vygotsky - uma perspectiva histórico-cultural da educação (rego)

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    COLEO: EDUCAO E CONHECIMENTOCoOrdenador: Antnio Joaqu im SeverinoJohn Dewey: Uma filosofia para educadores em salade aula

    Marcus Vinicius d unhaVygotsky: A aprendizagem no processoscio-histrico

    eresa Cristina ego

    Dados Intemacfonals de Catalogao na Publicao (CIP){Cmara Brasileira do Livro. SP. BrasilRego, Teresa Cristina

    Vygotsky : uma perspectiva histrico-cultural da educao I Teresa Cristina Rego. Petrpolis, RJ : Vozes, 1995. -Educao e conhecimento)

    Biblioqrafia.ISBN 85.326.1345-4

    1 Administrao de servios 2 Clientes- Contatos3. Consumidores- Satisfao 4. Servio ao cliente 5 SucessoI. Ttulo. U Srie.94-4445 CDD-658-8 2

    ndices para catlogo sistemtico:1. Servios aos clientes : Administrao de empresas

    658 812

    Teresa Cristin a Rego

    VY OTSKYUma perspectivahistrico-culturalda educao

    Petrpolis1995

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    1994, Editora Vozes Ltda.Rua Frei Lus, I 0025689-900 Petrpolis, RJBrasil

    FICHA TCN CACOQRDENI\O EDITORIAL

    Avelino GrassiEDITOR:Antonio De Paulo

    COORDEN O INDUSTRI LJos Luiz CastroEDITOR DE ARTE:

    Omm SantosEDITORAO

    Editorao" organizao literria: Jos ldair F. AugustoReviso grf ca A. TavaresIJJagramao Rosangela LourenoSuperviso grfica Valderes Rodr1guesISBN 85 3/.6.1345-4

    Este livro foi composto e impresso nas oficinas grficils da ErhtoraVozes Ltcla. - Ru Frei Lus, 100 Petrpolis, RJ - CEP 25689-900-Te .: 0242)43-5112 -Fax: 0242)42-0692 - Caixa Postal 90023- End. Te egr

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    umrio

    APRESENTAO DA COLEOINTRODUO. 15CAPTULO I - A VIDA BREVE g INTENSADE VYGOTSKY, 19L Percurso intelectual,. 20

    2 Uma dcada de muito trabalho, . 233 A psicologia e a sociedade soviticaps-revolucionria 264 A proposio de uma nova psicologia . 285 Principais influncias. 326 A proibio e redescoberta de sua obra, . 34

    CAPTULO 11- A CULTURA TORNA-SEPARTE DA NATUREZA HUMANA, 37L O programa de pesquisa, . . 382 Principais idias de Vygotsky, 41

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    3 Diferenas entre o psiquismo dos animaise do homem . . . . . . . 434 As razes histrico-sociais do desenvolvimento humano e questo da mediaosimblica 505. O desenvolvimento infantil n perspectivascio-histrica. . . . . . . . 566. Relaes entre pen samento e linguagem. . G7. A aquisiiio d linguagem escrita . . 68

    8. Interao P ntre aprendizado e desenvolvimento: a zona de desenvolvimentoproximal. 709. O processo de formao de conceitos eo papel desempenhad o pelo ensinoescolar. . . . . . . . 7510. A funo d brincadeira no desenvol-vimen to infantil . . 80CAPTULO IIl - PRESSUPOSTOS FILOSFICOS EIMPLICAOES EDUCACIONAIS DO PENSAMENTOVYGOTSKIANO, 85

    1. As concepes inatista e ambientalistado desenvolvimento humano e as impli-caes educacionais. . . 852 A abordagem scio-interacionista deVygotsky . . . . . . . . . . . 923. A influncia do materialismo dialtico . 954. A construo d psicologia histrico-cultural . . . . . . . . .995. Algumas implicaes d abordagemvygotskiona para a educao 102

    CAPTULO IV - VYGOTSKY 119

    1 \ B H I \ N G J ~ : N C I A CONTHIBUIO EESTILO . 1191. A questo da afetividodc na obra doVygotsky . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .2. A penetrao das idias de Vygotsky

    no mundo acadmico e nas redes deensinoTexto original de Vygotsky

    B BLIOGHI\FIA

    120123126131

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    APRESENTAO DA COLEO

    A histria da cultura ocidental revela-nos que aeducao sempre esteve intimamente ligada teoriaproduzida tanto no mbito da filosofia como no mbitodas cincias humanas em geral. Expressando-se fundamentalmente como uma prxis social. a educao nuncadeixou de referir-se a fundamentos tericos mesmoquando fazia deles uma utilizao puramente ideolgica.Este testemunho da histria j seria suficiente parademonstrar o quanto necessrio ainda hoje mantervivo e atuante esse vnculo entre a viso filosfica e ainteno pedaggica. Vale dizer que extremamenterelevante e imprescindvel aformao filosfica do educador. seja no campo da produo do conhecimento sejano campo da avaliao dos fundamentos do agir. sejaainda no campo da construo da imagem da prpriaexistncia humana. Mas por outro lado alm das deficincias_ pedaggicas e curriculares intrnsecas ao pro-cesso e formao dos profissionais da educao.

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    tambm a falta de mediaes e de recursos culturaisdificulta muito a apropriao por parte deles desseselementos que dem conta da ntima vinculao daeducao com seus fundamentos tericos.Assim o objetivo principal desta Coleo o de sermais uma mediao gil e eficaz para colocar ao alcancedos professores. dos estudantes bem como dos demaisprofissionais da educao e mesmo do pblico em geralas linhas bsicas do pensamento dos grandes tericosdestacand o sua contribuio para a melhor compreensodo sentido da educao. A abordagem de um texto desta

    natureza intencionalmente introdutrio despertandopara a relevncia das construes tericas enquantocontribuies para a elaborao de vises do homem domundo da sociedade da cultura do saber e do valor paraa educao certamente incentivar o interesse do estudioso em aprofundar a anlise e reflexo nos diversoscampos em que se envolve a prtica educacional.Os textos propostos visam apresentar as linhas bsicas do pensame nto dos autores destacand o-se as impli

    caes proprinmente filosfico-educacionais dessepensamento. Quer tratando de questes diferentes aoconbecimento quer tratando de questes referentes scondies de existncia do homem quer tratando dequestes referentes ao agir todo pensamento sistematizado traz em seu bojo elementos profundamente relacionados educao uma vez que esta na realidade umesforo que yisa. com certo grau de sistematicidadeintencionalizar o social no desdobramento do histrico.E enquanto tal a educa o se vincula direta e intrinsecamente com as abordagens epistemolgicas antropolgicas e axiolgicas presentes explicita ouimplicitamente. nas produes tericas da filosofia e dascincias humanas.

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    O Projnto rlesta Coleo est aproveitando os resultados de um esforo cada vez mais consistente que vemsendo desenvolvido sobretudo no flmbito dos cursos deps-gradunc;ilo com vistas realizao de pesquisas e deestudos que buscam refazer a construo coletiva doconhecimento na tradio cultural do Ocidente. E aproposta de se colocar o alcance de todos que seenvolvem com a educao essa produo terica quepor sun prpria natureza possa cont ribu ir pam o esclarecimento e compreenso do processo educacionrll indepcndcnterru;ntc da rea em que ess produ5o se deu. AColc5.o cnf:-ttiza seu objetivo de ampliar o universo dasinspimes tericas para os educadores viabilizando-lheso cesso a um espectro mais amplo de pensadores.

    Inicialmente o Projeto privilegia pensadores modernos e contemporneos que esto marcando mais nitidamente a reflexo nos tempos atuais. Mas em se tratandode um Projeto que se desdobrar a longo prazo contemplara tambm os pensadores clssicos da antiguidade eda modernidade. A proposta inclui tambm pensadoresbrasileiros que j deram sua contribuio ao debateterico subsidiando a compreenso de nossa problemtica educacional.

    Estamos certos de estar colocando disposio detodos os cstudnntes e profissionais da rea mais umvalioso instrumento de trabalho didtico e um fecundoroteiro inicinl ele pesquisa e de reflexo.

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    Antnio Joaquim SeverinoCoordenador

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    INTRODUO

    O que mais impressiona dentre vrios aspectos naleitura da obra de Vygotsky a s ua contempor aneidade.Seus escritos elaborados h aproximadamente sessentanos ainda hoje tm o efeito do impacto da ousadia dafidelidade investigao acerca de pontos obscuros epolmicos no campo cientfico.

    Vygotsky viveu apenas 37 anos. Morreu de tub ercu-lose em 1934 Apesar de breve sua produo intelectualfoi extremamente intensa e relevante: chegou a elaborarcerca de 200 estudos cientficos sobre diferentes temas esobre as controvrsias e discusses da psicologia con-tempornea e das cincias humanas de u modo geral. praticamente impossvel definir o alcance da contribui-o de sua obra. ara a psicologia sem dvida significaum avano para a pedagogia um orientao m s tam-bm sugere um rico material para a anlise no c mpo d

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    antropologia, d lingstica, d histria, da filosofia e dasociologia.,O estilo de sua obra tem caractersticas que lhe sobastante peculiares. Apesar de seu interesse central ser

    o estudo da gnese dos processos psicolgicos tipicamente humanos. em seu contexto histrico-cultura/ s deteveao longo de sua vida acadmica e profissional, em questes de vrias reas do conhecimento: arte, literatura,lingstica, filosofia, neurologia, no estudo das deficincias e temas relacionados aos problemas d educao.Como analisa WERTSCH, ess postura interdisciplinar eracoerente com seu projeto de pesquisa: Vygotsky foicapaz de agregar diferentes ramos de conhecimento emum enfoque comum que nao separa os indivduos dsnuaao cUltural em que se desenvolvem. Est- e n f o q _ ~ e _integrador dos fenmenos sociais, semiticos c psic()l:gicos tem uma capital importncia hoje emct: irariscorrido meio sculo desde su mor te (WERTSCH, 1988,p. 34

    Alm de abundantes e marcadamente interdisciplinares. s produes escritas de Vygotsky so extremamente complexas e densas em informaes preliminares.Isto se deve no somente caracterstica pouco ortodoxade seus trabalhos (os relatos escritos no trazem, porexemplo, detalhes sobre os procedimentos metodolgicos adotados em suas pesquisas) mas tambm a diversosoutros fatores. A maior parte de su obra foi editadatardiamente e, em alguns casos, de forma inadequada eincompleta. Alm disso, nos perodos que su doena seagravava, ele ditava suas idias que eram transcritas poroutra pessoa; outras idias foram conhecidas a partir deanotaes feitas nas su s aulas e palestras. o que muitasvezes resultava em redaes pouco claras. Apesar dealguns de seus textos serem hermticos, de dificil com-

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    preenso, expressam o enorme entusiasmo e fecundidadeintelectual de um jovem pesquisador.Ler Vygotsky , com certeza, um exerccio de reunire se aprop1im da fertilidade das descobertos de umestudioso inquieto e obstinsdo, que dedicou sua vidn aoesforo de romper, transformar e ultrapassar o e stado deconhecimento e reflexo sobre o desenvolvimento humano ele seu t r ~ m p oMesmo nil.o tendo esgotado todo o seu pretensioso

    projeto inici;i\ (muitas das questes levantadas por Vy-gotsky o n t i n u ~ m at hoje no respondidas), ele conseguiu no s nntever o futuro mas apresentar uma srie deperspectivas e diretrizes potencialmente frteis e polmicas que viriam a ser aprofundadas por seus colaboradores.muitas, inclusive, somente depois de sua morte. Comoafirmam Cole & Scribner: As implicaes de sua teoriaeram tantas e to variadas, e o tempo to curto, que todasua energia concentrou-se em abrir novas linhas deinvestigao ao invs de perseguir uma linha em particular at esgot-In. Essa tarefa coube aos colaboradores esucessores dn Vygotsky, que adotaram suas concepesdss mais v l r i ~ d a s maneiras, incorporando-as em novaslinhas de pesquisa 1984, p. 12). justamente devido a estes traos bastante part iculmes, que os trabalhos deste psiclogo russo cos tumamser considcmdos uma teoria incompleta , uma obraaberta , j quo no se apresentam como um sistematerico acabado, organizado e aprofundado e sim comournn produo interrompida precocemente, capaz de inspirar e lanar novas bases que viriam a ser mais beminvestigadas no futuro e que ainda so bastante atuais.

    Este livro pretende oferecer urna interpretao sobrealguns aspectos da vida e obra de Vygotsky assim como

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    um reflexo de possveis implicaes de seu pensamento educao. Esperamos que ele possa ser til paratom r as suas idias mais acessveis e estimular estudosmais aprofunrlados de sua obra.

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    aptulo I

    VIDA BREVE EINTENSA DE VYGOTSKY

    Para compreender o contexto e as razes do direcionamento da obra de Vygotsky, suas idias centrais econtribuies. ser til ao leitor saber um pouco da suabiografia, do percurso intelectual e das condies dasociedade e da psicologia na Rssia ps-revolucionriaque lhe forneceram o cenrio inicial e as questes princi pais para suas teorias. Assim, analisaremos, a seg_uir, ocurso de sua vida, a maneira peln qual deu forma sinmeras influncias recebidas da sua famlia e dos amigos. do clima intelectual e social da poca em que viveu.de suas leituras e de suas lutas 1.

    L Maiores referncias sobre a biografia do autor podem serencontradas em COLE SCRIBNER 1978), LEVITIN 1987.), BHONCKART {1985). LURJA {1988). WERTSCH {1988) e OLIVEIRA 1993)

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    1 PERCURSO INTELECTUALLev S.emenovich Vygotsky nasceu a 17 de novembrode 1896 em Orsha, uma pequena cidade provinciana, naBielo-Rssia. Sua famlia, de origem judaica, propiciava

    um ambiente bnstante desafiador em termos inwlectunise estvel no que diz respeito ao aspecto econmico. Seupai. pessoa culta, trabalhava num banco c numa companhia de seguros. Sua me, apesar de ter dedicado grandeparte de sua vida criao dos filhos. era professoraformada. Vygotsky cresceu e viveu por um longo perodoem Gomei. tambm na Bielo-Rssia, na companhia deseus pais e de seus sete irmos. Casou-se aos .28 anos,com Roza Smekhova, com quem tev e duas filhas. Faleceuem Moscou, em 11 de junho de 1934, vtima de tubercu-lose, doena com qu e conviveu durante quatorze anos.

    Sua educao, at os 15 anos, processou se total-mente em casa, atravs de tutores particulares Desdecedo mostrou ser um estudante dedicado e vido porinformaes. Gostava de literatura e assuntos relacionados s artes em geral. Freqentava a biblioteca que tinhaem sua casa e a biblioteca pblica, estudava sozinho ecom seus amiqos. bem provvel que sua precoce curiosidade portemas d e difeJentes campos do conhecimento tenha sidoprovocada, no incio, pelo acesso que tinha, no seucontexto familiar, a diversos tipos de informaes. Outrotrao marcante na formao de Vygotsky, e que alimentou

    seu gosto pela leitura, foi o aprendizado de diferenteslnguas2 o que permitiu que entrasse em contato com

    2. Vygotsky chegou a estudar alemo, latim, hebraico, francsingls.

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    materiais de diversas procedncias. Assim, mesmo tendoviajado apenas uma vez para o exterior, tinlw. acesso ainformaes elo restante do mundo, pois lia, df sde muitocedo, rnnis do que as tradues russus lho permitimn.Aos 17 unos completou o curso secundrio numcolgio privado m Gome . Nesta ocasio recebeu ~ e d a -lha de ouro pelo seu desempenho3. De 1914 a 1917estudou Direito e Literatura, na Universidade de Moscou,poca em que comeou sua pesquisa literria mais siste

    mtica. O trabalho que apresentou no trmino dessecurso foi um estudo do Hamlet, de Shakespeare: Atragdia de Hamlet, prncipe da Dinamarca , que maistarde, em 1925, deu origem ao livro Psyclwlogy o Art(Psicologia da Arte), que foi publicado na Rssia some nteem 1965. Segundo Luria, j nesse trabalho e em outrosensaios literrios posteriores. possvel identificar suagrande com etncia para realizar anlises psicolgicas,fruto elas infiuncias que rece eu os estudiosos soviti-cos interessados no efeito da linQuS Q )l sol.Jre_os pro.cescsos de p e n s a m e n _ t o ~ L u r i a 1988, p. 22).f: curioso observar que no mesmo perodo em quecursava a Universidade de Moscou, tambm participava,

    na Universidade Popular de Shanyavskii, de cursos deHistria e Filosofia (no recebeu, no entanto, nenhumttulo acadmico por essas atividades). Anos mais tarde,

    3. Apesar tl

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    o crescente interesse em compreender o desenvolvimentopsicolgico do ser humano, e particularmente, as anormalidades fsicas e mentais, levou Vygotsky a fazer cursosn FaculdadP. de Medicina primeiramente em Moscou edepois em Kharkov.Assim, seu percurso acadmico foi marcado pelainterdisciplinaridade j que transitou por diversos assuntos, desde artes, literatura, lingstica, antropologia, cul

    tura, cincias sociais, psicologia, filosofia e posteriormente, at medicina. O mesmo ocorreu com sua atuaoprofissional, que foi ecltica e intensa e esteve sempreassociada ao trabalho intelectual.Vygotsky comeou sua carreira aos 21 an.os aps aRevoluo Russa de 1917. Em Gomei, no perodo de 1917a 1923 alm de escrever crticas literrias, lecionou e

    p r o f r i ~ palestras sobre temas ligados a literatura , cincia e psicologia em vrias instituies. J nesta pocapreocupava-se tambm com questes ligadas pedagogia. Em 1922. por exemplo, publicou um estudo sobre osmtodos de ensino d literatura nas escolas secundrias.Nessa fase, dirigia a seo de teatro do Departamento deEducao de Gomei. Na mesma cidade fundou ainda umaeditora, uma revista literria e um laboratrio de psicologia no Instituto de Treinamento de Professores, local ondeministrava cursos de psicologia.

    O interesse de Vygotsky pela psicologia acadmicacomeou a se delinear a partir de seu contato, no trabalhode formao de professores, com os problemas de crian-

    4. VygoL

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    Naquele mesmo ano escreveu o trabalho: Problemas daEducao de Crianas cegas surdo -mudas e retardadasque apresentavil algumas de suas reflexes sobre o assunto. Ministrou ainda cursos de Psicologia e Pedagogiaem diversas instituies de Moscou e Leningrado e, anosdepois, na Ucrnia.

    De 1924 at o ano de sua morte, apesar da doena edas freqentes hospitalizaes, Vygotsky demonstrou umritmo de produo intelectual excepcional. Ao longodesses anos alm de amadurecer seu programa de pesquisa, continuou lecionando,lendo5, escrevendo e desenvolvendo impmtantes investigaes. Liderou tambm umgrupo de jovens cientistas, pesquisadores da psicologiae das anormalidades fsicas e mentais.

    /. jv1l ;o projeto principal de seu tmbalho consistia na I .>W .u-- i tentativa de estudar os processos de transformao do JJP .~ ; . . ~ ~ d e s e n v o l v i m e n t o humano na sua dimenso filogentica...--..,;o-..e."'""Jl I?histrico-social e ontogentica6. Deteve-se no estudo dos "-'" ..p1 meanismos s i c o l g i c o ~ a i s sofisticados (as chamadas f o. { , ; ; ) ~ l u 'es psicolgicas sup riores), tpicos da espcie h ~ - ,\,,v ) :.Jfo . , ~ ~ k ] ana: o controle consciB te do comportamento, atenao - ~ , _ , J L v

    ::..,f ~ l b t l f ~ 1 t - J . G : tU)

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    Scribner, 1984, p. 7). Um dos pontos centrais de su teoria que s funes psicolgicas superiores so de origemsio-cultural e emergem d e processos psicolgicos elementares, de origem biolgica (estruturas orgnicas). Ouseja, segundo ele, a complexidade da estrutura h\lmanaderiva do process e desenvolvimento profundamenteenraizado nas relaes entre histria individual e soclr

    3 A PSICOLOGIA E A SOCIEDADESOVITICA PS REVOLUCIONRIAPodemos afirmar que tanto o "clima de renovao"

    d sociedad e sovitica ps-revolucionria quanto os dilemas presentes n psicologia da poca em que .Vygotskyviveu foram definidores de seu programa de trabalho.Ao analisarmos seu percurso acadmico e profissio@ notamos s marcas do contexto scio-poltico-e c l-luri em que esteve inserido. O fato de ter sido umintelectul russo. que iniciou sua carreira no auge doperodo ps-revolucionrio, contribuiu para que se envol

    vesse ativamente n construo de uma abordagemtransformadorad psicologia e da cincia sovitica vigentes t aquele perodo.Nessa sociedade, a cincia era extremamente valorizada devido expectativa de que os avanos cientficostrouxessem a soluo dos prementes problemas sociais eeconmicos do povo sovitico. A necessidade de afirmao ideolgica e s demandas prticas exigidas pelogoverno influenciavam a Plaborao de teorias nos diversos campos do ccnhecimento. A produo acadmicadesse periodo. alm de intensa, tinha um ponto emccmurn: a pre ocupao pelo desenvolvimento de aborda-

    gens histricas para a pesquisa e diferentes objetos eestudo.

    Desse modo, a atmosfera de su poca era de grandeinquietao e estmulo para a busca de respostas sexigncias de uma sociedade em franco processo detransformao. Um bom exemplo destas aspiraes era oenorme poder atribudo educao. que se traduzia noesforo de elaborao de programas educacionais eficientes, que erradicassem o analfabetismo e oferecessemmelhores opmtunidades aos cidados.O ideal revolucionrio contagiava a todos, pois traziao desejo de concretizao de rpidos e significativosprogressos para todo o povo. num brevssimo espao detempo. Como avalia Luria, j com aproximadamente 70anos, num trecho de sua autobiografia: A Revoluo noslibertou - especialmente a gerao mais jovem - para adiscusso de novas idias, novas filosofias e sistemassociais. . ..) Fomos arrebatados por um grandioso movimento histrico. Nossos interesses pessoais foram consumidos em favor das metas mais amplas de uma novasociedade coletiva. A atmosfera que se seguiu imediatamente Revoluo proporcionou a energia para muitos

    empreendimentos ambiciosos" (Luria. 1992, p. 24 e 25).Assim a proposta de reestruturar a teoria e a pesquisapsicolgica expressa por ygotsky estava em fina sintoniacom os projetos sociais e polticos de seu pas.Nas primeiras dcadas do sculo XX, a psicologiasovitica (assim como a europia e americana) estavadividida em duas tendncias radicalmente antagnicas:um ramo com caractersticas de cincia natural, quepoderia explicar os processos elementares--SnsOii iSe

    reTieXos, e urrl-outro com caractersticas de CillCTamen:.tal. que descrevena s proprtlltllltles=elllllrgen illl"{ Q i

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    - S "' \( . _processos p sicolg icos su pefiore s" (Cole & Scribner,' i ~ 1984, p. 6). _,IJ .Desse modo, existia de um lado um grupo que,yl' J baseado em pressupostos da filosofia emprista, via a ; I _ r psicologia como cincia natural que devia se eter na. : -1\ ~ V : descrio das formas exteriores de comportamento, e n ~_;. r ~ v : tendidas como_ h a_bilidades_ mecanicamente constitudas.j : Esse grupo l i m i t a v a ~ s e _anlise__cios processos mais:)1' i e l ~ m e n t a r e s e ignorava os fenmenos C O T I : R l e x _ ~ s da a

    ~ ~ vidade conscu?ht8, especificamente humana. J aeOUtro. Tao, o ouuo grupo, inspirado nos principias da filosofia? idealista, entendia a psicologia como cincia mental,

    -

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    mundo. Nosso propsito superambicioso como tudo napoca era criar um novo modo. mais abrangente deestuda r os proce ssos psicolgicos humanos (Luria, 1988,p. 22 .Vygotsky e seus colaboradores se encontravam combasta nte freqncia (aproximadamente seis horas por dia,

    du s vezes por semana), inicialmente no apartamento deVygotsky. Embora centrada n psicologia, a curiosidadedo grupo pela investigao d o ser huma no era ilimitada.Nestes encontros estudavam com avidez os traba

    lhos produzidos nos cinqenta anos precedentes noscampos d psicologia, da sociologia, d biologia e dalingstica, por pensadores russos e tambm de autoresestrangeiros. Pelo fato de eles lerem em latim, espanhol,alemo, ingls e francs, tinham acesso a um srie depUblicaes estrangeira s. No final d dcada de 20 e inciod dc d de 30 eles promoveram a traduo de livros,pUblicaram importantes artigos sobre esses estudos eescreveram prefcios onde interpretavam as idias deautores d Europa Ocidental e dos Estados Unidos.

    Entre 1927 e 1928, a troika a ssociou-se e transferiu-se para o laboratrio de psicologia do Instituto deEducao Comunista, ao qual se associou. Foi nessemesmo perodo que Vygotsky comeou a criar o Institutode Estudos da Deficincia, com o objetivo de estudar odesenvolvimento de crianas anormais. Nessa fase almde estudarem e criticarem de modo mais sistemtico asescolas existentes de psicologia coordenavam um grupode jovens estudantes que era orientado no sentido derealizar experimentos coer entes com o estilo de pesquisae pensamento que desenvolviam (muitos desses estu dantes vieram, no ps-guerra. a assumir papel de destaquen psicologia sovitica).

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    Partindo do pressuposto da necessidade de estudaro coin-Portamento humano enquanto fenmeno histricoe socialmente determinado, Vygotsky e seus seguidoresse dedicavam principalmente construo de estudospilotos que pudessem atest ar a idia de que o pensamento adulto culturalmente mediado sendo que alinguagem o meio principal des ta mediao.

    Neste periodo Vygotsky escreveu alguns importantestrabalhos, dentre eles: s princpios da educao socialde crianas surdas mudas 1925), O consciente cornoproblema da psicologia do comportamento 1925), O sig-nificado histrico da crise da psicolqgia 1926), A pedolo-gia de crianas em idade escolar 1928), Estudos sobre ahistria do comportamento (escrito juntamente com Lu-ria) 1930), O nstrumento e o smbolo o desenvolvimentodas crianas 1930), A histria do desenvolvimento dasfunes psicolgicas superiores 1931), Lies de psicolo-gia 1932), Fundamentos da Pedologia 1934). Pensamentoe Linguagem 1934), Desenvolvimento mental da crianadurante a educao 1935) e A criana retardada 1935).

    Dedicou-se tambm escrita de alguns trabalhosdurante vrios anos de sua vida tais como: Pedologia daJuventude: caracteristicas do comportamento do adoles-cente. Oproblema do desenvolvimento cultural da criana

    criana cegaComo possvel observar significativa a variedadedas questes tratadas por Vygotsky nos ltimos dez anosde sua vida profissional. Seus trabalhos expressam oobjetivo de compreender os diferentes aspectos d conduta humana atravs do esforo de reunir informaes decampos distintos.COncordamos com Bronckmt quando afirma que avmiedade dos temas abordados por Vygotsky no resul-

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    taram em trabalhos superficiais, nem tampouco dispersos.pelo contrrio, sob a diversidade dos temas, se desenvolveum pensamento profundamente unitrio 1985, p. 11).

    5 PRINCIP IS INFLUNCI SForam inmeras as influncias recebidas por Vygotsky ao longo de sua vida intelectual. Como j mencionamos, ele teve uma significativa influncia de pesqui

    sadores da rea d lingstica, que, a partir de umaabordagem histrica. se dedicavam ao estudo da origemda linguagem e sua relao com o desenvolvimento dopensamento, tais como os russos A. A. Potebnya e Ale-xander von Humboldt. Vygotsky tambm se interessoupelo estudo comparativo entre o comportamento animale humano. particularmente pelas pesquisas do especialista sovitico V.A. Wagner..O pensamento marxista tambm foi p ara ele umafonte cientfica valiosa. Podemos identificar os pressupostos filosficos, epistemolgicos e metodolgicos de suaobra na teoria dialtico-materialista. As concepes deMarx e Engels sobre a sociedade, o trabalho humano, ouso dS instrumentos, e a interao dialtica entre ohomem e n natureza serviram como fundamento principals suas teses sobre o desenvolvimento humano profundaffiente enraizado na sociedade e na cultura

    a Unio Sovitica, nos anos 20, vrios tericos seutilizavam das abordagens histricas e do desenvolvimento no estudo da naturez a humana. dentre eles. os queexerceram maior influncia sobre as idias de Vygotskyforam K.N Kornilov e P.P. Blonsky. As pesquisas dessespsiclogos soviticos contriburam para que Vygotskypercebesse a necessidade do estudo do comportamento

    32

    humano enqurmto fenmeno histrico e socialmente -terminado.

    Finalmente. podemos entender que parte do enormeinteresse de Vygntsky pelo estudo do desenvolvimentodos P_rocessos mentais ao longo da histria da espcie eem diferentes culturas esteja relacionado s influncias

    l o ~ trabalhos de socilogos e antroplogos europeusocidentais, tais como R Thurnwald e L. Levy-Bruhl.a .cincia foram seus contemporneos os adeptosdas teonas comportamentais, privilegiadores da associao estimulo-resposta, entre eles. Ivan Pavlov. Wladimir

    Betktercv e John B. Watson e os fundadores do movimento da Gestalt na psicologia, tais como: Wertheimer, Wolf-g ng Kohler, Koffka e Kurt Lewin. Os tr b lhosproduzidos por estes estudiosos serviram como contraponto importante ao pensamento elaborado por Vygotski'

    Ele foi tambm contemporneo do epistemlogo su Jean Piaget. o entanto, s teve contato com ostmbalhos de Piaget produzidos no inicio dos anos 20. Leuessas produes com muito interesse; chegou inclusivea escrever o prefcio para a edio russa de dois livros dePiaget: A linguagem e pensamento na cnana e O meio- imod cnana Na poca fez importantes crticas steses defendidas por Piaget (que soube desses comentrios bem mais tmde, depois que Vygotsky j havia morndo). Apesar de apontar suas divergncias como, porexemplo, quanto interpretao da relao entre pensamento e linguagem), reconheceu a riqueza do mtodoclnico adotado por Piaget, no estudo do processo cognitivo mdiVIdual, e a semelhana de interesse no estudo dagnese dos processos psicolgicos.

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    i

    6 A PROmiO E REDESCOBERTA DESUA OBRA

    A obra de Vygotsky comeou a receber severascrticas. na Rssia. a partir de 1932. Durante o governode Stahn, suas teorias foram consideradas idealistaspelas autoridades soviticas. Nessa poca. os trabalhosde Pavlov eram muito valorizados justamente porque eledefendia a enorme plasticidade e as potencialidades dosseres humanos diante das presses do meio ambiente.Vygotsky, apesar d e concordar com a idia da plasticida-de do homem. frente s influncias da cultura. era bas-tante crtico abordagem de PAVLOV. Argumentava queos seres humanos no deveriam ser considerados, pelosmarxistas. apenas e m funo de sua s reaes ao ambien-te exterior. mas tambm a maneira pela qual eles criamseu ambiente, o que por sua vez d origem a novas formasde conscincia. As crticas dirigidas a ele parecem ter sidoprovocadas pelo fato de ele ter sido exigente demais eprofundamente marxista para se submeter aos dogmasimpost os cincia pelo stalinismo (Bronckart, 1985. p.15).

    Aps sua morte, Vygotsky teve a publicao desuasobras proibida na Unio Sovitica, no perodo de 1936 a1956, devido censura do totalitrio regime stalinista efoi por um longo perodo, ignorado no Ocidente. Come-ou a ser redescoberto somente a partir de 1956. data dareedio sovitica do livro: Pensamento e linguagem Asidias de Vygotsky puderam ser conhecidas no Ocidentea partir de 1962. data da primeira edio americana dolivro Pensamento e linguagem No Brasil o contato comseu pensamento foi ainda mais tardio: somente a partirde 1984. data d a publicao do livro A formao social dmente

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    ~\~ L

    A t ~ ~ l m c n t e a l g u ~ s dos numerosos escritos de -gotsky Ja foram :raduzidos para diversas lnguas, dentree ~ a s para o mgles. espanhol. italiano, portugus e fran-

    c ~ s . E om relativa rapidez que suas idias vm sendod ~ s s e m m a d n s discutidas e valorizadas. Esses debatesv ~ dando orig?m a relevantes estudos que visam nosoa um c o n l ~ e c 1 m e n t o mais aprofundado de seus postu-

    l a d o ~ como a realizao 9de pesquisas que avancem nos e _ n t 1 c ~ o por ele apontado . No entanto, os pases ociden-tms nao tivcmrn, at o atual momento \cesso fl totalidadede sua produo intelectual, j que grande pmte de seustextos somente agora comea a ser traduzida no russosendo que alguns, inclusive, no foram editados n e ~mesmo na Unio Sovitica.

    Apesar do conhecimento tardio e incompleto de suaobra, Vygotsky hoje considerado um dos mais impor.tan_tes ps1cologos do nosso sculo. significativa a in-fluencia e repercusso que a obra vygotskiana vemprovocando na psicologia e educao, no s no Brasilcomo em outros pases ocidentais.

    8 Sendo assim, o estudo mais aprofundado do pensamento deVygotsky por pmtc dos pesquiSadores brasileiros tem se viahilizadog r ~ ~ _ s ~ o acesso a publicaes estrangeiras de seus textos, de seuspnnCl p;ls colaboradores e de seus ' intrpretes contemporneos taiscomo .V. Wertsch. M. Cole, J Valsmer R V Vecr S c r i b n ~ r EFormem, A Cazden. J ~ ~ l . A. Riv; rc e V.D. av1dov.

    .'35

    ' '

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    Captulo

    CULTURA TORNA SE PARTEDA NATUREZA HUMANA

    Uma rlas principais caractersticas da obra de Vy-gotsky a riqueza e diversidade dos assuntos que abordou. Dedicou-se anlise de diversos temas relacionadosa seu problema central dentre eles a crise da psicologiaas diferenas entre o psiquismo animal e humano agnese social das funes psicolgicas superiores asrelaes entre pensamento e linguagem a questo damediao simblica as relaes entre desenvolvimento eaprendizagem e os processos de aprendizagem que ocorrem no contexto escolar e extra-escolar o problema dasdeficincias fsica e mental o papel das diferentes culturas no desenvolvimento das funes psquicas a questodo brinquedo a evoluo da escrita na criana e apsicologia da arte. Er sa variedade era coerente com seu

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    projeto que visava articular informaes dos diferentescomponentes que integram os processos mentais: neuro-lgico, psicolgico, lingstico e cultural.Dentro dos limites do presente trabalho no possvel abordar todos os aspectos de sua obra. Vamos. noentanto, fazer uma sntes e das principais idias fundadasnos seus postulados e desenvolvidas em seus escntos,particularmente aquelas que propiciam reflexes no cam-po da educao. As propostas de Vygotsky foram aprofundadas por seus colaboradores. Assim. sempre que

    necessrio recorreremos aos escritos de Luria e L e o n ~ 1 e vcom o objetivo de conhecer melhor suas concepoesNossa inteno possibilitar ao leitor uma anlise gerale necessariamente introdutria. que estimule a consulta.0 estudo e o aprofundamento da obra deste importanteautor.

    . . - ~ O texto est organizado da seguint e maneira: primei ~ ,; fii ramente procuraremos esclarecer os ob)etlvos prmctpmsd } ~ que orientaram as pesq wsas exp enmentms e as formula-

    ~ - es tericas e Vygotsky; em seguida, nos deteremosna anlise de alguns temas centrais de seu pensamento.

    1 O PROGR M DE PESQUIS

    I .

    A teoria histrico-cultural (ou scio-histrica) do psiquisffiO tambm conhecida como abordagem s c i o ~ i n : e racionista elaborada por Vygotsky, tem como obJetiVOcentral caracteriz ar os aspectos tipicamente humanos docomportamento e elaborar hipteses de como essas ca-ractensticas se formaram ao longo da histria b u m ~ n ae OIDO se desenvolvem durante a Vida de um OdlV dUO

    (Vygotsky. 1984. p. 21).

    : ~ - .\'- \' ..'c

    38

    II

    Este projeto objetivava dar respostas a trs que stesfundamentais que. segundo ele, vinham sendo tratadasde forma inadequada pelos estudiosos interessados napsicologia humana e animal. primeira s referia tentativa de compreender a r e E : ~ C f e n t r e os seres h u m ~nos e o seu ambiente fsico e social. A segunda intenode iclcntificm as formas novas de atividade que fizeramcom que o trabalho fosse o meio fundamental de r e l a c i o ~namento entm homem e natureza, assim como examinaras conseq ncias psicolgicas dessas formas de atividade. terceira e ltima questo se relacionava an

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    as e de investigaes das formas de organizao dosprocesss mentais em indivduos de diferentes culturas.o estudo dos processos psicolgicos luz da abordagemscio-histrica permitiu a definio de diversos linhas depesquisa, tais como: estudo do desenvolvimento de umocriana, de um grupo cultural e "da dissoluao de processos psicolgicos, uma vez que as doenas e ;raumatrsmosdesfazem aquilo que a evoluo e a expenencta culturalajudaram a construir" Cole, 1992, p. 212).

    Desse modo, podemos considerar que seus trabalhospertencem ao campo da psicologia gentica', j que sepreocupou com o estudo da gnese formao e evoluodos processos psquicos supenores do ser humano. P ~ r ~a psicologia gentica, o psiquismo humano se c o n ~ t r t u rao longo da vida do sujeito; no , portanto, uma propriedade" ou "faculdade" primitivamente e ~ r s t e n t e noindivduo. A psicologia gentica estuda a mfancra JUSta-mente para tentar compreender a formao dos complexos processos psquicos e das etapas pelos quars elespassam em sua evoluo.O seu programa de pesquisa traduzia .a tentativa debuscar uma abordagem alternativa, que superasse astendncias antagnicas presentes na psicologia de suapoca. Baseado nos princpios do materialismo dialtico,procurou construir uma "nova psicologia", com o obJetlvode integrar, "numa mesma perspectiva, o homem ~ n -Quanto corpo e mente, enquanto ser biolgico e socml,

    9. importante esclarecer que, neste caso. o ~ e r n o g ~ n t ~ ~ serefere ao estudo da origem. da formao das caractenstJcas psJcologJcRs.No est. portanto. associado a genes. t r a n s m i ~ s o dos caractereshereditrios nos indivduos.

    40

    f

    enquanto membro da espcie humana e participante deum processo histrico" (Oliveira, 1993, p. 23).2 PRINCIPAIS IDIAS DE VYGOTSKY

    A compreenso dessa abordagem diferente dependedo estabelecimento das teses bsicas presentes em todaa sua obra o que sero explorados ao longo deste livro.Quais so estns teses?A primeira se refere relao indivduo/sociedade.Vygotsky afirma que as caractersticas tipicamente humanas no esto presentes desde o nascimento do indi+viduo, nem so mero resultado das presses do meioexterno. Elas resultam da interao dialtica do homem e jseu meio scio-cultural. Ao mesmo tempo em que o ser:humano transforma o seu meiO para atender suas necessidades bsicas, transforma-se a si mesmo.Em outras palavras, quando o homem modifica oambiente atravs de seu prprio comportamento, essamesma modificao vai influenciar seu comportamento

    futuro. Notamos, neste principio, a integrao dos aspectos biolgicos e sociais do indivduo: "as funes psicolgicas superiores do ser humano surgem da interaodos fatores biolgicos, que so pmte da constituio fsicado Homo sapiens com os fatores culturais, que evoluramatravs das dnzenas de milhares de anos de histriahumana" Luria. 1992, p. 60)._A segunda decorrncia da idia anterior, e se refere origem cultural das funes psquicas. As funespsicolgicas especificamente humanas se originam nasrelaes do individuo e seu contexto cultural e social. Isto

    o desenvolvimento mental humano no dado priori

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    no imutvel e universal. no passivo, nem tampoucomdeperiden te do desenvolvimento histrico e das formassociais da vida humana. A cultura , portanto, parteConstitutiv< l da natureza humana, que sua caracterstica psicolgica se d atravs da internalizao dos modoshistoricamente determinados e culturalmente organizados de operar com informaes.

    f terc.,ira tese se refere base biolgica do funcionamentO psicolgico: o crebro. visto como rgo principal da atividade mentaL O crebro, produto de uma longaevoluo, o subs trato material da atividade psquica quecada membro da espcie traz consigo ao nascer. Noentanto, .esta bas.e mat.erial no significa um sistemaimutvel e fixo.

    O crebro entendido como um "sistema aberto, degrande plasticidade, cuja est rutura e modos de funcionamento so moldados ao longo da histria da espcie e dodesenvolvimento individual. (. ..) o crebro pode servir anovas funes, criadas na histria do homem, sem quesejam necessrias transformaes no rgo fsico" (Oli-veira, 1993, p 24).Q_quarto postulado diz respeito caracterstica mediao presente em toda atividade humana. So c; ins

    r trumentos tcnicos e os sistemas de sigJtos. construdos' historicamente, que fazem a medic.o rlor. seres h umanos entre si e deles com o mundo. A lir..;Juagem umsigno mediador por excelncia, pois ela carrega em si osconceitos generalizados e elaborados pela cultura humana.Entende-se assim que a relao do homem com omundo no uma relao direta, pois mediada por: .. 'meios, que se constituem na s "ferramentas auxiliares" daatividade humana. A capacidade de criar essas "ferra

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    'IItfr1.

    mentas: e x ~ l u s i v a da espcie humana. o pressupostoda _mecha

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    Portanto ser til ao leitor compreender as su s concep-, 109e_s sobre o assuntoEle e seus seguidores identificam basicamente trstraoTcractersticos no comportamento do animal quediferencia do psiquismo do ser humano, a saber:

    1 Diferentemente do comportamento /wmano todo comport mento do nim l conseJVa su ligao com os moti-vos biolgicos

    A atividade dos animais instintiva e marc ada pelasatisfao de su s nece ssida des biolgicas de alimento,autoconservao ou necessidade sexual). Ou seja, elaperm nece sempre dentro dos limites d s su s relaesbiolgicas, instintivas, com a natureza. O modo de perceber o mundo pelo animal, a forma de se relacionar comseus semelh ntes e t s possibilidades de aquisio denovas atividades, so determinadas por su s caractersticas inatas. Vejamos alguns exemplos: 11

    Num experimento propuseram a vrios chimpanzso seguinte problema: colocaram um b n n num lugaralto porm visvel aos animais e deixaram disposi :ovrios caixotes para que eles pudessem empilhar, parasobre eles trepar e alcanar o alimento. Embora cadam c co individualmente fosse capaz de resolver o probleina, em grupo no conseguiram, pois c d um agia como

    10. Este interesse tambm bastante evidente na obra de seuscolaboradores. principalmente nos trabalhos de Luria 1991) e Leontiev1978). Assim. sempre que necessrio recorreremos aos seus escritoscom o objetivo de tomar mais claro os postulados de Vygotsky.11. Estes exemplos foram extrados do livro O desenvolvimento

    do psiquismo Leontiev, 1978, p. 64 e 65).

    44

    ::;e estivesse sozinho, o que acabava promovendo situaes de luta e acirrada disputa pela posse dos caixotest a desistncia de alcanar o alimento. Este experimento clcrnonstru. que o animal no consegue organizar umaa5o comum onde cada um teria um tarefa), pois c dum busca, instintivamente sacim sua necessidade nocaso alcanar o alimento) e, como conseqncia, noestebelece r c l ~ e s com seus semelhantes.

    Um out1o Pxemplo interessante o caso cl< s abelh

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    2 Diferente gesto do comportamento animal o comportamento humano no forosamente detimninado p restmulos imediatamente perceptveis ou pela experinciapassadaAs reaes dos animais s baseiam nas impressesevidentes recebidas do meio exterior ou pela experinciaanterior. Ele , portanto, incapaz de abstrair, fazer relaesou planejar aes. Alguns exemplos podero ilustrar estacaracterstica: se num churrasco deixarmos por esqueci

    mento um carne prxima a um cachorro com fome ele

    /

    provavelmente a comer, ou seja, no conseguir perceber que aquela carne s destina s pessoas, nem prevers conseqncias de seus atos muito menos controlarseu comportamento (aguardar o momento m que lheoferecero comida).

    Luria cita uma pesquisa (feita pelo psiclogo holands Buytendijk) que esclarece a dependncia do animalde suas experincias anteriores: Ele colocou diante deum animal vrias caixas nas quais poder-se-ia encontmralimento. No primeiro teste, o alimento foi posto aos olhosdo animal na primeira caixa permitindo-se ao animalapanb-Jo. No segundo teste, o alimento (tambm aosolhos do animal) foi transferido para uma segunda caixam seguida para uma terceira. Depois, nos .experimentosseguintes, comeou-se j sem que o animal percebesse)

    a transferir sucessivamente o alimento para c d c ixseguinte permitindo sempre ao animal correr livrementepara a caixa onde ele supunha encontrar o alimento. Apesquisa demonstrou que o animal corre sempre para acaixa onde vira que havia sido posto o alimento (Luria,1991, p. 69). O animal no conseguia considerar o princpio abstrato d seqncia, do deslocamento sucessivo doalimento entre as caixas.

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    Diferente do animal, o ser humano no se orientasomente pela impresso imediata e pela experinciaanterior, pois pode abstrair, fazer relaes. reconhecer ascausas e f;]zer previses sobre os acontecimentos, edepois de renetir e interpretar, tomar decises. Nessesentido, ele livre e independente das condies domomento e do espao presentes.

    Por exnmplo, mesmo doente e precisando tomardeterminado medicamento, o homem poder deixar de tomar o remdio caso o prazo de validade j tenha

    vencido. Mesmo com sede, provavelmente evitar tomaruma gua que esteja contaminada. Mesmo com fome,poder recusar um suculento prato de comida, caso saibaque st alimento foi preparado sem as mnimas condies de higiene. Assim, ao sair a passeio num claro diade outono, o homem pode levar guarda-chuva, pois sabeque o tempo instvel no outono. Aqui ele obedece a umprofundo conhecimento das leis da natureza e no impresso imediata de um tempo de sol e cu claro''Luria. 1991, p 72).

    Em sntese, o homem no ~ ~ \ : 8 somente no mundodas impresses irriediatas (como os animais), mas tambm no universo dos conceitos abstratos, j que dispe,no s de um conhecimento sensorial, mas tambm deum conhecimento racional, possui a capacidade de penetrar mais profundamente na essncia das coisas do quelhe permitem os rgos dos sentidos; quer dizer que. coma passagem do mundo animal histria humana, d-seum enorme salto no processo de conhecimento desde osensorial ate o racionar Luria, 1986, p. 12).

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    3 s diferenas das fontes de comportamento do homemdo animal.

    As fontes de comportamento do animal so limitadas: um a experincia da espcie, que transmitidahereditariamente (comportamentg i lstintivo, inato); a ou-tr -Sua experincia imediata e individual mecanismos-de-adaptao individual ao meio), responsvel pela vmiao no comportamento dos animais. A _imitao ocupaum lugar muito insignificante na formaao do comportamenta animal. Ou seja, diferentemente do homem, oanimal no traiismite a sua experincia, no assimila aexiirtncia alheia, nem tampouco capaz de transmitir(ou aprender) a experincia das ger aes anteriores.

    Uma das principais caracteristicas que distingueradiclmente o homem dos animais justamente o fato dque, alm das definies hereditrias e da experinciaindividual, a atividade consciente do homem tem umaterceira fonte, responsvel pela gran de maioria dos conhecimentos, habilidades e procedimentos comportamentais - a assimilao da experincia de toda ahumanidade acumulada no processo da histria social etiilsmitid no processo de aprendizagem. Podemos entender que, nesta perspectiva, o deserwolvimento dopsiquismo animal determinado pelas leis da evoluobiolgica e o do ser humano est submetido s leis do

    desenvolvimento scio-histrico. s caractersticas do funcionamento psicolgico -

    . picamente humano no so transmitidas por hereditariej dade portanto, no esto presentes desde o nasciment?I do individuo), nem s o adquiridas passivamente gra as a presso do ambiente externo. Elas so construdas aolongo da vida do indivduo atravs de um processo de( interao do homem e seu meio fsico e social, que

    48

    possibilita a apropriao do cultura elaborada pelas geraes precedentes, ao longo de milnios. Como afirmouLeontiev: Cada indivduo aprende a ser um homem. Oque a natureza lhe d quando nasce no lhe basta paraviver em sociedade. E-lhe ainda preciso adquirir o que foialcanado no decurso do desenvolvimento histrico dasociedade humana (Leontiev, 1978, p. 267).Assim, Vyyotsky, profundamente influenciado pelospostulados marxistas, afirma que as origens das atividades psicolgicas mais sofisticadas devem ser procuradas

    nas rel8.es sociais do indivduo com o meio externo. Y.Entende que o ser humano no s um produto de seucontexto social, mas ta mbm um agen te ativo na criaodeste contexto. Acredita que para compreender as formasespecificamente humanas necessrio e possivel) descobrir a relao entre a dimenso biolgica os processosnaturais, como: a maturao fsica e os mecanismossensoriais) e a cultural mecanismos gerais atravs doqual a sociedade e a histriamoldam a estrutura humana).Coerente com este ponto de vista, procurou examinara origem do complexo psiquismo humano nas condiessociais de vida historicamente formadas, que, segundo

    ele, esto relacionadas ao trabalho social, ao emprego deinstrumentos e ao surgimento da linguagem. Estas so as \ferramentas que foram construdas e aperfeioadas pelahumanidade ao longo de sua histria e fazem a mediaoentre o homem e o mundo: atravs delas, o homem nos domina o meio ambiente como o seu prprio compor-tanvmto.por essa razo que Vygotsky procura compreendera evoluo da cultura humana (aspecto sociogentico), oprocesso de desenvolvimento individual (aspecto ontogentico) e se detm especialmente, no estudo do desen-

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    volvimento infantil, perodo em que estas ferramentasso aprendidas. ou seja, nesse perodo que acontece os ~ r g j m e n t o do uso de instrumentos e da fala humana.

    No tpico seguinte. abordaremos mais detidamentea questo das razes histrico-sociais e o conceito deffiectia-do desenvolvimento humano, j que estes soum dos temes centrais das teses formuladas por Vygotsky.4. AS RAZES HISTRICO SOCIAIS DODESENVOLVIMENTO HUMANO E AQUESTAO DA MEDIAAO SIMBLICA

    Compreender a questo da mediao que caracteriza a relao do homem com o film o e com os outrosfiomen3, de fundamental importncia justamente por atravs dest e processo que as funes psicolgicassupenres, especificamente humanas, se desenvolvem.Vygotsky distingue dois elementos b sicos responsveis por essa mediao: o instrumento, que tem a funo derjlgular as aes sobr e os objetos e o si?"o que regula as

    aes sobre o psiquismo das pessoas .A inveno desses elementos mediadores significouo salto evolutivo da espcie humana. Vygotsky esclareceque o uso de instrumentos e dos signos. embora diferen-

    12. De modo geral, o signo pode ser considerado aquilo (objeto,forma, fenmeno. gesto. figm u som) que representa algo diferentede si mesmo. Ou seja, substitui e expressa eventos, idias, situaes eobjtOs. Servindo como auxilio da memria e da ateno humana_ ComoPQr 8Xemplo. no cdigo de trnsito, a cor vermelha o signo que indicaa necessidade de parar, assim como a palavra copo um signo querepresenta o utenslio usado para beber gua.

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    tes. e ~ t o mutuamente ligados ao longo da evoluo daespecm humnna do desenvo lvimento de cada indivduo.Na (:mtognese esta ligao pode ser verificada atravsde experimentos por isso que ele e se us colnboradoresrealizaram umn sde de pesquisas com o objetivo deinvestigar o popcl medindo dos instrumentos e signos nantividacte psicolgica e as transformaes que ocorrem aolongo do desenvolvimento do indivduo.De ocordo com Marx. o desenvolvimento de habili

    _dodes e funes espedfcas do homem. assim como aorigem da s o c i n d a d ~ humana, so resultados do surgimenta do trabolho. E atravs do trabalho q ue o homem,ao mesmo tempo que transforma a natureza (objetivandosatisfazer suas necessidades), se transforma. Para realizarsua atividade, o homem se relaciona com seus semelhantes e fa.brica os meios, os instrumentos: o uso e a criaode mews de trabalho. embora existam em germe errialgumas espcies animais, caracterizam de forma eminente o trabalho humano" (Marx, 1972). Isto quer dizerque as relaes dos homens entre si e com a natureza somediadas pelo trabalho.Partindo destes princpios. Vygotsky procura analisara funo mediadora presente nos instrumentos eloborados para a realizao da atividade humana. O instrumento provocador de mudanas externos pois amplia a possibilidade de interveno na natureza (na caa, por exemplo. o uso da flecha permite o alcance de um animaldistante ou, para cortar uma rvore. a utilizao de um

    ObJeto cortante mais eficiente do que as mos). Diferente de outras espcies animais, os homens no s produzem seus instrumentos para a realizao de tarefasespecificas. como tambm so capazes de conserv-lospara uso posterior, de preservar e transmitir sua funo

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    aos membros de seu grupo, de aperfeioar antigos instru.- . 13mentes e de cnar novos.---- Vygotsky faz uma interessante c o m p m ~ o ~ m t r e acriao e a utilizao de instrumentos como a ~ ~ ~ m nasC ~ ~ concretas e os signos, "que ele c ~ m de ~ ~ ~ t r u -. 1 os'"-q-ux tem a funao de amnhar oroento_s pSI O OQlC , t .homem suas atividades psquicas, portant?: mternas. - 'ndivduo: a "inveno e o uso de signos auxihmes para~ ~ l ~ c i o n r um dado problema psicolgico (lembrar. cor:>parar coisns, relatar, escolher, etc.) anloga i n _ v e n ? a ~e uso de instrumentos, s que agora no campo p s t _ c ~ l o g -o.' O signo age como um instrumento da at Vldadepsicolgica de maneira anloga ao papel de um mstrumento no trabalho" (Vygotsky, 1984, p. 59-60).

    Com o amdlio dos signos, o homem pode controlarvoluntariamente sua atividade p s i c o l ~ i c a e a m ~ h a r suacapacidade de ateno. memria e acumulo de mformaes, como. por exemplo, pode se utilizar de um sorteiopara tomar uma deciso, amarrar um barbante no dedopara no esquecer um encontro, anotar um_ comportomenta na agenda. escrever um dirio para nno e s q u e c ~ rdetalhes viv.idos. consultar um atlas para localizar umpaiSetc.

    13. Vygotsky admite que alguns animais t a m ~ m se u t i l i ~ a m _ ~ ei n s t r u m e n t o ~ (cita, por exemplo, os x p e r i ~ e n t o s fmtos cor:n c h t p a n ~ sque se utilizaram de varas para alcanar ~ m e n l o s em l o c a t ~ a que aotinham acesso); no entanto, afirma que ex1ste uma g r ~ n d e diferena nouso de instrumentos entre os animais e o homem. Diferentemente doI omem os ;mimais so incapazes de construir i n t e n c i o n a l ~ e n t e osi n s t r u m ~ n t o s para realizar determinadas tarefas, de conserva-los e detransmitir sna funo aos seus semelhantes

    52

    Vygotsky dedica particular ateno a questo dalinguagem entendida como um sistema simblico fundainentalem todos os grupos humanos. elaborado no curso

    -da histria social, que organiza os signos em estruturascomplexas e desempenha um pllpel imprescindvel naformao das caractersticas psicolgicas humanas. Atravs dn lingunrrm possvel designar os objetos domundo exterior c:omo, por exemplo, a palavra faca quedesiga um utem;lio usado na alimentao), aes (comocortar, andar, fmver . qualidades dos objetos (como nexivel. spero) e as que se referem s relaes entre osobjetos (tais como: abaixo, acima, prximo).

    O surgimento d li ngu gem imprime trs mudanasessenciais nos processos psquicos do homem. A primeirse relaciona ao fato de que a linguagem permite idar comos objetos do mundo exterior mesmo quando eles estoausentes Por exemplo, a frase O vaso caiu permi te acornpi eeftS.30 do evento mesmo sem t-lo presenciado,pois operamos com esta informao internamente.

    . . . A segundn se refere ao processo e abstrao e/ generalizao que a linguagem possibilita isto , atravsda lingu gem possvel analisar, abstrair e generalizar ascaracteristicas dos objetos, eventos, situaes presentesna realidade. Corno, por exemplo, a palavra "rvore"designa qualquer rvore (independentemente de seu tamanho, se frutifera ou no etc.). Nesse caso, a palavrageneraliza o objeto e o inclui num determinada categoria. _Desse modo a lingu gem no somente designa oselementos presentes na realidade mas tambm fornece

    conceitos e modos de ordenar o real em categoriasconceituais._ terceira est associada funo de comunicao

    entre os homens que garante como conseqncia a

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    preservao, t ransmisso e assimilao de informaes eexperincias acumuladas pela humanidade ao longo da'hiStria. A linguagem um sistema de signos que posSlbilita o intercmbio social entr e indivduos que com partilhem desse sistemade representao d realidade. Cadapalavra indica significados especficos, como por exemploa palavra pssaro t raduz o conceito deste elementopresente na natureza, nesse sentido que representa ousubstitui) a realidade. justament e por fornecer significactos precisos que a linguagem permite a comunicao ntr os- homens.

    Essa linguagem no existe entre os animais, queapenas emitem sons que expressam seus estados econtagiam seus semelhantes, como por exemplo: o guiade um bando de cegonhas, ao sentir o perigo, solta gritosalarmantes aos quais o bando reage vivamente. Numamanada de macacos podemos observar todo um conjuntode sons, que expressa satisfao, agresso, medo aoperigo etc. ( .. ) Mas a linguagem dos animais nuncadesigna coisas. no distingue aes nem qualidades,portanto, no linguagem na verdadeira acepo dapalavra (Luria, 1991, p. 78).

    Estas idias deram origem a um programa de pesquisa (iniciado por Vygotsky mas aprofundado por seuscolaboradores) que visava anlise de como a relaoentre o uso de instrumentos e a fala e a fun.o mediadoraque os caracteriza) afeta vrias funes psicolgicas. emparticular a percepo, s operaes sensrio-motoras, ea ateno. Considerando um das funes de cada vez,procurou investigar como a fala introduz muda nas qualitativas n su forma e n su relao com s outrasfunes.

    54

    Buscou tambm observar de forma esquemtica asleis bsicas que caracterizam a strutun e o desenvolvimento das operaes com signos da crianyd, relacionando-os com a memria. O interesse por esse tipo ele anlisese deve no fato clr. nle acreditar que a verdadeira essnciada memria humnna (que a distingue dos animais) estno fato de os scrRs humanos serem capazes de lembrar

    ~ t i v a : n e n t e com G ajuda de signos (Vygotsky, 1984, p:o8). Esse programa de pesqutsa era coerente com a idiade que a intemalizao dos sistemas de signos a linguagem, a escrita, o sistema de nmeros) produzidos culturalmente provoca mudanas cruciais no comportamentohumano.

    Desse modo, os sistemas simblicos (entendidoscomo sistemas de representao da realidade), especial~ n t a linguagem, funcionam como elementos mediadores que permitem a comunicao entre os indivduoso estabelecimento de significados compartilhados po;determmado grupo cultural, a percepo e interpretaodos objetos, eventos e situaes do mundo circundante.E por ess razo que Vygotsky afirma que os processosde funcionamento mental do homem so fornecidos pela .cultura, atravs da mediao simblica.

    A partir de sw1 insero num dado contexto culturalde sua interailo com membros de seu grupo e de u ~participao em prticas sociais historicamente cons trudas. a criana incorpora ativamente as formas de comportamento j consolidadas na experincia humana. importante sublinhm que a :_cultura, entretanto, no pensada por Vygotsky como algo pronto, um sistemaesttico ao qual o indivduo-se submete, mas como umaespcie de palco de negociaes , em que seus membros esto num constante movimento de recriao e55

    reinterpretao de informaes, conceitos e significados

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    \livelia. 1993, p. 38).Na perspectiva vygotskiana, a internalizao dasprticas culturais, que constituem o desenvolvimentohumano. assume papel de destaque. Conforme veremos

    ---Seguir, uma de suas principais preocupQ.es era a deanalisar a dinmica do movimento de passagem de aesrealizadas no plano social (isto entre as pessoas, interpsicolgico) para aes internalizadas ou intramentais nointerior do indivduo, portanto, intrapsicolgico).

    5. O DESENVOLVIMENTO INF NTIL NAPERSPECTIVA SCIO HISTRICAVygotsky atribui enorme importncia ao papel dainterao-social no desenvolvimento do ser humano. Umadas mals''significativas contribuies das teses que for.mulou est na tentativa de explicitar (e no apenas

    pressupor) como o r o e s s o de desenvolvimento socialmente constitudo 4 Essa a principal razo de seuinteresse no estudo da infncia.

    curioso conhecer suas crticas aos paradigmasbotnicos e zoolgicos adotados, na pesquisa psico-

    14. Embora as formulaes de Vygotsky sobre a gnese dodesenvolvimento humano no se apresentem como um sistema tericoorganizado e articulado como o do epistemlogo suo Jean Piaget e dopsiclogo francs Henri Wallon. que chegaram a delinear os traosfundamentais do processo de estruturao psicolgica do beb at afase adulta. encontramos em seu pensamento reflexes abrangentes erelevantes acerca dos processos de desenvolvimento e aprendizagemdo ser humano.

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    lgica, para explicar o desenvolvimento infantil. Segundoele, a primeira tendncia compara o estudo da c riana botnica, ou seja, entende que o desenvolvimento dacriana depende de um processo de maturao do orga-. 15 -msmo como um todo . Esta concepao se apia na idiade que a mente da criana contm todos os estgios dofuturo desenvolvimento intelectual eles existem j na suaforma completa. esperando o momento adequado pmaemergir (Vygotsky, 1984, p. 26). Pam ele, no entanto, amaturao biolJica um fator secundrio no desenvolvimento das formas complexas do comportamento huma-no pois essas dependem da interao da criana e sucultura.

    Afirma que a segunda abordagem, apesar de maisavanada que a anterior, tambm equivocada na medida em que busca respostas s questes sobre a criana,a partir de experincias no reino animal. dmite que essesexperimentos contriburam para o estudo das bases biolgicas do comportamento humano (identificaram, porexemplo, algumas semelhanas nos processos psicolgicos elementares entre os macacos antropides e a crianapequena). Sua critica reside no fato de que a convergnciada psicologia animal e da criana tem limites srios paraa explicao dos processos intelectuais mais sofisticadosque so especificamente humanos.

    Seu ponto de vista bastante diferente dos anteriores. Segundo ela, a estrutura fisiolgica humana, aquiloque inato, no suficiente para produzir o indivduo

    5_ Vygotsky ch una a ateno para a relao do termo jardim deinfncia. ~ s a d o para designar os primeiros anos de educa.

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    humano, na ausncia do ambiente sociaL As caractersticas individuais (modo de agir, de pensar, de sentir,Valores, conhecimentos, viso de mundo etc.) depended interao do ser humano com o meio fsico e social.Vygotsky chama ateno para a ao recproca existenteentre o organismo e o meio e atribui especial importnciaao fator humano presente no ambiente.

    O caso verdico de duas crianas (as ch m d smeninas-lobas ) que foram encontradas, na lndia, vivendorio meio de uma manada de lobos, demonstra que parase humanizar o individuo precisa crescer num ambientesocial e interag ir com outras pessoas. Quando encontradas, praticamente no apresentavam um comportamentohumano: no conseguiam permanecer em p, andavamcom o apoio das mos, no falavam, se alimentavam decarne crua ou podre, no sabiam usar utenslios (taiscomo, copo, garfo etc.) nem pensar de modo lgico (Davis& Oliveira, 1990, p. 16). Quando isolado, privado docontato com outros seres, enuegue apenas a suas prpriS-ondies e a favor dos recursos d natureza, ohomem fraco e insuficiente.

    Devido a essas caractersticas especificamente hu-mars torna-se impossvel considerar o desenvolvimentodOsujeito como um processo previsvel, universal, linear\ ou graduaL O desenvolv imento est intimamente relacio. ii ado-ao contexto scio-cultural em que a pessoa se inserei e-se processa de forma di nmica e dialtica) atravs de) rupturas e desequilbrios provocadores de continuas reorl ganizaes por parte d o indivduo.

    Se comparado com as demais espcis animais, obeb humano o mais indefeso e despreparado para lidarcom os desafios de seu meio. A su sobrevivncia depe nde dos sujeitos mais experientes de seu grupo, que se

    58

    bsicas (locomoo, abrigo, alimentao, higiene etc.),afetivas (carinho. ateno) e pela formao do comportamento tipicmncnte humano. Devido caracterstica imaturidade motora do beb longo o perodo de dependncia dos adultos.Inicialmente, su atividade psicolgica bastanteelementar e determinada por sua herana biolgica. Vygotsky ressaltil que os fatores biolgicos tm preponderncia sobre os sociais somente no incio da vida dcriana. Aos poucos as interaes com seu grupo sociale com os objetos de sua cultura passam a governar ocomportamento e o desenvolvimento de seu pensamento.Dessa forma, no processo da constituio humana possvel distinguir duas linhas qualitativamente diferentes de desenvolvimento, diferindo quanto asu origem:

    de um lado, os processos elementares, que so de origembiolgica: de outro, as funes psicolgicas superiores,le origem scio-cultural. A histria do comportamento dcriana nasce do entrelaamento dess s duas linhas(Vygotsky, 1984, p. 52).

    Desde o nascimento, o beb est em constanteinterao com os adultos, que no s asseguram suasobrevivncia mns tambm medeiam a sua relao como mundo. Os adultos procuram incorporar as crianas sua cultura, iltribuindo significado s condutas e aosobjetos cultumis que se formaram ao longo da histria.

    O comportmnento da criana recebe influncias doscostumes e objetos de su cultura, como por exemplo emnossa cultura urbana ocidental: dorme no bero, usaroupas para se aquecer e. mais tarde, talheres para comer.sapatos para andm etc. Inicialmente a relao da criana

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    com o mundo dos objetos mediada pelos adultos; por interaes com o meio social em que vive. j que as

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    exemplo. eles aproximam os objetos que a criana querapanhar. agitam o brinquedo que faz barulho, alimentam- n com a mamadeira etc.Com a ajuda do adulto, as crianas assimilam ativamente aquelas habilidades que foram construdas pelaillsi

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    prtica: o momento de maior significado no curso dodesenvolvimento intelectual, que d origem s formaspuramente humanas de inteligncia prtica e abstrata,acontece quando a fala e a atividade prtica. ento duaslinhas completamente independentes de desenvolvimen-to, convergem (Vygotsky, 1984, p. 27}.Em sntese, na perspectiva vygotskiana o desenvol-vimento das funes intelectuais especificamente huma-nas mediado socialmente pelos signos e pelo outro. Ao

    internalizar as experincias fornecidas pela cultura, acriana reconstri individualmente os modos de aorealizados externamente e aprende a organizar os pr-prios processos mentais. O indivduo deixa, portanto, dese basear em signos externos e comea a se apoiar emrecursos intemalizados (imagens, representaes men-tais, conceitos etc.}.Concordamos com Smolka e Ges quando afirmamque o que parece fundamental nessa interpretao daformao do sujeito que o movimento de individuao

    se d a partir das experillciaS propiciadas pela cultura.O desenvolvimento envolve processos, que se const ituemmutuamente, de imerso na cultura e emergncia daindividualidade. Num processo de desenvolvimento quetem carter mais de revoluo que de evoluo, o sujeitosefz Cmo ser diferenciado do outro mas formado narelao com o outr o: sing ular, mas constitudo socialmen-

    t e ~ e pr isso mesmo, numa composio individual masn o hiiognea (1993, p. 10}.

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    6 RELAES ENTRE PENSAMENTO ELINGU GEMO estudo dr1s relaes entre pensamento e linguagem

    considerado um dos temns mais complexos da psicologia. Vygotsky se dedicou a este assunto durante muitosanos de sua vida 16 . Ele e seus colaboradores trouxeramimportantes contribuies sobre o tema, principalmenteno que se refere questo da compreenso das razesgenticas da wlao entre o pensamento e a linguagem.Afirma que a relao entre o pensamento e a falapassa por vrios mudanas ao longo da vida do indivduo.Apesar de terem origens diferentes e de s e desenvolveremde modo independente, numa certa altura, graas insero da criana num grupo cultural, o pensamento elinguagem se encontram e do origem ao modo defuncionamento psicolgico mais sofisticado, tipicamentehumano .Segundo Vygotsky, a conquista da linguagem repre-senta um marco no desenvolvimento do homem: acapacitao especificamente humana para a linguagemhabilita as crianas a providenciarem instrumentos auxiliares na soluo de tarefas difceis, a superarem a aoimpulsiva, a planejarem a soluo para um problemaantes de sua execuo e a controlarem seu prpriocomportamento. Signos e palavras constituem para ascrianas, primeiro e acima de tudo, um meio de contatosocial com outras pessoas. As funes cognitivas e co-

    16. Para um estudo mais aprofundado das idias de VyJotsky sobrea questo da l i n g u ~ g e m e suas relaes com o pensamento. ver o livroPensaman O e li ngunaAm {Vygotsky, 1987

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    municativas da linguagem tornam-se, ento, a base de Atravs de inmeras oportunidades de dilogo, os

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    uma forma nova e superior de atividade nas crianas,distinguindo-as dos animais" (Vygotsky, 1984, p. 31 .Sendo assim. a linguagem tanto expressa o pensamentocriana como age como organizadora desse pensamento.Vejamos como isto se processa.J?Z:to nas crianas como nos adultos, a funoprimordiiil da fala o contato sociiil, a comunicao; istoquer dizer que o desenvolvimento da linguagem impulsionado pela necessidade de comunicao. Assim, mesino a fala mais primitiva da criana social. Nos primeiros~ ~ e vida, o balbucio, o riso, o choro, as expressesfaciais ou as primeiras palavras da criana cumprem no'loment.e a funo de alivio emocional (como por exemplomanifestao de conforto ou incmodo) como tambmso meios de contato com os membros de seu grupo. No_entant_o, esses sons, gestos ou expresses so manifestaes bastante difusas, pois no indicam significadostll_ecificos (por exemplo, o choro do b eb p ode significar. dor de barriga, fome etc.). Vygotsky chamou esta fase de1 _estgio pr-intelectual d o desenvolvimento da fala.Antes de aprender a falar a criana demonstra umaintelignci prtic que consiste na sua capacidade degrr _J cffubiente e resolver problemas prticos, inclusivecom o auxilio de instrumentos intermedirios (por exem

    pl; capaz de se utilizar de um baldinho para encher deareiaou de subir num banco para alcanar um objeto).mas sem a mediao da linguagem. Segundo Vygotsky,z} esse o estgio pr-lingstico do desenvolvimento doPe. lsarnento.

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    adultos, que j dominam a linguagem. no s interpretame tribuem significados aos gestos, posturas, expressese sons dn criana como tambm a inserem no mDndosimblico de sun cultura. Na medida em que a crianainterage e dialoga com os membros mais maduros de suacultura, aprende a usar a linguagem como instrumentodo pensamento e como meio de comunicao. Nessemomento o pensamento e a linguagem se associam,conseqe ntemente o pensame nto torna-se verbal e a falaracional17 .

    interessante analisar com mais detalhes as explicaes de Vygotsky sobre o processo de conquista dautilizao da linguagem como instrumento de pensamento, que evidencia o modo pelo qual a criana interiorizaos padres de comportamento fornecidos por seu grupocultural. Atravs de seus experimentos, pde observarque este processo, apesar de dinmico e no linear, passapor estgios que obedecem seguinte trajetria: a [alaevolui de uma fala exterior para uma fala egocntrica e,desta. para umil fala interior. A fala egocntrica entendida como um estgio de transio entre a fala exterior(fruto das atividades interpsiquicas, que ocorrem no planosocial) e a fala interior (atividade intrapsquica, individual).

    7 Vygotsky afirma que a partir desse momento o pensamentoverbal passa a ser predominante na atividade psicolgica humana. Noentanto. o pensamento no verbal por exemplo, nas atividades queexigem apenas o uso da inteligncia prtica) e a linguagem nointelectual {por exemplo. quando um indivduo recita um poema deco-rado ou n

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    e pensar.

    y ; /,\1-7. A QUISIO D LINGU GEM ESCRIT'{ygotsky afirma que no some nte atravs da aquisio da linguagem falada que o indivduo adquire formasmais complexas de se relacionar com o mundo que o

    11cerca. Oaprendizado da linguagem escrita representa umInovo e considervel salto no desenvolvimento da pessoa."Algumas pesquis as demonstraram que este proces-so ativa uma fase de desenvolvimento dos processospsicointelcctuais inteiramente nova e muito complexa, eque o aparecimento destes processos origina urna mudan a radical das caractersticas gerais, psicointelectuais< da criana" ( .. ) (Vygotsky, 1988, p. 116 . O domnio dessesistema complexo de signos fornece novo instrumento depensamento (na medida em que aumenta a capacidadede memria. registro de informaes etc.). propicia diferentes formas de organizar a ao e permite um outro tipode acesso ao patrimnio da cultura humana (que seencontra registrado nos livros e outros portadores detextos). Enfim, promove modos diferentes e ainda maisabstratos de pensar, de se relacionar com as pessoas el com o conhecimento.

    '< rtindo desse pressuposto, Vygotsky faz importaot ~ ~ r t i ~ s viso, p:ese nte tanto n ~ Psicologia corno naPedagogia, que considera o aprendizado da escrita apenas como habilidade motora: "Ensina-se as crianas aesenha r letras e construir palavras com elas, mas no seensma a lmguagem escrita. Enfatiza-se de tal forma amecnica de ler o que est escrito que se acaba obscu\

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    p. 119O aprendizado da escrita, esse produto cultural construido ao lonqo da histria da humanidade, entendido, por Vygotsky corno um processo bastante complexo. que iniciado pmn a criana "muito antes da primeira vez queo professor coloca um lpis em sua mo e mostra comoformm letras" (Vygotsky, L.S et ai. 1988, p. 143).A complexidade desse processo est associada aofato de a escrita ser um sistema de representao darealidade extremamente sofisticado, q ue se constitui numconjunto de "smbolos de segunda ordem, os smbolosescritos funcionam como designaes dos smbolos ver-bais. A compreenso da linguagem escrita efetuada,primeiramente. atravs da linguagem falada: no entant o,gradualmente es sa via reduzida, abreviada, e a linguagem falada desaparece como elo intermedirio" (Vygots

    ky, 1984, p. 131).Sendo assim, o aprendizado da linguagem escritaenvolve a elaborao de todo um sistema de representao simblica da realidade. por isso que eleidentifica urna espcie de continuidade en tre as diversas

    atividades simblicas: os gestos, o desenh o e o brinquedo. Em outras palavras, estas atividades contribuem parao desenvolvimento da represent ao simblica (onde signos representilm significados). e. conseqentemente,para o processo de aquisio da linguagem escrita.Consiclcmndo a importncia do domnio da linguagem escrita pma o indivduo, Vygotsky enfatiza a necessidade de investigaes que procurem desvendar agnes e da escrita, o caminho que a criana percorre paraaprender a ler e escrever, particularmente antes que se

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    submeta ao ensino sistemtico desta linguagem na s c o ~la: Amundo. O aprendizado considerado, assim, um aspe ctonecessrio e fundamental no processo de desenvolvimen

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    essa pr-histria da linguagem escrita; mostrar o que levaas crianfls a escrever; mostrar os pontos importantespelos quais passa esse desenvolvimento pr-histrico equal a sua relao com o aprendizado escolar (Vygotsky,1984, p. 121). Esse programa de pesquisa foi realizado porLuria, que, atravs de experimentos, procurou identificaro percurso da pr-histria da escrita, a gnese da linguagem escrita na criana 9

    8 INTERAO ENTRE APRENDIZADO EDESENVOLVIMENTO: A ZONA DEDESENVOLVIMENTO PROXIMALComo vimos at agora. Vygotsky no ignora asdefinies biolgicas da espcie humana; no entantoatribui urna enorme importncia dimenso social q u ~fornece instrumentos e smbolos (assim como t o d ~ s oselementos presentes no ambiente humano impregnadosde significado cultural) que medeiam a relao do indivduo com o mundo, e que acabam por fornecer tambm

    seus mecanismos psicolgicos e formas de agir nesse

    . 19. Os resultados desse trabalho podem ser conhecidos atravs doa ~ t J g o escrito por Luria: dO desenvolvimento da escrita na criana In:Linguagem desenvolvimento e aprendizagem (Vygotsky, L.S. et. ai,

    9 8 ~ p. ~ 4 3 - 1 8 9 . i n t e ~ e s s ~ n t e observar que as idias de Vygotsky,que mspuaram as mvest1gaoes efetivadas por Luria nos anos 20 e 30g u ~ d a m muitas ~ e m e l h a n a s com os postulados elaborados pela p e s ~. quJSadora argentma Emlia Ferreiro e seus colaboradores. a partir dos, anOS 70. Para uma anlise das proximidades e divergncias entre esses

    : trabalhos cons ultar M.T.F. Rocco (1990) eM da G.A.B. Santos (1991).

    70~ l

    to das funes psicolgicas superiores20 .Portanto, o desenvolvimento pleno do ser humnnodepende do aprendizado que renliza num determinadogrupo cultuml, a partir da interao com outros indivduosda sua espcie. Isto quer dizer que. por exemplo, umindivduo criado numa tribo indgena, que desconhece osistema de escrita e no tem nenhum tipo de cont ato comum ambiente letrado. no se alfabetizar. O mesmo ocorre

    com a aquisio da fala. A criana s aprender a falarsepertencer a uma comunidade de falantes, ou seja, ascondies orgnicas (possuir o aparelho fonador), emboranecessrias. n5o so suficientes para que o indivduoadquira a linguagem.

    Nessa perspectiva, o aprendizado que possibilita emovimenta o processo de desenvolvimento: o aprendizado pressupe uma natureza social especfica e umprocesso atravs do qual as crianas penetram na vidaintelectual daqueles que s cercam (Vygotsky, 1984, p.99). Desse ponto de vista. o aprendizado o aspectonecessrio e universal, uma espcie de garantia do desenvolvimento das caractersticas psicolgicas especificamente humanas e culturalmente organizadas. justmnente por isso que as relaes entre e s e n ~volvimento e aprendizagem ocupam lugar de destaque na

    20. Sobre este assunto. ver especialmen te o artigo: Interaoentre aprendizado e desenvolvimento In: A formao social d mente(Vygotsky, 1981, p. 89-103).

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    obra de Vygotsky21 Ele analisa essa complexa questosob dois ngulos: um o que se relere compreenso da pendente, como por exemplo: andar de bicicleta, cortar

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    relao geral entre o aprendizado e o desenvolvimento; ooutro, s peculiaridades dessa relao no perodo escolar.Faz esta distino porque acredita que, embora o aprendizado da criana se inicie muito antes dela freqentar aescola, o aprendizado escolar introduz elementos novosno seu desenvolvimento.

    Vygotsky identifica dois nveis de desenvolvimento:um se refere s conquistas j efetivadas, que ele chamade nvel de desenvolvimento real ou eletivo, e o outro, onvel de desenvolvimento potencial, que se relaciona scapacidades em vias de serem construdas, conformeexplicaremos a seguir.

    O nvel de desenvolvimento real pode ser entendidocomo referente quelas conquistas que esto consolidadas na criana, aquelas funes ou capacidades queela j aprendeu e domina, pois j consegue utilizar sozinha, sem assistncia de algum mais experiente dacultura (pai. me, professor, criana mais velha etc.). Estenvel indica, assim, os processos mentais da criana quej se estabeleceram, ciclos de desenvolvimento que j secompletaram.Desse modo, quando nos referimos quelas atividades e tarefas que a criana j sabe fazer de forma inde-

    21. O t

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    funes poderiam ser chamadas de brotos ou flores'do desenvolvimento, ao invs de frutos do desenvolvi.menta (Vygotsky, 1984, p. 97). Deste modo, pode-seafirmar que o conhecimento adequa do do desenvolvi-mento individual envolve a considerao tanto do nvelde desenvolvimento real quanto do potencial.O aprendizado o responsvel por criar a zona dedesenvolvimento proximal, na medida em que, em interao com outras pessoas. a criana capaz de colocarem movimento vrios processos de desenvolvimento que,sem a ajuda externa seriam impossveis e ocorrer. Esses1 2 : 0 c e ~ s o s se internalizam e passam a fazer parte dasaquisies do se_u desenvolvimento individuaL por issoque Vygotsky afirma que , aquilo que a zona de desenvolvimento r o x m ~ hoje ser o nvel de desenvolvimentoreal amanha -ou seJa, aquilo que uma criana pode fazerj com assistncia hoje, ela ser capaz de fazer sozinhal aman h (Vygotsky, 1984, p. 98).

    O conceito de zona de desenvolvimento proxirnal _e ~ _ x t r e m a importncia para as pesquisas do dcser. ol-virnento infantil e para o plano educacional. justamente

    porque permite a compreenso da dinmica in te' na do_?esenvolvimento individual. Atravs da 0onsiderao dazona de desenvolvimento proxim' l, 'Jossv?l verificarno somente os ciclos j completauos, C0 ,JO tambm osque esto em via de formao, o que permite o delineamento da competncia da criana e de suas futurasconquistas. assim como a elaborao de estratgias pedaggicas que a auxiliem nesse processo.Esse conceito possibilita analisar ainda os limitesdesta competncia, ou seja, aquilo que est alm da

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    ela no copaz de fazer. Por exemplo: uma criana de 6 anos pode conseguir completar um esquema de PalavrasCruzadas com a ajuda de um adulto ou em colaboraocom algum parceiro. No entanto, umn criana de 2 anosno ser c8pnz de realizar esta tarefa, mesmo com a8ssistncin de algum.

    Segundo Vygotsky, o aprendizado de modo geral e oaprendizado escolar em particular, no s possibilitamcomo orientam e estimulam processo s de desenvolvimento. Nesse sentido argumenta: ( ... ) todas as pesquisasexperimentais sobre a nature za psicolgica dos processosde aprendizagem da aritmtica, da escrita, das cinciasnaturais e de outras matrias na escola elementar demonstram que o seu fundamento, o eixo em torno do qualse montam. uma nova formao que se produz em idadeescolar. Estes processos e sto todos ligados ao desenvolvimento do sistema nervoso central. (. ..)Cada mntria escolar tem uma relao prpria com ocurso do desenvolvimento da criana, relno que mudacom a passaqem dn criana de uma etapa pam outra. Istoobriga a reexaminar todo o problema das disciplinas

    formais, ou seja, do papel e da importncia de cadamatria no posterior desenvolvimento psicointelectualgeral da criana (Vygotsky, 1988, p. 116-117).

    9. O PROCESSO DE FORMAO DECONCEITOS E O PAPEL DESEMPENHADOPELO ENSINO ESCOLAREste um tema de extrema importncia nas proposies de Vygotsky, pois integra e sintetiza suas princi-

    75

    pais teses acerca do desenvolvimento humano: as relaes entre pensamento e linguagem, o papel mediadorantes de estudm matemtica n escola, a criana j teveexperincias com quantidades e, portanto, j lidou com

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    da cultura na constituio do modo de funcionamentopsicolgico do individuo e o processo de internalizaode conhecimentos e significados elaborados socialmente. Na perspectiva vygotskiana, os conceitos s o enten. , didos como um sistema de relaes e generalizao . -"\''' contidos nas palavras e determinado por um processo.

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    vivo constituem uma seqncia de palavras que, partindorlo Objeto concreto gato adquirem cada vez mais abrangncia e complexidade.

    Apesar de diferentes, os dois tipos de conceito estointimamente relacionados e se influenciam mutuamente.pois fazem parte, na verdade, de um nico processo: odesenvolvimento da formao de conceitos. "Frente a umconceito sistematizado desconhecido, a criana buscasignific-lo atravs de sua aproximao com outros jconhecidos. j elaborados e internalizados. Ela buscaenraiz-lo na experincia concreta. Do mesmo modo, umconceito espontneo nebuloso, aproximado a um conceito sistematizado, coloca-se num quadro de generolizao" (Fontana, 1993, p. 125 .

    Q_processo de formao de conceitos, fundamentalno desenvolvimento dos processos psicolgicos superiores, longo e complexo, pois envolve operaes intelectuais dirigidas pelo uso das palavras (tais como:ateno deliberada, memria lgica, abstrao, capacidade para comparar e diferenciar). Para aprender um conceito necessrio, alm das informaes recebidas doexterior, uma intensa atividade mental por parte da crian-

    [a. Portanto. um conceito no aprendido por meio deum treiii mento mecnico. nem t mpouco pode ser me-ramente transmitido pelo professor ao aluno: o ensinodireto de conceitos impossvel e infrutfero. Um proles sor que tenta fazer isso geralmente no obtm qualquer' resultado, exceto o verbalismo vazio, uma repetio de palavras pela criana, semelhante a de um papagaio, quei simula um conhecimento dos conceitos correspondentes,

    { mas que na realidade oculta um vcuo" (Vygotsky, 1987,p. 72).

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    tes no pensamento infantil: o dcsenvolvnn::nto dos p r ~ -ccssos, q u ~ finalmente resultam na f o r ~ a _ a o e conceitos. comea na fase mais precoce d mfa_ncia, m s asfunes intelectuais que, numa combmaao e s p e ~ I f l c aformam a b

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    10 A FUNO DA BRINCADEIRA NODESENVOLVIMENTO INFANTIL interessante observar que. para Vygotsky, o ensinosistemtico no o ni co fator responsvel por alargar oshfiZnts da zona de desenvolvimento proximal. EleConsidera o brinquedo uma impo rtante fonte de promoo

    e desenvolvimento. Afirma que. apesar do brinquedono ser o aspecto predominante da infncia, ele exerceuma enorme influncia no desenvolvimento infanti123 .O termo "brinquedo", empregado por Vygotsky numsentido-amplo, se refere principalmente atividade, ao

    ~ t de brincar. fnecessro ressaltar tambm que emboraele analise o desenvolvimento do brinquedo e mencioneoutras modalidades (como, po r exemplo, os jogos esportivos), dedica-se mais especialmente ao jogo de papisou brincadeira de "faz-de-conta" (como. por exemplo.brincar de polcia e ladro, de mdico, de vendnha etc.).Este tipo de brincadeira caracterstico nas crianas queaprendem a falar. e que, portanto. j so capazes derepresentar simbolicamente e de se envolver numa situao imaginria.

    23. Maiores informaes sobre o estudo desse tema podero serobtidas nos artigos "O papel do brinquedo no desenvolvimento". Tn: Aformao social da mente (Vygotsky, 1984, p. 105-118). er tambm oartigo de Leontiev ~ s princpios psicolgicos da brincadeira pr-escolar". In: Linguagem desenvolvimento e aprendizagem (Vygotsky et a\.,1988, 119-142 .

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    nos animais nem na criana muito pequena. , portanto,impossvel a participao da criana muito pequenanuma situao imaginria. Ela tende a querer satisfazerseus desejos imediatamente: "ningum jamais encontrouuma criana muito pequena, com menos de trs anos deidade, que quisesse fazer alguma coisa dali a alguns dias,no futuro" (Vyuotsky, 1984, p 106 .At s ~ a bse seu comportamento dependente das

    restries impostas pelo ambiente. Vygotsky exemplificao quanto sua ao determinada pelo campo visualexterno: "a grande dificuldade que uma criana pequenatem em perceber que, para sentar numa pedra, precisoprimeiro virar-se de costas para ela" (Vygotsky, 1984, p.09). Nesse perodo ela ainda no consegue agir de formaindependente daquilo que v: "h uma fuso muito ntimaentre o significado e o que visto. Quando se pede a umacriana de dois anos que repita a sentena "Tnia est dep", quando Tnia est sentada na sua frente. ela mudara frase para "T;in ia est sentada" (Vygotsky, 1984, p. 110 .De acordo com Vygotsky, atravs do brinquedo, a

    criana aprende a atuar numa esfera c