weber. objetividade

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  • 7/24/2019 WEBER. Objetividade

    1/30

    ax eber

    A o b j e t i v i d d e

    d o c o n h ec im en to

    n s c ie n c i s s o c l l s

    TRADU O APRESENTA O

    E COMENTRI OS

    a b r i e l o h n

    P r o fe s s or t it ul a r d e s o c io lo g ia e

    d o ce n te n o D e p ar ta m e nt o d e

    i en c ia P o l ti ca d a F a c u ld a d e d e

    F i lo s o fi a l e tr a s e i e nc ia s H u m a n a s

    d a U n iv e rs id a de d e S a o P a u lo

    editor t i

  • 7/24/2019 WEBER. Objetividade

    2/30

    I M . J l O f I . T A . N T E :

    c:o n~ t 1m

    t \ O I l I d

    m IKI l)C f;I

    R :IOIIbe O

    tr.lDdho do : a ut Dr e o

    ee

    Im I l to s

    outrac

    p.roi E~ ,

    a N O M d O E f I .JI

    prod~ e dr to ml ~

    I I J .

    C O m d C l , l i .

    up;o uO e d rt o f t S ~

    m

    d i qn r r w lO C f t, n u s t l 10 0 rt S .

    J T i f i c o s : ,

    divu}ga~

    dis tr ibui

    do rt S, 1ivre:~

    ewe

    owos. iu

    4H Ios

    r o m b .1 .t . .

    6p ;a ~

    fmI

    d e km p r r ao .

    ~iudla a

    ~.,go da c u lt ur a e enc~ os

    IM O SQW I O Cfoom.p ta . . .

    Ed it o ra A t ic a

    i r e t o rn d e T e l l o lo g i ad e E d u c a ~ o

    e F o nn a ~o d e E d uc ad o re s

    G e r en te d e

    F o n n a ~

    d e E d u c a d o r e s

    E d i t o r a a s s i s te n t e

    v i s o r

    Ana T e re s a R a ls to n

    L u ci a na C i nt ra T e ix e it a

    N i n a B ande ir a

    Mau r c io Ka ta y ama

    ARTE

    i a g r n m a d o r n

    e s ig n e

    T

    I m a g e m

    d a c a p a

    e i n te r n a

    Les l ie Mor a i s

    Negr i to

    Produco

    Editor ial

    E .Go t tmann , He i de l be r g

    AKG- Images

    C a sa d e I de ia s

    m e n d a s d e r ei m p re s sa o

    IMPREs so

    ANTERIOR

    Di re t or e d it o ri a l a d ju n to : F e rn a nd o

    Paxo-

    Coordenador a ed i to r i al :

    Gabriela

    D ia s E dito r a dju nto : C arlo s S . M en de s R osa E dito ra a ssiste nte : B ab y

    S iq u ei ra A b r o C o ns ul to ri a e d it or ia l: R o g ri o H a fe z P re pa ra c o d e t ex to :

    B e re ni ce B a ed er R ev is o : I va ny P ic as so B a ti st a ( co or d. ), B e at ri z C ha ve s e

    C ri st in a L e br o E st ag i ri as : A l in e R e ze nd e M o ta e B ia nc a S a nt an a E d it or

    d e a r te : An to n io P au lo s A s s i st e nt e d e a r te : C l au d er n ir C ama rg o

    C I p BRA S IL . CA T AL OG A

  • 7/24/2019 WEBER. Objetividade

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    A p r e s e n t a Q

    s e n t i d o d a c i e n c i a

    urna passagem importante do texto que vamos ler em seguida, Max Weber

    comenta que as ciencias da cultura (termo que para ele abrangia o con-

    junto do que hoje chamamos ciencias sociais, induindo a histria) sao dotadas

    do dom da eterna juventude. Sempre que parecem envelhecer, elas inventam

    novos problemas e mais urna vez se apresentam para responder aos desafios

    dos tempos.

    Um texto que declara isso tem tudo para manter-se jovem tambm, sem-

    pre presente nos debates sobre o alcance e a natureza dessas ciencias, em espe-

    cial da socio logia. exatamente o que ocorre, passados mais de cem anos de

    sua primeira publicaco, em

    19 4

    com A objetividade do conhecimento nas

    ciencias sociais , um dos grandes clssicos das ciencias sociais no sculo xx.

    Para quem nao est acostumado com o estilo peculiar da escrita de Max

    Weber fcil cair numa armadilha j no momento de ler o ttulo. Nao h nada

    de especial no enunciado do tema, parece: trata-se de estudar a cibjet ividade

    nas ciencias sociais. Mas nao bem isso. Weber fala de objetividade entre as-

    pas. Com isso, sinaliza que nao est tomando a objetividade do conhecimento

  • 7/24/2019 WEBER. Objetividade

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    WEBER

    ENSAIOS COMENTADOS

    . . lzo

    i

    d do que ele s quer examinar melhor. a

    nas ciencias SOCla1Somo a go Ja a, _ .

    . bi .d de t111est em questao. . .

    P

    rpria ideia de o JetIV1a 1 d

    dea

    no campo das C1enClas

    h

    .

    nficado

    exato essa

    1

    Weber quer con ecer o sig . , rno esse ponto impor-

    . . .. . da cultura, e Ja veremos co .

    sociais (ele diria ClenClas fi tamente Weber se ve obn-

    ) P

    b r o que 1SS0

    sigru

    ca exa, d

    tante para ele. ara sa e. la especificidade do estu o

    1

    go cammho que passa pe

    g

    ado a percorrer um on d modo como nele se cons-

    h no e pelo exame o

    . tfico do mundo SOCla uma . .

    cie 1 . d uados a seu conheClmento.

    troem e se usam con~e1t~s a eq or uma declara

  • 7/24/2019 WEBER. Objetividade

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    WEBER \ ENSAIOS COMENTADOS

    \

    \

    \

    \

    ara uern o busca, aquilO que lhe

    , .. ..~ nT I \r11radoepresenta p q

    q ue o c on ne cu uc ;u

    cv

    t .~

    d cltural de que participa.

    confere significacrao no mun oc. b osirao bsica de Weber, a cus-

    alguma cotsa so re a p

    T

    d

    Com sso esclarece-se blOque vem a ser esse mun o

    . po de pro emas. .

    ta todava, de abnr-se novo cam

    1

    Nesse ponto, Weber mtroduz

    , 1 - .

    portante para e e.

    da cultura, que se reve a tao un _ filosficas dominantes em

    , em que concep foes

    urna posi fO prpria nurna rea d pensavam os fundamentos e as -

    mo o como se

    , deixavam marcas no .

    sua epoca . . articular a sociolog

    1a

    .

    tarefas das ciencias SOClalS,m P dnci dominante ia no sentido de

    al

    cultura a ten enc a

    Quando se f ava em . - em normas a conduta dos

    niunto de valores que impo id .

    concebe-la como um co

    J

    bidos como entidades

    eais,

    1

    ua vez erarn conce

    homens. E esses va ores, por s . . .. d mbora nao existam como

    1

    d de a d e t er slgmfica o e q ue, e

    cuja pnnclpal qua 1 a . Ancia porque v lem Nesse sen-

    . d d tempo como Vlge , . .

    coisas ,

    trn

    contmw a e no _ . nto deles que constltw a

    1 e por extensao, o conJu -

    tido especfico, os va ores , . d pendem das inten foes e das

    , bi

    ti

    porque m e

    , . ultura - trn carater o Je IVO,

    propnac

    acoes singulares dos homens. fu . conduz a urna deia de cul-

    T -

    que Weber re tana,

    No limite, essa concep fao, . . d

    t vos

    povoado por valores

    d de slgmfica os norma , ,

    tura como um gran e campo d uais outros derivarn e que - este e

    . o Belo e o Bom, os q

    A .

    fundamentals como d s que nela se incluem. lSS0,

    , rtilhado por to os o

    o ponto decisivo - e compa

    1 -

    uro campo de consensos

    d d cal. Cultura, para e e, nao ,

    responde de mo o ra

    1 _

    s todos aderem, mas e um carn-

    d

    . d avalla fao as qual d

    normativos, de rretnzes e definir quais sao as qualida es

    po de disputas, de luta entre os ho~en~ para tem carter exemplar e podem

    d

    . das condutas e das ocorrenclas que

    as COlsas, d

    . - perante o mun o.

    servir como onenta fao .d decisiva

    que, para ele,o mun-

    W b ecorre a uma lela .

    Nesse percurso, e er r . _ d al d de social que confere sentido ao

    _ , ~{1ueladimensao a re

    a

    do da cultura nao - : : L . uela arena significativa em que os

    que oshomens fazem, mas, ao contrarlo, e aq

    b valor ao que fazem. .

    prprios homens atn uem , . d c..ltro que seleciona no intenor do

    o uma espeCIe e 11 .

    A

    cultura opera com ,.

    1

    ue serao consideradas sIgmfica-

    . t das experiencias posslvels aque as q

    conJun o

    A OSJETlVIDADE DO CONHECIMENTO NAS CIENCIAS SOCIAIS

    tivas no interior de determinados grupos humanos. O importante nao a vi-

    gencia de valores j dados, mas os prprios homens como atores que, ao agir ,

    orientam-se por diretrizes que lutam para fazer valer tambm para os demais.

    Esto

    em jogo nao valores sem mais, mas ideias de valor : que se referem

    ao modo como os homens percebem e pensam os valores nas

    ace s

    a que se

    entregam. (Coerente com seu estilo, al is, Weber poderia grafar entre aspas o

    termo valor : pois, assim como no caso da o bje t iv idade sua referencia nao

    a um objeto dado, mas ao significado que diferentes homens em diferentes

    situaces atribuem a ele.)

    Isso tudo significa que a ciencia como conhecimento do que (e nao do

    que deveria ser) nao conhecimento de qualquer coisa, mas daquilo que os

    homens de certa sociedade, em certa poca, reputam importante, que valha a

    pena ser conhecido. E para selecionar o que importa, o que tem

    sgn f i caco

    para o conhecimento, s h um critrio: o da referencia daquilo que se busca

    saber a ideias de valor que o prprio pesquisador, como membro da socieda-

    de, sustenta.

    dessa referencia que nasce o interesse pela pesquisa, mas esta nao se es-

    gota no interesse, por essencial que ele seja para desencade-la. A pesquisa

    propriamente dita obedece as regras universais do mtodo cientfico, e seus

    resultados tm, ou nao, valor de conhecimento para todos os que podem ter

    acesso ao mtodo, pouco importa se ou nao interessante para eles. Em suma:

    nao faz sentido pensar em pesquisa social sem o impulso de um interesse arrai-

    gado na sociedade (enao puramente formal, interno ao prprio objeto, como

    quando um teorema puxa outro). E o fundamento do interesse sempre um

    valor - mas nao sefaz ciencia sem ultrapassar a fase da sele

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    WEBER ENS IOS COMENT DOS

    ento ela carece de interesse), mas, se o cientis ta nao souber despojar-se dos

    valores que o guiaram na seleco de seu objeto de estudo 3 realizar a pesquisa,

    cometer o erro mais fatal, da perspectiva weberiana: o de apresentar como co-

    nhecimento cientfico com valor universal aquilo que nao passa de reiteraco

    em outros termos dos interesses prticos particulares a.osquais ele adere.

    Nao h pois, ciencia social para Weber sem referencia a valores que con-

    duzam o interesse do cientista

    qui lo

    que se revelar importante para ele e,por

    isso, ser dotado de significaco, nada, igualmente, de ciencia sea pesquisa nao

    deixar para trs as referencias valorativas que a guiaram no incio. Nesse traje-

    to, a objetividade dos resultados da pesquisa s far sentido para aqueles que

    compartilharem a avaliaco positiva da busca racional e sistemtica do conhe-

    cimento que s a ciencia permite. Ter pois, carter intersubjetivo, nao sendo

    mera subordinaco a propriedades existentes nos prprios objetos. Pois s

    quando se convertem as relaces entre objetos (incluindo eventos) em proble

    ma

    que este deixa de ser mero registro daquilo que se observa nas coisas para

    converter-se em tarefa de homens de cultura (para usar a expresso de Weber,

    que enfatiza o termo homens para deixar claro que serefere a entes ativos, ca-

    pazes de atribuir sentido ao mundo em que atuam tambm como cientis tas) .

    GABRIEL COHN

    A o b j e f i v i d a d e d o c o n h e c i m e n f o

    n a s c i e n c i a s s o c i a is

    1

    1

    abemos que noss . , .

    a CIenCIa como tod

    . ,. ' as - exceto

    talvez a hIstona poltica - as que tem po bi

    . titui - r o ~eto

    . rns IC;:oes processos culturais hu .

    hlstoricamente de pontos de vi . manos, derva

    :e juzo,Sd~ valor sobre dete:mV::ia;::::~~d~s ~:o::~ o

    ~;::~or~l1ca dos Estados constituiu o seu primeiro e n~

    , uruco f im Tratava-se de uma t .

    id

    ecrnca no me

    sent o em que tamb ' _ smo

    em o sao as discipli

    lni

    ciencias mdicas S b nas e teas das

    c o se modifi . a d

    e

    -

    s

    .

    e

    ,entretanto, como essa posi-

    cou gra atIvamente sern

    Ocorresse urna separac;:ao

    de pr in: pio

    e:~: :oc;:~::~

    ~epr oduz ido de

    WEBER

    M. Die 'Obektivi _ , .

    sozal politischer Erkenntnis. In Gesa J t at ~zlalwissenschaft licher und

    ed. , organizada e revis ta por JOhannesm: lteckeAlmu fsat ze zur WlSSenscha jt s lehre

    4

    (Paul Siebeck) In ann, Tubing .

    J

    e B

    , 1973.

    p.

    146-214.

    Tradu,?o de Gabriel

    ohn

    en:... Mohr

  • 7/24/2019 WEBER. Objetividade

    7/30

    WEBER EN SAlO S COMENTADOS

    ~ Webe r ap resen ta aqui a

    posiO que ir combater

    aolongo dotexto, com refe-

    r~ncia ao conjunto das cien-

    cias histricas e sociais, nao

    s

    economia poltica.

    d

    d

    mento do que

    e o conhecimento o que eve ser.

    A essa separac:oopunha-se primeiro a opinio de que

    os processo

    s

    econmicos estavam sob o imprio de leis

    naturais imutveis e, em seguida, de que estavam sob o

    domnio de um princpio de desenvolvimento unvoco,

    e de que, em consequencia, o dever ser coincidia com o

    ser imutvel no primeiro caso, ou com o inevitvel vir

    a ser no segundo. Com o despertar do senso histrico,

    uma combinac:ao de evolucionismo tico e relativismo

    histrico veio a dominar nossa ciencia, procurando des-

    _pir as normas ticas de seu carter formal e determinar

    quanto ao contedo o domnio do tico mediante a in-

    corporac:ao do conjunto dos valores culturais, aleando

    assim a economia poltica a dignidade de urna ciencia

    t ica com base emprica. Na medida em que se unpri-

    mia no conjunto de todos os ideais culturais o timbre do

    tico , dilua-se a dignidade especfica dos imperativos

    ticos, sem todavia ganhar coisa alguma a favor da obje-

    tividade da validade desses ideais. Entretanto,

    poss-

    vel , e mesmo necessrio, deixar aqui de lado um exam

    aprofundado dessa questao: vamoS nos limitar ao fato de

    que ainda hoje naO desapareceu e compreensivelmente

    se mantm habitual entre os praticantes ideia de que

    a economia ,poltica produza ju z os d e v lo r ,apartir ,de

    urna concepc:aode mundo cientfica e deva faze-lo.

    Diga-se desde logo que cabe

    a

    nossa revista, como

    representante de urna disciplina especializada emprica,

    re je it r in te i r men te essa concepc:ao,pois sustentamos

    que jamais ser tarefa de uma cienda emprica produzir

    normas e ideais obrigatrios, para delas extrair receitas

    para a prtica.

    ~ A revista emquesto, para

    a qual Mal

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    WEBER I ENSAIOS COMENTADOS

    o fim esperado do previsvel dano a outros valores? Posta

    que na grande m ori s vezes todo fim almejado cus-

    ta algo nesse sentido ou ao menos pode custar nenhum

    ser humano que aja de modo responsvel pode furtar-se

    a

    pondera

  • 7/24/2019 WEBER. Objetividade

    9/30

    WEBER ENS IOS COMENT DOS

    domnio das nossas ciencias as concepces de mundo

    pessoais costumam intrometer-se, turvan~o ~ambm a

    argumenta

  • 7/24/2019 WEBER. Objetividade

    10/30

    2

    WEBER

    ENS IOS COMENT DOS

    ~ Ou seja: nao h consen-

    so possve l, pois esto em

    jogo os significados que os

    homens atr ibuem as ques-

    toes e a luta deles para to r-

    naraceitveis ( vlidos ) os

    significados que defendem.

    Sao, portanto, questoes de

    cultura (sobre isso, vertam-

    bm a pgina 58).

    ci a

    da evidencia dos critrios de valor reguladores desa-

    parece tao logo nos elevemos dos problemas concretos

    de

    assistencia

    debem-estar e econmicos as questoes de

    poltica econ6mica e social . A caracterst ica do carter

    poltico-social

    de uro problema precisamente que ele

    nao pode ser resolvido com base em considera foes me-

    ramente tcnicas, que critrios de valor reguladores po-

    dem e

    devem

    ser ~bjeto de

    controvrsia

    porque o proble-

    ma atinge a regiao das questoes gerais de cultura. E nao

    se disputa apenas, como hoje gostamos de acreditar, en-

    tre interesses de

    classe mas ta mb m e ntre c on ce p~ e s

    d e mundo _

    sem prejuzo, naturalmente, de que na ques-

    tao de qual concepcc de mundo o indivduo defende

    torna-se decisiva, entre outras coisas - mas em muito

    alta escala _, o grau de afinidade eletva entre ela e o seu

    interess

    e

    de classe - admitindo-se aqui esse conceito

    s aparentemente unvoco. Urna coisa certa em quais-

    quer circunstancias: quanto mais geral o problema

    de que se trata - o que aqui signif ica: quanto mais ampla

    a sua

    importncia

    cultural, tanto menos acessvel urna

    resposta unvoca a partir do material do conhecimento

    emprico, tanto mais incidem nele os axiomas ltimos da

    crenca e das ideias de valor. pura ingeI\uidade quando

    profissionais ocasionalmente ainda acreditam que setra-

    te de erigir como cientficamente vlido um princpio

    para as ciencias sociais prt icas, para dele se poder de-

    duzir as normas para solucionar os problemas prticos

    pontuais. Por mais que as ciencias sociais exjam explica-

    ces de problemas prticos de princpios , isto

    a bus-

    ca do contedo ideal dos juzos de valor que seimperu

    irrefletidamente, e por mais que nossa revista pretenda

    OBJET lVID DE DO CONHECIMENTO N S CIENCI S SOCI IS

    21

    dar esp~cial atenco precisamente a elas, a criaco de um

    denommador geral prtico para nossos problemas de

    ideais lt imos com validade geral certamente nao pode

    ser tarefa sua ou de qualquer ciencia emprica: como tal ,

    ela nao apenas seria insolvel praticamente como con-

    traditria em si mesma. E, seja como a base e a nature-

    ~ado carter obrigatrio de imperativos ticos possa ser

    m~erpretada, seguro que deles, como normas para o

    aglr concretamente determinado do in ivi uo nao h

    como

    deduzir

    quaisquer

    con tedos cu l tura is

    como obri-

    gatrios, e tanto menos quanto mais amplos os conte-

    dos de que se trata. Somente religes positivas - mais

    pr~cis~mente, seitas de carter dogmtico - conseguem

    atribuir ao contedo de

    valores culturais

    a dignidad e de

    deveres ticos incondicionalmente vlidos. Fora delas

    ~s.ideais culturais que o indivduo

    quer

    e as obrigac;oe;

    ticas

    que ele

    eve

    cumprir sao de dignidade diferen-

    te por princpio. destino de urna poca cultural que

    provou do fruto da rvore do conhecimento ter que sa-

    ber que nao podemos discernir o

    sentido

    do andamento

    do mundo nem mesmo da mais completa investigaco,

    mas que n,?~cabe cri-lo ns prprios, que concepces

    de mundo jamais podem ser produto do avance de um

    saber. emprico e que portanto os ideais mais elevados

    que m~is intensamente nos comovem, agora e sempre s

    se efet ivarn no combate com outros ideais tao sagrados

    para outros quanto os nossos sao para ns.

    Somente um sincretismo otimista, como por vezes

    resulta do relativismo do desenvolvimentismo histri-

    co pode furtar-se teoricamente

    suma seriedade dessa

    condico ou esquivar-se de suas consequncias prticas.

    ~Outra ideia central: a cien-

    i nos ofere e

    onhe i

    mento do que ocorre no

    m u n d o m a s

    nao

    t em c om o

    dizer o que elesignifica para

    ns; essa larefa c be a ns

    mesmos.

  • 7/24/2019 WEBER. Objetividade

    11/30

    Irr

    \

    \;

    [

    l

    WEBER [ ENS IOS COMENT DOS

    claro que para o poltico prtico pode eventualrne~te

    ser do ponto de vista subjetivo exatamente tao obnga-

    trio agir como mediador entre opini6es opostas dadas

    quanto tomar partido por urna delas; ~as isso na~~ te~

    a ver com objetividade

    cientfica.

    A linha do meto

    na o

    n em m in im am en te m ais v erd ad e c ie ntfic a do que os

    ideais part idrios da direi ta e da esquerda. Em lugar al-

    gum o interess

    e

    da ciencia est menos protegido do q~e

    naquele em que nao se quer enxergar fatos desconforta-

    veis e as realidades da vida. Essa revista combater sem

    quartel a grave autoluso de que se possam obter ~~r-

    mas com

    va l id a d e c ien t f ica

    mediante a sntese de vanas

    vis6es partidrias ou trac;:ando uma diagonal entre ~las

    porque ela ao ocultar seus prprios critrios valor~tlVos

    muito mais perigosa para a integridade da pesquisa do

    que a crenca ingenua dos partidos na possibilidade de

    provar cientificamente seus dog~as. A capacidade do

    discernimento entre conhecimento e avalia

  • 7/24/2019 WEBER. Objetividade

    12/30

    WEBER \ ENS IOS COMENT DOS

    tentar interpretar metafisicamente o mundo, j por ess.e

    seu carter, no

    possam

    prestar servi

  • 7/24/2019 WEBER. Objetividade

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    WEBER \ ENSAIOS COMENTADOS

    onforme sua intenc;:ao,esta revista ja-

    Pelo menos c , ar de travar polemica com

    mais foi nem devera ser o,l~g . s nem tampouco o

    1

    .

    poht1CO-SOClal,

    partidos po lt1COSou d de ideais po-

    f

    a defesa ou a enuncra

    local em que se aca . . sso existem outros

    l t icos ou polt ico-soClals; par.at~u desde o incio e, no

    r

    dade consis

    gaoS. Sua pecu ian d er erdurar, em que nela

    que concere aos,e~ltores .::s sePencontrem no traba-

    viaorosoS adversanos POhtl . ,- o socialista

    1

    foi at hoje um orga

    lho cientficO. E a nao

    1 _

    burgues . Ningum

    , o futuro um orgao

    nem devera ser n o terreno da dscus-

    . di posto a colocar-se n

    que esteJa lS, id d seu crculos de colabora-

    so cientfica esta exclm o o arena de con-

    - de converter-s

    e

    numa

    dores. Ela nao po , l nela ningum, nem

    licas e trep icas. mas

    testac;:es , rep o seus editores, estlaborado res e mesm

    mesmo seus co d tca de carter objetivo e

    id t amais uracn

    protegl o con ra . u quem nao est dis-

    i Q

    m nao suporta 1SS0,o ,

    cienti co. ue . d hecimento cientIfico

    1

    borar a serV1C;:Oo con

    posto a co a ideais diferentes dos seus,

    com pessoas que sustentam

    deve afastar-s

    e

    dela. ltimas

    Convm nao se e nganar: infelizmente, nessas ,

    . esse momento mais do que parece a

    palavras fica dito n. ro lugar como j foi menciona-

    primeira vista. Em pnme1 as em ter-

    d bilidade de encontrar-se sem reserv

    o, a pOSSl d rios polticos lamentavelmen-

    reno neutro com. a v~r~ em todo lugar, em especial

    te tem limites pSlcologl~OS d mbate incondicional,

    d

    - alemas DIgno e co

    nas con Ic;:oes . . artidrio e de cul-

    d mesquinho fanatIsmo P

    esse trac;:o el d mha um reforc;:oessen-

    tura poltica subdesenvo V1 a g demonstra a expe-

    cial pela circunstancia de que, como.. . ulso ara

    .. d m io das ciencias SOCIalSo lffip P

    nenCla, no om

    A OBJETIVIDADE DO CONHECIMENTO NAS CIENCIAS SOCIAIS

    o tratamento de problemas cientficos em regra dado

    por questes prticas de tal modo que o simples re-

    conhecimento da existencia de um problema cientfico

    encontra-se intimamente unido a um querer com dire-

    co determinada de pessoas vivas. Nas colunas de urna

    revista que existe em virtude da influencia do interesse

    geral por um problema concreto, em regra se juntaro

    como colaboradores pessoas que voltam seu interesse

    pessoal para esse problema porque julgam que determi-

    nadas condices concretas lhes parecem prejudicar va-

    lores ideais em que acreditam, na sua contraposico a

    eles. A afinidade eletiva entre ideais semelhantes aproxi-

    mar ento esse crculo de colaboradores e novo s cola-

    boradores, e isso imprimir a revista um certo carter

    ao menos no tratamento de problemas prticos de na-

    tureza poltico-social como complemento inevitvel de

    toda aco conjunta de seres humanos vivos e sensveis,

    cuja posico valorativa diante do problema nao de todo

    reprimida nem mesmo no trabalho puramente terico e

    que - sob os pressupostos enunciados acima - tambm

    vem a tona de modo inteiramente legtimo na crtica a

    propostas e medidas prticas. Ocorre que a revista sur-

    giu num momento em que determinados problemas da

    questo operria : no sentido usual do termo, ocupavam

    posic;:aode relevo no debate nas ciencias sociais. Aque-

    las personalidades para as quais os problemas que ela se

    dispunha a tratar estavam ligadas as ideias de valor mais

    elevadas e decisivas, e que por isso se tornaram seus co-

    laboradores regulares, eram, por essa mesma razao, de-

    fensores de urna concepc;:aode cultura de colorac;:aoigual

    ou ao menos semelhante a elas. Do mesmo modo, todos

  • 7/24/2019 WEBER. Objetividade

    14/30

    WEBER

    ENS IOS COMENT DOS

    tambm sabem que, quando a revista rejeitou seguir urna

    tendencia mediante a expressa limita

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    15/30

    3

    WEBER \ ENSAIOS COMENTADOS

    . ue ternos que explicar o que pode signi-

    na medIda em q ,. vi enca objetiva da validade

    ficar no noSSOdomlillO a g, ningum que observa

    amos Nao escapara a

    que procur , d conceitos bsicos e pressupostos, a

    a luta por meto o, tos de vista' e a contnua re-

    contnua mudan~a dos pon d como o modo de

    . - d conceitos usa os, e ve,

    de-fllll~ao os r o histrico ainda esto separados

    obset'va~o. teon:o a:entem

    ente

    insupervel, que o pro-

    por um abismo P _. ,. ca'

    duas

    eco-

    bl real e nao urna inven~ao qmmen .

    ema , . o laroentava urn desesperado estu-

    nomias pohtlCas, co~. . b' etividade? apenas

    dante vienense. Que slglllfica aqm o J _

    a

    essa

    questao que se dirigem as expoSI~oes a segmr.

    d

    bje tos de suas

    . ta sernpre tratou to os os o

    A

    revIs .

    Em-

    anlises como de natureza soclOeconom

    tca

    bora nao seja esse o momento para se de~lCa: a

    determina~6es de con~eitos e deli~~~~:c:: e ~~e~:~:~~

    imp6e-s

    e

    um esclareClmento suman

    do disso. tido mais am-

    odos aqueles fenmenos que, no sen. 1

    1.

    vmcu aro-se ao

    . os or socioeconomlcOS

    ~ ~~

    ~:~:a: q noss

    a

    e~stdencia ~s~~:~~:s:r~;;:

    f de n ossas necessIda es rnats I ,

    satis acao limita~ao quantitativa e a

    -se or todos os lados com a de-

    p .

    alitativa dos meios externos, que

    insuficIenoa qu . b lho a luta com a

    mandam a previsao planeJada e o tra a, ,

    . _ h s por sua vez, o cara-

    na

    tureza e a assoCla~ao com omen. '. _'

    A d uro evento nao e

    te:rdeJeriQql

    e

    1 :

    0 '';'.~oclOeconoml~o e . .

    ..

    ~~ ,

    A OBJETIVIDADE DO CONHECIMENTO NAS CIENCIAS SOCIAIS

    3

    algo que lhe seja objetivamente inerente. Ao contrrio,

    ele est condicionado pela orientaco do nosso interesse

    de conhecimento, e essa orientaco define-se conforme

    o significado cultural que atribumos ao evento em ques-

    tao em cada caso particular. Sempre que um evento da

    vida cultural vincula-se direta ou indiretamente quele

    fato bsico, por meio daqueles elementos da sua espe-

    cif icidade nos quais repousa para ns O seu significado

    prprio, ele contm ou ao menos pode conter, conforme

    o caso, um

    problema

    de ciencia social; ou seja, envolve

    urna tarefa para urna disciplina que toma por objeto a

    pesquisa do alcance do fato bsico apontado acima.

    Entre os problemas econmico-sociais podemos es-

    tabelecer distinces, Ternos eventos e complexos deles,

    normas, instituices etc. cujo significado cultural para

    ns repousa basicamente no seu aspecto econmico. Por

    exemplo, acontecimentos da vida bancria e da bolsa,

    que desde logo nos interessam essencialmente sob esse

    ponto de vista. Em regra, mas nao exclusivamente, isso

    sucede quando se trata de instituices que foram cria-

    das ou sao uti lizadas

    conscientemente

    para fins econ-

    micos. Esses objetos do nosso conhecimento podem ser

    chamados, em sentido estrito, de eventos ou instituic:e~

    economlCas .

    A isso sornam-se outros, como, por exemplo, acon-

    tecimentos da vida

    religiosa

    que nao nos interessam, ao

    menos nao primordialmente, do ngulo de seu significa-

    do econmico e em nome dele, mas que em determina-

    das circunstancias podem adquirir um signif icado eco-

    nmico sob esse ponto devista, dado que deles resultam

    determinados

    efeitos

    que nos interessam sob urna pers-

    . . Neste pargrafo urna

    ideia fundamental que ser

    retomada adiante na p

    g ina 37: a c ienc ia nao l ida

    om coisas m s om

    pr

    blem s que

    do

    significado

    os ev en to s e o s t o m m

    n

    teress ntes

    para a anlise.

  • 7/24/2019 WEBER. Objetividade

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    WEBER I ENSAIOS COMENTADOS

    pectiva econmica. Sao fenmenos economicamente

    relevantes .

    E,finalmente, entre os fenmenos que sao eco-

    nmicos neste nosso sentido encontram-se alguns cujos

    efeitos econmicos pouco ou nenhum nteresse ofere-

    cern para ns como a orienta;:ao do gosto artst ico de

    urna dada poca. No entanto, tais fenmenos mostram

    em determinados aspectos significativos de seu carter

    urna influencia mais ou menos intensa, de motivos eco-

    nmicos; no nosso caso, talvez, pela composi

  • 7/24/2019 WEBER. Objetividade

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    WEBER

    ENS IOS COMENT DOS

    .. O conhecimento histrico

    explica um fenmeno dado

    no caso, de cunho econ-

    mico; poderia ser religioso,

    ou esttico por uma cau-

    sa particular.

    a nterpre-

    taco

    histrica inc ide so-

    bre toda uma dimensao da

    cultura, em rela

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    WEBER I ENS IOS COMENT DOS

    ~ Trata-se do

    signifi do

    de

    e s t r u t u r s s o c i o e c o n m i c s

    nOdelas propriamente.

    ~ Consequncias que de-

    sembocam na forrnulaco

    da pgina 58.

    civilizadas, assim como do exame, sob um ponto de vista

    histrico, estatstico e terico, das relacoes entre elas.

    Assim, apenas deduzimos as consequncias dessa

    atitude quando afirmamos que o campo de trabalho ca-

    racterstico de nossa revista a pesquisa cientfica do

    s ig ni fi ca do c ul tu ra l g er al d a e st ru tu ra s oc io ec on om ic a

    d a v id a s oc ia l h um a na e desuas formas de-organizaco

    histricas.

    precisamente isso, e nao outra coisa, o que pre-

    tendemos dizer ao inti tular nossa revista

    A rqu iv o p a ra

    a C ie nc ia S o ci al .

    Esse termo abrange aqui o estudo his-

    trico e terico dos mesmos problemas cuja soluco

    prtica constitui o objeto da pol tica socia , no senti-

    do rnais lato da palavra. Fazemos uso nisso do direito

    de utilizar a expresso social conforme o significado

    que lhe atr ibudo pelos problemas concretos da atua-

    l idade. Quando se d o nome de ciencias da cultura as

    disciplinas que estudam os acontecimentos da vida hu-

    mana a partir de sua

    s ign if ic a fo cu lt u ra l

    ento a cien-

    cia social , tal como ns a entendemos aqui, pertence a

    essa categoria. Em breve veremos quais consequen:cias

    de princpio decorremdsso.

    Nao h dvida de que sublinhar o aspecto

    econmico-

    -social da vida cultural constitui urna delimitaco mui-

    to sensvel dos nossos temas. Objetar-se- que o ponto

    de vista econmico ou, como sediz de modo impreciso,

    materialista a partir do qual consideramos a vida cul-

    tural revela-se parcial . Certamente, e essa parcialidade

    intencional. A crenca em que a tarefa do trabalho cien-

    tfico consiste em curar essa parcialidade da perspectiva

    econmica mediante a sua ampliaco at urna ciencia ge -

    OBJETIVID DE DO CONHEC IMENTO N S C IENC I S SOCI I S

    ra l do social, sofre desde logo do defeito de que o ponto

    de vista do social - isto , o das relaces entre os ho-

    mens - somente possui urna exatido suficiente para de-

    limitar problemas cientficos quando provido de algum

    predicado especial que determine seu contedo. Do con-

    trrio, considerado como objeto de urna ciencia, abran-

    geria naturalmente tanto a filologia como a histria da

    Igreja, e em especial todas as disciplinas que se ocupam

    do mais importante elemento consti tutivo de qualquer

    vida cultural - o Estado - e da mais importante forma

    de regulamentaco normativa - o direito.

    Assim como o fato de a economia social se ocupar

    dos fenmenos da vida ou dos fenmenos num corpo

    celeste nao obrigam a consider-la parte da biologia ou

    de urna futura astronomia aperfeicoada, tambm a cir-

    cunstancia de tratar de relaces sociais nao constitui

    razo para ser considerada precedente necessrio de

    urna ciencia social geral

    O domnio do trabalho cientfico nao tem por base

    as conexes objetivas entre as

    coisas

    mas as cone-

    xes

    conceituais

    entre os

    problemas.

    Squando se estuda

    um novo problema com o auxilio de um mtodo novo e

    se descobrem verdades que abrem novas e importantes

    perspectivas que nasce urna nova ciencia':

    Nao

    pois por casualidade que o conceito de so-

    cial': que parece ter sentido muito geral, adquire, logo

    que seu emprego submetido a um controle, um signi-

    ficado muito particular e especfico, embora geralmente

    indefinido. O que nele h de geral deve-se, com efeito,

    sua indeterminaco. Porque, se encarado em seu signi-

    ficado geral, nao oferece

    p on to d e v is ta

    especfico a partir

    ~ Esta passagem decorre

    do argumento bsico de

    Weber de que as coisas

    - nocaso davidasocial os

    eventos e osobjetos correla-

    tosque seoferecem nossa

    atenco - nao t razem con-

    s igo seu signi ficado e s o

    recebem quando se tomam

    interessantes - e por sso

    problemticos - para ns.

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    WEBER

    ENS IOS COMENT DOS

    . . Aqui, urnatese lorte con-

    tra Karl MalJ ,o principal ad-

    versrio de Weber nesta al-

    tura do texto depois, apare-

    cero outros .

    do qual se possa iluminar a significafio de determinados

    elementos culturais.

    Libertos do preconceito obsoleto de que a total ida-

    de dos fenmenos culturais poderia ser deduzida como

    produto ou como fun o de determinadas constelayo~s

    de interesses materiais , eremos no entanto que a ana-

    l is e d os f en m en os s oc ia is e d o s e ve nt os c ul tu ra is sob a

    perspectiva especial de seu condicionamento e alcance

    econmico foi um princpio cientf ico de fecundidade

    criadora, e continuar a se-lo enquanto dele se fizer um

    uso prudente e livre de inibices dogmticas. Quanto a

    chamada concepco materialista da histria , preciso

    repeli-Ia com a maior firmeza como conc eP fo de mun -

    do ou quando encarada como denomimi.dor comum da

    explicayao causal da realidade histrica.

    o cultivo de

    urna interpretafio econmica da hi stria um dos fins

    essenciais de nossa revista. Isso exige urna explicaco

    mais detida.

    de esperar que a chamada concepco materialis-

    ta da histria - segundo, por exemplo, o antigo senti-

    do genial-primitivo do Ma ni fe sto C omu ni sta - , somente

    subsista hoje nas mentes de leigos ou diletantes. Entre

    esses, com efeito, encontra-se ainda muito difundido o

    singular fenmeno de que sua necessidade de explica-

    o

    causal de um fenmeno histrico nao fica satisfeita

    enquanto nao se demonstre (mesmo que s na aparen-

    cia) a ntervencao de causas econmicas. Feito isso, eles

    passam a contentar-se com as hipteses mais frgeis e

    as forrnulaces mais genricas, pois j se deu satisfacao

    a sua necessidade dogmtica segundo a qual as forcas

    econmicas sao as nicas causas autenticas , verdadei-

    OBJETIVID DE DO CONHECIMENTO N S CIENCI S SOCI IS

    9

    , d

    ras e sempre eterminantes em ltima instancia . Esse

    fenmeno nada tem de extra.ordinrio, de resto. Qua-

    se todas as ciencias, da filologia

    l

    biologia, mostraram,

    numa ocasio ou noutra, a pretenso de produzir nao s

    conhecimentos especficos como tambm concepces

    de mundo . E, sob o impulso produzido pela enorme

    significaco cultural das modernas transforrnaces eco-

    nmicas, e principalmente pelo transcendente alcance

    da questo operria , nao de estranhar que tambm

    viesse a desembocar nesse caminho a inextirpvel ten-

    dencia monista de todo o conhecimento refratrio

    l

    auto crtica.

    Hoje, no momento em que as naces se enfrentam

    com hostil idade crescente numa luta pol tica e econ-

    mica pelo domnio do mundo, a citada tendencia redun-

    da em proveito da antropologia.

    hoje opinio corrente

    que, em lt ima anlise o decurso histrico nao seria

    mais que a resultante da rivalidade de qualidades ra-

    ciais inatas. A mera descrico acrtica das caractersti-

    cas de um povo foi substi tuda pela montagem, menos

    crtica ainda, de teorias da sociedade supostamente ba-

    seadas nas ciencias da natureza

    Em nossa revista, seguiremos de muito perto o de-

    senvolvimento da invest igaco antropolgica, sempre

    que se revele importante para nossos pontos de vista.

    de esperar que a situaco em que tomar a raya como

    elo final da cadeia causal meramente documentava nosso

    n o

    s ab er - como ocorreu, de modo semelhante, em re-

    l o ao ambiente ou, anteriormente, as circunstancias

    da poca - , possa vir a ser lentamente superada por um

    trabalho metodologicamente fundamentado. Se at este

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    20/30

    WEBER ENS IOS COMENT DOS

    momento houve alguma coisa que tenha prejudicado

    essa investiga~o, trata-se da ideia de diletante s zelosos,

    de que poderiam fornecer ao conhecimento de cultura

    algo de especficamente diferente e mais importante. q~e

    o simples alargamento da possibilidade de urna atnb~l-

    co segura dos acontecimentos culturais concretos e m-

    dividuais da realidade histrica a certas causas

    concretas

    historicamente dadas, mediante a obtenco de um mate-

    rial de observa~ao exato a partir de perspectivas espec-

    ficas. apenas na medida em que a antropologia possa

    oferecer-nos isso que seus resultados tero interesse para

    ns e que a biologia racial adquirir uma;mportancia

    superior de uro mero produto da moderna febre de

    instaurar ciencias.

    Algo semelhante sucede com a importancia da in-

    terpreta~ao econmica do histrico. Sehoje - aps urn

    perodo de desmedida supervaloriza~ao - quase existe

    o perigo de se

    subestimar

    sua capacidade cientfica, isso

    nao mais do que a consequncia da inaudita ausencia

    de esprito crtico relativamente interpreta~ao econ-

    mica da realidade, concebida como mtodo universal ,

    no sentido de uma

    deduco

    de conjunto dos fenmenos

    culturais - isto , de tudo o que para ns essencial ne-

    les _ a partir de condices que em ltima instancia se-

    riam econmicas. Atualmente. a forma lgica sob a qual

    se apresenta essa nterpretacc nao inteiramente ho-

    mog

    enea

    . Quando a explicaco puramente econmica

    depara com dificuldades, sp de vrios meios para

    sustentar sua validade geral como fator causal decisivo.

    Pode-se tratar de tudo aquilo que na realidade histrica

    n o

    pode ser deduzido a part ir de motivos econmicos

    OBJETIVID DE DO CONHEC IMENTO N S CIENCI S SOCI I S

    como algo que, p or i ss o m esmo seria acidental e cienti-

    ficamente insignificante. Ou, ento, amplia-se o conceito

    de economia a tal ponto que nele encontram lugar todos

    aqueles interesses humanos que, de urna maneira ou de

    outra, ligam-se a meios externos. No caso de existir a

    prova histrica de que, diante de duas situaces idnticas

    sob o ponto

    de

    vista econmico, houve reaces diferen

    tes

    em consequncia de dferencas nas determinantes

    polticas, religiosas, climticas ou quaisquer outras

    n o

    econmicas -, todos esses fatores sao ento rebaixados

    ao nivel de condices historicamente acidentais, sob as

    quais os motivos econmicos atuam como causas : ten-

    do em vista preservar a supremacia do econmico.

    de entender, contudo, que todos esses aspectos ca-

    suais para a perspectiva econmica seguem suas pr-

    prias leis ,no mesmo sentido em que o fazem os aspectos

    econmicos, e que, para urna abordagem que persegue

    seu significado especfico, as respectivas condices

    econmicas

    sao tao historicamente acidentais quanto

    na recproca. .

    Finahnente, urna tentat iva muito comum para man-

    ter, apesar de tudo, o signif icado preponderante da eco-

    nomia consiste em interpretar as constantes cooperaces

    e interaces dos diferentes elementos da vida cultural

    como dependendo causal ou funcionahnente uns dos ou-

    tros, ou, melhor ainda, de um nico elemento: o econ-

    mico. Desse modo, quando urna determinada instituico

    n o e co n m i ca

    realizou tambm, historicamente, urna

    determinada funco ao servico de quaisquer interesses

    econmicos de classe - isto , quando se converteu em

    instrumento desta, como no caso de determinadas ins-

  • 7/24/2019 WEBER. Objetividade

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    4

    WEBER

    ENSAIOS COMENTADOS

    ~ Weber alude, aqui,

    a

    sua

    prpria anlise do desenvol-

    vimento de umaspecto cru-

    cial do capitalismo ociden-

    tal moderno (no livro sobre

    a

    tica protestante e o es-

    pir ito do capitalismo), para

    alertar contra excessos em

    sua recepco.

    ttuices religiosas, que se deixam utilizar como polica

    de batina -, essa insti ui~ao apresentada como expres-

    samente criada para tal funco, ou, de modo completa-

    mente metafsico, como tendo sido moldada por urna

    tendencia de desenvolvimento de carter econmico.

    Atualmente, um perito na matria dispensar ser

    informado de que esta nterpretaco dos fins da anli-

    se econmica da civilizaco era resultante, em parte, de

    urna determinada conjuntura histrica que orientou o

    interesse cientfico para certos problemas culturais eco-

    nomicamente condicionados, e, em parte tambm, de

    um raivoso apego

    especialidade cientfica, e de que essa

    nterpretaco est hoje ao menos envelhecida. Em ne

    nhum

    domnio dos fenmenos culturais pode a reduco

    unicamente a causas econmicas ser exaustiva, mesmo

    no caso especfico dos fenmenos econmicos .

    Em princpio, a histria bancria de nao importa que

    povo que apenas se valesse de motivos econmicos em

    sua explicaco naturalmente tao impossvel como, por

    exemplo, a explicaco da Madona da Capela Sistina

    a partir das bases socioeconmicas da vida cultural da

    poca de sua criaco, e de modo algum mais exaustiva

    do que, por exemplo, a explica

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    WEBER ENS IOS COMENT DOS

    .. Isso decorre diretamente

    da passagem assinalada na

    pgina 43.

    ao carter part icular do alvo do conhecimento de qual-

    quer trabalho das ciencias sociais que se proponha a ir

    alm de um estudo puramente formal das n orm as le-

    gais ou convencionais - da convivencia sociaL

    A ciencia social que n s pretendemos praticar urna

    c ie nc ia d a r ea li da d e Procuramos compreender a reali-

    dade da vida que nos rodeia, e na qual nos encontramos

    situados, naquilo que tem de especfico; por um lado, as

    conexo es e a significapio cultural de suas diversas ma-

    nifestaces em sua configuraco atual e, por outro, as

    causas pelas quais se desenvolveu historicamente assim

    e n o de outro modo.

    Ocorre que, to logo tentamos tomar consciencia do

    modo como se nos apresenta imediatamente a vida, veri-

    ficamos que se nos manifesta, dentro e fora de ns, sob

    urna quase infinita diversidade de eventos que aparecem

    e desaparecem sucessiva e simultaneamente. E a abso-

    luta infinidade dessa diversidade subsiste , sem nenhu-

    ma atenuante de seu carter intensivo, at mesmo quan-

    do prestamos nossa atenco, isoladamente, a um nico

    objeto - por exemplo, urna transaco concreta - , e isso

    to logo tentamos descrever de modo

    x ustivo

    essa sin-

    gularidade em to do s os seus componentes individuais, e

    muito mais ainda quando tentamos capt-la naquilo que

    tem de causalmente determinado. Assim, todo conheci-

    mento reflexivo da realidade infini ta realizado pelo es-

    pri to humano finito baseia-se no pressuposto tci to de

    que.apenas uro fragmento limitado dessa realidade pode-

    constituir de cada vez o objeto da compreenso cient-

    fica-e de que sele ser essencial no sentido de digno

    de ser conhecid

    OBJETlVID DE DO CONHECIMENTO N S CIENCI S SOCI I S

    Segundo quais princpios se isola ento esse

    fragmento?

    Insiste-se em procurar o critrio decisivo, tambm

    nas ciencias da cultura, na repetico regular, conforme

    leis , de determinadas conexo es causais . Segundo essa

    concepco, o contedo das leis que somos c~pazes de

    reconhecer na inesgotvel diversidade docurs~ dos -fe-

    .nmenos dever ser o nico fator considerado cieri ti -

    I _

    ficamente essencial o logo tenhamos demonstrado

    a regularidade de urna conexo causal, seja mediante

    urna ampla induco histrica, seja pelo estabelecimento

    para a experiencia interna de sua evidencia imediatamen-

    te intuitiva, admite-se que todos os casos semelhantes -

    por muito numerosos que sejam - ficam subordinados a

    frmula assim encontrada. Tudo aquilo que, na realida-

    de individual, continue a resist ir a seleco fei ta a partir

    dessa regularidade , ou considerado um remanescen-

    te ainda nao elaborado cientificamente - que no entan-

    to dever ser integrado ao sistema das leis mediante

    aperfeicoamentos contnuos -, ou deixado de lado. Ou

    seja, considerado casual e cientificamente secundrio

    precisamente porque se revela inintel igvel quanto as

    leis e no se integra no processo tpico : de modo que

    se tornar objeto de urna curiosidade ociosa :

    Em vista disso, reaparece sempre, mesmo entre os

    representantes da escola histrica, a concepco de que o

    ideal para o qual tende ou pode tender todo conhecimen-

    to, mesmo o das ciencias da cultura - ainda que seja

    num futuro longnquo -, consist ir num sistema de pro-

    posices das quais seria possvel deduzir a realidade.

    Sabe-se que um dos porta-vozes das ciencias da natu-

    a essa concepco

    qual se ope que Weber

    des igna pelo termo natu-

    r a l i s m o

  • 7/24/2019 WEBER. Objetividade

    23/30

    WEBER ENS IOS COMENT DOS

    reza julgou poder caracterizar a meta ideal (inacessvel

    de fato) dessa elaboraco da realidade cul tural como co-

    nhecimento astronmico dos fenmenos da vida. Por

    muito debat ida que seja essa questo, nao poupemos es-

    forcos para um exame mais detido do tema.

    Em primeiro lugar, sal ta vista que esse conheei-

    mento as tronmico : em que se pensa no caso citado,

    nao de modo algum um conhecimento de leis mas, ao

    contrrio, extrai de outras disciplinas, como a mecnica,

    as leis com as quais trabalha,

    maneira de premissas.

    Quanto prpria astronoma, interessa-lhe saber qual o

    efeito

    individual

    produzido pela aco dessas leis sobre

    urna constelaco individual; dado que essas constelaces

    tm importancia

    para ns. Como natural, toda conste-

    laco individual que a astronoma nos explica ou pre-

    diz s poder ser causalmente

    xpli v l

    como conse-

    quncia de outra constelaco, igualmente individual, que

    a precede. E,por muito que recuemos na obscuridade do

    mais longnquo passado, a realidade para a qual tais leis

    sao vl idas permanece tambm individual, tambm re-

    sistente deduco c om b as e em leis.

    Um estado original csmico que nao possusse urn

    carter individual, ou que o tivesse em menor grau do

    que a realidade csmica atual, naturalmente seria um

    pensamento desprovido de sentido. No entanto, nao so-

    brevive na nossa especialidade urn resto de representa-

    ces semelhantes , quando se supem estados primi-

    tivos socioeconmicos sem nenhurna casualidade

    histrica, quer inferidos do direito natural, quer verifica-

    dos mediante a observaco dos pOyOSprimitivos ?

    o

    caso, por exemplo, do comunismo agrrio primitivo da

    OBTETrVID DE DO CONHECIMENTO N S CIENCI S SOCI IS

    7

    promiscuidad e sexual etc., dos quais nasceria, por urna

    espcie de queda pecaminosa no concreto, o desenvolvi-

    mento histrico individual.

    O ponto de partida do interesse pelas ciencias so-

    ciais sem dvida reside na configurayao

    real

    e portanto

    individual da vida sociocultural que nos rodeia, quando

    queremos apreende-Ia em seu contexto universal nern

    por isso menos individual em sua forma, e em seu desen-

    volvimento a partir de outros estados socioculturais, evi-

    dentemente individuais tambm. Torna-se claro que, do

    mesmo modo, ns nos encontramos perante a situaco

    extrema que acabamos de expor no caso da astronomia

    (e que os metodlogos tambm utilizam regularmente),

    e at de um modo especif icamente acentuado. Enquanto

    no campo da astronomia os corpos celestes apenas des-

    per tam nosso interesse por suas relaces quantitativas

    suscetve is de medces exatas, no campo das ciencias

    sociais, ao contrrio, o que nos interessa o matiz

    quali-

    tativo dos fatos. A isso soma-se que, nas ciencias sociais,

    t rata-se da intervenyao de fenmenos espirituais cuja

    compreensiio por revvnca constitui urna tarefa espe-

    cif icamente diferente da que poderiam, ou quereriam,

    resolver as frmulas do conhecimento exato da natureza.

    Apesar d tudo, tais diferencas nao sao categricas como

    primeira vista poderiam parecer.

    Salvo o caso da mecnica pura, nenhuma ciencia

    da natureza pode presc indir da qualidade. Alm disso ,

    deparamos em nosso prprio campo -com a opnio _

    errnea - de que o fenmeno, fundamental para nossa

    civilizaco, do comrcio financeiro, suscetvel de quan-

    tificaco e,

    portanto

    cognoscvel mediante leis Por l-

  • 7/24/2019 WEBER. Objetividade

    24/30

    WEBER

    ENSAIOS COMENTADOS

    ~ O termo mais usual,atual-

    mente seria cincias da

    cultura (ou seja, que tra-

    tam de significados social-

    mente compartilhados).

    Para Weber , contudo, im-

    porta neste passo a distin-

    co entre espirito (cultura)

    e n t u r ez

    ~ Aqu i o au to r avanca um

    passo impor tante em sua

    argumenta

  • 7/24/2019 WEBER. Objetividade

    25/30

    WEBER

    ENS IOS COMENT DOS

    .. Estamos prximos do cer-

    neda posico deWeber. O

    estudo isento de pressu-

    postos do mundo da cul-

    tura nao nos levaria a nada,

    n em m es m o a r ec on he ce r o

    objeto, o que interessa es-

    tudar . Retorna a

    questo:

    o que pode fornecer esses

    pressupostos? Veja o des-

    dobramento disso naspgi

    nas 53-54).

    independente apesar de se basear nessa tarefa prelimi-

    nar, seria a anlise e a

    xposi o

    ordenada do agrupamen-

    to individual desses fatores historicamente dados e da

    combinaco concreta e significativa dele resultante e, aci-

    ma de tudo, consistiria em tornar in tel ig ve l a causa e a

    natureza dessa significaco. A terceira operaco seria re-

    montar o mais possvel ao passado, e observar como se

    desenvolveram as diferentes caractersticas individuais

    dos agrupamentos de importancia para o presente, e pro-

    porcionar urna explicaco histrica a partir dessas cons-

    telaces anteriores, igualmente individuais. Por ltimo,

    urna possvel quarta operaco consistiria na avaliaco das

    constelaces possveis no futuro.

    Para todas essas finalidades seria muito ti l, indis-

    pensvel mesmo, a existencia de conceitos claros e o co-

    nhecimento dessas hipotticas) Ieis ,como

    meios

    heu-

    rsticos, mas unicamente como tal. Mas, mesmo com

    essa funco, existe

    um

    ponto decisivo que demonstra o

    limite de seu alcance, com o que somos conduzidos

    peculiaridade decisiva do mtodo nas ciencias da, cul-

    tura; ou seja, nas disciplinas que aspiram a conhecer os

    fenmenos da vida segundo sua s ign if ica fo cul tura l . A

    significafo da configuracao de um fenmeno cultural e

    a causa dessa sgnficaco nao podem contudo deduzir-

    -se de nenhum sistema de conceitos de leis, por mais

    perfei to que seja, como tambm nao podem ser justif i-

    cados nem explicados por ele, dado que pressup6em a

    relaco dos fenmenos culturais com i de ia s d e v al or .

    oconceto de-cultura urn

    c onc e it ode v a lo r .

    A reali-

    dade emprica cultura para ns porque, e na medida

    em que, ns a relacionamos a ideias de valor. Ela abrange

    OBJETIVID DE DO CONHECIMENTO N S CIENCI S SOCI IS

    aqueles e

    somente

    aqueles componentes da realidade que,

    por meio dessa relaco, tornam-se significativos para ns.

    Urna parcela nfima da realidade individual que obser-

    vamos em cada caso matizada pela aco de nosso in-

    teresse condicionado por essas ideias de valor; somente

    ela tem significado para ns precisamente porque revela

    relaces tornadas

    importantes

    gracas

    sua vinculaco a

    ideias de valor. sornente por isso, e na medida em que

    isso ocorre, que nos interessa conhecer sua caracters-

    tica individual. Entretanto, o qu e para ns se reveste de

    significaco naturalmente nao poder ser deduzido de

    um estudo isento de pressupostos do empiricamente

    dado; ao contrrio, a cornprovaco dessa significaco

    que constitui a premissa para que algo se converta em

    objeto da anlise.

    Naturalmente, o significativo, como tal, nao coincide

    com nenhuma lei como tal, e isso tanto menos quanto

    mais geral for a validade dessa lei. Porque a

    significaco

    que para ns tem um fragmento da realidade

    n o

    se en-

    contra nas relaces que compartilha com o maior nme-

    ro possvel de outros elementos. A relaco da realidade

    com ideias de valor que lhe conferem urna significaco,

    assim como sublinhar e ordenar os elementos do real

    matizados por essa relaco sob o ponto de vista de sua

    significaco

    cultural, constituem perspectivas completa-

    mente diferentes e distintas da anlise da realidade leva-

    da a cabo para conhecer suas leis e orden-la segundo

    conceitos gerais. Ambas as modalidades de pensamento

    ordenador do real nao mantm entre sinenhuma relaco

    lgica necessria. Poder suceder que, num caso concre-

    to, venham alguma vez a coincidir ; mas, se essa coinci-

    .. Significativo

    sempre

    algo par ticu lar, que se tor -

    na significativo exatamente

    quando Ihe

    atr ibudo um

    signi ficado. Por isso, nem

    mesmo urna lei relacao in-

    v arivel) geral pode ser

    significativa como tal.

  • 7/24/2019 WEBER. Objetividade

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    WEBER ENS IOS COMENT DOS

    ~ Urna c oi sa s er impo r- _

    tante por constituir fenme-

    noobservvel emgrande es-

    cala; outra, desempenhar

    papel fundamental numa ci-

    vilizaco aqui o termo ern-

    pregado no mesmo sentido

    do que, em out ros passos,

    cultura ).

    ~ Nes te ponto nos def ron-

    tamos com duas acepces

    de signific tivo urna,de ca-

    rter genrico o interesse

    pela traca como fenmeno

    econmico, por exemplo);

    outra - e decis iva -, relativa

    ao modo como o fenmeno

    a t raca, no caso) se apre-

    senta numa confiquraco

    histrica particular.

    dncia casual nos ocultar sua discrepancia de

    princpio

    isso poder acarretar as mais funestas consequncias

    A

    significacao

    cultural de um fenmeno - por exem-

    plo o do comrcio monetrio - pode consistir no fato

    de se manifestar como fenmeno de massa um dos ele-

    mentos fundamentais da civil izaco contempornea.

    Mas de imediato o fato

    histrico

    de desempenhar esse

    papel que constitui o que dever ser coinpreeridido sob

    o ponto de vista da sua signi f icarao cultural e explicado

    causalrnente sob a perspectiva da sua origem histrica. A

    anlise da essncia

    geral

    da troca e da

    tcnica

    do trfico

    comercial constituem urna tarefa

    preliminar

    ainda que

    extremamente importante e indispensvel. Mas nao fica

    assim resolvida a questo de como a troca chegou his-

    toricamente a alcancar a fundamental signif icaco que

    hoje possui; mas antes de mais nada aquela que em l-

    tima anlise nos interessa: qual a

    significacao cultural

    da

    economia monetria. Pois com respeito a ela que nos

    interessamos pela descrico da tcnica de circulaco e

    pela mesma razo que existe hoje urna ciencia dedica-

    da a essa tcnica. De todo modo a troca nao se deduz

    de nenhuma dessas leis As

    caracter s t icas genr icas

    da

    troca da compra etc. interessam ao jurista. Mas o.que.a

    nsinteressa atarefa de analisar.a signi f icafaocultural

    do fato

    histrico

    de a troca constituir hoje

    umferime-

    no demassa. Quando esse fato deve ser explicado quan-

    do pretendemos compreender a

    diferenca

    entre nossa ci-

    vil izaco socioeconmica e a da Antiguidade - quando

    . a troca apresentava exatamente as mesmas qualidades

    genricas de hoje - quando queremos saber em que

    consiste a

    significaco

    da economa monetria surgem

    OBJETIVID D E DO CONHECIMENTO N S CIENCI S SOCI IS

    ento na anlise princpios lgicos de origem claramen-

    te heterognea Por certo que enquanto contenham ele-

    mentos significativos de nossa cultura utilizaremos os

    conceitos que a anlise dos elementos genricos dos fe-

    nmenos econmicos de massa nos oferece como meios

    de exposico Mas por muito exata que seja a distinco

    desses conceitos e leis nao s nao teremos alcancado o

    alvo

    de nossa tarefa como a questo sobre qual deve ser

    o objeto da forrnaco de conceitos genricos nao ficar

    livre de pressupostos dado que foi decidida em funco

    da signi f icaco que possuem para a cultura determina-

    dos elementos dessa multiplicidade infinita que chama-

    mos cornrcio

    Aspiramos ao conhecimento de um fenmeno his-

    trico isto

    s ign if ic a ti vo na sua e s pec if ic idade .

    E o que

    aqui existe de decisivo o fato de s adquirir sentido

    lgico a ideia de um conhecimento dos fenmenos

    in -

    dividuais

    mediante a premissa de que

    a pe na s u ma p arte

    finita da infinita diversidade de fenmenos

    significati-

    va . Mesmo com o mais amplo conhecimento de t odas as

    leis

    do devir f icaramos perplexos ante o problema de

    como

    possvel

    em geral a

    expl icacao cau sa l

    de um fato

    individual

    posto que nem sequer se pode pensar a mera

    descrico

    exaustiva do mais nfimo fragmento da reali-

    dade. Pois o nmero e a natureza das causas que deter-

    minaram qualquer acontecimento individual sao sempre

    infinitos

    e nao existe nas prprias coisas critr io algum

    que permita escolher dentre elas urna fraco que possa

    entrar isoladamente em linha de conta. A tentativa de

    um conhecimento da realidade livre de pressupostos

    apenas conseguiria produzir um caos de juzos existen-

  • 7/24/2019 WEBER. Objetividade

    27/30

    WEBER ENS IQS COMENT DOS

    ~ do que os fenmenos

    sociais nao exibem nenhum

    carter objetivamente intrn-

    seco a eles, nao sadase-

    MO buscar suas causas me-

    diante a

    tribuir o

    (imputa-

    co) dessa condico a ou-

    tros fenmenos (ou a um

    conjunto deles), para emse-

    guida pesqusar se arelaco

    suposta se confirma.

    i

    t

    ciais acerca de inmeras percepces particulares. E at

    mesmo esse resultado seria possvel s na aparencia, pois

    a realidade de cada urna das percepces, expostas a urna

    anlise detalhada, oferece um sem-nmero de elementos

    particulares, que nunca podero ser expressos de modo

    exaustivo nos juzos de percepco.

    Este caos s pode ser ordenado pela circunstancia de

    que, em qualquer caso, unicamente um

    segmento

    da rea-

    lidade individual possui interesse e significado para ns,

    posto que s ele se encontra em relaco com as i de ia s d e

    va lo r cu l tura is com que abordamos a realidade. Portanto,

    s alguns aspectos dos fenmenos particulares infinita-

    mente diversos, e precisamente aqueles a que conferimos

    urna s ig ni fi ca ca o g er al p ar a a c u lt ur a merecem ser co-

    nhecidos, pois apenas eles sao objeto da explicaco cau-

    saL Tambm essa

    expli o

    causal oferece, por sua vez,

    o mesmo carter , pois urna regresso causal exaustiva

    com base em qualquer fenmeno concreto, para captar

    sua plena realidade, nao s resulta impossvel, na prtica,

    como pura e simplesmente um absurdo, Apenas colo-

    camos em relevo as causas a que sepodem atribuir num

    caso concreto, os elementos essenciais de um aconteci-

    mento. Quando se trata da

    individualidade

    de um fen-

    meno, o problema da causalidade no incide sobre

    tels

    mas sobre on xo s causais concretas; nao se trata de sa-

    ber a que frmula se deve subordinar o fenmeno a t-

    tulo de exemplar, mas sim a que constelaco part icular

    deve ser imputado como resultado. Trata-se, portanto,

    de um

    p ro bl em a d e im pu ta c o.

    Onde quer que se trate

    de

    expli o

    causal de um fenmeno cultural - ou de

    urna individualidade histrica , expresso j utilizada

    OBJETIVID DE DO CONHECIMENTO N S CIENCI S SOCI I S

    relativamente a metodologia da nossa discipl ina, e ago-

    ra habitual na lgica, com urna formulaco mais precisa-,

    o conhecimento das

    leis

    da causalidade nao poder cons-

    tituir o f im mas antes o meio do estudo. Ele facilita e pos-

    sibilita a imputaco causal dos elementos dos fenmenos,

    tornados importantes para a cultura por sua individua-

    lidade, as suas causas concretas,

    apenas na medida em

    que presta esse servico que poder ter valor para o co-

    nhecimento das conexes individuais. E quanto mais ge-

    rais , isto , abstratas, sao as leis, menos contribuem para

    as necessidades da imputaco causal dos fenmenos indi

    viduais e, indiretamente, para a compreenso da signifi-

    cacao dos acontecimentos culturais.

    Que se conclui de tudo isso?

    De modo algum que, no campo das ciencias da cul-

    tura, o conhecimento do

    geral

    a formaco de conceitos

    genricos abstratos, o conhecimento de regularidades

    e a tentativa de forrnulaco de relaces regulares nao

    tenham urna justificaco cientfica. Muito ao contrrio.

    Seo conhecimento causal do historiador consiste numa

    imputaco de certos resultados concretosadeterrnina-

    das causas concretas, ento

    impossivel.

    urna imputa~ao

    vlida dequalquer resultado individual.sem a

    utiliz o

    de um conhecimento nomolgco - isto ~do ~onheci-

    mento das regularidades das conexes causis. Para sa-

    ber sea um elemento individual e singular de urna cone-

    xo

    cabe atribuir, na realidade, urna importancia causal

    para o resultado que se trata de explicar causalmente,

    apenas existe a possibilidade de proceder a avaliaco das

    influencias que nos habituamos a esperar

    geralmente

    tanto deste como de outros elementos do mesmo com-

    ~ Conctuso importante: a

    irnputaco (hipottica) de

    causas aofenmeno que in

    teressa explicar de que se

    talava antes nao dispensa

    o conhecimento da regula

    r idade de ocorrncias ( no

    rnolqico ).

  • 7/24/2019 WEBER. Objetividade

    28/30

    WEBER

    ENS IOS COMENT DOS

    ~ Webe r encont rou essa

    ideia de possibilidade ob-

    jetiva na obra do historia-

    dor Eduard Meyer que dis-

    cute em seus escri tos me-

    todolgicos)_ Um evento -

    por exemplo, urnabatalha -

    pode tomar-se significativo

    pel os e fe it os que teve em

    contraste com os que resul-

    tar iam caso assumisse urna

    outra confiquraco, igual-

    mente possivel no exemplo

    da batalha, a v itr ia do ou-

    tro lado),

    plexo que sejam pertinentes

    explicaco, Essas influen-

    cias constituem, por conseguinte, os efeitos adequados

    dos elementos causais em questo,

    Saber at que ponto o historiador (no sentido mais

    lato da palavra) capaz de realizar com seguranc;:a essa

    imputaco, com o auxl io de sua maginaco metodica-

    mente educada e alimentada por sua experincia pessoal

    de vida, e at que ponto estar dependente do auxlio de

    determinadas ciencias especializadas postas a seu alcan-

    ce, algo que depende de cada caso particular, Mas em

    qualquer caso, e portanto tambm no campo dos fen-

    menos econmicos complexos, a seguranra da imputa-

    co tanto maior quanto mais seguro e amplo for nosso

    conhecimento geral. O valor dessa afirrnaco nao fica de

    modo algum diminudo pelo fato de que nunca, mes-

    mo nas chamadas leis econmicas , trata-se de cone-

    x

    regulares no sentido estrito das ciencias da natu-

    reza, mas sim de conexes causais

    adequadas

    expressas

    em regras, e portanto de urna aplicaco da categoria da

    possibilidade objetiva : que nao analisaremos aqui com

    mais pormenores. Ocorre que o estabelecimento de tais

    regularidades nao

    a f inalidade mas sim um meio do

    conhecimento, E quanto a saber se tem sentido formu-

    lar como le urna regularidade de conexes causais,

    observada na experiencia cotidiana, nao mais que urna

    questo de conveniencia em cada caso concreto. Para as

    ciencias exatas da natureza as leis sao tanto mais impor-

    tantes e valiosas quanto ma i s ge ra l sua validade, Para o

    conhecimento das condices concretas dos fenmenos

    histricos as leis ma i s ge ra i s sao frequentemente as me-

    nos valiosas, por serem as mais vazias de contedo. Pois

    OBJETIVID DE DO CONHECIMENTO N S CIENCI S SOCI IS

    7

    quanto mais vasto o campo abrangido pela validade de

    um conceito genrico - isto ,quanto maior a sua exten

    sao tanto mais nos afciStada riqueza da realidade, pos-

    to que, para poder abranger o que existe de comum no

    maior nmero possvel de fenmenos, forcosamente de-

    ver ser o mais abstrato e

    pobre

    de contedo, No campo

    das ciencias da cultura, o conhecimento do geral nunca

    tem valor por si prprio.

    De tudo o que at aqui se disse resulta que carece

    de razo de ser um estudo objetivo dos acontecimen-

    tos culturais , no sentido em que o fim ideal do trabalho

    cientfico deveria consist ir numa reduco da realidade

    emprica a certas leis. Carece de razo de ser, na o por-

    que - como frequentemente se sustentou - os aconteci-

    mentos culturais ou, se se quiser , os fenmenos espiri-

    tuais evoluam objetivamente de modo menos sujeito

    a leis, mas:

    a) porque o conhecimento de leis sociais nao

    um co-

    nhecimento do socialmente real , mas unicamente

    um dos diversos meios auxiliares que o nosso pensa-

    mento uti liza para esse efei to; e

    b) porque nenhum conhecimento dos acontecimentos

    culturais poder ser concebido seno com base na

    significarao que a realidade da vida, sempre configu-

    rada de modo individual , possui para ns em deter-

    minadas relaces singulares.

    Nao existe nenhuma lei que nos mostre em que sen-

    t ido e em que condices isso sucede, pois o decisivo sao

    as i de ia s d e v al or sob as quais consideramos a cultura

  • 7/24/2019 WEBER. Objetividade

    29/30

    WEBER

    ENS IOS COMENT DOS

    ~ Passagem fundamental: a

    condico prvia, sem a qual

    nao sepode falar deconhe-

    cimento cientifico do mundo

    dos significados e dos valo-

    res (da cul tura) a capaci-

    dade dos homens (ou seja,

    de entes ativos e pensantes,

    portanto motivados por inte-

    resses lastreados em valo-

    res) de atribuir sentido aqui-

    loque nao o tem

    e per s i

    ~ A referencia , em es-

    pecial, ao filsofo Heinrich

    Rickert. Refere-se, contu-

    do,

    terminologia e deixa

    subentendida urna diteren-

    ca essencial. que,enquan-

    to Rickert fala de valores ,

    Weber falade ideias deva-

    lor . O termo lgico aplica-

    -se, aqui, ao que chamara-

    mas deteoria oufi losofia da

    ciencia, e nao lgica como

    disciplina formal das leis ge-

    rais do raciocinio vlido.

    em cada caso, A cultura um segmento finito do de-

    curso infinito e destitudo de sentido prprio do mun-

    do, a que o pensamento conferiu - do ponto de vista do

    homem - um sentido e urna sgnificaco. E continua a

    ser assim mesmo para quem se

    op

    a urna cultura con-

    creta

    como inimigo implacvel e preconiza o regresso

    a natureza Pois apenas pode adotar essa posico quan-

    do compara essa cultura concreta as suas prprias ideias

    de valor, considerando aquela como demasiado super-

    ficial . Referimo-nos precisamente a esta circunstancia

    p u ram en te l g ic a e f o rm a l quando afirmamos que todo

    o individuo histrico est arraigado, de modo logica-

    mente necessrio, a ideias de valor .

    A premissa transcendental de qualquer c ie nc ia d a

    cultura reside n o no fato de considerannos valiosa urna

    cultura

    determinada ou qualquer, ~as sim na circuns-

    tancia de sermos homens de cultura, dotados da capa-

    cidade e da vontade de assurnir urna

    posiou:

    consciente

    diante do mundo e de lhe conferir um sentido. Qualquer

    que seja este sentido, influir para que, no decurso de

    nossa vida, extraiamos dele nossas avaliaces de deter-

    minados fenmenos da convivencia humana e assuma-

    mos perante eles, considerados significativos urna posi-

    f o (positiva ou negativa). Seja qual for o contedo dessa

    tomada de posico, tais fenmenos possuem para ns

    urna significafo cultural, que constitui a base nica de

    seu interesse cientfico.

    Por conseguinte, quando utilizamos aqui a termino-

    logia dos-lgicos modernos e dizemos que o conheci-

    mento cultural condicionado por determinadas ideias

    de valor esperamos que isso nao seja suscetvel de mal-

    OBJETIVID DE DO CONHECIMENTO N S CIENCI S SOCI IS

    9

    -entendidos tao grosseiros como a opinio de que ape-

    nas se deve atribuir significaco cultural aos fenme-

    nos valiosos Pois tanto a prostituico como a religio

    ou o dinheiro sao fenmenos culturais e o sao nica e

    exclusivamente enquanto sua existencia e a forma que

    historicamente

    adotam correspondem direta ou indire-

    tamente aos nossos int.eresses culturais , enquanto ani-

    mam nosso desejo de conhecimento a partir de pontos

    de vista derivados das ideias de valor, as quais tornam

    significativo para ns o fragmento de realidade expresso

    naqueles conceitos.

    Disso resulta que todo conhecimento da realidade cul-

    tural sempre urn conhecimento subordinado a p on to s d e

    vista especificamente particulares. Quando exigimos do

    historiador ou do socilogo a premissa elementar de sa-

    ber distinguir entre o essencial e o secundrio, de possuir

    para esse fim os pontos de vista necessrios, queremos

    unicamente dizer que ele dever saber referir - consciente

    ou inconscientemente - os elementos da realidade a va-

    lores culturais universais e destacar aquelas conexes que

    para ns se revistam de significado. E se frequente a opi-

    nio de que taispontos devista podero ser deduzidos da

    prpria matria , isso apenas se deve a ingenua iluso do

    especialista que nao se d conta de que - desde o incio e

    em virtude das ideias devalor com que inconscientemen-

    te abordou o tema - destacou da imensidade absoluta urn

    fragmento nfimo, e particularmente aquele cujo exame

    lhe importa.

    A propsito dessa seleco de aspectos especiais e

    individuais do devir, que sempre e em todos os casos

    se realiza consciente ou inconscientemente, reina tam-

  • 7/24/2019 WEBER. Objetividade

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    WEBER ENSAIOS COMENTADOS

    bm essa concepco do trabalho cientfico-cultural que

    constitui a base da tao repetida afirmaco de que o ele-

    mento pessoal o que verdadeiramente confere valor

    a urna obra cientfica. Ou seja, de que qualquer obra

    deveria exprimir urna personalidade paralelamente a

    outras qualidades.

    Por certo que sem as ideias de valor do investigador

    nao existiria nenhum

    p r in c ip io de s e le co

    nem conheci-

    mento sensato do real singular e,assim como sem a

    eren

    ~a

    do pesquisador na

    significadio

    de um contedo cul-

    tural qualquer resultaria completamente desprovido de

    sentido todo o estudo do conhecimento da realidade in

    dividual

    tambm a orientaco de sua convicco pessoal

    e a difraco dos valores no espelho de sua alma conferem

    a seu trabalho urna dreco. E os valores a que o genio

    cientfico refere os objetos de sua nvestigaco podero

    determinar a concepco que se far de toda urna po-

    ca. Isto , nao s podero ser decisivos para aquilo que

    se considera valioso nos fenmenos, mas ainda para o

    que passa por ser significativo ou insignificante, impor-

    tante ou secundario

    O conhecimento cientfico-cultural tal como o en-

    tendemos encontra-se

    preso

    portanto, a premissas sub-

    jetivas pelo fato de apenas se ocupar daqueles elemen-

    tos da realidade que apresentem alguma relaco, por

    muito indireta que seja, com os acontecimentos a que

    conferimos urna

    significa~iio

    cultural. Apesar disso, con-

    tinua naturalmente a ser um conhecimento puramen-

    te

    causal

    exatamente como o conhecimento de even-

    tos naturais individuais importantes dotados de carter

    qualitativo.

    A OBJETIVIDADE DO CONHECIMENTO NAS CIENCIAS SOCIAIS

    Paralelamente as numerosas confuses originadas

    pelo imiscuir do pensamento jurdico formalista na es-

    fera das ciencias culturais, surgiu recentemente, entre

    outras, a tentativa de refutar a concepco materialista

    da histria atravs deurnasrie de engenhosos

    S9~S

    mas. Para tanto argumenta-se que, dado que toda a vida

    econmica deveria evoluir dentro de determinadas

    for

    mas r egu ladas

    de modo legal ou convencional, qualquer .

    evoluco

    econmica deveria adotar o aspecto de aspi-

    races para a criaco de novas

    f ormas j ur d ica s.

    Isto ,

    que apenas poderia ser compreensvel a part ir de certas

    mximas morais , e seria por isso diferente, em essncia,

    de qualquer evoluco natural : O conhecimento da evo-

    luco

    econmica teria assim urn carter

    teleolgico

    Sem querermos discutir aqui o significado amb-

    guo que o conceito de

    evoluco

    comporta nas ciencias

    sociais , nem o conceito igualmente ambguo, do ponto

    de vista lgico, de teleolgico : cabe estabelecer que a

    economia nao necessariamente

    teleolgica

    tal como

    pressupe essa concepco.

    Mesmo no caso de urna total identidade de forma

    das normas jurdicas vigentes, pode mudar de modo ra-

    dical a significacao cultural das relacoes jurdicas de car-

    ter normativo e,consequentemente, as prprias normas.

    Pois se nos permitirmos um mergulho em divagaces

    sobre o futuro, poder-se-ia imaginar, por exemplo, como

    teoricamente realizada urna social izaco dos meios de

    produco , sem que sehouvesse produzido qualquer as-

    piraco conscientemente dirigida para esse resultado, e

    sem que houvesse necessidade de acrescentar ou supri-

    mir qualquer art go da nossa atual legislaco. Em com-

    ~ A referencia

    ao juris

    ta Rudolf Stammler a cuja

    obra Weber dedicou exten

    sa critica reproduzida nos

    seus escritos sobre metodo

    logia das ciencias sociais.

    ~ Ou seja ela seria explica

    dapelofim aoqual sedir ige.