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Page 1: X Anped Sulxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1423-0.pdf · processos criativos relacionados à dramaturgia da corporeidade físico‐vocal dos atores, a. Corpo, voz, teatro e educação:

 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.1 

 

 

 

 

    Corpo, voz, teatro e educação: Do artista aos processos de significação ‐ Um caminho ainda em processo    

 

Resumo Considerando o  fazer  artístico dentro de uma perspectiva ampliada,  assumiremos  nesse  texto  algumas  questões relacionadas  ao  trabalho  corporal  e  vocal  de  atores  para expandi‐lo às relações sociais e ao campo da educação. Esse texto, faz parte de um projeto de doutorado, do Programa de  Pós‐Graduação  em  Educação,  da  Universidade  Federal de  Pelotas  (UFPEL)  que  pretende  identificar matrizes  de trabalho utilizadas pelos atores durante as apresentações e seus  momentos  de  preparo  técnico,  expandindo  essas questões  para  as  relações  de  comunicação  de  um modo geral,  até  chegar  na  relação  professor‐aluno.  Todas  as questões  aqui  levantadas  fazem  parte  das  propostas teóricas  e  ações  desenvolvidas  pelo  Núcleo  de  Artes, Linguagens  e  Subjetividades  (NALS),  da  Faculdade  de Educação,  da  UFPEL.  Partimos  dessas  reflexões  para compreender  como esses momentos podem nos  fornecer subsídios que fomentem a discussão de como se processam as escritas corporais e vocais em nossas relações sociais de um modo geral  e, para  além disso,  em  como os  corpos  e vozes são tratados nas relações entre professores e alunos.  Palavras‐chave: Educação, Teatro, Pedagogia da Fronteira, Estética da Ginga  

 Vagner De Souza Vargas 

Universidade Federal de Pelotas [email protected] 

     

 

 

 

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Corpo, voz, teatro e educação: Do artista aos processos de significação ‐ Um caminho ainda em processo  vagner de souza vargas 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.2 

 

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A arte é antes uma organização do nosso comportamento visando o futuro, uma exigência que 

talvez nunca venha a concretizar‐se, mas que nos leva a aspirar acima da nossa vida o que está por trás dela 

(Vygostsky, 1999, p. 320). 

 

 

 

Considerações iniciais 

  As sensações físicas potencializadas pelos atores em cena não ficam aprisionadas 

em  seus  corpos,  elas  funcionam  como  uma  primeira  ligação  com  os  espectadores. 

Considerando o  fazer artístico dentro de uma perspectiva ampliada, podemos partir da 

discussão sobre uma abordagem metodológica de trabalho de atores, para chegarmos na 

reflexão  de  como  as  relações  durante  os  processos  de  comunicação,  sejam  eles  quais 

forem, podem desencadear a significação entre os seus interlocutores. 

  Existem poucos trabalhos que traçam uma relação mais aprofundadas do trabalho 

do  ator, partindo de  suas  técnicas para  chegar no ponto em que podemos pensar em 

como esses fatos podem ser expandidos para o campo da educação. Esse texto, faz parte 

de  um  projeto  de  doutorado,  do  Programa  de  Pós‐Graduação  em  Educação,  da 

Universidade Federal de Pelotas  (UFPEL) que pretende  identificar matrizes de  trabalho 

utilizadas pelos atores durante as apresentações e seus momentos de preparo  técnico, 

expandindo  essas  questões  para  as  relações  de  comunicação  de  um modo  geral,  até 

chegar na relação professor‐aluno. 

  O texto que será apresentado a seguir tem por objetivo traçar uma breve relação 

entre  o  trabalho  de  atores  durante  seus  processos  criativos  para  comporem  uma 

corporeidade  trazida  à  cena  teatral  como  uma  dramaturgia  passível  de  leitura  e 

fomentadora  de  significação  nos  espectadores,  verificando  como  as  leituras  de 

informações  corporais  também podem  ser  aplicadas no  campo da  educação. Partimos 

desse  pressuposto  para  compreender  que,  em  todas  as  relações  de  comunicação,  o 

corpo e a voz podem atuar como elementos coadjuvantes da mensagem que está sendo 

passada. Mas, para isso, discutiremos sobre como os atores realizam tais atividades. 

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As  metodologias  de  trabalho  corporais  e  vocais  utilizadas  pelos  atores  são 

desenvolvidas  tendo  como  base  uma  série  de  proposições  técnicas  que  irão 

instrumentalizá‐los,  para  que  sua  performance  pública  atenda  aos  objetivos  de  se 

comunicarem com o espectador. Existem diferentes abordagens técnicas para os atores 

desenvolverem os seus processos criativos (BURNIER, 2001; FERRACINI, 2001; BONFITTO, 

2009). As opções sobre quais caminhos percorrer serão feitas de acordo com os objetivos 

pessoais do ator, do grupo, do  trabalho que estejam  realizando naquele momento, de 

suas pesquisas e etc... Porém, podemos observar que essas  alternativas  surgem  como 

opções metodológicas no  intuito de  fornecerem subsídios de ampliação do vocabulário 

poético desses artistas (ALEIXO, 2008). 

Nas discussões atuais, a corporeidade da voz assume um papel importante, aliada 

à  dramaturgia  do  corpo  durante  a  prática  criativa  dos  atores  em  seus  treinamentos 

(ALEIXO, 2008). Esses processos envolvem um período onde os atores mergulham para 

além  das  técnicas  voltadas  a  uma  virtuose  meramente  físico‐vocal.  Aqui,  reside  o 

momento em que atores buscam fazer com que seus corpos e vozes se tornem o texto 

que  obterá  uma  leitura  dos  espectadores,  diferente  daquelas  contidas  nas  palavras 

textuais. 

Para  tanto, o  ator  necessita de  uma  formação  corpóreo‐vocal que  englobe  não 

somente  os  conhecimentos  fisiológicos,  mecânicos,  dinâmicos,  sobre  emissão  e 

ressonância  sonoras.  Nesse  caso,  corpo  e  voz  precisam  ser  encarados  dentro  de  um 

processo que considere as várias hibridizações, interdisciplinaridades e contextualizações 

pedagógicas para que o ator possa dispor de uma base ampla que lhe permita aumentar 

o  seu vocabulário estético  corpóreo‐vocal para além das  técnicas  tradicionais  (ALEIXO, 

2010; MELO, 2011; ALEIXO, 2011). 

A experienciação de diversas possibilidades de trabalho vocal para o ator durante 

as etapas do seu processo criativo nos permitem considerar a voz como mais um aspecto 

da sua corporeidade. Nesse caso, aqui, consideramos o que Aleixo (2010, p.104) nos diz 

ao referir a voz como “... um saber sensível do corpo, como algo que eu sei que posso 

realizar”. Em  sua obra “Corporeidade da Voz: Voz do Ator”, Aleixo  (2007) assume não 

apenas a corporeidade para a voz, mas também um saber da voz, característica essa do 

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próprio corpo e da maneira como ele  se  relaciona com o mundo através dos  sentidos, 

considerando  isso  como  uma  sabedoria  sensível  do  corpo.  Ainda  nessa  obra,  Aleixo 

(2007) faz referência ao fato de que: 

 [...]  trabalhar a voz do ator é  investir no desenvolvimento de um saber concreto  detido  por  nossa  carne,  pois  a  voz  é  uma  manifestação corpórea e deve ser aperfeiçoada por meio de elementos que objetivem um processo de aprendizado sensível (ALEIXO, 2007, p.37).  

Quando pensamos no aspecto da fala no contexto teatral, podemos analisá‐la de 

uma maneira ampla, não nos  limitando apenas a um acesso gramatical do texto por ela 

emitido, mas considerando‐a como um dos elementos que serão capazes de fomentar a 

reflexão no espectador. Aqui, necessitamos salientar que essa reflexão não se fixa em um 

sentido textual, gramatical,  literal que o contexto da apresentação está passando. Mas, 

sim,  a  outras  possibilidades  que  o  espectador  tem  de  perceber,  sentir  e  significar  as 

informações corporais, sonoras e textuais que lhe são transmitidas. 

Ampliando o sentido/abrangência das noções de comunicação corporal e textual, 

podemos ressaltar que a voz carrega em si características que podem estar relacionadas 

com uma  carga afetiva. Dessa maneira, ao encararmos o afeto  como um dos aspectos 

que podem estar  concretizados na voz, podemos  considerar a emoção e a  sonoridade 

componentes orgânicos da voz (STEIN, 2009). 

Apesar  do  termo  corporeidade  (embodiment)  ser  bastante  empregado,  não  há 

uma  via  fixa  para  a  sua  conceituação  (SCORSOLINI‐COMIN;  AMORIM,  2008).  Nesse 

sentido, Polak (1997), refere que a corporeidade deva ser compreendida como: 

 Mais que a materialidade do corpo, que o somatório de suas partes, é o contido em todas as dimensões humanas; não é algo objetivo, pronto e acabado, mas processo contínuo de redefinições; é o resgate do corpo; é o deixar fluir, falar, viver, escutar, permitir ao corpo ser o ator principal, é vê‐lo em sua dimensão realmente humana. Corporeidade é o existir, é a minha, a sua, é a nossa história (POLAK, 1997, p.37).  

Quando  falamos  de  corporeidade,  não  podemos  nos  limitar  apenas  à  acepção 

relacionada à musculatura, devemos  incluir aqui a voz, encarando‐a como  resultado de 

um  processo  que  engloba  uma  composição,  uma  escrita  vocal  fruto  de  uma  relação 

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orgânica e  sensorial. Quando  referimos uma dramaturgia da corporeidade vocal para o 

ator, estamos assumindo a voz não apenas como um ente corporal, mas também, como 

resultante de uma  relação que envolve a maneira como nos  relacionamos com o nosso 

próprio  corpo,  nossas  matrizes  emotivas  e  repertório  vocal  não  desvinculado  desse 

processo. 

Assim, em face dessa maneira pela qual nos relacionamos com o nosso corpo e com o 

mundo, podemos agregar esses conceitos no  intuito de transpô‐los para o território do 

corpo e da voz em cena. Destarte, conforme Cubas (2011, p.380) refere, o corpo deve ser 

encarado como “o espaço onde o sujeito reconheça sua atividade sensorial, perceptiva e 

simbólica em cada ato vital”. 

Nesse  sentido,  não  podemos  conceber  que  um  artista  contemporâneo  tenha  uma 

visão  fragmentada  do  seu  fazer  artístico  que  não  abarque  a  exploração  das  suas 

potencialidades  corpóreas  e  vocais  apenas  de maneira  individualizada,  uma  vez  que  o 

foco de trabalho do ator, está imbricado nos aspectos relativos ao seu sistema sensório e 

nos  significantes das  instâncias produtivas do  texto  cênico. Sobre esse aspecto, Aleixo 

(2002), refere que: 

 A preparação vocal do ator deve adotar procedimentos metodológicos específicos,  e  fornecer  referências  para  o  estabelecimento  de correspondências entre o aprimoramento dos aparatos físico e vocal e a aquisição  de  uma  propriedade  para  a  aplicação  técnica  da  voz  na composição,  objetivando  a  conscientização  e  potencialização  de  seus recursos  de  expressão.  Trata‐se  de  uma  trajetória  a  ser  percorrida, respeitando  as  características  psico‐físicas  do  indivíduo,  para  uma compreensão  corporal  do  processo  de  produção  da  voz  e  das  suas possibilidades  de  empenho  no  desenvolvimento  da  vocalidade  poética (ALEIXO, 2002).  

  A discussão sobre a compreensão de que os atores devam buscar mecanismos que 

os  instrumentalizem  para  potencializarem  seus  processos  criativos  no  intuito  de 

dinamizarem  seus  corpos  e  vozes  na  direção  de  construção  de  uma  dramaturgia  da 

corporeidade, serve como base para observarmos o fazer artístico envolvendo duas fases 

que  irão gerar significação: a criação e a comunicação. Enquanto a primeira envolve os 

processos criativos relacionados à dramaturgia da corporeidade físico‐vocal dos atores, a 

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segunda está relacionada à recepção teatral e à maneira pela qual artistas e espectadores 

podem estabelecer o seu elo de ligação. 

  Mas, para chegarmos nesse ponto, precisamos refletir sobre quais mecanismos os 

atores  estão  utilizando  durante  os  seus  processos  de  formação  para  obterem  tais 

resultados,  quando  do  evento  teatral,  pra  presença  dos  espectadores.  Devemos 

considerar aqui as pedagogias utilizadas atualmente para a formação desses artistas, suas 

opções metodológicas  e,  contendo  nelas,  as  escolhas  que  imprimirão  uma  identidade 

futura  ao  trabalho  desses  artistas.  Todas  essas  questões  serão  preponderantes  no 

momento  em  que,  na  relação  entre  ator  e  espectador,  se  desenvolver  o  processo  de 

comunicação que resultará em significação das informações ali transmitidas. 

 Contudo,  para  que  o  ator  possa  assumir  para  si  esse  papel  de  compositor,  ele 

precisará  considerar  o  seu  trabalho  pensando  o  fazer  em  face  da  complexidade  dos 

fenômenos  teatrais  contemporâneos, onde a  sensorialidade  assume o  seu papel  como 

fonte  de  cognição  (BONFITTO,  2009).  O  fato  do  trabalho  do  ator,  dentre  outras 

abordagens,  estar  relacionado  com  a  criação  de  identidades  fictícias,  por  meio  de 

personagens e na dinamização de informações corpóreas, constituídas em um sistema de 

gramática  corporal,  nos  leva  à  reflexão  sobre  as  diferentes  formações  artísticas  e  de 

repertório estético que muitos atores desenvolvem ao longo de sua carreira artística. No 

entanto, se percebe que, embora existam diferenças, a possibilidade de identificação com 

a plateia se mantém independentemente da origem do ator (BANU, 2011). 

Analisando por esse ângulo, se observa que o processo de formação desse artista 

pode ser considerado como sendo um sistema no qual se forja sua identidade artística, se 

caracterizando  como  texto,  discurso,  documento  de  identidade,  trajetória,  percurso, 

autobiografia  e  etc...,  o  que  poderá  vir  a  estar  intimamente  relacionado  com  as  suas 

escolhas metodológicas de  treinamento  futuras  (SILVA,  2000). Nesse  sentido, por que 

não  pensar  nessa  formação  artística  como  um  espaço  para  o  desenvolvimento  de  um 

documento de identidade corpórea e vocal para o ator? 

Desse modo,  acolher  uma  experiência  estético‐educativa  para  a  construção  de 

uma  dramaturgia  corporal  passível  de  leitura  pelo  espectador  pode  favorecer  uma 

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reflexão  sobre  o  próprio  ato  de  conhecer  como  um  processo  contínuo  e  inconcluso. 

Nesse  processo,  o  corpo  surgiria  como  uma  construção  evolutiva,  emergindo  de  uma 

ação e não algo que já nasceria pronto (BASTOS, 2010). Pensar em um aprendizado, nessa 

perspectiva,  se  faz  necessário  incorporar  aos  saberes  educativos  um  tipo  de 

conhecimento mais  integrativo  que  dialoga  com  a  ciência,  com  a  arte  e  com  o mito, 

acolhendo dessa maneira, o belo, o criativo e o inusitado (NOBREGA, 2005). Tratando‐se, 

assim, o processo cognitivo como uma forma de comunicação (BASTOS, 2010). 

Como  o  espectador  realiza  a  percepção  desse  mundo  a  partir  de  um  olhar 

diferenciado,  sensibilizado  pela  experiência  do  contato  durante  o  evento  teatral, 

podemos relacionar com a reflexão proposta por Ferracini (2010) nos colocando o devir 

como uma Zona de Experiência, onde a “ação corpórea é gerada pela capacidade de ser 

afetado”. Nesse momento, podemos traçar um paralelo com o que Lacan (1998) propõe 

no  Estádio  do  Espelho,  quando  o  Eu  nos  é  colocado  como  uma  instância  de 

desconhecimento,  situado  no  registro  do  imaginário,  sendo  esse  registro  simbólico, 

constituído como linguagem. Assim, devido ao fato do ator criar novas identidades, essa 

nova persona criada pelo ator possui uma dramaturgia corporal própria, possível de ser 

percebida pelo espectador. 

No entanto, nos questionamos sobre a forma que o espectador consegue efetuar 

a  leitura simbólica desses aspectos que são dinamizados numa simbiose  intrínseca entre 

imaginário e físico do ator. Essa abordagem seria evidenciada pelo fato do espectador se 

colocar na perspectiva de análise do seu “objeto de desejo” naquele momento, no caso, 

o ator. Durante esse momento de comunhão, podemos pensar o acontecimento teatral 

como um momento de prazer mútuo entre o arrebatamento desse artista e o prazer do 

espectador,  possibilitando  que  esse  último  se  permita  colocar  no  lugar  do  outro, 

permitindo a “leitura” das informações geradas pela “escrita” corpóreo‐vocal do ator. 

Entretanto,  aqui,  precisamos  refletir  sobre  o  prisma  da  dramaturgia,  conforme 

Banana  (2010,  p.175)  refere  ao  citá‐la  como  “um  processo  de  organização  e  não  de 

controle,  pois  se  trata  de  um  contínuo  temporal”. Além  disso,  precisamos  perceber  a 

dramaturgia  como  um modo  de  se  relacionar  com  determinados  contextos,  limites  e 

campos de possibilidade (VELLOSO, 2010). Referimos  isso, pois há momentos em que a 

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técnica  da  interpretação  do  ator  invade  terrenos  outros  e  não  há  como  fugir  dela 

(AZEVEDO, 2009). 

Dessa forma, principia a ideia de um “discurso do corpo”, assim, se pretende que 

ele se  liberte ou se exprima. Como se o objetivo  fosse, nesse momento, descobrir uma 

“linguagem  do  corpo”,  à  qual  se  subordinaria  qualquer  terapia  ou  outra  forma  de 

linguagem  artística.  Essa  situação  permite  que  o  homem  distribua  signos,  segundo  os 

cortes  e/ou  poros  que  opera  no  real,  classifica,  reagrupa,  define,  podendo,  assim, 

identificar as situações,  informações, estabelecendo relações entre os significantes e os 

significados (GIL, 1997). 

Devido ao fato do corpo constituir o suporte das permutações e correspondências 

simbólicas entre os diferentes códigos dinamizados pelo ator e, se simbolizar quer dizer 

antes  de  tudo,  ordenar  os  signos  dispersos,  reagrupando‐os  em  códigos. Nesse  caso, 

corpóreos. A  tarefa do ator, aqui,  se constitui em  formar – com a ajuda do  seu corpo‐

gramática  –  uma  série  de  frases  lacunares  que  permitiriam  ao  espectador,  agir  como 

elemento  co‐atuante desse processo, preenchendo  espaço  e  suscitando novas  lacunas 

(GIL, 1997). Entretanto, apesar da linguagem constituída, nesse caso, fixar certos limites, 

ela  também é  capaz de ultrapassá‐los. Essa perspectiva nos  leva a  refletir  sobre o que 

Cabral (2011) propõe quando nos fala que “... é o prazer de cruzar fronteiras em termos 

de  conhecimento  e  de  acessar  informações  que  provocam  a  imersão  no  contexto 

ficcional”. 

Nesse  sentido, Aleixo  (2008, p.  58)  refere que  “antes de  constituir um nível de 

organização poética, a escrita do corpo é, com efeito, uma busca sensível de significação 

e  expressividade”.  Em  face  disso,  o  espectador  surge  como  elemento 

participante/receptor  das  informações  desse  processo.  Conforme  explicitado 

anteriormente,  a  linguagem  do  corpo  e  da  sonoridade  em  si,  por  conterem  aspectos 

relativos à sensorialidade, transmitem informações que fogem à lógica gramático‐textual. 

Porém,  não  inviabilizam,  nem  invalidam  a  significação  das  informações  que  ali  estão 

sendo comunicadas. Apenas a maneira de significá‐las envolve uma abordagem outra que 

não a literária. 

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Corpo, voz, teatro e educação: Do artista aos processos de significação ‐ Um caminho ainda em processo  vagner de souza vargas 

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A observação de como os processos de significação podem ser gerados a partir de 

uma perspectiva que assuma o evento  teatral como um espaço educativo, nos permite 

expandir  a  visão  delimitada  por  processos  que  enclausuram  o  fomento  à  significação 

dentro  de  espaços  tradicionalmente  normatizados  como  funcionais  para  tais 

procedimentos. A reflexão a partir da análise das composições criativas corpóreo‐vocais 

dos  atores  como  processos  catalisadores  de  significação  durante o  evento  teatral  nos 

permite compreender a poética como espaço para o aprendizado em si, suscitando um 

aprendizado/raciocínio/reflexão/sentimento  que  envolva  outros  aspectos  que  não  os 

tradicionalmente presos à razão lógico‐biológico‐matemática do saber. 

 Apesar  desse  texto  enfocar  aspectos  técnicos  do  trabalho  dos  atores  que  se 

proponham  a  buscar  esse  tipo  de  perspectiva  técnica,  o  projeto  de  tese  de 

doutoramento, no Programa de Pós‐Graduação em Educação, do qual ele se origina, faz 

parte  das  atividades  do  Núcleo  de  Artes,  Linguagens  e  Subjetividades  (NALS),  da 

Faculdade de Educação  (FAE), da UFPEL. O NALS busca desenvolver suas atividades de 

acordo com os conceitos de “Pedagogia da Fronteira” (Giroux, 1992), ou ainda aquilo que 

McLaren  (1999) denominou  como  sendo uma  “Identidade de  Fronteira”  (BUSSOLETTI; 

VARGAS,  2013).  Além  disso,  também  adotamos  princípios  da  “Estética  da  Ginga”, 

conceito  oriundo  das  reflexões  de  Paola  Jacques  (2003)  sobre  a  obra  de Helio Oiticia 

(BUSSOLETTI; VARGAS, 2013). 

As atividades e as propostas de discussões  teóricas do NALS  têm, entre um dos 

seus objetivos, criar laços e propor teias de discussões que não se fixem em concepções 

previamente  estabelecidas  com  o  objetivo  de  percebermos  e  propormos  ações  e 

reflexões  que  não  se  prendam  as  normatizações  tradicionais.  Além  disso,  o  NALS  se 

propõe  a  desterritolializar  comportamentos  e  normatizações,  transgredindo  fronteiras 

impostas, expondo‐as  justamente como material de discussão,  reflexão e debate entre 

todos  os  elementos,  agentes  que  as  constituem,  para,  assim,  dentro  de  suas 

singularidades, extrapolar sua auto percepção e propor outras alternativas de alteridade 

onde  o  respeito  emerge  como  resultado  de  um  processo  educativo.  Para  que  essa 

proposta  pudesse  ser  atingida,  a  arte  e  todas  as  suas  hibridizações  possíveis  atuaram 

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como  catalisadores  mestres  desse  processo,  onde  as  reações  resultaram  em 

conhecimento (BUSSOLETTI; VARGAS, 2013). 

 

Considerações Finais 

Em face disso, quando refletimos sobre a análise de um processo de dramaturgia 

que  envolve  metodologias  de  criação  corpóreo‐vocais  dos  atores,  não  estamos  nos 

propondo  apenas  a  avaliar  peculiaridades  técnicas  dos  processos  de  preparo  desses 

artistas para o evento  teatral. Mas, partimos dessas  reflexões para compreender como 

esses momentos podem nos  fornecer subsídios que  fomentem a discussão de como se 

processam as escritas corporais e vocais em nossas relações sociais de um modo geral e, 

para além disso, em como os corpos e vozes são tratados nas relações entre professores 

e alunos. 

Essas  reflexões  ainda  estão  em  seu  processo  inicial  tendo  em  vista  que  fazem 

parte de um projeto de  tese de doutoramento que está sendo desenvolvido. Mas, não 

apenas as especificidades das questões desse projeto de  tese, assim  como  também as 

outras atividades desenvolvidas pelo NALS se propõem a trazer as artes em todas as suas 

estéticas e hibridizações como palco para o fomento de reflexões sobre questões sociais 

e  educativas,  trazendo  os  diferentes  sujeitos,  referenciais,  conceitos  e  ações  para  um 

mesmo ponto de encontro, onde os debates e interlocuções se tornam possíveis. 

 

 

REFERÊNCIAS 

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