zambellimonicadesouza d
DESCRIPTION
Sistema interligado nacionalTRANSCRIPT
-
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE ENGENHARIA ELTRICA E DE COMPUTAO
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SISTEMAS
Planejamento da Operao Energtica
do Sistema Interligado Nacional Baseado em Modelo
de Controle Preditivo
Autor: Mnica de Souza Zambelli
Orientador: Prof. Dr. Secundino Soares Filho
Tese de Doutorado apresentada a Faculdade
de Engenharia Eltrica e de Computao como parte
dos requisitos para a obteno do ttulo de Doutor em
Engenharia Eltrica. rea de concentrao: Energia
Eltrica.
Campinas, SP
Dezembro/2009
-
ii
FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DA REA DE ENGENHARIA E ARQUITETURA - BAE - UNICAMP
Z14p
Zambelli, Mnica de Souza Planejamento da operao energtica do sistema interligado nacional baseado em modelo de controle preditivo / Mnica de Souza Zambelli. --Campinas, SP: [s.n.], 2009. Orientador: Secundino Soares Filho. Tese de Doutorado - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Eltrica e de Computao. 1. Sistemas de energia eltrica hodrotrmica. 2. Energia eltrica - produo - Planejamento. 3. Controle preditivo. 4. Otimizao matemtica. 5. Previso de vazes. I. Soares Filho, Secundino. II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia Eltrica e de Computao. III. Ttulo.
Ttulo em Ingls: Long term hydrothermal scheduling of the brazilian integrated
system based on model predictive control Palavras-chave em Ingls: Hydrothermal electric power systems, Electric power
production planning, Predictive control, Mathematical optimization, Inflow forecasting
rea de concentrao: Energia Eltrica Titulao: Doutor em Engenharia Eltrica Banca examinadora: Edson Luiz da Silva, Donato da Silva Filho, Alberto Luiz
Francato, Pedro Luz Peres Data da defesa: 09/12/2009 Programa de Ps Graduao: Engenharia Eltrica
-
iii
-
iv
Ao admirvel engenheiro Denniz Rossi,
por despertar em mim o amor pela engenharia.
-
v
AGRADECIMENTOS
Obrigada a todos os amigos e companheiros do laboratrio COSE que ajudaram a fazer
desse projeto um perodo de aprendizado e diverso. Em especial, agradeo aos colegas Andr
Toscano, Erinaldo Santos e Ivette Luna pela parceria no desenvolvimento dos trabalhos e
elaborao de artigos. Sem sua participao esse trabalho no estaria completo.
Agradeo ao grande mestre Secundino pelas excelentes oportunidades que me
proporcionou de crescimento tanto profissional como pessoal e ainda experiente equipe do
ONS Alberto, Srgio e Carlos Eduardo pela pacincia e apoio no esclarecimento de meus
muitos questionamentos ao longo deste projeto.
Muito obrigada a minha famlia cujo apoio, mesmo daqueles que esto distantes, tem
sido fundamental.
Este trabalho contou com o apoio financeiro da Fundao de Amparo Pesquisa do
Estado de So Paulo (Fapesp) e da Companhia Energtica de So Paulo (Cesp).
-
vi
The doors we open and close each day
decide the lives we live.
Flora Whittemore
-
vii
RESUMO
O planejamento da operao energtica do Sistema Interligado Nacional (SIN) uma tarefa complexa realizada por meio de uma cadeia de modelos de mdio, curto e curtssimo prazo acoplados entre si, cada um com consideraes pertinentes etapa que aborda.
A proposta deste trabalho apresentar uma alternativa para o planejamento da operao energtica de mdio prazo. Foi desenvolvida uma metodologia baseada em modelo de controle preditivo, abordando os aspectos estocsticos do problema de forma implcita pela utilizao de valores esperados das vazes, e fazendo uso de um modelo determinstico de otimizao a usinas individualizadas, que possibilita uma representao mais precisa do sistema hidrotrmico.
A anlise de desempenho feita atravs de simulaes da operao, considerando os parques hidreltrico e termeltrico que compem o SIN, com restries operativas reais, em configurao dinmica, com plano de expanso e a possibilidade de intercmbio e importao de mercados vizinhos.
Os resultados so comparados aos fornecidos pela metodologia em vigor no setor eltrico brasileiro, notadamente o modelo NEWAVE, que determina as decises de gerao por subsistema, e o modelo Suishi-O, que as desagrega por usinas individualizadas.
Palavras-chave: planejamento da operao, sistemas hidrotrmicos de potncia, controle preditivo determinstico, otimizao, previso de vazes, simulao por computador
-
viii
ABSTRACT
The long term hydrothermal scheduling of the Brazilian Integrated System (SIN) is a complex task solved by a chain of long, medium and short term coupled models, each one with considerations pertinent to the stage of operation that it deals with.
The proposal of this work is to present an alternative for the long term hydrothermal scheduling. A methodology based on model predictive control was developed, implicitly handling stochastic aspects of the problem by the use of inflows expected values, and making use of a deterministic optimization model to obtain the optimal dispatch for individualized plants, what makes possible a more accurate representation of the hydrothermal system.
The performance analysis is made through simulations of the operation, taking into consideration all the hydro and thermal plants that compose the SIN, with real operative constraints, in dynamic configuration, with its expansion plan and the possibility of interchange and importation from neighboring markets.
The results are compared with those provided by the approach actually in use by the Brazilian electric sector, specifically the NEWAVE model, which defines the generation decisions for the subsystems, and the Suishi-O model, that disaggregates them for the individualized plants.
Keywords: hydrothermal scheduling, power systems, model predictive control, optimization, inflow forecasting, computer simulation
-
ix
SUMRIO
INTRODUO ................................................................................................................................................... 17
CAPTULO 1 PLANEJAMENTO DA OPERAO ENERGTICA .......................................................... 21
1.1 SISTEMA INTERLIGADO NACIONAL ....................................................................................... 21 1.2 PLANEJAMENTO DA OPERAO ............................................................................................ 23 1.3 METODOLOGIA EM VIGOR NO SETOR ELTRICO BRASILEIRO ............................................... 29
CAPTULO 2 METODOLOGIA PROPOSTA................................................................................................ 33
2.1 POLTICA OPERATIVA BASEADA EM CONTROLE PREDITIVO.................................................. 33 2.2 MODELO DE OTIMIZAO..................................................................................................... 38
2.2.1 Decomposio do problema............................................................................................ 41 2.2.2 Tcnica de soluo.......................................................................................................... 43
2.3 MODELO DE PREVISO DE VAZES....................................................................................... 44 2.3.1 Previsor estatstico.......................................................................................................... 44 2.3.2 Previsor baseado em inteligncia computacional........................................................... 45
2.4 MODELO DE SIMULAO ...................................................................................................... 51
CAPTULO 3 ADAPTAES DA MODELAGEM PARA O SIN ............................................................... 55
3.1 REQUISITOS PARA PLANEJAMENTO ENERGTICO DO SIN ...................................................... 55 3.2 MODELOS REFORMULADOS................................................................................................... 59 3.3 PROCEDIMENTOS ADOTADOS PARA O SIN ............................................................................ 66
3.3.1 Despacho Termeltrico de Mrito................................................................................... 69 3.3.2 Determinao de Intercmbio de Energia entre Subsistemas ........................................ 71
CAPTULO 4 ESTUDOS DE CASO................................................................................................................. 75
4.1 SISTEMA DE NICO RESERVATRIO....................................................................................... 75 4.1.1 Abordagens temporais de previso ................................................................................. 80
4.2 SISTEMA INTERLIGADO NACIONAL ....................................................................................... 84 4.2.1 Resultados Gerais para o SIN......................................................................................... 86
-
x
4.2.2 Resultados por Subsistema ..............................................................................................90 4.2.3 Resultados por Usina Hidreltrica ..................................................................................97 4.2.4 Resultados por cenrio hidrolgico: 1952 ......................................................................99
CAPTULO 5 CONCLUSES .........................................................................................................................107
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .............................................................................................................111
ANEXO A ARTIGOS PUBLICADOS.............................................................................................................117
-
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Participao percentual dos tipos de centrais na capacidade instalada para gerao de energia eltrica no Brasil - situao em Julho de 2009. .....................................................22
Figura 2: Esquema da cadeia de coordenao hidrotrmica da operao do SEB.....................29 Figura 3: Diagrama esquemtico da poltica operativa ODIN. ..................................................35 Figura 4: Esquema de variveis hidrulicas do modelo. ............................................................41 Figura 5: Esquema de estrutura da rede de usinas hidreltricas no modelo HydroMax. ...........43 Figura 6: Rede Neural Nebulosa. ...............................................................................................47 Figura 7: Esquema do Sistema de Inferncia Nebulosa. ............................................................50 Figura 8: Topologia de conexes entre subsistemas do SIN, destacando o lao existente. .......64 Figura 9: Diagrama de ao do mtodo Executar do simulador HydroSim...............................67 Figura 10: Diagrama de ao do mtodo Executar da poltica ODIN. ......................................68 Figura 11: Diagrama de ao do mtodo Executar despacho econmico termeltrico. ........70 Figura 12: Correo por partes para factibilizao de limites de intercmbios. ........................72 Figura 13: Regra paralela de correo do despacho hidreltrico. ..............................................73 Figura 14: Trajetria de armazenamento do reservatrio de Emborcao (1974-1979)............78 Figura 15: Vazes de simulao (1974-1979) vs. mdias mensais (MLT). ...............................78 Figura 16: Trajetria de gerao da UHE Emborcao (1974-1979).........................................79 Figura 17: Vazes mdias mensais e seus fatores para desagregao de montante anual .........80 Figura 18: Trajetria tima de armazenamento para as sries de vazes de 1975 e 1993.........82 Figura 19: Vazes afluentes e defluncias timas para as sries de vazes de 1975 e 1993 ....82 Figura 20: Evoluo do erro MAPE para os previsores FIS em relao ao horizonte de previso
............................................................................................................................................83 Figura 21: Diagrama esquemtico das usinas hidreltricas do SIN. ..........................................85 Figura 22: Trajetrias mdias de gerao hidreltrica e mercado do SIN. ................................87 Figura 23: Trajetrias mdias de gerao termeltrica do SIN. .................................................87 Figura 24: Trajetrias mdias de energia armazenada do SIN...................................................88 Figura 25: Trajetrias mdias de custo total da operao do SIN..............................................89 Figura 26: Custo atualizado da operao do SIN por cenrio hidrolgico. ...............................90 Figura 27: Trajetrias mdias de energia armazenada por subsistema. .....................................91 Figura 28: Trajetrias mdias de custo marginal da operao por subsistema. .........................92 Figura 29: Trajetrias mdias de custo marginal declarados pelos modelos NEWAVE e
SUISHI. ..............................................................................................................................93 Figura 30: Risco de dficit por subsistema.................................................................................94
-
xii
Figura 31: Valor esperado da energia no suprida por subsistema............................................ 96 Figura 32: Trajetrias mdias de armazenamento para UHEs individualmente........................ 97 Figura 33: Trajetrias mdias de armazenamento das UHEs Furnas e gua Vermelha. .......... 98 Figura 34: Trajetrias mdias de armazenamento das UHEs Emborcao e So Simo. ......... 99 Figura 35: Energia armazenada do SIN para o cenrio de vazes de 1952. ............................ 100 Figura 36: Balanos energticos por subsistema para o cenrio de vazes de 1952. .............. 101 Figura 37: Reservatrios de acumulao da Bacia do Paraba do Sul. .................................... 103 Figura 38: Decises de vazo defluente e desviada na UHE Santa Ceclia............................. 104
-
xiii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Base de Regras Nebulosas..........................................................................................48 Tabela 2: Resultados de Simulao para Sistema de nico Reservatrio .................................77 Tabela 3: Resultados de Simulao Previso em Base Mensal vs. Anual ..............................81 Tabela 4: Resultados mdios dos cenrios para o SIN...............................................................86 Tabela 5: Risco mdio de no suprimento de energia por subsistema .......................................95 Tabela 6: Resultados para o SIN no cenrio hidrolgico de 1952 .............................................99
-
xiv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANDE - Estatal paraguaia Administrao Nacional de Energia
ANEEL Agncia Nacional de Energia Eltrica
ARMA Auto Regressivo com Mdias Mveis
BIC Critrio de Informao Bayesiano
CEPEL Centro de Pesquisas de Energia Eltrica
CMO Custo Marginal de Operao
CVU Custo Varivel Unitrio
DET Despacho Econmico Termeltrico
FIS Sistema de Inferncia Nebulosa
MLT Mdia de Longo Termo
MPC Model Predictive Control
ONS Operador Nacional do Sistema Eltrico
PD Programao Dinmica
PDDE Programao Dinmica Dual Estocstica
PDE Programao Dinmica Estocstica
PL Programao Linear
POE Planejamento da Operao Energtica
-
xv
PMO Programa Mensal de Operao
RNA Rede Neural Artificial
RNN Rede Neural Nebulosa
SEB Setor Eltrico Brasileiro
SIN Sistema Interligado Nacional
UHE Usina Hidroeltrica
UTE Usina Termoeltrica
-
17
INTRODUO
Em todo o mundo, sobretudo nos pases mais desenvolvidos, os mercados de energia
eltrica tm evoludo de um ambiente regulado para um ambiente competitivo e, de certa
forma, liberal. A onda de reestruturao e desregulamentao tem levado os pases a mudarem
do monoplio, onde os preos da energia so garantidos pelo governo, para um ambiente mais
liberal e competitivo, capaz de promover vantagens econmicas expressivas para os
investidores do setor de energia e para os consumidores.
No Brasil muito se tem discutido sobre a reestruturao do Setor Eltrico Brasileiro
(SEB) e, de fato, muitas mudanas tm ocorrido na ltima dcada.
O projeto original de reestruturao do SEB (RE-SEB), implantado em 1996, indicava
a necessidade de implementar a desverticalizao das empresas de energia eltrica,
classificando-as por segmentos de gerao, transmisso e distribuio, incentivar a competio
nos segmentos de gerao e comercializao, e manter sob regulao os setores de distribuio
e transmisso de energia eltrica, considerados como monoplios naturais, sob regulao do
Estado. Concludo em agosto de 1998, o Projeto RE-SEB definiu o arcabouo conceitual e
institucional do modelo a ser implantado.
Em 2001, o setor eltrico sofreu uma grave crise de abastecimento que culminou em
um plano de racionamento de energia eltrica. Esse acontecimento gerou uma srie de
questionamentos sobre os rumos que o setor eltrico estava trilhando.
Uma nova onda de mudanas teve inicio em 2004, com a introduo do Novo Modelo
do Setor Eltrico, que teve como objetivos principais: garantir a segurana no suprimento,
promover a modicidade tarifria, e promover a insero social, em particular por programas de
-
18
universalizao. Sua implantao marcou a retomada da responsabilidade do planejamento do
setor de energia eltrica pelo Estado.
Novas entidades institucionais foram criadas visando assegurar a regularidade e a
segurana do abastecimento e da expanso do setor, atravs de mecanismos de avaliao
permanente do suprimento de energia eltrica e de aes preventivas que possibilitem a
restaurao da segurana no abastecimento e no atendimento eltrico.
Atualmente o setor conta com um rgo regulador (Agncia Nacional de Energia
Eltrica ANEEL), um operador para o sistema eltrico nacional (Operador Nacional do
Sistema Eltrico ONS) e um conjunto de agentes institucionais atuantes, que possibilitam o
funcionamento de um ambiente para a realizao das transaes de compra e venda de energia
eltrica. O novo sistema garante s empresas do setor relativa autonomia de atuao, sobretudo
no estabelecimento de contratos comerciais, que podem ser firmados diretamente com o
consumidor, denominado consumidor livre.
A coordenao da operao do sistema, entretanto, se mantm centralizada e o chamado
Programa Mensal de Operao (PMO) determinado mensalmente pelo ONS. A atuao dos
agentes e empresas, nesse caso, bastante limitada.
O PMO estabelecido por um conjunto de modelos computacionais concatenados que
determinam a distribuio da gerao entre as usinas hidreltricas e termeltricas do sistema
em diferentes escalas de tempo, visando gerenciar desde o armazenamento dos reservatrios
das usinas hidreltricas no longo prazo at o despacho de gerao e os fluxos de potncia no
sistema de transmisso no curto prazo.
O objetivo global da coordenao da operao do SIN assegurar uma operao
econmica e confivel para o sistema eltrico de potncia. O resultado deve ser uma sequncia
de decises de gerao que procure minimizar o custo esperado da operao e garantir o
atendimento da demanda com confiabilidade.
Entretanto, apesar do esforo continuado dos agentes do setor em compreender e
aprimorar a cadeia de modelos utilizada pelo SEB para a coordenao da operao, as solues
fornecidas tm se mostrado aqum das expectativas e cada vez mais critrios heursticos de
-
19
segurana tm sido incorporados aos modelos de otimizao, muitas vezes prevalecendo sobre
sua soluo.
A sobreposio desses procedimentos heursticos aos modelos de otimizao abala a
credibilidade dos agentes na cadeia de modelos de planejamento, de modo que muitas empresas
tm buscado, junto s universidades e centros de pesquisa, novas alternativas para o planejamento
da operao, atravs de seus programas de pesquisa e desenvolvimento. Uma consequncia dessa
parceria entre empresas e universidades o aumento do conhecimento sobre o problema do
planejamento da operao eletroenergtica em todas as suas instncias e a disseminao de uma
gama de novas solues, dado a grande variedade de tcnicas disponveis atualmente na literatura
mundial.
Dessa forma, este trabalho apresenta uma nova proposta metodolgica para o
planejamento da operao de mdio prazo do SIN, baseada numa tcnica de modelo de controle
preditivo determinstico (Model Predictive Control) muito difundida na rea de controle
automtico. O modelo, denominado ODIN (Otimizao do Despacho Interligado Nacional), est
embasado em trs premissas principais:
1. Operao individualizada das usinas hidreltricas e termeltricas;
2. Representao das caractersticas no lineares de operao das usinas hidreltricas;
3. Representao indireta da estocasticidade das vazes de forma implcita, atravs de
modelos de previso.
Essas trs caractersticas so as mais importantes para a diferenciao entre a
metodologia proposta nesse projeto e aquela em vigor no SEB, que utiliza tcnicas de otimizao
baseadas em Programao Dinmica Estocstica Dual combinada agregao do sistema
hidreltrico atravs de modelagem equivalente, fazendo uso de diversas aproximaes lineares
para modelar comportamentos tipicamente no lineares.
No Captulo 1 o problema do planejamento energtico da operao do sistema
hidrotrmico brasileiro, foco deste trabalho, descrito, acompanhado de uma reviso bibliogrfica
dos mtodos j utilizados no Brasil ou apresentados na literatura para resolv-lo.
-
20
A metodologia proposta neste trabalho introduzida no Captulo 2, onde descrita a
poltica operativa ODIN bem como cada um dos modelos que a compem: otimizao,
previso e simulao.
O Captulo 3 aborda algumas consideraes sobre a operao do sistema brasileiro, tais
como despacho termeltrico de mrito, determinao de intercmbios entre subsistemas, custos
marginais da operao e determinao de desvios em bacias com usinas especiais.
A seguir, no Captulo 4, apresentam-se alguns casos de estudo. Iniciando-se por casos
de sistemas simples compostos por uma usina hidreltrica, a fim de comparar detalhadamente
resultados da poltica proposta com aqueles de polticas baseadas em programao dinmica,
tcnica de soluo utilizada no SEB. Casos de uma usina tambm so usados para comparar os
resultados da nova poltica dada a utilizao de diferentes tcnicas de previso de vazes. Por
fim, so apresentados resultados de um estudo de caso real, englobando a totalidade de usinas
hidreltricas do SIN, tal qual disponibilizado pelo SEB para o PMO. Os resultados deste
estudo so comparados com os dos modelos vigentes, mostrando que a metodologia proposta
capaz de promover economia e segurana significativas ao SEB e seus agentes.
No Captulo 5, finalmente, encontram-se as principais concluses do trabalho e nos
apndices as principais publicaes, destacando resultados parciais isoladamente.
-
21
CAPTULO 1 PLANEJAMENTO DA OPERAO ENERGTICA
Este captulo apresenta uma descrio do problema do planejamento energtico da
operao e um levantamento bibliogrfico das principais tcnicas de soluo utilizadas com
destaque quelas que motivaram o desenvolvimento da abordagem determinstica proposta.
Este captulo traz ainda uma sntese dos modelos que compem a metodologia
atualmente utilizada pelo setor eltrico brasileiro para a coordenao da operao hidrotrmica.
1.1 Sistema Interligado Nacional
O sistema de produo de energia eltrica do Brasil um sistema hidrotrmico de
grande porte, com forte predominncia de usinas hidreltricas e com mltiplos proprietrios,
com tamanho e caractersticas que permitem consider-lo nico em mbito mundial.
O Sistema Interligado Nacional (SIN), atualmente com cerca de 104 GW de potncia
instalada em 2081 usinas geradoras, abrange as regies Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e
parte da regio Norte. Alm disso, h diversos sistemas de menor porte, no conectados ao SIN
e, por isso, chamados de Sistemas Isolados, que se concentram principalmente na regio
Amaznica, no Norte do pas, onde as caractersticas geogrficas regionais dificultaram a
construo de linhas de transmisso de grande extenso que permitiriam a conexo ao SIN.
Esses sistemas correspondem a apenas 3,4% da energia eltrica produzida no pas (ANEEL,
2009).
-
22
O Brasil detm um dos maiores potenciais hidreltricos do mundo e sua matriz
energtica composta, predominantemente, por esta fonte. Na Figura 1, mostra-se a
participao dos tipos de centrais de gerao na capacidade instalada no Pas.
0,40%1,92%
0,16%2,67%
23,28%
71,57%
Usina Hidreltrica de Energia
Pequena Central Hidreltrica
Central Geradora Hidreltrica
Usina Termeltrica de Energia
Usina Termonuclear
Central Geradora Eolieltrica
Figura 1: Participao percentual dos tipos de centrais na capacidade instalada para gerao de
energia eltrica no Brasil - situao em Julho de 20091.
Alm da predominncia de fontes hidrulicas, o parque gerador do SIN apresenta
alguns aspectos peculiares que o diferenciam de outros sistemas.
No aspecto hidrulico, destacam-se a presena de grandes bacias com um grande
nmero de aproveitamentos, com afluncias que registram, historicamente, acentuada
sazonalidade e elevado nvel de incerteza, e o forte acoplamento hidrulico entre unidades
geradoras resultante da grande quantidade de usinas e reservatrios localizados em sequncia
nessas extensas bacias hidrogrficas.
Em algumas regies os aproveitamentos hidrulicos so utilizados prioritariamente para
fins de abastecimento ou navegao o que limita o uso desses recursos para a produo de
energia eltrica. H presena de usinas elevatrias com unidades de bombeamento e desvios,
que possuem capacidade de gerao relativamente reduzida, mas desempenham um importante
papel nas bacias onde se localizam, sobretudo considerando outros usos da gua.
1Fonte: Agncia Nacional de Energia Eltrica - ANEEL. Banco de Informaes de Gerao - BIG. Disponvel em:
www.aneel.gov.br/ (Capacidade Gerao Brasil) Julho/2009.
-
23
O parque gerador e o sistema de transmisso encontram-se em constante expanso, vi-
sando acompanhar as expectativas de crescimento do pas, que deve atender integralmente sua
demanda, uma vez que a interligao com sistemas vizinhos de base termeltrica ainda inci-
piente.
1.2 Planejamento da Operao
O planejamento da operao energtica visa determinar estratgias de operao que
minimizem o valor esperado do custo de operao do sistema durante o horizonte de
planejamento, no caso brasileiro de at cinco anos frente. O principal objetivo desta etapa
promover o aproveitamento racional dos recursos disponveis a mdio prazo, garantindo
qualidade e segurana no atendimento demanda e satisfazendo as restries operativas do
sistema.
O problema de planejamento da operao energtica muito complexo. No caso
particular do sistema brasileiro, composto por grandes bacias hidrolgicas interligadas com
grande nmero de reservatrios de capacidade de regularizao plurianual, esta complexidade
ainda mais acentuada.
As decises de operao tomadas ao longo do horizonte de planejamento so
dependentes no tempo. Os recursos de gerao, representados pela gua armazenada nos
reservatrios, so limitados, e a deciso em cada estgio de planejamento deve assegurar a
menor complementao trmica no presente sem que a gerao futura seja comprometida,
caracterizando o problema como dinmico e no separvel no tempo.
A aleatoriedade das vazes afluentes s usinas hidreltricas do sistema, do mercado de
energia a ser atendido e do custo de combustvel das usinas trmicas (para no falar do
cronograma de entrada em operao de novas usinas e unidades geradoras) tornam o problema
essencialmente estocstico.
Outro aspecto que acrescenta complexidade ao planejamento da operao hidrotrmica
que as funes de gerao das usinas hidreltricas, que descrevem a converso da gua
turbinada nas usinas em energia eltrica, assim como as funes de custo de produo
-
24
termeltrica, so tipicamente representadas por funes no lineares. Modelos de otimizao
no lineares requerem um esforo computacional bem maior que seus equivalentes lineares.
Alm das caractersticas j destacadas relativas ao sistema de gerao, o sistema de
transmisso da energia gerada nas usinas acrescenta um aspecto adicional de complexidade na
cadeia de coordenao hidrotrmica da operao de curto prazo. Uma representao adequada
do sistema de transmisso fundamental para assegurar a viabilidade do despacho de gerao
na operao do sistema eltrico.
Historicamente, no Brasil e no resto do mundo, para simplificar o problema e permitir
sua soluo, somente tem sido tratada a incerteza das vazes. As incertezas sobre a demanda,
custos de combustvel das termeltricas e cronograma de expanso do sistema no so
explicitamente modeladas, mas consideradas atravs de cenrios mais provveis.
As primeiras estratgias de operao energtica para o sistema eltrico brasileiro, a
partir de 1974, foram calculadas utilizando um mtodo determinstico denominado Mtodo da
Curva Limite Inferior de Armazenamento. Baseado em uma representao agregada do sistema
hidreltrico e em dados histricos de vazes afluentes, o sistema operava de acordo com uma
curva limite, que representava o mnimo armazenamento necessrio para o atendimento da
demanda com a mnima complementao de gerao por termeltricas. Essa poltica operativa
foi substituda posteriormente por um modelo de Programao Dinmica Estocstica (PDE)
desenvolvido pela Eletrobrs em conjunto com o CEPEL (CEPEL/Eletrobrs, 1977) e baseado
em uma representao do parque hidreltrico a sistema equivalente (Terry, 1980).
A representao por sistema equivalente considerada aceitvel no caso de
homogeneidade hidrolgica e forte interligao eltrica do sistema que garanta o suprimento
de energia por qualquer usina (Arvanitidis a Rosing, 1970a). No caso do sistema eltrico
brasileiro, para tentar satisfazer a estes requisitos, a agregao feita em termos de
subsistemas, considerando as capacidades de intercmbio entre eles.
Anos mais tarde foi proposto um mtodo baseado em Programao Dinmica Dual
Estocstica (PDDE) para a otimizao do problema de planejamento da operao energtica
(Pereira e Pinto, 1985). O mtodo proposto resolve o problema atravs da tcnica de
decomposio de Benders, buscando determinar estratgias timas para os subsistemas
-
25
interligados. Este mtodo resultou no modelo denominado NEWAVE utilizado atualmente
pelo setor eltrico brasileiro na determinao de estratgias de operao em mdio prazo.
A Programao Dinmica (PD) (Bellman, 1962) vem sendo extensivamente usada na
otimizao de problemas de planejamento da operao energtica em particular e em
problemas envolvendo sistemas de recursos hdricos em geral. As primeiras aplicaes da PD
na operao de reservatrios usavam a PD discreta convencional, com dados de vazes
afluentes determinsticos (Hall e Esogbue, 1968; Harboe et al., 1970). Com a finalidade de
tratar a natureza estocstica das variveis hidrolgicas do problema, a PDE foi introduzida
subsequentemente na soluo do problema (Gablinger e Loucks, 1970), sendo que em Butcher
(1971) e Torabi e Mobasheri (1973) o processo Markoviano de primeira ordem j era usado no
clculo das probabilidades das vazes condicionadas vazo do ms anterior.
A popularidade da PDE pode ser atribuda a sua habilidade em tratar caractersticas
estocsticas e no lineares que em geral envolvem os problemas de planejamento de recursos
hdricos (Yeh, 1985). O objetivo desta abordagem determinar uma poltica de decises que
fornea, a cada estgio do planejamento, a deciso tima para cada possvel estado do sistema,
o que caracteriza a poltica resultante como uma poltica em malha fechada.
A PDE, no entanto, limitada pela chamada "maldio da dimensionalidade'', uma vez
que nessa abordagem o esforo computacional cresce exponencialmente com o nmero de
variveis de estado do problema, no caso o nmero de reservatrios do sistema. Vrias
abordagens foram sugeridas para superar o problema da dimensionalidade na PDE,
constituindo aproximaes do problema para reduzir o nmero de buscas. Entre as principais
tcnicas esto agregao (Arvanitidis e Rosing, 1970a; 1970b; Duran et al., 1985; Cruz e
Soares, 1996; Turgeon e Charbonneau, 1988), aproximaes sucessivas (Turgeon, 1981), e
anlise do componente principal (Saad e Turgeon, 1988; Saad et al., 1992).
A mais amplamente utilizada a tcnica de agregao, que consiste em resolver o
problema para um reservatrio composto hipottico, representando todo o sistema. Tcnicas de
desagregao so necessrias para determinar a soluo tima para cada reservatrio
individualmente.
-
26
Outra alternativa re-otimizar a cada estgio, em um processo iterativo que requer a
interpolao da funo de valores futuros, seja de forma linear, como na PDDE, (Pereira e
Pinto, 1991) ou no linear (Johnson et al., 1993; Tejada-Guibert et al., 1993). Entre as
vantagens dessa abordagem esto a eliminao da discretizao do espao de estados e o
clculo de limites inferiores e superiores do custo esperado da operao a cada iterao, que
podem ser usados para averiguar a preciso da aproximao da funo de custo futuro. Sua
principal desvantagem que a estocasticidade das vazes requer uma discretizao grosseira,
sendo que a representao de diferentes alternativas de vazes em detalhes a cada estgio
aumenta exponencialmente o nmero de sries de vazes com o nmero de estgios. Alm
disso, o potencial da PDDE no caso de problemas no lineares e no convexos desconhecido
(Lamond e Boukhtouta, 1996).
Mesmo quando necessrias, essas aproximaes de modelagem incorrem na
deteriorao da soluo tima, apesar da soluo sub-tima fornecida por abordagens baseadas
em PDE ser muitas vezes de boa qualidade.
Reconhecendo a necessidade de uma representao mais realista do sistema, e fazendo
uso dos freqentes avanos tecnolgicos, tcnicas de processamento paralelo vm sendo
empregadas para reduzir o tempo computacional para obteno de solues de PDE para
sistemas de mdio porte (Silva e Finardi, 2003). No caso do sistema brasileiro, no possvel
aplicar a PDE a usinas individualizadas e ainda no h uma identificao clara da melhor
forma de agregar os reservatrios, melhorando sua representao e fornecendo melhor
resultado global em tempo aceitvel (Matos et al., 2008).
Como abordagem alternativa otimizao em malha fechada proporcionada pela PDE,
mtodos de otimizao determinstica tm sido propostos integrados a modelos de previso de
vazes para o planejamento da operao energtica. Com a hiptese de afluncias
determinsticas, o problema resultante, em geral, pode ser formulado como um problema de
otimizao no linear e resolvido por algoritmos especializados (Rosenthal, 1981; Carvalho e
Soares, 1987, Oliveira e Soares, 1995).
O modelo de planejamento energtico, formulado como um problema de controle timo
determinstico discreto e resolvido pelo mtodo do gradiente reduzido, foi aplicado ao sistema
hidroeltrico da Hydro-Quebec, caracterizado pela predominncia de gerao de origem
-
27
hidrulica (Hanscom et al., 1980). Para este mesmo sistema, Bissonnette et al. (1986)
apresentaram um modelo de otimizao determinstico baseado em tcnicas de programao
no linear de primeira ordem.
Na otimizao determinstica, a representao do sistema pode ser feita
detalhadamente, considerando cada usina hidreltrica individualmente, incluindo suas
caractersticas no lineares de produo e restries operacionais. A principal caracterstica
deste tipo de metodologia que a mesma pode ser aplicada a sistemas constitudos por
mltiplas usinas hidroeltricas sem simplificaes adicionais. A representao da vazo
afluente, varivel tipicamente estocstica do problema, feita de forma implcita, com
previses permanentemente atualizadas, caracterizando a soluo resultante como uma poltica
de controle em malha aberta.
Com o desenvolvimento e a aplicao de modelos de otimizao determinsticos no
problema de planejamento energtico, surgiu tambm a preocupao de analisar o desempenho
deste tipo de abordagem em relao a tcnicas explcitamente estocsticas como a PDE.
Por produzir polticas de operao consideradas sub-timas, a soluo determinstica da
malha aberta foi considerada inadequada na soluo do problema de otimizao da operao de
reservatrios em geral (Philbrick e Kitanidis, 1999). Entretanto, como os prprios autores
ressaltam, no caso do objetivo ser a gerao de energia a abordagem determinstica pode
resultar em solues sub-timas de muito boa qualidade. A aplicao dessa tcnica deve ser
avaliada cuidadosamente para cada caso.
Em estudos realizados para o sistema hidroeltrico da Turquia (Dagli e Miles, 1980),
foi constatado que a trajetria dos reservatrios resultante da otimizao determinstica
baseada em previses sucessivamente atualizadas foi similar quela obtida supondo-se o
perfeito conhecimento das vazes afluentes ao longo do perodo de planejamento, indicando
um desempenho eficiente da poltica de controle em malha aberta.
Usando dados do sistema hidreltrico da Nova Zelndia (Boshier e Reed, 1981) foi
mostrado que os resultados obtidos com polticas de malha aberta no diferem muito daqueles
obtidos por abordagens de PDE, corroborando os resultados obtidos em (Martinez e Soares,
2002) para usinas isoladas do sistema brasileiro.
-
28
Em Karamouz e Houck (1987) foram avaliadas as abordagens de programao
dinmica determinstica e estocstica na operao de sistemas constitudos de um nico
reservatrio, com diferentes capacidades de armazenamento e localizados em diferentes
regies dos Estados Unidos. As regras operacionais geradas pelas duas abordagens foram
comparadas por simulao, sendo que a abordagem determinstica mostrou-se mais eficiente na
operao de usinas com reservatrios de mdio e grande porte.
Em estudos semelhantes considerando usinas hidreltricas do sistema brasileiro,
concluiu-se que as diferenas nos resultados fornecidos por trs variaes de programao
dinmica estocstica (independente, markoviana e dual) so inexpressivas, at mesmo em
relao sua verso determinstica (Siqueira, 2003; Siqueira et al., 2006).
Para o sistema brasileiro, diferentes concluses foram apresentadas. Em Araripe et al.
(1985) foram comparados o mtodo da curva limite, a abordagem determinstica e a
abordagem estocstica baseada em um nico modelo peridico auto-regressivo de ordem 1. O
estudo envolveu um nico reservatrio equivalente representando um subsistema (Sul e
Sudeste) brasileiro. Os resultados mostraram que, para esse estudo de caso, o desempenho da
poltica de controle em malha fechada foi melhor, e que o desempenho da malha aberta pode
depender do sistema hidreltrico considerado, embora os autores tenham admitido que o
trabalho no constitua comparao definitiva entre as abordagens.
Considerando o SIN, Maceira (2003) compara a PDDE com uma abordagem
determinstica, utilizando os modelos vigentes no SEB. Os resultados obtidos foram favorveis
abordagem estocstica, contudo a verso determinstica testada utiliza sries pr-definidas de
vazes que no representam o valor mais provvel, ou mesmo uma estimativa idnea das
vazes para cada cenrio simulado. Esta uma condio necessria para que polticas baseadas
em otimizao determinstica forneam solues com boa sub-otimalidade, alm da
propriedade de adaptao da soluo a cada estgio, obtida com a realimentao, que tambm
no foi implementada.
Outra alternativa, baseada em otimizao determinstica, consiste na representao da
estocasticidade do problema de planejamento energtico por um conjunto de possveis cenrios
futuros. Este tipo de abordagem conhecido como anlise de cenrios (Dembo et al., 1990;
Dembo, 1991; Alvarez et al., 1994; Mulvey e Ruszczynski, 1995; Escudero et al., 1996) e
-
29
mostra-se muito interessante no apenas para o estabelecimento de regras operativas, mas
tambm como metodologia para anlise de riscos associados soluo, dada a natureza
estocstica do problema.
1.3 Metodologia em Vigor no Setor Eltrico Brasileiro
Devido a sua complexidade, a coordenao da operao de um sistema hidrotrmico
frequentemente determinada por meio de um conjunto de modelos acoplados, considerando
diferentes horizontes de planejamento, com objetivos e restries particulares de cada etapa.
Nesta cadeia de modelos, medida que o horizonte de planejamento diminui a representao
das caractersticas do sistema eltrico aumenta e a representao das incertezas diminui.
Na Figura 2, mostra-se um esquema da cadeia de coordenao hidrotrmica utilizada
pelo SEB. Nesta cadeia, prope-se a diviso do planejamento em trs etapas, ressaltando-se
que o acoplamento entre elas feito por estimativas do custo futuro da operao.
Figura 2: Esquema da cadeia de coordenao hidrotrmica da operao do SEB.
O planejamento da operao engloba as etapas de mdio e curto prazo, em que aspectos
hidrulicos e estocsticos do problema so considerados com maior relevncia.
Mdio Prazo Horizonte: anos
Curto Prazo Horizonte: meses
Programao da Operao Horizonte: 1 a 2 semanas
Plan
ejam
ento
Ene
rgt
ico
Custo futuro esperado por subsistema
Custo futuro esperado por usina
Elevada Incerteza Modelo Equivalente por subsistema Discretizao mensal
Mdia Incerteza Modelo Individualizado Discretizao mensal / semanal
Determinstico Aspectos eltricos Discretizao hora
-
30
No planejamento de mdio prazo, considera-se uma discretizao mensal que abrange
um horizonte de alguns anos frente. Como o grau de incerteza das vazes alto, considera-se
importante o uso de modelos estocsticos. Entretanto, a representao individualizada das
usinas hidreltricas e a considerao estocstica das afluncias, em um nico modelo
matemtico, tornam-se extremamente difceis.
O modelo em uso atualmente pelo setor, denominado NEWAVE, estocstico e utiliza
PDDE (Pereira, 1989) para determinar a poltica operativa que minimiza o custo esperado da
operao para um horizonte de planejamento de at cinco anos. Esse modelo tambm
utilizado para realizar simulaes da operao do sistema com at 2000 sries sintticas de
energias afluentes. utilizada a abordagem de sistemas equivalentes em que o conjunto de
usinas hidreltricas pertencentes a um mesmo subsistema agregado em um nico reservatrio
equivalente e o sistema de gerao termeltrica representado por classes, de acordo com seus
custos e valores de gerao mnima e mxima. Como resultado, o modelo fornece uma funo
de custo futuro que acoplada ao modelo de curto prazo no final do horizonte de planejamento
(Rodrigues et al., 2001), este responsvel pela desagregao dos subsistemas a usinas
individualizadas.
O planejamento de curto prazo abrange um horizonte de alguns meses e, como o grau
de incerteza das vazes menor que no mdio prazo, o problema tratado de forma
determinstica. A soluo consiste em decises de operao individualizadas, considerando o
acoplamento hidrulico e as possveis diversidades hidrolgicas entre os rios.
No modelo utilizado pelo setor, chamado DECOMP (Costa et al., 1994), as usinas
hidreltricas so representadas individualmente e o clculo da poltica operativa utiliza PDDE,
considerando a funo de custo futuro fornecida pelo modelo de mdio prazo. O horizonte de
planejamento de dois meses com discretizao semanal para o primeiro ms, utilizando
afluncias determinsticas fornecidas por um modelo de previso de vazes, e considerando
cenrios de afluncias para o segundo ms. Novamente uma funo de custo futuro obtida e
utilizada para acoplar este modelo ao de programao da operao.
Paralelamente a estes, um modelo de simulao/otimizao a usinas individualizadas
est atualmente em processo de reviso e avaliao para sua adoo definitiva pelo SEB. O
modelo SUISHI-O (CEPEL, 2007) acopla-se ao modelo NEWAVE atravs de suas funes de
-
31
custo futuro e, portanto, pode ser usado para desagregar sua soluo a usinas individualizadas.
Seu mdulo de otimizao do balano hidrotrmico entre subsistemas tem como objetivo
definir as metas de gerao hidrulica para cada subsistema. Isto feito mediante a soluo de
um problema de programao linear (PL), cuja funo objetivo a soma do custo presente com
o custo futuro, sujeito s restries de balano hdrico, atendimento demanda,
armazenamento mximo, gerao hidrulica mxima e tambm funo de custo futuro,
proveniente do modelo NEWAVE. O mdulo de simulao a usinas individualizadas tem a
finalidade de operar as usinas dos subsistemas atendendo a gerao hidrulica definida no
mdulo de otimizao, seguindo faixas operativas estabelecidas para os reservatrios de
acumulao das usinas hidreltricas.
A programao da operao engloba a etapa de curtssimo prazo, na qual as restries
vindas da operao eltrica do sistema so consideradas com maior relevncia. O horizonte
utilizado de at duas semanas, e o objetivo determinar o despacho timo horrio de gerao
para o sistema hidrotrmico, de modo a minimizar o custo total de operao no perodo de
planejamento. Como o horizonte pequeno, os valores de afluncias so considerados
conhecidos e todos os aspectos energticos, hidrulicos e, sobretudo, eltricos devem ser
considerados.
Atualmente em processo de avaliao, o SEB utiliza um modelo baseado em
Programao Dinmica Dual Determinstica (PDDD), denominado DESSEM, em um
horizonte de duas semanas, com discretizao semi-horria na primeira e horria na segunda,
considerando, ao final desse perodo, a funo de custo futuro calculada pelo modelo de curto
prazo. Tal modelo tem como meta representar com detalhes as restries de usinas hidreltricas
e trmicas. A transmisso pode ser modelada por uma representao linearizada da rede
eltrica ou apenas pelos limites de intercmbio entre os subsistemas (Rodrigues et al., 2001).
O foco desse trabalho o planejamento da operao e uma proposta alternativa
metodologia estocstica aqui descrita ser apresentada no captulo seguinte.
-
33
CAPTULO 2 METODOLOGIA PROPOSTA
Este captulo apresenta a poltica operativa proposta para o planejamento da operao
energtica, denominada ODIN, baseada em uma tcnica de controle preditivo determinstico.
Essa poltica est fundamentada na utilizao de trs modelos, que tambm sero detalhados
nesse captulo: modelo de otimizao no linear, modelo de previso de vazes e modelo de
simulao a usinas individualizadas.
2.1 Poltica Operativa baseada em Controle Preditivo
A estratgia de operao de um sistema hidrotrmico, ao longo do perodo de
planejamento, definida por uma poltica operativa. No mdio prazo, ela estabelece as metas
mensais de vazo turbinada de que cada usina hidreltrica (UHE) no sistema ir dispor para dar
sequncia ao planejamento de curto prazo. Em tempo de simulao, uma poltica operativa
dita real se no faz uso das informaes das quais no disporia no tempo real da operao. Por
exemplo, no inicio de um dado ms, no se conhecem as vazes afluentes que chegaro
durante aquele ms, de forma que preciso programar-se desprezando essa informao, ou
utilizando valores esperados.
A escolha da poltica operativa remete principalmente aos objetivos que se deseja
atingir no horizonte de planejamento. uma deciso estratgica uma vez que as decises
geradas pelas polticas operativas de mdio prazo serviro de meta para o curto prazo, que por
sua vez alimentar outros modelos na cadeia de coordenao. Alm disso, uma poltica
operativa econmica e confivel fundamental para a utilizao efetiva dos recursos
-
34
energticos e a garantia de suprimento de energia no futuro, o que por sua vez pode ser um
diferencial econmico para o pas.
Abordagens estocsticas so, de modo geral, mais indicadas na literatura e aquelas
baseadas em programao dinmica tm sido amplamente utilizadas para o planejamento timo
da operao de sistemas hidrotrmicos em vrios pases (Labadie, 2004), principalmente por
sua capacidade de lidar com objetivos no lineares e restries complexas, garantindo a
obteno de solues timas (Bertsekas, 1987).
Entretanto, em muitos problemas prticos, conforme mencionado no captulo anterior, a
aplicao da tcnica de programao dinmica na busca de uma soluo em malha fechada
pode ser computacionalmente impraticvel devido dimenso do problema de otimizao
resultante. Dessa forma, uma boa opo o uso de abordagens determinsticas para a
otimizao, baseadas em algum tipo de representao dos dados incertos do problema. Nessa
abordagem, dita de malha aberta, as decises so tomadas a cada instante de tempo,
aproveitando informaes passadas recentes.
Num contexto de planejamento a usinas individualizadas, no qual as particularidades e
restries de cada UHE so explicitamente representadas e tratadas individualmente, foi
desenvolvida uma poltica operativa baseada em uma tcnica muito difundida na rea de
controle timo.
O modelo proposto, denominado ODIN (Otimizao do Despacho Interligado
Nacional) fundamenta-se na combinao de um modelo de otimizao determinstica a usinas
individualizadas alimentado por um modelo estocstico de previso de vazes. A composio
desses dois modelos permite criar uma poltica operativa de malha aberta para o planejamento
da operao do sistema hidrotrmico cujo desempenho mostrou-se semelhante ao da
programao dinmica estocstica, para sistemas com uma nica usina hidreltrica,
considerando um modelo peridico auto-regressivo de ordem um para as vazes (Martinez e
Soares, 2002).
ODIN uma poltica operacional baseada em um processo adaptativo de tomada de
decises onde, a cada estgio de tempo, as decises (turbinagens) so determinadas pelo
modelo de otimizao no linear a usinas individualizadas alimentado com uma previso das
-
35
vazes para certo perodo futuro. O procedimento de previso/otimizao repetido a cada
estgio do horizonte de planejamento visando minimizar os desvios na trajetria tima dos
reservatrios das usinas provocados pelos erros entre os valores previstos e verificados das
vazes.
Um esquema da operao segundo essa poltica pode ser visto na Figura 3, para um
dado instante de tempo t.
Poltica operativa
y1.t-1
Figura 3: Diagrama esquemtico da poltica operativa ODIN.
Para cada estgio t de planejamento, o estado do sistema observado e utilizado como
condio inicial para a resoluo de um problema de otimizao determinstica, para um dado
horizonte de otimizao [t, T*]. Essa otimizao tem como base os valores previstos dos
parmetros incertos do sistema *..Tty , ao longo do horizonte de otimizao e apenas a soluo
tima do primeiro estgio q*t selecionada para atuar no sistema e submetida ao simulador. No
estgio seguinte, t+1, o novo estado do sistema observado e a previso das incertezas
atualizada, considerando as ltimas informaes disponveis no sistema. Esse procedimento de
previso/otimizao repetido at o fim do horizonte de planejamento, estgio T.
Para definir o horizonte de otimizao, alguns pontos tiveram que ser observados. Para
uma simulao com T estgios, T otimizaes sero realizadas, de modo que quanto maior o
horizonte de otimizao maior o tempo computacional para obter a resposta. Alm disso, os
mtodos de previso de vazes tendem a perder qualidade ao preverem muitos perodos
Estado final: xt Vazo afluente de simulao: yt
Estado inicial do sistema: xt-1
xt-1
Deciso tima: q*t
Otimizador
Previsor
Vazes previstas: *.. Tty
Simulador (Balano hidrulico)
-
36
frente. Entretanto, num horizonte muito pequeno, as condies de contorno poderiam
influenciar negativamente os resultados da otimizao.
Dessa forma, optou-se por um perodo de otimizao com tamanho varivel, entre 12 e
23 meses, incluindo a prxima estao chuvosa, adotando uma condio de reservatrios
cheios ao final desse perodo. Esta deciso baseia-se na observao de diversas solues
obtidas por otimizao determinstica, que mostram que frequentemente os reservatrios
deveriam encontrar-se cheios ao final do ms de abril, que marca o incio da estao seca na
maioria das bacias hidrogrficas brasileiras (Martinez e Soares, 2002). Esse comportamento
est relacionado dimenso dos reservatrios brasileiros e sua capacidade de regularizao
plurianual.
Isso significa que o horizonte de otimizao varivel, dependendo do estgio corrente
de planejamento. Como a estao de seca comea em maio na maioria das regies brasileiras,
adota-se um horizonte de otimizao que termina em abril com reservatrios de acumulao
nos nveis mximos. Ento, para um dado estgio de simulao correspondendo ao ms de
setembro, por exemplo, o horizonte de otimizao T* ser de 20 meses.
Sendo baseada em um modelo determinstico de otimizao, a poltica ODIN permite a
representao do sistema hidrulico em detalhes, considerando cada usina individualmente,
com restries operacionais no lineares, e pode ser diretamente aplicada ao planejamento da
operao de sistemas de grande porte sem a necessidade de qualquer simplificao.
Essa idia no nova na literatura e prtica de controle timo. Desde a dcada de 80
esta tcnica j aplicada para soluo de problemas de controle timo de processos industriais.
Na literatura, modelos utilizando essa abordagem tm recebido uma variedade de nomes
diferentes. Muitos destacam a caracterstica do controle com realimentao, como Certanty
Equivalent Open-Loop Feedback Control (Papageorgiou, 1988), Deterministic Feedback
Control (Philbrick e Kitanidis, 1999) e Open Loop Feedback Control (Martinez, 2001).
Mais recentemente, muitos autores tm se referido a esse tipo de tcnica como Model
Predictive Control (MPC) (Allgower e Zheng, 2000; Rossiter, 2003, Camacho et al., 2004),
destacando o uso de valores previstos para estimar incertezas. Essa terminologia ser adotada
nesse trabalho.
-
37
Philbrick e Kitanidis (1999) alertam que essa metodologia tem limitaes,
principalmente no que se refere antecipao de contingncias como enchentes ou falta de
abastecimento. Entretanto os autores ressaltam que no caso do objetivo ser a gerao de
energia, essa abordagem pode produzir solues sub-timas de muito boa qualidade. Quando
os nveis dos reservatrios so mantidos em valores prximos a seus nveis meta (para fornecer
uma altura de queda tima), as capacidades finitas dos reservatrios podem no restringir
significativamente a operao normal, e o desempenho resultante pode ser aproximado por
uma funo quadrtica dos armazenamentos e defluncias dos reservatrios. Nessas condies
o problema de otimizao estocstica pode ser considerado muito prximo do seu equivalente
certo.
O princpio da equivalncia certa ou Certainty Equivalence Principle (Bryson e Ho,
1975) estabelece que a lei do controle timo para problemas de controle estocsticos tem a
mesma estrutura da lei de controle timo para o problema determinstico (certamente
equivalente) associado. A nica diferena que na lei de controle estocstico as verdadeiras
variveis de estado, desconhecidas, so substitudas por seus valores esperados.
A validade desse princpio leva ao chamado teorema da separao, que estabelece a
concluso de que o estimador (previsor) e o controlador (otimizador) podem ser modelados
independentemente.
O princpio da equivalncia certa foi inicialmente provado para sistemas LQG (Joseph
& Tau, 1961; Gunckel e Franklin, 1963), determinando que esse processo de otimizao da
previso estatstica e da deciso do sistema separadamente capaz de fornecer uma poltica
tima de deciso em problemas de tempo discreto cuja funo de transio linear em relao
incerteza considerada e a funo de custo quadrtica, assumindo as variveis de controle
ilimitadas bem como rudo e perturbao gaussianos na varivel aleatria.
Tambm foi estabelecido que para sistemas lineares em tempo discreto com variveis
de controle limitadas e com padro de informao estritamente clssico (histrico de todas as
medidas e controles anteriores), a distribuio de probabilidades condicional do estado
estimado independente da formulao de controle timo (Sriebel, 1965).
-
38
Para outros casos lineares com diferentes estatsticas tambm foi possvel provar a
validade do princpio da equivalncia certa (Root, 1969; Tse e Bar Shalom, 1975). Entretanto,
para muitos problemas prticos o princpio da equivalncia certa no pode ser provado.
Exceto para casos em que o controle em malha fechada afeta a estimao das incertezas
envolvidas, violando claramente o teorema da separao, necessrio estudar e testar a
aplicao dessa tcnica a cada tipo de problema, avaliando se a soluo sub-tima fornecida
de boa qualidade.
A seguir sero descritos os trs modelos utilizados para compor a abordagem MPC para
o planejamento da operao energtica.
2.2 Modelo de Otimizao
A operao energtica de um sistema hidrotrmico de potncia pode ser formulada
como um problema de otimizao no linear a usinas individualizadas, cuja verso
determinstica tem a seguinte representao matemtica:
Objetivo:
(2-1) = =
Tt
J
jtjjt z
1 1, )(.min
Sujeito a:
ttt Dpz =+ (2-2) t
(2-3) =
=J
jtjt zz
1, t
(2-4) max,min
jtjj ZzZ tj,
(2-5) =
=I
itit pp
1, t
titiiti qhkp ,,, ..= (2-6) ti, (2-7) )()()( ,,,, tiitii
medtiiti qhpuhtxhfh = ti,
-
39
2
,1,,
titimedti
xxx
+= (2-8) ti,
(2-9) .,,,1,,
++=
ti
ktktititi uuyxx
i
ti,
tititi vqu ,,, += (2-10) ti, (2-11) max,,
min, tititi xxx ti,
(2-12) max,,min, tititi uuu ti,
(2-13) )( ,max,,
min, titititi hqqq ti,
e dados (2-14) 0, tiv 0,ix ti,em que:
T : nmero de estgios de tempo t;
I : nmero de usinas hidreltricas do sistema;
J : nmero de usinas termeltricas do sistema;
(i, t) : vlido para a usina i durante o estgio t
t : coeficiente de atualizao dos custos mensais para valor presente; j(.) : funo de custo de gerao termeltrica [$]; zj,t : gerao da usina termeltrica [MW];
pi,t : gerao da usina hidreltrica [MW];
ki : constante de produtibilidade especfica [MW/m3/s/m];
Dt : mercado [MW];
Zjmax : gerao mxima da usina termeltrica [MW];
Zjmin: gerao mnima da usina termeltrica [MW];
xi,t : volume do reservatrio no final do estgio [hm];
hi,t : altura de queda lquida do reservatrio[m];
xi,tmax : volume mximo do reservatrio [hm];
xi,tmin : volume mnimo do reservatrio [hm];
ui,t : vazo defluente do reservatrio [m/s];
qi,t : vazo turbinada do reservatrio [m/s];
vi,t : vazo vertida do reservatrio [m/s];
-
40
yi,t : vazo incremental afluente do reservatrio [m/s];
hfi(x) : funo que descreve a cota de montante do reservatrio (forebay)[m];
hti(u) : funo que descreve a cota de jusante da usina (tailrace)[m];
hpi(u) : funo que descreve a perda hidrulica da usina [m];
: parmetro de converso de vazo (m3/s) em volume (hm3/ms); i : conjunto das usinas imediatamente montante da usina i. Os limites operativos de volume e vazo defluente dos reservatrios foram indexados
no tempo para permitir a considerao de restries de usos mltiplos da gua. O limite
mnimo de operao de um reservatrio pode variar no tempo em funo, por exemplo, do uso
do reservatrio para fins de navegao, abastecimento de gua, irrigao e recreao. O limite
mximo de operao pode variar no tempo em funo de restries de controle e segurana de
barragens e controle de cheias (volume de espera).
O custo operacional j(.) representa o custo de gerao trmica complementar realizada por uma usina trmica j. Os custos associados importao de mercados vizinhos e ao no
suprimento de energia (dficit ou racionamento) podem ser modelados de modo semelhante. O
custo associado gerao hidreltrica , geralmente, muito baixo em relao ao custo da
gerao termeltrica e foi desprezado nesse modelo. O coeficiente t representa a atualizao para valor presente dos custos mensais de complementao no hidrulica, sendo dependente
da taxa de juros adotada.
A gerao hidreltrica pi,t em cada usina i no estgio de tempo t representada pela
equao (2-6), sendo essa uma funo no linear do volume de gua armazenado no
reservatrio xi,t e das vazes turbinada qi,t e vertida vi,t da usina. A equao (2-9) representa o
balano de conservao de gua nos reservatrios.
A varivel de deciso a turbinagem qi,t. A varivel de vertimento vi,t ser calculada
durante a simulao como um excesso sobre a turbinagem mxima, necessrio para manter a
factibilidade do sistema quando o reservatrio encontra-se cheio. Em outras palavras, o
vertimento no uma varivel de deciso, mas pode ser considerada uma varivel de folga,
uma vez que s ser diferente de zero se no houver meios de armazenar ou turbinar mais
gua.
-
41
A cota de montante hf(x) e a cota de jusante ht(u) so funes representadas por
polinmios de at quarto grau em funo do volume absoluto e da vazo defluente,
respectivamente. A funo de perda de carga hidrulica hp(q) uma funo quadrtica da
vazo turbinada e representa a perda, em metros, associada ao atrito entre a gua e as paredes
da tubulao de aduo, considerando a viscosidade da gua.
Na Figura 4 ilustram-se as principais variveis hidrulicas do modelo.
Figura 4: Esquema de variveis hidrulicas do modelo.
2.2.1 Decomposio do problema
A formulao apresentada para o problema engloba os sistemas hidreltrico e
termeltrico de gerao. Porm, com exceo da equao (2-2), os problemas seriam
independentes uma vez que a funo objetivo e as restries poderiam ser separadas em duas
partes, uma abordando o sistema hidreltrico e outra abordando o sistema termeltrico. A
equao (2-2) , portanto, responsvel pelo acoplamento dos dois subsistemas.
O problema (2-1)-(2-14) pode, ento, ser escrito como:
Objetivo:
[ ]=
T
tttt pD
1
)(.min s.a.
(2-5)-(2-14)
Problema Hidrulico
-
42
sendo:
=
=J
jtjjt zz
1, )(min)(
s.a.
(2-3)-(2-4)
A determinao da funo requer que o problema trmico seja resolvido para
diversos valores de gerao do sistema trmico. A soluo de cada um destes problemas deve
distribuir, entre as usinas termeltricas do sistema, a gerao trmica total zt, de maneira que o
custo trmico seja mnimo. Na literatura, este problema recebe o nome de Despacho
Econmico Termeltrico (DET) (El-Hawary e Christensen, 1979).
)( tz
A consequncia direta desta nova apresentao da formulao que o problema
hidrulico pode ser resolvido a partir de uma otimizao prvia do sistema trmico. Esta
otimizao deve ser realizada para diversos valores de gerao trmica, cobrindo toda a faixa
de operao do sistema termeltrico.
O custo operacional representa o custo mnimo de gerao trmica complementar,
e pode incluir importao de mercados vizinhos e dficit de energia (racionamento). Como
consequncia da soluo do problema trmico,
(.)
(.) uma funo convexa crescente com o aumento de gerao complementar zt e, portanto, decrescente com o aumento de gerao
hidreltrica pt, e dependente da demanda Dt.
A funo objetivo do problema hidrulico se apresenta de forma bastante coerente com
a realidade dos sistemas hidrotrmicos, pois a otimizao dos recursos hidrulicos busca
minimizar o custo da complementao trmica no sistema. Dessa forma, quanto maior for o
despacho pelo sistema hidreltrico, menor ser a complementao trmica necessria para
atender a demanda, e, consequentemente, menor o custo da operao.
Problema Trmico
-
43
2.2.2 Tcnica de soluo
A formulao apresentada foi utilizada por Cicogna (1999) na implementao de um
modelo de fluxo em redes com arcos capacitados, denominado HydroMax, que foi utilizado
como ferramenta de otimizao na poltica de controle preditivo ODIN.
A soluo do problema (2-1)-(2-14), para um dado estado inicial de armazenamento
dos reservatrios do sistema, ento obtida por um algoritmo especialmente desenvolvido para
aproveitar a estrutura do problema (Carvalho e Soares, 1987; Oliveira e Soares, 1995).
Algoritmos de fluxo em redes podem ser at 100 vezes mais eficientes que os algoritmos
clssicos de programao linear baseados no mtodo simplex, e tm sido amplamente
aplicados para problemas de operao de sistemas hidrotrmicos. Essa tcnica permite uma
representao mais eficiente da matriz base como uma rvore na rede, simplificando a
representao das bases (rvores) e seus procedimentos de mudana pela explorao de uma
rede cujos ns representam as usinas hidreltricas nos estgios de tempo e possuem apenas
dois arcos deixando cada n (armazenamento e defluncia).
Na Figura 5 apresentado um esquema da rede de usinas hidreltricas e seus arcos de
deciso, conforme implementado no modelo HydroMax.
2
1
3
4
Rede Bsica
3
1 2
4
Cascata Real
Usina com reservatrio
Usina a fio dgua Expanso temporal
Intervalo 1 Intervalo 2 Intervalo T
2,1
1,1
3,1
4,1
2,2
1,2
3,2
4,2
2,T
1,T
3,T
4,T
...
...
...
...
...
Volume
Defl
un
cia
2
1
3
4
Rede Bsica
2
1
3
4
2
1
3
4
Rede Bsica
3
1 2
4
Cascata Real
Usina com reservatrio
Usina a fio dgua
3
1 2
4
3
1 2
4
Cascata Real
Usina com reservatrio
Usina a fio dgua Expanso temporal
Intervalo 1 Intervalo 2 Intervalo T
2,1
1,1
3,1
4,1
2,2
1,2
3,2
4,2
2,T
1,T
3,T
4,T
...
...
...
...
...
Volume
Defl
un
cia
Expanso temporal
Intervalo 1 Intervalo 2 Intervalo T
2,1
1,1
3,1
4,1
2,2
1,2
3,2
4,2
2,T
1,T
3,T
4,T
...
...
...
...
...
Volume
Defl
un
cia
Figura 5: Esquema de estrutura da rede de usinas hidreltricas no modelo HydroMax.
-
44
2.3 Modelo de Previso de Vazes
No contexto da metodologia de controle preditivo, o mtodo de estimao das
incertezas tem um papel fundamental, capaz de determinar a eficcia dessa tcnica em
aplicaes especficas. Conforme mencionado na seo 2.1, imprescindvel que o modelo de
previso fornea estimativas adequadas da varivel estocstica, j que o modelo pressupe o
uso do seu valor mais provvel.
Uma das principais dificuldades na previso de sries de vazes a caracterstica
sazonal das sries, que apresentam perodos tipicamente secos e midos no ano. Alm disso os
dados reais podem conter rudos ou mesmo apresentar contradies e imperfeies. Dessa
forma, necessrio que o mtodo de previso seja tolerante a impreciso e incerteza a fim de
atingir adaptabilidade e robustez.
Os modelos estocsticos foram, por um longo tempo, a alternativa mais comum aos
modelos estatsticos ou hidrolgicos na anlise e previso de vazes, baseados principalmente
na metodologia de Box & Jenkins. Esta metodologia exige algum tipo de manuseio nos dados
para tratar a no-estacionariedade ou o uso de modelos peridicos, necessitando de uma
complexa formulao terica para os procedimentos estatsticos.
Tradicionalmente a classe de modelos Auto-Regressivo com Mdias Mveis (Auto-
Regressive Moving Average ARMA) tem sido o mtodo estatstico mais amplamente
utilizado para a modelagem de sries temporais de recursos hdricos, sendo utilizado pelo SEB
para fornecer previses mensais de vazes (Sales e Vieira, 1984).
2.3.1 Previsor estatstico
Uma forma simplificada de se estimar o valor esperado em uma srie o uso de
parmetros estatsticos como mdia e mediana. Trata-se do mais simples dos previsores, aquele
que considera a mdia dos valores passados da srie como seu valor mais representativo.
O primeiro mtodo de previso utilizado na metodologia proposta considera ento os
valores mensais da Mdia de Longo Termo (MLT). Dessa forma, o previsor fornece um valor
determinstico que depende apenas do ms em questo. Este mtodo prtico e simples, mas
-
45
no agrega ao modelo um tratamento estocstico implcito para as variveis incertas. Alm
disso, como o valor previsto para um dado ms invariante, a realimentao no surte o efeito
de minimizar os erros de previso.
Dessa forma, com o uso deste previsor espera-se que a metodologia proposta fornea
resultados razoveis, uma vez que o valor mdio , em geral, uma boa representao de um
conjunto de valores, mas que tais resultados sejam facilmente superados com a utilizao de
mtodos de previso mais especializados para a previso de vazes.
2.3.2 Previsor baseado em inteligncia computacional
A estocasticidade dos fenmenos hidrolgicos somada aos possveis erros de
mensurao, comuns na maioria de procedimentos de coleta de dados, e outros fatores
externos, tornam a modelagem e a previso das vazes afluentes uma tarefa difcil, levando a
resultados insatisfatrios ou pouco adequados. Logo, faz-se necessrio utilizar modelos
capazes de lidar com as incertezas inerentes ao problema abordado, e que possuam capacidade
de adaptao a possveis mudanas no processo. Nesse sentido, as Redes Neurais Artificiais
(RNA), os sistemas nebulosos (fuzzy) e modelos neurais-nebulosos (neurofuzzy) mostram-se
como ferramentas interessantes na construo de modelos de previso de vazes, uma vez que
estas ferramentas possuem as caractersticas requeridas.
Diversas abordagens neurais e nebulosas vm sendo fortemente utilizadas para fins de
previso de sries temporais, tendo como objetivo aproveitar as dependncias lineares e no
lineares entre as variveis de entrada e sada, como uma maneira de extrair a maior quantidade
de informao possvel a partir dessas variveis e obter assim, modelos de sries temporais
mais eficientes. Estes modelos vm mostrando resultados bastante promissores quando
utilizados na modelagem e previso de sries temporais, sendo estes aplicados nas mais
diversas reas como economia, fsica, engenharia (Nie, 1997) e recursos hdricos (Zealand et
al., 1999, Luna et al., 2005).
Os modelos baseados em inteligncia computacional tornaram-se alternativas atraentes
para o estudo das sries temporais, devido a sua capacidade de tratar as incertezas que podem
estar presentes nos dados, a capacidade de realizar mapeamentos no lineares, assim como a
adaptao a possveis mudanas na dinmica da srie quando se trata de modelos adaptativos.
-
46
Uma abordagem que tem se mostrado bastante promissora resulta da unio das RNAs
com teoria de conjuntos e inferncia nebulosa, adicionando s vantagens j mencionadas das
redes neurais, a ampla capacidade de representao do conhecimento e raciocnio da lgica
nebulosa. De fato, estratgias baseadas em sistemas hbridos, como a Rede Neural Nebulosa
(RNN) (Gomide et al., 1995) e Sistema de Inferncia Nebulosa (Fuzzy Inference System - FIS)
(Pedricz, 1993; Takagi e Sugeno, 1985) provaram sua eficincia na soluo de problemas de
previso de sries temporais, em especial, de previso de srie de vazes (Atiya et al., 1999;
Ballini, 1998; 2000; Solomatine e Siek, 2006; Luna et al., 2007)
Dois previsores baseados em redes neurais e lgica nebulosa foram utilizados para
compor a metodologia MPC proposta, um baseado em RNN e outro em FIS. Em ambas o
processo de treinamento dos modelos feito previamente, por posto de vazo. O procedimento
adotado para o ajuste dos modelos de previso consiste na utilizao do histrico disponvel
para a construo de padres de entrada-sada. As entradas so compostas por atrasos da
prpria srie, os quais so escolhidos utilizando o Critrio de Informao Bayesiano (BIC).
Aps o pr-processamento dos dados, os modelos so ajustados utilizando os respectivos
algoritmos de aprendizado.
Este procedimento realizado antes do processo de simulao, durante o qual, a cada
estgio do planejamento, apenas so fornecidas as entradas (vazes passadas) e uma estimativa
para a vazo afluente em um dado horizonte solicitada ao modelo de previso ajustado. As
estruturas dos modelos RNN e FIS, assim como os algoritmos de aprendizado utilizados so
descritos a seguir.
Previsor por redes neurais nebulosas
A rede RNN utilizada neste trabalho foi desenvolvida por Ballini (2000) e utiliza um
processo adaptativo no treinamento das redes. Dessa forma, os parmetros essenciais para a
modelagem do sistema nebuloso, tais como as regras nebulosas e as funes de pertinncia, so
ajustados atravs de um mtodo de aprendizado construtivo que adiciona neurnios estrutura
da rede medida que um novo conhecimento se faz necessrio.
-
47
A estrutura da rede, que apresenta uma arquitetura no recorrente com 5 camadas, pode
ser vista no esquema da Figura 6.
Figura 6: Rede Neural Nebulosa.
A rede RNN codifica na sua estrutura neural uma base de regras na forma de sentenas
do tipo Se um conjunto de condies satisfeito Ento um conjunto de consequentes
inferido.
Um esquema da definio dessas regras encontra-se na Tabela 1, sendo que:
uma varivel nebulosa e M o nmero de entradas; e so conjuntos
nebulosos representados por funes de pertinncia sendo N o nmero de regras nebulosas; y
uma varivel real e wi uma constante, ambas definidas no espao de sada. Os valores de
representam os pesos sinpticos correspondentes aos consequentes das regras
nebulosas.
Mjx j ,,1, K=
ii wxw =)(
jAijA
-
48
Tabela 1: Base de Regras Nebulosas
Entradas: MM AxeAx L11
111
11 wyEntoAxeAxSe MML Regras:
iiMM
i wyEntoAxeAxSe L11
NNMM
N wyEntoAxeAxSe L11 Sada: )(xyy =
A primeira camada da rede processa as variveis de entrada conforme a equao (2-15).
(2-15)
=contrriocaso
xxxsea FkIk
k
jjjj ,0
],(,1
Assim, o valor numrico da sada y determinado por uma sequncia de trs estgios de
processamento, como segue:
1. Comparao: Realizada na segunda camada. Para cada regra i = 1,.., N e para cada
antecedente j = 1, .., M calcula-se a medida de possibilidade entre os conjuntos fuzzy e
, da seguinte forma:
ijP jA
ijA
{ }))(),(()( xAxATSxP ijjkij = (2-16) onde S e T so operadores lgicos, correspondentes a uma s-norma e uma t-norma,
respectivamente, e o vetor de entrada. '1 ),,,,( Mj xxxx KK=
2. Agregao dos Antecedentes: Realizada na terceira camada. Para cada regra i = 1,..,
N agregam-se os valores de cada um dos antecedentes, atravs de uma t-norma. O resultado
desta agregao chamado de nvel de ativao iH , definido por:
{ })()( xPTxH ijji = (2-17) onde a notao a aplicao da norma T para todo j= 1, .., M relativo ao vetor de
entrada x.
),( j
T
-
49
3. Agregao das Regras: Realizada na quarta e quinta camadas. A sada y do sistema
de inferncia codificada na ltima camada da rede realizada atravs de uma mdia ponderada
entre os consequentes e os nveis de ativao calculados em (2-17) para cada regra, dada por:
=
== Ni
i
N
ii
i
xH
wxHxy
1
1
)(
)()( (2-18)
A estratgia de aprendizagem da RNN divide-se em duas fases. A primeira fase
corresponde aprendizagem no supervisionada, ou seja, a aprendizagem processa-se sem que
as sadas sejam fornecidas, envolvendo somente uma parte da arquitetura, mais
especificamente a segunda camada. Nesta fase, a rede aprende as funes de pertinncia dos
antecedentes das regras fuzzy enquanto ajusta os pesos sinpticos associados a esta camada. O
mtodo utilizado durante esta etapa do tipo competitivo, baseado nas redes do tipo Kohonen
(Kohonen, 1997). A segunda fase adota um mtodo supervisionado, baseado no mtodo do
gradiente para aprendizagem dos consequentes das regras, e envolve apenas o ajuste dos pesos
da quarta camada.
O algoritmo de aprendizagem capacita a RNN a adquirir novos conhecimentos
codificando novas regras nebulosas em sua estrutura, alterando a arquitetura da rede. Portanto,
o nmero de regras nebulosas codificadas pela rede, correspondente ao nmero de grupos de
neurnios na segunda camada, no constante, ou seja, N=N(t).
Essa abordagem se mostrou mais eficiente na previso de vazes mensais do que
modelos RNA clssicos (Ballini et al., 2000) e mtodos ARMA (Ballini et al., 2001). Uma
descrio completa do algoritmo de aprendizado, assim como outros detalhes referentes
estrutura da RNN, encontra-se em Ballini (2000).
Previsor por sistemas de inferncia nebulosa
O modelo utilizado nesse trabalho foi desenvolvido por Luna (2007) e utilizado no
processo de inicializao de um modelo construtivo para previso de sries temporais.
-
50
Um sistema nebuloso essencialmente um sistema baseado em regras lingusticas do
tipo se-ento. Estas regras so as responsveis por representar o conhecimento adquirido
pelo especialista, ou extrado de dados na forma de variveis de entrada e sada ao sistema.
Geralmente, sistemas baseados em regras nebulosas do tipo se-ento so compostos por
um mecanismo de inferncia nebulosa, uma base de regras e um defuzzyficador, o qual o
responsvel pelo processamento das sadas locais de cada uma das regras nebulosas (Luna et
al., 2003). J o mecanismo de inferncia encarregado de mapear a transformao nebulosa do
espao de entrada para o espao de sada utilizando, por sua vez, a base de regras que compe
o sistema.
Existem diversas abordagens para a construo de sistemas baseados em regras
nebulosas. O modelo FIS aplicado neste trabalho para a previso das sries de vazes
baseado no sistema nebuloso Takagi-Sugeno (TS) (Takagi e Sugeno, 1985). A estrutura geral
adotada para o FIS esboada na Figura 7, onde o vetor de entradas no
estgio t e a sada do modelo para a entrada xt. Os consequentes fornecem as sadas
das regras nebulosas representadas por , i=1,.,M, sendo M o nmero de regras nebulosas
codificadas no FIS.
ptp
ttt Rxxxx = ],...,,[ 21Ryt
tiy
Regra
Regra
Regra
Base de Regras
Partio do espao de entrada
Figura 7: Esquema do Sistema de Inferncia Nebulosa.
O espao de entrada particionado em M sub-regies, cada uma destas representada
por uma regra nebulosa Ri, i=1,.,M. Cada padro de entrada ter um certo grau de pertinncia
em relao a cada partio do espao de entrada, calculado a partir de funes de pertinncia
-
51
Gaussianas , que dependem fortemente dos seus centros e matrizes de covarincia
associadas partio nebulosa e s funes de pertinncia. Dessa forma, a sada do modelo
, representando o valor previsto para um estgio futuro, calculada pela mdia ponderada
no linear das sadas locais e seu respectivo grau de pertinncia , de acordo com a
seguinte equao:
ti
ti gxg =)(
ty
tiy
tig
(2-19) =
=M
i
ti
ti
t ygy1
Neste caso, os consequentes das regras nebulosas foram definidos como modelos
lineares, de forma que . O nmero de regras codificadas no modelo definido
usando um algoritmo de agrupamento no supervisionado (Subtractive Clustering algorithm)
(Chiu, 1994) e os parmetros finais do modelo, tais como os parmetros de disperso, centros e
coeficientes para os modelos locais, foram ajustados offline usando um algoritmo de
Maximizao da Verossimilhana (Expectation Maximization - EM) (Jacobs et al., 1991).
ti
ti xy =
2.4 Modelo de Simulao
Na estratgia MPC no existe uma soluo fechada para o problema, de modo que a
soluo construda a cada estgio em que uma deciso faz-se necessria. no modelo de
simulao que se d a composio da soluo do planejamento energtico da operao. Neste
trabalho utilizou-se um modelo de simulao a usinas individualizadas, denominado
HYDROSIM, j utilizado em outros trabalhos (Cicogna, 2003; Zambelli, 2006). O projeto e a
implementao desse simulador tiveram o cuidado de generalizar a poltica operacional
utilizada na simulao hidrotrmica, obtendo como principal resultado um simulador capaz de
avaliar e comparar diferentes polticas operacionais.
O HYDROSIM LP faz parte da coleo de ferramentas do sistema computacional
HYDROLAB, plataforma base qual foram agregadas as inovaes deste trabalho. Esse
mdulo foi inicialmente idealizado como um modelo de simulao da operao de usinas
hidreltricas num horizonte de discretizao mensal, utilizando sries histricas de vazes
afluentes. Destaca-se a verificao das condies de operao do sistema gerador frente a um
grande conjunto de restries, tais como: atendimento da demanda, limites operativos de
-
52
reservatrios e usinas, usos mltiplos da gua, manuteno e falhas na operao das usinas e
restries hidrolgicas como, por exemplo, o fenmeno de evaporao na superfcie dos
reservatrios.
A cada estgio da simulao, a soluo fornecida pela poltica operativa aplicada ao
sistema considerando as condies de simulao, diga-se srie de vazes de simulao.
A aplicao de uma deciso baseia-se no clculo do balano de massa de gua dos
reservatrios, chamado de balano hidrulico. Para esse clculo necessrio considerar os
dados que aumentam o armazenamento, como por exemplo, a vazo incremental, e os dados
que reduzem armazenamento, como as perdas por evaporao. Depois de realizado o balano
de massas, segue-se o procedimento de clculo que verifica a existncia de alguma violao
das restries operativas, conforme as equaes (2-11) a (2-14). A violao de restries de
limites mnimos e mximos dos reservatrios implica a alterao da deciso para factibilizao
da soluo. Restries como defluncias mnima e mxima, podem ser relaxadas a fim de no
afetar decises pr-definidas de modo que violaes nesses limites de vazo podem ser
apresentadas na soluo final.
Segue-se, ento, o clculo da gerao hidreltrica de cada usina, considerando-se o
armazenamento mdio durante o referido estgio de operao. A gerao hidreltrica total em
um dado intervalo t dada pela soma das geraes individuais das usinas em operao nesse
estgio.
Aps essa etapa de verificao da soluo proposta pela poltica, diante das condies
de simulao, determina-se o despacho de usinas termeltricas pelo mtodo DET e os custos da
operao por subsistema.
A seguir possvel determinar os intercmbios de energia entre subsistemas implcitos
no despacho hidrotrmico, impondo o atendimento aos mercados locais. Isso feito atravs de
um modelo de Programao Linear (PL) e tal procedimento ser melhor detalhado no Captulo
3.
Para apresentar os resultados relativos ao SIN, foi necessria a reformulao das
interfaces de sada para apresentar informaes antes inexistentes ou no aplicveis. As
principais mudanas se referem a resultados de operao dinmica, como a expanso do parque
-
53
gerador, detalhes do despacho termeltrico e resultados por subsistemas como o custo marginal
de operao (CMO).
Os estudos de planejamento da operao energtica do SEB so, geralmente, realizados
em horizontes de at 5 anos discretizados em meses, e objetivam a obteno do despacho
hidrotrmico em diferentes situaes hidrolgicas. Assim, os estudos so realizados em
simulaes com diferentes cenrios de vazes afluentes, as quais podem ser obtidas atravs de
sries sintticas ou do histrico de vazes.
Para a reproduo de um estudo de planejamento energtico como so realizados no
SEB Toscano (2009) expandiu o simulador HYDROSIM para um framework de cenrios,
desenvolvendo uma interface completa de resultados estatsticos e voltada s necessidades do
SEB. Algumas funes foram criadas ou expandidas para atender requisitos levantados neste
trabalho como, por exemplo, estimativas de risco de dficit, de modo que a poltica operativa
ODIN j est integrada ao modelo de simulao por cenrios, denominado HYDROSIM MC.
As ferramentas de importao de dados e resultados dos modelos NEWAVE e SUISHI
que foram utilizadas neste projeto para fins de anlise comparativa da abordagem proposta
com a metodologia utilizada atualmente pelo SEB foram tambm desenvolvidas previamente
para o trabalho de Toscano (2009).
-
55
CAPTULO 3 ADAPTAES DA MODELAGEM PARA O SIN
Neste captulo so apresentados detalhes relevantes sobre os dados disponveis para o