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1 XII Mostra Científica FAMEZ & I Mostra Regional de Ciências Agrárias Campo Grande, MS, 2019 BOAS PRÁTICAS DE MANIPULAÇÃO DOS PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL REALIZADAS POR CONSUMIDORES NO AMBIENTE DOMÉSTICO Eduarda de Cássia Lima Brugeff 1 , Glyeltson Max Schuster Pereira 2 , Daniele Bier 3 1 Aluna do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Católica Dom Bosco – UCDB, Campo Grande MS. Bolsista de Iniciação Cientifica CNPq. E-mail: [email protected] 2 Aluno do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Católica Dom Bosco – UCDB, Campo Grande MS. E-mail: [email protected] 3 Professora do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Católica Dom Bosco – UCDB, Campo Grande MS. E-mail: [email protected] Resumo: As boas práticas de manipulação objetivam a inocuidade dos alimentos diminuindo os riscos de doenças alimentares. Nos domicílios, as condutas acerca da segurança alimentar são estabelecidas pelo consumidor podendo isto, variar em função do nível socioeconômico e escolar do mesmo. A pesquisa teve como objetivo avaliar as boas práticas de manipulação dos produtos de origem animal em domicílio e verificar o perfil socioeconômico dos respondentes. Os resultados obtidos foram satisfatórios, no entanto, há hábitos e atitudes incorretas, o que pode corroborar para danos a saúde do consumidor, além disto, são necessárias ações educativas para aprimoramento da segurança dos alimentos. Palavras-Chave: alimento seguro, domicílio, segurança alimentar GOOD PRACTICE ON MANIPULATION OF PRODUCTS OF ANIMAL ORIGIN MADE PERFORMED BY CONSUMERS ON DOMESTIC ENVIRONMENT Abstract: Good handling practices aim at food safety by reducing the risk of food disease. In households, as food safety rules are applied by the consumer, this may vary depending on the socioeconomic and educational level of the same. A research aimed to evaluate the good practices of handling products of animal origin at home and to verify the socioeconomic profile of respondents. The results obtained were satisfactory, however, there are incorrect habits and attitudes, which can corroborate damage to consumer health, and are educational actions to improve food safety. Keywords: safe food, residence, food safety Introdução Segundo estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS), dentre os problemas sanitários que mais se tem alastrado no mundo, estão às enfermidades causadas por alimentos contaminados, ainda de acordo com esta mais de 60% das enfermidades de origem alimentar são toxinfecções alimentares provocadas, principalmente, por microrganismos (Silva Júnior, 2001). De acordo com Faustino (2012) as causas de doença alimentar são múltiplas, entretanto, na maior parte dos casos estas ocorrem nos domicílios devido ao desconhecimento dos processos corretos de manipulação e de preparação dos alimentos. Pesquisas demonstram que os consumidores que preparam os alimentos em seu domicílio não possuem percepção ou noções básicas sobre as medidas necessárias para diminuir os riscos das Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA) (Karabudak et al., 2008), isto por sua vez torna os consumidores um importante foco responsável pelo crescimento e disseminação de microrganismos no alimento (Faustino, 2012). Isto é confirmado por Deon (2012), que ressalta que um dos locais de maior ocorrência de surtos de DTA são os lares dos consumidores, sendo o ato de preparar o alimento uma das causas desta enfermidade em consequência das falhas higiênicas envolvidas no processo de manipulação dos alimentos. Diante do exposto e segundo Karabudak et al.(2008), podem ocorrer variações na execução das práticas de manipulação dos alimentos, isto se relaciona com o grupo socioeconômico e o nível de escolaridade dos consumidores. Além disto, foi observado por esses autores que há lacunas quanto aos conhecimentos de segurança alimentar. Como o ambiente doméstico é um ponto relevante de

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1 XII Mostra Científica FAMEZ &

I Mostra Regional de Ciências AgráriasCampo Grande, MS, 2019

BOAS PRÁTICAS DE MANIPULAÇÃO DOS PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL REALIZADAS POR CONSUMIDORES NO AMBIENTE DOMÉSTICO

Eduarda de Cássia Lima Brugeff1, Glyeltson Max Schuster Pereira2, Daniele Bier3

1Aluna do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Católica Dom Bosco – UCDB, Campo Grande MS. Bolsista de Iniciação Cientifica CNPq. E-mail: [email protected] 2Aluno do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Católica Dom Bosco – UCDB, Campo Grande MS. E-mail: [email protected] do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Católica Dom Bosco – UCDB, Campo Grande MS. E-mail: [email protected]

Resumo: As boas práticas de manipulação objetivam a inocuidade dos alimentos diminuindo os riscos de doenças alimentares. Nos domicílios, as condutas acerca da segurança alimentar são estabelecidas pelo consumidor podendo isto, variar em função do nível socioeconômico e escolar do mesmo. A pesquisa teve como objetivo avaliar as boas práticas de manipulação dos produtos de origem animal em domicílio e verificar o perfil socioeconômico dos respondentes. Os resultados obtidos foram satisfatórios, no entanto, há hábitos e atitudes incorretas, o que pode corroborar para danos a saúde do consumidor, além disto, são necessárias ações educativas para aprimoramento da segurança dos alimentos.

Palavras-Chave: alimento seguro, domicílio, segurança alimentar

GOOD PRACTICE ON MANIPULATION OF PRODUCTS OF ANIMAL ORIGIN MADE PERFORMED BY CONSUMERS ON DOMESTIC ENVIRONMENT

Abstract: Good handling practices aim at food safety by reducing the risk of food disease. In households, as food safety rules are applied by the consumer, this may vary depending on the socioeconomic and educational level of the same. A research aimed to evaluate the good practices of handling products of animal origin at home and to verify the socioeconomic profile of respondents. The results obtained were satisfactory, however, there are incorrect habits and attitudes, which can corroborate damage to consumer health, and are educational actions to improve food safety.

Keywords: safe food, residence, food safety

IntroduçãoSegundo estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS), dentre os problemas sanitários

que mais se tem alastrado no mundo, estão às enfermidades causadas por alimentos contaminados, ainda de acordo com esta mais de 60% das enfermidades de origem alimentar são toxinfecções alimentares provocadas, principalmente, por microrganismos (Silva Júnior, 2001).

De acordo com Faustino (2012) as causas de doença alimentar são múltiplas, entretanto, na maior parte dos casos estas ocorrem nos domicílios devido ao desconhecimento dos processos corretos de manipulação e de preparação dos alimentos. Pesquisas demonstram que os consumidores que preparam os alimentos em seu domicílio não possuem percepção ou noções básicas sobre as medidas necessárias para diminuir os riscos das Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA) (Karabudak et al., 2008), isto por sua vez torna os consumidores um importante foco responsável pelo crescimento e disseminação de microrganismos no alimento (Faustino, 2012). Isto é confirmado por Deon (2012), que ressalta que um dos locais de maior ocorrência de surtos de DTA são os lares dos consumidores, sendo o ato de preparar o alimento uma das causas desta enfermidade em consequência das falhas higiênicas envolvidas no processo de manipulação dos alimentos.

Diante do exposto e segundo Karabudak et al.(2008), podem ocorrer variações na execução das práticas de manipulação dos alimentos, isto se relaciona com o grupo socioeconômico e o nível de escolaridade dos consumidores. Além disto, foi observado por esses autores que há lacunas quanto aos conhecimentos de segurança alimentar. Como o ambiente doméstico é um ponto relevante de

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toxinfecções alimentares, o papel do consumidor na segurança dos alimentos faz-se primordial (Fasutino, 2012).

Desta forma, a educação do consumidor sobre a segurança dos alimentos, além de ser um método efetivo que diminui os números de casos de doenças transmitidas por alimentos, é uma maneira preventiva, a qual reduz custos e gastos com o tratamento destas enfermidades (Karabudak et al., 2008).

O objetivo desta pesquisa foi avaliar as boas práticas de manipulação dos alimentos de produtos de origem animal realizadas pelos consumidores no ambiente domiciliar e verificar o perfil socioeconômico dos respondentes.

Material e MétodosTratou-se de um estudo de caráter descritivo. Como instrumento de coleta de dados, foi

elaborado um questionário online (Google Forms/Google Inc.) com relação às boas práticas de manipulação de alimentos em domicílio. O link de acesso online ao questionário foi disponibilizado em grupos e páginas sociais de caráter popular e relacionado à segurança de alimentos como forma de atingir consumidores inseridos ou não na área de alimentos. Este permaneceu aberto durante sete dias (26 de julho de 2019 até 01 de agosto de 2019), sendo que após esse período o link foi desativado não aceitando mais respostas. O questionário obteve no total 666 respondentes de 25 unidades federativas do Brasil, exceto do Amapá e Roraima. Após, a obtenção das respostas foi realizada a frequência dos dados.

Resultados e DiscussãoDe acordo com a população estudada, 85,6% (570/666) dos respondentes foi do sexo feminino.

Resultado semelhante foi encontrado por Deon (2012), em seu estudo sobre boas práticas em domicílio sendo que 92,5% dos participantes eram mulheres e, segundo a autora, isto representa que a mulher ainda é a responsável pelo preparo e organização da alimentação a família.

Em relação à idade dos participantes, 49,8% (332/666) tinha entre 30-59 anos. De acordo com Soares e Sabóia (2007) em sua Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio de 2001 e 2005, demonstrou-se que a população adulta de 25-49 anos de idade é responsável por mais afazeres domésticos, enquanto que a população de 50-59 anos de idade despende mais tempo na realização de afazeres domésticos (24,3 horas semanais). No que se refere à escolaridade, houve predominância de respondentes com ensino superior completo (67%) e segundo Deon (2012), conforme se aumenta o grau de escolaridade dos indivíduos ocorre concomitante a diminuição dos afazeres domésticos.

Os resultados obtidos acerca das boas práticas de manipulação foram considerados satisfatórios. Foi constatado que a maioria dos participantes (75,1% - 500) não verifica a temperatura da geladeira ou freezer antes de acondicionar os produtos e/ou derivados de origem animal. Tal prática está relacionada com diminuição da qualidade, pois a temperatura controlada aumenta o tempo de estocagem do produto (Deon, 2012). Ao serem questionados sobre qual o método de descongelamento adotado, 53% (353) afirmou descongelar sob refrigeração e 13,7% (91) no microondas, o que evita significativamente a contaminação por microrganismos. O descongelamento é feito sob temperatura de 4ºC ou, rapidamente, em forno microondas, sendo estes os métodos mais indicados (Silva Júnior, 2001). Qualquer microrganismo pode se multiplicar no alimento se a temperatura estiver acima de 5ºC no descongelamento (Faustino, 2012). O aumento do tempo de vida do produto e a manutenção da inocuidade para consumo são características importantes obtidas sob refrigeração, as quais foram notadas por consumidores no estudo da autora (Faustino, 2012). Um número significativo de consumidores, 24,5% (163) descongela sob temperatura ambiente, 7,7% (51) afirma deixar a carne imersa na água e 0,9% (6) descongela sob água quente, sendo que tais práticas corroboram para o aumento da incidência de contaminação e proliferação de microrganismos no alimento e segundo Faustino (2012) o método de descongelamento adotado pelos consumidores reflete no nível do seu conhecimento.

Em relação à superfície de corte, a mais utilizada foi a de plástico, 60,8% (405), a qual é menos provável de gerar um microambiente para microrganismos, pois é de fácil higienização. Porém, 21% (140) afirmaram utilizar a de madeira, contudo seu uso não é recomendado e de acordo com Abreu & Cabral (2005) que isolaram e identificaram enterobactérias em placas de corte de madeira confirmam em sua pesquisa que estes microrganismos aderem-se de forma fácil e profunda nas fissuras deste material, o qual ao conter restos alimentares juntamente com a umidade absorvida pela madeira auxilia na proliferação destas bactérias.

Sobre o método de higienização das superfícies de corte, a mais predominante é com o uso de água e detergente, assinaladas por 67,3% (448). Ressalta-se que a execução de uma lavagem correta com água

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e sabão possibilita minimizar os resíduos orgânicos nas superfícies (Silva Júnior, 2001). Quando perguntados sobre a higienização da superfície de corte de um alimento para outro, 85,6% (570) dos respondentes informaram realizam essa lavagem, o que diminui a ocorrência de contaminação cruzada. Somado a isso, 94,7% (631) dos respondentes utilizam água tratada e limpa na higienização dos alimentos. Em relação à prática de lavagem dos produtos e/ou derivados de origem animal 79,3% (528) responderam não realizar, que é a prática correta, uma vez que é desnecessária e diminui a incidência de contaminação cruzada.

Um dado interessante foi o hábito de cocção dos produtos de origem animal, sendo esta ação feita por 89% (593) das pessoas. A cocção pode destruir grande parte dos microrganismos existentes, assim como suas toxinas, por isso, o método de cocção é considerado bactericida (Silva Júnior, 2001).

Por fim, ao serem perguntados sobre o armazenamento dos alimentos pós-ingestão, 49,1% (327) declararam guardar os alimentos na geladeira em seguida do consumo, enquanto que 47,3% (315) afirmam deixar esfriar sob temperatura ambiente antes de armazenar na geladeira, sendo que essa prática contribui de forma significativa para que o alimento estrague mais rapidamente e corra maior risco de multiplicação microbiana (Silva Júnior, 2001).

ConclusõesInfere-se, no presente estudo, que a população com o maior grau de instrução possui no geral

conhecimento e realiza as medidas básicas de segurança alimentar e de boas práticas, no entanto, há atitudes e hábitos que podem acabar predispondo o consumidor a danos e riscos de saúde, com isso, o direcionamento de programas e medidas educativas sobre as boas práticas para a população tem como objetivo minimizar a incidência de doenças alimentares assim como difundir o conhecimento básico para todos.

Literatura CitadaABREU, S. C. DE; CABRAL, M.M .W. [2005]. Análises microbiológicas de placas de corte de madeira para identificação de bactérias pertencentes ao grupo das Enterobacteriacea. Revista Científica da Universidade de Franca, v. 5, n. 1/6, 2005. Disponível em: <http://publicacoes.unifran.br/index.php/investigacao/article/view/205/159> Acesso em: 28/09/2019.DEON, BC. Diagnóstico de boas práticas de alimentação em domicílios da cidade de Santa Maria. UFSM. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria, 2012. 121p. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia dos Alimentos) - Universidade Federal de Santa Maria, 2012.FAUSTINO, Ana Rita dos Santos. Segurança dos Alimentos: Conhecimentos e Práticas dos consumidores Portugueses. Estoril: Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, 2012. 115 f. Dissertação (Mestrado em Qualidade e Segurança Alimentar na Restauração) - Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, Estoril, 2012. KARABUDAK E, BAS M, KIZILTAN, G. [2008]. Food safety in the home consumption of meat in Turkey, Amsterdam: Food Control; mar. 2008; 19: 320-327. Disponível em: <http://ssu.ac.ir/cms/fileadmin/user_upload/Mtahghighat/tfood/asil-article/amuzesh-BehdashtGhaza/Food_safety_in_ the_home_consumption_of_meat_in_Turkey.pdf> Acesso em: 01/10/2019.SILVA JÚNIOR, E.da. Manual de controle higiênico-sanitário em serviços de alimentação. 4. ed. São Paulo: Varela, 2001. 475p. SOARES, C.; SABÓIA, A.L. [2007]. Tempo, trabalho e afazeres domésticos: um estudo com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2001 e 2005. Rio de Janeiro: IBGE, Coordenação de População e Indicadores Sociais, 2007. Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/tempo_trabalho_afdom_pnad2001_2005.pdf> Acesso em: 04/10/2019.