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ANAIS XIII COLÓQUIO QUAPÁ-SEL os sistemas de espaços livres e as transformações na paisagem: políticas e projetos FAUUSP Eugenio Fernandes Queiroga, Ana Cecília de Arruda Campos, Fábio Mariz, Helena Degreas, João Meyer São Paulo, 2018

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ANAIS

XIIICOLÓQUIOQUAPÁ-SEL

ossistemasdeespaçoslivreseastransformaçõesnapaisagem:políticaseprojetos

FAUUSP

Eugenio Fernandes Queiroga, Ana Cecília de Arruda Campos,

Fábio Mariz, Helena Degreas, João Meyer

São Paulo, 2018

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1

Organizadores: Eugenio Fernandes Queiroga, Ana Cecília de

Arruda Campos, Fábio Mariz, Helena Degreas, João Meyer

Comissão Científica:

Verônica Lima (UFRN), Leonardo Loyolla (FAUUSP/Escola da

Cidade), João Meyer (FAUUSP), Jonathas Magalhães

(PUCCAMP), Maurício Pamplona, Fábio Mariz Gonçalves

(FAUUSP), José Roberto Merlin (PUCAMP), William Mog

(UFRGS), Francine Sakata (FAUUSP),

Glauco Cocozza, Roberto Sakamoto (FIAM-FAMM), Isabela

Sollero (FAUUSP), Vera Tângari

(UFRJ), Thaís Furtado, Dênio Benfatti (PUCCAMP), Sidney

Carvalho (Quapá), Eneida (UFES), Ana Cecília Arruda Campos

(PUCCAMP), Wilton Medeiros (UEGO), Bárbara Prado (UEMA),

Geraldo Majela, Helena Degreas (QUAPÁ), Alina Santiago

(UFSC), Alessandro Filla Rosanelli (UFPR), Eugenio Queiroga

(FAUUSP), Karin Menegheti (Maringá), Isabela Sollero (FAUUSP),

Ruth Maria da Costa Ataide (UFRN), Elisangela Sena, Nayara

Amorim (UFBA), Daniely Aliprandi, Wilson dos Santos jr. (Caracol),

Ana Rita Sá Carneiro, Carlos Verzola Vaz (UFSC).

Apoio Técnico: Isabela Ferreira Billi

ISBN: 978-85-8089-156-0

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Estes anais reúnem os trabalhos apresentados no "XIII Colóquio

Quapá-SEL – ossistemasdeespaçoslivreseastransformaçõesna

paisagem:políticaseprojetos", realizado na Universidade Federal

de Santa Maria nos dias 01 e 02 de outubro de 2018. Os trabalhos

apresentados trataram dos resultados dos trabalhos obtidos pelos

pesquisadores da Rede Nacional em diferentes cidades brasileiras

nos últimos anos.

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Sumário

METODOLOGIADEANÁLISEURBANATIPO-MORFOLÓGICA:TRANSFORMAÇÕESURBANASNOBAIRROAPARECIDAEMUBERLÂNDIA-MG.................................................................................6GLAUCO,Cocozza(1);GABRIELA,Bertuluci(2);SCHIRLEY,Brandão(3);BÁRBARA,Silva(4)

REQUALIFICAÇÃODEORLASFLUVIAISNOMEIOURBANOESEUSENTRAVES:OCASODOPROJETOBEIRA-RIONACIDADEDEPIRACICABA/SP.................................................................26SALVADOR,LaísMargiota(1);MERLIN,JoséRoberto(2)

INFLUÊNCIADAMORFOLOGIAURBANAAOACESSOSOLAREMESPAÇOSLIVRESUMESTUDOPARAASPRAÇASDEPELOTAS,RS............................................................................................41BRENDA,AlmeidaTejada(1);CELINAMARIA,BrittoCorrea(2)

CONDOMÍNIOSDELOTESELOTEAMENTOSDEACESSOCONTROLADO:REFLEXÕESSOBREOSPOSSÍVEISIMPACTOSDALEIFEDERAL13.465/2017NOSSISTEMASDEESPAÇOSLIVRESDASCIDADESBRASILEIRAS..............................................................................................................56COELHO,LeonardoLoyolla

A(DES)CARACTERIZAÇÃODOSESPAÇOSLIVRESESUASTEMPORALIDADESNAPOLÍTICAMUNICIPAL:ASPRAÇASDOCENTROANTIGODECUIABÁ/MT..................................................67DORIANE,Azevedo(1);CLAUDIO,SantosdeMiranda(2);LUCAS,LuandosSantos(3)

TRANSFORMAÇÕESDAFORMAURBANAOCORRIDASENTRE2005E2016NOSMUNÍCIOSDEFLORIANÓPOLIS-SCEFORTALEZA-CE.....................................................................................94RIBEIRO,AnaJ.S.(1);SEADE,Juliana(2);SILVA,JonathasM.P.da(3)

OPROJETODESISTEMADEESPAÇOSLIVRESPÚBLICOSCOMOESTRUTURADORDAPAISAGEMDORECIFEPARQUECAPIBARIBEEJARDIMDOBAOBÁ...........................................................119SANTOS,LuisaAciolidos(1);SÁCARNEIRO,AnaRita(2)

APRAÇACLEMENTINOPROCÓPIOEASSUASTRANSFORMAÇÕESMORFOLÓGICAS...............133ANACARLA,deSousaLima(1);MAURO,NormandoMacêdoBarrosFilho(2)

MORFOLOGIAURBANANAAMAZÔNIA:CONFIGURAÇÃOESPACIALEACESSIBILIDADENO

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BAIRRODOELESBÃO,SANTANA–AP.....................................................................................159ADRIANNE,Vieira(1);KEVIN,Cordeiro(2);LETICIA,Kuwahara(3);LUCAS,Bitencourt(4);VICTORIA,Carvalho(5)

TRANSFORMAÇÕESDAFORMAURBANA:DIFERENCIAÇÕESENTREACIDADETRADICIONALEOURBANOALARGADO.ESTUDODECASO:SALVADOR–BA........................................................176MAYER,IsabelaSampaio(1);FURLAN,VictoriaOliveira(2);BENFATTI,DenioMunia(3)

PRAÇASPÚBLICASEFORMAURBANA:OCENTRODEVITÓRIA–ES........................................203VALFRÉ,LorenzoGonçalves(1);PEGORETTI,MichelaSagrillo(2);MENDONÇA,EneidaMariaSouza(3)

PRODUÇÃOECONFIGURAÇÃODEBORDASURBANAS:TIPOLOGIASCONTEMPORÂNEASDOSESPAÇOSLIVRESNACIDADEDEUBERLÂNDIA-MG..................................................................221GLAUCO,dePaulaCocozza(1);MARIAELIZA,AlvesGuerra(2);PATRÍCIA,PimentaAzevedoRibeiro(3)

PARQUESURBANOSNASPERIFERIASEBORDAS:NOVASDEMANDASDEGESTÃO.................240SAKATA,Francine(1);GONÇALVES,FabioMariz(2)

ESPAÇOSLIVRESPÚBLICOSEMPARCELAMENTOSDAREGIÃOSULDECUIABÁ/MT:DOPROJETOAAPROPRIAÇÃO....................................................................................................................262SAMPAIO,PriscilaWolff(1);AZEVEDO,Doriane(2)

ASTRANSFORMAÇÕESEASNOVASAPROPRIAÇÕESDOSESPAÇOSLIVRESPÚBLICOSDOBAIRROCAMOBI.................................................................................................................................288PAULA,GabbiPolli(1);VANESSA,Casarin(2)

OSSISTEMASDEESPAÇOSLIVRESEASINTERVENÇÕESTEMPORÁRIASNACIDADEDENATAL:RESISTÊNCIASEMBUSCADEUMACIDADECOMMAISURBANIDADE.....................................303LIMA,VerônicaMariaFernandesde(1);MEDEIROS,VivianeGomes(2);OLIVEIRA,FernandaLorenaRabelode(3)

PAISAGEMSOCIAL:AIMPORTÂNCIADOSESPAÇOSLIVRESPARAOCOTIDIANOEMCONJUNTOSDEHABITAÇÃOSOCIAL...........................................................................................................318DONOSO,VerônicaGarcia

AVALIAÇÃODOSESPAÇOSLIVRESINTRAURBANOSDELAZERERECREAÇÃOPÚBLICOSDA

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CIDADEDESANTAMARIA,RS:UMOLHARDACOMUNIDADESANTA-MARIENSE...................331PIPPI,LuisGuilhermeAitaPippi(1);GABRIEL,LetíciadeCastro(2)COCCO,RenataMichelon(3);GABRIEL,HelenaReginato(4);BALESTRIN,ZamaraRitter(5);LAUTERT,AliceRodrigues(6)

APROPRIAÇÕESNOESPAÇOPÚBLICO,INTERVENÇÕESTEMPORÁRIASERESISTÊNCIAS:OMOVIMENTOECOPRAÇAEMNATAL-RN................................................................................351MANUELA,Carvalho(1);RUTH,Ataíde(2)

ACIDADEEMEMÓRIASOESPAÇOLIVREPÚBLICODOCOMPLEXOFERROVIÁRIODECAMPINAS...............................................................................................................................................365FARAH,AnaPaula(1);MERLIN,JoséRoberto(2)

ARUADOCANALEMSALVADOR:CONTEXTOS,PROBLEMASEALTERNATIVAS......................378ARAÚJO,IaraSacramentode(1),AMORIM,NayaraCristinaRosa(2)

CICLOMOBILIDADECOMOINTEGRAÇÃOURBANA:POSSIBILIDADESPARASÃOJOSÉDOSPINHAIS-PR...........................................................................................................................396RENATA,deOliveiraKuzma(1);ALESSANDRO,FillaRosaneli(2)

OSISTEMADEESPAÇOSLIVRESEAMOBILIDADEURBANAEMNATAL:ASVOZESDACIDADEEMBUSCADODIREITODEIREVIR...............................................................................................417LIMA,VerônicaMariaFernandesde(1);FURUKAVA,Camila(2);XAVIER,BárbaraDantasCoelho(3);SILVA,LetíciadeLimaLeite(4);FONSECA,CláudiaSalvianoda(5)

PARQUESLINEARESCOMOELEMENTOSDECONEXÃO:UMAANÁLISEDAEVOLUÇÃODACOBERTURAVEGETAL............................................................................................................429YALLOUZ,G.A.N.(1);FERREIRA,B.S.(2);TAVARES,F.S.B.(3);BASSO,J.(4)

INTENÇÕESEREFLEXÕESTEÓRICASPARAPROPOSTADECONEXÕESNAPAISAGEMDOCOTIDIANODOJARAGUÁ.......................................................................................................445LEMOS,IsabelaSollero

ARUAEMLIMEIRA–UMESTUDODECASOSOBREAREESTRUTURAÇÃODOESPAÇOLIVREPÚBLICOBASEADANACAMINHABILIDADE.............................................................................462CHAVES,RafaelaPavanelli

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METODOLOGIADEANÁLISEURBANATIPO-MORFOLÓGICA:

TransformaçõesurbanasnoBairroAparecidaemUberlândia-MG

GLAUCO,Cocozza(1);GABRIELA,Bertuluci(2);SCHIRLEY,Brandão(3);BÁRBARA,Silva

(4)

(1) PPGAU-FAUeD-UFU;ProfessorAssociado;Uberlândia,MinasGerais;

[email protected]

(2) PPGAU-FAUeD-UFU;mestranda;Uberlândia,MinasGerais;[email protected]

(3) PPGAU-FAUeD-UFU;mestranda;Uberlândia,MinasGerais;[email protected]

(4) PPGAU-FAUeD-UFU;mestranda;Uberlândia,MinasGerais;[email protected]

RESUMO

O presente artigo consiste em uma análise de uma região do bairro Aparecida em

Uberlândia-MGcomoobjetivodeidentificarasimplicaçõessociaisemateriaisdaforma

urbana,oquedemandouuma“arqueologia”dotecidourbanoparacompreenderquais

aspectos podem ser responsáveis por seus efeitos. A análise foi feita a partir de duas

abordagens distintas, mas, complementares: histórico-geográfica de M. R. G. Conzen

(1960);etipológico-processualdeSaverioMuratori(1959,1963).Paratanto,foifeitauma

brevecontextualizaçãodosmétodoseprocedimentosanalíticosutilizadosporConzene

Muratori e dos procedimentos que foram empregados de fato na análise do bairro.

Assim, seguindo os métodos e procedimentos analíticos de Conzen, para identificar e

definir os períodos e regiões morfológicas do tecido urbano, foi realizada a divisão

tripartite de análise da paisagem: planta, volume edificado e uso do solo. Quanto ao

procedimento analítico desenvolvido por Muratori, foi feita a análise de dados

qualitativoscomaidentificaçãodasconstantestipológicasnotecidourbano.Porfim,os

resultadosalcançadoslevamaumadefiniçãomaisclaradobairrocomopartedotecido

urbano em que se insere e da lógica espacial existente. Este artigo é resultado da

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disciplina Morfologia e Desenho da Cidade, desenvolvida na pós-graduação em

ArquiteturaeUrbanismo(PPGAU)daUniversidadeFederaldeUberlândia.

Palavras-chave:FormaUrbana;transformaçõesurbanas;tipo-morfologia;Uberlândia.

METHODOLOGYOFURBANTYPE-MORPHOLOGICALANALYSIS

UrbantransformationsintheneighborhoodAparecidainUberlândia-MG

ABSTRACT

The present article consists of an analysis of a region of Aparecida neighborhood in

Uberlândia-MGwiththeobjectiveofidentifyingthesocialandmaterialimplicationsofthe

urban form,which demandedan "archeology" of the urban fabric to understandwhich

aspectsmayberesponsibleforitseffects.Theanalysiswasmadefromtwodifferentbut

complementary approaches: historical-geographical of M. R. G. Conzen (1960); and

typological-processualofSaverioMuratori(1959,1963).Forthat,abriefcontextualization

of the analytical methods and procedures used by Conzen and Muratori and the

proceduresthatwereactuallyemployed intheneighborhoodanalysisweremade.Thus,

following themethods and analytical procedures of Conzen, to identify and define the

periodsandmorphologicalregionsoftheurbanfabric,thetripartitedivisionoflandscape

analysis was carried out: plant, volume and land use. As for the analytical procedure

developedbyMuratori,theanalysisofqualitativedatawasdonewiththeidentificationof

thetypologicalconstantsintheurbanfabric.Finally,theresultsachievedleadtoaclearer

definitionoftheneighborhoodaspartoftheurbanfabricinwhichitisinsertedandofthe

existingspatiallogic.ThisarticleisaresultofthedisciplineMorphologyandDesignofthe

City,developedinthepostgraduateinArchitectureandUrbanism(PPGAU)oftheFederal

UniversityofUberlândia.

Key-words:Urbanform;Urbantransformations;Type-morphological;Uberlândia.

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1.Introdução

O bairro Nª. Srª. Aparecida (ou Aparecida como é conhecido), objeto de estudo deste

artigo, encontra-se no setor Central de Uberlândia –MG, com localização privilegiada,

considerável concentração de comércio e serviços e duas importantes avenidas (Av.

AfonsoPenaeAv.FlorianoPeixoto)queconectamotecidourbanodaregiãocentralatéa

regiãoperiféricanorte.

Seanalisadonaescaladacidade,pode-sedizerqueessebairroformaumaunidadecom

outrasregiõesdacidadequetambémpossuemtraçadoregular,usomistoevariedadede

gabaritos1.Porém,seobservadaatravésdeumolharmaisrefinado,oumesmoatravésde

umacaminhadaemderivapor suas ruas,emcontraposiçãoaestaunidade,percebe-se

umagrandevariedadetipológica.

Avariedadetipológicapresentenobairroestárelacionadacomohistóricodeocupação

daregião.Aparecida,umdosbairrosmaisantigosdacidade,jáfoipartedesuaperiferia

urbana, localizado para além da Estação Ferroviária Mogiana. Devido a intervenções

estruturais de grande porte, com a retirada da estação para dar lugar à Praça Sérgio

Pacheco e à Estação de Ônibus Central, além da construção de uma das avenidas

estruturais da cidade no local dos antigos trilhos; a área sofreu um processo de

transformação intenso.Alémdisso, coma crescenteexpansãourbanado setornortee

suaforteconexãocomessesbairrosperiféricos,aáreaassumeumaposiçãoestratégica

fazendo com que haja uma pressão constante por transformações. Por isso, convivem

nessaregiãodiferentesperíodosmorfológicos.

Essas características despertaram o interesse dos alunos da disciplina Morfologia e

Desenho da Cidade, desenvolvida na pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo

(PPGAU) daUniversidade Federal deUberlândia, pelos processos e condicionantes que

determinaramaformaurbanaatualdessalocalidade.Osalunosrealizaramumasériede

1EssaanálisejáfoirealizadapelogrupodeestudosNEURB–UFU,coordenadoporCocozza(2013),quedesenvolveupesquisautilizandoametodologiadeidentificarospadrõesmorfológicosdacidade,categorizando-osemUnidadesdePaisagem.

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análisesemumaáreaqueabrangepartedoBairroAparecidaepartedoBairroCentro.

Algumasdestasanálisesserãoapresentadasnesteartigo.

Figura01:Áreadeanálise.Fonte:Elaboradopelosautores,2018

O estudodamorfologia urbana contribui parao entendimentoda estruturada cidade,

suaformaçãoetransformaçãopormeiodeseuselementosconstituintes.SegundoLamas

(2004),oselementosmorfológicossão:osolo,osedifícios,olote,oquarteirão,afachada,

ologradouro,otraçado/rua,apraça,omonumento,avegetaçãoeomobiliáriourbano.O

autorchamadeelementosmorfológicosaspartesfísicasqueassociadasouestruturadas

constituemaformaurbana.

SegundoMoudan(1997)amorfologiaurbanaconsistenoestudodacidadecomohabitat

humano,possibilitandooacompanhamentodaevoluçãodasformasurbanas,assimcomo

suas transformações, através da identificação e do detalhamento de seus vários

componentes. Estes estudos focaram em resultados visíveis das forças sociais e

econômicas, revelando a expressão materializada das ideias e das intenções que se

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estabeleceunascidades.

DeacordocomDelRio(1990),aanálisedamorfologiaurbanavisacompreenderalógica

de formação, evolução e transformação da cidade e de suas inter-relações, a fim de

possibilitar a identificação de formas mais apropriadas, cultural e socialmente, para a

intervençãourbanaeodesenhodenovosespaços.

AsbasesconceituaisdaMorfologiaUrbanatêmsidoabordadasdediversasformaspelos

estudiosos. Além da ênfase dada, que pode ser feita ser maior ou menor em alguns

elementosurbanos;oestudodistingue-se também,pelascorrentesanalíticasadotadas.

Asprincipais linhasdaEscoladeMorfologiaUrbanasão:aescola inglesa,seguidorados

preceitos de Conzen; a italiana seguidora dos preceitos deMuratori; e a francesa que

tambémutilizaosconceitositalianos.

Para realizar a análise do bairroAparecida foram realizadas duas abordagens distintas,

mas, complementares: histórico-geográfica de M. R. G. Conzen (1960); e tipológico-

processualdeSaverioMuratori(1959,1963).Aanálisecentrou-senasuapartesulemais

antiga, composta por 17 quarteirões; e a escolha levou em consideração o espaço de

transiçãodoBairroCentroparaoBairroAparecida.Nodesenvolvidodesseartigo,éfeita

uma breve contextualização dos métodos e procedimentos analíticos utilizados por

Conzen eMuratori e dos procedimentos que foram empregados de fato na análise do

bairro, para depois, definirmais claramente o bairro comoparte do tecido urbano em

queseinsereedalógicaespacialexistente.

2.AEscolaInglesadeMorfologiaUrbana–Conzen

Conzen, precursor da Escola Inglesa deMorfologiaUrbana, buscou explicar a estrutura

atual do plano da cidade a partir da análise do seu desenvolvimento. O autor é

responsávelpeloaperfeiçoamentodoconceitodecinturaperiférica (fringe-belt),epela

formação dos conceitos de ciclo de parcela burguesa (burgage cycle) e região

morfológica2 (Oliveira, 2018). Como metodologia, descrita no livro “Alnwick

Northumberland:astudyintown-plananalysis”(Conzen,1960),utilizaadivisãotripartida 2Regiãomorfológicaéumaáreaquetemumaunidadeemrelaçãoàsuaformaqueadistinguedasáreasenvolventes.(OLIVEIRA,2018)

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dapaisagemurbanatendocomoenfoqueoplanodecidade,quecontémtrêselementos:

asruasesuaorganizaçãonumsistema;asparcelasesuaagregaçãoemquarteirões;eas

plantas de implantação dos edifícios. Com isso, identifica as principais unidades de

paisagemeseussubtipos,oquepermitiuumaanálisedosplanosemquatroordens3em

Alnwick. Em trabalho posterior, realizado em Ludlow, o geógrafo complementa sua

metodologiadeanálisedoplanodecidadecomaidentificaçãodotecidoedificadoedos

usosdosoloexistentes(Conzen,1975,1988).

ApotencialidadedametodologiadesenvolvidaporConzenestáemreduziras inúmeras

características morfológicas, considerando escalas diversas, em um sistema lógico de

explicação,quereflitaarelaçãoentreascomunidadesurbanaseotecidofísicocriado(e

transformado) por elas de acordo com suas necessidades sociais ao longo do tempo

(Conzen,2009aapudOliveira,2018).

2.1.AplicaçãodoconceitoderegiãomorfológicanoBairroAparecida

Na análise do Bairro Aparecida foi realizada a aplicação do conceito de regiões

morfológicas, tendo comoenfoqueoplanode cidade, emsua visão tripartite,o tecido

edificadoeosusosdosolo.Otrabalhonãoconsiderouníveishierárquicos,vistoquefeza

análise de apenas uma ordem. Além dos estudos realizados por Conzen, foram

importantes referências os estudos realizados pela rede QUAPA-SEL, especialmente as

pesquisasrealizadasdentrodosprojetosQUAPA-SELIeIIqueresultaramemmétodode

análisedoespaçourbano.

O método desenvolvido pelos projetos QUAPA-SEL I e II consiste em um processo de

leituraurbana a partir da classificaçãoe caracterizaçãodedistintos tiposmorfológicos.

Sãoproduzidosdiversosmapas temáticosparaexprimirdados tridimensionaisemduas

dimensões.(PERGORARO,2016;MACEDOetal.,2018)

3Asordensconsideramahierarquiadasregiões,quedependenãosódavariedadedeformasexistentes,mas,dodetalhecomqueapaisageméexaminada.Quandoaanáliseérealizadaemmaisdeumaordem,épossíveldescreverostecidosurbanosemdiferentesníveisderesolução.

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Pergoraro (2016) apresenta método de análise da transformação urbana através da

divisão das modificações em três categorias: transformações por processos de adição,

transformações por processos de consolidação e transformações por processos de

substituição. Este método influenciou de forma significativa as análises realizadas no

BairroAparecida.

O entendimento do caráter da transformação consiste no entendimento da

relação estabelecida entre a área transformada e a área anteriormente

urbanizada.Estarelaçãopodeocorrerdetrêsmaneiras.

1-Áreasdetransformaçãoporadição:consistememáreasdetransformaçãode

umaporçãodeespaçonãourbanodomunicípioemespaçourbano.

2 - Áreas de transformação por consolidação: consistem em áreas de

transformaçãoquesecaracterizampelaocupaçãodeáreasvaziasincorporadasao

espaço urbano, ou no sentido de estabelecer a continuidade do espaço urbano

entredoisnúcleosurbanizadosdispersos.

3-Áreasdetransformaçãoporsobreposição:consistememáreascomalteração

da volumetria construída e da ocupação de uma área previamente urbana já

ocupadaporoutravolumetriaconstruída(PERGORARO,2015)

Opontodepartidapara identificaçãodasregiõesmorfológicasfoiaestruturahistórica-

geográficadapaisagemurbana.Comonãoforamencontradasplantasantigasdacidade

que incluíssem a área de estudo, o processo de trabalho baseou-se em imagens de

satélite(1965,1979,2004,2007,2018)evisitasemcampo.Essaetapadotrabalho,teve

comoobjetivocompreenderoprocessodedesenvolvimentodasruas,parcelaseedifícios

atravésdaidentificaçãodeelementosincorporados,remanescentesedemolidos(Figura

01).

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Figura02:Processodetransformaçãodaáreadeanálise.Fonte:Elaboradopelosautores,

2018

A partir dessa análise, foi possível compreender que o principal processo de

transformaçãoda região,no recortede tempoanalisado, foi a substituiçãoda Ferrovia

MogianapelaPraçaSérgioPachecoe,posterior implantaçãodo terminal centralnessa.

Essa mudança fez com que as ruas da região analisada (que estão lindeiras à praça),

apesardepermaneceremcomamesmaformativessemalteraçãodefluxo,passandode

acessorestritoàsresidênciasparaumasdasavenidasdemaiorconexãodacidade,oque

alteroucompletamenteasuadinâmicaurbana.

Depois da análise das transformações morfológicas, foi desenvolvida uma série

cartográficacompostadeseisbases–Edificações,Lotes,Implantação,VolumeEdificado,

UsodoSoloeRegiõesMorfológicas,quesintetizamatipologiasencontradas(Figura3e

Figura4). Importantesalientarqueaanáliseseconcentrounaáreadelimitada,mas,as

regiões morfológicas

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identificadaspodemseestenderparaalémdaáreadeestudo.

Figura 03: Análise tripartite da área: forma e tamanho dos lotes, edifícios, tecido

edificado,usodosolo.Fonte:Elaboradospelosautores,2018.

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Figura04:Regiõesmorfológicas.Fonte:Elaboradopelosautores,2018.

Nasduasprimeirasbases,paraanalisaros lotes foiconsideradosuaforma- retangular,

quadrangular, triangular, irregular, formato em “L”; e tamanho - pequenino (PP) -

<125m²;pequeno(P)–125<área<250,médio(M)–250<área<450,grande(G)–450

<área<1200m²,muitogrande(GG)->1200m².Paraanalisarosedifíciosfoiconsiderada

suaimplantaçãonolote-atravésdaplantadecheiosevazios;eseugabarito.Nocasoda

basedovolumeedificadofoiconsideradaarelaçãodaocupaçãodosolocomuso,sendo

identificadas as categorias: edificação térrea sem afastamento, edificação térrea com

afastamento, sobrado com afastamento, sobrado sem afastamento, galpão, edifício,

estacionamento, especial. Por fim, a base de Uso do Solo considerou as categorias:

residencial;comercial;serviço;usomisto;institucional;estacionamento.

A partir desse levantamento, foi possível identificar a lógica espacial da região,

caracterizada, principalmente, por três fenômenos: área de influência da Praça Sérgio

Pacheco, com concentração de galpões, serviços e comércio, caracterizada pela

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incorporaçãodeelementos sob influênciadaantigaEstaçãoFerroviária;apermanência

dacaracterísticadeviladosmiolosdequadra,compredomínioderesidênciastérrease

residenciais, porém com tendência a substituição do uso do solo, devido a posição de

centralidadeadquiridapelobairro;eporfim,asavenidasAfonsoPenaeFlorianoPeixoto

com concentração comercial e de serviços, fluxo intenso de veículos e adensamento

construtivo.

3.AEscolaItalianadeMorfologiaUrbana-SaverioMuratori

Aescolaitaliana,deacordocomMondon(1997),temseuinícionosestudosdoarquiteto

SaverioMuratori (1910 – 1973) e deGianfranco Caniggia (1933 – 1987), na década de

1940. Segundo Rosaneli (2011), essa escola de pensamento possui como principal

característica a preocupação com o destino das cidades históricas italianas, sobretudo

devidoaosefeitosdasintervençõesmodernistas.Apresentaumamaiorpreocupaçãocom

oestudotipológicodasedificações(fachadas,estilosarquitetônicos,gabarito)edesuas

transformações ao longo do tempo. Segundo Costa e Netto (2015), os conceitos e

métodos deMuratori constituem a base dométodo tipo-morfológico desenvolvido no

contexto italiano, porém,muitos deles são conceitos universais e podem ser tomados

comoreferênciaparaestudosmorfológicosemqualquerlugardomundo.Acontribuição

da Escola italiana de Morfologia Urbana para os estudos morfológicos é de grande

importância e constitui um dos pilares estruturantes da formação e desenvolvimentos

futuros.

DeacordocomCostaeNetto(2015),OmétododaEscolaItalianadeMorfologiaUrbana

se desenvolveu a partir de um elemento isolado, ampliando a escala, até chegar à

concepção geral. O desenvolvimento do elemento urbano acontece através de quatro

etapas sucessivas: Etapa 01: Investigação do tipo edilício e estruturação das possíveis

diversificaçõestipológicas;Etapa02:Identificaçãodesériesedosgrausdesuaderivação

(combinações orgânicas ou seriais); Etapa 03: Observação de séries que estão

implantadas ao longo de rotas que unem polos opostos e formam conjuntos com

característicassemelhantes;Etapa04: Identificaçãodos tecidosurbanosquesurgemda

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estruturaçãodasrotasvão,progressivamente,sendoimplantadosnosentidodotopoaté

osfundosdevale,ocupandooterritório.

Ométodo de análise italiano é chamado de análise tipo-morfológica e se estrutura na

definição do tipo. Os tipos edilícios básicos são representados, basicamente, pelos

edifícios residenciais, já os tipos edilícios especializados são aqueles que têm funções

específicas e se diferenciam na malha urbana, apresentando características mais

complexas e maiores proporções. Para realização da análise tipo-morfológica é

necessário,primeiramente,identificarosedifíciosespecializadoseseusrespectivosusos,

emseguidasãoselecionadoseclassificadosostiposbásicos.(COSTA;NETTO,2015)

3.1.Aplicaçãodométodotipo-morfológicodeSaverioMuratorinoBairroAparecida

Aanálise tipo-morfológicade regiãodoBairroAparecidapartiudeuma caminhadaem

deriva por suas ruas, onde foi feito o registro fotográfico dos principais tipos edílicos

existentes ao longo do caminho e posterior análise e definição das variações do tipo.

Através da análise foi possível perceber que a região possui uma grande variedade de

tipologias arquitetônicas, porém o tipo básico presente na área é a casa térrea sem

afastamento.Issoporqueapesardeatualmenteexistiremdiversastipologiasresidenciais

e comerciais, estas foramadaptações sofridasdessa tipologiabásica.NaRuaGardênia,

umadasmaistranquilasdobairroCentro,épossívelobservardiversosexemplaresdesse

tipodeedificação(Figura5).

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Figura05:Tipobásicoda regiãoanalisada,presentenaRuaGardênia.Fonte:Elaborada

pelosautores,2018.

NaFigura06estão representadasasedificaçõesquehojeabrigampequenoscomércios

ou serviços. São modificações do tipo básico, onde uma residência térrea foi

transformada em edifício comercial. Muitos destes estabelecimentos ocupam uma

edificaçãoquefoidividida,comoporexemploumaúnicacasaquedeulugaraduaslojas.

É possível observar na imagem o telhado das antigas casas, escondido pelas fachadas

ocupadaspelasplacasdoscomércios.

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Figura06:Transformaçõesdotipobásico.Fonte:Elaboradapelosautores,2018.

Na Figura 07 observa-se que na região analisada existem alguns exemplares de uma

tipologia residencial que se difere um pouco do tipo original. Esses edifícios são mais

recenteseconsistememcasasquepossuemumgrandeafastamentofrontalseparadoda

calçadaporumgradil. Essa tipologiaéencontrada somentenosmiolosdequadra,que

possuem uma atmosfera completamente diferente da presente nas Av. Afonso Pena e

FlorianoPeixoto.

Naáreaestudadatambémexistemoutrostiposdecasastérreas,quesãogeradosquando

uma edificação mais antiga é completamente demolida e dá lugar à um edifício

residencialdearquiteturacontemporâneaouquandoumaedificaçãoqueanteseraum

tipo básico foi tão modificada que perdeu a maioria de suas características originais.

Ambos os casos podem ser observados na Figura 08. Novamente, esse tipo tipológico

aparecesomentenosmiolosdequadra.

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Figura07:TipologiasnaRuaMartinésia.Fonte:Elaboradapelosautores,2018.

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Figura08:TipologiasnaRuadosPereiras.Fonte:Elaboradapelosautores,2018.

Uma tipologia bastante comum na região consiste em edifícios de dois a quatro

pavimentos que possuem um uso comercial no térreo, como uma loja por exemplo, e

apartamentosquesãoutilizadosparamoradiaouserviços.Essetipoestámaispresente

nas grandes avenidas, como a Avenida Afonso Pena (Figura 09). Nas esquinas émuito

comumapresençadeedifíciosdedoisaquatropavimentosquepossuemfachadascom

aberturasparaasduasruasqueseencontram.Essesprédiossemprepossuemcomércios

no pavimento térreo que se beneficiam desta particularidade. Essa tipologia pode ser

vistanaFigura10.

Figura09:TipologiasnaAvenidaAfonsoPena.Fonte:Elaboradapelosautores,2018.

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Figura10:Tipologiasencontradasnasesquinas.Fonte:Elaboradapelosautores,2018.

Outra tipologiacomumnaáreaestudadasãoosgalpões,quepodemdar lugaravárias

lojas sob omesmo telhado ou a uma única e grande loja, como é o caso dos galpões

mostrados na figura 11. Alguns desses galpões são reminiscentes das estruturas

existentesparadarsuporteàEstaçãoFerroviária.

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Figura11:TipologiadeesquinanaAvenidaAfonsoPena.Fonte:Elaboradapelosautores,

2018.

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Figura12:TipologiasnaAv.AfonsoPena.Fonte:Elaboradapelosautores,2018

Por fim,nafigura12,sãoapresentadosdois tiposedílicosespecializadosobservadosna

região analisada. Um deles é o edifício que até 2010 abrigava o Estádio Juca Ribeiro,

construídonadécadade1930,ondehojefuncionaumhipermercado(ondeeraocampo)

e pequenas lojas (abaixo da arquibancada que foi preservada). Outro tipo edílico

especializado observado são os edifícios altos, com mais de cinco pavimentos, pouco

presentesnaáreaanalisada.

4.Consideraçõesfinais

EssetrabalhoconsistiuemumaanálisedobairroAparecidaondeforamrealizadasduas

abordagens distintas, mas, complementares: histórico-geográfica de M. R. G. Conzen

(1960); e tipológico-processual de Saverio Muratori (1959, 1963). O objetivo foi

compreender a lógica espacial existente na região. Através deste estudo foi possível

levantar diversos processos e condicionantes que podem ter determinado sua forma

urbanaatual,quepossuiumagrandevariedadetipológica.

Com a abordagem histórica-geográfica foram identificados três principais fenômenos:

área de influência da Praça Sérgio Pacheco, com concentração de galpões, serviços e

comércio,caracterizadapelaincorporaçãodeelementossobinfluênciadaantigaEstação

Ferroviária; a permanência da característica de vila dos miolos de quadra, com

predomínioderesidênciastérreaseresidenciais,porémcomtendênciaasubstituiçãodo

usodosolo,devidoaposiçãodecentralidadeadquiridapelobairro;eporfim,asavenidas

AfonsoPenaeFlorianoPeixotocomconcentraçãocomercialedeserviços,fluxointenso

de veículos e adensamento construtivo. Já, com a análise tipológico-processual foi

possívelperceberqueotipobásicopresentenaregiãoéacasatérreasemafastamento,

sendo que a grande variedade de tipologias arquitetônicas foram incorporações dessa

tipologiabásica.

Assim, esse estudo contribuiu para uma análise detalhada das transformações físicas

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ocorridas na região, sendo que foi importante não só para analisar as transformações,

mas,asmotivaçõesparaquetaistransformaçõestenhamocorrido.

5.Referências

DEL RIO, Vicente. Introdução ao desenho urbano no processo de planejamento. São

Paulo:EditoraPiniLtda.,1990.

LAMAS, José Manuel Ressano Garcia Morfologia urbana e desenho da cidade. 3ª ed.

Porto:FundaçãoColousteGulbenkian,2004.

MACEDO,S.S.(Org.);CUSTÓDIO,V.(Org.);DONOSO,V.G.(Org.)Reflexõessobreespaços

livresnaformaurbana.SãoPaulo:FAUUSP,2018

MOUDON,AnneVernez.UrbanmorphologyasanemerginginCadernosdeArquiteturae

Urbanismo,v.23,n.33,2ºsem.2016152terdisciplinaryfeld.UrbanMorphology,v.1,n.

1,p.3-10,1997.

MOUDON, Anne Vernez. Getting to Know the Built Landscape: Typomorphology. In:

FRANK, K. A.& SCHNEEKLOTH (ed.).Ordering Space: Types inArchitecture andDesign,

1994

OLIVEIRA, Vitor (ed.). Diferentes abordagens da forma urbana. Contribuições luso-

brasileira.UrbanForms,2018.

PEREIRACOSTA,StaëldeAlvarenga;GIMMLERNETTO,MariaManoela.Fundamentosde

morfologiaurbana.BeloHorizonte:C/Arte,2015.

PEGORARO, Rafael Lopez. Transformação Urbana no Brasil: Estudo de Cinco Centros

Urbanos. Relatório Ciêntífico. São Paulo, 2016

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REQUALIFICAÇÃODEORLASFLUVIAISNOMEIOURBANOESEUS

ENTRAVES:

ocasodoProjetoBeira-RionacidadedePiracicaba/SP

SALVADOR,LaísMargiota(1);MERLIN,JoséRoberto(2);

(1) PontifíciaUniversidadeCatólicadeCampinas;Mestranda;Campinas,SãoPaulo;

[email protected]

(2) PontifíciaUniversidadeCatólicadeCampinas;Mestranda;Campinas,SãoPaulo;

[email protected]

RESUMO

Ao formar vilas ou cidades, o ser humano sempre optou pela proximidade da água,

recursoprimordialparaodesenvolvimentodassociedades.Noentanto,comoadvento

dasociedadeindustrialapartirdoséculoXVIII,iniciou-seumaculturapredatóriarelegou

asvárzeaseriosurbanosaoabandonoeàdeterioraçãosoba justificativadoprogresso

através da expansão urbana. No final do século XX e início do XXI, acontece maior

conscientizaçãosobreafinitudedosrecursosnaturais,queresultaemumapreocupação

comos corposd’águanomeiourbano. Este artigoobjetiva abordar os espaçosdeuso

coletivo com ênfase nas mudanças introduzidas pelo Projeto Beira-Rio na cidade de

Piracicaba/SP,importanteintervençãoquevisoupromoverumamaiorvalorizaçãodaorla

do rio Piracicaba. Abordam-se as consequências positivas e negativas do projeto, bem

como os conflitos encontrados com a legislação ambiental. Para tal, se relacionou,

dialeticamente, a revisão bibliográfica com o levantamento de campo. Os resultados

possibilitaramidentificaredebaterosentravescontemporâneos,noquetangeàrelação

cidade-rioedesponta-senovoolharparaasorlas fluviaisurbanascomoespaço livrede

usopúblico.

Palavras-chave:orlafluvialurbana;requalificação;ProjetoBeira-Rio;Piracicaba.

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REQUALIFICATIONOFRIVERBANKSINTHEURBANENVIRONMENT

ABSTRACT

Whenconstructingtownsorcities,humanbeingshavealwaysoptedfortheproximityof

water, the primordial resource for the development of societies. However, with the

adventofindustrialsocietyinthenineteenthandtwentiethcenturies,apredatoryculture

relegated urban floodplains and rivers to abandonment and deterioration under a

justification of urban progress and expansion. At the end of the 20th century and

beginningof the21st century, a great awarenessof the finitenessof natural resources

arises, resulting in a problemwithwater bodies in the urban environment. This article

dealswiththepublicspacesemphasizingtheBeira-RioProjectinthePiracicabacityasan

importante intervationtopromoveagreatervalorizationofthePiracicabariverbank. It

adresses the positive and negative consequences of the project, aswell as the studies

found with environmental legislation. To do this, to correlate dialectically with a

bibliographicalreviewwiththefieldsurvey.Theresultsmade itpossibleto identifyand

understand the contemporary obstacles in the city-river relationship and the view of

urbanriverbanksasafreespaceforpublicuse.

Key-words:urbanriverbanks;requalification;Beira-RioProject;Piracicaba.

1.Introdução

Aolongodahistória,oscursosd’águaforamfundamentaisparaassentamentoshumanos,

como referência territorial e como possibilidade de navegação. Foram inúmeras as

civilizaçõesquenasceramàbeirad’água,dentreelasPiracicaba,aoladodoriodemesmo

nome,no interiordoestadodeSãoPaulo.A importânciadaáguacomoelementovital

paraossereshumanoseparaobiomaacentuaanecessidadedepreservarerecuperaros

corposhídricosesuasvárzeas.

Atemáticaabordadaincidesobreduasproblemáticas.Umarefere-seasintervençõesque

impactaram os corpos d’água durante o processo de urbanização, dentre eles o

desmatamento da mata ciliar e a impermeabilização do solo. Elas geraram impactos

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negativos sobre os cursos hídricos, comprometendo a quantidade e qualidade de suas

águas, além de afastar a população de suasmargens, especialmente nomeio urbano,

ondeadimensãosocialéacentuada,corroborandoparaadesvalorizaçãodosriosneste

meio.

Aoutraproblemáticaconsistenoafastamentodapopulaçãourbanadosespaçospúblicos

edacomunidade,vivendocadavezmenosacidade.Avalorizaçãodeespaçosprivadose

da individualização, o surgimento de enormes espaços públicos destinados ao sistema

viário,oaumentodadesigualdadesocialeodesejodesegurançaapartirdasegregação,

impactaramaconfiguraçãosocioespacialdosespaçospúblicos.

Asorlasfluviaisurbanassãopalcodessesconflitoseentraves,sendonecessárioumolhar

atento à legislação ambiental e às consequências de projetos de requalificação4 ao

intervir à beira-rio. Este artigo apresenta Piracicaba e seu rio, em especial através do

Projeto Beira-Rio, como estudo de caso para compreender como essas questões se

espacializaramnoterritóriourbano.

O projeto teve início em 2001 e se concretizou entre os anos de 2003 e 2012. A

coordenação geral do Plano de Ação foi realizado pela arquiteta e urbanista Renata

ToledoLeme.Oprojetoincorporou-seàsrotinasdopoderpúblicoefoidesenvolvidopelo

Departamento de Projetos Especiais do Instituto de Pesquisa e Planejamento de

Piracicaba(IPPLAP)apartirde2007(PMP,2003).

2.OrlasfluviaisurbanaseoconflitonormativodasAPPs.

É cada vezmaior o número de espaços urbanos fragmentados no território brasileiro,

situaçãoagravadapelaacentuadadesigualdadesocialecrescentes índicesdeviolência,

tornandoavidadoserhumanocadavezmaisindividualizada.SegundoQueiroga(2012),

aurbanizaçãoatualbrasileiraapresentapotencialparapropiciaraintegraçãodaesferade

vida pública com os espaços livres públicos da cidade, proposição que se relaciona

4Entende-seporrequalificaçãourbanaumaintervençãourbanísticaparamelhoraraqualidadedevidadapopulaçãoapartirdarecuperaçãoeconstruçãodeequipamentoseinfraestruturas;revalorizaçãodoespaçopúblico,considerandoadimensão socioeconômica; alémdepotencializaronível econômico, cultural, paisagísticoe social do local a sofrer aintervenção(MOURAETAL.,2006).Éumtermoquediferedereabilitação,revitalização,restauração,reconstruçãoouregeneraçãourbana.

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diretamente com o tratamento atual das orlas fluviais urbanas. É possível enxergá-las

comoambienteparaconvíviosocial,muitoalémdapreservaçãoambiental.

Oconflitoresidenapróprialegislação.Nocontextobrasileiro,ainfluênciadasdiscussões

voltadas para a sustentabilidade, resultou na criação do Código Florestal (Lei n.

4.771/1965) que, dentre outros tópicos, determinava florestas e demais formas de

vegetação localizadas em áreas sensíveis a água como de “preservação permanente”

(AZEVEDO; OLIVEIRA, 2014). AMedida Provisória (Lei n. 2.166-67/2001) estabeleceu a

definiçãodeÁreasdePreservaçãoPermanente(APPs)e,apenasapartirdela,essetermo

foi utilizado oficialmente. A definição foi mantida pelo novo Código Florestal (Lei n.

12.651/2012)como:

Áreaprotegida,cobertaounãoporvegetaçãonativa,comafunçãoambientalde

preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a

biodiversidade,facilitarofluxogênicodefaunaeflora,protegerosoloeassegurar

obem-estardaspopulaçõeshumanas.(Art.3º,inc.II,dalein.12.651/2012)

Oconceitode“preservaçãopermanente”,em1965,foiconcebidoporambientalistasque

tinham como objeto de estudo as áreas rurais, num contexto em que o Brasil era

predominantemente rural. Em 1989, foi incluído umúnico artigo (Lei n. 7.803/89) que

estende as APPs para as áreas urbanas, numa época em que o país já era

predominantementeurbano.A leinãoreconheceasdiferençasentreasáreasurbanae

rural,tambémnãotrataespecificamentedaquelasáreasurbanasàbeira-rioquejáestão

consolidadasouemviadeconsolidação.Estaimprecisãoocasionouconflitosadvindosdo

aparato legal, gerando um quadro de insegurança jurídica, ao não conciliar normas

ambientais com urbanísticas. O relatório desenvolvido pela Fundação Getúlio Vargas

discutiuasquestõeslegaisdasAPPsurbanasindicandoque:

As áreas de preservação permanente – APPs – são regulamentadas pela Lei

nº12.651/2012 (doravante referida como “atual Código Florestal” ou “CoF”),

instrumentovoltado,principalmente,paraocontroledousoeocupaçãodasáreas

rurais.Emáreasurbanas,aaplicaçãodasnormasdoCoFparaasAPPsébastante

limitada,principalmenteemáreasdeocupaçãoconsolidada,alémdeestarsujeita

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asobreposiçõescomleisenormasmunicipais.Dessequadroemergeminúmeros

conflitos legaisque resultamemumquadrode insegurança jurídica. (JUNIORet

al.,2015,p.4)

Asúnicaspossibilidadesdeusoeocupaçãodessasáreasestavamcontidasinicialmentena

Resolução n° 369, de 28 de março de 2006 (outorga CONAMA) e aparecem no novo

Código Florestal. São os casos de utilidade pública, interesse social e baixo impacto

ambiental,medidasqueatenuamainflexibilidadedalei.ALein.12.651/2012aumentou

onúmerodehipótesesdecasosexcepcionaisquecompõeessesdois casos.Azevedoe

Oliveira (2014)apontamalgunsdelescomoduvidosos, comooscasosde infraestrutura

pararealizaçãodeeventosesportivos,obrasrelacionadasaosistemaviário,regularização

fundiáriasustentávelemáreaurbanaeimplantaçãodeinfraestruturapúblicadestinadaa

esportes,lazereatividadeseducacionaiseculturaisaoarlivre.

De acordo com Boucinhas, Brito e Costa (2007 apud FRANCO, 2009), as áreas sob

proteção de legislação ambiental não têm se mostrado eficientes. Um dos problemas

consistenaproteçãoambientalsemprevisãodeusoouapropriaçãopúblicos.Preservar

apenas os valores ambientais dos corpos d’água não é o suficiente para garantir sua

proteção – os valores culturais das populações que usufruem de suas águas são

igualmente importantes para a valorização do curso hídrico. Além disso, a falta de

fiscalizaçãoeanãoaplicaçãodalegislaçãofederalnãocontribuiparaapreservaçãodos

riosnomeiourbano.

IstopodeevidenciarqueosprocedimentostécnicosadotadosparaadefiniçãodasAPPs

nãopoderiamseaterapenasacritériosmétricoseàstrêsexceçõesparausoeocupação

destasáreas.Elesdeveriamconsideraroutrasvariáveis,deigualimportância,taiscomo:

profundidade, inclinação, velocidade e capacidade do corpo d’água, além de

característicasfísicaseclimáticasespecíficasdecadamicrobacia,deacordocomcontexto

localeregional,jáqueháenormediversidadeentreosbiomasbrasileiros(MELLO,2008).

Requalificaçãoemorlas fluviaispodeserum importante instrumentopara incentivaras

orlasfluviaiscomoespaçoslivrespúblicos,estimulandooconvíviosocialdapopulaçãoe

promovendomaiorvalorizaçãodaáguanomeiourbano.OProjetoBeira-Rio,realizadona

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cidade de Piracicaba, na década 2000, é uma referência nacional quando se trata de

intervenções à beira-rio. Essa requalificação contribuiu positivamente nas relações da

cidade com o rio. Sua leitura atenta se faz importante para identificar quais foram os

acertos e consequências dessa intervenção, podendo direcionar futuros projetos em

ambientessensíveisàágua,sejaemPiracicaba,sejanasdemaiscidadesbrasileiras.

3.OProjetoBeira-Rio

AsgrandesáreaslivrescentraisencontradasatualmentenaorladorioPiracicabanãose

tratam de áreas residuais, mas do resultado de ações entre poder público local e

população,emespecialcomaconsolidaçãodoprojetoBeira-Rio.

Segundo o Relatório do Plano de Ação Estruturador, realizado pela Prefeitura do

MunicípiodePiracicaba(PMP,2003),oprojetofoidivididoemduasetapas:aprimeirafoi

umdiagnósticodenominado“AcaradePiracicaba”,decunhocultural,realizadonoano

de2001peloantropólogoArlindoStefani,queobteveajudadacomissãoBeira-Riopara

levantamentos,contatoscommoradores,associações,acessoaarquivosepasseiospelo

rio. A segunda etapa, iniciada em 2002, foi o Plano de Ação Estruturador (PAE), cuja

coordenação foi realizada pela professora e arquiteta e urbanista Maria de Assunção

RibeiroFranco(PMP,2003).

OprojetonãoserestringiuàruadoPorto,nemaoembelezamentodasmargensdorio,

mas foi interdisciplinar e envolveu diferentes escalas: regional, municipal, urbana

(totalizando oito trechos de intervenções, inseridos dentro do perímetro urbano de

Piracicaba),setorial(denominadoBeira-RioCentral)epontual(denominadoProjetoStart)

(PMP,2003).

Essas diferentes escalas e a compreensão da complexidade da área refletem-se nas

diretrizes e nas ações propostas amédio e longo prazos, enfatizando que as soluções

preconizadas pelo urbanismo do século XX deixaram, justamente pela rapidez e pela

eficiência dos fluxos sobre o território, um rastro de destruição que levará vários anos

parasermitigado.

Oprojetoabordaquestõescomofaltadeconexãoentreosdiferentesespaçospúblicosao

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longo da orla (todos são espaços públicos com exceção da Fábrica Boyes) e a falta de

integraçãoentremargensdireitaeesquerdadorio,priorizandopedestreseciclistas.As

únicas passarelas exclusivas para pedestres ao longo de toda a orla urbana do rio

Piracicaba são as da área central. O projeto também defende a não construção de

elementosverticaisquepossamcomprometerasvisuaisdacidadeparaorioesugerea

solução de questões ambientais, como saneamento básico para despoluição do rio e

demaiscorposd’águadacidade(PMP,2003).

Oprojetoteveinícionumaescalapontualealgumasdas intervençõespropostasforam:

novosdesenhoserevestimentodosmurosdearrimosecalçadasnaruadoPorto,assim

como iluminação, drenagem, comunicação visual para orientação urbana e turística;

apropriação damargem pelo pescador, caminhante e barqueiro com a criação de três

níveis a beira-rio (ver Figuras 01 e 02 para comparar trechos durante e após a

intervenção); integraçãoda ruadoPorto comdemais espaços àbeira-rio.Algumasdas

propostas foram alcançadas durante a intervenção, outras se concretizaram só após a

última etapa de inauguração do projeto (2012), indicando a forte influência que as

diretrizesdoProjetoBeira-Rioexerceramnacidade,impulsionandoporalgumtempoas

açõesnolocal(PMP,2003).

Figura01:RuadoPortoduranteintervenção/JornaldePiracicaba.2003.

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Figura 02: Decks da Rua do Porto inseridos durante o Projeto Start/Laís Margiota

Salvador.2018.

Já a escala setorial equivale aos trechos 01 e 02 da escala urbana do PAE: Beira-Rio

Central(entrepontedoMiranteeMorato)eLardosVelhinhos(entrepontesdoLardos

Velhinhos e do Mirante). A primeira fase de intervenção da escala setorial e a única

realizada nesta escala foi a Beira-Rio Central (Figura 03). Justifica-se a priorização de

intervenção nesse trecho por ser uma área com grande valor histórico-cultural para a

população piracicabana, sendo o berço da cidade. Ali localizam-se importantes

subespaçosquereforçamessaimportânciadaidentidadeparaacidade:EngenhoCentral,

Largo da rua do Porto, a própria rua do Porto, Parque da Rua do Porto, Parque do

Mirante,CasadoPovoador,CasadoArtesão,PontePênsileFábricaBoyes(PMP,2003).

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Figura 03: Trecho entre Ponte do Mirante e Ponte do Morato/IPPLAP (2011, p. 39);

editadopelaautora.

Aprincipal intervençãonestaescala foia transformaçãodaavenidaBeira-Rio–viaque

beiraorioPiracicabanotrechocentral,passandodeviaarterialparaviaparque–demão

única.Talmodificaçãopossibilitouoalargamentodacalçadaedamargemesquerdado

rio,oqueeliminouoaspectodebarrancoentreamargemeocorpod’água,identificado

naetapadediagnóstico.AFigura04mostracomoessaviaseapresentaatualmente.

Figura04:AvenidaBeira-Rio/LaísMargiotaSalvador.2018.

Tambémfoipropostaacriaçãodeligaçõestransversaisaorioparaunirotecidourbano.

Apesarderealizadaemperíodoposteriorà fasedeobrasdoProjetoBeira-Rio,pode-se

citarapassarelaDr.AninoelDiasPacheco,concluídaem2013(Figura05).

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Figura05:PassarelaDr.AninoelDiasPacheco.LaísMargiotaSalvador.2017.

Com a intervenção, houve a consolidação de alguns usos à beira-rio já tradicionais da

cidade,comoolazereagastronomia,comrestaurantesebareslocalizadosaolongoda

avenida Beira-Rio e da rua do Porto; assim como o passeio de barco, a realização de

festividades,apistadecaminhadaeaciclofaixa,propiciandoautilizaçãodessesespaços

paraoturismo,quefavoreceageraçãodeempregoearendalocal.Aúltimainauguração

oficial da etapa setorial se deu em2012 como Teatro deArena da Casa do Povoador

(Figura06).

Figura06:CasadoPovoadorcomacessoreformado.LaísMargiotaSalvador.2017.

Nestaescala,oprojetosugeriaquedoisterrenosparticularesdotrechoBeiraRio-Central

passassem a ser de domínio público, integrando-os com os demais espaços públicos

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existentes. Um deles é parte da antiga Fábrica Boyes, local em que a diretriz não foi

alcançada.

A fábrica, além de ser uma construção de valor histórico, está inserida num local

importanteporcontadasvisuaisparaamargemdireita–EngenhoCentraleParquedo

Mirante.Porém,nolocalfoiaprovadoem2015,umprojetodeshoppingcenter,contendo

usos,estéticaegabaritodealturatotalmentedesconformescomapaisagemexistentee

as diretrizes apresentadas pelo PAE (Figura 07). Para tal aprovação, houve pequenas

modificaçõespontuaisnalegislaçãourbanística.Asobrastiveraminício,masnomomento

encontram-separalisadas.

Figura 07: Comparação entre Fábrica Boyes existente (esquerda) e projeto doMirante

Shoppingaprovado(direita)/AcervoGMRGradualMalls&Realty,2015.

O Projeto Beira-Rio, apesar de paralisado nomomento, propôs que toda a orla do rio

Piracicabadeveria ser encarada comoespaçopúblico, ambicionando transformar a sua

extensãoemparquelinear,comoobjetivodevalorizarocorpohídrico,privilegiandoos

pedestrese,principalmente,preservandoorioesuasmargensnoambienteurbanocom

basenoconvíviosocial.

4.Consideraçõeseconsequênciasapósrequalificação

Após 2012, ano de inauguração da última etapa do Projeto Beira-Rio, aconteceram

algumas intercorrências na área. Além do já citado projeto da Fábrica Boyes, um dos

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barracões do Engenho Central, em 2012, foi revitalizado e transformado no Teatro

ErotídesdeCampos,numaparceriapúblico-privada;em2013,foiconstruídaapassarela

Dr.AninoelDiasPacheco;em2015foi lançadopelaPrefeituraoconcursodoParquedo

Miranteemparceriacomo InstitutodeArquitetosdoBrasil (IAB),masatéomomento

não há indícios de execução do projeto ganhador; em 2016, foi inaugurada a avenida

RenatoWagner, requalificada a partir do ProjetoUrbanístico deMobilidadedaRuado

Porto.

UmadaspremissasdoProjetoBeira-Riofoiincentivaroturismo,jáquesetratadeuma

indústria limpaquepodeaproveitaropotencialdaáreacentraldacidadeecriarnovos

usos e apropriações. O turismo é entendido pelo projeto como gerador da oferta de

empregos e estimulador do desenvolvimento sustentável, podendo gerar cenários

ambientais para alcançar ótimos níveis de sustentabilidade urbana e ambiental.

Montaner e Muxí (2014) entendem que este setor pode estar vinculado ao

desenvolvimentodasustentabilidadeeconômica,possibilitandoautilizaçãodaenergiae

riqueza gerada para melhorar e refazer tecidos sociais, produtivos, urbanos e ainda

fortaleceramemóriaeosentimentodecidadaniadapopulaçãolocal.

Paralelamente, ele pode sobrecarregar estruturas existentes (como em relação aos

sistemas naturais) e apresentar-se como puro consumismo, já que os turistas não

costumamcriarraízescomolocal,nãoreivindicaminstalaçõesouespaçospúblicos,não

reciclamseuslixos,nãoeconomizamáguaemalutilizamaslixeiras.

Deve-se ainda estar atento aos interesses do setor financeiro e imobiliário, que se

infiltramnoturismoesão incapazesderelacionarasnovas intervençõesarquitetônicas

comostecidosexistentes,excluindo-os.Seassimforoprocedimento,oturismosetorna

algo totalmente insustentável (MONTANER; MUXÍ, 2014). Essas questões ficaram

evidentes, por exemplo, no caso da desativada Fábrica Boyes, supracitada, agora

transformadaemumshopping.

A requalificação também atrai a atenção do mercado imobiliário que, habitualmente,

pressionamopoderpúblicoparamudaralegislaçãoexistente,conformeseusinteresses

emdetrimentodaqualidadedo lugaroferecidaàpopulação, conformevemocorrendo

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nestaáreadacidadedePiracicaba.Osfocosvisuaisdaorlaacabamsetornandoobjetode

atraçãoevenda,interessesquesesobrepõemaointeressepúblicoquandosepermitea

verticalização (como no exemplo citado da Fábrica Boyes) e a privatização de

determinadostrechosparaaapropriaçãodaelite.

Ao implantarumplanoderequalificaçãourbana,o incrementoqualitativoconferidoao

riorefletiránavalorizaçãodosespaçosenvoltóriosdocorredor fluvialenaelevaçãodo

padrãosocial.Apesardeaindahavermoradoresresiduaisnaárea,nãofoipensadauma

política social integrada ao Projeto Beira-Rio para auxiliar a manter a população

residente, que sofre pressão econômica para ceder espaços aos restaurantes e demais

estabelecimentos, outra consequência negativa da requalificação e turismo local.

SegundoGorski(2011),aintervenção,alémdeatuarnocampoambiental,tambémdeve

promovermudanças sociais eeconômicas, cuidandoparaquenãohaja gentrificação, a

partirdeumapolíticadeinclusãosocialadequadainterpostaaoprojeto.

É um enorme desafio dos projetos de requalificação urbana alcançar as diferentes

dimensõeseevitaralgunsdosefeitosnegativospresentesemmuitaspós-intervenções.

Quando o local da requalificação é um ambiente sensível à água, a questão fica ainda

mais delicada. Utilizar parques lineares como instrumento de intervenção tem sido a

soluçãopara inúmeros impasses,promovendoavalorizaçãodoscorposd’águanomeio

urbanoatravésdoconvíviosocialnoespaçopúblicoàbeira-rio.

TodoespaçolivrenaAPPdeve,portanto,priorizarosusoscoletivos,sendoimportantea

continuidadedoprojetoaolongodosanosparaqueasescalasdecurto,médioelongo

prazos sematerializem.Umanova gestão que não incorpore em sua agendao Projeto

Beira-Rio, pode invalidar a continuidade de um projeto tão importante e de alta

qualidade, referêncianacional e fundamental, para a reaproximaçãodePiracicaba com

seu rio, ao longode todaaorla, cantadaemprosae versonosmeiosde comunicação

nacional.

Ele tem sido reconhecido como exemplo de requalificação à beira-rio emblemático e

possível, apoiado pela população, apesar dos desafios encontrados. Embora tenha

incitado a atenção da área para agentes imobiliários, mesmo estando no momento

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39

paralisado, seus resultados positivos ainda permanecem e transcendem os

inconvenientesgeradospelasuaimplantação.

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1996,e11.428,de22dedezembrode2006;revogaasLeisnos4.771,de15desetembro

de1965,e7.754,de14deabrilde1989,eaMedidaProvisóriano2.166-67,de24de

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INFLUÊNCIADAMORFOLOGIAURBANAAOACESSOSOLAREMESPAÇOS

LIVRES

UmestudoparaaspraçasdePelotas,RS

BRENDA,AlmeidaTejada(1);CELINAMARIA,BrittoCorrea(2);

(1) UniversidadeFederaldePelotas;Mestranda;Pelotas,RS;

[email protected]

(2) UniversidadeFederaldePelotas;Orientadora;Pelotas,RS;[email protected]

RESUMO

Opresentetrabalhoapresentaadissertaçãodemestradoemandamentoquetemcomo

objetivo propor uma metodologia de análise e estratégias de implantação que

contemplem o acesso solar nos espaços livres, especialmente praças, observando a

influênciadamorfologiaurbanasobreessefator,emPelotas/RS,aos30ºdelatitudesul.

EmlocaiscomclimasquepossueminvernosfrioscomoéocasodePelotas,oacessosolar

nosespaçoslivresédeextremaimportânciaparagarantirousodessespelapopulaçãoe

para que se possa garantir o sol nesses espaços é necessário levar em consideração a

morfologiaurbana,ouseja,aformadomeiourbanoemqueserãoouestãoinseridosea

morfologiaquepossuem.

Afimdealcançaroobjetivopropostoparaadissertação,serãoavaliados,porsimulação

computacional, modelos de estudo através do método do Envelope Solar. Para a

definiçãodessesmodelosestãosendoanalisadasaspraçasdePelotase seusentornos,

estando apresentados no presente trabalho as análises da morfologia dessas praças,

atravésdaforma,tamanhoeformadeinserçãonotecidourbano.

Palavras-chave:MorfologiaUrbana1;AcessoSolar2;EspaçosLivres3;EnvelopeSolar4;

INFLUENCEOFURBANMORPHOLOGYTOSOLARACCESSINOPENSPACES

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AstudyforPelotas,RS

ABSTRACT

The present paper presents themaster dissertation in progress that aims to propose a

methodologyofanalysisandimplementationstrategiesthatcontemplatesolarAccessin

open spaces, especially squares, observing the influence of urban morphology on this

factor,inPelotas/RS,at30ºsouthlatitude.

Inplaceswith climates thathavecoldwinters suchasPelotas, solarAccess in theopen

spaces isofextremeimportancetoguaranteetheuseofthesebythepopulationand in

ordertoguaranteetheSuninthesespacesitisnecessarytotakeintoaccounttheurban

morphology, that is, the form of the urban environment in whch they Will be or are

insertedandthemorphologytheyhave.

In order to reach the proposed objective of the dissertation, we will evaluate,

throughcomputer simulation, studymodels through the Solar Envelopemethod. For the

definitionofthesemodelsarebeinganalyzedthePelotassquaresandtheirsurroundings,

beingpresented in thepresent paper theanalyzes of themorphologyof these squares,

throughtheform,sizeandformofinsertionintheurbanfabric.

Key-words:UrbanMorphology1;SolarAccess2;OpenSpaces3;SolarEnvelope4;

1. Introdução

Umdos fatoresdeextrema importânciaparaavidaaoar livreéapossibilidadedesol,

principalmenteno invernoe em locais quepossuemclima subtropical (invernos frios e

verõesquentes),eparaquesegarantaoacessosolarénecessárioqueoprojetodesses

espaçosleveemconsideraçãoamorfologiaurbana,ouseja,aformadomeiourbanoem

queserão,ouestãoinseridos.Asedificaçõesdoentorno,porcertointerferemnoacesso

àluzsolare,emdecorrência,naenergiarecebidaenobem-estarnodosusuáriosdolocal.

DeacordocomNucci(2001)osespaçoslivressãopartedeumgrandegrupopaisagístico

urbano,podendosersubdivididosemdiversascategoriasdependendodasuafunçãoede

seu uso, sendo então um termo bastante abrangente, que engloba outros conceitos

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similares como:espaços abertos, áreas livres, áreas verdes, sistemasdeáreasde lazer,

entreoutros.

Espaçoslivressãoosambientesnãoedificadosdacidade:asruas,asavenidas,aspraças,

osparques,osquintais,osjardins,asmatas,osrios,osmangues,aspraiasurbanas,ouos

simplesvaziosurbanos.(MAGNOLI,1982)

O espaço urbano pode ser analisado por seus elementosmorfológicos e pelamaneira

como esses se organizam e se estruturam no território. Segundo Amorim (2015) os

espaços livres são um dos principais caracterizadores da paisagem urbana e

estruturadoresdaformaurbana.

Considerando-seoespaçopúblicocomopartedosespaçoslivresdacidade,essedeveser

concebido comoumobjeto arquitetônico, comoespaço aoqual se confereuma forma

definida, construída e pensada com tanta intenção como uma edificação. (ROMERO,

2001)

Segundo Romero e Silveira (2005) a edificação é o elemento mínimo identificável na

cidade e a partir do arranjo entre as edificações o espaço urbano é construído e são

organizadososdiferentesespaçospúblicosouespaçoslivres:asruas,aspraças,osbecos,

asavenidas.

As praças sãoumdos tiposde espaços livres, podendo ser tambémclassificadas como

áreasverdesouáreasde lazer,paraRobbaeMacedo(2003)apraçaéumespaço livre

urbano,destinadoaolazereaoconvíviodapopulação,acessíveisaoscidadãoselivresde

veículos.

Amorfologia urbana é um fator determinante da sustentabilidadeda cidade, na busca

por qualidade espacial e no conforto bioclimático dos indivíduos. As características

geométricasemateriaisdosespaços,asrelaçõesentrecheiosevazios,apresençaounão

da vegetação influenciam o desempenho ambiental dos espaços públicos, por

interferiremnaexposiçãoàradiaçãosolareaosventos.(ROMEROeSILVEIRA,2005)

Emgeral,ascondiçõesclimáticasdeumalocalidadecondicionamomododevidadeseus

habitantes.Odesenhodosespaçospúblicossempresignificouao longodahistóriauma

resposta às condições climáticas adversas, facilitando a adaptação do homem ao

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ambienteexterno.(MACHO,DOMÍNGUEZ,FÉLIXeVILA,1994)

Segundo Leite e Frota (2016) é importante ressaltar que as obstruções dos edifícios

verticais nos espaços urbanos produzem um significativo sombreamento, reduzindo as

parcelasvisíveisdesolecéueconsequentementediminuindoaradiaçãosolarincidente.

Kaiser (1996) identificou três graus de uso do solo que devem ser levados em

consideração e garantidos em um ambiente urbano, que são o uso individual, o uso

técnico e o uso social. No caso do uso social se refere à insolação direta dos espaços

públicos. De fato, a possibilidade de os cidadãos desfrutarem de espaços agradáveis e

ensolarados ao ar livre, especialmente durante o inverno, pode melhorar muito a

qualidadeeoconfortodeumambienteurbano.

Aqualidadeambientaldosespaçoslivres,entreelesaspraças,émuitoimportante,pois

pode incentivar o seuusopelapopulação, oquedetermina a vitalidadeurbana, queé

essencial para a cidade e que deve ser umobjetivo a ser alcançado no projeto desses

espaços.

Saboya(2016)definevitalidadeurbanacomoalgoqueserefereàvidanasruas,praças,

passeios e demais espaços públicos abertos. Mais especificamente diz que um lugar

possuivitalidadequandohápessoasusandoseusespaços:caminhando,indoevindode

seusafazeresdiáriosoueventuais;interagindo,conversando,encontrando-se;olhandoa

paisagemeasoutraspessoas;entreoutrasatividades.Emsuma,avitalidadeurbanapode

ser entendida comoa alta intensidade, frequência e riqueza de apropriaçãodo espaço

público, bem como a interação deste com as atividades que acontecem dentro das

edificações.

A vitalidade urbana tem grande influência na segurança da cidade, principalmente nos

espaçoslivres.Jacobs(2000)falasobreaimportânciadosolhosdaruaparaasegurança,

osolhosdaruasãoaspessoasqueconscienteouinconscientemente,utilizamoespaço

públicoeasquecostumamcontempla-lodesuascasas,exercendoumavigilâncianatural

sobreoquealiacontece.Eladescreveo“balédas ruas”,emqueváriosatores,comos

maisdiversospropósitos,saemàsruasemhoráriosdiversificadosparaasmaisdiversas

atividades. Essas atividades interagem entre si e de alguma forma acabam

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complementando-se,formandoumateiadeinteraçãosocialecuidadosmútuos.

Naconstruçãodoespaçopelasociedade,apraça,comoqualqueroutro,transformam-se,

submetendo suas linhas, volumee geometria anovas razõesde conteúdo- sua função.

Embora de existência antiga, as formas de ocupação pelo homem e as ações por ele

desenvolvidasnesseespaçosãosempreatuais.Ousoouaapropriaçãodosespaços,na

forma mais autêntica, decorre da aspiração da comunidade e obedece às suas

necessidadessocioculturais.(MOTTA,1970)

Os espaços livres temuma função social, simbólica e ambiental na cidade, e deveriam

promover qualidade de vida para a população, portanto é importante analisar os

impactosqueamorfologiaurbanaexercesobreessesespaçosequeconsequênciaseles

podemgerarparaosusuários.

Dentre os estudos existentes na área, poucos contemplam o acesso solar nos espaços

livres;algunsbuscamgarantiroacessosolaraosedifícioseosquesereferemàanálisede

espaçosabertosemsuamaioriaforamfeitosparalugarescomclimasquentes,buscando

assimgarantirosombreamentoenãoainsolaçãocomonocasodessetrabalho.

Observa-se uma lacuna nos estudos em relação ao acesso solar nos espaços livres em

locaisdeclimasubtropical,ondeosolédesejávelnoinverno;emvistadisso,opresente

trabalho vem para ampliar o conhecimento nessa área, analisando a influência da

morfologiaurbananoacessosolarnosespaços livres,especialmenteaspraças,aos30º

delatitudesul,paragarantirainsolaçãonoinverno.

2. Objetivo

Propor uma metodologia de análise e estratégias de implantação que contemplem o

acesso solar nos espaços livres, especialmente praças, observando a influência da

morfologiaurbanasobreessefator,aos30ºdelatitudesul.Emclimassubtropicais,onde

há invernos frios,garantiro solnosespaços livreségarantir seuusoeapropriaçãopor

partedapopulação.

3. Metodologia

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A primeira etapa desse trabalho refere-se a uma revisão bibliográfica e estudos

sincronizados sobre a relação entre morfologia urbana e acesso solar e seus temas

paralelos.

Na segunda etapa serão levantados os espaços livres, mais especificamente as praças

existentes em Pelotas, aos 30º de latitude sul, e será analisada a morfologia desses

espaços e de seu entorno, buscando conhecer suas características recorrentes para a

determinaçãodemodelosdeanálisequesejamrepresentativosdaspraçasnacidade.

Oscritériosqueserãoanalisadosnasegundaetapasãoamorfologiadaspraças,através

da forma, tamanho e inserção no tecido urbano, e a morfologia do entorno imediato

dessaspraças,atravésdoscheiosevazios,alturadosedifíciosepresençaouausênciade

recuos.

DeacordocomMattos (2007)comoapraçavincula-se fortementeao lugaraoqualela

pertence,éfundamentalcompreenderesselugar,maisdoqueaforma,senãoestaremos

estabelecendoumsistemafechadodeanálise.

Na terceira etapa, de caráter analítico, serão testadas nos modelos, diferentes

configuraçõesmorfológicasdoconjuntoespaçolivreeedificações,deacordocomoqueé

permitidopeloPlanoDiretormunicipal,esuaspossibilidadesdeacessoaosol,atravésdo

métododoenvelopesolar.

Knowles(1981)conceituouoEnvelopeSolarcomoo“máximovolumedeumaedificação

que pode ser construído em um terreno de forma que esta não projete sombras

indesejáveis fora de seus limites garantindo aos lotes vozinhos o acesso ao sol”. De

acordocomoautor,oEnvelopeSolarregulaodesenvolvimentourbanodentrodelimites

imaginários derivados domovimento relativo do sol,mais tarde, definido por Knowles

(2003),como“umaconstruçãodeespaçoetempo”.

Dopontodevistaconceitual,oenvelopesolaréasíntesedeumcomponentetemporale

deumcomponenteespacial,os caminhos cíclicosdo solem relaçãoà latitude,porum

ladoeascaracterísticasfísicasdolugar(otamanho,aforma,ainclinação,aorientação),

pelooutrolado(KNOWLES,1981).

Os envelopes solares serão gerados no software de modelagem tridimensional

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Rhinoceros 3D, desenvolvido pelaRobertMcNeel& Associatesutilizando os aplicativos

GrasshoppereDIVA.OGrasshopperéumaplicativodemodelagemparamétricaparao

Rhino 3D,e o aplicativoDIVA, desenvolvido inicialmente pela Escola deGraduação em

DesigndaUniversidadedeHarvardeatualmentedistribuídopelaSolemmaLLC,permite

realizarumasériedeavaliaçõesdedesempenhoambiental,entreelasoEnvelopeSolar.

Oaplicativoconstróioenvelopeparaumadeterminadapoligonalcombasenalatitudee

horadeacessosolarparaumanointeiro.

4. Resultados e Discussão

O trabalho se encontra em suas duas primeiras etapas simultaneamente, sendo elas a

revisãobibliográficae a análisedamorfologiadosespaços livres,maisespecificamente

praças,edeseuentornonacidadedePelotas,simultaneamente.

Como resultados parciais da segunda etapa, já foi feito o levantamento das praças de

Pelotas(Figura01)atravésdearquivodoMapaTemáticodasÁreasEspeciaisdeInteresse

doAmbienteNatural elaboradopela PrefeituradePelotas emdezembrode2008ede

confirmaçãovisualatravésdoGoogleEartheGoogleStreetView,foramencontradas67

praçasnacidade.

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Figura 01: Levantamento e localização das praças de Pelotas/RS. Fonte: Google Earth

modificadopelaautora.2018.

As praças foram levantadas, numeradas e sua morfologia foi analisada em relação à

forma,tamanhoeinserçãonotecidourbano(Tabela01).

PRAÇASDACIDADEDEPELOTAS/RS

Númer

o Nome Formato Área(m²)

Inserção

Urbana

1 PraçaCoronelPedroOsório Retangular

22.613,49Isolada

2 ParqueDomAntônioZattera Retangular

35.814,76Isolada

3 PraçaCyprianoBarcelos Retangular

14.412,59Incorporada

4 PraçaPiratininodeAlmeida Retangular

9.079,89Isolada

5 PraçaConselheiroMaciel Retangular

1.100,88Incorporada

6 PraçaJoséBonifácio Retangular

5.433,83Isolada

7 - Trapezoidal

3.407,75Isolada

8 PraçaDomingosRodrigues Retangular

7.128,24Isolada

9 ÍndiodaCostaSetor

Circular

10.088,63Isolada

10 LargoReverendSevero Triangular

1.413,67Isolada

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11 - Trapezoidal

11.303,48Isolada

12 PraçaNovaRepública Retangular

7.468,61Incorporada

13 - Trapezoidal

1.895,09Incorporada

14 - Triangular

1.396,98Isolada

15 - Triangular

1.884,71Isolada

16 PraçaLiberdade Retangular

2.995,34Isolada

17 PraçaLeocádia Triangular

4.930,50Isolada

18 - Trapezoidal

18.883,92Incorporada

19 LargoAntônioGomesdaSilva Retangular

1.867,31Isolada

20 PraçaRioBranco Quadrada

4.200,10Incorporada

21 - Trapezoidal

5.185,74Isolada

22Praça Nossa Senhora

AparecidaRetangular

2.144,57Incorporada

23 Praça1ºdeMaio(doColono) Triangular

3.494,67Isolada

24 PraçaModelo Triangular

2.478,99Isolada

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25 PraçaSantaCecília Retangular

1.465,43Isolada

26 - Triangular

1.857,20Incorporada

27 PraçaRachelMello Triangular

2.429,45Isolada

28 - Retangular

307,50Isolada

29 PraçaBasiliodaGama Retangular

11.661,23Isolada

30 - Retangular

8.423,39Incorporada

31 - Retangular

24.585,25Incorporada

32 - Retangular

31.269,68Isolada

33 - Retangular

3.702,91Isolada

34 - Retangular

2.294,18Isolada

35 - Retangular

3.270,51Isolada

36 - Retangular

3.639,72Isolada

37 - Retangular

4.437,00Isolada

38 - Retangular

12.875,39Isolada

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39 - Circular

5.500,15Isolada

40 - Retangular

3.686,98Isolada

41 - Retangular

3.714,54Isolada

42 - Retangular

7.765,85Isolada

43 - Retangular

3.602,38Isolada

44 - Retangular

3.660,47Isolada

45 - Retangular 41.63,50 Isolada

46 - Retangular

12.936,30Isolada

47 - Retangular

18.453,44Incorporada

48 - Irregular

1.683,38Incorporada

49 - Retangular

8.249,87Incorporada

50 - Triangular

12.751,44Incorporada

51 - Retangular

56.602,23Incorporada

52 - Triangular

7.929,94Incorporada

53 - Retangular

9.792,02Isolada

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54 - Trapezoidal

15.209,86Incorporada

55 - Trapezoidal

23.239,77Incorporada

56 - Retangular

5.528,10Incorporada

57 - Irregular

8.838,69Incorporada

58 - Retangular

7.925,34Isolada

59 - Triangular

8.039,06Incorporada

60 - Triangular

3.047,90Isolada

61 PraçaSãoMarcos Retangular

7.167,65Isolada

62 - Triangular

5.886,96Isolada

63 - Triangular

5.313,38Isolada

64 PraçaAratiba Irregular

14.993,00Incorporada

65 PrçaCatuipeSetor

Circular

3.359,83Isolada

66 PraçaRonna Triangular

15.938,02Incorporada

67 - Retangular

8.065,99Isolada

Tabela 01: Levantamento e análise das praças de Pelotas/RS. Fonte: Produzido pela

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autora.2018.

Analisandoamorfologiadas67praçasfoipossívelidentificarqueemrelaçãoàforma38

sãoretangulares,15sãotriangulares,7sãotrapezoidais,3possuemformatoirregular,2

possuemformatodesetorcircular,1écirculare1équadrada.Demonstrandoagrande

prevalênciadaspraçasretangulares,representando56%dototal.

Emrelaçãoàsáreasexisteumagrandevariaçãonostamanhosdaspraças,sendoqueade

menoráreapossui 307,50m²eademaior áreapossui 56.602,23m², comamédiados

tamanhosde8.682,46m².

Já em relação à inserção no tecido urbano 44 praças apresentam implantação isolada,

ocupandotodaaquadra,enquantoasdemais23apresentamimplantação incorporada,

ocupando apenas parte da quadra. Demonstrando a prevalência das praças isoladas,

representando65%dototal.

Apósaanálisemorfológicadaspraçasfoipossívelobservarapredominânciadosespaços

retangulareseimplantadosdeformaisolada,dandoassimasprimeirasinformaçõespara

a definição dos modelos, o próximo passo é analisar a morfologia do entorno dessas

praças,paraassimobterorestantedasinformaçõesnecessáriasparadefinirosmodelos

deestudoqueserãoutilizadosnapróximaetapa.

Apenasapósadefiniçãodestesmodelosdeestudoserápossíveliniciaraterceiraetapa,

para a análise dos modelos através de simulação computacional e a proposta de

estratégiasdeimplantaçãocontemplandooacessosolarnosespaçoslivreseobservando

ainfluênciadamorfologiaurbanasobreessefatoraos30ºdelatitudesul.

5.Consideraçõesfinais

Através da revisão bibliográfica pode-se observar uma grande lacuna nos trabalhos

acadêmicos que abordam de forma conjunta, morfologia urbana e acesso solar,

principalmenteemclimassubtropicaisondeosolédesejávelnoperíododeinverno.

Jáatravésdasanalisesdamorfologiadosespaçoslivres,maisespecificamentedaspraças,

pode-seobservarumagrandeprevalênciadepraçasdeformatoretangulareinseridasde

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formaisoladanotecidourbanonacidadedePelotas.Sendoaindanecessárioanalisara

morfologia do entorno desses espaços para a definição dos modelos de estudos que

serãoutilizadosnassimulaçõesdotrabalho.

Pretende-secomessetrabalho,avançarnocampodeconhecimentodaáreaecontribuir

na revisão de estratégias de implantação de espaços livres vigentes, consolidadas

principalmente pela prática, através da indicação de alternativas de análise que

contemplem o acesso solar aos espaços livres, mais especificamente as praças,

permitindoseuusoabrangente,vitalidadeàcidadeeapropriaçãopelapopulação.

5. Referências

AMORIM, N. C. R.O sistema de espaços livres na forma urbana de Patos deMinas.

Dissertação. FaculdadedeArquitetura eUrbanismoeDesign,Universidade Federal de

Uberlândia.Uberlândia,2015.

JACOBS,J.Morteevidadasgrandescidades.SãoPaulo:MartinsFontes,2000.

KAISER N. Principes for solar construction – the path to solar Standards.Munique,

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KNOWLES,R.L.SunRhythmForm.MITPress,Cambridge,MA,1981.

KNOWLES,R. L.The solar envelope: itsmeaning for energy andbuildings.Energy and

buildings,LosAngeles.v.35,p.15-25,2003ElsevierScienceB.V.

LEITE, R. C.; FROTA A.B. Adensamento Urbano e condições ambientais internas: a

influência da morfologia urbana sobre a radiação solar e o vento para o conforto no

ambiente construído. In: ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE

CONSTRUIDO.Anais...SãoPaulo:2016.

MACHO, J. J. G.; DOMÍNGUEZ, S. Á.; FÉLIX, J. L. M.; VILA, R. V. Guia Básica para el

AcondicionamentodeEspaciosAbiertos.Sevilla:Ciemat,1994.

MAGNOLI, M. M. Espaços livres e urbanização. Tese. Faculdade de Arquitetura e

Urbanismo,UniversidadedeSãoPaulo.SãoPaulo,1982.

MATTOS,M.R.ArquiteturaPaisagística:UmEstudosobreRepresentaçõeseMemória–

EstudodeCaso:PraçasdaCidadedePelotas–1860-1930.PaisagemAmbiente:ensaios.

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55

n.23,p.231-241.SãoPaulo,2007.

MOTTA,F.L.Desenhoeemancipação.SãoPaulo:FAUUSP,1970.

NUCCI, J. C. Qualidade ambiental e adensamento urbano: um estudo de ecologia e

adensamento da paisagem aplicado ao distrito de Santa Cecília (MSP). São Paulo:

Humanitas/FFLCH/USP,2012.

ROBBA, F.; MACEDO, S. S. Praças brasileiras= Public Squares in Brazil. São Paulo, SP:

ImprensaOficial,2003.

ROMERO,M. A. B.Arquitetura bioclimática dos espaços públicos. Brasília: Editora da

UnB,2001.

ROMERO,M.A.B.;DaSILVEIRA,A.L.R.C.Indicadoresdesustentabilidadeurbana.In:XI

ENCONTRONACIONALANPUR.Anais...Salvador:2005.

SABOYA,R.T.Fatoresmorfológicosdavitalidadeurbana–Parte1:Densidadedeusose

pessoas.ArchDailyBrasil,18nov.2016.Acessadoemout.2017.Online.Disponívelem:

http://www.archdaily.com.br/br/798436/fatores-morfologicos-da-vitalidade-urbana-nil-

parte-1-densidade-de-usos-e-pessoas-renato-t-de-saboya.

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CONDOMÍNIOSDELOTESELOTEAMENTOSDEACESSOCONTROLADO:

ReflexõessobreosPossíveisImpactosdaLeiFederal13.465/2017nos

SistemasdeEspaçosLivresdasCidadesBrasileiras

COELHO,LeonardoLoyolla(1);

(1) CentroUniversitárioBelasArtesdeSãoPaulo,EscoladaCidade;ProfessorDoutor;São

Paulo-SP;[email protected]

RESUMO

Busca-se pormeio deste trabalho fazer uma análise dos possíveis impactos e conflitos

queaaplicaçãodaLeiFederal13.465/2017poderátrazerparaaproduçãoegestãodos

sistemasdeespaços livresdascidadesbrasileiras.Sãoestudadas,maisespecificamente,

duas novas figuras urbanísticas introduzidas por essa lei: os condomínios de lotes e os

loteamentos de acesso controlado. Entende-se que esses dois instrumentos têm

potencialsignificativoparareduziraindamaisaspossibilidadesdecriação,qualificaçãoe

articulação de espaços livres públicos com efetivo acesso irrestrito à população, bem

como para legitimar processos de parcelamento do solo que já ocorrem no país há

décadas, baseados na criação de extensas áreas muradas que se configuram como

barreirasurbanas.

Palavras-chave: Lei Federal 13.465/2017;Parcelamentodo solo; Loteamentodeacesso

controlado;condomíniodelotes;

CONDOMINIUMLOTSANDGATEDCOMMUNITIES

ConsiderationsonFederalLaw13.465/2017

PossibleImpactsonOpenSpacesSystemsinBrazilianCities

Thisessayaimsatanalyzing the impactsandconflicts thatmightbebroughtupby the

enforcementofFederalLaw13.465/2017intheopenspacesproductionandmanagement

in Brazilian cities. More specifically, the studied subject presents two new urbanistic

aspectsthislawintroduces:thecondominiumlotsandthegatedcommunities.Thesetwo

aspects have a significant

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potentialtoreducepublicopenspacescreation,qualificationandarticulationpossibilities

with an effective unrestricted access by the population, as well as to legitimize lot

subdivisionprocessesthatarealreadyinplacethroughoutthecountryfordecades,based

onthecreationofextensivegatedareaswhichendupformingurbanbarriers.

Key-words:FederalLaw13.465/2017;LotSubdivision;GatedCommunities;Condominium

Lots

1.Introdução

Aconstituiçãoformaldossistemasdeespaçoslivresdascidadesbrasileiras,qualificados

ou não, tem contribuição significativa dos empreendimentos privados, uma vez que o

planejamentoedesenhourbanoporpartedopoderpúblicosãoexceções(Macedoet.Al,

2018,p.24).

A produçãode novas áreas urbanizadas nas cidades brasileiras nas últimas décadas do

séculoXXpassouasecaracterizarpelapopularizaçãodeempreendimentoscomextensas

áreasmuradas de acesso restrito. Nestes, os espaços livres - que deveriam ter acesso

irrestrito-sãoapropriadosparausosprivadosemcontrariedadeàLeiFederal6766/1979

(tambémconhecidacomoLeiLehmann),queestabeleceosprincipaisparâmetrosparao

parcelamentodosolonopaís.

Tal processo leva a uma situação na qual, segundoMacedo et al. (2018, p.24): “(...) é

praticamente impossível, dentro das condições gerais da urbanização nacional,

estabelecer a priori como, quando e onde será constituído um espaço livre, já que a

reserva de locais para parques, praças, etc. depende das ações implementadas pela

iniciativaprivada.”

Diversas têmsidoas tentativasde legitimaro fechamentode loteamentos,podendose

destacarocasodeváriosmunicípiosbrasileirosquetêmcriadomecanismosquebuscam

justificar o fechamento dos loteamentos, todos em contrariedade aos parâmetros

estabelecidospelaLei Lehmann.Santoroconstatouque, sónoEstadodeSãoPaulo,28

dentre 100 municípios pesquisados continham regramentos que possibilitavam

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aprovaçãodenovos loteamentos com fechamentos (2012,p.183), sendoque19deles

permitiamtambémaregularizaçãodefechamentosjáexistentes(2012,p.188),mesmo

estando ambos os procedimentos em desconformidade com a lei federal de

parcelamentodosolovigentenaépoca.

Após quase vinte anos de discussões a respeito da legalidade da viabilização de tais

mecanismos, a promulgação da Lei Federal 13.465/2017 parece representar uma

significativa vitória das pressões realizadas há décadas para a legitimação de práticas

correntesdomercadoimobiliário,podendoacentuarrelevantesprejuízosaosinteresses

dacoletividadenoquetangeàestruturaçãodesistemasdeespaçoslivresefetivamente

públicoscomrelaçãoàapropriação.

Propõe-senestetrabalhoestudaroprocessodeviabilizaçãoeospotenciaisprejuízosque

poderão serprovocadospordois instrumentosprevistosna Lei Federal 13.465/2017:o

condomíniourbanísticoeosloteamentosdeacessocontrolado.

2.Antecedentes

Desde os anos 2000 busca-se legitimar o fechamento de loteamentos por meio de

instrumentos legais de âmbito federal, algo sintetizado pelo Projeto de Lei (PL)

3057/2000, no qual se buscava introduzir a figura do “condomínio urbanístico”. De

acordo com esse PL, propõe-se uma solução conciliatória, na qual se permitisse o

fechamentodasviasdoempreendimentoparausoprivativocontantoquefossemantida

aobrigatoriedadededoaçãodeáreasaseremtornadaspúblicasàmunicipalidade,sendo

queestasdeveriamestarforadoperímetromuradodoloteamento.Casooincorporador

desejasseproverespaços livresprivadosdeusocoletivoaosmoradores,deveriautilizar

dasprópriasáreasurbanizáveisdoempreendimento.Talprocedimentologicamentenão

eraatraentedopontodevistaeconômicoeaaprovaçãodaleinosmoldesoriginaisnão

prosperou.

OutrastentativasmaisrecentesderedesenhoàdaLeiLehmannapareceramapartirde

2014.NoProjetode LeiComplementar (PLC)109/2014propõe-sepermitir,mediantea

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concessãoaos titularesdasunidades,o controledeacessoeagestão sobreasárease

equipamentospúblicosnosloteamentos.

OProjetodeLeidoSenado(PLS)208/2015criaafiguradocondomínioedilíciode lotes

urbanos, buscando estabelecer que em um imóvel possa haver lotes de propriedade

exclusiva e utilização independente, alegando que não poderiam ser reduzidasndo as

áreasdosempreendimentosaseremdestinadasaoPoderPúblico.

A gênese dos conceitos de condomínios de lotes e loteamentos de acesso controlado

presentesnaLei13.465/2017estánosubstitutivodaMedidaProvisória(MP)759/2016,

cujoprocessodeaprovaçãoapresentoudiversaspolêmicasecríticas,dentreasquaisse

destacam-se a falta de participação popular5, a expiração do prazo final para a sua

votaçãonoCongressoNacionaleaviolaçãodediversosdireitosefunçõessociais,comoo

dapropriedadepública.Arespeitodainclusãodessesconceitosnalegislação,aadvogada

Rosane Tierno destaca que a figura do condomínio de lotes não guarda relação direta

comos processos de regularização fundiária em si, uma vez que não dizem respeito à

regularizaçãodoquejáestásendofeito6.

3.Característicasdosnovosmecanismos

Na parte relacionada aos processos de parcelamento do solo, como anteriormente

mencionado, a lei 13.465/2017 cria duas novas figuras urbanísticas: o condomínio de

loteseoloteamentodeacessocontrolado.

5ArespeitodoprocessodediscussãodaMP759/2016,HaroldoPinheiro,entãopresidentedoConselhodosArquitetosdoBrasil(CAU/BR)afirmouque“ocorretoseriaogovernoproporumprojetodeleiarespeito,parapossibilitaremumtempoadequadoumamaiorparticipaçãodasociedadenosdebates.InclusivedoConselhodasCidades,ondeestãorepresentadostodososmovimentossociais,asentidadesempresariais,aacademiaeasinstituiçõesdeclasse,masquenãosereúneháumanoporfaltadeconvocaçãopeloMinistériodasCidades.AssustamuitoofatodeaMPestaremvigor,poistemvalordelei,enãosesabeosdesdobramentosqueissoestágerandopelasconsequênciasdosatosqueestãosendogeradossobseumanto”.Disponívelem:http://www.fna.org.br/2017/05/23/camara-pode-retomar-debate-sobre-regularizacao-fundiaria/.Acessoem28.08.20186 http://www.fna.org.br/2017/05/23/camara-pode-retomar-debate-sobre-regularizacao-fundiaria/

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Aprimeira se refereaempreendimentosnosquaisasunidades imobiliáriasautônomas

são lotes e não casas ou apartamentos, passando a “pode haver, em terrenos, partes

designadasdelotesquesãopropriedadeexclusiva”(BRASIL,2017)

Do ponto de vista dos encargos da iniciativa privada, tal figura considera, para fins de

incorporação imobiliária, a “implantação de toda infraestrutura a cargo do

empreendedor” (art. 58 parágrafo 3) e, como nos condomínios convencionais, que as

áreas coletivas serão de propriedade privada e constituirão fração ideal, sendo que a

despesasdemanutençãodasáreascomunsserádivididacoletivamente,porforçadelei.

O loteamento de acesso controlado introduz como novidade a legitimação de

fechamentos para a área parcelada, considerando que “(...) o controle de acesso será

regulamentado por ato do poder público municipal, sendo vedado o impedimento de

acesso a pedestres ou a condutores de veículos, não residentes, devidamente

identificadosoucadastrados.”(art.78parágrafo8).

Uma vez que esse controle deverá ser regulamentado pelamunicipalidade, a principal

questãodecorrentedessa lógicaé:comogarantirqueesse“controledeacesso”nãose

constituiráfechamentototalepermanente?

Tal expediente legitimapossibilidades de apropriações indevidas de espaços livres pela

iniciativa privada, antes contraditórias aos princípios estabelecidos pela Lei Lehmann,

uma vez que, de acordo com esta, deviam obrigatoriamente ser de acesso livre e

irrestrito

4.Potenciaisimpactosaossistemasdeespaçoslivresdascidadesbrasileiras

AosepesquisarasopiniõesdeprofissionaisoriundosdaáreadeDireitosobreosnovos

instrumentos de parcelamento do solo previstos na Lei Federal 13.465/2017

aproximadamenteumanoapóssuaimplementação,pode-seconstatarapredominância

de abordagens elogiosas a respeito. É recorrente a argumentação de que a legislação

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brasileiraestariaatéentãoem“descompasso”comarealidadepráticadosprocessosde

parcelamento do solo no país. Tal lógica parece se ancorar em um raciocínio – aqui

entendido como bastante equivocado - segundo o qual as dinâmicas da sociedade

deveriamserosprincipaisparâmetrosparaserevisar/alteraras leis,mesmoqueestas

passemaadvogarapenasemfavordeminoriasgruposminoritários,porémdominantes

dopontodevistaeconômicoouqueestejamemconflitocominteressesdacoletividade.

Ao mesmo tempo, determinados autores tentam afirmar que a nova legislação não

interferirá nos princípios estabelecidos pela Lei Federal 6766/1979. Exemplo bastante

representativo é o material produzido por Pinto (2017). Nele, o autor afirma que: “O

condomíniodelotesnãoé,portanto,umaformadeparcelamentodesoloalternativaao

loteamentoeaodesmembramento,masumaformadeorganizaçãodoslotesresultante

dessasoperações”(2017,p.14)

Tal alegação de compatibilidade com o conceito de loteamento estipuladolinha de

raciocínio pela Lei Lehmann mostra-se, no mínimo, questionável, uma vez que os

direcionamentos principais dessa lei da Lei Lehmann visavam zelar por interesses da

coletividade, garantindo o livre acesso público às áreas parceladas, algo que se torna

ameaçadocomaaplicaçãodosinstrumentosprevistosnaLeiFederal13.465/2017.

Oimpactomaisdiretodosnovosinstrumentosnotocanteaossistemasdeespaçoslivres

dizrespeitoàpossibilidadedelivreacessoàsáreasparceladas,umavezqueétransferida

àsmunicipalidadesaresponsabilidadeporlegislarsobreesseassunto,semseestabelecer

naesfera federalparâmetrosefetivosparaquedecomo issodeveráocorraocorrer7.Em

que pese a efetiva autonomia dos municípios garantida pela constituição Constituição

Ffederal para se legislar sobre o assunto, reduz-se a possibilidade de criação de novos

espaços livres efetivamente públicos nas novas áreas urbanizadas brasileiras, uma vez

que o fato de aa Lei Lehmann ser federal, obrigava que todas as municipalidades

atendessemaosparâmetrosporelaestabelecidoscomrelaçãoàquantidademínimade

7SegundoPinto(2017,p.11),naaplicaçãopráticadafiguradocondomíniodelotes:“asobrigaçõesdoparceladordosolosãofixadascasoacasopelaPrefeitura,adependerdalocalizaçãodaglebaedotipodeocupaçãopretendida.“

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espaços efetivamente públicos que deveria ser doada pelos incorporadores era o

principalinstrumentoparatal.

Outro possível efeito significativo é a ampliação das já extensas áreas muradas que

conformam barreiras urbanas tanto para empreendimentos existentes – por meio da

figura dos loteamentos de acesso controlado - quanto para os novos – por meio dos

condomínios de lotes. Em nenhum dos dois casos se estabeleceu na legislação limites

máximo quantitativos do perímetro de cercamento contínuo permitido nos

empreendimentosporelaviabilizados.Emboraseargumente,nocasodos loteamentos

de acesso controlado, quenãopoderá ser vedadoo livre acessodequalquer pessoa a

esse tipo de empreendimento, são abundantes em todo o país os exemplos de

fechamentoscomelevadosgrausdehostilidade,dentreosquaissepodeexemplificaros

projetos urbanísticos promovidos por empresas como a Alphaville Urbanismo,

distribuídosempraticamentetodooterritórionacional8.

Levantamento A título de exemplo do grau de impacto da extensão de áreasmuradas

oriundas de loteamentos fechados e condomínios horizontais, pode-se citar o

levantamentorealizadonapesquisadedoutoradododesteautor(COELHO,2015,p.227).

Nela,secontabilizouaumaáreatotaldecercade70km2correspondenteaessestiposde

empreendimentosaosloteamentosfechadosecondomínioshorizontaisdnoVetorOeste

daRegiãoMetropolitanadeSãoPaulo(RMSP)9.TalvalorequivaleàáreatotaldeEmbu

dasArtes-umdosmaioresmunicípiosdorecorte–eapoucomaisqueodobrodasoma

dos bairros jardins do vetor sudoeste paulistano, cujas característicasmorfológicas são

semelhantes e que frequentemente são utilizados como parâmetro da área ocupada

peloslocaisqueabrigamaspopulaçõesderendasmédiaealtanaRMSP.

8Deacordocomositedaempresa,aAlphavilleUrbanismotemempreendimentosdogêneroem23dos26estadosbrasileiros,alémdoDistritoFederal.Disponívelem:https://www.alphavilleurbanismo.com.br/experiencia-alpha.Acessoem28.08.20189OrecorteespacialdotrabalhocorrespondiaaosmunicípiosdeBarueri,Carapicuíba,Cotia,EmbudasArtes,ItapecericadaSerra,Itapevi,Jandira,SantanadeParnaíbaeVargemGrandePaulista,possuemsuasmanchasurbanizadasprincipaisconectadasàmetrópolepaulistana.

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Mais um aspecto polêmico diz respeito à gestão dos espaços livres resultantes dessas

novas formas de parcelamento. Embora se afirme que os condomínios de lotes não

podem“dispensara constituiçãode logradourosdestinadosà fruiçãodapopulaçãoem

geral” (PINTO, 2017, p. 15), pois “poderão ser instituídas limitações administrativas e

direitosreaissobrecoisaalheiaembenefíciodopoderpúblico,dapopulaçãoemgerale

da proteção da paisagem urbana, tais como servidões de passagem, usufrutos e

restriçõesàconstruçãodemuros”,taisaçõesporpartedoempreendedor,deacordocom

anovalegislação,têmcaráteroptativoe,viaderegra,contrapõem-seaosseusinteresses

por demandarem a manutenção de espaços públicos às suas custas, tendo portanto,

baixaprobabilidadedeseremadotadas.

Considerando-sequeosespaçoslivresforamdoadosàmunicipalidadenoatodeabertura

docondomínio,comosugerealegislação,ocusteiodessasáreasnãopoderiasercobrado

dos moradores. Sendo assim, não se traz soluções para um dos principais impasses

correlatosàquestãodofechamentodeloteamentosanteriorànovalei.

Pintoafirmaqueoscondôminospodemmanifestarinteressenocusteiodemanutenção

deespaçosdoadosàmunicipalidade,poisessarepresentariaumaalternativaa“terque

aguardar providências do poder público” (2017, p. 16). Entende-se que tal afirmação

representaumreconhecimentodequeopoderpúbliconãotemcapacidadeparamanter

osespaços livresgeradosemprocessosdeparcelamentodosoloe isso,porsi só, seria

razãoparajustificarsuaconcessãoàiniciativaprivadacomelevadasprobabilidadesdese

vedarseulivreacesso.

O estabelecimento de parcerias com a iniciativa privada pode até representar uma

alternativa para a gestão e manutenção de espaços livres de acesso público, como

atestamalgunscasosexistentesbem-sucedidosnessesentido10.Oproblemaéqueanova

legislação torna, na melhor das hipóteses, ambíguo e impreciso o quanto a iniciativa

10Pode-secitarcomoexemplosnomunicípiodeSãoPaulooscasosdefruiçãopúblicadosconjuntosBrascan,CetenkoPlaza,RochaveráeaCasadasRosas.

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privadapodede fato seapropriardosespaços livres criados, sendomuitoprovável,de

acordocomalógicavigente,arestriçãongindocompletaamentedoacessoaestes.

Todos os impactos anteriormente mencionados precisarão ainda ser mensurados na

prática, uma vez que a própria viabilização prática dos instrumentos previstos na

legislaçãoaindaprecisarádeumtempoconsiderávelparaseconsolidarnosmunicípios,

tendoemvistainclusiveapolêmicaenvoltaemsuaaprovação.

6.ConsideraçõesFinais

Os dois novos dispositivos legais analisados neste trabalho têm significativo potencial

para impactardiretamenteapossibilidadedeacessopúblico irrestritoe aestruturação

dossistemasdeespaçoslivresurbanosnascidadesbrasileiras,legitimandoprocessosque

já vinhamocorrendodesdeo final do séculoXXemconflito coma legislação federal e

atendiamsobretudonãosóainteressesdosempreendedoresprivados,mastambémdos

própriosmoradoreseatémesmodeumapartedosrepresentantesdopoderpúblico.

Afiguradocondomíniodelotesreduzapossibilidadedecriaçãodenovosespaçoslivres

deefetivaapropriaçãopúblicapormeiodalegislaçãodeparcelamentodosolo,umavez

que legitimaa criaçãodeáreasmuradas cujaextensãomáximanãoéestipulada.Além

disso, transfere àsmunicipalidades e ao empreendedor a responsabilidade (facultativa)

dadelimitaçãodeáreasdestinadasaousopúblico,quejávinhamsendofrequentemente

incorporadas ao perímetro intramuros de loteamentos em diversas cidades brasileiras

desdeofinaldoséculoXX.

Ao mesmo tempo, o conceito de loteamento de acesso controlado possibilita que os

empreendimentos já existentes delimitem perímetros murados nos quais possam ser

incorporadas tanto as vias quanto as demais áreas públicas anteriormente doadas no

processodeparcelamentodosolodisciplinadopelaLeiLehmann,semquehajanãosendo

mais esse processo considerado contradição com os parâmetros anteriormente

estabelecidosporessalegislação.

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Tem-se, desse modo, a legitimação a priori – por meio do condomínio de lotes - e a

posteriori–pormeiodoloteamentodeacessocontrolado–doprocessodefechamentoe

utilizaçãoprivativadeespaçoslivresquedeveriamserpúblicos.

Embora a implantação efetiva de empreendimentos viabilizados pela nova legislação

ainda seja incipiente e possivelmente demande razoável tempo para ocorrer, pode-se

especular comoresultadodesuaaplicaçãoum futuro incrementosignificativodeáreas

urbanizadasnas cidadesbrasileiras caracterizadasporexpressivasextensõesmuradase

comreduzidapresençadeespaçoslivrespúblicosvoltadosaoconvívioelazer.

7.Referênciasbibliográficas

BRASIL.Leino6766de19dedezembrode1979.DispõesobreoParcelamentodoSolo

UrbanoedáoutrasProvidências.

BRASIL.Leino13.465de11dejulhode2017.Dispõesobrearegularizaçãofundiáriarural

eurbanaedáoutrasprovidências.

BRASIL. Medida Provisória no 759 de 23 de dezembro de 2016. Dispõe sobre a

regularizaçãofundiáriaruraleurbanaedáoutrasprovidências.

BRASIL.ProjetodeLeidoSenadono208/2015.AlteraaLeinº6.766,de10dedezembro

de1979,quedispõesobreoparcelamentodosolourbanoedáoutrasprovidências.

BRASIL. Projeto de Lei Complementar no 109/2014. Acrescenta dispositivo à Lei no

10.257,dejulhode2001edáoutrasprovidências.

BRASIL.ProjetodeLeino3057de18demaiode2000. Inclui§2ºnoart.41daLeinº

6.766,de19dedezembrode1979,numerando-secomo§1ºoatualparágrafoúnico

COELHO,L.L.Dispersão, fragmentaçãoepaisagem: relaçõesentredinâmicasurbanase

naturaisnoVetorOestedaRegiãoMetropolitanadeSãoPaulo.2015.Tese (Doutorado

em Paisagem Ambiente), Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São

Paulo,SãoPaulo.

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MACEDO,S.S.;QUEIROGA,E.F.;CAMPOS,A.C.A.;GALENDER,F.C.;CUSTÓDIO,V.Os

SistemasdeEspaçosLivreseaConstituiçãodaEsferaPúblicaBrasileira.SãoPaulo,EDUSP,

2018.

PINTO, V. C. Condomínio de Lotes: um modelo alternativo de organização do espaço

urbano. Brasília: Núcleo de Estudos e Pesquisas/CONLEG/Senado, Agosto/2017 (Texto

para discussão no 243). Disponível em <http//: www.senado.leg.br>. Acesso em:

28.08.2018

SANTORO, P. F. Planejar a expansão urbana - dilemas e perspectivas. 2012. Tese

(Doutorado em Paisagem Ambiente), Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,

UniversidadedeSãoPaulo,SãoPaulo.

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A(DES)CARACTERIZAÇÃODOSESPAÇOSLIVRESESUASTEMPORALIDADES

NAPOLÍTICAMUNICIPAL:AsPraçasdoCentroAntigodeCuiabá/MT

DORIANE,Azevedo(1);CLAUDIO,SantosdeMiranda(2);LUCAS,

LuandosSantos(3);

(1) UFMT;Professora-pesquisadora,doutora;Cuiabá/MT;[email protected]

(2) UFMT;Professor-pesquisador,doutor;Cuiabá/MT;[email protected]

(3) UFMT;alunocursoarquiteturaeurbanismo;Cuiabá/MT;[email protected]

RESUMO

Nossoprincipalobjetivoéanalisarosespaçoslivrespúblicos(ELP)–emespecialaspraças

daUnidadedePaisagem-CentroAntigodeCuiabá(MT), inscritanos limitesdosbairros

centrais da cidade, onde partes são tombadas por legislação federal e estadual.

Verificaremosa(des)caracterizaçãodasqualidadespaisagísticasdaspraçasconcebidase

que se consolidaram ao longo de quase três séculos, como um dos elementos da

estruturadonúcleourbano setecentistadeCuiabá,quedecorrem,essencialmente,das

propostas de reforma elaboradas e implantadas pela Prefeitura Municipal de Cuiabá.

Essas praças serão analisadas no contexto de suas inserções urbanas, na origem à

situação atual, em uma relação direta com o entorno e com base na leitura dos

fundamentos urbanísticos, paisagísticos e do patrimônio cultural material, nas

temporalidades das intervenções, das propostas registradas nos documentos oficiais,

jornalísticos e alterações constatadas em levantamentos fotográficos dos acervos

históricoseinloco.Destaforma,constroem-sesubsídiosparaverificarapertinênciaeos

impactosdessasações.

Palavras-chave: Espaços livres públicos; praças; Unidade de Paisagem Centro Antigo;

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Cuiabá(MT).

THEDESCRIPTION/DECHARACTERIZATIONOFOPENSPACESANDITSTEMPORALITIESIN

MUNICIPALPOLICY:THESQUARESINAREASOFTHEOLDDOWNTOWNOFCUIABÁ(MT)

ABSTRACT:

OurmainobjectiveistoanalysetheOpenPublicSpaces(OPS)-especiallythesquaresof

theLandscapeUnit-OldDowntownofCuiabá(MT),inscribedinthelimitsofthecentral

districtsofthecity,wherepartsarelistedbyfederalandstatelegislation.Wewillverify

thedescription/decharacterizationofthelandscapequalitiesofthesquaresconceivedand

that have consolidated over almost three centuries, as one of the elements of the

structureofthe

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eighteenth-century urban nucleus of Cuiabá, which stem essentially from the reform

proposals elaborated and implemented by the Cuiabá Municipal Government. These

squareswillbeanalyzed in thecontextof theirurban insertions, fromtheorigins to the

currentsituation, inadirect relationwith theenvironmentandbasedon the readingof

theurbanistic, landscapeandmaterialculturalpatrimonyfoundations, thetemporalities

of the interventions, the proposals registered in the official documents, journalistic and

alterationsverifiedinphotographicsurveysofthehistoricalandinlococollections.Inthis

way,subsidiesarebuilttoverifythepertinenceandimpactsoftheseactions.

Keywords:Openpublicspaces;squares;LandscapeUnit-OldDowntown;Cuiabá(MT).

1. Notasintrodutórias

A praça é espaço urbano visível “extremamente sensível a transformações de caráter

modernizante por parte do poder público” (MACEDO, 1995, p.12), situação que, em

Cuiabá,temconstituídopaisagensinsignificantes,desvalorizandoopatrimôniotombado.

Estaéapremissanaqualsesustentanossaquestãorecorrente,poisdesdeosanos2000,

o conjunto dos conteúdos físicos das praças mais antigas de Cuiabá, apresentam

temporalidades cada vez mais breves, pois a cada gestão municipal, são objeto de

intervenções que descaracterizam atributos desses Espaços Livres Públicos (ELPs),

integrantesdaUnidadedePaisagemCentroAntigo(UP-CentroAntigo).

PautadosemDeLuccaeSantiago(2015)eAzevedoeGuedes(2017),identificamoscomo

aUP-CentroAntigo,todaumaáreaintegradapelonúcleosetecentista,eáreascontíguas,

cujamorfologiaestábaseadanosprincípiosdacidadetradicional,emnossocaso,quese

originaramnoperíododoBrasil-Colônia(REISFILHO,1978;DELSON,1997).

Assim,aUP-CentroAntigo,emsuatotalidade,compreendeosbairroscentraisdacidade

equeseconsolidaramatéadécadade1970-80,ondeapenasumaporçãofoi tombada

como Conjunto Urbanístico, Arquitetônico e Paisagístico por lei federal; outra,

reconhecida seu valor histórico por lei Estadual. Na estrutura da cidade tradicional, o

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destaque é para a clara distinção entre os espaços (livres) públicos e os espaços

(edificados) privados ou públicos.

Naúltimadécada,afaltadeintegraçãoentreasgestõesmunicipal,estadualefederal,e

suasfragilidadesinstitucionais,resultaramempolíticasqueprejudicamaindamaisaUP–

Centro Antigo (AZEVEDO e GUEDES, 2017). Incompatibilidades entre legislações

urbanísticas(CUIABA,2015),dopatrimônio(IPHAN,1994),ficaevidentenaformulaçãoe

implantaçãodepolíticasemcurso,oquetemacentuadoaindamaisadescaracterização

doCentroAntigo,afetandoapercepçãovisualesimbólicadessaUP,especialmenteem

seusELPs.

Nacontemporaneidade,podemosafirmarqueaspraçasdaUP-CentroAntigosãoobjetos

recorrentes de intervenções, pautadas no discurso da valorização do patrimônio, mas

agudizam sua descaracterização em relação ao conjunto e, em sua essência, enquanto

ELP, pois são, e devem continuar sendo, espaços livres, sem (grandes) edificações

(MAGNOLI,2006).

Dentre os distintos ELPs, estudamos as praças e suas (des)caracterizações ao longo do

tempo,combasenosciclosdoprocessodeconsolidaçãodaestruturaurbanadacidade,

definidos por De Lamônica Freire (1997): Ciclo daMineração (1722-1820), período das

delimitaçõesiniciaisdamaioriadoslargos;CiclodaAdministraçãoPública(1820-1960),a

transformação dos largos em jardins públicos e; Ciclo da Modernização (1968-1999),

quandopraçasforammodernizadasourequalificadascombasenoantigo.

Arbitramos o encerramento do último ciclo nos anos 1990, pois consideramos que a

partirdosanos2000,vivenciamosumnovociclo,quenacontemporaneidade,émarcado

pelasrápidaseconstantestransformaçõesdoespaçourbanoedesuas(antigas)praças.

Para tal, apresentaremos panorama sobre a gênese e consolidação do conjunto das

praçasdaUP-CentroAntigo,aprofundandoasquestõesnosestudosdecasodasPraças

AlencastroeIpiranga.

2. AsPraçasdoCentroAntigodeCuiabá:umpanorama

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O mapa do Sec. XVIII de Cuiabá (Figura 01) apresenta um momento da estruturação

urbana do núcleo, no então denominado Ciclo da Mineração (1722-1820), onde

marcamos os ELPs analisados.

Dentre a relação dos elementos estruturadores do espaço (livre público e edificado),

evidenciamososlargos:doPelourinho(1),doPalácio(2),daMatriz(3),daConceição(4),

bem como os contornos iniciais de outros de relevância - Largo das Almas (5) e, da

Marinha (6), Largo do cruzamento entre antiga Rua da BoaMorte e Rua de Baixo (7).

TodosessesELPscontribuiriamparaacentuaraimportância(eimponência)dosedifícios

públicosedeinteressepúblico(comoaigrejaeosedifíciosgovernamentais,entreoutros

privados)implantadosemseuentorno.

Desde então, os largos existentes passaram por processos de caracterização, seja em

jardins (o casodo LargodoPalácio,dasAlmasedaMarinha),outrosdiretamentepara

praças (da Matriz). Posteriormente, outras praças foram inventadas nesse traçado de

origem colonial, sejam por aproveitamento de áreas residuais - Praça Euphrosina

HugueneydeMatos(8)-,ouporsupressãodeedifícios-PraçaDr.AlbertoNovis(9).

Figura01:MapadaViladeCuiabá(1770-1775):traçadooriginalconsolidadonoCicloda

Mineração,comemarcaçãodosELPsestudados:LargosdoPelourinho(1),doPalácio(2),

daMatriz(3),daConceição(4);oscontornosiniciaisdeoutrosderelevância-Largodas

Almas(5)edaMarinha(6),LargodocruzamentoentreantigaRuadaBoaMorteeRuade

Baixo (7)e,aspraças inventadasnessetraçadodeorigemcolonial,poraproveitamento

de áreas residuais - Praça Euphrosina Hugueney de Matos (8) -, ou por supressão de

edifícios-PraçaDr.AlbertoNovis(9).Fonte:ArquivoHistóricodoExército,RiodeJaneiro.

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Disponível em: http://www.sudoestesp.com.br/file/colecao-imagens-periodo-colonial-

mato-grosso/678/.Acessoemjulho2018.Intervençãosobreimagem:dosautores.

(Re)conheceressesELPspassaporrecuperarumpoucodahistória,comoosperíodosde

origem,astransformaçõesepermanênciasmateriais,comotambémnamemóriacoletiva

cuiabana.

Pela extensãoda tarefa, esforçamo—nospor apresentar uma síntese,mostrando, para

cadaespaçolivreeciclo,origem,caracterizaçãodoentorno,osedifíciosquedelimitaram

os ELPs,

conjuntosquetransformaramapaisagem.Elaboramos,então,oQuadro1paraauxiliara

leituradesseamploregistrorealizado.

Quadro 1– Caracterização dos ELPs da UP- Centro Antigo de Cuiabá: origem,

transformaçõesfísicase

apropriaçõestemporais-

Espaço

Livre

Ciclo da

Mineração

(1722-1820)

Ciclo da

Consolidação

Administração

Pública (1820-

1940)

Ciclo da

Modernização

(1968até1999)

Contemporâneo

(2000–atual)

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1. Praça

Alencastro

Antigo Largo

do Palácio,

ondeocorriam

touradas

Largo

transformado no

Jardim Alencastro

com gasômetro,

coreto e chafariz

estilo belle

époque e área

ajardinada

delimitada por

grades em

harmonia com

entorno edificado

de características

coloniais (palácio

do governo e

outros)

Demolição de

conjunto

arquitetônico

colonial,

construção do

novo palácio

Alencastro e

edifício de uso

misto (Maria

Joaquina), ambos

com vários

pavimentos, de

linhas

modernistas.

Praça

remodelada com

essas novas

características.

Troca do

revestimento do

piso, pedra

portuguesa para

ladrilho hidráulico

(2000); e deste para

contrapiso de

concreto (2005-

2008).

Descaracterização do

espaçolivredapraça

com construção de

edificação de grande

porte (estação de

ônibus) para

proporções deste

ELP, e revestimento

inadequado para

áreasexternasede

grande fluxo (2017-

18).

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74

2. Praça da

República

Largo da

Matriz,

descampado

em frente da

igreja, sem

tratamento

paisagístico

até final do

séc. XIX, início

doXX.

A praça com

característica que

representavam os

valores

positivistas, passa

a ser delimitada

por vias para

tráfego de

veículos. Rigor

geométrico,

verificado na

disposição

canteiros e

passeios, nas

paginações em

pedra, e

disposição das

espécimes

arbóreas, em

especial as

palmeiras

Imperiais.

Perde parte de

suas palmeiras,

prolonga um de

seus limites

laterais,

incorporando rua

comocalçadão

Constante troca de

alguns mobiliários

como bancos e

pinturas dos

canteiros de cores

diferentes conforme

gestão. Sem

manutenção do

revestimento, que

aindamantém pedra

portuguesa.

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75

3. Praça da

Mandioca

Largo do

Pelourinho,

entorno da

casa dos

Capitães

Generais.

Também

funcionou

como ponto

defeira

livre

Mantémocaráter

depequenolargo,

sem composições

paisagísticas

Inaugurada como

praça de D.

Bembem,

abrigando

pequena feira,

mas sempre

denominada e

reconhecida pelo

nomepopular

“Mandioca”

Cadagestãomuda-se

revestimentodopiso

e cores. Na atual, a

instalação de

balaústres e bancos

desconsiderou as

rodas de choro que

ocorriam

semanalmente.

Quadro 1– Caracterização dos ELPs da UP- Centro Antigo de Cuiabá: origem,

transformaçõesfísicase

apropriaçõestemporais-

EspaçoLivreCiclo da

Mineração

(1722-1820)

Ciclo da

Consolidação

Administração

Pública (1820-

1940)

Ciclo da

Modernização

(1968até1999)

Contemporâneo

(2000–atual)

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4. Praça

Bispo Dom

José

Largo da

Conceição,

onde

implantou

Chafarizparao

abastecimento

de água da

cidade

Recebe

urbanização e

passa a ser

chamadodePraça

Bispo Dom José,

ponto nodal de

setortombado

Criação do

Terminal de

Ônibus sobre a

praça, desativado

depois por afetar

a capacidade de

suportedoELP

A praça foi

reformada várias

vezes nesta década,

alterando

revestimentos, cores

dos equipamentos,

forma dos canteiros,

supressão ou

substituição de

vegetação

5. Praça

Caetano de

Albuquerq

ue

EraoLargoformadopeloencontro

entre a Rua de Baixo e Rua da

BoaMorte

Recebe

revestimento em

ladrilho

hidráulico,

canteiros e

árvores. Passa a

abrigarnoitesde

rasqueado.

Emreforma

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6. Praça

Ipiranga

Largo das

Almas.

Aconteciamde

touradas às

execuções

públicas e

feiralivre

Largo

transformado em

Jardim Ipiranga,

com muitas

palmeiras

imperiais, coreto

e chafariz em

estilo art

nouveau, ladeado

por muretas e

grades.

De jardim para

praça, é

reformada com

aproveitamento

de elementos da

antiga Praça

Alencastro

(postes, coreto e

chafariz).

Ponto nodal e

nomeia setor de

tombamento

Após muitas

pequenas reformas

(instalação de

sinalização, pintura

das muretas dos

canteiros),

contemplada na

gestão 2013-2016

com projeto de

reforma. A obra

adicionou edificação

sobre área da praça

para abrigar

sanitários.

7. Praça

Luiz de

Albuquerqu

e

Largo da

Marinha,

basicamente

funcionava o

cais.

Transformado em

Jardim do Porto,

ladeado por

mureta e grade

queseparavaárea

ajardinada do

passeiopúblico.O

tratamento

paisagístico

destacava o

Obelisco Central,

presente pelos

100anosde

Cuiabá

De Jardim para praça, ao longo das

reformas foram eliminados canteiros,

vegetação arbórea, mobiliários, perde

suasprincipaiscaracterísticas,traçados,

mobiliários e coreto. Permanece

obeliscosoltonomeiodaPraça,quase

imperceptível.

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8. Praça

Senhor dos

Passos

Área residual,

fundos da

Igreja Senhor

dos Passos e

decasarõesdo

entorno

Canalização do

Córrego da

Prainha

/Abertura Av.

Ten.Cel.Duarte

Inauguração da

Praça Euphrosina

Hugueney de

Matos

Nova reforma da

praça, agora

denominada “Senhor

dos Passos”. Recebe

revestimento piso

cerâmico(2017-18).

Nenhumamençãoao

antigo casarão que

existia

aliantes.

9. Praça Dr.

Alberto

Novis

Lote de

esquina sobre

o qual foi

construído o

Casarão D.

Euphrosina

Hugueneyde

Matos

Incêndiodestróio

casarão, lote

perdeaedificação

Incêndio destrói o casarão, lote perde

edificação. No vazio, inventa-se praça

Dr.AlbertoNovis, comcalçamentoem

pedra portuguesa e vegetação.

Reformadanagestão2005-2008(troca

pavimentaçãoporpiso intertravadode

concreto)epropostadeintervençãona

de2013-2016.

Atualmente em reforma. Emnenhuma

das

Quadro 1– Caracterização dos ELPs da UP- Centro Antigo de Cuiabá: origem,

transformaçõesfísicase

apropriaçõestemporais-

Espaço

Livre

Ciclo da

Mineração

(1722-1820)

Ciclo da

Consolidação

Administração

Pública (1820-

1940)

Ciclo da

Modernização

(1968até1999)

Contemporâneo

(2000–atual)

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intervenções houve menção ao antigo

casarãoqueexistiaaliantes.

Fontes: Delson (1997); Freire (1997); Mendonça (2012); Acervo Grupo de Pesquisa e

Extensão – Estudos de Planejamento Urbano e Regional (ÉPURA-UFMT). Elaboração e

Organização:autores,julho2018.

NoQuadro 1, observamos como a maioria dos ELPs da UP-Centro Antigo integram a

estrutura urbana desde o período setecentista, caracterizados ao longo do tempo em

jardins,depoispraças,emumaestreitarelaçãocomosvaloresdefendidospelasociedade

da época. As praças originadas nos primeiros séculos, guardavamos traços do período

colonial e dialogavam com os edifícios do entorno, mantendo os princípios da cidade

antiga.

Emboratombadoprovisoriamentenadécadade1980(Centro)enosanos2000(Porto),

nãoimpediramaperdadeedifíciose,seuslotes,sendotransformadosemespaçoslivres

públicos, assim como também, os espaços residuais no entorno de edifícios - praças

inventadas em dissonância com a regularidade anterior do Centro Antigo. As praças

inventadas, consolidadas na contemporaneidade, são a exceção na estrutura antiga.

Todas foram objeto de inúmeras intervenções, algumas, obras públicas de inegável

relevância,outras,atendendoaspressõesdemodernização.

Atualmenteessaspraças são tratadascomomerosveículosdepropagandadasgestões

municipais,algumasdelassendo“reformadas”acadaquatroanos.Essassituaçõesforam

registradas no Quadro 1 e ilustradas na Linha do Tempo abaixo (Figura 02),melhor

visualizadasentreasFigura03eFigura06.

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Figura02:LinhadoTempoIlustrada-AsTemporalidadesdosELPsdaUP-CentroAntigo

deCuiabá. Fontes:Diversas (adetalhar figuras 03 a 06). Elaboraçãoeorganização: dos

autores,julho2018.

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Figura03:AsTemporalidadesdosELPsdaUP-CentroAntigodeCuiabá.Fontes:Nacoluna

“CiclodaMineração”MapaCuiabá–CA1770-75.ArquivoHistóricodoExército,Riode

Janeiro, com intervenção dos autores. Imagens das linhas, sempre da esquerda para

direita:“LargodoPelourinho-PraçadaMandioca”,vistageral,s/a,s/d,acervoCasaSilva

Freire; vista geral, s/a, s/dacervo Mídia News; Propostas Intervenção - IPDU/PMC

implantação(1998)eperspectivaeletrônica(2017),acervoPMC;vistageralem2018,s/a,

disponívelemhttp://rufandobombo.com.br.“LargodaMatriz-PraçadaRepública”,vista

geral,s/a,1914.AlbumGráphicodeMatoGrosso;vistageral,s/a,s/d.ArquivoNacional;

Vista 2006,s/a, e 2016, foto Júnior Silgueiro). Acervo Secretaria de Comunicação do

GovernodeMatoGrosso;Elaboraçãoeorganização:dosautores,julho2018.

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Figura04:AsTemporalidadesdosELPsdaUP-CentroAntigodeCuiabá.Fontes:Nacoluna

“CiclodaMineração”MapaCuiabá–CA1770-75.ArquivoHistóricodoExército,Riode

Janeiro, com intervenção dos autores. Imagens das linhas, sempre da esquerda para

direita:“LargodoPalácio-PraçaAlencastro”,entradaprincipaldoJd.Alencastro(1940),

PraçaAlencastroesuaFonteLuminosa(autorLázaroPapazian–FotoCháu,1966)evista

lateral antiga Matriz (Ronald Weber, aproximadamente década 1960). Fonte Freitas

(2011), Proposta Intervenção - IPDU/PMC1998, Vista aérea Praça 2014, foto Paulisson

Miura,PropostaIntervenção-maquete-IPDU/PMC2017evistaáreapós-intervençãoem

2017, fotoGustavoDuarte, acervoMídiaNews;“LargodaConceição-PraçaBispoDom

José”, chafariz Mundéu primeiro plano, s/a, 1871. Vista aérea Terminal de Ônibus da

PraçaBispo,s/a,2005ePraçaBispoem2018,s/a.AcervoAlmanaqueCuiabá;“Largodas

Almas-PraçaIpiranga”,vistadapraça–Rua13deJunho,s/a,1930.Freitas,2011,Praça,

s/a, 1970, disponível em http://www.tyrannusmelancholicus.com.br, Proposta

Intervenção - IPDU/PMC planta paginação e vistas (1998), vistas diferentesmomentos,

s/a.,2000,fotoCarlosPalmeiras,2006,fotoLuizAlves,2018.Elaboraçãoeorganização:

dosautores,julho2018.

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Figura 05:As Temporalidades dos ELPs daUP- Centro Antigo de Cuiabá (continuação).

Fontes:Nacoluna“CiclodaMineração”MapaCuiabá–CA1770-75.ArquivoHistóricodo

Exército, Rio de Janeiro, com intervenção dos autores. Imagens das linhas, sempre da

esquerda para direita: “Largo daMarinha-Praça Luis de Albuquerque”, vista geral Jd.

Porto, autor LázaroPapazian (FREITAS, 2011); Proposta Intervenção - IPDU/PMCplanta

(1998), Vista em 2010, s/a, disponível em http://www.pautaextra.com.br/geral/id-

522263/reforma_descaracteriza_praca_do_porto_em_cuiaba_e_coreto_desaparece .

Proposta Intervenção – IPDU/PMC, perspectiva digital (2013) e vista situação atual em

2018,fotoDanteMirante,acervoJornalDiáriodeCuiabá.“LargoRuadaBoaMortecom

Rua de Baixo - Praça Caetano de Albuquerque”, vista geral, s/a, década 1990, acervo

IPDU/PMC; Proposta Intervenção - IPDU/PMC, perspectiva (1998) e situação em 2015,

foto de Bruno Cidade. Acervo Mídia News; Proposta de Intervenção IPDU/PMC,

perspectivaeletrônica(2017);Elaboraçãoeorganização:dosautores,julho2018.

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Figura 06:As Temporalidades dos ELPs daUP- Centro Antigo de Cuiabá (continuação).

Fontes:Nacoluna“CiclodaMineração”MapaCuiabá–CA1770-75.ArquivoHistóricodo

Exército, Rio de Janeiro, com intervenção dos autores. Imagens das linhas, sempre da

esquerda para direita: “Área Residual-Praça Senhor dos Passos”,vista dos fundos da

Igreja Senhor dos Passos, a partir da colina do Rosário, s/a, s/d, acervo Almanaque

Cuyabá; Inauguração da Praça D. Euphrosina Hugueney de Matos, s/a, 1998, Acervo

IPDU/PMC;vistadoBecodoCandeeiro(2016),s/a,PropostadeIntervençãoIPDU/PMC,

maqueteeletrônica(2017)evistaatual,apósreforma.AcervoÉPURA/UFMT..“Supressão

deEdifício–PraçaDr.AlbertoNovis”,vistasdoCasarãodeD.EuphrosinaHugueneyde

Matos,s/a,s/d.AcervoIphan–SuperintendênciaMatoGrossoElaboraçãoeorganização:

dosautores,julho2018.

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Para entendermos essas questões, apresentaremos o processo das transformações das

atuaispraçasAlencastroeIpiranga,casosextremosde(des)caracterizaçãodosELPsdaUP

CentroAntigodeCuiabá.

As Praças Alencastro e Ipiranga: Processo de (Des)caracterização

Vimos que, desde as primeiras configurações, a maioria dos largos da Cuiabá colonial

tiveramseuscontornosiniciaisdefinidospelosedifícios implantadosemseuslimites,ao

mesmotempoemquese tornavamporçõesdeáreas livresquetambémpossibilitaram

permeabilidadevisualparaapreciaçãodesses conjuntosarquitetônicos implantadosem

suasbordas.DoslargosoriginadosduranteoCiclodaMineração,destacamosdoisdeles:

LargodoPalácioeLargodasAlmas.

Conformeaestruturamorfológicados largos ia se consolidando, tambémse igualavam

seus conteúdos quanto aos aspectos paisagísticos. Dentre os primeiros estruturados, o

LargodoPalácio(importanteporseroentornodoPaláciodoGovernoepelaproximidade

do Largo daMatriz), diferenciava-se do Largo das Almas “quanto à função, ao uso e à

apropriação”. O Largo do Palácio ia sendo caracterizado como a praça do “poder

administrativo” e, a outra, o Largo das Almas, transformada na “praça de mercado”,

abrigando a primeira feira livre de Cuiabá, funções indicadas nos estudos de Robba e

Macedo(2010).

Se a atual Praça Alencastro origina-se do Largo do Palácio, ainda no século XVIII, sua

formaretangularédefinidapelosedifíciosIgrejaMatriz,PaláciodoGoverno,eoutros.

APraçaIpirangadecorredoLargoCruzdasAlmas(séculoXVIII),jáabrigoudefeiralivrea

touradas, mas após tornar-se o largo integrado ao edifício onde funcionou o primeiro

mercado público de Cuiabá, construído em 1852, posteriormente Quartel da Força

Policial (1884-1920) (MENDONÇA, 2012; FREIRE, 1997) e atual Poupa Tempo. Assim, o

largoconstitui-seemumpolígonoquemantémamesmadelimitaçãodesdeoséc.XVIII.

Dagênesedoslargos,atransformaçãodessesespaçoslivrepúblicos,seguiuasinfluências

da capital Rio de Janeiro, apresentando os “Jardins Públicos” à sociedade (Figura 07e

Figura08),quepassariaaadquirir“ohábitoeuropeudo‘passeio'edo‘corso',motivando

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a implantação emanutenção de jardins públicos” [...] E, “praças coloniaismais antigas

tradicionais recebe[ndo] vegetação e tratamento de jardim (...)” (ROBBA & MACEDO,

2010,p:24;26).

EmCuiabá,acriaçãodesses jardinscoincidecomomomentoemqueamanchaurbana

“ganhacontornosmaisnítidoseorepertórioarquitetônicoseenriqueceediversificacom

aconstruçãodeedifíciospúblicosnolargodoPalácio,noLargodaMatriz,enocaminho

doPortoGeral”,ouseja,LargodasAlmas(FREIRE,1997,p:2-54),sendoque,atéofinal

do século XIX, o Álbum Gráphico deMato Grosso registra os belos Jardins da cidade:

AlencastroeIpiranga.

Figura07:JardimIpiranga:a)vistadointeriordapraçaefundoedifícioQuarteldaForça

Pública, atual Ganha Tempo, foto Velho Severino, 1906; b) vista a partir da Rua 13 de

Junho,fotoRaimundoBasto,1920e,c)daRuaGenerosoPonce,aofundo,IgrejadoBom

Despacho.s/a,1920.Fonte:AcervosDiversos(FREITAS,2011).Mapaeintervençãosobre

fotos:elaboraçãodosautores,julho2018.

Figura08:JardimAlencastro:a)vistaapartirdaesquinaentreatualAv.GetúlioVargase

RuaJoaquimMurtinho,s/a,1960;b)panorâmicasentidoRuaPedroCelestino,s/a,1950e

(c), entrada principal do Jardim Alencastro, s/a, 1940. Fonte: Acervos (a) Almanaque

Cuiabá, (b) e (c) ODoc.Mapa e intervenção sobre fotos: elaboração dos autores, julho

2018.

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OsjardinspermanecememCuiabá,emestreitodiálogocomseusentornosedificadospor

quase século. Todavia, a partir dos anos de 1950, a paisagem urbana de Cuiabá é

transformada com a implantação de edifícios de vários pavimentos “símbolo da

modernidade,dasmetrópoles”(FREIRE,1997:2-121).

A transformação do espaço urbano de Cuiabá passa, também, pela modernização do

JardimAlencastro,transformadoemPraçacomcaracterísticasadequadasaoentornodos

novos

edifíciosmodernistas-PalácioAlencastroeEdifíciodeUsomisto,MariaJoaquina(Figura

09)e,o “Jardim Ipiranga”,agradativaperdadaspalmeiras imperiais,eoutrasespécies

arbóreas.

Figura09:AnovaPraçaAlencastro (a) vistado interior, sentido lateral da antiga Igreja

Matriz,fotoRonaldWeber,(b),vistadointeriorsentidoPalácioAlencastro,s/a,(c)vista

sentido Ed. Maria Joaquina, s/a. Todas, aproximadamente, 1960. Fonte: Secretaria de

Comunicação do Estado de Mato Grosso e Freitas (2011). Mapa e intervenção sobre

fotos:elaboraçãodosautores,julho2018s.

Um contramovimento começa a crescer em Cuiabá. Amadurece, então, o discurso da

PreservaçãodoPatrimônio(Edificado)comomanifestaçãodaresistênciaevalorizaçãoda

Cultura local,em finalde1970,comreflexos sobrealgumasdas intervençõesnosELPs,

comonaPraçaIpiranganadécadade1970,“reformadasegundopadrõesantigos”(Figura

10), instalando nessa os postes, coreto e chafariz da Praça Alencastro anteriormente

modernizada, compondo “o ‘espaço do antigo’*...+ uma ressignificação do ‘tradicional’

[...] no contexto do ‘moderno’, reafirmação da identidade ameaçada *...+” (BRANDÃO,

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1997,p:3-127;128).

Figura 10:Praça Ipiranga e vistas do entorno: (a) cruzamento das Ruas 13 de Junho e

GeneresoPonce,s/a,1978(b)InteriordaPraça,comdestaqueparavistadoCoreto,s/a,

1970 e(c) Vista a partir da Av. da Prainha, sentido Rua Generoso Ponce, foto Clóvis

Aratani,2006.Fontes:AcervosSiteTyranusmilancholicos;VivianeRebecaPeixotoeSite

MapioNet, respectivamente.Mapa e intervenção sobre fotos: elaboração dos autores,

julho2018.

QuandodotombamentodoConjuntoArquitetônico,UrbanísticoePaisagísticodeCuiabá,

delimitando a área do Centro Histórico e Setores, a feição existente e preservada das

Praças Alencastro e Ipiranga era a dos ELPs que aindamantinham vegetação arbórea,

entreeles,algumasespécimesdepalmeirasimperiais,relativaáreapermeável,abrigando

elementos

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complementares, de reconhecido valor histórico, como os Coretos e os Chafarizes,

harmonizados com seus entornos edificados, sejam de características modernistas

(Alencastro),sejacolonial (Ipiranga)ambosmantinhamamemóriadacidadetradicional

(Figura11).

Figura11:PraçaIpirangae“reforma”.Junho2018.Mapaefotosdosautores,julho2018.

Naatualidade,apoluiçãovisualcomosinúmerosletreirosdediferentestamanhos,uma

profusão de cores que recobremas fachadas dos edifícios do entorno das praças,mas

tambémdetalhesdestas, comodosmobiliáriosurbanos, sãoalgunsdoselementosque

desvalorizam o patrimônio que as Praças Alencastro e Ipiranga e, seus respectivos

entornos,integram.

Pode-seafirmar,queessaprofusãodeestímuloséreforçadapormeiodasaçõesoficiais,

dosprojetoselaboradoseimplantados,especialmenteapartirdosanos2000,poisdesde

então, todas as gestões realizaram intervenções nos ELPs, especialmente Alencastro e

Ipiranga. De pintura de canteiros ou alteração da forma destes, dos bancos e,

principalmente,atrocaderevestimentodospisos(trocandoaspedrasportuguesaspelos

ladrilhoshidráulico,concretoe,oatualrevestimentocerâmicomulticor).

Seessaspodemserconsideradaspequenasalterações,podemosafirmarquedesde2013,

as intervenções promovidas pela Prefeitura Municipal nos ELPs da UP-Centro Antigo,

sacramentamsuadescaracterização(Figura12).

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Figura12:PraçaAlencastroevistasdoentorno: (a) interiordapraça,sentido lateralda

Catedral,fotoFabianoRabaneda,2012,(b)interiordapraçaapósintervenções2018,foto

GustavoDuartee,(c)EstaçãoAlencastroconstruídasobrepraça,acervoautores.Mapae

intervençãosobre:elaboraçãodosautores,julho2018.

Emboraodiscurso sejadevalorizaçãodoPatrimônioCultural, as soluçõesprojetadase

implementadas subsidiaram reformadoselementosdapraçaenãoa requalificaçãodo

conjuntoda suaestrutura física,pautadaemdecisõesdeconservaçãoepreservação,à

altura do valor dos bens objeto das legislações (IPHAN, 1994; CUIABÁ, 2010; MATO

GROSSO,2009).

Osregistrosfotográficosmostramadiçõesvolumétricasbastardasrealizadasemambasas

praças: na Alencastro, a Estação de Transporte Público; na Ipiranga, sanitários. Essas

intervenções evidenciam o grave impacto paisagístico imputado a bens tombados,

conforme os fundamentos urbanísticos, paisagísticos e legais de valorização do

patrimônio,poisessasedificaçõesdesrespeitamacaracterísticaprimeiradaspraçascomo

espaço livre de edificação; ao se tornarem barreiras, prejudicando a integridade visual

dos conjuntos edificados (Figura 13), e a opção por tipologias arquitetônicas de baixa

qualidade estética (Figura 14), caracterizando-se como uma violência as praças, a

paisagemurbanaeaopatrimôniocultural(material).

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Figura13:PraçaAlencastroevistas,daesquerdaparadireita, vistaapartirmirantedo

Palácio Alencastro, destaque nova Estação construída sobre a praça, foto Luiz Alves;

estaçãocomobarreiravisual,paraapreciaçãoda IgrejaMatrize,doPalácioAlencastro.

Fotos:acervodosautores,maio2018.

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Figura14:PraçaIpirangaevistasdonovoelementoedificado“tipocolonial”-sanitários.

Fotos:acervodosautores,maio2018.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

AspraçasdeCuiabá integramaUP-CentroAntigo,constituída, inclusive,poráreasnão

tombadas.Todavia,verificamosquedesdeanos2000,asgestõesmunicipaisinsistemem

intervirnessaspraçasrecorrentementee,deformaaleatória.

Na evidente ausência de critérios paisagísticos e do patrimônio, é certa a

descaracterizaçãodaspraças,aconsolidaçãodepaisageminsignificanteedesvalorização

dopatrimônioculturalmaterial.

Nessaesteiradeequívocos,sobaresponsabilidadedaPrefeitura,equaisquerinstituições

relacionadas, os impactos das intervenções nos ELPs e seus entornos é fato, e a

preocupação se instaura namedida em que essa prática tem sido uma constante nas

últimasgestõesmunicipais,aventando-seapossibilidadedareproduçãodessaspremissas

projetuais,pautadaspelafaltadefundamentoseprocessoparticipativonoplanejamento

egestão,aotratarobempúblico,deinteressepatrimonial,urbanísticoepaisagístico.

Referências bibliográficas

AZEVEDO, Doriane; GUEDES, Gabriela Silva Leite. A Quantas Andam Nossas Políticas

Públicas de (des)Valorização do Patrimônio Cultural Material em Cuiabá/MT? In: I

CongressoNacionalparaSalvaguardadoPatrimônioCultural: fronteirasdopatrimônio:

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preservaçãocomofortalecimentodas identidadesedademocracia.03a07deoutubro

de2017-Cuiabá(MT),Brasil.

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94

TRANSFORMAÇÕESDAFORMAURBANAOCORRIDASENTRE2005E2016

NosmuníciosdeFlorianópolis-SCeFortaleza-CE

RIBEIRO,AnaJ.S.(1);SEADE,Juliana(2);SILVA,JonathasM.P.da(3)

(1) PUC-Campinas;IniciaçãoCientífica;SãoPaulo,SP;[email protected]

(2) PUC-Campinas;IniciaçãoCientífica;SãoPaulo,SP;[email protected]

(3) PUC-Campinas–Posurb-Arq;ProfessorDoutor;SãoPaulo,SP;

[email protected]

RESUMO

Opresenteartigoé frutododesenvolvimentode iniciaçõescientíficasdesenvolvidasna

PUC- Campinas. Os planos de iniciação científica tinham como objetivo desenvolver o

mapeamentoeanálisedastransformaçõesdaformaurbanaocorridasentre2005e2016

nomunicípiodeFlorianópolis-SCeFortaleza-CE,deformaacontribuircomadiscussão

a respeito da transformação da Paisagem e do Sistema de Espaços Livres. Os

levantamentos foram sistematizados embase georreferenciada de forma a favorecer a

analise espacial. Como resultado temos a produção de cartografias que auxiliam nos

procedimentos de leitura das transformações espaciais ocorridas em função de

investimentospúblicoseprivadossobreosterritóriosurbano.

Palavras-chave:GestãoUrbana,Cartografia,TransformaçãodaPaisagem;

TRANSFORMATIONSOFTHE"URBANFORM"OCCURRATEDBETWEEN2005AND2016:

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95

in

themunitionsofFlorianopolis-SCandFortaleza-CE)ABSTRACT

This article is the result of thedevelopmentof CIs developedat PUC-Campinas. The IC

plansaimedtodevelopthemappingandanalysisoftheurbanformtransformationsthat

tookplacebetween2005and2016inthecityofFlorianopolis-SCandFortaleza-CE,in

ordertocontributetothediscussionaboutLandscapetransformationandOpenSpaces

System. To favor spatial analysis, the surveys were systematized on a georeferenced

basis.Asaresult,wehavetheproductionofcartographiesthataidintheproceduresfor

reading the spatial transformations that occur as a function of public and private

investmentsintheurbanterritories.

Keywords:UrbanManagement,Cartography,LandscapeTransformation;

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Introdução

Opresenteartigobuscapormeiodosresultadoscontribuirnaanálisedatransformação

dapaisagemedosistemadeespaços livres.Parte-sedoprincípioquea localizaçãodas

transformações na cidade possibilita a melhor compreensão do fenômeno de

transformação da paisagem e do entendimento do processo de constituição da forma

urbana.Acaracterizaçãodestastransformaçõespossibilitaaindaidentificarastendências

e ritmo de alterações da cidade. Nos parece que os resultados aqui apresentados são

aindabastantepreliminaresnamedidaemqueseesperaavançaremumaanálisemais

profunda quando as cartografias aqui apresentadas forem cruzadas com os mapas de

localização de renda e demobilidade. A intenção de trazer os resultados preliminares

paraadiscussão foipossibilitar fomentarodebate iniciadonoultimocolóquioQUAPA-

SELarespeitodastransformaçõesurbanas.

Segue procedimentos estabelecidos durante o Projeto temático FAPESP: envolvendo o

PosurbdaPUC-Campinas,aFAU-USPeoIAU-SãoCarlosUSP.Pesquisatemáticaapoiada

pelaFAPESP“OssistemasdeEspaços livresnaConstituiçãodaFormaUrbananoBrasil:

Produção e Apropriação QUAPA-SEL II – Quadro do Paisagismo – Sistema de Espaços

Livres”.Ostrabalhosdesenvolvidosdãocontinuidadenacolaboraçãoentrepesquisadores

da rede e possibilitou estabelecer diálogo com as Iniciações Científicas das diferentes

universidades envolvidas no projeto temático (PUC-Campinas e USP). A pesquisa se

baseiaprimeiramentenoestudoteóricoarespeitodasanálisesentrediferentesescalas

(MAGALHAES & SILVA; 2015) e do processo de apreensão do método de

elaboração cartográfica que estabelece a priori suas categorias de análise para

identificaçãodastransformaçõesurbanas(PEGORARO & MACEDO, 2016).

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97

Método

A primeira ação na produção cartográfica estabelecida pelo método de PEGORARO &

MACEDO é a identificação dos diferentes tipos de transformações que ocorrem na

paisagemquenormalmentevariamemseusaspectosdeproduçãoda formaurbanade

cada recorte território. O método estabelece três tipos de transformações da forma

urbanapossíveisdeseidentificarpelaleituravisualdeortofotosdediferentesanos(2006

e2016),sãoeles:“adição”,“substituição”e“consolidação”.

As transformações por “adição” consistem na transformação de um espaço sem

parcelamentodo soloede característicasde

uso rural para um espaço comparcelamento do solo, portanto com a configuração de

quadrasurbanas.

Imagem2005 Imagem2016

Figura 01: Exemplo de polígono caracterizando transformação por adição. Imagem

GoogleEarthPro

Astransformaçõespor“consolidação”consistememocupaçãodosvaziosurbanos,istoé,

de

espaçosnãoedificadoslocalizadosnacidade.

Imagem 2005 Imagem 2016

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98

Figura02:Exemplodepolígonocaracterizandotransformaçãoporconsolidação.Imagem

GoogleEarthPro

Finalmenteastransformaçõespor“sobreposição”consistememalteraçõesnavolumetria

existenteprovocandomudançasnasformasvolumétricas,porexemplo:quandogalpões

ousobradossãosubstituídosporedifícioscomdiversospavimentos.

Imagem 2005 Imagem 2016

Figura03:Exemplodepolígonocaracterizandotransformaçãoporsobreposição.Imagem

GoogleEarthPro

Aidentificaçãodastransformaçõesedesenhodospolígonosdemandoutempodeanalise

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99

utilizando-seaferramentagratuitadoGoogleEarthondeépossívelobservarasortofotos

de 2006 e 2016. Para cada polígono foi associado um conjunto de dados inseridos em

uma tabela. Os dados caracterizam a transformação de cada polígono quanto: a)

identificaçãodotipodetransformaçõesurbanas(adição,substituiçãoouconsolidaçãob)

àstransformaçõesdevolumetrias,c)aosrecuoseafastamentodanovasvolumetriased)

a alteração da porcentagem de presença de arborização. Em Florianópolis foram

mapeados917polígonosnototaleemFortalezaforamidentificados627polígonos.Após

desenhar os polígonos no Google Earth estes dados foram salvos em formato “kml” e

importados no programa QGis (QGIS 2.18.21), também gratuito, onde foi possível

relacionar os polígonos comos dados da tabela possibilitandodesta forma a produção

cartográfica.

O arquivo “Kml” é aberto no QGIS e salvo em formato de arquivo Shapefile com a

referênciageográficacorreta,porexemplonocasodacidadedeFlorianópolisutilizou-se

o SIRGAS 2000, UTM ZONE 22S. O arquivo Shapefile, onde se encontram inicialmente

apenas os polígonos (feições) são relacionados aos dados da tabela por meio da

ferramentade “união”.Desta formaos“polígonos” ficamvinculadosauma“tabelade

atributos”que

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100

indicamascaracterísticasdecadapolígono.Aseguirapresentamosimagensdoprocesso

deproduçãocartográfica.

Figura04:ArquivosShapefilecategorizadosImagemQGIS

Figura05:TabeladeAtributos.ImagemQGIS

Figura06:CategorizaçãodeEstilosporcor.ImagemQGIS

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102

Figura07:CompositordeImpressão.ImagemQGIS

Florianópolis - SC

Os mapas gerados permitem analises da produção da forma urbana na cidade de

Florianópolis. Identificam-se diferentes tipos demalhas urbana ao longo da ilha sendo

estasfortementecondicionadapelatopografia.

Conforme declarado no método, a análise identifica as seguintes formas de

transformaçõesdoespaçourbano,ocorridaspor:adição,consolidaçãoousobreposição.

Omapa sobreÁreasdeTransformaçõesUrbanas (Figura08)permite identificarqueos

polígonosencontradosnacategoria“Adição”estãoprincipalmentenaregiãonortedailha

e algunspontos ao sul e centro.A categoria “Consolidação”é encontradaem todas as

regiõesdoterritórioeocorrememmaiorquantidadequeasdemais.Astransformações

por “Sobreposição” são pontuais e raras, acontecem mais na porção continental de

Florianópolis.

Identifica-se também que o tipo transformação preponderante em Florianópolis no

período de 2005 a 2016, é o de “Consolidação”, onde áreas já urbanizadas da malha

urbana sofrem algum tipo de transformação, seja na borda damancha urbana ou em

glebasinternasàmalhaurbanaexistente.

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103

Figura08:MapadeTransformaçãoUrbana–ÁreasdeTransformaçãoUrbana.08/2018

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104

Figura09:MapadeTransformaçãoUrbana–ArborizaçãoIntralote08/2018

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105

OmapaArborização Intralote (Figura 09)mostra que cerca de 85%dos lotes possuem

arborização entre 0-10%, curiosamente a porção norte já citada tem ocorrências de

transformaçãopredominantecomarborizaçãoentre10-30%.

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106

O mapa Volumetrias Construídas Intralote (Figura 10) define os tipos morfológicos de

cadatransformaçãoidentificada.Napartenordestedailhaocorreumapredominânciade

trêstipos:EdificaçõesHorizontaisdePequenoPorte,LoteamentosHorizontaisfechadose

CondomíniosHorizontais.

ApartecontinentalpossuifortetransformaçãoparaQuadrasCondominiaisVerticaiseéa

porçãomaisverticalizadadeummodogeralnoterritório.

Figura 10: Mapa de

TransformaçãoUrbana–VolumetriaConstruídaIntraquadra.08/2018

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108

Omapa de Espaços Livres (Figura 11) revela a predominância de lotes com 0-30% de

espaços livres ao sul do território. Em bairros comoMonte Verde, Saco Grande, João

Paulo,eItacorubi,próximosaocentro,ocorreumamescladestemesmotipocomoutras

ocorrências de 30-50% e 50-

100%. No norte da ilha

identifica-se uma maior

frequência de lotes com

espaçoslivresentre50-100%.

Figura 11: Mapa de

Transformação Urbana –

Espaços Livres Intraquadra.

08/2018

No mapa de Recuos Intralote

(Figura 12) observam-se, na

região norte, lotes com 1 ou 2

recuos, assim como, lotes sem

predominância de recuos. A

oeste, próximoao centro, lotes

com1ou2recuospredominamsobreosdemais,havendoocorrênciasdelotescom3ou

4

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109

recuos.Aosulda ilhasãodominantes lotescom1ou2recuos,seguindoas lógicasdos

lotes já

existentes.

Figura 12:

Mapa de

Transform

ação

Urbana –

Recuos

Intralote.

08/2018

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110

Estasanálisesgeradassobreacartografianospermitemconcluirquealgumasregiõesda

cidadedeFlorianópolis têmcaracterísticasquevariamconformeaatividadeeconômica

local, uso do solo, e proximidade com a orlamarítima.O fato de ter grande potencial

turísticolitorâneogeraumaocupaçãoligadadiretamenteaestaatividade.Éoqueocorre

nos bairros de Jurerê, Canasvieiras, Ingleses e Campeche, além de pontos específicos

comoLagoadaConceiçãoeasregiõesdeDunas.

Fortaleza - CE

Diferente da cidade de Florianópolis, onde predominou a transformação por

“consolidação” ao mapear o território da cidade de Fortaleza foi identificado um

grande número de transformações do tipo “sobreposição”. Observa-se o

fenômeno principalmente na região central, onde casas foram substituídas por

edifícios verticais, concomitantemente com o fenômeno da consolidação que

aconteceu em toda malha urbana que se encontrava consolidada com muitos

vazios urbanos. O fenômeno da adição pouco ocorre, e está diretamente ligado a

construção de

novas

estruturas nas

partes

periféricas da

cidade (figura

13).

Figura 13:

Mapa de

transformaçõe

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111

s urbanas cidade de fortaleza, áreas de transformação 2005-2016.

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112

Após essa primeira classificação das mudanças, foi gerado um mapa com os

agrupamentos principais, onde são observados nitidamente os processos de

verticalização, disseminação de condomínios horizontais, edificações de cunho

comercial médio e grande porte, encraves urbanos e áreas não ocupadas. Desta

maneira foi possível observar uma grande verticalização na região central,

tornando as quadras mistas (horizontais e verticais) e uma verticalização através

de condomínios nas regiões periféricas. O padrão do tipo residencial horizontal

ocorreu principalmente nas regiões periféricas ocupando os vazios urbanos em

consolidação enquanto o tipo comercial horizontal ocorre em conjunto com a

construç

ão de

estrutur

as

viárias

(Figur

a 14).

Figura

14:

Mapa

de

transformações urbanas cidade de fortaleza, principais agrupamentos 2005-2016.

No que diz respeito aos recuos (Figura 15) observa-se uma predominância de

construções com um ou dois recuos, sendo estes o frontal e o posterior. Salvo as

construções de grande porte, que são cercadas por uma grande área de

estacionamento.

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113

Figura 15: Mapa de

transformaçõ

es urbanas

cidade de

fortaleza,

Recuo

intralote

2005-2016.

Em relação ao espaço livre intralote (Figura 16), o mapa se mostra homogêneo

uma vez que a predominância é de 0 a 30% de espaços livres. Os condomínios e

as construções horizontais seguem uma mesma tipologia principalmente nas

grandes áreas

em

consolidação,

enquanto no

centro os lotes

são

preenchi

dos

quase

que

integralm

ente pela

composição da

malha urbana consolidada.

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114

Figura 16: Mapa de transformações urbanas cidade de fortaleza, espaços livres

intralote 2005-2016.

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115

A arborização (Figura 17) nesses lotes se dão de forma mínima, mas presente

principalmente nos recuos frontais das casas. Este fator parece imprimir um

padrão de arborização de forma homogênea no território, variando de 0 a 10% do

lote. Não foi constatada a criação de novos espaços desse caráter.

Figura 17: Mapa de transformações urbanas cidade de fortaleza, Arborização

intralote 2005-2016.

A cidade, portanto, passa por um crescimento imobiliário nítido, com criação de

novos eixos comerciais e estruturais, onde consolida-se as regiões periféricas já

parceladas e adensa-se regiões centrais de interesse.

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116

Por fim, o mapa de morfologia das transformações (Figura 18), o mais complexo,

evidencia a verticalização que ocorre no centro, diferentemente da que ocorre nas

regiões periféricas e a construção de condomínios verticais e conjuntos

habitacionais.

Figura 18: Mapa de transformações urbanas cidade de fortaleza, morfologia

construída da transformação 2005-2016.

Enquanto edificações de pequeno porte situam-se principalmente na porção oeste

do território. Alguns condomínios verticais surgem na região leste e consolidam

uma porção de terra antes parcelada e não edificada. Em relação aos novos eixos

estruturais criados, as transformações que os acompanha se configura

principalmente em pequenos conjuntos de médio porte não dispersos e algumas

grandes edificações pontuais. Observa-se então o aumento de industrias e

empresas de pequeno e médio porte. Praças e parques são a minoria quando se

trata de transformação e poucas áreas não ocupadas na malha.

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117

Considerações Finais

Os estudos realizados até o momento possibilitam a percepção da transformação

na forma urbana ocorridas nas cidades estudadas. É curioso notar que na análise

comparativa entre as duas cidades observa-se que o tipo predominante se altera

conforme o estágio e contexto de ocupação do território urbano. Por exemplo: se

em Florianópolis o tipo predominante de transformação ocorre por “consolidação”

das áreas urbanizadas na última década o mesmo não ocorre em Fortaleza onde

os mapas desenvolvidos constatam que as transformações ocorridas na última

década se dão predominantemente pela “sobreposição” de um novo volume

edilício sobre outro. As análises sugerem que no período estudado Florianópolis

teve maior oferta de lotes que Fortaleza.

Outro aspecto observado refere-se às características das áreas identificadas

como “adição” de áreas urbanizadas nas duas cidades. Em Florianópolis estas

áreas são adicionadas sem haver uma imediata consolidação. Já em Fortaleza as

transformações do tipo “adição” são imediatamente consolidadas.

A análise mais aprofundada dos mapas gerados, com ajuda de representantes

locais ligados à pesquisa QUAPA-SEL, pode revelar outras percepções que

contribuirão para o entendimento do processo de transformação da paisagem nas

cidades estudadas. Cabe ainda desenvolver método de análise para o

cruzamento pretendido com os mapas de localização das rendas e forma urbana.

Os estudos seguem e o presente artigo documenta e disponibiliza os resultados

alcançados até o momento para fomentar a interlocução com os demais

pesquisadores da rede QUAPA-SEL

.

4. Referências bibliográficas

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118

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119

OPROJETODESISTEMADEESPAÇOSLIVRESPÚBLICOSCOMO

ESTRUTURADORDAPAISAGEMDORECIFE

ParqueCapibaribeeJardimdoBaobá

SANTOS,LuisaAciolidos(1);SÁCARNEIRO,AnaRita(2);

(1) UniversidadeFederaldePernambuco;MestrandadoProgramadePós-graduação

emDesenvolvimentoUrbanoMDU;Recife,Pernambuco;[email protected]

(2) UniversidadeFederaldePernambuco;PhD,ProfessoradoDepartamentode

ArquiteturaeUrbanismoecoordenadoradoLaboratóriodaPaisagem;Recife,

Pernambuco;[email protected]

RESUMO

O projeto de sistema de espaços livres públicos visa estabelecer um contínuo natural

atravésdaarticulaçãoderuas,pontes,parques,praças,jardinscanais,rios,dentreoutros

espaços. Tal integração se estabelece na morfologia através de uma trama de

componentes naturais conformada pelas águas e pela vegetação. Na cidade do Recife,

algumaspropostas foramdesenvolvidasnoséculoXXvisandoaarticulaçãodeparques,

jardins, canais e vias arborizadas, no entanto, pouco foi feito no sentido de consolidar

essasideiasnotecidourbano.Nosúltimosanos,oretornodessedebatefoiestabelecido

pelo projeto Parque Capibaribe apresentado publicamente em 2014, com uma etapa

inaugurada em2016, intitulada JardimdoBaobá. Este artigo tem comoobjetivo traçar

consideraçõesarespeitodavisãosistêmicaaliadaaoprojetodepaisagem,reveladanas

reflexões sobre a história, o território e a natureza, no âmbito das formulações para o

ParqueCapibaribeeparaoJardimdoBaobá.Verifica-sequetaispropostastirampartido

das linhasdeforçadapaisagemdoRecifedemodoaexaltarasfunçõesecológicaseos

componentes naturais como elementos primários ou estruturantes, reinstaurando uma

visãosistêmicaquebuscarecosturaraposiçãoprivilegiadadaságuasedavegetaçãona

históriadeocupaçãodacidade.

Palavras-chave:projetodepaisagem;Recife;sistemadeespaçoslivrespúblicos;

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THE PROJECTOF SYSTEMOF PUBLICOPEN SPACES AS A STRUCTUREROF THE RECIFE

LANDSCAPE:CAPIBARIBEPARKPROJECTANDBAOBÁGARDEN

ABSTRACT

Theprojectofsystemofpublicopenspacesaimstoestablishanaturalcontinuumthrough

thearticulationof streets, bridges, parks, squares, gardens, canals, rivers, amongother

spaces. Such integration is established in morphology through a network of natural

components conformed by water and vegetation. In the city of Recife, some proposals

were developed in the twentieth century aiming at the articulation of parks, gardens,

canals and wooded roads, but little was done to consolidate these ideas in the urban

fabric. In recentyears, the returnof thisdebatewasestablishedby theCapibaribePark

project publicly presented in 2014, with a stage inaugurated in 2016 entitled Baobá

Garden. Thepurposeof this article is to drawup considerations regarding the systemic

vision associated with the landscape project, revealed in the reflections on history,

territoryandnature,withinthescopeoftheformulationsfortheCapibaribeParkandthe

BaobáGarden. It isverifiedthattheseproposalstakeadvantageofthestrength linesof

the landscape of Recife in order to exalt the ecological functions and the natural

componentsasprimaryorstructuringelements,reinstitutingasystemicvisionthatseeks

to recapture the privileged position of the waters and the vegetation in the history of

occupationofthecity.

Key-words:landscapeproject;Recife;systemofpublicopenspaces;

1.Introdução

Anoçãodepaisagemépolissêmica,eacomplexidadeemtornodadefiniçãodotermoé

resultadodoseuusopordiferentescamposprofissionais.Nesteartigo, iremostratarde

paisagem como campode atuação do paisagista, preocupado com a transformação do

territórioatravésdoprojeto.DeacordocomBesse(2014,p.56-60),aopensaroprojeto,

o paisagista tenta relacionar três eixos de reflexão: solo, território e meio ambiente

natural.

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Osolorepresentaanecessidadede levaremconsideraçãoahistóriado lugar,expressa

atravésdamaterialidade,mastambémpormeiodecomponentessimbólicos,memórias,

vivênciase resistênciasquemarcamdeterminadoespaço (BESSE,2014,p.58). Significa

dizer, que a paisagem não é uma “página em branco” que pode receber intervenções

fruto do simples desejo do projetista, ao contrário, deve ser considerada como base e

inspiração projetual, por sua história, características, pelo modo de ocupação, pelos

componentesnaturaisepelaspessoasquenelavivem.

Aproblemáticadoterritório,deacordocomBesse(2014,p.58),compreendeodesafio

de entender o espaço dentro da complexidade de relações morfológicas, temporais e

funcionaisqueeleguardacomoutrosespaços,tratasobretudodarelaçãoentreescalas.

Sendoassim,Corajoud(2002,p.128)apontaqueocruzamentodeescalasénecessário

aoprojetar,econsisteemdominardemaneirasimultâneaoconjuntoeodetalhe,oque

estápertoeoqueestálonge.

Porfim,adireçãodomeioambientenatural,deacordocomBesse(2014,p.58-59),diz

respeito a preocupação com as questões ecológicas e ambientais. O paisagista busca

estimularapresençadanaturezanascidades,demodoafavoreceroencontroentreas

pessoas e as águas, a vegetação, o solo natural e o ar puro. Conforme Spirn (1995, p.

271), os projetos urbanos podem “afetar a qualidade do ar e das águas, prevenir ou

mitigar os riscos naturais, recuperar as áreas degradadas, conservar energia e recursos

naturais”desdequesebaseiemnacompreensãodofuncionamentodoecossistema.

Dessa maneira, podemos inferir que o processo projetual parte de uma leitura da

paisagem que pretende captar a forma existente e a possível, a partir de uma

compreensãopreocupadacomahistória,ocontextoeanatureza.Noprojeto,avisãodo

paisagistaosciladaspartesparaotodoedotodoparaaspartes,buscandoapreendere

descrever elementos da paisagem imaginando para além de suas características, as

relaçõeseinteraçõesqueesteselementospodemviraestabelecernoconjunto.

SegundoCorajoud(2011,p.217),acapacidadedeisolareintegrarpermiteexploraçõese

descobertassobreapaisagem,“ofereceumamultidãodeindíciosquenosindicamoque

ela é, o que ela era e o que ela se pode tornar”. Esta abordagem que parte da

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identificaçãodepartesedateceduraderelaçõesentreelasparaconformarumoprojeto

depaisagemsedesenvolveapartirdeumavisãosistêmica.

O conceito de sistema foi fortemente debatido no início do século XX, segundoMorin

(2008, p. 126), os avanços da física demonstraram que o átomo não poderiamais ser

compreendido como a unidade primeira e irredutível, mas sim como um sistema

constituídodepartículaseminteração.Essadescobertadeslocouofocodaspropriedades

dos elementos constituintes para a encontrar respostas condicionadas pela natureza

organizacionaldosistema.Opotencialdeaplicaçãodessepensamentoàdiversoscampos

do conhecimento propiciou o surgimento da Teoria Geral dos Sistemas, fortemente

defendidaporBertalanffy(1977)eutilizadanabiologia,sociologiaepsicologia.

Quando associada ao urbanismo, a ideia de sistema estimula uma visão articuladora

sobre o tecido urbano que permite tecer relações entre alguns de seus elementos

morfológicos.ParaLamas(2004,p.46),taiselementossãopartesfísicasqueestabelecem

o todo, a forma. Nesse sentido, ao tomar como objeto o sistema de espaços livres

públicosestamostratandodeumconjuntodeespaçosdeacessocomumatodos,quese

destacam pela presença da natureza, dos ventos, do solo natural, das águas e da

vegetação.

O sistema de espaços livres públicos tem elementos morfológicos que podem ser

divididos em dois grupos em detrimento das suas funções e formas: elementos de

conexãocomcaráterlinearcompreendem:ruas,vielas,becos,pontes,margensderiose

espaçosdeborda,porexemplo.Enquantooselementosdepermanênciacomcaráterde

mancha (bolsões) são: reservas, parques, praças, jardins, largos, pátios, campos de

pelada,campusuniversitário,dentreoutros.

A relevância de cada umdesses espaços livres públicos no tecido urbano é fortalecida

quandotaiselementossãoarticuladosfisicamentedemodoapermitirumacontinuidade

natural. A conexão se estabelece atravésda tramade componentesnaturaismarcados

pelas águas e pela vegetação. A compreensão dos espaços livres públicos como um

sistema permite enfatizar seu papel como uma rede de valor ecológico que propicia o

encontrodocidadãocomanatureza.

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Deacordo comSpirn (1995,p. 17) a visão sistêmicapermite reconhecerapresençada

naturezanacidade,identificandopotencialidadescapazesdeseremaplicadasaoprojeto

de paisagem. Para a autora, “muitas cidades devem sua localização, seu crescimento

histórico, a distribuição da população, bem como o caráter de seus edifícios, ruas e

parquesàscaracterísticasdiferenciadasdeseuambientenatural”(SPIRN,1995,p.27).A

cidadedoRecifepodesercolocadanostermosacima.

2.VisãosistêmicanosprojetosdepaisagemparaoRecife

SegundoMesquita(1998),trêsperíodospodemserdestacadoscomomomentosáureos

da tradição da arte dos jardins e da paisagem no Recife. O primeiro momento

correspondeaoperíododedomínioholandêsnoséculoXVII,quandoMauríciodeNassau

arborizouruasnacidadeMauríciaeimplantouoParquedeFriburgo,gestoinauguralda

história do parque no Brasil, de acordo com Sá Carneiro (2010, p. 15). O segundo

correspondeaoperíododegovernodoCondedaBoaVista,emmeadosdo séculoXIX,

quandofoi retomadaaarborizaçãoderuas,acriaçãodepasseiospúblicos,depraçase

jardins.Aterceirafaseécolocadacomoadécadade1930,quandoopaisagistaRoberto

BurleMarxesteveà frentedaDiretoriadeParquese JardinsdoGovernodoEstadode

Pernambuco.

ParaMesquita (1998, p. 9), a realização paisagística desses trêsmomentos da história

permitiu que a imagem primordial do Recife marcada pelas águas e pelos espaços

verdejantes, permanecesse “ainda hoje na evocação dos sítios e quintais, nas praças e

jardins públicos frondosos, no apelo à sobrevivência dos manguezais, bem como nas

matas remanescentes”. Amemória dos verdes urbanos, apontada pela pesquisadora é

retomada na pesquisa Espaços Livres do Recife, onde Sá Carneiro e Mesquita (2000)

definemtrêscomponentesnaturaiscomolinhasdeforçadapaisagem:orioCapibaribe,o

litoraleoconjuntodemorrosàoeste(Figura01).

As três linhasde forçadapaisagemdoRecifedefinemeixoshistóricosdeocupaçãoda

cidade.AságuasdolitoralpossibilitaramocaráterdoRecifecomoportonatural,servindo

comoelementofixadordocomércioede ligaçãocomoexterior.Enquantoaságuasdo

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rio Capibaribe e osmorros à oeste permitiram a interiorização para o escoamento da

produçãodecana-de-açúcaratravésdetrilhasquemargeavamorio(BEZERRA,2017,p.

47-48).Aocupaçãodoportoeoestabelecimentodeengenhosesítiospróximosaságuas,

levaram anosmais tarde, a conformação dos núcleos de alguns bairros. Corroborando

com o que aponta Spirn (1995, p. 28), esses registros da interação entre os processos

naturais e os propósitos humanos marcam a forma urbana e o ambiente natural da

cidade,contribuindoparaaconformaçãodeumapaisagemúnica.

Figura01:LinhasdeforçadapaisagemdoRecife.Fonte:SáCarneiroeMesquita.2000.

Ao longo dos anos, a expansão do tecido urbano do Recife provocou o aumento da

densidadepopulacionalemespaçoscomprecáriacondiçãodehabitabilidade.Ocontexto

detransiçãodoséculoXIXparaoséculoXX, ficoumarcadopelarealizaçãodereformas

urbanas,nosentidodeestruturaremodernizaracidade.

Nesse sentido, a proposta desenvolvida por Saturnino de Brito no Projeto de

Melhoramentos do Plano de Saneamento do Recife (1909-1915) foi uma iniciativa

pioneira de reflexão sobre a expansão da cidade do Recife por meio de uma visão

sistêmica combasenas condições físicas enaturais existentes.Omodode implantaro

traçado viário alinhando aos espaços livres, por meio de largas avenidas-parque e

avenidas-canal também arborizadas, são características marcantes que demonstram

preocupaçõesartísticasesanitárias.Apesardoplanonãotersidototalmenterealizado,

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foidefundamentalimportânciaparaaestruturaçãodoRecifemoderno(MOREIRA,2010,

p.66-68).

Nasdécadasentre1930e1950outrosplanosurbanísticosparaoRecife, baseadosem

teoriasmodernas, associavam a criação de espaços livres públicos e arborização como

ações de embelezamento e higienização relacionadas sobretudo ao sistema viário. Tais

planosforamdesenvolvidosporDomingosFerreira(1927),NestordeFigueiredo(1932),

AtílioCorrêaLima(1936)eUlhôaCintra(1943).Infelizmente,segundoSáCarneiro(2010,

p.70),aideiadearticulaçãodosespaçoslivrespúblicosnãofoitotalmenteconsolidada,a

execuçãodosparquesepraçasda cidadeacabou sendo feitademaneirapontual, sem

refletiressasarticulações.

SegundoMenezes e SáCarneiro (2014), nadécadade1970, as cheiasprovocadaspela

chuvaalertaramsobreoproblemadasocupaçõesinformaisnasmargensdorio,fazendo

comqueaprefeiturapassasseainvestiremprojetosdelimpezaedragagemdaságuas.

EssedebatenoRecifefoiacompanhadodeumapropostaparacriaçãodeumSistemade

Parques Metropolitano em 1980 pela Fundação de Desenvolvimento da Região

Metropolitana do Recife (FIDEM). Nessa proposta, estava prevista a criação do Parque

Capibaribe,detalhadoem1981pelaPrefeituradoRecifeatravésdoProjetoRecife.

O Parque Capibaribe (Figura 02) pretendia se instalar em 6,6 km nas margens do Rio

Capibaribecontemplandoacriaçãode11parques.DeacordocomSáCarneiro(2010),a

consolidaçãodoparquenãoseviabilizoudevidoaconflitosrelacionadosaproblemática

dahabitaçãoprovocadospelapopulaçãoribeirinhaepelosagentesdosetorimobiliário.

Depoisdessainiciativa,outrosprojetosforamdesenvolvidosparaorioCapibaribe,como

porexemplo,oProjetoBeiraRio(1996)eoProjetoCapibaribeMelhor(2001).

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Figura 02: Setorização do Parque do Capibaribe, Projeto Recife, Volume XXV,mapa 06.

URB,1981–editadoporIsisCavalcanti,2002.Fonte:MenezeseSáCarneiro.2014.

Épossívelperceberemalgunsdessesprojetosdearticulaçãodeespaçoslivrespúblicos,a

tentativadeestruturaçãodamorfologiaurbanadoRecifeapartirdeeixosdearticulação

marcadospelaságuasepelavegetação,mastambémporedifícios-âncoraderelevância

históricaecultural.Osistemadeespaçoslivrespúblicossurgiacomoprojetodepaisagem

quetentavaestabelecerumaestruturacapazde“contribuirparaumaformaurbanamais

diferenciada,memorávelesimbólica”(SPIRN,1995,p.26).

Os últimos anos foram marcados pelo retorno desse debate no Recife, em 2014, foi

apresentada publicamente a proposta do Parque Capibaribe. Com uma etapa já

executada,oJardimdoBaobá,oprojetotemcomofinalidadeacompreensãodoRecife

como Cidade-Parque por intermédio de uma composição atenta a ecologia e a

biodiversidade.Otermo“parque”apareceassociadoaorioCapibaribe,comoumaforma

dedenotarafunçãosocialdessalinhadeforçadapaisagemnapromoçãodaafetividade

entreorecifenseerio.

3.OParqueCapibaribeeoJardimdoBaobá

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Oprojeto Parque Capibaribe (Figura 03) tem como objetivo principal a articulação das

margensedaságuasdorioCapibaribecomoumgrandeparquelinear.Alinhadeforçado

rioCapibaribe,queatravessatrintaecincobairrosdacidade,éexploradanapropostapor

meio da viabilizaçãodamobilidade ativa, através da criaçãode ciclovias, passeios para

pedestres e da navegação pelo leito do rio. Pretende-se modificar a condição de

degradação e desvalorização do rio, relacionada a poluição, a ocupação irregular das

margenseaexistênciadeespaçoslivrespúblicosinacessíveisapopulação.

ApropostafazpartedeumconjuntodeaçõesnoâmbitodoPlanoRecife500anos,eé

frutodoconvênioentreaPrefeituradoRecifeeaUniversidadeFederaldePernambuco,

representada pelo grupo de Pesquisa e Inovação para a Cidade- InCiTi. A intenção de

articulação urbanística do rio Capibaribe com a cidade e se estabelece a partir da

recuperaçãoambientaldeespaços vegetadosexistenteseda criaçãodenovosespaços

livrespúblicos.

Figura03:ProjetoParquedoCapibaribe2014.Fonte:INCITI.2014.

AteceduradapropostaenvolveastrêsdireçõesapontadasporBesse(2014)namedida

emque tentar reestabelecer laçosdememóriaeafetividadeentreapopulaçãoeo rio

Capibaribe,partedeumavisãoterritorialde integraçãoaoníveldacidadee incitauma

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visão sistêmica sobre os espaços de natureza através da articulação dos sistemas azul

(águas), verde (vegetação), terra (topografia), vivo (fauna e flora) e cinza (elementos

construídos).

Oconceitodoprojeto,‘árvored’água’,revelaavisãosistêmicadeSpirn(1995,p.20-21)

que entende a natureza não somente através de seus componentes mais marcantes,

como árvores ou praças, mas como uma “força essencial” presente no “ar que nós

respiramos,osoloquepisamos,aáguaquebebemoseexpelimoseosorganismoscom

os quais dividimos nosso habitat”. Na proposta, o sistema azul é o protagonista,

demarcandoamalhahídricacomopotencialarticuladorparaadefiniçãodeumaforma

urbanacoerentetraçadaatravésdasbacias,riosecanais.

A dimensão territorial está evidente nas cinco premissas básicas do projeto definidas

como:percorrer,atravessar,chegar,abraçareativar.SegundoCorajoud(2011,p.217),“a

paisagem é o lugar do relacional onde todos os locais só são compreensíveis por

referênciaaumconjuntoqueseintegra,porsuavez,numconjuntomaisvasto.”.Nessa

perspectiva,apropostatransbordadoleitodorio,promovendoainfiltraçãonosbairros

dacidadepormeiodacriaçãodeespaçoslivrespúblicosdeconexão,visandopercorrer,

atravessarechegarpormeiodepontes,travessiasdebarco,ruasepasseiosarborizados.

Aomesmotempoinvestenoestabelecimentodeespaçoslivrespúblicosdepermanência,

bolsõesparaaproximarolazerdasmargens,abraçando-as.Assimcomopretendeativara

participaçãosocialdosagentesinteressadosnoplanejamentoenagestãodoprojeto.

Adimensãosimbólicaehistóricadapropostapodeserexplanadaatravésdo Jardimdo

Baobá (Figura 04), primeira etapa do Parque Capibaribe consolidada, inaugurada em

2016. Localizado no bairro dasGraças, o jardim de 100m de extensão apresenta uma

atmosferaíntimaeaconchegante,provocandoumarelaçãodepertencimentoecuidado

comabordadorio.Aescolhadalocalizaçãodojardimsedeveuaexistênciadeumbaobá

de15metrosdealtura, registradopelaPrefeituradoRecife comoárvorede relevância

históricaeambientalem1988,que seencontravaestranguladopormurosde terrenos

queocuparamirregularmenteaáreadepreservaçãopermanentenabordadorio.

Acomposiçãodoprojetopaisagísticoestabeleceucomomoteavalorizaçãodestebaobá,

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permitindo a população o acesso direto ao espaço vegetado conformado por ele. Esta

estratégiaprojetualcorroboracomoqueapontaCorajoud(2002,p.121),paraprojetaré

precisorecorrerao lugaremtodosossentidos,compreendendosua identidadeapartir

dosaspectosnaturais,docampoculturaledahistóriadeocupaçãosucessivaquedeixou

marcas,configuraçõesesignificados.

Figura04:ProjetoJardimdoBaobáefotodojardim.Fonte:INCITI.2014.

Como componente central do espaço, o baobá se tornouum símbolodaherança edo

patrimôniodacidade.Acontemplaçãodaárvorehistóricaéestimuladapela localização

dosbalançosgigantes,utilizadosporadultosecrianças,voltadosestrategicamenteparao

baobá. Mesas de madeira e bancos de concreto conformam espaços de estar que

permitem o contato mais direto com espaços gramados, massas arbóreas e espécies

frutíferas.Aspessoascostumamusarojardimpararealizarpiqueniques,estudarefazer

pequenosencontros,comofestasdeaniversário.

A área do jardim mais próxima a borda d’água funciona como um local para o

fortalecimento da biodiversidade local, estimulando o contato com o mangue e os

animais sob a ótica da preservação e da conscientização ambiental. O píer flutuante

permiteoacessoàságuas,grandepartedosusuáriosoptaporfazertravessiasdebarco

norioapartirdesteponto.Demodogeral,aideiadoprojetoéestabeleceromínimode

intervenção possível para possibilitar que tal espaço livre público se torne uma

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plataformaparaaexperiênciadepaisagempelocontatocomanatureza.

4.Consideraçõesfinais

Osplanosurbanísticosedesenhostraçadospodemfazerpensarqueoprojetodesistema

deespaçoslivrespúblicossófazsentidonavisãodaquelequeprojeta,mascomoaponta

Besse (2014, p. 54-55), é a experiência do caminhar pelo passeio arborizado que

possibilita à população a apreensão estética da paisagem. Nesse sentido, a trama

arborizadaidealizadanoParqueCapibaribetempotencialparasetornarmeiodeconexão

entreaspessoaseacidade,umelemento-chavenamorfologiaurbana.

Ao demarcar eixos e espaços de referência, o sistema de espaços livres públicos

articulado confere legibilidade ao tecido urbano, permitindo a identificação de formas

claras que auxiliamna orientação do pedestre.O potencial estruturador desse sistema

nãoexistesomenteemdetrimentodoselementosmorfológicosinternosasuatotalidade.

Massobretudopelasrelaçõesqueestabelececomoutrossistemasrelevantes,dentreeles

osistemaviárioeosistemadeespaçosconstruídos.

Sendo assim, o projeto do sistema de espaços livres públicos requer uma visão

abrangente e articuladora, capaz de traçar a integração entre calçadas arborizadas,

praças, jardins e parques entre si e com as demais funções da cidade. Ao promover o

acessoaespaçosdenaturezanacidade,comonocasodoJardimdoBaobá,oprojetode

paisagempermitetecerrelaçõesentreacidadeeasuahistória,acidadeeoseuterritório

eacidadeeoseumeionatural.

No caso do Recife, diversas proposições urbanísticas apontaram tal articulação como

estratégia projetual, explorando diferentes propostas de desenho urbano utilizando os

mesmos elementosmorfológicos (ruas, praças, vielas, parques, etc.). O recente debate

colocado pelo projeto do Parque Capibaribe e materializado no Jardim do Baobá tem

comodiferencialoaproveitamentodaslinhasdeforçadapaisagem,exaltandoasfunções

ecológicas e os componentes naturais como elementos primários estruturantes. O

projeto reinstauraumavisãosistêmicavoltadaparaosespaçosdenatureza,quebusca

recosturar a posição privilegiada das águas e da vegetação na história de ocupação da

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APRAÇACLEMENTINOPROCÓPIOEASSUASTRANSFORMAÇÕES

MORFOLÓGICAS

ANACARLA,deSousaLima(1);MAURO,NormandoMacêdoBarrosFilho(2);

UFCG;Graduanda;CampinaGrande-PB;[email protected]

UFCG;Doutor;CampinaGrande-PB;[email protected]

RESUMO

O presente artigo busca resgatar as transformações morfológicas ocorridas na Praça

Clementino Procópio, desde sua formação, provocadas por diferentes contextos

históricos,sociaiseeconômicosdacidadedeCampinaGrandeatravésdereconstituição

bidimensional a partir da seleção de fotografias, desenhos técnicos e materiais

cartográficos disponíveis. O processo metodológico estruturou-se em: (i) pesquisa

bibliográfica;(ii)coletadedados;(iii)identificaçãodasfasesereconstituição;(iv)análise

e cruzamento de dados. Os desenhos elaborados oferecem suporte para análise e

identificaçãodoselementosmorfológicos,assimcomodocumentaamemóriadaPraça.

Palavras-chave:MorfologiaUrbana;Praça,Fotografia.

THECLEMENTINOPROCÓPIOSQUAREANDITSMORPHOLOGICALTRANSFORMATIONS

ABSTRACT

Thepresentpaperaimstorecoverthemorphologicaltransformationsthattookplacein

the Clementino Procópio Square, from its formation, provoked by different historical,

social and economic contexts of the city of Campina Grande through two-dimensional

reconstitution from the selection of photographs, and cartographic material available.

The methodological process was structured in (i) bibliographic research; (ii) data

collection;(iii)phasesidentificationandreconstitution;(iv)analysisandcross-checkingof

data. The drawings elaborated offer support for analysis and identification of

morphologicalelements,aswellasdocumentthememoryoftheSquare.

Key-words:UrbanMorphology;Square,Photography.

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1.Introdução

O presente artigo, síntese de Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em

ArquiteturaeUrbanismodaautora(LIMA,2018),analisaastransformaçõesmorfológicas

que a Praça Clementino Procópio, em Campina Grande, sofreu desde sua gênese.

Mudanças que estão intimamente relacionadas aos contextos históricos, sociais e

econômicosqueomunicípiopassoueaosvaloresquedesejavaestamparnasavenidas,

praçaseedifícios.

APraçaClementinoProcópiolocaliza-senaáreacentraldomunicípiodeCampinaGrande

(Figura 01), margeada por um dos eixos estruturantes da cidade, a Avenida Floriano

Peixoto,eencontra-seinseridanaáreadepreservaçãohistóricaquefoicriadapormeio

doDecreto25.139doInstitutodePatrimônioHistóricoeArtísticodoEstadodaParaíba

(IPHAEP),emjunhode2004.

Comoreferencialteórico,utilizou-sedostrabalhosdeLamas(2011)eOliveira(2018)para

a compreensão da morfologia urbana, de suas abordagens e dos seus elementos

morfológicos.AlémdeRobbaeMacedo(2010),Hannes (2016)eCaldeira (2007)paraa

compreensãodoespaçolivrepúblico,reconhecidode“praça”.Alémdisso,contemplouas

discussõesdeAzevedo(2009)eSegawa(2016)sobreafotografiacomodocumento.

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Figura01: LocalizaçãodaPraçaClementinoProcópio. Fonte:GoogleEartheditadopela

autora,2018.

2.Metodologia

AcompreensãodaPraçaClementinoProcópio,oresgatedosseusmomentoseaanálise

das suas transformações foram definidos a partir de materiais cartográficos e

fotográficos. Esses últimos foram a principal base de referência na construção dos

momentos da praça e análise das suas transformações, por meio da aplicação da

abordagem tipo-morfológica proposta porMuratori (1959 apud COSTA et al., 2018), a

qual define a concepção das edificações como um marco espaço temporal. De forma

simples,pode-sedividiroprogressodessetrabalhoemquatroetapas:

1. Pesquisa Bibliográfica: consolidação dos principais conceitos e abordagens sobre

morfologia urbana, praças e

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fotografia. Resgate da história de Campina Grande com destaque para as principais

reformasurbanísticase transformações sociaisocorridasnaPraçaClementinoProcópio

aolongodotempo.

2.Coletadedados:coletadefontesprimáriasesecundáriasreferentesàPraçaeaoseu

entorno: registros fotográficos, cartões postais, mapas, desenhos técnicos, recortes de

jornais, blogs, trabalhos acadêmicos, acervos pessoais e de universidades, a partir de

visitasàáreadeestudoeàsSecretariadePlanejamento(SEPLAN)edeCultura(SECULT)

daPrefeituraMunicipaldeCampinaGrande.

3. Identificação das fases e reconstituição: reconhecimento das principais

transformações da forma urbana da Praça e de seu entorno, a partir de literatura,

fotografias e mapas coletados. Definição das fases da praça com mudanças mais

significativas,resgatadaspormeiodedesenhos.

4.Análiseecruzamentodedados:identificaçãodosprincipaiselementosmorfológicose

análisedassuasprincipaismudançasnasdiferentesfasesdaPraça.

Essas etapas metodológicas não se desenvolveram de forma linear, sendo preciso

retornar frequentemente às etapas anteriores, quando novos dados foram coletados.

Para tomar como base fatos concretos, foram reconhecidas as edificações que

permaneciam ou eram varridas da paisagem; pela importância dos edifícios, foram

confrontadososperíodosdeconstruçãoedemoliçãoafimdecriarumalinhadotempo

daquelesque tangenciavamaPraça.Portanto,osprópriosedifícioseos traçados,mais

fortemente identificáveisnas fotos, foramas testemunhasutilizadasnaexecuçãodeste

trabalho.Taiselementossãoidentificadosnaabordagemtipo-morfológicacomomarcos

espaço-temporais. Além disso, levou-se em conta os registros que apontavam,

oficialmente,osanosdeinauguraçãodaPraçaedealgunsdeseuselementos.

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Afigura02apresentaalinhadotempoeasfasesutilizadascomobasedereferêncianas

análisesposteriores.

Figura 02: Linha do tempo construída para análise da Praça Clementino Procópio.

Elaboradopelaautora.2018.

Como as principais referências foram as fotografias e o pouco material cartográfico

disponível, assumiu-se que os desenhos elaborados não teriam um nível métrico tão

preciso.Apesardisso,essesdesenhoscumpriramum importantepapelno resgateena

análisedaevoluçãodotecidourbanoestudado.

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3.FasesdaPraçaClementinoProcópio

Ao longo do tempo, diferentes denominações foram atribuídas à Praça Clementino

Procópio:PraçadaLuz;PraçadoCapitólio;PraçadaTernura;PraçadoAbrigoMaringá;e

PraçadosHippies.EssesnomessintetizamoqueessaPraçavivenciounasdiferentesfases

estudadas.

ConsiderandoquePraçaapresentaumaescalamenordoqueporçõesmaisextensasdo

tecidourbano,identificou-seeanalisou-seosseguinteselementosmorfológicos(LAMAS,

2011): edifícios, traçado, vegetação, monumento e mobiliário urbano. A partir desses

elementos,esquemasereconstituiçõesbidimensionaisforamelaboradaspelaautora.

3.1.LargodoRosário(até1936)

EstaprimeirafasecorrespondeaoperíodoantecessoràconstruçãodaPraçaClementino

Procópio. Foi relevante levantar informações desse período devido ao fato de algumas

edificaçõesqueinfluenciaramnoslimitesmorfológicosdaPraçaestarempresentenesse

espaçotemporal.Alémdecompreenderadrásticamudançaocorridaaocompararesse

períodoinicialcomoquefoiconstruídonaspróximasdécadas.

AFigura03representaocontextoprecedenteacriaçãodaPraça.Nelapercebe-seaIgreja

doRosário,aantigaCadeia,EmpresadeLuzeForçaCampinenseeoCineCapitóliosendo

edificado.AFigura04representaoprimeirodesenhoproduzido.

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Figura03:Iníciodadécadade1930,comdestaqueparaaAntigaCadeia,oCineCapitólio

emconstruçãoeaEmpresadeLuzeForçaCampinense.Fonte:CAMPINAGRANDE,2017.

Figura 04: Croqui da fase antecessora a construção da Praça Clementino Procópio

(anteriora1934).Desenhobaseelaboradopelaautoraeeditadoemparceriadaautora

comIgorMichel,2018.

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3.2.PraçadaLuzePraçadoCapitólio(1936-1950)

Nessa fase, identificam-se as primeiras feições que a Praça Clementino Procópio

apresentou oficialmente. Este espaço livre foi bem aceito por variados públicos,

consolidando-se como ponto de encontro dos campinenses e seus visitantes (SILVA,

2011). Assumiu caráter de cartão postal da cidade reformada, que somado a sua

localização fortalecia o potencial para sediar festividades cívicas e escolares,

manifestaçõespúblicas,comoprotestos,alémdedarlugaraolazerdominicaleavisitas

turísticas(Figura05).

Figura05:PraçaClementinoProcópionofinaldadécadade1930,comdestaqueparao

Cine Capitólio, a Empresa de Luz e Força Campinense e a Igreja do Rosário ainda

construída.Fonte:CAMPINAGRANDE,2017.

A Praça foi inaugurada em 04 de fevereiro de 1936, na gestão do Prefeito Bento

Figueiredo, e foi fruto de adaptações dos projetos existentes dos arquitetos George

Munier e Isaac Soares, que contava com vastos canteiros, vegetação, bancos e um

pavilhão central, além de marquises que abrigavam os cidadãos em seus passeios. A

Figura 06 ajuda a melhor compreender o seu desenho. Neste período a Praça era

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popularmentechamadade“PraçadaLuz”e“PraçadoCapitólio”,porexistirememseus

limites a Empresa de Força e Luz Campinense e o Cine Capitólio, respectivamente. O

segundoaindainfluenciavasuaocupação,jáqueaPraçaeralugardeencontroporconta

dassessõesdecinema.

Figura06:Croquidaprimeira fasedaPraçaClementinoProcópio (1936).Desenhobase

elaboradopelaautoraeediçãoemparceriadaautoraeIgorMichel.2018.

AlémdoCinemaedaEmpresadeForçaeLuz,marcavamessafaseaIgrejadoRosário(até

1940,anodesuademolição)eumbanheiropúblicomictórioqueencontrava-seemuma

porçãoseparadadaPraça,defronteàPrimeiraIgrejaBatistadeCampinaGrande(Figura

07).AIgrejamerecedestaqueporserumaedificaçãoqueaindapermanecenapaisagem.

Alémdessasedificaçõesmaismarcantes,percebe-seoperfilaindaresidencialetérreoda

maioriadasedificaçõescoloniaisdoentornoimediato.

Um dos elementos fortemente apreendido foi o traçado da Praça, definido pelos

canteirosefontes.AFigura08representaodesenhootraçadodaPraçanesteperíodo,

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comsetasecírculosparaauxiliarnoentendimentodestaedassuaspróximasfases.

Figura 07: Primeira Igreja Batista e banheiro público a leste da Praça Clementino

Procópio,o registrodatapossivelmentedadécadade1940. Fonte:CAMPINAGRANDE,

2018.

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Figura 08: Esquema para compreender o traçado na Praça Clementino Procópio nesta

fase.DesenhobaseelaboradopelaautoraeediçãoemparceriadaautoraeIgorMichel.

2018.

Nesta fase, a Praça tinha um formato triangular e desenho radio-concêntrico, cujos

caminhosdefinidospeloscanteirosconvergiamparadoisespaçoscirculares.Omaiorera

um pavilhão e concentrava fluxos; o menor marcava um de seus acesso por meio de

escadarias. Além disso, percebe-se os canteiros com acabamento arredondado, com

destaque para aqueles localizados na porção norte da Praça e que seguem outra

radiação. A Praça não era tão aberta quanto poderia ser. As linhas mais escuras,

representadas no desenho da Figura 08, são muretas que margeiam boa parte da

extensãodoseuperímetro.Dessa forma,direcionavam-seospasseiosdemaneiramais

incisivadoquenosseusfuturosdesenhos.

Comoospasseios sãodefinidospelos canteiros, a vegetação se afirma comoelemento

decisivo na percepção da sua forma e da paisagem. Na maioria das fotografias

encontradas, a vegetação encontra-se rasteira, com arbustos e árvores de copas ralas,

alémdetrepadeirasnasmarquisesquecircundamopavilhão(Figura09).

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Figura09:PraçaClementinoProcópionadécadade1940, fotografadodecimadoCine

Capitólio.Fonte:Ah,Campina,2004.

Éinteressanteregistrarqueaconfiguraçãodoscanteirossedáapenaspeladiferenciação

do piso, permanecendo no nível da Praça, característica bem distinta com relação à

configuraçãoatual.

Quanto ao mobiliário urbano, conseguiu-se identificar os bancos distribuídos nos

passeios, provavelmente de concreto e caracterizados por não possuírem encosto,

possibilitandoassim,osentarecontemplarparadentrodocanteiro,comoobserva-sea

pessoa trajada de branco na parte esquerda da Figura 10. Além disso, as marquises

também possibilitavam o descanso em áreas sombreadas, fator supostamente

interessante,vistoqueaoperfildavegetaçãoobservadanãoconfiguravasombraondeos

bancosestavamlocados.

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Figura10:InteriordaPraçaClementinoProcópionadécadade1940,comdestaquepara

o pavilhão ao fundo, o desenho dos canteiros, a iluminação e os bancos. Fonte: Ah,

Campina,2004.

3.3.PraçadoAbrigoMaringáePraçadaTernura(1950-1985)

Nessafase,aPraçaconfigura-secomoumaexpansãododesenhojáconhecidoatéentão

pelapopulaçãocampinense. IstofoipossívelgraçasademoliçãodaEmpresadeForçae

LuzCampinensequenosanos1940foitransferidaparaoutrolocaldeCampinaGrande,

devido à poluição que gerava no centro da cidade. Esta ação reforça o pensamento

higienistaeprogressistapresentenesteperíodo.Naverdade, representouapenasuma,

dentreasdiversasedificaçõesqueforamdemolidas,inclusiveaIgrejadoRosário,paraa

expansãodaAvenidaFlorianoPeixoto,emdecorrênciadaReformaUrbanapropostapelo

prefeitoVergniaudWanderley,nadécadade1940.

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A reforma da Praça (Figura 10), com a inauguração da fonte e do Abrigo Maringá

,alinhava-seàsintençõesdeampliarespaçosdecontemplaçãoelazer,ondeapopulação

pudessedesfilar seus ideaisdemodernidadeeprogresso.Apesardisso, supõe-sequeo

desenho deste espaço não tenha considerando todas as esferas da sociedade

campinense.

Figura10:PraçasClementinoProcópioedaTernuranadécadade1950.Fonte:CAMPINA

GRANDE,2017.

AinauguraçãodafonteluminosaedoAbrigoMaringáocorreunodia24desetembrode

1950. O projeto da Praça foi do arquiteto francês George Munier (também autor do

projetoanterior)eaexecuçãofoidirigidapeloengenheiroAustrodeFrançaCosta,diretor

de obras públicas municipais no período. A Figura 11 representa o resultado da

intervenção.

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Figura11:CroquidasegundafasedaPraçaClementinoProcópio(1950). Desenhobase

elaboradopelaautoraeediçãoemparceriadaautoraeIgorMichel.2018.

Comaexpansão,aPraçaganhouoAbrigoMaringá(Figura11),umanovaedificaçãoque

servecomoabrigoemparadadeônibuseganhaumaposiçãodedestaquenodesenhodo

traçadodaPraça.Parasecompreendermelhorarelaçãoentreoprojetooriginaleesta

intervenção, que expandiu drasticamente a área da Praça, na Figura 12 estão

representados em amarelo as convergências dos caminhos da primeira praça que

permaneceramnestafaseeasdinâmicasacrescentadasemtonsavermelhados.

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Figura12:CroquidasegundafasedaPraçaClementinoProcópio(1950). Desenhobase

elaboradopelaautoraeeditadoemparceriadaautoracomIgorMichel,2018.

Neste desenho percebe-se a presença de espaços circulares que convergem fluxos e

ecoamno formato dos canteiros,mantendo a influência do desenho radio-concêntrico

observadonaprimeirafase.OAbrigoMaringáacomodaseuprogramaemumsemicírculo

e os passeios ecoam deste raio consolidado. Outro fator perceptível é a marcação

longilínea dos canteiros na parte central, que conectam a parte antiga com a nova e

solucionamasdiferenças topográficaspormeiodeescadas.AcomunicaçãocomoCine

Capitóliopermaneceeseintegracomomesmoalinhandooportãodesuamuretacomo

caminho que desemboca no espelho d’agua (antes ocupado pelo pavilhão, demolido

duranteareforma).

Outro elemento importante é a Praça da Ternura, espaço triangularmenor na porção

lestedaFigura12.Elasepara-sedorestantedaPraçaporumarruamentoresultantedo

prolongamentodaRuaMajorJuvinodoÓ.

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NaFigura13,avegetaçãodegrandeporteaofundoajudaaentenderasdiferençasentre

aspartesnovaeantigadaPraça.É interessante lembrarqueoscanteirospermanecem

niveladoscomopiso.Apesardenãoserpossívelidentificarcomprecisãoasespéciesnas

fotos, estas oscilam entre árvores altas de copas rasas assemelhando-se a palmeiras e

outrasdecopasmaisbaixas,porémcompotencialdesombraporseremdensas.

Figura13:VisãoampladaPraçaClementinoProcópiocomdestaqueparaasdiferenças

arbóreasentreasduaspartesdaPraçanosanosde1950.Fonte:Ah,Campina,2004.

Quantoaomobiliárioeequipamentosidentificados,aFigura14ilustraosespelhosd’água

adicionadosaestenovodesenho,alémdeexporailuminaçãoeosbancosdaépoca,que

parecemtersemantidodoprojetooriginalpelosregistrosfotográficosobservados.

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Figura 14: Postal da Praça Clementino Procópio nos anos de 1950. Fonte: CAMPINA

GRANDE,2017.

3.4.Praçadoshippies(de1985atéhoje)

Essa fase representa a última reforma empreendida na Praça em 1985, na gestão do

Prefeito RonaldoCunha Lima. Por corresponder ao desenho atual, facilitou a coleta de

material técnico fotográfico e cartográfico. A Praça caracteriza-se por apresentar uma

maiordensidadedevegetação,edificaçõesepessoas(Figura15).

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Figura15:PraçaClementinoProcópio,configuraçãoatual.Fonte:Autora,2018.

Nestaúltimareforma,aPraçadaTernura-quenafaseanteriorestavaseparadadaPraça

doAbrigoMaringá,pelaRuaMajorJuvinodoÓ-passaaserincorporadaaestaúltima,

comaremoçãodestavia.Assim,odesenhodaFigura16sinalizaessecrescimento,além

dareconfiguraçãosofridapeloscanteiroseaconstruçãodenovoselementos.

Diferentementedasoutrasfases,tantoaPraçacomooseuentornoimediatovoltam-se

para atividade comercial. Das edificações unifamiliares, poucas resguardaram seu uso

original.Algumasseconverteramemestacionamento,outrasadquiriamusoscomerciais

quedescaracterizaramsuaarquitetura.OAbrigoMaringápassaaacomodarváriosboxes

comerciais (Figura17),emboraainda funcionecomoparadadeônibus.Surgeaindaum

novoedifício(Figura15)queacomodaboxesvoltadosparaalimentação,sebosdelivrose

vinis,salãodebelezaesapateiros.Esteedifício,emformasemicircular,tambémlevaem

consideraçãootraçadodaPraçajáexploradoemdesenhosanteriores.AFigura18mostra

umdosfiteirosquefoiumabancaderevistasehojefuncionacomolanchonete.Outros

fiteirospresentesnaPraçafuncionamcomosorveteriaelojadecamisasesportivas.

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Figura16:CroquidafaseatualdaPraçaClementinoProcópio.Fonte:Desenhoelaborado

porElaineSouza(2014)eeditadoemparceriadaautoracomIgorMichel,2018.

Figura17:AbrigoMaringá.Fonte:Autora,2018.Figura18:Fiteirocomercial.Fonte:

Autora.2018.

Ocomércio informalhojeexistente intensificaasdensidadespopulacionaleconstrutiva

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daPraça,oferecendoumadiversidadedeprodutoseserviços,assimcomodemarcando

morfologicamente o espaço (Figura 19). Suas estruturas não possuem a efemeridade

esperada; mas, pelo contrário, já fazem parte da paisagem, criando fluxos e barreiras

visuaisquediluemasacessibilidades físicaevisualdaPraçae seuentorno.Alémdisso,

muitos vendedores ambulantes, conhecidos como “hippies”, vendem seus trabalhos

artesanaisnosbancosdaPraça,motivopeloqualamesmaadquiriuestenome.Poroutro

lado, o Cine Capitólio perdeu seu uso original e encontra-se abandonado, reduzindo a

apropriaçãodaPraçaemrelaçãoàsfasesanteriores.

Figura19:ComércioinformalnaPraça.Fonte:Autora,2018.

Nesta fase, os dois espaços circulares reservados anteriormente aos espelhos d’águas

foram aterrados e substituídos por um playground e um monumento a Argemiro de

Figueiredo.Ocorreutambémajunçãodoscanteirosmenores,oquereduziuonúmerode

passeios. Os canteiros passaram a ser contornados por bancos, o que aumentou a

separaçãoentreopasseioeasáreasverdes.Duasnovasedificaçõesforamadicionadas:

um edifício comercial e um coreto. Essas edificações são integradas ao traçado radio-

concêntrico da Praça. Na Figura 20, as marcações em vermelho correspondem à fase

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anteriordaPraçaeasazuis,àatual.

Figura 20: Esquema do atual traçado da Praça Clementino Procópio. Fonte: Desenho

elaboradopelaautoraeeditadopelaautoraemparceriacomIgorMichel,2018.

ÉinteressantedestacarqueocorreuumareduçãonaquantidadedepasseiosnaPraçae

um aumento na sua densidade construtiva. Apesar disso, sua massa vegetal também

aumentou proporcionalmente. É notório o maior porte das espécies arbustivas e o

aumentodamassavegetalquandosecomparaasfotosdasfasesanteriorescomaatual.

Avegetaçãotornou-seumelementodedestaquenosombreamentoenapercepçãoda

Praça,produzindoefeitopaisagísticodebosque(Figura21).Quantoaomobiliáriourbano,

foram identificadas tipologias diferentes das encontradas nos momentos anteriores

(Figura22).

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Figura21:AtualvegetaçãodaPraça.Fonte:Autora,2018.

Figura22:AtualmobiliáriourbanodaPraça.Fonte:Autora,2018.

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4.Consideraçõesfinais

A partir do resgate das linhas e expressões formais da Praça Clementino Procópio

percebeu-sea vulnerabilidadedas transformaçõesmorfológicas aqueestão sujeitosos

espaçoslivrespúblicosedoquantonossamemóriaurbananãoestásendodocumentada

ou preservada como deveria. A preservação não tão somente construtiva, mas

documental,deseusregistrosfotográficosetécnicos.

A realidade de Campina Grande é de uma memória difusa espacialmente e pouco

acessível, seja pela pouca divulgação domaterial em suas várias secretarias emuseus,

seja pelos muitos acervos particulares que não estão disponíveis ao domínio público.

Nesse sentido, essa situação é preocupante, já que demonstra o pouco

comprometimentodacidadecomasalvaguardadeevidênciasfísicasparaaperpetuação

damemóriacoletivacampinense.

O método de reconstrução aqui proposto também traz à luz as possibilidades de

contribuição da morfologia urbana e de outras linhas de pesquisa dentro da história,

geografia e do urbanismo, para reconstituir fragmentos urbanos através dessa

metodologia, além da contribuição da memória de seus usuários ainda vivos. Uma

urgênciaparatantascidadesquenãotêmregistrosdessastransformaçõesmorfológicas.

Este artigo não pretende combater as reformas nos espaços livres públicos. Pelo

contrário, reconhece a importância da manutenção destes espaços e até mesmo da

revisãodeseusprogramasdenecessidades;aindamaisnocasoestudado,emqueaPraça

ampliou sua área, principalmente, pela transformação de seus limites e do logradouro

público.

Apesardoamargoremdeparar-secomoespaçofísicoeseussignificadosmodificadose

não perpetuados e, sobretudo, com tanta indiferença, faz-se uso deste espaço para

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evocarosensoderesponsabilidadeemedidasmaiseficientesdeproteçãodamemória

dos espaços livres públicos, com acervos mais bem cuidados e acessíveis, além de

projetosdeintervençãourbanamaistransparenteseparticipativos.

5.Referênciasbibliográficas

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