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PROPOSTA DE INTERVENÇÃO GRUPO FOCAL Marilia Sagrilo Vione Garcia Orientador: Ricardo Antonio Rodrigues SUMÁRIO INTRODUÇÃO.……………................... …………………………………......................87 ENCONTRO...................................................... .....................................................87 ENCONTRO...................................................... .....................................................89 ENCONTRO...................................................... .....................................................91 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................ ...............................92 REFERÊNCIAS................................................... .......................................................94

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PROPOSTA DE INTERVENÇÃOGRUPO FOCAL

Marilia Sagrilo Vione GarciaOrientador: Ricardo Antonio Rodrigues

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.……………...................…………………………………......................871º ENCONTRO...........................................................................................................872º ENCONTRO...........................................................................................................893º ENCONTRO...........................................................................................................91CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................92REFERÊNCIAS..........................................................................................................94

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INTRODUÇÃO

Este produto nasceu a partir da ideia de convidar os jovens estudantes a

pensarem sobre suas atitudes mediante a sociedade, seja durante suas passagens

pela instituição, seja em convívio familiar ou na comunidade.

Após o contato com várias bibliografias sugeridas pelo orientador Ricardo

Antonio Rodrigues e a experiência de convivência com os jovens estudantes,

observou-se que eles tinham uma necessidade de refletir sobre suas atitudes no dia

a dia, desta forma, após uma sugestão da Banca, foi pensado em fazer com que os

grupos focais usados para coleta de dados para a pesquisa também servissem

como Produto Educacional, uma Proposta de Intervenção.

Acolhida esta sugestão, começamos a levantar dados sobre de que

maneira poderíamos fazer a abordagem dos jovens, levando em consideração que

não poderiam ser atividades apenas com questionamentos, pois o perfil e a idade

não nos proporcionariam dados suficientes e, ainda, não conseguiríamos prender a

atenção dos jovens por um tempo muito longo.

Nesse sentido, foram pensadas dinâmicas que “quebrassem o gelo” em

um primeiro momento e que, em seguida, evidenciassem o que os estudantes

realmente percebem, sem que fosse um processo mecânico, mas que eles

sentissem naturalmente a vontade de participar e contribuir com o grupo. Dessa

forma, surgiram as atividades descritas a seguir.

1º ENCONTRO

Esta dinâmica consistiu na distribuição de revistas e, posteriormente, foi

solicitado aos jovens que procurassem uma ou duas imagens, palavras ou frases

que retratassem os sentimentos deles pela instituição (Figura 1 e 2). Os estudantes

fizeram suas escolhas e, em seguida, foram questionados sobre elas. Segundo

Nussbaum (2015), devemos transformar os alunos em cidadãos responsáveis que

possam raciocinar e fazer uma escolha adequada a respeito de um grande conjunto

de temas de importância nacional e internacional.

O objetivo desta dinâmica era, além de fazer nascer um diálogo, observar

nos jovens quais os sentimentos deles perante a instituição e o significado desta

para eles. É missão fundamental de toda e qualquer instituição, conforme Nussbaum

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(2015), educar os cidadãos e refletir sobre os sentimentos morais e antimorais como

condição para a concretização da democracia.  

Figura 1 - Atividade IFonte: Da autora (2018).

Figura 2 - Atividade IIFonte: Da autora (2018).

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A partir desta dinâmica, foi possível começar um diálogo com os

estudantes que conduziram às discussões dos dois grupos e que foram relatados

neste trabalho. Após as discussões, foi proposta uma outra atividade, a atividade do

“volençol”, a estrutura e as regras são similares as do Voleibol (Figura 3). Essa

atividade foi proposta com o objetivo de despertar a colaboração entre os jovens e

um sentimento de cooperação, o que observa-se que foi alcançado. A atividade

consiste em cada jovem segurar uma ponta de um lençol e o coordenador da

atividade colocar uma bola ao meio deste lençol. Em seguida, o coordenador bate

palmas em velocidades diferentes com a intenção de que todos participem, com o

objetivo de despertar neles a consciência de coletividade e da importância de cada

parte no desenvolvimento do todo.

Figura 3 - Atividade III VolençolFonte: Sesc no Tocantins (2013).

2º ENCONTRO

No segundo encontro, a discussão foi aberta com a apresentação de um

vídeo disponibilizado no YouTube, por Arnon de Souza, intitulado “Sem dizer uma

palavra, esse vídeo mostra bem os efeitos da corrupção”, que demonstra as

consequências da corrupção, tanto do ato de corromper como ao ser corrompido.

De acordo com Nussbaum (2015, p. 35), o estudante precisa de um

"choque interior" e esse não apenas deve ocorrer na escola ou na universidade, mas

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deve abranger a família e a sociedade. A cidadania se dá na medida em que o

estudante é levado a problematizar o sentimento de repulsa, de paixão, de

solidariedade e de aversão ao que for contrário ao interesse do bem comum

(NUSSBAUM, 2015).

O vídeo conta a história de um professor do curso de Medicina que deixa-

se corromper por um aluno que o faz através de um valor em dinheiro. Após um

determinado tempo, a esposa deste professor passa mal e precisa ser encaminhada

para uma cirurgia de urgência ao mesmo tempo em que o professor está fora da

cidade. Contudo, a esposa acaba sendo operada pelo aluno que corrompeu o

professor e, como consequência, não sabia fazer a cirurgia, então a esposa veio a

óbito e ele encontra o ex-aluno justamente para receber a triste notícia (Figura 4).

Figura 4 - Atividade IV Vídeo CorrupçãoFonte: YouTube (2017).

O objetivo do vídeo era observar a atitude dos estudantes mediante uma

situação de corrupção e, ainda, questioná-los sobre suas vivências, quando já se

viram na situação de professor ou de aluno de Medicina, não somente no âmbito

escolar, mas em todas as áreas de suas vidas.

Após as discussões, foi feita mais uma atividade com os jovens a fim de

investigar o que eles entendem por valores, qual o conceito de valores eles

possuem. Para isso, foi aplicada a dinâmica das malas, que consiste em desenhar

cinco malas e em cada mala colocar duas coisas, pessoas e/ou objetos importantes

para eles passarem um mês fora de casa. Conforme a viagem vai acontecendo, é

necessário que eles se desfaçam das malas, uma a uma, até que fiquem com a que

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julgam mais importante para suas vidas. A partir do resultado do que ficou nas

malas, é possível fazer uma análise sobre o conceito de valores para eles.

3º ENCONTRO

No terceiro encontro, foi feita a demonstração de algumas fotos de

escolas depredadas e de alguns casos de violência nas escolas, com o objetivo de

despertar nos alunos uma consciência das consequências dos atos não refletidos

(Figura 5). Foram apresentados fatos, como aquele da jovem que foi assassinada na

cidade de Cachoeirinha, dentro de uma escola estadual, por motivos até então não

esclarecidos. A seguir, imagem da destruição e depredação aleatórias, tendo em

vista que é uma ilustração para despertar a reflexão, objetivo que foi atingido.

Para Nussbaum (2015), a educação para a cidadania precisa tematizar o

narcisismo, o nojo, a compaixão, a impotência, a vergonha e outros sentimentos

como modo de humanizar e refletir sobre as nossas convicções e valores. Para que

as atitudes sejam repensadas, é necessário que os problemas sejam discutidos

como maneira de buscar a resolução.

Figura 5 - Atividade VFonte: Damasceno (2015).

Este espaço proporcionado pelo grupo focal foi um espaço de reflexão e

discussão, onde os estudantes puderam refletir sobre suas atitudes e as atitudes

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dos colegas em meio a um espaço comum a todos.

Após a demonstração das imagens, foi proposta a atividade do balão e

palito, com o objetivo de despertar a reflexão e a preocupação com o coletivo. A

dinâmica consiste em entregar um balão e um palito dental para cada estudante,

solicitando que segurem um material em cada mão. Em seguida, o coordenador do

grupo informa que quem conseguir ficar com o balão intacto ganhará uma caixa de

bombons.

Mais uma vez a reflexão se fez presente durante as atividades dos

grupos, demonstrando a necessidade destes encontros para auxiliar no despertar

dos estudantes como cidadãos capazes de transformar suas realidade.

A perspectiva de uma educação ética e cidadã não implica em ensinar

para a subserviência à autoridade, mas despertar o senso de responsabilidade e

levar as novas gerações a pensarem que o "mau comportamento não é resultado

apenas de uma formação individual doentia ou de uma sociedade doente; em

determinadas circunstâncias, isso pode acontecer com pessoas aparentemente

‘decentes’” (NUSSBAUM, 2015, p. 42-43), “e isso revela, de algum modo que

"pessoas que não são patológicas individualmente podem se comportar muito mal

com relação aos outros quando sua situação foi mal concebida" (NUSSBAUM, 2015,

p. 43).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observou-se que a proposta de grupos focais foi bem aceita pelos

estudantes, pois alguns deles sugeriram que as atividades fossem continuadas, visto

que é um espaço disponibilizado a eles para que possam refletir sobre assuntos

ligados ao seu cotidiano. As dinâmicas propostas conseguiram absorver dos

estudantes suas concepções sobre maturidade, vida em sociedade, ensino integral,

cidadania consciente e, ainda, conseguiu despertar neles a necessidade de refletir

sobre atitudes desempenhadas por eles e pela sociedade.

Verificou-se que o processo de reflexão impacta nas atitudes dos

cidadãos conscientes, assim como impactou nas vidas destes estudantes, que

conseguiram pensar de forma ampla sobre a instituição. Constatou-se a

necessidade de mais espaços de reflexão e da importância destes espaços no

desenvolvimento da maturidade destes jovens para transformá-los em cidadãos

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conscientes de seu papel em sociedade. Para Nussbaum (2015), não se pode tratar

a educação como uma ferramenta de lucros, dado que isso poderá comprometer a

democracia. O real sentido da educação é justamente a liberdade do pensar, o

respeito ao diferente, levar o estudante a pensar criticamente tornando-o capaz de

lutar contra a submissão automática.

Aqui existe a demonstração de um dos resultados deste produto, onde os

estudantes, questionados sobre as suas atitudes, se auto enxergassem, como foi

promovido pelo questionamento seguinte:

Patrícia: É que normalmente quando a gente faz uma coisa dessas, a gente nem percebe, a gente só faz, mas quando a gente vê o outro fazendo a gente aponta o dedo, então provavelmente, com certeza eu já fiz alguma coisa deste tipo, só que eu não sei citar, porque  eu não percebi.Jeison: Quem nunca foi corrupto uma vez na vida?

Nesse momento, os jovens refletiram e tornaram-se empáticos,

percebendo que também já vivenciaram atitudes que não os orgulharam e que, para

que a tolerância e a empatia sejam desenvolvidas, é necessário um processo de

maturidade e reflexão sobre suas atitudes diárias. Agora, de forma mais amena em

seus discursos, acreditamos que amenizaram suas falas porque conseguiram se

enxergar no contexto e não só julgaram uma situação longe de suas realidades, o

que entende-se que, ao refletir e colocar-se no lugar do outro, a forma de discurso

poderá mudar.

Dessa maneira, foi possível despertar nos estudantes um momento de

reflexão sobre suas atitudes, evitando, assim, que ocorra o mesmo que ocorreu com

Eichmann, que, segundo Hannah Arendt (1999), não era nenhum psicopata feliz

com o sofrimento alheio, mas sim um funcionário, agarrado a sua rotina e seguindo

ordens, acreditando ser inocente, pois sempre seguiu as exigências. Então, em sua

visão, era merecedor de elogios e não de julgamentos. Se não houver reflexão,

poderemos acender em nós as atitudes de Eichmann.

Após as dinâmicas, obteve-se alguns comentários dos estudantes, como

no caso a seguir, onde, ao término da dinâmica do balão e palito, eles refletiram da

seguinte maneira:

Coordenador: A caixa de bombons está aqui então. O que levou vocês a pensarem em entrar em um consenso?Elvira: Porque eu acho que todos passam por dificuldades sempre e a

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gente às vezes não sabe por que a pessoa tá quieta em um canto e diz “ai não me incomoda”, e a gente sabe que nem todo mundo, ou nada tá certo, então é como se o balão fosse o que a gente sente. Eu por exemplo tenho medo de machucar os outros porque eu não gosto que eles fizessem isso comigo e eu penso muito nos outros, daí tipo em fazer alguma coisa.Ronise: É, e eu acho que também se a gente tá de mau humor, isso não é motivo da gente descontar nas outras pessoas, por mais que tem dias que é complicado, mas a gente não tem que descontar nas outras pessoas porque a gente não iria gostar que fizessem com a gente, então a gente tem que pensar antes de agir.Arieli: Pensar antes de agir, bem como a gente conversou.Elvira: Porque se cada um tomar uma atitude diferente ia virar naquela bagunça e a gente não ia conseguir fazer nada, e conversando a gente sempre resolve mais fácil as coisas.

Reflete-se aqui Imbert (2001), que diz que a função do educador é

transgressora, ele não é o senhor do saber, nem o mestre da regularização, mas ele

precisa garantir o “aberto”, para que, desse modo, o sujeito consiga evoluir. O

educador tem por essência garantir a reflexão, desenvolver a ética e despertar o

pensamento crítico.

REFERÊNCIAS

ARENDT, H. Eichmann em Jerusalém. Tradução: José Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

DAMASCENO, Anderson. Escola Anísio Teixeira - Apesar da manutenção, estudantes ainda depredam patrimônio. Palestras e projeto criam diálogo com a comunidade escolar. Olhar do Alto, Marabá, 07 out. 2015. Disponível em: http://olhardoalto.blogspot.com/2015/10/escola-anisio-teixeira-apesar-da.html?m=1. Acesso em: 26 abr. 2019.

IMBERT, F. A questão da ética no campo educativo. Petrópolis: Vozes, 2001.

NUSSBAUM, M. C. Sem fins lucrativos: por que a democracia precisa das humanidades. Tradução: Fernando Santos. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2015.

SEM DIZER UMA PALAVRA, esse vídeo mostra bem os efeitos da corrupção. [S. l.: s. n.], 2017. 1 vídeo (2 min 32 s). Publicado pelo canal Arnon de Souza Vídeos do YouTube. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=11_wX3-oo_0&t=6s. Acesso em: 12 mai. 2019.

SESC NO TOCANTINS. Você sabe o que é voleiçol?? Muito divertido! É uma das provas do #CircuitoComerciario #Araguaina. Tocantins, 15 jun. 2013. Twitter: @SescTO. Disponível em: https://twitter.com/SescTO/status/345989718351163394. Acesso em: 10 abr. 2019.

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