yell-oh! #4

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“Bodyguard” foi produzido a partir de uma ideia de restrição e aprisionamento. Resulta do processo de fotomontagem num entrosamento de duas imagens do mesmo ser, em que a minuciosa recomposição pretende criar um simulacro de um só ser metamórfico. A ideia de censura, que de forma latente já estava presente na ideia original da obra, reside na sua dimensão de ambiguidade e duplicidade, que nos deixa enquanto observadores, numa situação ambígua de potencial vítima ou pessoa protegida. De qualquer modo, impera sensação de tensão e restrição. O canídeo de apuramento laboratorial, ligado a toda uma imagética violenta a si associada, está potenciado pelo apuramento artificial da imagem, acrescido da composição que gera um sistema fechado (pelo conjunto deste novo ser e da sua trela que simbolicamente aprisionam o observador). Na tensão entre o olhar ligeiramente enviesado deste novo ser e o nosso olhar directo para a obra, a última palavra em relação à censura é nossa, a do observador! JORGE ABADE 14-05-2011 FANZINE SEMESTRAL DO CURSO DE SOM E IMAGEM ENTREVISTAS • CRÓNICAS • PROJECTOS DE SOM E IMAGEM • PROJECTOS EXTRA-CURRICULARES • PROJECTOS DE DOCENTES • PRODUÇÕES FINAIS • TALENTOS • INCUBADORAS • FESTIVAIS • GADJETS • DESTAQUES • EDIÇÃO DE VERÃO JUN.2011 Distri. Gratuita

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Page 1: Yell-Oh! #4

1

“Bodyguard” foi produzido a

partir de uma ideia de restrição

e aprisionamento. Resulta do

processo de fotomontagem num

entrosamento de duas imagens do

mesmo ser, em que a minuciosa

recomposição pretende criar um

simulacro de um só ser metamórfico.

A ideia de censura, que de forma

latente já estava presente na

ideia original da obra, reside

na sua dimensão de ambiguidade

e duplicidade, que nos deixa

enquanto observadores, numa

situação ambígua de potencial

vítima ou pessoa protegida. De

qualquer modo, impera sensação de

tensão e restrição. O canídeo de

apuramento laboratorial, ligado a

toda uma imagética violenta a si

associada, está potenciado pelo

apuramento artificial da imagem,

acrescido da composição que gera

um sistema fechado (pelo conjunto

deste novo ser e da sua trela

que simbolicamente aprisionam o

observador). Na tensão entre o

olhar ligeiramente enviesado deste

novo ser e o nosso olhar directo

para a obra, a última palavra em

relação à censura é nossa, a do

observador!

JORGE ABADE

14-05-2011

FANZINE SEMESTRAL DO CURSO DE SOM E IMAGEM

ENTREVISTAS • CRÓNICAS • PROJECTOS DE SOM E IMAGEM • PROJECTOS EXTRA-CURRICULARES • PROJECTOS DE DOCENTES • PRODUÇÕES FINAIS • TALENTOS • INCUBADORAS • FESTIVAIS • GADJETS • DESTAQUES •

EDIÇÃO DE VERÃOJUN.2011

Distri.Gratuita

Page 2: Yell-Oh! #4

FICHA TÉCNICA DA OBRA ORIGINAL

Título

Bodyguard

Ano

2009

Técnica

Durst Lambda Print

Dimensões

27,5 X 41,5 cm

3 Unidades

Capa da 4ª Edição da Yell-Oh! fanzine

Page 3: Yell-Oh! #4

FICHA TÉCNICA (REPRODUÇÃO YELL-OH!)

Título

Bodyguard

Ano

2011

Técnica

Off-Set 4 cores

Dimensões

22,5 X 59,4 cm

300 Unidades

Jorge Abade,Docente de Som e Imagem

Page 4: Yell-Oh! #4

4

INDICE

EDITORIAL-GACHÊTTE-CRÓNICAPaulo da Rosária-TALENTOFÁ-LAS CURTAS! - Pedro Gonçalves e Sílvia Cunha; André Luís e Miguel Rodrigues-PERFILMané Branco-MOSTRARicardo Megre-PRODUÇÕES FINAIS DE MESTRADO 09|10Projectos Finais de Vídeo-ESTIVEMOS LÁ!Black&White 8ª ediçãoFantasporto 11-ENTREVISTA A...Vítor Teixeira-MEMÓRIAS-CRÍTICAIlustração-FOTO YELL-OH!Escola das Artes-VÉNIA A...Robert Rodriguez-RECOMENDAMOSDestaques de docentes-

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índice

Page 5: Yell-Oh! #4

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Herói ou cobarde? Se é verdade que o

melhor ou pior do ser humano se revela

em situações extremas ou em situações

onde uma conjunção de factores leva a um

provável despotismo, também é verdade

que deste meio mentes brilhantes e obras

assombrosas poderão emergir. Não são

minhas as palavras, mas sim de Victor

Hugo, em ‘Os Miseráveis’ quando disse:

“Dos déspotas provêm, até certo ponto,

os pensadores. A palavra acorrentada é

terrível. O escritor duplica e triplica o seu

estilo, quando um senhor impõe silêncio

ao povo. Sai desse silêncio certa plenitude

misteriosa que se filtra e se condensa em

bronze no pensamento.”.

Censura, é o tema escolhido para esta 4ª

edição da “Yell-Oh!”, porque creio que

mais do que censura social, estatal ou

até ditatorial, vivemos numa época de censura íntima onde o medo de liberdade

de expressão e manifestação se instalou em nós. Fazendo parte da índole de uma

fanzine servir de veículo disseminador de ideias e claro sem correntes ditadas por

outros média, quisemos expor a questão Censura, sem sermos censurados. E como

somos de natureza questionadora, propomos que esta fanzine seja um veículo de

reflexão e mediação (in)formativa.

Percorremos o caminho, com novas e velhas colaborações. Destacamos a capa de

Jorge Abade, com um conceito diferente nesta edição ¬— o de uma capa envolvente

que acolhe a Fanzine e que pode servir o efeito de objecto coleccionável; a divertida

crónica de Paulo da Rosária; entrevista a Vítor Teixeira, com opiniões influentes

sobre a nossa escola em particular e a vida em geral; recomendações relevantes

de outros docentes como Gustavo Martins, Yolanda Espiña e Rui Nunes; e outros

destaques de mérito de projectos de actuais e ex-alunos, bem como de docentes.

A valiosa opinião de todos sobre o tema em questão, reflectida em tão variados

suportes, faz-nos orgulhar desta edição que muito nos tem a ensinar. Um obrigada

a todos, e um obrigada especial à equipa “Yell-Oh!”, por este ano lectivo, sem “elas”

não seria possível.

ESTA EDIÇÃO NÃO FOI ESCRITA AO ABRIGO DO NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO.

Page 6: Yell-Oh! #4

6

Câmara do FuturoInfelizmente é apenas um protótipo de design de uma empresa de Seattle, a Group Artefact. De acordo com o conceito, o sensor é alojado dentro da lente, que continua a funcionar mesmo quando esta é separada do corpo da câmara, permitindo assim ao ecrã ser usado como um visor portátil. Disponível em: http://artefactgroup.com/wvil/

Re-Futurização da TelevisãoO designer Mike Chen foi o criador desta televisão com inspiração nos anos 50 e no minimalismo moderno. A ideia é reviver o espaço da televisão como parte da mobília, da decoração. O comando é apenas um grande botão onde a expressão do minimalismo “menos é mais” se aplica aliada ao estilo das antigas televisões dos anos 50.Disponível em: http://mikeychen.com/

Registador de sonhosO design deste livro surgiu num sonho da artista Samara Guzmán Fernández, que assim decidiu criar o Registador de Sonhos. É uma edição limitada de 55 livros numerados, feitos manualmente com seda e papel reciclado mina gris. As portadas foram feitas com serigrafia, assim como as pequenas anotações que podemos encontrar pelo livro.Disponível em: nsamaraguzmanfernandez.blogspot.com/

Collaborative InstrumentA colaboração criativa é algo comum nos dias de hoje.

Collaborative Instrument foi desenhado para criar música em conjunto, controlando o ritmo e a melodia

separadamente. Matt West desenhou a peça para uma utilização simples em trabalho de equipa.

Disponível em: www.mattwestdesign.com

Headphones da Sennheiser, com a assinatura AdidasA Sennheiser e a Adidas Originals lançaram o HD 220 e CX 310, aliando a técnica ao design. Ambos os headphones deste recurso de áudio líder mundial, foram desenhados com o estilo inconfundível da Adidas Originals.Preço: 210¤

Disponível em: http://chemical-records.co.uk/

Page 7: Yell-Oh! #4

7

Olympus O-ProductUm design geométrico e arrojado, inspirado nas tendências dos anos 20 e 30 para estes aparelhos. Com flash amovível, esta câmara compacta de 35mm foi vendida como uma edição pré-venda limitada a 10.000 unidades no Japão e 10.000 fora.Disponível em: www.olympus-global.com

Laptop Dock LD120O Laptop Dock LD 120 torna qualquer computador num aparelho de música de alta qualidade, sem a necessidade de instalar ou configurar, apenas com um plug-in de operador de sistema. Esta mesa anti-vibração que funciona como sistema de som, foi concebida pela unidade de investigação francesa La Boite Concept.Disponível em: www.laboiteconcept.com

Colunas TAUAs colunas TAU apresentam formas orgânicas em suspensão, que são o resultado da procura de Andrej Cverha pela forma

mais simples para proporcionar a máxima qualidade de áudio. São construídas com materiais reciclados, tais como

cartão, papel e resinas de époxi.Disponível em: www.yankodesign.com

TDK BoomboxCom o estilo da icónica aparelhagem de

ghetto da década de 80, TDK traz de volta a clássica Boombox. Com o design

e a tecnologia actualizados, contém inputs de USB, iPod, iPhone, smartphone,

guitarra e microfone. Os botões touch permitem um controlo simples e intuitivo

do aparelho, que nos possibilita ainda carregar o iPhone ou iPod ao mesmo

tempo que executamos outras funções.Preço: 500¤

Disponível em: http://tdk.com/

USB LocketA tecnologia aliada ao design já não é novidade, pois começa

a integrar-se com acessórios de moda. Emily Rothschild redesenhou o tradicional colar com a fotografia de alguém

querido para uma USB flash drive. Agora podemos ter todas as nossas fotografias, documentos, músicas ou vídeos ao

pescoço. Disponível em:

www.emilyrothschild.com

Page 8: Yell-Oh! #4

8

Advertência ao putativo leitor deste texto:

aquele que procurar, neste texto uma definição de censura será processado;aquele que procuraruma anatomia da censura será

açoitado em hasta pública; aquele que procurar uma exegese da censura será

sumariamente executado.

A CENSURA É BASTANTE

CENSURÁVEL

CRÓNICA POR PAULO DA ROSÁRIA

DOCENTE DE SOM E IMAGEM

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O autor deste texto censura a falta de liberdade que não lhe foi concedida para elocubrar sobre o que realmente o atormenta: a obrigatoriedade da ingestão de kiwis, associada à ideia higienista da saúde, patrocinada pelo complexo vitamínico que essa pasta repugnante, sórdida e verde transporta e que tresanda a relva, pisada por duas equipas de rugby, após meses de fortes chuvadas. Por ele e refiro-me ao autor, censurava os kiwis. E os kiwis seriam expurgados. E com eles, toda essa espécie de patê de foie de aglomerado de nhanha verde.Porém, preferiram censurar o texto sobre tão medonho e angustiante assunto, obrigando o autor a falar de censura. Embora extremamente convicto da suprema elevação de uma crónica sobre o abjecto fruto, o kiwi, quando comparada com o tema proposto, a censura, o autor aceita a encomenda. Ainda que ligeiramente amuado. Antes de meter mãos à obra, o autor foi visto a passear, pelos frondosos jardins do campus online da Universidade Católica, com um livro nas mãos. Mas aqui, os testemunhos divergem. Alguns relatos, optam por “foi avistado nos frondosos jardins, com um pombo debaixo do braço”; Outros ainda referem “um índividuo careca e gordo com um livro, cujo título era barrado por uma faixa preta que levitava…” Dois ou três testemunhos relatam, “um indivíduo careca e gordo, de pernas arqueadas, que teria dito um palavrão, supostamente por não julgar correcto que um pombo defecasse mesmo em cima da reluzente careca.” O palavrão não se pode citar, não porque seja censurável, mas porque a voz desse indivíduo teria sido manipulada digitalmente, pelo que soava como uma espécie de flatulência oralizada. Ocorre, ainda, nos testemunhos desse avistamento, uma referência à dieta do pombo. Tudo aponta para a ingestão de kiwis.De resto, todos os testemunhos aceitam a existência de um livro debaixo do braço do autor desta crónica. Ninguém acredita que a natureza do autor fosse de tal modo vil que pudesse ter degolado o pombo. Sobretudo com intuitos vingativos. E de resto, ninguém passeia um pombo debaixo do braço. Creio eu.Mas eu não sou tido, nem achado. sou apenas o prefaciador da crónica. E cumprindo o meu dever, devolvo o disponível leitor ao convívio com o autor desta crónica. De regresso ao seu gabinete e à luz de uma vela, não porque não houvesse electricidade, mas pelo romantismo que a expressão “à luz de uma vela” sugere, o autor sentou-se, molhou a pena do pombo na tinta e começou a rascunhar o texto que agora se dá a conhecer ao benévolo e paciente leitor. Ei-lo, em todo o seu esplendor, traduzido com esmero do aramaico original (O autor escreve sempre em

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aramaico, por motivos de clareza e precisão; seguindo aliás, a tradição da casta).Neste momento, confesso que como prefaciador senti um sobressalto cívico. Enquanto escrevia esta linhas, um pombo acabara de debicar o papel de arroz onde o autor tinha escrito o original. Nervoso e revoltado, atirei inadvertidamente e num acto tresloucado a tradução para a lareira. Daí que, o que se vai ler a seguir conste da transcrição do registo audio de uma lição do mestre autor. Farão parte da transcrição, não só as palavras como a interpretação de todos os sons que o suporte registou. Ei-lo, em todo o seu esplendor (acho que já escrevi isto…).O autor entra no Auditório Ilídio Pinho e dirige-se ao microfone. Ouvém-se palmas. O autor pigarreia. Faz estalar os dedos das mãos. Sorve um gole de água e gargareja. Cospe para o escarrador. Assoa-se e guarda o lenço.Embora não acredite minimamente na eficácia da imagem que se segue, obra de um colega que padece de PMS (Post Modernism Syndrom) creio ser adequada à introdução da temática e reparem que uso o vocábulo “temática” em vez de “tema”. A censura. Creio, de facto, que ilustra com rigor quase científico (reparem que uso o vocábulo “científico” em vez de “empírico” ou de “místico” ou mesmo de “brutal”) o conceito de evolução ou de progresso na história da Humanidade. A imagem consta do seguinte: o ser humano evolui na medida em que cada vez se queimam mais livros e cada vez se queimam menos pessoas. Concedo. É uma imagem capciosa (e reparem que uso o vocábulo…)Tosse.Tosse.Espirra!Detesto que espirrem durante a conferência. É que estou aqui concentradíssimo, meu preclaro colega… aluno, hrumm, Senhor Comendador... (sorve um gole de água). A referida imagem poderia funcionar até ao Século das Luzes, mas não resiste aos acontecimentos que marcaram o século XIX e muito menos o século XX. De qualquer modo, a fogueira e os livros acompanham a história da censura, como a água acompanha a história da natação sincronizada e o gelo a história da patinagem artística. Ocorrem como acidentes naturais. Livros e censura sempre viveram de mãos dadas. Não por vontade dos livros, como é evidente. Senão, vejamos: Em 1791, em França, a Biblioteca Nacional de Paris criou uma colecção de literatura dita obscena ou inadmissível ou o que quer que seja, enfim, proibida. A colecção foi perdendo vários

Autor:

Autor:

Espectador 2:Espectador 3:

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volumes, uns deteriorados, outros roubados até ter sido catalogada por Guillaume Apollinaire, em 1913 (burburinho no auditório). Sim, Apollinaire. O autor de Alcools e Les Onze Mille Verges. A colecção chamava-se L’Enfer. Continha mais de quatro mil livros.Em Bloomsbury, Londres, a chamada “The Private Case Collection” do British Museum chegou a reunir cerca de vinte mil livros de literatura dita erótica, indecente, obscena e pornográfica. Incluía textos provenientes da Inglaterra, daFrança, Espanha , Portugal, Itália, Alemanha, entre outros. O roubo, o vandalismo e outros motivos, mais ou menos naturais, reduziram o espólio para cerca de um décimo. Em 1998, a colecção foi mudada para St. Pancras. São ambas bibliotecas de acesso restricto ou condicionado. Bem como as bibliotecas do Congresso de Washington, a Bodlein, em Oxford e a Biblioteca Apostolica Vaticana.A perda do Livro II de Aristóteles que abordaria a Comédia continua a alimentar rumores sobre a presumível censura (…)Nota do prefaciador: a má qualidade do registo audio não permite a transcrição de cerca de quinze minutos da conferência. Retoma-se a transcrição na frase truncada que a seguir poderá ler.(…) serve de mote à narrativa que Umberto Eco construiu, na sua obra O Nome da Rosa. A liberdade de expressão é censurável sempre que o ser humano possa ser gravemente lesado pelo acesso a informação enganosa. Por exemplo, será sempre censurável o energúmeno que grita “Fogo!” numa sala de teatro repleta de espectadores. Ou o imbecil que grite “Bomba!” durante um voo, num avião de passageiros.Da mesma forma, é legítimo censurar um livro tão fatalmente cómico que, por hipótese académica, conseguiria matar o leitor à gargalhada. Todos gostamos de rir, mas ninguém aprecia sufocar até à morte no seu próprio riso. Mas já não será admissível a censura de um livro apenas porque comunica ideias com as quais discordamos. É célebre a frase de Voltaire que passo a parafrasear: Discordo em absoluto das suas ideias, mas lutaria até à morte pela sua liberdade de as expressar. O grande teste à nossa tolerância não passa pela condescendência perante ideias divergentes; a nossa tolerância é realmente testada quando somos confrontados com ideias antagónicas e sempre que…durante cerca de cinco minutos a má qualidade do registo não permite a transcrição. Retomamos no momento em que o autor disserta sobre Orwell.O prefácio que George Orwell escreveu para o seu livro Animal Farm não surge na primeira edição da obra. Foi descoberto, anos depois, no espólio do autor. Crê-se ter sido censurado. Freedom of the Press

Nota doPrefaciador:

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(escrito em 1943) é o título do referido prefácio. E consta de uma diatribe que pretende justificar a dificuldade de publicação da fábula sobre o estalinismo, num momento em que a elite intelectual inglesa prezava as supostas virtudes da política soviética. A publicação de Animal Farm foi recusada por vários editores. Um dos editores chegou a ponderar a publicação, mas após consultar o Ministério da Informação optou pela decisão mais prudente. Não publicar. A designação – Ministério da Informação - parece saída do livro de Orwell, 1984. Mas não. Existia mesmo em Inglaterra. Um livro não publicado, não é alvo de censura política. É apenas vítima do exercício da liberdade de escolha dos editores, que pode ser baseada em critérios de gosto, de linha editorial ou de mercado. Mas a carta que o editor escreve a Orwell e que o autor cita no referido prefácio não deixa dúvidas.

I mentioned the reaction I had had from an important official in the Ministry

of Information with regard to Animal Farm. I must confess that this expression

of opinion has given me seriously to think ... I can see now that it might be

regarded as something which it was highly ill-advised to publish at the present

time. If the fable were addressed generally to dictators and dictatorships at

large then publication would be all right, but the fable does follow, as I see now,

so completely the progress of the Russian Soviets and their two dictators, that

it can apply only to Russia, to the exclusion of the other dictatorships. Another

thing: it would be less offensive if the predominant caste in the fable were not

pigs. (…) I think the choice of pigs as the ruling caste will no doubt give offence

to many people, and particularly to anyone who is a bit touchy, as undoubtedly

the Russians are.

O livro acabou por ser publicado a 17 de Agosto de 1945, num momento de viragem política. A inglaterra já não precisava de acarinhar a União Soviética. A guerra estava ganha. Era a altura de competir com as nações vitoriosas pelo quinhão mais apetitoso do que restava da Europa e do Mundo. Nesse momento, o termo Pigs usado na fábula para nomear o poder soviético era bastante aconselhável.Pigs. As palavras não são inocentes. Actualmente, certos e determinados países usam o mesmo termo como uma sigla PIIGS. A sigla designa os países periféricos da zona Euro. Apetece ripostar com outra sigla. Sugiro FABA! De França, Alemanha, Bélgica e Aústria. Ide à FABA!(ouvem-se palmas e assobios) Ide à FABA!Nota do Prefaciador: a partir deste momento a conferência descamba. Os ânimos exaltam-se. O autor usa um dos métodos mais eficazes

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para motivar o público. Poderemos classificá-lo como o MDPR (Método Dividir Para Reinar).Ocorre quando o elemento mais poderoso ou o challenger respiga a frase: “Ou estão comigo ou estão contra mim”. Todos os que nem estão comigo nem contra mim são censurados e persuadidos a escolher um dos lados. Já ouvimos a frase da boca italiana e fascista de Benito Mussolini: “O con noi o contro di noi” Já a ouvimos dos lábios de Hillary Clinton: “Every nation has to either be with us, or against us. Those who harbor terrorists, or who finance them, are going to pay a price.” De George W. Bush: “Either you are with us, or you are with the terrorists.” George Orwell também não se coibiu de usar essa espécie de maniqueísmo censório, num ensaio de 1942, Pacifism and the War:

If you hamper the war effort of one side you automatically help that of the other.

Nor is there any real way of remaining outside such a war as the present one. In

practice, ‘he that is not with me is against me’. The idea that you can somehow

remain aloof from and superior to the struggle, while living on food which British

sailors have to risk their lives to bring you, is a bourgeois illusion bred of money

and security.

Até Anakin Skywalker recorre à formula quando confronta Obi-Wan Kenobi, na Vingança dos Sith: If you’re not with me, then you’re my enemy.Gostava de saber se o tal Skywalker manteria a mesma prosápia se o sabre de luz deixasse de funcionar. É que ninguém exerce censura se não sentir as costas quentes.

Um texto do Prefaciador Paulo da Rosária a partir de uma conferência do autor.

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Em Janeiro deste ano estreou na RTP2 o programa “Fá-las Curtas”, uma adaptação do programa canadiano “Fais Ça Court!”. Foi um concurso apresentado por Filomena Cautela, que todos os sábados às 21h deu a conhecer jovens talentos da arte do cinema, com curtas-metragens de ficção de dois minutos de duração.Das 78 inscrições apresentadas, foram seleccionadas 16 equipas, das quais duas constituídas por alunos de Som e Imagem da UCP. Pedro Gonçalves e Sílvia Cunha atingiram os quartos de final e a equipa de André Luís e Miguel Rodrigues foi a vencedora do programa.A cada equipa, composta por um realizador e um argumentista, foram-lhes disponibilizados os actores, o guarda-roupa, os adereços e a decoração. A directora de fotografia Inês Carvalho dirigiu a equipa técnica de rodagem. Às equipas concorrentes ficou o desafio de escrever o argumento, dirigir os actores e editar a curta-metragem.No fim do programa de cada sábado, as equipas foram avaliadas pelo júri Joaquim Leitão e João Garção Borges, a quem coube a tarefa de decidir quem passava à fase seguinte.

http://ww1.rtp.pt/tvonline/sites/falascurtas/

Talento

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15

TalentoNESTA SECÇÃO DESTACAMOS A PARTICIPAÇÃO DOS ALUNOS DE SOM E IMAGEM NA ESTREIA DO “FÁ-LAS CURTAS” DA RTP.

Page 16: Yell-Oh! #4

Terminou a sua

licenciatura em 2009,

culminando o último semestre

no curso de Animação da UCA,

através do programa de Erasmus. Pelo trabalho realizado até então, foi-lhe atribuída uma bolsa de mérito pela Universidade, permitindo que optasse ficar por lá para prosseguimento de estudos em Mestrado. Ao fim do 1º semestre, iniciou um estágio na Baseline Magazine & HDR Publishing, com a duração de 10 meses, o que lhe permitiu uma aprendizagem em design gráfico, tipografia e diferentes ambientes profissionais, naquela que é uma das melhores revistas mundiais deste ramo das Artes. Enquanto acabava o seu Projecto Final de mestrado, recebeu um convite para fazer parte de uma Equipa Curadora da UCA, no projecto-piloto FORWARD - Exhibitions and Professional Networking Event, criado para fomentar contactos entre os estudantes graduados e o campo profissional, projecto que levou a cabo com imenso sucesso, em Janeiro de 2011. Foi Curador do MA Show 2011 da UCA em Maidstone, onde o seu Projecto Final esteve em exposição,

sendo também o designer gráfico convidado para o Catálogo do Show, que incluiu todos os mestrados. Neste momento, já concluiu os seus estudos e é designer gráfico freelancer para a UCA e continua Curador do Forward, que irá ter mais cinco edições nos restantes cinco pólos da UCA. Designer Gráfico da recém-criada Em Branco Ltd, empresa de Arquitectura, Engenharia e Design Gráfico, sedeada em Coimbra, continua também a criar regularmente Retratos Gráficos, arte que vem desenvolvendo há já alguns anos.

Como projecto de destaque o artista aponta “WHY?”, o seu projecto final de mestrado de 2011. Este projecto usa sistemas gráficos como meio de visualizar, comparar e criticar a cultura Portuguesa com a cultura Inglesa, o que nos traz um pouco do percurso do artista, uma vez que são as culturas em que vive e consequentemente compara. Foi um projecto de extrema importância para o artista e para a sua carreira, visto ter sido o culminar do seu período de estudo e o aglomerar de todo o conhecimento que teve oportunidade de adquirir até então, ao longo do seu percurso académico e em toda a investigação que se supõe a um aluno que se forme em Artes.

MANÉ BRAN

CO

Perfi l de...

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17

Imagens de Why, obra de Mané Branco,

ex-aluno de Som e Imagem.

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18

Ricardo Megre nasce em 1984 na cidade do Porto.

É actualmente licenciado em Som e Imagem e Mestre em Animação por

Computador, pela Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa.

Em 2007 iniciou uma pós-graduação em Animação 3D e Efeitos Especiais pela

New York Film Academy (NYFA), nos Estados Unidos da América, onde teve

como professor Boaz Livny, autor conceituado do livro “Mental ray for Maya, 3ds

Max and XSI”. Especializou-se na área de Iluminação 3D e Renders, produzindo

a curta-metragem “HourGlass”. Foi durante a licenciatura em Som e Imagem da

UCP que teve o primeiro contacto com o mundo da animação realizando, já no

mestrado, a sua primeira curta-metragem de animação 3D “Wanted”, uma ficção

dentro do estilo western. No ano seguinte, decide juntar a sua paixão pela ficção

científica ao mundo da animação e produz o seu Projecto Final de mestrado

“7200 Anos-Luz”, com Ana Borges de Sousa na Direcção de Arte e Armando

Ramos no Design de Som. O filme foi seleccionado em 2007 para festivais como

a Semana de Cine Experimental (Espanha), Les e-magiciens (França) e em 2008

pela AniBoom Awards, Fantasporto e o Festival Black & White. A seguir à sua

pós-graduação, é convidado pela NYFA para o cargo de Professor assistente no

curso de verão na Universidade de Harvard, em Massachussets, cargo que continua

na NYFA no centro do Soho, em 2008. Em simultâneo, é contratado pela Walsh

Family Media em Brooklyn, onde é criativo nas áreas de Texturização, Iluminação

e Renders na produção da longa-metragem de animação 3D “The Cool Beans”,

realizada por Patrick Walsh. Entretanto trabalha em parceria com a sua mulher Ana

Borges de Sousa, também ex-aluna de Som e Imagem da UCP, em projectos como

Ricardo Megre, Docente de Som e Imagem

Page 19: Yell-Oh! #4

19

“Conversation with the Cosmos” de Stéphanie Joalland e Mallory Roberts, criando

também vídeos promocionais para a Petit Patapon (sediada em Portugal).

Em 2009 inicia-se como freelancer para a empresa Gloss Post-Production, sediada

em Hamburgo, Alemanha. Continua assim a especializar-se na área que pretende,

desempenhando funções de Iluminação 3D, Renders e Compositing, dentro da

indústria de visualização de automóveis e veículos. No final desse ano é professor

convidado na Escola das Artes, leccionando Atelier de Animação. Aqui desenvolve

um projecto com os alunos, no âmbito do concerto de Natal “Fantasia sobre a

Fantasia”, onde várias escolas são convidadas a interpretar o filme animado de

1940 “Fantasia” de Walt Disney, criando animações a partir de obras musicais. Este

projecto é apresentado posteriormente na Casa da Música, onde a projecção dos

filmes é acompanhada pela banda sonora tocada ao vivo pela Orquestra Sinfónica

do Porto. Enquanto freelancer, desenvolve para a Linha de Terra ilustrações a

3D para os livros “História de Portugal”, lançados pela Círculo de Leitores. É em

2010 que regressa à sua cidade natal e começa a leccionar também a cadeira de

Produção Final do mestrado em Animação por Computador e, conjuntamente com

Ana Borges de Sousa, criam a empresa Loopa, no âmbito da incubadora “Aquário”

da UCP, produzindo conteúdos de Animação e Vídeo. Desde então têm vindo a

produzir diversos projectos, como o vídeo “Revisitar/Decobrir Guerra Junqueiro”

para a apresentação do Livro “A Lágrima” de Henrique Manuel S. Pereira,

“Tud’Junto - uma Entrevista a Manel Cruz” e ainda a criação do spot publicitário do

8º Festival Audiovisual - Black & White da Escola das Artes.

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AS PRODUÇÕES FINAIS DE MESTRADO

EM CINEMA E AUDIOVISUAL, NO PASSADO

ANO LECTIVO DE 2009-2010 TIVERAM

AMBAS APOIO DO INSTITUTO DO CINEMA

E AUDIOVISUAL E A ORIENTAÇÃO DOS

DOCENTES CARLOS RUIZ CARMONA (VÍDEO)

E VÍTOR JOAQUIM (SOM). ASSIM SURGIRAM

DUAS CURTAS-METRAGENS, “FRAGMENTOS”

DE FRANCISCO MOURA RELVAS E

“MUDANÇA” DE FRANCISCO LOBO.

MUDANÇA

Com produção de Joana Costa e argumento e realização de Francisco Lobo, sonoplastia de Martinho Cardoso e montagem e pós-produção de Raul Paulo, esta produção revela a história que muitos casais enfrentam quando decidem viver juntos. Os vícios de um e ideais de outro tornam-se incompatíveis com o sentimento de puro amor, resvalando a relação num sentido oposto ao da felicidade.Os pormenores artísticos realçam a trama, pecando apenas pela narrativa sonora. Podiam ousar mais nos planos escolhidos, mas o argumento é bastante forte e a direcção de actores bem conseguida.

PRODUÇÕES FINAIS DE MESTRADO: Cinema e Audiovisual / 2009-2010

Ficha técnica

Título:

Mudança

Produção:

Joana Costa

Realização:

Francisco Lobo

ProduçõesFinais deMESTRADO

Page 21: Yell-Oh! #4

21

FRAGMENTOS

Produzido por Diogo Rocha Rodrigues e com a realização de Francisco Moura Relvas, “Fragmentos” apresenta uma história romântica, acerca de um homem perfeccionista e intelectual, habituado à sua rotina e hábitos quotidianos. Um dia tudo muda, com a presença de uma mulher que arrebata o seu coração. Esta produção mostra como pano de fundo a cidade do Porto e revela uma narrativa bem construída, desde o som (Bernardo Barra e Martinho Cardoso) à edição (Diogo Morais). A cinematografia (Mário Dessa) desenha visualmente um misto de cinema norte-americano contemporâneo e cinema europeu dos anos 70. A direcção de actores mostra um argumento coeso, o que, conjuntamente com o trabalho de equipa, contribui para um resultado bastante promissor.

Ficha técnica

Título:

Fragmentos

Produção:

Diogo Rocha Rodrigues

Realização:

Francisco Moura Relvas

Page 22: Yell-Oh! #4

22

Este ano, o Festival Audiovisual Black & White

(BW) teve tonalidades negras e de luz branca com

a presença na Escola das Artes da Universidade

Católica Portuguesa (UCP) de 13 países, em que

46 obras trouxeram a Ficção, a Animação, o

Documentário, Vídeo Experimental, a Fotografia

e o Áudio na estética a preto e branco. Através

deste Festival, fomos brindados com a presença

de diversas personalidades de vanguarda no meio

audiovisual, tendo sido também prestada uma

homenagem a Vedran Samanovic, júri na segunda

edição do Festival Black & White e director do One

Take Film Festival (Zagreb), falecido recentemente.

Muitas surpresas surgiram, elevando a qualidade

e as expectativas que este festival nos traz,

anualmente.

MEMBROS DO JÚRI:

Chris Chafe - EUA; Leonor Silveira - Portugal;

Pib - França; Sahra Kunz - Portugal;

Stefan Le Lay - França.

CARTAZ OFICIAL

Black&White 2011 - com fotografia de Carlos Lobo,

docente de Som e Imagem.

Page 23: Yell-Oh! #4

23

Foi com a brilhante performance artística e audiovisual de Jaroslaw Kapuscinski (Croácia) que se deu início

a esta 8ª edição, seguindo-se então a Sessão Competitiva de Vídeo, que se repartiu pelos quatro dias do

festival, culminando com a atribuição dos prémios e screening das obras premiadas.

De dia o ambiente era de festa e muito sol, com a esplanada exterior aberta ao público a cargo da

Associação de Estudantes da Escola das Artes. As Noites BW foram marcadas pela presença de Art of

Fugue, The Kanguru Project e Dj’s convidados.

A cerimónia de entrega de prémios teve um sabor especial este ano, ao atribuir o Grande Prémio Vídeo,

o Prémio do Público e o Prémio de Melhor Documentário a “Píton”, do aluno de mestrado em Cinema e

Audiovisual André Guiomar, com produção da licenciada em Som e Imagem Catarina Costa. Tiago Soares,

mestre em Som e Imagem em 2007, foi outro vencedor, que trouxe a música tradicional portuguesa

“Roncos do Diabo”.

Para além da internacionalidade do festival, foram atribuídas Menções Honrosas às obras portuguesas

“Alfama” de João Viana e “Encontro” de Mariana Castro na categoria de Vídeo Ficção, recaindo as

Menções Honrosas de Vídeo Animação e Áudio às autoras femininas estrangeiras, “Anna Blume” de Vessela

Dantcheva e “White Gods” de Emma Bowen. O prémio Melhor Vídeo Ficção foi atribuído a “Negative”, de

Yoav Hornung, Melhor Vídeo Experimental a Gerard Freixes por “The Homogenics” e “Half Tone” da israelita

Hamideh Javadi recebeu o Prémio Melhor Vídeo Animação. O prémio Melhor Áudio foi para “Motofauna” de

Vincent Wikstrom e o Prémio de Fotografia foi para o projecto “Reinventing time for love” do autodidacta

Henrique Bento. O Público distinguiu ainda o trabalho “A4” de João Gigante e Miguel Arieira na categoria

de Áudio e “A fuga” de Daniela Marques na categoria de Fotografia. Para celebrar, teve lugar no HardClub

(na Ribeira) a projecção das obras premiadas, seguida de festa de encerramento.

FESTIVAIS

Como nos tem vindo a habituar, o Black and White acolhe festivais

que tenham critérios específicos e originais como ele mesmo. Este

ano deu-nos a conhecer os premiados do Brasil on Tour Film Festival,

que passou na UCP no passado mês de Novembro e exibiu ainda os

filmes vencedores do 15 Second Film Festival, um festival irlandês que

tem em competição curtas-metragens de apenas 15 segundos.

ARTIST TALK

STEFAN LE LAY foi um dos membros do júri deste ano, tendo sido

vencedor do festival em outros anos. Ao longo da sua carreira

realizou, argumentou e editou, tendo ganho já 80 prémios. O artista

apresentou Le Baiser, com o qual ganhou em 2007 o Prémio Melhor

Vídeo Ficção no Black & White, mostrando sem segredos

Fotografias: TIMELINE (Afonso Nunes e José Teixeira)

Page 24: Yell-Oh! #4

24

o antes e o depois dos efeitos especiais que usou nesta obra. Em seguida, apresentou La Carte,

vencedora do Prémio do Público neste festival em 2010, demonstrando o seu gosto pela manipulação

cinematográfica, que nos permite criar novas regras ao entrar num novo mundo. Por último, apresentou

a curta-metragem Mon papa à moi, em que as suas questões acerca das regras do nosso mundo e

sociedade em que vivemos permanecem, mas a linguagem é distinta. Um drama com expressividade

icónica e cómica servem de pano de fundo a um argumento sobre a morte. A artista e jornalista

VANESSA RODRIGUES, que venceu o Prémio de Melhor Fotografia na edição do BW’10, foi representada

por Pedro Mota na apresentação do seu trabalho Sinais de Gente (2009), levado a cabo pelos dois. Este

trabalho de fotografia e áudio à descoberta da Amazónia “que não vem nos guias turísticos”, resulta

num pequeno filme que nos prende ao ecrã e foi apresentado numa conversa intimista, em que Pedro

Mota nos confessou ter marcado a sua vida. A aventura e coragem dos dois, mostra uma Amazónia

diferente da que conhecemos, com depoimentos das pessoas que nela habitam e que Pedro referiu

terem uma boa imagem do povo Português e por isso terem usufruído, na maior parte das vezes, de boa

receptividade deste povo. Apaixonados por todo o processo, planeiam já uma nova aventura nas terras de

Moçambique. Músico, investigador e director do Stanford University’s Center for Computer Research in

Music and Acoustics (CCRMA-EUA), CHRIS CHAFE debruçou-se em torno de problemáticas relacionadas

com o som, a música e a partilha em simultâneo na web (resultando em concertos em directo), falando

abertamente sobre o seu projecto criado em 2000, o “SoundWire”. Este compositor violoncelista, com

interesses que vão além da música e se aprofundam pelas vias tecnológicas, revelou pormenores do

trabalho de investigação, demonstrando especial preocupação no delay, que diz ser o maior problema

neste tipo de performance. “Silent Lunch” foi um desses eventos, único em Portugal, promovido pela

Formação Variável de Laptops do CITAR (UCP/EA), que ocorreu no passado mês de Dezembro na Escola

das Artes. Centrado numa performance de imagem e música electrónica, cuja fonte provinha de laptops

espalhados pelo mundo, desde Palo Alto (EUA) onde se encontrava Álvaro Barbosa (director do curso de

Som e Imagem), a Praga (República Checa) onde estava Nicolas Makelberge e, em Portugal, recebendo

e transmitindo numa performance telemática, André Baltazar, João Cordeiro, Joana Fernandes Gomes

(visuais), Mailis Rodrigues, Vasco Carvalho e Vítor Joaquim mostravam aos presentes o sumo de um

trabalho, que tem vindo a ser desenvolvido entre “as ciências, as tecnologias e muita arte!” no CITAR

(fonte em www.artes.ucp.pt). Daí que a presença de Chris Chafe tenha sido pertinente para desvendar

algumas questões, afectas também a projectos a decorrer na UCP. PIB, fotógrafo autodidacta, que

fundou em 2000 o colectivo DDTF (França), mostrou em conversa algumas fotografias da sua autoria,

dando conta de uma realidade artística surpreendente, diferente do fotojornalismo que produz para

jornais locais, revelando que a sua preocupação actual é a cultura urbana e hip-hop, mote para pensar

e reflectir a sociedade. Como júri, Pib referiu que não usa “Photoshop” em nenhum dos seus trabalhos,

porque nunca aprendeu a usar esse programa, e afirmou que muitas das fotografias expostas a concurso

pecaram pelo uso excessivo do programa de edição de imagem, mostrando que a fotografia é um

trabalho, que surge apartir da relação com o fotógrafo e a máquina fotográfica e não com o computador.

Fora das sessões de competição do Festival, Pib fez questão de convidar alguns alunos a participarem em

workshops dados no momento, tendo como única contrapartida aceitarem o desafio.

Page 25: Yell-Oh! #4

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EXPOSIÇÃO PARALELA

Da licenciatura em Som e Imagem, os alunos Alexandre Oliveira, Bruno Lopes, Carlos Nunes, Hugo Leal,

Joana Henriques, José Almeida, Luis Sousa, Manuel Mendes, Maria Andresen, Mariana Lima, Marta Mota,

Nuno Oliveira, Pedro Alpoim e Thomas Oliveira promoveram em conjunto com os docentes da disciplina

opcional de Fotografia, uma exposição em paralelo à competição, intitulada “A fotografia, o corpo e a

noite” composta por trabalhos dos mesmos.

GRAFFITI

Este ano a organização teve um mimo especial por parte da Direcção do Centro Regional do Porto da

UCP, ao ver aprovado o convite ao writter português MrDheo para criar um graffiti gigante, numa das

paredes exteriores da Escola das Artes.

Foi nascendo ao longo dos quatro dias do evento uma nova “personagem” na parede da Universidade,

que chama a atenção à comunidade académica e a todos que passam pelo local, nas palavras do writter,

para o jornal Expresso: “Um corpo preso à parede, que representa o artista e a situação do artista em

Portugal: o facto de estar preso e o facto de haver uma desvalorização e uma tendência para não se

valorizar a cultura em geral e as artes em geral. E portanto, sendo [o graffiti] feito numa instituição

privada e permanecendo, porque é objectivo da organização e da administração que assim seja, achei

importante este manifesto pessoal de defesa do ponto de vista artístico. De forma a obrigar as pessoas e

quem aqui passa a reflectir sobre essa temática.”

Mr.Dheo é writter há 11 anos e apesar de trabalhar para empresas e marcas por encomenda, faz questão

que o seu trabalho esteja sempre presente nas ruas.

SEMINÁRIO

A Associação de Investigadores da Imagem em Movimento (AIM) promoveu um seminário em que os

docentes investigadores da UCP Carlos Sena Caires, Guilhermina Castro e Paulo da Rosária partilharam

as suas pesquisas, respectivamente, “Brincar ao Cinema: Imagem em Movimento e Interactividade”,

“Psicologia de Personagens” e “Argumento Adaptado”. Da Universidade Complutense de Madrid esteve

presente José António Cunha, que falou da “Representação do Emigrante no Cinema Português”.

WEB TV

A Web TV foi uma das novidades implementadas nesta edição, partindo da sugestão do aluno Pedro

Monteiro, do 2º ano da licenciatura em Som e Imagem, que em colaboração com a disciplina Projecto

Interdisciplinar, da turma Black & White coordenada pela docente Helena Figueiredo, conseguiu ser

realizada. As alunas Maria Carolina Albuquerque e Margarida Correia ficaram encarregues da produção

e, com a ajuda dos alunos de mestrado e os alunos voluntários do 1º e 2º ano de licenciatura, a página

da Web TV recebeu cerca de 800 entradas nos quatro dias do festival. As emissões repartiram-se em

dois blocos principais: das 17h às 21h Mafalda Castelo-Branco entrevistou em estúdio jurados, convidados

do festival, bandas das Noites BW e participantes, com reportagens no exterior dos pivôs Marta Mota

e Pedro Monteiro. Das 11h às 12h45 uma emissão mais descontraída ao público, mostrando o ambiente

vivido no festival à noite e excertos dos concertos.

EM 2012, ESPERA-SE MAIS UMA EDIÇÃO DAQUELE QUE É O FESTIVAL MAIS PRETO E BRANCO DO MUNDO, CHEIO DE

NOVIDADES E SURPRESAS. ATÉ LÁ!

Page 26: Yell-Oh! #4

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Os alunos de Som e Imagem aproveitaram a oportunidade de participar no Festival, trabalhando sobre

diferentes discursos visuais e informativos na apresentação de cada artista. A curta-metragem sobre

Armando Alves, foi realizada pela aluna de Som e Imagem SIMONE ALMEIDA. Apresenta-nos uma relação de

proximidade entre as origens Alentejanas de Armando Alves e a sua pintura. Num discurso expositivo das

obras com textos de José Saramago, Eugénio de Andrade e Bernardo Pinto Silva que enfatizam a união

entre o autor e as suas obras.

O aluno JOÃO PAULO FERREIRA, realizou o retrato audiovisual do artista Augusto Canedo; onde o artista

fala do seu percurso, como nasceu o gosto pela pintura e da aceitação que foi tendo dentro do meio,

respondendo a questões acerca da sua obra e da arte em geral. Com o ponto de vista da Mestre em

História da Arte, Professora Laura Castro, João Paulo apresentou o artista no panorama actual da arte,

como uma reflexão sobre a própria arte. Uma vez que, é um artista empenhado nos meios de divulgação

da arte, com gosto pela intervenção com o público e pela provocação na utilização de elementos religiosos

e pornográficos na sua obra; “quase sou obsceno como beato” comenta o artista Augusto Canedo nesta

curta-metragem.

A curta-metragem Backsidepainting, apresenta-nos a artista Catarina Machado, com a realização da aluna

RAQUEL VIDAL. A linguagem experimental do vídeo, que utiliza transparências, reflexos, sombras e efeitos

aquáticos foi a opção adoptada para recriar o conceito de pintura de Catarina Machado. Os movimentos de

câmara bruscos, tremidos e o desfoque representam o acto da pintura, que acompanhamos também com a

artista numa tela transparente. Paralelamente ao relevo que é dado ao acto de pintar, a artista fala das suas

intenções, apresentando a pintura como uma paixão.

A curta-metragem de PEDRO BARBOSA apresenta-nos Fernando Pinto Coelho, numa visita informal à sua

obra, ao seu percurso, à sua concepção da arte e do mundo. As conversas com o artista decorrem no jardim,

no escritório, na sala de jantar e até dentro do carro, onde o realizador dá a conhecer a sua imagem e a sua

intervenção no discurso de Fernando Pinto Coelho. O artista fala de como se sente dentro da comunidade

artística sem segredos, revisitando a sua obra assistindo a vídeos, a ver fotografias e as próprias obras, na

companhia do realizador e de outras pessoas que lhe são próximas, que vão aparecendo como fazendo

parte do percurso do próprio Fernando Pinto Coelho.

Cucujães o centro do meu mundo, é o título da curta-metragem acerca do artista Paulo Neves, com a

realização de André Guiomar, Miguel da Santa e Vasco Pucarinho. A frase do artista “Não é o discurso que

Page 27: Yell-Oh! #4

27

faço sobre a minha obra que faz dela arte.” Resume o conceito

adoptado nesta realização, em que a aposta é na fotografia que em movimentos de ovação nos mostram

a obra do artista e o processo de criação acompanhado por música clássica, como um momento solene de

criação, sem a intervenção do artista com nenhum discurso.

O retrato de Zulmiro de Carvalho, realizado por GUSTAVO SANTOS e JOSÉ MAGRO, assume um conceito estético

que pretende ser interpretado como metáfora à criação do artista. A figura de Zulmiro é apresentada fora

do contexto da sua obra, colocado num espaço a enfrentar a câmara com o olhar. Ao mesmo tempo que o

artista é colocado numa situação de ser observado e criticado como as suas obras artísticas enfrenta essa

situação. Estas imagens são contrapostas com imagens das suas obras, contextualizadas com o espaço que

as rodeia e como este espaço é vivido e visitado.

Numa abordagem intimista por parte do realizador MIGUEL LOPES RODRIGUES, o artista Alberto Péssimo é

retratado no documentário através da sua pintura e do seu próprio processo que acompanhamos à mistura

com as intervenções com os interlocutores e com a própria câmara. A necessidade de representar no

enquadramento mais do que uma situação ao mesmo tempo é uma analogia ao próprio retrato, interacção

com o pintor e do seu processo de criação.

NUMA PARCERIA ENTRE A UNIVERSIDADE

CATÓLICA, A FACULDADE DE BELAS ARTES

DO PORTO E O FANTASPORTO, FORAM

REALIZADAS 18 CURTAS-METRAGENS SOBRE

ARTÍSTICAS PLÁSTICOS PORTUGUESES. A

CRIATIVIDADE E O GOSTO PELA ARTE SÃO

LEMAS DO FESTIVAL, QUE NÃO SE DEIXA

AFECTAR PELA CRISE ECONÓMICA.

O PRÉMIO ESPECIAL DO JÚRI FOI ATRIBUÍDO AO A SERBIAN FILM, UM FILME INCONTORNÁVEL NESTE

FESTIVAL PELA SUA EXPRESSÃO, VIOLÊNCIA E IMPACTO PÚBLICO. O DIRECTOR E CO-ARGUMENTISTA

SRDJAN SPASOJEVIC RELACIONA A AGRESSIVIDADE DO SEU FILME COM A FRUSTRAÇÃO E RAIVA DE SER

CONSTANTEMENTE OPRIMIDO PELO GOVERNO E PELAS AUTORIDADES, REMETENDO A SUA INSPIRAÇÃO

PARA OS ÚLTIMOS 20 ANOS VIVIDOS NA SÉRVIA, UM AMBIENTE ONDE TUDO PODE ACONTECER A

QUALQUER MOMENTO. É A SUA PRIMEIRA LONGA-METRAGEM E FOI ALVO DE CENSURA NO BRITISH

HORROR FILM FESTIVAL E NO FRIGHTFEST EM INGLATERRA, TENDO SIDO DISTINGUIDO NO SAN SEBASTIAN

FILM FESTIVAL COM O PRÉMIO ESPECIAL DO PÚBLICO, POR SE TORNAR NUM SÍMBOLO DE LIBERDADE

DE EXPRESSÃO SEM CHEGAR A SER EXIBIDO. AINDA EM ESPANHA, O DIRECTOR DO FESTIVAL DE SITGES,

ÁNGEL SALA, TEM UM PROCESSO EM TRIBUNAL A DECORRER POR TER EXIBIDO O FILME. NA AUSTRÁLIA

FOI PROIBIDO EM TODAS AS SALAS. O FILME NÃO PASSOU DESPERCEBIDO, SENDO QUE NOS EUA JÁ

FORAM COMPRADOS OS DIREITOS DE DISTRIBUIÇÃO.

Page 28: Yell-Oh! #4

28

...........................................................................A Censura é o tema desta 4ª Edição da Yell-Oh!. Pode fazer uma breve contextualização histórica?A censura essencialmente é o controlo ou

castração da liberdade de expressão, exercido

mais ou menos brutalmente por um Estado,

ou um grupo, ou elite no poder. Existiu desde

sempre, desde as mais antigas sociedades,

mas acentuou-se a partir da politização

da sociedade, desde o Renascimento

essencialmente, e principalmente depois

de Gutenberg, no séc. XV. O séc. XX, nas

democracias como nos regimes brutais e

totalitários, é talvez a centúria da censura,

mas atenção, há mais contextos e ligações

ao conceito de censura. O signo, o símbolo, a

linguagem, a semiótica estão muito ligados à

essência da censura, não apenas a política ou

a comunicação… Há muitas formas de censura,

de repressão, mas temos sempre que pensar

no conceito Liberdade. Esta entrevista vai ser

censurada?

...........................................................................Pretende-se com esta entrevista dar a conhecer um pouco da sua biografia, percurso e experiência. Quer falar-nos um pouco sobre si, alguma vez se sentiu censurado?Já fui censurado, politicamente, segregado

até, nos anos 80, no liceu como na

universidade, ostracizado, proibido de sair

com amigas porque me conotavam com esta

ou aquela força política. Já fui censurado,

muitas vezes… e as formas subliminares

e silenciosas, hipócritas doeram mais. Já

fui censurado por motivos religiosos, de

consciência. Toda a gente é ou já foi.

O meu percurso? Bom, posso resumir

a esforço, luta, paciência, perseverança,

obstinação e nunca desistir, amando a vida

e a beleza dela e nela. Amo o ser humano,

acima de tudo, o mundo, a natureza, a história,

as crianças. E adoro o meu querido F. C. Porto,

tão censurado até aos anos 70, já perdia

os jogos quando atravessava a ponte da

Arrábida… e se calhar serei um Índio da Meia

Praia, onde passo as férias… e noutros sítios

que não direi… Adoro livros, a família acima

de tudo, adoro o que faço, a minha profissão,

sou sortudo nisso, sinto-me feliz, faço mesmo

VítorTeixeira

ENTREVISTAMOS VÍTOR TEIXEIRA,Docente da Escola das Artes

Page 29: Yell-Oh! #4

29

vertigens fenomenais do conhecimento

humano, do esforço, da procura… e só falo em

ciência pura…

...........................................................................Na UCP, para além da Escola das Artes é também docente da Faculdade de Teologia. Sente diferenças na forma como os alunos reagem aos temas que expõe nas aulas?Na Teologia eles sabem menos de arte, ou

nada, mas sabem muito mais e melhor o que

é o Belo, eles atingem-No melhor e acabam

a gostar mais de arte… mas na EA há rasgo

de criação, centelhas de vida pululantes,

há algum sonho… e a Música, uma delícia

sensitiva e transcendente que só no CRP

podemos ter, algo único, em mais nenhuma

universidade senti a sensação de estar a

trabalhar ouvindo de borla Mussorgsky, Bach,

Messiaen, etc, os melhores pelos melhores,

e saber que são meus alunos e colegas.

Experiência de vida inolvidável!

......................................................................É responsável pelo espólio único em Portugal de Arte Copta, a qual esteve patente em exposição há poucos meses. Qual a importância deste espólio no nosso País?Vocação eclética e universalista da UCP,

visão e transversalidade, capacidade de visão

multicultural por parte duma universidade que

luta com a feroz concorrência da deslealdade

pública do serviço educativo português. Arte

o que gosto, mas para isto tive que lutar,

trabalhar…

Lembro quando estava a fazer o

doutoramento em Roma, à noite em vez de

sair ficava a ler e a estudar latim, gramáticas

devoradas, anos a fio. Ou na Irlanda, onde

a bolsa acabou e na altura tive que passar

apertos, mas concluí os trabalhos de

investigação. Tenho a sorte de ter sempre

pensado e descoberto que a vida não é

apenas materialidade e corpo, há algo mais…

...........................................................................“O movimento da Observância Franciscana em Portugal (1392-1517)”, título da sua tese de doutoramento recentemente publicada em livro, traz à luz algumas conclusões. Quer dizer-nos qual foi a melhor experiência que reteve ao longo da sua investigação?Uma má experiência foi a morte do meu

querido e amado Pai, duríssimo, uma

amputação no corpo que é a minha vida.

A melhor foi ter podido estudar e trabalhar

nos Arquivos e Biblioteca Vaticanos,

incomparavelmente: não imaginam o que é

viver em Roma… Roma: é só pôr a palavra ao

contrário… Outra coisa fantástica: aprender,

saber, conhecer. Adoro estudar, aprender, ler

muito, conhecer e ter trabalhado com dois

mestres inesquecíveis: D. Geraldo, monge

beneditino, Fr. António de Sousa Costa,

frade franciscano. Duas arcas do saber, duas

DOUTORADO EM HISTÓRIA, MEDIEVALISTA DE FORMAÇÃO,

NO SEU CURRÍCULO APRESENTA MUITO MAIS QUE APENAS

UM PERCURSO NA ÁREA HISTÓRICA, TENDO TAMBÉM UMA

VERTENTE APROFUNDADA NA ÁREA DA IMAGEM, COM

ESTUDOS EM ICONOGRAFIA E ICONOLOGIA, TRADUÇÃO DE

LIVROS ANTIGOS MANUSCRITOS…

Page 30: Yell-Oh! #4

30

Copta: a arte esquecida de um mundo egípcio

esquecido, de uma minoria, com 10 milhões de

crentes e dois mil anos de história. E exemplo

de luta constante em nome da vida e de um

ideal.

...........................................................................Considera importante, nos dias de hoje, explorar o passado, não só da nossa cultura mas do mundo, para se compreender o presente e talvez o futuro?Cícero dizia: A história é testemunha do

passado, luz da verdade, vida da memória,

mestra da vida, anunciadora dos tempos

antigos. Não saber o que aconteceu antes

do teu nascimento seria para ti a mesma

coisa que permanecer criança para sempre.

A História ensina-nos, se nós não tivéssemos

passado, não éramos presente nem seríamos

futuro, éramos meros passeantes neste

mundo. A vida é um processo, logo é história,

nós somos história, contamos histórias,

adorámos falar de viagens, feitos, proezas,

desgraças, tristezas: é um pouco história. A

arte apareceu-me no caminho como uma

sequência lógica, uma materialização do

tempo histórico, do espaço, da diacronia e da

sincronia… é o espírito também do tempo e do

espaço, a humanização e cosmovisão… não

poderia ter fugido da imagem, ela agarrou-

me. Gosto de história desde que me lembro

de mim. Culpa da minha mãe e do incentivo

de pai e irmãos tecnológicos, que gostaram

sempre das belas letras e das humanidades.

A História é uma loucura… em todos os

sentidos…

...........................................................................Está a desenvolver um projecto de pós-doutoramento onde, através da Fundação da Ciência e Tecnologia, teve a colaboração de uma bolseira de iniciação à Investigação. Pode falar-nos um pouco sobre esse trabalho?Acolhi no ano lectivo passado, um projecto

de Iniciação à Investigação, em que um aluno,

escolhido pelo CITAR, esteve a desenvolver a

sua parte nesse projecto, elaborando bases

de dados, executando pesquisas primárias em

termos de fontes e recursos bibliográficos e

web, na área da Iconografia e Semiótica das

Artes Visuais para a Idade Média do Norte de

Portugal, em articulação com o meu pós-

doutoramento, que é nessa área, num âmbito

maior e mais alargado.

...........................................................................Sempre fez parte da organização e foi comunicador em diversos congressos nacionais e internacionais. Qual a maior ou maiores experiências que retém desses momentos?Comunicação, expressão, investigação,

abertura e contacto. É uma parte de nós

que deixamos fora de nós e para os outros.

Partilha e divulgação, discussão, dúvidas e

ideias: assim se faz a Ciência, aberta, universal,

plural, intensamente.

...........................................................................É o Assessor da Biblioteca do Paraíso para a Escola das Artes. Há censura na escolha dos livros para a “nossa” biblioteca?Nunca, jamais, em tempo algum. Nunca houve

antes de mim, não haverá comigo e com mais

ninguém. A Escola das Artes é uma escola de

livre pensamento e humanística, onde tudo se

faz para não se castrar a liberdade de pensar,

agir, executar, criar.

...........................................................................Com a experiência que retém nesta Instituição, há alguma mensagem que gostasse de transmitir aos alunos?Há: coragem, persistência, paciência, open-

mind e pensem mais em português e

Portugal. E paixão! Muita paixão por tudo.

Page 31: Yell-Oh! #4

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... de actuais e antigos alunos.Ficha técnica

Título:

Despertar de uma Mulher

Autora:

Helena Taveira

Criado em:

2001

Tipologias:

Vídeo, Experimental

Ciclo / Ano / Semestre:

Licenciatura

Unidade Curricular:

Pós-Produção dos Novos Média

Ficha técnica

Título:

Supresah

Autor(es):

André Silveira, Sara Amandi

Criado em:

2007

Tipologias:

3D, 2D

Tecnologias:

Maya

Ciclo / Ano / Semestre:

2º Ciclo, 2º Ano, 2º Semestre

Unidade Curricular:

Produção Final – Animação

Helena Taveira, através do preto e branco, recria planos fragmentados numa montagem equilibrada e dinâmica, que relatam a rotina de uma mulher.

Esta animação. produzida no Maya, tem uma temátíca divertida entre os grafismos que, embora simples, são cativantes e envolventes.

TRABALHOS SELECCIONADOS ATRAVÉS DA GALERIA VISTUAL E.BOX.

WWW.ARTES.UCP.PT/EBOX

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Don’t give me any money, don’t give me any people, but give freedom, and I’ll give you a movie that looks

VÉNIA A

Robert Rodriguez

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35

Nesta edição fazemos vénia a Robert Rodriguez, não só pelo seu trabalho e estilo inconfundível, mas pela inspiração que representa para todos neste momento de crise. O cineasta de filmes como Sin City, Planet Terror, Spy Kids e o recente Machete, tem perante o cinema uma atitude autodidacta e ficou conhecido por trabalhar com orçamentos muito baixos.A sua primeira longa-metragem El Mariachi, foi gravada com 7000 dólares de orçamento, e ficou conhecida como o filme mais barato. Diz-se ainda que os 7000 dólares foram conseguidos pelo realizador submetendo-se a experiências e testes com medicamentos. Com este filme ganhou o Prémio do Público no Sundance Festival, Prémio Berlinale Camera no Festival de Berlim e uma nomeação para o Prémio de Melhor Realizador no Independent Spirit Awards. Não podemos esquecer a importância do seu estilo único para o seu triunfo, o género dos comics marca o seu trabalho.

1 Escape from New York de John Carpenter (1981), fez com que Rodriguez se interessasse pelo cinema aos 12 anos;2 Depois do secundário, foi rejeitado de uma escola de cinema por falta de promessa académica;3 Realizou uma curta-metragem como publicidade para a Nike Black Mamba, onde entraram Bruce Willis, Kanye West e Danny Trejo;4 Os elementos ou temas latinos são recorrentes e já uma marca do autor de “it’s just how I see the world. I like doing it. I think it offers a very universal entertainment when you make characters very specific like that.”;5 No livro “Rebel Without a Crew” o autor conta o início da sua carreira com o filme “El Mariachi” (1992). Robert Rodriguez aconselha os novos cineastas a trabalhar por eles mesmos; mas assim

que (raramente) lhe pedem conselhos, sabem que o seu conselho é que não o deviam pedir; 6 “A arte está no que ela é, em contar uma história. Para mim, não é relevante usar ou não uma câmara digital”;7 Como fã dos comics de “Sin City”, Rodriguez conseguiu convencer Frank Miller a autorizar a adaptação para cinema.Dessa autorização nasceu Sin City - A Cidade do Pecado;8 Machete (2010) começou por existir apenas em trailer, a insistência das pessoas que gostaram de o ver fez com que Robert decidisse anos depois realizar realmente o filme baseado nesse trailer;9 Robert Rodriguez já escreveu o guião de Machete 2!10 Spike será o seu próximo filme, onde poderemos ver muito provavelmente António Banderas.

CURIOSIDADES

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36

Este livro apresenta-se como um manifesto

sobre o aparecimento e crescimento

do movimento open source, na área do

desenvolvimento de software, desde os

seus inícios na década de 1970 nos meios

académicos até aos actuais dias, e dos seus

profundos impactos na indústria informática

e de computadores. São apresentadas e

discutidas as raízes do movimento open

source e quais as motivações que levam

programadores de todo o mundo a se

sentirem motivados a contribuir pro-bono

em projectos de software (alguns bem

conhecidos e de sucesso, como o servidor

web Apache, o sistema operativo Linux,

ou o browser Firefox), e os impactos que

estes movimentos tiveram e têm na área da

Internet e da indústria dos computadores em

geral. Para além de projectos ligados à área

de computadores, começam a ser conhecidos

projectos open source em outras áreas como

a da educação, da música, da arquitectura,

da indústria automóvel, das soluções de

energias alternativas, e até para resolução

de problemas nas áreas da medicina, da

química, física e indústria farmacêutica, e de

pesquisa de jazidas de petróleo. Curioso por

isso será assistir ao (e participar no) impacto

desta cultura open source e de trabalho

colaborativo na área das artes em geral.

Em todos este casos há uma mudança de

paradigma, onde a atribuição de crédito e

exposição promovida às obras e aos autores

por aqueles que (re)utilizam ou reinterpretam

aquelas obras é mais valorizada do que o

eventual legítimo exercício de formas de

protecção de direitos de copyright ou de

autoria. Este livro apresenta-se assim como

uma leitura interessante para leitores, que

queiram perceber afinal no que consiste este

tão falado fenómeno do open source, no que

se baseia, como funciona, que mudanças de

paradigma implica e de que formas poderá

(ou não) ser aplicado ou adaptado a muitas

outras áreas da actividade humana, sejam

elas tecnológicas, científicas, artísticas,

sociais, ou humanísticas.

RECOMENDADO POR:Gustavo Martins

The Cathedral & The Bazaar,de Eric S. Raymond

reco

menda

mos

DESTAQUES DOS

DOCENTES DE

SOM E IMAGEM:

GUSTAVO

MARTINS,

RUI NUNES E

YOLANDA ESPIÑA

Page 37: Yell-Oh! #4

37

Google lançou recentemente, em

colaboração com as instituições

correspondentes, uma iniciativa intitulada

Google Art Project, pela qual é facilitado

o acesso virtual a grandes obras de arte e

os locais paradigmáticos que as acolhem.

17 grandes museus de 9 países e 2

continentes, 385 salas de exposição, mais

de 1000 fotografias em alta resolução de

obras de arte de 486 artistas diferentes,

de diversas épocas, das quais 17 (uma por

museu) são apresentadas numa resolução

extremamente alta que possibilita níveis

espectaculares de zoom, permitindo

abordagens inusuais das obras envolvidas.

Ao tour virtual pelas galerias e obras de arte

nelas expostas, adaptado do Street View

de Google, acrescenta-se informação sobre

as obras, os artistas e as instituições, assim

como elementos multimédia, que fornecem

outras características relevantes para a

compreensão das obras e uma – para já

limitada - interacção com o navegante.

O projecto está vocacionado naturalmente

para o crescimento, com a previsível

incorporação de mais instituições e obras

de arte, e uma desejável extensão das

restantes informações e outros elementos

de interacção e análise. Mas para além da

sua utilidade como depósito de obras de

arte intemporais, brinda ainda elementos

singulares de gozo. Um tour virtual não pode

substituir essa fruição única que provém da

presença física de uma pintura, mas pode

provocar um desejo ainda mais profundo

desse contacto, utilizando as características

do meio para aprofundar em dimensões

por vezes impreenchíveis numa mera

mirada perante o objecto (o encontro com

o rosto oculto no pai do filho pródigo de

Rembrandt; a cissão pictórica de uma estrela

em espiral de Van Gogh). O próprio meio

digital possibilita uma releitura da tradição,

e encontra nessas visualidades recriadas

modelos de reprodutibilidade que não ferem

a aura única das obras, mas a potenciam.

Nesse encontro, o meio digital se descobre

também a si mesmo.

RECOMENDADO POR:Yolanda Espiña

www.googleartproject.com

Page 38: Yell-Oh! #4

38

DO ÍNTIMO PARA FORA...

Depois que afastaram o desejo da agradável

comida, entre eles começou a falar o sofredor e

divino Ulisses: ‘que alguém vá até lá fora, para ver se

eles estão a chegar. 1

Há leituras que nos fazem parar, escutar, e

ver melhor. Interpelam-nos, tocam-nos o

íntimo e lançam-nos para fora, ao encontro

das razões mais profundas do que nos

rodeia. Assim fiquei, depois de ler este breve

trecho da Odisseia, a de Homero, a repensar

a criatividade nas artes desde... o encontro.

Fascina-me a odisseia pelos clássicos

do cinema e do teatro, obras que pela

sua nobreza se transformaram em textos

fundadores. Nesta errância, preparo a

viagem da admiração, da descoberta de

novos processos, da abertura de novos

horizontes para a contemporaneidade. A

viagem é tanto mais interessante quando,

em me preparo para o encontro de

intérpretes, de visões do mundo, de corpos

e línguas diversos que ocorre através do

cinema e do teatro.

Desde dentro, a simplicidade. Desde fora,

o acolhimento. São os preconceitos, entre

muitos outros, que levo para a Odisseia:

Teatro do mundo ou para o cinema durante

o mês de Maio. Espero, por isso, que desde

esta errância nasçam encontros e que estes

cheguem à partilha e ao contágio criativo...

para que, no fundo, as razões do coração

e do mundo se encontrem. Arrisca... desde

dentro e para fora.

1 Odisseia, Tradução de Federico Lourenço. Lisboa:

Cotovia, 2003, p. 395.

Projecto ‘Odisseia: Teatro do mundo’ durante o mês

de Maio no TNSJ (Porto), Theatro Circo (Braga),

Centro Cultural Vila Flor (Guimarães) e no Teatro de

Vila Real (Vila Real). Cfr.

http://www.tnsj.pt/home/odisseia.php.

RECOMENDADO POR:Rui Nunes

Odisseia: Teatro do mundo

Page 39: Yell-Oh! #4
Page 40: Yell-Oh! #4

40

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É expressamente proibida a reprodução

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FICHA TÉCNICA

DIRECTOR DE EDIÇÃO

• Álvaro Barbosa

EDITORA

• Carla Almeida

REDACÇÃO E EQUIPA EDITORIAL

• Maria João Almeida,

Mariana Crisóstomo, Mariana

Marques, Sílvia Cruz

COLABORADORES NESTE NÚMERO

• Gustavo Martins, Jorge Abade,

Mané Branco, Paulo da Rosária,

Ricardo Megre, Rui Nunes,

TIMELINE, Vítor Teixeira,

Yolanda Espiña

PAGINAÇÃO E DESIGN GRÁFICO

• Joana Rocha

CAPA

• Jorge Abade

PERIODICIDADE

• Semestral

TIRAGEM

• 300 exemplares

DATA

• Jun.2011

DIVULGAÇÃO

• GAPSI e Yell-Oh! Fanzine

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