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1 www.congressousp.fipecafi.org XV Congresso USP de Iniciação Científica em Contabilidade Moving Accounting Forward O impacto da crise econômica brasileira sobre a concessão de crédito imobiliário no Brasil RODRIGO THIRION CORREIA DOS SANTOS Universidade de São Paulo – FEA USP Prof. Dra. Tatiana Albanez Universidade de São Paulo – FEA USP Resumo Dentre um dos principais setores da economia brasileira, encontra-se o setor de construção civil, o qual correspondeu a 8% do PIB em 2016 segundo dados do IBGE. Assim, neste trabalho, busca-se analisar o impacto da recessão econômica sobre o crédito destinado à atividade imobiliária, nas diversas regiões do país. Utilizam-se análises descritivas, análises de correspondência e regressão linear. Como principais resultados encontrados, destacam-se a significativa redução do crédito imobiliário cedido principalmente em 2015 e 2016, e a não alteração da participação de cada região do país na composição total do volume de crédito. Cabe ressaltar também, que durante o período analisado, a taxa básica de juros do país possui um relevante poder explicativo sobre o montante de crédito cedido, aproximadamente 40%. Portanto, através deste estudo, verifica-se a importância da definição da taxa SELIC para o desenvolvimento setor imobiliário, e consequentemente, do Brasil, já que é uma modalidade de crédito relacionada a longos prazos de vencimento e altos custos agregados à produção. Palavras chave: Construção Civil, Crédito Imobiliário; Taxa de Juros; Recessão Econômica.

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O impacto da crise econômica brasileira sobre a concessão de crédito imobiliário

no Brasil

RODRIGO THIRION CORREIA DOS SANTOS Universidade de São Paulo – FEA USP

Prof. Dra. Tatiana Albanez Universidade de São Paulo – FEA USP

Resumo

Dentre um dos principais setores da economia brasileira, encontra-se o setor de

construção civil, o qual correspondeu a 8% do PIB em 2016 segundo dados do IBGE. Assim,

neste trabalho, busca-se analisar o impacto da recessão econômica sobre o crédito destinado à

atividade imobiliária, nas diversas regiões do país. Utilizam-se análises descritivas, análises

de correspondência e regressão linear. Como principais resultados encontrados, destacam-se a

significativa redução do crédito imobiliário cedido principalmente em 2015 e 2016, e a não

alteração da participação de cada região do país na composição total do volume de crédito.

Cabe ressaltar também, que durante o período analisado, a taxa básica de juros do país possui

um relevante poder explicativo sobre o montante de crédito cedido, aproximadamente 40%.

Portanto, através deste estudo, verifica-se a importância da definição da taxa SELIC para o

desenvolvimento setor imobiliário, e consequentemente, do Brasil, já que é uma modalidade

de crédito relacionada a longos prazos de vencimento e altos custos agregados à produção.

Palavras chave: Construção Civil, Crédito Imobiliário; Taxa de Juros; Recessão Econômica.

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1. Introdução

O déficit habitacional brasileiro é um tema recorrente em pesquisas e estudos

acadêmicos devido à relevância do assunto para a criação de uma sociedade mais justa e

próspera, como exemplo pode-se citar os estudos feitos por: Alves (2005), Nascimento e

Braga (2009), Furtado, et al. (2013). Os mais recentes estudos estimam que o déficit

habitacional em 2016 foi de 6,068 milhões de famílias, concentrado principalmente nas

grandes capitais brasileiras (IBGE, 2016). Como medida macroeconômica para resolução

deste problema, os últimos governos ampliaram a concessão de crédito voltado ao mercado

imobiliário brasileiro.

Durante as últimas décadas, começaram a surgir evidências empíricas de que o

segmento de construção civil possui um efeito multiplicador na economia. Principalmente,

após observar-se a utilização de indicadores relacionados ao mercado imobiliário para prever

tendências macroeconômicas nos Estados Unidos. O primeiro estudo que corrobora esta visão

indica que a queda de investimento no setor de habitação parece convergir à retração do

investimento agregado, e desse modo, queda no PIB na maioria das recessões econômicas

(POZDENA, 1990). Segundo Mendonça, Medrano, Sachsida (2011), o setor de construção e

incorporação é um grande empregador de mão-de-obra no país, especialmente, no âmbito do

trabalho associado a baixa qualificação profissional. Desse modo, acredita-se que a

construção civil tem um efeito multiplicador ainda maior no Brasil. 

No início do século XXI, houve uma forte expansão do mercado imobiliário brasileiro,

e consequentemente, elevado crescimento das companhias voltadas à construção civil no país.

Segundo Mendonça e Sachida (2012), existem diversos motivos que explicam o crescimento

imobiliário no Brasil durante o início do século, são eles: queda na taxa de juros, estabilidade

nos preços dos imóveis, expansão do crédito direcionado ao mercado imobiliário por bancos

públicos e privados e o aumento de obras públicas voltadas, principalmente, à infraestrutura

nacional.

Entretanto, a economia brasileira encontra-se em uma profunda recessão econômica

desde 2014 quando o PIB nacional cresceu somente 0,5%. Durante os anos de 2015 e 2016, a

situação econômica se agravou com quedas de 3,8% e 3,6% (IBGE, 2016), respectivamente.

Manoel Pires (2017) afirma que as diversas políticas econômicas adotadas pelo Governo

Federal nos últimos anos geraram aceleração da inflação para sustentar o crescimento

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econômico apresentado até 2011, e como reação do Banco Central do Brasil, houve aumento

da taxa de juros. Desse modo, acredita-se que houve uma ruptura sobre a estrutura necessária

para o desenvolvimento imobiliário no país, já que o aumento da taxa de juros impacta

diretamente na concessão de crédito em geral, e principalmente, no crédito imobiliário por ser

uma modalidade de financiamento atrelada à longos prazos de financiamentos.

Diante do cenário exposto, este trabalho busca responder os seguintes

questionamentos: Qual o impacto da recessão econômica brasileira ocorrida em 2015 sobre

volume de crédito imobiliário concedido ?

Utilizando como base as perguntas expostas acima, o objetivo principal deste trabalho

é investigar o impacto da crise econômica brasileira sobre a concessão de crédito imobiliário

para construção de imóveis residenciais e comercias no Brasil. Como objetivos específicos do

trabalho, pretende-se: i) analisar se houve diferenças significativas no volume de crédito

concedido entre regiões no país; ii) examinar quais regiões foram mais afetadas; e iii)

quantificar o poder explicativo da variável taxa de juros sobre o volume total de

financiamentos habitacionais cedidos por bancos públicos e privados no país.

Como hipóteses de pesquisa, tem-se:

Hipótese 1: o volume de crédito imobiliário foi afetado negativamente pela recessão

econômica brasileira;

Hipótese 2: o impacto causado pela recessão econômica brasileira difere entre regiões

do país;

Hipótese 3: a taxa de juros afetou o volume total de financiamentos habitacionais

cedidos por bancos públicos e privados no país.

Acredita-se que este trabalho contribua com uma análise quantitativa sobre o impacto

da recessão econômica brasileira no mercado de crédito imobiliário, baseando-se em dados

macroeconômicos recentes, já que não foi possível encontrar nenhuma literatura acadêmica

que aborde os impactos da crise sobre este setor em específico. A contribuição está

relacionada à análise da variação do volume de crédito concedido à construção civil brasileira

nos últimos anos e estudo do poder explicativo da taxa de juros sobre o volume de crédito,

devido a elevada importância do setor para o desenvolvimento do país. Espera-se que os

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resultados obtidos com esta pesquisa auxiliem acadêmicos e profissionais interessados pelo

setor imobiliário em suas projeções e análises, principalmente, em cenários futuros associados

à recessão econômica.

Referencial Teórico

2.1 Mercado de Crédito no Brasil: Breve Histórico

O mercado de crédito constitui um elemento fundamental em uma economia

capitalista, já que o endividamento viabiliza a efetivação de decisões de investimento e

consumo (Oliveira, 2016). Desse modo, as ações e medidas adotadas pelas instituições

financeiras são relevantes para as condições de crédito em uma economia. Segundo Minsky

(2008), os bancos possuem graus de preferência por liquidez, que variam de acordo com suas

projeções para a economia no futuro. Assim, o autor ainda afirma que estas instituições

costumam conceder crédito em ciclos, quando atuam somente pela lógica da geração de

resultados futuros. Intensificando em fases de crescimento econômico e boas perspectivas

para o futuro e contração em momentos adversos, podendo atuar de maneira desestabilizadora

do sistema econômico conjuntural. No Brasil houve uma grande expansão do mercado de

crédito a partir de 2003. O autor Mora (2015) afirma que a melhora das condições tanto

internas quanto externas tiveram como efeito o aumento da demanda por crédito pelo público

e instituições financeiras, gerando grande efeito sobre a renda da população brasileira. Ainda

conforme o autor, no início do processo de expansão, os bancos priorizaram aqueles produtos

que possuíam maiores garantias, com destaque para o crédito consignado e imobiliário.

Segundo Oliveira (2016), este processo foi viabilizado por algumas condições favoráveis, tais

como: aumento do preço de commodities e redução das taxas de juros internacionais.

Consequentemente, estas condições geraram a entrada de divisas e houve um efeito em

cascata na economia, como valorização da taxa de câmbio e diminuição da inflação que

permitiram a queda da taxa de juros no período.

Entretanto, após anos de bons resultados econômicos e expansão do volume de

crédito durante anos no país, a crise financeira internacional de 2008 atingiu o Brasil.

Segundo Freitas (2009), neste contexto, houve reversão das expectativas e os bancos reagiram

com alto nível de prudência, reduzindo o volume de crédito de médio e longo prazo. Na visão

do autor, o prazo relativamente curto do crédito bancário no Brasil favorece o movimento

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rápido de realocação de portfólio, aspecto usual na gestão de ativos de instituições financeiras

que atuam no país.

Conforme Araújo (2012), os movimentos apresentados pelas instituições financeiras

envolvem particularidades conforme o setor e região de atuação de cada empresa. Pelo fato de

projetos com prazos longos e regiões periféricas apresentarem grau de incerteza

inerentemente maior. Desse modo, os bancos atuam de forma a priorizar setores e regiões.

Neste contexto de instabilidade econômica mundial pós crise financeira internacional

de 2008, Mora (2015) comenta que foram adotados incentivos tributários e a utilização de

bancos públicos para suprir a demanda por crédito do mercado brasileiro. Devido ao fato dos

bancos privados terem retraído a oferta de crédito em um movimento de aversão ao risco e,

também, no caso de bancos internacionais a ocorrência de retirada de capital para realocação

dos recursos em seus países sedes. Desse modo, ainda segundo o autor ocorreu uma

expressiva elevação do crédito com recursos direcionados para minimizar os efeitos

internacionais na economia brasileira, principalmente, através da utilização do Banco

Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e banco CAIXA em setores

considerados estratégicos para o desenvolvimento econômico do país, tais como: setor

habitacional e infraestrutura.

Na visão de Pires (2017), as medidas adotadas pelo Governo Federal sustentaram o

desenvolvimento econômico até 2010, porém não podiam ser continuadas. Principalmente,

pelo fato de que no curto prazo estas medidas impediram uma acomodação de ciclo de

crescimento, mas geraram aceleração da inflação, déficit fiscal no longo prazo, e

consequentemente, aumento da taxa de juros pelo Banco Central do Brasil. Ainda segundo o

autor, diversos acontecimentos externos à política econômica agravaram a situação econômica

do país, tais como: queda no preço das commodities, crise hídrica e redução do crescimento

econômico mundial.

No início de 2011, segundo Oliveira e Wolf (2016) devido a situação econômica do

país, e principalmente, pelo grau de endividamento das famílias brasileiras algumas decisões

foram tomadas visando a redução do volume de crédito, aumento dos custos e redução dos

prazos das operações. Dentre as medidas adotadas, pode-se destacar: i) aumento do IOF para

pessoas físicas; e ii) aumento do percentual mínimo de pagamento das faturas de cartão de

crédito. Porém em 2012, o autor salienta que o Governo Federal reconheceu que a sustentação

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do crescimento deveria se dar por incentivos ao mercado interno, pois neste contexto houve o

agravamento da crise internacional e aumento no preço das commodities. Desse modo, o BCB

revogou partes das medidas citas acima para contenção da expansão de crédito.

Entretanto, as medidas empregadas não surtiram os resultados esperados, pois o

crédito e a demanda não expandiram como se esperava. Portanto, o governo lançou um novo

pacote de ações onde as medidas foram reforçadas, tais como: i) redução do IPI sobre

veículos; ii) nova redução sobre IOF para o crédito a pessoas físicas; e iii) redução das taxas

de juros sobre as linhas de crédito oferecidas pelo BNDES (Martello, 2012).

No curto prazo os esforços adotados apresentaram resultados positivos sobre a

demanda por crédito no país. Porém, Leite (2016)afirma que todos os esforços empregados

desde 2011 visaram somente ampliação de crédito momentânea, e não houve a criação de

medidas com objetivos de longo prazo. Assim, com a eclosão do aumento de endividamento

das famílias e aumento do desemprego pode-se perceber uma queda no volume de crédito

concedido em operações contratadas no segmento de crédito livre e no segmento de crédito

direcionado após 2014, conforme figura abaixo.

Figura 1 - Concessões de Crédito ‐ Total Brasil (BRL MM) 

Fonte: Banco Central

Como visto, diversas mudanças ocorreram no mercado de crédito brasileiro nos

últimos anos, por conta principalmente, das medidas adotadas pelo Governo Federal com

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intuito de fomentar o crescimento econômico do país. Desse modo, com o intuito de atingir o

objetivo do trabalho, segue um breve contexto sobre as alterações recentes no mercado de

crédito brasileiro em específico.

2.2 Mercado de Crédito Imobiliário Brasileiro: Mudanças Recentes

Durante os últimos anos houveram diversas mudanças na forma de atuação do

Governo Federal, principalmente, no que tange aos esforços voltados à alteração de Leis e

criação de medidas provisórias com o intuito de diminuir o custo de captação de recursos e

aumentar volume de crédito concedido. A primeira medida que alterou a estrutura vigente até

o término do século XX no mercado imobiliário foi a Medida Provisória (MP) n 2.223 de

2001, com a criação das Letras de Créditos Imobiliários (LCI) e Cédulas de Crédito

Imobiliário (CCI). Ambos os títulos, ampliaram a captação de recursos pelos agentes de

financeiros responsáveis pela concessão de crédito imobiliário no Brasil.

Segundo Mendonça (2013), a criação do patrimônio de afetação que diferencia os

recursos captados para financiamento da obra do patrimônio das incorporadoras através da

MP n. 2.221 de 2001, acabou reduzindo o risco tanto para os compradores de imóveis quanto

para as instituições que financiaram as obras. Seguindo a ordem cronológica de eventos, outra

importante medida adotada foi a introdução da Lei n 10.931 de agosto de 2004, que

consolidou o instituto da alienação fiduciária do bem imóvel no Brasil. Consequentemente, o

objeto de alienação fica em nome da instituição financeira até a quitação completa do

financiamento, ou seja, propiciou maiores garantia físicas e jurídicas ao produto crédito

imobiliário.

Araújo (2012), afirma que tais medidas citadas acima auxiliaram a expansão de crédito

imobiliário no país entre 2005-2008, sendo liderada por bancos privados que atuavam no país.

Entretanto, com a eclosão da crise financeira internacional 2008-2009 houve uma inversão de

papéis, a ação anticíclica empregada pelos bancos públicos federais fez com que as operações

de crédito dos bancos públicos crescessem a taxas mais elevadas do que as dos bancos

privados. Principalmente, após a criação do programa Minha Casa Minha Vida em 2009,

projeto que instituiu taxas de juros subsidiadas ás famílias brasileiras de baixa renda para

compra de imóvel próprio.

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Conforme os estudos empíricos realizados pelos autores Martins (2016) e Domingos e

Junior (2017) desde a criação do programa, houve uma redução déficit habitacional.

Entretanto, acredita-se que com o agravamento da recessão econômica enfrentada pelo país, e

as incertezas sobre o futuro político e econômico, acarretaram em uma redução do volume de

crédito ofertado no Brasil, mesmo com a atuação direta de fomentação do segmento pelo

Estado. Por este motivo, o presente estudo visa medir o impacto da crise econômica sobre este

mercado que possui singela relevância sobre os rumos da economia e bem-estar social.

2.3 Estudos Empíricos

Estudos empíricos diretamente relacionados ao mercado imobiliário em períodos de

recessão indicam que a queda de investimento no setor de habitação parece levar à retração de

outros setores da economia, e consequentemente, queda nos indicadores macroeconômicos do

país conforme Pozdena (1990). Ainda segundo o autor, existem evidências de que o setor

imobiliário é um dos mais afetados por mudanças na taxa de juros vigente no país, após

estudos no mercado dos EUA.

No Brasil por ser um país em desenvolvimento, a falta de recursos pode ser superada

pela escolha competente de projetos específicos em setores da sociedade, que impactam mais

fortemente sobre a economia, e por efeito dominó afeta outros setores a eles relacionados

(Teixeira e Carvalho, 2011). Os autores constataram que existe uma forte interligação entre a

indústria de construção civil com outras atividades do mercado e que cria externalidades

positivas na economia, após análise de desempenho entre setores do mercado brasileiro.

Desse modo, acredita-se que o volume de crédito transferido a estas companhias possa

influenciar no desenvolvimento de diversos setores da sociedade brasileira.

Com relação diretamente ao volume de crédito transacionado no setor imobiliário, o

estudo realizado pelos autores Machado, Ceretta e Vieira (2014) indicou que as estimações

utilizadas forneciam como variáveis mais significativas para a explicação da variação do

montante de crédito: a taxa básica de juros SELIC, renda média do trabalhador brasileiro e

montante de dinheiro disponível no mercado. Para isso, utilizou-se a técnica de regressão

linear. Porém, nas estimativas realizadas o poder explicativo do modelo não foi superior a

20%, o que pode mostrar que as variáveis que explicam o comportamento do volume de

crédito imobiliário, desse modo, os 80% restante são explicados por outras variáveis

desconhecidas que não estão inseridas no modelo utilizado.

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Portanto, após todo o detalhamento do referencial teórico, o presente estudo tem como

principal objetivo medir o impacto da recessão econômica brasileira sobre o volume de

crédito imobiliário concedido no país, e principalmente, quantificar se existe significativas

variações entre as regiões do país. O objetivo secundário do trabalho é avaliar o poder

explicativo da variável taxa de juros com relação ao volume de crédito habitacional cedido em

cenários de crise.

3. Procedimentos metodológicos

Neste capítulo, são definidas a amostra/variáveis e as técnicas estatísticas utilizadas

para atingir os objetivos deste trabalho.

3.1. Amostra e Variáveis

A amostra utilizada neste trabalho compreende o volume mensal de crédito imobiliário

cedido e o número de unidades financiadas nas modalidades de crédito direcionado à

construção de novos ativos e aquisição de imóveis prontos. Os dados utilizados são fornecidos

pelo Banco Central do Brasil e Associação Brasileira de Crédito Imobiliário e Poupança e

referem-se ao período de janeiro 2012 até dezembro 2016. Desse modo, para verificação dos

objetivos do trabalho e resposta à questão de pesquisa foram empregados métodos estatísticos

que serão descritos posteriormente.

Os dados sobre financiamento habitacional no período foram divididos em dois

segmentos, unidades financiadas e valores nominais. Dentro destes dois segmentos, houve

uma segmentação dos dados pelas 5 regiões do país reconhecidas pelo IBGE, são elas: Norte,

Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Por último, houve uma segregação dos valores

correspondentes à cada modalidade de crédito, construção e aquisição de ativos, em cada

região do país.

Para representar a variável taxa de juros será utilizada a taxa trimestral da Selic cedida

pelo Banco Central do Brasil entre janeiro 2010 até dezembro 2016, a escolha por esta taxa

foi utilizada pelo fato de diversos estudos demonstrarem que o custo na dívida no Brasil para

as companhias brasileiras está associado à taxa Selic + Spread bancário, tais como Oreiro et al

(2006) e Brito et al (2007).

3.2. Tratamento dos Dados

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Para o alcance do objetivo desta pesquisa, foram feitas, primeiramente, análises

descritivas com base nos dados fornecidos pelo Banco Central do Brasil. Já para o tratamento

dos dados, julga-se apropriada a utilização do método estatístico Análise de Correspondência

(Anacor), possibilitando o estudo da relação entre crédito habitacional concedido nas diversas

regiões do país e o início da recessão econômica do país durante os últimos anos, sendo que a

análise será realizada através de mapas perceptuais.

Para utilização da metodologia, devido ao fato de a Anacor utilizar variáveis não

métricas, foi necessário a criação de categorias com os dados da amostra, assim os anos da

amostra foram categorizados: 2012, 2013, 2014, 2015 e 2016, e o volume de crédito cedido

foi categorizado em quartis: baixo, médio, alto e altíssimo. Este procedimento, foi realizado

tanto para a amostra referente à unidades financiadas em cada região quanto para o volume de

financiamento habitacional total cedido.

Segundo Fávero et al. (2009, p. 272), a Anacor “é uma técnica que exibe as

associações entre um conjunto de variáveis categóricas não métricas em um mapa perceptual,

permitindo, dessa maneira, um exame visual de qualquer padrão ou estrutura nos dados”,

desse modo, as associações entre as variáveis é realizada com base nas respectivas posições

no mapa perceptual e a análise feita através do exame da proximidade geométrica das

categorias.

Com relação ao tratamento dado ao segundo objetivo do trabalho, será utilizada

regressão linear entre a taxa SELIC descrita na amostra e o volume/unidades de

empreendimentos financiados nas 5 regiões do país. Conforme descrito por Fávero (2009), o

uso deste método estatístico tem como intuito predizer os valores de uma variável dependente,

neste caso volume de crédito imobiliário, em função de uma variável independente, neste

trabalho taxa SELIC. Ainda segundo o autor, é possível verificar o poder explicativo do

modelo empregado através da análise do R quadrado da regressão, e no caso presente

trabalho, o poder explicativo da taxa SELIC. Desse modo, a equação que será utilizada pode

ser escrita como:

Portanto, com intuito de responder a hipótese 3 e segundo objetivo deste trabalho, o

coeficiente angular do modelo mostrará o poder explicativo da taxa de juros com relação a um

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crédito de longo prazo, tal como o financiamento imobiliário, durante o período de recessão

econômica.

4. Análise dos Resultados

Durante este capítulo, os resultados obtidos são apresentados após a utilização das

técnicas estatísticas descritas nos procedimentos metodológicos. Neste trabalho as seguintes

técnicas foram empregadas: análises descritivas, análise de correspondência e regressão

linear.

4.1 Estatísticas Descritivas

A figura 2 apresenta o número de unidades financiadas durante o período de 2012 até

2016, segregando o percentual de crédito empregado para construção de novas unidades e

aquisição de unidades prontas, em cada ano.

Figura 2 – Concessão de Crédito Imobiliário – Unidades

Observa-se que após o início da recessão econômica brasileira houve uma significativa

redução do número de unidades imobiliárias financiadas, tanto no âmbito da aquisição de

unidades prontas quanto para construção novas unidades. Entretanto neste período, é possível

notar também uma transferência de market share entre as modalidades de financiamento,

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ocorrendo uma redução percentual da participação da modalidade de crédito destinado à

construção, e aumento do financiamento de imóveis prontos.

A figura 3 representa o montante de crédito imobiliário, em valores nominais,

empregado na economia brasileira durante o período analisado. Assim como na figura

anterior, em cada ano, existe a separação entre as diferentes modalidades do crédito

imobiliário.

Figura 3 – Concessão de Crédito Imobiliário – Valores (BRL M)

Através da figura 3, é possível notar redução do montante de crédito cedido durante os

últimos anos, e desse modo, em conformidade com os resultados obtidos na figura 2. Porém,

houve a transferência inversa de matket share em 2016. Assim, o segmento de construção de

novos imóveis passou a representar a maior parte do volume de crédito imobiliário, após o

início da recessão econômica. Acredita-se que esta diferença entre os resultados apresentados

pelas figuras 2 e 3 possa ser explicada pelo significativo aumento do ticket médio das

unidades financiadas via construção de novos imóveis, conforme a tabela abaixo:

Tabela 1 – Valor Médio das Unidades Financiadas

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A tabela 1 representa o valor médio das unidades financiadas em cada modalidade de

crédito, através da divisão do montante total de crédito imobiliário cedido, em cada ano, pelo

respectivo número de unidades.

Com o intuito de esclarecer sobre o impacto da crise econômica brasileira nas

diferentes regiões do país e abordar um dos objetivos deste trabalho, as figuras 4 e 5 foram

elaboradas. Nestas figuras é possível observar se houve, ou não, variação de market share

entre as 5 regiões do Brasil.

Figura 4 – Market Share – Unidades

Figura 5 – Market Share – Valores

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A partir das figuras 4 e 5, verifica-se que durante os últimos anos não houve variações

significantes entre as participações de cada região do país na distribuição de crédito

imobiliário, tanto entre unidades financiadas quanto para valores nominais. Entretanto, é

possível notar uma leve transferência de mercado entre as regiões Sudeste e Sul,

aproximadamente 4% em 2016.

4.2 Análise de Correspondência

Através da análise de correspondência e mapas perceptuais abaixo, nota-se a

representação gráfica da relação entre as variáveis do estudo: anos x volume de crédito x

volume unidades financiadas. Porém, para prosseguimento da análise é necessária a realização

do teste qui-quadrado com o intuito de verificar se não há, ou não, associação entre as

variáveis do estudo.

Tabela 2 – Teste Qui Quadrado (Anos x Volume de Crédito)

 

Value dfPearson Chi-Square 43.571ª 12

Likelihood Radio 43.46 12N of Valid Cases 25

Asymp. Sig. (2-sided)0.000.00

 

Tabela 3 – Teste Qui Quadrado (Anos x Unidades Financiadas)

Value dfPearson Chi-Square 54.524ª 12

Likelihood Radio 52.12 12N of Valid Cases 25

Asymp. Sig. (2-sided)0.000.00

Segundo as tabelas 2 e 3, é possível afirmar que não existe associação entre as

variáveis analisadas e pode-se proceder a análise de correspondência, devido ao valor da

Sig.<0,05 em ambos os testes realizados.

As figuras 5 e 6, demonstram graficamente a associação entre as variáveis

categorizadas do estudo através da análise de correspondência, conforme descrito no capítulo

de procedimentos metodológicos. A partir da figura 5, observa-se que os anos de 2015 e 2016

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estão diretamente relacionados aos piores resultados do setor na questão de volume de crédito

cedido, explicado pela proximidade destes anos com os quartis de baixo e médio desempenho.

Porém, os anos de 2012 até 2014 apresentam os melhores resultados da série analisada.

Figura 5 – Mapa Perceptual (Anos x Volume de Crédito)

Assim como os resultados descritos acima, a figura 6 indica que o número de unidades

financiadas teve comportamento similar ao volume de crédito imobiliário cedido no país nos

últimos anos. Desse modo, os resultados encontrados estão de acordo com o esperado. Visto

que neste período houve o agravamento dos indicadores econômicos, e por consequência, da

recessão econômica brasileira.

Figura 6 – Mapa Perceptual (Anos x Unidades Financiadas)

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4.3 Análise de Regressão Linear

Antes de realizar a análise da regressão linear, foram feitas análises de correlação para

verificar se existe associação entre as variáveis estudadas. A análise de correlação é essencial

para constatar se existe relação linear entre as variáveis do estudo, antes de ser efetuada a

análise de regressão. Porém, como a correlação não implica causalidade, o poder explicativo

das relações apenas é validado através da análise de regressão. A tabela 4 apresenta as

correlações de Pearson entre a variável dependente e independente do trabalho.

Tabela 4 – Análise de Correlação

Selic Volume de Crédito

Selic 1.000Volume de Crédito -0.634 1.000

Sig. 0.000

Observa-se que a correlação entre a variável independente e dependente é significativa

(moderada correlação negativa), o que indica, relação de dependência do volume de crédito

sobre a taxa SELIC definida pelo Banco Central do Brasil. Esta correlação negativa valida o

envolvimento esperado entre as variáveis do estudo, visto que com a redução da taxa de juros

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os custos das operações de financiamento tendem a reduzir, e consequentemente, volume de

crédito contratado tende a aumentar.

Tabela 5 – Regressão Linear

B Std. Error Beta Sig. R²Constante 13571120.14 1061205.24 0.00

Selic -588441.89 94163.59 -0.63 0.00 0.40

Os resultados obtidos após a regressão indicam que o modelo empregado explica 40%

do volume de crédito imobiliário cedido durante o período de recessão econômica do país, e o

restante é explicado por outras variáveis não utilizadas no trabalho, dado que o R² resultante é

0.40. Desse modo, como a taxa SELIC é a única variável independente do modelo, é possível

afirmar que a taxa de juros é significativa sobre o volume de crédito destinado à construção

civil no mercado brasileiro.

Outro aspecto relevante gerado pela regressão, é que o coeficiente angular (Beta)

atribuído é negativo, indicando que cada unidade da taxa SELIC existe um aumento de 0,63

no volume de crédito imobiliário, e vice-versa.

Sendo assim, os resultados da análise descritiva permitem aceitar a hipótese 1, na qual

o volume de crédito imobiliário foi afetado negativamente pela recessão econômica brasileira,

já que através da análise descritiva e de correspondência notou-se uma redução nominal

significativa, tanto para o número de unidades financiadas quanto para o volume de crédito

imobiliário fornecido. Já a hipótese 2 pode ser rejeitada, visto que as figuras 4 e 5 do estudo

indicam que não houve mudanças significativas de market share entre as regiões do país nos

últimos anos.

Por último, os resultados da regressão linear demonstram que a hipótese 3 pode ser

confirmada. Portanto, a taxa de juros afetou de maneira significativa o volume total de

financiamentos habitacionais cedidos por bancos públicos e privados no país, durante o

período de recessão econômica do Brasil

5. Conclusão

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Os objetivos deste trabalho foram: averiguar o impacto da crise econômica brasileira

sobre a concessão de crédito imobiliário para construção de imóveis no Brasil, analisar se

houve diferenças significativas no volume de crédito concedido entre regiões, e também

quantificar o poder explicativo da variável taxa de juros sobre o volume total de

financiamentos habitacionais.

Como procedimentos metodológicos empregados para alcance dos objetivos foi

utilizada análise descritiva, análise de correspondência e o emprego de regressão linear,

através da amostra fornecida pelo Banco Central do Brasil. Desse modo, conforme previsto,

observou-se que houve significativa redução sobre crédito imobiliário cedido no Brasil

durante os últimos anos, impactando o volume nominal de crédito ofertado e o número de

unidades financiadas no período. Este resultado também é observado nos mapas perceptuais

utilizados na análise, visto que os anos de 2015 e 2016, sempre estão associados aos quartis

de baixo e médio desempenho da amostra. Outro importante resultado do trabalho, está

relacionado a não ocorrência de alteração significante no market share de cada região do país,

no âmbito de crédito imobiliário. Apesar da redução descrita anteriormente, as proporções

mantiveram-se constantes, contrariando a expectativa que houve alocação de recursos em

regiões economicamente mais desenvolvidas.

A partir da verificação do último objetivo do estudo, verificou-se que o modelo

empregado, e consequentemente, a variável taxa de juros possui o poder explicativo de 40%

sobre o volume de crédito imobiliário cedido no período analisado. Portanto, conclui-se que a

definição de taxa realizada pelo Banco Central brasileiro, interfere diretamente no mercado

imobiliário do país.

Este trabalho contribui para uma análise dos impactos e resultados da recessão

econômica brasileira sobre crédito destinado ao setor de construção e incorporação brasileiro

nas 5 regiões do país, abrangendo um período recente e variáveis diretamente relacionadas à

modalidade de crédito, como por exemplo: SELIC. Como limitações da pesquisa, é possível

citar o poder explicativo do modelo referente ao volume de crédito imobiliário, já que seu

poder explicativo é menor que 50%, e a falta de dados referentes ao programa do Governo

Federal Minha Casa Minha Vida que podem explicar parte dos resultados encontrados.

Portanto, para próximos estudos recomenda-se a utilização de outras variáveis relacionadas ao

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mercado imobiliário, com intuito de aumentar o poder explicativo do modelo, são elas: índice

de confiança do consumidor e taxa de desemprego.

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