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A conjuntura econômica fluminense durante o século XVIII e sua interdependência interna e externa Fábio Pesavento * André M. Marques ** RESUMO: O advento da descoberta do ouro, em fins do século XVII e início do XVIII transformou a economia colonial brasileira. Se antes as atividades econômicas estavam concentradas, grosso modo, no litoral brasileiro, a extração aurífera voltou as atenções da Coroa para o interior, mais precisamente para a região sudeste. Tentar mensurar essas importantes transformações foi o objetivo proposto no presente artigo. Para tal, duas séries econômicas foram construídas a fim de verificar o comportamento da conjuntura fluminense durante o dezoito. Ao lado de outros indicadores econômicos da região, os resultados mostraram uma interligação do Rio de Janeiro com a região mineira e com o mercado europeu respondendo positivamente tanto no apogeu do ouro como no seu declínio. Palavras chave: Rio de Janeiro, mercado de crédito, dízima da alfândega, século XVIII, mineração. Abstract: The advent of the discovery of gold in the late 17th and early 18th transformed the Brazilian colonial economy. If economic activities were previously concentrated, roughly, on the Brazilian coast, gold mining turned the Crown's attention to the interior, more precisely to the southeast region. Trying to measure these important transformations was the objective proposed in this article. To this end, two economic series were built in order to verify the behavior of the Rio de Janeiro situation during the eighteen. Along with other economic indicators in the region, the results showed an interconnection of Rio de Janeiro with the mining region and with the European market, responding positively both in the height of gold and in its decline.

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Page 1:  · Web viewA conjuntura econômica fluminense durante o século XVIII e sua interdependência interna e externaFábio Pesavento * André M. Marques ** RESUMO: O advento da descoberta

A conjuntura econômica fluminense durante o século XVIII e sua interdependência interna e externa

Fábio Pesavento*

André M. Marques**

RESUMO: O advento da descoberta do ouro, em fins do século XVII e início do XVIII transformou a economia colonial brasileira. Se antes as atividades econômicas estavam concentradas, grosso modo, no litoral brasileiro, a extração aurífera voltou as atenções da Coroa para o interior, mais precisamente para a região sudeste. Tentar mensurar essas importantes transformações foi o objetivo proposto no presente artigo. Para tal, duas séries econômicas foram construídas a fim de verificar o comportamento da conjuntura fluminense durante o dezoito. Ao lado de outros indicadores econômicos da região, os resultados mostraram uma interligação do Rio de Janeiro com a região mineira e com o mercado europeu respondendo positivamente tanto no apogeu do ouro como no seu declínio.

Palavras chave: Rio de Janeiro, mercado de crédito, dízima da alfândega, século XVIII, mineração.

Abstract: The advent of the discovery of gold in the late 17th and early 18th transformed the Brazilian colonial economy. If economic activities were previously concentrated, roughly, on the Brazilian coast, gold mining turned the Crown's attention to the interior, more precisely to the southeast region. Trying to measure these important transformations was the objective proposed in this article. To this end, two economic series were built in order to verify the behavior of the Rio de Janeiro situation during the eighteen. Along with other economic indicators in the region, the results showed an interconnection of Rio de Janeiro with the mining region and with the European market, responding positively both in the height of gold and in its decline.

Keys-Words: Rio de Janeiro, credit market, customs tithing, eighteenth century, mining.

JEL: N26, N36.

Área ANPEC: 3 – História Econômica

Professor Adjunto Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) – Porto Alegre. E-mail:[email protected]. Professor Associado. Pesquisador do CNPq. ORCID iD: 0000-0002-6762-8439. Universidade Federal da Paraíba. Programa de Pós-Graduação em Economia. E-mail: [email protected] .

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INTRODUÇÃO O advento da descoberta de metais preciosos em Minas Gerais em fins do XVII provocou uma reorientação da atenção da Coroa Portuguesa com a região sudeste. De imediato, dois movimentos foram verificados: o primeiro, a região sudeste virou o “locus” das preocupações lusitanas, incentivando o crescimento das ações da política portuguesa sobre a colônia. O segundo, foi o aumento significativo do fluxo de transações, pessoas, liquidez, conhecimento etc para aquela comarca. A consequência desses acontecimentos foi nítida: o aumento da importância do Rio de Janeiro no quadro colonial. Nesse sentido, não demorou para que a região sudeste se transformasse no centro jurídico, administrativo, cultural e econômico. Talvez, o fato que condensou essas alterações foi a transferência da capital do Vice-Reino de Salvador para o Rio de Janeiro em 1763.

Com o arrefecimento da extração aurífera, ocorrida durante a segunda metade do século XVIII, a desaceleração econômica foi verificada. Entre as soluções encontradas pela Coroa (em especial, durante o período Pombalino) tivemos o incentivo às exportações de novas culturas (como o anil). Impulsionado pela Revolução Industrial, o Brasil viu crescer suas exportações nas últimas décadas. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento de um mercado interno (estimulado durante a mineração) edificaram uma alternativa a crise. Neste sentido, as redes de negócio foram decisivas na medida em que interligaram a economia da região sudeste com outras partes do ultramar.

O debate no entorno destes acontecimentos é vasto e nem sempre navega na mesma direção no que diz respeito às consequências que o crescimento (depois queda) da produção aurífera trouxe para a dinâmica da economia do século XVIII. Para tentar mensurar como a conjuntura econômica fluminense respondeu aos referidos acontecimentos ao longo do século XVIII, duas perguntas foram elaboradas: (a) qual a relação entre a atividade econômica mineira e a do Rio de Janeiro e (b) qual a relação do Rio de Janeiro com o mercado internacional (transatlântico). Conforme afirmado anteriormente, o exame qualitativo é extenso, porém as evidências quantitativas e o emprego de exercícios estatísticos é raro na literatura que cerca o debate.

Em outra oportunidade (Pesavento, 2012), discutimos esse tema, porém empregando indicadores com valores nominais e limitados ao período 1750-1790. Agora, construímos séries econômicas que iniciam em 1727 e deflacionadas. Além disso, existe o debate sobre até que ponto o volume de crédito (utilizado em Pesavento, 2012) pode ser um indicador de conjuntura econômica daquele período (Carrara, 2020). Isso pode ser explicado, pois os valores obtidos nas escrituras de empréstimos nem sempre representavam um movimento de oferta e demanda por crédito, mas um empréstimo feito “debaixo da palavra” (informal) e não pago. Nesse caso, credor e devedor faziam uma escritura de empréstimo no cartório para formalizar o negócio, sugerindo um mercado informal maior e não registrado nas escrituras.

Incorporando essa crítica construímos duas séries que refletem a conjuntura da atividade econômica, sendo uma inédita (arrecadação da dízima da Alfândega do Rio de Janeiro) e outra, já disponível, a arrecadação com os dízimos e de entradas em Minas Gerais. Por fim, empregamos uma metodologia mais adequada às propriedades dos dados na construção das estimativas. O esforço aqui realizado possibilita a construção de novos argumentos para o debate colocado pela historiografia na medida que emprega uma metodologia de análise não

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convencional na literatura. O artigo foi dividido em três partes além dessa introdução, iniciando pela apresentação (breve) do contexto histórico e o debate historiográfico que o cerca. Em seguida, são apresentados os pormenores da construção dos indicadores empregados concluindo com um breve estudo cliométrico. 2. O Rio de Janeiro durante o século XVIII: um resumo do contexto e do debate O objetivo da presente seção é o de apresentar as circunstâncias que cercaram o desenvolvimento da região sudeste e apresentar o debate historiográfico sobre o período. Antes, uma observação importante, o recorte empregado aqui concentra o esforço de análise no Rio de Janeiro, contudo, as interligações com as outras regiões (como Sul, Centro-Oeste e Nordeste) são obvias, porém sem espaço, aqui, para aprofundar.

Até boa parte do século XVII, o Rio de Janeiro tinha um papel secundário na dinâmica econômica brasileira. Isso pode ser explicado diante da importância que o nordeste desempenhava uma vez que a principal atividade (o açúcar) estava concentrada naquela região. Por outro lado, os desdobramentos da União Ibérica (1580-1640) acabaram permitindo a chegada dos holandeses no epicentro econômico do Brasil. Nesse sentido, a ocupação de Pernambuco (1630-1654) incentivou a Coroa a procurar alternativas econômicas em outras regiões da América Portuguesa. Além de estimular a produção açucareira em outras Capitanias, colaborou para a migração de senhores de engenho de Pernambuco para o Rio de Janeiro, levando ao aumento do número de engenhos e produção de açúcar naquele espaço (Melo, 1998). Antes disso, o Rio de Janeiro já produzia alimentos (milho, mandioca, etc) para o abastecimento do mercado interno (Pesavento, Almeida; 2020).

Outro ponto importante para entender o crescimento da importância do Rio de Janeiro ao longo do XVII foi a fundação de Colônia de Sacramento1 em 1680. Naquela oportunidade, “o comércio com os escravos vindos da África e trocados no Prata por farinha de mandioca, cachaça (produzidos no Rio de Janeiro) e fumo baiano representava uma importante rota comercial.” (Pesavento, 2009). Porém, o descobrimento do ouro em Minas Gerais, em fins do XVII, foi o evento que catapultou o sudeste como principal locus da colônia. Não são, apenas, os desdobramentos políticos e econômicos que o ouro proporcionou para a economia colonial que explicam o crescimento que a região sudeste atingiu no período, mas também as especificidades que a extração de metais tinha e que auxiliaram no aparecimento de outras atividades no Brasil.

Diferentemente do açúcar, a extração aurífera apresentava baixas barreiras à entrada na medida em que não existia a necessidade de um aporte significativo de recursos (mão-de-obra, bens de capital, etc) especialmente quando comparamos com os investimentos exigidos pelo açúcar. Nesse sentido, era mais fácil para os agentes ingressarem na extração de ouro, ainda mais observando as escassas opções de atividades econômicas disponíveis naquela época (pecuária, agricultura de subsistência/abastecimento). Cabe lembrar, que o investimento inicial que demandava a produção açucareira, impossibilitava o ingresso para a maioria da população daquele período. Portanto, a atividade mineradora representava uma esperança de profunda mudança na qualidade de vida dos indivíduos, construindo um imaginário de redenção e eldorado que levou milhares a se deslocarem para Minas Gerais.

11 Sobre as relações entre o Rio de Janeiro e a Colônia de Sacramento durante os séculos XVII, XVIII e XIX ver Basso (2019); Kuhn (2017), Prado (2015); Hollmann (2018); Canabrava, (1984).

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Outra característica envolvida no processo de extração era a exclusividade no regime de trabalho. No momento em que iniciava a procura pelo metal, o minerador sabia que seu envolvimento seria quase que integral. Assim, o custo de oportunidade envolvido na operação era elevado, pois caso quisesse produzir seu alimento ou realizar outra atividade de subsistência deveria abrir mão de procurar o metal. Nesse sentido, ocorreu não apenas um exponencial crescimento demográfico na região, mas também a construção de um sistema de transporte e de atividades de abastecimento para atender as novas demandas. Por fim, o relevo da região (montanhoso) obrigou ao emprego de animais em grande escala construindo uma série de circunstâncias que favoreceram a criação de uma interligação inédita entre a região de extração com outras regiões da colônia como o sul, centro-oeste e nordeste. Em função dessas características, Furtado (1998) afirma, sem dados primários, que a atividade aurífera terá uma renda média menor que a açucareira (em função do seu ciclo ser mais curto que o do açúcar), porém tinha uma dimensão maior (justificadas pelas interligações com o mercado interno que a mineração inaugurou). Além disso, afirma que a renda era melhor distribuída da região mineira quando comparada ao nordeste brasileiro.

Grosso modo, a historiografia não diverge sobre os impactos positivos que a extração aurífera trouxe para o sudeste. Contudo, o debate que cerca os acontecimentos quando da queda da extração de metais, ao longo da segunda metade do XVIII, são intensos. Como esse tema já foi amplamente explorado, podemos resumir a celeuma da seguinte maneira2. De um lado, estão os argumentos de Daurel Alden e Celso Furtado e, do outro, João Fragoso e Manolo Florentino.

Para Celso Furtado, a redução da extração de ouro significou uma depressão econômica, uma vez que representou o crescimento do setor de subsistência. Além disso, ocorreu um retorno gradual para as atividades tradicionais, como a agricultura de exportação. Esse processo Caio Prado Júnior chamou de renascimento agrícola. Sem a opção de minerar, os agentes econômicos migraram para um regime que não produz excedente (regime de subsistência). Portanto, além dos impactos que a redução da extração significou para vários setores da economia colonial, tivemos os impactos do crescimento de um setor deslocado dos grandes centros econômicos e que não visavam realizar trocas no mercado. Para esses autores, a economia brasileira só vai se recuperar no início do século XIX.

Em outro polo, estão os argumentos de Fragoso e Florentino, apontando para o crescimento de atividades voltadas para o mercado interno (as quais foram desenvolvidas durante a mineração) sugerindo não uma crise, mas uma nova maneira de produzir no qual o mercado interno (e não o externo) dita boa parte da dinâmica econômica da economia do século XVIII. O livro Arcaísmo como Projeto, síntese das suas teses, parte pela construção de uma ampla base documental primária (em especial o emprego de inventários post-modem e escrituras públicas de compra e venda). Tendo como base um conjunto (inédito) de indicadores da economia do Rio de Janeiro, os referidos autores apontam para a existência de uma estrutura de produção o qual “gera os seus mercados de homens e alimentos, o que, por sua vez, viabiliza a aparição de circuitos internos de acumulação para além das trocas com a Europa” (Fragoso & Florentino, 2001: 19). Por esse ponto de vista, a economia do Rio de Janeiro não atravessaria um renascimento agrícola, muito menos uma crise pós “ciclo do ouro”, uma vez 2 Ver o resumo desse debate em (Pesavento; Almeida, 2020).

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que a produção carioca já estava voltada para atender o mercado interno. Esse trabalho teve segmento para outros períodos e regiões como, por exemplo, as teses de doutoramento de Júnia Furtado e de Antônio Carlos Jucá de Sampaio. (Pesavento, 2012)

Um ponto intermediário neste debate foi construído na tese de doutoramento de (Pesavento, 2009). Para o autor, a economia fluminense não atravessou uma depressão, muito menos não foi impactada pela crise aurífera. Empregando mais de 6.500 escrituras públicas de compra e venda para o termo da cidade do Rio de Janeiro, a tese revelou que a economia do Rio de Janeiro sentiu o impacto da crise (em especial durante a década de 1760) se recuperando nas décadas seguintes. Esse estudo não está isolado, mas sim interligado com uma série de pesquisas, que tiveram o seu início na abertura do século XXI, que empregaram uma ampla pesquisa documental, além de diluir seu campo de análise, incorporando muito dos chamados aspectos “extra-econômicos” (Pesavento, 2012). Visto o diálogo no que diz respeito à revisão historiográfica, parte-se para a análise quantitativa.

3. OS DADOS PRIMÁRIOS EMPREGADOSO objetivo da presente seção é o de apresentar as fontes primárias empregadas na construção das séries econômicas elaboradas para avaliar a conjuntura econômica do Rio de Janeiro ao longo do século XVIII. Como apontado na introdução, existe uma crítica ao emprego do volume de crédito do termo da cidade do Rio de Janeiro como um indicador de atividade econômica. Isso é explicado, em função da especificidade do mercado de crédito colonial. De todo modo, não vamos eliminar essa variável, apenas empregá-la como variável de controle.

Para contornar esse problema, empregamos outra série econômica para avaliar a atividade econômica fluminense, a arrecadação da dízima da alfândega no porto da mesma cidade. A movimentação portuária (capturada via arrecadação da dízima) reflete o desempenho econômico do principal locus econômico (porto) e o meio de transporte e de comunicação mais empregados naquele período (navegação).

Além do volume de crédito e da arrecadação da dízima da Alfândega do Rio de Janeiro empregamos dois indicadores de atividade econômica de Minas Gerais: a arrecadação do dízimo e das entradas de Minas (Maxwell, 1973) e o preço dos escravos (Bergad, 2004). Como são séries econômicas elaboradas com ampla documentação primária além de serem amplamente empregadas pela comunidade acadêmica, não vamos apresentá-las por limite de páginas. O mesmo foi feito com o preço internacional do açúcar3, portanto sem a necessidade de uma apresentação pormenorizada. Por fim, o tamanho da população (de Minas e do Rio de Janeiro) precisou ser estimada a fim de obtermos variáveis per capita.

2.1 O créditoDe uma maneira geral, as fontes primárias mais empregadas para o estudo do crédito no século 18 no Rio de Janeiro são as escrituras públicas, os inventários e a documentação do Juízo dos Órfãos (Sampaio, 2014; Fragoso, 1998; Pesavento, 2018; Guimarães; Saraiva, 2019). Esta documentação se destaca, pois apresenta volume suficiente (em especial escrituras e inventários) para cobrir um período longo de análise. Infelizmente, por limitação de tempo e diante do volume de escrituras analisadas, não se avançou sobre a documentação do Juízo o que se realizará em trabalhos futuros. Com respeito aos inventários, o período 1750-1790 3 Disponível em Paiva (2016).

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dispõe de apenas de 92 inventários concentrados no final da década de 1780. Em função disso, as escrituras públicas de empréstimo (designadas de dinheiro a razão de juros ou dívida e obrigação) são uma base importante para estudar a economia da época.

Em estudo anterior (Pesavento, 2009), foram digitalizadas mais de 6.500 escrituras públicas depositadas no Arquivo Nacional (AN) envolvendo o termo da cidade do Rio de Janeiro entre 1750 e 1790. Destas, 5.329 puderam ser analisadas e 2.503 tiveram seus valores reconhecidos. Em Pesavento, (2009) e (2013) os anos de 1784, 1785 e 1786 não puderam ser analisados. Felizmente, no presente trabalho, o acesso as escrituras que faltavam foi alcançado. Foram 750 escrituras de crédito catalogadas entre 1750 a 1790, sendo 707 com valores reconhecidos as quais totalizaram mais 620 contos de Réis (Pesavento, 2015). Para completar a série (primeira metade do XVIII) foram empregadas as escrituras públicas de empréstimo trabalhadas por Antonio Carlos Jucá de Sampaio (Sampaio, 2003). Um resumo do número de escrituras por década/período está disposto no gráfico abaixo.

Gráfico 1 – Número total de escrituras de empréstimo no Rio de Janeiro: 1711-1790 Fonte: Sampaio (2003); Arquivo Nacional, escrituras públicas depositadas no 1º, 2º e 4º Ofício de Notas. Elaboração própria.

Como pode ser observado, o número de escrituras está concentrado nas décadas de 1770 e 1780. Isto pode ser explicado, pois alguns livros do 2º Ofício de Notas do AN não estão disponíveis, ou estão em estado precário como os das décadas de 1710 a 1750. O mesmo se dá com os livros de notas do 1º e 4º Ofícios. Por exemplo, o ano de 1758 não foi encontrado nenhuma escritura pública. Assim, por vezes, o número de escrituras cai não em função do desaquecimento da economia, mas sim em função da perda/falta de escrituras no período. Apesar disto, acredita-se que a amostra seja razoável, pois o banco de dados reunido atingiu mais de 1.100 escrituras públicas de empréstimo.

Os valores anuais dos empréstimos concedidos no Rio de Janeiro foram calculados tendo como base o valor anual total (em Réis) das escrituras de empréstimo dividida pela quantidade de escrituras também por ano. Portanto, os valores são médias anuais. Para deflacionar os dados, empregamos o preço da prata em Réis4.

4 Os dados do preço da grama da prata (em Réis) está disponível em http://pwr-portugal.ics.ul.pt/.

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Gráfico 2 – Valor anual das escrituras de empréstimo no Rio de Janeiro: 1727-1790 (em escala logarítmica)Fonte: Sampaio (2003); Arquivo Nacional, escrituras públicas depositadas no 1º, 2º e 4º Ofício de Notas. Elaboração própria.

Não pretendemos analisar a conjuntura econômica do Rio de Janeiro através do comportamento do gráfico acima, em função das limitações já mencionadas do indicador. Além disso, existem outras limitações quando se analisa o comportamento da variável através da simples observação dos valores dispostos no gráfico. O objetivo é estudar a relação de longo prazo entre as variáveis e não o desempenho isolado de uma variável.

A série construída acima revela que o período colonial brasileiro, além de ser pouco estudado, apresenta poucas informações quantitativas continuadas. As existentes são fruto de trabalhos acadêmicos que emergiram a partir da análise de documentação inédita. Aqui não é diferente. Mesmo assim, muitas observações devem ser destacadas em função de inúmeros aspectos informais que a economia colonial estava envolvida.

Um exemplo dessa informalidade está no requerimento de 10 de julho de 1773 de João Rodrigues de Brito e sua mulher Antônia Maria de Jesus. No documento João Rodrigues solicita uma “provisão de direito comum para cobrarem uma dívida, fazendo valer os seus direitos, visto terem emprestado dinheiro a Nicolau Viegas de Proença, sem terem feito uma escritura do dito empréstimo.” (grifos nossos, AHU, Avulsos RJ, cx.96, doc.8263) Outro exemplo de maio de 1775, quando “Antônio Alves de Oliveira solicita ao rei provisão para comprovar, visto não ter escritura pública, que no ano de 1758 vendeu ao capitão Bento Leite de Andrade catorze escravos para serem pagos a crédito, dívida que ainda não foi saldada pelos herdeiros do falecido capitão.” (grifos nossos, AHU, Avulsos RJ, cx.98, doc.8433) Assim, além da informalidade podemos encontrar uma escritura de empréstimo que foi feita não em função de um empréstimo, mas por conta de uma venda (que não tinha sido paga).

Nesse sentido, a documentação de crédito analisada revela que era prática comum o empréstimo feito “debaixo da palavra” e, quando não pago pelo devedor, o emprego das vias formais para rever o principal. Muitas das escrituras de empréstimo analisadas apresentam esta característica, qual seja, a dívida era anterior a formalização da escritura (Pesavento,

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2015). Nesse sentido, o mercado informal pode ter sido maior e os valores coletados aqui devem ser analisados como uma amostra. Portanto, a análise da conjuntura econômica tendo como base os dados do crédito concedido deve ser vista com cautela. Em função disso, o crédito foi empregado apenas como variável de controle no modelo especificado (ver seção seguinte).

Assim, a presença da informalidade, como a prática recorrente da venda fiada, novamente revela um cenário turvo, tornando a análise mais dificultosa. Outro ponto importante para entender a carência de documentos que envolve o mercado de crédito era a taxa de juros fixada “por lei”. Caso o credor quisesse cobrar juros acima do estabelecido pela Coroa, ele poderia sofrer punições, assim como o tabelião que lavrasse a escritura (como ser deportado para Angola). Logo, teria que ser uma transação informal para cobrar juros além do permitido, o que, obviamente, não deixa prova documental. Apesar disso, era prática dos homens de negócios da praça do Rio de Janeiro cobrarem juros de 1% ao mês (Pesavento, 2015; Pesavento, 2018). Antes de visualizar o desempenho do volume de crédito, passa-se para a apresentação da dízima da alfândega recolhida no porto do Rio de Janeiro.

2.2 A dízima da AlfândegaOs contratos régios configuravam uma prática recorrente da Coroa para fins arrecadatórios. Na falta de infraestrutura administrativa, capital humano etc a administração portuguesa transferia a exploração de atividades econômicas (pesca de baleias), comércio (sal), cobrança de direitos (dízimo), tributos (registro de passagens) e rendimentos reais mediante contrato para terceiros (chamados contratadores). Tal prática remonta, no caso de Portugal, aos primeiros tempos da monarquia (Pesavento; Guimarães; 2013).

Os contratos eram arrematados por um período de tempo de três anos (média) e o estado recebia antecipadamente o preço pago pelo contrato. Em troca, os contratadores arrendatários podiam exercer o monopólio na arrecadação ou atividade econômica. No século XVII e, principalmente, no XVIII, os negociantes de grosso (homens de negócios) monopolizavam as arrematações de contratos régios na praça de Lisboa. Tratava-se de um corpo mercantil altamente capitalizado e com procuradores tanto dentro como fora do império ultramarino português. Ser contratador significava estar no topo da hierarquia mercantil.

Geralmente, os contratadores tinham lucro, mas nem sempre. Muitas vezes, a administração do contrato era, depois de arrematado, passada para terceiros (através de procuração). Quando o outorgado não realizava de maneira “eficiente” a administração da cobrança (leia-se fraudulenta) ou mesmo em função de uma queda da atividade econômica, os contratadores acabavam com prejuízo.

O contrato da dízima da alfândega tinha a duração (direito de cobrar a dízima) por três anos para quem o arrematasse. Na lista de contratadores do referido documento figuram grandes negociantes (como Anacleto Elias da Fonseca). Esses estabeleciam seus negócios através de uma rede de procuradores em diferentes partes do império ultramarino português e fora dele (Pesavento, 2013). As distâncias envolvidas e dificuldade de obter informações/comunicação tornava a confiança um fator importante na consolidação dos negócios além mar. Nesse sentido, ela foi o eixo que sustentou o funcionamento das operações transatlânticas (Pesavento; Prado, 2009). Como o próprio nome sugere, a dízima era o valor de 10% cobrado

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sobre as fazendas que desembarcavam nos portos da colônia. A instituição do referido imposto foi, num primeiro momento, feita pela Câmara do Rio de Janeiro. Depois da invasão francesa, no início do XVIII, passou a ser administrado pela metrópole.

Um aspecto importante quando os contratos régios são estudados é a diferença entre a arrecadação do imposto, taxa etc e o preço pago pelo contrato. Aqui, os dados coletados fazem referência à arrecadação com a dízima e não ao preço que o contrato foi arrematado. Esse valor era fixo e alterado a cada três anos já o valor da arrecadação da dízima era explicada em função da dinâmica que a cobrança da dízima representa. Nesse sentido, os seus valores ficavam muito próximos ao que acontecia com o nível de atividade econômica na medida em que quanto maior as transações na Alfândega do Rio de Janeiro, provavelmente, maior a dinâmica da econômica local. Assim, a arrecadação da dízima da alfândega parece ser um indicador mais confiável das oscilações econômicas transcorridas durante o XVIII, especialmente por ser o principal tributo cobrado na colônia, conforme aponta o gráfico 3, mas também como sugere a literatura que investiga o tema (Fernandes, 2019). O mesmo raciocínio pode ser feito com a arrecadação dos dízimos e de entradas em Minas Gerais. Como no caso dos valores dos empréstimos, os dados originais estão em Réis. Esses valores foram convertidos em gramas de prata e, posteriormente, dispostos em escala logarítmica. Abaixo os valores anuais da arrecadação da dízima da alfândega do Rio de Janeiro.

Gráfico 3 – Valor anual da arrecadação da dízima da alfândega do Rio de Janeiro: 1727-1790 (em escala logarítmica)Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino, projeto resgate Rio de Janeiro, doc. 1139, cx.10 e 11, doc.1429, cx.13, doc. 2092, cx.18, doc. 2316, cx.21, doc. 2488, cx.23, doc.2699, cx.25, doc.2775, cx.26, 27 e 28, doc. 3286, cx.31, doc.3656, cx.35, doc.3882, cx.37, doc.5492, cx.56, doc.6246, cx.66 e Arquivo Nacional do Tribunal de Contas, livro 4057 e 4042. Para os anos faltantes, realizamos média aritmética. Elaboração própria.

Um ponto importante na construção desta série foi o fato da criação “tardia”, durante a administração pombalina, do Erário Régio (1761). Assim, os dados anteriores à década de 1760 devem ser analisados com muito cuidado, pois seu registro nem sempre fazia a diferenciação entre a arrecadação e o preço pago pelo direito de cobrar a dízima (preço do contrato). Apesar disso, as informações recolhidas para montar a série da dízima da alfândega do Rio de Janeiro são de fontes primárias que sempre faziam referência à arrecadação e não ao preço pago pelo contratador pelo contrato. O gráfico abaixo ilustra a importância que a

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arrecadação da dízima da alfândega do Rio de Janeiro tinha frente aos demais contratos que também eram cobrados na mesma praça.

Gráfico 3 – Arrecadação, por contrato, no Rio de Janeiro no ano de 1763Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino, resgate Rio de Janeiro, doc.7451, cx. 84. Elaboração própria.

Ao lado do gráfico acima, em ofício de julho de 1759, o então governador do Rio de Janeiro e Minas Gerais (Gomes Freire de Andrade) destaca a importância da dízima da alfândega para os cofres locais, representando mais de 50% da arrecadação (AHU, Resgate Rio de Janeiro, doc.5492, cx.56). Em seguida, segue uma estimativa sobre o tamanho da população tanto no Rio de Janeiro como em Minas Gerais.

2.3 Estimativa da população do Rio de Janeiro e de Minas Gerais5

A fim de obtermos uma avaliação mais precisa da relação entre as variáveis, construímos uma estimativa para o tamanho da população (número de pessoas) do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Com isso, podemos utilizar as variáveis em nível. Infelizmente, existem poucos registros sobre o número de pessoas das referidas regiões. Além disso, as pessoas preferiam não serem registradas, pois tinham receio de “pagar mais impostos” e de serem relacionadas para o recrutamento militar.

Por fim, a literatura que permeia o debate sobre o tamanho da população no Brasil colonial apresenta números díspares, em especial para o Rio de Janeiro. Por exemplo, os trabalhos de Cavalcanti (2004) e Venâncio (2013) apresentam um número de habitantes menor que a documentação empregada neste trabalho. Aqui, a opção foi a de seguir os dados que as fontes primárias encontradas apontavam para o número de pessoas na região. Por fim, não foram empregadas informações dos depoimentos de viajantes que passaram pelo Brasil em função da imprecisão/conflito dos dados.

5 Sobre a população no Brasil colonial ver: Carrara (2014), Botelho (2015), Botelho (2000), Alden (1963), Matos (2017), Stumpf (2017), Revista Anais de História de Além-Mar, vol. XVI (2015) e o site http://colonialpopulations.fcsh.unl.pt/ (agradeço ao professor Tiago Gil (UnB) pela indicação do site).

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Portanto, o ponto de partida foi a consulta a documentação primária de diferentes arquivos históricos. A primeira estimativa analisada sobre a população foi o documento “notícias do bispado do Rio de Janeiro6” datado de 1687. Naquela oportunidade, a região contava com, aproximadamente, 23 a 24 mil pessoas (sendo 20.000 escravos). O segundo documento empregado para fazer a estimativa foi os dados do relatório do Lavradio7. Com base nesse documento e em diferentes estudos sobre o tamanho da população brasileira, Botelho (2015) conclui que a população do Rio de Janeiro em 1780 é de 216.319 pessoas.

A partir das informações sobre o número de indivíduos no Rio de Janeiro em 1687 e 1780, construímos uma estimativa de crescimento anual da população no valor de 2,39%8 para o período 1727 a 1790. Já para Minas Gerais, a metodologia da taxa de crescimento anual da população foi diferente. Tendo como base os trabalhos de Alden (1963), Botelho (2015) e (2000), a taxa calculada foi de 2,35% entre 1727 a 1776 e de 0,18% entre 1777 a 1790. Isso é justificado a fim de repercutir a redução da população que a região de Minas experimentará por conta da crise aurífera. Os resultados das estimativas estão dispostos no gráfico abaixo.

Gráfico 4 – Estimativa anual do número de pessoas para o Rio de Janeiro e Minas Gerais: 1727-1790Fonte: Dados estimados conforme apresentado no texto. Elaboração própria.

Com base nas informações quantitativas apresentadas nesta seção, podemos avançar na análise sobre a conjuntura econômica do Rio de Janeiro de maneira mais precisa. Isso será realizado na próxima seção do artigo.

4. ENFIM A CONJUNTURA ATLÂNTICA: ANÁLISE E CLIOMETRIAO objetivo da presente seção é o de analisar a conjuntura econômica do período e da região. Com isso, o debate sobre o tema pode prosseguir, pois novas séries econômicas foram construídas tendo como base ampla documentação primária. A suposição é de que o nível de

6 Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro. Notícias do Bispado do Rio de Janeiro no ano de 1687. Séria Visita Pastoral, VP38. 7 Relatório do marquês de Lavradio, vice-rei do Rio de Janeiro entregando o governo a Luís de Vasconcelos e Sousa... Revista do IHGB, Tomo IV, p. 409-486, 1842.8 Em termos técnicos, para se obter a taxa de crescimento (r), subtrai-se 1 da raiz enésima do quociente entre a população final (Pt) e a população no começo do período considerado (P0), multiplicando-se o resultado por 100, sendo "n" igual ao número de anos no período. r=[ ( n√ Pt / Po )−1 ] x 100.

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atividade da economia do Rio de Janeiro é parcialmente explicado pelo nível de atividade de Minas Gerais e existe uma ligação com a economia internacional. Esta é a hipótese do trabalho. Para verificar a validade dessa suposição, conforme apresentado na seção anterior, selecionamos as seguintes variáveis para a realização das estimativas:

1. Preço dos escravos em Minas Gerais (pslave)2. Preço do açúcar em Amsterdã (psugam) 3. Arrecadação dos dízimos e entradas para Minas Gerais per capita (taxmgpc)4. Arrecadação da dízima da alfândega do Rio de Janeiro per capita (taxriopc)5. Volume de crédito per capita no Rio de Janeiro (credriopc)

Originalmente, os dados estavam em Réis e foram convertidos para gramas de prata e posteriormente em logaritmo, portanto estão deflacionados. Todas as variáveis são do período entre 1727 a 1790, pois apanham tanto o apogeu como o declínio da extração aurífera. Assim, os dados são anuais, correspondendo a 64 anos de observações. Novamente, a variável (taxriopc) foi a escolhida para mensurar o nível de atividade econômica do Rio de Janeiro. Considerando essa variável e a arrecadação de Minas Gerais como proxy para avaliar a conjuntura econômica da região, podemos observar, pelo gráfico abaixo, que ela não consegue retomar o patamar pré-crise do ouro sugerindo um impacto importante sobre a atividade econômica da região.

Gráfico 5 – Arrecadação de impostos per capita do Rio de Janeiro e de Minas Gerais: 1727-1790 (em logaritmo)Fonte: Para Minas Gerais, Maxwell (1973) e para o Rio de Janeiro ver o gráfico 2. Elaboração própria.

Para avaliar esse movimento de maneira mais robusta, a análise subsequente requer que as variáveis não tenham sofrido mudança estrutural significativa ao longo dos anos analisados: 1727 – 1790. Para testar essa suposição foi utilizado o teste para ausência de até duas quebras estruturais em datas desconhecidas, sugerido por Chu et al. (1995). Os resultados do teste estão dispostos na Tabela 1. O modelo utilizado é um AR(1), conforme recomendado por Ferreira et al. (2018).

Variável Estatística MELog(taxriopc) 1,1464

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(0,2131)Log(taxmgpc) 0,91551

(0,3716)Log(credriopc) 0,75762

(0,4800)Log(psugam) 1,1185

(0,2323)Log(pslave) 0,50386

(0,6542)Tabela 1: Teste para mudanças estruturais – Resultados.Nota: p-valor entre parênteses. Elaboração própria.

Os resultados apresentados na tabela 1 permitem concluir que não há evidência de qualquer mudança estatisticamente significativa que indique mudança estrutural na trajetória das variáveis analisadas. Em todos os casos o p-valor do teste é maior do que 10%, levando à não rejeição da hipótese nula.

O próximo passo é testar as variáveis quanto à ordem de integração, isto é, é preciso decidir se são variáveis integradas de ordem 1 ou 0. Os resultados da aplicação do teste ADF com o critério AIC modificado, recomendado por Ng e Perron (2001), são apresentados na Tabela 2:Variável taxmgpc taxriopc credriopc psugam pslaveNível -0,3989

(0,9021)-1,230892(0,6554)

-2,0150(0,2798)

-1,29976(0,6241)

-2,0799(0,2533)

Primeira Diferença

-3,8017***(0,0049)

-14,5072***(0,0000)

-13,4968***(0,0000)

-5,2477***(0,0000)

-12,5064***(0,0000)

Tabela 2: Resultados do teste ADF (MAIC)Nota: p-valor do teste entre parênteses. Foram usadas 4 defasagens como limite máximo. (*), (**) e (***) indicam significância estatística a 10%, 5% e 1%, respectivamente.

Para o nível de todas as variáveis, a hipótese de raiz unitária não pode ser rejeitada a 5% ou 10% de significância. Porém, na primeira diferença a hipótese nula é rejeitada a 1% de significância em todos os casos. Portanto, conclui-se que todas as variáveis utilizadas podem ser consideradas integradas de ordem 1 (não estacionárias). Com esse resultado, conclui-se que existe uma potencial relação estável de longo prazo entre elas.

O passo seguinte consistiu em aplicar o teste de cointegração de Johansen (autovalor) para testar se as variáveis apresentam pelo menos uma relação estável de longo prazo. Os resultados da aplicação do teste de Johansen são mostrados na Tabela 3 a seguir.

Hipótese nula Hipótese alternativa

Estatística Valor crítico (5%)

Valor crítico (10%)

r=0 r>0 44,83** 33,32 30,84

r ≤1 r>1 28,03** 27,14 24,78

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Tabela 3: Resultados do teste de cointegração de JohansenNota: foram usadas 2 defasagens como limite máximo. (**) indica significância estatística a 5%.

A hipótese de não cointegração é rejeitada a 5% significância. Portanto, é possível concluir que existe pelo menos uma relação estável de longo prazo entre as variáveis consideradas. No presente estudo, a expectativa é de que tanto a atividade econômica na região de mineração quanto os preços internacionais do açúcar e dos escravos exerçam efeito positivo e significativo sobre o nível de atividade econômica do Rio de Janeiro. Com base nessa suposição, propõe-se o seguinte modelo de regressão cointegrante:

log( taxriopc)=γ +δ log(taxmgpc)+θX+ε (1)

em que o nível de atividade econômica do Rio de Janeiro (taxriopc) depende do nível de atividade em Minas Gerais (taxmgpc) e de variáveis exógenas X, como o crédito per capita (credriopc), o preço do açúcar em Amsterdã (psugam) e o preço dos escravos (pslave). Essas duas últimas variáveis expressam o comportamento do contexto da economia internacional. Como as variáveis apresentam uma relação estável de longo prazo, espera-se que o termo de erro ε seja estacionário. Esta suposição é confirmada pelos resultados apresentados na Tabela 4 a seguir.

A primeira observação em relação à equação (1) é de que é muito provável que ocorra simultaneidade (recíproca influência) entre o nível de atividade em Minas Gerais e o nível de atividade no Rio de Janeiro, já que existe uma interação doméstica (geográfica) entre as duas regiões. Esta característica da economia gera uma correlação entre o termo de erro e a explicativa. Nesse caso, a estimativa por Mínimos Quadrados Ordinários da equação (1) será viesada e inconsistente na presença dessa simultaneidade (endogeneidade) (Wooldridge, 2013; Stock e Watson, 2015). Em resumo, por causa da relação de simultaneidade entre o crédito, a atividade econômica em Minas Gerais e a atividade econômica no Rio de Janeiro, o estimador tradicional de MQO resultaria em viés e inconsistência. Além disso, como as variáveis são integradas de ordem 1, a estatística t-calculada por MQO não poderia ser usada para inferência (ver as referências em Vogelsang e Wagner, 2014).

Diante dessas características dos dados, para obter uma estimativa não viesada e consistente para os parâmetros da equação (1), foi utilizado um método de estimação para regressão cointegrante com variáveis instrumentais. Este método gera estimativas que são robustas à endogeneidade (simultaneidade) e autocorrelação serial, características geralmente presentes em dados de séries temporais. Os resultados apresentados a seguir foram obtidos por Mínimos Quadrados Integrados Modificados (IM-OLS), estimador introduzido recentemente por Vogelsang e Wagner (2014). Os resultados da estimação para a equação (1) estão dispostos abaixo.

Variável Com constante Com constante e tendência

Constante -6,59093**(-2,5545)

-8,9659***(-2,8741)

Tendência-----

0,0208**(1,9988)

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log(taxmgpc) 0,63459*(1,7349)

0,9530***(2,9070)

log(credriopc) 0,30532(1,4818)

0,4423*(1,9518)

log(psugam) 1,45256**(2,4559)

1,0351*(1,8181)

log(pslave) 0,67327**(2,4344)

0,8714**(2,6283)

Bandwidth ("Andrews") 5,7911 5,8270Teste ADF MAIC (resíduos)

-5,5598*** -5,4175***

Nº de observações 64 64Tabela 4: Estimativa por IM-OLS – Resultados. Dependente: log(taxriopc).Nota: estatística t entre parênteses. (*), (**) e (***) indicam significância estatística a 10%, 5% e 1%, respectivamente.

Os resultados do teste ADF (MAIC) aplicado sobre os resíduos da regressão cointegrante indicam que o modelo está bem ajustado: os resíduos podem ser considerados estacionários, a 1% de significância, conforme se espera teoricamente.

Mesmo quando a simultaneidade da atividade em Minas Gerais com a atividade do Rio de Janeiro é explicitamente reconhecida na estimação dos parâmetros, a economia internacional exerce efeito positivo e significativo sobre a atividade econômica da região: em particular, observa-se um efeito positivo e significativo do preço do açúcar em Amsterdã. Grosso modo, quando o crédito, o preço do açúcar, dos escravos e a arrecadação mineira aumentam, a atividade econômica no Rio de Janeiro também cresce.

Entre as duas especificações, o modelo com constante e tendência é o mais adequado em face da significância estatística ao nível de 5% do coeficiente da tendência. Por isso, o modelo completo indica que existe um efeito positivo significativo, de longo prazo, entre a atividade econômica do Rio de Janeiro, a atividade mineradora, a expansão do crédito e a economia internacional.

O resultado encontrado para o preço do açúcar neste trabalho destoa de (Pesavento, 2012). Naquela oportunidade, o resultado da estimativa para o preço internacional do açúcar foi negativo. O sinal inesperado pode estar associado ao método de estimação e sua inadequação às características dos dados. Neste estudo, o coeficiente foi obtido através de estimador consistente e sem viés, evidenciando coerência com o papel que o açúcar exerceu para a economia fluminense. Este resultado é evidência da influência significativa e positiva do setor externo sobre a dinâmica local. Em síntese, o resultado encontrado indica a existência de uma interdependência entre o mercado interno e a economia internacional em consonância com uma característica importante do Rio de Janeiro do século XVIII: o seu caráter transimperial (Bohorquez, 2020; Prado, 2015, Pesavento, 2013).

Por fim, em termos de dinâmica da atividade mineradora sobre a economia carioca, à luz dos resultados encontrados, podemos afirmar que o efeito positivo deve ser entendido tanto no apogeu da extração do ouro, como no seu declínio. Caso o resultado do coeficiente estimado

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fosse negativo, o efeito seria anticíclico, o que os resultados não sugerem. Para futuros trabalhos, buscando aprofundar a análise quantitativa realizada aqui, um teste de causalidade de Granger poderá auxiliar na interpretação da economia colonial brasileira. Isso será realizado no próximo artigo.

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