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VI Encontro Nacional da Anppas 18 a 21 de setembro de 2012 Belém - PA – Brasil _______________________________________________________ Vulnerabilidade Socioecológica nos municípios de Caraguatatuba e São Sebastião, Litoral Norte de São Paulo: Medidas, Perfis de ativos e Trajetórias. Tathiane Mayumi Anazawa (INPE) Bióloga, pós-graduanda do curso de mestrado em Sensoriamento Remoto [email protected] Flávia da Fonseca Feitosa (INPE) Arquiteta-Urbanista, pós-doutoranda em Planejamento Urbano e Regional [email protected] Antônio Miguel Vieira Monteiro (INPE) Engenheiro Elétrico, pesquisador da Divisão de Processamento de Imagens [email protected] Resumo Este trabalho apresenta uma análise temporal da vulnerabilidade da região litorânea que compreende os municípios de Caraguatatuba e São Sebastião, baseada na metodologia de operacionalização do conceito de Vulnerabilidade Socioecológica apresentada por Anazawa et al. (2012). A abordagem metodológica adotada atualiza e estende a caracterização de perfis de ativos de famílias ou grupos populacionais, para acomodar dimensões inerentes aos territórios em que estes vivem. Desta forma torna-se possível observar e medir diferenciais intraurbanos para a vulnerabilidade. Os resultados analisados mostraram a heterogeneidade das condições de vulnerabilidade nas distintas regiões dos municípios através dos mapas de superfícies de vulnerabilidade socioecológica, a partir da construção do índice sintético IVSE e seus componentes para os anos de 1991 e 2000. No painel de observações, que auxilia na visualização das múltiplas dimensões da vulnerabilidade, foi possível verificar que as representações gráficas e tabulares foram capazes de demonstrar diferenciações do grau de acesso das famílias a cada categoria de capital, evitando assim análises simplificadas baseadas exclusivamente em índices sintéticos. Palavras-chave Vulnerabilidade Socioecológica, Perfis de ativos, Trajetórias de vulnerabilidade, painel de observações da vulnerabilidade.

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VI Encontro Nacional da Anppas 18 a 21 de setembro de 2012 Belém - PA – Brasil _______________________________________________________

Vulnerabilidade Socioecológica nos municípios de Caraguatatuba e São Sebastião, Litoral Norte de São

Paulo: Medidas, Perfis de ativos e Trajetórias.

Tathiane Mayumi Anazawa (INPE)

Bióloga, pós-graduanda do curso de mestrado em Sensoriamento Remoto [email protected]

Flávia da Fonseca Feitosa (INPE)

Arquiteta-Urbanista, pós-doutoranda em Planejamento Urbano e Regional [email protected]

Antônio Miguel Vieira Monteiro (INPE)

Engenheiro Elétrico, pesquisador da Divisão de Processamento de Imagens [email protected]

Resumo Este trabalho apresenta uma análise temporal da vulnerabilidade da região litorânea que compreende os municípios de Caraguatatuba e São Sebastião, baseada na metodologia de operacionalização do conceito de Vulnerabilidade Socioecológica apresentada por Anazawa et al. (2012). A abordagem metodológica adotada atualiza e estende a caracterização de perfis de ativos de famílias ou grupos populacionais, para acomodar dimensões inerentes aos territórios em que estes vivem. Desta forma torna-se possível observar e medir diferenciais intraurbanos para a vulnerabilidade. Os resultados analisados mostraram a heterogeneidade das condições de vulnerabilidade nas distintas regiões dos municípios através dos mapas de superfícies de vulnerabilidade socioecológica, a partir da construção do índice sintético IVSE e seus componentes para os anos de 1991 e 2000. No painel de observações, que auxilia na visualização das múltiplas dimensões da vulnerabilidade, foi possível verificar que as representações gráficas e tabulares foram capazes de demonstrar diferenciações do grau de acesso das famílias a cada categoria de capital, evitando assim análises simplificadas baseadas exclusivamente em índices sintéticos. Palavras-chave Vulnerabilidade Socioecológica, Perfis de ativos, Trajetórias de vulnerabilidade, painel de observações da vulnerabilidade.

VI Encontro Nacional da Anppas 18 a 21 de setembro de 2012 Belém - PA – Brasil _______________________________________________________ Introdução

Com o aumento da ocorrência de eventos climáticos extremos, associado às complexidades das

novas realidades do Brasil urbano (alta densidade de ocupação em encostas e áreas de várzeas, por

exemplo), tem sido possível observar como indivíduos em diferentes situações socioeconômicas e

localizados em territórios urbanos com diferentes características estão expostos a certos desfechos

(perda da vida ou propriedade) em variados graus de intensidade. Essas situações apontam para

diferenciais intraurbanos nas capacidades das pessoas e dos territórios em que vivem para responder

aos impactos derivados de eventos naturais produzidos por extremos climáticos (TSCHAKERT,

2007). Em um contexto de ampliação dos extremos climáticos e intensificação da trajetória de

urbanização brasileira, identificar, medir e caracterizar a vulnerabilidade de grupos populacionais em

seus territórios é essencial para informar o desenho das políticas públicas urbanas dentro dos novos

cenários que começam a se estabelecer (ALVES, 2006; OJIMA, 2009).

Nos últimos anos, o termo vulnerabilidade tem sido explorado e utilizado com certa frequência por

grupos acadêmicos e entidades governamentais (ADGER, 2006; DE CHAZAL et al., 2008; HOGAN;

MARADOLA JR., 2005; O'BRIEN et al. 2004), adquirindo uma posição estratégica aos estudos

focados na questão da adaptação de sistemas socioecológicos frente a mudanças climáticas e

ambientais. Apesar das diferenças e diversidades conceituais de vulnerabilidade, não há uma

definição de vulnerabilidade mais representativa que outra no campo científico (EAKIN; LUERS,

2006), o que pode potencializar o uso do termo vulnerabilidade como um conceito mediador, capaz

de facilitar o diálogo entre profissionais com distintas visões disciplinares e políticas.

O conceito mediador pode ser traduzido na forma de objetos mediadores, operacionalizando idéias e

conceitos de forma a estabelecer uma melhor comunicação entre pesquisadores e tomadores de

decisões. São desenvolvidos na fronteira entre os discursos heterogêneos por apresentar

características multifuncionais e possuir função cognitiva como a transferência de conceitos e

métodos, funcionando assim como um meio de tradução (FEITOSA; MONTEIRO, 2012).

Nessa direção, este trabalho apresenta uma análise temporal da vulnerabilidade da região litorânea

que compreende os municípios de Caraguatatuba e São Sebastião, baseada na metodologia de

operacionalização do conceito de Vulnerabilidade Socioecológica apresentada por Anazawa et al.

(2012). Buscou-se explorar o potencial do Índice de Vulnerabilidade Socioecológica – IVSE

(ANAZAWA et al., 2012), compreendido como um objeto mediador, refinar a seleção das variáveis

que compõe o IVSE, considerando a realidade da área de estudo e a disponibilidade de dados, bem

VI Encontro Nacional da Anppas 18 a 21 de setembro de 2012 Belém - PA – Brasil _______________________________________________________ como identificar e caracterizar grupos de indivíduos e seus territórios em situação de vulnerabilidade

socioecológica nos anos 1991 e 2000. Neste trabalho também foi analisada a evolução das situações

de vulnerabilidade socioecológica através da definição de uma Tipologia de Trajetórias.

Embasamento Teórico

O trabalho de Anazawa et al. (2012) explora e amplia os conceitos de ativos e estrutura de

oportunidades (KAZTMAN, 1999, 2000), tipicamente adotados em um contexto sociodemográfico,

através da inclusão de uma dimensão ecológica, que incorpora elementos do ambiente físico e

natural, cujo acesso (ou a impossibilidade dele), passa a compor a condição de vulnerabilidade de

indivíduos, famílias ou grupos. O lugar das pessoas passa a ter uma expressão na composição dos

ativos.

Partindo do pensamento que admite “o território como ator e não apenas como um palco, isto é, o

território no seu papel ativo” (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p.11), há a necessidade de compreender as

conexões e relações que se dão na dinâmica cotidiana desses territórios. O território não é mais o

mero receptáculo dos processos de constituição das diferenças e desigualdades, e sim constitutivo

desses processos e atua na potencialização ou não das diferenças, no aprofundamento ou não das

desigualdades. Incorporar a perspectiva territorial na formulação conceitual, na definição das

medidas, na operacionalização dos conceitos, no monitoramento, na avaliação e na revisão de

políticas públicas implica necessariamente manejar as potencialidades ativas dos territórios na

constituição de processos e relações sociais e de poder (KOGA, 2011; KOGA; NAKANO, 2006).

Reconsiderar o território, suas dinâmicas e as relações sociais que nele se desenrolam, permite uma

releitura do conceito de vulnerabilidade e de sua inserção em uma agenda que postula a observação

das cidades em um contexto de Sistemas Socioecológicos (DU PLESSIS, 2008; GROVE, 2009;

OSTROM, 2007).

Para Kaztman, ativos representam um conjunto de recursos, tangíveis ou intangíveis, que são

controlados por indivíduos e famílias, e cuja mobilização permite melhorar sua situação de bem-estar,

evitar a deterioração de suas condições de vida ou diminuir sua vulnerabilidade (KAZTMAN, 2000, p.

294). As fontes de renovação e acumulação dos ativos necessários para participar plenamente da

sociedade são chamadas de estruturas de oportunidades (KAZTMAN, 2000; KAZTMAN; FILGUEIRA,

2006). As estruturas de oportunidades mais importantes para o acesso aos ativos são provenientes

do funcionamento do mercado (empregos e a condição de estabilidade), da sociedade (as relações

VI Encontro Nacional da Anppas 18 a 21 de setembro de 2012 Belém - PA – Brasil _______________________________________________________ sociais), do Estado (acesso aos serviços públicos ou outras formas de proteção social), e até mesmo

da própria família (KAZTMAN, 2000). Neste contexto, a ideia de vulnerabilidade está relacionada "às

situações que surgem quando as configurações de recursos que controlam e podem movimentar os

domicílios não são suficientes para aproveitar as estruturas de oportunidade de acesso ao bem-estar"

(KAZTMAN; FILGUEIRA, 2006).

Kaztman et al. (1999) adotam a seguinte divisão dos ativos: capital físico, capital humano e capital

social. Dado o enfoque estritamente socioeconômico desta divisão de ativos, buscou-se, para a

construção de um conjunto de representações que operacionalizem o conceito de vulnerabilidade

socioecológica, considerar o território de maneira explícita, incluindo a localização relativa de feições

naturais e construídas pelo homem e sua relação com a localização dos grupos nos territórios e a

localização relativa entre os lugares de moradia dos grupos populacionais (uma noção de vizinhança)

como variáveis de composição da vulnerabilidade. Para tanto, uma quarta categoria de ativos é

adicionada à divisão analítica já apresentada: o capital físico-natural. Segue abaixo a descrição de

cada um dos tipos de ativos considerados nesta abordagem:

a. Capital Financeiro: Equivale ao que Kaztman (2000) chama de capital físico. Compreende a

disponibilidade de recursos de alta liquidez, como salários, proventos em geral e acesso a

créditos , assim como de bens materiais de menor liquidez, como imóveis, meios próprios de

transporte, etc. (DFID, 1999; KAZTMAN, 2000; LAMPIS, 2010).

b. Capital Humano: Representa as habilidades, conhecimentos, capacidade de trabalho e boa

saúde que, juntos, permitem que os indivíduos aumentem suas possibilidades de produção e

de bem-estar pessoal, social e econômico (DFID, 1999; KAZTMAN, 2000; LAMPIS, 2010). O

trabalho é um dos mais críticos ativos ligado aos investimentos em capital humano (MOSER;

SHRADER, 1999). Investimentos estes que envolvem, entre outros aspectos, a experiência

dos indivíduos, bem como seus níveis de educação e condições de saúde. Do ponto de vista

das famílias, o capital humano diz respeito ainda a quantidade de trabalho potencial (por

exemplo, pessoas em idade economicamente ativa), a qualidade desta mão-de-obra, bem

como a capacidade de mobilização e articulação entre membros da família (KAZTMAN, 2000).

c. Capital Social: Compreende as habilidades desenvolvidas para a garantia de benefícios

através de associações em redes de relações sociais ou outras estruturas sociais (COLEMAN,

1988; PUTNAM et al., 1993; PORTES, 1998). Envolve relações verticais (patrão/cliente) ou

horizontais (entre indivíduos de interesses comuns, como por exemplo, a organização familiar

e a comunidade), onde a confiança das pessoas pode aumentar a capacidade de trabalhar

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juntos e expandir seus acessos a instituições, como órgãos políticos ou civis (DFID, 1999;

KAZTMAN, 2000; LAMPIS, 2010). Para Bilac (2006), é o ativo de entendimento mais

ambíguo, passível de ser produzido de formas diversas, em todas as camadas sociais, a partir

da mobilização de sociabilidade forte e de redes sociais.

d. Capital Físico-Natural: Compreende os estoques de recursos relativos à “natureza da cidade”,

aqui entendida como uma produção histórica na qual a distinção entre objetos naturais e

objetos fabricados torna-se impossível (SANTOS, 2002). Trata-se de recursos comuns e

indivisíveis, vinculados à localização residencial, que são relevantes para a manutenção da

segurança e bem-estar das famílias. Exemplos incluem as condições locais de acesso,

serviços e infraestrutura, qualidade do ar, características geotécnicas do terreno, ou mesmo a

distância de elementos que possam representar alguma ameaça (indústrias de alta

periculosidade, rios e córregos, barragens, áreas contaminadas, etc.).

A construção de índices multidimensionais envolve uma complicação adicional: tornar comparáveis

dados de diferentes fontes, produzidos a partir de escalas distintas, com cobertura e distribuição

espacial e temporal diversas, levando à busca de formas alternativas e aproximadas para imputar

dados faltantes e a construção de aproximações adequadas e representativas de informações

inexistentes partindo de outros dados relacionados. Para acomodar estas necessidades é

fundamental a utilização de geotecnologias diversas: Sistemas de Informações Geográficas (SIG),

Banco de Dados Geográficos, Técnicas de Análise Espaço-Temporal, Processamento Digital de

Imagens de Sensoriamento Remoto Orbital, como instrumentos para o tratamento de dados da

paisagem fisico-natural e de dados socioeconômicos desagregados territorialmente, permitindo a

realização de análises integradas mais complexas.

Área de estudo

Caraguatatuba e São Sebastião são municípios localizados no Litoral Norte do Estado de São Paulo

(Figura 1). Caraguatatuba apresenta uma área de 485,377 km² e população de 100.840 habitantes

(IBGE, 2010). Já São Sebastião possui área de 400,387 km² e população de 73.942 habitantes

(IBGE, 2010). Suas densidades demográficas são 207,76 e 184,68 habitantes/km², respectivamente.

Essa região litorânea localiza-se em uma região de expressiva diversidade ecológica, que abrange

praias, a Serra do Mar e a Mata Atlântica (SMA, 2005).

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Figura 1. Localização da área de estudo.

Construção do Índice de Vulnerabilidade Socioecológica (IVSE)

Considerando as características dessa região litorânea e o arcabouço conceitual apresentado, a

composição do Índice de Vulnerabilidade Socioecológica (IVSE) considerou os dados apresentados

na Tabela 1. Os indicadores descritos na Tabela 2 foram utilizados para representar o estado de cada

categoria de capital nos anos 1991 e 2000.

Tabela 1. Fontes e tipos de dados utilizados na construção do IVSE.

Fonte de dados Tipos de dados

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -

IBGE

Malha censitária e dados estatísticos (1991e

2000)

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais -

INPE

Imagem TM Landsat 5

Dados topográficos - Forma do terreno

(Topodata – Banco de Dados

Geomorfométricos do Brasil)

Departamento de Águas e Energia Elétrica do

Estado de São Paulo - DAEE Dados topográficos e hidrográficos

Tabela 2 - Indicadores utilizados para a composição do IVSE.

Indicador Fonte dos dados

Capital Índice Final

Chefe de família mulher sem instrução IBGE

Índice de Isolamento a pobreza IBGE Social

IVSE

Índice de Vulnerabilidade

VI Encontro Nacional da Anppas 18 a 21 de setembro de 2012 Belém - PA – Brasil _______________________________________________________ Escolaridade do chefe de família IBGE

Alfabetização dos filhos IBGE

Razão de dependência IBGE

Humano

Rendimento do chefe de família IBGE

Domicílios próprios IBGE Financeiro

Cobertura de rede de abastecimento de água

IBGE

Cobertura de esgotamento sanitário IBGE

Cobertura de coleta de lixo IBGE

Declividade DAEE

Forma do terreno INPE

Proximidade à rede de drenagem DAEE

Proximidade ao mar INPE

Risco tecnológico INPE

Físico-Natural

Socioecológica

As variáveis selecionadas como proxies dos capitais financeiro e humano foram obtidas a partir de

dados censitários. No caso do capital financeiro, os indicadores refletem os níveis de renda do chefe

de família e as condições de propriedade do domicílio. Já as variáveis que representam o capital

humano estão relacionadas ao nível de escolaridade do chefe de família, alfabetização dos filhos,

bem como o grau de dependência econômica.

Os indicadores do capital físico-natural, que buscam considerar a natureza da cidade, envolvem

aspectos locacionais relacionados à ocorrência de desastres crônicos, como condições de

saneamento básico que podem facilitar a proliferação de doenças, ou catastróficos, como a

localização em áreas passíveis de inundação ou escorregamento (PELLING, 2003). Assim, as

variáveis selecionadas refletem a qualidade da infraestrutura domiciliar e do bairro, as condições

geotécnicas dos terrenos, e a proximidade de elementos que possam representar algum tipo de

ameaça, como os corpos d’água passíveis de transbordamento ou os tanques de armazenamento de

petróleo localizados em São Sebastião. Para a composição desta categoria de ativo foram utilizados

dados censitários e dados obtidos através de sensoriamento remoto, o que demandou a integração

de informações de diferentes fontes e escalas.

Por envolver uma maior complexidade de representação e captura das relações, o capital social

impõe dificuldades de operacionalização a partir de dados do Censo, como Cunha et al. (2004)

relataram. Embora cientes das limitações desta abordagem, buscamos avançar na representação

VI Encontro Nacional da Anppas 18 a 21 de setembro de 2012 Belém - PA – Brasil _______________________________________________________ deste capital através da seleção de algumas variáveis censitárias que descrevem características

familiares que podem atuar como proxies de relações familiares e entre conjuntos de indivíduos. Para

a representação desta categoria de ativo, foi computado ainda um indicador indireto com

características relacionais, o índice espacial de isolamento de famílias de baixa renda (FEITOSA et

al., 2007), uma medida de segregação que analisa a concentração da pobreza nas distintas

vizinhanças da cidade.

Procedimentos Metodológicos

Para uma melhor descrição dos procedimentos metodológicos, foram definidas seis etapas de

trabalho, descritas a seguir:

(1) Compatibilização dos setores censitários do ano de 1991 – Com a inexistência da malha

de setores censitários do ano de 1991, a reconstrução da malha de setores censitários de 1991 foi

realizada a partir das tabelas de comparabilidade entre os setores censitários de 1991 e 2000,

disponibilizadas pelo IBGE.

(2) Delimitação da área ocupada a partir de dados de sensoriamento remoto – Esta etapa foi

necessária uma vez que os setores censitários são delimitações exclusivamente operacionais, que

não necessariamente consideram a maneira como a população se distribui espacialmente. Para uma

melhor compatibilização dos dados censitários à distribuição espacial da população, as áreas

ocupadas foram delimitadas através de uma classificação supervisionada pelo método de

Bhattacharya. Foram utilizadas imagens do satélite LANDSAT 5 TM, cena 218/76 de 29 de abril de

1999 e cena 218/76 de 09 de julho de 1990 (bandas 1, 2 e 3), datas próximas a coleta de dados

censitários. A utilização da imagem de 1990 e 1999 foi necessária em virtude da presença de nuvens

nas imagens adquiridas no ano de 1991 e 2000. Uma fase de pós-processamento para edição

matricial do mapa temático foi também realizada. Estas operações foram realizadas no sistema

Spring 5.1 (CAMARA et al., 1996).

(3) Construção de base celular para a integração dos dados provenientes de diversas fontes -

O presente trabalho adota o espaço celular como unidade espacial de análise. Estas células,

associadas a um banco de dados geográficos, estabelecem uma nova base para a distribuição dos

indicadores considerados. As ideias sobre o mundo celular (COUCLELIS, 1985; 1991; 1997) e uma

geografia celular (TOBLER, 1979) apoiam o debate teórico sobre as perspectivas de representação

de espaços geográficos.

VI Encontro Nacional da Anppas 18 a 21 de setembro de 2012 Belém - PA – Brasil _______________________________________________________ Dados censitários e dados obtidos através do Sensoriamento Remoto foram integrados a partir de um

banco de dados geográficos no Terraview1 (TERRAVIEW, 2011) e redistribuídos em um espaço

celular constituído por células regulares com dimensões de 100 X 100m. Cada célula foi preenchida

com as variáveis indicadoras selecionadas através de operadores de síntese, conforme metodologia

apresentada em Aguiar et al. (2008).

(4) Cômputo do Índice de Vulnerabilidade Socioecológica – IVSE - O cômputo do IVSE utiliza

os indicadores simples apresentados nas tabelas 2, 3, 4 e 5, sobre os quais são aplicados

transformações lineares para a geração de escalas que variam de 0 a 1. A transformação linear

produz índices adimensionais que permitem espacializar e observar a vulnerabilidade socioecológica

através de uma escala de representação de natureza relacional, onde o “1” descreve a localização

(célula) na qual as famílias residentes apresentam o melhor acesso ao ativo em questão. A

transposição dos indicadores para estas escalas de representação utiliza como suporte matemático

uma transformação linear (y = ax +b). Esta equação da reta tem como denominador a amplitude dos

dados, ou seja, o valor máximo observado menos o valor mínimo observado referente aos

percentuais de cada índice.

Enquanto para a maioria dos índices esta transformação é aplicada diretamente, os indicadores

estratificados, como os de escolaridade e renda dos chefes de família, demandam um procedimento

prévio adicional. No caso do indicador escolaridade do chefe de família (Tabela 6), por exemplo, esta

estratificação é constituída por seis agrupamentos que conformam um conjunto de dados

complementares que indicam a proporção dos chefes com os seguintes níveis de escolaridade: (1)

sem instrução ou com menos de 1 ano de estudo; (2) com 1 a 3 anos de estudo; (3) com 4 a 7 anos

de estudo; (4) com 8 a 10 anos de estudo; (5) com 11 a 14 anos de estudo e; (6) com 15 ou mais

anos de estudo. Considerando que as famílias cujos chefes possuem melhores níveis de

escolaridade potencializam o seu posicionamento na estrutura de oportunidades oferecidas na

cidade, adotamos uma escala evolutiva para ponderar matematicamente cada agrupamento (Tabela

6). Em seguida, os valores ponderados obtidos para cada grupo são somados e escalonados entre 0

e 1. Assim, o indicador “escolaridade dos chefes de família” apresentará números mais elevados - ou

seja, que representam um melhor acesso ao ativo em questão - naqueles locais onde há uma

porcentagem maior de famílias pertencentes aos agrupamentos caracterizados pela presença de

chefes de famílias mais escolarizados, e vice-versa. A mesma lógica é aplicada ao cômputo do

indicador “renda dos chefes de família”.

1 Neste trabalho todas as geotecnologias usadas são livres e disponíveis na internet. Envolvem o SPRING e TerraView que são produtos do INPE.

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Tabela 6. Descrição da estrutura evolutiva do indicador escolaridade do chefe de família.

Grupo Variáveis Fator de evolução

Indicador

1 CF* sem instrução ou com menos de 1 ano de estudo

*1

2 CF com 1 a 3 anos de estudo *2

3 CF com 4 a 7 anos de estudo *3

4 CF com 8 a 10 anos de estudo *4

5 CF com 11 a 14 anos de estudo *5

6 CF com 15 ou mais anos de estudo *6

Escolaridade do Chefe de Família

*CF – Proporção de chefes de família

Após as devidas transformações sobre os indicadores simples, estes são somados e escalonados

para compor índices compostos que representam cada uma das quatro categorias de ativos (capital

humano, financeiro, social e físico-natural). Estes índices compostos, por sua vez, são também

somados e escalonados para dar origem a um índice sintético final, o Índice de Vulnerabilidade

Socioecológica (IVSE).

(5) Caracterização de perfis de ativos e superfícies de vulnerabilidade socioecológica - A fim

de viabilizar uma visão mais integrada do conceito de vulnerabilidade socioecológica, propomos ainda

a associação do IVSE a algumas formas de representação gráfica. Uma destas formas são os mapas

de superfícies de vulnerabilidade socioecológica, construídos a partir da espacialização do IVSE e

dos índices que o compõe. Esta representação é constituída por uma série de mapas que mostram

diferenciais intraurbanos no acesso a cada categoria de capital, bem como por um mapa sintético que

agrega informações contidas neste conjunto de mapas. Outra técnica de representação adotada foi o

estabelecimento de polígonos que descrevem os perfis de ativos associados a cada célula, no qual

cada vértice representa o grau de acesso das famílias ali localizadas à alguma categoria de ativos.

Esta estratégia de representação é complementar à leitura dos mapas de vulnerabilidade sintéticos,

permitindo, por exemplo, verificar como células que possuem graus semelhantes de vulnerabilidade

diferem em termos do perfil de ativos das famílias que lá vivem.

(6) Definição de Tipologias de Trajetórias de Vulnerabilidade Socioecológica – Essa etapa foi

baseada na condição inicial de vulnerabilidade socioecológica das células, ou seja, sua condição de

vulnerabilidade em 1991 e a diferença dos níveis de vulnerabilidade observados em cada célula no

ano de 1991 e ano 2000, denominadas de trajetórias. Para o cálculo das trajetórias do IVSE e dos

VI Encontro Nacional da Anppas 18 a 21 de setembro de 2012 Belém - PA – Brasil _______________________________________________________ capitais, foram utilizados os valores dos índices do ano 2000 subtraindo-se estes pelos valores do

ano base, 1991. A expressão dessa diferença foi visualizada em mapa de trajetórias, dando origem a

uma nova escala, com valores distribuídos entre -1 e 1. A partir desta nova escala, foram

estabelecidos intervalos que determinaram as trajetórias de vulnerabilidade (Tabela 3), tanto do IVSE

síntese como dos capitais. Também foram estabelecidas três classes de vulnerabilidade

socioecológica, para a região litorânea de estudo (maior vulnerabilidade, vulnerabilidade intermediária

e menor vulnerabilidade), cujos intervalos foram apresentados em quantis.

Tabela 3. Definição das trajetórias de vulnerabilidade

Trajetória Descrição

Declínio acentuado de acesso

a ativos

Células que apresentaram uma piora acentuada das

condições de vulnerabilidade no período 1991-2000

Declínio moderado de acesso

a ativos

Células que apresentaram uma piora moderada das

condições de vulnerabilidade no período 1991-2000

Estabilidade Células que não sofreram variabilidade significativa das

condições de vulnerabilidade ao longo dos anos

Ascensão moderada de

acesso a ativos

Células que apresentaram uma melhora moderada das

condições de vulnerabilidade no período 1991-2000

Ascensão acentuada de

acesso a ativos

Células que apresentaram uma melhora acentuada das

condições de vulnerabilidade no período 1991-2000

Analisando a etapa anterior a partir da relação da condição inicial de vulnerabilidade em 1991

e a quantidade de células contidas em cada trajetória, foram definidas seis tipologias de trajetórias de

vulnerabilidade socioecológica mais expressivas (Tabela 4), descritas a seguir.

Tabela 4. Definição das tipologias de trajetórias de vulnerabilidade

Tipologia de trajetória Descrição

Tipologia 1

(T1) Estabilidade

Células que apresentaram uma trajetória das

condições de vulnerabilidade sem alterações

significativas, ou seja, a trajetória estável.

Tipologia 2

(T2)

Declínio dos que apresentam

menor vulnerabilidade

Células que apresentavam condições iniciais de

baixa vulnerabilidade e que apresentaram ao

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longo deste intervalo de tempo um declínio

moderado ou acentuado em suas condições de

vulnerabilidade.

Tipologia 3

(T3)

Declínio dos que apresentam

vulnerabilidade intermediária

Células que apresentavam condições iniciais de

vulnerabilidade intermediária e que possuem as

trajetórias declínio acentuado e moderado de

acesso a ativos.

Tipologia 4

(T4)

Ascensão dos que apresentam

menor vulnerabilidade ou

vulnerabilidade intermediária

Células que apresentavam condições iniciais de

vulnerabilidade intermediária e baixa, que

possuem as trajetórias ascensão acentuado e

moderado de acesso a ativos.

Tipologia 5

(T5)

Declínio dos que apresentam

maior vulnerabilidade

Células que apresentavam condições iniciais de

maior vulnerabilidade, que possuem as

trajetórias declínio acentuado e moderado de

acesso a ativos.

Tipologia 6

(T6)

Ascensão dos que apresentam

maior vulnerabilidade

Células que apresentavam condições iniciais de

alta vulnerabilidade, que possuem as trajetórias

ascensão acentuada e moderada de acesso a

ativos.

Resultados e Discussões

Os municípios analisados, embora constituam uma área conurbada, apresentam diferenças que

resultam da localização geográfica de cada um deles. São Sebastião encontra-se em uma região

montanhosa, onde as áreas passíveis de ocupação humana são formadas por um conjunto

descontínuo de planícies que influenciam a organização da população em bairros distantes e isolados

(SÃO PAULO, 1996). Caraguatatuba, por sua vez, apresenta áreas de planície extensas e,

consequentemente, um padrão mais contínuo de ocupação urbana.

Com a construção de superfícies de vulnerabilidade socioecológica, a partir do índice sintético IVSE

para os anos de 1991 e 2000, foi possível observar a heterogeneidade das condições de

vulnerabilidade nas distintas regiões dos municípios (Figura 3 e 4). A região central de ambos os

municípios foram identificadas como menos vulneráveis. Já os extremos sul e norte de

Caraguatatuba, bem como a costa sul de São Sebastião, foram identificadas como áreas de maior

variabilidade quanto ao acesso da população às várias categorias de ativos.

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Figura 3. Espacialização do IVSE sintético para o ano 1991.

Figura 4. Espacialização do IVSE sintético para o ano 2000.

VI Encontro Nacional da Anppas 18 a 21 de setembro de 2012 Belém - PA – Brasil _______________________________________________________ É importante ressaltar, no entanto, que o mapa síntese do IVSE não permite distinguir os diferenciais

de acesso a cada tipo de ativo separadamente. Assim, um olhar direcionado ao painel de

observações apresentado nas figuras 5 e 6, que apresentam os mapas dos indicadores compostos

para cada categoria de capital dos anos 1991 e 2000, auxilia na obtenção de um diagnóstico mais

apurado sobre as condições de vulnerabilidade da região.

Um segundo olhar, mais focado, revela que as regiões da costa norte e do centro de São Sebastião

são mais consolidadas e apresentam condições de menor vulnerabilidade, sendo caracterizadas por

ocupações de médio e alto padrão com condições adequadas de infraestrutura. Essa situação

também ocorre com a região central do município de Caraguatatuba. Porém, enquanto o mapa

sintético as apresentam como regiões muito similares em relação à vulnerabilidade, o mapa do capital

físico-natural (Figuras 5D e 6D), por exemplo, revela a existência de diferenças entre elas quanto ao

acesso a este capital. Na região da costa norte de São Sebastião, onde a planície litorânea é estreita,

alguns domicílios localizam-se nas encostas da Serra do Mar, em áreas de risco de deslizamento e

desmoronamento, o que revela uma redução do acesso ao capital físico-natural. Já o centro de São

Sebastião, embora com condições superiores quanto ao capital físico-natural, também apresenta

alguns problemas. Por exemplo, a existência de algumas ocupações muito próximas à linha marítima

e áreas expostas a riscos tecnológicos proporcionados pela proximidade aos tanques de

armazenamento do terminal petrolífero TEBAR. A região central de Caraguatatuba apresenta um

maior acesso ao capital físico-natural, pois a população deste local está concentrada em uma planície

litorânea extensa, com total acesso às infraestruturas de saneamento básico.

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Figura 5. Painel de observação dos capitais do ano 1991.

Figura 6. Painel de observação dos capitais do ano 2000.

VI Encontro Nacional da Anppas 18 a 21 de setembro de 2012 Belém - PA – Brasil _______________________________________________________ Um conceito que envolve múltiplas dimensões, como o conceito de vulnerabilidade socioecológica

proposto, também necessita de novas formas de visualização. Nesta dissertação foi proposta a

associação do IVSE a um conjunto de formas de representação gráfica (imagens, esquemas, fotos e

mapas) e tabular, constituindo o que neste trabalho é chamado de Painel de Observações. Esse

painel é constituído por perfis de ativos, representados por um losango onde cada aresta representa

o acesso a uma categoria de ativo. Através deles é possível visualizar diferenciações do grau de

acesso das famílias à cada tipo de capital, evitando assim simplificações inerentes às análises

baseadas exclusivamente em índices sintéticos. Estão incluídos também os mapas de superfícies de

vulnerabilidade, da tipologia de trajetória de vulnerabilidade e de trajetórias dos capitais, além das

verificações remota e em campo, como exemplificado na situação abaixo.

Situação 1: A célula escolhida apresentou a Tipologia de Trajetória 5, de declínio dos mais

vulneráveis. No entanto, como estas tipologias construídas sobre o índice sintético IVSE não nos

permite afirmar se os diferentes tipos de capitais apresentaram melhoras de forma igualitária, foram

incluídas ainda informações sobre as trajetórias de cada capital. Através da observação destas

trajetórias, é possível verificar que os capitais físico-natural e humano foram os capitais que

apresentaram melhoras de acesso, incluindo, por exemplo, maior acesso a educação, como foi

observado através do perfil de ativos da célula escolhida.

O capital financeiro apresentou a trajetória declínio moderado, e o capital social obteve um declínio

maior de acesso a ativos, como observado no perfil de ativos e índices da célula analisada. Este

declínio acentuado ocorreu principalmente, devido ao aumento da proporção do chefe de família

mulher sem instrução. Já o capital físico-natural apresentou uma trajetória de ascensão moderada. A

partir das verificações remota e em campo, foi possível observar, no entanto, que o acesso a este

capital permanece baixo pois a área localiza-se próxima ao oceano e apresenta baixos níveis de

acesso a saneamento básico.

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Figura 4.32 - Painel de observações: localização do bairro Massaguaçú, em Caraguatatuba (a);

localização da célula escolhida e sua Tipologia de Trajetória (b); verificações das trajetórias dos

capitais (c); composição dos perfis de ativos da célula escolhida (d); valores dos capitais e do IVSE

em 1991 e 2000, da célula escolhida, onde: CS – Capital Social; CH – Capital Humano; CF – Capital

Financeiro e CFN – Capital Físico-Natural (e); verificação remota (f); e verificação em campo (g).

VI Encontro Nacional da Anppas 18 a 21 de setembro de 2012 Belém - PA – Brasil _______________________________________________________ Considerações Finais

O presente trabalho buscou construir uma representação multifacetada da vulnerabilidade a partir de

uma caracterização estendida dos perfis de ativos das famílias, que incorpora uma dimensão

territorial explícita e uma dimensão relacional. O índice IVSE proposto por Anazawa et al. (2012),

aprimorado neste trabalho, bem como objetos para sua representação, que incluem um conjunto de

representações, tais como mapas de superfície de vulnerabilidade, histogramas e gráficos de perfis

de ativos, permitiram observar e medir diferenciais intraurbanos de vulnerabilidade, introduzindo um

olhar sistêmico, integrador e mediador, onde a cidade é vista como inserida em um sistema urbano

que pode ser modelado como um sistema socioecológico.

Os resultados obtidos ressaltam o potencial analítico do IVSE e das cartografias de vulnerabilidade

apresentadas neste trabalho no painel de observações, especialmente no contexto das políticas

públicas urbanas, que podem ser orientadas pela heterogeneidade descrita por esse conjunto de

representações proposto, delineando o território como o chão onde o cotidiano de vida e vivências

acontecem, o que permite ir além de seus limites físico-administrativos.

A proposta de uma abordagem conceitual, sua operacionalização e análises, revelam o esforço

analítico de uma ferramenta que traz embutida em seus cálculos a busca por uma captura da

dinâmica da realidade e o não conformismo com as cartografias paradas no tempo e no espaço.

Evidenciam ainda, a necessidade de trabalhos que tratem da vulnerabilidade em um contexto de

perigos de múltiplas naturezas e que são constitutivos de riscos diferenciados, evitando a redução de

sua complexidade e orientação da ação política para observar apenas a resposta a um perigo

particular e imediato.

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