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XXVI CONGRESSO NACIONAL DO CONPEDI SÃO LUÍS – MA TRANSFORMAÇÕES NA ORDEM SOCIAL E ECONÔMICA E REGULAÇÃO EVERTON DAS NEVES GONÇALVES FERNANDO GUSTAVO KNOERR GIOVANI CLARK

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XXVI CONGRESSO NACIONAL DO CONPEDI SÃO LUÍS – MA

TRANSFORMAÇÕES NA ORDEM SOCIAL E ECONÔMICA E REGULAÇÃO

EVERTON DAS NEVES GONÇALVES

FERNANDO GUSTAVO KNOERR

GIOVANI CLARK

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Copyright © 2017 Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito

Todos os direitos reservados e protegidos. Nenhuma parte deste anal poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem osmeios empregados sem prévia autorização dos editores.

Diretoria – CONPEDI Presidente - Prof. Dr. Raymundo Juliano Feitosa – UNICAP Vice-presidente Sul - Prof. Dr. Ingo Wolfgang Sarlet – PUC - RS Vice-presidente Sudeste - Prof. Dr. João Marcelo de Lima Assafim – UCAM Vice-presidente Nordeste - Profa. Dra. Maria dos Remédios Fontes Silva – UFRN Vice-presidente Norte/Centro - Profa. Dra. Julia Maurmann Ximenes – IDP Secretário Executivo - Prof. Dr. Orides Mezzaroba – UFSC Secretário Adjunto - Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza Pinto – Mackenzie

Representante Discente – Doutoranda Vivian de Almeida Gregori Torres – USP

Conselho Fiscal:

Prof. Msc. Caio Augusto Souza Lara – ESDH Prof. Dr. José Querino Tavares Neto – UFG/PUC PR Profa. Dra. Samyra Haydêe Dal Farra Naspolini Sanches – UNINOVE

Prof. Dr. Lucas Gonçalves da Silva – UFS (suplente) Prof. Dr. Fernando Antonio de Carvalho Dantas – UFG (suplente)

Secretarias: Relações Institucionais – Ministro José Barroso Filho – IDP

Prof. Dr. Liton Lanes Pilau Sobrinho – UPF

Educação Jurídica – Prof. Dr. Horácio Wanderlei Rodrigues – IMED/ABEDi Eventos – Prof. Dr. Antônio Carlos Diniz Murta – FUMEC

Prof. Dr. Jose Luiz Quadros de Magalhaes – UFMGProfa. Dra. Monica Herman Salem Caggiano – USP

Prof. Dr. Valter Moura do Carmo – UNIMAR

Profa. Dra. Viviane Coêlho de Séllos Knoerr – UNICURITIBA

T772

Transformações na ordem social e econômica e regulação[Recurso eletrônico on-line] organização CONPEDI

Coordenadores: Everton Das Neves Gonçalves, Fernando Gustavo Knoerr, Giovani Clark – Florianópolis:

CONPEDI, 2017.Inclui bibliografia

ISBN: 978-85-5505-557-7Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações

Tema: Direito, Democracia e Instituições do Sistema de Justiça

CDU: 34

________________________________________________________________________________________________

Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito

Florianópolis – Santa Catarina – Brasilwww.conpedi.org.br

Comunicação – Prof. Dr. Matheus Felipe de Castro – UNOESC

1.Direito – Estudo e ensino (Pós-graduação) – Encontros Nacionais. 2. Legitimidade. 3. Democracia.4.Intervenção. XXVI Congresso Nacional do CONPEDI (27. : 2017 : Maranhão, Brasil).

Universidade Federal do Maranhão - UFMA

São Luís – Maranhão - Brasilwww.portais.ufma.br/PortalUfma/

index.jsf

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XXVI CONGRESSO NACIONAL DO CONPEDI SÃO LUÍS – MA

TRANSFORMAÇÕES NA ORDEM SOCIAL E ECONÔMICA E REGULAÇÃO

Apresentação

Apraz-nos coordenar o Grupo de Trabalho Transformações na ordem social e econômica e

regulação na maravilhosa e histórica cidade de São Luis do Maranhão. O vigésimo sexto

encontro nacional do CONPEDI não poderia ter deixado de ocorrer nas paragens

maranhenses onde se respira cultura e se inebria o olhar com paisagens tão belas. Tantos

escritores, contistas e poetas descreveram as belezas dessa terra (Ferreira Gullar, Aluísio de

Azevedo, Artur de Azevedo e tantos outros desse majestoso quilate). Gonçalves Dias já

afirmava: Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá; as aves, que aqui gorjeiam; não

gorjeiam como lá. E nesse espírito, Maranhão nos recebeu para avançarmos nos estudos do

Direito.

A cada edição o CONPEDI se fortifica na tempera do aprimoramento constante em meio a

apresentação de trabalhos científicos, da publicação de revistas e livros e da aproximação dos

diversos pensadores e docentes jurídicos deste amado Brasil. Não se pode deixar de referir à

apoteótica abertura do Evento propiciada pelo Professor Doutor Paulo Roberto Ramos e

equipe (grande amigo desde os tempos de mestrado na UFSC juntamente com o Professor

Doutor Everton das Neves Gonçalves). Muito gratificante, também, foi reencontrar a

Professora Doutora Edith Maria Barbosa Ramos que partilhou estudos na UFMG enquanto o

Professor Everton Gonçalves fazia seu doutorado.

Como passa o tempo... Implacável tempo. Porém, a recompensa, é perceber que tudo vale a

pena se a alma não é pequena já se ouviu dizer por Fernando Pessoa. Ter ido ao CONPEDI

Maranhão valeu a pena e, particularmente, poder ter homenageado (in memoriam) o

Professor Doutor Luiz Carlos Cancellier de Olivo valeu a pena. Ter lido, avaliado e escutado

os temas discutidos em nosso GT, valeu extremamente a pena. Destarte, devem ser

destacados e sugere-se a leitura de trabalhos como: Do terceiro setor no Brasil: ajustamento

jurídico; Defesa da concorrência e regulação econômica: o acordo de leniência no cartel para

a construção da usina hidrelétrica de belo monte; O poder econômico privado e sua

interferência nas políticas públicas: enfoque na indústria farmacêutica; Uma breve

investigação sociológica do Estado burocrático brasileiro: uma realidade patrimonialista;

Registro público de empresas como regulação estatal; O acordo de leniência no Sistema

Brasileiro de Defesa da Concorrência e as investigações administrativa e penal: análise

econômico-jurídica para a descriminalização da conduta anticoncorrencial do delator;

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Agências reguladoras: regulação setorial e os princípios da livre iniciativa e da livre

concorrência; O embate entre mercado e estado em tempos de crise orçamentária e as

consequências para a democracia; Assimetria tarifária na regulação do setor de energia

elétrica no Brasil; Universidade federal, políticas de inovação e núcleos de inovação

tecnológica: sua interação em face do marco legal de inovação e O compliance como forma

de moralização da empresa: aspectos ligados à responsabilização da pessoa jurídica.

Uma última palavra deve ser dita parabenizando a nova diretoria do CONPEDI, capitaneada

pelo Professor Doutor Orides Mezzaroba, que haverá de empreender novos desafios e

respectivas conquistas no cenário acadêmico-jurídico brasileiro e também internacional.

Desejamos a todos excelente leitura.

São Luis do Maranhão, 17 de novembro de 2017.

Prof. Dr. Everton Das Neves Gonçalves - UFSC

Prof. Dr. Giovani Clark - PUC Minas/UFMG

Prof. Dr. Fernando Gustavo Knoerr - UNICURITIBA

Nota Técnica: Os artigos que não constam nestes Anais foram selecionados para publicação

na Plataforma Index Law Journals, conforme previsto no artigo 7.3 do edital do evento.

Equipe Editorial Index Law Journal - [email protected].

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1 Pós Doutora em Direito Processual, Doutora em Sistemas Constitucionais de Garantias de Direito pela ITE/Bauru. Especialista em Direito Civil, Processual Civil e do Estado. Professora de Pós-Graduação. Advogada e Autora.

2 Doutor em Direito Constitucional pela Faculdade Autônoma de Direito de São Paulo. Mestre em Direito Negocial - UEL/PR. Docente da Universidade Federal de Rondônia. Autor. E-mail: [email protected]

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2

DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL: AJUSTAMENTO JURÍDICO

THE THIRD SECTOR IN BRAZIL: JURIDICAL ADJUSTMENT

Roseli Borin 1Bruno Valverde Chahaira 2

Resumo

O estudo objetiva apresentar o Terceiro Setor e sua instrumentalização jurídico-social no

Brasil. Assim, busca-se o elemento jurídico de sustentação deste instituto que tutela à

prestação de serviços de direitos fundamentais. A institucionalização do Setor tem

fundamento na Constituição Federal de 1988 - artigos 1º, IV e 5º, XVIII; na prestação de

serviços dos direitos sociais – artigo 6º e artigo 170, para assegurar o bem coletivo e de

atuação não filantrópica. Sendo que o terceiro setor ainda teve participação na reorganização

dos movimentos populares e sindicatos. Quanto a metodologia, a abordagem foi qualitativa

com procedimento estrutural e investigação bibliográfica-documental.

Palavras-chave: Terceiro setor, Constituição federal, Instrumentalização, Movimentos populares, Reorganização sindical

Abstract/Resumen/Résumé

This aims to present the Third Sector structure and its juridical-social adjustment in Brazil.

Thus, it is search the legal element of support of this Institute that guardianship the provision

of fundamental rights. The institutionalization of the sector has its disciplined foundation by

Federal Constitution of 1988 – articles 1º, IV and 5º; article 6º in social rights provision and

article 170, in order to ensure the collective good and of not philanthropic acting. The third

sector had participation in reorganization of the popular movements and trade unions. The

methodology was the qualitative approach with structural procedure and bibliographic-

documentary research.

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Third sector, Federal constitution, Adjustment, Popular movements, Trade unions reorganization

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INTRODUÇÃO

Na perspectiva do discurso da eficiência e da eficácia do Estado Mínimo, dizia-se

que o Estado do Bem-Estar Social não estava conseguindo gerir seus recursos e atender às

exigências da sociedade. Assim, deslocando-se as atribuições do Estado frente à sociedade e à

economia e o afastando da promoção de serviços sociais, propôs-se a promoção da liberdade

individual e da competição entre os agentes econômicos, a fim de amenizar os problemas

financeiros e econômicos da máquina pública, desobrigando o Estado em áreas que tratam dos

direitos fundamentais, como a saúde, a educação e a assistência à criança e ao adolescente,

idoso, pessoas com deficiências, dentre outros.

É nessa direção que o presente trabalho apresenta a instrumentalização jurídico-

social do Terceiro Setor e suas relações com o Estado, nesse caso, com o Estado Democrático

de Direito brasileiro, haja vista que nos seus princípios fundamentais, do artigo 1º - CF/88 se

prevê os valores sociais do trabalho e a livre iniciativa, pautando-se na sustentação do seu

instituto constitucional tutelado, precipuamente, na prestação de serviços dos direitos

fundamentais, caracterizando assim, a não obrigatoriedade desse Estado em atuar em todos os

setores prestacionais desses mesmos direitos.

Ainda nessa linha, o referido instituto está disciplinado ao direito à livre associação

para fins lícitos, previsto e assegurado pela CF/1988, no artigo 5º, inciso XVIII que autoriza

“a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas, sendo vedada a interferência

estatal em seu funcionamento”; também, nas ações programáticas de prestação de serviços

dos direitos sociais, em específico, dentro do Título II - Dos Direitos e Garantias

Fundamentais constantes no artigo 6º, dos direitos sociais: educação, saúde, alimentação,

trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância,

assistência aos desamparados, na forma da Constituição e suas Emendas Constitucionais nºs

26/2000 e 64/2010; bem como prevendo seus fundamentos no título VII, da Ordem

Econômica e Financeira (artigo 170), a fim de assegurar o bem da coletividade, por meio da

atuação da sociedade civil organizada.

Nessa perspectiva, o instituto do Terceiro Setor, no sentido de afirmar que todos os

direitos fundamentais, que se inserem nas prestações de serviços oferecidos por esse instituto,

são decorrentes do princípio jurisdicional, segundo o qual, o bem-estar social são objetivos

inerentes ao Estado, ao mercado e à sociedade civil, foi constitucionalizado como um instituto

de Direito Privado nos moldes da Constituição Federal do Brasil de 1988.

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Assim, os serviços prestados pelo Terceiro Setor estão previstos nos princípios

fundamentais do Estado Democrático de Direito, na ordem econômica fundada na valorização

do trabalho humano e na livre iniciativa, a fim de assegurar a todos a existência digna,

conforme os ditames da justiça social; dos direitos sociais, no âmbito constitucional brasileiro

e nas demais legislações infraconstitucionais que tratam dos seus aspectos jurídicos.

Buscou-se a operacionalidade do Terceiro Setor como questão fundamental ao

Estado Democrático de Direito, e sua consolidação só se legitima quando a atuação da

sociedade civil, que não substitui a atividade estatal (e suas garantias), mas surge para

contribuir com o desenvolvimento do país, com uma administração pública mais eficiente,

participando nos processos políticos e econômicos, conforme preconiza a Constituição

Federal brasileira.

No que tange a metodologia, a abordagem foi qualitativa com procedimento

estrutural e investigação bibliográfica-documental, tendo-se como objetivo geral apresentar a

estrutura do Terceiro Setor e às ações programáticas evidenciadas na Constituição Federal de

1988, no que trata os direitos e garantias fundamentais e nas prestações de serviços que tratam

dos direitos sociais.

Assim, o Terceiro Setor avança como “base de sustentação” do Estado Democrático

de Direito, quando a sociedade civil se organiza livremente atendendo ao dispositivo da livre

iniciativa econômica constante na Constituição de 1988.

2 A CONFIGURAÇÃO HISTÓRICA DO TERCEIRO SETOR E SUA

INSTRUMENTALIZAÇÃO SOCIAL NO BRASIL

O Terceiro Setor surgiu de modo mais incisivo no Brasil, nos anos 90, do século XX.

O Brasil nessa época passara pela promulgação da Constituição em 1988.

A importância da Lei Magna de 1988 para o avanço desse instituto social se deu em

virtude dos princípios dos direitos fundamentais – artigo 1º, IV e artigo 6º das garantias dos

direitos sociais, os quais passariam a ser priorizados através de ações conjuntas entre o Estado

e a sociedade civil, nos termos do regime democrático. Além desses, o artigo 3° - incisos I, III

e IV; e o artigo 5º, caput estabelecem que constitua objetivo fundamental da República do

Brasil a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, erradicando a pobreza e a

marginalização e promovendo o bem estar de todos, que são iguais perante a lei, sem

preconceitos de origem, sexo, raça, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

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São princípios ligados à igualdade, isonomia. Esses princípios de igualdade, solidariedade e

isonomia são caracterizadores do direito ao acesso à justiça. Por isso, o Terceiro Setor

passaria a ser promovido, pela primeira vez no âmbito social da Constituição brasileira, tendo

em vista que os direitos sociais, em outras Constituições, se encontram dispersos na ordem

econômica e social.

É desse aparato jurídico-constitucional ao Terceiro Setor que em seguida, na Lei

13.019/2014, no seu artigo 1º prescreve sua finalidade e sua instrumentalização social.

Art. 1º Esta Lei institui normas gerais para as parcerias entre a administração pública

e organizações da sociedade civil, em regime de mútua cooperação, para a

consecução de finalidades de interesse público e recíproco, mediante a execução de

atividades ou de projetos previamente estabelecidos em planos de trabalho inseridos

em termos de colaboração, em termos de fomento ou em acordos de cooperação.

(Artigo com redação dada pela Lei nº 13.204, de 14/12/2015).1

Antes de prosseguir na apresentação desse instituto na realidade brasileira, de se

fazer uma breve incursão histórica, para entender seus propósitos, pois:

Desde os países desenvolvidos da América do Norte, Europa e Ásia até as

sociedades em desenvolvimento da África, América Latina e do antigo bloco

soviético, pessoas estão formando associações, fundações e instituições similares

para a provisão de serviços humanitários, promover o desenvolvimento econômico

de base, prevenir a degradação ambiental, proteger direitos civis e perseguir

milhares de demandas que não eram atendidas ou eram deixadas de lado pelo

Estado. (SALAMON; ANHEIR, apud FERNANDES, 1994, p. 104)

De acordo com o autor ocorreram quatro crises mundiais as quais levaram às

profundas alterações sociais de diversas naturezas. Dessas alterações sociais fizeram surgir

consideráveis mudanças para o Estado e as ações de caráter associativo a elas. São elas: i) a

crise do Welfare State; ii) a crise do desenvolvimento nos países do Terceiro Mundo; iii) a

crise da dívida externa nos anos 80; iv) a crise do meio ambiente global.

A crise do Welfare State nos anos 80, nos países centrais, implicou remanejar os

mecanismos de bem-estar social montados nos anos 60 e 70.

A crise do desenvolvimento nos países do Terceiro Mundo, que se seguiu à crise da

dívida externa nos anos 80, praticamente impossibilitou que o Estado continuasse a financiar

as atividades de desenvolvimento, o que de certo modo direcionou a sociedade a ir ao

encontro de opções as quais pudessem amenizar a ausência estatal. Daí, veio em seguida a

crise do meio ambiente global, levando à degradação crescente do meio ambiente,

1 BRASIL. Lei 13.019/2014. Estabelece o regime jurídico das parcerias entre a administração pública e as

organizações da sociedade civil, em regime de mútua cooperação (...); define diretrizes para a política de

fomento, de colaboração e de cooperação com organizações da sociedade civil; e altera as Leis nºs 8.429, de 2 de

junho de 1992, e 9.790, de 23 de março de 1999.

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evidenciando a ausência de políticas públicas adequadas para enfrentar os antigos problemas,

agora aglutinados aos novos.

Além disso, ao mesmo tempo, cresceu o sentimento de que esse tipo de crise

requeria ação mundial, que não se centrasse em países; a crise do socialismo e dos

partidos socialistas, principalmente depois da queda do Muro de Berlim, que

mostrou o esgotamento daquele modelo de planejamento estatal para a gestão da

economia; a revolução das comunicações a partir dos anos 70 e 80, expandindo as

possibilidades de comunicação entre as pessoas; e que culminou com o surgimento

da Internet, a qual, por sua vez, facilitou ainda mais a difusão do conhecimento que

a própria rede passou a gerar; por fim, o crescimento mundial dos anos 60, que fez

aumentarem as populações urbanas e criou no mundo grupamentos social mais

exigente e mais organizado, mais capaz para fazer valer suas demandas (uma

“revolução burguesa”). (SALAMON; ANHEIR, apud ALVES, 2002, p. 6)

Dentro dessa natureza histórica, o Terceiro Setor passou a ser visto com destaque,

pois se inseria dentro das políticas alternativas de correção social, agora condizente aos

anseios da sociedade.

No Reino Unido, a expressão Terceiro Setor é charities, remetendo à origem

medieval e destacando o aspecto de obrigação religiosa das primeiras ações comunitárias. Na

Europa Continental, o termo mais utilizado é “organizações não governamentais” (ONGs, em

português). Sua origem histórica está ligada ao sistema de representação das Organizações das

Nações Unidas (ONU), que são as organizações internacionais que, mesmo não representando

seus países, tinham atuação significativa para justificar a sua presença na Organização.

[...] formulação de programas de cooperação internacional para o desenvolvimento

estimulado pela ONU, nas décadas de 1960 e 1970, fez com que as ONGs

promovessem projetos de desenvolvimento, nos países de Terceiro Mundo, para que,

dessa maneira, as ONGs europeias realizassem parcerias em vários países, fazendo

com que filiais também surgissem no Hemisfério Sul. (MENDES, 1999, p. 13).

A configuração histórica do Terceiro Setor, no Brasil, não é precisa, tendo em vista

algumas referências pontuarem que os registros sobre esse setor no País tiveram início no

período colonial a partir das Organizações ligadas à Igreja Católica, as quais, por meio de

ações de caridade nas áreas beneficente, assistencial à saúde, educação, a Igreja Católica se

vinculou ao Estado.

No Brasil, as ações sociais destinavam-se às camadas mais carentes da população,

apoiando-se em um modelo importado pelas casas de Misericórdia portuguesas, de iniciativas

caritativas e cristãs (MESGRAVIS; CABRAL, 2007 apud ALVES, 2002, p. 56).

O fato é que a partir das doações dos proprietários de terras para que o Estado

atendesse as populações necessitadas, e do atrelamento do Estado à Igreja Católica, ampliou-

se o estágio latente da pobreza da população, porque essas doações visavam também

aumentar o poder político de ambos. Com o assistencialismo, os estratos sociais menos

favorecidos viviam em permanente dependência do Estado e da Igreja, como também das

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doações daqueles que detinham as riquezas. Outros dados enfatizam que o histórico do setor

remonta ao final do século XIX, originário da participação da sociedade civil e das entidades

sem fins lucrativos, sendo certo que a atuação em conjunto do Estado com a Igreja Católica na

assistência e atendimento da questão social era a predominante (LUCA, 2008).

Nesse contexto, o histórico do Terceiro Setor segundo Delgado, citando o Relatório

da GESET (Gerência de Estudos Setoriais, 2001, p. 6-7):

Originaram-se da participação das entidades sem fins lucrativos no Brasil, que é

datada no final do século XIX. Pode-se até mesmo citar o exemplo das Santas Casas

que remontam mais atrás, na segunda metade do século XVI, e trás consigo uma

tradição da presença das igrejas cristãs que, direta ou indiretamente, atuavam

prestando assistência à comunidade. Toma-se como destaque a Igreja Católica, que,

com suporte do Estado, era responsável pela maior parte das entidades que

prestavam algum tipo de assistência às comunidades mais necessitadas, que ficavam

às margens das políticas sociais básicas de saúde e educação. A atuação das igrejas,

concomitante com o Estado, durou todo o período colonial, até início do século XIX.

No século XX, surgiram outras religiões, que, juntamente com a Igreja Católica,

passaram a atuar no campo da caridade com fins filantrópicos associados ao Estado. Mas, no

período republicano, a relação Igreja-Estado mudou, uma vez que antes esses dois

objetivavam o atendimento e a assistência das questões sociais. Nessa nova fase, passam a

atuar outras religiões, utilizando-se das mesmas práticas da Igreja Católica, beneficiando-se

também, de parcerias com fins filantrópicos junto ao Estado.

Além da introdução de novas instituições atuando em setores que até então tinham a

atuação de atores tradicionais, outro fator que colaborou para essa mudança de

relacionamento entre a Igreja e o Estado foi a modernização natural da própria

sociedade, fruto da industrialização e urbanização da época, fazendo com que

aumentasse a complexidade dos problemas sociais. Dentro desse contexto, começam

a aparecer na década de 30 várias entidades da sociedade civil, na maioria também

atreladas ao Estado. O Estado Novo deu continuidade ao processo de criação de

organizações de finalidade pública. Ainda nesse período, cresce o número de

entidades atuando no Terceiro Setor, cuja representatividade já não era tão definida,

ou seja, não se tratava mais só de Igrejas e Estado, mas também, de entidades não

governamentais, sem fins lucrativos e de finalidade pública. (GESET, 2001, p. 6

apud Delgado, 2004)

Retomando ao emprego do termo “Terceiro Setor”, este tendeu a ser usado nos anos

70 nos EUA para identificar um setor da sociedade no qual atuam organizações sem fins

lucrativos, voltadas para a produção ou a distribuição de bens e serviços públicos.

“Terceiro Setor” é termo que foi recortado no conjunto das ideias da economia

clássica, para a qual a sociedade é dividida em setores, de acordo com as finalidades

econômicas dos agentes sociais, entendidos como agentes de natureza jurídica

pública e agentes de natureza jurídica privada (WEISBROD, 1988). Assim, agentes

de natureza privada que praticam ações com fins privados (bens privados) podiam

ser descritos como o “Primeiro Setor”, setor ao qual corresponderia o Mercado;

agentes de natureza pública que praticam ações que visam a fins públicos (bens

públicos) podiam ser descritos como o “Segundo Setor”, setor ao qual

corresponderia o Estado. E, por via de consequência, agentes de natureza privada

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que praticam ações visando a fins públicos podiam ser descritos como o “Terceiro

Setor” (ALVES, 2002, p. 7).

Ainda sobre a questão da nomenclatura que trataremos mais adiante de modo a

correlacionar à natureza jurídica, é importante notar que, nas diferentes culturas nacionais, são

encontrados termos como: “setor da caridade”, “setor independente”, “setor voluntário”,

“organizações não governamentais”, “economia social”, “filantropia” etc. (ALVES, 2002. p.

2), o que gerou muitas dificuldades para pesquisas que visem a estabelecer relações de

semelhança entre os setores, em cada país. Cada uma daquelas denominações enfatiza um

único aspecto da realidade representada pelo “Terceiro Setor” e suas formas constituintes; e

deixa de lado outros aspectos relevantes que poderiam também colaborar para explicar a

dinâmica do setor (ALVES, 2002, p. 3).

Sobre o “setor da caridade” diz Alves (2002, p. 6):

Essa é uma denominação antiga e tradicional para o setor não lucrativo, usada

principalmente nos EUA e no Reino Unido (onde, aliás, o termo charity é outorgado

às organizações tal como uma “declaração de utilidade pública”). Essa denominação

enfatiza o aporte de doações privadas de caridade que as atividades do setor

recebem. Essa definição é bastante contestada por dois motivos: a conotação

negativa que o termo caridade possui, uma conotação pejorativa, principalmente nos

meios militantes (LANDIM, 1993); e ocorre que as doações caridosas nem sempre

constituem a única (ou mesmo a maior) fonte de receitas dessas atividades.

Já o setor voluntário é enfatizado pelo trabalho dos cidadãos que, em muitos casos,

realizam ações sociais, sem fins lucrativos, em organizações sociais, igrejas, instituições

públicas, etc., termo este que serve para designar o setor sem fins lucrativos (BRENTON,

1985 apud ALVES, 2002, p. 4). O termo tem sido criticado porque, mesmo no Reino Unido,

muitas das organizações as quais o termo tem sido aplicado são, de fato, dirigidas e operadas

por profissionais (BILLIS, 1993 apud ALVES, 2002, p. 4).

Em 1916, o Código Civil classificava as pessoas jurídicas de direito privado como:

“Sociedades civis, religiosas, pias, morais, científicas ou literárias, as associações de utilidade

pública e as fundações; sociedades mercantis”. Nessa época, muitas das ações realizadas por

essas pessoas estavam associadas aos direitos sociais, via sustentação do privado.

No Brasil, durante séculos, a Igreja Católica, com suas inúmeras entidades mantidas

com o mandato do Estado, era responsável pela prestação de serviços de saúde,

educação e assistência social às camadas pobres da população. Essa importante rede

de solidariedade permanece até os dias de hoje: escolas e universidades católicas,

Santas Casas de Misericórdia, orfanatos, creches, asilos, obras de caridade etc. Cabe

ressaltar que, até meados do século XX, essa era a única rede de proteção social

existente no país, formada quase exclusivamente por organizações privadas

(CICONELLO, 2004, p. 2.).

Conforme menciona Durão e Landim, no Brasil:

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A aliança entre fé e Pátria, entre a poderosa Igreja Católica e o governo populista e

ditatorial de Getúlio Vargas (1930-1945), foi o pano de fundo para o repasse de

recursos públicos às escolas, hospitais e obras sociais católicas espalhadas pelo País.

Não é, portanto, por acaso que data desse período a espinha dorsal da legislação,

mantida até hoje, que regula as relações entre Estado e organizações privadas sem

fins lucrativos. Ou seja, a centralização e a provisão direta de serviços pelo Estado

na área da educação, saúde e assistência, não deixou de reservar um lugar para as

organizações privadas sem fins lucrativos2.

Merece destacar que dentre as áreas de atendimento dessas entidades sempre

estiveram a saúde, a educação e a assistência social, que com a extensão de outras religiões

passaram a dividir o filão com a Igreja Católica.

[...] com o tempo, essas três áreas de organizações vão-se diversificar quanto à

origem, somando-se ao campo de outras religiões, assim como entidades

crescentemente secularizadas. Educação, cultura, saúde e assistência social são áreas

caracterizadas historicamente por funcionar em colaboração com o Estado, sendo

tradicionais receptoras de fundos públicos, mesmo que jamais houvesse políticas

claramente definidas nesse sentido – sendo essa uma história pouco estudada.

Perpassam parte desse campo os vícios históricos que marcam as relações entre

sociedade e Estado no Brasil: clientelismos e favorecimentos políticos, com a

transferência de recursos públicos para usos privados. (DURÃO; LANDIM, 2008, p.

6)3

Ajudar o próximo, dar assistência ao outro, enquanto prática social tem seu histórico

no interior da sociedade civil (SPOSATI, 2001) e, conforme dito acima, referendada,

principalmente, pelas organizações religiosas, que, durante um longo período de tempo,

alicerçou as condutas morais de seus seguidores na dita ação de caridade.

No decorrer da história, a caridade tem estado intimamente relacionada com o

crescimento das organizações religiosas. Os ensinamentos judeus promoviam a ideia

de que os pobres tinham direitos e que os ricos tinham deveres. As primeiras igrejas

cristãs criaram fundos para apoio às viúvas, órfãos, enfermos, pobres, deficientes e

prisioneiros. [...] No mundo islâmico, a filantropia foi usada para montar grandes

hospitais. Exemplos remotos de “fundos de miséria” também partiram do islamismo,

quando pacientes indigentes recebiam cinco peças de ouro assim que recebessem

alta. Em resumo, o setor de caridade tem existido há longo tempo, sempre exercendo

um papel significativo. (SPOSATI, 2001, p. 12)

Concernente a esse enfoque é válido citar nesse momento, e relacionado ao nosso

propósito, a Lei nº 13.019/2014 que estabeleceu o regime jurídico das parcerias entre a

administração pública e as organizações da sociedade civil, em regime de mútua cooperação,

no tocante às organizações religiosas, artigo 2º, I, - (“Caput” do inciso com redação dada pela

Lei nº 13.204, de 14/12/2015); c) as organizações religiosas que se dediquem a atividades ou

a projetos de interesse público e de cunho social distintas das destinadas a fins exclusivamente

religiosos; (Alínea acrescida pela Lei nº 13.204, de 14/12/2015)4.

2 Disponível em: www.abong.org.br/novosite/download/Landim_Durao.doc. Acesso em: 10 set. 2016.

3 Disponível em: www.abong.org.br/novosite/download/Landim_Durao.doc. Acesso em: 10 set. 2016.

4 BRASIL. Lei 13.019/2014. Estabelece o regime jurídico das parcerias entre a administração pública e as

organizações da sociedade civil, em regime de mútua cooperação (...); define diretrizes para a política de

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Na mesma direção, conforme menciona o artigo 44, inciso IV, do Código Civil, as

organizações religiosas são previstas ordinariamente no ordenamento jurídico brasileiro,

incluído pela Lei nº 10.825/2003.

Retomando-se o viés histórico, no tocante ao contexto europeu dividido por

estamentos sociais rígidos, o atendimento às famílias pobres foi dado pelo pioneirismo de São

Vicente de Paulo (1576-1660), quando era vigário em Châtillon-les-Dombes, na França do

século XVII (ESCORSIM, 2008). Daí o modelo capitalista foi o marco do assentamento das

relações no mutualismo dos grupos sociais.

No assentamento dos interesses capitalistas, o destaque recaiu sobre a propriedade

privada e nos meios de produção e da mercantilização. Desse enfoque capitalista, produtor e

mercantil, o modelo passou a determinar o lugar social dos trabalhadores inseridos no

processo produtivo. No entanto, nesse processo produtivo, a força de trabalho agora não

cumpria a mesma função, gerando, além do famigerado exército industrial de reserva, os

afastados do processo produtivo. Dado ao abandono às causas dos trabalhadores e das suas

melhores condições de vida, “restaram a caridade, a benemerência e a filantropia, como

resposta às suas indigências” (ESCORSIM, 2008, p. 2).

Foi no século XX, na Inglaterra, com Lorde Beveridge (1942) que o Estado protetor

das necessidades coletivas, se concretizaria, dentro do padrão de reprodução social, por meio

de políticas sociais, em uma transição do plano individual para o social (SPOSATI, 2001).

Embora se encontre dificuldade em demarcar o período histórico do Terceiro Setor

brasileiro, porque as atuações do Estado e das associações podem se confundir, foi nesse

período que surgiu a necessidade da regulação das entidades filantrópicas e sua relação com o

Estado, modelo de organização da sociedade civil que aqui será apresentada para

prosseguirmos no histórico do Terceiro Setor.

3 A FILANTROPIA NO INTERIOR DO ESTADO ASSISTENCIALISTA

As entidades filantrópicas, de acordo com Sposati (2001), a presença de formas

laicas no campo da assistência social no Brasil deu-se no período pós-República, tendo em

vista a separação oficial entre Estado e Igreja.

No alvorecer do século XX, o Brasil manteve como característica de sua formação

sócio-histórica o modelo conservador de uma sociedade elitista no acesso às riquezas sociais e

fomento, de colaboração e de cooperação com organizações da sociedade civil; e altera as Leis nºs 8.429, de 2 de

junho de 1992, e 9.790, de 23 de março de 1999.

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sua acumulação, garantida por uma oligarquia latifundiária que detinha os poderes

econômicos e político. A economia marcada pelo liberalismo viabilizou o início do processo

industrial e o intenso processo de urbanização brasileira. Nesse ínterim, o atendimento das

repercussões da pobreza e da miséria deixou de ser “caso de polícia”, tal como se afirmava na

década de 1920, mas assumiu em seu trato o âmbito da moral privada, numa lógica

conservadora da assistência social em sua versão filantrópica (ESCORSIM, 2008).

[...] trata o Estado como uma grande família, na qual as esposas de governantes, as

primeiras-damas, é que cuidam dos “coitados”. É o paradigma do não direito, da

reiteração da subalternidade, assentado no modelo de Estado patrimonial [...]. Neste

modelo, a assistência social é entendida como espaço de reconhecimento dos

necessitados, e não de necessidades sociais (SPOSATI, 2001, p. 71).

No bojo da sua constituição jurídica, as entidades filantrópicas são organizações da

sociedade, sem fins lucrativos, formalizadas com a ideia de assistência à infância e

adolescência, aos idosos, ou promover a reabilitação de pessoas com deficiências etc. Outra

proposta é criar mecanismos de inserção e/ou integração das pessoas no mercado de trabalho.

Rassalte-se que para ser reconhecida com a característica de filantropia, a entidade necessita,

além de executar essas atividades, comprovar tê-las desenvolvido, pelo período no mínimo de

três anos, sem fins lucrativos, sem distribuição de lucros e remuneração dos seus dirigentes.

Assim, No que tange ao Terceiro Setor e sua relação com a filantropia tem-se que:

[...] é composto de organizações sem fins lucrativos, criadas e mantidas pela ênfase

na participação voluntária, num âmbito não-governamental, dando continuidade

práticas tradicionais da caridade, da filantropia e do mecenato e expandindo o seu

sentido para outros domínios, graças, sobretudo, à incorporação do conceito de

cidadania e de suas múltiplas manifestações na sociedade civil. (FERNANDES,

1997, p. 27)

O título de concessão de entidade filantrópica é declarado pelo Estado nas formas de:

Declaração de Utilidade Pública (federal, estadual ou municipal) e o de Entidade Beneficente

de Assistência Social, adquirido no Conselho Nacional de Assistência Social (Cnas). Esse

título de utilidade pública federal foi regulado pela Lei nº 91/355. Mas mesmo antes dessa lei

ele já era conferido a certas instituições. Não havia, contudo, critérios que disciplinassem

quem emitiria e nem a quem destinaria.

Pelos lacônicos seis artigos da lei (o último dos quais, como sempre, dispensável),

fica patente o caráter discricionário da concessão do título. Seu artigo primeiro

5 Art. 1º As sociedades civis, as associações e as fundações constituidas no paiz com o fim exclusivo de servir

desinteressadamente á collectividade podem ser declaradas de utilidade pública, provados os seguintes

requisitos (...). Art. 2º A declaração de utilidade pública será feita em decreto do Poder Executivo, mediante

requerimento processado no Ministério da Justiça e Negocios Interiores ou, em casos excepcionaes, ex-

officio. Paragrapho único. O nome e caracteristicos da sociedade, associação ou fundação declarada de

utilidade pública serão inscriptos em livro especial, a esse fim destinado. Regulamento. BRASIL. Decreto nº

60.931, de 1967. Revogada pela Lei nº 13.204, de 2015. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1950-1969/D60931.htm. Acesso em: 15 set. 2016.

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estabelece que o título cabe à pessoa jurídica sem fins lucrativos dedicada ao “fim

exclusivo de servir desinteressadamente à coletividade”. Não se estabelece como

definir este desinteresse, restando à Administração caracterizá-lo em cada caso

concreto (FERNANDES, 1997, p. 27).

A criação do Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS) data de 1938, e para o

cadastro e o fornecimento do Certificado de Entidade Filantrópica, o Cnas, em 1942,

constituiu a Legião Brasileira de Assistência (LBA), entidade com a finalidade para repassar

verbas às entidades conveniadas nas áreas de assistência à infância, maternidade, idosos e

nutrição, por meio de convênios, sendo que a característica principal destas entidades sem fins

lucrativos é a restrição de distribuição de lucros, pois os associados não têm direitos legais

sobre o saldo financeiro positivo (DUARTE, 2008).

Assim, o título poderia ser concedido tanto pelo Executivo quanto pelo Legislativo.

Não havendo requisitos para a concessão, ela dependia unicamente da vontade das

autoridades públicas. A Lei nº 91 de 1935 acabou por tentar organizar esse impasse,

atribuindo ao presidente da República a competência de concessão do título, como um

incentivos do Estado para as associações e entidades sem fins lucrativos e sindicatos que

passaram a receber verbas e recursos públicos.

4 O TERCEIRO SETOR NO CENÁRIO DA REORGANIZAÇÃO DOS

MOVIMENTOS POPULARES E SINDICATOS

Nas décadas de 1970-1980 o cenário brasileiro foi palco para a reorganização dos

movimentos populares graças à mobilização da sociedade na defesa pelo Estado Democrático

de Direito. Muito atuantes, os movimentos se destinavam às ações no campo da cidadania,

promovendo as criações de centros populares da educação e cultura, política, alfabetização de

adultos etc.

Foi a partir dos finais de 1970 que houve a expansão das associações civis que viriam

a transformar os sindicatos, movimentos sociais, grupos defensores dos direitos das minorias,

ampliando o debate acerca das questões dos direitos dos cidadãos brasileiros, os quais

convergiriam nos artigos dos direitos constitucionais de modos mais objetivos e explicitados.

Dentre os fatos marcantes desse período encontramos o movimento das

Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, da igreja católica; como também, o aumento das

igrejas protestantes, centros espíritas, budistas, religiões afro-brasileiras: umbanda,

candomblé, e outras, os quais contribuíram à diversificação e pluralismo religioso no interior

da sociedade civil, que culminariam na participação da Constituinte de 1988 que determina no

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artigo 5º, inciso VII, a garantia de “[...] prestação de assistência religiosa nas entidades civis e

militares de internação coletiva” (BRASIL, 2013). Desta forma, poderá haver cooperação

entre Estado e as organizações religiosas, nos moldes da lei. Essa coparticipação, portanto,

deve seguir o caminho da igualdade, não se privilegiando uma religião, pois, como visto, não

deverá existir prestação de assistência religiosa por parte do Estado, laico, mas referida

prestação poderá ser conseguida pelas organizações religiosas.

Constam ainda, a partir dos movimentos sociais e sindicais, a realização das ações

sociais por meio das empresas, articuladas entre as Organizações Não Governamentais

(ONGs) e os movimentos sociais.

No que tange a participação política, econômica da sociedade, de se verificar o artigo

8º, incisos I ao VIII e artigo 150, VI, “c”, ambos da Constituição Federal de 1988, que

concede aos sindicatos a natureza jurídica que lhe competem. No entanto, a Lei Maior

avançou com mais veemência no aspecto acerca da organização sindical, porque o papel da

sociedade na sua elaboração foi fundamental para os rumos da classe sindicalista brasileira.

Notório que a origem dos sindicatos brasileiros nasceu da influência estrangeira, que

ao final da escravidão, declarada pela Lei Áurea, diplomou legalmente a extinção da

escravidão no Brasil. Com o discurso imperial de avanços com a publicação da referida lei e

com a melhora nas condições de trabalho, os estrangeiros, ao chegarem ao País não

encontraram muitas diferenças no sistema propagado. Pelo contrário, encontraram um sistema

escravagista que se estendia a todos os trabalhadores.

No entanto, esses estrangeiros, mais politizados do que os trabalhadores brasileiros,

com conhecimentos do anarquismo e do socialismo, incitaram a formação dos sindicatos sem

cunho político, mas com o objetivo de reivindicar melhora nas condições de trabalho e pelos

direitos dos trabalhadores, como o direito de greve. Os sindicatos rurais foram legalizados

pelo Decreto nº 979, de 1903 e em 1907, o decreto nº 1.637 regulamenta os sindicatos

urbanos, havendo liberdade de escolha quanto à forma de representação, sendo que estes

primeiros sindicatos apresentavam função assistencial (RODRIGUES, 2012), mas

As organizações que surgiram de sindicatos apenas possuíam o rótulo. Entre os

trabalhadores do campo não existia uma base intelectual que lhes assegurasse

capacidade para se organizar e, além disso, estavam economicamente subjugados

aos senhores da terra, que não hesitavam em mandar embora os que tivessem

coragem de reclamar qualquer medida em seu beneficio, já que direitos não existiam

consagrados em textos de lei (VIANA, SUSSEKIND, MARANHÃO, 1981, p. 958).

Nesse modelo, a organização social dos trabalhadores, através dos sindicatos, estava

relegada tão somente a um terço dos participantes estrangeiros, já que entendia que esses não

tinham o direito de se manifestar devido às convicções políticas trazidas de outros países.

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Essa tentativa visava ao controle sobre as greves, que cresciam com frequência, e,

consequentemente, mobilizavam as produções internas e a estabilidade econômica e política

do Brasil, passando o sindicalismo brasileiro a ser formulado com um vínculo com o Estado:

O Estado resolve delimitar categorias e assim controlar a formação de sindicatos,

que passam a ser colaboradores do Poder Público, tendo uma forma de controlar as

ações dos sindicatos. Há, em 1930, a criação do Ministério do Trabalho, que tem

como uma de suas funções organizar o proletariado como força de cooperação ao

Estado. Em 1931, o decreto nº 19.770 entra em vigor.

Os estatutos dos sindicatos passam a ser padronizados e o Estado passa a exigir

relatórios dos sindicatos que contivessem suas atividades. É permitida a criação de

apenas um sindicato por base territorial, colocando fim à pluralidade sindical. Fica

garantida ao dirigente sindical sua estabilidade no emprego e é estabelecido o

formato adotado até os dias de hoje, de sindicatos, federação e confederação.

(RODRIGUES, 2012, p. 4)

Com a Constituição de 1934, altera-se a norma sindical estabelecida em 1930 e 1931

e passam a valer a pluralidade e a autonomia dos sindicatos. No entanto, limitando ainda o

número de trabalhadores na sua formulação, regulamentando as reuniões e exigindo um

representante do Ministério do Trabalho, o qual deveria ser um dos seus integrantes, com o

objetivo de fiscalizar as reuniões e manter o poder do Estado sobre essa organização. Nessa

Constituição de 1934 é vedada a filiação dos trabalhadores a outras organizações

internacionais, salvo com autorização expressa do Ministério do Trabalho.

Outra alteração é feita pela Constituição de 1937, que põe fim às prerrogativas

instituídas sobre os sindicatos em 1934, retornando às antigas diretrizes que vigiam no

Decreto de 1931, com o intuito de aumentar o controle sobre os sindicatos e acabar com o

pluralismo sindical (NASCIMENTO, 2005).

Na trajetória histórica dos sindicatos, surge o Decreto de 1939 como

complementador da Constituição de 1937. Esse Decreto instituiu a pluralidade de associações,

porém, consideradas sindicatos somente quando reconhecidas pelo Estado. O Decreto de 1939

trouxe o quadro das atividades profissionais para fins de enquadramento sindical [agrupando

as categorias (RODRIGUES, 2012, p. 5). No documento era expressa a intervenção do Estado

em casos de dissídios ou ações sindicais que porventura viessem à perturbação o

funcionamento desse tipo de organização. Outra prerrogativa constante no Decreto de 1939

era a proibição legal das greves, novamente na tentativa de acalmar os ânimos dos

trabalhadores no período do governo getulista, que, dessa forma, manteria sob seu controle as

classes dos trabalhadores para a manutenção do poder empresarial.

Na linha histórica dos sindicatos, poucas foram as mudanças ocorridas que pudessem

alterar o modelo intervencionista ou regulador do Estado sobre esse tipo de organização. Se a

intervenção do governo era, de certo modo, “reservada”, durante o regime militar as atuações

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dos sindicatos ficaram ainda mais reduzidas e controladas. No entanto, foi nesse período que

o papel sindical teve destaque no âmbito político brasileiro, como as organizações de greves e

dos movimentos sociais em prol da democracia, como também, às exigências pelas melhorias

nas condições de trabalho e qualidade de vida dos trabalhadores nas cidades.

Nessa fase, surge o partido político que viria a ser o representante da classe

trabalhadora, o Partido dos Trabalhadores (PT) (RODRIGUES, 2012). Aqui, dá-se início às

Centrais Sindicais do Brasil lideradas pelos movimentos sociais que marcaram a história

brasileira. Dessas organizações civis e trabalhistas surgiram as lutas em prol da Constituinte e,

em seguida, a Constituição Federal de 1988.

Assim, de acordo Souza (2010) os sindicatos são formas jurídicas de organização

passiveis de serem utilizadas pelo Terceiro Setor, porque seriam as associações civis

(incluindo os sindicatos), as fundações privadas e as cooperativas sociais, conforme criadas

pela Lei nº 9.867/99. Saliente-se que, as formas clássicas de entidades privadas sem fins

lucrativos no ordenamento jurídico brasileiro, onde se inserem a associação civil e a fundação

privada, não são as únicas, nesse ínterim, o art. 44, V, do Código Civil preleciona sobre os

partidos políticos (incluído pela Lei 10.825/2003).

Dessa forma o Terceiro Setor se atrelaria ao Estado Inteligente, em contrapartida ao

Estado Mínimo e à “mão-invísivel” de Adam Smith, porque o Estado se desenvolve

agregando iniciativas promovedoras “da participação ativa neste esforço de atores sociais

básicos, empresa privada, sindicatos, universidades e da sociedade civil em todas as suas

expressões” (KLIKSBERG, 1998, p. 45).

5 O TERCEIRO SETOR E AS INSTITUIÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS

Organização, em sentido técnico, é o conjunto de regras adotadas para a composição

e funcionamento de certas instituições, sejam de interesse público sejam de interesse privado.

O termo tanto significa a regularização - a coordenação de um organismo instituído, fundado -

como o corpo que dela se gerou ou se constituiu.

A fim de facilitar o entendimento sobre a organização do Terceiro Setor, a Fasfil

adotou o seguinte parâmetro para a classificação: “„Classificação dos Objetivos das

Instituições sem Fins Lucrativos ao Serviço das Famílias‟ („Classification of the Purpose of

Non-Profit Institutions Serving Households – Copni‟), de classificação definida e reconhecida

como tal pela Divisão de Estatísticas da ONU que, adequada às necessidades do estudo,

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representou uma “Copni ampliada”. Segundo esse parâmetro, as entidades sem fins lucrativos

são classificadas em grupos e subgrupos6 (PEREIRA, 2005, p. 09)

Figura 4: Critérios para definição das Fasfil. Obs.: Auto administradas: Ortografia original da figura. Ortografia

atualizada: auto administradas. Fonte:

http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/imprensa/ppts/00000011151112102012112305347909.pdf.

Acesso em 10/jun/2016.

A classificação foi criada por finalidade de uso, isto é, por objetivo, e serve mais a de

apropriação do que por tipo de atividade econômica. Dentre as diversas classificações

existentes optou-se como parâmetro a Copni da ONU (GARCIA, 2010).

Figura 5. Tabela de Natureza Jurídica 2009.1. Entidades sem fins lucrativos. Fonte:

http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/imprensa/ppts/00000011151112102012112305347909.pdf, p.

7. Acesso em: 10 jun. 2017.

6 Disponível em: http://www.Oabsp.Org.Br/Comissoes2010/Direito-Terceiro-Setor/Artigos/Terceiro-Setor-

Identificando-Suas-Organizacoes-E-Propondo-Um-Novo-Um-Conceito-Dr.-Rodrigo-Mendes-Pereira. Acesso

em: 10 jun. 2017.

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No Brasil, esses critérios correspondem a duas figuras jurídicas do novo Código

Civil: 1) Associações: união de pessoas que se organizam para fins não econômicos; 2)

Fundações: criadas por um instituidor a partir de uma dotação especial de bens livres,

especificando o fim a que se destina.

Figura 6: Critérios de exclusão das entidades com códigos de Natureza Jurídica. Fonte:

http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/imprensa/ppts/00000011151112102012112305347909.pdf, p.

14. Acesso em: 10 jun. 2017.

De acordo com os mesmos critérios, o subconjunto das Fasfil (Figura 8) é formado

por entidades com os seguintes códigos de Natureza Jurídica: 306-9: Fundação Privada; 320-

4: Filial, no Brasil, de Fundação ou Associação Estrangeiras; 322-0: Organização Religiosa;

399-9: Associações Privadas (PEREIRA, 2005, p. 10)7.

Observa-se na Figura 7 que se utiliza a Copni8 (PEREIRA, 2005, p. 11) porque

permite a comparabilidade internacional, pois pertence à Família de Classificações das

Nações Unidas e, também, serve como primeira proposta de classificação dessas entidades

para subsidiar a construção das contas satélites das instituições privadas sem fins lucrativos.

Tem-se a atribuição da Classificação Copni por meio de algoritmos de classificação:

a) Semântica da Razão Social e Nome Fantasia – Classificação de Atividade (Cnae) –

Natureza Jurídica; b) Os algoritmos levam em conta a combinação de atributos e a

classificação unívoca na Copni; c) Reformulação dos algoritmos e métodos de classificação,

devido à nova Cnae 2.0, novas tabelas de natureza jurídica e novos ajustes (GARCIA, IBGE,

2010).

7 Disponível em: http://www.Oabsp.Org.Br/Comissoes2010/Direito-Terceiro-Setor/Artigos/Terceiro-Setor-

Identificando-Suas-Organizacoes-E-Propondo-Um-Novo-Um-Conceito-Dr.-Rodrigo-Mendes-Pereira. Acesso

em: 10 jun. 2017. 8 Idem.

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Figura 7: Copni ampliada. Fonte: www.ibge.gov.br. Acesso em 10 jun. 2017.

Figura 8: Classificação das FASFIL. Fonte:

http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/imprensa/ppts/00000011151112102012112305347909.pdf,

p.18. Acesso em: 10 jun. 2017.

Vê-se, pois que o debate a respeito do Terceiro Setor recebe várias críticas por firmar

uma confusão entre o público e o privado.

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CONCLUSÃO

Pode-se observar que há consensos entre alguns teóricos que figuram no sistema

jurídico sobre o Terceiro Setor, sua atuação e como é integrado, sendo que compõem o

Terceiro Setor as associações e fundações; do mesmo modo como as entidades, desde que as

atividades desenvolvidas sejam de interesse público. Assim, podem ser detentoras de títulos e

certificações, as quais lhes possibilitam gozar o exercício e os benefícios, tais como os

incentivos fiscais e de acesso aos recursos públicos.

Quebra-se, assim, a bipolarização entre o Estado e a sociedade civil que sempre se

configurou. Não se fala em esfera exclusivamente pública e exclusivamente privada, de tal

forma que, pela não prestação eficaz de serviços públicos, não se pode mais ser

responsabilizado, nem o Estado nem o particular.

O Terceiro Setor, fruto das reformas legais pelas quais passou a Administração

Pública na década de 1990, a destacar a Reforma Gerencial, é fruto de um caloroso debate,

ainda hoje no Brasil. Com as privatizações, consequência clara do enxugamento da máquina

estatal, alguns dos serviços que são de natureza exclusivamente pública, em sua maioria,

voltados aos serviços essenciais, são descentralizados ao comando do particular, cabendo a

este se responsabilizar pela prestação insuficiente e ineficaz.

Persiste o entendimento de que o Estado, ao promover o engrandecimento do

Terceiro Setor, não com os fins de atingir uma maior eficiência, porém, para reduzir suas

despesas e construir a cultura da não prestação de serviços públicos, pode ser mascarado, pois

dá indícios da não solução dos problemas relativos à eficácia e eficiência, mas como

desobrigado ou desonerado das suas responsabilidades sobre o que lhe é de extrema

competência: o bem-estar social de todos os cidadãos, indistintamente, nos moldes dos

direitos e garantias constitucionais, conforme previstos na Lei Magna de 1988.

Pelo conceito concebido ao Terceiro Setor e suas formulações constitucionais,

caracteriza-se como organização de interesse social, sem fins lucrativos, que objetiva

beneficiar a sociedade ou alguns segmentos que lhes são particulares dentro da sua

competência, tem origem empresarial, mas de cunho específico e restrito, tem a função de

exercer as atividades sociais em parceria com o Estado, visando ao bem da coletividade,

desde que respeitados seus limites dentro do próprio marco regulatório que os determinam,

orientam e/ou conduzem as suas atuações.

Isso significa dizer que buscou-se desmistificar a áurea negativa que se projeta sobre

o Terceiro Setor, importante para a organização da sociedade civil e em prol da sua

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formulação, pois ao atuar nos assuntos dos direitos fundamentais contribui sobremaneira para

o desenvolvimento social do país.

Neste sentido, a atuação do instituto do Terceiro Setor, em parceria com o Estado,

nos moldes constitucionais, compreende os elementos do Estado Liberal, sem, contudo, negar

os elementos essenciais do Estado Democrático de Direito, haja vista que este Estado busca

na Constituição as orientações para seus fins e objetivos, na instrumentalização dos institutos

privados, como foi o caso do Terceiro Setor.

Contudo, o Estado necessita instituir mecanismos de controle a fim de que eles

próprios: Estado e sociedade sejam orientados à busca da eficiência e da eficácia na prestação

de serviços, abarcando uma co-responsabilidade nas atividades de provimento dos direitos

sociais (descritos no art. 6º), sem extrair do Estado a função precípua de provimento e

fiscalização destas atividades.

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