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Page 1: X Anped Sulxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/736-0.pdf · Linguagem verbal e interação com crianças de zero a três anos: as pesquisas da região sul Adriana Bragagnolo X ANPED SUL,

 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.1 

 

 

 

 

    Linguagem verbal e interação com crianças de zero a três anos: as pesquisas da região sul    

 

Resumo O tema da linguagem verbal e da interação com crianças de zero  a  três  anos  é  pautado  por  diversas  áreas  do conhecimento que  lançam olhares para o desenvolvimento dos  sujeitos,  da  língua  e  dos  aspectos  sociais  e  culturais acerca disso. Consideramos que, mesmo com a contribuição das pesquisas para o avanço científico, tal discussão tem se mostrado  ainda  tímida  no  universo  acadêmico,  frente  às demandas  que  emergem  na  educação  das  crianças pequenas  e  à  necessidade  de  formação  pedagógica  por parte  de  todos  que  educam.  Esse  trabalho  objetiva apresentar  dados  de  uma  investigação  que  estuda pesquisas  com  esse  tema,  com  suas  problemáticas  e potencialidades, a fim de  levantar questões para a área da Educação. Assim, foi realizada a análise de resumos de teses e  dissertações  em  Programas  de  Pós‐Graduação  das Universidades  da  Região  Sul  do  Brasil,  nas  áreas  de Educação,  Letras/Linguística  e  Psicologia.  Com  na  leitura, entendemos  a  interlocução  entre  as  áreas  reafirma  a importância  de  estudos  sobre  a  linguagem  verbal  e  as interações  entre  os  sujeitos,  especialmente  adultos  e crianças. Reiteramos,  assim,  um  compromisso,  como  área de  Educação,  em  adensar  mais  discussões  para  a construção  de  referenciais  pedagógicos  consistentes,  que permitam  contribuir  com  o  processo  pedagógico  das crianças.  Palavras‐chave: linguagem verbal, interação, crianças de zero a três anos, pesquisa.  

 Adriana Bragagnolo 

Universidade de Passo Fundo [email protected] 

      

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 Linguagem verbal e interação com crianças de zero a três anos: as pesquisas da região sul  Adriana Bragagnolo 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.2 

 

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1. Introdução As pesquisas sobre linguagem e interação verbal com crianças de zero a três anos, 

nas últimas décadas, tem conduzido discussões em diferentes áreas do conhecimento. Na 

trajetória  da  pesquisa  brasileira,  as  transformações  políticas,  sociais,  culturais,  e 

consequentemente,  científicas,  têm  gerado  outras  formas  de  conceber  a  infância,  a 

aprendizagem  e  a  linguagem  verbal,  diferentes  daquelas  que  acreditávamos  durante 

décadas. Tais  concepções estão  configuradas em um novo momento, apresentado por 

uma  sociedade mais  complexa  e  exigente,  também  em  termos  de  educação.  À  vista  

disso, esse trabalho objetiva apresentar um mapeamento da pesquisa produzida sobre a 

linguagem  verbal  e  interação  na  faixa  etária  de  zero  a  três  anos,  em  três  áreas  do 

conhecimento,  oriundas  de  diferentes  programas  de  pós‐graduação,  mais 

especificamente no cenário acadêmico das Universidades da Região Sul do Brasil. Isso se 

justifica  pela  necessidade  de  lançar  um  olhar  atento  ao  conhecimento  que  se  tem 

produzido  e  às  demandas  que  permanecem.  Além  da  Educação,  incluímos  nessa 

investigação, as áreas de Letras/Linguística e Psicologia, pois problematizam esse tema  e 

realizam uma certa interlocução com o campo pedagógico. Ademais, se considerássemos 

apenas os trabalhos de Educação, o número seria bastante restrito.  

Partindo  da  área  da  Educação,  interessa‐nos  compreender  o  movimento  que 

ocorre  entre  as  demandas  exigidas,  impulsionadas  pelas  mudanças  que  ocorrem  no 

contexto político‐educacional, e as produções científicas. A exemplo disso, destacamos  o 

significativo aumento de ingresso das crianças nas escolas de educação infantil, na última 

década,  especialmente  na  faixa‐etária  de  zero  a  três  anos  e  as  consequências 

pedagógicas, geradas por  isso. Esse tipo de mudança  lança novas perguntas e reforça a 

urgência de discussões no âmbito da educação da infância, dentre elas, a necessidade de 

outras formas de ensinar e de aprender, como no caso da linguagem.  

Acreditamos na  linguagem como uma prática social e cultural e, na criança como 

um sujeito que interage com esse objeto de conhecimento, e, com o outro, no processo 

de  aquisição.  Entendemos  que  a  educação  de  crianças  pequenas  requer  muitos 

conhecimentos da parte de quem as educa e uma considerável organização pedagógica 

que  contemple as especificidades desse nível de ensino. Para  isso, as pesquisas e  seus 

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 Linguagem verbal e interação com crianças de zero a três anos: as pesquisas da região sul  Adriana Bragagnolo 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.3 

 

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resultados  tornam‐se  referência  para  quem  atua  no  campo  pedagógico,  mais 

especificamente, na escola.  Logo,  indicamos  a necessidade de  saber o que está  sendo 

pesquisado,  atualmente,  com  quais  referenciais  teóricos  e  metodológicos  os 

pesquisadores  têm  dialogado  e  que  respostas,  a  partir  de  suas  perguntas,  as 

investigações têm gerado, acerca do tema referido. 

Para esse estudo, visando compor o estado do conhecimento1  foi  realizada uma 

busca2, de resumos de teses e dissertações, no Banco de Teses da Capes,  para selecionar 

pesquisas que contemplem o tema da  linguagem verbal e  interação com as crianças de 

zero a três anos no período de 2000 a 2012. Muitos trabalhos tomam a educação infantil, 

seus  sujeitos e  suas problemáticas como  temas de  investigação, e, da mesma  forma, a 

aquisição  da  linguagem  e  as  interações  se  evidenciam  num  conjunto  significativo  de 

pesquisas.  No  entanto,  especificamente  com  essa  faixa‐etária  de  zero  a  três  anos, 

encontramos um número de apenas três (3) teses e oito (8) dissertações, as quais tratam 

de especificidades na aquisição da linguagem, da comunicação, dos processos interativos 

entre adultos e bebês e entre os próprios bebês. 

De posse dessas questões, apresentamos o artigo que,  inicialmente, focaliza uma 

problematização  sobre  a  linguagem  verbal  com  crianças  pequenas  e  justifica  a 

importância do fortalecimento das pesquisas nessa área. Em seguida realiza a exposição 

de alguns conceitos que nos permitem fazer a  leitura do mapeamento com referenciais 

que  adensam  a  discussão,  tais  como:  pesquisa  com  crianças,  linguagem  como  prática 

social e cultural e interação verbal. Como terceiro ponto, destaca os dados da pesquisa e, 

por fim, levanta questões para a área da educação. 

 

2. Os  estudos  sobre  interação,  linguagem  verbal  e  crianças  de  zero  a  três anos: a quem interessa o debate? 

Como  já anunciado, esse estudo chama ao diálogo com a Educação, as áreas de 

Letras/Linguística e Psicologia por realizarem uma interlocução com o campo pedagógico, 

                                                            1 Concebemos o “estado do conhecimento” como uma modalidade de investigação que abrange um campo 

específico, como no caso das teses e dissertações, o qual expõe o conhecimento produzido.  2  Os  dados  do  mapeamento  apresentado  no  âmbito  da  Região  Sul,  fazem  parte  de  um  estudo  mais 

abrangente que contempla essa investigação no cenário brasileiro, realizado pela autora do texto.  

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 Linguagem verbal e interação com crianças de zero a três anos: as pesquisas da região sul  Adriana Bragagnolo 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.4 

 

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ao  trazer  a  natureza  desse  objeto,  com  suas  especificidades  e,  ao mesmo  tempo,  por 

anunciar, mesmo que timidamente nos próprios estudos, elementos sobre a educação de 

crianças,  mais  precisamente  sobre  os  bebês.  Isso  ocorre  pela  proximidade  que  a 

Psicologia,  por  exemplo,  nos  traz  sobre  o  desenvolvimento  infantil,    aprendizagem, 

interações entre pares e, no caso das crianças, também a interação com os adultos. Já, a 

área de Letras/Linguística, apresenta estudos que contemplam a gênese da linguagem, o 

processo de aquisição, a criança como sujeito da  língua, e as relações com o sistema de 

representações de sua cultura. A área da Educação, que agrega a contribuição das outras 

duas  áreas  citadas,  como  representante  dessa  discussão,  evidencia  estudos  que 

contemplam, no ambiente escolar, a interação das crianças com a linguagem e a relação 

entre os sujeitos no processo de aprendizagem. Desse último lugar, questionamos: Em se 

tratando,  da  Educação,  a  área  que movimenta  os  processos  pedagógicos,  não  seriam 

necessárias mais  pesquisas  dessa  natureza? Mesmo  com  o  avanço  de  discussões  dos 

meios acadêmicos nas duas últimas décadas3, o que a comunidade científica apresenta 

para  fortalecer esse debate? Que outros  temas aproximam essa discussão da educação 

de crianças? Com quais referências teóricas e metodológicas está trabalhando? 

Iniciemos  a  problematização  pela  educação  de  crianças.  Educadores  e 

pesquisadores se deparam com um campo de estudos já consolidado, mas que ainda está 

construindo espaços de    interlocução e diretrizes que permitam maior convergência nos 

debates e mais consistência no ensino com as crianças. O contexto sócio econômico, que 

tem  impulsionado mudanças nos hábitos diários dos  indivíduos é o primeiro elemento a 

nos dar  referências. Além das pressões políticas e educacionais para que mais crianças 

estejam na escola, também mães e pais interagem num cotidiano mais complexo, intenso 

e  exigente  de mais  espaços  de  educação  para  seus  filhos. De  acordo  com  o  Instituto 

Nacional de Estudos e Pesquisa Anísio Teixeira (INEP), dados4 do senso escolar de 2010, 

mostram  que  o  número  de  crianças  que  frequentam  creches,  aumentou 

substancialmente nos últimos anos. Tais instituições atendiam, em 2000, 916.864 crianças 

                                                            3  Consideramos  que  as  duas  últimas  décadas  trouxeram maior  avanço  nas  discussões  que  envolvem  a 

educação de crianças, dentre outras razões, pela consolidação de políticas públicas, especialmente pela  Constituição, de 1988 e pela LDBEN, de 2006.  

4  Dados  obtidos  no  Portal  Brasil  ‐  site:  http://www.brasil.gov.br/sobre/educacao/sistema‐educacional/educacao‐infantil. Acesso em 06/06/2012. 

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 Linguagem verbal e interação com crianças de zero a três anos: as pesquisas da região sul  Adriana Bragagnolo 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.5 

 

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até três anos de idade, no ano de 2011, o número chegou a 2.298.707, o que significa um 

aumento de  150%. Esse número, bastante  significativo, nos  faz pensar na qualidade da 

educação das crianças pequenas. Se há um número maior delas, certamente mais escolas 

e mais propostas coerentes com essa  faixa etária  são necessárias. Se mais professores 

são convocados a assumir a docência, é preciso muito conhecimento por parte desses, 

que vivem numa sociedade que há pouco  tempo concebia a creche, como um  lugar de 

cuidado e recreação, numa concepção de que as crianças menores não necessitavam de 

intervenção  pedagógica.  Essa  concepção,  apesar  de  ainda  estar  presente  em  alguns 

contextos escolares, já é superada em outros tantos, por acreditarmos que, desde os seis 

meses  de  idade,  período  em  que  muitos  bebês  ingressam  na  escola,  ocorre  intenso 

desenvolvimento em diversas áreas do  conhecimento, e eles, pequenos  sujeitos, estão 

surpreendentemente disponíveis  à  aprendizagem. Portanto há necessidade de olhá‐los 

como atores sociais5, para que assim, possamos compreender o melhor modo de intervir 

no processo pedagógico.  

Os  estudos  sobre  interação  entre  os  sujeitos  ou  com  a  linguagem  são 

contemplados em Educação, mas têm evidência maior em outras áreas, especialmente na 

Psicologia e na Letras/Linguística. Compreendemos que ao aprender a falar, a comunicar 

seus desejos, impressões, a dizer o que sabe, a descobrir o que fazer com as palavras no 

enfrentamento com o outro, o adulto ou seus colegas de sua turma, as crianças de zero a 

três  anos  constroem  ferramentas  que  potencializam  seu  desenvolvimento  em  várias 

dimensões.  Mas  que  especificidades  atravessam  esse  cotidiano  pedagógico  infantil? 

Ainda  temos muitas  indagações. As crianças que nascem nessa era digital, estão muito 

atentas ao universo que as cerca, no entanto, presenciamos situações, por exemplo, em 

que seus enunciados são  ignorados. Algumas precisam das  intervenções da professora, 

outras, precisam de espaços de  fala e de  serem ouvidas,  são  carentes de uma  relação 

dialógica (BAKHTIN,1997) e de momentos ricos de interação verbal.  

Com  base  nessa  problemática,  entendemos  que  as  pesquisas  que  envolvem  as 

crianças de zero a três anos e sua linguagem, num processo de interação, contribuem de 

                                                            5 Conforme a Sociologia da Infância, o termo atores sociais, refere‐se a uma concepção de criança que tem 

voz e vez, sendo participante dos processos a que estão inseridas.  

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 Linguagem verbal e interação com crianças de zero a três anos: as pesquisas da região sul  Adriana Bragagnolo 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.6 

 

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forma significativa ao fazer pedagógico, que transita entre a escola e a academia, a qual 

lança  novos  rumos  ao  debate,  periodicamente.  O  que  nos  preocupa  é  que,  como 

comunidade científica,  tenhamos poucas discussões com esse objeto de conhecimento, 

nesse momento de importante crescimento na história da educação infantil.  Com maior 

número  de  crianças  nas  escolas  e  com  a  compreensão  de  que  essas  têm  direito  de 

aprender,  há  maior  número  de  sujeitos  adultos,  educadores,  envolvidos  em  sua 

formação,  o  que  exige  mais  produção  científica.  Reconhecemos  que  esse  debate 

interessa  tanto  à  área  de  pesquisas  da  educação,  quanto  aos  educadores  que  estão 

próximos  às  crianças. Os estudos mostram que quanto mais experiências de  interação 

com a linguagem, as crianças possuírem, mais se envolve no contingente social e cultural, 

compreendendo o mundo que as rodeia, como seguem as próximas reflexões.  

 

3. A linguagem verbal desenhada pelas interações  Acreditamos que as crianças são protagonistas de seu processo de aprendizagem 

e  que  são  capazes  de  produzir  linguagem  de  forma  interativa,  através  de  referências 

adultas,  de  variadas  práticas  sociais  e  das  oportunidades  que  a  cultura  lhes  oferece. 

Assumir essa perspectiva  implica na construção de um conceito de  infância que  rompe 

com  as  diretrizes  que  nos  faziam  pensar  que  havia  uma  idade  certa  para  começar  a 

aprender e, que negavam os processos de  interação. Portanto, o conceito pesquisa com 

crianças,  tem  evidenciado  em  seu  cerne  essa  concepção,  o  que  justifica  uma  breve 

exposição sobre ele, além de que, nosso trabalho contempla esse horizonte.  

Segundo  Filho,  o  interesse  por  pesquisar  com  crianças  tem  crescido 

substancialmente e pesquisadores buscam uma compreensão mais abrangente a respeito 

dessa  faixa etária  (2011, p. 82), é preciso conhecer os processos de aprendizagem e de 

desenvolvimento infantil de uma forma mais próxima às próprias crianças. Nessa direção, 

a  sociologia  e  a  antropologia  entram  em  cena  como  áreas  que  impulsionam  outra 

perspectiva de olhar ao universo infantil, diferente daquela assumida há décadas. Assim, 

possibilita‐se, ampliar uma mirada sobre a sociedade atual, e,  indicar a etnografia e seus 

aportes metodológicos na pesquisa empírica quando envolve crianças. Delalande nos fala 

de  uma  investigação  “compartilhada”,  com dispositivos que  incluem  as  crianças  como 

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 Linguagem verbal e interação com crianças de zero a três anos: as pesquisas da região sul  Adriana Bragagnolo 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.7 

 

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colaboradores  (2011,  p.  77).  Essa  concepção  tem  fundamentado  essencialmente  as 

pesquisas na área da Educação, inclusive, as que esse trabalho expõe.  

Se considerarmos esse viés da pesquisa com crianças, podemos afirmar que, desde 

bebês,  são  capazes,  tanto  de  compartilhar  com  o  adulto  e  com  as  outras  crianças,  os 

significados de suas elaborações, como de buscar outros recursos comunicativos que lhes 

permitam saber mais.  Muito cedo a linguagem verbal está presente no cotidiano infantil, 

permeada de sentidos e mediada pela experiência. A cultura, cada vez mais rica, na atual 

sociedade,  torna‐se  também,  mais  exigente,  e  por  esse  desafio,  com  diversos‐novos 

elementos nos modos de vida de seu entorno, as crianças precisam de novas habilidades 

(verbais) para lidar com situações plurais. Segundo Bruner: 

 A aquisição da  linguagem parece  ser um  subproduto  (e um veículo) da transmissão  da  cultura.  Inicialmente  as  crianças  aprendem  a  usar  a linguagem  e  seus  precursores  linguísticos  para  conseguirem  o  que querem, para poder  jogar, para manter‐se conectados com aqueles dos quais dependem. Atuando assim, encontram os limites que prevalecem à cultura  que  os  rodeia  incorporados  nas  restrições  dos  pais  e  suas convenções. O mecanismo que maneja essa estrutura não é a aquisição da linguagem em si, mas a necessidade de manejar bem as exigências da cultura.  As  crianças  não  começam  a  usar  a  cultura  porque  tem  uma capacidade  de  uso  da  linguagem,  mas  porque  tem  a  necessidade  de conseguir  a  realização  de  coisas  que  o  seu  uso  lhes  confere  (1983,  p. 102).6  

  A partir do  uso da  linguagem  em  variadas  situações de  seu  contexto,  as 

crianças vivenciam e aprendem diferentes formas de comunicação, e toda a comunicação 

exige um sujeito  interlocutor. Comunica‐se algo para alguém. É de posse dessa  relação 

que as crianças ampliam seus recursos de linguagem, tanto na forma de expressão, como 

na compreensão. Ações como solicitar7, participar de jogos de linguagem, repetir o que o 

                                                            6 Tradução nossa. Texto original: La aquisición del  linguaje parece ser um subproduto y um vehículo) de  la 

tranmisión  de  la  cultura.  Inicialmente,  los  niños  aprenden  a  usar  um  linguaje  (o  sus  precursores prelinguisticos)  para  conseguir  lo  que  quieren,  para  poder  jugar,  para  manterse  conectados  com aquellos de  los cuales dependem. Actuando así, encuentram  los  limites que prevalecen em  la cultura que los rodea, corporizados em las restricciones de sus padres y em las convenciones. El mecanismo que maneja toda essa estrutura no es  la aquisición de  la  languaje em sí, sino  la necessidade de manejarse bem com las exigências de la cultura. (BRUNER, 1983, p. 102) 

7 Jerome Bruner trabalha com o conceito de “petición”, quando se refere ao processo de desenvolvimento da solicitação. Afirma que, ao pedirmos  informações, coisas, reconhecimento, devemos nos adaptar a capacidade  de  quem  escuta,  a  seus  limites,  a  nossa  relação  com  ele  e  as  convenções  que  aceita, 

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 Linguagem verbal e interação com crianças de zero a três anos: as pesquisas da região sul  Adriana Bragagnolo 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.8 

 

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adulto fala, construir narrativas, chamar para uma ação conjunta, demandam da criança, a 

capacidade de reinventar maneiras de comunicar‐se e de uso adequado da linguagem em 

determinada condição.  

 No âmbito do desenvolvimento da linguagem verbal, as ações interativas das  quais  a  criança  participa  viabilizam  oportunidades  de estabelecimento de formas de relação com o outro, de experimentações e de uso de recursos para se comunicar com o parceiro, do exercício de escolhas e de (re)criação, de ampliação da percepção sobre si e sobre o outro e a evolução do pensamento. (RAMOS, 2012, p.91)  

Acreditamos assim, que, enquanto a criança significa a linguagem, pela palavra, ela 

o faz por meio da  interação e das situações sociais mais  imediatas. Segundo Bakhtin, há 

uma orientação da palavra pelo  interlocutor, que é de grande  importância. Para ele, “na 

realidade, toda a palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que 

procede  de  alguém,  como  pelo  fato  de  que  se  dirige  para  alguém.  Ela  constitui 

justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte.” (1997, p. 113). E é por ela que 

ocorre uma definição de um sujeito ao outro. Esses dois, no desenvolvimento  infantil se 

revelam, por exemplo, no adulto e na criança. O adulto, que pode  ser  tanto o  locutor, 

como o ouvinte, é representado pela mãe, pai, professora ou pessoa de referência. É na 

escola,  o  espaço  social,  preenchido  de  cultura,  que,  insistentemente,  essa  relação 

acontece,  ou  pode  acontecer,  revelando  a  experiência  da  língua.  Portanto,  essa 

experiência é coletiva, pois esse produto de  interação entre dois sujeitos se trata de um 

ato de fala, mediado por um contexto maior.  

 A  linguagem da criança e seu processo de aquisição apontam para uma introdução  desta  criança  na  sociedade  e  na  cultura.  Por  esse  prisma  a língua se revela como mediação entre o mundo adulto, pré‐existente, e a criança, a qual, na relação com o adulto, vive e experiência a língua, como o  adulto  vive  e  experiência  a  língua  enquanto  instituição  social  e coletividade. (DIEDRICH, 2012, p.120) 

 Nessa  coletividade,  o  adulto  e  a  criança,  ao  interagir,  constroem  uma  relação 

dialógica que contempla originalidade, pois, por detrás dos enunciados, há algo novo, da 

                                                                                                                                                                                          portanto, é uma  forma de  linguagem mais  comprometida. Para  aprofundamento,  ver: BRUNER,  J. El desarrollo  de  la  petición.  In:  BRUNER,  J; WATSON,  R  (col.)  El  habla  del  niño:  cognição  e  desarrollo humano. Barcelona: Paidós, 1994. 

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 Linguagem verbal e interação com crianças de zero a três anos: as pesquisas da região sul  Adriana Bragagnolo 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.9 

 

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experiência vivida por cada um dos interlocutores. Com base na perspectiva bakhtiniana, 

“a  relação dialógica é uma  relação  (de sentido) que se estabelece entre enunciados na 

comunicação  verbal.”  (NAGAI;  MIOTELLO,  2002,  p.  109).  O  sentido  representa  um 

conteúdo  que  é  construído  pelas  circunstâncias  e  através  delas,  pouco  se  repete,  ao 

menos  não  ocorre  da mesma  forma.  Esse  processo,  dialógico,  ocorre  numa  cadeia  de 

vozes que formam um discurso, que por sua vez, ocorre em direção ao outro e  leva em 

conta uma “relação social e hierárquica”. (SHERMA; TURATTI, 2012, P. 44).  

Na escola infantil, certamente os enunciados são ricos e ocorrem numa via de mão 

dupla, entre quem está  iniciando  a experiência  com  a  linguagem, descobrindo  como e 

quando  usá‐la,  e  quem,  com  sutileza,  vasto  conhecimento,  e  um  horizonte  social 

(BAKHTIN, 1997) mais amplo, conduz e cria apoio para essa prática mais primordial. É um 

movimento  contínuo,  que  implica  em  condições de produção, os  quais podem  ser,  ao 

mesmo tempo, dadas pelo contexto, como, intencionadas pelo processo pedagógico.   

 

4. O que dizem as produções da Região Sul?  Pautamos nesse debate um  trabalho discussões que a comunidade científica, na 

Região  Sul,  tem  realizado,  na  última  década,  sobre  crianças menores  de  três  anos  e 

linguagem.  Para  a  realização  deste,  foi  necessário  selecionar  e  analisar  resumos  de 

dissertações  e  teses,  obtidos  pelo  banco  de  Teses  da  Capes  e  utilizar  descritores  tais 

como: aquisição da  linguagem, crianças de zero a três anos,  linguagem verbal,  interação 

entre adulto e criança,  interação verbal, fala, bebês e desenvolvimento da  linguagem, e, 

aquisição  da  linguagem  com  crianças  pequenas.  Dito  isto,  inicialmente,  faremos 

referência  aos  dados  de  pesquisa  com  esse  tema  em  âmbito  nacional  e,  após, 

discorremos  ao  recorte  que  nos  interessa.  Num  primeiro  momento,  nessa  busca, 

surgiram mais de 40 produções mapeadas nos diferentes programas de Pós‐Graduação 

do  cenário  brasileiro,  em  três  áreas  do  conhecimento,  já  mencionadas,  no  entanto, 

algumas apenas  tangenciavam o debate,  tratando da aquisição da  linguagem verbal na 

educação infantil, mas com crianças maiores de três anos de idade. Na seleção, portanto, 

ficamos com um saldo de vinte e nove (29) produções que contemplam a faixa etária de 

zero a três anos, com esse tema. Dessas, onze (11) produções são oriundas da Região Sul. 

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 Linguagem verbal e interação com crianças de zero a três anos: as pesquisas da região sul  Adriana Bragagnolo 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.10 

 

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O  recorte  de  tempo,  de  12  anos,  com  pesquisas  de  2000    a  2012  justifica‐se  por  duas 

razões. A primeira, pelo  fato de  as discussões no  campo da educação  infantil estarem 

mais  acirradas  após  a  consolidação  de  políticas  públicas  a  partir  de  1996  e  com  isso, 

ocorreram maiores movimentos  nos meios  acadêmicos.  A  segunda,  em  razão  do  alto 

percentual de crianças de zero a  três anos  frequentando as escolas  infantis, o que nos 

convoca a acompanhar o quê e em que quantidade, o campo científico tem produzido. 

Desse total de onze (11) pesquisas, cinco (5) são oriundas da área da Educação, cinco (5) 

de Letras/Linguística e apenas uma de Psicologia, sendo que oito  (8) são  resultados de 

pesquisas de mestrado e  três  (3) de doutorado, conforme a Tabela  1. Esse último dado 

nos chama atenção, pois, de maneira mais substancial, um trabalho de tese permite mais 

tempo, resultados e detalhamentos, do que um trabalho de dissertação. Portanto, temos 

o resultado de mais trabalhos, com menos possibilidades de aprofundamento.  

Nível  Educação Psicologi

a Letras/ 

Linguística Total 

Mestrado  

4  1  3  8 

Doutorado  

1  ‐  2  3 

Total  5  1  5  11 

Tabela 1 

Diante do universo acadêmico‐científico brasileiro, até o número de 29 produções 

parece‐nos  pouco  expressivo,  especialmente  no  recorte  de  tempo  de  doze  anos. 

Entretanto,  por  razões  já mencionadas,  apesar  do  avanço  significativo  de  discussões 

sobre  a  infância,  na  última  década,  com  variados  temas,  ainda  há  perguntas  a  serem 

feitas.  Evidencia‐se  o  interesse  de  um  coletivo,  que  constrói  um  olhar  para  o 

desenvolvimento  e  a  educação  de  crianças  pequenas,  mas  as  pesquisas  sobre  a  

linguagem verbal, mais distintamente, envolvendo crianças de zero a três anos, ainda são 

tomadas de certa  timidez.   Observando a Tabela 2, do contexto nacional, as pesquisas, 

distribuídas em 14 instituições de Ensino Superior tomam corpo a partir de 2006, ano que 

datava uma década de discussões a partir da LDBEN, onde o movimento pela educação 

de crianças de zero a seis anos se expandia.  

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 Linguagem verbal e interação com crianças de zero a três anos: as pesquisas da região sul  Adriana Bragagnolo 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.11 

 

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Ano/IES  2000  2001  2002  2003  2005  2006  2007  2008  2009  2010  2011  2012  T 

UCPel  2                      1  3 

PUC RS      1                    1 

UFRGS            2  1        1    4 

UFSC          1            1    2 

UFPR                        1  1 

USP    1        1    1  1  1      5 

UNICAMP        1                  1 

UNESP                      2    2 

UERJ                1          1 

UFES            1              1 

UFG                  1        1 

UFPB            1    1    2      4 

UFJP                1          1 

UFPE                  1  1      2 

Total  2  1  1  1  1  5  1  4  3  4  4  2  29 

Tabela 2 – Pesquisas no cenário nacional   

IES/Área  2000 

2002 

2005  2006 

2007 

2011 

2012 

UCPel  2            1  3 

UFRGS        2  1  1    4 

UFSC      1      1    2 

UFPR              1  1 

PUC RS    1            1 

Total  2  1  1  2  1  2  2  11 

Tabela 3 – Pesquisas da Região Sul 

Ao  realizarmos  um  comparativo  entre  a  produção  nacional  e  regional,  faz‐se 

necessário compreender que no cenário da Região Sul, com cinco instituições, a pesquisa 

torna‐se  mais  fragilizada,  a  qual,  a  nosso  ver,    poderia  evidenciar  maior  número  de 

pesquisas,  mesmo  sendo  um  tema  com  maiores  especificidades.  Embora  ocorram 

interlocuções realizadas entre os grupos de pesquisa e belas contribuições dos trabalhos 

de  teses  e dissertações, observamos que o  interesse nessa discussão, que  também  se 

acentua  a  partir  de  2006,  fica  escasso  na  área  da  Educação,  visto  que  os  outros  seis 

trabalhos  são  aportados  nas  áreas  parceiras.  Mostra‐se  ainda,  maior  número  de 

pesquisas, nesse período, no Rio Grande do Sul (conforme Tabela 3 e Figura 1). 

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              Figura 1 

 

Para  além  dessas  questões  gerais,  situando  as  pesquisas  pela  sua  origem, 

interessa‐nos mostrar as temáticas que motivaram os pesquisadores da Região Sul, que 

mostramos uma ênfase na aquisição da  linguagem, na  interação entre os bebês, e com 

adultos. Há um  traço claro na área de Letras/Linguística, em que, algumas as  temáticas 

giram  em  torno  da  estrutura  e  das  especificidades  da  aquisição  da  língua  e,  também, 

outras  assumem  a  linha  teórica da  enunciação  no próprio  tema. A Psicologia  reitera  a 

temática  das  relações  e  a  Educação  contempla  a  interação,  o  desenvolvimento  da 

linguagem e as estratégias de comunicação.  

IES Nº de trabalhos 

Área  Temas 

UCPel 2  Linguística Aplicada 

Aquisição de ditongos orais  

Aquisição de ataque silábico 

1  Letras  Aquisição do português brasileiro 

PUC RS  1  Educação  Interação de bebês com a linguagem 

UFRGS 

1 Psicologia 

Comunicação na interação entre bebê e educadora 

1  Educação  Interação entre bebês 

2  Letras 

Teoria enunciativa na aquisição da linguagem 

O papel da mãe na aquisição da linguagem 

UFPR  1  Educação  Desenvolvimento da linguagem na creche 

UFSC  2  Educação Relação entre adultos e crianças na creche 

Estratégias comunicativas entre bebês 

Tabela 4 – Temáticas das pesquisas, áreas e instituições. 

Universidade Federal do Paraná  ‐ UFPR (1) 

Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC (2) 

Universidade Federal do RS – UFRGS  (4) Universidade Católica de Pelotas – UCPel  ( 3) Pontifícia Universidade Católica RS – PUC RS (1) 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.13 

 

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Sobre a abordagem teórica, nem todos os resumos expõe suas opções. Das onze 

(11)  pesquisas,  sete  (7)  trazem  essa  evidência,  como:  Fonologia  Gestual,  Teoria 

Molde/conteúdo, Teoria da Otimidade, Ciclo de Sonância de Clements, Teoria Enunciativa, 

Psicologia Histórico‐Cultural, Sociologia da Infância e Interacionismo.  

Os autores que  representam os  trabalhos da área de Letras/Linguística mostram 

duas  perspectivas.  A  primeira,  retratada  por  Macneilage  e  Davis,  pela  teoria 

Molde/conteúdo; por Goldsteisn, que trata da Fonologia Gestual; por Prince & Smolensky, 

McCarthy & Prince, que propõe a Teoria da Otimidade, e por e Tesar e   Smolensky que 

referem o  algoritmo de  aprendizagem. A  segunda perspectiva  indica Benveniste  como 

autor  que  traz  a  concepção  enunciativa,  considerando  a  intersubjetividade  como 

constitutiva  da  linguagem.  São  dois  trabalhos  nessa  direção  e  um  deles,  ainda,  realiza 

uma interlocução com a Psicanálise proposta por Winnicott, e De Lemos, pela concepção 

interacionista. Na área da Educação, evidencia‐se, de modo geral, a Psicologia Histórico‐

Cultural,  representada  por  Vygotsky  e  a  Sociologia  da  Infância  com  autores  como, 

Corsaro, Ferrereira e Sarmento. 

Esse  estudo  também  expõe  os  achados  do  desenho  metodológico,  que  é 

mencionado, de maneira geral, em todos os resumos. As pesquisas foram realizadas em 

diferentes  espaços,  com  diferentes  sujeitos,  tanto  nas  residências  das  crianças  com 

familiares,  especialmente  com  a mãe,  como  no  ambiente  da  creche,  em  contato  com  

crianças  e  educadoras.  Quanto  às  idades  das  crianças  envolvidas  nessas  onze  (11) 

pesquisas, que totaliza, aproximadamente, duzentos e dez (210) sujeitos, elas variam de 

seis meses a três anos e sete meses de idade.  

Quanto à tradição de pesquisa, três trabalhos assumem a orientação etnográfica. 

Um deles  aponta um  estudo  sócio  espacial da  creche  e dos  sujeitos  envolvidos; outro 

menciona  a  etnografia  por  Graue  e Walsh;  e,  um  terceiro,  trabalha  com  referenciais 

teóricos da pesquisa, como Bakhtin, pelos conceitos de alteridade, dialogismo, diálogo, 

texto,  outro  e  exotopia.  Dentre  as  pesquisas,  quatro  (4)  expõem  instrumentos 

metodológicos bem específicos, de forma individualizada. Duas utilizam fontes de Bancos 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.14 

 

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de  Dados,  como  o  Banco  de  Dados  AQUIFONO  e  INIFONO8,  e  o  LIDES9,  esse  último 

constituído de duas fontes orais: a fala espontânea infantil e a adulta, onde cada criança é 

analisada  na  companhia  de  seu  cuidador,  com  100  horas  de  gravação  em  áudio.  Essa 

pesquisa também teve o auxilio do software WordSmith Tools10. Além dessas fontes, uma 

terceira pesquisa  utiliza o  instrumento  Escala de  Linguagem Bayley  III,  com  sub‐escala 

para  linguagem  expressiva  e  receptiva.  E  para  outra,  a  quarta  investigação,  foram 

utilizados  programas  como  VARBRUL11,  que  apresenta  variáveis  linguísticas  e 

extralinguísticas  que  favorecem  a  produção  de  um Ataque  Complexo  e  Estratégias  de 

Reconstrução da sequencia estudada.  

As  outras  produções,  durante  o  processo  de  investigação,  optaram  por 

instrumentos  como  a  viedogravação  (3),  a  observação  simples  e  registros  (3),  e  a 

fotografia  (2),  que  aparecem  como  as  fontes mais  utilizadas  entre  os  pesquisadores. 

Também ocorreram entrevistas com pais e professores, além da  intervenção direta em 

sala de aula com as crianças, através de  jogos de  linguagem. Na creche foram utilizados 

recortes de episódios  interativos entre as crianças e houve  inserção do pesquisador na 

rotina das aulas. Também, nesse ambiente, destaca‐se a observação em momentos de 

interação, diádico, entre adulto e criança nas situações de trocas de fraldas, e grupal, em 

sala de aula com toda a turma. Uma das pesquisas, ainda, de doutorado, relata a opção 

pelo  estudo  longitudinal,  com  a  base  teórico‐metodológica  na  teoria  enunciativa, 

compondo a investigação com uma criança de onze meses a três anos e cinco meses. 

Destacamos, por fim, os aspectos centrais que algumas pesquisas revelam a partir 

dos dados analisados nos processos de mestrado e doutorado. Faremos essa exposição 

por área do conhecimento em respeito as suas particularidades. A pesquisa em Psicologia 

                                                            8 O Banco de Dados AQUIFONO e INIFONO foi criado pelo Grupo de Pesquisa em Aquisição da Fonologia, da 

Universidade Católica de Pelotas – UCPEL, é a base de dados para pesquisas e trabalhos de dissertações de Mestrado e teses de Doutorado. 

9  O  Banco  de  Dados  LIDES  da  UCPel  e  UFSM,  disponíveis  em  arquivos  de  áudio,    tem  objetivos  de apresentar frequência lexical, possibilitar investigação das falas dos adultos que interagem com crianças e  investigar  se  a  densidade  de  vizinhança  lexical  contendo  determinados  segmentos,  exerce  efeitos sobre aquisição.  

10 É um programa de análise lexical, na exploração da corpora de dados linguísticos autênticos. É de autoria de Mike Scott, Universidade de Liverpool, publicado pela Oxford Univerity Press e distribuído pela via Word Widw Web. 

11 Programa criado em 1971, para realizar estatisticamente dados variáveis. Autoria: Sankoff & Rousseau. 

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 Linguagem verbal e interação com crianças de zero a três anos: as pesquisas da região sul  Adriana Bragagnolo 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.15 

 

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investigando a comunicação verbal entre educadora e bebê nos primeiros dois anos de 

vida, mostra que “o papel da educadora do berçário (berçarista) envolve a capacidade de 

acolher  demandas  das  crianças  que  ainda  não  tem  condições  de  verbalizar, mas  que, 

através de suas atitudes, indicam suas necessidades.” (BRESSANI, 2006). A autora revela 

a  incrível  capacidade  comunicativa  das  crianças  mesmo  antes  da  emergência  da 

linguagem.  

Os estudos na área Letras/Linguística, de perspectivas diferentes, apontam, tanto 

para  a  análise  de  aquisição  de  estruturas  silábicas,  que  sugere  ordenamentos  nesse 

processo; a aquisição de ataques complexos e silábicos de forma gradual; a coorência CV 

na aquisição do português brasileiro em crianças de um a  três anos, com evidências da 

contribuição do  input adulto no desenvolvimento da fala  infantil, como também, noutra 

direção teórica, a concepção de que “a criança produz uma história de suas enunciações, 

por meio  da  qual  constitui  sua  língua materna  e  o  sistema  de  representações  de  sua 

cultura, estabelecendo‐se, desse modo, como sujeito de linguagem” (SILVA, 2006). Nesse 

sentido,  Serafini  afirma  que  “a  fala  do  bebê  está  vinculada  a  fala  do  outro  nas 

interações”, e de que os mecanismos enunciativos estão implicados, 

 na  relação  criança‐outro  como  primordiais  para  a  criança  se  constituir como sujeito na enunciação, e consequentemente como sujeito falante, pois  o modo  como  o  outro  constitui  a  criança  em  suas  enunciações  é importante  para  que  ela  também  possa  assumir‐se  como  locutor  e mobilizar a língua. (2011).  

Ainda,  na  área  da  Educação,  tratando, mais  especificamente  sobre  interações, 

afirma‐se  que  “adultos  e  crianças  produzem  representações  simbólicas  a  respeito  do 

mundo com a qual  interagem e, no caso das crianças, a elaboração da cultura de pares” 

(FILHO, 2005). Também, destaca‐se a importância da leitura compartilhada, da ampliação 

do  universo  literário,  pela  sincronia  entre  adultos  e  bebês,  pelo  tempo  das  interações 

adulto‐criança, e pela  linguagem oral [...]. (FACCHINI, 2002). Ainda, sobre possibilidades 

interativas  entre  os  bebês,  Camara  afirma  que  “foi  significativo  o  papel  da  linguagem 

(fala)  a  medida  que  se  constituía  como  mediadora  na  interação  neste  contexto, 

permitindo  dar mais  sentido  nas  relações  entre  as  crianças  através  de  reciprocidade. 

(2006).  Para  outra  pesquisa,  constata‐se  que  “olhares,  choros,  balbucios,  gestos, 

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 Linguagem verbal e interação com crianças de zero a três anos: as pesquisas da região sul  Adriana Bragagnolo 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.16 

 

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movimentos e expressões faciais do bebê desencadeiam a descoberta de estratégias de 

comunicação que utilizam antes da fala como uma grande categoria (CASTRO, 2011).  

 

5. Considerações finais Diante do exposto, apresentamos algumas questões com o objetivo de levantar o 

debate  sobre as pesquisas da Região Sul  sobre a  linguagem de crianças de zero a  três 

anos  e  a  interação  verbal,  as  quais,  a  nosso  ver,  merecem  aprofundamento.  Essas 

questões  versam  sobre  o  caráter  pedagógico  presente  nessas  investigações  e  nas 

demandas ainda existentes. 

A primeira questão nos  impulsiona  a pensar que há outras  fontes  teóricas para 

além  dessas  apresentadas,  mais  próximas  à  concepção  de  infância  e  de  linguagem 

discutidas no cenário educacional atual. Ao realizar um comparativo, nesse viés, com as 

pesquisas no âmbito nacional, encontramos outras  fontes, como por exemplo, o sócio‐

construtivismo,  a perspectiva discursiva por Bakhtin e  as  contribuições de Bruner, que 

defendem  o  aspecto  social,  cultural  e  cognitivo  no  desenvolvimento  do  sujeito.   Não 

estamos dizendo que  as  teorias da Região Sul,  apresentadas, negam esses elementos, 

mas  há  mais  aspectos  a  olhar.    Ora,  se  concebemos  as  crianças  como  sujeitos  que, 

imersos na cultura, são vistos como atores sociais, a que concepções teóricas podemos 

nos aportar?  Acordamos, a exemplo de uma das pesquisas, que, com base em Benveniste 

, a criança é compreendida como sujeito da linguagem e que produz uma história de suas 

enunciações (SILVA, 2006), mas compreendemos também, que, em particular na área da 

Educação, precisamos de outros  referenciais. Por exemplo, Jerome Bruner, nos ajuda a 

compreender que a criança, ao aprender, precisa de apoio, o qual possa facilitar a ela a 

que  quer  aprender  a  linguagem.  Segundo  ele,  é  necessário  “um  sistema  de  apoio  de 

aquisição da linguagem que estrutura as interações entre adulto‐criança, de maneira que 

a  criança  acesse  um  aprendizado  ordenado  de  linguagem”.  Esse  apoio  o  ajuda  não 

somente a aprender “como dizer coisas”, mas também a distinguir “o que é obrigatório e 

valorizado entre aqueles que lhes dizem”. (1993). Aí está o caráter pedagógico, visto que, 

para  existir  aprendizagem,  é  necessário,  dentre  outros  fatores,  a  estruturação  de  um 

processo de intervenção. 

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 Linguagem verbal e interação com crianças de zero a três anos: as pesquisas da região sul  Adriana Bragagnolo 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.17 

 

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A  segunda  questão  refere‐se  à  quantidade  de  produções  da  Região  Sul, 

especialmente  com  o  referido  tema.  Isso  nos  preocupa,  frente  às  demandas  que, 

intensamente,  chegam  aos meios  acadêmicos e  as escolas. Há décadas,  a  comunidade 

científica  tem  produzido  e  defendido  a  educação  infantil, mas  com  o movimento  que 

ocorre com a creche, período legal da educação das crianças de zero a três anos, que é de 

tamanha  amplitude,  estaríamos pesquisando o  suficiente? Não  estaria  a nossa  área da 

Educação, apontando fragilidades, nesse sentido? Investigar os temas da linguagem e da 

interação  parece‐nos  primordial,  dado  que,  um  dos  elementos  mais  evidentes  e  de 

intensa  evolução,  nessa  fase  de  vida,  se  permeado  pela  interação  com  o  outro,  é  a 

linguagem e pode ser considerada uma ferramenta central para a apropriação de outros 

conhecimentos que desenham o universo infantil.  

Concluímos  assim,  que  o  quadro  de  produções  nos  possibilita  dialogar  com 

diferentes  áreas,  as  quais  contribuem  de  forma  significativa  para  o  debate  a  que  nos 

propomos, mas, o que também não nos exime de um compromisso com a educação das 

crianças  de  zero  a  três  anos,  que  certamente  conta  com  novas  respostas  para, 

constantemente, produzir referenciais de (re)construções pedagógicas.  

 

Referências  

BAKHTIN,  Mikhail.  Marxismo  e  Filosofia  da  Linguagem.  8ª  edição.  São  Paulo:  Editora HUCITEC, 1997.  

BRESSANI, Maria Cristina. A comunicação na  interação bebê‐educadora nos primeiros dois anos de vida. 2006. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul.  

BRUNER, J; WATSON, R (col.) El habla del niño: cognição e desarrollo humano. Barcelona: Paidós, 1994. 

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 Linguagem verbal e interação com crianças de zero a três anos: as pesquisas da região sul  Adriana Bragagnolo 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.18 

 

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CASTRO, Joselma Salazar de. A constituição da linguagem e as estratégias de comunicação dos  e  entre  os  bebês  no  contexto  da  educação  infantil.  2011. Dissertação  (Mestrado  em Educação) – Universidade Federal de Santa Catarina.  

DELALANDE, Julie. As crianças na escola: pesquisa antropológica.  In: FILHO, Altino José; PRADO, Patrícia Dias. Das pesquisas com crianças à complexidade da infância. Campinas SP: Autores Associados, 2011. 

DIEDRICH,  Marlete  Sandra.  A  criança  e  a  construção  de  sentidos  o  aqui‐agora  da enunciação.  In:  NEUMANN,  Daine;  DIEDRICH,  Marlete  Sandra  (orgs).  Estudos  da linguagem na perspectiva enunciativa. Passo Fundo: Méritos, 2012. 

FACHINI,  Luciana.  A  interação  de  bebês  com  a  linguagem.  2002.  Tese  (Doutorado  em Educação) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. 2002.  

FILHO,  Altino  José  Martins;  PRADO,  Patrícia  Dias.  Das  pesquisas  com  crianças  à complexidade da infância. Campinas SP: Autores Associados, 2011. 

______.  Crianças  e  adultos  na  creche:  marcas  de  uma  relação.  2005.  Dissertação. (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Santa Catarina. 2005. 

NAGAI, Eduardo Eide; MIOTELLO, Valdemir. (orgs). Palavras e contrapalvras: conversando sobre os trabalhos de Bakhtin. São Carlos: Pedro & João Editora, 2010.  

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SERAFINIO,  Sibylla  Jockymann  Do  Canto. O  papel  da mãe  no  processo  de  aquisição  da linguagem:  um    estudo  linguístico  sobre  a  importância  da  ralação  criança‐outro  para  a constituição  do  bebê  como  sujeito  falante.  2011.  Dissertação  (Doutorado  em  Letras)  – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2011. 

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