (abilidade profissional era, de certo,t+o livre de toda :supersti*+o;, como o protetor podia dese)ar

?stava reservado a Cobespierre o fa'er crer, mais tarde, aosanguinário pintor, na exist"ncia do Aer Aupremo

= rapa' teve, desde os seus primeiros anos, a consci "ncia da suafealdade, que era quase extraordinária

= seu benfeitor tratou em v+o de reconciliá-lo com a mal<cia daMature'a, mediante seus aforismos filos0ficosG porém, quando l(e explicavaque, neste mundo, o din(eiro, como a caridade, encobre uma multid+o dedefeitos, o rapa' escutava com aten*+o e sentia-se consolado

@odo o af+, e toda a paix+o do protetor resumiam-se nos esfor*os de )untar e guardar din(eiro para o seu protegido, - o 5nico ser que ele amava nomundo

?, como vimos, recebeu uma estran(a recompensa- 9as eu estou contente por ele ter fugido, - disse o anci+o,

enxugando os ol(os

- 7inda que (ouvesse redu'ido ao extremo de pedir esmola, eu n+o oteri a acusado nunca

- M+o podia fa'er tal, - respondeu o descon(ecido, - pois voc" mesmoé o autor dos seus crimes

- Domo - replicou o anci+oG - eu, que nunca deixei de inculcar-l(e abele'a da virtude ?xplique- me

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- 7i Ae os lábios do seu pupilo n+o l(e disseram bastante claro nanoite passada, ainda que viesse um an)o do céu em v+o o compreenderia

= anci+o agitava-se em uma espécie de desassossego, e ia replicar,quando entrou no quarto o parente que mandara c(amar, e que, sendo

morador de Mancy, por um acaso se ac(ava, naqueles dias, em 3aris

?ra um (omem de trinta e tantos anos de idade, e de uma fisionomiaseca, saturnina, magra, com os ol(os vivos e os lábios delgados

2a'endo muitos gestos de (orror, estudou a narra*+o do ocorrido quel(e fe' o parente, e tratou seriamente, porém em v+o, de convenc"-lo quedevia denunciar o seu protegido

- Dale-se, cale-se, Cené 8umas - disse o anci+oG - o sen(or éadvogado, e, por isso, está acostumado a ol(ar a vida do (omem com

despre'o Logo que alguém ofenda a Lei, )á o sen(or grita F :Ae)a enforcado ;

- ?u - exclamou 8umas, levantando as m+os e os ol(os ao céu, -venerável sábio, qu+o mal me )ulga ?u, mais do que qualquer outro lamentoa severidade do nosso c0digo 3enso que o ?stado nunca deveria arrebataruma vida, - nunca, nem sequer a de um assassino Doncordo com esse )ovemestadista, - 9aximiliano Cobespierre, - que o verdugo é inven*+o do tirano =que mais me fa' adorar a nossa pr0xima Cevolu*+o, é a idéia de queveremos desaparecer esta matan*a legal

= advogado interrompeu-se, como se l(e faltasse o alento

= estrangeiro ol(ou-o fixamente e empalideceu

- =bservo uma mudan*a no seu semblante, sen(or, -disse 8umasG -sem d5vida, n+o participa da min(a opini+o

- 3erdoe-meG neste momento me esfor*ava em reprimir um vagotemor que me parecia profético

- ? qual é

- Que nos encontraremos outra ve' em uma época em que suaopini+o sobre a 9orte e sobre a 2ilosofia das Cevolu*6es será bem diferente

- Munca

- ?ncanta-me, primo Cené, - disse o anci+o, que escutava o seuparente com grande pra'er

- 7( >e)o que tem sentimentos pr0prios de )usti*a e de filantropia3orque n+o procurei con(ec"-lo antes = sen(or admira a Cevolu*+o =

sen(or, o mesmo como eu, detesta a barbaridade dos reis e fraude dospadres

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- 8etesto Domo poderia eu amar a (umanidade, se n+o detestasseessas coisas

- ?, - disse o anci+o, (esitando, - n+o pensa como este caval(eiro,que errei nos preceitos que inculquei Kquele miserável

- Ae errou 3ode-se, acaso, censurar a A0crates, porque 7lceb<adesfoi um ad5ltero e um traidor

- ?stá ouvindo, está ouvindo 3orém, A0crates teve também um3lat+oG de (o)e em diante, será um 3lat+o para mim =uviu - exclamou oanci+o, voltando-se para o estrangeiro

?ste, porém, )á estava no umbral da porta

Quem pode discuti rcom o mais obstinado fanatismo, o fanatismo da

incredulidade

- 4á quer ir - exclamou 8umas, - e antes que eu l(e ten(aagradecido e aben*oado, por ter salvado a vida a este querido e venerável(omem =(, se alguma ve' puder retribuir-l(e este favor, - se algum dia oprecisar, o sangue de Cené 8umas é seu

?, di'endo isto, seguiu o estrangeiro até K porta do segundo quarto,onde, tomando-o suavemente pelo bra*o, e depois de ol(ar por cima do seuombro para assegurar-se de que o anci+o n+o podia ouvir, murmurou em vo'baixa F

- @en(o que voltar K Mancy M+o queria perder tempo M+o pensa, osen(or, que aquele vel(aco levou consigo todo o din(eiro deste vel(o louco

- ?ra assim que 3lat+o falava de A0crates, sen(or 8umas

- 7( 7( = seu g"nio é cáustico BemG tem ra'+o, n0s nosencontraremos outra ve' =utra ve' - murmurou o estrangeiro

? a sua fronte se anuviou

Aubiu, apressadamente, ao seu quartoG passou o dia e a noiteso'in(o, e em estudos, n+o importa de que classe e que ainda maisaumentaram a sua triste'a

Qual podia ser a casualidade que, um dia, viesse enla*ar o seudestino com o de Cené 8umas, ou com o fugitivo assassino

3or que os ares vibrantes de 3aris l(e pareciam pesados eimpregnados de vapores de sangue

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3or que um instinto o impelia a afastar-se desses c<rculos faiscantes,desse foco de idéias que infundira tantas esperan*as a todo o mundo, eporque esse instinto o advertia que n+o voltasse mais para lá - ele, cu)a vidaelevada afrontava os perigos

3orém, para que se ocupar com esses son(os e esses vatic<niosominosos S profeti'ar coisas agourentas, (orr<veis T

!a deixar a 2ran*a, para tornar a saudar as ma)estosas rumas da !tália

 7 sua alma torna a respirar o ar livre dos 7lpes

= ar livre 7( 8eixa que esses (omens, que se propuseramreformar o mundo, esgotem a sua qu<micaG o (omem nunca será t+o livre nosgrandes mercados das cidades, como está livre na montan(a

9as n0s, leitor, fu)amos também dessas cenas de falsa sabedoria,que encobre impiedades e crimes

>oltemos, novamente, :Ks regi6es rison(as, onde residem as formaspuras;

Donservando-se impoluto no meio da vida material, o !deal vivesomente com a 7rte e a Bele'a

9eiga, >iola, pelas praias a'uladas de 3artenope, pela tumba de>irg<lio, e pela caverna Dimeriana, voltamos outra ve' K ti

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CAPÍTULO IX 

:D(e non vuol c(eUl destrier pi vada in alto,3oi lo lega nel margine marino

 7 un verde mirto in me''o um lauro e um pino;

=rlando 2urioso, canto >!, &\

:M+o querendo que o seu animal corredor continue a andar nas altasregi6es,ata-o, na beira do mar, em um verde mirto entre um louro e um pin(o;

Y m5sico H feli' agora

?stá reinstalado na sua esplendida escrivanin(a, - o seu fiel bárbitotem a sua parte no triunfo

?sta m5sica que recreia os ouvidos é a sua obra mestraG a sua fil(a éa rain(a da cena, - a m5sica e a atri' est+o unidas, uma com a outra, queaplaudir um é aplaudir a outra também

 7s pessoas abrem passo quando voc" dirige a orquestraG )á n+o oescarnecem, nem piscam os ol(os, quando, com grande ternura, acaricia oseu violino, que se queixa e lamenta, ral(a e rosna debaixo da sua severam+o

 7gora compreendem o qu+o irregular é sempre a simetria de umverdadeiro g"nio

A+o as desigualdades da sua superf<cie, que fa'em com que a Luase)a um astro luminoso para o (omem

Jiovani 3aisielo, mestre de capelo Ae a sua alma generosa fossecapa' de sentir inve)a, adoeceria de dor ao veres metidos ao canto a sua:?lfrida; e o seu :3irro;, enquanto que toda Mápoles delira pela :Aereia;, acu)os compassos balan*ou queixosamente a sua nobre cabe*a

3orém, voc" 3aisielo, tranqRilo com a longa prosperidade da suafama, sabe que o Movo tem o seu dia, e a voc" consola a idéia de que a:?lfrida; e o :3irro; viver+o eternamente

H talve' uma ilus+o, mas com semel(antes ilus6es o verdadeiro g"niovence a inve)a

:Ae quer ser imortal;, di' Ac(iller, :viva no todo;

3ara ser superior K (ora, viva na estima de si mesmo

= audit0rio ouve agora com gosto aquelas varia*6es e as estran(asmelodias que outrora assobiava

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 7( W 3isani passou dois ter*os da sua vida trabal(ando, em sil"ncio,em sua obra primaG n+o (á nada que l(e possa acrescentar, embora ten(atentado corrigir as obras mestras de outros compositores

M+o é um costume comum

= cr<tico mais insignificante, ao rever alguma obra de arte, dirá F :!stovale poucoG isto vale nadaG isto devia alterar-se, - isto devia omitir-se;

Aim, com as cordas de arame, do seu violino, far+o guinc(ar as suasamaldi*oadas varia*6es

9as, deixemos-o sentar-se e compor ele mesmo e veremos queconsiderará as suas varia*6es imposs<veis de serem mel(oradas

Qualquer (omem pode dominar o seu violino quando toca uma

composi*+o sua, e pode tornar agradáveis as suas extravagâncias até aopr0prio diabo

? >iola é o <dolo e o tema de Mápoles

H a mimada sultana do teatro

Aeria talve' fácil inutili'ar o seu méritoG porém, conseguir+o viciar asua nature'a

Dreio que n+o

?m sua casa continua sendo boa e singelaG e ali, sentada debaixo dotoldo em frente da porta da casa, passa (oras, absortas em suascontempla*6es

Quantas ve'es, árvore com o tronco torcido, tem ela fixado os seusol(os nos seus verdes ramos

Quantas ve'es em seus son(os e fantasias tem lutado pela lu', - n+opela lu' das lâmpadas teatrais

Y, menina 2iquei contente com o bril(o opaco da mais (umildelâmpada

3ara os fins domésticos, uma econImica vela de sebo é mel(or doque as refulgentes estrelas

3assaram-se semanas, e o estrangeiro n+o voltavaG passaram-semeses, e a sua profecia de afli*+o n+o se reali'ara ainda

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Pma tarde, 3isani adoeceu, = seu "xito o fa'ia, agora, dedicar-seassiduamente a composi*6es de algumas pe*as, adaptadas a seu favoritoviolinoG e foi assim que (avia passado algumas semanas, trabal(ando noite edia em uma obra, em que esperava alcan*ar excelente sucesso

Domo de costume, escol(eu um daqueles assuntos, aparentementeimpraticáveis, e que se compra'ia em su)eitar aos expressivos poderes dasua arteG o assunto era, desta ve', a terr<vel lenda que trata da transforma*+ode 2ilomela

 7 pantomima da m5sica come*ava imitando a alegria de uma festa

= monarca de @racia senta-se no banqueteG de repente, aqueles sonsalegres convertem-se em uma m5sica discordanteG as cordas parecemcrocitar S gral(ar, imitar um corvo T com (orror

= rei vem a saber que o seu fil(o foi assassinado pelas m+os dasvingativas irm+s

= violino, com uma velocidade descomunal fa' experimentar todas assensa*6es do medo, do (orror, da ira, do desmaio

= pai persegue as irm+s, escute

 7queles sons discordes e (orr<veis convertem-se em uma m5sicalenta, argentina, pesarosa

 7 transforma*+o está completaG e 2ilomela, metamorfoseada agoraem rouxinol, fa' ouvir do seu ramo de mirto as suaves, fluentes, melodiosasnotas que devem revelar eternamente ao mundo a ist0ria dos seussofrimentos

2oi no meio deste complicado e dif<cil trabal(o, que a enfermidadeveio surpreender o sobrecarregado m5sico, excitado pelo triunfo obtido e pornovas ambi*6es

8e noite, sentiu-se mal

Mo dia seguinte, o médico declarou que o seu incomodo era umafebre maligna e infecciosa

 7 esposa e >iola repartiam entre si os ternos cuidados que a doen*ado pobre 3isani delas exigiaG mas em breve este trabal(o ficou s0 ao cargo de>iola, porque a sua m+e contraiu a mesma enfermidade do seu esposo e, empoucas (oras, ficou em um estado ainda mais alarmante do que ele

=s Mapolitanos, como a maior parte dos (abitantes dos 3a<sesquentes, tornam-se ego<stas e brutais nas enfermidades contagiosas

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Jianetta fingiu-se também doente, para n+o ter que assistir aosenfermos e, por conseguinte, todo o trabal(o de amor e mágoa pesou sobre apobre >iola

2oi uma prova terr<vel

 7breviarei o mais poss<vel a min(a est0ria, e n+o entrarei emmin5cias

 7 m+e de >iola faleceu primeiroPma tarde, um pouco antes do ocasodo Aol, 3isani acordou um tanto mel(or do del<rio que dele se apoderara,desde o segundo dia da sua enfermidadeG e, lan*ando ao redor de siol(aresalucinados e fracos, recon(eceu >iola e sorriu

?le balbuciou o nome da fil(a e l(e estendeu os bra*os

>iola arro)ou-se ao seu peito, esfor*ando-se em reprimir os solu*os

- ? a sua m+e - perguntou o enfermo - ?stá dormindo

- Aim, ela está dormindo, - respondeu a )ovem, e as lágrimascorreram-l(e dos ol(os

- ?u pensavaG n+o seio que eu pensava 9as n+o c(ore F eu estareioutra ve' s+o, - inteiramente s+o ?la virá ver-me logo que acordar, n+o éverdade

>iola n+o pIde responderG mas foi imediatamente buscar umcalmante que devia dar ao enfermo, logo que cessasse o seu del<rio

= doutor a tin(a encarregado também de avisá-lo no momento emque se verificasse t+o importante mudan*a

?la foiK porta para c(amar a mul(er que substitu<a Jianetta durante apretendida indisposi*+o destaG mas a criada n+o respondeu

>iola procurou-a de quarto em quarto, porém em v+o, - a criada teve

também medo do contágio, e desapareceu= que fa'er

= caso exigia urg"ncia, o médico tin(a declarado que n+o seperdesse nem um momento, que o avisassem imediatamenteG precisava,pois, deixar o enfermo para ir ela mesmo K casa do médico

?ntrou outra ve' no quarto do pai - o calmante parecia (averprodu'ido efeito favorável, pois o doente dormia um sono tranqRilo,respirando regularmente

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>iola, querendo aproveitar este momento, cobriu o rosto com o véu, esaiu apressada

= remédio, porém, n+o tin(a produ'ido o efeito que parecera Kprimeira vistaG em ve' de um sono benéfico, mergul(ou o enfermo em uma

espécie de leve sonol"ncia, na qual a imagina*+o, extraordinariamenteinquieta, vagava pelos seus ob)etos preferidos, despertando familiaresinstintos e inclina*6es

M+o era sono nem del<rioG era a sonolenta vig<lia que produ', Ksve'es, o 0pio, quando os nervos, pondo-se em estado de tr"mula vivacidade,que é acompan(ada de uma correspondente atividade no corpo, comunicamK este uma espécie de vigor falso e ético

3isani sentia que l(e faltava alguma coisaG o que era, ele dificilmentepoderia di'erG era uma combina*+o das duas necessidades principais da sua

vida mental, - a vo' da esposa e o contato do seu violino

?le se levantou, saiu da cama, pIs devagar o seu terno vel(o, quecostumava usar quando trabal(ava em suas composi*6es

Aorriu com complac"ncia quando as recorda*6es, que estavam emrela*+o com esse terno, reviveram em sua mem0riaG com passo incerto,dirigiu-se ao pequeno gabinete que (avia )unto ao seu quarto, e onde a suaesposa costumava permanecer, mais ve'es despertada do que adormecida,sempre quando alguma enfermidade a separava do seu lado

= gabinete estava deserto, e o que nele (avia, estava em desordem

3isani ol(ou, pensativo, em redor de si, murmurou algo entre osdentes e pIs-se a percorrer, sem fa'er ru<do, todos os aposentos dasilenciosa casa

3or fim, c(egou ao quarto da vel(a Jianetta, a qual, por medida deseguran*a, se (avia retirado para o 5ltimo extremo da casa, fugindo ao perigodo contágio

 7o v"-lo entrar, pálido e fraco, com o semblante transtornado,inspecionando a (abita*+o com um ol(ar inquieto e ansioso, a vel(a criadadeu um grito e caiu a seus pés

3isani inclinou-se sobre ela e, passando as magras m+os pelo rostoda anci+, balan*ou a cabe*a e disse com vo' rouca F

- M+o posso encontrá-lasG onde est+o

- Quem, meu querido amo =( @en(a compaix+o de si mesmoG elasn+o est+o aqui =(, santos aben*oados Que desgra*a terr<vel ?stá morta

- 9orta Quem faleceu 2aleceu alguém aqui

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- 7( Bem )á devia sab"-loG a min(a pobre ama, - contagiu-a a suafebreG esta, capa' de infeccionar e matar a cidade inteira 3rotege-me, A+o4anuário 9in(a pobre ama está )á no cemitérioG e eu, a sua fiel Jianetta, aide mim >ou morrer também Cetire-se, querido amo, para a sua cama, - vá,retire-se

= pobre m5sico parou por um momento, mudo e im0vel, até que, porfim, um ligeiro estremecimento l(e percorreu todo o corpoG em seguida,voltou, com passos lentos, silencioso e qual um espectro, ao quarto ondecostumava compor, e onde a sua esposa (avia passado, tantas ve'es, (orasinteiras, sentada a seu lado, elogiando-o e animando-o, quando o mundo s0 oescarnecia

?m um canto, encontrou a coroa de louros que ela depositara sobre asua fronte, naquela noite feli' de gl0ria e de triunfoG e, )unto a ela, meio ocultopela mantil(a S manto, véu T da inesquec<vel esposa, o abandonado

instrumento, metido em sua caixa

>iola esteve ausente pouco tempoG tendo encontrado o médico,regressou com ele para casa

 7o c(egarem, ouviram uma sinfonia que fa'ia estremecer o cora*+ode ang5stia

3arecia que aqueles sons n+o partiam de um instrumento tocado porm+o (umana, mas que era algum esp<rito, c(amando com lamentos, dassombras e solid+o, os an)os que via do outro lado do ?terno Jolfo

= doutor e >iola trocaram um ol(ar de triste compreens+oG entraramna casa e correram ao quarto

3isani virou a cabe*a, dirigindo-l(e um ol(ar imperioso, que osobrigou a retroceder

 7 mantil(a preta e a murc(a coroa de louros estavam diante dom5sico

>iola, em um relance, compreendeu tudo e, correndo para o pai,abra*ou-o, exclamando F

- 9eu pai, meu pai 7inda l(e fico eu, a sua fil(a

8e repente, cessaram os lamentos do violino, para passar para outrog"nero de m5sica

Dom uma confus+o mescla, em que se revela o (omem e o artista,prosseguiu a melodia, que era agora um misto de triste'a e suavidade

= rouxinol tin(a escapado K persegui*+o, - e deixava ouvir seus trinosbrandos, aéreos, melodiosos, até que foram expirando, pouco a pouco

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= instrumento caiu ao c(+o, e as suas cordas se romperam

 Mo meio do sil"ncio, parecia que ainda se ouvia o eco do seu canto

= artista ol(ou a fil(a, a)oel(ada aos seus pés, e as cordas rompidas

do violino

- ?nterrem-me ao lado dela, - disse com vo' baixa e tranqRilaG - e estemeu fiel compan(eiro enterrem-no também )unto a mim

?, ao di'er estas palavras, tornou-se l<vido e r<gido, como setransformasse em pedra

Pm 5ltimo lampe)o de vida apareceu no seu semblante, extinguindo-se no mesmo instante

= m5sico tombara inerteG estava morto

?ram as cordas do instrumento (umano que acabavam de estalar

 7o cair, o seu manto arrastou a coroa de louros, que caiu também aoc(+o, quase ao alcance da m+o do morto

Quebrado, eis o instrumento

Compido o cora*+o

9urc(a a coroa de louros

=s raios do Aol poente, entrando pelas gelosias cobertas de fol(as daparreira, iluminavam este triste quadro

 7ssim a eterna Mature'a contempla, rison(a, os destro*os de tudo oque torna gloriosa a vida

? n+o (á Aol poente que n+o ilumine, em alguma parte, a m5sica quese calou, - o louro que murc(ou

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CAPÍTULO X 

:D(e difesa miglior c(Uusbergo e scudo,e la santa innocen'a al petto ignudo ;

Jerusal Lib, canto >!!!, #&

:8efesa mel(or do que a coura*a e o escudo,é a santa inoc"ncia,para o peito descoberto ;

Donforme os seus 5ltimos dese)os, o m5sico e o seu bárbito foramenterrados )untos, no mesmo ata5de

Y bárbito, famoso descendente de Ateiner - primeiro @it+ da grande

ra*a @irolesa - tantas ve'es tentou subir aos céus, e, por isso, (á de baixar,como os comuns fil(os dos (omens, ao tenebroso ades

H um destino mais cruel o seu, de que o seu mortal donoG pois a suaalma desceu contigo ao sepulcro, ao passo que a m5sica que pertence a ele,separado do instrumento, sobe Ks alturas, e poderá ser ouvida muitas ve'espelos ouvidos piedosos de uma fil(a, quando o céu estiver sereno e a terratriste

3orque (á pessoas privilegiadas cu)os sentidos percebem o que n+oé dado perceber ao vulgo

? as vo'es dos mortos murmuram com do*ura e freqRentemente aosouvidos dos que sabem unir a mem0ria com a fé

? >iola está, agora, s0 no mundoG s0 na casa onde a solid+o l(eparecera, desde a sua infância, uma coisa fora da sua <ndole

 ?, no in<cio, a solid+o e o sil"ncio eram insuportáveis

omens ou mul(eres tristes, a quem estas fol(as sibilinas,

carregadas de vários escuros enigmas, vieram K m+o, n+o é verdade que,quando a morte de alguma pessoa querida tornou desolado o seu lar,encontrou insofr<vel e pesada demais a triste'a da sua morada ? que,embora fosse um palácio, a trocaria por uma (umilde cabana

?, todavia, - é triste di'"-lo, - quando, no lugar estran(o onde procurao seu ref5gio, nada l(e fala dos que tem perdido, n+o tem sentido umanecessidade de alimentar a sua mem0ria com as mesmas recorda*6es queantes l(es pareceram t+o amargas e insuportáveis

M+o é quase <mpio e profano abandonar aquele lar querido a pessoas

estran(as

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3or isso, o (aver abandonado a casa onde seus pais viveram e l(esacariciaram, é t+o amargo e pesa sobre sua consci"ncia, como se tivessevendido os seus t5mulos

?ra bela a supersti*+o etrusca, segundo a qual os antepassados se

convertiam em deuses domésticos

Aurdo é o cora*+o ao qual os Lares c(amam em v+o da sua moradadeserta

>iola, em sua intolerável ang5stia, ao in<cio aceitou, c(eia de gratid+o,o ref5gio que l(e oferecera em sua casa uma fam<lia da vi'in(an*a, cu)oc(efe, <ntimo amigo e compan(eiro de orquestra de 3isani, recebeu compra'er a desamparada 0rf+

@odos procuravam dissipar as mágoas da )ovem, porém, a compan(ia

de pessoas estran(as ao nosso pesar e os consolos que nos d+o, s0 irrita anossa ferida

?, depois, n+o é cruel ouvir pronunciar em outra parte os nomes depai, m+e e fil(o, - como se a morte s0 a sua casa tivesse visitado, - ver ali acalma e a regularidade dos que vivem unidos em amor e tranqRilos, contandoas suas (oras feli'es no rel0gio imperturbável da vida doméstica, como se odos demais n+o tivessem as suas rodas paralisadas, a sua corda rompida e osua p"ndulo sem movimento

M+o (á nada, nem a tumba mesma, que nos lembre t+o amargamentea morte das pessoas queridas, como a compan(ia dos que n+o t"m perdaalguma a c(orar

>olta K sua solid+o, )ovem 0rf+G volta K sua casaG a triste'a que aaguarda no umbral da porta, a saudará como um sorriso na face dos mortos

 ? ali, da sua )anela, e ali, da sua porta, verá ainda aquela árvore,solitária como voc", que cresce no meio da roc(a, mas esfor*a-se por atingira lu', - como, através de todas as mágoas, enquanto as esta*6es aindapodem renovar o verdor e a flor da )uventude, o instinto do cora*+o (umano

também luta A0 quando se esgotou a seiva, s0 quando o tempo produ'iu o seu

efeito, bril(a o Aol em v+o para o (omem e para a árvore

3assaram-se, entretanto, semanas e meses, - muitos meses bemtristes, - e Mápoles n+o permite por mais tempo, que o seu <dolo viva isoladoGquerem ouvi-la, querem admirá-la e tributar-l(e novamente as suas(omenagens

= mundo, apesar de nossos esfor*os, nos arranca de nossa situa*+o

com seus mil(ares de bra*os

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? novamente a vo' de >iola vibra no teatro, o qual, misticamente fiel Kvida, em nada é mais fiel do que na idéia de que a apar"ncia que fa' a cenaGe n0s n+o nos damos tempo para perguntar quais s+o as realidades queessas apar"ncias representam

Quando o ator de 7tenas comovia todos os cora*6es, prorrompendoem amargos solu*os ao estreitar em seus bra*os a urna cinerária, qu+opoucos ali sabiam que abra*ava as cin'as do seu fil(o

= ouro e a fama c(oviam sobre a )ovem atri'G mas ela seguia sempreo seu singelo modo de vida, (abitando a mesma (umilde morada aondeviveram os seus pais, e sem mais criados do que a sua vel(a aia, na qual apouca experi"ncia de >iola n+o descobria defeitos, nem percebia o ego<smo

Jianetta foi a primeira que a pusera nos bra*os do seu pai, quando>iola veio ao mundo

 7 )ovem via-se cercada de muitas aten*6es e corte)ada por umamultid+o de aduladores que espreitavam aproveitar-se da sua n+o guardadabele'a e da sua perigosa profiss+o

9as a virtude de >iola passava imaculada por meio de todos os seusgalanteadores

H verdade que lábios, agora mudos, l(e (aviam ensinado os deveresque a (onra e a religi+o imp6em a uma )ovem, e, todo amor que n+o falassedo matrimInio, despre'ado e repelido pela formosa atri'

 7lém disso, a triste'a e a solid+o amadureceram o seu cora*+o, efi'eram-na tremer, Ks ve'es, ao pensar como profundamente sentia, e assuas vagas vis6es de outro tempo transformarem-se em um ideal de amor

? enquanto o ideal n+o é ac(ado, como a sombra que ele pro)eta,torna-os frios K realidade que nos cerca

Dom esse ideal, sempre e sempre, inconscientemente, e causando-l(e uma espécie de medo e admira*+o, vin(a mesclar-se a figura e a vo' do

estrangeiro que l(e tin(a falado do futuro3erto de dois anos tin(am )á decorrido, desde que aquele (omem

aparecera em Mápoles pela primeira ve'

Mada mais se soube, depois, exceto que o seu navio se (avia feito Kvela rumo K Livorno

3ara os amantes de novidades em Mápoles, a sua exist"ncia, apesarde supor-se extraordinária, foi muito rapidamente esquecidaG porém o cora*+ode >iola era mais fiel

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2reqRentemente aquele (omem apresentava-se em seus son(os, equando o vento fa'ia gemer os ramos daquela árvore fantástica associadacom suas lembran*as, >iola se sobressaltava e corava, como se o ouvissefalar

?ntretanto, entre a turba de admiradores da artista, (avia um que elaescutava com mais complac"ncia do que aos outrosG )á, talve', porque elefalava o idioma pátrio da sua inolvidável m+eG )á porque a timide' do mo*o ofa'ia pouco perigosoG )á porque a sua condi*+o social, mais pr0xima K da atri'do que a dos demais ilustres galanteadores tirava K sua admira*+o todaapar"ncia de insultoG e )á porque, com a sua eloqR"ncia e o seu caráterson(ador, manifestava, muitas ve'es, idéias que se assemel(avam muito Ksdela

>iola come*ou a querer-l(e bem, a amá-lo talve', porém, como umairm+ ama o seu irm+oG entre ambos nasceu uma espécie de privilegiada

familiaridade

Ae no cora*+o do !ngl"s se abrigavam esperan*as menos nobres,nunca as (avia manifestado nem remotamente

á perigo, solitária >iola, nesta ami'ade, ou (á um perigo maior noseu ideal que n+o pode encontrar no mundo das realidades

? agora vamos encerrar esta primeira parte do livro, que, como umprel5dio, (á de condu'ir-nos a um espetáculo estran(o e surpreendente

Quer ouvir mais, leitor

>en(a, pois, com sua fé preparada

M+o pe*o que fec(e os ol(os, mas traga os seus sentidos bemdespertos

Domo a encantada !l(a, distante dos lares (umanos, :aonde rarasve'es ou nunca vaium navio das nossas costas; é a paragem do tumultuosooceano da vida comum, onde a 9usa ou Aibila l(e oferece um santo asilo, -

:ali ela sobe K uma montan(a despovoada e obscurecida por sombrasG e porencanto l(e amontoa neve nas espaldas e nos flancos, e sem neve algumal(e deixa a cabe*a verde)ante e lindaG e, perto de um lago, constr0i umpalácio;

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LIVRO S!GUNDO

4RT!24OR ! 4R4VIL64S

CAPÍTULO I 

:Dentauri, e Afingi, e pallide Jorgoni;Jerusal Lib, canto !>, ^:Dentauros e ?sfinges e pálidas J0rgonas;

?m uma noite enluarada, nos 4ardins de Mápoles, quatro ou cincocaval(eiros, sentados debaixo de uma árvore, tomavam o seu sorvete e, nosintervalos da conversa*+o, ouviram a m5sica que animava aquele lugarfavorito de alegres reuni6es de uma popula*+o indolente Pm deste pequenogrupo, )ovem !ngl"s, que momentos antes parecia o mais alegre e viva' dessa

reuni+o, tornou-se subitamente triste e pensativo Pm dos seus compatriotasobservou esta mudan*a repentina e, dando- l(e uma pancadin(a no ombro,disse F

- Que tem, Jlyndon ?stá doente >e)o-o t+o pálido e aestremecer Aente frio Aerá mel(or que se retireG estas noites !talianass+o, muitas ve'es, perigosas para os nossos temperamentos

- M+o é nadaG )á me sinto bem 2oi um tremor passageiro que n+o seia que atribuir

Pm (omem, de apar"ncia ainda mais distinta que os demais, e queparecia ter uns trinta anos de idade, voltando-se repentinamente paraJlyndon, fixou nele os ol(os e disse F

- 3arece-me que compreendo o que tem e, talve', - acrescentou comum ligeiro sorriso, - poderia explicá-lo mel(or que o sen(or mesmo

?m seguida, dirigindo-se aos outros, continuou F

- Aem d5vida, caval(eiros, todos )á experimentaram várias ve'es,especialmente ao estarem s0s, de noite, uma sensa*+o estran(a e

inexplicável de frio e terror que os assalta de repenteG o sangue gelaG ocora*+o cessa de baterG as pernas trememG os cabelos se eri*amG t"m medode lan*ar os ol(os para os cantos mais escuros do quartoG apresenta-se, emsuas mentes, uma idéia que os (orrori'a, como, por exemplo, de se encontrardiante de alguma coisa extraterrestre 8e repente, porém, todo esse feiti*o, seassim podemos c(amá-lo, cessa, desvanece-se, e quase sentem vontade derir de semel(ante fraque'a M+o t"m experimentado, muitas ve'es, estasensa*+o, que acabo de descrever- l(es imperfeitamente

- Ae assim é, poderiam compreender o que o nosso )ovem amigoacaba de sentir, neste momento, apesar de estar rodeado das del<cias destamágica cena, e respirando as brisas balsâmicas desta noite de 4ul(o

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- Aen(or, - respondeu Jlyndon, evidentemente muito surpreendido, -acaba de definir exatamente a nature'a do arrepio que me assaltou Domo,porém, pIde, de um modo t+o precioso, notar as min(as impress6es

- Don(e*o os sinais caracter<sticos, - replicou o estrangeiro,

seriamenteG - e estes n+o enganam facilmente a quem tem a experi"ncia queeu ten(o

@odos os presentes declararam, ent+o, que compreendiamperfeitamente o que o estrangeiro acabava de descrever, porque o (aviamexperimentado alguma ve'

- Aegundo uma supersti*+o do meu pai, - disse 9ervale, o !ngl"s queprimeiramente dirigia a palavra a Jlyndon, - no momento em que voc" senteque o seu sangue está gelado e que se eri*am seus cabelos é porque alguémpIs o pé no local em que está a sua sepultura

- ?m todos os 3a<ses existem diferentes supersti*6es para explicareste fenImeno t+o comum, - replicou o estrangeiroG entre os rabes, porexemplo, (á uma seita que cr" que, naquele instante, 8eus decreta a suamorte, ou a morte de alguma pessoa que l(e é cara =s selvagens 7fricanos,cu)a imagina*+o está c(eia de (orrores da sua tenebrosa idolatria, cr"em queo demInio está puxando, naquele momento, a pessoa pelos cabelosG assimse mescla o terr<vel com o grotesco

- ?videntemente, o fenImeno de que nos ocupamos n+o é outra coisasen+o um acidente f<sico, uma indisposi*+o do estImago ou uma paralisa*+ona circula*+o do sangue - disse um )ovem Mapolitano, que poucos dias antesfora apresentado a Jlyndon

- 3or que, ent+o, em todas as Ma*6es esta sensa*+o vai sempreacompan(ada de algum pressentimento supersticioso ou algum temor, -formando uma conex+o entre o corpo material e o suposto mundo fora de n0s 3or min(a parte, eu penso que

- = que é o que pensa, meu caro - perguntou Jlyndon, comcuriosidade

- 3enso - prosseguiu o estrangeiro - que é a repugnância e o (orrorcom que os nossos elementos mais (umanos retrocedem ante alguma coisa,naturalmente invis<veis, porém antipática K nossa nature'a, e que n+o nos édado con(ecer por causa da imperfei*+o dos nossos sentidos

- ?nt+o cr" na exist"ncia dos esp<ritos - inquiriu 9ervale, com umsorriso incrédulo

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- M+o era precisamente dos esp<ritos que eu falavaG porém, podemexistir formas de matéria, t+o invis<veis e impalpáveis para n0s, como o s+oos animálculos no ar que respiramos, - ou da água que corre daquela fonte 7queles Aeres podem ter suas paix6es e seus poderes, da mesma formacomo n0s temos as nossas paix6es e os nossos poderes e como animálculos

aos quais os comparei = monstro que vive e morre em uma gota de água, -carn<voro, insaciável, subsistindo Ks criaturas ainda menores do que elemesmo, - n+o é menos mort<fero em sua f5ria, nem menos fero' em suanature'a, do que o tigre do deserto ?xistem talve', ao redor de n0s, muitascoisas que seriam perigosas e (ostis para os seres (umanos, se a3rovid"ncia n+o tivesse levantado uma barreira entre elas e n0s, pordiferentes modifica*6es da matéria- ? pensa o sen(or que estas barreirasnunca podem ser removidas - perguntou, de repente, o )ovem Jlyndon - 7stradi*6es de feiticeiros e bruxas, t+o universais e imemoriais como s+o, n+opassar+o de meras fábulas

- @alve' sim, talve' n+o, - respondeu o estrangeiro, com indiferen*a -9as quem, em uma época em que a ra'+o tem estabelecido os seus pr0prioslimites, seria bastante louco para romper a barreira que o separa da )ib0ia edo le+o, - ou para murmurar e rebelar-se contra a leique encerra a tubar+o nogrande abismo 3orém, deixemos estas v+s especula*6es

 7o di'er isto, o estrangeiro se levantou, c(amou o :gar*om;, pagou oseu sorvete, cumprimentou aos demais do grupo e desapareceu, em seguida,entre as árvores

- Quem é este caval(eiro - perguntou Jlyndon, com curiosidade

@odos se entreol(aram, sem responder, até que, passados algunsminutos, disse 9ervale F ?sta é a primeira ve' que o vi

- ?u também

- ? eu igualmente

- ?u o con(e*o bem, - disse o Mapolitano, que era o nosso con(ecido,o Donde Detoxa

- Ae est+o lembrados, ele veio até aqui como meu compan(eiroaverá uns dois anos, que este (omem visitou Mápoles, e (á poucos diasveio outra ve' K cidade H muito rico, - muit<ssimo rico, e uma pessoaagradabil<ssima Ainto que ten(a falado, esta noite, de uma forma t+oestran(a, pois isto servirá para confirmar os diversos boatos loucos quecirculam a seu respeito

- ? seguramente, - disse um outro Mapolitano, - o fato que aconteceuoutro dia, e que o meu caro Detoxa con(ece perfeitamente, )ustifica assuposi*6es que pretende despre'ar

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- ?u e o meu compatriota - disse Jlyndon - freqRentamos t+o pouco aAociedade de Mápoles, que ignoramos muitas coisas que parecem dignas deinteresse Quer fa'er-nos o obséquio de contar-nos esse fato, e o que se di' arespeito desse (omem

- Quanto aos boatos que circulam, caval(eiros, - disse Detoxa,dirigindo-se cortesmente aos dois !ngleses, - basta observar que atribuem aoAen(or Zanoni certas qualidades que cada um dese)aria ter para si, porémcondena a qualquer outra pessoa que parece possu<-las = acontecimento, aque alude o Aen(or Belgioso, exemplifica estas qualidades e é, devoconfessá-lo, um tanto surpreendente 3rovavelmente )ogam, caval(eiros

7qui, Detoxa fe' uma pausa Domo, efetivamente, os dois !ngleses(aviam arriscado alguns escudos nas mesas de )ogo, inclinaram-selevemente, para afirmar a suposi*+o1

Detoxa continuou F - BemG pois saibam que, (á pouco tempo, nomesmo dia em que Zanoni regressara a Mápoles, estava eu )ogando, tin(aperdido quantias consideráveis Levantei-me da mesa, decidido a n+o tentarmais a fortuna, quando, de repente, percebi Zanoni, de quem me fi'era amigoem outro tempo e que, posso di'"-lo, me devi a uma pequena obriga*+o1,estando na sala como mero espectador 7ntes de eu poder manifestar-l(e omeu pra'er de v"-lo, pIs sua m+o sobre o meu ombro, e disse-me F

- :3erdeu muitoG mais do que podia despender 3or min(a parte, n+ogosto de )ogarG mas quero ter algum interesse pelo que está se passandoQuer )ogar esta quantia por mim 7s perdas correm por min(a contaG e, segan(ar, repartiremos pela metade, os benef<cios;

- Domo podem supor, esta proposta deixou-me desconcertadoGporém, Zanoni o di'ia com um ar e tom que era imposs<vel resistir-l(eG alémdisso, eu ardia em dese)os de recuperar o que (avia perdido, e n+o me terialevantado da mesa, se me tivesse sobrado algum din(eiro Cespondi-l(e queaceitava a sua oferta, porém com a condi*+o de que repart<ssemos tanto osgan(os como as perdas

- :Domo quiser, - respondeu-me sorrindoG - n+o precisamos ter

escr5pulos, porque, com certe'a, irá gan(ar;- Aentei-me e Zanoni se pIs em pé atrás de mim 7 min(a sorte

mudou, e isso de tal maneira que n+o fi' mais do que gan(ar continuamenteDom efeito, levantei -me da mesa muito rico

- M+o é poss<vel trapacear nos )ogos p5blicos, e, sobretudo quando atrapa*a teria que ser feita contra a banca - asseverou Jlyndon

- Dertamente - respondeu o DondeG porém a nossa sorte era t+oextraordinária, que um Aiciliano os Aicilianos s+o, em geral, malcriados e de

mau g"nio1 tornou-se colérico e até insolente

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- :Aen(or, - disse ele, dirigindo-se ao meu novo amigo, - nada temque fa'er t+o perto da mesa;

Zanoni respondeu-l(e, com bons modos, que n+o fa'ia nada quefosse contrário Ks regras do )ogo, que sentia muito que um (omem n+o

pudesse gan(ar sem outro perder, e que ali n+o poderia fa'er nada de má fé,nem que estivesse disposto a fa'"-lo

= Aiciliano tomou por medo a brandura do estrangeiro, e come*ou acensurá-lo em vo' ainda mais altaG e até se levantou da mesa e pIs-se aol(ar para Zanoni de um modo capa' de fa'er perder a paci"ncia a qualquercaval(eiro que tivesse sangue inflamável ou que soubesse mane)ar a espada

- ? o mais singular, - interrompeu Belgioso, - o que mais mesurpreendeu é que Zanoni, que estava em frente de mim, e cu)o semblante,por conseguinte, eu podia examinar distintamente, n+o mudou as fei*6es,

nem mostrou o menor ressentimento ?le fixou sua vista no Aiciliano de umaforma imposs<vel de descreverG nunca me esquecereidaquele ol(ar - gelavao sangue nas veias = Aiciliano titubeou como se tivesse sido golpeado,estremeceu e caiu sobre o banco ? depois

- Aim, depois, - concluiu Detoxa, - com grande surpresa min(a, onosso caval(eiro, desarmado por um ol(ar de Zanoni, dirigiu a sua ira contramim 3orém, talve' ignorem, sen(ores, que a min(a (abilidade no mane)odas armas me tem valido alguma reputa*+o

- H o mel(or esgrimista da !tália, - afirmou Belgioso

- 7ntes que tivesse tempo de saber por que motivo - prosseguiuDetoxa, - encontrei-me no )ardim detrás da casa, com Pg(elli este era onome do Aiciliano1 encarando-me, e com cinco ou seis caval(eiros, quedeviam ser as testemun(as do nosso duelo Zanoni, c(amando-me K parte,disse-me F

- :?ste (omem cairá Quando ele estiver no c(+o, pergunte-l(e sequer que o enterrem ao lado do seu pai na igre)a de A+o 4anuário;

- :Don(ece, ent+o, a sua fam<lia ; - perguntei-l(e, surpreendido

- Zanoni n+o me respondeu, e um momento depois estava eubatendo-me com o Aiciliano 3ara fa'er- l(e )usti*a devo di'er que o seu:imbrogliato; era magn<fico, e que nunca um mandri+o mane)ou a espada commais destre'aG apesar disso, porém, - acrescentou Detoxa, com agradávelmodéstia, - caiu com o corpo atravessado pela min(a arma 7proximei-me evique o desgra*ado mal podia falar

- @em que me encarregar de algo, ou tem algum neg0cio paraultimar - perguntei-l(e;= ferido fe' um sinal negativo;- :=nde quer serenterrado ; W tornei a perguntar :?le apontou a costa da Aic<lia;

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- :Domo - observei, com surpresa, - n+o quer ser sepultado na igre)ade A+o 4anuário, ao lado do seu pai; ; 7o ouvir estas min(as palavras, o seusemblante alterou-se terrivelmenteG Pg(elli soltou um grito agudo, lan*ou umagolfada de sangue pela boca, e expirou;;7gora vem a parte mais misteriosadesta est0ria ?nterramos o Aiciliano na igre)a de A+o 4anuário 3ara este fim,

levantamos a tampa do caix+o onde estavam os restos mortais do seu paicu)o esqueleto ficou descoberto Ma cavidade do crânio, encontramos umpeda*o de arame de a*o delgado e duro !sto nos causou surpresa, e levou afa'er-se investiga*6es = pai do meu rival, que era um (omem rico eavarento, falecera repentinamente, e, devido ao grande calor da esta*+o, forasepultado sem perda de tempo Domo nosso ac(ado levantasse suspeita,procedeu-se a um exame minucioso do cadáver 2oi inquirido o criado dovel(o Pg(elli, o qual confessou, por fim, que o fil(o (avia assassinado o pai= ardil tin(a sido engen(oso F o arame de a*o era t+o delgado, queatravessou o cérebro sem que sa<sse mais do que uma gota de sangue, queos cabelos ocultaram = c5mplice morrerá no pat<bulo;

- ? Zanoni sabia desses fatos ?le l(e contou

- M+o, - respondeu o condeG - ele declarou que, por um acaso, (aviavisitado, naquela man(+, a igre)a de A+o 4anuário F que (avia reparado nalousa sepulcral do Donde Pg(elliG que o seu guia l(e (avia dito que o fil(odesse Donde estava em Mápoles, e que era perdulário e )ogador ?nquanto )ogávamos, Zanoni (avia ouvido pronunciar o nome do Donde Pg(elli K mesaGe quando estivemos no terreno do duelo, veio-l(e a lembran*a de ter visto atumba do pai do meu rival, e ele, conforme assegura, falou-me nela, levado aisto por um instinto que n+o podia ou n+o queria explicar

- Pma est0ria bastante explicável, - disse 9ervale

- Aim 9as n0s os !talianos, somos supersticiososG aquele instinto foiconsiderado, por muitos, como um aviso da 3rovid"ncia Mo dia seguinte, oestrangeiro foi ob)eto de curiosidade e interesse geral 7 sua rique'a, o seumodo de viver, a extraordinária bele'a da sua pessoa, t"m contribu<dotambém para que se)a ol(ado com inve)a e furorG além disso, eu tive o pra'erde introdu'ir esta eminente personagem entre os mais alegres dos nossoscaval(eiros e apresentá-la Ks nossas primeiras beldades

- Pma narrativa interessant<ssima, : rematou 9ervale, levantando-se

- >en(a, JlyndonG vamos ao nosso (otel M+o tardará em ser dia 7deus, sen(ores

- Que pensa desta est0ria - perguntou Jlyndon ao seucompan(eiro, quando se dirigia para casa

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- ?u penso claramente que este Zanoni é algum impostor, algumvel(aco espertoG e o Mapolitano participa da vel(acaria, e gaba-o, exaltando-o, com o vil c(arlatanismo do maravil(oso Pm avarento descon(ecido seintrodu' facilmente na Aociedade, quando esta o converte em ob)eto de terrorou de curiosidadeG Zanoni, além disso, é extraordinariamente belo, e as

mul(eres est+o prontas a receb"-lo muito contentes, sem outra qualquerrecomenda*+o, a n+o ser o seu pr0prio semblante e as fábulas de Detoxa

- M+o sou desse parecer, - respondeu Jlyndon - Detoxa, ainda que )ogador e perdulário, é nobre de nascimento, e go'a de alta reputa*+o por suacoragem e (onrade' 7lém disso, esse estrangeiro, com a sua nobrepresen*a e o seu ar sério e sereno, t+o calmo e t+o modesto, n+o tem nadade comum com a loquacidade de um impostor

- 3erdoe-me, meu caro JlyndonG mas eu ve)o que con(ece aindamuito pouco o que é o mundo = estrangeiro representa o papel de uma

grande personagem, e o seu ar de grande importância n+o é mais que umestratagema do seu of<cio 3orém, mudemos de assunto Domo vai aconquista amorosa

- =( >iola n+o pIde ver-me (o)e

- Duidado, n+o vá casar-se com ela Que diriam todos lá na nossaterra

- 8esfrutemos o presente, - replicou Jlyndon, com vivacidadeG -somos )ovens, ricos e de boa apar"nciaG n+o pensemos no dia de aman(+

- Bravo, Jlyndon ?stamos )á em casa 8urma bem, e n+o son(ecom esse sen(or Zanoni

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CAPÍTULO II 

:3rende, giovine audace e impa'<ente,LUoccasione offerta avidamente;

Jerusal Liber, canto >!, &N

:@oma, )ovem auda' e impaciente, a ocasi+o que se ofereceavidamente;

Dlar"ncio Jlyndon era um )ovem que possu<a uma fortuna n+o muitoavultada, porém suficiente para poder viver sem embara*os financeiros e comindepend"ncia

=s seus pais (aviam falecido e sua parenta mais pr0xima era umairm+, muito mais )ovem do que ele, e que estava na !nglaterra, em casa deuma tia sua

8esde muito mo*o, Jlyndon tin(a manifestado grande disposi*+opara a pintura, e mais por entusiasmo do que por necessidade de exerceruma profiss+o, determinou dedicar-se a uma carreira, que os artistas !nglesesgeralmente come*am com ardor idealista e composi*+o (ist0rica, paraconclu<rem com cálculos avarentos e retratos de 7derman AimpEinsJlyndon,segundo a opini+o dos seus amigos, possu<a um talento bastanteconsiderável, mas era um tanto precipitado e presun*oso

M+o gostava de um trabal(o cont<nuo e persistente, e a sua ambi*+oprocurava antes col(er o fruto do que plantar a árvore

Domo a maior parte dos )ovens artistas, era amante dos pra'eres edivertimentos, entregando-se, sem a menor reflex+o, a qualquer empresa queimpressionasse a sua imagina*+o ou exercitasse a sua imagina*+o ouexcitasse suas paix6es

@in(a via)ado pelas mais célebres cidades da ?uropa, com o firmeprop0sito e a sincera resolu*+o de estudar as grandiosas obras primas da suaarteG porém, em todas elas o pra'er muitas ve'es o afastava do seu ob)eto, eas bele'as vivas distraiam a sua aprecia*+o da tela insens<vel >alente,

amante de aventuras, vaidoso, inquieto, curioso, encontra-se sempreenvolvido em pro)etos temerários e perigos encantadores, sendo uma criaturaimpulsiva e escrava da sua imagina*+o

?ra, ent+o, a época em que o frenético esp<rito de inova*+o estavaabrindo camin(o a esse (orr<vel escárnio das nobres aspira*6es (umanas,denominado :Cevolu*+o 2rancesa; e do caos, dentro do qual estavamimergindo as santidades da >enerável Dren*a do 9undo, levantavam-semuitas, extravagantes e disformes quimeras

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8evo lembrar ao leitor que, nesse tempo, ao lado do refinadoceticismo e afetada sabedoria, existiam a maior increduli dade e as maiscrassas supersti*6esG - era a época em que o magnetismo e a magiacontavam adeptos entre os disc<pulos de 8iderotG quando as profeciasestavam sobre os lábios de toda a genteG quando o sal+o de um 2il0sofo

de<sta se converteu em uma eracléa, onde a necromancia pretendia evocaras sombras dos mortosG quando se ridiculari'avam a Dru' e a B<blia, eacreditava-se em 9esmer e Dagliostro

Maquele nascente el<aco que anunciava o novo Aol, que deviadesvanecer todas as sombras, sa<ram das suas tumbas medievais todos osfantasmas que tin(am passado diante dos ol(os de 3aracelso e 7grippa

8eslumbrado pela aurora da Cevolu*+o, Jlyndon foiatra<do aindamais por seus estran(os acompan(amentosG e era natural que como tantosoutros, acol(esse com avide' a idéia de ver reali'adas, em pouco tempo, as

esperan*as de uma utopia social, que, pelo tril(ado e poeirento camin(o daci"ncia, condu'iria K ousada descoberta de algum maravil(oso ?liseu

?m suas viagens, Jlyndon (avia escutado com vivo interesse, sen+ocom impl<cita cren*a, tudo quanto l(e contavam acerca dos milagres de todosos famosos videntesG assim é que a sua imagina*+o se ac(ava preparadapara receber a impress+o que o misterioso Zanoni produ'iria sobre ele, desdea primeira vista

3odia existir também outra causa para esta disposi*+o K credulidadePm dos antepassados de Jlyndon, da fam<lia da sua m+e, tin(a alcan*adogrande reputa*+o como 2il0sofo e 7lquimista

Dontavam-se estran(as (ist0rias a respeito desse (omem

8i'ia-se que (avia vivido muito, mais tempo do que vive o comum dos(omens, conservando sempre a apar"ncia da cidade viril

Aupun(a- se que falecera de pesar por causa da morte repentina deum neto seu, que era a 5nica criatura pela qual, em toda a sua sida, tin(amanifestado amor

 7s obras deste 2il0sofo, se bem que raras, existiam ainda e seac(avam na biblioteca da casa de Jlyndon

= seu platInico misticismo, as suas atrevidas asser*6es, as altaspromessas que podiam descobrir-se atrás da sua fraseologia aleg0rica efigurada, impressionaram, desde os seus anos de rapa', a imagina*+o deDlar"ncio Jlyndon

=s seus pais, sem atender Ks conseqR"ncias que o encora)amentodas idéi as podia acarretar, que a ra'+o e a idade pareciam suficientes para

dissipar ou repelir, tin(am por costume, nos longos ser6es do inverno, falar da(ist0ria tradicional desse distinto antepassado

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? Dlar"ncio estremecia de pra'er, mesclado de terror, quando suam+e di'ia que descobria uma notável semel(an*a entre as fei*6es deste seufil(o e as do vel(o retrato do 7lquimista, que se via pendurado na parede dasala, entre outros quadros familiares, e era o orgul(o da casa, como tambéma admira*+o dos seus amigos

 7 crian*a, na verdade, é, mais freqRentemente do que pensamos, :opai do (omem;

?u disse que Jlyndon amava os pra'eres

2ácil de impressionar-se com coisas alegres, como sempre se dá comos (omens de g"nio, a sua descuidada vida, antes de come*ar a carreiratrabal(ista de verdadeiro artista, o (avia levado a voar de uma flor a outra

?le tin(a )á desfrutado, quase até K saciedade, todos os alegres

divertimentos que oferecia Mápoles, quando se enamorou de >iola 3isani9as o seu amor, do mesmo modo que a sua ambi *+o, eram vagos e

mutáveisM+o satisfa'ia plenamente o seu cora*+o, deixava antes um va'io em

sua exist"nciaG n+o porque carecesse de fortes e nobres paix6es, mas porquea sua mente n+o estava ainda suficientemente preparada nem bastanteassentada para o desenvolvimento dessas paix6es que nele brotavam7ssimcomo (á uma esta*+o para a flor, e outra para o fruto, igualmente, enquanto aflor da imagina*+o n+o come*a a murc(ar, n+o amadurece o cora*+o paraprodu'ir as paix6es que as flores precedem e predi'em

 7legre sempre quer estivesse a s0s com seus quadros, quer no meiodos )oviais amigos, Jlyndon n+o (avia con(ecido ainda bastante a triste'a,para poder amar profundamente

3ois, para que o (omem possa compreender todo o valor das coisasgrandes da vida, é preciso que ten(a sofrido desenganos nas que s+opequenas

A0 os superficiais sensualistas da 2ran*a podem di'er, em sua:linguagem de sal6es;, que o amor é uma loucuraG o amor, mel(or

compreendido, é a sabedoria3or outra parte, Jlyndon pertencia demasiado ao mundo, e a sua

ambi*+o art<stica tin(a necessidade dos aplausos e elogi os dessa miserávelminoria da superf<cie, a qual c(amamos de p5blico

Domo todos os que Dostumam enganar, o )ovem pintor !ngl"s temiasempre ser enganadoG por isso, desconfiava da doce inoc"ncia de >iola

M+o se aventurava a propor seriamente o casamento a uma atri'!talianaG contudo, a modesta dignidade da )ovem e alguns bons e generosos

sentimentos que Jlyndon possu<a, detin(am-no até ent+o, de qualquer planomais mundano e menos (onesto

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3or isso, a familiaridade que existia entre os dois, oferecia mais ocaráter de uma m5tua e atenta simpatia, do que o de uma paix+o Jlyndon via>iola no teatroG falava-l(e entre bastidores, enc(ia sua carteira deinumeráveis esbo*os da sua bele'a, que o encantava como artista e comoamanteG e passava os dias flutuando entre a d5vida e a irresolu*+o entre a

afei*+o e a desconfian*aG esta 5ltima, porém, prevalecia sempre, devido aosconstantes consel(os e admoesta*6es de 9ervale, (omem de s0briareflex+o, na opini+o do seu camarada

8e tarde, no dia seguinte ao que (avia proporcionado K Jlyndon ocon(ecimento de Zanoni, passeava aquele a cavalo pela praia de Mápoles, dooutro lado da Daverna de 3osillipo

= Aol come*ava a declinar, e o mar rison(o enviava K terra umafresca e voluptuosa brisa

 7o longe, viu o artista um (omem, inclinado sobre um fragmento depedra, K beira da estradaG aproximou-se e recon(eceu o Aen(or Zanoni

= !ngl"s saudou-o cortesmente, e perguntou-l(e sorrindo

- 8escobriu alguma antiguidade A+o t+o abundantes aqui , como osseixos deste camin(o

- M+o, - respondeu Zanoni G - n+o é mais do que uma dessasantiguidades que datam, seguramente, do princ<pio do mundo, porém que aMature'a dissolve e renova eternamente

? assim falando, mostrou Zanoni ao )ovem uma :erva'in(a; de uma'ul pálido, e colocou-a depois cuidadosamente no seu peito

- H (erbori'ador - perguntou Jlyndon- Aim, - respondeu Zanoni- =uvi di'er que é um estudo interessant<ssimo- Dertamente, para as pessoas que o compreendem- Aerá um con(ecimento muito dif<cil de adquirir-se

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- 8if<cil =s con(ecimentos de maior profundidade, inclusive os dasartes, est+o, pode-se di'er, perdidos para a moderna 2ilosofia que é umavulgaridade superficial 4ulga que carecem de fundamento aquelas tradi*6esque nos c(egaram de uma forma confusa e desfigurada através dosAéculos Lembre-se de que as conc(as que (o)e ac(amos no cume das

montan(as, nos informam que ali (avia sido mar ?m que consistia a magiada antiga D0lc(ida, sen+o no minucioso estudo da Mature'a em seus maisocultos trabal(os Que é a fábula de 9edéia, sen+o uma prova do poder quepodem dar K semente e K fol(a = mais portentoso de todos os Aacerd0cios,as misteriosas !rmandades de Dut(, a respeito de cu)os ensinamentos aci"ncia mesma se perde no meio dos labirintos das lendas, procuravam nasmais insignificantes ervas, o que, talve', os sábios de BabilInia buscavam emv+o entre as mais sublimes estrelas 7 tradi*+o S 3lut Aymp, #, ^, cap /T nosdi' que existia, nos tempos antigos, uma Ma*+o que podia matar os seusinimigos, K grande distância, sem necessidade de mover-se, e sem empregararmas 7 grama que os seus pés pisam, tem, talve', um poder mais mort<fero

do que aquele que os seus engen(eiros podem dar aos seus mais destrutivosinstrumentos de guerra 3ode-se di'er, n+o foi nestas praias !talianas, ondeexistiu o antigo promont0rio de Dirce, aonde vin(am os sábios dos 3a<sesmais remotos do =riente, buscar plantas e ingredientes, que os nossosfarmac"uticos de mostrador despre'ariam como se fossem ervas in5teis =sprimeiros (erbori'adores, os maiores qu<micos do mundo, pertenciam K triboque os antigos c(amavam reverentemente pelo nome de @it+s S Ayncellus,pag #% W :D(emistry, t(e !nvention of t(e Jiants; T Cecordo-me que, emoutro tempo, nas margens do ?bro, no reinado de 3orém, esta conversa*+on+o serve, - disse Zanoni, interrompendo-se repentinamente e com um sorrisofrio, - sen+o para gastar inutilmente o seu tempo e o meu

Dalou-se por alguns instantes e, depois, tendo ol(ado fixamente opintor, continuou F

- 4ulga, meu amigo, que uma vaga curiosidade pode substituir otrabal(o ass<duo ?stou lendo no seu cora*+o = sen(or dese)a con(ecer-me, e n+o a esta :erva'in(a;G porémG infeli'mente, o seu dese)o n+o pode sersatisfeito

- >e)o que n+o possuia atenciosa amabilidade dos seus compatriotas,

- respondeu Jlyndon, algum tanto desconcertado- Aupon(o que eu dese)asse cultivar a sua ami'ade, porque repeliria

as min(as insinua*6es

- ?u n+o repilo as insinua*6es de ninguém, - retrucou Zanoni G - eu (eide con(ecer aqueles que querem entrar em rela*6es comigoG K mim, porém,eles nunca poder+o compreender Ae o sen(or dese)a a min(a ami'ade, eul(a ofere*oG devo, porém, advertir-l(e que mel(or será se me evitar

- ? por que, sen(or H, assim, t+o perigoso

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- Mesta terra, (á (omens que, sem o querer, est+o destinados aserem perigosos para outros Ae eu tivesse que l(e predi'er o seu futuropelos v+os cálculos dos astr0logos, dir-l(e-ia, em sua linguagem que o meuplaneta se colocou em sua casa da vida M+o cru'e o meu camin(o, se podeevitá-lo 7dvirto-l(e pela primeira e 5ltima ve'

- 8i' que despre'a os astr0logos e, contudo, se expressa t+omisteriosamente como eles ?u nem )ogo nem pele)oG porque, pois, deveriatemer

- 2a*a como l(e aprouverG por min(a parte, ten(o dito

- 3ermita-me que l(e fale com franque'aG a sua conversa*+o deontem K noite interessou-me muito, e, ao mesmo tempo, deixou-me perplexo

- ?u o seiG as mentalidades como a sua, sentem atra*+o pelo que é

misterioso

?stas palavras molestaram Jlyndon, apesar de n+o terem sidopronunciadas em tom de despre'o

- >e)o que n+o me considera digno da sua ami'ade, - disse o )ovem3aci"ncia 7deus

Zanoni correspondeu com frie'a K sauda*+oG e, enquanto o !ngl"scontinuou o seu passeio, o botânico voltou K sua interrompida ocupa*+o

Maquela noite, segundo o seu costume, Jlyndon foi ao teatro, postode trás dos bastidores, observava >iola, que desempen(ava naquelemomento um dos seus mais importantes papéis

=s aplausos ressoavam por todo o teatro

Jlyndon estava embriagado de paix+o e de orgul(o

- ?sta encantadora criatura, pensava ele, pode ainda ser min(a

?nquanto estava absorto nesta deliciosa medita*+o, sentiu uma levepancadin(a no ombroG voltou-se e viu Zanoni

- 7mea*a-l(e um perigo, - disse este Donvém que n+o vá para casaesta noiteG ou, se for, n+o deve ir s0

 7ntes que Jlyndon tornasse K si de sua surpresa, Zanoni (aviadesaparecidoG e quando o !ngl"s tornou a v"-lo, estava no camarote de umdos nobres Mapolitanos, onde Jlyndon n+o pIde segui-lo

>iola acabava de retirar-se da cena, e Jlyndon aproximou-se dela,

com uma apaixonada galanteria que até ali n+o (avia empregado

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3orém, >iola, ao contrário da sua (abitual afabilidade, n+o fe' omenor caso das palavras do seu apaixonadoG e, levando a parte Jioneta, quen+o a abandonava nem um instante enquanto permanecia no teatro, disse-l(eem vo' baixa, afetando grande interesse F

- =(, Jianetta ?le está aqui outra ve' = estrangeiro de quem )átin(a falado ? ele foi o 5nico, em todo o teatro, que n+o me aplaudia

- Qual é, min(a querida - perguntou a anci+, com vo' terna

- á de ser um est5pido, indigno de que pense nele

 7 atri' levou Jianetta mais perto do prosc"nio S frente do palco T eindicou-l(e um (omem que estava em um dos camarotes mais pr0ximos, eque se distinguia de todos os demais, tanto pela simplicidade do seu tra)e,como por suas fei*6es extraordinariamente belas

- !ndigno de que eu pense nele, Jianetta - repetiu >iola

- !ndigno de que eu pense nele 7( 3ara n+o pensar nele serianecessário que eu n+o pensasse absolutamente

= contra-regra c(amou a sen(orita 3isani

- 3rocura saber o seu nome, Jianetta, - ordenou >iola, dirigindo-selentamente para a cena, e passando pelo lado de Jlyndon, que a ol(ou comtriste'a e como com repreens+o

 7 cena em que a atri' ia apresentar-se agora, era o desenlace dacatástrofe, onde era necessário empregar todos os recursos da sua arte e dasua vo'

= audit0rio escutava com profunda admira*+o todas as palavras daatri'G mas os ol(os desta buscavam somente os de um espectador frio eim0velG ela parecia como inspirada

Zanoni escutava, e observava-a com aten*+o, mas dos seus lábios

n+o saiu a mais ligeira palavra de aprova*+oG e nem a menor emo*+o alteroua express+o do seu semblante frio e meio desden(oso

>iola, que desempen(ava o papel de uma pessoa que ama sem sercorrespondida, encarnava, sentia, como nunca, o papel que representava

 7s suas lágrimas eram verdadeirasG a sua paix+o era a paix+o naturalF quase causava pena ol(á-la

Quando terminou o ato, as for*as da atri' (aviam-se esgotado, e foilevada do cenário, desmaiada, no meio de uma tempestade de aplausos e de

entusiásticas exclama*6es de admira*+o

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= audit0rio se pIs de pé, agitavam-se centenas de len*os, e,enquanto alguns espectadores arro)avam ramal(etes de flores K cena, outrosenxugavam os ol(os c(eios de lágrimasG as sen(oras n+o puderam reprimir opranto por muito tempo

- 3elo céu - exclamou um fidalgo Mapolitano

- ?sta )ovem ateou no meu cora*+o uma paix+o que me devoraMesta noite Aim, ainda nesta noite (á de ser min(a ?stá tudo arran)ado,9arcari

- @udo, sen(or ? esse )ovem !ngl"s - esse imbecil e presun*osobárbaro Domo )á disse, deve pagar sua loucura com sangue M+o quero ternen(um rival

- 9as, é um !ngl"s ?, quando desaparece um !ngl"s fa'em-se

muitas dilig"ncias para ac(ar o seu corpo

- ?st5pido M+o é bastante profundo o mar, ou a terra bastantereservada, para ocultar um cadáver =s nossos sabem ser silenciosos comoa tumbaG e, quanto a mim Quem se atreveria a suspeitar ou acusar o3r<ncipe de O O O Quero que, nesta noite, se)a feito o :servi*o; ?u o deixo aoseu cuidado =s ladr6es o ter+o assassinado, entende 7bundam tanto neste3a<sG para que isto pare*a mais certo, tire-l(e tudo quanto levar consigo >aicom tr"s (omensG os outros ficar+o em min(a escolta

9ascari encol(eu os ombros e retirou-se, saudando servilmente

 7s ruas de Mápoles n+o eram, naqueles tempos, t+o seguras como os+o (o)e, e as carruagens eram menos caras e mais necessárias

= ve<culo que a atri' costumava tomar para regressar para casa (aviadesaparecido

Jianetta, demasiada acautelada para com a bele'a da sua ama, etemendo o enxame de admiradores que a importunariam, alarmou-se K idéiade terem que se retirar a pé, e comunicou esta inconveni"ncia K Jlyndon,

este, ent+o, pediu a >iola, que recuperava pouco a pouco, as for*as, queaceitasse a sua carruagem

 7ntes daquela noite, talve' a atri' tivesse aceitado este pequenoobséquioG agora, porém, por um outro motivo, (avia-o recusadoJlyndon,sentindo-se ofendido, retirou-se com mau (umor, quando Jianetta o deteve,di'endo em tom lison)eiro F

- 2ique, sen(orG a sen(orita n+o está bemG - n+o se aborre*a com elaGeu farei com que ela aceite a sua ofertaJlyndon ficou, e depois de algunsinstantes de discuss+o entre Jianetta e >iola, esta concluiu por aceitar a

oferta do )ovem

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 7 anci+ e a atri' subiram para a carruagem, deixando Jlyndon K portado teatro para que regressasse, a pé, K sua casa

Maquele instante, apresentou-se, de repente, K mente do !ngl"s amisteriosa advert"ncia de Zanoni, que ele (avia esquecido nos momentos do

seu ressentimento contra >iola

 7gora, )ulgando ser prudente precaver-se de um perigo anunciado porlábios t+o misteriosos, ol(ou em redor de si para ver se descobriria algumcon(ecido

= p5blico sa<a do teatro, aos encontr6es, e o )ovem, em toda aquelacompacta multid+o, n+o pIde distinguir nem um semblante amigo

?nquanto permanecia no mesmo local, sem saber que fa'er, ouviu avo' de 9ervale, que o c(amava, e observou com pra'er que o seu amigo

abria camin(o por entre o povo, para c(egar até ele

- ?u l(e reservei um lugar na carruagem do Donde Detoxa,- disse9ervale - >en(a comigo, o Donde está K nossa espera

- Domo é gentil Domo soube que eu me encontrava aqui

- ?ncontrei Zanoni no corredor, - respondeu 9ervale, - e ele medisse F := seu amigo está fora da porta do teatroG n+o deixe que regresse Ksua casa a pé, esta noiteG as ruas de Mápoles nem sempre oferecemseguran*a; !mediatamente me lembrei de que alguns dos :bravos;Dalabreses (aviam tido bastante que fa'er nas ruas da cidade, nas 5ltimassemanas? encontrando, logo depois Detoxa, concluiu F 9as, ol(e, aqui estáele

 7 c(egada do Donde interrompeu a conversa*+o

?nquanto Jlyndon entrava para a carruagem, viu, pela )anela, quatro(omens que estavam na cal*ada, e que pareciam observá-lo com aten*+o

- Dáspita ?xclamou um deles - 7quele é o !ngl"s

?sta exclama*+o c(egou aos ouvidos de Jlyndon no momento emque a carruagem partia

D(egou em sua casa, sem ter sofrido acidente algum

 7 familiar e cordial intimidade que existe sempre na !tália entre a aia ea crian*a por ela criada, e que A(aEespeare nos apresentou, sem exageroalgum, em :Comeu e 4ulieta;, n+o podia deixar de ser mais estreita do queusualmente, em uma situa*+o t+o desamparada como aquela em que seencontrava a atri' 0rf+

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Jianetta tin(a grande experi"ncia em tudo quanto se referia Ksfraque'as do cora*+oG e quando, tr"s noites antes, ao voltar do teatro, >iolacome*ara a c(orar amargamente, a aia conseguira obter dela a confiss+o deque tornara a encontrar um (omem, que n+o tin(a visto durante dois anos,mas a quem nunca tin(a esquecido, e que este (omem, ai M+o (avia feito a

mais leve demonstra*+o de alegria ao v"-la

Jianetta era incapa' de compreender as vagas e inocentes emo*6esque envolviam esta triste'aG mas as redu'iam todas com a sua rudecompreens+o, a um s0 sentimento F o amor

?, neste assunto, sabia prodigali'ar o consolo e demonstrar asimpatia ?la nunca conseguira saber muitas coisas que se abrigavam nocora*+o de >iola, - porque este cora*+o n+o possu<a palavras para revelartodos os seus segredosG porém, por aquela pequena confian*a que a aiaobtivera, estava pronta a demonstrar a sua compaix+o, n+o reprovando a

 )ovem, mas pondo o seu resumido talento ao seu servi*o

- 8escobriu quem é ele - perguntou >iola, ao ver-se, agora, s0 comJianetta na carruagem

- Aim, é o célebre sen(or Zanoni, que tem transtornado o )u<'o Ktodas as grandes sen(oras de Mápoles 8i'-se que é t+o rico =( 9uitomais rico do que qualquer um dos !ngleses 3orém, n+o tanto como o sen(orJlyndon

- Dale-se - interrompeu a )ovem atri' - Zanoni - M+o me fale mais do!ngl"s

 7 carruagem estava, agora, na parte mais afastada e solitária dacidade, onde estava situada, a casa de >iola

8e repente, parou

Jianetta, um tanto alarmada, abriu a )anela e ol(ou para fora, pálidalu' da Lua, viu que o coc(eiro, arrancado violentamente do seu lugar, (aviasido sub)ugado por dois (omensG a portin(ola foi aberta violentamente e,

diante da atri' e sua aia, apareceu um (omem de elevada estatura,mascarado e envolto em uma capa

- M+o ten(a medo, formosa 3isani, - disse o (omem, comamabilidadeG - ninguém l(e fará mal algum

? agarrando a bela tri' pela cintura, pretendeu tirá-la da carruagemJianetta, porém, n+o ficou inativaG repelindo o agressor com uma for*a que odeixou admirado, exprobrou a sua a*+o, com a viol"ncia do terror

= mascarado deu um salto, a fim de reparar a desordem da sua capa

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- :Dorpo di Bacco ; O1 - exclamou rindoG - a )ovem tem uma terr<veldefensora Luigi Jiovani 7garrem essa vel(a bruxa 8epressa 3or queesperam

O1 Domo cáspita, inter)ei*+o similar a caramba ou val(a-me 8eus

= mascarado retirou-se da portin(ola, aparecendo nela, em seguida,outro (omem, também disfar*ado e ainda mais alto do que o primeiro

- @ranqRili'e-se, >iola 3isani, - disse, em vo' baixa - ?u a porei emseguran*a

?, levantando a sua máscara, deixou ver as nobres fei*6es de Zanoni

- @ranqRili'e-seG n+o diga nada, - acrescentouG - eu a salvarei

? retirou-se, deixando >iola imersa na surpresa, agita*+o e pra'er

avia ali, entre todos, nove (omens mascarados F dois sub)ugavam ococ(eiroG um segurava pelos freios os cavalos da carruagemG o quartocuidava dos cavalos ricamente a)ae'ados S ornado de )0ias T do agressorG tr"soutros além de Zanoni e o que se (avia aproximado primeiramente de >iola1permaneciam um pouco afastados, ao pé de uma carruagem encostada a umlado do camin(o

Zanoni falou com os tr"s 5ltimosG e, depois de ter-l(es apontado oprimeiro mascarado, que era de fato, o 3r<ncipe de OOO, dirigiram-se a este,que ficou surpreendido ao ver que o agarravam por detrás

- @rai*+o - exclamou ele W 2ui tra<do pela min(a pr0pria gente Quesignifica

- 3on(am-no dentro da sua pr0pria carruagem, - disse Zanoni,calmamente - Ae ele resistir, que recaia sobre ele a culpa da sua morte

Zanoni aproximou-se dos que seguravam o coc(eiro

- ?st+o em minoria, e logrados, - disse-l(esG - podem ir reunir-se aoseu amo =s sen(ores s+o tr"s (omens, - n0s somos seis, e estamosarmados dos pés a cabe*a 7grade*am-nos por l(es pouparmos a vidaCetirem-se

=s (omens desapareceram (umil(ados = coc(eiro voltou para o seuposto

- Dorte as correias da carruagem daquela gente e as rédeas dos seuscavalos, - ordenou Zanoni, subindo para o carro que levava >iola, o qualpartiu célere, deixando o vencido raptor em um estado de raiva e

estupefa*+o, imposs<vel de descrever

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- 3ermita-me que l(e explique este mistério, 4ovem - disse Zanoni -?u descobri, n+o importa como, a conspira*+o tramada contra voc", e frustrei-a da seguinte maneira F = cabe*a principal desta trama é um fidalgo que avem perseguindo (á muito tempo em v+o ?le e dois criados seus a espiavamdesde que voc" entrou no teatro, ao passo que outros seis aguardavam no

lugar onde o seu coc(e foi atacadoG eu e cinco criados meus ocupamos o seulugar, e foi assim que o fidalgo nos tomou por seus auxiliares ?u tin(a,previamente, ido ao local aonde aqueles (omens esperavam, e l(es disse queo seu amo n+o precisava dos seus servi*os esta noite ?les me acreditaram ese dispersaram 8epois, fui buscar o meu grupo, que agora deixei atrás ? oresto voc" sabe ? agora estamos K porta da sua casa

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CAPÍTULO III 

:(en most ! winE, t(en do mine eyes best see,2or all t(e day t(ey view t(ings undespectedG

But w(en ! sleep, in dreams t(ey looE on t(ee, 7nd, darEly brig(t, are brig(t la darE directed;

A(aEespeare

:Quando fec(o os meus ol(os o mais poss<vel, v"em mel(orGporquetodo o dia enxergam coisas que n+o me prendem a aten*+o,porém, quandodurmo, avistam em son(os, e, bril(ando no escuro,s+o como lu'es dirigidasatravés da escurid+o;

Zanoni acompan(ou a )ovem K sua casa

Jianetta foi-se Ks suas ocupa*6es, e os dois ficaram a s0s

?stavam naquele quarto onde t+o freqRentemente, em dias outroramais feli'es, ouviam-se as estran(as melodias de 3isaniG e agora, que a )ovem via ali ao seu lado esse misterioso, incompreens<vel, belo e valenteestrangeiro, no mesmo lugar onde ela se sentara tantas ve'es aos pés do seupaium estran(o estremecimento percorreu todo o seu corpoG e, como a suafantasia costumava personificar suas idéias, l(e pareceu que aquela m5sicaespiritual (avia tomado forma e vida, e que esta estava diante dela, nasublime imagem que adotara

>iola sentia-se tomada de uma espécie de torpor, de uma semi-inconsci"ncia

avia tirado a touca e o véuG os seus cabelos, um tanto quantodesordenados, caiam-l(e sobre o colo eb5rneo, descoberto em parte, pelodecote do vestido lágrimas de agradecimento bril(avam-l(e nos formososol(os negros e as suas faces estavam coradas pela emo*+o F nunca o deusda lu' e da m5sica, no meio dos vales da 7rcadia, soube tornar enamoradauma virgem ou uma ninfa mais formosa, quando esse ser imortal adotara uma

forma (umanaZanoni contemplou a artista, com um ol(ar em que a admira*+o

estava mesclada de compaix+o 9urmurou algumas palavras entre dentes, e,depois, dirigindo-se K )ovem, disse-l(e F

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- >iola, eu a salvei de um grande perigoG n+o s0 da desonra, comotalve' da morte = 3r<ncipe de OOO, protegido por um déspota e por umaadministra*+o venal, é um (omem que está acima da Lei ?le é capa' detodos os crimes, porém, no meio das suas paix6es, tem a prud"ncia que l(esugere a sua ambi*+oG se, caindo em suas m+os, voc" n+o quiser se

conformar com a sua desonra, nunca mais voltaria a ver a lu' do mundo, paradescobrir a sua infâmia, e esta ficaria pois, ignorada = poder n+o temcora*+o para o arrependimento, mas possui uma m+o que pode assassinar?u a salvei, >iola 3erguntar-me-ia talve', por qu"

Zanoni calou-se por um instante, e, depois, sorrindo tristemente,prosseguiu F

- Aupon(o que n+o me fará a in)usti*a de pensar que é t+o ego<sta oseu libertador, como aquele que a in)uriou Yrf+, eu n+o l(e falo a linguagemdos seus galanteadoresG eu ten(o compaix+o de ti, e n+o sou insens<vel ao

afeto 3or que corar 3or que tremer a esta palavra Meste momento,enquanto estou falando, leio no seu cora*+o, e n+o ve)o nele nada que possacausar-l(e vergon(a M+o digo que me amaG feli'mente, a imagina*+o podeinteressar-se antes que o cora*+o 9as foi o meu destino fascinar os seusol(os e impressionar a sua imagina*+o Ae for neste momento, o seu(0spede, n+o é sen+o para adverti-la contra o que l(e traria s0 afli*+o, como )á outrora l(e disse que se dispusesse para sofrer grandes pesares Jlyndon,o )ovem !ngl"s, a ama muito, talve' mais do que eu poderia amá-laG e se éverdade que agora n+o é digno de ti s"-lo-á quando a con(ecer mel(or ?lepode ser o seu esposo, e pode levá-lo K sua 3átria, terra livre e feli', o 3a<snatal da sua m+e ?squece-meG aprenda a corresponder ao amor de Jlyndone a merec"-lo, pois, repito-o, com ele será respeitada e ditosa

>iola escutava com silenciosa aten*+o, com emo*+o inexprim<vel, ecom as faces inflamadas, esta estran(a recomenda*+o, e quando Zanoniconcluiu, a )ovem ocultou o rosto entre as m+os e pIs-se a c(orarG e, emboramuitas das palavras desse estrangeiro fossem pronunciadas com o fim de(umil(á-la ou irritá-la, produ'ir indigna*+o ou vergon(a, n+o foram estes ossentimentos que manifestaram suas lágrimas e agitaram o seu cora*+o

 Meste momento, a mul(er se tin(a convertido em meninaG e assim

como uma menina, com todo o seu forte, porém inocente dese)o de seramada, c(ora de natural triste'a ao ver o seu afeto n+o correspondido, -assim, sem ressentimento e sem sentir-se envergon(ada, c(orou >iola

Zanoni contemplava aquela linda cabe*a sacudida pelos solu*os, e,depois de uma dolorosa pausa, aproximou-se mais e disse-l(e, com vo'carin(osa e com um leve sorriso F

- Lembre-se, >iola, de quando l(e disse que devia lutar pela lu',apontando-l(e, como exemplo, aquela frondosa árvore ?u n+o disse queimitasse a mariposa que, pensando voar Ks estrelas, cai queimada pela

c(ama da lâmpada >en(a cá, quero falar-l(e ?ste !ngl"s

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>iola deu um passo para trás, redobrando o seu pranto

- ?ste !ngl"s tem, com pequena diferen*a, a sua idade, e a suaposi*+o n+o é muito mais elevada do que o sua 3ode participar dos seuspensamentos na vida, - e poderá descansar depois, a seu lado, na mesma

tumba ? eu 3orém, este aspecto do futuro n+o vem agora ao casoDonsulte o seu cora*+o, e ac(ará que antes que a min(a imagem viesseinterpor-se em seu camin(o, (avia brotado no seu <ntimo um puro e serenoafeto por esse )ovem, que é seu igual, e que esse sentimento ia converter-seem amor Munca representou em sua imagina*+o um lar em que esse )ovemfosse o seu esposo

- Munca - respondeu >iola, com repentina energiaG -nunca pensei noque di', mas até sinto que o destino n+o me reserva tal coisa

?, erguendo subitamente a cabe*a, fixou seus ol(os em Zanoni

- =( Quem quer que voc" se)a, que quer ler em min(a alma epenetrar no meu porvir, n+o equivoque sobre o sentimento que que

>iola titubeou um instante, e, em seguida, abaixando a cabe*a,acrescentou F

- Que redu'iu, como por fascina*+o, os meus pensamentos a um s0 -voc" M+o pense que eu pudesse alimentar um amor n+o procurado e n+ocorrespondido ?strangeiro, o que sinto por voc", n+o é amor 3or que deveriaeu amá-lo Munca me falou sen+o para advertir e admoestar-me, e agorapara magoar-me

 7qui, >iola calou-se, sentindo faltar-l(e a vo'G as lágrimas tremiam emsuas pálpebrasG a )ovem enxugou-as e prosseguiu F

- M+o, n+o é amor o que sinto se o amor é tal como me t"m pintado,tal como ten(o lido que é, e tal como ten(o procurado imitá-lo no teatro =que sinto é uma espécie de afeto respeitoso e c(eio de temorG parece-me queé uma atra*+o sobrenatural que me impele para sua pessoa, associando-acom imagens que me encantam e me assustam ao mesmo tempo 4ulga que,

se fosse amor, eu poderia agora l(e falar assim - disse levantando derepente os seus ol(os para buscar o dele, - que os meus ol(os se atreveriama buscar e encontrar os seus ?strangeiro, Ks ve'es s0 alme)o v"-lo e ouvi-lo M+o me fale dos demais 7dvirta-me, censure-me, torture o meu cora*+o,re)eite a gratid+o que min(a alma l(e oferece, se assim o entender 3orém,n+o se apresente sempre diante de mim como um presságio de triste'a, e dedesgra*a 7lgumas ve'es, em meus son(os, vi-o debaixo de uma forma muitodiferenteG em uma forma c(eia de gl0ria e de lu'G e em seus ol(os radianteslia uma alegria celestial que n+o ve)o agora ?strangeiro, voc" me salvou, eeu vo-lo agrade*o de cora*+o, e o bendigo Ce)eita também esta(omenagem

 7o di'er isso, >iola cru'ou os bra*os (umildemente sobre o peito, einclinou-se profundamente diante dele

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?ste ato de (umildade n+o era servil nem indigno de uma mul(erG n+oera a (umildade de uma apaixonada para com o seu amante, nem a de umaescrava para com o seu sen(or F - era o respeito de uma crian*a para com oseu protetor, a (umildade de ne0fita para com o seu sacerdote

= ol(ar de Zanoni era triste e pensativo

=s seus ol(os fixaram-se na )ovem com uma estran(a express+o debondade, de triste'a e de ternuraG sem embargo, os seus lábios revelaramcerta austeridade, e a sua vo' era fria, quando respondeu F

- Aabe o que pede, >iola Aabe o perigo que corre, que corremos,talve', ambos Aabe que a min(a vida, separada da vida turbulenta damultid+o (umana, está redu'ida a adorar o Belo, e que desta adora*+oprocuro banir aquilo que o Belo inspira nos demais ?vito sempre, como umacalamidade, o que parece ser a felicidade maior dos (omens, - o amor das

fil(as da terra 7gora posso adverti-la e preservá-la de muitos perigosG teria euo mesmo poder se pretender algo mais de ti M+o me compreende porém, oque l(e digo ainda, será mais fácil de compreender-se Quero que apague amin(a imagem do seu cora*+o e que n+o pense mais em mim, a n+o sercomo em um (omem que, como di' o seu 2uturo, deve evitar Ae aceitar as(omenagens de Jlyndon, ele a amará até que a tumba se cerre sobre ambos?u também - acrescentou com emo*+o - eu também poderia amá-la

- >oc" - exclamou >iola, com a veem"ncia de um repentino impulsode alegria e de pra'er que n+o pIde reprimirG porém, um momento depois, a )ovem teria dado todo o mundo se pudesse retirar essa exclama*+o

- Aim, >iola, eu poderia amá-laG porém, quantos sofrimentos equantas mudan*as trariam este amor 7 flor comunica a sua fragrância Kroc(a sobre cu)o cora*+o cresceG em pouco tempo, a flor morre, porém aroc(a subsiste, - desafiando a neve e a lu' do Aol no seu cume M+o seprecipite, medite bem = perigo ainda a rodeia 3or alguns dias, voc" se verálivre do seu cruel perseguidorG porém, em breve, virá a (ora que s0 a fugapoderá salvá-la Ae o !ngl"s a ama de um modo digno, a sua (onra l(e serát+o cara como a sua pr0priaG se n+o existem ainda outras terras onde o amoré mais verdadeiro e onde a virtude está menos exposta K cobi*a e K viol"ncia

 7deus 8o meu pr0prio destino e do meu futuro n+o posso prever sen+onuvens e sombras ?ntretanto, sei que tornaremos a nos verG porém,compreenda antes, que (á terrenos mais suaves e mais vivificantes, doce flor,do que a roc(a a que me referi

 7o di'er isto, dirigiu-se Zanoni para onde estava a discreta Jianetta, etocando-l(e suavemente no bra*o, disse, com o alegre acento de umcaval(eiro )ocoso F

- = sen(or Jlyndon galanteia a sua ama, e pode vir a ser o seuesposo ?u sei que ama muito a sen(orita 8esengane-a, se manifestar algum

capric(o por mimG pois eu sou qual ave erradia S desnorteada T que n+o pára,que n+o tem pouso certo

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? colocando uma bolsin(a com din(eiro nas m+os de Jianetta,deixou a casa da artista

CAPÍTULO IV 

:Les !ntelligences Délestes se font voir, et se communiquent plusvolontiers,dans le silence et dans la tranquillité de la solitude =n aura doncune petite c(ambre ou un cabinet secret, etc;

Les Dlavicules de Cabbi Aalomon, c(ap \G traduites exactement dutexte ebreu,par 9 3ierre 9orissoneau

:7s !ntelig"ncias Delestes se manifestam e se comunicam de

prefer"ncia no sil"ncio e na tranqRilidade da solid+o H necessário, pois, umpequeno quarto ou um gabinete secreto, etc;

= palácio que (abitava Zanoni estava situado em um dos bairrosmenos freqRentados da cidade 7inda (o)e podem se ver as suas ru<nas,monumentos de esplendor pertencentes a uma época de caval(eirismo,desterrado desde muito tempo de Mápoles, )unto com as altivas ra*asMormanda e ?span(ola

Quando Zanoni entrou em seus aposentos particulares, dois indus,vestidos com tra)e do seu 3a<s, receberam-no K porta, com as gravessauda*6es =rientais

?stes (omens (aviam vindo com Zanoni de terras long<nquas, onde,segundo di'iam os boatos, tin(a vivido muitos anos

9as estes indus estavam impossibilitados de poder satisfa'er acuriosidade que despertavam e )ustificar alguma suspeita, porque n+ofalavam outro idioma além da sua l<ngua materna

 7lém destes dois, a régia comitiva de Zanoni era composta deservidores, escol(idos entre a gente de Mápoles, os quais a sua esplendidagenerosidade, unida ao caráter imperioso, convertia em submissos escravosque o obedeciam fielmente

Mem no interior da sua casa, nem em seus costumes, o quantopodiam ser observados, n+o (avia nada que pudesse )ustificar os boatos quea respeito de Zanoni circulam pela cidade

M+o era servido, como disseram outrora, de 7lberto 9agno e dogrande Leonardo da >inci, por formas aéreasG e nen(uma imagem de bron'e,

inven*+o de mecanismo mágico, l(e comunicava as influ"ncias das estrelas

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@ambém n+o se via em seus quartos nem o crisol, nem os metais,nem aparel(os de 7lquimista, dos quais pudesse dedu'ir-se a sua rique'aGnem parecia ocupar-se com esses sérios estudos que podiam comunicar asua conversa*+o Ks no*6es abstratas e o profundo saber que Ks ve'esmanifestava

?m seus momentos de solid+o, n+o consultava nunca os seus livrosGe, se em outro tempo tirava deles os vastos con(ecimentos que possu<a,agora s0 estudava na imensa página da Mature'aG a sua ampla e admirávelmem0ria supria o demais

Dontudo, (avia uma exce*+o em todos estes (ábitos e ocupa*6escomuns, a qual, segundo a autoridade cu)o nome e cu)as palavras citamos noprinc<pio deste cap<tulo, indicaria o cultor das ci"ncias ocultas

2osse em Coma, ou em Mápoles, ou em qualquer parte onde

residisse, Zanoni escol(ia um quarto separado do resto da casa, e fec(ava-ocom um cadeado, pouco maior do que o selo de um anel, e que, n+oobstante, bastava para burlar os mais engen(osos instrumentos deserral(eiroG como sucedeu, em uma ocasi+o, a um dos seus criados, que,estimulado pela curiosidade, (avia tentado, mas em v+o, saber o que seenfec(ava no dito quartoG esse (omem (avia escol(ido o momento maisfavorável para que a tentativa ficasse ignorada e secreta, em uma (ora danoite, em que n+o (avia viva alma ao seu redor, e quando Zanoni estavaausente

= caso, porém, é que a sua supersti*+o ou a sua consci"ncia, l(eadvertiu o motivo pelo qual, no dia seguinte, o mordomo calmamente odespediu

= criado, para compensar-se desta desgra*a, divulgou a sua est0ria,acrescentando mil divertidas exagera*6es

8eclarava que, ao aproximar-se da porta, se viu repelido por m+osinvis<veis, e que apenas tocou o cadeado, caiu ao c(+o, como ferido deparalisia

Pm cirurgi+o que ouvira esta est0ria observou com desgosto doscrédulos admiradores de milagres, que talve' Zanoni empregava (abilmente aeletricidade

2osse como fosse, naquele quarto, (ermeticamente fec(ado, n+oentrava ninguém mais que Zanoni

 7 solene vo' do @empo, provinda da igre)a vi'in(a, veio tirar da suaprofunda e tranqRila medita*+o, o sen(or do palácio, medita*+o que maisparecia um "xtase

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- H mais um gr+o, escapado do rel0gio de areia, - murmurou oestrangeiro, - e, sem embargo, o S#_T tempo nem dá nem tira um átomo aoinfinito 7lma da min(a 7lma, 7ugo"ides, Aer luminoso, por que desces datua esfera 3or que abandonas a tua eterna, radiante e serena mans+o,inacess<vel Ks paix6es, e te transportas K obscuridade do negro sepulcro

Quanto tempo (abitaste contente em tua ma)estosa solid+o, sabendo muitobem que o nosso afeto pelas coisas que morrem n+o nos tra' mais quetriste'a

?nquanto Zanoni murmurava estas palavras, uma das primeiras avesmatutinas que sa5dam a vinda da aurora, come*ou a gor)ear alegrementeentre as laran)eiras do )ardim que (aviam debaixo da )anela do estrangeiro

 8e repente, outro canto respondeu ao primeiroG era a compan(eirada primeira ave, despertada pelo gor)eio desta, que l(e enviava a sua doceresposta

Zanoni pIs-se a escutar, e n+o ouviu a vo' do esp<rito a quemperguntara, mas, em ve' dele, respondeu-l(e o cora*+o

Levantando-se ent+o, come*ou a andar, a passos largos, pelo estreitoquarto

- 2ora deste mundo - exclamou por fim, com impaci"ncia

- M+o poderá o tempo romper seus fatais la*os 7 atra*+o que liga aalma K terra, é igual K atra*+o que segura a terra no espa*o 8eixa, 0 min(aalma, este obscuro planeta Compe as cadeias 7gita as asas

?, ao di'er isto, Zanoni, atravessando as silenciosas galerias, subiu aescada que condu'ia ao quarto secreto, e desapareceu

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CAPÍTULO V 

:! and my fellows 7re ministers of 2ate;@(e @empest

?u e os meus compan(eiros, somos ministros do 8estino;

 7 @empestade

Mo dia seguinte, Jlyndon encamin(ou-se para o palácio deZanoni

 7 imagina*+o do )ovem, naturalmente impressionável, estavasingularmente excitada pelo pouco que tin(a visto e ouvido a respeito desteestran(o (omemG um encanto que o !ngl"s n+o podia explicar nem dominar,impelia-o para o estrangeiro

= 3oder de Zanoni parecia ser misterioso e grandeG as suasmaneiras, conquanto ordinariamente fossem amáveis e benévolas, tornavam-se algumas ve'es frias e insociáveis

3orque aquele (omem, por uma parte, repelia a ami'ade de Jlyndon,e por outra parte, o salvar de um perigo

Domo (avia descoberto Zanoni alguns inimigos que aquele )ovemignorava ter

?ste fato, avivando duplamente o seu interesse e despertando a suagratid+o, fe' com que Jlyndon se resolvesse a tentar um novo esfor*o paracaptar a ami'ade do áspero botânico

Jlyndon foi introdu'ido em uma vasta sala, aonde Zanoni, em poucosminutos, veio receb"-lo

- >en(o agradecer-l(e pelo seu aviso da noite passada, - disse o )ovem, - e pedir-l(e o favor de informar-me em que bairro da cidade é que meamea*a o perigo de que falou

- Pm )ovem insinuante, - respondeu Zanoni, com um sorriso, e falando!ngl"s - e con(ece t+o pouco o Aul para ignorar que os (omens assim t"msempre rivais

- 2ala seriamente - perguntou Jlyndon, corando

- 9uito seriamente, - respondeu Zanoni - ama >iola 3isani, e temcomo rival um dos mais poderosos e implacáveis pr<ncipes Mapolitanos =perigo que o amea*a é, realmente, grande

- 9as, perdoe-me F como pIde descobri-lo

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- Que l(e importa como o descobri - replicou Zanoni, com altive'G -de resto, para mim é indiferente que despre'e ou n+o a min(a advert"ncia

- BemG se n+o posso perguntar-l(e, se)a assimG porém, ao menos,aconsel(e-me o que devo fa'er

- Aeguirá o meu consel(o

- 3or que n+o

- 3orque é naturalmente valente, ama as emo*6es e os mistérios, egosta de representar o papel de (er0i de um romance Ae eu o aconsel(arque deixe Mápoles, fa-lo-á, durante todo o tempo que esta cidade l(e ofere*aum inimigo com quem n+o pode medir for*as, ou uma mul(er amada que querconquistar

- @em ra'+o, - respondeu o )ovem !ngl"s, com energia M+o ?supon(o que n+o me censurará por esta resolu*+o

- 3orém, n+o l(e resta outro camin(o 7ma deveras a bela 3isani Aeassim é, case-se com ela e leve- a para o seu 3a<s natal

- M+o, - respondeu Jlyndon, embara*adoG - >iola n+o é da min(aclasseG além disso, a sua profiss+o ?nfim, eu me sinto escravi'ado pela suabele'a, mas n+o posso casar-me com ela

Zanoni fran'iu as sobrancel(as e retrucou F

- ?nt+o o seu amor n+o passa de uma paix+o ego<sta e indigna4ovem, o destino é menos inexorável do que parece =s recursos do grandeAen(or do Pniverso n+o s+o t+o escassos nem t+o duros, que ele negue aos(omens o privilégio divino do livre arb<trioG todos n0s podemos tra*ar o nossopr0prio camin(o, e 8eus pode fa'er com que até as nossas contradi*6es se(armoni'em com =s seus fins solenes 7presentar-l(e-á uma ocasi+o deescol(er Pm amor nobre e generoso pode produ'ir sua felicidade e salvá-loGuma paix+o frenética e ego<sta n+o faria mais do que levá-lo K miséria e Kdesgra*a

- 3retende, ent+o, ler o futuro

- ?u disse tudo o que pretendia di'er

- >e)o que é um grande moralista, sen(or Zanoni, - disse Jlyndon,sorrindoG - mas, diga-me F é t+o indiferente K )uventude e K bele'a, que possaresistir estoicamente aos seus afagos

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- Ae fosse necessário a)ustar a prática ao preceito, - respondeu Zanoni,com um sorriso amargo, - ter<amos bem poucos consel(eiros 7 conduta deum indiv<duo pode afetar somente um pequeno c<rculo fora deleG e o bem ou omal permanente que fa' aos demais, está, mais do que em outra coisa, nossentimentos que difunde 7s suas a*6es s+o limitadas e momentâneasG ao

passo que seus sentimentos podem atravessar o universo e inspirar asgera*6es até ao fim do mundo @odas as nossas virtudes e todas as nossasLeis foram tiradas de livros e de máximas, isto é, de sentimentos, e n+o dea*6es ?m sua conduta, 4uliano teve as virtudes de um Drist+o e Donstantinoos v<cios de alguns pag+os =s sentimentos de 4uliano fi'eram voltar mil(aresde pessoas ao paganismoG os sentimentos de Donstantino a)udaram, debaixoda vontade do Déu, a converter ao cristianismo as Ma*6es da terra ?m suaconduta, o mais (umilde pescador daquela praia, que cr" nos milagres deA+o 4anuário, pode ser um (omem mel(or do que LuteroG n+o obstante,Lutero produ'iu urna Cevolu*+o nas idéias da ?uropa moderna, devido aosseus pensamentos e sentimentos 7s nossas opini6es, )ovem !ngl"s formam

em n0s a parte angélica, e nossas a*6es a parte terrestre

- 3ara ser !taliano, tem refletido muito profundamente

- Quem l(e disse que eu sou !taliano

- ?nt+o n+o é ?, sem embargo, quando o ou*o falar o meu pr0prioidioma natal como poderia falá- lo s0 um !ngl"s quase

- Ba - interrompeu Zanoni, com certa impaci"ncia

? depois de alguns momentos de sil"ncio, prosseguiu com afabilidade F

- Aen(or Jlyndon, renuncia a >iola 3isani Quer alguns dias pararefletir sobre o que l(e disse

- Cenunciar a ela Munca

- ?nt+o vaise casar com ela - !mposs<vel

- Ae)a, poisG será ela quem renunciará 8igo-l(e outra ve' que t"m

rivais- Aim, o 3r<ncipe de OOOG porém, n+o o temo- @em um outro, muito mais terr<vel- ? quem é - ?u mesmo

Jlyndon empalideceu e levantou-se da cadeira

- = sen(or Zanoni ? atreve a di'er

- 7trever-me 7( á ocasi6es em que eu dese)aria ter medo

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?stas palavras altivas foram ditas sem arrogânciaG o tom da vo' deZanoni era triste e melanc0lico

Jlyndon, apesar de sentir o cora*+o c(eio de ira, permaneceu, poralguns instantes, confuso e como que aterrori'ado

?ntretanto, como possu<sse um valente cora*+o, recobrou prontamentea serenidade

- Aen(or, - disse ele, calmamente, - n+o me deixo iludir com essasfrases solenes e com essas coisas m<sticas que a si se atribui H poss<vel queten(a poderes que eu n+o compreenda, nem poderia imitar, ou talve' n+ose)a mais que um astuto impostor

- Bem, continue

- Quero di'er, pois, - prosseguiu Jlyndon, com resolu*+o, ainda queum tanto desconcertado - quero fa'er-l(e compreender que n+o me deixoconvencer ou obrigar por um estrangeiro, a casar-me com >iola 3isani, e que,n+o obstante, n+o me sinto inclinado a ced"-la tranqRilamente a outrem

Zanoni dirigiu um ol(ar sério ao )ovem, cu)os ol(os bril(antes e facesafogueadas manifestavam claramente que estava resolvido a sustentar apalavra

- @+o animado se sente - perguntou-l(e a estran(a personagem

 - ?stá bem 3orém, aceite o meu aviso F aguarde ainda nove dias, eent+o me dirá se quer ou n+o se casar com a criatura mais formosa e maispura que encontrou neste mundo

- 9as, se voc" a ama por que por que

- 3orque dese)o que ela se case com outro 3orque quero desviá-lade mim ?scute-me ?sta menina, embora se)a (umilde e de modestaeduca*+o, possui todos os dons que podem elevá-la Ks mais altas qualidadese Ks mais sublimes virtudes ?la pode ser tudo quanto se)a poss<vel para o

(omem a quem ame, tudo quanto o (omem pode dese)ar em uma mul(er 7sua alma, desenvolvida pelo afeto, elevará a suaG terá notável influ"ncia sobrea sua fortuna, engrandecerá o seu destino, c(egará a ser um grande (omeme feli' Ae, ao contrário, >iola for min(a, n+o seio que será delaG mas sei queexiste uma prova pela qual poucos podem passar, uma prova K qual, atéagora, n+o sobreviveu mul(er alguma

?nquanto Zanoni pronunciava estas palavras, a sua face tornou-sepálida, e (avia em sua vo' algo que gelou o sangue do )ovem que o escutava

- Qual é, pois, este mistério que vos rodeia - exclamou Jlyndon,

incapa' de reprimir a sua emo*+o

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- >oc" é efetivamente diferente dos demais (omens @em passadoalém do limite da ci"ncia oficial ?, como alguns asseveram, um feiticeiro, ousomente um

- Ail"ncio - interrompeu Zanoni afavelmente e com um sorriso que

expressava uma singular e melanc0lica do*uraG - creio que n+o adquiriu odireito de fa'er-me estas perguntas ?mbora (a)a na !tália ainda umaIn*uisi70o, o seu poder é t+o débil como o de uma fol(a que o primeiro soprode vento leva quem sabe onde =s dias de tortura e de persegui*+o )á seforamG e o (omem pode viver como l(e agrada e falar o que quiser, sem quedeva temer a fogueira e a roda ? visto que posso desafiar a persegui*+o,perdoe se n+o cedo K curiosidade

Jlyndon levantou-se 7pesar do seu amor por >iola, e apesar do temornatural que l(e infundira um rival como Zanoni, o )ovem se sentiairresistivelmente atra<do para o (omem do qual s0 tin(a motivos para

suspeitar e temer ?le estendeu a m+o a Zanoni, di'endo-l(e F

- BemG se tivermos que ser rivais, as espadas decidir+o a nossa sorteGmas até lá eu dese)aria que fIssemos amigos

- 7migos M+o sabe o que está pedindo

- =utra ve' enigmas

- ?nigmas - exclamou Zanoni, com exalta*+o

- 7( Ae sente capa' de resolv"-los A0 quando voc" puder, podereidar-l(e a min(a m+o direita e c(amar-l(e meu amigo

- ?u seria capa' de tudo, para alcan*ar a sabedoria super-(umana, -afirmou Jlyndon

? o seu semblante bril(ou com o fogo de um estran(o e intensoentusiasmo

 7s sementes do antepassado vivem no )ovem, - murmurou Zanoni G -

ele talve' possa porém?, tirando-se da sua medita*+o, disse em vo' alta F

- >á, Ar JlyndonG tornaremos a ver-nosG mas eu n+o l(e pedirei aresposta sen+o quando se aproximar- a (ora da decis+o

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CAPÍTULO VI 

:!t is certain t(at t(is man (as an estate of fifty t(ousand liversandseems to be a person of very great accomplis(ments

But, t(en, if is a wi'ard are wi'ards so devoutly given, as t(is manseems to be

!n s(ort, ! could maEe neit(er (ead nor tail on it;

@(e Dount of DabalisG translation affixed to t(e second edition of t(e:Cape of t(e LocE;

:H certo que este (omem possui bens no valor de cinqRenta milfrancos,e parece ser uma pessoa de muito talento 9as ent+o, se ele é um

feiticeiro, demonstram os feiticeiros tanta devo*+o como este (omem pareceter ?m breves palavras, eu n+o compreendo tudo isto;

8e todas as fraque'as que s+o ob)etos de burlas por parte dos(omens de escassa intelig"ncia, nen(uma é por eles mais ridiculari'ada doque a credulidade

? de todos os sinais de um cora*+o corrompido e de uma intelig"nciacurta, a tend"ncia K incredulidade é o sinal mais seguro

 7 verdadeira 2ilosofia prefere antes tentar resolver o problema, aoinvés de negá-lo

?nquanto ouvimos, diariamente, os pequenos pedantes quepretendem ser (omens de ci"ncia, falarem dos absurdos da 7lquimia e doson(o da 3edra filosofal, outros (omens mais eruditos confessam que asmaiores descobertas cient<ficas se devem aos 7lquimistas, e que muitossegredos poderiam ser ainda decifrados, se possu<ssemos a c(ave da m<sticafraseologia que os 7lquimistas se viam obrigados a empregar e cu)ocon(ecimento nos abriria o camin(o para aquisi*6es ainda mais preciosas

3ara alguns dos mais notáveis qu<micos do nosso Aéculo, a 3edra2ilosofal, n+o pareceu ser uma ilus+o quimérica

H verdade que o (omem n+o pode contrariar as Leis da Mature'aGporém, podemos di'er que todas as Leis da Mature'a )á foram descobertas

- 8"-me uma prova da sua arte, - di' todo o investigador racional

- Quando eu tiver visto o efeito, esfor*ar-me-ei, )untamente consigo,para verificar as causas

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Quando Dlar"ncio Jlyndon se separou de Zanoni, um dos seusprimeiros pensamentos foi recordar- se dos efeitos que testemun(ara

9as Jlyndon n+o era um :investigador racional;

Quanto mais vaga e misteriosa era a linguagem de Zanoni, tantomaior impress+o fa'ia nele

Pma prova teria sido para ele uma coisa tang<vel, K qual teriaprocurado agarrar-seG e ac(ar o sobrenatural redu'ido K Mature'a, n+o teriasido mais do que uma desilus+o para a sua curiosidade

 [s ve'es, se esfor*ava, mas em v+o, por libertar-se da suacredulidade e abra*ar o ceticismo que invocava, para reconciliar o que ouvira,com os prováveis motivos e des<gnios de um impostor

3orém Zanoni, quaisquer que fossem as suas pretens6es, n+o fa'iados seus poderes, como 9esmer e Dagliostro, um ob)eto de especula*+o oufonte de ganânciaG nem era Jlyndon (omem cu)a posi*+o pudesse sugerir aidéia de impressionar a sua imagina*+o para fa'"-lo servir de instrumento aseus pro)etos, fossem este de avare'a ou de ambi*+o

M+o obstante, de ve' em quando, com a suspeita que é pr0pria Kgeneralidade dos (omens n+o espirituali'ados, o )ovem tentava persuadir-sede que Zanoni agia, ao menos, sinistramente, indu'indo-o ao que o seuorgul(o !ngl"s e sua maneira de pensar consideravam um aviltamento F - ocasamento com a pobre atri'

M+o podia existir algum acordo secreto entre >iola e o 9<stico

M+o seria essa est0ria de profecias e amea*as apenas artif<cios paraenganá-lo

Jlyndon come*ou a sentir um vago ressenti mento para com >iola,por ter-se aliado a tal pessoaG ressentimento ao qual se mesclava um naturalci5me

Zanoni o amea*ava com sua rivalidadeZanoni, que, quaisquer que fossem o seu caráter e as suas artes,

possu<a ao menos todos os atributos externos que deslumbram e dominam

@orturado pelo aguil(+o da d5vida, Jlyndon procurou distrair-se,freqRentando, mais do que antes, os amigos que (avia adquirido em Mápoles,principalmente artistas, como ele, literatos e ricos comerciantes que, se n+ogo'avam dos privilégios da nobre'a, competiam com ela em esplendor

?ntre estes amigos, falava-se muito de Zanoni, o qual, n+o s0 para

eles, como para os ociosos em geral, era um ob)eto de curiosidade econ)eturas

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Jlyndon observou, como uma coisa notável, que Zanoni (avia faladocom ele em !ngl"s mane)ando este idioma com tanta perfei*+o, que poderiabem passar por um compatriota seu

3or outra parte, Zanoni falava o !taliano com igual pure'aG e o mesmo

sucedia com outros idiomas, pouco estudados por estrangeiros

Pm pintor Aueco, que tin(a falado com ele, afirmava que era fil(o daAuéciaG e um comerciante de Donstantinopla, que tin(a vendido alguns dosseus g"neros a Zanoni, era de parecer que somente um @urco, ou, ao menos,uma pessoa nascida no =riente podia possuir t+o perfeitamente a suaveentona*+o =riental

?ntretanto, em todos estes idiomas, quando os comparavam, notava-se uma diferen*a apenas percept<vel, n+o na pron5ncia, nem no acento, masna c(ave e no som da vo' que o distinguia do natural do 3a<s cu)o idioma

falava

?sta faculdade, segundo Jlyndon pIde recordar-se, era a quepossu<a uma seita, cu)os dogmas e poderes n+o puderam nunca seremcon(ecidos sen+o parcialmente, e que se c(amava Rosa8#ru)

= )ovem !ngl"s lembrava-se de ter ouvido falar, na S##T 7leman(a, daobra de 4o+o Bringeret, na qual se assegurava que os membros daverdadeira 2raternidade da Cosa-Dru' con(eciam todas as l<nguas da terra

3ertenceria Zanoni a esta m<stica 2raternidade que, desde temposremot<ssimos, se gabava de possuir segredos, entre os quais, o da 3edra2ilosofal era o mais insignificanteG que se considerava (erdeira de tudo o queos Daldeus, os 9agos, os Jinosofistas e os 3latInicos (aviam ensinado, eque diferia de todos os tenebrosos 2il(os da 9agia pelas virtudes da sua vida,pela pure'a das doutrinas, por sua insist"ncia, como base de toda asabedoria, em sub)ugar os sentidos, e pela intensidade da 2é Celigiosa, - umaseita gloriosa, se n+o mentia

?, com efeito, se Zanoni possu<a poderes que o fa'iam superior Kra*a atual de (omens cient<ficos, parecia que n+o fa'ia mal uso deles

= pouco que se sabia da sua vida, era em seu favor

Ditavam-se dele alguns atos de generosidade e benefic"ncia )ustamente aplicados, que deixavam surpreendidos os que ouviram referi-los,ao ver que um estrangeiro se ac(ava t+o bem informado sobre as obscuras eignoradas necessidades que socorreras

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 7lgumas pessoas, que ele (avia visitado quando )á estavamdesenganadas e abandonadas pelos médicos, recuperaram ent+o a sa5de,ignorando totalmente, com quais remédios foram curadas M+o podiam di'ersen+o que receberam a visita da estran(a personagem e que esta as deixaracuradasG geralmente, porém, antes do seu restabelecimento experimentaram

um sono profundo

Pma curiosa circunstância come*ou a ser notada e que também veiodepor em favor desse (omem 7s pessoas com as quais costumava reunir-se,- os )ovens alegres, os pr0digos, os levianos, os transviados da classe maispolida da Aociedade, - todos se encontravam, dentro em pouco,transformados, sem eles mesmos sentirem, despertando-se nelespensamentos mais puros e uma tend"ncia a reformar seus costumes

 7té Detoxa, o pr<ncipe dos galanteadores, dos duelistas e dos )ogadores, n+o era mais o mesmo (omem, desde a noite das singulares

aventuras que referira a Jlyndon

= primeiro passo para a sua transforma*+o foi retirar-se do )ogoG osegundo, a sua reconcilia*+o com um inimigo (ereditário da sua fam<lia, - aoqual, por espa*o de seis anos, (avia provocado sempre, quando se l(eoferecia ocasi+o, para ver se podia ensaiar com ele sua inimitável manobrada estocada

? quando Detoxa e seus )ovens compan(eiros falavam de Zanoni,nen(um ind<cio fa'ia suspeitar que esta mudan*a se devera, nem aconsel(os, nem a uma austera admoesta*+o

@odos descreviam Zanoni como um (omem propenso aodivertimentoG de maneiras n+o muito alegres, porém )oviaisG sempre pronto aescutar a conversa*+o dos demais, embora insulsa, ou a encantar os ouvidoscom o seu inesgotável fundo de anedotas bril(antes, e com sua grandeexperi"ncia da Aociedade

@odos os costumes, todas as Ma*6es, todos os graus de (omenspareciam ser-l(e familiares

A0 era reservado nos assuntos que podiam ter rela*+o com o seunascimento ou com a ist0ria da sua vida

 7 opini+o mais geral que se tin(a, da sua origem, parecia a maisplaus<vel

 7 sua rique'a, a sua familiaridade com idiomas =rientais, a suaresid"ncia na ]ndia, certa gravidade que n+o o abandonava nem em seusmomentos de alegria e franque'a, o famoso bril(o dos seus ol(os e cabelospretos, e até as particularidades das suas formas, a delicada pequene' dassuas m+os, e os contornos rabes da sua nobre cabe*a, pareciam designá-locomo pertencente a alguma ra*a =riental

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? um estudante das l<nguas =rientais pretendeu redu'ir o simplesnome de Zanoni, que um Aéculo S#&T antes usara um inofensivo naturalista deBolon(a, Ks radicais da extinta l<ngua caldáica Zan  era o nome que osDaldeus empregavam para designar o Aol

=s Jregos, que mutilavam todos os nomes =rientais, conservaram,neste caso, o nome verdadeiro, como o demonstra a inscri*+o Dretense dosepulcro de Zeus

 Quanto ao resto, o Zan era, entre os Aidonienses, um prefixo n+odesusado de =n

:7donis; n+o era mais do que um segundo nome dado K Zanonas,que, segundo recorda esyc(ius, era muito venerado em Aidonia

9ervale escutou com grande aten*+o esta profunda e erudita

explica*+o, observando que, por sua parte, se atrevia a mencionar umimportante descobrimento que tin(a feito ele mesmo, )á muito tempo antes, eque era o seguinte F que a numerosa fam<lia dos Amit(, na !nglaterra, foraindubitavelmente os antigos sacerdotes de 7polo 2rigio

- 3or que - disse ele - n+o era o sobrenome de 7poio, em 2rigia,Amint(eus ?ste nome sofreu, em seguida, várias corrup*6es ou altera*6es FAmint(eus, Amit(eus, Amit(é, Amit( =bservei também que, nos nossosdias, os ramos mais ilustres desta distinta fam<lia, inconscientementedese)osos de aproximar-se, ao menos por uma letra, do nome verdadeiro,sentem um piedoso pra'er em assinar o seu nome Amit(e

= fil0logo, surpreendido com este descobrimento, pediu K 9ervalepermiss+o para anotá-lo como uma ilustra*+o digna de figurar em uma obraque ia publicar, relativa K origem da linguagem, a qual teria o t<tulo :Babel;, econstaria de tr"s volumes, para cu)a publica*+o pediria as assinaturasadiantadas

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CAPÍTULO VII 

:Learn to be poor in spirit, my son, if you would penetrate t(atsacrednig(t w(ic( environs trut(

Learn of t(e Aages to allow to t(e 8evilsno power in Mature, since t(efatal stone (as s(ut t(em up in t(edept( of t(e abiss

Learn of t(e 3(ilosop(ers always to looE fornatural causes in anextraordinary eventsG and w(en suc(natural causes are wanting, recur toJod;@(e Dount of Jabalis-

 7prende a ser pobre em esp<rito, meu fil(o, se queres penetrar nessanoite sagrada que envolve a verdade

 7prende dos Aábios a n+o conceder aos 8iabos nen(um poder naMature'a, desde que a pedra fatal os encerrou naprofundidade do abismo

 7prende dos 2il0sofos a procurar sempre causas naturais em todosos acontecimentos extraordináriosG e quando faltarem tais causas naturaisrecorre a 8eus;

8epois da idéia que Jlyndon formara de Zanoni, todas estasinforma*6es sobre o estrangeiro e que ouvira nos vários lugares de reuni6ese visitas que freqRentava, n+o l(e agradaram

Maquela noite, >iola n+o representou no teatroG e, no dia seguinte,ainda perturbado por estran(as fantasias, aborrecido da sarcásticacompan(ia da 9ervale, Jlyndon errava, pensativo, pelos )ardins p5blicos,detendo-se por debaixo da árvore onde ouvira, pela primeira ve', a vo' que(avia exercido sobre a sua imagina*+o t+o estran(a influ"ncia

=s )ardins estavam desertos

?le sentou-se K sombra das árvoresG dentro em pouco, quandoabsorto em profundas medita*6es, tornou a experimentar o mesmo tremor frioque Zanoni definira t+o exatamente, atribuindo-l(e uma causa extraordinária

Jlyndon fe' um repentino esfor*o para levantar-se, e ficousobressaltado ao ver sentado ao seu lado, uma pessoa bastante feia, quepodia tomar-se perfeitamente por um desses seres malignos, dos quaisZanoni (avia falado

?ra um (omem de pequena estatura, vestido com um tra)e muitodiferente da moda dominanteG afetava uma rusticidade e pobre'a que se

aproximava do desalin(o

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 7s largas cal*as de tecido grosseiro como a vela de um navio, a )aqueta desconcertada e com alguns rasg6es, os pretos anéis de cabelosemaran(ados, a sa<rem debaixo do gorro de l+, tudo isto formava estran(ocontraste com outras coisas que anunciavam nele um relativo bem estar

 7 camisa, aberta ao pesco*o, estava presa por um broc(e de pedraspreciosas, e duas correntes de ouro maci*o deixavam ver o rid<culo de levardois rel0gios

= aspecto deste (omem, se n+o era de todo repugnante, era poucorecomendável

=s seus ombros eram altos e robustosG o peito parecia comprimidoGas m+os, que n+o levavam luvas, eram grossas, e os dedos, cu)as nodosasarticula*6es revelavam grande for*a, contrastavam com o pulso delgado,como se n+o pertencessem ao mesmo indiv<duo

 7s fei*6es assumiam, Ks ve'es, a dolorosa contratura que se observano semblante de um alei)ado, - eram largas, exageradas, e o nari' quasetocava K barbaG os ol(os eram pequenos, porém bril(avam com o fogo daast5cia quando se fixavam sobre JlyndonG a boca entreaberta deixava verduas fileiras de dentes su)os, cariados e desiguais

? sobre este (orr<vel semblante ainda translu'ia uma espécie deintelig"ncia desagradável, uma express+o de ousadia saga'G a quandoJlyndon, voltando a si de sua surpresa, ol(ou fixamente o seu vi'in(o, corouenvergon(ando-se da impress+o que sentira, e recon(eceu um artista,2ranc"s, que pertencia ao n5mero dos seus con(ecidos, e era possui dor degrande talento

?ra coisa verdadeiramente notável que esta criatura, cu)o exterior eracompletamente desprovido de atrativos, se deleitasse particularmente naspinturas t+o c(eias de ma)estade e grande'a

Donquanto o colorido dos seus quadros fosse duro e sombrio, comoera costume geral da escola francesa daquele tempo, os seus desen(os eramadmiráveis pela (armonia, pela singela elegância e pelo vigor clássico, apesar

de carecerem, Ks ve'es, dessa gra*a requintada e ideal?ste pintor preferia os assuntos que se referiam K (ist0ria Comana,

aos que representavam as bele'as da Jrécia ou Ks sublimes ist0rias daAagrada ?scritura, que inspiraram a Cafael e a 9ic(elângelo

 7 grande'a dos seus desen(os n+o era a dos deuses ou dos santos,porém a dos mortais

 7 bele'a das suas concep*6es era do g"nero que a vista n+o podecensurar, porém que a alma n+o recon(ece

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?m uma palavra, como se di'ia de 8ion<sio, era um :7ntrop0fago;, umpintor de (omens

Motava-se também uma grande contradi*+o neste (omem F ao passoque se entregava com extravagantes excessos a todas as paix6es, tanto ao

0dio como ao amor, sendo implacável na vingan*a e insaciável nadevassid+o, costumava usar frases c(eias dos mais belos sentimentos deexaltada pure'a e genial filantropia

= mundo n+o era bastante bom para eleG este (omem era, valendo-nos de uma frase 7lem+, um :reformador do mundo;

Dontudo, o esgar sarcástico dos seus lábios parecia 'ombar dossentimentos que manifestava, como se quisesse dar a entender que erasuperior até ao mundo que dese)ava construir

?ste pintor estava em <ntima correspond"ncia com os Cepublicanosde 3aris, e era tido por um desses missionários que, desde o primeiro per<ododa Cevolu*+o, os regeneradores do g"nero (umano se compra'iam emenviar aos vários ?stados que ainda gemiam na escravid+o, fosse pela tiraniade um (omem ou pelo despotismo das Leis

Dertamente, como disse um (istoriador !taliano Botta1, n+o (avia, na!tália, nen(uma cidade onde essas novas doutrinas fossem acol(idas commaior fervor do que em Mápoles, um tanto devido ao ardente temperamentodo povo, e principalmente porque os mais odiosos privilégios feudais, emboradiminu<dos alguns anos antes, pelo grande ministro @anucini, ofereciamtantos males na vida prática, que o povo ac(ava mais sedutora a forma daspromessas que fa'ia a Movidade

?ste (omem, a quem c(amaremos 4ean Micot, era, portanto, umaespécie de oráculo para os )ovens de idéias mais exaltadas de MápolesG eantes que Jlyndon con(ecesse Zanoni, n+o era dos que menosdeslumbrados estavam pelas eloqRentes aspira*6es do feio filantropo

- á tanto tempo que n+o nos vemos, :c(er confrre; queridoconfrade1 - disse Micot, aproximando a sua cadeira da de Jlyndon, - que n+o

deve surpreender-se que o ve)a com grande pra'er, e até tomo a liberdade deinterromper as suas medita*6es

- Que eram, por sinal, bem desagradáveis - respondeu JlyndonG omomento n+o podia ser mais asado para interromper-me

- 7legrar-se-á em saber, - continuou Micot, tirando um pacote decartas da algibeira, - que a grande obra marc(a com maravil(osa rapide' 9irabeau faleceu, é verdadeG mas, com os diabos Dada 2ranc"s agora é um9irabeau

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8i'endo isto, Micot pIs-se a ler e comentar vários animados einteressantes t0picos da sua correspond"ncia, onde a palavra :virtude;aparecia vinte e sete ve'es, e nen(uma ve' se falava de 8eus

8epois, entusiasmado pelo bril(ante porvir que se abria K sua vista,

come*ou a entregar-se ao go'o antecipado dessas promessas do futuro, cu)adescri*+o )á ouvimos da extravagante eloqR"ncia de Dondorcet

@odas as vel(as virtudes foram destronadas e substitu<das por outrascom que adornavam o novo 3anteon F o patriotismo era um sentimento muitolimitadoG a filantropia devia substitu<-lo

= 5nico amor digno de animar o peito de um (omem generoso seriaaquele que abra*asse toda a (umanidade, ardendo tanto para a ]ndia e osp0los como para o torr+o natal

 7 opini+o devia ser t+o livre como o arG e, para consegui-lo, eranecessário exterminar todos aqueles, cu)as idéias n+o fossem as mesmasque os do Ar 4ean Micot

9uitas destas coisas divertiam Jlyndon, e muitas l(e repugnavamGporém quando o pintor passou a falar de uma ci"ncia que todoscompreenderiam, e cu)os resultados todos desfrutariam, - uma ci"ncia que,tendo por base a igualdade das institui*6es e de cultura mental, daria K todasas ra*as (umanas rique'a sem trabal(o e uma vida isenta de cuidados edesgostos, mais longa do que a dos patriarcas, - ent+o Jlyndon escutou cominteresse e admira*+o, se bem que com certo desassossego

- =bserve - disse Micot - quantas coisas que (o)e consideramos comovirtude ser+o ent+o re)eitadas como baixe'a =s nossos opressores, porexemplo, nos pregam a excel"ncia da gratid+o Jratid+o 7 confiss+o dainferioridade Que pode (aver mais odioso para um esp<rito nobre do que o(umil(ante sentimento de obriga*+o 3orém, onde (á igualdade, o podern+o conseguirá escravi'ar o mérito = benfeitor e o cliente deixar+oigualmente de existir, e

- ?ntretanto, - disse uma vo' baixa ao seu lado, - e, entretanto, 4ean

Micot =s dois artistas sobressaltaram-se, e Jlyndon recon(eceu Zanoni

?ste fixou a sua vista com severidade sobre Micot, o qual o ol(ava desoslaio, tendo espal(ada no semblante uma express+o de terror

? era ele, Micot, que n+o temia nem a 8eus, nem ao diabo, queestava ali assustado e tremendo K vista de um (omem

- M+o é esta a primeira ve' que ten(o sido testemun(a das suas

opini6es K cerca do nen(um valor da gratid+o - disse Zanoni

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Micot reprimiu uma exclama*+o e, depois de dirigir K Zanoni um ol(arsinistro em que se revelava um 0dio impotente e inexplicável, retrucou F

- M+o o con(e*oG o que quer de mim

- Que se ausente daqui e nos deixe s0s

Micot deu um passo para diante, contraindo os pun(os e apertando osdentes, como um animal fero' enraivecido

Zanoni, sem fa'er o menor movimento, dirigiu-l(e um ol(ar altivoacompan(ado de um sorriso de despre'o

Micot deteve-se de repente ante esse imponente ol(ar que o fe'estremecer da cabe*a aos pés e, em seguida, com um vis<vel esfor*o, comose agisse impelido por uma for*a exterior, foi-se embora

Jlyndon estava positivamente surpreso

- Domo con(ece esse (omem - perguntou-l(e Zanoni

- Don(e*o-o como compan(eiro de arte, - respondeu o )ovem

- 8e :arte; M+o profane esta maravil(osa palavra = que a Mature'aé para 8eus, a arte deveria ser para o (omem, uma cria*+o sublime, benéficae genial ?sse miserável pode ser um pintor, porém n+o um :artista;

- 3or que fala assim dele, sen(or = que é que sabe deste (omem

- Aei o bastante para preveni-lo contra eleG os seus pr0prios lábiosmanifestam a fealdade do seu cora*+o Que necessidade ten(o de di'er-l(eos crimes que cometeu @udo nele fala de crime

- 3arece, sen(or Zanoni, que n+o é um dos admiradores daCevolu*+o que se aproxima @alve' deteste esse (omem porque l(edesagradam suas opini6es

- Que opini6es Jlyndon sentiu-se bastante embara*ado para querer defini-lasG por

fim, disse F

- Aupon(o que, entre todos os (omens, n+o pode estar contra adoutrina que prega o mel(oramento infinito da espécie (umana

- @em ra'+oG os poucos, em cada Aéculo, produ'em o progresso dosmuitosG os muitos podem agora ser t+o sábios como foram os poucosG mas oprogresso fica estacionário, se me di' que agora os muitos s+o t+o sábios

como o s+o os poucos

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- DompreendoG n+o quer admitir a Lei da !gualdade Pniversal

- 7 Lei 7inda que todo o mundo se conspirasse para refor*ar amentira, n+o conseguiriam fa'"-la Lei Mivele todas as condi*6es de (o)e, en+o fará mais que preparar o camin(o para a tirania de aman(+ Pma Ma*+o

que aspira K igualdade é incapa' de go'ar liberdade ?m toda a cria*+o,desde o arcan)o até ao verme, desde o =l<mpo até o seixo, desde o radianteplaneta perfeito até K nebulosa que, através dos Aéculos de névoa eviscosidade, se vai consolidando até tornar-se um mundo (abitável, a primeiraLei da Mature'a é a desigualdade

- 8outrina dura quando se aplica aos ?stados M+o desaparecer+onunca as cruéis desigualdades da vida

- 8esigualdades da vida f<sica =( esperemos que estas simdesaparecer+o 3orém, as desigualdades da vida intelectual e da vida moral,

nunca !gualdade universal da intelig"ncia, de g"nio, de virtude 8eixar omundo sem um mestre Aem um (omem que se)a mais sábio e mel(or doque os outros Ae isto n+o fosse uma coisa imposs<vel, que perspectivadesesperada seria para a (umanidade M+oG enquanto existir o mundo, o Aoliluminará o cume das montan(as sempre primeiro do que a plan<cie 8ifundatodos os con(ecimentos que contém a terra, (o)e, entre a (umanidade, paracada um ter deles por*+o igual K dos outros, e aman(+ )á (averá (omens quesaber+o algo mais do que o resto ? isto n+o é uma Lei dura, mas é uma Leibenéfica, - a verdadeira Lei do progressoG quanto mais sábios s+o os poucosem uma gera*+o, tanto mais sábia será a multid+o na gera*+o vindoura

?nquanto Zanoni assim falava, iam andando pouco a pouco, pelos )ardins rison(os, e o Aol do meio-dia bril(ava na formosa Ba<a

Pma brisa fresca e suave temperava aquela (ora de calor,encrespando a água do marG e, na serenidade da atmosfera, (avia algo quedeliciava os sentidos

 7 alma parecia tornar-se mais leve e mais pura nesse ar l5cido

- ? estes (omens, ao come*arem sua era de mel(oramento e

igualdade, t"m 'elos até do Driador Queriam negar uma intelig"ncia, um8eus - continuou Zanoni, como se falasse involuntariamente - é poss<velque, sendo voc" um artista, e contemplando o mundo, possa prestar ouvido Ksemel(ante dogma ?ntre 8eus e o g"nio existe um elo necessário, - aomenos uma linguagem correspondente 8isse um 3itag0rico Aextus1 F

:Pm bom intelecto é o coro da divindade;

Aurpreendido e admirado destes sentimentos, que n+o esperavaexistirem em um (omem a quem ele atribu<a aqueles poderes que ossupersticiosos atribuem aos que pactuam com o g"nio do mal, Jlyndon

disse F

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- ?, contudo, voc" confessou que a sua vida, separada da vida dosoutros (omens, é de uma espécie que a gente temeria compartil(ar ?xiste,pois, alguma rela*+o entre a magia e a religi+o

- 9agia - exclamou Zanoni - ? o que é a 9agia Quando o via)ante

contempla, na 3érsia, as ru<nas de palácios e de @emplos, os ignorantesmoradores daquelas regi6es l(e di'em que aqueles monumentos foram aobra de magos = vulgo n+o compreende que possa estar legalmente empoder de outros o que está fora do seu pr0prio poder Ae, porém, por magiavoc" entende um perpétuo estudo e pesquisa incansável de tudo o que émais latente e obscuro na Mature'a, respondo-l(e que professo essa magia, eque aquele que fa' o mesmo, aproxima-se mais da fonte de toda a cren*aM+o sabe que se ensinava a magia nas escolas dos antigos 3orém, como epor quem Domo a 5ltima e a S#\T mais solene li*+o, pelos Aacerdotes queserviam no @emplo ? voc", que quer ser um pintor, n+o sabe que existe umamagia também na arte a que se dedica 8epois de longos estudos do Belo

que tem existido, n+o se sente levado a novas e aéreas combina*6es de umabele'a que deverá existir M+o v" que a arte mais sublime, se)a a do poetaou a do pintor, buscando sempre o verdadeiro, aborrece o real Que devetratar a Mature'a como seu sen(or, e n+o como seu escravo 3rocure obtero dom<nio sobre o passado e uma concentra*+o do futuro como o passado >oc" acaricia em sua imagina*+o os seres invis<veisG e que é a pintura, sen+oa arte de dar forma e realidade ao !nvis<vel ?stá descontente com estemundo ?ste mundo nunca foi suficiente para um g"nio 3ara poder existir, og"nio (á de criar um outro mundo Que mais pode fa'er um mago =u, poroutra, que ci"ncia pode fa'er outro tanto á dois camin(os que, daspequenas paix6es e das tristes calamidades da terra, condu'em ao céu e seafastam do infernoG estes camin(os s+o a arte e a ci"ncia 9as a arte é maisdivina do que a ci"ncia, porque a ci "ncia s0 descobre, ao passo que a artecria >oc" possui faculdades que podem dominar a arteG contente-se com asua sorte = astrInomo que forma o catálogo das estrelas, n+o podeacrescentar um átomo ao universoG o poeta pode evocar um mundo de umátomo = qu<mico, que combina substâncias, pode curar, com suas drogas,as enfermidades do corpo (umanoG o pintor ou o escultor reveste de umaeterna )uventude formas divinas que n+o ser+o alteradas por doen*as, nemdesfiguradas pelos anos Cenuncie a esses instáveis capric(os que ora oimpelem para mim, e ora para aquele reformador da ra*a (umanaG n0s dois

somos ant<podas um do outro = seu pincel é sua varin(a poderosaG a suatela pode criar utopias mais belas do que as de que son(a Dondorcet M+o oaconsel(o que precipite a sua decis+oG porém, o que mais pode pedir o(omem de g"nio para embele'ar o seu camin(o para o t5mulo, do que amore gl0ria

- 3orém, - ob)etou Jlyndon, fixando seriamente Zanoni, - poder paraevitar a pr0pria morte

Zanoni fran'iu a testa e, depois de uma pausa, respondeu F

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- ? ainda que (ouvesse tal poder, seria uma sorte agradávelsobreviver a quantos l(e foram caros, e renunciar a todos os la*os queconstituem a felicidade (umana 7 mais bela imortalidade, talve', que sepossa alcan*ar na terra, é a que proporciona um nome nobre

- >oc" n+o me responde - fala por enigmas @en(o lido de exist"nciasque duraram muito mais tempo do que o (omem comum costumava viver,continuou Jlyndon, - e que alguns 7lquimistas possu<ram este segredo - umamera fábula o que se di' do elixir de ouro

- Ae n+o o é, e esses (omens o descobriram, morreram porque n+oquiseram viver !sto pode ser uma triste advert"ncia K sua con)etura =u*a-me F volte ao seu cavalete e K sua tela

 7o di'er isto, Zanoni saudou o )ovem e, com os ol(os baixos e apassos lentos, encamin(ou-se para a cidade

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CAPÍTULO VIII 

:7 ci"ncia, para alguns, é uma grande deusaG para outros, porém, éapenas uma vaca leiteira,e estes cuidam sempre de calcular quanta manteiga

l(es dará; Ac(iller

 7 5ltima conversa*+o com Zanoni produ'iu um efeito tranqRili'ador esalutar sobre a mente de Jlyndon

Mo meio da confus+o que anuviara a sua mente, come*ou novamentea tomar corpo os feli'es e dourados pro)etos pr0prios da )uvenil ambi*+o deum artista, para iluminarem o espa*o como os raios do Aol

? com estes pro)etos mesclava-se também a vis+o de um amor mais

puro e sereno do que o que tin(a concebido até ent+o

=s seus pensamentos retrocederam aos tranqRilos dias da suainfância, quando o g"nio, n+o tendo ainda provado da fruta proibida,permanecia em toda a sua lou*ania, n+o con(ecendo outra terra além doHden ameni'ado por uma ?va

!nsensivelmente, foram desenvolvendo-se ante seus ol(os as docescenas do lar, sem necessidade de qualquer outra emo*+o do que a que l(efornecia a sua arte, e o amor de >iola que o cercava de felicidade econtentamentoG e, no meio destas fantasias de um futuro que podia reali'ar,viu-se restitu<do ao presente pela sonora vo' de 9ervale

Quem estudou a vida das pessoas cu)a imagina*+o é mais forte doque a sua vontade, e sabe quanto é fácil impressioná-las terá observado ainflu"ncia que sobre tais nature'as exerce um caráter enérgico e con(ecedordo mundo

!sto sucedia com Jlyndon

= seu amigo 9ervale tin(a-o tirado muitas ve'es dos perigos a que o

expuseram suas imprud"nciasG e (avia algo na vo' de 9ervale que apagavao seu entusiasmo, e com freqR"ncia fa'ia-o envergon(ar-se ainda mais dosseus nobres impulsos do que de uma conduta fracaG este amigo de Jlyndon,embora (omem (onesto, n+o podia simpati'ar com a extravagância dagenerosidade, e igualmente aborrecia a presun*+o e a credulidade

Aeguia o camin(o reto da vida, e sentia um despre'o igual para o(omem que vagava pelos flancos dos montes, fosse para ca*ar umaborboleta, fosse para descobrir uma boa vista do oceano

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- 7inda que n+o se)a Zanoni, - disse 9ervale, rindo, - vou di'er-l(e,Dlar"ncio, os seus pensamentos Don(e*o-os ao ver seus ol(os ainda 5midose o meio sorriso nos seus lábios ?stá meditando sobre aquela linda perdi*+o,- a )ovem cantora do A+o Darlos

 7 )ovem cantora do A+o Darlos Jlyndon corou e respondeu F

- 2alaria dela assim, se fosse a min(a esposa

- M+o 3orque se me atrevesse, ent+o, a sentir algum despre'o, seriapor ti 3ode-se ol(ar com repugnância ao enganador, porém despre'a-sesempre a quem se deixou enganar, apesar de ser advertido

- ?stá seguro que eu seria enganado, se efetuasse essa uni+o  7onde encontrei uma mul(er t+o amável e t+o inocente, e cu)a virtude(ouvesse resistido a tanta tenta*+o á a mais leve sombra que obscure*a o

nome puro de >iola 3isani

- M+o con(e*o todas as contadoras de novidades em Mápoles, - disse9ervale, - e, por isso, n+o posso responder-l(eG sei, porém, que na !nglaterraninguém acreditaria que um )ovem !ngl"s de boa fortuna e respeitávelnascimento, casando-se com uma cantora do teatro de Mápoles, n+o tivesseca<do lamentavelmente em um grande engano Quero salvá-lo de cometeruma tolice irreparável 3ense nas mortifica*6es que teria de sofrer ao ver queos mo*os se apressariam a freqRentar a sua casa, enquanto que as sen(orasa evitariam cuidadosamente

- ?u posso escol(er o meu pr0prio sistema de vida, - observouJlyndon, - onde n+o se necessita para nada a Aociedade comum 3ossofa'er com que o mundo me respeite por min(a arte, e n+o pelos acidentes donascimento e da fortuna

- Quer di'er que persiste em sua segunda loucura, - a absurdaambi*+o de borrar telas Livre-me o céu de eu di'er alguma coisa contra alouvável ind5stria de quem segue esta profiss+o para gan(ar com ela a suasubsist"nciaG porém o meu caro Jlyndon, que tem meios e altas rela*6es naAociedade, por que quer redu'ir-se a um mero artista 3ara distrair as (oras

de 0cio, ainda váG porém, fa'er da pintura a ocupa*+o da sua exist"ncia, seriauma loucura

- =s artistas t"m sido amigos dos pr<ncipes - exclamou Jlyndon

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- 9uito raras ve'es, creio eu, na s0bria !nglaterra, - retrucou 9ervale- ali, no grande centro da aristocracia pol<tica, os (omens respeitam o que éprático, e n+o o ideal 3ermita-me que l(e apresente dois quadros pintadospor mim ?is o primeiro F Dlar"ncio Jlyndon regressa K !nglaterraG casa-secom uma )ovem de fortuna igual K sua, fil(a de amigos ou parentes que

possam reali'ar sua natural ambi*+o Dlar"ncio Jlyndon, transformado,assim, em um (omem rico e respeitável, como o seu talento e com suasenergias concentradas, entra na vida prática @em uma casa onde podereceber as pessoas cu)as rela*6es l(e d+o (onra e vantagensG pode dedicar-se a 5teis estudos nas (oras que l(e sobramG a sua reputa*+o, fundada sobreuma base s0lida, é respeitada por todos ?le adere a um partidoG entra na vidapol<ticaG e suas novas rela*6es servem para ele alcan*ar tudo o que alme)aQue é o que Jlyndon tem a probabilidade de ser na idade de quarenta e cincoanos 3osto que ambicioso, deixo-l(e a si mesmo o cuidado de responder aesta pergunta >amos, agora, ao outro quadro F Dlar"ncio Jlyndon volta K!nglaterra com uma mul(er que n+o l(e trás din(eiro algum, a n+o ser que a

deixe continuar a cantar no teatroG esta mul(er é t+o formosa, que todosperguntam quem ela é, e, em pouco tempo, sabem que é a célebre cantora>iola 3isani Jlyndon se fec(a para moer as tintas e pintar grandes quadrosno estilo da escola (ist0rica, que ninguém l(e compra @em um preconceitocontra si F n+o estudou na 7cademia, é um pintor amador Quem é o sen(orDlar"ncio Jlyndon =( = esposo da célebre 3isani Que mais 7( ?xibeaqueles grandes quadros 3obre (omem H verdade que estes quadros t"mo seu valorG porém os de @iniers e atteau est+o mais em moda, e n+o s+omais caros Dlar"ncio Jlyndon tin(a uma fortuna regular, enquanto solteiroGmas agora tem uma numerosa fam<lia, e como a sua fortuna n+o mel(oroucom o casamento, s0 se pode permitir despesas muito limitadas, e (á deimpor-se certas priva*6es ?le se retira para o campo, para precaver-se danecessidade e para pintarG vive abandonado e descontente := mundo n+o fa'caso de mim;, di', e retira-se do mundo social Ma idade de quarenta e cincoanos, o que será Dlar"ncio Jlyndon 7 sua ambi*+o que responda também aesta pergunta

- Ae todos os (omens pensassem assim t+o mundanamente - disseJlyndon, levantando-se, - n+o teria (avido, nem nunca (averia, no mundo,um artista ou um poeta

- ? talve' passássemos muito bem sem eles, - respondeu 9ervale -9as n+o será )á tempo de pensarmos na comida ?stes peixes aqui s+omuito saborosos

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CAPÍTULO IX 

:ollt i(r (oc( auf i(ren 2lRgen sc(weben,erft die 7ngst des !rdisc(en von euc(

2lie(et aus dem engen, dumpfen Leben!n des !deales Ceic( ;

8as !deal und das Leben

-Quer levantar-se alto em suas asas  7tire longe de si a ânsia do peso terrestre

2ugindo da vida estreita e abafada das realidades,entre no reino do!deal;

 7ssim como alguns mestres pouco )udiciosos rebaixam e corrompemo gosto do disc<pulo, fixando a sua aten*+o no que c(amam o Matural, mas oque, em realidade, n+o é mais do que uma vulgaridade, e n+o compreendeque a bele'a na arte é criada pelo que Cafael descreve t+o acertadamente, asaber F a idéia da bele'a na pr0pria mente do pintor, e porque n+o sabem queem toda a arte, se)a a sua plástica express+o feita em palavras ou emmármore, em cores ou em sons, a servil imita*+o da Mature'a é o trabal(odos )ornaleiros e dos aprendi'esG assim, no que se refere K conduta, o (omemdo mundo perverte e rebaixa o nobre entusiasmo das nature'as idealistas,pela cont<nua redu*+o de tudo o que é generoso e digno de confian*a, aotrivial e grosseiro

Pm grande poeta alem+o definiu bem a distin*+o que (á entre adiscri*+o e a sabedoria mais larga, di'endo que nesta (á certa temeridadeque aquela desden(a

:= m<ope v" apenas a costa que se afasta, e n+o aquilo a que aousada onda o transporta;

?ntretanto, na l0gica do (omem prudente e (omem do mundoencontra-se freqRentemente um racioc<nio a que é dif<cil opor uma ob)e*+o

á de ter um sentimento, uma fé em coisas que representem osacrif<cio de si pr0prio e algo divino, se)a em religi+o ou em arte, em gl0ria ouem amorG e se n+o tem a fé firme, o sentido comum l(e apresentará umara'+o que tira ao sacrif<cio todo o valor, e um silogismo redu'irá o divino a umob)eto mercantil

@odos os verdadeiros cr<ticos de obras de arte, desde 7rist0teles e3lino, inEelmann e >asari, até Ceinolds e 2useli, se esfor*aram porconvencer o pintor que n+o deve copiar a Mature'a, porém exaltá-laG que aarte de ordem mais elevada, escol(endo s0 as mais sublimes combina*6es, é

perpétua luta da umanidade para aproximar-se dos deuses

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= grande pintor, da mesma forma que o grande autor, incorpora o queé poss<vel ao (omem, é verdade, porém o que n+o é comum K (umanidade

á verdade em amletG em 9acbet( e as suas feiticeirasG em8esdemonaG em =teloG em 3r0spero e em DalibanG (á verdade nos cart6es

de CafaelG (á verdade no 7poio, no 7ntinous e no Lacoonte

3orém, n+o encontrará o original das palavras, dos cart6es, ou domármore, nem na rua de =xford, nem na de Aantiago

@odas estas, tornando a Cafael, s+o produ*6es da idéia da mente doartista

?sta idéia n+o é inataG proveio de um intenso estudoG porém, esseestudo ocupou-se do ideal que pode ser dirigido do positivo e do existente aum elevado grau de grande'a e bele'a

= mais vulgar modelo pode tornar-se c(eio de esquisitas sugest6es aquem tem formado esta idéia, uma >"nus de carne e osso baixaria Kvulgaridade pela imita*+o de quem n+o tem a no*+o do ideal que elarepresenta

Juido, a quem se perguntou de onde tirava seus modelos, c(amouum simples porteiro e fe' ver que de um r5stico original obtin(a uma cabe*a,de bele'a surpreendente

 7quela cabe*a assemel(ava-se K do porteiroG porém o pincel dopintor a ideali'ou, transformando-a em uma cabe*a de (er0i

 7quela pintura era verdadeira, mas n+o era o retrato real ou realistaá cr<ticos que vos dir+o que o 7lde+o de @eniers é mais fiel K Mature'a doque o 3orteiro de Juido

= p5blico vulgar dificilmente compreende, mesmo na arte, o princ<pioideali'ador, porque a arte sublime é um gosto adquirido

3orém, voltemos K min(a compara*+o

 7inda menos do que o princ<pio ideali'ador se compreende o princ<piode benevol"ncia na conduta do (omem

 7ssim os consel(os da prud"ncia mundana desviam t+ofreqRentemente dos perigos da virtude, como dos castigos do v<cioG porém, naconduta, como na arte, existe uma idéia do grande, do sublime, por meio daqual os (omens poderiam engrandecer as a*6es mais vulgares e triviais davida

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Jlyndon, sentindo a s0bria prud"ncia dos racioc<nios de 9ervale,recuou diante do quadro provável apresentado K sua vista interna, em suadevo*+o ao talento art<stico que possu<a, e para n+o ceder a uma forte paix+oque, se fosse bem dirigida, podia purificar a sua exist"ncia como um fortevento purifica o ar

3orém, embora n+o pudesse se resolver a seguir os consel(os doseu prudente amigo, também n+o teve a coragem de deixar de perseguir>iola

@emendo que os consel(os de Zanoni exercessem uma influ"nciademasiado grande no seu cora*+o, evitava, nos 5ltimos dois dias, a entrevistacom a )ovem atri'

9as esta precau*+o n+o evitou que, na noite da sua 5ltimaconversa*+o com Zanoni e com 9ervale, tivesse alguns son(os t+o distintosdo quadro que l(e descrevera o seu amigo e compatriota, e t+o semel(antes

ao que a respeito do seu futuro l(e (avia predito Zanoni, que pensaria talve'que este l(e tin(a enviado do palácio do son(o, para acalmar ospensamentos que o atormentavam

Pm tanto impressionado resolveu ir ver outra ve' >iola e, sem umob)etivo definido ou distinto, cedeu ao impulso do cora*+o

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CAPÍTULO X 

:=( sollecito dubbio e freda temaD(e pensando l accresci;@asso,can'one >!

:=(, sol<cita d5vida e frio medo, que aumenta ao pensar;

 7 )ovem atri' estava sentada diante da porta da sua casa

= mar, na encantadora Ba<a que tin(a diante dos ol(os, pareciadormir nos bra*os da praia, enquanto K sua direita, n+o muito distantes, seelevavam as negras e amontoadas roc(as de onde o via)ante de (o)evaicontemplar a tumba de >irg<lio, ou comparar com a caverna de 3osilipo acatacumba de ig(gate ill

 7lguns pescadores vagavam por aqueles roc(edos, sobre os quais(aviam posto a secar as suas redesG e lá ao longe, de ve' em quando, o somde alguma flauta mais comum ent+o do que agora1 se mesclava ao ru<do dascampain(as das mulas pregui*osas e vin(a interromper aquele voluptuososil"ncio que reina nas praias de Mápoles pelas (oras do meio-dia

Munca, enquanto n+o o tiver desfrutado, nunca, enquanto n+o (ouversentido sua deliciosa languide', n+o poderá voc" compreender toda osignificado do :dolce far niente; isto é, o pra'er de n+o fa'er nada1G e umave' con(ecido este suave estado, quando tiver respirado a atmosfera daquelalinda terra, n+o se admirará mais que o cora*+o amadurece e frutifica t+oprestes e t+o abundantemente debaixo do firmamento rosado e sob osgloriosos raios solares do Aul

=s ol(os da atri' (aviam-se fixado no vasto e profundo mar a'uladoque se estendia diante dela

= desusado descuido do seu tra)e revelava um estado de abstra*+o

=s lindos cabelos estavam enrolados sena arte, e parcialmente

atados com um len*o cu)a cor de p5rpura fa'ia ressaltar mais o bril(o dosseus carac0is

Pm anel das soberbas madeixas, que se desprenderainadvertidamente, caia- l(e sobre o colo gracioso

@ra)ava uma bata ampla a)ustada ao tal(e por um cinto, e o ligeirosopro da brisa, que o mar enviava de ve' em quando, vin(a expirar no seupeito semi-descobertoG e as min5sculas c(inelas, que até Dinderela poderiacal*ar, pareciam um mundo demasiadamente espa*oso para o delicado péque s0 em parte cobria

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@alve' fosse o calor do dia que (ouvesse aumentado a cor rosadadas suas faces, e dava uma extraordinária languide' aos seus grandes ol(osnegros

Munca >iola, com toda a pompa do seu tra)e teatral, e todo o bril(o

que ao seu semblante comunicara o resplendor das lâmpadas, (avia parecidot+o formosa

 7o lado da atri', no umbral da porta, estava Jianetta, com as m+osmetidas nas enormes algibeiras do avental

- 9as eu l(e asseguro - disse a aia, esse tom agudo, rápido e poucomelodioso, que é t+o comum Ks anci+s do Aul - eu l(e asseguro, min(aquerida, que n+o (á, em toda Mápoles, um caval(eiro mais fino, elegante belodo que este !ngl"sG e ouvi di'er que todos os !ngleses s+o mais ricos do queparecem ?mbora eles n+o ten(am árvores no seu 3a<s, pobre gente ? em

ve' de vinte e quatro, s0 ten(am do'e (oras no seu diaG fui informada que osseus cavalos t"m ferraduras de ouroG e como estes sen(ores !ngleses -pobres (eréticos - n+o podem fa'er vin(o, porque n+o t"m uvas, preparamremédios de ouro e tomam um copo ou dois de din(eiro de ouro, quando sesentem atacados de c0licas 3orém, ve)o que n+o me escuta, min(aqueridin(a, e ent+o

- @odas estas coisas se di'em de Zanoni - disse >iola, como para simesma, sem fa'er caso dos elogios que Jianetta tributava a Jlyndon e aos!ngleses

- >irgem 9aria M+o fale desse terr<vel Zanoni 3ode estar bem certade que a sua formosura, como também as suas bonitas moedas de ouro, étudo bruxaria Dada quarto de (ora vou ol(ar o din(eiro que ele me deu naoutra noite, para ver se converteu em pedra

- Dr" realmente - perguntou >iola, com t<mida seriedade - que existe abruxaria

- Ae o creio Dreio-o, como creio no bendito A+o 4anuário Domopensa que Zanoni curou o vel(o 2elipe, o pescador, quando o médico o

deixou porque n+o (avia remédio para a sua doen*a Domo pIde ele terconseguido viver pelo menos tre'entos anos ? como pensa que ele fascinaaos que ol(a e fa' com que se submetam K sua vontade, tal e qual como osvampiros

- 7( H bruxaria tudo isto Aim, deve s"-lo - murmurou >iola,empalidecendoJianetta mesma n+o era mais supersticiosa do que a fil(a dom5sicoG assim é que a inoc"ncia da )ovem se alarmou ao sentir os efeitos deuma paix+o original, atribuindo K magia o que outros cora*6es maisexperimentados teriam tido por amor

- ? depois, como é que esse grande 3r<ncipe de OOO ficou aterrori'ado

diante dele 3orque deixou de perseguir-nos 3or que ficou t+o tranqRilo equieto M+o (á, em tudo isto, bruxaria - continuou Jioneta

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- 3ensa, pois, - disse >iola, com certa timide', - que devo estafelicidade e seguran*a K sua prote*+o 7( 8eixa-me que eu assim o creia M+o me diga mais nada, Jianetta 3or que, 0 lindo Aol, n+o ten(o sen+o a tie aos meus terrores para consultar - exclamou a )ovem, pondo a m+o sobreo cora*+o, com apaixonado ardor

- =( Querido Aol, que ilumina tudo, menos este lugar >ai Jianetta 8eixe-me s0, quero ficar s0G deixe-me ?, com efeito, )á é (ora que a deixe,pois, do contrário, perder<amos a :polenta;, e voc" n+o provou nada em todoo dia Ae n+o come min(a querida, perderá a sua bele'a, e ninguém a ol(aráMinguém se importa com as mul(eres feias, eu o seiG e se ficar feia, como avel(a Jianetta, (averá de procurar alguma >iola, para ter consigo umacriatura bonita 7gora vou ver a :polenta;

- 8esde que con(eci este (omem, - disse a )ovem a meia vo', - desdeque os seus negros ol(os em mim se fitaram, sinto-me totalmente

transformada 8ese)aria fugir de mim mesma, desaparecer como os raios doAol detrás do (ori'onteG converter-me em alguma coisa que n+o se)a destemundo 8e noite, uma multid+o de fantasmas cru'a por diante dos meusol(os, enquanto sinto no cora*+o uma agita*+o como se fossem as asas deuma ave, quase como se o meu esp<rito aterrori'ado quisesse fugir da suapris+o

?, enquanto a atri' pronunciava estas incoerentes palavras, um(omem aproximou-se dela, sem ser pressentido, e tocando-l(e levemente nobra*o, disse F

- >iola Bel<ssima >iola

 7 )ovem voltou a cabe*a e viu Jlyndon

 7 presen*a do elegante mancebo tranqRili'ou-a algum tanto, dando-l(e mesmo pra'er

- >iola, - disse o !ngl"s tomando-l(e a m+o e fa'endo-a sentar-seoutra ve' no banco do qual se tin(a levantado, - é preciso que me escute8eve )á ter percebido que a amo M+o foi mera compaix+o ou admira*+o o

que me impeliu sempre e sempre para o seu lado Ae até aqui n+o ten(ofalado sen+o com os ol(os, é porque certas ra'6es me impediram, (o)e, nemsei di'er por que sinto-me com mais coragem para dirigir-me Kquela de quemdepende a min(a felicidade ou a min(a desgra*a Aei que ten(o rivais, rivaisque s+o mais poderosos do que o pobre artistaG ser+o eles também maisditosos do que eu

>iola corou levementeG porém, o seu aspecto era grave e um tantoabatido

 7 )ovem permanecia com os ol(os baixos e, enquanto tra*ava, com a

ponta da c(inela, algumas figuras (ierogl<ficas na areia, respondeu F

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- Aen(or quem quer que pon(a os seus pensamentos em uma atri',(á de conformar-se em ter rivais H nosso cruel destino n+o sermos sagradasnem K n0s mesmas

- 3orém, diga-me >iola, n+o gosta desta carreira t+o bril(ante como é

e na qual tem alcan*ado tantos e t+o belos triunfos

- 7(, n+o - respondeu a atri', com os ol(os mare)ados de lágrimas

 - ?m outro tempo, anelei S dese)ar ardentemente T ser sacerdotisa docanto e da m5sicaG agora s0 sinto que é uma triste sorte ser escrava damultid+o

- 2u)amos, pois, - disse o artista, apaixonadamenteG - abandone parasempre a carreira que me rouba parte desse cora*+o que eu somentequereria possuir Dompartil(e da min(a sorte agora e sempre Aerá o meu

orgul(o, a min(a delicia, o meu ideal !nspirará o meu pincelG a sua bele'aserá santa e admirada ao mesmo tempo 7 multid+o se aglomerará nasgalerias de pr<ncipes para contemplar a esfinge de uma >"nus ou de umaAanta, e um murm5rio de entusiasmo dirá F :>iola 3isani ; 7( >iola, eu aadoro 8iga-me uma palavra, uma s0, de esperan*a

- Jlyndon, - respondeu >iola, contemplando o seu apaixonado,enquanto este se l(e aproximava ainda mais e a ol(ava ansioso, ao mesmotempo em que l(e apertava suavemente a m+o, - o que é que eu posso dar-l(e em troca

- >iola Bel<ssima >iola - 7mor, amor, - nada mais que amor

- Pm amor de irm+o - 7( 3orque é t+o cruel para mim

 - M+o posso amar-l(e de outra maneira, - respondeu a )ovem

- ?scute-me, pe*o-l(e Quando o ve)o e ou*o a sua vo', sinto queuma calma doce e tranqRila adormece meus pensamentos, ardentes eestran(os Quando se ausenta, meu amigo, parece-me que uma nuvemobscurece o dia, porém essa nuvem n+o tarda em desaparecer M+o quero

enganar-l(eG n+o sinto a sua falta, n+o o amo e dareia min(a m+o somente aquem eu amar

- 9as n+o poderá vir a amar-me, um dia = amor que acaba dedescrever-me, em nossos climas tranqRilos é o amor da inoc"ncia e da )uventude

- 8a inoc"ncia - repetiu >iola

- H certo @alve' 7 )ovem permaneceu pensativa, um instante e acrescentou, ap0s um

grande esfor*o F

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- ?strangeiro 8aria sua m+o a uma 0rf+ 7(, o sen(or ao menos égeneroso M+o quer destruir a inoc"ncia

Jlyndon teve um sobressalto, como se fosse impelido por umremorso da consci"ncia

- M+o, n+o é poss<vel - prosseguiu a )ovem, levantando-se, semsuspeitar os pensamentos que cru'avam a mente do enamorado mancebo,pensamentos de vergon(a e de suspeita ao mesmo tempo

- 3e*o-l(e que se retire, e que me esque*a = sen(or n+ocompreende, nem pode compreender a nature'a o caráter da mul(er que )ulga amar 8esde a min(a infância, até agora, ten(o sentido sempre como seestivesse destinada para n+o sei que fim estran(o e sobrenaturalG parece-meque sou o 5nico ser da min(a espécie ?ste sentimento =( s ve'es ele temum n+o sei que de delicioso e vago, e outras ve'es transforma-se em uma

afli*+o inexplicável1 domina-me cada ve' mais ?le é como a sombra docrep5sculo, que se estende lenta e solenemente sobre a terra, anunciando anoite 7 min(a (ora se aproximaG em breve será noite para mim

?nquanto a )ovem atri' falava, Jlyndon escutava, visivelmentecomovido, como se fosse preso de uma forte agita*+o

- >iola - exclamou ele, quando a )ovem cessou de falar, -essaspalavras n+o fa'em mais do que estreitar os la*os que me ligam a ti ?u sintoo mesmo que acaba de descrever-me ?u também ten(o sofrido sob ainflu"ncia de uma vo' terr<vel e misteriosa, que n+o pertence a terra Mo meiodas multid6es, ten(o-me sentido s0 Mos meus pra'eres, nas min(as afli*6es,em todos os meus intentos, essa vo' murmura sempre no meu ouvido F :=tempo te reserva um negro mistério para provar a tua coragem; Quando ou*oa sua vo', >iola, parece-me ouvir o eco da min(a pr0pria alma>iolacontemplou-o com uma espécie de temor mesclado de admira*+o

= semblante da )ovem estava, neste momento, branco como omármoreG e aquelas fei*6es, t+o divinas em sua rara simetria, podiam terservido ao pintor Jrego para representar a 3itonisa, quando, em sua m<sticacaverna e sentada )unto K fonte murmurante, ouvia a vo' do deus que a

inspirava 7 rigide' do seu formoso semblante foi desaparecendo pouco a

pouco, a cor voltou-l(e Ks faces, o pulso batia novamente com regularidade eo cora*+o reanimou-se

- 8iga-me, - perguntou >iola, voltando um pouco a cabe*a, - con(eceum estrangeiro nesta cidade, um (omem de que se contam mil estran(as(ist0rias

- 2ala de Zanoni Aim, ten(o-o vistoG con(e*o-o 7( ?le tambémpode ser meu rival ?le também pode arrebatar o meu amor

- ?ngana-se, - respondeu >iola, com precipita*+o, exalando um

profundo suspiro F

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- Zanoni advoga pelo meu caro JlyndonG foi ele quem me informoudeste seu amor, e aconsel(ou-me que eu o n+o re)eitasse

- Aer misterioso ?nigma incompreens<vel 3orque me fala dele -exclamou Jlyndon

- 3or qu" 7( ?u queria perguntar-l(e, quando viu esse (omempela primeira ve', aquele pressentimento, o instinto, de que me falou, seapresentou em sua mente mais aterrador, mais intelig<vel do que antesG seexperimentou um sentimento que o arrastava para esse (omem, ao mesmotempo em que outra coisa o mandava fugir da sua presen*aG se sentiu e aatri' falava com inquieta anima*+o1 que o segredo da sua vida estava emrela*+o com ele

- Aim, - respondeu Jlyndon, com vo' tr"mula, - senti tudo isto pelaprimeira ve' que me encontrei em sua presen*a 7pesar de ser alegre tudo o

que me rodeava, - m5sica, ilumina*+o entre as árvores, conversa*+oagradável ao redor de mim, e o céu acima de mim, sem nuvens, - os meus )oel(os tremiam, os meus cabelos se eri*avam, e parecia-me que o sanguese gelava em min(as veias 8esde ent+o, este (omem está constantementenos meus pensamentos

- Basta Basta - exclamou >iola, com vo' agitada

- ?m tudo isto, (á de estar a m+o do destino 3or enquanto, n+oposso falar mais contigo 7deus

?, ao di'er isto, entrou precipitadamente em casa, e fec(ou a porta

Jlyndon n+o a seguiu, nem pensou, por mais estran(o que o )ulguemos, em segui-la

 7 recorda*+o daquela noite de luar nos )ardins e da misteriosaconversa*+o de Zanoni sufocou no seu cora*+o, as paix6es (umanas

Maquele momento, a imagem de >iola passou como uma sombra, aomais recIndito recesso do seu cora*+o

Quando se levantou para retirar-se, sentiu que tin(a frio, apesar dosardentes raios de Aol e, em seguida, com passo lento, e entregue Kmedita*+o, encamin(ou-se para a parte mais movimentada da mais rumorosadas cidades !talianas

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LIVRO T!R#!IRO

T!URGI4

CAPÍTULO I 

:But t(at w(ic( especially distinguis(es t(e brot(er(oodis t(eirmarvellous Enowledge of all resources of medical art

@(ey worE not by c(arms, but simples;

9 A 7ccount of t(e =rigin and 7ttribute of t(e true CosicrucianUs, by4>on 8

:3orém, o que especialmente distingue a !rmandade,é que os seusmembros t"m um maravil(oso con(ecimentode todos os recursos da artemédica ?les n+o agem por meio de encantos, mas por meio de remédios;

9anuscrito que trata da =rigem e dos 7tributos dos verdadeirosCosacru'es, por 4 >on 8

Maquele tempo, apresentou-se K >iola a oportunidade de pagar ao5nico amigo do seu inolvidável pai o favor que l(e fi'era, quando, ao v"-la s0e desamparada, l(e ofereceu um asilo no meio da sua fam<lia

= vel(o Bernardi tin(a tr"s fil(os que se (aviam ded cado K profiss+odo seu pai e todos os tr"s tin(am abandonado, (avia pouco tempo, Mápoles,para buscarem fortuna em cidades mais ricas do Morte da ?uropa, onde am5sica n+o possu<a tantos virtuosos

M+o ficava em casa de Bernardi sen+o a sua vel(a mul(er e umalinda e tagarela menina de ol(os pretos, de oito anos de idade, fil(a do seusegundo fil(o, cu)a m+e morrera ao dar a lu'

?sta menina era a alegria dos dois vel(os

Pm m"s antes da data em que come*a esta parte da nossa est0ria,um ataque de paralisia impedira a Bernardi o desempen(o dos deveres dasua profiss+o

8este (omem tin(a sido sempre um compan(eiro sociável, bondoso,impr0vido e generoso, gastando diariamente o que gan(ava, como se avel(ice e as enfermidades n+o devessem nunca c(egar

?mbora recebesse um pequeno salário por seus servi*os passados,este era t+o insignificante que n+o bastava para cobrir as suas necessidadesGalém disso, tin(a também d<vidas

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 7 pobre'a reinava em sua casa, quando >iola, com um sorrisogracioso e com m+o liberal, veio afugentar o espectro da miséria

3ara um cora*+o verdadeiramente bondoso, n+o é suficiente queenvie e d"G a caridade é mais bela quando visita e consola

:M+o esque*a o amigo do seu pai;

 7ssim, quase todos os dias, o radiante <dolo de Mápoles vin(a K casade Bernardi

8e repente, uma nova afli*+o, mais grave do que a pobre'a e aparalisia, veio contristar o vel(o m5sico

 7 sua neta, a pequena Beatri', adoeceu perigosamente, atacada deuma dessas terr<veis febres, t+o comuns nos 3a<ses meridionaisG e >iola

abandonou suas estran(as e tétricas medita*6es e seus son(os de amor,para ir velar K cabeceira da pequena enferma

?sta crian*a amava muito a >iola, e os av0s pensaram que bastaria apresen*a desta para restituir a sa5de K enfermaG porém, quando >iolac(egou, Beatri' n+o dava acordo de si

2eli'mente, naquela noite n+o (avia fun*+o no A+o Darlos, e a )ovematri' resolveu passar a noite cuidando da menina

3ela noite adiante, o estado da crian*a piorouG o médico a arte decurar nunca foimuito adiantada em Mápoles1 balan*ou a sua polvil(adacabe*a, administrou um paliativo qualquer e retirou-se

= vel(o Bernardi veio sentar-se ao lado da sua neta, silencioso eacabrun(adoG era o 5nico la*o que o ligava K vida

Ae romper a âncora, o navio irá K pique

?sta resolu*+o, pesada como ferro, era muito mais terr<vel do que atriste'a de ver doente a crian*a querida

Pm dos espetáculos mais aflitivos que podem oferecer ascalamidades da vida, é um anci+o, com um pé na sepultura, velando )unto aoleito de uma crian*a moribunda

 7 avo'in(a parecia mais ativa e mais esperan*osaG acudia a tudo,embora com lágrimas nos ol(os

>iola pIs-se a cuidar dos tr"s

 7o aman(ecer, porém, o estado de Beatri' come*ou a ser t+o

alarmante, que >iola sentiu desvanecer-se toda a esperan*a

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?is sen+o quando a )ovem viu que a anci+, levantando-se de repentede diante da imagem do santo onde estivera a)oel(ada, envolvia-se em suacapa e touca, e saia silenciosamente do quarto

>iola seguiu-a apressadamente- = tempo está demasiado frio para

sair, querida m+e, - disse a )ovem

 - 3ermita que eu mesma vá buscar o médico- 2il(a min(a, n+o vou K casa do médico =uvi falar que, na cidade,

(á um (omem muito caridoso para os pobres, e que curou muitos doentesque médicos declararam )á incuráveis !rei v"-lo e dir- l(e-ei F :Aen(or, somosmuito pobres, porém ontem éramos muito ricos em amor ?stamos K borda dot5mulo, porém viv<amos da vida da nossa neta 8"-nos a nossa rique'a, d"-nos a nossa )uventude 2a*a com que possamos morrer dando gra*as K 8euspor ter deixado sobreviver-nos a criatura que adoramos; ? ten(o a esperan*aque n+o suplicarei em v+o

 7 boa anci+ foi

3or que bate mais forte o seu cora*+o, >iola

Pm grito agudo de dor, que a menina soltou, c(amou a atri' ao ladoda cama, onde o anci+o permanecia ainda, com os ol(os aterrori'ados fitosna crian*a e, ignorando que a sua mul(er sa<ra em procura da salva*+o,assistia (orrori'ado aos movimentos de agonia do an)in(o

=s aisarrancados pela dor foram redu'indo-se, gradualmente, a umgemido sufocado, as convuls6es tornavam-se mais débeis, porém maisfreqRentesG o ardor violento da febre converteu-se em um mati' a'ul pálido,ind<cio da morte que se aproximava

 7 claridade do dia come*ava a iluminar o quarto, quando se ouvirampassos precipitados na escada

 7 anci+ entrou correndoG deitou um ol(ar K doentin(a e exclamou F

- >ive ainda, sen(or, ela vive ainda

>iola, que tin(a a cabe*a da menina apoiada no seu peito, levantouos ol(os, e viu Zanoni

?le sorriu, dirigindo-l(e um suave e terno ol(ar de aprova*+o, e tomoua crian*a em seus bra*os

Mo momento em que viu a cabe*a de Zanoni inclinar-sesilenciosamente sobre o pálido semblante da menina, um medo supersticiosoveio mesclar-se, na mente de >iola, Ks suas esperan*as

Durava este (omem por meios l<citos, por uma arte santa

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?stas perguntas, que a )ovem atri' se fa'ia interiormente, cessaramde s5bito, porque os escuros ol(os de Zanoni pareciam ler em sua alma, e oseu ol(ar acusava-a da suspeita que sua consci"ncia repreendia com certodesdém

- @ranqRili'e-se - disse Zanoni, dirigindo-se afavelmente ao anci+oG - operigo pode ainda desaparecer ante os recursos da ci"ncia (umana

?, tirando do bolso um pequeno frasquin(o de cristal, pingou algumasgotas do seu conte5do em um copo de água

 7penas este remédio umedeceu os lábios da menina, pareceuprodu'ir um efeito maravil(oso

 7 cor reapareceu, em seguida, nos seus lábios e faces, e um sonotranqRilo sucedeu K sua agita*+o

Pm instante depois, o anci+o se levantou rigidamente, como podelevantar-se um corpo quase sem vida, - baixou os ol(os, escutou, e, dirigindo-se lentamente a um canto do quarto, c(orou e deu gra*as K 8eus

= vel(o Bernardi (avia sido, até esse momento, um crente frioG aafli*+o n+o l(e (avia deixado nunca, antes, erguer a cabe*a acima da terra

 7pesar da sua idade, nunca (avia pensado na morte, como devefa'"-lo uma pessoa vel(aG o perigo da sua neta veio despertar a sua alma,que )a'ia em um letargo de indiferen*a

Zanoni disse algumas palavras, em vo' baixa, K anci+, e esta levouseu esposo, com toda a solicitude, para fora do quarto

- 3ermita-me, >iola, que eu fique uma (ora com a crian*a =u pensaainda que os meus con(ecimentos s+o de origem diab0lica

- 7( - exclamou >iola, (umil(ada e feli' ao mesmo tempo

- 3erdoe-me, sen(or, perdoe-me Cestituiu a vida K menina e fe' o

anci+o re'ar Munca mais tornarei a suspeitar de ti, ainda que porpensamentos

 7ntes do nascer do Aol, Beatri' estava fora de perigoG e, ao meio-dia,pIde Zanoni esquivar-se aos agradecimentos do casal de anci+es, que oaben*oavamG e quando fec(ava a porta da casa, encontrou >iola que oaguardava

 7 )ovem permaneceu, por alguns instantes, diante dele, com ar t<midoe com os bra*os graciosamente cru'ados sobre o peito, enquanto dos seusol(os, que n+o se atrevia a levantar, caiam abundantes lágrimas

- Que n+o se)a eu a 5nica a quem deixa desconsolada -murmurou

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- Que efeito quer que produ'am em si as ervas e osan0dinosS paliativo T - respondeu Zanoni

- Ae pode com tanta facilidade, pensar mal dos que a auxiliam e aindaest+o prontos a servi-la a sua enfermidade é do cora*+oG e - n+o c(ore

Aendo eu um assistente dos enfermos, e consolador dos tristes, antes aprovoa sua atitude, em ve' de censurá-la ?u a perdIo 7 vida, que semprenecessita perd+o, tem, por seu primeiro dever, perdoar

- M+o M+o - M+o, n+o me perdoe aindaG n+o o mere*o, pois aindaque, neste instante, enquanto sinto qu+o ingrata ten(o sido em crer esuspeitar coisas in)uriosas e falsas contra o meu libertador, as min(aslágrimas caem de pra'er, e n+o arrancadas pelo remorso =( - prosseguiu a )ovem, com singelo fervor, inconsciente, em sua inoc"ncia e as suasgenerosas emo*6es, - voc" n+o pode saber como me era amargo acreditá-lon+o mel(or, n+o mais puro, n+o mais santo do que todos os outros (omens ?

quando o vi, - sendo rico e nobre, vir do seu palácio para socorrer os infeli'esque sofriam na cabana, - quando ouvias b"n*+os dos pobres seguir os seuspassos ao sair desta casa K qual restituiu a felicidade, sentique a min(a almase exaltava também, boa por sua bondade, nobre ao menos naquelespensamentos que n+o a in)uriavam

- ? pensa, >iola, que, em um mero ato de ci"ncia, (á tanta virtude =mais vulgar dos médicos visita os enfermos, recebendo os seus (onoráriosA+o as ora*6es e as b"n*+os uma recompensa menos digna do que o ouro

- 7s min(as, pois, n+o s+o sem valor Quer aceitá-las

 7( >iola - exclamou Zanoni, com uma repentina paix+o que o fe'corarG - voc", penso, é a 5nica, em toda a terra, que pode fa'er-me sofrer ougo'ar

Zanoni tendo dito estas palavras, calou-se por instantes, e o seusemblante tornou-se novamente grave e triste

- ? isto, - prosseguiu com vo' alterada, - porque se quisesse ouvir osmeus consel(os, parece-me que poderia eu guiar o seu puro cora*+o K um

destino feli'- =s seus consel(os ?stou disposto a segu<-los =rdena e eu

obede*o Quando está ausente, sou como uma crian*a que se assusta detoda a sombra na escurid+oG em sua presen*a, a min(a alma se expande, etodo o mundo me parece estar c(eio de calma celestial de um meio-dia dever+o M+o me negue essa presen*a Aou 0rf+ ignorante e s0

Zanoni virou a cabe*a para ocultar a sua emo*+o, e depois de ummomento de sil"ncio, respondeu tranqRilamente F - Ae)a assim, min(a !rm+Geu a visitarei outra ve'

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CAPÍTULO II 

:Jilding pale streams wit( (eavenly alc(emy;A(aEespeareh

8ouradas, pálidas correntes com 7lquimia celestial;

Quem é t+o feli' como >iola, agora

3arecia que l(e (avia arrancado um enorme peso do seu cora*+o

Quando tornou K casa, o seu passo era ligeiro a airosoG tin(a dese)osde cantar, tanta era a sua alegria

3ara quem ama com cora*+o puro, pode (aver maior felicidade doque crer na superioridade e no sublime valor da pessoa amada

3odiam existir, entre os dois, alguns obstáculos (umanos, - como arique'a, a posi*+o social, o pequeno mundo dos (omens, - porém n+o existiamais aquele negro abismo, em que se perde a imagina*+o, que separa parasempre uma alma da outra

Zanoni n+o correspondia ao amor da )ovem 7má-la

9as pedia >iola amor 7mava ela mesma realmente

M+oG se o tivesse amado, n+o teria sido t+o (umilde e t+o ousada aomesmo tempo

Domo radiante l(e parecia o aspecto do mais vulgar transeunte

 7o entrar no )ardim, >iola ol(ou a árvore da roc(a que estendiavigorosamente os seus ramos fantásticos ao Aol

- Aim, min(a !rm+ - disse-l(e a )ovem, rindo de pra'er

- Domo tu, ten(o eu lutado pela lu'

Munca, até ent+o, como sucede com as instru<das 2il(as do Morte,>iola tin(a provado esse delicioso pra'er de transladar os seus pensamentospara o papel, escrevendo as suas mem0rias

 7gora, de repente, o seu cora*+o sentiu um impulsoG um instintorecém-vindo, que l(e inspirou o dese)o de ol(ar no mais recIndito do seucora*+o como através de um cristal

?ste instinto era o fruto do abra*o do 7mor e da 7lma, - de ?ros e de3syc(", - era o J"nio

?nquanto >iola escrevia, suspirava, corava e estremecia

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? do novo mundo que acabava de criar para si , teve que setransladar o teatro

Domo l(e parecia insulsa S ins<pida, insossa T, agora, a m5sica, e sematrativos a cena, que outrora ac(ava t+o deliciosas e deslumbrantes

Y teatro, tu és o 3a<s das 2adas para as pessoas que amam a gl0riado mundo

@u, porém, !magina*+o, cu)a m5sica n+o é percebida pelos (omens ecu)as decora*6es n+o podem ser mudadas pela m+o dos mortais, como oteatro representa ao mundo no tempo presente, tu és o futuro e o passado

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CAPÍTULO III 

:!n fait(, ! do not love t(ee wit( mine eyes F :A(aEespeareh

:3or min(a fé, n+o te amo com os meus ol(os;

Mo dia seguinte, ao meio-dia, Zanoni foi ver >iolaG e seguiu visitando-a freqRentementeG e estes dias pareceram K )ovem uma época especial,separada do resto da sua vida

@odavia, Zanoni n+o l(e falou nunca na linguagem de lison)a ou deadora*+o, que estava acostumada a ouvir

@alve' mesmo a frie'a deste (omem, que era, contudo, t+o afável,aumentava-l(e o seu encanto

?le l(e falava com freqR"ncia do passado dela, e >iola apenas sesurpreendia agora nunca mais l(e vin(a o pensamento de terror1 ao verquantos pormenores da sua vida eram con(ecidos de Zanoni

?le fa'ia muitas perguntas e observa*6es K >iola a respeito do seuinesquec<vel pai e gostava de ouvi-la cantar algumas daquelas tempestuosasárias da esquisita m5sica de 3isani, cu)os sons pareciam extasiá-lo e fa'"-locair em uma espécie de doce abstra*+o

- 7 ci"ncia para os sábios - di'ia Zanoni - é talve' o mesmo que era am5sica para seu pai 7 sua imagina*+o necessitava um campo muito vastoGtudo estava discorde com as finas simpatias que ele sentia, com as(armonias que, dia e noite, elevavam a sua alma ao trono do céu 7 vida, comsuas ruidosas ambi*6es e suas paix6es rasteiras, é t+o pobre e de t+o baixon<vel 3isani sabia criar, da sua pr0pria alma, a vida e o mundo que sua almanecessitava >iola, voc" é a fil(a daquela vida, e será, portanto, (abitantedaquele mundo

?m suas primeiras visitas, Zanoni nunca falou de JlyndonG porém,veio o dia em que a ele se referiu

? era t+o grande o dom<nio que este (omem c(egou a adquirir sobreo cora*+o da )ovem que, apesar deste assunto desgostá-la sensivelmente,refreou o seu sentimento e escutou em sil"ncio

- 3rometeu-me - disse Zanoni - que seguiria os meus consel(osG poisbem, se eu agora, >iola, l(e disser que a aconsel(o a aceitar a m+o desseestrangeiro e partil(ar com ele a sorte, e se ele l(e propuser, n+o se recusaráa dar-l(e a m+o

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>iola reprimiu as lágrimas que l(e invadiam os ol(os e, depois de uminstante, com um estran(o pra'er mesclado de dor, - com o pra'er de quemsacrifica o seu cora*+o K outrem que neste cora*+o domina, - respondeu,com vo' desfalecida F

- Ae é capa' de mandá-lo, ent+o

- 2ale - disse Zanoni- 8ispon(a de mim como l(e agrada, - respondeu a )ovem com infinitatriste'a

- >iola, - disse Zanoni, com vo' tr"mula, - o perigo que n+o estaráagora em min(a m+o evitar, se aproxima cada (ora mais, se permanecermais tempo em Mápoles 8entro de tr"s dias, a sua sorte deverá estardecidida 7ceito a sua promessa 7ntes da 5ltima (ora desse terceiro dia,suceda o que suceder tornarei a v"-la aqui, em sua casa 7té ent+o, adeus

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CAPÍTULO IV 

:Between two worlds life a (overs liEe a star @wixt nig(t and morn;Byron

:?ntre dois mundos balan*a-se a vida como uma estrela, entre a noitee a man(+;

Quando Jlyndon se separou de >iola, na disposi*+o que vimos nofinal da segunda parte desta obra, submergiu-se outra ve' naqueles m<sticosdese)os e con)eturas que o assaltavam sempre quando se lembrava deZanoni

?, vagando pelas ruas de Mápoles, semi-inconsciente dos seuspr0prios movimentos, encontrou-se, movido pelo mecanismo do costume, no

meio de uma das ricas galerias de pinturas, que constituem o luxo dessascidades da !tália, cu)a gl0ria está toda no passado

Jlyndon costumava visitar este lugar quase diariamente, pois agaleria contin(a algumas pinturas de grande mérito, que eram especialmenteo ob)eto do seu entusiasmo e estudo

 7 maioria das ve'es parava diante das obras de Aalvador, que l(einspiravam um senti mento de profunda admira*+o e respeito

= rasgo caracter<stico deste artista é a 2or*a de >ontadeG elevadaidéia de abstrata bele'a, que fornece um modelo ao g"nio de ordem maisilustre, a singular energia do (omem tira da pedra uma dignidade que l(e épr0pria

 7s suas imagens t"m a ma)estade, n+o de um deus, porém de umselvagemG sendo inteiramente livre, como as escolas mais sublimes, da vulgarimita*+o, apartando- se, com elas, da convencional pequene' da c(amadarealidade, - o artista apodera-se da imagina*+o, obrigando-a a seguir-l(e, n+oao céu, mas através de tudo o que (á de mais selvagem e fantástico sobre aterraG é uma magia que n+o se parece com a do mago astr0logo, e sim com a

do tenebroso feiticeiro, - é um (omem de romance, cu)o cora*+o batefortemente, mane)ando a arte com a m+o de ferro e for*ando-a a ideali'ar ascenas da sua vida atual

 7nte esta poderosa vontade, Jlyndon sentiu-se mais c(eio deadmira*+o, do que diante da bele'a, dotada de maior serenidade, que brotavada alma de Cafael, como >"nus do seio do mar

? agora, como despertando das suas medita*6es, encontrou-sediante daquela imponente, selvagem e magn<fica gravidade da Mature'a, queo ol(ava, encoleri'ada, da tela, e cu)as fol(as, nessas árvores, semel(antes

aos gnomos, com seus troncos tortos, pareciam murmurar-l(e no ouvidosegredos sibilinos

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 7queles escabrosos e sombrios 7peninos, com a sua soberbacatarata, estavam mais acordes com os seus pensamentos, do que as cenasque o rodeavam

 7s ásperas e extravagantes figuras que descansavam sobre as

roc(as, e pareciam como an6es ao lado das gigantescas propor*6es damatéria que reinava em seu redor, o impressionavam, fa'endo-l(e ver o poderda Mature'a e a pequene' do (omem

= mesmo que nos quadros dos g"nios mais espirituais, o (omem e aalma que vive nele, s+o cuidadosamente apresentados como a imagem maisproeminenteG e os meros acess0rios da cena ocupam um grau inferior, sendotratados com menos cuidado, como para demonstrar que o desterrado do3ara<so é ainda o monarca do mundo exterior - assim nas paisagens deAalvador, a árvore, a montan(a, a cascata figuram como o ob)eto principal, eo (omem se redu' ao acess0rio

 7 matéria parece dominar nelas, ao passo que o seu verdadeirosen(or fica quase invis<vel debaixo da sua estupenda sombra

 7 matéria é, ali, o que dá interesse ao (omem imortal, e n+o este Kmatéria inerte

Que terr<vel 2ilosofia na arte

?nquanto Jlyndon estava imerso em semel(antes pensamentos,alguém tocou-l(e levemente o bra*o - era Micot, que l(e disse F

 - H um grande mestre, mas eu n+o gosto da sua escola

- Mem eu - respondeu Jlyndon - porém (á algo nestas pinturas queme impressiona extraordinariamente 7mamos o belo e o serenoG mas (á emn0s um sentimento t+o profundo como o amor, e este sentimento nos fa'admirar o terr<vel e o obscuro

- H verdade, - retrucou Micot, pensativo

- ?, n+o obstante, este sentimento n+o passa de ser uma merasupersti*+o 7s aias e outras pessoas que cuidam das crian*as, com os seuscontos de fadas, de esp<ritos e de fantasmas, s+o o ber*o da maior parte danossa ignorânciaG a arte deveria representar somente verdades Donfessoque Cafael me agrada menos, porque n+o simpati'o com os seus assuntos=s seus santos e as suas virgens n+o s+o, para mim, sen+o (omens emul(eres

- ?nt+o, de que fonte deveriam os pintores tomar seus temas

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- 8a ist0ria, n+o (á d5vida, - tornou Micot, - daquelas grandes a*6esdos Comanos, que inspiram aos (omens sentimentos de liberdade e de valor,ensinando-l(es as virtudes Cepublicanas ?u dese)aria que os quadros deCafael tivessem ilustrado a ist0ria dos oráciosG mas é K 2ran*aCepublicana que toca o legar K posteridade a nova e verdadeira escola, que

n+o teria podido nunca nascer e prosperar em um 3a<s dominado pelo Dlero epelo fanatismo

- ? os santos e as virgens de Cafael n+o s+o, para voc", mais do que(omens e mul(eres - repetiu Jlyndon, voltando, com admira*+o, K cândidaconfiss+o de Micot, e quase sem atender as dedu*6es que o 2ranc"s fa'ia dasua proposi*+o

- Aeguramente, - retrucou Micot, rindo-se (orrivelmente 7( 7( Quer, acaso, fa'er-me crer o que o calendário conta ao seu respeito

- 3orém, o ideal

- = ideal - interrompeu Micot

- Que coisa =s cr<ticos !talianos, e o seu !ngl"s Ceynoldstranstornaram-l(e a cabe*a ?les falam t+o apaixonadamente do seu :gostorefinado; e da :bele'a ideal que fala K alma ;

- 7lma ?xiste uma alma Dompreendo um (omem quando fala dobom gosto de uma composi*+o, referindo-se a uma pessoa educada einteligente, ou a alguém que compreende verdadesG porém, quanto K alma, -ora

- M0s n+o somos mais que modifica*+o da matéria, e a pintura émodifica*+o da matéria também

=s ol(os de Jlyndon dirigiam-se ora para o quadro que tin(a diantede si, ora para Micot

= dogmatista dotou de vo' os pensamentos que a vista daquelequadro despertara

= !ngl"s balan*ou a cabe*a, sem replicar

- 8iga-me, - perguntou Micot, de repenteG - aquele impostor, - Zanoni -o( ?u soube o seu nome, nestes dias, como também soube das suas farsas,- que l(e disse de mim

- 8e ti MadaG apenas me advertiu contra as suas doutrinas

- 7( 7( Mada mais ?sse (omem é um embusteiro, e, como a5ltima ve' que nos encontramos, descobri as suas trapa*as e mistifica*6es,

pensei que talve' se vingasse, caluniando-me

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- 8escobriu as suas trapa*as e mistifica*6es Domo

- =( H uma est0ria insulsa e longa ?le quis ensinar para um anci+o,meu amigo extremoso, os seus segredos acerca da 7lquimia 2ilos0fica e omodo de prolongar a vida 7consel(o-o a n+o l(e dedicar a sua ami'ade, para

n+o se desacreditar 

8i'endo isto, Micot fe' um gesto expressivo, e n+o dese)ando queJlyndon l(e fi'esse mais perguntas sobre esse assunto, retirou-se

Jlyndon voltou K sua arte, que a presen*a de Micot (avia t+odesagradavelmente interrompido

= )ovem !ngl"s deixou as paisagens de Aalvador e, fixando a vista naMatividade, de Dorrégio, ficou admirado ao ver o contraste que ofereciaaqueles dois g"nios de nature'as t+o opostasG K Jlyndon pareceu isto como

uma descoberta

 7quela calma esquisita, aquele perfeito sentimento de bele'a, aquelevigor natural, aquela sublime moral, que respira a arte quando, falando Kmente por meio dos ol(os, desperta nela, por meio da ternura e do amor,pensamentos que a elevam Ks regi6es admiráveis e c(eias de milagres, - a(

 7quela era a verdadeira escola

Jlyndon deixou a galeria a passos lentos e com idéias inspiradasGprofundamente impressionado, dirigiu-se K sua casa

 7o c(egar, alegrou-se por n+o ter encontrado 9ervale, e sentando-se,meditativo, esfor*ou-se para recordar as palavras de Zanoni em sua 5ltimaconversa*+o

Aentia que o que Micot tin(a dito a cerca de arte era um crime, poisque redu'ia até a imagina*+o a uma simples máquina

3odia aquele (omem, que s0 via na alma uma combina*+o damatéria, falar de escolas que deviam ser superiores K de Cafael

Aim, a arte é magiaG e como o )ovem recon(ecia a verdade doaforismo, compreendeu que na magia pode (aver religi+o, porque a religi+o éuma condi*+o essencial da arte

 7 sua antiga ambi*+o liberta agora da fria prud"ncia com que 9ervaletratava de profanar as imagens menos substanciais do que o be'erro de ouroavivou-se, tornando a arder novamente

= sutil descobrimento do que ele )ulgara ser um erro na escola que(avia adotado até ent+o, patenteado ainda mais pelos mordentes comentáriosde Micot, parecia oferecer K sua vista um novo mundo de inven*+o

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 7proveitando aquele feli' momento, colocou diante de si as tintas e atela

3erdido no conceito de um novo ideal sentiu a sua mentetransportada Ks aéreas regi6es da bele'a, ao passo que se desvaneciam os

pensamentos sombrios e os dese)os profanos

Zanoni tin(a ra'+o F o mundo material desaparecia da sua vistaG elevia a Mature'a como a observá-la do cume de uma montan(aG e quando sesossegaram as ondas do seu agitado cora*+o, os ol(os angélicos de >iolaapareceram no novo (ori'onte como uma luminosa estrela

2ec(ado no seu quarto, n+o quis receber visitas, nem a de 9ervale

?mbriagado com o ar puro da sua nova exist"ncia permaneceu tr"sdias e quase tr"s noites absorto em seu trabal(o, até que, na man(+ do

quarto dia, come*ou a verificar-se a rea*+o, K qual está exposto todotrabal(o

Jlyndon despertou indiferente e fatigadoG e quando ol(ou o seuquadro, pareceu-l(e que a gl0ria se (avia dele ausentado

Cecorda*6es (umil(antes dos grandes mestres com que aspirava arivali'ar, invadiram- noG defeitos, até ent+o desaparecidos, vieram aumentaras deformidades que iam notando em sua obra, o que descontentousobremaneira

= artista retocou uma e outra ve' o quadroG porém a sua m+omostrava-se rebelde F e, por fim, cansado, depIs os pincéis e foi sentar-se K )anela que abrira

= dia estava sereno e agradávelG as ruas estavam c(eias daquelavida e alegria t+o naturais ao povo de Mápoles

Jlyndon via passar os namorados conversando nessa linguagemmuda dos gestos t+o eloqRentes em todos os idiomas, e que s+o (o)e iguaisaos que os ?truscos, na antiguidade, pintaram nos magn<ficos vasos do

9useu Bourbonico O1O1 7 fam<lia Bourbon, foi responsável por escava*6es em 3ompéia,

das quais saiu grande parte do acervo do 9useu Bourbonico, (o)e 9useu deMápoles

 7 lu' da vida exterior convidou a sua )uventude K alegria e ao pra'erGe as enfadon(as paredes do seu quarto, o qual pouco antes era bastantevasto para conter o céu e a terra, pareciam limitar agora uma estreita e tristepris+o

Jlyndon abriu a porta e, com alegria, viu entrar o seu amigo 9ervale

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- ? isto é tudo o que fe' - disse 9ervale, ol(ando a teladesden(osamente ? para isto fec(ou-se por tantas (oras, privando-se doslindos dias de Aol e das encantadoras noites de Mápoles

- ?nquanto eu estive debaixo da influ"ncia do entusiasmo, estivedesfrutando um Aol mais bril(ante e uma Lua mais bela e ma)estosa

- 3elo que ve)o, o entusiasmo )á o deixou Bem, isto indica que voltoua recobrar a ra'+o ?, depois de tudo, vale mais besuntar a tela durante tr"sdias, do que se converter em um louco por toda a sua vida ? a sua sereia

- Dale-se M+o gosto de ouvi-lo falar dela

9ervale aproximou a sua cadeira da de Jlyndon, assumiu umaatitude negligente, e ia come*ar um sério debate, quando alguém bateu Kporta e sem esperar permiss+o para entrar, apareceu no quartoG era Micot

- Bom dia, meu caro colega, - disse o 2ranc"s - 8ese)o falar-l(e =lá Domo ve)o, tem trabal(ado 7ssim é bom Aim, amigo Pm contornoatrevido, uma grande destre'a da m+o 3orém, espere >amos ver se acomposi*+o é boa M+o tem adotado a grande forma piramidal M+o pensatambém que nesta figura se descuidou de aproveitar a vantagem do contraste 4á que a perna direita se dirige para diante, o bra*o direito deveria estardirigido para trás F com a bréca 7quele dedo pequeno é magn<fico

9ervale detestava Micot, como a todos os especuladores, utopistas epretensos reformadores do mundoG naquele instante, porém, teria abra*ado o2ranc"s

>ia, na expressiva fisionomia de Jlyndon, todo o enfado e desgostoque sofria

8epois de um estudo feito sob o fogo do entusiasmo, ouvir falar deformas piramidais, de bra*os direitos e pernas direitas, de rudimentos da arte,sem tocar absolutamente na concep*+o, e ver terminar a cr<tica, enaltecendoo mérito do dedo m<nimo

- =( - disse Jlyndon, aborrecido, cobrindo com um pano o seu

quadro, - )á falou bastante do meu pobre trabal(o Que é o que voc" vemdi'er-me

- ?m primeiro lugar, - respondeu Micot, sentando-se sem cerimIniaem um banquin(o, - em primeiro lugar, este sen(or Zanoni - este segundoDagliostro, - que ataca as min(as doutrinas sem d5vida, ele é um espi+o deDapet1G eu n+o sou vingativo, pois, como di' elvécio, :os nossos errosnascem das nossas paix6es;G eu sei pIr freio Ks min(as, porém é virtudeodiar por causa da (umanidadeG eu queria ser o denunciante e o )ui' dosen(or Zanoni em 3aris

?, ao di'er isto, Micot rangeu os dentes, e os seus pequenos ol(osdespendiam um bril(o infernal

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- ?le l(e deu algum novo motivo de 0dio - perguntou Jlyndon

- Aim, - respondeu Micot, com impetuosidade

- Aim, ouvi di'er que corte)ava a mo*a com a qual eu pretendo casar-me

- >oc" ? quem é essa mo*a

- 7 célebre 3isani H uma mul(er divinamente formosa, que fariamin(a fortuna em uma Cep5blicaG e uma Cep5blica teremos ainda antes defindar o ano

9ervale esfregava as m+os de pra'er, rindo-se ruidosamente

Jlyndon corou de raiva e vergon(a

- >oc" con(ece a sen(orin(a 3isani - perguntou o pintor !ngl"s

- 2alou-l(e alguma ve'

- 7inda n+o, - respondeu MicotG - porém quando concebo um pro)eto,levo-o a cabo sem demora 8evo voltar, em breve, K 3aris ?screveram-meque uma mul(er formosa adianta a carreira de um patriota = tempo dospreconceitos )á passou, e come*am a compreender-se as virtudes maissublimes Levarei K 3aris a mul(er mais formosa da ?uropa

- ?nt+o Que é isso - exclamou 9ervale, detendo Jlyndon ao v"-loavan*ar para o 2ranc"s com os pun(os fec(ados e os ol(os cintilantes

- Aen(or - gritou Jlyndon, rangendo os dentes, - sabe de quemfala 4ulga que >iola 3isani o aceitaria

- M+o, se l(e apresentasse um partido mais vanta)oso, - disse9ervale, ol(ando placidamente para o teto

- Pm partido mais vanta)oso - retrucou Micot

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- ?u, 4ean Micot, ofere*o a min(a m+o K mo*a, e caso-me com ela ?ncontrará muitos que l(e fa*am ofertas mais liberais, porém nen(uma serát+o (onrosa como a que fa*o Aomente eu me compade*o da triste situa*+oem que está, isto é, sem amigos 3or outra parte, será sempre fácil, na2ran*a, desembara*ar-se de uma mul(er quando assim ac(armos

conveniente @eremos novas Leis de div0rcio 3ensa que uma )ovem !taliana,- e, digo entre par"ntesis, em nen(um outro 3a<s do mundo, segundo parece,as don'elas s+o mais castas, ainda que muitas mul(eres se consolem comvirtudes mais 2ilos0ficas, - pensa que uma )ovem !taliana, repito, recusará am+o de um artista pelas (onras de um pr<ncipe M+o ten(o formado da3isani mel(or conceito do que voc" 3enso fa'er todo o poss<vel para, embreve, ela aceitar a min(a m+o

- 8ese)o-l(e todo o sucesso, sen(or Micot, - disse 9ervale,levantando-se e apertando-l(e a m+o cordialmente

Jlyndon dirigiu K ambos um ol(ar despre'o e disse, com um sorrisoamargo F

- @alve', sen(or Micot, ten(a rivais

- @anto mel(or, - replicou o 2ranc"s, com indiferen*a, fa'endo bateros saltos, e parecendo absorto na admira*+o do taman(o dos seus grandespés

- ?u mesmo sou um admirador de >iola 3isani, - tornou Jlyndon- M+o o estran(o, - respondeu Micot- @odo pintor deve admirá-la

- ?u posso oferecer-l(e a min(a m+o, como voc" pretende oferecer-l(e a sua

- = que em mim seria sabedoria, - redargRiu o 2ranc"s - seria em siuma grande tolice >oc" n+o saberia tirar vantagens da especula*+o Darocolega, voc" tem preconceitos

- ? ousa di'er que especulará com a sua pr0pria mul(er

- = virtuoso Jat+o emprestou a sua mul(er para um amigo, e eu, queamo a virtude, n+o posso fa'er mel(or do que imitar esse sábio 3orém,falemos seriamente, - eu n+o o temo como rival, voc" tem um semblantebonito, e eu sou feio 9as é irresoluto, e eu sou decisivo ?nquanto que voc"perderá o tempo pronunciando frases escol(idas, eu direi simplesmente F:@en(o boa fortunaG quer casar-se comigo ; ? assim perderá e eu gan(arei,caro colega 7deus, tornaremos a nos ver detrás dos bastidores

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?, assim falando, Micot se levantou e, depois de estirar os compridosbra*os e as pernas curtas, abriu a boca em um boce)o enorme, deixando vertodos os dentes, pela maior parte )á estragadosG em seguida, com ar dedesafio, enterrou o gorro na desgren(ada cabe*a, e dirigindo por cima doombro esquerdo um ol(ar triunfante e malicioso para Jlyndon, saiu

precipitadamente do quarto9ervale soltou uma estrepitosa gargal(ada, edisse F

- >e)a, Jlyndon, como o seu amigo Micot estima a sua >iola M+o (ád5vida que o sen(or alcan*aria uma grande vit0ria, arrancando-a das garrasdo c+o mais feio que (á entre os Lap6es e os almuEs

Jlyndon estava ainda bastante indignado para poder responder,quando recebeu uma nova visita F era Zanoni

9ervale, a quem a presen*a e o aspecto deste (omem impuseram

uma espécie de relutante defer"ncia, que ele n+o queria confessar, e muitomenos deixar translu'ir, saudou Jlyndon, di'endo-l(e simplesmente F

- Quando nos tornarmos a ver, falaremos mais deste assunto

? deixou o pintor e a sua inesperada visita

- >e)o, - disse Zanoni, descobrindo o quadro, - que n+o esqueceu oconsel(o que eu l(e tin(a dado Doragem, )ovem artistaG esta é uma excurs+ofora das escolasG é uma tintura c(eia da ousada confian*a em si mesmo,como a tem o verdadeiro g"nio ?spero que n+o ten(a nem Micot, nem9ervale ao seu lado, quando concebeu esta imagem de verdadeira bele'a

Ceanimado por este inesperado elogio, e sentindo-se novamenteimpelido para a sua arte, Jlyndon respondeu modestamente F

- = meu quadro satisfa'ia-me até esta man(+G porém, depois,aborreceu-me e desvaneceu-me a min(a ilus+o

- 8iga antes que, n+o estando acostumado a um trabal(o continuo,sentiu-se fatigado com a tarefa

- H verdadeG por que negá-lo - confessou Jlyndon

- Domecei a sentir a falta do mundo exterior 3areceu-me que,enquanto eu desperdi*ava o meu cora*+o e a min(a )uventude em vis6es debele'a, estava perdendo as formosas realidades da vida ? c(eguei até ainve)ar o alegre pescador que passava cantando, debaixo da min(a )anela, eo feli' amante que ia conversando com a escol(ida do seu cora*+o

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- ? censura-se - disse Zanoni - por ter voltado Ks coisas da terraG massaiba que este regresso é natural, e que até os mais inveterados son(adoresprocuram na terra a tranqRilidade e o repouso = g"nio do (omem é uma aveque n+o pode voar incessantementeG quando se sente o dese)o irresist<vel domundo real, é mister satisfa'"-lo a todo o transe =s que dominam mais o

ideal s+o os que mel(or desfrutam a realidade Cepare que o verdadeiroartista, quando se encontra em Aociedade, está sempre observando, sempresondando o cora*+o, sempre atento Ks mais insignificantes, como Ks maiscomplicadas verdades da exist"ncia, e descendo ao que os pedantesc(amariam coisas triviais e fr<volas 8e cada mal(a do tecido social, overdadeiro artista sabe tirar uma gra*a, e os átomos mais insignificantestomam para ele uma forma dourada quando flutuam nos raios do Aol M+osabe que, ao S#%T redor do animálculo microsc0pico que brinca na água, bril(auma auréola, como em torno da estrela que fa' sua luminosa Cevolu*+o noespa*o 7 verdadeira arte encontra a bele'a em toda parte F na rua, nomercado, na c(oupanaG por onde quer que procure, ac(a alimento para o

enxame dos seus pensadores Ma lama da pol<tica, 8ante e 9iltonescol(eram pérolas para engastá-las na coroa do canto Quem l(e disse queCafael n+o desfrutou a vida exterior, levando sempre consigo a idéia internade bele'a que atraia e enc(ia com a sua pr0pria magia até as pal(as que ospés do (omem tosco pisam no lodo 7ssim como as feras andam pelasselvas em busca da sua presa, c(eirando-a e seguindo-a por montes eplan<cies, silvados e grutas, até que, por fim, dela se apoderam, da mesmaforma o g"nio busca por entre o bosque e através do deserto, infatigável ec(eio de ardor, com todos os sentidos despertos, com todos os nervoslevados K maior tens+o, os ob)etos que l(e oferecem as dispersas e fugitivasimagens da matéria, de que, por fim, se apodera a sua m+o forte, para levá-los Ks paragens solitárias que nen(um pé pode alcan*ar >á, procure omundo exteriorG ele é para a arte o inesgotável manancial que dá o alimentoao mundo ideal, ao mundo interior

- Ainto-me confortado, - respondeu Jlyndon, com serenidade

- ?u )ulgava que o meu cansa*o fosse uma prova da min(aincapacidade 3orém, neste momento n+o quereria falar-l(e destes trabal(os3erdoe-me se passo do trabal(o K recompensa = sen(or tem pronunciadoincompreens<veis profecias a cerca do meu porvir, se eu me casasse com

uma )ovem, que, segundo opinam pessoas graves e sensatas, seriaunicamente obstáculo para reali'ar os son(os que ambiciono 2ala baseando-se na sabedoria proveniente da experi"ncia, ou inspirado pela ci"ncia queaspira K predi*+o

- 3orventura n+o s+o aliadas umas a outra, estas duas ci"ncias -retrucou Zanoni

- = (omem mais acostumado ao cálculo n+o é, diga-me, o que maisdepressa pode resolver um novo problema na aritmética das possibilidadesda sorte

- >e)o que está iludindo a min(a pergunta

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- M+oG quero apenas fa'er com que compreenda mais facilmente amin(a respostaG pois eu queria levá-lo para este terreno ?scute-me

Zanoni fixou seriamente o seu interlocutor, e continuou F

- 3ara a reali'a*+o da verdade é um dos primeiros requisitos, - poisas verdades que se adaptam ao ob)eto (+o de ser bem con(ecidas 3or isso,o guerreiro redu' a sorte de uma batal(a combina*6es quase inteiramentematemáticas 3ode predi'er o resultado, se conta estritamente com oselementos que se v" obrigado a empregar Dom tantas e tantas perdas,poderá passar tal ponteG em tanto tempo poderá apoderar-se daquelafortale'a 7inda com mais exatid+o do que o guerreiro, pois depende menosdas causas materiais do que das idéias de que disp6e, pode o (omem quepossui uma ci"ncia mais pura ou uma arte mais divina, se c(ega a perceberas verdades que est+o nele e ao redor dele, predi'er o que poderá levar acabo e o que está condenado a ver fracassar Por9(2 esta .erce.70o das

erdades 9 interro(.ida .or (uitas causas2 8 co(o a aidade2 as.ai%/es2 o (edo2 a indol;ncia nele (es(o2 a i'nor<ncia dos (eios foradele2 *ue dee e(.re'ar .ara conse'uir o *ue se te( .ro.osto3 3odecalcular mal as suas pr0prias for*asG pode faltar-l(e o mapa do terreno quequer invadir So(ente *uando a (ente do 1o(e( se encontra e( certoestado es.ecial2 9 ca.a) de .erce,er a erdade= e este estado 9 u(a.rofunda serenidade3 7 sua mente, meu amigo, afana-se febrilmente, levadapor um dese)o de verdadeG dese)aria, talve', que eu l(e apresentasse semque para isso estivesse preparado, os maiores segredos que existem naMature'a 3orém, a verdade n+o pode ser vislumbrada por uma mente quen+o está preparada para isso, da mesma forma como é imposs<vel que o Aolnas*a K meia-noite 7 mente que quer descobrir a verdade, sem estardevidamente (abilitada, recebe a verdade somente para corromp"-la, comobem exprimem as palavras de um (omem que andou perto do segredo dasublime Joecia ou a magia que existe na Mature'a, como a eletricidade nanuvem1 F S#^T - Quem deita água em um po*o lodoso, n+o fa' mais do queturvar a água

- =nde quer ir parar - ob)etou Jlyndon

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- 7o seguinte F Que o meu caro )ovem possui faculdades que podemdar-l(e poder extraordinário, pondo-o na conta daqueles encantadores que,maiores do que os magos deixam detrás de si uma influ"ncia duradoura, aqual é adorada onde quer que se compreenda a bele'a e onde a alma se)asens<vel para tornar-se consciente de um mundo mais elevado do que este,

em que a matéria luta por uma exist"ncia rude e incompleta 3orém, para tirarproveito destas faculdades, n+o necessito ser profeta para di'er-l(e que émistér que aprenda a concentrar todos os seus dese)os em grandes ob)etos= cora*+o deve permanecer tranqRilo, para que a mente possa ser ativa 7téaquin+o tem feito mais do que vagar de um pro)eto a outro = que o lastro épara o navio, a fé e o amor s+o para o esp<rito Dom todo o seu cora*+o, eperseveran*a, com a idéia concentrada em um s0 ob)eto, a sua mente e suasaspira*6es se tornar+o igualmente enérgicas e estáveis >iola é ainda muito )ovemG o sen(or n+o percebe o grande caráter que as vicissitudes da vidanela desenvolveram 3erdoe-me se l(e digo que a alma dessa mo*a, maispura e mais elevada do que a sua, o a)udará a subir também Ks alturas

sublimes, como um (ino sagrado eleva ao céu as almas sens<veis 7 sua<ndole aspira K (armonia, K m5sica que, como ensinavam t+o sabiamente ospitag0ricos, transporta a alma a esferas superiores e acalma-a ao mesmotempo ?u ofere*o-l(e esta m5sica em seu amor

- 3orém, estarei eu certo de que >iola me ama

- @em ra'+o, JlyndonG ela n+o o ama agoraG o seu afeto pertencetodo a outro ?u, porém, posso transferir para si o amor que ela sentepresentemente por mimG sim, posso transferi-lo como o im+ transmite a suaatra*+o ao a*oG se eu puder conseguir que ela o considere como o ideal dosseus son(os

- ? semel(ante poder pode ser facultado para um (omem

- ?u a l(e ofere*o, se o seu amor é verdadeiro, se a sua fé na virtudee em si mesmo é profunda e lealG se, porém, n+o tem tal amor e fé )ulga queeu a desencantaria da verdade para fa'"-la adorar uma mentira

- 3orém, - retrucou Jlyndon, - se >iola é tudo o que acaba de di'er, ese ela o ama, como é que renuncia a um tesouro t+o precioso

- =( @olo e néscio cora*+o (umano - exclamou Zanoni, comestran(a veem"ncia

- H poss<vel que ten(a uma idéia t+o pobre do amor, que n+o saibaque o (omem pode sacrificar-l(e tudo, até o seu pr0prio amor, para garantir afelicidade da pessoa que ama ?scute-me

?, ao di'er isto, o semblante de Zanoni empalideceu

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- ?scute-me ?u l(e conto tudo isto, porque a amo, e porque temoque comigo n+o seria t+o ditosa como com o artista Jlyndon 3or qu" M+ome pergunte, pois n+o l(e quero di'er Basta )á H tempo de que eu saiba asua respostaG é imposs<vel adiá-la mais 7ntes da noite do terceiro dia, acontar de (o)e, n+o terá mais direito para escol(er

- 9as, - disse Jlyndon, ainda duvidando e alimentando certassuspeitas, - por que tanta pressa

- 4ovem, o sen(or n+o é digno dela, se me fa' semel(antesperguntas @udo o que posso di'er-l(e, deveria )á saber por si mesmo 7queleraptor, aquele (omem de vontade poderosa, aquele fil(o do vel(o >isconti- enisto n+o se parece consigo - é firme, resoluto e enérgico até em seus crimes,- ele nunca retrocede quando persegue um ob)eto que quer alcan*ar A0 umapaix+o domina o seu dese)o voluptuoso, - é a sua avare'a Mo dia seguinte aoda sua tentativa de raptar >iola, o seu tio, o Dardeal, - de quem ele espera

(erdar muitas terras e muito ouro, - c(amou-o e proibiu-l(e, sob pena dedeserdá-lo, o prosseguimento dos seus ign0beis des<gnios contra a )ovem, aqual o Dardeal protegera e amara desde a infância ?sta é a causa que o temdetido em seus in<quos pro)etos ?nquanto n0s estamos conversando, acausa vai desaparecendo 7ntes do meio dia, o Dardeal terá deixado deexistir Meste mesmo instante, o seu amigo, 4ean Micot, está falando com o3r<ncipe de OOO

- ?le ? por qu"

- 3ara saber que dote terá >iola 3isani na man(+ em que deixar o seupalácio

- ? como sabe tudo isto

- !nsensato 8igo-l(e outra ve' F porque um amante vigia de dia e denoite, quando algum perigo amea*a o ob)eto do seu amor

- ? foi o sen(or quem informou o Dardeal

- Aim, e o que eu fi', podia também o sen(or (av"-lo feito >amos,

qual é a resposta que me dá - Aab"-lo-á dentro de tr"s dias

- Ae)a assimG deixa a sua felicidade para a 5ltima (ora, pobre (omeminconsciente Mo terceiro dia, a contar de (o)e, virei saber a sua resposta

- ? onde nos veremos

- 7ntes da meia-noite, no local onde menos o espera M+o poderáevitar esse encontro, ainda que tente fa'"-lo

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- 7inda um instante - disse o artista - 8isse-me que soudesconfiado, irresoluto M+o ten(o motivos para s"-lo 3osso eu ceder, semresist"ncia, K estran(a fascina*+o que exerce sobre a min(a mente Queinteresse pode levá-lo a impor a um descon(ecido, como sou eu para ti, aa*+o mais grave da vida do (omem Aupon(a que qualquer outro (omem,

que estivesse em seu perfeito )u<'o, n+o quisesse um pra'o para deliberar - eperguntasse a si mesmo F :3or que é que este estrangeiro se ocupa tanto demim ;

- ? sem embargo, - respondeu Zanoni, - se eu l(e dissesse que posso!niciá-lo nos segredos dessa magia que a 2ilosofia de todo o mundo tem poruma quimera, ou por uma imposturaG se l(e prometesse ensinar a maneira dedominar os Aeres do ar e do oceano, de poder acumular rique'as com tantafacilidade como uma crian*a )unta as pedrin(as e os gr+os da areia na praia,pIr em suas m+os a ess"ncia das ervas que prolongam a vida de Aéculo emAéculo, o mistério dessa atra*+o por meio da qual se evitam os perigos, se

desarma a viol"ncia e se sub)uga o (omem, como quando a serpente encantaa :ave'in(a;G se eu l(e dissesse que possuo todo este poder e que possocomunicar- l(e, ent+o me escutaria e me obedeceria sem d5vida

- H verdadeG e posso explicar-me unicamente pelas imperfeitasrecorda*6es da min(a infância, por tradi*6es que existem em casa de OOO

- 8e seu avI, o qual, querendo auxiliar o restabelecimento da ci"ncia,buscou os segredos de 7polInio e de 3aracelso

- Domo - exclamou Jlyndon, pasmado - Don(ece os anais de umalin(agem t+o obscura

- 3ara o (omem que aspira ao saber, - respondeu Zanoni, - n+o deveser descon(ecido o nome do mais (umilde estudante da ci"ncia 3ergunta-mepor que me interesso tanto pela sua sorte 3or uma ra'+o que ainda n+o l(eexpliquei ?xiste uma !rmandade, cu)as Leis e mistérios s+o ignorados pelos(omens mais estudiosos ?stas Leis imp6em a todos os seus afiliados odever de advertir, a)udar e guiar até os mais remotos descendentes dos quese t"m esfor*ado, embora em v+o, como o seu avI, por con(ecer os mistériosda =rdem M0s temos a obriga*+o de aconsel(ar-l(es tudo o que pode fa'er

sua felicidadeG e mais ainda F se o exigem de n0s, (avemos de aceitá-los pordisc<pulos ?u sou um 9embro desta Aociedade, cu)a mem0ria se perde emtempos antiqR<ssimosG e é por isso que, desde que o encontreipela primeirave', me sentiligado a ti, por esses la*os de 2raternidadeG esta é a causa porque o ten(o atra<do a mim, talve' inconscientemente fil(o da nossa!rmandade

- Ae é assim, ordeno-l(e, em nome das Leis a que obedece, que mereceba por disc<pulo

- = que é o que quer - disse Zanoni, com arrebatamento

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- Aaiba primeiro as condi*6es Quem quer ser !niciado, deve, )á comone0fito, ser livre de todo afeto ou dese)o que o ligue ao mundo M+o l(e épermiti do amar mul(er algumaG deve estar livre de avare'a e de ambi*+o,livre de toda a ilus+o, até da que inspira a arte ou a esperan*a de um nomeilustre = primeiro sacrif<cio que teria a fa'er seria renunciar a >iola

- ? por que 3or pertencer a Pma ordem em que podem entrarapenas (omens de grande coragem, pois (+o de passar por provas a queresistem, somente as nature'as privilegiadas = sen(or n+o está apto para aci"ncia que me fe' a mim e a outros o que somosG tem ainda muito medo

- 9edo - exclamou Jlyndon, corando e erguendo altivamente acabe*a

- 9edo, sim, e da pior espécie F o medo do que dir+o os outrosG omedo dos Micots e dos 9ervalesG medo dos seus pr0prios impulsos quando

s+o generos<ssimosG medo dos seus pr0prios poderes, quando o seu g"niol(e inspira coisas arro)adasG medo de que a virtude n+o se)a eternaG medo deque 8eus n+o vive no céu para velar sobre a terraG medo, sim, medo dos(omens de cora*+o pequenoG e este medo n+o con(ece nunca os grandes(omens

?, ao di'er estas palavras, Zanoni desapareceu, deixando o artista(umil(ado e estupefato, porém n+o convencido

Jlyndon permaneceu s0 com os seus pensamentos, até que o somdo rel0gio o fe' voltar a siG lembrou- se, ent+o, da predi*+o de Zanoni sobre amorte do DardealG - e sentindo-se impelido por um !ntenso dese)o de saber averdade, saiu apressadamente para a rua e dirigiu-se ao palácio dessa altapersonagem

 7o c(egar ali, soube que a 7 sua ?min"ncia (avia expirado cincominutos antes do meio-dia, e que a sua enfermidade (avia durado apenasuma (ora

 7 visita de Zanoni tin(a sido mais prolongada do que a doen*a doDardeal 7terrori'ado e perplexo, abandonou Jlyndon o palácio, e, enquanto

passava pela D(ia)a, viu - 4ean Micot que saia do palácio do 3rincipe de OOO

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CAPÍTULO V 

:@wo loves ! (ave of comfort and despair, (ic( liEe two espirits dosuggest me still;A(eaEspeare

:@en(o dois amores que me d+o consolo e desespero, s+o como doisesp<ritos que ainda me sugestionam;

>enerável !rmandade, t+o sagrada e t+o pouco con(ecida, de cu)ossecretos e preciosos arquivos foi tirado o material para esta est0riaG voc" quetem conservado, de Aéculo, em Aéculo, tudo o que o tempo poupou daaugusta e venerável ci"ncia, - K ti agradecemos se agora, pela primeira ve', édado ao mundo, embora imperfeitamente, algum registro dos pensamentos edas a*6es de um lu' da sua =rdem, que n+o era uma falsa lu', nem por simesmo apresentada

9uitos se intitulam 9embros dessa AociedadeG muitos pretendentesesp5rios foram assim c(amados pela ignorância erudita, que até (o)e,envergon(ada e perplexa se v" obrigada a confessar que nada sabe da suaorigem, das suas cerimInias ou doutrinas, e nem pode di'er-nos se ainda tema sua sede na terra

 7 ti o agradecemos, S#.T eu o 5nico do meu 3a<s admitido, com umpasso de profano, na sua misteriosa 7cademia, eu que fui por ti autori'ado einstru<do para adaptar K compreens+o dos n+o !niciados, algumas dasbril(antes verdades que resplandeciam na grande A(emaia da Di"nciaDaldaica, e lu'iam francamente através da ci"ncia obscurecida dos disc<pulosdos tempos posteriores, trabal(ando, como 3sellus e 4amblic(us, parareavivarem as cin'as do fogo que ardera no amarin do Leste

?mbora n+o se)a concedido K n0s, fil(os de um mundo envel(ecido eadoentado, di'er o M=9? que, segundo afirmam os mais vel(os oráculos daterra, :penetra os mundos infinitos;, contudo podemos investigar as verdadesque revivem, em toda a nova descoberta do 2il0sofo e qu<mico

 7s Leis da atra*+o, da eletricidade, e do ainda mais misterioso agente

daquele grande principio de vida, que, se fosse retirado do universo,transformaria este em t5mulo, eram o D0digo em que a @eurgia dos antigosbuscavam as guias que deviam levá-la K uma legisla*+o e ci"ncia que l(eeram pr0prias3ara reconstruir com palavras os fragmentos desta ist0ria,parece-me como se, em um solene transe, tivesse sido levado através dasrumas de uma cidade de que s0 restavam t5mulos

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8o sarc0fago e da S#/T urna, despertei o g"nio da extinta @oc(a, e asua forma parece-se tanto com a de ?ros, que Ks ve'es nem sei di'er comcerte'a qual de v0s me dita, - 0 7mor 0 9orte ? como agitou o cora*+ovirginal esta nova, insondável e divina emo*+o ?ra somente a afei*+ocomum do pulso e da fantasia, dos ol(os voltados para o Belo, do ouvido

dirigido ao ?loqRente, ou era um sentimento que n+o )ustificava a no*+o queela mesma concebia a respeito dessa emo*+o admirável, - que n+o eragerada pelos sentidos, que era menos de amor terrestre e (umano do que oefeito de algum encanto maravil(oso e sagrado

?u disse que, desde o dia em que >iola resolveu submeter-se, semmedo, K influ"ncia de Zanoni, resolveu também tradu'ir em palavras os seuspensamentos e confiá-los ao papel

>e)amos uma parte deste manuscrito, para con(ecermos o caráter ea disposi*+o da )ovem cantora, por meio dos seus pensamentos

O #ON-!SSION&RIO DO #OR4ÇÃO

H a lu' do dia que me ilumina, ou é a recorda*+o da sua presen*a

3or onde quer que eu diri)a a min(a vista, o mundo me parece c(eioda sua imagemG no raio de Aol que tremula sobre a água e sorri sobre asfol(as, n+o ve)o mais que a semel(an*a dos teus ol(os

Que mudan*a é esta que altera n+o somente o meu ser, mas até oaspecto do universo inteiro

:Domo instantaneamente penetrou, na min(a vida, o poder que fe'vibrar o meu cora*+o em seu fluxo e refluxo 9il(ares de pessoas estavamao redor de mim, e eu vi sempre s0 a ti 2oi na primeira noite em que entreinesse mundo, que redu' a vida a um drama, que n+o tem outra linguagemque a m5sica Qu+o estran(a e repentinamente aquele mundo se tornou parasempre ligado contigo 7 min(a vida me pareceu concentrar-se naquelascurtas (oras, e dos teus lábios eu ouvia uma m5sica, impercept<vel para todosos ouvidos, menos para os meus ?stou sentada no quarto onde morououtrora o meu pai 7qui, naquela noite feli', esquecendo-me do porque eles

eram t+o ditosos, entreguei-me K triste'a, buscando adivin(ar o que tu eraspara mimG e quando a vo' da min(a m+e me c(amou, corri para sentar-me aolado do meu pai bem perto dele, porque os meus pr0prios pensamentos seassustavam;

:7( Domo foi doce e triste ao mesmo tempo a man(+ que se seguiua essa noite, quando os teus lábios me advertiam do meu futuro ? agora,pobre 0rf+ que sou, em que posso pensar, com que devo son(ar, a quemdevo estimar, sen+o a ti ;

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:Dom que ternura me repreendeste pelos pensamentos in)uriosos quede ti formara 3or que estremecia eu, quando sentia que o teu ol(arpenetrava os meus pensamentos, como o raio solar c(ega até a árvoresolitária, com a qual t+o bem me comparou ?ra porque a min(a vida seassemel(ava K dessa árvore, e porque, como ela, lutava pela lu'G e a lu' veio

2alam-me de amor, e, no teatro, sempre ten(o nos meus lábios a tualinguagem M+oG repito-o sempre, n+o é amor o que sinto por ti, eu sei - n+oé paix+o, é um pensamento M+o pe*o que se)a amada M+o me queixo deque tuas palavras se)am ásperas e frio o teu ol(ar M+o pergunto se ten(orivaisG n+o procuro parecer formosa a teus ol(os ? o meu esp<rito que dese)aunir-se com o teu ?u daria mundos, ainda quando estivéssemos separados,ainda quando (ouvesse entre n0s o imenso oceano, digo, daria mundos parasaber a (ora em que teus ol(os se dirigem Ks estrelas, e quando o teucora*+o eleva ao céu suas preces 8i'em-me que és mais belo do que asestátuas de mármore, mais formoso do que todas as formas (umanasG maseu nunca me atrevia ol(ar fixamente o teu semblante, para que a min(a

mem0ria pudesse comparar-se depois com os demais Lembro-me somentedos teus ol(os e do teu afável e tranqRilo sorriso @udo o que se passa nomeu cora*+o é misterioso, t+o misterioso como a silenciosa lu' da Lua;

:9uitas ve'es, quando o ar é calmo, parece-me que ou*o as toadasda m5sica do meu inesquec<vel paiG e, embora )á (á muito tempo que osautores dos meus dias repousam na tumba, creio que várias ve'es vieraminterromper meu son(o no meio das noites silenciosas 3arece-me que ou*oo violino do meu pai gemer e lamentar-se, quando, vendo-o partir, mergul(o-me em afli*+o >oc" é algo dessa m5sica, é seu esp<rito, seu g"nio = meupai deve t"-lo con(ecido, e talve' visitava as suas regi6es natas, quando osventos paravam para escutar seus tons, e o mundo o tin(a por louco ?uou*o daqui, de onde estou sentada, o long<nquo murm5rio do mar 9urmuraibenditas águas 7s ondas s+o as pulsa*6es da praia ?las batem com aalegria da brisa matutina, - assim como bate o meu cora*+o na frescura e lu'que me fa'em pensar em ti ;

:9uitas ve'es, em min(a infância, mediteie perguntei K mim mesma,porque (avia vindo ao mundoG e a min(a alma, respondendo ao cora*+odi'ia F :Masceste para adorar ;

AimG eu sei por que o mundo real me tem parecido sempre t+o falso et+o frio

Aei porque o mundo teatral me encantava e ofuscava

Aei porque me era t+o grato sentar-me em um local solitário e ol(ar omeu Aer inteiro nos céus distantes

?u n+o nasci para esta vida, que t+o feli' parece aos demais

 7 min(a alma precisa ter sempre diante de si alguma imagem mais

sublime do que ela mesma

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:?strangeiro, quando tiver passado pelo t5mulo, em que regi+oelevada poderá a min(a alma adotar o que adoras ;

:Mos )ardins do meu vi'in(o (á uma fonte ?sta man(+, depois donascer do Aol, estive )unto dela Domo saltava a sua espumosa água,

bril(ando nos raios solares ? eu pensei que devia ver-te outra ve' naqueledia, e assim saltava o meu cora*+o na lu' da nova aurora que me tra'ia docéu;

:7( W respondi - que importa a est0ria do cora*+o de uma menina;

:>iola - respondeste, com essa vo' t+o calma e t+o serena, - >iola, aobscuridade do cora*+o de uma crian*a é, Ks ve'es, a sombra de umaestrela;

:2ala ?nt+o quando apan(aram o teu rouxinol e o meteram na

gaiola, recusou-se a cantar;

:Aim, e eu coloquei a gaiola entre as fol(as daquela parreira, e,tomando o meu ala5de, pus-me a falar-l(e por meio das cordasG pois penseique toda a m5sica era sua linguagem natural e que ele compreenderia o queeu queria consolá-lo;

:Aim, - disseste - e, por fim, ele te respondeu, porém n+o cantando,mas com um grito estridente e breveG t+o triste, que as tuas m+os deixaramescapar o ala5de, e os teus ol(os verteram lágrimas ?m seguida, abriste aporta da gaiola, e o rouxinol, aproveitando este teu gesto, saiu voando para omatoG e ouviste mover-se a fol(agem, e viste através dos raios da Lua, que opassarin(o (avia encontrado a sua compan(eira = rouxinol cantou, ent+o,pousando entre os ramos, uma ária longa, sonora e alegre ? meditando,sentiste que n+o eram as fol(as de parreira, nem a Lua, o que, fa'ia orouxinol cantar t+o melodiosamente, mas que o segredo do seu canto era apresen*a de um Aer querido;

:3or que sabias os meus pensamentos infantis mel(or do que eumesma Domo é, formoso estrangeiro, que a min(a vida (umilde, nos seusminuciosos pormenores, l(e é t+o con(ecida 7dmiro-me, porém nunca mais

me atrevereia ter medo de ti ;

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:Pm dia, a lembran*a dele me oprimia Domo uma crian*a que c(orapor n+o poder apan(ar a Lua, assim eu sentia no meu cora*+o um vagodese)o de urna coisa que nunca poderia atingir 7gora, pelo contrário, quandopenso em ti, desvanece-se qualquer pesar que oprima a min(a alma 2lutuonos tranqRilos mares da lu' e nada parece demasiado alto Ks min(as asas,

nem demasiado bril(ante para os meus ol(os ?ra a min(a ignorância que melevava a tem"-lo 3arece-me que de tise desprende um saber que n+o estános livros, e que o envolve como uma atmosfera Qu+o pouco ten(o lido Qu+o pouco ten(o aprendido 3orém, quando tu estás a meu lado, parece-me que se levanta, diante dos meus ol(os, o véu de toda a sabedoria e daMature'a inteira Ainto surpresa até quando ve)o as palavras que escreviGparece-me que n+o v"m de mim mesma, mas que s+o os sinais de uma outral<ngua que tu ensinaste ao meu cora*+o, e que a min(a m+o tra*arapidamente, como se me fossem ditadas s ve'es, enquanto escrevo oumedito, se me figura que ou*o umas asas que se agitam ao redor de mim, eque ve)o opacas formas de bele'a que me rodeiam e se desvanecem,

sorrindo Men(um son(o pesado e medroso vem agora me inquietar quandodurmo, mas a min(a vida, quer eu durma, quer este)a acordada, é toda comoum cont<nuo son(o Quando durmo, via)o contigo, n+o pelos camin(os daterra, mas pelo ar impalpável, - por um ar que parece uma (armonia, - e meelevo mais e mais alto, como a alma sobe sobre os tons da lira 7ntes decon(ecer-te, fui escrava da terra @u me deste a liberdade do universo 7ntesde con(ecer-te, eu estava vivaG agora, porém, me parece que come*ou paramim a eternidade ;

:7ntes, quando eu tin(a que aparecer na cena, o meu cora*+o batiacom mais for*aG eu temia encontrar-me, face a face, com o audit0rio, cu)a vo'dá vergon(a ou famaG agora, n+o o receio mais =l(o essa gente, mas amin(a vista n+o se cru'a com a suaG eu n+o observo, n+o ou*o o audit0rio Aei que (á m5sica em min(a vo', pois é um (ino que canto em seu louvor @u nunca vens ao teatroG e, contudo, isto n+o me entristece Hs demasiadosagrado aos meus ol(os, para que me pare*a igual aos demaisG e sinto umpra'er vendo que n+o estás presente quando a multid+o tem o direito de )ulgar-me;

:? ele me falou de um outro, K um outro queria ele entregar-me M+o,n+o é amor o que sinto por ti, Zanoni G aliás, por que te escutei sem ressentir-

me 3or que n+o me pareceu coisa imposs<vel K tua ordem Domo ascordas de um instrumento obedecem K m+o de quem as mane)a, o teu ol(armodula todos os dese)os do meu cora*+o, submetendo-os K tua vontade Aeo queres, - assim, se)a, assim Hs o árbitro do meu destinoG n+o possorebelar-me contra ti 7té penso que amaria a quem quer que fosse, uma ve'que l(e transmitisses os raios que te rodeiam 7mo tudo o que tocaste, e tudoque fala de ti 7s tuas m+os brincaram com estas fol(as de parreira e, porisso, eu as guardo sobre o meu peito 3arece-me que tu és a fonte de todo oamorG parece-me que, sendo demasiado alto e demasiado bril(ante paraseres amado, irradias a tua lu' em outros ob)etos, que a vista podecontemplar sem ofuscar-se M+o é amor o que sinto por tie, portanto, n+o me

envergon(areide nutrir e contestar estas idéias Aeria um opr0brio para mim,amar-te, sabendo que sou aos teus ol(os uma coisa sem valor ;

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:Pm outro 7 min(a mem0ria repete esta palavra Pm outro Queresdi'er-me, com isso, que n+o tornarei)á a ver-te M+o é triste'a, n+o édesespero o que se apodera de mim M+o posso c(orar H um profundosentimento de desola*+o ?stou atirada novamente K vida vulgarG e tremo aoconsiderar a min(a solid+o Dontudo, obedecer-te-ei, se assim queres

@ornareia ver-te s0 no além da bimba =( Domo seria doce para mim amorte ;

:3or que n+o luto para romper os la*os que enredam assim a min(avontade @ens direito de dispor de mim como queres 8evolve-me K vidaque con(eciantes de ver-teG a vida que depus em tuas m+os 8evolve-me ostranqRilos son(os da min(a infância - a liberdade do meu cora*+o quecantava em vo' alta quando andava nesta terra @u me desencantaste detodas as coisas que n+o se referem a timesmo ?ra um crime, eu pensar emti, e v"-lo = teu bei )o queima ainda a min(a m+oG é min(a esta m+o, paraque eu a d" a quem quiser = teu bei)o reclamou e consagrou esta m+o para

ti ?strangeiro, eu n+o te obedecerei;

:9ais um dia, - um dos tr"s dias fatais, passou 7dmiro-me como osono da 5ltima noite derramou sobre o meu peito uma calma profunda Ainto-me t+o segura na min(a concep*+o de que o meu verdadeiro Aer tornou-seuma parte de ti, que n+o posso crer que a min(a vida possa separar-se datuaG e nesta convic*+o descanso, e rio até das tuas palavras e dos teustemores 3rofessas uma máxima que repetes em mil formas F que a bele'a daalma é a féG que a fé é para o cora*+o o que o ideal é para o escultorG que afé, bem compreendida, se estende a todas as obras do Driador, a quem s0podemos con(ecer por meio delaG que a fé nos infunde uma tranqRilaconfian*a em n0s mesmos, e um sereno descanso ao pensarmos no nossofuturoG que a fé é a Lua que domina o fluxo no mar da vida (umana ?u seique ten(o entrela*ado de uma forma indivis<vel a madeixa das nossas vidas eque n+o posso separar-me de ti, ainda que o queira ? esta mudan*a da lutanesta calma reali'ou-se enquanto estive dormindo, em um sono sem son(oGquando despertei, tive um misterioso sentimento de felicidade, - uma confusalembran*a de algo agradável, como se tu de longe, tivesses feito cair umsorriso teu sobre mim, adormecida 8e noite, eu estava t+o triste M+o (aviaum bot+o que n+o se tivesse fec(ado, como se nunca mais devesse tornar aabrir o seu cálice ao solG e a noite mesma, tanto no cora*+o como na terra,

transformou os bot6es em flores = mundo torna a ser belo, e a sua bele'aestá unida K calmaG nem a mais leve brisa move as árvores, nem a menord5vida perturba a min(a alma ;

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CAPÍTULO VI 

:@u vegga o per violen'a o per inganno3atire o disonore o mortal danno;

=rlando 2tsr, canto XL!!, #

=u por viol"ncia, ou por engano,deverá sofrer desonra ou danomortal

?stamos em um pequeno gabinete, cu)as paredes est+o cobertas depinturas, das quais cada uma tem mais valor do que toda a lin(agem do donodo palácio

=(, sim Zanoni tem ra'+o F o pintor é um magoG o ouro que ele, aofim, extraido seu crisol, n+o é uma ilus+o

Pm nobre >ene'iano pode ser um )anota, ou um assassino, um(omem vil ou um imbecilG ainda, porém, que se)a um (omem indigno, podeter-se feito retratar por @iciano, e o seu retrato pode ser de um valorinestimável, - algumas polegadas de tela pintada podem valer mil ve'es maisdo que um (omem de carne e osso, com o seu cérebro, com sua vontade,com o seu cora*+o e a sua intelig"ncia

Meste gabinete estava sentado um (omem de uns quarenta e tr"sanos, de ol(os negros, te' pálida, formas salientes, boca grande, em cu)osgrossos lábios se via pintada a sensualidade e a resolu*+o

?ste (omem era o 3r<ncipe de OOO

 7 sua estatura era algo mais que mediana e a sua forma um poucoinclinada K corpul"nciaG tra)ava um largo c(ambre de rico brocado

Aobre uma mesa diante dele estavam uma espada antiga, umc(apéu, uma máscara, dados e um copo para estes, uma carteira e um

tinteiro de prata ricamente cin'elado- Bem, 9arcari, - disse o 3r<ncipe, ol(ando para o seu cortes+o, que

permanecia no v+o de uma )anela gradeada de ferro, - bem o Dardeal )ádorme com os seus paisG eu preciso consolar-me da perda de um parente t+oexcelenteG e que coisa poderia oferecer-me maior distra*+o do que a doce vo'de >iola 3isani

- 2ala >ossa ?xcel"ncia seriamente - respondeu 9ascari

- á pouco tempo que faleceu a 7 sua ?min"ncia 3or esta mesma

ra'+o, ninguém suspeitará de mim, - redargRiu o 3r<ncipe

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- Aabe o nome do insolente que nos burlou naquela noite, e avisou oDardeal no dia seguinte

- 7inda n+o

- 3ois bem, sapient<ssimo 9arcari ?u l(e direi 2oi o misteriosoestrangeiro

- = sen(or Zanoni ?stais seguro disso, sen(or 3r<ncipe

- Aim, 9ascari Ma vo' desse (omem (á algo que n+o me deixaenganarG o seu tom é claro e t+o imperioso que, quando o ou*o, quaseacredito que existe o que c(amam consci"ncia Aem embargo, (avemos dedesfa'er-nos desse impertinente, 9ascariG o sen(or Zanoni ainda n+o (onroua nossa pobre casa com sua presen*a Aendo ele um estrangeiro t+o distinto,devemos obsequiá-lo com um banquete

- 7( ? o vin(o de D(ipre D(ipre e cipreste soam um poucosemel(antemente, e o cipreste é o mel(or emblema da tumba W

3orém, isto (á de ser logo, - disse o 3r<ncipeG - eu sou supersticioso,e contam-se tantas coisas do poder de Zanoni e da sua previs+o Lembra-seda morte de Pg(elli 3orém, n+o importaG ainda que estivesse aliado com odemInio, n+o roubará a min(a felicidade, nem evitará a min(a vingan*a

- >e)o que >ossa ?xcel"ncia está deveras enfeiti*ado pela atri'

- 9ascari, - respondeu o aristocrata, com um sorriso orgul(oso, - porestas veias corre o sangue dos vel(os >isconti, daqueles que sevangloriavam de que mul(er alguma l(es escapou quando a cobi*avam, enen(um (omem soube evitar o seu ressentimento 7 coroa dos meusantepassados converteu-se em um brinquedoG a sua ambi*+o e o seu esp<rito,porém, est+o sempre firmes 7 min(a (onra está comprometida nestaempresa, >iola (á de ser min(a

- =utra emboscada - perguntou 9ascari, para descobrir terreno

- M+o, - respondeu o pr<ncipeG - por que n+o penetrar<amos na casa

?stá em um local muito solitário, e a porta n+o é de ferro- ? se ela, ao regressar K sua casa, relatar a nossa viol"ncia Pma

casa assaltada, uma virgem roubada Cefleti bemG ainda que os privilégiosfeudais n+o este)am destru<dos, lembrai-vos de que agora nem um >iscontiestá acima da Lei

- M+o está, 9ascari Louco ?m que época do mundo, mesmo seesses man<acos lá da 2ran*a reali'assem as suas quimeras, a férrea Lei n+odobrará como um débil gal(o de vime, ante o poder e o ouro M+oempalide*a, 9ascariG combinei tudo perfeitamente Mo dia em que >iola

deixar este palácio, seguirá para a 2ran*a com 9onsieur 4ean Micot

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 7ntes que 9ascari pudesse replicar, o criado anunciou o sen(orZanoni

= 3r<ncipe pIs, involuntariamente, a m+o sobre a espada colocadasobre a mesaG depois, sorrindo do seu impulso, levantou-se e foi receber a

visita ao limiar da porta, com a profunda e respeitosa cortesia da dissimula*+o!taliana

- Pma (onra que muito me desvanece, - disse o aristocrata á muitotempo que dese)ava apertar a m+o de uma pessoa t+o distinta

- ? eu l(a estendo com a inten*+o com que a procura - respondeuZanoni

= Mapolitano apressou-se a apertar a m+o de Zanoni G porém, apenasa tocou, sentiu um forte estremecimento, e o seu cora*+o cessou de bater

Zanoni fixou no pr<ncipe os seus negros ol(os sorridentes, e sentou-se com ar familiar

- 7ssim, nobre 3r<ncipe, fique firmada e selada a nossa ami'ade ?agora dir-l(e-ei qual é o ob)eto da min(a visita 7c(o, ?xcel"ncia, que, talve'inconscientemente, somos rivais M+o podemos regular as nossas pretens6es

- 7( - respondeu o Mapolitano, afetando indiferen*a, - ent+o é osen(or o caval(eiro que me arrebatou o pr"mio da min(a ca*a Ma guerra eno amor, todos os estratagemas s+o legais Ceconciliemos as nossaspretens6es BemG aqui est+o os dadosG que a sorte decida sobre ela Quemobtiver o ponto mais baixo, renunciará a >iola

- H esta uma decis+o, a que promete submeter-se

- Aim, sob a min(a palavra de (onra

- ? a quem falta K sua palavra, que castigo se l(e imp6e

- 7 espada está )unto aos dados, sen(or Zanoni Quem faltar K suapalavra de (onra que caia pela espada

- ?nt+o, 3r<ncipe, >ossa ?xcel"ncia invoca esta senten*a paraqualquer de n0s dois, se faltar K sua promessa de submeter-se K decis+o dosdados ?stá bemG aceito Que o sen(or 9ascari )ogue os dados por n0s

- 9uito bem 9ascari, os dados

= 3r<ncipe acomodou-se em sua cadeiraG e, apesar de toda a suafleuma mundana, n+o pIde dominar a emo*+o que fe' colorir o seu

semblante K idéia do seu triunfo e satisfa*+o

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9ascari agarrou os tr"s dados, colocou-os no copo e f"-los rolarruidosamente

Zanoni, apoiando a face com a m+o, e inclinando-se sobre a mesa,fixou os seus ol(os firmemente no parasita

?m v+o 9ascari se esfor*ava por subtrair-se Kquele ol(arperscrutadorG empalideceu, e, tremendo, pIs o copo dos dados sobre a mesa

- = primeiro lance será para > ?xcia - disse Zanoni

? dirigindo-se ao cortes+o F

- Aen(or 9ascari, ten(a a bondade de tirar-nos logo dasd5vidas9ascari tomou de novo o copo com os dados, agitou-o ruidosamentee, depois, )ogando-os, verificou que o lance dava de'esseis pontos

- H um n5mero bem alto - disse Zanoni, com calmaG - contudo,sen(or 9ascari, ainda n+o desespero

9ascari recol(eu os dados e, agitando o copo, despe)ou novamente oseu conte5do sobre a mesa F o n5mero era o mais elevado que se podia obterF de'oito

= 3r<ncipe lan*ou um ol(ar irritado ao seu criado, que contemplava osdados com a boca aberta, tremendo da cabe*a aos pés

- Domo v" sen(or, gan(ei, - disse Zanoni G - poderemos, apesar detudo, ser amigos

- Aen(or, - respondeu o 3r<ncipe, esfor*ando-se por dominar a suaraiva e confus+o, - a vit0ria é sua 3orém, falou dessa )ovem com muita frie'aG(averia algo que pudesse fa'er-l(e renunciar ao seu direito

- 7( M+o pense t+o mal da min(a fidalguia, - respondeu Zanoni, eacrescentou com vo' grave F

- M+o se esque*a da senten*a que os seus lábios pronunciaram= 3r<ncipe fran'iu as sobrancel(asG porém reprimiu a altiva resposta

que o seu primeiro impulso l(e pun(a na boca, e retrucou com fingido sorriso F

- Basta ?u cedoG e deixe-me provar-l(e que cedo sem nutrirressentimentos Quer (onrar com a sua presen*a uma pequena festa que mepropon(o dar ? com riso sardInico, acrescentou F

- Aerá dada a festa em (onra da eleva*+o do meu parente, o falecidoDardeal, de pia mem0ria, K verdadeira cadeira de A+o 3edro

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- Aerá para mim um pra'er obedecer Ks vossas ordens, respondeuZanoni

?, mudando de conversa*+o, falou alguns instantes com bom (umor,depois se despediu

- 3atife - exclamou o 3r<ncipe, agarrando 9ascari pelo pesco*o ->oc" me traiu

- 7sseguro a >ossa ?xcel"ncia - disse o criado - que os dadosestavam bem preparados F para ele n+o deviam sair mais do que de' pontosGporém este (omem é o diabo, e assim se explica tudo

- M+o percamos tempo, - respondeu o 3r<ncipe, soltando o criado,que, tranqRilamente, come*ou a pIr em ordem a sua gravata

- = meu sangue está fervendoG quero que esta menina se)a min(a,ainda que isto me custe a vida

- Que ru<do é esse - Mada, sen(or, foi a espada do vosso ilustre avIque caiu da mesa

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CAPÍTULO VII 

:!l ne faut appeler aucun ordre,si ce nUest en temps clar et serein;

Les Dlauvicles du Cabbi Aalomon

:M+o se deve evocar esp<ritos de classe alguma,a n+o ser em tempoclaro e sereno;

#4RT4 D! Z4NONI > !?NOUR

 7 min(a arte come*a )á a obscurecer-se e turvar-se

3erdi a serenidade que é a que dá o poder

4á n+o posso influenciar as decis6es daqueles que dese)ava guiar KmargemG ve)o-os andarem cada ve' mais longe e mais engolfados no imensooceano onde os nossos barcos navegam eternamente, dirigindo-se ao(ori'onte que foge diante de n0s

 7dmirado e alarmado de ver que s0 posso aconsel(ar e advertir,quando dese)o mandar, dirigio meu ol(ar K min(a pr0pria alma

H verdade que os dese)os terrestres ligam-me ao presente, eencobrem-me os solenes segredos que unicamente o intelecto, purificado detoda a esc0ria material, pode examinar e avaliar

 7 dura condi*+o, sob a qual nos foram concedidos nossos maisnobres e divinos dons, anuvia a nossa vista quando a dirigimos para o futurodaqueles que nos t"m inspirado as fraque'as (umanas de :'elos, 0dio ouamor;

9e)nour, uma densa névoa levanta-se em torno de mimG eu declineiem nossa sublime exist"ncia, e do seio de imorredoura )uventude, quefloresce somente no esp<rito, brota a negra e venenosa flor do amor (umano

?ste (omem n+o é digno dela, - eu con(e*o esta verdadeG porém, asua nature'a contém a semente do que é bom e grande, e esta sementepoderá germinar, se o )oio e as vis ervas da vaidade e dos preconceitosmundanos n+o o impedirem

Ae essa )ovem fosse sua, e eu pudesse assim transplantar em outrosolo a paix+o que obscurece a min(a vista e desarma o meu poder, eu, semser visto, ouvido ou con(ecido, poderia velar pela sorte deste (omem einspirar-l(e secretamente o bom sucesso das suas obras, e a ela proporcionara felicidade por intermédio dele

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9as o tempo urge 3or entre as sombras que obscurecem a min(avista ve)o amontoarem-se os mais terr<veis perigos

M+o resta outro recurso sen+o fugir, ela n+o pode salvar-se sen+ocom ele, ou comigo

Domigo - á idéia sedutora, - convic*+o terr<vel Domigo 9e)nour,admira-te saber que eu dese)aria salvá-la de mim

Pm momento na vida dos Aéculos, uma bol(a no meio do imensomar

Que outra coisa poderia ser para mim o amor (umano

? nesta esquisita nature'a, mais pura e mais espiritual em suasafei*6es )uvenis, do que tudo o que eu pude contemplar no passado, nos

inumeráveis volumes do cora*+o, gera*+o ap0s gera*+o, existe, contudo, umoculto sentimento que me adverte que inevitáveis males a aguardariam, sefosse min(a

Y austero e insens<vel ierofante, tu que quiseste converter K nossa!rmandade todos os (omens cu)os esp<ritos te pareciam elevad<ssimos ealtamente atrevidos, e sabes, por (orr<vel experi"ncia, qu+o baldia é aesperan*a de banir o medo do cora*+o da mul(er

 7 min(a vida seria para ela uma maravil(a

 7té se, por outro lado, eu tentasse guiar seus passos pela regi+o doterror, para fa'"-la vir K lu', lembro-me do ?spectro do Pmbral, e estreme*oao imaginar o tremendo perigo

?u me esforceipor despertar no cora*+o do !ngl"s a ambi*+o queinspira a verdadeira gl0ria da sua arteG mas o esp<rito inquieto do seu avIparece inspirar ainda este )ovem e atra<-lo Ks esferas onde se perderam osseus pr0prios passos

?xiste um mistério nessa transmiss+o de inclina*6es do pai ao fil(o

Dertas particularidades da mente, bem como as enfermidades docorpo permanecem adormecidas durante algumas gera*6es para depoisreviverem, em algum distante descendenteG resistem a todo o tratamento e'ombam de toda a ci"ncia

>em visitar-me 9e)nour

8eixa as tuas solitárias ru<nas de Coma, e vem prestar-me teu aux<lio

 7nseio por ter um confidente vivo, - um que sentiu, em outro tempo,

também o ci5me e o amor

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Quis comunicar-me com 7donaiG mas a sua presen*a, que outrora meinspirava t+o celestial contentamento com a sabedoria e t+o serena confian*ano destino, agora s0 me confunde e fa'-me titubear

8as alturas de onde me esfor*o por penetrar as sombras do porvir,

ve)o confusos espectros de aspecto irado e amea*ador

3arece-me que distingo um pálido fim da maravil(osa exist"ncia queten(o go'ado, parece-me que, depois de Aéculos de uma vida ideal, ve)o osmeus dias precipitarem- se na mais tempestuosa voragem da realidade

Lá onde as estrelas me abriam as suas portas, ve)o aparecer umcadafalso, densos vapores de sangue se levantam como de um matadouro

= que ac(o mais estran(o, é que uma criatura (umana, um tipo dofalso ideal dos (omens vulgares, um (omem disforme de corpo e de

mentalidade, um (ediondo escárnio da arte que cria a bele'a e do dese)o quebusca a perfei*+o, aparece-me sempre no meio dessas confusas e negrassombras do meu destino

Aempre o ve)o )unto a esse cadafalso, e fala-me em sua geringon*a,e dos lábios l(e gote)a lama e sangue

>em, o( >em, amigo dos tempos de outroraG sei que, quando setrata de mim, a tua sabedoria n+o apaga no teu cora*+o as afei*6es(umanas

Aegundo os v<nculos da nossa augusta =rdem, redu'ida agora a n0sdois, 5nicos sobreviventes de tantos altivos e gloriosos aspirantes, estástambém obrigado a advertir o descendente daqueles que os teus consel(osprocuravam iniciar no grande segredo, em um tempo )á passado

= 5ltimo descendente daquele intrépido >isconti, que foi teu disc<pulo,é infatigável perseguidor desta formosa )ovem

?le, com as suas idéias libidinosas e assassinas, está abrindo a suasepulturaG podes talve', ainda fa'"-lo vacilar, desistir do seu pro)eto e evitar o

precip<cio? eu também, misteriosamente, pelos mesmos v<nculos, me ve)o

obrigado a obedecer, se o )ovem !ngl"s exigir que se)a !niciado, este menosculpado descendente de um desenganado, porém nobre estudante

Ae ele re)eitar o meu consel(o, insistir em que eu cumpra apromessa, terás, 9e)nour, um novo ne0fito M+o queira outra v<tima >em [mim

?sta carta c(egará Ks tuas m+os o mais depressa poss<vel

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Cesponde-a com o contato de uma m+o que ainda me considerodigno de apertar

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CAPÍTULO VIII 

:!l lupo 2erito, credo, mi conobbe encontro 9i venne con la boccasanguinosa;

 7mita, 7cto !>, Acena !

:= lobo ferido, creio, con(eceu-me e veio ao meu encontro,com aboca sanguinolenta;

= t5mulo de >irg<lio, situado sobre a caverna de 3osilippo, évenerado em Mápoles, n+o com os sentimentos que deveriam (onrar amem0ria do poeta, mas com o terror que inspira a recorda*+o de um mago

=s Mapolitanos atribuem a seus feiti*os a cavidade daquelamontan(aG e a tradi*+o ainda fa' guardar o seu t5mulo pelos esp<ritos queevocara para construir a caverna

?ste local, que se ac(ava na imediata vi'in(an*a da casa de >ida,(avia muitas ve'es atra<do os seus solitários passos

 7 )ovem se compra'ia com as tétricas e solenes fantasias que l(einspirava a vista daquela profunda e tenebrosa grutaG e, Ks ve'es, subia atéao t5mulo do poeta para contemplar, daquela elevada roc(a, as pequenasfiguras da afamada multid+o, que pareciam arrastar-se como insetos pelastortuosidades da cidade que l(e ficava abaixoG e agora, na (ora do meio dia,dirigia-se a )ovem para este sitio, com ar contemplativo !a pelo estreitocamin(o, e depois de cru'ar a sombria vin(a que subia pela roc(a, c(egou aoponto mais elevado, coberto de musgo e de verde fol(agem, onde, como éopini+o geral, repousam os restos daquele que ainda (o)e inspira aos (omenssublimes pensamentos

?m uma distância notável, levantava-se a imensa fortale'a deAantU?lmo, fa'endo negre)ante carranca no meio de pináculos e 'imb0riosque bril(avam esplendidamente os raios de Aol

 7calentada pelo murm5rio das ondas, a sereia dormia no a'uladomar, e o >es5vio, n+o muito longe, elevava ao l5cido firmamento uma colunam0vel de fuma*a, K borda do precip<cio, estava >iola, im0vel, contemplando oformoso panorama que o mundo dos vivos apresentava, lá em baixo, K suavistaG e o negro vapor do >es5vio a fascinava ainda mais do que os dispersos )ardins, ou a bril(ante Dáprea, que sorria no meio dos sorrisos do mar>iola,que n+o tin(a notado o ru<do dos passos que seguiam a sua pista,sobressaltou-se ao ouvir uma vo' )unto de si

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@+o repentina foi a apari*+o da forma que notou a seu lado,emergindo das moitas que cobriam as roc(as, e a sua extraordinária fealdade(armoni'ava-se tanto com a selvagem nature'a da cena que a rodeava ecom as tradi*6es misteriosas daquele local, que a )ovem empalideceu, e umdébil grito escapou-l(e dos lábios

- Ail"ncio, t<mida pombin(a M+o ten(a medo do meu rosto - disse o(omem, sorrindo com amargura - 8epois de tr"s meses de matrimInio, n+oexi ste a menor diferen*a entre a formosura e a fealdade = costume é umgrande nivelador

?u me dirigi a K sua morada )ustamente quando voc" de lá saiaG ecomo ten(o que l(e comunicar assuntos de importância me atrevia seguir osseus passos

?u me c(amo 4ean Micot e o meu nome )á é bastante con(ecidocomo artista 2ranc"s

 7 pintura e a m5sica s+o artes irm+s, e o teatro é o altar que asuneavia, na conversa*+o deste (omem, uma certa franque'a, quedesvaneceu o medo que causara K primeira vista

= artista sentou-se sobre uma pedra, ao lado da )ovem e prosseguiu,fixando nela os seus ol(os

- H muito formosa, >iola 3isani, e n+o me surpreende que ten(atantos admiradores Ae eu me atrevo a figurar entre eles, é porque sou o5nico que a ama (onestamente e que a galanteia seriamente M+o me ol(ecom indigna*+o ?scute 2alou-l(e alguma ve' do matrimInio o 3r<ncipe deOOO, ou esse belo impostor Zanoni, ou esse )ovem !ngl"s de ol(os a'uis,Dlar"ncio Jlyndon = que eu l(e ofere*o é um matrimInioG sim, ofere*o-l(ea min(a m+o, um lar, a seguran*a e a reputa*+oG e estes s+o bens quepersistem, quando o peso da vel(ice fa' curvar as pessoas e apaga o bril(odos ol(os Que di'

 7o fa'er esta pergunta, Micot fe' um movimento, querendo tomar am+o da )ovem

>iola, porém, esquivou-se ligeira e, voltando-l(e as costas, tomousilenciosamente o camin(o da sua casa

Micot, ao perceber a inten*+o da )ovem, correu a interceptar-l(e opasso

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- 2ormosa atri' - exclamou ele, - (á de ouvir-me Aabe o que é acarreira do teatro aos ol(os das pessoas que vivem nutrindo preconceitos,isto é, para a maioria da Aociedade ?u vo-lo direi 8e noite, ao resplendordos lampadários, é uma princesaG K lu' do dia, porém, n+o é mais do que umainfeli' Minguém cr" em sua virtude, nem em seus votosG é a boneca que o

p5blico veste de ouro falso, para que o divirta, mas n+o é um <dolo que seadore @em, por acaso, tanta afei*+o a essa carreira, que, por ela, despre'a aseguran*a e a (onra @alve' se)a diferente do que parece ser @alve' se riados preconceitos que l(e desagradam, e pode ser que queira tirar delesvantagem 2ale-me com franque'aG eu também n+o nutro preconceitos 9in(aquerida estou certo de que n0s nos compreenderemos 7gora, é preciso quesaiba que ten(o que l(e dar um recado do 3r<ncipe de OOO 8evo di'er-l(e

Munca se sentira >iola t+o abatida como neste instante, nunca (aviavisto t+o claramente, como agora, todos os perigos da sua situa*+o, da suaamea*ada fama, do seu (onrado nome, que v<s pro)etos queriam macular

Micot continuou F - Zanoni n+o faria mais que se divertir com suavaidadeG Jlyndon se despre'aria a si mesmo, se l(e oferecesse a sua m+o eo seu nome, e despre'a-la-ia se aceitasseG mas o 3r<ncipe de OOO pensaseriamente, e é rico ?scute

? Micot aproximou os lábios ao ouvido da )ovem e disse-l(e uma fraseque >iola n+o l(e permitiu completarG e dirigindo-l(es um ol(ar de profundodespre'o, retrocedeu

Micot fe', ent+o, um esfor*o para tomar-l(e o bra*o e det"-laG porém,resvalou-l(e um pé e ele caiu rolando pela roc(a, até que um gal(o de pin(o,em que ele, )á ferido e mac(ucado, se deteve, serviu-l(e de ponto desalva*+o, sen+o teria ido parar no fundo do abismo

>iola, ouvindo a sua exclama*+o de raiva e dor, pIs-se a correr pelocamin(o e, sem volver a vista, c(egou K sua casa

 7li, sob o alpendre, Jlyndon estava conversando com Jianetta

>iola passando precipitadamente ao seu lado, entrou no quarto, semdeter-se e, atirando-se ao leito, pIs-se a c(orar amargamente

Jlyndon, admirado de ver a )ovem entrar daquela maneira, seguiu-a,esfor*ando-se em v+o por acalmá-la e consolá-la

>iola n+o respondia Ks suas perguntasG nem parecia, igualmente,escutar as suas declara*6es de amor, até que, de repente, recordando-se daterr<vel descri*+o, que Micot l(e fi'era, do )u<'o que a Aociedade formava dasua carreira, dessa profiss+o que, outrora, l(e (avia parecido, em seuspensamentos infantis, o servi*o da 7rte e da Bele'a, levantou a cabe*a e,ol(ando fixamente o !ngl"s, disse-l(e F

- omem falso, voc" se atreve a falar-me de amor

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- 4uro-l(e, pela min(a (onra, que me faltam palavras para di'er-l(ecomo a amo

- Quer oferecer-me a sua casa, e dar-me a seu nome Quer casar-secomigo

Ae, neste momento, Jlyndon tivesse respondido o que l(eaconsel(ava o seu an)o bom, talve', na terr<vel Cevolu*+o que se operava emtoda a mente da )ovem, em conseqR"ncia das palavras que l(e dissera Micot,palavras que a fa'iam despre'ar-se a si mesma, e que, depois de arrebatar-l(e suas ilus6es, a fi'eram desesperar do seu porvir e tiraram-l(e as cren*asem todo o seu ideal, talve', repito, reabilitando-a em seu conceito, ele teriagran)eado a confian*a da )ovem, e teria conquistado o seu cora*+o

3orém, contra o impulso da sua nature'a mais nobre, esta inesperadapergunta despertou em seu esp<rito todas as d5vidas que, como Zanoni (avia

dito t+o acertadamente, eram os verdadeiros inimigos da sua alma

!r<a cair no la*o que os enganadores tin(am preparado para a suacredulidade

M+o seria tudo isso sen+o um ardil, uma coisa fingida, parasurpreend"-lo e arrancar-l(e uma promessa, da qual a fria prud"ncia o fariaarrepender-se depois

M+o podia essa grande atri' representar um papel estudado deantem+o

?stes pensamentos, fil(os do mundo, cru'ando por sua mente,desviaram-no do seu primeiro impulso, e até se l(e afigurou ouvir, na rua, oriso sarcástico de 9ervale

? n+o se enganava, neste ponto F 9ervale passava naquele momentoem frente a porta, e Jianetta l(e (avia dito que os seu amigo estava lá dentro

Quem é que n+o con(ece o efeito que produ' o riso do mundo ?9ervale era a personifica*+o do mundo

Ma gargal(ada de 9ervale, parecia K Jlyndon que ouvia o grito deescárnio do mundo inteiro

= )ovem artista parou e retrocedeu

>iola seguia-o com os ol(os sérios e impacientes

?nfim, Jlyndon balbuciou F

- ?xigem todas as da sua profiss+o, formosa >iola, o matrimInio

como a 5nica prova de amor

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=( 3ergunta amarga =( !nsulto venenoso

Jlyndon, con(ecendo a sua in)usti*a, arrependeu-se logo no mesmoinstanteG a ra'+o, o sentimento e a consci"ncia repreendiam-l(e, com gravesremorsos, o seu comportamento

?le notou o movimento de dor que >iola manifestou ao ouvir as suaspalavras cruéis>iu que a cor do seu rosto mudava-se repetidas ve'es, para deixá-la,

por fim, pálida como morta

 7 atri' dirigiu-l(e, depois, um ol(ar de indi'<vel triste'a, em que n+ose revelava a mais leve repreens+o, e, apoiando ambas as m+os fortementecontra o cora*+o, disse F

- 7( ?le tin(a ra'+o 3erdoe-me, sen(orG eu ve)o agora que,realmente, sou uma en)eitada, uma criatura detestável

- ?scute, >iola - exclamou Jlyndon - ?u retrato o que disse - >iola,>iola 3erdoe-me

9as a )ovem, em ve' de responder, despediu-o com a m+o, edirigindo-l(e um sorriso triste, saiu do quarto, sem que Jlyndon se atrevessea det"-la

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CAPÍTULO IX 

:8a ne 9 a, c(i !ungU é dU7mor @irai F D(i teme e fugge

8afne F ? c(e giova fuggir da c(,(a l,ale @irai F 7mor nascente (a corte lUale;

 7mlnta, 7cto !!, Acena &;8afne F

9 s quem está longe do 7mor @irai F Quem teme e foge8afne F ? que vale fugir dele, se éle tem asas @irai F = amor nascente tem asas curtas;

Quando Jlyndon se ac(ou fora da casa de >iola, 9ervale, queandava ainda passeando por ali, tomou-l(e o bra*o

3orém, o artista repeliu-o asperamente

- @u com teus consel(os - disse, com amargura, - fa' de mim umcovarde e um desgra*ado 9as irei para casa e escrever-l(e-ei ei de aliviara min(a almaG >iola me perdoará ainda

9ervale, (omem de (umor imperturbável, pIs em ordem os pun(osda camisa, que o brusco movimento do seu amigo l(e (avia enrugado empouco, e ficou calado até notar que Jlyndon estava cansado de proferirapaixonadas exclama*6es e censurasG ent+o, o esperto pescador come*ou apuxar a lin(a

8irigindo K Jlyndon algumas palavras suaves, conseguiu que este l(eexplicasse o que (avia acontecido, pondo 9ervale em )ogo toda a arte paratranqRili'á-lo

9ervale é verdade, n+o era mauG a sua moral era até muito maissevera do que se costumava ver em )ovens da sua idade

3or isso, repreendia o seu amigo, porque as inten*6es deste paracom a atri' n+o eram (onrosas

- Aentiria - disse-l(e - se essa )ovem viesse a ser sua esposaG porémnunca pensei, nem em son(o, que pudesse degradá-la fa'endo-a suaconcubina 3refiro um casamento imprudente antes a uma uni+o il<cita 9asreflete bemG n+o a)a sob um impulso de momento

- 9as n+o (á tempo a perder, - respondeu Jlyndon

- 3rometi K Zanoni que aman(+ de noite teria a min(a resposta

8epois deste pra'o, é in5til toda resolu*+o

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- 7( - disse 9ervale, - isto é para suspeitar ?xplique-se? Jlyndon contou ao amigo tudo o que se (avia dado entre ele e

Zanoni, suprimindo somente sem que soubesse o porque, a parte que fa'iarefer"ncia ao seu avI e K misteriosa !rmandade

?sta rela*+o facilitou a 9ervale poderosas ra'6es para combater a

idéia do seu amigo, o que fe', empregando argumentos c(eios de bom senso

? em que tom falou

Qu+o evidente parecia a exist"ncia de uma 7lian*a entre a atri' e -quem sabe - o seu clandestino protetor, cansado )á da sua posse

Domo era equivoco o caráter dele, e a posi*+o dela

Que sagacidade envolvia a pergunta da atri'

Dom que perspicácia, K primeira sugest+o da sua s0bria ra'+o, (aviaJlyndon penetrado ao fundo da intriga

3ois que

8evia, ent+o, aventurar-se a contrair um enlace precipitado e talve'temerário, porque Zanoni, um simples estrangeiro, l(e dissera, com ar grave,que era necessário decidir-se antes que o rel0gio desse certa (ora

- 7o menos, - observou 9ervale, - espera que o tempo expireG faltaapenas um dia Burla a Zanoni ?le te disse que viria encontrar-te aman(+antes da meia noite e desafiou a n+o pensar em evitá-lo 3ois bem >amos Kqualquer parte, K qualquer ponto dos arredores de Mápoles, onde, a n+o serque se)a ele o pr0prio demInio, l(e será imposs<vel encontrar-nos 9ostra-l(eque n+o quer que o leve com os ol(os vendados a praticar um ato que carecede madura reflex+o M+o escreva, nem vá ver >iola até depois de aman(+!sto é tudo o que te pe*o 8epois a visite e fa' o que te parecer mel(or

Jlyndon vacilava

M+o podia combater as ra'6es do seu amigoG n+o estava convencido,

mas (esitavaMisto, aproximou-se deles Micot, que se deteve ao ver Jlyndon, e

perguntou-l(e F

- 7inda pensa em >iola 3isani

- Aim, - foi a resposta, - e v0s

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- >i-a e falei-l(e >iola será 9adame Micot antes de uma semana >ou ao café, ao @oledo 7( ?scuta Quando encontrar o seu vel(o amigo, osen(or Zanoni, di'e-l(e que ele cru'ou duas ve'es o meu camin(o 4eanMicot, embora apenas um pintor, é (omem sincero e (onesto, e sempre pagaas suas d<vidas

- H uma boa doutrina em quest6es de din(eiro, - disse 9ervale, -porém, para vingar-se, é menos moral, e certamente n+o é muito prudenteZanoni estorvou, acaso, os seus pro)etos amorosos 9as como compreend"-lo, se acaba de di'er que este assunto vai t+o bem

- 3ode fa'er esta pergunta K >iola 3isani =ra Jlyndon, essa )ovemse fa' t+o inocente somente contigo 9as eu n+o ten(o preconceitos, comosabe 7deus

- >amos lá, meu caro, - disse 9ervale, dando uma leve pancada no

ombro de Jlyndon Que pensa agora da sua linda atri'

- ?sse (omem mente, - respondeu Jlyndon

- Quer escrever agora mesmo a >iola

- M+o Ae for verdade que está representando um papel t+o triste,renunciarei a ela sem exalar um suspiro >igia-la-ei de pertoG porém, se)acomo for, Zanoni n+o será o sen(or do meu destino 7man(+, ao aman(ecer,sairemos de Mápoles, como me aconsel(ou

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CAPÍTULO X 

:=( c(iunque tu sia, c(e fuor dUogni uso3ieg(i Matura ad opre altere e strane,

?, spiando i segreti, entri al piu c(iuso Apa'iU,a tua voglia, delle menti umane -8e(, dimmi ;

Jerusal Lib, canto X, #$

: Y tu, quem quer que se)as, que por meios extraordinários obténs daMature'a obras admiráveis e estran(as e,devassando os seus segredos,entras, K vontade, no mais recluso recesso das mentes (umanas, - 2ala, di'e-me ;

Mo dia seguinte, logo pela man(+, os dois )ovens !ngleses montarama cavalo, e foram K Baiae

Jlyndon dissera no (otel, onde morava, que, se o Aen(or Zanoni oprocurasse, deviam fa'er-l(e saber que (avia sa<do em excurs+o Kquelelocal, t+o celebrado pelos antigos, por seus magn<ficos ban(os, e que ali oencontraria

=s dois amigos passaram por diante da casa de >iola, mas Jlyndonresistiu K tenta*+o de deter-se ali

8irigiam-se K gruta de 3osilippo, e depois, fa'endo uma volta parac(egar aos arrabaldes, tomaram o camin(o oposto que condu' a 3orticie3ompéia

?ra )á mais de meio-dia, quando c(egaram K primeira destas cidadesGresolveram parar um pouco e almo*ar ali, pois 9ervale, que era um bomgastrInomo, tin(a ouvido elogiar a excel"ncia dos macarr6es de 3ortici, equis experimentá-los

=s dois via)antes entraram em um (otel de modesta apar"ncia, e

comeram K sombra de um toldo 9ervale estava mais alegre que de costumeGapresentava com freqR"ncia ao amigo o copo com o bom vin(o, e conversavaanimadamente

- Bem, meu caro amigo - disse eleG - pregamos uma boa pe*a ao ArZanoni, vencendo-o ao menos em uma das suas predi*6es, para o futuro n+ol(e terá tanta fé

- = dia dos !dos S#$T veio, mas ainda n+o passou, - respondeuJlyndon-

 =ra Ae ele é adivin(o, voc" n+o é o Désar, - replicou 9ervale

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- 7 sua vaidade, amigo, torna-o crédulo Jra*as K 8eus, eu n+o meconsidero de tanta importância, que creia que as opera*6es da nature'amudem a sua ordem para espantar-me

- 3orém, por que teria de alterar-se a marc(a da Mature'a 3ode

existir uma 2ilosofia mais profunda do que a que n0s con(ecemos ou do queson(amos, uma 2ilosofia que descobre os segredos da Mature'a, n+oalterando o seu curso, mas penetrando nele

- 7( @orne a cair em sua (erética credulidadeG sup6e seriamenteque Zanoni é um profeta, que l" no porvir do (omem, que, talve', este)a emcontato com os J"nios e os ?sp<ritos

Meste instante, o (oteleiro, um (omem baixo e gordo, entrou comoutra garrafa de vin(o, di'endo que esperava que as suas ?xcel"nciasestariam contentes

= bom (omem se enterneceu deveras, quando ouviu di'er que os!ngleses gostaram muit<ssimo dos macarr6es

- >+o as suas ?xcel"ncias ao >es5vio - perguntou o (oteleiro -ouve uma pequena erup*+o 8aqui n+o se pode verG porém, é uma vistamagn<fica, e ainda muito mais depois do Aol posto

- Aoberba idéia - exclamou 9ervale

- Que l(e parece, Jlyndon

- Munca vi uma erup*+o, - respondeu o compan(eiro, - e seria umespetáculo que gostaria muito de ver

- 9as n+o (averá perigo - perguntou o prudente 9ervale

- =(, n+o, sen(or - respondeu o (oteleiro - a montan(a está muitocort"s agora Brinca apenas um pouquin(o, o bastante para divertir as suas?xcel"ncias, os !ngleses

- BemG mande preparar-nos os cavalos, e traga-nos a conta iremos láantes de anoitecer Dlar"ncio, meu amigo, :nunc est bibendum;S#NTGmas n+oesque*as de cuidar do :pede libero;S&_T,que n+o sei se será bastante bompara andar por sobre as lavas

=s dois amigos, depois de esva'iarem a garrafa, pagaram a conta epartiram

= (oteleiro os cumprimentou com rever"ncia, e eles tomaram ocamin(o de Cesina, acompan(ados da fresca brisa daquela tarde deliciosa

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= vin(o, ou talve' a excita*+o dos seus pensamentos animousobremaneira Jlyndon, cu)o (umor inconstante era Ks ve'es excelente ebril(ante, como o de um menino de escola, que se v" livre da aulaG assim éque as estrepitosas risadas dos via)antes do Morte ressoavam comfreqR"ncia, no meio da melanc0lica solid+o daqueles locais, debaixo dos

quais )a'iam cidades sepultadas

= Aol estava a pino, quando os via)antes c(egaram em Cesina

8eixaram, ent+o, os cavalos, e tomaram duas mulas e um guia

 7 propor*+o que o dia desaparecia, o calor na montan(a se tornavamais intenso

Pma coluna de fogo se precipitava por diferentes correntes, maiores emenores, saindo da negra cumieira, e os !ngleses, K medida que subiam,

come*avam a sentir essa sensa*+o de solenidade e terror, que inspira aatmosfera que rodeia o Jigante das 3lan<cies do 7ntigo ades

?ra )á noite, quando, deixando as mulas, resolveram continuar a subira pé, acompan(ados do seu guia, e de um campon"s que levava uma grandetoc(a

= guia era um (omem conservador e viva', como o é a maior partedos seus compatriotas que exercem tal profiss+oG e 9ervale, cu)o g"nio eramuito sociável, gostava de divertir-se e de instruir-se sempre quando se l(eoferecia ocasi+o

- 7( ?xcel"ncia - disse o guia, - a gente do seu 3a<s sente uma fortepaix+o pelo vulc+o 8eus l(e d" longa vida 3ois eles nos tra'em muitodin(eiro Ae tivéssemos que viver s0 com o que nos d+o os Mapolitanos, embreve morrer<amos de fome

- H verdade, os Mapolitanos n+o s+o muito curiosos, - disse 9ervaleLembra-te, Jlyndon, com que despre'o nos disse aquele vel(o Donde F

- :Aupon(o que vá ao >es5vio ?u nunca lá estiveG para que ir lá

para passar frio e fome, cansar-me e expor-me ao perigo, e tudo isso para verfogo, que tem igual aspecto em um braseiro como na montan(a ;

- 7( a( o vel(o tin(a ra'+o

- 9as n+o é s0 isto, ?xcel"ncia, - falou o guiaG - alguns caval(eiros se )ulgam capa'es de subir a montan(a sem o nosso aux<lio ?sses (omensmereciam serem )ogados na cratera

- H necessário ser muito ousado para andar so'in(o por estes locais,e parece-me que n+o se encontram muitos que se atrevam a isso

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- 2a'em-no Ks ve'es os 2ranceses, sen(or 3orém em outra noite, -em min(a vida nunca passeipIr tanto susto, - acompan(ei uma expedi*+o devários !ngleses, e uma sen(ora esqueceu no alto da montan(a uma carteiraem que (avia feito alguns esbo*os =fereceu-me uma boa quantia dedin(eiro, se quisesse ir buscar essa carteira e l(a levasse a Mápoles 3ela

tarde, subi K montan(a e ac(ei, efetivamente, o livrin(o no mesmo lugar ondefora esquecidoG quando, porém, dei o primeiro passo para voltar, vi uma figuraque me pareceu subir da cratera mesma = ar era t+o pestilento, que pareciaimposs<vel que uma criatura (umana fosse capa' de respirá-lo e viver 2iqueit+o surpreendido, que por alguns instantes, parei im0vel como uma estátua,até que aquela figura, passando por cima da cin'a quente, veio pIr-se emfrente de mim >irgem 9aria, que cabe*a

- 9uito feia n+o é

- M+o, - retrucou o guia, - era, pelo contrário, um semblante muito

belo, porém t+o terr<vel, que o seu aspecto n+o tin(a nada de (umano

- ? que disse essa salamandra - perguntou 9ervale

- Mada Mem sequer pareceu ter reparado em mim, apesar de euestar t+o perto dele como agora estou do sen(orG mas os seus ol(os sedirigiram ao céu, como se observasse atentamente alguma coisa nas alturas?le passou rapidamente para meu lado, cru'ou uma corrente de lava ardente,e, em breve, desapareceu na outra banda da montan(a 7 curiosidade deu-me audácia, e eu resolviver se podia agRentar a atmosfera que (aviarespirado aquele visitanteG porém, n+o (avia dado mais que uns trinta passosem dire*+o ao lugar onde ele aparecera primeiramente, e vi-me obrigado arecuar sem demora, por causa de um vapor que esteve a ponto de asfixiar-me Dáspita 8esde ent+o, cuspo sangue

- 7postaria qualquer coisa pela min(a suposi*+o de que pensa queeste rei do fogo (avia de ser Zanoni, - murmurou 9ervale, rindo, para o seuamigo

 7 pequena caravana (avia c(egado agora quase ao alto damontan(aG e soberbo era o espetáculo que se oferecia Ks suas vistas

8o fundo da cratera sa<a um vapor, intensamente escuro, que enc(iao espa*o e cobria uma grande parte do céuG no centro da nuvem via-se umac(ama da forma e cor singularmente belas

3odia comparar-se esse aspecto a uma crista de gigantescas plumas,coroada de bril(antes, formando um belo e alto arco de várias cores, Ks quaisas sombras da noite davam encantadores mati'es, enquanto que o todoondeava como a plumagem do capacete de um guerreiro

= resplendor da c(ama, luminoso e carmesim, iluminava o terreno

escuro e escabroso que pisavam, e cada pedra e cada fenda produ'iam umasombra particular

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Pma atmosfera sufocante e sulfurosa aumentava a sensa*+o deterror que inspirava aquelas paragens

3orém, quando se apartava a vista da montan(a, para dirigi-la para olado do oceano, que n+o se enxergava, o contraste era extraordinário, o céu,

naquela regi+o, aparecia sereno e a'ul, e salpicado de estrelas que bril(avamtranqRilamente, como os ol(os do 8ivino 7mor

?ra como se os mundos dos opostos princ<pios do 9al e do Bem seapresentassem em um s0 quadro K vista do (omem

Jlyndon, - com o seu entusiasmo e a sua imagina*+o de artista, -sentia-se preso e arrebatado por vagas e indefin<veis emo*6es, em que opra'er se misturava com a dor

 7poiado ao ombro do amigo, o artista ol(ava em torno de si e

escutava, com profunda sensa*+o de terror e admira*+o, o murm5rio que seouvia debaixo dos seus pés, semel(ante a rodas de máquina e pelas vo'esdo mistério da Mature'a, trabal(ando em seus mais negros e inescrutáveisrecessos

8e repente, como uma bomba arro)ada por um morteiro, uma enormepedra, lan*ada pela boca da cratera foivoando pelos ares K altura decentenas de metros, e caindo, com forte estrondo, sobre a roc(a, saltou emmil(ares de peda*os, que foram rolando estrepitosamente pelos flancos damontan(a

Pm destes fragmentos, o maior, veio cair no estreito espa*o que(avia entre os !ngleses e o guia, a uns tr"s pés de distância dos primeiros

9ervale lan*ou um grito de espanto, e Jlyndon, quase perdendo ofIlego, tremia da cabe*a aos pés

- 8iabo - exclamou o guia >amos descer, ?xcel"ncias, descer M+odevemos perder um instanteG sigam-me t+o perto quanto poss<vel

 7o di'er isto, come*ou o guia, bem como o campon"s, correndo com

toda a velocidade que o terreno permitia9ervale, sempre mais pronto em suas resolu*6es do que o seu

amigo, imitou o seu exemploG e Jlyndon, mais confuso que alarmado, seguiuem 5ltimo lugar

M+o tin(am andado, porém, muitos metros, quando, com um ruidosoe repentino sopro, a cratera vomitou uma enorme coluna de vapor, que osperseguiu e, alcan*ando-os em um instante os envolveu, ao mesmo tempoem que mergul(ava tudo na mais espantosa escurid+o

 7 uma grande distância, ouviam-se os gritos do guia, abafados peloru<do do vulc+o e pelos rumores da terra debaixo dos pés dos excursionistas

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Jlyndon se deteve

?ncontrava-se )á separado do seu amigo e do guia

?stava s0, com a escurid+o e o terror

= vapor adiantava-se, amea*ador, até K base da montan(a

=utra ve' apareceu ainda que confusamente, a forma do fogocrispado, lan*ando uma lu' indecisa sobre o camin(o escabroso

Jlyndon recuperou coragem e avan*ou

=uvia a vo' de 9ervale, que o c(amava, mas n+o podia distinguir-l(ea forma

= som l(e serviu de guia

 7turdido e mal podendo respirar, o artista andava t+o depressa comol(e era poss<vel, quando, de repente, l(e c(egou ao ouvido um novo ru<do dealguma coisa que rolava lentamente

Jlyndon parou e, virando a cabe*a para ver o que era, notou que umatorrente de fogo baixava pelo camin(o que ele seguiaG e )á formava ali umlargo c0rrego, perseguindo-o e prestes a alcan*á-lo

Aentia, a cada instante, o bafo abrasador daquele terr<vel inimigotocar-l(e o rosto

 7bandonando o camin(o, o !ngl"s dirigiu-se para um lado, e agarrou-se desesperadamente, com as m+os e os pés, a uma roc(a que, K sua direita,quebrava o ardente e perigoso n<vel do solo

 7 torrente <gnea vin(a também aliG o )ovem, no 5ltimo esfor*o, subiupara a roc(a

 7 massa ardente passou primeiro ao pé destaG porém, em seguida,fa'endo uma pequena volta, cercou a pedra por tr"s lados 2ormando umalarga e intranspon<vel barreira de fogo l<quido, que l(e tapava o 5nico pontoque ficava livre para a fuga

? agora n+o tin(a outra alternativa sen+o permanecer ali ouretroceder até K cratera e depois procurar, sem aux<lio de um guia, algumoutro camin(o por onde pudesse descer

3or um instante, abandonou-o a coragemG ele se pIs a c(amar, comvo' desesperada, por 9ervale e pelo guia

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Minguém, porém, l(e respondeuG e o !ngl"s vendo-se assim s0 eabandonado a seus pr0prios recursos, revestiu-se de coragem e sentiu-senovamente possu<do de energia, dispondo-se a lutar contra o perigo

8esceu da roc(a e, tornando atrás, aproximou-se da cratera tanto

quanto l(e permitiu a sufocante atmosfera que o rodeavaG depois, ol(andocom calma e aten*+o a vertente da montan(a, viu um camin(o, pelo qualpodia andar, desviando-se da dire*+o que o fogo (avia tomado

3Is-se a camin(ar, mas apenas tin(a feito cerca de sessenta passosGparou de repente, sentindo-se tomado de um invenc<vel e inexplicável (orror,como nunca experimentara até ali

@remia convulsivamente e os seus m5sculos n+o queriam obedecer Ksua vontadeG parecia-l(e que estava paralisado e que fora tocado pela morte

?ste medo era tanto mais inexplicável quanto o camin(o parecia serlimpo e seguro

= fogo do vulc+o e o que (avia deixado atrás, iluminavam a estradaaté uma longa distância

M+o se via obstáculo algum, nen(um perigo parecia amea*á-lonaquele instante

?nquanto permanecia desta maneira como encantado e cravado nosolo, o seu peito respirava com dificuldade, e grossas gotas de suor rolavam-l(e pela testaG os ol(os, como se quisessem sair das 0rbitas, ol(avamfixamente, a certa distância, uma coisa que gradualmente ia tomando umaforma colossal, - uma espécie de sombra que se assemel(ava um tanto auma figura (umana, porém de uma estatura muito maior, - vaga, escura,disforme mesmo, e que diferia, sem que o )ovem pudesse di'er por que ouem que, n+o somente nas propor*6es, como também em sua estrutura, dasregulares formas de um (omem

= resplendor do vulc+o, que parecia ser cortado por aquelagigantesca e espantosa apari*+o, lan*ava, n+o obstante, a sua lu', vermel(a

e firme, sobre outra figura que estava de pé, ao lado da primeira, quieta eim0velG e era talve' o contraste dessas duas coisas, - o Aer e a Aombra, - queimpressionara o )ovem com a diferen*a que (avia entre eles - o (omem e osuper-(umano

9as foiapenas por um instante rápido que Jlyndon viu a apari*+o

Pma segunda erup*+o de vapores sulf5reos, mais rápida e maisdensa do que a primeira, tornou a encobrir a montan(aG e, fosse a impress+oprodu'ida por este fenImeno ou talve' o excesso de medo, o certo é queJlyndon, depois de fa'er um esfor*o desesperado, caiu, sem sentidos, no

c(+o

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#4P5TULO @I

:as (abUic(,enn ic( nic(t 7lies (abe - sprac( der 4Rngling;

8as >ersc(leierte Bild 'u Aais

Que é o que ten(o, se n+o ten(o tudo - disse o )ovem

7 imagem velada em Aa<s1

9ervale e o !taliano c(egaram ilesos ao lugar onde (avi am deixadoas mulasG s0 depois de terem-se reanimado do seu susto, e quando )árespiravam com liberdade, lembraram-se de Jlyndon

9ervale, cu)o cora*+o era t+o bom, ao menos, como o s+o os

cora*6es (umanos em geral, come*ou a temer seriamente pelo seu amigo

9anifestou, ent+o, o firme dese)o de voltar para ver se o encontrariaGe, depois de ter prometido boa recompensa ao guia, conseguiu que este oacompan(asse

 7 parte mais baixa da montan(a estava tranqRila e bastante clara,com o suave resplendor das estrelasG de modo que o ol(o prático do guiapodia discernir todos os ob)etos a uma distância considerável

M+o tin(am, porém, ido muito longe, quando perceberam duas figuras(umanas que se aproximavam deles, pouco a pouco

Quando estiveram bastante perto, 9ervale recon(eceu o seu amigo,e, dirigindo-se ao guia, exclamou F

- Jra*as K 8eus, ele está salvo

- Aantos an)os do céu, prote)a-nos - exclamou o !taliano, tremendo, -?is aqui aquele mesmo que cru'ou comigo na sexta feira de noite H ele, simGsomente que o seu semblante agora é (umano

- Aen(or !ngl"s - disse a vo' de Zanoni, enquanto Jlyndon, pálido,meio desmaiado e silencioso, correspondia passivamente K sauda*+o alegrede 9ervaleG - sen(or !ngl"s eu disse ao seu amigo que nos encontrar<amosesta noite >" que n+o me pregou a pe*a, nem obstou K reali'a*+o do meuintento

- 3orém, como 9as onde - balbuciou 9ervale, c(eio de confus+oe surpresa

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- ?ncontrei o seu amigo estendido no solo vencido pela exala*+o dacrateraG levei-o K um lugar onde a atmosfera era mais puraG e como con(e*o amontan(a perfeitamente, pude condu'i-lo inc0lume até aqui ?sta é toda aest0ria 4á v" caval(eiro, que, a n+o ser por essa profecia que se empen(ouem frustrar, o seu amigo, neste momento, n+o existiria entre os vivos A0

faltava um minuto para que o vapor o asfixiasse 7deus Boa noite, eagradáveis son(os

- 9as, o meu salvador, quer deixar-nos - exclamou Jlyndon, comansiedade, e falando pela primeira ve'

- M+o voltará conosco

Zanoni, levando Jlyndon para um lado, disse-l(e com acento grave F- 4ovem, é necessário que nos ve)amos outra ve' esta noite H

necessário que, antes de uma (ora da madrugada, decida o seu pr0prio

destino Aei que insultou aquela que declara amar 7inda n+o é tarde, se querarrepender-se M+o consulte sobre isso ao seu amigo, o qual, emborasens<vel e prudente, n+o é capa' de dar-te o necessário consel(o neste casoá momentos, na vida, em que a sabedoria vem da imagina*+o e n+o daprud"nciaG voc" se ac(a agora em uma destas ocasi6es M+o quero que meresponda, agora Doordene as suas idéias, serena o seu fatigado esp<rito2altam duas (oras para a meia-noite 7ntes dessa (ora, estarei contigo

- Aer incompreens<vel - replicou o !ngl"s - 3on(o em suas m+os amin(a vida que acaba de salvarG mas o que vi esta noite afastou até >iola dosmeus pensamentos Ainto que em min(as veias arde um dese)o mais ardentedo que o de amor -- é o dese)o de n+o me assemel(ar aos da min(a espécie,mas exceder-l(es, o dese)o de penetrar o segredo da sua pr0pria exist"ncia ede participar dele, o dese)o de um con(ecimento sobrenatural e de um podersupra-terrestre 4á estou decidido ?m nome do meu avI, lembro-te de seu )uramento e quero que cumpra a sua promessa !nstrua-meG fa'e-me seudisc<puloG fa'e-me um dos seusG e, desde )á, te entrego, sem murmurar, amul(er que, antes de t"-la visto, eu teria disputado a todo o mundo

- 8ese)o que reflita bem F de um lado, >iola, um lar tranqRilo, uma vidafeli' e serenaG do outro lado, trevas e nada mais que trevas, em que n+o

podem penetrar nem estes ol(os - 3orém, me disse que, se me casasse com >iola, teria que me

contentar com uma exist"ncia vulgar Ae renuncio a ela é para aspirar ao seusaber e ao seu poder

- omem vaidoso, o saber e o poder n+o constituem a felicidade

- 3orém, valem mais do que ela 8i'e-me F se eu me casar com >iola,será o meu mestre, o meu guia Cesponde-me que sim, e eu me decidodesde )á

- Aeria imposs<vel

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- ?nt+o, renuncio a ela Cenuncio ao amor Cenuncio K felicidade>en(a a solid+o, ven(a o desespero, se eles me fa'em penetrar no seuobscuro e sublime segredo

- 7gora n+o aceito a sua resposta 7ntes de dar a 5ltima (ora danoite, dar-me-á em uma s0 palavra F sim ou n+o 7té ent+o, adeus

Zanoni saudou com a m+o, descendo rapidamente a montan(a,desapareceu na obscuridade

Jlyndon foireunir-se ao seu impaciente amigo, e este, ol(ando-l(e osemblante, viu que se (avia operado nele uma grande mudan*a 7'ombeteira express+o da )uventude (avia desaparecido _7s suas fei*6estornaram-se impass<veis e gravesG foital a transforma*+o, que se diria quenaquela (ora parecia ter produ'ido nele o efeito de muitos anos

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CAPÍTULO XII 

:as istUs,8as (inter diesem Ac(leir sic( verbirgt ;

8as >ersc(leierte Bild 'u Aais

:= que é que se oculta detrás deste véu;

7 imagem velada em Aa<s1

Quando voc" regressa do >es5vio ou de 3ompéia, entra em Mápolespelo seu bairro mais animado, e mais MapolitanoG pelo bairro onde a vidamoderna se assemel(a muito K antiga, e onde, em um dia feira, as ruasoferecem ora o aspecto do tráfico, ora o da indol"nciaG assim é que em um diapode ver em 3ompéia (abita*6es de uma idade remota, ao passo que na

9ola, em Mápoles, parece que se v" as mesmas pessoas que povoaramessas (abita*6es

3orém, K (ora em que os dois )ovens !ngleses andavam por aquelasruas, iluminadas somente pelas lâmpadas do céu, toda a alegria do dia estavaadormecida

 7qui e ali, estendidos debaixo de um p0rtico ou em um ranc(o, semmorada certa, estavam dormindo vários grupos de :la''aroni;

?stes vadios contrastavam notavelmente com a energia e atividadedaquela popula*+o

=s dois !ngleses camin(avam silenciosos, pois Jlyndon parecia n+oouvir as perguntas nem prestar aten*+o aos comentários de 9ervale, e estese sentia quase t+o fatigado como o animal que montava

8e repente, o sil"ncio da terra e do oceano foi interrompido pelo somde um rel0gio distante, que anunciava on'e (oras e quarenta e cinco da noite

Jlyndon, emergindo da sua medita*+o, ol(ou com ansiedade em

torno de si 7o soar a 5ltima pancada do rel0gio, ouviram-se as ferraduras de um

cavalo a*oitando as pedras do pavimento, e de uma rua estreita que (avia Kdireita, saiu um (omem a cavalo

Quando se aproximou dos !ngleses, Jlyndon recon(eceu que eraZanoni

- Domo Mos encontramos outra ve', sen(or - perguntou 9ervale,em um tom entre vexado e sonolento

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- = seu amigo e eu temos que tratar de alguns neg0cios particulares -respondeu Zanoni, pondo o seu cavalo ao lado do de Jlyndon, - será, porém,coisa de poucos momentos

- >ai talve', ao seu (otel, sen(or- Ao'in(o - observou 9ervale

- M+o o amea*a nen(um perigo, - retrucou Zanoni, dando K sua vo'um acento de desdém

- [ mim n+oG mas K Jlyndon

- 3erigo para Jlyndon, da min(a parte 7( talve' ten(a ra'+o

- >ai, meu caro 9ervale, - disse JlyndonG - alcan*a-lo-ei ainda antesde c(egar ao (otel

9ervale acenou com a cabe*a, e, assobiando, fe' com que o seucavalo se pusesse a trotar

- 7gora quero ouvir, sem demora, a sua resposta, - disse Zanoni KJlyndon

- ?stou decidido, - respondeu o !ngl"s - = amor de >iola desvaneceu-se do meu cora*+o M+o a importunarei mais

- ?stá resolvido

- AimG e, agora, a min(a recompensa

- 7 recompensa BemG t"-la-á aman(+, antes desta (ora

Zanoni afrouxou a rédea do seu cavaloG e este partiu como umrelâmpagoG crispas de fogo saiam das ferraduras, e cavalo e cavaleirodesapareceram nas sombras da mesma rua'in(a por onde (aviam aparecido

9ervale ficou surpreendido ao ver o amigo a seu lado, decorridoapenas um minuto de ter-se separado dele

- = que é o que se passou entre voc" e Zanoni

- 9ervale, n+o me fa*a perguntasG eu estou como que em um son(o, -respondeu Jlyndon

- M+o me admiro, pois eu também estou quase adormecido @oca aandar

 7o c(egar em casa, tratou Jlyndon de coordenar os seuspensamentos

Aentado aos pés da maca, apertava fortemente as fontes late)antes

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=s acontecimentos das 5ltimas (orasG a apari*+o do gigantesco efantástico Dompan(eiro do 9<stico, no meio das c(amas e dos vapores do>es5vioG o seu estran(o encontro com Zanoni em um local onde nem porson(o esperava ac(á-lo, tudo isto enc(eu a mente de Jlyndon de emo*6esem que prevaleciam o espanto e a admira*+o

 7cendeu-se no seu cora*+o um fogo, cu)as fa<scas, por longo tempo,(aviam estado ocultas debaixo de cin'asG a c(ama de asbestos que, uma ve'acesa, nunca mais se apaga

@odas as suas aspira*6es anteriores, a sua )uvenil ambi*+o e os seusdese)os de conquistar a coroa de louros, se transformaram em umapaixonado anelo de ultrapassar os limites comuns do saber (umano, e dealcan*ar aquele maravil(oso lugar entre os dois mundos, onde o misteriosoestrangeiro parecia ter fixado a sua moradaLonge de intimidar-se ao recordara apari*+o que tanto o (avia espantado, a sua mem0ria serviu somente paraavivar e reconcentrar a sua curiosidade em um foco ardente

@in(a ra'+o, quando disse que o amor se (avia desvanecido do seucora*+oG )á n+o (avia mais um sereno espa*o no meio dos desordenadoselementos desse cora*+o, onde pudessem agitar-se ou respirar afei*6es(umanas

= entusiasta foi arrebatado da terraG e teria dado tudo o que a bele'amortal podia oferecer, e tudo o que a esperan*a mortal podia pintar comofelicidade, para passar uma (ora, em compan(ia de Zanoni, fora dos portaisdo mundo vis<vel

Levantou-se, com o peito oprimido e devorado por uma febre que osnovos pensamentos nele produ'iam, e foiabrir a )anela, para respirar o arfresco

 7o longe, o oceano, palidamente iluminado pela lu' das estrelas,parecia aconsel(ar, com muda eloqR"ncia, o repouso Ks delirantes paix6esterrenas

@al era, porém, a disposi*+o de ânimo de Jlyndon, que aquelatranqRilidade servia s0 para aprofundar mais a veem"ncia dos dese)os que

dominavam a sua almaG e as estrelas, que s+o outros tantos mistérios,pareciam agitar as asas do esp<rito que n+o se contentava com a sua gaiola

?nquanto Jlyndon contemplava o firmamento, uma estréia,separando-se das demais, foi perder-se no abismo do espa*o

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CAPÍTULO XIII 

:Y be gone By aven, ! love t(ee better t(an myself,for ! came (it(erarmed against myself;j Comeo and 4uliet

:=(, parte 3or 8eus, eu a amo mais do que a mim mesmoG pois vimaqui, armado contra mim mesmo;

 7 )ovem atri' e Jianetta (aviam regressado do teatroG >iola, fatigadae exausta, deixara-se cair sobre o sofá, enquanto Jianetta se entretin(a empIr-l(e em ordem as compridas tran*as que, tendo-se escapado da fita queas prendia, cobriam quase metade do corpo da atri', como se fosse um véude fios de ouro

 7o mesmo tempo em que alisava aquela rica cabeleira, a anci+foifalando dos acontecimentos da noite, dos pequenos escândalos e dapol<tica da cena e dos bastidores

Jianetta era uma criatura excelente

 7lman'or, na tragédia :7lma(ide;, de 8tyden, n+o muda de bandocom mais galante indiferen*a do que a boa aia mudava de conversa*+o

3or fim, declarou-se desgostosa e escandali'ada ao ver que >iolan+o (avia escol(ido um caval(eiro

Zegri ou 7bencerrage, Jlyndon ou Zanoni, eram iguais para a vel(aaiaG s0 que os rumores que ouvia a respeito do 5ltimo, combinados com asrecomenda*6es que l(e fi'era em favor do seu rival, fa'iam com que desse aprefer"ncia ao !ngl"s

Jianetta dava uma s0 interpreta*+o aos impacientes e pesadossuspiros com que >iola acol(era os seus elogios em favor de Jlyndon, e asua admira*+o de que este (ouvesse cessado, nos entreatos, de prodigali'arsuas aten*6es K atri', e, crendo que este era o motivo dos suspiros da )ovem

a anci+ fa'ia todos os esfor*os para desculpar o seu protegido- Ae ainda n+o se pode di'er nada contra o outro sen(or, - di'ia a

vel(a criada, - é suficiente motivo para n+o pensar nele, a saber, que estápreparando-se para abandonar Mápoles

- 7bandonar Mápoles ?le, Zanoni

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- Aim, min(a queridin(a 7o passar (o)e pela 9ola, vi uma por*+o degente ol(ando alguns marin(eiros, que pareciam provenientes de terrasestran(as = navio do sen(or Zanoni c(egou esta man(+, e ac(a-seancorado na Ba<a =s marin(eiros di'em que t"m ordem de fa'er-se K vela aoprimeiro vento favorávelG eles estavam renovando as provis6es ?stavam

também

- 8eixa-me, Jianetta, deixa-me - interrompeu >iola

4á (avia passado o tempo em que a )ovem podia ter confian*a emJianettaG os seus pensamentos (aviam c(egado, em seu desenvolvimentointelectual, ao ponto em que o cora*+o se recusa a fa'er confid"ncias, esente que n+o pode ser compreendido

Ao'in(a agora, no principal aposento da casa, passeava >iola,tr"mula e agitadaG veio-l(e a lembran*a o terr<vel encontro de Micot, e as

in)uriosas palavras de Jlyndon

 7 idéia de que os fingidos aplausos que l(e eram prodigali'ados iamdiri gidos K atri' e n+o K mul(er, exposta sempre a ver-se insultada evilipendiada, submergia-a em um mar de triste'a

Maquele instante, acudiu-l(e a mente a recorda*+o da morte do seupai, que (avia ocorrido nesse mesmo aposentoG lembrou-se também damurc(a coroa de louros e das cordas do violino rompidas, e sentia que o seudestino era mais triste ainda F as cordas estavam para romper-se, enquanto olouro ainda estava verde

 7 lâmpada ardia como uma c(ama pálida e opaca, e os ol(os de>iola apartaram-se instintivamente do canto mais escuro do quarto

Yrf+, teme, acaso, a presen*a dos mortos no lar paterno

Aeria verdade que Zanoni ia deixar Mápoles

M+o o veria mais

=( Ae isto era verdade, nen(um outro pensamento podia )á l(ecausar triste'a

= passado = passado n+o existia mais

= futuro M+o (avia futuro para ela, ac(ando-se ausente Zanoni

3orém, estava na noite do terceiro dia, a contar daquele em queZanoni l(e disse que, sucedesse o que fosse, a visitaria outra ve'

avia, pois, se devia crer-l(e, alguma nova crise no destino a ela

prescritoG e como o faria para ele saber das odiosas palavras que l(e disseraJlyndon

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 7s mentes puras e as orgul(osas n+o podem nunca comunicar aoutrem os seus agravos, mas apenas seus triunfos e sua felicidade

9as, se Zanoni viesse a esta (ora, t+o adiantada, receb"-lo-ia

 7 meia-noite )á se aproximava

 7pesar de ser t+o tarde, >iola n+o pensava em recol(er-se ao leitoGmas, presa de uma intensa e inexplicável ansiedade, vagava ainda peloquarto

=uviu-se um rel0gio distante dar on'e (oras e quarenta e cinco

@udo estava em sil"ncioG a )ovem dispun(a-se, ent+o, a passar aoseu dormit0rio, quando ouviu o ru<do de um cavalo que galopava

= ru<do cessou, e, em seguida, bateram K porta

= cora*+o da )ovem palpitava com viol"nciaG porém o medo deu lugara outro sentimento, quando ouviu uma vo' t+o con(ecida, c(amando-a pelonome

>iola (esitou um instante e, depois, com a temeridade que inspira ainoc"ncia, desceu e foi abrir para porta

Zanoni entrou com passo leve e apressado

 7 sua capa de montar dava um belo aspeto K sua nobre figura, e oc(apéu de abas largas lan*ava uma melanc0lica sombra sobre as suasfei*6es c(eias de ma)estade

>iola seguiu-o ao quarto que acabara de deixar, tremendo e corando,e parou diante dele com a lâmpada na m+oG a lu' iluminava o rosto da )ovem,e o seu comprido cabelo caia-l(e, como uma c(uva de raios luminosos, pelosombros meio nus e sobre o formoso busto

- >iola, - disse Zanoni, com uma vo' c(eia de emo*+o - estou outra

ve' ao seu lado para salvá-la M+o (á um s0 momento a perder H necessárioque fu)a comigo, ou será a v<tima do 3r<ncipe de OOO, eu queria confiar a umoutro este cuidadoG esse outro bem sabe quem é 9as ele n+o é digno de ti,esse frio !ngl"s Aou eu quem se lan*a agora aos seus pésG tem confian*aem mim, e fu)amos

Zanoni tomou-l(e a m+o, ao a)oel(ar-se aos pés da )ovem, econtemplou-a com ol(ar suplicante

- 2ugir contigo - exclamou >iola, n+o sabendo se devia crer ao seupr0prio ouvido

- Aim, comigo Ae n+o fi'er isto, sacrifica o nome, a fama, a (onra

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- ?nt+o, ent+o, - perguntou a )ovem balbuciando e virando a cabe*a,- n+o l(e sou indiferente M+o me cederia a outro

Zanoni n+o respondeuG mas o seu peito respirava com dificuldadeGtin(a as faces afogueadas e os seus ol(os faiscavam apaixonadamente

- 2ale - exclamou >iola, com ligeira suspeita, provocada pelo seusil"ncio

- Ae me é indiferente M+oG mas n+o me atrevo ainda a di'er-l(e quea amo

- ?nt+o, que l(e importa a min(a sorte - ob)etou >iola,empalidecendo e retirando-se do seu lado

- 8eixe-me, eu n+o temo os perigos 7 min(a vida, e, portanto, a

min(a (onra, está nas min(as pr0prias m+os

- M+o se)a louca - retrucou Zanoni

- ?scute =u*a o relinc(o do meu cavalo H um sinal que nos adverteque o perigo está pr0ximo >amos apresse-se, ou estará perdida

- 3or que toma tanto cuidado por mim - insistiu a )ovem,amargamente

- L" no meu cora*+o e sabe que é o sen(or do meu destino 3orém,sofrer sob o peso da uma fria obriga*+o, mendigar aos ol(os da indiferen*a,entregar-me Ks m+os de um (omem que n+o me ama, isso seria, narealidade, a maior indignidade 7(, Zanoni 8eixe-me, antes quero morrer

>iola arrumou a sua formosa cabeleira, enquanto falavaG e, comoagora estava com os bra*os ca<dos, em atitude aflita, com as m+os cru'adase com a altiva amargura do seu obstinado esp<rito, a qual dava novo incentivoe encanto K sua singular bele'a, era imposs<vel conceber uma vis+o maisirresist<vel para os ol(os e para o cora*+o

- M+o me tente, para o seu pr0prio perigo, talve' para a morte -exclamou Zanoni, com vo' tr"mula

- M+o sabe nem pode saber o que me pede >em

?, ao di'er isto, passou o bra*o ao redor da sua cintura

- >em, >iola Donfia na min(a ami'ade, em min(a (onra, em min(aprote*+o

- ? n+o em seu amor - interrogou a !taliana, dirigindo-l(e um ol(ar

indefin<vel

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=s ol(os de >iola encontraram-se com o de Zanoni, que n+o pIdedeixar de contemplá-la

Aob o encanto deste ol(ar, ele sentia o cora*+o da )ovem bater pertodo seu pr0prio cora*+oG a agitada respira*+o dela vin(a aquecendo a face de

Zanoni

? ele estremeceu ele

= grande (omem, o (omem misterioso que parecia muito superior Kscri aturas (umanas

?, exalando um profundo e ardente suspiro, murmurou F

- >iola, eu a amo

? soltando a )ovem, arro)ou-se apaixonadamente aos seus pés

- ?u a amo como uma mul(er pode ser amada no mundo, e pe*o-l(eque aceite o meu amor 8esde que a vi pela primeira ve', desde que ouvi asua doce vo', o meu cora*+o deixou de pertencer-me 2ala de fascina*+oG afascina*+o vive e respira em ti 2ugi de Mápoles, para evitar a sua presen*aGmas a sua imagem seguiu-me por toda a parte 3assaram-se meses e anos, eo seu semblante meigo nunca deixou de lu'ir no meu cora*+o Cegressei,porque sabia que estava s0 e triste no mundo, e porque con(ecia os perigosque a amea*avam, e dos quais eu podia salvá-la ?ra por amá-la, s0 por amá-la muito, que eu a teria cedido a alguém que pudesse torná-la mais feli', naterra do que posso eu fa'"-lo >iola >iola >oc" n+o sabe, nem podeimaginar toda a intensidade do amor que me inspirou

!n5til seria querer buscar palavras para expressar o pra'er, a deliciosasensa*+o que inundou o cora*+o da Mapolitana

= (omem que ela considerava demasiado elevado para amar estavaagora a)oel(ado aos seus pés, mais (umilde do que os que ela (avia quasedespre'ado

 7 )ovem permaneceu silenciosa, porém os seus ol(os falavam aZanoni mais eloqRentemente do que poderia fa'"-lo a palavraG e depois,quando, por fim, se lembrou que o amor (umano acabava de sobrepor-se aoideal, sentiu-se assaltada de temores de uma nature'a modesta e virtuosa

>iola n+o se atrevia, nem son(ava sequer em fa'er á Zanoni apergunta que t+o resolutamente (avia dirigido a JlyndonG porém, de repente,experimentou uma sensa*+o estran(a, um sentimento que l(e advertia queentre amor e amor existia uma grande barreira

- =(, Zanoni - murmurou, baixando os ol(os - M+o me pe*a que eu

fu)a contigoG n+o me tente, para que eu n+o ten(a que me envergon(ar demim mesma 4á que quer proteger-me contra os outros, protege-me contra ti

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- 3obre 0rf+ Cespondeu ele, com ternura, - como pode pensar queexigiria de ti algum sacrif<cio =( arreda de ti semel(ante suposi*+o ?upe*o o seu amor de esposaG sim, pe*o a sua m+o, e dese)o fortificar o nossoamor por todos os votos que s+o capa'es de santificar o afeto 7( 9uitosteriam fingido amá-la, se n+o tivesse pensado na religi+o que protege e

purifica o amor 7quele que ama verdadeiramente, busca para possuir otesouro que anela, todos os la*os que podem fa'"-lo seguro e durável >iolan+o c(ore, a n+o ser que me conceda o santo direito de bei)ar as suaslágrimas

? aquele belo rosto, n+o vacilando mais, inclinou-se sobre o peito deZanoni G e o (omem misterioso, abaixando a sua cabe*a, procurou,firmemente, com os seus lábios, a rosada boca da formosa )ovem F um bei)oprolongado selou aquele amor t+o ardente e t+o puro

Maquele instante, tudo foi esquecido F o perigo, a vida, o pr0prio

mundo

8e repente, porém, desprendeu-se Zanoni dos bra*os de >iola, edisse F

- =uve esse vento que suspira e foge 7ssim mesmo foge de mim opoder que eu tin(a, de velar por ti, proteg"-la contra os perigos e prever atempestade do seu firmamento 9as n+o importa 7presse-se, ao menos,possa o amor suprir a perda de tudo o que me fe' sacrificar >en(a

>iola n+o (esitou mais 3Is o manto sobre os ombros, e recol(eu asua desordenada cabeleira Pm momento e a )ovem se encontrava disposta asair, quando de repente, se ouviu um grande ru<do na rua

- 7( H demasiado tarde Louco que fui H demasiado tarde -exclamou Zanoni, com vo' angustiada, dirigindo-se com passos rápidos paraa porta

 7o abri-la, viu-se rec(a*ado por urna multid+o de (omens armadosGe, em um momento, a sala ficou c(eia de indiv<duos mascarados e armadosda cabe*a aos pés

>iola estava )á nos bra*os de dois dos rufi6es

= seu grito de desespero feriu o ouvido de Zanoni, o qual tentou abrirpassagem por entre aquela genteG a )ovem ouviu o seu grito aterrador,pronunciado em um idioma estrangeiro

? quando viu as armas dos bandidos assestadas contra o peito deZanoni, a )ovem desmaiou

 7o voltar a si, encontrou-se amorda*ada, metida em uma carruagem

que andava com rapide' vertiginosa, e viu ao seu lado um (omem mascaradoe im0vel

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3or fim, a carruagem parou

 7s portas abriram-se, sem fa'er o m<nimo ru<do e, em seguida,apareceu diante dos ol(os de >iola uma larga escada, esplendidamenteiluminada ?stava no palácio do 3r<ncipe de OOOO

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CAPÍTULO XIV 

:9a lasciamo, per 8io, Aignore, ormai8i panar dUira, e di cantar di morte;

=rlando 2ur, canto X>!!, #/

:9as deixemos, por 8eus, sen(or, de ora em diante,de falar de ira, ede cantar de morte;

 7 )ovem atri' foi condu'ida a uma (abita*+o, adornada com todo oesplendor e gosto semi-oriental, que caracteri'ava, em uma certa época, ospalácios dos grandes sen(ores da !tália

8eixada a s0s naquele quarto, o seu primeiro pensamento foi para

Zanoni?staria ele vivo ainda

@eria escapado, ileso, das m+os dos inimigos - ele, que agora erapara ela o seu tesouro, a nova lu' da sua vida, o seu sen(or e, finalmente, oseu leal amante

3ouco tempo teve para refletir, pois, em breve, ouviu passos que seaproximavam do seu quarto

Cetirou-se a um canto do aposento, porém sem tremer

M+o sentia medoG sentia, ao contrário, nascer-l(e uma coragem, atéent+o descon(ecida

 7inda que l(e custasse a vida, estava resolvida a ficar fiel a Zanoni

@in(a um novo motivo para defender a sua (onra, e queria defend"-laa todo custo

 7 porta se abriu, e entrou o 3r<ncipe, vestido com um espl"ndido eluxuoso tra)e, que se usava naquele tempo, em Mápoles

- Driatura formosa e cruel, - disse o recém-c(egado, com um sorrisonos lábios ?spero que n+o me repreenda muito duramente pela viol"ncia queo amor me fe' cometer

?, ao di'er isto, quis tomar uma das m+os de >iolaG porém, vendo quea )ovem a retirava, prosseguiu F

- Ceflete que está em poder de um (omem que nunca viu fracassaruma s0 das suas tentativas, conseguindo sempre o seu fim, mesmo quandose tratava de um ob)eto que l(e era menos caro = seu amante, por muito

audacioso que se)a, n+o poderá salvá-la esta ve' H min(aG porém, deixa queeu, em ve' de ser seu sen(or, se)a seu escravo

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- 3r<ncipe - respondeu >iola, com gravidade - a sua )actância é v+8i'-me que me tem em seu poder ?ngana-se 7 min(a vida esta em min(aspr0prias m+os M+o o desafioG porém, também n+o o temo Ainto - e (ápressentimentos que s+o inspirados pela 8ivindade - acrescentou com vo'

solene e penetrante - sinto que me ac(o segura até neste lugarG ao passo queo 3r<ncipe de OOO, acaba de atrair grandes perigos sobre a sua casa

= Mapolitano pareceu sobressaltar-se ao ver na )ovem uma resolu*+oe uma ousadia que n+o esperava encontrar

?le n+o era, porém, um (omem que se intimidasse t+o facilmente,nem que desistisse dos seus pro)etos, uma ve' concebidos

 7proximando-se de >iola, ia responder-l(e com muito calor, real oufict<cio, quando se ouviu uma pancada na porta do quarto

 7 pancada foi repetida, e o 3r<ncipe, irritado por esta interrup*+o,abriu a porta, perguntando, com impaci"ncia, quem se atrevia a desobedecerKs suas ordens e vin(a incomodá-lo

 7presentou-se 9ascari, o qual l(e disse, pálido e agitado, em vo'baixa F

- Aen(or, perdoe-meG porém, lá em baixo está um estrangeiro queinsiste em v"-lo e, por algumas palavras que pronunciou, )ulguei prudenteavisá-lo mesmo infringindo as ordens que tin(a dado

- Pm estrangeiro ? a esta (ora, que quer 3orque foi admitidoneste palácio

- ?le afirma que a sua vida se ac(a em iminente perigo, e s0 K >ossa?xcel"ncia quer manifestar de onde este perigo procede

= 3r<ncipe fran'iu as sobrancel(as, e empalideceu

8epois de refletir um instante, tornou a entrar no quarto e,

aproximando-se de >iola, disse F- Dreia-me, formosa criatura, eu n+o quero aproveitar-me da

vantagem que oferece a min(a posi*+o Quero conseguir o que dese)o, s0 pormeio do afeto e carin(o Ae)a no interior deste palácio uma rain(a maisabsoluta do que a que tem representado, Ks ve'es, no teatro 3or esta noite,passe bem 8orme tranqRilamente, e oxalá que seus son(os se)amfavoráveis Ks min(as esperan*as

8epois de pronunciar estas palavras, o 3r<ncipe se retirou

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Pm momento depois, a )ovem se viu rodeada de oficiosos criados queela, porém, despediu, n+o sem dificuldadeG e, n+o querendo deitar-se, passoua noite examinando o aposento, que n+o oferecia sa<da por nen(uma parte, epensando sempre em Zanoni, cu)o poder l(e inspirava uma extraordináriaconfian*a

= 3r<ncipe dirigiu-se ao quarto em que (aviam introdu'ido oestrangeiro

= recém-c(egado estava envolto em um largo roup+o que o cobria dacabe*a aos pésG urna espécie de (ábito talar, como o que costumam vestir,Ks ve'es, os eclesiásticos

 7 fisionomia deste estrangeiro era notável

 7s suas faces pareciam t+o queimadas pelo Aol, e a sua cor era t+o

morena, que K primeira vista, se podia recon(ecer nele um descendente dasra*as do long<nquo =riente

 7 sua fronte era elevada e os ol(os apesar de tranqRilos eram t+openetrantes que o 3r<ncipe procurou evitar fixá-los

- Quem é o sen(or = que quer de mim - perguntou o 3r<ncipe,oferecendo ao visitante um assento

- 3r<ncipe de OOO, - disse o estrangeiro com vo' sonora e suave aomesmo tempo, porém, com acento que manifestava n+o ser do 3a<s - fil(o dara*a mais enérgica e mais varonil que das tortuosidades, da perversidade eda teimosia, a ela inataG descendente dos grandes >isconti, em cu)as crInicasestá escrita a ist0ria da !tália em seus dias mais pr0speros, e cu)a época deeleva*+o o mais poderoso intelecto c(egou Ks sublimes alturas dodesenvolvimento, amadurecido pela incansável ambi*+oG eu ven(ocontemplar a ultima estré!a que se obscurece em um nublado firmamento 7man(+, a esta (ora, o espa*o n+o a con(ecerá mais omem, se a suaconduta n+o mudar inteiramente, os seus dias est+o contados

- Que significa esta linguagem sibilina - disse o 3r<ncipe,

visivelmente admirado, e tocado por um secreto terror>em amea*ar-me emmin(a pr0pria casa, ou quer advertir-me de um perigo H um saltimbancoambulante, ou algum amigo de que n+o posso lembrar-me 2ale claramenteQual é o perigo que me amea*a

- Zanoni é a espada do seu avI, - respondeu o estrangeiro

- 7( 7( - retrucou o 3r<ncipe, rindo-se desden(osamente- Kprimeira vista, quase adivin(ei quem era H, pois, o c5mplice ou o instrumentodo mais destro, porém, agora, do mais desprestigiado c(arlat+o ? supon(oque veio di'er-me que, se restituir a liberdade a certa pessoa que conservo

presa, se desvanecera o perigo, e a m+o do destino se deterá, n+o éverdade

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- 4ulgue-me como o entender, 3r<ncipe de OOO M+o nego que con(e*oZanoni = sen(or con(ecerá o seu poder, porém s0 no momento em que serátarde para recuar ?u quereria salvá-lo e, por isso, ven(o adverti-lo3erguntará por que 8ir-l(e-ei F Cecorda-se de alguma das coisasmaravil(osas que narravam do seu nobre avI M+o se lembra de ter ouvido

falar da sua sede do saber, do seu dese)o de con(ecer uma ci"ncia superior Kdos claustros e das universidades M+o ouviu nunca refer"ncias a um(omem singular que, vindo do =riente, fo iseu amigo e seu mestre, e contra oqual o >aticano tem lan*ado, de Aéculo em Aéculo, os seus raios M+o selembra das rique'as do seu avI M+o sabe que, em sua )uventude, o seunome teve pouca celebridade Que, depois de uma vida desregrada eextravagante, como é a sua, ele teve que fugir de 9il+o, pobre e exilado por simesmo Que, depois de muitos anos passados, ninguém sabia em queclimas, nem em que ocupa*6es, ele voltou K cidade onde (aviam reinado osseus antepassados, e que com ele veio o sábio do =riente o m<stico9e)nour 3ois bem, todos os que tornaram a ver o seu avI, observaram,

com medrosa admira*+o, que o tempo n+o tin(a plantado uma s0 ruga emsua testaG e que a )uventude parecia (aver-se fixado, como por encanto, emseu semblante e em sua pessoa 8esde ent+o, a sua fortuna prosperou =sparentes mais remotos foram morrendo, e bens sobre bens passaram Ksm+os do nobre arruinado ?le se tornou o consel(eiro dos 3r<ncipes, e oprimeiro magnata da !tália 2undou uma nova casa, de que voc" é o 5ltimorebento em sua lin(agem, e transferi u o seu resplendor de 9il+o para o reinode Aic<lia 3lanos de alta ambi*+o o dominavam de dia e de noite Ae tivessevivido, a !tália teria con(ecido uma nova dinastia, e os >iscontiteriam reinadona 9agna Jrécia ?le era um (omem dos que o mundo v" raramenteG mas osseus fins, demasiado terreno, estavam em luta com os meios que procuravaAe a sua ambi*+o tivesse sido maior ou menor, ele teria sido digno de umreino mais poderoso do que o dos DésaresG teria sido digno da nossa augusta=rdemG digno de ser compan(eiro de 9e)nour, que agora v" diante de si

= 3r<ncipe, que escutara com profunda e viva aten*+o as palavras doseu singular (0spede, levantou- se da cadeira, ao ouvir as 5ltimasexpress6es

- !mpostor - exclamou Domo se atreve a brincar assim com a min(acredulidade á sessenta anos que o meu avI faleceuG se estivesse ainda

vivo, estaria com cento e vinte anos de idadeG e o sen(or cu)a vel(ice é t+ovigorosa que n+o se curva ainda, pretende ter sido seu contemporâneo 9asaprendeu mal a sua narrativa Aem d5vida, n+o sabe que o meu avI, sábio eilustre, efetivamente, em tudo, exceto na confian*a que tin(a em umc(arlat+o, foi encontrado morto em sua cama, no momento em que ia pIr emexecu*+o os seus colossais planos, e que 9e)nour foi quem cometeu esteassassinato

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- 7( - respondeu o estrangeiro, com vo' muito tristeG - se ele tivesseescutado os consel(os de 9e)nour, se tivesse deixado para mais tarde aprova mais perigosa do intrépido saber, até que a necessária prática e a!nicia*+o tivessem sido completas, - seu avI ter-se-ia posto comigo em umaemin"ncia que as águas da 9orte, embora a lavem perpetuamente, nunca

poderiam sub)ugar = seu avI n+o quis ouvir as min(as ferventes s5plicasGdesobedeceu Ks min(as mais absolutas ordens, e na sublime temeridade deuma alma que se afanava por segredos que nunca pode obter quem dese)aterras e cetros, pereceu, v<tima da sua impaci"ncia

- = meu avI morreu envenenado, e 9e)nour fugiu, - insistiu o3r<ncipe

- 9e)nour n+o fugiu, - respondeu o estrangeiro, altivamenteG 9e)nourn+o tin(a que fugir, porque, desde (á muito tempo, é superior aos perigos 2oino dia que precedeu aquele em que o 8uque tomou a fatal bebida que ele

cria que o tornaria imortal, foi naquele dia que eu, vendo que o meu podersobre ele (avia terminado, o abandonei K sua sorte 3orém, deixemos esteassunto Aabe que eu estimava o seu avI, e, por isso, quero salvar o 5ltimoda sua ra*a M+o se opon(a a Zanoni G n+o entregue a sua alma Ks suas máspaix6es Cetire-se do precip<cio, enquanto ainda é tempo ?m sua testa e emseus ol(os descubro ainda algo daquela divina gl0ria que pertenceu K suara*a ?xistem em si ainda germens do seu g"nio, que est+o sendo sufocadospelos seus v<cios Lembre-se que o g"nio elevou a sua casa, ao passo que osv<cios sempre l(e impediram perpetuar o seu poder Mas Leis que regulam ouniverso, está decretado que nada do que é mal pode durar Ae)a prudente, eaproveite as li*6es da (ist0ria ?stá no limite de dois mundos F o passado e ofuturoG e de cada um desses presságios c(ega aos seus ouvidos @en(o dito 7deus

- =(, n+o sairá assim - exclamou o 3r<ncipe M+o sairá deste recinto,sem que eu (a)a experimentado o seu poder =lá 7qui Aocorro =(

 7os gritos do 3r<ncipe acudiram os seus servidores

- Aegurem esse (omem - gritou o 3r<ncipe, apontando para o lugarque (avia ocupado 9e)nour

9as, no mesmo instante, recuou aterrori'ado

= misterioso estrangeiro (avia desaparecido como uma vis+oG apenasse via uma espécie de vapor diáfano e fragante, que ondulava ao redor dasparedes

9ascari, ao ver o seu amo ca<do sem sentidos, gritou por socorro8urante muitas (oras, o 3r<ncipe pareceu estar em uma espécie de transeQuando voltou a si, despediu os criados e, um momento depois, ouviram-seos seus passos largos e pesados, cru'ar o quarto, de um lado para outro,

prolongadamente= 3r<ncipe sentiu que uma transforma*+o singular seoperara no seu <ntimoG descon(ecia a si mesmo

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CAPÍTULO XV 

:=im" como possUio 7ltri trovar, se me trovar non posso ; 7minto, 7cto #, Acena &

:7i de mim como posso eu ac(ar a outrem,se n+o posso ac(ar amim mesmo ;

8epois da sua entrevista com Zanoni, dormiu Jlyndon maisprofundamente do que de costumeG e quando abriu a )anela, o Aol do claro dial(e enc(eu os ol(os, dos seus raios luminosos

= )ovem levantou-se revigorado, com um sentimento de tranqRilidade,que parecia antes ser o resultado da sua resolu*+o, do que o do abatimentoque sofrera

=s incidentes e as emo*6es da noite passada (aviam gravado emsua alma, distintas e claras impress6es

3ensou, porém, pouco nestas coisas, - pois pensava quaseincessantemente no porvir

?ra como um dos !niciados nos mistérios do antigo ?gito, que,encontrando-se no umbral, ardia em dese)os de penetrar no @emplo do

AaberJlyndon vestiu-se e alegrou-se quando soube que 9ervale (avia

partido para o campo com alguns compatriotas, em uma excurs+o K !sc(ia

2icou so'in(o durante as (oras quentes do meio-dia, e,gradualmente, a imagem de >iola reapareceu no seu cora*+o

?ra uma imagem santa - porque era uma imagem (umana

?le (avia resignado K )ovem atri 'G e, apesar de n+o estar arrependido

disso, afligia-o a idéia que, mesmo se o estivesse, o arrependimento )á teriac(egado demasiado tarde

8e repente, levantou-se, impaciente, da cadeira, e dirigiu-se compassos rápidos K morada da atri'

 7 distância era considerável, e o calor era intenso

Jlyndon c(egou K porta, um tanto sufocado e respirando comdificuldade

Bateu K portaG ninguém l(e respondeu

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8eu volta ao trinco e entrouAubiu pela escadaG nen(um som, nen(um sinal de vida (avia na

casa

Mo quarto da frente sobre uma mesa, se via a guitarra da atri' e

algumas pe*as manuscritas das suas 0peras favoritas

Jlyndon (esitou e, depois, revestindo-se de coragem, bateu K portaque parecia guiar ao aposento interior

 7 porta estava entreaberta, e o artista, n+o ouvindo dentro nen(umru<do, abriu-a

?ra o dormit0rio da )ovem, atri', o lugar mais santo para um amanteGe era digno da divindade que l(e presidia F n+o se notava, neste quarto, nadadas f5teis esquisitices pr0prias das pessoas da sua profiss+o, nem a

desordem que se observa nos aposentos das classes pobres do Aul

@udo ali era simplesG até os adornos revelavam um gosto inocenteG(avia ali alguns livros, colocados cuidadosamente em estantes, algumasflores meio murc(as em um vaso de barro modelado e pintando, imitando amoda etrusca

=s raios do Aol iluminavam a cama de >iola, branca como a neve, ealgumas pe*as de roupa de uso da atri', ao lado da cama>iola n+o estavaem casaG mas a aia

=nde estaria ela

Jlyndon c(amou Jianetta, repetidas ve'es, e em vo' altaG ninguém,porém, l(e respondeu

3or fim, quando o )ovem abandonava, )á c(eio de pesar, aquelasolitária morada, percebeu Jianetta, que c(egava da rua

 7 pobre anci+ lan*ou um grito de alegria ao v"-loG porém, odesengano foi m5tuo, quando nem um nem outro pIde dar-se not<cia

agradável, nem explica*+o alguma satisfat0riaJianetta contou, que, na noite passada, a tin(a despertado um ru<do

que ouvira nos quartos inferioresG mas que, antes que pudesse sentir-se comsuficiente coragem para descer, >iola (avia desaparecido

Ma porta da rua, viam-se ainda os sinais da viol"nciaG e tudo o que(avia podido inquirir na vi'in(an*a, foique um :la''arone;, da sua pousada naD(ia)a, tin(a visto, K claridade da Lua, uma carruagem que recon(eceupertencer ao 3r<ncipe de OOO, e que passara por ali K uma (ora da madrugada,mais ou menos, regressando pouco tempo depois

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8as confusas palavras e dos solu*os de Jianetta, Jlyndoncompreendeu, finalmente, o que (avia acontecido, e, deixandorepentinamente a aia, dirigiu-se ao palácio de Zanoni

 7li l(e disseram que o sen(or (avia ido ao banquete do 3r<ncipe de

OOO, e que n+o voltaria se n+o K noite

@riste e desanimado, Jlyndon n+o sabia o que pensar de tudo aquilo,nem o que devia fa'er

? nem 9ervale estava a seu lado, para aconsel(á-lo

 7 consci"ncia do )ovem !ngl"s repreendia-o amargamente

?le tivera em sua m+o o poder de salvar a mul(er que amava, edeixara perder-se esse poderG porém, como se explicava o fato de que Zanoni

n+o a (avia libertado

Domo era poss<vel que este (omem assistia ao banquete do raptor

?ra poss<vel que Zanoni ignorasse o que (avia acontecido

3ois, se assim fosse, Jlyndon n+o queria tardar nem um momentoem ir participar-l(e

 7inda que mentalmente carecesse de resolu*+o, n+o (avia outro(omem que, fisicamente fosse mais valente do que ele

Queria, pois, ir, desde )á, ao palácio do 3r<ncipe de OOOG e se Zanonifaltasse K confian*a que tacitamente se (avia arrogado, ele, o (umildeestrangeiro, pediria a liberdade da prisioneira, por boa maneira ou por for*a,na resid"ncia e na presen*a dos convidados do poderoso 3r<ncipe

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CAPÍTULO XVI 

:7rdua vallatur duns sapientia scrupis;

adr 4un, ?mblem XXX>!L

 7 dif<cil sabedoria é cercada de duras roc(as;

@emos que retroceder algumas (oras, antes de continuarmos a nossanarrativa

=s primeiros raios de lu' anunciavam o nascimento de um dia dever+o, quando dois (omens se ac(avam em um balc+o que pendia sobre um )ardim, c(eio de perfumadas flores

 7s estrelas n+o (aviam ainda deixado o firmamento, - as avesdormiam ainda, pousadas nos ramosG tudo estava quieto, tranqRilo esilenciosoG mas que diferen*a entre a tranqRilidade do dia nascente e o solenerepouso da noite

Ma (armonia do sil"ncio, se notam mil varia*6es

?stes dois (omens, que, como parecia, eram os 5nicos, em Mápoles,que n+o dormiam, eram Zanoni e o misterioso estrangeiro que, uma ou duas(oras antes, fora surpreender o 3r<ncipe de OOO no seu suntuoso palácio

- M+o - di'ia este (omem misterioso - se tivesse adiado a aceita*+odo 8om Aupremo até que tivesse atingido os anos, e tivesse passado portodas as desoladas priva*6es que me queimaram a alma, antes que asmin(as pesquisas me trouxessem esse 8om, teria escapado K infeli' situa*+ode que agora se lamenta, - n+o teria que se queixar da brevidade da afei*+o(umana, comparada com a dura*+o da sua pr0pria exist"nciaG porque teriasobrevivido ao dese)o e ao son(o de amor de uma mul(er >oc" alcan*ou aetapa mais bril(ante da exist"ncia, e se n+o fosse este erro, con(eceria talve' )á o mais sublime segredo e a augusta ra*a que enc(e o intervalo da cria*+o,

entre a (umanidade e os fil(os do ?mp<reoG o( 3or longos Aéculos voc" sesentirá arrependido da esplendida loucura que o fe' querer levar a bele'a eas paix6es da )uventude na assombrosa grande'a da imortalidade terrestre

- M+o me arrependo, nem me arrependerei, respondeu Zanoni =sencantos e as mágoas, t+o estran(amente unidos ou alterados, que, de ve'em quando, vieram tra'er varia*+o K min(a vida, valem mais do que a calmae aride' que voc" encontra no seu solitário camin(o, quem n+o ama nada,nem nada odeia, nada sente, e anda pelo mundo com os passos silenciososde um son(o que n+o sabe o que é a alegria

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- ?ngana-se, - replicou o que tin(a o nome de 9e)nour, - embora eun+o cuide do amor e este)a morto para todas as paix6es que agitam os fil(osdo barro, n+o deixo de sentir a seus mais serenos go'os ?u acompan(o acorrente dos inumeráveis anos, n+o nutrindo dese)os turbulentos da )uventude, mas go'ando as calmas e espirituais del<cias da idade madura

Aábia e deliberadamente, abandoneipara sempre a )uventude, quandosepareia min(a sorte da sorte dos (omens M+o inve)amos nemrepreendamos um ao outro ?u quisera, Zanoni como l(e apra' c(amá-loagora1, salvar o Mapolitano, )á porque o seu avI esteve separado da nossa!rmandade s0 pela 5ltima e leve barreira, )á porque sei que nesse (omemexistem os mesmos elementos de coragem e poder que existiam no seu avI,e estes elementos, na primeira parte da sua vida, o teriam tornado digno deser um dos nossos 7 terra contém muito poucos (omens que ten(am obtidoda Mature'a as qualidades que possam suportar as provas que a nossa=rdem imp6e 3orém o tempo e os excessos, estimulando os sentidos maisgrosseiros do Mapolitano, embotaram a sua imagina*+o ?u o abandono ao

seu destino

- ? ainda, 9e)nour, abriga a idéia de reviver a nossa =rdem, limitadaagora a n0s dois, por meio de novos convertidos e filiados Aeguramenteseguramente a sua experi"ncia pode ter-l(e ensinado que, em cada milanos, nasce apenas um ente (umano que possa atravessar as terr<veis portasque condu'em aos mundos externos = seu camin(o n+o está )uncado )á dassuas v<timas M+o se levantam diante de tias suas pálidas faces, nas quaisest+o gravadas a agonia e o medo

- M+o l(e aparecem os suicidas, manc(ados de sangue, e osman<acos delirantes

 - ? todas estas apari*6es n+o s+o, para o que l(e sobra ainda da(umana simpatia, sinais e advert"ncias suficientes para o curarem da suainsana ambi*+o

- M+o - respondeu 9e)nour

- 3ois n+o ten(o acaso obtido sucessos que compensam os meusdesenganos ? posso eu abandonar esta elevada e augusta esperan*a,

digna somente da nossa alta condi*+o, a esperan*a de formar uma excelentee numerosa ra*a, com bastante for*a e poder para ensinar K (umanidade assuas ma)estosas conquistas e seu dom<nioG uma ra*a de (omens que ven(ama ser os verdadeiros sen(ores deste planeta, e talve' os invasores de outrosGuma ra*a que domine as tribos inimigas e maliciosas que, neste momento,nos rodeiamG uma ra*a que, em seus imortais destinos, possa elevar-se, deum degrau ao outro, K gloria celeste e colocar-se por fim, ao lado dosservidores e agentes mais aproximados da 8ivindade, que se re5nem emredor do @rono dos @ronos Que importam mil v<timas, uma ve' que d"emum convertido K nossa Aociedade

? depois de uma pausa, continuou 9e)nour F

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- ? voc", Zanoni, voc" mesmo, se este afeto que sente por umamortal bele'a, fosse algo mais que um passageiro capric(o, poderia, uma ve'que o admitiu em sua <ntima nature'a, fa'er que participe da sua maisbril(ante e duradoura ess"nciaG voc" mesmo poderia desafiar todas as coisaspara conseguir que essa pessoa querida se tornasse igual M+o me

interrompa H poss<vel que ten(a a coragem de v"-la amea*ada pelasenfermidades, expostas aos perigos, ver como os anos a alquebram, como osseus ol(os se enfraquecem, como a sua bele'a esvaece, enquanto o seucora*+o, )ovem ainda, n+o quer desprender-se do seu 3ode ver tudo isto,sabendo que está em

- Basta - exclamou Zanoni, com calor

- Que é toda e qualquer outra sorte, comparada com a morteprodu'ida pelo terror 3ois que quando o mais frio sábio, o mais ardenteentusiasta, o mais ousado guerreiro, com os seus nervos de ferro, t"m sido

encontrado morto em sua cama, com os ol(os desmesuradamente abertos eos cabelos eri*ados, ao primeiro passo que deram na @err<vel Aenda, pensasen(or, que esta fraca mul(er, cu)a face empalidecida ao primeiro ru<do queouvisse em uma )anela, ao grito de uma coru)a, K vista de uma gota desangue na espada de um (omem, pensa que ela pudesse resistir ao espectrode M+o A0 em pensar que ela teria que ver semel(antes coisas, sintoque me abandona a coragem

- Quando l(e disse que a amava, quando a estreitou ao seu peito,renunciou a todo o poder de prever o seu futuro, e proteg"-la contra osperigos 3or conseguinte, daquipor diante, n+o é para ela mais do que um(omem, um (omem como os demais Domo, pois, sabe em que poderá sertentado Domo sabe o que despertará a sua curiosidade e o que desafiará asua coragem 3orém, deixemos distoG está resolvido a levar por diante o seupro)eto

- = :fiat; fa*a-se1 )á foipronunciado

- ? aman(+

- 7man(+ a esta (ora, o nosso barco sulcará aquele mar, e o peso

dos Aéculos cairá do meu cora*+o - @en(o compaix+o de ti, pobre sábio >oc" se despo)ou da sua

 )uventude

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CAPÍTULO XVII 

:7lc(imist - @(ou always speaEest riddles@ell me if t(ou art t(at fountain of w(ic( Bernard Lord @revi'an writ

9ercur - ! am not t(at fountain,but ! am t(e water@(e fountain compasset( me about;

Aandivogius, :Mew Lig(t of 7lc(ymy;

:7lquimista F - @u sempre falas em enigmas

8i'e-me se tu és aquela fonte de que escreveu Bernardo, o nobre@revi'ano

9erc5rio F - ?u n+o sou aquela fonteG sou,porém, a água

 7 fonte me rodeia;

= 3r<ncipe de OOO n+o era (omem a quem Mápoles pudesse c(amarde supersticioso

Mo Aul da !tália, existia ent+o, e existe ainda, um certo esp<rito decredulidade, que se nota de ve' em quando, entre os mais atrevidos dogmasdos seus 2il0sofos e céticos

?m sua infância, o 3r<ncipe de O O O tin(a ouvido referir estran(asest0rias a respeito da ambi*+o, o g"nio e a carreira do seu avI, esecretamente, talve' influenciado pelo exemplo do antepassado, em suaprimeira )uventude (avia estudado a ci"ncia, n+o s0 no seu curso leg<timocomo também em algumas das suas tortuosidades antiquadas e erráticas

>i, com efeito, em Mápoles, um pequeno volume com o bras+o dos>isconti, e atribu<do ao aristocrata a que me refiro, o qual trata de 7lquimiaem um estilo meio sat<rico e meio reverencial

=s pra'eres distra<ram muito breve o 3r<ncipe desta espécie de

trabal(o, e o seu talento, que era indubitavelmente grande, dedicou-setotalmente Ks mais extravagantes intrigas e aos adornos do luxo, de umaespl"ndida ostenta*+o, mesclada com algo do gosto clássico

 7 sua imensa rique'a, o seu desmarcado orgul(o, o seu caráteratrevido, que n+o con(ecia escr5pulos, o fa'iam impor certo medo a umacorte fraca e t<midaG e os ministros do governo indolente l(e toleravam osexcessos, porque ao menos tin(am adormecido a sua ambi*+o

 7 estran(a visita e o ainda mais estran(o desaparecimento de9e)nour enc(eu de terror e admira*+o o Mapolitano, e a sua altiva arrogância

e o ceticismo da sua idade madura lutavam em v+o por livrar-se de taisimpress6es

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 7 apari*+o de 9en)our serviu, na realidade, para investir Zanoni deum caráter em que o 3r<ncipe até ent+o n+o o tin(a considerado

= Mapolitano sentiu-se bastante inquieto ao pensar no rival que (aviadesafiado, no inimigo que (avia provocado

Quando, um pouco antes do banquete que mandara preparar, (aviatornado a recuperar o seu sangue- frio, foi com a bárbara e sinistra resolu*+ode levar adiante os pérfidos pro)etos que tin(a previamente formado

Aentia que a morte do misterioso Zanoni era necessária para a suapr0pria conserva*+oG e, se )á nos primeiros dias da sua rivalidade determinarasobre o destino de Zanoni, as advert"ncias de 9e)nour serviam s0 paraconfirmar a sua resolu*+o

- ?xperimentaremos se a sua magia é capa' de inventar um ant<doto

ao veneno, - disse o 3r<ncipe a meia-vo' e com um sorriso sardInico, quandoc(amou 9ascari K sua presen*a

= veneno que o 3r<ncipe misturara, com suas pr0prias m+os, novin(o que tin(a preparado para o (0spede, era composto de ingredientescu)os segredos (aviam sido até ali um dos maiores orgul(os de aquela (ábil eperigosa ra*a que deu K !tália aos seus mais sábios e mais criminosostiranos

= seu efeito era efica', ainda que n+o repentino F n+o produ'i a dor,nem convuls6es, nem deixava sinal algum externo que pudesse levantarsuspeitas

?m v+o se teria cortado e dissecado todas as membranas e fibras docadáver F em nen(uma parte o médico mais (ábil teria descoberto a presen*ado sutil agente mort<fero 8urante do'e (oras, a v<tima n+o sentia o mais levesintoma, exceto uma alegre e exaltada precipita*+o no sangue, K qual seseguia uma deliciosa languide', precursora infal<vel da apoplexia

 7 sangria n+o servia de nada

 7 apoplexia era uma enfermidade que atacava com muita freqR"nciaos inimigos dos >isconti

D(egou a (ora da festaG os convidados ac(avam-se reunidos

>ia-se ali a flor da nobre'a Mapolitana, os descendentes dosMormandos, dos @eut6es e dos Jodos, pois Mápoles tin(a ent+o umanobre'a que declarava derivar-se da ra*a do Morte, que tem sido realmente a:Mutrix Leonum;, - a ama da leonina cavalaria do mundo

= 5ltimo dos convidados que apareceram foi Zanoni G e a multid+o l(e

deu passagem, quando o deslumbrante estrangeiro se dirigiu ao dono dopalácio

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= 3r<ncipe saudou-o com fingido sorriso, ao qual Zanoni respondeu,em vo' baixa F

- Mem sempre gan(a quem )oga com dados carregados

= 3r<ncipe mordeu os lábios, e Zanoni, seguindo adiante, pareciasustentar uma animada conversa*+o com o adulador 9ascari

- Quem é o (erdeiro do 3r<ncipe - perguntou Zanoni- Pm parente distante pela lin(a materna, - respondeu 9ascari- Dom 7 sua ?xcel"ncia, acaba a lin(a masculina- = (erdeiro está assistindo ao banquete - M+o, sen(orG n+o s+o amigos, ele e 7 sua ?xcel"ncia, o 3r<ncipe- M+o importaG aman(+ estará aqui

9ascari calou-se, surpresoG porém, o sinal de come*ar o banquete

foidado, e os convidados foram para a mesa

Domo era, ent+o, costume, a festa principiou um pouco depois domeio-dia

= sal+o era grande e de forma ovalG por um lado (avia uma galeria,sustentada por colunas de mármore, e com a sa<da para um pátio ou )ardim,onde a vista sentia pra'er ao se fixar sobre as frescas fontes e as estátuas demármore alv<ssimo, meio veladas por laran)eiras

 7li se encontrava toda a arte que o luxo S&#T pode inventar paramitigar com frescura o lânguido calor do exterior, em um dia em que o sirocoO1 parece (aver suspendido a sua respira*+o

O1 Airoco é o nome que se dá, no 9editerr+neo, ao vento deAudoeste

Dorrentes artificiais de ar, por tubos invis<veisG grandes leques deseda que se moviam continuamente, como um vento de 7brilG repuxos emminiatura em cada ângulo da sala ofereciam aos !talianos essa alegria econforto se posso empregar esta palavra1, como as cortinas suspensas e o

c(ame)ante fog+o produ'em nos fil(os dos climas frios 7 conversa*+o era algum tanto mais viva e intelectual do que se

costumava entre os ociosos ca*adores de pra'er, nas terras meridionaisG poiso 3r<ncipe, (omem de talento, buscava seus amigos n+o somente entre os(omens ilustrados do seu 3a<s como também entre os alegres estrangeirosque vin(am adornar e avivar a monotonia dos c<rculos Mapolitanos

?stavam ali presentes dois ou tr"s nobres e ricos 2ranceses do 7ntigo Cegime, que (aviam emigrado com tempo, vendo aproximar-se aCevolu*+oG e o seu particular modo de pensar e a sua agude'a de esp<rito

estavam bem calcitados para o meridiano de uma Aociedade que fa'ia do:dolce far niente; ao mesmo tempo sua 2ilosofia e sua fé

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= 3r<ncipe, entretanto, falava menos do que ordinariamenteG equando fa'ia um esfor*o para estimular-se, as suas idéias eram inoportunas eexageradas

 7s maneiras de Zanoni contrastavam sensivelmente com as do3r<ncipe

= porte deste (omem singular estava sempre caracteri'ado por umacalma e por uma polida facilidade de exprimir-se, que os cortes+os atribu<amao muito que devia ter freqRentado a Aociedade

8ificilmente se podia di'er que estava alegreG e, n+o obstante, poucaspessoas sabiam manter como ele o bom (umor dos convidados

3arecia, por uma espécie de intui*+o, adivin(ar em cada conviva, as

qualidades, em que neles mais sobressaiamG e se, ocasionalmente, um certotom de encoberta cr<tica se revelava em suas observa*6es, concernentes aost0picos de que tratava a conversa*+o, parecia a (omens que nunca tomavamnada a sério, ser a linguagem, ao mesmo tempo, do grace)o e da sabedoria

=s 2ranceses, em particular, ac(avam coisa surpreendente o seu<ntimo con(ecimento dos acontecimentos mais minuciosos da 2ran*a e suaDapital, assim como a sua profunda penetra*+o embora manifestada s0 pormeio de epigramas e sarcasmos1, tocante aos caracteres eminentes queestavam ent+o desempen(ando um papel no grande teatro da intrigacontinental

Mo instante em que esta conversa*+o parecia mais animada, e emque a alegria da festa tocava ao seu auge, c(egou Jlyndon ao palácio

= porteiro, vendo, pelo seu tra)e, que n+o pertencia ao n5mero dosconvidados, disse-l(e que a 7 sua ?xcel"ncia estava ocupada, e que n+o sepodia interromp"-la sob pretexto algum

Jlyndon, pela primeira ve', compreendeu qu+o estran(o e árduo erao dever que se impusera

?ntrar, a viva for*a, no sal+o do banquete e de uma personagemnobre e poderosa, rodeada do escol de Mápoles, e acusá-la perante os seusalegres compan(eiros daquilo que para estes n+o seria mais do que um atode galanteio, era uma empresa que n+o podia deixar de ser temerária erid<cula

= )ovem refletiu um momento e, pondo uma moeda de ouro na m+odo porteiro, disse-l(e que precisava ver o sen(or Zanoni, para quem tra'iauma mensagem de vida ou de morte

?ste meio facilitou-l(e a entrada no interior do palácio

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Jlyndon subiu a larga escadaria e, em breve, c(egaram aos seusouvidos as alegres vo'es dos convivas

 7 entrada dos sal6es de recep*+o, encontrou um pa)em, porintermédio do qual transmitiu o recado K Zanoni

= pa)em encontrou-se com Zanoni G e este, ao ouvir o nome deJlyndon, dirigiu-se ao dono do palácio, di'endo-l(e F

- 8esculpe-me, sen(or 3r<ncipeG um !ngl"s amigo meu, o sen(orJlyndon - cu)o nome n+o é descon(ecido K 7 sua ?xcel"ncia -, espera-me naante-salaG sem d5vida, se tratará de um assunto muito importante e urgente,porque veio buscar-me aqui nesta (ora 3ermitirá que me ausente ummomento

- M+o, sen(or, - respondeu o 3r<ncipe, com cortesia, ao mesmo tempo

em que aparecia em seu semblante um sorriso sinistro F - n+o seria mel(orque o seu amigo entrasse a fa'er-nos compan(ia Pm !ngl"s é bem recebidoem todas as partesG e ainda que fosse oland"s, a sua ami'ade o tornariasimpático 8iga-l(e que entreG n+o queremos privar-nos da sua presen*a,nem que se)a por um instante

Zanoni fe' um amável cumprimento ao 3r<ncipe, enquanto o pa)em ialevar K Jlyndon a lison)eira mensagem

3useram uma cadeira para ele ao lado de Zanoni, e o )ovem !ngl"sentrou

- Ae)a muito bem-vindo, caval(eiro, - disse-l(e o 3r<ncipe ?spero queos assuntos que tem que comunicar, ao nosso ilustre (0spede se)am de bomagouro e de alegre interesse Ae, ao contrário, tra' alguma not<cia má, rogo-l(e que a deixe para mais tarde

Jlyndon fran'iu a testa, e estava a ponto de espantar os convivascom uma resposta que queria dar, quando Zanoni, tocando-l(esignificativamente o bra*o, disse-l(e, em vo' baixa, em !ngl"s F

 - ?u sei por que veio buscar-me Dale-se, e preste aten*+o no quevai suceder

- ?nt+o, sabe que >iola, a qual se )actava de poder salvar de todoperigo?stá nesta casa

- Aim - completou Zanoni a frase de Jlyndon, e acrescentou F

- ? se itambém que a 9orte está sentada K direita do dono destacasa 9as o seu destino está agora separado do de >iola para sempreG e oespel(o que o reflete aos meus ol(os, me aparece claramente, através das

correntes de sangue Dale-se, e espere pelo fim que aguarda o malvado

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? dirigindo-se ao Mapolitano, disse Zanoni em vo' alta F

- Aen(or 3r<ncipe, o sir Jlyndon trouxe-me, deveras, not<cias n+o detodo inesperadas >e)o-me obrigado a ausentar-me de Mápoles, e este é ummotivo mais para aproveitar quanto poss<vel a presente (ora

- ? qual é, se me é permitido perguntar, a causa que tra' tanta afli*+oKs damas de Mápoles 7 pr0xima morte de uma pessoa que me tem (onradocom a mais leal ami'ade, replicou Zanoni, com ar grave 3orém, n+o falemosdisto agoraG a triste'a n+o pode fa'er retroceder o (orário no rel0gio da vida 7ssim como substitu<mos por novas flores as que murc(am nos nossosvasos, é o segredo da sabedoria mundana substituir por novos os amigos quedesaparecem da nossa senda

- Aoberba e verdadeira 2ilosofia - exclamou o 3r<ncipe 7 máximados Comanos era :M+o se admire;G a min(a é F :Munca se entriste*a ; Mada

deve causar-nos pesar na vida, sen(or Zanoni, exceto, com efeito, o caso dealguma )ovem bele'a que, depois de ter conquistado o nosso cora*+o, seescapa de nossas m+os ?m semel(antes momentos, necessitamos de todaa nossa sabedoria, para n+o sucumbir ao desespero e apertar as m+os damorte Que di' a isto, caval(eiro Aorri Mem sempre sorrirá Brindecomigo F 7 sa5de do amante afortunado, e para que o amante enganado ac(eum pronto consolo

- Brindo pelo que di', - respondeu Zanoni G e quando o fatal vin(ofoideitado no seu copo1 repetiu, fixando os ol(os no semblante do 3r<ncipe F

- Brindo pelo que di', ainda que se)a com este vin(o

?, ao di'"-lo, levou o copo a seus lábios

= 3r<ncipe pareceu empalidecer, enquanto que o ol(ar de Zanoni sefixava nele com ardor e pertinácia, ante o qual o Mapolitano, sentindoremorsos da consci"ncia, se curvou e estremeceu

Zanoni n+o desviou seus ol(os do 3r<ncipe, sen+o quando tin(aengolido a 5ltima gota do l<quido

- 3r<ncipe o seu vin(o foi guardado demasiado tempo e, por isso,perdeu as suas virtudes 3oderia ser inconveniente a muitosG mas, quanto amim, n+o temaG n+o me fará o menor dano

? voltando-se para a esquerda F

- Aen(or 9ascari, o sen(or que é excelente con(ecedor dos vin(os,quer fa'er-nos o favor de di'er a sua opini+o

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- Aer-me-ia dif<cil, - respondeu 9ascari, com afetada calma, - porquen+o gosto dos vin(os de D(ipreG ac(o-os demasiado ardentes @alve' osen(or Jlyndon ac(ará este vin(o mais saboroso do que o ac(a 7 suaAen(oria 3ois ten(o ouvido di'er que os !ngleses gostam que as suasbebidas se)am ardentes e picantes

- Quer que o meu amigo prove também do vin(o, 3r<ncipe -interrogou Zanoni

- 3orém lembro-l(e que nem todos podem tomá-lo com a mesmaimpunidade que eu

- M+o, - respondeu o 3r<ncipe, apressadamente Pma ve' que estevin(o n+o merece sua recomenda*+o, 8eus me livre de obrigar os meusconvidados a tomá-lo Aen(or 8uque - prosseguiu, dirigindo-se a um dos2ranceses - os vin(os da sua 3átria s+o verdadeiramente dignos de Baco

Domo se ac(a este barril de Borgon(a Donservou-se bem na viagem

- 7( - disse Zanoni, :mudemos de vin(o e de tema;

? desde este momento, pareceu ainda mais animado e bril(ante

Munca saiu da boca de um comensal uma conversa*+o maiscintilante, mais eloqRente e mais recreativa

 7s suas palavras espirituosas fascinavam todos, até o 3r<ncipe eJlyndon, e todos sentiam um estran(o e inexplicável contágio

= 3r<ncipe, a quem as palavras e o ol(ar de Zanoni, quando estebebia o veneno, (aviam enc(ido de medrosa desconfian*a, saudava agora,na bril(ante eloqR"ncia da sua espiritualidade, uma prova positiva daopera*+o do t0xico

= vin(o circulava sem pararG mas ninguém parecia reparar em seusefeitos

Pm por um, os convidados foram caindo em uma espécie de religioso

sil"ncio, enquanto Zanoni continuava a grace)ar e a di'er epigramas@odos pareciam estar suspensos dos lábios do divertido conviva,

escutando-o com avide'

Qu+o amarga, porém, era a alegria deste (omem

Domo era c(eia de despre'o pelos néscios presentes e pelasfrivolidades que formavam a sua vida

>eio a noiteG o sal+o come*ava a parecer um tanto escuroG a festa se

(avia prolongado muitas (oras mais do que ent+o costumavam durarsemel(antes divertimentos

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 7inda n+o se levantavam os convivas das cadeiras para retirar-se, eainda continuava Zanoni, com ol(ar relu'ente e o lábio 'ombador, contando-l(e espirituosas (ist0rias e anedotas

8e repente, a Lua, surgindo no (ori'onte, derramou os seus raios

sobre as flores e fontes do )ardim, deixando o sal+o imerso em umapenumbra calma e misteriosa

?nt+o se levantou Zanoni, di'endo F

- Bem, caval(eirosG parece-me que ainda n+o temos cansadobastante o nosso (0spedeG e o seu )ardim oferece uma nova tenta*+o paraprolongarmos a nossa visita 3r<ncipe, n+o tem no seu séquito, algunsm5sicos que recreiem os nossos ouvidos, enquanto n0s respiramos afragrância das suas laran)eiras

- Que excelente idéia - disse o 3r<ncipe 9ascari Que ven(am osm5sicos

=s convidados foram-se levantando simultaneamente, para passar ao )ardimG e ent+o, pela primeira ve', come*aram a sentir o efeito do muito vin(oque tin(am bebido

Dom as faces coradas e os pés pouco seguros, sa<ram ao ar livre,que ainda mais estimulou neles o crescente ardor do vin(o

Domo se quisesse desforrar o tempo que (aviam permanecido emsil"ncio, escutando Zanoni, desataram-se agora todas as l<nguas, todoscome*aram a falar ao mesmo tempo, porém ninguém escutava

avia algo de estran(o e sinistro no contraste que oferecia a calmabele'a da noite e da cena, e a confus+o e o clamor destes conversadoresmeio ébrios

Pm 2ranc"s, sobretudo, o )ovem 8uque de COOO, um dos nobres daclasse mais alta, e de temperamento vivo e irrasc<vel, como é a maior partedos seus compatriotas, era o que parecia mais tumultuoso e excitado

? como as circunstâncias, cu)a recorda*+o ainda se conserva entrecertos c<rculos de Mápoles, fi'eram depois necessário que o mesmo 8uquetivesse de revelar o que (avia acontecido, quero transcrever aquio breverelat0rio daqueles fatos, que ele escreveu e que, (á alguns anos, mefoigentilmente apresentado por meu apreciável e leal amigo, o Daval(eiro deCOOO

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Munca me lembro escreve o 8uque1 de ter sentido o meu ânimo t+oexcitado como naquela noiteG parec<amos o mesmo que tantos rapa'essa<dos da aula, dando-nos empurr6es uns aos outros, enquanto desc<amos,trope*ando, os sete ou oito degraus da escada que condu'ia ao )ardimG -alguns riam, outros gritavam, outros ral(avam, outros palravam 3arecia que o

vin(o tin(a feito manifestar-se o caráter intimo de cada um 7lguns falavamem vo' alta e disputavam, outros se mostravam sentimentais ou capric(ososGalguns, que até ent+o nos pareceram aflitos, entregavam-se a uma alegriaextraordináriaG outros, que tomávamos por (omens discretos e taciturnos,come*aram a manifestar-se loqua'es e turbulentos Lembro-me que, no meioda nossa ruidosa alegria, a min(a vista se fixou no caval(eiro sen(or Zanoni,cu)a conversa*+o nos encantara tanto a todos, e sentium certoestremecimento ao ver que ele conservava em seu semblante a mesmacalma e o mesmo sorriso de antipatia, que o caracteri'avam em suassingulares e curiosas (ist0rias da corte de Lui' X!> Quase me senti inclinadoa provocar esse (omem, cu)a calma era uma espécie de insulto K nossa

desordemG e n+o fuieu o 5nico que sentiu o efeito daquela irritante eescarnecedora tranqRilidade 7lguns dos convivas me disseram depois que,ao ver Zanoni, sentiam ferver o seu sangue e mudar-se-l(es a alegria emressentimento 3arecia que, no seu frio sorriso, (avia um encanto particularque feria o amor pr0prio e predispun(a K iraMeste instante, o 3r<ncipe,dirigindo-se K mim, travou-me do bra*o e levou-me para um canto ?le (avia,certamente, participado de nossos excessos, mas n+o se sentia t+o excitadocomo n0s, pelo contrário, estava um pouco taciturno e demonstrava umaespécie de fria arrogância e altivo despre'o em seu porte e em sualinguagem, que, apesar de mani festar-me muito afetuosa cortesia, sublevou omeu amor pr0prio contra ele 3arecia que Zanoni o tin(a contagiado, e que,ao imitar as maneiras destes, tratava de exceder o original = 3r<ncipemote)ou-me, lembrando uma estoria'in(a da corte, em que aparecia o meunome, ligado ao de certa formosa e distinta dama Aiciliana, e simulou tratá-lacom despre'o que, se (ouvesse sido certo, eu teria considerado como uma )actância ?ste (omem falava, na realidade, como se tivesse col(ido todas asflores de Mápoles, deixando para n0s, estrangeiros, somente as quedesden(ara !sto picou o meu orgul(o natural e nacional, e vinguei-me comalguns sarcasmos que seguramente, me (aviam abstido de aventurar, se omeu sangue (ouvesse estado mais frio ?le riu gostosamente, o que medeixou bastante irado @alve' devo confessar a verdade1 o vin(o (ouvesse

produ'ido em mim uma estran(a tend"ncia K irritabilidade e a provocardisputas Quando o 3r<ncipe se separou de mim, voltei-me, e vi Zanoni aomeu lado

- = 3r<ncipe é um fanfarr+o, - disse ele, com o mesmo sorriso quetanto me repugnara antes - ele dese)aria monopoli'ar toda a rique'a e todo oamor >amos vingar-nos

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- ? como Meste momento, ele tem em sua casa a mais encantadoraatri' de Mápoles, a célebre cantora >iola 3isani ?sta )ovem se encontra aqui,é verdade, contra sua vontadeG ele a arrastou ao seu palácio empregando afor*a, mas pretextará que ela o adora !nsistamos em que nos apresente oseu secreto tesouro, e quando a cantora entrar, o 8uque de COOO pode estar

certo de que os seus elogios e as suas aten*6es encantar+o a )ovem, eprovocar+o fortes 'elos no 3r<ncipe ?sta seria uma linda vingan*a quecastigaria a sua imperiosa presun*+o :?sta sugest+o me deleitou 8ei-mepressa K procurar o 3r<ncipe Maquele momento, os m5sicos (aviamcome*ado a tocarG eu fi' um sinal com a m+o, mandando cessar a sinfonia, e,dirigindo-me ao 3r<ncipe, que estava no centro de um dos grupos maisanimados, queixei-me da sua mesquin(a (ospitalidade em oferecer-nosalguns maestros t+o pobres na arte, quando ele se reservava, para o seupr0prio go'o, o ala5de e a vo' da primeira cantora de Mápoles ?m tom meiosorridente e meio sério, supliquei que nos apresentasse a )ovem 3isani =meu pedido foi recebido com uma salva de aplausos pelos demais

Aufocamos com gritos de protesto as réplicas do 3r<ncipe, e n+o quisemosescutar a sua negativa;

- Daval(eiros, - disse ele, quando, afinal, l(e foi poss<vel fa'er-seouvir, - mesmo se eu acedesse K sua proposta, ser-me-ia imposs<vel indu'iressa sen(ora a apresentar-se perante uma reuni+o t+o tumultuosa quantonobre A+o demasiado caval(eiros para usar viol"ncia para com ela, aindaque o 8uque de COOO se esque*a de si mesmo o bastante para violentar-me:?sta repreens+o, embora merecida, indignou-me;

- 3r<ncipe, - respondi-l(e-, a respeito da incivilidade da viol"ncia,ten(o um exemplo t+o ilustre dela, que n+o posso (esitar em seguir a senda(onrada por seus pr0prios passos @oda Mápoles sabe que >iola 3isanidespre'a o seu ouro e o seu amorG que somente a viol"ncia podia tra'"-la atéK sua casaG e que, o sen(or se nega a apresentá-la é, porque teme a suaqueixa, e sabe bastante da fidalguia que a sua vaidade despre'a, para estarconvencido de que os caval(eiros franceses est+o t+o dispostos a adorar abele'a, como a defend"-la contra qualquer insulto

- @em ra'+o, sen(or, - confirmou Zanoni, com :ar sério;

- = 3r<ncipe n+o se atreve a apresentar a sua :presa;= 3r<ncipe calou-se por alguns instantes, como se a indigna*+o o

fi'esse emudecer

3or fim irrompeu, nos mais in)uriosos insultos contra Zanoni e contramim Zanoni n+o respondeuG eu tremia de 0dio;

:=s convidados pareciam deleitar-se com a nossa disputa;

Minguém tratou de conciliar-nos, exceto 9ascari, a quem empurramos

para um lado, n+o querendo ouvi-loG alguns tomaram partido em favor de um,outros em favor do outro

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= resultado é fácil de prever

Cecorreu-se Ks espadas

Pm do grupo apresentou-me duas

?u ia escol(er, quando Zanoni pIs em min(a m+o a outra, a qual, a )ulgar pelo seu pun(o, parecia um ob)eto de arte muito antigo

 7o mesmo tempo, ol(ando o meu contendor, disse-l(e sorrindo F

- 3r<ncipe, o 8uque toma a espada do seu avI 7 sua Aen(oria é um(omem demasiado valente para fa'er caso de supersti*6esG eu o advirto da:multa do contrato;

 7o ouvir estas palavras, pareceu-me que o 3r<ncipe estremecia,

empalidecendoG n+o obstante, respondeu ao sorriso de Zanoni com um ol(arde despre'o

Pm momento depois, tudo era confus+o e desordem

avia seis ou oito pessoas empen(adas em uma estran(a e confusarefregaG porém, eu e o 3r<ncipe nos buscávamos um ao outro

= barul(o que reinava em redor de n0s, a confus+o dos convidados,os gritos dos m5sicos e o ru<do das nossas espadas serviam somente paraestimular o nosso rancor

@em<amos que os outros nos interrompessem, e bat<amo-nos comoloucos, sem ordem nem método

?u parava e atacava maquinalmente, cego e frenético, como se umdemInio se (ouvesse apoderado de mim, até que vi o 3r<ncipe estendido aospés, ban(ado em sangue, e Zanoni inclinando-se sobre ele e falando-l(e aoouvido

?ste espetáculo deixou-nos todos gelados

 7 luta cessouG confusos e c(eios de remorsos e (orror, nos reunimosem torno do malfadado 3r<ncipeG mas era tarde, os seus ol(os rolavamespontaneamente nas 0rbitas

?u ten(o visto morrer muitos (omens, porém nunca um que levasseem seu semblante a express+o de tanto (orror

= 3r<ncipe exalou o 5ltimo suspiro

Zanoni levantou-se e, tomando com surpreendente tranqRilidade a

espada da min(a m+o, disse calmamente F

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- Daval(eiros, 7s suas Aen(orias s+o testemun(as de que o 3r<ncipeatraiu sobre si mesmo esta desgra*a = 5ltimo desta ilustre casa pereceu emuma contenda

Munca mais tornei a ver Zanoni

8epois das palavras por ele proferidas, fui correndo K casa do nossorepresentante para referir-l(e o acontecimento e aguardar o que seguiria

?stou agradecido ao governo Mapolitano e ao ilustre (erdeiro dodesditoso 3r<ncipe, pela nobre, generosa e )usta interpreta*+o que deram Keste desgra*ado incidente, cu)a mem0ria me afligirá até K 5ltima (ora demin(a vida

- 7ssinado1 Lui' >ictor, 8uque de COOO

Mo memorial acima transcrito, o leitor encontra a narra*+o mais exata

e minuciosa de um acontecimento que produ'iu em Mápoles, naqueles dias, amais profunda sensa*+o

Jlyndon n+o (avia tomado parte alguma naquela luta, nemparticipado muito dos excessos daquela festa

@alve' foi isto devido Ks exorta*6es que, em vo' baixa, l(e deraZanoni

Quando este se retirou daquela c5ria de confus+o, Jlyndon reparouque, ao atravessar o grupo que formavam os convidados, tocou 9ascarilevemente no ombro, di'endo-l(e algumas palavras que o !ngl"s n+o pIdeouvirG Jlyndon seguiu Zanoni ao sal+o do banquete, o qual, exceto onde osraios da Lua tocavam o assoal(o, estava envolvido nas tristes e pesadassombras da noite

- Domo voc" pIde predi'er este terr<vel acontecimento = 3r<ncipen+o caiu ao golpe do seu bra*o - recriminou Jlyndon, com vo' tr"mula esurda

- = general que prepara a vit0ria n+o combate em pessoa, -

respondeu Zanoni G - porém, deixemos o passado dormir com os mortosmeia-noite virá encontrar-me na praia, K meia mil(a K esquerda do seu (otelDon(ecerá o local, porque (á ali um grosso e 5nico pilar, ao qual está atadauma corrente de ferro rompida Ae quiser estudar a nossa ci"ncia, aliencontrará ent+o, o mestre Cetire-seG eu ten(o de pIr em ordem aindaalguns neg0cios Lembre-se de que >iola está ainda na casa do (omem queacaba de morrer

Meste momento, aproximou-se 9ascari, e Zanoni, voltando-se para o!taliano, enquanto se despedia de Jlyndon com um aceno da m+o, levou-opara um lado e disse-l(e F

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- 9ascari, o seu amo deixou de existirG e como o seu sucessor é um(omem s0brio, a quem a pobre'a tem preservado dos v<cios, os seusservi*os l(e ser+o in5teis Quanto a ti, agrade*a-me por n+o o entregar Ksm+os do verdugoG recorde-se do vin(o de D(ipre Bem, n+o trema, (omemGeste vin(o, que mataria a qualquer outro, n+o pode fa'er-me mal algum >oc"

cometeu uma a*+o criminosaG porém, eu l(a perdIo e prometo-l(e que, seesse vin(o me matar, nunca o meu espectro aparecerá K um (omem t+overdadeiramente arrependido como voc" 3orém deixemos isto Dondu'a-meao quarto de >iola 3isani 7 morte do carcereiro abre a porta do cárcere aopreso >amos, depressa ?u quero ir embora

9ascari pronunciou algumas palavras inintelig<veis, fe' um respeitosocumprimento, e levou Zanoni ao quarto onde estava encerrada >iola

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CAPÍTULO XVIII 

:9ercur - @ell me, t(erefore, w(at t(ou, seeEest after, and w(at t(ouwilt (ave(at dost t(ou desire to maEe 7lc(imist - t(e 3(ilosop(erUs

Atone;Aandivogius

:9erc5rio F - 8i'e-me ent+o, que é o que procura se o que queresobter Que dese)as fa'er 7lquimista F - 7 3edra 2ilosofal;

 7lguns minutos antes da meia-noite, encontrava-se Jlyndon no localindicado

= misterioso dom<nio que Zanoni adquirira sobre ele, foi confirmadoainda mais solenemente pelos acontecimentos das 5ltimas (orasG a morte

s5bita do 3r<ncipe, prevista pelo singular estrangeiro, e verificada, contudo, deuma forma aparentemente t+o acidental, por motivos t+o vulgares, e, apesarde tudo, associada a palavras t+o proféticas, despertou no cora*+o do )ovem!ngl"s os mais profundos sentimentos de admira*+o e respeito

3arecia que aquele ser incompreens<vel e maravil(oso podiaconverter em agentes da sua inescrutável vontade os atos mais ordinári os eos instrumentos mais comunsG porém, sendo assim, porque (avia permitido acaptura de >iola

3orque n+o preferiu prevenir o crime a castigar o criminoso

? amava Zanoni realmente a )ovem

 7má-la, e n+o obstante querer resignar K sua posse, para ced"-la aum rival, do qual podia livrar-se certamente, se quisesse aplicar para isso assuas artes

9as Jlyndon )á n+o cria que Zanoni e >iola quisessem enganá-lo, afim de indu'i-lo a casar-se com esta

= temor e o respeito que sentia por Zanoni n+o l(e permitiam crer emuma impostura t+o mesquin(a

Dontinuava a amar >iola

M+oG ao ouvir, naquela man(+, que a )ovem se encontrava em perigo,(avia sentido, é verdade, renascer as simpatias e o afeto que l(e professara,e temia por elaG porém, com a morte do 3r<ncipe, a imagem dela desapareceunovamente do seu cora*+o, e n+o l(e causava 'elos a idéia de que >iola forasalva por Zanoni, e que naquele momento se encontrava talve' debaixo doseu teto

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Quem, no curso da sua vida, tem sentido a absorvente paix+o do )ogo, lembrar-se da maneira como o )ogador apaixonado fica inteiramenteabsorvido por esta estran(a ilus+o, e com que cetro de mágico poder oterr<vel déspota domina todo o sentimento e todo o pensamento

3ois bem, o sublime dese)o que dominava agora o cora*+o deJlyndon era muito mais intenso do que a paix+o do )ogador = )ovem queriaser ri val de Zanoni, n+o em afei*6es (umanas e perecedouras, mas sim emsua ci"ncia eterna e sobrenatural

?le teria dado a sua pr0pria vida com satisfa*+o, - e até com "xtase,-para conseguir a c(ave daqueles solenes segredos, que separavam oestrangeiro do resto da (umanidade

?namorado da deusa das deusas, o )ovem estendia os bra*os, -como o impetuoso !xion, - e abra*ava uma nuvem

 7 noite era muito linda e serena, e as ondas vin(am morrer,silenciosas, aos pés do !ngl"s que seguia pela fresca praia, ao resplendor doestrelado firmamento

3or fim, c(egou ao lugar designado, onde viu um (omem envolto emuma capa, apoiando contra o pilar, como se dormisse profundamente

= )ovem, aproximando-se, pronunciou o nome de Zanoni = (omemvoltou-se, e Jlyndon viu que era um estrangeiro, cu)o semblante, ainda quen+o t+o belo como o de Zanoni, tin(a, n+o obstante, o mesmo aspectoma)estoso, e talve' ainda mais impressionável, tanto pela idade madura comopor essa elevada intelig"ncia livre de paix6es, e que se revelava em sua largatesta e nos seus ol(os profundos e penetrantes- 3rocura Zanoni, - disse oestrangeiro

- ?le n+o tardará a virG porém, talve' o (omem que está diante de tise)a mais ligado ao seu destino, e este)a mais disposto a reali'ar os seusson(os

- á, pois, na terra, ainda um outro Zanoni - perguntou Jlyndon,

surpreso

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- Ae isto l(e parece imposs<vel, - replicou o estrangeiro, - porqueacaricia voc" mesmo a esperan*a e a fé de tornar-se um dia também o queele é 3ensa que ninguém mais se tem abrasado no fogo do seu divinoson(o Quem, em sua )uventude, - quando a alma está mais pr0xima do céu,de onde saiu, e as suas primeiras e divinas aspira*6es n+o t"m sido ainda

todas desvanecidas pelas s0rdidas paix6es e mesquin(os cuidados que otempo geraG - quem é, repito, que em sua )uventude n+o alimentou a cren*ade que o universo contém segredos descon(ecidos K maioria dos (omens, equem n+o suspirou, como o cervo suspira pelo manancial de água, pelasfontes que se ocultam longe, no meio do vasto deserto da ci"ncia e onde n+ose v" o menor rastro 7 m5sica da fonte ouve-se no interior da alma, até queo pé, vacilante e erradio, se extravia longe das suas águas, e o pobre via)antedesorientado morre no imenso deserto 3ensa que, dos que acariciam aesperan*a, ninguém ac(ou a >erdade, ou que em v+o nos foi dado essesentimento que nos impele a procurar o !nefável Aaber M+o @odo o dese)oque sente o cora*+o (umano é um vislumbre de coisas que existem, ainda

que distantes e divinas M+o Mo mundo nunca faltaram esp<ritos maisresplandecentes e mais feli'es, que c(egaram Ks regi6es etéreas onde s0 semovem e respiram os seres superiores K (umanidade Zanoni, por grandeque se)a, n+o é um Aer sem igual ?le tem os seus predecessores, e umalonga lin(a de sucessores pode vir atrás dele

- ? quer di'er com isto, - perguntou Jlyndon, - que devo ver nosen(or um daqueles poucos Aeres poderosos, aos quais Zanoni n+o ésuperior em poder nem em sabedoria

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- ?m mim, - respondeu o estrangeiro, - voc" v" um de quem Zanonimesmo aprendeu alguns dos seus mais altos segredos ?u ten(o estadonestas praias em tempos que os seus cronistas apenas con(ecem >i os2en<cios, os Jregos, os =scos, os romanos, os Lombardos, - a todos, eu osvi, essas fol(as alegres e bril(antes sobre o tronco da vida universal,

dispersas em sua devida esta*+o e renovada depoisG até que, na realidade, amesma ra*a que deu ao mundo antigo a sua gl0ria, deu ao mundo novosegunda )uventude 3orque os Jregos puros, os elenos, cu)a origem temconfundido os seus (istoriadores, eram da mesma grande fam<lia que osfil(os da tribo Mormanda, nascidos para serem sen(ores do universo e emnen(um 3a<s da terra, destinados a serem (umildes len(adores 7té asobscuras tradi*6es dos eruditos, segundo as quais os fil(os de elas vieramdos vastos territ0rios do Morte de @(rácia, para serem os vencedores dospastores 3elasgos, e os fundadores da ra*a de semideusesG as tradi*6es quefalam de uma popula*+o bron'eada sob o Aol do =este, e de 9inerva com osol(os a'uis e de 7quiles com os cabelos ruivos caracteres f<sicos, distintos

do Morte1G que introdu'em, no meio de um povo pastoril, aristocraciasguerreiras e monarquias limitadas, o feudalismo do tempo clássico, - até estastradi*6es podem servir-l(e para a prova de que os primitivosestabelecimentos dos elenos se encontravam na mesma regi+o de onde,em tempos posteriores, os guerreiros normandos vieram invadir as ignorantese selvagens tribos Deltas, para se converterem nos Jregos do mundo Drist+o3orém, tudo isto n+o l(e interessa, e fa' bem em ouvi-lo com indiferen*a =império do (omem que aspira a ser mais do que um (omem, n+o reside nocon(ecimento das coisas exteriores, mas sim no aperfei*oamento da almaque tem no seu interior

- ? quais s+o os livros que cont"m esta ci"ncia ? em que laborat0riose trabal(a para possu<-la - perguntou Jlyndon

- 7 Mature'a fornece os materiais - respondeu o descon(ecidoG - eestes existem ao redor de si, e voc" o pisa a cada passo Mas ervas que oanimal devora e que o qu<mico desden(a de col(erG nos elementos de que sededu' a matéria nas suas formas mais diminutas e mais poderosasG no seioespa*oso do arG nos negros abismos da terra, em todas as partes podem osmortais encontrar os recursos e as bibliotecas da ci"ncia imortal 3orém,corno os mais simples problemas, nos mais simples de todos os estudos, s+o

obscuros para quem n+o educa a sua mente para compreend"-losG como oremador daquele barco n+o pode di'er-l(e por que dois c<rculos podem tocar-se um ao outro em um s0 ponto, assim, ainda que toda a terra estivesse c(eiade gravuras e escritos do mais divino saber, os caracteres seriam in5teis paraquem n+o procura saber o que significa essa linguagem e n+o medita sobre averdade 4ovem, se a sua imagina*+o é vi va, se o seu cora*+o é ousado, e asua curiosidade insaciável, eu o aceitareipor disc<pulo 9as advirto-o que asprimeiras li*6es s+o duras e terr<veis

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- Ae o sen(or as superou - respondeu Jlyndon, intrepidamente,porque n+o poderia eu fa'er outro tanto 8esde a min(a infância,acompan(a-me um pressentimento de que em min(a vida me est+oreservados estran(os mistériosG e, do ponto onde se ac(am os limites daordinária ambi*+o, dirigisempre o meu ol(ar Ks nuvens e escurid+o que se

estendem no além Mo instante em que vi Zanoni, senti como se tivessedescoberto o guia e o tutor pelo qual a min(a )uventude em v+o tin(asuspirado com ardente dese)o

- ? Zanoni transferiu-me este cuidado, - replicou o descon(ecido - Lá,na Ba<a, está ancorado o navio em que Zanoni vai K busca de uma moradamais agradávelG n+o demorará muito o instante em que a brisa se levantará einc(ará as velas, e o estrangeiro terá desaparecido ao longe, como um soprode vento 3orém como o vento, ele deixa depositadas em seu cora*+o assementes que podem florescer e dar fruto Zanoni concluiu a sua miss+oG elen+o é mais necessário aquiG quem (á de aperfei*oar a sua obra, está ao seu

lado Zanoni se aproxima =u*o o ru<do do remo 7gora deve fa'er a escol(aAegundo o que decidir, tornaremos a nos ver

 7o di'er estas palavras, o descon(ecido afastou-se lentamente,desaparecendo na sombra das roc(as, enquanto um barco, fendendovelo'mente as águas, aproximou-se da terra e parouG um (omem saltou Kpraia, e Jlyndon recon(eceu Zanoni

- Jlyndon, - disse-l(e este, - )á n+o posso oferecer-l(e a escol(a deum amor feli' e de uma exist"ncia tranqRila 7 (ora )á passou, e o destinoligou K min(a a m+o que podia ter sido sua 3orém, ainda posso conceder-l(egrandes dons, se quiser abandonar a esperan*a que r0i o seu cora*+o, e cu)areali'a*+o n+o posso, nem eu, prever Ae a sua ambi*+o for (umana, possosaciá-la amplamente =s (omens dese)am quatro coisas nesta vida F amor,rique'as, fama e poder = primeiro, n+o posso conceder-l(e maisG porém, ostr"s restantes est+o K min(a disposi*+o ?scol(a destas tr"s coisas a que l(eagrada, e separemo-nos em pa'

- ?stes n+o s+o os dons que cobi*oG prefiro a ci"ncia, - a ci"ncia quevoc" possui 3or ela, e s0 por ela cedi o amor de >iolaG e esta ci"ncia é a5nica recompensa que anelo

- M+o posso opor-me aos seus dese)os, mas posso l(e advertir =dese)o de aprender n+o contém sempre a faculdade de adquirir ? verdadeque posso dar-l(e o mestreG porém, o resto depende de ti Ae)a prudenteenquanto é tempo, e tome o que eu posso conceder-l(e

- Cesponda-me s0 Ks perguntas que vou fa'er, - disse Jlyndon, - e,segundo a sua resposta, me decidirei ?stá no poder do (omem comunicar-secom os Aeres de outros mundos ?stá no poder do (omem influir sobre oselementos e preservar a sua vida contra a espada e contra as enfermidades

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- @udo isso é poss<vel, - respondeu Zanoni, evasivamente, - porém,somente para algunsG por um que c(ega a alcan*ar estes segredos, podemperecer mil(6es, ao tentarem alcan*ar o alvo

- 9ais uma pergunta >oc"

- Basta 4á l(e disse que, de mim, n+o dou contas K ninguém

- 3ois bem, - retrucou o )ovemG - posso crer no poder do estrangeiroque encontrei esta noite H realmente um dos videntes eleitos, de quem meafirma terem c(egado a ser sen(ores dos mistérios que eu dese)o sondar

- @emerário - disse Zanoni, em um tom de compaix+oG - a sua crise )á passou e a sua escol(a )á está feita 7penas, o que posso dese)ar-l(e éque se)a valente e que prospereG sim, eu l(e entrego a um mestre que tem opoder e a vontade de abrir as portas de um mundo terr<vel e ma)estoso 7 sua

felicidade ou seus sofrimentos, s+o nada para a sua fria sabedoria 3edir-l(e-ia que o poupasse, mas ele n+o me dará ouvido 9e)nour, recebe o seudisc<pulo

Jlyndon voltou-se e sentiu o seu cora*+o bater com for*a, quando viunovamente ao seu lado o descon(ecido, cu)os passos n+o (aviam produ'idoo menor ru<do na pedregosa praia e cu)a aproxima*+o o )ovem n+o (aviapercebido, apesar da claridade da Lua

- 7deus - disse Zanoni K Jlyndon, despedindo-se

- 7 sua prova come*a Quando nos tornarmos a ver, ou será a v<timaou terá triunfado

Jlyndon seguiu com os ol(os o misterioso Zanoni, cu)a formadesaparecia entre as sombras da noite >iu-o entrar no bote e, pela primeirave', reparou que, além dos remadores, estava ali uma mul(er que se pIs depé quando Zanoni entrou

 7pesar da distância, o !ngl"s recon(eceu que era >iola, a linda atri'que ele (avia adorado ainda poucos dias antes

?la agitou a m+o em sinal de despedida e, através do ar calmo etransparente, veio ao ouvido do !ngl"s a sua doce vo', que, com acento tristee ao mesmo tempo suave, l(e di'ia, no idioma da sua m+e F

- 7deus, Dlar"ncio ?u o perdIo 7deus 7deus

= )ovem quis responder-l(eG porém a vo' de >iola (avia tocado noseu cora*+o uma corda demasiado sens<velG faltaram-l(e as palavras

3erdia, pois, para sempre >iola, que partia com esse tem<vel

estrangeiroG e a escurid+o cobria o destino dela

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? foi ele mesmo, Jlyndon, quem (avia decidido sobre a sorte da )ovem e sobre a sua pr0pria sorte também

= bote desli'ava pela superf<cie serena das ondas, das quais cadagolpe de remo fa'ia brotar muitas c(ispas, deixando detrás de si um sulco de

safira, mati'ado pela lu' suave da Lua, e levando para longe os amantesG efoi afastando-se mais e mais, até que, por fim, apareceu K vista de Jlyndon,apenas como um ponto preto, indo tocar o lado do navio que estava até ent+oim0vel na formosa Ba<a

Maquele instante, como se fosse provocado por magia, despertou-se,murmurando alegremente o vento folga'+o e fresco

Jlyndon, voltando-se para 9e)nour, rompeu o sil"ncio F

- 8iga-me sen(or, se pode ler no futuro, diga-me se ela será feli' e se

a escol(a que fe' foi, ao menos, prudente

- 9eu disc<pulo, - respondeu 9e)nour, com uma vo' cu)a calmaestava em perfeito acordo com as frias palavras, - o seu primeiro cuidadodeve ser afastar de si todos os pensamentos, sentimentos e simpatias que sediri)am K outros 7 base fundamental da ci"ncia é fa'er voc" mesmo o seuestudo e este estudo deve ser agora, somente o seu mundo >oc" se decidiupor esta carreiraG renunciou ao amorG re)eitou as rique'as, a fama e a vulgarpompa do poder Que l(e importa, ent+o, a (umanidade @odos os seusesfor*os devem dirigir-se, de (o)e em diante, a aperfei*oar as suasfaculdades e concentrar as suas emo*6es

- ? encontrei, por fim, a felicidade

- Ae a felicidade existe, - respondeu 9e)nour, - deve encontrar-se emum ?P, que é livre de toda a paix+o 3orém, a felicidade é o 5ltimo estado doAerG e voc" se encontra, agora, apenas no umbral do primeiro degrau daescada que para lá condu'

?nquanto 9e)nour di'ia isto ao )ovem, o navio de Zanoni desdobravaas suas velas ao vento e movia-se devagar, singrando tranqRilamente as

águasJlyndon exalou um suspiro e, em seguida, disc<pulo e mestre

dirigiram os seus passos para K cidade

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LIVRO AU4RTO O !SP!#TRO DO UBR4L

CAPÍTULO I 

:Dome vittima io vengo a!lUara;

9etast, 7cto !!, Acena / \

:Domo v<tima, eu ven(o ao altar;

avia passado quase um m"s desde a partida de Zanoni e arecep*+o de Jlyndon como disc<pulo de 9e)nour, quando dois !nglesespasseavam, de bra*o dado, pela Cua de @oledo, em Mápoles

- ?u l(e digo, - exclamava um deles que falava com calor1, - que, seainda tem uma part<cula de senso comum, voltará comigo para a !nglaterra?ste 9e)nour é um impostor mais perigoso, porque é mais sério do queZanoni ?, além de tudo, para que l(e servem as suas promessas >oc"mesmo confessa que n+o pode (aver nada mais equ<voco 8i' que eleabandonou Mápoles, que escol(eu um retiro mais pr0prio do que os lugaresc(eios de bul<cio das multid6es, para os profundos estudos em que quer!niciá-loG e este retiro encontra-se em umas paragens onde (abitam os maisterr<veis bandidos da !tália, em lugares onde até a 4usti*a n+o se atreve apenetrar 9agn<fica ermida para um sábio ?u tremo de medo por ti Que faráse este estrangeiro, de quem nada se sabe, estiver ligado com os ladr6esG eestas promessas, oferecidas K sua credulidade, n+o forem mais do que oengodo para tirá-lo, quando cair na armadil(a, a sua propriedade e, talve', atéa sua vida M+o será poss<vel que, uma ve' no meio dessa gente, oprendam e exi)am a metade da sua fortuna por seu resgate Aorri comindigna*+o Bem, n+o apelemos, pois, para o senso comumG ol(a a quest+odo seu pr0prio ponto de vista >ai submeter-se a uma prova que 9e)nourmesmo n+o se atreve a descrever como fácil ou agradável 8esta prova sesairá bem ou mal Ae n+o tiver bom "xito, está amea*ado de sofrer (orr<veismalesG e, se triunfar, n+o poderá esperar mais do que essa vida triste e semgo'os, como a que passa esse m<stico que escol(eu por seu mestre 8eixa

estas loucurasG go'a a )uventude enquanto pode fa'"-loG volta comigo K!nglaterraG esquece esses son(osG entra em uma carreira da qual voc" édignoG forma afei*6es mais respeitáveis do que aquelas que o atraiam, pIralgum tempo, para uma aventureira !taliana Duida da sua fortuna, fa' bonsneg0cios e procure ser um (omem feli' e distinto ?ste é o consel(o de umamigo sinceroG ve)a que as promessas que expon(o s+o mais sedutoras deque as de 9e)nour

- 9ervale, - respondeu Jlyndon, em tom áspero, - n+o posso, nemquero aceder aos seus dese)os Pm poder superior K min(a vontade impele-me para dianteG eu n+o posso resistir K sua influ"ncia Quero seguir até o fim,

a estran(a carreira que empreendi M+o pense mais em mim Aiga voc"mesmo o consel(o que me dá, e se)a feli'

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- !sto é uma loucura, - replicou 9ervaleG - a sua sa5de come*a )á adecairG está t+o mudado, que apenas o con(e*o >em, )á fi' incluir o seunome no meu passaporte 8entro de uma (ora estarei fora de Mápoles, evoc", mo*o como é e sem experi"ncia, ficará aqui sem um amigo, entregueKs ilus6es da sua fantasia e Ks maquina*6es desse infernal saltimbanco

- Basta - retrucou Jlyndon, friamenteG - deixa de ser um consel(eiroafetivo, quando permite que os seus preconceitos se manifestem com tantarude'a @en(o )á ampla prova, - acrescentou o )ovem !ngl"s, e as suaspálidas faces tornaram-se agora l<vidas, - do poder desse (omem, se é que(omem se)a, o que, Ks ve'es, ten(o duvidado, e, encontre a vida ou a morte,n+o retrocederei da senda que me atrai 7deus, 9ervaleG e se n+o nosencontrarmos mais, se algum dia, no meio dos antigos e alegres lugares quefreqRentamos em nossa infância, ouvir di'er que Dlar"ncio Jlyndon dorme o5ltimo sono nas praias de Mápoles ou naquelas distantes montan(as, digaaos nossos amigos da )uventude F :9orreu dignamente, como mil(ares de

mártires estudantes morreram antes dele, em busca do saber;

 7o di'er isto, apertou a m+o de 9ervale, e rapidamente desapareceuentre a multid+o

Ma esquina, viu-se detido por Micot, que exclamou F - =lá, Jlyndon á um m"s que n+o o ve)o =nde esteve 3assou o tempo, absorto em seusestudos

 - Aim, - respondeu o !ngl"s

- ?u vou K 3aris, - continuou Micot - Quer acompan(ar-me @alentosde toda a ordem s+o ali muito procurados, e elevar-se-+o com toda a certe'a

- 7grade*o-l(eG por ora, ten(o outros pro)etos

- ?stá t+o lacInico, - observou o 2ranc"s W o que é o que l(e aflige ?stá triste pela perda da 3isani Cesigne-se como eu o fi' ?u me consolei )ácom Biansa Aac(ini, - uma mul(er bonita, ilustrada, livre de preconceitos 7c(o nela uma criatura adorável e apreciável, n+o (á d5vida, 3orém, arespeito desse Zanoni

- = que sabe dele

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- MadaG porém, se eu pintar alguma ve' uma alegoria, retratarei esse(omem como Aatanás 7( 7( Pma vingan*a digna de um pintor, n+o éverdade H o modo como procede o mundo Aim, quando n+o podemosfa'er nada contra um (omem que odiamos, n0s, os pintores, podemos, aomenos, pintá- lo como diabo 3orém, falo seriamente F aborre*o esse

(omem- 3or qu" - 3or qu" 7caso n+o me roubou a mul(er e o dote queeu tin(a negociado ?, depois de tudo, - acrescentou Micot, pensativo, -ainda que me tivesse servido, em ve' de ultra)ar-me, odiálo-ia da mesmaforma 7 sua figura me fa' inve)á-lo e detestá-lo Ainto que (á algo antipáticoem nossas nature'asG e pressinto que nos veremos outra ve', quando o 0diode 4ean Micot for menos impotente @ambém n0s, querido colega, - tambémn0s nos encontraremos algum dia >iva a Cep5blica ?u vou ao meu novomundo ? eu, ao meu 7deus

Maquele mesmo dia, 9ervale partiu de Mápoles, e, no outro dia, deman(+, Jlyndon abandonou também a cidade do pra'er dirigindo-se, s0 e a

cavalo, para aquela pitoresca, porém perigosa parte do 3a<s que, naqueletempo, estava infestada de bandidos, e por onde poucos via)antes seatreviam a passar, sem levar uma forte escolta, mesmo em plena lu' do dia

M+o se pode conceber um camin(o mais solitário do que aquele,onde as patas do seu cavalo, pisando os fragmentos de roc(a que )uncavama estrada, evocavam um triste e melanc0lico eco

Jrandes trec(os de terreno desolado, variados somente pelasvi*osas e profusas fol(agens do Aul, ofereciam-se K sua vistaG Ks ve'es umacabra silvestre, berrando e assomando a cabe*a por detrás das escarpadasroc(as, ou o discordante grito de alguma ave de rapina, saindo, assustada, doseu sombrio esconderi)o, interrompia o sil"ncio destes locais

?stes eram os 5nicos sinais de vida que se percebia naquelecamin(o, no qual n+o se encontrava nen(um Aer vivo, e nem se podiaenxergar uma c(oupana

!merso em seus pr0prios pensamentos ardentes e profundos, o )ovemmarc(ou até que o calor abrasador do meio-dia cedeu lugar K uma brisarefrescante, vinda do oceano, que mal se divisava lá ao longe

?nt+o a estrada, mudando de repente de dire*+o, ofereceu K vista deJlyndon um desses desolados e tristes povoados que se encontram nointerior dos dom<nios MapolitanosG e, em breve, encontrou o !ngl"s a um ladoda estrada, uma pequena capela, aberta, sobre cu)o altar via-se pintada, comvivas cores, a imagem da >irgem

 7o redor desta capela, que, no cora*+o de um 3a<s Drist+o,conservava vest<gios da antiga idolatria pois )ustamente desta forma eram ascapelas que, na idade pag+, se dedicavam aos demInios e santos damitologia1, estavam reunidos seis ou sete miseráveis criaturas que essa

asquerosa enfermidade - a lepra - os isolara dos Aeres umanos

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 7o verem o caval(eiro, lan*aram agudos e penetrantes gritos, sem semoverem dos seus lugares, estenderam os magros bra*os, implorando, emnome da 9+e 9isericordiosa, a caridade do via)ante

Jlyndon l(es arremessou algumas moedas de pequeno valor e,

apartando a vista desse quadro, meteu esporas no cavalo, pondo-o a galope,até entrar no povoado

?m ambos os lados da rua estreita e lamacenta, viam-se grupos depessoas de aspecto fero' e ol(ar trai*oeiroG alguns estavam recostadoscontra as esburacadas paredes das suas miseráveis c(oupanas, outrossentados na soleira da porta, outros estendidos na rua

?stes grupos inspiravam compaix+o por sua miséria, e infundiam, aomesmo tempo, desconfian*a pelo ar fero' que se notava nos seussemblantes selvagens

?les ol(avam com atrevida sobranceria K Jlyndon, enquanto que estecavalgava, com passo lento, por aquela rua pedregosa e lamacentaG Ksve'es, murmuravam uns aos outros algo de um modo importante, porémninguém se atreveu a det"-lo

 7té as crian*as interrompiam as suas conversa*6es e os seus gritos,e rapa'es andra)osos, devorando-o com seus ol(os cintilantes, resmungavamF

- 9am+e, aman(+ teremos um bom dia

?ra, efetivamente, um desses lugare)os onde a Lei ainda n+o estavasegura e onde a viol"ncia e o assassinato residem impunementeG lugare)osmuito comuns, naquele tempo, nas partes mais selvagens da !tália, onde onome de campon"s era apenas o t<tulo eufInico do ladr+o

Jlyndon come*ou a experimentar alguma inquieta*+o quando ol(ouem torno de si, e a pergunta que queria fa'er expirou nos seus lábios

3or fim, de uma daquelas escuras c(oupanas saiu um (omem queparecia superior aos demais

?m ve' dos andra)os e remendos que o !ngl"s tin(a visto até ent+o,como a 5nica moda de vestir-se daquela gente, o tra)e deste (omem eracaracteri'ado por todos os adornos do luxo nacional

= seu cabelo preto, lustroso e crespo contrastava notavelmente comas emaran(adas guedel(as dos selvagens que o rodeavamG tra'ia um gorrode pano, com uma borla de ouro, que l(e caia sobre o ombroG os seusbigodes estavam esmeradamente frisados, e sobre o pesco*o, bem formado,ainda que um tanto musculoso, via-se um len*o de seda de cores alegresG acurta )aqueta, de pano grosseiro, estava adornada com algumas filas de

bot6es dourados, e os os seus cal*6es c(eios de curiosos bordados,a)ustavam-se perfeitamente aos seus m5sculos

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Mo largo cintur+o, onde se viam vários adornos, estavam postas duaspistolas com coron(as prateadas, e a faca com bain(a, que costumamcarregar os !talianos de baixa esfera, em cu)o cabo de marfim (avia muitasgravuras

Pma pequena carabina, ricamente trabal(ada, pendia-l(e do ombro ecompletava o tra)e deste (omem, que era de mediana estatura, de formasatléticas, porém delgadas e cu)as fei*6es, ainda que tostadas pelo Aol, eramregulares e expressivas, demonstrando-se desde logo nelas antes afranque'a do que a brutalidade

= aspecto geral deste (omem revelava a audácia acompan(ada degenerosidade e, a n+o ser pela desconfian*a que inspirava o seu tra)e,poderia se encontrar nele algo de simpático

Jlyndon depois de contemplá-lo, por alguns instantes, com grande

aten*+o, deteve o cavalo e perguntou ao (omem qual era o camin(o para oDastelo da 9ontan(a

= interrogado tirou o gorro ao ouvir esta pergunta e, aproximando-sedo !ngl"s, pIs a m+o sobre o pesco*o do cavalo, di'endo, em vo' baixa F

- ?nt+o é o caval(eiro que o nosso sen(or e protetor aguarda ?le memandou esperá-lo aqui, para l(e condu'ir ao castelo ?, com certe'a, sen(or,teria (avido um desastre, se eu me tivesse descuidado em obedec"-lo

 7partando-se, em seguida, um pouco de Jlyndon, dirigiu-se esse(omem aos grupos que estavam um pouco mais atrás, e disse-l(es em altavo' F

- =lá, amigos H preciso que, de (o)e em diante, prestem K estecaval(eiro todo o respeito que merece, o (0spede aguardado pelo nossobendito patr+o do Dastelo da 9ontan(a Que viva longos anos 8eus oguarde, mesmo como ao nosso patr+o de dia e de noite, na montan(a e nodeserto, do pun(al e das balas 7 maldi*+o do céu caia sobre o miserávelque se atreva a tocar em um cabelo de sua cabe*a ou em um :baioc(o; S&&Tda sua algibeira 7gora e sempre o protegeremos e respeitaremos, pela Lei

ou contra a Lei, com lealdade e até a morte 7mém - 7mém - 7mém Cesponderam cem vo'es, em coro selvagem

? os grupos dispersos iam se aproximando até que formaram umestreito c<rculo em torno do ginete S cavaleiro T

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- ? para que este caval(eiro possa ser recon(ecido, - prosseguiu oestran(o protetor do !ngl"s, - K vista e ao ouvido, pon(o-l(e o cintur+o branco,e dou-l(e as sagradas palavras de passe F :3a' aos valentes; Aen(or,quando tiver sobre o seu corpo este cintur+o, os (omens mais altivos destascomarcas descobrir+o a cabe*a e dobrar+o o )oel(o di ante de si Aen(or,

quando pronunciar as palavras de passe, os cora*6es mais valentes se por+oKs suas ordens 8ese)a-se salvar uma pessoa ou exercer uma vingan*a, -conquistar uma beldade ou desfa'er-se de um inimigo - diga uma palavra, etodos estamos prontos a obedec"-lo ?stamos Ks suas ordens M+o éverdade, camaradas

? novamente as vo'es roucas exclamaram F

- 7mém, amém - 7gora, caval(eiro, - disse o bravo S&\T, em vo'baixa, - se tem algumas moedas de sobra, distribui-as entre esta gente, epartamos

Jlyndon, n+o descontente com esta senten*a concludente, esva'ioua sua algibeira nas ruasG e enquanto, no meio de )uramentos, b"n*+os,guinc(os e uivos, (omens, mul(eres e crian*as arreban(avam aquelasmoedas, o bravo, agarrando a rédea do cavalo, f"-lo trotar, até que, entrandoem um estreito beco, K esquerda, encontraram-se, em poucos minutos, emum local onde n+o se via nem casas nem (omens, e as montan(as fec(avamo seu camin(o em ambos os lados

2oi s0 ent+o que o guia soltou as rédeas do cavalo, e deixando que oanimal afrouxasse o passo, dirigiu K Jlyndon os seus ol(os pretos, com umaexpress+o vel(aca, e disse-l(e F

- 7 sua ?xcel"ncia, parece-me, n+o estava preparado para o cordialrecebimento que l(e temos feito ?, para falar a verdade, eu devia estarpreparado para isso, porque o sen(or, a cu)a casa me diri)o, n+o me ocultarao caráter da vi'in(an*a ? o seu nome, meu amigo, se é que me é l<citoc(amá-lo assim

- =( ?xcel"ncia, n+o gaste cumprimentos comigo Mo povoado,c(amam-me geralmente 9estre 3aolo 7nteriormente, eu tin(a ainda um

sobrenome, ainda que, é verdade, era muito equ<vocoG mas esqueci essesobrenome desde que me retirei do mundo

? diga-me, - perguntou Jlyndon, : refugiou-se nestas montan(as porcausa de algum desgosto, devido K pobre'a, ou em conseqR"ncia de algumapaix+o que costuma ser punida ;

- Daval(eiro, - disse o bravo, rindo alegremente, - os eremitas damin(a classe s+o pouco amantes do confessionário ?u, porém, enquanto osmeus pés pisarem estes desfiladeiros, enquanto o meu assobio estiver naalgibeira e a min(a carabina sobre o ombro, n+o ten(o medo de que os meus

segredos me comprometam

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? ao di'er isto, o bandido, como se quisesse tomar a licen*a de falarK vontade, escarrou tr"s ve'es, e come*ou, com muito bom (umor, a referir asua est0riaG porém, K medida que a sua narra*+o ia progredindo, asrecorda*6es que nele despertava pareciam levá-lo mais longe do que noin<cio pretendera e, pouco a pouco, a sua fisionomia foi-se animando com

essa gesticula*+o viva e variada, que caracteri'a os (omens do seu 3a<s

- Masci em @erracina, - come*ou, - cidade magn<fica, n+o é verdade = meu pai era um erudito monge, nascido de uma fam<lia nobreG a min(a m+e- descanse em pa' no céu - era uma formosa mul(er, fil(a de umestala)adeiro Maturalmente, n+o (avia possibilidade de um casamento, nestecasoG e, quando eu nasci, o monge declarou gravemente que o meuaparecimento era um milagre 8esde o ber*o, fui dedicado ao altarG e a min(acabe*a era universalmente classificada como a forma ortodoxa para um frade= monge cuidou que eu recebesse desde a infância a educa*+o pr0pria paraa carreira eclesiásticaG e assim aprendi o Latim e os Aalmos, na idade em que

as crian*as menos milagrosas aprendem a apascentar as vacas ? o cuidadodo santo (omem n+o se limitava s0 K min(a educa*+o moral ?mbora tivessefeito os votos de pobre'a, sabia ele arran)ar os recursos para que asalgibeiras da min(a m+e estivessem sempre c(eiasG e entre as algibeiras delae as min(as, estabeleceu-se logo uma secreta comunica*+oG assimaconteceu que, aos meus quator'e anos, eu andava com o gorro a um lado,um par de pistolas K cinta, e com o ar de um caval(eiro e de um gal+ Mestaidade, perdi a min(a m+eG e, por aquela época, o meu pai tendo escrito umaist0ria das Bulas 3ontificais, em quarenta volumes, e sendo, como )á disse,de fam<lia nobre, obteve o c(apéu de Dardeal 8esde aquele tempo, o santovar+o n+o quis mais recon(ecer este seu (umilde servo ?ntregou-me K um(onesto notário de Mápoles, e deu-me du'entas coroas, em forma de umaprovis+o 3ois bem, sen(orG em pouco tempo, con(eci bastante a Lei, paraconvencer-me de que nunca seria bastante vel(aco para bril(ar naquelaprofiss+o 7ssim, pois, em ve' de manc(ar pergamin(os, pus-me a entreterrela*6es amorosas com a fil(a do notário = meu amo descobriu o nossoinocente divertimento, e )ogou-me K rua !sto foi desagradávelG mas a min(aMineta queria-me bem, e cuidou de que eu n+o me visse na necessidade deter que ir misturar-me com os :la''aroni; 3obre'in(a 3arece-me que aindaa estou vendo como vin(a, com os pés descal*os e o dedo posto sobre oslábios, abrir a porta da rua, nas noites de ver+o, para introdu'ir-me, sem

ru<do, na co'in(a, onde, louvados se)am os santos, um frasco e um p+o'in(osempre aguardavam o faminto amante 3or fim, porém, o amor de Mineta pormim esfriou H o costume do sexo, sen(or = pai arran)ou-l(e um excelentecasamento na pessoa de um seco e vel(o negociante de pinturas Mineta secasou, e, como era natural, fec(ou a porta diante do nari' do amante 9as eun+o desanimei, sen(orG o(, n+o M+o faltam mul(eres, quando somos )ovens 7ssim, sem um ducado na algibeira, e sem uma fatia de p+o para os dentes,tratei de buscar fortuna, e entrei K bordo de um navio mercante ?span(ol ?raeste um trabal(o mais pesado do que eu pensaraG porém, feli'mente, fomosatacados por um pirata que matou uma metade da tripula*+o, e prendeu aoutra metade ?u estive entre estesG tive, pois, sempre sorte, como v" sen(orG

os fil(os de monges t"m sempre uma prote*+o = comandante dos piratassentiu uma afei*+o por mim F

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- Quer servir conosco - perguntou-me

- :Dom muito gosto;, - respondi-l(e

- ? assim eis-me feito pirata =(, que vida alegre Domo euaben*oava o notário por ter-me posto na rua Que vida de festins, decombates, de amores e de pend"ncias [s ve'es, saltávamos K terra, emqualquer praia, e nos regalávamos como pr<ncipesG outras ve'es,permanec<amos dias inteiros em completa calma, no mar mais sereno que o(omem )amais ten(a atravessado ? quando a nossa vista descobria algumnavio, como nos alegrávamos 3assei tr"s anos nesta encantadora profiss+o,e depois, sen(or, senti-me atormentado pela ambi*+o Dobi*ava o posto decapit+o, e conspirei contra ele 7proveitamos uma noite de calma para dar ogolpe = navio parecia dormir no marG nen(uma terra se avistava da gáveaG aágua se assemel(ava a um grande espel(o, e era iluminada pela Lua c(eia

9ais de trinta conspirados, nos levantamos com um s0 grito, e eu, comoc(efe da conspira*+o, precipitei-me na câmara do capit+o = bravo anci+otin(a percebido o tumulto, e aguardava no umbral, com uma pistola em cadam+oG e o seu 5nico ol(o pois era vesgo1 despendia um bril(o mais terr<vel doque podiam fa'"-lo as bocas das suas pistolas

- Cendei-vos - gritei-l(e 7 sua vida será poupada

- :@oma isto; - respondeu ele, e disparou a pistola

- 3orém, os santos me protegeramG a bala passou-me rente aoouvido, e matou o contra-mestre, que se ac(ava atrás de mim 7garrei, ent+o,o bra*o do capit+o, que disparou a sua segunda pistola, sem conseguir atingiralguém ?ra um (omem de um metro e noventa de altura, sem incluir ossapatos 2omos rolando pelo c(+o >irgem 9aria Mo ardor da luta, nemtivemos tempo para tirarmos as nossas facas, nem eu, nem ele ?ntretanto,toda a tripula*+o estava alvorotada e entregue K uma espantosa refregaS combate, briga T, alguns a favor do capit+o, e outros a meu favorG ouviram-sedetona*6es, ru<dos de armas, gritos e maldi*6esG e, de ve' em quando, aqueda de um corpo pesado no mar =s tubar6es tiveram uma ceia ricanaquela noite 3or fim, o vel(o BilbIa se pIs sobre mim, e, brandindo a faca,

deixou cair o bra*oG porém n+o pIde ferir-me no cora*+o, n+o Aervindo-medo bra*o esquerdo como de um escudo, recebi o golpe neste, em que a facase enterrou, e o sangue brotou como um )ato de água da goela de umabaleia

Dom a for*a do golpe, o (omem, robusto, tocou com a sua cara namin(aG ent+o agarrei-o, com a m+o direita, pela garganta, e torci-l(e opesco*o como a um cordeiro, sen(or, enquanto, no mesmo instante, o irm+odo contra-mestre, um corpulento oland"s, l(e atravessou o corpo com umalan*a

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- >el(o amigo, - disse-l(e, quando o seu terr<vel ol(ar se fixou emmim, - eu n+o l(e dese)ava mal nen(umG porém sabe que todos devemosfa'er o poss<vel para :prosperar neste mundo; = capit+o rangeu os dentes eexpirou ?m seguida, subi ao convésG que espetáculo >inte (omens valentesestavam ali estendidos e frios, e a Lua bril(ava t+o tranqRilamente sobre os

c(arcos de sangue como se fosse água 3ois bem, sen(or 7 vit0ria foi nossae o navio ficou sendo meuG governei, bastante alegremente, por espa*o deseis meses 8epois, atacamos um navio 2ranc"s cu)o taman(o era o dobrodo nossoG que divertimento 2a'ia tanto tempo que n+o nos bat<amos 2i'emos o mel(or que pudemos, e nos apoderamos do navio e da carga 7min(a gente queria matar o capit+o, porém isto era contrário Ks min(as LeisGassim l(e pusemos uma morda*a, pois n+o deixava de insultar-nos, em vo'alta, como se fossemos casados com ele ?m seguida, com o resto datripula*+o, o passamos para o nosso navio, que estava )á em más condi*6es,(asteamos a nossa bandeira preta no navio 2ranc"s, e partimos alegremente,ao sopro de um vento favorável 9as desde que abandonamos o nosso vel(o

barco, a fortuna pareceu-nos virar as costas

- Pm dia, um forte temporal fe' saltar uma pranc(a do novo barcoGalguns de n0s escapamos K morte nas ondas, metendo-nos em um bote@odos (av<amos tido o cuidado de recol(er o nosso ouro, mas ninguém selembrou de tra'er uma pipa de água Aofremos (orrivelmente por espa*o dedois dias e duas noitesG por fim, abordamos em uma praia, perto de um porto2ranc"s = nosso triste estado moveu a compaix+o dos (abitantes, e comot<n(amos din(eiro, ninguém suspeitou de n0s, a gente n+o desconfia sen+odos pobres ?m pouco tempo, recuperamos as for*as, vestimo-nos de novo,da cabe*a aos pés, e o teu (umilde servo foi considerado um nobre e(onrado capit+o Quis, porém, a min(a má sorte que eu me enamorasse dafil(a de um mercador de sedas =( Domo eu a amava, a min(a bela Dlara Aim, amava-a tanto, que sentia (orror ao pensar na min(a vida passada  7ssim, pois, resolvi arrepender-me, casar-me com ela e viver como um(omem (onesto D(amei, pois, um dia, os meus compan(eiros, para l(esparticipar da min(a resolu*+o, renunciei ao meu posto e aconsel(ei-l(es quepartissem Domo eram bons rapa'es, entraram no servi*o de um capit+ooland"s, contra o qual, como eu mais tarde soube, amotinaram-se com feli'sucessoG mas nunca mais tornei a v"-los Cestavam-me duas mil coroasG comeste din(eiro, obtive o consentimento do mercador e ficou a)ustado que eu me

tornaria o seu s0cio M+o ten(o necessidade de di'er-l(e que ninguémsuspeitava que meu pai fosse um (omem t+o respeitável, e passei por fil(o deum ourives Mapolitano, em ve' do rebento de um Dardeal ?u era muito feli'ent+o, sen(or, t+o feli' que n+o teria feito mal nem a uma mosca Ae metivesse casado com Dlara, teria sido o mais (onrado e pac<fico mercador domundo

= bravo calou-se, por alguns minutos, e era fácil de ver que estavaprofundamente comovido, mais do que se podia )ulgar por suas palavras e otom da sua vo'

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- Bem, bem, - prosseguiu, - n+o voltemos a vista atrás comdemasiado ardor á lembran*a que, como os raios do Aol, fa'em os ol(osc(orar 2oi fixada a época do nosso casamento Ma véspera deste dia, Dlara,a sua m+e, a sua irm+'in(a e eu, estávamos passeando pelo portoG e,enquanto ol(ávamos o mar, eu l(es contava alguns contos de sereias e

serpentes mar<timas, quando um 2ranc"s narigudo e de rosto encarnado veiodiretamente K mim e, pondo os 0culos, exclamou F : Aacré, mille tonnerres ?ste é o maldito pirata que abordou o :Moble;

- 2a*a o favor de n+o brincar comigo, - disse-l(e eu, mansamente- =( ?u n+o me enganoG é ele mesmo - prosseguiu o 2ranc"s, e

agarrando-me pela gravata, come*ou a gritar por socorro

- ?u l(e repliquei, como pode supor, lan*ando-o ao canalG mas iston+o me valeu de nada = capit+o 2ranc"s tin(a atrás de si um tenente seucompatriota, cu)a mem0ria era t+o boa como a do seu c(efe 2ormou-se, emseguida, um c<rculo em torno de mimG vieram outros marin(eiros, e todos me

foram (ostis e a favor do capit+o Maquela noite dormi no cárcereG e, poucassemanas depois, fui condenado Ks galés 3ouparam a min(a vida, porque ovel(o 2ranc"s teve a gentile'a de declarar que eu (avia obrigado a min(apopula*+o a poupar a vida dele 3ode acreditar que o remo e os gril(6es n+oeram do meu gosto Pm dia, escapei com outros dois sentenciadosG eles sefi'eram guardi6es da estrada, e n+o duvido que )á (á muito tempo ter+oexpirado S falecidos T na roda ?u, alma mansa, n+o queria cometer outrocrime para gan(ar o meu p+o, pois a formosa imagem de Dlara, com os seusdoces ol(os, estava gravada no meu cora*+oG assim, pois, limitei a min(apicardia a roubar os andra)os de mendigo, deixando-l(e em troca a min(afatiota de galeote S roupa de maru)o T, e dirigi os meus passos K cidade onde(avia deixado Dlara;

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- ?ra um claro dia de inverno, quando c(eguei Ks cercanias dacidade M+o tin(a medo de ser descoberto, porque a min(a barba e o meucabelo me tornavam irrecon(ec<vel 3orém, o( 9+e de 9iseric0rdia Logo Kentrada, encontrei-me com um enterro 7ssim, pois, agora o sabesG n+oposso contar-te mais a respeito Dlara morrera, talve' de amor, porém, mais

provavelmente de vergon(a Aabe como passei aquela noite 2urtei umenxad+o do tel(eiro S local de trabal(o T de um pedreiro, e, so'in(o, sem servisto por alguém, em uma noite gelada, fui cavar a fresca terra do t5muloG tireio ata5de, abri-o e vi outra ve' a min(a amada M+o se (avia desfigurado emnada Donservava a palide' de quando viva @eria )urado que estava viva Que felicidade era para mim esta ocasi+o de v"-la outra ve' e estar com elaso'in(o 3orém, depois, de madrugada, ter que restitu<-la K terra, fec(ar oata5de, depositá-lo na sepultura e ouvir o ru<do da terra e das pedras quecaiam sobre o caix+o F isso era terr<vel Aen(or, eu até ent+o n+o sabia, enem quero pensar agora, que coisa preciosa é a vida (umana 7o nascer doAol, comecei novamente a peregrinar pelo mundoG porém, agora que Dlara

n+o existia mais, os meus escr5pulos desvaneceram-se, e novamente meac(ei em guerra com as min(as inclina*6es mel(ores 3or fim consegui, em=OOO, ser admitido K bordo de um navio que ia para Livorno, oferecendo-mepara trabal(ar de marin(eiro durante a viagem 8e Livorno fui K Coma, e pus-me K porta do palácio do Dardeal Quando o prelado veio saindo e ia subirpara o luxuoso coc(e que o aguardava na rua, aproximei-me e disse-l(e F

- =(, pai n+o me recon(ece

- Quem é - perguntou o Dardeal

- = seu fil(o, l(e respondi em vo' baixa

= Dardeal deu um passo atrás, encarou-me com ol(ar sério, epareceu refletir por um momento@odos os (omens s+o meus fil(os, - dissedepois, com vo' muito afável - @ome este din(eiro [ quem pede uma ve',deve-se dar esmolaG porém, para quem importuna pela segunda ve', (á ocárcere que o espera Ceflita sobre isto, e n+o me moleste mais = céu oaben*oe

 7o di'er isto, o Dardeal entrou na carruagem, e dirigiu-se ao >aticano

 7 bolsa que me dera estava bem provida 2iquei contente eagradecido, e empreendia viagem K @erracina

3oucos instantes depois de ter passado os pântanos, vi dois (omensK cavalo, que vin(am, a galope, em dire*+o a mim

- 7migo, - disse-me um deles, parando, - parece muito pobre e,contudo, é um (omem )ovem e robusto

- Aen(or caval(eiro, - respondi-l(e, - os (omens pobres e robustoss+o 5teis e perigosos ao mesmo tempo

-@em ra'+o, - retrucou o cavaleiro

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- Aiga-nos

?u obedeci, e tornei-me bandido 2ui elevando-me, de um grau Koutro, nesta nova vidaG e como ten(o exercido sempre a min(a profiss+o combrandura, tomando s0 o din(eiro e n+o a vida, adquiri certa reputa*+o, tanto

que posso comer os meus macarr6es em Mápoles, sem correr perigo para amin(a vida e os meus ossos á dois anos que moro nesta Domarca, ondecomprei algumas terras 7ssim, pois, me tornei um lavrador, sen(orG e eumesmo roubo agora s0 para divertimento e para n+o perder o costume Dreioque satisfi' a sua curiosidade ?stamos )á muito perto do castelo

- ? como, - perguntou o !ngl"s a quem a narrativa do seu guiainteressara vivamente, - como entrou em rela*6es com o sen(or a cu)a casame diri)o 3or que meios conciliou ele a sua boa vontade e a dos seusamigos

9estre 3aolo fixou os seus ol(os pretos seriamente sobre o !ngl"s, erespondeu F

- Aen(or, supon(o que con(ece mel(or do que eu este estrangeiro,cu)o nome é t+o dif<cil de se pronunciar @udo o que posso di'er-l(e é que, (áuns quin'e dias, ac(ando-me, por um acaso, )unto a uma barraca no @oledo,de Mápoles, vi um sen(or de aspecto respeitável, que, tocando-me levementeo bra*o, disse-me F

- 9estre 3aolo, eu dese)o entrar em rela*6es de ami'ade contigoGfa*a-me o favor de vir comigo Kquela taverna e tomar um frasco de bomvin(o

- Dom todo o gosto, - respondi ?ntramos na taverna 8epois de nossentarmos, disse-me o meu novo amigo F

-= Donde de =OOO quer alugar-me o seu vel(o castelo, perto dopovoado de BOOO Don(ece aqueles locais

- 3erfeitamente, - respondiG - (á mais de um Aéculo que esse castelon+o é (abitado ?stá meio em ru<nas, sen(or H uma casa singular paraalugar-seG penso que o Donde n+o l(e fará pagar muito por esse aluguel

- 9estre 3aolo - disse ele - eu sou 2il0sofo e fa*o pouco caso do luxoMecessito de um lugar retirado e tranqRilo para fa'er algumas experi"nciascient<ficas = castelo me servirá muito bem para este fim, uma ve' que meaceite por vi'in(o e que voc" e os seus amigos me tomem sob a sua especialprote*+o Aou ricoG porém nada terei no castelo que val(a a pena de ser

roubado 3agarei o aluguel ao Donde e pagar-l(e-ei também uma importânciaque, por certo, l(e agradará ?ntendemo-nos em breveG e como este estran(osen(or dobrou a quantia que l(e pedi, go'a de alto favor de todos os seusvi'in(os M0s defender<amos o castelo até contra um exército ? agora,sen(or, que eu fui t+o franco consigo, sede-o também comigo Quem é estesingular caval(eiro

- Quem é ele 3ois ele vo-lo disse F um 2il0sofo

- ein Pm 2il0sofo que busca, talve', a 3edra 2ilosofal ou um magoque se oculta dos sacerdotes

- 4ustamenteG adivin(ou bem

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- 7ssim se pareciaG e voc" é o seu disc<pulo

- Aim- 8ese)o que ten(a bom sucesso, - disse o bandido, seriamente,fa'endo o sinal da cru' com grande devo*+o

- M+o sou nem mel(or nem pior do que muita gente que anda por a<M+o me (orrori'a um :roubo; de ve' em quando ou uma pancada na cabe*ade um (omem, se for necessário, porém fa'er um pacto com o diabo

- 7( Duidado, caval(eiroG ol(e o que fa'

- M+o tema, - respondeu Jlyndon, sorrindoG - o meu preceptor édemasiado sábio e bom para fa'er semel(ante pacto 9as, parece-me queestamos c(egando Belas ru<nas e que vista magn<fica

Jlyndon deteve-se, agradavelmente impressionado e, como artista,

ol(ou extasiado o lindo panorama que se l(e oferecia

!nsensivelmente, distra<do pela conversa*+o do bandido, (avia subidouma colina assa' elevada, e encontrava-se agora em um pequeno planalto,formado por algumas roc(as e coberto de musgos e arbustos raqu<ticos

?ntre esta emin"ncia e outra de igual altura, na qual estava situado ocastelo, (avia um barranco estreito e profundo, com fol(agem muitoabundante, ra'+o por que a vista n+o podia penetrar muitos metros abaixo daescabrosa superf<cie do abismo

Dontudo, podia-se calcular a sua profundidade pelo rouco e mon0tonoru<do das águas que corriam, invis<veis, lá em baixo, e cu)o curso ia precipitar-se em um maravil(oso rio que serpenteava por aqueles áridos vales, Kesquerda, estendia-se o (ori'onte a perder de vista

8eserta e desolada como a estrada que Jlyndon acabava depercorrer, l(e (avia aparecido essa paisagem, mas agora a enfraquecida lu'da tarde dava aos escarpados cumes das montan(as o aspecto de castelos,c5pulas e povoados

 7o longe, os 5ltimos raios do Aol iluminavam a branca cidade deMápoles, e as rosadas tintas do (ori'onte confundiam-se com o a'ul da suaformosa Ba<a

 7inda mais longe, e em outra parte da cena, via-se, de uma formavaga e meio coberta pela fol(agem, as demolidas colunas da antiga3ossidonia

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 7li, no meio dos seus dom<nios denegridos e estéreis, levantava-se oterr<vel 9onte do 2ogo, enquanto que, na parte oposta, por entre dilatadasplan<cies de variadas cores, Ks quais a distância emprestava toda a suamagia, resplandeciam vários rios e arroios, )unto aos quais ?truscos eAibaritas, Comanos, Aarracenos e Mormandos (aviam, por longos intervalos,

plantado as suas tendas invasoras

@odas as vis6es do passado, as tempestuosas e bril(antes ist0riasda !tália 9eridional passaram pela mente do artista, enquanto a sua vista sedeleitava com aquele quadro

? depois, ao voltar-se lentamente, avistou os pardos e semi-destru<dos muros do castelo, em que vin(a buscar os segredos que deviamdar-l(e a esperan*a de encontrar, no futuro, um império mais poderoso doque o passado é para a mem0ria

= edif<cio era uma daquelas fortale'as feudais que tanto abundavamna !tália, na primeira metade da !dade 9édia, e que tin(am muito pouco dagra*a ou da grande'a g0tica, que ostenta a arquitetura religiosa do mesmotempo

= castelo era forte, vasto e amea*ador, ainda em sua decad"ncia

Aobre o fosso, (avia uma ponte de madeira bastante larga parapassarem por ela dois (omens K cavalo, um ao lado do outroG e as suasvel(as vigas tremeram produ'indo um ru<do surdo, quando o cansado cavalode Jlyndon passou por elas

Pm camin(o, que em outro tempo fora largo e cal*ado de rudespedras, mas que agora estava meio coberto de vi*osas ervas silvestres,condu'ia ao pátio externo do casteloG as portas estavam abertas, e a metadedo edif<cio estava desmanteladaG as minas estavam parcialmente ocultasdebaixo da grama que ali crescia desde (á Aéculos

 7o entrar, porém, no pátio interior, Jlyndon notou, com satisfa*+o,que ali (avia menos apar"ncias de descuido e decad"ncia

 7lgumas rosas silvestres davam um aspeto mais sorridente aosvel(os muros, e no centro do pátio (avia uma fonte, onde gote)ava ainda, comsonoro murm5rio, água cristalina, da boca de um gigantesco @rit+o

 7o c(egar, foi o )ovem recebido por 9e)nour, com um sorriso afável

- Bem-vindo se)a o meu amigo e disc<pulo, - disse-l(e esteG- quembusca a verdade, pode encontrar nesta solid+o uma imortal 7cademia

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CAPÍTULO II 

:7nd 7baris, so far from esteeming 3yt(agoras, w(o taug(t t(eset(ings, a necromanter or wi'ard, rat(er revered and admired (im as somet(ing

divine;

!amblic(o F :>ita 3yt(ag;

:? 7baris, t+o longe de dar o verdadeiro valor K 3itágoras,queensinava estas coisas, um necromante ou feiticeiro,antes o venerou eadmirou como algo divino;

=s criados que 9e)nour trouxera para acompan(á-lo em sua t+oestran(a resid"ncia, eram tais como convin(a a um 2il0sofo que tem poucas

necessidades

?ram quatro, a saber F um vel(o 7rm"nio, ao qual Jlyndon recordavater visto ao servi*o do m<stico em MápolesG uma mul(er alta, de fei*6es durase que o 2il0sofo tomara no povoado, por recomenda*+o de 9estre 3aoloG edois )ovens de cabelos compridos, de vo'es brandas, mas de caras atrevidas,fil(os do mesmo lugar, e garantidos pelo mesmo fiador

=s aposentos que o sábio ocupava eram cImodos e abrigados contrao mau tempo, ostentando ainda alguns restos de antigo esplendor nascarcomidas tape*arias que adornavam as paredes, e em grandes mesas demármore, ricamente esculpido

= dormit0rio de Jlyndon tin(a comunica*+o com uma espécie debelvedere S mirante T , cu)a vista era incomparavelmente bela, e que estavaseparado pelo outro lado, mediante uma comprida galeria e uns de' ou do'edegraus de escada, dos quartos reservados do m<stico

= todo deste retiro respirava uma tranqRilidade, que era sombria,porém n+o desagradável, e convin(a bem aos estudos a que agora eradestinado

3or alguns dias, 9e)nour recusava-se falar K Jlyndon dos assuntosque mais interessavam o cora*+o do )ovem !ngl"s

- Mo exterior, - disse-l(e, - tudo está preparadoG porém n+o no interiorGé necessário que a sua alma se acostume ao lugar e que se impregne aoaspecto da nature'a que a rodeia, pois a Mature'a é a fonte de todainspira*+o

Dom estas palavras, passou 9e)nour a assuntos mais fáceis

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2a'ia com que o !ngl"s o acompan(asse em longas excurs6es pelosarredores, e sorria com ar de aprova*+o, quando o artista dava passagemlivre ao entusiasmo que l(e inspirava a sombria bele'a dos locais quefreqRentavam, e que teria feito palpitar um cora*+o menos impressionável doque o seuG e, nestas ocasi6es, dava 9e)nout ao seu disc<pulo li*6es de uma

ci"ncia que parecia inexaur<vel e ilimitada

8ava-l(e curios<ssimas noticias, gráficas e minuciosas, das váriasra*as os seus caracteres, costumes, cren*as e (ábitos1, que (aviam(abitado sucessivamente aquela linda terra

H verdade que as suas descri*6es n+o se encontravam nos livros,nem eram autori'adas por (istoriadores célebresG porém, 9e)nour possu<a overdadeiro encanto do narrador, e falava de todas as coisas com a animadaconfian*a de uma testemun(a pessoal

 [s ve'es, falava também dos mais duráveis e elevados mistérios daMature'a com uma eloqR"ncia e uma pure'a de linguagem, que adornavam asua conversa*+o mais com as cores da poesia do que com as da ci"ncia

!nsensivelmente, o )ovem artista se sentiu elevado e lison)eado pelasli*6es do seu amigoG pouco a pouco, foi-se acalmando a febre dos seusdese)os

 7 sua mente come*ou a acostumar-se K divina tranqRilidade dacontempla*+oG ele sentiu mais nobres aspira*6esG e, no sil"ncio dos seussentidos, l(e parecia ouvir a vo' da sua alma

?ste era, evidentemente, o estado a que 9e)nour queria condu'ir one0fito, e, nesta elementar !nicia*+o, o m<stico agiu como agem todos ossábios

3ois, quem procura descobrir, (á de entrar, primeiramente, em umaespécie de idealismo abstrato, e entregar-se, em solene e doce cativeiro, Ksfaculdades que contemplam e imaginam

Jlyndon observou que, em seus passeios, 9e)nour parava, com

freqR"ncia, onde a fol(agem era mais abundante, para col(er alguma erva ouflorG e isto l(e lembrou que (avia visto Zanoni também assim ocupado

- 3odem estas (umildes fil(as da Mature'a - perguntou o )ovem, umdia, a 9e)nour, - estas coisas que florescem e murc(am em um mesmo dia,serem 5teis K ci"ncia dos segredos superiores ?xiste uma farmácia paraalma, assim como (á uma farmácia para o corpo 3odem as plantas que aprimavera cria, empregar-se n+o s0 na conserva*+o e restitui*+o da sa5de(umana, mas também para alcan*ar-se a imortalidade espiritual

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- Ae um estrangeiro, - respondeu 9e)nour, - tivesse visitado uma triboerrante que n+o con(ecesse nen(uma das propriedades das ervasG se estevia)ante tivesse dito aos selvagens que as ervas que pisavam cada dia comos seus pés, estavam dotadas de muitas e potentes virtudesG que uma podiarestaurar a sa5de de um irm+o que estivesse Ks portas da morteG que outra

redu'iria ao idiotismo o (omem mais sábioG que uma terceira faria cair mortono c(+o o seu mais valente guerreiroG que as lágrimas e o riso, o vigor e aenfermidade, a loucura e a ra'+o, a vig<lia e o sono, a exist"ncia e adissolu*+o, se ocultavam naquelas despre'adas fol(as, n+o o (averiam tidopor um feiticeiro ou por um (omem mentiroso ?m rela*+o K metade dasvirtudes do mundo vegetal, a (umanidade está ainda nas trevas da ignorânciacomo os selvagens a que me referi á faculdades no nosso interior, com asquais certos vegetais guardam uma notável afinidade, e sobre as quaisexercem um grande poder

= caráter de 9e)nour diferia muito do de Zanoni G e ainda que o

primeiro fascinasse menos K Jlyndon, dominava e impressionava-o muitomais

 7 conversa*+o de Zanoni manifestava um profundo e geral interessepela (umanidade, e um sentimento, que quase se confundia com entusiasmo,pelas artes e pela bele'a

=s boatos que circulavam acerca dos seus costumes real*avam omistério da sua vida com a*6es de caridade e benefic"ncia

?m tudo isso, (avia algo de genial e (umano, que atenuava o temorque inspirava, e tendia, a despertar suspeitas sobre os altos segredos queafirmava possuir

9e)nour, porém, parecia totalmente indiferente a tudo o que se referiaao mundo atual M+o cometia mal algum, mas parecia igualmente apáticopara o bem

=s seus atos n+o levavam socorro K nen(uma necessidade, as suaspalavras n+o mostravam compaix+o por ninguém

= cora*+o parecia nele ter sido absorvido pelo intelecto?le pensava e vivia antes como um Aer abstrato, do que como um

(omem que conservava, com a forma, os sentimentos e as simpatias da suaespécie

Pm dia, Jlyndon, observando o tom de suprema indiferen*a com que9e)nour falava daquelas mudan*as na superf<cie da terra, as quais ele di'ia(aver presenciado, atreveu-se a l(e di'er algumas palavras sobre a diferen*aque (avia notado entre as idéias do seu atual mestre e as de Zanoni

- H verdade, - respondeu 9e)nour, friamente - a min(a vida é a vida

que contemplaG a de Zanoni é a vida que go'a Quando eu col(o uma erva,penso s0 em seus usos Zanoni se detém para admirar a sua bele'a

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- ? )ulga que a sua exist"ncia é mel(or e mais elevada do que adele - perguntou Jlyndon

- M+o, - respondeu o sábio 7 exist"ncia de Zanoni é a da )uventudeG

e a min(a é a da idade madura Dultivamos faculdades diferentes Dada umde n0s possui poderes a que o outro n+o pode aspirar =s seus associam-seK idéia de viver mel(or, e os meus K idéia de saber mais

- =uvi di'er, realmente, - observou Jlyndon, - que dos seuscompan(eiros de Mápoles se notou que levavam vida mais pura e mais nobre,depois de terem entrado em rela*6es com Zanoni G e, contudo, n+o é paraestran(ar que ele, um sábio, escol(esse semel(antes compan(eiros Domotambém esse terr<vel poder que ele exerce K medida do seu dese)o, como,por exemplo, o que manifestou na morte do 3r<ncipe de O O O e na de Pg(elli,muito pouco se pode conciliar com os sentimentos filantr0picos de quem

busca ocasi6es de fa'er bem

- @em ra'+o, - respondeu 9e)nour, com um sorriso frio - Aemel(anteerro comete sempre aqueles 2il0sofos, que se mesclam com a vida ativa da(umanidade H imposs<vel servir a uns, sem pre)udicar a outrosG é imposs<velproteger os bons, sem indispor-se com os mausG e quem dese)a reformar osdefeitos, (á de descer K viver entre as pessoas que t"m esses defeitos, paracon(ec"-los 8esta opini+o é também o grande 3aracelso, conquanto setivesse equivocado freqRentemente S&%T 3elo que me di' respeito, nuncacometerei semel(ante loucura ?u vivo s0 para a ci"ncia, e na ci"nciaG n+omisturo a min(a vida com a vida da (umanidade

=utro dia, perguntou Jlyndon ao m<stico acerca da nature'a dessauni+o ou 2raternidade a que Zanoni uma ve' se referira

- 4ulgo que n+o me engano, - disse o )ovem, - supon(o que o Aen(ore ele pertencem K Aociedade Cosa-Dru'

- 3ensa, - respondeu 9e)nour, - que n+o tem (avido outras uni6esm<sticas e solenes de (omens que procuram os mesmos fins pelos mesmosmeios, antes dos rabes de 8amasco terem ensinado, em #\/$, K um

via)ante 7lem+o, os segredos que fundaram a !nstitui*+o dos Cosacru'es M+o nego, porém, que os Cosacru'es formavam uma seita que descendia deuma escola maior e mais antiga ?les eram mais sábios do que os 7lquimistas, assim como os seus mestres s+o mais sábios do que eles

- ? quantos existem daquela ordem primitiva - perguntou Jlyndon

- Zanoni e eu, - respondeu 9e)nour

- Domo Aomente dois - exclamou, admirado, o )ovem - ? possuemo poder de ensinar a todos o segredo de escapar K morte

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- = seu avI alcan*ou este segredoG ele faleceu somente porquepreferia morrer a sobreviver ao 5nico ser que amava Aabe, disc<pulo, que anossa ci"ncia n+o nos dá o poder para afastar de n0s a morte, se adese)armos, ou se ela for enviada pela vontade do céu ?stes muros podemesmagar-me, se ca<rem sobre mim @udo o que declaramos que nos é

poss<vel fa'er é o seguinte F descobrir os segredos que se referem ao corpo(umanoG saber por que as partes se ossificam e a circula*+o do sangue separalisaG e aplicar cont<nuos preventivos aos efeitos do tempo !sto n+o émagiaG é a arte da medicina bem compreendida Ma nossa =rdem,consideramos como as mais nobres, duas ci"ncias F a primeira é a que elevao intelecto e a segunda é a que conserva a sa5de e a vida do corpo 3orém, amera arte, pela qual se fa'em extratos dos sumos e das drogas querestabelece a for*a animal e detém os progressos da destrui*+o, ou essesegredo mais nobre, a que agora me limitareia aludir somente, pelo qual ocalor, ou o cal0rico, como o c(amam, sendo, como eráclito sabiamenteensinou, o princ<pio primordial da vida, pode empregar-se como um perpétuo

renovadorG esta arte repito, n+o seria suficiente para a nossa seguran*a3ossu<mos também a faculdade de desarmar e iludir a ira dos (omens,desviar de n0s as espadas de nossos inimigos e dirigi-las umas contra asoutras, e fa'er-nos sen+o incorp0reos1 invis<veis aos ol(os dos demais,cobrindo-os de névoa ou de escurid+o 7lguns videntes disseram que estesegredo residia na pedra ágata 7baris o locali'ava em sua frec(a ?u l(emostrarei, naquele vale, uma erva que produ' um encanto mais seguro doque a ágata e a frec(a ?m uma palavra, sabe que os produtos mais (umildese comuns da Mature'a s+o os que encerram as mais sublimes propriedades

- 3orém, - ob)etou Jlyndon - se possui estes grandes segredos, porque se mostram t+o avaros que n+o tratam de difundi-los 3ois n+o éverdade que o c(arlatanismo, ou a falsa ci"ncia, difere da ci"ncia verdadeirae é indisputável nisto F que esta a verdadeira ci"ncia1 comunica ao mundo osprocessos pelos quais obt"m as suas descobertas, ao passo que aquela aci"ncia falsa, o c(arlatanismo1 gaba seus maravil(osos resultados, negando-se a explicar as causas

- 8isse bem, o l0gico acad"mico 9as reflete um pouco Aupon(aque generali'ássemos indiscretamente os nossos con(ecimentos entre os(omens, n+o s0 entre os viciosos, como entre os virtuososG seriamos osbenfeitores da (umanidade, ou seriamos o seu mais terr<vel flagelo !magine

o tirano, o sensualista, o (omem mau e o corrompido, possuindo estestremendos poderes F n+o seria isto soltar um demInio sobre a terra  7dmitamos que o mesmo privilégio se)a concedido também aos bonsG e emque estado viria parar a Aociedade ?m uma espécie de luta titânica, - osbons sempre em defensiva contra os ataques dos maus Ma atual condi*+o domundo, o mal é o princ<pio mais ativo do que o bem e o mal prevaleceriam Hpor estas ra'6es que estamos solenemente comprometidos a n+o participar anossa ci"ncia sen+o aos que s+o incapa'es de fa'er dela mau uso epervert"-la, como também baseamos as nossas provas !niciáticas emexperi"ncias que purificam as paix6es e elevam os dese)os ? nisto a mesmaMature'a nos guia e a)udaG pois ela estabelece terr<veis guardi6es e

insuperáveis barreiras entre a ambi*+o do v<cio e o céu da ci"ncia superior

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?stas e semel(antes perguntas e respostas formavam uma pequenaparte das numerosas conversa*6es de 9e)nour com o seu disc<pulo,conversa*6es que, parecendo dirigir-se somente K ra'+o deste, l(einflamavam cada ve' mais a imagina*+o 7 reflex+o sobre as for*as que seencontram na Mature'a se é propriamente investigada, mas que n+o s+o

concedidas K qualquer curioso, levava o )ovem a admitir que existem for*as epoderes que 9e)nour afirmava que a Mature'a podia oferecer

 7ssim se passaram dias e semanasG e a mente de Jlyndonacostumando-se gradualmente a esta vida de isolamento e medita*+o,esqueceu, por fim, as vaidades e quimeras do mundo exterior

Pma noite, o )ovem (avia feito um solitário e prolongado passeio,contemplando as estrelas que apareciam, uma ap0s outra, no firmamento

Munca antes (avia sentido t+o claramente o grande poder que o céu e

a terra exercem sobre um (omemG nem (avia advertido com que solenesinflu"ncias a Mature'a desperta e agita os germens da nossa exist"nciaintelectual

Domo um paciente, sobre o qual se (á de fa'er agir, devagar egradualmente, os agentes do 9esmerismo, assim o )ovem sentia em seucora*+o a for*a crescente deste vasto magnetismo universal, que é a vida dacria*+o, e que liga o átomo ao todo

Pma estran(a e inefável consci"ncia do poder, de alguma coisagrande dentro do mortal corpo de p0 terrestre, despertava nele sentimentosobscuros e ao mesmo tempo grandiosos, como a débil recorda*+o de um sermais puro e anterior

Meste instante, sentiu que uma for*a irresist<vel o impelia a procurar omestre

Queria pedir, nessa (ora, a sua !nicia*+o nos mundos que seestendem além do nosso mundoG estava preparado a respirar uma atmosferamais divina

Jlyndon entrou no castelo e, atravessando a sombria galeria,iluminada apenas pela lu' das estrelas, dirigiu-se ao aposento de 9e)nour

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#4P5TULO III

:9an is t(e eye of t(ings;

?urip(, :8e >ita um;

:= (omem é o ol(o das coisas;

:@(ere is, t(erefore, a certain statistical or transporting power,w(ic(, ifat any time it s(all be excited or stirred up by anardent desire and most strongimagination, is able to conductt(e spirit of t(e more outward even to someabsent and far distant ob)ect;

>an elmont

:?xiste, pois, certa for*a extática ou arrebatadora, a qual, uma ve'excitada ou instigada por umardente dese)o e por fort<ssima imagina*+o, écapa' de condu'iro esp<rito de um ob)eto mais externo até a algum ob)etoausente e muito distante;

=s aposentos que 9e)nour ocupava consistiam em dois quartos quecomunicavam um com o outro, e de um terceiro, que era o seu dormit0rio

@odos estes quartos estavam situados dentro de uma grande torrequadrada, que se elevava ao pé do escuro precip<cio, (abitado por arbustoscom fol(as verde)antes

= primeiro quarto, em que Jlyndon entrou, estava va'io

Dom um passo silencioso, seguiu o )ovem adiante, e abriu a porta quedava entrada K pe*a interior

 7o c(egar ao umbral, teve que retroceder, por causa de uma fortefragrância que enc(ia o quarto F uma espécie de névoa pairava no ar, com

que um vapor ou uma nuvem branca que se movia lentamente, formandocertas ondula*6es que se elevavam, onda ap0s onda, regularmente, peloespa*o

Pm frio mortal invadiu o cora*+o do !ngl"s e o seu sangue se gelava

Jlyndon parou e permaneceu como cravado naquele lugarG n+oobstante, fe' um esfor*o involuntário para ol(ar através daquele vapor, epareceu-l(e se bem que n+o pudesse di'er se era uma ilus+o da suaimagina*+o1 que viam escuras e gigantescas formas K guisa de espectros,flutuando no meio daquela névoaG ou era, talve', a mesma névoa que

convertia seus vapores, fantasticamente, em apari*6es m0veis, impalpáveis eincorp0reas

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8i'-se que um pintor da antiguidade, em um quadro de :ades;,representou os monstros desli'ando por entre a etérea corrente do Cio da9orte, t+o artisticamente, que os ol(os percebiam logo que o rio n+o era, emsi, mais do que um espectro, e que os Aeres sem sangue que o cru'avam,n+o tin(am vida, e que as suas formas se confundiam com as águas mortas,

até que a gente, cansada de ol(ar, conclu<a por n+o distingu<-las do elementosobrenatural, no qual, como se supun(a, (abitavam

 7ssim eram as formas que flutuavam, mesclando-se e confundindo-se, naquela névoaG porém, antes que Jlyndon tivesse tempo de tornar a sidaviolenta sensa*+o que experimentara, sentiu que alguém l(e pegava pelam+o, e o condu'ia ao quarto exterior

 7o ouvir fec(ar a porta, sentiu Jlyndon que o seu sangue tornava acircular-l(e nas veias, e viu 9e)nour a seu lado

8e repente, foi atacado, em todo o seu organismo, de fortesconvuls6es, - e ele caiu ao c(+o, perdendo os sentidos

Quando voltou a si, encontrou-se ao ar livre, em um rude balc+o depedra, cont<guo ao quartoG as estrelas bril(avam serenamente acima do negroabismo que (avia em baixo, e iluminavam escassamente o semblante dom<stico, que estava )unto a ele, em pé e com os bra*os cru'ados

- 4ovem, - disse 9e)nour, - )ulga, pelo que acaba de experimentar,como é perigoso ao (omem buscar o saber antes de estar preparado parareceb"-lo Ae tivesse demorado mais um momento no ar daquele quarto, teriasucumbido

?nt+o - respondeu Jlyndon - de que nature'a era o saber que osen(or, outrora mortal como eu, podia buscar impunemente nessa atmosferade gelo que me mataria, se eu a respirasse

9e)nour - continuou o )ovem, e o seu indImito dese)o, agu*ado peloânimo e vigor, - eu me sinto preparado, ao menos para os primeiros passos>en(o a ti como na 7ntigRidade o disc<pulo ao ierofante, e pe*o-l(e a!nicia*+o

9e)nour pIs a sua m+o sobre o cora*+o do )ovem e sentiu que batiacom for*a, regularidade e ousadia

=l(ou com uma espécie de admira*+o, que se revelava em suaaustera e fria fisionomia, e murmurou, quase como K si mesmo F

- ?ste valor me anuncia que encontrei, finalmente, o verdadeirodisc<pulo

8epois, acrescentou em vo' alta F

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- Ae)a, pois 4 .ri(eira Inicia70o do 1o(e( 9 feita no estado deCtranse H por meio de son(os que come*a todo o saber (umanoG emson(os suspende-se sobre o imenso espa*o a primeira e fraca ponte entreesp<rito e esp<rito, - entre este mundo e os mundos além =l(a fixamenteaquela estrela

Jlyndon obedeceu, e 9e)nour retirou-se para dentro do quarto, doqual come*ou, ent+o, a emergir lentamente um vapor, um pouco mais pálidoe de odor mais fraco do que aquele que, por pouco, teria produ'ido um efeitofatal sobre o organismo do )ovem

?ste vapor, pelo contrário, quando come*ou a pairar em torno dele,mesclando-se, em finas espirais, com o ar, exalava uma fragrânciarefrigerante e saudável

Jlyndon ol(ava ainda atentamente os seus ol(os na estréia, e a

estréia parecia, gradualmente, fixar e dominar o seu ol(ar

Pm momento depois, apoderou-se dele uma espécie de languide',porém sem que se comunicasse, como pensou, K sua menteG e quando estalanguide' o dominou inteiramente, sentiu as fontes umedecidas com umaess"ncia volátil e ardente

Mo mesmo instante, um leve tremor, que entrou a circular-l(e pelasveias, fe' estremecer todo o seu corpo

 7 languide' foicrescendoG os seus ol(os estavam ainda fixos naestréia, cu)a luminosa circunfer"ncia, parecia agora se dilatar

 7 sua lu' foi-se tornando, pouco a pouco, mais suave e mais claraGdifundindo-se cada ve' mais por todas as partes, enc(eu enfim, o espa*o

3or fim, no meio de uma bril(ante atmosfera prateada, Jlyndon sentiucomo se algo arrebentasse no seu cérebro, - como se rompesse uma fortecadeiaG naquele momento l(e pareceu que voava pelo espa*o, com umsentimento de celestial liberdade, de inexplicável del<cia, como se a sua almativesse abandonado a sua corp0rea pris+o, e se elevasse no ar com a leve'a

de um pássaro- 7 quem dese)a ver, agora, na terra - murmurou a vo' de 9e)nour

- >iola e Zanoni - respondeu Jlyndon, com o cora*+o, pois sentiuque os seus lábios n+o se moviam

8e repente, ao pensar nestes dois nomes, - por aquele espa*o emque nada se distinguia, exceto uma lu' suave e transl5cida, - come*aram apassar, em uma rápida sucess+o, obscuras paisagens, arvores, montan(as,cidades e mares, como em uma fantasmagoriaG até que, por fim, o )ovem viu,

fixa e estacionária uma cova )unto a uma praia, cu)as formosas beirasestavam povoadas de mirtos e laran)eiras

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?m uma colina, que (avia a certa distância, bril(avam os brancos eesparsos restos de algum edif<cio pag+o arruinadoG e a Lua iluminando tudocom seu calmo resplendor, literalmente ban(ava com sua lu' duas figurasque estavam ao exterior da cova, e a cu)os pés iam estrelar-se as ondas

a'uisG parecia a Jlyndon que ouvia até a vo' baixa em que conversavamaquelas duas pessoas, em que ele recon(eceu Zanoni, e >iola

Zanoni estava sentado sobre um fragmento de roc(aG >iola, meioreclinada a seu lado, contemplava a face do seu marido inclinado sobre ela, ena fisionomia da mul(er descobria-se essa express+o de perfeita felicidade,que s0 revela o verdadeiro e perfeito amor

- Quer ouvi-los falar - perguntou 9e)nour

-Aim, respondeu Jlyndon, exprimindo-se outra ve' por vo' meio de

uma interior, sem articular som algum

 7s vo'es de Zanoni e >iola c(egaram, ent+o, ao seu ouvido, porémcom um som que l(e parecia estran(oG eram fracas e davam a impress+o quevin(am de muito longe, lembrando as vo'es que, em suas vis6es, ouviamalguns santos, aos quais eram dirigidas de alguma esfera distante

? como é - di'ia >iola - que voc" pode encontrar pra'er em escutaruma ignorante

3orque o cora*+o - respondeu Zanoni - nunca é ignoranteG porque osmistérios dos sentimentos est+o c(eios de maravil(as, igualmente como osmistérios do intelecto Ae voc", Ks ve'es, n+o pode compreender a linguagemdos meus pensamentos, também eu, Ks ve'es, ou*o doces enigmas nalinguagem das suas emo*6es

- 7( M+o fale assim - retrucou >iola, enla*ando ternamente opesco*o de Zanoni, e a sua face corada aparecia mais bela debaixo daquelalu' celeste =s enigmas n+o s+o mais do que a linguagem comum de amor, eo amor os decifra ?nquanto eu n+o o con(ecia, - enquanto n+o vivia consigo,- enquanto n+o sabia vigiar os seus passos, quando estava ausente, n+o

podia saber como é forte e penetrante o la*o que existe entre a nature'a e aalma (umana

? sem embargo, - prosseguiu >iola, - estou agora convencida de queera verdade o que eu pensava no come*o F que os sentimentos que meimpeliam para a sua pessoa primeiramente, n+o eram os de amor ?u sei isto,comparando o presente com o passadoG naquele tempo, era um sentimentoque pertencia totalmente K min(a mente ou ao meu esp<rito 7gora, n+opoderia eu ouvi-lo di'er F :>iola, s" feli' com outro ;

Mem eu poderia, agora, di'er-l(e - retrucou Zanoni - 7(, >iola

Munca se canse de afirmar-me que é feli'

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- Aim, sou feli', quando voc" se sente feli' 3orém, (á momentos,Zanoni, em que o ve)o t+o triste

- !sto acontece quando considero que a vida (umana é t+o curtaG eque, por fim, teremos que separar-nosG quando me lembro que essa Lua

continuará bril(ando no (ori'onte, quando o rouxinol tiver deixado )á de trinardebaixo dos seus poéticos raios 8entro de alguns anos, os seus formososol(os perder+o os seus encantos, a sua bele'a murc(ará, e este lindo cabelocom que agora brinco envel(ecer+o, e o seu aspecto )á n+o será atraente

- >oc" é cruel - disse >iola, pateticamente - Munca verei em si osvest<gios dos anos 7caso n+o envel(ecemos ambos ao mesmo tempo

- =s nossos ol(os se acostumar+o insensivelmente a essa mudan*ade que o cora*+o n+o participará

Zanoni suspirou, e, virando um pouco a cabe*a, parecia consultaralgo consigo mesmo

Jlyndon se pIs a escutar com aten*+o ainda maior

- Ae assim fosse - murmurou Zanoni

?, em seguida, ol(ando fixamente >iola, acrescentou sorrindo F

- M+o a excita a curiosidade de saber algo mais do seu amado, dequem, em outro tempo, pensou que era um enviado do ?sp<rito 9aligno

- M+o, - respondeu >iolaG - tudo o que se dese)a saber de um seramado eu )á o sei, que voc" me ama

- ?u l(e disse, alguma ve', - prosseguiu Zanoni, - que a min(a vidaera diferente da vida dos demais (omens M+o quereria participar dela

- ?u dela )á participo

- 3orém, se fosse poss<vel conservarmo-nos ambos assim, )ovens e

formosos, para sempre, até que o mundo em redor de n0s viesse a ardercomo uma pira funerária

- Aeremos )ovens e formosos, quando deixarmos este mundo

Zanoni permaneceu silencioso por alguns instantes, e depoisprosseguiu

- Lembra-se daqueles son(os bril(antes e aéreos, que voc" teve emoutro tempo, quando parecia que estava reservado um destino muito diferenteda sorte das fil(as comuns da terra

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- Zanoni, aqueles son(os se reali'aramG )á estou desfrutando essedestino

- ? n+o l(e inspira temor algum o futuro

- = futuro M+o penso nele = passado, o presente e o porvirrepousam no seu sorriso 7(, Zanoni M+o brinque com as tolas credulidadesda min(a )uventude 8esde que a sua presen*a dissipou a névoa queobscurecia a min(a vista, tornei-me mel(or e mais (umilde = futuro 3oisbem Quando tiver motivo para tem"-lo, levantarei os meus ol(os ao céu elembrar-me-eide quem guia os nossos passos

 7o di'er estas palavras, >iola levantou os ol(os para a ab0badacelesteG e, no mesmo instante, uma nuvem escura invadiu subitamente acena, e envolveu as laran)eiras, o a'ulado oceano, as densas areias

 7s 5ltimas imagens que a nuvem velou K encantada vista de Jlyndon,foram >iola e Zanoni

= semblante da )ovem sorria, sereno e radiante, ao passo que o doseu compan(eiro aparecia nublado e pensativo, e encobria, em uma rigide'maior do que a usual, de melancolia, a sua bele'a e a sua profundatranqRilidade

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- BastaG levante-se - disse 9e)nourG - a sua prova !niciáticacome*ou á pretendentes K solene ci"ncia, que l(e (averiam mostrado aosausentes, e l(e falariam, em sua ins<pida linguagem, de secretas eletricidadese do fluido magnético, de cu)as verdadeiras propriedades eles con(ecemapenas os germes e os elementos ?u l(e emprestarei os livros desses

patetas, e verá quantos foram, nos tempos obscuros, os que vagaramextraviados e que, por (averem trope*ado com o umbral da poderosa ci"ncia,imaginaram ter penetrado no interior do @emplo ermes, 7lberto, 3aracelso Feu os con(ecia todosG apesar de terem sido grandes e nobres esp<ritos, odestino os condenou e os enganou M+o (avia em suas almas a suficiente fénem a audácia que se necessita para alcan*ar os altos destinos a queaspiraram Dontudo, 3aracelso - o modesto 3aracelso - era dotado de umaarrogância que voava mais alto do que toda a nossa ci"ncia =( ?le pensouque podia formar uma ra*a de (omens com a qu<micaG ele S&^T se arrogou odom divino, o sopro da vida ?le quis criar uma ra*a de (omens, e, depois detudo, teve que confessar que n+o seriam mais do que pigmeus 7 min(a arte

é fa'er (omens superiores K (umanidade atual 3orém, eu ve)o que l(esimpacientam as min(as digress6es 3erdoe-me @odos esses (omens queeram grandes visionários, como voc" dese)a ser1 foram meus amigos <ntimos9as agora est+o mortos, e os seus corpos transformados em p0 ?lesfalavam de esp<ritos, mas temiam estar em outra compan(ia que n+o a dos(omens = mesmo como alguns oradores que ouvi ao falar, ao 3nyx, em 7t(enas, que c(ame)avam na 7ssembléia com as suas palavras,semel(antes a cometas, e extinguiam o seu ardor como os foguetes defestas, quando se encontravam no campo 7( 8em0stenes, meu (er0icovarde, como foram ágeis os seus pés em D(eronéa ? está aindaimpaciente, rapa' ?u poderia di'er-l(e tais verdades sobre o passado, que ofariam o luminar dos eruditos 9as o seu dese)o é somente penetrar nassombras do futuro = seu dese)o será satisfeito H, porém, necessário que,antes de tudo, se)a preparada e exercitada a sua mente >ai ao seu quarto, edormeG imp6e-se austeros )e)unsG n+o leia livrosG medite, imagine, son(e,esquece de si mesmo, se quiser 7 idéia brota por fim e saido seu caos 7ntesda meia-noite, vem falar comigo outra ve'

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CAPÍTULO IV 

:Quem pretende elevar-se a t+o sublimes degraus, deve, em primeirolugar, esfor*ar-se para abandonar as afei*6es carnais, a fraque'a dos

sentidos, as paix6es que pertencem K matériaG em segundo lugar, deveaprender por quais meios podemos subir Ks alturas do puro intelecto, unidosaos poderes superiores, sem os quais nunca poderemos obter a ci"ncia dascoisas secretas, nem as for*as mágicas que produ'em os verdadeirosmilagres; @rit(emo F :Aobre Doisas Aecretas e Aecretos ?sp<ritos;

2altavam ainda alguns minutos para a meia-noite, quando Jlyndonfoiter novamente ao quarto do m<stico

= )ovem (avia observado escrupulosamente o )e)um que l(e fora

ordenadoG e as intensas e arrebatadoras medita*6es em que o submergia asua excitada fantasia, n+o somente l(e fi'era esquecer as necessidades docorpo, mas até conseguiram que ele se sentisse superior a elas

9e)nour, sentado ao lado do seu disc<pulo, falou-l(e desta maneira F

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- = (omem é arrogante K propor*+o da sua ignorância, e a suatend"ncia natural é o ego<smo Ma infância do saber, pensa que toda acria*+o foifeita para ele 3or muitos Aéculos, viu nos inumeráveis mundos quebril(am no espa*o, como as borbul(as de um imenso oceano, apenaspequenas velas, que a 3rovid"ncia (avia-se compra'ido em acender com o

5nico fim de tornar-nos a noite mais agradável 7 astronomia corrigiu estailus+o da vaidade (umanaG e o (omem, ainda que, com relutância, confessa,agora, que as estrelas s+o mundos mais vastos e mais formosos do que onosso mundo, que a terra, sobre a qual os (omens se arrastam, é apenas umponto dificilmente vis<vel no vasto mapa da cria*+o 3orém, no pequeno,assim como no grande, 8eus pIs a vida igualmente em profus+o = via)anteol(a a árvore e imagina que os seus ramos foram formados para livrá-lo doardor dos raios solares no ver+o, ou para fornecer-l(e o combust<vel duranteos frios do inverno 9as em cada fol(a desses ramos, o Driador fe' ummundo, que é povoado de inumeráveis ra*as Dada gota de água naquelerego é um orbe, mais c(eio de seres do que de (omens é c(eio um reino ?m

todas as partes, neste imenso 3lano de ?xist"ncia, a ci"ncia descobre novasvidas 7 vida é um princ<pio que atravessa tudo, e até a coisa que parecemorrer e apodrecer gera nova vida, e dá novas formas K matériaCaciocinando, pois, por evidente analogia, diremos F Ae n+o (á uma fol(a,nem uma gota de água que n+o se)a, como aquela estréia, um mundo(abitável e respirante, e se até o (omem mesmo é um mundo para outrasvidas, e mil(6es e bil(6es de seres (abitam nas correntes do seu sangue,vivendo no seu corpo como o (omem vive na terra, o senso comum se seus(omens eruditos o tivessem1 bastaria para ensinar que o infinito circunfluente,ao qual c(amam espa*o, - o ilimitado !mpalpável que separa a terra da Lua edas estrelas, - está também c(eio da sua correspondente e apropriada vidaM+o é vis<vel absurdo supor que uma fol(a está c(eia de seres e vida, e queseres vivos n+o existem nas imensidades do espa*o 7 leido JrandeAistema n+o permite que se desperdice um s0 átomo, nem con(ece lugaralgum onde n+o respire algum ser vivo 7té o ossario é um viveiro deprodu*+o e anima*+o H verdade o que digo 3ois bem, se é assim, podeconceber que o espa*o, que é o !nfinito mesmo, somente se)a um desertosem vida, menos 5til ao 3lano da ?xist"ncia Pniversal, do que o esqueleto deum c+o, do que a povoada fol(a, do que a gota de água, c(eia de seresviventes = microsc0pio mostra-nos as criaturas na fol(aG nen(um tubomecânico foi ainda inventado para descobrir os seres mais nobres e mais

adiantados, que povoam o ar ilimitado ?ntre estes, porém, e o (omem, existeuma misteriosa e terr<vel afinidade ?, por isso, nascem dos contos e lendas,que n+o s+o nem totalmente falsos, nem totalmente verdadeiros, de tempoem tempo, cren*as em apari*6es e espectros Ae estas cren*as foram maiscomuns entre as tribos primitivas, mais simples do que os (omens do seuenfatuado Aéculo, é s0 porque os sentidos daquelas tribos eram mais finos emais perspica'es ? como o selvagem v" ou percebe, até pelo olfato, amuitas mil(as de distância, as pegadas de um inimigo, invis<veis aosembotados sentidos do (omem civili'ado, assim é menos densa e menosobscura para ele a barreira que se encontra entre ele e as criaturas do mundoaéreo ?scutou-me

- Dom toda a min(a alma, - respondeu Jlyndon

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- 3orém, para penetrar esta barreira, - continuou 9e)nour, - é precisoque a alma, com que escuta, se)a agu*ada por um intenso entusiasmo epurificada de todos os dese)os terrestres M+o sem ra'+o os c(amadosmagos de todos os 3a<ses e de todos os tempos, insistiam sempre sobre anecessidade de castidade e de moderada contempla*+o, como os mais

poderosos elementos da inspira*+o Quando a alma está assim preparada, aci"ncia pode, depois, vir em seu auxilioG a vista se torna mais sutil, os nervosmais agudos, o esp<rito mais ativo e penetrante, e até os elementos, o ar, oespa*o, por meio de certos segredos da qu<mica superior, podem tornar-semais palpáveis e claros ? também isto n+o é magia, no sentido que a estapalavra dá aos crédulosG pois, como )á l(e disse tantas ve'es, a magia, secom este termo se pensa em uma ci"ncia que >iola a Mature'a, n+o existeGela é apenas a ci"ncia com que as for*as da Mature'a podem ser dirigidas,dominadas e aproveitadas =ra, no espa*o (á mil(6es de seres, n+oliteralmente espirituais, pois que t"m todos, como os animáculos invis<veis aool(o nu, certas formas de matéria, se bem que t+o delicada e sutil, que parece

n+o ser mais do que uma pel<cula uma penugem que cobre o esp<rito 8a<nascem os belos fantasmas Cosacru'es de silfos e gnomos Aem embargo,essas ra*as e tribos diferem mais entre si, do que o EalmuE do Jrego, emsuas formas, seus atributos e poderes Ma gota de água, v" como s+ovariados os animálculos, como grandes e terr<veis s+o alguns dessesmicrosc0picos vermes, monstros em compara*+o a outros !gualmente, entreos (abitantes da atmosfera, alguns (á que possuem um alto grau desabedoria, e outros s+o dotados de uma (orr<vel malignidadeG alguns s+o(ostis aos (omens, porque s+o seus inimigosG ao passo que outros l(e s+oafáveis, e servem de mensageiros entre a terra e o céu Quem pretendeentrar em rela*6es com estes divinos Aeres, assemel(a-se ao via)ante que,querendo penetrar em 3a<ses descon(ecidos, se exp6e a estran(os perigos eincalculáveis terrores Quando tiver entrado nestas rela*6es, n+o podereilivrá-lo dos incidentes a que o seu camin(o o exp6e M+o posso dirigi-lo porsendas onde n+o encontrem alguns desses mortais e terr<veis inimigos á defa'er-l(e frente voc" mesmo, e so'in(o 3orém, se aprecia tanto a sua vida,que somente queira prolongar a sua exist"ncia, n+o importa para que fins,reparando a for*a dos seus nervos e a frescura do seu sangue com o elixirvivificador do 7lquimista, por que deve buscar as rela*6es com esses seresintermediários e expor-se aos perigos que resultam 3orque o (omempoderia atrair sobre si 3or isso, embora o elixir se)a a vida, agu*a os sentidos

de tal maneira, que essas larvas que povoam o ar, se ouvem e se v"em?nquanto n+o tiver exerci tado suficientemente a poder gradualmente,acostumar-se-a a n+o se perturbar pelo aparecimento desses fantasmas, e adominar a sua mal<cia, uma vida, dotada destas for*as e capacidades, seria amais (orr<vel senten*a que o (omem poderia atrair sobre si 3or isso, emborao elixir se)a composto de ervas muito simples, pode receb"-lo s0 quem ten(apassado )á pelas provas mais sutis 7lguns, sobressaltados por uminsuportável (orror ante os ob)etos que se apresentaram K sua vista aoprimeiro gole do milagroso liquido, ac(aram que a po*+o era menos poderosapara salvar, do que a agonia e o trabal(o da Mature'a para destruir 7ssim éque, para os que n+o est+o preparados, o elixir n+o é mais do que um veneno

mort<fero ?ntre os moradores do umbral (á também um, que, em suamalignidade e 0dio, excede a toda a sua triboG um, cu)os ol(os t"m paralisado

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os (omens mais intrépi dos, e cu)o poder sobre o esp<rito (umano aumenta,precisamente, K propor*+o do temor que inspira >acila a sua coragem

- =(, n+o - respondeu Jlyndon - 3elo contrário, as suas palavrasn+o fa'em mais do que inflamá-la

- ?nt+o, - ordenou 9e)nour, - siga-meG vou submet"-lo aos trabal(osde !nicia*+o

? 9e)nour condu'iu o disc<pulo ao quarto interior, onde l(e explicoucertas opera*6es qu<micas, as quais, como Jlyndon logo compreendeu,apesar de serem muit<ssimo simples, eram capa'es de produ'ir resultadosextraordinários

- Mos tempos remotos, - prosseguiu 9e)nour, sorrindo, - a nossa!rmandade via-se, com freqR"ncia, obrigada a recorrer ao engano, para

encobrir a realidadeG e, como os seus adeptos eram destros mecânicos ouperitos qu<micos, dava-l(es o nome de feiticeiros =bserve como é fácilcompor o ?spectro de Le+o, que acompan(ava o célebre Leonardo da >inci

? Jlyndon viu, com deliciosa surpresa, os simples meios quebastavam para produ'ir as mais singulares ilus6es da imagina*+o

 7s mágicas paisagens que deleitavam Baptista 3ortaG a aparentemudan*a das esta*6es com que 7lberto 9agno surpreendeu o Donde deolandaG e até aquelas terr<veis vis6es de esp<ritos e imagens com que osnecromantes de eracléa alarmaram a consci"ncia S&.T do conquistador de3latéa, - tudo isto 9e)nour mostrou ao disc<pulo, assim como o fa'em os(omens que, com a lanterna mágica e a fantasmog0ria, encantam medrosascrian*as, na véspera no Matal

- ? agora, que voc" viu, ria-se da magia Ae estes brinquedos, estesenganos, divertimentos e frivolidades da ci"ncia eram aquelas coisas t+oterr<veis que os (omens ol(avam com repugnância, e que os reis e osinquisidores premiavam com a roda ou com a estaca

- 3orém, a transmuta*+o de metais, de que falam os 7lquimistas -perguntou Jlyndon

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- 7 Mature'a mesma - respondeu 9e)nour - é um laborat0rio, onde osmetais, e todos os elementos est+o continuamente em transmuta*+o H fácilfa'er ouro, e mais fácil ainda, e mais cImodo e mais barato, é fa'er-sepérolas, diamantes e rubis =(, sim omens sábios consideraram tambémisto como feiti*ariaG mas n+o ac(aram nada de feiti*aria no descobrir que,

pelas mais simples combina*6es de coisas de uso quotidiano, poderiam criarum demInio que arrebatasse a mil(ares as vidas dos seus semel(antes, pormeio de um fogo consumidor 8escubra coisas que destruam a vida, e seráum grande (omem 7c(a, porém, um meio de prolongar a vida, e c(amar-l(e-+o impostor !nvente alguma máquina que torne mais ricos os ricos e queaumente a pobre'a dos pobres, e a Aociedade levantará para si ummonumento 8escubra algum mistério na arte, que fa*a desaparecer asdesigualdades f<sicas, e morrerá apedre)ado 7( 7( 9eu disc<pulo, este éo mundo pelo qual Zanoni ainda se interessa >oc", porém, e eu, deixaremoseste mundo entregue a si mesmo ? agora, que presenciou alguns dos efeitosda ci"ncia, comece a aprender a sua gramática9e)nour pIs, em seguida,

diante do seu disc<pulo certos trabal(os, nos quais empregou este o resto danoite

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CAPÍTULO V 

:Jreat travel (at( t(e gentle Dalidore 7nd toyle endured@(ere on a day,e c(aunst to spy a sort of s(ep(eard

groomes,3layng on pipes and caroling apace e, t(ere, besydeAaw a falre dam'ell;

Apenser, :2aerie Queene;, canto !X

= gentil Dalidoro fe' uma grande )ornada e passou trabal(os

Pm dia conseguiu espiar algumas )ovens pastoras, que tocavamflautase cantavam alegremente

? viu também uma linda don'ela

3or muito tempo, esteve o disc<pulo de 9e)nour absorvido por umtrabal(o que requeria a mais vigilante aten*+o e um cálculo sutil e minucioso

Cesultados surpreendentes e variados premiavam o seu trabal(o eestimulavam o seu interesse

=s seus estudos n+o se limitavam a descobrimentos qu<micos, - nosquais é-me permitido di'"-lo1 as maiores maravil(as concernentes Korgani'a*+o da vida f<sica pareciam dimanar de experi"ncias feitas sobre avivificante influ"ncia do calor

9e)nour afirmava que ac(ava um elo entre todos os Aeres pensantes,na exist"ncia de um certo fluido invis<vel e onipenetrante, que seassemel(ava K eletricidade, mas era diferente das opera*6es con(ecidasdeste misterioso agente, um flu<do que ligava um pensamento ao outro, com arapide' e precis+o do moderno telegrafo, e a influ"ncia deste fluido, segundo9e)nour, estendia-se ao mais remoto passado, isto é, a todos os tempos etodos os lugares, quando e onde o (omem tin(a pensado

Ae, pois, esta doutrina era verdadeira, todo o saber (umano se

tornava ating<vel por meio de um :médium; isto é, um ob)etivo intermediário1,estabelecido entre o cérebro de um pesquisador individual e as maislong<nquas e obscuras regi6es no universo das idéias

Jlyndon admirou-se de ver que 9e)nour era adepto dos abstrusosmistérios, que os pitag0ricos atribu<am K oculta ci"ncia dos n5meros

3orém, o )ovem observava que 9e)nour reservava para si o segredodas experi"ncias que o admirado disc<pulo, guiado por ele, executara, assimcomo o 5ltimo e breve processo aplicado em cada uma destas experi"nciasficava incompreens<veis para JlyndonG e, quando este fe' ao m<stico esta

observa*+o, recebeu uma resposta mais dura do que satisfat0ria

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- 3ensa - disse 9e)nour - que eu entregaria a um mero disc<pulo,cu)as qualidades n+o est+o ainda provadas, poderes que transformariam aface do mundo social =s 5ltimos segredos se confiam somente Kqueles decu)a virtude o 9estre está convencido 3aci"ncia = trabal(o é o grandepurificador da menteG e os segredos se revelar+o, pouco a pouco, por si

mesmos, K sua mente, K medida que ela for se tornando mais apta parareceb"-los

3or fim, 9e)nour declarou ao seu disc<pulo que estava satisfeito como adiantamento deste

- 7proxima-se, agora, a (ora - disse-l(e - em que poderá transpor agrande, porém aérea barreira, e em que poderá enfrentar o terr<vel Juarda doPmbral Dontinua trabal(ando, continua dominando a sua impaci"ncia parasaber os resultados, até que possa sondar as causas >ou ausentar-me porum m"sG se, ao meu regresso, eu ac(ar executadas todas as tarefas deixadas

ao seu cuidado, e se a sua mente estiver preparada, pela contempla*+o epensamentos sérios, para a grande prova, prometo-l(e que esta provacome*ará, ent+o, imediatamente Aomente ten(o que adverti-lo de umacoisa F M+o se esque*a que deixo como uma ordem perempt0ria a proibi*+ode entrar neste quarto

?ncontravam-se, naquela ocasi+o, no quarto onde (aviam feito asprincipais experi"ncias, e onde Jlyndon estivera perto de perecer como v<timada sua intrus+o, na noite em que tin(a procurado a solid+o do m<stico

- M+o entre neste quarto durante o tempo da min(a aus"ncia, -continuou o m<sticoG - se, porém, no caso de ter que buscar materiaisindispensáveis para os seus trabal(os, se aventurar a c(egar aqui, n+oacenda a nafta naqueles vasos e nem abra os frascos naquelas prateleiras8eixarei a c(ave do quarto em seu poder para provar a sua abstin"ncia e oseu dom<nio sobre si pr0prio 4ovem, resistir a essa tenta*+o é uma parte dagrande prova pela qual deverá passar

 7o di'er isto, 9e)nour entregou a c(ave a Jlyndon e, ao pIr do Aol,ausentou-se do castelo

3or espa*o de alguns dias, continuou Jlyndon imerso em trabal(osque absorviam todas as suas faculdades intelectuais

 7té os mais parciais sucessos desses trabal(os dependiam de talmaneira da abstra*+o dos pensamentos e das min5cias dos seus cálculos,que quase n+o restava tempo para pensar em outra coisa

?, sem d5vida, 9e)nour quis deixá-lo entretido em uma multid+o detarefas que exigisse constantemente toda a sua for*a intelectual, apesar deparecer n+o terem conex+o com os fins que visavaG assim, por exemplo, oestudo elementar da matemática n+o é t+o proveitoso na solu*+o de

problemas, que quase nunca nos servem, depois, em nossa profiss+o, mas é5til para exercitar o intelecto na compreens+o e análise das verdades gerais

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3orém, ainda n+o (avia passado a metade do tempo que 9e)nourdeterminara para a sua aus"ncia, quando Jlyndon tin(a terminado todos ostrabal(os, ordenados pelo m<sticoG e ent+o a sua mente, livre do trabal(o e domecanismo da ocupa*+o, entregou-se outra ve' a obscuras con)eturas eincansáveis fantasias

= seu caráter temerário e indagador sentiu-se excitado pela proibi*+odada por 9e)nourG e, quase sem adverti-lo, examinava muitas ve'es, comuma confusa e auda' curiosidade, a c(ave do quarto proibido

Jlyndon come*ou a sentir-se indignado ao pensar que se submetia auma prova de constância, que l(e parecia fr<vola e pueril

Que contos infantis de Barba 7'ul o seu aposento secreto reviviampara atemori'á-lo e terrificá-lo

Domo era poss<vel que as paredes de um quarto, onde tantas ve'esestivera tranqRilamente ocupado com seus estudos, se convertessem, derepente, em um tem<vel perigo

Ae era assombrado esse quarto, n+o podia o assombro ser outracoisa mais do que alguma dessas fict<cias vis6es que 9e)nour mesmo l(eensinara a despre'ar F um le+o fantástico, um espectro qu<mico

=ra Quase perdia a metade do temor que l(e inspirara 9e)nour,quando pensava que o sábio agiria com semel(antes artif<cios sobre omesmo intelecto que (avia despertado e instru<do

Dontudo, Jlyndon resistiu ainda esta ve' aos impulsos da suacuriosidade e do seu orgul(o e, para fugir a novas tenta*6es, adotou osistema de dar prolongados passeios pelas montan(as circunvi'in(as oupelos vales que rodeavam o castelo, a fim de impor, por meio da fadiga docorpo, o repouso K mente inquieta

Pm dia, ao sair de um sombrio desfiladeiro, topou, repentinamente,com uma dessas festas rurais e alegres, pr0prias do povo !taliano, nas quaisparece que se v" reviver os tempos clássicos

?ra uma festa meio campestre, meio religiosa

Ceunida nos arredores de um povoado, uma animada multid+o, queacabava de c(egar de uma prociss+o reali'ada em uma capela poucodistante, formava agora vários grupos F os vel(os provavam as uvas, e os )ovens cantavam e dan*avamG e todos estavam alegres, retratando-se afelicidade em todos os semblantes

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?ste inesperado quadro de folgada alegria e de plácida ignorância,que tanto contrastavam com os intensos estudos e com a ardente sede desaber que, desde tanto tempo, predominavam em sua vida, afetousensivelmente o !ngl"s e, enquanto contemplava aquela gente de algumadistância, o disc<pulo de 9e)nour sentiu que era )ovem

 7 recorda*+o de tudo o que se decidira a sacrificar, come*ou a falar-l(e com a vo' cruel do remorso

 7s ligeiras formas das mul(eres em seu pitoresco tra)e e o seu risofeli', vibrando pelo fresco ar de um claro meio-dia de outono, despertaram noseu cora*+o, ou antes, representaram aos seus sentidos as imagens dostempos passados, daquelas doces (oras de amor em que viver era go'ar

Jlyndon foi aproximando-se, pouco a pouco, cada ve' mais dessesgrupos e, de repente, se viu rodeado de genteG e o 9estre 3aolo, tocando-l(e

familiarmente o ombro, exclamou, com vo' afetuosa F

- Ae)a bem vindo, ?xcel"ncia 7legramo-nos muito de v"-lo entre n0s

Jlyndon ia responder a esta sauda*+o, quando os seus ol(os sefixaram em uma )ovem, que se apoiava ao bra*o de 3aolo, e cu)a bele'a erat+o atrativa, que o !ngl"s sentiu o sangue afluir-l(e ao rosto e o cora*+o batercom veem"ncia

=s ol(os da mo*a bril(avam com alegria travessa e petulante, e osrosados lábios, emoldurando o mais adorável dos sorrisos, formavam um belocontraste com a brancura dos seus dentes, semel(antes a duas filas depérolas

Domo se impacientasse o estar longe dos folguedos, o seu pequeninopé batia, no solo, o compasso de uma can*+o ora murmurada, ora cantada

3aolo riu-se ao ver o efeito que a mo*a produ'ira no )ovemestrangeiro

- M+o dan*a, ?xcel"ncia - perguntou-l(e - >en(a, deixe por alguns

momentos a sua grande'a, e divirta-se como n0s, os pobres diabos =l(ecomo a bela 2ilida suspira por um compan(eiro Dompade*a-se dela

2ilida c(ateou-se ao ouvir isso, e separando-se do bra*o de 3aolo, sefoi, porém, n+o sem que, por sobre o ombro, dirigisse ao )ovem um ol(ar,meio amável, meio 'ombeteiro

Jlyndon, quase involuntariamente, dirigiu-se K mo*a e come*ou afalar-l(e

Aim, pIs-se a conversar com a )ovem

2ilida baixou os ol(os e sorriu

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3aolo os deixou a s0s, afastando-se com um sorriso vel(aco

 7 mo*a fala agora e ol(a o estudante com express+o convidativa

Jlyndon balan*a a cabe*aG 2ilida ri, e o seu riso é argentino S infantil,

natural T

?la aponta com o dedo um divertido campon"s que se aproxima

3or que Jlyndon se sente com 'elos

3orque ele, quando a mo*a torna a falar-l(e, n+o torna a balan*ar acabe*a

?le estende a m+o K 2ilida, e esta aceita, com sedutor galanteio

9as que é isto Aerá poss<vel 4á penetraram no tumultuosoc<rculo dos bailarinos

 7( a( M+o é isto mel(or do que destilar ervas e fatigar os mioloscom os n5meros pitag0ricos

Dom que ligeire'a salta 2ilida

Domo a sua flex<vel cintura desli'a-se por entre os bra*os do )ovem

@ara-rá-tarará, tarará, tatará-rá

Que diabo tem esse compasso que fa' correr o sangue pelas veiascom mais vive'a do que o a'ougue S merc5rio T

@em-se )á visto dois ol(os mais sedutores do que os de 2ilida 7lin+o (á nada de estrelas frias Domo esses ol(os bril(am e sorriem ? essarosada e linda boca, que responde t+o avaramente as suas lison)as, como sepalavras fossem uma perda de tempo, e os bei)os a sua verdadeira linguagem

Y disc<pulo de 9e)nour Y voc" que queria ser Cosacruciano,

3latInico, 9ago e n+o sei o que mais ?nvergon(o-me, vendo-o assim 3elos nomes de 7verr0es, Burri, 7grippa e ermes, que é feito das

suas austeras contempla*6es

2oi para isto que renunciou a >iola

3arece-me que n+o l(e sobrou nem a m<nima recorda*+o do elixir,nem da Dabala

Duidado = que está fa'endo, sen(or 3or que aperta com tanta

veem"ncia essa linda m+o que segura na sua 3or que

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@ararará, tarâ-tará-rará-rá, tararará, ta-ra-a-rá

 7faste os seus ol(os desse delgado tal(e e desse espartil(ocarme'im

@ará-rará-rá

Lá est+o eles outra ve' dan*ando

? agora foram descansar debaixo das frondosas árvores

= tumulto da festa c(ega apenas aos ouvidos de Jlyndon e 2ilida

?les ouvem - ou n+o ouvem - as gargal(adas que soam ao longe

>"em - ou, se ol(assem em torno de si, veriam - os pares que

cru'am, um atrás do outro, falando de amor e ol(ando-se amorosamente

9as eu apostaria que, sentados como est+o debaixo da árvore, aindaquando o Aol )á se estivesse escondido por trás das montan(as, eles n+overiam nem ouviriam mais do que a si mesmos

- =lá, ?xcel"ncia 7grada-l(e a sua compan(eira >en(a aproveitara nossa festa, pregui*ososG dan*a-se com mais alegria depois de ter-setomado vin(o

= Aol se p6e no =cidenteG aparece a Lua outonal

@ará, tará, rarará, rarará, tararâ-rá

Movamente est+o dan*andoG aquilo é uma dan*a ou é um movimentoainda mais alegre, mais tumultuoso, mais fogoso

Domo bril(am essas formas esvoa*antes através das sombras danoite Que confus+o 7(

 7gora dan*am a :tarantela; >e)a como os pés do mestre 3aolo

pisam o c(+o 8iabo, que f5ria 7 :tarantela; prendeu a todos 8an*ar oumorrerG é um del<rio =s Doribantes, as 9enadas, os =( =lá 9ais vin(o

= Aabat das bruxas de Benevento é uma brincadeira, emcompara*+o com esta festa

 7 Lua passa de nuvem K nuvem, ora lu'indo, ora ocultando-se,velando com sua obscuridade o rubor da don'ela, e iluminando o seusemblante quando sorri

- 2ilida, é uma encantadora mul(er

- Boa noite, ?xcel"nciaG até outra vista

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- 7(, )ovem - disse um anci+o, um octogenário de rosto magro eol(os cavados e que se apoiava sobre um bord+o, aproveite bem a sua )uventude @ambém eu, nos meus anos de mo*o, tive uma 2ilida Maqueletempo, eu era ainda mais )ovem do que voc" 7i Ae pudéssemos sersempre mo*os

- Aempre mo*os - murmurou Jlyndon, sobressaltado

?, ao apartar a sua vista do lindo e rosado semblante da mo*a, viu osol(os ramelados, a pálida e enrugada pele e o corpo tr"mulo do anci+o

- 7( 7( - exclamou o vel(o, coxeando em dire*+o a Jlyndon, ecom um riso malicioso - ?u também fui )ovem 8"-me um :baioco; O1 paraum copo de aguardente

@arâ, rará, ra-rará, taráG rará-rá

 7li dan*a a 4uventude

>el(ice envolva-se em seus andra)os, e vá

O1 @rocado, 9oeda de de' reis

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CAPÍTULO VI 

:(ilest Dalidore does follow t(at faire mayd,Pnmindfuld of (is vowand (lg( be(east (ic( by t(e 2aerie Queene was on (im layd;

Apenser, :2aerie Queene;, canto X, estr #

?ntretanto, Dalidoro segue aquela linda )ovem, descuidando do seuvoto e do alto preceito que l(e dera a Cain(a das 2adas

 7 pálida e indistinta claridade da alvorada ia )á vencendo em sua lutacom reinado da noite, quando Dlar"ncio entrava novamente no seu quarto

= primeiro ob)eto em que se fixou K sua vista, foram aqueles

abstrusos cálculos em que trabal(ara nos dias anteriores, e que estavamsobre a mesaG ao ol(á-los, sentiu que se apoderava dele uma emo*+o,composta de fadiga e desgosto

3orém 7( Ae pudéssemos ser sempre )ovens =( orr<velespectro do anci+o com os ol(os ramelosos Que apari*+o mais feia e maisabominável do que esta pode ocultar-se no quarto m<stico

=(, sim Ae pudéssemos ser sempre )ovens

9as pense agora o ne0fito1 n+o para trabal(ar sempre com essasfiguras carrancudas e nessas frias composi*6es de ervas e drogas

M+oG porém para go'ar, amar divertir-se

Quem é o compan(eiro de )uventude, sen+o o pra'er

? o dom da eterna )uventude pode ser meu nesta (ora mesma

Que significa a proibi*+o de 9e)nour

M+o é do mesmo g"nero que a sua pouco generosa reserva nos maisinsignificantes segredos da qu<mica ou nos n5meros da sua Dabala

=brigar-me a executar todos os trabal(os, e n+o querendo deixar-mecon(ecer os resultados que coroam o trabal(o

M+o duvido que, ao seu regresso, ele me mostrará que o grandemistério pode ser atingidoG mas ainda n+o permitirá que eu o atin)a

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M+o parece sen+o que o seu dese)o é fa'er da min(a )uventude aescrava da sua vel(iceG ele quer, talve', tornar-me dependente unicamentedeleG pretenderá condenar-me ao trabal(o de um )ornaleiro, excitandoperpetuamente a min(a curiosidade, e mostrando-me os frutos que p6esempre fora do alcance dos meus lábios

?stas e outras reflex6es ainda mais aflitas preocupavam a mente deJlyndon, perturbando e irritando-o

?xcitado e exaltado pelo vin(o e pela recorda*+o da tumultuosa festaa que acabava de assistir, n+o pIde conciliar o sono

 7 imagem daquela repugnante >el(ice que o @empo, se o seu podern+o for desbaratado, (avia de tra'er-l(e infali velmente, avivava o ardor doseu dese)o de possuir sempre a deslumbrante e eterna )uventude que atribu<aa Zanoni

 7 proibi*+o de 9e)nour s0 servia para enc(er de desconfian*a o seuesp<rito

 7 rison(a lu' do dia, entrando alegremente pelas )anelas do seuquarto, dissipou da sua mente todos os temores e as supersti*6es quepertencem K noite

= quarto m<stico n+o apresentava K sua imagina*+o nada em quediferisse de qualquer outra pe*a do castelo

Que abominável ou maligna apari*+o poderia fa'er-l(e mal, no meioda bril(ante lu' daquele dia aben*oado

Ma nature'a de Jlyndon (avia uma contradi*+o particular e,sobretudo, muito infeli', que, enquanto os seus racioc<nios o levavam Kd5vida, a d5vida o tornava, em sua conduta moral, irresoluto e inconsciente, asua valentia f<sica raiava em temeridade

!sto, aliás, nada tem de estran(oG pois o ceticismo e a presun*+omuitas ve'es s+o g"meos

Quando um (omem deste caráter determina reali'ar um pro)eto,nunca o detém o medo pessoalG e, quanto ao medo moral, qualquer sofisma ésuficiente para servir K sua vontade

Quase sem analisar os processos mentais por que os seus nervos sealentavam e as suas pernas se moviam, o )ovem atravessou o corredor,dirigiu-se ao quarto de 9e)nour e abriu a porta proibida

@udo ali estava da mesma forma como de costumeG apenas, sobre amesa no centro do quarto, via-se aberto um volumoso livro

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Jlyndon aproximou-se dele e ol(ou os caracteres que a página l(eofereciaG eram escritos em cifras S c0digo T, cu)o estudo fi'era uma parte dosseus trabal(os

Aem que l(e custasse grande dificuldade, pareceu-l(e que podia

interpretar o significado das primeiras senten*as onde lia F :Aorver a vidainterna é, ver a vida externaG viver desafiando o tempo é viver no todo Quemdescobre o elixir, descobre o que (á no espa*o, pois o esp<rito que vivifica ocorpo, fortalece os sentidos á atra*+o no princ<pio elemental da lu' Maslâmpadas dos Cosas-Dru'es, o fogo é o puro princ<pio elemental 7cenda aslâmpadas enquanto abre o vaso que contém o elixir, e a lu' atrairá os Aerescu)a vida é aquela lu' Juarde-se do 9edo = 9edo é o inimigo mortal daci"ncia;

 7qui as cifras mudaram de caráter e tornaram-se incompreens<veispara Jlyndon

3orém, n+o (avia lido )á bastante M+o seria suficiente a 5ltimasenten*a

- :Juarde-se do 9edo ; 3arecia como se 9e)nour (ouvesse deixadode prop0sito aquela página aberta, quem sabe se a grande prova deviacome*ar fa'endo o contrário do que se l(e recomendara

@alve' o m<stico quisesse pIr K prova a coragem do disc<pulo,afetando proibir-l(e o que queria que fi'esse

= 9edo, e n+o a 7udácia, era o inimigo da ci"ncia

Jlyndon dirigiu-se Ks prateleiras onde estavam colocados os vasosde cristalG com m+o firme destapou um deles, e subitamente um perfumedelicioso inundou todo o quarto

= ar bril(ava como se estivesse c(eio de p0 de diamante

Pm sentimento de del<cia supraterrestre, de uma exist"ncia queparecia toda espiritual, difundiu-se por todo o corpo do )ovemG e uma débil,

porém suave e esquisita m5sica parecia penetrar dentro do quartoMeste instante, ouviu Jlyndon uma vo' no corredor, a qual

pronunciava o seu nomeG e, em seguida, alguém bateu K porta exterior

- ?stá a<, sen(or - disse a sonora vo' do 9estre 3aolo

Jlyndon tapou imediatamente o frasco, recolocou-o na prateleira,di'endo a 3aolo que o aguardasse no seu quartoG conservou-se quieto atéque ouviu afastar-se o intrusoG ent+o, n+o sem relutância, saiu do aposento

 7o fec(ar a porta, ainda ouviu o som melodioso daquela m5sicaaérea

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Dom passo ligeiro e com o cora*+o c(eio de alegria, foi encontrar9estre 3aolo, resolvido a tornar novamente Kquele quarto, a uma (ora emque ninguém o visse interromper

Quando Jlyndon passou pelo umbral do seu quarto, 3aolo exclamou,

estupefato F

- = que é isso, ?xcel"ncia Quase n+o vos recon(e*o >e)o que odivertimento aumenta a bele'a da )uventude =ntem estava t+o pálido emagroG mas ve)o, agora, que os alegres ol(os de 2ilida fi'eram mais do que a3edra 2ilosofal os santos me perdoem o nomeá-lo 1 tem feito para osfeiticeiros

Jlyndon, ol(ando-se no vel(o espel(o >ene'iano, enquanto 3aolofalava, n+o ficou menos surpreendido do que este ao ver a mudan*a que senotava no seu semblante e em toda a sua figura

= seu corpo, anteriormente um tanto curvado sob o peso dospensamentos, pareceu-l(e (aver crescido um pouco, t+o flex<vel e ereto eraagora

=s seus ol(os bril(avamG as faces, agora rosadas, respiravam sa5dee, ao mesmo tempo, revelavam o contentamento e pra'er da sua alma

Ae a mera fragrância do elixir tin(a tanto poder ra'+o de sobra tin(amos 7lquimistas quando atribu<am vida e )uventude ao seu uso em formaliquida

- 3erdoe-me, ?xcel"ncia, por ter vindo interromp"-lo, - disse 9estre3aolo, tirando uma carta da algibeira - 9as o nosso patr+o me escreveu paraque l(e dissesse que ele regressaria aman(+, e encarregou-me que n+operdesse um momento em entregar-l(e este bil(ete, que veio incluso na cartaK mim dirigida

- Quem trouxe a carta

- Pm (omem a cavalo, o qual se foi, sem aguardar resposta

Jlyndon abriu o bil(ete e leu o seguinte F :>olto uma semana antes doque pretendera e c(egarei aman(+ ?ntrarás, ent+o, na grande prova pelaqual dese)a passarG porém n+o se esque*a de que, para isso, deve redu'ir, oquanto for poss<vel, o seu Aer K 9ente á de mortificar e dominar ossentidos, para n+o ouvir nem o murm5rio de uma paix+o A" mestre naci"ncia da Dabala e da qu<micaG porém, (á de ser também mestre nadomina*+o sobre a Darne e o Aangue, sobre o 7mor e a >aidade, sobre a 7mbi*+o e o Ydio ?spero encontrá-lo nesta disposi*+o 4e)ua e medita, atéque tornemos a ver-nos ;

Jlyndon amarrotou o bil(ete, com sorriso desden(oso

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Domo 9ais torturas 9ais abstin"ncia 4uventude sem amor esem pra'er 7( 7( 3obre 9e)nour, o seu disc<pulo penetrará os seussegredos, sem precisar da sua a)uda

- ? 2ilida - perguntou 3aolo W 3assei por seu ranc(o, quando vin(a

para cáG ela corou e suspirou, quando, grace)ando, pronunciei o seu nome,?xcel"ncia

- Bem, 3aolo, - respondeu o )ovem - 7grade*o-l(e por me (aver feitocon(ecer uma t+o encantadora mo*a 7 sua vida deve ser muitoextraordinária

- 7(, ?xcel"ncia ?nquanto somos )ovens, todos gostamos deaventuras, e principalmente de vin(o, amor e riso

- 8i' uma grande verdade 7deus, 9estre 3aoloG dentro de alguns

dias, falaremos mais demoradamente

@oda aquela man(+ estava Jlyndon dominado pelo novo sentimentode felicidade que se (avia despertado em sua alma

M+o fa'ia mais do que vagar pelos bosques, e experimentava umpra'er comparável somente com o que (avia sentido nos primeiros anos dasua vida de artistaG porém, este pra'er era mais sutil e mais vivido, sob asvariadas cores da fol(agem do outono

3arecia que a Mature'a se aproximava mais amorosamente do seuesp<ritoG e ele compreendia mel(or, agora, tudo o que 9e)nour l(e (avia dito arespeito do mistério das simpatias e atra*6es

?stava quase a ponto de entrar na mesma Lei que aquelessilenciosos fil(os e fil(as dos bosques

!a con(ecer a :renova*+o da vida;G as esta*6es que, depois do frio doinverno, tra'iam outra ve' a flor e a alegria na primavera

 7 exist"ncia comum do (omem é como um ano no mundo vegetal F

tem a sua primavera, o seu ver+o, o seu outono e o seu inverno, porémsomente uma ve'

?ntretanto, os gigantescos carval(os que o rodeiam, passam por umcirculo de séries de verdura e )uventude, que v"m e v+o, e o verdor da árvorecentenária é t+o vigoroso debaixo dos raios do Aol de 9aio, como o dorenovo que está ao seu lado

 7o observar isto, o aspirante exclamou entusiasmado F

- ei de desfrutar desta primavera, sem nunca con(ecer o inverno

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?xtasiado em t+o ardentes e alegres ilus6es, Jlyndon saindo dobosque, encontrou-se no meio de campos cultivados e vin(as, que até ent+on+o (avia pisado aindaG e lá, K beira de uma verde alameda, que recordavaas paisagens da !nglaterra, via-se uma casa, meio c(oupana, meio gran)a

 7 porta estava aberta, e o )ovem reparou que (avia, nessa casa, umamo*a que fiava

 7 )ovem levantou a vista, deixou escapar um leve grito e, correndoalegremente pela alameda, veio ao encontro do !ngl"s que recon(eceu nela abela 2ilida

- Ail"ncio - disse a mo*a, pondo graciosamente o dedo sobre oslábios - M+o fale altoG min(a m+e está dormindo lá dentro ?u )á sabia quevin(a me visitar Domo é bom

Jlyndon, embora estivesse um pouco embara*ado, aceitou ocumprimento, sentindo que n+o o merecia tanto, pois que a sua c(egada forapuramente casual

- ?nt+o disse ele, - pensou em mim, linda 2ilida

- Aim, - respondeu a mo*a, corando, porém com essa franca eousada ingenuidade que caracteri'a as mul(eres da !tália, e especialmente asda classe baixa e das prov<ncias meridionais

- =( Aim, quase nem pensei em outra coisa 3aolo me disse quesabia que voc" vin(a ver-me

- 3aolo é seu parente - perguntou Jlyndon

- M+o, mas é um bom amigo de todos n0s = meu irm+o é do seubando

- 8o seu bando - exclamou o !ngl"s - = seu irm+o é umbandido

- M0s, os fil(os das montan(as, sen(or, n+o damos o nome debandido K um montan("s

- 3erdoeG porém, n+o teme Ks ve'es, pela vida do seu irm+o

- 7 Lei - 7 Lei n+o se atreve a penetrar nestes desfiladeiros @emerpor ele M+o = meu pai e o meu avI exercem a mesma profiss+o Quantasve'es ten(o dese)ado ser (omem

- 4uro-l(e, por seus formosos lábios, que me alegro por n+o se terreali'ado o seu dese)o

- =ra, sen(or ? ama-me por acaso - perguntou a mo*a

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- Dom todo o meu cora*+o - respondeu o !ngl"s

- ?u o amo também - retrucou ela, com uma candura que pareciainocente, enquanto Jlyndon l(e tomava a m+o

- 3orém, - prosseguiu, - voc" nos deixará em breve, e eu

 7 )ovem calou-se e algumas lágrimas apareceram nos seus ol(os

H preciso confessar que (avia nisto algo de perigoso

Dertamente, 2ilida n+o tin(a a ingenuidade angelical de >iolaG mas asua bele'a n+o era menos encantadora, ao menos para os sentidos

Jlyndon, talve', nunca (ouvesse amado deveras a >iolaG talve' ossentimentos que ela l(e inspirava n+o foram daquele caráter ardente que

merece o nome de amor

2osse como fosse, o certo é que, ao contemplar os ol(os negros de2ilida, Jlyndon acreditava n+o (aver amado nunca como agora

- ? n+o poderia deixar estas montan(as - murmurou o !ngl"s,aconc(egando ternamente a mo*a ao peito

- >oc" me fa' tal pergunta - disse 2ilida, retrocedendo e fixando ool(ar firmemente em sua face - Aabe o que somos n0s, as fil(as dasmontan(as >oc"s, alegres e lison)eiros caval(eiros das cidades, rarasve'es sentem o que di'em 3ara voc"s, o amor é uma distra*+oG para n0s, éa vida 8eixar estas montan(as 3ois bem 9as eu n+o poderia deixar o meucaráter

- Juarde-o, e sempre, pois é t+o gentil

- Aim, gentil, enquanto me for fielG porém terr<vel, quando deixar de oser 8evo di'er-l(e o que eu sou, o que somos n0s, as mo*as deste 3a<s 2il(as de (omens a quem voc"s c(amam bandidos, aspiramos sercompan(eiras dos nossos amantes ou dos nossos maridos 7mamos

apaixonadamente, e confessamo-la com audácia 3ermaneceremos a seulado nos momentos de perigo, nas (oras de tranqRilidade, os servimos comoescravasG n0s nunca mudamos, porém ressentimo-nos, se voc"s mudam emseu amor 3odem ral(ar-nos, bater-nos, pisar-nos como c+es, e tudosuportaremos, sem murmurarG porém, se nos traem, somos mais implacáveisdo que o tigre Ae)am-nos fiéis, e os nossos cora*6es l(es premiar+oGenganem-nos, e as nossas m+os saber+o vingar-nos 7ma-me agora

?nquanto a !taliana assim falava, a sua fisionomia ia se animando,acompan(ando eloqRentemente as suas palavras, - ora ternas, oraamea*adoras, mas sempre francas, - e, ao fa'er a 5ltima pergunta, inclinou a

cabe*a (umildemente e permaneceu silenciosa, diante de Jlyndon, como seesperasse com medo a resposta

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= caráter indImito, valente e varonil de 2ilida, embora impr0prio parauma )ovem da sua idade, n+o abateu, mas antes cativou o !ngl"s, de modoque este respondeu imediatamente, e sem titubear F

- Aim, 2ilida

 7(, sim Dertamente, Dlar"ncio Jlyndon @odo (omem de caráterleviano responde facilmenteG sim, quando uns lábios t+o rosados l(e fa'emsemel(ante pergunta

@en(a cuidado @en(a cuidado

3or que diabos, 9e)nour, deixou o seu disc<pulo com a idade de vintee quatro anos, K merc" dessas feiticeiras da montan(a

3rega )e)uns e abstin"ncia, e recomenda ao seu ne0fito que renuncieaos enganos dos sentidos

!sto é fácil para si, sen(or, que tem a idade, 8eus sabe de quantosAéculosG porém, se aos seus vinte e quatro anos o seu ierofante l(e tivessedeixado no camin(o de 2ilida, (averia tido, penso eu, muito pouco gosto deestudar a Dabala

=s dois )ovens permaneceram )untos durante tempo, conversando efa'endo-se m5tuos )uramentos, até que a m+e da mo*a a c(amouG ent+o2ilida, pondo outra ve' o dedo nos lábios, voltou rapidamente K sua roca

- á mais magia em 2ilida do que em 9e)nour, - di'ia Jlyndon,consigo mesmo, regressando alegremente K sua moradaG - n+o obstante,quando reflito, n+o seise me convém um caráter t+o disposto K vingan*a3orém, quem possui o verdadeiro segredo, (á de poder livrar-se também davingan*a de uma mul(er e evitar todo perigo

>el(aco 4á medita na possibilidade da trai*+o

 7( Ca'+o tin(a Zanoni em di'er que :quem deita água limpa em um

copo enlameado, n+o fa' mais do que agitar a lama;

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CAPÍTULO VII 

:Dernis, custodia qualis>estibulo sedeat quae limina servet ; 7?neid, lib >!, ^/%h

>"s que guarda está sentado no vest<bulo Que face vigia o umbral

Moite profunda

@udo no vel(o castelo repousa, - um sil"ncio sepulcral reina sob asmelanc0licas estrelas

H o tempo prop<cio

9e)nour, com sua sabedoria austeraG 9e)nour, o inimigo do amorG9e)nour, cu)os ol(os ler+o no seu cora*+o e l(e negará os segredosprometidos, porque o belo semblante de 2ilida perturba essa exist"ncia,9e)nour virá aman(+ 7proveite esta noite M+o ten(a medo 7gora oununca

 7ssim intrépido )ovem - intrépido, a despeito de todos os teus erros, -assim, com pulso firme, a sua m+o abre outra ve' a porta vedada

Jlyndon colocou a sua lâmpada ao lado do livro, que ainda estava aliabertoG virou uma fol(a e outras, porém sem poder decifrar o seu significado,até que c(egou ao trec(o seguinte F

:Quando, pois, o disc<pulo está desta maneira iniciado e preparado,deve abrir a )anela, acender as lâmpadas e umedecer as suas fontes com oelixir 9as que ten(a o cuidado de n+o se atrever a tomar muita coisa dovolátil e fogoso esp<rito 3rová-lo, antes que, por meio de repetidas inala*6es,o corpo se (a)a acostumado gradualmente ao extático liquido, é buscar, n+o avida, mas sim a morte;

Jlyndon n+o pIde penetrar mais adiante nas instru*6esG pois aqui as

cifras novamente estavam mudadas= )ovem pIs-se a ol(ar fixa e seriamente ao redor de si, dentro do

quarto

=s raios da Lua entraram silenciosamente através da cortina, quandoa sua m+o abriu a )anela, e assim que a sua misteriosa lu' se fixou nasparedes e no solo da (abita*+o, parecia como se tivesse entrado nela umpoderoso e melanc0lico esp<rito

8epois, preparou as nove lâmpadas m<sticas em torno do centro do

quarto, e acendeu-as, uma por uma

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8e cada uma delas brotou uma c(ama de a'ul prateado, espal(andono aposento um resplendor tranqRilo, porém ao mesmo tempo deslumbrante

?sta lu' foi-se tornando, pouco a pouco, mais suave e pálida,enquanto uma espécie de fina nuvem parda, semel(ante a uma névoa, se

espar'ia gradualmente pelo quartoG e subitamente um frio agudo e penetranteinvadiu o cora*+o do !ngl"s e estendeu-se por todo o seu corpo, como o frioda morte

= )ovem, con(ecendo instintivamente o perigo que corria, quis andar,porém ac(ou nisso grande dificuldade, porque as suas pernas se (aviamtornado r<gidas como se fossem de pedraG contudo, pIde c(egar K prateleiraonde estavam os vasos de cristal

 7pressadamente inalou um pouco do maravil(oso esp<rito, e lavou assuas fontes com o cintilante l<quido

?nt+o, a mesma sensa*+o de vigor, )uventude, alegria e leve'a aéreaque (avia sentido pela man(+ substitu<ram instantaneamente oentorpecimento mortal que um momento antes l(e invadira o organismo,pondo em perigo a sua vida Jlyndon cru'ou os bra*os e, impávido, esperouo que sucederia

= vapor (avia, agora, assumido quase a densidade e a aparenteconsci"ncia de uma nuvem de neve, por entre a qual as lâmpadas lu'iamcomo estrelas

= !ngl"s via distintamente algumas sombras que, assemel(ando-se,em seu exterior, Ks formas (umanas, moviam-se, devagar e com regularesevolu*6es, através da nuvem

?stas sombras eram corpos transparentes, evidentemente semsangue e contraiam e dilatavam-se como as dobras de uma serpente

?nquanto se moviam vagarosamente, o )ovem ouvia um som débil ebaixo, como se fosse o espetro de uma vo', que cada uma daquelas formasapan(ava de outras e a outras transmitia, como em um ecoG um som baixo,

porém musical, e que se assemel(ava ao canto de uma inexprim<vel etranqRila alegria

Men(uma dessas apari*6es reparava nele

= veemente dese)o que ele sentia, de aproximar-se delas, de ser umdo seu n5mero, de executar um daqueles movimentos de aérea felicidade, -pois assim l(e parecia que (avia de ser a sensa*+o que as acompan(ava, -fe' com que estendesse os seus bra*os, esfor*ando-se por c(amar, com umaexclama*+o, a aten*+o desses seresG porém somente um murm5rioinarticulado saiu dos seus lábiosG e o movimento e a m5sica seguiam, como

se n+o (ouvesse ali nen(um ser mortal

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 7queles Aeres etéreos, semel(antes a sombras, desli'avamtranqRilamente pelo quarto, girando e voando, até que, na mesma ma)estosaordem, um atrás do outro, saiam pela )anela e se perdiam na lu' da LuaGdepois, enquanto os ol(os de Jlyndon os seguiam, a )anela se obscureceucom algum ob)eto, ao in<cio indistinto, porém que, por um mistério,

foisuficiente para mudar, por si s0, em inefável (orror o pra'er que o )ovemexperimentara até ent+o

?ste ob)eto foi gradualmente tomando forma

 7os ol(os do !ngl"s, parecia ser uma cabe*a (umana, coberta comum véu preto, através do qual lu'iam, com bril(o demon<aco, dois ol(os quegelavam o sangue em suas veias

Mada mais se distinguia no rosto da apari*+o, sen+o aqueles ol(osinsuportáveisG porém, o terror, que o )ovem sentia e que, ao in<cio, parecia

irresist<vel, aumentou mil ve'es ainda, quando, depois de uma pausa, ofantasma entrou devagar, no interior do quarto

 7 nuvem se retirava da apari*+o, K medida que esta se aproximavaGas claras lâmpadas empalideciam e tremelu'iam inquietas, como tocadaspelo sopro do fantasma

= corpo, este se ocultava debaixo de um véu, como o rostoG porém,por sua forma, adivin(ava-se que era uma mul(erG n+o se movia como ofa'em as apari*6es que imitam os vivosG mas parecia antes se arrastar comoum enorme réptilG e, parando um pouco, curvou-se, por fim, ao lado da mesa,sobre a qual estava o m<stico volume, e fixou novamente os seus ol(os,através do t"nue véu, sobre o temerário invocador

= pincel mais fantástico e mais grotesco dos monges pintoresmedievais, ao retratar o demInio infernal, n+o teria sido capa' de dar-l(e oaspecto maligno t+o (orr<vel que se via nesses ol(os aterrori'antes

= corpo do fantasma era t+o preto, impenetrável e indistingu<vel, quelembrava uma monstruosa larva

3orém, aquele ol(ar ardente, t+o intenso, t+o l<vido e, n+o obstante,t+o vivo, tin(a em sialgo que era quase (umano em sua máxima express+ode 0dio e escárnio, algo que revelava que a (orripilante apari*+o n+o era ummero esp<rito, mas que tin(a bastante matéria para, ao menos, apresentar-semais terr<vel e amea*adora, como inimiga dos seres (umanos encarnados

Jlyndon, estarrecido e apavorado, parecia querer agarrar-se KparedeG os seus cabelos se eri*aram, os ol(os pareciam querer saltar-l(e das0rbitas e n+o se apartaram dos ol(os coruscantes do fantasma

3or fim, este falou, com uma vo' que antes falava K alma do que ao

ouvido F

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- ?ntrou na regi+o imensurável ?u sou o ?spectro do Pmbral = queé o que quer de mim M+o responde @eme-me M+o sou eu a suaamada 7caso n+o tem sacrificado por mim os pra'eres da sua ra*a Querser sábio ?u possuo a sabedoria dos Aéculos inumeráveis >en(a, bei)e-me, 0 meu querido mortal

? enquanto o (orroroso fantasma di'ia estas palavras, arrastava-secada ve' mais para perto de Jlyndon, até que veio pIr-se a seu lado, o )ovemsentiu em sua face o alento do espectro

Aoltando um agudo grito, caiu, desmaiado, ao c(+o, e nada maissoube do que ali se passou, pois quando, ao meio-dia do dia seguinte, tornoua sie abriu os ol(os, encontrou-se em sua cama

=s raios do Aol bril(ante entravam no seu quarto através das gelosiasda sua )anela e 9estre 3aolo, )unto ao seu leito, limpava a carabina e

assobiava uma amorosa can*+o Dalabresa

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CAPÍTULO VIII 

:= (omem, pois, segue a senda dura,M+o diminuindo esfor*os seus,até que l(e ven(a a ventura,

Que cai do seio do alto 8eus;

Ac(iller 

Zanoni (avia fixado a sua morada em uma dessas il(as, cu)a (ist0riaa imperec<vel literatura e a fama de 7tenas revestem ainda de melanc0licointeresse, e nas quais a Mature'a, na qual :nada (á de melanc0lico;, aindaoferece vistas magn<ficas e um clima radiante para o (omem, se)a ele livre ouescravo, e se)a !Inio, >ene'iano, Jaul"s, @urco ou um altivo !ngl"s

 7li o ar circula impregnado de suaves aromas, que das plan<cies levamuitas mil(as ao longo do a'ul e transl5cido mar

>ista de uma das suas verdes colinas, a il(a que Zanoni escol(eraparecia um delicioso )ardim

 7s torres e torre'in(as da sua capital bril(avam no meio de bosquesde laran)eiras e limoeirosG vin(as e oliveiras enc(iam os vales, e subiam pelasladeiras das pitorescas colinasG e quintas, gran)as e cabanas estavamcobertas de vi*osas latadas de fol(as verde-escuras e purp5reas frutas

 7 bele'a, de que a Mature'a ali se mostra t+o pr0diga, como que )ustifica aquelas graciosas supersti*6es de uma cren*a, segundo a qual,demasiadamente enamoradas da terra, as divindades preferiam antes baixarK ela, para aqui fa'erem compan(ia ao (omem, do que elevar o (omem aoseu menos fagueiro e menos voluptuoso =l<mpo

 7li o pescador se entrega ainda Ks suas dan*as antigas sobre a areiaGa )ovem adorna ainda com fios prateados as suas sedosas tran*as debaixo dafrondosa árvore que fa' sombra K sua tranqRila cabanaG e a mesma Jrande

9+e que vigiou sobre o sábio de Aalmos, sobre a 8emocracia de DorciraS Dorf5 T e sobre a profunda e encantadora doutrina de 9ileto, sorri agora t+ograciosamente como naqueles remotos tempos

3ara os 3a<ses do Morte, a 2ilosofia e a liberdade s+o indispensáveisK felicidade (umanaG na terra onde 7frodite surgiu das ondas para governar,quando as ?sta*6es, com as m+os dadas, se colocaram K beira do mar, parasaudá-la S&/T, a Mature'a é, em tudo, suficiente

 7 il(a, onde Zanoni fixara a sua resid"ncia, era uma das maisencantadoras naquele mar divino

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 7 sua morada, um tanto distante da cidade, mas pr0xima de uma dasenseadas do litoral, pertencia a um >ene'iano e, ainda que pequena, era deforma mais elegante do que as casas que costumam edificar os Jregos

Mo mar, K sua vista, estava ancorado o navio de Zanoni

=s seus indus, como antes, fa'iam, com o máximo 'elo e seriedade,o servi*o doméstico

M+o podia (aver um local mais belo, nem um retiro mais solitário

3ara o misterioso saber de Zanoni, e para a inocente ignorância de>iola, o bul<cio e a ostenta*+o do mundo civili'ado n+o tin(am atra*+o

Pm céu amoroso e uma terra amável s+o compan(eiros suficientes KAabedoria e K !gnorância, quando estas amam

 7inda que, como )á disse antes, nada de particular oferecessem asvis<veis ocupa*6es de Zanoni, que pudesse revelar nele um cultivador dasci"ncias ocultas, os seus (ábitos eram os de um (omem que medita,rememora e reflete

Jostava muito de passear so'in(o, principalmente ao aman(ecer, oude noite, K claridade da Lua e, sobretudo quando a Lua se levantava equando era c(eia1G e andava mil(as e mil(as pelo rico interior da il(a,col(endo ervas e flores, que guardava com 'eloso cuidado

 [s ve'es, ao expirar a noite, >iola despertava, porque uma espéciede instinto a advertia que Zanoni n+o estava a seu lado e, estendendo osseus bra*os, verificava que n+o se enganara

Dedo, porém, notou que ele guardava grande reserva sobre o queconcernia aos seus (ábitos secretosG e se, Ks ve'es, algum negro presságiodo cora*+o, algum terror suspeito a assaltava, >iola n+o se atrevia aperguntar-l(e o significado de semel(antes coisas

3orém, nem sempre passeava Zanoni sem compan(iaG também

gostava de fa'er excurs6es menos solitáriasDom freqR"ncia, quando o mar estava bem tranqRilo, parecendo um

calmo lago, e a estéril e melanc0lica costa de Defalonia, que se avistava nolado oposto, contrastava com a rison(a praia onde moravam, passeavaZanoni, acompan(ado de >iola, cru'ando devagar ao longo da costa, ouvisitando as il(as vi'in(as

@odos os lugares do solo Jrego, :essa linda terra da fábula;,pareciam-l(e familiaresG e quando falava do passado e das suas esquisitastradi*6es, fa'ia-o de tal maneira que levava >iola a amar a ra*a que nos

legara a poesia e a sabedoria que (o)e possui o mundo

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 [ medida que >iola ia con(ecendo Zanoni, sentia aprofundar-se afascina*+o que esse (omem misterioso, desde o primeiro dia, irradiara sobreela

= amor que ele l(e professava era t+o terno, t+o vigilante e tin(a

aquele mel(or e mais duradouro atributo, que parecia antes ser grato pelafelicidade de poder cuidar dela, do que assoberbar-se com a dita que l(eproporcionava

 7s maneiras (abituais deste (omem singular, como todos os quetin(am que tratar com ele, eram calmas, polidas e quase apáticas

Munca saia dos seus lábios uma palavra colérica, nunca bril(ava a iraem seus ol(os

Pm dia foram expostos a um grande perigo, bastante comum naquele

tempo e naquelas terras semi- selvagens

 7lguns piratas, que infestavam as costas vi'in(as, (aviam ouvidofalar da c(egada dos estrangeiros, e os marin(eiros, que Zanoni empregara,(aviam espal(ado not<cias sobre a rique'a deste

Pma noite, depois de ter-se retirado para descansar

>iola foidespertada por um leve ru<do que se ouvia na parte inferior dacasa Zanoni n+o estava ao seu ladoG assim, se pIs a escutar, bastantealarmada

3arecia-l(e ouvir um gemido

>iola levantou-se e dirigiu-se para a portaG tudo estava tranqRilo

Pm instante depois ouviu passos que se aproximavam lentamente, eZanoni entrou, com sua calma (abitual, sem que parecesse advertir o medoque sentia a sua esposa

Mo dia seguinte, foram encontrados tr"s (omens mortos no umbral da

entrada principal, cu)a porta (avia sido for*ada=s vi'in(os recon(eceram neles tr"s dos mais sanguinários e

terr<veis saqueadores daquelas costas, (omens que (aviam cometidoin5meras mortes, e que, até aquele dia, nunca (aviam fracassado em seuspro)etos de rapina

 7s numerosas pisadas, que se notavam até K praia, indicavam que osc5mplices desses tr"s malfeitores (aviam fugido, de certo, ao verem mortosos seus c(efes

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3orém, quando o provedor, que era a autoridade da il(a, veioaveriguar o fato, apurou que aqueles ladr6es (aviam encontrado a morte deuma forma misteriosa e inexplicávelZanoni n+o (avia sa<do do gabineteonde, ordinariamente, se ocupava com estudos qu<micos

Men(um dos seus criados (avia sido interrompido no sono

Mos cadáveres n+o se notava o menor sinal de viol"ncia (umana

=s bandidos morreram, sem se saber como

8esde aquele momento, a casa de Zanoni tornou-se sagrada

 7s povoa*6es vi'in(as rego'i)aram-se ao saber que estavam livres deum flagelo, e ol(avam Zanoni com grande respeito, considerando-o comopessoa especialmente protegida pela 8ivindade

Dom efeito, aqueles Jregos de viva imagina*+o, t+o facilmenteacess<veis a todas as impress6es externas, admiradas da singular ema)estosa bele'a de um (omem que con(ecia o seu idioma como e fosse do3a<s cu)a vo' os consolou muitas ve'es em suas afli*6es, e cu)a m+o estavasempre aberta para socorrer aos necessitados, ainda muito tempo depoisdele abandonar essas praias, conservaram a lembran*a dele em gratastradi*6es e mostravam o alto plátano, debaixo do qual o tin(am visto sentadomuitas ve'es, s0 e pensativo, nas (oras quentes do meio-dia

Zanoni, porém, tin(a outras paragens, em que era mais dif<cil v"-lo doque K sombra do plátano

Maquela il(a existem os mananciais betuminosos, mencionados porer0doto

2reqRentemente, de noite, se n+o os (omens, ao menos a Lua via omisterioso estrangeiro emergir entre os mirtos e cistos que cobriam as colinasdos arredores do pântano que contém a inflamável matéria, cu)os usosmedicinais, aplicados aos nervos da vida orgânica, a ci"ncia moderna talve'ainda n+o ten(a estudado bastante

9ais ve'es, ainda, passava Zanoni as suas (oras em uma cavernasituada na parte mais solitária da praia, onde as estalactites pareciam (aversido colocadas ali pela m+o da arte, e a qual a supersti*+o dos camponesesassocia, em várias lendas antigas, como os numerosos e quase incessantesterremotos, a que a il(a está t+o singularmente exposta

@odas as excurs6es K estes locais prediletos estavam ligadas ousubordinadas a um constante principal dese)o, que se confirmava eaumentava cada dia que Zanoni passava na compan(ia (umana de >iola

 7 cena que Jlyndon presenciara no seu :transe; era verdadeira ereal

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? poucos dias depois daquela noite >iola sentiu vagamente que umainflu"ncia, cu)a nature'a ela ignorava, lutava para interpor-se no meio da suavida feli'

>is6es indistintas e belas, como Ks que tivera nos dias da sua

infância, porém, mais constantes e impressionáveis, come*aram a visitá-la,de dia e de noite, quando Zanoni se ac(ava ausente, desvanecendo-sequando ele voltava K sua presen*a

Zanoni l(e fa'ia freqRentes e minuciosas perguntas a respeito destasapari*6esG porém as respostas da esposa o deixavam, ao que parecia, poucosatisfeito e, Ks ve'es, até perplexo

- M+o me fale - disse-l(e ele, um dia - dessas desconexas imagens,dessas evolu*6es de bril(antes figuras que dan*am em coro, nem dessasdeliciosas melodias que l(e parecem ser a m5sica e a linguagem de esferas

distantesG mas, diga-me F n+o tem visto uma figura mais distinta e mais belado que as demais, que n+o fala, ou, se o fa', parece exprimir-se em suapr0pria l<ngua, e di'er, em vo' baixa, estran(os segredos e solenescon(ecimentos

- M+o, - respondeu >iolaG - tudo é confuso nestes son(os, ven(am dedia ou de noiteG e quando, ao ru<do dos seus passos, volto a mim, a min(amem0ria n+o guarda mais do que uma vaga impress+o de felicidade Qu+odiferente e qu+o frio, é isso, em compara*+o com o pra'er que sinto quando,contemplando o sorriso dos seus lábios, ou*o a sua vo' que me di' F - :?u aamo ;

- 3orém, como é que vis6es menos formosas do que estas l(epareciam t+o fagueiras em outro tempo Domo é que, ent+o, excitavam assuas fantasias e enc(iam o seu cora*+o =utrora dese)ou (abitar uma terrasemel(ante K das fadas e agora parece que se contenta com a vida comum

- M+o l(e expliquei uma ve' H, acaso, uma vida comum, amar eviver ao lado daquele que se ama 3ois )á estou na terra das fadas, pela qualeu tanto anelava M+o me fale de outra

? assim os surpreendia a noite, na solitária praiaG e Zanoni, afastadodos seus pro)etos mais sublimes, pelo encanto do amor, e inclinando-se sobreo formoso semblante de >iola, esquecia que, no (armonioso infinito que osrodeava, (avia outros mundos além daquele cora*+o (umano

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CAPÍTULO IX 

:á um princ<pio da alma, superior a toda a nature'a, por meio doqual somos capa'es de elevar-nos acima da ordem e dos sistemas do

mundo Quando a alma subiu tanto que c(egou )unto a nature'as mel(oresdo que é ela mesma, ent+o é inteiramente separada das nature'assubordinadas, troca esta vida por outra e, escapando K ordem das coisas comque estava em rela*+o, passa totalmente a outra ordem, que é mais alta;

4âmblico

- 7donai Y 7donai 7parece 7parece ?xclamou Zanoni

?, na solitária caverna, de onde, em outro tempo, (aviam sa<do osoráculos de um deus pag+o, emergiu, das sombras das fantásticas roc(as,

uma luminosa e gigantesca coluna de vapor, radiante e variada 7ssemel(ava-se K resplandecente e, ao mesmo tempo, nebulosa espumaque, vista de longe, uma fonte parece enviar ao estrelado firmamento 7quelalu', iluminando as estalactites, as roc(as e os arcos da caverna, espal(avaum pálido e tr"mulo esplendor sobre as fei*6es de Zanoni

- -il1o da Lu) !terna, - disse o invocador, - tu, cu)a sabedoria, grauap0s grau, ra*a ap0s ra*a, por fim pude alcan*ar, nas vastas plan<cies daDaldéiaG tu, de quem sorvit+o copiosamente o inexprim<vel saber que s0 aeternidade mesma pode exaurir, tu, que sendo congenial comigo, quanto adiferen*a dos nossos rec<procos seres permitem, por muitos Aéculos fostemeu amigo familiar, responde-me e aconsel(a-me

 7penas Zanoni acabou de pronunciar estas palavras, emergiu dacoluna uma figura maravil(osamente bela, o seu semblante era como o de um(omem em sua )uventude, mas era grave, revelando a consci"ncia da suaimortalidade e a tranqRilidade da sua sabedoriaG uma lu', semel(ante aosraios de estrelas, corria em suas transparentes veiasG de lu' eram os seusmembros, e a lu' corria, em cont<nuas fa<scas, pelas ondas do seu bril(antecabelo

Dom os bra*os cru'ados sobre o peito, a luminosa apari*+o parou emfrente de Zanoni, separada dele apenas alguns pés, e a sua (armoniosa vo'murmurou brandamente F

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- =s meus consel(os te eram muito agradáveis em outro tempo,quando, cada noite, a tua alma seguia as min(as asas através dosimperturbáveis esplendores do !nfinito 7gora te ac(as ligado K terra pelosseus mais fortes la*os e a atra*+o da matéria terrena é mais poderosa do queas simpatias que atraiam a teus encantos o abitante do 7r e dos 7stros 7

5ltima ve' que a tua alma me escutava, entre o oceano e o firmamento osteus sentidos )á turvavam o teu intelecto e obscureciam a tua vis+o >en(o a timais uma ve', agoraG porém o teu poder de tra'er-me a teu lado )á vaidesvanecendo-se do teu esp<rito, como o Aol perde a for*a de iluminar asondas, quando os ventos interp6em uma nuvem entre o oceano e ofirmamento

- 7( 7donai - respondeu o vidente, com triste'a - ?u con(e*odemasiado bem as condi*6es, que é absolutamente necessário observar,quando se quer go'ar a felicidade de tua presen*a Aei que a nossasabedoria dimana s0 da indiferen*a pelas coisas do mundo, Ks quais se

sobrep6e a ci"ncia = espel(o da alma n+o pode refletir, a um mesmo tempo,o céu e a terraG um destes desaparece da sua superf<cie, quando o outro nelase retrata 3orém, n+o é para elevar-me novamente Kquela sublimeabstra*+o, onde o intelecto, livre e sem o peso do corpo, sobe, de regi+o emregi+o, Ks esferasG que eu, mais esta ve', e isto com a ang5stia e trabal(o deum poder debilitado, te c(amei para me a)udares 7moG e este amor fa' comque eu comece a viver na doce (umanidade de outra pessoa @en(o ainda ocon(ecimento e o poder para desviar qualquer perigo que ameace a mimmesmo, ou Ks pessoas a quem posso ol(ar da calma altura aonde me eleva acontempla*+o indiferenteG mas sou cego, como o mais (umilde mortal, parapenetrar os destinos da criatura que fa' palpitar o meu cora*+o com paix6esque obscurecem a min(a vista

- Que importa - respondeu 7donai - = teu amor n+o pode ser maisdo que uma ilus+oG pois tu n+o podes amar como aqueles a quem aguarda amorte e o t5mulo 8entro de um tempo muito breve, que é como um dia emtua incalculável exist"ncia, o ob)eto que idolatras n+o será mais do que umpun(ado de p0 =s demais Aeres do mundo vulgar marc(am )untos pelocamin(o da sua vida ef"mera, ao t5muloG e )untos tornam a subir, de simplesvermes, a novos ciclos de exist"ncia 7 ti aguardam, nesta terra, AéculosG Kela, apenas (oras ? a v0s ambos, - 0 pobre, porém poderoso (omem -

ainda vos aguarda um encontro posterior 3or quantos graus e céus deexist"ncia espiritual terá passado a alma dela, quando tu, solitário vagabundo,dos vapores da terra subires Ks portas da lu'

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- 3ensas 0 2il(o da Lu' ?terna, - replicou Zanoni, - que esta idéia seaparta um instante da min(a mente M+o v"s que te invoquei para ouvir-te epara que auxilies no meu prop0sito M+o l"s o meu dese)o e son(o de elevarKs condi*6es da sua nature'a Ks da min(a @u, 7donai, ban(ado da alegriaceleste, que constituia tua vida nos oceanos do esplendor eterno, tu n+o

podes, salvo pelas simpatias do saber, imaginar o que eu, fil(o de mortais,sinto privado ainda dos ob)etos da tremenda e sublime ambi*+o que, aoprincipio, elevou as asas dos meus dese)os acima da matéria terrestre,quando me ve)o obrigado a vagar s0 neste baixo mundo ?m v+o busqueiamigos entre os da min(a espécie 3or fim, encontrei uma compan(eira 7saves e os animais silvestres t"m, cada um, a suaG e o meu poder sobre osseres malignos do terror pode banir as larvas destes, do camin(o quecondu'irá a min(a amada Ks alturas, até que o ar da eternidade prepare oseu corpo para o elixir que defende contra a morte

- ? tu come*aste a !nicia*+o, e n+o obtiveste o resultado que

esperavas ?u o sei Don)urastes em teus son(os, as mais belas vis6esGinvocaste os mais amáveis fi l(os do ar para que murmurassem a sua m5sicadurante o :transe; delaG mas a sua alma n+o fe' caso destas apari*6es edestas melodias, e evade-se da sua influ"ncia, quando volta K terra Dego M+o sabes por que M+o percebes 3orque em sua alma tudo é amor M+oexiste nela nen(uma paix+o intermediária, com que possa ter associa*+o eafinidade, as coisas com que dese)as impressioná-la 7 atra*+o destas coisasn+o age sen+o sobre o dese)o do intelecto Que é que t"m elas que ver comuma paix+o que é puramente da terra, e com a esperan*a que vaidiretamente ao céu

- 3orém, n+o pode (aver um meio, um elo que una as nossas almas,assim como s+o unidos os nossos cora*6es, e pelo qual a min(a alma exer*ainflu"ncia sobre a sua

- M+o me perguntes, - n+o me compreenderias

- 2ala, eu te suplico

- M+o sabes que, quando duas almas est+o separadas, uma terceira,na qual ambas se encontrem e vivam, é o elo que as une

- Dompreendo-te, 7donai, - exclamou Zanoni, e um raio de alegriamais (umana iluminou o seu semblante, dando-l(e um aspecto de felicidadeque nunca antes se l(e advertira

- ? se o meu destino, - acrescentou, - que t+o obscuro se apresenta Kmin(a vista, me concede o feli' dote que proporciona aos Aeres (umildes, seeu, algum dia, pude apertar ao meu peito um fil(o meu

- ? é para tornar a ser (omem, que tu aspiraste a ser mais do que(omem

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- 3orém, um fil(o, - uma segunda >iola - murmurou Zanoni, quase )ásem atender ao 2il(o da Lu'G uma )ovem alma, recém-vinda do céu, a qual eupoderia guiar desde o primeiro instante em que ela tocar a terra, cu)as asaspoderei exercitar para seguirem as min(as no vIo por entre as grande'as egl0rias da cria*+oG e, por meio da qual, também a m+e poderá libertar-se do

poder da morte

- 3orém, ten(a cuidado Ceflete - advertiu 7donai -M+o sabe que oteu maior inimigo (abita no que se c(ama 9undo Ceal =s teus dese)os televam cada dia mais perto da (umanidade- 7(, ser um ente (umano é t+odoce - respondeu Zanoni

? enquanto ele o di'ia, na gloriosa face de 7donai cintilou um sorriso

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CAPÍTULO X 

:kterna ternus tribuit, mortalia confert9ortalisG divina 8eus, peritura caducus;

 7urel 3rud contra Aymmac(um, lib !!

= ?terno dá coisas eternasG o mortal col(e coisas mortaisG8eus, oque é divinoG e o (omem mortal, o que é perecedouro

!@TR4TOS D4S #4RT4S D! Z4NONI > !?NOUR

#4RT4 I

:M+o me participaste os progressos do teu disc<puloG e eu temo queas circunstâncias, que formam as mentes das gera*6es atuais, se)am t+odiferentes das que dominavam no tempo dos persistentes e muito sérios fil(osdo mundo primitivo, que até um ne0fito de nature'a mais elevada e pura doque o que admitiste a entrar em tuas portas, n+o se)a capa' de passar bempelas provas da !nicia*+o, mesmo que tu o guies cuidadosa e prudentemente=s fil(os do mundo setentrional nem con(ecem aquele terceiro estado deexist"ncia, que os sábios da ]ndia S&$T designam )ustamente como umatransi*+o entre o sono e a vig<lia, e que descrevem imperfeitamente pelonome de :transe;G e bem poucos seriam os que quereriam go'ar da suapovoada calma, porque a considerariam como :9aya; e ilus+o da mente

?m ve' de preparar e cultivar este aéreo solo, do qual a Mature'a,devidamente con(ecida, pode evocar frutos t+o ricos e flores t+o belas,somente se esfor*am por exclu<-lo do (ori'onte da sua vistaG a luta dointelecto do (omem, que, do seu mundo estreito, quer abrir passo K pátriainfinita, consideram como uma enfermidade, que o médico deve extirpar comfarmácia e drogas, e nem sabem que é a esta condi*+o da sua exist"ncia, emsua forma mais imperfeita e infantil, que a poesia, a m5sica, a arte tudo o quepertence a uma idéia de bele'a, a que nem o sono, nem a vig<lia podemfornecer um arquétipo e semel(an*a, devem a sua imortal origem

Quando n0s, 0 9e)nour, éramos ne0fitos e aspirantes, pertenc<amosa uma classe, K qual o mundo atual estava fec(ado e interdito 3ara osnossos avo"ngos, a vida n+o tin(a outro ob)eto, a n+o ser a ci "ncia 8esde ober*o, estávamos n0s predestinados e educados para a sabedoria, comopara um sacerd0cio M0s come*ávamos nossos estudos, onde a modernacon)etura cerra suas aleivosas asas

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?, para n0s, eram os elementos comuns de uma ci "ncia, essascoisas que os sábios de (o)e desden(am como uma quimera, ou de quedesesperam como de impenetráveis mistérios 7té os princ<piosfundamentais, as vastas, porém simples teorias da eletricidade e domagnetismo, permanecem envoltas em obscuridade, no meio das disputas

das suas obcecadas escolas Aem embargo, ainda em nossa )uventude, qu+opoucos c(egavam ao primeiro c<rculo da !rmandade, e quantos, depois deterem entrado no go'o dos sublimes privilégios que (aviam procurado,abandonavam voluntariamente a lu' do Aol, e caiam, sem esfor*o no t5mulocomo peregrinos em um deserto, sub)ugados pela calma da sua solid+o eespantados pela imensidade sem limite

@u, em quem nada parece viver sen+o o dese)o de saberG tu, queindiferente K felicidade, K dor, te prestas a a)udar todos os que buscam asenda da misteriosa ci"ncia, e és como um livro em forma (umana, insens<velaos preceitos que enuncia, sempre tentaste, e muitas ve'es conseguiste

aumentar o nosso n5mero 7 estes, porém, foram concedidos apenassegredos parciaisG a vaidade e as paix6es os tornaram indignos do resto dosaberG e agora, sem outro interesse que o de uma experi"ncia ci ent<fica, semamor e sem piedade, exp6e esta nova alma aos perigos da tremenda prova!niciática

3ensa que um caráter t+o indagador, e uma coragem t+o absoluta eintrépida podem ser suficientes para vencer, onde intelectos mais austeros evirtudes mais puras n+o puderam suportar a prova 3ensa também que ogerme de arte, que )a' na mente do pintor, posto que compreenda em siocompleto embri+o do poder e da bele'a, pode expandir-se, até que sedesenvolva dele a sublime flor da urea Di"ncia !sto, para o teu modo depensar, n+o é mais do que um novo ensaio A" afável para com o teu ne0fito,e se a sua nature'a te oferece um desengano nos primeiros degraus dasenda restitua-o ao 9undo Ceal, enquanto ainda é tempo para que possago'ar a curta vida exterior, que reside nos sentidos e que conclui na tumba

@u rirás, 0 9e)nour, quando vires que te admoesto desta maneira, e tefalo com t+o pouca esperan*a ?u, que sempre me negava a !niciar outrosem nossos mistérios, come*o, por fim, a compreender porque a grande Lei,que liga o (omem K sua espécie, mesmo quando procura apartá-lo mais da

condi*+o em que vivem os demais (omens, fe' de tua fria e impass<velci"ncia o elo que te une K tua ra*aG porque tu buscaste sempre convertidos edisc<pulosG porque ao veres, vida ap0s vida, apartar-se voluntariamente danossa luminosa =rdem, ainda aspira substituir os desaparecidos, e a repararas perdas, porque no meio dos teus cálculos infatigáveis e incessantes comoas rodas da Mature'a, te assusta a idéia de ver-se s0

= mesmo se sucede K mimG eu também, finalmente, busco umconvertido, um meu igual, eu também temo de me ver s0 ?stá acontecendoaquilo de que voc" me advertiu em outro tempo = amor redu' todas ascoisas a si mesmo =u me verei obrigado a descer K nature'a da pessoa que

amo, ou terei de elevar a sua nature'a K altura da min(a

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Domo qualquer coisa que pertence K verdadeira 7rte, sempre,necessariamente, teve atra*+o para n0s, cu)o ser está no ideal, de onde a 7rte descende, assim nesta bela criatura descobri, enfim, o segredo que meuniu a ela, desde o momento que a vi Mesta fil(a da m5sica, a m5sica,tornando-se uma parte do seu ser, transformou-se em poesia M+o foi o teatro

que a atraia, com suas ocas falsidadesG foi a terra que a sua imagina*+o (aviacriado, que o teatro l(e parecia centrali'ar e representar 7li a poesiaencontrou uma vo', ali lutou também, sob uma forma imperfeitaG e, depois,quando aquela terra )á era insuficiente para ela, retirou-se, voltando K suapr0pria morada

?sta poesia dava colorido aos pensamentos da )ovem, enc(endo-l(ea almaG n+o pedia palavras, nem criava coisasG produ'ia apenas emo*6es edesperdi*ava-se em son(os ?nfim, veio o amorG e ent+o a poesia, como umrio no mar, transfundiu ao amor as suas inquietas vagas, para, em seguida,emudecer em sua tranqRila profundidade, o eterno espel(o dos céus

? n+o será por meio desta poesia, que )a' em sua alma, que se possacondu'ir esta criatura K grandiosa poesia do universo [s ve'es, escutandoa sua despretensiosa conversa*+o, encontro oráculos em sua inconscientebele'a, como ac(amos estran(as virtudes em uma solitária flor >e)o que asua mente está amadurecendo debaixo dos meus ol(osG e, em sua admirávelfertilidade, que manancial inesgotável de belos e variados pensamentos

Y 9e)nour Quantos, da nossa =rdem, deslindando S investigando Tas Leis do universo, resolveram os enigmas da nature'a externa, e daobscuridade dedu'iram a lu' ? n+o é, acaso, o poeta, que estuda s0 ocora*+o (umano, um 2il0sofo maior do que eles todos

 7 ci"ncia e o ate<smo s+o incompat<veis Don(ecer a Mature'a ésaber que (á de existir um 8eus 9as, para saber isto, será necessárioexaminar o método e a arquitetura da cria*+o

Quando contemplo uma mente pura, por ignorante e infantil que se)a,parece-me que ve)o nela o 7ugusto Aer !material mais claramente do que emtodos os mundos de matéria que, K sua ordem, se movem pelo espa*o

@em ra'+o, a Lei fundamental da nossa =rdem, em estabelecer quen+o devemos participar nossos segredos sen+o Ks almas puras 7 maisterr<vel parte das provas está nas tenta*6es que o nosso poder oferece aocriminoso Ae fosse poss<vel a um (omem malévolo c(egar a possuir nossasfaculdades, que desordem poderia introdu'ir no mundo

2eli'mente, isto é imposs<velG a malevol"ncia desarmaria seu poderDonto com a pure'a de >iola, como voc", mais que em v+o, confiou no valorou no talento dos seus disc<pulos

3ode ser a testemun(a, 0 9e)nour, que, desde o remoto dia que

penetrei nos 7rcanos da nossa ci"ncia, nunca tentei empregar os seusmistérios para ob)etivos indignosG ainda que, ai

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 7 extens+o da nossa exist"ncia nos priva de ter uma pátria e um larGainda que a Lei que coloca toda a ci"ncia e toda a arte na abstra*+o dastumultuosas paix6es e a turbulenta ambi*+o da vida atual, nos prive deinfluenciar os destinos das Ma*6es, para que o céu ele)a agentes maisviolentos e mais cegosG sem embargo, por onde eu ten(a dirigido meus

passos, sempre me esforcei em socorrer aos desvalidos e em afastar a gentedo pecado = meu poder tem sido (ostil somente aos malvadosG e, n+oobstante, apesar de toda a nossa ci"ncia, s0 nos é permitido sermos, a cadapasso, os instrumentos do 3oder, do qual o nosso dimana

Domo é redu'ida, quase em nada, toda a nossa sabedoria,comparada com 7quela que dá as convenientes virtudes K mais insignificanteerva e povoa o mais diminuto gl0bulo com seus seres apropriados

?, ao passo que se nos permite exercer, Ks ve'es, uma influ"nciasobre a felicidade dos outros, qu+o misteriosamente as sombras obscurecem

o nosso pr0prio destino M+o podemos profeti'ar-nos o nosso pr0prio futuro Dom que tr"mula esperan*a, alimento a idéia de que poderei conservar paraa min(a solid+o a lu' de um imorredouro sorriso ;

#4RT4 II

:M+o me acreditando bastante puro para iniciar um cora*+o t+o puro,eu invoco, no seu transe, os (abitantes mais belos e mais ternos do espa*o,que forneceram K poesia, esta instintiva adivin(a da cria*+o, as idéias dosJ"nios e Ailfos ? estes seres eram menos puros do que os pensamentosdela, e menos ternos do que o seu amor M+o puderam elevá-la acima doseu (umano cora*+o, porque este possui o seu pr0prio céu especial;

 7cabo de contemplá-laG adormecida, ouvi-a suspirar o meu nome 7i !sto, que t+o doce é para os outros, tem sua amargura para mimG pois pensoqu+o breve poderá vir o tempo em que estará adormecida, sem son(ar,quando o cora*+o que l(e dita o meu nome estiver frio, e mudos os lábios queo pronunciam Qu+o diferentes s+o as duas formas sob as quais se apresentao amor

Ae o examinamos materialmente, se n+o consideramos nele mais do

que os seus la*os (umanos, seus go'os de um momento, a sua febreturbulenta e a sua fria rea*+o, como nos parece estran(o que esta paix+ose)a o supremo m0vel do mundoG que foi esta paix+o que ditou os maioressacrif<cios e fe' sentir sua influ"ncia sobre todas as Aociedades e sobre todosos temposG que foi a esta paix+o que os g"nios mais elevados e mais amáveisconsagraram sua devo*+oG que, se n+o (ouvesse o amor, n+o (aviacivili'a*+o, nem m5sica, nem poesia, nem bele'a, nem outra vida além dados animais

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3orém, examinemos o amor sob a sua forma mais celestial, em suamais absoluta abnega*+o, em sua <ntima rela*+o com tudo o que é maisdelicado e sutil no esp<rito, o seu poder sobre tudo o que é s0rdido naexist"nciaG o seu dom<nio sobre os <dolos de mais ab)eta adora*+oG a(abilidade para transformar em palácio uma cabana, em oásis o deserto, e

para converter em ver+o o frio do inverno, pois onde respira o seu alento,fertili'a e aqueceG e mais nos admiraremos ao ver que t+o poucos oconsideram sob este seu mais santo aspecto

= que os sensualistas c(amam de :seus pra'eres;, s+o os mais<nfimos dos seus go'os = verdadeiro amor é menos uma paix+o do que ums<mbolo 9e)nour virá o tempo em que te falarei de >iola como de uma coisaque foi ;

#4RT4 III

:Aabes que, nestes dias, várias ve'es perguntei K mim mesmo, sen+o (á algum mal na ci"ncia que nos separou tanto dos nossossemel(antes >erdade é que, quanto mais nos elevamos, tanto mais odiososnos parecem os v<cios dos mortais, dotados de t+o curta exist"ncia, que searrastam pela terraG K medida que penetra em n0s e nos enc(e a bondade doAer @odo Bondade, sentimos cada ve' mais que a nossa felicidade emanadele

3orém, por outra parte, quantas virtudes (+o de permanecer mortasnos que vivem no mundo da morte e recusam-se a morrer ?ste sublimeego<smo, este estado de abstra*+o e de profunda contempla*+o, estama)estade de exist"ncia, imersa em si mesma, e s0 de si mesma dependente,n+o será uma resigna*+o daquela nobre'a que a Jrega o nosso bem-estar,as nossas alegrias, nossas esperan*as, nossos temores aos dos demais >iver sempre sem temer aos inimigos, sem sentir-se nunca abatido pelaenfermidade, sem cuidados e sem ver-se debilitado pela vel(ice é umespetáculo que cativa o nosso orgul(o ?, sem embargo, n+o admiras os quemorrem por outrem 8esde que a amo, 9e)nour, parece-me quase umacovardia iludir a sepultura que devora os cora*6es que nos envolvem em suasdobras

Ainto que a terra gan(a terreno no meu esp<rito @in(as ra'+oG aeterna vel(ice, serena e livre de paix6es é um dom mais grato do que aeterna )uventude, com seus dese)os suas inquieta*6es ?nquanto n+o c(egara (ora de sermos totalmente esp<rito, a tranqRilidade da solid+o deve buscar-se na indiferen*a;

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#4RT4 IV

:Cecebi a a tua comunica*+o Domo 3ois é assim mesmo ; = teudisc<pulo proporcionou-te um novo desengano 7( = pobre disc<pulo 3orém

7qui seguem comentários sobre aquelas passagens da vida deJlyndon, que o leitor )á con(ece, mais ou menos, com ardentes s5plicas a9e)nour para que vele ainda sobre o porvir do seu disc<pulo1

3orém, eu alimento o mesmo dese)o, com um cora*+o mais ardente9in(a disc<pula Domo os terrores que devem acompan(ar a tua prova meadvertem que n+o fa*a v<timas 9ais uma ve' procurarei o -il1o da Lu)

AimG 7donai, tanto tempo surdo K min(a vo', desceu K min(a vis+o, edeixou, ap0s si, a auréola da sua apari*+o, em forma da ?speran*a =(, n+o

é imposs<vel, >iola, n+o é imposs<vel que n0s ainda possamos ser unidos,alma com alma

#4RT4 V

?scrita muitos meses depois da precedente1

:9e)nour, desperta da tua apatia, rego'i)a-te Pma nova alma virá aomundo, um novo ser me c(amara :pai; 7( Ae aqueles, para quem existemtodas as ocupa*6es e cuidados da vida (umana, estremecem, com esquisitaemo*+o, a idéia de saudar outra ve' a sua pr0pria infância nos semblantesdos seus fil(osG se naquele nascimento renascem na santa inoc"ncia, que é oprimeiro estado da exist"nciaG se podem sentir que ao (omem se imp6e umdever quase angelical, quando tem que guiar um ser desde o ber*o, e educaruma alma para o céu, que pra'er arrebatador deverá ser, para mim, saudar o(erdeiro de todos os dons que se duplicam no mero fato de seremparticipados

Domo é doce exercer o poder de vigiar e guardar, instilar o saber,desviar o mal e recondu'ir a corrente da vida, em um rio mais rico, mais largoe mais profundo, ao para<so de onde ela emana ? Ks margens daquele rio

se encontrar+o as nossas almas, querida m+e = nosso fil(o nos trará asimpatia que ainda nos falta e n+o poderá espantar-te sombra alguma, nemterror algum será capa' de fa'er-te desmaiar, quando a tua !nicia*+o está aolado do ber*o do teu fil(o ;

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CAPÍTULO XI 

:@(ey t(us beguile t(e wayPntil t(e blustring storme is overblowne,

(en weening to returne w(ence t(ey did stray,@(ey cannot finde t(at pat( w(ic( first was s(owne,But wander to and fro in waies unEnowne;

Apenser,s 2aerie Queene, booE !, canto !, st X

:? assim v+o entretendo-se, até passar a estrondosa tormenta,quando, pensando em voltar de onde vieram, n+o puderam ac(ar aquelasenda, que primeiro l(es foi mostrada, mas vagueiam aqui e acolá porcamin(os descon(ecidos;

Aim, >iola é muito agora diferente de quando, sentada no umbral daporta da sua casa !taliana, seguia as suas fantasias, que vagavam pelo 3a<sda AombraG ou quando em v+o buscava dotar de vo' uma bele'a ideal, nopalco, onde a ilus+o cria a terra e o céu por uma (ora, até que os sentidosfatigados, despertando, n+o v"em mais do que o ouro falso e o figurante

= seu esp<rito descansa agora em sua pr0pria felicidadeG as suasdivaga*6es encontraram )á os seus limites 9uitas ve'es, o sentimento daeternidade se desperta em um instanteG pois quando nos sentimosprofundamente feli'es, parece-nos que é imposs<vel morrer Aempre que aalma sente a si mesma, sente a vida eterna

 7 !nicia*+o fica adiadaG em teus dias e tuas noites n+o verás )á outrasvis6es, a n+o ser aquelas com que um cora*+o satisfeito encanta umacândida imagina*+o

J"nios e AilfosG perdoai-me por perguntar se aquelas vis6es n+o s+omais agradáveis do que v0s mesmos Zanoni e >iola estavam na praia,contemplando o Aol que mergul(ava no mar á quanto tempo (abitavamaquela il(a Que importa Que fa*a meses ou anos, que importa 3or quedeveria eu, por que deveriam eles contar aquele tempo ditoso Domo, no

son(o de um momento, podem parecer passar anos e Aéculos, assimdevemos medir o "xtase ou a dor, pela dura*+o do son(o, ou pelo n5mero deemo*6es que o son(o em si envolve

= Aol se vaipondo lentamenteG o ar é pesado e sufocanteG o lindonavio permanece im0vel no mar, e, na costa, n+o se v" tremer nem uma fol(anas árvores

>iola aconc(egou-se mais a Zanoni

Pm pressentimento, que n+o sabia definir, fa'ia o cora*+o bater-l(e

com mais rapide'G ol(ando o semblante do marido, ficou surpreendida com aexpress+o inquieta, abstra<da e perturbada que nele se notava

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- ?sta calma me dá medo, - murmurou >iolaZanoni fe' como se n+oa ouvisseG e, enquanto falava consigo mesmo, os seus ol(os ol(avaminquietos ao redor de si

>iola n+o sabia por que, mas aquele ol(ar que parecia querer

atravessar a espa*o, aquelas palavras murmuradas em um idiomaestrangeiro, despertaram nela algumas das suas supersti*6es de outrostempos

8esde o momento em que >iola soubera que ia ser m+e, tornara-semais t<mida ?stran(a crise na vida e no more da mul(er Pm Aer aindadescon(ecido come*a )á a dividir o seu cora*+o, com aquele que fora antes oseu 5nico monarca

- =l(a-me, Zanoni, - disse a )ovem esposa, apertando a m+o domarido

?le voltando-se, disse F

- ?stás pálida, >iolaG a tua m+o está tremendo

- H verdade Ainto como se algum inimigo viesse arrastando-se pertode n0s

- ? o seu instinto n+o a engana - respondeu Zanoni - Dom efeito,temos muito perto de n0s um inimigo ?u o ve)o através deste ar pesadoGou*o-o no meio deste sil"ncioG o inimigo, cu)o espectro nos assombra, é adestruidora, a 3este 7( =l(a com aten*+o, e verá como as fol(as secobrem de insetos que seguem o sopro da praga

?nquanto Zanoni di'ia isto, um pássaro caiu dos ramos aos pés de>iolaG o pobre'in(o fe' um esfor*o para voar, torceu-se por um instante, emorreu

- =(, >iola - exclamou Zanoni, apaixonadamente - !sto é a morte@u n+o temes morrer

- Aim, porque me separaria de ti - respondeu a esposa- ? se eu l(e ensinasse a desafiar a 9orte Ae eu pudesse deter o

curso do tempo em sua )uventudeG se eu pudesse

Zanoni interrompeu-se de repente porque os ol(os de >iolarevelavam um medo dif<cil de descreverG o seu rosto cobrira-se de mortalpalide'

- M+o me fales desta maneira, n+o me ol(es assim, - disse >iola,retrocedendo - 8esanima-me 7( M+o me fales desta maneira, ou temerei,

n+o por mim, mas por teu fil(o

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- @eu fil(o 9as recusaria para o teu fil(o o mesmo glorioso dom - Zanoni

- 9eu amor

- = Aol ocultou-se aos nossos ol(os, para aparecer aos ol(os deoutros 8esaparecer deste mundo e ir viver em outro mundo, longe daqui =( 9eu querido 9eu esposo - continuou >iola, com s5bita energia, - di'e-meque apenas grace)ou, que s0 querias brincar com min(a ignorância Ma peste,(á menos (orror do que nessas palavras tuas

= semblante de Zanoni anuviou-se, e o (omem misterioso depois deol(ar a esposa por alguns momentos, disse gravemente F

- Que tens visto em mim que possa fa'er-te desconfiar

- =( 3erd+o, perd+o Mada - exclamou >iola, se l(e lan*ando nosbra*os, e prorrompendo em pranto - M+o acreditaria nem em tuas pr0priaspalavras, se parecessem in)uriar-te

Zanoni bei)ou os ol(os da esposa e ficou silencioso

- 7( - prosseguiu >iola, com um encantador sorriso infantil, - sequisesses dar-me algum talism+ contra a peste ?u o aceitaria de bom grado

? ao di'er isto, >iola pIs a m+o em um antigo amuleto que Zanonitra'ia sobre o peito

- Aabes, Zanoni, - disse-l(e, - quantas ve'es isto me tem dado 'elodo passado 7caso é alguma prenda de amor 9as, n+oG tu n+o amaste aquem te deu isto, como amas a mim 3osso roubar o teu amuleto

- Drian*a - disse Zanoni, com ternuraG - aquela que pIs isto ao meupeito atribu<a-l(e, efetivamente, um grande poder, porque era supersticiosa,como tu, porém, para mim, este ob)eto é uma coisa mais do que um talism+ Fé a rel<quia de um tempo feli' que passou, de um tempo em que ninguém dosque me amavam era capa' de desconfiar de mim

Zanoni pronunciou estas palavras repassadas de tal melancolia, quetocaram o cora*+o de >iolaG porém aquele tom mudou-se logo em um acentosolene, que sufocou os sentimentos tristes que empolgavam a )ovem esposa,quando disse F

- ?ste amuleto, >iola, talve' um dia o coloque ao teu coloG sim,quando me compreenderes mel(or, quando as Leis das nossas exist"nciasforem as mesmas

Zanoni e >iola regressaram lentamente K casaG >iola, porém, por

mais que fi'esse para expulsar o medo do seu cora*+o, n+o pIde consegui-lo

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?ra uma !taliana e Dat0lica, com todas as supersti*6es do seu 3a<s eda sua seita

Logo que c(egou K casa, entrou no seu quarto e pIs-se a re'ar diante

de uma pequena rel<quia de A+o 4anuário, que um capel+o l(e (avia dadoquando era menina, e que a tin(a acompan(ado em todas as suas viagens

Munca pensara que pudesse abandonar aquela pequena prenda

=ra, se esta rel<quia era um talism+ contra a peste, temeria ela oflagelo, quanto K sua pr0pria pessoa

Mo dia seguinte, quando Zanoni despertou, ac(ou a rel<quia de A+o4anuário pendurada ao seu colo, ao lado do amuleto

- 7gora, sim, n+o tem que temer a peste - disse >iola, entre lágrimase sorrisosG e quando quiseres falar-me outra ve' assim como fi'este ontem Knoite, o santo te repreenderá

?nt+o, Zanoni, pode existir uma verdadeira comun(+o depensamentos e de esp<rito, fora dos que t"m as mesmas idéias e as mesmascondi*6es de exist"ncia

 7 praga se manifestou de uma forma t+o violenta, que foi precisoabandonar a il(a

3oderoso >idente, tu n+o tens nen(um poder para salvar aos queamas 7deus, teto nupcial 8oce mans+o de tranqRilidade e ventura, adeus Dlimas t+o benignos como o que est+o deixando, ditosos amantes, poder+osaudá-los, o destino pode conceder-l(es um céu igualmente sereno e águasigualmente a'uis e calmasG porém, aquele tempo poderá voltar, para l(e darai a felicidade

Quem pode assegurar que o cora*+o n+o sofrerá dan*a, quando semuda a cena, o local onde se tem vivido a primeira ve' com a pessoaamada Dada lugar ali conserva tantas recorda*6es, que s0 ele mesmo pode

reprodu'ir = passado que as evoca parece impor constância para o futuroAe entra em nossa mente um pensamento menos nobre, menos fiel, a

vista de uma vote, debaixo da qual foram trocados )uramentos, ou onde umbei)o enxugou uma lágrima, nos recondu' Ks (oras da primeira ilus+o divina3orém, nunca morada onde nada fala do primeiro tempo nupcial, onde n+o (áeloqR"ncia da uni+o, nem algum santo sepulcro de emo*6es, guardado porvis6es angélicas, quem é, repito, que, tendo passado por uma triste est0ria deafeto, nos possa di'er que o cora*+o n+o sofre mudan*a, quando se muda acena

Aoprai afavelmente, 0 ventos favoráveisG inflai suavemente, 0 velasGpartamos para longe do 3a<s aonde a morte veio arrebatar o cetro do 7mor

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 7s praias desaparecemG novas costas sucedem Ks verdes colinas eaos laran)ais da !l(a Mupcial 7o longe, na lu' prateada da Lua, bril(am ascolunas, ainda vis<veis, de um @emplo que os 7tenienses dedicaram KAabedoriaG e, de pé no barco que era impelido pela fresca brisa, o devoto

dessa deusa, que a ela sobreviveu, murmurava para si F

- M+o me trouxe a sabedoria dos Aéculos (oras mais feli'es do queas que concedem ao pastor e ao campon"s, que n+o con(ecem mais mundodo que o seu modesto povoado, nem mais aspira*6es do que o bei)o e osorriso do lar

? a Lua, iluminando igualmente as ru<nas do @emplo da extintacren*a, a cabana do campon"s, a imemorial c5spide da montan(a, e astenras ervas que cobriram as suas ladeiras, pareciam sorrir com sua respostade calmo desdém ao ser que, talve', ten(a visto construir o @emplo e que, em

sua inescrutável exist"ncia, podia ver arrasada a montan(a

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LIVRO AUINTO

OS !-!ITOS DO !LI@IR

CAPÍTULO I 

:Zwei Aeelen wo(nen, ac( in meiner Brust

as stelist du so, und blicEst erstaunt (inaus ;

Joet(e, :2aust;

:8uas almas residem, a< Mo meu peito3orque estás assim parado, eol(as, pasmado, para fora ;

= leitor se recordará que deixamos o 9estre 3aolo ao lado da camade JlyndonG e que, ao despertar daquele profundo sono, e ao lembrar-se daterr<vel cena da noite anterior, o !ngl"s lan*ou um grito, cobrindo o rosto comas m+os

- Bom dia, ?xcel"ncia - disse 3aolo, alegremente - :Dorpo di Bac(o; 8ormiu um sono prolongado

= som da vo' deste (omem, t+o alegre, sonora e sadia, afugentou ofantasma que ainda estava na mente de Jlyndon

= )ovem ergueu-se na cama e perguntou F

- =nde me encontrou 3or que está aqui

- =nde o encontrei - repetiu 3aolo, surpreendido - ?m sua cama,sem d5vida 3orque estou aqui 3orque o patr+o me ordenou aguardar quedespertasse, para eu receber as suas ordens

- = patr+o 9e)nour ?le c(egou - perguntou Jlyndon- D(egou e tornou a partir, sen(or, - respondeu 3aolo - ?le deixou

esta carta para ti

- 8eme-a, e aguarde-me lá fora até que me ten(a vestido

- ?stou Ks suas ordens 3reparei um excelente almo*o, pois deve termuito apetite Aou um regular co'in(eiro, como o fil(o de um monge o podeser Dom certe'a l(e surpreenderá a min(a (abilidade em guisar peixeAupon(o que n+o o molestarei, se cantarG eu o fa*o sempre quando preparo

uma saladaG o canto se (armoni'a muito bem com os ingredientes

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? pendurando a carabina ao ombro, 3aolo saiu do quarto, fec(ando aporta atrás de si

Jlyndon (avia )á come*ado a ler a carta, cu)o conte5do era oseguinte F

:Quando o recebi por disc<pulo, prometi K Zanoni que, se eu meconvencesse, Ks suas primeiras provas, que aumentaria, n+o o n5mero danossa =rdem, mas apenas a lista das v<timas que a ela t"m aspirado em v+o,n+o o abandonaria K sua ru<na e infelicidade, mas que o restituiria ao mundoDumpro a min(a promessa 7 sua prova !niciática foi a mais fácil que sepossa apresentar a um ne0fito M+o l(e exigi nada mais do que a abstin"nciasensual e uma curta experi"ncia da sua paci"ncia e da sua fé >olta ao seumundo, pois n+o tem qualidades dignas de aspirar ao nosso ;

:2ui eu quem arran)ou que 3aolo o recebesse na festa 2ui eu quem

instigou o vel(o mendigo para que l(e pedisse esmola 2ui eu quem deixou olivro que n+o podia ler, sem violar o meu preceito 3ois bem >iu o que oaguarda no Pmbral do Aaber >iu o primeiro inimigo que amea*a a quem sedeixa ainda dominar e escravi'ar pelos sentidos Aurpreender-se-á que fec(eipara ti as portas para sempre Dompreenderá agora que, para passar peloumbral e desafiar o inimigo, é necessário ter uma alma temperada epurificada, que se exalte, n+o por encantamentos externos, mas por suapr0pria sublimidade e por seu pr0prio valor ;

:!nfeli' @oda a min(a ci"ncia é in5til para o temerário, para o (omemsensual, para aquele que dese)a possuir nossos segredos somente parapolu<-los com pra'eres grosseiros e v<cios ego<stas Domo pereceram osimpostores e feiticeiros dos tempos antigos por quererem penetrar nosmistérios que exigem purifica*+o e n+o toleram deprava*6es 4actaram-se depossuir a 3edra filosofal e, morreram miseravelmenteG pretenderam ter o elixirda imortalidade, e baixaram ao sepulcro, envel(ecidos prematuramente 7slendas contam que o inimigo os fe' em peda*os Aim, o inimigo, que eramseus dese)os impuros e seus prop0sitos criminosos >oc" cobi*ou o mesmoque eles cobi*aramG e ainda que tivesse as asas de um serafim, n+o poderiaelevar-se do loda*al da sua mortalidade = seu anseio de saber n+o era maisdo que uma petulante presun*+oG a sua sede de felicidade s0 l(e inspirava o

dese)o de beber as imundas águas dos pra'eres corporaisG até o seu amor,esse sentimento que, Ks ve'es, eleva até os (omens mais baixos, n+o ésen+o uma paix+o que calcula a trai*+o no meio da primeira c(ama devol5pia ? voc" queria ser um dos nossos Pm irm+o da 7ugusta =rdem Pm 7spirante Ks ?strelas que bril(am na A(emaia da ci"ncia Daldáica 7 águian+o pode levantar ao Aol sen+o seu pr0prio fil(o ?u o abandono ao seucrep5sculo ;

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:3orém, ai de ti, desobediente e profano inalou o elixirG atraiu K suapresen*a um cruel e incansável inimigo >oc" mesmo (á de exorci'ar ofantasma que evocou á de voltar ao mundoG porém, n+o sem sofrer umcastigo, e somente fa'endo grandes esfor*os, poderá recuperar a calma e aalegria da sua vida anterior 8ir-l(e-ei, para que, ao menos, ten(a este

consolo F quem, como voc" provou uma quantidade, por menor que se)a, davolátil e vital energia que d+o os sumos aéreos, despertou em si faculdadesque, com paciente (umildade, com fé s+, e com a coragem, n+o corporalcomo é a sua, mas da mente resoluta e virtuosa, podem atingir, sen+o aosaber que governa as esferas superiores, ao menos K alta perfei*+o nacarreira dos (omens Aentirá a infatigável influ"ncia do elixir em tudo o queempreender = seu cora*+o, no meio de alegrias vulgares, alme)ará outracoisa mais santaG a sua ambi*+o aspirará, no meio do excitamento grosseiro,a algo que estará fora do seu alcance; :3orém, n+o pense que isto, )á por simesmo, será suficiente para levá-lo K gl0riaG pois os seus dese)os poder+ocondu'i-lo igualmente ao crime e K desonra = que sentirá será uma nova e

imperfeita energia, que n+o l(e deixará um momento de repouso Aegundo adire*+o que l(e der, será a emana*+o do seu mau ou do seu bom g"nio;

:3orém, ai de ti !nseto col(ido na rede onde está preso de pés easas M+o somente inalou a elixir, mas também con)urou o espectroG de todosos seres do espa*o, n+o (á outro mais (ostil ao (omem, e voc" levantou ovéu que cobria a sua vista, e eu n+o posso colocá-lo ali novamente Aabe, aomenos, que todos n0s, - os mais altos e os mais sábios, - que, em s0briaverdade, temos passado além do umbral, tivemos, como a primeira e tem<veltarefa, a de dominar e sub)ugar o seu terr<vel guarda Aabe que pode libertar-se daqueles ol(os l<vidos e fixos, sabe que, quando l(e aparecem, n+o podemfa'er-l(e mal, se resiste aos pensamentos com que o tentam, e ao (orror queinspiram @eme-os mais quando os avista ;

:? assim, fil(o do verme, nos separamos @udo o que eu pude di'er-l(e para animá-lo, e para adverti-lo e guiá-lo, disse-l(e nestas lin(as 7 tristeexperi"ncia, que o levou K posi*+o cr<tica em que se encontra, n+o foiprovocada por mim, mas por ti mesmoG espero, porém, que tornará a entrarem go'o da pa' Cepresentante da ci"ncia que sirvo, n+o oculto nen(umali*+o ao aspirante puroG sou, porém, um obscuro enigma ao investigadorcomum Domo a 5nica possess+o indestrut<vel de um (omem é a sua

mem0ria, assim n+o pode a min(a arte redu'ir K matéria os imateriaispensamentos que surgiram no seu peito = aprendi' pode redu'ir este casteloa p0 e derrubar esta montan(a, igualando-a com a plan<cieG porém, o mestren+o tem poder para di'er F :Dessa de existir ; a um pensamento que a suaci"ncia inspirou 3oderá dar ao pensamento novas formasG poderá refa'"-lo esublimá-lo, redu'indo-o a um esp<rito mais fino, porém n+o poderá aniquilar oque s0 existe na mem0ria, o que n+o tem substância fora da idéia Dadapensamento é uma alma !n5til, pois, seria querer eu, ou querer voc"desfa'er o que aconteceu, ou restituir-l(e a alegre cegueira da sua )uventude,é necessário que sofra a influ"ncia do elixir que inalou e n+o l(e resta outroremédio sen+o lutar com o espectro que evocou;

Jlyndon deixou cair a carta das m+os

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Pma espécie de estupor sucedeu Ks várias emo*6es queexperimentara durante a sua leituraG estupor parecido ao que segue Krepentina destrui*+o de uma ardente esperan*a que, por muito tempo, foialimentada no cora*+o (umano, se)a de amor, de avare'a ou de ambi*+o

= mundo superior ao qual (avia anelado tanto, pelo qual sacrificaratantas coisas e pelo qual se submetera a tantos trabal(os, ficava-l(e fec(ado:para sempre;, e isso por sua temeridade e presun*+o

3orém, o caráter de Jlyndon n+o era daqueles que se culpam a simesmos, por muito tempo, de faltas cometidas

Dome*ou a inflamar-se a sua indigna*+o contra 9e)nour, porque,depois de (av"-lo tentado, o abandonavaG abandonava-o K presen*a de umespectro

 7s repreens6es do m<stico antes o aguil(oavam do que (umil(avam

Que crime (avia cometido, para merecer uma linguagem t+o dura et+o desden(osa ?ra um mal t+o grave sentir pra'er no sorriso e nos ol(osde 2ilida M+o (avia fugido com ela, como sua compan(eira

Jlyndon n+o se tin(a detido nunca a refletir se existia algumadiferen*a entre uma espécie de amor e outra

?, também, onde estava a grande ofensa de ter cedido a umatenta*+o, que somente existia para um (omem intrépido

M+o di'ia o livro, que 9e)nour propositadamente deixara aberto F:Juarde-se do medo ; M+o era a maior provoca*+o premeditada que sepode fa'er Ks mais fortes influ"ncias da mente (umana, proibir-l(e de entrarem um quarto, cu)a c(ave se l(e confiara, para excitar a sua curiosidade, e noqual se l(e deixara aberto um livro que parecia ditar o modo de satisfa'"-la

?nquanto estes pensamentos cru'avam pela sua mente, comextraordinária rapide', Jlyndon come*ou a considerar toda a conduta de

9e)nour, como um pérfido intento de enla*á-lo em sua pr0pria miséria oucomo o estratagema de um impostor, incapa' de reali'ar as grandespromessas que fi'era

Quando se pIs a ler outra ve' as misteriosas amea*as e advert"nciascontidas na carta de 9e)nour, pareceu-l(e que enfec(ava uma linguagem demera parábola e alegoria, o estilo dos 3latInicos e dos 3itag0ricos

3ouco a pouco, come*ou a persuadir-se de que os espectros quetin(a visto, - até aquele fantasma de aspecto t+o (orr<vel, - n+o deviam seroutra coisa mais do que ilus6es que a ci"ncia de 9e)nour l(e preparara =s

bril(antes raios de Aol, que inundavam de lu' o seu quarto, pareciamafugentar, com riso, os terrores da noite passada

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= orgul(o e o ressentimento revigoravam a coragem (abitual deJlyndonG e quando, depois de ter-se vestido precipitadamente, foi reunir-se a3aolo, o seu rosto estava sereno e o seu passo era seguro

- ?nt+o, 3aulo, - indagou Jlyndon, - o patr+o, como voc" o c(ama,l(e disse que me esperasse e recebesse na festa do povoado

- Aim, - respondeu 3aolo, - ele me enviou o recado por um pobrevel(o alei)ado !sto me surpreendeu, porque eu )ulgava que o patr+o estivessemuito longeG mas estes grandes 2il0sofos sabem dar passos de du'entasléguas

- 3or que n+o me disse que tin(a not<cias de 9e)nour

- 3orque o vel(o alei)ado me proibiu

- M+o viu o (omem, depois, durante o baile

- M+o, ?xcel"ncia

- um

- 3ermita que o sirva, - disse 3aolo, enc(endo o prato de Jlyndon edeitando vin(o no copo - agora que o patr+o está ausente n+o é que eupretenda di'er dele alguma coisa má1, - acrescentou o bandido, lan*ando emvolta de si um ol(ar desconfiado, - digo que, agora, que está ausente, eudese)ava di'er-l(e que tivesse compaix+o de si mesmo e que perguntasse aoseu cora*+o de que serve a )uventude Que é o que conseguirá sepultando-se em vida, nestas ru<nas, para expor ao perigo o seu corpo e a sua alma,com estudos que, estou certo, nen(um santo aprovaria

- ? os santos aprovar+o as suas ocupa*6es, 9estre 3aolo - ob)etouJlyndon

- =( - respondeu o bandido, um tanto desconcertado, -um caval(eirocom um bolso c(eio de din(eiro, n+o tem necessidade de abra*ar a profiss+o

de tirar o din(eiro de outra gente 3orém, a coisa é diferente conosco, quesomos pobres marotos ?, além disso, também dou sempre uma parte dosmeus gan(os K >irgem, e do resto distribuo outra parte caridosamente entreos pobres 3orém, beba e coma alegrementeG fa*a-se absolver por seuconfessor, se cometeu algum pecado, e n+o se expon(a a muitos perigosdesnecessariamente, é isto o que l(e aconsel(o [ sua sa5de, ?xcel"ncia =ra sen(or, os )e)uns, exceto nos dias em que s+o prescritos a um bomcat0lico, n+o servem sen+o para criar fantasmas

- 2antasmas - exclamou Jlyndon

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- Aim, - retrucou 3aoloG - o diabo sempre tenta o estImago va'io =sdese)os naturais do (omem que tem fome levam o seu pensamento K cobi*a,ao 0dio, ao roubo, ao assassinato Dom a barriga c(eia, sen(or, estamos empa' com todo o mundo 7ssim é bomG sen(or gosta de perdi' Daramba Quando passo dois ou tr"s dias nas montan(as, sem ter para comer mais do

que um peda*o de p+o preto e uma cebola, desde a man(+ até a noite, ficocomo um lobo ? isto ainda n+o é o piorG mas em todas Kquelas (oras ve)opequenos duendes dan*arem diante dos meus ol(os =( Aim, quando oestImago está va'io, apresenta tantos espectros como um campo de batal(a

Jlyndon pensou descobrir uma s+ 2ilosofia no racioc<nio do seucompan(eiroG e, efetivamente, quanto mais comia e bebia, menos serecordava a noite passada e menos sentia a deser*+o de 9e)nour

 7 )anela estava aberta, a brisa era fresca e suave, o Aol bril(ava comtodo o seu esplendor, toda a Mature'a parecia sorrir 3aolo foi-se pondo t+o

alegre como a Mature'aG ele falou de aventuras, de viagens, de mul(eres,com certo entusiasmo que contagiava Jlyndon, porém, o escutou com maiscomplac"ncia, quando 3aolo tornou, com seu sorriso vel(aco, a elogiar osol(os, os dentes os artel(os e o tal(e da bela 2ilida

?ste (omem parecia, com efeito, a personifica*+o da vida sensualdos animais ?le teria sido para 2austo um tentador mais perigoso do que9efist0feles M+o se notava em seus lábios nen(uma ironia, quandodescrevia os pra'eres que animavam a sua vo'

3ara um (omem em quem despertava um sentimento das vaidadesdo saber, esta descuidada e ignorante alegria de (umor era um agentecorruptor pior do que todas as frias burlas de um inimigo ilustrado

9as quando 3aolo se despediu, com a promessa de voltar no diaseguinte, a mente do !ngl"s, tornou a ocupar-se de coisas mais sérias e maisimportantes

= elixir parecia, efetivamente, (aver produ'ido nele os sutis efeitosque 9e)nour l(e atribu<ra ?nquanto o )ovem passeava pelo solitário corredor,ou, parando, contemplava o delicioso e vasto cenário que se estendia lá em

baixo, elevados pensamentos de ambi*+o, bril(antes vis6es de gl0ria,passavam, em rápida sucess+o por sua alma

- 9e)nour me nega a sua ci"ncia 3ois bem - exclamou o pintor, comaltive' - n+o me despo)ou da min(a arte

Domo Dlar"ncio Jlyndon, voltas Kquilo com que come*ou a suacarreira Dom que, ent+o, Zanoni tin(a ra'+o

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Jlyndon se encontrava, agora, no quarto do m<sticoG n+o se via alinem um vaso, nen(uma erva = volume fat<dico (avia desaparecido, e n+o(avia o menor vest<gio do elixir Aem embargo, parecia ainda que o quartoestava impregnado de uma atmosfera de encanto 9ais forte eimpetuosamente arde em si, Dlar"ncio, o dese)o de criar e apresentar obras

perfeitas

Auspira por uma vida além da que é sensual, pela vida que épermitida a todo o g"nio, pela vida que respira na obra imortal, e perpetua-seem um nome imperec<vel

=nde est+o os utens<lios da sua arte =( M+o se inquiete por issoGquando faltaram os instrumentos a um verdadeiro trabal(ador

?ncontre-se outra ve' no seu quarto, a branca parede l(e servirá detela e um peda*o de carv+o será o seu lápis !sto basta para, ao menos,

delinear o esbo*o, que, sem isso, poderia desvanecer-se )á, aman(+, na suamente

 7 idéia que excitou, desta maneira, a imagina*+o do artista, era,indubitavelmente, nobre e augusta 8erivava-se da cerimInia ?g<pcia,descrita por 8iodoro no seu # livro1, sob o t<tulo F := )u<'o dos mortos pelosvivos; Quando o corpo do defunto, depois de ser devidamente embalsamado,se colocava na margem do Lago 7querusio, e antes que fosse entregue aobarco que devia condu'i-la através das águas, K sua 5ltima morada, os )u<'es,nomeados para a respectiva fun*+o, ouviam todas as acusa*6es que sefa'iam ao falecido e, quando ac(avam que estas eram graves e )ustificadas,privavam o corpo das (onras rituais da sepultura

9e)nour (avia descrito K Jlyndon este costume, ilustrando-o comvárias anedotas que n+o se encontram em livro algumG e este assunto foi oque sugeriu agora ao artista a idéia de dar-l(e realidade e for*a ?le imaginouum rei déspota e cruel, contra o qual ninguém se atrevera a murmurar durantea sua vidaG porém, apenas tin(a expirado o 5ltimo (álito, o escravo a quemele (avia agril(oado, veio do escuro calabou*o, e este infeli' mutilado, l<vido eesquálido como se fosse também )á morto, veio acusá-lo, invocando a )usti*aque sobrevive K sepultura

Que estran(o fervor é este, )ovem artista, que tem feito sair, derepente, a sua arte da obscura e densa névoa com que a ci"ncia ocultaenvolvera por tanto tempo a sua imagina*+o

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Domo parece estran(o que a rea*+o de uma noite de terror e odesengano de um dia l(e ten(a restitu<do a sua divina arte 7( Dom queligeire'a camin(a a m+o atrevida pelo extenso debuxo Domo, apesar dostoscos materiais, se revela )á a m+o, n+o do aprendi', mas do mestreperfeito Aem d5vida, os recentes efeitos do poderoso elixir fa'em com que

d"s Ks suas figuras a anima*+o e a vida superior que foi negada a ti Pmpoder al(eio tra*a, por meio da sua m+o, os grandes s<mbolos na parede8etrás, se levanta o vasto sepulcroG na constru*+o desta mans+o de repousopara os mortos consumiram-se mil(ares de vidas

 7li se sentam os sérios )u<'es, formando um semi-c<rculoLentamente, se agita o lago de águas enegrecidas Lá )a' a m5mia do reimorto !ntimida-se ainda a sua austera carranca, e o fran'ir da sua testa, queparece ainda viva 7( Que magn<fica concep*+o, 0 artista - Levantam-seas magras figuras - =s seus rostos pálidos falam uma linguagem deespetros 8eixará a umanidade de vingar-se do poderoso tirano, depois da

morte deste

= seu quadro, Dlar"ncio Jlyndon, é uma sublime verdadeG o seudebuxo promete um renome ao g"nio ? esta magia é mel(or do que osencantos do livro e do vaso 3assaram-se muitas (oras F acendeu a lâmpadaGa noite o encontra trabal(ando ainda 3orém, céu misericordioso Que é oque gela assim a atmosfera 3or que se apaga a lu' 3or que se eri*am osseus cabelos 7li 7li 7li 7 )anela 7 negra, asquerosa apari*+o, envoltaem um manto, ol(a ? que ol(ar diab0lico é o seu Domo ele destila escárnioe 0dio

Jlyndon ficou estarrecido, ol(ando o espectroG n+o era ilus+o =fantasma n+o falava, nem se moviaG porém, por fim, n+o podendo suportarpor mais tempo aquele ol(ar fixo e terr<vel, o !ngl"s tapou o rosto com asm+os Pm momento depois, descobriu-a, dando um grito de espantoG )unto asi sentia aquele (orr<vel algo sem nome, que estava agora curvado ao pé doseu debuxoG e eis que as figuras pareciam destacar-se da parede 7s pálidasfiguras dos acusadores, que a m+o tra*ara, fa'iam caranton(as S caretas T,ol(ando-o com despre'o

2a'endo um violento esfor*o, o )ovem conseguiu dominar o seu

espanto 8irigindo-se ao fantasma, e afrontando o seu ol(ar, perguntou-l(e oque queria, di'endo-l(e que desafiava o seu poder

=uviu-se, ent+o, uma vo' que se assemel(ava ao murm5rio do vento,o que a sombra disse, o que revelou, é proibido que os lábios repitam e que am+o escreva M+o fosse o elixir, que l(e (avia dado um vigor e uma energiamais poderosa do que a for*a do mais forte, Jlyndon n+o teria sobrevividoKquela (ora terr<vel 8espertar-se nas catacumbas e ver sair os mortos dosseus sudários, e ouvir os esp<ritos infernais em suas (orr<veis orgias decorrup*+o, seria prefer<vel ao ver Kquelas fei*6es que se apresentavam Kvista do pintor, quando o espetro levantou o véu e a escutar o que murmurou

a sua vo'

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Mo dia seguinte, Jlyndon fugiu do arruinado castelo Dom queesperan*a de bril(ante lu' atravessava o umbral e penetram nesta casa ?agora, ao sair, com que desencanto ol(ou as suas torres enegrecidas, ro<daspelo tempo, e que recorda*6es levava consigo, capa'es de fa'"-loestremecer, (orrori'ado, sempre que se ac(ava na escurid+o

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CAPÍTULO II 

:2aust F - o(in soll es nun ge(n 9ep(isto F - o(in es 8ir gefllt

ir se(n die Eleine, dann die grosse elt

Joet(e, :2aust;

:2austo F - =nde iremos agora 9ep(istop(eles F - 7onde te agradar

>amos ol(ar primeiro o pequeno, depois o grande mundo;

Doloque a sua cadeira perto do fog+o, enc(a-o de len(a e acenda as

lu'es =( Lar de asseio, ordem, abastan*a, conforto =( Domo éexcelente e consoladora a realidade

3assou algum tempo, depois dos acontecimentos narrados nocap<tulo precedente

M+o n0s encontramos, agora, em rison(as il(as e sob os pálidos raiosda Lua, nem em castelos carcomidos pelo tempo, mas estamos em uma salade vinte e seis pés de comprimento e vinte e dois de largura, bem atapetada,com macios sofás, s0lidas cadeiras, e oito quadros, de insignificante valorart<stico, porém com ricas molduras, adornando as paredes

@(oma' 9ervale, caval(eiro comerciante de Londres, é um (omeminve)ável

3ara 9ervale, foi a coisa mais fácil do mundo, ao regressar docontinente, sentar-se diante da sua escrivanin(a, da qual nunca se (aviaseparado o seu cora*+o

 7 morte do seu pai l(e deu, como direito de (erdeiro, uma alta erespeitável posi*+o em uma casa de comércio de segunda classe

2a'er com que o seu estabelecimento passasse a ser de primeiraclasse, era a (onrosa ambi*+o de 9ervale

2a'ia pouco tempo que se (avia casado, n+o totalmente por causa dedin(eiro, n+o

?le era mais (omem do mundo do que mercenário

 7s suas idéias a respeito do amor n+o eram românticasG porém erabastante sens<vel para saber que uma esposa devia ser uma compan(eira, e

n+o uma mera especula*+o

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9ervale n+o ambicionava casar-se com uma mul(er de notávelbele'a e g"nio, mas cuidou de ter uma esposa dotada de boa sa5de e bomcaráter, e com uma certa dose de 5teis con(ecimentosG e, assim, escol(eu asua compan(eira da vida escutando a sua ra'+o, e n+o o seu cora*+o, e(avemos de di'er que a sua escol(a foi bem acertada

 7 sen(ora 9ervale era uma mul(er'in(a excelente, viva,trabal(adora, econImica, afetuosa e boa @in(a vontade pr0pria, porém, n+oera desp0tica 3ossu<a grandes no*6es dos direitos da mul(er e uma fortepercep*+o das qualidades que proporcionam o bem-estar Munca teriainclina*+o ao seu marido, se (ouvesse observado nele alguma inclina*+o poroutra mul(erG porém, por sua ve', possu<a um admirável sentimento defelicidade 7borrecia toda a leviandade, toda a faceirice, todo o fingimento, ospequenos v<cios que, muitas ve'es, arru<nam a felicidade doméstica, mas nosquais um caráter capric(oso incorre t+o facilmente

@odavia, n+o acreditava que devesse amar o seu esposo sobre todasas coisasG assim é que reservava uma parte do seu afeto para todos os seusparentes, amigos e con(ecidos, e para a possibilidade do sen(or 9ervaleDuidava da boa mesa, e tin(a bom apetiteG o seu (umor era sempremoderado, porém firmeG contudo sabia di'er uma ou duas palavras a'edas,sempre que o marido deixasse de ser pontual como devia

@in(a um cuidado particular em que o sen(or 9ervale mudasse decal*ado ao entrar em sua casaG porque os tapetes eram novos e caros M+oera de temperamento frio, nem apaixonadaG o céu a aben*oe por isso

3orém, quando alguma coisa l(e desagradava, manifestava o seudesgosto, aplicando uma repreens+o, sem esquecer-se de lembrar ao maridoas virtudes que ela possu<a, a alta posi*+o do seu tio, que era almirante, e astrinta mil libras que (avia tra'ido de dote

Domo, porém, o sen(or 9ervale era (omem de bom (umor, erecon(ecia suas faltas, dava ra'+o K mul(er, e assim o desgosto logopassava

Ae for verdade que em cada casa (á seus pequenos dissabores, emnen(uma eram menos freqRentes do que na do casal 9ervale

 7 sen(ora 9ervale, se n+o gostar excessivamente das novidades damoda, cuidava, contudo, de andar bem vestida

Munca saia do seu quarto com papelotes no penteado, nem nessedesalin(o matutino, que é a pior das desilus6es @odas as man(+s, Ks oito(oras e meia, a sen(ora 9ervale vestia-se com esmero o espartil(o bematado, o seu toucador em boa ordem e, tanto no inverno, como no ver+o, oseu vestido era de seda grossa e bonita

 7s damas daquele tempo usavam coletes muito curtos, e a sen(ora

9ervale seguia a moda

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=s seus adornos, de man(+, consistiam em uma cadeia maci*a deouro, da qual pendi a um rel0gio do mesmo metal, n+o desses frágeis an6esde mecanismo, que s+o t+o bonitos K vista, mas trabal(am t+o mal, mas umbelo rel0gio de repeti*+o que sempre dava a (ora exataG tra'ia também,engastado no bracelete, um broc(e de mosaico, e um retrato, em miniatura,

do almirante, seu tio

3ara a tarde, tin(a duas lindas cole*6es completas de )0ias,compostas de colares, brincos e braceletes, uma de ametistas e outra detopá'ios

= tra)e que acompan(ava estes adornos era, geralmente, um vestidode cetim, cor de ouro, e um turbante, com o qual se tin(a feito retratar

 7 sen(ora 9ervale tin(a o nari' aquilino, bons dentes, lindo cabelo efinas pestanasG a sua complei*+o era daquelas que constituem, geralmente,

um belo busto, sendo de estatura antes alta do que baixaG tin(a as facesc(eiasG os pés regulares e as m+os brancas e grandes, com un(as rosadas, enas quais nunca, nem em sua meninice, se (avia visto a mais leve manc(a dep0

3arecia representar um pouco mais de idade do que realmente tin(aGisto era causado por um certo ar de afetada dignidade, e da forma aquilina doseu nari' Mas m+os, costumava di'er curtas mitenes Munca lia outros poetasa n+o ser Joldsmit( e Dowper M+o gostava muito de romances e novelas,embora n+o tivesse preconceitos contra tal literatura Mo teatro, preferia atudo um drama ou uma pantomima, seguidos de uma leve ceia M+o eraafei*oada a concertos nem a 0peras 7o come*ar o inverno, escol(ia um livropara a sua leitura, e principiava algum trabal(o por passatempoG e ocupava-secom ambos, tanto com a leitura, como com o trabal(o, até K c(egada daprimavera

Mesta esta*+o, deixava de ler, mas continuava a trabal(ar = seuestudo predileto era a (ist0ria, e gostava muito da que (avia escrito o 8outorJoldsmit( = seu autor favorito nas belas letras era, naturalmente, o 8outor4o(nson M+o se podia encontrar uma mul(er mais digna, nem maisrespeitável, a n+o ser um epitáfio

?ra uma noite de outono, e fa'ia pouco que o sen(or e a sen(ora9ervale (aviam regressado de uma excurs+o K eymout(

 7c(avam-se sentados na sala de visitas, cada um no seu lugarfavorito

- Aim, eu l(e asseguro, min(a querida, - di'ia 9ervale, - que Jlyndon,com todas as suas excentricidades, era um bom amigo e amável camaradaDertamente teria gostado dele, pois agradava a todas as mul(eres

- 9eu querido @(oma', - respondeu a esposa, - perdoe-me aobserva*+oG porém, essa sua express+o F todas as mul(eres

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- 8esculpeG tem ra'+o ?u queria di'er que ele era quase sempre umfavorito do sexo encantador

- DompreendoG quer di'er que o seu caráter era bastante fr<volo

- 2r<volo, precisamente, n+oG um pouco inconstante, extravagante, seassim quer, mas n+o fr<volo ?ra presun*oso e obstinado no seu caráter,porém modesto e atento em suas maneirasG talve' demasiado modesto ereservado, assim como voc" gosta que os (omens se)am 9as, voltemos aoassuntoG as not<cias que (o)e ten(o ouvido a respeito dele, inquietam-meprofundamente 3arece que tem levado uma vida muito irregular eextravagante, via)ando de um lugar para outro, de maneira que deve ter )ágasto grande parte da sua fortuna

- 7 prop0sito de din(eiro, lembrou a sen(ora 9ervale, )ulgo que

teremos de mudar de a*ougueiroG certamente está em liga como o co'in(eiro

- H uma lástima, pois o seu bife é 0timo ?stes criados de Londress+o t+o maus como os Darbonários 3orém, como ia di'endo, o pobreJlyndon

Meste instante, ouviu-se bater K porta

- 9eu 8eus - exclamou a sen(ora 9ervale, - quem será 4á s+ode' (oras passadas Quem poderá vir a esta (ora

- @alve' o seu tio, o almirante, - observou o marido, n+o sem um certoa'edume

- Dreio, meu querido, - retrucou a esposa, - que n+o l(e édesagradável K visita de qualquer um dos meus parentes = almirante é um(omem de interessante conversa*+o, e a sua fortuna está inteiramente K suapr0pria disposi*+o

- ?u o respeito como merece, - disse 9ervale, com "nfase

= criado abriu a porta e anunciou o sen(or Jlyndon- = sen(or Jlyndon Que coisa extraordinária - exclamou a sen(ora

9ervaleG porém, antes que tivesse tempo de concluir a frase, Jlyndon )á seac(ava na sala

=s dois amigos se abra*aram e saudaram com grande alegria de seencontrarem, depois de t+o longa separa*+o ?m seguida, foi o recém-c(egado apresentado K sen(ora 9ervale, a qual, com um sorriso c(eio dedignidade, e com um furtivo ol(ar Ks suas botas, felicitou o amigo do seuesposo por sua c(egada K !nglaterra

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Jlyndon estava muito mudado desde a 5ltima ve' que 9ervale o(avia visto 7inda que (ouvesse passado, desde ent+o, apenas dois anosincompletos, a sua bela complei*+o se tin(a tornado mais varonil, e o seusemblante mais bron'eado

3ensamentos graves ou, talve', uma vida de dissipa*+o, (aviamimprimido no seu semblante, antes lustroso e liso, quando se revelava nele afeli' )uventude, rugas de cuidados ou de sofrimento s suas maneiras, outroraelegantes e polidas, (aviam sucedido certa rude'a nos gestos, e até a suavo' n+o se acomodava ao que exigem a calma e as conveni"ncias sociais

M+o obstante, uma espécie de altiva nobre'a, que anteriormente n+ose notava nele, dava certa dignidade ao seu semblante, e suavi'ava aliberdade da sua linguagem e dos seus ademanes S tre)eitos, modo de seportar T

- ?nt+o, pelo que ve)o, 9ervale, voc" se estabeleceu M+o precisoperguntar se é feli'G o mérito, a sensate', a rique'a, um bom caráter e umacompan(eira t+o bela, certamente tra'em a felicidade

- Quer tomar c(á, sen(or Jlyndon - perguntou a sen(ora 9ervale

- M+o sen(ora, agrade*o-l(e, - respondeu o )ovem W @omarei afranque'a de propor um convite mais estimulante ao meu vel(o amigo >in(o,9ervale >in(o, e( =u uma ta*a de ponc(e !ngl"s 7 sua esposa nosdesculpará, se passarmos a noite bebendo

 7 sen(ora 9ervale puxou para trás a sua cadeira, e custou-l(e muitoesfor*o dissimular a sua surpresa 3orém, Jlyndon n+o deu ao seu amigotempo de replicar

- ?ncontro-me, enfim, na !nglaterra, - disse, ol(ando em torno com umsorriso irInicoG - seguramente este ar exercerá em mim uma benéficainflu"ncia, e poderei viver aqui como os demais

- ?steve doente, Jlyndon - perguntou o seu amigo

- 8oente Aim, - respondeu o artista - um >oc" tem uma casamagn<fica averá nela um pequeno quarto para um via)ante solitário

9ervale dirigiu um ol(ar K sua esposa, que se manteve com os ol(osfixos no tapete

- 9odesto e reservado em suas maneiras @alve' demasiado -3ensava a sen(ora 9ervale, que se ac(ava no sétimo céu da indigna*+o esurpresa

- 9in(a querida - disse, por fim, 9ervale com afabilidade e em tom

interrogante

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- = que é - respondeu a esposa, com mal dissimulada aspere'a

- 3odemos oferecer um quarto ao meu amigo Aerá

= amigo, que se (avia sentado comodamente em uma cadeira com

os pés colocados sobre o amparo diante do fog+o, ol(ava atentamente ofogo, como se tivesse esquecido )á a sua pergunta

 7 sen(ora 9ervale mordeu os lábios, e depois de refletir um instante,respondeu com frie'a F

- Dertamente, sen(or 9ervaleG os seus amigos devem sentir-se aquicomo em sua pr0pria casa

 7o di'er isto, a sen(ora se levantou, acendeu uma vela e saiu dasala, com ar ma)estoso Quando voltou, os dois amigos se (aviam passado

para o escrit0rio

= rel0gio bateu meia-noite, uma, duas (oras

@r"s ve'es a sen(ora 9ervale (avia mandado um criado ao escrit0rio,para saber primeiramente, se precisavam de alguma coisaG pela segunda ve',se o sen(or Jlyndon queria dormir em uma cama com colc(6es de plumasG epela terceira ve', para perguntar-l(e se devia abrir a sua mala

? o via)ante, depois de responder a todas estas perguntas,acrescentava, cada ve', com uma vo' robusta que se ouvia da co'in(a até os0t+o F

- =utra ta*a 3orém mais forteG sim, fa*a o favor, e que ven(a )á

3or fim, 9ervale apareceu no quarto con)ugal @in(a os ol(osbril(antes, as faces ardiam, e sentia as pernas trIpegasG e ele se pIs acantar Aim o sen(or @(oma' 9ervale cantou

- Aen(or 9ervale H poss<vel, sen(or - exclamou, irada, a esposa

9as ele, em ve' de responder, cantou F - = rei Dole era uma almafagueira

- Aen(or 9ervale 8eixe-me s0 - M+o deixou fa'er a ninguém- Aen(or 9ervale Que exemplo está dando o sen(or aos criados - = cac(imbo acendeu, mandou vir a ponc(eira- Ae n+o se calar, sen(or, c(amarei- ? também )á os m5sicos v"m

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CAPÍTULO III

:!n die elt weit 7us der ?insamEeit ollen sie 8ic( locEen;

2aust

 7o mundo vasto, da solid+o te querem atrair

3ela man(+ seguinte, K (ora do almo*o, a sen(ora 9ervale estavat+o taciturna, como pode estar uma mul(er que se cr" muito ofendida

9ervale, por sua parte, dir-se-ia um criminoso, perseguido pelosremorsos, e pela vingan*a do mau (umor

A0 falou para queixar-se de uma forte dor de cabe*a e para di'er quetirassem os ovos da mesa

Dlar"ncio Jlyndon, imperturbável e com bom apetite, estava de um(umor buli*oso, e falava pelos tr"s

- 3obre 9ervale - di'ia

- 3erdeu os (ábitos de verdadeiro compan(eirismo, sen(ora 9asdentro de um par de noites, tornará a ser o mesmo que era antes

- Daval(eiro, - observou a sen(ora 9ervale, pronunciando umapremeditada senten*a, com suma dignidade, - permite-me que l(e recordeque o sen(or 9ervale agora está casado, que é o presum<vel pai de umafam<lia e o atual dono de uma casa

- 3recisamente estas s+o as ra'6es que me fa'em inve)á-lo, -retrucou Jlyndon

- ?u também ten(o grande dese)o de casar-meG a felicidade écontagiosa

- 3inta ainda - perguntou 9ervale, com desaprova*+o, esfor*ando-se para dar outro rumo K conversa*+o do seu (0spede

- M+o, - respondeu o artistaG - adotei o seu consel(o @roquei a arte eo ideal pelo positivismo Ae tornar a pintar, supon(o que voc" comprará osmeus quadros 3orém, trate de acabar o seu almo*o, (omemG quero consultá-lo sobre umas coisas >im K !nglaterra para cuidar dos meus neg0cios 7min(a ambi*+o é fa'er din(eiro e, para isto, conto com sua experi"ncia eseus consel(os, que (+o de servir-me muito

- 7( @+o cedo se desenganou da 3edra 2ilosofal - disse 9ervale

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- M+o sei se )á l(e contei, Aara, que, quando deixei o meu amigoJlyndon, estava ele a ponto de tornar-se 7lquimista e mago

- ?stá (o)e disposto a grace)ar - retrucou a esposa

- M+o, min(a queridaG palavra de (onra, afirmo que é a verdade M+ol(e (avia contado )á antes

Jlyndon levantou-se de repente, di'endo F

- 3or que recordar, agora, os desvarios de uma louca presun*+o 4ádisse que regressava K min(a terra natal, para praticar a saudável voca*+o aque me sinto inclinado 7(, sim Que coisa pode (aver mais salutar, maisnobre e mais apropriada K nossa nature'a do que o que se c(ama a vidaprática Ae possuirmos algumas faculdades, que coisa mel(or podemosfa'er do que vend"-las vanta)osamente Dompremos con(ecimentos como

compramos os nossos g"neros de comércioG adquiramo-los aos pre*os maisbaratos poss<veis, e vendamo-los, depois, por pre*os notavelmente maiores M+o acabou ainda de almo*ar

=s dois amigos sa<ram K rua

9ervale tremia ao ouvir com quanta ironia Jlyndon o felicitava porsua respeitável posi*+o, o seu modo de vida, os seus prop0sitos, o seu feli'matrimInio e os seus oito quadros colocados em t+o ricas molduras

 7ntigamente, o s0brio 9ervale exercia certa influ"ncia sobre o seuamigoG naquele tempo, era ele que empregava sempre o sarcasmo contra ocaráter t<mido e irresoluto de Jlyndon

 7gora estavam trocados os papéis

avia, no g"nio alterado do pintor, uma fogosa seriedade queintimidava o seu pac<fico amigo, impondo-l(e sil"ncio, e parecia compra'er-semalignamente, dando-l(e a entender que estava persuadido de que a s0briavida dos (omens da Aociedade era despre'<vel e vil

- 7( - exclamava Jlyndon, - quanta ra'+o tin(a em aconsel(ar-meque tratasse de fa'er um respeitável casamento, procurando uma s0lidaposi*+o, vivendo em decoroso medo do mundo e da pr0pria mul(er,suportando a inve)a dos pobres e go'ando a boa opini+o dos ricos 3raticou oque pregava 8eliciosa exist"ncia = escrit0rio do comerciante e os serm6espregados pela esposa 7( 7( @eremos outra noite como a passada

9ervale confuso e irritado encamin(ou a conversa*+o para osneg0cios de Jlyndon, e ficou surpreso ao ver os con(ecimentos do mundodos neg0cios que o artista parecia ter adquirido t+o repentinamenteG e maisainda admirado ao notar com que sutile'a e inve)a falava o seu amigo das

especula*6es que estavam mais em voga no mercado

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Aim, Jlydon tin(a, certamente, o sério prop0sito de tornar-se rico erespeitável, e gan(ar, ao menos, os de' por cento em suas transa*6escomerciais

8epois de passar alguns dias com o comerciante, durante os quais

esteve a ponto de levar a desorgani'a*+o em toda a casa, fa'endo da noitedia, convertendo a (armonia em desacordo, levando a pobre sen(ora 9ervalea uma disposi*+o que a tornava meio distra<da, e convencendo o seu amigode que se deixava dominar demasiadamente pela esposa, o fatal (0spededesapareceu t+o repentinamente como (avia c(egado

 7rran)ou uma casa pr0pria, procurou a Aociedade de pessoasabastadas, entregou-se aos neg0cios da BolsaG parecia, enfim, (aver-seconvertido em um (omem de neg0cios

=s seus pro)etos eram atrevidos e colossais, e os seus cálculos

rápidos e profundos

?m breve, 9ervale, pasmado pela energia de Jlyndon e deslumbradopelos seus sucessos, come*ou a ter-l(e inve)a e a ficar descontente com osseus pr0prios gan(os, regulares e lentos

Quando Jlyndon comprava ou vendia 2undos 35blicos, c(oviadin(eiroG o que a sua arte n+o podia oferecer-l(e em muitos anos de trabal(o,deram-l(e algumas feli'es especula*6es, reali'adas em poucos meses

8e repente, porém, deixou estes neg0cios, pois novos ob)etos deambi*+o pareciam atra<-lo K outro terreno

Quando ouvia tocar um tambor na rua, que gl0ria podia (aver maiorque a do soldado

Quando se publicava um novo poema, que renome podia igualar aodo poeta

Jlyndon come*ou a escrever algumas obras literárias que prometiamserem excelentesG porém, antes de conclu<-las, pun(a-as de lado,

desgostoso8e pronto abandonou a Aociedade que freqRentava, e, associando-se

com alguns )ovens turbulentos e imprudentes, entregou-se a todos os v<cios eexcessos da grande cidade, onde o =uro reina sobre o @rabal(o e o 3ra'er

3or toda a parte levava consigo um certo poder e um calor de almaGem todas as Aociedades aspirava a dominar, e em todas as empresas, abril(ar

Aem embargo, qualquer que fosse a paix+o que o dominava no

momento, a rea*+o sempre era terr<vel e triste

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 [s ve'es, se entregava a muitas profundas e estran(as medita*6es

Quando ardia na febre da atividade, parecia que a sua mente queriadespo)ar-se da mem0riaG e quando repousava, parecia que a mem0ria seapoderava outra ve' da sua mente, para devorá-la

9ervale via-o, agora, muito pouco, pois evitavam ambos encontrar-seum com o outro

? assim c(egou Jlyndon a n+o ter nen(um confidente, e nen(umamigo

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CAPÍTULO IV 

:!c( fR(le 8ic( mir na(eG8ie ?insanmEeit belebtG

ie Rber gemem elten8er Pnsic(tbare sc(webt;

P(uland

:Ainto-te perto de mimG a solid+o se animaG como sobre os seusmundos, paira aqui o !nvis<vel

Jlyndon ac(ava-se mais em um estado de intranqRilidade e agita*+odo que de uma infatigável atividade, até que dele foi tirado pela visita de uma

pessoa que parecia exercer sobre ele uma salutar influ"ncia

 7 sua irm+, 0rf+ como ele, (avia residido no campo, com a sua tia

?m sua primeira )uventude, o artista amara esta irm+, mais )ovem doque ele, com o terno carin(o de um irm+o afetuoso

 7o seu regresso K !nglaterra, parecia (av"-la esquecidocompletamente

avendo falecido a sua tia, esta )ovem dirigiu-se ao irm+o por meio deuma carta, c(eia de impressionável melancolia, di'endo que agora n+o tin(aoutra casa a n+o ser a do irm+o, nem outro amparo sen+o o seu afeto

Jlyndon c(orou ao ler esta carta, e n+o sossegou até a c(egada de 7délia

?sta )ovem, de uns de'oito anos de idade, ocultava, sob uma calma esingele'a exterior, uma grande parte do romântico entusiasmo quecaracteri'ava o seu irm+o, quando este tin(a a sua idade

Aem embargo, o entusiasmo de 7délia era de uma nature'a muitomais pura, e tin(a seus limites regulares, em parte pela do*ura de umanature'a verdadei ramente feminina, e em parte pela estrita e met0dicaeduca*+o que recebera

8iferia especialmente do caráter do seu irm+o na timide', que eramaior do que se costumava ver nas )ovens da sua idadeG mas esta timide' eraoculta pelo costume de dominar-se, e isto t+o cuidadosamente, como tambémo romantismo das suas idéias

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 7délia n+o era belaG o seu aspecto era o de uma pessoa deconstitui*+o delicada e de pouca sa5deG a débil organi'a*+o dos seus nervostornava-a suscept<vel a toda a impress+o que pudesse influenciar a sa5de docorpo através da simpatia da mente

Domo, porém, nunca se queixava, e porque, por outra parte, asingular serenidade das suas maneiras parecia indicar uma equanimidade detemperamento que, para o vulgo, podia passar por indiferen*a, os seussofrimentos n+o foram percebidos por muito tempo, porque os sabiadissimular, sem grande esfor*o

 7inda que, como )á disse, n+o fosse bela, a sua fisionomia erainteressante e simpática, pois revelava essa afetuosa bondade, esse sorrisoatraente e encantador, e esse dom de agradar e consolar, que ia diretamenteao cora*+o

@al era a irm+ que Jlyndon, por tanto tempo, (avia olvidado, e a qual,agora, (avia recebido t+o cordialmente

 7délia tin(a passado muitos anos sendo v<tima dos capric(os, queocasionaram um sem n5mero de enfermidades de uma parente ego<sta eexigente

 7 delicada, generosa e atenta considera*+o do seu irm+o foi, paraela, t+o nova, como deliciosa

Jlyndon se compra'ia em torná-la feli', a tal ponto que, pouco apouco, se foi retirando de todas as outras Aociedades, e come*ou a sentir oencanto do lar

M+o deve admirar-nos, portanto, que 7délia, livre de toda outraindigna*+o mais ardente, concentrasse todo o seu carin(o e gratid+o no irm+oque a protegia e amava t+o dedicadamente

=s estudos a que a )ovem se dedicava de dia, e os son(os que avisitavam de noite, todos tin(am um s0 ob)etivo F pagar-l(e a sua afei*+o

?stava orgul(osa do talento do irm+o, e dedicava-se exclusivamenteao bem-estar deleG a coisa mais insignificante que pudesse interessá-lotomava para ela o aspecto de um dos mais graves interesses na vida

?m suma, todo o acumulado tesouro de entusiasmo, que constitu<a asua perigosa e 5nica (eran*a, ela o inverteu neste c<nico ob)eto da sua santaternura, nesta imaculada ambi*+o

3orém, K medida que Jlyndon abandonava os excessos eexcitamentos, a que se entregava para ocupar o seu tempo, ou para distrairos seus pensamentos, a triste'a das suas (oras mais tranqRilas vin(a

sentindo-se mais profunda e mais cont<nua

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?le temia sempre e muit<ssimo, estar s0G e n+o podia suportar que asua nova compan(eira se ausentasse da sua vista F passeava com ela, a péou a cavalo, e s0 com vis<vel relutância, que quase tocava ao (orror, retirava-se de noite, e a (oras muito avan*adas, para deitar-se

?sta triste'a n+o era desse g"nero a que se dá o brando nome demelancolia, era muito mais intensaG parecia antes ser uma espécie dedesespero

9uitas ve'es, depois de um sil"ncio sepulcral e de uma abstra*+oque o deixava como que convertido em uma estátua, sobressaltava-se derepente e lan*ava ol(ares assustados ao seu redor

= seu corpo tremia, os lábios se tornavam l<vidos e sentia a fronteban(ada de suor frio

Donvencida 7délia de que alguma mágoa secreta afligia seu irm+o eque isto poderia minar-l(e a sa5de sentiu o fort<ssimo e natural dese)o de sersua confidente, para poder consolá-lo

Dom seu fino e delicado tato, observou que Jlyndon sentia grandedesgosto quando parecia afetado pelo seu mau (umor, e a )ovem seesfor*ava por dominar seus temores e seus sentimentos

M+o queria solicitar a confian*a do irm+o, mas tratou de obt"-lagradualmente, sem que ele o notasse, e viu que, pouco a pouco, iaconseguindo o seu prop0sito

8emasiado preocupado com a sua pr0pria estran(a exist"ncia, paraobservar agudamente o caráter dos outros, Dlar"ncio Jlyndon equivocou-se,tomando a calma de uma afei*+o generosa e (umilde por for*a da alma evigor da constitui*+oG e esta qualidade l(e agradava e l(e servia de consolo

H a for*a e a seguran*a de si mesmo, que uma pessoa, que tem aalma doente, requer no confidente que escol(e por seu médico

? como é irresist<vel o dese)o de comunicar um pesar Quantas

ve'es o (omem solitário pensou consigo F :Domo seria aliviado o meucora*+o, se eu pudesse confessar o peso da sua miséria ;

Jlyndon sentia também que, na )uventude, na inexperi"ncia, notemperamento poético de 7délia podia ac(ar mais consel(os e ser por elamais facilmente compreendido do que por qualquer outra pessoa mais severae prática

9ervale teria tomado as suas revela*6es como os del<rios de umaimagina*+o louca, e a maior parte dos (omens as consideraria, na mel(or(ip0tese, com as quimeras ou alucina*6es de um (omem enfermo

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 7ssim, tendo-se preparado, pouco a pouco, para esse momento deal<vio, que tanto anelava, aproveitou uma oportunidade que favorecera odesenlace desta maneira F

Pma tarde, estando ambos s0s, 7délia, que (erdara parte do talento

art<stico do seu irm+o, entretin(a-se pintando

Jlyndon, saindo das suas medita*6es, menos tétricas do que decostume, levantou-se e, pondo afetuosamente a m+o sobre o ombro da irm+,pIs-se a ol(ar o seu trabal(o

8e repente, deixando escapar uma exclama*+o de surpresa, tirou-l(edas m+os o desen(o, e disse F

- Querido Dlar"ncio, n+o se recorda do original - respondeu a )ovem - Pma c0pia do retrato do nosso sábio avI, com quem, segundo di'ia

a nossa pobre m+e, voc" tem muita semel(an*a ?u pensei que voc"gostasse de ver-me copiá-lo de mem0ria

- 9aldita semel(an*a - exclamou Jlyndon, tristemente

- M+o advin(a o motivo porque eu n+o quis voltar K casa dos nossospais 3orque temia ver aquele retrato 3or que, por que 9as, perdoe-me,eu a assusto

- M+o, n+o, Dlar"ncioG voc" n+o me assusta nunca, quando falaG eutemo s0 o seu sil"ncio =( Ae me cresse digna da sua confian*a Ae metivesse concedido o direito de discutir consigo sobre as suas mágoas, cu)ascausas tanto dese)o con(ecer

Jlyndon n+o respondeu, mas come*ou, a passear agitado peloquarto

8epois de alguns instantes, parou e, fixando na irm+ um ol(ar sério,disse F

- Aim, voc" também descende deleG sabe que essa classe de (omens

tem vivido e sofridoG voc" n+o 'ombará de mim, nem duvidará das min(aspalavras ?scute ?scute Que ru<do é este

- M+o é nada, Dlar"ncioG é apenas o vento que se ouve lá fora

- 8"-me a sua m+o, min(a 7déliaG deixe-me sentir o seu vivo contatoGe nunca comunique a ninguém o que l(e vou contar =culte-o a todo omundoG )ure-me que este segredo morrerá conosco, os 5ltimos descendentesda nossa predestinada ra*a

- Munca trairei a sua confian*a, nunca 4uro-l(e - disse 7délia, com

acento firme, e aproximando-se mais do seu irm+o

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?nt+o, come*ou Jlyndon a sua est0ria, a qual, narrada por escrito, elida por pessoas preparadas para discutir e duvidar pode, talve', parecer friae pouco aterradoraG um efeito muito diferente, porém, produ'ia, sendo referidapor aqueles lábios pálidos, com toda a verdade do sofrimento que convence eespanta

9uitas eram, realmente, as coisas que o narrador ocultou, e muitas Ksquais, involuntariamente deu um colorido mais suaveG porém, apesar disto,revelou o bastante para que a sua narra*+o fosse intelig<vel e clara para apálida )ovem, que o escutava tremendo

- 7o aman(ecer, - terminou Jlyndon, depois de ter referido tudo o queleitor )á sabe dos acontecimentos no vel(o castelo, - deixei aquela tétrica emaldita (abita*+o Aem embargo, tin(a ainda a esperan*a de que tornaria aver 9e)nour, a quem me propun(a procurar pelo mundo ?u esperava obrigá-lo a livrar-me do inimigo que aterrori'ava a min(a alma Dom este intento,

via)ei de uma cidade K outra, fa'endo praticar as mais ativas dilig"ncias pelapol<cia da !tália ?m Coma, empreguei até os servi*os da !nquisi*+o, queultimamente (avia dado uma prova do seu antigo poder no processo doafamado Dagliostro, que era menos tem<vel do que 9e)nour @udo foi em v+oGn+o foi poss<vel encontrar-se o menor vest<gio do (omem que eu procurava?u n+o ia s0, 7délia

Jlyndon interrompeu-se por um momento, como embara*ado,porque, em sua narra*+o, s0 uma ou outra ve' (avia aludido a 2ilida, a qual,como o leitor deve supor, era a sua compan(eira

- ?u n+o ia s0G porém a min(a alma n+o podia confiar o seu segredo Kpessoa que me acompan(ava nas viagens ?mbora fosse fiel e afei*oada,carecia ela de educa*+o e das faculdades necessárias para podercompreender-me 3ossu<a instintos naturais, mas a sua ra'+o era inculta =meu cora*+o encontrava nela um apoio em suas (oras tranqRilasG mas n+oexistia entre n0s comun(+o de pensamentos, e o meu atribulado esp<rito n+opodia tomá-la por guia @odavia, na compan(ia daquela pessoa, o demInion+o me inquietava 8eixe que l(e explique mais minuciosamente as terr<veiscondi*6es da sua presen*a Quando eu me imergia em excitamentos baixos,em orgias, em tumultuosos e fogosos excessos, na torpe letargia daquela vida

animal, que nos nivela aos brutos, os seus ol(os permaneciam invis<veis e oseu murm5rio era mudo

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3orém, sempre quando a alma tin(a alguma aspira*+o, quando aimagina*+o se inflamava para alcan*ar alguns fins elevados, quando aconsci"ncia do nosso verdadeiro destino lutava contra a vida desregrada queeu levara, ent+o, 7délia - ent+o o espectro vin(a acocorar-se a meu lado, nalu' do meio-dia, ou sentar-se em min(a cama, :uma coisa escura;, vis<vel na

escurid+o mesma Ae, nas galerias da 8ivina 7rte, os son(os da min(a )uventude despertavam a min(a anterior emula*+o, se eu dirigia os meuspensamentos aos pensamentos dos sábios, se o exemplo dos grandes(omens ou a conversa*+o dos (omens inteligentes acordavam o meuintelecto adormecido, o demInio do espectro surgia K min(a presen*a, comoevocado por um encantamento

3or fim, uma tarde, na cidade de Jenova, aonde eu fui K busca dom<stico, de repente, quando eu menos o esperava, 9e)nour apareceu diantede mim ?ra por ocasi+o do DarnavalG eu estava em uma dessas cenastumultuosas, que n+o merecem o nome de divertimento e que estabelecem

saturnais pag+s no meio de uma festa crist+ Dansado de dan*ar, eu entravaem um quarto onde estavam alguns folga'6es bebendo, cantando e gritandoGcom seus fantásticos disfarces e suas máscaras (ediondas, a sua orgia n+otin(a nada de (umano Aentei-me entre eles, e, nessa excita*+o de esp<ritoque o (omem feli' nunca con(eceu, em pouco tempo vim a ser o maisbarul(ento de todos 7 conversa*+o versava sobre a Cevolu*+o 2rancesa,que sempre tin(a exercido sobre mim uma espécie de fascina*+o 7smáscaras falavam da transmuta*+o que essa Cevolu*+o ia tra'er K terra, n+ocomo 2il0sofos que se compra'em no advento das lu'es, mas como sicáriosque exultavam no aniquilamento das Leis Aem saber porque, a sualinguagem licenciosa me causou náuseasG e, sempre dese)oso de ser odianteiro em qualquer c<rculo, excedi em breve Kqueles turbulentos emdeclama*6es sobre a nature'a da liberdade que ia abra*ar todas as fam<liasdo globo, liberdade que invadia n+o somente a legisla*+o p5blica, mastambém a vida doméstica, emancipando o (omem de todas as cadeiasfor)adas para su)eitá-lo

Mo meio deste discurso, uma das máscaras me disse F Duidado áum que l(e escuta, e que me parece ser um espi+o

=s meus ol(os seguiram os da máscara, e observei um (omem que

n+o tomava parte na conversa*+o, mas cu)os ol(os pareciam constantementefixos sobre mim ?le estava disfar*ado como os demaisG porém todosasseguravam, murmurando uns aos outros, que n+o o (aviam visto entrar

= seu sil"ncio e a sua aten*+o, impondo respeito aos folga'6es destec<rculo, n+o fi'eram sen+o excitar- me mais

?ntusiasmado com as min(as pr0prias palavras, prosseguidiscursando, sem fa'er caso dos sinais que me fa'iam os que me rodeavamGe, dirigindo-me particularmente ao silencioso mascarado que estava sentadofora do c<rculo, nem sequer adverti que os demais, uns ap0s outros, foram

abandonando o quarto, e que, por fim, eu e o silencioso ouvinte éramos os5nicos que ali permaneciam

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Dessando a min(a impetuosa declama*+o, disse-l(e F

- ? o sen(or, que pensa desta bril(ante era =pini+o sempersegui*6esG 2raternidade sem inve)aG amor sem escravid+o ? vida sem

8eus, - acrescentou o mascarado, quando titubeei, buscando novas imagens

= som daquela vo', t+o con(ecida, mudou o curso das min(as idéias3recipitei-me até ao mascarado, e exclamei F !mpostor ou 8emInio,finalmente nos encontramos

= (omem se levantou, tirou a máscara, e eu recon(ecia fisionomia de9e)nour = seu ol(ar fixo e seu aspecto ma)estoso me aterrori'aram,fa'endo-me retroceder 2iquei como que cravado no solo

- Aim, - disse o (omem misterioso, com acento solene, - encontramo-

nos, porque eu o quis, pois ten(o que l(e falar Domo tem seguido bem osmeus consel(os e admoesta*6es A+o estas as cenas, no meio das quais o 7spirante K Aerena Di"ncia pensa escapar ao ?spectro !nimigo Dr" que ospensamentos que expressou - pensamentos que destru<ram toda a ordem douniverso - correspondem Ks esperan*as que concebera o sábio que queriafa'"-lo participar da armonia das ?sferas ?ternas ;

- @ua mesmo é a culpa - exclamei

- ?xorci'a o fantasma Liberta-me deste terror que esmaga a min(aalma

9e)nour contemplou-me um instante, com um frio e profundo desdém,que me provocou, ao mesmo tempo, medo e raiva, e replicou F

-M+o, insensato escravo dos sentidos, n+o H necessário que ten(asuma completa experi"ncia das ilus6es que o Aaber sem 2é encontra no seutitânico camin(o Auspira por esta Cevolu*+o, por esta Mova ?ra 3ois bem,v"-la-ás Aerás um dos agentes da ?ra da Lu' e da Ca'+o Meste momento,enquanto te falo, ve)o a teu lado o fantasma, de que fogesG ele guia os teuspassosG ele tem, sobre ti, ainda um poder que desafia o meu Mos 5ltimos dias

dessa Cevolu*+o que sa5das, no meio das ru<nas da =rdem que amaldi*oascomo opress+o, busca o cumprimento do teu destino, e aguarda a tua cura

Meste instante, um turbulento grupo de máscaras, em altos gritos,entrou, cambaleando, no quarto, e separou-me do m<stico 7brindo passo porentre esse grupo, procurei 9e)nour por toda parte, porém em v+o 7spesquisas que fi' no dia seguinte foram igualmente infrut<feras 3asseisemanas inteiras ocupado na mesma tarefa, sem descobrir nem o m<nimovest<gio de 9e)nour

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Dansado de falsos pra'eres, impressionado pelas repreens6es que(avia merecido, e retirando-me da cena onde 9e)nour me profeti'ara queencontraria a min(a cura, ocorreu-me por fim, a idéia de que, no saudável arda min(a terra natal, levando uma vida tranqRila e dedicando-me a sériasempresas, poderia emancipar- me do espectro 7bandonei aquela vida e,

libertando-me de todos os que me (aviam sedu'ido e fascinado, vim paraaqui Mos pro)etos mercenários e nas especula*6es ego<stas, ac(ei o mesmoal<vio que primeiro ac(ara nos v<cios e excessos = fantasma se mantin(ainvis<vel 3orém, estas ocupa*6es tornaram-se, em breve, t+o fastidiosascomo as outras ?u sentia incessantemente que (avia nascido para algo maisnobre do que a sede da ganância, que a vida pode tornar-se igualmenteindigna e a alma desgra*ada, tanto pelo frio sopro de avare'a, como pelaardente turbul"ncia das paix6es ?u me sentia continuamente atormentadopor uma ambi*+o mais nobre 3orém, continuou Jlyndon, com umestremecimento e empalidecendo, a cada esfor*o que eu fa'ia para entrar emuma exist"ncia mais digna, apresentava-me o (orr<vel espetro Ae eu pintava,

via-o ao lado do meu cavalete Ae eu lia os livros dos sábios e dos poetas, viaos seus ardentes ol(os no sil"ncio da noite, e parecia-me que a sua (orr<velvo' murmurava tenta*6es que nunca ser+o divulgadas

Jlyndon calou-se e grossas gotas de suor corriam-l(e pela testa

- 9as eu - disse 7délia, dominando o medo e abra*ando o irm+o, -eu, de (o)e em diante, n+o viverei sen+o para a sua felicidadeG oxalá possa amin(a afei*+o desvanecer este terror que o acabrun(a

- M+o, n+o - exclamou Jlyndon, desprendendo-se dela

- 2alta ainda a revela*+o mais terr<vel 8esde que está aqui desdeque resolvi seriamente corrigir-me e retirar-me das cenas em que este inimigosobrenatural n+o viesse molestar-me, eu eu Y 8eus 9iseric0rdia  7li está o espectro, ali, a seu lado 7li

? Jlyndon caiu ao solo, perdendo os sentidos

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CAPÍTULO V 

:8oc( wunderbar ergriff mic(Us diese Mac(tG8ie Jlieder sc(ienen sc(on in @odes 9ac(t;

P(and

:9as nesta noite senti uma admirável como*+oG os meus membrospareciam estar )á no poder da morte;

Jlyndon sofreu, durante alguns dias, uma febre, acompan(ada dedel<rio, que o privou do con(ecimentoG e quando, mais pelos cuidados de 7délia do que pela (abilidade dos médicos, come*ou a recuperar a sa5de e ara'+o, ficou extremamente surpreso ao ver a mudan*a que se (avia verificado

no semblante da sua irm+ 7 principio, pensou, erroneamente, que a sa5dedela, alterada por causa das suas vig<lias, se restabeleceria ao mesmo tempoem que a sua pr0pria ?m breve, porém, viu, com uma ang5stia queparticipava do remorso, que as ra<'es dessa doen*a estavam muito profundo,t+o profundas que nem a ci"ncia de ?sculápio, nem o poder das suas drogaspodiam curá-la

 7 imagina*+o da irm+, quase t+o viva como a sua pr0pria, forafortemente impressionado pelas estran(as confiss6es que ouvira durante oseu del<rio Cepetidas ve'es ele gritava F

- 7li está o espectro, min(a irm+, ao seu lado

= desventurado c(egou a gravar na mente da )ovem a imagem dofantasma e o (orror que perseguia e oprimia a ele mesmo Jlyndoncompreendeu tudo isto, n+o porque a irm+ l(e dissesse, mas pelo sil"ncio queela guardava, pelos ol(os que ol(avam o espa*o, pelos estremecimentos queobservava nela, de ve' em quando, por seu cont<nuo sobressalto e porque asua vista, aterrori'ada, n+o se atrevia a voltar-se para trás = artistaarrependeu-se amargamente da sua confiss+oG amargamente compreendeuque, entre os seus sofrimentos e a simpatia (umana, n+o podia existir

nen(um terno la*o, nem uma santa comun(+oG em v+o procurou retratar edesfa'er o que fi'era, declarando que tudo o que l(e (avia contado n+o eramais do que alucina*+o de um cérebro exaltado

? era valente e generosa a sua abnega*+oG pois, muitas e muitasve'es, quando di'ia isso, via o ob)eto do seu terror aparecer e acocorar-se aolado da irm+, fitando nele seus ol(os amea*adores, quando ele negava queesse mesmo espectro existisse

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= que, porém, impressionou Jlyndon ainda mais do que o aspectodoentio de 7délia e os seus nervos (iper-excitados, foi o ver que o amor queela l(e tin(a se (avia convertido em medo e que a sua presen*a l(e causavauma espécie de (orror 7 )ovem empalidecia quando o irm+o se aproximavadela, e estremecia quando ele segurava a sua m+o Aeparado )á de todo o

mundo, viu que a cont<nua recorda*+o do fantasma (avia aberto agora umabismo entre ele a irm+ Jlyndon n+o podia mais suportar a presen*a dapessoa cu)a vida a sua vida amargurava 8eclarou K irm+ que tin(anecessidade de fa'er uma viagem, e sentiu uma profunda mágoa ao ver quea irm+ recebia esta not<cia com grande satisfa*+o

8esde a noite em que l(e fi'era a fatal revela*+o, este era o primeirosinal de alegria que observara no semblante da sua irm+, e pareceu maior ocontentamento dela, quando l(e disse F

- 7deus

Jlyndon via)ou, durante algumas semanas, pelos locais mais desertose escabrosos da ?sc0ciaG as vistas que s+o deliciosas para os artistas emgeral, eram indiferentes aos seus ol(os inquietos

?m tal disposi*+o de ânimo, recebeu uma carta que o obrigava aregressar a Londres, com urg"ncia e com a alma c(eia de ang5stia e medo

Quando c(egou, encontrou a irm+ em um estado de sa5de f<sica emental, muito mais deplorável do que (avia imaginado

= seu ol(ar vago, as suas fei*6es l<vidas e o seu enorme abatimentoo assombraramG era como se contemplasse a cabe*a de 9edusa e sentisse,sem poder obstá-lo, que o Aer umano ia se transformando, gradualmente,em uma fria estátua sem vida

= que 7délia padecia, n+o era del<rio nem idiotismo, era umaabstra*+o, uma terr<vel apatia, uma espécie de sono com os ol(os abertos

Aomente pelas on'e (oras da noite, K (ora em que Jlyndon conclu<raa sua est0ria, a )ovem se tornava visivelmente inquieta, perturbada e quase

frenéticaG os seus lábios murmuravam, ent+o palavras inintelig<veis, as suasm+os se torciam, e ela, dirigindo um ol(ar de terror em torno de si, pareciaimplorar socorro e prote*+oG e, de repente, quando o rel0gio dava on'e (oras,lan*ava um agudo grito e caia ao c(+o, fria e como morta Aomente commuita dificuldade e, depois das mais ardentes s5plicas, respondeu Ksperguntas angustiosas de JlyndonG e, por fim, confessou que, naquela (ora, esomente naquela, onde quer que se encontre e qualquer que fosse aocupa*+o a que se entregava, via claramente a apari*+o de uma vel(a bruxa,a qual depois de bater tr"s pancadas na porta, entrava no quarto,aproximava-se dela coxeando e, com uma fisionomia (edionda, transtornadapela ira e pela amea*a, l(e pun(a seus gelados dedos sobre a testaG perdia,

ent+o, os sentidos, e quando voltava a si, era somente para aguardar, commedo que l(e gelava o sangue nas veias, a reapari*+o do terr<vel espectro

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= médico que tin(a sido c(amado para socorrer 7délia, antes doregresso de Jlyndon, e que foi quem escreveu a carta c(amando este para )unto da irm+, era um prático vulgar, que, depois de se manifestar(onestamente que n+o compreendia aquele mal, pediu que o substitu<ssem

por outro médico, mais experimentado em sua arte Dlar"ncio c(amou um dosdoutores mais eminentes da 2aculdade, e o fe' ciente da ilus+o 0tica queatormentava a sua irm+

= médico ouviu-o com aten*+o e pareceu ter grandes esperan*as decurá-la >eio K casa de Jlyndon duas (oras antes da (ora temida peladoente ?le adiantou os rel0gios em meia (ora, sem que o soubessem 7déliae o seu irm+o = doutor era um (omem de talento e conversava muitoagradavelmente, revelando, a par da vasta instru*+o, aguda percep*+o e odom de interessar e divertir os ouvintes 3rimeiramente, administrou Kenferma uma po*+o an0dina, a qual como ele mesmo supun(a, desvaneceria

a ilus+o

= seu tom, c(eio de confian*a, despertou as esperan*as de 7déliaG omédico continuou distraindo a aten*+o desta, fa'endo-a sair, pouco a pouco,do seu estado de prostra*+oG ele grace)ava e ria, até que se ouviu o rel0giodar as on'e (oras

- 7legre-se, meu irm+o - exclamou, ent+o, 7délia, abra*andoJlyndonG - passou a (ora

?, como uma pessoa que se v" livre de um encantamento, pareceurecuperar a sua antiga alegria

- 7(, Dlar"ncio - murmurou, - perdoe-me o desamparo em que o(avia deixado, perdoe por ter medo de ti >iverei >iverei 3ara, pormin(a ve', banir o espectro que o atormenta

? Dlar"ncio sorria, enxugando as ardentes lágrimas que l(e corriampelas faces

= médico prosseguiu contando alegres (ist0rias e c(istosas

anedotas Mo meio de uma corrente de bom (umor que parecia ter inundado 7délia e o seu irm+o, Jlyndon viu, de repente, no semblante da )ovem amesma transforma*+o, o mesmo ol(ar angustioso, o mesmo desassossego eo mesmo (orror, como na noite precedente ?le se levantou e aproximou-seda irm+

 7délia, com um terr<vel estremecimento exclamou F

- =l(a =l(a =l(a ?la vem Aalve-me dela, salve-me ? caiu aospés do irm+o, em espantosas convuls6es, quando o rel0gio, que o médico emv+o adiantara, deu a meia (ora depois das on'e

= doutor levantou-a nos bra*os, di'endo seriamente F

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- =s meus piores temores, infeli'mente, se confirmaramG aenfermidade é uma epilepsia S&NT

Ma noite seguinte, K mesma (ora, 7délia Jlyndon faleceu

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CAPÍTULO VI 

:La loi, dont le rgne vous épouvante, a son glaive levé sur vousGellevous frappera tous F le genre (umain a besoin de cet exemple;

Dout(on :7 Lei, cu)o reino vos terrifica, tem o seu gládio levantado contra v0sG

ela vos castigará a todos F o g"nero (umano precisa deste exemplo;

 7( Que alegria Que alegria >em outra ve' 7perto sua m+o ebei)o os seus lábios 8iga-me que n+o me abandonou pelo amor de outraGdigamo-lo repetidas ve'es ? eu o perdoarei tudo o mais

- ?nt+o, sentiu a min(a aus"ncia

- Ae a senti ?, sem embargo, foi bastante cruel para deixar-medin(eiroG aquiestá aqui está, intacto

- 3obre fil(a da Mature'a ? como obteve p+o e o abrigo aqui noestrangeiro, nesta cidade de 9arsel(a

- onestamente, alma da min(a alma onestamente, e isso comesta cara que um dia ac(ou ser t+o belaG ac(a que o é ainda agora

- Aim, 2ilida, ac(o-a (o)e mais formosa do que nunca 3orém, que é oque quer di'er

- á aqui um pintor, respondeu a )ovem, um grande (omem, uma daspessoas que mais figuram em 3arisG n+o sei como se c(amaG mas ele temaqui o poder sobre tudo, disp6e da vida e da morte dos demaisG e este(omem me pagou muito bem por deixar-me retratar ?le quer dar o seuquadro K Ma*+o, de presente, pois este artista pinta somente pelo dese)o degl0ria Que renome vai adquirir a sua 2ilida

 7o di'er isto, a vaidade fe' bril(ar os vivos ol(os da mo*a, queprosseguiu F

- ?sse (omem queria casar-se comigo e me disse que, se euconsentisse nisso, se divorciaria da sua mul(er 9as eu n+o quis aceitar?sperava-o, ingrato

Meste instante, bateram K portaG um (omem entrou

- Micot

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- 7( Jlyndon =lá Ae)a bem vindo Domo =utra ve' meu rival 3orém, 4ean Micot n+o pensa em mal<cia 7 virtude é o meu son(o, a min(apátria é a min(a querida Airva a min(a pátria, cidad+o, e eu l(e perdIo aprefer"ncia desta bela :a ira, *a ira; S :7 coisa irá; ou :assim se poderáfa'er; T

3orém, enquanto o pintor falava, ouvia-se, nas ruas, o (ino fogoso da:9arsel(esa;, cantado por uma multid+o entusiasta, levando bandeiras earmas ? quem seria capa' de di'er que aquele movimento marcial era osinal, n+o de uma guerra contra algum povo estran(o, mas de uma matan*a,em que os 2ranceses perseguiam 2ranceses

3ois em 9arsel(a (avia dois partidos, e isto dava uma ocupa*+ocont<nua ao verdugo 3orém, o !ngl"s recém-c(egado K cidade, e n+opertencendo a nen(uma fac*+o, n+o percebia nada disto

Jlyndon n+o percebia mais do que o (ino, o entusiasmo, as armas eas bandeiras, que elevavam ao Aol a gloriosa mentira F :Le peuple 2ran*aisdebout contre les tyrans ; S\_T

= infeli' via)ante animou-se a ol(ar da )anela, a multid+o quemarc(ava debaixo do seu estandarte que flutuava ao vento

= povo avistando Micot, o amigo da Liberdade e do infatigável 9ébert,ao lado do estrangeiro, prorrompeu em estrepitosos vivas

- 7clame também, - gritou Micot, - o valente !ngl"s que ab)ura os seus3itts e Doburgs, para converter-se em cidad+o da Liberdade e da 2ran*a

9il vo'es enc(eram o ar de entusiásticos clamores, e a :9arsel(esa;levantou-se novamente, em ma)estosos tons

- 7( Aim, no meio deste povo timorato S t<mido, envergon(ado T edestas nobres esperan*as, (á de desvanecer-se o espectro, e (eideencontrar a min(a cura - murmurou Jlyndon

? parecia-l(e que sentia novamente correr-l(e pelas veias o poderoso

elixir- Aerá um membro da Donven*+o, )unto com 3aine e Dloot' ?u me

encarrego de preparar tudo - exclamou Micot, l(e batendo levemente noombroG e 3aris

- 7( Ae eu pudesse ver 3aris - exclamou 2ilida, extasiada, com vo'alegre

 7legre ? alegre estava a cidade inteira, por todo esse tempo, e o arera agradável, - exceto onde se levantava o grito da agonia e o alarido do

assassino8orme tranqRila em sua sepultura, 7délia

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 7legria 7legria Mo 4ubileu da umanidade devem cessar todas asmágoas privadas =l(a, marin(eiro bravo, a vasta voragem atrai-o ao seutempestuoso sei o 7li n+o existe o indiv<duo @udo é de todos 7bra suasportas, formosa 3aris, ao cidad+o estrangeiro Cecebam 0 modestosrepublicanos, em suas fileiras o novo campe+o da liberdade, da ra'+o e da

(umanidade

9e)nour tin(a ra'+oG quando se praticar a virtude e, com a valentia, sesustentar gloriosa luta pela (umanidade, o espetro (averá de fugir, voltandoKs trevas de onde sa<ra

? a vo' aguda e penetrante de Micot elogiava este novo campe+oG e omagro Cobespierre, - :a toc(a, a coluna, a pedra angular do edif<cio daCep5blica; S\#T, - l(e sorria ominosamente com seus ol(os sanguináriosG e2ilida o apertava, com seus bra*os apaixonados, ao seu amoroso peito

?, ao levantar-se e ao deitar-se, K mesa e na cama, apesar de queJlyndon n+o o visse, o ?spectro sem nome o guiava, com ol(os de demInio,ao mar cu)as águas eram sangue

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LIVRO S!@TO

4 SUP!RSTIÇÃO

-UGINDO D4 -+

CAPÍTULO I 

:3or isso, pintavam-se os J"nios com um prato c(eio de grinaldas eflores em uma das m+os, e com um a*oite na outra;

 7lexandre Coss, 9ystag 3oet xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Aegundo a ordem dos acontecimentos que acabamos de referir, a

partida de Zanoni e de >iola, da il(a Jrega, onde este casal passou dois anosfeli'es, teve lugar um pouco depois da c(egada de Jlyndon a 9arsel(a 2oi ,por conseguinte, no ano de #/N# que >iola fugira de Mápoles com o seumisterioso amante, e que Jlyndon fora procurar 9e)nour no fatal castelo

Mo momento em que come*amos a narra*+o deste cap<tulo, tornandoa ocupar-nos de Zanoni, estamos nos final do ano de #/N\

 7s estréias do universo bril(avam sobre as lagoas de >ene'a =tumultuoso movimento do Cialto se (avia calado, e os 5ltimos passeantes(aviam abandonado a 3ra*a de A+o 9arcosG somente, de ve' em quando, seouvi a o compassado ru<do dos remos das rápidas gIndolas que condu'iam Kcasa algum not<vago ou amante

Aem embargo, ainda bril(avam lu'es através das vidra*as dospalácios 3aladinos, cu)as sombras se refletiam no grande canalG e dentro dopalácio velavam as duas 2urn"nides g"meas, que nunca dormem para oomem F a nsia e a 8or

- Ae a salvar, far-l(e-ei o (omem mais rico de >ene'a, - disse o donodo palácio, que era Zanoni, K um médico que c(amara para assistir a >iola,

que estava passando pelos trabal(os do parto- Aen(or, - respondeu o médico, - o seu ouro n+o pode deter a morte,

nem a vontade do céu Ae, dentro de uma (ora, n+o se verificar algumafavorável mudan*a, prepare-se para suportar o golpe fatal

Domo, Zanoni, (omem do mistério e do poder, que tem passado porentre as paix6es do mundo com semblante sereno, deixa-se por fim, dominarpelas ondas de tempestuosa ânsia, e teme @eme o seu esp<rito Don(ece,finalmente, a for*a e a ma)estade da 9orte

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? o poderoso Zanoni fugiu, cambaleante, da presen*a do abatido,facultativo, e depois de cru'ar, maquinalmente, a grande sala e o compridocorredor, entrou em um quarto apartado, que se conservava fec(ado paratodas as outras pessoas

 7( Zanoni Domo está triste e abatido 3repare as suas ervas e osseus vasos Brote dos encantos elementos, 0 c(ama a'ul-prateada

3orque n+o vem ele, o 2il(o da Lu' Deleste

3orque 7donai permanece surdo K sua solene vo'

M+o vemG a luminosa e deliciosa 3resen*a, n+o vem

Dabalista, s+o v+os os seus encantamentos

= seu trono se desvaneceu dos dom<nios do espa*o

?stá pálido e treme

=( M+o estava pálido, nem tremia, quando a sua vo' governava osgloriosos Aeres aéreos 7o (omem que empalidece e treme, nunca seinclinam os fil(os da gl0ria F a alma, e n+o as ervas, nem a a'ulada c(ama,nem os encantamentos da Dabala, é o que comanda os fil(os do arG e a suaalma perdeu o cetro e a coroa, o 7mor e a 9orte os arrebataram

3or fim, a c(ama tremula, o ar está frio como o vento gelado

 7parece uma coisa que n+o é ser terrestre, uma sombra, semel(antea uma névoa, uma sombra informe

 7cocora-se a certa distância, um (orror mudo

 7 apari*+o se levantaG arrasta-se em sua dire*+o e aproxima-se,envolta em seu negro e vaporoso mantoG e, por debaixo do seu véu, fixa em sios seus ol(os l<vidos e malignos

- 7( 4ovem Daldeu 4ovem nos seus inumeráveis anos,- 4ovemcomo quando, insens<vel ao pra'er e K bele'a, (abitava a vel(a @orre do2ogo, escutando como o sil"ncio das estrelas l(e explicava o 5ltimo mistérioque desafia a 9orte, teme a 9orte agora, finalmente M+o é o seu sabermais do que um c<rculo que torna a tra'"-lo ao ponto onde come*ou a sua )ornada Jera*6es ap0s gera*6es desapareceram desde que n0s dois nosencontramos =l(a ?stou outra ve' diante de ti

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- 9as eu o ol(o sem medo H verdade que t"m perecido mil(ares de(omens ao avistá-loG é verdade que onde os seus ol(os irradiam o seu fogo,deitam abomináveis venenos no cora*+o (umano, e a sua presen*a sepulta oinfeli' que voc" su)eita K sua vontade, nas espirais de uma alucina*+o, ou oleva ao negro calabou*o do crime e do desesperoG porém, comigo o caso é

diferente F n+o é meu vencedor, mas é meu escravo

- ? como tal o servirei 9anda ao seu escravo, 0 formoso Daldeu ?scuta os gemidos de mul(eres =uve os agudos gritos da sua amada 79orte entrou no seu palácio 7donai n+o comparece K sua vo' =s 2il(os daLu' Deleste descem aos (umanos somente quando nen(uma sombra depaix+o e da carne perturba o ol(ar da Aerena !ntelig"ncia 3orém, eu possoa)udá-lo ?scute

? Zanoni ouviu distintamente no seu cora*+o, apesar da distância, avo' de >iola que, em seu del<rio, c(amava pelo esposo amado

- =( >iola, eu n+o possa salvá-la - exclamou o vidente, com vo'angustiadaG - o amor que l(e professo me desarmou

- M+o é assim, - disse-l(e a (orr<vel apari*+oG - eu posso conceder-l(eo meio de salvá-la ?u posso pIr em sua m+o o remédio que l(e dará asnecessárias for*as para vencer a crise e viver

- = seu remédio salvará ambos, a m+e e o fil(o

- Aim

Zanoni estremeceuG uma grande luta deu-se no seu <ntimo, depois daqual sentiu-se débil como uma crian*a F a umanidade e a ora venceram oseu esp<rito

- Dedo Aalve a m+e e o fil(o - exclamou, por fim

Mo obscuro quarto, estava >iola na cama, nas mais agudas agoniasdo partoG a vida parecia esgotar- se com os gritos e gemidos que, no meio dodel<rio, revelavam seus sofrimentosG e sempre ainda, nos gemidos e gritos

c(amava o seu querido Zanoni = médico ol(ou o rel0gioG o Dora*+o do@empo batia com sua tranqRila regularidade, o Dora*+o que nunca simpati'oucom a >!87, nem se abrandou ante a 9orte

- =s gemidos est+o cada ve' mais fracos, - murmurou o médicoG - emde' minutos, tudo terá acabado

!nsensato =s minutos riem de tiG a Mature'a, neste mesmo instante,como o céu a'ul através de um @emplo arruinado, sorri através do torturadocorpo 7 respira*+o torna-se mais calma e regularG a vo' do del<rio se cala eum doce sono reparador se apodera de >iola H um son(o ou é uma realidade

que a sua alma v"

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3arece-l(e, de repente, que está ao lado de Zanoni, e que a suacabe*a ardente se ap0ia ao peito do esposoG parece-l(e que, enquanto ele acontempla, os ol(os do seu amado dissipam as dores que dela seapoderaram, e que o contato da sua m+o refrigera a sua testa, tirando-l(e afebre >iola ouve a vo' do esposo que murmura, é uma m5sica que afugenta

os inimigos =nde está a montan(a que parecia oprimir as suas fontes

?sse peso cruel desaparece como um vapor a*oitado pelo vento Momeio do frio de uma noite de inverno, v" aparecer o Aol, sorridente, no céusereno, ouve o murm5rio das verdes fol(asG o belo mundo, os vales, ascorrentes e as florestas se apresentam K sua vista e parecem di'er-l(e, emuma linguagem natural F :7inda existimos para ti ;

omem de drogas e receitas ol(a o seu vatic<nio =l(a o rel0gio F oprimeiro continuou andando e os minutos se sepultaram na ?ternidadeG aalma, que a sua senten*a teria despedido, permanece ainda nas praias do

@empo

>iola está dormindoG a febre cedeG as convuls6es n+o se repetemG arosa viva torna a florescer na sua faceG passado a crise omem, a suamul(er vive 7mante, o seu universo n+o é solid+o Dora*+o do @empobate Pm momento mais, um pequeno instante, e que alegria Que alegria 3ai, abra*a o teu fil(o

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CAPÍTULO II 

:@ristis ?rinnys3rtlit infaustas sanguinolenta faces;

=v<dio

:?rinnys, triste e sanguinolenta, estende os sinistros fac(os;

? o pai recebeu o fil(o nos seus bra*os ? enquanto o contemplava,silencioso, abundantes lágrimas caiam-l(e dos ol(os, lágrimas como as deum mortal qualquer

? a crian*a parecia sorrir ao sentir o calor das lágrimas queban(avam as suas faces

 7( Dom que doces lágrimas recebemos o ser descon(ecido quevem a este mundo de triste'a

Dom que ang5stia c(oramos quando vemos o ser descon(ecidoregressar Ks mans6es dos an)os Qu+o desinteressada é a nossa alegria 9as qu+o ego<sta é a nossa triste'a

?, agora, uma vo' doce e débil interrompe o sil"ncio que reina noquartoG é a vo' da )ovem m+e

- ?stou aqui, ao seu lado - murmurou Zanoni

 7 m+e sorriu, agarrando a m+o do esposo, e n+o perguntou nadamaisG estava contente

>iola recuperou a sa5de com uma rapide' que deixou admirado omédicoG e o pequeno estrangeiro recém-c(egado K vida terrestre, medravacomo se )á amasse o mundo ao qual (avia descido

8esde aquela (ora, Zanoni parecia viver na vida do seu fil(o, e nesta

vida as almas do pai e da m+e encontraram um novo la*o de amorMunca a vista de um pai contemplou criatura mais formosa do que

esta 7s aias estran(avam que a crian*a n+o c(orasse ao ver a lu', mas, aocontrário, sorrisse, como se a lu' l(e (ouvesse sido familiar )á antes denascer

Munca se ouviu um grito que o an)in(o tivesse dado por sentir algumador que costuma afligir as crian*as

Mo seu tranqRilo repouso, parecia escutar alguma vo' suave que l(e

falava ao cora*+oG parecia t+o feli'

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Quem l(e contemplava os ol(os, sentia que neles estava )á aceso ointelecto, embora ainda n+o falasse

@ambém pareci a con(ecer )á seus paisG pois estendia os bra*os,quando Zanoni se inclinava sobre o leito, no qual a crian*a respirava e se

desenvolvia, como um bot+o em flor

? rara ve' se apartava Zanoni deste leitoG contemplando-o com seusol(os serenos e alegres, parecia a sua alma alimentar a alma do recém-c(egado, e permanecia ali até que a escurid+o da noite fosse completa

>iola o ouvia murmurar, mas n+o compreendia o que o seu esposodi'ia, porque ele falava em uma l<ngua que l(e era descon(ecida

 [s ve'es, quando o ouvia, sentia um certo medo, como se aassaltassem vagas e indefin<veis supersti*6es, as supersti*6es dos primeiros

anos da sua )uventude

 7s m+es temem sempre, até o pr0prio 8eus, quando se trata do seufil(o

=s mortais se alarmavam também, quando, na antiguidade, viam agrande 8emeter querendo tornar imortal algum fil(o (umano

Zanoni, porém, envolvido nos sublimes des<gnios que animavam oamor (umano que agora despertara em seu cora*+o, esquecia tudo, até oque (avia perdido e os perigos que (avia atra<do, pois este amor n+o odeixava ver com a clare'a necessária

9as a negra e informe sombra, embora n+o a invocasse nem aenxergasse, arrastava-se, muitas ve'es, ao redor dele, e sentava-se,freqRentemente, )unto ao leito da crian*a, envolvendo-a em um ol(ar torvo eodioso

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CAPÍTULO III 

:2uscis tellurem amplectitur 7lis; >irgilio

:7bra*a a terra com asas sombrias;

#4RT4 D! Z4NONI > !?NOUR

9e)nour, a umanidade, com todos os seus pesares e com todas assuas alegrias, outra ve' me conta o n5mero dos que l(e pertencem 8e diapara dia, vou for)ando min(as pr0prias cadeias >ivo mais em outras vidas, doque na min(a pr0pria, e nelas perdi )á mais da metade do meu dom<nio M+osou capa' de elevá-la Ks alturas, e assim me arrastam K terra, pelos fortesla*os do afeto 7bandonado dos Aeres amigos, vis<veis somente quando os

sentidos est+o submergidos em uma profunda abstra*+o, fiquei preso nasredes do terr<vel !nimigo que guarda o Pmbral Drer-me-ás quando te disserque aceitei os seus servi*os e que sofro as conseqR"ncias da perda dosmeus poderes anteriores Aéculos e Aéculos ter+o que passar, antes que osesp<ritos puros possam novamente obedecer ao que se tem inclinado ante opoder do espectro impuro;

Mesta esperan*a, pois, 9e)nour, triunfo ainda, ainda ten(o um poderabsoluto sobre esta )ovem vida !nsens<vel e imperceptivelmente a min(aalma fala K sua Aabes que para o puro e imaculado esp<rito infantil, a prova!niciática n+o oferece terror nem perigo 7ssim, pois, incessantementealimenta a sua alma com a serena lu'G e antes de que ela se)a consciente dodom, desfrutará os privilégios que eu alcancei 7 crian*a comunicarágradualmente, e sem que o advirta, seus pr0prios atributos K m+e, e, contenteao ver a )uventude sempre radiante na frente dos seres que bastam, agora,para enc(er toda a min(a infinidade de pensamento, porque me afligiria o fatode que estou perdendo, a cada ve' mais, o contato com o reino das aéreasalturas @u, porém, cu)a vista ainda é clara e serena, diri)a o teu ol(ar aoslong<nquos abismos, onde n+o me é dado penetrar, e aconsel(a- me ouadverte-me Aei que os favores do Aer, cu)a ra*a é t+o (ostil K nossa, s+o,para um pesquisador vulgar, fatais e pérfidos, como ele mesmo 3or isso,

quando os (omens, ao c(egar K extremidade do con(ecimento, K qualc(amavam, na antiguidade, 9agia, encontravam os seres das tribos (ostis,acreditavam que as apari*6es eram esp<ritos infernais, e que, por contratosimaginários, (aviam feito entrega da sua alma, como se o (omem pudessedar, por uma eternidade, uma coisa sobre a qual tem dom<nio somenteenquanto vive

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2ec(ados no seu impenetrável e escuro reino, os demInios rebeldesocultavam-se perpetuamente Ks vistas (umanas Mos esp<ritos malignos n+o(á sopro algum de 8ivindadeG sopro esse que alenta a criatura (umanaG e s0ele tem o poder para )ulgar depois o que é dele, e destinar-l(e uma novamorada e nova carreira Ae o (omem pudesse vender-se a um esp<rito

infernal, teria a capacidade de )ulgar-se atentamente a si mesmo e arrogar-seo poder de dispor da eternidade 3orém, essas criaturas, n+o sendo mais doque modifica*6es da matéria, e algumas mais malignas do que o maismaligno dos (omens, podem muito bem parecer ao medo e K supersti*+o quen+o raciocina, os representantes dos seres infernais ? do mais escuro e maispoderoso entre eles, eu aceitei um favor, o segredo que afastou a 9orte dolado das pessoas que me s+o t+o caras M+o devo confiar que me sobraainda bastante poder para afrontar ou intimidar o fantasma, se quiserperverter a sua dádiva Cesponda-me, 9e)nourG pois, na obscuridade quevela a min(a vista, n+o ve)o sen+o os puros ol(os do meu fil(o, nem ou*omais do que o bater do meu cora*+o Cesponda-me tu, cu)a sabedoria está

livre do amor ;

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C=97

:?sp<rito ca<do ?u ve)o diante de ti o 9al, a 9orte e a 8or  7bandonaste 7donai pelo inominável fantasma, as bril(antes estrelas poraqueles (orr<veis ol(os 3or fim, vais ser a v<tima da Larva do terr<vel Pmbral,desse espectro que no seu primeiro noviciado, fugiu, vencido, ante o teusoberano ol(ar Quando, aos primeiros degraus da !nicia*+o, o disc<pulo queme entregaste nas praias da transformada 3artenope, desmaiou aterrori'adopela presen*a do Megro 2antasma, compreendi que o seu esp<rito n+o estavaapto para penetrar nos mundos que se estendem além do f<sicoG porque omedo é a atra*+o maior que o (omem sente para a terraG e, enquanto teme,n+o pode elevar-se Ks alturas 3orém, n+o sabes que amar n+o é outra coisaque temer M+o v"s que o poder, de que se )acta de possuir ainda sobre amaligna apari*+o, )á se desvaneceu ?sse espectro te assusta e te domina'omba de ti e engana-te M+o perca um momentoG vem pessoalmente falarcomigo Ae existe ainda suficiente simpatia entre n0s, verás por meio dosmeus ol(os e poderás, talve', guardar-te dos perigos que, informes ainda, e

envoltos entre sombras, se agrupam em redor de ti e daqueles a quem o teuamor tem condenado a sofrer a tua sorte >em, desprendendo-te de todos osla*os com que afei*6es (umanas o retém em seu dom<nioG pois n+o fariammais do que obscurecer a tua vista >em, livre dos teus temores e das tuasesperan*as, dos teus dese)os e das tuas paix6es >em, e lembra-te que amente s0 pode ser o monarca e o vidente, quando bril(a através da mans+oem que reside, em sua qualidade de intelig"ncia pura, sublime e livre deal(eias impress6es;

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CAPÍTULO IV 

:3lus que vou nes pense' ce moment est terrible;

La arpe, :Le Domte de arwicE;, acte !!!, sc"ne ^

:?ste momento é mais terr<vel do que pensais;

3ela primeira ve', desde a sua uni+o, Zanoni e >iola se ac(avamseparados Zanoni precisava ir a Coma, por causa de neg0cios deimportânciaG porém, segundo di'ia, a sua aus"ncia devia ser muito curta, epartiu t+o de repente, que n+o deu tempo a surpresa nem K triste'a M+oobstante, a primeira despedida é sempre mais melanc0lica do que se pensaGpois parece ser uma interrup*+o para a exist"ncia em que o 7mor está

enla*ado com outro 7mor, e fa' com que o cora*+o sinta o va'io que (á deficar na vida, quando c(ega a (ora da 5ltima separa*+o

3orém, >iola tin(a agora um novo compan(eiroG go'ava daqueladeliciosa novidade que renovava sempre a )uventude e deslumbrava os ol(osda mul(er Domo amante e esposa, a mul(er se ap0ia em um outro ser(umanoG e deste outro se reflete a sua felicidade, e a sua exist"ncia, comoum planeta toma do Aol a lu'

Aendo, porém, m+e, a mul(er passa do estado de depend"ncia aoestado de poderG é um outro Aer, agora, que nela se ap0iaG é uma estrela quesurgiu no espa*o, para a qual ela mesma se tornou o Aol

 7 aus"ncia será curta, apenas de alguns dias, mas (averá uma coisaque suavi'ará a sua triste'a Pns dias, cada (ora dos quais parece uma erapara a crian*a, sobre a qual se inclinam, vigilantes, os ol(os e o cora*+o8esde a vig<lia ao sono, e do sono K vig<lia, se efetuará uma Cevolu*+o no@empo Dada novo gesto, cada novo sorriso do pequerruc(o parece ser umnovo progresso no mundo que se tornou aben*oado para a m+e, com a vindado fil(o adorado

Zanoni partiu, emudeceu o 5ltimo ru<do do remo, a 5ltima onda que agIndola deixou, desapareceu nas águas plácidas de >ene'a = fil(o estádormindo no ber*o, ao pé da m+eG e enquanto esta derrama as lágrimas dadespedida, pensa )á em tudo o que terá que contar ao pai quando voltar, poisaquele ber*o, que é para ela um imenso mundo c(eio de maravil(as, l(eoferecerá abundante assunto Cie c(ora, )ovem m+e 7 fol(a mais bela noestran(o livro do seu destino )á está fec(ada para si, e o dedo invis<vel volta apágina

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4unto K ponte do Cialto estavam dois >ene'ianos, ardentesrepublicanos e democratas, que consideravam a Cevolu*+o 2rancesa comoum terremoto que devia derrubar também a expirante e viciada constitui*+ode >ene'a, e estabelecer a igualdade de classes e direitos também nestacidade

- Aim, Dotalto, - di'ia um deles, - o meu correspondente de 3aris meprometeu que venceria todos os obstáculos e evitaria todos os perigos ?ledeterminará, de acordo conosco, a (ora da Cevolu*+o, que será quando aslegi6es francesas estiverem t+o perto que possam ouvir o eco de nossoscan(6es Pm dia desta semana, a esta mesma (ora, deve vir encontrar-meaqui o)e é o quarto dia dos sete, durante os quais devo esperar a sua vinda 7penas (avia acabado de pronunciar estas palavras, apareceu um (omem,envolto em seu :rocl0; S\&T, o qual acabara de sair de uma das estreitas ruas,K esquerda

?ste (omem deteve-se diante dos dois >ene'ianos, e, depois de

examiná-los durante alguns instantes, com ar sério e perscrutador, disse, emvo' baixa, e em 2ranc"s F S\\T - Aalut S\%T- :?t 2raternité;- respondeu o que(avia falado

- H pois, o sen(or, o valente 8andolo a quem o :Domit"; me envioupara nos entendermos ? este cidad+o- H Dottalto, cu)o nomefreqRentemente mencionei em min(as cartas- Aa5de e 2raternidade paraele @en(o que l(e di'er muitas coisas a ambos ei de falar contigo estanoite, 8andoloG porém, na rua poder<amos ser observados- ? eu n+o meatrevo a di'er-l(e que ven(a K min(a casaG a tirania converte em espias atéas nossas paredesG porém, o lugar que l(e designo neste bil(ete, é seguro

?, di'endo isto, pIs um papel'in(o na m+o do seu interlocutor- 3ois,até Ks de' (oras, nesta noite 7gora ten(o que pIr em ordem ainda outrosneg0cios

= (omem, envolto no :rocl0;, calou-se um instante, e, em seguida,prosseguiu, com vo' misteriosa F - ?m sua 5ltima carta, me fala desse (omemrico e misterioso desse Zanoni ?stá ainda em >ene'a

- =uvi di'er que (avia partido esta man(+G porém, a sua esposa está

ainda aqui- 7 sua esposa ?stá bem

- Que sabe dele 3ensa que se unirá conosco 7 sua rique'aseria

- 7 sua casa, o seu endere*o 8epressa - interrompeu oestrangeiro

- = palácio de OOO, no Jrande Danal

- 7grade*o-l(eG Ks de' nos encontraremos

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= (omem dirigiu-se, com passo rápido, para a rua de onde vieraG equando passava pela frente da casa onde estava alo)ada pois (avia c(egadoem >ene'a na noite anterior1, uma mul(er que estava K porta, agarrou-o pelobra*o e disse-l(e, em 2ranc"s F - Aen(or, eu estava aguardando o seu

regresso ?ntende-me 8esafiarei tudo, a tudo me atreverei para voltarcontigo K 2ran*a, para estar, viva ou morta, ao lado do meu marido - Didad+,prometi ao seu esposo que se assim o dese)asse, arriscaria a min(aseguran*a para a)udá-la a reali'ar o seu dese)o 3orém, reflita bem = seumarido pertence a um partido, sobre o qual Cobespierre tem fixado os seusol(osG ele n+o pode fugir 7 2ran*a inteira é uma pris+o para toda a pessoasuspeita Ae regressar K 2ran*a, corre um grave perigo 2rancamente, cidad+,aguarda-l(e a guil(otina ?u l(e falo, como o seu marido me encarregouG )á osabe por sua carta

- Aen(or, eu quero regressar contigo, - insistiu a mul(er, com um

sorriso no pálido semblante

- ?, sem embargo, abandonou o seu marido no momento em quemais bril(ante aparecia o Aol da Cevolu*+o, e quer ir reunir-se a ele, agoraque ela está em forte tempestade e trovoada - respondeu o (omem, em tomentre admirado e de censura

- 2oi porque, ent+o, os dias do meu pai estavam amea*ados, porquen+o l(e restava outra salva*+o sen+o a fuga para um 3a<s estrangeiroGporque era vel(o e pobre, e n+o tin(a ninguém que por ele trabal(asse, a n+oser euG porque, naquele tempo, o meu marido n+o estava em perigo, e o meupai estava 3orém, o meu pai faleceu, e o meu marido corre perigo agora =sdeveres da fil(a terminaram, e os da esposa persistem

- Domo quer, cidad+G parto na terceira noite pr0xima 8urante o tempoque ainda l(e sobra, pode refletir e mudar de decis+o

- Munca Pm sorriso triste apareceu no semblante do (omem

- Y guil(otina - exclamou ele - Quantas virtudes t"m revelado Bempodem dar-l(e o nome de :Aanta 9+e;, 0 sanguinolenta guil(otina

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CAPÍTULO V 

:De que )Uignore?st plus triste, peut-"tre, et plus affreux encore;Laarpe, :Le Domte de arwicE;, acte >, sc"ne /

:= que ignoro é, talve', ainda mais triste e mais assustador;

>iola estava sentada )unto K )anela aberta 7o pé, murmuravam asbril(antes águas que corriam sob um Aol radiante 9uitos dos elegantescaval(eiros, ao passarem nas suas gIndolas, dirigiam ol(ares curiososKquela formosa criatura- 3or fim, no centro do canal, parou um dessesescuros vasos, e um (omem, que ia dentro, por detrás da gelosia, fixou ool(ar naquele ma)estoso palácio = (omem disse algumas palavras aosremadores, e a gIndola aproximou-se da margem = estrangeiro saltou, e,

subindo a larga escada, entrou no palácio

D(ora para nunca mais sorrir, 0 )ovem m+e 7caba de virar-se a5ltima página do livro do destino Pm criado entrou no quarto e entregou a>iola um bil(ete, no qual estavam escritas as seguintes palavras em !ngl"s F:>iola, é necessário que a ve)a - Dlar"ncio Jlyndon; =(, sim Que entre Dom alegria o verá >iola Dom que satisfa*+o l(e falará da sua felicidade, deZanoni Dom que pra'er l(e mostrará o seu fil(o 3obre Dlar"ncio ?la otin(a esquecido até agora, como tin(a esquecido toda a agita*+o da sua vidade solteira, todos os son(os e as vaidades daqueles anos )uvenis, aslâmpadas do luxuoso teatro, os entusiásticos aplausos da ruidosa multid+o

Jlyndon entrou >iola ficou surpreendida ao v"-lo t+o mudadoG ogracioso e sereno semblante do artista amador (avia-se transformadoG afronte era melanc0lica e denotava cuidados, afli*6es e, ao mesmo temporesolu*+o = seu tra)e, ainda que n+o fosse como o das classes mais baixas,era tosco, notando-se mesmo certo descuido e desordem Pm aspecto meioselvagem substitu<ra aquela franque'a de fisionomia, desconfiada no meio dasua gra*a e séria em sua desconfian*a, que caracteri'ava, em outro tempo, o )ovem adorador da 7rte, o aspirante a uma ci"ncia superior

- H voc", realmente - perguntou, por fim, >iola- 3obre Dlar"ncio, como está mudado

- 9udado - replicou abruptamente Jlyndon, sentando-se ao lado de>iola

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- ? a quem devo agradec"-lo, sen+o aos inimigos satânicos, - aosfeiticeiros, - que se apoderaram da sua exist"ncia, igualmente como da min(a >iola, ou*a-me á algumas semanas que eu soube que estava em>ene'a Aob outros pretextos e correndo in5meros perigos, vim cá,arriscando a liberdade, e talve' a vida, se o meu nome e a min(a carreira

c(egam a ser con(ecidos em >ene'a, e vim cá unicamente para adverti-la esalvá-la 8i' que estou mudado 3orém, o intimo 8"-se por avisadaenquanto ainda é tempo = tom l5gubre com que Jlyndon pronunciou estaspalavras alarmou >iola 7 palide' que cobria o semblante do estrangeiro fa'iaparecer-se com o espectro que abandonara a tumba- Que é o que di' -balbuciou >iola

- H poss<vel- ?scute-me, - interrompeu Jlyndon, pondo a m+o, friacomo a de um morto, sobre o bra*o da )ovem, - escute Aem d5vida, ouviufalar desses (omens que formam pactos com demInios, com o ob)eto dealcan*ar poderes sobrenaturais ?stas (ist0rias n+o s+o meras fábulas @ais

(omens existem, e o seu pra'er é aumentar o maldito c<rculo a quepertencem, procurando fa'er novos adeptos, para torná-los t+o desgra*adoscomo s+o eles mesmos Ae os seus prosélitos n+o resistem K prova, odemInio se apodera deles )á nesta vida, como sucedeu a mim @riunfam-se,ai A+o infeli'es, mil ve'es mais infeli'es á outra vida, onde nen(um feiti*opode encantar o esp<rito maligno ou aliviar a tortura que se sofre >en(o deuma cena onde o sangue corre a torrentes, onde a 9orte leva os maisintrépidos e os mais elevados, e onde o 5nico monarca é a Juil(otinaG porém,todos os perigos mortais que podem rodear os (omens, nada s+o, quandocomparados com o tremendo quarto onde o orror, que excede o da morte,se move e se agita ? Jlyndon contou a >iola, com uma fria e clara precis+o,minuciosamente, como antes o fi'era com 7délia, a !nicia*+o pela qual (aviapassado 8escreveu, com palavras que gelavam o sangue da sua ouvinte, aapari*+o do fantasma disforme, com os ol(os que queimavam o cérebro egelavam a medula >isto uma ve', o fantasma nunca mais se podia afugentarAurgia quando queria, sugerindo negros pensamentos, murmurandoestran(as tenta*6es A0 n+o se deixava ver, quando a sua vitima se ocupavaem cenas de turbulenta excita*+o 7 solid+o, a tranqRilidade de esp<rito, a lutapara _alcan*ar uma exist"ncia virtuosa, estes eram os elementos que ofantasma gosta de perturbar

Aem saber o que se passava em sua alma, e presa de terror, ouvia>iola a estran(a est0ria que veio confirmar-l(e as negras apreens6es que, nomeio da confian*a do afeto, nunca (aviam sido examinadas profundamente

 7o contrário, eram sempre banidas logo que surgiam no seu cora*+o,- os receios de que a vida e os atributos de Zanoni n+o fossem como osdemais mortais, - impress6es que o seu amor, até agora, l(e censurara comosuspeitas in)uriosas, e que, assim mitigadas, (aviam servido, talve', somentepara consolidar mais as fascinantes cadeias com que Zanoni (aviaaferrol(ado o seu cora*+o e os seus sentidos

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 7gora, porém, depois de ter-l(e Jlyndon contagiado o seu terror pormeio da espantosa narra*+o que acabava de fa'er-l(e, desvaneceu-se partedo encanto que sentira até este momento >iola, tremendo de medo, n+o porsi mesma, levantou-se precipitadamente e agarrou nos seus bra*os o fil(o,apertando-o contra o cora*+o

- !nfeli' - exclamou Jlyndon, estremecendo - é realmente a m+e deuma v<tima que pIs no mundo e que n+o pode salvar 7( Megue-l(e oalimento, deixe morrer o fil(o dele Mo t5mulo, ao menos, se encontra orepouso e a pa' ?nt+o, apresentou-se K mente de >iola a recorda*+o daslongas (oras que Zanoni, de noite, passava ao lado do ber*o, e do medo quedela, )á várias ve'es, se apoderava, quando ouvia como ele, naquelasocasi6es, murmurava palavras inintelig<veis

 7 crian*a ol(ava-o firmemente com seus claros ol(os, e naquele ol(arestran(o e inteligente, >i ola acreditava ver alguma coisa que confirmava o

seu terror

?m sil"ncio, permaneceram ambos, a m+e e o amigoG um raio de Aolentrava, rison(o, pela )anela, e )unto ao ber*o, embora n+o o vissem, estavaacordado e im0vel, o velado ?spectro

3ouco a pouco, porém, recorda*6es mel(ores, mais )ustas, maisgratas do passado vieram ocupar o seu lugar na mente da )ovem m+e

 7s fei*6es do fil(o, quando o ol(ava, tomavam o aspecto do paiausente

3arecia que uma vo' triste e melanc0lica saia daqueles rosadoslábios e di'ia-l(e F :?u l(e falo por intermédio do seu fil(o 7 troco de todo oamor que sinto por ti e por ele, voc" desconfia e duvida de mim, K primeirasenten*a de um man<aco que me acusa ;

>iola sentiu dilatar-se o seu cora*+oG ergueu de novo o busto e osseus ol(os bril(aram com uma lu' clara e serena

- Cetire-se, pobre v<tima de doidas ilus6es, - disse ela a Jlyndon

- ?u n+o creria nos meus pr0prios sentidos, se acusassem o pai domeu fil(o ? que sabe voc" de Zanoni Que é que t"m que ver 9e)nour e osterr<veis espectros que ele invocou, com a radiante imagem com a qualpretende pI-los em rela*+o

- ?m breve o saberá - replicou Jlyndon, melancolicamente

- = mesmo fantasma que me persegue murmura no meu ouvi do,coisas (orr<veis que a esperam e aos seus 7inda n+o creio em sua decis+oGantes de partir de >ene'a, virei v"-la outra ve' 7deus

? com estas palavras retirou-se

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CAPÍTULO VI 

:Quel est lUégarement ou ton âme se livre ;

La arpe, :Le Domte de arwicE;, acte !>, sc"ne %

:Qual é a ilus+o a que a tua alma se entrega ;

 7(, Zanoni 9isterioso e iluminado aspirante da Aublime Di"ncia

4ulgou duradouro o la*o entre o (omem que sobreviveu aos Aéculose a fil(a de um dia

M+o previu que, enquanto ela n+o tivesse passado pela prova!niciática, n+o podia estabelecer-se K igualdade entre a sua sabedoria e o seu

amor

?stá ausente agora, buscando, no meio dos seus augustos segredos,a solene prote*+o para o fil(o e a m+e, e esquece que o fantasma, que l(eserviu, tem um poder sobre os dons que l(e concedeu, sobre as vidas que l(eensinou a salvar da morte

M+o sabe que o 9edo e a 8esconfian*a, uma ve' semeados nocora*+o do 7mor, germinam, e da pequena semente se transformam em umaespessa floresta, que oculta as estrelas

omem misterioso e iluminado, n+o v" como os odiosos ol(os doespectro bril(am ao lado da m+e e do fil(o

8urante aquele dia inteiro, mil(ares de negros pensamentos eterrores atormentaram >iolaG pensamentos que se desvaneciam quando osexaminava, mas tornavam, depois, a se apresentar mais tenebrosos ainda

?la se lembrava, como um dia (avia contado K Jlyndon que, em suameninice e nos primeiros anos da sua )uventude, (avia sentido estran(ospresságios de que estava destinada para alguma coisa sobrenatural

Cecordava-se também que, quando l(e dissera isto, estando ambossentados )unto ao mar, que dormia nos bra*os da Ba<a de Mápoles, eletambém l(e participara que se lembrava de (aver sentido presságios domesmo g"nero, e que uma misteriosa simpatia parecia unir os seus destinos

>iola se recordava, principalmente, de que, comparando os seusconfusos pensamentos, ambos (aviam, ent+o, confessado que, ao ver Zanonipela primeira ve', o instinto, manifestando-se por aquele pressentimento, l(etin(a falado em seus cora*6es mais perceptivelmente do que antes,advertindo-os de que :com aquele (omem estava ligado o segredo da vida,

cu)os enigmas se l(es apresentavam insol5veis;

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? agora, que Jlyndon e >iola tornavam a se encontrar, outra ve'aqueles temores da meninice pareciam despertar do seu sono encantado

>iola sentiu uma simpatia com o terror de Jlyndon, contra a quallutaram em v+o a sua ra'+o e o seu amor

?, todavia, quando volvia os ol(os para o fil(o, este a ol(ava de umaforma particular, ol(ando-a seriamente, e os seus lábios, embora n+oarticulassem som algum, se moviam como se l(e quisesse falar

= pequeno n+o queria dormir 7 qualquer momento que ela ool(asse, sempre encontrava aqueles ol(os abertos e vigilantes, como se, emsua seriedade, revelassem alguma dor, alguma repreens+o, algumaacusa*+o

 7queles ol(os a gelavam cada ve' que os contemplava !ncapa' de

suportar aquela repentina e completa mudan*a que acabavam de sofrer todosos seus sentimentos tomou uma resolu*+o, pr0pria Ks mul(eres do seu 3a<s edo seu credo F mandou buscar o sacerdote que diri gia a sua consci"nciadesde que estava em >ene'a, e confessou-l(e, entre lágrimas e intensoterror, as d5vidas que a atormentavam

= bom padre, (omem digno e piedoso, porém de pouca ilustra*+o emenos senso comum, que até aos poetas tin(a por feiticeiros como até (o)ese dá com muitos dos !talianos das baixas classes sociais1, pareceu cerrar aoseu cora*+o as portas da esperan*a =s seus preconceitos eram veementes,porque o (orror que sentia o bom religioso, n+o era fingido Pnindo os seusrogos aos de Jlyndon, aconsel(ou a >iola que fugisse, se abrigava a menord5vida a cerca das inten*6es e cren*as do esposo e se acreditava que eramdaquelas por causa das quais a !gre)a Comana (avia queimadobenevolamente tantos (omens de ci"ncia, quando as adotavam

? até o pouco que >iola pIde comunicar pareceu ao ignoranteascético uma prova irrefutável de feiti*ariaG pois, prevenido por alguns dosboatos que circularam a cerca de Zanoni, ac(ava-se disposto a crer o pior

= digno Bartolomeu teria enviado, sem menor escr5pulo, o inventor

att K fogueira, se tivesse ouvido falar da máquina a vapor>iola, t+o pouco instru<da como o seu confessor, tremeu ao ouvi-lo

falar com sua rude e apaixonada eloqR"ncia, temeu, sim, pois com essapenetra*+o que os sacerdotes da !gre)a Dat0lica Comana, por maisignorantes que se)am, geralmente adquirem em sua vasta experi"ncia docora*+o (umano, que podem examinar a toda (ora, Bart(olomeu l(e falavamenos dos perigos que ela corria do que aqueles que amea*avam o seu fil(o

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- =s feiticeiros - di'ia o padre - tratam sempre de atrair e sedu'ir aalma dos )ovens, sobretudo a das crian*as ?, sobre este tema, referiu osacerdote um grande n5mero de contos e lendas, dando-os como fatos(ist0ricos @udo isso, que teria feito rir uma inglesa, aterrori'ou asupersticiosa MapolitanaG e quando o seu confessor se ausentou, depois de

l(e ter manifestado as graves penas em que incorreria se faltasse aosdeveres que l(e impun(a a sua condi*+o de m+e e se (esitasse de fugir como fil(o, de uma morada contaminada por poderes tenebrosos, >iola, que aindase apegava K imagem de Zanoni, caiu em profundo abatimento que paralisoutodas as suas faculdades racionais

!nadvertidamente, passavam as (orasG veio a noiteG um sil"nciosepulcral reinava no palácio >iola, despertando, pouco a pouco, doentorpecimento em que mergul(ara, come*ou a agitar-se, muito perturbada,no seu leito = sil"ncio tornou-l(e intolerável, e mais intolerável ainda foi oru<do que veio interromp"-lo, quando o som do rel0gio l(e recordou que cada

minuto era um passo que dava no camin(o para o t5mulo =s momentos, porfim, pareceram encontrar uma vo' e uma forma >iola )ulgou v"-los sair,pálidos e semel(antes Ks sombras das apari*6es, do seio da escurid+oG eantes de tornarem a extinguir-se na mesma escurid+o, que l(es servia detumba, murmuravam em vo' baixa F

- 9ul(er, n0s relatamos K ?ternidade tudo o que se fa' no tempo Que é o que diremos de ti, guarda de uma inocente alma recém-nascida >iola sentia que as fantasias a tin(am feito cair em uma espécie de del<rio eque se encontrava em um estado entre o sono e a vig<lia, quando, de repente,um pensamento tornou-se mais persistente do que os demais = quarto que,tanto nesta casa como em todas as que (aviam (abitado, inclusive a das il(asJregas, Zanoni reservava para si, cuidando que ninguém pudesse neleentrar, e em cu)o umbral até a >iola era proibido pIr os pés, nunca (aviaprovocado a sua curiosidade, naquele doce estado de tranqRila confian*a queinspira um amor satisfeitoG agora, porém, esse quarto parecia c(amá-la cominsist"ncia @alve' encontraria ali, alguma coisa que a a)udasse a decifrar oenigma, ou que, ao menos, dissipasse ou confirmasse as suas d5vidas ?stepensamento crescia e aprofundava-se em sua mente, tornando-se cada ve'mais forte e irresist<vel, e parecia apoderar-se dela e obrigá-la a obedecer-l(e,sem que nisso tivesse parte a sua vontade

? agora, eis que se aventura a penetrar nesse quarto, atravessandoas galerias, e ac(ando-se em um estado antes de sono do que de vig<lia, sebem que camin(e com os ol(os abertos 7 Lua bril(a sobre si, quando passapor diante das )anelas, vestida de branco, como um esp<rito errante Dom osbra*os cru'ados sobre o peito e com os ol(os fixos 9+e é o seu fil(o que aguia =s solenes momentos marc(am diante de siG ouve ainda o som dorel0gio que está marcando os minutos que v+o caindo na sepultura do tempo!ndo passo a passo, c(egou K portaG nen(uma fec(adura a detém, nen(umencantamento mágico a repele

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2il(a do p0 permane*a s0 com a noite, no quarto onde, pálidos einumeráveis, os (abitantes do espa*o costumavam reunir-se em redor dovidente

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CAPÍTULO VII 

:8es ?rdenlebens Ac(eweres @raumbild sinEt, sinEt und sinEt;

8as !deal ,und das Leben

:7 pesada ilus+o da vida terrestre vai afundando-se cada ve' mais;

 7o encontrar-se dentro do quarto, >iola pIs-se a examiná-lo todoG n+ose via nele o menor sinal nem o instrumento pelos quais um inquisidor tivessepodido descobrir um disc<pulo da 7rte Megra

M+o (avia ali cris0is, nem caldeiras, nem volumes comencaderna*6es de cobre ou lat+o, nem cintos cifrados, nem crânios, nem

cru'es de ossos

Dalmamente a Lua iluminava aquele quarto va'io, deixando ver suasparedes brancas e limpas

 7lguns feixes de ervas secas e alguns vasos antigos de bron'e,postos desordenadamente sobre um banco de madeira, eram os 5nicosob)etos que um ol(ar curioso podia ver naquele recinto, e pIr em rela*+o comas ocupa*6es do proprietário ausente

 7 9agia, se realmente existia, residia no art<fice, pois, para qualqueroutra pessoa, os materiais que (avia ali n+o representavam sen+o ervas ebron'es

 7ssim sucede sempre com suas obras e maravil(as, 0 J"nio, queprocura os 7stros 7s palavras s+o uma propriedade comum de todos os(omensG e, sem embargo, s0 com palavras, Y 7rquiteto de !mortalidadeseriges @emplos que sobreviver+o Ks 3irâmides, e cada fol(a de papiroconverte-se em um ma)estoso A(inar, com suntuosas torres, em torno do qualo 8il5vio dos Aéculos ruirá em v+o

3orém, a presen*a daquele que, nesta solid+o, (avia invocado tantasmaravil(as, n+o deixou aqui algum dos seus encantamentos 3arecia quesimG pois >iola sentiu que, dentro daquele quarto se verificava uma misteriosamudan*a em sua sensa*+o de pra'er, parecia-l(e que pesadas cadeiascaiam dos seus membros uma atrás de outra @odos os confusospensamentos que se (aviam acumulado em sua mente durante o estado quen+o era nem sono, nem vig<lia, concentram-se em um intenso dese)o de ver omarido ausente e de estar com ele

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 7s mInadas que formavam o espa*o e o ar pareciam carregadas deespiritual atra*+o, para converter- se em um meio pelo qual o seu esp<rito,libertando-se da sua pris+o de barro, pudesse pIr-se em comunica*+o diretacom o outro esp<rito, ao qual a impelia o seu dese)o ?nt+o sentiu umadebilidade que a obrigou a sentar-se no banco onde estavam os vasos e as

ervas e, ao abaixar-se, viu que, dentro de um vaso de cobre, estava umpequeno frasco de cristal Levada por um impulso mecânico e involuntário, asua m+o agarrou o frasquin(o, e abriu-o !mediatamente, escapou de dentrouma ess"ncia volátil, que espal(ou pelo quarto uma forte e deliciosafragrância

>iola inalou o aroma e friccionou as suas fontes com o l<quidoG e, derepente, sentiu que l(e passava aquela debilidade, para dar lugar a uma novaenergia, parecendo-l(e que se elevava no ar e que voava = quartodesapareceu da sua vista Longe, longe, cru'ando terras e mares eatravessando o espa*o, nas asas do vivo dese)o voa a mente, sa<da da pris+o

?m uma esfera, n+o deste mundo, mas de um outro, viam-se as formas dosfil(os da ci"ncia, sobre um mundo em embri+o, sobre uma imperfeita, pálida eleve massa de matéria, sobre uma das nebulosidades que os s0is dosmil(ares de sistemas arremessam de si, ao guiarem ao redor do trono doDriador, para converter-se essa massa em novos mundos de gl0riaG emplanetas e s0is que, eternamente, por sua ve', multiplicar+o a sua bril(antera*a e ser+o os pais de outros s0is e planetas futuros

 7li naquela enorme solid+o de um mundo nascente, que s0 nodecorrer de mil(ares e mil(ares de anos pode alcan*ar a forma regular, oesp<rito de >iola viu a figura de Zanoni, ou antes, a sua semel(an*a, o seusimulário, o :Lemur; a larva1 da sua forma, n+o a sua substância (umana ecorp0rea, e parecia-l(e que a sua !ntelig"ncia, como também a dela mesma,apenas se tivesse separado da 9atéria, e >iola compreendia que, como oAol, sempre girando e ardendo, (avia arro)ado no remot<ssimo espa*o aquelanebulosa imagem de si mesmo, assim o ser da terra, na a*+o da sua maisluminosa e duradoura exist"ncia, (avia arro)ado a sua semel(an*a naquelerecém- nascido estrangeiro dos céus

 7li estava o fantasma de Zanoni e, a seu lado, outro fantasma,9e)nour Mo gigantesco caos que os rodeava, lutavam e mesclavam-se os

elementosG a água e o fogo, as trevas e a lu' estavam em guerra, vapores enuvens se convertiam em montan(as, e o Aopro da >ida movia-se como umfirme esplendor sobre tudo

>iola ol(ava, como son(ando, e estremeciaG e observou que os doisfantasmas (umanos n+o estavam s0s 9onstros disformes que somenteaquele desordenado caos podia gerar, a primeira ra*a de colossais répteisque serpearam pelas primeiras camadas de um mundo nascente, afundavamna lodosa matéria ou se escondiam entre os vapores luminosos 3orémaquelas duas figuras (umanas n+o pareciam fa'er caso daqueles monstrosG asua vista se fixara em um ob)eto situado no lugar mais remoto do espa*o

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Dom os ol(os do esp<rito, >iola seguiu os ol(os desses dois (omensfantasmasG e, com um terror maior do que o que l(e pudera causar a vista doDaos e dos seus (ediondos (abitantes, avistou uma nebulosa semel(an*a doquarto em que, naquele momento, se ac(ava, com suas brancas paredes,com a Lua bril(ando sobre o assoal(o, com sua )anela aberta, os quietos

tel(ados, as torres e c5pulas de >ene'a refletindo-se no mar que murmuravaem baixo, e, naquele quarto, >iola viu a nebulosa imagem de si mesma ?steduplo fantasma, ou antes, ela mesma como um fantasma, contemplandooutro fantasma que era o seu perfeito reflexo, l(e inspirou um (orror que aspalavras n+o poderiam expressar, e que os anos, por mais numerosos, nuncafariam esquecer

Meste instante, viu, porém, a sua imagem levantar-se lentamente edeixar o quarto sem produ'ir ru<do, e, depois de atravessar o corredor,a)oel(ar-se ao lado do ber*o Déus ela v" o seu fil(o = seu fil(o,maravil(osamente belo, e com os seus serenos ol(os sempre abertos

3orém, ao lado do ber*o está acocorada uma negra sombra, coberta com ummanto, apari*+o tanto mais (orr<vel, que n+o se pode distinguir a sua forma, ev"-se que nada tem de (umano 7s paredes do quarto parecem abrir-se comoo cenário de um teatro 7parece um medon(o calabou*oG ruas por onde seprecipita uma multid+o furiosa, em cu)os rostos, de aspeto demon<aco, sev"m pintados a ira e o 0dioG uma pra*a c(eia de cadáveresG um instrumentode morteG uma carnificina medon(aG >iola mesma, o seu fil(o, tudo, passandocom a rapide' de uma furiosa fantasmagoria

8e repente, o fantasma Zanoni se voltou e pareceu reparar nela, noseu segundo ?u Zanoni correu a abra*á-laG o seu esp<rito n+o pIde resistirmais F >iola lan*ou um grito e despertou ?la viu que, efetivamente, (aviaabandonado aquele funesto quartoG o ber*o estava diante dela, e, no ber*o, ofil(o, tudo, tudo como o acabava de ver naquele :transe;, inclusive aquele(orr<vel, disforme espetro, que se desvanecia no ar

- 2il(o 9eu fil(o - exclamou >iola - 7 sua m+e o salvará

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CAPÍTULO VIII 

:Qui @oi mUabandonner = vas-tu Mon, demeure, demeure ;Laarpe, :Le Domte de arwicE;, acte !!!, sc"ne ^

:Quem @u abandonar-me 7onde vais M+o, fica, fica;

D7C@7 8? >!=L7 [ Z7M=M!

:M+o (á mais remédio - ?u o abandono ?u despe*o-me de ti parasempre Quando os seus ol(os lerem esta carta, me considerará como mortaGpois, apesar do que voc" foi e ainda é, min(a vida, eu n+o existirei para ti Ymeu caro esposo, a quem ainda amo e adoro Ae realmente me amou, e sede mim se compadece, n+o procure descobrir os passos que fogem de ti Aeo seu poder mágico é capa' de ac(ar-me, n+o me busqueG poupe-me, e

poupe o nosso fil(o Zanoni, eu o criarei e o ensinarei a amá-lo, e a l(ec(amar de pai Zanoni, os seus rubros lábios orar+o por ti 7( 3oupe o seufil(o, pois as crian*as s+o os santos da terra, e por sua media*+o podemosfa'er-nos ouvir no céu 8evo di'er- l(e por que parto 3or que fu)o M+oGvoc", sábio terr<vel, adivin(ará o que a m+o n+o se atreve a escreverG e, aopasso que estreme*o ao lembrar-me do seu poder e é desse poder que fu)ocom nosso fil(o nos bra*os1, consola-me o pensar que o seu poder pode lerno cora*+o

:>oc" saberá que l(e escreve a m+e fiel, e n+o a infiel esposa ápecado em sua ci"ncia, Zanoni = pecado (á de ser acompan(ado desofrimentoG mas doce, o(, qu+o doce ?ra para mim, ser o seu consolo3orém, o fil(o, o pequeno an)in(o, que, com os ol(os, me pede que o prote)a 9ago ?u l(e arrebato esta alma 7ngélica 3erdoe, perdoe, se as min(aspalavras o ofendem ou o fa'em sofrer =l(e, eu me pon(o de )oel(os paraescrever-l(e o resto ;

:3or que n+o fugi )á anteriormente, diante da sua misteriosa ci"ncia 3or que a estran(e'a da sua vida, t+o diferente da vida geral dos (omens daterra, n+o fa'ia mais que me fascinar com um delicioso temor 3orque, seera feiticeiro ou an)o-demInio, s0 (avia perigo para mimG e para mim n+o

podia (aver perigo algum, pois o meu amor era a parte mais divina do meuserG e a min(a ignorância em tudo, exceto na arte de amá-lo, repelia todo opensamento que n+o fosse aos meus ol(os t+o puro e t+o bril(ante como asua imagem 3orém, agora (á um outro Aer =l(a 3or que os seus ol(osme fitam assim 3or que esta eterna vig<lia e este ol(ar t+o sério erepreendedor 8ominaram- no )á os seus feiti*os 8estinou-o, o(, cruel 3ara os terrores da sua incompreens<vel arte M+o me fa*a enlouquecer M+o me fa*a enlouquecer 8esfa' o seu feiti*o ;

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:?scute =uve-se o ru<do dos remos ?les v"m vindo, v"m vindopara separar-me de ti =l(o em redor de mim, e parece-me que o ve)o emtodas as partes >oc" me fala em toda a sombra, em toda a estrela ali, )untoa )anela, os seus lábios me deram o 5ltimo bei)oG ali, ali, naquele umbral, voc"voltou a ol(ar-me mais uma ve', e o seu sorriso parecia di'er que confiava

em mim Zanoni - 9eu esposo - Quero ficar M+o posso separar-me de ti M+o, n+o !rei ao quarto onde a sua vo' querida, com sua m5sica suave,acalmava os meus sofrimentos =nde, através da escurid+o, a sua vo' foi aprimeira que murmurou ao meu ouvido F :>iola, é m+e - sim, eu me levanto, -Aou m+e ?les v"m vindo, para levar-me ?stou resolvidaG irei 7deus ;

AimG desta maneira repentina e cruel, fosse no del<rio de uma cegasupersti*+o, fosse no impulso daquela convic*+o que nasce do dever, acriatura, pela qual Zanoni resignara tanto poder e tanta gl0ria, o abandonava

?sta deser*+o, nunca prevista, n+o era, sem embargo, mais do que o

constante destino que aguarda a todos os que se p6em, com a sua mentealém da terra, mas deixam na terra o tesouro do cora*+o

?ternamente, a ignorância fugirá do saber 3orém, nunca, ainda, umamor (umano se enla*ou com outro, com mais for*a, nem por motivos maisnobres e puros de abnega*+o, do que eram as que impeliram a desamparadamul(er a abandonar o marido ausente

Dom ra'+o (avia dito que n+o era a infiel esposa, mas sim a m+e fielque fugia daquele em quem estava concentrada toda a sua felicidadeterrestre

3or todo o tempo que aquela fervorosa paix+o, que a impeliu a esseato, a animou com uma espécie de falsa febre, apertava o fil(o ao peito, eestava consolada, resignada

3orém, que amargas d5vidas a respeito da sua conduta, a assaltaramdepois, e que remorso cruel come*ou a atormentar o seu cora*+o, quando, aose deter, em compan(ia de Jlyndon, por algumas (oras, no camin(o deLivorno, ouviu a mul(er, que os acompan(ava, rogar K 8eus que l(epermitisse c(egar com seguran*a até )unto do marido e que l(e desse for*a

para suportar os perigos que ali a aguardavam Que contraste terr<vel, aconduta desta mul(er que ia acompan(ar o marido ao cadafalso, e a suadeser*+o >iola perscrutou os recInditos do seu pr0prio cora*+o, e n+o pIdeouvir ali nen(uma vo' que a consolasse

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CAPÍTULO IX 

:ZuEunft (ast du mir gegeben,8oc( du nimmst den 7ugenblicE;

assandra

:= futuro me deste, mas retira-me o momento;

- 9e)nour, contempla a sua obra 8espertemo-nos das vaidades danossa in5til sabedoria 8e que nos servem os nossos Aéculos de estudo e devida 3ara salvá-la do perigo, ausentei-me dela, e o perigo apoderou-se delacom sua m+o de ferro M+o culpe a sua sabedoriaG culpe as suas paix6es  7bandone, finalmente, a sua v+ esperan*a de poder go'ar o amor de umamul(er 7 todo o que intente enla*ar o sublime com o vulgar, espera ainevitável maldi*+o >e)a o que sucedeu F a sua verdadeira nature'a n+o foi

compreendida, e os seus sacrif<cios passaram ignorados = vulgo v", no(omem elevado pela sublime ci"ncia, somente um necromante ou um diabo@itan é poss<vel que c(ore

- 7gora o compreendo, agora ve)o tudo ?ra o esp<rito dela o queesteve ao lado dos nossos esp<ritos, e escapou ao contato da min(a m+oaérea =(, forte dese)o da maternidade e da nature'a 8escobre todos osnossos segredos, e voa de um mundo a outro, através do espa*o 9e)nour,que saber terr<vel se oculta na ignorância do cora*+o que ama

- = cora*+o - respondeu o m<stico, friamente

- 7( 8urante cinco mil anos pesquisei os mistérios da cria*+o, masn+o pude descobrir ainda todas as maravil(as que se encerram no cora*+odo mais r5stico campon"s

- ?, sem embargo, os nossos sublimes ritos n+o nos enganaramG asproféticas sombras, negras de terror e manc(adas de rubro sangue,anunciavam que, mesmo ao calabou*o, e diante do verdugo, terei o poderpara salvá-los a ambos

- 3orém, K custa de um sacrif<cio de que ainda n+o tem a menor idéia,e que l(e será extraordinariamente fatal

- 2atal para mim Aábio, frio como gelo Mo amor n+o existe o ?u ?u parto, e parto s0G n+o preciso de ti M+o quero agora outro guia a n+o seros instintos do afeto (umano M+o (averá caverna, por escura que se)a, nemdeserto se)a vasto como for, capa' de ocultar de mim a min(a esposa amada 7inda que me falte a min(a arteG ainda que n+o me falem os astrosG ainda queo espa*o com suas bril(antes mir<ades de mundos, n+o se)a para mim, maisdo que a'ulado va'io, testa-me o amor, a )uventude e a esperan*a Que maisse necessita para triunfar e salvar os entes queridos

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LIVRO S+TIO O R!IN4DO DO T!RROR

CAPÍTULO I 

:Qui suis-)e, moi quUon accuse Pm esclave de la Liberté,un martyrvivant de la Cépublique;8iscours de Cobespierre, _$ @(ermidor;

Quem sou eu, a quem acusam Pm escravo da Liberdade, um mártirvivo da Cep5blica;8iscurso de Cobespierre, no dia _$ de @(ermidor

Cuge o Cio do !nferno, cu)a primeira erup*+o foi cantada como oborbot+o de um canal que condu'ia ao ?liseu

Domo floresceram as esperan*as em belos cora*6es que se (aviamalimentado do diamantino orval(o da r0sea alvorada, quando a Liberdade

surgiu do obscuro =ceano e desembara*ou-se dos bra*os da discreta?scravid+o, como a 7urora, levantando-se do leito de @iton ?speran*as Que deram frutos, porém estes frutos s+o sangue e cin'as Belo Coland,eloqRente >ergniaud, visionário Dondorcet, generoso 9ales(erbes omensde esp<rito, 2il0sofos, estadistas, patriotas, son(adores =l(em a dese)adaera pela qual tanto ousaram e tanto trabal(aram S\^T !nvoco os seus nomes Aaturno devorou os seus fil(os, e vive s0, - debaixo do seu verdadeiro nomede 9oloc(

?stamos no reinado do @error, e o rei é Cobespierre ?stavamconclu<das as lutas entre a serpente boa e o le+o F a serpente devorou o le+o,e tem a sua v<tima atravessada na gargantaG 8anton e Damilo 8esmoulinssucumbiram 8anton (avia dito, antes de morrer :Aomente eu podia salvar ocovarde Cobespierre; 8esde Kquela (ora, efetivamente, o sangue do giganteencobria a ast5cia de 9aximiliano o :!ncorrupt<vel;, até que, por fim, no meiodos gritos de insubordinada conven*+o, come*ou a afogar a sua vo'

Ae Cobespierre, depois deste 5ltimo sacrif<cio, talve' indispensável asua seguran*a, tivesse feito terminar o Ceinado do @error, inaugurando a erado perd+o, que 8anton (avia come*ado a pregar, podia ter-se tornadomonarca e vivido ainda muitos anos 3orém, as pris6es continuavam a

enc(er-se de v<timas, e o gládio a cairG Cobespierre n+o percebia que a suacanal(a )á estava saciada de sangue, e que a mais forte impress+o que l(espoderia causar um c(efe, era tornar a converter aquelas feras em (omens

 7c(amo-nos transportados, agora, a um quarto da casa do cidad+o8upleix, o marceneiroG a data é o m"s de 4ul(o de #/N%G ou, se contamospelo calendário dos Cevolucionários, era o @(ermidor do segundo ano daCep5blica Pna e !ndivis<vel

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Donquanto fosse o quarto pequeno, estava adornado com umcuidado t+o minucioso, que revelava uma elegância for*ada = dese)o do seudono parecia querer evitar tudo o que pudesse oferecer um aspecto baixo evulgar, sem que quisesse manifestar luxo e voluptuosidade 7s clássicascadeiras eram de forma eleganteG os amplos tapetes estavam em perfeita

ordemG da parede pendiam singelos espel(osG alguns bustos de bron'eestavam colocados sobre seus pedestres, e, em algumas estantes, várioslivros, bem encadernados e cuidadosamente alin(ados

Pm observador teria dito F :?ste (omem quer di'er-l(e F M+o sou rico,nem amigo de luxo ou ostenta*+oG n+o sou um sibarita indolente que dormesobre colc(6es de plumas e possui quadros que excitam os sentidosG n+o souum aristocrata altivo que tem espa*osos sal6es e vastas galerias que repetemo ecoG entretanto, como sou (omem de gosto e amo a elegância, maior é omeu mérito se desden(o os excessos de bem-estar e do orgul(o

Mada tem de estran(o que os outros se)am singelos e (onestos,quando os seus (ábitos r5sticos )á naturalmente l(es imprimem essasqualidades, quando eu, que sou dotado de tanto gosto refinado e tantadelicade'a, igualmente sou singelo e (onestoG reflitam isto e admirem-me

Mas paredes desse quarto viam-se muitos retratos, e sobre váriospedestais, agrupados, alguns bustos

 7 maior parte dos retratos representava uma s0 face, e em grandeparte dos bustos estava esculpida uma s0 cabe*a F era a face do dono da(abita*+o, o famoso Cobespierre

Maquele pequeno quarto, o ?go<smo estava sentado no mais altolugar, e servia-se das 7rtes unicamente para utili'á-las como espel(os emque pudesse contemplar o reflexo da sua pr0pria pessoa

= dono da (abita*+o mesmo, o original de todos aqueles bustos eretratos, estava sentado em uma cadeira, diante de uma grande mesa cobertade papéis e cartas

?stava s0, e mantin(a-se ereto, com ar cerimonioso e formal, como

se nem em sua pr0pria casa se sentisse bem acomodado= seu tra)e estava em (armonia com a sua postura e com o seu

quarto F afetava um esmerado asseio e singele'a, diferen*ando-se assimtanto dos suntuosos vestuários dos depostos fidalgos, como do asquerosodesalin(o dos :sans-culottes;

9uito bem penteado e toucado, nen(um dos seus crespos cabelosestava fora do lugarG a sua casaca a'ul estava perfeitamente escovada, enem uma s0 ruga desfigurava o seu colete branco como neve, com finosbordados encarnados primeira vista, nada se notava na fisionomia deste

(omem, sen+o que era de fei*6es doentiasG porém, examinando-a com maioraten*+o, descobria-se que possu<a um poder e um caráter pr0prio

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 7 sua testa, ainda que curta e comprimida, revelava algumaintelig"ncia ou o (ábito de pensar que geralmente se observa nos que t"m umlargo espa*o entre as sobrancel(asG os seus lábios eram firmes econstantemente fec(ados, mas, de ve' em quando, se notava que tremiam etorciam-se impacientemente

= seu ol(ar, severo e sombrio, era, n+o obstante, penetrante e c(eiode um concentrado vigor que n+o parecia natural naquele corpo fraco edelgado, ou que, ao menos, destoava em um rosto l<vido esverdeado, querevelava a ansiedade e falta de sa5de

@al era 9aximiliano Cobespierre, e tal a sua (abita*+o, situada sobrea oficina do marceneiroG (abita*+o de onde saiam os editos que lan*avamexércitos ao camin(o da gl0ria, e que fa'iam derramar, em torrentes, osangue que inundou a metr0pole do povo mais guerreiro do globo terrestre

@al era o (omem que (avia resignado a carreira )udicial o primeiroob)eto da sua ambi*+o1, porque n+o queria violentar os seus filantr0picosprinc<pios, o que )ulgava que aconteceria, se, de ve' em quando tivesse quefirmar alguma senten*a de morte, dada contra um seu semel(anteG tal era oacérrimo inimigo da pena capitalG tal era aquele que, sendo agora ditador-carniceiro, era um (omem cu)os puros e r<gidos costumes, incorrupt<vel(onestidade, 0dio aos excessos no amor e na bebida, se tivesse morridocinco anos antes, o teriam recomendado a pais prudentes e a bons cidad+ospara ser mostrado a seus fil(os como um modelo

@al era o (omem que parecia n+o ter v<cio algum, até que ascircunstâncias, esse forno incubador, fi'eram aparecer nele dois, que, emtempos ordinários, se ocultam nos recInditos mais profundos do cora*+o(umano F a Dovardia e a !nve)a

?m um ou noutro destes v<cios, descobre-se a causa de todos osassassinatos que cometeu esse (omem diab0lico 7 sua covardia era de umg"nero muito estran(o e particularG pois era acompan(ada de uma deliberadavontade que n+o con(ecia escr5pulos, uma vontade que até Mapole+oadmirou, uma vontade de ferro, encerrada em nervos de c(oupo-tremedor

9entalmente, Cobespierre era um (er0iG fisicamente, um covardeQuando a mais leve sombra de perigo amea*ava a sua pessoa, o seu corpotremiaG porém, a sua vontade fa'ia retroceder o perigo até ao matadouro,entregando K guil(otina os que )ulgava serem seus inimigos

Domo )á dissemos, Cobespierre estava sentado na cadeira,conservando o corpo erguidoG as suas m+os, com os pequenos e delgadosdedos, fec(avam-se convulsivamenteG os seus sombrios ol(os erravam,pensativos, pelo espa*o, e no seu branco amarelado apareciam listras desangueG as suas orel(as moviam-se como as de ign0bil animal, para perceberbem qualquer pequeno ru<doG era um 8ion<sio em sua cavernaG porém, nem

perdia, por isso, a sua decorosa postura, nem se desarran)ava a suaencrespada cabeleira

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- Aim, sim, - resmungava, - eu os ou*oG os meus bons 4acobinosguardam os seus postos na escada Lástima é que prague)am tanto @en(opreparada uma Lei, contra as impreca*6es, é necessário reformar oscostumes do pobre e virtuoso povo Quando tudo estiver em ordem, umexemplo ou dois entre esses bons 4acobinos produ'ir+o muito bom efeito

2ieis compan(eiros, como me amam

um Que impreca*+o foi aquela M+o precisam prague)ar t+o alto, eaté na escada !sto é pre)udicial min(a reputa*+o 7( =u*o passos Cobespierre lan*ou um ol(ar no espel(o que tin(a em frente, tomou um livrona m+o e parecia estar profundamente absorto em sua leitura, quando um(omem de elevada estatura com uma vara na m+o e um cintur+o de pistolas,abriu a porta para anunciar duas visitas Pm dos anunciados era um )ovemque, segundo se di'ia, se assemel(ava muito a Cobespierre, porém, em cu)afisionomia se notava uma express+o de decidida resolu*+o ?ste )ovem foi oprimeiro que entrou no quarto, e ol(ando o livro que Cobespierre tin(a na

m+o, pois este parecia querer continuar uma leitura interrompida, exclamou F -Domo ?stá lendo a :eloisa;, de Cousseau Pma (ist0ria de amor

- 9eu caro 3ayan, o que deste livro me encanta, é a 2ilosofia, e n+o oamor Que sentimentos t+o nobres Que virtude t+o ardente Ae 4ean4acques tivesse podido viver até estes dias ?nquanto o 8itador comentavadesta maneira o seu autor favorito ao qual se esfor*ava por imitar no seudiscurso, trouxeram ao aposento o outro visitante, sentado em uma cadeiracom rodas ?ste (omem, na flor da vida, pois somente contava trinta e oitoanos, n+o podia valer-se das suas pernasG sem embargo, ainda que alei)ado aparal<tico, mereceu o apelido de ercules do crime Pma bele'a quaseangelical caracteri'ava as suas fei*6es, e sobre os seus lábios via-se sempreum doce sorrisoG um inexpress<vel aspecto de benignidade, e o seu ar detranqRila resigna*+o do sofrimento l(e atraiam o cora*+o daqueles que o viampela primeira ve' Dom uma suave e melodiosa vo', como a de uma flauta, ocidad+o Douton saudou o admirador de 4ean 4acques Cousseau, e disse F

- M+o diga que n+o é amor o que l(e atrai neste livroG é o amor sim 3orém, n+o essa grosseira e sensual atra*+o que sente o (omem pelamul(er M+o = que sente é um sublime afeto por toda a (umanidade e, comfeito, por tudo o que vive no mundo

? o cidad+o Douton, inclinando-se, acariciava um c+o'in(o quecostumava tra'er sempre consigo, mesmo quando ia K Donven*+o, e o qualparecia ser-l(e um desafogo necessário ao excesso de sensibilidade que l(einundava o cora*+o

- Aim, por tudo o que vive - repetiu Cobespierre - Bom Douton,pobre Douton 7( Domo nos desfigura a mal<cia dos (omens Daluniar-nosaté o ponto de di'er que somos os verdugos de nossos colegas 7( !stodestro*a o cora*+o Aer um ob)eto de terror para os inimigos da nossa pátria,isto é uma coisa nobreG porém, ser um ob)eto de terror para os bons, para os

patriotas, para aqueles a quem se ama e respeita, isto é a mais (orr<vel dastorturas, ao menos para um cora*+o suscet<vel e (onesto

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- Dom que pra'er o escuto - disse Douton K 3ayan- um -respondeu este, com alguma impaci"ncia - 9as, agora, tratemos de neg0cios- 7( Meg0cios repetiu Cobespierre, e os seus ol(os raiados de sangueexpeliram um ol(ar sinistro

- D(egou o tempo - disse 3ayan - em que a seguran*a da Cep5blicaexige uma completa concentra*+o de todos os seus poderes ?ssesgritadores do Domit" de Aalva*+o 35blica sabem s0 destruirG n+o sabemedificar coisa alguma ?les o odeiam, 9aximiliano, desde o momento em quevoc" tentar substituir a anarquia por boas institui*6es Domo 'ombam da festaem que foi proclamada a exist"ncia do Aer Aupremo ?sses (omensdese)ariam n+o ter governador algum, nem no céu 7 sua clara e vigorosaintelig"ncia compreendeu que, depois de (aver derribado o mundo antigo, setornou necessário formar um novo = primeiro passo para a constru*+o deveser destruir os destruidores ?nquanto n0s deliberamos, os seus inimigos

agem >ale mais atacar, nesta mesma noite, o pun(ado de (omens armadosque os custodiam, do que ter que fa'er frente aos batal(6es que possam pIrem pé aman(+

- M+o, - disse Cobespierre, que recusava diante do resoluto esp<ritode 3ayanG - eu ten(o outro plano, mel(or e mais seguro o)e estamos em _.de @(ermidorG no dia #_, - no dia #_ deste m"s, - a Donven*+o assistirá, emcorpo, K 2esta 8ecadaria Messe dia, acudirá populac(o

=s artil(eiros, as tropas de eriot e os )ovens disc<pulos da ?scola de9arte se disseminar+o entre a multid+o 2ácil, ent+o, será acabar com osconspiradores, que designaremos aos nossos agentes Mo mesmo dia,também, 2ouquier e 8umas n+o descansar+oG e, para que se manten(a osaudável receio e para que se conserve a excita*+o revolucionária, o gládioda Lei fará cair algumas cabe*as de suspeitos = dia #_ será um grande diade a*+o 3ayan preparou voc" a lista desses 5ltimos réus - 7qui está, -respondeu laconicamente 3ayan, apresentando um papel

Cobespierre passou por ele um rápido ol(ar- Dollot dUerbois - Bem Bar"re 7( ?ra este quem di'ia F :9atemosG os mortos s+o os 5nicos quen+o voltam mais; >adier, o bobo selvagem Bem Bem >adier da

9ontan(a 2oi ele quem me apelidou de 9aomé 9alvado Blasfemador -9aomé virá K montan(a, - disse Douton, com sua vo' argentina, ao mesmotempo em que acariciava o seu c+o'in(o- 3orém, como é isto M+o ve)oaqui o nome de @allien @allien, eu odeio este (omemG isto é, a)untouCobespierre, corrigindo-se com a (ipocrisia ou a ilus+o de si pr0prio, que aspersonagens que formavam o consel(o destes fraseadores costumavamempregar, até entre si mesmos, isto é, a >irtude e a nossa 3átria o odeiam M+o (á na Donven*+o outro (omem que me inspire tanto (orror, como@allien Douton, onde esse (omem se senta, parece-me que ve)o mil8antons

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- @allien é a cabe*a desse corpo disforme, - disse 3ayan, cu)acriminal ferocidade era, como a de Aaint-4ust, acompan(ada de talentospouco comuns

- M+o seria mel(or, em ve' de cortar-l(e a cabe*a, gan(á-lo ou

comprá-lo, por algum tempo, e deixá-lo á disposi*+o para quando ficasseisolado @allien odeia-o talve'G porém, ele ama o din(eiro

- M+o, - ob)etou Cobespierre, escrevendo na lista o nome de 4eanLambert @allien, com o pulso firme, para que as letras fossem bem vis<veisGeu necessito dessa cabe*a

- ?u também trago aqui, uma pequena lista, - disse Douton, comsuavidade, - H muito curta =s sen(ores se ocupam da 9ontan(aG mastambém é necessário dar alguns exemplos na 3lan<cie ?sses moderados s+ocomo as pal(as que sempre seguem o vento =ntem se pronunciaram contra

n0s na Donven*+o Pm pouquin(o de terror corrigirá esses cata-ventos3obres criaturas M+o nutro nem a menor parte da má vontadeG até c(orariapor eles 3orém, mais do que tudo me vale a querida 3átria Cobespierredevorava, com ol(os acesos, a lista que l(e entregara o (omem sens<vel

- 7( - disseG - todos estes nomes foram bem escol(idosG pois, sendopouco notáveis, a sua morte n+o será muito sentidaG esta é uma pol<ciaexcelente para com os restos deste partido @ambém ve)o, na lista, algunsestrangeirosG sim, estes n+o t"m parentes em 3ari s 7s mul(eres e osparentes dos mortos come*aram agora a falar mal de n0s 7s suas queixasdesmorali'am a guil(otina

- Douton tem ra'+o, - disse 3ayanG a min(a lista contém os queconviria despac(ar em massa, no meio do bul<cio da festaG na sua, figuram s0nomes de pessoas que se podem entregar, prudentemente, K lei M+o aassinará agora mesmo

- 4á está assinada, - respondeu Cobespierre, recolocando a pena )unto ao tinteiro - >amos falar, agora, de assuntos mais importantes ?stasmortes n+o produ'ir+o excita*+o algumaG porém, Dollot dUerbois, Bourdonde lU=ise @allien ao pronunciar este 5ltimo nome, Cobespierre arque)ou1 s+o

as cabe*as de partidos ?sta é a quest+o de vida ou morte, tanto para elescomo para n0s- 7s suas cabe*as s+o os escabelos da sua cadeira consular,- disse 3ayan, K meia vo'

- ?sta empresa n+o oferece perigo, se agirmos com ousadia 4u<'es e )urados todos foram escol(idos por ti Dom uma m+o move o exercito, e coma outra a lei 7 sua vo' tem ainda autoridade sobre o povo- = pobre evirtuoso povo - murmurou Cobespierre

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- ? mesmo - prosseguiu 3ayan - se o nosso pro)eto fracassar no diada festa, n+o devemos retroceder, pois ainda podemos utili'ar-nos degrandes recursos Ceflete bem enriot, o general do exército 3arisiense, l(efornecerá tropas para prenderG o :Dlube dos 4acobinos; l(e proporcionará ump5blico que aproveG e o inexorável 8umas, )u<'es que nunca absolvem H

necessário que se)amos ousados

- ? n0s o somos, e seremos - exclamou Cobespierre, dando com am+o uma pancada na mesa, enquanto se levantava, com a cabe*a erguida,como a serpente no ato de morder

- 7o ver a multid+o de v<cios que a torrente revolucionária mescla comas virtudes c<vicas, - acrescentou, - temo que o impuro contágio desses(omens perversos, que desli'am entre os verdadeiros defensores da(umanidade, me apresente manc(ado aos ol(os da posteridade 3ois que Dr"em eles, acaso, que podem repartir a pátria como uma presa ?u l(es

agrade*o o seu 0dio a tudo o que é virtuoso e digno ?sses (omens, - e,assim di'endo, arrebatou a lista das m+os de 3ayan, - eles, e n+o n0s, t"mestabelecido a lin(a divis0ria entre eles e os que amam a 2ran*a

- @em ra'+oG n0s (avemos de governar s0s - murmurou 3ayanG - ?moutras palavras, o ?stado necessita a unidade domando- ?u irei KDonven*+o, - continuou Cobespierre

- á muito tempo que n+o me ten(o apresentado nela, para n+o sedi'er que violentava a Cep5blica que cri ei 2ora com semel(antesescr5pulos Quero preparar o povo Quero confundir os traidores com um s0ol(ar Cobespierre di'ia isto com essa terr<vel firme'a orat0ria que nunca l(efaltou, com essa vontade moral que marc(ava como um guerreiro contra ocan(+o

Meste instante, foi interrompido por um criado, que l(e trouxe umacarta 7o abri-la, o ditador empalideceu e um profundo estremecimentopercorreu-l(e todo o corpoG era um dos anInimos com que, continuamente, o0dio e a vingan*a dos que ainda estavam vivos, amea*avam aquele verdugo

- :?stá manc(ado - di'ia o escrito - com o sangue mais nobre da

2ran*a L" a sua senten*a 7guardo a (ora em que o povo o entregará,furioso, Ks m+os do carrasco Ae a min(a esperan*a me enganar, - se o seufim se dilatar ainda por muito tempo, - escute Leia ?sta m+o, que os seusol(os em v+o se esfor*ar+o para descobrir, atravessará o seu cora*+o >e)o-o todos os dias, e todos os dias estou a seu lado 7 cada (ora, o meu bra*ose levanta contra o seu peito 9alvado >iva entretanto, ainda os poucos emiseráveis dias que l(e sobram, viva para pensar em mimG durma para ver-me nos seus son(os = seu terror, e a sua cont<nua recorda*+o de mi m, s+oos arautos do seu pr0ximo fimS\.T 7deus o)e mesmo vou-me embora, pararir-me do seu medo ;

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 7s suas listas n+o est+o bastante c(eias - bradou o tirano, com umavo' terr<vel, quando a carta anInima se escapou das suas m+os trementes -8"-me 3ensem e lembrem-se de que Bar"re tem ra'+o 9atemos =smortos s+o os 5nicos que n+o voltam mais

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CAPÍTULO II 

:La (aine, dans ces lieux, nUa quUun glaive assassin ?lle marc(e danslUombre;

La arpe, :4eanne de Mapoles;, acte !>, sc"ne #

:= 0dio, nestes lugares,tem um s0 gládio assassino ?le anda nasombra;

?nquanto 9aximiliano Cobespierre maquinava estes pro)etos eestava atormentado por estes terrores, o perigo e o 0dio comum, tudo o querestava de nobre e virtuoso entre os agentes da Cevolu*+o, servia para uniras mais estran(as e apartadas vontades (ostis ao assassino universal

?xistia, realmente, uma verdadeira conspira*+o contra o ditador, naqual entravam (omens poucos menos manc(ados com sangue inocente doque ele

3orém, esta conspira*+o teria sido infrut<fera, apesar da sagacidadede @allien e Barras, os 5nicos entre esses conspiradores que, por suaprevis+o e energia, eram dignos do nome de :c(efes;

=s elementos mais seguros e destruidores, que se reuniram ao redordo tirano para amea*á-lo, eram o @empo e a Mature'a

Cobespierre n+o se acomodava Ks exig"ncias daquele, e (aviasublevado esta em todos os peitos, ultra)ando todos os sentimentos (umanos=s membros do partido mais atro' da Cevolu*+o, a fac*+o de ébert, iam ao5ltimo extremo

?stes carniceiros ateus, que, ao profanar o céu e a terra, searrogavam uma inviolável santidade a si mesmos, estavam igualmenteirritados pela execu*+o do seu execrado c(efe e pela proclama*+o de um AerAupremo = populac(o, apesar dos seus brutais excessos, despertousobressaltado, como saindo de um pesadelo de sangue, quando o seu

gigantesco <dolo, 8anton, deixou de ocupar o cenário do terror, ondepopulari'ara o crime, por aquela combina*+o de descuidada fraque'a e deeloqRente energia que sedu' a multid+o

= gládio da guil(otina se (avia voltado contra eles mesmos ?ssepartido sanguinário (avia gritado, cantando e dan*ando de pra'er, quandoveneráveis anci+es ou a entusiasta )uventude da aristocracia ou das letrasatravessavam suas ruas, levados em tristes e su)os carros para o cadafalsoGagora, porém, os adeptos desse partido estavam desesperados e falavam-seao ouvido, quando vim que a sua pr0pria fac*+o estava amea*ada e quealfaiates e remend6es, )ornaleiros e lavradores eram entregues ao abra*o da

:Aanta 9+e Juil(otina;, com t+o pouca cerimInia como se (ouvessem sido9ontmorencys ou La @rémouilles, 9ales(erbes ou Lavoisiers

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Ca'+o tin(a Douton, ao di'er naquele tempo F :7s sombras de8anton, de ébert, de D(aumette passeiam entre n0s ;?ntre os que (aviamabra*ado as doutrinas do ateu ébert, porém que naquele momento temiamsofrer a sorte do seu c(efe, encontrava-se o pintor 4ean Micot

8esesperado e furioso ao ver que, com a morte do seu patr+o, (aviaterminado a sua carreira, e que, no Zenit( da Cevolu*+o, pela qual tantotrabal(ava, se via redu'ido ao triste estado de ter que viver escondido nasbodegas mais pobres, mais obscuro e mais despre'ado do que o fora aoin<cio, n+o se atrevendo sequer a exercer a sua arte e temendo que o seunome aparecesse na lista dos sentenciados, (avia-se convertido,naturalmente, em um dos mais ardentes inimigos de Cobespierre e do seugoverno

@in(a secretas entrevistas com Dallot dUerbois, que era animado dosmesmos sentimentosG e, com sua ast5cia de serpente, que formava a parte

mais notável no seu caráter, se entretin(a, sem ser descoberto, em propagartratados e invectivas contra o ditador, preparando entre :o pobre e virtuoso; amina que devia produ'ir a grande explos+o

3orém, aos ol(os de Micot, como aos dos pol<ticos perspica'es, maisprofundos que ele, o poder maléfico do :incorrupt<vel 9aximiliano; pareciaainda muito firmeG e t+o pouco contava com o "xito do movimento quepreparavam contra ele, que Micot, bem como muitos outros, pun(a maisesperan*as antes no pun(al assassino do que em uma Cevolu*+o popular?ntretanto, 4ean Micot, ainda que nada tivesse de covarde nesta ocasi+o, n+odese)ava representar o papel de mártirG ele tin(a bastante )u<'o paracompreender que, apesar de que todos os partidos se rego'i)ariam peloassassinato, todos se uniriam, provavelmente, para decapitar o assassino =pintor n+o tin(a suficiente virtude para converter-se em um Brutus = seuob)eto era, ao contrário, inspirar alguém que desempen(asse esse papel, oqual n+o era imposs<vel conseguir no meio daquela inflamável popula*+o

?ntre os que, com maior aspere'a, declamava contra aquele reinadode sangueG entre os desiludidos da Cevolu*+o, entre os que mais(orrori'ados ficaram com os excessos desta, se encontrava, como se podesupor, o !ngl"s Dlar"ncio Jlyndon = talento, o bril(ante g"nio e as incertas

virtudes que, de ve' em quando, vin(am iluminar, como espl"ndidosrelâmpagos, a mente de Damilo 8esmoulins, (avia fascinado Jlyndon maisdo que as qualidades de qualquer outro agente da Cevolu*+o ? quando, poisDamilo 8esmoulins tin(a um cora*+o que parecia morto ou adormecido namaior parte dos seus contemporâneos, aquele fogoso fil(o do g"nio e daconcep*+o errInea, aterrori'ado ante a matan*a dos Jirondinos, earrependendo-se do que fi'era contra eles, come*ou a alarmar a serpentinamal<cia de Cobespierre, pregando a tolerância e o perd+o, Jlyndon abra*ou asua opini+o com toda a for*a da sua alma

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Damilo 8esmoulins pereceu, e o !ngl"s, desesperando de salvar asua pr0pria vida, como também de ver triunfar a causa da (umanidade, desdeaquele tempo procurava somente a ocasi+o de fugir daquele calvário(ediondo 7lém da sua pr0pria vida, tin(a ele que salvar duas outras vidas@emendo mais por estas do que por si mesmo, come*ou a ideali'ar um plano

de evas+o

 7pesar de que Jlyndon odiava os princ<pios, o 3artido e os v<cios deMicot, socorria a este, quanto podia, para mitigar-l(e a dura pen5ria 4eanMicot, por sua ve', decidiu, em seu cora*+o, exaltar Jlyndon K imortalidadede um Brutus, que modestamente recusara para si ?le baseava os seuspro)etos na coragem f<sica, nas inconstantes e arrebatadas idéias do artista!ngl"s e no veemente 0dio e profunda indigna*+o que este manifestavaabertamente contra o governo de 9aximiliano Cobespierre

Ma mesma (ora do mesmo dia de 4ul(o, em que Cobespierre

conferenciava como vimos1 com seus compan(eiros, duas pessoas estavamsentadas em um pequeno quarto, em uma das travessas que levavam parafora da Cua de Aaint onoréG era um (omem e uma mul(er

= primeiro parecia escutar, com impaci"ncia e fran'indo a testa, asua compan(eira, que era de singular bele'a, porém de fisionomia atrevida ede express+o descuidada ?nquanto ela falava, o seu semblante animava-secom todas as paix6es de uma nature'a selvagem e veemente

- !ngl"s, - di'ia a mul(er, - ol(a o que voc" fa' 4á sabe que, se)a nafuga, ou no lugar de morte, desafiarei tudo para n+o me separar do seu ladoGvoc" sabe isto 2ale - Bem, 2ilidaG ten(o, acaso, duvidado alguma ve' da suafidelidade - 8uvidar dela n+o pode 3ode, porém, tra<-la, - respondeu a )ovem - 8isse que, na fuga, deve acompan(á-lo, além de mim, mais outrapessoa, e que essa pessoa é mul(er 3ois bemG isto n+o se dará - M+o sedará - perguntou Jlyndon, pasmado- M+o, n+o se dará - repetiu 2ilida,com vo' resoluta e cru'ando os bra*os sobre o peito

 7ntes que Jlyndon tivesse tempo de responder, ouviu-se uma levepancada na porta e, levantando o trinco, entrou Micot

2ilida recostou-se sobre o espaldar da cadeira e, apoiando a facesobre a m+o direita, pareceu fa'er t+o pouco caso do recém c(egado, comoda conversa*+o que se seguiu depois- M+o posso dar-l(e o bom dia,Jlyndon, - disse, aproximando-se do artista !ngl"s, 4ean Micot, com seu tra)ede :sansculotte;, sem tirar o seu roto c(apéu, com as m+os metidas nasalgibeiras e com a barba que tin(a mais de uma semanaG - n+o posso dar-l(eos bons dias, porque, enquanto vive o tirano, o mal é o 5nico Aol que irradiaseus raios sobre a 2ran*a

- H verdade 3orém, que quer @emos semeado o vento, agoratemos que col(er a tempestade

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- ? sem embargo, - disse Micot, como se n+o tivesse ouvido aresposta e falasse consigo mesmo, - isso estran(a, quando nos lembramosque o carniceiro é t+o mortal como a v<timaG que a sua vida pende de umt"nue fioG que entre a cut<cula e o cora*+o (á uma passagem muito curta,que, em suma, um s0 golpe pode libertar a 2ran*a e redimir a (umanidade

Jlyndon ol(ava o 2ranc"s com a indiferen*a do despre'o, enquantoeste falava, e n+o l(e respondeu

- 9uitas ve'es, - continuou Micot, - ten(o dirigido um ol(ar K min(avolta para ver se descobria o (omem nascido para este glorioso destino, ecada ve' que me ocorria esta idéia os meus passos me trouxeram aqui

- M+o seria mel(or que o (ouvessem levado ao lado de 9aximilianoCobespierre - insinuou Jlyndon, com um sorriso de escárnio

- M+o, - retrucou Micot, com sangue frioG - n+o, porque eu sou umsuspeitoG a mim seria imposs<vel introdu'ir-me entre o seu séquito, e n+opoderia aproximar-me nem cem passos da sua esposa, sem ser preso >oc",porém, ainda é livre de perigo ?scute-me - e a vo' de Micot tornou-se sériae expressiva

- ?scute-me 7inda que esta*+o pare*a perigosa, n+o o éabsolutamente 2alei com Dollot dUerbois e Bilaud->arennes, e disseram-meque n+o fariam o menor mal a quem desse esse golpeG o populac(o correria asocorr"-loG a Donven*+o o saudaria como seu libertador, como- 3ara,(omem Domo se atreve a unir o meu nome com o ato de um assassino -exclamou Jlyndon, irritado

- @oque o sino de rebate naquela torre, como um sinal de guerra entrea umanidade e o @irano, e n+o serei dos 5ltimos em correr ao campoGnunca, porém, a liberdade recon(ecerá seu defensor em um assassino

avia algo t+o valente e nobre na vo', no aspecto e nos gestos deJlyndon, quando pronunciava aquelas palavras, que impIs sil"ncio a Micot, oqual viu, que (avia formado um )u<'o errIneo a respeito do !ngl"s- M+o -disse 2ilida, levantando a cabe*aG - n+o = seu amigo está preparando um

pro)eto mais prudenteG ele quer deixá-los, cidad+os, e n+o importará de v"-losdevorando uns aos outros, como lobosG e nisto tem ra'+oG porém- 2ugir -exclamou Micot

- H poss<vel 2ugir Domo Quando 3or quais meios @oda a2ran*a está c(eia de espias e de guardas 2ugir =xalá pudesse fa'"-lo -8ese)a também fugir da aben*oada Cevolu*+o

- =( Ae dese)o - exclamou Micot, de repente e, deixando-se cair,abatido, abra*ou os )oel(os de Jlyndon

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- =( - prosseguiu - fa' com que eu me salve contigo 7 min(a vida éuma torturaG a cada momento ve)o a guil(otina diante dos ol(os Aei que asmin(as (oras est+o contadasG sei que n+o está longe o instante em que otirano escreverá o meu nome em sua inexorável listaG sei que Cené 8umas, o )ui' que nunca perdoa, resolveu a min(a morte, )á (á tempo =(, Jlyndon

?m nome da nossa vel(a ami'ade, pela comunidade da nossa arte, pela lealfidelidade inglesa, e pelo seu bom cora*+o !ngl"s permita que ele fu)a consigo- Ae quer, eu n+o me opon(o a que me acompan(e

- 9il gra*as 8urante toda a min(a vida l(e serei agradecido 3orém,como preparou os meios, os passaportes, o disfarce, o

- ?u l(e direi Don(ece o cidad+o DOOO, da Donven*+o H um (omemque tem poder, e é avarento :M+o me importa que me despre'em, com tantoque eu possa )antar;, disse ele, um dia, quando l(e censuravam a suaavare'a- 3ois bemG e ent+o - 3or meio deste forte republicano, que tem

muitos amigos no :Domit";, obtive os meios necessários para min(a fugaGcomprei-os ?m considera*+o K nossa ami'ade, poderei arran)ar-l(e tambémum passaporte

- 9as, ent+o, o din(eiro que possui, n+o consiste em merosassinados

- M+oG eu ten(o ouro suficiente para n0s todos

 7o di'er isto, Jlyndon levou o 2ranc"s a um quarto cont<guo e ali l(eexpIs, em poucas palavras, o seu plano de evas+o e os disfarces de que(aviam de servir-se, para que tudo ficasse conforme os di'eres dopassaporte ?m seguida, acrescentou F - 3elo servi*o que l(e fa*o, pe*o-teum favor que, )ulgo, está em suas m+os Lembra-se de >iola 3isani

- 7( Lembro-me, sim ? também me lembro do amante com quemela fugiu- ? o qual )á abandonou, - disse Jlyndon

- H verdade 7( 4á compreendo :Aacré bleu ; 9as (omem feli',caro confrade Ail"ncio, (omem Dom as suas eternas frases a cerca de2raternidade e virtude, parece que é incapa' de crer em uma a*+o boa em

um pensamento virtuoso Micot mordeu os lábios e replicou sombriamente F - 7 experi"ncia é

um grande desenganador um Que servi*o posso-l(e prestar com respeitoK !taliana

- @ive a culpa de ter ela vindo a esta cidade de armadil(as ecalabou*osG por conseguinte, n+o posso deixá-la abandonada no meio dosperigos de que n+o se v" segura nem a inoc"ncia, nem a obscuridade Mestaaben*oada Cep5blica, qualquer bom cidad+o que n+o se)a suspeito e quecobice uma mul(er, solteira ou casada, n+o tem mais do que di'er F :Ae)a

min(a ou l(e denunciarei ; ?m poucas palavras F ? necessário que >iola fu)aconosco

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- Que coisa mais fácil, tem passaporte para ela

- Que coisa mais fácil - di' voc"

- 3ois l(e asseguro que é sumamente dif<cil 7i está 2ilida - a quemoxalá n+o tivesse nunca visto ? a quem, em má (ora eu escravi'ei a min(aalma e aos meus sentidos = amor de uma mul(er violenta, sem princ<pios esem educa*+o, oferece, ao come*o, a entrada em um céu, para depois levara um inferno ? ciumenta como todas as 25rias, e n+o quer ouvir falar deoutra mul(er que nos acompan(e ? quando ela vir K bele'a de >iola ?utremo s0 ao pensar nisso ?la é capa' de cometer qualquer excesso no<mpeto das suas paix6es

- 7( ?u sei perfeitamente o que s+o estas mul(eres 7 min(aesposa, Beatri' Aac(ini, com a qual entretive rela*6es em Mápoles, quando

essa mesma >iola recusou a min(a m+o separou-se de mim quando seacabou o meu din(eiro >eio a ser a amante de um )ui', e muitas ve'es a ve)opassar em um luxuoso coc(e, enquanto eu me arrasto pelas ruas 9aldita 9as paci"ncia 3aci"ncia ?ste é o pr"mio da virtude =( Ae eu fosseCobespierre por um s0 dia - 8eixe estas loucuras - exclamou Jlyndon, comimpaci"ncia - >amos ao caso Que é o que me aconsel(a - Que deixe 2ilidaem 3aris- 8eixá-la entregue K sua ignorância, sem contar sequer com aprote*+o de uma mentalidade mediana 7bandoná-la no meio destasAaturnais de viol"ncia e assassinato M+o 2ui ingrato para com ela umave'G mas, agora, suceda o que suceder, n+o desampararei t+o vilmente umamul(er que, apesar de todos os seus erros, confiou ao meu amor o seudestino- ?ntretanto, abandonou-a em 9arsel(a- H verdadeG porém, naqueletempo, n+o a amea*ava nen(um perigo e eu n+o (avia experimentado aindaa fidelidade e a for*a do seu amor 8eixei-l(e din(eiro e )ulguei que isto aconsolariaG n+o foi assim

8esde ent+o temos atravessado )untos graves perigos ? deixá-la,agora, exposta a males que nunca a teriam amea*ado, se n+o tivessedemonstrado tanta fidelidade para comigo, é imposs<vel =corre-me umaidéia M+o pode, acaso, di'er que tem uma irm+, uma parenta ou umabenfeitora, a quem dese)a salvar M+o poder<amos, até (avermos deixado a

2ran*a, fa'er crer a 2ilida que >iola é uma mul(er que somente interessa a ti,e que eu permito que ven(a acompan(ar-nos na fuga, apenas para l(eagradar

- 7( Bem pensado Dertamente

- ?nt+o, eu fingirei ceder aos dese)os de 2ilida e abandonar o pro)eto,que tanto l(e repugna, de salvar o inocente ob)eto dos seus frenéticos x"los>oc", entretanto, pedirá a 2ilida para que interceda comigo para salvar

- 7 uma sen(ora, - pois ela sabe que n+o ten(o irm+, - a uma sen(ora

que me tem socorrido na desgra*a Aim, eu arran)areitudoG n+o tema Pmapergunta F Que é feito de Zanoni

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- M+o me fale dele M+o sei

- ?le ama ainda essa )ovem

- 3arece que sim ?la é sua esposa, e tem dele um fil(o

- 7 sua rsposa ? m+e ?le a ama 7( ? por que - M+o mepergunte mais >ou prevenir >iola que se prepare para fugirG voc", entretanto,volte para o lado de 2ilida

- 9as o endere*o da Mapolitana ? necessário que o saiba para ocaso que 2ilida mo pergunte- Cua 9-@, n &/ 7deus

? Jlyndon, tomando o c(apéu, saiu de casa

Micot, quando s0, pareceu refletir por alguns momentos

- =lá - murmurou, falando consigo mesmo, - n+o poderia eu fa'ercom que todo este neg0cio redundasse em meu proveito pr0prio M+o possovingar-me de ti, Zanoni, como o ten(o )urado tantas ve'es, por meio da suamul(er e seu fil(o M+o posso tornar-me o possuidor do seu ouro, dos seuspassaportes e da sua 2ilida, arrebatado !ngl"s, que me (umil(a com seusbenef<cios, e me lan*ou a sua esmola como a um mendigo ?u amo 2ili daGe, mais ainda, amo o seu ouro @iteres, vou mover as suas cordas

8i'endo isso, Micot dirigiu-se lentamente ao quarto de 2ilida, quepermanecia ainda na mesma atitude meditabunda, porém com algumaslágrimas nos ol(os negros 7o abrir-se a porta, a )ovem dirigiu ao recém-c(egado um ansioso ol(arG porém, ao ver a feia cara de Micot, virou a cabe*acom vis<vel impaci"ncia

- Jlyndon deixou-me aqui - disse o pintor, aproximando uma cadeiradaquela em que estava 2ilida - para tornar menos fastidiosa a sua solid+o,formosa !taliana ?le n+o tem ci5me do feio Micot 7( 7( 9as Micot aamou muito, nos dias em que a sua fortuna era mel(or 3orém, deixemos defalar das loucuras passadas

- Aegundo o que di', pois, o seu amigo saiu de casa 3ara onde foi  7( >oc" desviou a vista balbuciou n+o pode ol(ar nos meus ol(os 2ale ?u vo-lo suplico, eu vo-lo ordeno

- Drian*a, que é o que teme

- @emo, sim @emo - disse a !taliana, estremecendo e parecendoabismar-se em seus pensamentos

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8epois de alguns momentos, a )ovem deitou para trás os seuscompridos cabelos que l(e caiam diante dos ol(os, e, levantando-se derepente, come*ou a passear pelo quarto, com passo agitado 3or fim,detendo-se em frente de Micot, pIs sua m+o sobre o ombro deste, e levou-o auma escrivanin(a 7brindo-a, mostrou-l(e o ouro que (avia dentro e disse-

l(e F

- >oc" é pobre, e ama o din(eiroG tome quanto quiser, mas diga-me averdade Quem é a mul(er que o seu amigo visita Aabe se a ama 7avare'a bril(ou nos ol(os de Micot, e as suas m+os se abriam e fec(avamconvulsivamente, enquanto contemplava o din(eiro Cesistindo com relutânciaKquele impulso, disse, afetando amargura F

- 3ensa subornar-me Meste caso, n+o alcan*ará por meio do ouro3orém, porque quer saber se ele ama uma rival ? se l(e trai =u se,aborrecido com seus ci5mes, trata de fugir, sem levá-la consigo 7caso

saber isso a tornaria mais feli'

- Aim - exclamou a !taliana, fogosamenteG - sim 3ois seria umafelicidade, odiar e vingar-me 7( >oc" n+o sabe como é doce o 0dio paraquem realmente amou 3orém, )urará que n+o me acusará, se eu te revelar osegredo, e que n+o se porá a c(orar, como as mul(eres costumam fa'er, e arepreender o seu infiel amante, quando ele voltar

- D(orar repreender M+o c(orarei, n+o o repreenderei 7vingan*a se oculta muito bem nos sorrisos

- H uma mul(er valente - disse Micot, em tom quase de admira*+o -=utra condi*+o F o seu amante pretende fugir com a sua nova querida eabandoná-la K sua sorte Ae l(e provo isto e l(e proporciono a ocasi+o de sevingar da sua rival, fugirá comigo ?u a amo ?u me casarei consigo

2ilida n+o respondeuG mas os seus ol(os bril(aram com um fogoextraordinário, enquanto lan*avam sobre o pintor um ol(ar de inexprim<veldesdém

Micot compreendeu que (avia ido demasiado longeG e como

aprendera na escola do crime, e que era o sentimento dominante esseprofundo con(ecimento da parte má da nossa nature'a, que no seu cora*+o,resolveu confiar o resto as indImitas paix6es da !taliana, quando as (ouvesseexcitado até o extremo que se (avia proposto

- 3erdoe-me, - disse ele - = meu amor me tornou presun*osoG e, semembargo, é somente este amor, a simpatia que sinto por si, formosaenganada, o que me indu' a falar, com as min(as revela*6es, contra um(omem que considerei sempre como um irm+o 3osso crer no seu )uramentode n+o di'er nada disto a Jlyndon - 3ode crer no meu )uramento, no meusentimento de ofendida e no meu sangue de montan(esa

- Basta 36e o seu c(apéu e o manto, siga-me

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 7ssim que 2ilida saiu do quarto, a fim de preparar-se para o passeiode explora*+o, proposto por Micot, os ol(os deste fixaram-se outra ve' sobreo ouroG era muito, muito mais do que o 2ranc"s se (averia atrevido a esperarGe enquanto espreitava o conte5do da escrivanin(a, abrindo as gavetas, viu

um pacote de cartas com a muito con(ecida letra de Damilo 8esmoulins 7poderou-se do pacote e abriu-oG os ol(os bril(aram de pra'er ao devoraralgumas frases

- !sto seria suficiente para entregar cinqRenta Jlyndons K guil(otina -murmurou, e escondeu as cartas na algibeira

=(, artista =(, g"nio errante e obsedado >e)a seus dois pioresinimigos F o 2also !deal, que n+o recon(ece um 8eus, e o 2also 7mor, quenasce da corrup*+o dos sentidos, e n+o reflete nen(um esplendor da alma

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CAPÍTULO III 

:Liebe sonnt das Ceic( der Mac(t;@riump( der Liebe

= 7mor ilumina o reino da Moite;

D7C@7 8? Z7M=M! [ 9?4M=PC

37C!A

:Cecorda-te, 9e)nour, daqueles tempos antigos, quando o selo residiaainda na Jrécia, como n0s dois, no vasto @eatro 7teniense, assist<amos aonascimento da 7rte das 3alavras, t+o imortal como n0s mesmos Cecordas-te do estremecimento de terror, que correu por todo o audit0rio, quandoDassandra rompeu o seu espantoso sil"ncio, inspirada pelo seu implacável

8eus Domo estava pálida, quando, K entrada da Dasa de 7treu, que porpouco foi a sua tumba, lan*ou as suas exclama*6es, predi'endo desgra*as F:9orada que o céu aborrece Darnificina de entes (umanos Aolo salpicadode S\/T sangue ;

Cecorda-te como, no meio do silencioso terror que dominara aquelamultid+o de espectadores, cu)o n5mero passava de alguns mil(ares, eu meaproximei de ti e te disse, em vo' baixa F :Ma realidade, n+o (á profeta igualao poeta ;

?sta cena de (orror, embora n+o passe de fábula e imagina*+o,apresenta-se K min(a mente como se fosse um son(o, que me predi' algumacoisa semel(ante que deve suceder no meu pr0prio futuro, ainda remoto Cecorda-te ;

Quando entrei nesta cidade, transformada em grande carnificina decorpos (umanos, a mem0ria me apresentou novamente aquela cena, e euou*o a vo' de Dassandra reprodu'ir-se outra ve' nos meus ouvidos Pmmedo solene difunde-se em redor de mim, como se eu estivesse também atrope*ar com uma tumba, e como se )á estivesse preso na :Cede do ades; Que tesouros de negras vicissitudes e de dor se acumulam na nossa mem0ria

Que é a nossa vida mais do que a crInica da infatigável morte 3arece-meque era ontem que eu vagava pelas ruas desta ci dade dos gauleses, quandoestavam c(eias de bril(antes caval(eiros, cu)as plumas tremulavam no ar, ecu)os ricos tra)es de seda encantavam a vista

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= )ovem Lui', monarca e amante, (avia sa<do vitorioso no torneio deDarrossel, e toda a 2ran*a parecia resplandecer no esplendor do seudeslumbrante c(efe 7gora, n+o (á aquinem @rono, nem 7ltarG e que é o quese v" em seu lugar 7 guil(otina H triste estar entre as ru<nas de cidadesque antigamente floresceram, e ver desli'ar-se o lagarto e a serpente entre os

restos de 3ersépolis e de @ebasG porém, mais triste ainda é ac(ar-se comoagora eu, - estrangeiro proveniente de !mpérios que deixaram de existir, - nomeio das ru<nas, ainda mais espantosas, da Lei e da =rdem, presenciando odespeda*amento da (umanidade @odavia, ainda aqui, o 7mor, o?mbele'ador, que tem guiado os meus passos, camin(a com intrépidaesperan*a no meio do deserto da morte; H estran(a esta paix+o que formapara si um mundo K parte e que, individuali'ando um ente (umano no meioda multid+o sobrevive por entre as metamorfoses da min(a vida, ao passoque a ambi*+o, o 0dio e a ira, )á de (á muito tempo, est+o mortos = amor éo an)o solitário que paira sobre um universo de t5mulos, sustendo-se por suastr"mulas e (umanas asas, que s+o a ?speran*a e o 9edo ;

:Domo é, 9e)nour, que, quando a min(a divina arte me abandonou,quando, ao buscar >iola, n+o me vi a)udado sen+o pelos ordinários instintosdo mais (umilde mortal, como é, repito, que nunca desconfiei, e que, no meiode todas as dificuldades, me animava o forte pressentimento de que, por fim,nos encontrar<amos @odos os vest<gios da sua fuga ocultaram-se t+ocruelmente 2ugira t+o de repente, e envolvida em um segredo taman(o, quenem os espias, nem as autoridades de >ene'a puderam facilitar-me o menorind<cio ?m v+o busquei-a em toda a !tália ?m v+o, na sua anterior morada,em Mápoles ;

:M+o obstante, ao encontrar-me naquela (umilde (abita*+o, parecia-me respirar a fragrância da sua presen*a @odos os sublimes segredos danossa ci"ncia me fal(aram, quando quis conseguir que a sua alma setornasse vis<vel K min(aG porém, é preciso que o saiba, pobre solitário quen+o tem fil(o algum, que, de man(+ e de noite, separando-me do meuinv0lucro grosseiro, posso comunicar-me com o meu fil(o Mesta, que é amais aben*oada, t<pica e misteriosa de todas as rela*6es, a Mature'a mesmaparece conceder o que a ci"ncia nega = espa*o n+o pode separar a almavigilante do pai do lado do ber*o do seu primog"nito ;

!gnoro o pai e a casa que (abitamG as min(as vis6es n+o medescrevem a terra, sen+o a pequena e tenra criatura, a qual parece )á ter oespa*o por (eran*a 3ara a crian*a, cu)a ra'+o ainda n+o despertou, e naqual as paix6es de (omem ainda n+o vieram obscurecer a ess"ncia quetrouxe do elemento que deixara, n+o existe 3a<s algum peculiar, nem cidadenatal, nem linguagem mortal, que l(e se)a pr0pria 7 sua alma, sendo ainda o(abitante do ar e de todos os mundos, encontra-se com a min(a no espa*oGali o fil(o se comunica com o pai ;

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9ul(er cruel 3or quem deixei a sabedoria das esferasG a quem devoo fatal dote das debilidades e terrores da (umanidade F pude crer que a )ovemalma estaria menos segura na terra, porque eu queria condu'i-la cada ve'mais alto ao céu 4ulgou que eu era capa' de fa'er algum mal ao meupr0prio fil(o M+o via, nos seus serenos ol(os, a lu' que eu l(e inspirava

para adverti-lo, para repreender a m+e que queria ligar essa alma Ks trevas efa'"-la participar dos tormentos dos demais mortais M+o compreendia queeu era quem, por meio do poder do Déu, o escudava contra as enfermidadese os sofrimentos ? em sua admirável bele'a, eu bem di'ia o santo meiopelo qual, finalmente, o meu esp<rito poderia comunicar-se com o seu ;

:? como ac(o a tril(a, depois Aoube que o teu disc<pulo (aviaestado em >ene'a 3ela descri*+o que me fi'eram da quase selvagempersonagem, que esteve a visitar >iola antes da sua fuga, n+o me foi poss<velrecon(ecer o )ovem nobre ne0fito de 3artenopeG porém, quando quis citarperante mim a sua idéia, esta se negou a obedecer-meG e ent+o compreendi

que o seu destino estava ligado ao de >iola Aegui os vest<gios que eledeixara, e assim c(eguei até a esta infeli' cidade, onde me ac(o desde o diade ontemG até ao instante em que escrevo estas lin(as, n+o pude descobrir o(omem que procuro;

:7gora mesmo acabo de voltar do que c(amam aqui os @ribunais de4usti*a;, e o que, na realidade, merece o nome de cavernas onde os tigresprocessam a sua presa M+o encontrei a quem buscava ?st+o, pois, aindafora do perigo de ca<rem nas m+os desses tigres 3orém, nos crimes dosmortais, recon(ecia escura sabedoria do ?terno 9e)nour, ten(o visto aqui,pela primeira ve', que coisa bela e ma)estosa é a morte 8e que sublimesvirtudes nos despo)amos, quando, sedentos de virtude, alcan*amos a arte pormeio da qual podemos evadir-nos da morte no momento em que ela procura Quando, em um clima feli', onde respirar é go'ar, o t5mulo se abre paraengolir a )uventude e a formosuraG quando a morte se apresenta a umestudante que está pesquisando, com nobres fins, os segredos da ci"ncia, eeste deve interromper os seus interessantes estudos, quando a fatal cortina,caindo sobre a encantadora terra, l(e oculta a interessante cena que seoferecia K sua contempla*+o, qu+o natural é, ent+o, o nosso dese)o de viver,e qu+o natural é que a perpetuidade da vida se)a o primeiro ob)eto da nossainvestiga*+o ;

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3orém, aqui, colocando-me na min(a torre do tempo, e virando a vistaao escuro passado, e contemplando o bril(ante futuro, compreendo quedo*ura e gl0ria sentem os grandes cora*6es, quando morrem pelos queamam >i um pai sacrificar-se por seu fil(oG fa'iam-l(e acusa*6es que podiadesvanecer pronunciando uma s0 palavra F (aviam-no tomado,

equivocadamente, pelo seu fil(o Dom que pra'er aceitou o erro, confessandoos nobres crimes de valor e fidelidade que o seu fil(o cometera Dom quepra'er marc(ou para o supl<cio, recordando-se que salvava a vida do fil(oamado @en(o visto mul(eres )ovens e delicadas, na flor da sua bele'a, quese (aviam consagrado ao retiro da clausura 9+os manc(adas de sangueinocentes abriam l(es as portas que as separavam do mundo, e, relevando-asdos votos que (aviam feito antes o 8eus que estes ateus negavam, l(esdi'iam que buscassem amantes e consortes, )á que eram livres 7lgumas,dessas ternas criaturas (aviam amado, ou talve' lutavam ainda contra oamor ? essas t<midas don'elas declararam, com vo' tranqRila, que preferiammorrer do que romper o seu voto e faltar K sua fé 9e)nour, de onde provém

esta coragem 8o fato que estes cora*6es vivem em uma vida mais abstratae mais santa do que a sua 3orém, viver para sempre nesta terra é viver emalgo que n+o é mais divino do que n0s mesmos Aim, mesmo no meio destasangrenta carnificina, 8eus, o ?terno Aer, reivindica, aos ol(os dos (omens, asantidade da sua serva, a 9orte ;

=utra ve' o vi em esp<rito, meu querido fil(o >i-o e aben*oei-o M+ome recon(eceu também em seus son(os M+o sentiu os batidos do meucora*+o por entre o véu dos seus rosados son(os M+o ouviu as asas dosresplandecentes Aeres aéreos que ainda posso con)urar ao redor de si, parao vigiarem, alimentarem e protegerem ? quando o encantamento sedesvanece ao despertar, quando os seus ol(os se abrem K lu' do dia, n+o mebuscam por toda a parte, perguntando K sua m+e, com muda eloqR"ncia,porque l(e roubou a seu pai

:9ul(er, n+o se arrepende 2ugindo de temores imaginários, voc"vem K mans+o do terror real, onde o perigo reside vis<vel e palpável 7( Aepudéssemos encontrar-nos, n+o se lan*aria nos bra*os do que tem ofendido,para sentir pobre via)ante, perdido no meio da tempestade, que reentrava no

seu abrigo :9e)nour, as min(as pesquisas foram, até agora, infrut<feras 7pesar

de freqRentar todas as classes de (omens, até os )u<'es e espias, n+o possoac(ar a ponta do novelo Aei que >iola está aqui Aei-o instintivamenteG pois oalento do meu fil(o me parece mais quente e mais familiar;

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=s espi6es cravam em mim os seus venenosos ol(ares, quandopasso pelas ruasG porém, basta um ol(ar meu para desarmar a sua mal<cia efascinar os bas<liscos 3or todas as partes, ve)o as pistas e sinto a presen*ado terr<vel ?spectro do Pmbral, cu)as v<timas s+o as almas que quiseramaspirar, mas n+o venceram o medo >e)o essa negra e disforme sombra

marc(ar diante dos verdugos, dirigindo os seus passos Cobespierre passouao meu lado com passo furtivoG os ol(os do (orr<vel espectro rolam o seucora*+o 2ui ver o AenadoG o fantasma estava acocorado ali no assoal(oGfixou a sua resid"ncia na cidade do @error ? que é que s+o em verdade,esses (omens que se intitulam edificadores de um novo mundo Domo osestudantes que em v+o t"m lutado para obter a nossa suprema ci"ncia,tentaram uma empresa que está além do seu poderG passaram da s0lida terrade costumes e formas, ao 3a<s das sombras, e a seu terr<vel guarda fe' delessua presa Quis ler no fundo da alma do tirano, esta alma covarde tremiaquando passou por meu lado 7li, no meio das minas de mil sistemas queaspiravam K virtude, estava sentado o Drime, e estremecia vendo a sua obra

de destrui*+o ?, sem embargo, este (omem é o 5nico 3ensador, o 5nico 7spirante que (á entre todos eles ?le son(a ainda com um porvir de pa' e deperd+o ? quando deverá come*ar esta nova era A0 quando ele tiverdestru<do todos os seus contrários !nsensato Dada gota de sanguederramada produ' novos inimigos Dondu'ido pelos ol(os do ?spectro,Cobespierre camin(a para o seu fim

Y >iola, a sua inoc"ncia a protege >oc", a quem a doce (umanidadedo amor privou até dos son(os de uma bele'a aérea e espiritual, fa'endo doseu cora*+o um universo de vis6es mais formosas do que as que podecontemplar sobre o r0seo espero, n+o se rodeará essa mesma pura afei*+o,aquimesmo, de uma atmosfera encantada, que desarmará o terror, quandoeste quiser atacar uma vida demasiado pura até para a sabedoria

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CAPÍTULO IV 

:=mbra piR c(e dinotte, in cui luceCaggio misto non GM piR il palagioappar, n pi le sue>estigiaG n dir puossi - egli qui fue;

Jerus Lib, canto X>!, .N

:Aombra mais escura do que a da noite,e em que n+o (á, misturado,nem um raio de lu'= palácio n+o aparece mais, nem um vest<gio deleGenem se pode di'er que existiu;

=s clubes se agitam freneticamente, e os seus c(efes se perdem emum negro labirinto de pro)etos = terr<vel enriot corre de um lado para ooutro, murmurando Ks suas tropas armadas F - Cobespierre, - o seu queridoCobespierre, - está em perigo = ditador anda perturbado, escrevendo, a cada

(ora, novas v<timas em sua lista @allien, como 9acduff e 9acbet(, inspiramcoragem aos seus assustados amigos conspiradores

3recipitadamente, passam pelas ruas os carros que levam as v<timasao cadafalso 7s lo)as e vendas est+o fec(adasG o povo está saciado desangue, e n+o quer envolver-se mais nessas (orr<veis cenas ? em cadanoite, os fil(os da Cevolu*+o enc(em os oitenta teatros de 3aris, para riremaos remoques da comédia, ou para c(orarem, sensibili'ados, por doresimaginárias de alguma tragédia

?m um pequeno quarto, no cora*+o da cidade, a vigilante m+e estásentada ao lado do ber*o do seu fil(o

H a (ora tranqRila do meio-diaG os raios do Aol, quebrados pelospequenos tetos da rua estreita, introdu'em-se pela )anela aberta, essesimparciais camaradas que brincam com o ar e conservam a sua alegria tantono @emplo como na pris+o, tanto no grande sal+o como na cabanaG e s+osempre igualmente dourados e rison(os, quer iluminem a primeira (ora davida, quer assistam, com o seu delicioso tremular, Ks dores e ao terror aagonia mortal

 7 crian*a, deitada aos pés de >iola, estendia as suas m+o'in(ascomo se quisesse apan(ar os dourados átomos de p0 que estavam dan*andonos raios do Aol

 7 m+e apartou o seu ol(ar da lu', porque a entristecia maisG umprofundo suspiro se l(e escapou do peito

H a mesma >iola que bril(ava mais formosa do que !dali a sob o céuda Jrécia

Domo está mudada Qu+o pálida e exausta

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Aentada negligentemente, com os bra*os ca<dos sobre os )oel(os,tin(a um ar muito sérioG o sorriso que, anteriormente, l(e era t+o (abitual, n+oresidia mais nos seus lábios

Pm triste e pesado desalento parecia curvar a sua )uventude e tornar-

l(e importuno o rison(o raio do Aol

Dom efeito, a sua exist"ncia se (avia defin(ado desde a sua fuga,como um melanc0lico arroio que se ausentasse da fonte que o nutria

= repentino excesso de medo ou de supersti*+o, que, como se ativesse impelido pelos movi mentos inconscientes de um son(o, a fi'era fugirde Zanoni, (avia cessado desde o dia em que os seus pés pisaram a terraestrangeira

?nt+o ent+o sentiu que a sua vida estava no sorriso do (omem

que abandonara para sempre

M+o obstante, >iola n+o estava arrependida, nem teria retrocedidooutra ve', ante o impulso que l(e deu as asas para fugir

?mbora o entusiasmo tivesse desaparecido, a supersti*+o aindapermaneciaG >iola cria ainda que (avia salvo o seu fil(o da negra e culpávelfeiticeira, de que se contam tantas coisas nas tradi*6es de todos os 3a<ses,mas que em nen(uma parte é t+o temida como no Aul da !tália

?sta impress+o estava confirmada pela misteriosa conversa*+o deJlyndon e pela terr<vel mudan*a que observara nesse (omem que seapresentava como a v<tima dos feiticeiros

3or isso, n+o se arrependia de ter fugidoG mas a sua vontade pareciater emudecido

8esde a sua c(egada a 3aris, >iola n+o viu mais a sua compan(eira,a mul(er que l(e dera aquele exemplo de fidelidade 7ntes de (averempassado tr"s semanas, essa mul(er e o seu marido tin(am deixado de existirneste mundo

? agora, pela primeira ve', as exig"ncias e labuta*6es desta duraterra vieram impor-se K bela Mapolitana

Maquela profiss+o em que se dá vo' e forma K poesia e ao canto, ena qual empregara os seus primeiros anos, se encontra, enquanto se aexerce, uma excita*+o na arte que a eleva fora da esfera do mecanismo deum of<cio

Balanceando entre duas vidas, a Ceal e a !deal, agita-se a vida dam5sica e do teatro

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?ssa vida, porém, estava para sempre perdida para o <dolo dos ol(ose ouvidos de Mápoles

?levada K esfera superior do amor apaixonado, parecia como se og"nio fict<cio, que representa os pensamentos de outros, estivesse imerso no

g"nio que, de si mesmo, gera e eleva o seu pr0prio pensamento @eria sido apior infidelidade para com o seu querido abandonado, se (ouvesse decididooutra ve' a viver dos aplausos do mundo

? assim, pois, >iola n+o teria aceito esmola de Jlyndon, assim, pormeio das artes mais comuns, pela mais (umilde ind5stria que o sexo femininocon(ece, pelos trabal(os manuais, so'in(a e sem ser vista por ninguém,aquela que (avia dormido nos bra*os de Zanoni, adquiria os meios para criare proteger o seu fil(o

?ra como quando, no verso prefixado a este cap<tulo, 7rminda

destruiu, por si pr0pria, o seu palácio encantado, nem um s0 vest<gio restavadaquela suntuosa morada, levantada em outro tempo pela 3oesia e pelo 7mor, que pudesse di'er F ?xistiu ? o fil(o vingava o paiG florescia e medrava,crescia, s+o e robusto, na lu' da vida ?ntretanto, ainda parecia que um seroculto velava sobre ele = seu sono era t+o profundo e tranqRilo, que n+opoderia interromp"-lo nem um estampido de trov+o

?, em seu sono, muitas ve'es, o pequeno movia os bra*os, comopara abra*ar o arG e, muitas ve'es, os seus lábios pareciam murmurar sonsde indistinta afei*+o, porém, n+o para ela ? durante o seu sono, via-sesempre em suas faces um colorido de bele'a celestial, pairando sobre osseus lábios um sorriso de misteriosa alegria ? quando despertava, os seusol(os n+o se dirigiam primeiro para elaG pensativos, sérios e errantes,vagueavam de um lado para outro, para fixar-se, por fim, com uma express+ode muda triste'a e repreens+o sobre o pálido rosto da sua m+e

Munca antes >iola (avia percebido quanto amava a Zanoni G opensamento, o sentimento, o cora*+o, a alma, a vida, tudo parecia paralisadoe dormindo na fria aus"ncia a que se consagrara M+o ouvia os ru<dos dasruasG n+o percebia nada daquela tempestade popular, nada dos inumeráveisexcitamentos que, a toda a (ora, se levantavam na grande cidade Aomente

quando Jlyndon, pálido como um espectro, vin(a fa'er-l(e a sua visita diária,a bela fil(a do Aul ficava ciente da pesada atmosfera de sangue e de morteque a rodeava Aublime na passiva indiferen*a, - em sua vida mecânica, - a )ovem !taliana n+o sentia medo, nesse covil de 7ves de Capina

 7 porta do quarto abriu-se repentinamente, e Jlyndon entrou

= !ngl"s estava mais agitado do que de costume

- H voc", Dlar"ncio - perguntou >iola, com sua vo' lânguida esuave

- M+o o esperava a esta (ora

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- Quem pode contar, agora, as (oras em 3aris - respondeuJlyndon, com um trágico sorriso

- M+o é o bastante estar eu aqui 7 sua apatia, no meio de tantascalamidades, me (orrori'a Dom tanta tranqRilidade me di' :Bom dia ; ou

:Boa tarde ; ou :7deus ; Domo se n+o (ouvesse um espi+o em cadaesquina, e cada dia um massacre

- 3erdoe-me 3orém, para mim, o mundo se redu' a estas paredes 7penas posso acreditar o que me conta @udo aqui, exceto este, disse >iola,apontando o fil(o, parece-me também um tanto sem vida, que talve' nem natumba se poderia ignorar mais os crimes que se cometem lá fora

Jlyndon guardou sil"ncio por alguns momentos, contemplando, comestran(os e variados sentimentos, aquela figura, t+o )ovem ainda e, todavia,submergida naquele trist<ssimo repouso, que reina somente quando o

cora*+o se sente envel(ecido

=( >iola - exclamou, por fim, o artista, com uma vo' de mal contidapaix+o

- 3odia se me figurar que c(egaria a v"-la nesta situa*+o, quando nosencontramos pela primeira ve', sob o alegre céu de Mápoles 7( 3or querecusou, naquele tempo, o meu amor =u, por que o meu amor n+o foi dignode si M+o se retire 3ermita-me tocar sua m+o 4amais poderei tornar asentir uma paix+o t+o doce como aquele meu amor )uvenil 7gora s0 l(eprofesso o afeto que um irm+o sente por uma irm+ )ovem, e desamparadaQuando me encontro a seu lado, por mais triste que se)a a sua presen*a,parece-me que respiro o ar puro dos primeiros anos da min(a )uventude Domexce*+o das cenas de turbul"ncia e tumulto, é somente aqui que o espetrocessa de perseguir-meG e até esque*o a morte que ve)o detrás de mim, e queme segue como se fosse a min(a sombra 3orém, ainda podem vir para n0smel(ores dias >iola 3or fim, se bem que ainda de uma forma vaga, come*oa distinguir o meio de burlar e sub)ugar o fantasma que envenenou a min(avidaG este meio é desafiá-lo e lutar contra ele ?nquanto levo uma vidadesregrada e turbulenta, como )á l(e disse, o fantasma n+o me atormenta3orém, agora compreendo o que 9e)nour queria indicar em suas obscuras

palavras, di'endo que eu :devia temer o espectro muito mais quando n+o sedeixasse ver por mim; Mo meio de uma vida virtuosa e tranqRila, sempre meapareceG sim, agora mesmo o ve)oG ali, ali está, com seus l<vidos ol(os ?, aestas palavras, grossas gotas de suor corriam pelas faces do !ngl"s

- 3orém, por mais que fa*a, - continuou ele, - n+o me fará desistir damin(a resolu*+o ?u o encaro, e sei que, gradualmente, se desvanece entreas sombras

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Jlyndon calou-se, enquanto os seus ol(os pareciam seguir, comestran(a alegria, algum ob)eto no luminoso espa*o 8epois, com umarespira*+o pesada e profunda, prosseguiu F - >iola, encontrei os meios deescaparmos 7bandonaremos esta cidade !remos para algum outro 3a<sonde nos esfor*aremos para consolar um ao outro, procurando esquecer o

passado- M+o, - respondeu >iola, calmamente - ?u penso n+o me moverdaqui, até que me levem K 5ltima morada Dlar"ncio ?sta noite son(ei comele ? esta foi a primeira ve' que com ele ten(o son(ado, desde que parti de>ene'aG e, n+o 'ombe de mim 3arece-me que ele me perdoava e mec(amava :esposa;, este son(o santifica este quarto @alve' ele me ven(a veroutra ve', antes de eu morrer- M+o fale desse semi-demInio - exclamouJlyndon, irritado, e batendo com o pé no c(+o - 8" gra*as ao Déu por (aver-se livrado dele

- Ail"ncio 8isse >iola, com gravidade

? ia prosseguir, quando os seus ol(os se fixaram no fil(o, o pequenoac(ava-se no centro daquela obliqua coluna de lu', que o Aol pro)etavadentro do quartoG e os raios dessa lu' pareciam formar uma radiante auréola,semel(ante a uma coroa, posta sobre o ouro dos seus resplandecentescabelos Mo seu pequeno corpo, cu)a forma era t+o esquisitamente modelada,nos seus grandes, firmes e tranqRilos ol(os, (avia algo de imponente que, aomesmo tempo, reprimia e encantava o orgul(o da m+e

 7 crian*a ol(ava Jlyndon, enquanto este falava, com um ol(ar quequase se podia interpretar por desdém, e o qual >iola, por fim, interpretoucomo uma defesa em favor do ausente, uma defesa mais forte do que osseus pr0prios lábios pudessem pronunciar

Jlyndon rompeu o sil"ncio F

- Quer ficar aqui ? para que 3ara faltar aos deveres de m+e Ael(e suceder alguma desgra*a aqui, que será do seu fil(o 2icará sendo 0rf+oem um 3a<s que profanou a sua religi+o e onde n+o se con(ece mais acaridade 7( D(ore, e aperte o fil(o ao cora*+oG mas com as suas lágrimasn+o o salvará nem o protegerá- @riunfou, meu amigo, - respondeu >iola W2ugirei consigo

- ?nt+o deve estar preparada para aman(+ de noite ?u l(e trarei osnecessários disfarces

?m seguida, Jlyndon esbo*ou, em poucas palavras, a marc(a quedeviam seguir, e o papel que deviam representar

>iola escutou, mas pouco compreendeu Jlyndon levou a m+o da )ovem ao seu cora*+o, apertou-a e partiu

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CAPÍTULO V 

:>an seco pur ancoAdegno ed 7mor, quasi due >eltri al flanco;

Jerus Lib, canto XX, ##/

:7compan(am-no, contudo, ainda o 8esdém e o 7mor, como doisc+es galgos que v+o a seu lado;

 7o sair, precipitadamente, da casa de >iola, Jlyndon n+o reparou emduas pessoas, agac(adas ao canto de um muroG o !ngl"s via ainda o espetroque desli'ava a seu lado, mas n+o percebeu os ol(os ainda mais venenososda inve)a (umana e do ci5me de mul(er, que espiavam os passos da suaretirada

Micot adiantou-se até a casa, e 2ilida seguiu-o em sil"ncio = pintor,sendo um :sans-culotte; esperto, sabia perfeitamente que linguagem deviaempregar, falando com o porteiro D(amou, pois, este para fora e disse-l(e FS\$T - Domo é isto, cidad+o @u (ospedas gente suspeita

- Didad+o tu me espantas Ae for assim, di'-me o seu nome

- M+o é (omemG aqui mora uma mul(er, uma emigrada !taliana- Pma!taliana Aim, no terceiro andar, a porta da esquerda 3orém, o que (á arespeito dela ?sta pobre mul(er n+o pode ser perigosa

- Didad+o, cuidado 7treve-se a defend"-la - ?u M+oGabsolutamente n+o 3orém- 8iga a verdade Quem a visita

- Minguém mais que um !ngl"s

- H isto mesmo, - um !ngl"s, um espi+o de 3itt e de Doburg

- 4usto céu H poss<vel

- Domo, cidad+o @u falas do céu Aem d5vida, é um aristocrata

- M+o, absolutamente n+o ?ssa palavra é apenas um vel(o costume,e escapou-me sem eu o advertir

- = !ngl"s a visita freqRentemente

- @odos os dias 2ilida deixou escapar uma exclama*+o

- ?la mesma nunca sai, - prosseguiu o porteiro - 7 sua 5nicaocupa*+o é trabal(ar e cuidar do fil(o

- = seu fil(o 2ilida deu um salto para a porta

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?m v+o Micot quis det"-la Dom a velocidade de um raio, ela subiu aescada, e n+o parou sen+o quando c(egou diante da porta indicada peloporteiro 7 porta estava entreaberta 2ilida abriu-a e deteve-se no umbral,para contemplar aquele rosto, ainda t+o belo 7o ver tanta formosura, amontan(esa perdeu a 5ltima esperan*a ? os seus ol(os se fixaram na

crian*a, sobre a qual a m+e se inclinava ? ela, 2ilida, nunca (avia sido m+e Queria falar, mas n+o pIde articular som algumG as 25rias disputavam opintado o mais mortal 0dio, o despre'o e a vingan*a, a pobre m+e seucora*+o

>iola virou a cabe*a 7o ver aquelas fei*6es, onde estava lan*ou umgrito de espanto, e apertou o fil(o contra o cora*+o

2ilida soltou uma estrepitosa gargal(ada, voltou os ombros, desceu eencontrou Micot, ainda conversando com o porteiroQuando c(egaram K rua,deteve-se repentinamente, e disse F

- >inga-me, e diga o que pede em recompensa

- = que pe*o, min(a querida Mada mais sen+o que me permi tasamá-la 2ugirá comigo aman(+ de noiteG e, para isso, deve apoderar-se dospassaportes e aproveitaremos o mesmo plano

- ? eles - 7ntes daquela (ora, estar+o na pris+oG a guil(otina vingaráos seus agravos

- 2a*a assim, e ficareicontente, - disse 2ilida, com firme'a

? n+o disseram nem mais uma palavra até que c(egaram K casa

Quando, porém, 2ilida dirigiu um ol(ar Ks )anelas da triste (abita*+o,da qual a cren*a no amor de Jlyndon fi'era um para<so, o cora*+o daquelaleoa se abrandou um tanto, como se algo da mul(er se despertasse em suanature'a vingativa e selvagem 7pertando o bra*o de Micot, no qual seapoiava convulsivamente, exclamou F

- M+o, n+o 7 ele n+o denuncie Que pere*a ela s0 ?le n+o 8ormi

sobre o seu peito 7 ele n+o denuncie - Domo quiser, - respondeu Micot, com um sorriso satânicoG porém,

por ora, ele (á de ser preso, por poucos momentos, provisoriamente M+o l(eacontecerá mal algum, porque n+o aparecerá nen(um acusador contra ele3orém, ela n+o se compadece dela

2ilida dirigiu K Micot um ol(ar sombrio e terr<vel, cu)a express+o erauma resposta suficiente

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CAPÍTULO VI 

:!a poppa quellaD(e guidar gli dovea, fatal 8onsella;

Jerus Lib, canto X>,\

:Ma popa estava a fatal don'ela que devia guiá-la;

@odo aquele dia soube 2ilida conservar essa astuta dissimula*+o queé proverbial no seu 3a<s e peculiar ao seu sexo

Mem uma palavra, nem um ol(ar revelaram a Jlyndon a terr<velmudan*a que convertera o amor em 0dio

= !ngl"s absorto também em seus pro)etos e nas reflex6es que l(esugeria o seu estran(o destino, n+o se encontrava em bom estado para fa'erobserva*6es

3orém, as maneiras de 2ilida, mais amáveis e mais (umildes do quede costume, produ'iram nele um efeito consolador, imprimindo uma dire*+omais animadora Ks suas idéias, ao declinar a tarde

?le come*ou, ent+o, a falar com 2ilida sobre as esperan*as quetin(am de escaparem, e do porvir que os aguardava em terras menosprofanadas

- H a sua formosa amiga que devia nos acompan(ar - perguntou a!taliana, com os ol(os desviados e com um falso sorriso

- Aegundo o que me disse Micot, resignou a ela, para favorecer umaoutra pessoa, pela qual ele se interessa H verdade

- ?le l(e disse - respondeu Jlyndon, evasivamente

-Bem 7grada-l(e a troca

- @raidor - murmurou 2ilida, levantando-se repentinamente, para ir aseu lado, e retirando da fronte, com fingidas car<cias, os compridos cabelosde Jlyndon, bei)ou convulsivamente a sua testa

- ?sta cabe*a é demasiado formosa para entregá-la ao verdugo, -acrescentou, com um leve sorriso

? separando-se do amante, pareceu ocupar-se com os preparativosda viagem

Quando, na man(+ do dia seguinte, o !ngl"s se levantou da cama,n+o viu a !talianaG e esta ainda n+o tin(a voltado a casa quando ele saiu

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Jlyndon teve que ir outra ve' falar com DOOO, antes de partirdefinitivamente, n+o somente para arran)ar o que era necessário saber se n+ose (avia apresentado algum obstáculo que contrariasse para Micot poderparticipar da sua fuga, como também para ou amea*asse o plano que (aviaadotado

DOOO, embora n+o fosse um dos que formavam a camaril(a deCobespierre, ao qual ele odiava secretamente, (avia sabido congra*ar-secom os diferentes partidos que se (aviam sucedido no poder Aa<do dapopula*a, possu<a, contudo, essa gra*a e vivacidade que se encontra comfreqR"ncia em todas as classes sociais da 2ran*a este (omem, no curso dasua rápida carreira, e sem que se soubesse como, (avia sabido enriquecer-se

Pltimamente, era considerado, com efeito, como um dos proprietáriosmais ricos de 3aris e, na época a que nos referimos, vivia em uma casa

magn<fica, esplendidamente adornada ?ra um daqueles que, por váriasra'6es, Cobespierre se dignava favorecerG assim é que DOOO (avia salvado,muitas ve'es, pessoas proscritas e suspeitas, l(es proporcionandopassaportes com nomes supostos, e indicando-l(es a maneira de escaparem9as ele tomava este trabal(o somente para gente rica = :incorrupt<vel;9aximiliano, que n+o carecia da faculdade de penetra*+o, que costumadistinguir os tiranos, n+o ignorava provavelmente estas manobras, nem aavare'a que DOOO ocultava sob o disfarce da sua caridade 3orém, era sabidoque Cobespierre fec(ava muitas ve'es os ol(os, - e propun(a destruir depois,- como se tendesse a desconceituá-los ante a opini+o p5blica, fa'endo, poroutra parte, ressaltar a sua pr0pria, austera e inatacável integridade e o seu:purismo; ?, sem d5vida, ri a, mais de uma ve', interiormente, ao ver asuntuosa mans+o e a insaciável cobi*a do digno cidad+o DOOO

 7 casa deste personagem, pois, dirigia Jlyndon, pensativo, os seuspassos

?ra verdade que, como o !ngl"s (avia dito a >iola, K medida queresistia ao espectro, este perdia a sua influ"ncia sobre ele e l(e causavamenos terror 3or fim, (avia c(egado o tempo em que o artista, vendo o crimee o v<cio em toda a sua (orr<vel fealdade, exercido em t+o grande escala,

compreendeu que, no crime e no v<cio, (avia (orrores mais repugnantes doque nos ol(os do espectro que o espantava 7 sua natural magnanimidadecome*ou a voltar ao seu cora*+o

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 7o passar pelas ruas, ocupava a sua mente com pro)etos dearrependi mento, formando a resolu*+o de mel(orar os seus costumesG e atépensou em esquecer a baixa classe e a pouca educa*+o que o separavam,aos ol(os da Aociedade, de 2ilida, e prometia a si mesmo recompensar a suadedica*+o, e reparar todos os erros que contra ela tin(a cometido, casando-

se som ela ?le, que, em outro tempo, se recusara a casar-se com a amável egenerosa >iola, queria unir-se, agora, pelos la*os matrimoniais com umamul(er de caráter t+o selvagem e t+o pouco compat<vel com o seu = artista(avia c(egado a compreender, neste mundo de iniqRidade, que o que é )uston+o deixa de ter a sua ra'+o de ser, e que o céu n+o criou um sexo para quefosse a v<tima do outro

 7s suas )uvenis vis6es do Belo e do Bom, apresentavam-senovamente aos seus ol(os, e no vasto oceano da sua mente vislumbrava,como um camin(o iluminado pelo luar, o sorriso da virtude que outra ve'despertava Munca, talve', a sua alma (avia estado em condi*+o t+o elevadaG

nunca (avia alimentado sentimentos t+o altru<stas

 7o mesmo tempo, 4ean Micot, igualmente absorvido em son(os dofuturo, e meditando )á de que maneira tiraria mais proveito do ouro do amigoque ia trair, dirigia-se K casa que tin(a a (onra de ser a resid"ncia deCobespierre Micot n+o tin(a a menor inten*+o de cumprir a promessa quefi'era a 2ilida, quando l(e garantira que Jlyndon ficaria fora de perigo =traidor pensava como Barr"re, que :s0 os mortos n+o voltavam;

@odos os (omens que se dedicaram a algum estudo, ou a algumaarte, e que, K for*a de trabal(o e constância, c(egaram a adquirir certo graude celebridade, possuem, indubitavelmente, um fundo de energia,incomparavelmente maior do que os (omens comuns Jeralmente, estaenergia está concentrada nos ob)etos da sua ambi*+o profissional, fa'endo-os ol(ar com apatia todas as outras coisas que movem, inspiram ou excitam aambi*+o dos outros 3orém, quando a um (omem, que possui tal fundo deenergia, s+o negados os ob)etos que a sua ambi*+o quis alcan*ar, quando acorrente n+o tem seu escoamento leg<timo, a energia, irritada e despeitada,apodera-se do (omem e, se ao seu ânimo n+o se deixou abater pelosdesenganos sofridos, ou se n+o é purificado pela consci"ncia e por umprinc<pio moral superior, converte-se em um elemento perigoso para a

Aociedade, pela qual vagueia de orgia em orgia, e de desordem emdesordem

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H por isso que, em todas as monarquias sabiamente dirigidas, ou,para di'er mel(or, em todos os ?stados bem constitu<dos, se atendecuidadosamente que se)am abertos canais para toda a arte e toda a ci"ncia, afim de satisfa'er as ambi*6es de todos os g"nios, tanto cient<ficos comoart<sticosG é por isso que estadistas saga'es e previdentes tributam (onras

aos cultivadores das artes e das ci"ncias, ainda que, Ks ve'es, n+o ve)am, emuma pintura, nada mais do que uma tela c(eia de cores, nem em umproblema outra coisa sen+o engen(o e paci"ncia Munca um ?stado se ac(aem tanto perigo como quando o talento, que devia estar dedicado a trabal(ospac<ficos, n+o tem outra ocupa*+o sen+o a intriga pol<tica ou o proveitopessoal

= talento que n+o é tratado com apre*o é um elemento de guerraempregado contra os demais (omens 8evemos fa'er observar aqui que aclasse de atores, sendo a mais despre'ada na opini+o p5blica do antigoregime, que até se l(e negava o enterro Drist+o com algumas exce*6es de

pessoas desta classe, favorecidas pela Dorte1, contin(a os mais infatigáveis evingativos entre a esc0ria da Cevolu*+o Mo selvagem Dollot dUerbois, o malcImico, estavam personificadas as in)5rias e as vingan*as de toda umaclasse

=ra, a energia de 4ean Micot nunca (avia sido dirigidasuficientemente para a arte que professava 4á em sua primeira )uventude, asdiscuss6es pol<ticas do seu mestre 8avid o (aviam distra<do dos trabal(os docavalete, que l(e pareciam um tanto quanto enfadon(os =s seus defeitoscorporais (aviam amargurado a sua menteG o ate<smo do seu benfeitor (aviaamortecido a sua consci"ncia 3orque um grande merecimento da religi+o, -e, sobretudo, da Celigi+o da Dru', - é que eleva a paci"ncia, primeiro, ao graude uma virtude, e converte-a, depois, em uma esperan*a 3ai que nosrecompensa pelos sofrimentos e pelas provas que temos passado nestemundoG e que será, ent+o, a paci"ncia ? que será um (omem ou um povo,sem esta virtude

Aem paci"ncia, a arte n+o pode elevar-se, nem a liberdade pode serperfeita 3or meio de grandes dores e impetuosas e infindas lutas, esfor*a-seo intelecto em libertar o (omem da 3en5ria, e em dar a Liberdade a umana*+o ? ai do (omem, e ai da Ma*+o, se se lan*am nessa luta, sem estarem

fortalecidos, guiados e apoiados por essa virtude Micot era um (omem muitovil Ma maior parte dos criminosos, por mais que este)am abandonados, (ávest<gios de (umanidade, ou algum resto de virtudeG e o verdadeirodelineador da (umanidade incorre, Ks ve'es, no escárnio dos cora*6es mause das mentes obtusas, por mostrar que até as piores ligas metálicas contémalguma part<cula de ouro, e que até as mel(ores coisas que a Mature'aprodu' n+o est+o livres de alguma esc0ria

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Dontudo, (á exce*6es, se bem que poucas, desta regra geralG e estasexce*6es se manifestam quando a consci"ncia está inteiramente morta, equando o bem e o mal s+o coisas indiferentes, a n+o ser que condu'am aalgum fim ego<sta !sto é o que sucedia com o protegido do ateu !nve)a e 0dioenc(iam o seu cora*+o todo, e o sentimento que tin(a do seu talento superior,

s0 servia para fa'"-lo amaldi*oar todos os que l(e excediam em fortuna outin(am a vantagem de ser de aspecto mais belo do que a sua disforme figura 7pesar de ser )á um monstro, quando pIs a sua m+o assassina sobre agarganta do seu benfeitor, querendo estrangulá-lo, o tempo e aquele fermentode todas as más paix6es, - o Ceinado do Aanguinolento @error, -aprofundaram mais ainda o inferno do seu cora*+o

M+o podendo exercer a sua profiss+o pois nem que se tivessetornado um artista célebre, as revolu*6es n+o s+o um tempo favorável paraos pintoresG e nem o mais rico e soberbo magnata tem um instante t+o alto et+o vivo no bem-estar da Aociedade, como o poeta e o artista1, o pensamento

de Micot, sempre inquieto e sem guia, somente se ocupava em contemplar asimagens do crime, que interessavam o seu cora*+o, sempre propenso ao malAegundo as suas concep*6es, n+o existia nada depois desta vidaG o futuroem que ele pensava era, pois, unicamente o que podia go'ar neste mundoG ecomo (aviam c(egado K prosperidade, nesta vida, os (omens que tin(am nasm+os o mando, os grandes lutadores pelo poder

@udo o que era bom, puro e generoso, fosse entre os Cealistas ouentre os Cepublicanos, (avia sucumbido no cadafalso, e s0 os verdugos seviam triunfantes, na pompa e na p5rpura das suas v<timas !ndigentes maisnobres do que 4ean Micot teriam desesperado, e a 3obre'a se teria levantadoem suas pálidas multid6es de famintos, para degolar a Dlasse 7bastada, e aesfaquear, depois, os seus pr0prios membros, um por um, se a 3aci"ncia, o 7n)o dos 3obres, n+o se tivesse sentado a seu lado, apontando-l(e, com seudedo solene, a vida futura

 [ medida que Micot se aproximava da casa do 8itador, come*ou ameditar planos inteiramente contrários aos do dia anteriorG n+o porquevacilasse na sua resolu*+o de denunciar Jlyndon e >iola, pois estavadecidido a fa'"-lo, odiando-os como os odiava a ambos e, além disso, n+oesquecia o seu vel(o 0dio que votava a Zanoni 1 >iola o (avia despre'ado, e

Jlyndon l(e (avia prestado servi*osG e o pensamento de gratid+o era-l(e t+ointolerável como a lembran*a do insulto

3orém, por que devia, agora, fugir da 2ran*a 3odia tornar-se opossui dor do ouro de JlyndonG e n+o duvidava que dominaria 2ilida, por meiodos 'elos e da ira a que ela se entregava, e que dela conseguiria tudo o quel(e propusesse =s papéis que (avia furtado, isto é, a correspond"ncia de8esmoulins com Jlyndon, n+o s0 decidiriam a sorte do !ngl"s, como tambémseriam muit<ssimo 5teis a Cobespierre, e Micot esperava que o Cei do @error,em considera*+o ao servi*o que ele l(e prestava, entregando-l(e essespapéis, esqueceria que o denunciante de Jlyndon (avia sido <ntimo amigo de

ébert, e o alistaria entre os seus aliados e instrumentos

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=utra ve' sentiu Micot despertarem no seu cora*+o as esperan*as deuma carreira, da rique'a e da prosperidade ?sta correspond"ncia, quedatava de muito poucos dias antes da morte de Damilo 8esmoulins, estavaescrita com aquela leviana e atrevida imprud"ncia que caracteri'ava omalogrado partidário de 8anton 2alava abertamente dos planos que se

for)avam contra CobespierreG dava os nomes de vários confederados, contraos quais o tirano dese)ava somente encontrar pretexto popular para enviá-losao cadafalso

?sta correspond"ncia era um novo instrumento de morte nas m+os doinfatigável carrasco Que presente mel(or, pois, se podia fa'er a 9aximiliano,o !ncorrupt<vel 7cariciando estes pensamentos, c(egou Micot diante da portado cidad+o 8upleix

?m frente ao umbral, se viam agrupados, em admirável confus+o, oitoou de' robustos 4acobinos, a guarda voluntária de CobespierreG todos eram

(omens de elevada estatura bem armados e insolentes como o poder quereflete o poder, e estavam misturados com mul(eres )ovens e belas, vestidascom vistosos tra)es, as quais, em conseqR"ncia dos boatos que circulavam deque 9aximiliano (avia sofrido um ataque de b<lis, (aviam vindo para informar-se, enternecidas, do estado da sua sa5de, pois Cobespierre, ainda quepare*a estran(o, era o <dolo do sexo feminino

Micot abriu passo por meio deste grupo estacionado diante da porta,e, subindo a escada, c(egou ao patamar, pois os aposentos de Cobespierren+o eram bastante espa*osos para poder oferecer uma ante-sala ao granden5mero de pessoas, de variadas classes e condi*6es, que vin(am Ks suasaudi"ncias Micot abria camin(o K viva for*a, sem fa'er caso das palavraspouco lison)eiras que l(e vin(am aos ouvidos

- 7( = belo 3olic(inelo S fantoc(e, boneco T - disse uma graciosamatrona, cu)o vestido fora enrugado pelos angulosos e descomunaiscotovelos do pintor

3orém, quem poderia esperar alguma aten*+o de semel(anteespantal(o - Didad+o, eu o advirto que está pisando nos meus pés 3orém,perdoa, agora ve)o os seus e compreendo que n+o (á lugar suficiente para

eles- =lá Didad+o Micot - exclamou um 4acobino, adiantando o seuformidável casseteteG - que é que o trás aqui 3ensa que )á est+o esquecidosos crimes de ébert 2ora daqui, fenImeno da Mature'a ? dá gra*as aoAer Aupremo que o fe' bastante insignificante para que se)a perdoadoS\NT

- Pma cara bonita >aleria a pena v"-la assomar-se na 4anelaMacional - disse a mul(er cu)o vestido o pintor amarrotara- Didad+os - disseMicot, pálido de ira, porém dominando-se, - ten(o a (onra de informar-l(e quepreciso falar com o Cepresentante, a respeito do assunto da mais altaimportância para o p5blico e para ele mesmoG e - acrescentou de vagar emalignamente, ol(ando em redor de si- tomo por testemun(as todos os bons

cidad+os para quando me queixar a Cobespierre do recebimento indigno quealguns dos presentes me fi'eram

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Mo ol(ar e no tom do pintor, (avia t+o profunda e concentradamal<cia, que intimidaram os que o rodeavamG e, ao pensarem estes nosrepentinos altibaixos da vida revolucionária, muitas vo'es se levantaram paraassegurar ao esquálido pintor que nada estava mais longe deles do que a

idéia de ofender um cidad+o, cu)o aspecto s0 por si)á l(es revelava que eraum virtuoso :sans-culotte;

Micot escutou estas desculpas com carrancudo sil"ncioG e, cru'andoos bra*os, apoiou-se contra a parede, aguardando, com for*ada paci"ncia, omomento da sua admi ss+o=s demais que ali estavam puseram-se a formargrupin(os de dois ou tr"s, falando-se, em cada um deles, de coisasdiferentesG e no meio deste murm5rio geral, ouvia-se, de ve' em quando, avo' forte e clara do alto 4acobino que estava de guarda na escada 7o ladode Micot, (avia uma anci+ e uma linda )ovem que falavam em vo' baixa, commuito calorG e o pintor ateu ria-se, no seu interior, ao ouvir a sua conversa*+o

- ?u l(e asseguro, min(a querida, - di'ia a vel(a, com um misteriosomovimento de cabe*a, - que a divina Datarina @(eot, que os <mpios agoraperseguem, é realmente inspirada M+o pode (aver d5vida de que os eleitos,dos quais 8om Jerle e o virtuoso Cobespierre s+o destinados a ser os doisgrandes profetas, go'ar+o a vida eterna aqui, e exterminar+o todos os seusinimigos Aobre isto n+o (á a m<nima d5vida - Domo é delicioso - disse amo*aG - este querido Cobespierre parece que n+o é muito vel(o- @anto maioro milagre - respondeu a anci+

- ?u ten(o oitenta e um anos de idade, e, entretanto, n+o me sintonem um dia mais vel(a, desde quando Datarina @eot me prometeu que euseria uma das pessoas eleitas 7s duas mul(eres foram empurradas, nestemomento, por algumas pessoas que acabavam de c(egar e que falavam emvo' alta e com muita anima*+o- Aim, - exclamava um (omem musculoso, oqual, como se via pelo seu tra)e, pelos bra*os nus e pelo gorro na cabe*a, eraum carniceiroG - ven(o para avisar Cobespierre ?st+o l(e preparando umaarmadil(aG oferecem-l(e o 3alácio Macional M+o se pode ser amigo do povoe (abitar um palácio S%_T

- @em ra'+o, - respondeu um sapateiroG - gosto dele mais na sua

modesta (abita*+o, em casa do marceneiroG assim se parece mais com umde n0s=utro movimento da multid+o, e um novo grupo se aproximou deMicot ? estes (omens falavam mais alto do que os demais- 3orém, o meuplano é

- 7o diabo com o seu plano ?u l(e digo que o meu pro)eto é

- 8isparate - gritou um terceiro

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- Quando Cobespierre compreender o meu novo método de fa'erp0lvora, os inimigos da 2ran*a - =ra Quem teme os inimigosestrangeiros - interrompeu um quarto - =s inimigos tem<veis s+o os queest+o entre n0s 7 min(a nova guil(otina corta cinqRenta cabe*as de um s0golpe- 9as a min(a nova Donstitui*+o - exclamou um quinto

- 9el(or é a min(a nova Celigi+o, cidad+o - murmurou um sexto, emtom satisfeito- Ail"ncio, com mil demInios - gritou um dos 4acobinos daguarda

? a multid+o calou-se para abrir camin(o a um (omem de aspectoviolento, que descia a escadaG a sua casaca estava abotoada até o queixo, aespada tin(a a seu lado, bem como as esporas em seus calcan(ares

 7 cor p5rpura das suas faces inc(adas revelavam nele aintemperan*a, e os seus ol(os, apagados e selvagens, se assemel(avam aos

de um abutre

@odos os semblantes empalideceram ao ver aparecer o infatigávelenriot

 7penas este carrancudo e férreo instrumento do tirano atravessara aapertada turba, um novo movimento de respeito, de agita*+o e de temor veioimpor-se ao crescente grupo que esperava na escada

Pm s0brio e modesto cidad+o, de aspecto sorridente e de ol(os(umildes, subia pela escada com a silenciosa ligeire'a de uma sombra

H imposs<vel que algum poeta buc0lico pudesse pintar Doridon ou@irsis com uma fisionomia mais afável e mais c(eia de brandura

3or que a vista desta personagem pareceu suspender até arespira*+o daquela turba, t+o buli*osa ainda poucos minutos antes

Domo um fur+o que penetra na toca de coel(os, desli'ou esse(omem fran'ino por meio daquelas criaturas fortes, altas e rudes, que seapressavam a abrir-l(e o passo

Pma piscadela dos seus pequenos ol(os bastou para que os robustos4acobinos da guarda l(e deixassem a passagem livre, sem pronunciar umapalavra ou formular, uma pergunta

?sta nova personagem entrou no aposento do tirano, aonde oseguiremos

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CAPÍTULO VII 

:Donstitutum est, ut quisquis eum (ominem dixisset fuisse,capitalempenderet poenam;

:2oi decretado que quem dissesse que ele tin(a sido um (omem,deveria sofrer a 3ena Dapital;

Aanto 7gostin(o, :Aobre o deus Aerapis;, \ liv #$, de :Divitate 8ei;,cap ^

Cobespierre estava reclinado negligentemente em sua poltrona, e oseu cadavérico semblante parecia mais abatido e fatigado do que deordinário, ele, a quem Datarina @(eot assegurava uma vida imortal, pareciacomo se realmente estivesse Ks portas da morteAobre a mesa que (avia

diante dele, via-se um prato c(eio de laran)as, cu)o suco, segundo se di'ia,podia somente acalmar a acre b<lis que l(e inundava o organismo

Pma anci+, ricamente vestida e que (avia sido 9arquesa no antigoregime1, ocupava-se em descascar para o 8rag+o, doente, as frutasnesperianas, com seus delicados dedos, cobertos de preciosos anéis

4á dissemos que Cobespierre era o <dolo do sexo feminino

!sto parecerá estran(o, mas aquelas mul(eres eram, naquela época,mul(eres 2rancesas

 7 vel(a 9arquesa, que, da mesma forma que Datarina @(eot, oD(amava :meu fil(o;, parecia realmente amá-lo com a ternura e odesinteresse de uma m+eG e, enquanto ela descascava as laran)as eprodigali'ava palavras carin(osas ao ditador, assomava nos magros e l<vidoslábios deste um ligeiro e melanc0lico sorriso

Pm pouco mais longe, 3ayan e Douton, sentados em outra mesa,escreviam rapidamente e, de ve' em quando, suspendiam o seu trabal(opara consultarem-se em vo' baixa

8e repente, um dos 4acobinos abriu a porta e, aproximandose deCobespierre, pronunciou o nome de Juérin

 7o ouvi-lo, o (omem enfermo se ergueu, como se esta not<cia l(ecomunicasse nova vida

- 9in(a boa amiga, - disse o ditador K 9arquesa, - perdoe-me serecuso agora os seus ternos cuidados 7 2ran*a precisa de mim Munca mesinto mal, quando posso servir K min(a pátria

 7 vel(a 9arquesa levantou os ol(os ao céu e murmurou F

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- Que an)o

Cobespierre fe' um gesto de impaci"ncia, e a anci+, exalando umsuspiro, acariciou a pálida face de 9aximiliano, bei)ou-l(e a testa e retirou-secom ar submisso

Pm momento depois, o (omem rison(o e s0brio, que descrevemosatrás, veio colocar-se, (umildemente, diante do tirano

? Cobespierre tin(a ra'+o de alegrar-se ao receber a visita de um dosseus mais sutis agentesG pois este (omem valia, para ele, mais do que oclube dos seus 4acobinos, as l<nguas dos seus oradores e as baionetas doseu exército

Juérin era o mais famoso dos seus instrumentos, o espi+o universal eonipotente, sempre ocupado em buscas e investiga*6es, o qual, como um

raio de lu', penetrava pelas fendas dos lugares e tra'ia ao ditador not<ciasn+o s0 dos fatos, mas também dos segredos que em siguardavam oscora*6es dos (omens

- Bem, cidad+o, bem ? que novas me tra' de @allien

- Aaiu da sua casa esta man(+, Ks oito (oras e dois minutos

- @+o cedo, (ein

- 3assou pela Cua de Quatre 2ils, rua do @emplo, Cua da Ceuni+o eCua 9artinG nada digno de observa*+o, a n+o ser que

- = que - perguntou Cobespierre, curioso

- Que se entreteve em uma livraria para comprar alguns volumes

- Domprou livros 7( 7( = c(arlat+o Quer ocultar o intrigante sobo disfarce do sábio Bem

- 8epois, na Cua de 2osses 9ontmartre, se l(e )untou um indiv<duo

descon(ecido, que levava um sobretudo a'ul 3assearam pela rua, por algunsminutos, e depois se encontraram com Legendre

- Legendre >en(a aqui, 3ayan =uviu Legendre

- ?u fui K uma tenda onde vendiam frutas, e paguei duas meninaspara que se pusessem a )ogar peteca perto deles, de maneira que pudessemouvi-los ? as meninas me contaram que Legendre dissera F

- :Dreio que o seu poder n+o durará muito;

-? que @allien respondera F

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- :? nem ele mesmo ?u apostaria qualquer coisa que n+o viverá tr"smeses;

- M+o sei, cidad+o, se aludiam a ti

- Mem eu, cidad+o, - respondeu Cobespierre, com irInico sorriso, ao

qual sucedeu uma express+o de melanc0lica medita*+o

- 7( - murmurouG - sou ainda muito )ovem me encontro na flor davida M+o cometo excessos M+oG a min(a constitui*+o é sadia e forte Aabemais algo de @allien

- Aim 7 mul(er que ele ama - @ere'a de 2ontenay - a que seencontra presa, ainda continua a corresponder-se com ele, e incita-o a que asalve, destruindo-o sen(or =s meus agentes souberam isto por umacasualidade = seu criado é o mensageiro entre ele e a mul(er presa

- Aim 3ois o criado será preso no meio das ruas de 3aris 7inda n+ose concluiu o Ceinado do @error Aegundo o que digam as cartas que seencontrarem nas m+os do criado, derrubarei @allien do seu banco naDonven*+o

Cobespierre levantou-se e, depois de passear, meditabundo, algunsinstantes, pelo quarto, abriu a porta e c(amou um dos 4acobinos, dando-l(eordem de vigiar e prender o criado de @allien

?m seguida, sentou-se outra ve' 7penas saiu o 4acobino, perguntouJuérin, em vo' baixa F

- M+o é esse o cidad+o 7ristides - AimG um bom rapa' se lavasse a cara e n+o prague)asse tanto - M+o fe' guil(otinar seu irm+o - AimG porém 7ristides foi o seu denunciador- M+o obstante, cr" que l(e convém ter semel(ante (omem ao seu

lado

- um @em ra'+o

? Cobespierre, tirando uma carteira, escreveu nela algumas notas e,depois de pI-la novamente na algibeira, prosseguiu F

- á algo mais sobre @allien

- Mada mais ?le e Legendre, em compan(ia do su)eito descon(ecido,dirigiram-se, depois, ao 4ardim :?galité;, onde se separaram Aegui @allienaté que entrou em sua casa @en(o, porém, outras not<cias ?ncarrego-me deaveriguar quem l(e mandava esses amea*adores anInimos

- Juérin >oc" os descobriu Aim

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? o tirano, ao di'er estas palavras, abria e fec(ava as m+os, como se )á estivesse apoderando-se da vida dos autores daquelas cartas, ao mesmotempo em que uma careta convulsiva, parecida com um esgar epilético,desfigurou as suas fei*6es

- Didad+o, )ulgo que descobri um M+o ignora, de certo, que entre osmais desafetos se encontra o pintor Micot

- ?spere, espere - disse Cobespierre, abrindo um livro manuscrito,encadernado de couro vermel(o pois Cobespierre era asseado e preciso atéem suas listas de morte1 e, guiando-se por um <ndice alfabético, exclamou F

- Micot Aim, aqui o ten(o F 7teu, :sans-culotte; eu odeio osdesalin(os1, amigo de ébert 7( Mota F - Cené 8umas sabe da sua vida ecrimes anteriores Dontinua

- Auspeitava-se que este Micot repartia fol(etos que falavam contra tie contra o Domit" =ntem de tarde, quando ele (avia sa<do da sua casa, oporteiro me permitiu entrar no seu quarto, na Cua Beaurepaire Dom a min(ac(ave-mestra, abri a sua escrivanin(a, e ac(ei nela um desen(o em que voc"aparece na guil(otinaG e, debaixo do desen(o, estava escrito F :>erdugo doseu pai, l" o decreto do seu castigo ; Domparei a letra com a dos fragmentosdas várias cartas anInimas que me entregouG e verifiquei que a letra éid"ntica a uma dessas cartas =l(a, eu trouxe o trec(o escrito

Cobespierre comparou a letra dos dois escritos, sorriu, e como se asua vingan*a )á estivesse satisfeita, espregui*ou-se na cadeira, di'endo F

- Bem ?u temia que fosse um inimigo mais poderoso H precisoprender imediatamente esse (omem

- Dasualmente, espera na escadaG passei ro*ando-me com ele,quando subi

- ?stá ai Que entre M+o ?spere um pouco Juérin, se escondenaquele quarto, até que eu o c(ame Querido 3ayati vai ver se este Micot n+otrás consigo alguma arma

3ayan, que era t+o destemido, quanto Cobespierre era pusilânime,reprimiu o sorriso de desdém que ia assomar a seus lábios e saiu do quarto

 7o mesmo tempo, Cobespierre, com a cabe*a ca<da sobre o peito,parecia imerso em profunda medita*+o

- 7 vida é uma coisa melanc0lica, Douton, - disse ele de repente-3erdoe, mas eu penso que a morte é pior, - respondeu o filantropo, comafabilidade

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Cobespierre n+o disse mais nada, e tirou da sua cadeira aquela cartasingular que se encontrou,S%#T depois, entre os seus papéis e que leva on5mero LX! na cole*+o publicada;Aem d5vida, - di'ia o escrito, - estaráinquieto por n+o ter recebido mais cedo not<cias min(as @ranqRili'e-seG )ásabe que eu podia responder somente pelo nosso correio ordinárioG e como

este foi interrompido, em sua 5ltima sa<da, está explicada a causa da min(ademora Quando tiver recebido esta, apresse-se a fugir de um teatro ondeestá a ponto de aparecer e desaparecer pela 5ltima ve' Aeria ociosomencionar aquitodas as ra'6es que o exp6em ao perigo = 5ltimo passo queo deveria condu'ir ao sofá da presid"ncia, s0 o leva ao cadafalsoG e opopulac(o cuspirá em sua cara como cuspiu nos que voc" )ulgou 4á que temacumulado aqui suficientes tesouros para a vida, aguardo-l(e com grandeimpaci"ncia, para rir contigo do papel que tem representado nos dist5rbios deuma Ma*+o t+o crédula e t+o ávida de novidades 7)a segundo temoscombinadoG tudo está preparado DoncluoG o nosso correio está aguardando?spero a sua resposta;3ensativo, devorou, devagar, o ditador o conte5do

desta ep<stola- M+o, - disse consigo mesmo, - n+oG quem provou uma ve' opoder, n+o pode )á go'ar de descanso 8anton, 8anton Quanta ra'+o tin(avoc" ao di'er que era mel(or ser um pobre pecador, do queS%&T governar os(omens

 7briu-se a porta e 3ayan reapareceu, di'endo em vo' baixa aCobespierre F

- M+o (á perigo 3ode ver o (omem

= ditador, satisfeito, ordenou ao 4acobino que trouxesse Micot K suapresen*a

= pintor entrou com uma express+o intrépida em sua repulsivafisionomia e parou, com a fronte erguida, diante de Cobespierre, que oexaminava, com ol(ar de soslaio, da cabe*a aos pés

H uma coisa notável que os principais atores da Cevolu*+o 2rancesatin(am aspeto repugnante, desde a colossal fealdade de 9irabeau e de8anton, ou a vil ferocidade do semblante de 8avid e Aim+o, até o asquerosodesalin(o de 9arat, e a sinistra e biliosa baixe'a das fei*6es do 8itador

3orém, Cobespierre, cu)a fisionomia, segundo se di'ia, seassemel(ava muito K do gato, tin(a também o asseio deste animalG o seutra)e sumamente esmerado, a sua face cuidadosamente barbeada, a feminilbrancura das suas pequenas m+os, fa'iam ressaltar ainda mais o descuido eo desalin(o do tra)e e a fisionomia do pintor :sans-culotte;

- ?nt+o, cidad+o, - disse Cobespierre, em tom afável, - dese)a falar-me ?u seique, por muito tempo, foram desatendidos os seus méritos e oseu civismo >em para solicitar algum emprego para poder servir o ?stado M+o se acan(e fale

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- >irtuoso Cobespierre, - respondeu Micot, - o sen(or que ilumina ouniverso M+o vim com o intuito de pedir um favor, mas para prestar umservi*o K pátria 8escobriuma correspond"ncia que revela uma conspira*+o,cu)os atores, pela maior parte, até agora n+o foram suspeitados

? ao di'er isto, Micot pIs os papéis sobre a mesa

Cobespierre agarrou-os e passou por eles, rapidamente e comavide', o ol(ar

- Bem Bem - murmurou consigo mesmoG - isto é tudo o que eunecessitava Bar"re, Legendre @en(o-os em meu poder Damilo8esmoulins n+o era mais do que seu instrumento ?u fuiamigo de Damilo, emoutro tempoG a eles, sempre os odiei

- Didad+o Micot, eu l(e agrade*o >e)o que estas cartas s+o

endere*adas a um !ngl"s Quem é bom 2ranc"s, (á de desconfiar desseslobos !ngleses, revestidos com peles de ovel(a 7 2ran*a n+o precisa maisdos cidad+os do mundoG esta farsa concluiu com 7narc(asis Dloot' 3erd+o,cidad+o MicotG mas, creio que Dloot' e ébert eram seus amigos- M+o -respondeu Micot, desculpando-se - @odos estamos su)eitos a sermosenganados ?u cesseide (onrá-los com o meu afeto, desde o dia em que osen(or se declarou seu contrárioG pois antes duvidareidos meus pr0priossentidos do que da sua )usti*a- Aim, eu dese)o fa'er )usti*aG pois esta é avirtude que mais adoro, - disse Cobespierre, em vo' mel<fluaG e com as suaspropens6es felinas, mesmo naquela (ora cr<tica, em que estava ocupado emvastos pro)etos, naquela (ora em que corria perigo iminente e premeditava avingan*a, se compra'ia em brincar com a solitária v<tima que pensava imolar

- ?m breve verá que a min(a 4usti*a saberá recompensar seusservi*os, bom Micot >oc" con(ece esse Jlyndon - Aim, con(e*o-o bem,intimamente 2oi meu amigo 9as eu entregaria meu pr0prio irm+o, se fossedo partido dos indulgentes M+o me envergon(o em di'er que ten(o recebidofavores desse (omem- 7( ?, sem d5vida, professa a doutrina de que,quando um (omem amea*a a min(a vida, devem esquecer-se todos osfavores pessoais - @odos Bom cidad+o Jeneroso Micot 2a*a-me oobséquio de escrever aquio endere*o de JlyndonMicot inclinou-se sobre a

mesa, para escreverG de repente, porém, quando )á tin(a a pena na m+o,deteve-se embara*ado e confuso, como se alguma s5bita idéia (ouvessepassado pela sua mente

- ?screva, bom Micot

= pintor obedeceu, com lentid+o

- Quem s+o os c5mplices de Jlyndon

- 7gora mesmo queria falar-l(e sobre eles, Cepresentante, -

respondeu o pintor

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- Jlyndon visita diariamente uma mul(er estrangeira que sabe todosos seus segredosG esta mul(er afeta ser pobre e sustentar o seu fil(o pormeio do trabal(o ?la é, porém a esposa de um !taliano imensamente rico, en+o resta d5vida que possuimuito din(eiro, que gasta em corromper oscidad+os ?sta mul(er deve ser presa

- ?screva também o nome dela

- 8evo adverti-lo, porém, - acrescentou Micot, - que n+o (á tempo aperderG pois me consta que ambos pretendem fugir de 3aris )á nesta noite

- 7 nossa 4usti*a é rápida, bom Micot M+o ten(a medo um um - disse Cobespierre, tomando o papel em que o pintor escreveraG e,inclinando-se sobre ele - pois era m<ope - acrescentou, sorrindo F - ?sta é asua letra (abitual, cidad+o 9e parece que está disfar*ada

- ?u n+o quero que saibam quem os denunciou, Cepresentante

- Bem Bem 7 sua virtude será recompensada, eu l(e prometoAa5de e 2raternidade

Cobespierre ergueu-se um pouco, di'endo estas palavras, com asquais despedia Micot, e este se retirou

- =lá 7qui - gritou o 8itador, agitando a campain(aG quando entrouo 4acobino de guarda, disse a este F

- Aegue esse (omem, esse 4ean MicotG e logo que ele estiver na rua,prenda-o ?spere M+o se falte K LeiG aqui tem a ordem = acusador p5blicoreceberá as min(as instru*6es 7gora vai Ligeiro = 4acobino saiu, correndo@odos os sintomas de enfermidade e de languide' (aviam desaparecido dosemblante do valetudinário

Cobespierre se pIs de pé, com o corpo erguido e os bra*oscru'ados F os m5sculos da sua face se agitavam convulsivamente 8epois dealguns momentos, exclamou F

- =lá, Juénin= espi+o apareceu

- @ome estes endere*os, - disse o 8itador

- 7ntes de decorrer uma (ora, o !ngl"s e aquela mul(er (+o de estarna pris+oG as suas revela*6es me guiar+o contra inimigos mais tem<veis9orrer+o, perecer+o com os demais, no dia de', dentro de tr"s dias, pois@oma

- ? escreveu precipitadamente, - 7qui tem a ordem 3ronto

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? dirigindo-se K Douton e 3ayan, Cobespierre prosseguiu F

- M+o percamos mais tempo, e ataquemos @allien e a sua greiS seguidores, o povo em geral T Aoube que a Donven*+o n+o assistirá K festado dia de' M+o nos resta outro recurso sen+o a espada da Lei ei de

coordenar as min(as idéias e preparar o meu discurso 7man(+, irei KDonven*+oG aman(+, o intrépido Aaont 4ust, coberto de louros, pelasrecentes vit0rias dos nossos exércitos, se reunirá conoscoG aman(+, datribuna, lan*arei o raio sobre os mascarados inimigos da 2ran*aG aman(+, Kface do 3a<s, pedirei as cabe*as dos conspiradores

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CAPÍTULO VIII 

:Le glaive est contre toi tourné de toutes parties;La arpe, :4eannede Maples;, acte %, acne %

:7 espada está dirigida contra ti, de todos os lados;

?nquanto, no domic<lio do tirano, sucedia o que acabamos de narrar,Jlyndon, depois de (aver tido uma longa entrevista com DOO, na qualarran)aram os 5ltimos preparativos para a fuga, convencido da seguran*acom que podia empreend"-la e )ulgando n+o encontrar )á obstáculos, voltavaa 2ilida

8e repente, no meio dos seus rison(os pensamentos, parecia-l(eouvir uma vo', cu)o terr<vel eco con(ecia muito bemG essa vo' murmurava-l(e

ao ouvido F :Domo voc" se atreve a desafiar-me e pretende escapar do meupoder Quer voltar K vida virtuosa e contente ?m v+o, é demasiado tardeM+o, eu n+o o molestarei mais, agoraG mas (omens, t+o inexoráveis como eu,seguem, neste momento, os seus passos M+o tornará a ver-me sen+o nocalabou*o, K meia-noite, antes do dia em que perecera no cadafalso =l(a ;

? Jlyndon, voltando maquinalmente a cabe*a, viu muito perto de si,um (omem descon(ecido, que a ele (avia notado, porém sem prestar-l(eaten*+o, quando sa<ra da casa do cidad+o DOOO e o qual o seguia comcautela

= !ngl"s compreendeu, instintivamente, que era espiado e que operseguiam

 7 rua onde se encontrava era sombria e deserta, pois sendo o diamuito mormacento, quase todos os (abitantes estavam recol(idos em suascasas, e era a (ora em que poucos saiam por causa de neg0cios

 7pesar da sua natural intrepide', o artista sentiu que se l(e oprimia ocora*+o, pois sabia demasiado o que ia por 3aris, para n+o ver o perigo que oamea*ava

= primeiro ol(ar de um espi+o da Cevolu*+o era, para a v<tima a quese dirigia, o mesmo como o primeiro tumor contagioso para o infeli' que sevia atacado da mort<fera peste

 7 espionagem, a pris+o, o )ulgamento e a guil(otina, estes eram ospassos (abituais e rápidos do monstro que os anarquistas c(amavam Lei

Jlyndon respirava com dificuldade, e ouvia distintamente as fortespancadas do seu cora*+o

3arando ent+o, ol(ou firme para o (omem que o seguia, e quetambém parou, a certa distância, atrás dele

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 7 coragem de Jlyndon se reanimou um tanto, por ver que, naqueleinstante, o espi+o estava s0, e que n+o andava ninguém pelas ruas

= artista adiantou um passo para aquele (omem, mas este fe' um

movimento como se quisesse retroceder K medida que o !ngl"s avan*ava

- Didad+o, - disse-l(e Jlyndon, - observo que me vem seguindo =que é que dese)a

- 7s ruas - responde o espi+o com um sorriso de despre'o - s+o,certamente, bastante largas para podermos passar ambos ao mesmo lado,n+o é verdade Aupon(o que n+o é t+o mal Cepublicano que )ulgue que acidade de 3aris inteira pertence exclusivamente a ti

- Aiga, pois adianteG eu l(e deixo o passo livre

= espi+o saudou cortesmente, tirando o c(apéu, e passou adiante

Pm momento depois, Jlyndon se meteu em uma tortuosa travessa e,acelerando quanto podia o passo, engolfou-se em um labirinto de ruas,passagens e becos

3ouco a pouco, foi-se acalmando, pois )ulgava ter desorientado o seuperseguidorG ent+o, fa'endo uma grande volta, tomou outra ve' o camin(o dasua casa

 7o sair de uma das ruas mais largas da cidade, um transeunte,envolto em um manto, passou por seu lado com tanta rapide', que Jlyndon, aquem ele tocou ligeiramente com o cotovelo, n+o pIde ver-l(e a face, ouvindoapenas as suas palavras, ditas em vo' baixa F - Dlar"ncio Jlyndon, est+operseguindo-l(eG siga-me

= descon(ecido prosseguiu o seu camin(o, marc(ando com passoligeiro, diante do !ngl"s ?ste virou a cabe*a, e afligiu-se novamente ao verque tin(a detrás de sio (omem do sorriso servil, que o perseguia, e ao qualele pensava (aver escapado

Jlyndon esqueceu-se do convite que l(e fi'era o descon(ecido paraque o seguisseG e, reparando em um grupo de gente que (avia ali perto,detido diante de uma estamparia, passou por meio deles, para c(egar a umaoutra rua e mudar de dire*+o

8epois de andar, por muito tempo, e com passo ligeiro, c(egou emum bairro, distante da cidade, sem (aver tornado a ver o seu perseguidor

@udo parecia aqui t+o sereno e tranqRilo, que a sua vista de artista,apesar do perigo do momento, pIs-se a contemplar com pra'er a formosa e

serena cena que o rodeava

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?ra um local formado por um dos grandes cais

= rio Aena corria ma)estosamente ao longo, e uma multid+o debarcos, c(eios de marin(eiros e dessa gente que encontra ocupa*6es K beirado rio, nadava por sua superf<cie

=s raios do Aol fa'iam bril(ar com variadas cores mil pináculos ec5pulas da populosa cidade, e cintilavam sobre as brancas paredes dospalácios da abatida nobre'a

2atigado e ofegante, deteve-se Jlyndon ali um instante, para que asuave brisa do rio l(e refrescasse a testa abrasada

- 7inda que n+o se)a mais que por alguns momentos, aqui, enfim,estarei seguro, - murmurou Jlyndon

3orém, apenas (avia acabado de fa'er esta reflex+o, tornou a avistaro espi+o que estava a uns trinta passos atrás deles

 7o artista pareceu que os seus pés (aviam lan*ado ra<'es naquelelocalG cansado e surpreendido, parecia-l(e que n+o podia mais escapar

?m um lado tin(a o rio e n+o via ponte alguma1, e do outro lado umalonga fileira de casas unidas, sem oferecer uma s0 esquina

Jlyndon ouviu grandes gargal(adas e cantos obscenos em uma casaque (avia detrás, entre ele e o espi+o

?ra um café de muita má fama e muito temido naquele bairro, equase sempre estava c(eio de soldados de enriot e de agentes e satélitesde Cobespierre

= espi+o (avia, pois, acossado a v<tima até K presen*a dos c+es queo deviam morder

= perseguidor adiantou-se lentamente e, parando diante da )anelaaberta do café, meteu a cabe*a na abertura, parecendo reclamar o aux<lio dos

seus camaradas armadosMaquele mesmo instante, e enquanto a cabe*a do espi+o estava

voltada o interior do café, Jlyndon viu, na porta entreaberta da casa queestava imediatamente diante dele, o descon(ecido que o (avia avisado narua

?ste (omem, apenas distingu<vel pelo manto que o envolvia, fe'-l(esinal de que entrasse

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= artista desli'ou silenciosamente pelo estrito espa*o que l(e ofereciaa (ospitaleira porta, que se cerrou em seguidaG e, quase sem poder respirar,seguiu o descon(ecido por uma espa*osa escadaria, e depois por uma sériede quartos va'ios, até que, por fim, c(egaram a um pequeno gabinete

 7o entrar nele, o misterioso personagem tirou o seu c(apéu e ocomprido manto que até ent+o (aviam ocultado as suas formas e as suasfei*6es, e Jlyndon viu diante de si Zanoni

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CAPÍTULO IX 

-M+o penses que eu as obras portentosas, 7 que v0s de 9agia o nome dais,

2a*o apoiado em for*as tenebrosas,=u com aux<lio de an)os infernais  7 min(a ci"ncia tem por seus aliados F 7s for*as muito sutis dos

minerais, 7s ervas dos )ardins, dos bosques, prados,? as posi*6es dos astros aben*oados;

@asso, canto X!>, %\

- 7qui está seguro, )ovem !ngl"s, - disse Zanoni, designando uma

cadeira a Jlyndon

- 3ode considerar-se feli', porque, por fim, o encontrei

- 9uito mais feli' seria, se nunca nos tivéssemos encontrado -respondeu o artista

- ?ntretanto, até nestas 5ltimas (oras da min(a vida, me alegro depoder ver mais uma ve' a face do ominoso e misterioso ser, a quem atribuotodos os sofrimentos que ten(o experimentado 7qui, pois, n+o deverá iludirou burlar-me 7qui, antes de nos separarmos, me revelará o negro enigma, sen+o da sua vida, ao menos da min(a

- @em sofrido 3obre ne0fito - exclamou Zanoni, em tomcompassivo

- Aim, sofreu, eu o leio no seu semblante 3orém, por que me censura 3or que de mim se queixa M+o o preveni contra as insinua*6es da suaalma M+o l(e adverti que n+o devia l(e ceder M+o l(e disse que a prova!niciática era muito arriscada e c(eia de tremendos terrores M+o l(e oferecientregar K voc" o cora*+o que batia por mim, querendo, assim, desprender-

me da min(a felicidade para dá-la a ti M+o se decidiu voluntariamente aenfrentar os perigos da !nicia*+o 2oi voc" mesmo quem tomou 9e)nour pormestre, para estudar a sua ci"ncia

- 3orém, de onde vin(a o irresist<vel dese)o que me impelia a essaci"ncia frenética e condenável M+o o con(eci até que o seu mau ol(ar caiusobre mim, e fui levado na mágica atmosfera do seu Aer

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- ?stá em erro = seu dese)o estava em tiG e teria aberto camin(o deuma forma ou de outra 4ovem 3ede-me a explica*+o do enigma do seudestino e do meu =l(e ao redor de sie reflita sobre tudo o que existeG n+o v"mistério por todas as partes 3odem os seus ol(os seguir a tril(a dagermina*+o do gr+o debaixo da terra Mo mundo moral, como igualmente no

f<sico, existem ocultos portentos, muito mais maravil(osos do que as for*asque se atribui

- 8escon(ece essas for*as Donfessa que é um impostor =u que,afetivamente, está vendido ao ?sp<rito 9aligno ? que é um mago cu)o g"niofamiliar me tem atormentado dia e noite - M+o importa quem sou - retrucouZanoni - = que é de importância é saber se posso a)udá-lo a con)urar oterr<vel fantasma e restituir-l(e K s+ tranqRilidade da vida ordinária Dontudo,quero di'er- l(e algo, n+o para )ustificar-me, mas para fa'er )usti*a ao Déu e KMature'a, os quais in)urias com as suas d5vidas

Zanoni calou-se por um momento, e depois prosseguiu, com um levesorriso nos lábios F - Mos primeiros dias da sua )uventude, sem d5vida, leucom pra'er o grande poeta Drist+o, cu)a 9usa, assim como o =riente que elecanta, desceu a terra, :coroada de flores col(idas no 3ara<so; S%\TMen(umesp<rito estava imbu<do mais do que o dele das caval(eirosas supersti*6es dotempoG e, seguramente, o 3oeta de 4erusalém, para satisfa'er o mesmo!nquisidor a quem consultou, execrou bastante todos os que se entregavamKs il<citas práticas da c(amada 9agia e feiti*aria F :3er isfor'arS%%T Docyto o2legetone; 3orém, n+o sabe que, em suas triste'as e em suas desgra*as, napris+o da sua casa dos orates, o mesmo @asso ac(ava o seu consolo, a suaescapada, no recon(ecimento de uma @eurgia santa e espiritual, de uma9agia que invoca o 7n)o, ou o Bom J"nio, e n+o o 8emInio ? n+o serecorda como ele, versado como estava, para a sua idade, nos mistérios domais nobre 3latonismo, que alude a todos os segredos de todas as augustas2raternidades, desde os Daldeus até aos Cosacru'es, discerne, no seu beloverso, a negra arte de !smeno, da gloriosa ci"ncia do encantador queaconsel(a e guia, em sua santa miss+o, os campe6es da @erra Aanta 7ci"ncia deste n+o era devida Ks rela*6es mantidas com os rebeldes do!nferno, mas K percep*+o dos poderes secretos da fonte e da planta, aos 7rcanos da nature'a descon(ecida e aos vários movimentos das estrelas8as alturas dos montes L<bano e Darmelo, via, em baixo dos seus pés, as

nuvens, as neves, os arco-<ris, as gera*6es das c(uvas e dos orval(osLembre-se que o ?remita Drist+o, que converteu o ?ncantador que n+o é umser fabuloso, mas é o tipo de todo o esp<rito que aspira a elevar-se a 8eus pormeio da Mature'a1, n+o l(e ordenou que abandonasse esses sublimesestudos, :Le solite arte e luso mio;G mas que, pelo contrário, deixou-ocontinuar a cultivá-los, inspirando-l(e os meios de empregá-los para bons edignos fins ? nesta grande concep*+o do poeta está o segredo da verdadeira@eurgia que, em dias mais ilustrados, espantou a sua ignorância com puerisapreens6es e com pesadelos de uma imagina*+o enferma;

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Zanoni fe' novamente uma pausa e, depois de um momento,continuou F ?m tempos muito remotos, de uma civili'a*+o muito diferente daque agora submerge o indiv<duo no ?stado, existiam (omens de mentalidadesardentes, que se entregavam, com todo o cora*+o, ao estudo das ci"nciasMos poderosos e bril(antes reinos, onde vi viam, n+o (avia canais turbulentos

e terrestres por onde pudesse escapar-se o fogo das suas mentes Ma antigainstitui*+o das castas, ou classes sociais bem diferen*adas, que nen(umintelecto podia derribar, e nen(um ato de coragem podia abalar, nos cora*6esdaqueles que recebiam os seus estudos como uma (eran*a de paia fil(o, s0reinava uma insaciável sede do saber 3or isso, até nas suas imperfeitasrecorda*6es do progresso dos con(ecimentos (umanos, os cientistas atuaisac(am que, nos tempos primitivos, a 2ilosofia n+o descia aos neg0cios e aoslares dos (omens ?la residia entre as maravil(as da cria*+o superiorGprocurava analisar a forma*+o da matéria, os essenciais da almapredominanteG ler os mistérios dos mundos dos astrosG penetrar nasprofunde'as da Mature'a, em que, segundo di'em os eruditos, Zoroastro

descobriu as artes que a ignorância designa com o nome de 9agia

Maqueles tempos, pois, surgiram alguns (omens que, no meio dasvaidades e ilus6es da sua classe, acreditaram descobrir o fulgor de umaci"ncia mais bril(ante e mais s0lida !maginaram que existia uma afinidadeentre todas as obras da Mature'a e que, nas mais baixas, estava oculta asecreta atra*+o que podia condu'ir descobrimentos das mais sublimes3assaram-se Aéculos e muitas vidas se consumiram nestes descobrimentosGporém, passo a passo, tudo foi registrado, e serviu de guia aos poucos quepossu<am o privilégio (ereditário de seguir a senda da grande ci"ncia; 3orfim, no meio desta escurid+o, brotou a lu' para alguns ol(osG porém, n+opense, )ovem visionário, que esta lu' se revela aos que abrigavampensamentos profanos, e sobre os quais a origem do 9al exercia algumpoder

?ssa lu', naqueles tempos, igualmente como (o)e, se revelavasomente aos mais puros "xtases da imagina*+o e do intelecto, livres doscuidados da vida vulgar e dos apetites da matéria Longe de descerem a pedira assist"ncia de um demInio, aqueles (omens nutriam a augusta ambi*+o dese aproximar mais da 2onte do BemG quanto mais se emancipavam destelimbo dos planetas, tanto mais eram penetrados pelo esplendor e pelabenefic"ncia de 8eus

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? se eles buscaram saber e, por fim, descobriram, como ao ol(o do?sp<rito se tornam aparentes todas as modifica*6es sutis do ser e da matériaGse descobriram como, para as asas do ?sp<rito, deixa de existir o espa*o, ecomo, enquanto o corpo permanece, pesado e s0lido, aqui na terra, comouma tumba deserta, a !déia libertada pode voar de estrela em estrela, se

vierem a descobrir realmente estes sublimes segredos, foi somente paraadmirar, venerar e adorar 3ois, como disse um ator bastante ilustrado nestaselevadas matérias F :?xiste um princ<pio da alma, superior a toda a nature'aexterna e por meio deste princ<pio podemos nos elevar acima da ordem e dossistemas deste mundo e participar da vida imortal e da energia dos AublimesDelestiais Quando a alma se eleva a uma nature'a superior K sua,abandonada a ordem a que foi su)eita por um certo tempo e por meio de umS%^T magnetismo religioso é atra<da a uma esfera mais alta, com a qual se ligae une ;:7dmite, pois, que semel(antes seres encontraram, por fim, o segredode deter a morte e de passar inc0lumes no meio das revolu*6es da terraGpensa que esta vida pode inspirar-l(es outro dese)o que o de anelar tanto

mais a imortalidade e adaptar o seu intelecto cada ve' mel(or K exist"nciasuperior, K qual podem ser transportados quando o @empo e a 9orte tiveremdeixado de existir ?xpulse da sua mente essas fantásticas idéias defeiticeiro e demInio 7 alma pode aspirar somente a lu'G e o 5nico erro danossa sublime ci"ncia consiste somente no esquecimento da debilidade, daspaix6es e dos la*os de que pode libertar-nos unicamente a morte que t+oinutilmente vencemos

?ste discurso era t+o diferente do que Jlyndon esperava, que oartista ficou por alguns momentos sem poder falar, até que, afinal, balbuciou F

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- ?nt+o, porque eu- 3orque voc" - respondeu Zanoni - n+o obtevemais do que o sofrimento e o terror, o Pmbral e o 2antasma !nsensato Donsidere os mais simples elementos do saber comum 3ode cada disc<puloconverter-se em mestre, somente por meio do seu dese)o e da sua vontade 3ode o estudante c(egar a ser Mewton, apenas por ter comprado uma

geometria 3ode um )ovem, porque as 9usas o inspiram, prometer-seigualar o omero 3ode aquele pálido tirano, por mais que registre todas asLeis e os pergamin(os antigos e por mais que conte com as armas do seuexército, confeccionar uma constitui*+o menos viciosa, que n+o ven(a a serderrubada, em um momento, por um populac(o frenético Quando, naqueletempo remoto, a que me referi, um estudante aspirava K elevada altura quevoc" quis alcan*ar de um s0 salto, tin(a que se preparar e exercitar-se desdeo ber*o para a carreira que devia seguir 7 nature'a interna e externa se fa'iavis<vel K sua vista, ano ap0s ano, K medida que progredia ?le n+o eraadmitido K !nicia*+o prática sen+o quando nen(um dese)o terrestreencadeava a sublime faculdade, a que se dá o nome de !magina*+o, quando

nen(um dese)o carnal anuviava a ess"ncia penetrante, c(amado !ntelecto ?,assim mesmo, qu+o poucos, e isto dos mel(ores, alcan*avam o 5ltimomistério Dom mais felicidade do que eles c(egavam os seus antecessores Kssantas gl0rias, cu)a mais consoladora porta é a 9orte Zanoni interrompeu-se,e uma nuvem de triste'a e reflex+o obscurecia a sua celestial bele'a- ? (á,realmente, além de sie 9e)nour, outros que pretenderam possuir os mesmosatributos e atingiram os mesmos segredos que voc" - ?xistiram outros antesde n0s, mas, agora, apenas n0s dois, desse n5mero, ficamos vivendo nestemundo- !mpostor >oc" se traia si mesmo Ae aqueles outros triunfaram da9orte, porque deixaram de existir

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- 2il(o de um dia - respondeu Zanoni, com triste'aG - n+o l(e disse )áque o erro da nossa ci"ncia era o esquecimento dos dese)os e das paix6esque o esp<rito nunca pode alcan*ar total e permanentemente, enquanto estamatéria carnal o envolve 3ensa que n+o é triste renunciar a todos os la*os(umanos, a toda a ami'ade, a todo o amor, ou ver, dia ap0s dia, desaparecer

da nossa vida os afetos, a ami'ade e o amor, como se desprendem as fol(asda (aste 7dmira-se de que, com o poder de viver tanto tempo quanto duraro mundo, muitos dos nossos preferiram morrer 7ntes deveria admirar-seque existiam ainda dois seres t+o fortemente aderidos K terra 3elo que tocaa mim, confesso que o mundo ainda tem atrativos @endo eu c(egado aos5ltimos segredos, quando me ac(ava na flor da )uventude, a )uventude fa'bril(ar com suas belas cores tudo o que me rodeiaG respirar é ainda pra'erpara mim 7 frescura, ao meu ver, conserva-se sempre no semblante daMature'a, e n+o (á erva em que eu n+o descubra algum encanto, e que n+ome revele alguma nova a maravil(a = mesmo que sucede com a min(a )uventude, dá-se com a idade madura de 9e)nourG este l(e diria que a vida

para ele n+o é mais do que o poder de examinarG e que, enquanto n+o tiveresgotado todas as maravil(as que o Driador semeou na terra, n+o dese)aránovas (abita*6es onde o seu renovado ?sp<rito possa seguir explorando M0ssomos os tipos das duas ess"ncias do que é imortal F a 7rte, que go'a, e aDi"ncia, que contempla ? agora, para que este)a contente de n+o (averc(egado a obter os segredos, saiba que a idéia deve estar t+o absolutamentedesprendida de tudo quanto é capa' de ocupar e excitar os (omens, que épreciso viver sem cobi*ar, amar ou odiar alguém ou alguma coisaGcompreende que, para um (omem ambicioso ou para quem ama ou odeia,aquele poder é in5til ? eu, por fim, ligado pelos mais comuns la*os da vidadoméstica, em conseqR"ncia da que a min(a vista espiritual estáobscurecida, eu, cego e sem aux<lio, pe*o-l(e a ti, (omem burlado edescontente, pe*o-l(e que me diri)a, que me guie F onde est+o a min(amul(er e meu fil(o 7( 8iga- me, fale Dala-se =( >e)a, agora, que n+osou feiticeiro nem esp<rito malévolo ?u n+o posso dar- l(e o que as suasfaculdades l(e negam, n+o posso acabar o que o impass<vel 9e)nour n+opIde conseguirG porém posso fa'er-l(e outro presente, talve' o mais belo,posso reconciliá-lo com o mundo quotidiano, e estabelecer a pa' entre voc" ea sua consci"ncia- >oc" me promete - AimG )uro-l(e Jlyndon fitou Zanonicom firme'a, e acreditou nele 8isse-l(e, ent+o, em vo' baixa, o endere*o dacasa aonde o seu fatal passo um pouco antes (avia levado a dor e a

desgra*a- Ae)a aben*oado - exclamou Zanoni, apaixonadamente

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- = Aen(or o recompensará esta boa a*+o M+o pude perceber que,K entrada de todos os mundos superiores, (abita a ra*a que intimida eaterrori'a Quem é que, tendo sa<do das antigas regi6es do Dostume e da3rescri*+o, neste nosso mundo, n+o sentiu a m+o opressora do indescrit<vel einominável 9edo 3or todas as partes, se)a no gabinete do sábio, ou no

consel(o do demagogo, ou no campo do guerreiro, em todas as partes, ondeo (omem aspire e trabal(e, encontra-se, embora invis<vel a seus ol(os, oterr<vel espectro, o inexprim<vel orror 3orém, s0 na regi+o onde voc" seatreve a penetrar, é vis<vel o 2antasmaG e nunca cessará de persegui-loenquanto n+o possa passar ao !nfinito, como o Aerafim, ou até que volte Kvida familiar, como uma crian*a 9as responda-me a isto F M+o é verdadeque sempre quando resolvia voltar ao camin(o da virtude, o fantasma seapresentava, de repente, a seu lado ? quando a sua vo' l(e murmuravapalavras de desespero, quando os seus (orr<veis ol(os o amedrontavam,para conseguir que voltasse outra ve' K vida desregrada, porquecompreendia que, nessas cenas, deixando-te entregue aos piores inimigos da

alma, ele se retirava da sua presen*a, n+o resistiu nunca, cora)osamente, aoespectro e ao seu pr0prio (orror M+o disse nunca F :Auceda o que suceder,quero abra*ar-me com a >irtude ;

- 7( - respondeu JlyndonG - s0 no 5ltimo tempo ousei fa'"-lo

- ? ent+o notou que o fantasma se tornava menos percept<vel e que oseu poder se debilitava, n+o é verdade

- H, sim

- Cego'i)e-se, pois >enceu o verdadeiro terror e o mistério da prova!niciática 7 sua resolu*+o é o primeiro triunfo 7legre-se, pois o exorcismo éseguro >oc" n+o é daqueles que, negando uma vida futura, s+o as v<timasdo !nexorável orror

=( Quando compreender+o os (omens, por fim, que se a JrandeCeligi+o inculca t+o rigidamente a necessidade da 2é, n+o é s0 porque a 2écondu' K vida futura, mas também porque sem a 2é n+o (á nada deexcelente nesta vida terrestre

 7 cren*a em algo mais sábio, mais feli', mais divino do que o que

vemos na terra é o que os artistas c(amam o !deal, e os sacerdotes a 2é =!deal e a 2é s+o uma e a mesma coisa>olte )ovem estrangeiro, volte Dompreenda quanta bele'a e

santidade reside no que é Domum e >el(o3ara trás, 0 ?spectro de orror >olte K sua guarida S cova T

? o Déu a'ul, sorria, acalmando o cora*+o infantil, iluminando-o como seu astro vespertino e com o seu astro matutino, que é um s0, se bem queten(a dois nomes F a 9em0ria e a ?speran*a

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?nquanto assim falava, pIs Zanoni, suavemente, a m+o sobre asardentes fontes do seu excitado e o admirado ouvinte, que experimentou logouma espécie "xtase ou :transe; F parecia-l(e que (avia voltado ao lar da suainfânciaG que se encontrava no pequeno quarto onde, nos seus tempos decrian*a, a sua m+e velava, re'ando, sobre ele, quando adormecia 7li estava

tudo vis<vel, palpável, solitário e intacto ?m um lado, via-se a camaG asparedes, as estantes c(eias de livros sagradosG o cavalete onde, pela primeirave', tentara exprimir o ideal pela linguagem da tela, estava em um canto,rompido e c(eio de p0 8ebaixo da )anela, via-se o vel(o cemitérioG os raiosdo Aol bril(avam por entre as verdes fol(as dos teixos Jlyndon viadistraidamente o t5mulo onde o seu pai e a sua m+e )a'iam unidos, e a pontado campanário, dirigindo-se ao céu, apresentava-se como um s<mbolo deesperan*a daqueles que consignaram os seus restos mortais ao p0

= toque dos sinos ressoava no seu ouvido, como em um dia santo3ara longe voaram todas as vis6es de ansiedade e (orror que o (aviam

aterrori'ado e convulsionadoG a )uventude, a meninice, a infância voltavam aele, com seus inocentes dese)os e esperan*asG parecia-l(e que se a)oel(avapara re'ar

Jlyndon voltou a si, despertando, e com os ol(os mare)ados delágrimasG o seu cora*+o l(e di'ia que o fantasma (avia desaparecido parasempre = artista ol(ou em volta de siG Zanoni n+o estava mais ali 9as sobrea mesa via-se um papel, em que estavam escritas as seguintes lin(as, com atinta ainda 5mida F

:3roporcionar-l(e-ei os meios de escapar ?sta noite, Ks nove (oras,um bote o aguardará em frente desta casa = barqueiro o condu'irá a umlugar retirado, onde estará em completa seguran*a, até que o Ceinado do@error, que toca ao seu fim, (ouver passado M+o pense mais no amorsensual que o alucinou e que estava a ponto de perd"-lo @raiu-o, e t"-lo-iadestru<do >oltará sem obstáculos ao seu 3a<s natal, e ainda viverá porlongos anos para meditar sobre o passado e para redimi-lo 3ara o futuro, quese)a o seu son(o seu guia, e as suas lágrimas seu batismo;

= !ngl"s obedeceu aos preceitos desta carta, e ac(ou que di'iam averdade

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CAPÍTULO X 

:Quid mirare meas tot in uno corporo formas ;3roperth

:3orque te admiras que eu, em um s0 corpo, ten(a tantas formas ;

#4RT4 D! Z4NONI > !?NOUR

:>iola, se ac(a em uma das sombrias pris6es, por ordem deCobespierre e descobriu que isto l(e aconteceu por causa de Jlyndon Misto,pois, consistia aquela terr<vel rela*+o entre os destinos destes dois seres, aqual eu n+o pude explicar-me até que os seus destinos se separaramG e eraessa rela*+o que envolvia Jlyndon na mesma nuvem que ocultava >iola Kmin(a vista interna; :?la, pois, está na pris+o, na pris+o Que é a porta dot5mulo = seu )ulgamento, e a inevitável execu*+o que segue esses

 )ulgamentos deve ter lugar depois de aman(+ = tirano fixou todos os seussangrentos pro)etos para o dia #_ de @(ermidor;

:?nquanto as execu*6es dos inocentes estiverem enc(endo deespanto a cidade, os seus satélites devem exterminar os seus inimigos A0resta uma esperan*a, e é que o poder que agora sentencia o sentenciador,fará de mim o instrumento que deve apressar a sua queda Aomente dois diasme sobram, somente dois dias ?m toda a min(a imensidade de tempo, n+ove)o sen+o estes dois diasG do que, depois deles, seguir, n+o distingo nada,tudo é obscuridade e solid+o 7inda posso salvá-la Daia o tirano no dia antesdo que assinalou para a matan*a ?sta é a primeira ve' que me intrometonos enredos e estratagemas dos (omens, e a min(a mente ergue-se,combatendo o meu desespero, para armar-se e, ansiosa, aguarda o momentoda luta; Ma Cua de Aanto onorato se (avia formado um numeroso grupo 7cabavam de prender um )ovem, por ordem de Cobespierre ?ste (omem eraum dos cri ados de @allien, esse c(efe (ostil na Donven*+o, a quem o tiranon+o se atrevera ainda a atacar 3or esta ra'+o, o incidente (avia produ'idouma excita*+o maior do que se suporia em uma circunstância t+o comum noCeinado do @error Mo grupo, (avia muitos amigos de @allien, muitos inimigosdo @irano e muitos que )á estavam cansados de ver como o tigre arrastavav<tima ap0s v<tima K sua cova

Dome*aram a ouvir-se roucos murm5rios de descontentamentoGol(ares amea*adores se dirigiam contra os agentes que se apoderaram do )ovemG e, ainda que a gente n+o se atrevesse a opor uma resist"nciamanifesta, os que estavam detrás empurravam os de diante, e formavam umaespécie de barreira entre o preso e os seus detentores = )ovem come*ou alutar para escapar-se e, fa'endo um violento esfor*o, pIde, por fim, ver-selivre das garras dos seus inimigos 7 multid+o abriu passo, cerrando-se emseguida, para proteger a sua fuga

8e repente, porém, se ouviu perto o ru<do da cavalaria, o fero'

enriot e seus soldados atacaram o grupo, que se dispersou em um instante= )ovem foi outra ve' agarrado por um dos agentes do ditador

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Maquele instante, uma vo' murmurou ao ouvido do prisioneiro F - @emcontigo uma carta que, se for ac(ada em seu poder, tira toda a esperan*a dete salvarG d"-me-a, ou a entregarei K @allien

= )ovem virou a cabe*a, c(eio de admira*+o, e viu, no semblante do

descon(ecido que l(e falava, algo que l(e inspirou confian*a 7 tropac(egava neste momento ao lugar da cenaG o 4acobino que (avia agarrado oprisioneiro soltou-o por um instante, para evitar as ferraduras dos cavalosG o )ovem, aproveitando esta oportunidade, entregou a carta ao descon(ecido, eeste desapareceu

=s principais inimigos do tirano estavam reunidos em casa de @allien

= perigo comum fa'ia com que todos se unissem @odas as fac*6esdepuseram as suas disc0rdias, para agrupar-se unânimes contra o (omemque marc(ava por cima de todas as fac*6es ao seu sangrento trono 7li

estava o intrépido Lecointre, inimigo declarado de CobespierreG o astutoBar"re, (er0i dos covardes, que tratava de conciliar todos os extremosG oimpávido e calmo BarrasG e Dollet dUerbois, respirando ira e vingan*a, semver que somente os enormes crimes de Copespierre podiam obscurecer osque ele mesmo tin(a praticado

= consel(o estava agitado e irresoluto = terror que excitaram oscont<nuos triunfos e a prodigiosa energia de Cobespierre, exercia umadeprimente influ"ncia sobre a maior parte @allien, o mais temido pelo tirano, eo 5nico que podia reunir em um s0 n5cleo tantas paix6es contradit0rias,dando-l(es uma cabe*a, um corpo e uma dire*+o, estava demasiadomanc(ado com a mem0ria das suas pr0prias crueldades, para que n+otitubeasse em declarar-se o campe+o da tolerância

- H verdade - disse ele, depois de um animado discurso de Lecointre -que o usurpador nos amea*a a todos 3orém, ainda é demasiado benquisto, ecom a sua plebe é fortemente apoiado pelos 4acobinosG será mel(or adiarmosas (ostilidades abertas para uma (ora mais prop<cia @entarmos e sofrermosderrota, é entregarmo-nos, atados de m+os e pés, K guil(otina = seu poder(á de declinar de dia em dia 7 procrastina*+o é o nosso mel(or aliado

?nquanto @allien di'ia isto e o seu discurso produ'ia no audit0rio oefeito da água sobre o fogo, entrou um criado para di'er-l(e que umdescon(ecido dese)ava v"-lo imediatamente, afim de falar-l(e sobre umassunto que n+o admitia espera- M+o ten(o tempo, - disse o orador, comimpaci"ncia

= criado pIs um bil(ete em cima da mesa @allien abriu-o, e leu estaspalavras, escritas a lápis F :8a pris+o de @(ere'a de 2ontenay;@allienempalideceu e, levantando-se de repente, dirigiu-se, com passos rápidos, Kante-sala, onde encontrou um (omem que l(e era totalmente descon(ecido-?speran*a da 2ran*a - disse-l(e este, com uma vo' que parecia c(egar-l(e

diretamente ao cora*+o

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- = seu criado foi preso na rua ?u salvei a sua vida e o da sua futuraesposa @rago-vos esta carta de @(ere'a de 2ontenay @allien, com m+otr"mula abriu a carta e leu F :ei de suplicar-l(e sempre em v+o Cepetidasve'es disse que n+o devia perder uma (ora, se aprecia a min(a vida e a sua= meu )ulgamento e a min(a morte est+o fixados para depois de aman(+, o

dia #_ de @(ermidor2ira o monstro, enquanto ainda é tempoG abata-o Aobram-l(e dois dias Ae fal(ar, se vacilar, adiando, ol(e-me pela 5ltima ve',quando eu passar por debaixo das suas )anelas, a camin(o da guil(otina ;

- = seu processo subministrará provas contra ti- disse odescon(ecido

- 7 morte dela é o arauto da sua M+o tema o populac(o, o populac(oqueria libertar o seu criado M+o tema a Cobespierre, ele se entregará Ks suasm+os 7man(+ ele irá K Donven*+oG aman(+ gan(ará K cabe*a dele ouperderá a sua

- 7man(+ irá K Donven*+o ? quem é voc", que sabe com tantaprecis+o, o que eu mesmo ignoro - Pm (omem que, como voc", quer salvara mul(er que ama

 7ntes que @allien tornasse a si de sua surpresa, o descon(ecido(avia desaparecido

= vingador voltou K reuni+o, como um (omem inteiramente alterado- 7cabo de ouvir not<cias, n+o importa quais, - exclamou, - que me fi'erammudar de plano

Mo dia #_, segundo o que plane)a o tirano, devemos morrer naguil(otina Cevogo o meu consel(o de adiar a nossa a*+oG n+o devemosesperar mais Cobespierre irá, aman(+, K Donven*+oG ali devemos pIr-nosfrente K frente dele e esmagá-lo

8a montan(a (á de aparecer-l(e a amea*adora sombra de 8anton,da plan<cie (+o de levantar-se, ensangRentados, os espectros da >ergniaud ede Dondorcet 8escarreguemos o golpe - Aim, descarreguemos o golpe -exclamou Bar"re, c(eio de energia pela resolu*+o cora)osa do seu colega -

2icamos A0 os mortos n+o voltam mais H digno de men*+o e o fato ac(a-se em uma das mem0rias daquele

tempo1 que todo aquele dia e aquela noite, _/ de @(ermidor1, umdescon(ecido que n+o tin(a tomado parte em nen(um dos acontecimentosanteriores a esse tempo tempestuoso, foi visto em várias partes da cidade,nos cafés, nos clubes e nas reuni6es secretas das diferentes fac*6esG que,com grande admira*+o e pasmo dos ouvintes, falava, em vo' alta, dos crimesde Cobespierre, anunciando a sua pr0xima queda

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 7 sua vo' parecia despertar os adormecidos cora*6es dos (omens e,rompendo as cadeias do medo, inflamava-os com nobre ira e coragem3orém, o que mais surpreendia a maior parte deles, era que n+o se levantavauma s0 vo' para replicar-l(eG que nem uma s0 m+o se atrevia a det"-lo e quenen(um agente do tirano exclamava F :3rendam o traidor ; Mesta

impunidade, os (omens liam, como em um livro, que o povo (aviaabandonado o sanguinário usurpador

Aomente uma ve', um violento e robusto 4acobino, levantando-se, derepente, da mesa onde estava sentado e bebendo, aproximou-se dodescon(ecido, di'endo-l(e F

- ?stá preso, em nome da Cep5blica

- Didad+o 7ristides, - respondeu o descon(ecido, em vo' baixa, - vaiK (abita*+o de Cobespierre, o qual está fora de casaG na algibeira esquerda

da casaca que ele tirou (á uma (ora ac(ará um papel Leia e volte ?u oaguardarei aquiG e se, ent+o, quiser prender-me, irei contigo sem resist"nciaCepare neste momento, quantos ol(ares amea*adores se dirigem contra tiAim se atreve a tocar-me agora, seguramente será despeda*ado

= 4acobino sentiu-se como impelido a obedecer, contra a suavontade

Aaiu do local, murmurandoG quando voltou, encontrou o descon(ecidoainda no mesmo lugar

- 9il raios - disse o 4acobino ao descon(ecido

- 7grade*o-l(e = poltr+o tin(a o meu nome em sua lista dos que querenviar K guil(otina

? o cidad+o 7ristides, depois de pronunciar estas palavras, subiu auma mesa e gritou F - 9orra 0 tirano

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CAPÍTULO XI 

:Le lendemain, _$ @(ermidor Cobespierre sedécida a prononcer sonfameux discours;@(iers, :istoire de la Cévolution;

Mo dia seguinte, _$ de @(ermidor, Cobespierre se decidiu apronunciar o seu famoso discurso

 7man(eceu o dia $ de @(ermidor &. de 4ul(o1

Cobespierre apresentou-se na Donven*+o disposto a pronunciar oseu estudado discurso c(eio de frases de filantropia e de virtude, com asquais ia arro)ar-se sobre a sua presa

@odos os seus agentes estavam preparados para receb"-loG o fero'Aaint-4ust (avia c(egado do exército, para inspirar-l(e coragem e inflamar asua ira

 7 sua ominosa apari*+o preparava o audit0rio para a crise

- Didad+os - gritou a aguda vo' de Cobespierre - =utros l(esapresentaram quadros rison(osG eu ven(o di'er-l(e 5teis verdades; Qualquerviol"ncia, qualquer mal que se cometa, a mim me atribuem, a mim s0 Cobespierre é quem o dese)aG Cobespierre é quem o ordena !mp6e-se emuma nova contribui*+o Cobespierre é quem os arru<na D(amam-me tirano ? porque 3orque ten(o adquirido alguma influ"nciaG porém, como aadquiri 8i'endo a verdadeG e quem se atreverá a di'er que a verdadecarece de for*a na boca dos representantes do povo 2ranc"s M+o (ád5vida de que a verdade tem seu poder, sua ira, seu despotismo, seusacentos sedutores, terr<veis, que ac(am o seu eco nos cora*6es puros, damesma forma como nas consci"ncias culposas H t+o dif<cil K mentira imitar ofogo da verdade, como o foi a Aalmoneu o for)ar os raios do céu ? quem soueu, a quem acusam Pm escravo da liberdade, um mártir vivente daCep5blicaG a v<tima e o inimigo do crime @odo o rufianismo me provoca, ea*6es legitimadas em outros s+o crimes em mim Basta con(ecer-me para

ser caluniado 7té o meu 'elo converte em culpabilidade 8espo)am-me damin(a consci"ncia, e eu seria o mais miserável dos (omens; Cobespierreinterrompeu-se por um momentoG Dout(on enxugava as lágrimasG Aaint-4ustaplaudia em vo' baixa, contemplando com os ol(os r<gidos a rebeldemontan(a Pm sil"ncio l5gubre, como de morte, reinava no audit0rio =acento patético do orador n+o despertou nen(um eco

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= ditador passou os ol(os ao redor de si =( M+o tardará em fa'erdesaparecer aquela apatia 3rossegue discursandoG )á n+o se gaba, nem sequeixaG denuncia, acusa M+o podendo por mais tempo conter o venenodentro de si, vomita-o sobre todos 2ala do interior, do exterior, da fa'enda, daguerra, e a todos salpica 7 sua vo' eleva-se mais penetrante F - :?xiste uma

conspira*+o contra a liberdade p5blica ?sta conspira*+o deve a sua for*a auma criminal coliga*+o formada no seio mesmo da Donven*+o, e tem seusc5mplices no Domit" de Aeguran*a 35blica Qual é o remédio para cortarpela rai' este mal Dastigar os traidoresG purificar este comit"G esmagartodas as fac*6es pelo peso da autoridade nacional, levantando sobre as suasru<nas o poder da Liberdade e da 4usti*a ?stes s+o os princ<pios destaCeforma H preciso que ten(a a ambi*+o de professá-los 3ois saibam queos princ<pios se ac(am proscritos, e que a tirania reina entre n0s Que podeob)etar a um (omem que tem da sua parte a )usti*a, e que tem, ao menos,este saber F sabe como morrer por sua pátria ?u nasci para combater ocrime, e n+o para governá-lo !nfeli'mente, n+o c(egou ainda o tempo em que

os (omens dignos possam servir impunemente a sua terra natal ?nquantogovernarem os vel(acos, os defensores da liberdade sempre ser+oproscritos;

8uas (oras durou aquele discurso de morte

= audit0rio, frio e sombrio, escutou-o em sil"ncio, desde o principio aofim =s inimigos do orador n+o ousavam manifestar seu ressentimento,porque n+o sabiam ainda a que altura se ac(ava a balan*a do poder

=s partidários de Cobespierre temiam aplaudi-lo, porque ignoravamse as acusa*6es envolviam alguns dos seus amigos ou parentes

- Duidado - di'ia-se cada qual, - é voc" a quem ele amea*a

3orém, ainda que o audit0rio se conservasse silencioso, notava-seque, ao princ<pio, estava sendo )á quase dominado = (omem terr<vel pareciadispor ainda do poder mágico de uma vontade sub)ugadora ?mbora n+ofosse um grande orador, no significado (abitual deste termo, manifestava- sesempre resoluto, e as palavras que aplicava, produ'iam o procurado efeitoG aenergia destas palavras era aterradora, tanto mais quanto, com um leve

aceno, movia as tropas de enriot, e influenciava a senten*a de Cené8umas, o inexorável presidente do @ribunal

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Levantou-se Lecointre de >ersal(es ouve um movimento deansiosa aten*+oG pois Lecointre era um dos inimigos mais fidagais do tiranoQual foi o desanimo da fac*+o de @allien e o pra'er que manifestou o sorrisode Douton, quando Lecointre se limitou a pedir que se imprimisse o discurso @odos ficaram estupefatos Pm pouco depois, Bourdon de lU=se, cu)o nome

estava duplamente marcado na lista negra do 8itador, subiu K tribuna epropIs a atrevida contra-resolu*+o F que o discurso se entregasse aos doiscomit"s que se acusava =s conspiradores, estando ainda gelados deestupor, n+o se atreveram a aplaudir = t<mido Bar"re, sempre do lado dosprudentes, dirigiu, antes de levantar-se, um ol(ar em seu redorG depois, sepIs de pé e apoiou a Lecointre

Douton aproveitou esta ocasi+o, e, sem deixar a sua cadeiraprivilégio que go'ava o paral<tico filantropo1, com a sua melodiosa vo' tratoude converter a crise em triunfo ?le pediu n+o somente que se imprimisse odiscurso, como também que se enviasse K todas as municipalidades e aosdiferentes corpos de exército

- H necessário consolar um cora*+o ofendido e lacerado, - disse -8eputados, acusou-se o mais fiel, de derramar sangue

 7( Ae :ele; tivesse contribu<do para a morte de um s0 (omeminocente, sucumbiria de pesar Aedutora ternura - e enquanto falava, oorador acariciava o c+o'in(o que tra'ia em seus bra*os Bravo, Douton Cobespierre triunfa = Ceinado do @error continuará 7 7ssembléiasubmete-se com a costumada docilidade de um pombo >ota-se a impress+odo mort<fero discurso, e a sua transmiss+o K todas as municipalidades

Mos bancos da montan(a, @allien, alarmado, desanimado, impacientee c(eio de indigna*+o, dirige a sua vista para o lugar onde estavam osestrangeiros admitidos a ouvir os debatesG de repente, os seus ol(os seencontram com os do descon(ecido que l(e trouxera a carta de @(ere'a de2ontenay, no dia anterior 7queles ol(os o fascinaram ?m épocasposteriores, @allien di'ia, muitas ve'es, que aquele ol(ar fixo, sério, meiorepreensivo e, contudo, consolador e triunfante, o reanimou, inspirando-l(enova energia e coragem 7quele ol(ar falou ao seu cora*+o como o clarimfala ao cavalo de guerra @allien, levantando-se do seu lugar, falou, em vo'baixa, com os seus aliados, aos quais comunicou a sua nova energia, como

se fosse um fogo contagioso =s (omens, contra os quais se dirigiaespecialmente a acusa*+o de Cobespierre, e que viam levantada a espadasobre as suas cabe*as, despertaram do seu abatimento >adier, Dambon,Billaud->arennes, 3ains, 7mar, levantaram-se ao mesmo tempo, pedindo apalavra >adier foi o primeiro que falou e depois l(e seguiram os demais

 7 9ontan(a come*ou a vomitar os seus fogos e a devoradora lavaGuma legi+o de Diceros se arro)ava sobre o pasmado Datilina

Cobespierre gague)a, (esita, quereria modificar e retratar-se =s seusinimigos adquirem nova coragem ao v"-lo titubearG interrompem-noG afogam a

sua vo'G pedem que se revogue a mo*+o

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 7mar pede outra ve' que o discurso se envie aos comit"s, os inimigosdo ditador 9omentos confus+o, bul(a, gritaria Cobespierre envolve-se emsilencioso desdém 3álido derrotado, porém ainda n+o destru<do, permaneceem pé, como uma tempestade no meio de outra tempestade =s inimigos deCobespierre gan(aram a vota*+o @odos os (omens prev"em, nesta derrota,

a queda do ditador Pm grito saiu das galeriasG este grito foi imediatamentesecundado por um grande n5mero de vo'es no sal+o e entre o audit0rio F - 7baixo o tirano >iva a Cep5blica

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CAPÍTULO XII 

:7uprs dun corps aussi avili que la Donvention, il restait desc(acespour que Cobesplerre sortlt vainqueur de cettelutte;Lacretelle, vol X!!

:?m um corpo t+o envel(ecido como a Donven*+o, ainda (aviaalguma probabilidade de Cobespierre sair vitorioso dessa luta;

Quando Cobespierre saiu da Donven*+o, reinava, na multid+o que seapin(ava no exterior das suas portas, um sil"ncio profundo e ominoso

 7 multid+o, em todos os 3a<ses, é do lado de quem triunfa e, como osratos, foge da torre que está caindo 3orém, se a Cobespierre faltavacoragem, nunca l(e faltou orgul(o, e este supria, muitas ve'es, aquela

3ensativo e com ar impenetrável, atravessou a multid+o, apoiando-sesobre o bra*o de Aaint-4ust, e seguido de 3ayan e do seu irm+o

Mo momento em que se encontram em local aberto, Cobespierrerompeu subitamente o sil"ncio, perguntando F

- Quantas cabe*as deviam cair no dia de'

- =itenta, - respondeu 3ayan

- 7( M+o devemos esperar tantoG um dia pode perder um impérioG oterrorismo (á de servir-nos ainda

Dalou-se por alguns momentos, e o seu ol(ar percorreu,suspeitamente, a rua- Aaint-4ust, - disse o ditador, - de repente, n+o ac(aramesse !ngl"s cu)as revela*6es ou cu)o processo teria esmagado os 7mars e os@alliens M+o 7( =s meus 4acobinos se tornam est5pidos e cegos3renderam uma mul(er, s0 uma mul(er - 2oi uma mul(er quem apun(alou9arat, disse Aaint-4ust

Cobespierre parou um pouco, respirando com dificuldade- Aaint-4ust,

- disse, depois, - quando tivermos vencido este perigo, fundaremos o Ceinadoda 3a' 2aremos construir casas e )ardins para os anci+es 8avid )á estáesbo*ando os p0rticos Momear-se-+o (omens virtuosos para ensinarem a )uventude = v<cio e a desordem n+o ser+o exterminados, n+o M+o Aer+osomente banidos H preciso que n+o morramos ainda 7 posteridade n+opode )ulgar-nos enquanto n+o tivermos terminado a nossa obra @emosproclamado a exist"ncia do Aer AupremoG agora nos toca reformar estemundo corrompido @udo será amor e 2raternidadeG e, a( Aimon Aimon ?spera Aaint-4ust, d"-me seu lápis ? Cobespierre escreveuprecipitadamente algumas palavras, di'endo F

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- Aimon, leva isto ao cidad+o presidente 8umasG vai sem demora  7quelas oitenta cabe*as (+o de cair aman(+ 7 aman(+, Aimon 8umasadiantará a sua senten*a um dia ?screverei K 2ouquier-@inville, o acusadorp5blico Aimon, esta noite nos veremos no Dlube dos 4acobinosG 7lidenunciaremos a Donven*+o inteira e reuniremos, em roda de n0s, os 5ltimos

amigos da liberdade e da 2ran*a

Meste momento, ouviu-se ao longe, detrás deles, um brado F - >iva aCep5blica

=s ol(os do tirano bril(aram com o fogo da vingan*a

- 7 Cep5blica - exclamou ele, com desdém

- !rra M+o destru<mos um trono de mil anos para esta canal(a = )ulgamento e a execu*+o das v<timas foram antecipados por um dia 3or meio

da misteriosa intelig"ncia que até ali o guiara e animara, Zanoni soube que osseus esfor*os (aviam sido frustrados Aabia que >iola estaria salva, sepudesse sobreviver uma (ora ao tirano Aabia que as (oras de Cobespierreestavam contadasG que no dia #_ de @(ermidor, a data que originalmente(avia marcado para a execu*+o de >iola estava antecipada por um dia 3obrevidente Quereria fa'er-se instrumento do ?terno e o mesmo perigo queamea*a agora o tirano, precipita a condena*+o das suas vitimas 7man(a,cair+o oitenta cabe*as e entre elas, a da mul(er que dormiu sobre o seucora*+o 7man(+ ? 9aximiliano Cobespierre está seguro esta noite

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CAPÍTULO XIII 

:?rde mag 'urRcE in ?rde stubenG 2liegt der Jeist doc( aus demmorsc(en ausAeine 7sc(e mag der Aturmwind treiben, Aein Leben dauert

ewig aus ;?legieh

?m p0 convertida, volte terra K terraG o ?sp<rito, apesar disso, voarápara fora da frágil casa ?mbora o vento da tempestade leve ao longe as suascin'as, a sua vida perdura eternamente ; 7man(+

? )á está caindo o crep5sculo da noite

Pm ap0s outro, aparecem, sorrindo, os meigos astros no céu

= rio Aena, em suas lentas águas, estremece ainda com o 5ltimo

bei)o do rosado diaG e no firmamento a'ul ainda bril(am as torres da igre)a deMossa Aen(oraG e ainda levanta para o a'ul do firmamento os seus bra*os aguil(otina, )unto K Barreira do @rono

?m um edif<cio, ro<do pelo tempo, o qual outrora fora a igre)a e oconvento dos !rm+os 3regadores, con(ecidos ent+o pelo santo nome dos4acobinos, tin(a seu clube o partido que se (avia apropriado deste nome

 7li, em uma oblonga sala, onde estava antes a livraria dos pac<ficosmonges, re5nem-se agora os adoradores de Cobespierre

8uas imensas tribunas levantadas nos extremos cont"m a esc0ria eas fe'es do atro' populac(oG a maioria deste audit0rio se comp6e das f5riasda guil(otina :fureis de guillotine1

Mo meio da sala, está a mesa e a cadeira do presidente, a cadeira,conservada durante muitos anos pela piedade dos religiosos, como umarel<quia de Aanto @(oma' de 7quino

 7cima da cadeira, v"-se um áspero busto de Bruto

Pma lâmpada de fol(a de 2landres e dois candelabros derramam poraquela vasta sala uma lu' opaca e fuliginosa, sob a qual os fero'essemblantes daquele pandemInio parecem ainda mais medon(os e disformes

 7li, da tribuna do orador, Cobespierre fala ao audit0rio, com sua vo'aguda e iracunda 7o mesmo tempo, no Domit" dos seus inimigos, tudo écaos e desordem, metade coragem e metade covardia

Cumores circulam de rua em rua, de casa em casa

 7s andorin(as voam quase tocando o c(+o, e os reban(os se re5nem

em grupos, antes da tempestade

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A0, em seu quarto, estava em pé o (omem, sobre cu)a bril(ante )uventude, s<mbolo do imperec<vel florescimento do calmo ideal no meio datransformadora realidadeG as tormentas dos Aéculos (aviam passado em v+o

@odos os esfor*os que a intelig"ncia e a coragem ordinárias podiam

sugerir (aviam sido empregados inutilmenteG e tais esfor*os eram frustrados,porque, naquelas saturnais da morte, o ob)etivo era salvar uma vida

Mada, sen+o a queda de Cobespierre, podia ter salvado suas v<timas 7gora, sendo )á demasiado tarde, esta queda s0 serviria para vingan*a

=utra ve', na agonia do excitamento e desespero, Zanoni se (aviaimergido na solid+o, para invocar novamente o aux<lio ou o consel(o daquelesmisteriosos intermediários entre o céu e a terra, que l(e negaram suaassist"ncia quando vivia dominado pelos la*os comuns dos mortais Mointenso dese)o e na angustia do seu cora*+o, existia, talve', um poder ainda

n+o experimentadoG pois é fato con(ecido que a agude'a de extrema dorcorta e rompe muitos dos mais fortes la*os da fraque'a e da d5vida queprendem as almas dos (omens e as deitam, atadas e impotentes, na escuracela do negro momentoG e que da carregada nuvem e tempestade desprende-se, muitas ve'es, a águia =l<mpica que nos pode transportar Ks alturas ? ainvoca*+o foi ouvida, as cadeias dos sentidos se romperam para deixar livre avista interior

Zanoni ol(ou e avistou n+o o Aer que c(amara, o Aer com o corpo delu' e com o tranqRilo sorriso angélico nos lábios, n+o o seu familiar 7donai, o2il(o da Jl0ria e da ?strela, mas o mau agouro, a negra quimera, oimplacável !nimigo que comparecia com seus ol(os cintilantes de mal<cia e dego'o infernal

= espectro, em ve' de arrastar-se, como antes, na sombra, levantou-se diante dele, gigantesco e erguidoG a sua face, cu)o véu nunca foi levantadopor m+o (umana, permanecia ainda coberta, porém a sua forma era maisdistinta e corp0rea, espal(ando, em redor de si, o (orror, a ira e o espanto

Jelando o ar o seu alento, o ?spectro inundou, como uma nuvem, oquarto, obscurecendo as estrelas do céu

- =l(e - disse a vo', - aqui estou outra ve' 7rrebatou-me uma presade menor importânciaG agora, escape voc" mesmo do meu poder 7 sua vidao abandonou, para viver no cora*+o de uma fil(a do barro e do verme 3ormeio dessa vida, eu ven(o a ti com meus inexoráveis passos >oltou aoumbral, aquele cu)os pés pisaram as bordas do !nfinito ? como o duende dasua fantasia se apodera da crian*a na escurid+o, assim, 0 (omem poderoso,que pretendeu vencer a morte, eu me apodero de ti

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- 3ara trás Aua guarida, escravo Ae compareceu K min(a vo' quen+o o c(amou, n+o é para mandar, mas para novamente obedecer 7 ti, decu)o murm5rio obtive o meio de salvar as vidas que me s+o mais caras do quea min(a, eu ordeno, n+o por meio de feiti*o ou encanto, mas pela for*a deuma alma mais poderosa do que a mal<cia do seu ser, que me sirva ainda, e

que me revele o segredo que pode salvar as vidas que, com a permiss+o doAen(or Pniversal, voc" permitiu reter, algum tempo, no seu @emplo de p0terrestre

Dom fogo mais lu'ente e mais devorador arderam os (orr<veis ol(osdo espetroG a sua colossal forma dilatou-se e tornou-se mais vis<velG e, comum 0dio ainda mais fero' e mais desden(oso, respondeu a sua vo' F

- 3ensou que o favor que l(e fi', pIde tra'er-l(e outra coisa do que amaldi*+o @eria sido feli', se tivesse c(orado sobre mortes enviadas pelabranda m+o da Mature'a, se n+o tivesse nunca sabido como o nome da m+esantifica a face da bele'a, e se nunca, inclinando-se sobre seu fil(o, tivesse

sentido a imperec<vel do*ura do amor de pai 7s vidas deles foram salvas,para que 7 m+e, para sofrer a morte violenta, ignominiosa e sanguinolenta,da m+o do verdugo, que cortará aqueles bril(antes cabelos que enredaram osseus bei)os de noivado = fil(o, o primeiro e o 5ltimo da sua prole, em quemesperou fundar uma ra*a que contigo ouvisse a m5sica das (arpas celestiais,e que voasse, ao lado do seu familiar 7donai, pelas a'uladas regi6es dealegria, esse fil(o viverá alguns dias em um negro calabou*o, como umcogumelo vive a sua exist"ncia ef"mera em um cemitério, e morrerá de fome,abandonado pela crueldade 7( 7( >oc", que queria burlar a morte,aprenda agora como morrem os Aeres imortais, quando se atrevem a amaruma criatura mortal 7gora, Daldeu, contemple os meus favores ?u oenvolvo na peste da min(a presen*a, e apodero-me de ti 8e agora parasempre, até que (a)a perecido a sua longa ra*a, os meus ol(os arder+o noseu cérebro, e os meus bra*os o apertar+o, quando, para fugir do abra*o daMoite, quiser remontar-te nas asas da 9an(+

- ?u l(e digo que n+o - respondeu Zanoni - ? outra ve' l(e ordenoque fale e responda ao sen(or que pode mandar o seu escravo 7inda queme falte a min(a ci"ncia, e as flec(as, sobre as quais me ten(o debru*ado,trespassem o meu peito, eu sei que as vidas que defendo, podem ser salvasda m+o do verdugo ?m v+o obscurece o seu futuro com a sua sombraG n+o

pode determiná-lo >oc" pode prever o ant<dotoG pode fa'er com que oveneno n+o a)a ?, ainda que l(e torture, a min(a ordem, arrancarei de ti osegredo de tua salva*+o ?u me aproximo de ti, e, impávido, fito os seusol(os 7 alma que ama pode arriscar tudo

- Aombra, eu desafio e ordeno que me obede*a

 7 sombra minguou e recuou

Domo a névoa se desvanece quando os raios do Aol nela penetram, oespectro se retirou para um canto do quarto, onde ficou acocorado, deixando

livre a )anela, pela qual penetravam os raios das estrelas

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- Aim, - disse a vo', com acento débil e oco, - pode salvá-la da m+odo verdugoG pois está escrito que quem se sacrifica, pode salvar 7( 7(

? a sombra tornou a erguer-se em toda a sua gigantesca estatura,rindo com infernal alegria, como se o !nimigo, iludido por um momento,

(ouvesse recobrado o seu poder

- 7( 7( 3ode salvar a vida deles, se quiser sacrificar a sua H paraisto que tem vivido tantos Aéculos, e tem visto esmigal(arem-se tantosimpérios e desaparecer tantas gera*6es 3or fim, reclama a morte Quersalvar a mul(er 9orre por ela Dai, forte coluna, sobre a qual poderiambril(ar estrelas ainda n+o formadas Dai, para que a erva que cresce a seuspés possa beber por mais algumas (oras a lu' do Aol e o orval(o Ail"ncio ?stá pronto para o sacrif<cio =l(a, a Lua camin(a pelo firmamento 2ormososábio mandar-l(e-á que sorria aman(+ sobre o seu corpo sem cabe*a

- 3ara trás 7 min(a alma, ao responder da profundidade em que n+ol(e é dado ouvi-la, reconquistou a sua gl0ria, e eu ou*o as asas de 7donaique, com uma (armoniosa m5sica, fendem os ares

 7 estas palavras, o ?spetro, lan*ando um grito rouco de impotenteraiva e 0dio, desapareceu, enquanto uma repentina e radiante lu' argentainundava o quarto até ent+o em trevas

Quando o visitante celeste, na atmosfera do seu pr0prio resplendor,dirigiu o seu ol(ar K face do @eurgo, com um aspecto de inefável ternura eamor, todo o espa*o parecia iluminado pelo seu sorriso 8o quarto em que se(avia detido, até a estrela mais distante, no espa*o a'ul, parecia como se, nosereno ar, estivessem vis<veis os rastros do seu vIo, deixando ali umprolongado esplendor, semel(ante K coluna da lu' lunar sobre o mar Domo aflor di funde o perfume, que e o alento da sua vida, assim a emana*+odaquela apar"ncia espal(a a alegria

= 2il(o da Jl0ria descera ao mundo ao lado do amor, com avelocidade mil(ares de ve'es maiores do que a lu' e a eletricidade, e as suasasas derramavam a del<cia como a man(+ derrama as gotas de orval(oMaqueles breves instantes, a 3obre'a cessou de lamentar-se, a ?nfermidade

abandonou a sua presa, e a ?speran*a soprou um son(o do Déu nas trevasdo 8esespero- @em ra'+o, - disse a melodiosa vo'

- 7 sua coragem restabeleceu o seu poder =utra ve' a sua almaconsegue que eu des*a K terra para vir a seu lado mais sábio é agora, nomomento em que compreende a 9orte, do que quando o seu livre esp<ritoaprendia o solene mistério da >idaG as afei*6es (umanas que, por algunsinstantes, o escravi'aram e (umil(aram, tra'em-no nestas 5ltimas (oras dasua mortalidade, a mais sublime (eran*a da sua ra*a,- ?ternidade quecome*a na tumba

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- Y 7donai - exclamou o Daldeu, quando, envolto no esplendor dovisitante, se sentia rodeado de uma gl0ria mais radiante do que a da maiorbele'a (umana, e parecia )á pertencer K ?ternidade que o Aer Luminoso l(eanunciava, como os (omens, antes de morrer, v"em e compreendemenigmas que l(es foram descon(ecidos durante a sua vida

- 7ssim, nesta (ora, quando o sacrif<cio de mim mesmo, em favor deoutro ser, tra' o curso dos Aéculos K sua meta, ve)o a pequene' da >ida,comparada com a ma)estade da 9orte 3orém, 0 8ivino Donsolador, aindaaqui, ainda em sua presen*a, as afei*6es que me inspiram enc(em-me detriste'a, ao pensar que deixo neste mundo mau, sem amparo e sem prote*+o,os seres pelos quais morro 7 min(a esposa = meu fil(o =( 2ala, 7donai Donsola-me sobre esta d5vida - Domo - respondeu o 2il(o da Lu', comum leve acento de repreens+o, mesclado de celestial compaix+o

- Dom toda a sua sabedoria e com seus sublimes segredos, com todo

o império do seu passado e com as suas vis6es do futuro, que é voc" para o=nisciente 8iretor de todos os mundos 3ode imaginar que a sua presen*a,na terra, dará aos cora*6es que ama o amparo que o mais (umilde recebedas asas da 3resen*a de 7quele que vive no Déu M+o tema pelo seu futuro@anto se viver como se morrer o seu porvir está ao cuidado do 7lt<ssimo 7téno calabou*o e no cadafalso penetra o ?terno =l(o daquele que é mais ternodo que voc" para amar, mais sábio para guiar, mais poderoso para salvar

Zanoni inclinou a cabe*aG e, quando tornou a levantá-la, a sua fronteestava serena, e tranqRilo o seu ol(ar

 7donai (avia desaparecidoG porém, o quarto parecia estar ainda c(eioda gl0ria da sua presen*a, e o solitário ar parecia murmurar ainda comtr"mula del<cia

? tal será sempre a, dita daqueles que, desprendendo-se inteiramenteda vida, receberam a visita do 7n)o da 2é

 7 solid+o e o espa*o retém o esplendor, que se fixará como umabril(ante auréola, em roda das suas sepulturas

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CAPÍTULO XIV 

:8ann 'ur Blumenflor der Aterne 7ufgesc(auet liebewarm,2assUi(nfreundlic( 7rm in 7rm, @ragUi(n in die blaue 2erne; P(land, :7n den @od;

:8epois, levantando os ol(os afetuosos aos )ardins das estrelas,segura-o amistosamente, bra*o em bra*o, e leva-o Ks distantes regi6esa'uis;P(land, :[ 9orte;

Zanoni estava em pé, no alto do balc+o, de onde se avistava toda acidade, que parecia quieta

?mbora, longe dali, as mais fero'es paix6es dos (omens seagitassem, provocando luta e morte, tudo o que estava ao alcance da suavista estava silencioso e calmo, sob os prateados raios da Lua de ver+o

 7 alma do vidente, esquecendo naquele momento, o (omem e a suaestreita esfera, contemplava outros mundos, mais serenos e mais gloriosos

Ao'in(o e pensativo, permanecia Zanoni ali, para dar o 5ltimo adeusde despedida K maravil(osa vida que (avia con(ecido

 7travessando os dilatados campos do espa*o, via as diáfanassombras, de cu)os alegres coros tantas ve'es participara o seu esp<rito

 7li, grupo sobre grupo, formavam elas multiformes c<rculos naestrelada e silenciosa ab0bada, na indi'<vel bele'a dos Aeres que sealimentavam de ambros<aco orval(o e da mais serena lu'

Meste seu "xtase, parecia ao vidente que o universo inteiro seestendia diante dos seus ol(os

Lá ao longe, nos verdes vales, via as dan*as das fadasG nasentran(as das montan(as, a ra*a que sopra o escuro ar dos vulc6es, fugindoda lu' do céuG em cada fol(a das inumeráveis florestas, em cada gota deágua dos imensos mares, descobria um mundo separado e c(eio de vidaG e,

no mais distante a'ul do alto espa*o, divisava orbe sobre orbe,amadurecendo em forma, e planetas que, saindo do fogo central, iam correr oseu dia de mil anos

3ois, em todas as partes, na Dria*+o, está o sopro do Driador, e, emcada lugar onde o alento respira, (á vida

A0 na distância do espa*o Zanoni viu o solitário 9ago, o seu irm+o deci"ncia

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Mo meio das ru<nas de Coma, trabal(ando com os seus n5meros e asua Dabala, calmo e sem paix6es, está sentado, em sua cela, o m<stico9e)nour, que vive e viverá enquanto existir o mundo, indiferente se a suaci"ncia produ' bem ou malG um agente mecânico de uma vontade mais ternae mais sábia, que guia cada coisa e cada fato a seus inescrutáveis des<gnios

9e)nour vive, e vivera sempre, como a ci"ncia que s0 suspira peloscon(ecimentos, sem se deter para considerar se o saber aumenta efelicidade, nem para ver como o carro do progresso (umano, passando pelasestradas da civili'a*+o, esmaga em sua marc(a tudo o que n+o pode agarrar-se Ks suas rodas

Aempre, com a sua Dabala e com os seus n5meros, 9e)nour vivepara mudar, com seus insens<veis movimentos, a face do mundo (abitável

- 7deus, 0 vida - murmurou o estático visionário - Qu+o doce 0 vida,

sempre me tem sido Qu+o insondáveis as suas alegrias Dom que pra'er amin(a alma tem se elevado Ks sendas que condu'em Ks imensas alturas 3ara aquele que renova perpetuamente a sua )uventude na clara fonte daMature'a, qu+o esquisita é a mera felicidade de :existir; 7deus 0 lâmpadasdo céu 7deus, mil(6es de tribos que povoais os ares M+o (á um s0 átomonos raios solares, uma semente arro)ada pelo venta no deserto, que n+oten(a contribu<do para a min(a ci"ncia, que procurou sempre em tudo overdadeiro princ<pio da vida, o Belo, o 7legre, o !mortal =utros locali'aram asua morada em um 3a<s, em uma cidade, em uma casaG a min(a morada temsido sempre no espa*o, até onde podia penetrar o meu intelecto, ou ondepodia respirar o meu esp<rito

Zanoni calou-se, e, atravessando o imensurável espa*o, os seusol(os e o seu cora*+o, penetrando no negro calabou*o, fixaram-se sobre oseu fil(o

= inocente dormia nos bra*os da pálida m+e, e a alma do pai falou Kalma do an)in(o adormecido F

- 3erdoe-me, meu fil(o, se o meu dese)o foi um pecado ?u son(eieducá-lo e dirigi-lo aos mais divinos destinos que as min(as vis6es podiam

prever Aon(ei que cedo, logo que pudesse ter preservado a sua parte mortaldo perigo das enfermidades, teria purificado de todo pecado a sua formaespiritualG que o condu'iria de um céu a outro, por meio dos santos "xtasesque constituem a exist"ncia das ordens de seres que (abitam as altas regi6esetéreasG que, das suas sublimes afei*6es, teria feito a pura e perpétuacomunica*+o entre a sua m+e e mim ?ste son(o n+o foi mais do que umson(o, e desvaneceu-se 7c(ando-me K borda do t5mulo, sinto, por fim, que,nas portas da morte, está a verdadeira !nicia*+o que condu' K santidade e Ksabedoria 8o outro lado dessas portas, eu as aguardarei a ambas, amadasperegrinas Mo meio das ru<nas de Coma, s0 em sua cela, absorto pela suaDabala e os seus n5meros, parou 9e)nour no estudo em que estava imerso,

os seus ol(os se dirigiram Ks estrelas e, pelo esp<rito sentiu que o esp<rito doseu distante amigo o c(amava

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- 7deus para sempre, neste mundo, 9e)nour = seu 5ltimocompan(eiro despede-se de ti 7 sua idade madura sobrevive a todas as )uventudesG e o dia do fim do mundo o ac(ara contemplando ainda as nossastumbas ?u me decidi, da min(a espontânea e livre vontade, a passar K terrada escurid+oG porém, novos s0is e novos sistemas bril(am ao redor de n0s,

por quem me despo)o do meu barro, e ser+o meus compan(eiros por toda aeterna )uventude 2inalmente, recon(e*o a verdadeira prova !niciática e averdadeira vit0ria 9e)nour )oga para longe de tio seu elixir 8ep6e o seupeso dos anos 3or toda a parte onde a nossa alma possa camin(ar, a 7lma?terna de todas as coisas sempre a protege

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CAPÍTULO XV 

:!ls ne veulent plus perdre un moment dUune nuit si precieuse;

Lacretelle, tomo X!!

:M+o querem perder nem um momento de uma noite t+o preciosa;

?ra )á muito tarde, da noite, quando Cené 2ran*ois 8umas, opresidente do @ribunal Cevolucionário, voltou K sua casa, de regresso doDlube dos 4acobinos

 7compan(avam-no dois (omens, dos quais se podia di'er que umrepresentava a for*a moral, e outro a for*a f<sica do Ceinado do @error F2ouquier-@inville, o acusador p5blico, e 2ran*ois enriot, o general da Juarda

Macional de 3aris

?ste formidável triunvirato se reunia para tratar de neg0cios do diaseguinteG e as tr"s irm+s feiticeiras, ao redor da sua caldeira infernal, n+o sesentiam talve' animadas de pensamentos mais malvados, nem pro)etavamdes<gnios mais execráveis, do que estes tr"s (er0is da Cevolu*+o, em suapremeditada matan*a do dia seguinte

8umas (avia mudado muito pouco de aspecto desde o tempo emque, no princ<pio desta narrativa, foi apresentado ao leitorG as suas maneiraseram, sem embargo, algum tanto mais enérgicas e severas, e o seu ol(armais inquieto Dontudo, ao lado dos seus compan(eiros, parecia quase umser superior Cené 8umas, nascido de pais respeitáveis é um (omem bemeducado, apesar da sua ferocidade, conservava, em suas maneiras, certorefinamento, e uma elegância no seu exterior, qualidades que, talve', ofa'iam mais aceitável ao preciso e formal Cobespierre

enriot, porém, (avia sido um lacaio, depois um ladr+o e, mais tarde,um espi+o da policia

?ste (omem bebeu o sangue de 9adame de Lamballe, e devia a sua

eleva*+o somente ao seu rufianismo 2ouquier-@inville, fil(o de um agricultorprovincial e, depois, escriv+o na Aecretaria da 3ol<cia, era de maneiras poucomenos baixas, e afetava certa repugnante bufoneria em sua conversa*+o ?ra(omem de limitada capacidade, tendo uma cabe*a enorme, cabelo preto esempre bem penteados, uma testa estreita e l<vidaG os seus pequenos ol(ospiscavam com uma sinistra mal<cia 7 suas formas robustas e toscas o fa'iamparecer o que era F o auda' campe+o de um tribunal déspota, ilegal einfatigável

8umas espevitou as velas e inc(ou-se sobre a lista das v<timas do diaseguinte

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- H um longo catálogo, - disse o presidenteG - oitenta )ulgamentos emum s0 dia ? as ordens de Cobespierre para despac(ar toda esta fornada s+oterminantes

- =ra - retrucou 2ouquier, com uma estrepitosa gargal(adaG -

(avemos de )ulgá-los em massa Aei bem como devo proceder diante dosnossos )urados Bastará di'er F :Didad+os, eu penso que est+o convencidosdos crimes dos acusados ; 7( 7( - quanto mais longa é a lista, mais curtoserá o trabal(o

- =( Aim - rosnou enriot, meio ébrio, como de costume,recostando-se em sua cadeira e pondo sobre a mesa os tac6es das botascom esporas

- @inville é o (omem que sabe despac(ar

- Didad+o enriot, - disse 8umas, com gravidade, - pe*o-l(e que mefa*a o favor de buscar outro escabelo para pIr nele os seus pés Quanto aodemais, permita que o advirta que aman(+ é um dia muito cr<tico e meioimportante, no qual vai se decidir o destino da 2ran*a

- >ou comer um figo K sa5de da min(a querida 2ran*a >iva ovirtuoso Cobespierre, o apoio da Cep5blica 3orém, esta discuss+o é muitoseca M+o tem um pouco de aguardente naquele armario'in(o

8umas e 2ouquier trocaram ol(ares de desgosto = presidente,encol(endo os ombros, replicou F

- Didad+o general enriot, se l(e fi' vir aqui, foi para evitar quebebesse aguardente ?scute-me, se pode

- =(, fala, fala, quanto quiser H o seu of<cio = meu é bater-me ebeber

- ?nt+o l(e advirto que aman(+ todo o populac(o se lan*ara K rua, eque todas as fac*6es se por+o em movimento H bem provável que tentemdeter os carros dos sentenciados, quando estes se dirigirem para a guil(otina

@em armada e preparada a sua gente, e mata sem compaix+o todos os quese atrevam a interromper o curso da 4usti*a

- Dompreendo, - disse enriot, acariciando a sua espada de um modoque 8umas ficou meio sobressaltado

- = sombrio enriot n+o é do partido dos !ndulgentes

- M+o o esque*a, pois, cidad+o M+o o esque*a ?, escuta, -acrescentou o presidente, com ar grave e sombrio, - se pre'as a sua cabe*a,deixa de beber aguardente

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- 9in(a cabe*a 9il raios 7treve-se a amea*ar o general do exércitode 3aris

8umas, que, como também Cobespierre, pre'ava a pontualidade eera (omem bilioso e arrogante, ia replicar de uma forma desagradável,

quando o astuto @invi(le, pondo-l(e a m+o sobre o bra*o e voltando-se para ogeneral, disse F

- 9eu querido enriot, é preciso que o seu intrépido Cepublicanismo,que está demasiado pronto a cometer ofensa, se acostume a aceitar umarepreens+o do representante da Lei Cepublicana 2alo-l(e seriamente, meucaro F é indispensável que se)a s0brio por estes tr"s ou quatro diasG quando(ouver passado a crise, esva'iaremos uma garrafa >en(a aqui, 8umasGdeixe a sua austeridade e aperte a m+o do nosso amigo M+o deve (averdesaven*as entre n0s

8umas (esitou um instanteG porém, afinal, estendeu a m+o ao generalrufi+o, o qual a apertou, fa'endo, entre lágrimas e solu*os de embriague', milprotestos de civismo e prometendo ser s0brio naqueles dias

- Bem, meu general, - disse 8umas, - confiamos em ti G e agora, postoque aman(+ teremos todos a necessidade de nosso vigor, vai para casa edorme bem

- Aim, 8umas, - respondeu enriot, - eu l(e perdIoG eu l(e perdIoM+o sou vingativo 3orém, se um (omem me amea*a, se um (omem meinsulta

?, com as mudan*as repentinas de idéias produ' a embriague', osseus ol(os tornaram a bril(ar de ira, através das asquerosas lágrimas

8epois de grandes esfor*os, conseguiu 2ouquier aplacar esse(omem fero' e levá-lo para fora do quarto

3orém, como sucede ao carn<voro que tem que abandonar a presa,enriot grun(iu, assan(ado, enquanto descia pela escada

Ma rua, um soldado, montado, fa'ia o cavalo de enriot passear paracima e para baixoG e enquanto o general esperava, K porta, que a suaordenan*a voltasse, aproximou-se dele um descon(ecido que estiveraencostado K parede, e disse-l(e F

- Jeneral enriot, dese)o falar-l(e 8epois de Cobespierre, é oudeveria ser o (omem mais poderoso na 2ran*a

- um H verdade, deveria s"-lo 3orém, o que fa'er Mem todos os(omens s+o o que merecem ser

- D(iton - continuou o descon(ecido - = seu soldo n+o éproporcional K sua posi*+o nem Ks suas necessidades

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- H verdade- 7té em uma Cevolu*+o, a gente n+o deve descuidar dasua fortuna- 8iabo ?xplique-se, cidad+o

- ?u ten(o aqui mil pe*as de ouro, ser+o suas, se me conceder um

pequeno favor

- Doncedo, cidad+o - respondeu enriot, agitando sua m+o,ma)estosamente - Quer, talve', que denuncie algum maroto que o ofendeu

- M+oG é simplesmente o seguinte F ?screva ao presidente 8umasestas poucas palavras F :Ceceba o portador e, se puder, conceda-l(e o queele l(e pedirG pelo que l(e ficará muito grato 2ran*ois enriot;?nquanto odescon(ecido falava, pIs lápis e papel nas m+os tr"mulas do general- ?onde está o ouro : perguntou este- 7qui, - respondeu o descon(ecido

enriot, n+o sem bastante dificuldade, escreveu, com péssima letra,as palavras que l(e foram ditadas, agarrou e guardou o din(eiro, montou acavalo e ausentou-se

?ntretanto, 2ouquier, depois de ter fec(ado a porta do gabinete detrásde enriot, disse com a'edume F - Domo pIde cometer a loucura de irritaresse brig+o M+o sabe que as nossas Leis n+o valem nada sem a for*af<sica da Juarda Macional, e que ele é seu c(efe

- = que sei- respondeu 8umas - é que Cobespierre devia estar loucoquando pIs esse b"bado K frente da Juarda MacionalG e n+o se esque*a dasmin(as palavras, 2ouquier F se vier o caso de termos que lutar, aincapacidade e covardia desse (omem nos destruirá Aim, talve' ten(a queacusar ainda o nosso querido Cobespierre, e perecer em sua queda

- 3ois, por isso mesmo, devemos estar bem com enriot, até que senos apresente uma ocasi+o para prend"-lo e cortar-l(e a cabe*a 3araestarmos seguros, é mister que o lison)eemos, tanto mais, quanto maisdese)amos depI-lo M+o penses que este enriot, quando despertar aman(+,esquecerá as suas amea*as H o (omem mais vingativo que con(e*o 8evemandar c(amá-lo aman(+ e abrandá-lo

- @ens ra'+o, - disse 8umas, convencido

 W 7gi precipitadamenteG e agora penso que n+o temos nada mais quefa'er, visto que )á decidimos despac(ar de uma ve' a leva da man(+ >e)o nalista um rapa' que eu (avia apontado desde muito tempo, apesar de que oseu crime me valeu outrora uma (eran*aG falo de Micot, esse disc<pulo deébert- ? o )ovem poeta 7ndré D(enier 7( ?squecia-meG (o)e odecapitamos 7 virtude republicana está em seu apogeuG pois foi o seu irm+oque no-lo abandonou

- á na lista uma estrangeira, uma !talianaG porém, n+o encontroacusa*+o feita contra ela

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- M+o importaG devemos guil(otiná-la para que a conta se)a redondaGoitenta soa mel(or do que setenta e nove

Meste momento, entrou um porteiro, tra'endo o papel com o pedido

de enriot

- 7( Que feli' acaso - disse @inville, depois de ler o bil(ete que8umas l(e mostrou

- Aatisfa*a-l(e o pedido, uma ve' que n+o se)a para diminuir o nossocatálogo 3orém, (ei de fa'er 4usti*a K enriot sobre este pontoG pois elenunca diminui, mas, pelo contrário, acrescenta a n5mero nas listas Boanoite ?stou cansado, a min(a escolta me espera lá em baixo A0 emocasi6es como esta me atrevo a sair de noite K rua

? 2ouquier, com um prolongado boce)o, saiu do quarto

- Que entre o portador - ordenou 8umas, que, murc(o e seco, comocostuma ser a maior parte dos advogados, parecia t+o pouco suspirar pelosono, como os seus pergamin(os

= descon(ecido entrou no gabinete do presidente

- Cené 2ran*ois 8umas, - disse ele, sentando-se em frente do )ui' eadotando a prop0sito o plural, como quisesse demonstrar que despre'ava ageringon*a revolucionáriaG - no meio das excitantes ocupa*6es que absorvema sua vida, n+o sei se se recorda que )á nos temos visto

= )ui' se pIs a examinar atentamente as fei*6es do seu visitante, e,com um leve rubor nas suas pálidas faces, respondeu F

- Aim cidad+o, me recordo

- ?nt+o, lembre-se das palavras que eu pronunciei naquela ocasi+o = Aen(or falava de um modo terno e filantr0pico, do (orror que l(e inspiravaa pena capital 7guardava com ânsia a pr0xima Cevolu*+o para ver terminar

todos os castigos sanguinários, e citou com rever"ncia as palavras de9aximiliano Cobespierre, que ent+o come*ava a sua carreira de estadista F:= verdugo é inven*+o do tirano;G e eu repliquei que, enquanto estava assimfalando, um pressentimento me di'ia que tornar<amos a encontrar-nos,quando as suas idéias sobre a morte e a 2ilosofia das revolu*6es estivessemmuito mudadas @in(a eu ra'+o, cidad+o Cené 2ran*ois 8umas, presidentedo @ribunal Cevolucionário

- =ra - disse 8umas, visivelmente confuso

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- ?u falava ent+o como o fa'em os (omens que n+o tiveram ocasi+ode agir 7s revolu*6es n+o se fa'em com água de rosas 3orém, deixemosde recordar-nos das conversa*6es t+o remotas ?u me lembro também quesalvou, naquela ocasi+o, a vida de um parente meu, e ten(o o pra'er dedi'er-l(e que o (omem que tentou assassiná-lo será guil(otinado aman(+-

!sso concerne a ti, a sua 4usti*a ou sua vingan*a 3ermita-me, agora, oego<smo de recordar-l(e que, naquele tempo, me prometeu que, se algum diase apresentasse ocasi+o de servir-me, a sua vida, sim, as suas palavrasforam F :o seu sangue, estaria K min(a disposi*+o M+o pense, austero )ui',que ven(o pedir-l(e um favor que possa afetar-l(e a si mesmo, somentepe*o-l(e que suspenda por um dia a senten*a de uma pessoa ;

- H imposs<vel, cidad+o @en(o ordem de Cobespierre para queaman(+ se)am )ulgados, sem faltar um s0, todos os réus da respectiva listaQuanto K senten*a, depende dos )urados

- M+o l(e pe*o que diminua o catálogo ?scute-me ?m sua lista demorte se ac(a o nome de uma !taliana, cu)a )uventude, bele'a e inoc"ncian+o far+o mais do que excitar a compaix+o, em ve' do terror = Aen(ormesmo estremeceria ao pronunciar a sua senten*a Aeria perigoso, em umdia em que a plebe andará agitada, quando os seus carros com sentenciadospodem ser detidos, expor a )uventude, a inoc"ncia e a bele'a K piedade e Kcoragem de uma multid+o amotinada

8umas levantou a cabe*a, mas n+o pIde resistir ao ol(ar, doestrangeiro

- M+o nego, cidad+o, que (á ra'+o no que di'G porém as min(asordens s+o terminantes

- @erminantes somente quanto ao n5mero das v<timas 3orém, eu l(eofere*o um substituto pela dita mul(er ?u l(e darei, em troca, a cabe*a deum (omem que sabe tudo o que di' respeito K conspira*+o que ora amea*aCobespierre e a si mesmo ?sta cabe*a vale para si até mais do que oitentavidas ordinárias

- !sto é coisa diferente, - disse 8umas, avidamenteG pode se fa'er o

que acaba de di'er, suspenderei, sob a min(a pr0pria responsabilidade, o )ulgamento da !taliana Quem é o substituto

- @ende-o diante de si

- = Aen(or - exclamou 8umas, e um temor que n+o podia reprimirrevelava a sua surpresa

- ? vem a mim, s0, e de noite, para entregar-se K 4usti*a 7( !stoé uma armadil(a @reme, louco ?stá em meu poder, e posso fa'er perecerambos

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- H verdade, - disse o descon(ecido, com calmo e desden(ososorriso, - porém a min(a vida l(e seria in5til sem as min(as revela*6esAente-se, eu te ordeno, escute-me

? a lu' daqueles intrépidos ol(os impressionou o )ui' tanto, que,

aterrori'ado e como fascinado, obedeceu = descon(ecido continuou F

- = sen(or me transportará K pris+o, fixará o meu )ulgamento, sob onome de Zanoni, na leva de aman(+ Ae as min(as revela*6es n+o l(esatisfi'erem, tem como refém a mul(er pela qual morro M+o l(e pe*o sen+oque suspenda o seu )ulgamento por um s0 dia Mo dia depois da aman(+, euterei deixado de existir, e poderei fa'er cair a sua vingan*a na vida delaDomo 4ui' e condenador de mil(ares (esita 3ensa que o (omem que seentrega voluntariamente K noite poderá ser intimidado para que, no seutribunal, pronuncie uma silaba contra a sua vontade M+o tem aindasuficientes provas da inflexibilidade do orgul(o e da coragem 3residente,

aqui tem o tinteiro e o papel ?screva ao carcereiro que se suspenda por umdia o castigo da mul(er, cu)a vida nada l(e pode servir, e eu levarei a ordemda min(a pris+o Aim, levá-la-ei eu, que K conta do que l(e posso comunicar,l(e digo, )ui', que o seu nome está também escrito em uma lista de morte ?ucon(e*o a m+o que escreveu esse nomeG eu sei em que parte da cidadeamea*a o perigoG posso di'er-l(e de que nuvem, nesta carregada atmosfera,pende a tempestade que se desencadeará sobre o Cobespierre o seu criado

8umas empalideceuG e os seus ol(os em v+o se esfor*avam paraescapar ao magnético ol(ar que o dominava

9ecanicamente, e como impelido por uma vontade que n+o era asua, o )ui' escreveu o que o descon(ecido l(e ditou

-Bem - disse 8umas, ao concluir, com um for*ado sorriso

- ?u l(e prometi que serviriaG )á v" que cumpria palavra Aupon(o queé um desses loucos sensitivos, desses que professam a virtude anti-revolucionária, dos quais vi comparecer n+o poucos perante o meu tribunal!rra ?nfastia-me ver essas pessoas que fa'em alarde da sua falta decivismo, e perecem para salvar algum mau patriota, porque é seu fil(o, ou pai,

ou sua mul(er, ou fil(a- ?u sou um desses loucos sensitivos, - disse o descon(ecido,

levantando-se

- 7divin(aste-o

- ? em troca do servi*o que l(e fa*o, n+o fará esta noite asrevela*6es que guarda para aman(+ >en(aG diga-o, e talve' receba, - e amul(er também - o perd+o, em ve' da suspens+o da sua senten*a

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- M+o falarei sen+o diante do seu tribunal Mem quero enganá-lo,presidente 3ode ser que a min(a revela*+o n+o l(e se)a de utilidade algumaGe que, enquanto eu mostre a nuvem, o raio )á este)a caindo

- =ra 3rofeta tem cuidado de si mesmo >ai, louco, retire-se

Don(e*o demasiado a costumas obstina*+o da classe, K qual suspeito quepertence, para perder mais tempo com palavras 8iabo 3orém, voc"s est+ot+o acostumados a ver a morte, que até esquecem o respeito que se l(edeve 3osto que me oferece a sua cabe*a, eu a aceito 7man(+ talve' searrependaG será, porém, demasiado tarde

- Aim demasiado tarde, presidente - respondeu o calmo visitante-3orém, lembre-se que n+o l(e prometo que essa mul(er será perdoada, masapenas que a sua senten*a será adiada por um dia Donforme me satisfi'eraman(+, viverá ou morrerá Aou franco, cidad+oG a sua sombra n+o terá queme aparecer por falta de cumprimento da min(a palavra

- A0 l(e pedi um dia de dila*+oG o resto deixo K 4usti*a e ao céu =sseus beleguins SOT esperam lá fora

SOT Beleguim Empregado inferior da Justiça que citava, prendia etc. Agente policial ou judicial.

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CAPÍTULO XVI 

:Pnd den 9ordsta(l se(ic( blinEenGPnd das 9rderange glR(n ;

assandra

:? ve)o relu'ir o a*o assassino, e arder o ol(o do (omicida ;

>iola estava em um cárcere que n+o se abria sen+o para os que )áeram sentenciados antes de serem )ulgados

8esde que se separara de Zanoni, parecia que o seu intelecto se(avia paralisado

@oda aquela formosa exuberância de imagina*+o que, se n+o era o

fruto do g"nio, assemel(ava-se, ao menos, K sua floresc"nciaG todo aquelecaudal de esquisitas idéias que, como Zanoni l(e dissera, emanavam commistérios e sutile'as, novos até para ele, o (omem sábio, tudo aquilo (aviadesaparecido, estava aniquiladoG as flores murc(avam, a fonte estava seca

8a altura quase superior K que uma mul(er pode alcan*ar, pareciacair em um plano mais baixo do que o da infância

 7s inspira*6es (aviam cessado desde o instante em que faltara oinspiradorG e, desertando ao amor, perdeu também o contato do g"nio

>iola nem compreendia bem porque fora assim arrebatada da suacasa e do mecanismo das rudes pessoas compassivas que atra<das por suaadmirável bele'a, a rodeavam na pris+o, contemplando-a com ol(ar triste,mas com palavras de consolo

?la, que até ent+o (avia aborrecido os que a Lei condena por crime,admirava-se de ouvir que Aeres t+o compassivos e ternos, com frontesserenas e erguidas, com fisionomias agradáveis e gentis, fossem criminosos,para quem a Lei n+o tin(a outro castigo mais benigno do que a morte

3orém, os selvagens, de semblante sinistro e amea*ador, que a

(aviam tirado da sua morada, que (aviam intentado arrancar-l(e o fil(o dosseus bra*os e que se riam e burlavam do seu mudo desespero, esses eramos cidad+os escol(idos, os (omens virtuosos, os favoritos do poder, osministros da Lei

@ais s+o os seus negros capric(os, 0 4u<'o umano, semprealternável e calunioso

=s cárceres daqueles dias contin(am, uma multid+o de genteesquálida, porém alegre 7li, como na sepultura que as aguardava, todas asclasses sociais se encontravam mescladas, com vis<vel desdém

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?, sem embargo, ainda ali reinava o respeito que nasce das grandesemo*6es e da primeira, imorredoura, a mais amável e a mais nobre Lei nanature'a, que é a desigualdade entre (omem e (omem 7li, os presos,fossem realistas ou :sans-culottes;, davam lugar K idade, K intelig"ncia, Kfama, K bele'a e a for*a, com sua inata fidalguia, se pun(a ao servi*o dos

desamparados e dos fracos

=s nervos de ferro e os bra*os de ércules abriam passo para amul(er e a crian*aG e as gra*as da (umanidade, expulsas de todas as outraspartes, ac(avam seu ref5gio na mans+o do terror

- ? porque a trouxeram aqui, min(a fil(a - perguntou K >iola umvel(o sacerdote, de cabelos brancos

- M+o o seiG respondeu ela

- 7( !gnora o seu delito, tanto pior

- ? o meu fil(o - perguntou >iolaG pois a crian*a ainda dormia emseus bra*os

- 7( 3obre e )ovem m+e ?les o deixar+o viver

- ? para isto, - para vir a ser 0rf+o e estar na pris+o - murmurou aconsci"ncia acusadora de >iola, - para isso reservei o seu rebento, Zanoni =( Mem em pensamento me pergunte o que ten(o feito do seu fil(o que deti arrebatei

>eio a noiteG os presos se precipitaram para a grade, para ouvirem alista dos sentenciados, que, na linguagem escarnecedora de ent+o, sec(amava :7 Ja'eta da @arde;

= nome de >iola estava entre os condenados K guil(otina

? o vel(o sacerdote, mel(or preparado para morrer, porém ao qualn+o (avia ainda c(egado a sua (ora, pIs as m+os sobre a cabe*a da infeli',e deu-l(e ben*+o, mesclada com lágrimas

>iola ouviu, pasmada, porém sem c(orarDom os ol(os abaixadosG com os bra*os cru'ados sobre o peito,

inclinou, submissa, a cabe*a

Meste momento, pronunciaram outro nome da listaG e um (omem, que(avia aberto o passo, a viva for*a, até aquele lugar, para ver ou para escutar,lan*ou um uivo de desespero e raiva

>iola virou a cabe*a, e os seus ol(os se encontraram com os desse(omem

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 7pesar do tempo que (avia transcorrido, a pobre mul(er recon(eceuo asqueroso semblante de Micot, sobre o qual apareceu um sorriso diab0lico

- 7o menos, formosa !taliana - exclamou o pintor, - nos unirá aguil(otina =( 8ormiremos bem a nossa noite nupcial

? soltando uma gargal(ada, retirou-se, por entre a multid+o para asua cama

>iola foi levada para a sua l5gubre celaG ali ficaria até a man(+seguinte

aviam-l(e deixado ainda o fil(oG e ela, ol(ando o semblante dacrian*a, tin(a um sentimento que l(e di'ia que o pequeno sabia qu+o terr<velera a condi*+o em que se ac(avam

Mo tra)eto da sua casa K pris+o, a crian*a n+o (avia gemido nemc(oradoG (avia ol(ado, com seus ol(os claros e firmes, os relu'entes piques eas sinistras caras dos esbirros

? agora, no calabou*o, abra*ava meigamente o pesco*o da m+e,murmurando sons indistintos, em vo' baixa e suave, como uma linguagem,descon(ecida de consolo, provinda do céu

?, efetivamente, vin(a do céu essa linguagem, pois ao ouvir o docemurm5rio, o terror se desvaneceu do cora*+o da m+eG e a vo' querubim,falando por meio desse murm5rio, lembrava-l(e que elevasse o cora*+o Ksalturas, onde os feli'es serafins cantam a miseric0rdia do !nfinito 7mor

>iola a)oel(ou-se e orou

=s despo)adores de tudo o que embele'a e santifica a vida, (aviamprofanado o altar e negado a exist"ncia de 8eusG e deixavam as suas v<timas,na 5ltima (ora, sem um sacerdote, sem um livro sagrado e sem um crucifixo

9as a 2é sabe edificar, no calabou*o e no la'areto, os seus sacráriosmais sublimesG e, por entre os tetos de pedra, que cerram aos ol(os a vista do

Déu, se eleva a escada por onde sobem e descem os an)os, a escada,formada pela prece

?m outra cela, cont<gua K sua, está o ateu Micot, sentado e est0lidono meio da obscuridade, acariciando a idéia de 8anton, de que a morte é onada

?ste (omem n+o apresenta o aspecto de uma consci"nciaatemori'ada e perturbada

= remorso é o eco de uma virtude perdida, e ele n+o (avia con(ecido

nunca a virtude

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Ae continuasse a viver, viveria da mesma forma como até ent+o

3orém, muito, mais terr<vel do que o leito de morte de um crente edesesperado pecador é essa escura apatia, essa contempla*+o do verme edo rato que roem o cadáverG esse terr<vel e pesado Mada que, K sua vista, cai

como uma mortal(a sobre o universo da vida

2ixando a sua vista no espa*o, e mordendo os lábios l<vidos, Micotcontempla a escurid+o, convencido de que ela durará eternamente

 7bri passo 7bri passo 7inda (á lugar para uma nova v<tima queentra na casa da morte

Quando o carcereiro, com a lâmpada na m+o introdu'iu nessa casa oestrangeiro, este l(e tocou o bra*o e disse-l(e algumas palavras ao ouvidoG e,em seguida, tirou um anel muito precioso que tin(a em um dos dedos

 7rre Domo bril(a o diamante aos raios da lâmpada

 7valia cada uma das oitenta cabe*as que devem cair, em mil francos,e a )0ia vale ainda mais do que esse total

= carcereiro se deteve, e o diamante ria-se nos seus deslumbradosol(os

=lá, Dérbero, tu, insens<vel a qualquer sentimento (umano

M+o deixe, no desempen(o do seu cruel emprego, dominar nem pelacompaix+o, nem pelo amor, nem pelo remorso 9as a 7vare'a sobrevive atodo o resto, e esta serpente, tornando-se sen(ora do seu cora*+o, devoratodas as mais caras afei*6es 7( 7( 7stuto estrangeiro venceu

=s dois seguem andando pelo tenebroso corredor, até c(egaremdiante da porta, onde o carcereiro (avia fixado a marca fatal, que deve serretirada agora, porque a pessoa que está presa lá dentro deve viver um diamais

 7 c(ave penetra na fec(aduraG a porta se abre, o estrangeiro toma emsua m+o a lâmpada e entra

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CAPÍTULO XVII 

:Dosi vince Joffredo ;

Jerus Liber, canto XX, %%

:7ssim venceu Jodofredo ;

>iola estava re'ando ainda e submersa nos seus pensamentosG nemouviu abrir a porta, nem viu a negra sombra que se pro)etava no assoal(o

= poder e a arte com que ele a protegia (aviam desaparecido, porémo mistério e os encantos que con(ecia o puro cora*+o dela, n+o aabandonavam nas (oras de prova*+o e desespero

Quando a ci"ncia cai como um meteoro do céu que queria invadirGquando o g"nio murc(a como uma flor sob o alento do gelado cadáver, aesperan*a da alma infantil envolve o ar em lu', e a inoc"ncia de umainquestionável cren*a cobre de flores a tumba

>iola estava a)oel(ada no mais afastado canto da cela e a crian*a,como se quisesse imitar o que n+o compreendia, dobrava os seus tenros )oel(os e, com semblante rison(o, se a)oel(ava também ao lado da sua m+e

Zanoni, em pé os contemplava K lu' da lâmpada, cu)o débil bril(o caiacalmamente sobre as suas formas

Daia sobre as nuvens dos dourados cabelos que, desgren(ados edeitados para trás, deixavam ver a sua cândida fronteG os seus negros ol(os,cobertos de lágrimas, elevavam-se ao alto, bril(ando como se neles serefletisse uma lu' divinaG as suas m+os cru'adas, os seus lábios entreabertose toda a sua pessoa animada e santificada pela triste serenidade da inoc"nciae a comovente (umildade de mul(er

? Zanoni ouvia a sua vo', apesar de que os lábios apenas semoviamG a vo' baixa que vem do cora*+o, suficientemente alta para ser

ouvida por 8eus

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- ? se nunca mais devo v"-lo, 0 3ai - di'ia >iola, - n+o pode fa'ercom que o amor, que nunca morrerá, guie, de além do t5mulo, os seuspassos nesta vida terrestre M+o pode permitir também que, como umesp<rito vivente, eu paire por sobre ele, como um esp<rito mais belo do quetodos os que a sua ci"ncia sabe con)urar =( Qualquer que se)a o destino

reservado a n0s ambos, permita 0 Aen(or Que, embora mil Aéculos (a)amde transcorrer entre um e o outro de n0s, permita que, por fim, purificados eregenerados, e dignos de go'ar o encanto de tal uni+o, possamos ver-nosnovamente ? quanto ao seu fil(o que, a)oel(ado aqui, sobre o assoal(odeste calabou*o, a ti, 0 3ai Delestial, parece se dirigir, qual é o peito sobre oqual poderá dormir aman(+ Quais as m+os que o alimentar+o Quais oslábios que re'ar+o por sua felicidade na terra e pela sua alma no além ? ossolu*os afogaram a vo' da angustiada m+e

- =s seus, >iola, os seus - exclamou Zanoni - = (omem que voc"abandonou está aqui para conservar a m+e ao fil(o

>iola se sobressaltou, ao ouvir aquela palavra, ditas com acentotr"mulo como tr"mula era também a vo' delaG e pIs-se de pé

=( ?le estava ali, com todo o bril(e da sua imorredoura )uventude eda sua sobre-(umana bele'a

 7li estava, na (abita*+o da morte e na (ora da agonia 7li estava ele,imagem e personifica*+o do amor que pode atravessar o >ale da Aombra, epode, o impávido peregrino que vem do céu, desli'ar-se pelos abismos doinferno

Dom um grito, talve' ouvido naquela triste caverna, com um grito dedel<cia e arrebatamento, >iola correu a prostrar-se aos pés de Zanoni

?le se inclinou para levantá-laG porém, ela escapava-se dos seusbra*os ?m v+o o terno esposo a c(amava pelos ep<tetos familiares dos diasdo seu ardente amorG >iola somente l(e respondia com seus solu*os8elirante e apaixonada bei)ava-l(e as m+os e a orla das suas vestesG a suavo' parecia ter-se extinguido

- =l(a, >iola, ol(a-me ?stou aqui, estou aqui, para salvá-la M+oquer que eu contemple a sua bela face Druel Quer fugir de mim ainda

- 2ugir de ti - disse, afinal, >iola, com vo' entrecortada

- =( Ae meus pensamentos o ofenderam, se o meu son(o, aquelemeu terr<vel son(o, me enganou, a)oel(e-se a meu lado e re'e pelo nossofil(o

?, levantando-se repentinamente, foi correndo buscar o fil(o, e,pondo-o nos bra*os de Zanoni, disse, solu*ando, e em tom deprecante e

(umilde F

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- M+o o abandonei por mim, n+o por mim, mas- Basta -interrompeu Zanoni G - con(e*o todos os pensamentos que os seus sentidos,confusos e postos em luta, mal podem avaliar ? ve)a como, com um ol(ar, aele responde o seu fil(o

?, com efeito, o semblante daquela extraordinária crian*a pareciaradiante, no meio da sua silenciosa e insondável alegria

Domo se recon(ecesse seu pai, abra*ou-o, pendurando-se aopesco*o, e nesta posi*+o volvia seus claros e bril(antes ol(os para >iola, esorria

- Que eu re'e por meu fil(o - disse Zanoni, tristemente- =spensamentos das almas que aspiram, como a min(a, aos ideais divinos, s+ocont<nua prece ?, sentando-se ao lado da sua esposa, Zanoni come*ou arevelar-l(e alguns dos santos segredos da sua elevada exist"ncia 2alou-l(e

da sublime e intensa fé, por meio da qual s0 se pode c(egar K ci"ncia divina,da fé que, vendo o imortal por todas as partes, purifica e leva o mortal que ocontemplaG falou-l(e da gloriosa ambi*+o que n+o tem por seu ob)eto asintrigas e os crimes da terra, mas ocupa-se com as solenes maravil(as quefalam n+o dos (omens, mas sim de 8eusG daquele poder de abstrair a almado p0 terrestre, poder que dá K vista da alma a sua sutil vis+o, e Ks asas, oespa*o sem limitesG daquela pura, serena e intrépida !nicia*+o, da qual amente emerge, como se fosse da morte, as claras percep*6es do seuparentesco com os 3rinc<pios 3aternos de vida e lu', de modo que, na suapr0pria sensa*+o do Belo, ac(a a sua alegriaG na serenidade da sua vontade,o seu poderG na sua simpatia com a )uventude da !nfinita Dria*+o, da qual éess"ncia e parte, os segredos que embalsamam o corpo de barro, quesantifica e renova a for*a da vida com a ambr0sia do sono misterioso ecelestial

? enquanto Zanoni falava, >iola o escutava, quase sem respirarG eainda que n+o pudesse compreender, n+o se atrevia mais a desconfiar ?lasentia, que, naquele entusiasmo, fosse produ'ido por engano pr0prio ou n+o,n+o podia mesclar-se nen(uma obra do demInioG e mais por uma espécie deintui*+o do que por um esfor*o da ra'+o, viu diante de si como um estreladooceano, a profundidade e a misteriosa bele'a da alma que os seus temores

(aviam ofendido Dontudo, quando o esposo, concluindo as suas estran(asconfiss6es, disse que (avia son(ado elevá-la também a essa vida interior esuperior, apoderou-se dela o medo que escravi'a a (umanidade, e Zanoni leuno sil"ncio dela como teria sido irreali'ável esse son(o, apesar de toda a suaci"ncia

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 7gora, porém, quando ele cessou de falar, >iola, apoiando suacabe*a no peito do esposo, sentiu o contato dos bra*os protetores, quandoum santo bei)o ac(ou o perd+o do passado e o esquecimento do presente,despertaram-se no seu cora*+o as doces e ardentes esperan*as da vidanormal e da mul(er que ama Zanoni (avia vindo para salvá-la >iola n+o

perguntou como isto era poss<vel, acreditou-l(e sem formular perguntaalguma 2inalmente, tornariam a viver )untosG ausentar-se-ia para longedessas cenas de viol"ncia e sangue >oltariam K feli' il(a irInica, para aliviver em seguran*a, na sua retirada mans+o >iola ria com alegria infantil,quando este quadro sedutor se apresentou K sua vista, ali, na lIbrega pris+o

 7 sua mente, fiel aos seus doces e simples instintos, recusou-se areceber as elevadas imagens que confusamente se l(e apresentavam, efixou-se em suas antigas vis6es, embora mais ideali'adas, da felicidadeterrestre e de um tranqRilo lar

- M+o me fale, agora, mais do passado, meu querido - di'ia ela -?stá aquiG salva-meG ainda seremos feli'es, vivendo unidos para sempreG enessa vida de nossa doce uni+o (á suficiente felicidade e gl0ria para mim 7travesse voc", quanto quiser, no orgul(o da sua alma, o universoG o seucora*+o é o universo para o meu 7té a poucos instantes, eu estavapreparada para morrerG mas ao v"-lo e ao tocá-lo, outra ve', sinto qu+o bela egrata é a vida =l(e através da grade, e verá como as estrelas come*am aapagar-se no céuG o dia se aproxima, o dia que nos abrirá as portas dapris+o >oc" me disse que pode salvar-meG e eu n+o o duvido =( 2u)amosdas cidades Maquela il(a ditosa, nunca duvidei de tiG lá n+o me assaltavamoutros son(os a n+o ser os de alegria e bele'aG e quando, ao despertar-me,contemplava os seus ol(os, ac(ava o mundo ainda mais belo e mais alegre 7man(+ 3orque n+o sorri 7man(+, meu amor M+o ac(a aben*oada estapalavra F aman(+ Druel Quer castigar-me ainda 3or isso, n+o toma parteem min(a alegria 7( =l(a o nosso fil(o, ol(a como ele se ri >ou di'er-l(e oque me alegra 2il(o meu, o seu pai está aqui

? tomando a crian*a nos bra*os, sentou-se a pequena distância deZanoni e pIs-se a embalar o pequenino, apertando-o ao peito, acariciando-ocom ternura e bei)ando-o a cada palavra

 7 ditosa m+e c(orava e ria ao mesmo tempo, quando, apartando avista do fil(o, ol(ava extasiada o pai, ao qual o curso das estrelas, queapagava a sua lu', dava o 5ltimo adeus

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Qu+o bela parecia >iola, sentada daquela maneira, sem suspeitar oseu triste porvir Quase crian*a ainda ela mesma, e o seu fil(o respondendocom riso ao riso dela, eram como dois inocentes brincando K borda dot5mulo Dada ve' que >iola se inclinava sobre o fil(o, a sua abundantecabeleira caia-l(e pelo pesco*o, como uma nuvem de ouro, e cobria o seu

tesouro, como um véu de lu'G e o fil(in(o com as lindas m+o'in(as, apartandode ve' em quando esse bril(ante manto, sorria K m+e através das suastran*as e depois escondia o rosto entre elas, para descobri-lo sorrindo, ummomento depois @eria sido cruel anuviar essa alegriaG porém, muito maiscruel ainda era ter que presenciá-la- >iola, - disse por fim, Zanoni, - lembre-se que, estando, em uma noite, sentados K lu' da Lua, diante da caverna, napraia da nossa il(a nupcial, queria que l(e desse este amuleto =b)eto deuma supersti*+o, )á (á muito tempo desaparecida do mundo, como tambémdesapareceu o credo a que essa supersti*+o pertencia H a 5ltima rel<quia damin(a terra natal, e foi a min(a m+e quem, no seu leito de morte, a pIs aopesco*o ?u l(e disse, naquela ocasi+o, lá na praia, que l(e daria este

amuleto, em um dia, quando as Leis da nossa exist"ncia fossem as mesmas-Lembro-me bem- 3ois sabe que aman(+ será seu o amuleto - 7( =precioso dia de aman(+ - exclamou >iola

?, deitando ao lado, com cuidado e ternura, o fil(o, que estava, agora,dormindo, abra*ou o esposo e apontou-l(e com o dedo a lu' da aurora quecome*ava a aparecer no firmamento

 7li, entre aquelas l5gubres paredes, o astro matutino bril(ava porentre as barras da grade sobre aqueles tr"s seres, nos quais estavaconcentrado tudo o que os la*os (umanos podem oferecer de mais misteriosoe encantadorG tudo o que (á de mais misterioso nas combina*6es da mente(umanaG a !noc"ncia entregue ao sonoG a 7fei*+o confiante que, contentando-se com um ol(ar e um contato, n+o prev" as mágoasG e a fatigada Di"nciaque, depois de penetrar todos os segredos da Dria*+o, vem, por fim, ac(ar na9orte a solu*+o desses segredos, e aproximando-se )á da tumba, ainda seabra*a com o 7mor 7ssim, lá dentro viam-se as tristes paredes de umcalabou*oG e, no exterior, c(eio de mercados e sal6es, palácios e @emplos,reinava a >ingan*a e o @error, for)ando negros pro)etos e contra-pro)etosG deum lado para outro, flutuando sobre a crescente maré das agitadas paix6es,oscilavam os destinos dos (omens e das Ma*6esG e a estrela da alva,

desvanecendo Ae no espa*o, ol(ava com ol(o imparcial a torre da igre)a e aguil(otina

Cadiante, come*a a aparecer a lu' do diaLá, nos )ardins, as aves renovam seus cantos favoritos=s peixes saltam brincando nas frescas águas do rio Aena

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 7 alegria da divina nature'a e o buli*oso e discordante ru<do da vidamortal, novamente despertam F o comerciante abre as suas )anelasG asmo*as, ornadas de flores, dirigem-se para as suas lidesG operários correm,com passes ligeiros, aos trabal(os diários nas oficinas, que as revolu*6es,derribando os reis e os imperadores, deixam, como (eran*a de Daim, aos

pobres e r5sticosG os carros gemem debaixo do peso das mercadoriasG atirania sobressaltada madruga e se levanta com o rosto pálidoG aDonspira*+o, que n+o dormiu, escuta atenta o rel0gio murmurando nocora*+o F :7proxima-se a (ora;

Mas avenidas do sal+o da Donven*+o v+o- se formando grupos, emcu)os semblantes se v" pintada a ansiedadeG (o)e se decide a soberania da2ran*a Mos arredores do @ribunal, nota-se o ru<do e movimento do costumeM+o importa o que o 2ado está preparandoG neste dia cair+o oitenta cabe*as

>iola dormia profundamente 2atigada de alegria, e segura na

presen*a dos ol(os que para ela voltaram, (avia rido e c(orado de pra'er, atéadormecerG e parecia que até no seu sono a acompan(ava a feli' convic*+ode que o amado esposo estava a seu lado que ac(ara tudo o que, com suafuga, (avia perdido >iola sorria e falava consigo mesma, pronunciando comfreqR"ncia o nome de Zanoni, estendia seus bra*os e suspirava quando n+o otocavam 8if<cil seria expressar as emo*6es que experimentava Zanoni, que,estando em pé a seu lado, a contemplava M+o a veria despertar mais

>iola n+o sabia qu+o caramente ele comprara a seguran*a daquelesono 7 man(+, pela qual ela tanto anelara, (avia c(egado finalmente Domosaudaria >iola a tarde =s seus ol(os se (aviam fec(ado no meio das maisrison(as esperan*as com que a )uventude e o amor contemplam o futuro

?stas esperan*as coloriam ainda agradavelmente os seus son(os?la despertaria para viver 7man(+ cairia o Ceinado do @errorG as portas dapris+o se abririam, ela sairia deste calabou*o, para correr, com o fil(o nosbra*os, ao mundo da lu' de ver+o ? ele ?le virou a cabe*a, e o seu ol(arcaiu sobre o fil(o, que estava acordado e o ol(ava com os ol(os claros, sériose pensativos Zanoni inclinou-se sobre ele e bei)ou-l(e nos lábios

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- Munca mais, - murmurou, - 0 (erdeiro do amor e da desgra*a, -nunca mais tornará a ver-me em suas vis6es nunca mais a lu' desses ol(osserá alimentada por uma celestial comunica*+oG nunca mais a min(a almapoderá, velando )unto de si, preservá-lo dos desgostos e da enfermidade =seu destino n+o será tal qual eu, em v+o, dese)ava esbo*ar-l(e Donfundido

com os demais da sua ra*a, terá que sofrer, lutar e errar Ae)am, porém,brandas as prova*6es que o aguardam, e o seu esp<rito se)a forte para amare crer ? assim, como eu agora, o contemplo, assim possa a min(a nature'atransladar, por m<stico sopro, K sua o seu 5ltimo e mais intenso dese)oG quepasse para tio amor que sinto por sua m+e, e queira 8eus que ela possa, nosseus ol(ares, ouvir como o meu esp<rito a anima e consola 7( 4á v"m vindo Aim 7deus ?u aguardo a ambos no outro lado da tumba 7 porta abriu-selentamenteG o carcereiro apareceu no umbral, e, no mesmo instante, penetroupela abertura um raio de lu' que caiu sobre o semblante da feli' e belaadormecida, e passou, como brincando, aos lábios do pequerruc(o, queainda, mudo e com ol(ar fixo, seguia todos os movimentos do pai

Meste instante, >iola, son(ando, murmurou F :4á é dia 7o mar 7omar =l(a como os raios do Aol brincam sobre as águas :>amos para anossa a casa, meu querido, vamos para a nossa casa

- Didad+o, c(egou a sua (ora - disse o carcereiro- Ail"ncio ?ladorme Pm momento, e estou pronto Jra*as K 8eus, ela dorme ainda

Zanoni n+o quis bei)á-la, temendo despertá-laG porém, pIs-l(edelicadamente ao pesco*o o amuleto que l(e transmitiria, depois, o seu adeusde despedida, e, ao mesmo, tempo, a promessa de que novamente seuniriam Zanoni dirigiu-se para a porta, e da< voltou-se uma e outra ve' 7porta se fec(ouG Zanoni se foi para sempre

>iola despertou depois de algum tempo e, ol(ando ao redor de si,disse F - Zanoni, )á é dia M+o recebeu outra resposta sen+o o fraco gemidodo seu fil(o Y 8eus misericordioso 2oi apenas um son(o tudo aquilo 7desconsolada esposa, deitando para trás as compridas tran*as que l(ecobriam a vista, sentiu ao pesco*o o amuleto M+o M+o era son(o - Y8eus ?xclamou - ? ele se foi ?, correndo para a porta, pIs-se a gritar, atéque veio o carcereiro- 9eu esposo, o pai do meu fil(o - perguntou a infeli'-

3recedeu-a mul(er - foi a resposta - 7onde 2ala 8i'e-me - guil(otina ?a negra porta cerrou-se outra ve'

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>iola caiu desmaiada ao c(+o Dom a velocidade do raio, seapresentaram K sua mente as palavras de Zanoni, a sua triste'a, o verdadeirosignificado do seu m<stico presente e o sacrif<cio que fa'ia por elaDompreendeu tudo naquele terr<vel momento ?, depois, a sua mente seobscureceu como se obscurece o (ori'onte K aproxima*+o da tempestadeG

mas aquela obscuridade tin(a também sua lu' ? enquanto permaneciasentada no assoal(o do calabou*o, muda, r<gida e como se estivessepetrificada, uma vis+o pIs diante da sua vista interna, como a rápidadecora*+o de um teatro, a l5gubre sala do @ribunal, o )ui', os )urados e oacusadorG e, no meio das v<timas, se distinguia a altiva e radiante forma deZanoni

- 7cusado, con(ece o perigo que amea*a o ?stadoG confesse - Aim,con(e*o-oG e vou cumprir a min(a promessa 4ui', eu l(e revelo a suasenten*a ?u sei que a 7narquia, a que dás o nome de ?stado, expirará (o)eao pIr do Aol ?scute o ru<do e os murm5rios amea*adores nas ruas 7bri

passo, 0 mortos 8ai lugar no !nferno para Cobespierre e a sua grei @udo édesordem e confus+o no @ribunalG pálidos mensageiros v"m correndoG osverdugos come*am a ter medo- 2ora com o conspirador ? aman(+ morreráa mul(er que voc" quis salvar - 7man(+, presidente, o a*o cairá sobre ti =comboio da morte marc(ava lentamente pelas ruas, por entre a apin(ada eruidosa multid+o 7( 3ovo valente 3or fim despertou M+o morrer+o ossentenciados = trono da 9orte ruiu por terra Cobespierre caiu = povocorre a salvá-los ?m um dos carros, ao lado de Zanoni, gritava e gesticulavaa feia figura (umana que, em seus son(os proféticos, o m<stico (avia vistocomo seu compan(eiro no lugar da morte Aalve-nos Aalve-nos - uivava oateu Micot - 7vante, bravo povo avemos de ser salvos

?, por entre a multid+o, com seus negros cabelos voando nos ares, ecom os ol(os lan*ando fogo, abriu passo uma mul(er, em cu)o semblante sevia pintado o desespero- 9eu Dlar"ncio - gritou ela, no suave idioma!taliano- >erdugo Que fe' voc" do meu Dlar"ncio =s seus ol(os correramcom ansiedade pelas caras dos presosG e a mul(er, n+o vendo entre elas oque buscava, exclamou F - Jra*as K 8eus Jra*as K 8eus M+o sou suaassassina

= populac(o se agrupa mais e mais, ainda um momento e o verdugo

ficará sem as suas v<timas Y Zanoni 3orque se v", em sua fronte, a friaresigna*+o que n+o fala de esperan*a @ram @ram 7s tropas armadasenc(em as ruas 2iel Ks suas ordens, o fero' enriot as condu' @ram @ram Lan*am-se sobre a multid+o que se acovarda e dispersa 7qui, fogem unsem desordem, ali, ca<dos, outros s+o pisados pelos cavalos e lan*am gritosde desespero ?, no meio deles, ferida pelas espadas dos soldados, e comseus compridos cabelos empapado de sangue, )a' a !talianaG os seus lábiosse torcem convulsivamente, mas ainda se nota neles alegria, quandomurmuram F Dlar"ncio M+o o destru<

= comboio c(ega K :Barreira do @rono; onde se estende, no ar, o

gigantesco instrumento de assassino

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= cutelo se levanta e torna a cair uma ve', e outra, e outra, e maisoutra Jra*as Jra*as @+o ligeiro se passa pela ponte que da lu' do Aolcondu' Ks trevas 7 passagem é t+o curta como um suspiro 7( 7gora veioa sua ve' - :M+o morra ainda M+o me deixe =uve-me =uve-me ; - gritoua inspirada vidente - :Domo ? sorri ainda ;Aim, aqueles pálidos lábios

sorriam ainda e, ao extinguir-se aquele sorriso, pareceu se desvanecer ocadafalso, o (orror e o verdugo Dom aquele sorriso, pareceu que todo oespa*o foi inundado de uma bril(ante lu' eterna >iola viu, como a forma doseu amado se elevou acima da terra, e pairou sobre elaG n+o era formamaterial, era uma idéia de alegria e lu' ?, detrás, abriu-se o Déu e, nele,regi+o atrás de regi+oG e, ao longe, viam-se grupos sobre grupos, numerososseres de incomparável bele'a

:Ae)a bem vindo ; - cantavam mil(ares de melodiosos coros dos(abitantes dos Déus - Ae)a bem vindo, 0 ser purificado pelo sacrif<cio, que setornou imortal somente pela morte !sto é morrer ; ?, radiante entre osradiantes, a !magem estendeu os bra*os, e murmurou K extasiada vidente F -

:Dompan(eira da ?ternidade !sto é morrer ; 

- 7( Que é que significam esses sinais que nos fa'em do alto dascasas 3or que as multid6es se precipitam para as ruas 3or que tocam ossinos =uvi os tiros dos can(6es = c(oque das armas Damaradas presos,lu'irá enfim, esperan*a para n0s

 7ssim falam os presos uns aos outros = dia se vai, a noite seaproximava ?les permanecem ainda com os seus pálidos rostos encostadosKs grades, e ainda v"em que se l(es dirigem das )anelas e do alto das casassorrisos de amigos, e que se l(es acena

- urra( urra( - di'em finalmente - Cobespierre caiu = Ceinadodo @error se acabou 8eus nos permitiu viver

AimG diri)amos um ol(ar K sala onde o tirano e o seu conclaveescutavam a tempestade que rugia nas ruas Dumprindo a profecia de8umas, enriot, ébrio de sangue e de álcool, entra cambaleando, na sala, elan*ando o seu ensangRentado sabre ao assoal(o, exclama F

- @udo está perdido - 9iserável 7 sua covardia nos destruiu - gritou o fero' Dofin(al,

lan*ando o cobarde pela )anela

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= inflex<vel Aaint-4ust permaneceu calmo como o desesperoG oparal<tico Dout(on, arrastando-se como uma serpente, esconde-se debaixoda mesa =uve-se um tiro F Cobespierre quis suicidar-seG porém, a m+otr"mula errou o tiro, e n+o conseguiu pIr fim K sua vida = rel0gio do :otelde >ille; marca as tr"s (oras 7 multid+o derriba a porta, e, invadindo os

sombrios corredores, c(ega K sala da 9orte 8esfigurado pelo tiro, l<vido,c(eio de sangue, mudo, porém consciente de si, senta-se ainda no seuelevado lugar o altivo c(efe dos assassinos 7 multid+o o rodeia, o insulta,roga-l(e pragas, e as suas faces de ira K lu' das toc(as que se agitam

? ali está ele, n+o como bril(ante 9ago, mas o verdadeiro feiticeiro ?, em suas 5ltimas (oras, o tirano v" reunidos a seu redor todos os inimigosque criou

 7rrastam-no para fora da sala 7bra as suas portas inexorável pris+o,receba a sua presa 9aximiliano Cobespierre n+o pronunciou nunca mais

uma palavra na terra

8eixe sair Ks ruas os seus mil(ares e de'enas de mil(ares de(abitantes, emancipadas 3aris = carro da morte do Cei do @error rola para a:3ra*a da Cevolu*+o;, e Aaint-4ust, 8umas e Dout(on s+o os compan(eirosde supl<cio de Cobespierre

Pma mul(er, a quem deixaram sem fil(os, com os cabelos brancos,salta ao lado do tirano, e exclama F - 7 sua morte embriaga-me de alegria

Cobespierre ao inferno - continuou a mul(er, - desce ao inferno, nomeio das maldi*6es das vi5vas e das m+es

= verdugo arrancou a venda do rosto de Cobespierre, cu)a mand<bulafora despeda*ada pelo tiroG o tirano lan*ou um grito, os espectadoresresponderam com uma gargal(ada e, em seguida, caiu o cutelo, no meio dosgritos da imensa multid+o, e negras trevas se precipitaram sobre a alma de9aximiliano Cobespierre

 7ssim terminou o Ceinado do @error

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 7 lu' do novo dia iluminou o calabou*o 7 gente corria, de cela emcela, a levar a feli' not<cia =s alegres presos se mesclavam com oscarcereiros, os quais, de medo, também mostravam ar alegre =s presoscorriam embriagados de pra'er, por aquelas espeluncas e por aquelescorredores da terr<vel casa que, em breve, iam deixar ?ntraram em uma cela,

esquecida desde a man(+ anterior 7li ac(aram uma mul(er ainda mo*a,sentada sobre a sua miserável cama, com os bra*os cru'ados sobre o peito,a face levantada para o céu os ol(os abertos e um sorriso nos lábios, querevelava n+o s0 serenidade, mas até felicidade 7 gente, ainda no tumulto dasua alegria, retrocedeu c(eia de respeito Munca, na vida, (aviam visto tantabele'aG e quando se aproximaram silenciosamente, ao lado daquela formosamul(er, viram que os seus lábios n+o respiravam, que o seu repouso era o demármore, e que a bele'a e o "xtase eram de morte

 7 multid+o rodeou-a em sil"ncioG e eis que a seus pés (avia ummenino, o qual, despertado por seus passos, ol(ou os presentes com

serenidade e os rosados dedin(os brincavam com o vestido da m+e morta-Pm 0rf+o aqui, na cela da pris+o

- 3obre'in(o - exclamou uma m+e - 8i'em que o seu pai pereceuontemG e agora também sua m+e morreu Ao'in(o no mundo, que destinoserá o seu = menino sorriu tranqRilamente, enquanto a mul(er fa'ia estaexclama*+o ? o vel(o sacerdote, que se ac(ava entre aquela gente, disse,com vo' terna F - 9ul(er =l(a = 0rf+o'in(o está sorrindo 8eus cuida dos0rf+os e os protege

?le protegerá também este

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NOT4S

 7 curiosidade que o :Zanoni : despertou entre os que ac(am 5tilpenetrar o sentido mais sutil que ele encerra, podia dispensar-se deacrescentar aqui poucas palavras, n+o como explana*+o dos seus mistérios,

mas sobre os princ<pios que os permitem

:Zanoni; n+o é, como alguns pretendem, uma alegoriaG mas, sob anarrativa que ele desenvolve, se ocultam significados simb0licos

?le apresenta duas fei*6es distintas e, contudo, (armInicas

3rimeira, a de uma fic*+o simples e ob)etiva, em que dada uma ve' Kpermiss+o do autor em escol(er o assunto que é, ou parece ser,preternatural1 o leitor )ulga o escritor pelas regras usuais, a saber, pelafirme'a dos seus caracteres, sob tais circunstanciais admitidas, o interesse da

sua est0ria e a coer"ncia do seu planoG da obra encarada deste ponto, n+ointento di'er nada, quer na exposi*+o do ob)eto, quer em defesa da execu*+o

Men(um dos significados simb0licos que, em termos latos, n+o s+omais do que sugest6es morais, mais ou menos numerosas mais ou menossutis1 pode desculpar, )ustamente, ao autor, de uma fic*+o, pelos erros quedeveria evitar em uma novela mais ordinária

M+o temos ra'+o de esperar que o leitor mais ing"nuo procure osignificado interno, se o curso manifesto da narra*+o é tedioso edesagradável H, pelo contrário, em virtude do contentamento que provamoscom o sentido ob)etivo de uma obra de imagina*+o, que nos inclinamos ainvestigar o fundo das inten*6es mais secretas do autor

M+o nos teriam tanto maravil(ado o :2austo;, o :amlet; e o:3rometeu; e n+o nos deixar<amos ardentemente levar pelo interesse daist0ria referida Ks intelig"ncias comuns, se nos preocupássemos pouco comos s<mbolos que podemos observar em cada qual deles Men(um de n0spode elucidá-los, porque a ess"ncia do s<mbolo é um mistério >emos afigura, mas n+o podemos levantar-l(e o véu

= autor mesmo n+o poderia explicar o que designouPma alegoria é um disfarce das coisas distintas e definidas, - virtudes

ou qualidades, - e a c(ave pode ser facilmente dadaG mas o escritor quecomunica as significados simb0licas pode expressá-las em mir<ades ?le n+opode dissociar as cores que se casam dentro da lu' que procura lan*ar sobrea verdadeG e, por isso, os grandes mestres desta encantada regi+o, o paismaravil(oso dos 3a<ses maravil(osos, a poesia da poesia, levam, comsabedoria, cada disc<pulo a adivin(ar a >erdade, como mel(or l(e apra', ousegundo as lu'es que possui @er pedido a Joet(e uma explica*+o do:2austo;, fora provocar uma resposta complexa e embara*osaG o mesmo fora

pedir a 9efist0feles uma explana*+o do que está debaixo da terra

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 7s cumula*6es internas podem diferir para o camin(anteG cada umapode requerer uma nova descri*+oG e o que é um tesouro para o ge0logo, éuma cali*a para o mineiro Aeis mundos podem ac(ar-se debaixo de umtorr+o, mas o ol(ar comum n+o descobre mais do que seis camadas depedra

 7 arte em si mesma, se n+o é necessariamente simb0lica, éessencialmente o que sugere alguma de mais sutil do que o que reveste ossentidos

= que 3linto nos conta de um grande pintor da antiguidade, éigualmente aplicável aos grandes pintoresG :suas obras exprimem algumacoisa além das palavras;, mais sentidas do que compreendidas 3ertence talcoisa K concentra*+o do intelecto que pede sublime arte, e que, mel(or doque todas as suas irm+s, a escultura ilustra

 7 estátua de 9erc5rio de @(orwaldsen n+o é sen+o uma simplesfigura e, contudo, significa muitas coisas para os versados em toda lendamitol0gica @irou o deus dos lábios o cac(imbo, porque )á acalentou, a dormir,o 7rgus, que v0s n+o vedes ?le impele a espada com o seu calcan(ar,porque é c(egado o momento que deve arremeter contra a vitima

 7plicou o principio desta nobre concentra*+o da arte ao escritor moralF este exp6e ao seu ol(ar apenas uma simples figuraG contudo, cada atitude,ou express+o, denota acontecimentos verdadeirosG deve ter o con(ecimento,lembran*a e sutile'a para penetrar, ou a imagina*+o para con)eturar 9as,para um )ui' severo da escultura, (averia, porventura, algum pra'er emdescobrir o todo tido falado na obra prima de @(orwaldsen, se o artista tivessegravado na base da estátua o pormenor do significado

M+o é a mesma coisa com o sentido simb0lico que o artista dá emsuas palavras = pra'er da arte profética, em cada qual, é o nobre exerc<ciode todos aqueles por quem a arte é dignamente encarada

M0s, que somos os mais (umildes da ra*a, n+o desarra'oadamentenos abrigamos sob a autoridade dos mestres, sobre quem o )ulgamento domundo é pronunciadoG e citam-se grandes nomes, n+o com a arrogância dos

iguais, mas com a (umildade dos inferiores= autor do :Zanoni : n+o dá, pois, a c(ave dos mistérios, se)am eles

triviais ou importantes, c(ave que pode ser encontrada na câmara secreta poraqueles que erguem a tape*aria das paredesG mas fora de muitas solu*6es demaiores enigmas, se enigmas, de fato, (á que l(e foram transmitidos, eleaventura-se a escol(er um que nos apresenta, apesar da nossaengen(osidade de pensamento e do respeito ao escritor distinto um dos maiseminentes que nossa época produ'iu1, o qual é digno de (onra e maioracatamento

?le deixa-o ao leitor, que pode aceitá-lo ou n+o

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Dem (omens, di' um vel(o platInico, podem ler um livro sob a lu' damesma lâmpadaG n+o obstante, todos podem diferir no texto, porque alâmpada s0 alumia os caracteres, a mente deve adivin(ar o significado

= ob)eto de uma parábola n+o é o de um problemaG ele n+o vem, por

fim, convencer, mas sugerir

 7 parábola apresenta o pensamento por baixo da superf<cie docon(ecimento para a !ntelig"ncia que o mundo raramente con(ece M+o é lu'solar sobre a águaG é um (ino cantado K ninfa, que acorda e ouveinteriormente

?X3L!D7= 8= :Z7M=M! : 3or OOO9e)nour - Dontempla*+o do 7tual, - Di"ncia Aempre vel(o, deve ser, apesar disso, sempre o 7tual

9enos fal<vel do que o !dealismo, mas menos praticamente poderoso,

por sua ignorância do cora*+o (umano

Zanoni - Dontempla*+o do !deal Aempre necessariamente simpáticoGvive pelo go'oG e é, por isso, simboli'ado pela eterna mocidade = !dealismoé o poderoso !ntérprete e 3rofeta do CealG mas seus poderes se enfraquecemK medida que se manifesta K paix+o (umana

>iola - !nstinto (umano 8ificilmente digno de c(amar-se 7mor, vistocomo o 7mor n+o faltaria ao seu ob)eto na ordem da supersti*+o1 8irige-se,primeiro, em sua aspira*+o ao !deal, Ks apar"ncias bril(antesG depois, deixaestas por um sentimento mais elevadoG mas é, contudo, pelas condi*6es dasua nature'a, impr0prio a este, e su)eito a suspeitas e desconfian*as 7 suafor*a maior !nstinto 9aterno1 tem o poder de penetrar muitos segredos, detra*ar muitos movimentos do !dealG mas, sendo fraco demais para osgovernar, cede K Aupersti*+o, v" faltas onde n+o (á enganos, cometendo,além disso, um erro sob uma falsa dire*+oG procura fracamente refugiar-seentre os tumultos das paix6es guerreiras do 7tual, ao passo que deserta dosereno ideal, lânguido, n+o obstante, na aus"ncia do !deal e moribundo n+oparecendo, mas tornando-se transmudado1 na aspira*+o de ter reconciliadasas Leis de duas nature'as

3orque, dada as premissas acima, o !dealismo á mais que a Di"ncia,su)eito Ks 7fei*6es, ou ao !ntelecto, pois as 7fei*6es, mais cedo ou maistarde, for*am o !dealismo no 7tual e no atual sua !mortalidade se extingue 75nica por*+o do 7tual encontra-se nas cenas finais que pintam a Cegi+o do@error 7 introdu*+o desta parte foi acusada de conter as por*6es fantásticasque a precederam 9as, se o escritor da solu*+o mostrou exatamente ainten*+o do 7utor, a cena mais forte e rudemente atual da idade em que aist0ria está calcada, foi a complei*+o necessária e (armoniosa do @odo =sexcessos e crimes da umanidade s+o a sepultura do !deal

- = 7utor3oder-se-ia mel(or acomodar K concep*+o popular e

c(amar a estes trás F - a Dompreens+o, a !magina*+o e o Dora*+o

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2il(o - !nstinto recém-nascido, enquanto educado e instru<do pelo!dealismo, promete um resultado sobre-(umano por sua precoce,incomunicável vigilância e intelig"ncia, mas é impelido K inevitável orfandade,e uma parte das Leis da sua exist"ncia cai nas condi*6es ordinárias

 7donai7idon-7l1 - 2é, que manifesta seu esplendor, relata seusoráculos, e comunica suas maravil(as somente K nature'a mais alta da alma,e cu)os ordenados antagonismos é com o 9edoG de modo que aqueles queempregam os recursos do 9edo devem dispensar os da 2é Dontudo, aaspira*+o conserva aberto o camin(o da reden*+o e pode excitar a 2é,quando o grito saia mesmo da escravid+o do 9edo

9orador do Pmbral - 9edo ou orror1, de cu)a palide' os (omens seprotegem pela opacidade da regi+o da 3rescri*+o e do Dostume 8esde queesta prote*+o é deixada e o esp<rito (umano atravessa a nuvem, e entra s0nas inexploradas regi6es da Mature'a este orror Matural o persegue, e deve

ser feli'mente combatido somente pela desconfian*a, pela aspira*+o para o2ormador e 8iretor da Mature'a e confian*a nele, cu)o 9ensageiro e!nstrumento de seguran*a é a 2é

9ervale - Donvencionalismo Micot - Baixa, vil, maligna 3aix+o

Jlyndon - 7spira*+o sem apoio Aeguiria o !nstinto, mas é impedidopelo Donvencionalismo, intimidado pelo !dealismo, n+o obstante, atra<do eligeiramente inspirado, mas n+o tem firme'a para a contempla*+o iniciat0riado 7tual ?le associa seus arrebatados privilégios ao sensualismo (abitual, esofre, ao mesmo tempo, o (orror de um e desgosto do outro, envolvendo oinocente no conflito fatal do seu esp<rito Quando )á está a ponto de perecer, ésalvo pelo !dealismo, e, incapa' de levantar-se K idéia da exist"ncia,compra'-se em abismar-se na regi+o do 2amiliar, e descansa, daqui pordiante, no Dostume H o espel(o da mocidade

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4RGU!NTO

 7 exist"ncia (umana está su)eita Ks condi*6es ordinárias ou delasisenta @ais s+o F moléstia, pobre'a, ignorância, morte1

 7 Di"ncia esfor*a-se por levar o mais digno, além das condi*6esordinárias e o resultado disso é (aver tantas v<timas quanto os esfor*os e ocompetidor ficar finalmente solitário, porque seu ob)eto é incongruente com asnature'as que trata

 7 procura do !deal envolve tanta emo*+o que torna o !dealismovulnerável pela paix+o (umana e, enquanto tenta guardar-se, fica, n+oobstante, vulnerável, su)eito a unir-se ao !nstinto

 7 paix+o obscurece o con(ecimento e a previs+o @odo o esfor*opara elevar o !nstinto ao !dealismo é infrut<feroG as Leis do ser de um e as de

outro n+o coincidem no primeiro estágio da exist"ncia de um1

=u o !nstinto alarma-se e refugia-se na Aupersti*+o ou Dostume, oufica entregue K caridade (umana, ou aos cuidados da provid"ncia =!dealismo, sem con(ecimento e previs+o, perde sua serenidadeG torna-se,uma ve' mais, su)eito ao (orror de que escapou, e, aceitando seu auxilio,perde o favor mais alto da 2é

Cesta-l(e, contudo, a aspira*+o, com cu)o aux<lio podevagarosamente reabilitar-seG e, desta maneira, alcan*ar o mel(or2ortalecida

 pela aspira*+o, a 2é tira do 9edo a verdade salvadora a que aci"ncia continua cega e a quem o !dealismo dá as boas vindas como K suacoroa*+o final, a 3rova inestimável conseguida com muito trabal(o, depois demuitos conflitos

8ada a elabora*+o desta prova, o Donvencionalismo estiola-se, sepor acaso se salva, torna-se complacenteG a 3aix+o ego<stica morre, ouraste)a sem aux<lioG o !nstinto dorme, para despertar em um plano mais altoG o!dealismo aprende, como uma li*+o, que o sacrif<cio pr0prio é a verdadeirareden*+oG que a regi+o de além-t5mulo é apenas um preparo para a isen*+o

das condi*6es mortaisG e que a 9orte é o portal eterno, indicado pelo dedo de8eus, a larga avenida na qual o (omem n+o se lan*a solitário e clandestino,mas entra triunfante, saudado por uma (ierarquia de nature'as imortais

= resultado é em outros termos1 que o lote universal-(umano é,afinal, o do privilégio mais sublime

-i(

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S#T =rfeu foi o (er0i favorito da antiga Ypera !taliana, ou do 8ramaL<rico, = =rfeu de 7ngelo 3olitiano foi produ'ido em #%/^ = =rfeu de9ontoverdi foi representado, em >ene'a, no ano de #../

S&T >iemos ao nosso larS\T 3or min(a féS%T 7ntiga moeda !talianaS^T ? com as tripas do 5ltimo padre estrangule o pesco*o do 5ltimo rei

S.T 7ssim se conta de Da'otte 8e 9artine' de 3asqually pouco sesabeG até sobre a terra a que pertenceu, n+o estamos bem certos @ambémn+o (á provas que nos garantam quais eram, na realidade, os ritos, ascerimInias e os princ<pios da ordem Dabalista, por ele fundada Aaint-9artinfoi um disc<pulo desta escola, e isto, ao menos, a recomendaG porque, apesardo seu misticismo, Aaint-9artin foi, talve', o (omem mais (umanitário,

generoso, puro e virtuoso do Aéculo X>!!! 7lém disso, ninguém se distinguiumais no Dirculo de 2il0sofos céticos, pela nobre'a e pelo fervor com quecombatia o materialismo e proclamava a necessidade da fé, no meio de umcaos de descren*a 3ode-se observar também que Da'otte, se)a o que forque aprendeu da !rmandade de 9artine', n+o aprendeu nada que diminu<ssea excel"ncia da sua vida e a sinceridade da sua religi+o Aendo, ao mesmotempo, brando e valente, nunca cessou de opor-se aos excessos daCevolu*+o 7té a 5ltima (ora, em contraste com os liberais do seu tempo,conservou-se um Drist+o devotado e sincero 7ntes da sua execu*+o, pediuuma pena e papel, para escrever as seguintes palavras F :9a femme, mesenfants, ne me pleure' pasG ne mUoublie' pas, mais souvene'-vous surtout dene )amais offenser 8ieu; !sto é F :9in(a mul(er, meus fil(os, n+o c(oreis pormimG n+o me esque*ais, mas lembrai-vos sobretudo de n+o ofender a 8eus;

S/T D(ampfort, um daqueles literatos que, apesar de sedu'idos pelaprimeira apar"ncia agradável da Cevolu*+o, recusaram-se a seguir os vis(omens de a*+o nos seus (orr<veis excessos, expressou a filantropiaassassina dos agentes revolucionários pelo mais belo dito daquele tempo>endo escrito sobre as paredes F :2raternité ou la 9ort; :2raternidade ou a9orte;1, observou que estas palavras deviam interpretar-se F :Aois mon frre,ou )e te tue; :A" meu irm+o, ou eu te matarei;1

S$T :Dette secte les ?ncyclopédistes1 propagea avec beaucoup de'ele lUopinion du matérialisme, quiprévalut parmiles grands et parmiles beauxespritsG on doit en partie cette espce de p(ilosop(ie pratique qui, reduisant!U?goisme en systeme, regarde la société (umaine comme une guerre deruse, le succs comme la rgle du )uste et de lin)uste, la probité comme uneaffaire de gout, ou de bi enséance, le monde comme de patrimoine desfripons adroits; - 8iscours de Cobespierre, 9aio, _/, #/N%

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SNT :?sta seita os ?ncyclopedistas1 propagou com muito 'elo aopini+o do materialismo, que prevaleceu entre os grandes e entre os belosesp<ritosG devemos-l(e, em parte, essa espécie de 2ilosofia que, convertendoo ?go<smo em um sistema, considera a Aociedade (umana como uma guerrade ast5cia, o sucesso como a regra do )usto e do in)usto, a probidade como

um assunto de gosto ou de dec"ncia, o mundo como o patrimInio devel(acos espertos; - 8iscurso de Cobespierre, _/ de 9aio de #/N%

S#_T Luminoso, uma palavra usada pelos m<sticos 3latonistas 9arc 7nt, lib &1 7 esfera da alma é luminosa quando nada que pertence aomundo exterior, está em contato com ela, mas a alma, iluminada por suapr0pria lu', v" a verdade de todas as coisas, e a verdade que se concentranela mesma H, pois 7ugoeides, o que c(amamos o :?u Auperior;

S##T 3ublicada em #.#^S#&T = autor de duas obras sobre botânica e plantas raras

S#\T 7ssim di' 3sellus de 8oemonS#%T :9onas mica;, por exemploS#^T 4amblic(us, de >ita 3yt(agS#.T Lembramos ao leitor que quem di' isto, é o autor dos manuscritos

originaisS#/T = g"nio Jrego da 9orteS#$T = dia decisivoS#NT 7gora deve-se beberS&_T 3é livreS&#T Airoco é o nome que se dá, no 9editerrâneo, ao vento sudesteS&&T 9oeda de pequeno valorS&\T Pm :bravo;, na !tália, é quase o mesmo como um :capanga;, no

BrasilS&%T H t+o necessário con(ecer as coisas más como as boasG porque,

quem saberá o que é bom, se n+o sabe o que é mau etc - 3aracelsus, 8eMatura Cerum, Liber \

S&^T 3aracelsus, 8e Mat Cer, lib !S&.T 3ausaniasG ve)a-se 3lutarcoS&/T ino omérico

S&$T =s Brâmanes, falando do Brama, di'em F :3ara o =nisciente, os

tr"s modos de exist"ncia F o sono, a vig<lia e o :transe; n+o existem;G e comestas palavras recon(ecem distintamente o :transe; como uma terceiracondi*+o da exist"ncia, ao lado da vig<lia e do sono

S&NT = mais celebre médico em 8ublin relatou ao editor do original!ngl"s1 uma est0ria de ilus+o 0tica, muito semel(ante K que acabamos denarrar, tanto no que concerne as circunstâncias como também em rela*+o Kcausa f<sica

S\_T Levante-se o povo 2ranc"s contra os tiranos

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S\#T :2lambeau, colonne, pierre angulaire de lUédifice de laCépublique; Lettre du Ditoyen 3OO OG 3apiers inédits c(e' Cobespierre, tome!!, p #&/ Darta do cidad+o 3OOO, nos papéis inéditos, ac(ados em poder deCobespierre, volume !!, pág #&/1

S\&T Cocl0 roquelaure;1, capote usado no tempo de Lu<s X!>S\\T Aa5deS\%T ? 2raternidade

S\^T :La Cévolutlon est comme AaturneG elle dévorera tous sesenfants; :7 Cevolu*+o é como AaturnoG devorara todos os seus fil(os;,dissera >ergniaud

S\.T ?sta carta foi ac(ada entre os papéis inéditos de CobespierreS\/T ?squilo, :7gam; #_N$S\$T =s revolucionários se tratavam por tu

S\NT 7 Juil(otinaS%_T :=u ne peut "tre amidu peuple et (abiter un palais; - 3apiers

inédits trouvés c(e' Cobespierre, vol !!, p+g #\&1S%#T 3apiers inédits, vol !!, pag #^.S%&T :!ivaudrait mieux étre um pauvre p"c(eur que de gouverner des

(ommea;, disse 8anton, na pris+oS%\T :LUaurea testa dirose colte in 3aradiso infiora; - @asso, :Jerus

Lib;, !>, ^_S%%T :3ara constranger Docyto ou 3(legetonte; Cios mitol0gicos do

!nfernoS%^T 4âmblico, :Aobre os 9istérios;, cap /

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Sir !dEard BulEer L$tton

= con(ecido autor da novela :=s 5ltimos dias de 3ompéia;, foi tambémum pol<tico destacado e um ocultista praticante interessado nos mais diversosfenImenos paranormais

Masceu em Londres em &^ de 9aio de #$_\ em uma fam<lia de classe:alta; = seu aut"ntico nome era ?dward Jeorge ?arle Lytton Bulwer-Lytton?studou em Dambridge, onde se destacou como poeta e dramaturgo, aindaque )á compun(a versos desde os de' anos de idade

?m #$\# ingressou na pol<tica e foi ministro de 7ssuntos ?xteriores,relacionando-se com Aociedades Aecretas D(inesas = seu paciente trabal(ona pol<tica l(e valeu o t<tulo de 3rimeiro Bar+o de Lytton

= seu interesse pela magia e o espiritualismo l(e condu'iram arelacionar-se com o célebre !niciado 2ranc"s ?lip(as Lévi, )unto ao qualpreparou uma invoca*+o no transcurso da qual, segundo asseguramtestemun(as, se manifestou o grande !niciado Jrego 7polInio de @iana

?m #$/# foi designado !mperator da Aocietas Cosicruciana in 7ngliaAC!71 9anteve correspond"ncia com muitos esoteristas do seu tempo e sedi' que formou parte da !rmandade ermética de Luxor, ultra-secretaAociedade Cosacruciana que se suspeita teve um papel definitivo na pol<tica,na cultura e no espiritualismo do Aéculo X!X

TeFr'o e Iniciado

Quanto K sua rela*+o com os fenImenos ps<quicos, n+o costumava falarem p5blico sobre as suas experi"ncias, porém pode-se identificar porrefer"ncias na autobiografia do médium 8ouglas ome, a algumas sess6es:esp<ritas; acudia o novelista com o seu fil(o, Lord Lytton, >irrey da ]ndia etambém relacionado com o ocultismo, de quem se suspeita foi um dos!niciadores de Air inston D(urc(ill

?m sua obra se adverte freqRentemente uma atitude m<stica e esotérica,como no conto de osem esamin o mago, Pm son(o da morte ou o poema =conto de um son(ador

3orém onde refletiu de forma mais palpável uma mensagem !niciática foina sua famosa novela Cosacru' :Zanoni; #$%&1 ?nquanto 7 ra*a futura#$/#1, Bulwer Lytton assegurava l(e (avia sido ditada por um 9estre de outradimens+o e se assegura que teve uma grande influ"ncia sobre os ocultistas 7lem+es

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@anto estes como os crentes de outros 3a<ses na exist"ncia de ummundo subterrâneo, supun(am que a novela era algo mais que fic*+o esomente acess<vel para os !niciados