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Sumário

Agradecimentos 7

Prefácio 9

Introdução 15

Capítulo 1

Distinção entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral” 19

Capítulo 2

O ministério pastoral à luz da Bíblia 49

Capítulo 3

Principais desafios enfrentados no ministério pastoral 83

Capítulo 4

As atividades exercidas pelo pastor na vida da igreja 113

Considerações finais 143

Bibliografia consultada 147

Bibliografia de consulta sugerida 155

Anexo 1 — Modelo de estatuto de igreja evangélica 159

Anexo 2 — Redação de atas 165

Sobre os autores 171

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Agradecimentos

A Deus, sustentador de nossas vidas.

À Universidade Presbiteriana Mackenzie, por nos proporcionar

o tempo de pesquisa necessário à elaboração desta obra.Aos nossos colegas de docência da Escola Superior de Teologia

da Universidade Presbiteriana Mackenzie.Ao doutor Manassés Claudino Fonteles, Magnífico Reitor da

Universidade Presbiteriana Mackenzie, pelo companheirismo e

amizade.Ao reverendo Roberto Brasileiro da Silva, digno presidente do

Supremo Concilio da Igreja Presbiteriana do Brasil, amigo e exem­

plo de ministério pastoral.Aos pastores verdadeiramente comprometidos com o ministé­

rio pastoral.

À Editora Mundo Cristão, por tornar possível esta produção literária.

A todos, nossos mais sinceros agradecimentos.

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Prefácio

Atividade pastoral é vocação ou profissão? Qual a natureza do

ministério pastoral? Onde nasce a autoridade espiritual do pastor? O que a Bíblia diz sobre a vida e a obra do pastor? Quais são as lu­

tas enfrentadas pelo pastor e sua família? Quais as respostas bíblicas

para esses problemas? Como o pastor enfrenta a depressão? Como vencer o estresse no ministério? Quais os campos de atuação pas­

toral? Como o pastor deve agir e interagir com as ovelhas? Como o pastor deve comportar-se numa visita? Como deve aconselhar suas

ovelhas? Essas e outras questões encontram-se respondidas nesta obra com profundo embasamento bíblico e rica experiência pastoral.

Até o reconhecimento dos cursos de graduação e pós-gradua­ção em teologia, o exercício da profissão do teólogo identificava- se com a vocação pastoral, já que a igreja era seu nicho prioritário

de trabalho. Isto é, a práxis teológica encontrava-se identificada

com a práxis pastoral. No entendimento de alguns, teologia prática e teologia pastoral são sinônimas. A partir dessa premissa, torna-

se difícil considerar a teologia como profissão. Identificada com a

vocação pastoral, resta à teologia contentar-se, quando muito, em considerar-se uma arte. A partir desta concepção, parece muito

difícil considerar o ministério pastoral como profissão, como fazem europeus e norte-americanos.

O reconhecimento oficial dos cursos de teologia pelo sistema MEC/Inep no Brasil e a crescente discussão sobre a regulamentação

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10 | Fundamentos da teologia pastoral

e o reconhecimento oficial da profissão do teólogo esquentaram o

debate sobre a natureza divina, o sentido humano e as dificuldades

inerentes à vocação pastoral.

Na cultura brasileira, a atividade pastoral confunde-se com a vo­

cação religiosa. O protestantismo passou, a partir de Lutero, a con­

siderar como vocação divina todo trabalho que seja realizado para a

glória de Deus. No Brasil, contudo, vocação divina é vocação pasto­

ral, que não se confunde com trabalho secular. A profissionalização

da Teologia e do teólogo certamente deverá resolver a tensão entre

vocação secular (profissão) e vocação divina (ministério pastoral).

Esse é um problema que cabe à Igreja e à sociedade resolverem.

A vocação religiosa no Brasil foi calcada, à luz da tradição cris­

tã, no ideário de vocação espiritual, motivo pelo qual pertence a

Deus e ao seu povo, que é a Igreja: “Ninguém toma esta honra

para si mesmo, mas deve ser chamado por Deus, como de fato o

foi Arão” (Hb 5:4). Registre-se também que a sociedade brasileira

não reconhece a atividade pastoral como profissão, pois tal ativi­

dade não está incluída no elenco das categorias profissionais. Em

1990, uma igreja presbiteriana do município do Rio de Janeiro

resolveu registrar o pastor como seu empregado. Como não havia essa categoria profissional prevista em lei, ele foi enquadrado na

de coveiros e afins!

Neste cenário, constitui relevante contribuição aos estudos do

campo da teologia pastoral no Brasil, a obra Fundamentos da teo­

logia pastoral, dos doutores Edson Pereira Lopes e Pérsio Ribeiro

Gomes de Deus e da mestra Nívea Costa da Silva Lopes. Neste

volume reuniram-se a frutífera experiência pastoral do dr. Edson

Lopes, a profícua prática psiquiátrica do dr. Pérsio Ribeiro Gomes

de Deus no atendimento a religiosos e vocacionados das grandes

denominações cristãs, e a sensibilidade do olhar feminino da edu­

cadora e esposa de pastor Nívea Costa da Silva Lopes.O dr. Edson Lopes, pastor presbiteriano, escritor, autor de vá­

rios livros e artigos, conferencista, educador, atual diretor da Escola

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Prefácio | 11

Superior de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie,

organizou esta obra a partir de vários ângulos privilegiados: rica

experiência pastoral, reconhecida competência acadêmica e pes­

quisa séria, aliadas à genuína piedade cristã. O resultado aparece

num texto edificante para todos aqueles que se acham envolvidos

com Deus em sua obra.

O psiquiatra cristão dr. Pérsio Gomes de Deus é pioneiro no

Brasil no estudo, pesquisa e abordagem da depressão em suas rela-

ções com a religião. É um médico dedicado ao cuidado de pastores

e respectivas famílias. Sua vivência na clínica e na pesquisa possi­

bilitou o desenvolvimento de uma visão, além de bíblica, também

holística dos problemas enfrentados pelo pastor em seu ministério,

bem como das estratégias para enfrentá-los e vencê-los.

A educadora Nívea Costa da Silva Lopes é mestra em Educa­

ção, Arte e História da Cultura, escritora, conferencista e esposa de

pastor. Nesta obra, ela contribui com seus profundos conhecimen­

tos do ministério pastoral, a partir do olhar privilegiado de quem

acompanha o trabalho pastoral e, nessa posição, escuta e busca

de Deus soluções para o ministério como trabalho dele e para ele.

A experiência da educadora possibilitou ampliar a compreensão do

ministério pastoral e sua dimensão transformadora e terapêutica.

A contribuição singular de cada um desses autores para a com­

preensão da teologia da práxis e da vivência pastoral certamente enriquecerá o debate sobre o campo de atuação bíblico-pastoral no

Brasil e contribuirá para o sucesso, e mesmo para a saúde espiritual,

física e mental, de inúmeros pastores e suas famílias, em todas as

denominações. Nos escritos desses autores podem ser lidas as se­

guintes palavras de sabedoria:

Essa é outra significativa contribuição do estudo aqui contido, pois ele foi enriquecido com a visão de um pastor que conjuga a Psiquiatria e a Psicologia ao exercício de um pastorado efetiva­mente atuante em uma igreja local, o que lhe permite vivenciar a dinâmica das mais diversas atividades eclesiásticas. Essas três

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12/ndamentos da teologia pastoral

áreas conjugadas trazem importantes reflexões sobre saúde, que podem levar o pastor a cuidar de si mesmo, da sua família e da saúde espiritual de sua igreja.

A opção dos autores por uma visão bíblica do ministério pas-

toral reforça a necessidade de fidelidade a Deus e à sua Palavra

no exercício das lides do pastor e traz a lume a responsabilidade

daqueles que exercem esse ministério para com o povo de Deus:

Vale ressaltar que o foco principal deste estudo é compreender o ministério pastoral tendo como fundamento as Escrituras Sa­gradas. Muitos pastores intentam submeter as Escrituras aos seus próprios exames, entretanto, elas é que devem colocar à prova o trabalho pastoral mediante o exame das nossas concepções mi- nisteriais, porque são as Escrituras que norteiam todo o ofício e o papel do pastor.

A atualidade desta obra também é característica importante.

Com uma visão bíblica madura e equilibrada, servirá de guia para

um posicionamento pastoral comprometido com a missão divina

— que lhe é inerente —, frente aos debates que estão sendo trava­

dos neste campo no Brasil contemporâneo. Uma coisa é a vocação

pastoral, outra, é a profissão de teólogo.

No capítulo um, Distinção entre a “profissão de teólogo" e a “vo­cação pastoral, essa diferença é demonstrada com densidade, sim­

plicidade e clareza. Aqui, as genuínas contribuições dos autores

certamente recaem sobre os esclarecimentos das questões relacio­

nadas à distinção necessária entre a nova figura do profissional da

teologia e a arquetípica imagem do pastor. Vejamos o posiciona­

mento dos autores nesta direção:

A contribuição deste livro também está em sua atualidade, pois traz a lume uma das discussões mais recentes, em torno da “profis­são de teólogo” e seu campo de atuação. Por não haver uma dis­tinção clara entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral” é que ocorrem profundas confusões quanto ao entendimento dos

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Prefácio | 13

dois campos de atuação. Sendo assim, um capítulo foi reservado para tratar da distinção conceituai e prática entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral”.

No capítulo dois, O ministério pastoral à luz da Bíblia, os autores

trabalham com sólida fundamentação bíblica e teológica sobre a na­

tureza divino-humana do trabalho pastoral. Discorrem sobre as ne­

cessárias distinções entre os diversos ministérios dados por Deus à sua

igreja; a seguir, fazem acurada reflexão sobre a natureza, a beleza e

as tentações secularizantes do exercício desse ministério na comple­

xa sociedade contemporânea; depois, tratam biblicamente do labor

pastoral como vocação, no sentido paulino das Escrituras Sagradas:

A partir das palavras paulinas, reiteramos o entendimento de que o chamado para o pastorado não é vocação que vise à satisfação individual, mas um chamado divino, isto é, não depende do indi­víduo, mas de quem o chama e daqueles para os quais o indivíduo é enviado. Dessas palavras de Paulo também podemos extrair o ensino de que a vocação não parte do ser humano e de sua própria decisão. Sua escolha não é uma preferência entre alternativas, ao contrário, o chamado de Deus é inconfundível, ecoando como im­periosa intimação feita por Deus, de maneira que não resta opção, senão obedecer.

O capítulo três, Principais desafios enfrentados no ministério pasto­

ral, enriquece a visão desse ministério com uma profunda reflexão

sobre a saúde espiritual, mental e física do pastor. Temas como

depressão, estresse, vida devocional e cuidados pessoais são apre­

sentados sob a perspectiva terapêutica, com orientações bíblicas,

psiquiátricas e psicológicas para a preservação da qualidade de vida

do pastor e de sua família.

Destacamos que há caminhos para a prevenção e tratamento do estresse e da depressão no ministério pastoral. Um desses cami­nhos é o pastor de fato confiar no poder de Deus e entregar todas as suas atividades nas mãos do Senhor (SI 37:5). Outros caminhos

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1 4 Fundamentos da teologia pastoral

são: fazer exames periódicos e não se esquecer da prática de ativi- dades físicas e lúdicas; tomar cuidado para não ser relapso com as coisas de Deus, mas também ter consciência das suas limitações pessoais. Lembremos, ainda, que o Bom Pastor é um só e já deu sua vida pelas ovelhas, portanto, os demais pastores não precisam cumprir essa orientação em sentido literal.

Já no capítulo quatro, As atividades exercidas pelo pastor na vida da

igreja, os autores demonstram que o exercício do ministério pastoral

é, acima de tudo, o exercício da vocação e da sabedoria divina para

o cuidado e administração da igreja e de seu rebanho. Assim, temas como o ensino fiel das Escrituras, orientações e aconselhamento pastoral, visitas aos membros da igreja como parte integrante do mi­

nistério pastoral, administração e preparo da liderança eclesiástica são abordados a partir dos ensinos valiosos da Bíblia, bem como da

prática pastoral consagrada por uma tradição cristã de mais de dois mil anos, que tem como objetivo final a glória de Deus:

O fundamental é que ele tenha flexibilidade e sabedoria para apro­veitar o melhor dos mais diferentes estilos de pessoas para que, sob sua liderança, o nome de Deus seja glorificado.

Trata-se de uma obra escrita com sabedoria, conhecimento, te­mor e tremor diante de Deus. Foi embasada por seus autores na ex­

periência cotidiana da caminhada com Deus no meio do seu povo. Destina-se a pastores, líderes religiosos, estudantes de teologia, leigos e a todos aqueles que buscam conhecimento e crescimento espiritual para melhor servir e glorificar o nome de Deus por meio do serviço do Senhor!

São Paulo, 19 de setembro de 2010

Dr. Antônio Máspoli de Araújo Gomes

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I n t r o d u ç ã o

Ao iniciarmos este livro E, após pesquisa prévia, percebemos que

há significativo material em língua portuguesa sobre teologia pas­

toral, assim, a questão que mais nos incomodou foi: para que mais

um livro sobre teologia pastoral? Essa indagação, em vez de de nos

convencer de que não havia necessidade de outra obra que tratasse

do assunto, conduziu-nos para o caminho inverso, por acreditar­

mos que o ministério pastoral é “vital para a saúde de toda igreja”

e que Deus começa sua “obra de reforma e renovação da vida igre­

ja” por meio dos seus pastores.2

Vale ressaltar que o foco principal deste estudo é compreender

o ministério pastoral tendo como fundamento as Escrituras Sa­

gradas. Muitos pastores intentam submeter as Escrituras aos seus

próprios exames, entretanto, elas é que devem colocar à prova o

trabalho pastoral, mediante o exame de nossas concepções minis­

teriais, porque são as Escrituras que norteiam todo o ofício e o

papel do pastor.

Quando nos esquecemos desse princípio fundamental, permi­

timos o surgimento de líderes que se autodenominam “pastores”,

1J. Armstrong, Semper Reformanda: o papel pastoral na reforma moderna, p. 22.2 Idem, p. 35.

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16 | Fundamentos da teologia pastoral

mas se enquadram mais no perfil de empresários, artistas,3 psicó­

logos, filósofos ou advogados, por enfatizarem as coisas terrenas e

a busca pelo poder, deixando de lado o princípio bíblico e a vida

com Deus — o único meio para alcançar o cerne do verdadeiro

cristianismo.

As Escrituras nos ensinam que muitos se denominam pastores,

mas não o são de verdade. Em vez disso, podem ser enquadrados

no texto de João 10:12: “Assim, quando vê que o lobo vem, aban­

dona as ovelhas e foge. Então o lobo ataca o rebanho e o dispersa”.

Também são retratados em Isaías 56:11: “São cães devoradores,

insaciáveis. São pastores sem entendimento; todos seguem seu

próprio caminho, cada um procura vantagem própria”. O presente

estudo, a partir dessa perspectiva, é relevante porque sublinha as

características exigidas dos que almejam o pastorado e, com isso,

explicita a matéria aos que se valem do título de pastor apenas para

seus próprios interesses.

A contribuição deste livro também está em sua atualidade, pois

traz a lume uma das discussões mais recentes, em torno da “profis­

são de teólogo” e seu campo de atuação. Por não haver uma dis­

tinção clara entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral”

é que ocorrem profundas confusões quanto ao entendimento dos

dois campos de atuação. Sendo assim, um capítulo foi reservado

para tratar da distinção conceituai e prática entre a “profissão de

teólogo” e a “vocação pastoral”.

Em outro momento, reflete-se a respeito da concepção de

MacArthur, segundo quem o ministério pastoral é um privilégio

dado por Deus a algumas pessoas e é uma das “responsabilida­

des mais pesadas que alguém pode assumir”.4 A luz dessas consi­

derações, deparamo-nos com um alto índice de adoecimento de

3 Para aprofundar a leitura ler: Edson Pereira Lopes; Elaine Rezende. Promoção do Reino de Deus: o marketing religioso no contexto da Igreja Brasileira.4 J. MacArthur Júnior, Redescobrindo o ministério pastoral, p. 13.

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Introdução | 17

pastores,5 o que, por extensão, pode acarretar o adoecimento da sua família e da igreja que pastoreia. Essa é outra significativa con­tribuição do estudo aqui contido, pois ele foi enriquecido com a

visão de um pastor que conjuga a Psiquiatria e a Psicologia ao

exercício de um pastorado efetivamente atuante em uma igreja

local, o que lhe permite vivenciar a dinâmica das mais diversas atividades eclesiásticas. Essas três áreas conjugadas trazem impor­tantes reflexões sobre saúde, que podem levar o pastor a cuidar de

si mesmo, da sua família e da saúde espiritual de sua igreja.

Registramos, por fim, que a presente reflexão tem como finali­dade motivar e estimular o pastor a labutar com esmero em suas

atividades de aconselhamento, visitas e acompanhamento admi­nistrativo da igreja, considerando sempre ICoríntios 15:58: “Por­

tanto, meus amados irmãos, mantenham-se firmes, e que nada os abale. Sejam sempre dedicados à obra do Senhor, pois vocês sabem

que, no Senhor, o trabalho de vocês não será inútil.”.Diante do que foi dito, cabe-nos adentrar o conteúdo do nosso

estudo, iniciando com as questões em torno da distinção entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral”.

5 M. Stefano, Um drama atrás dos púlpitos. Revista Eclésia. Ano 14, ed. 143, p. 40-48.

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C a p í t u l o 1

D i s t í n ç ã o e n t r e a “ p r o f i s s ã o d e t e ó l o g o ” e a " v o c a ç ã o p a s t o r a l ”

A discussão em torno DA “profissão de teólogo” é uma reflexão an-

tiga entre os teólogos brasileiros dos mais diferentes segmentos reli­

giosos. Entretanto, ela foi intensificada, sobretudo nos últimos anos,

por causa do projeto de lei 114/05, de autoria do senador Marcelo

Crivella, e do projeto de lei 2.407/07, do ex-deputado Victorio Galli,

que têm resultado em profundos debates. A temática é tão séria

que, nos trâmites de exame e aprovação desses projetos no Senado,

até o momento da escrita deste livro, todos os relatores da Comis­

são de Assuntos Sociais do Senado haviam renunciado à relatoria,

pela qual se levaria a voto o parecer sobre a aprovação ou não do

projeto, fazendo caminhar a decisão acerca do assunto.

Há algumas razões para tal procedimento. Uma delas é que o

assunto requer prudência e habilidade na busca da satisfação do

anseio dos líderes religiosos brasileiros. Pelo fato de haver gran­

de diversidade religiosa no Brasil, o assunto por si só é polêmico,

e são poucos os que se aventuram nessas tratativas. Some-se a

isso a já citada dificuldade de se compreender a diferença entre

a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral”. Por não se fazer

essa distinção com clareza, há a preferência por não se utilizar o

termo “profissão”, porque isso poderia denotar interesse exclusivo

na busca do sustento. Com isso, generalizou-se o emprego de

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20 I Fundamentos da teologia pastoral

“vocação pastoral” como vida voltada para os propósitos de uma

confissão de fé, com pouco foco no sustento financeiro.1

A partir de tais perspectivas é que este capítulo se torna re­

levante. Ainda que esteja delimitado ao viés do protestantismo,

pretende-se contribuir para tal discussão indagando, sobretudo, se

é possível compreender de forma clara a distinção entre “profissão

de teólogo” e “vocação pastoral”. Com esse objetivo, fundamenta­

mos nossas reflexões nos dois citados projetos de lei.

Começando pelo projeto de lei 114/05, do senador Crivella

(PRB-RJ), verifica-se que há, por parte do seu proponente, a tôni­

ca de reconhecer o não diplomado como teólogo, desde que esteja

“há mais de cinco anos” no exercício da teologia, como se pode ler

no artigo lu e seu inciso III:

[...] O exercício da profissão de Teólogo [...] é assegurado [...] aos que, à data da publicação desta Lei, embora não diplomados nos termos dos incisos anteriores, venham exercendo efetivamente, há mais de cinco anos, a atividade de Teólogo, na forma e condi­ções que dispuser o regulamento da presente Lei.2

A proposição “exercício da profissão de Teólogo”, nesse texto,

parece inadequada e mais aplicável à atividade do líder religioso,

pelo menos no que diz respeito ao exercício da referida profissão

de teólogo no âmbito das instituições acadêmicas, tendo em vista

a exigência de diplomação reconhecida pelo Ministério da Educa­

ção (MEC). Além disso, a legislação que dispõe sobre o reconhe­

cimento dos cursos de teologia no Brasil impõe o cumprimento

das exigências da Capes aos programas de pós-graduação, que,

em sua maioria, são os programas de pós-graduação em Ciências

da Religião.

1 C. H. Spurgeon, Lições aos meus alunos, p. 40.2 M. Crivella, projeto de lei 114/2005.

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Distinção entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral” | 21

Essa inadequação de terminologias fica mais acentuada à luz

do artigo 2e, que dispõe sobre a competência do teólogo nos se-

guintes termos:

I - ministrar o ensino da Teologia, desde que cumpridas as exi­gências legais;II - elaborar, supervisionar, orientar, coordenar, planejar, progra­mar, implantar, controlar, dirigir, executar, analisar ou avaliar es­tudos, trabalhos, pesquisas, planos, programas e projetos atinentes à realidade científica da religião;III - assessorar e prestar consultoria a pessoas físicas e jurídicas, pú­blicas ou privadas, relativamente à realidade científica da religião;IV - participar dos trabalhos de elaboração, supervisão, orien­tação, coordenação, planejamento, programação, implantação, direção, controle, execução, análise ou avaliação de estudo, tra­balho, pesquisa, plano, programa ou projeto global, regional ou setorial, atinente à realidade científica da religião.3

Notamos, no artigo 2a, o perfil rigorosamente acadêmico do

teólogo, pois a este são atribuídas competências como as de reali­

zar e orientar pesquisas científicas. Além disso, o texto reporta-se

claramente às exigências legais, o que vale dizer o citado diplo­

ma reconhecido pelo MEC. Há, pois, clara divergência entre as

disposições do primeiro e as do segundo artigo do projeto de lei

em questão.

O fato de Crivella ter como foco as atividades do líder reli­

gioso, apesar de utilizar o termo “teólogo”, fica evidenciado em

face de sua afirmação de que, acima de qualquer outra profissão,

a profissão de fé exige muito mais de vocação e devoção do que

de formação acadêmica.4 Nesse sentido, a alteração no documen­

to do termo “teólogo” para “líder religioso” poderia resultar numa

3 Idem.4 Instituto Humanitas Unisinos. Projetos reconhecem líder religioso como “teólogo , mesmo sem curso.

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22 | Fundamentos da teologia pastoral

compreensão mais adequada do projeto lei em debate, mediante o

devido destaque das competências e exigências legais aplicáveis ao

líder religioso quando do exercício de atividades acadêmicas.

No projeto de lei 2.407/07, do ex-deputado Victorio Galli

(PMDB-MT), o artigo 22º registra a falta de diferenciação entre as

atividades do teólogo e do líder religioso:

Teólogo é o profissional que realiza liturgias, celebrações, cultos e ritos; dirige e administra comunidades; forma pessoas segun­do preceitos religiosos das diferentes tradições; orienta pessoas; realiza ação social na comunidade; pesquisa a doutrina religiosa; transmite ensinamentos religiosos, pratica vida contemplativa e meditativa e preserva a tradição.5

A partir das palavras de Galli, observamos que o ex-deputado

sublinha ser o profissional de teologia aquele que está diretamente

ligado às dinâmicas de sua tradição religiosa. Esse profissional da

teologia é o que realiza cerimoniais litúrgicos, administra, orienta,

transmite ensinamentos de sua confessionalidade, mas, sobretudo,

é quem “pratica uma vida contemplativa e meditativa e preserva

a tradição”.

À semelhança da preocupação de Crivella, também Galli trata

do teólogo, mas, no bojo de sua discussão está o líder religioso,

preocupado em cuidar dos seus fiéis, servindo-lhes de exemplo de

vida contemplativa e meditativa; não há necessariamente referên­

cia ao teólogo. Segundo o projeto de Galli, para ser teólogo basta­

ria praticar vida contemplativa ou realizar cerimoniais litúrgicos,

por exemplo.

Fato é que esses dois projetos de lei em tramitação no Congres­

so têm causado polêmica pela liberalidade com que conferem o

título de “teólogo” a líderes religiosos. Com a proposta desses pro­

jetos, o número de teólogos brasileiros passaria de um milhão, pela

5 V. Galli, projeto de lei 2.407/07■

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Distinção entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral” | 23

estimativa do Conselho Federal de Teólogos,6 com base em dados do IBGE. Um dos eminentes membros da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (Soter),7 Afonso Ligório Soares, afirma que

os projetos são inconstitucionais porque interferem na liberdade

religiosa e na liberdade da igreja de se definir internamente, pois

é ela quem decide se determinada pessoa pode ser sacerdote ou

pastor, e não o Estado.8

Para compreendermos melhor esses documentos, é relevante

discorrer sobre a tramitação e a situação desses projetos de lei, con­

forme será visto a seguir.

A TRAMITAÇÃO DO PROJETO DE LEI 114/05 NO SENADO FEDERAL

Em 13 de abril de 2005, o senador Marcelo Crivella, pastor licencia­

do da Igreja Universal do Reino de Deus, enviou ao Senado Federal

0 projeto de lei 114/05, que dispõe sobre o exercício da profissão de

teólogo.9 O documento foi protocolado e encaminhado à Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal (CAS).10 Baixado à Comis­

são, foi designado seu relator o senador Francisco Pereira. Dado o prazo para emendas ao projeto de lei, até o dia 25 de abril de 2005

não havia qualquer manifestação a esse propósito.11 Em 26 de abril

de 2005, o relator do processo senador Francisco Pereira apresen­tou minuta com parecer favorável à matéria, indicando com isso

que estava pronta para pauta.

No dia 29 de abril de 2005, reunida a Comissão de Assuntos Sociais, foi aprovado o Requerimento de Audiência Pública, con­

vidando o secretário de Ensino Superior, um representante da

6 Senado Federal. Divergências marcam debate sobre profissão de teólogo.1 Para conhecimento da Soter, acessar: <www.soter.org.br>.8 Instituto Humanitas Unisinos. Projetos reconhecem líder religioso como “teólogo .9 Senado Federal. Projeto de lei na 114/2005.10 Idem, DSF 9049-9050.11 Senado Federal. Secretaria-geral da mesa. Atividade legislativa - Tramitação de matérias, <www.senado.gov.hr>. Acesso em: 3 ahr. 2010.

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24 | Fundamentos da teologia pastoral

Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), um repre­sentante das igrejas evangélicas e um teólogo representante das

igrejas protestantes para instruir a matéria.

A matéria foi discutida novamente em 29 de março de 2006,

tendo um novo relator, o senador Magno Malta (PR-ES). Em 4 de

abril de 2006, o citado senador, à semelhança do senador Francisco

Pereira, devolveu o processo com minuta de parecer favorável à

aprovação do projeto.

Em 27 de dezembro do mesmo ano, o projeto continuava a tra­

mitar e a matéria voltou à Comissão de Assuntos Sociais. Em 29

de dezembro de 2006, o projeto aguardava a instalação da Comis­

são, que ocorreu em 12 de março de 2007. No dia Ia de outubro

de 2008, a Presidência comunicou ao plenário o recebimento de

manifestação da Associação Nacional dos Pesquisadores de Pós-

Graduação e Pesquisa em Teologia e Ciências da Religião do Esta­

do de São Paulo sobre o projeto de lei.12 O expediente foi juntado

ao processo, que voltou à Comissão de Assuntos Sociais.13

O senador Magno Malta desligou-se da Comissão em 4 de mar­

ço de 2009, e a CAS ficou à espera de um novo relator. Em 8 de

abril de 2009, o senador Paulo Paim (PT-RS) assumiu a relato-

ria da Comissão. Em 6 de maio, reunida a Comissão, foi aprovado

o Requerimento CAS na 30, de autoria do senador Paulo Paim,

para realização de audiência pública com a finalidade de instruir

o projeto de lei 114/05. Em 17 de junho, a Comissão aprovou o

requerimento CAS n- 48, de autoria do senador Paulo Paim,14 para

12 Diário do Senado Federal, 2 out. 2008, p. 38-680.13 <www.senado.gov.br/sf/atividade/materia/detalhes.asp>. Acesso em: 3 abr. 2010.14 Vale ressaltar que o senador Paim já havia se reunido com membros da Soter, em 2008. O encontro foi noticiado sob o título Reunião com o sen. Paulo Paim sobre os projetos “Profissão teólogo”: Aconteceu no último dia 14 de agosto de 2008 uma audiência com o Senador Paulo Paim, no Centro de Integração Paulo Paim -CIPP Canoas/RS. Participaram 14 representantes de Instituições de Ensino Su­perior para a Formação de Teólogos da Grande Porto Alegre, sob a coordenação

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realização de audiência pública com a finalidade de obter subsídios

para instruir os senadores a respeito do referido projeto de lei.

Cabe abrir parênteses no relato sobre os trâmites do projeto de

lei 114/05 para observar que, em 12 de agosto de 2009, o assunto

foi objeto de decisão também no âmbito da Assembleia Legislativa

do Estado de São Paulo. De autoria do deputado estadual Conte

Lopes, primeiro vice-presidente e presidente em exercício, o Ofí­

cio SGP na 6.356/09 registrava ter sido aprovada moção para de­

senvolvimento e trâmites de “legislação visando a regulamentar a

profissão de teólogo, exercida por bacharéis graduados em cursos

regulares de teologia”. O ofício foi processado e encaminhado à

Comissão de Assuntos Sociais.

Voltando aos trâmites do projeto de lei 114/05, em 10 de de­

zembro de 2009 foi realizada audiência pública para instrução da

matéria, conforme Requerimento CAS n" 48, com a presença dos

seguintes convidados: Darcy Cordeiro, vice-presidente do Conse­

lho Interconfessional para o Ensino Religioso de Goiás (Ciergo);

Valmor da Silva, vice-presidente da Associação Brasileira de Pes­

quisa Bíblica (Abib); João Batista Isaquiel Ferreira, presidente da

Distinção ENTRE a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral” | 25

do Regional Sul da Soter e apoio da Diretoria Nacional da Soter. Constou da Pauta a apresentação da Nota de Manifestação da SOTER nacional em oposição aos dois projetos de lei de regulamentação da profissão de teólogo em tramitação na Câmara e no Senado Federal, conforme nota pública divulgada em 9 de julho de 2008. Em seguida, foi solicitado ao Senador Paim auxílio a não aprovação desses projetos. De modo especial, tratou-se do projeto 114/2005, apresentado pelo Senador Marcelo Crivella. O Senador Paim compreendeu que a posição dos membros da SOTER e demais Teólogos/as e apontou dois encaminhamentos: a primeira iniciativa será tratar da questão junto aos demais Senadores e, principal­mente, com o Senador Marcelo Crivella, na tentativa de convencê-lo a retirar o projeto. Caso não haja sucesso, o Senador Paulo Paim, de imediato, solicitará uma audiência pública no Senado para novamente colocar o projeto em debate. Essa audiência deverá acontecer com a presença de representantes da SOTER e insti­tuições que compartilham da posição contrária aos projetos de lei. No momento, o projeto de lei tem parecer favorável e está, desde março do corrente, pronto para ser votado, <www.gper.com.br/newsletter.php>. Acesso em: 3 abr. 2010.

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26 | Fundamentos da teologia pastoral

Convenção dos Ministros das Igrejas Assembleias de Deus, Mi­

nistérios de Missões e Igrejas Filiadas (Cobramad); Isaías Lobão

Pereira Júnior, professor da Faculdade Evangélica de Brasília.

Nessa reunião também houve divergências em relação ao pn>

jeto de lei 114/05, e o relator da matéria, senador Paulo Paim, disse

que não via “a mínima condição” de o projeto constar da pauta

da reunião subsequente da Comissão. Ele acrescentou que, por se

tratar de tema “explosivo”, seria preciso realizar mais audiências

públicas.15 Segundo Icassati,16 Paim vinha recebendo muitos e-mails

pedindo, inclusive, que a profissão não fosse regulamentada, dian­

te do que se previu que a matéria só estaria pronta para entrar na

pauta da CAS em fevereiro ou março de 2010. A presidente da

CAS, senadora Rosalba Ciarlini (DEM-RN), concordou com a am­

pliação do debate devido à complexidade do tema e à diversidade de

religiões ainda por ouvir.

Darcy Cordeiro apontou a necessidade de se fazer melhor dis­

tinção entre o bacharelado e a licenciatura. Ele explicou que o

bacharel em Teosofia está devidamente conceituado no projeto

como aquele que faz a reflexão sobre a fé e acredita na revelação

cristã. No caso da licenciatura não, pois esta se refere ao professor

de Teologia, que é licenciado em ensino da religião e é o cientista

que aborda as ciências que estudam o fenômeno religioso, sem

vinculação a uma religião específica. O representante da Ciergo

ainda discordou do inciso III do artigo l2, que incorpora os teólo­

gos não diplomados que tenham exercido a atividade há mais de

cinco anos.

Isaías Lobão, por sua vez, defendeu a permanência daquele in­

ciso. Ele disse que os teólogos sem formação acadêmica estão na

labuta diária, mas não deixam de buscar a educação formal que

15 R. Icassati, Divergências sobre regulamentação da profissão de teólogo leva decisão para 2010.16 Idem.

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Distinção entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral” | 27

lhes falta. João Batista lembrou que peões de rodeio e guardadores

de carros já são profissionais regulamentados e disse que a apro­

vação dessa lei seria o resgate de uma dívida com quem batizou,

casou, aconselhou, consolou e esteve ao lado das pessoas na hora

da morte. Batista pediu, assim, que o projeto de lei tramitasse em

regime de urgência.

Valmor da Silva afirmou que, por ser “amplo e confuso”, o pro­

jeto de lei poderia prejudicar os teólogos, em vez de beneficiá-los.

Ele alertou para o fato de que, antes de regulamentar, é preciso

definir melhor o que é a profissão, lembrou que a licenciatura em

Teologia não existe no Brasil e classificou como “problema” os

cursos livres que não são regulamentados. Ele também repudiou o

inciso que dispensa diploma para quem exerce a profissão há mais

de cinco anos. “Nós rejeitamos veementemente. Sem diploma, de

jeito nenhum. Tem que ter preparo acadêmico”,17 afirmou.

Observa-se, a partir deste breve panorama, que as divergên­

cias entre as mais diferentes manifestações religiosas e teológicas

resultaram na imprevisibilidade da votação da matéria, ainda que,

na Comissão, houvesse sido prevista para fevereiro ou março de

2010. Na verdade, o que ocorreu foi que o senador Paulo Paim de­

clinou da relatoria, de maneira que, enquanto não fosse nomeado

outro relator para a Comissão, as tratativas ficariam sobre a mesa

do Senado.

Nesta polêmica, que tende a crescer nos próximos anos, obser­

vamos a preocupação de se reconhecer a “profissão de teólogo”.

A questão crucial é que, por não haver clara compreensão desse

termo, ora ele é aplicado a atividades próprias de um “líder religio­

so”, ora a atividades próprias das funções acadêmicas.

No bojo dessas discussões, notamos a necessidade de propor-se

uma distinção entre o “teólogo” e o “líder religioso”, este último

17 Idem.

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28 | Fundamentos da teologia pastoral

com foco no pastor. Assim sendo, devemos começar pela organiza­

ção dos cursos de teologia no Brasil.

Uma abordagem dos cursos de teologia no Brasil

Desde longa data, há vários cursos de teologia no Brasil. A maioria

funcionava na condição de seminários teológicos, cuja finalidade

sempre foi formar clérigos e líderes religiosos. Por razões óbvias

de tempo e espaço, destacamos que a reflexão enfoca os cursos de

teologia no Brasil, reconhecidos ou autorizados pelo Ministério da

Educação (MEC).Esses cursos têm seu histórico, sobretudo, a partir da discussão

em torno do Decreto-Lei 1.051, de 21 de outubro de 1969, que previa a possibilidade do aproveitamento de créditos de disciplinas para os cursos de licenciatura em Filosofia, feitos em seminários maiores de Teologia, dispensando-se a exigência de vestibular. O Parecer 1.009/80, do Conselho Federal de Educação, sublinhou

que os formados oriundos desses seminários poderiam usufruir do

disposto no Decreto-Lei 1.051/69, sob as seguintes condições, nos

termos do texto original:

a) que seu ingresso nos cursos mantidos por essas instituições se deu após a conclusão dos estudos do 2- grau ou equivalen­tes; b) que tais cursos tiveram a duração de dois anos, no míni­mo; c) que os interessados os concluíram, exibindo, para tanto, os competentes diplomas; d) que nesses cursos estudaram, pelo menos, duas disciplinas específicas do curso de licenciatura que pretendam freqüentar. 2. Os ‘exames preliminares’ a que se refere o mencionado diploma terão por objeto a disciplina ou discipli­nas indicadas na alínea ‘d’ do número anterior, e deverão: a) ser realizados ao mesmo nível em que se efetuam para os que con­cluem o estudo dessas disciplinas, ou seja, ao nível da licenciatura;b) cobrir a mesma área de conhecimento e o mesmo conteúdo programático adotado pela instituição responsável pelos exames. 3. O estudo das demais disciplinas do currículo pleno do curso de licenciatura far-se-á de acordo com a carga horária de praxe

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Distinção entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral” | 2 9

na instituição em que o interessado se matricular, sendo vedado qualquer aproveitamento de estudo dessas disciplinas. 4. Não te­rão validade os diplomas expedidos sem o cumprimento total das exigências acima enumeradas.18

Na mesma reunião em que foi aprovado o Parecer 1.009/80, foi

emitido o Parecer da Câmara de Educação Superior/CES 296/99,

elaborado pelo conselheiro Jacques Velloso, que interpretava a

matéria, fundamentando-a, segundo ele, na nova Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Lei nº 9.394/1996, da seguinte maneira, tam­

bém nos termos do texto original:

Por oportuno, deve-se tratar aqui dos estudos realizados em Se­minários Maiores, Faculdades Teológicas ou instituições equi­valentes, de qualquer confissão religiosa, os quais podiam ser aproveitados em cursos de licenciatura, sob certas condições. O Decreto-Lei 1051/69 dispunha sobre tal aproveitamento, per­mitindo que os portadores de diplomas daqueles cursos, na hi­pótese de existência de vagas em curso de licenciatura, nestes ingressassem com dispensa de vestibular, desde que: houvessem obtido aprovação em exames preliminares de disciplinas ori­ginalmente estudadas no curso de Teologia; constassem estas disciplinas do currículo da licenciatura pretendida. O referido decreto-lei, posteriormente interpretado pelo Parecer 1.009/80 do antigo CFE, não foi recepcionado pela nova LDB. Aquele decre- to-lei invocava os fundamentos da Indicação 11, de 11.7.1969, do extinto Conselho Federal de Educação, a qual por seu turno fundava-se na Lei 5.540/68, explicitamente revogada pela Lei 9.394/96 em seu artigo 92. Além disso, há que considerar-se tam­bém o que dispõe a nova LDB sobre a matéria. Esta determinou que o ingresso em cursos superiores de graduação se fará sempre mediante processo seletivo, seja para candidatos ao ingresso ini­cial em cursos de graduação, seja para efeitos de transferência de alunos regulares em cursos afins, mesmo havendo vagas disponí­veis, conforme esclarece o Parecer CES 434/97. Não se aplica a

18 Ministério da Educação, Parecer n“ 1.009/1989.

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30 j Fundamentos da teologia pastoral

exigência de processo seletivo apenas aos casos de transferências ex ofício, que nos termos do parágrafo único do art. 49 dar-se-ão na forma da lei. A Lei 9.394/96 exige igualmente a realização de processo seletivo prévio para a ocupação de vagas em disciplinas de cursos superiores por parte de alunos não regulares: [...] As instituições de educação superior, quando da ocorrência de vagas, abrirão matrículas nas disciplinas de seus cursos a alunos não re­gulares que demonstrarem capacidade de cursá-las com proveito, mediante processo seletivo prévio. Fica claro, assim, que a letra e o espírito do Decreto-Lei 1.051/69 não se coadunam com o da nova legislação. Enquanto que aquele, na hipótese de existência de vagas, concedia formas privilegiadas de ingresso em cursos de licenciatura aos que houvessem concluído cursos livres de Teolo­gia em Seminários Maiores, Faculdades Teológicas ou instituições equivalentes, a nova legislação exige processo seletivo para todos os que desejem ingressar em cursos superiores de graduação.

Com base nesta fundamentação, o relator da Comissão, Yugo

Okida, registrou seu voto nos seguintes termos:

Diante de todo o exposto voto no sentido de que o ingresso dos portadores de cursos realizados em Seminários Maiores, Facul­dades Teológicas e instituições congêneres deve atender à regra geral contida na nova LDB (Lei 9.394/96), ou seja, mediante o cumprimento dos seguintes requisitos: que os candidatos tenham concluído o ensino médio ou equivalente e que tenham sido clas­sificados em processo seletivo. Quanto ao aproveitamento de estudos entende o Relator, que tal aproveitamento somente era possível na vigência do Decreto-Lei 1.051/69, isto é, até a data da promulgação da nova LDB. Brasília-DF, 10 de agosto de 1999.

À luz do exposto, segundo Gomes,19 estavam cassados os pri­

vilégios concedidos por meio do Decreto-Lei 1.051/69, referentes

ao pleito dos formados em cursos de teologia de seminário maior,

de poderem cursar licenciatura em Filosofia. Isso teve a aprovação

19 A. M. A. Gomes, Teologia: ciência e profissão, p. 68.

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Distinção entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral” | 3 1

da Câmara, que decidiu: “A Câmara de Educação Superior acom-

panha o Voto do Relator”.20 Essa decisão gerou vários conflitos;

entretanto, consolidou o Parecer CNE/CES 241/99,21 que regula-

mentava o reconhecimento dos cursos de Teologia em nível su­

perior.22 Estava, então, aberto o caminho para que os cursos do

bacharelado em Teologia fossem reconhecidos pelo MEC.

Para conhecimento do leitor, alguns cursos reconhecidos de ba­

charelado em Teologia,23 sobretudo sob o foco do protestantismo,

vinham seguindo a seguinte matriz curricular:

Cultura geral: antropologia da religião, antropologia cultural,

história da filosofia, inglês, português, metodologia científica, psi­

cologia geral e da religião, sociologia geral e da religião.

Teologia sistemática: inspiração da Bíblia, antropologia bíblica,

Trindade, doutrina acerca de Cristo, doutrina da salvação, dou­

trina acerca do Espírito Santo, doutrina acerca da Igreja, doutrina

das últimas coisas e teologia contemporânea.

Teologia exegética: línguas do Antigo e Novo Testamento (he­

braico e grego; em alguns cursos, também latim), interpretação da

Bíblia, história e geografia da Bíblia, introdução ao Antigo e Novo

Testamento e exegeses do Antigo e Novo Testamento.

Teologia histórica: história da Igreja no Brasil e denominacional;

história da Igreja primitiva, Idade Média, Reforma Protestante,

Idade Moderna e Contemporânea.

20 Ministério da Educação, Parecer na 1.009/1989.21 Para aprofundamento da matéria, ler: A. M. A. Gomes. O credenciamento dos cursos de Teologia no Brasil pelo Sistema MEC/lnep e suas conseqüências para a edu­cação teológica e a identidade do teólogo. In Revista de Ciências da Religião - História e Sociedade, p. 209-232.22 Parecer CNE/CES n“ 241/1999.23 Para aprofundamento da discussão, ler: Ementário. Disponível em: <www. mackenzie.br/est ementario.html >. Acesso em 19 de abr. de 2010.

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32 | Fundamentos da teologia pastoral

Teologia pastoral: aconselhamento cristão, administração ecle­

siástica, ética geral e profissional, liturgia, oratória, teoria da comu­

nicação e educação cristã.

Essas disciplinas têm sido contempladas nos cursos de teologia

do Brasil. Entretanto, o Ministério da Educação, por meio do Con­

selho Nacional de Educação, em análise do Parecer CNE/CES nº

118/2009, manifestou-se no sentido de que a ausência de parâme­

tros curriculares terminou por gerar a aprovação de cursos super­

ficiais de teologia. Entendeu a Comissão nomeada pelo ministro

Fernando Haddad, como pode ser lido no parecer acima citado,

que disso resultaram cursos que não apresentam características

acadêmicas, não respeitam o pluralismo da área, nem a universali­

dade de conhecimento própria do ensino superior. Restringem-se,

na concepção da Comissão, a uma única visão teológica e carac­

terizam-se como cursos catequéticos a serviço de uma confissão

religiosa, pelo que terminam por ferir o princípio constitucional

da separação entre Igreja e Estado, uma vez que preparam o aluno

para atuar numa única religião.24

No mesmo parecer, ficou patente a preocupação: “salienta-se,

outrossim, a importância do respeito à laicidade do Estado, a fim de

evitar que os cursos tenham um caráter confessional proselitista”.25

Em vez disso, “espera-se que os cursos de graduação em Teolo­

gia, bacharelado, formem teólogos críticos e reflexivos, capazes de

compreender a dinâmica do fato religioso que perpassa a vida hu­

mana em suas várias dimensões”.26

24 Ministério da Educação. Parecer CNE/CES na 118/2009. Orientações para instrução dos processos referentes ao credenciamento de novas Instituições de Educação Superior e de credenciamento institucional que apresentem cursos de Teologia, bacharelado, p. 2.25 Idem, p. 3.26 Idem.

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Distinção entrf. a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral” | 33

Esse parecer — não poderia ser diferente — causou diversos

manifestos e contrariou os segmentos religiosos brasileiros.27 Em

lº de julho de 2009, a Escola Superior de Teologia (EST), de São

Leopoldo, encaminhou carta aberta, ao Conselho Nacional de

Educação, concordando com os princípios esposados pelo parecer

para a qualificação da formação teológica brasileira; assinalou tam­

bém a necessidade de se distinguir Teologia de religião, apresen­

tando a Teologia como uma “reflexão crítica, inclusive autocrítica,

metodologicamente transparente e refletida, sobre uma religião

específica”.28 Sugeriu, ainda, “acrescentar eixos como o confessio­

nal ético, ecumênico, inter-religioso e de gênero”.29

Em 18 de agosto de 2009, o chanceler da Universidade Presbi­

teriana Mackenzie, rev. dr. Augustus Nicodemus Lopes, solicitou

ao ministro da Educação que adiasse a homologação do Parecer

CNE/CES nº 118/2009, apresentando argumentos que foram reite­

rados em documento datado de 30 de setembro de 2009, assinado

por representantes das seguintes entidades: Universidade Presbi­

teriana Mackenzie, Associação Brasileira de Instituições Educa­

cionais Evangélicas, UniEvangélica - Anápolis/GO, Associação

Nacional das Escolas Presbiterianas, Centro Universitário

Adventista de São Paulo (Unasp), Seminário Adventista Latino-

Americano de Teologia, Faculdade Teológica Batista de Brasília/

DF, Faculdade Teológica Batista de São Paulo, Associação Brasi­

leira de Instituições Batistas de Ensino Teológico, Escola Superior

de Teologia de São Leopoldo, Rede Sinodal de Educação, Facul­

dade Teológica da Universidade Metodista de São Paulo - São

Bernardo do Campo/SP e Conselho Geral de Instituições Metodis­

tas de Ensino (Cogeime).

27 O histórico narrado a seguir pode ser lido em: Ministério da Educação, Parecer CNE/CES n'-’ 51/2010, p. 2.28 Idem, p. 1-2.29 Idem.

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34 | Fundamentos da teologia pastoral

No documento, solicitaram a formação de grupo misto de tra­

balho, para estudo do Parecer CNE/CES ny 118/2009, grupo esse

de caráter técnico, interconfessional e inter-religioso, composto por

pessoal da Sesu/Inep e representantes das Instituições de Ensino

Superior (IES) que oferecem cursos de teologia e ciências da reli­

gião, para ampliar e discutir a compreensão da matéria do tal pa­

recer. O documento afirmou a necessidade de se fazer distinção

entre os métodos de estudo da teologia e os das ciências da religião;

afirmou ainda a diversidade das teologias e seu caráter confessio­

nal, atribuindo ao texto do parecer um caráter racionalista positi­

vista moderno, com características cristãs que excluiriam teologias

das mais diferentes vertentes.Em 23 de outubro de 2009, diante das manifestações citadas,

a Sesu, considerando a Nota Técnica CGLNES/GAB/Sesu/MEC

nº 1.089/2009, solicitou ao gabinete do ministro que encaminhas­

se manifestação ao CNE, requerendo que o órgão, ao revisar o

Parecer CNE/CES nº 118/2009, considerasse os argumentos e os

pedidos apresentados pelas IES com cursos superiores de teologia

e ciências da religião. Assim, o processo foi restituído ao CNE, em

4 de novembro de 2009, para revisão por parte da Comissão que exarou o parecer.30

Entre os documentos juntados ao processo, acresceu-se um tex­

to propositivo de diretrizes curriculares para licenciatura em ciên­

cias da religião, encaminhado pelo Fórum Nacional Permanente

do Ensino Religioso, em 3 de dezembro de 2008. Observou-se que este último documento trazia matéria estranha à do Parecer CNE/

CES nº 118/2009, por não tratar de curso de ciências da religião,

nem de licenciatura, restringindo-se ao bacharelado em teologia.

Em 30 de novembro de 2009, o presidente da Associação Na­

cional dos Programas de Teologia e Ciências da Religião/Capes en­viou e-mail à conselheira-relatora, informando que os professores

Idem, r. 2.

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Distinção entre. a “profissão de teólogo” e. a “vocação pastoral” | 35

dos cursos de Ciências da Religião consideraram que as decisões do

Parecer CNE/CES nº 118/2009 poderiam atingir os programas de

pós-graduação; por essa razão, solicitou ao presidente da Sociedade

de Teologia e Ciências da Religião (Soter) que encabeçasse uma

discussão junto ao CNE, informando que, à Associação Nacional

de Pós-Graduação em Teologia e Ciências da Religião (ANPTE-

CRE), interessava, sobretudo, que se fizesse uma clara distinção

entre teologia e ciência(s) da religião. Pediu-se então que o parecer

formulasse cuidadosamente essa distinção.

Em 24 de novembro de 2009, a conselheira-relatora, atenden­

do ao convite dos professores da Faculdade de Teologia e Ciên­

cias Religiosas, reuniu-se com eles em São Paulo para discussão

do Parecer CNE/CES nº 118/2009. Em 1‘-’ de dezembro de 2009,

a direção da Faculdade de Teologia e Ciências Religiosas da

Pontifícia Universidade Católica de Campinas enviou por e-mail

aos conselheiros Marília Ancona-Lopez e Aldo Vannucchi contri­

buição referente aos pontos debatidos e que mereciam destaque,

manifestando concordância quanto à explicitação, no parecer, de

um eixo teológico. Atendidas as solicitações, foi possível reformu­

lar o Parecer CNE/CES nº 118/2009.

O reexame resultou no Parecer CNE/CES nu 51/2010, datado

de 9 de março de 2010,31 o qual, após discorrer sobre o histórico

do documento, opina que o estudo do fenômeno religioso é feito,

entre outros, pelas teologias com conteúdos e métodos próprios.

Sublinha que, ao longo do tempo, o estudo das teologias, em seus

aspectos contextuais, possibilita a compreensão da história da hu­

manidade e de nosso país, suas tradições e heranças culturais, as­

sim como os fenômenos sociais e religiosos da atualidade.

O Parecer nº 51/2010 votou no sentido de uma revisão dos pa- receres do CNE, que tratam dos cursos de teologia, e aponta duas

direções: afirmação do caráter laico do Estado e a liberdade das

31 Idem, p. 3.

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36 | Fundamentos da teologia pastoral

IES quanto à sua própria definição religiosa. O Parecer CNE/CES

nº 241/1999, reafirmado pelo Parecer CNE/CES nº 63/2004,32 afir­

ma que:

Em termos de autonomia acadêmica que a Constituição assegu­ra, não pode o Estado impedir ou cercear a criação destes cur­sos (de Teologia). Por outro lado, devemos reconhecer que, em não se tratando de uma profissão regulamentada, não há de fato, nenhuma necessidade de estabelecer diretrizes curriculares que uniformizem o ensino desta área de conhecimento. Pode o Es­tado, portanto, evitando a regulamentação do conteúdo do en­sino, respeitar, plenamente, os princípios de liberdade religiosa e da separação entre Igreja e Estado, permitindo a diversidade de orientações Tendo em vista estas considerações, votamos no sentido de que: a) os cursos de bacharelado em Teologia sejam de composição curricular livre, a critério de cada instituição, po­dendo obedecer a diferentes tradições religiosas; b) ressalvada a autonomia das Universidades e dos Centros Universitários para a criação de cursos, os processos de autorização e reconhecimento obedeçam a critérios que considerem exclusivamente os requisitos formais relativos ao número de horas-aula ministradas, à qualifica­ção do corpo docente e às condições de infraestrutura oferecidas.

Conforme esse parecer, a CES passou a analisar apenas as con­

dições formais dos cursos de teologia, em nível de bacharelado,

sem considerar suas matrizes curriculares, seguindo o expresso

no Parecer CNE/CES nº 63/2004, citado no Parecer CNE/CES

nº 429/2005:33

Aplicam-se aos cursos superiores de Teologia todas as demais exigências contidas nas regras gerais estabelecidas para os demais cursos de graduação, quais sejam: conclusão do Ensino Médio, processo seletivo próprio, solicitar o reconhecimento do curso

32 Idem, p. 3.33 Idem, p. 2.

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Distinção entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral” | 37

após cumprimento de 50% de sua carga horária, qualificação do corpo docente, instalações [...].

Entretanto, os relatores do Parecer 51/2010 argumentaram que

a exclusão da análise da matriz curricular, deixando às instituições

plena liberdade na composição de seus currículos, terminou por ge­

rar a aprovação de cursos de teologia com caráter exclusivamente

confessional, sem características acadêmicas, sem respeito ao plu­

ralismo da área, sem a universalidade de conhecimento própria do

ensino superior. Esses cursos, segundo o parecer, formam o aluno

em uma única visão teológica, função que não cabe ao Estado nem

às instituições de ensino superior por ele credenciadas. Tais cursos

terminam por ferir o princípio constitucional da separação entre

Igreja e Estado. Por essa razão, o Parecer CNE/CES nº 101/2008

levanta dúvidas sobre a pertinência de o CNE credenciar uma fa­

culdade a partir de um curso de teologia. Tais discussões resultaram

na constituição de Comissão, instituída pela Portaria CNE/CES nº

3/2008, com o objetivo de apresentar orientações que auxiliem na

elaboração desse tipo de parecer.

Quanto à graduação, foi ressaltado que os cursos de teologia,

bacharelado, devem obedecer ao Parecer CNE/CES nº 776/97, que

afirma a necessidade de se incentivar uma sólida formação geral,

necessária para que o futuro graduado possa vir a superar os desa­

fios de renovadas condições de produção do conhecimento. Nesse

contexto, foi sublinhado que o artigo 43 da LDB,34 ao tratar das

finalidades da educação superior, em especial em seus incisos I, III

e VI, estabelece o dever de:

I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito cien­tífico e do pensamento reflexivo [...]. III — incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento

34 Ministério da Educação. Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Artigo 43, incisos I, III e VI.

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38 | Fundamentos da teologia pastoral

da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive. [...]. VI — estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais [...].

O parecer afirma ainda que é importante que os cursos de gra­

duação em teologia, bacharelado, garantam o acesso à diversidade

e à complexidade das teologias nas diferentes culturas e permitam

sua análise à luz dos diferentes momentos históricos e contextos

em que se desenvolvem. Deve, o curso de Teologia, garantir am­

pla formação científica e metodológica, por meio da flexibilidade

curricular na área do conhecimento e interação com as áreas afins.

Por essa razão, o estudo das teologias, dentro da área de ciências

humanas, conforme classificação Capes/CNPq, não pode prescindir

de conhecimentos das ciências humanas e sociais, filosofia, história,

antropologia, sociologia, psicologia e biologia, entre outras. O. estu­

do da teologia deve ainda buscar diálogo com outras áreas científi­

cas, possibilitando estudos interdisciplinares.

Ficou salientada, igualmente, a importância do respeito à laici-

dade do Estado, a fim de evitar que os cursos tenham um caráter

exclusivamente proselitista, fechado em uma única visão de mundo

e de homem. Espera-se que os cursos de graduação em teologia,

bacharelado, formem teólogos críticos e reflexivos, capazes de com­

preender a dinâmica do fato religioso que perpassa a vida humana

em suas várias dimensões. Propõe-se que os currículos dos cursos de

graduação em teologia, bacharelado, desenvolvam-se a partir dos seguintes eixos:35

1. eixo teológico — que contemple os conhecimentos que carac­terizam a sua identidade e prepare o aluno para a reflexão e o diálogo com as diferentes teologias nas diferentes culturas; 2. eixo filosófico — que contemple conteúdos curriculares que permitam

35 Ministério da Educação. Parecer CNE/CES ne 51/2010, p. 4.

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Distinção entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral" | 39

avaliar as linhas de pensamento subjacentes às teologias, refletir sobre as suas bases epistemológicas e desenvolver o respeito à éti­ca; 3. eixo metodológico — que garanta a apropriação de méto­dos e estratégias de produção do conhecimento científico na área das Ciências Humanas; 4- eixo histórico-cultural — que garanta a compreensão dos contextos histórico-culturais; 5. eixo sociopo- lítico — que contemple análises sociológicas, econômicas e polí­ticas e seus efeitos nas relações institucionais e internacionais; 6. eixo lingüístico — que possibilite a leitura e a interpretação dos textos que compõem o saher específico de cada teologia e o domí­nio de procedimentos da hermenêutica; 7. eixo interdisciplinar — que estabeleça diálogo com áreas de interface, como a Psicologia, a Antropologia, o Direito, a Biologia e outras áreas científicas.

Assim, o documento assinala que, no Brasil, existe uma centena

de cursos de teologia já autorizados ou reconhecidos em vários Es­

tados.36 Eles são oferecidos por instituições públicas e particulares,

pertencentes a mantenedoras, confessionais ou não, e contemplam

teologias subjacentes a diferentes confissões: adventista, batista,

católica, espírita, evangélica, luterana, messiânica, metodista, um-

bandista, entre outras. São cursos de graduação com duração en­

tre 1.500 e 4.500 horas. Considerando que se trata de cursos de

graduação em teologia, bacharelado, recomenda-se que respeitem

um mínimo de 2.400 horas.

É mister ressaltar que o Parecer 51/2010 foi aprovado por una­

nimidade na Câmara de Educação Superior. Porém, o conselheiro

Milton Linhares, apesar de acompanhar o voto da Comissão, res­

salvou que o teor do parecer deve garantir perfis institucionais de

educação superior às instituições que optarem por ministrar cursos

de teologia; além disso, deve preservar os princípios constitucio­

nais estabelecidos no artigo 5º, incisos VI e VIII, da Constituição

56 Ministério da Educação. Parecer CNE/CES nº 51/2010, p. 4-

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40 | Fundamentos da teologia pastoral

Federal.37 Esse parecer foi encaminhado ao ministro da Educação e

aguarda sua homologação no Diário Oficial.

Fato é que não havia referenciais curriculares que norteassem

a educação superior em teologia. Entretanto, após essa data, em

conformidade com o Parecer 51/2010, o Ministério da Cultura e

Educação (MEC), por meio da Secretaria de Educação Superior,

estabeleceu os referenciais curriculares nacionais dos cursos de ba-

charelado e licenciatura e, no bojo desses cursos, está o de teologia.

Esses referenciais assinalam que o saber teológico investiga textos,

símbolos e documentos das diferentes tradições religiosas, o que

pressupõe pensar a teologia sem o viés apologético. Assim, o perfil

dos egressos dos cursos de teologia é definido da seguinte maneira:

[...] atuar na descrição e na análise do fenômeno religioso em diferentes contextos e condições históricas e culturais. Em sua atividade, investiga o saber teológico através da interpretação de textos, símbolos e documentos de diferentes tradições religiosas. Planeja e desenvolve estratégias de capacitação de recursos huma- nos para as atividades comunitárias de caráter religioso. Adminis- tra grupos, instituições, organizações religiosas e seus respectivos ritos. Desenvolve investigações relacionadas ao fenômeno religio- so em diferentes contextos e sistemas simbólicos. Em sua atuação, considera a religiosidade como prática social que compõe a idem tidade nacional.!ti

Como inferência da diversidade do campo religioso brasileiro, dis­

ciplinas como citadas a seguir devem compor as matrizes curriculares

dos mais diferentes cursos de Teologia espalhados pelo Brasil.39

História do pensamento religioso na Idade Antiga, Média, Moder­na e Contemporânea; procedimentos hermenêuticos; mitologia e

37 Idem, p. 6.38 Ministério da Educação. Referenciais Curriculares Nacionais dos Cursos de Ba­charelado e Licenciatura.39 Idem.

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Distinção entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral” | 41

história das religiões; antropologia religiosa; fenomenologia da experiência religiosa; psicologia geral e da religião; sociologia da religião; história da filosofia; metafísica; axiologia; teologia e sistemas simbólicos da religiosidade indígena e afro-brasileira; metodologias e procedimentos de investigação em ciências da re­ligião; história e desenvolvimento dos ritos, símbolos e expressões religiosas brasileiras; teologia e práticas em capelania, aconselha­mento e retórica; religião, arte e cultura; gestão de pessoas e de processos; liderança; relações humanas nas organizações religio­sas; procedimentos de mediação e diálogo interreligioso; ética nas tradições religiosas; meio ambiente; relações ciência, tecnologia e sociedade (CTS).

Por fim, nos mesmos referenciais curriculares nacionais dos cur­

sos de bacharelado e licenciatura, o documento explicita o campo

de atuação do teólogo:

O teólogo pode atuar como pesquisador em Instituições de Ensino Superior na análise crítica de documentos e símbolos de diferentes tradições e experiências religiosas; em organizações nos projetos so­ciais e educacionais; em capelania militar, escolar, hospitalar, prisio­nal e de organizações de trabalho; no planejamento e administração de ritos e expressões religiosas comunitárias; no ensino religioso em espaços não formais de educação. Também pode atuar de forma autônoma, em empresa própria ou prestando consultoria.40

Está explicitado, nessa discussão, que há uma constante busca

da compreensão e oferecimento dos ensinos teológicos no Brasil.

Tais reflexões implicam diretamente o entendimento dos termos

“teólogo” e “pastor”, ou, ainda, a “profissão de teólogo” e a “vo­

cação pastoral”. Pelo que podemos ver, o pressuposto do MEC é

formar “teólogo” e “pastor”. Parece-nos haver entendimento, em

virtude de salvaguardar a laicidade do Estado, que os pastores ou

quaisquer líderes religiosos devem ser formados pelos cursos de

40 Idem.

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42 | Fundamentos da teologia pastoral

seus próprios segmentos religiosos, sem a autorização ou reconhe­

cimento do MEC, evitando, assim, a intervenção do Estado nos

assuntos da religião.

A partir dessa perspectiva do MEC, podemos aprofundar a dis­

cussão relativa à distinção entre o “teólogo” e o “pastor”, como

vemos a seguir.

Distinção entre os termos “teólogo” e “pastor”

Para fundamentar a reflexão sobre estes termos, é relevante uma

breve palavra a respeito da palavra “profissão”. Ela está relaciona­

da com “confissão”, que, por sua vez, pode ser compreendida como

convicções a serem professadas. Daí, por exemplo, ser utilizado o

termo da seguinte forma: “profissão de fé”,41 que envolve declara­

ção explícita de votos religiosos de uma pessoa.42 Na compreensão

de Fabri,43 o termo “profissão” também pode ser empregado para

se referir ao conceito “profeta”. A partir da identificação do termo,

fundamentado nessas duas interpretações, pode-se dizer que elas

são compatíveis com a teologia e, portanto, nada impede que se

identifique como “profissão” a atividade do teólogo e do pastor.

“Profissão” também pode significar “ser conhecido por”.44 Essa

forma é a mais usual na sociedade e serve para identificar as pes­

soas pelas habilidades e serviços que exercem. Esse sentido associa

o conceito diretamente ao trabalho e à luta pela sobrevivência por

4J M. Coppenger, Livrando-nos para profissionalização: redescobrindo o ministério pastoral. John Armstrong (Org.). O ministério pastoral segundo a Bíblia, p. 48.42 A. Houaiss e M. S. Villar (Orgs.). Dicionário Houaiss da língua portuguesa, p. 2.306.43 Márcio Fabri dos Anjos, Introdução a uma pauta sobre a teologia como profissão. Teologia: profissão, p. 13-14.44 A. Houaiss e M. S. Villar (Orgs.). Dicionário Houaiss da língua portuguesa, p. 2.306.

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Distinção entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral” | 43

meio dele.45 Nesse sentido é que surge certo conflito quando se pergunta em que medida o teólogo pode, ou não, usufruir do seu

trabalho para sua sobrevivência.

A questão parece ficar mais séria se o foco é o pastorado, uma

vez que, para alguns, parece ser surreal imaginar um clérigo que

tenha carteira profissional assinada, filiado a uma “Central Única

dos Teólogos”, reivindicando melhores condições de trabalho.46 Não se pode esquecer que o pastor ou clérigo é pessoa inserida no

mundo, confrontado com seus problemas, com seu próprio choro e

agonias pessoais. No caso de possuir família, ele está em busca da sua própria sobrevivência e, dos que lhe foram confiados e essas

preocupações influenciam no exercício do seu ministério.

O entendimento do termo “pastor” deve partir da ideia conti­da nessa palavra.47 Uma das questões é sua compreensão a partir

da “vocação”, que é termo presente há muito tempo na sociedade

mundial, sobretudo, a partir das reflexões de Martinho Lutero e

João Calvino.Na concepção de Weber, a “vocação” protestante está direta­

mente relacionada ao trabalho, o que implica afirmar que todo e

qualquer trabalho realizado é parte integrante da vocação pessoal, motivo pelo qual deve servir para honra e glória de Deus. Daí de­corre que a prosperidade advinda do trabalho enquanto vocação

seria a confirmação da bênção de Deus.48

São comuns na atualidade testes que podem auxiliar a pes­

soa na escolha de sua vocação profissional.49 Algumas empresas,

quando da contratação de seus trabalhadores, verificam se estes

45 Márcio Fabri dos Anjos, Introdução a uma pauta sobre a Teobgia como profissão. Teologia: profissão, p. 13-14.46 J. Bartou, Teobgia e profissionalização: o teólogo como profissional. Márcio Fabri dos Anjos (Org.) —Teologia: profissão, p. 59.47 Para as discussões etimológicas do termo “pastor”, ler: A. J. Ribeiro, A doutrina da vocação.48 Max Weber, A ética protestante e o espírito do capitalismo.49 Os Guinness, O chamado, p. 47-51.

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44 | Fundamentos da teologia pastoral

têm vocação profissional para a realização desta ou daquela tarefa.

Infere-se, daí, que o entendimento da palavra “vocação”, nesses

casos, tem a ver com um conjunto de habilidades, competências e

personalidade que resultam num bom profissional para a empresa.50

As questões de habilidades, competências e personalidade não

podem ser desconectadas da “vocação pastoral”. Entretanto, cre­

mos que ela se fundamenta na escolha feita por Cristo e na atua­

ção interior do Espírito Santo na vida do aspirante ao exercício do

ministério da Palavra.51 Ribeiro assinala que o chamado interno, o

chamado do Espírito, é uma impressão sobre a mente humana, que

se sente proceder de Deus, por meio de circunstâncias da vida, das

emoções da alma, da convicção da consciência, dizendo ao homem

que ele deve abraçar a obra do ministério como tarefa de sua vida.52

Eis aqui o cerne da distinção entre o “teólogo” e o “pastor”.

O primeiro é um pesquisador de temas teológicos e religiosos, que

pode ter pouco ou nenhum envolvimento com o campo pastoral

ou compromisso com qualquer religião. O segundo é possuidor do

“cheiro” da ovelha.53 Por causa disso, podemos afirmar que a mui­

tos dos formados em teologia, professores dos cursos de teologia

e seminários confessionais e dos programas de pós-graduação não

cabe a identificação como “pastores”, a não ser que estejam efeti­

vamente em atuação no campo pastoral. Do contrário, são “teólo­

gos” e não “pastores”.

Por fim, é interessante pensar em cursos de teologia que con­

templem tanto a formação pastoral como a formação em teolo­

gia. Para isso, deve-se criar um núcleo fundamental comum de

50 Para maiores esclarecimentos relativos à orientação vocacional, ler R. Bohos-

lavsky, Orientação vocacional: a estratégia clinica. D. Pelletier; G. Noiseux; C.

BujOLD, Desenvolvimento vocacional e crescimento pessoal: enfoque operatório.51 Os Guinness, O chamado, p. 37.52 A. J. Ribeiro, A doutrina da vocação, p. 52-53.53 J. Eliff, A cura de almas: o pastor servindo ao rebanho. John Armstrong (Org.)

O ministério pastoral segundo a Bíblia, p. 157.

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Distinção entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral” | 45

disciplinas teológicas para ambos os perfis, de maneira que tantos

aos que desejam ser pastores, como aos que pretendem ser teólo-

gos, sejam oferecidas as mesmas disciplinas centrais e obrigatórias.

Perto do fim do curso, seriam oferecidas disciplinas com viés pas­

toral para os que desejam ser pastores e outras aos que intentassem

seguir a carreira acadêmica e da pesquisa na condição de teólogos.

Neste momento vale uma explicação acerca da dificuldade da

distinção entre ensino religioso, educação teológica e educação

cristã, já que essas definições podem colaborar para a definição do

perfil discente pretendido por uma instituição educacional teo­

lógica.54 Se a preocupação for um perfil voltado para o ensino re­

ligioso, a instituição necessariamente deverá contemplar em sua

matriz curricular disciplinas que tratem de temas das mais diver­

sificadas religiões. Além disso, a instituição deve precaver-se de

fazer proselitismo.

Se o foco for o de prover educação teológica, a instituição

não se limitará a formar ministros, missionários e líderes de sua

comunidade. Ela terá de discutir teologia e fenômenos do campo

religioso. Sua ênfase estará no estudo dos conteúdos teológicos,

preocupando-se com a integração das mais diversas áreas do co­

nhecimento no estudo da Bíblia, que não precisará ser neces­

sariamente estudada como texto sagrado, mas sim como texto

religioso.

Por fim, se a tônica for propiciar educação cristã, a instituição

terá de oferecer em sua matriz curricular disciplinas compatíveis

com a cosmovisão cristã, o que significa ler as áreas do conhe­

cimento humano pelo referencial teórico (isto é, pela lente) das

Escrituras Sagradas,55 a fim de que, na prática, não se vise apenas a

’4 Para aprofundamento dos conceitos de ensino religioso, educação teológica

e educação cristã, ler: E. P. Lopes, Fundamentos da teologia da educação cristã, p. 110-112

55 Idem, p. 112.

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46 | Fundamentos da teologia pastoral

beneficiar o aluno, mas que este encontre a verdade, tenha comu­

nhão com o Criador e o ame.

Das considerações acima, apreende-se que a instituição de en­

sino teológico voltada para a educação cristã está mais direciona­

da para a formação pastoral, enquanto a instituição voltada para o

ensino religioso e a educação teológica concentra-se na formação

do teólogo.

Fato é que, mesmo tendo focos diferentes de formação, essas

instituições podem formar teólogos e pastores. Todavia, cabe ob­

servar que, dependendo do foco da instituição, a carga horária de

determinadas disciplinas será maior que a de outras.

Um curso de teologia com ênfase no ensino teológico voltado

para a formação de “teólogos” — e não para o preparo do exercí­

cio pastoral — pouco optará pelo quadro de conteúdos que con­

templam as disciplinas pastorais. A tônica será correspondente

às produções científicas, que resultarão em linhas de pesquisas e

publicação dos mais variados saberes teológicos e religiosos em pe­

riódicos especializados, livros, coletâneas, dentre outras formas de

publicações. Tillich assinala que o “teólogo” não está preocupado

com a regeneração ou santificação e que ele não precisa se envolver

intelectual, moral e emocionalmente com a fé, de tal modo que isso

lhe permite atacá-la e rejeitá-la em algumas situações.56 Ideia se­

melhante pode ser lida nas palavras, em tom de crítica, de Jowett:

“Podemos deixar-nos absorver tanto pelas palavras que nos es­

quecemos de alimentar-nos da Palavra [...]. Podemos vir a su­

por que falar bem é viver bem, que a habilidade expositiva é

piedade profunda, e enquanto abraçamos afetuosamente o não

essencial [...]”.57

56 P. Tillich, Teologia sistemática, p. 19.57 J. H. Jowett, O pregador, sua vida e obra, p. 33.

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Distinção entre a "profissão de teólogo” e a “vocação pastoral” | 47

A instituição teológica cujo foco é a formação pastoral certa­

mente ressaltará as disciplinas relacionadas com o cotidiano di­

nâmico da igreja. Tais instituições prezam por uma teologia com

ênfase na área pastoral.58 Assim, nessa instituição serão contem­

pladas disciplinas como aconselhamento cristão, administração

eclesiástica, educação cristã, liturgia, dentre outros conteúdos. São

cursos centrados na formação pastoral, geralmente relacionada a

suas confessionalidades internas, e objetivam o preparo de seus

pastores, missionários e liderança em geral.59

Diante dessas considerações, explicitamos que há proximidade

entre o teólogo e o pastor. Ficou claro que ambos devem ter boa

formação acadêmica, todavia, vale enfatizar que o foco desta obra

é o “pastor” e, como foi dito, quando tratamos do pastor, devemos

ter em mente que ele não vai para um curso teológico “para ser

pastor”; ao contrário, vai porque já possui a vocação para o pas-

torado, advinda de Deus. Isso é o que afirma Flansen: “pastores

são feitos por Deus para serem pastores. Não é questão de nossa

escolha. Os pastores não escolhem ser pastores [...]. Deus escolhe

pessoas para serem pastores e as torna pastores, de acordo com

seu plano”.60

Com isso em mente, dando continuidade a nosso estudo no

próximo capítulo, aprofundaremos ainda mais, à luz das Escrituras

Sagradas, a questão do ministério pastoral. Antes, porém, é neces­

sário revisarmos o que foi dito até o momento.

58 Para a discussão da teologia pastoral e da práxis teológica, ler Fundamentos da teologia da educação cristã, p. 110-112.59 Alderi Souza de Matos, Fundamentos da teologia histórica, p. 17.60 David Hansens, A arte de pastorear, p. 33-34-

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| Fundamentos da teologia pastoral

Revisão e aproveitamento do capítulo 1

1. A discussão atual relativa à profissão de teólogo teve origem em quais projetos de lei?

2. Os referenciais curriculares dos cursos de teologia reconhe­cidos pelo Ministério da Educação devem contemplar quais

disciplinas?

3. Quais são os eixos temáticos contemplados no Parecer 51/2010?

4. É possível estabelecer distinção entre “teólogo” e “pastor”?5. Faça uma síntese da história dos cursos de teologia reconhe­

cidos ou autorizados pelo MEC.

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Capítulo 2

Mayhue sublinha que, se aplicarmos o paradigma do consumismo

ao ministério pastoral, o raciocínio será: “Aquilo que as pessoas

querem, a igreja deve oferecer. Aquilo que as igrejas oferecem, os

pastores devem ser treinados para fornecer”.1 Resultado disso será

uma concepção do ministério pastoral não condizente com a Bíblia

e o fim previsível é: “que dentro de uma geração, ou no máximo

duas, as igrejas perderão a vida e a direção espiritual”.2

Infelizmente, se houver disposição e coragem para fazer uma

análise do cristianismo hoje, perceberemos que as palavras de

Mayhue têm se tornado, cada dia mais, a triste realidade de nos­

sas igrejas. Elas não têm resistido às pressões culturais e seculares.

Em vez de transformar o mundo, como assinala o apóstolo Paulo,

em Romanos 12:2: “Não se amoldem ao padrão deste mundo,

mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam

capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita

vontade de Deus”, o que se vê é: confusão generalizada acerca da

definição do que é ser evangélico; escassez de liderança bíblica

na igreja; crescimento numérico positivo, mas descompromissado

1J. MacArthur Jr. (Org.), Redescobrindo o ministério pastoral, p. 31.2 Idem, p. 28.

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50 | Fundamentos da teologia pastoral

com a fé e a vida cristã e troca da orientação bíblica pela pesquisa

de mercado no ministério. Em síntese, ocorre reinante substituição das “coisas que são do alto”, como ensina o apóstolo Paulo em

Colossenses 3:1-2, pelas coisas que são terrenas.3

Em conseqüência dessa substituição, valores não cristãos são

verificados dia a dia nas igrejas e na vida dos cristãos, de maneira que, em vez de procurar servir uns aos outros, muitos buscam o

sucesso. O elitismo, oposto à comunhão cristã, tem reinado entre nós. A política que contradiz a Palavra de Deus tem sido, a cada

ano, mais evidente entre os evangélicos. No lugar do altruísmo,

vemos divisão, competição, busca de riquezas e avareza,4 opostas ao ensino de Cristo, que é: “Busquem, pois, em primeiro lugar o

Reino de Deus” (Mt 6:33).Esse desagradável quadro do cristianismo também é fruto da

omissão do ministério pastoral, considerando que, dentre suas fun­ções, é incumbência do pastor “viver” a verdadeira vida com Deus, por meio das Escrituras Sagradas, e “ensinar” isso à igreja de Jesus.5

Mas, em muitas situações, o ensino das Escrituras tem sido deixa­

do de lado, porque muitos pastores já não têm a Palavra de Deus como centro de suas vidas e de seu ministério.

Como esse comportamento é habitual na vida de muitos pasto­

res, eles têm substituído a Bíblia por técnicas litúrgicas motivacio-

nais para “encherem” suas igrejas. Alguns se veem como artistas, profissionais de mídia, empresários, psicólogos, advogados e inte­lectuais, do que resulta um ministério caracterizado pela busca de

evidência e posição social, dentro e fora da igreja. Alguns chegam a

3 Idem, p. 22.4 Para aprofundamento acerca do estado religioso da Igreja e de como princípios não cristãos têm reinado nas comunidades cristãs, ler, da série Lausanne: O evan­gelho e o homem secularizado. Comissão de Lausanne para evangelização do mundo, p. 27.5 Na questão do ensino e do alimento pastoral ao rebanho sob responsabilidade do pastor, ler: R. A. Mohler Jr.; J. Boice; D. Thomas [et al.], Apascenta o meu rebanho: um apaixonado apelo em favor da pregação.

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O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 5 1

denominar a si mesmos a verdadeira elite do pastorado,6 esquecen­

do as palavras de MacArthur: “[...] O chamado daqueles a quem

Deus designa como líderes não é para posição de reis, mas de hu-

mildes escravos; não de celebridades refinadas [...] nenhum líder

de igreja tem o direito de se considerar elite pastoral”.7

Para estes, as palavras de MacArthur devem ser rememoradas:

“O pastoreio exige um homem íntegro, piedoso, dotado de muitas

habilidades. Ainda assim, ele deve manter a atitude e a postura

humilde de um menino pastor”.8 Está explícito que, “os que forem

liderar o povo de Deus devem, acima de tudo, ser exemplo de sa­

crifício, devoção, submissão e humildade”.9

Ainda nesse contexto, vale recordar que o termo “ministério”,

no grego, aparece em sua maioria como “diakonia” e é traduzido

como “serviço”, “aquele que serve”.10 Portanto, na junção dos ter­

mos “ministério” e “pastoral”, concebemos que se trata de uma

atividade em que a pessoa envolvida deve estar consciente de que

só pode exercer esse “ministério” se estiver disposta a servir, e isso

só ocorrerá se houver humildade. Esse líder deve se preocupar

com conteúdos teológicos, ter consciência política e de cidadania,

mas não pode esquecer-se de ser exemplo de moralidade. Quan­

do a atitude ensinada por MacArthur não permeia o ministério

pastoral, isso acaba gerando um estilo de pastorado terreno, não

fundamentado nos princípios bíblicos.11

Diante dessas considerações, cabe destacar nossa preocupa­

ção de definir o ministério pastoral, não a partir do nosso próprio

conhecimento e exame, mas tendo como princípio fundamental

o que as Escrituras Sagradas ensinam a respeito dessa atividade.

6 J. MacArthur Jr., Redescobrindo o ministério pastoral, p. 14-15.7 Idem.8 Idem.5 Idem.10 A. J. Ribeiro, A doutrina da vocação, p. 40.11 J. MacArthur Jr., Redescobrindo o ministério pastoral, p. 14.

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52 | Fundamentos da teologia pastoral

Se por um lado é um privilégio, por outro implica grandes respon­

sabilidades. Cremos que um conceito claro, a partir das Escritu­

ras, trará de volta o real significado do ministério pastoral na vida

da igreja, como afirma Montoya: “Uma compreensão [...] bíblica

do ministério pastoral pode servir como ajuda para que o ministro

entre de modo devido em sua vocação, facilitando a prática do

seu ministério”.12

Nosso objetivo aqui, portanto, é extrair das Escrituras o concei­

to de ministério pastoral, e não o que nós pensamos ou o que as

igrejas pensam acerca do assunto. Muitas igrejas desejam um pastor

que resolva problemas sociais, emocionais, conjugais, financeiros e

espirituais13 e, quando ele não consegue fazer isso, consideram que

não tem o “perfil” esperado. “Encaremos o fato: na mente de mui­

tos membros de igrejas evangélicas, o ministro está ali para tornar

Deus agradável e a igreja tão amigável quanto possível”.14 Todavia,

como veremos abaixo, o pastor deve ser um homem que agrade a

Deus15 e que viva e pregue a Palavra, pois só assim exercerá seu

verdadeiro papel, que é o de cuidar e alimentar o rebanho de Deus.

Dito isso, vamos aos textos bíblicos.

Pastor: definição e implicações

É relevante lembrar que a Bíblia também utiliza outras palavras que,

se não forem bem entendidas, podem confundir a compreensão do

12 A. D. Montoya, Concepção bíblica do ministério pastoral. MacArthur Jr. Redes­cobrindo o ministério pastoral, p. 86.13 J. Armstrong, Sempre reformanda: o papel pastoral na reforma moderna, p. 31.14 Idem, p. 31-32.15 Paulo, ao escrever aos Gálatas, em 1:10, afirmou que sua preocupação não era agradar a homens, mas a Deus: “Acaso busco eu agora a aprovação dos homens ou a de Deus? Ou estou tentando agradar a homens? Se eu ainda estivesse procu­rando agradar a homens, não seria servo de Cristo.”.

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C) MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 53

termo “pastor”. Prova disso é que, a partir delas, há diferentes sis­

temas de governo nas igrejas cristãs da atualidade.16

Episkopos (bispo)Uma dessas palavras é “bispo” ou “supervisor”, que no grego apa-

rece como episkopos, significando “direção”, “supervisão” e “vigia”.

Da leitura do artigo de Beyer, percebemos claramente que esse

termo não foi de uso restrito da igreja nem dos escritores neotes-

tamentários. Tratava-se de palavra aplicada no grego clássico aos

“deuses”17 que demonstravam proteção e cuidado pelos homens.

Nesse mesmo sentido, episkopos era empregada a homens que

exerciam funções de vigilância e proteção. Por isso, nos séculos 4

e 5 a.C., os funcionários do governo também eram chamados de

episkopoi. Segundo Beyer,ls comentando a acepção do termo no

período do Antigo Testamento, não se aplicava a ele conotação

religiosa, ainda que a Septuaginta tenha traduzido o hebraico ‘El

(Deus) por episkopos, em Jó 20:29.14

Certamente é no Novo Testamento que deparamos com a apli­

cação de episkopos à liderança da igreja e a Deus, quando o termo

é traduzido por “bispo”. Exemplo disso está em Atos 20:28: “Cui­

dem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito

Santo os colocou como bispos, para pastorearem a igreja de Deus,

que ele comprou com o seu próprio sangue”. Igualmente, lemos em

Filipenses 1:1: “Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os

santos em Cristo Jesus que estão em Filipos, com os bispos e diá-

conos”. Além dessas passagens, o termo pode ser lido nos escritos

16 Para maior esclarecimento ler: L. Berkhof, Teologia sistemática, p. 583-597 e Carlos Caldas, Fundamentos da teologia da igreja, p. 73-83.17 Para aprofundamento desta discussão, ler: H. W. Beyer, Bispo, G. Kittel

(Org.). A igreja no Novo Testamento, p. 193-212.18 Idem, p. 199.19 L. Coenen, Bispo, presbítero, ancião. Colin Brown (Org.), Dicionário Internacio­nal de Teologia do Novo Testamento, p. 301.

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54 ! Fundamentos da teologia pastoral

paulinos de ITimóteo 3:2-5 e Tito 1:7. Com referência a Deus, o

texto de lPedro 2:25 é explícito: “Pois vocês eram como ovelhas des­

garradas, mas agora se converteram ao Pastor e Bispo de suas almas”.

Percebemos, à luz desses textos, que o termo em sua origem

não destacava a pessoa, mas a função de servir o rebanho e cuidar

dele, como rebanho de Deus. Além disso, as mesmas exigências

aplicavam-se tanto ao “bispo” como ao “presbítero”, como vere­

mos a seguir, demonstrando, assim, que eram termos diferentes,

mas com conteúdo sinônimo.

Presbyteros (presbítero)Esse termo é traduzido do grego para “presbítero” e “ancião” ou

“mais velho”.20 Ele designava uma pessoa com idade mais avança­

da em relação ao grupo. Segundo Bornhkamm, o termo presbys era,

na constituição de Esparta, um título político e designava o presi­

dente de um colégio.21 Em algumas situações, os presbyteroi tinham

funções administrativas e judiciárias. Em geral, o escolhido para o

exercício do presbiterato era um ancião. Entretanto, no judaísmo, e

posteriormente no cristianismo, “presbítero” passou a ter dois senti­

dos: o de ancião e o de quem exercia determinado ofício, cabendo-

lhe a direção nas reuniões e a representação do povo nos concílios

superiores, como lemos em IReis 8:1: “Então o rei Salomão reuniu

em Jerusalém as autoridades de Israel, todos os líderes das tribos e

os chefes das famílias israelitas, para levarem de Sião, a Cidade de

Davi, a arca da aliança do Senhor”.

A versão da Bíblia Revista e Atualizada traduz a proposição: “autoridades de Israel” por “anciãos de Israel”,22 sendo mais fiel

20 Idem, p. 304.21 G. Bornhkamm, Presbítero. G. Kittel (Org.). A igreja no Novo Testamento, p. 220.22 IReis 8:1.

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O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ da Bíblia | 55

ao termo hebraico zãqenei, que aparece no citado texto23 e é tra­duzido por “ancião”. Infere-se, daí, que os “anciãos” — zãqenei no hebraico, e presbyteroi, no grego24 — eram dignos de honra e autoridade. Por essa razão, foram eles os solicitantes de um rei para Samuel (ISm 8:4) e sobre eles repousava a escolha dos que governariam Israel.25

Paulo, em ITimóteo 5:17, afirma: “Os presbíteros que lideram

bem a igreja são dignos de dupla honra, especialmente aqueles

cujo trabalho é a pregação e o ensino”. Notamos nesse texto que

os presbíteros, à semelhança dos zâqenei (anciãos de Israel), eram

dignos de honra e, com isso, considerados autoridades na igreja

cristã, como lemos em Atos 15:6: “Os apóstolos e os presbíteros se

reuniram para considerar essa questão”.

Cabe-nos, a partir dessas explicações, continuar nosso estudo

enfocando o termo “pastor”. Antes, porém, é relevante indagar se

“bispo”, “presbítero” e “pastor” são termos distintos, para o que nos

reportamos a Stitzinger:

As Escrituras são bem claras quanto ao fato de que esses títu­los dizem respeito ao mesmo ofício pastoral. Os termos “ancião” e “bispo” são sinônimos em Atos 20:17 e Tito 1:5-7. Os títulos de presbíteros, bispo e pastor são também sinônimos em lPedro 5:1-2. A função de liderança dos presbíteros é também evidente na ati­vidade pastoral de Tiago 5:14-26

Muito antes de Stitzinger, Calvino registrou, em A instituição

da religião:

23 N. H. Snaith, Hebrew Old Testament.24 A Septuaginta traduziu zâqen por presbyteros. Para maior conhecimento, ler: J. P. Lewis; J. P. Zâqen, R. Laird Harris [et al.] (Orgs.), Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, p. 404-405.25 Idem.26 J. F. Stitzinger, O ministério pastoral na história. J. MacArthur, Jr. (Org.), Re­descobrindo o ministério pastoral, p. 58.

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56 ! Fundamentos da teologia pastoral.

Ao ter chamado indistintamente bispos, presbíteros, pastores e ministros aos que governam a Igreja, eu o fiz conforme o uso na Escritura [...]. Lucas, em Atos (20:17,28), depois de ter dito que Paulo convocara os presbíteros de Efeso, chamou-os de bispos na

oração que fez.27

No mesmo sentido, registra Beyer: “A princípio esses [...] con­

ceitos [...] não designam coisas diferentes, muitos menos coisas

contrárias [...] Paulo chama a todos os presbyteroi indistintamente

de episkopoi”.28 Além disso, segundo Coenen, esses dois termos são

intercambiáveis, uma vez que ambos cumprem as mesmas exigên­

cias pessoais e morais, têm as tarefas especiais de exortar e de re­

futar os que discordam.29 Conforme visto, em síntese, todos esses

termos têm um conceito central: “[...] a direção vigilante e cheia

de cuidado da Igreja [..-]”.30

Esclarecida a indagação acima, continuemos nossa reflexão,

agora sim tendo como foco o termo “pastor”, o qual terá toda a

nossa atenção daqui em diante.

Poimnê (pastor)O termo “pastor”, no grego, aparece como poimên, e seus deriva­

tivos são poimnê e poimnion, cuja tradução é “rebanho”.31 Além

desses, também encontramos poimanô, traduzido por “pastorear”,

“cuidar”. Outra palavra encontrada no texto bíblico é archipoimên,

que pode ser traduzida por “sumo pastor”, “pastor principal”.

27 Calvino, A instituição da religião cristã, p. 507.28 H. W. Beyer, Bispo, G. Kittel (Org.). A igreja no Novo Testamento, p. 204.29 L. Coenen, Bispo, presbítero, ancião. Colin Brown (Org.), Dicionário Internacio­nal de Teologia do Novo Testamento, p. 311.30 H. W. Beyer, Bispo, G. Kittel (Org.). A igreja no Novo Testamento, p. 204. p. 205.31 E. Beyreuther, Pastor. Colin Brown (Org.), Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento,, p. 469-474.

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O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 57

No grego clássico, poimên (pastor) era título de honra aplicado

a soberanos, líderes, governantes e comandantes dos exércitos gre-

gos.32 Ao que parece, esse entendimento do termo em análise não

se restringiu ao período do grego antigo, mas chegou até o apóstolo

Paulo, que emprega palavras denotando o privilégio e a honra dos

que exercem o ministério pastoral na igreja de Cristo, como verifi­

camos na tabela abaixo:

Alguns termos bíblicos aplicados aos pastores

Termos Textos bíblicos

Governante lTs 5:12; lTm 3:4-5; 5:17

Embaixador 2Co 5:20

Defensor Fp 1:7

Ministro ICo 4:1

Exemplo lTm 4:12; IPe 5:3

No hebraico, o termo equivalente a poimên é rã â (pastorear,

apascentar).33 Segundo White, esse termo ocorre mais de 160 ve­

zes no Antigo Testamento, sendo mais comum a forma participial

rõeh, traduzida por “pastor”,34 em referência àquele que cuida dos

animais domésticos e os alimenta. Isso porque a ocupação mais co­

mum naquele período e nos dias de Jesus na Palestina era o pasto­

reio.55 A primeira vez que a palavra aparece é em Gênesis 29:7-9,30

traduzida por “alimentar” ou “apascentar”.

52 W. White, Pastar, pastorear, apascentar. Laird Harris, (Org.), Dicionário Inter­nacional de Teologia do Antigo Testamento, p. 1.438.33 Idem, p. 1.437.34 A. P. Ross, Gramática do hebraico bíblico, p. 530.35 H. Daniel-Rops, A vida diária nos tempos de Jesus, p. 150.36 “[...] não é hora de recolher os rebanhos. Deem de beber às ovelhas e levem-nas de volta ao pasto [...]. Ele ainda estava conversando, quando chegou Raquel com as ovelhas de seu pai, pois ela era pastora”.

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58 I Fundamentos da teologia pastoral

À luz desse texto, percebemos que se esperava que o pastor

conduzisse suas ovelhas ao abastecimento de água. Podemos ter

uma compreensão não muito adequada dessa profissão pensamos

se tratar de um pastor que cuidava de poucas ovelhas, mas, se to­

marmos o relato Lucas 15:1-7, notaremos que, em geral, o pastor

se encarregava do cuidado de um número razoável de ovelhas.37

Fato é que o judaísmo posterior fez distinção entre pastores. De­

pois do exílio, os rabinos farisaicos passaram a desvalorizar a ocu­

pação de pastor. Eles se tomaram suspeitos de desonestidade, e os

homens piedosos foram proibidos de comprar-lhes lã, leite e carne. Os privilégios cívicos eram negados aos pastores, como também aos

publicanos. Jeremias, ao comentar as profissões desprezíveis para os

israelitas, no período neotestamentário, inclui a de pastor:

No que se refere aos pastores, sua imagem simpática que conhe­cemos através da pregação de Jesus é certamente um fato isolado; a literatura rabínica contém, quase sempre, opinião desfavorável a eles, com exceção dos textos que, desenvolvendo passagens do Antigo Testamento, apresentam Yahweh, o Messias, Moisés, Davi, como pastores.38

Com o mesmo raciocínio, Bailey, ao comentar a parábola da

ovelha perdida, que, segundo supomos, foi endereçada aos fariseus,

observa que Cristo, ao utilizar a figura de um pastor, intentava

causar choque em seus primeiros ouvintes, visto que consideravam

imundos os pastores.39 Todavia, Daniel-Rops40 pontua que muitos

louvavam essa profissão. Além disso, há inúmeras referências de

consolação espalhadas pelos salmos e nos profetas pós-exílicos que

destacam a importância do pastor, como veremos neste livro.

37 Para aprofundamento, ler: K. Bailey. As parábolas de Lucas: uma análise literário- cultural, p. 193-204.38 J. Jeremias, Jerusalém no tempo de Jesus: pesquisa de história econômico-social no período neotestamentário, p. 407.39 K. Bailey, As parábolas de Lucas: uma análise lieterário-cultural, p. 198.40 H. Daniel-Rops, A vida diária nos tempos de Jesus, p. 150.

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O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 59

A profissão de pastor não era fácil como se pode pensar. Eles

deveriam cuidar incansavelmente dos animais indefesos e sua

“devoção ao dever era posta à prova ao montar-se guarda sobre o

rebanho, noite após noite, contra as feras e os salteadores”.41 De

dia eram consumidos pelo calor; e à noite, pela geada dos campos

palestinos. Hienas, chacais e ursos apareciam com frequência, não

sendo incomum a luta entre o pastor e uma fera selvagem. Daí

não serem apenas figura de linguagem as palavras de Jesus: “O bom

pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (Jo 10:11).

Por essa razão, não podiam dormir muito, faziam escalas en­

tre si. Isaías 56:10-11 assinala que os pastores eram considerados

atalaias, e a crítica de Deus, por meio do profeta, consistia no fato

de que eles eram sonhadores preguiçosos e que gostavam de dor­

mir. Pastores com atitudes incompatíveis à ocupação pastoral são

desconsiderados por Deus como tal. Os pastores compromissados

com sua profissão, em vez disso, construíam apriscos com paredes

de pedra ou de madeira, com altura suficiente para que animais

predadores não pudessem saltá-las e devorar as ovelhas.42

Do que foi dito até aqui, a partir da definição de “pastor” (poimên)

aprendemos que o termo aplicava-se a funções importantes, como

as de governantes, generais e ministros. Por isso, ao se referir aos

pastores, Paulo os denomina “embaixadores” e “ministros”, por

exemplo. Infere-se daí que o “pastor” ocupa lugar de destaque nos

textos paulinos, como ocorre em 2Coríntios 5:18, onde lemos que

Deus escolheu reconciliar consigo os crentes através de Cristo, em

que o ofício de pastor ocupa lugar importante no ministério de

proclamar a piedade.

Calvino pontua que Deus não poderia conferir maior esplendor

ao pastorado do que quando disse: “Aquele que lhes dá ouvidos,

41 E. Beyreuther, Pastor. Colin Brown (Org.), Dicionário Internacional de Teoligüi do Novo Testamento, p. 470.42 H. Daniel-Rops, A vida diária nos tempos de Jesus, p. 151.

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60 | Fundamentos da teologia pastoral

está me dando ouvidos; aquele que os rejeita, está me rejeitando” (Lc 10:16).45 Após essas palavras, o mesmo Calvino sublinha: “[...] não há nada de mais excelente e glorioso na igreja que o ministério

do evangelho, posto que é a dispensação do Espírito, da justiça e

da vida eterna”.44

Por outro lado, como já vimos, a palavra “pastor” referia-se a

uma ocupação profissional, e, como acontece em qualquer profis­

são em qualquer época, havia pastores bons e ruins. Por causa dos ruins, sobretudo no judaísmo posterior, esses profissionais foram

depreciados e, nos dias de Jesus, eram considerados imundos.

Porém, não há como negar o valor dado à ocupação pastoral.

Há vários textos bíblicos que atestam sua relevância, a ponto de o

próprio Deus declarar-se como Pastor, considerar seu povo como

rebanho do seu pastoreio e escolher um pastor para profetizar em Israel, como em Amós 1:1: “Palavras que Amós, criador de ovelhas

em Tecoa, recebeu em visões, a respeito de Israel, dois anos antes do terremoto. Nesse tempo, Uzias era rei de Judá e Jeroboão, filho de Jeoás, era rei de Israel”. Como se vê, o exercício da ocupação

pastoral não era fácil. Em muitas situações, os pastores enfrenta­

ram feras selvagens que se levantavam contra as ovelhas.

Traçando um paralelo entre o ministério pastoral na atualidade

e os pastores do período bíblico, percebemos que se tratava de um trabalho árduo, a despeito de muitos pensarem que se tratava de um trabalho fácil, razão pela qual consideravam o pastor desneces­

sário45 e dispensável. Assim parece ocorrer na igreja da atualidade.

Talvez isso justifique o princípio de algumas denominações evangélicas “consagrarem” ou “ordenarem” para o pastorado pes­soas sem qualquer preparo espiritual e acadêmico. Essas denomina­ções atestam que qualquer um pode ser pastor; basta ter um pouco

43 Calvino, A instituição da religião cristã, p. 503.44 Idem.45 Para aprofundar esta discussão, ler: E. Dawn; E. Peterson, O pastor desnecessá­rio: redescobrindo o chamado.

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O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 6 1

de eloqüência e ser filho de pastor ou família influente na denomi­

nação. Pode ainda ser uma conquista por tempo de serviços presta­

dos na igreja, ou alguém de sucesso que possua recursos financeiros.

Todavia, o verdadeiro ministério pastoral exige sacrifício, labu­

ta, serviço e superação de dificuldades. Nenhuma igreja deve me­

nosprezar ou julgar desnecessário o pastor, pois ele cumpre a árdua

tarefa de “apascentar” o rebanho de Deus,46 provendo alimento

para as ovelhas e cuidando delas. João Calvino, ao comentar o mi­

nistério pastoral, mostra que Deus institui os pastores como a força

principal para unir e edificar os fiéis. Isso demonstra quão neces­

sário é o trabalho pastoral, ao mesmo tempo em que exorta os que

julgam desnecessário o pastorado por buscarem a ruína da Igreja:

Todo aquele que se esforça para abolir essa ordem e essa moda­lidade de governo que apresentamos, considerando-os menos ne­cessários, visa à dispersão e mesmo à ruína da Igreja. Pois mais importante que a luz e o calor do sol, a comida e a bebida para conservação e o sustento da vida, é o múnus pastoral apostólico e pastoral para a conservação da Igreja na terra.47

Calvino está tão convicto da importância do ministério pasto­

ral, que mais à frente registra:

Se até mesmo um anjo, mensageiro de Deus, absteve-se de anun­ciar o Evangelho de Paulo, mas ordenou que procurasse um ho­mem que o fizesse [...] quem ousará desprezar ou preterir como supérfluo o ministério, cujo uso Deus quis aprovar com tais teste­munhas? [...] Não nego que dos doutores e dos pastores, a Igreja não pode prescindir.48

Alguns desavisados podem entender que essas tarefas estão res­

tritas aos sermões, aos estudos bíblicos e dominicais, entretanto,

46 L. Berkhof, Teologia sistemática, p. 590.47 Calvino, A instituição da religião cristã, p. 503.48 Idem, p. 504-505.

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62 | Fundamentos da teologia pastoral

esses ministros despendem grande tempo em visitas pastorais, em aconselhamentos destinados às mais diversas orientações e em

exortações, bem como dedicam-se à consolação de enfermos e an­

gustiados.49 Decorre daí que o ministério pastoral é de fato um

trabalho árduo. Entretanto, apesar das dificuldades, não podemos

nos esquecer das palavras do apóstolo Paulo, em ICoríntios 9:16:

“Contudo, quando prego o evangelho, não posso me orgulhar,

pois me importa a necessidade de pregar. Ai de mim se não pregar

o evangelho!”.Prosseguindo com nosso estudo, por razões óbvias de tempo e

espaço, delimitaremos nossa compreensão do ministério pastoral

ao ensino da Bíblia, destacando os principais textos bíblicos que

tratam do assunto.

Deus é o Supremo Pastor, que cuida do seu rebanho

Na discussão a respeito do pastor, não podemos nos esquecer das

palavras do apóstolo Pedro, que deixa claro que Deus é o Supremo

Pastor (lPe 5:4). Podemos então afirmar que todos os pastores são

copastores com Deus, ou subpastores de Deus. Davi, no salmo 23, expressa o papel pastoral de Deus em relação ao seu povo, quando

afirma: “O Senhor é o meu pastor e nada me faltará”.50 O pastor

descrito por Davi é aquele que nos conduz ao descanso, refrigera

nossa alma e nos guia pelas veredas da justiça. Trata-se de um

pastor presente, de maneira que sua presença consoladora nos dá

perfeita segurança, mesmo quando atravessamos o vale da sombra

da morte.Em Isaías 40:11 podem ser lidas as palavras: “Como pastor ele

cuida de seu rebanho, com o braço ajunta os cordeiros e os carrega

49 Quanto à importância do ministério da visitação, ler: J. T. Sisemore, O minis­tério da visitação.50 Para uma leitura devocional do salmo 23, recomendamos ler: R. Ketcham, O

salmo 23.

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O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 63

no colo; conduz com cuidado as ovelhas que amamentam suas

crias”. Além desses textos, podemos citar vários que comprovam

ser Deus nosso Supremo Pastor, tais como: Salmos 74:1; 77:20;

78:52-53; 79:13; 95:7; 110:3; 121:4; 49:9. Destaque-se ainda o

fato de que Deus se identifica como pastor, ao denominar Israel de

rebanho de Javé, nos seguintes textos: Salmos 79:13; 95:7; 100:3;

Isaías 40:1; Jeremias 13:17; Ezequiel 3:31 e Miqueias 7:14.

No Novo Testamento, em João 10:1-18,51 Cristo se identifica

como o Bom Pastor, que dá sua vida pelas ovelhas. O texto de He-

breus refere-se a Jesus como sendo nosso Senhor, o grande Pastor

das ovelhas (Hb 13:20); lPedro 2:25 refere-se a Jesus como Pastor e

Bispo das nossas almas; em lPedro 5:4, Jesus é o Supremo Pastor.

Por conseguinte, tenhamos em mente que só Deus é o supremo

e único Pastor — os demais são cooperadores de Deus para o ali­

mento e edificação do rebanho de Cristo. Devemos ainda lembrar

as advertências de Deus aos pastores que não tratam adequada­mente do rebanho. Em Isaías 56:11: “São cães devoradores, insa­

ciáveis. São pastores sem entendimento; todos seguem seu próprio

caminho, cada um procura vantagem própria”. A esses pastores são

dirigidas as palavras do juízo de Deus, como em Jeremias 23:1: “Ai

dos pastores que destroem e dispersam as ovelhas do meu pasto!’,

diz o Senhor”. No mesmo contexto vale ressaltar 25:34, do mesmo Jeremias: “Lamentem-se e gritem, pastores! Rolem no pó, chefes

do rebanho! Porque chegou para vocês o dia da matança e da sua

dispersão; vocês cairão e serão esmigalhados como vasos finos”.

Um texto ainda merece destaque pela forma como Deus trata

os maus pastores. Um deles é Ezequiel 34:1-10. As atitudes más

daqueles pastores são apresentadas como as daqueles que “só cui­

dam de si mesmos” (v. 2), enquanto deveriam cuidar do rebanho.

Deixar de cuidar do rebanho significa abandonar as ovelhas fracas,

51 Quanto à relação da salvação eterna das ovelhas e do Bom Pastor, ler: E. P. Lopes, Fundamentos da teologia da salvação, p. 50-51.

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64 ! Fundamentos da teologia pastoral

em vez de fortalecê-las; não enfaixar as feridas das doentes; não ir atrás das desviadas e perdidas. O resultado da falta de responsa­

bilidade em cuidar do rebanho é descrito pelas palavras de Deus

proferidas contra eles: “Estou contra os pastores e os considerarei responsáveis pelo meu rebanho” (v. 10) e “Livrarei as minhas ove­

lhas da sua boca, para que já não lhes sirvam de pasto” (v. 10) .52

Diante do exposto, fica evidente que Deus é o Supremo Pastor

do seu rebanho, e que isso significa proteção, carinho, cuidado,

mas implica também o juízo de Deus sobre os que não cumprem

sua tarefa de forma a agradá-lo no exercício da função de pastores

da Igreja do Senhor. Dito isso, vamos continuar nosso estudo, pen­sando numa temática diretamente ligada à tarefa pastoral, que diz

respeito à sua escolha e qualificações.

O PASTOR É ESCOLHIDO POR DEUS

Como foi dito anteriormente, o ministério pastoral fundamenta-se no chamado interior do Espírito Santo e não em vontade humana. O apóstolo Paulo, em Romanos 1:1, afirma: “Paulo, servo de Jesus

Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus”. Em Gálatas 1:1, ele ainda explicita: “Paulo, apóstolo envia­

do, não da parte de homens, nem por meio de pessoa alguma, mas

por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos”.

A partir das palavras paulinas, reiteramos o entendimento de

que o chamado para o pastorado não é vocação que vise à satis­

fação individual, mas um chamado divino, isto é, não depende do

indivíduo, mas de quem o chama e daqueles para os quais o in­

divíduo é enviado.53 Dessas palavras de Paulo também podemos extrair o ensino de que a vocação não parte do ser humano ou de sua própria decisão. Sua escolha não é uma preferência entre

52 RA.53 J. E. T. da Igreja Presbiteriana do Brasil, Vocação: preparo para o ministério pas­toral, p. 13.

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O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 65

alternativas; ao contrário, o chamado de Deus é inconfundível, ecoando como imperiosa intimação feita por ele, de maneira que não resta opção senão obedecer.54

Sendo assim, no que diz respeito ao termo “pastor”, deve-se ter em mente que esse ofício fundamenta-se, num primeiro momento, não em conteúdos disciplinares de um curso de teologia que pode resultar em um diploma, ainda que reconheçamos a necessidade do preparo teológico',55 mas, sim, no chamado de Deus, pelo Espírito Santo.56

Calvino afirma que “para alguém ser considerado verdadeiro ministro da Igreja, exige-se antes de tudo que tenha sido devida­mente chamado”.57 O chamado, segundo sua concepção, consis­te na vocação interior de Deus em nossos corações e deve servir como “testemunho de nosso coração de que não nos aproximamos do ministério por ambição, avareza ou qualquer outra cobiça, mas por sincero temor de Deus e para a edificação da Igreja”.58 Quanto ao entendimento da vocação interior e do chamado de Deus, vale citar as palavras de Berkhof:

A vocação interna para um ofício na igreja consiste [...] principal­mente em três coisas: “a) a consciência de estar sendo impelido a alguma tarefa especial no reino de Deus, por amor a Deus e a Sua causa; b) a convicção que o indivíduo tem de que está, pelo menos em certa medida, intelectual e espiritualmente qualificado para o ofício em vista; c) a experiência de que, evidentemente, Deus está pavimentando o caminho que leva à meta.59

Tanto das palavras de Calvino quanto das de Berkhof, pode­mos extrair o princípio fundamental de que alguém, para exercer o pastorado, deve ser chamado por Deus e não por homens. Calvino,

54 J. H. Jowett, O pregador, sua vida e obra, p. 11.55 R. Baxter, O pastor aprovado, p. 184-56 C. H. Spurgeon, Lições aos meus alunos, p. 32.57 Calvino, A instituição da religião cristã, p. 508.58 Idem, p. 509.59 L. Berkhof, Teologia sistemática, p. 591.

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66 | Fundamentos da teologia pastoral

ao comentar Gálatas 1:1, como se quisesse ratificar suas próprias

palavras, deixa registrado: “[...] ninguém pode exercer licitamente

esse ministério a não ser que seja chamado por Deus”.60

Ainda que Paulo estivesse pensando no “apostolado”61 em par-

ticular, isso não significa que não possamos entendê-lo em âmbito

geral, no sentido de que todos os ofícios da Igreja e, no caso em

questão, o “pastorado”, sejam escolha de Deus e não dos homens.

Não podemos concluir que só o apostolado seja escolha de Deus;

em vez disso, temos de reconhecer prioritariamente que o exercí­

cio de qualquer ofício na igreja de Cristo se alicerça, primeiramen­

te, no chamado de Deus, como podemos verificar no chamado de:

Abraão (Gn 12:1-3; 15:1-17; 17:1-27), Moisés (Ex 3:1-22), Josué

(Dt 34:9; Js 1:1-9), Gideão (Jz 6:1-24), Isaías (Is 6:1-13), Jeremias

(Jr 1:1-10), Ezequiel (Ez 2:1-7; 3:4-27), os doze (Mt 10:1-3), Ma­

teus (Lc 5:27-28) e Paulo (Rm 1:1; G1 1:1), dentre outros.

O apóstolo Paulo chamou os presbíteros a Mileto e, de acordo

com suas palavras, registradas por Lucas, em Atos 20:28, afirmou:

“Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o

Espírito Santo os colocou como bispos, para pastorearem a igreja

de Deus, que ele comprou com o seu próprio sangue”. As palavras

de Paulo62 expressam a convicção de que Deus os havia escolhido

para pastorear sua Igreja, conforme afirma Marshall: “Tais pessoas

deviam a sua nomeação à escolha que Deus delas fez mediante o

Espírito Santo”.63 Com ideia semelhante, Champlin pontua: “[...]

o ministério da Palavra é divinamente selecionado e santificado,

através da atuação do Espírito Santo”.64

60 Calvino, A instituição da religião cristã, p. 510.61 Calvino, Gálatas, p. 21-24-62 O termo utilizado por Paulo é episkopos já tratado, no início deste capítulo,

como sinônimo de presbyteros.63 H. I. Marshall, Atos: introdução e comentário, p. 311.64 N. R. Champlin, O Novo Testamento interpretado, p. 447.

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O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 67

Com essa mesma perspectiva, ressalta-se, ainda, que a vocação

pastoral está intimamente relacionada com os indivíduos para os

quais alguém é enviado. Isso implica dizer que o chamado interior

do Espírito se reveste de ações comprobatórias, diante da igreja,

que exerce o papel de testemunha e endossa a vocação da pessoa

para o ofício pastoral. Por conseguinte, nenhuma outra instituição

pode afirmar se alguém está apto ou não para o exercício de sua

liderança a não ser a própria igreja. Eis aí uma distinção entre o

“teólogo” e o “pastor”. O “teólogo”, para o exercício da sua pro­

fissão, necessita do aval do Ministério da Educação ou da Capes,

no caso da pós-graduação. Já o “pastor” pode exercer sua função

com o reconhecimento da igreja. Daí a razão pela qual temos os

seminários confessionais, que atendem às exigências de determi­

nadas denominações para formar aqueles que já demonstraram seu

chamado diante da comunidade local.

Sempre é bom lembrar, embora isso já tenha sido feito, que,

para alguém se intitular “pastor”, deve ser efetivamente atuante

no trato com suas ovelhas, do contrário, ele pode se interessar

pela verdade, pela pregação e pelo crescimento da igreja, pode

ser um grande conferencista, mas, apesar de toda essa visão, não

deve ser considerado pastor se não se preocupar com o cotidiano

das ovelhas.65

Entretanto, se, por um lado, a igreja tem o papel de reconhecer

o chamado de alguém para o ministério pastoral, o vocacionado,

por sua vez, deve estar atento para não buscar “agradar a homens”

ou “alguma vantagem pessoal”66 (G1 1:10). Esse pode ser um dos

grandes desafios do pastorado, pois, em muitas situações, o pastor

busca o favor humano e estrutura bem sua linguagem, não com a

finalidade de ensinar a Palavra de Deus, mas de agradar a homens.

65 J. Eliff, A cura de almas: o pastor servindo ao rebanho. John Armstrong (Org.),

O ministério pastoral segundo a Bíblia, p. 153.66 N. R. Champlin, O Novo Testamento interpretado, p. 442.

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68 | Fundamentos da teologia pastoral

Ressaltamos as palavras de Calvino nesse quesito: “[...] aqueles que determinam servir a Cristo fielmente devem ousadamente des­

prezar o favor dos homens”.67 O próprio Calvino acentua que não

podemos buscar o favor dos homens, em virtude de que na igreja

sempre temos pessoas preocupadas com seus próprios interesses.

Mesmo as boas pessoas, “quer por alguma ignorância quer por al­

guma fraqueza, são às vezes tentadas pelo diabo a ficar iradas com

as fiéis advertências de seu pastor”.68

Isso não significa que podemos ofender as pessoas. Ao contrá­

rio, devemos ter em mente: “Aqueles a quem Cristo está agradan­

do são homens a quem devemos envidar todo esforço por agradar

em Cristo. Ao passo que, os que querem que a verdadeira doutrina

ceda lugar a seus propósitos pessoais, a esses em hipótese alguma devemos agradar”.69

Prosseguindo nosso estudo, vejamos os ensinos de Paulo acerca

dos presbíteros ou pastores. Em ITimóteo 3:1-7, lemos:

Esta afirmação é digna de confiança: Se alguém deseja ser bispo, deseja uma nobre função. É necessário, pois, que o bispo seja ir­repreensível, marido de uma só mulher, moderado, sensato, res­peitável, hospitaleiro e apto para ensinar; não deve ser apegado ao vinho, nem violento, mas sim amável, pacífico e não apegado ao dinheiro. Ele deve governar bem sua própria família, tendo os filhos sujeitos a ele, com toda a dignidade. Pois, se alguém não sabe governar sua própria família, como poderá cuidar da igreja de Deus? Não pode ser recém-convertido, para que não se enso- berbeça e caia na mesma condição em que caiu o Diabo. Também deve ter boa reputação perante os de fora, para que não caia em descrédito nem na cilada do Diabo.

Destacamos desse texto algumas questões importantes que es­

tão diretamente ligadas ao ministério pastoral.

67 Calvino, Gálatas, p. 36.68 Idem, p. 37.69 Idem, p. 36.

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O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 69

A pesada responsabilidade que é o exercício do pastoradoNa compreensão de Calvino,70 esses versículos estão intimamen­te ligados ao que Paulo disse em ITimóteo 2:8-15, onde discor­re sobre como deve ser o procedimento das mulheres na igreja.

“A mulher deve aprender em silêncio, com toda a sujeição. Não permito que a mulher ensine, nem que tenha autoridade sobre o homem. Esteja, porém, em silêncio” (lTm 2:11-12). Entre­

tanto, o mesmo Calvino71 sublinha que não é só por alguém ser homem que já deve ser admitido como candidato ao ministério de liderança na igreja. “[...] mas nem mesmo os homens devem ser admitidos para o seu exercício sem qualquer critério [...] ele afirma que essa não é uma obra comum que qualquer pessoa ousasse empreender”.72

Trata-se de um trabalho árduo e difícil, e, na concepção pau-

lina, os que desejam exercer essa liderança devem se perguntar se de fato são capazes de levar adiante tão pesada responsabilidade, que exige sacrifício, labuta, serviço e superação das dificuldades. Desejá-lo, portanto, implica saber que se trata de excelente obra e que, por essa razão, é espinhosa e exige profunda disposição em

servir a Deus. Na leitura de 2Timóteo 2:1-7, percebemos que Paulo

retrata o pastor como professor, soldado, atleta, lavrador, trabalha­dor, vaso e escravo. “Todas essas figuram evocam ideias de sacrifí­cio, labuta, serviço e dificuldades. Demonstram com eloqüência a complexidade e as várias responsabilidades da liderança espiritual. Nem uma delas dá impressão de que a liderança é atraente”.73

Ressaltamos aqui, que, à luz das palavras de Paulo, não é

equívoco alguém desejar o presbiterato, desde que esse desejo não seja egoísta ou com a intenção de obter algum proveito pessoal. Em vez disso, deve ser uma atitude de humildade e temor a Deus.

70 Calvino, J. As pastorais, p. 81.71 Idem.72 Idem.73 J. MacArthur, Jr., p. 14.

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70 | Fundamentos da teologia pastoral

É o que podemos ler nas palavras de Calvino: “O apóstolo, porém,

está falando, aqui, de um desejo piedoso que os homens consagra-

dos possuem, ou seja, aplicar seu conhecimento da doutrina para a

edificação da Igreja”.'4

Se mesmo assim desejar o ministério pastoral, então a pessoa

deve atentar para as qualificações que os pastores devem ter.

As qualificações do pastorA obra que está para ser realizada não é comum, mas sim exce­

lente, conforme Paulo. Segundo Calvino, essa é uma referência a

Platão, que afirmava: “[...] as coisas que são excelentes são igual­

mente árduas e difíceis”.75 Baxter igualmente registrou: “Os deve-

res mais difíceis geralmente são os mais importantes”.76 Segue-se,

então, que o pastor deve ter qualificações compatíveis com essa

“excelente” tarefa, que, mesmo sendo árdua e difícil, é a mais im­

portante das obras.

MacArthur, ao comentar esse texto bíblico, compreende que a

base para o entendimento dessas qualificações está na proposição:

“É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível”.77 É importante

compreender que Paulo, aqui, não está falando de um homem per­

feito, sem qualquer mancha, porque, se fosse esse o caso, ninguém

poderia exercer tal ofício. O que ele é explicita é que o pastor não

deve ter sua vida e nome carregados de infâmia, ou qualquer coisa

que gere escândalos na igreja. “Irrepreensível” significa que o pastor

“não deve ser estigmatizado por nenhuma infâmia que leve sua au­

toridade ao descrédito”.78 É preciso ter em mente que seu estilo de

vida jamais deve trazer vergonha ao ministério e que sua conduta

74Calvino, As pastorais, p. 82.75 Idem, p. 81.76 R. Baxter, O pastor aprovado, p. 29.77 ]. MacArthur, Jr., O carater do pastor. Redescobrindo o ministério pastoral, p.

110.78 Calvino, As pastorais, p. 84.

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O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 7 1

jamais deve minar a confiança do rebanho que está sob seus cui­

dados. É com essa ideia em mente, na concepção de MacArthur,79

que Paulo desenvolve o princípio de que o pastor deve ser “irre­

preensível”, sobretudo em relação a três grandes grupos ou conjun­

tos de princípios citados no texto bíblico em destaque.

Percebemos que a preocupação de Paulo era que Timóteo

constituísse presbíteros ou pastores que fossem irrepreensíveis na

moralidade sexual. Esse, portanto, é o primeiro grupo a ser pensado

neste estudo.

A moralidade sexual destaca-se na sentença: “marido de uma

só mulher”. Calvino pontua que a proibição de Paulo é expressa

em relação à poligamia, de certa forma presente nos dias do Novo

Testamento.80 Entretanto, uma vez que temos vivido dias difíceis

com relação aos pecados sexuais, sobretudo no ministério pastoral,

cremos, que, além dessa concepção de Calvino, podemos explorar

esse texto no sentido de sublinhar que, na visão paulina, o pastor

deve ser irrepreensível no sentido de que ame verdadeiramente sua

esposa, sendo-lhe fiel em tudo, e que não seja alvo de escândalos

envolvendo adultério e filhos fora do casamento. “Esse é o tipo de

homem que Deus está procurando para estabelecer como modelo

em sua igreja [...]. O pecado sexual desqualifica qualquer homem

para o pastorado”.81

O segundo grupo em que o pastor deve ser irrepreensível diz res­

peito à família, daí as palavras do apóstolo Paulo no texto bíblico

destacado anteriormente: “Ele deve governar bem sua própria fa­

mília, tendo os filhos sujeitos a ele, com toda a dignidade. Pois, se

alguém não sabe governar sua própria família, como poderá cuidar

da igreja de Deus?”. (lTm 3:4-5) Muitos afirmam que, se alguém

79 J. MacArthur, Jr., O caráter do pastor. Redescobrindo o ministério pastoral, p. 110.m As pastorais, p. 84.81 J. MacArthur, Jr., O caráter do pastor. Redescobrindo o ministério pastoral, p. 112-113.

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72 | Fundamentos da teologia pastoral

desejar conhecer uma pessoa, basta perguntar para sua família. A fa­

mília conhece a pessoa do que jeito que ela é, com suas qualidades

e defeitos.

O ensino do apóstolo dos gentios é que, se alguém deseja ser

pastor ou presbítero, deve ser capaz de liderar, antes de tudo, sua

própria família. Observamos que a tônica de Paulo está nos filhos.

E o que podemos ler em suas palavras: “[...] tendo os filhos su­

jeitos a ele, com toda a dignidade”. “Por conseguinte, seria uma

imensa desgraça para um bispo ter filhos que levam vida dissolu-

ta e escandalosa”.82 Com pensamento semelhante ao de Calvino,

MacArthur alega: “Paulo afirma que você [Timóteo] deve se cer­

tificar de que esteja escolhendo homens que [...] nunca ficarão

desacreditados por causa de um filho incrédulo e obstinado”.8’ Por

conseguinte, os filhos devem ter a consciência de que, se viverem

uma vida desobediente e rebelde, além dos danos para si mesmos,

poderão desqualificar o pai para o ministério pastoral.

Por fim, o terceiro grupo em que o pastor deve ser irrepreensível

compreende suas atitudes e relacionamentos, conforme as palavras

do apóstolo Paulo no referido texto: “moderado, sensato, respeitá­

vel, hospitaleiro e apto para ensinar; não deve ser apegado ao vinho,

nem violento, mas sim amável, pacífico e não apegado ao dinheiro”.

O pastor deve ser moderado, sensato e respeitável, isto é, contro­

lado. Para isso, ele deve ser imparcial, cuidadoso nos julgamentos,

ponderado, sábio e profundo. Na concepção de Paulo, podemos en­

tender que, “se a pessoa não consegue controlar sua vida, não está

apta para o pastorado”. Muitas igrejas, por desconsiderar essa qua­

lificação, têm consagrado ou ordenado pessoas descontroladas em

várias áreas, dentre elas, uma pouco comentada que é a financeira.

S2 j. Calvino, As pastorais, p. 90.83 J. MacArthur, Jr., O caráter do pastor. Redescobrindo o ministério pastoral, P-114.

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O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 73

Resultado disso é que acabam com nome “sujo” na praça e enver­

gonham a igreja a que pertencem.

O ministro do evangelho deve ser hospitaleiro. Devemos lembrar

que nos dias do apóstolo Paulo havia perseguições, e muitos cristãos

tinham de mudar de um lugar para o outro. As tavemas e hospeda-

rias eram “antros vis de pecado e devassidão”84 e, por esse motivo, a

hospitalidade entre aqueles cristãos era indispensável. Além disso,

a hospitalidade fazia parte da igreja primitiva, como podemos ler

em Romanos 12:13, ITimóteo 5:10, Hebreus 13:2 e lPedro 4:9.

Alguém pode entender que essa qualificação não é mais necessária.

Todavia, o princípio de Paulo é demonstrar que “o pastor deve ser

um homem generoso. Longe de amar o lucro, ele vê tudo o que pos­

sui como um meio de atender às necessidade do próximo”.85

Apto para ensinar é outra qualificação em que o pastor deve ser

irrepreensível. Trataremos dela mais à frente, porém, é relevante

destacar que os incumbidos de pastorear o rebanho de Deus devem

ser qualificados para a docência. A docência, aqui, não deve ser

vista apenas sob o viés acadêmico, mas pelo uso de todas as moda­

lidades do conhecimento, sobretudo o ensino da Palavra de Deus

que vise à edificação da igreja de Cristo.

O pastor não deve ser apegado ao vinho. “Qualquer pessoa, em

qualquer liderança cristã, deve estar alerta e sóbria.” Segundo

MacArthur, o vinho era uma bebida comum na época, em virtude

de que beber água era correr risco de contrair infecção.86 Todavia,

esse vinho era composto da seguinte forma: misturava-se água ao

vinho na propoção de oito para um — oito partes de água e uma parte de vinho. Na prática, isso significava que o vinho funcionava mais como um desinfetante para a água do como de receita para

uma bebida gostosa. Quando não se podia adicionar água, o vinho

84 Idem, p. 123.85 Idem.“Idem, p. 119-120.

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74 ! Fundamentos da teologia pastoral

era fervido, restando quase nada de álcool. Diante disso, podemos compreender a ordem paulina de que os homens viciados em vi­nho ou bebidas alcoólicas sejam excluídos do ofício episcopal,87 pois eles devem estar sempre no controle de todas as suas faculda­des mentais para liderar a igreja.

O pastor também não deve ser violento, mas sim, amável. Vio­lência, nesse texto, tem a ver com a ira ou a raiva que, mantida no coração, leva a pessoa a “estourar” com frequência. “O homem que Deus escolhe para o ministério pastoral não deve ficar irado, hostil, briguento, nem irritado quando as coisas não se acertam, mas deve ser capaz de aceitar um não como resposta”.88 Ao contrário disso, precisa ser paciente, gentil e amável com todas as pessoas. Porém, precisa se preocupar com o equilíbrio entre a severidade e a deli­cadeza, como acentua Baxter: “É preciso haver, igualmente, uma prudente mescla de severidade e delicadeza [...]. Se não houver severidade nenhuma, nossas repreensões serão desprezadas. Se só houver severidade, tomar-nos-ão como dominadores, e não como persuasores da verdade”.89 Daí Paulo incluir, na qualificação do pastor, que este seja pacífico, isto é, que resolva conflitos pacifica­mente, de modo piedoso, gentil e humilde.90 O pastor deve ser o oposto de quem se entrega ao vinho; deve saber suportar injúrias pacificamente e com moderação; deve saber perdoar, engolir insul­tos e ser inimigo de contendas.91

Não ser apegado ao dinheiro. Esta é outra qualificação importan­te para que o pastor seja irrepreensível. O que Paulo combate é a

postura de quem não se importa com a maneira pela qual conse­

gue dinheiro. “Qualquer pessoa que ame o dinheiro se compro­

meterá e lucrará de alguma forma sórdida. O homem que esteja

87 Calvino, As pastorais, p. 88.88 J. MacArthur, Jr., O caráter do pastor. Redescobrindo o ministério pastoral, p. 119.89 R. Baxter, O pastor aprovado, p. 41.90 Calvino, As pastorais, p. 88.91 Idem, p. 89.

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O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 75

na liderança espiritual não deve ser cobiçoso, pois facilmente

seria corrompido”.92 Nesse contexto, vale ressaltar as palavras

de Calvino: “[...] aquele que não suporta a pobreza paciente e

voluntariamente, inevitavelmente se tornará uma vítima da vil

e sórdida cobiça”.93

O pastor não pode ser recém-convertido, para que não se

ensoberbeça e caia na mesma condição em que caiu o Diabo.94

Calvino pontua que “naquele tempo, muitos homens de extraor­

dinária habilidade e cultura estavam sendo conduzidos à fé. Paulo,

porém, proíbe que se façam bispos aos que recentemente tenham

professado a Cristo”.95 Na concepção de Calvino, os recém-con-

vertidos, por terem confiança em sua própria capacidade, podem

entender que não dependem de Deus. Todavia, a atitude do pastor

deve ser de inteira dependência do Senhor: “[...] Vendo-me,

Senhor, como estou nu e despreparado para essa obra, preparas-me

com os recursos necessários para tal tarefa”.1"1

O resultado da soberba é que esta conduz à mesma condenação

do diabo. Ao comentar essa soberba, MacArthur explicita que ela

é uma arrogância cheia de amor próprio, de ser consumido por si

mesmo, de buscar o próprio caminho, a satisfação e a gratificação,

a ponto de desconsiderar os outros. Baxter afirma que o pastor

deve detestar o orgulho porque é raiz de inveja, espírito belicoso,

descontentamento e todos os obstáculos que impedem a renova­

ção espiritual, por isso, declara: “Onde há orgulho, todos querem

dirigir e ninguém quer seguir ou concordar. Em razão disso, o or­

gulho é causa de cismas, apostasias, usurpação arrogante e outras

92 J. MacArthur, Jr., O caráter do pastor. Redescobrindo o ministério pastoral, p. 122.

93 Calvino, As pastorais, p. 89.94 ITimóteo 3:6.95 Calvino, As pastorais, p. 90.96 R. Baxter, O pastor aprovado, p. 40.

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76 t Fundamentos da teologia pastoral

formas de imposição”97. Sendo assim, vale ressaltar as palavras de

MacArthur: “Ninguém que seja dominado pelo ego está apto para

o ministério pastoral”.98

Por fim, o pastor irrepreensível deve ter boa reputação perante

os de fora, para que não caia em descrédito nem na cilada do diabo.

Deveria ser difícil para os cristãos da igreja primitiva ter boa repu­

tação, uma vez que viviam em meio a muitas perseguições. O que

Paulo enfatiza nessa última qualificação é que o pastor deve ter um

comportamento piedoso, de maneira que, mesmo os incrédulos,

tenham de reconhecer que ele é uma boa pessoa. É com isso em

mente que o apóstolo se refere à “cilada do diabo”. Em vez de ser

uma pessoa boa, o pastor corre o risco de começar a endurecer o

coração e a entregar-se livremente a todo tipo de perversidade.

Diante do que vimos até aqui, deixamos claro que nem to­

dos que desejam o ministério pastoral podem de fato exercê-lo.

E necessário, assim, que a igreja de Cristo esteja de fato preocupa­

da com as pessoas que pastoreiam o rebanho. Que elas sejam irre­

preensíveis em todas as coisas para serem instrumento do Senhor e

exemplo para o povo de Deus.

Alguém pode questionar se existe uma pessoa que possa, à luz

do que foi dito, exercer o ministério pastoral. De fato, ninguém

poderá ser completo em todas as coisas, mas deve ser alguém que

busque santificar sua vida, livrando o nome de Deus de todo e

qualquer escândalo. Além disso, deve ser um exemplo vivo de que

essas qualificações podem ser observadas na vida do pastor. Por

conseguinte, que o pastor seja um homem íntegro, piedoso, dotado

de muitas habilidades e, ao mesmo tempo, alguém que mantém a

atitude e a postura humilde de um menino pastor.99

97 Idem, p. 41.98 J. MacArthur, Jr., O caráter do pastor. Redescobrindo o ministério pastoral, p. 117-118.99 J. MacArthur, Jr., p. 14.

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O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 77

Somando ao que dissemos até o momento, quem almeja ser

pastor deve estar ciente das suas muitas responsabilidades diante

do rebanho de Deus.

Responsabilidades dos pastores diante

DO REBANHO DE DEUS

Devemos, antes de tudo, rememorar que a responsabilidade do

pastor está intimamente relacionada com sua consciência quan­

to ao propósito do ministério pastoral. Todo pastor necessita sa­

ber que seu propósito é agradar e glorificar a Deus. Além disso,

ele deve estimular a santificação e a santa obediência do reba­

nho de Deus que está sob sua guarda, promovendo a unidade, a

ordem, a beleza, o poder, a preservação e o progresso da igreja

de Cristo. É com isso em mente que damos prosseguimento ao

nosso estudo.

Cuidar do rebanhoNo episódio registrado em João 21:15-17, após comer com os dis­

cípulos, Jesus perguntou a Pedro se este o amava.100 As respostas

de Pedro foram: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”. Para cada

reposta de Pedro, o Senhor dava uma ordem. Na primeira ordem,

Jesus disse: “Cuide dos meus cordeiros”. Na segunda, o Senhor dis­

se: “Pastoreie as minhas ovelhas”. Na terceira vez, após o aborre­

cimento de Pedro, Jesus determinou: “Cuide das minhas ovelhas”.

Bruce, ao estudar esse texto, destaca que Pedro aqui foi reabilitado

e reconvocado para sua missão, a saber, pastoral. “[...] ao anzol do

pescador é acrescentado o cajado do pastor”.101

100 Para as discussões das palavras gregas phileo e ágape, traduzidas por “amor”, ler: F. F. Bruce, João: introdução e comentário, p. 344-345.101 Idem, p. 345.

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78 j Fundamentos da teologia pastoral

Como pastor, ele tinha a incumbência de pastorear o rebanho

de Deus. Foi o que escreveu mais tarde, em lPedro 5:2-4:

Pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus cuidados. Olhem

por ele, não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus quer.

Não façam isso por ganância, mas com o desejo de servir. Não

ajam como dominadores dos que lhes foram confiados, mas como

exemplos para o rebanho. Quando se manifestar o Supremo Pas­

tor, vocês receberão a imperecível coroa da glória.

Ao comentar o texto de João, Hendriksen pontua que Jesus,

ao falar dos “cordeiros” e “ovelhas”, tem em mente fazer uma dis­

tinção entre os envolvidos. Para Hendriksen, “cordeiros” são os

cristãos ainda novos na fé ou imaturos em seu relacionamento

com Deus. No mesmo caminho segue o termo “ovelhas”, que são

propensas ao desvio e dependem inteiramente do pastor. Diante

disso, a ordem de Cristo a Pedro e a todos os pastores é: “Alimente-

as com a Palavra de Deus”.102

Paulo, em Efésios 4:11-14, corrobora a concepção de que o

propósito do ministério pastoral é “alimentar as ovelhas”, daí

suas palavras:

E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros

para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de

preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo

de Cristo seja edificado, até que todos alcancemos a unidade da fé

e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade,

atingindo a medida da plenitude de Cristo.

Observemos que Deus deu às igrejas seus pastores com a fina­

lidade de “preparar os santos para a obra do ministério” e com a

finalidade de que todos cheguem à maturidade cristã. Alimentan­

do os cordeiros e as ovelhas de Cristo, estes não serão levados por

102 G. Hendriksen, El evangelio segun Sanjuan, p. 764-765.

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O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 79

qualquer vento de doutrina que induz ao erro (Ef 4:14). Cuidar do

rebanho de Deus é tão grande tarefa do pastor que Lucas deixou

registradas as palavras de Paulo, em Atos 20:28-31,35:

Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Es­

pírito Santo os colocou como bispos, para pastorearem a igreja de

Deus, que ele comprou com o seu próprio sangue. Sei que, depois

da- minha partida, lobos ferozes penetrarão no meio de vocês e

não pouparão o rebanho. E dentre vocês mesmos se levantarão

homens que torcerão a verdade, a fim de atrair os discípulos. Por

isso, vigiem! Lembrem-se de que durante anos jamais cessei de

advertir cada um de vocês disso, noite e dia, com lágrimas [...] Em

tudo o que fiz, mostrei-lhes que mediante trabalho árduo devemos

ajudar os fracos [...].

Paulo alertou que lobos surgiriam entre o rebanho de Deus e

que os pastores ou presbíteros deveriam vigiar, cuidando das ove­

lhas de Cristo. Está explícita, portanto, a importância do cuidado

pastoral. Com a mesma seriedade vista em Atos 20:28-35, Paulo

adverte, em 2Timóteo 3:1-8, que nos últimos dias sobreviriam tem­

pos terríveis. Homens egoístas, avarentos, presunçosos, arrogantes,

blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos, ímpios, sem amor pela

família, irreconciliáveis, caluniadores, sem domínio próprio, cruéis,

inimigos do bem, traidores, precipitados, soberbos, mais amantes

dos prazeres do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade,

mas negando o seu poder. Esses homens não estariam fora da igre­

ja, mas nas casas, em busca de mulheres instáveis sobrecarregadas

de pecados. Além disso, seriam resistentes à verdade.

Este é o quadro descrito por Paulo do que haveria no interior

da Igreja. Em função disso, exortou Timóteo, representante dos

pastores de todos os tempos, a permanecer firme nas Sagradas

Letras (2Tm 3:15), definidas pelo apóstolo da seguinte maneira:

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a

repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que

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80 | Fundamentos da teologia pastoral

o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa

obra” (2Tm 3:16-17).

Pregar a sã doutrinaO pastor não só deveria permanecer firme nas Escrituras, mas

também tinha a tarefa de pregar a Palavra: “Pregue a palavra,

esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija,

exorte com toda a paciência e doutrina” (2Tm 4:2). Em Tito 2:1,

Paulo exorta: “Você, porém, fale o que está de acordo com a sã

doutrina”. Em todo o capítulo 2 de Tito, há ênfase na relevância

do ensino da sã doutrina. Afirmamos isso em função de Paulo

usar esse verbo várias vezes. Ele diz a Tito: “Ensine os homens

mais velhos a serem moderados [...]” (Tt 2:2); “ensine as mulhe­

res” (Tt 2:3); “ensine os escravos” (Tt 2:9). Infere-se daí que uma

das principais e a mais importante das tarefas do pastor, inclusa

no cuidado com o rebanho, é a pregação fiel das Escrituras para

a igreja de Cristo.103

Muitos hão de concordar com nossa afirmação, todavia, pare­

ce-nos paradoxal o que presenciamos nas igrejas em geral. Há um

empobrecimento da pregação que tomou conta dos púlpitos das

igrejas cristãs brasileiras.104 O que reina entre nós não é o minis­

tério da fiel pregação das Escrituras, mas acessórios como músicas

ou qualquer outra atividade. Vale ressaltar que, pregar fielmente

as Escrituras não diz respeito às técnicas da pregação. Elas são

necessárias; entretanto, isto diz respeito, sobretudo, à pregação

fundamentada na Bíblia e no temor e tremor diante de Deus e de

sua igreja.

1113 Acerca da importância da pregação no apascentamento do rebanho de Deus, ler: R. A. Mohler Jr., [et al.], Apascenta o meu rebanho: um apaixonado apelo em favor da pregação.104 Recomendamos a leitura do livro de Albert N. Martin, O que há de errado com a pregação de hoje?

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O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 8 1

Além das responsabilidades já descritas, registramos outras que são tão importantes quanto as comentadas até aqui. Para tomar o texto mais metodológico, sintetizamos as atividades em formato de tabela.

Responsabilidade dos pastores

diante do rebanho de Deus

Pregar ICo 1:17

Alimentar lPe 5:2

Edificar a Igreja Ef 4:12

Edificar 2Co 13:10

Orar Cl 1:9

Velar pelas almas Hb 13:17

Lutar lTm 1:18

Convencer Tt 1:9

Consolar ICo 1:4-6

Repreender Tt 1:13

Alertar At 20:31

Admoestar 2Ts 3:15

Exortar Tt 1:9; 2:15

Cabe registrar que não tratamos a respeito da salvação eter­

na por acreditarmos que, se alguém deseja ser pastor, já teve um encontro pessoal com Cristo; caso contrário, poderá sofrer os juízos de Deus por ser um mau pastor que não agrada ao Senhor. Fato é que o ministério pastoral é uma árdua tarefa para alguém que já é cristão verdadeiro, quanto mais para quem não é. Devemos ter em mente que nem todas as pessoas podem exercer o ministério e

que o pastorado tem início com o chamado de Deus e pressupõe

o reconhecimento da igreja, sem qualquer intervenção do Estado, como visto no primeiro capítulo.

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82 | Fundamentos da teologia pastoral

Na continuação deste estudo, no próximo capítulo, discuti- remos os desafios pessoais que os pastores enfrentam em seu mi­

nistério. Antes, porém, é necessário revisarmos o que foi dito até o momento.

Revisão e aproveitamento do capítulo 2

1. Como podemos entender os termos: bispos, pastores e

presbíteros?2. À luz de João 21:15-17, qual a principal responsabilidade

do pastor?

3. Qual o significado do termo “pastor” no Antigo e Novo Testamento?

4- Quais são as qualificações exigidas para quem deseja ser pastor?

5. Quais são as responsabilidades dos pastores ante o rebanho

de Deus?

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Iniciamos este capítulo lembrando as palavras do apóstolo Paulo

em lTimóteo4:16 (RA): “Tem cuidado de ti mesmo Não são

raras as situações em que o pastor se propõe a cuidar do rebanho

de Deus, mas esquece de cuidar de si mesmo, desobedecendo ao

Senhor, que inspirou Paulo a escrever essas palavras no intuito de

que seu escolhido para o ministério pastoral estivesse atento para

não incorrer neste erro. Vale ressaltar que, quando o pastor não

cuida de si mesmo, pode vir a adoecer. Assim, em vez de colaborar

para a edificação da igreja, pode ocorrer justamente o contrário.

Pensando nesse quadro é que procuramos, neste capítulo, tratar

dos principais desafios pessoais enfrentados no ministério pastoral.

Cuidados pessoais com a saúde

No cuidado de si mesmo, é necessário que o pastor faça, pelo me­

nos, os principais exames médicos periódicos. Para tanto, deve

agendar consulta com profissionais de áreas como cardiologia e

urologia, os quais saberão solicitar exames para um check-up da saú­

de do pastor. Essa referência é relevante, já que em meio às muitas

atividades na igreja, muitos pastores optam por não fazer preven­

ção de determinadas enfermidades, que, quando desencadeadas,

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podem trazer grandes males. A ordem do apóstolo Paulo é: “Cuida

de ti mesmo”.

Com foco na questão de prevenção e cuidados pessoais com a

saúde, vale ressaltar estudos recentes que tratam do estresse e da

depressão no ministério pastoral.1

Entendendo o estresse

Um dos pioneiros a estudar os efeitos do estresse na saúde física

e mental foi o austríaco-canadense Hans Selye,2 que, em 1956,

publicou o livro The stress of life. A partir de sua obra, percebemos

que o termo “estresse” é derivado do latim strmgere. No século 17,

adquiriu a conotação de “aflição” ou “adversidade” e, no final do

século 18, seu conceito evoluiu para “força”, “pressão” ou “esfor­

ço”. O termo com a conotação atual foi importado da física para a

área da saúde.

Estresse pode ser compreendido como levar um determinado

material até seu ponto máximo de tensão ou esforço, o qual sofre­

rá alteração molecular. Na saúde, o raciocínio é idêntico, isto é,

levar um órgão, ou um conjunto de órgãos, a seu ponto máximo

de tensão, esforço ou sobrecarga, o que resultará numa alteração

biomolecular. Exemplo disso são os atletas, os quais submetem o

sistema osteomuscular a limites máximos de uso e, consequente­

mente, colhem lesões devidas ao estresse desses órgãos.3

Para os fins do nosso estudo, focalizamos o estresse produzido

sobre o psiquismo e a saúde mental, que têm como sede o cérebro,

cuja função é processar informações. O excesso de informações

1 Para aprofundamento sobre o estresse no ministério pastoral, ler: P. R. G. Deus, As influências do sentimento religioso sobre os cristãos portadores de depressão.2 A. M. Mendes; R. M. Cruz, Trabalho e saúde no contexto organizacional: vicissitu- des teóricas. Cultura e saúde nas organizações, p. 39-55.1 P. R. G. Deus, As influências do sentimento religioso sobre os cristãos portadores de depressão.

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Principais desafios enfrentados no ministério pastoral | 85

percebidas pelos órgãos sensoriais, posteriormente elaboradas e fi­

nalmente comunicadas, pode levar esse órgão a limites extremos

de funcionamento, ponto em que ocorrerá o estresse.

No cérebro, diante de um fator estressante, haverá liberação de

cortisol e adrenalina. Ao cair na corrente sanguínea, a adrenalina

causa alguns dos sintomas típicos do estresse, como aumento dos

batimentos cardíacos, vasoconstrição e sudorese. O cortisol au­

menta o teor de glicose sanguínea e, cronicamente, pode causar

danos no sistema imunológico, do que decorre maior predisposição

a outras doenças.

Segundo Selye,4 o estresse tem três fases distintas e progressi­

vas: alerta, resistência e exaustão. Mas é possível incluir a fase de

quase exaustão.

Fases do estresseAlerta: hipervigilância, agitação, irritabilidade, taquicardia, sudo­

rese, perda do apetite.

Resistência: acrescidos aos sintomas anteriores, sensação de des­

gaste ao acordar, falha de memória, desânimo, diminuição da libido.

Quase exaustão: forte sensação de esgotamento, piora da falha

da memória, queda dramática da produtividade, sinais de depres­

são, ansiedade e descontroles emocionais.

Exaustão: produtividade quase nula no trabalho; desgaste

enorme, com grande falta de energia; angústia e ansiedade diária;

depressão severa. Podem surgir alterações cardíacas, intestinais,

diabetes e toda sorte de doença.

Para tornar mais fácil a compreensão, dividimos as conseqüên­

cias mais comuns do estresse em físicas e psíquicas:

4 A. M. Mendes; R. M. Cruz, Trabalho e saúde no contexto organizacional: vicissitu- des teóricas. Cultura e saúde nas organizações, p. 39-55.

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Físicas: taquicardia, sudorese, alterações do apetite, altera­

ções de peso, alterações do sono, fadiga, desgaste ao acordar, al­

terações cardíacas, alterações gastroduodenais (gastrites, refluxos,

colites) diabetes, doenças autoimunes, fibromialgia, reumatismos,

doenças infecciosas, hipertensão.

Psíquicas: ansiedade, irritabilidade, angústia, distúrbios de

atenção, comprometimento da memória, raciocínio lento, estado

de cansaço mental, alterações do estado de humor, diminuição da

libido, descontroles emocionais, isolamento, queda de produtivi­

dade, estados depressivos.

Profissões mais expostas ao estresseEstudos recentes publicados pela International Stress Management

Association (Isma),5 listaram as profissões campeãs do estresse. Em

primeiro lugar, policiais e seguranças privados. Depois, controla­

dores de voo e motoristas de ônibus urbanos. Em terceiro lugar,

os executivos, trabalhadores da área da saúde e bancários, e, em

quarto lugar, os jornalistas.

As razões são justificáveis e interessantes. Policiais: estado de

alerta constante, dificuldade para relaxar. Controladores de voo:

nenhum momento de desatenção, em função da enorme responsa­

bilidade. Motoristas de ônibus urbanos: estresse ambiental, sonoro,

poluição, pressão e controle dos passageiros, dificuldades do trân­

sito, pressão das chefias, carga excessiva de trabalho. Executivos,

trabalhadores da saúde e bancários: constantes pressões da che­

fia, clientes e subordinados. Jornalistas: exposição a determinadas

situações e fatos que podem causar emoções descarregadas sobre

esse profissional, insegurança para avaliar a veracidade das infor­

mações e carga excessiva de trabalho.

5 Para aprofundar a discussão, ler: International Stress Management Association (ISMA). Stress.

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Principais desafios enfrentados no ministério pastoral | 87

Interessante é que o trabalho pastoral não apareceu nessa lis­ta da Isma. Uma das razões para isso pode se dever às questões

debatidas no primeiro capítulo, ou seja, o entendimento do ofí­

cio pastoral não como profissão, mas como vocação. Todavia, não

podemos negar que o ministro do evangelho não esteja nesse rol.6 A Isma fez um levantamento e chegou ao resultado de que os reli­

giosos apresentam índices de estresse superiores até mesmo aos dos

profissionais de segurança. Constatou-se 28% dos padres e freiras

com índices de estresse, ante 26% dos policiais e 20% dos executi­

vos. Rossi, coordenadora da Isma, refere-se ao fato de que os fiéis

esperam que, além de apresentarem comportamento exemplar, os sacerdotes estejam sempre a sua disposição.7

Na pesquisa com líderes religiosos pentecostais, neopentecos-

tais e tradicionais, realizada na Universidade de Brasília, constatou-

se forte incidência de desgaste físico e psicológico nesses líderes.8

Assim reportam os autores:

“A constante lida com problemas psíquicos e sociais da comuni­

dade, a forte exigência moral e a constante disponibilidade para

as pessoas trazem sérias conseqüências, principalmente pelo parco

espaço público de discussão e pelo fraco apoio organizacional,

principalmente entre os tradicionais.”.9

São vários os fatores que resultam no estresse pastoral, mas um fa­

tor que aparece em diversos estudos são os conflitos entre a igreja

e seu corpo diretivo. Algumas comunidades apresentam histórias

de conflitos crônicos na relação pastor-igreja. Há ainda a situação

em que os corpos diretivos ou oficiais se relacionam por laços de

6 Na entrevista de E. P. Lopes, Só Jesus: metas ambiciosas e longas jornadas: assim é a vida dos pastores evangélicos, p. 7-90, é possível verificar o estresse causado pela jornada e pela exigência de trabalho do pastor.7 P. R. G. Deus, As influências do sentimento religioso sobre os cristãos portadores de depressão, p. 50.8 A. M. Mendes; R. R. Silva, Prazer e sofrimento no trabalho de líderes religiosos numa organização protestante neopentecostal e noutra tradicional, p. 103-112.9 Idem, p. 103.

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88 ! Fundamentos da teologia pastoral

sangue, casamento ou amizade, o que resulta no envolvimento

maior do pastor em situações de conflito e estresse.10

Fazendo uma comparação entre as profissões citadas pela Isma,

temos dados relevantes que apontam para geradores do estresse no ministério pastoral. Por exemplo, como os policiais, os pastores estão em constante alerta; como os controladores de voo, não po­

dem ficar desatentos; como os executivos e trabalhadores da saú­de, sofrem pressões de todos os lados: lideranças e membros como os jornalistas, estão constantemente expostos a fatos e situações carregadas de emoção, sendo eles, não raro, o primeiro anteparo

nessas situações; como os motoristas e jornalistas, somam exces­siva carga de trabalho.11 Em muitas comunidades, principalmente

as mais carentes, o pastor tem que entender as finanças da igreja e ajudar a liderança local a lidar com elas. Se a igreja tem um plano de reforma, em muitas ocasiões a palavra final é do pastor. Não são raros os casos em que ele literalmente coloca a mão na massa, assentando tijolos, por exemplo.

Em muitas comunidades, não existem pessoas preparadas para conduzir a música na congregação, e o pastor tem sobre si mais esse encargo. Mas, uma das funções talvez mais incômodas e desgastan­tes é a dimensão política do exercício pastoral. Essa função envol­ve tratativas dentro da própria comunidade na inter-relação com o pastor ou entre o pastor e o corpo diretivo da igreja; tratativas nas relações do pastor com os membros na condução de problemas e discordâncias e, ainda, tratativas das relações do pastor com outras instâncias da igreja enquanto organização, as denominadas “rela­ções eclesiásticas”.

Diante disso, percebemos que o pastor está mais exposto a si­

tuações de estresse do que se pode pensar. Por conseguinte, deve

10 Para maiores esclarecimentos, ler: S. B. Sarason, The creation ofsettings and the future societies.11 M. Stefano, Um drama atrás dos púlpitos, p. 40-48.

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Principais desafios enfrentados no ministério pastoral | 89

cuidar de si mesmo e, no aparecimento do mais “simples” sintoma

dessa enfermidade, deve procurar um especialista da área. Cabe-

nos, a partir do que foi exposto até aqui, refletir sobre a depressão

no ministério pastoral.

Depressão no ministério pastoral

O psiquiatra dr. Pérsio de Deus pontua que a depressão, como

doença do cérebro, apresenta diversas manifestações clínicas, que,

por sua vez, comprometem funções físicas e psíquicas, nem sem­

pre percebidas de maneira clara. Em sua leitura do salmo 32, ele

consegue identificar sintomas depressivos em Davi. Na leitura de

Lamentações 4, também assinala quadros depressivos em Jeremias.

Isso implica dizer que encontramos na Bíblia Sagrada grandes ho­

mens que sofreram situações depressivas.12

As modalidades depressivas surgem com muita frequência

após perdas significativas: pessoa muito querida, emprego, mora­

dia, status socioeconômico ou algo puramente simbólico. Em fun­

ção disso, há várias categorias de depressão que se caracterizam por

uma multiplicidade de sintomas:13

Afetivos: tristeza, melancolia, choro fácil ou freqüente, apatia,

tédio e irritabilidade.

Instintivos e neurovegetativos: incapacidade de sentir prazer em

várias esferas da vida, fadiga, desânimo, insônia ou sonolência em

excesso, perda ou aumento de apetite, diminuição da libido.

12 Para detalhes relativos a esta temática, ler: P. R. G. Deus, As influências dos salmos de Davi na concepção de depressão pelos cristãos. E. P. Lopes; M. M. C. Liberal (Orgs.). O impacto da práxis religiosa na construção de vínculos sociais, p. 91-104.13 P. Dalgalarrondo, Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. p. 307-309.

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90 I Fundamentos da teologia pastoral

Ideativos: pessimismo, culpa, rancores, ideação, planos ou atos suicidas, desejo de dormir para sempre ou de desaparecer do mundo.

Cognitivos: falta de concentração, atenção e memória, dificul- dade para tomar decisões.

Autovaloração: baixa estima pessoal, sentimento de incapacida­

de, vergonha e autodepreciação.Psicomotrícidade: tendência de permanecer na cama por todo o

dia (com quarto escuro, recusando visitas), lentificação do raciocí­

nio e de atividades psicomotoras.

Assim, verifica-se que a depressão é um adoecimento que pas­sa por várias fases, da leve até a grave. Por isso, ao tomarmos a definição de Dalgalarrondo, se tristeza e desânimos se tornarem

persistentes na vida do pastor, é hora de procurar um especialista, uma vez que os elementos mais destacados dessa enfermidade são “humor triste e desânimo”.14 Seguem algumas orientações terapêu­ticas que podem auxiliar no tratamento da depressão.

Orientações terapêuticasAs propostas de orientação terapêutica devem estar ancoradas no bom senso, considerando-se a singularidade do ser humano e o fato de que cada caso terá um tratamento específico. As orien­tações terapêuticas têm como objetivo melhorar a qualidade de vida, atuando preventiva e terapeuticamente. Algumas são apa­rentemente simples e até mesmo óbvias e, talvez por serem assim, costumam ser negligenciadas. Vejamos algumas dessas orientações que podem levar a resultados relevantes:

Exercícios físicos: são extremamente benéficos e não exigem maiores investimentos, pois uma das melhores formas de exercício físico é a caminhada. De modo ideal, deve ser realizada diariamente por cerca de meia hora. Importante lembrar que, antes da prática

14 Idem.

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Principais desafios enfrentados no ministério pastoral | 91

de qualquer exercício físico, deve-se passar por avaliação física e médica. O exercício físico melhora a circulação, atua na prevenção de doenças cardiovasculares, fortalece musculatura e ossatura, prevenindo doenças reumáticas, além de liberar endorfina (substância importante no organismo, que ajuda a evitar a obesidade).

Esportes: desde que já haja condicionamento físico, pode-se ini­ciar a prática de esportes que, além dos benefícios decorrentes do exercício físico em si, ainda tem função lúdica e, em alguns espor­tes, o favorecimento das relações sociais pela função de grupo.

Técnicas de relaxamento: são importantes para alívio do estado de tensão física e psíquica, advinda do estresse. Existem diversas

formas de relaxamento, desde várias modalidades de massagens e banhos, até ouvir música suave e harmônica num ambiente calmo,

silencioso e agradável. Dependendo do tipo de personalidade, podem-se descobrir diversas formas de relaxamento.

Oração: o exemplo desse benefício está na história bíblica de Daniel, que orava diversas vezes por dia. A oração é uma das armas terapêuticas mais eficazes contra as doenças do cérebro.

Arte terapia: qualquer manifestação artística, feita de maneira natural e espontânea, tem grande valia na prevenção do estresse e da depressão. A arte terapia já era praticada por Davi, para aliviar

o estado de saúde do rei Saul.Lazer: tempo livre ou de descanso, após um período de ativida­

des. O pastor deve cuidar para reservar-se um tempo de lazer.

As medidas de prevenção e tratamento visam a atenuar o des­gaste excessivo do “processador cerebral” e a fortalecer o organis­mo para fornecer mais energia ao cérebro. Naturalmente, quanto mais sério for o comprometimento físico e psíquico decorrente do desgaste causado pela depressão e estresse, mais sérias devem ser as medidas adotadas. Uma dessas medidas é a psicoterapia, para os casos em que parte das tensões geradoras do estado de estresse esteja ligada a situações de conflitos, conscientes ou não. A psico­terapia pode ser, nesses casos, de grande auxílio e valia.

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92 | Fundamentos da teologia pastoral

Outra medida é o uso de medicamentos, que podem atuar de forma direta ou indireta. A atuação indireta dá-se no sentido de agir nas conseqüências físicas advindas do desgaste de órgãos ou sistemas: hipertensão, alterações de glicemia, alterações do sistema gastrointestinal, infecções freqüentes. A ação direta é realizada no sentido de se proteger a rede neural a partir do uso de fármacos específicos que atuam como neuroprotetores, neuroestabilizadores e reguladores do sono.

Destacamos que há caminhos para a prevenção e tratamento do estresse e da depressão no ministério pastoral. Um desses cami­nhos é o pastor de fato confiar no poder de Deus e entregar todas as suas atividades nas mãos do Senhor (SI 37:5). Outros caminhos são: fazer exames periódicos e não se esquecer da prática de ativi­dades físicas e lúdicas; tomar cuidado para não ser relapso com as coisas de Deus, mas também ter consciência das suas limitações pessoais. Lembremos, ainda, que o Bom Pastor é um só e já deu sua vida pelas ovelhas; portanto, os demais pastores não precisam cumprir essa orientação em sentido literal. Não nos esqueçamos de nós mesmos, mas tenhamos em mente o seguinte: com a mes­ma medida que nos amamos e nos cuidamos, amemos também o rebanho de Deus. Daí as palavras do apóstolo Paulo: “Cuida de ti mesmo e da doutrina [...] porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes” (lTm 4:16, RA).

O cuidado de si próprio não envolve somente cuidados físicos, mas sobretudo espirituais. Assim, o pastor também necessita cui­dar de sua vida devocional pessoal, como veremos a seguir.

VIDA DEVOCIONAL

Pode soar estranho tratarmos desta temática, uma vez que deveria

ser prática corrente no ministério pastoral. Entretanto, Jowett,15 ao tratar dos perigos que o pregador enfrenta, observa que a falta

15 J. H. Jowett, O pregador, sua vida e obra, p. 32.

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Principais desafios enfrentados no ministério pastoral | 93

de vida devocional é um dos grandes problemas, se não o maior,

do ministério do pastor.16 A questão consiste no seguinte: o semi- narista fica por vários anos no seminário,e é muito bem prepara-

do, com uma carga horária de 2.400 horas, distribuída em cinco

blocos: teologia exegética, teologia sistemática, teologia histórica, teologia pastoral e conhecimentos gerais. Após o término do curso

teológico, ordenado ou consagrado pastor, o ministro pode pensar que, por ter estudado num bom seminário e ser “conhecedor” de

boa parte das áreas teológicas citadas, não tem mais necessidade

de prosseguir em seus estudos. Ao mesmo tempo, pode pensar que sua mensagem, vida e ministério dependem somente dos conheci­

mentos adquiridos em seu curso teológico.

Ketcham, ao discorrer sobre o salmo 23, assinala que este é um

dos textos mais conhecidos e amados da Bíblia. Segundo ele, não

são poucos os cristãos que o sabem de cor. Em sua concepção, mui­

tos cristãos se familiarizaram com o salmo.17 O problema não está

na familiaridade, mas no fato de que muitos cristãos fizeram dessa

porção bíblica um texto que não lhes causa mais impacto. Desse

modo, alguns podem saber muitas coisas a respeito dele, sem, con­

tudo, jamais conhecerem Deus como pastor.18

Dessa atitude podem resultar duas situações problemáticas.Primeira: a pessoa passa a estudar o texto bíblico não com a

intenção de ouvir Deus falar. Segundo Thielicke,19 quando deixo

de ler a palavra das Escrituras como sendo dirigida a mim, esta

passa a ser apenas um objeto de estudo ou um livro como qualquer

outro. Em sua concepção, esse é um dos piores transtornos entre

os disseminados no ministério pastoral. “Pois o pastor raramente

16 A. Azurdia, Reformando a igreja por meio da oração: a contribuição pastoral. ]. Armstrong (Org.), O ministério pastoral segundo a Bíblia, p. 175.17 R. Ketcham, O salmo 23, p. 9.18 J. R. Beeke. A urgente necessidade de uma vida piedosa: o fundamento do ministério pastoral.J. Armstrong (Org.), O ministério pastoral segundo a Bíblia, p. 59-84.19 H. Thielicke, Recomendações aos jovens teólogos e pastores, p. 57.

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94 | Fundamentos da teologia pastoral

consegue expor um texto como se fosse uma carta endereçada a ele próprio, e só lê a Bíblia sob a pressão de como encaixar o texto

em um sermão.”Na segunda situação problemática a pessoa se confunde quanto

a sua vida com Deus, como afirma Jowett:20 “Podemos vir a supor

que falar bem é viver bem, que a habilidade expositiva é piedade

profunda [...]”. Com isso, “podemos manter ativo intercâmbio de palavras, mas ‘o temor das alturas’ não mais nos faz tremer [...], po­

demos falar acerca de montanhas sendo cegos e insensíveis filhos das planícies”.21 O mais triste dessa situação é “que podemos fazer

isso sem que o saibamos jamais”.22 Jowett denomina esta atitude

como “mortífera familiaridade com o sublime”.23

Diante do que foi dito, é necessário deixar claro que a vida

devocional do pastor deve alicerçar-se no conhecimento de Deus, pautar-se em uma vida de oração e no falar do Senhor ao seu co­ração por meio das Escrituras Sagradas. Ao tratar do conhecimen­

to de Deus, não podemos deixar de citar lCrônicas 28:1-21, em

que Davi reúne todos os líderes de Israel, convoca-os a obedecer

os mandamentos do Senhor e profere, diante de todos, as seguin­tes palavras a Salomão: “E você, meu filho Salomão, reconheça o Deus de seu pai [...]” (v. 9). Na tradução Revista e Atualizada pode ser lido: “Tu, meu filho Salomão, conhece o Deus de teu pai”.

Certamente, com a instrução “conhece o Deus de teu pai”, Davi

não queria dizer que conhecer Deus significava decorar os manda­mentos e ordenanças do Senhor. Se fosse essa a tônica de Davi,

a proposição seria plenamente descabida, uma vez que todas as

crianças de Israel aprendiam o alfabeto por meio do Pentateuco.24

Na prática, isso significa que Salomão já havia decorado tudo o que

20 J. H. Jowett, O pregador, sua vida e obra, p. 33.21 Idem, p. 32.22 Idem, p. 33.23 Idem, P. 32.24 Para conhecimento ler: E. P. Lopes, Fundamentos da teologia da educação cristã.

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Principais desafios enfrentados no ministério pastoral I95

havia de mais fundamental a respeito. Ou seja, Davi não tinha em

mente o conhecimento teórico a respeito de Deus, mas aquele que

resulta em profunda comunhão25 e aceitação da aliança feita por

Yavé com seu povo.20

Em seu livro O conhecimento de Deus, Packer afirma que conhe­

cer a Deus é uma experiência definitiva e verdadeira, à qual mui­

tos são estranhos: “[...] interesse em teologia, conhecimento sobre

Deus, e capacidade de pensar com clareza e falar bem sobre temas

cristãos não são a mesma coisa que conhecer a Deus [...] alguém

pode ter tudo isso e não conhecer realmente a Deus”.27

Está claro, portanto, que o pastor deve buscar continuamente

conhecer Deus, isto é, ter profunda comunhão com ele. A pergunta

a ser feita é: Como conhecer Deus nos termos em que estamos colo­

cando? A resposta é simples: por meio da oração e pela submissão à

Palavra. “Os homens que conhecem o seu Deus são, antes de tudo,

homens de oração, e o primeiro ponto onde seu zelo e força para

a glória de Deus são expressos é em suas orações.”28 É interessante

pensar na oração, sobretudo para a Igreja da atualidade. Nunca é

demais estudarmos a respeito da oração.

Na realidade, cada crente deve entender que a oração é parte

vital de sua comunhão com Deus e não um complemento. Não são

raras as situações em que nos deparamos com intensas e prolonga­

das reuniões de planejamento, mas dispensamos pouco ou quase

nenhum tempo para a oração. Precisamos ter a consciência de que

o planejamento é importante, mas a oração é o caminho preparado

por Deus para que seus filhos lhe roguem as mais ricas bênçãos

sobre sua vida e sobre a igreja em que congregam.

25 P. R. Gilchrist, Yãda' (conhecer). R. L. Harris, Internacional Dicionário de Teo­logia do Antigo Testamento, p. 597-600.26 R. L. Pratt Jr., I e 2 Crônicas, p. 263.27 J. I. Packer, O conhecimento de Deus, p. 19.28 Idem, p. 21.

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96 | Fundamentos da teologia pastoral

Por essa razão é que encontramos vários exemplos e impera­

tivos na Palavra de Deus determinando que oremos ao Senhor.

O apóstolo Paulo, em ITessalonicenses 5:17, determinou a todos

nós: “Orai sem cessar”. Jesus ensinou os discípulos a orar sempre e nunca desanimar (Lc 18:2). São muitos os exemplos que nos in­

centivam a uma vida de oração. A Palavra de Deus registra vários:

Abraão (Gn 18:3-15), Ana (ISm 1:3-27), Elias (lRs 18:36-38),

Jonas (Jn 2:2-10), entre outros. A seguir, examinamos alguns deles

com um pouco mais de atenção.

No livro de Neemias,29 nós o encontramos dando-nos um gran­

de exemplo de que devemos colocar diante do Senhor todas as

nossas questões. No capítulo 1, quando tomou ciência, por meio de

Hanani, das dificuldades, sofrimentos e devastação que assolavam Jerusalém, diz-nos o texto sagrado que ele passou dias “orando ao

Deus dos céus” (1:4) e seu pedido tinha a finalidade de glorificar a

Deus com a reconstrução de Jerusalém (1:10-11). No capítulo 2, quando foi servir vinho ao rei Artaxerxes, Neemias demonstrou

tristeza, o que incomodou o rei, e este lhe perguntou o que havia ocorrido. Antes de pedir qualquer coisa a Artaxerxes, Neemias

“orou ao Senhor” (2:4). Após a oração, fez seu pedido ao rei (2:4-6)

e foi bem-sucedido.Em todo o texto de Neemias encontramos a lição central de

que o caminho para recebermos a bênção de Deus é a oração. No

caso do pastor, podemos afirmar que todo o êxito do seu ministério

não está em sua própria força ou capacidade administrativa, mas numa vida de oração. Veremos ainda neste estudo a relevância

de uma boa administração no ministério pastoral, mas devemos

entender que isso é um complemento à vida de oração, e não a

parte mais importante do trabalho pastoral. O que é vital para seu

ministério é a oração.

29 Para detalhamento acerca das realizações de Neemias, ler: J. White, Encontrei um líder: alcançando objetivos com oração, coragem e determinação.

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Principais desafios enfrentados no ministério pastoral | 97

Na leitura sobre a vida de José do Egito, deparamo-nos com a certeza de que o êxito na vida do cristão está na bênção de Deus, e não em nossa própria capacidade. Em Gênesis 37:12-36, vemos que alguns irmãos de José tinham a intenção de lhe tirar a vida. Entretanto, por propósito de Deus, ele foi vendido por seus ir­mãos para mercadores ismaelitas de Midiã (Gn 37:28), que se dirigiam ao Egito. José não se entregou ao assédio da mulher de Potifar é, como recompensa, foi preso, acusado por ela de insul­to ou tentativa de assédio. Ele foi lançado na prisão por Potifar (Gn 39:20-21). A Bíblia revela que, estando José na prisão, o car­cereiro não se preocupava com nada do que estava ao seu cargo, “porque o Senhor estava com José e lhe concedia bom êxito em tudo o que realizava” (Gn 39:23). O próprio José compreendia que seu êxito devia-se à bênção de Deus, porque, após ter sido nomeado governador do Egito, afirmou: “Deus me fez prosperar na terra onde tenho sofrido” (Gn 41:52).

Se tudo provém dele, então devemos buscá-lo em oração. Jeremias conclama-nos a orar dizendo: “Clame a mim e eu res­ponderei e lhe direi coisas grandiosas e insondáveis que você não conhece” (Jr 33:3).

Em 2Crônicas 7:11-21, encontramos Deus prometendo a Salomão que abençoaria o povo de Israel e também a família de Davi, por intermédio dele. A condição era que ele andasse em seus retos caminhos (2Cr 7:17-18). Entretanto, se os israelitas se afastassem do Senhor e quebrassem a aliança com Deus, então se­riam desolados e atrairiam, sobre si próprios, toda sorte de desgraça (2Cr 7:22). Porém, se então orassem e buscassem a face do Senhor com humildade e arrependimento, o Senhor os perdoaria e curaria toda a sua terra. Como se essas promessas não bastassem, Deus ainda diz: “De hoje em diante os meus olhos estarão abertos e os meus ouvidos atentos às orações feitas neste lugar” (2Cr 7:15).

Está claro, portanto, que o êxito no ministério pastoral está em

reconhecermos que tudo provém do Senhor, e não de nossa própria capacidade. Isso pode ser visto em Atos 16:25, quando Paulo e Silas

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98 | Fundamentos da teologia pastoral

oravam e cantavam a Deus, enquanto os outros presos os ouviam.

“De repente, houve um terremoto tão violento que os alicerces da

prisão foram abalados [...]” (At 16:26). Eles oravam e cantavam,

apesar da prisão, por confiarem que sua vida estava nas mãos de Deus. Sabiam, portanto, que tudo dependia de Deus, e não deles.

Há grupos religiosos que parecem apresentar Deus como um

serviçal, pois usam as promessas divinas para determinar que sejam

atendidos. “A oração, muitas vezes, parece refletir uma atitude de

tentar realizar o propósito da pessoa que ora, da maneira que ela

quer. Isso é errado [...]”.50 A oração não é um exercício de deter-

minação, pelo contrário, ela nos ensina a depender inteiramente do Senhor e nos mostra que Deus é quem controla o mundo, e não nós.

“Daqui nasce para nós uma grande paz e tranqüilidade de cons­

ciência, porque, tendo exposto ao Senhor a necessidade que nos

oprimia, descansamos nele plenamente, porque estamos persua­

didos de que nenhum de nossos males está oculto àquele que nos

quer tão bem f...]”.31

Por causa disso, Lloyd-Jones pode afirmar:

Muitos têm concordado que o mais elevado quadro do homem

que jamais se pôde retratar, conforme também penso, é vê-lo de

joelhos, esperando em Deus. A oração é a mais elevada realização

do ser humano, é a sua atitude mais nobre. Nunca o homem se

mostra tão grande como quando entra em comunhão e contato

com Deus.32

Dentre todos os exemplos citados acima, devemos lembrar

que Jesus tornou evidente a relevância da oração na vida do pas­

tor. “Os quatro evangelistas não apenas registram Jesus orando

30 D. McDougall, A vida de oração do pastor: o aspecto ministerial. J. MacArthur

Jr. (Org.), Redescobrindo o ministério pastoral, p. 215.3 1 J . Calvino, A instituição da religião cristã, p. 310.32 M. Lloyd-Jones, Estudos no sermão do monte, p. 311.

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Principais desafios enfrentados no ministério pastoral | 99

com grande frequência e em diversos lugares, mas também têm o cuidado de citar ocasiões específicas durante seu ministério em que [...] ele se afastou de toda e qualquer companhia para orar [...]”.33

Em Marcos 1:35 lemos: “De madrugada, quando ainda estava es­curo, Jesus levantou-se, saiu de casa e foi para um lugar deserto, onde ficou orando”. Lucas registra que Jesus se retirava para luga­res solitários e orava (Lc 5:16) e também sublinha que Jesus passou

uma noite inteira em oração (Lc 6:12).

Em Mateus 6:5-13, Jesus, que é o nosso maior modelo de uma vida de oração (Lc 11:1), ensina os seus discípulos — e a nós por extensão — a orar. O modelo deixado por ele é o Pai-Nosso.34 Nes­sa oração, diferentemente do que se vê nas igrejas hoje, aprende­mos a desejar primeiramente as coisas de Deus,35 daí as expressões:

“santificado seja teu nome”, “venha o teu reino” e “seja feita a tua

vontade, assim, na terra como nos céus”. Só depois de atendermos a vontade de Deus é que devemos fazer nossas petições, buscando o necessário para a nossa existência; por isso, as expressões: “dá- -nos o pão nosso de cada dia”, “perdoa as nossas dívidas”, “não nos deixes cair em tentação” e “livra-nos do mal”.

Assim, a oração ensinada por Cristo e que deve ser vivencia-

da pelo pastor é aquela em que declaramos a Deus nossa intei­ra dependência dele e nossa total aceitação de que ele faça a sua

vontade e não a nossa, conforme nos ensina McDougall: “Ao se aproximar de Deus em oração, a pessoa deve ter o cuidado de en­trar em sua presença com o propósito correto e a atitude correta. Ela deve desejar que a vontade de Deus seja feita”.36

33 A. Azurdia, Reformando a igreja por meio da oração: a contribuição pastoral. J.

MacArthur Jr. (Org.), Redescobrindo o ministério pastoral, p. 178.34 Para aperfeiçoamento, ler: M. Lloyd-Jones, Estudos no sermão do monte, p. 343-361.35 Para estudo da oração do Pai-Nosso recomendamos a leitura: J. Jeremias, O pai-nosso: a oração do Senhor.36 D. McDougall, A vida de oração do pastor. J. MacArthur Jr. (Org.), Redesco­brindo o ministério pastoral, p. 217.

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Como vimos, a oração é imprescindível para a atividade pastoral.

Entretanto, podemos ver dois tipos de problema na atualidade. Um,

já citado, é o da arrogância de tentar fazer de Deus um serviçal da

igreja; outro é o de certo abandono da vida de oração. Já nos dias de

Spurgeon, as reuniões de oração eram pouco freqüentadas, por isso

ele conclamava seus alunos, futuros pastores, que jamais deixassem

de orar e que treinassem suas igrejas na arte santa da oração:

Façam com que vocês mesmos sejam aprovados através da devo­

ção dos vossos crentes. Se vocês mesmos orarem, quererão que eles orem com vocês; e quando eles começam a orar com vocês e

por vocês e pelo trabalho do Senhor, eles próprios quererão mais

oração, e assim o desejo aumentará. Acreditem em mim, uma

igreja que não ora, é uma igreja morta. Coloquem-na no princípio.

Todas as coisas dependerão do poder da oração na igreja.37

Por conseguinte, se o pastor deseja êxito em seu ministério pastoral, deve manter uma vida de oração. No mesmo contexto, deve estar consciente de que a vida de oração é indissociável da

submissão à Palavra de Deus. Assim, uma vez compreendida a im­portância da oração, prosseguindo nosso estudo, focaremos o pas­tor em relação aos seus estudos.

O PASTOR E SEUS ESTUDOS

Antes de qualquer coisa que se diga, é necessário enfatizar que, ao nos referirmos ao “estudo e preparo para o exercício do ensi­no bíblico”, não temos em mente, como já dissemos antes, que esse “estudo” e “preparo” consistam em conhecimentos puramente teóricos. Em vez disso, o objetivo final é que, por meio do estudo

sincero, fiel e piedoso da Bíblia, o pastor mantenha profunda co­munhão com Deus. Do contrário, voltaríamos ao primeiro capítulo deste estudo, isto é, seriamos teólogos e não pastores. O teólogo

100 | Fundamentos da teologia pastoral

37 C. H. Spurgeon, só Firmes na verdade, p. 59.

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Principais desafios enfrentados no ministério pastoral | 101

pode ter a Bíblia como objeto de análise e estudo, sem crer nela

como Palavra de Deus, já o pastor deve estudá-la e analisá-la com

a finalidade de ter maior comunhão com Deus, submetendo-se ao

seu ensino para ser encontrado como determina o apóstolo Paulo

em 2Timóteo 2:15: “Obreiros aprovados [...] que manejem bem a palavra da verdade”.

Todavia, nem sempre isso ocorre no ministério pastoral. Mui­

tos pastores menosprezam o estudo aprofundado das Escrituras,38

prova disso é a perspectiva do senador Marcelo Crivella que, no

seu projeto de lei, afirma que “acima de qualquer outra profissão,

a profissão de fé exige muito mais de vocação e devoção do que de

formação acadêmica”,39 como visto no primeiro capítulo. Isso não

deixa de ser um postulado de que o pastor não precisa ter curso ou

formação teológica.

Vale ressaltar que Valmor da Silva repudiou o inciso proposto

por Crivella que dispensava do diploma quem estivesse exercendo

a profissão de teólogo há mais de cinco anos: “Nós rejeitamos vee­

mentemente. Sem diploma, de jeito nenhum. Tem que ter preparo

acadêmico”.40 Observamos, nas palavras de Valmor da Silva, o que

nos parece consenso geral (com raras exceções), ou seja, que para

o exercício pastoral há necessidade de preparo acadêmico. Dessa

postura decorrem os cursos de Teologia reconhecidos ou autoriza­

dos pelo MEC e também os seminários das mais diversas confissões.

Diante do exposto, fica claro que, para o exercício das ativida­

des pastorais, é indispensável o estudo das disciplinas contidas na

matriz curricular dos cursos de teologia, reconhecidos ou não pelo

MEC, matriz essa que não pode ter carga horária inferior a 1.600

38 N. Kessler, Ética pastoral, p. 109.39 Instituto Humanitas Unisinos. Projetos reconhecem líder religioso como ‘teólogo’, mesmo sem curso.40 R. Icassati, Divergência sobre regulamentação de profissão de teólogo leva decisão para 2010.

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102 | Fundamentos da teologia pastoral

horas.4’ Por outro lado, como já visto no capítulo 2, notamos que há a preocupação de manter explícito que não pode haver interfe­rência na liberdade religiosa e na liberdade da Igreja de se definir internamente. Isso significa que, fundamentada em sua crença no chamado de Deus, a Igreja é que decide quem pode ser sacerdote ou pastor, e não o Estado.

A formação pastoral está diretamente ligada à importância do ofício a ser exercido. Por isso, o aspirante ao ministério deve se de­dicar prioritária e intensamente ao seu curso de Teologia, buscan­do alcançar as melhores notas, demonstrando assim ter assimilado o conteúdo das disciplinas, para adquirir o conhecimento necessá­rio ao melhor desempenho no ministério que almeja.42 Isso é o que pode ser lido no Manual do Candidato ao Ministério da Palavra de

Deus, da Igreja Presbiteriana do Brasil:43

[...] que em virtude da função peculiar ao ofício que aspira (o en­

sino), as seguintes qualidades são absolutamente indispensáveis

ao vocacionado ao ministério da Palavra: dom de interpretação,

discernimento, conhecimento bíblico, apego à Palavra de Deus

e aptidão para o estudo e ensino. Afinal, ele precisará manejar

corretamente a palavra da verdade (2Tm 2:15). É indispensável

que ele seja “apegado à palavra fiel que é segundo a doutrina, de

modo que tenha poder, assim para exortar pelo reto ensino como

para convencer os que contradizem” (Tt 1:9).

A partir das palavras acima, verificamos que o chamado interno

para o exercício do ofício de pastor deve ser indissociável do estudo

41 O Parecer CNE/CES nº 63/2004, estabelece que os alunos oriundos dos cursos de Teologia, podem, após aprovação no vestibular em cursos de Teologia reco­nhecidos pelo MEC, obter integralização de créditos e diploma reconhecido. En­tretanto, deve-se observar que o curso teológico de origem não pode ter carga horária de 1.600 horas/aula. Para aprofundamento desta matéria, ler: Parecer CNE/CES 63/2004.4: Op. cit.43 ]. E. T. da Igreja Presbiteriana do Brasil, Vocação: preparo para o ministério pas­toral, p. 27.

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Principais desafios enfrentados no ministério pastoral | 103

e, nessa perspectiva, vale citar a afirmação de Stott: “Todo candi- dato ao ministério pastoral ou ao preshiterato deve possuir tanto a

fé bíblica como o dom de ensiná-la”.44 Em seguida, o mesmo Stott, ao citar o sermão de Charles Simeon, afirma: “Para obtenção de conhecimento divino, a orientação que temos é a de combinar

uma dependência do Espírito de Deus com nossas próprias pesqui­sas. Que não nos atrevamos a separar então o que Deus uniu”.41

Neste contexto, vale ressaltar as palavras de João Calvino:4'’

[...] a erudição unida à piedade e às demais qualidades próprias de

um bom pastor são como que uma preparação para o ministério.

Porque, aqueles que o Senhor destinou para tão grande tarefa são

por Ele aparelhados com as armas necessárias, a fim de que não se

aproximem desacautelados e despreparados do ministério.

Calvino está consciente de que há necessidade de unir, no mi­nistério pastoral, a erudição à piedade, de maneira que, em sua concepção, ninguém deveria assumir tão importante tarefa sem boa formação. É o que podemos ler em suas próprias palavras: “[...]

de sorte que ninguém assumisse o ministério sem uma boa forma­

ção, isto sem ter sido embebido desde cedo na sã doutrina e ter-se

revestido da seriedade e da santidade de vida adquiridos pela disci­plina nas coisas santas”.47

Um relevante exemplo extraído das Escrituras, quanto à impor­

tância do estudo do pastor, é o sacerdote Esdras. Deus havia des­

pertado o coração de Ciro, rei da Pérsia, a fim de que cumprisse sua palavra, dada por meio do profeta Jeremias, de que reconstruiria o templo de Jerusalém (Ed 1:1-11). Já nos dias de Artaxerxes, que se tornara rei da Pérsia depois de Dario (Ed 4:6-24; 5-6), Esdras seguiu em direção a Jerusalém. Em Esdras 7:10 lemos que, antes

44 John Stott, Crer é também pensar, p. 53.45 Idem, p. 59.46 Calvino, A instituição da religião cristã, p. 509.47 Idem, p. 521.

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104 I Fundamentos da teologia pastoral

de realizar sua tarefa junto ao povo de Deus, ele dispôs o coração a

se dedicar ao estudo da lei do Senhor. Notemos que ele aplicou-se com determinação ao estudo da Palavra de Deus. O texto bíblico

assinala que ele havia “posto o coração”, o que em hebraico tem o significado de “vida”, ou, o “que há de melhor na vida”. Na prática significa que ele resolveu colocar o melhor da mente, do corpo,

enfim, da sua vida, para estudar a Palavra de Deus.

Ressaltamos que Esdras era escriba e sacerdote e, portanto, já

possuidor de grande conhecimento da Lei. Entretanto, mesmo as­sim reconhecia a relevância de progredir ainda mais no estudo das Escrituras. Com isso, Esdras tornou-se grande exemplo para os pas­

tores. Ainda que tenham formação teológica, à semelhança de Es­

dras, eles necessitam “examinar as Escrituras”, isto é, esmiuçar as

verdades contidas na Palavra de Deus. Para isso, devem continuar

estudando as línguas bíblicas, sobretudo hebraico e grego, teologia

bíblica, teologia sistemática, conhecimentos gerais e atuais. Não

pode, porém, perder de vista que esse estudo deve visar a sua pró­

pria edificação e à da igreja.Algo relevante que aprendemos com Esdras é que ele esta­

va preocupado em praticar a Lei do Senhor, daí a proposição “e

a praticá-la” (Ed 7:10). Não vamos nos demorar aqui, porque a

prática do evangelho deve ser uma constante na vida do pastor,

conforme visto anteriormente. Mas cabe ressaltar que o objetivo

final de Esdras era ensinar e, para isso, entendia que, antes de en­

sinar, precisava praticar as ordenanças do Senhor. Isso implica que devemos, antes de ensinar, praticar; e, para praticar, precisamos

conhecer. Esta é a seqüência de Esdras: estudar primeiramente, praticar o que foi estudado e, só a partir daí, estar apto para ensinar

os mandamentos de Deus.Lemos em ITimóteo 4:13-15 como Paulo exortava o jovem

pastor: “Até a minha chegada, dedique-se à leitura pública da

Escritura, à exortação e ao ensino [...]. Seja diligente nessas coi­

sas: dedique-se inteiramente a elas, para que todos vejam o seu

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Principais desafios enfrentados no ministério pastoral | 105

progresso”. Está provado que é indispensável ao pastor aplicar-se

ao estudo, ter boa formação bíblica e dos conhecimentos que au­

xiliem o estudo e análise da Bíblia com a finalidade de alimentar as ovelhas do Senhor Jesus. Vale lembrar as palavras de Martin

quando se refere à importância do estudo das Escrituras:

Devemos examinar as suas páginas com grande anelo, porque an­siamos conhecer a vontade do Senhor, e anelamos por ser adora­dores de Sua pessoa. Deveríamos debruçar-nos com frequência e longamente sobre essas páginas sagradas, porque desejamos que nosso serviço, e tudo quanto somos e fazemos, seja moldado e mo­delado pelas palavras vivas do Deus vivo.48

Julgamos importante fazer referência aos estudos complemen-

tares que podem colaborar para o ministério pastoral em termos da

compreensão pessoal das Escrituras, bem como para as atividades

pastorais na igreja. Referimo-nos aos cursos de pós-graduação vol­tados para discussões teológicas e religiosas. No Brasil, já há vários

cursos de pós-graduação (mestrado/doutorado) em Ciências da Re­ligião, por exemplo, que muito podem promover o progresso inte­

lectual e espiritual do pastor. Não só esses cursos são importantes, mas também a leitura de alguns livros, o que pode resultar no aper­feiçoamento intelectual e espiritual do pastor, e ser-lhe muito útil

na liderança da igreja de Cristo. Ao final deste livro registramos em nossas referências bibliográficas e nas sugestões de leituras vá­

rios livros que muito podem colaborar nos estudos do ministro do

evangelho. Justificamos nossas palavras em função da observação de Baxter, que nos ensina a não negligenciar os estudos:

É comum sermos negligentes em nossos estudos. São poucos os que se preocupam em ser bem informados e bem preparados para a realização progressista da obra. Alguns não têm prazer nenhum em seus estudos, tomando para isso uma hora aqui, uma hora ali,

48 A. N. Martin, O que há de errado com a pregação de hoje?, p. 16.

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106 | Fundamentos da teologia pastoral

e ainda como uma tarefa não bem-vinda, que são forçados a fazer.

Alegram-se quando podem escapar desse jugo.49

Um pouco mais à frente no texto de Baxter conseguimos cap­tar o contexto das suas palavras, quando ele afirma: “Requerem-se esses esforços diligentes tanto mais porque muitos que se formam

na universidade são tão jovens que necessitam muito mais nu­

trição e firmes ensinamentos antes de entrarem no ministério”.

Percebemos, assim, sua preocupação com o termo “universida­de”. Ainda que seja dirigido à formação teológica, acenamos o

fato de que muitos pastores têm deixado de pastorear seus mem­

bros mais jovens por não se atualizarem, por meio do estudo, no

decorrer do tempo. A partir dessa perspectiva, vale a pena citar novamente Baxter:30

Quanto perdemos quando não utilizamos [...] conhecimento em

nosso ministério! Muitos ministros só estudam o bastante para o

preparo dos seus sermões e pouca coisa mais. Todavia, existem

muitos livros que podem ser lidos e muitos assuntos com os quais

podemos familiarizar-nos.

Não devemos esquecer que as Escrituras Sagradas devem ser priorizadas na vida do pastor, pois somente elas são nossa regra de fé e prática. Isso significa que devemos fundamentar nossa fé

somente no que ela nos ensina e praticar o que nela aprendemos.Em síntese, nesta parte de nosso estudo enfatizamos princípios

que devem nortear a vida devocional pessoal do pastor, seguindo o que o apóstolo Paulo determinou: “cuida de ti mesmo”. O pastor deve “cuidar de si mesmo” tendo como base sua saúde e sua comu­nhão íntima com Deus, a qual só é possível por meio de uma vida de oração e pelo estudo das Escrituras Sagradas. Agora, cabe-nos comentar os cuidados que ele deve ter com relação à sua família.

49 R. Baxter, O pastor aprovado, p. 82.50 Idem, p. 83.

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Principais desafios enfrentados no ministério pastoral | 107

Por essa razão é que há necessidade de se estudar a temática pro­

posta a seguir.

Cuidados pastorais com sua família

Não são poucas as negligências percebidas no ministério pastoral

em relação à família do pastor. Reclamações do tipo “cuida das

outras famílias, mas não cuida da sua” têm sido mais freqüentes

nas atividades ministeriais. Todavia, devemos lembrar que nossa

família tem prioridade em relação à igreja. A escala hierárquica

deve ser: Deus, família e igreja. Entretanto, não são poucos os pas­

tores que fracassam em seu ministério porque relegam sua família

a segundo plano em relação à igreja, por se esquecerem de que a

família é inseparável do ministério pastoral. Ela pode ser bênção ou

prejuízo para seu trabalho junto ao rebanho de Cristo.

Sem entrar no mérito de muitas questões, apenas para ratificar

a importância da família no ministério pastoral, lembramo-nos de

esposas e filhos que, quando colaboram com o pastor, tornam-se

bênção, alegria e esteio nas lidas pastorais: “Feliz é o pastor que

encontra no seu lar um abrigo de paz, força e alegria. Feliz a igreja

cujo pastor tem o apoio, a simpatia e a plena cooperação de uma boa companheira”.51 Após essas palavras, Kessler ainda exclama:

“Aqueles que têm esposas que são verdadeiras bênçãos nas mãos

de Deus, e às quais devem grande parte do seu sucesso pastoral,

devem agradecer aos céus por as possuírem”.52

Uma palavra é importante que seja dita neste contexto. Muitas

igrejas não percebem que o vocacionado para o ministério pastoral

é o pastor e não a esposa e os filhos deste. Não são raros os casos

em que igrejas exigem que a esposa do pastor seja instrumentista e

que os filhos façam parte do conjunto musical, pois são os “filhos

51 N. Kessler, Ética pastoral, p. 94-52 Idem.

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108 I Fundamentos da teologia pastoral

do pastor”. Assinalamos que nem a esposa é pastora, nem os filhos pastores em miniatura.

Kessler, ao comentar o cuidado que o pastor deve ter com sua família, e citando Marion Nelson, afirma que ser esposa de pastor é uma das questões mais emblemáticas e perigosas para qualquer mulher, visto que ela pode ser “a causa da sua vitória ou de sua

derrota como ministro do evangelho”.53 Segundo Wilder,54 poucas “mulheres terão, nesta vida, tamanha carga de deveres como a de um ministro de Deus. Tem ela de sofrer dificuldades que outras não tiveram, nem nunca terão. E, apesar de tudo, deve manter um rosto sempre alegre e sereno [...]”.

As esposas de pastores sofrem algumas críticas, conforme enu­

mera Kessler.55 Se ela é asseada e procura mostrar-se apresentável, ostenta vaidades; se dá pouca atenção à sua aparência pessoal, pre­judica o pastor porque não sabe se apresentar de modo adequado; se veste-se bem e usa roupas bonitas, é extravagante e vaidosa, e dissipa o dinheiro que Deus dá ao marido para a subsistência fami­liar; se assiste ao seu marido, é usurpadora da autoridade do pastor

e faz uso de um direito que não tem; se ela se recusa a cooperar

com determinada coisa, está se eximindo do chamado de Deus e falhando em sua responsabilidade de tornar mais leve a carga de seu marido; se toca piano e canta solos nos cultos, está roubando a oportunidade de outros membros da igreja que desejam coope­

rar com seus talentos musicais; se não usa seus talentos no ensino da escola dominical, é deficiente como esposa de pastor; se gasta

muito tempo com várias atividades da igreja, é dona de casa re­lapsa; se visita os membros da igreja com seu esposo, é ciumenta e não confia em seu marido; se não acompanha o pastor nas vi­

sitas, é antissocial e indiferente; se é assídua aos cultos, mas tem crianças pequenas, prejudica a ordem dos trabalhos do Senhor; se

53 Idem, p. 93.54 J. B. Wilder, O jovem pastor, p. 79-80.55 N. Kessler, Ética pastoral, p. 100-101.

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Principais desafios enfrentados no ministério pastoral | 109

permanece em casa parte do tempo, não é espiritual, mas fria na fé; se trabalha fora e não pode participar de alguns trabalhos da igreja, é gananciosa e incrédula.

São tantas as investidas contra a esposa do pastor que algumas,

por não suportarem a situação, acabam por deixar a igreja e, em

muitos casos, o próprio marido. Por essa razão, vale a advertência de que, se alguém deseja exercer o ministério pastoral, deve casar- se com mulher temente a Deus e que esteja disposta a enfrentar

as vicissitudes da atividade ministerial do seu esposo. Isto implica

dizer que “qualquer homem no ministério cristão tem o direito de ser casado, mas não com qualquer uma”.56

Por outro lado, o pastor deve estar atento para proteger sua

esposa quando ideias como as citadas aparecem na dinâmica da

igreja. Ele não deve abandoná-la, mas sim exortar os demais irmãos

a amá-la e a respeitá-la como a qualquer senhora da igreja. Não se

deve exigir dela nada mais nada menos do que de qualquer irmã

que seja fiel a Cristo. O pastor, enquanto esposo, deve ter em men­te as determinações de Deus dadas por meio do apóstolo Paulo,

conforme registrado em Efésios 5:25,28: “Maridos, ame cada um

a sua mulher assim como Cristo amou a igreja e entregou-se por

ela [...] Da mesma forma, os maridos devem amar cada um a sua mulher como a seu próprio corpo. Quem ama sua mulher, ama a si mesmo”.57

Sendo assim, pastor, saiam a sós, para aliviá-la das árduas ta­

refas do cotidiano. Seja cavalheiro com sua esposa, ora dando-lhe a mão na travessia de uma rua, ora abrindo-lhe a porta de casa ou do carro.58 Com esse procedimento, você será bom exemplo

para os homens e jovens de sua igreja. Encoraje sua esposa e não

56 J. MacArthur Jr., O caráter do pastor. Redescobrindo o ministério pastoral, p. 115.57 Se o leitor desejar conhecer mais a respeito da relação entre esposo e esposa, Pais e filhos, ler: D. M. Lloyd-Jones, Vida no Espírito: no casamento, no lar e no trabalho.58 Idem, p. 82.

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110 | Fundamentos da teologia pastoral

economize elogios que devam ser dispensados a ela. Lembre-se, por

fim, de que você também é pastor de sua esposa. Portanto, antes de

qualquer coisa, cuide dela e a ame.

Ligado ao cuidado do pastor com sua família, não podemos nos

esquecer do cuidado com os filhos. Já dissemos no capítulo anterior

de nosso estudo que o pastor deve ser irrepreensível com relação

à família, daí as palavras do apóstolo Paulo no texto bíblico desta­

cado anteriormente: “Ele deve governar bem sua própria família,

tendo os filhos sujeitos a ele, com toda a dignidade. Pois, se alguém

não sabe governar sua própria família, como poderá cuidar da igre­

ja de Deus?” (lTm 3:4-5).

O ensino do apóstolo dos gentios é que, se alguém deseja ser

pastor ou presbítero, deve ser capaz de liderar, antes de tudo,

sua própria família. Observamos que a tônica de Paulo está nos

filhos; por conseguinte, seria imensa desgraça para um bispo ter

filhos com vida dissoluta e escandalosa. Os filhos devem ter a

consciência de que, se viverem uma vida desobediente e rebelde,

além dos danos para si mesmos, poderão desqualificar o pai para o

ministério pastoral.

Cuide o pastor da sua saúde, da sua esposa e dos seus filhos.

Saia a passeio com eles para descansar das lidas domésticas, do

árduo trabalho diário. Pastores, tenham momentos de lazer, a sós

com sua família. Procurem conduzi-los aos pés de Cristo mediante

a prática da devocional familiar. Sejam amigos dos seus filhos, por­

que não são raros os casos em que eles vão procurar compreensão,

amizade e companheirismo na rua, entre colegas ímpios. Procurem

um perfeito relacionamento com sua esposa, pois o amor do casal

proporcionará a segurança de que tanto os filhos precisam. Dedi­

quem tempo à família, porque nada compensa quando há insu­

cesso familiar. Quando tiverem problemas com os filhos, tenham

conversas francas, mas revestidas de amizade e amor, e, acima de

tudo, não deixem de orar por eles continuamente.

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Principais desafios enfrentados no ministério pastoral | 111

Agora, avancemos em nosso estudo, destacando que a principal

tarefa do pastor em sua relação com a igreja de Cristo é alimentar

as ovelhas por meio do ensino fiel das Escrituras. Antes, porém,

façamos uma revisão do que foi visto neste capítulo.

Revisão e aproveitamento do capítulo 3

1. Quais as fases do estresse e como ele pode interferir no mi-

nistério pastoral/

2. O que os textos de Salmos 23, lCrônicas 28, Neemias e

Mateus 6:5-13 nos ensinam a respeito da vida devocional

do pastor?

3. O que João Calvino nos ensina com a proposição: “[...] a

erudição unida à piedade e às demais qualidades de um

bom pastor são como preparação para o ministério”?

4. Quais as implicações para o ministério pastoral das palavras

do apóstolo Paulo “cuida de ti mesmo” ?

5. Quais as responsabilidades do pastor para com a própria

família?

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Capítulo 4

As atividades exercidas pelo pastor na vida da igreja

Este capítulo é decorrente do que tratamos anteriormente. Primei­

ro, enfatizamos a distinção entre o “teólogo” e o “pastor”. Naquele

momento, o foco foi demonstrar as discussões mais atuais que envol­

vem o trabalho de um e de outro. Num segundo instante, a preocu­

pação foi compreender o ministério pastoral tendo como fundamento

as Escrituras Sagradas. Ficou explicitado que o pastor é alguém cha­

mado por Deus, cuja tarefa principal está em “cuidar” do rebanho do

Senhor e alimentá-lo. Para que isso ocorra, conforme ficou demons­

trado em seguida, é preciso que o ministro tenha saúde espiritual e

física, já que só assim terá condições de pastorear. Vimos ainda que o

primeiro rebanho a receber cuidado e alimento é sua própria família.

Ressaltamos, na ocasião, que o pastor deve seguir a ordem: Deus,

família e igreja. Jamais a igreja deve vir antes da família.

Neste capítulo iremos agora refletir a respeito das atividades pas­

torais na igreja. Embora sejam muitos os seus deveres, o pastor deve

prioritariamente ser “irrepreensível” no ensino fiel das Escrituras.

O ENSINO FIEL DAS ESCRITURAS

Esta é uma parte de nosso estudo que merece intensa e profun­

da reflexão, considerando ser o ensino fiel das Escrituras a mais

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114 | Fundamentos da teologia pastoral

excelente obra que cabe ao ministro do evangelho:1 “[...] o mi­nistro que não cumpre o seu dever principal — ensinar a Palavra de Deus, a tempo e fora de tempo — não está cumprindo a sua tarefa”.2 No mesmo contexto, Packer sublinha que os puritanos3 tratavam a pregação como um empreendimento solene e impor­tante, de maneira que tanto o ministro como sua igreja deveriam saber que o momento do sermão seria a hora mais importante e significativa da semana.

Qualquer outra coisa poderia ser negligenciada, menos o ser­mão bíblico. Por isso, afirmaram: “Nunca realizaremos tarefa mais importante do que a pregação. Se não estivermos dispostos a de­dicar tempo à preparação dos sermões, então não estaremos aptos para pregar, nem termos lugar no ministério da palavra”.4 Assim, pressupomos que o pastor deve ser também um bom pregador da Palavra de Deus.

Isso implica que o pensamento segundo o qual um mau pregador pode ser um bom pastor é questionável, visto que sua função prin­cipal é “alimentar” com a Palavra do Senhor o rebanho de Cristo. Devemos, contudo, alertar para o fato de que, ao falarmos em “bom pregador”, não nos referimos ao exercício da oratória, ainda que esta seja de extrema relevância para o pregador. Todavia, o pregador pode ser especialista em falar em público, usar recursos da psicologia, dos comentários sociais da atualidade e da retórica política, mas re­legar a lugar secundário a exposição sadia e fiel da Palavra de Deus.

O resultado disso é o declínio espiritual, o enfraquecimento e o mundanismo em nossas igrejas.5 “Portanto, se á igreja quiser

1J. Packer, Entre os gigantes de Deus, p. 198.2 Idem, p. 302.3 Para compreensão do termo “puritano”, ler: D. M. Lloyd-Jones. O puritanismo e suas origens. Afirma Lloyd-Jones: “Interesso-me pelo puritanismo porque me parece uma das coisas mais úteis que qualquer pregador pode fazer. Não há nada que tanto estimule o verdadeiro ministério da Palavra, pois aqueles homens foram grandes modelos nestes aspectos.”, p. 2.4 Idem, p. 303.5 J. MacArthur Jr., p. 283.

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AS ATIVIDADES EXERCIDAS PELO PASTOR NA VIDA DA IGREJA | 115

readquirir saúde espiritual, a pregação deve voltar a seu devido fun­

damento bíblico”, lembrando sempre que “ninguém será bem-su­

cedido no ministério pastoral se não der devido lugar à pregação”.'1

No estudo quanto à centralidade do ensino e da pregação bí­

blica no ministério pastoral, deparamos com vários textos bíblicos

que atestam ser o ensino da Palavra o mais excelente trabalho do

pastor. Em Lucas 4:43-44, percebemos que Jesus revela o lugar de

importância da pregação em seu ministério terreno, quando afir­

ma: “Também é necessário que eu pregue as boas-novas do Reino

de Deus noutras cidades também, porque para isso fui enviado.

E continuava pregando nas sinagogas e Judeia”. Ressaltamos que

boa parte do seu ministério terreno foi gasto com pregação e en­

sino (Mt 4:17; Mc 1:14,38-39; Lc 8:1; Lc 20:1) e por causa disso

ele deixou a ordem: “Portanto, vão e façam discípulos de todas as

nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito San­

to, ensinando-os a obedecer tudo o que lhes ordenei. E eu estarei

sempre com vocês, até o fim dos tempos.” (Mt 28:19-20).

Nos textos paulinos, também encontramos vários imperativos

que testificam a relevância da centralidade do ensino da Palavra

no ministério pastoral. Em ITimóteo 4:11, lemos: “Ordene e en­

sine estas coisas”. Em 4:13, pontua Paulo: “Até a minha chegada,

dedique-se à leitura pública da Escritura, à exortação e ao ensino”.

No final de 6:2, Paulo repete: “[...] Ensine e recomende essas coi­

sas”. Em função da centralidade das Escrituras no trabalho pastoral

de Timóteo, Paulo o exorta a constituir presbíteros que sejam ap­

tos “para ensinar” (lTm 3:2).

Se pensarmos na igreja primitiva, também perceberemos que a

pregação era o centro daquela comunidade cristã. Logo no começo

de Atos, encontramos a primeira pregação de Pedro (At 2:14-47).

Em 3:11-26, temos a segunda pregação do mesmo apóstolo. Além

disso, em 2:42 lemos que os apóstolos se dedicavam ao ensino e

6 Idem, p. 282.

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116 | Fundamentos da teologia pastoral

à comunhão (partir do pão e às orações). Foi com o pensamen­

to na pregação da Palavra que Lucas deixou registradas as prega­ções de Filipe (At 8:5,12,35,40) e de Paulo (At 9:2; 13:5,16-41;

14:7,15,21; 15:35; 16:10; 17:13; 20:25; 28:31).Lembramos, neste momento, das considerações de McDougall

ao afirmar que, no curso da história da Igreja, a pregação ocupou lugar central na Reforma Protestante do século 16. Ela foi o fun­

damento do avivamento puritano do século 17, na Inglaterra, e do grande avivamento do século 18.7 Com isso, concluímos que

a pregação bíblica deve ocupar o lugar central nas atividades pas­torais na igreja de Cristo. Somente a pregação fundamentada na

Bíblia cumpre o propósito de Deus para o pastor e sua igreja. A

Bíblia é o meio prescrito por Deus para salvar, santificar e forta­lecer sua Igreja. Ela é que produz fé nos que foram escolhidos por

Deus (Rm 10:14). Pela pregação da Palavra, vem o conhecimento da verdade que resulta na piedade (Jo 17:17; Rm 16:25; Ef 5:26). Além disso, ela encoraja os crentes a viver na esperança da vida eterna, permitindo-lhes suportar o sofrimento (At 14:21-22).8

Em Tito 1:9 (RA), Paulo admoesta: “Tu, porém, fala o que

convém à sã doutrina”. O termo “sã” vem de hugieinós, que signifi­ca “saudável”, “que dá vida” ou “que preserva a vida” e dá origem à palavra “higiene”. Isso significa que os pastores devem “alimentar” e “fortalecer” o seu rebanho com o ensino sadio. “O melhor antí­

doto para o falso ensino é a doutrina sadia”.9 Spurgeon sublinha

que o “ensino saudável é a melhor proteção contra as heresias que

assolam à direita e à esquerda entre nós”.10

Diante das palavras acima, percebemos a preocupação com o ensino sadio da Palavra de Deus, mas, para que isso ocorra, além dos cuidados com a vida devocional, o pastor necessita estar convicto

7 D. McDougall, A pregação, p. 281.8 Idem, p. 279.9 Idem, p. 286.10 C. H. Spurgeon, p. 73.

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AS ATIVIDADES EXERCIDAS PELO PASTOR NA VIDA DA IGREJA | 117

de que alimentar o rebanho de Deus exige trabalho árduo, ou seja, é preciso gastar tempo e energia na preparação da mensagem11 que o Senhor Deus já colocou no seu coração. Daí a importância do

estudo para o desenvolvimento da atividade pastoral.Antes de darmos prosseguimento a nosso estudo, é relevante

observar que Martin destaca que um dos problemas que encon­

tramos hoje é justamente o fato de que os ministros do evangelho esqueceram que a pregação mais poderosa é a própria vida do pre- gador, e que essa é a grande diferença da pregação com relação às

demais artes de falar em público.

[...] acredito que se trata de uma regra válida aquela que diz que a pregação poderosa está fundamentada sobre o solo da vida diária do pregador. [...] Se a pregação, em última análise, é a transmissão da verdade por meio de algum instrumento humano, então a ver­dade particular que é transmitida tem o seu efeito incrementado ou diminuído pela vida através da qual ela se expressa.12

Diante disso, é preciso atentar para o princípio de que o pastor

tem de se conscientizar de que seu ministério precípuo é o ensino

da pregação bíblica, mas também tem de estar ciente de que deve

vivenciar a prática do que ensina às suas ovelhas. Além disso, estão

diretamente relacionados ao ensino da Palavra de Deus o acon­

selhamento e as visitas pastorais, os quais devem ser praticados

porque reforçam alguns ensinamentos em particular.

Orientações e aconselhamento pastoral

Na reflexão acerca do aconselhamento pastoral, é freqüente de­

pararmos com alguns autores que, por serem, na sua maioria,

11 Para aperfeiçoamento quanto à pregação bíblica nos moldes da pregação exposi- tiva, indicamos: W. Lielfeld, Exposição do Novo Testamento e K. Lachler, Prega a Palavra. Um bom livro de Hermenêutica é: G. Fee; D. Stuart, Entendes o que lêsl12 A. N. Martin, O que há de errado com a pregação de hojel, p. 9.

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118 | Fundamentos da teologia pastoral

psicólogos, exigem que o pastor faça além do que lhe cabe. Em

função disso é que grande parte dessa literatura emprega termos

como “psicoterapia pastoral”, aprendidos nos cursos de psicologia.

Pressupõe-se, em grande parte desses livros, que o pastor fará psi­

coterapia pastoral em seus aconselhamentos. Tal atividade pode

ser definida como: “processo assistencial a longo prazo que procura

alcançar mudanças fundamentais na personalidade do aconselha­

do, desvendando e tratando sentimentos ocultos, conflitos intra-

psíquicos e memórias reprimidas dos primórdios da vida”.13

De fato, entender o aconselhamento dessa maneira ultrapassa

o conhecimento do pastor que possui graduação em teologia e pós-

graduação em outras áreas do conhecimento. Deixamos claro que

nem todos os pastores têm bacharelado e graduação em psicologia.

Mesmo nos cursos de teologia, ainda que haja disciplinas como

psicologia geral e da religião, isso não habilita o pastor a fazer “psi­

coterapia pastoral”. Porém, ele deve adquirir conhecimentos a res­

peito de patologias evidentes, que podem resultar em conflitos e

crises que venham a causar divisões no rebanho do Senhor.14

Deixamos claro que a função principal do pastor é “alimentar”

o povo de Deus por meio do ensino fiel das Escrituras, como vis­

to, e que “cuidar do rebanho” implica diversas dinâmicas, dentre

as quais a de que estamos tratando neste ponto do nosso estu­

do. O trabalho de aconselhamento pastoral visa a colaborar para

o crescimento e unidade do corpo de Cristo. Assim, dependendo

da situação, se, após breve análise, o pastor entender que seja ne­

cessário, pode e deve encaminhar “sua ovelha” a um profissional

devidamente habilitado.

13 H. J. Clinebell, Aconselhamento pastoral: modelo centrado em libertação e cresci­mento, p. 363.14 Um bom artigo que trata a respeito do aconselhamento pastoral é o de C.

Schneider-Harpprech, Aconselhamento pastoral. Teologia prática no contexto da América Latina, p. 291-319.

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As ATIVIDADES exercidas pelo pastor na vida da IGREJA I 119

Não podemos negar que o aconselhamento pastoral é parte in-

tegrante do ministério pastoral na contemporaneidade, já que a

igreja local se encontra influenciada pela agitação e correria co­

tidianas, o que resulta na escassez de relacionamentos profundos

baseados no respeito e confiança mútuos. Uma das manifestações

desse perfil de relacionamento podem ser os “amigos virtuais” do

MSN, Orkut e Twitter. Embora sejam denominados “amigos”, são

apenas “conhecidos”, visto que são poucas ou raras as oportuni­

dades de desenvolveram confiança suficiente para uma conversa

franca acerca de suas angústias pessoais. Ainda que tenhamos de

admitir que é possível encontrar amigos “virtuais”, lembramos que

a amizade verdadeira é construída dia a dia, na vivência de triste­

zas e de alegrias, na troca, na cumplicidade.

Por ser o corpo de Cristo, a igreja deve ter como objetivo a

glória de Deus e não pode esquecer que seu ambiente deve ser

acolhedor, favorecendo a comunhão e a amizade verdadeira en­

tre seus membros. Entretanto, muitas vezes, a preocupação está

na realização de vários tipos de programações. Estas deveriam ter

como objetivo proporcionar crescimento espiritual e aproximação

nas relações interpessoais dos irmãos, mas, na prática, deixam a

desejar no estabelecimento de relacionamentos mais profundos.

Clinebell, ao citar Robert Leslie, ressalta esta questão: “Não

deixa de ser irônico que a igreja muitas vezes é o último lugar em

que pessoas falam com liberdade e franqueza a respeito das ques­

tões que as tocam mais profundamente”.15 Diante dessas palavras,

o pastor, a liderança da igreja e cada membro devem rogar ao Se­

nhor para que a igreja seja um lugar em que haja liberdade para

expormos nossas dificuldades, angústias e tristezas, sem o receio de

recebermos críticas.

15 H. J. Clinebell, Aconselhamento pastoral: modelo centrado em libertação e cresci­mento, p. 341.

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120 j Fundamentos da teologia pastoral

Vivenciamos momentos difíceis em nossas igrejas, pois, em vez

de somarmos forças contra os relacionamentos superficiais, faze-

mos justamente o contrário. Mais triste ainda é perceber que esse comportamento tem origem nos lares em que pais e filhos não se entendem, por exemplo. Há pouco diálogo: cada membro da famí­lia tem suas preocupações pessoais e todos vivem como estranhos

que habitam a mesma casa. Em algumas situações isso se dá por

causa de conflitos familiares jamais tratados e resolvidos, o que se

traduz em famílias doentes e igrejas enfermas. Há necessidade de

se resgatar o conceito cristão do lar, isto é, um ambiente baseado nas relações sociais onde amor, atenção, orientação, apoio, susten­

tação e verdadeira amizade existam de fato. Sobretudo, a Palavra

de Deus deve ser imperativa nas decisões e comportamentos — ela

deve voltar a ocupar o centro da família cristã.16

É nesse contexto que recai sobre o pastor o encargo do relevante exercício do aconselhamento pastoral. Esta é uma função da igreja

toda como comunidade pastoral, sobretudo de sua liderança,17 mas

parece haver a compreensão equivocada de que o aconselhamen­

to é função privativa do pastor. Sem dúvida, o aconselhamento faz parte de sua principal missão, que é servir. Entretanto, é im­perativo que a igreja entenda que também ela foi chamada para

servir (Mt 20:26-28).

Na prática ministerial, o pastor utiliza o púlpito para ensinar, alimentar o rebanho e — por que não dizer? — para aconselhar

publicamente a todos quanto ao caminho correto a trilhar. Mas há casos em que o atendimento individual faz-se necessário, a pedido de um membro da igreja ou quando o pastor observa que a ovelha

está “diferente” e se dispõe a ouvi-la.

16 Para aprofundar a discussão quanto à centralidade da Bíblia na família cristã,

ler: E. P. Lopes, Fundamentos da teologia da educação cristã.17 Quanto ao exercício do presbítero, de cuidar do rebanho juntamente com o

pastor, ler: J. Sittema, Coração de pastor: resgatando a responsabilidade pastoral do presbítero.

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AS ATIVIDADES EXERCIDAS PELO PASTOR NA VIDA DA IGREJA | 121

O aconselhamento pastoral feito em atenção ao contato de

uma pessoa em busca de ajuda pode ser conceituado como “meio

para realizar-se o propósito essencial da fé cristã: auxiliar o ser hu­

mano a estar em paz com Deus, consigo mesmo, com o próximo

[...]”.18 Para que o pastor auxilie a ovelha nesse processo de busca pela paz, Sathler-Rosa, ao citar Wayne Oates, ressalta que os obje­tivos principais do aconselhamento pastoral são:

[...] facilitar e agilizar o crescimento da personalidade; ajudar as pessoas a modificarem padrões de vida com os quais estão insatis­feitas e oferecer companheirismo para quem estiver enfrentando crises. Os resultados podem variar entre curar, remediar e confor­tar. A cura pode manifestar-se através da resolução dos conflitos ou ao experimentar maior clareza quanto ao sentido que se está dando à existência.19

Os objetivos propostos são claros, e, para alcançá-los, é funda­mental não apenas a atuação pastoral de acolhimento e facilitação

do processo de reflexão e mudança, mas principalmente a consciên­

cia da necessidade de comprometimento individual por parte da

própria ovelha, que deve assumir a responsabilidade da busca por

crescimento e desenvolvimento pessoal e espiritual. É importante considerar também que existem especificidades ou “tipos” de acon­selhamento pastoral, mas todos devem visar a instrução, exortação

e consolo. Todo aconselhamento requer do pastor que seja hábil

intérprete da Bíblia e desenvolva a habilidade relacionai de ajuda

mútua para o conhecimento de Deus e do homem.20

Sathler-Rosa, ao mencionar H. Clinebell, identifica nove ti­

pos de aconselhamento pastoral: ético, relacionado a valores e

questões acerca de sentido de vida; aconselhamento de apoio; em

18 R. Sathler-Rosa, Aconselhamento pastoral. Fernando Bortoletto Filho (Org.), Dicionário brasileiro de teologia, p. 12.19 Idem.20 W. M. Gomes, Aconselhamento redentivo, p. 8.

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122 I Fundamentos da teologia pastoral

situações de crise; aconselhamento junto a enlutados; enrique-

cimento do matrimônio e crises conjugais; desenvolvimento da família; em casos que requeiram encaminhamento a outros profis­sionais; educativo; de grupo.21

O aconselhamento ético, relacionado a valores e questões de sentido de vida, compreende que as pessoas carecem de valores e sentido de vida saudáveis para serem plenas. O desenvolvimento e crescimento rumo à integralidade centrada no Espírito precisam

abarcar valores e compromissos éticos que orientem a vida dos ser­vos do Senhor. Em diversas ocasiões, o centro das crises e dilemas

no crescimento espiritual deve-se à necessidade de que valores e estilos de vida sejam avaliados e revisados. Nesse sentido, a igreja é convocada a ser uma comunidade de indagação, orientação e for­mação moral, que fornece diretrizes baseadas na sabedoria bíblica

acerca dos valores éticos e saúde moral para seus membros.O aconselhamento de apoio baseia-se no acolhimento pelo

qual o pastor utiliza métodos que visem a estabilizar, alicerçar, ali­mentar, motivar ou orientar pessoas aflitas, capacitando-as a admi­nistrar dificuldades e relacionamentos de modo mais construtivo,

levando em consideração os limites que lhes são impostos pelos

recursos de sua personalidade e situações da vida.22

No aconselhamento em casos de crise, o papel do pastor é resgatar o sentido e a esperança da pessoa, contribuindo para seu crescimento espiritual. Ele procura ajudá-la a encontrar, no rela­cionamento com Deus, suporte, amparo e consolo fundamentados no amor inabalável e imutável do Senhor, que está presente nos

momentos mais difíceis e trágicos. A perda pessoal é a crise huma­na universal e é inevitável. Todos nós passamos por ela em algum

momento de nossa vida, e os pastores exercem relevante função

21 R. Sathler-Rosa, Aconselhamento pastoral. Fernando Bortoletto Filho (Org.), Dicionário brasileiro de teologia, p. 12.22 H. J. Clinebell, Aconselhamento pastoral: modelo centrado em libertação e cresci­mento, p. 165.

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As ATIVIDADES EXERCIDAS PELO PASTOR NA VIDA DA IGREJA | 123

nessas circunstâncias, conforme as palavras de Clinebell, ao men­cionar Wayne Oates:

Através dos séculos o pastor tem sido a principal pessoa respon­sável por lidar com os atingidos por perda pessoal [...]. Tenha o pastor aceito ou não estas responsabilidades, tenha ele se desin- cumbido ou não das mesmas com habilidade e sabedoria, ou mes­mo avaliado o peso das expectativas colocadas sobre ele, em todo caso é do pastor que as pessoas esperam assistência dos atingidos por perda pessoal.23

Não há possibilidade de o pastor se ausentar nesses momentos de perda pessoal. Sua presença é frequentemente solicitada e tem entrada automática no mundo da maioria das pessoas contristadas. Há casos de falecimento em casa ou em hospitais em que a primei­ra pessoa a ser chamada pela família é o pastor, isso quando o fale­cimento não ocorre nos braços dele próprio. São vários os relatos de pastores ressaltando que ovelhas em estado terminal vieram a falecer em seus braços. Assim, é grande sua responsabilidade como guia e companheiro, sendo necessário que desenvolva competên­cia em aconselhamento em casos de perda.

Outras áreas de atuação do aconselhamento pastoral referem- se ao enriquecimento do matrimônio, aos casos de crises conjugais e ao aconselhamento familiar. Pastorear uma comunidade ou igreja local possibilita acesso freqüente e automático a muitos lares. O mi­nistério desfruta de relação contínua com casais e famílias em varia­dos momentos, em situações alegres ou de sofrimento, de modo que são inúmeras as oportunidades para esse tipo de aconselhamento.

O pastor, ao aconselhar as famílias por meio de preceitos bíbli­cos, indica formas adequadas de relacionamento, comunicação e resolução de conflitos. Clinebell ressalta que “um bom matrimônio ou família existe quando há atenção e apoio mútuos para o cresci­mento contínuo em direção à realização plena das potencialidades

23 Idem, p. 211.

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124 | Fundamentos da teologia pastoral

dadas por Deus a cada pessoa”.24 Por meio do aconselhamento e

enriquecimento do matrimônio e da família, é possível contribuir

para a saúde mental, física e espiritual de cônjuges, de seus filhos e

mesmo dos filhos de seus filhos, dependendo do tempo de ministé-

rio na comunidade.

O pastor não pode ter a presunção de ser capaz de dar conta de

todos os tipos de problemas e dificuldades que lhe chegam, e, por­

tanto, precisa desenvolver a habilidade do encaminhamento, não

para se livrar da questão, mas por entender que outro profissional

pode ser mais indicado para a resolução de determinada dificuldade.

Eliff, em seu artigo A cura de almas, expressão emprestada de

Platão,25 convence-nos de que a responsabilidade de aconselhar

ovelhas é do pastor, e que, em sua concepção, é inaceitável trans­

ferir os cuidados de um membro da igreja para um terapeuta. Para

ele, o pastor é o responsável pela vida da ovelha.26 Todavia, pontua

que se houver necessidade de outros profissionais, que estes sejam

crentes e pratiquem técnicas de aconselhamento bíblico. Em casos

assim, o pastor deve estar consciente de que sua participação no

aconselhamento não acabou. As palavras de Eliff são relevantes

quando observadas sob o ponto de vista pastoral, porque alertam

o ministro do evangelho a não transferir nem se eximir da respon­

sabilidade quanto ao cuidado da ovelha. Por outro lado, devemos

recordar que, ao recorrer a especialistas que atuam em áreas como

medicina, psicologia e direito, o pastor pode administrar melhor

seu tempo e energia, a fim de cumprir seu ministério pastoral de

“alimentar” os crentes e “cuidar” do crescimento espiritual de um

número maior de ovelhas sob sua responsabilidade.

24 Idem, p. 236.25 C. Schneider-Harpprech, Aconselhamento pastoral. Teologia prática no contexto da América Latina, p. 291.26 J. Eliff, A cura de almas: o pastor servindo ao rebanho. J. Armstrong (Org.), O ministério pastoral segundo a Bíblia, p. 163-164-

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AS ATIVIDADES EXERCIDAS PELO PASTOR NA VIDA DA IGREJA | 125

Para o aconselhamento educativo, o pastor precisa ter condi­ções de agir simultaneamente como professor e conselheiro, como

esclarece Clinebell:

Aconselhamento educativo ultrapassa em muito a mera transmis­são de informações. Pela utilização de habilidades e sensibilidades de aconselhamento, ele ajuda pessoas a entender, avaliar e então aplicar a informação relevante ao enfrentar sua situação específica de vida. Naturalmente quase todos os tipos de aconselhamento pastoral envolvem ingredientes educativos [...].27

O aconselhamento educativo funciona como ponte entre o aconselhamento pastoral e o programa educacional da igreja, com

vistas ao crescimento pessoal e espiritual das pessoas. O pastor torna-se educativo à medida que se direciona a três objetivos: pri­

meiro, descobrir que fatos, conceitos, valores, conteúdos de fé, ha­bilidades, orientação ou conselhos são necessários para as pessoas no enfrentamento dos seus problemas; segundo, comunicar cada um deles diretamente ou ajudar as pessoas a descobri-los (p. ex.,

pela leitura); terceiro, ajudar as pessoas a utilizarem essa informa­

ção para compreender a situação, tomar decisões sábias e lidar com os problemas de maneira construtiva.28

Há ainda o aconselhamento de grupo. A igreja é composta por gru­pos; exemplo disso são as sociedades internas formadas por crianças, adolescentes, jovens, homens e mulheres (adultos), grupos de oração, grupos musicais, grupo de estudo bíblico, grupo de presbíteros e

diáconos, grupo de professores etc. Uma igreja, independentemente da quantidade de membros que possui, pode suprir várias necessi­dades de aconselhamento de seus membros por meio dos grupos de compartilhamento. Acerca do valor da experiência em pequenos grupos, Clinebell cita o psiquiatra Jerome D. Franks, que ensina:

27 H. J. Clinebell, Aconselhamento pastoral: modelo centrado em libertação e cresci­mento, p. 313-314.28 Idem, p. 315.

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126 | Fundamentos da teologia pastoral

Compartilhar intimamente sentimentos, ideias e experiências, numa atmosfera de respeito e compreensão mútuos, promove o respeito próprio, aprofunda a autocompreensão e ajuda a pessoa a viver com as outras. Semelhante experiência pode ajudar pessoas em qualquer grau de doença ou saúde.29

E inegável a importância dos grupos na igreja, mas a relação

dentro deles nem sempre ocorre de forma natural e espontânea.

Isso se deve à sociedade atual, voltada à competitividade, ao medo da intimidade e à relutância generalizada de baixar as máscaras de- fensivas. Portanto, é possível depararmos com chamados “grupos”, que se reúnem há vários anos nas igrejas e apenas desenvolveram

uma interação superficial, não atingindo genuína comunhão.

Para que um grupo se forme, é preciso haver proximidade fí­sica, social e interacional. A proximidade física ocorre com a continuidade de reuniões e encontros e com o convívio. A proxi­midade social está relacionada aos objetivos e interesses comuns

que impulsionam as pessoas a se reunirem. A noção de identidade

grupai emerge e se desenvolve à medida que são supridas necessi­

dades mútuas; o envolvimento emocional aumenta quando seus membros se comunicam e compartilham experiências relevantes. Quanto mais intensas as experiências vividas, mais fortalecido será o vínculo. A vitalidade do convívio em grupo depende da liberda­

de, honestidade e profundidade com que as pessoas compartilham

suas dúvidas, dificuldades e fé uns com outros.30

Um aspecto do aconselhamento pastoral que gera múltiplas opi­

niões refere-se ao local apropriado para o aconselhamento. Há autores que consideram apropriado o encontro no gabinete pastoral, pratica­

mente como uma sessão de psicoterapia31, inclusive destacando que

29 Idem, p. 342.30 Idem, p. 344.31 Para compreensão das características desejáveis para o ambiente de aconse­lhamento, duração, frequência e número de sessões, ler: C. P. White, O pastor mestre, p. 138-139.

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AS ATIVIDADES EXERCIDAS PELO PASTOR NA VIDA DA IGREJA | 127

a duração da “sessão” seja de 50 minutos. Em nosso entendimento, o

aconselhamento pastoral não é formatado. Cada contexto demanda

um tipo de atendimento específico, assim, o local varia, pois o acon­

selhamento se processa na dinâmica do cotidiano da igreja, buscando

atender necessidades pontuais das ovelhas, não visando a se tomar um processo de psicoterapia ou de terapia pastoral.

A prática tem mostrado que o local apropriado para o aconselha­

mento pode ser a residência da ovelha, por meio da visitação, assim

como pode ser dentro do templo, nos corredores, no salão social, após a escola dominical, após o culto e até mesmo no estacionamen­

to, dependendo da urgência da situação. O aconselhamento é uma conversa que não necessita de 50 minutos nem de local apropriado

para ser eficaz. O importante é ouvir e, logo em seguida, instruir,

exortar e consolar, sempre sob a orientação da Palavra de Deus.

O aconselhamento pastoral ocorre no contato cotidiano com

os membros da igreja local. Um exemplo disso é a prática dos

cumprimentos à porta do templo depois do culto. O pastor atento

e compromissado observa o semblante de suas ovelhas e detecta se

estão bem ou não. Ali mesmo sinaliza sua percepção, perguntan­

do: “Você está bem mesmo?” e, em seguida, oferece acolhimento:

“Se quiser, podemos conversar depois”. O pedido de ajuda pode

partir do membro, mas às vezes o pastor se antecipa, percebe que

sua ovelha está com dificuldades e oferece ajuda. Entretanto, isso

só é possível se o pastor tem preocupação genuína, sensibilidade

e empatia (olhar com os olhos dos outros, colocar-se no lugar do

outro), qualidades que advêm de sua vocação e que precisam ser desenvolvidas em sua vida ministerial.

Diante da correria da vida moderna, o tempo para o diálogo

pessoal, face a face, é cada vez mais escasso, fazendo-se necessários

outros tipos de contatos e formas de acesso. Assim, o aconselha­

mento pastoral pode ocorrer por meio de ligações telefônicas ou

via e-mail. Há situações em que a ovelha tem urgência de consultar

o pastor acerca de um problema ou decisão importante: questões

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128 | Fundamentos da teologia pastoral

no emprego, crise no namoro ou casamento, dificuldade de rela­cionamento familiar e interpessoal, enfermidades ou uma questão pontual. Nesses casos, um acolhimento rápido pode amenizar a ansiedade e ajudar a pessoa a pensar com mais calma em possibili­dades para a resolução do problema e, se necessário, agendar uma conversa posterior, mais prolongada.

Uma questão pouco abordada nos livros sobre aconselhamento pastoral refere-se aos perigos que podem ser provenientes da pró­pria prática. Lamentavelmente, são revelados casos de adultério, homossexualidade e até de pedofilia entre ministros do evangelho. O pastor é um servo regenerado, mas que continua com inclinação para o pecado, cujos aspectos mais sombrios e pecaminosos podem

emergir se ele não estiver em constante intimidade com o Senhor Jesus Cristo, buscando sempre sua orientação e proteção contra as ciladas do inimigo de nossas almas.

A partir dessa perspectiva, Wilder nos provê várias reflexões que colaboram para orientar o comportamento pastoral diante das irmãs de nossas igrejas. Diz ele que não é extraordinário ver-se um pastor dar palmadinhas nas costas, abraçar, ou apertar prolonga- damente as mãos de alguma irmã: “Aprenda o pastor [...] a guar­dar suas mãos de mulheres. Que lhes aperte a mão, mas que seja breve”.32 Outra questão posta por Wilder é com relação à situação em o pastor passa o braço pelo ombro de alguma irmã, o que, se­gundo ele, devemos evitar.33 Muito cuidado ao cumprimentar as mulheres da igreja, cautela quanto a beijos e abraços. Lembre-se: o pastor deve revelar nos seus gestos e atitudes a pureza dos seus motivos no serviço pastoral.

Outro momento que requer atenção é atender à irmã que pro­

cura o pastor chorando. O pastor, comovido, pode sentir-se ten­tado a sentar-se ao lado da irmã e colocar a mão em seu ombro. Dependendo da situação, este pode ser o início da destruição de

32 J. B. Wilder, p. 56.33 Idem.

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lares e do abalo da igreja. Fazemos a ressalva de que não estamos dizendo que as mulheres pretendem seduzir e conquistar os pasto- res. A maioria delas é pura e segue um padrão moral de vida igual

ao do pastor. Elas não pretendem criar problemas para o seu líder espiritual, mas não devemos ensejar contatos perigosos.34

O aconselhamento pastoral em momento de visitação é ne­cessário, mas pode tornar-se armadilha caso não sejam adotados cuidados como fazer visitas sempre na companhia da esposa ou de oficiais da igreja e não visitar uma irmã da igreja se o esposo não estiver presente (seja ele cristão ou não). Nesse contexto, ressalta­mos as palavras de Kessler:

Os casos de confidências de família, as confidências íntimas e mesmo no modo de ensinar, devemos ter cuidado para não colo­carmos chamas inflamadas em nosso seio. Muitos filhos de Deus têm virado ao avesso e perdido o seu santo ministério nas ho­ras em que conversam intimamente com alguém do sexo oposto.O espírito está pronto, mas a carne é fraca (Mt 26:41), disse Jesus.O convívio íntimo com a mulher é como o jogo de damas: em uma hora se perde tudo o que ganhou!35

O pastor precisa estar ciente de que a pessoa que o procura está

fragilizada e passando por conflitos, e o acolhimento pastoral pode causar paixão e deslumbramento na ovelha. Talvez a pessoa nunca tenha sido ouvida com tanta atenção e carinho, o que pode con­

fundir sentimentos e levá-la a achar que está “amando” o pastor.

A mulher pode pensar: “Que homem maravilhoso ele é!” E o pastor

que não está atento cai na armadilha e pensa: “Eu sou o máximo! Como desperto desejo nas pessoas!”. Este está pronto para cair, pois

já esqueceu o seu ministério pastoral e passou a dar lugar à carne.

Nesse sentido, recomendamos que o aconselhamento pasto­

ral ocorra sempre em local aberto, com outras pessoas no mesmo

34 J. B. Wilder, O jovem pastor, p. 56-57.35 Kessler, p. 52.

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130 I Fundamentos da teologia pastoral

ambiente. Caso aconteça em sala fechada, que seja com a presença de sua esposa ou de um oficial da igreja, pois, com uma testemu­nha presente, quebra-se o possível encantamento. Deve-se ter em mente que tanto o pastor quanto a ovelha devem estar empenha­dos na ajuda e na busca de solução para o conflito, objeto do acon­selhamento pastoral.

A comunhão diária com Deus por meio da oração e leitura bí­blica, como já dissemos, é fundamental para fortalecer o compro­misso individual com o Senhor. A vigilância deve ser constante, pois o diabo é astuto e conhece nossas fraquezas e inclinações. A Bíblia nos exorta: “Resistam ao Diabo, e ele fugirá de vocês” (Tg 4:7). Essa palavra serve para o pastor, sua esposa e todos os membros da igreja de Cristo.

É relevante estar atento e vigilante, resistir quando o diabo começa a tentação, e não ficar namorando o pecado, fingindo que nada está acontecendo, pois vamos descobrir muito tarde que nossa reputação e nosso caráter, antes imaculados, de quem “não tinha do que se envergonhar”, já se foram. O pecado é uma serpente que morde quando menos se espera. Se em qualquer momento sentir que está atraído de forma ilícita por alguém, leve imediatamente tais sentimentos ao Senhor em oração. Não pense que é forte e que sozinho conseguirá resistir — busque a força do Espírito Santo até ter certeza de que está livre da cilada do diabo.36

Após termos compreendido a relevância do aconselhamento no ministério pastoral, é necessário destacar a visita como parte integrante do trabalho do pastor.

Visitas à membresia da igreja como

PARTE DO MINISTÉRIO PASTORAL37

Tanto o aconselhamento pastoral como as visitas fazem parte do

trabalho pastoral, uma vez que existem questões que não podem

36 N. Kessler, Ética pastoral, p. 98.37 Para esta temática, indicamos: J. T. Sisemore, O ministério da visitação.

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As ATIVIDADES EXERCIDAS PELO PASTOR NA VIDA DA IGREJA | 131

ser resolvidas na pregação pública. Em vez disso, são necessários momentos específicos para tratamento de questões particulares. Para o exercício da visitação, é preciso que o pastor se dedique ao preparo espiritual, sabendo que sua finalidade é cuidar do rebanho de Deus por meio de consolo, exortação e comunhão com o Su­premo Pastor. Não são raros os casos em que algum cristão, mesmo com toda a boa vontade, durante uma visita pode dirigir uma pala­vra pouco adequada a um enfermo, por exemplo, e, em vez de fazer bem, acaba fazendo mal.

Infelizmente, ocorrem situações em que membros de igreja se oferecem para fazer visitas com o intuito de conhecer as vicissitu- des do irmão e depois acabam por torná-las públicas, o que resulta numa situação embaraçosa para o pastor. Quem visita deve saber guardar segredo.38 Há ainda os que visitam com a finalidade de criticar as lideranças da igreja.

Talvez por essas razões, em junção com a realidade da sobre­carga de diversas atividades, pouca tônica os pastores têm dado à visitação. Alguns centram seu trabalho ministerial no ensino da Palavra apenas nos sermões dominicais. Se de fato se esmerarem, serão bênção nas mãos de Deus, mas nem sempre isso ocorre. Na verdade, muitos só se preocupam com as pregações e o atendimen­to no gabinete pastoral. Porém, alertamos que o ministério pastoral é mais do que isso, envolve diversas facetas. O ensino da Bíblia é prioritário, mas o pastor precisa conhecer suas ovelhas. Isso não acontece nos cultos públicos, sendo necessário recorrer a um dos preciosos meios para esse fim: o processo de visitação.39

A visitação pode ter alguns objetivos, dentre os quais destacamos:40

Intimidade da comunhão pastoral: desenvolvimento do relaciona­mento do pastor com as ovelhas.

38 J. T. Sisemore, O ministério da visitação, p. 52.39 J. Eliff, A cura das almas: o pastor servindo ao rebanho. J. Armstrong (Org.), O ministro pastoral segundo a Bíblia, p. 156-157.40 Idem.

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132 | Fundamentos da teologia pastoral

Ensino pastoral: fornecimento de ensino bíblico pessoal, para

fortalecer a comunhão do irmão com Deus.

Orientação pastoral: direcionamento bíblico para que o crente

possa superar conflitos, distorções de pensamento e tomadas de

decisão.

Consolo pastoral: em momentos de angústias e vicissitudes da

vida, o pastor oferece consolo espiritual, por meio da Bíblia.

Proteção pastoral: para ovelhas em situações de risco, postas em

confronto quanto à sã doutrina; para um membro sob disciplina e

que mereça atenção; e mesmo para famílias que sofrem por ques-

tões ligadas à dependência química.41

Intercessão pastoral: oração com os crentes.

É relevante entendermos que durante a visita o pastor deve in­

cluir a família toda, e não somente algumas pessoas. Baxter chama

atenção para esse aspecto, quando afirma: “[...] devemos dedicar

cuidado especial às famílias [...] se negligenciarmos isso, arruinare­

mos tudo [...] se alguma coisa boa foi iniciada pelo ministério pas­

toral será sustada — ou ao menos será dificultada — se as famílias

forem descuidadas, sem oração e mundanas”.42 Assim, conclama­

mos os pastores para que tenham um ministério eficiente junto às

famílias. Nas visitas, ensinem o chefe de família a orar em seu lar,

a ler as Escrituras e a adorar a Deus com os seus.

O pastor não pode se esquecer também dos enfermos. Alguns

pastores argumentam que não conseguem fazer visitas em hospitais

ou aos enfermos em estado terminal. Não é fácil tarefa, mas isso

faz parte da responsabilidade do ministro do evangelho. É preciso

lembrar que situações desse tipo costumam ser uma das mais im­

portantes ocasiões para falar de Jesus a quem ainda não teve um

41 No estudo da dependência química, com destaque para o alcoolismo, ler: R. A. Mariano, Alcoolismo e pastoral: implicações pastorais.42 R. Baxter, O pastor aprovado, p. 109.

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As ATIVIDADES EXERCIDAS PELO PASTOR NA VIDA DA IGREJA | 133

encontro pessoal com ele. No caso do cristão verdadeiro, é o mo­

mento de consolá-lo e prepará-lo para a bênção do encontro com

Cristo. É hora de reforçar que no lugar para onde iremos após a

morte não haverá choro, nem tristeza, nem qualquer angústia,

pelo contrário, toda lágrima cessará, conforme Apocalipse 21:4: “Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou”.

Está mais do que demonstrado em finalidade e relevância que

a visitação é parte integrante do ministério pastoral. Antes de fi­

nalizarmos esta parte, e como incentivo aos pastores nessa árdua

tarefa, vejamos os exemplos dos irmãos da igreja primitiva sobre o

tema. Iniciamos pelo ensino do nosso Senhor Jesus.

Na leitura dos evangelhos, encontramos várias passagens que

revelam que, em meio a todas as atividades, Jesus reservava tempo

para visitar lares e pessoas. Em Mateus 9:35, lemos: “Jesus ia pas­sando por todas as cidades e povoados, ensinando [...] pregando

[...] e curando”. Em seu ministério terreno, ele visitou a casa de Simão e curou-lhe a sogra. Entrou no lar de Levi e banqueteou-

se com os publicanos e pecadores. Quando enviou seus discípu­

los a pregar, deu-lhes a ordem: “ao entrarem na casa, saúdem-na”

(Mt 10:12). Em Lucas 10:5, lemos: “Quando entrarem numa casa,

dizei primeiro: Paz a esta casa”. Além de lares, Jesus visitou pessoas. Exemplo disso é Zaqueu: “Quero ficar em sua casa hoje” (Lc 19:5).

A casa de Marta, Maria e Lázaro foi outro lar visitado por Jesus.

Enfim, Jesus ensina que visitar é essencial para que alguém seja

considerado um bom pastor. Os cristãos da igreja primitiva também

aprenderam desde cedo a importância da visitação. Em Atos 2:46

podem ser lidas as palavras: “Partiam o pão em suas casas, e juntos

participavam das refeições, com alegria e sinceridade de coração”.

Por ordem divina, o apóstolo Pedro foi ao lar de Cornélio e durante

a visita muitos foram alcançados pelo evangelho. Pedro também

visitava com frequência a residência de Dorcas. O apóstolo Paulo

demonstrou que visitava ao dizer: “Vocês sabem como vivi todo o

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134 | Fundamentos da teologia pastoral

tempo em que estive com vocês [...] não deixei de pregar-lhes nada

que fosse proveitoso, mas ensinei-lhes tudo publicamente e de casa

em casa [...]” (At 20:18-20).

Portanto, que os pastores aprendam a necessidade do traba­

lho de visitação, que sejam perseverantes nele e, acima de tudo,

que busquem plenamente a bênção do Senhor Deus para que esta

atividade redunde na glória do Senhor e que seja para alegria do

pastor e da igreja.

Dito isso, voltamos a atenção a um princípio importante do mi­

nistério pastoral, que é a administração da igreja, cujo fundamento

está no preparo de uma boa liderança para auxiliar o pastor no

cuidado do rebanho de Deus.

Administração e preparo de liderança eclesiástica

Não são raros os casos em que os pastores enfrentam dificuldades

na questão da administração e gestão de suas organizações e insti­

tuições, o que implica diretamente no insucesso de sua liderança.

Para Nemuel Kessler e Samuel Câmara, “pastorear é muito mais

que presidir. E administrar com eficiência os negócios do Reino

de Deus”. Da definição de Kessler e Câmara, num aspecto posi­

tivo, podemos entender que pastorear é mais do que presidir, é

também administrar.

Reconhecemos, até em função da formação teológica que, não

raro, pouco tempo dispensa-se para a reflexão aprofundada dessa

temática no ministério pastoral. Em geral, falta ao pastor preparo

em vários aspectos da vida eclesiástica, quer no aconselhamen­

to, quer na exposição das Escrituras, como visto neste estudo, e

a administração não é exceção. Entendemos, porém, que, ainda

que tenha outras prioridades ministeriais, o pastor não pode se

eximir dessa importante responsabilidade, deixando-a para presbí­

teros, diáconos e outros oficiais ou obreiros de sua denominação;

até porque ele é quem responde juridicamente pela igreja. Sendo

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AS ATIVIDADES EXERCIDAS PELO PASTOR NA VIDA DA IGREJA | 135

assim, o pastor necessita ter o mínimo de conhecimento de admi­nistração para que a igreja traga seu balancete financeiro em dia

e sua contabilidade em ordem. Sugerimos que a igreja contrate

um contador de confiança, que realmente entenda das exigências legais relativas às igrejas.

O pastor não pode menosprezar o livro de atas de sua diretoria maior que, juntamente com as atas das assembleias gerais, devem

ser registradas.43 Além disso, o pastor e sua diretoria devem ter o

estatuto da igreja44 devidamente aprovado pela assembleia, assi­

nado por um advogado e registrado em cartório. Só assim poderá solicitar o CNPJ da igreja e, após ter toda a documentação em ordem, dar entrada no pedido de isenção de taxas e impostos a que as organizações religiosas têm direito.

Por outro lado, não concordamos com Nessler e Câmara quan­do afirmam que pastorear é “administrar com eficiência os negócios

do Reino de Deus”. A igreja não é um negócio. Pelo contrário, “ela funciona de forma contrária a um negócio humano. Um negócio é motivado pelos resultados”.45 Assim, “todas as ações concorrem

para um determinado resultado esperado e se este resultado não se concretiza, abandonam-se as ações de imediato”.46 Talvez por

vermos a igreja como um “negócio” é que fechamos alguns pontos de pregação, congregações e até mesmo igrejas, por pensarmos que elas não dão “resultado”. Quando agimos assim, fazemos da igre­

ja um “negócio” e assumimos valores condizentes com propostas

administrativas alheias às Escrituras. Vejamos o que dizem certos

autores a respeito do termo “administração”, porque assim com­

preenderemos melhor o que estamos afirmando, isto é, que a igreja não é um negócio.

43 Veja Anexo 2, Redação de atas.44 Veja Anexo 1, Modelo de estatuto de uma igreja.45 F. S. Portela Neto. Planejando os rumos da igreja: pontos positivos e crítica de posições contemporâneas. Fides reformata, p. 90.46 Idem, p. 90-91.

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136 I Fundamentos da teologia pastoral

Etimologicamente, “administrar” procede do latim: administratio, cuja tradução é “ação de prestar ajuda”, “execução”, “gestão”, “direção”.47 Percebe-se que a etimologia da palavra permite uma compreensão genérica do seu significado, e talvez seja essa a ra­zão de haver muitas definições para “administração”. Houaiss, por exemplo, também define “administração” como “ato, processo ou efeito de administrar”, “administrar conjunto de normas e funções cujo objetivo é disciplinar os elementos de produção e submeter a produtividade a um controle de qualidade para obtenção de um resultado eficaz”.48 Por outro lado, Blanchard define administração “como trabalhar com e por meio de pessoas e grupos para alcançar objetivos organizacionais”.49

Percebemos, assim, que há pouca harmonia entre as definições, o que testifica que o termo “administração” possui interpretações variadas. Blanchard, todavia, afirma que um ponto comum nelas é a preocupação do administrador em atingir metas ou objetivos organizacionais.50 Se acompanharmos essas definições, veremos que o importanteé alcançar resultados. A igreja de Cristo, de certa forma, espera resultados; entretanto, deve estar consciente de que estes são frutos da graça e do poder de Deus, e não necessariamen­te da capacidade administrativa do pastor e de sua liderança. Tudo depende de Deus usar de misericórdia.

Ressaltamos pelo menos dois textos bíblicos que corroboram nossa afirmação. Um deles é o de Isaías 6:1-13. Após a visão da glória de Deus (v. 1-7), Isaías ouve a voz do Senhor, conclaman­do: “Quem enviarei? Quem irá por nós?” (v. 8) e a resposta do profeta foi: “Envia-me” (v. 8). Depois de se colocar à disposição do Senhor, Deus o envia a pregar ao povo, com a incumbência

de pregar a um povo que ouviria, mas não entenderia; veria, mas

47 A. Houaiss; M. S. Villar, Dicionário Houaiss de língua portuguesa, p. 87.48 Idem, p. 86.49 K. H. Blanchard; P. Hersey. Psicologia para administradores: a teoria e as técnicas da liderança situacional, p. 4.50 Idem.

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jamais perceberia. Seus corações e olhos estariam fechados para

não ouvirem ao Senhor (v. 9-10). Diante desse texto, cai por terra

a ideia de que a igreja deve trabalhar em função de resultados, pois,

nesse caso, humanamente falando, seria como entrar num “nego-

cio” destinado ao fracasso. A missão de Isaías contrasta profunda- mente com os negócios humanos. Assim, o reino de Deus e a igreja

de Cristo como parte dele não devem ser vistos como “negócio”.

Outro texto que mostra que a igreja deve reconhecer que o

resultado é bênção de Deus está registrado em Atos 2:47: “[...] E o Senhor lhes acrescentava diariamente os que iam sendo sal­

vos”. A igreja não é um negócio, porque sabe que o “resultado” não

depende dela, mas do Senhor. Essa é a mensagem do evangelista

Lucas ao cristianismo atual. Diante disso, o pastor e sua liderança

poderão indagar se há, então, necessidade de se preocupar com a

administração das coisas de Deus.

É possível que alguns, para defenderem que administrar e pla­nejar são atividades opostas à do ensino bíblico, citem o texto de

Tiago 4:13-15:

Ouçam agora, vocês que dizem: “Hoje ou amanhã iremos para esta ou aquela cidade, passaremos um ano ali, faremos negócios e ganharemos dinheiro”. Vocês nem sabem o que lhes acontecerá amanhã [...] Ao invés disso, deveriam dizer: “Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo”.

A passagem bíblica, entretanto, não contradiz o que dissemos

até o momento. Sua crítica dirige-se à pessoa que apregoa viver

uma existência sem a bênção e o poder de Deus. Esse foi o caso,

por exemplo, do filho pródigo, que desejou a morte do pai por que­rer viver sua própria vida sem qualquer intervenção paterna. As­

sim, são muitos os que procuram viver sua vida sem a presença de

Deus. Deve ficar claro aqui que a preocupação com as questões

administrativas da igreja não devem ser os resultados, mas planos

de ação que colaborem para que o pastor desempenhe sua função

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138 I Fundamentos da teologia pastoral

da melhor forma possível, crendo que o resultado provém somente do Senhor do rebanho.

Esse plano de ação deve envolver alguns princípios fundamentais:

Planejar: estabelecer metas e objetivos para a igreja, com a fina­lidade de desenvolver planos de trabalho que glorifiquem o nome de Deus. O planejamento é importante para que toda a igreja co­nheça as metas e objetivos a serem alcançados por todos os irmãos. Algumas igrejas já não se preocupam com o planejamento estra­tégico e acabam por perder o foco de suas ações. É preciso que o pastor tenha consciência e conscientize os membros quanto à necessidade de planejarem suas atividades.

Organizar: sistematizar os recursos financeiros e técnicos e distribuí-los de tal forma que possam funcionar como um todo. Nas palavras de Kessler e Câmara: “há muitas maneiras de se fazer uma coisa. Porém, devemos procurar aquela que seja mais prática e eficiente, que melhor corresponde à realidade”.51 É importante simplificar o trabalho.

Motivar: determinar o desempenho dos membros da igreja, o que, por sua vez, influencia o grau de eficácia com que os objeti­vos eclesiásticos são alcançados. Se a motivação for baixa, pouco desempenho haverá por parte dos membros na realização das ati­vidades. É preciso ficar claro para todos que toda a igreja é res­ponsável pelo alcance ou não das metas e objetivos estabelecidos pela liderança.

Controlar: acompanhar as atividades da igreja de modo a permi­tir uma comparação dos resultados com os planos e, se necessário, fazer ajustes onde as expectativas não tenham sido atendidas. Em algumas situações, será necessário mudar a forma de trabalho ou

desenvolver novos planos de ação.52

51 N. Kessler; S. Câmara, Administração eclesiástica: pastorear é muito mais que presidir. E administrar com eficiência os negócios do reino de Deus, p. 22.52 A. C. Limongi-França; E. B. Arellano, Liderança, poder e comportamento or­ganizacional. Maria Tereza Leme Fleury (Org.), As pessoas na organização, p. 261.

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As ATIVIDADES EXERCIDAS PELO PASTOR NA VIDA DA IGREJA | 1 39

Em síntese, administrar, em termos genéricos, significa alcançar

metas ou objetivos organizacionais. No caso do ministério pastoral,

administrar tem o propósito de estabelecer planos que facilitem a

atuação da igreja. Assim, é preciso preparar a liderança de forma ade­

quada para que a igreja e o pastor obtenham êxito no plano de ação.

A liderança pode ser verificada sempre que alguém procura in­

fluenciar o comportamento de um indivíduo ou de um grupo, não

importando a finalidade. Isso eqüivale a dizer que toda pessoa é

um líder,53 pelo menos em algum setor da vida.54 Uma distinção

a ser feita é que, se o foco da administração for o gerenciamento, a

preocupação será com os procedimentos e regras da organização.

Se a ênfase estiver nos recursos humanos, no tratamento com as

pessoas com vistas à promoção do desenvolvimento dos relaciona­

mentos, então estamos falando de liderança.55 Barna56 define lide­

rança da seguinte forma:

Um líder é uma pessoa [...] cujo propósito central é influenciar pessoas; uma pessoa orientada para um objetivo; alguém que tem um objetivo em comum com aqueles que dependem dele para orientá-los; e alguém a quem as pessoas estão dispostas a seguir.57

Após demonstrar seu pressuposto de liderança, o mesmo

Barna58 pontua alguns princípios que identificam o líder:

Inclinação inegável: líderes verdadeiros são naturalmente incli­

nados a liderar.

53 Idem, P. 259.54 K. H. Blanchard; P. Hersey, Psicologia para administradores: a teoria e as técnicas da liderança situacional, p. 4.55 K. O. Gangel, Que fazem os líderes. George Barna (Org.), Líderes em ação, p. 31.56 Para maior conhecimento acerca da liderança com um tom cristão, ler: George Barna (Org.), Líderes em ação.57 G. Barna, Nada é mais importante do que liderança. Líderes em ação, p. 24-30.58 Idem.

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140 I Fundamentos da teologia pastoral

Mente de líder: o líder percebe e pensa de forma diferente dos

outros. Sendo pessoas com visão distinta, os líderes, por defini­ção, focalizam o futuro. Pensam nas implicações a longo prazo, nas oportunidades e escolhas que são feitas hoje. Geralmente eles são idealistas, trabalham com empenho e são pensadores estratégicos.

Influência discernível: um líder verdadeiro é aquele cuja vida dá

os frutos da liderança, isto é, a evidência cumulativa de que ele tem habilidade para mudar a maneira como indivíduos ou grupos pensam, falam e vivem, o que resulta no estímulo a persistir, apesar das dificuldades próprias da liderança.

Gosto pelo que faz: liderar pessoas é suportar as mais diferentes preocupações, controvérsias e animosidades. Mas, mesmo nesses momentos, o líder é aquele que encontra forças para continuar,

por gostar do que faz.59

Ainda tratando de liderança, ressaltamos os seguintes tipos de

líder, como apresentados por Kessler:60

Autocrático: desestimula inovações e centraliza as decisões im­portantes. Uma das dificuldades deste estilo de liderança é que pode resultar em abuso do poder, em que o líder se autodenomine: “dono”, em nosso caso, “dono da igreja”. “Muitos, em posição de mando estão a tratar as pessoas como objetos que podem ser ma­

nipulados de um lado para outro, a fim de satisfazer seus instintos

de supremacia.”61

Burocrático: pressupõe que qualquer dificuldade pode ser afas­tada quando todos acatam os regulamentos.

Democrático: o líder que pede e leva em consideração as opi­

niões do grupo antes de tomar decisões; a responsabilidade é

59 Para entender o líder como aquele que supera dificuldades, ler: ]. White, En­contrei um líder: alcançando objetivos com oração, coragem e determinação.60 N. Kessler, Ética pastoral, p. 158-159.61 Idem, p. 162.

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compartilhada pelo grupo. A questão a ser discutida aqui é a linha tênue entre liderar e caminhar com o povo que o pastor lidera. Em muitas situações, ele precisa se manter distante; em outras, precisa estar perto das pessoas.

Laissez-faire: outorga sua autoridade a outros, de maneira que as decisões não dependem dele.

Paternalista: cordial, estilo muito adotado nas igrejas e, por isso, pode produzir indivíduos imaturos.

Participativo: propicia mais amizade, tem maior conhecimento dos membros e motivação mais intensa pelo trabalho.

Algumas situações exigem que o pastor-líder navegue por esses diferentes estilos, uma vez que a liderança, por não ser ciência exa­

ta, também depende da resposta da comunidade pastoreada. Em certas situações, ele deverá utilizar o estilo democrático, em outras, o burocrático, o paternalista e o participativo. O fundamental é que ele tenha flexibilidade e sabedoria para aproveitar o melhor dos mais diferentes estilos de pessoas para que, sob sua liderança, elas glorifiquem o nome de Deus.

Com isso, terminamos nossa reflexão sobre os fundamentos da teologia pastoral. Cabe-nos ainda relembrar as principais partes

deste capítulo.

Revisão e aproveitamento do capítulo 4

1. Como caracterizar um bom pregador do evangelho?2. Quais as principais tarefas do ministro do evangelho?3. Como deve ser o aconselhamento pastoral?

4. Quais os perigos que podem acompanhar o aconselhamento pastoral?

5. Quais conhecimentos de administração eclesiástica o pas­tor deve possuir?

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Considerações f inais

Como foi dito na parte introdutória deste estudo, refletir a res­peito do ministério pastoral é uma das temáticas mais importantes

na discussão a respeito da Igreja de Jesus. Não podemos negar que

nos encontramos numa encruzilhada com relação ao cristianismo

em geral. A Igreja Católica Romana tem sofrido, vendo alguns dos

seus líderes religiosos sob sérias acusações de pedofilia e abusos se­xuais. No lado pentecostal e neopentecostal, a acusação é de ape­los financeiros e prática de ganhar dinheiro e manipular pessoas,

o que resulta em severas críticas aos pastores, bispos e apóstolos

de todas as denominações evangélicas. Entre os protestantes his­

tóricos, em muitas ocasiões, há os imperativos políticos e acordos denominacionais que acabam por nortear o trabalho pastoral das

mais diferentes regiões. Quando isso ocorre, deixamos os princí­

pios da ética cristã de amarmos a Deus sobre todas as coisas e ao

próximo como a nós mesmos, o que nos torna insensíveis, desones­

tos e egocêntricos.

Diante disso, não podemos negar que vivemos momentos de cri­

se no cristianismo. Assim, o evangelho verdadeiro, como exortam as Escrituras, tem sido escandalizado, depreciado, para não dizer que está quase esquecido em muitas igrejas. A estas, lembramos o texto

de Apocalipse 3:20: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir

a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo”. Ainda que esse texto seja utilizado para pregações ou conferências

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144 Fundamentos da teologia pastoral

evangelísticas, a hermenêutica mais adequada não é esta, visto que

foi dirigido à igreja de Laodiceia. Pelo texto percebemos que Cristo

se dirige àquela igreja como se estivesse do lado de fora, batendo na

porta. Esta é a figura: Cristo do lado de fora da igreja, batendo à sua

porta. Assim, à semelhança do que ocorria lá, muitas comunidades

atuais também estão sem o Bom Pastor. As palavras de Jesus são:

“Repreendo e disciplino aqueles que eu amo. Por isso, seja diligente

e arrependa-se” (Ap 3:19).

É preciso que a Igreja de Cristo retorne ao ensino verdadeiro

das Escrituras e acredite que o ministério pastoral é vital para a

reconstrução e saúde espiritual da igreja.1 Ao pastor cabe a grande

e séria tarefa de pregar o evangelho do arrependimento no interior

da própria igreja, haja vista que muitas comunidades se distancia­

ram de Jesus. Na realização de sua árdua tarefa, os ministros do

evangelho precisam compreender que nada deve ocupar a centra­

lidade da sua vida pessoal, familiar e da igreja a não ser a Palavra

de Deus. Ela deve ser ensinada com fidelidade e profundidade. Os

pastores não devem temer as perseguições que virão por pregarem

e viverem o evangelho do arrependimento. Salmos 1:1-3 afirma:

Como é feliz aquele que não segue o conselho dos ímpios, não imita a conduta dos pecadores, nem se assenta na roda dos zomba- dores! Ao contrário, sua satisfação está na lei do Senhor, e nessa lei medita dia e noite. E como árvore plantada à beira de águas correntes: dá fruto no tempo certo e suas folhas não murcham. Tudo o que ele faz prospera!

Esse salmo nos ensina que feliz é o homem que se satisfaz na lei

do Senhor e nela medita de dia e de noite. Ele é comparado a uma

árvore plantada à beira de águas correntes. No devido tempo dá o

seu fruto e suas folhas não murcham e tudo o que ele faz prospera.

1 ]. Armstrong, Semper reformanda: o papel pastoral na reforma moderna. O minis­tério pastoral segundo a Bíblia, p. 22.

Page 140: Youblisher.com 817855 Teologia Pastoral

Considerações finais I 145

Assim também devem ser os pastores, como árvores com raízes

aprofundadas na Palavra e na comunhão com Deus. Comportan­do-se assim, serão bem-sucedidos, porque a boa mão do Senhor estará sempre sobre eles e sobre aqueles a quem pastoreiam.

Page 141: Youblisher.com 817855 Teologia Pastoral

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Capítulo 1Gomes, A. M. A. O credenciamento dos cursos de teologia no Bra­

sil pelo sistema MEC/Inep e suas conseqüências para a educa­

ção teológica e a identidade do teólogo. Revista de ciências da

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----------- Projeto de Lei ne 114/2005. Dispõe sobre o exercício da

profissão de teólogo e dá outras providências. Disponível em:

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Capítulo 2Armstrong, J. O ministério pastoral segundo a Bíblia. São Paulo:

Cultura Cristã, 2007.

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Calvino, J. A instituição da religião cristã. Vol. 2. São Paulo: Unesp,

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Jowett, J. H. O pregador, sua vida e obra. São Paulo: CEP, 1969.

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1977.

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Mohler Jr., R. A; Boice, J; Thomas, D. [et al.]. Apascenta o meu

rebanho: um apaixonado apelo em favor da pregação. São Paulo:

Cultura Cristã, 2009.

Capítulo 3Dalgalarrondo, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos men-

tais. 2- ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.

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Bibliografia de consulta sugerida | 157

Deus, P. R. G. As influências do sentimento religioso sobre os cristãos

portadores de depressão, p. 106-110. Dissertação (Mestrado em

Ciências da Religião). São Paulo: Mackenzie, 2008.

________ As influências dos salmos de Davi na concepção de depressão

pelos cristãos. Lopes, E. P.; Liberal, M. M. C. (Orgs.). O impacto

da práxis religiosa na construção de vínculos sociais. São Paulo:

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religiosos numa organização protestante neopentecostal e noutra tra­

dicional. Psico-USF. Vol. 11, na 11, jan.-jun. 2006, p. 103-112.

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Capítulo 4Beeke, J. R. A urgente necessidade de uma vida piedosa: o fundamento

do ministério pastoral. Armstrong Jr., J. (Org.). O ministério pas­

toral segundo a Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2007. p. 59-84.

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Gomes, W. M. Aconselhamento redentivo. São Paulo: Cultura Cris­

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balho. Exposição sobre Efésios 5:18; 6:9. São Paulo: PES, 1991.

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Sittema, J. Coração de pastor: resgatando a responsabilidade pastoral

do presbítero. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.

Thielicke, H. Recomendações aos jovens teólogos e pastores. Recife/

São Paulo: Sete&Sepal, 1990.

Page 152: Youblisher.com 817855 Teologia Pastoral

Anexo 1 Modelo de estatuto de

igreja evangélica

Capítulo I Da denominação, sede, fins e duração.

Artigo Ia — A Igreja_____________é uma organização religiosa1 cons­tituída de membros crentes em nosso Senhor Jesus Cristo, com

sede e foro civil na cidade de---------------------- , organizada de confor­midade com a Constituição da Igreja------------------------- Tem por fimprestar culto a Deus, em espírito e verdade, pregar o evangelho, batizar os conversos, manter seus filhos menores sob sua guarda e

ensinar os fiéis a guardar a doutrina e prática das escrituras do An­tigo e Novo Testamentos em sua pureza e integridade, bem como promover a aplicação dos princípios de fraternidade cristã e o cres­

cimento de seus membros na graça e no conhecimento de nosso

Senhor Jesus Cristo.Parágrafo único: A igreja funciona por tempo indeterminado.

1 Conforme Código Civil, artigo 44, inciso IV.

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160 I Fundamentos da teologia pastoral

Capítulo II Da administração civil e da representação

Artigo 2º — A diretoria executiva da igreja é composta pelo pas­tor, ou pastores, e pelos presbíteros.2

§ 1º — A diretoria executiva3 só poderá reunir-se e deliberar estando presentes a maioria dos seus membros.

§ 2º — Será ilegal qualquer reunião da diretoria executiva sem

convocação pública ou individual, por correspondência ou e-mail

para todos os membros, e com tempo bastante para o compareci- mento destes.

§ 3º — A diretoria executiva elegerá anualmente sua diretoria

composta de um vice-presidente, um ou mais secretários e um te­

soureiro, sendo este de preferência oficial da igreja.

§ 4º — Os oficiais são eleitos pela assembleia geral da igreja

para um mandato de----------- anos, podendo ser reeleitos.4

Artigo 3º — A presidência da diretoria executiva compete sem­

pre ao pastor. Se a igreja tiver mais de um pastor, exercerão a pre­

sidência alternadamente, salvo outro entendimento.

§ Iº — O presidente, ou seu substituto em exercício, representa a igreja ativa, passiva, judicial e extrajudicialmente.

Capítulo III Da assembleia

Artigo 4º — A assembleia geral constará de todos os membros

da igreja, em plena comunhão, e reunir-se-á ordinariamente, ao

menos uma vez por ano, e extraordinariamente quando convocada pela diretoria executiva.

2 Aqui pode-se acrescentar outros ofícios, como diácono, a critério da comunidade.3 Código Civil, artigo 44, inciso IV.4 Lei n“ 6.015/1973, artigo 120.

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Anexo 1 j 161

I. A assembleia reunir-se-á ordinariamente para:

a) ouvir, para informação, o relatório do movimento da igreja

no ano anterior e tomar conhecimento do orçamento para o ano

em curso;

b) pronunciar-se sobre questões orçamentárias e administrati­

vas, quando isso for solicitado pela diretoria executiva;

c) eleger anualmente um secretário de atas.

II. A assembleia reunir-se-á extraordinariamente para:

a) escolher ou eleger pastores e oficiais da igreja;

b) pedir exoneração deles ou opinar a respeito, quando solicita­

do pela diretoria executiva;

c) aprovar seus estatutos e deliberar quanto à sua constituição

como pessoa jurídica;

d) adquirir, permutar, alienar, gravar com ônus real, dar em pa­

gamento imóvel de sua propriedade e aceitar doações ou legados,

onerosos ou não;

e) conferir a dignidade de pastor emérito, presbítero emérito e

diácono emérito.

III. Para tratar dos assuntos a que se referem as alíneas “b” do

inciso I, “c” e “d” do inciso II, a assembleia deverá constituir-se de

membros civilmente capazes.

Artigo 5a — A reunião ordinária da assembleia será fei­

ta sempre em primeira convocação, seja qual for o número de

membros presentes.

Artigo 6a — Qualquer reunião extraordinária da assembleia

geral deverá ser convocada com antecedência de pelo menos oito

dias e só poderá funcionar com a presença mínima de membros em

numero correspondente a um terço dos residentes na sede.

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162 | Fundamentos da teologia pastoral

§ Ia — A convocação da igreja, para reunir-se em assembleia

geral, será feita por meio de publicação no boletim da igreja e fixa­

ção de edital no quadro de avisos da sede.5

§ 2a — As deliberações da assembleia geral serão sem­

pre aprovadas pelos votos de pelo menos metade mais um, dos

membros presentes.6

Artigo 7“ — A presidência da assembleia geral da igreja cabe

ao pastor e, na ausência ou impedimento deste, ao pastor-auxiliar

ou vice-presidente da diretoria executiva, caso a igreja não tenha

pastor-auxiliar.

Capítulo IV

Dos bens e dos rendimentos e sua aplicaçãoArtigo 8a — São bens da igreja: ofertas, dízimos, doações, le­

gados, bens móveis ou imóveis, títulos, apólices, juros e quaisquer

outras rendas permitidas por lei.

§ Ia — os rendimentos serão aplicados na manutenção dos ser­

viços religiosos e no que for necessário ao cumprimento dos fins

da igreja.§ 2Q — a igreja não tem fins lucrativos, não distribui rendimen­

tos nem remunera seus oficiais, presbíteros, regentes e diáconos

eleitos.

Artigo 9a — Os membros da igreja respondem com os bens des­ta, e não individual ou subsidiariamente, pelas obrigações por ela

contraídas.

Artigo 10a — O tesoureiro da igreja responde com seus bens

havidos e por haver, pelas importâncias sob sua responsabilidade.

5 Lei n“ 6.015/1973, artigo 120.6 Idem.

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Anexo 1 | 163

§ Ia — O tesoureiro depositará em casa bancária de escolha da diretoria executiva e em nome da igreja as importâncias sob sua

guarda, desde que estas sejam superiores à quantia necessária para as despesas previstas em uma quinzena.

§ 2a — As contas bancárias serão movimentadas com a assina­tura do tesoureiro e de mais um presbítero especialmente designa­do pela diretoria executiva para este fim.

Capítulo V Da comissão de exame de contas

Artigo 11 — A diretoria executiva nomeará, anualmente, uma

comissão de exame de contas da tesouraria, composta por três membros.

§ l2 — A escolha poderá recair sobre quaisquer dos membros da igreja civilmente capazes.

§ 2- — O tesoureiro fornecerá a essa comissão, de três em três

meses, ainda que no fim de cada exercício, um balancete da tesou­

raria, acompanhado de todos os livros e comprovantes, inclusive contas bancárias.

§ 3“ — A comissão de exame de contas, por sua vez, prestará

relatório à diretoria executiva de três em três meses e, ainda, um relatório geral do exercício findo, relatórios esses que devem vir

acompanhados dos balancetes da tesouraria.

Capítulo VI Do patrimônio em caso de cisma ou dissolução.

Artigo 12 — A igreja poderá extinguir-se na forma da legislação em vigor ou por determinação do presbitério a que se subordina.

§ 1“ — A extinção ou dissolução da igreja, se por decisão da as­sembleia geral, ocorrerá em reunião extraordinária especialmente convocada para esse fim.7

7 Lei n“ 6.015/1973, artigo 120, § le, 2a e 32 do artigo 12, inciso V.

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164 I Fundamentos da teologia pastoral

§ 2a — No caso de dissolução da Igreja, liquidado o passivo, os bens remanescentes passarão a pertencer ao presbitério sob cuja jurisdição a igreja estiver.

§ 32 — No caso de cisma ou dissolução, os bens da igreja passa­rão a pertencer à parte fiel à igreja; sendo total o cisma, reverterão os bens ao presbitério a que a igreja estiver jurisdicionada.

Capítulo VII Disposições finais

Artigo 13 — Estes estatutos serão reformáveis mediante pro­posta da diretoria executiva, aprovada em primeiro turno por uma assembleia geral convocada especialmente para esse fim, na forma do artigo 6" e seus parágrafos, aprovada em segundo turno pelo

presbitério a que se subordina a igreja e, em terceiro turno, de san­ção, por nova assembleia geral da igreja.

Artigo 14 — São nulas de pleno direito quaisquer disposições que, no todo ou em parte, implícita ou expressamente, contrariem ou firam a Constituição da igreja.

Artigo 15 — O ano civil da igreja----------------------- compreende o

período de 1'*' de janeiro a 31 de dezembro de cada ano.8

8 Exigência contábil fiscal.

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Anexo 2 Redação de atas

Início da ata

Ata número (número da ata) da reunião do Conselho da (nome da igreja), reunido no dia (dia) de (mês) de (ano) no (local da igreja), sito à (endereço: rua, número, bairro), neste município de

(cidade e Estado). A reunião foi presidida por (nome do presidente da reunião, normalmente o pastor da igreja). Estavam presentes os

presbíteros (presbíteros presentes). Estavam ausentes os (presbíte­ros ausentes). A reunião teve início às (horário da reunião), com (exercício espiritual).

Término da ataNão havendo mais nada para ser tratado, encerrou-se a presente

(horário do término da reunião) com uma oração pelo (nome da pessoa que orou — este trecho pode ser suprimido). E eu, pres­

bítero (nome do secretário ou secretário ‘ad-hoc’), secretário do Conselho, a tudo presente, lavrei e assino a presente ata.

Regras geraisOs nomes mencionados na ata deverão constar sempre completos

na primeira vez em que são citados. Posteriormente, poder-se-á

utilizar apenas o primeiro nome.

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166 | Fundamentos da teologia pastoral

Os numerais poderão ser representados na forma de algaris­

mos. No caso de valores monetários, é conveniente completar a

representação por algarismos com o valor expresso por extenso e

entre parênteses.

Quando se tratar de inclusão de membros, deverão ser men­

cionados os seguintes dados:

• Modo da recepção

• Nome completo

• Sexo

• Filiação

• Naturalidade

• Nacionalidade

• Data de nascimento

• Profissão

• Alfabetização

• Estado civil

• Endereço completo

• Número conforme Rol de Membros. O número do mem­

bro deverá ser informado logo após o nome, entre parênte­

ses e em destaque (negrito).

Resumo, anotações e observaçõesO uso de resumo, anotações e observações é obrigatório, uma vez

que completam e/ou facilitam a recuperação de informações da ata,

substituindo as anotações marginais na lavratura desta. Para esse

fim, deve-se utilizar o recurso das notas de rodapé, presente em to­

dos os softwares de processamento de textos, da atualidade.

Notas de rodapé1. Deverão ser referenciadas no texto por número seqüenciais, ini­

ciando em 1 em cada ata.

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Anexo 2 | 167

2. Deverão ter a mesma fonte do corpo da ata, mas em tamanho

um pouco menor: Times New Roman 10.3. Esse recurso, quando bem utilizado, permitirá busca rápida de

qualquer informação que se deseje obter na ata.4. As seguintes notas deverão sempre existir na ata.

• Número da ata, data e hora de início da reunião

• Presbíteros presentes• Presbíteros ausentes• Leitura e aprovação de atas

• Chamadas aos assuntos discutidos na reunião, com referên­cias resumidas

• Número da ata, data e hora de término da reunião.

Divisões do texto da ataAs seguintes divisões do texto da ata são sugeridas:

1. Assuntos internos• Ata anterior1

• Atividades realizadas2

• Atos pastorais3

• Visita dos presbíteros4

• Informações da tesouraria5

• Congregações6

• Junta diaconal'

• Sociedades internas8

1 Leitura e aprovação da ata anterior.2 Descrição resumida das atividades e dos eventos da igreja, ocorridos desde a última reunião do Conselho.3 Atos pastorais, como santa ceia, visitas, funerais, pregações fora do campo etc., mencionando-se local e data.4 Visitas realizadas pelos presbíteros.5 Informações e decisões relativas à tesouraria, como saldo, exame das contas etc.b Informações e decisões relativas às congregações.7 Informações e decisões relativas à junta diaconal.8 Informações e decisões relativas às sociedades internas.

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1 6 8 | Fundamentos da teologia pastoral

• Escola dominical9

• Zeladoria10

2. Assuntos externos

• Correspondências recebidas11

TranscriçõesAs transcrições de documentos, tais como Atas da Assembleia,

Estatutos etc., quando necessárias, deverão ser feitas obedecendo-

se aos mesmos critérios para confecção das atas, exceção feita às

assinaturas, que não deverão constar.

Numeração das páginasCada página será numerada seqüencialmente, sendo que a primei­

ra página de cada livro terá o número “1”.

A numeração deverá ser informada no canto superior direito

de cada página, sendo que a fonte terá o mesmo tamanho da fonte

do corpo da ata.

Os termos de abertura e encerramento não serão numerados.

AssinaturasAo final de cada ata, imediatamente após seu texto, o secretário

deverá assinar a ata, com caneta preta ou azul.

Cada página da ata será devidamente rubricada pelo pastor ti­

tular da igreja e pelo secretário, próximo ao número da página.

Os termos de encerramento e abertura serão também devida­

mente assinados e rubricados, no caso da Igreja Presbiteriana do

Brasil, conforme sua Comissão interna.

q Informações e decisões relativas à escola dominical.10 Informações e decisões relativas à zeladoria.11 Informações e decisões tomadas em função de correspondência recebida.

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Anexo 2 | 169

Inclusão dos Termos de Abertura, Encerramento e Aprovação do Livro de Atas

Termo de abertura

Na primeira página do livro de atas, constará o TERMO DE

ABERTURA, com a seguinte redação:

Termo de Abertura

Este livro, contendo (até 100) folhas eletronicamente numeradas,

e por mim rubricadas, com a rubrica (rubrica a tinta azul ou pre­ta), do meu uso, servirá para o registro das atas da diretoria execu­

tiva da (nome da igreja), sendo este livro de número (número do livro). Pr. (nome do pastor da igreja), pastor da igreja, e presidente

da diretoria executiva. (Município e data). (Assinatura do pastor com caneta azul ou preta).

Termo de Encerramento

Na última página do livro de atas constará o Termo de encerra­

mento, com a seguinte redação:

Livro de Atas nº (número do livro) do Conselho da igreja

(nome da igreja)Aberto em (data da abertura)Encerrado em (data do encerramento)

Termo de Aprovação do Livro de Atas

As observações do Concilio Superior, feitas após o exame dos Li­

vros de Atas, deverão ser confeccionadas obedecendo-se ao mesmo

padrão das atas adotado pela diretoria executiva à qual pertence

o livro.

As páginas deverão ser igualmente numeradas.

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1 7 0 | Fundamentos da teologia pastoral

Após a elaboração do Termo de Aprovação, este deverá ser assinado pelo Presidente do Concilio e, então, anexado ao Livro de Atas da diretoria executiva da igreja.

Armazenamento das atasAs atas serão armazenadas temporariamente em pastas, sendo cada página armazenada em plástico transparente.

Ao completar um total de 50 ou, no máximo, até 100 páginas, excluindo-se os Termos de Abertura e Encerramento, fica encer­rado o Livro de Atas correspondente. Dever-se-á encadernar as

páginas, com sistema de grampo fixo ou similar; a encadernação em espiral não é permitida, por permitir fácil adulteração.

Deverá ser confeccionada uma capa para o Livro de Atas, a qual deverá conter as seguintes informações:

Livro de Atas nº (número do livro) do Conselho da igreja

(nome da igreja)Aberto em (data da abertura)Encerrado em (data do encerramento)

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Sobre os autores

Edson Pereira Lopes é casado com Nívea, pai de Tales e Tai- la. É pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, em Vila Esperança, São Paulo. Diretor da Escola de Teologia da Universidade Presbi­teriana Mackenzie. Doutor em Ciências da Religião, na área de Práxis, Religião e Sociedade, pela Universidade Metodista. Mes­tre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenizie. Especialista em Estudos Brasileiros pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui Licenciatura Plena em Filosofia pelas Faculdades Associadas do Ipiranga. Bacharel em Teologia — Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Concei­ção. Docente no Mestrado de Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie. E autor dos livros: O conceito de teologia e pedagogia na Didática magna de Comenius, A interrelação da teo­logia com a pedagogia no pensamento de Comenius, Trabalho cien­tífico: teorias e aplicações, Fundamentos da teologia da salvação e Fundamentos da teologia da educação. É um dos organizadores do livro O impacto da práxis religiosa na construção de vínculos sociais. Possui artigos publicados em livros e revistas especializadas em educação e religião. É editor da Revista de Ciências da Religião História e Sociedade, do Programa de Mestrado de Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Nívea Costa da Silva Lopes é mestra em Educação, Arte e História da Cultura, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

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172 ( Fundamentos da teologia pastoral

(2004). Especialista em Estudos Brasileiros, pela Universidade

Presbiteriana Mackenzie (1999). Graduada em Pedagogia (1997),

pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atualmente cursa Psi­

cologia na Universidade Presbiteriana Mackenzie e faz parte do

grupo de pesquisa “Religiosidade e Saúde”. E membro da Igreja

Presbiteriana do Brasil em Vila Esperança. Colaborou, em coauto-

ria, na coletânea O impacto da práxis religiosa na construção de vín­

culos sociais, com o artigo “A relevância da religião na filosofia dos

séculos XVIII a XX”. Publicou, em coautoria, o artigo “A igreja e a

escola de mãos dadas: a educação como práxis teológica na conso­

lidação do presbiterianismo no Brasil”, na revista Caminhando, da

Faculdade de Teologia da Igreja Metodista.

Pérsio Ribeiro Gomes de Deus graduou-se em Medicina, pela

Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em 1977. Fez resi­

dência médica em Psiquiatria, inicialmente pela Unifesp e, poste­

riormente, pela Faculdade de Medicina de Jundiaí. E especialista

em Psiquiatria, pela Associação Paulista de Medicina, e mestre em

Ciências da Religião, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Médico psiquiatra da Secretaria da Saúde, com o cargo de dire­

tor técnico de Saúde do Hospital Psiquiátrico da Água Funda.

Professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Membro da

Associação Brasileira de Medicina Aeroespacial, tendo sido psi­

quiatra em medicina aeroespacial da Fundação Transbrasil. Com

formação musical, regência coral e orquestra, participou de diver­

sos concertos promovidos pela Secretaria da Cultura, em colabora­

ção com a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Colaborou

nas coletâneas O impacto da práxis religiosa na construção de vínculos

sociais, com o artigo “As influências dos salmos de Davi na con­

cepção de depressão pelos cristãos”; Eclipse da Alma, com o artigo

“A depressão no contexto da psiquiatria e da religião”. Publicou

o artigo “Um estudo da depressão em pastores protestantes”, na

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Sobre os autores | 173

Revista de Ciências da Religião: história e sociedade, da Universi­

dade Presbiteriana Mackenzie.

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