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Sumário
Agradecimentos 7
Prefácio 9
Introdução 15
Capítulo 1
Distinção entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral” 19
Capítulo 2
O ministério pastoral à luz da Bíblia 49
Capítulo 3
Principais desafios enfrentados no ministério pastoral 83
Capítulo 4
As atividades exercidas pelo pastor na vida da igreja 113
Considerações finais 143
Bibliografia consultada 147
Bibliografia de consulta sugerida 155
Anexo 1 — Modelo de estatuto de igreja evangélica 159
Anexo 2 — Redação de atas 165
Sobre os autores 171
Agradecimentos
A Deus, sustentador de nossas vidas.
À Universidade Presbiteriana Mackenzie, por nos proporcionar
o tempo de pesquisa necessário à elaboração desta obra.Aos nossos colegas de docência da Escola Superior de Teologia
da Universidade Presbiteriana Mackenzie.Ao doutor Manassés Claudino Fonteles, Magnífico Reitor da
Universidade Presbiteriana Mackenzie, pelo companheirismo e
amizade.Ao reverendo Roberto Brasileiro da Silva, digno presidente do
Supremo Concilio da Igreja Presbiteriana do Brasil, amigo e exem
plo de ministério pastoral.Aos pastores verdadeiramente comprometidos com o ministé
rio pastoral.
À Editora Mundo Cristão, por tornar possível esta produção literária.
A todos, nossos mais sinceros agradecimentos.
Prefácio
Atividade pastoral é vocação ou profissão? Qual a natureza do
ministério pastoral? Onde nasce a autoridade espiritual do pastor? O que a Bíblia diz sobre a vida e a obra do pastor? Quais são as lu
tas enfrentadas pelo pastor e sua família? Quais as respostas bíblicas
para esses problemas? Como o pastor enfrenta a depressão? Como vencer o estresse no ministério? Quais os campos de atuação pas
toral? Como o pastor deve agir e interagir com as ovelhas? Como o pastor deve comportar-se numa visita? Como deve aconselhar suas
ovelhas? Essas e outras questões encontram-se respondidas nesta obra com profundo embasamento bíblico e rica experiência pastoral.
Até o reconhecimento dos cursos de graduação e pós-graduação em teologia, o exercício da profissão do teólogo identificava- se com a vocação pastoral, já que a igreja era seu nicho prioritário
de trabalho. Isto é, a práxis teológica encontrava-se identificada
com a práxis pastoral. No entendimento de alguns, teologia prática e teologia pastoral são sinônimas. A partir dessa premissa, torna-
se difícil considerar a teologia como profissão. Identificada com a
vocação pastoral, resta à teologia contentar-se, quando muito, em considerar-se uma arte. A partir desta concepção, parece muito
difícil considerar o ministério pastoral como profissão, como fazem europeus e norte-americanos.
O reconhecimento oficial dos cursos de teologia pelo sistema MEC/Inep no Brasil e a crescente discussão sobre a regulamentação
10 | Fundamentos da teologia pastoral
e o reconhecimento oficial da profissão do teólogo esquentaram o
debate sobre a natureza divina, o sentido humano e as dificuldades
inerentes à vocação pastoral.
Na cultura brasileira, a atividade pastoral confunde-se com a vo
cação religiosa. O protestantismo passou, a partir de Lutero, a con
siderar como vocação divina todo trabalho que seja realizado para a
glória de Deus. No Brasil, contudo, vocação divina é vocação pasto
ral, que não se confunde com trabalho secular. A profissionalização
da Teologia e do teólogo certamente deverá resolver a tensão entre
vocação secular (profissão) e vocação divina (ministério pastoral).
Esse é um problema que cabe à Igreja e à sociedade resolverem.
A vocação religiosa no Brasil foi calcada, à luz da tradição cris
tã, no ideário de vocação espiritual, motivo pelo qual pertence a
Deus e ao seu povo, que é a Igreja: “Ninguém toma esta honra
para si mesmo, mas deve ser chamado por Deus, como de fato o
foi Arão” (Hb 5:4). Registre-se também que a sociedade brasileira
não reconhece a atividade pastoral como profissão, pois tal ativi
dade não está incluída no elenco das categorias profissionais. Em
1990, uma igreja presbiteriana do município do Rio de Janeiro
resolveu registrar o pastor como seu empregado. Como não havia essa categoria profissional prevista em lei, ele foi enquadrado na
de coveiros e afins!
Neste cenário, constitui relevante contribuição aos estudos do
campo da teologia pastoral no Brasil, a obra Fundamentos da teo
logia pastoral, dos doutores Edson Pereira Lopes e Pérsio Ribeiro
Gomes de Deus e da mestra Nívea Costa da Silva Lopes. Neste
volume reuniram-se a frutífera experiência pastoral do dr. Edson
Lopes, a profícua prática psiquiátrica do dr. Pérsio Ribeiro Gomes
de Deus no atendimento a religiosos e vocacionados das grandes
denominações cristãs, e a sensibilidade do olhar feminino da edu
cadora e esposa de pastor Nívea Costa da Silva Lopes.O dr. Edson Lopes, pastor presbiteriano, escritor, autor de vá
rios livros e artigos, conferencista, educador, atual diretor da Escola
Prefácio | 11
Superior de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie,
organizou esta obra a partir de vários ângulos privilegiados: rica
experiência pastoral, reconhecida competência acadêmica e pes
quisa séria, aliadas à genuína piedade cristã. O resultado aparece
num texto edificante para todos aqueles que se acham envolvidos
com Deus em sua obra.
O psiquiatra cristão dr. Pérsio Gomes de Deus é pioneiro no
Brasil no estudo, pesquisa e abordagem da depressão em suas rela-
ções com a religião. É um médico dedicado ao cuidado de pastores
e respectivas famílias. Sua vivência na clínica e na pesquisa possi
bilitou o desenvolvimento de uma visão, além de bíblica, também
holística dos problemas enfrentados pelo pastor em seu ministério,
bem como das estratégias para enfrentá-los e vencê-los.
A educadora Nívea Costa da Silva Lopes é mestra em Educa
ção, Arte e História da Cultura, escritora, conferencista e esposa de
pastor. Nesta obra, ela contribui com seus profundos conhecimen
tos do ministério pastoral, a partir do olhar privilegiado de quem
acompanha o trabalho pastoral e, nessa posição, escuta e busca
de Deus soluções para o ministério como trabalho dele e para ele.
A experiência da educadora possibilitou ampliar a compreensão do
ministério pastoral e sua dimensão transformadora e terapêutica.
A contribuição singular de cada um desses autores para a com
preensão da teologia da práxis e da vivência pastoral certamente enriquecerá o debate sobre o campo de atuação bíblico-pastoral no
Brasil e contribuirá para o sucesso, e mesmo para a saúde espiritual,
física e mental, de inúmeros pastores e suas famílias, em todas as
denominações. Nos escritos desses autores podem ser lidas as se
guintes palavras de sabedoria:
Essa é outra significativa contribuição do estudo aqui contido, pois ele foi enriquecido com a visão de um pastor que conjuga a Psiquiatria e a Psicologia ao exercício de um pastorado efetivamente atuante em uma igreja local, o que lhe permite vivenciar a dinâmica das mais diversas atividades eclesiásticas. Essas três
12/ndamentos da teologia pastoral
áreas conjugadas trazem importantes reflexões sobre saúde, que podem levar o pastor a cuidar de si mesmo, da sua família e da saúde espiritual de sua igreja.
A opção dos autores por uma visão bíblica do ministério pas-
toral reforça a necessidade de fidelidade a Deus e à sua Palavra
no exercício das lides do pastor e traz a lume a responsabilidade
daqueles que exercem esse ministério para com o povo de Deus:
Vale ressaltar que o foco principal deste estudo é compreender o ministério pastoral tendo como fundamento as Escrituras Sagradas. Muitos pastores intentam submeter as Escrituras aos seus próprios exames, entretanto, elas é que devem colocar à prova o trabalho pastoral mediante o exame das nossas concepções mi- nisteriais, porque são as Escrituras que norteiam todo o ofício e o papel do pastor.
A atualidade desta obra também é característica importante.
Com uma visão bíblica madura e equilibrada, servirá de guia para
um posicionamento pastoral comprometido com a missão divina
— que lhe é inerente —, frente aos debates que estão sendo trava
dos neste campo no Brasil contemporâneo. Uma coisa é a vocação
pastoral, outra, é a profissão de teólogo.
No capítulo um, Distinção entre a “profissão de teólogo" e a “vocação pastoral, essa diferença é demonstrada com densidade, sim
plicidade e clareza. Aqui, as genuínas contribuições dos autores
certamente recaem sobre os esclarecimentos das questões relacio
nadas à distinção necessária entre a nova figura do profissional da
teologia e a arquetípica imagem do pastor. Vejamos o posiciona
mento dos autores nesta direção:
A contribuição deste livro também está em sua atualidade, pois traz a lume uma das discussões mais recentes, em torno da “profissão de teólogo” e seu campo de atuação. Por não haver uma distinção clara entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral” é que ocorrem profundas confusões quanto ao entendimento dos
Prefácio | 13
dois campos de atuação. Sendo assim, um capítulo foi reservado para tratar da distinção conceituai e prática entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral”.
No capítulo dois, O ministério pastoral à luz da Bíblia, os autores
trabalham com sólida fundamentação bíblica e teológica sobre a na
tureza divino-humana do trabalho pastoral. Discorrem sobre as ne
cessárias distinções entre os diversos ministérios dados por Deus à sua
igreja; a seguir, fazem acurada reflexão sobre a natureza, a beleza e
as tentações secularizantes do exercício desse ministério na comple
xa sociedade contemporânea; depois, tratam biblicamente do labor
pastoral como vocação, no sentido paulino das Escrituras Sagradas:
A partir das palavras paulinas, reiteramos o entendimento de que o chamado para o pastorado não é vocação que vise à satisfação individual, mas um chamado divino, isto é, não depende do indivíduo, mas de quem o chama e daqueles para os quais o indivíduo é enviado. Dessas palavras de Paulo também podemos extrair o ensino de que a vocação não parte do ser humano e de sua própria decisão. Sua escolha não é uma preferência entre alternativas, ao contrário, o chamado de Deus é inconfundível, ecoando como imperiosa intimação feita por Deus, de maneira que não resta opção, senão obedecer.
O capítulo três, Principais desafios enfrentados no ministério pasto
ral, enriquece a visão desse ministério com uma profunda reflexão
sobre a saúde espiritual, mental e física do pastor. Temas como
depressão, estresse, vida devocional e cuidados pessoais são apre
sentados sob a perspectiva terapêutica, com orientações bíblicas,
psiquiátricas e psicológicas para a preservação da qualidade de vida
do pastor e de sua família.
Destacamos que há caminhos para a prevenção e tratamento do estresse e da depressão no ministério pastoral. Um desses caminhos é o pastor de fato confiar no poder de Deus e entregar todas as suas atividades nas mãos do Senhor (SI 37:5). Outros caminhos
1 4 Fundamentos da teologia pastoral
são: fazer exames periódicos e não se esquecer da prática de ativi- dades físicas e lúdicas; tomar cuidado para não ser relapso com as coisas de Deus, mas também ter consciência das suas limitações pessoais. Lembremos, ainda, que o Bom Pastor é um só e já deu sua vida pelas ovelhas, portanto, os demais pastores não precisam cumprir essa orientação em sentido literal.
Já no capítulo quatro, As atividades exercidas pelo pastor na vida da
igreja, os autores demonstram que o exercício do ministério pastoral
é, acima de tudo, o exercício da vocação e da sabedoria divina para
o cuidado e administração da igreja e de seu rebanho. Assim, temas como o ensino fiel das Escrituras, orientações e aconselhamento pastoral, visitas aos membros da igreja como parte integrante do mi
nistério pastoral, administração e preparo da liderança eclesiástica são abordados a partir dos ensinos valiosos da Bíblia, bem como da
prática pastoral consagrada por uma tradição cristã de mais de dois mil anos, que tem como objetivo final a glória de Deus:
O fundamental é que ele tenha flexibilidade e sabedoria para aproveitar o melhor dos mais diferentes estilos de pessoas para que, sob sua liderança, o nome de Deus seja glorificado.
Trata-se de uma obra escrita com sabedoria, conhecimento, temor e tremor diante de Deus. Foi embasada por seus autores na ex
periência cotidiana da caminhada com Deus no meio do seu povo. Destina-se a pastores, líderes religiosos, estudantes de teologia, leigos e a todos aqueles que buscam conhecimento e crescimento espiritual para melhor servir e glorificar o nome de Deus por meio do serviço do Senhor!
São Paulo, 19 de setembro de 2010
Dr. Antônio Máspoli de Araújo Gomes
I n t r o d u ç ã o
Ao iniciarmos este livro E, após pesquisa prévia, percebemos que
há significativo material em língua portuguesa sobre teologia pas
toral, assim, a questão que mais nos incomodou foi: para que mais
um livro sobre teologia pastoral? Essa indagação, em vez de de nos
convencer de que não havia necessidade de outra obra que tratasse
do assunto, conduziu-nos para o caminho inverso, por acreditar
mos que o ministério pastoral é “vital para a saúde de toda igreja”
e que Deus começa sua “obra de reforma e renovação da vida igre
ja” por meio dos seus pastores.2
Vale ressaltar que o foco principal deste estudo é compreender
o ministério pastoral tendo como fundamento as Escrituras Sa
gradas. Muitos pastores intentam submeter as Escrituras aos seus
próprios exames, entretanto, elas é que devem colocar à prova o
trabalho pastoral, mediante o exame de nossas concepções minis
teriais, porque são as Escrituras que norteiam todo o ofício e o
papel do pastor.
Quando nos esquecemos desse princípio fundamental, permi
timos o surgimento de líderes que se autodenominam “pastores”,
1J. Armstrong, Semper Reformanda: o papel pastoral na reforma moderna, p. 22.2 Idem, p. 35.
16 | Fundamentos da teologia pastoral
mas se enquadram mais no perfil de empresários, artistas,3 psicó
logos, filósofos ou advogados, por enfatizarem as coisas terrenas e
a busca pelo poder, deixando de lado o princípio bíblico e a vida
com Deus — o único meio para alcançar o cerne do verdadeiro
cristianismo.
As Escrituras nos ensinam que muitos se denominam pastores,
mas não o são de verdade. Em vez disso, podem ser enquadrados
no texto de João 10:12: “Assim, quando vê que o lobo vem, aban
dona as ovelhas e foge. Então o lobo ataca o rebanho e o dispersa”.
Também são retratados em Isaías 56:11: “São cães devoradores,
insaciáveis. São pastores sem entendimento; todos seguem seu
próprio caminho, cada um procura vantagem própria”. O presente
estudo, a partir dessa perspectiva, é relevante porque sublinha as
características exigidas dos que almejam o pastorado e, com isso,
explicita a matéria aos que se valem do título de pastor apenas para
seus próprios interesses.
A contribuição deste livro também está em sua atualidade, pois
traz a lume uma das discussões mais recentes, em torno da “profis
são de teólogo” e seu campo de atuação. Por não haver uma dis
tinção clara entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral”
é que ocorrem profundas confusões quanto ao entendimento dos
dois campos de atuação. Sendo assim, um capítulo foi reservado
para tratar da distinção conceituai e prática entre a “profissão de
teólogo” e a “vocação pastoral”.
Em outro momento, reflete-se a respeito da concepção de
MacArthur, segundo quem o ministério pastoral é um privilégio
dado por Deus a algumas pessoas e é uma das “responsabilida
des mais pesadas que alguém pode assumir”.4 A luz dessas consi
derações, deparamo-nos com um alto índice de adoecimento de
3 Para aprofundar a leitura ler: Edson Pereira Lopes; Elaine Rezende. Promoção do Reino de Deus: o marketing religioso no contexto da Igreja Brasileira.4 J. MacArthur Júnior, Redescobrindo o ministério pastoral, p. 13.
Introdução | 17
pastores,5 o que, por extensão, pode acarretar o adoecimento da sua família e da igreja que pastoreia. Essa é outra significativa contribuição do estudo aqui contido, pois ele foi enriquecido com a
visão de um pastor que conjuga a Psiquiatria e a Psicologia ao
exercício de um pastorado efetivamente atuante em uma igreja
local, o que lhe permite vivenciar a dinâmica das mais diversas atividades eclesiásticas. Essas três áreas conjugadas trazem importantes reflexões sobre saúde, que podem levar o pastor a cuidar de
si mesmo, da sua família e da saúde espiritual de sua igreja.
Registramos, por fim, que a presente reflexão tem como finalidade motivar e estimular o pastor a labutar com esmero em suas
atividades de aconselhamento, visitas e acompanhamento administrativo da igreja, considerando sempre ICoríntios 15:58: “Por
tanto, meus amados irmãos, mantenham-se firmes, e que nada os abale. Sejam sempre dedicados à obra do Senhor, pois vocês sabem
que, no Senhor, o trabalho de vocês não será inútil.”.Diante do que foi dito, cabe-nos adentrar o conteúdo do nosso
estudo, iniciando com as questões em torno da distinção entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral”.
5 M. Stefano, Um drama atrás dos púlpitos. Revista Eclésia. Ano 14, ed. 143, p. 40-48.
C a p í t u l o 1
D i s t í n ç ã o e n t r e a “ p r o f i s s ã o d e t e ó l o g o ” e a " v o c a ç ã o p a s t o r a l ”
A discussão em torno DA “profissão de teólogo” é uma reflexão an-
tiga entre os teólogos brasileiros dos mais diferentes segmentos reli
giosos. Entretanto, ela foi intensificada, sobretudo nos últimos anos,
por causa do projeto de lei 114/05, de autoria do senador Marcelo
Crivella, e do projeto de lei 2.407/07, do ex-deputado Victorio Galli,
que têm resultado em profundos debates. A temática é tão séria
que, nos trâmites de exame e aprovação desses projetos no Senado,
até o momento da escrita deste livro, todos os relatores da Comis
são de Assuntos Sociais do Senado haviam renunciado à relatoria,
pela qual se levaria a voto o parecer sobre a aprovação ou não do
projeto, fazendo caminhar a decisão acerca do assunto.
Há algumas razões para tal procedimento. Uma delas é que o
assunto requer prudência e habilidade na busca da satisfação do
anseio dos líderes religiosos brasileiros. Pelo fato de haver gran
de diversidade religiosa no Brasil, o assunto por si só é polêmico,
e são poucos os que se aventuram nessas tratativas. Some-se a
isso a já citada dificuldade de se compreender a diferença entre
a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral”. Por não se fazer
essa distinção com clareza, há a preferência por não se utilizar o
termo “profissão”, porque isso poderia denotar interesse exclusivo
na busca do sustento. Com isso, generalizou-se o emprego de
20 I Fundamentos da teologia pastoral
“vocação pastoral” como vida voltada para os propósitos de uma
confissão de fé, com pouco foco no sustento financeiro.1
A partir de tais perspectivas é que este capítulo se torna re
levante. Ainda que esteja delimitado ao viés do protestantismo,
pretende-se contribuir para tal discussão indagando, sobretudo, se
é possível compreender de forma clara a distinção entre “profissão
de teólogo” e “vocação pastoral”. Com esse objetivo, fundamenta
mos nossas reflexões nos dois citados projetos de lei.
Começando pelo projeto de lei 114/05, do senador Crivella
(PRB-RJ), verifica-se que há, por parte do seu proponente, a tôni
ca de reconhecer o não diplomado como teólogo, desde que esteja
“há mais de cinco anos” no exercício da teologia, como se pode ler
no artigo lu e seu inciso III:
[...] O exercício da profissão de Teólogo [...] é assegurado [...] aos que, à data da publicação desta Lei, embora não diplomados nos termos dos incisos anteriores, venham exercendo efetivamente, há mais de cinco anos, a atividade de Teólogo, na forma e condições que dispuser o regulamento da presente Lei.2
A proposição “exercício da profissão de Teólogo”, nesse texto,
parece inadequada e mais aplicável à atividade do líder religioso,
pelo menos no que diz respeito ao exercício da referida profissão
de teólogo no âmbito das instituições acadêmicas, tendo em vista
a exigência de diplomação reconhecida pelo Ministério da Educa
ção (MEC). Além disso, a legislação que dispõe sobre o reconhe
cimento dos cursos de teologia no Brasil impõe o cumprimento
das exigências da Capes aos programas de pós-graduação, que,
em sua maioria, são os programas de pós-graduação em Ciências
da Religião.
1 C. H. Spurgeon, Lições aos meus alunos, p. 40.2 M. Crivella, projeto de lei 114/2005.
Distinção entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral” | 21
Essa inadequação de terminologias fica mais acentuada à luz
do artigo 2e, que dispõe sobre a competência do teólogo nos se-
guintes termos:
I - ministrar o ensino da Teologia, desde que cumpridas as exigências legais;II - elaborar, supervisionar, orientar, coordenar, planejar, programar, implantar, controlar, dirigir, executar, analisar ou avaliar estudos, trabalhos, pesquisas, planos, programas e projetos atinentes à realidade científica da religião;III - assessorar e prestar consultoria a pessoas físicas e jurídicas, públicas ou privadas, relativamente à realidade científica da religião;IV - participar dos trabalhos de elaboração, supervisão, orientação, coordenação, planejamento, programação, implantação, direção, controle, execução, análise ou avaliação de estudo, trabalho, pesquisa, plano, programa ou projeto global, regional ou setorial, atinente à realidade científica da religião.3
Notamos, no artigo 2a, o perfil rigorosamente acadêmico do
teólogo, pois a este são atribuídas competências como as de reali
zar e orientar pesquisas científicas. Além disso, o texto reporta-se
claramente às exigências legais, o que vale dizer o citado diplo
ma reconhecido pelo MEC. Há, pois, clara divergência entre as
disposições do primeiro e as do segundo artigo do projeto de lei
em questão.
O fato de Crivella ter como foco as atividades do líder reli
gioso, apesar de utilizar o termo “teólogo”, fica evidenciado em
face de sua afirmação de que, acima de qualquer outra profissão,
a profissão de fé exige muito mais de vocação e devoção do que
de formação acadêmica.4 Nesse sentido, a alteração no documen
to do termo “teólogo” para “líder religioso” poderia resultar numa
3 Idem.4 Instituto Humanitas Unisinos. Projetos reconhecem líder religioso como “teólogo , mesmo sem curso.
22 | Fundamentos da teologia pastoral
compreensão mais adequada do projeto lei em debate, mediante o
devido destaque das competências e exigências legais aplicáveis ao
líder religioso quando do exercício de atividades acadêmicas.
No projeto de lei 2.407/07, do ex-deputado Victorio Galli
(PMDB-MT), o artigo 22º registra a falta de diferenciação entre as
atividades do teólogo e do líder religioso:
Teólogo é o profissional que realiza liturgias, celebrações, cultos e ritos; dirige e administra comunidades; forma pessoas segundo preceitos religiosos das diferentes tradições; orienta pessoas; realiza ação social na comunidade; pesquisa a doutrina religiosa; transmite ensinamentos religiosos, pratica vida contemplativa e meditativa e preserva a tradição.5
A partir das palavras de Galli, observamos que o ex-deputado
sublinha ser o profissional de teologia aquele que está diretamente
ligado às dinâmicas de sua tradição religiosa. Esse profissional da
teologia é o que realiza cerimoniais litúrgicos, administra, orienta,
transmite ensinamentos de sua confessionalidade, mas, sobretudo,
é quem “pratica uma vida contemplativa e meditativa e preserva
a tradição”.
À semelhança da preocupação de Crivella, também Galli trata
do teólogo, mas, no bojo de sua discussão está o líder religioso,
preocupado em cuidar dos seus fiéis, servindo-lhes de exemplo de
vida contemplativa e meditativa; não há necessariamente referên
cia ao teólogo. Segundo o projeto de Galli, para ser teólogo basta
ria praticar vida contemplativa ou realizar cerimoniais litúrgicos,
por exemplo.
Fato é que esses dois projetos de lei em tramitação no Congres
so têm causado polêmica pela liberalidade com que conferem o
título de “teólogo” a líderes religiosos. Com a proposta desses pro
jetos, o número de teólogos brasileiros passaria de um milhão, pela
5 V. Galli, projeto de lei 2.407/07■
Distinção entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral” | 23
estimativa do Conselho Federal de Teólogos,6 com base em dados do IBGE. Um dos eminentes membros da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (Soter),7 Afonso Ligório Soares, afirma que
os projetos são inconstitucionais porque interferem na liberdade
religiosa e na liberdade da igreja de se definir internamente, pois
é ela quem decide se determinada pessoa pode ser sacerdote ou
pastor, e não o Estado.8
Para compreendermos melhor esses documentos, é relevante
discorrer sobre a tramitação e a situação desses projetos de lei, con
forme será visto a seguir.
A TRAMITAÇÃO DO PROJETO DE LEI 114/05 NO SENADO FEDERAL
Em 13 de abril de 2005, o senador Marcelo Crivella, pastor licencia
do da Igreja Universal do Reino de Deus, enviou ao Senado Federal
0 projeto de lei 114/05, que dispõe sobre o exercício da profissão de
teólogo.9 O documento foi protocolado e encaminhado à Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal (CAS).10 Baixado à Comis
são, foi designado seu relator o senador Francisco Pereira. Dado o prazo para emendas ao projeto de lei, até o dia 25 de abril de 2005
não havia qualquer manifestação a esse propósito.11 Em 26 de abril
de 2005, o relator do processo senador Francisco Pereira apresentou minuta com parecer favorável à matéria, indicando com isso
que estava pronta para pauta.
No dia 29 de abril de 2005, reunida a Comissão de Assuntos Sociais, foi aprovado o Requerimento de Audiência Pública, con
vidando o secretário de Ensino Superior, um representante da
6 Senado Federal. Divergências marcam debate sobre profissão de teólogo.1 Para conhecimento da Soter, acessar: <www.soter.org.br>.8 Instituto Humanitas Unisinos. Projetos reconhecem líder religioso como “teólogo .9 Senado Federal. Projeto de lei na 114/2005.10 Idem, DSF 9049-9050.11 Senado Federal. Secretaria-geral da mesa. Atividade legislativa - Tramitação de matérias, <www.senado.gov.hr>. Acesso em: 3 ahr. 2010.
24 | Fundamentos da teologia pastoral
Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), um representante das igrejas evangélicas e um teólogo representante das
igrejas protestantes para instruir a matéria.
A matéria foi discutida novamente em 29 de março de 2006,
tendo um novo relator, o senador Magno Malta (PR-ES). Em 4 de
abril de 2006, o citado senador, à semelhança do senador Francisco
Pereira, devolveu o processo com minuta de parecer favorável à
aprovação do projeto.
Em 27 de dezembro do mesmo ano, o projeto continuava a tra
mitar e a matéria voltou à Comissão de Assuntos Sociais. Em 29
de dezembro de 2006, o projeto aguardava a instalação da Comis
são, que ocorreu em 12 de março de 2007. No dia Ia de outubro
de 2008, a Presidência comunicou ao plenário o recebimento de
manifestação da Associação Nacional dos Pesquisadores de Pós-
Graduação e Pesquisa em Teologia e Ciências da Religião do Esta
do de São Paulo sobre o projeto de lei.12 O expediente foi juntado
ao processo, que voltou à Comissão de Assuntos Sociais.13
O senador Magno Malta desligou-se da Comissão em 4 de mar
ço de 2009, e a CAS ficou à espera de um novo relator. Em 8 de
abril de 2009, o senador Paulo Paim (PT-RS) assumiu a relato-
ria da Comissão. Em 6 de maio, reunida a Comissão, foi aprovado
o Requerimento CAS na 30, de autoria do senador Paulo Paim,
para realização de audiência pública com a finalidade de instruir
o projeto de lei 114/05. Em 17 de junho, a Comissão aprovou o
requerimento CAS n- 48, de autoria do senador Paulo Paim,14 para
12 Diário do Senado Federal, 2 out. 2008, p. 38-680.13 <www.senado.gov.br/sf/atividade/materia/detalhes.asp>. Acesso em: 3 abr. 2010.14 Vale ressaltar que o senador Paim já havia se reunido com membros da Soter, em 2008. O encontro foi noticiado sob o título Reunião com o sen. Paulo Paim sobre os projetos “Profissão teólogo”: Aconteceu no último dia 14 de agosto de 2008 uma audiência com o Senador Paulo Paim, no Centro de Integração Paulo Paim -CIPP Canoas/RS. Participaram 14 representantes de Instituições de Ensino Superior para a Formação de Teólogos da Grande Porto Alegre, sob a coordenação
realização de audiência pública com a finalidade de obter subsídios
para instruir os senadores a respeito do referido projeto de lei.
Cabe abrir parênteses no relato sobre os trâmites do projeto de
lei 114/05 para observar que, em 12 de agosto de 2009, o assunto
foi objeto de decisão também no âmbito da Assembleia Legislativa
do Estado de São Paulo. De autoria do deputado estadual Conte
Lopes, primeiro vice-presidente e presidente em exercício, o Ofí
cio SGP na 6.356/09 registrava ter sido aprovada moção para de
senvolvimento e trâmites de “legislação visando a regulamentar a
profissão de teólogo, exercida por bacharéis graduados em cursos
regulares de teologia”. O ofício foi processado e encaminhado à
Comissão de Assuntos Sociais.
Voltando aos trâmites do projeto de lei 114/05, em 10 de de
zembro de 2009 foi realizada audiência pública para instrução da
matéria, conforme Requerimento CAS n" 48, com a presença dos
seguintes convidados: Darcy Cordeiro, vice-presidente do Conse
lho Interconfessional para o Ensino Religioso de Goiás (Ciergo);
Valmor da Silva, vice-presidente da Associação Brasileira de Pes
quisa Bíblica (Abib); João Batista Isaquiel Ferreira, presidente da
Distinção ENTRE a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral” | 25
do Regional Sul da Soter e apoio da Diretoria Nacional da Soter. Constou da Pauta a apresentação da Nota de Manifestação da SOTER nacional em oposição aos dois projetos de lei de regulamentação da profissão de teólogo em tramitação na Câmara e no Senado Federal, conforme nota pública divulgada em 9 de julho de 2008. Em seguida, foi solicitado ao Senador Paim auxílio a não aprovação desses projetos. De modo especial, tratou-se do projeto 114/2005, apresentado pelo Senador Marcelo Crivella. O Senador Paim compreendeu que a posição dos membros da SOTER e demais Teólogos/as e apontou dois encaminhamentos: a primeira iniciativa será tratar da questão junto aos demais Senadores e, principalmente, com o Senador Marcelo Crivella, na tentativa de convencê-lo a retirar o projeto. Caso não haja sucesso, o Senador Paulo Paim, de imediato, solicitará uma audiência pública no Senado para novamente colocar o projeto em debate. Essa audiência deverá acontecer com a presença de representantes da SOTER e instituições que compartilham da posição contrária aos projetos de lei. No momento, o projeto de lei tem parecer favorável e está, desde março do corrente, pronto para ser votado, <www.gper.com.br/newsletter.php>. Acesso em: 3 abr. 2010.
26 | Fundamentos da teologia pastoral
Convenção dos Ministros das Igrejas Assembleias de Deus, Mi
nistérios de Missões e Igrejas Filiadas (Cobramad); Isaías Lobão
Pereira Júnior, professor da Faculdade Evangélica de Brasília.
Nessa reunião também houve divergências em relação ao pn>
jeto de lei 114/05, e o relator da matéria, senador Paulo Paim, disse
que não via “a mínima condição” de o projeto constar da pauta
da reunião subsequente da Comissão. Ele acrescentou que, por se
tratar de tema “explosivo”, seria preciso realizar mais audiências
públicas.15 Segundo Icassati,16 Paim vinha recebendo muitos e-mails
pedindo, inclusive, que a profissão não fosse regulamentada, dian
te do que se previu que a matéria só estaria pronta para entrar na
pauta da CAS em fevereiro ou março de 2010. A presidente da
CAS, senadora Rosalba Ciarlini (DEM-RN), concordou com a am
pliação do debate devido à complexidade do tema e à diversidade de
religiões ainda por ouvir.
Darcy Cordeiro apontou a necessidade de se fazer melhor dis
tinção entre o bacharelado e a licenciatura. Ele explicou que o
bacharel em Teosofia está devidamente conceituado no projeto
como aquele que faz a reflexão sobre a fé e acredita na revelação
cristã. No caso da licenciatura não, pois esta se refere ao professor
de Teologia, que é licenciado em ensino da religião e é o cientista
que aborda as ciências que estudam o fenômeno religioso, sem
vinculação a uma religião específica. O representante da Ciergo
ainda discordou do inciso III do artigo l2, que incorpora os teólo
gos não diplomados que tenham exercido a atividade há mais de
cinco anos.
Isaías Lobão, por sua vez, defendeu a permanência daquele in
ciso. Ele disse que os teólogos sem formação acadêmica estão na
labuta diária, mas não deixam de buscar a educação formal que
15 R. Icassati, Divergências sobre regulamentação da profissão de teólogo leva decisão para 2010.16 Idem.
Distinção entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral” | 27
lhes falta. João Batista lembrou que peões de rodeio e guardadores
de carros já são profissionais regulamentados e disse que a apro
vação dessa lei seria o resgate de uma dívida com quem batizou,
casou, aconselhou, consolou e esteve ao lado das pessoas na hora
da morte. Batista pediu, assim, que o projeto de lei tramitasse em
regime de urgência.
Valmor da Silva afirmou que, por ser “amplo e confuso”, o pro
jeto de lei poderia prejudicar os teólogos, em vez de beneficiá-los.
Ele alertou para o fato de que, antes de regulamentar, é preciso
definir melhor o que é a profissão, lembrou que a licenciatura em
Teologia não existe no Brasil e classificou como “problema” os
cursos livres que não são regulamentados. Ele também repudiou o
inciso que dispensa diploma para quem exerce a profissão há mais
de cinco anos. “Nós rejeitamos veementemente. Sem diploma, de
jeito nenhum. Tem que ter preparo acadêmico”,17 afirmou.
Observa-se, a partir deste breve panorama, que as divergên
cias entre as mais diferentes manifestações religiosas e teológicas
resultaram na imprevisibilidade da votação da matéria, ainda que,
na Comissão, houvesse sido prevista para fevereiro ou março de
2010. Na verdade, o que ocorreu foi que o senador Paulo Paim de
clinou da relatoria, de maneira que, enquanto não fosse nomeado
outro relator para a Comissão, as tratativas ficariam sobre a mesa
do Senado.
Nesta polêmica, que tende a crescer nos próximos anos, obser
vamos a preocupação de se reconhecer a “profissão de teólogo”.
A questão crucial é que, por não haver clara compreensão desse
termo, ora ele é aplicado a atividades próprias de um “líder religio
so”, ora a atividades próprias das funções acadêmicas.
No bojo dessas discussões, notamos a necessidade de propor-se
uma distinção entre o “teólogo” e o “líder religioso”, este último
17 Idem.
28 | Fundamentos da teologia pastoral
com foco no pastor. Assim sendo, devemos começar pela organiza
ção dos cursos de teologia no Brasil.
Uma abordagem dos cursos de teologia no Brasil
Desde longa data, há vários cursos de teologia no Brasil. A maioria
funcionava na condição de seminários teológicos, cuja finalidade
sempre foi formar clérigos e líderes religiosos. Por razões óbvias
de tempo e espaço, destacamos que a reflexão enfoca os cursos de
teologia no Brasil, reconhecidos ou autorizados pelo Ministério da
Educação (MEC).Esses cursos têm seu histórico, sobretudo, a partir da discussão
em torno do Decreto-Lei 1.051, de 21 de outubro de 1969, que previa a possibilidade do aproveitamento de créditos de disciplinas para os cursos de licenciatura em Filosofia, feitos em seminários maiores de Teologia, dispensando-se a exigência de vestibular. O Parecer 1.009/80, do Conselho Federal de Educação, sublinhou
que os formados oriundos desses seminários poderiam usufruir do
disposto no Decreto-Lei 1.051/69, sob as seguintes condições, nos
termos do texto original:
a) que seu ingresso nos cursos mantidos por essas instituições se deu após a conclusão dos estudos do 2- grau ou equivalentes; b) que tais cursos tiveram a duração de dois anos, no mínimo; c) que os interessados os concluíram, exibindo, para tanto, os competentes diplomas; d) que nesses cursos estudaram, pelo menos, duas disciplinas específicas do curso de licenciatura que pretendam freqüentar. 2. Os ‘exames preliminares’ a que se refere o mencionado diploma terão por objeto a disciplina ou disciplinas indicadas na alínea ‘d’ do número anterior, e deverão: a) ser realizados ao mesmo nível em que se efetuam para os que concluem o estudo dessas disciplinas, ou seja, ao nível da licenciatura;b) cobrir a mesma área de conhecimento e o mesmo conteúdo programático adotado pela instituição responsável pelos exames. 3. O estudo das demais disciplinas do currículo pleno do curso de licenciatura far-se-á de acordo com a carga horária de praxe
Distinção entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral” | 2 9
na instituição em que o interessado se matricular, sendo vedado qualquer aproveitamento de estudo dessas disciplinas. 4. Não terão validade os diplomas expedidos sem o cumprimento total das exigências acima enumeradas.18
Na mesma reunião em que foi aprovado o Parecer 1.009/80, foi
emitido o Parecer da Câmara de Educação Superior/CES 296/99,
elaborado pelo conselheiro Jacques Velloso, que interpretava a
matéria, fundamentando-a, segundo ele, na nova Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Lei nº 9.394/1996, da seguinte maneira, tam
bém nos termos do texto original:
Por oportuno, deve-se tratar aqui dos estudos realizados em Seminários Maiores, Faculdades Teológicas ou instituições equivalentes, de qualquer confissão religiosa, os quais podiam ser aproveitados em cursos de licenciatura, sob certas condições. O Decreto-Lei 1051/69 dispunha sobre tal aproveitamento, permitindo que os portadores de diplomas daqueles cursos, na hipótese de existência de vagas em curso de licenciatura, nestes ingressassem com dispensa de vestibular, desde que: houvessem obtido aprovação em exames preliminares de disciplinas originalmente estudadas no curso de Teologia; constassem estas disciplinas do currículo da licenciatura pretendida. O referido decreto-lei, posteriormente interpretado pelo Parecer 1.009/80 do antigo CFE, não foi recepcionado pela nova LDB. Aquele decre- to-lei invocava os fundamentos da Indicação 11, de 11.7.1969, do extinto Conselho Federal de Educação, a qual por seu turno fundava-se na Lei 5.540/68, explicitamente revogada pela Lei 9.394/96 em seu artigo 92. Além disso, há que considerar-se também o que dispõe a nova LDB sobre a matéria. Esta determinou que o ingresso em cursos superiores de graduação se fará sempre mediante processo seletivo, seja para candidatos ao ingresso inicial em cursos de graduação, seja para efeitos de transferência de alunos regulares em cursos afins, mesmo havendo vagas disponíveis, conforme esclarece o Parecer CES 434/97. Não se aplica a
18 Ministério da Educação, Parecer n“ 1.009/1989.
30 j Fundamentos da teologia pastoral
exigência de processo seletivo apenas aos casos de transferências ex ofício, que nos termos do parágrafo único do art. 49 dar-se-ão na forma da lei. A Lei 9.394/96 exige igualmente a realização de processo seletivo prévio para a ocupação de vagas em disciplinas de cursos superiores por parte de alunos não regulares: [...] As instituições de educação superior, quando da ocorrência de vagas, abrirão matrículas nas disciplinas de seus cursos a alunos não regulares que demonstrarem capacidade de cursá-las com proveito, mediante processo seletivo prévio. Fica claro, assim, que a letra e o espírito do Decreto-Lei 1.051/69 não se coadunam com o da nova legislação. Enquanto que aquele, na hipótese de existência de vagas, concedia formas privilegiadas de ingresso em cursos de licenciatura aos que houvessem concluído cursos livres de Teologia em Seminários Maiores, Faculdades Teológicas ou instituições equivalentes, a nova legislação exige processo seletivo para todos os que desejem ingressar em cursos superiores de graduação.
Com base nesta fundamentação, o relator da Comissão, Yugo
Okida, registrou seu voto nos seguintes termos:
Diante de todo o exposto voto no sentido de que o ingresso dos portadores de cursos realizados em Seminários Maiores, Faculdades Teológicas e instituições congêneres deve atender à regra geral contida na nova LDB (Lei 9.394/96), ou seja, mediante o cumprimento dos seguintes requisitos: que os candidatos tenham concluído o ensino médio ou equivalente e que tenham sido classificados em processo seletivo. Quanto ao aproveitamento de estudos entende o Relator, que tal aproveitamento somente era possível na vigência do Decreto-Lei 1.051/69, isto é, até a data da promulgação da nova LDB. Brasília-DF, 10 de agosto de 1999.
À luz do exposto, segundo Gomes,19 estavam cassados os pri
vilégios concedidos por meio do Decreto-Lei 1.051/69, referentes
ao pleito dos formados em cursos de teologia de seminário maior,
de poderem cursar licenciatura em Filosofia. Isso teve a aprovação
19 A. M. A. Gomes, Teologia: ciência e profissão, p. 68.
Distinção entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral” | 3 1
da Câmara, que decidiu: “A Câmara de Educação Superior acom-
panha o Voto do Relator”.20 Essa decisão gerou vários conflitos;
entretanto, consolidou o Parecer CNE/CES 241/99,21 que regula-
mentava o reconhecimento dos cursos de Teologia em nível su
perior.22 Estava, então, aberto o caminho para que os cursos do
bacharelado em Teologia fossem reconhecidos pelo MEC.
Para conhecimento do leitor, alguns cursos reconhecidos de ba
charelado em Teologia,23 sobretudo sob o foco do protestantismo,
vinham seguindo a seguinte matriz curricular:
Cultura geral: antropologia da religião, antropologia cultural,
história da filosofia, inglês, português, metodologia científica, psi
cologia geral e da religião, sociologia geral e da religião.
Teologia sistemática: inspiração da Bíblia, antropologia bíblica,
Trindade, doutrina acerca de Cristo, doutrina da salvação, dou
trina acerca do Espírito Santo, doutrina acerca da Igreja, doutrina
das últimas coisas e teologia contemporânea.
Teologia exegética: línguas do Antigo e Novo Testamento (he
braico e grego; em alguns cursos, também latim), interpretação da
Bíblia, história e geografia da Bíblia, introdução ao Antigo e Novo
Testamento e exegeses do Antigo e Novo Testamento.
Teologia histórica: história da Igreja no Brasil e denominacional;
história da Igreja primitiva, Idade Média, Reforma Protestante,
Idade Moderna e Contemporânea.
20 Ministério da Educação, Parecer na 1.009/1989.21 Para aprofundamento da matéria, ler: A. M. A. Gomes. O credenciamento dos cursos de Teologia no Brasil pelo Sistema MEC/lnep e suas conseqüências para a educação teológica e a identidade do teólogo. In Revista de Ciências da Religião - História e Sociedade, p. 209-232.22 Parecer CNE/CES n“ 241/1999.23 Para aprofundamento da discussão, ler: Ementário. Disponível em: <www. mackenzie.br/est ementario.html >. Acesso em 19 de abr. de 2010.
32 | Fundamentos da teologia pastoral
Teologia pastoral: aconselhamento cristão, administração ecle
siástica, ética geral e profissional, liturgia, oratória, teoria da comu
nicação e educação cristã.
Essas disciplinas têm sido contempladas nos cursos de teologia
do Brasil. Entretanto, o Ministério da Educação, por meio do Con
selho Nacional de Educação, em análise do Parecer CNE/CES nº
118/2009, manifestou-se no sentido de que a ausência de parâme
tros curriculares terminou por gerar a aprovação de cursos super
ficiais de teologia. Entendeu a Comissão nomeada pelo ministro
Fernando Haddad, como pode ser lido no parecer acima citado,
que disso resultaram cursos que não apresentam características
acadêmicas, não respeitam o pluralismo da área, nem a universali
dade de conhecimento própria do ensino superior. Restringem-se,
na concepção da Comissão, a uma única visão teológica e carac
terizam-se como cursos catequéticos a serviço de uma confissão
religiosa, pelo que terminam por ferir o princípio constitucional
da separação entre Igreja e Estado, uma vez que preparam o aluno
para atuar numa única religião.24
No mesmo parecer, ficou patente a preocupação: “salienta-se,
outrossim, a importância do respeito à laicidade do Estado, a fim de
evitar que os cursos tenham um caráter confessional proselitista”.25
Em vez disso, “espera-se que os cursos de graduação em Teolo
gia, bacharelado, formem teólogos críticos e reflexivos, capazes de
compreender a dinâmica do fato religioso que perpassa a vida hu
mana em suas várias dimensões”.26
24 Ministério da Educação. Parecer CNE/CES na 118/2009. Orientações para instrução dos processos referentes ao credenciamento de novas Instituições de Educação Superior e de credenciamento institucional que apresentem cursos de Teologia, bacharelado, p. 2.25 Idem, p. 3.26 Idem.
Distinção entrf. a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral” | 33
Esse parecer — não poderia ser diferente — causou diversos
manifestos e contrariou os segmentos religiosos brasileiros.27 Em
lº de julho de 2009, a Escola Superior de Teologia (EST), de São
Leopoldo, encaminhou carta aberta, ao Conselho Nacional de
Educação, concordando com os princípios esposados pelo parecer
para a qualificação da formação teológica brasileira; assinalou tam
bém a necessidade de se distinguir Teologia de religião, apresen
tando a Teologia como uma “reflexão crítica, inclusive autocrítica,
metodologicamente transparente e refletida, sobre uma religião
específica”.28 Sugeriu, ainda, “acrescentar eixos como o confessio
nal ético, ecumênico, inter-religioso e de gênero”.29
Em 18 de agosto de 2009, o chanceler da Universidade Presbi
teriana Mackenzie, rev. dr. Augustus Nicodemus Lopes, solicitou
ao ministro da Educação que adiasse a homologação do Parecer
CNE/CES nº 118/2009, apresentando argumentos que foram reite
rados em documento datado de 30 de setembro de 2009, assinado
por representantes das seguintes entidades: Universidade Presbi
teriana Mackenzie, Associação Brasileira de Instituições Educa
cionais Evangélicas, UniEvangélica - Anápolis/GO, Associação
Nacional das Escolas Presbiterianas, Centro Universitário
Adventista de São Paulo (Unasp), Seminário Adventista Latino-
Americano de Teologia, Faculdade Teológica Batista de Brasília/
DF, Faculdade Teológica Batista de São Paulo, Associação Brasi
leira de Instituições Batistas de Ensino Teológico, Escola Superior
de Teologia de São Leopoldo, Rede Sinodal de Educação, Facul
dade Teológica da Universidade Metodista de São Paulo - São
Bernardo do Campo/SP e Conselho Geral de Instituições Metodis
tas de Ensino (Cogeime).
27 O histórico narrado a seguir pode ser lido em: Ministério da Educação, Parecer CNE/CES n'-’ 51/2010, p. 2.28 Idem, p. 1-2.29 Idem.
34 | Fundamentos da teologia pastoral
No documento, solicitaram a formação de grupo misto de tra
balho, para estudo do Parecer CNE/CES ny 118/2009, grupo esse
de caráter técnico, interconfessional e inter-religioso, composto por
pessoal da Sesu/Inep e representantes das Instituições de Ensino
Superior (IES) que oferecem cursos de teologia e ciências da reli
gião, para ampliar e discutir a compreensão da matéria do tal pa
recer. O documento afirmou a necessidade de se fazer distinção
entre os métodos de estudo da teologia e os das ciências da religião;
afirmou ainda a diversidade das teologias e seu caráter confessio
nal, atribuindo ao texto do parecer um caráter racionalista positi
vista moderno, com características cristãs que excluiriam teologias
das mais diferentes vertentes.Em 23 de outubro de 2009, diante das manifestações citadas,
a Sesu, considerando a Nota Técnica CGLNES/GAB/Sesu/MEC
nº 1.089/2009, solicitou ao gabinete do ministro que encaminhas
se manifestação ao CNE, requerendo que o órgão, ao revisar o
Parecer CNE/CES nº 118/2009, considerasse os argumentos e os
pedidos apresentados pelas IES com cursos superiores de teologia
e ciências da religião. Assim, o processo foi restituído ao CNE, em
4 de novembro de 2009, para revisão por parte da Comissão que exarou o parecer.30
Entre os documentos juntados ao processo, acresceu-se um tex
to propositivo de diretrizes curriculares para licenciatura em ciên
cias da religião, encaminhado pelo Fórum Nacional Permanente
do Ensino Religioso, em 3 de dezembro de 2008. Observou-se que este último documento trazia matéria estranha à do Parecer CNE/
CES nº 118/2009, por não tratar de curso de ciências da religião,
nem de licenciatura, restringindo-se ao bacharelado em teologia.
Em 30 de novembro de 2009, o presidente da Associação Na
cional dos Programas de Teologia e Ciências da Religião/Capes enviou e-mail à conselheira-relatora, informando que os professores
Idem, r. 2.
Distinção entre. a “profissão de teólogo” e. a “vocação pastoral” | 35
dos cursos de Ciências da Religião consideraram que as decisões do
Parecer CNE/CES nº 118/2009 poderiam atingir os programas de
pós-graduação; por essa razão, solicitou ao presidente da Sociedade
de Teologia e Ciências da Religião (Soter) que encabeçasse uma
discussão junto ao CNE, informando que, à Associação Nacional
de Pós-Graduação em Teologia e Ciências da Religião (ANPTE-
CRE), interessava, sobretudo, que se fizesse uma clara distinção
entre teologia e ciência(s) da religião. Pediu-se então que o parecer
formulasse cuidadosamente essa distinção.
Em 24 de novembro de 2009, a conselheira-relatora, atenden
do ao convite dos professores da Faculdade de Teologia e Ciên
cias Religiosas, reuniu-se com eles em São Paulo para discussão
do Parecer CNE/CES nº 118/2009. Em 1‘-’ de dezembro de 2009,
a direção da Faculdade de Teologia e Ciências Religiosas da
Pontifícia Universidade Católica de Campinas enviou por e-mail
aos conselheiros Marília Ancona-Lopez e Aldo Vannucchi contri
buição referente aos pontos debatidos e que mereciam destaque,
manifestando concordância quanto à explicitação, no parecer, de
um eixo teológico. Atendidas as solicitações, foi possível reformu
lar o Parecer CNE/CES nº 118/2009.
O reexame resultou no Parecer CNE/CES nu 51/2010, datado
de 9 de março de 2010,31 o qual, após discorrer sobre o histórico
do documento, opina que o estudo do fenômeno religioso é feito,
entre outros, pelas teologias com conteúdos e métodos próprios.
Sublinha que, ao longo do tempo, o estudo das teologias, em seus
aspectos contextuais, possibilita a compreensão da história da hu
manidade e de nosso país, suas tradições e heranças culturais, as
sim como os fenômenos sociais e religiosos da atualidade.
O Parecer nº 51/2010 votou no sentido de uma revisão dos pa- receres do CNE, que tratam dos cursos de teologia, e aponta duas
direções: afirmação do caráter laico do Estado e a liberdade das
31 Idem, p. 3.
36 | Fundamentos da teologia pastoral
IES quanto à sua própria definição religiosa. O Parecer CNE/CES
nº 241/1999, reafirmado pelo Parecer CNE/CES nº 63/2004,32 afir
ma que:
Em termos de autonomia acadêmica que a Constituição assegura, não pode o Estado impedir ou cercear a criação destes cursos (de Teologia). Por outro lado, devemos reconhecer que, em não se tratando de uma profissão regulamentada, não há de fato, nenhuma necessidade de estabelecer diretrizes curriculares que uniformizem o ensino desta área de conhecimento. Pode o Estado, portanto, evitando a regulamentação do conteúdo do ensino, respeitar, plenamente, os princípios de liberdade religiosa e da separação entre Igreja e Estado, permitindo a diversidade de orientações Tendo em vista estas considerações, votamos no sentido de que: a) os cursos de bacharelado em Teologia sejam de composição curricular livre, a critério de cada instituição, podendo obedecer a diferentes tradições religiosas; b) ressalvada a autonomia das Universidades e dos Centros Universitários para a criação de cursos, os processos de autorização e reconhecimento obedeçam a critérios que considerem exclusivamente os requisitos formais relativos ao número de horas-aula ministradas, à qualificação do corpo docente e às condições de infraestrutura oferecidas.
Conforme esse parecer, a CES passou a analisar apenas as con
dições formais dos cursos de teologia, em nível de bacharelado,
sem considerar suas matrizes curriculares, seguindo o expresso
no Parecer CNE/CES nº 63/2004, citado no Parecer CNE/CES
nº 429/2005:33
Aplicam-se aos cursos superiores de Teologia todas as demais exigências contidas nas regras gerais estabelecidas para os demais cursos de graduação, quais sejam: conclusão do Ensino Médio, processo seletivo próprio, solicitar o reconhecimento do curso
32 Idem, p. 3.33 Idem, p. 2.
Distinção entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral” | 37
após cumprimento de 50% de sua carga horária, qualificação do corpo docente, instalações [...].
Entretanto, os relatores do Parecer 51/2010 argumentaram que
a exclusão da análise da matriz curricular, deixando às instituições
plena liberdade na composição de seus currículos, terminou por ge
rar a aprovação de cursos de teologia com caráter exclusivamente
confessional, sem características acadêmicas, sem respeito ao plu
ralismo da área, sem a universalidade de conhecimento própria do
ensino superior. Esses cursos, segundo o parecer, formam o aluno
em uma única visão teológica, função que não cabe ao Estado nem
às instituições de ensino superior por ele credenciadas. Tais cursos
terminam por ferir o princípio constitucional da separação entre
Igreja e Estado. Por essa razão, o Parecer CNE/CES nº 101/2008
levanta dúvidas sobre a pertinência de o CNE credenciar uma fa
culdade a partir de um curso de teologia. Tais discussões resultaram
na constituição de Comissão, instituída pela Portaria CNE/CES nº
3/2008, com o objetivo de apresentar orientações que auxiliem na
elaboração desse tipo de parecer.
Quanto à graduação, foi ressaltado que os cursos de teologia,
bacharelado, devem obedecer ao Parecer CNE/CES nº 776/97, que
afirma a necessidade de se incentivar uma sólida formação geral,
necessária para que o futuro graduado possa vir a superar os desa
fios de renovadas condições de produção do conhecimento. Nesse
contexto, foi sublinhado que o artigo 43 da LDB,34 ao tratar das
finalidades da educação superior, em especial em seus incisos I, III
e VI, estabelece o dever de:
I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo [...]. III — incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento
34 Ministério da Educação. Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Artigo 43, incisos I, III e VI.
38 | Fundamentos da teologia pastoral
da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive. [...]. VI — estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais [...].
O parecer afirma ainda que é importante que os cursos de gra
duação em teologia, bacharelado, garantam o acesso à diversidade
e à complexidade das teologias nas diferentes culturas e permitam
sua análise à luz dos diferentes momentos históricos e contextos
em que se desenvolvem. Deve, o curso de Teologia, garantir am
pla formação científica e metodológica, por meio da flexibilidade
curricular na área do conhecimento e interação com as áreas afins.
Por essa razão, o estudo das teologias, dentro da área de ciências
humanas, conforme classificação Capes/CNPq, não pode prescindir
de conhecimentos das ciências humanas e sociais, filosofia, história,
antropologia, sociologia, psicologia e biologia, entre outras. O. estu
do da teologia deve ainda buscar diálogo com outras áreas científi
cas, possibilitando estudos interdisciplinares.
Ficou salientada, igualmente, a importância do respeito à laici-
dade do Estado, a fim de evitar que os cursos tenham um caráter
exclusivamente proselitista, fechado em uma única visão de mundo
e de homem. Espera-se que os cursos de graduação em teologia,
bacharelado, formem teólogos críticos e reflexivos, capazes de com
preender a dinâmica do fato religioso que perpassa a vida humana
em suas várias dimensões. Propõe-se que os currículos dos cursos de
graduação em teologia, bacharelado, desenvolvam-se a partir dos seguintes eixos:35
1. eixo teológico — que contemple os conhecimentos que caracterizam a sua identidade e prepare o aluno para a reflexão e o diálogo com as diferentes teologias nas diferentes culturas; 2. eixo filosófico — que contemple conteúdos curriculares que permitam
35 Ministério da Educação. Parecer CNE/CES ne 51/2010, p. 4.
Distinção entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral" | 39
avaliar as linhas de pensamento subjacentes às teologias, refletir sobre as suas bases epistemológicas e desenvolver o respeito à ética; 3. eixo metodológico — que garanta a apropriação de métodos e estratégias de produção do conhecimento científico na área das Ciências Humanas; 4- eixo histórico-cultural — que garanta a compreensão dos contextos histórico-culturais; 5. eixo sociopo- lítico — que contemple análises sociológicas, econômicas e políticas e seus efeitos nas relações institucionais e internacionais; 6. eixo lingüístico — que possibilite a leitura e a interpretação dos textos que compõem o saher específico de cada teologia e o domínio de procedimentos da hermenêutica; 7. eixo interdisciplinar — que estabeleça diálogo com áreas de interface, como a Psicologia, a Antropologia, o Direito, a Biologia e outras áreas científicas.
Assim, o documento assinala que, no Brasil, existe uma centena
de cursos de teologia já autorizados ou reconhecidos em vários Es
tados.36 Eles são oferecidos por instituições públicas e particulares,
pertencentes a mantenedoras, confessionais ou não, e contemplam
teologias subjacentes a diferentes confissões: adventista, batista,
católica, espírita, evangélica, luterana, messiânica, metodista, um-
bandista, entre outras. São cursos de graduação com duração en
tre 1.500 e 4.500 horas. Considerando que se trata de cursos de
graduação em teologia, bacharelado, recomenda-se que respeitem
um mínimo de 2.400 horas.
É mister ressaltar que o Parecer 51/2010 foi aprovado por una
nimidade na Câmara de Educação Superior. Porém, o conselheiro
Milton Linhares, apesar de acompanhar o voto da Comissão, res
salvou que o teor do parecer deve garantir perfis institucionais de
educação superior às instituições que optarem por ministrar cursos
de teologia; além disso, deve preservar os princípios constitucio
nais estabelecidos no artigo 5º, incisos VI e VIII, da Constituição
56 Ministério da Educação. Parecer CNE/CES nº 51/2010, p. 4-
40 | Fundamentos da teologia pastoral
Federal.37 Esse parecer foi encaminhado ao ministro da Educação e
aguarda sua homologação no Diário Oficial.
Fato é que não havia referenciais curriculares que norteassem
a educação superior em teologia. Entretanto, após essa data, em
conformidade com o Parecer 51/2010, o Ministério da Cultura e
Educação (MEC), por meio da Secretaria de Educação Superior,
estabeleceu os referenciais curriculares nacionais dos cursos de ba-
charelado e licenciatura e, no bojo desses cursos, está o de teologia.
Esses referenciais assinalam que o saber teológico investiga textos,
símbolos e documentos das diferentes tradições religiosas, o que
pressupõe pensar a teologia sem o viés apologético. Assim, o perfil
dos egressos dos cursos de teologia é definido da seguinte maneira:
[...] atuar na descrição e na análise do fenômeno religioso em diferentes contextos e condições históricas e culturais. Em sua atividade, investiga o saber teológico através da interpretação de textos, símbolos e documentos de diferentes tradições religiosas. Planeja e desenvolve estratégias de capacitação de recursos huma- nos para as atividades comunitárias de caráter religioso. Adminis- tra grupos, instituições, organizações religiosas e seus respectivos ritos. Desenvolve investigações relacionadas ao fenômeno religio- so em diferentes contextos e sistemas simbólicos. Em sua atuação, considera a religiosidade como prática social que compõe a idem tidade nacional.!ti
Como inferência da diversidade do campo religioso brasileiro, dis
ciplinas como citadas a seguir devem compor as matrizes curriculares
dos mais diferentes cursos de Teologia espalhados pelo Brasil.39
História do pensamento religioso na Idade Antiga, Média, Moderna e Contemporânea; procedimentos hermenêuticos; mitologia e
37 Idem, p. 6.38 Ministério da Educação. Referenciais Curriculares Nacionais dos Cursos de Bacharelado e Licenciatura.39 Idem.
Distinção entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral” | 41
história das religiões; antropologia religiosa; fenomenologia da experiência religiosa; psicologia geral e da religião; sociologia da religião; história da filosofia; metafísica; axiologia; teologia e sistemas simbólicos da religiosidade indígena e afro-brasileira; metodologias e procedimentos de investigação em ciências da religião; história e desenvolvimento dos ritos, símbolos e expressões religiosas brasileiras; teologia e práticas em capelania, aconselhamento e retórica; religião, arte e cultura; gestão de pessoas e de processos; liderança; relações humanas nas organizações religiosas; procedimentos de mediação e diálogo interreligioso; ética nas tradições religiosas; meio ambiente; relações ciência, tecnologia e sociedade (CTS).
Por fim, nos mesmos referenciais curriculares nacionais dos cur
sos de bacharelado e licenciatura, o documento explicita o campo
de atuação do teólogo:
O teólogo pode atuar como pesquisador em Instituições de Ensino Superior na análise crítica de documentos e símbolos de diferentes tradições e experiências religiosas; em organizações nos projetos sociais e educacionais; em capelania militar, escolar, hospitalar, prisional e de organizações de trabalho; no planejamento e administração de ritos e expressões religiosas comunitárias; no ensino religioso em espaços não formais de educação. Também pode atuar de forma autônoma, em empresa própria ou prestando consultoria.40
Está explicitado, nessa discussão, que há uma constante busca
da compreensão e oferecimento dos ensinos teológicos no Brasil.
Tais reflexões implicam diretamente o entendimento dos termos
“teólogo” e “pastor”, ou, ainda, a “profissão de teólogo” e a “vo
cação pastoral”. Pelo que podemos ver, o pressuposto do MEC é
formar “teólogo” e “pastor”. Parece-nos haver entendimento, em
virtude de salvaguardar a laicidade do Estado, que os pastores ou
quaisquer líderes religiosos devem ser formados pelos cursos de
40 Idem.
42 | Fundamentos da teologia pastoral
seus próprios segmentos religiosos, sem a autorização ou reconhe
cimento do MEC, evitando, assim, a intervenção do Estado nos
assuntos da religião.
A partir dessa perspectiva do MEC, podemos aprofundar a dis
cussão relativa à distinção entre o “teólogo” e o “pastor”, como
vemos a seguir.
Distinção entre os termos “teólogo” e “pastor”
Para fundamentar a reflexão sobre estes termos, é relevante uma
breve palavra a respeito da palavra “profissão”. Ela está relaciona
da com “confissão”, que, por sua vez, pode ser compreendida como
convicções a serem professadas. Daí, por exemplo, ser utilizado o
termo da seguinte forma: “profissão de fé”,41 que envolve declara
ção explícita de votos religiosos de uma pessoa.42 Na compreensão
de Fabri,43 o termo “profissão” também pode ser empregado para
se referir ao conceito “profeta”. A partir da identificação do termo,
fundamentado nessas duas interpretações, pode-se dizer que elas
são compatíveis com a teologia e, portanto, nada impede que se
identifique como “profissão” a atividade do teólogo e do pastor.
“Profissão” também pode significar “ser conhecido por”.44 Essa
forma é a mais usual na sociedade e serve para identificar as pes
soas pelas habilidades e serviços que exercem. Esse sentido associa
o conceito diretamente ao trabalho e à luta pela sobrevivência por
4J M. Coppenger, Livrando-nos para profissionalização: redescobrindo o ministério pastoral. John Armstrong (Org.). O ministério pastoral segundo a Bíblia, p. 48.42 A. Houaiss e M. S. Villar (Orgs.). Dicionário Houaiss da língua portuguesa, p. 2.306.43 Márcio Fabri dos Anjos, Introdução a uma pauta sobre a teologia como profissão. Teologia: profissão, p. 13-14.44 A. Houaiss e M. S. Villar (Orgs.). Dicionário Houaiss da língua portuguesa, p. 2.306.
Distinção entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral” | 43
meio dele.45 Nesse sentido é que surge certo conflito quando se pergunta em que medida o teólogo pode, ou não, usufruir do seu
trabalho para sua sobrevivência.
A questão parece ficar mais séria se o foco é o pastorado, uma
vez que, para alguns, parece ser surreal imaginar um clérigo que
tenha carteira profissional assinada, filiado a uma “Central Única
dos Teólogos”, reivindicando melhores condições de trabalho.46 Não se pode esquecer que o pastor ou clérigo é pessoa inserida no
mundo, confrontado com seus problemas, com seu próprio choro e
agonias pessoais. No caso de possuir família, ele está em busca da sua própria sobrevivência e, dos que lhe foram confiados e essas
preocupações influenciam no exercício do seu ministério.
O entendimento do termo “pastor” deve partir da ideia contida nessa palavra.47 Uma das questões é sua compreensão a partir
da “vocação”, que é termo presente há muito tempo na sociedade
mundial, sobretudo, a partir das reflexões de Martinho Lutero e
João Calvino.Na concepção de Weber, a “vocação” protestante está direta
mente relacionada ao trabalho, o que implica afirmar que todo e
qualquer trabalho realizado é parte integrante da vocação pessoal, motivo pelo qual deve servir para honra e glória de Deus. Daí decorre que a prosperidade advinda do trabalho enquanto vocação
seria a confirmação da bênção de Deus.48
São comuns na atualidade testes que podem auxiliar a pes
soa na escolha de sua vocação profissional.49 Algumas empresas,
quando da contratação de seus trabalhadores, verificam se estes
45 Márcio Fabri dos Anjos, Introdução a uma pauta sobre a Teobgia como profissão. Teologia: profissão, p. 13-14.46 J. Bartou, Teobgia e profissionalização: o teólogo como profissional. Márcio Fabri dos Anjos (Org.) —Teologia: profissão, p. 59.47 Para as discussões etimológicas do termo “pastor”, ler: A. J. Ribeiro, A doutrina da vocação.48 Max Weber, A ética protestante e o espírito do capitalismo.49 Os Guinness, O chamado, p. 47-51.
44 | Fundamentos da teologia pastoral
têm vocação profissional para a realização desta ou daquela tarefa.
Infere-se, daí, que o entendimento da palavra “vocação”, nesses
casos, tem a ver com um conjunto de habilidades, competências e
personalidade que resultam num bom profissional para a empresa.50
As questões de habilidades, competências e personalidade não
podem ser desconectadas da “vocação pastoral”. Entretanto, cre
mos que ela se fundamenta na escolha feita por Cristo e na atua
ção interior do Espírito Santo na vida do aspirante ao exercício do
ministério da Palavra.51 Ribeiro assinala que o chamado interno, o
chamado do Espírito, é uma impressão sobre a mente humana, que
se sente proceder de Deus, por meio de circunstâncias da vida, das
emoções da alma, da convicção da consciência, dizendo ao homem
que ele deve abraçar a obra do ministério como tarefa de sua vida.52
Eis aqui o cerne da distinção entre o “teólogo” e o “pastor”.
O primeiro é um pesquisador de temas teológicos e religiosos, que
pode ter pouco ou nenhum envolvimento com o campo pastoral
ou compromisso com qualquer religião. O segundo é possuidor do
“cheiro” da ovelha.53 Por causa disso, podemos afirmar que a mui
tos dos formados em teologia, professores dos cursos de teologia
e seminários confessionais e dos programas de pós-graduação não
cabe a identificação como “pastores”, a não ser que estejam efeti
vamente em atuação no campo pastoral. Do contrário, são “teólo
gos” e não “pastores”.
Por fim, é interessante pensar em cursos de teologia que con
templem tanto a formação pastoral como a formação em teolo
gia. Para isso, deve-se criar um núcleo fundamental comum de
50 Para maiores esclarecimentos relativos à orientação vocacional, ler R. Bohos-
lavsky, Orientação vocacional: a estratégia clinica. D. Pelletier; G. Noiseux; C.
BujOLD, Desenvolvimento vocacional e crescimento pessoal: enfoque operatório.51 Os Guinness, O chamado, p. 37.52 A. J. Ribeiro, A doutrina da vocação, p. 52-53.53 J. Eliff, A cura de almas: o pastor servindo ao rebanho. John Armstrong (Org.)
O ministério pastoral segundo a Bíblia, p. 157.
Distinção entre a “profissão de teólogo” e a “vocação pastoral” | 45
disciplinas teológicas para ambos os perfis, de maneira que tantos
aos que desejam ser pastores, como aos que pretendem ser teólo-
gos, sejam oferecidas as mesmas disciplinas centrais e obrigatórias.
Perto do fim do curso, seriam oferecidas disciplinas com viés pas
toral para os que desejam ser pastores e outras aos que intentassem
seguir a carreira acadêmica e da pesquisa na condição de teólogos.
Neste momento vale uma explicação acerca da dificuldade da
distinção entre ensino religioso, educação teológica e educação
cristã, já que essas definições podem colaborar para a definição do
perfil discente pretendido por uma instituição educacional teo
lógica.54 Se a preocupação for um perfil voltado para o ensino re
ligioso, a instituição necessariamente deverá contemplar em sua
matriz curricular disciplinas que tratem de temas das mais diver
sificadas religiões. Além disso, a instituição deve precaver-se de
fazer proselitismo.
Se o foco for o de prover educação teológica, a instituição
não se limitará a formar ministros, missionários e líderes de sua
comunidade. Ela terá de discutir teologia e fenômenos do campo
religioso. Sua ênfase estará no estudo dos conteúdos teológicos,
preocupando-se com a integração das mais diversas áreas do co
nhecimento no estudo da Bíblia, que não precisará ser neces
sariamente estudada como texto sagrado, mas sim como texto
religioso.
Por fim, se a tônica for propiciar educação cristã, a instituição
terá de oferecer em sua matriz curricular disciplinas compatíveis
com a cosmovisão cristã, o que significa ler as áreas do conhe
cimento humano pelo referencial teórico (isto é, pela lente) das
Escrituras Sagradas,55 a fim de que, na prática, não se vise apenas a
’4 Para aprofundamento dos conceitos de ensino religioso, educação teológica
e educação cristã, ler: E. P. Lopes, Fundamentos da teologia da educação cristã, p. 110-112
55 Idem, p. 112.
46 | Fundamentos da teologia pastoral
beneficiar o aluno, mas que este encontre a verdade, tenha comu
nhão com o Criador e o ame.
Das considerações acima, apreende-se que a instituição de en
sino teológico voltada para a educação cristã está mais direciona
da para a formação pastoral, enquanto a instituição voltada para o
ensino religioso e a educação teológica concentra-se na formação
do teólogo.
Fato é que, mesmo tendo focos diferentes de formação, essas
instituições podem formar teólogos e pastores. Todavia, cabe ob
servar que, dependendo do foco da instituição, a carga horária de
determinadas disciplinas será maior que a de outras.
Um curso de teologia com ênfase no ensino teológico voltado
para a formação de “teólogos” — e não para o preparo do exercí
cio pastoral — pouco optará pelo quadro de conteúdos que con
templam as disciplinas pastorais. A tônica será correspondente
às produções científicas, que resultarão em linhas de pesquisas e
publicação dos mais variados saberes teológicos e religiosos em pe
riódicos especializados, livros, coletâneas, dentre outras formas de
publicações. Tillich assinala que o “teólogo” não está preocupado
com a regeneração ou santificação e que ele não precisa se envolver
intelectual, moral e emocionalmente com a fé, de tal modo que isso
lhe permite atacá-la e rejeitá-la em algumas situações.56 Ideia se
melhante pode ser lida nas palavras, em tom de crítica, de Jowett:
“Podemos deixar-nos absorver tanto pelas palavras que nos es
quecemos de alimentar-nos da Palavra [...]. Podemos vir a su
por que falar bem é viver bem, que a habilidade expositiva é
piedade profunda, e enquanto abraçamos afetuosamente o não
essencial [...]”.57
56 P. Tillich, Teologia sistemática, p. 19.57 J. H. Jowett, O pregador, sua vida e obra, p. 33.
Distinção entre a "profissão de teólogo” e a “vocação pastoral” | 47
A instituição teológica cujo foco é a formação pastoral certa
mente ressaltará as disciplinas relacionadas com o cotidiano di
nâmico da igreja. Tais instituições prezam por uma teologia com
ênfase na área pastoral.58 Assim, nessa instituição serão contem
pladas disciplinas como aconselhamento cristão, administração
eclesiástica, educação cristã, liturgia, dentre outros conteúdos. São
cursos centrados na formação pastoral, geralmente relacionada a
suas confessionalidades internas, e objetivam o preparo de seus
pastores, missionários e liderança em geral.59
Diante dessas considerações, explicitamos que há proximidade
entre o teólogo e o pastor. Ficou claro que ambos devem ter boa
formação acadêmica, todavia, vale enfatizar que o foco desta obra
é o “pastor” e, como foi dito, quando tratamos do pastor, devemos
ter em mente que ele não vai para um curso teológico “para ser
pastor”; ao contrário, vai porque já possui a vocação para o pas-
torado, advinda de Deus. Isso é o que afirma Flansen: “pastores
são feitos por Deus para serem pastores. Não é questão de nossa
escolha. Os pastores não escolhem ser pastores [...]. Deus escolhe
pessoas para serem pastores e as torna pastores, de acordo com
seu plano”.60
Com isso em mente, dando continuidade a nosso estudo no
próximo capítulo, aprofundaremos ainda mais, à luz das Escrituras
Sagradas, a questão do ministério pastoral. Antes, porém, é neces
sário revisarmos o que foi dito até o momento.
58 Para a discussão da teologia pastoral e da práxis teológica, ler Fundamentos da teologia da educação cristã, p. 110-112.59 Alderi Souza de Matos, Fundamentos da teologia histórica, p. 17.60 David Hansens, A arte de pastorear, p. 33-34-
| Fundamentos da teologia pastoral
Revisão e aproveitamento do capítulo 1
1. A discussão atual relativa à profissão de teólogo teve origem em quais projetos de lei?
2. Os referenciais curriculares dos cursos de teologia reconhecidos pelo Ministério da Educação devem contemplar quais
disciplinas?
3. Quais são os eixos temáticos contemplados no Parecer 51/2010?
4. É possível estabelecer distinção entre “teólogo” e “pastor”?5. Faça uma síntese da história dos cursos de teologia reconhe
cidos ou autorizados pelo MEC.
Capítulo 2
Mayhue sublinha que, se aplicarmos o paradigma do consumismo
ao ministério pastoral, o raciocínio será: “Aquilo que as pessoas
querem, a igreja deve oferecer. Aquilo que as igrejas oferecem, os
pastores devem ser treinados para fornecer”.1 Resultado disso será
uma concepção do ministério pastoral não condizente com a Bíblia
e o fim previsível é: “que dentro de uma geração, ou no máximo
duas, as igrejas perderão a vida e a direção espiritual”.2
Infelizmente, se houver disposição e coragem para fazer uma
análise do cristianismo hoje, perceberemos que as palavras de
Mayhue têm se tornado, cada dia mais, a triste realidade de nos
sas igrejas. Elas não têm resistido às pressões culturais e seculares.
Em vez de transformar o mundo, como assinala o apóstolo Paulo,
em Romanos 12:2: “Não se amoldem ao padrão deste mundo,
mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam
capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita
vontade de Deus”, o que se vê é: confusão generalizada acerca da
definição do que é ser evangélico; escassez de liderança bíblica
na igreja; crescimento numérico positivo, mas descompromissado
1J. MacArthur Jr. (Org.), Redescobrindo o ministério pastoral, p. 31.2 Idem, p. 28.
50 | Fundamentos da teologia pastoral
com a fé e a vida cristã e troca da orientação bíblica pela pesquisa
de mercado no ministério. Em síntese, ocorre reinante substituição das “coisas que são do alto”, como ensina o apóstolo Paulo em
Colossenses 3:1-2, pelas coisas que são terrenas.3
Em conseqüência dessa substituição, valores não cristãos são
verificados dia a dia nas igrejas e na vida dos cristãos, de maneira que, em vez de procurar servir uns aos outros, muitos buscam o
sucesso. O elitismo, oposto à comunhão cristã, tem reinado entre nós. A política que contradiz a Palavra de Deus tem sido, a cada
ano, mais evidente entre os evangélicos. No lugar do altruísmo,
vemos divisão, competição, busca de riquezas e avareza,4 opostas ao ensino de Cristo, que é: “Busquem, pois, em primeiro lugar o
Reino de Deus” (Mt 6:33).Esse desagradável quadro do cristianismo também é fruto da
omissão do ministério pastoral, considerando que, dentre suas funções, é incumbência do pastor “viver” a verdadeira vida com Deus, por meio das Escrituras Sagradas, e “ensinar” isso à igreja de Jesus.5
Mas, em muitas situações, o ensino das Escrituras tem sido deixa
do de lado, porque muitos pastores já não têm a Palavra de Deus como centro de suas vidas e de seu ministério.
Como esse comportamento é habitual na vida de muitos pasto
res, eles têm substituído a Bíblia por técnicas litúrgicas motivacio-
nais para “encherem” suas igrejas. Alguns se veem como artistas, profissionais de mídia, empresários, psicólogos, advogados e intelectuais, do que resulta um ministério caracterizado pela busca de
evidência e posição social, dentro e fora da igreja. Alguns chegam a
3 Idem, p. 22.4 Para aprofundamento acerca do estado religioso da Igreja e de como princípios não cristãos têm reinado nas comunidades cristãs, ler, da série Lausanne: O evangelho e o homem secularizado. Comissão de Lausanne para evangelização do mundo, p. 27.5 Na questão do ensino e do alimento pastoral ao rebanho sob responsabilidade do pastor, ler: R. A. Mohler Jr.; J. Boice; D. Thomas [et al.], Apascenta o meu rebanho: um apaixonado apelo em favor da pregação.
O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 5 1
denominar a si mesmos a verdadeira elite do pastorado,6 esquecen
do as palavras de MacArthur: “[...] O chamado daqueles a quem
Deus designa como líderes não é para posição de reis, mas de hu-
mildes escravos; não de celebridades refinadas [...] nenhum líder
de igreja tem o direito de se considerar elite pastoral”.7
Para estes, as palavras de MacArthur devem ser rememoradas:
“O pastoreio exige um homem íntegro, piedoso, dotado de muitas
habilidades. Ainda assim, ele deve manter a atitude e a postura
humilde de um menino pastor”.8 Está explícito que, “os que forem
liderar o povo de Deus devem, acima de tudo, ser exemplo de sa
crifício, devoção, submissão e humildade”.9
Ainda nesse contexto, vale recordar que o termo “ministério”,
no grego, aparece em sua maioria como “diakonia” e é traduzido
como “serviço”, “aquele que serve”.10 Portanto, na junção dos ter
mos “ministério” e “pastoral”, concebemos que se trata de uma
atividade em que a pessoa envolvida deve estar consciente de que
só pode exercer esse “ministério” se estiver disposta a servir, e isso
só ocorrerá se houver humildade. Esse líder deve se preocupar
com conteúdos teológicos, ter consciência política e de cidadania,
mas não pode esquecer-se de ser exemplo de moralidade. Quan
do a atitude ensinada por MacArthur não permeia o ministério
pastoral, isso acaba gerando um estilo de pastorado terreno, não
fundamentado nos princípios bíblicos.11
Diante dessas considerações, cabe destacar nossa preocupa
ção de definir o ministério pastoral, não a partir do nosso próprio
conhecimento e exame, mas tendo como princípio fundamental
o que as Escrituras Sagradas ensinam a respeito dessa atividade.
6 J. MacArthur Jr., Redescobrindo o ministério pastoral, p. 14-15.7 Idem.8 Idem.5 Idem.10 A. J. Ribeiro, A doutrina da vocação, p. 40.11 J. MacArthur Jr., Redescobrindo o ministério pastoral, p. 14.
52 | Fundamentos da teologia pastoral
Se por um lado é um privilégio, por outro implica grandes respon
sabilidades. Cremos que um conceito claro, a partir das Escritu
ras, trará de volta o real significado do ministério pastoral na vida
da igreja, como afirma Montoya: “Uma compreensão [...] bíblica
do ministério pastoral pode servir como ajuda para que o ministro
entre de modo devido em sua vocação, facilitando a prática do
seu ministério”.12
Nosso objetivo aqui, portanto, é extrair das Escrituras o concei
to de ministério pastoral, e não o que nós pensamos ou o que as
igrejas pensam acerca do assunto. Muitas igrejas desejam um pastor
que resolva problemas sociais, emocionais, conjugais, financeiros e
espirituais13 e, quando ele não consegue fazer isso, consideram que
não tem o “perfil” esperado. “Encaremos o fato: na mente de mui
tos membros de igrejas evangélicas, o ministro está ali para tornar
Deus agradável e a igreja tão amigável quanto possível”.14 Todavia,
como veremos abaixo, o pastor deve ser um homem que agrade a
Deus15 e que viva e pregue a Palavra, pois só assim exercerá seu
verdadeiro papel, que é o de cuidar e alimentar o rebanho de Deus.
Dito isso, vamos aos textos bíblicos.
Pastor: definição e implicações
É relevante lembrar que a Bíblia também utiliza outras palavras que,
se não forem bem entendidas, podem confundir a compreensão do
12 A. D. Montoya, Concepção bíblica do ministério pastoral. MacArthur Jr. Redescobrindo o ministério pastoral, p. 86.13 J. Armstrong, Sempre reformanda: o papel pastoral na reforma moderna, p. 31.14 Idem, p. 31-32.15 Paulo, ao escrever aos Gálatas, em 1:10, afirmou que sua preocupação não era agradar a homens, mas a Deus: “Acaso busco eu agora a aprovação dos homens ou a de Deus? Ou estou tentando agradar a homens? Se eu ainda estivesse procurando agradar a homens, não seria servo de Cristo.”.
C) MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 53
termo “pastor”. Prova disso é que, a partir delas, há diferentes sis
temas de governo nas igrejas cristãs da atualidade.16
Episkopos (bispo)Uma dessas palavras é “bispo” ou “supervisor”, que no grego apa-
rece como episkopos, significando “direção”, “supervisão” e “vigia”.
Da leitura do artigo de Beyer, percebemos claramente que esse
termo não foi de uso restrito da igreja nem dos escritores neotes-
tamentários. Tratava-se de palavra aplicada no grego clássico aos
“deuses”17 que demonstravam proteção e cuidado pelos homens.
Nesse mesmo sentido, episkopos era empregada a homens que
exerciam funções de vigilância e proteção. Por isso, nos séculos 4
e 5 a.C., os funcionários do governo também eram chamados de
episkopoi. Segundo Beyer,ls comentando a acepção do termo no
período do Antigo Testamento, não se aplicava a ele conotação
religiosa, ainda que a Septuaginta tenha traduzido o hebraico ‘El
(Deus) por episkopos, em Jó 20:29.14
Certamente é no Novo Testamento que deparamos com a apli
cação de episkopos à liderança da igreja e a Deus, quando o termo
é traduzido por “bispo”. Exemplo disso está em Atos 20:28: “Cui
dem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito
Santo os colocou como bispos, para pastorearem a igreja de Deus,
que ele comprou com o seu próprio sangue”. Igualmente, lemos em
Filipenses 1:1: “Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os
santos em Cristo Jesus que estão em Filipos, com os bispos e diá-
conos”. Além dessas passagens, o termo pode ser lido nos escritos
16 Para maior esclarecimento ler: L. Berkhof, Teologia sistemática, p. 583-597 e Carlos Caldas, Fundamentos da teologia da igreja, p. 73-83.17 Para aprofundamento desta discussão, ler: H. W. Beyer, Bispo, G. Kittel
(Org.). A igreja no Novo Testamento, p. 193-212.18 Idem, p. 199.19 L. Coenen, Bispo, presbítero, ancião. Colin Brown (Org.), Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, p. 301.
54 ! Fundamentos da teologia pastoral
paulinos de ITimóteo 3:2-5 e Tito 1:7. Com referência a Deus, o
texto de lPedro 2:25 é explícito: “Pois vocês eram como ovelhas des
garradas, mas agora se converteram ao Pastor e Bispo de suas almas”.
Percebemos, à luz desses textos, que o termo em sua origem
não destacava a pessoa, mas a função de servir o rebanho e cuidar
dele, como rebanho de Deus. Além disso, as mesmas exigências
aplicavam-se tanto ao “bispo” como ao “presbítero”, como vere
mos a seguir, demonstrando, assim, que eram termos diferentes,
mas com conteúdo sinônimo.
Presbyteros (presbítero)Esse termo é traduzido do grego para “presbítero” e “ancião” ou
“mais velho”.20 Ele designava uma pessoa com idade mais avança
da em relação ao grupo. Segundo Bornhkamm, o termo presbys era,
na constituição de Esparta, um título político e designava o presi
dente de um colégio.21 Em algumas situações, os presbyteroi tinham
funções administrativas e judiciárias. Em geral, o escolhido para o
exercício do presbiterato era um ancião. Entretanto, no judaísmo, e
posteriormente no cristianismo, “presbítero” passou a ter dois senti
dos: o de ancião e o de quem exercia determinado ofício, cabendo-
lhe a direção nas reuniões e a representação do povo nos concílios
superiores, como lemos em IReis 8:1: “Então o rei Salomão reuniu
em Jerusalém as autoridades de Israel, todos os líderes das tribos e
os chefes das famílias israelitas, para levarem de Sião, a Cidade de
Davi, a arca da aliança do Senhor”.
A versão da Bíblia Revista e Atualizada traduz a proposição: “autoridades de Israel” por “anciãos de Israel”,22 sendo mais fiel
20 Idem, p. 304.21 G. Bornhkamm, Presbítero. G. Kittel (Org.). A igreja no Novo Testamento, p. 220.22 IReis 8:1.
O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ da Bíblia | 55
ao termo hebraico zãqenei, que aparece no citado texto23 e é traduzido por “ancião”. Infere-se, daí, que os “anciãos” — zãqenei no hebraico, e presbyteroi, no grego24 — eram dignos de honra e autoridade. Por essa razão, foram eles os solicitantes de um rei para Samuel (ISm 8:4) e sobre eles repousava a escolha dos que governariam Israel.25
Paulo, em ITimóteo 5:17, afirma: “Os presbíteros que lideram
bem a igreja são dignos de dupla honra, especialmente aqueles
cujo trabalho é a pregação e o ensino”. Notamos nesse texto que
os presbíteros, à semelhança dos zâqenei (anciãos de Israel), eram
dignos de honra e, com isso, considerados autoridades na igreja
cristã, como lemos em Atos 15:6: “Os apóstolos e os presbíteros se
reuniram para considerar essa questão”.
Cabe-nos, a partir dessas explicações, continuar nosso estudo
enfocando o termo “pastor”. Antes, porém, é relevante indagar se
“bispo”, “presbítero” e “pastor” são termos distintos, para o que nos
reportamos a Stitzinger:
As Escrituras são bem claras quanto ao fato de que esses títulos dizem respeito ao mesmo ofício pastoral. Os termos “ancião” e “bispo” são sinônimos em Atos 20:17 e Tito 1:5-7. Os títulos de presbíteros, bispo e pastor são também sinônimos em lPedro 5:1-2. A função de liderança dos presbíteros é também evidente na atividade pastoral de Tiago 5:14-26
Muito antes de Stitzinger, Calvino registrou, em A instituição
da religião:
23 N. H. Snaith, Hebrew Old Testament.24 A Septuaginta traduziu zâqen por presbyteros. Para maior conhecimento, ler: J. P. Lewis; J. P. Zâqen, R. Laird Harris [et al.] (Orgs.), Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, p. 404-405.25 Idem.26 J. F. Stitzinger, O ministério pastoral na história. J. MacArthur, Jr. (Org.), Redescobrindo o ministério pastoral, p. 58.
56 ! Fundamentos da teologia pastoral.
Ao ter chamado indistintamente bispos, presbíteros, pastores e ministros aos que governam a Igreja, eu o fiz conforme o uso na Escritura [...]. Lucas, em Atos (20:17,28), depois de ter dito que Paulo convocara os presbíteros de Efeso, chamou-os de bispos na
oração que fez.27
No mesmo sentido, registra Beyer: “A princípio esses [...] con
ceitos [...] não designam coisas diferentes, muitos menos coisas
contrárias [...] Paulo chama a todos os presbyteroi indistintamente
de episkopoi”.28 Além disso, segundo Coenen, esses dois termos são
intercambiáveis, uma vez que ambos cumprem as mesmas exigên
cias pessoais e morais, têm as tarefas especiais de exortar e de re
futar os que discordam.29 Conforme visto, em síntese, todos esses
termos têm um conceito central: “[...] a direção vigilante e cheia
de cuidado da Igreja [..-]”.30
Esclarecida a indagação acima, continuemos nossa reflexão,
agora sim tendo como foco o termo “pastor”, o qual terá toda a
nossa atenção daqui em diante.
Poimnê (pastor)O termo “pastor”, no grego, aparece como poimên, e seus deriva
tivos são poimnê e poimnion, cuja tradução é “rebanho”.31 Além
desses, também encontramos poimanô, traduzido por “pastorear”,
“cuidar”. Outra palavra encontrada no texto bíblico é archipoimên,
que pode ser traduzida por “sumo pastor”, “pastor principal”.
27 Calvino, A instituição da religião cristã, p. 507.28 H. W. Beyer, Bispo, G. Kittel (Org.). A igreja no Novo Testamento, p. 204.29 L. Coenen, Bispo, presbítero, ancião. Colin Brown (Org.), Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, p. 311.30 H. W. Beyer, Bispo, G. Kittel (Org.). A igreja no Novo Testamento, p. 204. p. 205.31 E. Beyreuther, Pastor. Colin Brown (Org.), Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento,, p. 469-474.
O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 57
No grego clássico, poimên (pastor) era título de honra aplicado
a soberanos, líderes, governantes e comandantes dos exércitos gre-
gos.32 Ao que parece, esse entendimento do termo em análise não
se restringiu ao período do grego antigo, mas chegou até o apóstolo
Paulo, que emprega palavras denotando o privilégio e a honra dos
que exercem o ministério pastoral na igreja de Cristo, como verifi
camos na tabela abaixo:
Alguns termos bíblicos aplicados aos pastores
Termos Textos bíblicos
Governante lTs 5:12; lTm 3:4-5; 5:17
Embaixador 2Co 5:20
Defensor Fp 1:7
Ministro ICo 4:1
Exemplo lTm 4:12; IPe 5:3
No hebraico, o termo equivalente a poimên é rã â (pastorear,
apascentar).33 Segundo White, esse termo ocorre mais de 160 ve
zes no Antigo Testamento, sendo mais comum a forma participial
rõeh, traduzida por “pastor”,34 em referência àquele que cuida dos
animais domésticos e os alimenta. Isso porque a ocupação mais co
mum naquele período e nos dias de Jesus na Palestina era o pasto
reio.55 A primeira vez que a palavra aparece é em Gênesis 29:7-9,30
traduzida por “alimentar” ou “apascentar”.
52 W. White, Pastar, pastorear, apascentar. Laird Harris, (Org.), Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, p. 1.438.33 Idem, p. 1.437.34 A. P. Ross, Gramática do hebraico bíblico, p. 530.35 H. Daniel-Rops, A vida diária nos tempos de Jesus, p. 150.36 “[...] não é hora de recolher os rebanhos. Deem de beber às ovelhas e levem-nas de volta ao pasto [...]. Ele ainda estava conversando, quando chegou Raquel com as ovelhas de seu pai, pois ela era pastora”.
58 I Fundamentos da teologia pastoral
À luz desse texto, percebemos que se esperava que o pastor
conduzisse suas ovelhas ao abastecimento de água. Podemos ter
uma compreensão não muito adequada dessa profissão pensamos
se tratar de um pastor que cuidava de poucas ovelhas, mas, se to
marmos o relato Lucas 15:1-7, notaremos que, em geral, o pastor
se encarregava do cuidado de um número razoável de ovelhas.37
Fato é que o judaísmo posterior fez distinção entre pastores. De
pois do exílio, os rabinos farisaicos passaram a desvalorizar a ocu
pação de pastor. Eles se tomaram suspeitos de desonestidade, e os
homens piedosos foram proibidos de comprar-lhes lã, leite e carne. Os privilégios cívicos eram negados aos pastores, como também aos
publicanos. Jeremias, ao comentar as profissões desprezíveis para os
israelitas, no período neotestamentário, inclui a de pastor:
No que se refere aos pastores, sua imagem simpática que conhecemos através da pregação de Jesus é certamente um fato isolado; a literatura rabínica contém, quase sempre, opinião desfavorável a eles, com exceção dos textos que, desenvolvendo passagens do Antigo Testamento, apresentam Yahweh, o Messias, Moisés, Davi, como pastores.38
Com o mesmo raciocínio, Bailey, ao comentar a parábola da
ovelha perdida, que, segundo supomos, foi endereçada aos fariseus,
observa que Cristo, ao utilizar a figura de um pastor, intentava
causar choque em seus primeiros ouvintes, visto que consideravam
imundos os pastores.39 Todavia, Daniel-Rops40 pontua que muitos
louvavam essa profissão. Além disso, há inúmeras referências de
consolação espalhadas pelos salmos e nos profetas pós-exílicos que
destacam a importância do pastor, como veremos neste livro.
37 Para aprofundamento, ler: K. Bailey. As parábolas de Lucas: uma análise literário- cultural, p. 193-204.38 J. Jeremias, Jerusalém no tempo de Jesus: pesquisa de história econômico-social no período neotestamentário, p. 407.39 K. Bailey, As parábolas de Lucas: uma análise lieterário-cultural, p. 198.40 H. Daniel-Rops, A vida diária nos tempos de Jesus, p. 150.
O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 59
A profissão de pastor não era fácil como se pode pensar. Eles
deveriam cuidar incansavelmente dos animais indefesos e sua
“devoção ao dever era posta à prova ao montar-se guarda sobre o
rebanho, noite após noite, contra as feras e os salteadores”.41 De
dia eram consumidos pelo calor; e à noite, pela geada dos campos
palestinos. Hienas, chacais e ursos apareciam com frequência, não
sendo incomum a luta entre o pastor e uma fera selvagem. Daí
não serem apenas figura de linguagem as palavras de Jesus: “O bom
pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (Jo 10:11).
Por essa razão, não podiam dormir muito, faziam escalas en
tre si. Isaías 56:10-11 assinala que os pastores eram considerados
atalaias, e a crítica de Deus, por meio do profeta, consistia no fato
de que eles eram sonhadores preguiçosos e que gostavam de dor
mir. Pastores com atitudes incompatíveis à ocupação pastoral são
desconsiderados por Deus como tal. Os pastores compromissados
com sua profissão, em vez disso, construíam apriscos com paredes
de pedra ou de madeira, com altura suficiente para que animais
predadores não pudessem saltá-las e devorar as ovelhas.42
Do que foi dito até aqui, a partir da definição de “pastor” (poimên)
aprendemos que o termo aplicava-se a funções importantes, como
as de governantes, generais e ministros. Por isso, ao se referir aos
pastores, Paulo os denomina “embaixadores” e “ministros”, por
exemplo. Infere-se daí que o “pastor” ocupa lugar de destaque nos
textos paulinos, como ocorre em 2Coríntios 5:18, onde lemos que
Deus escolheu reconciliar consigo os crentes através de Cristo, em
que o ofício de pastor ocupa lugar importante no ministério de
proclamar a piedade.
Calvino pontua que Deus não poderia conferir maior esplendor
ao pastorado do que quando disse: “Aquele que lhes dá ouvidos,
41 E. Beyreuther, Pastor. Colin Brown (Org.), Dicionário Internacional de Teoligüi do Novo Testamento, p. 470.42 H. Daniel-Rops, A vida diária nos tempos de Jesus, p. 151.
60 | Fundamentos da teologia pastoral
está me dando ouvidos; aquele que os rejeita, está me rejeitando” (Lc 10:16).45 Após essas palavras, o mesmo Calvino sublinha: “[...] não há nada de mais excelente e glorioso na igreja que o ministério
do evangelho, posto que é a dispensação do Espírito, da justiça e
da vida eterna”.44
Por outro lado, como já vimos, a palavra “pastor” referia-se a
uma ocupação profissional, e, como acontece em qualquer profis
são em qualquer época, havia pastores bons e ruins. Por causa dos ruins, sobretudo no judaísmo posterior, esses profissionais foram
depreciados e, nos dias de Jesus, eram considerados imundos.
Porém, não há como negar o valor dado à ocupação pastoral.
Há vários textos bíblicos que atestam sua relevância, a ponto de o
próprio Deus declarar-se como Pastor, considerar seu povo como
rebanho do seu pastoreio e escolher um pastor para profetizar em Israel, como em Amós 1:1: “Palavras que Amós, criador de ovelhas
em Tecoa, recebeu em visões, a respeito de Israel, dois anos antes do terremoto. Nesse tempo, Uzias era rei de Judá e Jeroboão, filho de Jeoás, era rei de Israel”. Como se vê, o exercício da ocupação
pastoral não era fácil. Em muitas situações, os pastores enfrenta
ram feras selvagens que se levantavam contra as ovelhas.
Traçando um paralelo entre o ministério pastoral na atualidade
e os pastores do período bíblico, percebemos que se tratava de um trabalho árduo, a despeito de muitos pensarem que se tratava de um trabalho fácil, razão pela qual consideravam o pastor desneces
sário45 e dispensável. Assim parece ocorrer na igreja da atualidade.
Talvez isso justifique o princípio de algumas denominações evangélicas “consagrarem” ou “ordenarem” para o pastorado pessoas sem qualquer preparo espiritual e acadêmico. Essas denominações atestam que qualquer um pode ser pastor; basta ter um pouco
43 Calvino, A instituição da religião cristã, p. 503.44 Idem.45 Para aprofundar esta discussão, ler: E. Dawn; E. Peterson, O pastor desnecessário: redescobrindo o chamado.
O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 6 1
de eloqüência e ser filho de pastor ou família influente na denomi
nação. Pode ainda ser uma conquista por tempo de serviços presta
dos na igreja, ou alguém de sucesso que possua recursos financeiros.
Todavia, o verdadeiro ministério pastoral exige sacrifício, labu
ta, serviço e superação de dificuldades. Nenhuma igreja deve me
nosprezar ou julgar desnecessário o pastor, pois ele cumpre a árdua
tarefa de “apascentar” o rebanho de Deus,46 provendo alimento
para as ovelhas e cuidando delas. João Calvino, ao comentar o mi
nistério pastoral, mostra que Deus institui os pastores como a força
principal para unir e edificar os fiéis. Isso demonstra quão neces
sário é o trabalho pastoral, ao mesmo tempo em que exorta os que
julgam desnecessário o pastorado por buscarem a ruína da Igreja:
Todo aquele que se esforça para abolir essa ordem e essa modalidade de governo que apresentamos, considerando-os menos necessários, visa à dispersão e mesmo à ruína da Igreja. Pois mais importante que a luz e o calor do sol, a comida e a bebida para conservação e o sustento da vida, é o múnus pastoral apostólico e pastoral para a conservação da Igreja na terra.47
Calvino está tão convicto da importância do ministério pasto
ral, que mais à frente registra:
Se até mesmo um anjo, mensageiro de Deus, absteve-se de anunciar o Evangelho de Paulo, mas ordenou que procurasse um homem que o fizesse [...] quem ousará desprezar ou preterir como supérfluo o ministério, cujo uso Deus quis aprovar com tais testemunhas? [...] Não nego que dos doutores e dos pastores, a Igreja não pode prescindir.48
Alguns desavisados podem entender que essas tarefas estão res
tritas aos sermões, aos estudos bíblicos e dominicais, entretanto,
46 L. Berkhof, Teologia sistemática, p. 590.47 Calvino, A instituição da religião cristã, p. 503.48 Idem, p. 504-505.
62 | Fundamentos da teologia pastoral
esses ministros despendem grande tempo em visitas pastorais, em aconselhamentos destinados às mais diversas orientações e em
exortações, bem como dedicam-se à consolação de enfermos e an
gustiados.49 Decorre daí que o ministério pastoral é de fato um
trabalho árduo. Entretanto, apesar das dificuldades, não podemos
nos esquecer das palavras do apóstolo Paulo, em ICoríntios 9:16:
“Contudo, quando prego o evangelho, não posso me orgulhar,
pois me importa a necessidade de pregar. Ai de mim se não pregar
o evangelho!”.Prosseguindo com nosso estudo, por razões óbvias de tempo e
espaço, delimitaremos nossa compreensão do ministério pastoral
ao ensino da Bíblia, destacando os principais textos bíblicos que
tratam do assunto.
Deus é o Supremo Pastor, que cuida do seu rebanho
Na discussão a respeito do pastor, não podemos nos esquecer das
palavras do apóstolo Pedro, que deixa claro que Deus é o Supremo
Pastor (lPe 5:4). Podemos então afirmar que todos os pastores são
copastores com Deus, ou subpastores de Deus. Davi, no salmo 23, expressa o papel pastoral de Deus em relação ao seu povo, quando
afirma: “O Senhor é o meu pastor e nada me faltará”.50 O pastor
descrito por Davi é aquele que nos conduz ao descanso, refrigera
nossa alma e nos guia pelas veredas da justiça. Trata-se de um
pastor presente, de maneira que sua presença consoladora nos dá
perfeita segurança, mesmo quando atravessamos o vale da sombra
da morte.Em Isaías 40:11 podem ser lidas as palavras: “Como pastor ele
cuida de seu rebanho, com o braço ajunta os cordeiros e os carrega
49 Quanto à importância do ministério da visitação, ler: J. T. Sisemore, O ministério da visitação.50 Para uma leitura devocional do salmo 23, recomendamos ler: R. Ketcham, O
salmo 23.
O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 63
no colo; conduz com cuidado as ovelhas que amamentam suas
crias”. Além desses textos, podemos citar vários que comprovam
ser Deus nosso Supremo Pastor, tais como: Salmos 74:1; 77:20;
78:52-53; 79:13; 95:7; 110:3; 121:4; 49:9. Destaque-se ainda o
fato de que Deus se identifica como pastor, ao denominar Israel de
rebanho de Javé, nos seguintes textos: Salmos 79:13; 95:7; 100:3;
Isaías 40:1; Jeremias 13:17; Ezequiel 3:31 e Miqueias 7:14.
No Novo Testamento, em João 10:1-18,51 Cristo se identifica
como o Bom Pastor, que dá sua vida pelas ovelhas. O texto de He-
breus refere-se a Jesus como sendo nosso Senhor, o grande Pastor
das ovelhas (Hb 13:20); lPedro 2:25 refere-se a Jesus como Pastor e
Bispo das nossas almas; em lPedro 5:4, Jesus é o Supremo Pastor.
Por conseguinte, tenhamos em mente que só Deus é o supremo
e único Pastor — os demais são cooperadores de Deus para o ali
mento e edificação do rebanho de Cristo. Devemos ainda lembrar
as advertências de Deus aos pastores que não tratam adequadamente do rebanho. Em Isaías 56:11: “São cães devoradores, insa
ciáveis. São pastores sem entendimento; todos seguem seu próprio
caminho, cada um procura vantagem própria”. A esses pastores são
dirigidas as palavras do juízo de Deus, como em Jeremias 23:1: “Ai
dos pastores que destroem e dispersam as ovelhas do meu pasto!’,
diz o Senhor”. No mesmo contexto vale ressaltar 25:34, do mesmo Jeremias: “Lamentem-se e gritem, pastores! Rolem no pó, chefes
do rebanho! Porque chegou para vocês o dia da matança e da sua
dispersão; vocês cairão e serão esmigalhados como vasos finos”.
Um texto ainda merece destaque pela forma como Deus trata
os maus pastores. Um deles é Ezequiel 34:1-10. As atitudes más
daqueles pastores são apresentadas como as daqueles que “só cui
dam de si mesmos” (v. 2), enquanto deveriam cuidar do rebanho.
Deixar de cuidar do rebanho significa abandonar as ovelhas fracas,
51 Quanto à relação da salvação eterna das ovelhas e do Bom Pastor, ler: E. P. Lopes, Fundamentos da teologia da salvação, p. 50-51.
64 ! Fundamentos da teologia pastoral
em vez de fortalecê-las; não enfaixar as feridas das doentes; não ir atrás das desviadas e perdidas. O resultado da falta de responsa
bilidade em cuidar do rebanho é descrito pelas palavras de Deus
proferidas contra eles: “Estou contra os pastores e os considerarei responsáveis pelo meu rebanho” (v. 10) e “Livrarei as minhas ove
lhas da sua boca, para que já não lhes sirvam de pasto” (v. 10) .52
Diante do exposto, fica evidente que Deus é o Supremo Pastor
do seu rebanho, e que isso significa proteção, carinho, cuidado,
mas implica também o juízo de Deus sobre os que não cumprem
sua tarefa de forma a agradá-lo no exercício da função de pastores
da Igreja do Senhor. Dito isso, vamos continuar nosso estudo, pensando numa temática diretamente ligada à tarefa pastoral, que diz
respeito à sua escolha e qualificações.
O PASTOR É ESCOLHIDO POR DEUS
Como foi dito anteriormente, o ministério pastoral fundamenta-se no chamado interior do Espírito Santo e não em vontade humana. O apóstolo Paulo, em Romanos 1:1, afirma: “Paulo, servo de Jesus
Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus”. Em Gálatas 1:1, ele ainda explicita: “Paulo, apóstolo envia
do, não da parte de homens, nem por meio de pessoa alguma, mas
por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos”.
A partir das palavras paulinas, reiteramos o entendimento de
que o chamado para o pastorado não é vocação que vise à satis
fação individual, mas um chamado divino, isto é, não depende do
indivíduo, mas de quem o chama e daqueles para os quais o in
divíduo é enviado.53 Dessas palavras de Paulo também podemos extrair o ensino de que a vocação não parte do ser humano ou de sua própria decisão. Sua escolha não é uma preferência entre
52 RA.53 J. E. T. da Igreja Presbiteriana do Brasil, Vocação: preparo para o ministério pastoral, p. 13.
O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 65
alternativas; ao contrário, o chamado de Deus é inconfundível, ecoando como imperiosa intimação feita por ele, de maneira que não resta opção senão obedecer.54
Sendo assim, no que diz respeito ao termo “pastor”, deve-se ter em mente que esse ofício fundamenta-se, num primeiro momento, não em conteúdos disciplinares de um curso de teologia que pode resultar em um diploma, ainda que reconheçamos a necessidade do preparo teológico',55 mas, sim, no chamado de Deus, pelo Espírito Santo.56
Calvino afirma que “para alguém ser considerado verdadeiro ministro da Igreja, exige-se antes de tudo que tenha sido devidamente chamado”.57 O chamado, segundo sua concepção, consiste na vocação interior de Deus em nossos corações e deve servir como “testemunho de nosso coração de que não nos aproximamos do ministério por ambição, avareza ou qualquer outra cobiça, mas por sincero temor de Deus e para a edificação da Igreja”.58 Quanto ao entendimento da vocação interior e do chamado de Deus, vale citar as palavras de Berkhof:
A vocação interna para um ofício na igreja consiste [...] principalmente em três coisas: “a) a consciência de estar sendo impelido a alguma tarefa especial no reino de Deus, por amor a Deus e a Sua causa; b) a convicção que o indivíduo tem de que está, pelo menos em certa medida, intelectual e espiritualmente qualificado para o ofício em vista; c) a experiência de que, evidentemente, Deus está pavimentando o caminho que leva à meta.59
Tanto das palavras de Calvino quanto das de Berkhof, podemos extrair o princípio fundamental de que alguém, para exercer o pastorado, deve ser chamado por Deus e não por homens. Calvino,
54 J. H. Jowett, O pregador, sua vida e obra, p. 11.55 R. Baxter, O pastor aprovado, p. 184-56 C. H. Spurgeon, Lições aos meus alunos, p. 32.57 Calvino, A instituição da religião cristã, p. 508.58 Idem, p. 509.59 L. Berkhof, Teologia sistemática, p. 591.
66 | Fundamentos da teologia pastoral
ao comentar Gálatas 1:1, como se quisesse ratificar suas próprias
palavras, deixa registrado: “[...] ninguém pode exercer licitamente
esse ministério a não ser que seja chamado por Deus”.60
Ainda que Paulo estivesse pensando no “apostolado”61 em par-
ticular, isso não significa que não possamos entendê-lo em âmbito
geral, no sentido de que todos os ofícios da Igreja e, no caso em
questão, o “pastorado”, sejam escolha de Deus e não dos homens.
Não podemos concluir que só o apostolado seja escolha de Deus;
em vez disso, temos de reconhecer prioritariamente que o exercí
cio de qualquer ofício na igreja de Cristo se alicerça, primeiramen
te, no chamado de Deus, como podemos verificar no chamado de:
Abraão (Gn 12:1-3; 15:1-17; 17:1-27), Moisés (Ex 3:1-22), Josué
(Dt 34:9; Js 1:1-9), Gideão (Jz 6:1-24), Isaías (Is 6:1-13), Jeremias
(Jr 1:1-10), Ezequiel (Ez 2:1-7; 3:4-27), os doze (Mt 10:1-3), Ma
teus (Lc 5:27-28) e Paulo (Rm 1:1; G1 1:1), dentre outros.
O apóstolo Paulo chamou os presbíteros a Mileto e, de acordo
com suas palavras, registradas por Lucas, em Atos 20:28, afirmou:
“Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o
Espírito Santo os colocou como bispos, para pastorearem a igreja
de Deus, que ele comprou com o seu próprio sangue”. As palavras
de Paulo62 expressam a convicção de que Deus os havia escolhido
para pastorear sua Igreja, conforme afirma Marshall: “Tais pessoas
deviam a sua nomeação à escolha que Deus delas fez mediante o
Espírito Santo”.63 Com ideia semelhante, Champlin pontua: “[...]
o ministério da Palavra é divinamente selecionado e santificado,
através da atuação do Espírito Santo”.64
60 Calvino, A instituição da religião cristã, p. 510.61 Calvino, Gálatas, p. 21-24-62 O termo utilizado por Paulo é episkopos já tratado, no início deste capítulo,
como sinônimo de presbyteros.63 H. I. Marshall, Atos: introdução e comentário, p. 311.64 N. R. Champlin, O Novo Testamento interpretado, p. 447.
O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 67
Com essa mesma perspectiva, ressalta-se, ainda, que a vocação
pastoral está intimamente relacionada com os indivíduos para os
quais alguém é enviado. Isso implica dizer que o chamado interior
do Espírito se reveste de ações comprobatórias, diante da igreja,
que exerce o papel de testemunha e endossa a vocação da pessoa
para o ofício pastoral. Por conseguinte, nenhuma outra instituição
pode afirmar se alguém está apto ou não para o exercício de sua
liderança a não ser a própria igreja. Eis aí uma distinção entre o
“teólogo” e o “pastor”. O “teólogo”, para o exercício da sua pro
fissão, necessita do aval do Ministério da Educação ou da Capes,
no caso da pós-graduação. Já o “pastor” pode exercer sua função
com o reconhecimento da igreja. Daí a razão pela qual temos os
seminários confessionais, que atendem às exigências de determi
nadas denominações para formar aqueles que já demonstraram seu
chamado diante da comunidade local.
Sempre é bom lembrar, embora isso já tenha sido feito, que,
para alguém se intitular “pastor”, deve ser efetivamente atuante
no trato com suas ovelhas, do contrário, ele pode se interessar
pela verdade, pela pregação e pelo crescimento da igreja, pode
ser um grande conferencista, mas, apesar de toda essa visão, não
deve ser considerado pastor se não se preocupar com o cotidiano
das ovelhas.65
Entretanto, se, por um lado, a igreja tem o papel de reconhecer
o chamado de alguém para o ministério pastoral, o vocacionado,
por sua vez, deve estar atento para não buscar “agradar a homens”
ou “alguma vantagem pessoal”66 (G1 1:10). Esse pode ser um dos
grandes desafios do pastorado, pois, em muitas situações, o pastor
busca o favor humano e estrutura bem sua linguagem, não com a
finalidade de ensinar a Palavra de Deus, mas de agradar a homens.
65 J. Eliff, A cura de almas: o pastor servindo ao rebanho. John Armstrong (Org.),
O ministério pastoral segundo a Bíblia, p. 153.66 N. R. Champlin, O Novo Testamento interpretado, p. 442.
68 | Fundamentos da teologia pastoral
Ressaltamos as palavras de Calvino nesse quesito: “[...] aqueles que determinam servir a Cristo fielmente devem ousadamente des
prezar o favor dos homens”.67 O próprio Calvino acentua que não
podemos buscar o favor dos homens, em virtude de que na igreja
sempre temos pessoas preocupadas com seus próprios interesses.
Mesmo as boas pessoas, “quer por alguma ignorância quer por al
guma fraqueza, são às vezes tentadas pelo diabo a ficar iradas com
as fiéis advertências de seu pastor”.68
Isso não significa que podemos ofender as pessoas. Ao contrá
rio, devemos ter em mente: “Aqueles a quem Cristo está agradan
do são homens a quem devemos envidar todo esforço por agradar
em Cristo. Ao passo que, os que querem que a verdadeira doutrina
ceda lugar a seus propósitos pessoais, a esses em hipótese alguma devemos agradar”.69
Prosseguindo nosso estudo, vejamos os ensinos de Paulo acerca
dos presbíteros ou pastores. Em ITimóteo 3:1-7, lemos:
Esta afirmação é digna de confiança: Se alguém deseja ser bispo, deseja uma nobre função. É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, moderado, sensato, respeitável, hospitaleiro e apto para ensinar; não deve ser apegado ao vinho, nem violento, mas sim amável, pacífico e não apegado ao dinheiro. Ele deve governar bem sua própria família, tendo os filhos sujeitos a ele, com toda a dignidade. Pois, se alguém não sabe governar sua própria família, como poderá cuidar da igreja de Deus? Não pode ser recém-convertido, para que não se enso- berbeça e caia na mesma condição em que caiu o Diabo. Também deve ter boa reputação perante os de fora, para que não caia em descrédito nem na cilada do Diabo.
Destacamos desse texto algumas questões importantes que es
tão diretamente ligadas ao ministério pastoral.
67 Calvino, Gálatas, p. 36.68 Idem, p. 37.69 Idem, p. 36.
O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 69
A pesada responsabilidade que é o exercício do pastoradoNa compreensão de Calvino,70 esses versículos estão intimamente ligados ao que Paulo disse em ITimóteo 2:8-15, onde discorre sobre como deve ser o procedimento das mulheres na igreja.
“A mulher deve aprender em silêncio, com toda a sujeição. Não permito que a mulher ensine, nem que tenha autoridade sobre o homem. Esteja, porém, em silêncio” (lTm 2:11-12). Entre
tanto, o mesmo Calvino71 sublinha que não é só por alguém ser homem que já deve ser admitido como candidato ao ministério de liderança na igreja. “[...] mas nem mesmo os homens devem ser admitidos para o seu exercício sem qualquer critério [...] ele afirma que essa não é uma obra comum que qualquer pessoa ousasse empreender”.72
Trata-se de um trabalho árduo e difícil, e, na concepção pau-
lina, os que desejam exercer essa liderança devem se perguntar se de fato são capazes de levar adiante tão pesada responsabilidade, que exige sacrifício, labuta, serviço e superação das dificuldades. Desejá-lo, portanto, implica saber que se trata de excelente obra e que, por essa razão, é espinhosa e exige profunda disposição em
servir a Deus. Na leitura de 2Timóteo 2:1-7, percebemos que Paulo
retrata o pastor como professor, soldado, atleta, lavrador, trabalhador, vaso e escravo. “Todas essas figuram evocam ideias de sacrifício, labuta, serviço e dificuldades. Demonstram com eloqüência a complexidade e as várias responsabilidades da liderança espiritual. Nem uma delas dá impressão de que a liderança é atraente”.73
Ressaltamos aqui, que, à luz das palavras de Paulo, não é
equívoco alguém desejar o presbiterato, desde que esse desejo não seja egoísta ou com a intenção de obter algum proveito pessoal. Em vez disso, deve ser uma atitude de humildade e temor a Deus.
70 Calvino, J. As pastorais, p. 81.71 Idem.72 Idem.73 J. MacArthur, Jr., p. 14.
70 | Fundamentos da teologia pastoral
É o que podemos ler nas palavras de Calvino: “O apóstolo, porém,
está falando, aqui, de um desejo piedoso que os homens consagra-
dos possuem, ou seja, aplicar seu conhecimento da doutrina para a
edificação da Igreja”.'4
Se mesmo assim desejar o ministério pastoral, então a pessoa
deve atentar para as qualificações que os pastores devem ter.
As qualificações do pastorA obra que está para ser realizada não é comum, mas sim exce
lente, conforme Paulo. Segundo Calvino, essa é uma referência a
Platão, que afirmava: “[...] as coisas que são excelentes são igual
mente árduas e difíceis”.75 Baxter igualmente registrou: “Os deve-
res mais difíceis geralmente são os mais importantes”.76 Segue-se,
então, que o pastor deve ter qualificações compatíveis com essa
“excelente” tarefa, que, mesmo sendo árdua e difícil, é a mais im
portante das obras.
MacArthur, ao comentar esse texto bíblico, compreende que a
base para o entendimento dessas qualificações está na proposição:
“É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível”.77 É importante
compreender que Paulo, aqui, não está falando de um homem per
feito, sem qualquer mancha, porque, se fosse esse o caso, ninguém
poderia exercer tal ofício. O que ele é explicita é que o pastor não
deve ter sua vida e nome carregados de infâmia, ou qualquer coisa
que gere escândalos na igreja. “Irrepreensível” significa que o pastor
“não deve ser estigmatizado por nenhuma infâmia que leve sua au
toridade ao descrédito”.78 É preciso ter em mente que seu estilo de
vida jamais deve trazer vergonha ao ministério e que sua conduta
74Calvino, As pastorais, p. 82.75 Idem, p. 81.76 R. Baxter, O pastor aprovado, p. 29.77 ]. MacArthur, Jr., O carater do pastor. Redescobrindo o ministério pastoral, p.
110.78 Calvino, As pastorais, p. 84.
O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 7 1
jamais deve minar a confiança do rebanho que está sob seus cui
dados. É com essa ideia em mente, na concepção de MacArthur,79
que Paulo desenvolve o princípio de que o pastor deve ser “irre
preensível”, sobretudo em relação a três grandes grupos ou conjun
tos de princípios citados no texto bíblico em destaque.
Percebemos que a preocupação de Paulo era que Timóteo
constituísse presbíteros ou pastores que fossem irrepreensíveis na
moralidade sexual. Esse, portanto, é o primeiro grupo a ser pensado
neste estudo.
A moralidade sexual destaca-se na sentença: “marido de uma
só mulher”. Calvino pontua que a proibição de Paulo é expressa
em relação à poligamia, de certa forma presente nos dias do Novo
Testamento.80 Entretanto, uma vez que temos vivido dias difíceis
com relação aos pecados sexuais, sobretudo no ministério pastoral,
cremos, que, além dessa concepção de Calvino, podemos explorar
esse texto no sentido de sublinhar que, na visão paulina, o pastor
deve ser irrepreensível no sentido de que ame verdadeiramente sua
esposa, sendo-lhe fiel em tudo, e que não seja alvo de escândalos
envolvendo adultério e filhos fora do casamento. “Esse é o tipo de
homem que Deus está procurando para estabelecer como modelo
em sua igreja [...]. O pecado sexual desqualifica qualquer homem
para o pastorado”.81
O segundo grupo em que o pastor deve ser irrepreensível diz res
peito à família, daí as palavras do apóstolo Paulo no texto bíblico
destacado anteriormente: “Ele deve governar bem sua própria fa
mília, tendo os filhos sujeitos a ele, com toda a dignidade. Pois, se
alguém não sabe governar sua própria família, como poderá cuidar
da igreja de Deus?”. (lTm 3:4-5) Muitos afirmam que, se alguém
79 J. MacArthur, Jr., O caráter do pastor. Redescobrindo o ministério pastoral, p. 110.m As pastorais, p. 84.81 J. MacArthur, Jr., O caráter do pastor. Redescobrindo o ministério pastoral, p. 112-113.
72 | Fundamentos da teologia pastoral
desejar conhecer uma pessoa, basta perguntar para sua família. A fa
mília conhece a pessoa do que jeito que ela é, com suas qualidades
e defeitos.
O ensino do apóstolo dos gentios é que, se alguém deseja ser
pastor ou presbítero, deve ser capaz de liderar, antes de tudo, sua
própria família. Observamos que a tônica de Paulo está nos filhos.
E o que podemos ler em suas palavras: “[...] tendo os filhos su
jeitos a ele, com toda a dignidade”. “Por conseguinte, seria uma
imensa desgraça para um bispo ter filhos que levam vida dissolu-
ta e escandalosa”.82 Com pensamento semelhante ao de Calvino,
MacArthur alega: “Paulo afirma que você [Timóteo] deve se cer
tificar de que esteja escolhendo homens que [...] nunca ficarão
desacreditados por causa de um filho incrédulo e obstinado”.8’ Por
conseguinte, os filhos devem ter a consciência de que, se viverem
uma vida desobediente e rebelde, além dos danos para si mesmos,
poderão desqualificar o pai para o ministério pastoral.
Por fim, o terceiro grupo em que o pastor deve ser irrepreensível
compreende suas atitudes e relacionamentos, conforme as palavras
do apóstolo Paulo no referido texto: “moderado, sensato, respeitá
vel, hospitaleiro e apto para ensinar; não deve ser apegado ao vinho,
nem violento, mas sim amável, pacífico e não apegado ao dinheiro”.
O pastor deve ser moderado, sensato e respeitável, isto é, contro
lado. Para isso, ele deve ser imparcial, cuidadoso nos julgamentos,
ponderado, sábio e profundo. Na concepção de Paulo, podemos en
tender que, “se a pessoa não consegue controlar sua vida, não está
apta para o pastorado”. Muitas igrejas, por desconsiderar essa qua
lificação, têm consagrado ou ordenado pessoas descontroladas em
várias áreas, dentre elas, uma pouco comentada que é a financeira.
S2 j. Calvino, As pastorais, p. 90.83 J. MacArthur, Jr., O caráter do pastor. Redescobrindo o ministério pastoral, P-114.
O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 73
Resultado disso é que acabam com nome “sujo” na praça e enver
gonham a igreja a que pertencem.
O ministro do evangelho deve ser hospitaleiro. Devemos lembrar
que nos dias do apóstolo Paulo havia perseguições, e muitos cristãos
tinham de mudar de um lugar para o outro. As tavemas e hospeda-
rias eram “antros vis de pecado e devassidão”84 e, por esse motivo, a
hospitalidade entre aqueles cristãos era indispensável. Além disso,
a hospitalidade fazia parte da igreja primitiva, como podemos ler
em Romanos 12:13, ITimóteo 5:10, Hebreus 13:2 e lPedro 4:9.
Alguém pode entender que essa qualificação não é mais necessária.
Todavia, o princípio de Paulo é demonstrar que “o pastor deve ser
um homem generoso. Longe de amar o lucro, ele vê tudo o que pos
sui como um meio de atender às necessidade do próximo”.85
Apto para ensinar é outra qualificação em que o pastor deve ser
irrepreensível. Trataremos dela mais à frente, porém, é relevante
destacar que os incumbidos de pastorear o rebanho de Deus devem
ser qualificados para a docência. A docência, aqui, não deve ser
vista apenas sob o viés acadêmico, mas pelo uso de todas as moda
lidades do conhecimento, sobretudo o ensino da Palavra de Deus
que vise à edificação da igreja de Cristo.
O pastor não deve ser apegado ao vinho. “Qualquer pessoa, em
qualquer liderança cristã, deve estar alerta e sóbria.” Segundo
MacArthur, o vinho era uma bebida comum na época, em virtude
de que beber água era correr risco de contrair infecção.86 Todavia,
esse vinho era composto da seguinte forma: misturava-se água ao
vinho na propoção de oito para um — oito partes de água e uma parte de vinho. Na prática, isso significava que o vinho funcionava mais como um desinfetante para a água do como de receita para
uma bebida gostosa. Quando não se podia adicionar água, o vinho
84 Idem, p. 123.85 Idem.“Idem, p. 119-120.
74 ! Fundamentos da teologia pastoral
era fervido, restando quase nada de álcool. Diante disso, podemos compreender a ordem paulina de que os homens viciados em vinho ou bebidas alcoólicas sejam excluídos do ofício episcopal,87 pois eles devem estar sempre no controle de todas as suas faculdades mentais para liderar a igreja.
O pastor também não deve ser violento, mas sim, amável. Violência, nesse texto, tem a ver com a ira ou a raiva que, mantida no coração, leva a pessoa a “estourar” com frequência. “O homem que Deus escolhe para o ministério pastoral não deve ficar irado, hostil, briguento, nem irritado quando as coisas não se acertam, mas deve ser capaz de aceitar um não como resposta”.88 Ao contrário disso, precisa ser paciente, gentil e amável com todas as pessoas. Porém, precisa se preocupar com o equilíbrio entre a severidade e a delicadeza, como acentua Baxter: “É preciso haver, igualmente, uma prudente mescla de severidade e delicadeza [...]. Se não houver severidade nenhuma, nossas repreensões serão desprezadas. Se só houver severidade, tomar-nos-ão como dominadores, e não como persuasores da verdade”.89 Daí Paulo incluir, na qualificação do pastor, que este seja pacífico, isto é, que resolva conflitos pacificamente, de modo piedoso, gentil e humilde.90 O pastor deve ser o oposto de quem se entrega ao vinho; deve saber suportar injúrias pacificamente e com moderação; deve saber perdoar, engolir insultos e ser inimigo de contendas.91
Não ser apegado ao dinheiro. Esta é outra qualificação importante para que o pastor seja irrepreensível. O que Paulo combate é a
postura de quem não se importa com a maneira pela qual conse
gue dinheiro. “Qualquer pessoa que ame o dinheiro se compro
meterá e lucrará de alguma forma sórdida. O homem que esteja
87 Calvino, As pastorais, p. 88.88 J. MacArthur, Jr., O caráter do pastor. Redescobrindo o ministério pastoral, p. 119.89 R. Baxter, O pastor aprovado, p. 41.90 Calvino, As pastorais, p. 88.91 Idem, p. 89.
O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 75
na liderança espiritual não deve ser cobiçoso, pois facilmente
seria corrompido”.92 Nesse contexto, vale ressaltar as palavras
de Calvino: “[...] aquele que não suporta a pobreza paciente e
voluntariamente, inevitavelmente se tornará uma vítima da vil
e sórdida cobiça”.93
O pastor não pode ser recém-convertido, para que não se
ensoberbeça e caia na mesma condição em que caiu o Diabo.94
Calvino pontua que “naquele tempo, muitos homens de extraor
dinária habilidade e cultura estavam sendo conduzidos à fé. Paulo,
porém, proíbe que se façam bispos aos que recentemente tenham
professado a Cristo”.95 Na concepção de Calvino, os recém-con-
vertidos, por terem confiança em sua própria capacidade, podem
entender que não dependem de Deus. Todavia, a atitude do pastor
deve ser de inteira dependência do Senhor: “[...] Vendo-me,
Senhor, como estou nu e despreparado para essa obra, preparas-me
com os recursos necessários para tal tarefa”.1"1
O resultado da soberba é que esta conduz à mesma condenação
do diabo. Ao comentar essa soberba, MacArthur explicita que ela
é uma arrogância cheia de amor próprio, de ser consumido por si
mesmo, de buscar o próprio caminho, a satisfação e a gratificação,
a ponto de desconsiderar os outros. Baxter afirma que o pastor
deve detestar o orgulho porque é raiz de inveja, espírito belicoso,
descontentamento e todos os obstáculos que impedem a renova
ção espiritual, por isso, declara: “Onde há orgulho, todos querem
dirigir e ninguém quer seguir ou concordar. Em razão disso, o or
gulho é causa de cismas, apostasias, usurpação arrogante e outras
92 J. MacArthur, Jr., O caráter do pastor. Redescobrindo o ministério pastoral, p. 122.
93 Calvino, As pastorais, p. 89.94 ITimóteo 3:6.95 Calvino, As pastorais, p. 90.96 R. Baxter, O pastor aprovado, p. 40.
76 t Fundamentos da teologia pastoral
formas de imposição”97. Sendo assim, vale ressaltar as palavras de
MacArthur: “Ninguém que seja dominado pelo ego está apto para
o ministério pastoral”.98
Por fim, o pastor irrepreensível deve ter boa reputação perante
os de fora, para que não caia em descrédito nem na cilada do diabo.
Deveria ser difícil para os cristãos da igreja primitiva ter boa repu
tação, uma vez que viviam em meio a muitas perseguições. O que
Paulo enfatiza nessa última qualificação é que o pastor deve ter um
comportamento piedoso, de maneira que, mesmo os incrédulos,
tenham de reconhecer que ele é uma boa pessoa. É com isso em
mente que o apóstolo se refere à “cilada do diabo”. Em vez de ser
uma pessoa boa, o pastor corre o risco de começar a endurecer o
coração e a entregar-se livremente a todo tipo de perversidade.
Diante do que vimos até aqui, deixamos claro que nem to
dos que desejam o ministério pastoral podem de fato exercê-lo.
E necessário, assim, que a igreja de Cristo esteja de fato preocupa
da com as pessoas que pastoreiam o rebanho. Que elas sejam irre
preensíveis em todas as coisas para serem instrumento do Senhor e
exemplo para o povo de Deus.
Alguém pode questionar se existe uma pessoa que possa, à luz
do que foi dito, exercer o ministério pastoral. De fato, ninguém
poderá ser completo em todas as coisas, mas deve ser alguém que
busque santificar sua vida, livrando o nome de Deus de todo e
qualquer escândalo. Além disso, deve ser um exemplo vivo de que
essas qualificações podem ser observadas na vida do pastor. Por
conseguinte, que o pastor seja um homem íntegro, piedoso, dotado
de muitas habilidades e, ao mesmo tempo, alguém que mantém a
atitude e a postura humilde de um menino pastor.99
97 Idem, p. 41.98 J. MacArthur, Jr., O caráter do pastor. Redescobrindo o ministério pastoral, p. 117-118.99 J. MacArthur, Jr., p. 14.
O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 77
Somando ao que dissemos até o momento, quem almeja ser
pastor deve estar ciente das suas muitas responsabilidades diante
do rebanho de Deus.
Responsabilidades dos pastores diante
DO REBANHO DE DEUS
Devemos, antes de tudo, rememorar que a responsabilidade do
pastor está intimamente relacionada com sua consciência quan
to ao propósito do ministério pastoral. Todo pastor necessita sa
ber que seu propósito é agradar e glorificar a Deus. Além disso,
ele deve estimular a santificação e a santa obediência do reba
nho de Deus que está sob sua guarda, promovendo a unidade, a
ordem, a beleza, o poder, a preservação e o progresso da igreja
de Cristo. É com isso em mente que damos prosseguimento ao
nosso estudo.
Cuidar do rebanhoNo episódio registrado em João 21:15-17, após comer com os dis
cípulos, Jesus perguntou a Pedro se este o amava.100 As respostas
de Pedro foram: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”. Para cada
reposta de Pedro, o Senhor dava uma ordem. Na primeira ordem,
Jesus disse: “Cuide dos meus cordeiros”. Na segunda, o Senhor dis
se: “Pastoreie as minhas ovelhas”. Na terceira vez, após o aborre
cimento de Pedro, Jesus determinou: “Cuide das minhas ovelhas”.
Bruce, ao estudar esse texto, destaca que Pedro aqui foi reabilitado
e reconvocado para sua missão, a saber, pastoral. “[...] ao anzol do
pescador é acrescentado o cajado do pastor”.101
100 Para as discussões das palavras gregas phileo e ágape, traduzidas por “amor”, ler: F. F. Bruce, João: introdução e comentário, p. 344-345.101 Idem, p. 345.
78 j Fundamentos da teologia pastoral
Como pastor, ele tinha a incumbência de pastorear o rebanho
de Deus. Foi o que escreveu mais tarde, em lPedro 5:2-4:
Pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus cuidados. Olhem
por ele, não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus quer.
Não façam isso por ganância, mas com o desejo de servir. Não
ajam como dominadores dos que lhes foram confiados, mas como
exemplos para o rebanho. Quando se manifestar o Supremo Pas
tor, vocês receberão a imperecível coroa da glória.
Ao comentar o texto de João, Hendriksen pontua que Jesus,
ao falar dos “cordeiros” e “ovelhas”, tem em mente fazer uma dis
tinção entre os envolvidos. Para Hendriksen, “cordeiros” são os
cristãos ainda novos na fé ou imaturos em seu relacionamento
com Deus. No mesmo caminho segue o termo “ovelhas”, que são
propensas ao desvio e dependem inteiramente do pastor. Diante
disso, a ordem de Cristo a Pedro e a todos os pastores é: “Alimente-
as com a Palavra de Deus”.102
Paulo, em Efésios 4:11-14, corrobora a concepção de que o
propósito do ministério pastoral é “alimentar as ovelhas”, daí
suas palavras:
E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros
para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de
preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo
de Cristo seja edificado, até que todos alcancemos a unidade da fé
e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade,
atingindo a medida da plenitude de Cristo.
Observemos que Deus deu às igrejas seus pastores com a fina
lidade de “preparar os santos para a obra do ministério” e com a
finalidade de que todos cheguem à maturidade cristã. Alimentan
do os cordeiros e as ovelhas de Cristo, estes não serão levados por
102 G. Hendriksen, El evangelio segun Sanjuan, p. 764-765.
O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 79
qualquer vento de doutrina que induz ao erro (Ef 4:14). Cuidar do
rebanho de Deus é tão grande tarefa do pastor que Lucas deixou
registradas as palavras de Paulo, em Atos 20:28-31,35:
Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Es
pírito Santo os colocou como bispos, para pastorearem a igreja de
Deus, que ele comprou com o seu próprio sangue. Sei que, depois
da- minha partida, lobos ferozes penetrarão no meio de vocês e
não pouparão o rebanho. E dentre vocês mesmos se levantarão
homens que torcerão a verdade, a fim de atrair os discípulos. Por
isso, vigiem! Lembrem-se de que durante anos jamais cessei de
advertir cada um de vocês disso, noite e dia, com lágrimas [...] Em
tudo o que fiz, mostrei-lhes que mediante trabalho árduo devemos
ajudar os fracos [...].
Paulo alertou que lobos surgiriam entre o rebanho de Deus e
que os pastores ou presbíteros deveriam vigiar, cuidando das ove
lhas de Cristo. Está explícita, portanto, a importância do cuidado
pastoral. Com a mesma seriedade vista em Atos 20:28-35, Paulo
adverte, em 2Timóteo 3:1-8, que nos últimos dias sobreviriam tem
pos terríveis. Homens egoístas, avarentos, presunçosos, arrogantes,
blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos, ímpios, sem amor pela
família, irreconciliáveis, caluniadores, sem domínio próprio, cruéis,
inimigos do bem, traidores, precipitados, soberbos, mais amantes
dos prazeres do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade,
mas negando o seu poder. Esses homens não estariam fora da igre
ja, mas nas casas, em busca de mulheres instáveis sobrecarregadas
de pecados. Além disso, seriam resistentes à verdade.
Este é o quadro descrito por Paulo do que haveria no interior
da Igreja. Em função disso, exortou Timóteo, representante dos
pastores de todos os tempos, a permanecer firme nas Sagradas
Letras (2Tm 3:15), definidas pelo apóstolo da seguinte maneira:
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que
80 | Fundamentos da teologia pastoral
o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa
obra” (2Tm 3:16-17).
Pregar a sã doutrinaO pastor não só deveria permanecer firme nas Escrituras, mas
também tinha a tarefa de pregar a Palavra: “Pregue a palavra,
esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija,
exorte com toda a paciência e doutrina” (2Tm 4:2). Em Tito 2:1,
Paulo exorta: “Você, porém, fale o que está de acordo com a sã
doutrina”. Em todo o capítulo 2 de Tito, há ênfase na relevância
do ensino da sã doutrina. Afirmamos isso em função de Paulo
usar esse verbo várias vezes. Ele diz a Tito: “Ensine os homens
mais velhos a serem moderados [...]” (Tt 2:2); “ensine as mulhe
res” (Tt 2:3); “ensine os escravos” (Tt 2:9). Infere-se daí que uma
das principais e a mais importante das tarefas do pastor, inclusa
no cuidado com o rebanho, é a pregação fiel das Escrituras para
a igreja de Cristo.103
Muitos hão de concordar com nossa afirmação, todavia, pare
ce-nos paradoxal o que presenciamos nas igrejas em geral. Há um
empobrecimento da pregação que tomou conta dos púlpitos das
igrejas cristãs brasileiras.104 O que reina entre nós não é o minis
tério da fiel pregação das Escrituras, mas acessórios como músicas
ou qualquer outra atividade. Vale ressaltar que, pregar fielmente
as Escrituras não diz respeito às técnicas da pregação. Elas são
necessárias; entretanto, isto diz respeito, sobretudo, à pregação
fundamentada na Bíblia e no temor e tremor diante de Deus e de
sua igreja.
1113 Acerca da importância da pregação no apascentamento do rebanho de Deus, ler: R. A. Mohler Jr., [et al.], Apascenta o meu rebanho: um apaixonado apelo em favor da pregação.104 Recomendamos a leitura do livro de Albert N. Martin, O que há de errado com a pregação de hoje?
O MINISTÉRIO PASTORAL À LUZ DA BÍBLIA | 8 1
Além das responsabilidades já descritas, registramos outras que são tão importantes quanto as comentadas até aqui. Para tomar o texto mais metodológico, sintetizamos as atividades em formato de tabela.
Responsabilidade dos pastores
diante do rebanho de Deus
Pregar ICo 1:17
Alimentar lPe 5:2
Edificar a Igreja Ef 4:12
Edificar 2Co 13:10
Orar Cl 1:9
Velar pelas almas Hb 13:17
Lutar lTm 1:18
Convencer Tt 1:9
Consolar ICo 1:4-6
Repreender Tt 1:13
Alertar At 20:31
Admoestar 2Ts 3:15
Exortar Tt 1:9; 2:15
Cabe registrar que não tratamos a respeito da salvação eter
na por acreditarmos que, se alguém deseja ser pastor, já teve um encontro pessoal com Cristo; caso contrário, poderá sofrer os juízos de Deus por ser um mau pastor que não agrada ao Senhor. Fato é que o ministério pastoral é uma árdua tarefa para alguém que já é cristão verdadeiro, quanto mais para quem não é. Devemos ter em mente que nem todas as pessoas podem exercer o ministério e
que o pastorado tem início com o chamado de Deus e pressupõe
o reconhecimento da igreja, sem qualquer intervenção do Estado, como visto no primeiro capítulo.
82 | Fundamentos da teologia pastoral
Na continuação deste estudo, no próximo capítulo, discuti- remos os desafios pessoais que os pastores enfrentam em seu mi
nistério. Antes, porém, é necessário revisarmos o que foi dito até o momento.
Revisão e aproveitamento do capítulo 2
1. Como podemos entender os termos: bispos, pastores e
presbíteros?2. À luz de João 21:15-17, qual a principal responsabilidade
do pastor?
3. Qual o significado do termo “pastor” no Antigo e Novo Testamento?
4- Quais são as qualificações exigidas para quem deseja ser pastor?
5. Quais são as responsabilidades dos pastores ante o rebanho
de Deus?
Iniciamos este capítulo lembrando as palavras do apóstolo Paulo
em lTimóteo4:16 (RA): “Tem cuidado de ti mesmo Não são
raras as situações em que o pastor se propõe a cuidar do rebanho
de Deus, mas esquece de cuidar de si mesmo, desobedecendo ao
Senhor, que inspirou Paulo a escrever essas palavras no intuito de
que seu escolhido para o ministério pastoral estivesse atento para
não incorrer neste erro. Vale ressaltar que, quando o pastor não
cuida de si mesmo, pode vir a adoecer. Assim, em vez de colaborar
para a edificação da igreja, pode ocorrer justamente o contrário.
Pensando nesse quadro é que procuramos, neste capítulo, tratar
dos principais desafios pessoais enfrentados no ministério pastoral.
Cuidados pessoais com a saúde
No cuidado de si mesmo, é necessário que o pastor faça, pelo me
nos, os principais exames médicos periódicos. Para tanto, deve
agendar consulta com profissionais de áreas como cardiologia e
urologia, os quais saberão solicitar exames para um check-up da saú
de do pastor. Essa referência é relevante, já que em meio às muitas
atividades na igreja, muitos pastores optam por não fazer preven
ção de determinadas enfermidades, que, quando desencadeadas,
84 | Fundamentos da teologia pastoral
podem trazer grandes males. A ordem do apóstolo Paulo é: “Cuida
de ti mesmo”.
Com foco na questão de prevenção e cuidados pessoais com a
saúde, vale ressaltar estudos recentes que tratam do estresse e da
depressão no ministério pastoral.1
Entendendo o estresse
Um dos pioneiros a estudar os efeitos do estresse na saúde física
e mental foi o austríaco-canadense Hans Selye,2 que, em 1956,
publicou o livro The stress of life. A partir de sua obra, percebemos
que o termo “estresse” é derivado do latim strmgere. No século 17,
adquiriu a conotação de “aflição” ou “adversidade” e, no final do
século 18, seu conceito evoluiu para “força”, “pressão” ou “esfor
ço”. O termo com a conotação atual foi importado da física para a
área da saúde.
Estresse pode ser compreendido como levar um determinado
material até seu ponto máximo de tensão ou esforço, o qual sofre
rá alteração molecular. Na saúde, o raciocínio é idêntico, isto é,
levar um órgão, ou um conjunto de órgãos, a seu ponto máximo
de tensão, esforço ou sobrecarga, o que resultará numa alteração
biomolecular. Exemplo disso são os atletas, os quais submetem o
sistema osteomuscular a limites máximos de uso e, consequente
mente, colhem lesões devidas ao estresse desses órgãos.3
Para os fins do nosso estudo, focalizamos o estresse produzido
sobre o psiquismo e a saúde mental, que têm como sede o cérebro,
cuja função é processar informações. O excesso de informações
1 Para aprofundamento sobre o estresse no ministério pastoral, ler: P. R. G. Deus, As influências do sentimento religioso sobre os cristãos portadores de depressão.2 A. M. Mendes; R. M. Cruz, Trabalho e saúde no contexto organizacional: vicissitu- des teóricas. Cultura e saúde nas organizações, p. 39-55.1 P. R. G. Deus, As influências do sentimento religioso sobre os cristãos portadores de depressão.
Principais desafios enfrentados no ministério pastoral | 85
percebidas pelos órgãos sensoriais, posteriormente elaboradas e fi
nalmente comunicadas, pode levar esse órgão a limites extremos
de funcionamento, ponto em que ocorrerá o estresse.
No cérebro, diante de um fator estressante, haverá liberação de
cortisol e adrenalina. Ao cair na corrente sanguínea, a adrenalina
causa alguns dos sintomas típicos do estresse, como aumento dos
batimentos cardíacos, vasoconstrição e sudorese. O cortisol au
menta o teor de glicose sanguínea e, cronicamente, pode causar
danos no sistema imunológico, do que decorre maior predisposição
a outras doenças.
Segundo Selye,4 o estresse tem três fases distintas e progressi
vas: alerta, resistência e exaustão. Mas é possível incluir a fase de
quase exaustão.
Fases do estresseAlerta: hipervigilância, agitação, irritabilidade, taquicardia, sudo
rese, perda do apetite.
Resistência: acrescidos aos sintomas anteriores, sensação de des
gaste ao acordar, falha de memória, desânimo, diminuição da libido.
Quase exaustão: forte sensação de esgotamento, piora da falha
da memória, queda dramática da produtividade, sinais de depres
são, ansiedade e descontroles emocionais.
Exaustão: produtividade quase nula no trabalho; desgaste
enorme, com grande falta de energia; angústia e ansiedade diária;
depressão severa. Podem surgir alterações cardíacas, intestinais,
diabetes e toda sorte de doença.
Para tornar mais fácil a compreensão, dividimos as conseqüên
cias mais comuns do estresse em físicas e psíquicas:
4 A. M. Mendes; R. M. Cruz, Trabalho e saúde no contexto organizacional: vicissitu- des teóricas. Cultura e saúde nas organizações, p. 39-55.
86 | Fundamentos da teologia pastoral
Físicas: taquicardia, sudorese, alterações do apetite, altera
ções de peso, alterações do sono, fadiga, desgaste ao acordar, al
terações cardíacas, alterações gastroduodenais (gastrites, refluxos,
colites) diabetes, doenças autoimunes, fibromialgia, reumatismos,
doenças infecciosas, hipertensão.
Psíquicas: ansiedade, irritabilidade, angústia, distúrbios de
atenção, comprometimento da memória, raciocínio lento, estado
de cansaço mental, alterações do estado de humor, diminuição da
libido, descontroles emocionais, isolamento, queda de produtivi
dade, estados depressivos.
Profissões mais expostas ao estresseEstudos recentes publicados pela International Stress Management
Association (Isma),5 listaram as profissões campeãs do estresse. Em
primeiro lugar, policiais e seguranças privados. Depois, controla
dores de voo e motoristas de ônibus urbanos. Em terceiro lugar,
os executivos, trabalhadores da área da saúde e bancários, e, em
quarto lugar, os jornalistas.
As razões são justificáveis e interessantes. Policiais: estado de
alerta constante, dificuldade para relaxar. Controladores de voo:
nenhum momento de desatenção, em função da enorme responsa
bilidade. Motoristas de ônibus urbanos: estresse ambiental, sonoro,
poluição, pressão e controle dos passageiros, dificuldades do trân
sito, pressão das chefias, carga excessiva de trabalho. Executivos,
trabalhadores da saúde e bancários: constantes pressões da che
fia, clientes e subordinados. Jornalistas: exposição a determinadas
situações e fatos que podem causar emoções descarregadas sobre
esse profissional, insegurança para avaliar a veracidade das infor
mações e carga excessiva de trabalho.
5 Para aprofundar a discussão, ler: International Stress Management Association (ISMA). Stress.
Principais desafios enfrentados no ministério pastoral | 87
Interessante é que o trabalho pastoral não apareceu nessa lista da Isma. Uma das razões para isso pode se dever às questões
debatidas no primeiro capítulo, ou seja, o entendimento do ofí
cio pastoral não como profissão, mas como vocação. Todavia, não
podemos negar que o ministro do evangelho não esteja nesse rol.6 A Isma fez um levantamento e chegou ao resultado de que os reli
giosos apresentam índices de estresse superiores até mesmo aos dos
profissionais de segurança. Constatou-se 28% dos padres e freiras
com índices de estresse, ante 26% dos policiais e 20% dos executi
vos. Rossi, coordenadora da Isma, refere-se ao fato de que os fiéis
esperam que, além de apresentarem comportamento exemplar, os sacerdotes estejam sempre a sua disposição.7
Na pesquisa com líderes religiosos pentecostais, neopentecos-
tais e tradicionais, realizada na Universidade de Brasília, constatou-
se forte incidência de desgaste físico e psicológico nesses líderes.8
Assim reportam os autores:
“A constante lida com problemas psíquicos e sociais da comuni
dade, a forte exigência moral e a constante disponibilidade para
as pessoas trazem sérias conseqüências, principalmente pelo parco
espaço público de discussão e pelo fraco apoio organizacional,
principalmente entre os tradicionais.”.9
São vários os fatores que resultam no estresse pastoral, mas um fa
tor que aparece em diversos estudos são os conflitos entre a igreja
e seu corpo diretivo. Algumas comunidades apresentam histórias
de conflitos crônicos na relação pastor-igreja. Há ainda a situação
em que os corpos diretivos ou oficiais se relacionam por laços de
6 Na entrevista de E. P. Lopes, Só Jesus: metas ambiciosas e longas jornadas: assim é a vida dos pastores evangélicos, p. 7-90, é possível verificar o estresse causado pela jornada e pela exigência de trabalho do pastor.7 P. R. G. Deus, As influências do sentimento religioso sobre os cristãos portadores de depressão, p. 50.8 A. M. Mendes; R. R. Silva, Prazer e sofrimento no trabalho de líderes religiosos numa organização protestante neopentecostal e noutra tradicional, p. 103-112.9 Idem, p. 103.
88 ! Fundamentos da teologia pastoral
sangue, casamento ou amizade, o que resulta no envolvimento
maior do pastor em situações de conflito e estresse.10
Fazendo uma comparação entre as profissões citadas pela Isma,
temos dados relevantes que apontam para geradores do estresse no ministério pastoral. Por exemplo, como os policiais, os pastores estão em constante alerta; como os controladores de voo, não po
dem ficar desatentos; como os executivos e trabalhadores da saúde, sofrem pressões de todos os lados: lideranças e membros como os jornalistas, estão constantemente expostos a fatos e situações carregadas de emoção, sendo eles, não raro, o primeiro anteparo
nessas situações; como os motoristas e jornalistas, somam excessiva carga de trabalho.11 Em muitas comunidades, principalmente
as mais carentes, o pastor tem que entender as finanças da igreja e ajudar a liderança local a lidar com elas. Se a igreja tem um plano de reforma, em muitas ocasiões a palavra final é do pastor. Não são raros os casos em que ele literalmente coloca a mão na massa, assentando tijolos, por exemplo.
Em muitas comunidades, não existem pessoas preparadas para conduzir a música na congregação, e o pastor tem sobre si mais esse encargo. Mas, uma das funções talvez mais incômodas e desgastantes é a dimensão política do exercício pastoral. Essa função envolve tratativas dentro da própria comunidade na inter-relação com o pastor ou entre o pastor e o corpo diretivo da igreja; tratativas nas relações do pastor com os membros na condução de problemas e discordâncias e, ainda, tratativas das relações do pastor com outras instâncias da igreja enquanto organização, as denominadas “relações eclesiásticas”.
Diante disso, percebemos que o pastor está mais exposto a si
tuações de estresse do que se pode pensar. Por conseguinte, deve
10 Para maiores esclarecimentos, ler: S. B. Sarason, The creation ofsettings and the future societies.11 M. Stefano, Um drama atrás dos púlpitos, p. 40-48.
Principais desafios enfrentados no ministério pastoral | 89
cuidar de si mesmo e, no aparecimento do mais “simples” sintoma
dessa enfermidade, deve procurar um especialista da área. Cabe-
nos, a partir do que foi exposto até aqui, refletir sobre a depressão
no ministério pastoral.
Depressão no ministério pastoral
O psiquiatra dr. Pérsio de Deus pontua que a depressão, como
doença do cérebro, apresenta diversas manifestações clínicas, que,
por sua vez, comprometem funções físicas e psíquicas, nem sem
pre percebidas de maneira clara. Em sua leitura do salmo 32, ele
consegue identificar sintomas depressivos em Davi. Na leitura de
Lamentações 4, também assinala quadros depressivos em Jeremias.
Isso implica dizer que encontramos na Bíblia Sagrada grandes ho
mens que sofreram situações depressivas.12
As modalidades depressivas surgem com muita frequência
após perdas significativas: pessoa muito querida, emprego, mora
dia, status socioeconômico ou algo puramente simbólico. Em fun
ção disso, há várias categorias de depressão que se caracterizam por
uma multiplicidade de sintomas:13
Afetivos: tristeza, melancolia, choro fácil ou freqüente, apatia,
tédio e irritabilidade.
Instintivos e neurovegetativos: incapacidade de sentir prazer em
várias esferas da vida, fadiga, desânimo, insônia ou sonolência em
excesso, perda ou aumento de apetite, diminuição da libido.
12 Para detalhes relativos a esta temática, ler: P. R. G. Deus, As influências dos salmos de Davi na concepção de depressão pelos cristãos. E. P. Lopes; M. M. C. Liberal (Orgs.). O impacto da práxis religiosa na construção de vínculos sociais, p. 91-104.13 P. Dalgalarrondo, Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. p. 307-309.
90 I Fundamentos da teologia pastoral
Ideativos: pessimismo, culpa, rancores, ideação, planos ou atos suicidas, desejo de dormir para sempre ou de desaparecer do mundo.
Cognitivos: falta de concentração, atenção e memória, dificul- dade para tomar decisões.
Autovaloração: baixa estima pessoal, sentimento de incapacida
de, vergonha e autodepreciação.Psicomotrícidade: tendência de permanecer na cama por todo o
dia (com quarto escuro, recusando visitas), lentificação do raciocí
nio e de atividades psicomotoras.
Assim, verifica-se que a depressão é um adoecimento que passa por várias fases, da leve até a grave. Por isso, ao tomarmos a definição de Dalgalarrondo, se tristeza e desânimos se tornarem
persistentes na vida do pastor, é hora de procurar um especialista, uma vez que os elementos mais destacados dessa enfermidade são “humor triste e desânimo”.14 Seguem algumas orientações terapêuticas que podem auxiliar no tratamento da depressão.
Orientações terapêuticasAs propostas de orientação terapêutica devem estar ancoradas no bom senso, considerando-se a singularidade do ser humano e o fato de que cada caso terá um tratamento específico. As orientações terapêuticas têm como objetivo melhorar a qualidade de vida, atuando preventiva e terapeuticamente. Algumas são aparentemente simples e até mesmo óbvias e, talvez por serem assim, costumam ser negligenciadas. Vejamos algumas dessas orientações que podem levar a resultados relevantes:
Exercícios físicos: são extremamente benéficos e não exigem maiores investimentos, pois uma das melhores formas de exercício físico é a caminhada. De modo ideal, deve ser realizada diariamente por cerca de meia hora. Importante lembrar que, antes da prática
14 Idem.
Principais desafios enfrentados no ministério pastoral | 91
de qualquer exercício físico, deve-se passar por avaliação física e médica. O exercício físico melhora a circulação, atua na prevenção de doenças cardiovasculares, fortalece musculatura e ossatura, prevenindo doenças reumáticas, além de liberar endorfina (substância importante no organismo, que ajuda a evitar a obesidade).
Esportes: desde que já haja condicionamento físico, pode-se iniciar a prática de esportes que, além dos benefícios decorrentes do exercício físico em si, ainda tem função lúdica e, em alguns esportes, o favorecimento das relações sociais pela função de grupo.
Técnicas de relaxamento: são importantes para alívio do estado de tensão física e psíquica, advinda do estresse. Existem diversas
formas de relaxamento, desde várias modalidades de massagens e banhos, até ouvir música suave e harmônica num ambiente calmo,
silencioso e agradável. Dependendo do tipo de personalidade, podem-se descobrir diversas formas de relaxamento.
Oração: o exemplo desse benefício está na história bíblica de Daniel, que orava diversas vezes por dia. A oração é uma das armas terapêuticas mais eficazes contra as doenças do cérebro.
Arte terapia: qualquer manifestação artística, feita de maneira natural e espontânea, tem grande valia na prevenção do estresse e da depressão. A arte terapia já era praticada por Davi, para aliviar
o estado de saúde do rei Saul.Lazer: tempo livre ou de descanso, após um período de ativida
des. O pastor deve cuidar para reservar-se um tempo de lazer.
As medidas de prevenção e tratamento visam a atenuar o desgaste excessivo do “processador cerebral” e a fortalecer o organismo para fornecer mais energia ao cérebro. Naturalmente, quanto mais sério for o comprometimento físico e psíquico decorrente do desgaste causado pela depressão e estresse, mais sérias devem ser as medidas adotadas. Uma dessas medidas é a psicoterapia, para os casos em que parte das tensões geradoras do estado de estresse esteja ligada a situações de conflitos, conscientes ou não. A psicoterapia pode ser, nesses casos, de grande auxílio e valia.
92 | Fundamentos da teologia pastoral
Outra medida é o uso de medicamentos, que podem atuar de forma direta ou indireta. A atuação indireta dá-se no sentido de agir nas conseqüências físicas advindas do desgaste de órgãos ou sistemas: hipertensão, alterações de glicemia, alterações do sistema gastrointestinal, infecções freqüentes. A ação direta é realizada no sentido de se proteger a rede neural a partir do uso de fármacos específicos que atuam como neuroprotetores, neuroestabilizadores e reguladores do sono.
Destacamos que há caminhos para a prevenção e tratamento do estresse e da depressão no ministério pastoral. Um desses caminhos é o pastor de fato confiar no poder de Deus e entregar todas as suas atividades nas mãos do Senhor (SI 37:5). Outros caminhos são: fazer exames periódicos e não se esquecer da prática de atividades físicas e lúdicas; tomar cuidado para não ser relapso com as coisas de Deus, mas também ter consciência das suas limitações pessoais. Lembremos, ainda, que o Bom Pastor é um só e já deu sua vida pelas ovelhas; portanto, os demais pastores não precisam cumprir essa orientação em sentido literal. Não nos esqueçamos de nós mesmos, mas tenhamos em mente o seguinte: com a mesma medida que nos amamos e nos cuidamos, amemos também o rebanho de Deus. Daí as palavras do apóstolo Paulo: “Cuida de ti mesmo e da doutrina [...] porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes” (lTm 4:16, RA).
O cuidado de si próprio não envolve somente cuidados físicos, mas sobretudo espirituais. Assim, o pastor também necessita cuidar de sua vida devocional pessoal, como veremos a seguir.
VIDA DEVOCIONAL
Pode soar estranho tratarmos desta temática, uma vez que deveria
ser prática corrente no ministério pastoral. Entretanto, Jowett,15 ao tratar dos perigos que o pregador enfrenta, observa que a falta
15 J. H. Jowett, O pregador, sua vida e obra, p. 32.
Principais desafios enfrentados no ministério pastoral | 93
de vida devocional é um dos grandes problemas, se não o maior,
do ministério do pastor.16 A questão consiste no seguinte: o semi- narista fica por vários anos no seminário,e é muito bem prepara-
do, com uma carga horária de 2.400 horas, distribuída em cinco
blocos: teologia exegética, teologia sistemática, teologia histórica, teologia pastoral e conhecimentos gerais. Após o término do curso
teológico, ordenado ou consagrado pastor, o ministro pode pensar que, por ter estudado num bom seminário e ser “conhecedor” de
boa parte das áreas teológicas citadas, não tem mais necessidade
de prosseguir em seus estudos. Ao mesmo tempo, pode pensar que sua mensagem, vida e ministério dependem somente dos conheci
mentos adquiridos em seu curso teológico.
Ketcham, ao discorrer sobre o salmo 23, assinala que este é um
dos textos mais conhecidos e amados da Bíblia. Segundo ele, não
são poucos os cristãos que o sabem de cor. Em sua concepção, mui
tos cristãos se familiarizaram com o salmo.17 O problema não está
na familiaridade, mas no fato de que muitos cristãos fizeram dessa
porção bíblica um texto que não lhes causa mais impacto. Desse
modo, alguns podem saber muitas coisas a respeito dele, sem, con
tudo, jamais conhecerem Deus como pastor.18
Dessa atitude podem resultar duas situações problemáticas.Primeira: a pessoa passa a estudar o texto bíblico não com a
intenção de ouvir Deus falar. Segundo Thielicke,19 quando deixo
de ler a palavra das Escrituras como sendo dirigida a mim, esta
passa a ser apenas um objeto de estudo ou um livro como qualquer
outro. Em sua concepção, esse é um dos piores transtornos entre
os disseminados no ministério pastoral. “Pois o pastor raramente
16 A. Azurdia, Reformando a igreja por meio da oração: a contribuição pastoral. ]. Armstrong (Org.), O ministério pastoral segundo a Bíblia, p. 175.17 R. Ketcham, O salmo 23, p. 9.18 J. R. Beeke. A urgente necessidade de uma vida piedosa: o fundamento do ministério pastoral.J. Armstrong (Org.), O ministério pastoral segundo a Bíblia, p. 59-84.19 H. Thielicke, Recomendações aos jovens teólogos e pastores, p. 57.
94 | Fundamentos da teologia pastoral
consegue expor um texto como se fosse uma carta endereçada a ele próprio, e só lê a Bíblia sob a pressão de como encaixar o texto
em um sermão.”Na segunda situação problemática a pessoa se confunde quanto
a sua vida com Deus, como afirma Jowett:20 “Podemos vir a supor
que falar bem é viver bem, que a habilidade expositiva é piedade
profunda [...]”. Com isso, “podemos manter ativo intercâmbio de palavras, mas ‘o temor das alturas’ não mais nos faz tremer [...], po
demos falar acerca de montanhas sendo cegos e insensíveis filhos das planícies”.21 O mais triste dessa situação é “que podemos fazer
isso sem que o saibamos jamais”.22 Jowett denomina esta atitude
como “mortífera familiaridade com o sublime”.23
Diante do que foi dito, é necessário deixar claro que a vida
devocional do pastor deve alicerçar-se no conhecimento de Deus, pautar-se em uma vida de oração e no falar do Senhor ao seu coração por meio das Escrituras Sagradas. Ao tratar do conhecimen
to de Deus, não podemos deixar de citar lCrônicas 28:1-21, em
que Davi reúne todos os líderes de Israel, convoca-os a obedecer
os mandamentos do Senhor e profere, diante de todos, as seguintes palavras a Salomão: “E você, meu filho Salomão, reconheça o Deus de seu pai [...]” (v. 9). Na tradução Revista e Atualizada pode ser lido: “Tu, meu filho Salomão, conhece o Deus de teu pai”.
Certamente, com a instrução “conhece o Deus de teu pai”, Davi
não queria dizer que conhecer Deus significava decorar os mandamentos e ordenanças do Senhor. Se fosse essa a tônica de Davi,
a proposição seria plenamente descabida, uma vez que todas as
crianças de Israel aprendiam o alfabeto por meio do Pentateuco.24
Na prática, isso significa que Salomão já havia decorado tudo o que
20 J. H. Jowett, O pregador, sua vida e obra, p. 33.21 Idem, p. 32.22 Idem, p. 33.23 Idem, P. 32.24 Para conhecimento ler: E. P. Lopes, Fundamentos da teologia da educação cristã.
Principais desafios enfrentados no ministério pastoral I95
havia de mais fundamental a respeito. Ou seja, Davi não tinha em
mente o conhecimento teórico a respeito de Deus, mas aquele que
resulta em profunda comunhão25 e aceitação da aliança feita por
Yavé com seu povo.20
Em seu livro O conhecimento de Deus, Packer afirma que conhe
cer a Deus é uma experiência definitiva e verdadeira, à qual mui
tos são estranhos: “[...] interesse em teologia, conhecimento sobre
Deus, e capacidade de pensar com clareza e falar bem sobre temas
cristãos não são a mesma coisa que conhecer a Deus [...] alguém
pode ter tudo isso e não conhecer realmente a Deus”.27
Está claro, portanto, que o pastor deve buscar continuamente
conhecer Deus, isto é, ter profunda comunhão com ele. A pergunta
a ser feita é: Como conhecer Deus nos termos em que estamos colo
cando? A resposta é simples: por meio da oração e pela submissão à
Palavra. “Os homens que conhecem o seu Deus são, antes de tudo,
homens de oração, e o primeiro ponto onde seu zelo e força para
a glória de Deus são expressos é em suas orações.”28 É interessante
pensar na oração, sobretudo para a Igreja da atualidade. Nunca é
demais estudarmos a respeito da oração.
Na realidade, cada crente deve entender que a oração é parte
vital de sua comunhão com Deus e não um complemento. Não são
raras as situações em que nos deparamos com intensas e prolonga
das reuniões de planejamento, mas dispensamos pouco ou quase
nenhum tempo para a oração. Precisamos ter a consciência de que
o planejamento é importante, mas a oração é o caminho preparado
por Deus para que seus filhos lhe roguem as mais ricas bênçãos
sobre sua vida e sobre a igreja em que congregam.
25 P. R. Gilchrist, Yãda' (conhecer). R. L. Harris, Internacional Dicionário de Teologia do Antigo Testamento, p. 597-600.26 R. L. Pratt Jr., I e 2 Crônicas, p. 263.27 J. I. Packer, O conhecimento de Deus, p. 19.28 Idem, p. 21.
96 | Fundamentos da teologia pastoral
Por essa razão é que encontramos vários exemplos e impera
tivos na Palavra de Deus determinando que oremos ao Senhor.
O apóstolo Paulo, em ITessalonicenses 5:17, determinou a todos
nós: “Orai sem cessar”. Jesus ensinou os discípulos a orar sempre e nunca desanimar (Lc 18:2). São muitos os exemplos que nos in
centivam a uma vida de oração. A Palavra de Deus registra vários:
Abraão (Gn 18:3-15), Ana (ISm 1:3-27), Elias (lRs 18:36-38),
Jonas (Jn 2:2-10), entre outros. A seguir, examinamos alguns deles
com um pouco mais de atenção.
No livro de Neemias,29 nós o encontramos dando-nos um gran
de exemplo de que devemos colocar diante do Senhor todas as
nossas questões. No capítulo 1, quando tomou ciência, por meio de
Hanani, das dificuldades, sofrimentos e devastação que assolavam Jerusalém, diz-nos o texto sagrado que ele passou dias “orando ao
Deus dos céus” (1:4) e seu pedido tinha a finalidade de glorificar a
Deus com a reconstrução de Jerusalém (1:10-11). No capítulo 2, quando foi servir vinho ao rei Artaxerxes, Neemias demonstrou
tristeza, o que incomodou o rei, e este lhe perguntou o que havia ocorrido. Antes de pedir qualquer coisa a Artaxerxes, Neemias
“orou ao Senhor” (2:4). Após a oração, fez seu pedido ao rei (2:4-6)
e foi bem-sucedido.Em todo o texto de Neemias encontramos a lição central de
que o caminho para recebermos a bênção de Deus é a oração. No
caso do pastor, podemos afirmar que todo o êxito do seu ministério
não está em sua própria força ou capacidade administrativa, mas numa vida de oração. Veremos ainda neste estudo a relevância
de uma boa administração no ministério pastoral, mas devemos
entender que isso é um complemento à vida de oração, e não a
parte mais importante do trabalho pastoral. O que é vital para seu
ministério é a oração.
29 Para detalhamento acerca das realizações de Neemias, ler: J. White, Encontrei um líder: alcançando objetivos com oração, coragem e determinação.
Principais desafios enfrentados no ministério pastoral | 97
Na leitura sobre a vida de José do Egito, deparamo-nos com a certeza de que o êxito na vida do cristão está na bênção de Deus, e não em nossa própria capacidade. Em Gênesis 37:12-36, vemos que alguns irmãos de José tinham a intenção de lhe tirar a vida. Entretanto, por propósito de Deus, ele foi vendido por seus irmãos para mercadores ismaelitas de Midiã (Gn 37:28), que se dirigiam ao Egito. José não se entregou ao assédio da mulher de Potifar é, como recompensa, foi preso, acusado por ela de insulto ou tentativa de assédio. Ele foi lançado na prisão por Potifar (Gn 39:20-21). A Bíblia revela que, estando José na prisão, o carcereiro não se preocupava com nada do que estava ao seu cargo, “porque o Senhor estava com José e lhe concedia bom êxito em tudo o que realizava” (Gn 39:23). O próprio José compreendia que seu êxito devia-se à bênção de Deus, porque, após ter sido nomeado governador do Egito, afirmou: “Deus me fez prosperar na terra onde tenho sofrido” (Gn 41:52).
Se tudo provém dele, então devemos buscá-lo em oração. Jeremias conclama-nos a orar dizendo: “Clame a mim e eu responderei e lhe direi coisas grandiosas e insondáveis que você não conhece” (Jr 33:3).
Em 2Crônicas 7:11-21, encontramos Deus prometendo a Salomão que abençoaria o povo de Israel e também a família de Davi, por intermédio dele. A condição era que ele andasse em seus retos caminhos (2Cr 7:17-18). Entretanto, se os israelitas se afastassem do Senhor e quebrassem a aliança com Deus, então seriam desolados e atrairiam, sobre si próprios, toda sorte de desgraça (2Cr 7:22). Porém, se então orassem e buscassem a face do Senhor com humildade e arrependimento, o Senhor os perdoaria e curaria toda a sua terra. Como se essas promessas não bastassem, Deus ainda diz: “De hoje em diante os meus olhos estarão abertos e os meus ouvidos atentos às orações feitas neste lugar” (2Cr 7:15).
Está claro, portanto, que o êxito no ministério pastoral está em
reconhecermos que tudo provém do Senhor, e não de nossa própria capacidade. Isso pode ser visto em Atos 16:25, quando Paulo e Silas
98 | Fundamentos da teologia pastoral
oravam e cantavam a Deus, enquanto os outros presos os ouviam.
“De repente, houve um terremoto tão violento que os alicerces da
prisão foram abalados [...]” (At 16:26). Eles oravam e cantavam,
apesar da prisão, por confiarem que sua vida estava nas mãos de Deus. Sabiam, portanto, que tudo dependia de Deus, e não deles.
Há grupos religiosos que parecem apresentar Deus como um
serviçal, pois usam as promessas divinas para determinar que sejam
atendidos. “A oração, muitas vezes, parece refletir uma atitude de
tentar realizar o propósito da pessoa que ora, da maneira que ela
quer. Isso é errado [...]”.50 A oração não é um exercício de deter-
minação, pelo contrário, ela nos ensina a depender inteiramente do Senhor e nos mostra que Deus é quem controla o mundo, e não nós.
“Daqui nasce para nós uma grande paz e tranqüilidade de cons
ciência, porque, tendo exposto ao Senhor a necessidade que nos
oprimia, descansamos nele plenamente, porque estamos persua
didos de que nenhum de nossos males está oculto àquele que nos
quer tão bem f...]”.31
Por causa disso, Lloyd-Jones pode afirmar:
Muitos têm concordado que o mais elevado quadro do homem
que jamais se pôde retratar, conforme também penso, é vê-lo de
joelhos, esperando em Deus. A oração é a mais elevada realização
do ser humano, é a sua atitude mais nobre. Nunca o homem se
mostra tão grande como quando entra em comunhão e contato
com Deus.32
Dentre todos os exemplos citados acima, devemos lembrar
que Jesus tornou evidente a relevância da oração na vida do pas
tor. “Os quatro evangelistas não apenas registram Jesus orando
30 D. McDougall, A vida de oração do pastor: o aspecto ministerial. J. MacArthur
Jr. (Org.), Redescobrindo o ministério pastoral, p. 215.3 1 J . Calvino, A instituição da religião cristã, p. 310.32 M. Lloyd-Jones, Estudos no sermão do monte, p. 311.
Principais desafios enfrentados no ministério pastoral | 99
com grande frequência e em diversos lugares, mas também têm o cuidado de citar ocasiões específicas durante seu ministério em que [...] ele se afastou de toda e qualquer companhia para orar [...]”.33
Em Marcos 1:35 lemos: “De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus levantou-se, saiu de casa e foi para um lugar deserto, onde ficou orando”. Lucas registra que Jesus se retirava para lugares solitários e orava (Lc 5:16) e também sublinha que Jesus passou
uma noite inteira em oração (Lc 6:12).
Em Mateus 6:5-13, Jesus, que é o nosso maior modelo de uma vida de oração (Lc 11:1), ensina os seus discípulos — e a nós por extensão — a orar. O modelo deixado por ele é o Pai-Nosso.34 Nessa oração, diferentemente do que se vê nas igrejas hoje, aprendemos a desejar primeiramente as coisas de Deus,35 daí as expressões:
“santificado seja teu nome”, “venha o teu reino” e “seja feita a tua
vontade, assim, na terra como nos céus”. Só depois de atendermos a vontade de Deus é que devemos fazer nossas petições, buscando o necessário para a nossa existência; por isso, as expressões: “dá- -nos o pão nosso de cada dia”, “perdoa as nossas dívidas”, “não nos deixes cair em tentação” e “livra-nos do mal”.
Assim, a oração ensinada por Cristo e que deve ser vivencia-
da pelo pastor é aquela em que declaramos a Deus nossa inteira dependência dele e nossa total aceitação de que ele faça a sua
vontade e não a nossa, conforme nos ensina McDougall: “Ao se aproximar de Deus em oração, a pessoa deve ter o cuidado de entrar em sua presença com o propósito correto e a atitude correta. Ela deve desejar que a vontade de Deus seja feita”.36
33 A. Azurdia, Reformando a igreja por meio da oração: a contribuição pastoral. J.
MacArthur Jr. (Org.), Redescobrindo o ministério pastoral, p. 178.34 Para aperfeiçoamento, ler: M. Lloyd-Jones, Estudos no sermão do monte, p. 343-361.35 Para estudo da oração do Pai-Nosso recomendamos a leitura: J. Jeremias, O pai-nosso: a oração do Senhor.36 D. McDougall, A vida de oração do pastor. J. MacArthur Jr. (Org.), Redescobrindo o ministério pastoral, p. 217.
Como vimos, a oração é imprescindível para a atividade pastoral.
Entretanto, podemos ver dois tipos de problema na atualidade. Um,
já citado, é o da arrogância de tentar fazer de Deus um serviçal da
igreja; outro é o de certo abandono da vida de oração. Já nos dias de
Spurgeon, as reuniões de oração eram pouco freqüentadas, por isso
ele conclamava seus alunos, futuros pastores, que jamais deixassem
de orar e que treinassem suas igrejas na arte santa da oração:
Façam com que vocês mesmos sejam aprovados através da devo
ção dos vossos crentes. Se vocês mesmos orarem, quererão que eles orem com vocês; e quando eles começam a orar com vocês e
por vocês e pelo trabalho do Senhor, eles próprios quererão mais
oração, e assim o desejo aumentará. Acreditem em mim, uma
igreja que não ora, é uma igreja morta. Coloquem-na no princípio.
Todas as coisas dependerão do poder da oração na igreja.37
Por conseguinte, se o pastor deseja êxito em seu ministério pastoral, deve manter uma vida de oração. No mesmo contexto, deve estar consciente de que a vida de oração é indissociável da
submissão à Palavra de Deus. Assim, uma vez compreendida a importância da oração, prosseguindo nosso estudo, focaremos o pastor em relação aos seus estudos.
O PASTOR E SEUS ESTUDOS
Antes de qualquer coisa que se diga, é necessário enfatizar que, ao nos referirmos ao “estudo e preparo para o exercício do ensino bíblico”, não temos em mente, como já dissemos antes, que esse “estudo” e “preparo” consistam em conhecimentos puramente teóricos. Em vez disso, o objetivo final é que, por meio do estudo
sincero, fiel e piedoso da Bíblia, o pastor mantenha profunda comunhão com Deus. Do contrário, voltaríamos ao primeiro capítulo deste estudo, isto é, seriamos teólogos e não pastores. O teólogo
100 | Fundamentos da teologia pastoral
37 C. H. Spurgeon, só Firmes na verdade, p. 59.
Principais desafios enfrentados no ministério pastoral | 101
pode ter a Bíblia como objeto de análise e estudo, sem crer nela
como Palavra de Deus, já o pastor deve estudá-la e analisá-la com
a finalidade de ter maior comunhão com Deus, submetendo-se ao
seu ensino para ser encontrado como determina o apóstolo Paulo
em 2Timóteo 2:15: “Obreiros aprovados [...] que manejem bem a palavra da verdade”.
Todavia, nem sempre isso ocorre no ministério pastoral. Mui
tos pastores menosprezam o estudo aprofundado das Escrituras,38
prova disso é a perspectiva do senador Marcelo Crivella que, no
seu projeto de lei, afirma que “acima de qualquer outra profissão,
a profissão de fé exige muito mais de vocação e devoção do que de
formação acadêmica”,39 como visto no primeiro capítulo. Isso não
deixa de ser um postulado de que o pastor não precisa ter curso ou
formação teológica.
Vale ressaltar que Valmor da Silva repudiou o inciso proposto
por Crivella que dispensava do diploma quem estivesse exercendo
a profissão de teólogo há mais de cinco anos: “Nós rejeitamos vee
mentemente. Sem diploma, de jeito nenhum. Tem que ter preparo
acadêmico”.40 Observamos, nas palavras de Valmor da Silva, o que
nos parece consenso geral (com raras exceções), ou seja, que para
o exercício pastoral há necessidade de preparo acadêmico. Dessa
postura decorrem os cursos de Teologia reconhecidos ou autoriza
dos pelo MEC e também os seminários das mais diversas confissões.
Diante do exposto, fica claro que, para o exercício das ativida
des pastorais, é indispensável o estudo das disciplinas contidas na
matriz curricular dos cursos de teologia, reconhecidos ou não pelo
MEC, matriz essa que não pode ter carga horária inferior a 1.600
38 N. Kessler, Ética pastoral, p. 109.39 Instituto Humanitas Unisinos. Projetos reconhecem líder religioso como ‘teólogo’, mesmo sem curso.40 R. Icassati, Divergência sobre regulamentação de profissão de teólogo leva decisão para 2010.
102 | Fundamentos da teologia pastoral
horas.4’ Por outro lado, como já visto no capítulo 2, notamos que há a preocupação de manter explícito que não pode haver interferência na liberdade religiosa e na liberdade da Igreja de se definir internamente. Isso significa que, fundamentada em sua crença no chamado de Deus, a Igreja é que decide quem pode ser sacerdote ou pastor, e não o Estado.
A formação pastoral está diretamente ligada à importância do ofício a ser exercido. Por isso, o aspirante ao ministério deve se dedicar prioritária e intensamente ao seu curso de Teologia, buscando alcançar as melhores notas, demonstrando assim ter assimilado o conteúdo das disciplinas, para adquirir o conhecimento necessário ao melhor desempenho no ministério que almeja.42 Isso é o que pode ser lido no Manual do Candidato ao Ministério da Palavra de
Deus, da Igreja Presbiteriana do Brasil:43
[...] que em virtude da função peculiar ao ofício que aspira (o en
sino), as seguintes qualidades são absolutamente indispensáveis
ao vocacionado ao ministério da Palavra: dom de interpretação,
discernimento, conhecimento bíblico, apego à Palavra de Deus
e aptidão para o estudo e ensino. Afinal, ele precisará manejar
corretamente a palavra da verdade (2Tm 2:15). É indispensável
que ele seja “apegado à palavra fiel que é segundo a doutrina, de
modo que tenha poder, assim para exortar pelo reto ensino como
para convencer os que contradizem” (Tt 1:9).
A partir das palavras acima, verificamos que o chamado interno
para o exercício do ofício de pastor deve ser indissociável do estudo
41 O Parecer CNE/CES nº 63/2004, estabelece que os alunos oriundos dos cursos de Teologia, podem, após aprovação no vestibular em cursos de Teologia reconhecidos pelo MEC, obter integralização de créditos e diploma reconhecido. Entretanto, deve-se observar que o curso teológico de origem não pode ter carga horária de 1.600 horas/aula. Para aprofundamento desta matéria, ler: Parecer CNE/CES 63/2004.4: Op. cit.43 ]. E. T. da Igreja Presbiteriana do Brasil, Vocação: preparo para o ministério pastoral, p. 27.
Principais desafios enfrentados no ministério pastoral | 103
e, nessa perspectiva, vale citar a afirmação de Stott: “Todo candi- dato ao ministério pastoral ou ao preshiterato deve possuir tanto a
fé bíblica como o dom de ensiná-la”.44 Em seguida, o mesmo Stott, ao citar o sermão de Charles Simeon, afirma: “Para obtenção de conhecimento divino, a orientação que temos é a de combinar
uma dependência do Espírito de Deus com nossas próprias pesquisas. Que não nos atrevamos a separar então o que Deus uniu”.41
Neste contexto, vale ressaltar as palavras de João Calvino:4'’
[...] a erudição unida à piedade e às demais qualidades próprias de
um bom pastor são como que uma preparação para o ministério.
Porque, aqueles que o Senhor destinou para tão grande tarefa são
por Ele aparelhados com as armas necessárias, a fim de que não se
aproximem desacautelados e despreparados do ministério.
Calvino está consciente de que há necessidade de unir, no ministério pastoral, a erudição à piedade, de maneira que, em sua concepção, ninguém deveria assumir tão importante tarefa sem boa formação. É o que podemos ler em suas próprias palavras: “[...]
de sorte que ninguém assumisse o ministério sem uma boa forma
ção, isto sem ter sido embebido desde cedo na sã doutrina e ter-se
revestido da seriedade e da santidade de vida adquiridos pela disciplina nas coisas santas”.47
Um relevante exemplo extraído das Escrituras, quanto à impor
tância do estudo do pastor, é o sacerdote Esdras. Deus havia des
pertado o coração de Ciro, rei da Pérsia, a fim de que cumprisse sua palavra, dada por meio do profeta Jeremias, de que reconstruiria o templo de Jerusalém (Ed 1:1-11). Já nos dias de Artaxerxes, que se tornara rei da Pérsia depois de Dario (Ed 4:6-24; 5-6), Esdras seguiu em direção a Jerusalém. Em Esdras 7:10 lemos que, antes
44 John Stott, Crer é também pensar, p. 53.45 Idem, p. 59.46 Calvino, A instituição da religião cristã, p. 509.47 Idem, p. 521.
104 I Fundamentos da teologia pastoral
de realizar sua tarefa junto ao povo de Deus, ele dispôs o coração a
se dedicar ao estudo da lei do Senhor. Notemos que ele aplicou-se com determinação ao estudo da Palavra de Deus. O texto bíblico
assinala que ele havia “posto o coração”, o que em hebraico tem o significado de “vida”, ou, o “que há de melhor na vida”. Na prática significa que ele resolveu colocar o melhor da mente, do corpo,
enfim, da sua vida, para estudar a Palavra de Deus.
Ressaltamos que Esdras era escriba e sacerdote e, portanto, já
possuidor de grande conhecimento da Lei. Entretanto, mesmo assim reconhecia a relevância de progredir ainda mais no estudo das Escrituras. Com isso, Esdras tornou-se grande exemplo para os pas
tores. Ainda que tenham formação teológica, à semelhança de Es
dras, eles necessitam “examinar as Escrituras”, isto é, esmiuçar as
verdades contidas na Palavra de Deus. Para isso, devem continuar
estudando as línguas bíblicas, sobretudo hebraico e grego, teologia
bíblica, teologia sistemática, conhecimentos gerais e atuais. Não
pode, porém, perder de vista que esse estudo deve visar a sua pró
pria edificação e à da igreja.Algo relevante que aprendemos com Esdras é que ele esta
va preocupado em praticar a Lei do Senhor, daí a proposição “e
a praticá-la” (Ed 7:10). Não vamos nos demorar aqui, porque a
prática do evangelho deve ser uma constante na vida do pastor,
conforme visto anteriormente. Mas cabe ressaltar que o objetivo
final de Esdras era ensinar e, para isso, entendia que, antes de en
sinar, precisava praticar as ordenanças do Senhor. Isso implica que devemos, antes de ensinar, praticar; e, para praticar, precisamos
conhecer. Esta é a seqüência de Esdras: estudar primeiramente, praticar o que foi estudado e, só a partir daí, estar apto para ensinar
os mandamentos de Deus.Lemos em ITimóteo 4:13-15 como Paulo exortava o jovem
pastor: “Até a minha chegada, dedique-se à leitura pública da
Escritura, à exortação e ao ensino [...]. Seja diligente nessas coi
sas: dedique-se inteiramente a elas, para que todos vejam o seu
Principais desafios enfrentados no ministério pastoral | 105
progresso”. Está provado que é indispensável ao pastor aplicar-se
ao estudo, ter boa formação bíblica e dos conhecimentos que au
xiliem o estudo e análise da Bíblia com a finalidade de alimentar as ovelhas do Senhor Jesus. Vale lembrar as palavras de Martin
quando se refere à importância do estudo das Escrituras:
Devemos examinar as suas páginas com grande anelo, porque ansiamos conhecer a vontade do Senhor, e anelamos por ser adoradores de Sua pessoa. Deveríamos debruçar-nos com frequência e longamente sobre essas páginas sagradas, porque desejamos que nosso serviço, e tudo quanto somos e fazemos, seja moldado e modelado pelas palavras vivas do Deus vivo.48
Julgamos importante fazer referência aos estudos complemen-
tares que podem colaborar para o ministério pastoral em termos da
compreensão pessoal das Escrituras, bem como para as atividades
pastorais na igreja. Referimo-nos aos cursos de pós-graduação voltados para discussões teológicas e religiosas. No Brasil, já há vários
cursos de pós-graduação (mestrado/doutorado) em Ciências da Religião, por exemplo, que muito podem promover o progresso inte
lectual e espiritual do pastor. Não só esses cursos são importantes, mas também a leitura de alguns livros, o que pode resultar no aperfeiçoamento intelectual e espiritual do pastor, e ser-lhe muito útil
na liderança da igreja de Cristo. Ao final deste livro registramos em nossas referências bibliográficas e nas sugestões de leituras vá
rios livros que muito podem colaborar nos estudos do ministro do
evangelho. Justificamos nossas palavras em função da observação de Baxter, que nos ensina a não negligenciar os estudos:
É comum sermos negligentes em nossos estudos. São poucos os que se preocupam em ser bem informados e bem preparados para a realização progressista da obra. Alguns não têm prazer nenhum em seus estudos, tomando para isso uma hora aqui, uma hora ali,
48 A. N. Martin, O que há de errado com a pregação de hoje?, p. 16.
106 | Fundamentos da teologia pastoral
e ainda como uma tarefa não bem-vinda, que são forçados a fazer.
Alegram-se quando podem escapar desse jugo.49
Um pouco mais à frente no texto de Baxter conseguimos captar o contexto das suas palavras, quando ele afirma: “Requerem-se esses esforços diligentes tanto mais porque muitos que se formam
na universidade são tão jovens que necessitam muito mais nu
trição e firmes ensinamentos antes de entrarem no ministério”.
Percebemos, assim, sua preocupação com o termo “universidade”. Ainda que seja dirigido à formação teológica, acenamos o
fato de que muitos pastores têm deixado de pastorear seus mem
bros mais jovens por não se atualizarem, por meio do estudo, no
decorrer do tempo. A partir dessa perspectiva, vale a pena citar novamente Baxter:30
Quanto perdemos quando não utilizamos [...] conhecimento em
nosso ministério! Muitos ministros só estudam o bastante para o
preparo dos seus sermões e pouca coisa mais. Todavia, existem
muitos livros que podem ser lidos e muitos assuntos com os quais
podemos familiarizar-nos.
Não devemos esquecer que as Escrituras Sagradas devem ser priorizadas na vida do pastor, pois somente elas são nossa regra de fé e prática. Isso significa que devemos fundamentar nossa fé
somente no que ela nos ensina e praticar o que nela aprendemos.Em síntese, nesta parte de nosso estudo enfatizamos princípios
que devem nortear a vida devocional pessoal do pastor, seguindo o que o apóstolo Paulo determinou: “cuida de ti mesmo”. O pastor deve “cuidar de si mesmo” tendo como base sua saúde e sua comunhão íntima com Deus, a qual só é possível por meio de uma vida de oração e pelo estudo das Escrituras Sagradas. Agora, cabe-nos comentar os cuidados que ele deve ter com relação à sua família.
49 R. Baxter, O pastor aprovado, p. 82.50 Idem, p. 83.
Principais desafios enfrentados no ministério pastoral | 107
Por essa razão é que há necessidade de se estudar a temática pro
posta a seguir.
Cuidados pastorais com sua família
Não são poucas as negligências percebidas no ministério pastoral
em relação à família do pastor. Reclamações do tipo “cuida das
outras famílias, mas não cuida da sua” têm sido mais freqüentes
nas atividades ministeriais. Todavia, devemos lembrar que nossa
família tem prioridade em relação à igreja. A escala hierárquica
deve ser: Deus, família e igreja. Entretanto, não são poucos os pas
tores que fracassam em seu ministério porque relegam sua família
a segundo plano em relação à igreja, por se esquecerem de que a
família é inseparável do ministério pastoral. Ela pode ser bênção ou
prejuízo para seu trabalho junto ao rebanho de Cristo.
Sem entrar no mérito de muitas questões, apenas para ratificar
a importância da família no ministério pastoral, lembramo-nos de
esposas e filhos que, quando colaboram com o pastor, tornam-se
bênção, alegria e esteio nas lidas pastorais: “Feliz é o pastor que
encontra no seu lar um abrigo de paz, força e alegria. Feliz a igreja
cujo pastor tem o apoio, a simpatia e a plena cooperação de uma boa companheira”.51 Após essas palavras, Kessler ainda exclama:
“Aqueles que têm esposas que são verdadeiras bênçãos nas mãos
de Deus, e às quais devem grande parte do seu sucesso pastoral,
devem agradecer aos céus por as possuírem”.52
Uma palavra é importante que seja dita neste contexto. Muitas
igrejas não percebem que o vocacionado para o ministério pastoral
é o pastor e não a esposa e os filhos deste. Não são raros os casos
em que igrejas exigem que a esposa do pastor seja instrumentista e
que os filhos façam parte do conjunto musical, pois são os “filhos
51 N. Kessler, Ética pastoral, p. 94-52 Idem.
108 I Fundamentos da teologia pastoral
do pastor”. Assinalamos que nem a esposa é pastora, nem os filhos pastores em miniatura.
Kessler, ao comentar o cuidado que o pastor deve ter com sua família, e citando Marion Nelson, afirma que ser esposa de pastor é uma das questões mais emblemáticas e perigosas para qualquer mulher, visto que ela pode ser “a causa da sua vitória ou de sua
derrota como ministro do evangelho”.53 Segundo Wilder,54 poucas “mulheres terão, nesta vida, tamanha carga de deveres como a de um ministro de Deus. Tem ela de sofrer dificuldades que outras não tiveram, nem nunca terão. E, apesar de tudo, deve manter um rosto sempre alegre e sereno [...]”.
As esposas de pastores sofrem algumas críticas, conforme enu
mera Kessler.55 Se ela é asseada e procura mostrar-se apresentável, ostenta vaidades; se dá pouca atenção à sua aparência pessoal, prejudica o pastor porque não sabe se apresentar de modo adequado; se veste-se bem e usa roupas bonitas, é extravagante e vaidosa, e dissipa o dinheiro que Deus dá ao marido para a subsistência familiar; se assiste ao seu marido, é usurpadora da autoridade do pastor
e faz uso de um direito que não tem; se ela se recusa a cooperar
com determinada coisa, está se eximindo do chamado de Deus e falhando em sua responsabilidade de tornar mais leve a carga de seu marido; se toca piano e canta solos nos cultos, está roubando a oportunidade de outros membros da igreja que desejam coope
rar com seus talentos musicais; se não usa seus talentos no ensino da escola dominical, é deficiente como esposa de pastor; se gasta
muito tempo com várias atividades da igreja, é dona de casa relapsa; se visita os membros da igreja com seu esposo, é ciumenta e não confia em seu marido; se não acompanha o pastor nas vi
sitas, é antissocial e indiferente; se é assídua aos cultos, mas tem crianças pequenas, prejudica a ordem dos trabalhos do Senhor; se
53 Idem, p. 93.54 J. B. Wilder, O jovem pastor, p. 79-80.55 N. Kessler, Ética pastoral, p. 100-101.
Principais desafios enfrentados no ministério pastoral | 109
permanece em casa parte do tempo, não é espiritual, mas fria na fé; se trabalha fora e não pode participar de alguns trabalhos da igreja, é gananciosa e incrédula.
São tantas as investidas contra a esposa do pastor que algumas,
por não suportarem a situação, acabam por deixar a igreja e, em
muitos casos, o próprio marido. Por essa razão, vale a advertência de que, se alguém deseja exercer o ministério pastoral, deve casar- se com mulher temente a Deus e que esteja disposta a enfrentar
as vicissitudes da atividade ministerial do seu esposo. Isto implica
dizer que “qualquer homem no ministério cristão tem o direito de ser casado, mas não com qualquer uma”.56
Por outro lado, o pastor deve estar atento para proteger sua
esposa quando ideias como as citadas aparecem na dinâmica da
igreja. Ele não deve abandoná-la, mas sim exortar os demais irmãos
a amá-la e a respeitá-la como a qualquer senhora da igreja. Não se
deve exigir dela nada mais nada menos do que de qualquer irmã
que seja fiel a Cristo. O pastor, enquanto esposo, deve ter em mente as determinações de Deus dadas por meio do apóstolo Paulo,
conforme registrado em Efésios 5:25,28: “Maridos, ame cada um
a sua mulher assim como Cristo amou a igreja e entregou-se por
ela [...] Da mesma forma, os maridos devem amar cada um a sua mulher como a seu próprio corpo. Quem ama sua mulher, ama a si mesmo”.57
Sendo assim, pastor, saiam a sós, para aliviá-la das árduas ta
refas do cotidiano. Seja cavalheiro com sua esposa, ora dando-lhe a mão na travessia de uma rua, ora abrindo-lhe a porta de casa ou do carro.58 Com esse procedimento, você será bom exemplo
para os homens e jovens de sua igreja. Encoraje sua esposa e não
56 J. MacArthur Jr., O caráter do pastor. Redescobrindo o ministério pastoral, p. 115.57 Se o leitor desejar conhecer mais a respeito da relação entre esposo e esposa, Pais e filhos, ler: D. M. Lloyd-Jones, Vida no Espírito: no casamento, no lar e no trabalho.58 Idem, p. 82.
110 | Fundamentos da teologia pastoral
economize elogios que devam ser dispensados a ela. Lembre-se, por
fim, de que você também é pastor de sua esposa. Portanto, antes de
qualquer coisa, cuide dela e a ame.
Ligado ao cuidado do pastor com sua família, não podemos nos
esquecer do cuidado com os filhos. Já dissemos no capítulo anterior
de nosso estudo que o pastor deve ser irrepreensível com relação
à família, daí as palavras do apóstolo Paulo no texto bíblico desta
cado anteriormente: “Ele deve governar bem sua própria família,
tendo os filhos sujeitos a ele, com toda a dignidade. Pois, se alguém
não sabe governar sua própria família, como poderá cuidar da igre
ja de Deus?” (lTm 3:4-5).
O ensino do apóstolo dos gentios é que, se alguém deseja ser
pastor ou presbítero, deve ser capaz de liderar, antes de tudo,
sua própria família. Observamos que a tônica de Paulo está nos
filhos; por conseguinte, seria imensa desgraça para um bispo ter
filhos com vida dissoluta e escandalosa. Os filhos devem ter a
consciência de que, se viverem uma vida desobediente e rebelde,
além dos danos para si mesmos, poderão desqualificar o pai para o
ministério pastoral.
Cuide o pastor da sua saúde, da sua esposa e dos seus filhos.
Saia a passeio com eles para descansar das lidas domésticas, do
árduo trabalho diário. Pastores, tenham momentos de lazer, a sós
com sua família. Procurem conduzi-los aos pés de Cristo mediante
a prática da devocional familiar. Sejam amigos dos seus filhos, por
que não são raros os casos em que eles vão procurar compreensão,
amizade e companheirismo na rua, entre colegas ímpios. Procurem
um perfeito relacionamento com sua esposa, pois o amor do casal
proporcionará a segurança de que tanto os filhos precisam. Dedi
quem tempo à família, porque nada compensa quando há insu
cesso familiar. Quando tiverem problemas com os filhos, tenham
conversas francas, mas revestidas de amizade e amor, e, acima de
tudo, não deixem de orar por eles continuamente.
Principais desafios enfrentados no ministério pastoral | 111
Agora, avancemos em nosso estudo, destacando que a principal
tarefa do pastor em sua relação com a igreja de Cristo é alimentar
as ovelhas por meio do ensino fiel das Escrituras. Antes, porém,
façamos uma revisão do que foi visto neste capítulo.
Revisão e aproveitamento do capítulo 3
1. Quais as fases do estresse e como ele pode interferir no mi-
nistério pastoral/
2. O que os textos de Salmos 23, lCrônicas 28, Neemias e
Mateus 6:5-13 nos ensinam a respeito da vida devocional
do pastor?
3. O que João Calvino nos ensina com a proposição: “[...] a
erudição unida à piedade e às demais qualidades de um
bom pastor são como preparação para o ministério”?
4. Quais as implicações para o ministério pastoral das palavras
do apóstolo Paulo “cuida de ti mesmo” ?
5. Quais as responsabilidades do pastor para com a própria
família?
Capítulo 4
As atividades exercidas pelo pastor na vida da igreja
Este capítulo é decorrente do que tratamos anteriormente. Primei
ro, enfatizamos a distinção entre o “teólogo” e o “pastor”. Naquele
momento, o foco foi demonstrar as discussões mais atuais que envol
vem o trabalho de um e de outro. Num segundo instante, a preocu
pação foi compreender o ministério pastoral tendo como fundamento
as Escrituras Sagradas. Ficou explicitado que o pastor é alguém cha
mado por Deus, cuja tarefa principal está em “cuidar” do rebanho do
Senhor e alimentá-lo. Para que isso ocorra, conforme ficou demons
trado em seguida, é preciso que o ministro tenha saúde espiritual e
física, já que só assim terá condições de pastorear. Vimos ainda que o
primeiro rebanho a receber cuidado e alimento é sua própria família.
Ressaltamos, na ocasião, que o pastor deve seguir a ordem: Deus,
família e igreja. Jamais a igreja deve vir antes da família.
Neste capítulo iremos agora refletir a respeito das atividades pas
torais na igreja. Embora sejam muitos os seus deveres, o pastor deve
prioritariamente ser “irrepreensível” no ensino fiel das Escrituras.
O ENSINO FIEL DAS ESCRITURAS
Esta é uma parte de nosso estudo que merece intensa e profun
da reflexão, considerando ser o ensino fiel das Escrituras a mais
114 | Fundamentos da teologia pastoral
excelente obra que cabe ao ministro do evangelho:1 “[...] o ministro que não cumpre o seu dever principal — ensinar a Palavra de Deus, a tempo e fora de tempo — não está cumprindo a sua tarefa”.2 No mesmo contexto, Packer sublinha que os puritanos3 tratavam a pregação como um empreendimento solene e importante, de maneira que tanto o ministro como sua igreja deveriam saber que o momento do sermão seria a hora mais importante e significativa da semana.
Qualquer outra coisa poderia ser negligenciada, menos o sermão bíblico. Por isso, afirmaram: “Nunca realizaremos tarefa mais importante do que a pregação. Se não estivermos dispostos a dedicar tempo à preparação dos sermões, então não estaremos aptos para pregar, nem termos lugar no ministério da palavra”.4 Assim, pressupomos que o pastor deve ser também um bom pregador da Palavra de Deus.
Isso implica que o pensamento segundo o qual um mau pregador pode ser um bom pastor é questionável, visto que sua função principal é “alimentar” com a Palavra do Senhor o rebanho de Cristo. Devemos, contudo, alertar para o fato de que, ao falarmos em “bom pregador”, não nos referimos ao exercício da oratória, ainda que esta seja de extrema relevância para o pregador. Todavia, o pregador pode ser especialista em falar em público, usar recursos da psicologia, dos comentários sociais da atualidade e da retórica política, mas relegar a lugar secundário a exposição sadia e fiel da Palavra de Deus.
O resultado disso é o declínio espiritual, o enfraquecimento e o mundanismo em nossas igrejas.5 “Portanto, se á igreja quiser
1J. Packer, Entre os gigantes de Deus, p. 198.2 Idem, p. 302.3 Para compreensão do termo “puritano”, ler: D. M. Lloyd-Jones. O puritanismo e suas origens. Afirma Lloyd-Jones: “Interesso-me pelo puritanismo porque me parece uma das coisas mais úteis que qualquer pregador pode fazer. Não há nada que tanto estimule o verdadeiro ministério da Palavra, pois aqueles homens foram grandes modelos nestes aspectos.”, p. 2.4 Idem, p. 303.5 J. MacArthur Jr., p. 283.
AS ATIVIDADES EXERCIDAS PELO PASTOR NA VIDA DA IGREJA | 115
readquirir saúde espiritual, a pregação deve voltar a seu devido fun
damento bíblico”, lembrando sempre que “ninguém será bem-su
cedido no ministério pastoral se não der devido lugar à pregação”.'1
No estudo quanto à centralidade do ensino e da pregação bí
blica no ministério pastoral, deparamos com vários textos bíblicos
que atestam ser o ensino da Palavra o mais excelente trabalho do
pastor. Em Lucas 4:43-44, percebemos que Jesus revela o lugar de
importância da pregação em seu ministério terreno, quando afir
ma: “Também é necessário que eu pregue as boas-novas do Reino
de Deus noutras cidades também, porque para isso fui enviado.
E continuava pregando nas sinagogas e Judeia”. Ressaltamos que
boa parte do seu ministério terreno foi gasto com pregação e en
sino (Mt 4:17; Mc 1:14,38-39; Lc 8:1; Lc 20:1) e por causa disso
ele deixou a ordem: “Portanto, vão e façam discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito San
to, ensinando-os a obedecer tudo o que lhes ordenei. E eu estarei
sempre com vocês, até o fim dos tempos.” (Mt 28:19-20).
Nos textos paulinos, também encontramos vários imperativos
que testificam a relevância da centralidade do ensino da Palavra
no ministério pastoral. Em ITimóteo 4:11, lemos: “Ordene e en
sine estas coisas”. Em 4:13, pontua Paulo: “Até a minha chegada,
dedique-se à leitura pública da Escritura, à exortação e ao ensino”.
No final de 6:2, Paulo repete: “[...] Ensine e recomende essas coi
sas”. Em função da centralidade das Escrituras no trabalho pastoral
de Timóteo, Paulo o exorta a constituir presbíteros que sejam ap
tos “para ensinar” (lTm 3:2).
Se pensarmos na igreja primitiva, também perceberemos que a
pregação era o centro daquela comunidade cristã. Logo no começo
de Atos, encontramos a primeira pregação de Pedro (At 2:14-47).
Em 3:11-26, temos a segunda pregação do mesmo apóstolo. Além
disso, em 2:42 lemos que os apóstolos se dedicavam ao ensino e
6 Idem, p. 282.
116 | Fundamentos da teologia pastoral
à comunhão (partir do pão e às orações). Foi com o pensamen
to na pregação da Palavra que Lucas deixou registradas as pregações de Filipe (At 8:5,12,35,40) e de Paulo (At 9:2; 13:5,16-41;
14:7,15,21; 15:35; 16:10; 17:13; 20:25; 28:31).Lembramos, neste momento, das considerações de McDougall
ao afirmar que, no curso da história da Igreja, a pregação ocupou lugar central na Reforma Protestante do século 16. Ela foi o fun
damento do avivamento puritano do século 17, na Inglaterra, e do grande avivamento do século 18.7 Com isso, concluímos que
a pregação bíblica deve ocupar o lugar central nas atividades pastorais na igreja de Cristo. Somente a pregação fundamentada na
Bíblia cumpre o propósito de Deus para o pastor e sua igreja. A
Bíblia é o meio prescrito por Deus para salvar, santificar e fortalecer sua Igreja. Ela é que produz fé nos que foram escolhidos por
Deus (Rm 10:14). Pela pregação da Palavra, vem o conhecimento da verdade que resulta na piedade (Jo 17:17; Rm 16:25; Ef 5:26). Além disso, ela encoraja os crentes a viver na esperança da vida eterna, permitindo-lhes suportar o sofrimento (At 14:21-22).8
Em Tito 1:9 (RA), Paulo admoesta: “Tu, porém, fala o que
convém à sã doutrina”. O termo “sã” vem de hugieinós, que significa “saudável”, “que dá vida” ou “que preserva a vida” e dá origem à palavra “higiene”. Isso significa que os pastores devem “alimentar” e “fortalecer” o seu rebanho com o ensino sadio. “O melhor antí
doto para o falso ensino é a doutrina sadia”.9 Spurgeon sublinha
que o “ensino saudável é a melhor proteção contra as heresias que
assolam à direita e à esquerda entre nós”.10
Diante das palavras acima, percebemos a preocupação com o ensino sadio da Palavra de Deus, mas, para que isso ocorra, além dos cuidados com a vida devocional, o pastor necessita estar convicto
7 D. McDougall, A pregação, p. 281.8 Idem, p. 279.9 Idem, p. 286.10 C. H. Spurgeon, p. 73.
AS ATIVIDADES EXERCIDAS PELO PASTOR NA VIDA DA IGREJA | 117
de que alimentar o rebanho de Deus exige trabalho árduo, ou seja, é preciso gastar tempo e energia na preparação da mensagem11 que o Senhor Deus já colocou no seu coração. Daí a importância do
estudo para o desenvolvimento da atividade pastoral.Antes de darmos prosseguimento a nosso estudo, é relevante
observar que Martin destaca que um dos problemas que encon
tramos hoje é justamente o fato de que os ministros do evangelho esqueceram que a pregação mais poderosa é a própria vida do pre- gador, e que essa é a grande diferença da pregação com relação às
demais artes de falar em público.
[...] acredito que se trata de uma regra válida aquela que diz que a pregação poderosa está fundamentada sobre o solo da vida diária do pregador. [...] Se a pregação, em última análise, é a transmissão da verdade por meio de algum instrumento humano, então a verdade particular que é transmitida tem o seu efeito incrementado ou diminuído pela vida através da qual ela se expressa.12
Diante disso, é preciso atentar para o princípio de que o pastor
tem de se conscientizar de que seu ministério precípuo é o ensino
da pregação bíblica, mas também tem de estar ciente de que deve
vivenciar a prática do que ensina às suas ovelhas. Além disso, estão
diretamente relacionados ao ensino da Palavra de Deus o acon
selhamento e as visitas pastorais, os quais devem ser praticados
porque reforçam alguns ensinamentos em particular.
Orientações e aconselhamento pastoral
Na reflexão acerca do aconselhamento pastoral, é freqüente de
pararmos com alguns autores que, por serem, na sua maioria,
11 Para aperfeiçoamento quanto à pregação bíblica nos moldes da pregação exposi- tiva, indicamos: W. Lielfeld, Exposição do Novo Testamento e K. Lachler, Prega a Palavra. Um bom livro de Hermenêutica é: G. Fee; D. Stuart, Entendes o que lêsl12 A. N. Martin, O que há de errado com a pregação de hojel, p. 9.
118 | Fundamentos da teologia pastoral
psicólogos, exigem que o pastor faça além do que lhe cabe. Em
função disso é que grande parte dessa literatura emprega termos
como “psicoterapia pastoral”, aprendidos nos cursos de psicologia.
Pressupõe-se, em grande parte desses livros, que o pastor fará psi
coterapia pastoral em seus aconselhamentos. Tal atividade pode
ser definida como: “processo assistencial a longo prazo que procura
alcançar mudanças fundamentais na personalidade do aconselha
do, desvendando e tratando sentimentos ocultos, conflitos intra-
psíquicos e memórias reprimidas dos primórdios da vida”.13
De fato, entender o aconselhamento dessa maneira ultrapassa
o conhecimento do pastor que possui graduação em teologia e pós-
graduação em outras áreas do conhecimento. Deixamos claro que
nem todos os pastores têm bacharelado e graduação em psicologia.
Mesmo nos cursos de teologia, ainda que haja disciplinas como
psicologia geral e da religião, isso não habilita o pastor a fazer “psi
coterapia pastoral”. Porém, ele deve adquirir conhecimentos a res
peito de patologias evidentes, que podem resultar em conflitos e
crises que venham a causar divisões no rebanho do Senhor.14
Deixamos claro que a função principal do pastor é “alimentar”
o povo de Deus por meio do ensino fiel das Escrituras, como vis
to, e que “cuidar do rebanho” implica diversas dinâmicas, dentre
as quais a de que estamos tratando neste ponto do nosso estu
do. O trabalho de aconselhamento pastoral visa a colaborar para
o crescimento e unidade do corpo de Cristo. Assim, dependendo
da situação, se, após breve análise, o pastor entender que seja ne
cessário, pode e deve encaminhar “sua ovelha” a um profissional
devidamente habilitado.
13 H. J. Clinebell, Aconselhamento pastoral: modelo centrado em libertação e crescimento, p. 363.14 Um bom artigo que trata a respeito do aconselhamento pastoral é o de C.
Schneider-Harpprech, Aconselhamento pastoral. Teologia prática no contexto da América Latina, p. 291-319.
As ATIVIDADES exercidas pelo pastor na vida da IGREJA I 119
Não podemos negar que o aconselhamento pastoral é parte in-
tegrante do ministério pastoral na contemporaneidade, já que a
igreja local se encontra influenciada pela agitação e correria co
tidianas, o que resulta na escassez de relacionamentos profundos
baseados no respeito e confiança mútuos. Uma das manifestações
desse perfil de relacionamento podem ser os “amigos virtuais” do
MSN, Orkut e Twitter. Embora sejam denominados “amigos”, são
apenas “conhecidos”, visto que são poucas ou raras as oportuni
dades de desenvolveram confiança suficiente para uma conversa
franca acerca de suas angústias pessoais. Ainda que tenhamos de
admitir que é possível encontrar amigos “virtuais”, lembramos que
a amizade verdadeira é construída dia a dia, na vivência de triste
zas e de alegrias, na troca, na cumplicidade.
Por ser o corpo de Cristo, a igreja deve ter como objetivo a
glória de Deus e não pode esquecer que seu ambiente deve ser
acolhedor, favorecendo a comunhão e a amizade verdadeira en
tre seus membros. Entretanto, muitas vezes, a preocupação está
na realização de vários tipos de programações. Estas deveriam ter
como objetivo proporcionar crescimento espiritual e aproximação
nas relações interpessoais dos irmãos, mas, na prática, deixam a
desejar no estabelecimento de relacionamentos mais profundos.
Clinebell, ao citar Robert Leslie, ressalta esta questão: “Não
deixa de ser irônico que a igreja muitas vezes é o último lugar em
que pessoas falam com liberdade e franqueza a respeito das ques
tões que as tocam mais profundamente”.15 Diante dessas palavras,
o pastor, a liderança da igreja e cada membro devem rogar ao Se
nhor para que a igreja seja um lugar em que haja liberdade para
expormos nossas dificuldades, angústias e tristezas, sem o receio de
recebermos críticas.
15 H. J. Clinebell, Aconselhamento pastoral: modelo centrado em libertação e crescimento, p. 341.
120 j Fundamentos da teologia pastoral
Vivenciamos momentos difíceis em nossas igrejas, pois, em vez
de somarmos forças contra os relacionamentos superficiais, faze-
mos justamente o contrário. Mais triste ainda é perceber que esse comportamento tem origem nos lares em que pais e filhos não se entendem, por exemplo. Há pouco diálogo: cada membro da família tem suas preocupações pessoais e todos vivem como estranhos
que habitam a mesma casa. Em algumas situações isso se dá por
causa de conflitos familiares jamais tratados e resolvidos, o que se
traduz em famílias doentes e igrejas enfermas. Há necessidade de
se resgatar o conceito cristão do lar, isto é, um ambiente baseado nas relações sociais onde amor, atenção, orientação, apoio, susten
tação e verdadeira amizade existam de fato. Sobretudo, a Palavra
de Deus deve ser imperativa nas decisões e comportamentos — ela
deve voltar a ocupar o centro da família cristã.16
É nesse contexto que recai sobre o pastor o encargo do relevante exercício do aconselhamento pastoral. Esta é uma função da igreja
toda como comunidade pastoral, sobretudo de sua liderança,17 mas
parece haver a compreensão equivocada de que o aconselhamen
to é função privativa do pastor. Sem dúvida, o aconselhamento faz parte de sua principal missão, que é servir. Entretanto, é imperativo que a igreja entenda que também ela foi chamada para
servir (Mt 20:26-28).
Na prática ministerial, o pastor utiliza o púlpito para ensinar, alimentar o rebanho e — por que não dizer? — para aconselhar
publicamente a todos quanto ao caminho correto a trilhar. Mas há casos em que o atendimento individual faz-se necessário, a pedido de um membro da igreja ou quando o pastor observa que a ovelha
está “diferente” e se dispõe a ouvi-la.
16 Para aprofundar a discussão quanto à centralidade da Bíblia na família cristã,
ler: E. P. Lopes, Fundamentos da teologia da educação cristã.17 Quanto ao exercício do presbítero, de cuidar do rebanho juntamente com o
pastor, ler: J. Sittema, Coração de pastor: resgatando a responsabilidade pastoral do presbítero.
AS ATIVIDADES EXERCIDAS PELO PASTOR NA VIDA DA IGREJA | 121
O aconselhamento pastoral feito em atenção ao contato de
uma pessoa em busca de ajuda pode ser conceituado como “meio
para realizar-se o propósito essencial da fé cristã: auxiliar o ser hu
mano a estar em paz com Deus, consigo mesmo, com o próximo
[...]”.18 Para que o pastor auxilie a ovelha nesse processo de busca pela paz, Sathler-Rosa, ao citar Wayne Oates, ressalta que os objetivos principais do aconselhamento pastoral são:
[...] facilitar e agilizar o crescimento da personalidade; ajudar as pessoas a modificarem padrões de vida com os quais estão insatisfeitas e oferecer companheirismo para quem estiver enfrentando crises. Os resultados podem variar entre curar, remediar e confortar. A cura pode manifestar-se através da resolução dos conflitos ou ao experimentar maior clareza quanto ao sentido que se está dando à existência.19
Os objetivos propostos são claros, e, para alcançá-los, é fundamental não apenas a atuação pastoral de acolhimento e facilitação
do processo de reflexão e mudança, mas principalmente a consciên
cia da necessidade de comprometimento individual por parte da
própria ovelha, que deve assumir a responsabilidade da busca por
crescimento e desenvolvimento pessoal e espiritual. É importante considerar também que existem especificidades ou “tipos” de aconselhamento pastoral, mas todos devem visar a instrução, exortação
e consolo. Todo aconselhamento requer do pastor que seja hábil
intérprete da Bíblia e desenvolva a habilidade relacionai de ajuda
mútua para o conhecimento de Deus e do homem.20
Sathler-Rosa, ao mencionar H. Clinebell, identifica nove ti
pos de aconselhamento pastoral: ético, relacionado a valores e
questões acerca de sentido de vida; aconselhamento de apoio; em
18 R. Sathler-Rosa, Aconselhamento pastoral. Fernando Bortoletto Filho (Org.), Dicionário brasileiro de teologia, p. 12.19 Idem.20 W. M. Gomes, Aconselhamento redentivo, p. 8.
122 I Fundamentos da teologia pastoral
situações de crise; aconselhamento junto a enlutados; enrique-
cimento do matrimônio e crises conjugais; desenvolvimento da família; em casos que requeiram encaminhamento a outros profissionais; educativo; de grupo.21
O aconselhamento ético, relacionado a valores e questões de sentido de vida, compreende que as pessoas carecem de valores e sentido de vida saudáveis para serem plenas. O desenvolvimento e crescimento rumo à integralidade centrada no Espírito precisam
abarcar valores e compromissos éticos que orientem a vida dos servos do Senhor. Em diversas ocasiões, o centro das crises e dilemas
no crescimento espiritual deve-se à necessidade de que valores e estilos de vida sejam avaliados e revisados. Nesse sentido, a igreja é convocada a ser uma comunidade de indagação, orientação e formação moral, que fornece diretrizes baseadas na sabedoria bíblica
acerca dos valores éticos e saúde moral para seus membros.O aconselhamento de apoio baseia-se no acolhimento pelo
qual o pastor utiliza métodos que visem a estabilizar, alicerçar, alimentar, motivar ou orientar pessoas aflitas, capacitando-as a administrar dificuldades e relacionamentos de modo mais construtivo,
levando em consideração os limites que lhes são impostos pelos
recursos de sua personalidade e situações da vida.22
No aconselhamento em casos de crise, o papel do pastor é resgatar o sentido e a esperança da pessoa, contribuindo para seu crescimento espiritual. Ele procura ajudá-la a encontrar, no relacionamento com Deus, suporte, amparo e consolo fundamentados no amor inabalável e imutável do Senhor, que está presente nos
momentos mais difíceis e trágicos. A perda pessoal é a crise humana universal e é inevitável. Todos nós passamos por ela em algum
momento de nossa vida, e os pastores exercem relevante função
21 R. Sathler-Rosa, Aconselhamento pastoral. Fernando Bortoletto Filho (Org.), Dicionário brasileiro de teologia, p. 12.22 H. J. Clinebell, Aconselhamento pastoral: modelo centrado em libertação e crescimento, p. 165.
As ATIVIDADES EXERCIDAS PELO PASTOR NA VIDA DA IGREJA | 123
nessas circunstâncias, conforme as palavras de Clinebell, ao mencionar Wayne Oates:
Através dos séculos o pastor tem sido a principal pessoa responsável por lidar com os atingidos por perda pessoal [...]. Tenha o pastor aceito ou não estas responsabilidades, tenha ele se desin- cumbido ou não das mesmas com habilidade e sabedoria, ou mesmo avaliado o peso das expectativas colocadas sobre ele, em todo caso é do pastor que as pessoas esperam assistência dos atingidos por perda pessoal.23
Não há possibilidade de o pastor se ausentar nesses momentos de perda pessoal. Sua presença é frequentemente solicitada e tem entrada automática no mundo da maioria das pessoas contristadas. Há casos de falecimento em casa ou em hospitais em que a primeira pessoa a ser chamada pela família é o pastor, isso quando o falecimento não ocorre nos braços dele próprio. São vários os relatos de pastores ressaltando que ovelhas em estado terminal vieram a falecer em seus braços. Assim, é grande sua responsabilidade como guia e companheiro, sendo necessário que desenvolva competência em aconselhamento em casos de perda.
Outras áreas de atuação do aconselhamento pastoral referem- se ao enriquecimento do matrimônio, aos casos de crises conjugais e ao aconselhamento familiar. Pastorear uma comunidade ou igreja local possibilita acesso freqüente e automático a muitos lares. O ministério desfruta de relação contínua com casais e famílias em variados momentos, em situações alegres ou de sofrimento, de modo que são inúmeras as oportunidades para esse tipo de aconselhamento.
O pastor, ao aconselhar as famílias por meio de preceitos bíblicos, indica formas adequadas de relacionamento, comunicação e resolução de conflitos. Clinebell ressalta que “um bom matrimônio ou família existe quando há atenção e apoio mútuos para o crescimento contínuo em direção à realização plena das potencialidades
23 Idem, p. 211.
124 | Fundamentos da teologia pastoral
dadas por Deus a cada pessoa”.24 Por meio do aconselhamento e
enriquecimento do matrimônio e da família, é possível contribuir
para a saúde mental, física e espiritual de cônjuges, de seus filhos e
mesmo dos filhos de seus filhos, dependendo do tempo de ministé-
rio na comunidade.
O pastor não pode ter a presunção de ser capaz de dar conta de
todos os tipos de problemas e dificuldades que lhe chegam, e, por
tanto, precisa desenvolver a habilidade do encaminhamento, não
para se livrar da questão, mas por entender que outro profissional
pode ser mais indicado para a resolução de determinada dificuldade.
Eliff, em seu artigo A cura de almas, expressão emprestada de
Platão,25 convence-nos de que a responsabilidade de aconselhar
ovelhas é do pastor, e que, em sua concepção, é inaceitável trans
ferir os cuidados de um membro da igreja para um terapeuta. Para
ele, o pastor é o responsável pela vida da ovelha.26 Todavia, pontua
que se houver necessidade de outros profissionais, que estes sejam
crentes e pratiquem técnicas de aconselhamento bíblico. Em casos
assim, o pastor deve estar consciente de que sua participação no
aconselhamento não acabou. As palavras de Eliff são relevantes
quando observadas sob o ponto de vista pastoral, porque alertam
o ministro do evangelho a não transferir nem se eximir da respon
sabilidade quanto ao cuidado da ovelha. Por outro lado, devemos
recordar que, ao recorrer a especialistas que atuam em áreas como
medicina, psicologia e direito, o pastor pode administrar melhor
seu tempo e energia, a fim de cumprir seu ministério pastoral de
“alimentar” os crentes e “cuidar” do crescimento espiritual de um
número maior de ovelhas sob sua responsabilidade.
24 Idem, p. 236.25 C. Schneider-Harpprech, Aconselhamento pastoral. Teologia prática no contexto da América Latina, p. 291.26 J. Eliff, A cura de almas: o pastor servindo ao rebanho. J. Armstrong (Org.), O ministério pastoral segundo a Bíblia, p. 163-164-
AS ATIVIDADES EXERCIDAS PELO PASTOR NA VIDA DA IGREJA | 125
Para o aconselhamento educativo, o pastor precisa ter condições de agir simultaneamente como professor e conselheiro, como
esclarece Clinebell:
Aconselhamento educativo ultrapassa em muito a mera transmissão de informações. Pela utilização de habilidades e sensibilidades de aconselhamento, ele ajuda pessoas a entender, avaliar e então aplicar a informação relevante ao enfrentar sua situação específica de vida. Naturalmente quase todos os tipos de aconselhamento pastoral envolvem ingredientes educativos [...].27
O aconselhamento educativo funciona como ponte entre o aconselhamento pastoral e o programa educacional da igreja, com
vistas ao crescimento pessoal e espiritual das pessoas. O pastor torna-se educativo à medida que se direciona a três objetivos: pri
meiro, descobrir que fatos, conceitos, valores, conteúdos de fé, habilidades, orientação ou conselhos são necessários para as pessoas no enfrentamento dos seus problemas; segundo, comunicar cada um deles diretamente ou ajudar as pessoas a descobri-los (p. ex.,
pela leitura); terceiro, ajudar as pessoas a utilizarem essa informa
ção para compreender a situação, tomar decisões sábias e lidar com os problemas de maneira construtiva.28
Há ainda o aconselhamento de grupo. A igreja é composta por grupos; exemplo disso são as sociedades internas formadas por crianças, adolescentes, jovens, homens e mulheres (adultos), grupos de oração, grupos musicais, grupo de estudo bíblico, grupo de presbíteros e
diáconos, grupo de professores etc. Uma igreja, independentemente da quantidade de membros que possui, pode suprir várias necessidades de aconselhamento de seus membros por meio dos grupos de compartilhamento. Acerca do valor da experiência em pequenos grupos, Clinebell cita o psiquiatra Jerome D. Franks, que ensina:
27 H. J. Clinebell, Aconselhamento pastoral: modelo centrado em libertação e crescimento, p. 313-314.28 Idem, p. 315.
126 | Fundamentos da teologia pastoral
Compartilhar intimamente sentimentos, ideias e experiências, numa atmosfera de respeito e compreensão mútuos, promove o respeito próprio, aprofunda a autocompreensão e ajuda a pessoa a viver com as outras. Semelhante experiência pode ajudar pessoas em qualquer grau de doença ou saúde.29
E inegável a importância dos grupos na igreja, mas a relação
dentro deles nem sempre ocorre de forma natural e espontânea.
Isso se deve à sociedade atual, voltada à competitividade, ao medo da intimidade e à relutância generalizada de baixar as máscaras de- fensivas. Portanto, é possível depararmos com chamados “grupos”, que se reúnem há vários anos nas igrejas e apenas desenvolveram
uma interação superficial, não atingindo genuína comunhão.
Para que um grupo se forme, é preciso haver proximidade física, social e interacional. A proximidade física ocorre com a continuidade de reuniões e encontros e com o convívio. A proximidade social está relacionada aos objetivos e interesses comuns
que impulsionam as pessoas a se reunirem. A noção de identidade
grupai emerge e se desenvolve à medida que são supridas necessi
dades mútuas; o envolvimento emocional aumenta quando seus membros se comunicam e compartilham experiências relevantes. Quanto mais intensas as experiências vividas, mais fortalecido será o vínculo. A vitalidade do convívio em grupo depende da liberda
de, honestidade e profundidade com que as pessoas compartilham
suas dúvidas, dificuldades e fé uns com outros.30
Um aspecto do aconselhamento pastoral que gera múltiplas opi
niões refere-se ao local apropriado para o aconselhamento. Há autores que consideram apropriado o encontro no gabinete pastoral, pratica
mente como uma sessão de psicoterapia31, inclusive destacando que
29 Idem, p. 342.30 Idem, p. 344.31 Para compreensão das características desejáveis para o ambiente de aconselhamento, duração, frequência e número de sessões, ler: C. P. White, O pastor mestre, p. 138-139.
AS ATIVIDADES EXERCIDAS PELO PASTOR NA VIDA DA IGREJA | 127
a duração da “sessão” seja de 50 minutos. Em nosso entendimento, o
aconselhamento pastoral não é formatado. Cada contexto demanda
um tipo de atendimento específico, assim, o local varia, pois o acon
selhamento se processa na dinâmica do cotidiano da igreja, buscando
atender necessidades pontuais das ovelhas, não visando a se tomar um processo de psicoterapia ou de terapia pastoral.
A prática tem mostrado que o local apropriado para o aconselha
mento pode ser a residência da ovelha, por meio da visitação, assim
como pode ser dentro do templo, nos corredores, no salão social, após a escola dominical, após o culto e até mesmo no estacionamen
to, dependendo da urgência da situação. O aconselhamento é uma conversa que não necessita de 50 minutos nem de local apropriado
para ser eficaz. O importante é ouvir e, logo em seguida, instruir,
exortar e consolar, sempre sob a orientação da Palavra de Deus.
O aconselhamento pastoral ocorre no contato cotidiano com
os membros da igreja local. Um exemplo disso é a prática dos
cumprimentos à porta do templo depois do culto. O pastor atento
e compromissado observa o semblante de suas ovelhas e detecta se
estão bem ou não. Ali mesmo sinaliza sua percepção, perguntan
do: “Você está bem mesmo?” e, em seguida, oferece acolhimento:
“Se quiser, podemos conversar depois”. O pedido de ajuda pode
partir do membro, mas às vezes o pastor se antecipa, percebe que
sua ovelha está com dificuldades e oferece ajuda. Entretanto, isso
só é possível se o pastor tem preocupação genuína, sensibilidade
e empatia (olhar com os olhos dos outros, colocar-se no lugar do
outro), qualidades que advêm de sua vocação e que precisam ser desenvolvidas em sua vida ministerial.
Diante da correria da vida moderna, o tempo para o diálogo
pessoal, face a face, é cada vez mais escasso, fazendo-se necessários
outros tipos de contatos e formas de acesso. Assim, o aconselha
mento pastoral pode ocorrer por meio de ligações telefônicas ou
via e-mail. Há situações em que a ovelha tem urgência de consultar
o pastor acerca de um problema ou decisão importante: questões
128 | Fundamentos da teologia pastoral
no emprego, crise no namoro ou casamento, dificuldade de relacionamento familiar e interpessoal, enfermidades ou uma questão pontual. Nesses casos, um acolhimento rápido pode amenizar a ansiedade e ajudar a pessoa a pensar com mais calma em possibilidades para a resolução do problema e, se necessário, agendar uma conversa posterior, mais prolongada.
Uma questão pouco abordada nos livros sobre aconselhamento pastoral refere-se aos perigos que podem ser provenientes da própria prática. Lamentavelmente, são revelados casos de adultério, homossexualidade e até de pedofilia entre ministros do evangelho. O pastor é um servo regenerado, mas que continua com inclinação para o pecado, cujos aspectos mais sombrios e pecaminosos podem
emergir se ele não estiver em constante intimidade com o Senhor Jesus Cristo, buscando sempre sua orientação e proteção contra as ciladas do inimigo de nossas almas.
A partir dessa perspectiva, Wilder nos provê várias reflexões que colaboram para orientar o comportamento pastoral diante das irmãs de nossas igrejas. Diz ele que não é extraordinário ver-se um pastor dar palmadinhas nas costas, abraçar, ou apertar prolonga- damente as mãos de alguma irmã: “Aprenda o pastor [...] a guardar suas mãos de mulheres. Que lhes aperte a mão, mas que seja breve”.32 Outra questão posta por Wilder é com relação à situação em o pastor passa o braço pelo ombro de alguma irmã, o que, segundo ele, devemos evitar.33 Muito cuidado ao cumprimentar as mulheres da igreja, cautela quanto a beijos e abraços. Lembre-se: o pastor deve revelar nos seus gestos e atitudes a pureza dos seus motivos no serviço pastoral.
Outro momento que requer atenção é atender à irmã que pro
cura o pastor chorando. O pastor, comovido, pode sentir-se tentado a sentar-se ao lado da irmã e colocar a mão em seu ombro. Dependendo da situação, este pode ser o início da destruição de
32 J. B. Wilder, p. 56.33 Idem.
AS ATIVIDADES EXERCIDAS PELO PASTOR NA VIDA DA IGREJA |129
lares e do abalo da igreja. Fazemos a ressalva de que não estamos dizendo que as mulheres pretendem seduzir e conquistar os pasto- res. A maioria delas é pura e segue um padrão moral de vida igual
ao do pastor. Elas não pretendem criar problemas para o seu líder espiritual, mas não devemos ensejar contatos perigosos.34
O aconselhamento pastoral em momento de visitação é necessário, mas pode tornar-se armadilha caso não sejam adotados cuidados como fazer visitas sempre na companhia da esposa ou de oficiais da igreja e não visitar uma irmã da igreja se o esposo não estiver presente (seja ele cristão ou não). Nesse contexto, ressaltamos as palavras de Kessler:
Os casos de confidências de família, as confidências íntimas e mesmo no modo de ensinar, devemos ter cuidado para não colocarmos chamas inflamadas em nosso seio. Muitos filhos de Deus têm virado ao avesso e perdido o seu santo ministério nas horas em que conversam intimamente com alguém do sexo oposto.O espírito está pronto, mas a carne é fraca (Mt 26:41), disse Jesus.O convívio íntimo com a mulher é como o jogo de damas: em uma hora se perde tudo o que ganhou!35
O pastor precisa estar ciente de que a pessoa que o procura está
fragilizada e passando por conflitos, e o acolhimento pastoral pode causar paixão e deslumbramento na ovelha. Talvez a pessoa nunca tenha sido ouvida com tanta atenção e carinho, o que pode con
fundir sentimentos e levá-la a achar que está “amando” o pastor.
A mulher pode pensar: “Que homem maravilhoso ele é!” E o pastor
que não está atento cai na armadilha e pensa: “Eu sou o máximo! Como desperto desejo nas pessoas!”. Este está pronto para cair, pois
já esqueceu o seu ministério pastoral e passou a dar lugar à carne.
Nesse sentido, recomendamos que o aconselhamento pasto
ral ocorra sempre em local aberto, com outras pessoas no mesmo
34 J. B. Wilder, O jovem pastor, p. 56-57.35 Kessler, p. 52.
130 I Fundamentos da teologia pastoral
ambiente. Caso aconteça em sala fechada, que seja com a presença de sua esposa ou de um oficial da igreja, pois, com uma testemunha presente, quebra-se o possível encantamento. Deve-se ter em mente que tanto o pastor quanto a ovelha devem estar empenhados na ajuda e na busca de solução para o conflito, objeto do aconselhamento pastoral.
A comunhão diária com Deus por meio da oração e leitura bíblica, como já dissemos, é fundamental para fortalecer o compromisso individual com o Senhor. A vigilância deve ser constante, pois o diabo é astuto e conhece nossas fraquezas e inclinações. A Bíblia nos exorta: “Resistam ao Diabo, e ele fugirá de vocês” (Tg 4:7). Essa palavra serve para o pastor, sua esposa e todos os membros da igreja de Cristo.
É relevante estar atento e vigilante, resistir quando o diabo começa a tentação, e não ficar namorando o pecado, fingindo que nada está acontecendo, pois vamos descobrir muito tarde que nossa reputação e nosso caráter, antes imaculados, de quem “não tinha do que se envergonhar”, já se foram. O pecado é uma serpente que morde quando menos se espera. Se em qualquer momento sentir que está atraído de forma ilícita por alguém, leve imediatamente tais sentimentos ao Senhor em oração. Não pense que é forte e que sozinho conseguirá resistir — busque a força do Espírito Santo até ter certeza de que está livre da cilada do diabo.36
Após termos compreendido a relevância do aconselhamento no ministério pastoral, é necessário destacar a visita como parte integrante do trabalho do pastor.
Visitas à membresia da igreja como
PARTE DO MINISTÉRIO PASTORAL37
Tanto o aconselhamento pastoral como as visitas fazem parte do
trabalho pastoral, uma vez que existem questões que não podem
36 N. Kessler, Ética pastoral, p. 98.37 Para esta temática, indicamos: J. T. Sisemore, O ministério da visitação.
As ATIVIDADES EXERCIDAS PELO PASTOR NA VIDA DA IGREJA | 131
ser resolvidas na pregação pública. Em vez disso, são necessários momentos específicos para tratamento de questões particulares. Para o exercício da visitação, é preciso que o pastor se dedique ao preparo espiritual, sabendo que sua finalidade é cuidar do rebanho de Deus por meio de consolo, exortação e comunhão com o Supremo Pastor. Não são raros os casos em que algum cristão, mesmo com toda a boa vontade, durante uma visita pode dirigir uma palavra pouco adequada a um enfermo, por exemplo, e, em vez de fazer bem, acaba fazendo mal.
Infelizmente, ocorrem situações em que membros de igreja se oferecem para fazer visitas com o intuito de conhecer as vicissitu- des do irmão e depois acabam por torná-las públicas, o que resulta numa situação embaraçosa para o pastor. Quem visita deve saber guardar segredo.38 Há ainda os que visitam com a finalidade de criticar as lideranças da igreja.
Talvez por essas razões, em junção com a realidade da sobrecarga de diversas atividades, pouca tônica os pastores têm dado à visitação. Alguns centram seu trabalho ministerial no ensino da Palavra apenas nos sermões dominicais. Se de fato se esmerarem, serão bênção nas mãos de Deus, mas nem sempre isso ocorre. Na verdade, muitos só se preocupam com as pregações e o atendimento no gabinete pastoral. Porém, alertamos que o ministério pastoral é mais do que isso, envolve diversas facetas. O ensino da Bíblia é prioritário, mas o pastor precisa conhecer suas ovelhas. Isso não acontece nos cultos públicos, sendo necessário recorrer a um dos preciosos meios para esse fim: o processo de visitação.39
A visitação pode ter alguns objetivos, dentre os quais destacamos:40
Intimidade da comunhão pastoral: desenvolvimento do relacionamento do pastor com as ovelhas.
38 J. T. Sisemore, O ministério da visitação, p. 52.39 J. Eliff, A cura das almas: o pastor servindo ao rebanho. J. Armstrong (Org.), O ministro pastoral segundo a Bíblia, p. 156-157.40 Idem.
132 | Fundamentos da teologia pastoral
Ensino pastoral: fornecimento de ensino bíblico pessoal, para
fortalecer a comunhão do irmão com Deus.
Orientação pastoral: direcionamento bíblico para que o crente
possa superar conflitos, distorções de pensamento e tomadas de
decisão.
Consolo pastoral: em momentos de angústias e vicissitudes da
vida, o pastor oferece consolo espiritual, por meio da Bíblia.
Proteção pastoral: para ovelhas em situações de risco, postas em
confronto quanto à sã doutrina; para um membro sob disciplina e
que mereça atenção; e mesmo para famílias que sofrem por ques-
tões ligadas à dependência química.41
Intercessão pastoral: oração com os crentes.
É relevante entendermos que durante a visita o pastor deve in
cluir a família toda, e não somente algumas pessoas. Baxter chama
atenção para esse aspecto, quando afirma: “[...] devemos dedicar
cuidado especial às famílias [...] se negligenciarmos isso, arruinare
mos tudo [...] se alguma coisa boa foi iniciada pelo ministério pas
toral será sustada — ou ao menos será dificultada — se as famílias
forem descuidadas, sem oração e mundanas”.42 Assim, conclama
mos os pastores para que tenham um ministério eficiente junto às
famílias. Nas visitas, ensinem o chefe de família a orar em seu lar,
a ler as Escrituras e a adorar a Deus com os seus.
O pastor não pode se esquecer também dos enfermos. Alguns
pastores argumentam que não conseguem fazer visitas em hospitais
ou aos enfermos em estado terminal. Não é fácil tarefa, mas isso
faz parte da responsabilidade do ministro do evangelho. É preciso
lembrar que situações desse tipo costumam ser uma das mais im
portantes ocasiões para falar de Jesus a quem ainda não teve um
41 No estudo da dependência química, com destaque para o alcoolismo, ler: R. A. Mariano, Alcoolismo e pastoral: implicações pastorais.42 R. Baxter, O pastor aprovado, p. 109.
As ATIVIDADES EXERCIDAS PELO PASTOR NA VIDA DA IGREJA | 133
encontro pessoal com ele. No caso do cristão verdadeiro, é o mo
mento de consolá-lo e prepará-lo para a bênção do encontro com
Cristo. É hora de reforçar que no lugar para onde iremos após a
morte não haverá choro, nem tristeza, nem qualquer angústia,
pelo contrário, toda lágrima cessará, conforme Apocalipse 21:4: “Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou”.
Está mais do que demonstrado em finalidade e relevância que
a visitação é parte integrante do ministério pastoral. Antes de fi
nalizarmos esta parte, e como incentivo aos pastores nessa árdua
tarefa, vejamos os exemplos dos irmãos da igreja primitiva sobre o
tema. Iniciamos pelo ensino do nosso Senhor Jesus.
Na leitura dos evangelhos, encontramos várias passagens que
revelam que, em meio a todas as atividades, Jesus reservava tempo
para visitar lares e pessoas. Em Mateus 9:35, lemos: “Jesus ia passando por todas as cidades e povoados, ensinando [...] pregando
[...] e curando”. Em seu ministério terreno, ele visitou a casa de Simão e curou-lhe a sogra. Entrou no lar de Levi e banqueteou-
se com os publicanos e pecadores. Quando enviou seus discípu
los a pregar, deu-lhes a ordem: “ao entrarem na casa, saúdem-na”
(Mt 10:12). Em Lucas 10:5, lemos: “Quando entrarem numa casa,
dizei primeiro: Paz a esta casa”. Além de lares, Jesus visitou pessoas. Exemplo disso é Zaqueu: “Quero ficar em sua casa hoje” (Lc 19:5).
A casa de Marta, Maria e Lázaro foi outro lar visitado por Jesus.
Enfim, Jesus ensina que visitar é essencial para que alguém seja
considerado um bom pastor. Os cristãos da igreja primitiva também
aprenderam desde cedo a importância da visitação. Em Atos 2:46
podem ser lidas as palavras: “Partiam o pão em suas casas, e juntos
participavam das refeições, com alegria e sinceridade de coração”.
Por ordem divina, o apóstolo Pedro foi ao lar de Cornélio e durante
a visita muitos foram alcançados pelo evangelho. Pedro também
visitava com frequência a residência de Dorcas. O apóstolo Paulo
demonstrou que visitava ao dizer: “Vocês sabem como vivi todo o
134 | Fundamentos da teologia pastoral
tempo em que estive com vocês [...] não deixei de pregar-lhes nada
que fosse proveitoso, mas ensinei-lhes tudo publicamente e de casa
em casa [...]” (At 20:18-20).
Portanto, que os pastores aprendam a necessidade do traba
lho de visitação, que sejam perseverantes nele e, acima de tudo,
que busquem plenamente a bênção do Senhor Deus para que esta
atividade redunde na glória do Senhor e que seja para alegria do
pastor e da igreja.
Dito isso, voltamos a atenção a um princípio importante do mi
nistério pastoral, que é a administração da igreja, cujo fundamento
está no preparo de uma boa liderança para auxiliar o pastor no
cuidado do rebanho de Deus.
Administração e preparo de liderança eclesiástica
Não são raros os casos em que os pastores enfrentam dificuldades
na questão da administração e gestão de suas organizações e insti
tuições, o que implica diretamente no insucesso de sua liderança.
Para Nemuel Kessler e Samuel Câmara, “pastorear é muito mais
que presidir. E administrar com eficiência os negócios do Reino
de Deus”. Da definição de Kessler e Câmara, num aspecto posi
tivo, podemos entender que pastorear é mais do que presidir, é
também administrar.
Reconhecemos, até em função da formação teológica que, não
raro, pouco tempo dispensa-se para a reflexão aprofundada dessa
temática no ministério pastoral. Em geral, falta ao pastor preparo
em vários aspectos da vida eclesiástica, quer no aconselhamen
to, quer na exposição das Escrituras, como visto neste estudo, e
a administração não é exceção. Entendemos, porém, que, ainda
que tenha outras prioridades ministeriais, o pastor não pode se
eximir dessa importante responsabilidade, deixando-a para presbí
teros, diáconos e outros oficiais ou obreiros de sua denominação;
até porque ele é quem responde juridicamente pela igreja. Sendo
AS ATIVIDADES EXERCIDAS PELO PASTOR NA VIDA DA IGREJA | 135
assim, o pastor necessita ter o mínimo de conhecimento de administração para que a igreja traga seu balancete financeiro em dia
e sua contabilidade em ordem. Sugerimos que a igreja contrate
um contador de confiança, que realmente entenda das exigências legais relativas às igrejas.
O pastor não pode menosprezar o livro de atas de sua diretoria maior que, juntamente com as atas das assembleias gerais, devem
ser registradas.43 Além disso, o pastor e sua diretoria devem ter o
estatuto da igreja44 devidamente aprovado pela assembleia, assi
nado por um advogado e registrado em cartório. Só assim poderá solicitar o CNPJ da igreja e, após ter toda a documentação em ordem, dar entrada no pedido de isenção de taxas e impostos a que as organizações religiosas têm direito.
Por outro lado, não concordamos com Nessler e Câmara quando afirmam que pastorear é “administrar com eficiência os negócios
do Reino de Deus”. A igreja não é um negócio. Pelo contrário, “ela funciona de forma contrária a um negócio humano. Um negócio é motivado pelos resultados”.45 Assim, “todas as ações concorrem
para um determinado resultado esperado e se este resultado não se concretiza, abandonam-se as ações de imediato”.46 Talvez por
vermos a igreja como um “negócio” é que fechamos alguns pontos de pregação, congregações e até mesmo igrejas, por pensarmos que elas não dão “resultado”. Quando agimos assim, fazemos da igre
ja um “negócio” e assumimos valores condizentes com propostas
administrativas alheias às Escrituras. Vejamos o que dizem certos
autores a respeito do termo “administração”, porque assim com
preenderemos melhor o que estamos afirmando, isto é, que a igreja não é um negócio.
43 Veja Anexo 2, Redação de atas.44 Veja Anexo 1, Modelo de estatuto de uma igreja.45 F. S. Portela Neto. Planejando os rumos da igreja: pontos positivos e crítica de posições contemporâneas. Fides reformata, p. 90.46 Idem, p. 90-91.
136 I Fundamentos da teologia pastoral
Etimologicamente, “administrar” procede do latim: administratio, cuja tradução é “ação de prestar ajuda”, “execução”, “gestão”, “direção”.47 Percebe-se que a etimologia da palavra permite uma compreensão genérica do seu significado, e talvez seja essa a razão de haver muitas definições para “administração”. Houaiss, por exemplo, também define “administração” como “ato, processo ou efeito de administrar”, “administrar conjunto de normas e funções cujo objetivo é disciplinar os elementos de produção e submeter a produtividade a um controle de qualidade para obtenção de um resultado eficaz”.48 Por outro lado, Blanchard define administração “como trabalhar com e por meio de pessoas e grupos para alcançar objetivos organizacionais”.49
Percebemos, assim, que há pouca harmonia entre as definições, o que testifica que o termo “administração” possui interpretações variadas. Blanchard, todavia, afirma que um ponto comum nelas é a preocupação do administrador em atingir metas ou objetivos organizacionais.50 Se acompanharmos essas definições, veremos que o importanteé alcançar resultados. A igreja de Cristo, de certa forma, espera resultados; entretanto, deve estar consciente de que estes são frutos da graça e do poder de Deus, e não necessariamente da capacidade administrativa do pastor e de sua liderança. Tudo depende de Deus usar de misericórdia.
Ressaltamos pelo menos dois textos bíblicos que corroboram nossa afirmação. Um deles é o de Isaías 6:1-13. Após a visão da glória de Deus (v. 1-7), Isaías ouve a voz do Senhor, conclamando: “Quem enviarei? Quem irá por nós?” (v. 8) e a resposta do profeta foi: “Envia-me” (v. 8). Depois de se colocar à disposição do Senhor, Deus o envia a pregar ao povo, com a incumbência
de pregar a um povo que ouviria, mas não entenderia; veria, mas
47 A. Houaiss; M. S. Villar, Dicionário Houaiss de língua portuguesa, p. 87.48 Idem, p. 86.49 K. H. Blanchard; P. Hersey. Psicologia para administradores: a teoria e as técnicas da liderança situacional, p. 4.50 Idem.
AS ATIVIDADES EXERCIDAS PELO PASTOR NA VIDA DA IGREJA | 137
jamais perceberia. Seus corações e olhos estariam fechados para
não ouvirem ao Senhor (v. 9-10). Diante desse texto, cai por terra
a ideia de que a igreja deve trabalhar em função de resultados, pois,
nesse caso, humanamente falando, seria como entrar num “nego-
cio” destinado ao fracasso. A missão de Isaías contrasta profunda- mente com os negócios humanos. Assim, o reino de Deus e a igreja
de Cristo como parte dele não devem ser vistos como “negócio”.
Outro texto que mostra que a igreja deve reconhecer que o
resultado é bênção de Deus está registrado em Atos 2:47: “[...] E o Senhor lhes acrescentava diariamente os que iam sendo sal
vos”. A igreja não é um negócio, porque sabe que o “resultado” não
depende dela, mas do Senhor. Essa é a mensagem do evangelista
Lucas ao cristianismo atual. Diante disso, o pastor e sua liderança
poderão indagar se há, então, necessidade de se preocupar com a
administração das coisas de Deus.
É possível que alguns, para defenderem que administrar e planejar são atividades opostas à do ensino bíblico, citem o texto de
Tiago 4:13-15:
Ouçam agora, vocês que dizem: “Hoje ou amanhã iremos para esta ou aquela cidade, passaremos um ano ali, faremos negócios e ganharemos dinheiro”. Vocês nem sabem o que lhes acontecerá amanhã [...] Ao invés disso, deveriam dizer: “Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo”.
A passagem bíblica, entretanto, não contradiz o que dissemos
até o momento. Sua crítica dirige-se à pessoa que apregoa viver
uma existência sem a bênção e o poder de Deus. Esse foi o caso,
por exemplo, do filho pródigo, que desejou a morte do pai por querer viver sua própria vida sem qualquer intervenção paterna. As
sim, são muitos os que procuram viver sua vida sem a presença de
Deus. Deve ficar claro aqui que a preocupação com as questões
administrativas da igreja não devem ser os resultados, mas planos
de ação que colaborem para que o pastor desempenhe sua função
138 I Fundamentos da teologia pastoral
da melhor forma possível, crendo que o resultado provém somente do Senhor do rebanho.
Esse plano de ação deve envolver alguns princípios fundamentais:
Planejar: estabelecer metas e objetivos para a igreja, com a finalidade de desenvolver planos de trabalho que glorifiquem o nome de Deus. O planejamento é importante para que toda a igreja conheça as metas e objetivos a serem alcançados por todos os irmãos. Algumas igrejas já não se preocupam com o planejamento estratégico e acabam por perder o foco de suas ações. É preciso que o pastor tenha consciência e conscientize os membros quanto à necessidade de planejarem suas atividades.
Organizar: sistematizar os recursos financeiros e técnicos e distribuí-los de tal forma que possam funcionar como um todo. Nas palavras de Kessler e Câmara: “há muitas maneiras de se fazer uma coisa. Porém, devemos procurar aquela que seja mais prática e eficiente, que melhor corresponde à realidade”.51 É importante simplificar o trabalho.
Motivar: determinar o desempenho dos membros da igreja, o que, por sua vez, influencia o grau de eficácia com que os objetivos eclesiásticos são alcançados. Se a motivação for baixa, pouco desempenho haverá por parte dos membros na realização das atividades. É preciso ficar claro para todos que toda a igreja é responsável pelo alcance ou não das metas e objetivos estabelecidos pela liderança.
Controlar: acompanhar as atividades da igreja de modo a permitir uma comparação dos resultados com os planos e, se necessário, fazer ajustes onde as expectativas não tenham sido atendidas. Em algumas situações, será necessário mudar a forma de trabalho ou
desenvolver novos planos de ação.52
51 N. Kessler; S. Câmara, Administração eclesiástica: pastorear é muito mais que presidir. E administrar com eficiência os negócios do reino de Deus, p. 22.52 A. C. Limongi-França; E. B. Arellano, Liderança, poder e comportamento organizacional. Maria Tereza Leme Fleury (Org.), As pessoas na organização, p. 261.
As ATIVIDADES EXERCIDAS PELO PASTOR NA VIDA DA IGREJA | 1 39
Em síntese, administrar, em termos genéricos, significa alcançar
metas ou objetivos organizacionais. No caso do ministério pastoral,
administrar tem o propósito de estabelecer planos que facilitem a
atuação da igreja. Assim, é preciso preparar a liderança de forma ade
quada para que a igreja e o pastor obtenham êxito no plano de ação.
A liderança pode ser verificada sempre que alguém procura in
fluenciar o comportamento de um indivíduo ou de um grupo, não
importando a finalidade. Isso eqüivale a dizer que toda pessoa é
um líder,53 pelo menos em algum setor da vida.54 Uma distinção
a ser feita é que, se o foco da administração for o gerenciamento, a
preocupação será com os procedimentos e regras da organização.
Se a ênfase estiver nos recursos humanos, no tratamento com as
pessoas com vistas à promoção do desenvolvimento dos relaciona
mentos, então estamos falando de liderança.55 Barna56 define lide
rança da seguinte forma:
Um líder é uma pessoa [...] cujo propósito central é influenciar pessoas; uma pessoa orientada para um objetivo; alguém que tem um objetivo em comum com aqueles que dependem dele para orientá-los; e alguém a quem as pessoas estão dispostas a seguir.57
Após demonstrar seu pressuposto de liderança, o mesmo
Barna58 pontua alguns princípios que identificam o líder:
Inclinação inegável: líderes verdadeiros são naturalmente incli
nados a liderar.
53 Idem, P. 259.54 K. H. Blanchard; P. Hersey, Psicologia para administradores: a teoria e as técnicas da liderança situacional, p. 4.55 K. O. Gangel, Que fazem os líderes. George Barna (Org.), Líderes em ação, p. 31.56 Para maior conhecimento acerca da liderança com um tom cristão, ler: George Barna (Org.), Líderes em ação.57 G. Barna, Nada é mais importante do que liderança. Líderes em ação, p. 24-30.58 Idem.
140 I Fundamentos da teologia pastoral
Mente de líder: o líder percebe e pensa de forma diferente dos
outros. Sendo pessoas com visão distinta, os líderes, por definição, focalizam o futuro. Pensam nas implicações a longo prazo, nas oportunidades e escolhas que são feitas hoje. Geralmente eles são idealistas, trabalham com empenho e são pensadores estratégicos.
Influência discernível: um líder verdadeiro é aquele cuja vida dá
os frutos da liderança, isto é, a evidência cumulativa de que ele tem habilidade para mudar a maneira como indivíduos ou grupos pensam, falam e vivem, o que resulta no estímulo a persistir, apesar das dificuldades próprias da liderança.
Gosto pelo que faz: liderar pessoas é suportar as mais diferentes preocupações, controvérsias e animosidades. Mas, mesmo nesses momentos, o líder é aquele que encontra forças para continuar,
por gostar do que faz.59
Ainda tratando de liderança, ressaltamos os seguintes tipos de
líder, como apresentados por Kessler:60
Autocrático: desestimula inovações e centraliza as decisões importantes. Uma das dificuldades deste estilo de liderança é que pode resultar em abuso do poder, em que o líder se autodenomine: “dono”, em nosso caso, “dono da igreja”. “Muitos, em posição de mando estão a tratar as pessoas como objetos que podem ser ma
nipulados de um lado para outro, a fim de satisfazer seus instintos
de supremacia.”61
Burocrático: pressupõe que qualquer dificuldade pode ser afastada quando todos acatam os regulamentos.
Democrático: o líder que pede e leva em consideração as opi
niões do grupo antes de tomar decisões; a responsabilidade é
59 Para entender o líder como aquele que supera dificuldades, ler: ]. White, Encontrei um líder: alcançando objetivos com oração, coragem e determinação.60 N. Kessler, Ética pastoral, p. 158-159.61 Idem, p. 162.
AS ATIVIDADES EXERCIDAS PELO PASTOR NA VIDA DA IGREJA | 141
compartilhada pelo grupo. A questão a ser discutida aqui é a linha tênue entre liderar e caminhar com o povo que o pastor lidera. Em muitas situações, ele precisa se manter distante; em outras, precisa estar perto das pessoas.
Laissez-faire: outorga sua autoridade a outros, de maneira que as decisões não dependem dele.
Paternalista: cordial, estilo muito adotado nas igrejas e, por isso, pode produzir indivíduos imaturos.
Participativo: propicia mais amizade, tem maior conhecimento dos membros e motivação mais intensa pelo trabalho.
Algumas situações exigem que o pastor-líder navegue por esses diferentes estilos, uma vez que a liderança, por não ser ciência exa
ta, também depende da resposta da comunidade pastoreada. Em certas situações, ele deverá utilizar o estilo democrático, em outras, o burocrático, o paternalista e o participativo. O fundamental é que ele tenha flexibilidade e sabedoria para aproveitar o melhor dos mais diferentes estilos de pessoas para que, sob sua liderança, elas glorifiquem o nome de Deus.
Com isso, terminamos nossa reflexão sobre os fundamentos da teologia pastoral. Cabe-nos ainda relembrar as principais partes
deste capítulo.
Revisão e aproveitamento do capítulo 4
1. Como caracterizar um bom pregador do evangelho?2. Quais as principais tarefas do ministro do evangelho?3. Como deve ser o aconselhamento pastoral?
4. Quais os perigos que podem acompanhar o aconselhamento pastoral?
5. Quais conhecimentos de administração eclesiástica o pastor deve possuir?
Considerações f inais
Como foi dito na parte introdutória deste estudo, refletir a respeito do ministério pastoral é uma das temáticas mais importantes
na discussão a respeito da Igreja de Jesus. Não podemos negar que
nos encontramos numa encruzilhada com relação ao cristianismo
em geral. A Igreja Católica Romana tem sofrido, vendo alguns dos
seus líderes religiosos sob sérias acusações de pedofilia e abusos sexuais. No lado pentecostal e neopentecostal, a acusação é de apelos financeiros e prática de ganhar dinheiro e manipular pessoas,
o que resulta em severas críticas aos pastores, bispos e apóstolos
de todas as denominações evangélicas. Entre os protestantes his
tóricos, em muitas ocasiões, há os imperativos políticos e acordos denominacionais que acabam por nortear o trabalho pastoral das
mais diferentes regiões. Quando isso ocorre, deixamos os princí
pios da ética cristã de amarmos a Deus sobre todas as coisas e ao
próximo como a nós mesmos, o que nos torna insensíveis, desones
tos e egocêntricos.
Diante disso, não podemos negar que vivemos momentos de cri
se no cristianismo. Assim, o evangelho verdadeiro, como exortam as Escrituras, tem sido escandalizado, depreciado, para não dizer que está quase esquecido em muitas igrejas. A estas, lembramos o texto
de Apocalipse 3:20: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir
a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo”. Ainda que esse texto seja utilizado para pregações ou conferências
144 Fundamentos da teologia pastoral
evangelísticas, a hermenêutica mais adequada não é esta, visto que
foi dirigido à igreja de Laodiceia. Pelo texto percebemos que Cristo
se dirige àquela igreja como se estivesse do lado de fora, batendo na
porta. Esta é a figura: Cristo do lado de fora da igreja, batendo à sua
porta. Assim, à semelhança do que ocorria lá, muitas comunidades
atuais também estão sem o Bom Pastor. As palavras de Jesus são:
“Repreendo e disciplino aqueles que eu amo. Por isso, seja diligente
e arrependa-se” (Ap 3:19).
É preciso que a Igreja de Cristo retorne ao ensino verdadeiro
das Escrituras e acredite que o ministério pastoral é vital para a
reconstrução e saúde espiritual da igreja.1 Ao pastor cabe a grande
e séria tarefa de pregar o evangelho do arrependimento no interior
da própria igreja, haja vista que muitas comunidades se distancia
ram de Jesus. Na realização de sua árdua tarefa, os ministros do
evangelho precisam compreender que nada deve ocupar a centra
lidade da sua vida pessoal, familiar e da igreja a não ser a Palavra
de Deus. Ela deve ser ensinada com fidelidade e profundidade. Os
pastores não devem temer as perseguições que virão por pregarem
e viverem o evangelho do arrependimento. Salmos 1:1-3 afirma:
Como é feliz aquele que não segue o conselho dos ímpios, não imita a conduta dos pecadores, nem se assenta na roda dos zomba- dores! Ao contrário, sua satisfação está na lei do Senhor, e nessa lei medita dia e noite. E como árvore plantada à beira de águas correntes: dá fruto no tempo certo e suas folhas não murcham. Tudo o que ele faz prospera!
Esse salmo nos ensina que feliz é o homem que se satisfaz na lei
do Senhor e nela medita de dia e de noite. Ele é comparado a uma
árvore plantada à beira de águas correntes. No devido tempo dá o
seu fruto e suas folhas não murcham e tudo o que ele faz prospera.
1 ]. Armstrong, Semper reformanda: o papel pastoral na reforma moderna. O ministério pastoral segundo a Bíblia, p. 22.
Considerações finais I 145
Assim também devem ser os pastores, como árvores com raízes
aprofundadas na Palavra e na comunhão com Deus. Comportando-se assim, serão bem-sucedidos, porque a boa mão do Senhor estará sempre sobre eles e sobre aqueles a quem pastoreiam.
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Capítulo 1Gomes, A. M. A. O credenciamento dos cursos de teologia no Bra
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ção teológica e a identidade do teólogo. Revista de ciências da
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Capítulo 2Armstrong, J. O ministério pastoral segundo a Bíblia. São Paulo:
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tais. 2- ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.
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Ciências da Religião). São Paulo: Mackenzie, 2008.
________ As influências dos salmos de Davi na concepção de depressão
pelos cristãos. Lopes, E. P.; Liberal, M. M. C. (Orgs.). O impacto
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Expressão & Arte, 2009. p. 91-104.
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religiosos numa organização protestante neopentecostal e noutra tra
dicional. Psico-USF. Vol. 11, na 11, jan.-jun. 2006, p. 103-112.
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Thielicke, H. Recomendações aos jovens teólogos e pastores. Recife/
São Paulo: Sete&Sepal, 1990.
Anexo 1 Modelo de estatuto de
igreja evangélica
Capítulo I Da denominação, sede, fins e duração.
Artigo Ia — A Igreja_____________é uma organização religiosa1 constituída de membros crentes em nosso Senhor Jesus Cristo, com
sede e foro civil na cidade de---------------------- , organizada de conformidade com a Constituição da Igreja------------------------- Tem por fimprestar culto a Deus, em espírito e verdade, pregar o evangelho, batizar os conversos, manter seus filhos menores sob sua guarda e
ensinar os fiéis a guardar a doutrina e prática das escrituras do Antigo e Novo Testamentos em sua pureza e integridade, bem como promover a aplicação dos princípios de fraternidade cristã e o cres
cimento de seus membros na graça e no conhecimento de nosso
Senhor Jesus Cristo.Parágrafo único: A igreja funciona por tempo indeterminado.
1 Conforme Código Civil, artigo 44, inciso IV.
160 I Fundamentos da teologia pastoral
Capítulo II Da administração civil e da representação
Artigo 2º — A diretoria executiva da igreja é composta pelo pastor, ou pastores, e pelos presbíteros.2
§ 1º — A diretoria executiva3 só poderá reunir-se e deliberar estando presentes a maioria dos seus membros.
§ 2º — Será ilegal qualquer reunião da diretoria executiva sem
convocação pública ou individual, por correspondência ou e-mail
para todos os membros, e com tempo bastante para o compareci- mento destes.
§ 3º — A diretoria executiva elegerá anualmente sua diretoria
composta de um vice-presidente, um ou mais secretários e um te
soureiro, sendo este de preferência oficial da igreja.
§ 4º — Os oficiais são eleitos pela assembleia geral da igreja
para um mandato de----------- anos, podendo ser reeleitos.4
Artigo 3º — A presidência da diretoria executiva compete sem
pre ao pastor. Se a igreja tiver mais de um pastor, exercerão a pre
sidência alternadamente, salvo outro entendimento.
§ Iº — O presidente, ou seu substituto em exercício, representa a igreja ativa, passiva, judicial e extrajudicialmente.
Capítulo III Da assembleia
Artigo 4º — A assembleia geral constará de todos os membros
da igreja, em plena comunhão, e reunir-se-á ordinariamente, ao
menos uma vez por ano, e extraordinariamente quando convocada pela diretoria executiva.
2 Aqui pode-se acrescentar outros ofícios, como diácono, a critério da comunidade.3 Código Civil, artigo 44, inciso IV.4 Lei n“ 6.015/1973, artigo 120.
Anexo 1 j 161
I. A assembleia reunir-se-á ordinariamente para:
a) ouvir, para informação, o relatório do movimento da igreja
no ano anterior e tomar conhecimento do orçamento para o ano
em curso;
b) pronunciar-se sobre questões orçamentárias e administrati
vas, quando isso for solicitado pela diretoria executiva;
c) eleger anualmente um secretário de atas.
II. A assembleia reunir-se-á extraordinariamente para:
a) escolher ou eleger pastores e oficiais da igreja;
b) pedir exoneração deles ou opinar a respeito, quando solicita
do pela diretoria executiva;
c) aprovar seus estatutos e deliberar quanto à sua constituição
como pessoa jurídica;
d) adquirir, permutar, alienar, gravar com ônus real, dar em pa
gamento imóvel de sua propriedade e aceitar doações ou legados,
onerosos ou não;
e) conferir a dignidade de pastor emérito, presbítero emérito e
diácono emérito.
III. Para tratar dos assuntos a que se referem as alíneas “b” do
inciso I, “c” e “d” do inciso II, a assembleia deverá constituir-se de
membros civilmente capazes.
Artigo 5a — A reunião ordinária da assembleia será fei
ta sempre em primeira convocação, seja qual for o número de
membros presentes.
Artigo 6a — Qualquer reunião extraordinária da assembleia
geral deverá ser convocada com antecedência de pelo menos oito
dias e só poderá funcionar com a presença mínima de membros em
numero correspondente a um terço dos residentes na sede.
162 | Fundamentos da teologia pastoral
§ Ia — A convocação da igreja, para reunir-se em assembleia
geral, será feita por meio de publicação no boletim da igreja e fixa
ção de edital no quadro de avisos da sede.5
§ 2a — As deliberações da assembleia geral serão sem
pre aprovadas pelos votos de pelo menos metade mais um, dos
membros presentes.6
Artigo 7“ — A presidência da assembleia geral da igreja cabe
ao pastor e, na ausência ou impedimento deste, ao pastor-auxiliar
ou vice-presidente da diretoria executiva, caso a igreja não tenha
pastor-auxiliar.
Capítulo IV
Dos bens e dos rendimentos e sua aplicaçãoArtigo 8a — São bens da igreja: ofertas, dízimos, doações, le
gados, bens móveis ou imóveis, títulos, apólices, juros e quaisquer
outras rendas permitidas por lei.
§ Ia — os rendimentos serão aplicados na manutenção dos ser
viços religiosos e no que for necessário ao cumprimento dos fins
da igreja.§ 2Q — a igreja não tem fins lucrativos, não distribui rendimen
tos nem remunera seus oficiais, presbíteros, regentes e diáconos
eleitos.
Artigo 9a — Os membros da igreja respondem com os bens desta, e não individual ou subsidiariamente, pelas obrigações por ela
contraídas.
Artigo 10a — O tesoureiro da igreja responde com seus bens
havidos e por haver, pelas importâncias sob sua responsabilidade.
5 Lei n“ 6.015/1973, artigo 120.6 Idem.
Anexo 1 | 163
§ Ia — O tesoureiro depositará em casa bancária de escolha da diretoria executiva e em nome da igreja as importâncias sob sua
guarda, desde que estas sejam superiores à quantia necessária para as despesas previstas em uma quinzena.
§ 2a — As contas bancárias serão movimentadas com a assinatura do tesoureiro e de mais um presbítero especialmente designado pela diretoria executiva para este fim.
Capítulo V Da comissão de exame de contas
Artigo 11 — A diretoria executiva nomeará, anualmente, uma
comissão de exame de contas da tesouraria, composta por três membros.
§ l2 — A escolha poderá recair sobre quaisquer dos membros da igreja civilmente capazes.
§ 2- — O tesoureiro fornecerá a essa comissão, de três em três
meses, ainda que no fim de cada exercício, um balancete da tesou
raria, acompanhado de todos os livros e comprovantes, inclusive contas bancárias.
§ 3“ — A comissão de exame de contas, por sua vez, prestará
relatório à diretoria executiva de três em três meses e, ainda, um relatório geral do exercício findo, relatórios esses que devem vir
acompanhados dos balancetes da tesouraria.
Capítulo VI Do patrimônio em caso de cisma ou dissolução.
Artigo 12 — A igreja poderá extinguir-se na forma da legislação em vigor ou por determinação do presbitério a que se subordina.
§ 1“ — A extinção ou dissolução da igreja, se por decisão da assembleia geral, ocorrerá em reunião extraordinária especialmente convocada para esse fim.7
7 Lei n“ 6.015/1973, artigo 120, § le, 2a e 32 do artigo 12, inciso V.
164 I Fundamentos da teologia pastoral
§ 2a — No caso de dissolução da Igreja, liquidado o passivo, os bens remanescentes passarão a pertencer ao presbitério sob cuja jurisdição a igreja estiver.
§ 32 — No caso de cisma ou dissolução, os bens da igreja passarão a pertencer à parte fiel à igreja; sendo total o cisma, reverterão os bens ao presbitério a que a igreja estiver jurisdicionada.
Capítulo VII Disposições finais
Artigo 13 — Estes estatutos serão reformáveis mediante proposta da diretoria executiva, aprovada em primeiro turno por uma assembleia geral convocada especialmente para esse fim, na forma do artigo 6" e seus parágrafos, aprovada em segundo turno pelo
presbitério a que se subordina a igreja e, em terceiro turno, de sanção, por nova assembleia geral da igreja.
Artigo 14 — São nulas de pleno direito quaisquer disposições que, no todo ou em parte, implícita ou expressamente, contrariem ou firam a Constituição da igreja.
Artigo 15 — O ano civil da igreja----------------------- compreende o
período de 1'*' de janeiro a 31 de dezembro de cada ano.8
8 Exigência contábil fiscal.
Anexo 2 Redação de atas
Início da ata
Ata número (número da ata) da reunião do Conselho da (nome da igreja), reunido no dia (dia) de (mês) de (ano) no (local da igreja), sito à (endereço: rua, número, bairro), neste município de
(cidade e Estado). A reunião foi presidida por (nome do presidente da reunião, normalmente o pastor da igreja). Estavam presentes os
presbíteros (presbíteros presentes). Estavam ausentes os (presbíteros ausentes). A reunião teve início às (horário da reunião), com (exercício espiritual).
Término da ataNão havendo mais nada para ser tratado, encerrou-se a presente
(horário do término da reunião) com uma oração pelo (nome da pessoa que orou — este trecho pode ser suprimido). E eu, pres
bítero (nome do secretário ou secretário ‘ad-hoc’), secretário do Conselho, a tudo presente, lavrei e assino a presente ata.
Regras geraisOs nomes mencionados na ata deverão constar sempre completos
na primeira vez em que são citados. Posteriormente, poder-se-á
utilizar apenas o primeiro nome.
166 | Fundamentos da teologia pastoral
Os numerais poderão ser representados na forma de algaris
mos. No caso de valores monetários, é conveniente completar a
representação por algarismos com o valor expresso por extenso e
entre parênteses.
Quando se tratar de inclusão de membros, deverão ser men
cionados os seguintes dados:
• Modo da recepção
• Nome completo
• Sexo
• Filiação
• Naturalidade
• Nacionalidade
• Data de nascimento
• Profissão
• Alfabetização
• Estado civil
• Endereço completo
• Número conforme Rol de Membros. O número do mem
bro deverá ser informado logo após o nome, entre parênte
ses e em destaque (negrito).
Resumo, anotações e observaçõesO uso de resumo, anotações e observações é obrigatório, uma vez
que completam e/ou facilitam a recuperação de informações da ata,
substituindo as anotações marginais na lavratura desta. Para esse
fim, deve-se utilizar o recurso das notas de rodapé, presente em to
dos os softwares de processamento de textos, da atualidade.
Notas de rodapé1. Deverão ser referenciadas no texto por número seqüenciais, ini
ciando em 1 em cada ata.
Anexo 2 | 167
2. Deverão ter a mesma fonte do corpo da ata, mas em tamanho
um pouco menor: Times New Roman 10.3. Esse recurso, quando bem utilizado, permitirá busca rápida de
qualquer informação que se deseje obter na ata.4. As seguintes notas deverão sempre existir na ata.
• Número da ata, data e hora de início da reunião
• Presbíteros presentes• Presbíteros ausentes• Leitura e aprovação de atas
• Chamadas aos assuntos discutidos na reunião, com referências resumidas
• Número da ata, data e hora de término da reunião.
Divisões do texto da ataAs seguintes divisões do texto da ata são sugeridas:
1. Assuntos internos• Ata anterior1
• Atividades realizadas2
• Atos pastorais3
• Visita dos presbíteros4
• Informações da tesouraria5
• Congregações6
• Junta diaconal'
• Sociedades internas8
1 Leitura e aprovação da ata anterior.2 Descrição resumida das atividades e dos eventos da igreja, ocorridos desde a última reunião do Conselho.3 Atos pastorais, como santa ceia, visitas, funerais, pregações fora do campo etc., mencionando-se local e data.4 Visitas realizadas pelos presbíteros.5 Informações e decisões relativas à tesouraria, como saldo, exame das contas etc.b Informações e decisões relativas às congregações.7 Informações e decisões relativas à junta diaconal.8 Informações e decisões relativas às sociedades internas.
1 6 8 | Fundamentos da teologia pastoral
• Escola dominical9
• Zeladoria10
2. Assuntos externos
• Correspondências recebidas11
TranscriçõesAs transcrições de documentos, tais como Atas da Assembleia,
Estatutos etc., quando necessárias, deverão ser feitas obedecendo-
se aos mesmos critérios para confecção das atas, exceção feita às
assinaturas, que não deverão constar.
Numeração das páginasCada página será numerada seqüencialmente, sendo que a primei
ra página de cada livro terá o número “1”.
A numeração deverá ser informada no canto superior direito
de cada página, sendo que a fonte terá o mesmo tamanho da fonte
do corpo da ata.
Os termos de abertura e encerramento não serão numerados.
AssinaturasAo final de cada ata, imediatamente após seu texto, o secretário
deverá assinar a ata, com caneta preta ou azul.
Cada página da ata será devidamente rubricada pelo pastor ti
tular da igreja e pelo secretário, próximo ao número da página.
Os termos de encerramento e abertura serão também devida
mente assinados e rubricados, no caso da Igreja Presbiteriana do
Brasil, conforme sua Comissão interna.
q Informações e decisões relativas à escola dominical.10 Informações e decisões relativas à zeladoria.11 Informações e decisões tomadas em função de correspondência recebida.
Anexo 2 | 169
Inclusão dos Termos de Abertura, Encerramento e Aprovação do Livro de Atas
Termo de abertura
Na primeira página do livro de atas, constará o TERMO DE
ABERTURA, com a seguinte redação:
Termo de Abertura
Este livro, contendo (até 100) folhas eletronicamente numeradas,
e por mim rubricadas, com a rubrica (rubrica a tinta azul ou preta), do meu uso, servirá para o registro das atas da diretoria execu
tiva da (nome da igreja), sendo este livro de número (número do livro). Pr. (nome do pastor da igreja), pastor da igreja, e presidente
da diretoria executiva. (Município e data). (Assinatura do pastor com caneta azul ou preta).
Termo de Encerramento
Na última página do livro de atas constará o Termo de encerra
mento, com a seguinte redação:
Livro de Atas nº (número do livro) do Conselho da igreja
(nome da igreja)Aberto em (data da abertura)Encerrado em (data do encerramento)
Termo de Aprovação do Livro de Atas
As observações do Concilio Superior, feitas após o exame dos Li
vros de Atas, deverão ser confeccionadas obedecendo-se ao mesmo
padrão das atas adotado pela diretoria executiva à qual pertence
o livro.
As páginas deverão ser igualmente numeradas.
1 7 0 | Fundamentos da teologia pastoral
Após a elaboração do Termo de Aprovação, este deverá ser assinado pelo Presidente do Concilio e, então, anexado ao Livro de Atas da diretoria executiva da igreja.
Armazenamento das atasAs atas serão armazenadas temporariamente em pastas, sendo cada página armazenada em plástico transparente.
Ao completar um total de 50 ou, no máximo, até 100 páginas, excluindo-se os Termos de Abertura e Encerramento, fica encerrado o Livro de Atas correspondente. Dever-se-á encadernar as
páginas, com sistema de grampo fixo ou similar; a encadernação em espiral não é permitida, por permitir fácil adulteração.
Deverá ser confeccionada uma capa para o Livro de Atas, a qual deverá conter as seguintes informações:
Livro de Atas nº (número do livro) do Conselho da igreja
(nome da igreja)Aberto em (data da abertura)Encerrado em (data do encerramento)
Sobre os autores
Edson Pereira Lopes é casado com Nívea, pai de Tales e Tai- la. É pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, em Vila Esperança, São Paulo. Diretor da Escola de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Doutor em Ciências da Religião, na área de Práxis, Religião e Sociedade, pela Universidade Metodista. Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenizie. Especialista em Estudos Brasileiros pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui Licenciatura Plena em Filosofia pelas Faculdades Associadas do Ipiranga. Bacharel em Teologia — Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição. Docente no Mestrado de Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie. E autor dos livros: O conceito de teologia e pedagogia na Didática magna de Comenius, A interrelação da teologia com a pedagogia no pensamento de Comenius, Trabalho científico: teorias e aplicações, Fundamentos da teologia da salvação e Fundamentos da teologia da educação. É um dos organizadores do livro O impacto da práxis religiosa na construção de vínculos sociais. Possui artigos publicados em livros e revistas especializadas em educação e religião. É editor da Revista de Ciências da Religião História e Sociedade, do Programa de Mestrado de Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Nívea Costa da Silva Lopes é mestra em Educação, Arte e História da Cultura, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
172 ( Fundamentos da teologia pastoral
(2004). Especialista em Estudos Brasileiros, pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie (1999). Graduada em Pedagogia (1997),
pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atualmente cursa Psi
cologia na Universidade Presbiteriana Mackenzie e faz parte do
grupo de pesquisa “Religiosidade e Saúde”. E membro da Igreja
Presbiteriana do Brasil em Vila Esperança. Colaborou, em coauto-
ria, na coletânea O impacto da práxis religiosa na construção de vín
culos sociais, com o artigo “A relevância da religião na filosofia dos
séculos XVIII a XX”. Publicou, em coautoria, o artigo “A igreja e a
escola de mãos dadas: a educação como práxis teológica na conso
lidação do presbiterianismo no Brasil”, na revista Caminhando, da
Faculdade de Teologia da Igreja Metodista.
Pérsio Ribeiro Gomes de Deus graduou-se em Medicina, pela
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em 1977. Fez resi
dência médica em Psiquiatria, inicialmente pela Unifesp e, poste
riormente, pela Faculdade de Medicina de Jundiaí. E especialista
em Psiquiatria, pela Associação Paulista de Medicina, e mestre em
Ciências da Religião, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Médico psiquiatra da Secretaria da Saúde, com o cargo de dire
tor técnico de Saúde do Hospital Psiquiátrico da Água Funda.
Professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Membro da
Associação Brasileira de Medicina Aeroespacial, tendo sido psi
quiatra em medicina aeroespacial da Fundação Transbrasil. Com
formação musical, regência coral e orquestra, participou de diver
sos concertos promovidos pela Secretaria da Cultura, em colabora
ção com a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Colaborou
nas coletâneas O impacto da práxis religiosa na construção de vínculos
sociais, com o artigo “As influências dos salmos de Davi na con
cepção de depressão pelos cristãos”; Eclipse da Alma, com o artigo
“A depressão no contexto da psiquiatria e da religião”. Publicou
o artigo “Um estudo da depressão em pastores protestantes”, na
Sobre os autores | 173
Revista de Ciências da Religião: história e sociedade, da Universi
dade Presbiteriana Mackenzie.