xerada: xerox+virada 14/10

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Fanzine Xerada: xerox+ virada surgiu no dia 14 de outubro de 2011 numa iniciativa de estudantes e profissionais de design, jornalismo, fotografia e artes visuais que pensavam que estavam indo apenas para um workshop gratuito de arte xerox ministrada pelo designer e educador Camilo Maia no Centro de Design do Recife. Mal sabiam eles que seriam mão de obra voluntária para fazer uma cobertura underground da Virada Multicultural - Conexão Nordeste. Desde sexta-feira essa equipe de 18 mentes criativas trabalha sem cansar para oferecer informações que você não verá no O Diario de Pernambuco, no Jornal do Commercio ou na Folha de Pernambuco. É um trabalho experimental e "despretensioso" com a visão, os traços e as palavras da gente.

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Page 1: Xerada: Xerox+Virada 14/10
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t.P --

0 Fanzine Xerada: xerox+ virada s u r g i u ~ n o dia 14 de outubro

de 2011 numa iniciativa de estudantes e profissionais de design, jornalismo, fotografia e artes visuais que pensa-vam que estavam indo apenas para um workshop gratuito de arte xerox ministrada pelo designer e educador Camilo Maia no Centro de Design do Recife . Mal sab iam eles que seriam mao de obra ~ ' 1 ' 8 voluntaria para fazer uma cobertura underground

--117 da Virada Multicultural - Conexão Nor-

deste. Desde sexta-feira essa equipe de 18 mentes criativas t r a b a l h a c a n s

da sem cansar para oferecer informa-ç õ e s que você não verá no Diario de O Pernambuco. no Jornal do Commercio ou na Folha de Pernambuco E um trabalho a m a d o r e x p e r i m e n t a l e "des-pretensioso" com a visão, os t r a ç o s e as palavras da gente.

Por Júlia Mendes e Antonio Souza

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No primeiro dia da virada multicultural, no palco do Arsenal, o publico pode conferir varias

a t r a ~ o e s musicais dos mais diversos estilos, dentre eles o OJ Dolores que agradou desde os

"mais experientes" cantando bregas antigos, - romanticos e (com uma caracterfstica de musicas

do tempo da sua tia) com letra! 0 que tambem agradou ar novfnha, pais todas as musicas eram

mixadas com sons e efeitos de sirenes, batidas e Par Giva ldo muito putz, putz. Santos A noite do Arsenal tambem contou com as

a p r e s e n t a ç o e s de Nando Gordel e Conde do B;ega, este fazia o publico levantar os bra~os

e cantar juntinho, com suas musicas que falam sabre a vida, a mare liberdade. Em entrevista ao

Xerada o conde se diz muito contente par fazer parte da primeira Virada Multicultural e a avalia

como "um evento fantastico", diz tambem que brincou muito e se divertiu bastante no palco .

Mas nem s6 de "fila do gargarejo" vive a Virada Multicultural do Recife, o movimento nos bares

pr6ximos a Pra~a do Arsenal tambem foi grande. Aqueles que ja frequentavam o Iugar tiveram

mais este bam motivo para curtir a noite no Recife Antigo, o mesmo publico que curtiu o

Conde e OJ Dolores, tambem curtiu Nando Cordel. esperou par Na~ao Zumbi e prometeu

voltar nos dias seguintes do evento. •

INTRI~IST•

~'·~~­-~-,.~-~ Par Marflia Feldh ues

0 Curta Circa e um espetacu lo da Cia 2 em Cena e conta com cinco palha~os atuando. Conversando com um dos palha~os, Flavia Santana, ele me explicou que a companhia se baseia em pesqu isas de pa l ha~oes

tipicamente brasi leiros, resgatando o genero.

Flavia exp licou que diferentemente do pa l ha~o

europeu (as Clowns). que possuem mais classe, gestos mais polidos e medidos, rostos totalmente brancos, o palha~o brasi leiro e mais salta, fanfarrao, 0 humor . e mais verborragico, precisa muito da fala.

A Cia 2 em Cena existe ha cinco a nos, se apresenta em varios festivais e possui tres espetaculos, todos escritos pelo palha~o Alexandre Si lva. •

INTRI~IST•

AI~IIC-'0 S-11~ ••••••Tc. Par Marflia Feldhues

0 espetaculo Rox, Xox, Fox ... conta com o trabalho de Liana Gesteira como atriz e bai larina e conta ainda com Marcelo Sena, que foi o compositor da tri lha sonora do numero e executa-a ao vivo.

Em uma conversa com Marcelo Sena, ele explicou a ideia do solo, que foi criado em 2004. 0 numero foi feito taman do como base a serie de quadros Lola, de Pedro Buarque. Nessa serie, as protagonistas do quadro sao travestis mutilados. Rox, Xox, Fox ... sao esses os names dos travestis de Buarque, dentre varios outros.

Esse conceito do projeto e que norteia a escolha do figurino da bailarina Liana Gesteira, que e composto de um vestido de no iva decadente, inteiramente rasgado e decomposto, faltando uma das mangas (que nos remete de certa forma as mutila~oes representadas par Buarque), num dos pes uma sapatilha de bailarina, no outro um salta alto. Esse desnfvel do cal~ado dava um passo incerto a bailarina, que novamente nos remete a estetica dos quadros.

Ha af tambem uma certa busca pel a bela, tentativa de se tornar alga distinto do que se e, ao mesmo tempo em que se fragiliza com a propria situa~ao. Esse duel a e bela mente exposto pela coreografia de Liana em con junto com a musica de Sena.

Em seguida, foi a hora de assistir ao espetaculo 0 homem que amava rapazes equal nao foi minha surpresa quando o mC1sico que antes tocava, de repente tomou o papel de a tore dan~arino. Marcelo Sena inicia a pe~a escondido atras de um guarda-chuva. Ele avanGa em dire~ao ao p(iblico, sem que se possa ver sua face . Atras dele e emitida uma luz verde intensa e quanta mais ele avanGa para o publico, mais essa luz se estoura incomodando aos olhos de quem esta de frente para ela.

Esse espetaculo e tao cheio de mensagens semi6ticas complexas de se entender, que me foi

extremamente revelador quando Marcelo Sena pode explicar as escolhas de alguns elementos:

0 verde antes, diferentemente de hoje em dia, era a cor re lacionada a homossexualidade, isso porque se ligava o verde a ideia do absinto, aos conceitos hedonistas, ao qual o homossexual sempre era vincu lado. Ja o guarda-chuva simboliza a prote~ao que se procura ter. Marcelo traz ainda uma corda amarrada a cintura, mostrando as amarras sociais, aos poucos ele vai se desenrolando da corda e procura um homem da plateia para segurar uma das pontas, e como uma busca pela pessoa, -uma intera~ao, mas ainda ass im, ha uma distancia, pois Sena se desloca ate o outro extrema da corda . E entao ele come~a a agitar a corda fortemente, fazendo-a vibrar ate chegar a ponta oposta. Para ele, esse gesto representa a propria batida cardfaca, o proprio envolvimento sexual. Ate mesmo a gesticula~ao dele nesse momenta, lembra a masturba~ao . 0 espetaculo foi coreografado pelo proprio Marcelo Sena, primeiramente para um outro bailarino, mas ja considerando que ele mesmo poderia atuar. •

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~ , '

•••••• ,. •••••... Par Larissa Santiago

No lustre do castelo, ops, na Praga do Arsenal OJ Dolores levantou copos e balan~ou corpos com m0sicas classicas - como Sandra Rosa Madalena - misturadas a batidas de drumn'bass, ragga e lambada. Com bastante latinidade, diversos grupos dan~avam e coreografavam como s~ estivessem numa competigao a vera.

0 cora comendo no centro e ao redor ninguem parado, contagiado pela energia e interatividade de Dolores (que fez ate homenagem aos cornos no Iugar) Emoc1onante e d1vertldo, foram as palavras que Fel1pe, 19, usou

·para descrever o grande baile ali provocado. Enquanto rolava um clima, ele tomava mais uma morangorosca ... •

A~-IIYUR~S D~I'III~D~

DO OUTIIO .UNDO Par /siane de Paula & Livia Franr;a

Com o intuito de desbravar os acontecimentos mais distantes dos p61os principais da Virada, nos lan~amos em uma aventura e fomos conhecer importantes leones drag queens em um longfnquo mundo conhecido como lbura. Ao contra rio do que imaginavamos enquanto nos dirigiamos ate Ia, tratava-se de um evento serio, ate mesmo fami liar, onde se encontravam desde criangas ate distintas senhoras, como a Dona Elvira, que foi para vera Kyra, e se divertia com as performances no palco. Conversamos com

a drag Kyra Saimon. Segundo ela, esse estilo de apresenta~ao, que ela denominou de "arte

de transformagao"' nao e mais restrito as boates-e casas noturnas; pelo contrario, a prefeitura ja ha seis anos insere esse tipo de apresentagao na programagao de seus e.ventos culturais, o que fez com que as pessoas passassem aver com outros olhos o seu trabalho. Ao Iongo

de uma promissora carreira. Kyra ja foi eleita duas vezes rainha da

diversidade, em urn concurso realizado pela prefeitura

que acontece ha quatro anos no

Jbura.

Logo depois acornpanhamos a Cia Pe-

Dan~a. um grupo que une ritmos

regionais a elementos teatrais humorfsticos. Na

apresentagao, com encenagoes e dangas de re izado, ele~ interagiam o tempo todo como publico, que os recebeu com muito carinho. A companhia surgiu ha seis anos.

a partir de uma oficina de danp, e hoje e urn importante espago cultural

para as jovens da regiao. •

Par Larissa Santiago

!lustrar,ao I EdJanlo Souza

Par Larissa Santiago

Era o que dizia Noel Rosa sobre a Vila Isabel, e que cabe muito

bern ao Recife: "Aqui tern samba tambem e da rnelhor qualidade.

Karina Spinelli eo Clube do Samba convidararn os barnbas de

diversos lugares pra mostrar o que tern sido batucado par a f.

Na companhia de Paulo Perdigao, Mariene de Castro, Monica

Feij6 e outros tantos, o Clube do Samba mostrou pra que veio,

trazendo musicas consagradas e composigoes claramente

pernambucanas (tinha uma que dizia "o Capiraribe tern mare",

linda). 0 show fez wna muvuca diferBnciada cair na brincadeira e

se jogar na melodia de verda de.

"T udo que e de Pernambuco e born, ta tudo maravi lhoso e

to aproveitando pra p6r minha aula em pratica.", era Breno, 31, com urn sorriso largao no

rosto e me puxando pra dangar gafieira. Depois me ensinou urn

pouquinho o samba com a pegada de maracatu e a essa altura a

musica ja contagiava a turma dele que estava ao red or com palmas e

malemolencias.

Foi nessa hora que a gente percebeu que as mesmas pessoas

que estavam ali , ja tinham dangado ciranda e estavam se acabando

no samba, sem nem saber direito o que vi ria depois: mais musica e das boas. Karina Spinelli mostrou que o samba tern seu Iugar aqui e vern cheio de misturas e batuques

tipicos do que e multicu ltural..

A •• IMDOOS • "La vern o cortejo" foi o que a gente ouviu de Seu Goiana, 61,

vendedor de frutas ha 40 anos. Venda o frevo e o maracatu passar, ele me gritou meio desconfiado que era bam que tivesse mais

eventos como esse: "Pra ajudar na vendagem, ne?" . Enquanto a gente chupava uva, o cortejo de abertura seguia da Rua da Maeda

ate o Marco Zero, onde foi recebido com as honras de Lia de ltamaraca e sua ciranda colorida .

Lia cantou a musica que e instrumento de danga dos palha~os. das baianas, das crian~as e dos jovens que comegaram a chegar para

perceber o inicio da Vi rada Multicultural do Recife. Sua ciranda embalou a dan~a pareada de Junior, 21, e Natalia, 19,- do is

namorados cheios de vice - que reiteraram o que disse Seu Goiana. que "se for pra encher o calendario do ano inteiro, Recife tern

cultura". E foi criando sorrisos de fe licidade e rodas de ciranda em todo Marco Zero, que Lia abriu a festanga com seu ritual sagrado

trazido Ia de ltamaraca. •

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