vulnerabilidade das ilhas-barreira e dinâmica da ria formosa na

21
www.aprh.pt/rgci www.gci.inf.br Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na Óptica da Gestão * Barrier-Islands Vulnerability and Ria Formosa Dynamics under a Management Viewpoint Filipe Rafael Ceia 1 RESUMO O sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa oferece excelentes condições a diversas actividades, das quais se podem salientar as turístico-balneares. Desde os anos 60 que essas actividades vêm sendo exercidas com grande intensidade, com a construção de infra-estruturas e cargas superiores ao limite de capacidade em algumas ilhas, sendo mais notável na chamada «Praia de Faro», na Península do Ancão. Há, porém, que atender à instabilidade que caracteriza este sistema, o qual impõe fortes condicionamentos à sua ocupação, uma vez que esta tende a localizar-se em zonas muito vulneráveis e de grande risco. Como a maioria dos sistemas deste tipo, a Ria Formosa apresenta um carácter extremamente dinâmico, tanto na evolução das ilhas como das barras. A ocorrência de temporais e a elevação do nível médio do mar são os principais factores que conduzem a uma elevada susceptibilidade a galgamentos oceânicos, neste sistema. É nas ilhas-barreira que ocorrem os maiores problemas de gestão do sistema. Com vários grupos de interesse envolvidos torna-se necessário manter uma gestão eficiente no sistema de ilhas-barreira. A intervenção é, actualmente, urgente, correndo-se o risco do sistema se perder de forma irreversível. Tal intervenção deverá ser ampla e cautelosa. Para tal, esta terá que ser suportada e apoiada por uma sólida base de investigação científica, não menosprezando aspectos de carácter social, económico e ambiental. Podem destacar-se três técnicas de intervenção a serem adoptadas: intervenção rígida, intervenção suave e demolição de infra-estruturas. Palavras-chave: Ria Formosa, ilhas-barreira, barras, gestão, vulnerabilidade. ABSTRACT The barrier-islands system of Ria Formosa is an important natural resource providing many conditions to several activities, such as tourism. Since the 1960s, tourism has been intense on some islands, particularly «Praia de Faro» at Ancão Peninsula, with the construction * Submissão – 14 Fevereiro 2009; Avaliação – 19 Março 2009; Recepção da versão revista – 11 Abril 2009; Disponibilização on-line - 13 Maio 2009 1 e-mail: [email protected], IMAR, Departamento de Zoologia, Universidade de Coimbra, 3004-517 Coimbra Revista da Gestão Costeira Integrada 9(1):57-77 (2009) Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1):57-77 (2009)

Upload: phungnguyet

Post on 08-Jan-2017

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na

wwwaprhptrgciwwwgciinfbr

Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinacircmica da Ria Formosa naOacuteptica da Gestatildeo

Barrier-Islands Vulnerability and Ria Formosa Dynamics under aManagement Viewpoint

Filipe Rafael Ceia1

RESUMO

O sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa oferece excelentes condiccedilotildees a diversas actividades das quais se podemsalientar as turiacutestico-balneares Desde os anos 60 que essas actividades vecircm sendo exercidas com grande intensidade coma construccedilatildeo de infra-estruturas e cargas superiores ao limite de capacidade em algumas ilhas sendo mais notaacutevel nachamada laquoPraia de Faroraquo na Peniacutensula do Ancatildeo Haacute poreacutem que atender agrave instabilidade que caracteriza este sistema oqual impotildee fortes condicionamentos agrave sua ocupaccedilatildeo uma vez que esta tende a localizar-se em zonas muito vulneraacuteveis ede grande risco

Como a maioria dos sistemas deste tipo a Ria Formosa apresenta um caraacutecter extremamente dinacircmico tanto naevoluccedilatildeo das ilhas como das barras A ocorrecircncia de temporais e a elevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar satildeo os principaisfactores que conduzem a uma elevada susceptibilidade a galgamentos oceacircnicos neste sistema

Eacute nas ilhas-barreira que ocorrem os maiores problemas de gestatildeo do sistema Com vaacuterios grupos de interesse envolvidostorna-se necessaacuterio manter uma gestatildeo eficiente no sistema de ilhas-barreira A intervenccedilatildeo eacute actualmente urgentecorrendo-se o risco do sistema se perder de forma irreversiacutevel Tal intervenccedilatildeo deveraacute ser ampla e cautelosa Para tal estateraacute que ser suportada e apoiada por uma soacutelida base de investigaccedilatildeo cientiacutefica natildeo menosprezando aspectos de caraacutectersocial econoacutemico e ambiental Podem destacar-se trecircs teacutecnicas de intervenccedilatildeo a serem adoptadas intervenccedilatildeo riacutegidaintervenccedilatildeo suave e demoliccedilatildeo de infra-estruturas

Palavras-chave Ria Formosa ilhas-barreira barras gestatildeo vulnerabilidade

ABSTRACT

The barrier-islands system of Ria Formosa is an important natural resource providing many conditions to several activities such astourism Since the 1960s tourism has been intense on some islands particularly laquoPraia de Faroraquo at Ancatildeo Peninsula with the construction

Submissatildeo ndash 14 Fevereiro 2009 Avaliaccedilatildeo ndash 19 Marccedilo 2009 Recepccedilatildeo da versatildeo revista ndash 11 Abril 2009 Disponibilizaccedilatildeo on-line - 13 Maio 2009

1 e-mail ceiafilipezooucpt IMAR Departamento de Zoologia Universidade de Coimbra 3004-517 Coimbra

Revista da Gestatildeo Costeira Integrada 9(1)57-77 (2009)Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

58

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

1 INTRODUCcedilAtildeO

11 A Ria Formosa

A Ria Formosa eacute a unidade fisiograacutefica dominantedo litoral central e oriental da regiatildeo do Algarve eencontra-se inserida na aacuterea do Parque Natural da RiaFormosa (PNRF) e da Rede Natura 2000 (Fig1) Osistema de ilhas-barreira da Ria Formosa eacute naactualidade constituiacutedo por duas peniacutensulas (Ancatildeoe Cacela) que constituem respectivamente os limitesocidental e oriental do sistema por cinco ilhas-barreira(de Oeste para Este Barreta ou Deserta CulatraArmona Tavira e Cabanas) e por um vasto corpolagunar (Fig2) As ilhas e peniacutensulas satildeo separadaspor 6 canais de mareacute tambeacutem designados barras(Ancatildeo ou Satildeo Luiacutes Faro-Olhatildeo Armona ou GrandeFuzeta Tavira e Laceacutem ou Cacela) que viabilizamtrocas hiacutedricas sedimentares quiacutemicas e de nutrientesentre o meio lagunar e o oceano Das barras aludidasa de Faro-Olhatildeo e a de Tavira satildeo artificiais estandofixadas com molhes Em termos gerais o sistema temcerca de 50km de comprimento que se desenvolveentre as longitudes de 8ordm02lsquoW e 7ordm31lsquoW Os cordotildeesdunares apresentam uma largura variaacutevel entre 100 e750m (Duarte et al 1999) A aacuterea do sistema lagunareacute de 11866ha e o das peniacutensulas e ilhas-barreira eacute cercade 1947ha O PNRF abrange uma aacuterea sensivelmentemaior com cerca de 18400ha (Preacute-Parque ndash zonatampatildeo 3400ha e Parque 15000ha) e engloba partedos concelhos de Louleacute Faro Olhatildeo Tavira e VilaReal Santo Antoacutenio (Marcelo amp Fonseca 1998)

12 Caracteriacutesticas Hidrodinacircmicas

De acordo com Dias (1988) e Pilkey et al (1989)fundamentados no modelo de Hoyt (1967) a origemdeste sistema de ilhas-barreira esteve relacionado comas flutuaccedilotildees quaternaacuterias do niacutevel do mar ocorridasdurante os periacuteodos glaciaacuterios e interglaciares Osistema de ilhas-barreira da Ria Formosa apresentaalgumas caracteriacutesticas peculiares tais como ainexistecircncia de um grande rio as condiccedilotildees deamplitude de mareacute a que estaacute sujeito e a disposiccedilatildeogeral do sistema em forma de triacircngulo escaleno comveacutertice virado a Sul (Dias 1988 Pilkey et al 1989)As mareacutes tecircm regime de meso-mareacutes com umaamplitude maacutexima de aproximadamente 35m nasmareacutes vivas encontrando-se no limite maacuteximo para aformaccedilatildeo de ilhas-barreira (Pilkey et al 1989) O ladoocidental do sistema eacute mais energeacutetico directamenteexposto agrave ondulaccedilatildeo dominante de W e SW (68das ocorrecircncias) enquanto que o lado oriental estaacuteexposto agraves condiccedilotildees de ldquoLevanterdquo (ventos de SEprovenientes do Mediterracircneo) tambeacutem importantesrepresentando 25 das ocorrecircncias A ondulaccedilatildeo deW e SW tem meacutedias anuais de altura significativa aolargo (Hso) de 09m com periacuteodos meacutedios de 47s Aondulaccedilatildeo de SE apresenta Hso ligeiramente superiorde 12m e periacuteodo meacutedio de 49s (Costa 1994)Durante o Inverno eacute frequente a ocorrecircncia detemporais com Hso superior a 3m sobretudo de W eSW mais comuns que os temporais de SE (Saacute-Pires etal 2001)

of many infra-structures on the dune ridge with the consequent human occupation It is essential to attend to the instability that characterisesthis system because the occupation area is very vulnerable and concentrates in great risk situation

As the majority of the barrier-islands systems Ria Formosa is a complex environment that presents a very dynamic processes with highevolution rates of islands and inlets The precarious equilibrium conditions associated to storm events and sea-level rise leads to great overwashsusceptibility

The main problems of system management occur in barrier-islands With several stakeholders involved it is necessary to maintain anefficient management An extensive and carefully urgent intervention is necessary in order to avoid irreversible negative consequences To achievethis a solid scientific investigation should be carried out including social economic and environmental aspects Three types of techniques shouldbe adopted to protect barrier-islands and structures from shoreline erosion hard defences soft techniques and non-structural alternatives suchas relocation or retreat of infra-structures

Keywords Ria Formosa barrier-islands inlets management vulnerability

59

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo geograacutefica da Ria Formosa e comunidadesFigure 1 ndash Location of Ria Formosa and communities

Figura 2 ndash Imagem de sateacutelite da Ria Formosa Peniacutensulas ilhas-barreira e barras que a constituem(adaptado de Google Earth 42 2007)Figure 2 ndash Ria Formosa satellite image showing the peninsulas barrier-islands and inlets (adapted from GoogleEarth 42 2007)

60

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

13 Morfodinacircmica

No sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa amorfodinacircmica eacute muito intensa sendo funccedilatildeo doclima de agitaccedilatildeo mariacutetima e das correntes de mareacute(Pilkey et al 1989) As taxas de crescimento dealgumas ilhas satildeo verdadeiramente notaacuteveis a niacutevelmundial Como consequecircncia desta dinacircmica osistema eacute muito vulneraacutevel respondendo de formaraacutepida e intensa agrave construccedilatildeo de obras de engenharialitoral (Dias 1988)

As praias ao longo das ilhas-barreira satildeogeralmente estreitas e o seu comportamento variaentre o reflectivo e o intermeacutedio no extremo ocidental(Martins et al 1996) e intermeacutedio a dissipativo noextremo oriental (Matias et al 1998)

As ilhas-barreira do sistema da Ria Formosa agravesemelhanccedila de grande parte dos sistemas mundiaisdeste tipo estatildeo em activa fase de migraccedilatildeo emdirecccedilatildeo ao continente muito provavelmente comoresposta agrave actual elevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do marsendo portanto um sistema do tipo transgressivoOs galgamentos oceacircnicos satildeo extremamenteimportantes neste complexo processo (Dias 1988Pilkey et al 1989)

A evoluccedilatildeo das barras eacute de modo geralcaracterizada por uma migraccedilatildeo para nascente ateacuteatingirem uma posiccedilatildeo limite na qual comeccedilam aassorear abrindo-se nova barra aproximadamente nolocal inicial (Weinholtz 1978) agrave excepccedilatildeo da Barrada Armona que se tem mantido aproximadamentena mesma posiccedilatildeo e agraves barras de Faro-Olhatildeo e deTavira que satildeo artificiais (Fig2)

As arribas localizadas a ocidente do sistemaprincipalmente as que se situam entre o Ancatildeo eOlhos de Aacutegua tecircm sido consideradas como principalelemento abastecedor de areias para o sistema(Andrade 1990a Correia et al 1997) (Fig1)

14 Importacircncia Socio-Econoacutemica e Ambiental

Devido agraves suas caracteriacutesticas naturais o sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa constitui uma aacutereade usos muacuteltiplos que providenciam benefiacutecios soacutecio-econoacutemicos e que geram conflitos na afectaccedilatildeo dosrecursos existentes tais como o turismo de massas oecoturismo a aquacultura a pesca a conservaccedilatildeo danatureza as descargas de efluentes a navegaccedilatildeo a

extracccedilatildeo de sal e de areia entre outros (Van DenBelt et al 2000)

A niacutevel ambiental assume particular importacircnciapelo que lhe foi atribuiacutedo o estatuto de ReservaNatural (decreto-lei 4578 de 2 de Maio) e mais tardede Parque Natural da Ria Formosa (decreto-lei 37387 de 9 de Dezembro) e de Rede Natura 2000procurando-se assim efectuar uma exploraccedilatildeo dosrecursos racional e sustentaacutevel

Este sistema eacute caracterizado pela diversidadefauniacutestica e floriacutestica destacando-se o facto de estaaacuterea ter no que respeita agrave avifauna uma importacircncianacional (como zona de nidificaccedilatildeo) e internacional(migraccedilatildeo e invernada) Eacute considerada uma zonahuacutemida de interesse mundial estando protegida pelasconvenccedilotildees internacionais de Ramsar e de Berna

O cordatildeo litoral que forma as ilhas-barreira servede protecccedilatildeo a uma grande diversidade de habitatstais como uma vasta aacuterea de sapal dunas zonas deaacutegua salobra zonas intertidais canais ilhotes salinaspisciculturas e cursos de aacutegua doce com vegetaccedilatildeoribeirinha Acresce referir que este sistema de ilhas-barreira eacute uacutenico na Europa a niacutevel geomorfoloacutegico

15 Situaccedilatildeo Actual

Apesar das grandes apetecircncias que apresenta paraexploraccedilatildeo pelo Homem a ocupaccedilatildeo humana na RiaFormosa sobretudo nas ilhas-barreira iniciou-sesignificativamente apenas em finais do seacuteculo XIXpor populaccedilotildees ligadas agrave actividade pesqueira(Bernardo et al 2002)

Os problemas de gestatildeo do sistema soacute surgiramcom grande amplitude a partir da deacutecada de 60 doseacuteculo XX quando a ocupaccedilatildeo (principalmente deiacutendole turiacutestica) seguindo o modelo dedesenvolvimento turiacutestico dessa eacutepoca se veio aestabelecer em aacutereas de risco permanente devido agraveerosatildeo e exposiccedilatildeo aos temporais

As caracteriacutesticas do sistema satildeo incompatiacuteveiscom uma ocupaccedilatildeo intensa e permanente Contudonas uacuteltimas deacutecadas a ocupaccedilatildeo tem reveladotendecircncia para se intensificar tornar permanente elocalizar nas zonas de maior risco colocando em causaa proacutepria sobrevivecircncia do sistema de ilhas-barreiracomo ambiente natural (Dias et al 2004)

Na frente oceacircnica a erosatildeo costeira tem sidoantropicamente amplificada Os principais causadores

61

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

que levaram o sistema da Ria Formosa a entrar emruptura foram a construccedilatildeo dos molhes da marina deVilamoura e do campo de esporotildees de Quarteira e afixaccedilatildeo artificial das barras Faro-Olhatildeo e Tavira Aerosatildeo costeira juntamente com o acreacutescimo dopisoteio veio aumentar a vulnerabilidade aogalgamento na maior parte do sistema As cerca de2000 construccedilotildees clandestinas existentes nas ilhas-barreira potenciam ainda mais o risco de galgamentopois estatildeo frequentemente edificadas sobre o cordatildeodunar frontal em zonas de elevada vulnerabilidade(Ramos amp Dias 2000)

Os sistemas de ilhas-barreira satildeo ainda muitosensiacuteveis a variaccedilotildees do niacutevel meacutedio do mar (NMM)principalmente a fases de elevaccedilatildeo deste SegundoFerreira et al (2008) os estuaacuterios e os sistemaslagunares costeiros satildeo as zonas mais afectadas pelasubida do NMM em Portugal Na Ria Formosa osimpactes socio-econoacutemicos seratildeo grandes Noentanto muitos destes impactes negativos poderatildeoser minimizados ou ateacute evitados se se tomarem asdevidas precauccedilotildees Para que isto aconteccedilagovernantes gestores e populaccedilatildeo em geral teratildeo queter em conta esta problemaacutetica nas suas decisotildees

Dias amp Taborda (1992) chegaram a um valor deelevaccedilatildeo do NMM de 15 plusmn 02mmano calculadoem Lagos no uacuteltimo seacuteculo Douglas (1995) estimounuma perspectiva global um aumento meacutedio de2mmano nos uacuteltimos 100-150 anos

Eacute principalmente durante eventos tempestivosassociados a periacuteodos de mareacutes vivas que se verificamos mais graves episoacutedios de erosatildeo costeira Estasituaccedilatildeo eacute pois agravada pela subida do NMM(Ferreira et al 2008)

16 Objectivos

Este trabalho pretende apresentar uma visatildeoactualizada do que ocorre na zona de interface entreo mar e o meio lagunar do sistema de ilhas-barreirada Ria Formosa Em particular pretende-se analisara dinacircmica e evoluccedilatildeo das barras e das ilhas-barreiraidentificar as principais aacutereas de risco e os impactesda ocupaccedilatildeo humana e discutir aspectos relacionadoscom as obras de protecccedilatildeointervenccedilatildeo realizadas emalguns locais

2 METODOLOGIA

A recolha de dados foi efectuada sobretudo porpesquisa bibliograacutefica por recolha de informaccedilotildeesem instituiccedilotildees com conhecimento particular da RiaFormosa (com maior relevacircncia para o Parque Naturalda Ria Formosa e o Instituto Portuaacuterio e dosTransportes Mariacutetimos) e por observaccedilatildeo in situ daaacuterea de estudo O software informaacutetico Google Earth- Versatildeo 42 (2007) foi tambeacutem utilizado na anaacutelisedo sistema lagunar Conquanto a aacuterea de estudo sedefina como todo o sistema lagunar da Ria Formosaa recolha de dados incidiu predominantemente nasilhas-barreira e nas barras que as delimitam

Foram definidos e individualizados oito sectoresao longo da aacuterea de estudo Cada ilha ou peniacutensulafoi definida como um sector As seis barras do sistemaforam tambeacutem definidas separadamente O sectorQuarteira ndash Praia do Garratildeo por se encontrar abarlamar do sistema da Ria Formosa foi tambeacutemanalisado uma vez que vaacuterios problemas que afectamo sistema tecircm origem nesta aacuterea Dividiram-se ossectores em partes distinguidos segundo a suaorientaccedilatildeo ndash Ocidental (W) Central (C) e Oriental(E) Em cada sector foram identificadas as zonas demaior risco analisadas as taxas de evoluccedilatildeo da linhade costa a existecircncia ou ausecircncia de ocupaccedilatildeo apresenccedila de corredores eoacutelicos e de vegetaccedilatildeo e aexistecircncia de intervenccedilotildees Para as barras foramanalisadas as caracteriacutesticas mais relevantes larguraestabilidade e taxas de migraccedilatildeo Os dados obtidospermitem analisar a evoluccedilatildeo geral do sistema de ilhas-barreira identificar as aacutereas de risco e efectuar umareferecircncia agrave intervenccedilatildeo no sistema mediante trecircsteacutecnicas intervenccedilatildeo suave intervenccedilatildeo riacutegida edemoliccedilatildeo de infra-estruturas (retirada estrateacutegica)

3 O SISTEMA DE ILHAS-BARREIRA

31 Quarteira ndash Praia do Garratildeo

Embora natildeo faccedila parte integrante do sistema daRia Formosa este sector eacute de extrema importacircnciana medida em que fornece sedimentos ao sistemaNa realidade natildeo existem sistemas isolados naNatureza e um plano de gestatildeo teraacute obrigatoriamenteque avaliar a situaccedilatildeo e os impactes previsiacuteveis abarlamar e a sotamar de qualquer intervenccedilatildeo

62

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

O sector entre Quarteira e a Praia do Garratildeoapresenta intensa actividade e ocupaccedilatildeo antroacutepicadesignadamente em Vale do Lobo (Fig1) A evoluccedilatildeodas arribas neste sector estaacute fortemente dependenteda praia subjacente que em maior ou menor grauconfere protecccedilatildeo da acccedilatildeo directa do mar Noentanto a susceptibilidade destas arribas agrave erosatildeomarinha eacute extremamente elevada (Andrade 1990aDias amp Neal 1992) Nalguns locais o recuo chegou aultrapassar 2mano ou mais (Correia et al 1997)

Ao longo da zona urbanizada de Quarteira(aproximadamente 33km) a Direcccedilatildeo Geral dePortos procedeu a obras de defesa costeiraconstruindo entre 1971 e 1974 doze esporotildees e doismolhes de acesso agrave marina de Vilamoura (o ocidentalcom 600m e o oriental com 500m) (Bettencourt1985) O aumento das taxas meacutedias de recuo nestesector parece resultar essencialmente da construccedilatildeodestas estruturas que interrompem a deriva litoralprivando as praias a nascente de sedimentos o queconsequentemente facilita o ataque das ondas agrave basedas arribas Apoacutes a construccedilatildeo dos molhes deVilamoura o recuo meacutedio anual da crista da arriba foifortemente amplificado chegando por exemplo aultrapassar nalguns pontos os 4 metros por ano noperiacuteodo 1983-1991 (Correia et al 1996)

A situaccedilatildeo em todo o sector eacute na actualidadegrave Vale do Lobo eacute o local em que o problema deerosatildeo costeira eacute mais seacuterio dada a amplitude eintensidade de ocupaccedilatildeo antroacutepica Os dadosdisponiacuteveis parecem reflectir a tendecircncia de aumentoda erosatildeo na parte oriental do sector (ateacute agora maisestaacutevel) apesar das realimentaccedilotildees efectuadas paraproteger a Praia de Vale do Lobo

32 Peniacutensula do Ancatildeo

A Peniacutensula do Ancatildeo tem cerca de 8km decomprimento e 50 a 250m de largura (Fig2) SegundoPilkey et al (1989) e Bettencourt (1994) o recuo dalinha de costa chegou a atingir valores na ordem de 1a 2mano em alguns locais

O sector Ancatildeo W (da Praia do Garratildeo agrave Praia deFaro) possui um cordatildeo dunar contiacutenuo quepraticamente eacute desprovido de ocupaccedilatildeo antroacutepicaUma arriba permanente talhada na duna marca atransiccedilatildeo entre a praia e o cordatildeo dunar o quedemonstra um recuo da linha de costa devido agrave erosatildeo

que em meacutedia atingiu 08mano entre 1989 e 2001(Ferreira et al 2006)

O sector Ancatildeo C (Praia de Faro) eacute urbanizado ecomo tal o mais problemaacutetico O niacutevel da ocupaccedilatildeohumana eacute bastante elevado (Fig3) Ateacute meados dadeacutecada de 50 a Praia de Faro era ocupada apenas poralguns pescadores natildeo havendo registos de problemasgraves para as habitaccedilotildees pois encontravam-seinstaladas junto agrave laguna e separadas do mar por umcampo dunar singular A construccedilatildeo da ponterodoviaacuteria na deacutecada de 50 foi o factor determinantepara a forte intensificaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo O cordatildeodunar apesar de afectado pela erosatildeo costeira foiquase totalmente ocupado e destruiacutedo por edificaccedilotildees(Dias et al 1997 2004)

Natildeo tendo sido possiacutevel concretizar as acccedilotildeesmiacutenimas necessaacuterias para uma ocupaccedilatildeo racional dazona (Dias et al 1997) aconteceu o que era previsiacutevelDurante o Inverno de 198990 a Praia de Faro foifustigada por temporais que provocaram graves danosnas construccedilotildees e infra-estruturas existentes uma vezque natildeo eacute suficientemente robusta para suportareventos energeacuteticos extremos (Ferreira et al 1997)Os locais onde a ocupaccedilatildeo eacute mais intensa satildeo os queapresentam maior susceptibilidade a qualquer eventoerosivo Este facto deve-se em parte agrave construccedilatildeode estruturas fixas e riacutegidas na parte superior dos perfisde praia causando a truncatura do perfil e umrebaixamento da cota dunar natildeo permitindo agrave praiadesempenhar o seu papel natural face agraves tempestades(Ferreira et al 1997)

A erosatildeo afecta os limites marinhos e lagunaresda Praia de Faro Entre 1945 e 1964 a linha de baixa-mar recuou 34m ou seja cerca de 17mano(Weinholtz 1978) Actualmente as edificaccedilotildees quetruncam o perfil de praia emersa impossibilitam quea peniacutensula tenha um comportamento naturalmigrando em direcccedilatildeo ao continente (Dias et al 1997)Por outro lado o aterro que conduz agrave ponte canalizouos fluxos de enchente e principalmente de vazanteConsequentemente a corrente na zona da ponte eacutemuito forte impedindo a acumulaccedilatildeo de sedimentosna parte interna da peniacutensula o que seria fundamentalpara permitir a migraccedilatildeo aludida

A construccedilatildeo de muros de revestimento e deoutras estruturas de protecccedilatildeo inibiram o recuo dalinha de costa embora natildeo impeccedilam a ocorrecircncia de

63

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

galgamentos Devido a estas protecccedilotildees a Praia deFaro praticamente natildeo apresentou recuo da linha decosta entre 1989 e 2001 (Ferreira et al 2006) Noentanto possui uma boa capacidade de recuperaccedilatildeosedimentar apoacutes eventos erosivos (Martins et al 1996)em apenas um ciclo de mareacute (Saacute-Pires et al 2002)

Matias et al (1997) e Duarte et al (1999) aoavaliarem a vulnerabilidade de um conjunto desistemas dunares do Algarve foram unacircnimes emidentificar a Praia de Faro como uma das zonas maisvulneraacuteveis da Ria Formosa O nuacutecleo urbano da Praiade Faro encontra-se em situaccedilatildeo de alto riscoconfinado a uma estreita faixa (normalmente commenos de 100 metros de largura) entre a laguna e ooceano As probabilidades de uma cataacutestrofeaumentam de ano para ano se considerarmos aelevaccedilatildeo do NMM e a possiacutevel ocorrecircncia de umgrande temporal que coincida com mareacute viva cheia

No sector Ancatildeo E (entre a Praia de Faro e a Barra

do Ancatildeo) a duna estaacute consideravelmente bempreservada e os perfis de praia revelam maiorcapacidade para reagir a eventos energeacuteticos exceptona margem da Barra do Ancatildeo (Ferreira et al 1997)A populaccedilatildeo consiste sobretudo em pescadores quevivem na margem da laguna

33 Barra do Ancatildeo

O limite oriental da Peniacutensula do Ancatildeo terminana Barra do Ancatildeo tambeacutem designada por Barra deSatildeo Luiacutes (Fig2) Estaacute localizada numa das aacutereas maisdinacircmicas do sistema mudando frequentemente demorfologia e posiccedilatildeo com uma tendecircncia de migraccedilatildeopara nascente a uma velocidade meacutedia de 70mano euma largura meacutedia de 260m Entre 1945 e 1996completou dois ciclos migratoacuterios (Vila-Concejo etal 2006)

Em 1997 a Barra do Ancatildeo em fase final do seuciclo de migraccedilatildeo encontrando-se muito assoreada e

Figura 3 ndash Parte central da Peniacutensula do Ancatildeo ndash Praia de Faro (de Oeste para Este) evidenciando a intensaocupaccedilatildeo sobre o cordatildeo dunar (fotografias obtidas em Novembro de 2006 pelo autor)Figure 3 ndash Aerial photo of the Ancatildeo Peninsula from West to East (central zone) ndash Beach of Faro showing the intenseoccupation on dune ridges (photos by author in November 2006)

64

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

com baixa eficiecircncia hidraacuteulica No sentido de ampliaressa eficiecircncia e proteger os interesses nesta zonaprocedeu-se agrave abertura artificial de uma nova barra(23 Junho de 1997) a cerca de 35km a W da posiccedilatildeoanterior e imediatamente a oriente das uacuteltimas casasda Praia de Faro permitindo a esta migrar novamenteno sentido nascente (Vila et al 1999) A forma e aposiccedilatildeo da nova barra natildeo foram baseadas em estudosaprofundados mas no conhecimento empiacuterico dasituaccedilatildeo (Dias et al 2003) Estudos recentes sobre aevoluccedilatildeo e dinacircmica da barra desde a sua aberturaartificial (eg Vila-Concejo et al 2002 2003 2004a2006) permitem concluir que bastaram dois anos paraque se atingisse o estado de equiliacutebrio e comeccedilasse aevoluir e a migrar naturalmente o que confirma osucesso desta intervenccedilatildeo que foi das primeiras a niacutevelmundial

34 Ilha da Barreta

A Ilha da Barreta tem um comprimento de cercade 8km e largura entre 70 e 700m (Fig2) Existempoucos estudos publicados que focam esta ilha umavez que eacute uma zona menos acessiacutevel com baixaocupaccedilatildeo antroacutepica e consequentemente menosproblemaacutetica

A parte ocidental eacute estreita de baixa elevaccedilatildeo compouca vegetaccedilatildeo e vulneraacutevel a galgamentos Narealidade corresponde agrave parte oriental da zona demigraccedilatildeo da Barra do Ancatildeo Apresenta umamorfodinacircmica semelhante agrave Peniacutensula do Ancatildeo(Pilkey et al 1989 Bettencourt 1994) e um uacutenicocordatildeo dunar com cerca de 7m de altura (Vila-Concejoet al 2006)

A complexidade deste sector aumenta de ocidentepara oriente onde a ilha jaacute apresenta um campo dunarlargo e bem vegetado Existem dois pequenosaglomerados de casas de pescadores e de apoio agrave praialocalizados na parte interna junto agrave laguna e agrave BarraFaro-Olhatildeo respectivamente

A metade oriental da ilha eacute a uacutenica que apresentaum comportamento regressivo (Vila et al 1999)proporcionando o crescimento do cordatildeo dunarfrontal (Duarte et al 1999) Este comportamento foiconsequecircncia da construccedilatildeo dos molhes da barraartificial de Faro-Olhatildeo entre 1929 e 1955 (Esaguy1986a) que interromperam a deriva litoral econsequentemente induziram a barlamar (junto ao

molhe W localizado no extremo oriental da ilha) umaacumulaccedilatildeo arenosa notaacutevel

35 Barra Faro-Olhatildeo

A Barra Faro-Olhatildeo que separa as ilhas da Barretae da Culatra foi artificialmente aberta e estabilizadapor molhes entre 1929 e 1955 num local onde existiajaacute uma barra (Barra do Bispo) relativamente larga masbastante instaacutevel (Esaguy 1986a) (Fig2) O objectivoda abertura foi o de assegurar a navegabilidade aocanal de acesso que conduz ao porto comercial deFaro bem como agraves localidades de Faro e Olhatildeo Estaintervenccedilatildeo induziu grande alargamento da parteoriental da Ilha da Barreta a barlamar e erosatildeobastante significativa da parte ocidental da Ilha daCulatra a sotamar bem como modificaccedilotildeesimportantes no comportamento hidrodinacircmicolagunar (Vila-Concejo et al 2006) Veio retirareficiecircncia hidraacuteulica agrave Barra da Armona que era abarra principal do sistema em consequecircncia do quese verificou grande estreitamento desta sendoactualmente a sua eficaacutecia extremamente reduzida

O canal da barra de Faro-Olhatildeo projectado paramanter cotas entre 4 a 45m abaixo do zerohidrograacutefico (Weinholtz 1978) foi progressivamenteficando mais fundo ateacute atingir profundidades naordem dos 40m em 2001 assim aumentando a secccedilatildeode escoamento Consequentemente surgiramproblemas de seguranccedila no que respeita agrave navegaccedilatildeodevido agraves fortes correntes de vazante e de enchente ea graves danos nos troccedilos terminais dos molhes

A abertura da barra e a construccedilatildeo dos molhesalteraram a circulaccedilatildeo hiacutedrica e os balanccedilossedimentares nesta zona do sistema A Barra Faro-Olhatildeo eacute a grande responsaacutevel pela importaccedilatildeo desedimentos para o sistema lagunar A entrada de140000m3ano de sedimentos (Pacheco et al 2007)poderaacute estar relacionada com as intensas dragagensefectuadas no canal de navegaccedilatildeo no interior dosistema recomendando-se que sejam apenasrealizadas de modo a manter as condiccedilotildees denavegabilidade

36 Ilha da Culatra

A Ilha da Culatra tem aproximadamente 7km decomprimento estando a ocupaccedilatildeo humanaconcentrada em trecircs povoaccedilotildees (Farol Hangares e

65

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Culatra) que soacute podem ser atingidas por barco (Fig4)A evoluccedilatildeo recente da ilha e das barras que a limitamfoi alvo de estudo de diversos autores (eg Granja1984 Esaguy 1984 1986a Dias 1988 Pilkey et al1989 Andrade 1990a Garcia et al 2002 Vila-Concejoet al 2002) Eacute consensual que os molhes da BarraFaro-Olhatildeo foram responsaacuteveis por uma profundaalteraccedilatildeo da hidrodinacircmica do sistema e alteraccedilotildeessignificativas na Ilha da Culatra Segundo Garcia et al(2002) as principais consequecircncias foram ocrescimento muito raacutepido para oriente da ilha e aampliaccedilatildeo do recuo da linha de costa na zonaocidental

A linha de costa da extremidade ocidental da ilhaonde se localiza a povoaccedilatildeo do Farol estaacutecompletamente artificializada (molhe oriental da barraenrocamento longitudinal construiacutedo para protecccedilatildeodas edificaccedilotildees e estabilizaccedilatildeo da linha de costa e umesporatildeo no limite oriental da povoaccedilatildeo) Neste sectora ilha eacute relativamente estreita com uma duna de decliveacentuado paralela agrave linha de costa evidenciandocarecircncia de sedimentos (Garcia et al 2002) o que setorna problemaacutetico pois que esta zona se encontraintensamente ocupada

A morfologia do sector central reflecte aalternacircncia de cordotildees dunares e canais de mareacute Naprimeira metade do seacuteculo XX a margem ocidentalda barra da Armona (que era a principal do sistema)localizava-se junto agrave povoaccedilatildeo da Culatra tendo aiacutesido construiacutedas as instalaccedilotildees do Instituto deSocorros a Naacuteufragos onde estava sedeado o botesalva-vidas Estas instalaccedilotildees haacute muito que perderampor completo a sua funcionalidade estandoactualmente convertidas num Centro Social dapovoaccedilatildeo A ocupaccedilatildeo apenas ocorre na margemlagunar da ilha e consequentemente natildeo estaacute sujeitaa problemas significativos de erosatildeo costeira

O sector oriental que se constituiu essencialmentea partir de meados do seacuteculo XX eacute despovoado Estecrescimento da ilha estaacute provavelmente relacionadocom a modificaccedilatildeo da hidrodinacircmica do sistemadevido agrave construccedilatildeo da Barra de Faro-OlhatildeoApresenta corpo dunar pouco desenvolvido e elevadasusceptibilidade a galgamentos (Andrade et al 1998Garcia et al 2002 Vila-Concejo et al 2006)

37 Barra da Armona

A Barra da Armona que separa as ilhas da Culatra

Figura 4 ndash Panoracircmica da Ilha da Culatra e Barra de Faro-Olhatildeo vista de Oeste na foto satildeo visiacuteveis as povoaccedilotildeesdo Farol Hangares e Culatra (fotografia obtida em Novembro de 2006 pelo autor)Figure 4 ndash Oblique aerial photo from West of the Culatra Island and Faro-Olhatildeo Inlet showing the Farol Hangares andCulatra communities (photo by author in November 2006)

66

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

e da Armona eacute considerada a uacutenica barra estaacutevel dosistema em termos de localizaccedilatildeo (Pilkey et al 1989)e a que apresenta o delta de vazante mais desenvolvido(Dias et al 1997) (Fig2) Era a principal barra dosistema mas o crescimento da ilha da Culatra temprovocado o seu estreitamento progressivo Entre1873 e 1983 a barra estreitou cerca de 2500mpassando de uma largura de 4300m para 1850m(Esaguy 1984) A maior taxa de estreitamento entre1950 e 1977 estaacute provavelmente relacionada com aconclusatildeo da abertura da Barra de Faro-Olhatildeo (Vila-Concejo et al 2002) Na actualidade apresenta umalargura de cerca de 200m

38 Ilha da Armona

A Ilha da Armona tem comprimento aproximadode 9km e largura maacutexima de cerca de 1400m naextremidade SW (Fig2) A parte ocidental apresentaum longo cordatildeo dunar frontal de 8 a 9m A deposiccedilatildeode sedimento a ocidente eacute um fenoacutemeno uacutenico emtodo o sistema da Ria Formosa (Pilkey et al 1989) econtribui para o estreitamento da Barra da ArmonaA parte oriental apresenta um cordatildeo dunar poucodesenvolvido e elevada susceptibilidade ao galgamento(Andrade et al 1998)

Na zona mais larga a ocidente encontra-se apovoaccedilatildeo da Armona Progressivamente a largura dailha vai diminuindo para oriente sendo o cordatildeo dunarrobusto e bem vegetado ateacute agrave zona fronteira agravepovoaccedilatildeo da Fuzeta (Fig1)

Nesta zona bastante estreita e sujeita agalgamentos oceacircnicos onde se localizava a Barra daFuzeta em meados do seacuteculo XX encontra-se umconjunto de casas (construiacutedas ilegalmente) comutilizaccedilatildeo natildeo permanente Ramos amp Dias (2000)apontam esta ocupaccedilatildeo como um dos casos maiscriacuteticos do sistema por se localizar numa zona comelevada vulnerabilidade ao galgamento

39 Barra da Fuzeta

A Barra da Fuzeta que separa as ilhas da Armonae de Tavira tem actualmente cerca de 250m de largura(Fig2) Apresenta normalmente evoluccedilatildeo muitoraacutepida (Dias et al 1997) Entre 1945 e 1996 registouuma taxa de migraccedilatildeo meacutedia de cerca de 65mano(Vila-Concejo et al 2006) Natildeo satildeo conhecidos valoresexactos da extensatildeo ou duraccedilatildeo do ciclo de migraccedilatildeo

Contudo de acordo com Vila-Concejo et al (2002) ociclo completo dura pelo menos 50 anos e a barramigra no total mais de 3500m Esta migraccedilatildeo podeser progressiva ou intermitente (Dias et al 1997)

Agrave semelhanccedila da Barra do Ancatildeo procedeu-se agraveabertura artificial de uma nova Barra da Fuzeta emJulho de 1999 Poreacutem devido aos condicionamentosimpostos pelas casas existentes frente agrave povoaccedilatildeo daFuzeta foi aberta apenas a cerca de 800m a ocidenteda posiccedilatildeo que ocupava em 1996 Parte do sedimentodragado foi utilizada para fechar artificialmente aantiga barra No entanto esta intervenccedilatildeo natildeo obtevemuito sucesso devido ao aumento de sinuosidade docanal apoacutes a abertura De acordo com os resultadosde Vila-Concejo et al (2004b) o canal atingiu oequiliacutebrio dinacircmico em Julho de 2000

310 Ilha de Tavira

A Ilha de Tavira eacute a maior do sistema com cercade 11km de comprimento e 800m de largura maacuteximana parte central (Fig2) Esta ilha estreitaprogressivamente para SW onde existem sinais deforte erosatildeo e de frequentes galgamentos No entantoo campo dunar eacute na generalidade moderadamentelargo e elevado constituiacutedo por vaacuterios cordotildeesdunares A Ilha de Tavira exceptuando a extremidadeSW eacute considerada uma das mais ldquoestaacuteveisrdquo do sistemada Ria Formosa natildeo existindo indiacutecios de processosdestrutivosconstrutivos relacionados com amigraccedilatildeo de barras Apresenta poreacutem algunscorredores eoacutelicos junto agraves zonas de maior ocupaccedilatildeodevido ao pisoteio e na parte central na zonaenvolvente ao Arraial do Barril verificou-se um recuoda linha de costa entre 1976 e 2001 de 02 a 13mano (Garcia et al 2005)

A extremidade oriental da ilha estaacute estabilizadaartificialmente pelos molhes da Barra de Tavira o quelevou agrave acumulaccedilatildeo de sedimentos a ocidente dabarra numa extensatildeo de cerca de 1000m A partemais vulneraacutevel da zona NE situa-se junto ao Canalde Tavira artificial pois que a sua posiccedilatildeo tem sidomantida atraveacutes de dragagens e traccediladomeandriforme Neste local a ilha tecircm apenas cerca de150m de largura

A Ilha de Tavira apresenta duas zonas de ocupaccedilatildeoo Arraial do Barril (antiga infra-estrutura de pesca doatum convertida em apoio de praia) e a Praia de Tavira

67

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

onde se situam estruturas de apoio com algumaenvergadura designadamente um parque decampismo (Fig1) Na actualidade apesar dos impactesantroacutepicos serem elevados satildeo concentrados elimitados Segundo Dias et al (2004) o Arraial doBarril pode ser apontado como um bom exemplo deexploraccedilatildeo turiacutestica sustentaacutevel natildeo haacute habitaccedilatildeopermanente o acesso eacute efectuado por uma pontepedonal e por um pequeno comboio ou pelo passeioque o ladeia (o que evita impactes generalizados) asantigas instalaccedilotildees da companhia de pesca queestavam abandonadas tiveram reaproveitamentolucrativo Contudo o cordatildeo dunar frontal estaacute sujeitoa alguma erosatildeo e a pequenos galgamentos oceacircnicosdetectando-se tambeacutem alguns corredores eoacutelicos episoteio moderado A previsatildeo da localizaccedilatildeo da linhade costa em 2050 considerando a aceleraccedilatildeo daelevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar e a eventualocorrecircncia de um temporal com periacuteodo de retornode 50 anos indica que eacute expectaacutevel um recuo da ordemdos 70m ou seja que atingiraacute as edificaccedilotildees aiacuteexistentes (Ferreira et al 2006)

311 Barra de Tavira

A Barra de Tavira artificial separa as ilhas deTavira e de Cabanas e tem largura de 60m (Fig2) Foiaberta artificialmente em 1927 quase em frente agrave fozdo Rio Gilatildeo conduzindo ao encerramento da antigabarra em 1930 (Vila-Concejo et al 2006) Os dadosdisponiacuteveis sugerem uma velocidade de migraccedilatildeo daantiga barra de cerca de 40mano (Weinholtz 1978)A barra artificial teve que ser sujeita a vaacuterias operaccedilotildeesde dragagem entre 1930 e 1935 e estabilizada pordois esporotildees em 1936 devido ao constanteassoreamento (Esaguy 1987) Um ciclone ocorridoem 1941 abriu uma nova barra a cerca de 1100m aEste da barra artificial (Barra do Cochicho-Almargem) a qual rapidamente alargou e comeccedilou amigrar para oriente A existecircncia da nova barra levouao aumento do assoreamento da Barra de Tavira queteve que ser reaberta em 1961 face agraves dificuldades denavegaccedilatildeo Posteriormente foram efectuadas diversasobras de dragagem estabilizaccedilatildeo e fortalecimento dediques no sentido de diminuir o assoreamento(Esaguy 1987) A eficiecircncia hidrodinacircmica da Barrade Tavira eacute muito pequena representando cerca de4 do prisma de mareacute total do sistema (Andrade1990a)

312 Ilha de Cabanas

A Ilha de Cabanas eacute a ilha mais oriental e a maispequena do sistema com um comprimento de cercade 6km e uma largura maacutexima de 300m (Fig2) Narealidade constitui a extremidade natural da Ilha deTavira tendo sido convertida numa ilha autoacutenomapela abertura artificial da Barra de Tavira (Dias 1988)Foi completamente destruiacuteda durante o ciclone de1941 e novamente no decurso de um violentotemporal em 1961 os quais provocaram extensosgalgamentos oceacircnicos e a formaccedilatildeo de uma novabarra (Barra de Cabanas) para aleacutem da Barra doCochicho-Almargem as quais juntas formaram umaabertura uacutenica com cerca de 2500m de extensatildeo apartir da meia mareacute (Matias 2000)Consequentemente o cordatildeo dunar eacute relativamenterecente fraacutegil e elevando-se apenas a uma cota meacutediade 25m (Dias et al 2003)

A Ilha de Cabanas foi a primeira zona a serintervencionada ao abrigo do programaldquoRequalificaccedilatildeo do sistema lagunar da Ria Formosardquoentre Abril e Junho de 1999 Natildeo existem estimativasda quantidade de sedimentos perdidos para o marNo entanto os dragados usados na realimentaccedilatildeoeram grosseiros ajudando agrave naturalizaccedilatildeo dos aterrosefectuados (Saacute-Pires et al 2001) Aleacutem destaintervenccedilatildeo foi construiacutedo mais um pequeno esporatildeoa oriente da Barra de Tavira pelo que a erosatildeo que aiacutese verifica ficou atenuada pela existecircncia de doisesporotildees As intervenccedilotildees parecem ter sidodeterminantes na protecccedilatildeo da praia uma vez quenatildeo se tecircm registado galgamentos ou erosatildeo do cordatildeodunar nos locais intervencionados os mesmosapresentam alguma colonizaccedilatildeo por vegetaccedilatildeopioneira (Saacute-Pires et al 2001) No entanto uma vezque a realimentaccedilatildeo foi localizada e o cordatildeo dunareacute de baixa altitude as intervenccedilotildees natildeo impedem quenum futuro proacuteximo ocorram galgamentossobretudo junto aos apoios de praia existentes

313 Barra do Laceacutem

A Barra do Laceacutem corresponde agrave barra natural dolimite Este da Ilha de Tavira se esta natildeo fosseinterrompida pela barra artificial de Tavira (Fig2)Vaacuterios autores documentaram a evoluccedilatildeo da mesma(eg Weinholtz 1978 Esaguy 1986b Dias 1988

68

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Pilkey et al 1989 Andrade 1990a Bettencourt 1994Matias 2000 Vila-Concejo et al 2002) A barra separaa Ilha de Cabanas e a Peniacutensula de Cacela deriva dajunccedilatildeo em 1985 das Barras de Cochicho-Almargem(aberta pelo ciclone de 1941) e de Cabanas (abertapelo temporal de 1961) (Esaguy 1986b) A velocidademeacutedia de migraccedilatildeo da barra tem sido de 97mano(Vila-Concejo et al 2006)

Mais recentemente em 2004 abriu-se uma novabarra natural localizada a oriente da antiga Barra doLaceacutem A nova barra conduziu ao assoreamento daantiga Barra do Laceacutem com o seu consequenteencerramento

314 Peniacutensula de Cacela

A Peniacutensula de Cacela localiza-se no extremooriental da Ria Formosa Tem cerca de 3km decomprimento e entre 100 a 250m de largura (Fig2)

Em 1976 a cota meacutedia do cordatildeo dunar singularrobusto e vegetado era de 34m atingindo um maacuteximode 61m (Esaguy 1986c) A posterior degradaccedilatildeo doscorpos dunares devido ao pisoteio conduziu a umgrande aumento da frequecircncia de galgamentos (Diaset al 2004) Em 1990 Andrade (1990b) verificou quea Peniacutensula de Cacela apresentava um maacuteximo desusceptibilidade a galgamentos oceacircnicos De factodurante o Inverno de 19951996 ocorreramgalgamentos generalizados em quase toda a peniacutensulaque conduziram agrave abertura de uma nova barra nocentro da mesma (Barra da Faacutebrica) a qual emOutubro de 1996 chegou a ter cerca de 35m de largurae uma profundidade de 07m (Matias et al 2004) Casonatildeo se efectuasse qualquer intervenccedilatildeo era de preverque as dunas remanescentes desaparecessem porcompleto

Assim no sentido de diminuir a vulnerabilidade agalgamentos e de manter a produccedilatildeo de bivalves(actividade econoacutemica mais importante da zona)foram efectuadas entre Outubro de 1996 e Fevereirode 1997 grandes intervenccedilotildees que consistiramprincipalmente na ldquoreconstituiccedilatildeordquo do cordatildeo dunarda Peniacutensula de Cacela na colmataccedilatildeo da Barra daFaacutebrica e na dragagem da Barra do Laceacutem e do canallagunar (Ramos amp Dias 2000 Matias et al 2005) Oobjectivo era elevar a cota do topo do cordatildeo dunarateacute aos 75m acima do Zero Hidrograacutefico (ZH)reconstituindo uma situaccedilatildeo semelhante agrave existente

nos anos 60 (Ramos amp Dias 2000) Todavia devidoagrave existecircncia de formaccedilotildees consolidadas queimpossibilitaram a dragagem agraves cotas inicialmenteestabelecidas a quantidade de sedimentos repulsadospara a peniacutensula foi bastante inferior ao previstoestimando-se que o material deposto no cordatildeo dunartenha atingido apenas 325000m3 (Ramos amp Dias2000) Tal obrigou agrave reformulaccedilatildeo do projectoelevando-se a cota de topo da duna apenas para os5m acima do ZH Segundo Matias et al (1999) cercade 32 do sedimento depositado perdeu-seimediatamente apoacutes a deposiccedilatildeo no cordatildeo arenosoTal verificou-se devido aos processos de acomodaccedilatildeodo perfil de praia submerso mas tambeacutem porquegrande parte do material natildeo apresentava agranulometria adequada Depois da realimentaccedilatildeo avegetaccedilatildeo pioneira comeccedilou rapidamente a colonizara duna reconstituiacuteda (Matias et al 2004)

Outras intervenccedilotildees tecircm vindo a ser efectuadasdepois do robustecimento do cordatildeo dunar foramconstruiacutedos passadiccedilos de madeira procedeu-se agravecolocaccedilatildeo de paliccediladas no sentido de propiciar odesenvolvimento de dunas naturais e agrave plantaccedilatildeo deAmmophila arenaria Posteriormente entre Abril de1999 e Julho de 2000 efectuaram-se em quase todoo sistema novas dragagens nos canais natildeoconsiderados de navegaccedilatildeo integradas no Projectode Requalificaccedilatildeo do Sistema Lagunar com oobjectivo de intensificar a circulaccedilatildeo assim mantendoas condiccedilotildees ecoloacutegicas do sistema Nesta intervenccedilatildeovoltou-se a dragar a Barra do Laceacutem em Junho de1999 Segundo Ramos amp Dias (2000) as intervenccedilotildeesatingiram os objectivos tendo a vulnerabilidade aogalgamento sido drasticamente reduzida e do ladonascente verificando-se o estabelecimento dasucessatildeo fitogeneacutetica conferindo um aspecto naturalao novo cordatildeo dunar

Mais recentemente na parte central da zonaintervencionada verificou-se erosatildeo completa daldquodunardquo reconstruiacuteda o que tinha sido previsto nosestudos de monitorizaccedilatildeo realizados no decurso eimediatamente apoacutes a intervenccedilatildeo tendo-se na alturasugerido a possibilidade de nova pequena intervenccedilatildeopontual Todavia quando se verificou a ruptura natildeohouve possibilidades de efectuar essa pequenaintervenccedilatildeo pelo que se abriu naturalmente novabarra o que nos uacuteltimos anos provocou a colmataccedilatildeo

69

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

da antiga barra e erosatildeo de grande parte das ldquodunasrdquoreconstruiacutedas no final do seacuteculo XX

4 DISCUSSAtildeO

41 Evoluccedilatildeo Geral do Sistema

Como se deduz dos pontos anteriores o sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa eacute extremamentedinacircmico e como tal bastante vulneraacutevel As taxasde crescimento longitudinal de algumas ilhas satildeo dasmais notaacuteveis a niacutevel mundial (Dias et al 1997)

Segundo Pilkey et al (1989) os principais processosque contribuem para a evoluccedilatildeo das ilhas-barreira daRia Formosa satildeo (1) recuo da linha de costa (2) derivalitoral (3) galgamentos oceacircnicos (4) formaccedilatildeo decorpos dunares e de estabelecimento da respectivavegetaccedilatildeo (5) constituiccedilatildeo de deltas de mareacute e suaagregaccedilatildeo agraves ilhas (6) comportamento das barras e(7) erosatildeoacumulaccedilatildeo provocada pelas mareacutes-vivasdesignadamente nos canais de mareacute

Recuo da linha de costaOs valores observados na evoluccedilatildeo da linha de

costa indicam a existecircncia de recuo generalizado dasilhas e peniacutensulas (com excepccedilatildeo das zonasimediatamente a barlamar dos molhes das barras denavegaccedilatildeo) a qual varia consoante a localizaccedilatildeogeograacutefica e a interacccedilatildeo com os processos oceacircnicosA linha de costa move-se em resposta aos factoresnaturais de forma a manter o equiliacutebrio (Williams2001) O recuo da linha de costa eacute mais acentuadonos extremos do sistema e na parte ocidental das ilhase peniacutensulas Na parte central do sistema e nosextremos orientais das ilhas verifica-se algumaacreccedilatildeo Nas duas aacutereas mais intensamente ocupadas(Praia de Faro e Farol) existe estabilizaccedilatildeo da linha decosta devido a artificializaccedilatildeo desta com estruturasfixas de engenharia costeira A acreccedilatildeo verificada aoriente das ilhas da Barreta e de Tavira deve-se agravedeposiccedilatildeo de sedimentos a barlamar dos molhes dasbarras artificiais

Deriva litoralTorna-se evidente que o sistema da Ria Formosa

tem grande carecircncia de sedimentos principalmentenalgumas zonas mais expostas Contudo grande partedeste problema tem origem a barlamar do sistemaonde foram construiacutedos os molhes da marina deVilamoura e o campo de esporotildees de Quarteira que

interromperam a deriva litoral provocando a orienteintensificaccedilatildeo da erosatildeo nas arribas situadas entreQuarteira e a Praia do Garratildeo Actualmente as arribassatildeo o principal elemento abastecedor de areias aosistema da Ria Formosa (Correia et al 1997) Noentanto estas natildeo chegam para colmatar as carecircnciassedimentares do sistema da Ria Formosa o quesignifica que se forem construiacutedas obras riacutegidas deengenharia costeira neste sector se verificaraacuteintensificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico do sistemaampliando o grau de ruptura em que este jaacute seencontra Um exemplo que ilustra esta vulnerabilidadefoi a conclusatildeo da construccedilatildeo dos molhes da barraartificial de Faro-Olhatildeo em meados do seacuteculopassado que induziu grandes alteraccedilotildees com efeitosdraacutesticos no suprimento de sedimento agrave parte orientalNa realidade a abertura desta barra estabilizada pelosmolhes respectivos fez com que o sistema naturalentrasse em ruptura modificando radicalmente ascaracteriacutesticas hidro-sedimentoloacutegicas Segundo Dias(1990) as uacutenicas acccedilotildees de protecccedilatildeo realmenteeficazes satildeo as que possibilitam a reconstituiccedilatildeo daderiva litoral com os consequentes volumes desedimentos necessaacuterios

Galgamentos oceacircnicosAs ilhas-barreira da Ria Formosa satildeo

periodicamente sujeitas a galgamentos oceacircnicosdurante temporais de SW e SE Estes galgamentosconstituem um elemento muito importante nadinacircmica e na evoluccedilatildeo natural do sistemacontribuindo com fornecimento de sedimentos parao interior da laguna e abertura de novas barras quandoas antigas jaacute natildeo apresentam eficiecircncia (Andrade1990a) Tecircm sido assumidos como principalmecanismo de migraccedilatildeo das ilhas-barreira(Leatherman 1976 Bray amp Carter 1992) induzindoum efeito construtivo de acreccedilatildeo (Matias et al 2003)Assim sendo a gestatildeo deve integrar uma adaptaccedilatildeoaos galgamentos naturais uma vez que satildeo vitais parao funcionamento natural do sistema

Do ponto de vista da ocupaccedilatildeo os galgamentosoceacircnicos satildeo um factor importante que necessita deser avaliado para propiciar uma gestatildeo mais eficazuma vez que induz seacuterios danos nas infra-estruturasexistentes (Andrade et al 1998) Verifica-se que ospontos mais vulneraacuteveis a galgamentos satildeo a Praia deFaro Barreta W Culatra E Armona E Tavira W toda

70

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

a Ilha de Cabanas e a Peniacutensula de Cacela Nesteslocais mesmo a ocorrecircncia de pequenos temporaisdurante a preia-mar de mareacutes vivas podem provocargalgamentos Alguns pontos como a Ilha de Cabanase a Peniacutensula de Cacela viram reduzida avulnerabilidade a galgamentos apoacutes as intervenccedilotildeesefectuadas com algum sucesso embora essavulnerabilidade comece a ser actualmente elevada nosegundo caso devido aos factos aludidos mais acimaEm geral os locais de maior vulnerabilidade satildeo osque apresentam perfis de praia de pouca inclinaccedilatildeocordatildeo dunar fraacutegil e proximidade das barras

Cordatildeo dunar e vegetaccedilatildeo dunarAo longo das ilhas existiu um cordatildeo dunar frontal

contiacutenuo com 5 a 10m de altura sem cortes eoacutelicos ede galgamento muito significativos e bem cobertosde vegetaccedilatildeo (Pilkey et al 1989) No entanto o cordatildeodunar encontra-se na actualidade completamenteocupado em alguns locais por edificaccedilotildees comoacontece na Praia de Faro na povoaccedilatildeo do Farol e naIlha da Armona A vegetaccedilatildeo tornou-se escassa natildeosomente nas zonas ocupadas mas tambeacutem noutroslocais como na parte ocidental da Ilha da Barreta ena oriental das ilhas da Armona e da Culatra

Com a crescente pressatildeo antroacutepica exercida sobreo sistema especialmente para fins balneares verifica-se que em vaacuterios locais a quantidade de cortes eoacutelicostem aumentado devido ao pisoteio Este facto podeconduzir em periacuteodos de agitaccedilatildeo mariacutetima maisenergeacutetica agrave ocorrecircncia de galgamentos oceacircnicosRamos amp Dias (2000) referem que grande parte doscortes de galgamento oceacircnico do sistema da RiaFormosa eacute devido ao pisoteio dos corpos dunares enatildeo a causas naturais

A instalaccedilatildeo intensiva nos uacuteltimos anos depaliccediladas para recuperaccedilatildeo dunar complementadacom plantaccedilatildeo de vegetaccedilatildeo tiacutepica destes ambientescorresponde a uma acccedilatildeo de gestatildeo com efeitos muitopositivos com a qual se tem conseguido robustecero cordatildeo dunar do sistema

Deltas de mareacuteA incorporaccedilatildeo de deltas de enchente e posterior

migraccedilatildeo ou encerramento da barra respectivaconstitui importante mecanismo de evoluccedilatildeo dasilhas-barreira estando na origem da grande larguradas ilhas da Armona e de Tavira (Pilkey et al 1989)

A formaccedilatildeo de deltas de enchente em associaccedilatildeo comos galgamentos oceacircnicos contribui para a migraccedilatildeodas ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continente o quepoderaacute estar a suceder com o caso particular daPeniacutensula de Cacela (Andrade et al 2004)

Comportamento das barrasA Ria Formosa eacute caracterizada por apresentar

elevadas taxas de migraccedilatildeo das barras A estabilizaccedilatildeode duas das barras no sector oriental provocou fortesmodificaccedilotildees na dinacircmica do sistema Segundo Vila-Concejo et al (2002) a estabilizaccedilatildeo da Barra Faro-Olhatildeo (1929-1955) teve maiores consequecircncias nasbarras do Ancatildeo e da Armona enquanto que aabertura artificial da Barra de Tavira (1927-1985)produziu maiores efeitos nas barras da Fuzeta e doLaceacutem

A Barra da Armona era a principal barra dosistema controlando a maior parte da circulaccedilatildeo daRia Formosa na parte central Com a abertura da BarraFaro-Olhatildeo projectada para manter profundidadesentre-molhes da ordem de 45m ZH mas queprogressivamente se foi aprofundando ateacuteprofundidades superiores a 40 metros as trocashiacutedricas com o oceano passaram a efectuar-sepredominantemente por esta barra Os molhesprovocaram grande acumulaccedilatildeo a barlamar pelo quenos 12 anos seguintes agrave sua construccedilatildeo a Ilha daBarreta registou alargamento superior a 220 metrosna zona por eles influenciada (Bettencourt 1985) Emconsequecircncia a barra da Armona perdeu eficaacuteciareduzindo progressivamente largura e profundidadeNos anos 80 do seacuteculo XX tinha ainda cerca de 2000metros de largura mas actualmente essa largura eacuteapenas da ordem de 200 metros

O sentido de migraccedilatildeo das barras natildeo estabilizadaseacute para oriente (agrave excepccedilatildeo da Barra da Armona quetem mantido a sua posiccedilatildeo) Essa migraccedilatildeo efectua-se quer progressivamente (mantendo ou natildeo a largura)ou por ldquosaltosrdquo na sequecircncia de temporais em quenova barra se abre em geral a sotamar da barraexistente seguindo-se frequentemente a posteriorcolmataccedilatildeo desta (Dias 1988 Pilkey et al 1989Andrade et al 1998)

Erosatildeo provocada pelas mareacutes-vivasA Ria Formosa eacute um sistema lagunar com uma

grande aacuterea de zona intertidal (cerca de 13 do total

71

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

da aacuterea) Em cada ciclo de mareacute 50 a 75 da aacutegua eacuterenovada (Sprung 1994) Devido agrave diferenccedila deamplitude entre mareacutes-vivas e mareacutes-mortas as zonasde menor elevaccedilatildeo das ilhas-barreira satildeo regularmenteinundadas durante as primeiras causando transportesignificativo de sedimentos Estes fluxos satildeoresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo de canais de mareacute eaumento da erosatildeo das ilhas-barreira

Como jaacute foi referido os periacuteodos de mareacutes-vivassatildeo bastante problemaacuteticos especialmente noInverno na medida em que potenciam o efeito detempestades que ocorrem durante mareacutes-cheiasTodos os anos nos pontos criacuteticos do sistema comoa Praia de Faro a probabilidade de ocorrer umasituaccedilatildeo muito grave aumenta principalmente se seconsiderar a elevaccedilatildeo do NMM

42 Intervenccedilatildeo

Como eacute reconhecido por Scheele amp Westen (1996)os planos de gestatildeo costeira devem apontar para aprotecccedilatildeo ambiental de longo prazo o que implica(1) uma estrateacutegia com objectivos claros e concisos(2) uma metodologia praacutetica e realista (3)monitorizaccedilatildeo contiacutenua (4) forte aposta nosprogramas de educaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo ambiental e(5) envolvimento da comunidade local no processode planeamento e tomada de decisotildees

Sendo a Ria Formosa um sistema muito dinacircmicocom elevada vulnerabilidade e que reage rapidamentea elevaccedilotildees do niacutevel do mar os muacuteltiplos interesseseconoacutemicos e sociais aiacute existentes fazem com que aaacuterea seja caracterizada por elevado grau de conflitosde interesses A situaccedilatildeo torna-se ainda mais complexaquando se considera que o sistema corresponde a umParque Natural onde haacute que compatibilizar interesseseconoacutemicos com a conservaccedilatildeo da Natureza Nestecontexto soacute eacute possiacutevel proceder agrave conservaccedilatildeo daNatureza atraveacutes de intervenccedilotildees tendentes a minoraros impactes negativos induzidos pelas actividadesantroacutepicas (Ramos amp Dias 2000)

De acordo com as actividades desenvolvidas osprincipais grupos de interesse na Ria Formosa satildeo(1) o PNRFICNB (2) a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeoe Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR-Algarve) (3) as entidades promotoras do turismo (4)as associaccedilotildees comerciais e industriais (incluindo oporto) (5) os pescadores e autoridades responsaacuteveis

por este sector (6) as entidades regionais e locais (7)as associaccedilotildees de defesa do ambiente e osambientalistas e (8) a populaccedilatildeo local incluindoresidentes e natildeo residentes Como sugere Antunes etal (2006) o entendimento entre os diferentes gruposconduz a uma sinergia que beneficia as potencialidadesque contribuem para uma gestatildeo eficaz

Os principais problemas das ilhas-barreira estatildeolocalizados nos nuacutecleos urbanos devido agraves estruturasedificadas Dos principais nuacutecleos existentes apenasos de Hangares e Culatra natildeo tecircm problemas erosatildeocosteira pois que se localizam junto agrave parte lagunar(e consequentemente afastados da praia oceacircnica eportanto resguardados dos temporais) Os restantespoacutelos de ocupaccedilatildeo (Praia de Faro Farol etc) satildeoproblemaacuteticos sendo os riscos de inundaccedilatildeo e erosatildeobastante elevados Para resolver estes problemasexistem fundamentalmente trecircs estrateacutegias deintervenccedilatildeo (1) intervenccedilatildeo riacutegida (ex esporotildeesparedotildees) (2) retirada estrateacutegica programas natildeoestruturais (ex demoliccedilatildeo de infra-estruturas) e (3)intervenccedilatildeo suave (ex realimentaccedilatildeo de praias) (Pilkeyamp Dixon 1996) Qualquer uma destas estrateacutegias temproacutes e contras sendo praticamente impossiacutevel quequalquer uma delas satisfaccedila todos os grupos deinteresse afectados

Intervenccedilatildeo riacutegidaAteacute haacute poucas deacutecadas em todo o mundo a

construccedilatildeo de estruturas riacutegidas e permanentesconstituiu o meacutetodo mais utilizado de protecccedilatildeo dopatrimoacutenio edificado no litoral Embora estasestruturas se revelem eficazes na defesa de imobiliaacuterioem risco de ser danificado pela erosatildeo costeiraprovocam fortes impactes negativos a sotamar dolocal onde satildeo construiacutedas (Inman 1978 Mangor1998 Greene 2002) pelo que internacionalmente severifica tendecircncia para adoptar outros tipos deprotecccedilatildeo ambientalmente menos agressivos

A construccedilatildeo dos molhes da marina de Vilamourae do campo de esporotildees de Quarteira provocou forteaumento da erosatildeo a oriente e consequentementegraves problemas de gestatildeo Por outro lado a aberturae fixaccedilatildeo das barras de Faro-Olhatildeo e de Tavira parapropiciar melhor funcionamento das estruturasportuaacuterias existentes no meio lagunar econsequentemente beneficiar as actividades socio-econoacutemicas da regiatildeo provocaram grandes alteraccedilotildees

72

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

no sistema fazendo com que o seu funcionamentonatural tivesse entrado em ruptura e que a erosatildeocosteira tivesse sido fortemente amplificada a sotamarComo se veraacute na parte dedicada agraves intervenccedilotildeessuaves a utilizaccedilatildeo de teacutecnicas de transposiccedilatildeo dosmolhes (ldquoby-passingrdquo) permitiria reduzirsubstancialmente alguns destes impactes negativos

A construccedilatildeo de mais estruturas riacutegidas na RiaFormosa (ou a barlamar desta) traduzir-se-ia numaforte amplificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico em queo sistema jaacute se encontra tendendo a meacutedio ndash longoprazo para a completa artificializaccedilatildeo da Ria Formosaconsignada por legislaccedilatildeo nacional como ParqueNatural e reconhecida internacionalmente comoimportante aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental

Retirada estrateacutegica Programas natildeo estruturaisOs programas natildeo estruturais satildeo intervenccedilotildees em

que se procede agrave demoliccedilatildeo de infra-estruturasameaccediladas pela erosatildeo costeira ou transferecircncia dasmesmas para locais mais seguros o que eacute tambeacutemconhecido como ldquoretirada estrateacutegicardquo Viabiliza-seassim a evoluccedilatildeo natural dos sistemas Com amigraccedilatildeo das ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continentecomo resposta agrave elevaccedilatildeo do NMM este tipo deintervenccedilatildeo comeccedilou por ser aplicado em algunslocais da costa Leste dos EUA em 1972 (NRC 1995)A deslocalizaccedilatildeo de infra-estruturas pode ser eficazem locais pouco povoados ou quando existe interessena salvaguarda de patrimoacutenio como aconteceu como farol do Cabo Hatteras nos EUA No entantotorna-se impraticaacutevel em grandes nuacutecleos urbanosdevido aos elevados custos e dificuldades logiacutesticas

Na Ria Formosa este tipo de intervenccedilatildeo temencontrado grandes dificuldades de execuccedilatildeodesignadamente no que se refere agrave demoliccedilatildeo de casasconstruiacutedas ilegalmente em Domiacutenio Hiacutedrico Domiacutenio Puacuteblico Mariacutetimo o que aleacutem de tender aperpetuar situaccedilotildees de muito alto risco potildee em causaa imagem do Paiacutes como Estado de direito (Dias 2002)

Intervenccedilatildeo SuaveA intervenccedilatildeo suave tambeacutem designada por

protecccedilatildeo dinacircmica desde haacute algumas deacutecadas que eacuteutilizada preferencialmente como alternativa agravesteacutecnicas de intervenccedilatildeo riacutegida Apresentam menoresimpactes ambientais sendo uma soluccedilatildeo maisapropriada para aacutereas sensiacuteveis como as ilhas-barreira

As teacutecnicas de protecccedilatildeo suave tais como arealimentaccedilatildeo de praias a reconstruccedilatildeo dunar atransposiccedilatildeo de molhes (by-passing) a abertura debarras (para as deixar evoluir naturalmente) e asldquodragagens ecoloacutegicasrdquo correspondem em geral auma intervenccedilatildeo inicial deixando depois a Naturezaldquotrabalharrdquo Por essa razatildeo estas teacutecnicas satildeo tambeacutemfrequentemente designadas por ldquobuilding with NaturerdquoSatildeo com frequecircncia menos dispendiosas e maiseficientes a longo prazo do que as intervenccedilotildees riacutegidas(Koster amp Hillen 1995 Griggs 1999 Dias et al 2003)

Poreacutem estas teacutecnicas tecircm que ser executadas comforte suporte cientiacutefico e devem envolver o conceitode protecccedilatildeo de trechos costeiros na sua globalidadee natildeo apenas a protecccedilatildeo local de patrimoacutenio edificadoem zonas de risco Se forem concretizadas de formadeficiente podem mesmo revelar-secontraproducentes Eacute o que se passa por exemploquando a realimentaccedilatildeo de praias eacute efectuada comareias extraiacutedas da praia submersa (acima daprofundidade de fecho) nestes casos nenhumsedimento eacute adicionado ao sistema (Wells amp McNinch1991) havendo apenas transferecircncias dentro dosistema com consequecircncias negativas para o seufuncionamento natural tanto ao niacutevel morfodinacircmicocomo bioloacutegico

Desde 1996 que o PNRFICN tem realizadointervenccedilotildees de caraacutecter suave na tentativa demelhorar o funcionamento do sistema e diminuir avulnerabilidade ao galgamento e ao mesmo tempomanter a dinacircmica dos processos naturais (Dias et al2004) Entre as intervenccedilotildees efectuadas procedeu-seao robustecimento da Peniacutensula de Cacela agrave aberturadas Barras do Ancatildeo e da Fuzeta (deixando-as deseguida evoluir naturalmente) agrave dragagem de muitoscanais que natildeo satildeo de navegaccedilatildeo para melhorar acirculaccedilatildeo no sistema agrave repulsatildeo de sedimentos parao cordatildeo arenoso agrave colocaccedilatildeo de paliccediladas parareconstruccedilatildeo dunar agrave plantaccedilatildeo de Ammophila arenariae agrave construccedilatildeo de passadiccedilos sobrelevados

Segundo Dias et al (2003) as intervenccedilotildees suavesrealizadas na Ria Formosa propiciaram melhorprotecccedilatildeo das ilhas-barreira tendo-se em geralatingido os objectivos esperados Os mesmos autoresreferem que os sistemas naturais de elevadaimportacircncia soacutecio-econoacutemica e ambiental (como aRia Formosa) podem ser geridos utilizando este tipo

73

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

de teacutecnicas lucrando com o aproveitamento dosrecursos existentes

A transposiccedilatildeo (by-passing) dos molhes das barrasartificiais meacutetodo utilizado desde haacute muito um poucopor todo o mundo permitiria que as areias retidaspelos molhes a barlamar fosse transferido parasotamar aiacute reconstituindo a deriva litoral econsequentemente minimizando alguns dos impactesnegativos induzidos por estas estruturas Vaacuteriosestudos que demonstram que esta tecnologia natildeoaparenta ter efeitos ambientais negativos associados(eg Lindeman 1997 in Greene 2002)

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Com vista a avaliar a vulnerabilidade das ilhas-barreira da Ria Formosa o presente trabalho incidiuna actualizaccedilatildeo desta problemaacutetica na oacuteptica da gestatildeouma vez que se trata de um sistema em permanentetransformaccedilatildeo Nesta anaacutelise eacute imprescindiacutevel tersempre em consideraccedilatildeo que o sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa estaacute consignado legalmentecomo aacuterea de protecccedilatildeo ambiental desde 1978 anoem que lhe foi atribuiacutedo o estatuto de Reserva Naturaltendo ficado protegido pelo estatuto de ParqueNatural em 1987 (Decreto-lei 37387) e Rede Natura2000 tendo ainda sido integrado desde 1980 na Listade Siacutetios da Convenccedilatildeo de Ramsar (zonas huacutemidasde importacircncia internacional)

Da anaacutelise efectuada conclui-se que eacuteimprescindiacutevel compatibilizar os diversificados valoresnaturais (bioloacutegicos geomorfoloacutegicos fiacutesico-quiacutemicos geoloacutegicos etc) intriacutensecos ao sistema comos muacuteltiplos interesses soacutecio-econoacutemicos decorrentesda sua exploraccedilatildeo (pesca maricultura aquaculturaturismo portos comerciais e de pesca navegaccedilatildeo derecreio etc) Estando influenciado por fortesimpactes antroacutepicos directos e indirectos tais comoentre muitos outros a erosatildeo costeira e a intensificaccedilatildeodo assoreamento lagunar a sobrevivecircncia do sistemaldquonaturalrdquo e a sustentabilidade da sua exploraccedilatildeocarecem de intervenccedilotildees correctivas frequentes porforma a minimizar os impactes negativos aludidosTais intervenccedilotildees teratildeo que ser cautelosas e contiacutenuastentando o mais possiacutevel aproximar-se do que seriaa dinacircmica natural do sistema

Eacute ainda urgente resolver vaacuterios conflitos deinteresses existentes privilegiando as actividades

indutoras de menores impactes negativos e quesimultaneamente viabilizem uma melhor exploraccedilatildeosustentaacutevel do sistema Aponta-se a tiacutetuloexemplificativo o caso do turismo haacute quedesincentivar o turismo de massas directo nesta aacuterea(ateacute porque nas proximidades haacute poacutelos turiacutesticos destegeacutenero bem consolidados) desenvolvendo emalternativa outros tipos de turismo complementardesignadamente o turismo de Natureza a observaccedilatildeode aves (bird watching) e de peixes (fish watching) emambiente natural os passeios no meio lagunar emembarcaccedilotildees natildeo poluentes o turismo gastronoacutemicoetc

A maior parte da zona de barreira do sistema natildeoestaacute ainda ocupado por estruturas imobiliaacuterias Comvista agrave exploraccedilatildeo sustentaacutevel do sistema eacuteimprescindiacutevel que estas zonas continuem semocupaccedilatildeo permanente mantendo algumascaracteriacutesticas pristinas ainda aiacute existentes Nos poucosnuacutecleos urbanos piscatoacuterios existentes cujo casoparadigmaacutetico eacute a povoaccedilatildeo da Culatra onde natildeoexistem problemas realmente graves pois que selocalizam na margem lagunar (relativamente afastadado litoral oceacircnico) devem-se adoptar algumasmedidas correctivas pontuais por forma a preservara sua identidade cultural a melhorar a qualidade devida da populaccedilatildeo e a impedir um crescimentoexagerado Nos restantes nuacutecleos urbanos comcaracteriacutesticas ldquoturiacutesticasrdquo vaacuterios dos quais localizadosnas zonas de maior risco do sistema seria altamentedesejaacutevel que se procedesse agrave completa reformulaccedilatildeoda ocupaccedilatildeo ou sempre que possiacutevel se optasse peladesocupaccedilatildeo

No sentido de tentar resolver os problemas deerosatildeo costeira existentes (que se agravaratildeo no futuro)recomenda-se vivamente que a) natildeo se construamobras de protecccedilatildeo riacutegida (esporotildees paredotildees etc)na Ria Formosa nem na zona a barlamar desta daqual o sistema depende b) se continuem a executaracccedilotildees de robustecimento do cordatildeo dunar e decolmataccedilatildeo dos cortes de galgamento utilizando tantoquanto possiacutevel sedimentos provenientes dadragagem dos canais de navegaccedilatildeo c) se implementea transposiccedilatildeo dos molhes portuaacuterios com relevacircnciaespecial para os molhes da Barra de Faro-Olhatildeo d)efectivamente se proceda agrave demoliccedilatildeo das edificaccedilotildeessituadas em zonas de maior risco e sobre a duna

74

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

primaacuteria concretizando finalmente decisotildeesgovernamentais que tecircm vindo a ser repetidamentetomadas haacute quase trecircs deacutecadas mas nunca executadascabalmente e) sejam amplificadas as acccedilotildees deintervenccedilatildeo e protecccedilatildeo dinacircmica na linha do que severificou desde finais do seacuteculo passado (abertura debarras quando necessaacuterio para as deixar evoluirnaturalmente dragagens ldquoecoloacutegicasrdquo etc) e quetransformaram a Ria Formosa num siacutetio de referecircnciainternacional nesta mateacuteria e que nos uacuteltimos anosapenas tecircm sido executadas de forma extremamentemoderada

Finalmente eacute altamente recomendaacutevel que emtodos os actos de gestatildeo envolvendo quer ascomponentes geomorfoloacutegicas quer as ecoloacutegicasquer as soacutecio-econoacutemicas se tenham sempre emconsideraccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas principalmenteno que se refere agrave elevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar

BIBLIOGRAFIA

Andrade CF (1990a) - O Ambiente de barreira da RiaFormosa Algarve ndash Portugal Dissertaccedilatildeo deDoutoramento 645p Universidade de LisboaPortugal (natildeo publicado)

Andrade CF (1990b) - Estudo da susceptibilidadeao galgamento da Ria Formosa Geolis IV(1-2)69-76 Lisboa Portugal

Andrade CF Barata A amp Teles M (1998) - Ananalysis of the vulnerability to overwash of theRia Formosa barrier island system (Portugal)Using a simple multi-attribute technique (SMART)approach Proceedings of Littoralrsquo98 Conferencepp511-519 Barcelona Espanha

Andrade CF Freitas MC Moreno J amp CraveiroSC (2004) - Stratigraphical evidence of LateHolocene barrier breaching and extreme stormsin lagoonal sediments of Ria Formosa AlgarvePortugal Marine Geology 210339ndash362(doi101016jmargeo200405016)

Antunes P Santos R amp Videira N (2006) -Participatory decision making for sustainabledevelopment - the use of mediated modellingtechniques Land Use Policy 2344ndash52(doi101016jlandusepol200408014)

Bernardo P Bastos R amp Dias JA (2002) - Historicroots for barrier island occupation in the RiaFormosa Littoral 2002 Porto 4 p (disponiacutevel em

httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI02_Lit_91_PBpdf)

Bettencourt P (1985) - Geomorphologie et processusdlsquoeacutevolution reacutecente de la cocircte sotavento (Algarve ndash SudPortugal) Thegravese DEA 92p Universiteacute deBordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Bettencourt P (1994) - Les environnements sedimentairesde la cocircte sotavento (Algarve SudPortugal) et leur eacutevolutionHoloceacutene et actuelle PhD Thesis University ofBordeaux I Franccedila (unfinished)

Bray Jr T amp Carter C (1992) - Physical processesand sedimentary record of a moderntransgressive lacustrine barrier island MarineGeology 105(1-4)155-168 (doi 1010160025-3227(92)90187-M)

Correia F Dias JA Boski T amp Ferreira Oacute (1996)- The retreat of the Eastern Quarteira cliffed coast(Portugal) and its possible causes In Jones PSHealy MG amp Williams AT (eds) Studies inCoastal Management p129-136 Samara PublLtd Cardigan UK (disponiacutevel emht tp w3 u a l g p t j d i a s JA D pape r s CLinternac96_Studies_129_FCpdf)

Correia F Ferreira Oacute amp Dias JA (1997) - Contributodas arribas para o balanccedilo sedimentar do sectorcosteiro Quarteira - Vale do Lobo (Algarve -Portugal) Seminaacuterio sobre a zona costeira doAlgarve 31-39 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_031_FCpdf)

Costa CL (1994) - Final report of sub-project A ldquoWindwave climatology of the Portuguese coastrdquo InstitutoHidrograacutefico Report PO-WAVES 694-A 80 pLisboa Portugal (natildeo publicado)

Dias JA (1988) - Aspectos geoloacutegicos do litoralalgarvio Geonovas 10 113-128 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN88_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (1990) - A Evoluccedilatildeo Actual do LitoralPortuguecircs Geonovas 11 15-29 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN90_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (2002) - Manual de Sobrevivecircncia eVilanagem Diaacuterio de Notiacutecias - SuplementoldquoAmbiente e Desenvolvimento Sustentaacutevelrdquo 30de Julho de 2002 Lisboa Portugal (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersxCS02_DNADpdf)

75

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Dias JA Ferreira Oacute Matias A Vila-Concejo Aamp Saacute-Pires C (2003) - Evaluation of softprotection techniques in barrier islands bymonitoring programs case studies from RiaFormosa (Algarve-Portugal) Journal of CoastalResearch SI35117-131

Dias JA Ferreira Oacute amp Moura D (2004) - O sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa 3ordm SIPRES ndashSimpoacutesio Interdisciplinar sobre Processos Estuarinos 18p Faro Portugal

Dias JA amp Neal WJ (1992) - Sea cliff retreat insouthern Portugal profiles processes andproblems Journal of Coastal Research 8641-654

Dias JA amp Taborda R (1992) - Tidal gauge data indeducing secular trends of relative sea level andcrustal movements in Portugal Journal of CoastalResearch 8655-659

Dias JA Teixeira SB amp Ferreira Oacute (1997) - LivroGuia da Excursatildeo Seminaacuterio sobre a Zona Costeirado Algarve 43 p Faro Portugal

Douglas BC (1995) - Global sea level changedetermination and interpretation US NationalReport to IUGG 1991-1994 Geophys 33 Suppl11 p (disponiacutevel em httpwwwaguorgrevgeophysdougla01dougla01html)

Duarte C Matias A Dias JA amp Ferreira Oacute (1999)- Vulnerabilidade dos corpos dunares do Algarve10ordm Congresso do Algarve 477-490 (disponiacutevelem httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN99_10CA_477_CDpdf)

Esaguy AS (1984) - Ria de Faro Barra da ArmonaEvoluccedilatildeo 1873-1983 5 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1986a) - Ria de Faro Barra de Faro-OlhatildeoEvoluccedilatildeo 1955ndash1985 10p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986b) - Ria de Faro Ilha de TaviraEvoluccedilatildeo 1950ndash1985 8 p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986c) - Ria de Faro Ilha do AncatildeoEvoluccedilatildeo 1950-1985 7 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1987) - Ria de Faro Barra de TaviraEvoluccedilatildeo 13 p Direcccedilatildeo Geral de Portos LisboaPortugal

Ferreira Oacute Dias JA amp Taborda R (2008) -Implications of sea-level rise for Portugal Journal

of Coastal Research 24(2)317-324 (doi 10211207A-00061)

Ferreira Oacute Garcia T Matias A Taborda Ramp DiasJA (2006) - An integrated method for thedetermination of set-back lines for coastal erosionhazards on sandy shores Continental ShelfResearch 261030ndash1044 (doi 101016jcsr200512016)

Ferreira Oacute Martins JC amp Dias JA (1997) -Morfodinacircmica e vulnerabilidade da Praia de FaroSeminaacuterio sobre a zona costeira do Algarve 67-76 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_067_OFpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias Aamp Dias JA (2002)- Recent evolution of Culatra Island (Algarve ndashPortugal) Littoral 2002 The Changing Coast 289-294 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers02_LitTGpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2005)ndash Coastal Hazards Representation for Praia doBarril (Algarve Portugal) Continental ShelfResearch SI4928-33

Granja H (1984) - Eacutetude geacuteomor phologiquesedimentoloacutegique et geacuteoquimique de la Ria Formosa(Algarve-Portugal) These 3eme Cycle 254 pUniversiteacute de Bordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Greene K (2002) - Beach nourishment a review ofthe biological and physical impacts 174 p AtlanticStates Marine Fisheries Commission WashingtonDC (disponiacutevel em httpwwwasmfcorgpublicationshabitatbeachNourishmentpdf)

Griggs GB (1999) - The protection of Californialsquoscoast past present and future Shore amp Beach67(1)18-28

Hoyt JH (1967) - Barrier Island FormationGeological Society of America Bulletin 781125-1136 (doi 1011300016-7606(1967)78[1125BIF]20CO2)

Inman D (1978) - The impact of coastal structureson shorelines Proceedings of Coastal Zoneacute78 ASCE2265-2272

Koster MJ amp Hillen R (1995) - Combat erosion bylaw Coastal defence policy for the NetherlandsJournal of Coastal Research 67(2-3)43-49

Leatherman S (1976) - Barrier islands dynamicsoverwash processes and aeolian transportProceedings of Coastal Engineering Conference ASCE1958-1973

76

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Mangor K (1998) - Coastal restorationconsiderations Proceedings of Coastal Engineeringrsquo98Conference ASCE 3425-3438

Marcelo MJ amp Fonseca LC (1998) - Ria Formosada gestatildeo e conservaccedilatildeo de uma aacuterea protegidaRevista de Biologia 2ordm ENEC 16(1-4)125-133

Martins JT Ferreira Oacute Ciavola Pamp Dias JA (1996)- Monitoring of profile changes at Praia de FaroAlgarve a tool to predict and solve problems InTaussik J amp Mitchell J (eds) Partnership in CoastalZone Management pp 615-622 Samara Publ LtdCardigan UK

Matias A (2000) - Estudo morfosedimentar da Peniacutensulade Cacela Dissertaccedilatildeo de Mestrado 244pUniversidade do Algarve Faro Portugal (natildeopublicado)

Matias A Dias JA Williams AT amp Ferreira Oacute(1997) - Vulnerabilidade das dunas da RiaFormosa 9ordm Congresso do Algarve 231-239Vilamoura Portugal

Matias A Ferreira Oacute amp Dias JA (1999) -Preliminary results on the Cacela Peninsula dunereplenishment Boletiacuten del Instituto Espantildeol deOceanografiacutea 15(1-4)283-288 (disponiacutevel emhttpwwwieoespublicacionesboletinpdfsbol1515_283-288PDF)

Matias A Ferreira Oacute Dias JA amp Vila-Concejo A(2004) - Development of indices for the evaluationof dune recovery techniques Coastal Engineering51261-276 (doi 101016jcoastaleng200402002)

Matias A Ferreira Oacute Mendes I amp Dias JA (1998)- Monitorizaccedilatildeo da alimentaccedilatildeo artificial daPeniacutensula de Cacela Seminaacuterio sobre DragagensDragados e Ambientes Costeiros 47-56

Matias A Ferreira Oacute Mendes I Dias JA amp Vila-Cconcejo A (2005) - Artificial construction ofdunes in the South of Portugal Journal of CoastalResearch 21(3)472-481 (doi 10211203-00471)

Matias A Vila-Concejo A Ferreira Oacute amp Dias JA(2003) - Field measurements of morphologicvariations during an overwash event 4ordm Simpoacutesiosobre a Margem Ibeacuterica Atlacircntica Thalassas19(2b)164-165 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI03_4SM_b164_AMpdf)

NRC - National Research Council (1995) - Beach

Nourishment and Protection 334 p Washington DCNational Academy Press (ISBN 9780309052900)

Pacheco A Carrasco AR Vila-Concejo A FerreiraOacute amp Dias JA (2007) - A coastal managementprogram for channels located in backbarriersystems Ocean amp Coastal Management 50119-143 (doi101016jocecoaman200608008)

Pilkey OH amp Dixon K (1996) - The Corps and theShore 286p Island Press Washington DC USA(ISBN 9781559634380)

Pilkey OH Neal WJ Monteiro JH amp Dias JA(1989) - Algarve Barrier Islands A Noncoastal-Plain System in Portugal Journal of Coastal Research5(2)239-261

Ramos L amp Dias J A (2000) - Atenuaccedilatildeo davulnerabilidade a galgamentos oceacircnicos nosistema da Ria Formosa mediante intervenccedilotildeessuaves 3ordm Simpoacutesio sobre a Margem ContinentalIbeacuterica Atlacircntica Faro 361-362 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers00_SMLRpdf)

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2001)- Avaliaccedilatildeo de realimentaccedilotildees artificiais de praiasda Ria Formosa Casos das ilhas de Cacela e deTavira Congresso do Algarve 2001 8 p

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2002)- Preliminary Evaluation of the MorphologicalEvolution of Contrasting Beaches of the RiaFormosa With Relation to Differences inRefracted Wave Height Littoral 2002 TheChanging Coast 423-429 (disponiacutevel emht tp www2 00 8 i o -war nemu ende dehomepagesschernewskiLittoral2000docsvol3Littoral2002_79pdf)

Scheele RJ amp Westen CJ (1996) - Planning for acoastal policy - the 3A4 approach In Taussik Jamp Mitchell J (eds) Partnership in Coastal ZoneManagement pp 65-71 Samara Publ LtdCardigan UK

Sprung M (1994) - Macrobenthic secondaryproduction in the intertidal zone of Ria Formosaa lagoon in southern Portugal Estuarine Coastaland Shelf Science 38539ndash558 (doi 101006ecss19941037)

Van Den Belt M Videira N Antunes P Santos Ramp Gamito S (2000) - Modelaccedilatildeo Participada na RiaFormosa 36 p Ediccedilatildeo Fundaccedilatildeo do Mar LisboaPortugal

77

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Vila A Dias JMA Ferreira Oacute amp Matias A (1999)- Natural evolution of an artificial inlet CoastalSedimentslsquo99 21478-1488 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI99_CS99_1478_AVpdf)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Ciavola P Matias Aamp Dias JA (2004a) - Tracer studies on the updriftmargin of a complex inlet system Marine Geology20843-72 (doi 101016jmargeo200404020)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA(2003) - The first two years of an inlet sedimentarydynamics Continental Shelf Research 231425-1445 (doi 101016S0278-4343(03)00142-0)

Vila-Concejo A Matias A Ferreira Oacute Duarte Camp Dias JA (2002) - Recent evolution of thenatural inlets of a barrier island system in southernPortugal Journal of Coastal Research (ICS 2002proceedings) SI36741-752

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Morris BD MatiasA amp Dias JA (2004b) ndash Lessons from inletrelocation examples from Southern PortugalCoastal Engineering 51(10)967-990(doi101016jcoastaleng200407019)

Vila-Concejo A Matias A Pacheco A FerreiraOacute amp Dias JA (2006) - Quantification of inlet-related hazards in barrier island systems Anexample from the Ria Formosa (Portugal)Continental Shelf Research 261045-1060(doi 101016jcsr200512014)

Weinholtz MB (1978) - Contribuiccedilatildeo para o estudo daevoluccedilatildeo das flechas de areia na costa sotavento do Algarve(Ria de Faro) Relatoacuterio da Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Wells JT amp McNinch J (1991) - Beach scraping inNorth Carolina with special reference to itseffectiveness during Hurricane Hugo Journal ofCoastal Research SI8249-261

Williams SJ (2001) - Coastal erosion and land lossaround the United States strategies to manage andprotect coastal resources ndash examples fromLouisiana Coastal Ecosystems and FederalActivities Technical Training SymposiumProceedings 15 p (disponiacutevel emhttpwwwfwsgovnc-esecoconfwilliamspaperpdf)

Page 2: Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na

58

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

1 INTRODUCcedilAtildeO

11 A Ria Formosa

A Ria Formosa eacute a unidade fisiograacutefica dominantedo litoral central e oriental da regiatildeo do Algarve eencontra-se inserida na aacuterea do Parque Natural da RiaFormosa (PNRF) e da Rede Natura 2000 (Fig1) Osistema de ilhas-barreira da Ria Formosa eacute naactualidade constituiacutedo por duas peniacutensulas (Ancatildeoe Cacela) que constituem respectivamente os limitesocidental e oriental do sistema por cinco ilhas-barreira(de Oeste para Este Barreta ou Deserta CulatraArmona Tavira e Cabanas) e por um vasto corpolagunar (Fig2) As ilhas e peniacutensulas satildeo separadaspor 6 canais de mareacute tambeacutem designados barras(Ancatildeo ou Satildeo Luiacutes Faro-Olhatildeo Armona ou GrandeFuzeta Tavira e Laceacutem ou Cacela) que viabilizamtrocas hiacutedricas sedimentares quiacutemicas e de nutrientesentre o meio lagunar e o oceano Das barras aludidasa de Faro-Olhatildeo e a de Tavira satildeo artificiais estandofixadas com molhes Em termos gerais o sistema temcerca de 50km de comprimento que se desenvolveentre as longitudes de 8ordm02lsquoW e 7ordm31lsquoW Os cordotildeesdunares apresentam uma largura variaacutevel entre 100 e750m (Duarte et al 1999) A aacuterea do sistema lagunareacute de 11866ha e o das peniacutensulas e ilhas-barreira eacute cercade 1947ha O PNRF abrange uma aacuterea sensivelmentemaior com cerca de 18400ha (Preacute-Parque ndash zonatampatildeo 3400ha e Parque 15000ha) e engloba partedos concelhos de Louleacute Faro Olhatildeo Tavira e VilaReal Santo Antoacutenio (Marcelo amp Fonseca 1998)

12 Caracteriacutesticas Hidrodinacircmicas

De acordo com Dias (1988) e Pilkey et al (1989)fundamentados no modelo de Hoyt (1967) a origemdeste sistema de ilhas-barreira esteve relacionado comas flutuaccedilotildees quaternaacuterias do niacutevel do mar ocorridasdurante os periacuteodos glaciaacuterios e interglaciares Osistema de ilhas-barreira da Ria Formosa apresentaalgumas caracteriacutesticas peculiares tais como ainexistecircncia de um grande rio as condiccedilotildees deamplitude de mareacute a que estaacute sujeito e a disposiccedilatildeogeral do sistema em forma de triacircngulo escaleno comveacutertice virado a Sul (Dias 1988 Pilkey et al 1989)As mareacutes tecircm regime de meso-mareacutes com umaamplitude maacutexima de aproximadamente 35m nasmareacutes vivas encontrando-se no limite maacuteximo para aformaccedilatildeo de ilhas-barreira (Pilkey et al 1989) O ladoocidental do sistema eacute mais energeacutetico directamenteexposto agrave ondulaccedilatildeo dominante de W e SW (68das ocorrecircncias) enquanto que o lado oriental estaacuteexposto agraves condiccedilotildees de ldquoLevanterdquo (ventos de SEprovenientes do Mediterracircneo) tambeacutem importantesrepresentando 25 das ocorrecircncias A ondulaccedilatildeo deW e SW tem meacutedias anuais de altura significativa aolargo (Hso) de 09m com periacuteodos meacutedios de 47s Aondulaccedilatildeo de SE apresenta Hso ligeiramente superiorde 12m e periacuteodo meacutedio de 49s (Costa 1994)Durante o Inverno eacute frequente a ocorrecircncia detemporais com Hso superior a 3m sobretudo de W eSW mais comuns que os temporais de SE (Saacute-Pires etal 2001)

of many infra-structures on the dune ridge with the consequent human occupation It is essential to attend to the instability that characterisesthis system because the occupation area is very vulnerable and concentrates in great risk situation

As the majority of the barrier-islands systems Ria Formosa is a complex environment that presents a very dynamic processes with highevolution rates of islands and inlets The precarious equilibrium conditions associated to storm events and sea-level rise leads to great overwashsusceptibility

The main problems of system management occur in barrier-islands With several stakeholders involved it is necessary to maintain anefficient management An extensive and carefully urgent intervention is necessary in order to avoid irreversible negative consequences To achievethis a solid scientific investigation should be carried out including social economic and environmental aspects Three types of techniques shouldbe adopted to protect barrier-islands and structures from shoreline erosion hard defences soft techniques and non-structural alternatives suchas relocation or retreat of infra-structures

Keywords Ria Formosa barrier-islands inlets management vulnerability

59

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo geograacutefica da Ria Formosa e comunidadesFigure 1 ndash Location of Ria Formosa and communities

Figura 2 ndash Imagem de sateacutelite da Ria Formosa Peniacutensulas ilhas-barreira e barras que a constituem(adaptado de Google Earth 42 2007)Figure 2 ndash Ria Formosa satellite image showing the peninsulas barrier-islands and inlets (adapted from GoogleEarth 42 2007)

60

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

13 Morfodinacircmica

No sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa amorfodinacircmica eacute muito intensa sendo funccedilatildeo doclima de agitaccedilatildeo mariacutetima e das correntes de mareacute(Pilkey et al 1989) As taxas de crescimento dealgumas ilhas satildeo verdadeiramente notaacuteveis a niacutevelmundial Como consequecircncia desta dinacircmica osistema eacute muito vulneraacutevel respondendo de formaraacutepida e intensa agrave construccedilatildeo de obras de engenharialitoral (Dias 1988)

As praias ao longo das ilhas-barreira satildeogeralmente estreitas e o seu comportamento variaentre o reflectivo e o intermeacutedio no extremo ocidental(Martins et al 1996) e intermeacutedio a dissipativo noextremo oriental (Matias et al 1998)

As ilhas-barreira do sistema da Ria Formosa agravesemelhanccedila de grande parte dos sistemas mundiaisdeste tipo estatildeo em activa fase de migraccedilatildeo emdirecccedilatildeo ao continente muito provavelmente comoresposta agrave actual elevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do marsendo portanto um sistema do tipo transgressivoOs galgamentos oceacircnicos satildeo extremamenteimportantes neste complexo processo (Dias 1988Pilkey et al 1989)

A evoluccedilatildeo das barras eacute de modo geralcaracterizada por uma migraccedilatildeo para nascente ateacuteatingirem uma posiccedilatildeo limite na qual comeccedilam aassorear abrindo-se nova barra aproximadamente nolocal inicial (Weinholtz 1978) agrave excepccedilatildeo da Barrada Armona que se tem mantido aproximadamentena mesma posiccedilatildeo e agraves barras de Faro-Olhatildeo e deTavira que satildeo artificiais (Fig2)

As arribas localizadas a ocidente do sistemaprincipalmente as que se situam entre o Ancatildeo eOlhos de Aacutegua tecircm sido consideradas como principalelemento abastecedor de areias para o sistema(Andrade 1990a Correia et al 1997) (Fig1)

14 Importacircncia Socio-Econoacutemica e Ambiental

Devido agraves suas caracteriacutesticas naturais o sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa constitui uma aacutereade usos muacuteltiplos que providenciam benefiacutecios soacutecio-econoacutemicos e que geram conflitos na afectaccedilatildeo dosrecursos existentes tais como o turismo de massas oecoturismo a aquacultura a pesca a conservaccedilatildeo danatureza as descargas de efluentes a navegaccedilatildeo a

extracccedilatildeo de sal e de areia entre outros (Van DenBelt et al 2000)

A niacutevel ambiental assume particular importacircnciapelo que lhe foi atribuiacutedo o estatuto de ReservaNatural (decreto-lei 4578 de 2 de Maio) e mais tardede Parque Natural da Ria Formosa (decreto-lei 37387 de 9 de Dezembro) e de Rede Natura 2000procurando-se assim efectuar uma exploraccedilatildeo dosrecursos racional e sustentaacutevel

Este sistema eacute caracterizado pela diversidadefauniacutestica e floriacutestica destacando-se o facto de estaaacuterea ter no que respeita agrave avifauna uma importacircncianacional (como zona de nidificaccedilatildeo) e internacional(migraccedilatildeo e invernada) Eacute considerada uma zonahuacutemida de interesse mundial estando protegida pelasconvenccedilotildees internacionais de Ramsar e de Berna

O cordatildeo litoral que forma as ilhas-barreira servede protecccedilatildeo a uma grande diversidade de habitatstais como uma vasta aacuterea de sapal dunas zonas deaacutegua salobra zonas intertidais canais ilhotes salinaspisciculturas e cursos de aacutegua doce com vegetaccedilatildeoribeirinha Acresce referir que este sistema de ilhas-barreira eacute uacutenico na Europa a niacutevel geomorfoloacutegico

15 Situaccedilatildeo Actual

Apesar das grandes apetecircncias que apresenta paraexploraccedilatildeo pelo Homem a ocupaccedilatildeo humana na RiaFormosa sobretudo nas ilhas-barreira iniciou-sesignificativamente apenas em finais do seacuteculo XIXpor populaccedilotildees ligadas agrave actividade pesqueira(Bernardo et al 2002)

Os problemas de gestatildeo do sistema soacute surgiramcom grande amplitude a partir da deacutecada de 60 doseacuteculo XX quando a ocupaccedilatildeo (principalmente deiacutendole turiacutestica) seguindo o modelo dedesenvolvimento turiacutestico dessa eacutepoca se veio aestabelecer em aacutereas de risco permanente devido agraveerosatildeo e exposiccedilatildeo aos temporais

As caracteriacutesticas do sistema satildeo incompatiacuteveiscom uma ocupaccedilatildeo intensa e permanente Contudonas uacuteltimas deacutecadas a ocupaccedilatildeo tem reveladotendecircncia para se intensificar tornar permanente elocalizar nas zonas de maior risco colocando em causaa proacutepria sobrevivecircncia do sistema de ilhas-barreiracomo ambiente natural (Dias et al 2004)

Na frente oceacircnica a erosatildeo costeira tem sidoantropicamente amplificada Os principais causadores

61

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

que levaram o sistema da Ria Formosa a entrar emruptura foram a construccedilatildeo dos molhes da marina deVilamoura e do campo de esporotildees de Quarteira e afixaccedilatildeo artificial das barras Faro-Olhatildeo e Tavira Aerosatildeo costeira juntamente com o acreacutescimo dopisoteio veio aumentar a vulnerabilidade aogalgamento na maior parte do sistema As cerca de2000 construccedilotildees clandestinas existentes nas ilhas-barreira potenciam ainda mais o risco de galgamentopois estatildeo frequentemente edificadas sobre o cordatildeodunar frontal em zonas de elevada vulnerabilidade(Ramos amp Dias 2000)

Os sistemas de ilhas-barreira satildeo ainda muitosensiacuteveis a variaccedilotildees do niacutevel meacutedio do mar (NMM)principalmente a fases de elevaccedilatildeo deste SegundoFerreira et al (2008) os estuaacuterios e os sistemaslagunares costeiros satildeo as zonas mais afectadas pelasubida do NMM em Portugal Na Ria Formosa osimpactes socio-econoacutemicos seratildeo grandes Noentanto muitos destes impactes negativos poderatildeoser minimizados ou ateacute evitados se se tomarem asdevidas precauccedilotildees Para que isto aconteccedilagovernantes gestores e populaccedilatildeo em geral teratildeo queter em conta esta problemaacutetica nas suas decisotildees

Dias amp Taborda (1992) chegaram a um valor deelevaccedilatildeo do NMM de 15 plusmn 02mmano calculadoem Lagos no uacuteltimo seacuteculo Douglas (1995) estimounuma perspectiva global um aumento meacutedio de2mmano nos uacuteltimos 100-150 anos

Eacute principalmente durante eventos tempestivosassociados a periacuteodos de mareacutes vivas que se verificamos mais graves episoacutedios de erosatildeo costeira Estasituaccedilatildeo eacute pois agravada pela subida do NMM(Ferreira et al 2008)

16 Objectivos

Este trabalho pretende apresentar uma visatildeoactualizada do que ocorre na zona de interface entreo mar e o meio lagunar do sistema de ilhas-barreirada Ria Formosa Em particular pretende-se analisara dinacircmica e evoluccedilatildeo das barras e das ilhas-barreiraidentificar as principais aacutereas de risco e os impactesda ocupaccedilatildeo humana e discutir aspectos relacionadoscom as obras de protecccedilatildeointervenccedilatildeo realizadas emalguns locais

2 METODOLOGIA

A recolha de dados foi efectuada sobretudo porpesquisa bibliograacutefica por recolha de informaccedilotildeesem instituiccedilotildees com conhecimento particular da RiaFormosa (com maior relevacircncia para o Parque Naturalda Ria Formosa e o Instituto Portuaacuterio e dosTransportes Mariacutetimos) e por observaccedilatildeo in situ daaacuterea de estudo O software informaacutetico Google Earth- Versatildeo 42 (2007) foi tambeacutem utilizado na anaacutelisedo sistema lagunar Conquanto a aacuterea de estudo sedefina como todo o sistema lagunar da Ria Formosaa recolha de dados incidiu predominantemente nasilhas-barreira e nas barras que as delimitam

Foram definidos e individualizados oito sectoresao longo da aacuterea de estudo Cada ilha ou peniacutensulafoi definida como um sector As seis barras do sistemaforam tambeacutem definidas separadamente O sectorQuarteira ndash Praia do Garratildeo por se encontrar abarlamar do sistema da Ria Formosa foi tambeacutemanalisado uma vez que vaacuterios problemas que afectamo sistema tecircm origem nesta aacuterea Dividiram-se ossectores em partes distinguidos segundo a suaorientaccedilatildeo ndash Ocidental (W) Central (C) e Oriental(E) Em cada sector foram identificadas as zonas demaior risco analisadas as taxas de evoluccedilatildeo da linhade costa a existecircncia ou ausecircncia de ocupaccedilatildeo apresenccedila de corredores eoacutelicos e de vegetaccedilatildeo e aexistecircncia de intervenccedilotildees Para as barras foramanalisadas as caracteriacutesticas mais relevantes larguraestabilidade e taxas de migraccedilatildeo Os dados obtidospermitem analisar a evoluccedilatildeo geral do sistema de ilhas-barreira identificar as aacutereas de risco e efectuar umareferecircncia agrave intervenccedilatildeo no sistema mediante trecircsteacutecnicas intervenccedilatildeo suave intervenccedilatildeo riacutegida edemoliccedilatildeo de infra-estruturas (retirada estrateacutegica)

3 O SISTEMA DE ILHAS-BARREIRA

31 Quarteira ndash Praia do Garratildeo

Embora natildeo faccedila parte integrante do sistema daRia Formosa este sector eacute de extrema importacircnciana medida em que fornece sedimentos ao sistemaNa realidade natildeo existem sistemas isolados naNatureza e um plano de gestatildeo teraacute obrigatoriamenteque avaliar a situaccedilatildeo e os impactes previsiacuteveis abarlamar e a sotamar de qualquer intervenccedilatildeo

62

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

O sector entre Quarteira e a Praia do Garratildeoapresenta intensa actividade e ocupaccedilatildeo antroacutepicadesignadamente em Vale do Lobo (Fig1) A evoluccedilatildeodas arribas neste sector estaacute fortemente dependenteda praia subjacente que em maior ou menor grauconfere protecccedilatildeo da acccedilatildeo directa do mar Noentanto a susceptibilidade destas arribas agrave erosatildeomarinha eacute extremamente elevada (Andrade 1990aDias amp Neal 1992) Nalguns locais o recuo chegou aultrapassar 2mano ou mais (Correia et al 1997)

Ao longo da zona urbanizada de Quarteira(aproximadamente 33km) a Direcccedilatildeo Geral dePortos procedeu a obras de defesa costeiraconstruindo entre 1971 e 1974 doze esporotildees e doismolhes de acesso agrave marina de Vilamoura (o ocidentalcom 600m e o oriental com 500m) (Bettencourt1985) O aumento das taxas meacutedias de recuo nestesector parece resultar essencialmente da construccedilatildeodestas estruturas que interrompem a deriva litoralprivando as praias a nascente de sedimentos o queconsequentemente facilita o ataque das ondas agrave basedas arribas Apoacutes a construccedilatildeo dos molhes deVilamoura o recuo meacutedio anual da crista da arriba foifortemente amplificado chegando por exemplo aultrapassar nalguns pontos os 4 metros por ano noperiacuteodo 1983-1991 (Correia et al 1996)

A situaccedilatildeo em todo o sector eacute na actualidadegrave Vale do Lobo eacute o local em que o problema deerosatildeo costeira eacute mais seacuterio dada a amplitude eintensidade de ocupaccedilatildeo antroacutepica Os dadosdisponiacuteveis parecem reflectir a tendecircncia de aumentoda erosatildeo na parte oriental do sector (ateacute agora maisestaacutevel) apesar das realimentaccedilotildees efectuadas paraproteger a Praia de Vale do Lobo

32 Peniacutensula do Ancatildeo

A Peniacutensula do Ancatildeo tem cerca de 8km decomprimento e 50 a 250m de largura (Fig2) SegundoPilkey et al (1989) e Bettencourt (1994) o recuo dalinha de costa chegou a atingir valores na ordem de 1a 2mano em alguns locais

O sector Ancatildeo W (da Praia do Garratildeo agrave Praia deFaro) possui um cordatildeo dunar contiacutenuo quepraticamente eacute desprovido de ocupaccedilatildeo antroacutepicaUma arriba permanente talhada na duna marca atransiccedilatildeo entre a praia e o cordatildeo dunar o quedemonstra um recuo da linha de costa devido agrave erosatildeo

que em meacutedia atingiu 08mano entre 1989 e 2001(Ferreira et al 2006)

O sector Ancatildeo C (Praia de Faro) eacute urbanizado ecomo tal o mais problemaacutetico O niacutevel da ocupaccedilatildeohumana eacute bastante elevado (Fig3) Ateacute meados dadeacutecada de 50 a Praia de Faro era ocupada apenas poralguns pescadores natildeo havendo registos de problemasgraves para as habitaccedilotildees pois encontravam-seinstaladas junto agrave laguna e separadas do mar por umcampo dunar singular A construccedilatildeo da ponterodoviaacuteria na deacutecada de 50 foi o factor determinantepara a forte intensificaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo O cordatildeodunar apesar de afectado pela erosatildeo costeira foiquase totalmente ocupado e destruiacutedo por edificaccedilotildees(Dias et al 1997 2004)

Natildeo tendo sido possiacutevel concretizar as acccedilotildeesmiacutenimas necessaacuterias para uma ocupaccedilatildeo racional dazona (Dias et al 1997) aconteceu o que era previsiacutevelDurante o Inverno de 198990 a Praia de Faro foifustigada por temporais que provocaram graves danosnas construccedilotildees e infra-estruturas existentes uma vezque natildeo eacute suficientemente robusta para suportareventos energeacuteticos extremos (Ferreira et al 1997)Os locais onde a ocupaccedilatildeo eacute mais intensa satildeo os queapresentam maior susceptibilidade a qualquer eventoerosivo Este facto deve-se em parte agrave construccedilatildeode estruturas fixas e riacutegidas na parte superior dos perfisde praia causando a truncatura do perfil e umrebaixamento da cota dunar natildeo permitindo agrave praiadesempenhar o seu papel natural face agraves tempestades(Ferreira et al 1997)

A erosatildeo afecta os limites marinhos e lagunaresda Praia de Faro Entre 1945 e 1964 a linha de baixa-mar recuou 34m ou seja cerca de 17mano(Weinholtz 1978) Actualmente as edificaccedilotildees quetruncam o perfil de praia emersa impossibilitam quea peniacutensula tenha um comportamento naturalmigrando em direcccedilatildeo ao continente (Dias et al 1997)Por outro lado o aterro que conduz agrave ponte canalizouos fluxos de enchente e principalmente de vazanteConsequentemente a corrente na zona da ponte eacutemuito forte impedindo a acumulaccedilatildeo de sedimentosna parte interna da peniacutensula o que seria fundamentalpara permitir a migraccedilatildeo aludida

A construccedilatildeo de muros de revestimento e deoutras estruturas de protecccedilatildeo inibiram o recuo dalinha de costa embora natildeo impeccedilam a ocorrecircncia de

63

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

galgamentos Devido a estas protecccedilotildees a Praia deFaro praticamente natildeo apresentou recuo da linha decosta entre 1989 e 2001 (Ferreira et al 2006) Noentanto possui uma boa capacidade de recuperaccedilatildeosedimentar apoacutes eventos erosivos (Martins et al 1996)em apenas um ciclo de mareacute (Saacute-Pires et al 2002)

Matias et al (1997) e Duarte et al (1999) aoavaliarem a vulnerabilidade de um conjunto desistemas dunares do Algarve foram unacircnimes emidentificar a Praia de Faro como uma das zonas maisvulneraacuteveis da Ria Formosa O nuacutecleo urbano da Praiade Faro encontra-se em situaccedilatildeo de alto riscoconfinado a uma estreita faixa (normalmente commenos de 100 metros de largura) entre a laguna e ooceano As probabilidades de uma cataacutestrofeaumentam de ano para ano se considerarmos aelevaccedilatildeo do NMM e a possiacutevel ocorrecircncia de umgrande temporal que coincida com mareacute viva cheia

No sector Ancatildeo E (entre a Praia de Faro e a Barra

do Ancatildeo) a duna estaacute consideravelmente bempreservada e os perfis de praia revelam maiorcapacidade para reagir a eventos energeacuteticos exceptona margem da Barra do Ancatildeo (Ferreira et al 1997)A populaccedilatildeo consiste sobretudo em pescadores quevivem na margem da laguna

33 Barra do Ancatildeo

O limite oriental da Peniacutensula do Ancatildeo terminana Barra do Ancatildeo tambeacutem designada por Barra deSatildeo Luiacutes (Fig2) Estaacute localizada numa das aacutereas maisdinacircmicas do sistema mudando frequentemente demorfologia e posiccedilatildeo com uma tendecircncia de migraccedilatildeopara nascente a uma velocidade meacutedia de 70mano euma largura meacutedia de 260m Entre 1945 e 1996completou dois ciclos migratoacuterios (Vila-Concejo etal 2006)

Em 1997 a Barra do Ancatildeo em fase final do seuciclo de migraccedilatildeo encontrando-se muito assoreada e

Figura 3 ndash Parte central da Peniacutensula do Ancatildeo ndash Praia de Faro (de Oeste para Este) evidenciando a intensaocupaccedilatildeo sobre o cordatildeo dunar (fotografias obtidas em Novembro de 2006 pelo autor)Figure 3 ndash Aerial photo of the Ancatildeo Peninsula from West to East (central zone) ndash Beach of Faro showing the intenseoccupation on dune ridges (photos by author in November 2006)

64

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

com baixa eficiecircncia hidraacuteulica No sentido de ampliaressa eficiecircncia e proteger os interesses nesta zonaprocedeu-se agrave abertura artificial de uma nova barra(23 Junho de 1997) a cerca de 35km a W da posiccedilatildeoanterior e imediatamente a oriente das uacuteltimas casasda Praia de Faro permitindo a esta migrar novamenteno sentido nascente (Vila et al 1999) A forma e aposiccedilatildeo da nova barra natildeo foram baseadas em estudosaprofundados mas no conhecimento empiacuterico dasituaccedilatildeo (Dias et al 2003) Estudos recentes sobre aevoluccedilatildeo e dinacircmica da barra desde a sua aberturaartificial (eg Vila-Concejo et al 2002 2003 2004a2006) permitem concluir que bastaram dois anos paraque se atingisse o estado de equiliacutebrio e comeccedilasse aevoluir e a migrar naturalmente o que confirma osucesso desta intervenccedilatildeo que foi das primeiras a niacutevelmundial

34 Ilha da Barreta

A Ilha da Barreta tem um comprimento de cercade 8km e largura entre 70 e 700m (Fig2) Existempoucos estudos publicados que focam esta ilha umavez que eacute uma zona menos acessiacutevel com baixaocupaccedilatildeo antroacutepica e consequentemente menosproblemaacutetica

A parte ocidental eacute estreita de baixa elevaccedilatildeo compouca vegetaccedilatildeo e vulneraacutevel a galgamentos Narealidade corresponde agrave parte oriental da zona demigraccedilatildeo da Barra do Ancatildeo Apresenta umamorfodinacircmica semelhante agrave Peniacutensula do Ancatildeo(Pilkey et al 1989 Bettencourt 1994) e um uacutenicocordatildeo dunar com cerca de 7m de altura (Vila-Concejoet al 2006)

A complexidade deste sector aumenta de ocidentepara oriente onde a ilha jaacute apresenta um campo dunarlargo e bem vegetado Existem dois pequenosaglomerados de casas de pescadores e de apoio agrave praialocalizados na parte interna junto agrave laguna e agrave BarraFaro-Olhatildeo respectivamente

A metade oriental da ilha eacute a uacutenica que apresentaum comportamento regressivo (Vila et al 1999)proporcionando o crescimento do cordatildeo dunarfrontal (Duarte et al 1999) Este comportamento foiconsequecircncia da construccedilatildeo dos molhes da barraartificial de Faro-Olhatildeo entre 1929 e 1955 (Esaguy1986a) que interromperam a deriva litoral econsequentemente induziram a barlamar (junto ao

molhe W localizado no extremo oriental da ilha) umaacumulaccedilatildeo arenosa notaacutevel

35 Barra Faro-Olhatildeo

A Barra Faro-Olhatildeo que separa as ilhas da Barretae da Culatra foi artificialmente aberta e estabilizadapor molhes entre 1929 e 1955 num local onde existiajaacute uma barra (Barra do Bispo) relativamente larga masbastante instaacutevel (Esaguy 1986a) (Fig2) O objectivoda abertura foi o de assegurar a navegabilidade aocanal de acesso que conduz ao porto comercial deFaro bem como agraves localidades de Faro e Olhatildeo Estaintervenccedilatildeo induziu grande alargamento da parteoriental da Ilha da Barreta a barlamar e erosatildeobastante significativa da parte ocidental da Ilha daCulatra a sotamar bem como modificaccedilotildeesimportantes no comportamento hidrodinacircmicolagunar (Vila-Concejo et al 2006) Veio retirareficiecircncia hidraacuteulica agrave Barra da Armona que era abarra principal do sistema em consequecircncia do quese verificou grande estreitamento desta sendoactualmente a sua eficaacutecia extremamente reduzida

O canal da barra de Faro-Olhatildeo projectado paramanter cotas entre 4 a 45m abaixo do zerohidrograacutefico (Weinholtz 1978) foi progressivamenteficando mais fundo ateacute atingir profundidades naordem dos 40m em 2001 assim aumentando a secccedilatildeode escoamento Consequentemente surgiramproblemas de seguranccedila no que respeita agrave navegaccedilatildeodevido agraves fortes correntes de vazante e de enchente ea graves danos nos troccedilos terminais dos molhes

A abertura da barra e a construccedilatildeo dos molhesalteraram a circulaccedilatildeo hiacutedrica e os balanccedilossedimentares nesta zona do sistema A Barra Faro-Olhatildeo eacute a grande responsaacutevel pela importaccedilatildeo desedimentos para o sistema lagunar A entrada de140000m3ano de sedimentos (Pacheco et al 2007)poderaacute estar relacionada com as intensas dragagensefectuadas no canal de navegaccedilatildeo no interior dosistema recomendando-se que sejam apenasrealizadas de modo a manter as condiccedilotildees denavegabilidade

36 Ilha da Culatra

A Ilha da Culatra tem aproximadamente 7km decomprimento estando a ocupaccedilatildeo humanaconcentrada em trecircs povoaccedilotildees (Farol Hangares e

65

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Culatra) que soacute podem ser atingidas por barco (Fig4)A evoluccedilatildeo recente da ilha e das barras que a limitamfoi alvo de estudo de diversos autores (eg Granja1984 Esaguy 1984 1986a Dias 1988 Pilkey et al1989 Andrade 1990a Garcia et al 2002 Vila-Concejoet al 2002) Eacute consensual que os molhes da BarraFaro-Olhatildeo foram responsaacuteveis por uma profundaalteraccedilatildeo da hidrodinacircmica do sistema e alteraccedilotildeessignificativas na Ilha da Culatra Segundo Garcia et al(2002) as principais consequecircncias foram ocrescimento muito raacutepido para oriente da ilha e aampliaccedilatildeo do recuo da linha de costa na zonaocidental

A linha de costa da extremidade ocidental da ilhaonde se localiza a povoaccedilatildeo do Farol estaacutecompletamente artificializada (molhe oriental da barraenrocamento longitudinal construiacutedo para protecccedilatildeodas edificaccedilotildees e estabilizaccedilatildeo da linha de costa e umesporatildeo no limite oriental da povoaccedilatildeo) Neste sectora ilha eacute relativamente estreita com uma duna de decliveacentuado paralela agrave linha de costa evidenciandocarecircncia de sedimentos (Garcia et al 2002) o que setorna problemaacutetico pois que esta zona se encontraintensamente ocupada

A morfologia do sector central reflecte aalternacircncia de cordotildees dunares e canais de mareacute Naprimeira metade do seacuteculo XX a margem ocidentalda barra da Armona (que era a principal do sistema)localizava-se junto agrave povoaccedilatildeo da Culatra tendo aiacutesido construiacutedas as instalaccedilotildees do Instituto deSocorros a Naacuteufragos onde estava sedeado o botesalva-vidas Estas instalaccedilotildees haacute muito que perderampor completo a sua funcionalidade estandoactualmente convertidas num Centro Social dapovoaccedilatildeo A ocupaccedilatildeo apenas ocorre na margemlagunar da ilha e consequentemente natildeo estaacute sujeitaa problemas significativos de erosatildeo costeira

O sector oriental que se constituiu essencialmentea partir de meados do seacuteculo XX eacute despovoado Estecrescimento da ilha estaacute provavelmente relacionadocom a modificaccedilatildeo da hidrodinacircmica do sistemadevido agrave construccedilatildeo da Barra de Faro-OlhatildeoApresenta corpo dunar pouco desenvolvido e elevadasusceptibilidade a galgamentos (Andrade et al 1998Garcia et al 2002 Vila-Concejo et al 2006)

37 Barra da Armona

A Barra da Armona que separa as ilhas da Culatra

Figura 4 ndash Panoracircmica da Ilha da Culatra e Barra de Faro-Olhatildeo vista de Oeste na foto satildeo visiacuteveis as povoaccedilotildeesdo Farol Hangares e Culatra (fotografia obtida em Novembro de 2006 pelo autor)Figure 4 ndash Oblique aerial photo from West of the Culatra Island and Faro-Olhatildeo Inlet showing the Farol Hangares andCulatra communities (photo by author in November 2006)

66

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

e da Armona eacute considerada a uacutenica barra estaacutevel dosistema em termos de localizaccedilatildeo (Pilkey et al 1989)e a que apresenta o delta de vazante mais desenvolvido(Dias et al 1997) (Fig2) Era a principal barra dosistema mas o crescimento da ilha da Culatra temprovocado o seu estreitamento progressivo Entre1873 e 1983 a barra estreitou cerca de 2500mpassando de uma largura de 4300m para 1850m(Esaguy 1984) A maior taxa de estreitamento entre1950 e 1977 estaacute provavelmente relacionada com aconclusatildeo da abertura da Barra de Faro-Olhatildeo (Vila-Concejo et al 2002) Na actualidade apresenta umalargura de cerca de 200m

38 Ilha da Armona

A Ilha da Armona tem comprimento aproximadode 9km e largura maacutexima de cerca de 1400m naextremidade SW (Fig2) A parte ocidental apresentaum longo cordatildeo dunar frontal de 8 a 9m A deposiccedilatildeode sedimento a ocidente eacute um fenoacutemeno uacutenico emtodo o sistema da Ria Formosa (Pilkey et al 1989) econtribui para o estreitamento da Barra da ArmonaA parte oriental apresenta um cordatildeo dunar poucodesenvolvido e elevada susceptibilidade ao galgamento(Andrade et al 1998)

Na zona mais larga a ocidente encontra-se apovoaccedilatildeo da Armona Progressivamente a largura dailha vai diminuindo para oriente sendo o cordatildeo dunarrobusto e bem vegetado ateacute agrave zona fronteira agravepovoaccedilatildeo da Fuzeta (Fig1)

Nesta zona bastante estreita e sujeita agalgamentos oceacircnicos onde se localizava a Barra daFuzeta em meados do seacuteculo XX encontra-se umconjunto de casas (construiacutedas ilegalmente) comutilizaccedilatildeo natildeo permanente Ramos amp Dias (2000)apontam esta ocupaccedilatildeo como um dos casos maiscriacuteticos do sistema por se localizar numa zona comelevada vulnerabilidade ao galgamento

39 Barra da Fuzeta

A Barra da Fuzeta que separa as ilhas da Armonae de Tavira tem actualmente cerca de 250m de largura(Fig2) Apresenta normalmente evoluccedilatildeo muitoraacutepida (Dias et al 1997) Entre 1945 e 1996 registouuma taxa de migraccedilatildeo meacutedia de cerca de 65mano(Vila-Concejo et al 2006) Natildeo satildeo conhecidos valoresexactos da extensatildeo ou duraccedilatildeo do ciclo de migraccedilatildeo

Contudo de acordo com Vila-Concejo et al (2002) ociclo completo dura pelo menos 50 anos e a barramigra no total mais de 3500m Esta migraccedilatildeo podeser progressiva ou intermitente (Dias et al 1997)

Agrave semelhanccedila da Barra do Ancatildeo procedeu-se agraveabertura artificial de uma nova Barra da Fuzeta emJulho de 1999 Poreacutem devido aos condicionamentosimpostos pelas casas existentes frente agrave povoaccedilatildeo daFuzeta foi aberta apenas a cerca de 800m a ocidenteda posiccedilatildeo que ocupava em 1996 Parte do sedimentodragado foi utilizada para fechar artificialmente aantiga barra No entanto esta intervenccedilatildeo natildeo obtevemuito sucesso devido ao aumento de sinuosidade docanal apoacutes a abertura De acordo com os resultadosde Vila-Concejo et al (2004b) o canal atingiu oequiliacutebrio dinacircmico em Julho de 2000

310 Ilha de Tavira

A Ilha de Tavira eacute a maior do sistema com cercade 11km de comprimento e 800m de largura maacuteximana parte central (Fig2) Esta ilha estreitaprogressivamente para SW onde existem sinais deforte erosatildeo e de frequentes galgamentos No entantoo campo dunar eacute na generalidade moderadamentelargo e elevado constituiacutedo por vaacuterios cordotildeesdunares A Ilha de Tavira exceptuando a extremidadeSW eacute considerada uma das mais ldquoestaacuteveisrdquo do sistemada Ria Formosa natildeo existindo indiacutecios de processosdestrutivosconstrutivos relacionados com amigraccedilatildeo de barras Apresenta poreacutem algunscorredores eoacutelicos junto agraves zonas de maior ocupaccedilatildeodevido ao pisoteio e na parte central na zonaenvolvente ao Arraial do Barril verificou-se um recuoda linha de costa entre 1976 e 2001 de 02 a 13mano (Garcia et al 2005)

A extremidade oriental da ilha estaacute estabilizadaartificialmente pelos molhes da Barra de Tavira o quelevou agrave acumulaccedilatildeo de sedimentos a ocidente dabarra numa extensatildeo de cerca de 1000m A partemais vulneraacutevel da zona NE situa-se junto ao Canalde Tavira artificial pois que a sua posiccedilatildeo tem sidomantida atraveacutes de dragagens e traccediladomeandriforme Neste local a ilha tecircm apenas cerca de150m de largura

A Ilha de Tavira apresenta duas zonas de ocupaccedilatildeoo Arraial do Barril (antiga infra-estrutura de pesca doatum convertida em apoio de praia) e a Praia de Tavira

67

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

onde se situam estruturas de apoio com algumaenvergadura designadamente um parque decampismo (Fig1) Na actualidade apesar dos impactesantroacutepicos serem elevados satildeo concentrados elimitados Segundo Dias et al (2004) o Arraial doBarril pode ser apontado como um bom exemplo deexploraccedilatildeo turiacutestica sustentaacutevel natildeo haacute habitaccedilatildeopermanente o acesso eacute efectuado por uma pontepedonal e por um pequeno comboio ou pelo passeioque o ladeia (o que evita impactes generalizados) asantigas instalaccedilotildees da companhia de pesca queestavam abandonadas tiveram reaproveitamentolucrativo Contudo o cordatildeo dunar frontal estaacute sujeitoa alguma erosatildeo e a pequenos galgamentos oceacircnicosdetectando-se tambeacutem alguns corredores eoacutelicos episoteio moderado A previsatildeo da localizaccedilatildeo da linhade costa em 2050 considerando a aceleraccedilatildeo daelevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar e a eventualocorrecircncia de um temporal com periacuteodo de retornode 50 anos indica que eacute expectaacutevel um recuo da ordemdos 70m ou seja que atingiraacute as edificaccedilotildees aiacuteexistentes (Ferreira et al 2006)

311 Barra de Tavira

A Barra de Tavira artificial separa as ilhas deTavira e de Cabanas e tem largura de 60m (Fig2) Foiaberta artificialmente em 1927 quase em frente agrave fozdo Rio Gilatildeo conduzindo ao encerramento da antigabarra em 1930 (Vila-Concejo et al 2006) Os dadosdisponiacuteveis sugerem uma velocidade de migraccedilatildeo daantiga barra de cerca de 40mano (Weinholtz 1978)A barra artificial teve que ser sujeita a vaacuterias operaccedilotildeesde dragagem entre 1930 e 1935 e estabilizada pordois esporotildees em 1936 devido ao constanteassoreamento (Esaguy 1987) Um ciclone ocorridoem 1941 abriu uma nova barra a cerca de 1100m aEste da barra artificial (Barra do Cochicho-Almargem) a qual rapidamente alargou e comeccedilou amigrar para oriente A existecircncia da nova barra levouao aumento do assoreamento da Barra de Tavira queteve que ser reaberta em 1961 face agraves dificuldades denavegaccedilatildeo Posteriormente foram efectuadas diversasobras de dragagem estabilizaccedilatildeo e fortalecimento dediques no sentido de diminuir o assoreamento(Esaguy 1987) A eficiecircncia hidrodinacircmica da Barrade Tavira eacute muito pequena representando cerca de4 do prisma de mareacute total do sistema (Andrade1990a)

312 Ilha de Cabanas

A Ilha de Cabanas eacute a ilha mais oriental e a maispequena do sistema com um comprimento de cercade 6km e uma largura maacutexima de 300m (Fig2) Narealidade constitui a extremidade natural da Ilha deTavira tendo sido convertida numa ilha autoacutenomapela abertura artificial da Barra de Tavira (Dias 1988)Foi completamente destruiacuteda durante o ciclone de1941 e novamente no decurso de um violentotemporal em 1961 os quais provocaram extensosgalgamentos oceacircnicos e a formaccedilatildeo de uma novabarra (Barra de Cabanas) para aleacutem da Barra doCochicho-Almargem as quais juntas formaram umaabertura uacutenica com cerca de 2500m de extensatildeo apartir da meia mareacute (Matias 2000)Consequentemente o cordatildeo dunar eacute relativamenterecente fraacutegil e elevando-se apenas a uma cota meacutediade 25m (Dias et al 2003)

A Ilha de Cabanas foi a primeira zona a serintervencionada ao abrigo do programaldquoRequalificaccedilatildeo do sistema lagunar da Ria Formosardquoentre Abril e Junho de 1999 Natildeo existem estimativasda quantidade de sedimentos perdidos para o marNo entanto os dragados usados na realimentaccedilatildeoeram grosseiros ajudando agrave naturalizaccedilatildeo dos aterrosefectuados (Saacute-Pires et al 2001) Aleacutem destaintervenccedilatildeo foi construiacutedo mais um pequeno esporatildeoa oriente da Barra de Tavira pelo que a erosatildeo que aiacutese verifica ficou atenuada pela existecircncia de doisesporotildees As intervenccedilotildees parecem ter sidodeterminantes na protecccedilatildeo da praia uma vez quenatildeo se tecircm registado galgamentos ou erosatildeo do cordatildeodunar nos locais intervencionados os mesmosapresentam alguma colonizaccedilatildeo por vegetaccedilatildeopioneira (Saacute-Pires et al 2001) No entanto uma vezque a realimentaccedilatildeo foi localizada e o cordatildeo dunareacute de baixa altitude as intervenccedilotildees natildeo impedem quenum futuro proacuteximo ocorram galgamentossobretudo junto aos apoios de praia existentes

313 Barra do Laceacutem

A Barra do Laceacutem corresponde agrave barra natural dolimite Este da Ilha de Tavira se esta natildeo fosseinterrompida pela barra artificial de Tavira (Fig2)Vaacuterios autores documentaram a evoluccedilatildeo da mesma(eg Weinholtz 1978 Esaguy 1986b Dias 1988

68

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Pilkey et al 1989 Andrade 1990a Bettencourt 1994Matias 2000 Vila-Concejo et al 2002) A barra separaa Ilha de Cabanas e a Peniacutensula de Cacela deriva dajunccedilatildeo em 1985 das Barras de Cochicho-Almargem(aberta pelo ciclone de 1941) e de Cabanas (abertapelo temporal de 1961) (Esaguy 1986b) A velocidademeacutedia de migraccedilatildeo da barra tem sido de 97mano(Vila-Concejo et al 2006)

Mais recentemente em 2004 abriu-se uma novabarra natural localizada a oriente da antiga Barra doLaceacutem A nova barra conduziu ao assoreamento daantiga Barra do Laceacutem com o seu consequenteencerramento

314 Peniacutensula de Cacela

A Peniacutensula de Cacela localiza-se no extremooriental da Ria Formosa Tem cerca de 3km decomprimento e entre 100 a 250m de largura (Fig2)

Em 1976 a cota meacutedia do cordatildeo dunar singularrobusto e vegetado era de 34m atingindo um maacuteximode 61m (Esaguy 1986c) A posterior degradaccedilatildeo doscorpos dunares devido ao pisoteio conduziu a umgrande aumento da frequecircncia de galgamentos (Diaset al 2004) Em 1990 Andrade (1990b) verificou quea Peniacutensula de Cacela apresentava um maacuteximo desusceptibilidade a galgamentos oceacircnicos De factodurante o Inverno de 19951996 ocorreramgalgamentos generalizados em quase toda a peniacutensulaque conduziram agrave abertura de uma nova barra nocentro da mesma (Barra da Faacutebrica) a qual emOutubro de 1996 chegou a ter cerca de 35m de largurae uma profundidade de 07m (Matias et al 2004) Casonatildeo se efectuasse qualquer intervenccedilatildeo era de preverque as dunas remanescentes desaparecessem porcompleto

Assim no sentido de diminuir a vulnerabilidade agalgamentos e de manter a produccedilatildeo de bivalves(actividade econoacutemica mais importante da zona)foram efectuadas entre Outubro de 1996 e Fevereirode 1997 grandes intervenccedilotildees que consistiramprincipalmente na ldquoreconstituiccedilatildeordquo do cordatildeo dunarda Peniacutensula de Cacela na colmataccedilatildeo da Barra daFaacutebrica e na dragagem da Barra do Laceacutem e do canallagunar (Ramos amp Dias 2000 Matias et al 2005) Oobjectivo era elevar a cota do topo do cordatildeo dunarateacute aos 75m acima do Zero Hidrograacutefico (ZH)reconstituindo uma situaccedilatildeo semelhante agrave existente

nos anos 60 (Ramos amp Dias 2000) Todavia devidoagrave existecircncia de formaccedilotildees consolidadas queimpossibilitaram a dragagem agraves cotas inicialmenteestabelecidas a quantidade de sedimentos repulsadospara a peniacutensula foi bastante inferior ao previstoestimando-se que o material deposto no cordatildeo dunartenha atingido apenas 325000m3 (Ramos amp Dias2000) Tal obrigou agrave reformulaccedilatildeo do projectoelevando-se a cota de topo da duna apenas para os5m acima do ZH Segundo Matias et al (1999) cercade 32 do sedimento depositado perdeu-seimediatamente apoacutes a deposiccedilatildeo no cordatildeo arenosoTal verificou-se devido aos processos de acomodaccedilatildeodo perfil de praia submerso mas tambeacutem porquegrande parte do material natildeo apresentava agranulometria adequada Depois da realimentaccedilatildeo avegetaccedilatildeo pioneira comeccedilou rapidamente a colonizara duna reconstituiacuteda (Matias et al 2004)

Outras intervenccedilotildees tecircm vindo a ser efectuadasdepois do robustecimento do cordatildeo dunar foramconstruiacutedos passadiccedilos de madeira procedeu-se agravecolocaccedilatildeo de paliccediladas no sentido de propiciar odesenvolvimento de dunas naturais e agrave plantaccedilatildeo deAmmophila arenaria Posteriormente entre Abril de1999 e Julho de 2000 efectuaram-se em quase todoo sistema novas dragagens nos canais natildeoconsiderados de navegaccedilatildeo integradas no Projectode Requalificaccedilatildeo do Sistema Lagunar com oobjectivo de intensificar a circulaccedilatildeo assim mantendoas condiccedilotildees ecoloacutegicas do sistema Nesta intervenccedilatildeovoltou-se a dragar a Barra do Laceacutem em Junho de1999 Segundo Ramos amp Dias (2000) as intervenccedilotildeesatingiram os objectivos tendo a vulnerabilidade aogalgamento sido drasticamente reduzida e do ladonascente verificando-se o estabelecimento dasucessatildeo fitogeneacutetica conferindo um aspecto naturalao novo cordatildeo dunar

Mais recentemente na parte central da zonaintervencionada verificou-se erosatildeo completa daldquodunardquo reconstruiacuteda o que tinha sido previsto nosestudos de monitorizaccedilatildeo realizados no decurso eimediatamente apoacutes a intervenccedilatildeo tendo-se na alturasugerido a possibilidade de nova pequena intervenccedilatildeopontual Todavia quando se verificou a ruptura natildeohouve possibilidades de efectuar essa pequenaintervenccedilatildeo pelo que se abriu naturalmente novabarra o que nos uacuteltimos anos provocou a colmataccedilatildeo

69

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

da antiga barra e erosatildeo de grande parte das ldquodunasrdquoreconstruiacutedas no final do seacuteculo XX

4 DISCUSSAtildeO

41 Evoluccedilatildeo Geral do Sistema

Como se deduz dos pontos anteriores o sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa eacute extremamentedinacircmico e como tal bastante vulneraacutevel As taxasde crescimento longitudinal de algumas ilhas satildeo dasmais notaacuteveis a niacutevel mundial (Dias et al 1997)

Segundo Pilkey et al (1989) os principais processosque contribuem para a evoluccedilatildeo das ilhas-barreira daRia Formosa satildeo (1) recuo da linha de costa (2) derivalitoral (3) galgamentos oceacircnicos (4) formaccedilatildeo decorpos dunares e de estabelecimento da respectivavegetaccedilatildeo (5) constituiccedilatildeo de deltas de mareacute e suaagregaccedilatildeo agraves ilhas (6) comportamento das barras e(7) erosatildeoacumulaccedilatildeo provocada pelas mareacutes-vivasdesignadamente nos canais de mareacute

Recuo da linha de costaOs valores observados na evoluccedilatildeo da linha de

costa indicam a existecircncia de recuo generalizado dasilhas e peniacutensulas (com excepccedilatildeo das zonasimediatamente a barlamar dos molhes das barras denavegaccedilatildeo) a qual varia consoante a localizaccedilatildeogeograacutefica e a interacccedilatildeo com os processos oceacircnicosA linha de costa move-se em resposta aos factoresnaturais de forma a manter o equiliacutebrio (Williams2001) O recuo da linha de costa eacute mais acentuadonos extremos do sistema e na parte ocidental das ilhase peniacutensulas Na parte central do sistema e nosextremos orientais das ilhas verifica-se algumaacreccedilatildeo Nas duas aacutereas mais intensamente ocupadas(Praia de Faro e Farol) existe estabilizaccedilatildeo da linha decosta devido a artificializaccedilatildeo desta com estruturasfixas de engenharia costeira A acreccedilatildeo verificada aoriente das ilhas da Barreta e de Tavira deve-se agravedeposiccedilatildeo de sedimentos a barlamar dos molhes dasbarras artificiais

Deriva litoralTorna-se evidente que o sistema da Ria Formosa

tem grande carecircncia de sedimentos principalmentenalgumas zonas mais expostas Contudo grande partedeste problema tem origem a barlamar do sistemaonde foram construiacutedos os molhes da marina deVilamoura e o campo de esporotildees de Quarteira que

interromperam a deriva litoral provocando a orienteintensificaccedilatildeo da erosatildeo nas arribas situadas entreQuarteira e a Praia do Garratildeo Actualmente as arribassatildeo o principal elemento abastecedor de areias aosistema da Ria Formosa (Correia et al 1997) Noentanto estas natildeo chegam para colmatar as carecircnciassedimentares do sistema da Ria Formosa o quesignifica que se forem construiacutedas obras riacutegidas deengenharia costeira neste sector se verificaraacuteintensificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico do sistemaampliando o grau de ruptura em que este jaacute seencontra Um exemplo que ilustra esta vulnerabilidadefoi a conclusatildeo da construccedilatildeo dos molhes da barraartificial de Faro-Olhatildeo em meados do seacuteculopassado que induziu grandes alteraccedilotildees com efeitosdraacutesticos no suprimento de sedimento agrave parte orientalNa realidade a abertura desta barra estabilizada pelosmolhes respectivos fez com que o sistema naturalentrasse em ruptura modificando radicalmente ascaracteriacutesticas hidro-sedimentoloacutegicas Segundo Dias(1990) as uacutenicas acccedilotildees de protecccedilatildeo realmenteeficazes satildeo as que possibilitam a reconstituiccedilatildeo daderiva litoral com os consequentes volumes desedimentos necessaacuterios

Galgamentos oceacircnicosAs ilhas-barreira da Ria Formosa satildeo

periodicamente sujeitas a galgamentos oceacircnicosdurante temporais de SW e SE Estes galgamentosconstituem um elemento muito importante nadinacircmica e na evoluccedilatildeo natural do sistemacontribuindo com fornecimento de sedimentos parao interior da laguna e abertura de novas barras quandoas antigas jaacute natildeo apresentam eficiecircncia (Andrade1990a) Tecircm sido assumidos como principalmecanismo de migraccedilatildeo das ilhas-barreira(Leatherman 1976 Bray amp Carter 1992) induzindoum efeito construtivo de acreccedilatildeo (Matias et al 2003)Assim sendo a gestatildeo deve integrar uma adaptaccedilatildeoaos galgamentos naturais uma vez que satildeo vitais parao funcionamento natural do sistema

Do ponto de vista da ocupaccedilatildeo os galgamentosoceacircnicos satildeo um factor importante que necessita deser avaliado para propiciar uma gestatildeo mais eficazuma vez que induz seacuterios danos nas infra-estruturasexistentes (Andrade et al 1998) Verifica-se que ospontos mais vulneraacuteveis a galgamentos satildeo a Praia deFaro Barreta W Culatra E Armona E Tavira W toda

70

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

a Ilha de Cabanas e a Peniacutensula de Cacela Nesteslocais mesmo a ocorrecircncia de pequenos temporaisdurante a preia-mar de mareacutes vivas podem provocargalgamentos Alguns pontos como a Ilha de Cabanase a Peniacutensula de Cacela viram reduzida avulnerabilidade a galgamentos apoacutes as intervenccedilotildeesefectuadas com algum sucesso embora essavulnerabilidade comece a ser actualmente elevada nosegundo caso devido aos factos aludidos mais acimaEm geral os locais de maior vulnerabilidade satildeo osque apresentam perfis de praia de pouca inclinaccedilatildeocordatildeo dunar fraacutegil e proximidade das barras

Cordatildeo dunar e vegetaccedilatildeo dunarAo longo das ilhas existiu um cordatildeo dunar frontal

contiacutenuo com 5 a 10m de altura sem cortes eoacutelicos ede galgamento muito significativos e bem cobertosde vegetaccedilatildeo (Pilkey et al 1989) No entanto o cordatildeodunar encontra-se na actualidade completamenteocupado em alguns locais por edificaccedilotildees comoacontece na Praia de Faro na povoaccedilatildeo do Farol e naIlha da Armona A vegetaccedilatildeo tornou-se escassa natildeosomente nas zonas ocupadas mas tambeacutem noutroslocais como na parte ocidental da Ilha da Barreta ena oriental das ilhas da Armona e da Culatra

Com a crescente pressatildeo antroacutepica exercida sobreo sistema especialmente para fins balneares verifica-se que em vaacuterios locais a quantidade de cortes eoacutelicostem aumentado devido ao pisoteio Este facto podeconduzir em periacuteodos de agitaccedilatildeo mariacutetima maisenergeacutetica agrave ocorrecircncia de galgamentos oceacircnicosRamos amp Dias (2000) referem que grande parte doscortes de galgamento oceacircnico do sistema da RiaFormosa eacute devido ao pisoteio dos corpos dunares enatildeo a causas naturais

A instalaccedilatildeo intensiva nos uacuteltimos anos depaliccediladas para recuperaccedilatildeo dunar complementadacom plantaccedilatildeo de vegetaccedilatildeo tiacutepica destes ambientescorresponde a uma acccedilatildeo de gestatildeo com efeitos muitopositivos com a qual se tem conseguido robustecero cordatildeo dunar do sistema

Deltas de mareacuteA incorporaccedilatildeo de deltas de enchente e posterior

migraccedilatildeo ou encerramento da barra respectivaconstitui importante mecanismo de evoluccedilatildeo dasilhas-barreira estando na origem da grande larguradas ilhas da Armona e de Tavira (Pilkey et al 1989)

A formaccedilatildeo de deltas de enchente em associaccedilatildeo comos galgamentos oceacircnicos contribui para a migraccedilatildeodas ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continente o quepoderaacute estar a suceder com o caso particular daPeniacutensula de Cacela (Andrade et al 2004)

Comportamento das barrasA Ria Formosa eacute caracterizada por apresentar

elevadas taxas de migraccedilatildeo das barras A estabilizaccedilatildeode duas das barras no sector oriental provocou fortesmodificaccedilotildees na dinacircmica do sistema Segundo Vila-Concejo et al (2002) a estabilizaccedilatildeo da Barra Faro-Olhatildeo (1929-1955) teve maiores consequecircncias nasbarras do Ancatildeo e da Armona enquanto que aabertura artificial da Barra de Tavira (1927-1985)produziu maiores efeitos nas barras da Fuzeta e doLaceacutem

A Barra da Armona era a principal barra dosistema controlando a maior parte da circulaccedilatildeo daRia Formosa na parte central Com a abertura da BarraFaro-Olhatildeo projectada para manter profundidadesentre-molhes da ordem de 45m ZH mas queprogressivamente se foi aprofundando ateacuteprofundidades superiores a 40 metros as trocashiacutedricas com o oceano passaram a efectuar-sepredominantemente por esta barra Os molhesprovocaram grande acumulaccedilatildeo a barlamar pelo quenos 12 anos seguintes agrave sua construccedilatildeo a Ilha daBarreta registou alargamento superior a 220 metrosna zona por eles influenciada (Bettencourt 1985) Emconsequecircncia a barra da Armona perdeu eficaacuteciareduzindo progressivamente largura e profundidadeNos anos 80 do seacuteculo XX tinha ainda cerca de 2000metros de largura mas actualmente essa largura eacuteapenas da ordem de 200 metros

O sentido de migraccedilatildeo das barras natildeo estabilizadaseacute para oriente (agrave excepccedilatildeo da Barra da Armona quetem mantido a sua posiccedilatildeo) Essa migraccedilatildeo efectua-se quer progressivamente (mantendo ou natildeo a largura)ou por ldquosaltosrdquo na sequecircncia de temporais em quenova barra se abre em geral a sotamar da barraexistente seguindo-se frequentemente a posteriorcolmataccedilatildeo desta (Dias 1988 Pilkey et al 1989Andrade et al 1998)

Erosatildeo provocada pelas mareacutes-vivasA Ria Formosa eacute um sistema lagunar com uma

grande aacuterea de zona intertidal (cerca de 13 do total

71

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

da aacuterea) Em cada ciclo de mareacute 50 a 75 da aacutegua eacuterenovada (Sprung 1994) Devido agrave diferenccedila deamplitude entre mareacutes-vivas e mareacutes-mortas as zonasde menor elevaccedilatildeo das ilhas-barreira satildeo regularmenteinundadas durante as primeiras causando transportesignificativo de sedimentos Estes fluxos satildeoresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo de canais de mareacute eaumento da erosatildeo das ilhas-barreira

Como jaacute foi referido os periacuteodos de mareacutes-vivassatildeo bastante problemaacuteticos especialmente noInverno na medida em que potenciam o efeito detempestades que ocorrem durante mareacutes-cheiasTodos os anos nos pontos criacuteticos do sistema comoa Praia de Faro a probabilidade de ocorrer umasituaccedilatildeo muito grave aumenta principalmente se seconsiderar a elevaccedilatildeo do NMM

42 Intervenccedilatildeo

Como eacute reconhecido por Scheele amp Westen (1996)os planos de gestatildeo costeira devem apontar para aprotecccedilatildeo ambiental de longo prazo o que implica(1) uma estrateacutegia com objectivos claros e concisos(2) uma metodologia praacutetica e realista (3)monitorizaccedilatildeo contiacutenua (4) forte aposta nosprogramas de educaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo ambiental e(5) envolvimento da comunidade local no processode planeamento e tomada de decisotildees

Sendo a Ria Formosa um sistema muito dinacircmicocom elevada vulnerabilidade e que reage rapidamentea elevaccedilotildees do niacutevel do mar os muacuteltiplos interesseseconoacutemicos e sociais aiacute existentes fazem com que aaacuterea seja caracterizada por elevado grau de conflitosde interesses A situaccedilatildeo torna-se ainda mais complexaquando se considera que o sistema corresponde a umParque Natural onde haacute que compatibilizar interesseseconoacutemicos com a conservaccedilatildeo da Natureza Nestecontexto soacute eacute possiacutevel proceder agrave conservaccedilatildeo daNatureza atraveacutes de intervenccedilotildees tendentes a minoraros impactes negativos induzidos pelas actividadesantroacutepicas (Ramos amp Dias 2000)

De acordo com as actividades desenvolvidas osprincipais grupos de interesse na Ria Formosa satildeo(1) o PNRFICNB (2) a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeoe Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR-Algarve) (3) as entidades promotoras do turismo (4)as associaccedilotildees comerciais e industriais (incluindo oporto) (5) os pescadores e autoridades responsaacuteveis

por este sector (6) as entidades regionais e locais (7)as associaccedilotildees de defesa do ambiente e osambientalistas e (8) a populaccedilatildeo local incluindoresidentes e natildeo residentes Como sugere Antunes etal (2006) o entendimento entre os diferentes gruposconduz a uma sinergia que beneficia as potencialidadesque contribuem para uma gestatildeo eficaz

Os principais problemas das ilhas-barreira estatildeolocalizados nos nuacutecleos urbanos devido agraves estruturasedificadas Dos principais nuacutecleos existentes apenasos de Hangares e Culatra natildeo tecircm problemas erosatildeocosteira pois que se localizam junto agrave parte lagunar(e consequentemente afastados da praia oceacircnica eportanto resguardados dos temporais) Os restantespoacutelos de ocupaccedilatildeo (Praia de Faro Farol etc) satildeoproblemaacuteticos sendo os riscos de inundaccedilatildeo e erosatildeobastante elevados Para resolver estes problemasexistem fundamentalmente trecircs estrateacutegias deintervenccedilatildeo (1) intervenccedilatildeo riacutegida (ex esporotildeesparedotildees) (2) retirada estrateacutegica programas natildeoestruturais (ex demoliccedilatildeo de infra-estruturas) e (3)intervenccedilatildeo suave (ex realimentaccedilatildeo de praias) (Pilkeyamp Dixon 1996) Qualquer uma destas estrateacutegias temproacutes e contras sendo praticamente impossiacutevel quequalquer uma delas satisfaccedila todos os grupos deinteresse afectados

Intervenccedilatildeo riacutegidaAteacute haacute poucas deacutecadas em todo o mundo a

construccedilatildeo de estruturas riacutegidas e permanentesconstituiu o meacutetodo mais utilizado de protecccedilatildeo dopatrimoacutenio edificado no litoral Embora estasestruturas se revelem eficazes na defesa de imobiliaacuterioem risco de ser danificado pela erosatildeo costeiraprovocam fortes impactes negativos a sotamar dolocal onde satildeo construiacutedas (Inman 1978 Mangor1998 Greene 2002) pelo que internacionalmente severifica tendecircncia para adoptar outros tipos deprotecccedilatildeo ambientalmente menos agressivos

A construccedilatildeo dos molhes da marina de Vilamourae do campo de esporotildees de Quarteira provocou forteaumento da erosatildeo a oriente e consequentementegraves problemas de gestatildeo Por outro lado a aberturae fixaccedilatildeo das barras de Faro-Olhatildeo e de Tavira parapropiciar melhor funcionamento das estruturasportuaacuterias existentes no meio lagunar econsequentemente beneficiar as actividades socio-econoacutemicas da regiatildeo provocaram grandes alteraccedilotildees

72

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

no sistema fazendo com que o seu funcionamentonatural tivesse entrado em ruptura e que a erosatildeocosteira tivesse sido fortemente amplificada a sotamarComo se veraacute na parte dedicada agraves intervenccedilotildeessuaves a utilizaccedilatildeo de teacutecnicas de transposiccedilatildeo dosmolhes (ldquoby-passingrdquo) permitiria reduzirsubstancialmente alguns destes impactes negativos

A construccedilatildeo de mais estruturas riacutegidas na RiaFormosa (ou a barlamar desta) traduzir-se-ia numaforte amplificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico em queo sistema jaacute se encontra tendendo a meacutedio ndash longoprazo para a completa artificializaccedilatildeo da Ria Formosaconsignada por legislaccedilatildeo nacional como ParqueNatural e reconhecida internacionalmente comoimportante aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental

Retirada estrateacutegica Programas natildeo estruturaisOs programas natildeo estruturais satildeo intervenccedilotildees em

que se procede agrave demoliccedilatildeo de infra-estruturasameaccediladas pela erosatildeo costeira ou transferecircncia dasmesmas para locais mais seguros o que eacute tambeacutemconhecido como ldquoretirada estrateacutegicardquo Viabiliza-seassim a evoluccedilatildeo natural dos sistemas Com amigraccedilatildeo das ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continentecomo resposta agrave elevaccedilatildeo do NMM este tipo deintervenccedilatildeo comeccedilou por ser aplicado em algunslocais da costa Leste dos EUA em 1972 (NRC 1995)A deslocalizaccedilatildeo de infra-estruturas pode ser eficazem locais pouco povoados ou quando existe interessena salvaguarda de patrimoacutenio como aconteceu como farol do Cabo Hatteras nos EUA No entantotorna-se impraticaacutevel em grandes nuacutecleos urbanosdevido aos elevados custos e dificuldades logiacutesticas

Na Ria Formosa este tipo de intervenccedilatildeo temencontrado grandes dificuldades de execuccedilatildeodesignadamente no que se refere agrave demoliccedilatildeo de casasconstruiacutedas ilegalmente em Domiacutenio Hiacutedrico Domiacutenio Puacuteblico Mariacutetimo o que aleacutem de tender aperpetuar situaccedilotildees de muito alto risco potildee em causaa imagem do Paiacutes como Estado de direito (Dias 2002)

Intervenccedilatildeo SuaveA intervenccedilatildeo suave tambeacutem designada por

protecccedilatildeo dinacircmica desde haacute algumas deacutecadas que eacuteutilizada preferencialmente como alternativa agravesteacutecnicas de intervenccedilatildeo riacutegida Apresentam menoresimpactes ambientais sendo uma soluccedilatildeo maisapropriada para aacutereas sensiacuteveis como as ilhas-barreira

As teacutecnicas de protecccedilatildeo suave tais como arealimentaccedilatildeo de praias a reconstruccedilatildeo dunar atransposiccedilatildeo de molhes (by-passing) a abertura debarras (para as deixar evoluir naturalmente) e asldquodragagens ecoloacutegicasrdquo correspondem em geral auma intervenccedilatildeo inicial deixando depois a Naturezaldquotrabalharrdquo Por essa razatildeo estas teacutecnicas satildeo tambeacutemfrequentemente designadas por ldquobuilding with NaturerdquoSatildeo com frequecircncia menos dispendiosas e maiseficientes a longo prazo do que as intervenccedilotildees riacutegidas(Koster amp Hillen 1995 Griggs 1999 Dias et al 2003)

Poreacutem estas teacutecnicas tecircm que ser executadas comforte suporte cientiacutefico e devem envolver o conceitode protecccedilatildeo de trechos costeiros na sua globalidadee natildeo apenas a protecccedilatildeo local de patrimoacutenio edificadoem zonas de risco Se forem concretizadas de formadeficiente podem mesmo revelar-secontraproducentes Eacute o que se passa por exemploquando a realimentaccedilatildeo de praias eacute efectuada comareias extraiacutedas da praia submersa (acima daprofundidade de fecho) nestes casos nenhumsedimento eacute adicionado ao sistema (Wells amp McNinch1991) havendo apenas transferecircncias dentro dosistema com consequecircncias negativas para o seufuncionamento natural tanto ao niacutevel morfodinacircmicocomo bioloacutegico

Desde 1996 que o PNRFICN tem realizadointervenccedilotildees de caraacutecter suave na tentativa demelhorar o funcionamento do sistema e diminuir avulnerabilidade ao galgamento e ao mesmo tempomanter a dinacircmica dos processos naturais (Dias et al2004) Entre as intervenccedilotildees efectuadas procedeu-seao robustecimento da Peniacutensula de Cacela agrave aberturadas Barras do Ancatildeo e da Fuzeta (deixando-as deseguida evoluir naturalmente) agrave dragagem de muitoscanais que natildeo satildeo de navegaccedilatildeo para melhorar acirculaccedilatildeo no sistema agrave repulsatildeo de sedimentos parao cordatildeo arenoso agrave colocaccedilatildeo de paliccediladas parareconstruccedilatildeo dunar agrave plantaccedilatildeo de Ammophila arenariae agrave construccedilatildeo de passadiccedilos sobrelevados

Segundo Dias et al (2003) as intervenccedilotildees suavesrealizadas na Ria Formosa propiciaram melhorprotecccedilatildeo das ilhas-barreira tendo-se em geralatingido os objectivos esperados Os mesmos autoresreferem que os sistemas naturais de elevadaimportacircncia soacutecio-econoacutemica e ambiental (como aRia Formosa) podem ser geridos utilizando este tipo

73

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

de teacutecnicas lucrando com o aproveitamento dosrecursos existentes

A transposiccedilatildeo (by-passing) dos molhes das barrasartificiais meacutetodo utilizado desde haacute muito um poucopor todo o mundo permitiria que as areias retidaspelos molhes a barlamar fosse transferido parasotamar aiacute reconstituindo a deriva litoral econsequentemente minimizando alguns dos impactesnegativos induzidos por estas estruturas Vaacuteriosestudos que demonstram que esta tecnologia natildeoaparenta ter efeitos ambientais negativos associados(eg Lindeman 1997 in Greene 2002)

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Com vista a avaliar a vulnerabilidade das ilhas-barreira da Ria Formosa o presente trabalho incidiuna actualizaccedilatildeo desta problemaacutetica na oacuteptica da gestatildeouma vez que se trata de um sistema em permanentetransformaccedilatildeo Nesta anaacutelise eacute imprescindiacutevel tersempre em consideraccedilatildeo que o sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa estaacute consignado legalmentecomo aacuterea de protecccedilatildeo ambiental desde 1978 anoem que lhe foi atribuiacutedo o estatuto de Reserva Naturaltendo ficado protegido pelo estatuto de ParqueNatural em 1987 (Decreto-lei 37387) e Rede Natura2000 tendo ainda sido integrado desde 1980 na Listade Siacutetios da Convenccedilatildeo de Ramsar (zonas huacutemidasde importacircncia internacional)

Da anaacutelise efectuada conclui-se que eacuteimprescindiacutevel compatibilizar os diversificados valoresnaturais (bioloacutegicos geomorfoloacutegicos fiacutesico-quiacutemicos geoloacutegicos etc) intriacutensecos ao sistema comos muacuteltiplos interesses soacutecio-econoacutemicos decorrentesda sua exploraccedilatildeo (pesca maricultura aquaculturaturismo portos comerciais e de pesca navegaccedilatildeo derecreio etc) Estando influenciado por fortesimpactes antroacutepicos directos e indirectos tais comoentre muitos outros a erosatildeo costeira e a intensificaccedilatildeodo assoreamento lagunar a sobrevivecircncia do sistemaldquonaturalrdquo e a sustentabilidade da sua exploraccedilatildeocarecem de intervenccedilotildees correctivas frequentes porforma a minimizar os impactes negativos aludidosTais intervenccedilotildees teratildeo que ser cautelosas e contiacutenuastentando o mais possiacutevel aproximar-se do que seriaa dinacircmica natural do sistema

Eacute ainda urgente resolver vaacuterios conflitos deinteresses existentes privilegiando as actividades

indutoras de menores impactes negativos e quesimultaneamente viabilizem uma melhor exploraccedilatildeosustentaacutevel do sistema Aponta-se a tiacutetuloexemplificativo o caso do turismo haacute quedesincentivar o turismo de massas directo nesta aacuterea(ateacute porque nas proximidades haacute poacutelos turiacutesticos destegeacutenero bem consolidados) desenvolvendo emalternativa outros tipos de turismo complementardesignadamente o turismo de Natureza a observaccedilatildeode aves (bird watching) e de peixes (fish watching) emambiente natural os passeios no meio lagunar emembarcaccedilotildees natildeo poluentes o turismo gastronoacutemicoetc

A maior parte da zona de barreira do sistema natildeoestaacute ainda ocupado por estruturas imobiliaacuterias Comvista agrave exploraccedilatildeo sustentaacutevel do sistema eacuteimprescindiacutevel que estas zonas continuem semocupaccedilatildeo permanente mantendo algumascaracteriacutesticas pristinas ainda aiacute existentes Nos poucosnuacutecleos urbanos piscatoacuterios existentes cujo casoparadigmaacutetico eacute a povoaccedilatildeo da Culatra onde natildeoexistem problemas realmente graves pois que selocalizam na margem lagunar (relativamente afastadado litoral oceacircnico) devem-se adoptar algumasmedidas correctivas pontuais por forma a preservara sua identidade cultural a melhorar a qualidade devida da populaccedilatildeo e a impedir um crescimentoexagerado Nos restantes nuacutecleos urbanos comcaracteriacutesticas ldquoturiacutesticasrdquo vaacuterios dos quais localizadosnas zonas de maior risco do sistema seria altamentedesejaacutevel que se procedesse agrave completa reformulaccedilatildeoda ocupaccedilatildeo ou sempre que possiacutevel se optasse peladesocupaccedilatildeo

No sentido de tentar resolver os problemas deerosatildeo costeira existentes (que se agravaratildeo no futuro)recomenda-se vivamente que a) natildeo se construamobras de protecccedilatildeo riacutegida (esporotildees paredotildees etc)na Ria Formosa nem na zona a barlamar desta daqual o sistema depende b) se continuem a executaracccedilotildees de robustecimento do cordatildeo dunar e decolmataccedilatildeo dos cortes de galgamento utilizando tantoquanto possiacutevel sedimentos provenientes dadragagem dos canais de navegaccedilatildeo c) se implementea transposiccedilatildeo dos molhes portuaacuterios com relevacircnciaespecial para os molhes da Barra de Faro-Olhatildeo d)efectivamente se proceda agrave demoliccedilatildeo das edificaccedilotildeessituadas em zonas de maior risco e sobre a duna

74

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

primaacuteria concretizando finalmente decisotildeesgovernamentais que tecircm vindo a ser repetidamentetomadas haacute quase trecircs deacutecadas mas nunca executadascabalmente e) sejam amplificadas as acccedilotildees deintervenccedilatildeo e protecccedilatildeo dinacircmica na linha do que severificou desde finais do seacuteculo passado (abertura debarras quando necessaacuterio para as deixar evoluirnaturalmente dragagens ldquoecoloacutegicasrdquo etc) e quetransformaram a Ria Formosa num siacutetio de referecircnciainternacional nesta mateacuteria e que nos uacuteltimos anosapenas tecircm sido executadas de forma extremamentemoderada

Finalmente eacute altamente recomendaacutevel que emtodos os actos de gestatildeo envolvendo quer ascomponentes geomorfoloacutegicas quer as ecoloacutegicasquer as soacutecio-econoacutemicas se tenham sempre emconsideraccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas principalmenteno que se refere agrave elevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar

BIBLIOGRAFIA

Andrade CF (1990a) - O Ambiente de barreira da RiaFormosa Algarve ndash Portugal Dissertaccedilatildeo deDoutoramento 645p Universidade de LisboaPortugal (natildeo publicado)

Andrade CF (1990b) - Estudo da susceptibilidadeao galgamento da Ria Formosa Geolis IV(1-2)69-76 Lisboa Portugal

Andrade CF Barata A amp Teles M (1998) - Ananalysis of the vulnerability to overwash of theRia Formosa barrier island system (Portugal)Using a simple multi-attribute technique (SMART)approach Proceedings of Littoralrsquo98 Conferencepp511-519 Barcelona Espanha

Andrade CF Freitas MC Moreno J amp CraveiroSC (2004) - Stratigraphical evidence of LateHolocene barrier breaching and extreme stormsin lagoonal sediments of Ria Formosa AlgarvePortugal Marine Geology 210339ndash362(doi101016jmargeo200405016)

Antunes P Santos R amp Videira N (2006) -Participatory decision making for sustainabledevelopment - the use of mediated modellingtechniques Land Use Policy 2344ndash52(doi101016jlandusepol200408014)

Bernardo P Bastos R amp Dias JA (2002) - Historicroots for barrier island occupation in the RiaFormosa Littoral 2002 Porto 4 p (disponiacutevel em

httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI02_Lit_91_PBpdf)

Bettencourt P (1985) - Geomorphologie et processusdlsquoeacutevolution reacutecente de la cocircte sotavento (Algarve ndash SudPortugal) Thegravese DEA 92p Universiteacute deBordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Bettencourt P (1994) - Les environnements sedimentairesde la cocircte sotavento (Algarve SudPortugal) et leur eacutevolutionHoloceacutene et actuelle PhD Thesis University ofBordeaux I Franccedila (unfinished)

Bray Jr T amp Carter C (1992) - Physical processesand sedimentary record of a moderntransgressive lacustrine barrier island MarineGeology 105(1-4)155-168 (doi 1010160025-3227(92)90187-M)

Correia F Dias JA Boski T amp Ferreira Oacute (1996)- The retreat of the Eastern Quarteira cliffed coast(Portugal) and its possible causes In Jones PSHealy MG amp Williams AT (eds) Studies inCoastal Management p129-136 Samara PublLtd Cardigan UK (disponiacutevel emht tp w3 u a l g p t j d i a s JA D pape r s CLinternac96_Studies_129_FCpdf)

Correia F Ferreira Oacute amp Dias JA (1997) - Contributodas arribas para o balanccedilo sedimentar do sectorcosteiro Quarteira - Vale do Lobo (Algarve -Portugal) Seminaacuterio sobre a zona costeira doAlgarve 31-39 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_031_FCpdf)

Costa CL (1994) - Final report of sub-project A ldquoWindwave climatology of the Portuguese coastrdquo InstitutoHidrograacutefico Report PO-WAVES 694-A 80 pLisboa Portugal (natildeo publicado)

Dias JA (1988) - Aspectos geoloacutegicos do litoralalgarvio Geonovas 10 113-128 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN88_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (1990) - A Evoluccedilatildeo Actual do LitoralPortuguecircs Geonovas 11 15-29 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN90_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (2002) - Manual de Sobrevivecircncia eVilanagem Diaacuterio de Notiacutecias - SuplementoldquoAmbiente e Desenvolvimento Sustentaacutevelrdquo 30de Julho de 2002 Lisboa Portugal (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersxCS02_DNADpdf)

75

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Dias JA Ferreira Oacute Matias A Vila-Concejo Aamp Saacute-Pires C (2003) - Evaluation of softprotection techniques in barrier islands bymonitoring programs case studies from RiaFormosa (Algarve-Portugal) Journal of CoastalResearch SI35117-131

Dias JA Ferreira Oacute amp Moura D (2004) - O sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa 3ordm SIPRES ndashSimpoacutesio Interdisciplinar sobre Processos Estuarinos 18p Faro Portugal

Dias JA amp Neal WJ (1992) - Sea cliff retreat insouthern Portugal profiles processes andproblems Journal of Coastal Research 8641-654

Dias JA amp Taborda R (1992) - Tidal gauge data indeducing secular trends of relative sea level andcrustal movements in Portugal Journal of CoastalResearch 8655-659

Dias JA Teixeira SB amp Ferreira Oacute (1997) - LivroGuia da Excursatildeo Seminaacuterio sobre a Zona Costeirado Algarve 43 p Faro Portugal

Douglas BC (1995) - Global sea level changedetermination and interpretation US NationalReport to IUGG 1991-1994 Geophys 33 Suppl11 p (disponiacutevel em httpwwwaguorgrevgeophysdougla01dougla01html)

Duarte C Matias A Dias JA amp Ferreira Oacute (1999)- Vulnerabilidade dos corpos dunares do Algarve10ordm Congresso do Algarve 477-490 (disponiacutevelem httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN99_10CA_477_CDpdf)

Esaguy AS (1984) - Ria de Faro Barra da ArmonaEvoluccedilatildeo 1873-1983 5 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1986a) - Ria de Faro Barra de Faro-OlhatildeoEvoluccedilatildeo 1955ndash1985 10p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986b) - Ria de Faro Ilha de TaviraEvoluccedilatildeo 1950ndash1985 8 p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986c) - Ria de Faro Ilha do AncatildeoEvoluccedilatildeo 1950-1985 7 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1987) - Ria de Faro Barra de TaviraEvoluccedilatildeo 13 p Direcccedilatildeo Geral de Portos LisboaPortugal

Ferreira Oacute Dias JA amp Taborda R (2008) -Implications of sea-level rise for Portugal Journal

of Coastal Research 24(2)317-324 (doi 10211207A-00061)

Ferreira Oacute Garcia T Matias A Taborda Ramp DiasJA (2006) - An integrated method for thedetermination of set-back lines for coastal erosionhazards on sandy shores Continental ShelfResearch 261030ndash1044 (doi 101016jcsr200512016)

Ferreira Oacute Martins JC amp Dias JA (1997) -Morfodinacircmica e vulnerabilidade da Praia de FaroSeminaacuterio sobre a zona costeira do Algarve 67-76 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_067_OFpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias Aamp Dias JA (2002)- Recent evolution of Culatra Island (Algarve ndashPortugal) Littoral 2002 The Changing Coast 289-294 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers02_LitTGpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2005)ndash Coastal Hazards Representation for Praia doBarril (Algarve Portugal) Continental ShelfResearch SI4928-33

Granja H (1984) - Eacutetude geacuteomor phologiquesedimentoloacutegique et geacuteoquimique de la Ria Formosa(Algarve-Portugal) These 3eme Cycle 254 pUniversiteacute de Bordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Greene K (2002) - Beach nourishment a review ofthe biological and physical impacts 174 p AtlanticStates Marine Fisheries Commission WashingtonDC (disponiacutevel em httpwwwasmfcorgpublicationshabitatbeachNourishmentpdf)

Griggs GB (1999) - The protection of Californialsquoscoast past present and future Shore amp Beach67(1)18-28

Hoyt JH (1967) - Barrier Island FormationGeological Society of America Bulletin 781125-1136 (doi 1011300016-7606(1967)78[1125BIF]20CO2)

Inman D (1978) - The impact of coastal structureson shorelines Proceedings of Coastal Zoneacute78 ASCE2265-2272

Koster MJ amp Hillen R (1995) - Combat erosion bylaw Coastal defence policy for the NetherlandsJournal of Coastal Research 67(2-3)43-49

Leatherman S (1976) - Barrier islands dynamicsoverwash processes and aeolian transportProceedings of Coastal Engineering Conference ASCE1958-1973

76

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Mangor K (1998) - Coastal restorationconsiderations Proceedings of Coastal Engineeringrsquo98Conference ASCE 3425-3438

Marcelo MJ amp Fonseca LC (1998) - Ria Formosada gestatildeo e conservaccedilatildeo de uma aacuterea protegidaRevista de Biologia 2ordm ENEC 16(1-4)125-133

Martins JT Ferreira Oacute Ciavola Pamp Dias JA (1996)- Monitoring of profile changes at Praia de FaroAlgarve a tool to predict and solve problems InTaussik J amp Mitchell J (eds) Partnership in CoastalZone Management pp 615-622 Samara Publ LtdCardigan UK

Matias A (2000) - Estudo morfosedimentar da Peniacutensulade Cacela Dissertaccedilatildeo de Mestrado 244pUniversidade do Algarve Faro Portugal (natildeopublicado)

Matias A Dias JA Williams AT amp Ferreira Oacute(1997) - Vulnerabilidade das dunas da RiaFormosa 9ordm Congresso do Algarve 231-239Vilamoura Portugal

Matias A Ferreira Oacute amp Dias JA (1999) -Preliminary results on the Cacela Peninsula dunereplenishment Boletiacuten del Instituto Espantildeol deOceanografiacutea 15(1-4)283-288 (disponiacutevel emhttpwwwieoespublicacionesboletinpdfsbol1515_283-288PDF)

Matias A Ferreira Oacute Dias JA amp Vila-Concejo A(2004) - Development of indices for the evaluationof dune recovery techniques Coastal Engineering51261-276 (doi 101016jcoastaleng200402002)

Matias A Ferreira Oacute Mendes I amp Dias JA (1998)- Monitorizaccedilatildeo da alimentaccedilatildeo artificial daPeniacutensula de Cacela Seminaacuterio sobre DragagensDragados e Ambientes Costeiros 47-56

Matias A Ferreira Oacute Mendes I Dias JA amp Vila-Cconcejo A (2005) - Artificial construction ofdunes in the South of Portugal Journal of CoastalResearch 21(3)472-481 (doi 10211203-00471)

Matias A Vila-Concejo A Ferreira Oacute amp Dias JA(2003) - Field measurements of morphologicvariations during an overwash event 4ordm Simpoacutesiosobre a Margem Ibeacuterica Atlacircntica Thalassas19(2b)164-165 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI03_4SM_b164_AMpdf)

NRC - National Research Council (1995) - Beach

Nourishment and Protection 334 p Washington DCNational Academy Press (ISBN 9780309052900)

Pacheco A Carrasco AR Vila-Concejo A FerreiraOacute amp Dias JA (2007) - A coastal managementprogram for channels located in backbarriersystems Ocean amp Coastal Management 50119-143 (doi101016jocecoaman200608008)

Pilkey OH amp Dixon K (1996) - The Corps and theShore 286p Island Press Washington DC USA(ISBN 9781559634380)

Pilkey OH Neal WJ Monteiro JH amp Dias JA(1989) - Algarve Barrier Islands A Noncoastal-Plain System in Portugal Journal of Coastal Research5(2)239-261

Ramos L amp Dias J A (2000) - Atenuaccedilatildeo davulnerabilidade a galgamentos oceacircnicos nosistema da Ria Formosa mediante intervenccedilotildeessuaves 3ordm Simpoacutesio sobre a Margem ContinentalIbeacuterica Atlacircntica Faro 361-362 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers00_SMLRpdf)

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2001)- Avaliaccedilatildeo de realimentaccedilotildees artificiais de praiasda Ria Formosa Casos das ilhas de Cacela e deTavira Congresso do Algarve 2001 8 p

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2002)- Preliminary Evaluation of the MorphologicalEvolution of Contrasting Beaches of the RiaFormosa With Relation to Differences inRefracted Wave Height Littoral 2002 TheChanging Coast 423-429 (disponiacutevel emht tp www2 00 8 i o -war nemu ende dehomepagesschernewskiLittoral2000docsvol3Littoral2002_79pdf)

Scheele RJ amp Westen CJ (1996) - Planning for acoastal policy - the 3A4 approach In Taussik Jamp Mitchell J (eds) Partnership in Coastal ZoneManagement pp 65-71 Samara Publ LtdCardigan UK

Sprung M (1994) - Macrobenthic secondaryproduction in the intertidal zone of Ria Formosaa lagoon in southern Portugal Estuarine Coastaland Shelf Science 38539ndash558 (doi 101006ecss19941037)

Van Den Belt M Videira N Antunes P Santos Ramp Gamito S (2000) - Modelaccedilatildeo Participada na RiaFormosa 36 p Ediccedilatildeo Fundaccedilatildeo do Mar LisboaPortugal

77

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Vila A Dias JMA Ferreira Oacute amp Matias A (1999)- Natural evolution of an artificial inlet CoastalSedimentslsquo99 21478-1488 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI99_CS99_1478_AVpdf)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Ciavola P Matias Aamp Dias JA (2004a) - Tracer studies on the updriftmargin of a complex inlet system Marine Geology20843-72 (doi 101016jmargeo200404020)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA(2003) - The first two years of an inlet sedimentarydynamics Continental Shelf Research 231425-1445 (doi 101016S0278-4343(03)00142-0)

Vila-Concejo A Matias A Ferreira Oacute Duarte Camp Dias JA (2002) - Recent evolution of thenatural inlets of a barrier island system in southernPortugal Journal of Coastal Research (ICS 2002proceedings) SI36741-752

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Morris BD MatiasA amp Dias JA (2004b) ndash Lessons from inletrelocation examples from Southern PortugalCoastal Engineering 51(10)967-990(doi101016jcoastaleng200407019)

Vila-Concejo A Matias A Pacheco A FerreiraOacute amp Dias JA (2006) - Quantification of inlet-related hazards in barrier island systems Anexample from the Ria Formosa (Portugal)Continental Shelf Research 261045-1060(doi 101016jcsr200512014)

Weinholtz MB (1978) - Contribuiccedilatildeo para o estudo daevoluccedilatildeo das flechas de areia na costa sotavento do Algarve(Ria de Faro) Relatoacuterio da Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Wells JT amp McNinch J (1991) - Beach scraping inNorth Carolina with special reference to itseffectiveness during Hurricane Hugo Journal ofCoastal Research SI8249-261

Williams SJ (2001) - Coastal erosion and land lossaround the United States strategies to manage andprotect coastal resources ndash examples fromLouisiana Coastal Ecosystems and FederalActivities Technical Training SymposiumProceedings 15 p (disponiacutevel emhttpwwwfwsgovnc-esecoconfwilliamspaperpdf)

Page 3: Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na

59

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo geograacutefica da Ria Formosa e comunidadesFigure 1 ndash Location of Ria Formosa and communities

Figura 2 ndash Imagem de sateacutelite da Ria Formosa Peniacutensulas ilhas-barreira e barras que a constituem(adaptado de Google Earth 42 2007)Figure 2 ndash Ria Formosa satellite image showing the peninsulas barrier-islands and inlets (adapted from GoogleEarth 42 2007)

60

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

13 Morfodinacircmica

No sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa amorfodinacircmica eacute muito intensa sendo funccedilatildeo doclima de agitaccedilatildeo mariacutetima e das correntes de mareacute(Pilkey et al 1989) As taxas de crescimento dealgumas ilhas satildeo verdadeiramente notaacuteveis a niacutevelmundial Como consequecircncia desta dinacircmica osistema eacute muito vulneraacutevel respondendo de formaraacutepida e intensa agrave construccedilatildeo de obras de engenharialitoral (Dias 1988)

As praias ao longo das ilhas-barreira satildeogeralmente estreitas e o seu comportamento variaentre o reflectivo e o intermeacutedio no extremo ocidental(Martins et al 1996) e intermeacutedio a dissipativo noextremo oriental (Matias et al 1998)

As ilhas-barreira do sistema da Ria Formosa agravesemelhanccedila de grande parte dos sistemas mundiaisdeste tipo estatildeo em activa fase de migraccedilatildeo emdirecccedilatildeo ao continente muito provavelmente comoresposta agrave actual elevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do marsendo portanto um sistema do tipo transgressivoOs galgamentos oceacircnicos satildeo extremamenteimportantes neste complexo processo (Dias 1988Pilkey et al 1989)

A evoluccedilatildeo das barras eacute de modo geralcaracterizada por uma migraccedilatildeo para nascente ateacuteatingirem uma posiccedilatildeo limite na qual comeccedilam aassorear abrindo-se nova barra aproximadamente nolocal inicial (Weinholtz 1978) agrave excepccedilatildeo da Barrada Armona que se tem mantido aproximadamentena mesma posiccedilatildeo e agraves barras de Faro-Olhatildeo e deTavira que satildeo artificiais (Fig2)

As arribas localizadas a ocidente do sistemaprincipalmente as que se situam entre o Ancatildeo eOlhos de Aacutegua tecircm sido consideradas como principalelemento abastecedor de areias para o sistema(Andrade 1990a Correia et al 1997) (Fig1)

14 Importacircncia Socio-Econoacutemica e Ambiental

Devido agraves suas caracteriacutesticas naturais o sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa constitui uma aacutereade usos muacuteltiplos que providenciam benefiacutecios soacutecio-econoacutemicos e que geram conflitos na afectaccedilatildeo dosrecursos existentes tais como o turismo de massas oecoturismo a aquacultura a pesca a conservaccedilatildeo danatureza as descargas de efluentes a navegaccedilatildeo a

extracccedilatildeo de sal e de areia entre outros (Van DenBelt et al 2000)

A niacutevel ambiental assume particular importacircnciapelo que lhe foi atribuiacutedo o estatuto de ReservaNatural (decreto-lei 4578 de 2 de Maio) e mais tardede Parque Natural da Ria Formosa (decreto-lei 37387 de 9 de Dezembro) e de Rede Natura 2000procurando-se assim efectuar uma exploraccedilatildeo dosrecursos racional e sustentaacutevel

Este sistema eacute caracterizado pela diversidadefauniacutestica e floriacutestica destacando-se o facto de estaaacuterea ter no que respeita agrave avifauna uma importacircncianacional (como zona de nidificaccedilatildeo) e internacional(migraccedilatildeo e invernada) Eacute considerada uma zonahuacutemida de interesse mundial estando protegida pelasconvenccedilotildees internacionais de Ramsar e de Berna

O cordatildeo litoral que forma as ilhas-barreira servede protecccedilatildeo a uma grande diversidade de habitatstais como uma vasta aacuterea de sapal dunas zonas deaacutegua salobra zonas intertidais canais ilhotes salinaspisciculturas e cursos de aacutegua doce com vegetaccedilatildeoribeirinha Acresce referir que este sistema de ilhas-barreira eacute uacutenico na Europa a niacutevel geomorfoloacutegico

15 Situaccedilatildeo Actual

Apesar das grandes apetecircncias que apresenta paraexploraccedilatildeo pelo Homem a ocupaccedilatildeo humana na RiaFormosa sobretudo nas ilhas-barreira iniciou-sesignificativamente apenas em finais do seacuteculo XIXpor populaccedilotildees ligadas agrave actividade pesqueira(Bernardo et al 2002)

Os problemas de gestatildeo do sistema soacute surgiramcom grande amplitude a partir da deacutecada de 60 doseacuteculo XX quando a ocupaccedilatildeo (principalmente deiacutendole turiacutestica) seguindo o modelo dedesenvolvimento turiacutestico dessa eacutepoca se veio aestabelecer em aacutereas de risco permanente devido agraveerosatildeo e exposiccedilatildeo aos temporais

As caracteriacutesticas do sistema satildeo incompatiacuteveiscom uma ocupaccedilatildeo intensa e permanente Contudonas uacuteltimas deacutecadas a ocupaccedilatildeo tem reveladotendecircncia para se intensificar tornar permanente elocalizar nas zonas de maior risco colocando em causaa proacutepria sobrevivecircncia do sistema de ilhas-barreiracomo ambiente natural (Dias et al 2004)

Na frente oceacircnica a erosatildeo costeira tem sidoantropicamente amplificada Os principais causadores

61

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

que levaram o sistema da Ria Formosa a entrar emruptura foram a construccedilatildeo dos molhes da marina deVilamoura e do campo de esporotildees de Quarteira e afixaccedilatildeo artificial das barras Faro-Olhatildeo e Tavira Aerosatildeo costeira juntamente com o acreacutescimo dopisoteio veio aumentar a vulnerabilidade aogalgamento na maior parte do sistema As cerca de2000 construccedilotildees clandestinas existentes nas ilhas-barreira potenciam ainda mais o risco de galgamentopois estatildeo frequentemente edificadas sobre o cordatildeodunar frontal em zonas de elevada vulnerabilidade(Ramos amp Dias 2000)

Os sistemas de ilhas-barreira satildeo ainda muitosensiacuteveis a variaccedilotildees do niacutevel meacutedio do mar (NMM)principalmente a fases de elevaccedilatildeo deste SegundoFerreira et al (2008) os estuaacuterios e os sistemaslagunares costeiros satildeo as zonas mais afectadas pelasubida do NMM em Portugal Na Ria Formosa osimpactes socio-econoacutemicos seratildeo grandes Noentanto muitos destes impactes negativos poderatildeoser minimizados ou ateacute evitados se se tomarem asdevidas precauccedilotildees Para que isto aconteccedilagovernantes gestores e populaccedilatildeo em geral teratildeo queter em conta esta problemaacutetica nas suas decisotildees

Dias amp Taborda (1992) chegaram a um valor deelevaccedilatildeo do NMM de 15 plusmn 02mmano calculadoem Lagos no uacuteltimo seacuteculo Douglas (1995) estimounuma perspectiva global um aumento meacutedio de2mmano nos uacuteltimos 100-150 anos

Eacute principalmente durante eventos tempestivosassociados a periacuteodos de mareacutes vivas que se verificamos mais graves episoacutedios de erosatildeo costeira Estasituaccedilatildeo eacute pois agravada pela subida do NMM(Ferreira et al 2008)

16 Objectivos

Este trabalho pretende apresentar uma visatildeoactualizada do que ocorre na zona de interface entreo mar e o meio lagunar do sistema de ilhas-barreirada Ria Formosa Em particular pretende-se analisara dinacircmica e evoluccedilatildeo das barras e das ilhas-barreiraidentificar as principais aacutereas de risco e os impactesda ocupaccedilatildeo humana e discutir aspectos relacionadoscom as obras de protecccedilatildeointervenccedilatildeo realizadas emalguns locais

2 METODOLOGIA

A recolha de dados foi efectuada sobretudo porpesquisa bibliograacutefica por recolha de informaccedilotildeesem instituiccedilotildees com conhecimento particular da RiaFormosa (com maior relevacircncia para o Parque Naturalda Ria Formosa e o Instituto Portuaacuterio e dosTransportes Mariacutetimos) e por observaccedilatildeo in situ daaacuterea de estudo O software informaacutetico Google Earth- Versatildeo 42 (2007) foi tambeacutem utilizado na anaacutelisedo sistema lagunar Conquanto a aacuterea de estudo sedefina como todo o sistema lagunar da Ria Formosaa recolha de dados incidiu predominantemente nasilhas-barreira e nas barras que as delimitam

Foram definidos e individualizados oito sectoresao longo da aacuterea de estudo Cada ilha ou peniacutensulafoi definida como um sector As seis barras do sistemaforam tambeacutem definidas separadamente O sectorQuarteira ndash Praia do Garratildeo por se encontrar abarlamar do sistema da Ria Formosa foi tambeacutemanalisado uma vez que vaacuterios problemas que afectamo sistema tecircm origem nesta aacuterea Dividiram-se ossectores em partes distinguidos segundo a suaorientaccedilatildeo ndash Ocidental (W) Central (C) e Oriental(E) Em cada sector foram identificadas as zonas demaior risco analisadas as taxas de evoluccedilatildeo da linhade costa a existecircncia ou ausecircncia de ocupaccedilatildeo apresenccedila de corredores eoacutelicos e de vegetaccedilatildeo e aexistecircncia de intervenccedilotildees Para as barras foramanalisadas as caracteriacutesticas mais relevantes larguraestabilidade e taxas de migraccedilatildeo Os dados obtidospermitem analisar a evoluccedilatildeo geral do sistema de ilhas-barreira identificar as aacutereas de risco e efectuar umareferecircncia agrave intervenccedilatildeo no sistema mediante trecircsteacutecnicas intervenccedilatildeo suave intervenccedilatildeo riacutegida edemoliccedilatildeo de infra-estruturas (retirada estrateacutegica)

3 O SISTEMA DE ILHAS-BARREIRA

31 Quarteira ndash Praia do Garratildeo

Embora natildeo faccedila parte integrante do sistema daRia Formosa este sector eacute de extrema importacircnciana medida em que fornece sedimentos ao sistemaNa realidade natildeo existem sistemas isolados naNatureza e um plano de gestatildeo teraacute obrigatoriamenteque avaliar a situaccedilatildeo e os impactes previsiacuteveis abarlamar e a sotamar de qualquer intervenccedilatildeo

62

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

O sector entre Quarteira e a Praia do Garratildeoapresenta intensa actividade e ocupaccedilatildeo antroacutepicadesignadamente em Vale do Lobo (Fig1) A evoluccedilatildeodas arribas neste sector estaacute fortemente dependenteda praia subjacente que em maior ou menor grauconfere protecccedilatildeo da acccedilatildeo directa do mar Noentanto a susceptibilidade destas arribas agrave erosatildeomarinha eacute extremamente elevada (Andrade 1990aDias amp Neal 1992) Nalguns locais o recuo chegou aultrapassar 2mano ou mais (Correia et al 1997)

Ao longo da zona urbanizada de Quarteira(aproximadamente 33km) a Direcccedilatildeo Geral dePortos procedeu a obras de defesa costeiraconstruindo entre 1971 e 1974 doze esporotildees e doismolhes de acesso agrave marina de Vilamoura (o ocidentalcom 600m e o oriental com 500m) (Bettencourt1985) O aumento das taxas meacutedias de recuo nestesector parece resultar essencialmente da construccedilatildeodestas estruturas que interrompem a deriva litoralprivando as praias a nascente de sedimentos o queconsequentemente facilita o ataque das ondas agrave basedas arribas Apoacutes a construccedilatildeo dos molhes deVilamoura o recuo meacutedio anual da crista da arriba foifortemente amplificado chegando por exemplo aultrapassar nalguns pontos os 4 metros por ano noperiacuteodo 1983-1991 (Correia et al 1996)

A situaccedilatildeo em todo o sector eacute na actualidadegrave Vale do Lobo eacute o local em que o problema deerosatildeo costeira eacute mais seacuterio dada a amplitude eintensidade de ocupaccedilatildeo antroacutepica Os dadosdisponiacuteveis parecem reflectir a tendecircncia de aumentoda erosatildeo na parte oriental do sector (ateacute agora maisestaacutevel) apesar das realimentaccedilotildees efectuadas paraproteger a Praia de Vale do Lobo

32 Peniacutensula do Ancatildeo

A Peniacutensula do Ancatildeo tem cerca de 8km decomprimento e 50 a 250m de largura (Fig2) SegundoPilkey et al (1989) e Bettencourt (1994) o recuo dalinha de costa chegou a atingir valores na ordem de 1a 2mano em alguns locais

O sector Ancatildeo W (da Praia do Garratildeo agrave Praia deFaro) possui um cordatildeo dunar contiacutenuo quepraticamente eacute desprovido de ocupaccedilatildeo antroacutepicaUma arriba permanente talhada na duna marca atransiccedilatildeo entre a praia e o cordatildeo dunar o quedemonstra um recuo da linha de costa devido agrave erosatildeo

que em meacutedia atingiu 08mano entre 1989 e 2001(Ferreira et al 2006)

O sector Ancatildeo C (Praia de Faro) eacute urbanizado ecomo tal o mais problemaacutetico O niacutevel da ocupaccedilatildeohumana eacute bastante elevado (Fig3) Ateacute meados dadeacutecada de 50 a Praia de Faro era ocupada apenas poralguns pescadores natildeo havendo registos de problemasgraves para as habitaccedilotildees pois encontravam-seinstaladas junto agrave laguna e separadas do mar por umcampo dunar singular A construccedilatildeo da ponterodoviaacuteria na deacutecada de 50 foi o factor determinantepara a forte intensificaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo O cordatildeodunar apesar de afectado pela erosatildeo costeira foiquase totalmente ocupado e destruiacutedo por edificaccedilotildees(Dias et al 1997 2004)

Natildeo tendo sido possiacutevel concretizar as acccedilotildeesmiacutenimas necessaacuterias para uma ocupaccedilatildeo racional dazona (Dias et al 1997) aconteceu o que era previsiacutevelDurante o Inverno de 198990 a Praia de Faro foifustigada por temporais que provocaram graves danosnas construccedilotildees e infra-estruturas existentes uma vezque natildeo eacute suficientemente robusta para suportareventos energeacuteticos extremos (Ferreira et al 1997)Os locais onde a ocupaccedilatildeo eacute mais intensa satildeo os queapresentam maior susceptibilidade a qualquer eventoerosivo Este facto deve-se em parte agrave construccedilatildeode estruturas fixas e riacutegidas na parte superior dos perfisde praia causando a truncatura do perfil e umrebaixamento da cota dunar natildeo permitindo agrave praiadesempenhar o seu papel natural face agraves tempestades(Ferreira et al 1997)

A erosatildeo afecta os limites marinhos e lagunaresda Praia de Faro Entre 1945 e 1964 a linha de baixa-mar recuou 34m ou seja cerca de 17mano(Weinholtz 1978) Actualmente as edificaccedilotildees quetruncam o perfil de praia emersa impossibilitam quea peniacutensula tenha um comportamento naturalmigrando em direcccedilatildeo ao continente (Dias et al 1997)Por outro lado o aterro que conduz agrave ponte canalizouos fluxos de enchente e principalmente de vazanteConsequentemente a corrente na zona da ponte eacutemuito forte impedindo a acumulaccedilatildeo de sedimentosna parte interna da peniacutensula o que seria fundamentalpara permitir a migraccedilatildeo aludida

A construccedilatildeo de muros de revestimento e deoutras estruturas de protecccedilatildeo inibiram o recuo dalinha de costa embora natildeo impeccedilam a ocorrecircncia de

63

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

galgamentos Devido a estas protecccedilotildees a Praia deFaro praticamente natildeo apresentou recuo da linha decosta entre 1989 e 2001 (Ferreira et al 2006) Noentanto possui uma boa capacidade de recuperaccedilatildeosedimentar apoacutes eventos erosivos (Martins et al 1996)em apenas um ciclo de mareacute (Saacute-Pires et al 2002)

Matias et al (1997) e Duarte et al (1999) aoavaliarem a vulnerabilidade de um conjunto desistemas dunares do Algarve foram unacircnimes emidentificar a Praia de Faro como uma das zonas maisvulneraacuteveis da Ria Formosa O nuacutecleo urbano da Praiade Faro encontra-se em situaccedilatildeo de alto riscoconfinado a uma estreita faixa (normalmente commenos de 100 metros de largura) entre a laguna e ooceano As probabilidades de uma cataacutestrofeaumentam de ano para ano se considerarmos aelevaccedilatildeo do NMM e a possiacutevel ocorrecircncia de umgrande temporal que coincida com mareacute viva cheia

No sector Ancatildeo E (entre a Praia de Faro e a Barra

do Ancatildeo) a duna estaacute consideravelmente bempreservada e os perfis de praia revelam maiorcapacidade para reagir a eventos energeacuteticos exceptona margem da Barra do Ancatildeo (Ferreira et al 1997)A populaccedilatildeo consiste sobretudo em pescadores quevivem na margem da laguna

33 Barra do Ancatildeo

O limite oriental da Peniacutensula do Ancatildeo terminana Barra do Ancatildeo tambeacutem designada por Barra deSatildeo Luiacutes (Fig2) Estaacute localizada numa das aacutereas maisdinacircmicas do sistema mudando frequentemente demorfologia e posiccedilatildeo com uma tendecircncia de migraccedilatildeopara nascente a uma velocidade meacutedia de 70mano euma largura meacutedia de 260m Entre 1945 e 1996completou dois ciclos migratoacuterios (Vila-Concejo etal 2006)

Em 1997 a Barra do Ancatildeo em fase final do seuciclo de migraccedilatildeo encontrando-se muito assoreada e

Figura 3 ndash Parte central da Peniacutensula do Ancatildeo ndash Praia de Faro (de Oeste para Este) evidenciando a intensaocupaccedilatildeo sobre o cordatildeo dunar (fotografias obtidas em Novembro de 2006 pelo autor)Figure 3 ndash Aerial photo of the Ancatildeo Peninsula from West to East (central zone) ndash Beach of Faro showing the intenseoccupation on dune ridges (photos by author in November 2006)

64

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

com baixa eficiecircncia hidraacuteulica No sentido de ampliaressa eficiecircncia e proteger os interesses nesta zonaprocedeu-se agrave abertura artificial de uma nova barra(23 Junho de 1997) a cerca de 35km a W da posiccedilatildeoanterior e imediatamente a oriente das uacuteltimas casasda Praia de Faro permitindo a esta migrar novamenteno sentido nascente (Vila et al 1999) A forma e aposiccedilatildeo da nova barra natildeo foram baseadas em estudosaprofundados mas no conhecimento empiacuterico dasituaccedilatildeo (Dias et al 2003) Estudos recentes sobre aevoluccedilatildeo e dinacircmica da barra desde a sua aberturaartificial (eg Vila-Concejo et al 2002 2003 2004a2006) permitem concluir que bastaram dois anos paraque se atingisse o estado de equiliacutebrio e comeccedilasse aevoluir e a migrar naturalmente o que confirma osucesso desta intervenccedilatildeo que foi das primeiras a niacutevelmundial

34 Ilha da Barreta

A Ilha da Barreta tem um comprimento de cercade 8km e largura entre 70 e 700m (Fig2) Existempoucos estudos publicados que focam esta ilha umavez que eacute uma zona menos acessiacutevel com baixaocupaccedilatildeo antroacutepica e consequentemente menosproblemaacutetica

A parte ocidental eacute estreita de baixa elevaccedilatildeo compouca vegetaccedilatildeo e vulneraacutevel a galgamentos Narealidade corresponde agrave parte oriental da zona demigraccedilatildeo da Barra do Ancatildeo Apresenta umamorfodinacircmica semelhante agrave Peniacutensula do Ancatildeo(Pilkey et al 1989 Bettencourt 1994) e um uacutenicocordatildeo dunar com cerca de 7m de altura (Vila-Concejoet al 2006)

A complexidade deste sector aumenta de ocidentepara oriente onde a ilha jaacute apresenta um campo dunarlargo e bem vegetado Existem dois pequenosaglomerados de casas de pescadores e de apoio agrave praialocalizados na parte interna junto agrave laguna e agrave BarraFaro-Olhatildeo respectivamente

A metade oriental da ilha eacute a uacutenica que apresentaum comportamento regressivo (Vila et al 1999)proporcionando o crescimento do cordatildeo dunarfrontal (Duarte et al 1999) Este comportamento foiconsequecircncia da construccedilatildeo dos molhes da barraartificial de Faro-Olhatildeo entre 1929 e 1955 (Esaguy1986a) que interromperam a deriva litoral econsequentemente induziram a barlamar (junto ao

molhe W localizado no extremo oriental da ilha) umaacumulaccedilatildeo arenosa notaacutevel

35 Barra Faro-Olhatildeo

A Barra Faro-Olhatildeo que separa as ilhas da Barretae da Culatra foi artificialmente aberta e estabilizadapor molhes entre 1929 e 1955 num local onde existiajaacute uma barra (Barra do Bispo) relativamente larga masbastante instaacutevel (Esaguy 1986a) (Fig2) O objectivoda abertura foi o de assegurar a navegabilidade aocanal de acesso que conduz ao porto comercial deFaro bem como agraves localidades de Faro e Olhatildeo Estaintervenccedilatildeo induziu grande alargamento da parteoriental da Ilha da Barreta a barlamar e erosatildeobastante significativa da parte ocidental da Ilha daCulatra a sotamar bem como modificaccedilotildeesimportantes no comportamento hidrodinacircmicolagunar (Vila-Concejo et al 2006) Veio retirareficiecircncia hidraacuteulica agrave Barra da Armona que era abarra principal do sistema em consequecircncia do quese verificou grande estreitamento desta sendoactualmente a sua eficaacutecia extremamente reduzida

O canal da barra de Faro-Olhatildeo projectado paramanter cotas entre 4 a 45m abaixo do zerohidrograacutefico (Weinholtz 1978) foi progressivamenteficando mais fundo ateacute atingir profundidades naordem dos 40m em 2001 assim aumentando a secccedilatildeode escoamento Consequentemente surgiramproblemas de seguranccedila no que respeita agrave navegaccedilatildeodevido agraves fortes correntes de vazante e de enchente ea graves danos nos troccedilos terminais dos molhes

A abertura da barra e a construccedilatildeo dos molhesalteraram a circulaccedilatildeo hiacutedrica e os balanccedilossedimentares nesta zona do sistema A Barra Faro-Olhatildeo eacute a grande responsaacutevel pela importaccedilatildeo desedimentos para o sistema lagunar A entrada de140000m3ano de sedimentos (Pacheco et al 2007)poderaacute estar relacionada com as intensas dragagensefectuadas no canal de navegaccedilatildeo no interior dosistema recomendando-se que sejam apenasrealizadas de modo a manter as condiccedilotildees denavegabilidade

36 Ilha da Culatra

A Ilha da Culatra tem aproximadamente 7km decomprimento estando a ocupaccedilatildeo humanaconcentrada em trecircs povoaccedilotildees (Farol Hangares e

65

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Culatra) que soacute podem ser atingidas por barco (Fig4)A evoluccedilatildeo recente da ilha e das barras que a limitamfoi alvo de estudo de diversos autores (eg Granja1984 Esaguy 1984 1986a Dias 1988 Pilkey et al1989 Andrade 1990a Garcia et al 2002 Vila-Concejoet al 2002) Eacute consensual que os molhes da BarraFaro-Olhatildeo foram responsaacuteveis por uma profundaalteraccedilatildeo da hidrodinacircmica do sistema e alteraccedilotildeessignificativas na Ilha da Culatra Segundo Garcia et al(2002) as principais consequecircncias foram ocrescimento muito raacutepido para oriente da ilha e aampliaccedilatildeo do recuo da linha de costa na zonaocidental

A linha de costa da extremidade ocidental da ilhaonde se localiza a povoaccedilatildeo do Farol estaacutecompletamente artificializada (molhe oriental da barraenrocamento longitudinal construiacutedo para protecccedilatildeodas edificaccedilotildees e estabilizaccedilatildeo da linha de costa e umesporatildeo no limite oriental da povoaccedilatildeo) Neste sectora ilha eacute relativamente estreita com uma duna de decliveacentuado paralela agrave linha de costa evidenciandocarecircncia de sedimentos (Garcia et al 2002) o que setorna problemaacutetico pois que esta zona se encontraintensamente ocupada

A morfologia do sector central reflecte aalternacircncia de cordotildees dunares e canais de mareacute Naprimeira metade do seacuteculo XX a margem ocidentalda barra da Armona (que era a principal do sistema)localizava-se junto agrave povoaccedilatildeo da Culatra tendo aiacutesido construiacutedas as instalaccedilotildees do Instituto deSocorros a Naacuteufragos onde estava sedeado o botesalva-vidas Estas instalaccedilotildees haacute muito que perderampor completo a sua funcionalidade estandoactualmente convertidas num Centro Social dapovoaccedilatildeo A ocupaccedilatildeo apenas ocorre na margemlagunar da ilha e consequentemente natildeo estaacute sujeitaa problemas significativos de erosatildeo costeira

O sector oriental que se constituiu essencialmentea partir de meados do seacuteculo XX eacute despovoado Estecrescimento da ilha estaacute provavelmente relacionadocom a modificaccedilatildeo da hidrodinacircmica do sistemadevido agrave construccedilatildeo da Barra de Faro-OlhatildeoApresenta corpo dunar pouco desenvolvido e elevadasusceptibilidade a galgamentos (Andrade et al 1998Garcia et al 2002 Vila-Concejo et al 2006)

37 Barra da Armona

A Barra da Armona que separa as ilhas da Culatra

Figura 4 ndash Panoracircmica da Ilha da Culatra e Barra de Faro-Olhatildeo vista de Oeste na foto satildeo visiacuteveis as povoaccedilotildeesdo Farol Hangares e Culatra (fotografia obtida em Novembro de 2006 pelo autor)Figure 4 ndash Oblique aerial photo from West of the Culatra Island and Faro-Olhatildeo Inlet showing the Farol Hangares andCulatra communities (photo by author in November 2006)

66

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

e da Armona eacute considerada a uacutenica barra estaacutevel dosistema em termos de localizaccedilatildeo (Pilkey et al 1989)e a que apresenta o delta de vazante mais desenvolvido(Dias et al 1997) (Fig2) Era a principal barra dosistema mas o crescimento da ilha da Culatra temprovocado o seu estreitamento progressivo Entre1873 e 1983 a barra estreitou cerca de 2500mpassando de uma largura de 4300m para 1850m(Esaguy 1984) A maior taxa de estreitamento entre1950 e 1977 estaacute provavelmente relacionada com aconclusatildeo da abertura da Barra de Faro-Olhatildeo (Vila-Concejo et al 2002) Na actualidade apresenta umalargura de cerca de 200m

38 Ilha da Armona

A Ilha da Armona tem comprimento aproximadode 9km e largura maacutexima de cerca de 1400m naextremidade SW (Fig2) A parte ocidental apresentaum longo cordatildeo dunar frontal de 8 a 9m A deposiccedilatildeode sedimento a ocidente eacute um fenoacutemeno uacutenico emtodo o sistema da Ria Formosa (Pilkey et al 1989) econtribui para o estreitamento da Barra da ArmonaA parte oriental apresenta um cordatildeo dunar poucodesenvolvido e elevada susceptibilidade ao galgamento(Andrade et al 1998)

Na zona mais larga a ocidente encontra-se apovoaccedilatildeo da Armona Progressivamente a largura dailha vai diminuindo para oriente sendo o cordatildeo dunarrobusto e bem vegetado ateacute agrave zona fronteira agravepovoaccedilatildeo da Fuzeta (Fig1)

Nesta zona bastante estreita e sujeita agalgamentos oceacircnicos onde se localizava a Barra daFuzeta em meados do seacuteculo XX encontra-se umconjunto de casas (construiacutedas ilegalmente) comutilizaccedilatildeo natildeo permanente Ramos amp Dias (2000)apontam esta ocupaccedilatildeo como um dos casos maiscriacuteticos do sistema por se localizar numa zona comelevada vulnerabilidade ao galgamento

39 Barra da Fuzeta

A Barra da Fuzeta que separa as ilhas da Armonae de Tavira tem actualmente cerca de 250m de largura(Fig2) Apresenta normalmente evoluccedilatildeo muitoraacutepida (Dias et al 1997) Entre 1945 e 1996 registouuma taxa de migraccedilatildeo meacutedia de cerca de 65mano(Vila-Concejo et al 2006) Natildeo satildeo conhecidos valoresexactos da extensatildeo ou duraccedilatildeo do ciclo de migraccedilatildeo

Contudo de acordo com Vila-Concejo et al (2002) ociclo completo dura pelo menos 50 anos e a barramigra no total mais de 3500m Esta migraccedilatildeo podeser progressiva ou intermitente (Dias et al 1997)

Agrave semelhanccedila da Barra do Ancatildeo procedeu-se agraveabertura artificial de uma nova Barra da Fuzeta emJulho de 1999 Poreacutem devido aos condicionamentosimpostos pelas casas existentes frente agrave povoaccedilatildeo daFuzeta foi aberta apenas a cerca de 800m a ocidenteda posiccedilatildeo que ocupava em 1996 Parte do sedimentodragado foi utilizada para fechar artificialmente aantiga barra No entanto esta intervenccedilatildeo natildeo obtevemuito sucesso devido ao aumento de sinuosidade docanal apoacutes a abertura De acordo com os resultadosde Vila-Concejo et al (2004b) o canal atingiu oequiliacutebrio dinacircmico em Julho de 2000

310 Ilha de Tavira

A Ilha de Tavira eacute a maior do sistema com cercade 11km de comprimento e 800m de largura maacuteximana parte central (Fig2) Esta ilha estreitaprogressivamente para SW onde existem sinais deforte erosatildeo e de frequentes galgamentos No entantoo campo dunar eacute na generalidade moderadamentelargo e elevado constituiacutedo por vaacuterios cordotildeesdunares A Ilha de Tavira exceptuando a extremidadeSW eacute considerada uma das mais ldquoestaacuteveisrdquo do sistemada Ria Formosa natildeo existindo indiacutecios de processosdestrutivosconstrutivos relacionados com amigraccedilatildeo de barras Apresenta poreacutem algunscorredores eoacutelicos junto agraves zonas de maior ocupaccedilatildeodevido ao pisoteio e na parte central na zonaenvolvente ao Arraial do Barril verificou-se um recuoda linha de costa entre 1976 e 2001 de 02 a 13mano (Garcia et al 2005)

A extremidade oriental da ilha estaacute estabilizadaartificialmente pelos molhes da Barra de Tavira o quelevou agrave acumulaccedilatildeo de sedimentos a ocidente dabarra numa extensatildeo de cerca de 1000m A partemais vulneraacutevel da zona NE situa-se junto ao Canalde Tavira artificial pois que a sua posiccedilatildeo tem sidomantida atraveacutes de dragagens e traccediladomeandriforme Neste local a ilha tecircm apenas cerca de150m de largura

A Ilha de Tavira apresenta duas zonas de ocupaccedilatildeoo Arraial do Barril (antiga infra-estrutura de pesca doatum convertida em apoio de praia) e a Praia de Tavira

67

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

onde se situam estruturas de apoio com algumaenvergadura designadamente um parque decampismo (Fig1) Na actualidade apesar dos impactesantroacutepicos serem elevados satildeo concentrados elimitados Segundo Dias et al (2004) o Arraial doBarril pode ser apontado como um bom exemplo deexploraccedilatildeo turiacutestica sustentaacutevel natildeo haacute habitaccedilatildeopermanente o acesso eacute efectuado por uma pontepedonal e por um pequeno comboio ou pelo passeioque o ladeia (o que evita impactes generalizados) asantigas instalaccedilotildees da companhia de pesca queestavam abandonadas tiveram reaproveitamentolucrativo Contudo o cordatildeo dunar frontal estaacute sujeitoa alguma erosatildeo e a pequenos galgamentos oceacircnicosdetectando-se tambeacutem alguns corredores eoacutelicos episoteio moderado A previsatildeo da localizaccedilatildeo da linhade costa em 2050 considerando a aceleraccedilatildeo daelevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar e a eventualocorrecircncia de um temporal com periacuteodo de retornode 50 anos indica que eacute expectaacutevel um recuo da ordemdos 70m ou seja que atingiraacute as edificaccedilotildees aiacuteexistentes (Ferreira et al 2006)

311 Barra de Tavira

A Barra de Tavira artificial separa as ilhas deTavira e de Cabanas e tem largura de 60m (Fig2) Foiaberta artificialmente em 1927 quase em frente agrave fozdo Rio Gilatildeo conduzindo ao encerramento da antigabarra em 1930 (Vila-Concejo et al 2006) Os dadosdisponiacuteveis sugerem uma velocidade de migraccedilatildeo daantiga barra de cerca de 40mano (Weinholtz 1978)A barra artificial teve que ser sujeita a vaacuterias operaccedilotildeesde dragagem entre 1930 e 1935 e estabilizada pordois esporotildees em 1936 devido ao constanteassoreamento (Esaguy 1987) Um ciclone ocorridoem 1941 abriu uma nova barra a cerca de 1100m aEste da barra artificial (Barra do Cochicho-Almargem) a qual rapidamente alargou e comeccedilou amigrar para oriente A existecircncia da nova barra levouao aumento do assoreamento da Barra de Tavira queteve que ser reaberta em 1961 face agraves dificuldades denavegaccedilatildeo Posteriormente foram efectuadas diversasobras de dragagem estabilizaccedilatildeo e fortalecimento dediques no sentido de diminuir o assoreamento(Esaguy 1987) A eficiecircncia hidrodinacircmica da Barrade Tavira eacute muito pequena representando cerca de4 do prisma de mareacute total do sistema (Andrade1990a)

312 Ilha de Cabanas

A Ilha de Cabanas eacute a ilha mais oriental e a maispequena do sistema com um comprimento de cercade 6km e uma largura maacutexima de 300m (Fig2) Narealidade constitui a extremidade natural da Ilha deTavira tendo sido convertida numa ilha autoacutenomapela abertura artificial da Barra de Tavira (Dias 1988)Foi completamente destruiacuteda durante o ciclone de1941 e novamente no decurso de um violentotemporal em 1961 os quais provocaram extensosgalgamentos oceacircnicos e a formaccedilatildeo de uma novabarra (Barra de Cabanas) para aleacutem da Barra doCochicho-Almargem as quais juntas formaram umaabertura uacutenica com cerca de 2500m de extensatildeo apartir da meia mareacute (Matias 2000)Consequentemente o cordatildeo dunar eacute relativamenterecente fraacutegil e elevando-se apenas a uma cota meacutediade 25m (Dias et al 2003)

A Ilha de Cabanas foi a primeira zona a serintervencionada ao abrigo do programaldquoRequalificaccedilatildeo do sistema lagunar da Ria Formosardquoentre Abril e Junho de 1999 Natildeo existem estimativasda quantidade de sedimentos perdidos para o marNo entanto os dragados usados na realimentaccedilatildeoeram grosseiros ajudando agrave naturalizaccedilatildeo dos aterrosefectuados (Saacute-Pires et al 2001) Aleacutem destaintervenccedilatildeo foi construiacutedo mais um pequeno esporatildeoa oriente da Barra de Tavira pelo que a erosatildeo que aiacutese verifica ficou atenuada pela existecircncia de doisesporotildees As intervenccedilotildees parecem ter sidodeterminantes na protecccedilatildeo da praia uma vez quenatildeo se tecircm registado galgamentos ou erosatildeo do cordatildeodunar nos locais intervencionados os mesmosapresentam alguma colonizaccedilatildeo por vegetaccedilatildeopioneira (Saacute-Pires et al 2001) No entanto uma vezque a realimentaccedilatildeo foi localizada e o cordatildeo dunareacute de baixa altitude as intervenccedilotildees natildeo impedem quenum futuro proacuteximo ocorram galgamentossobretudo junto aos apoios de praia existentes

313 Barra do Laceacutem

A Barra do Laceacutem corresponde agrave barra natural dolimite Este da Ilha de Tavira se esta natildeo fosseinterrompida pela barra artificial de Tavira (Fig2)Vaacuterios autores documentaram a evoluccedilatildeo da mesma(eg Weinholtz 1978 Esaguy 1986b Dias 1988

68

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Pilkey et al 1989 Andrade 1990a Bettencourt 1994Matias 2000 Vila-Concejo et al 2002) A barra separaa Ilha de Cabanas e a Peniacutensula de Cacela deriva dajunccedilatildeo em 1985 das Barras de Cochicho-Almargem(aberta pelo ciclone de 1941) e de Cabanas (abertapelo temporal de 1961) (Esaguy 1986b) A velocidademeacutedia de migraccedilatildeo da barra tem sido de 97mano(Vila-Concejo et al 2006)

Mais recentemente em 2004 abriu-se uma novabarra natural localizada a oriente da antiga Barra doLaceacutem A nova barra conduziu ao assoreamento daantiga Barra do Laceacutem com o seu consequenteencerramento

314 Peniacutensula de Cacela

A Peniacutensula de Cacela localiza-se no extremooriental da Ria Formosa Tem cerca de 3km decomprimento e entre 100 a 250m de largura (Fig2)

Em 1976 a cota meacutedia do cordatildeo dunar singularrobusto e vegetado era de 34m atingindo um maacuteximode 61m (Esaguy 1986c) A posterior degradaccedilatildeo doscorpos dunares devido ao pisoteio conduziu a umgrande aumento da frequecircncia de galgamentos (Diaset al 2004) Em 1990 Andrade (1990b) verificou quea Peniacutensula de Cacela apresentava um maacuteximo desusceptibilidade a galgamentos oceacircnicos De factodurante o Inverno de 19951996 ocorreramgalgamentos generalizados em quase toda a peniacutensulaque conduziram agrave abertura de uma nova barra nocentro da mesma (Barra da Faacutebrica) a qual emOutubro de 1996 chegou a ter cerca de 35m de largurae uma profundidade de 07m (Matias et al 2004) Casonatildeo se efectuasse qualquer intervenccedilatildeo era de preverque as dunas remanescentes desaparecessem porcompleto

Assim no sentido de diminuir a vulnerabilidade agalgamentos e de manter a produccedilatildeo de bivalves(actividade econoacutemica mais importante da zona)foram efectuadas entre Outubro de 1996 e Fevereirode 1997 grandes intervenccedilotildees que consistiramprincipalmente na ldquoreconstituiccedilatildeordquo do cordatildeo dunarda Peniacutensula de Cacela na colmataccedilatildeo da Barra daFaacutebrica e na dragagem da Barra do Laceacutem e do canallagunar (Ramos amp Dias 2000 Matias et al 2005) Oobjectivo era elevar a cota do topo do cordatildeo dunarateacute aos 75m acima do Zero Hidrograacutefico (ZH)reconstituindo uma situaccedilatildeo semelhante agrave existente

nos anos 60 (Ramos amp Dias 2000) Todavia devidoagrave existecircncia de formaccedilotildees consolidadas queimpossibilitaram a dragagem agraves cotas inicialmenteestabelecidas a quantidade de sedimentos repulsadospara a peniacutensula foi bastante inferior ao previstoestimando-se que o material deposto no cordatildeo dunartenha atingido apenas 325000m3 (Ramos amp Dias2000) Tal obrigou agrave reformulaccedilatildeo do projectoelevando-se a cota de topo da duna apenas para os5m acima do ZH Segundo Matias et al (1999) cercade 32 do sedimento depositado perdeu-seimediatamente apoacutes a deposiccedilatildeo no cordatildeo arenosoTal verificou-se devido aos processos de acomodaccedilatildeodo perfil de praia submerso mas tambeacutem porquegrande parte do material natildeo apresentava agranulometria adequada Depois da realimentaccedilatildeo avegetaccedilatildeo pioneira comeccedilou rapidamente a colonizara duna reconstituiacuteda (Matias et al 2004)

Outras intervenccedilotildees tecircm vindo a ser efectuadasdepois do robustecimento do cordatildeo dunar foramconstruiacutedos passadiccedilos de madeira procedeu-se agravecolocaccedilatildeo de paliccediladas no sentido de propiciar odesenvolvimento de dunas naturais e agrave plantaccedilatildeo deAmmophila arenaria Posteriormente entre Abril de1999 e Julho de 2000 efectuaram-se em quase todoo sistema novas dragagens nos canais natildeoconsiderados de navegaccedilatildeo integradas no Projectode Requalificaccedilatildeo do Sistema Lagunar com oobjectivo de intensificar a circulaccedilatildeo assim mantendoas condiccedilotildees ecoloacutegicas do sistema Nesta intervenccedilatildeovoltou-se a dragar a Barra do Laceacutem em Junho de1999 Segundo Ramos amp Dias (2000) as intervenccedilotildeesatingiram os objectivos tendo a vulnerabilidade aogalgamento sido drasticamente reduzida e do ladonascente verificando-se o estabelecimento dasucessatildeo fitogeneacutetica conferindo um aspecto naturalao novo cordatildeo dunar

Mais recentemente na parte central da zonaintervencionada verificou-se erosatildeo completa daldquodunardquo reconstruiacuteda o que tinha sido previsto nosestudos de monitorizaccedilatildeo realizados no decurso eimediatamente apoacutes a intervenccedilatildeo tendo-se na alturasugerido a possibilidade de nova pequena intervenccedilatildeopontual Todavia quando se verificou a ruptura natildeohouve possibilidades de efectuar essa pequenaintervenccedilatildeo pelo que se abriu naturalmente novabarra o que nos uacuteltimos anos provocou a colmataccedilatildeo

69

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

da antiga barra e erosatildeo de grande parte das ldquodunasrdquoreconstruiacutedas no final do seacuteculo XX

4 DISCUSSAtildeO

41 Evoluccedilatildeo Geral do Sistema

Como se deduz dos pontos anteriores o sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa eacute extremamentedinacircmico e como tal bastante vulneraacutevel As taxasde crescimento longitudinal de algumas ilhas satildeo dasmais notaacuteveis a niacutevel mundial (Dias et al 1997)

Segundo Pilkey et al (1989) os principais processosque contribuem para a evoluccedilatildeo das ilhas-barreira daRia Formosa satildeo (1) recuo da linha de costa (2) derivalitoral (3) galgamentos oceacircnicos (4) formaccedilatildeo decorpos dunares e de estabelecimento da respectivavegetaccedilatildeo (5) constituiccedilatildeo de deltas de mareacute e suaagregaccedilatildeo agraves ilhas (6) comportamento das barras e(7) erosatildeoacumulaccedilatildeo provocada pelas mareacutes-vivasdesignadamente nos canais de mareacute

Recuo da linha de costaOs valores observados na evoluccedilatildeo da linha de

costa indicam a existecircncia de recuo generalizado dasilhas e peniacutensulas (com excepccedilatildeo das zonasimediatamente a barlamar dos molhes das barras denavegaccedilatildeo) a qual varia consoante a localizaccedilatildeogeograacutefica e a interacccedilatildeo com os processos oceacircnicosA linha de costa move-se em resposta aos factoresnaturais de forma a manter o equiliacutebrio (Williams2001) O recuo da linha de costa eacute mais acentuadonos extremos do sistema e na parte ocidental das ilhase peniacutensulas Na parte central do sistema e nosextremos orientais das ilhas verifica-se algumaacreccedilatildeo Nas duas aacutereas mais intensamente ocupadas(Praia de Faro e Farol) existe estabilizaccedilatildeo da linha decosta devido a artificializaccedilatildeo desta com estruturasfixas de engenharia costeira A acreccedilatildeo verificada aoriente das ilhas da Barreta e de Tavira deve-se agravedeposiccedilatildeo de sedimentos a barlamar dos molhes dasbarras artificiais

Deriva litoralTorna-se evidente que o sistema da Ria Formosa

tem grande carecircncia de sedimentos principalmentenalgumas zonas mais expostas Contudo grande partedeste problema tem origem a barlamar do sistemaonde foram construiacutedos os molhes da marina deVilamoura e o campo de esporotildees de Quarteira que

interromperam a deriva litoral provocando a orienteintensificaccedilatildeo da erosatildeo nas arribas situadas entreQuarteira e a Praia do Garratildeo Actualmente as arribassatildeo o principal elemento abastecedor de areias aosistema da Ria Formosa (Correia et al 1997) Noentanto estas natildeo chegam para colmatar as carecircnciassedimentares do sistema da Ria Formosa o quesignifica que se forem construiacutedas obras riacutegidas deengenharia costeira neste sector se verificaraacuteintensificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico do sistemaampliando o grau de ruptura em que este jaacute seencontra Um exemplo que ilustra esta vulnerabilidadefoi a conclusatildeo da construccedilatildeo dos molhes da barraartificial de Faro-Olhatildeo em meados do seacuteculopassado que induziu grandes alteraccedilotildees com efeitosdraacutesticos no suprimento de sedimento agrave parte orientalNa realidade a abertura desta barra estabilizada pelosmolhes respectivos fez com que o sistema naturalentrasse em ruptura modificando radicalmente ascaracteriacutesticas hidro-sedimentoloacutegicas Segundo Dias(1990) as uacutenicas acccedilotildees de protecccedilatildeo realmenteeficazes satildeo as que possibilitam a reconstituiccedilatildeo daderiva litoral com os consequentes volumes desedimentos necessaacuterios

Galgamentos oceacircnicosAs ilhas-barreira da Ria Formosa satildeo

periodicamente sujeitas a galgamentos oceacircnicosdurante temporais de SW e SE Estes galgamentosconstituem um elemento muito importante nadinacircmica e na evoluccedilatildeo natural do sistemacontribuindo com fornecimento de sedimentos parao interior da laguna e abertura de novas barras quandoas antigas jaacute natildeo apresentam eficiecircncia (Andrade1990a) Tecircm sido assumidos como principalmecanismo de migraccedilatildeo das ilhas-barreira(Leatherman 1976 Bray amp Carter 1992) induzindoum efeito construtivo de acreccedilatildeo (Matias et al 2003)Assim sendo a gestatildeo deve integrar uma adaptaccedilatildeoaos galgamentos naturais uma vez que satildeo vitais parao funcionamento natural do sistema

Do ponto de vista da ocupaccedilatildeo os galgamentosoceacircnicos satildeo um factor importante que necessita deser avaliado para propiciar uma gestatildeo mais eficazuma vez que induz seacuterios danos nas infra-estruturasexistentes (Andrade et al 1998) Verifica-se que ospontos mais vulneraacuteveis a galgamentos satildeo a Praia deFaro Barreta W Culatra E Armona E Tavira W toda

70

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

a Ilha de Cabanas e a Peniacutensula de Cacela Nesteslocais mesmo a ocorrecircncia de pequenos temporaisdurante a preia-mar de mareacutes vivas podem provocargalgamentos Alguns pontos como a Ilha de Cabanase a Peniacutensula de Cacela viram reduzida avulnerabilidade a galgamentos apoacutes as intervenccedilotildeesefectuadas com algum sucesso embora essavulnerabilidade comece a ser actualmente elevada nosegundo caso devido aos factos aludidos mais acimaEm geral os locais de maior vulnerabilidade satildeo osque apresentam perfis de praia de pouca inclinaccedilatildeocordatildeo dunar fraacutegil e proximidade das barras

Cordatildeo dunar e vegetaccedilatildeo dunarAo longo das ilhas existiu um cordatildeo dunar frontal

contiacutenuo com 5 a 10m de altura sem cortes eoacutelicos ede galgamento muito significativos e bem cobertosde vegetaccedilatildeo (Pilkey et al 1989) No entanto o cordatildeodunar encontra-se na actualidade completamenteocupado em alguns locais por edificaccedilotildees comoacontece na Praia de Faro na povoaccedilatildeo do Farol e naIlha da Armona A vegetaccedilatildeo tornou-se escassa natildeosomente nas zonas ocupadas mas tambeacutem noutroslocais como na parte ocidental da Ilha da Barreta ena oriental das ilhas da Armona e da Culatra

Com a crescente pressatildeo antroacutepica exercida sobreo sistema especialmente para fins balneares verifica-se que em vaacuterios locais a quantidade de cortes eoacutelicostem aumentado devido ao pisoteio Este facto podeconduzir em periacuteodos de agitaccedilatildeo mariacutetima maisenergeacutetica agrave ocorrecircncia de galgamentos oceacircnicosRamos amp Dias (2000) referem que grande parte doscortes de galgamento oceacircnico do sistema da RiaFormosa eacute devido ao pisoteio dos corpos dunares enatildeo a causas naturais

A instalaccedilatildeo intensiva nos uacuteltimos anos depaliccediladas para recuperaccedilatildeo dunar complementadacom plantaccedilatildeo de vegetaccedilatildeo tiacutepica destes ambientescorresponde a uma acccedilatildeo de gestatildeo com efeitos muitopositivos com a qual se tem conseguido robustecero cordatildeo dunar do sistema

Deltas de mareacuteA incorporaccedilatildeo de deltas de enchente e posterior

migraccedilatildeo ou encerramento da barra respectivaconstitui importante mecanismo de evoluccedilatildeo dasilhas-barreira estando na origem da grande larguradas ilhas da Armona e de Tavira (Pilkey et al 1989)

A formaccedilatildeo de deltas de enchente em associaccedilatildeo comos galgamentos oceacircnicos contribui para a migraccedilatildeodas ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continente o quepoderaacute estar a suceder com o caso particular daPeniacutensula de Cacela (Andrade et al 2004)

Comportamento das barrasA Ria Formosa eacute caracterizada por apresentar

elevadas taxas de migraccedilatildeo das barras A estabilizaccedilatildeode duas das barras no sector oriental provocou fortesmodificaccedilotildees na dinacircmica do sistema Segundo Vila-Concejo et al (2002) a estabilizaccedilatildeo da Barra Faro-Olhatildeo (1929-1955) teve maiores consequecircncias nasbarras do Ancatildeo e da Armona enquanto que aabertura artificial da Barra de Tavira (1927-1985)produziu maiores efeitos nas barras da Fuzeta e doLaceacutem

A Barra da Armona era a principal barra dosistema controlando a maior parte da circulaccedilatildeo daRia Formosa na parte central Com a abertura da BarraFaro-Olhatildeo projectada para manter profundidadesentre-molhes da ordem de 45m ZH mas queprogressivamente se foi aprofundando ateacuteprofundidades superiores a 40 metros as trocashiacutedricas com o oceano passaram a efectuar-sepredominantemente por esta barra Os molhesprovocaram grande acumulaccedilatildeo a barlamar pelo quenos 12 anos seguintes agrave sua construccedilatildeo a Ilha daBarreta registou alargamento superior a 220 metrosna zona por eles influenciada (Bettencourt 1985) Emconsequecircncia a barra da Armona perdeu eficaacuteciareduzindo progressivamente largura e profundidadeNos anos 80 do seacuteculo XX tinha ainda cerca de 2000metros de largura mas actualmente essa largura eacuteapenas da ordem de 200 metros

O sentido de migraccedilatildeo das barras natildeo estabilizadaseacute para oriente (agrave excepccedilatildeo da Barra da Armona quetem mantido a sua posiccedilatildeo) Essa migraccedilatildeo efectua-se quer progressivamente (mantendo ou natildeo a largura)ou por ldquosaltosrdquo na sequecircncia de temporais em quenova barra se abre em geral a sotamar da barraexistente seguindo-se frequentemente a posteriorcolmataccedilatildeo desta (Dias 1988 Pilkey et al 1989Andrade et al 1998)

Erosatildeo provocada pelas mareacutes-vivasA Ria Formosa eacute um sistema lagunar com uma

grande aacuterea de zona intertidal (cerca de 13 do total

71

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

da aacuterea) Em cada ciclo de mareacute 50 a 75 da aacutegua eacuterenovada (Sprung 1994) Devido agrave diferenccedila deamplitude entre mareacutes-vivas e mareacutes-mortas as zonasde menor elevaccedilatildeo das ilhas-barreira satildeo regularmenteinundadas durante as primeiras causando transportesignificativo de sedimentos Estes fluxos satildeoresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo de canais de mareacute eaumento da erosatildeo das ilhas-barreira

Como jaacute foi referido os periacuteodos de mareacutes-vivassatildeo bastante problemaacuteticos especialmente noInverno na medida em que potenciam o efeito detempestades que ocorrem durante mareacutes-cheiasTodos os anos nos pontos criacuteticos do sistema comoa Praia de Faro a probabilidade de ocorrer umasituaccedilatildeo muito grave aumenta principalmente se seconsiderar a elevaccedilatildeo do NMM

42 Intervenccedilatildeo

Como eacute reconhecido por Scheele amp Westen (1996)os planos de gestatildeo costeira devem apontar para aprotecccedilatildeo ambiental de longo prazo o que implica(1) uma estrateacutegia com objectivos claros e concisos(2) uma metodologia praacutetica e realista (3)monitorizaccedilatildeo contiacutenua (4) forte aposta nosprogramas de educaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo ambiental e(5) envolvimento da comunidade local no processode planeamento e tomada de decisotildees

Sendo a Ria Formosa um sistema muito dinacircmicocom elevada vulnerabilidade e que reage rapidamentea elevaccedilotildees do niacutevel do mar os muacuteltiplos interesseseconoacutemicos e sociais aiacute existentes fazem com que aaacuterea seja caracterizada por elevado grau de conflitosde interesses A situaccedilatildeo torna-se ainda mais complexaquando se considera que o sistema corresponde a umParque Natural onde haacute que compatibilizar interesseseconoacutemicos com a conservaccedilatildeo da Natureza Nestecontexto soacute eacute possiacutevel proceder agrave conservaccedilatildeo daNatureza atraveacutes de intervenccedilotildees tendentes a minoraros impactes negativos induzidos pelas actividadesantroacutepicas (Ramos amp Dias 2000)

De acordo com as actividades desenvolvidas osprincipais grupos de interesse na Ria Formosa satildeo(1) o PNRFICNB (2) a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeoe Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR-Algarve) (3) as entidades promotoras do turismo (4)as associaccedilotildees comerciais e industriais (incluindo oporto) (5) os pescadores e autoridades responsaacuteveis

por este sector (6) as entidades regionais e locais (7)as associaccedilotildees de defesa do ambiente e osambientalistas e (8) a populaccedilatildeo local incluindoresidentes e natildeo residentes Como sugere Antunes etal (2006) o entendimento entre os diferentes gruposconduz a uma sinergia que beneficia as potencialidadesque contribuem para uma gestatildeo eficaz

Os principais problemas das ilhas-barreira estatildeolocalizados nos nuacutecleos urbanos devido agraves estruturasedificadas Dos principais nuacutecleos existentes apenasos de Hangares e Culatra natildeo tecircm problemas erosatildeocosteira pois que se localizam junto agrave parte lagunar(e consequentemente afastados da praia oceacircnica eportanto resguardados dos temporais) Os restantespoacutelos de ocupaccedilatildeo (Praia de Faro Farol etc) satildeoproblemaacuteticos sendo os riscos de inundaccedilatildeo e erosatildeobastante elevados Para resolver estes problemasexistem fundamentalmente trecircs estrateacutegias deintervenccedilatildeo (1) intervenccedilatildeo riacutegida (ex esporotildeesparedotildees) (2) retirada estrateacutegica programas natildeoestruturais (ex demoliccedilatildeo de infra-estruturas) e (3)intervenccedilatildeo suave (ex realimentaccedilatildeo de praias) (Pilkeyamp Dixon 1996) Qualquer uma destas estrateacutegias temproacutes e contras sendo praticamente impossiacutevel quequalquer uma delas satisfaccedila todos os grupos deinteresse afectados

Intervenccedilatildeo riacutegidaAteacute haacute poucas deacutecadas em todo o mundo a

construccedilatildeo de estruturas riacutegidas e permanentesconstituiu o meacutetodo mais utilizado de protecccedilatildeo dopatrimoacutenio edificado no litoral Embora estasestruturas se revelem eficazes na defesa de imobiliaacuterioem risco de ser danificado pela erosatildeo costeiraprovocam fortes impactes negativos a sotamar dolocal onde satildeo construiacutedas (Inman 1978 Mangor1998 Greene 2002) pelo que internacionalmente severifica tendecircncia para adoptar outros tipos deprotecccedilatildeo ambientalmente menos agressivos

A construccedilatildeo dos molhes da marina de Vilamourae do campo de esporotildees de Quarteira provocou forteaumento da erosatildeo a oriente e consequentementegraves problemas de gestatildeo Por outro lado a aberturae fixaccedilatildeo das barras de Faro-Olhatildeo e de Tavira parapropiciar melhor funcionamento das estruturasportuaacuterias existentes no meio lagunar econsequentemente beneficiar as actividades socio-econoacutemicas da regiatildeo provocaram grandes alteraccedilotildees

72

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

no sistema fazendo com que o seu funcionamentonatural tivesse entrado em ruptura e que a erosatildeocosteira tivesse sido fortemente amplificada a sotamarComo se veraacute na parte dedicada agraves intervenccedilotildeessuaves a utilizaccedilatildeo de teacutecnicas de transposiccedilatildeo dosmolhes (ldquoby-passingrdquo) permitiria reduzirsubstancialmente alguns destes impactes negativos

A construccedilatildeo de mais estruturas riacutegidas na RiaFormosa (ou a barlamar desta) traduzir-se-ia numaforte amplificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico em queo sistema jaacute se encontra tendendo a meacutedio ndash longoprazo para a completa artificializaccedilatildeo da Ria Formosaconsignada por legislaccedilatildeo nacional como ParqueNatural e reconhecida internacionalmente comoimportante aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental

Retirada estrateacutegica Programas natildeo estruturaisOs programas natildeo estruturais satildeo intervenccedilotildees em

que se procede agrave demoliccedilatildeo de infra-estruturasameaccediladas pela erosatildeo costeira ou transferecircncia dasmesmas para locais mais seguros o que eacute tambeacutemconhecido como ldquoretirada estrateacutegicardquo Viabiliza-seassim a evoluccedilatildeo natural dos sistemas Com amigraccedilatildeo das ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continentecomo resposta agrave elevaccedilatildeo do NMM este tipo deintervenccedilatildeo comeccedilou por ser aplicado em algunslocais da costa Leste dos EUA em 1972 (NRC 1995)A deslocalizaccedilatildeo de infra-estruturas pode ser eficazem locais pouco povoados ou quando existe interessena salvaguarda de patrimoacutenio como aconteceu como farol do Cabo Hatteras nos EUA No entantotorna-se impraticaacutevel em grandes nuacutecleos urbanosdevido aos elevados custos e dificuldades logiacutesticas

Na Ria Formosa este tipo de intervenccedilatildeo temencontrado grandes dificuldades de execuccedilatildeodesignadamente no que se refere agrave demoliccedilatildeo de casasconstruiacutedas ilegalmente em Domiacutenio Hiacutedrico Domiacutenio Puacuteblico Mariacutetimo o que aleacutem de tender aperpetuar situaccedilotildees de muito alto risco potildee em causaa imagem do Paiacutes como Estado de direito (Dias 2002)

Intervenccedilatildeo SuaveA intervenccedilatildeo suave tambeacutem designada por

protecccedilatildeo dinacircmica desde haacute algumas deacutecadas que eacuteutilizada preferencialmente como alternativa agravesteacutecnicas de intervenccedilatildeo riacutegida Apresentam menoresimpactes ambientais sendo uma soluccedilatildeo maisapropriada para aacutereas sensiacuteveis como as ilhas-barreira

As teacutecnicas de protecccedilatildeo suave tais como arealimentaccedilatildeo de praias a reconstruccedilatildeo dunar atransposiccedilatildeo de molhes (by-passing) a abertura debarras (para as deixar evoluir naturalmente) e asldquodragagens ecoloacutegicasrdquo correspondem em geral auma intervenccedilatildeo inicial deixando depois a Naturezaldquotrabalharrdquo Por essa razatildeo estas teacutecnicas satildeo tambeacutemfrequentemente designadas por ldquobuilding with NaturerdquoSatildeo com frequecircncia menos dispendiosas e maiseficientes a longo prazo do que as intervenccedilotildees riacutegidas(Koster amp Hillen 1995 Griggs 1999 Dias et al 2003)

Poreacutem estas teacutecnicas tecircm que ser executadas comforte suporte cientiacutefico e devem envolver o conceitode protecccedilatildeo de trechos costeiros na sua globalidadee natildeo apenas a protecccedilatildeo local de patrimoacutenio edificadoem zonas de risco Se forem concretizadas de formadeficiente podem mesmo revelar-secontraproducentes Eacute o que se passa por exemploquando a realimentaccedilatildeo de praias eacute efectuada comareias extraiacutedas da praia submersa (acima daprofundidade de fecho) nestes casos nenhumsedimento eacute adicionado ao sistema (Wells amp McNinch1991) havendo apenas transferecircncias dentro dosistema com consequecircncias negativas para o seufuncionamento natural tanto ao niacutevel morfodinacircmicocomo bioloacutegico

Desde 1996 que o PNRFICN tem realizadointervenccedilotildees de caraacutecter suave na tentativa demelhorar o funcionamento do sistema e diminuir avulnerabilidade ao galgamento e ao mesmo tempomanter a dinacircmica dos processos naturais (Dias et al2004) Entre as intervenccedilotildees efectuadas procedeu-seao robustecimento da Peniacutensula de Cacela agrave aberturadas Barras do Ancatildeo e da Fuzeta (deixando-as deseguida evoluir naturalmente) agrave dragagem de muitoscanais que natildeo satildeo de navegaccedilatildeo para melhorar acirculaccedilatildeo no sistema agrave repulsatildeo de sedimentos parao cordatildeo arenoso agrave colocaccedilatildeo de paliccediladas parareconstruccedilatildeo dunar agrave plantaccedilatildeo de Ammophila arenariae agrave construccedilatildeo de passadiccedilos sobrelevados

Segundo Dias et al (2003) as intervenccedilotildees suavesrealizadas na Ria Formosa propiciaram melhorprotecccedilatildeo das ilhas-barreira tendo-se em geralatingido os objectivos esperados Os mesmos autoresreferem que os sistemas naturais de elevadaimportacircncia soacutecio-econoacutemica e ambiental (como aRia Formosa) podem ser geridos utilizando este tipo

73

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

de teacutecnicas lucrando com o aproveitamento dosrecursos existentes

A transposiccedilatildeo (by-passing) dos molhes das barrasartificiais meacutetodo utilizado desde haacute muito um poucopor todo o mundo permitiria que as areias retidaspelos molhes a barlamar fosse transferido parasotamar aiacute reconstituindo a deriva litoral econsequentemente minimizando alguns dos impactesnegativos induzidos por estas estruturas Vaacuteriosestudos que demonstram que esta tecnologia natildeoaparenta ter efeitos ambientais negativos associados(eg Lindeman 1997 in Greene 2002)

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Com vista a avaliar a vulnerabilidade das ilhas-barreira da Ria Formosa o presente trabalho incidiuna actualizaccedilatildeo desta problemaacutetica na oacuteptica da gestatildeouma vez que se trata de um sistema em permanentetransformaccedilatildeo Nesta anaacutelise eacute imprescindiacutevel tersempre em consideraccedilatildeo que o sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa estaacute consignado legalmentecomo aacuterea de protecccedilatildeo ambiental desde 1978 anoem que lhe foi atribuiacutedo o estatuto de Reserva Naturaltendo ficado protegido pelo estatuto de ParqueNatural em 1987 (Decreto-lei 37387) e Rede Natura2000 tendo ainda sido integrado desde 1980 na Listade Siacutetios da Convenccedilatildeo de Ramsar (zonas huacutemidasde importacircncia internacional)

Da anaacutelise efectuada conclui-se que eacuteimprescindiacutevel compatibilizar os diversificados valoresnaturais (bioloacutegicos geomorfoloacutegicos fiacutesico-quiacutemicos geoloacutegicos etc) intriacutensecos ao sistema comos muacuteltiplos interesses soacutecio-econoacutemicos decorrentesda sua exploraccedilatildeo (pesca maricultura aquaculturaturismo portos comerciais e de pesca navegaccedilatildeo derecreio etc) Estando influenciado por fortesimpactes antroacutepicos directos e indirectos tais comoentre muitos outros a erosatildeo costeira e a intensificaccedilatildeodo assoreamento lagunar a sobrevivecircncia do sistemaldquonaturalrdquo e a sustentabilidade da sua exploraccedilatildeocarecem de intervenccedilotildees correctivas frequentes porforma a minimizar os impactes negativos aludidosTais intervenccedilotildees teratildeo que ser cautelosas e contiacutenuastentando o mais possiacutevel aproximar-se do que seriaa dinacircmica natural do sistema

Eacute ainda urgente resolver vaacuterios conflitos deinteresses existentes privilegiando as actividades

indutoras de menores impactes negativos e quesimultaneamente viabilizem uma melhor exploraccedilatildeosustentaacutevel do sistema Aponta-se a tiacutetuloexemplificativo o caso do turismo haacute quedesincentivar o turismo de massas directo nesta aacuterea(ateacute porque nas proximidades haacute poacutelos turiacutesticos destegeacutenero bem consolidados) desenvolvendo emalternativa outros tipos de turismo complementardesignadamente o turismo de Natureza a observaccedilatildeode aves (bird watching) e de peixes (fish watching) emambiente natural os passeios no meio lagunar emembarcaccedilotildees natildeo poluentes o turismo gastronoacutemicoetc

A maior parte da zona de barreira do sistema natildeoestaacute ainda ocupado por estruturas imobiliaacuterias Comvista agrave exploraccedilatildeo sustentaacutevel do sistema eacuteimprescindiacutevel que estas zonas continuem semocupaccedilatildeo permanente mantendo algumascaracteriacutesticas pristinas ainda aiacute existentes Nos poucosnuacutecleos urbanos piscatoacuterios existentes cujo casoparadigmaacutetico eacute a povoaccedilatildeo da Culatra onde natildeoexistem problemas realmente graves pois que selocalizam na margem lagunar (relativamente afastadado litoral oceacircnico) devem-se adoptar algumasmedidas correctivas pontuais por forma a preservara sua identidade cultural a melhorar a qualidade devida da populaccedilatildeo e a impedir um crescimentoexagerado Nos restantes nuacutecleos urbanos comcaracteriacutesticas ldquoturiacutesticasrdquo vaacuterios dos quais localizadosnas zonas de maior risco do sistema seria altamentedesejaacutevel que se procedesse agrave completa reformulaccedilatildeoda ocupaccedilatildeo ou sempre que possiacutevel se optasse peladesocupaccedilatildeo

No sentido de tentar resolver os problemas deerosatildeo costeira existentes (que se agravaratildeo no futuro)recomenda-se vivamente que a) natildeo se construamobras de protecccedilatildeo riacutegida (esporotildees paredotildees etc)na Ria Formosa nem na zona a barlamar desta daqual o sistema depende b) se continuem a executaracccedilotildees de robustecimento do cordatildeo dunar e decolmataccedilatildeo dos cortes de galgamento utilizando tantoquanto possiacutevel sedimentos provenientes dadragagem dos canais de navegaccedilatildeo c) se implementea transposiccedilatildeo dos molhes portuaacuterios com relevacircnciaespecial para os molhes da Barra de Faro-Olhatildeo d)efectivamente se proceda agrave demoliccedilatildeo das edificaccedilotildeessituadas em zonas de maior risco e sobre a duna

74

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

primaacuteria concretizando finalmente decisotildeesgovernamentais que tecircm vindo a ser repetidamentetomadas haacute quase trecircs deacutecadas mas nunca executadascabalmente e) sejam amplificadas as acccedilotildees deintervenccedilatildeo e protecccedilatildeo dinacircmica na linha do que severificou desde finais do seacuteculo passado (abertura debarras quando necessaacuterio para as deixar evoluirnaturalmente dragagens ldquoecoloacutegicasrdquo etc) e quetransformaram a Ria Formosa num siacutetio de referecircnciainternacional nesta mateacuteria e que nos uacuteltimos anosapenas tecircm sido executadas de forma extremamentemoderada

Finalmente eacute altamente recomendaacutevel que emtodos os actos de gestatildeo envolvendo quer ascomponentes geomorfoloacutegicas quer as ecoloacutegicasquer as soacutecio-econoacutemicas se tenham sempre emconsideraccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas principalmenteno que se refere agrave elevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar

BIBLIOGRAFIA

Andrade CF (1990a) - O Ambiente de barreira da RiaFormosa Algarve ndash Portugal Dissertaccedilatildeo deDoutoramento 645p Universidade de LisboaPortugal (natildeo publicado)

Andrade CF (1990b) - Estudo da susceptibilidadeao galgamento da Ria Formosa Geolis IV(1-2)69-76 Lisboa Portugal

Andrade CF Barata A amp Teles M (1998) - Ananalysis of the vulnerability to overwash of theRia Formosa barrier island system (Portugal)Using a simple multi-attribute technique (SMART)approach Proceedings of Littoralrsquo98 Conferencepp511-519 Barcelona Espanha

Andrade CF Freitas MC Moreno J amp CraveiroSC (2004) - Stratigraphical evidence of LateHolocene barrier breaching and extreme stormsin lagoonal sediments of Ria Formosa AlgarvePortugal Marine Geology 210339ndash362(doi101016jmargeo200405016)

Antunes P Santos R amp Videira N (2006) -Participatory decision making for sustainabledevelopment - the use of mediated modellingtechniques Land Use Policy 2344ndash52(doi101016jlandusepol200408014)

Bernardo P Bastos R amp Dias JA (2002) - Historicroots for barrier island occupation in the RiaFormosa Littoral 2002 Porto 4 p (disponiacutevel em

httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI02_Lit_91_PBpdf)

Bettencourt P (1985) - Geomorphologie et processusdlsquoeacutevolution reacutecente de la cocircte sotavento (Algarve ndash SudPortugal) Thegravese DEA 92p Universiteacute deBordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Bettencourt P (1994) - Les environnements sedimentairesde la cocircte sotavento (Algarve SudPortugal) et leur eacutevolutionHoloceacutene et actuelle PhD Thesis University ofBordeaux I Franccedila (unfinished)

Bray Jr T amp Carter C (1992) - Physical processesand sedimentary record of a moderntransgressive lacustrine barrier island MarineGeology 105(1-4)155-168 (doi 1010160025-3227(92)90187-M)

Correia F Dias JA Boski T amp Ferreira Oacute (1996)- The retreat of the Eastern Quarteira cliffed coast(Portugal) and its possible causes In Jones PSHealy MG amp Williams AT (eds) Studies inCoastal Management p129-136 Samara PublLtd Cardigan UK (disponiacutevel emht tp w3 u a l g p t j d i a s JA D pape r s CLinternac96_Studies_129_FCpdf)

Correia F Ferreira Oacute amp Dias JA (1997) - Contributodas arribas para o balanccedilo sedimentar do sectorcosteiro Quarteira - Vale do Lobo (Algarve -Portugal) Seminaacuterio sobre a zona costeira doAlgarve 31-39 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_031_FCpdf)

Costa CL (1994) - Final report of sub-project A ldquoWindwave climatology of the Portuguese coastrdquo InstitutoHidrograacutefico Report PO-WAVES 694-A 80 pLisboa Portugal (natildeo publicado)

Dias JA (1988) - Aspectos geoloacutegicos do litoralalgarvio Geonovas 10 113-128 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN88_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (1990) - A Evoluccedilatildeo Actual do LitoralPortuguecircs Geonovas 11 15-29 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN90_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (2002) - Manual de Sobrevivecircncia eVilanagem Diaacuterio de Notiacutecias - SuplementoldquoAmbiente e Desenvolvimento Sustentaacutevelrdquo 30de Julho de 2002 Lisboa Portugal (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersxCS02_DNADpdf)

75

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Dias JA Ferreira Oacute Matias A Vila-Concejo Aamp Saacute-Pires C (2003) - Evaluation of softprotection techniques in barrier islands bymonitoring programs case studies from RiaFormosa (Algarve-Portugal) Journal of CoastalResearch SI35117-131

Dias JA Ferreira Oacute amp Moura D (2004) - O sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa 3ordm SIPRES ndashSimpoacutesio Interdisciplinar sobre Processos Estuarinos 18p Faro Portugal

Dias JA amp Neal WJ (1992) - Sea cliff retreat insouthern Portugal profiles processes andproblems Journal of Coastal Research 8641-654

Dias JA amp Taborda R (1992) - Tidal gauge data indeducing secular trends of relative sea level andcrustal movements in Portugal Journal of CoastalResearch 8655-659

Dias JA Teixeira SB amp Ferreira Oacute (1997) - LivroGuia da Excursatildeo Seminaacuterio sobre a Zona Costeirado Algarve 43 p Faro Portugal

Douglas BC (1995) - Global sea level changedetermination and interpretation US NationalReport to IUGG 1991-1994 Geophys 33 Suppl11 p (disponiacutevel em httpwwwaguorgrevgeophysdougla01dougla01html)

Duarte C Matias A Dias JA amp Ferreira Oacute (1999)- Vulnerabilidade dos corpos dunares do Algarve10ordm Congresso do Algarve 477-490 (disponiacutevelem httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN99_10CA_477_CDpdf)

Esaguy AS (1984) - Ria de Faro Barra da ArmonaEvoluccedilatildeo 1873-1983 5 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1986a) - Ria de Faro Barra de Faro-OlhatildeoEvoluccedilatildeo 1955ndash1985 10p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986b) - Ria de Faro Ilha de TaviraEvoluccedilatildeo 1950ndash1985 8 p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986c) - Ria de Faro Ilha do AncatildeoEvoluccedilatildeo 1950-1985 7 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1987) - Ria de Faro Barra de TaviraEvoluccedilatildeo 13 p Direcccedilatildeo Geral de Portos LisboaPortugal

Ferreira Oacute Dias JA amp Taborda R (2008) -Implications of sea-level rise for Portugal Journal

of Coastal Research 24(2)317-324 (doi 10211207A-00061)

Ferreira Oacute Garcia T Matias A Taborda Ramp DiasJA (2006) - An integrated method for thedetermination of set-back lines for coastal erosionhazards on sandy shores Continental ShelfResearch 261030ndash1044 (doi 101016jcsr200512016)

Ferreira Oacute Martins JC amp Dias JA (1997) -Morfodinacircmica e vulnerabilidade da Praia de FaroSeminaacuterio sobre a zona costeira do Algarve 67-76 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_067_OFpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias Aamp Dias JA (2002)- Recent evolution of Culatra Island (Algarve ndashPortugal) Littoral 2002 The Changing Coast 289-294 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers02_LitTGpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2005)ndash Coastal Hazards Representation for Praia doBarril (Algarve Portugal) Continental ShelfResearch SI4928-33

Granja H (1984) - Eacutetude geacuteomor phologiquesedimentoloacutegique et geacuteoquimique de la Ria Formosa(Algarve-Portugal) These 3eme Cycle 254 pUniversiteacute de Bordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Greene K (2002) - Beach nourishment a review ofthe biological and physical impacts 174 p AtlanticStates Marine Fisheries Commission WashingtonDC (disponiacutevel em httpwwwasmfcorgpublicationshabitatbeachNourishmentpdf)

Griggs GB (1999) - The protection of Californialsquoscoast past present and future Shore amp Beach67(1)18-28

Hoyt JH (1967) - Barrier Island FormationGeological Society of America Bulletin 781125-1136 (doi 1011300016-7606(1967)78[1125BIF]20CO2)

Inman D (1978) - The impact of coastal structureson shorelines Proceedings of Coastal Zoneacute78 ASCE2265-2272

Koster MJ amp Hillen R (1995) - Combat erosion bylaw Coastal defence policy for the NetherlandsJournal of Coastal Research 67(2-3)43-49

Leatherman S (1976) - Barrier islands dynamicsoverwash processes and aeolian transportProceedings of Coastal Engineering Conference ASCE1958-1973

76

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Mangor K (1998) - Coastal restorationconsiderations Proceedings of Coastal Engineeringrsquo98Conference ASCE 3425-3438

Marcelo MJ amp Fonseca LC (1998) - Ria Formosada gestatildeo e conservaccedilatildeo de uma aacuterea protegidaRevista de Biologia 2ordm ENEC 16(1-4)125-133

Martins JT Ferreira Oacute Ciavola Pamp Dias JA (1996)- Monitoring of profile changes at Praia de FaroAlgarve a tool to predict and solve problems InTaussik J amp Mitchell J (eds) Partnership in CoastalZone Management pp 615-622 Samara Publ LtdCardigan UK

Matias A (2000) - Estudo morfosedimentar da Peniacutensulade Cacela Dissertaccedilatildeo de Mestrado 244pUniversidade do Algarve Faro Portugal (natildeopublicado)

Matias A Dias JA Williams AT amp Ferreira Oacute(1997) - Vulnerabilidade das dunas da RiaFormosa 9ordm Congresso do Algarve 231-239Vilamoura Portugal

Matias A Ferreira Oacute amp Dias JA (1999) -Preliminary results on the Cacela Peninsula dunereplenishment Boletiacuten del Instituto Espantildeol deOceanografiacutea 15(1-4)283-288 (disponiacutevel emhttpwwwieoespublicacionesboletinpdfsbol1515_283-288PDF)

Matias A Ferreira Oacute Dias JA amp Vila-Concejo A(2004) - Development of indices for the evaluationof dune recovery techniques Coastal Engineering51261-276 (doi 101016jcoastaleng200402002)

Matias A Ferreira Oacute Mendes I amp Dias JA (1998)- Monitorizaccedilatildeo da alimentaccedilatildeo artificial daPeniacutensula de Cacela Seminaacuterio sobre DragagensDragados e Ambientes Costeiros 47-56

Matias A Ferreira Oacute Mendes I Dias JA amp Vila-Cconcejo A (2005) - Artificial construction ofdunes in the South of Portugal Journal of CoastalResearch 21(3)472-481 (doi 10211203-00471)

Matias A Vila-Concejo A Ferreira Oacute amp Dias JA(2003) - Field measurements of morphologicvariations during an overwash event 4ordm Simpoacutesiosobre a Margem Ibeacuterica Atlacircntica Thalassas19(2b)164-165 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI03_4SM_b164_AMpdf)

NRC - National Research Council (1995) - Beach

Nourishment and Protection 334 p Washington DCNational Academy Press (ISBN 9780309052900)

Pacheco A Carrasco AR Vila-Concejo A FerreiraOacute amp Dias JA (2007) - A coastal managementprogram for channels located in backbarriersystems Ocean amp Coastal Management 50119-143 (doi101016jocecoaman200608008)

Pilkey OH amp Dixon K (1996) - The Corps and theShore 286p Island Press Washington DC USA(ISBN 9781559634380)

Pilkey OH Neal WJ Monteiro JH amp Dias JA(1989) - Algarve Barrier Islands A Noncoastal-Plain System in Portugal Journal of Coastal Research5(2)239-261

Ramos L amp Dias J A (2000) - Atenuaccedilatildeo davulnerabilidade a galgamentos oceacircnicos nosistema da Ria Formosa mediante intervenccedilotildeessuaves 3ordm Simpoacutesio sobre a Margem ContinentalIbeacuterica Atlacircntica Faro 361-362 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers00_SMLRpdf)

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2001)- Avaliaccedilatildeo de realimentaccedilotildees artificiais de praiasda Ria Formosa Casos das ilhas de Cacela e deTavira Congresso do Algarve 2001 8 p

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2002)- Preliminary Evaluation of the MorphologicalEvolution of Contrasting Beaches of the RiaFormosa With Relation to Differences inRefracted Wave Height Littoral 2002 TheChanging Coast 423-429 (disponiacutevel emht tp www2 00 8 i o -war nemu ende dehomepagesschernewskiLittoral2000docsvol3Littoral2002_79pdf)

Scheele RJ amp Westen CJ (1996) - Planning for acoastal policy - the 3A4 approach In Taussik Jamp Mitchell J (eds) Partnership in Coastal ZoneManagement pp 65-71 Samara Publ LtdCardigan UK

Sprung M (1994) - Macrobenthic secondaryproduction in the intertidal zone of Ria Formosaa lagoon in southern Portugal Estuarine Coastaland Shelf Science 38539ndash558 (doi 101006ecss19941037)

Van Den Belt M Videira N Antunes P Santos Ramp Gamito S (2000) - Modelaccedilatildeo Participada na RiaFormosa 36 p Ediccedilatildeo Fundaccedilatildeo do Mar LisboaPortugal

77

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Vila A Dias JMA Ferreira Oacute amp Matias A (1999)- Natural evolution of an artificial inlet CoastalSedimentslsquo99 21478-1488 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI99_CS99_1478_AVpdf)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Ciavola P Matias Aamp Dias JA (2004a) - Tracer studies on the updriftmargin of a complex inlet system Marine Geology20843-72 (doi 101016jmargeo200404020)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA(2003) - The first two years of an inlet sedimentarydynamics Continental Shelf Research 231425-1445 (doi 101016S0278-4343(03)00142-0)

Vila-Concejo A Matias A Ferreira Oacute Duarte Camp Dias JA (2002) - Recent evolution of thenatural inlets of a barrier island system in southernPortugal Journal of Coastal Research (ICS 2002proceedings) SI36741-752

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Morris BD MatiasA amp Dias JA (2004b) ndash Lessons from inletrelocation examples from Southern PortugalCoastal Engineering 51(10)967-990(doi101016jcoastaleng200407019)

Vila-Concejo A Matias A Pacheco A FerreiraOacute amp Dias JA (2006) - Quantification of inlet-related hazards in barrier island systems Anexample from the Ria Formosa (Portugal)Continental Shelf Research 261045-1060(doi 101016jcsr200512014)

Weinholtz MB (1978) - Contribuiccedilatildeo para o estudo daevoluccedilatildeo das flechas de areia na costa sotavento do Algarve(Ria de Faro) Relatoacuterio da Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Wells JT amp McNinch J (1991) - Beach scraping inNorth Carolina with special reference to itseffectiveness during Hurricane Hugo Journal ofCoastal Research SI8249-261

Williams SJ (2001) - Coastal erosion and land lossaround the United States strategies to manage andprotect coastal resources ndash examples fromLouisiana Coastal Ecosystems and FederalActivities Technical Training SymposiumProceedings 15 p (disponiacutevel emhttpwwwfwsgovnc-esecoconfwilliamspaperpdf)

Page 4: Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na

60

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

13 Morfodinacircmica

No sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa amorfodinacircmica eacute muito intensa sendo funccedilatildeo doclima de agitaccedilatildeo mariacutetima e das correntes de mareacute(Pilkey et al 1989) As taxas de crescimento dealgumas ilhas satildeo verdadeiramente notaacuteveis a niacutevelmundial Como consequecircncia desta dinacircmica osistema eacute muito vulneraacutevel respondendo de formaraacutepida e intensa agrave construccedilatildeo de obras de engenharialitoral (Dias 1988)

As praias ao longo das ilhas-barreira satildeogeralmente estreitas e o seu comportamento variaentre o reflectivo e o intermeacutedio no extremo ocidental(Martins et al 1996) e intermeacutedio a dissipativo noextremo oriental (Matias et al 1998)

As ilhas-barreira do sistema da Ria Formosa agravesemelhanccedila de grande parte dos sistemas mundiaisdeste tipo estatildeo em activa fase de migraccedilatildeo emdirecccedilatildeo ao continente muito provavelmente comoresposta agrave actual elevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do marsendo portanto um sistema do tipo transgressivoOs galgamentos oceacircnicos satildeo extremamenteimportantes neste complexo processo (Dias 1988Pilkey et al 1989)

A evoluccedilatildeo das barras eacute de modo geralcaracterizada por uma migraccedilatildeo para nascente ateacuteatingirem uma posiccedilatildeo limite na qual comeccedilam aassorear abrindo-se nova barra aproximadamente nolocal inicial (Weinholtz 1978) agrave excepccedilatildeo da Barrada Armona que se tem mantido aproximadamentena mesma posiccedilatildeo e agraves barras de Faro-Olhatildeo e deTavira que satildeo artificiais (Fig2)

As arribas localizadas a ocidente do sistemaprincipalmente as que se situam entre o Ancatildeo eOlhos de Aacutegua tecircm sido consideradas como principalelemento abastecedor de areias para o sistema(Andrade 1990a Correia et al 1997) (Fig1)

14 Importacircncia Socio-Econoacutemica e Ambiental

Devido agraves suas caracteriacutesticas naturais o sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa constitui uma aacutereade usos muacuteltiplos que providenciam benefiacutecios soacutecio-econoacutemicos e que geram conflitos na afectaccedilatildeo dosrecursos existentes tais como o turismo de massas oecoturismo a aquacultura a pesca a conservaccedilatildeo danatureza as descargas de efluentes a navegaccedilatildeo a

extracccedilatildeo de sal e de areia entre outros (Van DenBelt et al 2000)

A niacutevel ambiental assume particular importacircnciapelo que lhe foi atribuiacutedo o estatuto de ReservaNatural (decreto-lei 4578 de 2 de Maio) e mais tardede Parque Natural da Ria Formosa (decreto-lei 37387 de 9 de Dezembro) e de Rede Natura 2000procurando-se assim efectuar uma exploraccedilatildeo dosrecursos racional e sustentaacutevel

Este sistema eacute caracterizado pela diversidadefauniacutestica e floriacutestica destacando-se o facto de estaaacuterea ter no que respeita agrave avifauna uma importacircncianacional (como zona de nidificaccedilatildeo) e internacional(migraccedilatildeo e invernada) Eacute considerada uma zonahuacutemida de interesse mundial estando protegida pelasconvenccedilotildees internacionais de Ramsar e de Berna

O cordatildeo litoral que forma as ilhas-barreira servede protecccedilatildeo a uma grande diversidade de habitatstais como uma vasta aacuterea de sapal dunas zonas deaacutegua salobra zonas intertidais canais ilhotes salinaspisciculturas e cursos de aacutegua doce com vegetaccedilatildeoribeirinha Acresce referir que este sistema de ilhas-barreira eacute uacutenico na Europa a niacutevel geomorfoloacutegico

15 Situaccedilatildeo Actual

Apesar das grandes apetecircncias que apresenta paraexploraccedilatildeo pelo Homem a ocupaccedilatildeo humana na RiaFormosa sobretudo nas ilhas-barreira iniciou-sesignificativamente apenas em finais do seacuteculo XIXpor populaccedilotildees ligadas agrave actividade pesqueira(Bernardo et al 2002)

Os problemas de gestatildeo do sistema soacute surgiramcom grande amplitude a partir da deacutecada de 60 doseacuteculo XX quando a ocupaccedilatildeo (principalmente deiacutendole turiacutestica) seguindo o modelo dedesenvolvimento turiacutestico dessa eacutepoca se veio aestabelecer em aacutereas de risco permanente devido agraveerosatildeo e exposiccedilatildeo aos temporais

As caracteriacutesticas do sistema satildeo incompatiacuteveiscom uma ocupaccedilatildeo intensa e permanente Contudonas uacuteltimas deacutecadas a ocupaccedilatildeo tem reveladotendecircncia para se intensificar tornar permanente elocalizar nas zonas de maior risco colocando em causaa proacutepria sobrevivecircncia do sistema de ilhas-barreiracomo ambiente natural (Dias et al 2004)

Na frente oceacircnica a erosatildeo costeira tem sidoantropicamente amplificada Os principais causadores

61

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

que levaram o sistema da Ria Formosa a entrar emruptura foram a construccedilatildeo dos molhes da marina deVilamoura e do campo de esporotildees de Quarteira e afixaccedilatildeo artificial das barras Faro-Olhatildeo e Tavira Aerosatildeo costeira juntamente com o acreacutescimo dopisoteio veio aumentar a vulnerabilidade aogalgamento na maior parte do sistema As cerca de2000 construccedilotildees clandestinas existentes nas ilhas-barreira potenciam ainda mais o risco de galgamentopois estatildeo frequentemente edificadas sobre o cordatildeodunar frontal em zonas de elevada vulnerabilidade(Ramos amp Dias 2000)

Os sistemas de ilhas-barreira satildeo ainda muitosensiacuteveis a variaccedilotildees do niacutevel meacutedio do mar (NMM)principalmente a fases de elevaccedilatildeo deste SegundoFerreira et al (2008) os estuaacuterios e os sistemaslagunares costeiros satildeo as zonas mais afectadas pelasubida do NMM em Portugal Na Ria Formosa osimpactes socio-econoacutemicos seratildeo grandes Noentanto muitos destes impactes negativos poderatildeoser minimizados ou ateacute evitados se se tomarem asdevidas precauccedilotildees Para que isto aconteccedilagovernantes gestores e populaccedilatildeo em geral teratildeo queter em conta esta problemaacutetica nas suas decisotildees

Dias amp Taborda (1992) chegaram a um valor deelevaccedilatildeo do NMM de 15 plusmn 02mmano calculadoem Lagos no uacuteltimo seacuteculo Douglas (1995) estimounuma perspectiva global um aumento meacutedio de2mmano nos uacuteltimos 100-150 anos

Eacute principalmente durante eventos tempestivosassociados a periacuteodos de mareacutes vivas que se verificamos mais graves episoacutedios de erosatildeo costeira Estasituaccedilatildeo eacute pois agravada pela subida do NMM(Ferreira et al 2008)

16 Objectivos

Este trabalho pretende apresentar uma visatildeoactualizada do que ocorre na zona de interface entreo mar e o meio lagunar do sistema de ilhas-barreirada Ria Formosa Em particular pretende-se analisara dinacircmica e evoluccedilatildeo das barras e das ilhas-barreiraidentificar as principais aacutereas de risco e os impactesda ocupaccedilatildeo humana e discutir aspectos relacionadoscom as obras de protecccedilatildeointervenccedilatildeo realizadas emalguns locais

2 METODOLOGIA

A recolha de dados foi efectuada sobretudo porpesquisa bibliograacutefica por recolha de informaccedilotildeesem instituiccedilotildees com conhecimento particular da RiaFormosa (com maior relevacircncia para o Parque Naturalda Ria Formosa e o Instituto Portuaacuterio e dosTransportes Mariacutetimos) e por observaccedilatildeo in situ daaacuterea de estudo O software informaacutetico Google Earth- Versatildeo 42 (2007) foi tambeacutem utilizado na anaacutelisedo sistema lagunar Conquanto a aacuterea de estudo sedefina como todo o sistema lagunar da Ria Formosaa recolha de dados incidiu predominantemente nasilhas-barreira e nas barras que as delimitam

Foram definidos e individualizados oito sectoresao longo da aacuterea de estudo Cada ilha ou peniacutensulafoi definida como um sector As seis barras do sistemaforam tambeacutem definidas separadamente O sectorQuarteira ndash Praia do Garratildeo por se encontrar abarlamar do sistema da Ria Formosa foi tambeacutemanalisado uma vez que vaacuterios problemas que afectamo sistema tecircm origem nesta aacuterea Dividiram-se ossectores em partes distinguidos segundo a suaorientaccedilatildeo ndash Ocidental (W) Central (C) e Oriental(E) Em cada sector foram identificadas as zonas demaior risco analisadas as taxas de evoluccedilatildeo da linhade costa a existecircncia ou ausecircncia de ocupaccedilatildeo apresenccedila de corredores eoacutelicos e de vegetaccedilatildeo e aexistecircncia de intervenccedilotildees Para as barras foramanalisadas as caracteriacutesticas mais relevantes larguraestabilidade e taxas de migraccedilatildeo Os dados obtidospermitem analisar a evoluccedilatildeo geral do sistema de ilhas-barreira identificar as aacutereas de risco e efectuar umareferecircncia agrave intervenccedilatildeo no sistema mediante trecircsteacutecnicas intervenccedilatildeo suave intervenccedilatildeo riacutegida edemoliccedilatildeo de infra-estruturas (retirada estrateacutegica)

3 O SISTEMA DE ILHAS-BARREIRA

31 Quarteira ndash Praia do Garratildeo

Embora natildeo faccedila parte integrante do sistema daRia Formosa este sector eacute de extrema importacircnciana medida em que fornece sedimentos ao sistemaNa realidade natildeo existem sistemas isolados naNatureza e um plano de gestatildeo teraacute obrigatoriamenteque avaliar a situaccedilatildeo e os impactes previsiacuteveis abarlamar e a sotamar de qualquer intervenccedilatildeo

62

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

O sector entre Quarteira e a Praia do Garratildeoapresenta intensa actividade e ocupaccedilatildeo antroacutepicadesignadamente em Vale do Lobo (Fig1) A evoluccedilatildeodas arribas neste sector estaacute fortemente dependenteda praia subjacente que em maior ou menor grauconfere protecccedilatildeo da acccedilatildeo directa do mar Noentanto a susceptibilidade destas arribas agrave erosatildeomarinha eacute extremamente elevada (Andrade 1990aDias amp Neal 1992) Nalguns locais o recuo chegou aultrapassar 2mano ou mais (Correia et al 1997)

Ao longo da zona urbanizada de Quarteira(aproximadamente 33km) a Direcccedilatildeo Geral dePortos procedeu a obras de defesa costeiraconstruindo entre 1971 e 1974 doze esporotildees e doismolhes de acesso agrave marina de Vilamoura (o ocidentalcom 600m e o oriental com 500m) (Bettencourt1985) O aumento das taxas meacutedias de recuo nestesector parece resultar essencialmente da construccedilatildeodestas estruturas que interrompem a deriva litoralprivando as praias a nascente de sedimentos o queconsequentemente facilita o ataque das ondas agrave basedas arribas Apoacutes a construccedilatildeo dos molhes deVilamoura o recuo meacutedio anual da crista da arriba foifortemente amplificado chegando por exemplo aultrapassar nalguns pontos os 4 metros por ano noperiacuteodo 1983-1991 (Correia et al 1996)

A situaccedilatildeo em todo o sector eacute na actualidadegrave Vale do Lobo eacute o local em que o problema deerosatildeo costeira eacute mais seacuterio dada a amplitude eintensidade de ocupaccedilatildeo antroacutepica Os dadosdisponiacuteveis parecem reflectir a tendecircncia de aumentoda erosatildeo na parte oriental do sector (ateacute agora maisestaacutevel) apesar das realimentaccedilotildees efectuadas paraproteger a Praia de Vale do Lobo

32 Peniacutensula do Ancatildeo

A Peniacutensula do Ancatildeo tem cerca de 8km decomprimento e 50 a 250m de largura (Fig2) SegundoPilkey et al (1989) e Bettencourt (1994) o recuo dalinha de costa chegou a atingir valores na ordem de 1a 2mano em alguns locais

O sector Ancatildeo W (da Praia do Garratildeo agrave Praia deFaro) possui um cordatildeo dunar contiacutenuo quepraticamente eacute desprovido de ocupaccedilatildeo antroacutepicaUma arriba permanente talhada na duna marca atransiccedilatildeo entre a praia e o cordatildeo dunar o quedemonstra um recuo da linha de costa devido agrave erosatildeo

que em meacutedia atingiu 08mano entre 1989 e 2001(Ferreira et al 2006)

O sector Ancatildeo C (Praia de Faro) eacute urbanizado ecomo tal o mais problemaacutetico O niacutevel da ocupaccedilatildeohumana eacute bastante elevado (Fig3) Ateacute meados dadeacutecada de 50 a Praia de Faro era ocupada apenas poralguns pescadores natildeo havendo registos de problemasgraves para as habitaccedilotildees pois encontravam-seinstaladas junto agrave laguna e separadas do mar por umcampo dunar singular A construccedilatildeo da ponterodoviaacuteria na deacutecada de 50 foi o factor determinantepara a forte intensificaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo O cordatildeodunar apesar de afectado pela erosatildeo costeira foiquase totalmente ocupado e destruiacutedo por edificaccedilotildees(Dias et al 1997 2004)

Natildeo tendo sido possiacutevel concretizar as acccedilotildeesmiacutenimas necessaacuterias para uma ocupaccedilatildeo racional dazona (Dias et al 1997) aconteceu o que era previsiacutevelDurante o Inverno de 198990 a Praia de Faro foifustigada por temporais que provocaram graves danosnas construccedilotildees e infra-estruturas existentes uma vezque natildeo eacute suficientemente robusta para suportareventos energeacuteticos extremos (Ferreira et al 1997)Os locais onde a ocupaccedilatildeo eacute mais intensa satildeo os queapresentam maior susceptibilidade a qualquer eventoerosivo Este facto deve-se em parte agrave construccedilatildeode estruturas fixas e riacutegidas na parte superior dos perfisde praia causando a truncatura do perfil e umrebaixamento da cota dunar natildeo permitindo agrave praiadesempenhar o seu papel natural face agraves tempestades(Ferreira et al 1997)

A erosatildeo afecta os limites marinhos e lagunaresda Praia de Faro Entre 1945 e 1964 a linha de baixa-mar recuou 34m ou seja cerca de 17mano(Weinholtz 1978) Actualmente as edificaccedilotildees quetruncam o perfil de praia emersa impossibilitam quea peniacutensula tenha um comportamento naturalmigrando em direcccedilatildeo ao continente (Dias et al 1997)Por outro lado o aterro que conduz agrave ponte canalizouos fluxos de enchente e principalmente de vazanteConsequentemente a corrente na zona da ponte eacutemuito forte impedindo a acumulaccedilatildeo de sedimentosna parte interna da peniacutensula o que seria fundamentalpara permitir a migraccedilatildeo aludida

A construccedilatildeo de muros de revestimento e deoutras estruturas de protecccedilatildeo inibiram o recuo dalinha de costa embora natildeo impeccedilam a ocorrecircncia de

63

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

galgamentos Devido a estas protecccedilotildees a Praia deFaro praticamente natildeo apresentou recuo da linha decosta entre 1989 e 2001 (Ferreira et al 2006) Noentanto possui uma boa capacidade de recuperaccedilatildeosedimentar apoacutes eventos erosivos (Martins et al 1996)em apenas um ciclo de mareacute (Saacute-Pires et al 2002)

Matias et al (1997) e Duarte et al (1999) aoavaliarem a vulnerabilidade de um conjunto desistemas dunares do Algarve foram unacircnimes emidentificar a Praia de Faro como uma das zonas maisvulneraacuteveis da Ria Formosa O nuacutecleo urbano da Praiade Faro encontra-se em situaccedilatildeo de alto riscoconfinado a uma estreita faixa (normalmente commenos de 100 metros de largura) entre a laguna e ooceano As probabilidades de uma cataacutestrofeaumentam de ano para ano se considerarmos aelevaccedilatildeo do NMM e a possiacutevel ocorrecircncia de umgrande temporal que coincida com mareacute viva cheia

No sector Ancatildeo E (entre a Praia de Faro e a Barra

do Ancatildeo) a duna estaacute consideravelmente bempreservada e os perfis de praia revelam maiorcapacidade para reagir a eventos energeacuteticos exceptona margem da Barra do Ancatildeo (Ferreira et al 1997)A populaccedilatildeo consiste sobretudo em pescadores quevivem na margem da laguna

33 Barra do Ancatildeo

O limite oriental da Peniacutensula do Ancatildeo terminana Barra do Ancatildeo tambeacutem designada por Barra deSatildeo Luiacutes (Fig2) Estaacute localizada numa das aacutereas maisdinacircmicas do sistema mudando frequentemente demorfologia e posiccedilatildeo com uma tendecircncia de migraccedilatildeopara nascente a uma velocidade meacutedia de 70mano euma largura meacutedia de 260m Entre 1945 e 1996completou dois ciclos migratoacuterios (Vila-Concejo etal 2006)

Em 1997 a Barra do Ancatildeo em fase final do seuciclo de migraccedilatildeo encontrando-se muito assoreada e

Figura 3 ndash Parte central da Peniacutensula do Ancatildeo ndash Praia de Faro (de Oeste para Este) evidenciando a intensaocupaccedilatildeo sobre o cordatildeo dunar (fotografias obtidas em Novembro de 2006 pelo autor)Figure 3 ndash Aerial photo of the Ancatildeo Peninsula from West to East (central zone) ndash Beach of Faro showing the intenseoccupation on dune ridges (photos by author in November 2006)

64

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

com baixa eficiecircncia hidraacuteulica No sentido de ampliaressa eficiecircncia e proteger os interesses nesta zonaprocedeu-se agrave abertura artificial de uma nova barra(23 Junho de 1997) a cerca de 35km a W da posiccedilatildeoanterior e imediatamente a oriente das uacuteltimas casasda Praia de Faro permitindo a esta migrar novamenteno sentido nascente (Vila et al 1999) A forma e aposiccedilatildeo da nova barra natildeo foram baseadas em estudosaprofundados mas no conhecimento empiacuterico dasituaccedilatildeo (Dias et al 2003) Estudos recentes sobre aevoluccedilatildeo e dinacircmica da barra desde a sua aberturaartificial (eg Vila-Concejo et al 2002 2003 2004a2006) permitem concluir que bastaram dois anos paraque se atingisse o estado de equiliacutebrio e comeccedilasse aevoluir e a migrar naturalmente o que confirma osucesso desta intervenccedilatildeo que foi das primeiras a niacutevelmundial

34 Ilha da Barreta

A Ilha da Barreta tem um comprimento de cercade 8km e largura entre 70 e 700m (Fig2) Existempoucos estudos publicados que focam esta ilha umavez que eacute uma zona menos acessiacutevel com baixaocupaccedilatildeo antroacutepica e consequentemente menosproblemaacutetica

A parte ocidental eacute estreita de baixa elevaccedilatildeo compouca vegetaccedilatildeo e vulneraacutevel a galgamentos Narealidade corresponde agrave parte oriental da zona demigraccedilatildeo da Barra do Ancatildeo Apresenta umamorfodinacircmica semelhante agrave Peniacutensula do Ancatildeo(Pilkey et al 1989 Bettencourt 1994) e um uacutenicocordatildeo dunar com cerca de 7m de altura (Vila-Concejoet al 2006)

A complexidade deste sector aumenta de ocidentepara oriente onde a ilha jaacute apresenta um campo dunarlargo e bem vegetado Existem dois pequenosaglomerados de casas de pescadores e de apoio agrave praialocalizados na parte interna junto agrave laguna e agrave BarraFaro-Olhatildeo respectivamente

A metade oriental da ilha eacute a uacutenica que apresentaum comportamento regressivo (Vila et al 1999)proporcionando o crescimento do cordatildeo dunarfrontal (Duarte et al 1999) Este comportamento foiconsequecircncia da construccedilatildeo dos molhes da barraartificial de Faro-Olhatildeo entre 1929 e 1955 (Esaguy1986a) que interromperam a deriva litoral econsequentemente induziram a barlamar (junto ao

molhe W localizado no extremo oriental da ilha) umaacumulaccedilatildeo arenosa notaacutevel

35 Barra Faro-Olhatildeo

A Barra Faro-Olhatildeo que separa as ilhas da Barretae da Culatra foi artificialmente aberta e estabilizadapor molhes entre 1929 e 1955 num local onde existiajaacute uma barra (Barra do Bispo) relativamente larga masbastante instaacutevel (Esaguy 1986a) (Fig2) O objectivoda abertura foi o de assegurar a navegabilidade aocanal de acesso que conduz ao porto comercial deFaro bem como agraves localidades de Faro e Olhatildeo Estaintervenccedilatildeo induziu grande alargamento da parteoriental da Ilha da Barreta a barlamar e erosatildeobastante significativa da parte ocidental da Ilha daCulatra a sotamar bem como modificaccedilotildeesimportantes no comportamento hidrodinacircmicolagunar (Vila-Concejo et al 2006) Veio retirareficiecircncia hidraacuteulica agrave Barra da Armona que era abarra principal do sistema em consequecircncia do quese verificou grande estreitamento desta sendoactualmente a sua eficaacutecia extremamente reduzida

O canal da barra de Faro-Olhatildeo projectado paramanter cotas entre 4 a 45m abaixo do zerohidrograacutefico (Weinholtz 1978) foi progressivamenteficando mais fundo ateacute atingir profundidades naordem dos 40m em 2001 assim aumentando a secccedilatildeode escoamento Consequentemente surgiramproblemas de seguranccedila no que respeita agrave navegaccedilatildeodevido agraves fortes correntes de vazante e de enchente ea graves danos nos troccedilos terminais dos molhes

A abertura da barra e a construccedilatildeo dos molhesalteraram a circulaccedilatildeo hiacutedrica e os balanccedilossedimentares nesta zona do sistema A Barra Faro-Olhatildeo eacute a grande responsaacutevel pela importaccedilatildeo desedimentos para o sistema lagunar A entrada de140000m3ano de sedimentos (Pacheco et al 2007)poderaacute estar relacionada com as intensas dragagensefectuadas no canal de navegaccedilatildeo no interior dosistema recomendando-se que sejam apenasrealizadas de modo a manter as condiccedilotildees denavegabilidade

36 Ilha da Culatra

A Ilha da Culatra tem aproximadamente 7km decomprimento estando a ocupaccedilatildeo humanaconcentrada em trecircs povoaccedilotildees (Farol Hangares e

65

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Culatra) que soacute podem ser atingidas por barco (Fig4)A evoluccedilatildeo recente da ilha e das barras que a limitamfoi alvo de estudo de diversos autores (eg Granja1984 Esaguy 1984 1986a Dias 1988 Pilkey et al1989 Andrade 1990a Garcia et al 2002 Vila-Concejoet al 2002) Eacute consensual que os molhes da BarraFaro-Olhatildeo foram responsaacuteveis por uma profundaalteraccedilatildeo da hidrodinacircmica do sistema e alteraccedilotildeessignificativas na Ilha da Culatra Segundo Garcia et al(2002) as principais consequecircncias foram ocrescimento muito raacutepido para oriente da ilha e aampliaccedilatildeo do recuo da linha de costa na zonaocidental

A linha de costa da extremidade ocidental da ilhaonde se localiza a povoaccedilatildeo do Farol estaacutecompletamente artificializada (molhe oriental da barraenrocamento longitudinal construiacutedo para protecccedilatildeodas edificaccedilotildees e estabilizaccedilatildeo da linha de costa e umesporatildeo no limite oriental da povoaccedilatildeo) Neste sectora ilha eacute relativamente estreita com uma duna de decliveacentuado paralela agrave linha de costa evidenciandocarecircncia de sedimentos (Garcia et al 2002) o que setorna problemaacutetico pois que esta zona se encontraintensamente ocupada

A morfologia do sector central reflecte aalternacircncia de cordotildees dunares e canais de mareacute Naprimeira metade do seacuteculo XX a margem ocidentalda barra da Armona (que era a principal do sistema)localizava-se junto agrave povoaccedilatildeo da Culatra tendo aiacutesido construiacutedas as instalaccedilotildees do Instituto deSocorros a Naacuteufragos onde estava sedeado o botesalva-vidas Estas instalaccedilotildees haacute muito que perderampor completo a sua funcionalidade estandoactualmente convertidas num Centro Social dapovoaccedilatildeo A ocupaccedilatildeo apenas ocorre na margemlagunar da ilha e consequentemente natildeo estaacute sujeitaa problemas significativos de erosatildeo costeira

O sector oriental que se constituiu essencialmentea partir de meados do seacuteculo XX eacute despovoado Estecrescimento da ilha estaacute provavelmente relacionadocom a modificaccedilatildeo da hidrodinacircmica do sistemadevido agrave construccedilatildeo da Barra de Faro-OlhatildeoApresenta corpo dunar pouco desenvolvido e elevadasusceptibilidade a galgamentos (Andrade et al 1998Garcia et al 2002 Vila-Concejo et al 2006)

37 Barra da Armona

A Barra da Armona que separa as ilhas da Culatra

Figura 4 ndash Panoracircmica da Ilha da Culatra e Barra de Faro-Olhatildeo vista de Oeste na foto satildeo visiacuteveis as povoaccedilotildeesdo Farol Hangares e Culatra (fotografia obtida em Novembro de 2006 pelo autor)Figure 4 ndash Oblique aerial photo from West of the Culatra Island and Faro-Olhatildeo Inlet showing the Farol Hangares andCulatra communities (photo by author in November 2006)

66

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

e da Armona eacute considerada a uacutenica barra estaacutevel dosistema em termos de localizaccedilatildeo (Pilkey et al 1989)e a que apresenta o delta de vazante mais desenvolvido(Dias et al 1997) (Fig2) Era a principal barra dosistema mas o crescimento da ilha da Culatra temprovocado o seu estreitamento progressivo Entre1873 e 1983 a barra estreitou cerca de 2500mpassando de uma largura de 4300m para 1850m(Esaguy 1984) A maior taxa de estreitamento entre1950 e 1977 estaacute provavelmente relacionada com aconclusatildeo da abertura da Barra de Faro-Olhatildeo (Vila-Concejo et al 2002) Na actualidade apresenta umalargura de cerca de 200m

38 Ilha da Armona

A Ilha da Armona tem comprimento aproximadode 9km e largura maacutexima de cerca de 1400m naextremidade SW (Fig2) A parte ocidental apresentaum longo cordatildeo dunar frontal de 8 a 9m A deposiccedilatildeode sedimento a ocidente eacute um fenoacutemeno uacutenico emtodo o sistema da Ria Formosa (Pilkey et al 1989) econtribui para o estreitamento da Barra da ArmonaA parte oriental apresenta um cordatildeo dunar poucodesenvolvido e elevada susceptibilidade ao galgamento(Andrade et al 1998)

Na zona mais larga a ocidente encontra-se apovoaccedilatildeo da Armona Progressivamente a largura dailha vai diminuindo para oriente sendo o cordatildeo dunarrobusto e bem vegetado ateacute agrave zona fronteira agravepovoaccedilatildeo da Fuzeta (Fig1)

Nesta zona bastante estreita e sujeita agalgamentos oceacircnicos onde se localizava a Barra daFuzeta em meados do seacuteculo XX encontra-se umconjunto de casas (construiacutedas ilegalmente) comutilizaccedilatildeo natildeo permanente Ramos amp Dias (2000)apontam esta ocupaccedilatildeo como um dos casos maiscriacuteticos do sistema por se localizar numa zona comelevada vulnerabilidade ao galgamento

39 Barra da Fuzeta

A Barra da Fuzeta que separa as ilhas da Armonae de Tavira tem actualmente cerca de 250m de largura(Fig2) Apresenta normalmente evoluccedilatildeo muitoraacutepida (Dias et al 1997) Entre 1945 e 1996 registouuma taxa de migraccedilatildeo meacutedia de cerca de 65mano(Vila-Concejo et al 2006) Natildeo satildeo conhecidos valoresexactos da extensatildeo ou duraccedilatildeo do ciclo de migraccedilatildeo

Contudo de acordo com Vila-Concejo et al (2002) ociclo completo dura pelo menos 50 anos e a barramigra no total mais de 3500m Esta migraccedilatildeo podeser progressiva ou intermitente (Dias et al 1997)

Agrave semelhanccedila da Barra do Ancatildeo procedeu-se agraveabertura artificial de uma nova Barra da Fuzeta emJulho de 1999 Poreacutem devido aos condicionamentosimpostos pelas casas existentes frente agrave povoaccedilatildeo daFuzeta foi aberta apenas a cerca de 800m a ocidenteda posiccedilatildeo que ocupava em 1996 Parte do sedimentodragado foi utilizada para fechar artificialmente aantiga barra No entanto esta intervenccedilatildeo natildeo obtevemuito sucesso devido ao aumento de sinuosidade docanal apoacutes a abertura De acordo com os resultadosde Vila-Concejo et al (2004b) o canal atingiu oequiliacutebrio dinacircmico em Julho de 2000

310 Ilha de Tavira

A Ilha de Tavira eacute a maior do sistema com cercade 11km de comprimento e 800m de largura maacuteximana parte central (Fig2) Esta ilha estreitaprogressivamente para SW onde existem sinais deforte erosatildeo e de frequentes galgamentos No entantoo campo dunar eacute na generalidade moderadamentelargo e elevado constituiacutedo por vaacuterios cordotildeesdunares A Ilha de Tavira exceptuando a extremidadeSW eacute considerada uma das mais ldquoestaacuteveisrdquo do sistemada Ria Formosa natildeo existindo indiacutecios de processosdestrutivosconstrutivos relacionados com amigraccedilatildeo de barras Apresenta poreacutem algunscorredores eoacutelicos junto agraves zonas de maior ocupaccedilatildeodevido ao pisoteio e na parte central na zonaenvolvente ao Arraial do Barril verificou-se um recuoda linha de costa entre 1976 e 2001 de 02 a 13mano (Garcia et al 2005)

A extremidade oriental da ilha estaacute estabilizadaartificialmente pelos molhes da Barra de Tavira o quelevou agrave acumulaccedilatildeo de sedimentos a ocidente dabarra numa extensatildeo de cerca de 1000m A partemais vulneraacutevel da zona NE situa-se junto ao Canalde Tavira artificial pois que a sua posiccedilatildeo tem sidomantida atraveacutes de dragagens e traccediladomeandriforme Neste local a ilha tecircm apenas cerca de150m de largura

A Ilha de Tavira apresenta duas zonas de ocupaccedilatildeoo Arraial do Barril (antiga infra-estrutura de pesca doatum convertida em apoio de praia) e a Praia de Tavira

67

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

onde se situam estruturas de apoio com algumaenvergadura designadamente um parque decampismo (Fig1) Na actualidade apesar dos impactesantroacutepicos serem elevados satildeo concentrados elimitados Segundo Dias et al (2004) o Arraial doBarril pode ser apontado como um bom exemplo deexploraccedilatildeo turiacutestica sustentaacutevel natildeo haacute habitaccedilatildeopermanente o acesso eacute efectuado por uma pontepedonal e por um pequeno comboio ou pelo passeioque o ladeia (o que evita impactes generalizados) asantigas instalaccedilotildees da companhia de pesca queestavam abandonadas tiveram reaproveitamentolucrativo Contudo o cordatildeo dunar frontal estaacute sujeitoa alguma erosatildeo e a pequenos galgamentos oceacircnicosdetectando-se tambeacutem alguns corredores eoacutelicos episoteio moderado A previsatildeo da localizaccedilatildeo da linhade costa em 2050 considerando a aceleraccedilatildeo daelevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar e a eventualocorrecircncia de um temporal com periacuteodo de retornode 50 anos indica que eacute expectaacutevel um recuo da ordemdos 70m ou seja que atingiraacute as edificaccedilotildees aiacuteexistentes (Ferreira et al 2006)

311 Barra de Tavira

A Barra de Tavira artificial separa as ilhas deTavira e de Cabanas e tem largura de 60m (Fig2) Foiaberta artificialmente em 1927 quase em frente agrave fozdo Rio Gilatildeo conduzindo ao encerramento da antigabarra em 1930 (Vila-Concejo et al 2006) Os dadosdisponiacuteveis sugerem uma velocidade de migraccedilatildeo daantiga barra de cerca de 40mano (Weinholtz 1978)A barra artificial teve que ser sujeita a vaacuterias operaccedilotildeesde dragagem entre 1930 e 1935 e estabilizada pordois esporotildees em 1936 devido ao constanteassoreamento (Esaguy 1987) Um ciclone ocorridoem 1941 abriu uma nova barra a cerca de 1100m aEste da barra artificial (Barra do Cochicho-Almargem) a qual rapidamente alargou e comeccedilou amigrar para oriente A existecircncia da nova barra levouao aumento do assoreamento da Barra de Tavira queteve que ser reaberta em 1961 face agraves dificuldades denavegaccedilatildeo Posteriormente foram efectuadas diversasobras de dragagem estabilizaccedilatildeo e fortalecimento dediques no sentido de diminuir o assoreamento(Esaguy 1987) A eficiecircncia hidrodinacircmica da Barrade Tavira eacute muito pequena representando cerca de4 do prisma de mareacute total do sistema (Andrade1990a)

312 Ilha de Cabanas

A Ilha de Cabanas eacute a ilha mais oriental e a maispequena do sistema com um comprimento de cercade 6km e uma largura maacutexima de 300m (Fig2) Narealidade constitui a extremidade natural da Ilha deTavira tendo sido convertida numa ilha autoacutenomapela abertura artificial da Barra de Tavira (Dias 1988)Foi completamente destruiacuteda durante o ciclone de1941 e novamente no decurso de um violentotemporal em 1961 os quais provocaram extensosgalgamentos oceacircnicos e a formaccedilatildeo de uma novabarra (Barra de Cabanas) para aleacutem da Barra doCochicho-Almargem as quais juntas formaram umaabertura uacutenica com cerca de 2500m de extensatildeo apartir da meia mareacute (Matias 2000)Consequentemente o cordatildeo dunar eacute relativamenterecente fraacutegil e elevando-se apenas a uma cota meacutediade 25m (Dias et al 2003)

A Ilha de Cabanas foi a primeira zona a serintervencionada ao abrigo do programaldquoRequalificaccedilatildeo do sistema lagunar da Ria Formosardquoentre Abril e Junho de 1999 Natildeo existem estimativasda quantidade de sedimentos perdidos para o marNo entanto os dragados usados na realimentaccedilatildeoeram grosseiros ajudando agrave naturalizaccedilatildeo dos aterrosefectuados (Saacute-Pires et al 2001) Aleacutem destaintervenccedilatildeo foi construiacutedo mais um pequeno esporatildeoa oriente da Barra de Tavira pelo que a erosatildeo que aiacutese verifica ficou atenuada pela existecircncia de doisesporotildees As intervenccedilotildees parecem ter sidodeterminantes na protecccedilatildeo da praia uma vez quenatildeo se tecircm registado galgamentos ou erosatildeo do cordatildeodunar nos locais intervencionados os mesmosapresentam alguma colonizaccedilatildeo por vegetaccedilatildeopioneira (Saacute-Pires et al 2001) No entanto uma vezque a realimentaccedilatildeo foi localizada e o cordatildeo dunareacute de baixa altitude as intervenccedilotildees natildeo impedem quenum futuro proacuteximo ocorram galgamentossobretudo junto aos apoios de praia existentes

313 Barra do Laceacutem

A Barra do Laceacutem corresponde agrave barra natural dolimite Este da Ilha de Tavira se esta natildeo fosseinterrompida pela barra artificial de Tavira (Fig2)Vaacuterios autores documentaram a evoluccedilatildeo da mesma(eg Weinholtz 1978 Esaguy 1986b Dias 1988

68

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Pilkey et al 1989 Andrade 1990a Bettencourt 1994Matias 2000 Vila-Concejo et al 2002) A barra separaa Ilha de Cabanas e a Peniacutensula de Cacela deriva dajunccedilatildeo em 1985 das Barras de Cochicho-Almargem(aberta pelo ciclone de 1941) e de Cabanas (abertapelo temporal de 1961) (Esaguy 1986b) A velocidademeacutedia de migraccedilatildeo da barra tem sido de 97mano(Vila-Concejo et al 2006)

Mais recentemente em 2004 abriu-se uma novabarra natural localizada a oriente da antiga Barra doLaceacutem A nova barra conduziu ao assoreamento daantiga Barra do Laceacutem com o seu consequenteencerramento

314 Peniacutensula de Cacela

A Peniacutensula de Cacela localiza-se no extremooriental da Ria Formosa Tem cerca de 3km decomprimento e entre 100 a 250m de largura (Fig2)

Em 1976 a cota meacutedia do cordatildeo dunar singularrobusto e vegetado era de 34m atingindo um maacuteximode 61m (Esaguy 1986c) A posterior degradaccedilatildeo doscorpos dunares devido ao pisoteio conduziu a umgrande aumento da frequecircncia de galgamentos (Diaset al 2004) Em 1990 Andrade (1990b) verificou quea Peniacutensula de Cacela apresentava um maacuteximo desusceptibilidade a galgamentos oceacircnicos De factodurante o Inverno de 19951996 ocorreramgalgamentos generalizados em quase toda a peniacutensulaque conduziram agrave abertura de uma nova barra nocentro da mesma (Barra da Faacutebrica) a qual emOutubro de 1996 chegou a ter cerca de 35m de largurae uma profundidade de 07m (Matias et al 2004) Casonatildeo se efectuasse qualquer intervenccedilatildeo era de preverque as dunas remanescentes desaparecessem porcompleto

Assim no sentido de diminuir a vulnerabilidade agalgamentos e de manter a produccedilatildeo de bivalves(actividade econoacutemica mais importante da zona)foram efectuadas entre Outubro de 1996 e Fevereirode 1997 grandes intervenccedilotildees que consistiramprincipalmente na ldquoreconstituiccedilatildeordquo do cordatildeo dunarda Peniacutensula de Cacela na colmataccedilatildeo da Barra daFaacutebrica e na dragagem da Barra do Laceacutem e do canallagunar (Ramos amp Dias 2000 Matias et al 2005) Oobjectivo era elevar a cota do topo do cordatildeo dunarateacute aos 75m acima do Zero Hidrograacutefico (ZH)reconstituindo uma situaccedilatildeo semelhante agrave existente

nos anos 60 (Ramos amp Dias 2000) Todavia devidoagrave existecircncia de formaccedilotildees consolidadas queimpossibilitaram a dragagem agraves cotas inicialmenteestabelecidas a quantidade de sedimentos repulsadospara a peniacutensula foi bastante inferior ao previstoestimando-se que o material deposto no cordatildeo dunartenha atingido apenas 325000m3 (Ramos amp Dias2000) Tal obrigou agrave reformulaccedilatildeo do projectoelevando-se a cota de topo da duna apenas para os5m acima do ZH Segundo Matias et al (1999) cercade 32 do sedimento depositado perdeu-seimediatamente apoacutes a deposiccedilatildeo no cordatildeo arenosoTal verificou-se devido aos processos de acomodaccedilatildeodo perfil de praia submerso mas tambeacutem porquegrande parte do material natildeo apresentava agranulometria adequada Depois da realimentaccedilatildeo avegetaccedilatildeo pioneira comeccedilou rapidamente a colonizara duna reconstituiacuteda (Matias et al 2004)

Outras intervenccedilotildees tecircm vindo a ser efectuadasdepois do robustecimento do cordatildeo dunar foramconstruiacutedos passadiccedilos de madeira procedeu-se agravecolocaccedilatildeo de paliccediladas no sentido de propiciar odesenvolvimento de dunas naturais e agrave plantaccedilatildeo deAmmophila arenaria Posteriormente entre Abril de1999 e Julho de 2000 efectuaram-se em quase todoo sistema novas dragagens nos canais natildeoconsiderados de navegaccedilatildeo integradas no Projectode Requalificaccedilatildeo do Sistema Lagunar com oobjectivo de intensificar a circulaccedilatildeo assim mantendoas condiccedilotildees ecoloacutegicas do sistema Nesta intervenccedilatildeovoltou-se a dragar a Barra do Laceacutem em Junho de1999 Segundo Ramos amp Dias (2000) as intervenccedilotildeesatingiram os objectivos tendo a vulnerabilidade aogalgamento sido drasticamente reduzida e do ladonascente verificando-se o estabelecimento dasucessatildeo fitogeneacutetica conferindo um aspecto naturalao novo cordatildeo dunar

Mais recentemente na parte central da zonaintervencionada verificou-se erosatildeo completa daldquodunardquo reconstruiacuteda o que tinha sido previsto nosestudos de monitorizaccedilatildeo realizados no decurso eimediatamente apoacutes a intervenccedilatildeo tendo-se na alturasugerido a possibilidade de nova pequena intervenccedilatildeopontual Todavia quando se verificou a ruptura natildeohouve possibilidades de efectuar essa pequenaintervenccedilatildeo pelo que se abriu naturalmente novabarra o que nos uacuteltimos anos provocou a colmataccedilatildeo

69

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

da antiga barra e erosatildeo de grande parte das ldquodunasrdquoreconstruiacutedas no final do seacuteculo XX

4 DISCUSSAtildeO

41 Evoluccedilatildeo Geral do Sistema

Como se deduz dos pontos anteriores o sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa eacute extremamentedinacircmico e como tal bastante vulneraacutevel As taxasde crescimento longitudinal de algumas ilhas satildeo dasmais notaacuteveis a niacutevel mundial (Dias et al 1997)

Segundo Pilkey et al (1989) os principais processosque contribuem para a evoluccedilatildeo das ilhas-barreira daRia Formosa satildeo (1) recuo da linha de costa (2) derivalitoral (3) galgamentos oceacircnicos (4) formaccedilatildeo decorpos dunares e de estabelecimento da respectivavegetaccedilatildeo (5) constituiccedilatildeo de deltas de mareacute e suaagregaccedilatildeo agraves ilhas (6) comportamento das barras e(7) erosatildeoacumulaccedilatildeo provocada pelas mareacutes-vivasdesignadamente nos canais de mareacute

Recuo da linha de costaOs valores observados na evoluccedilatildeo da linha de

costa indicam a existecircncia de recuo generalizado dasilhas e peniacutensulas (com excepccedilatildeo das zonasimediatamente a barlamar dos molhes das barras denavegaccedilatildeo) a qual varia consoante a localizaccedilatildeogeograacutefica e a interacccedilatildeo com os processos oceacircnicosA linha de costa move-se em resposta aos factoresnaturais de forma a manter o equiliacutebrio (Williams2001) O recuo da linha de costa eacute mais acentuadonos extremos do sistema e na parte ocidental das ilhase peniacutensulas Na parte central do sistema e nosextremos orientais das ilhas verifica-se algumaacreccedilatildeo Nas duas aacutereas mais intensamente ocupadas(Praia de Faro e Farol) existe estabilizaccedilatildeo da linha decosta devido a artificializaccedilatildeo desta com estruturasfixas de engenharia costeira A acreccedilatildeo verificada aoriente das ilhas da Barreta e de Tavira deve-se agravedeposiccedilatildeo de sedimentos a barlamar dos molhes dasbarras artificiais

Deriva litoralTorna-se evidente que o sistema da Ria Formosa

tem grande carecircncia de sedimentos principalmentenalgumas zonas mais expostas Contudo grande partedeste problema tem origem a barlamar do sistemaonde foram construiacutedos os molhes da marina deVilamoura e o campo de esporotildees de Quarteira que

interromperam a deriva litoral provocando a orienteintensificaccedilatildeo da erosatildeo nas arribas situadas entreQuarteira e a Praia do Garratildeo Actualmente as arribassatildeo o principal elemento abastecedor de areias aosistema da Ria Formosa (Correia et al 1997) Noentanto estas natildeo chegam para colmatar as carecircnciassedimentares do sistema da Ria Formosa o quesignifica que se forem construiacutedas obras riacutegidas deengenharia costeira neste sector se verificaraacuteintensificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico do sistemaampliando o grau de ruptura em que este jaacute seencontra Um exemplo que ilustra esta vulnerabilidadefoi a conclusatildeo da construccedilatildeo dos molhes da barraartificial de Faro-Olhatildeo em meados do seacuteculopassado que induziu grandes alteraccedilotildees com efeitosdraacutesticos no suprimento de sedimento agrave parte orientalNa realidade a abertura desta barra estabilizada pelosmolhes respectivos fez com que o sistema naturalentrasse em ruptura modificando radicalmente ascaracteriacutesticas hidro-sedimentoloacutegicas Segundo Dias(1990) as uacutenicas acccedilotildees de protecccedilatildeo realmenteeficazes satildeo as que possibilitam a reconstituiccedilatildeo daderiva litoral com os consequentes volumes desedimentos necessaacuterios

Galgamentos oceacircnicosAs ilhas-barreira da Ria Formosa satildeo

periodicamente sujeitas a galgamentos oceacircnicosdurante temporais de SW e SE Estes galgamentosconstituem um elemento muito importante nadinacircmica e na evoluccedilatildeo natural do sistemacontribuindo com fornecimento de sedimentos parao interior da laguna e abertura de novas barras quandoas antigas jaacute natildeo apresentam eficiecircncia (Andrade1990a) Tecircm sido assumidos como principalmecanismo de migraccedilatildeo das ilhas-barreira(Leatherman 1976 Bray amp Carter 1992) induzindoum efeito construtivo de acreccedilatildeo (Matias et al 2003)Assim sendo a gestatildeo deve integrar uma adaptaccedilatildeoaos galgamentos naturais uma vez que satildeo vitais parao funcionamento natural do sistema

Do ponto de vista da ocupaccedilatildeo os galgamentosoceacircnicos satildeo um factor importante que necessita deser avaliado para propiciar uma gestatildeo mais eficazuma vez que induz seacuterios danos nas infra-estruturasexistentes (Andrade et al 1998) Verifica-se que ospontos mais vulneraacuteveis a galgamentos satildeo a Praia deFaro Barreta W Culatra E Armona E Tavira W toda

70

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

a Ilha de Cabanas e a Peniacutensula de Cacela Nesteslocais mesmo a ocorrecircncia de pequenos temporaisdurante a preia-mar de mareacutes vivas podem provocargalgamentos Alguns pontos como a Ilha de Cabanase a Peniacutensula de Cacela viram reduzida avulnerabilidade a galgamentos apoacutes as intervenccedilotildeesefectuadas com algum sucesso embora essavulnerabilidade comece a ser actualmente elevada nosegundo caso devido aos factos aludidos mais acimaEm geral os locais de maior vulnerabilidade satildeo osque apresentam perfis de praia de pouca inclinaccedilatildeocordatildeo dunar fraacutegil e proximidade das barras

Cordatildeo dunar e vegetaccedilatildeo dunarAo longo das ilhas existiu um cordatildeo dunar frontal

contiacutenuo com 5 a 10m de altura sem cortes eoacutelicos ede galgamento muito significativos e bem cobertosde vegetaccedilatildeo (Pilkey et al 1989) No entanto o cordatildeodunar encontra-se na actualidade completamenteocupado em alguns locais por edificaccedilotildees comoacontece na Praia de Faro na povoaccedilatildeo do Farol e naIlha da Armona A vegetaccedilatildeo tornou-se escassa natildeosomente nas zonas ocupadas mas tambeacutem noutroslocais como na parte ocidental da Ilha da Barreta ena oriental das ilhas da Armona e da Culatra

Com a crescente pressatildeo antroacutepica exercida sobreo sistema especialmente para fins balneares verifica-se que em vaacuterios locais a quantidade de cortes eoacutelicostem aumentado devido ao pisoteio Este facto podeconduzir em periacuteodos de agitaccedilatildeo mariacutetima maisenergeacutetica agrave ocorrecircncia de galgamentos oceacircnicosRamos amp Dias (2000) referem que grande parte doscortes de galgamento oceacircnico do sistema da RiaFormosa eacute devido ao pisoteio dos corpos dunares enatildeo a causas naturais

A instalaccedilatildeo intensiva nos uacuteltimos anos depaliccediladas para recuperaccedilatildeo dunar complementadacom plantaccedilatildeo de vegetaccedilatildeo tiacutepica destes ambientescorresponde a uma acccedilatildeo de gestatildeo com efeitos muitopositivos com a qual se tem conseguido robustecero cordatildeo dunar do sistema

Deltas de mareacuteA incorporaccedilatildeo de deltas de enchente e posterior

migraccedilatildeo ou encerramento da barra respectivaconstitui importante mecanismo de evoluccedilatildeo dasilhas-barreira estando na origem da grande larguradas ilhas da Armona e de Tavira (Pilkey et al 1989)

A formaccedilatildeo de deltas de enchente em associaccedilatildeo comos galgamentos oceacircnicos contribui para a migraccedilatildeodas ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continente o quepoderaacute estar a suceder com o caso particular daPeniacutensula de Cacela (Andrade et al 2004)

Comportamento das barrasA Ria Formosa eacute caracterizada por apresentar

elevadas taxas de migraccedilatildeo das barras A estabilizaccedilatildeode duas das barras no sector oriental provocou fortesmodificaccedilotildees na dinacircmica do sistema Segundo Vila-Concejo et al (2002) a estabilizaccedilatildeo da Barra Faro-Olhatildeo (1929-1955) teve maiores consequecircncias nasbarras do Ancatildeo e da Armona enquanto que aabertura artificial da Barra de Tavira (1927-1985)produziu maiores efeitos nas barras da Fuzeta e doLaceacutem

A Barra da Armona era a principal barra dosistema controlando a maior parte da circulaccedilatildeo daRia Formosa na parte central Com a abertura da BarraFaro-Olhatildeo projectada para manter profundidadesentre-molhes da ordem de 45m ZH mas queprogressivamente se foi aprofundando ateacuteprofundidades superiores a 40 metros as trocashiacutedricas com o oceano passaram a efectuar-sepredominantemente por esta barra Os molhesprovocaram grande acumulaccedilatildeo a barlamar pelo quenos 12 anos seguintes agrave sua construccedilatildeo a Ilha daBarreta registou alargamento superior a 220 metrosna zona por eles influenciada (Bettencourt 1985) Emconsequecircncia a barra da Armona perdeu eficaacuteciareduzindo progressivamente largura e profundidadeNos anos 80 do seacuteculo XX tinha ainda cerca de 2000metros de largura mas actualmente essa largura eacuteapenas da ordem de 200 metros

O sentido de migraccedilatildeo das barras natildeo estabilizadaseacute para oriente (agrave excepccedilatildeo da Barra da Armona quetem mantido a sua posiccedilatildeo) Essa migraccedilatildeo efectua-se quer progressivamente (mantendo ou natildeo a largura)ou por ldquosaltosrdquo na sequecircncia de temporais em quenova barra se abre em geral a sotamar da barraexistente seguindo-se frequentemente a posteriorcolmataccedilatildeo desta (Dias 1988 Pilkey et al 1989Andrade et al 1998)

Erosatildeo provocada pelas mareacutes-vivasA Ria Formosa eacute um sistema lagunar com uma

grande aacuterea de zona intertidal (cerca de 13 do total

71

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

da aacuterea) Em cada ciclo de mareacute 50 a 75 da aacutegua eacuterenovada (Sprung 1994) Devido agrave diferenccedila deamplitude entre mareacutes-vivas e mareacutes-mortas as zonasde menor elevaccedilatildeo das ilhas-barreira satildeo regularmenteinundadas durante as primeiras causando transportesignificativo de sedimentos Estes fluxos satildeoresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo de canais de mareacute eaumento da erosatildeo das ilhas-barreira

Como jaacute foi referido os periacuteodos de mareacutes-vivassatildeo bastante problemaacuteticos especialmente noInverno na medida em que potenciam o efeito detempestades que ocorrem durante mareacutes-cheiasTodos os anos nos pontos criacuteticos do sistema comoa Praia de Faro a probabilidade de ocorrer umasituaccedilatildeo muito grave aumenta principalmente se seconsiderar a elevaccedilatildeo do NMM

42 Intervenccedilatildeo

Como eacute reconhecido por Scheele amp Westen (1996)os planos de gestatildeo costeira devem apontar para aprotecccedilatildeo ambiental de longo prazo o que implica(1) uma estrateacutegia com objectivos claros e concisos(2) uma metodologia praacutetica e realista (3)monitorizaccedilatildeo contiacutenua (4) forte aposta nosprogramas de educaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo ambiental e(5) envolvimento da comunidade local no processode planeamento e tomada de decisotildees

Sendo a Ria Formosa um sistema muito dinacircmicocom elevada vulnerabilidade e que reage rapidamentea elevaccedilotildees do niacutevel do mar os muacuteltiplos interesseseconoacutemicos e sociais aiacute existentes fazem com que aaacuterea seja caracterizada por elevado grau de conflitosde interesses A situaccedilatildeo torna-se ainda mais complexaquando se considera que o sistema corresponde a umParque Natural onde haacute que compatibilizar interesseseconoacutemicos com a conservaccedilatildeo da Natureza Nestecontexto soacute eacute possiacutevel proceder agrave conservaccedilatildeo daNatureza atraveacutes de intervenccedilotildees tendentes a minoraros impactes negativos induzidos pelas actividadesantroacutepicas (Ramos amp Dias 2000)

De acordo com as actividades desenvolvidas osprincipais grupos de interesse na Ria Formosa satildeo(1) o PNRFICNB (2) a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeoe Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR-Algarve) (3) as entidades promotoras do turismo (4)as associaccedilotildees comerciais e industriais (incluindo oporto) (5) os pescadores e autoridades responsaacuteveis

por este sector (6) as entidades regionais e locais (7)as associaccedilotildees de defesa do ambiente e osambientalistas e (8) a populaccedilatildeo local incluindoresidentes e natildeo residentes Como sugere Antunes etal (2006) o entendimento entre os diferentes gruposconduz a uma sinergia que beneficia as potencialidadesque contribuem para uma gestatildeo eficaz

Os principais problemas das ilhas-barreira estatildeolocalizados nos nuacutecleos urbanos devido agraves estruturasedificadas Dos principais nuacutecleos existentes apenasos de Hangares e Culatra natildeo tecircm problemas erosatildeocosteira pois que se localizam junto agrave parte lagunar(e consequentemente afastados da praia oceacircnica eportanto resguardados dos temporais) Os restantespoacutelos de ocupaccedilatildeo (Praia de Faro Farol etc) satildeoproblemaacuteticos sendo os riscos de inundaccedilatildeo e erosatildeobastante elevados Para resolver estes problemasexistem fundamentalmente trecircs estrateacutegias deintervenccedilatildeo (1) intervenccedilatildeo riacutegida (ex esporotildeesparedotildees) (2) retirada estrateacutegica programas natildeoestruturais (ex demoliccedilatildeo de infra-estruturas) e (3)intervenccedilatildeo suave (ex realimentaccedilatildeo de praias) (Pilkeyamp Dixon 1996) Qualquer uma destas estrateacutegias temproacutes e contras sendo praticamente impossiacutevel quequalquer uma delas satisfaccedila todos os grupos deinteresse afectados

Intervenccedilatildeo riacutegidaAteacute haacute poucas deacutecadas em todo o mundo a

construccedilatildeo de estruturas riacutegidas e permanentesconstituiu o meacutetodo mais utilizado de protecccedilatildeo dopatrimoacutenio edificado no litoral Embora estasestruturas se revelem eficazes na defesa de imobiliaacuterioem risco de ser danificado pela erosatildeo costeiraprovocam fortes impactes negativos a sotamar dolocal onde satildeo construiacutedas (Inman 1978 Mangor1998 Greene 2002) pelo que internacionalmente severifica tendecircncia para adoptar outros tipos deprotecccedilatildeo ambientalmente menos agressivos

A construccedilatildeo dos molhes da marina de Vilamourae do campo de esporotildees de Quarteira provocou forteaumento da erosatildeo a oriente e consequentementegraves problemas de gestatildeo Por outro lado a aberturae fixaccedilatildeo das barras de Faro-Olhatildeo e de Tavira parapropiciar melhor funcionamento das estruturasportuaacuterias existentes no meio lagunar econsequentemente beneficiar as actividades socio-econoacutemicas da regiatildeo provocaram grandes alteraccedilotildees

72

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

no sistema fazendo com que o seu funcionamentonatural tivesse entrado em ruptura e que a erosatildeocosteira tivesse sido fortemente amplificada a sotamarComo se veraacute na parte dedicada agraves intervenccedilotildeessuaves a utilizaccedilatildeo de teacutecnicas de transposiccedilatildeo dosmolhes (ldquoby-passingrdquo) permitiria reduzirsubstancialmente alguns destes impactes negativos

A construccedilatildeo de mais estruturas riacutegidas na RiaFormosa (ou a barlamar desta) traduzir-se-ia numaforte amplificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico em queo sistema jaacute se encontra tendendo a meacutedio ndash longoprazo para a completa artificializaccedilatildeo da Ria Formosaconsignada por legislaccedilatildeo nacional como ParqueNatural e reconhecida internacionalmente comoimportante aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental

Retirada estrateacutegica Programas natildeo estruturaisOs programas natildeo estruturais satildeo intervenccedilotildees em

que se procede agrave demoliccedilatildeo de infra-estruturasameaccediladas pela erosatildeo costeira ou transferecircncia dasmesmas para locais mais seguros o que eacute tambeacutemconhecido como ldquoretirada estrateacutegicardquo Viabiliza-seassim a evoluccedilatildeo natural dos sistemas Com amigraccedilatildeo das ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continentecomo resposta agrave elevaccedilatildeo do NMM este tipo deintervenccedilatildeo comeccedilou por ser aplicado em algunslocais da costa Leste dos EUA em 1972 (NRC 1995)A deslocalizaccedilatildeo de infra-estruturas pode ser eficazem locais pouco povoados ou quando existe interessena salvaguarda de patrimoacutenio como aconteceu como farol do Cabo Hatteras nos EUA No entantotorna-se impraticaacutevel em grandes nuacutecleos urbanosdevido aos elevados custos e dificuldades logiacutesticas

Na Ria Formosa este tipo de intervenccedilatildeo temencontrado grandes dificuldades de execuccedilatildeodesignadamente no que se refere agrave demoliccedilatildeo de casasconstruiacutedas ilegalmente em Domiacutenio Hiacutedrico Domiacutenio Puacuteblico Mariacutetimo o que aleacutem de tender aperpetuar situaccedilotildees de muito alto risco potildee em causaa imagem do Paiacutes como Estado de direito (Dias 2002)

Intervenccedilatildeo SuaveA intervenccedilatildeo suave tambeacutem designada por

protecccedilatildeo dinacircmica desde haacute algumas deacutecadas que eacuteutilizada preferencialmente como alternativa agravesteacutecnicas de intervenccedilatildeo riacutegida Apresentam menoresimpactes ambientais sendo uma soluccedilatildeo maisapropriada para aacutereas sensiacuteveis como as ilhas-barreira

As teacutecnicas de protecccedilatildeo suave tais como arealimentaccedilatildeo de praias a reconstruccedilatildeo dunar atransposiccedilatildeo de molhes (by-passing) a abertura debarras (para as deixar evoluir naturalmente) e asldquodragagens ecoloacutegicasrdquo correspondem em geral auma intervenccedilatildeo inicial deixando depois a Naturezaldquotrabalharrdquo Por essa razatildeo estas teacutecnicas satildeo tambeacutemfrequentemente designadas por ldquobuilding with NaturerdquoSatildeo com frequecircncia menos dispendiosas e maiseficientes a longo prazo do que as intervenccedilotildees riacutegidas(Koster amp Hillen 1995 Griggs 1999 Dias et al 2003)

Poreacutem estas teacutecnicas tecircm que ser executadas comforte suporte cientiacutefico e devem envolver o conceitode protecccedilatildeo de trechos costeiros na sua globalidadee natildeo apenas a protecccedilatildeo local de patrimoacutenio edificadoem zonas de risco Se forem concretizadas de formadeficiente podem mesmo revelar-secontraproducentes Eacute o que se passa por exemploquando a realimentaccedilatildeo de praias eacute efectuada comareias extraiacutedas da praia submersa (acima daprofundidade de fecho) nestes casos nenhumsedimento eacute adicionado ao sistema (Wells amp McNinch1991) havendo apenas transferecircncias dentro dosistema com consequecircncias negativas para o seufuncionamento natural tanto ao niacutevel morfodinacircmicocomo bioloacutegico

Desde 1996 que o PNRFICN tem realizadointervenccedilotildees de caraacutecter suave na tentativa demelhorar o funcionamento do sistema e diminuir avulnerabilidade ao galgamento e ao mesmo tempomanter a dinacircmica dos processos naturais (Dias et al2004) Entre as intervenccedilotildees efectuadas procedeu-seao robustecimento da Peniacutensula de Cacela agrave aberturadas Barras do Ancatildeo e da Fuzeta (deixando-as deseguida evoluir naturalmente) agrave dragagem de muitoscanais que natildeo satildeo de navegaccedilatildeo para melhorar acirculaccedilatildeo no sistema agrave repulsatildeo de sedimentos parao cordatildeo arenoso agrave colocaccedilatildeo de paliccediladas parareconstruccedilatildeo dunar agrave plantaccedilatildeo de Ammophila arenariae agrave construccedilatildeo de passadiccedilos sobrelevados

Segundo Dias et al (2003) as intervenccedilotildees suavesrealizadas na Ria Formosa propiciaram melhorprotecccedilatildeo das ilhas-barreira tendo-se em geralatingido os objectivos esperados Os mesmos autoresreferem que os sistemas naturais de elevadaimportacircncia soacutecio-econoacutemica e ambiental (como aRia Formosa) podem ser geridos utilizando este tipo

73

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

de teacutecnicas lucrando com o aproveitamento dosrecursos existentes

A transposiccedilatildeo (by-passing) dos molhes das barrasartificiais meacutetodo utilizado desde haacute muito um poucopor todo o mundo permitiria que as areias retidaspelos molhes a barlamar fosse transferido parasotamar aiacute reconstituindo a deriva litoral econsequentemente minimizando alguns dos impactesnegativos induzidos por estas estruturas Vaacuteriosestudos que demonstram que esta tecnologia natildeoaparenta ter efeitos ambientais negativos associados(eg Lindeman 1997 in Greene 2002)

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Com vista a avaliar a vulnerabilidade das ilhas-barreira da Ria Formosa o presente trabalho incidiuna actualizaccedilatildeo desta problemaacutetica na oacuteptica da gestatildeouma vez que se trata de um sistema em permanentetransformaccedilatildeo Nesta anaacutelise eacute imprescindiacutevel tersempre em consideraccedilatildeo que o sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa estaacute consignado legalmentecomo aacuterea de protecccedilatildeo ambiental desde 1978 anoem que lhe foi atribuiacutedo o estatuto de Reserva Naturaltendo ficado protegido pelo estatuto de ParqueNatural em 1987 (Decreto-lei 37387) e Rede Natura2000 tendo ainda sido integrado desde 1980 na Listade Siacutetios da Convenccedilatildeo de Ramsar (zonas huacutemidasde importacircncia internacional)

Da anaacutelise efectuada conclui-se que eacuteimprescindiacutevel compatibilizar os diversificados valoresnaturais (bioloacutegicos geomorfoloacutegicos fiacutesico-quiacutemicos geoloacutegicos etc) intriacutensecos ao sistema comos muacuteltiplos interesses soacutecio-econoacutemicos decorrentesda sua exploraccedilatildeo (pesca maricultura aquaculturaturismo portos comerciais e de pesca navegaccedilatildeo derecreio etc) Estando influenciado por fortesimpactes antroacutepicos directos e indirectos tais comoentre muitos outros a erosatildeo costeira e a intensificaccedilatildeodo assoreamento lagunar a sobrevivecircncia do sistemaldquonaturalrdquo e a sustentabilidade da sua exploraccedilatildeocarecem de intervenccedilotildees correctivas frequentes porforma a minimizar os impactes negativos aludidosTais intervenccedilotildees teratildeo que ser cautelosas e contiacutenuastentando o mais possiacutevel aproximar-se do que seriaa dinacircmica natural do sistema

Eacute ainda urgente resolver vaacuterios conflitos deinteresses existentes privilegiando as actividades

indutoras de menores impactes negativos e quesimultaneamente viabilizem uma melhor exploraccedilatildeosustentaacutevel do sistema Aponta-se a tiacutetuloexemplificativo o caso do turismo haacute quedesincentivar o turismo de massas directo nesta aacuterea(ateacute porque nas proximidades haacute poacutelos turiacutesticos destegeacutenero bem consolidados) desenvolvendo emalternativa outros tipos de turismo complementardesignadamente o turismo de Natureza a observaccedilatildeode aves (bird watching) e de peixes (fish watching) emambiente natural os passeios no meio lagunar emembarcaccedilotildees natildeo poluentes o turismo gastronoacutemicoetc

A maior parte da zona de barreira do sistema natildeoestaacute ainda ocupado por estruturas imobiliaacuterias Comvista agrave exploraccedilatildeo sustentaacutevel do sistema eacuteimprescindiacutevel que estas zonas continuem semocupaccedilatildeo permanente mantendo algumascaracteriacutesticas pristinas ainda aiacute existentes Nos poucosnuacutecleos urbanos piscatoacuterios existentes cujo casoparadigmaacutetico eacute a povoaccedilatildeo da Culatra onde natildeoexistem problemas realmente graves pois que selocalizam na margem lagunar (relativamente afastadado litoral oceacircnico) devem-se adoptar algumasmedidas correctivas pontuais por forma a preservara sua identidade cultural a melhorar a qualidade devida da populaccedilatildeo e a impedir um crescimentoexagerado Nos restantes nuacutecleos urbanos comcaracteriacutesticas ldquoturiacutesticasrdquo vaacuterios dos quais localizadosnas zonas de maior risco do sistema seria altamentedesejaacutevel que se procedesse agrave completa reformulaccedilatildeoda ocupaccedilatildeo ou sempre que possiacutevel se optasse peladesocupaccedilatildeo

No sentido de tentar resolver os problemas deerosatildeo costeira existentes (que se agravaratildeo no futuro)recomenda-se vivamente que a) natildeo se construamobras de protecccedilatildeo riacutegida (esporotildees paredotildees etc)na Ria Formosa nem na zona a barlamar desta daqual o sistema depende b) se continuem a executaracccedilotildees de robustecimento do cordatildeo dunar e decolmataccedilatildeo dos cortes de galgamento utilizando tantoquanto possiacutevel sedimentos provenientes dadragagem dos canais de navegaccedilatildeo c) se implementea transposiccedilatildeo dos molhes portuaacuterios com relevacircnciaespecial para os molhes da Barra de Faro-Olhatildeo d)efectivamente se proceda agrave demoliccedilatildeo das edificaccedilotildeessituadas em zonas de maior risco e sobre a duna

74

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

primaacuteria concretizando finalmente decisotildeesgovernamentais que tecircm vindo a ser repetidamentetomadas haacute quase trecircs deacutecadas mas nunca executadascabalmente e) sejam amplificadas as acccedilotildees deintervenccedilatildeo e protecccedilatildeo dinacircmica na linha do que severificou desde finais do seacuteculo passado (abertura debarras quando necessaacuterio para as deixar evoluirnaturalmente dragagens ldquoecoloacutegicasrdquo etc) e quetransformaram a Ria Formosa num siacutetio de referecircnciainternacional nesta mateacuteria e que nos uacuteltimos anosapenas tecircm sido executadas de forma extremamentemoderada

Finalmente eacute altamente recomendaacutevel que emtodos os actos de gestatildeo envolvendo quer ascomponentes geomorfoloacutegicas quer as ecoloacutegicasquer as soacutecio-econoacutemicas se tenham sempre emconsideraccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas principalmenteno que se refere agrave elevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar

BIBLIOGRAFIA

Andrade CF (1990a) - O Ambiente de barreira da RiaFormosa Algarve ndash Portugal Dissertaccedilatildeo deDoutoramento 645p Universidade de LisboaPortugal (natildeo publicado)

Andrade CF (1990b) - Estudo da susceptibilidadeao galgamento da Ria Formosa Geolis IV(1-2)69-76 Lisboa Portugal

Andrade CF Barata A amp Teles M (1998) - Ananalysis of the vulnerability to overwash of theRia Formosa barrier island system (Portugal)Using a simple multi-attribute technique (SMART)approach Proceedings of Littoralrsquo98 Conferencepp511-519 Barcelona Espanha

Andrade CF Freitas MC Moreno J amp CraveiroSC (2004) - Stratigraphical evidence of LateHolocene barrier breaching and extreme stormsin lagoonal sediments of Ria Formosa AlgarvePortugal Marine Geology 210339ndash362(doi101016jmargeo200405016)

Antunes P Santos R amp Videira N (2006) -Participatory decision making for sustainabledevelopment - the use of mediated modellingtechniques Land Use Policy 2344ndash52(doi101016jlandusepol200408014)

Bernardo P Bastos R amp Dias JA (2002) - Historicroots for barrier island occupation in the RiaFormosa Littoral 2002 Porto 4 p (disponiacutevel em

httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI02_Lit_91_PBpdf)

Bettencourt P (1985) - Geomorphologie et processusdlsquoeacutevolution reacutecente de la cocircte sotavento (Algarve ndash SudPortugal) Thegravese DEA 92p Universiteacute deBordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Bettencourt P (1994) - Les environnements sedimentairesde la cocircte sotavento (Algarve SudPortugal) et leur eacutevolutionHoloceacutene et actuelle PhD Thesis University ofBordeaux I Franccedila (unfinished)

Bray Jr T amp Carter C (1992) - Physical processesand sedimentary record of a moderntransgressive lacustrine barrier island MarineGeology 105(1-4)155-168 (doi 1010160025-3227(92)90187-M)

Correia F Dias JA Boski T amp Ferreira Oacute (1996)- The retreat of the Eastern Quarteira cliffed coast(Portugal) and its possible causes In Jones PSHealy MG amp Williams AT (eds) Studies inCoastal Management p129-136 Samara PublLtd Cardigan UK (disponiacutevel emht tp w3 u a l g p t j d i a s JA D pape r s CLinternac96_Studies_129_FCpdf)

Correia F Ferreira Oacute amp Dias JA (1997) - Contributodas arribas para o balanccedilo sedimentar do sectorcosteiro Quarteira - Vale do Lobo (Algarve -Portugal) Seminaacuterio sobre a zona costeira doAlgarve 31-39 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_031_FCpdf)

Costa CL (1994) - Final report of sub-project A ldquoWindwave climatology of the Portuguese coastrdquo InstitutoHidrograacutefico Report PO-WAVES 694-A 80 pLisboa Portugal (natildeo publicado)

Dias JA (1988) - Aspectos geoloacutegicos do litoralalgarvio Geonovas 10 113-128 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN88_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (1990) - A Evoluccedilatildeo Actual do LitoralPortuguecircs Geonovas 11 15-29 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN90_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (2002) - Manual de Sobrevivecircncia eVilanagem Diaacuterio de Notiacutecias - SuplementoldquoAmbiente e Desenvolvimento Sustentaacutevelrdquo 30de Julho de 2002 Lisboa Portugal (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersxCS02_DNADpdf)

75

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Dias JA Ferreira Oacute Matias A Vila-Concejo Aamp Saacute-Pires C (2003) - Evaluation of softprotection techniques in barrier islands bymonitoring programs case studies from RiaFormosa (Algarve-Portugal) Journal of CoastalResearch SI35117-131

Dias JA Ferreira Oacute amp Moura D (2004) - O sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa 3ordm SIPRES ndashSimpoacutesio Interdisciplinar sobre Processos Estuarinos 18p Faro Portugal

Dias JA amp Neal WJ (1992) - Sea cliff retreat insouthern Portugal profiles processes andproblems Journal of Coastal Research 8641-654

Dias JA amp Taborda R (1992) - Tidal gauge data indeducing secular trends of relative sea level andcrustal movements in Portugal Journal of CoastalResearch 8655-659

Dias JA Teixeira SB amp Ferreira Oacute (1997) - LivroGuia da Excursatildeo Seminaacuterio sobre a Zona Costeirado Algarve 43 p Faro Portugal

Douglas BC (1995) - Global sea level changedetermination and interpretation US NationalReport to IUGG 1991-1994 Geophys 33 Suppl11 p (disponiacutevel em httpwwwaguorgrevgeophysdougla01dougla01html)

Duarte C Matias A Dias JA amp Ferreira Oacute (1999)- Vulnerabilidade dos corpos dunares do Algarve10ordm Congresso do Algarve 477-490 (disponiacutevelem httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN99_10CA_477_CDpdf)

Esaguy AS (1984) - Ria de Faro Barra da ArmonaEvoluccedilatildeo 1873-1983 5 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1986a) - Ria de Faro Barra de Faro-OlhatildeoEvoluccedilatildeo 1955ndash1985 10p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986b) - Ria de Faro Ilha de TaviraEvoluccedilatildeo 1950ndash1985 8 p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986c) - Ria de Faro Ilha do AncatildeoEvoluccedilatildeo 1950-1985 7 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1987) - Ria de Faro Barra de TaviraEvoluccedilatildeo 13 p Direcccedilatildeo Geral de Portos LisboaPortugal

Ferreira Oacute Dias JA amp Taborda R (2008) -Implications of sea-level rise for Portugal Journal

of Coastal Research 24(2)317-324 (doi 10211207A-00061)

Ferreira Oacute Garcia T Matias A Taborda Ramp DiasJA (2006) - An integrated method for thedetermination of set-back lines for coastal erosionhazards on sandy shores Continental ShelfResearch 261030ndash1044 (doi 101016jcsr200512016)

Ferreira Oacute Martins JC amp Dias JA (1997) -Morfodinacircmica e vulnerabilidade da Praia de FaroSeminaacuterio sobre a zona costeira do Algarve 67-76 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_067_OFpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias Aamp Dias JA (2002)- Recent evolution of Culatra Island (Algarve ndashPortugal) Littoral 2002 The Changing Coast 289-294 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers02_LitTGpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2005)ndash Coastal Hazards Representation for Praia doBarril (Algarve Portugal) Continental ShelfResearch SI4928-33

Granja H (1984) - Eacutetude geacuteomor phologiquesedimentoloacutegique et geacuteoquimique de la Ria Formosa(Algarve-Portugal) These 3eme Cycle 254 pUniversiteacute de Bordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Greene K (2002) - Beach nourishment a review ofthe biological and physical impacts 174 p AtlanticStates Marine Fisheries Commission WashingtonDC (disponiacutevel em httpwwwasmfcorgpublicationshabitatbeachNourishmentpdf)

Griggs GB (1999) - The protection of Californialsquoscoast past present and future Shore amp Beach67(1)18-28

Hoyt JH (1967) - Barrier Island FormationGeological Society of America Bulletin 781125-1136 (doi 1011300016-7606(1967)78[1125BIF]20CO2)

Inman D (1978) - The impact of coastal structureson shorelines Proceedings of Coastal Zoneacute78 ASCE2265-2272

Koster MJ amp Hillen R (1995) - Combat erosion bylaw Coastal defence policy for the NetherlandsJournal of Coastal Research 67(2-3)43-49

Leatherman S (1976) - Barrier islands dynamicsoverwash processes and aeolian transportProceedings of Coastal Engineering Conference ASCE1958-1973

76

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Mangor K (1998) - Coastal restorationconsiderations Proceedings of Coastal Engineeringrsquo98Conference ASCE 3425-3438

Marcelo MJ amp Fonseca LC (1998) - Ria Formosada gestatildeo e conservaccedilatildeo de uma aacuterea protegidaRevista de Biologia 2ordm ENEC 16(1-4)125-133

Martins JT Ferreira Oacute Ciavola Pamp Dias JA (1996)- Monitoring of profile changes at Praia de FaroAlgarve a tool to predict and solve problems InTaussik J amp Mitchell J (eds) Partnership in CoastalZone Management pp 615-622 Samara Publ LtdCardigan UK

Matias A (2000) - Estudo morfosedimentar da Peniacutensulade Cacela Dissertaccedilatildeo de Mestrado 244pUniversidade do Algarve Faro Portugal (natildeopublicado)

Matias A Dias JA Williams AT amp Ferreira Oacute(1997) - Vulnerabilidade das dunas da RiaFormosa 9ordm Congresso do Algarve 231-239Vilamoura Portugal

Matias A Ferreira Oacute amp Dias JA (1999) -Preliminary results on the Cacela Peninsula dunereplenishment Boletiacuten del Instituto Espantildeol deOceanografiacutea 15(1-4)283-288 (disponiacutevel emhttpwwwieoespublicacionesboletinpdfsbol1515_283-288PDF)

Matias A Ferreira Oacute Dias JA amp Vila-Concejo A(2004) - Development of indices for the evaluationof dune recovery techniques Coastal Engineering51261-276 (doi 101016jcoastaleng200402002)

Matias A Ferreira Oacute Mendes I amp Dias JA (1998)- Monitorizaccedilatildeo da alimentaccedilatildeo artificial daPeniacutensula de Cacela Seminaacuterio sobre DragagensDragados e Ambientes Costeiros 47-56

Matias A Ferreira Oacute Mendes I Dias JA amp Vila-Cconcejo A (2005) - Artificial construction ofdunes in the South of Portugal Journal of CoastalResearch 21(3)472-481 (doi 10211203-00471)

Matias A Vila-Concejo A Ferreira Oacute amp Dias JA(2003) - Field measurements of morphologicvariations during an overwash event 4ordm Simpoacutesiosobre a Margem Ibeacuterica Atlacircntica Thalassas19(2b)164-165 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI03_4SM_b164_AMpdf)

NRC - National Research Council (1995) - Beach

Nourishment and Protection 334 p Washington DCNational Academy Press (ISBN 9780309052900)

Pacheco A Carrasco AR Vila-Concejo A FerreiraOacute amp Dias JA (2007) - A coastal managementprogram for channels located in backbarriersystems Ocean amp Coastal Management 50119-143 (doi101016jocecoaman200608008)

Pilkey OH amp Dixon K (1996) - The Corps and theShore 286p Island Press Washington DC USA(ISBN 9781559634380)

Pilkey OH Neal WJ Monteiro JH amp Dias JA(1989) - Algarve Barrier Islands A Noncoastal-Plain System in Portugal Journal of Coastal Research5(2)239-261

Ramos L amp Dias J A (2000) - Atenuaccedilatildeo davulnerabilidade a galgamentos oceacircnicos nosistema da Ria Formosa mediante intervenccedilotildeessuaves 3ordm Simpoacutesio sobre a Margem ContinentalIbeacuterica Atlacircntica Faro 361-362 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers00_SMLRpdf)

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2001)- Avaliaccedilatildeo de realimentaccedilotildees artificiais de praiasda Ria Formosa Casos das ilhas de Cacela e deTavira Congresso do Algarve 2001 8 p

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2002)- Preliminary Evaluation of the MorphologicalEvolution of Contrasting Beaches of the RiaFormosa With Relation to Differences inRefracted Wave Height Littoral 2002 TheChanging Coast 423-429 (disponiacutevel emht tp www2 00 8 i o -war nemu ende dehomepagesschernewskiLittoral2000docsvol3Littoral2002_79pdf)

Scheele RJ amp Westen CJ (1996) - Planning for acoastal policy - the 3A4 approach In Taussik Jamp Mitchell J (eds) Partnership in Coastal ZoneManagement pp 65-71 Samara Publ LtdCardigan UK

Sprung M (1994) - Macrobenthic secondaryproduction in the intertidal zone of Ria Formosaa lagoon in southern Portugal Estuarine Coastaland Shelf Science 38539ndash558 (doi 101006ecss19941037)

Van Den Belt M Videira N Antunes P Santos Ramp Gamito S (2000) - Modelaccedilatildeo Participada na RiaFormosa 36 p Ediccedilatildeo Fundaccedilatildeo do Mar LisboaPortugal

77

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Vila A Dias JMA Ferreira Oacute amp Matias A (1999)- Natural evolution of an artificial inlet CoastalSedimentslsquo99 21478-1488 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI99_CS99_1478_AVpdf)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Ciavola P Matias Aamp Dias JA (2004a) - Tracer studies on the updriftmargin of a complex inlet system Marine Geology20843-72 (doi 101016jmargeo200404020)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA(2003) - The first two years of an inlet sedimentarydynamics Continental Shelf Research 231425-1445 (doi 101016S0278-4343(03)00142-0)

Vila-Concejo A Matias A Ferreira Oacute Duarte Camp Dias JA (2002) - Recent evolution of thenatural inlets of a barrier island system in southernPortugal Journal of Coastal Research (ICS 2002proceedings) SI36741-752

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Morris BD MatiasA amp Dias JA (2004b) ndash Lessons from inletrelocation examples from Southern PortugalCoastal Engineering 51(10)967-990(doi101016jcoastaleng200407019)

Vila-Concejo A Matias A Pacheco A FerreiraOacute amp Dias JA (2006) - Quantification of inlet-related hazards in barrier island systems Anexample from the Ria Formosa (Portugal)Continental Shelf Research 261045-1060(doi 101016jcsr200512014)

Weinholtz MB (1978) - Contribuiccedilatildeo para o estudo daevoluccedilatildeo das flechas de areia na costa sotavento do Algarve(Ria de Faro) Relatoacuterio da Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Wells JT amp McNinch J (1991) - Beach scraping inNorth Carolina with special reference to itseffectiveness during Hurricane Hugo Journal ofCoastal Research SI8249-261

Williams SJ (2001) - Coastal erosion and land lossaround the United States strategies to manage andprotect coastal resources ndash examples fromLouisiana Coastal Ecosystems and FederalActivities Technical Training SymposiumProceedings 15 p (disponiacutevel emhttpwwwfwsgovnc-esecoconfwilliamspaperpdf)

Page 5: Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na

61

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

que levaram o sistema da Ria Formosa a entrar emruptura foram a construccedilatildeo dos molhes da marina deVilamoura e do campo de esporotildees de Quarteira e afixaccedilatildeo artificial das barras Faro-Olhatildeo e Tavira Aerosatildeo costeira juntamente com o acreacutescimo dopisoteio veio aumentar a vulnerabilidade aogalgamento na maior parte do sistema As cerca de2000 construccedilotildees clandestinas existentes nas ilhas-barreira potenciam ainda mais o risco de galgamentopois estatildeo frequentemente edificadas sobre o cordatildeodunar frontal em zonas de elevada vulnerabilidade(Ramos amp Dias 2000)

Os sistemas de ilhas-barreira satildeo ainda muitosensiacuteveis a variaccedilotildees do niacutevel meacutedio do mar (NMM)principalmente a fases de elevaccedilatildeo deste SegundoFerreira et al (2008) os estuaacuterios e os sistemaslagunares costeiros satildeo as zonas mais afectadas pelasubida do NMM em Portugal Na Ria Formosa osimpactes socio-econoacutemicos seratildeo grandes Noentanto muitos destes impactes negativos poderatildeoser minimizados ou ateacute evitados se se tomarem asdevidas precauccedilotildees Para que isto aconteccedilagovernantes gestores e populaccedilatildeo em geral teratildeo queter em conta esta problemaacutetica nas suas decisotildees

Dias amp Taborda (1992) chegaram a um valor deelevaccedilatildeo do NMM de 15 plusmn 02mmano calculadoem Lagos no uacuteltimo seacuteculo Douglas (1995) estimounuma perspectiva global um aumento meacutedio de2mmano nos uacuteltimos 100-150 anos

Eacute principalmente durante eventos tempestivosassociados a periacuteodos de mareacutes vivas que se verificamos mais graves episoacutedios de erosatildeo costeira Estasituaccedilatildeo eacute pois agravada pela subida do NMM(Ferreira et al 2008)

16 Objectivos

Este trabalho pretende apresentar uma visatildeoactualizada do que ocorre na zona de interface entreo mar e o meio lagunar do sistema de ilhas-barreirada Ria Formosa Em particular pretende-se analisara dinacircmica e evoluccedilatildeo das barras e das ilhas-barreiraidentificar as principais aacutereas de risco e os impactesda ocupaccedilatildeo humana e discutir aspectos relacionadoscom as obras de protecccedilatildeointervenccedilatildeo realizadas emalguns locais

2 METODOLOGIA

A recolha de dados foi efectuada sobretudo porpesquisa bibliograacutefica por recolha de informaccedilotildeesem instituiccedilotildees com conhecimento particular da RiaFormosa (com maior relevacircncia para o Parque Naturalda Ria Formosa e o Instituto Portuaacuterio e dosTransportes Mariacutetimos) e por observaccedilatildeo in situ daaacuterea de estudo O software informaacutetico Google Earth- Versatildeo 42 (2007) foi tambeacutem utilizado na anaacutelisedo sistema lagunar Conquanto a aacuterea de estudo sedefina como todo o sistema lagunar da Ria Formosaa recolha de dados incidiu predominantemente nasilhas-barreira e nas barras que as delimitam

Foram definidos e individualizados oito sectoresao longo da aacuterea de estudo Cada ilha ou peniacutensulafoi definida como um sector As seis barras do sistemaforam tambeacutem definidas separadamente O sectorQuarteira ndash Praia do Garratildeo por se encontrar abarlamar do sistema da Ria Formosa foi tambeacutemanalisado uma vez que vaacuterios problemas que afectamo sistema tecircm origem nesta aacuterea Dividiram-se ossectores em partes distinguidos segundo a suaorientaccedilatildeo ndash Ocidental (W) Central (C) e Oriental(E) Em cada sector foram identificadas as zonas demaior risco analisadas as taxas de evoluccedilatildeo da linhade costa a existecircncia ou ausecircncia de ocupaccedilatildeo apresenccedila de corredores eoacutelicos e de vegetaccedilatildeo e aexistecircncia de intervenccedilotildees Para as barras foramanalisadas as caracteriacutesticas mais relevantes larguraestabilidade e taxas de migraccedilatildeo Os dados obtidospermitem analisar a evoluccedilatildeo geral do sistema de ilhas-barreira identificar as aacutereas de risco e efectuar umareferecircncia agrave intervenccedilatildeo no sistema mediante trecircsteacutecnicas intervenccedilatildeo suave intervenccedilatildeo riacutegida edemoliccedilatildeo de infra-estruturas (retirada estrateacutegica)

3 O SISTEMA DE ILHAS-BARREIRA

31 Quarteira ndash Praia do Garratildeo

Embora natildeo faccedila parte integrante do sistema daRia Formosa este sector eacute de extrema importacircnciana medida em que fornece sedimentos ao sistemaNa realidade natildeo existem sistemas isolados naNatureza e um plano de gestatildeo teraacute obrigatoriamenteque avaliar a situaccedilatildeo e os impactes previsiacuteveis abarlamar e a sotamar de qualquer intervenccedilatildeo

62

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

O sector entre Quarteira e a Praia do Garratildeoapresenta intensa actividade e ocupaccedilatildeo antroacutepicadesignadamente em Vale do Lobo (Fig1) A evoluccedilatildeodas arribas neste sector estaacute fortemente dependenteda praia subjacente que em maior ou menor grauconfere protecccedilatildeo da acccedilatildeo directa do mar Noentanto a susceptibilidade destas arribas agrave erosatildeomarinha eacute extremamente elevada (Andrade 1990aDias amp Neal 1992) Nalguns locais o recuo chegou aultrapassar 2mano ou mais (Correia et al 1997)

Ao longo da zona urbanizada de Quarteira(aproximadamente 33km) a Direcccedilatildeo Geral dePortos procedeu a obras de defesa costeiraconstruindo entre 1971 e 1974 doze esporotildees e doismolhes de acesso agrave marina de Vilamoura (o ocidentalcom 600m e o oriental com 500m) (Bettencourt1985) O aumento das taxas meacutedias de recuo nestesector parece resultar essencialmente da construccedilatildeodestas estruturas que interrompem a deriva litoralprivando as praias a nascente de sedimentos o queconsequentemente facilita o ataque das ondas agrave basedas arribas Apoacutes a construccedilatildeo dos molhes deVilamoura o recuo meacutedio anual da crista da arriba foifortemente amplificado chegando por exemplo aultrapassar nalguns pontos os 4 metros por ano noperiacuteodo 1983-1991 (Correia et al 1996)

A situaccedilatildeo em todo o sector eacute na actualidadegrave Vale do Lobo eacute o local em que o problema deerosatildeo costeira eacute mais seacuterio dada a amplitude eintensidade de ocupaccedilatildeo antroacutepica Os dadosdisponiacuteveis parecem reflectir a tendecircncia de aumentoda erosatildeo na parte oriental do sector (ateacute agora maisestaacutevel) apesar das realimentaccedilotildees efectuadas paraproteger a Praia de Vale do Lobo

32 Peniacutensula do Ancatildeo

A Peniacutensula do Ancatildeo tem cerca de 8km decomprimento e 50 a 250m de largura (Fig2) SegundoPilkey et al (1989) e Bettencourt (1994) o recuo dalinha de costa chegou a atingir valores na ordem de 1a 2mano em alguns locais

O sector Ancatildeo W (da Praia do Garratildeo agrave Praia deFaro) possui um cordatildeo dunar contiacutenuo quepraticamente eacute desprovido de ocupaccedilatildeo antroacutepicaUma arriba permanente talhada na duna marca atransiccedilatildeo entre a praia e o cordatildeo dunar o quedemonstra um recuo da linha de costa devido agrave erosatildeo

que em meacutedia atingiu 08mano entre 1989 e 2001(Ferreira et al 2006)

O sector Ancatildeo C (Praia de Faro) eacute urbanizado ecomo tal o mais problemaacutetico O niacutevel da ocupaccedilatildeohumana eacute bastante elevado (Fig3) Ateacute meados dadeacutecada de 50 a Praia de Faro era ocupada apenas poralguns pescadores natildeo havendo registos de problemasgraves para as habitaccedilotildees pois encontravam-seinstaladas junto agrave laguna e separadas do mar por umcampo dunar singular A construccedilatildeo da ponterodoviaacuteria na deacutecada de 50 foi o factor determinantepara a forte intensificaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo O cordatildeodunar apesar de afectado pela erosatildeo costeira foiquase totalmente ocupado e destruiacutedo por edificaccedilotildees(Dias et al 1997 2004)

Natildeo tendo sido possiacutevel concretizar as acccedilotildeesmiacutenimas necessaacuterias para uma ocupaccedilatildeo racional dazona (Dias et al 1997) aconteceu o que era previsiacutevelDurante o Inverno de 198990 a Praia de Faro foifustigada por temporais que provocaram graves danosnas construccedilotildees e infra-estruturas existentes uma vezque natildeo eacute suficientemente robusta para suportareventos energeacuteticos extremos (Ferreira et al 1997)Os locais onde a ocupaccedilatildeo eacute mais intensa satildeo os queapresentam maior susceptibilidade a qualquer eventoerosivo Este facto deve-se em parte agrave construccedilatildeode estruturas fixas e riacutegidas na parte superior dos perfisde praia causando a truncatura do perfil e umrebaixamento da cota dunar natildeo permitindo agrave praiadesempenhar o seu papel natural face agraves tempestades(Ferreira et al 1997)

A erosatildeo afecta os limites marinhos e lagunaresda Praia de Faro Entre 1945 e 1964 a linha de baixa-mar recuou 34m ou seja cerca de 17mano(Weinholtz 1978) Actualmente as edificaccedilotildees quetruncam o perfil de praia emersa impossibilitam quea peniacutensula tenha um comportamento naturalmigrando em direcccedilatildeo ao continente (Dias et al 1997)Por outro lado o aterro que conduz agrave ponte canalizouos fluxos de enchente e principalmente de vazanteConsequentemente a corrente na zona da ponte eacutemuito forte impedindo a acumulaccedilatildeo de sedimentosna parte interna da peniacutensula o que seria fundamentalpara permitir a migraccedilatildeo aludida

A construccedilatildeo de muros de revestimento e deoutras estruturas de protecccedilatildeo inibiram o recuo dalinha de costa embora natildeo impeccedilam a ocorrecircncia de

63

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

galgamentos Devido a estas protecccedilotildees a Praia deFaro praticamente natildeo apresentou recuo da linha decosta entre 1989 e 2001 (Ferreira et al 2006) Noentanto possui uma boa capacidade de recuperaccedilatildeosedimentar apoacutes eventos erosivos (Martins et al 1996)em apenas um ciclo de mareacute (Saacute-Pires et al 2002)

Matias et al (1997) e Duarte et al (1999) aoavaliarem a vulnerabilidade de um conjunto desistemas dunares do Algarve foram unacircnimes emidentificar a Praia de Faro como uma das zonas maisvulneraacuteveis da Ria Formosa O nuacutecleo urbano da Praiade Faro encontra-se em situaccedilatildeo de alto riscoconfinado a uma estreita faixa (normalmente commenos de 100 metros de largura) entre a laguna e ooceano As probabilidades de uma cataacutestrofeaumentam de ano para ano se considerarmos aelevaccedilatildeo do NMM e a possiacutevel ocorrecircncia de umgrande temporal que coincida com mareacute viva cheia

No sector Ancatildeo E (entre a Praia de Faro e a Barra

do Ancatildeo) a duna estaacute consideravelmente bempreservada e os perfis de praia revelam maiorcapacidade para reagir a eventos energeacuteticos exceptona margem da Barra do Ancatildeo (Ferreira et al 1997)A populaccedilatildeo consiste sobretudo em pescadores quevivem na margem da laguna

33 Barra do Ancatildeo

O limite oriental da Peniacutensula do Ancatildeo terminana Barra do Ancatildeo tambeacutem designada por Barra deSatildeo Luiacutes (Fig2) Estaacute localizada numa das aacutereas maisdinacircmicas do sistema mudando frequentemente demorfologia e posiccedilatildeo com uma tendecircncia de migraccedilatildeopara nascente a uma velocidade meacutedia de 70mano euma largura meacutedia de 260m Entre 1945 e 1996completou dois ciclos migratoacuterios (Vila-Concejo etal 2006)

Em 1997 a Barra do Ancatildeo em fase final do seuciclo de migraccedilatildeo encontrando-se muito assoreada e

Figura 3 ndash Parte central da Peniacutensula do Ancatildeo ndash Praia de Faro (de Oeste para Este) evidenciando a intensaocupaccedilatildeo sobre o cordatildeo dunar (fotografias obtidas em Novembro de 2006 pelo autor)Figure 3 ndash Aerial photo of the Ancatildeo Peninsula from West to East (central zone) ndash Beach of Faro showing the intenseoccupation on dune ridges (photos by author in November 2006)

64

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

com baixa eficiecircncia hidraacuteulica No sentido de ampliaressa eficiecircncia e proteger os interesses nesta zonaprocedeu-se agrave abertura artificial de uma nova barra(23 Junho de 1997) a cerca de 35km a W da posiccedilatildeoanterior e imediatamente a oriente das uacuteltimas casasda Praia de Faro permitindo a esta migrar novamenteno sentido nascente (Vila et al 1999) A forma e aposiccedilatildeo da nova barra natildeo foram baseadas em estudosaprofundados mas no conhecimento empiacuterico dasituaccedilatildeo (Dias et al 2003) Estudos recentes sobre aevoluccedilatildeo e dinacircmica da barra desde a sua aberturaartificial (eg Vila-Concejo et al 2002 2003 2004a2006) permitem concluir que bastaram dois anos paraque se atingisse o estado de equiliacutebrio e comeccedilasse aevoluir e a migrar naturalmente o que confirma osucesso desta intervenccedilatildeo que foi das primeiras a niacutevelmundial

34 Ilha da Barreta

A Ilha da Barreta tem um comprimento de cercade 8km e largura entre 70 e 700m (Fig2) Existempoucos estudos publicados que focam esta ilha umavez que eacute uma zona menos acessiacutevel com baixaocupaccedilatildeo antroacutepica e consequentemente menosproblemaacutetica

A parte ocidental eacute estreita de baixa elevaccedilatildeo compouca vegetaccedilatildeo e vulneraacutevel a galgamentos Narealidade corresponde agrave parte oriental da zona demigraccedilatildeo da Barra do Ancatildeo Apresenta umamorfodinacircmica semelhante agrave Peniacutensula do Ancatildeo(Pilkey et al 1989 Bettencourt 1994) e um uacutenicocordatildeo dunar com cerca de 7m de altura (Vila-Concejoet al 2006)

A complexidade deste sector aumenta de ocidentepara oriente onde a ilha jaacute apresenta um campo dunarlargo e bem vegetado Existem dois pequenosaglomerados de casas de pescadores e de apoio agrave praialocalizados na parte interna junto agrave laguna e agrave BarraFaro-Olhatildeo respectivamente

A metade oriental da ilha eacute a uacutenica que apresentaum comportamento regressivo (Vila et al 1999)proporcionando o crescimento do cordatildeo dunarfrontal (Duarte et al 1999) Este comportamento foiconsequecircncia da construccedilatildeo dos molhes da barraartificial de Faro-Olhatildeo entre 1929 e 1955 (Esaguy1986a) que interromperam a deriva litoral econsequentemente induziram a barlamar (junto ao

molhe W localizado no extremo oriental da ilha) umaacumulaccedilatildeo arenosa notaacutevel

35 Barra Faro-Olhatildeo

A Barra Faro-Olhatildeo que separa as ilhas da Barretae da Culatra foi artificialmente aberta e estabilizadapor molhes entre 1929 e 1955 num local onde existiajaacute uma barra (Barra do Bispo) relativamente larga masbastante instaacutevel (Esaguy 1986a) (Fig2) O objectivoda abertura foi o de assegurar a navegabilidade aocanal de acesso que conduz ao porto comercial deFaro bem como agraves localidades de Faro e Olhatildeo Estaintervenccedilatildeo induziu grande alargamento da parteoriental da Ilha da Barreta a barlamar e erosatildeobastante significativa da parte ocidental da Ilha daCulatra a sotamar bem como modificaccedilotildeesimportantes no comportamento hidrodinacircmicolagunar (Vila-Concejo et al 2006) Veio retirareficiecircncia hidraacuteulica agrave Barra da Armona que era abarra principal do sistema em consequecircncia do quese verificou grande estreitamento desta sendoactualmente a sua eficaacutecia extremamente reduzida

O canal da barra de Faro-Olhatildeo projectado paramanter cotas entre 4 a 45m abaixo do zerohidrograacutefico (Weinholtz 1978) foi progressivamenteficando mais fundo ateacute atingir profundidades naordem dos 40m em 2001 assim aumentando a secccedilatildeode escoamento Consequentemente surgiramproblemas de seguranccedila no que respeita agrave navegaccedilatildeodevido agraves fortes correntes de vazante e de enchente ea graves danos nos troccedilos terminais dos molhes

A abertura da barra e a construccedilatildeo dos molhesalteraram a circulaccedilatildeo hiacutedrica e os balanccedilossedimentares nesta zona do sistema A Barra Faro-Olhatildeo eacute a grande responsaacutevel pela importaccedilatildeo desedimentos para o sistema lagunar A entrada de140000m3ano de sedimentos (Pacheco et al 2007)poderaacute estar relacionada com as intensas dragagensefectuadas no canal de navegaccedilatildeo no interior dosistema recomendando-se que sejam apenasrealizadas de modo a manter as condiccedilotildees denavegabilidade

36 Ilha da Culatra

A Ilha da Culatra tem aproximadamente 7km decomprimento estando a ocupaccedilatildeo humanaconcentrada em trecircs povoaccedilotildees (Farol Hangares e

65

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Culatra) que soacute podem ser atingidas por barco (Fig4)A evoluccedilatildeo recente da ilha e das barras que a limitamfoi alvo de estudo de diversos autores (eg Granja1984 Esaguy 1984 1986a Dias 1988 Pilkey et al1989 Andrade 1990a Garcia et al 2002 Vila-Concejoet al 2002) Eacute consensual que os molhes da BarraFaro-Olhatildeo foram responsaacuteveis por uma profundaalteraccedilatildeo da hidrodinacircmica do sistema e alteraccedilotildeessignificativas na Ilha da Culatra Segundo Garcia et al(2002) as principais consequecircncias foram ocrescimento muito raacutepido para oriente da ilha e aampliaccedilatildeo do recuo da linha de costa na zonaocidental

A linha de costa da extremidade ocidental da ilhaonde se localiza a povoaccedilatildeo do Farol estaacutecompletamente artificializada (molhe oriental da barraenrocamento longitudinal construiacutedo para protecccedilatildeodas edificaccedilotildees e estabilizaccedilatildeo da linha de costa e umesporatildeo no limite oriental da povoaccedilatildeo) Neste sectora ilha eacute relativamente estreita com uma duna de decliveacentuado paralela agrave linha de costa evidenciandocarecircncia de sedimentos (Garcia et al 2002) o que setorna problemaacutetico pois que esta zona se encontraintensamente ocupada

A morfologia do sector central reflecte aalternacircncia de cordotildees dunares e canais de mareacute Naprimeira metade do seacuteculo XX a margem ocidentalda barra da Armona (que era a principal do sistema)localizava-se junto agrave povoaccedilatildeo da Culatra tendo aiacutesido construiacutedas as instalaccedilotildees do Instituto deSocorros a Naacuteufragos onde estava sedeado o botesalva-vidas Estas instalaccedilotildees haacute muito que perderampor completo a sua funcionalidade estandoactualmente convertidas num Centro Social dapovoaccedilatildeo A ocupaccedilatildeo apenas ocorre na margemlagunar da ilha e consequentemente natildeo estaacute sujeitaa problemas significativos de erosatildeo costeira

O sector oriental que se constituiu essencialmentea partir de meados do seacuteculo XX eacute despovoado Estecrescimento da ilha estaacute provavelmente relacionadocom a modificaccedilatildeo da hidrodinacircmica do sistemadevido agrave construccedilatildeo da Barra de Faro-OlhatildeoApresenta corpo dunar pouco desenvolvido e elevadasusceptibilidade a galgamentos (Andrade et al 1998Garcia et al 2002 Vila-Concejo et al 2006)

37 Barra da Armona

A Barra da Armona que separa as ilhas da Culatra

Figura 4 ndash Panoracircmica da Ilha da Culatra e Barra de Faro-Olhatildeo vista de Oeste na foto satildeo visiacuteveis as povoaccedilotildeesdo Farol Hangares e Culatra (fotografia obtida em Novembro de 2006 pelo autor)Figure 4 ndash Oblique aerial photo from West of the Culatra Island and Faro-Olhatildeo Inlet showing the Farol Hangares andCulatra communities (photo by author in November 2006)

66

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

e da Armona eacute considerada a uacutenica barra estaacutevel dosistema em termos de localizaccedilatildeo (Pilkey et al 1989)e a que apresenta o delta de vazante mais desenvolvido(Dias et al 1997) (Fig2) Era a principal barra dosistema mas o crescimento da ilha da Culatra temprovocado o seu estreitamento progressivo Entre1873 e 1983 a barra estreitou cerca de 2500mpassando de uma largura de 4300m para 1850m(Esaguy 1984) A maior taxa de estreitamento entre1950 e 1977 estaacute provavelmente relacionada com aconclusatildeo da abertura da Barra de Faro-Olhatildeo (Vila-Concejo et al 2002) Na actualidade apresenta umalargura de cerca de 200m

38 Ilha da Armona

A Ilha da Armona tem comprimento aproximadode 9km e largura maacutexima de cerca de 1400m naextremidade SW (Fig2) A parte ocidental apresentaum longo cordatildeo dunar frontal de 8 a 9m A deposiccedilatildeode sedimento a ocidente eacute um fenoacutemeno uacutenico emtodo o sistema da Ria Formosa (Pilkey et al 1989) econtribui para o estreitamento da Barra da ArmonaA parte oriental apresenta um cordatildeo dunar poucodesenvolvido e elevada susceptibilidade ao galgamento(Andrade et al 1998)

Na zona mais larga a ocidente encontra-se apovoaccedilatildeo da Armona Progressivamente a largura dailha vai diminuindo para oriente sendo o cordatildeo dunarrobusto e bem vegetado ateacute agrave zona fronteira agravepovoaccedilatildeo da Fuzeta (Fig1)

Nesta zona bastante estreita e sujeita agalgamentos oceacircnicos onde se localizava a Barra daFuzeta em meados do seacuteculo XX encontra-se umconjunto de casas (construiacutedas ilegalmente) comutilizaccedilatildeo natildeo permanente Ramos amp Dias (2000)apontam esta ocupaccedilatildeo como um dos casos maiscriacuteticos do sistema por se localizar numa zona comelevada vulnerabilidade ao galgamento

39 Barra da Fuzeta

A Barra da Fuzeta que separa as ilhas da Armonae de Tavira tem actualmente cerca de 250m de largura(Fig2) Apresenta normalmente evoluccedilatildeo muitoraacutepida (Dias et al 1997) Entre 1945 e 1996 registouuma taxa de migraccedilatildeo meacutedia de cerca de 65mano(Vila-Concejo et al 2006) Natildeo satildeo conhecidos valoresexactos da extensatildeo ou duraccedilatildeo do ciclo de migraccedilatildeo

Contudo de acordo com Vila-Concejo et al (2002) ociclo completo dura pelo menos 50 anos e a barramigra no total mais de 3500m Esta migraccedilatildeo podeser progressiva ou intermitente (Dias et al 1997)

Agrave semelhanccedila da Barra do Ancatildeo procedeu-se agraveabertura artificial de uma nova Barra da Fuzeta emJulho de 1999 Poreacutem devido aos condicionamentosimpostos pelas casas existentes frente agrave povoaccedilatildeo daFuzeta foi aberta apenas a cerca de 800m a ocidenteda posiccedilatildeo que ocupava em 1996 Parte do sedimentodragado foi utilizada para fechar artificialmente aantiga barra No entanto esta intervenccedilatildeo natildeo obtevemuito sucesso devido ao aumento de sinuosidade docanal apoacutes a abertura De acordo com os resultadosde Vila-Concejo et al (2004b) o canal atingiu oequiliacutebrio dinacircmico em Julho de 2000

310 Ilha de Tavira

A Ilha de Tavira eacute a maior do sistema com cercade 11km de comprimento e 800m de largura maacuteximana parte central (Fig2) Esta ilha estreitaprogressivamente para SW onde existem sinais deforte erosatildeo e de frequentes galgamentos No entantoo campo dunar eacute na generalidade moderadamentelargo e elevado constituiacutedo por vaacuterios cordotildeesdunares A Ilha de Tavira exceptuando a extremidadeSW eacute considerada uma das mais ldquoestaacuteveisrdquo do sistemada Ria Formosa natildeo existindo indiacutecios de processosdestrutivosconstrutivos relacionados com amigraccedilatildeo de barras Apresenta poreacutem algunscorredores eoacutelicos junto agraves zonas de maior ocupaccedilatildeodevido ao pisoteio e na parte central na zonaenvolvente ao Arraial do Barril verificou-se um recuoda linha de costa entre 1976 e 2001 de 02 a 13mano (Garcia et al 2005)

A extremidade oriental da ilha estaacute estabilizadaartificialmente pelos molhes da Barra de Tavira o quelevou agrave acumulaccedilatildeo de sedimentos a ocidente dabarra numa extensatildeo de cerca de 1000m A partemais vulneraacutevel da zona NE situa-se junto ao Canalde Tavira artificial pois que a sua posiccedilatildeo tem sidomantida atraveacutes de dragagens e traccediladomeandriforme Neste local a ilha tecircm apenas cerca de150m de largura

A Ilha de Tavira apresenta duas zonas de ocupaccedilatildeoo Arraial do Barril (antiga infra-estrutura de pesca doatum convertida em apoio de praia) e a Praia de Tavira

67

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

onde se situam estruturas de apoio com algumaenvergadura designadamente um parque decampismo (Fig1) Na actualidade apesar dos impactesantroacutepicos serem elevados satildeo concentrados elimitados Segundo Dias et al (2004) o Arraial doBarril pode ser apontado como um bom exemplo deexploraccedilatildeo turiacutestica sustentaacutevel natildeo haacute habitaccedilatildeopermanente o acesso eacute efectuado por uma pontepedonal e por um pequeno comboio ou pelo passeioque o ladeia (o que evita impactes generalizados) asantigas instalaccedilotildees da companhia de pesca queestavam abandonadas tiveram reaproveitamentolucrativo Contudo o cordatildeo dunar frontal estaacute sujeitoa alguma erosatildeo e a pequenos galgamentos oceacircnicosdetectando-se tambeacutem alguns corredores eoacutelicos episoteio moderado A previsatildeo da localizaccedilatildeo da linhade costa em 2050 considerando a aceleraccedilatildeo daelevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar e a eventualocorrecircncia de um temporal com periacuteodo de retornode 50 anos indica que eacute expectaacutevel um recuo da ordemdos 70m ou seja que atingiraacute as edificaccedilotildees aiacuteexistentes (Ferreira et al 2006)

311 Barra de Tavira

A Barra de Tavira artificial separa as ilhas deTavira e de Cabanas e tem largura de 60m (Fig2) Foiaberta artificialmente em 1927 quase em frente agrave fozdo Rio Gilatildeo conduzindo ao encerramento da antigabarra em 1930 (Vila-Concejo et al 2006) Os dadosdisponiacuteveis sugerem uma velocidade de migraccedilatildeo daantiga barra de cerca de 40mano (Weinholtz 1978)A barra artificial teve que ser sujeita a vaacuterias operaccedilotildeesde dragagem entre 1930 e 1935 e estabilizada pordois esporotildees em 1936 devido ao constanteassoreamento (Esaguy 1987) Um ciclone ocorridoem 1941 abriu uma nova barra a cerca de 1100m aEste da barra artificial (Barra do Cochicho-Almargem) a qual rapidamente alargou e comeccedilou amigrar para oriente A existecircncia da nova barra levouao aumento do assoreamento da Barra de Tavira queteve que ser reaberta em 1961 face agraves dificuldades denavegaccedilatildeo Posteriormente foram efectuadas diversasobras de dragagem estabilizaccedilatildeo e fortalecimento dediques no sentido de diminuir o assoreamento(Esaguy 1987) A eficiecircncia hidrodinacircmica da Barrade Tavira eacute muito pequena representando cerca de4 do prisma de mareacute total do sistema (Andrade1990a)

312 Ilha de Cabanas

A Ilha de Cabanas eacute a ilha mais oriental e a maispequena do sistema com um comprimento de cercade 6km e uma largura maacutexima de 300m (Fig2) Narealidade constitui a extremidade natural da Ilha deTavira tendo sido convertida numa ilha autoacutenomapela abertura artificial da Barra de Tavira (Dias 1988)Foi completamente destruiacuteda durante o ciclone de1941 e novamente no decurso de um violentotemporal em 1961 os quais provocaram extensosgalgamentos oceacircnicos e a formaccedilatildeo de uma novabarra (Barra de Cabanas) para aleacutem da Barra doCochicho-Almargem as quais juntas formaram umaabertura uacutenica com cerca de 2500m de extensatildeo apartir da meia mareacute (Matias 2000)Consequentemente o cordatildeo dunar eacute relativamenterecente fraacutegil e elevando-se apenas a uma cota meacutediade 25m (Dias et al 2003)

A Ilha de Cabanas foi a primeira zona a serintervencionada ao abrigo do programaldquoRequalificaccedilatildeo do sistema lagunar da Ria Formosardquoentre Abril e Junho de 1999 Natildeo existem estimativasda quantidade de sedimentos perdidos para o marNo entanto os dragados usados na realimentaccedilatildeoeram grosseiros ajudando agrave naturalizaccedilatildeo dos aterrosefectuados (Saacute-Pires et al 2001) Aleacutem destaintervenccedilatildeo foi construiacutedo mais um pequeno esporatildeoa oriente da Barra de Tavira pelo que a erosatildeo que aiacutese verifica ficou atenuada pela existecircncia de doisesporotildees As intervenccedilotildees parecem ter sidodeterminantes na protecccedilatildeo da praia uma vez quenatildeo se tecircm registado galgamentos ou erosatildeo do cordatildeodunar nos locais intervencionados os mesmosapresentam alguma colonizaccedilatildeo por vegetaccedilatildeopioneira (Saacute-Pires et al 2001) No entanto uma vezque a realimentaccedilatildeo foi localizada e o cordatildeo dunareacute de baixa altitude as intervenccedilotildees natildeo impedem quenum futuro proacuteximo ocorram galgamentossobretudo junto aos apoios de praia existentes

313 Barra do Laceacutem

A Barra do Laceacutem corresponde agrave barra natural dolimite Este da Ilha de Tavira se esta natildeo fosseinterrompida pela barra artificial de Tavira (Fig2)Vaacuterios autores documentaram a evoluccedilatildeo da mesma(eg Weinholtz 1978 Esaguy 1986b Dias 1988

68

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Pilkey et al 1989 Andrade 1990a Bettencourt 1994Matias 2000 Vila-Concejo et al 2002) A barra separaa Ilha de Cabanas e a Peniacutensula de Cacela deriva dajunccedilatildeo em 1985 das Barras de Cochicho-Almargem(aberta pelo ciclone de 1941) e de Cabanas (abertapelo temporal de 1961) (Esaguy 1986b) A velocidademeacutedia de migraccedilatildeo da barra tem sido de 97mano(Vila-Concejo et al 2006)

Mais recentemente em 2004 abriu-se uma novabarra natural localizada a oriente da antiga Barra doLaceacutem A nova barra conduziu ao assoreamento daantiga Barra do Laceacutem com o seu consequenteencerramento

314 Peniacutensula de Cacela

A Peniacutensula de Cacela localiza-se no extremooriental da Ria Formosa Tem cerca de 3km decomprimento e entre 100 a 250m de largura (Fig2)

Em 1976 a cota meacutedia do cordatildeo dunar singularrobusto e vegetado era de 34m atingindo um maacuteximode 61m (Esaguy 1986c) A posterior degradaccedilatildeo doscorpos dunares devido ao pisoteio conduziu a umgrande aumento da frequecircncia de galgamentos (Diaset al 2004) Em 1990 Andrade (1990b) verificou quea Peniacutensula de Cacela apresentava um maacuteximo desusceptibilidade a galgamentos oceacircnicos De factodurante o Inverno de 19951996 ocorreramgalgamentos generalizados em quase toda a peniacutensulaque conduziram agrave abertura de uma nova barra nocentro da mesma (Barra da Faacutebrica) a qual emOutubro de 1996 chegou a ter cerca de 35m de largurae uma profundidade de 07m (Matias et al 2004) Casonatildeo se efectuasse qualquer intervenccedilatildeo era de preverque as dunas remanescentes desaparecessem porcompleto

Assim no sentido de diminuir a vulnerabilidade agalgamentos e de manter a produccedilatildeo de bivalves(actividade econoacutemica mais importante da zona)foram efectuadas entre Outubro de 1996 e Fevereirode 1997 grandes intervenccedilotildees que consistiramprincipalmente na ldquoreconstituiccedilatildeordquo do cordatildeo dunarda Peniacutensula de Cacela na colmataccedilatildeo da Barra daFaacutebrica e na dragagem da Barra do Laceacutem e do canallagunar (Ramos amp Dias 2000 Matias et al 2005) Oobjectivo era elevar a cota do topo do cordatildeo dunarateacute aos 75m acima do Zero Hidrograacutefico (ZH)reconstituindo uma situaccedilatildeo semelhante agrave existente

nos anos 60 (Ramos amp Dias 2000) Todavia devidoagrave existecircncia de formaccedilotildees consolidadas queimpossibilitaram a dragagem agraves cotas inicialmenteestabelecidas a quantidade de sedimentos repulsadospara a peniacutensula foi bastante inferior ao previstoestimando-se que o material deposto no cordatildeo dunartenha atingido apenas 325000m3 (Ramos amp Dias2000) Tal obrigou agrave reformulaccedilatildeo do projectoelevando-se a cota de topo da duna apenas para os5m acima do ZH Segundo Matias et al (1999) cercade 32 do sedimento depositado perdeu-seimediatamente apoacutes a deposiccedilatildeo no cordatildeo arenosoTal verificou-se devido aos processos de acomodaccedilatildeodo perfil de praia submerso mas tambeacutem porquegrande parte do material natildeo apresentava agranulometria adequada Depois da realimentaccedilatildeo avegetaccedilatildeo pioneira comeccedilou rapidamente a colonizara duna reconstituiacuteda (Matias et al 2004)

Outras intervenccedilotildees tecircm vindo a ser efectuadasdepois do robustecimento do cordatildeo dunar foramconstruiacutedos passadiccedilos de madeira procedeu-se agravecolocaccedilatildeo de paliccediladas no sentido de propiciar odesenvolvimento de dunas naturais e agrave plantaccedilatildeo deAmmophila arenaria Posteriormente entre Abril de1999 e Julho de 2000 efectuaram-se em quase todoo sistema novas dragagens nos canais natildeoconsiderados de navegaccedilatildeo integradas no Projectode Requalificaccedilatildeo do Sistema Lagunar com oobjectivo de intensificar a circulaccedilatildeo assim mantendoas condiccedilotildees ecoloacutegicas do sistema Nesta intervenccedilatildeovoltou-se a dragar a Barra do Laceacutem em Junho de1999 Segundo Ramos amp Dias (2000) as intervenccedilotildeesatingiram os objectivos tendo a vulnerabilidade aogalgamento sido drasticamente reduzida e do ladonascente verificando-se o estabelecimento dasucessatildeo fitogeneacutetica conferindo um aspecto naturalao novo cordatildeo dunar

Mais recentemente na parte central da zonaintervencionada verificou-se erosatildeo completa daldquodunardquo reconstruiacuteda o que tinha sido previsto nosestudos de monitorizaccedilatildeo realizados no decurso eimediatamente apoacutes a intervenccedilatildeo tendo-se na alturasugerido a possibilidade de nova pequena intervenccedilatildeopontual Todavia quando se verificou a ruptura natildeohouve possibilidades de efectuar essa pequenaintervenccedilatildeo pelo que se abriu naturalmente novabarra o que nos uacuteltimos anos provocou a colmataccedilatildeo

69

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

da antiga barra e erosatildeo de grande parte das ldquodunasrdquoreconstruiacutedas no final do seacuteculo XX

4 DISCUSSAtildeO

41 Evoluccedilatildeo Geral do Sistema

Como se deduz dos pontos anteriores o sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa eacute extremamentedinacircmico e como tal bastante vulneraacutevel As taxasde crescimento longitudinal de algumas ilhas satildeo dasmais notaacuteveis a niacutevel mundial (Dias et al 1997)

Segundo Pilkey et al (1989) os principais processosque contribuem para a evoluccedilatildeo das ilhas-barreira daRia Formosa satildeo (1) recuo da linha de costa (2) derivalitoral (3) galgamentos oceacircnicos (4) formaccedilatildeo decorpos dunares e de estabelecimento da respectivavegetaccedilatildeo (5) constituiccedilatildeo de deltas de mareacute e suaagregaccedilatildeo agraves ilhas (6) comportamento das barras e(7) erosatildeoacumulaccedilatildeo provocada pelas mareacutes-vivasdesignadamente nos canais de mareacute

Recuo da linha de costaOs valores observados na evoluccedilatildeo da linha de

costa indicam a existecircncia de recuo generalizado dasilhas e peniacutensulas (com excepccedilatildeo das zonasimediatamente a barlamar dos molhes das barras denavegaccedilatildeo) a qual varia consoante a localizaccedilatildeogeograacutefica e a interacccedilatildeo com os processos oceacircnicosA linha de costa move-se em resposta aos factoresnaturais de forma a manter o equiliacutebrio (Williams2001) O recuo da linha de costa eacute mais acentuadonos extremos do sistema e na parte ocidental das ilhase peniacutensulas Na parte central do sistema e nosextremos orientais das ilhas verifica-se algumaacreccedilatildeo Nas duas aacutereas mais intensamente ocupadas(Praia de Faro e Farol) existe estabilizaccedilatildeo da linha decosta devido a artificializaccedilatildeo desta com estruturasfixas de engenharia costeira A acreccedilatildeo verificada aoriente das ilhas da Barreta e de Tavira deve-se agravedeposiccedilatildeo de sedimentos a barlamar dos molhes dasbarras artificiais

Deriva litoralTorna-se evidente que o sistema da Ria Formosa

tem grande carecircncia de sedimentos principalmentenalgumas zonas mais expostas Contudo grande partedeste problema tem origem a barlamar do sistemaonde foram construiacutedos os molhes da marina deVilamoura e o campo de esporotildees de Quarteira que

interromperam a deriva litoral provocando a orienteintensificaccedilatildeo da erosatildeo nas arribas situadas entreQuarteira e a Praia do Garratildeo Actualmente as arribassatildeo o principal elemento abastecedor de areias aosistema da Ria Formosa (Correia et al 1997) Noentanto estas natildeo chegam para colmatar as carecircnciassedimentares do sistema da Ria Formosa o quesignifica que se forem construiacutedas obras riacutegidas deengenharia costeira neste sector se verificaraacuteintensificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico do sistemaampliando o grau de ruptura em que este jaacute seencontra Um exemplo que ilustra esta vulnerabilidadefoi a conclusatildeo da construccedilatildeo dos molhes da barraartificial de Faro-Olhatildeo em meados do seacuteculopassado que induziu grandes alteraccedilotildees com efeitosdraacutesticos no suprimento de sedimento agrave parte orientalNa realidade a abertura desta barra estabilizada pelosmolhes respectivos fez com que o sistema naturalentrasse em ruptura modificando radicalmente ascaracteriacutesticas hidro-sedimentoloacutegicas Segundo Dias(1990) as uacutenicas acccedilotildees de protecccedilatildeo realmenteeficazes satildeo as que possibilitam a reconstituiccedilatildeo daderiva litoral com os consequentes volumes desedimentos necessaacuterios

Galgamentos oceacircnicosAs ilhas-barreira da Ria Formosa satildeo

periodicamente sujeitas a galgamentos oceacircnicosdurante temporais de SW e SE Estes galgamentosconstituem um elemento muito importante nadinacircmica e na evoluccedilatildeo natural do sistemacontribuindo com fornecimento de sedimentos parao interior da laguna e abertura de novas barras quandoas antigas jaacute natildeo apresentam eficiecircncia (Andrade1990a) Tecircm sido assumidos como principalmecanismo de migraccedilatildeo das ilhas-barreira(Leatherman 1976 Bray amp Carter 1992) induzindoum efeito construtivo de acreccedilatildeo (Matias et al 2003)Assim sendo a gestatildeo deve integrar uma adaptaccedilatildeoaos galgamentos naturais uma vez que satildeo vitais parao funcionamento natural do sistema

Do ponto de vista da ocupaccedilatildeo os galgamentosoceacircnicos satildeo um factor importante que necessita deser avaliado para propiciar uma gestatildeo mais eficazuma vez que induz seacuterios danos nas infra-estruturasexistentes (Andrade et al 1998) Verifica-se que ospontos mais vulneraacuteveis a galgamentos satildeo a Praia deFaro Barreta W Culatra E Armona E Tavira W toda

70

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

a Ilha de Cabanas e a Peniacutensula de Cacela Nesteslocais mesmo a ocorrecircncia de pequenos temporaisdurante a preia-mar de mareacutes vivas podem provocargalgamentos Alguns pontos como a Ilha de Cabanase a Peniacutensula de Cacela viram reduzida avulnerabilidade a galgamentos apoacutes as intervenccedilotildeesefectuadas com algum sucesso embora essavulnerabilidade comece a ser actualmente elevada nosegundo caso devido aos factos aludidos mais acimaEm geral os locais de maior vulnerabilidade satildeo osque apresentam perfis de praia de pouca inclinaccedilatildeocordatildeo dunar fraacutegil e proximidade das barras

Cordatildeo dunar e vegetaccedilatildeo dunarAo longo das ilhas existiu um cordatildeo dunar frontal

contiacutenuo com 5 a 10m de altura sem cortes eoacutelicos ede galgamento muito significativos e bem cobertosde vegetaccedilatildeo (Pilkey et al 1989) No entanto o cordatildeodunar encontra-se na actualidade completamenteocupado em alguns locais por edificaccedilotildees comoacontece na Praia de Faro na povoaccedilatildeo do Farol e naIlha da Armona A vegetaccedilatildeo tornou-se escassa natildeosomente nas zonas ocupadas mas tambeacutem noutroslocais como na parte ocidental da Ilha da Barreta ena oriental das ilhas da Armona e da Culatra

Com a crescente pressatildeo antroacutepica exercida sobreo sistema especialmente para fins balneares verifica-se que em vaacuterios locais a quantidade de cortes eoacutelicostem aumentado devido ao pisoteio Este facto podeconduzir em periacuteodos de agitaccedilatildeo mariacutetima maisenergeacutetica agrave ocorrecircncia de galgamentos oceacircnicosRamos amp Dias (2000) referem que grande parte doscortes de galgamento oceacircnico do sistema da RiaFormosa eacute devido ao pisoteio dos corpos dunares enatildeo a causas naturais

A instalaccedilatildeo intensiva nos uacuteltimos anos depaliccediladas para recuperaccedilatildeo dunar complementadacom plantaccedilatildeo de vegetaccedilatildeo tiacutepica destes ambientescorresponde a uma acccedilatildeo de gestatildeo com efeitos muitopositivos com a qual se tem conseguido robustecero cordatildeo dunar do sistema

Deltas de mareacuteA incorporaccedilatildeo de deltas de enchente e posterior

migraccedilatildeo ou encerramento da barra respectivaconstitui importante mecanismo de evoluccedilatildeo dasilhas-barreira estando na origem da grande larguradas ilhas da Armona e de Tavira (Pilkey et al 1989)

A formaccedilatildeo de deltas de enchente em associaccedilatildeo comos galgamentos oceacircnicos contribui para a migraccedilatildeodas ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continente o quepoderaacute estar a suceder com o caso particular daPeniacutensula de Cacela (Andrade et al 2004)

Comportamento das barrasA Ria Formosa eacute caracterizada por apresentar

elevadas taxas de migraccedilatildeo das barras A estabilizaccedilatildeode duas das barras no sector oriental provocou fortesmodificaccedilotildees na dinacircmica do sistema Segundo Vila-Concejo et al (2002) a estabilizaccedilatildeo da Barra Faro-Olhatildeo (1929-1955) teve maiores consequecircncias nasbarras do Ancatildeo e da Armona enquanto que aabertura artificial da Barra de Tavira (1927-1985)produziu maiores efeitos nas barras da Fuzeta e doLaceacutem

A Barra da Armona era a principal barra dosistema controlando a maior parte da circulaccedilatildeo daRia Formosa na parte central Com a abertura da BarraFaro-Olhatildeo projectada para manter profundidadesentre-molhes da ordem de 45m ZH mas queprogressivamente se foi aprofundando ateacuteprofundidades superiores a 40 metros as trocashiacutedricas com o oceano passaram a efectuar-sepredominantemente por esta barra Os molhesprovocaram grande acumulaccedilatildeo a barlamar pelo quenos 12 anos seguintes agrave sua construccedilatildeo a Ilha daBarreta registou alargamento superior a 220 metrosna zona por eles influenciada (Bettencourt 1985) Emconsequecircncia a barra da Armona perdeu eficaacuteciareduzindo progressivamente largura e profundidadeNos anos 80 do seacuteculo XX tinha ainda cerca de 2000metros de largura mas actualmente essa largura eacuteapenas da ordem de 200 metros

O sentido de migraccedilatildeo das barras natildeo estabilizadaseacute para oriente (agrave excepccedilatildeo da Barra da Armona quetem mantido a sua posiccedilatildeo) Essa migraccedilatildeo efectua-se quer progressivamente (mantendo ou natildeo a largura)ou por ldquosaltosrdquo na sequecircncia de temporais em quenova barra se abre em geral a sotamar da barraexistente seguindo-se frequentemente a posteriorcolmataccedilatildeo desta (Dias 1988 Pilkey et al 1989Andrade et al 1998)

Erosatildeo provocada pelas mareacutes-vivasA Ria Formosa eacute um sistema lagunar com uma

grande aacuterea de zona intertidal (cerca de 13 do total

71

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

da aacuterea) Em cada ciclo de mareacute 50 a 75 da aacutegua eacuterenovada (Sprung 1994) Devido agrave diferenccedila deamplitude entre mareacutes-vivas e mareacutes-mortas as zonasde menor elevaccedilatildeo das ilhas-barreira satildeo regularmenteinundadas durante as primeiras causando transportesignificativo de sedimentos Estes fluxos satildeoresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo de canais de mareacute eaumento da erosatildeo das ilhas-barreira

Como jaacute foi referido os periacuteodos de mareacutes-vivassatildeo bastante problemaacuteticos especialmente noInverno na medida em que potenciam o efeito detempestades que ocorrem durante mareacutes-cheiasTodos os anos nos pontos criacuteticos do sistema comoa Praia de Faro a probabilidade de ocorrer umasituaccedilatildeo muito grave aumenta principalmente se seconsiderar a elevaccedilatildeo do NMM

42 Intervenccedilatildeo

Como eacute reconhecido por Scheele amp Westen (1996)os planos de gestatildeo costeira devem apontar para aprotecccedilatildeo ambiental de longo prazo o que implica(1) uma estrateacutegia com objectivos claros e concisos(2) uma metodologia praacutetica e realista (3)monitorizaccedilatildeo contiacutenua (4) forte aposta nosprogramas de educaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo ambiental e(5) envolvimento da comunidade local no processode planeamento e tomada de decisotildees

Sendo a Ria Formosa um sistema muito dinacircmicocom elevada vulnerabilidade e que reage rapidamentea elevaccedilotildees do niacutevel do mar os muacuteltiplos interesseseconoacutemicos e sociais aiacute existentes fazem com que aaacuterea seja caracterizada por elevado grau de conflitosde interesses A situaccedilatildeo torna-se ainda mais complexaquando se considera que o sistema corresponde a umParque Natural onde haacute que compatibilizar interesseseconoacutemicos com a conservaccedilatildeo da Natureza Nestecontexto soacute eacute possiacutevel proceder agrave conservaccedilatildeo daNatureza atraveacutes de intervenccedilotildees tendentes a minoraros impactes negativos induzidos pelas actividadesantroacutepicas (Ramos amp Dias 2000)

De acordo com as actividades desenvolvidas osprincipais grupos de interesse na Ria Formosa satildeo(1) o PNRFICNB (2) a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeoe Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR-Algarve) (3) as entidades promotoras do turismo (4)as associaccedilotildees comerciais e industriais (incluindo oporto) (5) os pescadores e autoridades responsaacuteveis

por este sector (6) as entidades regionais e locais (7)as associaccedilotildees de defesa do ambiente e osambientalistas e (8) a populaccedilatildeo local incluindoresidentes e natildeo residentes Como sugere Antunes etal (2006) o entendimento entre os diferentes gruposconduz a uma sinergia que beneficia as potencialidadesque contribuem para uma gestatildeo eficaz

Os principais problemas das ilhas-barreira estatildeolocalizados nos nuacutecleos urbanos devido agraves estruturasedificadas Dos principais nuacutecleos existentes apenasos de Hangares e Culatra natildeo tecircm problemas erosatildeocosteira pois que se localizam junto agrave parte lagunar(e consequentemente afastados da praia oceacircnica eportanto resguardados dos temporais) Os restantespoacutelos de ocupaccedilatildeo (Praia de Faro Farol etc) satildeoproblemaacuteticos sendo os riscos de inundaccedilatildeo e erosatildeobastante elevados Para resolver estes problemasexistem fundamentalmente trecircs estrateacutegias deintervenccedilatildeo (1) intervenccedilatildeo riacutegida (ex esporotildeesparedotildees) (2) retirada estrateacutegica programas natildeoestruturais (ex demoliccedilatildeo de infra-estruturas) e (3)intervenccedilatildeo suave (ex realimentaccedilatildeo de praias) (Pilkeyamp Dixon 1996) Qualquer uma destas estrateacutegias temproacutes e contras sendo praticamente impossiacutevel quequalquer uma delas satisfaccedila todos os grupos deinteresse afectados

Intervenccedilatildeo riacutegidaAteacute haacute poucas deacutecadas em todo o mundo a

construccedilatildeo de estruturas riacutegidas e permanentesconstituiu o meacutetodo mais utilizado de protecccedilatildeo dopatrimoacutenio edificado no litoral Embora estasestruturas se revelem eficazes na defesa de imobiliaacuterioem risco de ser danificado pela erosatildeo costeiraprovocam fortes impactes negativos a sotamar dolocal onde satildeo construiacutedas (Inman 1978 Mangor1998 Greene 2002) pelo que internacionalmente severifica tendecircncia para adoptar outros tipos deprotecccedilatildeo ambientalmente menos agressivos

A construccedilatildeo dos molhes da marina de Vilamourae do campo de esporotildees de Quarteira provocou forteaumento da erosatildeo a oriente e consequentementegraves problemas de gestatildeo Por outro lado a aberturae fixaccedilatildeo das barras de Faro-Olhatildeo e de Tavira parapropiciar melhor funcionamento das estruturasportuaacuterias existentes no meio lagunar econsequentemente beneficiar as actividades socio-econoacutemicas da regiatildeo provocaram grandes alteraccedilotildees

72

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

no sistema fazendo com que o seu funcionamentonatural tivesse entrado em ruptura e que a erosatildeocosteira tivesse sido fortemente amplificada a sotamarComo se veraacute na parte dedicada agraves intervenccedilotildeessuaves a utilizaccedilatildeo de teacutecnicas de transposiccedilatildeo dosmolhes (ldquoby-passingrdquo) permitiria reduzirsubstancialmente alguns destes impactes negativos

A construccedilatildeo de mais estruturas riacutegidas na RiaFormosa (ou a barlamar desta) traduzir-se-ia numaforte amplificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico em queo sistema jaacute se encontra tendendo a meacutedio ndash longoprazo para a completa artificializaccedilatildeo da Ria Formosaconsignada por legislaccedilatildeo nacional como ParqueNatural e reconhecida internacionalmente comoimportante aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental

Retirada estrateacutegica Programas natildeo estruturaisOs programas natildeo estruturais satildeo intervenccedilotildees em

que se procede agrave demoliccedilatildeo de infra-estruturasameaccediladas pela erosatildeo costeira ou transferecircncia dasmesmas para locais mais seguros o que eacute tambeacutemconhecido como ldquoretirada estrateacutegicardquo Viabiliza-seassim a evoluccedilatildeo natural dos sistemas Com amigraccedilatildeo das ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continentecomo resposta agrave elevaccedilatildeo do NMM este tipo deintervenccedilatildeo comeccedilou por ser aplicado em algunslocais da costa Leste dos EUA em 1972 (NRC 1995)A deslocalizaccedilatildeo de infra-estruturas pode ser eficazem locais pouco povoados ou quando existe interessena salvaguarda de patrimoacutenio como aconteceu como farol do Cabo Hatteras nos EUA No entantotorna-se impraticaacutevel em grandes nuacutecleos urbanosdevido aos elevados custos e dificuldades logiacutesticas

Na Ria Formosa este tipo de intervenccedilatildeo temencontrado grandes dificuldades de execuccedilatildeodesignadamente no que se refere agrave demoliccedilatildeo de casasconstruiacutedas ilegalmente em Domiacutenio Hiacutedrico Domiacutenio Puacuteblico Mariacutetimo o que aleacutem de tender aperpetuar situaccedilotildees de muito alto risco potildee em causaa imagem do Paiacutes como Estado de direito (Dias 2002)

Intervenccedilatildeo SuaveA intervenccedilatildeo suave tambeacutem designada por

protecccedilatildeo dinacircmica desde haacute algumas deacutecadas que eacuteutilizada preferencialmente como alternativa agravesteacutecnicas de intervenccedilatildeo riacutegida Apresentam menoresimpactes ambientais sendo uma soluccedilatildeo maisapropriada para aacutereas sensiacuteveis como as ilhas-barreira

As teacutecnicas de protecccedilatildeo suave tais como arealimentaccedilatildeo de praias a reconstruccedilatildeo dunar atransposiccedilatildeo de molhes (by-passing) a abertura debarras (para as deixar evoluir naturalmente) e asldquodragagens ecoloacutegicasrdquo correspondem em geral auma intervenccedilatildeo inicial deixando depois a Naturezaldquotrabalharrdquo Por essa razatildeo estas teacutecnicas satildeo tambeacutemfrequentemente designadas por ldquobuilding with NaturerdquoSatildeo com frequecircncia menos dispendiosas e maiseficientes a longo prazo do que as intervenccedilotildees riacutegidas(Koster amp Hillen 1995 Griggs 1999 Dias et al 2003)

Poreacutem estas teacutecnicas tecircm que ser executadas comforte suporte cientiacutefico e devem envolver o conceitode protecccedilatildeo de trechos costeiros na sua globalidadee natildeo apenas a protecccedilatildeo local de patrimoacutenio edificadoem zonas de risco Se forem concretizadas de formadeficiente podem mesmo revelar-secontraproducentes Eacute o que se passa por exemploquando a realimentaccedilatildeo de praias eacute efectuada comareias extraiacutedas da praia submersa (acima daprofundidade de fecho) nestes casos nenhumsedimento eacute adicionado ao sistema (Wells amp McNinch1991) havendo apenas transferecircncias dentro dosistema com consequecircncias negativas para o seufuncionamento natural tanto ao niacutevel morfodinacircmicocomo bioloacutegico

Desde 1996 que o PNRFICN tem realizadointervenccedilotildees de caraacutecter suave na tentativa demelhorar o funcionamento do sistema e diminuir avulnerabilidade ao galgamento e ao mesmo tempomanter a dinacircmica dos processos naturais (Dias et al2004) Entre as intervenccedilotildees efectuadas procedeu-seao robustecimento da Peniacutensula de Cacela agrave aberturadas Barras do Ancatildeo e da Fuzeta (deixando-as deseguida evoluir naturalmente) agrave dragagem de muitoscanais que natildeo satildeo de navegaccedilatildeo para melhorar acirculaccedilatildeo no sistema agrave repulsatildeo de sedimentos parao cordatildeo arenoso agrave colocaccedilatildeo de paliccediladas parareconstruccedilatildeo dunar agrave plantaccedilatildeo de Ammophila arenariae agrave construccedilatildeo de passadiccedilos sobrelevados

Segundo Dias et al (2003) as intervenccedilotildees suavesrealizadas na Ria Formosa propiciaram melhorprotecccedilatildeo das ilhas-barreira tendo-se em geralatingido os objectivos esperados Os mesmos autoresreferem que os sistemas naturais de elevadaimportacircncia soacutecio-econoacutemica e ambiental (como aRia Formosa) podem ser geridos utilizando este tipo

73

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

de teacutecnicas lucrando com o aproveitamento dosrecursos existentes

A transposiccedilatildeo (by-passing) dos molhes das barrasartificiais meacutetodo utilizado desde haacute muito um poucopor todo o mundo permitiria que as areias retidaspelos molhes a barlamar fosse transferido parasotamar aiacute reconstituindo a deriva litoral econsequentemente minimizando alguns dos impactesnegativos induzidos por estas estruturas Vaacuteriosestudos que demonstram que esta tecnologia natildeoaparenta ter efeitos ambientais negativos associados(eg Lindeman 1997 in Greene 2002)

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Com vista a avaliar a vulnerabilidade das ilhas-barreira da Ria Formosa o presente trabalho incidiuna actualizaccedilatildeo desta problemaacutetica na oacuteptica da gestatildeouma vez que se trata de um sistema em permanentetransformaccedilatildeo Nesta anaacutelise eacute imprescindiacutevel tersempre em consideraccedilatildeo que o sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa estaacute consignado legalmentecomo aacuterea de protecccedilatildeo ambiental desde 1978 anoem que lhe foi atribuiacutedo o estatuto de Reserva Naturaltendo ficado protegido pelo estatuto de ParqueNatural em 1987 (Decreto-lei 37387) e Rede Natura2000 tendo ainda sido integrado desde 1980 na Listade Siacutetios da Convenccedilatildeo de Ramsar (zonas huacutemidasde importacircncia internacional)

Da anaacutelise efectuada conclui-se que eacuteimprescindiacutevel compatibilizar os diversificados valoresnaturais (bioloacutegicos geomorfoloacutegicos fiacutesico-quiacutemicos geoloacutegicos etc) intriacutensecos ao sistema comos muacuteltiplos interesses soacutecio-econoacutemicos decorrentesda sua exploraccedilatildeo (pesca maricultura aquaculturaturismo portos comerciais e de pesca navegaccedilatildeo derecreio etc) Estando influenciado por fortesimpactes antroacutepicos directos e indirectos tais comoentre muitos outros a erosatildeo costeira e a intensificaccedilatildeodo assoreamento lagunar a sobrevivecircncia do sistemaldquonaturalrdquo e a sustentabilidade da sua exploraccedilatildeocarecem de intervenccedilotildees correctivas frequentes porforma a minimizar os impactes negativos aludidosTais intervenccedilotildees teratildeo que ser cautelosas e contiacutenuastentando o mais possiacutevel aproximar-se do que seriaa dinacircmica natural do sistema

Eacute ainda urgente resolver vaacuterios conflitos deinteresses existentes privilegiando as actividades

indutoras de menores impactes negativos e quesimultaneamente viabilizem uma melhor exploraccedilatildeosustentaacutevel do sistema Aponta-se a tiacutetuloexemplificativo o caso do turismo haacute quedesincentivar o turismo de massas directo nesta aacuterea(ateacute porque nas proximidades haacute poacutelos turiacutesticos destegeacutenero bem consolidados) desenvolvendo emalternativa outros tipos de turismo complementardesignadamente o turismo de Natureza a observaccedilatildeode aves (bird watching) e de peixes (fish watching) emambiente natural os passeios no meio lagunar emembarcaccedilotildees natildeo poluentes o turismo gastronoacutemicoetc

A maior parte da zona de barreira do sistema natildeoestaacute ainda ocupado por estruturas imobiliaacuterias Comvista agrave exploraccedilatildeo sustentaacutevel do sistema eacuteimprescindiacutevel que estas zonas continuem semocupaccedilatildeo permanente mantendo algumascaracteriacutesticas pristinas ainda aiacute existentes Nos poucosnuacutecleos urbanos piscatoacuterios existentes cujo casoparadigmaacutetico eacute a povoaccedilatildeo da Culatra onde natildeoexistem problemas realmente graves pois que selocalizam na margem lagunar (relativamente afastadado litoral oceacircnico) devem-se adoptar algumasmedidas correctivas pontuais por forma a preservara sua identidade cultural a melhorar a qualidade devida da populaccedilatildeo e a impedir um crescimentoexagerado Nos restantes nuacutecleos urbanos comcaracteriacutesticas ldquoturiacutesticasrdquo vaacuterios dos quais localizadosnas zonas de maior risco do sistema seria altamentedesejaacutevel que se procedesse agrave completa reformulaccedilatildeoda ocupaccedilatildeo ou sempre que possiacutevel se optasse peladesocupaccedilatildeo

No sentido de tentar resolver os problemas deerosatildeo costeira existentes (que se agravaratildeo no futuro)recomenda-se vivamente que a) natildeo se construamobras de protecccedilatildeo riacutegida (esporotildees paredotildees etc)na Ria Formosa nem na zona a barlamar desta daqual o sistema depende b) se continuem a executaracccedilotildees de robustecimento do cordatildeo dunar e decolmataccedilatildeo dos cortes de galgamento utilizando tantoquanto possiacutevel sedimentos provenientes dadragagem dos canais de navegaccedilatildeo c) se implementea transposiccedilatildeo dos molhes portuaacuterios com relevacircnciaespecial para os molhes da Barra de Faro-Olhatildeo d)efectivamente se proceda agrave demoliccedilatildeo das edificaccedilotildeessituadas em zonas de maior risco e sobre a duna

74

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

primaacuteria concretizando finalmente decisotildeesgovernamentais que tecircm vindo a ser repetidamentetomadas haacute quase trecircs deacutecadas mas nunca executadascabalmente e) sejam amplificadas as acccedilotildees deintervenccedilatildeo e protecccedilatildeo dinacircmica na linha do que severificou desde finais do seacuteculo passado (abertura debarras quando necessaacuterio para as deixar evoluirnaturalmente dragagens ldquoecoloacutegicasrdquo etc) e quetransformaram a Ria Formosa num siacutetio de referecircnciainternacional nesta mateacuteria e que nos uacuteltimos anosapenas tecircm sido executadas de forma extremamentemoderada

Finalmente eacute altamente recomendaacutevel que emtodos os actos de gestatildeo envolvendo quer ascomponentes geomorfoloacutegicas quer as ecoloacutegicasquer as soacutecio-econoacutemicas se tenham sempre emconsideraccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas principalmenteno que se refere agrave elevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar

BIBLIOGRAFIA

Andrade CF (1990a) - O Ambiente de barreira da RiaFormosa Algarve ndash Portugal Dissertaccedilatildeo deDoutoramento 645p Universidade de LisboaPortugal (natildeo publicado)

Andrade CF (1990b) - Estudo da susceptibilidadeao galgamento da Ria Formosa Geolis IV(1-2)69-76 Lisboa Portugal

Andrade CF Barata A amp Teles M (1998) - Ananalysis of the vulnerability to overwash of theRia Formosa barrier island system (Portugal)Using a simple multi-attribute technique (SMART)approach Proceedings of Littoralrsquo98 Conferencepp511-519 Barcelona Espanha

Andrade CF Freitas MC Moreno J amp CraveiroSC (2004) - Stratigraphical evidence of LateHolocene barrier breaching and extreme stormsin lagoonal sediments of Ria Formosa AlgarvePortugal Marine Geology 210339ndash362(doi101016jmargeo200405016)

Antunes P Santos R amp Videira N (2006) -Participatory decision making for sustainabledevelopment - the use of mediated modellingtechniques Land Use Policy 2344ndash52(doi101016jlandusepol200408014)

Bernardo P Bastos R amp Dias JA (2002) - Historicroots for barrier island occupation in the RiaFormosa Littoral 2002 Porto 4 p (disponiacutevel em

httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI02_Lit_91_PBpdf)

Bettencourt P (1985) - Geomorphologie et processusdlsquoeacutevolution reacutecente de la cocircte sotavento (Algarve ndash SudPortugal) Thegravese DEA 92p Universiteacute deBordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Bettencourt P (1994) - Les environnements sedimentairesde la cocircte sotavento (Algarve SudPortugal) et leur eacutevolutionHoloceacutene et actuelle PhD Thesis University ofBordeaux I Franccedila (unfinished)

Bray Jr T amp Carter C (1992) - Physical processesand sedimentary record of a moderntransgressive lacustrine barrier island MarineGeology 105(1-4)155-168 (doi 1010160025-3227(92)90187-M)

Correia F Dias JA Boski T amp Ferreira Oacute (1996)- The retreat of the Eastern Quarteira cliffed coast(Portugal) and its possible causes In Jones PSHealy MG amp Williams AT (eds) Studies inCoastal Management p129-136 Samara PublLtd Cardigan UK (disponiacutevel emht tp w3 u a l g p t j d i a s JA D pape r s CLinternac96_Studies_129_FCpdf)

Correia F Ferreira Oacute amp Dias JA (1997) - Contributodas arribas para o balanccedilo sedimentar do sectorcosteiro Quarteira - Vale do Lobo (Algarve -Portugal) Seminaacuterio sobre a zona costeira doAlgarve 31-39 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_031_FCpdf)

Costa CL (1994) - Final report of sub-project A ldquoWindwave climatology of the Portuguese coastrdquo InstitutoHidrograacutefico Report PO-WAVES 694-A 80 pLisboa Portugal (natildeo publicado)

Dias JA (1988) - Aspectos geoloacutegicos do litoralalgarvio Geonovas 10 113-128 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN88_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (1990) - A Evoluccedilatildeo Actual do LitoralPortuguecircs Geonovas 11 15-29 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN90_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (2002) - Manual de Sobrevivecircncia eVilanagem Diaacuterio de Notiacutecias - SuplementoldquoAmbiente e Desenvolvimento Sustentaacutevelrdquo 30de Julho de 2002 Lisboa Portugal (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersxCS02_DNADpdf)

75

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Dias JA Ferreira Oacute Matias A Vila-Concejo Aamp Saacute-Pires C (2003) - Evaluation of softprotection techniques in barrier islands bymonitoring programs case studies from RiaFormosa (Algarve-Portugal) Journal of CoastalResearch SI35117-131

Dias JA Ferreira Oacute amp Moura D (2004) - O sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa 3ordm SIPRES ndashSimpoacutesio Interdisciplinar sobre Processos Estuarinos 18p Faro Portugal

Dias JA amp Neal WJ (1992) - Sea cliff retreat insouthern Portugal profiles processes andproblems Journal of Coastal Research 8641-654

Dias JA amp Taborda R (1992) - Tidal gauge data indeducing secular trends of relative sea level andcrustal movements in Portugal Journal of CoastalResearch 8655-659

Dias JA Teixeira SB amp Ferreira Oacute (1997) - LivroGuia da Excursatildeo Seminaacuterio sobre a Zona Costeirado Algarve 43 p Faro Portugal

Douglas BC (1995) - Global sea level changedetermination and interpretation US NationalReport to IUGG 1991-1994 Geophys 33 Suppl11 p (disponiacutevel em httpwwwaguorgrevgeophysdougla01dougla01html)

Duarte C Matias A Dias JA amp Ferreira Oacute (1999)- Vulnerabilidade dos corpos dunares do Algarve10ordm Congresso do Algarve 477-490 (disponiacutevelem httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN99_10CA_477_CDpdf)

Esaguy AS (1984) - Ria de Faro Barra da ArmonaEvoluccedilatildeo 1873-1983 5 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1986a) - Ria de Faro Barra de Faro-OlhatildeoEvoluccedilatildeo 1955ndash1985 10p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986b) - Ria de Faro Ilha de TaviraEvoluccedilatildeo 1950ndash1985 8 p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986c) - Ria de Faro Ilha do AncatildeoEvoluccedilatildeo 1950-1985 7 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1987) - Ria de Faro Barra de TaviraEvoluccedilatildeo 13 p Direcccedilatildeo Geral de Portos LisboaPortugal

Ferreira Oacute Dias JA amp Taborda R (2008) -Implications of sea-level rise for Portugal Journal

of Coastal Research 24(2)317-324 (doi 10211207A-00061)

Ferreira Oacute Garcia T Matias A Taborda Ramp DiasJA (2006) - An integrated method for thedetermination of set-back lines for coastal erosionhazards on sandy shores Continental ShelfResearch 261030ndash1044 (doi 101016jcsr200512016)

Ferreira Oacute Martins JC amp Dias JA (1997) -Morfodinacircmica e vulnerabilidade da Praia de FaroSeminaacuterio sobre a zona costeira do Algarve 67-76 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_067_OFpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias Aamp Dias JA (2002)- Recent evolution of Culatra Island (Algarve ndashPortugal) Littoral 2002 The Changing Coast 289-294 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers02_LitTGpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2005)ndash Coastal Hazards Representation for Praia doBarril (Algarve Portugal) Continental ShelfResearch SI4928-33

Granja H (1984) - Eacutetude geacuteomor phologiquesedimentoloacutegique et geacuteoquimique de la Ria Formosa(Algarve-Portugal) These 3eme Cycle 254 pUniversiteacute de Bordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Greene K (2002) - Beach nourishment a review ofthe biological and physical impacts 174 p AtlanticStates Marine Fisheries Commission WashingtonDC (disponiacutevel em httpwwwasmfcorgpublicationshabitatbeachNourishmentpdf)

Griggs GB (1999) - The protection of Californialsquoscoast past present and future Shore amp Beach67(1)18-28

Hoyt JH (1967) - Barrier Island FormationGeological Society of America Bulletin 781125-1136 (doi 1011300016-7606(1967)78[1125BIF]20CO2)

Inman D (1978) - The impact of coastal structureson shorelines Proceedings of Coastal Zoneacute78 ASCE2265-2272

Koster MJ amp Hillen R (1995) - Combat erosion bylaw Coastal defence policy for the NetherlandsJournal of Coastal Research 67(2-3)43-49

Leatherman S (1976) - Barrier islands dynamicsoverwash processes and aeolian transportProceedings of Coastal Engineering Conference ASCE1958-1973

76

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Mangor K (1998) - Coastal restorationconsiderations Proceedings of Coastal Engineeringrsquo98Conference ASCE 3425-3438

Marcelo MJ amp Fonseca LC (1998) - Ria Formosada gestatildeo e conservaccedilatildeo de uma aacuterea protegidaRevista de Biologia 2ordm ENEC 16(1-4)125-133

Martins JT Ferreira Oacute Ciavola Pamp Dias JA (1996)- Monitoring of profile changes at Praia de FaroAlgarve a tool to predict and solve problems InTaussik J amp Mitchell J (eds) Partnership in CoastalZone Management pp 615-622 Samara Publ LtdCardigan UK

Matias A (2000) - Estudo morfosedimentar da Peniacutensulade Cacela Dissertaccedilatildeo de Mestrado 244pUniversidade do Algarve Faro Portugal (natildeopublicado)

Matias A Dias JA Williams AT amp Ferreira Oacute(1997) - Vulnerabilidade das dunas da RiaFormosa 9ordm Congresso do Algarve 231-239Vilamoura Portugal

Matias A Ferreira Oacute amp Dias JA (1999) -Preliminary results on the Cacela Peninsula dunereplenishment Boletiacuten del Instituto Espantildeol deOceanografiacutea 15(1-4)283-288 (disponiacutevel emhttpwwwieoespublicacionesboletinpdfsbol1515_283-288PDF)

Matias A Ferreira Oacute Dias JA amp Vila-Concejo A(2004) - Development of indices for the evaluationof dune recovery techniques Coastal Engineering51261-276 (doi 101016jcoastaleng200402002)

Matias A Ferreira Oacute Mendes I amp Dias JA (1998)- Monitorizaccedilatildeo da alimentaccedilatildeo artificial daPeniacutensula de Cacela Seminaacuterio sobre DragagensDragados e Ambientes Costeiros 47-56

Matias A Ferreira Oacute Mendes I Dias JA amp Vila-Cconcejo A (2005) - Artificial construction ofdunes in the South of Portugal Journal of CoastalResearch 21(3)472-481 (doi 10211203-00471)

Matias A Vila-Concejo A Ferreira Oacute amp Dias JA(2003) - Field measurements of morphologicvariations during an overwash event 4ordm Simpoacutesiosobre a Margem Ibeacuterica Atlacircntica Thalassas19(2b)164-165 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI03_4SM_b164_AMpdf)

NRC - National Research Council (1995) - Beach

Nourishment and Protection 334 p Washington DCNational Academy Press (ISBN 9780309052900)

Pacheco A Carrasco AR Vila-Concejo A FerreiraOacute amp Dias JA (2007) - A coastal managementprogram for channels located in backbarriersystems Ocean amp Coastal Management 50119-143 (doi101016jocecoaman200608008)

Pilkey OH amp Dixon K (1996) - The Corps and theShore 286p Island Press Washington DC USA(ISBN 9781559634380)

Pilkey OH Neal WJ Monteiro JH amp Dias JA(1989) - Algarve Barrier Islands A Noncoastal-Plain System in Portugal Journal of Coastal Research5(2)239-261

Ramos L amp Dias J A (2000) - Atenuaccedilatildeo davulnerabilidade a galgamentos oceacircnicos nosistema da Ria Formosa mediante intervenccedilotildeessuaves 3ordm Simpoacutesio sobre a Margem ContinentalIbeacuterica Atlacircntica Faro 361-362 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers00_SMLRpdf)

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2001)- Avaliaccedilatildeo de realimentaccedilotildees artificiais de praiasda Ria Formosa Casos das ilhas de Cacela e deTavira Congresso do Algarve 2001 8 p

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2002)- Preliminary Evaluation of the MorphologicalEvolution of Contrasting Beaches of the RiaFormosa With Relation to Differences inRefracted Wave Height Littoral 2002 TheChanging Coast 423-429 (disponiacutevel emht tp www2 00 8 i o -war nemu ende dehomepagesschernewskiLittoral2000docsvol3Littoral2002_79pdf)

Scheele RJ amp Westen CJ (1996) - Planning for acoastal policy - the 3A4 approach In Taussik Jamp Mitchell J (eds) Partnership in Coastal ZoneManagement pp 65-71 Samara Publ LtdCardigan UK

Sprung M (1994) - Macrobenthic secondaryproduction in the intertidal zone of Ria Formosaa lagoon in southern Portugal Estuarine Coastaland Shelf Science 38539ndash558 (doi 101006ecss19941037)

Van Den Belt M Videira N Antunes P Santos Ramp Gamito S (2000) - Modelaccedilatildeo Participada na RiaFormosa 36 p Ediccedilatildeo Fundaccedilatildeo do Mar LisboaPortugal

77

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Vila A Dias JMA Ferreira Oacute amp Matias A (1999)- Natural evolution of an artificial inlet CoastalSedimentslsquo99 21478-1488 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI99_CS99_1478_AVpdf)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Ciavola P Matias Aamp Dias JA (2004a) - Tracer studies on the updriftmargin of a complex inlet system Marine Geology20843-72 (doi 101016jmargeo200404020)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA(2003) - The first two years of an inlet sedimentarydynamics Continental Shelf Research 231425-1445 (doi 101016S0278-4343(03)00142-0)

Vila-Concejo A Matias A Ferreira Oacute Duarte Camp Dias JA (2002) - Recent evolution of thenatural inlets of a barrier island system in southernPortugal Journal of Coastal Research (ICS 2002proceedings) SI36741-752

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Morris BD MatiasA amp Dias JA (2004b) ndash Lessons from inletrelocation examples from Southern PortugalCoastal Engineering 51(10)967-990(doi101016jcoastaleng200407019)

Vila-Concejo A Matias A Pacheco A FerreiraOacute amp Dias JA (2006) - Quantification of inlet-related hazards in barrier island systems Anexample from the Ria Formosa (Portugal)Continental Shelf Research 261045-1060(doi 101016jcsr200512014)

Weinholtz MB (1978) - Contribuiccedilatildeo para o estudo daevoluccedilatildeo das flechas de areia na costa sotavento do Algarve(Ria de Faro) Relatoacuterio da Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Wells JT amp McNinch J (1991) - Beach scraping inNorth Carolina with special reference to itseffectiveness during Hurricane Hugo Journal ofCoastal Research SI8249-261

Williams SJ (2001) - Coastal erosion and land lossaround the United States strategies to manage andprotect coastal resources ndash examples fromLouisiana Coastal Ecosystems and FederalActivities Technical Training SymposiumProceedings 15 p (disponiacutevel emhttpwwwfwsgovnc-esecoconfwilliamspaperpdf)

Page 6: Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na

62

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

O sector entre Quarteira e a Praia do Garratildeoapresenta intensa actividade e ocupaccedilatildeo antroacutepicadesignadamente em Vale do Lobo (Fig1) A evoluccedilatildeodas arribas neste sector estaacute fortemente dependenteda praia subjacente que em maior ou menor grauconfere protecccedilatildeo da acccedilatildeo directa do mar Noentanto a susceptibilidade destas arribas agrave erosatildeomarinha eacute extremamente elevada (Andrade 1990aDias amp Neal 1992) Nalguns locais o recuo chegou aultrapassar 2mano ou mais (Correia et al 1997)

Ao longo da zona urbanizada de Quarteira(aproximadamente 33km) a Direcccedilatildeo Geral dePortos procedeu a obras de defesa costeiraconstruindo entre 1971 e 1974 doze esporotildees e doismolhes de acesso agrave marina de Vilamoura (o ocidentalcom 600m e o oriental com 500m) (Bettencourt1985) O aumento das taxas meacutedias de recuo nestesector parece resultar essencialmente da construccedilatildeodestas estruturas que interrompem a deriva litoralprivando as praias a nascente de sedimentos o queconsequentemente facilita o ataque das ondas agrave basedas arribas Apoacutes a construccedilatildeo dos molhes deVilamoura o recuo meacutedio anual da crista da arriba foifortemente amplificado chegando por exemplo aultrapassar nalguns pontos os 4 metros por ano noperiacuteodo 1983-1991 (Correia et al 1996)

A situaccedilatildeo em todo o sector eacute na actualidadegrave Vale do Lobo eacute o local em que o problema deerosatildeo costeira eacute mais seacuterio dada a amplitude eintensidade de ocupaccedilatildeo antroacutepica Os dadosdisponiacuteveis parecem reflectir a tendecircncia de aumentoda erosatildeo na parte oriental do sector (ateacute agora maisestaacutevel) apesar das realimentaccedilotildees efectuadas paraproteger a Praia de Vale do Lobo

32 Peniacutensula do Ancatildeo

A Peniacutensula do Ancatildeo tem cerca de 8km decomprimento e 50 a 250m de largura (Fig2) SegundoPilkey et al (1989) e Bettencourt (1994) o recuo dalinha de costa chegou a atingir valores na ordem de 1a 2mano em alguns locais

O sector Ancatildeo W (da Praia do Garratildeo agrave Praia deFaro) possui um cordatildeo dunar contiacutenuo quepraticamente eacute desprovido de ocupaccedilatildeo antroacutepicaUma arriba permanente talhada na duna marca atransiccedilatildeo entre a praia e o cordatildeo dunar o quedemonstra um recuo da linha de costa devido agrave erosatildeo

que em meacutedia atingiu 08mano entre 1989 e 2001(Ferreira et al 2006)

O sector Ancatildeo C (Praia de Faro) eacute urbanizado ecomo tal o mais problemaacutetico O niacutevel da ocupaccedilatildeohumana eacute bastante elevado (Fig3) Ateacute meados dadeacutecada de 50 a Praia de Faro era ocupada apenas poralguns pescadores natildeo havendo registos de problemasgraves para as habitaccedilotildees pois encontravam-seinstaladas junto agrave laguna e separadas do mar por umcampo dunar singular A construccedilatildeo da ponterodoviaacuteria na deacutecada de 50 foi o factor determinantepara a forte intensificaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo O cordatildeodunar apesar de afectado pela erosatildeo costeira foiquase totalmente ocupado e destruiacutedo por edificaccedilotildees(Dias et al 1997 2004)

Natildeo tendo sido possiacutevel concretizar as acccedilotildeesmiacutenimas necessaacuterias para uma ocupaccedilatildeo racional dazona (Dias et al 1997) aconteceu o que era previsiacutevelDurante o Inverno de 198990 a Praia de Faro foifustigada por temporais que provocaram graves danosnas construccedilotildees e infra-estruturas existentes uma vezque natildeo eacute suficientemente robusta para suportareventos energeacuteticos extremos (Ferreira et al 1997)Os locais onde a ocupaccedilatildeo eacute mais intensa satildeo os queapresentam maior susceptibilidade a qualquer eventoerosivo Este facto deve-se em parte agrave construccedilatildeode estruturas fixas e riacutegidas na parte superior dos perfisde praia causando a truncatura do perfil e umrebaixamento da cota dunar natildeo permitindo agrave praiadesempenhar o seu papel natural face agraves tempestades(Ferreira et al 1997)

A erosatildeo afecta os limites marinhos e lagunaresda Praia de Faro Entre 1945 e 1964 a linha de baixa-mar recuou 34m ou seja cerca de 17mano(Weinholtz 1978) Actualmente as edificaccedilotildees quetruncam o perfil de praia emersa impossibilitam quea peniacutensula tenha um comportamento naturalmigrando em direcccedilatildeo ao continente (Dias et al 1997)Por outro lado o aterro que conduz agrave ponte canalizouos fluxos de enchente e principalmente de vazanteConsequentemente a corrente na zona da ponte eacutemuito forte impedindo a acumulaccedilatildeo de sedimentosna parte interna da peniacutensula o que seria fundamentalpara permitir a migraccedilatildeo aludida

A construccedilatildeo de muros de revestimento e deoutras estruturas de protecccedilatildeo inibiram o recuo dalinha de costa embora natildeo impeccedilam a ocorrecircncia de

63

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

galgamentos Devido a estas protecccedilotildees a Praia deFaro praticamente natildeo apresentou recuo da linha decosta entre 1989 e 2001 (Ferreira et al 2006) Noentanto possui uma boa capacidade de recuperaccedilatildeosedimentar apoacutes eventos erosivos (Martins et al 1996)em apenas um ciclo de mareacute (Saacute-Pires et al 2002)

Matias et al (1997) e Duarte et al (1999) aoavaliarem a vulnerabilidade de um conjunto desistemas dunares do Algarve foram unacircnimes emidentificar a Praia de Faro como uma das zonas maisvulneraacuteveis da Ria Formosa O nuacutecleo urbano da Praiade Faro encontra-se em situaccedilatildeo de alto riscoconfinado a uma estreita faixa (normalmente commenos de 100 metros de largura) entre a laguna e ooceano As probabilidades de uma cataacutestrofeaumentam de ano para ano se considerarmos aelevaccedilatildeo do NMM e a possiacutevel ocorrecircncia de umgrande temporal que coincida com mareacute viva cheia

No sector Ancatildeo E (entre a Praia de Faro e a Barra

do Ancatildeo) a duna estaacute consideravelmente bempreservada e os perfis de praia revelam maiorcapacidade para reagir a eventos energeacuteticos exceptona margem da Barra do Ancatildeo (Ferreira et al 1997)A populaccedilatildeo consiste sobretudo em pescadores quevivem na margem da laguna

33 Barra do Ancatildeo

O limite oriental da Peniacutensula do Ancatildeo terminana Barra do Ancatildeo tambeacutem designada por Barra deSatildeo Luiacutes (Fig2) Estaacute localizada numa das aacutereas maisdinacircmicas do sistema mudando frequentemente demorfologia e posiccedilatildeo com uma tendecircncia de migraccedilatildeopara nascente a uma velocidade meacutedia de 70mano euma largura meacutedia de 260m Entre 1945 e 1996completou dois ciclos migratoacuterios (Vila-Concejo etal 2006)

Em 1997 a Barra do Ancatildeo em fase final do seuciclo de migraccedilatildeo encontrando-se muito assoreada e

Figura 3 ndash Parte central da Peniacutensula do Ancatildeo ndash Praia de Faro (de Oeste para Este) evidenciando a intensaocupaccedilatildeo sobre o cordatildeo dunar (fotografias obtidas em Novembro de 2006 pelo autor)Figure 3 ndash Aerial photo of the Ancatildeo Peninsula from West to East (central zone) ndash Beach of Faro showing the intenseoccupation on dune ridges (photos by author in November 2006)

64

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

com baixa eficiecircncia hidraacuteulica No sentido de ampliaressa eficiecircncia e proteger os interesses nesta zonaprocedeu-se agrave abertura artificial de uma nova barra(23 Junho de 1997) a cerca de 35km a W da posiccedilatildeoanterior e imediatamente a oriente das uacuteltimas casasda Praia de Faro permitindo a esta migrar novamenteno sentido nascente (Vila et al 1999) A forma e aposiccedilatildeo da nova barra natildeo foram baseadas em estudosaprofundados mas no conhecimento empiacuterico dasituaccedilatildeo (Dias et al 2003) Estudos recentes sobre aevoluccedilatildeo e dinacircmica da barra desde a sua aberturaartificial (eg Vila-Concejo et al 2002 2003 2004a2006) permitem concluir que bastaram dois anos paraque se atingisse o estado de equiliacutebrio e comeccedilasse aevoluir e a migrar naturalmente o que confirma osucesso desta intervenccedilatildeo que foi das primeiras a niacutevelmundial

34 Ilha da Barreta

A Ilha da Barreta tem um comprimento de cercade 8km e largura entre 70 e 700m (Fig2) Existempoucos estudos publicados que focam esta ilha umavez que eacute uma zona menos acessiacutevel com baixaocupaccedilatildeo antroacutepica e consequentemente menosproblemaacutetica

A parte ocidental eacute estreita de baixa elevaccedilatildeo compouca vegetaccedilatildeo e vulneraacutevel a galgamentos Narealidade corresponde agrave parte oriental da zona demigraccedilatildeo da Barra do Ancatildeo Apresenta umamorfodinacircmica semelhante agrave Peniacutensula do Ancatildeo(Pilkey et al 1989 Bettencourt 1994) e um uacutenicocordatildeo dunar com cerca de 7m de altura (Vila-Concejoet al 2006)

A complexidade deste sector aumenta de ocidentepara oriente onde a ilha jaacute apresenta um campo dunarlargo e bem vegetado Existem dois pequenosaglomerados de casas de pescadores e de apoio agrave praialocalizados na parte interna junto agrave laguna e agrave BarraFaro-Olhatildeo respectivamente

A metade oriental da ilha eacute a uacutenica que apresentaum comportamento regressivo (Vila et al 1999)proporcionando o crescimento do cordatildeo dunarfrontal (Duarte et al 1999) Este comportamento foiconsequecircncia da construccedilatildeo dos molhes da barraartificial de Faro-Olhatildeo entre 1929 e 1955 (Esaguy1986a) que interromperam a deriva litoral econsequentemente induziram a barlamar (junto ao

molhe W localizado no extremo oriental da ilha) umaacumulaccedilatildeo arenosa notaacutevel

35 Barra Faro-Olhatildeo

A Barra Faro-Olhatildeo que separa as ilhas da Barretae da Culatra foi artificialmente aberta e estabilizadapor molhes entre 1929 e 1955 num local onde existiajaacute uma barra (Barra do Bispo) relativamente larga masbastante instaacutevel (Esaguy 1986a) (Fig2) O objectivoda abertura foi o de assegurar a navegabilidade aocanal de acesso que conduz ao porto comercial deFaro bem como agraves localidades de Faro e Olhatildeo Estaintervenccedilatildeo induziu grande alargamento da parteoriental da Ilha da Barreta a barlamar e erosatildeobastante significativa da parte ocidental da Ilha daCulatra a sotamar bem como modificaccedilotildeesimportantes no comportamento hidrodinacircmicolagunar (Vila-Concejo et al 2006) Veio retirareficiecircncia hidraacuteulica agrave Barra da Armona que era abarra principal do sistema em consequecircncia do quese verificou grande estreitamento desta sendoactualmente a sua eficaacutecia extremamente reduzida

O canal da barra de Faro-Olhatildeo projectado paramanter cotas entre 4 a 45m abaixo do zerohidrograacutefico (Weinholtz 1978) foi progressivamenteficando mais fundo ateacute atingir profundidades naordem dos 40m em 2001 assim aumentando a secccedilatildeode escoamento Consequentemente surgiramproblemas de seguranccedila no que respeita agrave navegaccedilatildeodevido agraves fortes correntes de vazante e de enchente ea graves danos nos troccedilos terminais dos molhes

A abertura da barra e a construccedilatildeo dos molhesalteraram a circulaccedilatildeo hiacutedrica e os balanccedilossedimentares nesta zona do sistema A Barra Faro-Olhatildeo eacute a grande responsaacutevel pela importaccedilatildeo desedimentos para o sistema lagunar A entrada de140000m3ano de sedimentos (Pacheco et al 2007)poderaacute estar relacionada com as intensas dragagensefectuadas no canal de navegaccedilatildeo no interior dosistema recomendando-se que sejam apenasrealizadas de modo a manter as condiccedilotildees denavegabilidade

36 Ilha da Culatra

A Ilha da Culatra tem aproximadamente 7km decomprimento estando a ocupaccedilatildeo humanaconcentrada em trecircs povoaccedilotildees (Farol Hangares e

65

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Culatra) que soacute podem ser atingidas por barco (Fig4)A evoluccedilatildeo recente da ilha e das barras que a limitamfoi alvo de estudo de diversos autores (eg Granja1984 Esaguy 1984 1986a Dias 1988 Pilkey et al1989 Andrade 1990a Garcia et al 2002 Vila-Concejoet al 2002) Eacute consensual que os molhes da BarraFaro-Olhatildeo foram responsaacuteveis por uma profundaalteraccedilatildeo da hidrodinacircmica do sistema e alteraccedilotildeessignificativas na Ilha da Culatra Segundo Garcia et al(2002) as principais consequecircncias foram ocrescimento muito raacutepido para oriente da ilha e aampliaccedilatildeo do recuo da linha de costa na zonaocidental

A linha de costa da extremidade ocidental da ilhaonde se localiza a povoaccedilatildeo do Farol estaacutecompletamente artificializada (molhe oriental da barraenrocamento longitudinal construiacutedo para protecccedilatildeodas edificaccedilotildees e estabilizaccedilatildeo da linha de costa e umesporatildeo no limite oriental da povoaccedilatildeo) Neste sectora ilha eacute relativamente estreita com uma duna de decliveacentuado paralela agrave linha de costa evidenciandocarecircncia de sedimentos (Garcia et al 2002) o que setorna problemaacutetico pois que esta zona se encontraintensamente ocupada

A morfologia do sector central reflecte aalternacircncia de cordotildees dunares e canais de mareacute Naprimeira metade do seacuteculo XX a margem ocidentalda barra da Armona (que era a principal do sistema)localizava-se junto agrave povoaccedilatildeo da Culatra tendo aiacutesido construiacutedas as instalaccedilotildees do Instituto deSocorros a Naacuteufragos onde estava sedeado o botesalva-vidas Estas instalaccedilotildees haacute muito que perderampor completo a sua funcionalidade estandoactualmente convertidas num Centro Social dapovoaccedilatildeo A ocupaccedilatildeo apenas ocorre na margemlagunar da ilha e consequentemente natildeo estaacute sujeitaa problemas significativos de erosatildeo costeira

O sector oriental que se constituiu essencialmentea partir de meados do seacuteculo XX eacute despovoado Estecrescimento da ilha estaacute provavelmente relacionadocom a modificaccedilatildeo da hidrodinacircmica do sistemadevido agrave construccedilatildeo da Barra de Faro-OlhatildeoApresenta corpo dunar pouco desenvolvido e elevadasusceptibilidade a galgamentos (Andrade et al 1998Garcia et al 2002 Vila-Concejo et al 2006)

37 Barra da Armona

A Barra da Armona que separa as ilhas da Culatra

Figura 4 ndash Panoracircmica da Ilha da Culatra e Barra de Faro-Olhatildeo vista de Oeste na foto satildeo visiacuteveis as povoaccedilotildeesdo Farol Hangares e Culatra (fotografia obtida em Novembro de 2006 pelo autor)Figure 4 ndash Oblique aerial photo from West of the Culatra Island and Faro-Olhatildeo Inlet showing the Farol Hangares andCulatra communities (photo by author in November 2006)

66

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

e da Armona eacute considerada a uacutenica barra estaacutevel dosistema em termos de localizaccedilatildeo (Pilkey et al 1989)e a que apresenta o delta de vazante mais desenvolvido(Dias et al 1997) (Fig2) Era a principal barra dosistema mas o crescimento da ilha da Culatra temprovocado o seu estreitamento progressivo Entre1873 e 1983 a barra estreitou cerca de 2500mpassando de uma largura de 4300m para 1850m(Esaguy 1984) A maior taxa de estreitamento entre1950 e 1977 estaacute provavelmente relacionada com aconclusatildeo da abertura da Barra de Faro-Olhatildeo (Vila-Concejo et al 2002) Na actualidade apresenta umalargura de cerca de 200m

38 Ilha da Armona

A Ilha da Armona tem comprimento aproximadode 9km e largura maacutexima de cerca de 1400m naextremidade SW (Fig2) A parte ocidental apresentaum longo cordatildeo dunar frontal de 8 a 9m A deposiccedilatildeode sedimento a ocidente eacute um fenoacutemeno uacutenico emtodo o sistema da Ria Formosa (Pilkey et al 1989) econtribui para o estreitamento da Barra da ArmonaA parte oriental apresenta um cordatildeo dunar poucodesenvolvido e elevada susceptibilidade ao galgamento(Andrade et al 1998)

Na zona mais larga a ocidente encontra-se apovoaccedilatildeo da Armona Progressivamente a largura dailha vai diminuindo para oriente sendo o cordatildeo dunarrobusto e bem vegetado ateacute agrave zona fronteira agravepovoaccedilatildeo da Fuzeta (Fig1)

Nesta zona bastante estreita e sujeita agalgamentos oceacircnicos onde se localizava a Barra daFuzeta em meados do seacuteculo XX encontra-se umconjunto de casas (construiacutedas ilegalmente) comutilizaccedilatildeo natildeo permanente Ramos amp Dias (2000)apontam esta ocupaccedilatildeo como um dos casos maiscriacuteticos do sistema por se localizar numa zona comelevada vulnerabilidade ao galgamento

39 Barra da Fuzeta

A Barra da Fuzeta que separa as ilhas da Armonae de Tavira tem actualmente cerca de 250m de largura(Fig2) Apresenta normalmente evoluccedilatildeo muitoraacutepida (Dias et al 1997) Entre 1945 e 1996 registouuma taxa de migraccedilatildeo meacutedia de cerca de 65mano(Vila-Concejo et al 2006) Natildeo satildeo conhecidos valoresexactos da extensatildeo ou duraccedilatildeo do ciclo de migraccedilatildeo

Contudo de acordo com Vila-Concejo et al (2002) ociclo completo dura pelo menos 50 anos e a barramigra no total mais de 3500m Esta migraccedilatildeo podeser progressiva ou intermitente (Dias et al 1997)

Agrave semelhanccedila da Barra do Ancatildeo procedeu-se agraveabertura artificial de uma nova Barra da Fuzeta emJulho de 1999 Poreacutem devido aos condicionamentosimpostos pelas casas existentes frente agrave povoaccedilatildeo daFuzeta foi aberta apenas a cerca de 800m a ocidenteda posiccedilatildeo que ocupava em 1996 Parte do sedimentodragado foi utilizada para fechar artificialmente aantiga barra No entanto esta intervenccedilatildeo natildeo obtevemuito sucesso devido ao aumento de sinuosidade docanal apoacutes a abertura De acordo com os resultadosde Vila-Concejo et al (2004b) o canal atingiu oequiliacutebrio dinacircmico em Julho de 2000

310 Ilha de Tavira

A Ilha de Tavira eacute a maior do sistema com cercade 11km de comprimento e 800m de largura maacuteximana parte central (Fig2) Esta ilha estreitaprogressivamente para SW onde existem sinais deforte erosatildeo e de frequentes galgamentos No entantoo campo dunar eacute na generalidade moderadamentelargo e elevado constituiacutedo por vaacuterios cordotildeesdunares A Ilha de Tavira exceptuando a extremidadeSW eacute considerada uma das mais ldquoestaacuteveisrdquo do sistemada Ria Formosa natildeo existindo indiacutecios de processosdestrutivosconstrutivos relacionados com amigraccedilatildeo de barras Apresenta poreacutem algunscorredores eoacutelicos junto agraves zonas de maior ocupaccedilatildeodevido ao pisoteio e na parte central na zonaenvolvente ao Arraial do Barril verificou-se um recuoda linha de costa entre 1976 e 2001 de 02 a 13mano (Garcia et al 2005)

A extremidade oriental da ilha estaacute estabilizadaartificialmente pelos molhes da Barra de Tavira o quelevou agrave acumulaccedilatildeo de sedimentos a ocidente dabarra numa extensatildeo de cerca de 1000m A partemais vulneraacutevel da zona NE situa-se junto ao Canalde Tavira artificial pois que a sua posiccedilatildeo tem sidomantida atraveacutes de dragagens e traccediladomeandriforme Neste local a ilha tecircm apenas cerca de150m de largura

A Ilha de Tavira apresenta duas zonas de ocupaccedilatildeoo Arraial do Barril (antiga infra-estrutura de pesca doatum convertida em apoio de praia) e a Praia de Tavira

67

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

onde se situam estruturas de apoio com algumaenvergadura designadamente um parque decampismo (Fig1) Na actualidade apesar dos impactesantroacutepicos serem elevados satildeo concentrados elimitados Segundo Dias et al (2004) o Arraial doBarril pode ser apontado como um bom exemplo deexploraccedilatildeo turiacutestica sustentaacutevel natildeo haacute habitaccedilatildeopermanente o acesso eacute efectuado por uma pontepedonal e por um pequeno comboio ou pelo passeioque o ladeia (o que evita impactes generalizados) asantigas instalaccedilotildees da companhia de pesca queestavam abandonadas tiveram reaproveitamentolucrativo Contudo o cordatildeo dunar frontal estaacute sujeitoa alguma erosatildeo e a pequenos galgamentos oceacircnicosdetectando-se tambeacutem alguns corredores eoacutelicos episoteio moderado A previsatildeo da localizaccedilatildeo da linhade costa em 2050 considerando a aceleraccedilatildeo daelevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar e a eventualocorrecircncia de um temporal com periacuteodo de retornode 50 anos indica que eacute expectaacutevel um recuo da ordemdos 70m ou seja que atingiraacute as edificaccedilotildees aiacuteexistentes (Ferreira et al 2006)

311 Barra de Tavira

A Barra de Tavira artificial separa as ilhas deTavira e de Cabanas e tem largura de 60m (Fig2) Foiaberta artificialmente em 1927 quase em frente agrave fozdo Rio Gilatildeo conduzindo ao encerramento da antigabarra em 1930 (Vila-Concejo et al 2006) Os dadosdisponiacuteveis sugerem uma velocidade de migraccedilatildeo daantiga barra de cerca de 40mano (Weinholtz 1978)A barra artificial teve que ser sujeita a vaacuterias operaccedilotildeesde dragagem entre 1930 e 1935 e estabilizada pordois esporotildees em 1936 devido ao constanteassoreamento (Esaguy 1987) Um ciclone ocorridoem 1941 abriu uma nova barra a cerca de 1100m aEste da barra artificial (Barra do Cochicho-Almargem) a qual rapidamente alargou e comeccedilou amigrar para oriente A existecircncia da nova barra levouao aumento do assoreamento da Barra de Tavira queteve que ser reaberta em 1961 face agraves dificuldades denavegaccedilatildeo Posteriormente foram efectuadas diversasobras de dragagem estabilizaccedilatildeo e fortalecimento dediques no sentido de diminuir o assoreamento(Esaguy 1987) A eficiecircncia hidrodinacircmica da Barrade Tavira eacute muito pequena representando cerca de4 do prisma de mareacute total do sistema (Andrade1990a)

312 Ilha de Cabanas

A Ilha de Cabanas eacute a ilha mais oriental e a maispequena do sistema com um comprimento de cercade 6km e uma largura maacutexima de 300m (Fig2) Narealidade constitui a extremidade natural da Ilha deTavira tendo sido convertida numa ilha autoacutenomapela abertura artificial da Barra de Tavira (Dias 1988)Foi completamente destruiacuteda durante o ciclone de1941 e novamente no decurso de um violentotemporal em 1961 os quais provocaram extensosgalgamentos oceacircnicos e a formaccedilatildeo de uma novabarra (Barra de Cabanas) para aleacutem da Barra doCochicho-Almargem as quais juntas formaram umaabertura uacutenica com cerca de 2500m de extensatildeo apartir da meia mareacute (Matias 2000)Consequentemente o cordatildeo dunar eacute relativamenterecente fraacutegil e elevando-se apenas a uma cota meacutediade 25m (Dias et al 2003)

A Ilha de Cabanas foi a primeira zona a serintervencionada ao abrigo do programaldquoRequalificaccedilatildeo do sistema lagunar da Ria Formosardquoentre Abril e Junho de 1999 Natildeo existem estimativasda quantidade de sedimentos perdidos para o marNo entanto os dragados usados na realimentaccedilatildeoeram grosseiros ajudando agrave naturalizaccedilatildeo dos aterrosefectuados (Saacute-Pires et al 2001) Aleacutem destaintervenccedilatildeo foi construiacutedo mais um pequeno esporatildeoa oriente da Barra de Tavira pelo que a erosatildeo que aiacutese verifica ficou atenuada pela existecircncia de doisesporotildees As intervenccedilotildees parecem ter sidodeterminantes na protecccedilatildeo da praia uma vez quenatildeo se tecircm registado galgamentos ou erosatildeo do cordatildeodunar nos locais intervencionados os mesmosapresentam alguma colonizaccedilatildeo por vegetaccedilatildeopioneira (Saacute-Pires et al 2001) No entanto uma vezque a realimentaccedilatildeo foi localizada e o cordatildeo dunareacute de baixa altitude as intervenccedilotildees natildeo impedem quenum futuro proacuteximo ocorram galgamentossobretudo junto aos apoios de praia existentes

313 Barra do Laceacutem

A Barra do Laceacutem corresponde agrave barra natural dolimite Este da Ilha de Tavira se esta natildeo fosseinterrompida pela barra artificial de Tavira (Fig2)Vaacuterios autores documentaram a evoluccedilatildeo da mesma(eg Weinholtz 1978 Esaguy 1986b Dias 1988

68

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Pilkey et al 1989 Andrade 1990a Bettencourt 1994Matias 2000 Vila-Concejo et al 2002) A barra separaa Ilha de Cabanas e a Peniacutensula de Cacela deriva dajunccedilatildeo em 1985 das Barras de Cochicho-Almargem(aberta pelo ciclone de 1941) e de Cabanas (abertapelo temporal de 1961) (Esaguy 1986b) A velocidademeacutedia de migraccedilatildeo da barra tem sido de 97mano(Vila-Concejo et al 2006)

Mais recentemente em 2004 abriu-se uma novabarra natural localizada a oriente da antiga Barra doLaceacutem A nova barra conduziu ao assoreamento daantiga Barra do Laceacutem com o seu consequenteencerramento

314 Peniacutensula de Cacela

A Peniacutensula de Cacela localiza-se no extremooriental da Ria Formosa Tem cerca de 3km decomprimento e entre 100 a 250m de largura (Fig2)

Em 1976 a cota meacutedia do cordatildeo dunar singularrobusto e vegetado era de 34m atingindo um maacuteximode 61m (Esaguy 1986c) A posterior degradaccedilatildeo doscorpos dunares devido ao pisoteio conduziu a umgrande aumento da frequecircncia de galgamentos (Diaset al 2004) Em 1990 Andrade (1990b) verificou quea Peniacutensula de Cacela apresentava um maacuteximo desusceptibilidade a galgamentos oceacircnicos De factodurante o Inverno de 19951996 ocorreramgalgamentos generalizados em quase toda a peniacutensulaque conduziram agrave abertura de uma nova barra nocentro da mesma (Barra da Faacutebrica) a qual emOutubro de 1996 chegou a ter cerca de 35m de largurae uma profundidade de 07m (Matias et al 2004) Casonatildeo se efectuasse qualquer intervenccedilatildeo era de preverque as dunas remanescentes desaparecessem porcompleto

Assim no sentido de diminuir a vulnerabilidade agalgamentos e de manter a produccedilatildeo de bivalves(actividade econoacutemica mais importante da zona)foram efectuadas entre Outubro de 1996 e Fevereirode 1997 grandes intervenccedilotildees que consistiramprincipalmente na ldquoreconstituiccedilatildeordquo do cordatildeo dunarda Peniacutensula de Cacela na colmataccedilatildeo da Barra daFaacutebrica e na dragagem da Barra do Laceacutem e do canallagunar (Ramos amp Dias 2000 Matias et al 2005) Oobjectivo era elevar a cota do topo do cordatildeo dunarateacute aos 75m acima do Zero Hidrograacutefico (ZH)reconstituindo uma situaccedilatildeo semelhante agrave existente

nos anos 60 (Ramos amp Dias 2000) Todavia devidoagrave existecircncia de formaccedilotildees consolidadas queimpossibilitaram a dragagem agraves cotas inicialmenteestabelecidas a quantidade de sedimentos repulsadospara a peniacutensula foi bastante inferior ao previstoestimando-se que o material deposto no cordatildeo dunartenha atingido apenas 325000m3 (Ramos amp Dias2000) Tal obrigou agrave reformulaccedilatildeo do projectoelevando-se a cota de topo da duna apenas para os5m acima do ZH Segundo Matias et al (1999) cercade 32 do sedimento depositado perdeu-seimediatamente apoacutes a deposiccedilatildeo no cordatildeo arenosoTal verificou-se devido aos processos de acomodaccedilatildeodo perfil de praia submerso mas tambeacutem porquegrande parte do material natildeo apresentava agranulometria adequada Depois da realimentaccedilatildeo avegetaccedilatildeo pioneira comeccedilou rapidamente a colonizara duna reconstituiacuteda (Matias et al 2004)

Outras intervenccedilotildees tecircm vindo a ser efectuadasdepois do robustecimento do cordatildeo dunar foramconstruiacutedos passadiccedilos de madeira procedeu-se agravecolocaccedilatildeo de paliccediladas no sentido de propiciar odesenvolvimento de dunas naturais e agrave plantaccedilatildeo deAmmophila arenaria Posteriormente entre Abril de1999 e Julho de 2000 efectuaram-se em quase todoo sistema novas dragagens nos canais natildeoconsiderados de navegaccedilatildeo integradas no Projectode Requalificaccedilatildeo do Sistema Lagunar com oobjectivo de intensificar a circulaccedilatildeo assim mantendoas condiccedilotildees ecoloacutegicas do sistema Nesta intervenccedilatildeovoltou-se a dragar a Barra do Laceacutem em Junho de1999 Segundo Ramos amp Dias (2000) as intervenccedilotildeesatingiram os objectivos tendo a vulnerabilidade aogalgamento sido drasticamente reduzida e do ladonascente verificando-se o estabelecimento dasucessatildeo fitogeneacutetica conferindo um aspecto naturalao novo cordatildeo dunar

Mais recentemente na parte central da zonaintervencionada verificou-se erosatildeo completa daldquodunardquo reconstruiacuteda o que tinha sido previsto nosestudos de monitorizaccedilatildeo realizados no decurso eimediatamente apoacutes a intervenccedilatildeo tendo-se na alturasugerido a possibilidade de nova pequena intervenccedilatildeopontual Todavia quando se verificou a ruptura natildeohouve possibilidades de efectuar essa pequenaintervenccedilatildeo pelo que se abriu naturalmente novabarra o que nos uacuteltimos anos provocou a colmataccedilatildeo

69

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

da antiga barra e erosatildeo de grande parte das ldquodunasrdquoreconstruiacutedas no final do seacuteculo XX

4 DISCUSSAtildeO

41 Evoluccedilatildeo Geral do Sistema

Como se deduz dos pontos anteriores o sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa eacute extremamentedinacircmico e como tal bastante vulneraacutevel As taxasde crescimento longitudinal de algumas ilhas satildeo dasmais notaacuteveis a niacutevel mundial (Dias et al 1997)

Segundo Pilkey et al (1989) os principais processosque contribuem para a evoluccedilatildeo das ilhas-barreira daRia Formosa satildeo (1) recuo da linha de costa (2) derivalitoral (3) galgamentos oceacircnicos (4) formaccedilatildeo decorpos dunares e de estabelecimento da respectivavegetaccedilatildeo (5) constituiccedilatildeo de deltas de mareacute e suaagregaccedilatildeo agraves ilhas (6) comportamento das barras e(7) erosatildeoacumulaccedilatildeo provocada pelas mareacutes-vivasdesignadamente nos canais de mareacute

Recuo da linha de costaOs valores observados na evoluccedilatildeo da linha de

costa indicam a existecircncia de recuo generalizado dasilhas e peniacutensulas (com excepccedilatildeo das zonasimediatamente a barlamar dos molhes das barras denavegaccedilatildeo) a qual varia consoante a localizaccedilatildeogeograacutefica e a interacccedilatildeo com os processos oceacircnicosA linha de costa move-se em resposta aos factoresnaturais de forma a manter o equiliacutebrio (Williams2001) O recuo da linha de costa eacute mais acentuadonos extremos do sistema e na parte ocidental das ilhase peniacutensulas Na parte central do sistema e nosextremos orientais das ilhas verifica-se algumaacreccedilatildeo Nas duas aacutereas mais intensamente ocupadas(Praia de Faro e Farol) existe estabilizaccedilatildeo da linha decosta devido a artificializaccedilatildeo desta com estruturasfixas de engenharia costeira A acreccedilatildeo verificada aoriente das ilhas da Barreta e de Tavira deve-se agravedeposiccedilatildeo de sedimentos a barlamar dos molhes dasbarras artificiais

Deriva litoralTorna-se evidente que o sistema da Ria Formosa

tem grande carecircncia de sedimentos principalmentenalgumas zonas mais expostas Contudo grande partedeste problema tem origem a barlamar do sistemaonde foram construiacutedos os molhes da marina deVilamoura e o campo de esporotildees de Quarteira que

interromperam a deriva litoral provocando a orienteintensificaccedilatildeo da erosatildeo nas arribas situadas entreQuarteira e a Praia do Garratildeo Actualmente as arribassatildeo o principal elemento abastecedor de areias aosistema da Ria Formosa (Correia et al 1997) Noentanto estas natildeo chegam para colmatar as carecircnciassedimentares do sistema da Ria Formosa o quesignifica que se forem construiacutedas obras riacutegidas deengenharia costeira neste sector se verificaraacuteintensificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico do sistemaampliando o grau de ruptura em que este jaacute seencontra Um exemplo que ilustra esta vulnerabilidadefoi a conclusatildeo da construccedilatildeo dos molhes da barraartificial de Faro-Olhatildeo em meados do seacuteculopassado que induziu grandes alteraccedilotildees com efeitosdraacutesticos no suprimento de sedimento agrave parte orientalNa realidade a abertura desta barra estabilizada pelosmolhes respectivos fez com que o sistema naturalentrasse em ruptura modificando radicalmente ascaracteriacutesticas hidro-sedimentoloacutegicas Segundo Dias(1990) as uacutenicas acccedilotildees de protecccedilatildeo realmenteeficazes satildeo as que possibilitam a reconstituiccedilatildeo daderiva litoral com os consequentes volumes desedimentos necessaacuterios

Galgamentos oceacircnicosAs ilhas-barreira da Ria Formosa satildeo

periodicamente sujeitas a galgamentos oceacircnicosdurante temporais de SW e SE Estes galgamentosconstituem um elemento muito importante nadinacircmica e na evoluccedilatildeo natural do sistemacontribuindo com fornecimento de sedimentos parao interior da laguna e abertura de novas barras quandoas antigas jaacute natildeo apresentam eficiecircncia (Andrade1990a) Tecircm sido assumidos como principalmecanismo de migraccedilatildeo das ilhas-barreira(Leatherman 1976 Bray amp Carter 1992) induzindoum efeito construtivo de acreccedilatildeo (Matias et al 2003)Assim sendo a gestatildeo deve integrar uma adaptaccedilatildeoaos galgamentos naturais uma vez que satildeo vitais parao funcionamento natural do sistema

Do ponto de vista da ocupaccedilatildeo os galgamentosoceacircnicos satildeo um factor importante que necessita deser avaliado para propiciar uma gestatildeo mais eficazuma vez que induz seacuterios danos nas infra-estruturasexistentes (Andrade et al 1998) Verifica-se que ospontos mais vulneraacuteveis a galgamentos satildeo a Praia deFaro Barreta W Culatra E Armona E Tavira W toda

70

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

a Ilha de Cabanas e a Peniacutensula de Cacela Nesteslocais mesmo a ocorrecircncia de pequenos temporaisdurante a preia-mar de mareacutes vivas podem provocargalgamentos Alguns pontos como a Ilha de Cabanase a Peniacutensula de Cacela viram reduzida avulnerabilidade a galgamentos apoacutes as intervenccedilotildeesefectuadas com algum sucesso embora essavulnerabilidade comece a ser actualmente elevada nosegundo caso devido aos factos aludidos mais acimaEm geral os locais de maior vulnerabilidade satildeo osque apresentam perfis de praia de pouca inclinaccedilatildeocordatildeo dunar fraacutegil e proximidade das barras

Cordatildeo dunar e vegetaccedilatildeo dunarAo longo das ilhas existiu um cordatildeo dunar frontal

contiacutenuo com 5 a 10m de altura sem cortes eoacutelicos ede galgamento muito significativos e bem cobertosde vegetaccedilatildeo (Pilkey et al 1989) No entanto o cordatildeodunar encontra-se na actualidade completamenteocupado em alguns locais por edificaccedilotildees comoacontece na Praia de Faro na povoaccedilatildeo do Farol e naIlha da Armona A vegetaccedilatildeo tornou-se escassa natildeosomente nas zonas ocupadas mas tambeacutem noutroslocais como na parte ocidental da Ilha da Barreta ena oriental das ilhas da Armona e da Culatra

Com a crescente pressatildeo antroacutepica exercida sobreo sistema especialmente para fins balneares verifica-se que em vaacuterios locais a quantidade de cortes eoacutelicostem aumentado devido ao pisoteio Este facto podeconduzir em periacuteodos de agitaccedilatildeo mariacutetima maisenergeacutetica agrave ocorrecircncia de galgamentos oceacircnicosRamos amp Dias (2000) referem que grande parte doscortes de galgamento oceacircnico do sistema da RiaFormosa eacute devido ao pisoteio dos corpos dunares enatildeo a causas naturais

A instalaccedilatildeo intensiva nos uacuteltimos anos depaliccediladas para recuperaccedilatildeo dunar complementadacom plantaccedilatildeo de vegetaccedilatildeo tiacutepica destes ambientescorresponde a uma acccedilatildeo de gestatildeo com efeitos muitopositivos com a qual se tem conseguido robustecero cordatildeo dunar do sistema

Deltas de mareacuteA incorporaccedilatildeo de deltas de enchente e posterior

migraccedilatildeo ou encerramento da barra respectivaconstitui importante mecanismo de evoluccedilatildeo dasilhas-barreira estando na origem da grande larguradas ilhas da Armona e de Tavira (Pilkey et al 1989)

A formaccedilatildeo de deltas de enchente em associaccedilatildeo comos galgamentos oceacircnicos contribui para a migraccedilatildeodas ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continente o quepoderaacute estar a suceder com o caso particular daPeniacutensula de Cacela (Andrade et al 2004)

Comportamento das barrasA Ria Formosa eacute caracterizada por apresentar

elevadas taxas de migraccedilatildeo das barras A estabilizaccedilatildeode duas das barras no sector oriental provocou fortesmodificaccedilotildees na dinacircmica do sistema Segundo Vila-Concejo et al (2002) a estabilizaccedilatildeo da Barra Faro-Olhatildeo (1929-1955) teve maiores consequecircncias nasbarras do Ancatildeo e da Armona enquanto que aabertura artificial da Barra de Tavira (1927-1985)produziu maiores efeitos nas barras da Fuzeta e doLaceacutem

A Barra da Armona era a principal barra dosistema controlando a maior parte da circulaccedilatildeo daRia Formosa na parte central Com a abertura da BarraFaro-Olhatildeo projectada para manter profundidadesentre-molhes da ordem de 45m ZH mas queprogressivamente se foi aprofundando ateacuteprofundidades superiores a 40 metros as trocashiacutedricas com o oceano passaram a efectuar-sepredominantemente por esta barra Os molhesprovocaram grande acumulaccedilatildeo a barlamar pelo quenos 12 anos seguintes agrave sua construccedilatildeo a Ilha daBarreta registou alargamento superior a 220 metrosna zona por eles influenciada (Bettencourt 1985) Emconsequecircncia a barra da Armona perdeu eficaacuteciareduzindo progressivamente largura e profundidadeNos anos 80 do seacuteculo XX tinha ainda cerca de 2000metros de largura mas actualmente essa largura eacuteapenas da ordem de 200 metros

O sentido de migraccedilatildeo das barras natildeo estabilizadaseacute para oriente (agrave excepccedilatildeo da Barra da Armona quetem mantido a sua posiccedilatildeo) Essa migraccedilatildeo efectua-se quer progressivamente (mantendo ou natildeo a largura)ou por ldquosaltosrdquo na sequecircncia de temporais em quenova barra se abre em geral a sotamar da barraexistente seguindo-se frequentemente a posteriorcolmataccedilatildeo desta (Dias 1988 Pilkey et al 1989Andrade et al 1998)

Erosatildeo provocada pelas mareacutes-vivasA Ria Formosa eacute um sistema lagunar com uma

grande aacuterea de zona intertidal (cerca de 13 do total

71

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

da aacuterea) Em cada ciclo de mareacute 50 a 75 da aacutegua eacuterenovada (Sprung 1994) Devido agrave diferenccedila deamplitude entre mareacutes-vivas e mareacutes-mortas as zonasde menor elevaccedilatildeo das ilhas-barreira satildeo regularmenteinundadas durante as primeiras causando transportesignificativo de sedimentos Estes fluxos satildeoresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo de canais de mareacute eaumento da erosatildeo das ilhas-barreira

Como jaacute foi referido os periacuteodos de mareacutes-vivassatildeo bastante problemaacuteticos especialmente noInverno na medida em que potenciam o efeito detempestades que ocorrem durante mareacutes-cheiasTodos os anos nos pontos criacuteticos do sistema comoa Praia de Faro a probabilidade de ocorrer umasituaccedilatildeo muito grave aumenta principalmente se seconsiderar a elevaccedilatildeo do NMM

42 Intervenccedilatildeo

Como eacute reconhecido por Scheele amp Westen (1996)os planos de gestatildeo costeira devem apontar para aprotecccedilatildeo ambiental de longo prazo o que implica(1) uma estrateacutegia com objectivos claros e concisos(2) uma metodologia praacutetica e realista (3)monitorizaccedilatildeo contiacutenua (4) forte aposta nosprogramas de educaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo ambiental e(5) envolvimento da comunidade local no processode planeamento e tomada de decisotildees

Sendo a Ria Formosa um sistema muito dinacircmicocom elevada vulnerabilidade e que reage rapidamentea elevaccedilotildees do niacutevel do mar os muacuteltiplos interesseseconoacutemicos e sociais aiacute existentes fazem com que aaacuterea seja caracterizada por elevado grau de conflitosde interesses A situaccedilatildeo torna-se ainda mais complexaquando se considera que o sistema corresponde a umParque Natural onde haacute que compatibilizar interesseseconoacutemicos com a conservaccedilatildeo da Natureza Nestecontexto soacute eacute possiacutevel proceder agrave conservaccedilatildeo daNatureza atraveacutes de intervenccedilotildees tendentes a minoraros impactes negativos induzidos pelas actividadesantroacutepicas (Ramos amp Dias 2000)

De acordo com as actividades desenvolvidas osprincipais grupos de interesse na Ria Formosa satildeo(1) o PNRFICNB (2) a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeoe Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR-Algarve) (3) as entidades promotoras do turismo (4)as associaccedilotildees comerciais e industriais (incluindo oporto) (5) os pescadores e autoridades responsaacuteveis

por este sector (6) as entidades regionais e locais (7)as associaccedilotildees de defesa do ambiente e osambientalistas e (8) a populaccedilatildeo local incluindoresidentes e natildeo residentes Como sugere Antunes etal (2006) o entendimento entre os diferentes gruposconduz a uma sinergia que beneficia as potencialidadesque contribuem para uma gestatildeo eficaz

Os principais problemas das ilhas-barreira estatildeolocalizados nos nuacutecleos urbanos devido agraves estruturasedificadas Dos principais nuacutecleos existentes apenasos de Hangares e Culatra natildeo tecircm problemas erosatildeocosteira pois que se localizam junto agrave parte lagunar(e consequentemente afastados da praia oceacircnica eportanto resguardados dos temporais) Os restantespoacutelos de ocupaccedilatildeo (Praia de Faro Farol etc) satildeoproblemaacuteticos sendo os riscos de inundaccedilatildeo e erosatildeobastante elevados Para resolver estes problemasexistem fundamentalmente trecircs estrateacutegias deintervenccedilatildeo (1) intervenccedilatildeo riacutegida (ex esporotildeesparedotildees) (2) retirada estrateacutegica programas natildeoestruturais (ex demoliccedilatildeo de infra-estruturas) e (3)intervenccedilatildeo suave (ex realimentaccedilatildeo de praias) (Pilkeyamp Dixon 1996) Qualquer uma destas estrateacutegias temproacutes e contras sendo praticamente impossiacutevel quequalquer uma delas satisfaccedila todos os grupos deinteresse afectados

Intervenccedilatildeo riacutegidaAteacute haacute poucas deacutecadas em todo o mundo a

construccedilatildeo de estruturas riacutegidas e permanentesconstituiu o meacutetodo mais utilizado de protecccedilatildeo dopatrimoacutenio edificado no litoral Embora estasestruturas se revelem eficazes na defesa de imobiliaacuterioem risco de ser danificado pela erosatildeo costeiraprovocam fortes impactes negativos a sotamar dolocal onde satildeo construiacutedas (Inman 1978 Mangor1998 Greene 2002) pelo que internacionalmente severifica tendecircncia para adoptar outros tipos deprotecccedilatildeo ambientalmente menos agressivos

A construccedilatildeo dos molhes da marina de Vilamourae do campo de esporotildees de Quarteira provocou forteaumento da erosatildeo a oriente e consequentementegraves problemas de gestatildeo Por outro lado a aberturae fixaccedilatildeo das barras de Faro-Olhatildeo e de Tavira parapropiciar melhor funcionamento das estruturasportuaacuterias existentes no meio lagunar econsequentemente beneficiar as actividades socio-econoacutemicas da regiatildeo provocaram grandes alteraccedilotildees

72

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

no sistema fazendo com que o seu funcionamentonatural tivesse entrado em ruptura e que a erosatildeocosteira tivesse sido fortemente amplificada a sotamarComo se veraacute na parte dedicada agraves intervenccedilotildeessuaves a utilizaccedilatildeo de teacutecnicas de transposiccedilatildeo dosmolhes (ldquoby-passingrdquo) permitiria reduzirsubstancialmente alguns destes impactes negativos

A construccedilatildeo de mais estruturas riacutegidas na RiaFormosa (ou a barlamar desta) traduzir-se-ia numaforte amplificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico em queo sistema jaacute se encontra tendendo a meacutedio ndash longoprazo para a completa artificializaccedilatildeo da Ria Formosaconsignada por legislaccedilatildeo nacional como ParqueNatural e reconhecida internacionalmente comoimportante aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental

Retirada estrateacutegica Programas natildeo estruturaisOs programas natildeo estruturais satildeo intervenccedilotildees em

que se procede agrave demoliccedilatildeo de infra-estruturasameaccediladas pela erosatildeo costeira ou transferecircncia dasmesmas para locais mais seguros o que eacute tambeacutemconhecido como ldquoretirada estrateacutegicardquo Viabiliza-seassim a evoluccedilatildeo natural dos sistemas Com amigraccedilatildeo das ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continentecomo resposta agrave elevaccedilatildeo do NMM este tipo deintervenccedilatildeo comeccedilou por ser aplicado em algunslocais da costa Leste dos EUA em 1972 (NRC 1995)A deslocalizaccedilatildeo de infra-estruturas pode ser eficazem locais pouco povoados ou quando existe interessena salvaguarda de patrimoacutenio como aconteceu como farol do Cabo Hatteras nos EUA No entantotorna-se impraticaacutevel em grandes nuacutecleos urbanosdevido aos elevados custos e dificuldades logiacutesticas

Na Ria Formosa este tipo de intervenccedilatildeo temencontrado grandes dificuldades de execuccedilatildeodesignadamente no que se refere agrave demoliccedilatildeo de casasconstruiacutedas ilegalmente em Domiacutenio Hiacutedrico Domiacutenio Puacuteblico Mariacutetimo o que aleacutem de tender aperpetuar situaccedilotildees de muito alto risco potildee em causaa imagem do Paiacutes como Estado de direito (Dias 2002)

Intervenccedilatildeo SuaveA intervenccedilatildeo suave tambeacutem designada por

protecccedilatildeo dinacircmica desde haacute algumas deacutecadas que eacuteutilizada preferencialmente como alternativa agravesteacutecnicas de intervenccedilatildeo riacutegida Apresentam menoresimpactes ambientais sendo uma soluccedilatildeo maisapropriada para aacutereas sensiacuteveis como as ilhas-barreira

As teacutecnicas de protecccedilatildeo suave tais como arealimentaccedilatildeo de praias a reconstruccedilatildeo dunar atransposiccedilatildeo de molhes (by-passing) a abertura debarras (para as deixar evoluir naturalmente) e asldquodragagens ecoloacutegicasrdquo correspondem em geral auma intervenccedilatildeo inicial deixando depois a Naturezaldquotrabalharrdquo Por essa razatildeo estas teacutecnicas satildeo tambeacutemfrequentemente designadas por ldquobuilding with NaturerdquoSatildeo com frequecircncia menos dispendiosas e maiseficientes a longo prazo do que as intervenccedilotildees riacutegidas(Koster amp Hillen 1995 Griggs 1999 Dias et al 2003)

Poreacutem estas teacutecnicas tecircm que ser executadas comforte suporte cientiacutefico e devem envolver o conceitode protecccedilatildeo de trechos costeiros na sua globalidadee natildeo apenas a protecccedilatildeo local de patrimoacutenio edificadoem zonas de risco Se forem concretizadas de formadeficiente podem mesmo revelar-secontraproducentes Eacute o que se passa por exemploquando a realimentaccedilatildeo de praias eacute efectuada comareias extraiacutedas da praia submersa (acima daprofundidade de fecho) nestes casos nenhumsedimento eacute adicionado ao sistema (Wells amp McNinch1991) havendo apenas transferecircncias dentro dosistema com consequecircncias negativas para o seufuncionamento natural tanto ao niacutevel morfodinacircmicocomo bioloacutegico

Desde 1996 que o PNRFICN tem realizadointervenccedilotildees de caraacutecter suave na tentativa demelhorar o funcionamento do sistema e diminuir avulnerabilidade ao galgamento e ao mesmo tempomanter a dinacircmica dos processos naturais (Dias et al2004) Entre as intervenccedilotildees efectuadas procedeu-seao robustecimento da Peniacutensula de Cacela agrave aberturadas Barras do Ancatildeo e da Fuzeta (deixando-as deseguida evoluir naturalmente) agrave dragagem de muitoscanais que natildeo satildeo de navegaccedilatildeo para melhorar acirculaccedilatildeo no sistema agrave repulsatildeo de sedimentos parao cordatildeo arenoso agrave colocaccedilatildeo de paliccediladas parareconstruccedilatildeo dunar agrave plantaccedilatildeo de Ammophila arenariae agrave construccedilatildeo de passadiccedilos sobrelevados

Segundo Dias et al (2003) as intervenccedilotildees suavesrealizadas na Ria Formosa propiciaram melhorprotecccedilatildeo das ilhas-barreira tendo-se em geralatingido os objectivos esperados Os mesmos autoresreferem que os sistemas naturais de elevadaimportacircncia soacutecio-econoacutemica e ambiental (como aRia Formosa) podem ser geridos utilizando este tipo

73

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

de teacutecnicas lucrando com o aproveitamento dosrecursos existentes

A transposiccedilatildeo (by-passing) dos molhes das barrasartificiais meacutetodo utilizado desde haacute muito um poucopor todo o mundo permitiria que as areias retidaspelos molhes a barlamar fosse transferido parasotamar aiacute reconstituindo a deriva litoral econsequentemente minimizando alguns dos impactesnegativos induzidos por estas estruturas Vaacuteriosestudos que demonstram que esta tecnologia natildeoaparenta ter efeitos ambientais negativos associados(eg Lindeman 1997 in Greene 2002)

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Com vista a avaliar a vulnerabilidade das ilhas-barreira da Ria Formosa o presente trabalho incidiuna actualizaccedilatildeo desta problemaacutetica na oacuteptica da gestatildeouma vez que se trata de um sistema em permanentetransformaccedilatildeo Nesta anaacutelise eacute imprescindiacutevel tersempre em consideraccedilatildeo que o sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa estaacute consignado legalmentecomo aacuterea de protecccedilatildeo ambiental desde 1978 anoem que lhe foi atribuiacutedo o estatuto de Reserva Naturaltendo ficado protegido pelo estatuto de ParqueNatural em 1987 (Decreto-lei 37387) e Rede Natura2000 tendo ainda sido integrado desde 1980 na Listade Siacutetios da Convenccedilatildeo de Ramsar (zonas huacutemidasde importacircncia internacional)

Da anaacutelise efectuada conclui-se que eacuteimprescindiacutevel compatibilizar os diversificados valoresnaturais (bioloacutegicos geomorfoloacutegicos fiacutesico-quiacutemicos geoloacutegicos etc) intriacutensecos ao sistema comos muacuteltiplos interesses soacutecio-econoacutemicos decorrentesda sua exploraccedilatildeo (pesca maricultura aquaculturaturismo portos comerciais e de pesca navegaccedilatildeo derecreio etc) Estando influenciado por fortesimpactes antroacutepicos directos e indirectos tais comoentre muitos outros a erosatildeo costeira e a intensificaccedilatildeodo assoreamento lagunar a sobrevivecircncia do sistemaldquonaturalrdquo e a sustentabilidade da sua exploraccedilatildeocarecem de intervenccedilotildees correctivas frequentes porforma a minimizar os impactes negativos aludidosTais intervenccedilotildees teratildeo que ser cautelosas e contiacutenuastentando o mais possiacutevel aproximar-se do que seriaa dinacircmica natural do sistema

Eacute ainda urgente resolver vaacuterios conflitos deinteresses existentes privilegiando as actividades

indutoras de menores impactes negativos e quesimultaneamente viabilizem uma melhor exploraccedilatildeosustentaacutevel do sistema Aponta-se a tiacutetuloexemplificativo o caso do turismo haacute quedesincentivar o turismo de massas directo nesta aacuterea(ateacute porque nas proximidades haacute poacutelos turiacutesticos destegeacutenero bem consolidados) desenvolvendo emalternativa outros tipos de turismo complementardesignadamente o turismo de Natureza a observaccedilatildeode aves (bird watching) e de peixes (fish watching) emambiente natural os passeios no meio lagunar emembarcaccedilotildees natildeo poluentes o turismo gastronoacutemicoetc

A maior parte da zona de barreira do sistema natildeoestaacute ainda ocupado por estruturas imobiliaacuterias Comvista agrave exploraccedilatildeo sustentaacutevel do sistema eacuteimprescindiacutevel que estas zonas continuem semocupaccedilatildeo permanente mantendo algumascaracteriacutesticas pristinas ainda aiacute existentes Nos poucosnuacutecleos urbanos piscatoacuterios existentes cujo casoparadigmaacutetico eacute a povoaccedilatildeo da Culatra onde natildeoexistem problemas realmente graves pois que selocalizam na margem lagunar (relativamente afastadado litoral oceacircnico) devem-se adoptar algumasmedidas correctivas pontuais por forma a preservara sua identidade cultural a melhorar a qualidade devida da populaccedilatildeo e a impedir um crescimentoexagerado Nos restantes nuacutecleos urbanos comcaracteriacutesticas ldquoturiacutesticasrdquo vaacuterios dos quais localizadosnas zonas de maior risco do sistema seria altamentedesejaacutevel que se procedesse agrave completa reformulaccedilatildeoda ocupaccedilatildeo ou sempre que possiacutevel se optasse peladesocupaccedilatildeo

No sentido de tentar resolver os problemas deerosatildeo costeira existentes (que se agravaratildeo no futuro)recomenda-se vivamente que a) natildeo se construamobras de protecccedilatildeo riacutegida (esporotildees paredotildees etc)na Ria Formosa nem na zona a barlamar desta daqual o sistema depende b) se continuem a executaracccedilotildees de robustecimento do cordatildeo dunar e decolmataccedilatildeo dos cortes de galgamento utilizando tantoquanto possiacutevel sedimentos provenientes dadragagem dos canais de navegaccedilatildeo c) se implementea transposiccedilatildeo dos molhes portuaacuterios com relevacircnciaespecial para os molhes da Barra de Faro-Olhatildeo d)efectivamente se proceda agrave demoliccedilatildeo das edificaccedilotildeessituadas em zonas de maior risco e sobre a duna

74

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

primaacuteria concretizando finalmente decisotildeesgovernamentais que tecircm vindo a ser repetidamentetomadas haacute quase trecircs deacutecadas mas nunca executadascabalmente e) sejam amplificadas as acccedilotildees deintervenccedilatildeo e protecccedilatildeo dinacircmica na linha do que severificou desde finais do seacuteculo passado (abertura debarras quando necessaacuterio para as deixar evoluirnaturalmente dragagens ldquoecoloacutegicasrdquo etc) e quetransformaram a Ria Formosa num siacutetio de referecircnciainternacional nesta mateacuteria e que nos uacuteltimos anosapenas tecircm sido executadas de forma extremamentemoderada

Finalmente eacute altamente recomendaacutevel que emtodos os actos de gestatildeo envolvendo quer ascomponentes geomorfoloacutegicas quer as ecoloacutegicasquer as soacutecio-econoacutemicas se tenham sempre emconsideraccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas principalmenteno que se refere agrave elevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar

BIBLIOGRAFIA

Andrade CF (1990a) - O Ambiente de barreira da RiaFormosa Algarve ndash Portugal Dissertaccedilatildeo deDoutoramento 645p Universidade de LisboaPortugal (natildeo publicado)

Andrade CF (1990b) - Estudo da susceptibilidadeao galgamento da Ria Formosa Geolis IV(1-2)69-76 Lisboa Portugal

Andrade CF Barata A amp Teles M (1998) - Ananalysis of the vulnerability to overwash of theRia Formosa barrier island system (Portugal)Using a simple multi-attribute technique (SMART)approach Proceedings of Littoralrsquo98 Conferencepp511-519 Barcelona Espanha

Andrade CF Freitas MC Moreno J amp CraveiroSC (2004) - Stratigraphical evidence of LateHolocene barrier breaching and extreme stormsin lagoonal sediments of Ria Formosa AlgarvePortugal Marine Geology 210339ndash362(doi101016jmargeo200405016)

Antunes P Santos R amp Videira N (2006) -Participatory decision making for sustainabledevelopment - the use of mediated modellingtechniques Land Use Policy 2344ndash52(doi101016jlandusepol200408014)

Bernardo P Bastos R amp Dias JA (2002) - Historicroots for barrier island occupation in the RiaFormosa Littoral 2002 Porto 4 p (disponiacutevel em

httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI02_Lit_91_PBpdf)

Bettencourt P (1985) - Geomorphologie et processusdlsquoeacutevolution reacutecente de la cocircte sotavento (Algarve ndash SudPortugal) Thegravese DEA 92p Universiteacute deBordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Bettencourt P (1994) - Les environnements sedimentairesde la cocircte sotavento (Algarve SudPortugal) et leur eacutevolutionHoloceacutene et actuelle PhD Thesis University ofBordeaux I Franccedila (unfinished)

Bray Jr T amp Carter C (1992) - Physical processesand sedimentary record of a moderntransgressive lacustrine barrier island MarineGeology 105(1-4)155-168 (doi 1010160025-3227(92)90187-M)

Correia F Dias JA Boski T amp Ferreira Oacute (1996)- The retreat of the Eastern Quarteira cliffed coast(Portugal) and its possible causes In Jones PSHealy MG amp Williams AT (eds) Studies inCoastal Management p129-136 Samara PublLtd Cardigan UK (disponiacutevel emht tp w3 u a l g p t j d i a s JA D pape r s CLinternac96_Studies_129_FCpdf)

Correia F Ferreira Oacute amp Dias JA (1997) - Contributodas arribas para o balanccedilo sedimentar do sectorcosteiro Quarteira - Vale do Lobo (Algarve -Portugal) Seminaacuterio sobre a zona costeira doAlgarve 31-39 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_031_FCpdf)

Costa CL (1994) - Final report of sub-project A ldquoWindwave climatology of the Portuguese coastrdquo InstitutoHidrograacutefico Report PO-WAVES 694-A 80 pLisboa Portugal (natildeo publicado)

Dias JA (1988) - Aspectos geoloacutegicos do litoralalgarvio Geonovas 10 113-128 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN88_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (1990) - A Evoluccedilatildeo Actual do LitoralPortuguecircs Geonovas 11 15-29 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN90_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (2002) - Manual de Sobrevivecircncia eVilanagem Diaacuterio de Notiacutecias - SuplementoldquoAmbiente e Desenvolvimento Sustentaacutevelrdquo 30de Julho de 2002 Lisboa Portugal (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersxCS02_DNADpdf)

75

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Dias JA Ferreira Oacute Matias A Vila-Concejo Aamp Saacute-Pires C (2003) - Evaluation of softprotection techniques in barrier islands bymonitoring programs case studies from RiaFormosa (Algarve-Portugal) Journal of CoastalResearch SI35117-131

Dias JA Ferreira Oacute amp Moura D (2004) - O sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa 3ordm SIPRES ndashSimpoacutesio Interdisciplinar sobre Processos Estuarinos 18p Faro Portugal

Dias JA amp Neal WJ (1992) - Sea cliff retreat insouthern Portugal profiles processes andproblems Journal of Coastal Research 8641-654

Dias JA amp Taborda R (1992) - Tidal gauge data indeducing secular trends of relative sea level andcrustal movements in Portugal Journal of CoastalResearch 8655-659

Dias JA Teixeira SB amp Ferreira Oacute (1997) - LivroGuia da Excursatildeo Seminaacuterio sobre a Zona Costeirado Algarve 43 p Faro Portugal

Douglas BC (1995) - Global sea level changedetermination and interpretation US NationalReport to IUGG 1991-1994 Geophys 33 Suppl11 p (disponiacutevel em httpwwwaguorgrevgeophysdougla01dougla01html)

Duarte C Matias A Dias JA amp Ferreira Oacute (1999)- Vulnerabilidade dos corpos dunares do Algarve10ordm Congresso do Algarve 477-490 (disponiacutevelem httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN99_10CA_477_CDpdf)

Esaguy AS (1984) - Ria de Faro Barra da ArmonaEvoluccedilatildeo 1873-1983 5 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1986a) - Ria de Faro Barra de Faro-OlhatildeoEvoluccedilatildeo 1955ndash1985 10p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986b) - Ria de Faro Ilha de TaviraEvoluccedilatildeo 1950ndash1985 8 p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986c) - Ria de Faro Ilha do AncatildeoEvoluccedilatildeo 1950-1985 7 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1987) - Ria de Faro Barra de TaviraEvoluccedilatildeo 13 p Direcccedilatildeo Geral de Portos LisboaPortugal

Ferreira Oacute Dias JA amp Taborda R (2008) -Implications of sea-level rise for Portugal Journal

of Coastal Research 24(2)317-324 (doi 10211207A-00061)

Ferreira Oacute Garcia T Matias A Taborda Ramp DiasJA (2006) - An integrated method for thedetermination of set-back lines for coastal erosionhazards on sandy shores Continental ShelfResearch 261030ndash1044 (doi 101016jcsr200512016)

Ferreira Oacute Martins JC amp Dias JA (1997) -Morfodinacircmica e vulnerabilidade da Praia de FaroSeminaacuterio sobre a zona costeira do Algarve 67-76 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_067_OFpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias Aamp Dias JA (2002)- Recent evolution of Culatra Island (Algarve ndashPortugal) Littoral 2002 The Changing Coast 289-294 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers02_LitTGpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2005)ndash Coastal Hazards Representation for Praia doBarril (Algarve Portugal) Continental ShelfResearch SI4928-33

Granja H (1984) - Eacutetude geacuteomor phologiquesedimentoloacutegique et geacuteoquimique de la Ria Formosa(Algarve-Portugal) These 3eme Cycle 254 pUniversiteacute de Bordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Greene K (2002) - Beach nourishment a review ofthe biological and physical impacts 174 p AtlanticStates Marine Fisheries Commission WashingtonDC (disponiacutevel em httpwwwasmfcorgpublicationshabitatbeachNourishmentpdf)

Griggs GB (1999) - The protection of Californialsquoscoast past present and future Shore amp Beach67(1)18-28

Hoyt JH (1967) - Barrier Island FormationGeological Society of America Bulletin 781125-1136 (doi 1011300016-7606(1967)78[1125BIF]20CO2)

Inman D (1978) - The impact of coastal structureson shorelines Proceedings of Coastal Zoneacute78 ASCE2265-2272

Koster MJ amp Hillen R (1995) - Combat erosion bylaw Coastal defence policy for the NetherlandsJournal of Coastal Research 67(2-3)43-49

Leatherman S (1976) - Barrier islands dynamicsoverwash processes and aeolian transportProceedings of Coastal Engineering Conference ASCE1958-1973

76

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Mangor K (1998) - Coastal restorationconsiderations Proceedings of Coastal Engineeringrsquo98Conference ASCE 3425-3438

Marcelo MJ amp Fonseca LC (1998) - Ria Formosada gestatildeo e conservaccedilatildeo de uma aacuterea protegidaRevista de Biologia 2ordm ENEC 16(1-4)125-133

Martins JT Ferreira Oacute Ciavola Pamp Dias JA (1996)- Monitoring of profile changes at Praia de FaroAlgarve a tool to predict and solve problems InTaussik J amp Mitchell J (eds) Partnership in CoastalZone Management pp 615-622 Samara Publ LtdCardigan UK

Matias A (2000) - Estudo morfosedimentar da Peniacutensulade Cacela Dissertaccedilatildeo de Mestrado 244pUniversidade do Algarve Faro Portugal (natildeopublicado)

Matias A Dias JA Williams AT amp Ferreira Oacute(1997) - Vulnerabilidade das dunas da RiaFormosa 9ordm Congresso do Algarve 231-239Vilamoura Portugal

Matias A Ferreira Oacute amp Dias JA (1999) -Preliminary results on the Cacela Peninsula dunereplenishment Boletiacuten del Instituto Espantildeol deOceanografiacutea 15(1-4)283-288 (disponiacutevel emhttpwwwieoespublicacionesboletinpdfsbol1515_283-288PDF)

Matias A Ferreira Oacute Dias JA amp Vila-Concejo A(2004) - Development of indices for the evaluationof dune recovery techniques Coastal Engineering51261-276 (doi 101016jcoastaleng200402002)

Matias A Ferreira Oacute Mendes I amp Dias JA (1998)- Monitorizaccedilatildeo da alimentaccedilatildeo artificial daPeniacutensula de Cacela Seminaacuterio sobre DragagensDragados e Ambientes Costeiros 47-56

Matias A Ferreira Oacute Mendes I Dias JA amp Vila-Cconcejo A (2005) - Artificial construction ofdunes in the South of Portugal Journal of CoastalResearch 21(3)472-481 (doi 10211203-00471)

Matias A Vila-Concejo A Ferreira Oacute amp Dias JA(2003) - Field measurements of morphologicvariations during an overwash event 4ordm Simpoacutesiosobre a Margem Ibeacuterica Atlacircntica Thalassas19(2b)164-165 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI03_4SM_b164_AMpdf)

NRC - National Research Council (1995) - Beach

Nourishment and Protection 334 p Washington DCNational Academy Press (ISBN 9780309052900)

Pacheco A Carrasco AR Vila-Concejo A FerreiraOacute amp Dias JA (2007) - A coastal managementprogram for channels located in backbarriersystems Ocean amp Coastal Management 50119-143 (doi101016jocecoaman200608008)

Pilkey OH amp Dixon K (1996) - The Corps and theShore 286p Island Press Washington DC USA(ISBN 9781559634380)

Pilkey OH Neal WJ Monteiro JH amp Dias JA(1989) - Algarve Barrier Islands A Noncoastal-Plain System in Portugal Journal of Coastal Research5(2)239-261

Ramos L amp Dias J A (2000) - Atenuaccedilatildeo davulnerabilidade a galgamentos oceacircnicos nosistema da Ria Formosa mediante intervenccedilotildeessuaves 3ordm Simpoacutesio sobre a Margem ContinentalIbeacuterica Atlacircntica Faro 361-362 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers00_SMLRpdf)

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2001)- Avaliaccedilatildeo de realimentaccedilotildees artificiais de praiasda Ria Formosa Casos das ilhas de Cacela e deTavira Congresso do Algarve 2001 8 p

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2002)- Preliminary Evaluation of the MorphologicalEvolution of Contrasting Beaches of the RiaFormosa With Relation to Differences inRefracted Wave Height Littoral 2002 TheChanging Coast 423-429 (disponiacutevel emht tp www2 00 8 i o -war nemu ende dehomepagesschernewskiLittoral2000docsvol3Littoral2002_79pdf)

Scheele RJ amp Westen CJ (1996) - Planning for acoastal policy - the 3A4 approach In Taussik Jamp Mitchell J (eds) Partnership in Coastal ZoneManagement pp 65-71 Samara Publ LtdCardigan UK

Sprung M (1994) - Macrobenthic secondaryproduction in the intertidal zone of Ria Formosaa lagoon in southern Portugal Estuarine Coastaland Shelf Science 38539ndash558 (doi 101006ecss19941037)

Van Den Belt M Videira N Antunes P Santos Ramp Gamito S (2000) - Modelaccedilatildeo Participada na RiaFormosa 36 p Ediccedilatildeo Fundaccedilatildeo do Mar LisboaPortugal

77

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Vila A Dias JMA Ferreira Oacute amp Matias A (1999)- Natural evolution of an artificial inlet CoastalSedimentslsquo99 21478-1488 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI99_CS99_1478_AVpdf)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Ciavola P Matias Aamp Dias JA (2004a) - Tracer studies on the updriftmargin of a complex inlet system Marine Geology20843-72 (doi 101016jmargeo200404020)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA(2003) - The first two years of an inlet sedimentarydynamics Continental Shelf Research 231425-1445 (doi 101016S0278-4343(03)00142-0)

Vila-Concejo A Matias A Ferreira Oacute Duarte Camp Dias JA (2002) - Recent evolution of thenatural inlets of a barrier island system in southernPortugal Journal of Coastal Research (ICS 2002proceedings) SI36741-752

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Morris BD MatiasA amp Dias JA (2004b) ndash Lessons from inletrelocation examples from Southern PortugalCoastal Engineering 51(10)967-990(doi101016jcoastaleng200407019)

Vila-Concejo A Matias A Pacheco A FerreiraOacute amp Dias JA (2006) - Quantification of inlet-related hazards in barrier island systems Anexample from the Ria Formosa (Portugal)Continental Shelf Research 261045-1060(doi 101016jcsr200512014)

Weinholtz MB (1978) - Contribuiccedilatildeo para o estudo daevoluccedilatildeo das flechas de areia na costa sotavento do Algarve(Ria de Faro) Relatoacuterio da Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Wells JT amp McNinch J (1991) - Beach scraping inNorth Carolina with special reference to itseffectiveness during Hurricane Hugo Journal ofCoastal Research SI8249-261

Williams SJ (2001) - Coastal erosion and land lossaround the United States strategies to manage andprotect coastal resources ndash examples fromLouisiana Coastal Ecosystems and FederalActivities Technical Training SymposiumProceedings 15 p (disponiacutevel emhttpwwwfwsgovnc-esecoconfwilliamspaperpdf)

Page 7: Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na

63

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

galgamentos Devido a estas protecccedilotildees a Praia deFaro praticamente natildeo apresentou recuo da linha decosta entre 1989 e 2001 (Ferreira et al 2006) Noentanto possui uma boa capacidade de recuperaccedilatildeosedimentar apoacutes eventos erosivos (Martins et al 1996)em apenas um ciclo de mareacute (Saacute-Pires et al 2002)

Matias et al (1997) e Duarte et al (1999) aoavaliarem a vulnerabilidade de um conjunto desistemas dunares do Algarve foram unacircnimes emidentificar a Praia de Faro como uma das zonas maisvulneraacuteveis da Ria Formosa O nuacutecleo urbano da Praiade Faro encontra-se em situaccedilatildeo de alto riscoconfinado a uma estreita faixa (normalmente commenos de 100 metros de largura) entre a laguna e ooceano As probabilidades de uma cataacutestrofeaumentam de ano para ano se considerarmos aelevaccedilatildeo do NMM e a possiacutevel ocorrecircncia de umgrande temporal que coincida com mareacute viva cheia

No sector Ancatildeo E (entre a Praia de Faro e a Barra

do Ancatildeo) a duna estaacute consideravelmente bempreservada e os perfis de praia revelam maiorcapacidade para reagir a eventos energeacuteticos exceptona margem da Barra do Ancatildeo (Ferreira et al 1997)A populaccedilatildeo consiste sobretudo em pescadores quevivem na margem da laguna

33 Barra do Ancatildeo

O limite oriental da Peniacutensula do Ancatildeo terminana Barra do Ancatildeo tambeacutem designada por Barra deSatildeo Luiacutes (Fig2) Estaacute localizada numa das aacutereas maisdinacircmicas do sistema mudando frequentemente demorfologia e posiccedilatildeo com uma tendecircncia de migraccedilatildeopara nascente a uma velocidade meacutedia de 70mano euma largura meacutedia de 260m Entre 1945 e 1996completou dois ciclos migratoacuterios (Vila-Concejo etal 2006)

Em 1997 a Barra do Ancatildeo em fase final do seuciclo de migraccedilatildeo encontrando-se muito assoreada e

Figura 3 ndash Parte central da Peniacutensula do Ancatildeo ndash Praia de Faro (de Oeste para Este) evidenciando a intensaocupaccedilatildeo sobre o cordatildeo dunar (fotografias obtidas em Novembro de 2006 pelo autor)Figure 3 ndash Aerial photo of the Ancatildeo Peninsula from West to East (central zone) ndash Beach of Faro showing the intenseoccupation on dune ridges (photos by author in November 2006)

64

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

com baixa eficiecircncia hidraacuteulica No sentido de ampliaressa eficiecircncia e proteger os interesses nesta zonaprocedeu-se agrave abertura artificial de uma nova barra(23 Junho de 1997) a cerca de 35km a W da posiccedilatildeoanterior e imediatamente a oriente das uacuteltimas casasda Praia de Faro permitindo a esta migrar novamenteno sentido nascente (Vila et al 1999) A forma e aposiccedilatildeo da nova barra natildeo foram baseadas em estudosaprofundados mas no conhecimento empiacuterico dasituaccedilatildeo (Dias et al 2003) Estudos recentes sobre aevoluccedilatildeo e dinacircmica da barra desde a sua aberturaartificial (eg Vila-Concejo et al 2002 2003 2004a2006) permitem concluir que bastaram dois anos paraque se atingisse o estado de equiliacutebrio e comeccedilasse aevoluir e a migrar naturalmente o que confirma osucesso desta intervenccedilatildeo que foi das primeiras a niacutevelmundial

34 Ilha da Barreta

A Ilha da Barreta tem um comprimento de cercade 8km e largura entre 70 e 700m (Fig2) Existempoucos estudos publicados que focam esta ilha umavez que eacute uma zona menos acessiacutevel com baixaocupaccedilatildeo antroacutepica e consequentemente menosproblemaacutetica

A parte ocidental eacute estreita de baixa elevaccedilatildeo compouca vegetaccedilatildeo e vulneraacutevel a galgamentos Narealidade corresponde agrave parte oriental da zona demigraccedilatildeo da Barra do Ancatildeo Apresenta umamorfodinacircmica semelhante agrave Peniacutensula do Ancatildeo(Pilkey et al 1989 Bettencourt 1994) e um uacutenicocordatildeo dunar com cerca de 7m de altura (Vila-Concejoet al 2006)

A complexidade deste sector aumenta de ocidentepara oriente onde a ilha jaacute apresenta um campo dunarlargo e bem vegetado Existem dois pequenosaglomerados de casas de pescadores e de apoio agrave praialocalizados na parte interna junto agrave laguna e agrave BarraFaro-Olhatildeo respectivamente

A metade oriental da ilha eacute a uacutenica que apresentaum comportamento regressivo (Vila et al 1999)proporcionando o crescimento do cordatildeo dunarfrontal (Duarte et al 1999) Este comportamento foiconsequecircncia da construccedilatildeo dos molhes da barraartificial de Faro-Olhatildeo entre 1929 e 1955 (Esaguy1986a) que interromperam a deriva litoral econsequentemente induziram a barlamar (junto ao

molhe W localizado no extremo oriental da ilha) umaacumulaccedilatildeo arenosa notaacutevel

35 Barra Faro-Olhatildeo

A Barra Faro-Olhatildeo que separa as ilhas da Barretae da Culatra foi artificialmente aberta e estabilizadapor molhes entre 1929 e 1955 num local onde existiajaacute uma barra (Barra do Bispo) relativamente larga masbastante instaacutevel (Esaguy 1986a) (Fig2) O objectivoda abertura foi o de assegurar a navegabilidade aocanal de acesso que conduz ao porto comercial deFaro bem como agraves localidades de Faro e Olhatildeo Estaintervenccedilatildeo induziu grande alargamento da parteoriental da Ilha da Barreta a barlamar e erosatildeobastante significativa da parte ocidental da Ilha daCulatra a sotamar bem como modificaccedilotildeesimportantes no comportamento hidrodinacircmicolagunar (Vila-Concejo et al 2006) Veio retirareficiecircncia hidraacuteulica agrave Barra da Armona que era abarra principal do sistema em consequecircncia do quese verificou grande estreitamento desta sendoactualmente a sua eficaacutecia extremamente reduzida

O canal da barra de Faro-Olhatildeo projectado paramanter cotas entre 4 a 45m abaixo do zerohidrograacutefico (Weinholtz 1978) foi progressivamenteficando mais fundo ateacute atingir profundidades naordem dos 40m em 2001 assim aumentando a secccedilatildeode escoamento Consequentemente surgiramproblemas de seguranccedila no que respeita agrave navegaccedilatildeodevido agraves fortes correntes de vazante e de enchente ea graves danos nos troccedilos terminais dos molhes

A abertura da barra e a construccedilatildeo dos molhesalteraram a circulaccedilatildeo hiacutedrica e os balanccedilossedimentares nesta zona do sistema A Barra Faro-Olhatildeo eacute a grande responsaacutevel pela importaccedilatildeo desedimentos para o sistema lagunar A entrada de140000m3ano de sedimentos (Pacheco et al 2007)poderaacute estar relacionada com as intensas dragagensefectuadas no canal de navegaccedilatildeo no interior dosistema recomendando-se que sejam apenasrealizadas de modo a manter as condiccedilotildees denavegabilidade

36 Ilha da Culatra

A Ilha da Culatra tem aproximadamente 7km decomprimento estando a ocupaccedilatildeo humanaconcentrada em trecircs povoaccedilotildees (Farol Hangares e

65

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Culatra) que soacute podem ser atingidas por barco (Fig4)A evoluccedilatildeo recente da ilha e das barras que a limitamfoi alvo de estudo de diversos autores (eg Granja1984 Esaguy 1984 1986a Dias 1988 Pilkey et al1989 Andrade 1990a Garcia et al 2002 Vila-Concejoet al 2002) Eacute consensual que os molhes da BarraFaro-Olhatildeo foram responsaacuteveis por uma profundaalteraccedilatildeo da hidrodinacircmica do sistema e alteraccedilotildeessignificativas na Ilha da Culatra Segundo Garcia et al(2002) as principais consequecircncias foram ocrescimento muito raacutepido para oriente da ilha e aampliaccedilatildeo do recuo da linha de costa na zonaocidental

A linha de costa da extremidade ocidental da ilhaonde se localiza a povoaccedilatildeo do Farol estaacutecompletamente artificializada (molhe oriental da barraenrocamento longitudinal construiacutedo para protecccedilatildeodas edificaccedilotildees e estabilizaccedilatildeo da linha de costa e umesporatildeo no limite oriental da povoaccedilatildeo) Neste sectora ilha eacute relativamente estreita com uma duna de decliveacentuado paralela agrave linha de costa evidenciandocarecircncia de sedimentos (Garcia et al 2002) o que setorna problemaacutetico pois que esta zona se encontraintensamente ocupada

A morfologia do sector central reflecte aalternacircncia de cordotildees dunares e canais de mareacute Naprimeira metade do seacuteculo XX a margem ocidentalda barra da Armona (que era a principal do sistema)localizava-se junto agrave povoaccedilatildeo da Culatra tendo aiacutesido construiacutedas as instalaccedilotildees do Instituto deSocorros a Naacuteufragos onde estava sedeado o botesalva-vidas Estas instalaccedilotildees haacute muito que perderampor completo a sua funcionalidade estandoactualmente convertidas num Centro Social dapovoaccedilatildeo A ocupaccedilatildeo apenas ocorre na margemlagunar da ilha e consequentemente natildeo estaacute sujeitaa problemas significativos de erosatildeo costeira

O sector oriental que se constituiu essencialmentea partir de meados do seacuteculo XX eacute despovoado Estecrescimento da ilha estaacute provavelmente relacionadocom a modificaccedilatildeo da hidrodinacircmica do sistemadevido agrave construccedilatildeo da Barra de Faro-OlhatildeoApresenta corpo dunar pouco desenvolvido e elevadasusceptibilidade a galgamentos (Andrade et al 1998Garcia et al 2002 Vila-Concejo et al 2006)

37 Barra da Armona

A Barra da Armona que separa as ilhas da Culatra

Figura 4 ndash Panoracircmica da Ilha da Culatra e Barra de Faro-Olhatildeo vista de Oeste na foto satildeo visiacuteveis as povoaccedilotildeesdo Farol Hangares e Culatra (fotografia obtida em Novembro de 2006 pelo autor)Figure 4 ndash Oblique aerial photo from West of the Culatra Island and Faro-Olhatildeo Inlet showing the Farol Hangares andCulatra communities (photo by author in November 2006)

66

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

e da Armona eacute considerada a uacutenica barra estaacutevel dosistema em termos de localizaccedilatildeo (Pilkey et al 1989)e a que apresenta o delta de vazante mais desenvolvido(Dias et al 1997) (Fig2) Era a principal barra dosistema mas o crescimento da ilha da Culatra temprovocado o seu estreitamento progressivo Entre1873 e 1983 a barra estreitou cerca de 2500mpassando de uma largura de 4300m para 1850m(Esaguy 1984) A maior taxa de estreitamento entre1950 e 1977 estaacute provavelmente relacionada com aconclusatildeo da abertura da Barra de Faro-Olhatildeo (Vila-Concejo et al 2002) Na actualidade apresenta umalargura de cerca de 200m

38 Ilha da Armona

A Ilha da Armona tem comprimento aproximadode 9km e largura maacutexima de cerca de 1400m naextremidade SW (Fig2) A parte ocidental apresentaum longo cordatildeo dunar frontal de 8 a 9m A deposiccedilatildeode sedimento a ocidente eacute um fenoacutemeno uacutenico emtodo o sistema da Ria Formosa (Pilkey et al 1989) econtribui para o estreitamento da Barra da ArmonaA parte oriental apresenta um cordatildeo dunar poucodesenvolvido e elevada susceptibilidade ao galgamento(Andrade et al 1998)

Na zona mais larga a ocidente encontra-se apovoaccedilatildeo da Armona Progressivamente a largura dailha vai diminuindo para oriente sendo o cordatildeo dunarrobusto e bem vegetado ateacute agrave zona fronteira agravepovoaccedilatildeo da Fuzeta (Fig1)

Nesta zona bastante estreita e sujeita agalgamentos oceacircnicos onde se localizava a Barra daFuzeta em meados do seacuteculo XX encontra-se umconjunto de casas (construiacutedas ilegalmente) comutilizaccedilatildeo natildeo permanente Ramos amp Dias (2000)apontam esta ocupaccedilatildeo como um dos casos maiscriacuteticos do sistema por se localizar numa zona comelevada vulnerabilidade ao galgamento

39 Barra da Fuzeta

A Barra da Fuzeta que separa as ilhas da Armonae de Tavira tem actualmente cerca de 250m de largura(Fig2) Apresenta normalmente evoluccedilatildeo muitoraacutepida (Dias et al 1997) Entre 1945 e 1996 registouuma taxa de migraccedilatildeo meacutedia de cerca de 65mano(Vila-Concejo et al 2006) Natildeo satildeo conhecidos valoresexactos da extensatildeo ou duraccedilatildeo do ciclo de migraccedilatildeo

Contudo de acordo com Vila-Concejo et al (2002) ociclo completo dura pelo menos 50 anos e a barramigra no total mais de 3500m Esta migraccedilatildeo podeser progressiva ou intermitente (Dias et al 1997)

Agrave semelhanccedila da Barra do Ancatildeo procedeu-se agraveabertura artificial de uma nova Barra da Fuzeta emJulho de 1999 Poreacutem devido aos condicionamentosimpostos pelas casas existentes frente agrave povoaccedilatildeo daFuzeta foi aberta apenas a cerca de 800m a ocidenteda posiccedilatildeo que ocupava em 1996 Parte do sedimentodragado foi utilizada para fechar artificialmente aantiga barra No entanto esta intervenccedilatildeo natildeo obtevemuito sucesso devido ao aumento de sinuosidade docanal apoacutes a abertura De acordo com os resultadosde Vila-Concejo et al (2004b) o canal atingiu oequiliacutebrio dinacircmico em Julho de 2000

310 Ilha de Tavira

A Ilha de Tavira eacute a maior do sistema com cercade 11km de comprimento e 800m de largura maacuteximana parte central (Fig2) Esta ilha estreitaprogressivamente para SW onde existem sinais deforte erosatildeo e de frequentes galgamentos No entantoo campo dunar eacute na generalidade moderadamentelargo e elevado constituiacutedo por vaacuterios cordotildeesdunares A Ilha de Tavira exceptuando a extremidadeSW eacute considerada uma das mais ldquoestaacuteveisrdquo do sistemada Ria Formosa natildeo existindo indiacutecios de processosdestrutivosconstrutivos relacionados com amigraccedilatildeo de barras Apresenta poreacutem algunscorredores eoacutelicos junto agraves zonas de maior ocupaccedilatildeodevido ao pisoteio e na parte central na zonaenvolvente ao Arraial do Barril verificou-se um recuoda linha de costa entre 1976 e 2001 de 02 a 13mano (Garcia et al 2005)

A extremidade oriental da ilha estaacute estabilizadaartificialmente pelos molhes da Barra de Tavira o quelevou agrave acumulaccedilatildeo de sedimentos a ocidente dabarra numa extensatildeo de cerca de 1000m A partemais vulneraacutevel da zona NE situa-se junto ao Canalde Tavira artificial pois que a sua posiccedilatildeo tem sidomantida atraveacutes de dragagens e traccediladomeandriforme Neste local a ilha tecircm apenas cerca de150m de largura

A Ilha de Tavira apresenta duas zonas de ocupaccedilatildeoo Arraial do Barril (antiga infra-estrutura de pesca doatum convertida em apoio de praia) e a Praia de Tavira

67

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

onde se situam estruturas de apoio com algumaenvergadura designadamente um parque decampismo (Fig1) Na actualidade apesar dos impactesantroacutepicos serem elevados satildeo concentrados elimitados Segundo Dias et al (2004) o Arraial doBarril pode ser apontado como um bom exemplo deexploraccedilatildeo turiacutestica sustentaacutevel natildeo haacute habitaccedilatildeopermanente o acesso eacute efectuado por uma pontepedonal e por um pequeno comboio ou pelo passeioque o ladeia (o que evita impactes generalizados) asantigas instalaccedilotildees da companhia de pesca queestavam abandonadas tiveram reaproveitamentolucrativo Contudo o cordatildeo dunar frontal estaacute sujeitoa alguma erosatildeo e a pequenos galgamentos oceacircnicosdetectando-se tambeacutem alguns corredores eoacutelicos episoteio moderado A previsatildeo da localizaccedilatildeo da linhade costa em 2050 considerando a aceleraccedilatildeo daelevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar e a eventualocorrecircncia de um temporal com periacuteodo de retornode 50 anos indica que eacute expectaacutevel um recuo da ordemdos 70m ou seja que atingiraacute as edificaccedilotildees aiacuteexistentes (Ferreira et al 2006)

311 Barra de Tavira

A Barra de Tavira artificial separa as ilhas deTavira e de Cabanas e tem largura de 60m (Fig2) Foiaberta artificialmente em 1927 quase em frente agrave fozdo Rio Gilatildeo conduzindo ao encerramento da antigabarra em 1930 (Vila-Concejo et al 2006) Os dadosdisponiacuteveis sugerem uma velocidade de migraccedilatildeo daantiga barra de cerca de 40mano (Weinholtz 1978)A barra artificial teve que ser sujeita a vaacuterias operaccedilotildeesde dragagem entre 1930 e 1935 e estabilizada pordois esporotildees em 1936 devido ao constanteassoreamento (Esaguy 1987) Um ciclone ocorridoem 1941 abriu uma nova barra a cerca de 1100m aEste da barra artificial (Barra do Cochicho-Almargem) a qual rapidamente alargou e comeccedilou amigrar para oriente A existecircncia da nova barra levouao aumento do assoreamento da Barra de Tavira queteve que ser reaberta em 1961 face agraves dificuldades denavegaccedilatildeo Posteriormente foram efectuadas diversasobras de dragagem estabilizaccedilatildeo e fortalecimento dediques no sentido de diminuir o assoreamento(Esaguy 1987) A eficiecircncia hidrodinacircmica da Barrade Tavira eacute muito pequena representando cerca de4 do prisma de mareacute total do sistema (Andrade1990a)

312 Ilha de Cabanas

A Ilha de Cabanas eacute a ilha mais oriental e a maispequena do sistema com um comprimento de cercade 6km e uma largura maacutexima de 300m (Fig2) Narealidade constitui a extremidade natural da Ilha deTavira tendo sido convertida numa ilha autoacutenomapela abertura artificial da Barra de Tavira (Dias 1988)Foi completamente destruiacuteda durante o ciclone de1941 e novamente no decurso de um violentotemporal em 1961 os quais provocaram extensosgalgamentos oceacircnicos e a formaccedilatildeo de uma novabarra (Barra de Cabanas) para aleacutem da Barra doCochicho-Almargem as quais juntas formaram umaabertura uacutenica com cerca de 2500m de extensatildeo apartir da meia mareacute (Matias 2000)Consequentemente o cordatildeo dunar eacute relativamenterecente fraacutegil e elevando-se apenas a uma cota meacutediade 25m (Dias et al 2003)

A Ilha de Cabanas foi a primeira zona a serintervencionada ao abrigo do programaldquoRequalificaccedilatildeo do sistema lagunar da Ria Formosardquoentre Abril e Junho de 1999 Natildeo existem estimativasda quantidade de sedimentos perdidos para o marNo entanto os dragados usados na realimentaccedilatildeoeram grosseiros ajudando agrave naturalizaccedilatildeo dos aterrosefectuados (Saacute-Pires et al 2001) Aleacutem destaintervenccedilatildeo foi construiacutedo mais um pequeno esporatildeoa oriente da Barra de Tavira pelo que a erosatildeo que aiacutese verifica ficou atenuada pela existecircncia de doisesporotildees As intervenccedilotildees parecem ter sidodeterminantes na protecccedilatildeo da praia uma vez quenatildeo se tecircm registado galgamentos ou erosatildeo do cordatildeodunar nos locais intervencionados os mesmosapresentam alguma colonizaccedilatildeo por vegetaccedilatildeopioneira (Saacute-Pires et al 2001) No entanto uma vezque a realimentaccedilatildeo foi localizada e o cordatildeo dunareacute de baixa altitude as intervenccedilotildees natildeo impedem quenum futuro proacuteximo ocorram galgamentossobretudo junto aos apoios de praia existentes

313 Barra do Laceacutem

A Barra do Laceacutem corresponde agrave barra natural dolimite Este da Ilha de Tavira se esta natildeo fosseinterrompida pela barra artificial de Tavira (Fig2)Vaacuterios autores documentaram a evoluccedilatildeo da mesma(eg Weinholtz 1978 Esaguy 1986b Dias 1988

68

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Pilkey et al 1989 Andrade 1990a Bettencourt 1994Matias 2000 Vila-Concejo et al 2002) A barra separaa Ilha de Cabanas e a Peniacutensula de Cacela deriva dajunccedilatildeo em 1985 das Barras de Cochicho-Almargem(aberta pelo ciclone de 1941) e de Cabanas (abertapelo temporal de 1961) (Esaguy 1986b) A velocidademeacutedia de migraccedilatildeo da barra tem sido de 97mano(Vila-Concejo et al 2006)

Mais recentemente em 2004 abriu-se uma novabarra natural localizada a oriente da antiga Barra doLaceacutem A nova barra conduziu ao assoreamento daantiga Barra do Laceacutem com o seu consequenteencerramento

314 Peniacutensula de Cacela

A Peniacutensula de Cacela localiza-se no extremooriental da Ria Formosa Tem cerca de 3km decomprimento e entre 100 a 250m de largura (Fig2)

Em 1976 a cota meacutedia do cordatildeo dunar singularrobusto e vegetado era de 34m atingindo um maacuteximode 61m (Esaguy 1986c) A posterior degradaccedilatildeo doscorpos dunares devido ao pisoteio conduziu a umgrande aumento da frequecircncia de galgamentos (Diaset al 2004) Em 1990 Andrade (1990b) verificou quea Peniacutensula de Cacela apresentava um maacuteximo desusceptibilidade a galgamentos oceacircnicos De factodurante o Inverno de 19951996 ocorreramgalgamentos generalizados em quase toda a peniacutensulaque conduziram agrave abertura de uma nova barra nocentro da mesma (Barra da Faacutebrica) a qual emOutubro de 1996 chegou a ter cerca de 35m de largurae uma profundidade de 07m (Matias et al 2004) Casonatildeo se efectuasse qualquer intervenccedilatildeo era de preverque as dunas remanescentes desaparecessem porcompleto

Assim no sentido de diminuir a vulnerabilidade agalgamentos e de manter a produccedilatildeo de bivalves(actividade econoacutemica mais importante da zona)foram efectuadas entre Outubro de 1996 e Fevereirode 1997 grandes intervenccedilotildees que consistiramprincipalmente na ldquoreconstituiccedilatildeordquo do cordatildeo dunarda Peniacutensula de Cacela na colmataccedilatildeo da Barra daFaacutebrica e na dragagem da Barra do Laceacutem e do canallagunar (Ramos amp Dias 2000 Matias et al 2005) Oobjectivo era elevar a cota do topo do cordatildeo dunarateacute aos 75m acima do Zero Hidrograacutefico (ZH)reconstituindo uma situaccedilatildeo semelhante agrave existente

nos anos 60 (Ramos amp Dias 2000) Todavia devidoagrave existecircncia de formaccedilotildees consolidadas queimpossibilitaram a dragagem agraves cotas inicialmenteestabelecidas a quantidade de sedimentos repulsadospara a peniacutensula foi bastante inferior ao previstoestimando-se que o material deposto no cordatildeo dunartenha atingido apenas 325000m3 (Ramos amp Dias2000) Tal obrigou agrave reformulaccedilatildeo do projectoelevando-se a cota de topo da duna apenas para os5m acima do ZH Segundo Matias et al (1999) cercade 32 do sedimento depositado perdeu-seimediatamente apoacutes a deposiccedilatildeo no cordatildeo arenosoTal verificou-se devido aos processos de acomodaccedilatildeodo perfil de praia submerso mas tambeacutem porquegrande parte do material natildeo apresentava agranulometria adequada Depois da realimentaccedilatildeo avegetaccedilatildeo pioneira comeccedilou rapidamente a colonizara duna reconstituiacuteda (Matias et al 2004)

Outras intervenccedilotildees tecircm vindo a ser efectuadasdepois do robustecimento do cordatildeo dunar foramconstruiacutedos passadiccedilos de madeira procedeu-se agravecolocaccedilatildeo de paliccediladas no sentido de propiciar odesenvolvimento de dunas naturais e agrave plantaccedilatildeo deAmmophila arenaria Posteriormente entre Abril de1999 e Julho de 2000 efectuaram-se em quase todoo sistema novas dragagens nos canais natildeoconsiderados de navegaccedilatildeo integradas no Projectode Requalificaccedilatildeo do Sistema Lagunar com oobjectivo de intensificar a circulaccedilatildeo assim mantendoas condiccedilotildees ecoloacutegicas do sistema Nesta intervenccedilatildeovoltou-se a dragar a Barra do Laceacutem em Junho de1999 Segundo Ramos amp Dias (2000) as intervenccedilotildeesatingiram os objectivos tendo a vulnerabilidade aogalgamento sido drasticamente reduzida e do ladonascente verificando-se o estabelecimento dasucessatildeo fitogeneacutetica conferindo um aspecto naturalao novo cordatildeo dunar

Mais recentemente na parte central da zonaintervencionada verificou-se erosatildeo completa daldquodunardquo reconstruiacuteda o que tinha sido previsto nosestudos de monitorizaccedilatildeo realizados no decurso eimediatamente apoacutes a intervenccedilatildeo tendo-se na alturasugerido a possibilidade de nova pequena intervenccedilatildeopontual Todavia quando se verificou a ruptura natildeohouve possibilidades de efectuar essa pequenaintervenccedilatildeo pelo que se abriu naturalmente novabarra o que nos uacuteltimos anos provocou a colmataccedilatildeo

69

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

da antiga barra e erosatildeo de grande parte das ldquodunasrdquoreconstruiacutedas no final do seacuteculo XX

4 DISCUSSAtildeO

41 Evoluccedilatildeo Geral do Sistema

Como se deduz dos pontos anteriores o sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa eacute extremamentedinacircmico e como tal bastante vulneraacutevel As taxasde crescimento longitudinal de algumas ilhas satildeo dasmais notaacuteveis a niacutevel mundial (Dias et al 1997)

Segundo Pilkey et al (1989) os principais processosque contribuem para a evoluccedilatildeo das ilhas-barreira daRia Formosa satildeo (1) recuo da linha de costa (2) derivalitoral (3) galgamentos oceacircnicos (4) formaccedilatildeo decorpos dunares e de estabelecimento da respectivavegetaccedilatildeo (5) constituiccedilatildeo de deltas de mareacute e suaagregaccedilatildeo agraves ilhas (6) comportamento das barras e(7) erosatildeoacumulaccedilatildeo provocada pelas mareacutes-vivasdesignadamente nos canais de mareacute

Recuo da linha de costaOs valores observados na evoluccedilatildeo da linha de

costa indicam a existecircncia de recuo generalizado dasilhas e peniacutensulas (com excepccedilatildeo das zonasimediatamente a barlamar dos molhes das barras denavegaccedilatildeo) a qual varia consoante a localizaccedilatildeogeograacutefica e a interacccedilatildeo com os processos oceacircnicosA linha de costa move-se em resposta aos factoresnaturais de forma a manter o equiliacutebrio (Williams2001) O recuo da linha de costa eacute mais acentuadonos extremos do sistema e na parte ocidental das ilhase peniacutensulas Na parte central do sistema e nosextremos orientais das ilhas verifica-se algumaacreccedilatildeo Nas duas aacutereas mais intensamente ocupadas(Praia de Faro e Farol) existe estabilizaccedilatildeo da linha decosta devido a artificializaccedilatildeo desta com estruturasfixas de engenharia costeira A acreccedilatildeo verificada aoriente das ilhas da Barreta e de Tavira deve-se agravedeposiccedilatildeo de sedimentos a barlamar dos molhes dasbarras artificiais

Deriva litoralTorna-se evidente que o sistema da Ria Formosa

tem grande carecircncia de sedimentos principalmentenalgumas zonas mais expostas Contudo grande partedeste problema tem origem a barlamar do sistemaonde foram construiacutedos os molhes da marina deVilamoura e o campo de esporotildees de Quarteira que

interromperam a deriva litoral provocando a orienteintensificaccedilatildeo da erosatildeo nas arribas situadas entreQuarteira e a Praia do Garratildeo Actualmente as arribassatildeo o principal elemento abastecedor de areias aosistema da Ria Formosa (Correia et al 1997) Noentanto estas natildeo chegam para colmatar as carecircnciassedimentares do sistema da Ria Formosa o quesignifica que se forem construiacutedas obras riacutegidas deengenharia costeira neste sector se verificaraacuteintensificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico do sistemaampliando o grau de ruptura em que este jaacute seencontra Um exemplo que ilustra esta vulnerabilidadefoi a conclusatildeo da construccedilatildeo dos molhes da barraartificial de Faro-Olhatildeo em meados do seacuteculopassado que induziu grandes alteraccedilotildees com efeitosdraacutesticos no suprimento de sedimento agrave parte orientalNa realidade a abertura desta barra estabilizada pelosmolhes respectivos fez com que o sistema naturalentrasse em ruptura modificando radicalmente ascaracteriacutesticas hidro-sedimentoloacutegicas Segundo Dias(1990) as uacutenicas acccedilotildees de protecccedilatildeo realmenteeficazes satildeo as que possibilitam a reconstituiccedilatildeo daderiva litoral com os consequentes volumes desedimentos necessaacuterios

Galgamentos oceacircnicosAs ilhas-barreira da Ria Formosa satildeo

periodicamente sujeitas a galgamentos oceacircnicosdurante temporais de SW e SE Estes galgamentosconstituem um elemento muito importante nadinacircmica e na evoluccedilatildeo natural do sistemacontribuindo com fornecimento de sedimentos parao interior da laguna e abertura de novas barras quandoas antigas jaacute natildeo apresentam eficiecircncia (Andrade1990a) Tecircm sido assumidos como principalmecanismo de migraccedilatildeo das ilhas-barreira(Leatherman 1976 Bray amp Carter 1992) induzindoum efeito construtivo de acreccedilatildeo (Matias et al 2003)Assim sendo a gestatildeo deve integrar uma adaptaccedilatildeoaos galgamentos naturais uma vez que satildeo vitais parao funcionamento natural do sistema

Do ponto de vista da ocupaccedilatildeo os galgamentosoceacircnicos satildeo um factor importante que necessita deser avaliado para propiciar uma gestatildeo mais eficazuma vez que induz seacuterios danos nas infra-estruturasexistentes (Andrade et al 1998) Verifica-se que ospontos mais vulneraacuteveis a galgamentos satildeo a Praia deFaro Barreta W Culatra E Armona E Tavira W toda

70

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

a Ilha de Cabanas e a Peniacutensula de Cacela Nesteslocais mesmo a ocorrecircncia de pequenos temporaisdurante a preia-mar de mareacutes vivas podem provocargalgamentos Alguns pontos como a Ilha de Cabanase a Peniacutensula de Cacela viram reduzida avulnerabilidade a galgamentos apoacutes as intervenccedilotildeesefectuadas com algum sucesso embora essavulnerabilidade comece a ser actualmente elevada nosegundo caso devido aos factos aludidos mais acimaEm geral os locais de maior vulnerabilidade satildeo osque apresentam perfis de praia de pouca inclinaccedilatildeocordatildeo dunar fraacutegil e proximidade das barras

Cordatildeo dunar e vegetaccedilatildeo dunarAo longo das ilhas existiu um cordatildeo dunar frontal

contiacutenuo com 5 a 10m de altura sem cortes eoacutelicos ede galgamento muito significativos e bem cobertosde vegetaccedilatildeo (Pilkey et al 1989) No entanto o cordatildeodunar encontra-se na actualidade completamenteocupado em alguns locais por edificaccedilotildees comoacontece na Praia de Faro na povoaccedilatildeo do Farol e naIlha da Armona A vegetaccedilatildeo tornou-se escassa natildeosomente nas zonas ocupadas mas tambeacutem noutroslocais como na parte ocidental da Ilha da Barreta ena oriental das ilhas da Armona e da Culatra

Com a crescente pressatildeo antroacutepica exercida sobreo sistema especialmente para fins balneares verifica-se que em vaacuterios locais a quantidade de cortes eoacutelicostem aumentado devido ao pisoteio Este facto podeconduzir em periacuteodos de agitaccedilatildeo mariacutetima maisenergeacutetica agrave ocorrecircncia de galgamentos oceacircnicosRamos amp Dias (2000) referem que grande parte doscortes de galgamento oceacircnico do sistema da RiaFormosa eacute devido ao pisoteio dos corpos dunares enatildeo a causas naturais

A instalaccedilatildeo intensiva nos uacuteltimos anos depaliccediladas para recuperaccedilatildeo dunar complementadacom plantaccedilatildeo de vegetaccedilatildeo tiacutepica destes ambientescorresponde a uma acccedilatildeo de gestatildeo com efeitos muitopositivos com a qual se tem conseguido robustecero cordatildeo dunar do sistema

Deltas de mareacuteA incorporaccedilatildeo de deltas de enchente e posterior

migraccedilatildeo ou encerramento da barra respectivaconstitui importante mecanismo de evoluccedilatildeo dasilhas-barreira estando na origem da grande larguradas ilhas da Armona e de Tavira (Pilkey et al 1989)

A formaccedilatildeo de deltas de enchente em associaccedilatildeo comos galgamentos oceacircnicos contribui para a migraccedilatildeodas ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continente o quepoderaacute estar a suceder com o caso particular daPeniacutensula de Cacela (Andrade et al 2004)

Comportamento das barrasA Ria Formosa eacute caracterizada por apresentar

elevadas taxas de migraccedilatildeo das barras A estabilizaccedilatildeode duas das barras no sector oriental provocou fortesmodificaccedilotildees na dinacircmica do sistema Segundo Vila-Concejo et al (2002) a estabilizaccedilatildeo da Barra Faro-Olhatildeo (1929-1955) teve maiores consequecircncias nasbarras do Ancatildeo e da Armona enquanto que aabertura artificial da Barra de Tavira (1927-1985)produziu maiores efeitos nas barras da Fuzeta e doLaceacutem

A Barra da Armona era a principal barra dosistema controlando a maior parte da circulaccedilatildeo daRia Formosa na parte central Com a abertura da BarraFaro-Olhatildeo projectada para manter profundidadesentre-molhes da ordem de 45m ZH mas queprogressivamente se foi aprofundando ateacuteprofundidades superiores a 40 metros as trocashiacutedricas com o oceano passaram a efectuar-sepredominantemente por esta barra Os molhesprovocaram grande acumulaccedilatildeo a barlamar pelo quenos 12 anos seguintes agrave sua construccedilatildeo a Ilha daBarreta registou alargamento superior a 220 metrosna zona por eles influenciada (Bettencourt 1985) Emconsequecircncia a barra da Armona perdeu eficaacuteciareduzindo progressivamente largura e profundidadeNos anos 80 do seacuteculo XX tinha ainda cerca de 2000metros de largura mas actualmente essa largura eacuteapenas da ordem de 200 metros

O sentido de migraccedilatildeo das barras natildeo estabilizadaseacute para oriente (agrave excepccedilatildeo da Barra da Armona quetem mantido a sua posiccedilatildeo) Essa migraccedilatildeo efectua-se quer progressivamente (mantendo ou natildeo a largura)ou por ldquosaltosrdquo na sequecircncia de temporais em quenova barra se abre em geral a sotamar da barraexistente seguindo-se frequentemente a posteriorcolmataccedilatildeo desta (Dias 1988 Pilkey et al 1989Andrade et al 1998)

Erosatildeo provocada pelas mareacutes-vivasA Ria Formosa eacute um sistema lagunar com uma

grande aacuterea de zona intertidal (cerca de 13 do total

71

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

da aacuterea) Em cada ciclo de mareacute 50 a 75 da aacutegua eacuterenovada (Sprung 1994) Devido agrave diferenccedila deamplitude entre mareacutes-vivas e mareacutes-mortas as zonasde menor elevaccedilatildeo das ilhas-barreira satildeo regularmenteinundadas durante as primeiras causando transportesignificativo de sedimentos Estes fluxos satildeoresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo de canais de mareacute eaumento da erosatildeo das ilhas-barreira

Como jaacute foi referido os periacuteodos de mareacutes-vivassatildeo bastante problemaacuteticos especialmente noInverno na medida em que potenciam o efeito detempestades que ocorrem durante mareacutes-cheiasTodos os anos nos pontos criacuteticos do sistema comoa Praia de Faro a probabilidade de ocorrer umasituaccedilatildeo muito grave aumenta principalmente se seconsiderar a elevaccedilatildeo do NMM

42 Intervenccedilatildeo

Como eacute reconhecido por Scheele amp Westen (1996)os planos de gestatildeo costeira devem apontar para aprotecccedilatildeo ambiental de longo prazo o que implica(1) uma estrateacutegia com objectivos claros e concisos(2) uma metodologia praacutetica e realista (3)monitorizaccedilatildeo contiacutenua (4) forte aposta nosprogramas de educaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo ambiental e(5) envolvimento da comunidade local no processode planeamento e tomada de decisotildees

Sendo a Ria Formosa um sistema muito dinacircmicocom elevada vulnerabilidade e que reage rapidamentea elevaccedilotildees do niacutevel do mar os muacuteltiplos interesseseconoacutemicos e sociais aiacute existentes fazem com que aaacuterea seja caracterizada por elevado grau de conflitosde interesses A situaccedilatildeo torna-se ainda mais complexaquando se considera que o sistema corresponde a umParque Natural onde haacute que compatibilizar interesseseconoacutemicos com a conservaccedilatildeo da Natureza Nestecontexto soacute eacute possiacutevel proceder agrave conservaccedilatildeo daNatureza atraveacutes de intervenccedilotildees tendentes a minoraros impactes negativos induzidos pelas actividadesantroacutepicas (Ramos amp Dias 2000)

De acordo com as actividades desenvolvidas osprincipais grupos de interesse na Ria Formosa satildeo(1) o PNRFICNB (2) a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeoe Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR-Algarve) (3) as entidades promotoras do turismo (4)as associaccedilotildees comerciais e industriais (incluindo oporto) (5) os pescadores e autoridades responsaacuteveis

por este sector (6) as entidades regionais e locais (7)as associaccedilotildees de defesa do ambiente e osambientalistas e (8) a populaccedilatildeo local incluindoresidentes e natildeo residentes Como sugere Antunes etal (2006) o entendimento entre os diferentes gruposconduz a uma sinergia que beneficia as potencialidadesque contribuem para uma gestatildeo eficaz

Os principais problemas das ilhas-barreira estatildeolocalizados nos nuacutecleos urbanos devido agraves estruturasedificadas Dos principais nuacutecleos existentes apenasos de Hangares e Culatra natildeo tecircm problemas erosatildeocosteira pois que se localizam junto agrave parte lagunar(e consequentemente afastados da praia oceacircnica eportanto resguardados dos temporais) Os restantespoacutelos de ocupaccedilatildeo (Praia de Faro Farol etc) satildeoproblemaacuteticos sendo os riscos de inundaccedilatildeo e erosatildeobastante elevados Para resolver estes problemasexistem fundamentalmente trecircs estrateacutegias deintervenccedilatildeo (1) intervenccedilatildeo riacutegida (ex esporotildeesparedotildees) (2) retirada estrateacutegica programas natildeoestruturais (ex demoliccedilatildeo de infra-estruturas) e (3)intervenccedilatildeo suave (ex realimentaccedilatildeo de praias) (Pilkeyamp Dixon 1996) Qualquer uma destas estrateacutegias temproacutes e contras sendo praticamente impossiacutevel quequalquer uma delas satisfaccedila todos os grupos deinteresse afectados

Intervenccedilatildeo riacutegidaAteacute haacute poucas deacutecadas em todo o mundo a

construccedilatildeo de estruturas riacutegidas e permanentesconstituiu o meacutetodo mais utilizado de protecccedilatildeo dopatrimoacutenio edificado no litoral Embora estasestruturas se revelem eficazes na defesa de imobiliaacuterioem risco de ser danificado pela erosatildeo costeiraprovocam fortes impactes negativos a sotamar dolocal onde satildeo construiacutedas (Inman 1978 Mangor1998 Greene 2002) pelo que internacionalmente severifica tendecircncia para adoptar outros tipos deprotecccedilatildeo ambientalmente menos agressivos

A construccedilatildeo dos molhes da marina de Vilamourae do campo de esporotildees de Quarteira provocou forteaumento da erosatildeo a oriente e consequentementegraves problemas de gestatildeo Por outro lado a aberturae fixaccedilatildeo das barras de Faro-Olhatildeo e de Tavira parapropiciar melhor funcionamento das estruturasportuaacuterias existentes no meio lagunar econsequentemente beneficiar as actividades socio-econoacutemicas da regiatildeo provocaram grandes alteraccedilotildees

72

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

no sistema fazendo com que o seu funcionamentonatural tivesse entrado em ruptura e que a erosatildeocosteira tivesse sido fortemente amplificada a sotamarComo se veraacute na parte dedicada agraves intervenccedilotildeessuaves a utilizaccedilatildeo de teacutecnicas de transposiccedilatildeo dosmolhes (ldquoby-passingrdquo) permitiria reduzirsubstancialmente alguns destes impactes negativos

A construccedilatildeo de mais estruturas riacutegidas na RiaFormosa (ou a barlamar desta) traduzir-se-ia numaforte amplificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico em queo sistema jaacute se encontra tendendo a meacutedio ndash longoprazo para a completa artificializaccedilatildeo da Ria Formosaconsignada por legislaccedilatildeo nacional como ParqueNatural e reconhecida internacionalmente comoimportante aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental

Retirada estrateacutegica Programas natildeo estruturaisOs programas natildeo estruturais satildeo intervenccedilotildees em

que se procede agrave demoliccedilatildeo de infra-estruturasameaccediladas pela erosatildeo costeira ou transferecircncia dasmesmas para locais mais seguros o que eacute tambeacutemconhecido como ldquoretirada estrateacutegicardquo Viabiliza-seassim a evoluccedilatildeo natural dos sistemas Com amigraccedilatildeo das ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continentecomo resposta agrave elevaccedilatildeo do NMM este tipo deintervenccedilatildeo comeccedilou por ser aplicado em algunslocais da costa Leste dos EUA em 1972 (NRC 1995)A deslocalizaccedilatildeo de infra-estruturas pode ser eficazem locais pouco povoados ou quando existe interessena salvaguarda de patrimoacutenio como aconteceu como farol do Cabo Hatteras nos EUA No entantotorna-se impraticaacutevel em grandes nuacutecleos urbanosdevido aos elevados custos e dificuldades logiacutesticas

Na Ria Formosa este tipo de intervenccedilatildeo temencontrado grandes dificuldades de execuccedilatildeodesignadamente no que se refere agrave demoliccedilatildeo de casasconstruiacutedas ilegalmente em Domiacutenio Hiacutedrico Domiacutenio Puacuteblico Mariacutetimo o que aleacutem de tender aperpetuar situaccedilotildees de muito alto risco potildee em causaa imagem do Paiacutes como Estado de direito (Dias 2002)

Intervenccedilatildeo SuaveA intervenccedilatildeo suave tambeacutem designada por

protecccedilatildeo dinacircmica desde haacute algumas deacutecadas que eacuteutilizada preferencialmente como alternativa agravesteacutecnicas de intervenccedilatildeo riacutegida Apresentam menoresimpactes ambientais sendo uma soluccedilatildeo maisapropriada para aacutereas sensiacuteveis como as ilhas-barreira

As teacutecnicas de protecccedilatildeo suave tais como arealimentaccedilatildeo de praias a reconstruccedilatildeo dunar atransposiccedilatildeo de molhes (by-passing) a abertura debarras (para as deixar evoluir naturalmente) e asldquodragagens ecoloacutegicasrdquo correspondem em geral auma intervenccedilatildeo inicial deixando depois a Naturezaldquotrabalharrdquo Por essa razatildeo estas teacutecnicas satildeo tambeacutemfrequentemente designadas por ldquobuilding with NaturerdquoSatildeo com frequecircncia menos dispendiosas e maiseficientes a longo prazo do que as intervenccedilotildees riacutegidas(Koster amp Hillen 1995 Griggs 1999 Dias et al 2003)

Poreacutem estas teacutecnicas tecircm que ser executadas comforte suporte cientiacutefico e devem envolver o conceitode protecccedilatildeo de trechos costeiros na sua globalidadee natildeo apenas a protecccedilatildeo local de patrimoacutenio edificadoem zonas de risco Se forem concretizadas de formadeficiente podem mesmo revelar-secontraproducentes Eacute o que se passa por exemploquando a realimentaccedilatildeo de praias eacute efectuada comareias extraiacutedas da praia submersa (acima daprofundidade de fecho) nestes casos nenhumsedimento eacute adicionado ao sistema (Wells amp McNinch1991) havendo apenas transferecircncias dentro dosistema com consequecircncias negativas para o seufuncionamento natural tanto ao niacutevel morfodinacircmicocomo bioloacutegico

Desde 1996 que o PNRFICN tem realizadointervenccedilotildees de caraacutecter suave na tentativa demelhorar o funcionamento do sistema e diminuir avulnerabilidade ao galgamento e ao mesmo tempomanter a dinacircmica dos processos naturais (Dias et al2004) Entre as intervenccedilotildees efectuadas procedeu-seao robustecimento da Peniacutensula de Cacela agrave aberturadas Barras do Ancatildeo e da Fuzeta (deixando-as deseguida evoluir naturalmente) agrave dragagem de muitoscanais que natildeo satildeo de navegaccedilatildeo para melhorar acirculaccedilatildeo no sistema agrave repulsatildeo de sedimentos parao cordatildeo arenoso agrave colocaccedilatildeo de paliccediladas parareconstruccedilatildeo dunar agrave plantaccedilatildeo de Ammophila arenariae agrave construccedilatildeo de passadiccedilos sobrelevados

Segundo Dias et al (2003) as intervenccedilotildees suavesrealizadas na Ria Formosa propiciaram melhorprotecccedilatildeo das ilhas-barreira tendo-se em geralatingido os objectivos esperados Os mesmos autoresreferem que os sistemas naturais de elevadaimportacircncia soacutecio-econoacutemica e ambiental (como aRia Formosa) podem ser geridos utilizando este tipo

73

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

de teacutecnicas lucrando com o aproveitamento dosrecursos existentes

A transposiccedilatildeo (by-passing) dos molhes das barrasartificiais meacutetodo utilizado desde haacute muito um poucopor todo o mundo permitiria que as areias retidaspelos molhes a barlamar fosse transferido parasotamar aiacute reconstituindo a deriva litoral econsequentemente minimizando alguns dos impactesnegativos induzidos por estas estruturas Vaacuteriosestudos que demonstram que esta tecnologia natildeoaparenta ter efeitos ambientais negativos associados(eg Lindeman 1997 in Greene 2002)

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Com vista a avaliar a vulnerabilidade das ilhas-barreira da Ria Formosa o presente trabalho incidiuna actualizaccedilatildeo desta problemaacutetica na oacuteptica da gestatildeouma vez que se trata de um sistema em permanentetransformaccedilatildeo Nesta anaacutelise eacute imprescindiacutevel tersempre em consideraccedilatildeo que o sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa estaacute consignado legalmentecomo aacuterea de protecccedilatildeo ambiental desde 1978 anoem que lhe foi atribuiacutedo o estatuto de Reserva Naturaltendo ficado protegido pelo estatuto de ParqueNatural em 1987 (Decreto-lei 37387) e Rede Natura2000 tendo ainda sido integrado desde 1980 na Listade Siacutetios da Convenccedilatildeo de Ramsar (zonas huacutemidasde importacircncia internacional)

Da anaacutelise efectuada conclui-se que eacuteimprescindiacutevel compatibilizar os diversificados valoresnaturais (bioloacutegicos geomorfoloacutegicos fiacutesico-quiacutemicos geoloacutegicos etc) intriacutensecos ao sistema comos muacuteltiplos interesses soacutecio-econoacutemicos decorrentesda sua exploraccedilatildeo (pesca maricultura aquaculturaturismo portos comerciais e de pesca navegaccedilatildeo derecreio etc) Estando influenciado por fortesimpactes antroacutepicos directos e indirectos tais comoentre muitos outros a erosatildeo costeira e a intensificaccedilatildeodo assoreamento lagunar a sobrevivecircncia do sistemaldquonaturalrdquo e a sustentabilidade da sua exploraccedilatildeocarecem de intervenccedilotildees correctivas frequentes porforma a minimizar os impactes negativos aludidosTais intervenccedilotildees teratildeo que ser cautelosas e contiacutenuastentando o mais possiacutevel aproximar-se do que seriaa dinacircmica natural do sistema

Eacute ainda urgente resolver vaacuterios conflitos deinteresses existentes privilegiando as actividades

indutoras de menores impactes negativos e quesimultaneamente viabilizem uma melhor exploraccedilatildeosustentaacutevel do sistema Aponta-se a tiacutetuloexemplificativo o caso do turismo haacute quedesincentivar o turismo de massas directo nesta aacuterea(ateacute porque nas proximidades haacute poacutelos turiacutesticos destegeacutenero bem consolidados) desenvolvendo emalternativa outros tipos de turismo complementardesignadamente o turismo de Natureza a observaccedilatildeode aves (bird watching) e de peixes (fish watching) emambiente natural os passeios no meio lagunar emembarcaccedilotildees natildeo poluentes o turismo gastronoacutemicoetc

A maior parte da zona de barreira do sistema natildeoestaacute ainda ocupado por estruturas imobiliaacuterias Comvista agrave exploraccedilatildeo sustentaacutevel do sistema eacuteimprescindiacutevel que estas zonas continuem semocupaccedilatildeo permanente mantendo algumascaracteriacutesticas pristinas ainda aiacute existentes Nos poucosnuacutecleos urbanos piscatoacuterios existentes cujo casoparadigmaacutetico eacute a povoaccedilatildeo da Culatra onde natildeoexistem problemas realmente graves pois que selocalizam na margem lagunar (relativamente afastadado litoral oceacircnico) devem-se adoptar algumasmedidas correctivas pontuais por forma a preservara sua identidade cultural a melhorar a qualidade devida da populaccedilatildeo e a impedir um crescimentoexagerado Nos restantes nuacutecleos urbanos comcaracteriacutesticas ldquoturiacutesticasrdquo vaacuterios dos quais localizadosnas zonas de maior risco do sistema seria altamentedesejaacutevel que se procedesse agrave completa reformulaccedilatildeoda ocupaccedilatildeo ou sempre que possiacutevel se optasse peladesocupaccedilatildeo

No sentido de tentar resolver os problemas deerosatildeo costeira existentes (que se agravaratildeo no futuro)recomenda-se vivamente que a) natildeo se construamobras de protecccedilatildeo riacutegida (esporotildees paredotildees etc)na Ria Formosa nem na zona a barlamar desta daqual o sistema depende b) se continuem a executaracccedilotildees de robustecimento do cordatildeo dunar e decolmataccedilatildeo dos cortes de galgamento utilizando tantoquanto possiacutevel sedimentos provenientes dadragagem dos canais de navegaccedilatildeo c) se implementea transposiccedilatildeo dos molhes portuaacuterios com relevacircnciaespecial para os molhes da Barra de Faro-Olhatildeo d)efectivamente se proceda agrave demoliccedilatildeo das edificaccedilotildeessituadas em zonas de maior risco e sobre a duna

74

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

primaacuteria concretizando finalmente decisotildeesgovernamentais que tecircm vindo a ser repetidamentetomadas haacute quase trecircs deacutecadas mas nunca executadascabalmente e) sejam amplificadas as acccedilotildees deintervenccedilatildeo e protecccedilatildeo dinacircmica na linha do que severificou desde finais do seacuteculo passado (abertura debarras quando necessaacuterio para as deixar evoluirnaturalmente dragagens ldquoecoloacutegicasrdquo etc) e quetransformaram a Ria Formosa num siacutetio de referecircnciainternacional nesta mateacuteria e que nos uacuteltimos anosapenas tecircm sido executadas de forma extremamentemoderada

Finalmente eacute altamente recomendaacutevel que emtodos os actos de gestatildeo envolvendo quer ascomponentes geomorfoloacutegicas quer as ecoloacutegicasquer as soacutecio-econoacutemicas se tenham sempre emconsideraccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas principalmenteno que se refere agrave elevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar

BIBLIOGRAFIA

Andrade CF (1990a) - O Ambiente de barreira da RiaFormosa Algarve ndash Portugal Dissertaccedilatildeo deDoutoramento 645p Universidade de LisboaPortugal (natildeo publicado)

Andrade CF (1990b) - Estudo da susceptibilidadeao galgamento da Ria Formosa Geolis IV(1-2)69-76 Lisboa Portugal

Andrade CF Barata A amp Teles M (1998) - Ananalysis of the vulnerability to overwash of theRia Formosa barrier island system (Portugal)Using a simple multi-attribute technique (SMART)approach Proceedings of Littoralrsquo98 Conferencepp511-519 Barcelona Espanha

Andrade CF Freitas MC Moreno J amp CraveiroSC (2004) - Stratigraphical evidence of LateHolocene barrier breaching and extreme stormsin lagoonal sediments of Ria Formosa AlgarvePortugal Marine Geology 210339ndash362(doi101016jmargeo200405016)

Antunes P Santos R amp Videira N (2006) -Participatory decision making for sustainabledevelopment - the use of mediated modellingtechniques Land Use Policy 2344ndash52(doi101016jlandusepol200408014)

Bernardo P Bastos R amp Dias JA (2002) - Historicroots for barrier island occupation in the RiaFormosa Littoral 2002 Porto 4 p (disponiacutevel em

httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI02_Lit_91_PBpdf)

Bettencourt P (1985) - Geomorphologie et processusdlsquoeacutevolution reacutecente de la cocircte sotavento (Algarve ndash SudPortugal) Thegravese DEA 92p Universiteacute deBordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Bettencourt P (1994) - Les environnements sedimentairesde la cocircte sotavento (Algarve SudPortugal) et leur eacutevolutionHoloceacutene et actuelle PhD Thesis University ofBordeaux I Franccedila (unfinished)

Bray Jr T amp Carter C (1992) - Physical processesand sedimentary record of a moderntransgressive lacustrine barrier island MarineGeology 105(1-4)155-168 (doi 1010160025-3227(92)90187-M)

Correia F Dias JA Boski T amp Ferreira Oacute (1996)- The retreat of the Eastern Quarteira cliffed coast(Portugal) and its possible causes In Jones PSHealy MG amp Williams AT (eds) Studies inCoastal Management p129-136 Samara PublLtd Cardigan UK (disponiacutevel emht tp w3 u a l g p t j d i a s JA D pape r s CLinternac96_Studies_129_FCpdf)

Correia F Ferreira Oacute amp Dias JA (1997) - Contributodas arribas para o balanccedilo sedimentar do sectorcosteiro Quarteira - Vale do Lobo (Algarve -Portugal) Seminaacuterio sobre a zona costeira doAlgarve 31-39 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_031_FCpdf)

Costa CL (1994) - Final report of sub-project A ldquoWindwave climatology of the Portuguese coastrdquo InstitutoHidrograacutefico Report PO-WAVES 694-A 80 pLisboa Portugal (natildeo publicado)

Dias JA (1988) - Aspectos geoloacutegicos do litoralalgarvio Geonovas 10 113-128 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN88_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (1990) - A Evoluccedilatildeo Actual do LitoralPortuguecircs Geonovas 11 15-29 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN90_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (2002) - Manual de Sobrevivecircncia eVilanagem Diaacuterio de Notiacutecias - SuplementoldquoAmbiente e Desenvolvimento Sustentaacutevelrdquo 30de Julho de 2002 Lisboa Portugal (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersxCS02_DNADpdf)

75

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Dias JA Ferreira Oacute Matias A Vila-Concejo Aamp Saacute-Pires C (2003) - Evaluation of softprotection techniques in barrier islands bymonitoring programs case studies from RiaFormosa (Algarve-Portugal) Journal of CoastalResearch SI35117-131

Dias JA Ferreira Oacute amp Moura D (2004) - O sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa 3ordm SIPRES ndashSimpoacutesio Interdisciplinar sobre Processos Estuarinos 18p Faro Portugal

Dias JA amp Neal WJ (1992) - Sea cliff retreat insouthern Portugal profiles processes andproblems Journal of Coastal Research 8641-654

Dias JA amp Taborda R (1992) - Tidal gauge data indeducing secular trends of relative sea level andcrustal movements in Portugal Journal of CoastalResearch 8655-659

Dias JA Teixeira SB amp Ferreira Oacute (1997) - LivroGuia da Excursatildeo Seminaacuterio sobre a Zona Costeirado Algarve 43 p Faro Portugal

Douglas BC (1995) - Global sea level changedetermination and interpretation US NationalReport to IUGG 1991-1994 Geophys 33 Suppl11 p (disponiacutevel em httpwwwaguorgrevgeophysdougla01dougla01html)

Duarte C Matias A Dias JA amp Ferreira Oacute (1999)- Vulnerabilidade dos corpos dunares do Algarve10ordm Congresso do Algarve 477-490 (disponiacutevelem httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN99_10CA_477_CDpdf)

Esaguy AS (1984) - Ria de Faro Barra da ArmonaEvoluccedilatildeo 1873-1983 5 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1986a) - Ria de Faro Barra de Faro-OlhatildeoEvoluccedilatildeo 1955ndash1985 10p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986b) - Ria de Faro Ilha de TaviraEvoluccedilatildeo 1950ndash1985 8 p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986c) - Ria de Faro Ilha do AncatildeoEvoluccedilatildeo 1950-1985 7 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1987) - Ria de Faro Barra de TaviraEvoluccedilatildeo 13 p Direcccedilatildeo Geral de Portos LisboaPortugal

Ferreira Oacute Dias JA amp Taborda R (2008) -Implications of sea-level rise for Portugal Journal

of Coastal Research 24(2)317-324 (doi 10211207A-00061)

Ferreira Oacute Garcia T Matias A Taborda Ramp DiasJA (2006) - An integrated method for thedetermination of set-back lines for coastal erosionhazards on sandy shores Continental ShelfResearch 261030ndash1044 (doi 101016jcsr200512016)

Ferreira Oacute Martins JC amp Dias JA (1997) -Morfodinacircmica e vulnerabilidade da Praia de FaroSeminaacuterio sobre a zona costeira do Algarve 67-76 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_067_OFpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias Aamp Dias JA (2002)- Recent evolution of Culatra Island (Algarve ndashPortugal) Littoral 2002 The Changing Coast 289-294 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers02_LitTGpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2005)ndash Coastal Hazards Representation for Praia doBarril (Algarve Portugal) Continental ShelfResearch SI4928-33

Granja H (1984) - Eacutetude geacuteomor phologiquesedimentoloacutegique et geacuteoquimique de la Ria Formosa(Algarve-Portugal) These 3eme Cycle 254 pUniversiteacute de Bordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Greene K (2002) - Beach nourishment a review ofthe biological and physical impacts 174 p AtlanticStates Marine Fisheries Commission WashingtonDC (disponiacutevel em httpwwwasmfcorgpublicationshabitatbeachNourishmentpdf)

Griggs GB (1999) - The protection of Californialsquoscoast past present and future Shore amp Beach67(1)18-28

Hoyt JH (1967) - Barrier Island FormationGeological Society of America Bulletin 781125-1136 (doi 1011300016-7606(1967)78[1125BIF]20CO2)

Inman D (1978) - The impact of coastal structureson shorelines Proceedings of Coastal Zoneacute78 ASCE2265-2272

Koster MJ amp Hillen R (1995) - Combat erosion bylaw Coastal defence policy for the NetherlandsJournal of Coastal Research 67(2-3)43-49

Leatherman S (1976) - Barrier islands dynamicsoverwash processes and aeolian transportProceedings of Coastal Engineering Conference ASCE1958-1973

76

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Mangor K (1998) - Coastal restorationconsiderations Proceedings of Coastal Engineeringrsquo98Conference ASCE 3425-3438

Marcelo MJ amp Fonseca LC (1998) - Ria Formosada gestatildeo e conservaccedilatildeo de uma aacuterea protegidaRevista de Biologia 2ordm ENEC 16(1-4)125-133

Martins JT Ferreira Oacute Ciavola Pamp Dias JA (1996)- Monitoring of profile changes at Praia de FaroAlgarve a tool to predict and solve problems InTaussik J amp Mitchell J (eds) Partnership in CoastalZone Management pp 615-622 Samara Publ LtdCardigan UK

Matias A (2000) - Estudo morfosedimentar da Peniacutensulade Cacela Dissertaccedilatildeo de Mestrado 244pUniversidade do Algarve Faro Portugal (natildeopublicado)

Matias A Dias JA Williams AT amp Ferreira Oacute(1997) - Vulnerabilidade das dunas da RiaFormosa 9ordm Congresso do Algarve 231-239Vilamoura Portugal

Matias A Ferreira Oacute amp Dias JA (1999) -Preliminary results on the Cacela Peninsula dunereplenishment Boletiacuten del Instituto Espantildeol deOceanografiacutea 15(1-4)283-288 (disponiacutevel emhttpwwwieoespublicacionesboletinpdfsbol1515_283-288PDF)

Matias A Ferreira Oacute Dias JA amp Vila-Concejo A(2004) - Development of indices for the evaluationof dune recovery techniques Coastal Engineering51261-276 (doi 101016jcoastaleng200402002)

Matias A Ferreira Oacute Mendes I amp Dias JA (1998)- Monitorizaccedilatildeo da alimentaccedilatildeo artificial daPeniacutensula de Cacela Seminaacuterio sobre DragagensDragados e Ambientes Costeiros 47-56

Matias A Ferreira Oacute Mendes I Dias JA amp Vila-Cconcejo A (2005) - Artificial construction ofdunes in the South of Portugal Journal of CoastalResearch 21(3)472-481 (doi 10211203-00471)

Matias A Vila-Concejo A Ferreira Oacute amp Dias JA(2003) - Field measurements of morphologicvariations during an overwash event 4ordm Simpoacutesiosobre a Margem Ibeacuterica Atlacircntica Thalassas19(2b)164-165 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI03_4SM_b164_AMpdf)

NRC - National Research Council (1995) - Beach

Nourishment and Protection 334 p Washington DCNational Academy Press (ISBN 9780309052900)

Pacheco A Carrasco AR Vila-Concejo A FerreiraOacute amp Dias JA (2007) - A coastal managementprogram for channels located in backbarriersystems Ocean amp Coastal Management 50119-143 (doi101016jocecoaman200608008)

Pilkey OH amp Dixon K (1996) - The Corps and theShore 286p Island Press Washington DC USA(ISBN 9781559634380)

Pilkey OH Neal WJ Monteiro JH amp Dias JA(1989) - Algarve Barrier Islands A Noncoastal-Plain System in Portugal Journal of Coastal Research5(2)239-261

Ramos L amp Dias J A (2000) - Atenuaccedilatildeo davulnerabilidade a galgamentos oceacircnicos nosistema da Ria Formosa mediante intervenccedilotildeessuaves 3ordm Simpoacutesio sobre a Margem ContinentalIbeacuterica Atlacircntica Faro 361-362 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers00_SMLRpdf)

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2001)- Avaliaccedilatildeo de realimentaccedilotildees artificiais de praiasda Ria Formosa Casos das ilhas de Cacela e deTavira Congresso do Algarve 2001 8 p

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2002)- Preliminary Evaluation of the MorphologicalEvolution of Contrasting Beaches of the RiaFormosa With Relation to Differences inRefracted Wave Height Littoral 2002 TheChanging Coast 423-429 (disponiacutevel emht tp www2 00 8 i o -war nemu ende dehomepagesschernewskiLittoral2000docsvol3Littoral2002_79pdf)

Scheele RJ amp Westen CJ (1996) - Planning for acoastal policy - the 3A4 approach In Taussik Jamp Mitchell J (eds) Partnership in Coastal ZoneManagement pp 65-71 Samara Publ LtdCardigan UK

Sprung M (1994) - Macrobenthic secondaryproduction in the intertidal zone of Ria Formosaa lagoon in southern Portugal Estuarine Coastaland Shelf Science 38539ndash558 (doi 101006ecss19941037)

Van Den Belt M Videira N Antunes P Santos Ramp Gamito S (2000) - Modelaccedilatildeo Participada na RiaFormosa 36 p Ediccedilatildeo Fundaccedilatildeo do Mar LisboaPortugal

77

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Vila A Dias JMA Ferreira Oacute amp Matias A (1999)- Natural evolution of an artificial inlet CoastalSedimentslsquo99 21478-1488 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI99_CS99_1478_AVpdf)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Ciavola P Matias Aamp Dias JA (2004a) - Tracer studies on the updriftmargin of a complex inlet system Marine Geology20843-72 (doi 101016jmargeo200404020)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA(2003) - The first two years of an inlet sedimentarydynamics Continental Shelf Research 231425-1445 (doi 101016S0278-4343(03)00142-0)

Vila-Concejo A Matias A Ferreira Oacute Duarte Camp Dias JA (2002) - Recent evolution of thenatural inlets of a barrier island system in southernPortugal Journal of Coastal Research (ICS 2002proceedings) SI36741-752

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Morris BD MatiasA amp Dias JA (2004b) ndash Lessons from inletrelocation examples from Southern PortugalCoastal Engineering 51(10)967-990(doi101016jcoastaleng200407019)

Vila-Concejo A Matias A Pacheco A FerreiraOacute amp Dias JA (2006) - Quantification of inlet-related hazards in barrier island systems Anexample from the Ria Formosa (Portugal)Continental Shelf Research 261045-1060(doi 101016jcsr200512014)

Weinholtz MB (1978) - Contribuiccedilatildeo para o estudo daevoluccedilatildeo das flechas de areia na costa sotavento do Algarve(Ria de Faro) Relatoacuterio da Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Wells JT amp McNinch J (1991) - Beach scraping inNorth Carolina with special reference to itseffectiveness during Hurricane Hugo Journal ofCoastal Research SI8249-261

Williams SJ (2001) - Coastal erosion and land lossaround the United States strategies to manage andprotect coastal resources ndash examples fromLouisiana Coastal Ecosystems and FederalActivities Technical Training SymposiumProceedings 15 p (disponiacutevel emhttpwwwfwsgovnc-esecoconfwilliamspaperpdf)

Page 8: Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na

64

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

com baixa eficiecircncia hidraacuteulica No sentido de ampliaressa eficiecircncia e proteger os interesses nesta zonaprocedeu-se agrave abertura artificial de uma nova barra(23 Junho de 1997) a cerca de 35km a W da posiccedilatildeoanterior e imediatamente a oriente das uacuteltimas casasda Praia de Faro permitindo a esta migrar novamenteno sentido nascente (Vila et al 1999) A forma e aposiccedilatildeo da nova barra natildeo foram baseadas em estudosaprofundados mas no conhecimento empiacuterico dasituaccedilatildeo (Dias et al 2003) Estudos recentes sobre aevoluccedilatildeo e dinacircmica da barra desde a sua aberturaartificial (eg Vila-Concejo et al 2002 2003 2004a2006) permitem concluir que bastaram dois anos paraque se atingisse o estado de equiliacutebrio e comeccedilasse aevoluir e a migrar naturalmente o que confirma osucesso desta intervenccedilatildeo que foi das primeiras a niacutevelmundial

34 Ilha da Barreta

A Ilha da Barreta tem um comprimento de cercade 8km e largura entre 70 e 700m (Fig2) Existempoucos estudos publicados que focam esta ilha umavez que eacute uma zona menos acessiacutevel com baixaocupaccedilatildeo antroacutepica e consequentemente menosproblemaacutetica

A parte ocidental eacute estreita de baixa elevaccedilatildeo compouca vegetaccedilatildeo e vulneraacutevel a galgamentos Narealidade corresponde agrave parte oriental da zona demigraccedilatildeo da Barra do Ancatildeo Apresenta umamorfodinacircmica semelhante agrave Peniacutensula do Ancatildeo(Pilkey et al 1989 Bettencourt 1994) e um uacutenicocordatildeo dunar com cerca de 7m de altura (Vila-Concejoet al 2006)

A complexidade deste sector aumenta de ocidentepara oriente onde a ilha jaacute apresenta um campo dunarlargo e bem vegetado Existem dois pequenosaglomerados de casas de pescadores e de apoio agrave praialocalizados na parte interna junto agrave laguna e agrave BarraFaro-Olhatildeo respectivamente

A metade oriental da ilha eacute a uacutenica que apresentaum comportamento regressivo (Vila et al 1999)proporcionando o crescimento do cordatildeo dunarfrontal (Duarte et al 1999) Este comportamento foiconsequecircncia da construccedilatildeo dos molhes da barraartificial de Faro-Olhatildeo entre 1929 e 1955 (Esaguy1986a) que interromperam a deriva litoral econsequentemente induziram a barlamar (junto ao

molhe W localizado no extremo oriental da ilha) umaacumulaccedilatildeo arenosa notaacutevel

35 Barra Faro-Olhatildeo

A Barra Faro-Olhatildeo que separa as ilhas da Barretae da Culatra foi artificialmente aberta e estabilizadapor molhes entre 1929 e 1955 num local onde existiajaacute uma barra (Barra do Bispo) relativamente larga masbastante instaacutevel (Esaguy 1986a) (Fig2) O objectivoda abertura foi o de assegurar a navegabilidade aocanal de acesso que conduz ao porto comercial deFaro bem como agraves localidades de Faro e Olhatildeo Estaintervenccedilatildeo induziu grande alargamento da parteoriental da Ilha da Barreta a barlamar e erosatildeobastante significativa da parte ocidental da Ilha daCulatra a sotamar bem como modificaccedilotildeesimportantes no comportamento hidrodinacircmicolagunar (Vila-Concejo et al 2006) Veio retirareficiecircncia hidraacuteulica agrave Barra da Armona que era abarra principal do sistema em consequecircncia do quese verificou grande estreitamento desta sendoactualmente a sua eficaacutecia extremamente reduzida

O canal da barra de Faro-Olhatildeo projectado paramanter cotas entre 4 a 45m abaixo do zerohidrograacutefico (Weinholtz 1978) foi progressivamenteficando mais fundo ateacute atingir profundidades naordem dos 40m em 2001 assim aumentando a secccedilatildeode escoamento Consequentemente surgiramproblemas de seguranccedila no que respeita agrave navegaccedilatildeodevido agraves fortes correntes de vazante e de enchente ea graves danos nos troccedilos terminais dos molhes

A abertura da barra e a construccedilatildeo dos molhesalteraram a circulaccedilatildeo hiacutedrica e os balanccedilossedimentares nesta zona do sistema A Barra Faro-Olhatildeo eacute a grande responsaacutevel pela importaccedilatildeo desedimentos para o sistema lagunar A entrada de140000m3ano de sedimentos (Pacheco et al 2007)poderaacute estar relacionada com as intensas dragagensefectuadas no canal de navegaccedilatildeo no interior dosistema recomendando-se que sejam apenasrealizadas de modo a manter as condiccedilotildees denavegabilidade

36 Ilha da Culatra

A Ilha da Culatra tem aproximadamente 7km decomprimento estando a ocupaccedilatildeo humanaconcentrada em trecircs povoaccedilotildees (Farol Hangares e

65

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Culatra) que soacute podem ser atingidas por barco (Fig4)A evoluccedilatildeo recente da ilha e das barras que a limitamfoi alvo de estudo de diversos autores (eg Granja1984 Esaguy 1984 1986a Dias 1988 Pilkey et al1989 Andrade 1990a Garcia et al 2002 Vila-Concejoet al 2002) Eacute consensual que os molhes da BarraFaro-Olhatildeo foram responsaacuteveis por uma profundaalteraccedilatildeo da hidrodinacircmica do sistema e alteraccedilotildeessignificativas na Ilha da Culatra Segundo Garcia et al(2002) as principais consequecircncias foram ocrescimento muito raacutepido para oriente da ilha e aampliaccedilatildeo do recuo da linha de costa na zonaocidental

A linha de costa da extremidade ocidental da ilhaonde se localiza a povoaccedilatildeo do Farol estaacutecompletamente artificializada (molhe oriental da barraenrocamento longitudinal construiacutedo para protecccedilatildeodas edificaccedilotildees e estabilizaccedilatildeo da linha de costa e umesporatildeo no limite oriental da povoaccedilatildeo) Neste sectora ilha eacute relativamente estreita com uma duna de decliveacentuado paralela agrave linha de costa evidenciandocarecircncia de sedimentos (Garcia et al 2002) o que setorna problemaacutetico pois que esta zona se encontraintensamente ocupada

A morfologia do sector central reflecte aalternacircncia de cordotildees dunares e canais de mareacute Naprimeira metade do seacuteculo XX a margem ocidentalda barra da Armona (que era a principal do sistema)localizava-se junto agrave povoaccedilatildeo da Culatra tendo aiacutesido construiacutedas as instalaccedilotildees do Instituto deSocorros a Naacuteufragos onde estava sedeado o botesalva-vidas Estas instalaccedilotildees haacute muito que perderampor completo a sua funcionalidade estandoactualmente convertidas num Centro Social dapovoaccedilatildeo A ocupaccedilatildeo apenas ocorre na margemlagunar da ilha e consequentemente natildeo estaacute sujeitaa problemas significativos de erosatildeo costeira

O sector oriental que se constituiu essencialmentea partir de meados do seacuteculo XX eacute despovoado Estecrescimento da ilha estaacute provavelmente relacionadocom a modificaccedilatildeo da hidrodinacircmica do sistemadevido agrave construccedilatildeo da Barra de Faro-OlhatildeoApresenta corpo dunar pouco desenvolvido e elevadasusceptibilidade a galgamentos (Andrade et al 1998Garcia et al 2002 Vila-Concejo et al 2006)

37 Barra da Armona

A Barra da Armona que separa as ilhas da Culatra

Figura 4 ndash Panoracircmica da Ilha da Culatra e Barra de Faro-Olhatildeo vista de Oeste na foto satildeo visiacuteveis as povoaccedilotildeesdo Farol Hangares e Culatra (fotografia obtida em Novembro de 2006 pelo autor)Figure 4 ndash Oblique aerial photo from West of the Culatra Island and Faro-Olhatildeo Inlet showing the Farol Hangares andCulatra communities (photo by author in November 2006)

66

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

e da Armona eacute considerada a uacutenica barra estaacutevel dosistema em termos de localizaccedilatildeo (Pilkey et al 1989)e a que apresenta o delta de vazante mais desenvolvido(Dias et al 1997) (Fig2) Era a principal barra dosistema mas o crescimento da ilha da Culatra temprovocado o seu estreitamento progressivo Entre1873 e 1983 a barra estreitou cerca de 2500mpassando de uma largura de 4300m para 1850m(Esaguy 1984) A maior taxa de estreitamento entre1950 e 1977 estaacute provavelmente relacionada com aconclusatildeo da abertura da Barra de Faro-Olhatildeo (Vila-Concejo et al 2002) Na actualidade apresenta umalargura de cerca de 200m

38 Ilha da Armona

A Ilha da Armona tem comprimento aproximadode 9km e largura maacutexima de cerca de 1400m naextremidade SW (Fig2) A parte ocidental apresentaum longo cordatildeo dunar frontal de 8 a 9m A deposiccedilatildeode sedimento a ocidente eacute um fenoacutemeno uacutenico emtodo o sistema da Ria Formosa (Pilkey et al 1989) econtribui para o estreitamento da Barra da ArmonaA parte oriental apresenta um cordatildeo dunar poucodesenvolvido e elevada susceptibilidade ao galgamento(Andrade et al 1998)

Na zona mais larga a ocidente encontra-se apovoaccedilatildeo da Armona Progressivamente a largura dailha vai diminuindo para oriente sendo o cordatildeo dunarrobusto e bem vegetado ateacute agrave zona fronteira agravepovoaccedilatildeo da Fuzeta (Fig1)

Nesta zona bastante estreita e sujeita agalgamentos oceacircnicos onde se localizava a Barra daFuzeta em meados do seacuteculo XX encontra-se umconjunto de casas (construiacutedas ilegalmente) comutilizaccedilatildeo natildeo permanente Ramos amp Dias (2000)apontam esta ocupaccedilatildeo como um dos casos maiscriacuteticos do sistema por se localizar numa zona comelevada vulnerabilidade ao galgamento

39 Barra da Fuzeta

A Barra da Fuzeta que separa as ilhas da Armonae de Tavira tem actualmente cerca de 250m de largura(Fig2) Apresenta normalmente evoluccedilatildeo muitoraacutepida (Dias et al 1997) Entre 1945 e 1996 registouuma taxa de migraccedilatildeo meacutedia de cerca de 65mano(Vila-Concejo et al 2006) Natildeo satildeo conhecidos valoresexactos da extensatildeo ou duraccedilatildeo do ciclo de migraccedilatildeo

Contudo de acordo com Vila-Concejo et al (2002) ociclo completo dura pelo menos 50 anos e a barramigra no total mais de 3500m Esta migraccedilatildeo podeser progressiva ou intermitente (Dias et al 1997)

Agrave semelhanccedila da Barra do Ancatildeo procedeu-se agraveabertura artificial de uma nova Barra da Fuzeta emJulho de 1999 Poreacutem devido aos condicionamentosimpostos pelas casas existentes frente agrave povoaccedilatildeo daFuzeta foi aberta apenas a cerca de 800m a ocidenteda posiccedilatildeo que ocupava em 1996 Parte do sedimentodragado foi utilizada para fechar artificialmente aantiga barra No entanto esta intervenccedilatildeo natildeo obtevemuito sucesso devido ao aumento de sinuosidade docanal apoacutes a abertura De acordo com os resultadosde Vila-Concejo et al (2004b) o canal atingiu oequiliacutebrio dinacircmico em Julho de 2000

310 Ilha de Tavira

A Ilha de Tavira eacute a maior do sistema com cercade 11km de comprimento e 800m de largura maacuteximana parte central (Fig2) Esta ilha estreitaprogressivamente para SW onde existem sinais deforte erosatildeo e de frequentes galgamentos No entantoo campo dunar eacute na generalidade moderadamentelargo e elevado constituiacutedo por vaacuterios cordotildeesdunares A Ilha de Tavira exceptuando a extremidadeSW eacute considerada uma das mais ldquoestaacuteveisrdquo do sistemada Ria Formosa natildeo existindo indiacutecios de processosdestrutivosconstrutivos relacionados com amigraccedilatildeo de barras Apresenta poreacutem algunscorredores eoacutelicos junto agraves zonas de maior ocupaccedilatildeodevido ao pisoteio e na parte central na zonaenvolvente ao Arraial do Barril verificou-se um recuoda linha de costa entre 1976 e 2001 de 02 a 13mano (Garcia et al 2005)

A extremidade oriental da ilha estaacute estabilizadaartificialmente pelos molhes da Barra de Tavira o quelevou agrave acumulaccedilatildeo de sedimentos a ocidente dabarra numa extensatildeo de cerca de 1000m A partemais vulneraacutevel da zona NE situa-se junto ao Canalde Tavira artificial pois que a sua posiccedilatildeo tem sidomantida atraveacutes de dragagens e traccediladomeandriforme Neste local a ilha tecircm apenas cerca de150m de largura

A Ilha de Tavira apresenta duas zonas de ocupaccedilatildeoo Arraial do Barril (antiga infra-estrutura de pesca doatum convertida em apoio de praia) e a Praia de Tavira

67

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

onde se situam estruturas de apoio com algumaenvergadura designadamente um parque decampismo (Fig1) Na actualidade apesar dos impactesantroacutepicos serem elevados satildeo concentrados elimitados Segundo Dias et al (2004) o Arraial doBarril pode ser apontado como um bom exemplo deexploraccedilatildeo turiacutestica sustentaacutevel natildeo haacute habitaccedilatildeopermanente o acesso eacute efectuado por uma pontepedonal e por um pequeno comboio ou pelo passeioque o ladeia (o que evita impactes generalizados) asantigas instalaccedilotildees da companhia de pesca queestavam abandonadas tiveram reaproveitamentolucrativo Contudo o cordatildeo dunar frontal estaacute sujeitoa alguma erosatildeo e a pequenos galgamentos oceacircnicosdetectando-se tambeacutem alguns corredores eoacutelicos episoteio moderado A previsatildeo da localizaccedilatildeo da linhade costa em 2050 considerando a aceleraccedilatildeo daelevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar e a eventualocorrecircncia de um temporal com periacuteodo de retornode 50 anos indica que eacute expectaacutevel um recuo da ordemdos 70m ou seja que atingiraacute as edificaccedilotildees aiacuteexistentes (Ferreira et al 2006)

311 Barra de Tavira

A Barra de Tavira artificial separa as ilhas deTavira e de Cabanas e tem largura de 60m (Fig2) Foiaberta artificialmente em 1927 quase em frente agrave fozdo Rio Gilatildeo conduzindo ao encerramento da antigabarra em 1930 (Vila-Concejo et al 2006) Os dadosdisponiacuteveis sugerem uma velocidade de migraccedilatildeo daantiga barra de cerca de 40mano (Weinholtz 1978)A barra artificial teve que ser sujeita a vaacuterias operaccedilotildeesde dragagem entre 1930 e 1935 e estabilizada pordois esporotildees em 1936 devido ao constanteassoreamento (Esaguy 1987) Um ciclone ocorridoem 1941 abriu uma nova barra a cerca de 1100m aEste da barra artificial (Barra do Cochicho-Almargem) a qual rapidamente alargou e comeccedilou amigrar para oriente A existecircncia da nova barra levouao aumento do assoreamento da Barra de Tavira queteve que ser reaberta em 1961 face agraves dificuldades denavegaccedilatildeo Posteriormente foram efectuadas diversasobras de dragagem estabilizaccedilatildeo e fortalecimento dediques no sentido de diminuir o assoreamento(Esaguy 1987) A eficiecircncia hidrodinacircmica da Barrade Tavira eacute muito pequena representando cerca de4 do prisma de mareacute total do sistema (Andrade1990a)

312 Ilha de Cabanas

A Ilha de Cabanas eacute a ilha mais oriental e a maispequena do sistema com um comprimento de cercade 6km e uma largura maacutexima de 300m (Fig2) Narealidade constitui a extremidade natural da Ilha deTavira tendo sido convertida numa ilha autoacutenomapela abertura artificial da Barra de Tavira (Dias 1988)Foi completamente destruiacuteda durante o ciclone de1941 e novamente no decurso de um violentotemporal em 1961 os quais provocaram extensosgalgamentos oceacircnicos e a formaccedilatildeo de uma novabarra (Barra de Cabanas) para aleacutem da Barra doCochicho-Almargem as quais juntas formaram umaabertura uacutenica com cerca de 2500m de extensatildeo apartir da meia mareacute (Matias 2000)Consequentemente o cordatildeo dunar eacute relativamenterecente fraacutegil e elevando-se apenas a uma cota meacutediade 25m (Dias et al 2003)

A Ilha de Cabanas foi a primeira zona a serintervencionada ao abrigo do programaldquoRequalificaccedilatildeo do sistema lagunar da Ria Formosardquoentre Abril e Junho de 1999 Natildeo existem estimativasda quantidade de sedimentos perdidos para o marNo entanto os dragados usados na realimentaccedilatildeoeram grosseiros ajudando agrave naturalizaccedilatildeo dos aterrosefectuados (Saacute-Pires et al 2001) Aleacutem destaintervenccedilatildeo foi construiacutedo mais um pequeno esporatildeoa oriente da Barra de Tavira pelo que a erosatildeo que aiacutese verifica ficou atenuada pela existecircncia de doisesporotildees As intervenccedilotildees parecem ter sidodeterminantes na protecccedilatildeo da praia uma vez quenatildeo se tecircm registado galgamentos ou erosatildeo do cordatildeodunar nos locais intervencionados os mesmosapresentam alguma colonizaccedilatildeo por vegetaccedilatildeopioneira (Saacute-Pires et al 2001) No entanto uma vezque a realimentaccedilatildeo foi localizada e o cordatildeo dunareacute de baixa altitude as intervenccedilotildees natildeo impedem quenum futuro proacuteximo ocorram galgamentossobretudo junto aos apoios de praia existentes

313 Barra do Laceacutem

A Barra do Laceacutem corresponde agrave barra natural dolimite Este da Ilha de Tavira se esta natildeo fosseinterrompida pela barra artificial de Tavira (Fig2)Vaacuterios autores documentaram a evoluccedilatildeo da mesma(eg Weinholtz 1978 Esaguy 1986b Dias 1988

68

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Pilkey et al 1989 Andrade 1990a Bettencourt 1994Matias 2000 Vila-Concejo et al 2002) A barra separaa Ilha de Cabanas e a Peniacutensula de Cacela deriva dajunccedilatildeo em 1985 das Barras de Cochicho-Almargem(aberta pelo ciclone de 1941) e de Cabanas (abertapelo temporal de 1961) (Esaguy 1986b) A velocidademeacutedia de migraccedilatildeo da barra tem sido de 97mano(Vila-Concejo et al 2006)

Mais recentemente em 2004 abriu-se uma novabarra natural localizada a oriente da antiga Barra doLaceacutem A nova barra conduziu ao assoreamento daantiga Barra do Laceacutem com o seu consequenteencerramento

314 Peniacutensula de Cacela

A Peniacutensula de Cacela localiza-se no extremooriental da Ria Formosa Tem cerca de 3km decomprimento e entre 100 a 250m de largura (Fig2)

Em 1976 a cota meacutedia do cordatildeo dunar singularrobusto e vegetado era de 34m atingindo um maacuteximode 61m (Esaguy 1986c) A posterior degradaccedilatildeo doscorpos dunares devido ao pisoteio conduziu a umgrande aumento da frequecircncia de galgamentos (Diaset al 2004) Em 1990 Andrade (1990b) verificou quea Peniacutensula de Cacela apresentava um maacuteximo desusceptibilidade a galgamentos oceacircnicos De factodurante o Inverno de 19951996 ocorreramgalgamentos generalizados em quase toda a peniacutensulaque conduziram agrave abertura de uma nova barra nocentro da mesma (Barra da Faacutebrica) a qual emOutubro de 1996 chegou a ter cerca de 35m de largurae uma profundidade de 07m (Matias et al 2004) Casonatildeo se efectuasse qualquer intervenccedilatildeo era de preverque as dunas remanescentes desaparecessem porcompleto

Assim no sentido de diminuir a vulnerabilidade agalgamentos e de manter a produccedilatildeo de bivalves(actividade econoacutemica mais importante da zona)foram efectuadas entre Outubro de 1996 e Fevereirode 1997 grandes intervenccedilotildees que consistiramprincipalmente na ldquoreconstituiccedilatildeordquo do cordatildeo dunarda Peniacutensula de Cacela na colmataccedilatildeo da Barra daFaacutebrica e na dragagem da Barra do Laceacutem e do canallagunar (Ramos amp Dias 2000 Matias et al 2005) Oobjectivo era elevar a cota do topo do cordatildeo dunarateacute aos 75m acima do Zero Hidrograacutefico (ZH)reconstituindo uma situaccedilatildeo semelhante agrave existente

nos anos 60 (Ramos amp Dias 2000) Todavia devidoagrave existecircncia de formaccedilotildees consolidadas queimpossibilitaram a dragagem agraves cotas inicialmenteestabelecidas a quantidade de sedimentos repulsadospara a peniacutensula foi bastante inferior ao previstoestimando-se que o material deposto no cordatildeo dunartenha atingido apenas 325000m3 (Ramos amp Dias2000) Tal obrigou agrave reformulaccedilatildeo do projectoelevando-se a cota de topo da duna apenas para os5m acima do ZH Segundo Matias et al (1999) cercade 32 do sedimento depositado perdeu-seimediatamente apoacutes a deposiccedilatildeo no cordatildeo arenosoTal verificou-se devido aos processos de acomodaccedilatildeodo perfil de praia submerso mas tambeacutem porquegrande parte do material natildeo apresentava agranulometria adequada Depois da realimentaccedilatildeo avegetaccedilatildeo pioneira comeccedilou rapidamente a colonizara duna reconstituiacuteda (Matias et al 2004)

Outras intervenccedilotildees tecircm vindo a ser efectuadasdepois do robustecimento do cordatildeo dunar foramconstruiacutedos passadiccedilos de madeira procedeu-se agravecolocaccedilatildeo de paliccediladas no sentido de propiciar odesenvolvimento de dunas naturais e agrave plantaccedilatildeo deAmmophila arenaria Posteriormente entre Abril de1999 e Julho de 2000 efectuaram-se em quase todoo sistema novas dragagens nos canais natildeoconsiderados de navegaccedilatildeo integradas no Projectode Requalificaccedilatildeo do Sistema Lagunar com oobjectivo de intensificar a circulaccedilatildeo assim mantendoas condiccedilotildees ecoloacutegicas do sistema Nesta intervenccedilatildeovoltou-se a dragar a Barra do Laceacutem em Junho de1999 Segundo Ramos amp Dias (2000) as intervenccedilotildeesatingiram os objectivos tendo a vulnerabilidade aogalgamento sido drasticamente reduzida e do ladonascente verificando-se o estabelecimento dasucessatildeo fitogeneacutetica conferindo um aspecto naturalao novo cordatildeo dunar

Mais recentemente na parte central da zonaintervencionada verificou-se erosatildeo completa daldquodunardquo reconstruiacuteda o que tinha sido previsto nosestudos de monitorizaccedilatildeo realizados no decurso eimediatamente apoacutes a intervenccedilatildeo tendo-se na alturasugerido a possibilidade de nova pequena intervenccedilatildeopontual Todavia quando se verificou a ruptura natildeohouve possibilidades de efectuar essa pequenaintervenccedilatildeo pelo que se abriu naturalmente novabarra o que nos uacuteltimos anos provocou a colmataccedilatildeo

69

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

da antiga barra e erosatildeo de grande parte das ldquodunasrdquoreconstruiacutedas no final do seacuteculo XX

4 DISCUSSAtildeO

41 Evoluccedilatildeo Geral do Sistema

Como se deduz dos pontos anteriores o sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa eacute extremamentedinacircmico e como tal bastante vulneraacutevel As taxasde crescimento longitudinal de algumas ilhas satildeo dasmais notaacuteveis a niacutevel mundial (Dias et al 1997)

Segundo Pilkey et al (1989) os principais processosque contribuem para a evoluccedilatildeo das ilhas-barreira daRia Formosa satildeo (1) recuo da linha de costa (2) derivalitoral (3) galgamentos oceacircnicos (4) formaccedilatildeo decorpos dunares e de estabelecimento da respectivavegetaccedilatildeo (5) constituiccedilatildeo de deltas de mareacute e suaagregaccedilatildeo agraves ilhas (6) comportamento das barras e(7) erosatildeoacumulaccedilatildeo provocada pelas mareacutes-vivasdesignadamente nos canais de mareacute

Recuo da linha de costaOs valores observados na evoluccedilatildeo da linha de

costa indicam a existecircncia de recuo generalizado dasilhas e peniacutensulas (com excepccedilatildeo das zonasimediatamente a barlamar dos molhes das barras denavegaccedilatildeo) a qual varia consoante a localizaccedilatildeogeograacutefica e a interacccedilatildeo com os processos oceacircnicosA linha de costa move-se em resposta aos factoresnaturais de forma a manter o equiliacutebrio (Williams2001) O recuo da linha de costa eacute mais acentuadonos extremos do sistema e na parte ocidental das ilhase peniacutensulas Na parte central do sistema e nosextremos orientais das ilhas verifica-se algumaacreccedilatildeo Nas duas aacutereas mais intensamente ocupadas(Praia de Faro e Farol) existe estabilizaccedilatildeo da linha decosta devido a artificializaccedilatildeo desta com estruturasfixas de engenharia costeira A acreccedilatildeo verificada aoriente das ilhas da Barreta e de Tavira deve-se agravedeposiccedilatildeo de sedimentos a barlamar dos molhes dasbarras artificiais

Deriva litoralTorna-se evidente que o sistema da Ria Formosa

tem grande carecircncia de sedimentos principalmentenalgumas zonas mais expostas Contudo grande partedeste problema tem origem a barlamar do sistemaonde foram construiacutedos os molhes da marina deVilamoura e o campo de esporotildees de Quarteira que

interromperam a deriva litoral provocando a orienteintensificaccedilatildeo da erosatildeo nas arribas situadas entreQuarteira e a Praia do Garratildeo Actualmente as arribassatildeo o principal elemento abastecedor de areias aosistema da Ria Formosa (Correia et al 1997) Noentanto estas natildeo chegam para colmatar as carecircnciassedimentares do sistema da Ria Formosa o quesignifica que se forem construiacutedas obras riacutegidas deengenharia costeira neste sector se verificaraacuteintensificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico do sistemaampliando o grau de ruptura em que este jaacute seencontra Um exemplo que ilustra esta vulnerabilidadefoi a conclusatildeo da construccedilatildeo dos molhes da barraartificial de Faro-Olhatildeo em meados do seacuteculopassado que induziu grandes alteraccedilotildees com efeitosdraacutesticos no suprimento de sedimento agrave parte orientalNa realidade a abertura desta barra estabilizada pelosmolhes respectivos fez com que o sistema naturalentrasse em ruptura modificando radicalmente ascaracteriacutesticas hidro-sedimentoloacutegicas Segundo Dias(1990) as uacutenicas acccedilotildees de protecccedilatildeo realmenteeficazes satildeo as que possibilitam a reconstituiccedilatildeo daderiva litoral com os consequentes volumes desedimentos necessaacuterios

Galgamentos oceacircnicosAs ilhas-barreira da Ria Formosa satildeo

periodicamente sujeitas a galgamentos oceacircnicosdurante temporais de SW e SE Estes galgamentosconstituem um elemento muito importante nadinacircmica e na evoluccedilatildeo natural do sistemacontribuindo com fornecimento de sedimentos parao interior da laguna e abertura de novas barras quandoas antigas jaacute natildeo apresentam eficiecircncia (Andrade1990a) Tecircm sido assumidos como principalmecanismo de migraccedilatildeo das ilhas-barreira(Leatherman 1976 Bray amp Carter 1992) induzindoum efeito construtivo de acreccedilatildeo (Matias et al 2003)Assim sendo a gestatildeo deve integrar uma adaptaccedilatildeoaos galgamentos naturais uma vez que satildeo vitais parao funcionamento natural do sistema

Do ponto de vista da ocupaccedilatildeo os galgamentosoceacircnicos satildeo um factor importante que necessita deser avaliado para propiciar uma gestatildeo mais eficazuma vez que induz seacuterios danos nas infra-estruturasexistentes (Andrade et al 1998) Verifica-se que ospontos mais vulneraacuteveis a galgamentos satildeo a Praia deFaro Barreta W Culatra E Armona E Tavira W toda

70

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

a Ilha de Cabanas e a Peniacutensula de Cacela Nesteslocais mesmo a ocorrecircncia de pequenos temporaisdurante a preia-mar de mareacutes vivas podem provocargalgamentos Alguns pontos como a Ilha de Cabanase a Peniacutensula de Cacela viram reduzida avulnerabilidade a galgamentos apoacutes as intervenccedilotildeesefectuadas com algum sucesso embora essavulnerabilidade comece a ser actualmente elevada nosegundo caso devido aos factos aludidos mais acimaEm geral os locais de maior vulnerabilidade satildeo osque apresentam perfis de praia de pouca inclinaccedilatildeocordatildeo dunar fraacutegil e proximidade das barras

Cordatildeo dunar e vegetaccedilatildeo dunarAo longo das ilhas existiu um cordatildeo dunar frontal

contiacutenuo com 5 a 10m de altura sem cortes eoacutelicos ede galgamento muito significativos e bem cobertosde vegetaccedilatildeo (Pilkey et al 1989) No entanto o cordatildeodunar encontra-se na actualidade completamenteocupado em alguns locais por edificaccedilotildees comoacontece na Praia de Faro na povoaccedilatildeo do Farol e naIlha da Armona A vegetaccedilatildeo tornou-se escassa natildeosomente nas zonas ocupadas mas tambeacutem noutroslocais como na parte ocidental da Ilha da Barreta ena oriental das ilhas da Armona e da Culatra

Com a crescente pressatildeo antroacutepica exercida sobreo sistema especialmente para fins balneares verifica-se que em vaacuterios locais a quantidade de cortes eoacutelicostem aumentado devido ao pisoteio Este facto podeconduzir em periacuteodos de agitaccedilatildeo mariacutetima maisenergeacutetica agrave ocorrecircncia de galgamentos oceacircnicosRamos amp Dias (2000) referem que grande parte doscortes de galgamento oceacircnico do sistema da RiaFormosa eacute devido ao pisoteio dos corpos dunares enatildeo a causas naturais

A instalaccedilatildeo intensiva nos uacuteltimos anos depaliccediladas para recuperaccedilatildeo dunar complementadacom plantaccedilatildeo de vegetaccedilatildeo tiacutepica destes ambientescorresponde a uma acccedilatildeo de gestatildeo com efeitos muitopositivos com a qual se tem conseguido robustecero cordatildeo dunar do sistema

Deltas de mareacuteA incorporaccedilatildeo de deltas de enchente e posterior

migraccedilatildeo ou encerramento da barra respectivaconstitui importante mecanismo de evoluccedilatildeo dasilhas-barreira estando na origem da grande larguradas ilhas da Armona e de Tavira (Pilkey et al 1989)

A formaccedilatildeo de deltas de enchente em associaccedilatildeo comos galgamentos oceacircnicos contribui para a migraccedilatildeodas ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continente o quepoderaacute estar a suceder com o caso particular daPeniacutensula de Cacela (Andrade et al 2004)

Comportamento das barrasA Ria Formosa eacute caracterizada por apresentar

elevadas taxas de migraccedilatildeo das barras A estabilizaccedilatildeode duas das barras no sector oriental provocou fortesmodificaccedilotildees na dinacircmica do sistema Segundo Vila-Concejo et al (2002) a estabilizaccedilatildeo da Barra Faro-Olhatildeo (1929-1955) teve maiores consequecircncias nasbarras do Ancatildeo e da Armona enquanto que aabertura artificial da Barra de Tavira (1927-1985)produziu maiores efeitos nas barras da Fuzeta e doLaceacutem

A Barra da Armona era a principal barra dosistema controlando a maior parte da circulaccedilatildeo daRia Formosa na parte central Com a abertura da BarraFaro-Olhatildeo projectada para manter profundidadesentre-molhes da ordem de 45m ZH mas queprogressivamente se foi aprofundando ateacuteprofundidades superiores a 40 metros as trocashiacutedricas com o oceano passaram a efectuar-sepredominantemente por esta barra Os molhesprovocaram grande acumulaccedilatildeo a barlamar pelo quenos 12 anos seguintes agrave sua construccedilatildeo a Ilha daBarreta registou alargamento superior a 220 metrosna zona por eles influenciada (Bettencourt 1985) Emconsequecircncia a barra da Armona perdeu eficaacuteciareduzindo progressivamente largura e profundidadeNos anos 80 do seacuteculo XX tinha ainda cerca de 2000metros de largura mas actualmente essa largura eacuteapenas da ordem de 200 metros

O sentido de migraccedilatildeo das barras natildeo estabilizadaseacute para oriente (agrave excepccedilatildeo da Barra da Armona quetem mantido a sua posiccedilatildeo) Essa migraccedilatildeo efectua-se quer progressivamente (mantendo ou natildeo a largura)ou por ldquosaltosrdquo na sequecircncia de temporais em quenova barra se abre em geral a sotamar da barraexistente seguindo-se frequentemente a posteriorcolmataccedilatildeo desta (Dias 1988 Pilkey et al 1989Andrade et al 1998)

Erosatildeo provocada pelas mareacutes-vivasA Ria Formosa eacute um sistema lagunar com uma

grande aacuterea de zona intertidal (cerca de 13 do total

71

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

da aacuterea) Em cada ciclo de mareacute 50 a 75 da aacutegua eacuterenovada (Sprung 1994) Devido agrave diferenccedila deamplitude entre mareacutes-vivas e mareacutes-mortas as zonasde menor elevaccedilatildeo das ilhas-barreira satildeo regularmenteinundadas durante as primeiras causando transportesignificativo de sedimentos Estes fluxos satildeoresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo de canais de mareacute eaumento da erosatildeo das ilhas-barreira

Como jaacute foi referido os periacuteodos de mareacutes-vivassatildeo bastante problemaacuteticos especialmente noInverno na medida em que potenciam o efeito detempestades que ocorrem durante mareacutes-cheiasTodos os anos nos pontos criacuteticos do sistema comoa Praia de Faro a probabilidade de ocorrer umasituaccedilatildeo muito grave aumenta principalmente se seconsiderar a elevaccedilatildeo do NMM

42 Intervenccedilatildeo

Como eacute reconhecido por Scheele amp Westen (1996)os planos de gestatildeo costeira devem apontar para aprotecccedilatildeo ambiental de longo prazo o que implica(1) uma estrateacutegia com objectivos claros e concisos(2) uma metodologia praacutetica e realista (3)monitorizaccedilatildeo contiacutenua (4) forte aposta nosprogramas de educaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo ambiental e(5) envolvimento da comunidade local no processode planeamento e tomada de decisotildees

Sendo a Ria Formosa um sistema muito dinacircmicocom elevada vulnerabilidade e que reage rapidamentea elevaccedilotildees do niacutevel do mar os muacuteltiplos interesseseconoacutemicos e sociais aiacute existentes fazem com que aaacuterea seja caracterizada por elevado grau de conflitosde interesses A situaccedilatildeo torna-se ainda mais complexaquando se considera que o sistema corresponde a umParque Natural onde haacute que compatibilizar interesseseconoacutemicos com a conservaccedilatildeo da Natureza Nestecontexto soacute eacute possiacutevel proceder agrave conservaccedilatildeo daNatureza atraveacutes de intervenccedilotildees tendentes a minoraros impactes negativos induzidos pelas actividadesantroacutepicas (Ramos amp Dias 2000)

De acordo com as actividades desenvolvidas osprincipais grupos de interesse na Ria Formosa satildeo(1) o PNRFICNB (2) a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeoe Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR-Algarve) (3) as entidades promotoras do turismo (4)as associaccedilotildees comerciais e industriais (incluindo oporto) (5) os pescadores e autoridades responsaacuteveis

por este sector (6) as entidades regionais e locais (7)as associaccedilotildees de defesa do ambiente e osambientalistas e (8) a populaccedilatildeo local incluindoresidentes e natildeo residentes Como sugere Antunes etal (2006) o entendimento entre os diferentes gruposconduz a uma sinergia que beneficia as potencialidadesque contribuem para uma gestatildeo eficaz

Os principais problemas das ilhas-barreira estatildeolocalizados nos nuacutecleos urbanos devido agraves estruturasedificadas Dos principais nuacutecleos existentes apenasos de Hangares e Culatra natildeo tecircm problemas erosatildeocosteira pois que se localizam junto agrave parte lagunar(e consequentemente afastados da praia oceacircnica eportanto resguardados dos temporais) Os restantespoacutelos de ocupaccedilatildeo (Praia de Faro Farol etc) satildeoproblemaacuteticos sendo os riscos de inundaccedilatildeo e erosatildeobastante elevados Para resolver estes problemasexistem fundamentalmente trecircs estrateacutegias deintervenccedilatildeo (1) intervenccedilatildeo riacutegida (ex esporotildeesparedotildees) (2) retirada estrateacutegica programas natildeoestruturais (ex demoliccedilatildeo de infra-estruturas) e (3)intervenccedilatildeo suave (ex realimentaccedilatildeo de praias) (Pilkeyamp Dixon 1996) Qualquer uma destas estrateacutegias temproacutes e contras sendo praticamente impossiacutevel quequalquer uma delas satisfaccedila todos os grupos deinteresse afectados

Intervenccedilatildeo riacutegidaAteacute haacute poucas deacutecadas em todo o mundo a

construccedilatildeo de estruturas riacutegidas e permanentesconstituiu o meacutetodo mais utilizado de protecccedilatildeo dopatrimoacutenio edificado no litoral Embora estasestruturas se revelem eficazes na defesa de imobiliaacuterioem risco de ser danificado pela erosatildeo costeiraprovocam fortes impactes negativos a sotamar dolocal onde satildeo construiacutedas (Inman 1978 Mangor1998 Greene 2002) pelo que internacionalmente severifica tendecircncia para adoptar outros tipos deprotecccedilatildeo ambientalmente menos agressivos

A construccedilatildeo dos molhes da marina de Vilamourae do campo de esporotildees de Quarteira provocou forteaumento da erosatildeo a oriente e consequentementegraves problemas de gestatildeo Por outro lado a aberturae fixaccedilatildeo das barras de Faro-Olhatildeo e de Tavira parapropiciar melhor funcionamento das estruturasportuaacuterias existentes no meio lagunar econsequentemente beneficiar as actividades socio-econoacutemicas da regiatildeo provocaram grandes alteraccedilotildees

72

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

no sistema fazendo com que o seu funcionamentonatural tivesse entrado em ruptura e que a erosatildeocosteira tivesse sido fortemente amplificada a sotamarComo se veraacute na parte dedicada agraves intervenccedilotildeessuaves a utilizaccedilatildeo de teacutecnicas de transposiccedilatildeo dosmolhes (ldquoby-passingrdquo) permitiria reduzirsubstancialmente alguns destes impactes negativos

A construccedilatildeo de mais estruturas riacutegidas na RiaFormosa (ou a barlamar desta) traduzir-se-ia numaforte amplificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico em queo sistema jaacute se encontra tendendo a meacutedio ndash longoprazo para a completa artificializaccedilatildeo da Ria Formosaconsignada por legislaccedilatildeo nacional como ParqueNatural e reconhecida internacionalmente comoimportante aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental

Retirada estrateacutegica Programas natildeo estruturaisOs programas natildeo estruturais satildeo intervenccedilotildees em

que se procede agrave demoliccedilatildeo de infra-estruturasameaccediladas pela erosatildeo costeira ou transferecircncia dasmesmas para locais mais seguros o que eacute tambeacutemconhecido como ldquoretirada estrateacutegicardquo Viabiliza-seassim a evoluccedilatildeo natural dos sistemas Com amigraccedilatildeo das ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continentecomo resposta agrave elevaccedilatildeo do NMM este tipo deintervenccedilatildeo comeccedilou por ser aplicado em algunslocais da costa Leste dos EUA em 1972 (NRC 1995)A deslocalizaccedilatildeo de infra-estruturas pode ser eficazem locais pouco povoados ou quando existe interessena salvaguarda de patrimoacutenio como aconteceu como farol do Cabo Hatteras nos EUA No entantotorna-se impraticaacutevel em grandes nuacutecleos urbanosdevido aos elevados custos e dificuldades logiacutesticas

Na Ria Formosa este tipo de intervenccedilatildeo temencontrado grandes dificuldades de execuccedilatildeodesignadamente no que se refere agrave demoliccedilatildeo de casasconstruiacutedas ilegalmente em Domiacutenio Hiacutedrico Domiacutenio Puacuteblico Mariacutetimo o que aleacutem de tender aperpetuar situaccedilotildees de muito alto risco potildee em causaa imagem do Paiacutes como Estado de direito (Dias 2002)

Intervenccedilatildeo SuaveA intervenccedilatildeo suave tambeacutem designada por

protecccedilatildeo dinacircmica desde haacute algumas deacutecadas que eacuteutilizada preferencialmente como alternativa agravesteacutecnicas de intervenccedilatildeo riacutegida Apresentam menoresimpactes ambientais sendo uma soluccedilatildeo maisapropriada para aacutereas sensiacuteveis como as ilhas-barreira

As teacutecnicas de protecccedilatildeo suave tais como arealimentaccedilatildeo de praias a reconstruccedilatildeo dunar atransposiccedilatildeo de molhes (by-passing) a abertura debarras (para as deixar evoluir naturalmente) e asldquodragagens ecoloacutegicasrdquo correspondem em geral auma intervenccedilatildeo inicial deixando depois a Naturezaldquotrabalharrdquo Por essa razatildeo estas teacutecnicas satildeo tambeacutemfrequentemente designadas por ldquobuilding with NaturerdquoSatildeo com frequecircncia menos dispendiosas e maiseficientes a longo prazo do que as intervenccedilotildees riacutegidas(Koster amp Hillen 1995 Griggs 1999 Dias et al 2003)

Poreacutem estas teacutecnicas tecircm que ser executadas comforte suporte cientiacutefico e devem envolver o conceitode protecccedilatildeo de trechos costeiros na sua globalidadee natildeo apenas a protecccedilatildeo local de patrimoacutenio edificadoem zonas de risco Se forem concretizadas de formadeficiente podem mesmo revelar-secontraproducentes Eacute o que se passa por exemploquando a realimentaccedilatildeo de praias eacute efectuada comareias extraiacutedas da praia submersa (acima daprofundidade de fecho) nestes casos nenhumsedimento eacute adicionado ao sistema (Wells amp McNinch1991) havendo apenas transferecircncias dentro dosistema com consequecircncias negativas para o seufuncionamento natural tanto ao niacutevel morfodinacircmicocomo bioloacutegico

Desde 1996 que o PNRFICN tem realizadointervenccedilotildees de caraacutecter suave na tentativa demelhorar o funcionamento do sistema e diminuir avulnerabilidade ao galgamento e ao mesmo tempomanter a dinacircmica dos processos naturais (Dias et al2004) Entre as intervenccedilotildees efectuadas procedeu-seao robustecimento da Peniacutensula de Cacela agrave aberturadas Barras do Ancatildeo e da Fuzeta (deixando-as deseguida evoluir naturalmente) agrave dragagem de muitoscanais que natildeo satildeo de navegaccedilatildeo para melhorar acirculaccedilatildeo no sistema agrave repulsatildeo de sedimentos parao cordatildeo arenoso agrave colocaccedilatildeo de paliccediladas parareconstruccedilatildeo dunar agrave plantaccedilatildeo de Ammophila arenariae agrave construccedilatildeo de passadiccedilos sobrelevados

Segundo Dias et al (2003) as intervenccedilotildees suavesrealizadas na Ria Formosa propiciaram melhorprotecccedilatildeo das ilhas-barreira tendo-se em geralatingido os objectivos esperados Os mesmos autoresreferem que os sistemas naturais de elevadaimportacircncia soacutecio-econoacutemica e ambiental (como aRia Formosa) podem ser geridos utilizando este tipo

73

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

de teacutecnicas lucrando com o aproveitamento dosrecursos existentes

A transposiccedilatildeo (by-passing) dos molhes das barrasartificiais meacutetodo utilizado desde haacute muito um poucopor todo o mundo permitiria que as areias retidaspelos molhes a barlamar fosse transferido parasotamar aiacute reconstituindo a deriva litoral econsequentemente minimizando alguns dos impactesnegativos induzidos por estas estruturas Vaacuteriosestudos que demonstram que esta tecnologia natildeoaparenta ter efeitos ambientais negativos associados(eg Lindeman 1997 in Greene 2002)

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Com vista a avaliar a vulnerabilidade das ilhas-barreira da Ria Formosa o presente trabalho incidiuna actualizaccedilatildeo desta problemaacutetica na oacuteptica da gestatildeouma vez que se trata de um sistema em permanentetransformaccedilatildeo Nesta anaacutelise eacute imprescindiacutevel tersempre em consideraccedilatildeo que o sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa estaacute consignado legalmentecomo aacuterea de protecccedilatildeo ambiental desde 1978 anoem que lhe foi atribuiacutedo o estatuto de Reserva Naturaltendo ficado protegido pelo estatuto de ParqueNatural em 1987 (Decreto-lei 37387) e Rede Natura2000 tendo ainda sido integrado desde 1980 na Listade Siacutetios da Convenccedilatildeo de Ramsar (zonas huacutemidasde importacircncia internacional)

Da anaacutelise efectuada conclui-se que eacuteimprescindiacutevel compatibilizar os diversificados valoresnaturais (bioloacutegicos geomorfoloacutegicos fiacutesico-quiacutemicos geoloacutegicos etc) intriacutensecos ao sistema comos muacuteltiplos interesses soacutecio-econoacutemicos decorrentesda sua exploraccedilatildeo (pesca maricultura aquaculturaturismo portos comerciais e de pesca navegaccedilatildeo derecreio etc) Estando influenciado por fortesimpactes antroacutepicos directos e indirectos tais comoentre muitos outros a erosatildeo costeira e a intensificaccedilatildeodo assoreamento lagunar a sobrevivecircncia do sistemaldquonaturalrdquo e a sustentabilidade da sua exploraccedilatildeocarecem de intervenccedilotildees correctivas frequentes porforma a minimizar os impactes negativos aludidosTais intervenccedilotildees teratildeo que ser cautelosas e contiacutenuastentando o mais possiacutevel aproximar-se do que seriaa dinacircmica natural do sistema

Eacute ainda urgente resolver vaacuterios conflitos deinteresses existentes privilegiando as actividades

indutoras de menores impactes negativos e quesimultaneamente viabilizem uma melhor exploraccedilatildeosustentaacutevel do sistema Aponta-se a tiacutetuloexemplificativo o caso do turismo haacute quedesincentivar o turismo de massas directo nesta aacuterea(ateacute porque nas proximidades haacute poacutelos turiacutesticos destegeacutenero bem consolidados) desenvolvendo emalternativa outros tipos de turismo complementardesignadamente o turismo de Natureza a observaccedilatildeode aves (bird watching) e de peixes (fish watching) emambiente natural os passeios no meio lagunar emembarcaccedilotildees natildeo poluentes o turismo gastronoacutemicoetc

A maior parte da zona de barreira do sistema natildeoestaacute ainda ocupado por estruturas imobiliaacuterias Comvista agrave exploraccedilatildeo sustentaacutevel do sistema eacuteimprescindiacutevel que estas zonas continuem semocupaccedilatildeo permanente mantendo algumascaracteriacutesticas pristinas ainda aiacute existentes Nos poucosnuacutecleos urbanos piscatoacuterios existentes cujo casoparadigmaacutetico eacute a povoaccedilatildeo da Culatra onde natildeoexistem problemas realmente graves pois que selocalizam na margem lagunar (relativamente afastadado litoral oceacircnico) devem-se adoptar algumasmedidas correctivas pontuais por forma a preservara sua identidade cultural a melhorar a qualidade devida da populaccedilatildeo e a impedir um crescimentoexagerado Nos restantes nuacutecleos urbanos comcaracteriacutesticas ldquoturiacutesticasrdquo vaacuterios dos quais localizadosnas zonas de maior risco do sistema seria altamentedesejaacutevel que se procedesse agrave completa reformulaccedilatildeoda ocupaccedilatildeo ou sempre que possiacutevel se optasse peladesocupaccedilatildeo

No sentido de tentar resolver os problemas deerosatildeo costeira existentes (que se agravaratildeo no futuro)recomenda-se vivamente que a) natildeo se construamobras de protecccedilatildeo riacutegida (esporotildees paredotildees etc)na Ria Formosa nem na zona a barlamar desta daqual o sistema depende b) se continuem a executaracccedilotildees de robustecimento do cordatildeo dunar e decolmataccedilatildeo dos cortes de galgamento utilizando tantoquanto possiacutevel sedimentos provenientes dadragagem dos canais de navegaccedilatildeo c) se implementea transposiccedilatildeo dos molhes portuaacuterios com relevacircnciaespecial para os molhes da Barra de Faro-Olhatildeo d)efectivamente se proceda agrave demoliccedilatildeo das edificaccedilotildeessituadas em zonas de maior risco e sobre a duna

74

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

primaacuteria concretizando finalmente decisotildeesgovernamentais que tecircm vindo a ser repetidamentetomadas haacute quase trecircs deacutecadas mas nunca executadascabalmente e) sejam amplificadas as acccedilotildees deintervenccedilatildeo e protecccedilatildeo dinacircmica na linha do que severificou desde finais do seacuteculo passado (abertura debarras quando necessaacuterio para as deixar evoluirnaturalmente dragagens ldquoecoloacutegicasrdquo etc) e quetransformaram a Ria Formosa num siacutetio de referecircnciainternacional nesta mateacuteria e que nos uacuteltimos anosapenas tecircm sido executadas de forma extremamentemoderada

Finalmente eacute altamente recomendaacutevel que emtodos os actos de gestatildeo envolvendo quer ascomponentes geomorfoloacutegicas quer as ecoloacutegicasquer as soacutecio-econoacutemicas se tenham sempre emconsideraccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas principalmenteno que se refere agrave elevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar

BIBLIOGRAFIA

Andrade CF (1990a) - O Ambiente de barreira da RiaFormosa Algarve ndash Portugal Dissertaccedilatildeo deDoutoramento 645p Universidade de LisboaPortugal (natildeo publicado)

Andrade CF (1990b) - Estudo da susceptibilidadeao galgamento da Ria Formosa Geolis IV(1-2)69-76 Lisboa Portugal

Andrade CF Barata A amp Teles M (1998) - Ananalysis of the vulnerability to overwash of theRia Formosa barrier island system (Portugal)Using a simple multi-attribute technique (SMART)approach Proceedings of Littoralrsquo98 Conferencepp511-519 Barcelona Espanha

Andrade CF Freitas MC Moreno J amp CraveiroSC (2004) - Stratigraphical evidence of LateHolocene barrier breaching and extreme stormsin lagoonal sediments of Ria Formosa AlgarvePortugal Marine Geology 210339ndash362(doi101016jmargeo200405016)

Antunes P Santos R amp Videira N (2006) -Participatory decision making for sustainabledevelopment - the use of mediated modellingtechniques Land Use Policy 2344ndash52(doi101016jlandusepol200408014)

Bernardo P Bastos R amp Dias JA (2002) - Historicroots for barrier island occupation in the RiaFormosa Littoral 2002 Porto 4 p (disponiacutevel em

httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI02_Lit_91_PBpdf)

Bettencourt P (1985) - Geomorphologie et processusdlsquoeacutevolution reacutecente de la cocircte sotavento (Algarve ndash SudPortugal) Thegravese DEA 92p Universiteacute deBordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Bettencourt P (1994) - Les environnements sedimentairesde la cocircte sotavento (Algarve SudPortugal) et leur eacutevolutionHoloceacutene et actuelle PhD Thesis University ofBordeaux I Franccedila (unfinished)

Bray Jr T amp Carter C (1992) - Physical processesand sedimentary record of a moderntransgressive lacustrine barrier island MarineGeology 105(1-4)155-168 (doi 1010160025-3227(92)90187-M)

Correia F Dias JA Boski T amp Ferreira Oacute (1996)- The retreat of the Eastern Quarteira cliffed coast(Portugal) and its possible causes In Jones PSHealy MG amp Williams AT (eds) Studies inCoastal Management p129-136 Samara PublLtd Cardigan UK (disponiacutevel emht tp w3 u a l g p t j d i a s JA D pape r s CLinternac96_Studies_129_FCpdf)

Correia F Ferreira Oacute amp Dias JA (1997) - Contributodas arribas para o balanccedilo sedimentar do sectorcosteiro Quarteira - Vale do Lobo (Algarve -Portugal) Seminaacuterio sobre a zona costeira doAlgarve 31-39 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_031_FCpdf)

Costa CL (1994) - Final report of sub-project A ldquoWindwave climatology of the Portuguese coastrdquo InstitutoHidrograacutefico Report PO-WAVES 694-A 80 pLisboa Portugal (natildeo publicado)

Dias JA (1988) - Aspectos geoloacutegicos do litoralalgarvio Geonovas 10 113-128 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN88_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (1990) - A Evoluccedilatildeo Actual do LitoralPortuguecircs Geonovas 11 15-29 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN90_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (2002) - Manual de Sobrevivecircncia eVilanagem Diaacuterio de Notiacutecias - SuplementoldquoAmbiente e Desenvolvimento Sustentaacutevelrdquo 30de Julho de 2002 Lisboa Portugal (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersxCS02_DNADpdf)

75

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Dias JA Ferreira Oacute Matias A Vila-Concejo Aamp Saacute-Pires C (2003) - Evaluation of softprotection techniques in barrier islands bymonitoring programs case studies from RiaFormosa (Algarve-Portugal) Journal of CoastalResearch SI35117-131

Dias JA Ferreira Oacute amp Moura D (2004) - O sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa 3ordm SIPRES ndashSimpoacutesio Interdisciplinar sobre Processos Estuarinos 18p Faro Portugal

Dias JA amp Neal WJ (1992) - Sea cliff retreat insouthern Portugal profiles processes andproblems Journal of Coastal Research 8641-654

Dias JA amp Taborda R (1992) - Tidal gauge data indeducing secular trends of relative sea level andcrustal movements in Portugal Journal of CoastalResearch 8655-659

Dias JA Teixeira SB amp Ferreira Oacute (1997) - LivroGuia da Excursatildeo Seminaacuterio sobre a Zona Costeirado Algarve 43 p Faro Portugal

Douglas BC (1995) - Global sea level changedetermination and interpretation US NationalReport to IUGG 1991-1994 Geophys 33 Suppl11 p (disponiacutevel em httpwwwaguorgrevgeophysdougla01dougla01html)

Duarte C Matias A Dias JA amp Ferreira Oacute (1999)- Vulnerabilidade dos corpos dunares do Algarve10ordm Congresso do Algarve 477-490 (disponiacutevelem httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN99_10CA_477_CDpdf)

Esaguy AS (1984) - Ria de Faro Barra da ArmonaEvoluccedilatildeo 1873-1983 5 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1986a) - Ria de Faro Barra de Faro-OlhatildeoEvoluccedilatildeo 1955ndash1985 10p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986b) - Ria de Faro Ilha de TaviraEvoluccedilatildeo 1950ndash1985 8 p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986c) - Ria de Faro Ilha do AncatildeoEvoluccedilatildeo 1950-1985 7 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1987) - Ria de Faro Barra de TaviraEvoluccedilatildeo 13 p Direcccedilatildeo Geral de Portos LisboaPortugal

Ferreira Oacute Dias JA amp Taborda R (2008) -Implications of sea-level rise for Portugal Journal

of Coastal Research 24(2)317-324 (doi 10211207A-00061)

Ferreira Oacute Garcia T Matias A Taborda Ramp DiasJA (2006) - An integrated method for thedetermination of set-back lines for coastal erosionhazards on sandy shores Continental ShelfResearch 261030ndash1044 (doi 101016jcsr200512016)

Ferreira Oacute Martins JC amp Dias JA (1997) -Morfodinacircmica e vulnerabilidade da Praia de FaroSeminaacuterio sobre a zona costeira do Algarve 67-76 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_067_OFpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias Aamp Dias JA (2002)- Recent evolution of Culatra Island (Algarve ndashPortugal) Littoral 2002 The Changing Coast 289-294 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers02_LitTGpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2005)ndash Coastal Hazards Representation for Praia doBarril (Algarve Portugal) Continental ShelfResearch SI4928-33

Granja H (1984) - Eacutetude geacuteomor phologiquesedimentoloacutegique et geacuteoquimique de la Ria Formosa(Algarve-Portugal) These 3eme Cycle 254 pUniversiteacute de Bordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Greene K (2002) - Beach nourishment a review ofthe biological and physical impacts 174 p AtlanticStates Marine Fisheries Commission WashingtonDC (disponiacutevel em httpwwwasmfcorgpublicationshabitatbeachNourishmentpdf)

Griggs GB (1999) - The protection of Californialsquoscoast past present and future Shore amp Beach67(1)18-28

Hoyt JH (1967) - Barrier Island FormationGeological Society of America Bulletin 781125-1136 (doi 1011300016-7606(1967)78[1125BIF]20CO2)

Inman D (1978) - The impact of coastal structureson shorelines Proceedings of Coastal Zoneacute78 ASCE2265-2272

Koster MJ amp Hillen R (1995) - Combat erosion bylaw Coastal defence policy for the NetherlandsJournal of Coastal Research 67(2-3)43-49

Leatherman S (1976) - Barrier islands dynamicsoverwash processes and aeolian transportProceedings of Coastal Engineering Conference ASCE1958-1973

76

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Mangor K (1998) - Coastal restorationconsiderations Proceedings of Coastal Engineeringrsquo98Conference ASCE 3425-3438

Marcelo MJ amp Fonseca LC (1998) - Ria Formosada gestatildeo e conservaccedilatildeo de uma aacuterea protegidaRevista de Biologia 2ordm ENEC 16(1-4)125-133

Martins JT Ferreira Oacute Ciavola Pamp Dias JA (1996)- Monitoring of profile changes at Praia de FaroAlgarve a tool to predict and solve problems InTaussik J amp Mitchell J (eds) Partnership in CoastalZone Management pp 615-622 Samara Publ LtdCardigan UK

Matias A (2000) - Estudo morfosedimentar da Peniacutensulade Cacela Dissertaccedilatildeo de Mestrado 244pUniversidade do Algarve Faro Portugal (natildeopublicado)

Matias A Dias JA Williams AT amp Ferreira Oacute(1997) - Vulnerabilidade das dunas da RiaFormosa 9ordm Congresso do Algarve 231-239Vilamoura Portugal

Matias A Ferreira Oacute amp Dias JA (1999) -Preliminary results on the Cacela Peninsula dunereplenishment Boletiacuten del Instituto Espantildeol deOceanografiacutea 15(1-4)283-288 (disponiacutevel emhttpwwwieoespublicacionesboletinpdfsbol1515_283-288PDF)

Matias A Ferreira Oacute Dias JA amp Vila-Concejo A(2004) - Development of indices for the evaluationof dune recovery techniques Coastal Engineering51261-276 (doi 101016jcoastaleng200402002)

Matias A Ferreira Oacute Mendes I amp Dias JA (1998)- Monitorizaccedilatildeo da alimentaccedilatildeo artificial daPeniacutensula de Cacela Seminaacuterio sobre DragagensDragados e Ambientes Costeiros 47-56

Matias A Ferreira Oacute Mendes I Dias JA amp Vila-Cconcejo A (2005) - Artificial construction ofdunes in the South of Portugal Journal of CoastalResearch 21(3)472-481 (doi 10211203-00471)

Matias A Vila-Concejo A Ferreira Oacute amp Dias JA(2003) - Field measurements of morphologicvariations during an overwash event 4ordm Simpoacutesiosobre a Margem Ibeacuterica Atlacircntica Thalassas19(2b)164-165 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI03_4SM_b164_AMpdf)

NRC - National Research Council (1995) - Beach

Nourishment and Protection 334 p Washington DCNational Academy Press (ISBN 9780309052900)

Pacheco A Carrasco AR Vila-Concejo A FerreiraOacute amp Dias JA (2007) - A coastal managementprogram for channels located in backbarriersystems Ocean amp Coastal Management 50119-143 (doi101016jocecoaman200608008)

Pilkey OH amp Dixon K (1996) - The Corps and theShore 286p Island Press Washington DC USA(ISBN 9781559634380)

Pilkey OH Neal WJ Monteiro JH amp Dias JA(1989) - Algarve Barrier Islands A Noncoastal-Plain System in Portugal Journal of Coastal Research5(2)239-261

Ramos L amp Dias J A (2000) - Atenuaccedilatildeo davulnerabilidade a galgamentos oceacircnicos nosistema da Ria Formosa mediante intervenccedilotildeessuaves 3ordm Simpoacutesio sobre a Margem ContinentalIbeacuterica Atlacircntica Faro 361-362 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers00_SMLRpdf)

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2001)- Avaliaccedilatildeo de realimentaccedilotildees artificiais de praiasda Ria Formosa Casos das ilhas de Cacela e deTavira Congresso do Algarve 2001 8 p

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2002)- Preliminary Evaluation of the MorphologicalEvolution of Contrasting Beaches of the RiaFormosa With Relation to Differences inRefracted Wave Height Littoral 2002 TheChanging Coast 423-429 (disponiacutevel emht tp www2 00 8 i o -war nemu ende dehomepagesschernewskiLittoral2000docsvol3Littoral2002_79pdf)

Scheele RJ amp Westen CJ (1996) - Planning for acoastal policy - the 3A4 approach In Taussik Jamp Mitchell J (eds) Partnership in Coastal ZoneManagement pp 65-71 Samara Publ LtdCardigan UK

Sprung M (1994) - Macrobenthic secondaryproduction in the intertidal zone of Ria Formosaa lagoon in southern Portugal Estuarine Coastaland Shelf Science 38539ndash558 (doi 101006ecss19941037)

Van Den Belt M Videira N Antunes P Santos Ramp Gamito S (2000) - Modelaccedilatildeo Participada na RiaFormosa 36 p Ediccedilatildeo Fundaccedilatildeo do Mar LisboaPortugal

77

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Vila A Dias JMA Ferreira Oacute amp Matias A (1999)- Natural evolution of an artificial inlet CoastalSedimentslsquo99 21478-1488 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI99_CS99_1478_AVpdf)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Ciavola P Matias Aamp Dias JA (2004a) - Tracer studies on the updriftmargin of a complex inlet system Marine Geology20843-72 (doi 101016jmargeo200404020)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA(2003) - The first two years of an inlet sedimentarydynamics Continental Shelf Research 231425-1445 (doi 101016S0278-4343(03)00142-0)

Vila-Concejo A Matias A Ferreira Oacute Duarte Camp Dias JA (2002) - Recent evolution of thenatural inlets of a barrier island system in southernPortugal Journal of Coastal Research (ICS 2002proceedings) SI36741-752

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Morris BD MatiasA amp Dias JA (2004b) ndash Lessons from inletrelocation examples from Southern PortugalCoastal Engineering 51(10)967-990(doi101016jcoastaleng200407019)

Vila-Concejo A Matias A Pacheco A FerreiraOacute amp Dias JA (2006) - Quantification of inlet-related hazards in barrier island systems Anexample from the Ria Formosa (Portugal)Continental Shelf Research 261045-1060(doi 101016jcsr200512014)

Weinholtz MB (1978) - Contribuiccedilatildeo para o estudo daevoluccedilatildeo das flechas de areia na costa sotavento do Algarve(Ria de Faro) Relatoacuterio da Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Wells JT amp McNinch J (1991) - Beach scraping inNorth Carolina with special reference to itseffectiveness during Hurricane Hugo Journal ofCoastal Research SI8249-261

Williams SJ (2001) - Coastal erosion and land lossaround the United States strategies to manage andprotect coastal resources ndash examples fromLouisiana Coastal Ecosystems and FederalActivities Technical Training SymposiumProceedings 15 p (disponiacutevel emhttpwwwfwsgovnc-esecoconfwilliamspaperpdf)

Page 9: Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na

65

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Culatra) que soacute podem ser atingidas por barco (Fig4)A evoluccedilatildeo recente da ilha e das barras que a limitamfoi alvo de estudo de diversos autores (eg Granja1984 Esaguy 1984 1986a Dias 1988 Pilkey et al1989 Andrade 1990a Garcia et al 2002 Vila-Concejoet al 2002) Eacute consensual que os molhes da BarraFaro-Olhatildeo foram responsaacuteveis por uma profundaalteraccedilatildeo da hidrodinacircmica do sistema e alteraccedilotildeessignificativas na Ilha da Culatra Segundo Garcia et al(2002) as principais consequecircncias foram ocrescimento muito raacutepido para oriente da ilha e aampliaccedilatildeo do recuo da linha de costa na zonaocidental

A linha de costa da extremidade ocidental da ilhaonde se localiza a povoaccedilatildeo do Farol estaacutecompletamente artificializada (molhe oriental da barraenrocamento longitudinal construiacutedo para protecccedilatildeodas edificaccedilotildees e estabilizaccedilatildeo da linha de costa e umesporatildeo no limite oriental da povoaccedilatildeo) Neste sectora ilha eacute relativamente estreita com uma duna de decliveacentuado paralela agrave linha de costa evidenciandocarecircncia de sedimentos (Garcia et al 2002) o que setorna problemaacutetico pois que esta zona se encontraintensamente ocupada

A morfologia do sector central reflecte aalternacircncia de cordotildees dunares e canais de mareacute Naprimeira metade do seacuteculo XX a margem ocidentalda barra da Armona (que era a principal do sistema)localizava-se junto agrave povoaccedilatildeo da Culatra tendo aiacutesido construiacutedas as instalaccedilotildees do Instituto deSocorros a Naacuteufragos onde estava sedeado o botesalva-vidas Estas instalaccedilotildees haacute muito que perderampor completo a sua funcionalidade estandoactualmente convertidas num Centro Social dapovoaccedilatildeo A ocupaccedilatildeo apenas ocorre na margemlagunar da ilha e consequentemente natildeo estaacute sujeitaa problemas significativos de erosatildeo costeira

O sector oriental que se constituiu essencialmentea partir de meados do seacuteculo XX eacute despovoado Estecrescimento da ilha estaacute provavelmente relacionadocom a modificaccedilatildeo da hidrodinacircmica do sistemadevido agrave construccedilatildeo da Barra de Faro-OlhatildeoApresenta corpo dunar pouco desenvolvido e elevadasusceptibilidade a galgamentos (Andrade et al 1998Garcia et al 2002 Vila-Concejo et al 2006)

37 Barra da Armona

A Barra da Armona que separa as ilhas da Culatra

Figura 4 ndash Panoracircmica da Ilha da Culatra e Barra de Faro-Olhatildeo vista de Oeste na foto satildeo visiacuteveis as povoaccedilotildeesdo Farol Hangares e Culatra (fotografia obtida em Novembro de 2006 pelo autor)Figure 4 ndash Oblique aerial photo from West of the Culatra Island and Faro-Olhatildeo Inlet showing the Farol Hangares andCulatra communities (photo by author in November 2006)

66

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

e da Armona eacute considerada a uacutenica barra estaacutevel dosistema em termos de localizaccedilatildeo (Pilkey et al 1989)e a que apresenta o delta de vazante mais desenvolvido(Dias et al 1997) (Fig2) Era a principal barra dosistema mas o crescimento da ilha da Culatra temprovocado o seu estreitamento progressivo Entre1873 e 1983 a barra estreitou cerca de 2500mpassando de uma largura de 4300m para 1850m(Esaguy 1984) A maior taxa de estreitamento entre1950 e 1977 estaacute provavelmente relacionada com aconclusatildeo da abertura da Barra de Faro-Olhatildeo (Vila-Concejo et al 2002) Na actualidade apresenta umalargura de cerca de 200m

38 Ilha da Armona

A Ilha da Armona tem comprimento aproximadode 9km e largura maacutexima de cerca de 1400m naextremidade SW (Fig2) A parte ocidental apresentaum longo cordatildeo dunar frontal de 8 a 9m A deposiccedilatildeode sedimento a ocidente eacute um fenoacutemeno uacutenico emtodo o sistema da Ria Formosa (Pilkey et al 1989) econtribui para o estreitamento da Barra da ArmonaA parte oriental apresenta um cordatildeo dunar poucodesenvolvido e elevada susceptibilidade ao galgamento(Andrade et al 1998)

Na zona mais larga a ocidente encontra-se apovoaccedilatildeo da Armona Progressivamente a largura dailha vai diminuindo para oriente sendo o cordatildeo dunarrobusto e bem vegetado ateacute agrave zona fronteira agravepovoaccedilatildeo da Fuzeta (Fig1)

Nesta zona bastante estreita e sujeita agalgamentos oceacircnicos onde se localizava a Barra daFuzeta em meados do seacuteculo XX encontra-se umconjunto de casas (construiacutedas ilegalmente) comutilizaccedilatildeo natildeo permanente Ramos amp Dias (2000)apontam esta ocupaccedilatildeo como um dos casos maiscriacuteticos do sistema por se localizar numa zona comelevada vulnerabilidade ao galgamento

39 Barra da Fuzeta

A Barra da Fuzeta que separa as ilhas da Armonae de Tavira tem actualmente cerca de 250m de largura(Fig2) Apresenta normalmente evoluccedilatildeo muitoraacutepida (Dias et al 1997) Entre 1945 e 1996 registouuma taxa de migraccedilatildeo meacutedia de cerca de 65mano(Vila-Concejo et al 2006) Natildeo satildeo conhecidos valoresexactos da extensatildeo ou duraccedilatildeo do ciclo de migraccedilatildeo

Contudo de acordo com Vila-Concejo et al (2002) ociclo completo dura pelo menos 50 anos e a barramigra no total mais de 3500m Esta migraccedilatildeo podeser progressiva ou intermitente (Dias et al 1997)

Agrave semelhanccedila da Barra do Ancatildeo procedeu-se agraveabertura artificial de uma nova Barra da Fuzeta emJulho de 1999 Poreacutem devido aos condicionamentosimpostos pelas casas existentes frente agrave povoaccedilatildeo daFuzeta foi aberta apenas a cerca de 800m a ocidenteda posiccedilatildeo que ocupava em 1996 Parte do sedimentodragado foi utilizada para fechar artificialmente aantiga barra No entanto esta intervenccedilatildeo natildeo obtevemuito sucesso devido ao aumento de sinuosidade docanal apoacutes a abertura De acordo com os resultadosde Vila-Concejo et al (2004b) o canal atingiu oequiliacutebrio dinacircmico em Julho de 2000

310 Ilha de Tavira

A Ilha de Tavira eacute a maior do sistema com cercade 11km de comprimento e 800m de largura maacuteximana parte central (Fig2) Esta ilha estreitaprogressivamente para SW onde existem sinais deforte erosatildeo e de frequentes galgamentos No entantoo campo dunar eacute na generalidade moderadamentelargo e elevado constituiacutedo por vaacuterios cordotildeesdunares A Ilha de Tavira exceptuando a extremidadeSW eacute considerada uma das mais ldquoestaacuteveisrdquo do sistemada Ria Formosa natildeo existindo indiacutecios de processosdestrutivosconstrutivos relacionados com amigraccedilatildeo de barras Apresenta poreacutem algunscorredores eoacutelicos junto agraves zonas de maior ocupaccedilatildeodevido ao pisoteio e na parte central na zonaenvolvente ao Arraial do Barril verificou-se um recuoda linha de costa entre 1976 e 2001 de 02 a 13mano (Garcia et al 2005)

A extremidade oriental da ilha estaacute estabilizadaartificialmente pelos molhes da Barra de Tavira o quelevou agrave acumulaccedilatildeo de sedimentos a ocidente dabarra numa extensatildeo de cerca de 1000m A partemais vulneraacutevel da zona NE situa-se junto ao Canalde Tavira artificial pois que a sua posiccedilatildeo tem sidomantida atraveacutes de dragagens e traccediladomeandriforme Neste local a ilha tecircm apenas cerca de150m de largura

A Ilha de Tavira apresenta duas zonas de ocupaccedilatildeoo Arraial do Barril (antiga infra-estrutura de pesca doatum convertida em apoio de praia) e a Praia de Tavira

67

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

onde se situam estruturas de apoio com algumaenvergadura designadamente um parque decampismo (Fig1) Na actualidade apesar dos impactesantroacutepicos serem elevados satildeo concentrados elimitados Segundo Dias et al (2004) o Arraial doBarril pode ser apontado como um bom exemplo deexploraccedilatildeo turiacutestica sustentaacutevel natildeo haacute habitaccedilatildeopermanente o acesso eacute efectuado por uma pontepedonal e por um pequeno comboio ou pelo passeioque o ladeia (o que evita impactes generalizados) asantigas instalaccedilotildees da companhia de pesca queestavam abandonadas tiveram reaproveitamentolucrativo Contudo o cordatildeo dunar frontal estaacute sujeitoa alguma erosatildeo e a pequenos galgamentos oceacircnicosdetectando-se tambeacutem alguns corredores eoacutelicos episoteio moderado A previsatildeo da localizaccedilatildeo da linhade costa em 2050 considerando a aceleraccedilatildeo daelevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar e a eventualocorrecircncia de um temporal com periacuteodo de retornode 50 anos indica que eacute expectaacutevel um recuo da ordemdos 70m ou seja que atingiraacute as edificaccedilotildees aiacuteexistentes (Ferreira et al 2006)

311 Barra de Tavira

A Barra de Tavira artificial separa as ilhas deTavira e de Cabanas e tem largura de 60m (Fig2) Foiaberta artificialmente em 1927 quase em frente agrave fozdo Rio Gilatildeo conduzindo ao encerramento da antigabarra em 1930 (Vila-Concejo et al 2006) Os dadosdisponiacuteveis sugerem uma velocidade de migraccedilatildeo daantiga barra de cerca de 40mano (Weinholtz 1978)A barra artificial teve que ser sujeita a vaacuterias operaccedilotildeesde dragagem entre 1930 e 1935 e estabilizada pordois esporotildees em 1936 devido ao constanteassoreamento (Esaguy 1987) Um ciclone ocorridoem 1941 abriu uma nova barra a cerca de 1100m aEste da barra artificial (Barra do Cochicho-Almargem) a qual rapidamente alargou e comeccedilou amigrar para oriente A existecircncia da nova barra levouao aumento do assoreamento da Barra de Tavira queteve que ser reaberta em 1961 face agraves dificuldades denavegaccedilatildeo Posteriormente foram efectuadas diversasobras de dragagem estabilizaccedilatildeo e fortalecimento dediques no sentido de diminuir o assoreamento(Esaguy 1987) A eficiecircncia hidrodinacircmica da Barrade Tavira eacute muito pequena representando cerca de4 do prisma de mareacute total do sistema (Andrade1990a)

312 Ilha de Cabanas

A Ilha de Cabanas eacute a ilha mais oriental e a maispequena do sistema com um comprimento de cercade 6km e uma largura maacutexima de 300m (Fig2) Narealidade constitui a extremidade natural da Ilha deTavira tendo sido convertida numa ilha autoacutenomapela abertura artificial da Barra de Tavira (Dias 1988)Foi completamente destruiacuteda durante o ciclone de1941 e novamente no decurso de um violentotemporal em 1961 os quais provocaram extensosgalgamentos oceacircnicos e a formaccedilatildeo de uma novabarra (Barra de Cabanas) para aleacutem da Barra doCochicho-Almargem as quais juntas formaram umaabertura uacutenica com cerca de 2500m de extensatildeo apartir da meia mareacute (Matias 2000)Consequentemente o cordatildeo dunar eacute relativamenterecente fraacutegil e elevando-se apenas a uma cota meacutediade 25m (Dias et al 2003)

A Ilha de Cabanas foi a primeira zona a serintervencionada ao abrigo do programaldquoRequalificaccedilatildeo do sistema lagunar da Ria Formosardquoentre Abril e Junho de 1999 Natildeo existem estimativasda quantidade de sedimentos perdidos para o marNo entanto os dragados usados na realimentaccedilatildeoeram grosseiros ajudando agrave naturalizaccedilatildeo dos aterrosefectuados (Saacute-Pires et al 2001) Aleacutem destaintervenccedilatildeo foi construiacutedo mais um pequeno esporatildeoa oriente da Barra de Tavira pelo que a erosatildeo que aiacutese verifica ficou atenuada pela existecircncia de doisesporotildees As intervenccedilotildees parecem ter sidodeterminantes na protecccedilatildeo da praia uma vez quenatildeo se tecircm registado galgamentos ou erosatildeo do cordatildeodunar nos locais intervencionados os mesmosapresentam alguma colonizaccedilatildeo por vegetaccedilatildeopioneira (Saacute-Pires et al 2001) No entanto uma vezque a realimentaccedilatildeo foi localizada e o cordatildeo dunareacute de baixa altitude as intervenccedilotildees natildeo impedem quenum futuro proacuteximo ocorram galgamentossobretudo junto aos apoios de praia existentes

313 Barra do Laceacutem

A Barra do Laceacutem corresponde agrave barra natural dolimite Este da Ilha de Tavira se esta natildeo fosseinterrompida pela barra artificial de Tavira (Fig2)Vaacuterios autores documentaram a evoluccedilatildeo da mesma(eg Weinholtz 1978 Esaguy 1986b Dias 1988

68

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Pilkey et al 1989 Andrade 1990a Bettencourt 1994Matias 2000 Vila-Concejo et al 2002) A barra separaa Ilha de Cabanas e a Peniacutensula de Cacela deriva dajunccedilatildeo em 1985 das Barras de Cochicho-Almargem(aberta pelo ciclone de 1941) e de Cabanas (abertapelo temporal de 1961) (Esaguy 1986b) A velocidademeacutedia de migraccedilatildeo da barra tem sido de 97mano(Vila-Concejo et al 2006)

Mais recentemente em 2004 abriu-se uma novabarra natural localizada a oriente da antiga Barra doLaceacutem A nova barra conduziu ao assoreamento daantiga Barra do Laceacutem com o seu consequenteencerramento

314 Peniacutensula de Cacela

A Peniacutensula de Cacela localiza-se no extremooriental da Ria Formosa Tem cerca de 3km decomprimento e entre 100 a 250m de largura (Fig2)

Em 1976 a cota meacutedia do cordatildeo dunar singularrobusto e vegetado era de 34m atingindo um maacuteximode 61m (Esaguy 1986c) A posterior degradaccedilatildeo doscorpos dunares devido ao pisoteio conduziu a umgrande aumento da frequecircncia de galgamentos (Diaset al 2004) Em 1990 Andrade (1990b) verificou quea Peniacutensula de Cacela apresentava um maacuteximo desusceptibilidade a galgamentos oceacircnicos De factodurante o Inverno de 19951996 ocorreramgalgamentos generalizados em quase toda a peniacutensulaque conduziram agrave abertura de uma nova barra nocentro da mesma (Barra da Faacutebrica) a qual emOutubro de 1996 chegou a ter cerca de 35m de largurae uma profundidade de 07m (Matias et al 2004) Casonatildeo se efectuasse qualquer intervenccedilatildeo era de preverque as dunas remanescentes desaparecessem porcompleto

Assim no sentido de diminuir a vulnerabilidade agalgamentos e de manter a produccedilatildeo de bivalves(actividade econoacutemica mais importante da zona)foram efectuadas entre Outubro de 1996 e Fevereirode 1997 grandes intervenccedilotildees que consistiramprincipalmente na ldquoreconstituiccedilatildeordquo do cordatildeo dunarda Peniacutensula de Cacela na colmataccedilatildeo da Barra daFaacutebrica e na dragagem da Barra do Laceacutem e do canallagunar (Ramos amp Dias 2000 Matias et al 2005) Oobjectivo era elevar a cota do topo do cordatildeo dunarateacute aos 75m acima do Zero Hidrograacutefico (ZH)reconstituindo uma situaccedilatildeo semelhante agrave existente

nos anos 60 (Ramos amp Dias 2000) Todavia devidoagrave existecircncia de formaccedilotildees consolidadas queimpossibilitaram a dragagem agraves cotas inicialmenteestabelecidas a quantidade de sedimentos repulsadospara a peniacutensula foi bastante inferior ao previstoestimando-se que o material deposto no cordatildeo dunartenha atingido apenas 325000m3 (Ramos amp Dias2000) Tal obrigou agrave reformulaccedilatildeo do projectoelevando-se a cota de topo da duna apenas para os5m acima do ZH Segundo Matias et al (1999) cercade 32 do sedimento depositado perdeu-seimediatamente apoacutes a deposiccedilatildeo no cordatildeo arenosoTal verificou-se devido aos processos de acomodaccedilatildeodo perfil de praia submerso mas tambeacutem porquegrande parte do material natildeo apresentava agranulometria adequada Depois da realimentaccedilatildeo avegetaccedilatildeo pioneira comeccedilou rapidamente a colonizara duna reconstituiacuteda (Matias et al 2004)

Outras intervenccedilotildees tecircm vindo a ser efectuadasdepois do robustecimento do cordatildeo dunar foramconstruiacutedos passadiccedilos de madeira procedeu-se agravecolocaccedilatildeo de paliccediladas no sentido de propiciar odesenvolvimento de dunas naturais e agrave plantaccedilatildeo deAmmophila arenaria Posteriormente entre Abril de1999 e Julho de 2000 efectuaram-se em quase todoo sistema novas dragagens nos canais natildeoconsiderados de navegaccedilatildeo integradas no Projectode Requalificaccedilatildeo do Sistema Lagunar com oobjectivo de intensificar a circulaccedilatildeo assim mantendoas condiccedilotildees ecoloacutegicas do sistema Nesta intervenccedilatildeovoltou-se a dragar a Barra do Laceacutem em Junho de1999 Segundo Ramos amp Dias (2000) as intervenccedilotildeesatingiram os objectivos tendo a vulnerabilidade aogalgamento sido drasticamente reduzida e do ladonascente verificando-se o estabelecimento dasucessatildeo fitogeneacutetica conferindo um aspecto naturalao novo cordatildeo dunar

Mais recentemente na parte central da zonaintervencionada verificou-se erosatildeo completa daldquodunardquo reconstruiacuteda o que tinha sido previsto nosestudos de monitorizaccedilatildeo realizados no decurso eimediatamente apoacutes a intervenccedilatildeo tendo-se na alturasugerido a possibilidade de nova pequena intervenccedilatildeopontual Todavia quando se verificou a ruptura natildeohouve possibilidades de efectuar essa pequenaintervenccedilatildeo pelo que se abriu naturalmente novabarra o que nos uacuteltimos anos provocou a colmataccedilatildeo

69

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

da antiga barra e erosatildeo de grande parte das ldquodunasrdquoreconstruiacutedas no final do seacuteculo XX

4 DISCUSSAtildeO

41 Evoluccedilatildeo Geral do Sistema

Como se deduz dos pontos anteriores o sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa eacute extremamentedinacircmico e como tal bastante vulneraacutevel As taxasde crescimento longitudinal de algumas ilhas satildeo dasmais notaacuteveis a niacutevel mundial (Dias et al 1997)

Segundo Pilkey et al (1989) os principais processosque contribuem para a evoluccedilatildeo das ilhas-barreira daRia Formosa satildeo (1) recuo da linha de costa (2) derivalitoral (3) galgamentos oceacircnicos (4) formaccedilatildeo decorpos dunares e de estabelecimento da respectivavegetaccedilatildeo (5) constituiccedilatildeo de deltas de mareacute e suaagregaccedilatildeo agraves ilhas (6) comportamento das barras e(7) erosatildeoacumulaccedilatildeo provocada pelas mareacutes-vivasdesignadamente nos canais de mareacute

Recuo da linha de costaOs valores observados na evoluccedilatildeo da linha de

costa indicam a existecircncia de recuo generalizado dasilhas e peniacutensulas (com excepccedilatildeo das zonasimediatamente a barlamar dos molhes das barras denavegaccedilatildeo) a qual varia consoante a localizaccedilatildeogeograacutefica e a interacccedilatildeo com os processos oceacircnicosA linha de costa move-se em resposta aos factoresnaturais de forma a manter o equiliacutebrio (Williams2001) O recuo da linha de costa eacute mais acentuadonos extremos do sistema e na parte ocidental das ilhase peniacutensulas Na parte central do sistema e nosextremos orientais das ilhas verifica-se algumaacreccedilatildeo Nas duas aacutereas mais intensamente ocupadas(Praia de Faro e Farol) existe estabilizaccedilatildeo da linha decosta devido a artificializaccedilatildeo desta com estruturasfixas de engenharia costeira A acreccedilatildeo verificada aoriente das ilhas da Barreta e de Tavira deve-se agravedeposiccedilatildeo de sedimentos a barlamar dos molhes dasbarras artificiais

Deriva litoralTorna-se evidente que o sistema da Ria Formosa

tem grande carecircncia de sedimentos principalmentenalgumas zonas mais expostas Contudo grande partedeste problema tem origem a barlamar do sistemaonde foram construiacutedos os molhes da marina deVilamoura e o campo de esporotildees de Quarteira que

interromperam a deriva litoral provocando a orienteintensificaccedilatildeo da erosatildeo nas arribas situadas entreQuarteira e a Praia do Garratildeo Actualmente as arribassatildeo o principal elemento abastecedor de areias aosistema da Ria Formosa (Correia et al 1997) Noentanto estas natildeo chegam para colmatar as carecircnciassedimentares do sistema da Ria Formosa o quesignifica que se forem construiacutedas obras riacutegidas deengenharia costeira neste sector se verificaraacuteintensificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico do sistemaampliando o grau de ruptura em que este jaacute seencontra Um exemplo que ilustra esta vulnerabilidadefoi a conclusatildeo da construccedilatildeo dos molhes da barraartificial de Faro-Olhatildeo em meados do seacuteculopassado que induziu grandes alteraccedilotildees com efeitosdraacutesticos no suprimento de sedimento agrave parte orientalNa realidade a abertura desta barra estabilizada pelosmolhes respectivos fez com que o sistema naturalentrasse em ruptura modificando radicalmente ascaracteriacutesticas hidro-sedimentoloacutegicas Segundo Dias(1990) as uacutenicas acccedilotildees de protecccedilatildeo realmenteeficazes satildeo as que possibilitam a reconstituiccedilatildeo daderiva litoral com os consequentes volumes desedimentos necessaacuterios

Galgamentos oceacircnicosAs ilhas-barreira da Ria Formosa satildeo

periodicamente sujeitas a galgamentos oceacircnicosdurante temporais de SW e SE Estes galgamentosconstituem um elemento muito importante nadinacircmica e na evoluccedilatildeo natural do sistemacontribuindo com fornecimento de sedimentos parao interior da laguna e abertura de novas barras quandoas antigas jaacute natildeo apresentam eficiecircncia (Andrade1990a) Tecircm sido assumidos como principalmecanismo de migraccedilatildeo das ilhas-barreira(Leatherman 1976 Bray amp Carter 1992) induzindoum efeito construtivo de acreccedilatildeo (Matias et al 2003)Assim sendo a gestatildeo deve integrar uma adaptaccedilatildeoaos galgamentos naturais uma vez que satildeo vitais parao funcionamento natural do sistema

Do ponto de vista da ocupaccedilatildeo os galgamentosoceacircnicos satildeo um factor importante que necessita deser avaliado para propiciar uma gestatildeo mais eficazuma vez que induz seacuterios danos nas infra-estruturasexistentes (Andrade et al 1998) Verifica-se que ospontos mais vulneraacuteveis a galgamentos satildeo a Praia deFaro Barreta W Culatra E Armona E Tavira W toda

70

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

a Ilha de Cabanas e a Peniacutensula de Cacela Nesteslocais mesmo a ocorrecircncia de pequenos temporaisdurante a preia-mar de mareacutes vivas podem provocargalgamentos Alguns pontos como a Ilha de Cabanase a Peniacutensula de Cacela viram reduzida avulnerabilidade a galgamentos apoacutes as intervenccedilotildeesefectuadas com algum sucesso embora essavulnerabilidade comece a ser actualmente elevada nosegundo caso devido aos factos aludidos mais acimaEm geral os locais de maior vulnerabilidade satildeo osque apresentam perfis de praia de pouca inclinaccedilatildeocordatildeo dunar fraacutegil e proximidade das barras

Cordatildeo dunar e vegetaccedilatildeo dunarAo longo das ilhas existiu um cordatildeo dunar frontal

contiacutenuo com 5 a 10m de altura sem cortes eoacutelicos ede galgamento muito significativos e bem cobertosde vegetaccedilatildeo (Pilkey et al 1989) No entanto o cordatildeodunar encontra-se na actualidade completamenteocupado em alguns locais por edificaccedilotildees comoacontece na Praia de Faro na povoaccedilatildeo do Farol e naIlha da Armona A vegetaccedilatildeo tornou-se escassa natildeosomente nas zonas ocupadas mas tambeacutem noutroslocais como na parte ocidental da Ilha da Barreta ena oriental das ilhas da Armona e da Culatra

Com a crescente pressatildeo antroacutepica exercida sobreo sistema especialmente para fins balneares verifica-se que em vaacuterios locais a quantidade de cortes eoacutelicostem aumentado devido ao pisoteio Este facto podeconduzir em periacuteodos de agitaccedilatildeo mariacutetima maisenergeacutetica agrave ocorrecircncia de galgamentos oceacircnicosRamos amp Dias (2000) referem que grande parte doscortes de galgamento oceacircnico do sistema da RiaFormosa eacute devido ao pisoteio dos corpos dunares enatildeo a causas naturais

A instalaccedilatildeo intensiva nos uacuteltimos anos depaliccediladas para recuperaccedilatildeo dunar complementadacom plantaccedilatildeo de vegetaccedilatildeo tiacutepica destes ambientescorresponde a uma acccedilatildeo de gestatildeo com efeitos muitopositivos com a qual se tem conseguido robustecero cordatildeo dunar do sistema

Deltas de mareacuteA incorporaccedilatildeo de deltas de enchente e posterior

migraccedilatildeo ou encerramento da barra respectivaconstitui importante mecanismo de evoluccedilatildeo dasilhas-barreira estando na origem da grande larguradas ilhas da Armona e de Tavira (Pilkey et al 1989)

A formaccedilatildeo de deltas de enchente em associaccedilatildeo comos galgamentos oceacircnicos contribui para a migraccedilatildeodas ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continente o quepoderaacute estar a suceder com o caso particular daPeniacutensula de Cacela (Andrade et al 2004)

Comportamento das barrasA Ria Formosa eacute caracterizada por apresentar

elevadas taxas de migraccedilatildeo das barras A estabilizaccedilatildeode duas das barras no sector oriental provocou fortesmodificaccedilotildees na dinacircmica do sistema Segundo Vila-Concejo et al (2002) a estabilizaccedilatildeo da Barra Faro-Olhatildeo (1929-1955) teve maiores consequecircncias nasbarras do Ancatildeo e da Armona enquanto que aabertura artificial da Barra de Tavira (1927-1985)produziu maiores efeitos nas barras da Fuzeta e doLaceacutem

A Barra da Armona era a principal barra dosistema controlando a maior parte da circulaccedilatildeo daRia Formosa na parte central Com a abertura da BarraFaro-Olhatildeo projectada para manter profundidadesentre-molhes da ordem de 45m ZH mas queprogressivamente se foi aprofundando ateacuteprofundidades superiores a 40 metros as trocashiacutedricas com o oceano passaram a efectuar-sepredominantemente por esta barra Os molhesprovocaram grande acumulaccedilatildeo a barlamar pelo quenos 12 anos seguintes agrave sua construccedilatildeo a Ilha daBarreta registou alargamento superior a 220 metrosna zona por eles influenciada (Bettencourt 1985) Emconsequecircncia a barra da Armona perdeu eficaacuteciareduzindo progressivamente largura e profundidadeNos anos 80 do seacuteculo XX tinha ainda cerca de 2000metros de largura mas actualmente essa largura eacuteapenas da ordem de 200 metros

O sentido de migraccedilatildeo das barras natildeo estabilizadaseacute para oriente (agrave excepccedilatildeo da Barra da Armona quetem mantido a sua posiccedilatildeo) Essa migraccedilatildeo efectua-se quer progressivamente (mantendo ou natildeo a largura)ou por ldquosaltosrdquo na sequecircncia de temporais em quenova barra se abre em geral a sotamar da barraexistente seguindo-se frequentemente a posteriorcolmataccedilatildeo desta (Dias 1988 Pilkey et al 1989Andrade et al 1998)

Erosatildeo provocada pelas mareacutes-vivasA Ria Formosa eacute um sistema lagunar com uma

grande aacuterea de zona intertidal (cerca de 13 do total

71

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

da aacuterea) Em cada ciclo de mareacute 50 a 75 da aacutegua eacuterenovada (Sprung 1994) Devido agrave diferenccedila deamplitude entre mareacutes-vivas e mareacutes-mortas as zonasde menor elevaccedilatildeo das ilhas-barreira satildeo regularmenteinundadas durante as primeiras causando transportesignificativo de sedimentos Estes fluxos satildeoresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo de canais de mareacute eaumento da erosatildeo das ilhas-barreira

Como jaacute foi referido os periacuteodos de mareacutes-vivassatildeo bastante problemaacuteticos especialmente noInverno na medida em que potenciam o efeito detempestades que ocorrem durante mareacutes-cheiasTodos os anos nos pontos criacuteticos do sistema comoa Praia de Faro a probabilidade de ocorrer umasituaccedilatildeo muito grave aumenta principalmente se seconsiderar a elevaccedilatildeo do NMM

42 Intervenccedilatildeo

Como eacute reconhecido por Scheele amp Westen (1996)os planos de gestatildeo costeira devem apontar para aprotecccedilatildeo ambiental de longo prazo o que implica(1) uma estrateacutegia com objectivos claros e concisos(2) uma metodologia praacutetica e realista (3)monitorizaccedilatildeo contiacutenua (4) forte aposta nosprogramas de educaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo ambiental e(5) envolvimento da comunidade local no processode planeamento e tomada de decisotildees

Sendo a Ria Formosa um sistema muito dinacircmicocom elevada vulnerabilidade e que reage rapidamentea elevaccedilotildees do niacutevel do mar os muacuteltiplos interesseseconoacutemicos e sociais aiacute existentes fazem com que aaacuterea seja caracterizada por elevado grau de conflitosde interesses A situaccedilatildeo torna-se ainda mais complexaquando se considera que o sistema corresponde a umParque Natural onde haacute que compatibilizar interesseseconoacutemicos com a conservaccedilatildeo da Natureza Nestecontexto soacute eacute possiacutevel proceder agrave conservaccedilatildeo daNatureza atraveacutes de intervenccedilotildees tendentes a minoraros impactes negativos induzidos pelas actividadesantroacutepicas (Ramos amp Dias 2000)

De acordo com as actividades desenvolvidas osprincipais grupos de interesse na Ria Formosa satildeo(1) o PNRFICNB (2) a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeoe Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR-Algarve) (3) as entidades promotoras do turismo (4)as associaccedilotildees comerciais e industriais (incluindo oporto) (5) os pescadores e autoridades responsaacuteveis

por este sector (6) as entidades regionais e locais (7)as associaccedilotildees de defesa do ambiente e osambientalistas e (8) a populaccedilatildeo local incluindoresidentes e natildeo residentes Como sugere Antunes etal (2006) o entendimento entre os diferentes gruposconduz a uma sinergia que beneficia as potencialidadesque contribuem para uma gestatildeo eficaz

Os principais problemas das ilhas-barreira estatildeolocalizados nos nuacutecleos urbanos devido agraves estruturasedificadas Dos principais nuacutecleos existentes apenasos de Hangares e Culatra natildeo tecircm problemas erosatildeocosteira pois que se localizam junto agrave parte lagunar(e consequentemente afastados da praia oceacircnica eportanto resguardados dos temporais) Os restantespoacutelos de ocupaccedilatildeo (Praia de Faro Farol etc) satildeoproblemaacuteticos sendo os riscos de inundaccedilatildeo e erosatildeobastante elevados Para resolver estes problemasexistem fundamentalmente trecircs estrateacutegias deintervenccedilatildeo (1) intervenccedilatildeo riacutegida (ex esporotildeesparedotildees) (2) retirada estrateacutegica programas natildeoestruturais (ex demoliccedilatildeo de infra-estruturas) e (3)intervenccedilatildeo suave (ex realimentaccedilatildeo de praias) (Pilkeyamp Dixon 1996) Qualquer uma destas estrateacutegias temproacutes e contras sendo praticamente impossiacutevel quequalquer uma delas satisfaccedila todos os grupos deinteresse afectados

Intervenccedilatildeo riacutegidaAteacute haacute poucas deacutecadas em todo o mundo a

construccedilatildeo de estruturas riacutegidas e permanentesconstituiu o meacutetodo mais utilizado de protecccedilatildeo dopatrimoacutenio edificado no litoral Embora estasestruturas se revelem eficazes na defesa de imobiliaacuterioem risco de ser danificado pela erosatildeo costeiraprovocam fortes impactes negativos a sotamar dolocal onde satildeo construiacutedas (Inman 1978 Mangor1998 Greene 2002) pelo que internacionalmente severifica tendecircncia para adoptar outros tipos deprotecccedilatildeo ambientalmente menos agressivos

A construccedilatildeo dos molhes da marina de Vilamourae do campo de esporotildees de Quarteira provocou forteaumento da erosatildeo a oriente e consequentementegraves problemas de gestatildeo Por outro lado a aberturae fixaccedilatildeo das barras de Faro-Olhatildeo e de Tavira parapropiciar melhor funcionamento das estruturasportuaacuterias existentes no meio lagunar econsequentemente beneficiar as actividades socio-econoacutemicas da regiatildeo provocaram grandes alteraccedilotildees

72

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

no sistema fazendo com que o seu funcionamentonatural tivesse entrado em ruptura e que a erosatildeocosteira tivesse sido fortemente amplificada a sotamarComo se veraacute na parte dedicada agraves intervenccedilotildeessuaves a utilizaccedilatildeo de teacutecnicas de transposiccedilatildeo dosmolhes (ldquoby-passingrdquo) permitiria reduzirsubstancialmente alguns destes impactes negativos

A construccedilatildeo de mais estruturas riacutegidas na RiaFormosa (ou a barlamar desta) traduzir-se-ia numaforte amplificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico em queo sistema jaacute se encontra tendendo a meacutedio ndash longoprazo para a completa artificializaccedilatildeo da Ria Formosaconsignada por legislaccedilatildeo nacional como ParqueNatural e reconhecida internacionalmente comoimportante aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental

Retirada estrateacutegica Programas natildeo estruturaisOs programas natildeo estruturais satildeo intervenccedilotildees em

que se procede agrave demoliccedilatildeo de infra-estruturasameaccediladas pela erosatildeo costeira ou transferecircncia dasmesmas para locais mais seguros o que eacute tambeacutemconhecido como ldquoretirada estrateacutegicardquo Viabiliza-seassim a evoluccedilatildeo natural dos sistemas Com amigraccedilatildeo das ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continentecomo resposta agrave elevaccedilatildeo do NMM este tipo deintervenccedilatildeo comeccedilou por ser aplicado em algunslocais da costa Leste dos EUA em 1972 (NRC 1995)A deslocalizaccedilatildeo de infra-estruturas pode ser eficazem locais pouco povoados ou quando existe interessena salvaguarda de patrimoacutenio como aconteceu como farol do Cabo Hatteras nos EUA No entantotorna-se impraticaacutevel em grandes nuacutecleos urbanosdevido aos elevados custos e dificuldades logiacutesticas

Na Ria Formosa este tipo de intervenccedilatildeo temencontrado grandes dificuldades de execuccedilatildeodesignadamente no que se refere agrave demoliccedilatildeo de casasconstruiacutedas ilegalmente em Domiacutenio Hiacutedrico Domiacutenio Puacuteblico Mariacutetimo o que aleacutem de tender aperpetuar situaccedilotildees de muito alto risco potildee em causaa imagem do Paiacutes como Estado de direito (Dias 2002)

Intervenccedilatildeo SuaveA intervenccedilatildeo suave tambeacutem designada por

protecccedilatildeo dinacircmica desde haacute algumas deacutecadas que eacuteutilizada preferencialmente como alternativa agravesteacutecnicas de intervenccedilatildeo riacutegida Apresentam menoresimpactes ambientais sendo uma soluccedilatildeo maisapropriada para aacutereas sensiacuteveis como as ilhas-barreira

As teacutecnicas de protecccedilatildeo suave tais como arealimentaccedilatildeo de praias a reconstruccedilatildeo dunar atransposiccedilatildeo de molhes (by-passing) a abertura debarras (para as deixar evoluir naturalmente) e asldquodragagens ecoloacutegicasrdquo correspondem em geral auma intervenccedilatildeo inicial deixando depois a Naturezaldquotrabalharrdquo Por essa razatildeo estas teacutecnicas satildeo tambeacutemfrequentemente designadas por ldquobuilding with NaturerdquoSatildeo com frequecircncia menos dispendiosas e maiseficientes a longo prazo do que as intervenccedilotildees riacutegidas(Koster amp Hillen 1995 Griggs 1999 Dias et al 2003)

Poreacutem estas teacutecnicas tecircm que ser executadas comforte suporte cientiacutefico e devem envolver o conceitode protecccedilatildeo de trechos costeiros na sua globalidadee natildeo apenas a protecccedilatildeo local de patrimoacutenio edificadoem zonas de risco Se forem concretizadas de formadeficiente podem mesmo revelar-secontraproducentes Eacute o que se passa por exemploquando a realimentaccedilatildeo de praias eacute efectuada comareias extraiacutedas da praia submersa (acima daprofundidade de fecho) nestes casos nenhumsedimento eacute adicionado ao sistema (Wells amp McNinch1991) havendo apenas transferecircncias dentro dosistema com consequecircncias negativas para o seufuncionamento natural tanto ao niacutevel morfodinacircmicocomo bioloacutegico

Desde 1996 que o PNRFICN tem realizadointervenccedilotildees de caraacutecter suave na tentativa demelhorar o funcionamento do sistema e diminuir avulnerabilidade ao galgamento e ao mesmo tempomanter a dinacircmica dos processos naturais (Dias et al2004) Entre as intervenccedilotildees efectuadas procedeu-seao robustecimento da Peniacutensula de Cacela agrave aberturadas Barras do Ancatildeo e da Fuzeta (deixando-as deseguida evoluir naturalmente) agrave dragagem de muitoscanais que natildeo satildeo de navegaccedilatildeo para melhorar acirculaccedilatildeo no sistema agrave repulsatildeo de sedimentos parao cordatildeo arenoso agrave colocaccedilatildeo de paliccediladas parareconstruccedilatildeo dunar agrave plantaccedilatildeo de Ammophila arenariae agrave construccedilatildeo de passadiccedilos sobrelevados

Segundo Dias et al (2003) as intervenccedilotildees suavesrealizadas na Ria Formosa propiciaram melhorprotecccedilatildeo das ilhas-barreira tendo-se em geralatingido os objectivos esperados Os mesmos autoresreferem que os sistemas naturais de elevadaimportacircncia soacutecio-econoacutemica e ambiental (como aRia Formosa) podem ser geridos utilizando este tipo

73

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

de teacutecnicas lucrando com o aproveitamento dosrecursos existentes

A transposiccedilatildeo (by-passing) dos molhes das barrasartificiais meacutetodo utilizado desde haacute muito um poucopor todo o mundo permitiria que as areias retidaspelos molhes a barlamar fosse transferido parasotamar aiacute reconstituindo a deriva litoral econsequentemente minimizando alguns dos impactesnegativos induzidos por estas estruturas Vaacuteriosestudos que demonstram que esta tecnologia natildeoaparenta ter efeitos ambientais negativos associados(eg Lindeman 1997 in Greene 2002)

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Com vista a avaliar a vulnerabilidade das ilhas-barreira da Ria Formosa o presente trabalho incidiuna actualizaccedilatildeo desta problemaacutetica na oacuteptica da gestatildeouma vez que se trata de um sistema em permanentetransformaccedilatildeo Nesta anaacutelise eacute imprescindiacutevel tersempre em consideraccedilatildeo que o sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa estaacute consignado legalmentecomo aacuterea de protecccedilatildeo ambiental desde 1978 anoem que lhe foi atribuiacutedo o estatuto de Reserva Naturaltendo ficado protegido pelo estatuto de ParqueNatural em 1987 (Decreto-lei 37387) e Rede Natura2000 tendo ainda sido integrado desde 1980 na Listade Siacutetios da Convenccedilatildeo de Ramsar (zonas huacutemidasde importacircncia internacional)

Da anaacutelise efectuada conclui-se que eacuteimprescindiacutevel compatibilizar os diversificados valoresnaturais (bioloacutegicos geomorfoloacutegicos fiacutesico-quiacutemicos geoloacutegicos etc) intriacutensecos ao sistema comos muacuteltiplos interesses soacutecio-econoacutemicos decorrentesda sua exploraccedilatildeo (pesca maricultura aquaculturaturismo portos comerciais e de pesca navegaccedilatildeo derecreio etc) Estando influenciado por fortesimpactes antroacutepicos directos e indirectos tais comoentre muitos outros a erosatildeo costeira e a intensificaccedilatildeodo assoreamento lagunar a sobrevivecircncia do sistemaldquonaturalrdquo e a sustentabilidade da sua exploraccedilatildeocarecem de intervenccedilotildees correctivas frequentes porforma a minimizar os impactes negativos aludidosTais intervenccedilotildees teratildeo que ser cautelosas e contiacutenuastentando o mais possiacutevel aproximar-se do que seriaa dinacircmica natural do sistema

Eacute ainda urgente resolver vaacuterios conflitos deinteresses existentes privilegiando as actividades

indutoras de menores impactes negativos e quesimultaneamente viabilizem uma melhor exploraccedilatildeosustentaacutevel do sistema Aponta-se a tiacutetuloexemplificativo o caso do turismo haacute quedesincentivar o turismo de massas directo nesta aacuterea(ateacute porque nas proximidades haacute poacutelos turiacutesticos destegeacutenero bem consolidados) desenvolvendo emalternativa outros tipos de turismo complementardesignadamente o turismo de Natureza a observaccedilatildeode aves (bird watching) e de peixes (fish watching) emambiente natural os passeios no meio lagunar emembarcaccedilotildees natildeo poluentes o turismo gastronoacutemicoetc

A maior parte da zona de barreira do sistema natildeoestaacute ainda ocupado por estruturas imobiliaacuterias Comvista agrave exploraccedilatildeo sustentaacutevel do sistema eacuteimprescindiacutevel que estas zonas continuem semocupaccedilatildeo permanente mantendo algumascaracteriacutesticas pristinas ainda aiacute existentes Nos poucosnuacutecleos urbanos piscatoacuterios existentes cujo casoparadigmaacutetico eacute a povoaccedilatildeo da Culatra onde natildeoexistem problemas realmente graves pois que selocalizam na margem lagunar (relativamente afastadado litoral oceacircnico) devem-se adoptar algumasmedidas correctivas pontuais por forma a preservara sua identidade cultural a melhorar a qualidade devida da populaccedilatildeo e a impedir um crescimentoexagerado Nos restantes nuacutecleos urbanos comcaracteriacutesticas ldquoturiacutesticasrdquo vaacuterios dos quais localizadosnas zonas de maior risco do sistema seria altamentedesejaacutevel que se procedesse agrave completa reformulaccedilatildeoda ocupaccedilatildeo ou sempre que possiacutevel se optasse peladesocupaccedilatildeo

No sentido de tentar resolver os problemas deerosatildeo costeira existentes (que se agravaratildeo no futuro)recomenda-se vivamente que a) natildeo se construamobras de protecccedilatildeo riacutegida (esporotildees paredotildees etc)na Ria Formosa nem na zona a barlamar desta daqual o sistema depende b) se continuem a executaracccedilotildees de robustecimento do cordatildeo dunar e decolmataccedilatildeo dos cortes de galgamento utilizando tantoquanto possiacutevel sedimentos provenientes dadragagem dos canais de navegaccedilatildeo c) se implementea transposiccedilatildeo dos molhes portuaacuterios com relevacircnciaespecial para os molhes da Barra de Faro-Olhatildeo d)efectivamente se proceda agrave demoliccedilatildeo das edificaccedilotildeessituadas em zonas de maior risco e sobre a duna

74

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

primaacuteria concretizando finalmente decisotildeesgovernamentais que tecircm vindo a ser repetidamentetomadas haacute quase trecircs deacutecadas mas nunca executadascabalmente e) sejam amplificadas as acccedilotildees deintervenccedilatildeo e protecccedilatildeo dinacircmica na linha do que severificou desde finais do seacuteculo passado (abertura debarras quando necessaacuterio para as deixar evoluirnaturalmente dragagens ldquoecoloacutegicasrdquo etc) e quetransformaram a Ria Formosa num siacutetio de referecircnciainternacional nesta mateacuteria e que nos uacuteltimos anosapenas tecircm sido executadas de forma extremamentemoderada

Finalmente eacute altamente recomendaacutevel que emtodos os actos de gestatildeo envolvendo quer ascomponentes geomorfoloacutegicas quer as ecoloacutegicasquer as soacutecio-econoacutemicas se tenham sempre emconsideraccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas principalmenteno que se refere agrave elevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar

BIBLIOGRAFIA

Andrade CF (1990a) - O Ambiente de barreira da RiaFormosa Algarve ndash Portugal Dissertaccedilatildeo deDoutoramento 645p Universidade de LisboaPortugal (natildeo publicado)

Andrade CF (1990b) - Estudo da susceptibilidadeao galgamento da Ria Formosa Geolis IV(1-2)69-76 Lisboa Portugal

Andrade CF Barata A amp Teles M (1998) - Ananalysis of the vulnerability to overwash of theRia Formosa barrier island system (Portugal)Using a simple multi-attribute technique (SMART)approach Proceedings of Littoralrsquo98 Conferencepp511-519 Barcelona Espanha

Andrade CF Freitas MC Moreno J amp CraveiroSC (2004) - Stratigraphical evidence of LateHolocene barrier breaching and extreme stormsin lagoonal sediments of Ria Formosa AlgarvePortugal Marine Geology 210339ndash362(doi101016jmargeo200405016)

Antunes P Santos R amp Videira N (2006) -Participatory decision making for sustainabledevelopment - the use of mediated modellingtechniques Land Use Policy 2344ndash52(doi101016jlandusepol200408014)

Bernardo P Bastos R amp Dias JA (2002) - Historicroots for barrier island occupation in the RiaFormosa Littoral 2002 Porto 4 p (disponiacutevel em

httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI02_Lit_91_PBpdf)

Bettencourt P (1985) - Geomorphologie et processusdlsquoeacutevolution reacutecente de la cocircte sotavento (Algarve ndash SudPortugal) Thegravese DEA 92p Universiteacute deBordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Bettencourt P (1994) - Les environnements sedimentairesde la cocircte sotavento (Algarve SudPortugal) et leur eacutevolutionHoloceacutene et actuelle PhD Thesis University ofBordeaux I Franccedila (unfinished)

Bray Jr T amp Carter C (1992) - Physical processesand sedimentary record of a moderntransgressive lacustrine barrier island MarineGeology 105(1-4)155-168 (doi 1010160025-3227(92)90187-M)

Correia F Dias JA Boski T amp Ferreira Oacute (1996)- The retreat of the Eastern Quarteira cliffed coast(Portugal) and its possible causes In Jones PSHealy MG amp Williams AT (eds) Studies inCoastal Management p129-136 Samara PublLtd Cardigan UK (disponiacutevel emht tp w3 u a l g p t j d i a s JA D pape r s CLinternac96_Studies_129_FCpdf)

Correia F Ferreira Oacute amp Dias JA (1997) - Contributodas arribas para o balanccedilo sedimentar do sectorcosteiro Quarteira - Vale do Lobo (Algarve -Portugal) Seminaacuterio sobre a zona costeira doAlgarve 31-39 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_031_FCpdf)

Costa CL (1994) - Final report of sub-project A ldquoWindwave climatology of the Portuguese coastrdquo InstitutoHidrograacutefico Report PO-WAVES 694-A 80 pLisboa Portugal (natildeo publicado)

Dias JA (1988) - Aspectos geoloacutegicos do litoralalgarvio Geonovas 10 113-128 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN88_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (1990) - A Evoluccedilatildeo Actual do LitoralPortuguecircs Geonovas 11 15-29 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN90_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (2002) - Manual de Sobrevivecircncia eVilanagem Diaacuterio de Notiacutecias - SuplementoldquoAmbiente e Desenvolvimento Sustentaacutevelrdquo 30de Julho de 2002 Lisboa Portugal (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersxCS02_DNADpdf)

75

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Dias JA Ferreira Oacute Matias A Vila-Concejo Aamp Saacute-Pires C (2003) - Evaluation of softprotection techniques in barrier islands bymonitoring programs case studies from RiaFormosa (Algarve-Portugal) Journal of CoastalResearch SI35117-131

Dias JA Ferreira Oacute amp Moura D (2004) - O sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa 3ordm SIPRES ndashSimpoacutesio Interdisciplinar sobre Processos Estuarinos 18p Faro Portugal

Dias JA amp Neal WJ (1992) - Sea cliff retreat insouthern Portugal profiles processes andproblems Journal of Coastal Research 8641-654

Dias JA amp Taborda R (1992) - Tidal gauge data indeducing secular trends of relative sea level andcrustal movements in Portugal Journal of CoastalResearch 8655-659

Dias JA Teixeira SB amp Ferreira Oacute (1997) - LivroGuia da Excursatildeo Seminaacuterio sobre a Zona Costeirado Algarve 43 p Faro Portugal

Douglas BC (1995) - Global sea level changedetermination and interpretation US NationalReport to IUGG 1991-1994 Geophys 33 Suppl11 p (disponiacutevel em httpwwwaguorgrevgeophysdougla01dougla01html)

Duarte C Matias A Dias JA amp Ferreira Oacute (1999)- Vulnerabilidade dos corpos dunares do Algarve10ordm Congresso do Algarve 477-490 (disponiacutevelem httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN99_10CA_477_CDpdf)

Esaguy AS (1984) - Ria de Faro Barra da ArmonaEvoluccedilatildeo 1873-1983 5 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1986a) - Ria de Faro Barra de Faro-OlhatildeoEvoluccedilatildeo 1955ndash1985 10p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986b) - Ria de Faro Ilha de TaviraEvoluccedilatildeo 1950ndash1985 8 p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986c) - Ria de Faro Ilha do AncatildeoEvoluccedilatildeo 1950-1985 7 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1987) - Ria de Faro Barra de TaviraEvoluccedilatildeo 13 p Direcccedilatildeo Geral de Portos LisboaPortugal

Ferreira Oacute Dias JA amp Taborda R (2008) -Implications of sea-level rise for Portugal Journal

of Coastal Research 24(2)317-324 (doi 10211207A-00061)

Ferreira Oacute Garcia T Matias A Taborda Ramp DiasJA (2006) - An integrated method for thedetermination of set-back lines for coastal erosionhazards on sandy shores Continental ShelfResearch 261030ndash1044 (doi 101016jcsr200512016)

Ferreira Oacute Martins JC amp Dias JA (1997) -Morfodinacircmica e vulnerabilidade da Praia de FaroSeminaacuterio sobre a zona costeira do Algarve 67-76 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_067_OFpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias Aamp Dias JA (2002)- Recent evolution of Culatra Island (Algarve ndashPortugal) Littoral 2002 The Changing Coast 289-294 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers02_LitTGpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2005)ndash Coastal Hazards Representation for Praia doBarril (Algarve Portugal) Continental ShelfResearch SI4928-33

Granja H (1984) - Eacutetude geacuteomor phologiquesedimentoloacutegique et geacuteoquimique de la Ria Formosa(Algarve-Portugal) These 3eme Cycle 254 pUniversiteacute de Bordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Greene K (2002) - Beach nourishment a review ofthe biological and physical impacts 174 p AtlanticStates Marine Fisheries Commission WashingtonDC (disponiacutevel em httpwwwasmfcorgpublicationshabitatbeachNourishmentpdf)

Griggs GB (1999) - The protection of Californialsquoscoast past present and future Shore amp Beach67(1)18-28

Hoyt JH (1967) - Barrier Island FormationGeological Society of America Bulletin 781125-1136 (doi 1011300016-7606(1967)78[1125BIF]20CO2)

Inman D (1978) - The impact of coastal structureson shorelines Proceedings of Coastal Zoneacute78 ASCE2265-2272

Koster MJ amp Hillen R (1995) - Combat erosion bylaw Coastal defence policy for the NetherlandsJournal of Coastal Research 67(2-3)43-49

Leatherman S (1976) - Barrier islands dynamicsoverwash processes and aeolian transportProceedings of Coastal Engineering Conference ASCE1958-1973

76

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Mangor K (1998) - Coastal restorationconsiderations Proceedings of Coastal Engineeringrsquo98Conference ASCE 3425-3438

Marcelo MJ amp Fonseca LC (1998) - Ria Formosada gestatildeo e conservaccedilatildeo de uma aacuterea protegidaRevista de Biologia 2ordm ENEC 16(1-4)125-133

Martins JT Ferreira Oacute Ciavola Pamp Dias JA (1996)- Monitoring of profile changes at Praia de FaroAlgarve a tool to predict and solve problems InTaussik J amp Mitchell J (eds) Partnership in CoastalZone Management pp 615-622 Samara Publ LtdCardigan UK

Matias A (2000) - Estudo morfosedimentar da Peniacutensulade Cacela Dissertaccedilatildeo de Mestrado 244pUniversidade do Algarve Faro Portugal (natildeopublicado)

Matias A Dias JA Williams AT amp Ferreira Oacute(1997) - Vulnerabilidade das dunas da RiaFormosa 9ordm Congresso do Algarve 231-239Vilamoura Portugal

Matias A Ferreira Oacute amp Dias JA (1999) -Preliminary results on the Cacela Peninsula dunereplenishment Boletiacuten del Instituto Espantildeol deOceanografiacutea 15(1-4)283-288 (disponiacutevel emhttpwwwieoespublicacionesboletinpdfsbol1515_283-288PDF)

Matias A Ferreira Oacute Dias JA amp Vila-Concejo A(2004) - Development of indices for the evaluationof dune recovery techniques Coastal Engineering51261-276 (doi 101016jcoastaleng200402002)

Matias A Ferreira Oacute Mendes I amp Dias JA (1998)- Monitorizaccedilatildeo da alimentaccedilatildeo artificial daPeniacutensula de Cacela Seminaacuterio sobre DragagensDragados e Ambientes Costeiros 47-56

Matias A Ferreira Oacute Mendes I Dias JA amp Vila-Cconcejo A (2005) - Artificial construction ofdunes in the South of Portugal Journal of CoastalResearch 21(3)472-481 (doi 10211203-00471)

Matias A Vila-Concejo A Ferreira Oacute amp Dias JA(2003) - Field measurements of morphologicvariations during an overwash event 4ordm Simpoacutesiosobre a Margem Ibeacuterica Atlacircntica Thalassas19(2b)164-165 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI03_4SM_b164_AMpdf)

NRC - National Research Council (1995) - Beach

Nourishment and Protection 334 p Washington DCNational Academy Press (ISBN 9780309052900)

Pacheco A Carrasco AR Vila-Concejo A FerreiraOacute amp Dias JA (2007) - A coastal managementprogram for channels located in backbarriersystems Ocean amp Coastal Management 50119-143 (doi101016jocecoaman200608008)

Pilkey OH amp Dixon K (1996) - The Corps and theShore 286p Island Press Washington DC USA(ISBN 9781559634380)

Pilkey OH Neal WJ Monteiro JH amp Dias JA(1989) - Algarve Barrier Islands A Noncoastal-Plain System in Portugal Journal of Coastal Research5(2)239-261

Ramos L amp Dias J A (2000) - Atenuaccedilatildeo davulnerabilidade a galgamentos oceacircnicos nosistema da Ria Formosa mediante intervenccedilotildeessuaves 3ordm Simpoacutesio sobre a Margem ContinentalIbeacuterica Atlacircntica Faro 361-362 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers00_SMLRpdf)

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2001)- Avaliaccedilatildeo de realimentaccedilotildees artificiais de praiasda Ria Formosa Casos das ilhas de Cacela e deTavira Congresso do Algarve 2001 8 p

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2002)- Preliminary Evaluation of the MorphologicalEvolution of Contrasting Beaches of the RiaFormosa With Relation to Differences inRefracted Wave Height Littoral 2002 TheChanging Coast 423-429 (disponiacutevel emht tp www2 00 8 i o -war nemu ende dehomepagesschernewskiLittoral2000docsvol3Littoral2002_79pdf)

Scheele RJ amp Westen CJ (1996) - Planning for acoastal policy - the 3A4 approach In Taussik Jamp Mitchell J (eds) Partnership in Coastal ZoneManagement pp 65-71 Samara Publ LtdCardigan UK

Sprung M (1994) - Macrobenthic secondaryproduction in the intertidal zone of Ria Formosaa lagoon in southern Portugal Estuarine Coastaland Shelf Science 38539ndash558 (doi 101006ecss19941037)

Van Den Belt M Videira N Antunes P Santos Ramp Gamito S (2000) - Modelaccedilatildeo Participada na RiaFormosa 36 p Ediccedilatildeo Fundaccedilatildeo do Mar LisboaPortugal

77

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Vila A Dias JMA Ferreira Oacute amp Matias A (1999)- Natural evolution of an artificial inlet CoastalSedimentslsquo99 21478-1488 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI99_CS99_1478_AVpdf)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Ciavola P Matias Aamp Dias JA (2004a) - Tracer studies on the updriftmargin of a complex inlet system Marine Geology20843-72 (doi 101016jmargeo200404020)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA(2003) - The first two years of an inlet sedimentarydynamics Continental Shelf Research 231425-1445 (doi 101016S0278-4343(03)00142-0)

Vila-Concejo A Matias A Ferreira Oacute Duarte Camp Dias JA (2002) - Recent evolution of thenatural inlets of a barrier island system in southernPortugal Journal of Coastal Research (ICS 2002proceedings) SI36741-752

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Morris BD MatiasA amp Dias JA (2004b) ndash Lessons from inletrelocation examples from Southern PortugalCoastal Engineering 51(10)967-990(doi101016jcoastaleng200407019)

Vila-Concejo A Matias A Pacheco A FerreiraOacute amp Dias JA (2006) - Quantification of inlet-related hazards in barrier island systems Anexample from the Ria Formosa (Portugal)Continental Shelf Research 261045-1060(doi 101016jcsr200512014)

Weinholtz MB (1978) - Contribuiccedilatildeo para o estudo daevoluccedilatildeo das flechas de areia na costa sotavento do Algarve(Ria de Faro) Relatoacuterio da Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Wells JT amp McNinch J (1991) - Beach scraping inNorth Carolina with special reference to itseffectiveness during Hurricane Hugo Journal ofCoastal Research SI8249-261

Williams SJ (2001) - Coastal erosion and land lossaround the United States strategies to manage andprotect coastal resources ndash examples fromLouisiana Coastal Ecosystems and FederalActivities Technical Training SymposiumProceedings 15 p (disponiacutevel emhttpwwwfwsgovnc-esecoconfwilliamspaperpdf)

Page 10: Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na

66

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

e da Armona eacute considerada a uacutenica barra estaacutevel dosistema em termos de localizaccedilatildeo (Pilkey et al 1989)e a que apresenta o delta de vazante mais desenvolvido(Dias et al 1997) (Fig2) Era a principal barra dosistema mas o crescimento da ilha da Culatra temprovocado o seu estreitamento progressivo Entre1873 e 1983 a barra estreitou cerca de 2500mpassando de uma largura de 4300m para 1850m(Esaguy 1984) A maior taxa de estreitamento entre1950 e 1977 estaacute provavelmente relacionada com aconclusatildeo da abertura da Barra de Faro-Olhatildeo (Vila-Concejo et al 2002) Na actualidade apresenta umalargura de cerca de 200m

38 Ilha da Armona

A Ilha da Armona tem comprimento aproximadode 9km e largura maacutexima de cerca de 1400m naextremidade SW (Fig2) A parte ocidental apresentaum longo cordatildeo dunar frontal de 8 a 9m A deposiccedilatildeode sedimento a ocidente eacute um fenoacutemeno uacutenico emtodo o sistema da Ria Formosa (Pilkey et al 1989) econtribui para o estreitamento da Barra da ArmonaA parte oriental apresenta um cordatildeo dunar poucodesenvolvido e elevada susceptibilidade ao galgamento(Andrade et al 1998)

Na zona mais larga a ocidente encontra-se apovoaccedilatildeo da Armona Progressivamente a largura dailha vai diminuindo para oriente sendo o cordatildeo dunarrobusto e bem vegetado ateacute agrave zona fronteira agravepovoaccedilatildeo da Fuzeta (Fig1)

Nesta zona bastante estreita e sujeita agalgamentos oceacircnicos onde se localizava a Barra daFuzeta em meados do seacuteculo XX encontra-se umconjunto de casas (construiacutedas ilegalmente) comutilizaccedilatildeo natildeo permanente Ramos amp Dias (2000)apontam esta ocupaccedilatildeo como um dos casos maiscriacuteticos do sistema por se localizar numa zona comelevada vulnerabilidade ao galgamento

39 Barra da Fuzeta

A Barra da Fuzeta que separa as ilhas da Armonae de Tavira tem actualmente cerca de 250m de largura(Fig2) Apresenta normalmente evoluccedilatildeo muitoraacutepida (Dias et al 1997) Entre 1945 e 1996 registouuma taxa de migraccedilatildeo meacutedia de cerca de 65mano(Vila-Concejo et al 2006) Natildeo satildeo conhecidos valoresexactos da extensatildeo ou duraccedilatildeo do ciclo de migraccedilatildeo

Contudo de acordo com Vila-Concejo et al (2002) ociclo completo dura pelo menos 50 anos e a barramigra no total mais de 3500m Esta migraccedilatildeo podeser progressiva ou intermitente (Dias et al 1997)

Agrave semelhanccedila da Barra do Ancatildeo procedeu-se agraveabertura artificial de uma nova Barra da Fuzeta emJulho de 1999 Poreacutem devido aos condicionamentosimpostos pelas casas existentes frente agrave povoaccedilatildeo daFuzeta foi aberta apenas a cerca de 800m a ocidenteda posiccedilatildeo que ocupava em 1996 Parte do sedimentodragado foi utilizada para fechar artificialmente aantiga barra No entanto esta intervenccedilatildeo natildeo obtevemuito sucesso devido ao aumento de sinuosidade docanal apoacutes a abertura De acordo com os resultadosde Vila-Concejo et al (2004b) o canal atingiu oequiliacutebrio dinacircmico em Julho de 2000

310 Ilha de Tavira

A Ilha de Tavira eacute a maior do sistema com cercade 11km de comprimento e 800m de largura maacuteximana parte central (Fig2) Esta ilha estreitaprogressivamente para SW onde existem sinais deforte erosatildeo e de frequentes galgamentos No entantoo campo dunar eacute na generalidade moderadamentelargo e elevado constituiacutedo por vaacuterios cordotildeesdunares A Ilha de Tavira exceptuando a extremidadeSW eacute considerada uma das mais ldquoestaacuteveisrdquo do sistemada Ria Formosa natildeo existindo indiacutecios de processosdestrutivosconstrutivos relacionados com amigraccedilatildeo de barras Apresenta poreacutem algunscorredores eoacutelicos junto agraves zonas de maior ocupaccedilatildeodevido ao pisoteio e na parte central na zonaenvolvente ao Arraial do Barril verificou-se um recuoda linha de costa entre 1976 e 2001 de 02 a 13mano (Garcia et al 2005)

A extremidade oriental da ilha estaacute estabilizadaartificialmente pelos molhes da Barra de Tavira o quelevou agrave acumulaccedilatildeo de sedimentos a ocidente dabarra numa extensatildeo de cerca de 1000m A partemais vulneraacutevel da zona NE situa-se junto ao Canalde Tavira artificial pois que a sua posiccedilatildeo tem sidomantida atraveacutes de dragagens e traccediladomeandriforme Neste local a ilha tecircm apenas cerca de150m de largura

A Ilha de Tavira apresenta duas zonas de ocupaccedilatildeoo Arraial do Barril (antiga infra-estrutura de pesca doatum convertida em apoio de praia) e a Praia de Tavira

67

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

onde se situam estruturas de apoio com algumaenvergadura designadamente um parque decampismo (Fig1) Na actualidade apesar dos impactesantroacutepicos serem elevados satildeo concentrados elimitados Segundo Dias et al (2004) o Arraial doBarril pode ser apontado como um bom exemplo deexploraccedilatildeo turiacutestica sustentaacutevel natildeo haacute habitaccedilatildeopermanente o acesso eacute efectuado por uma pontepedonal e por um pequeno comboio ou pelo passeioque o ladeia (o que evita impactes generalizados) asantigas instalaccedilotildees da companhia de pesca queestavam abandonadas tiveram reaproveitamentolucrativo Contudo o cordatildeo dunar frontal estaacute sujeitoa alguma erosatildeo e a pequenos galgamentos oceacircnicosdetectando-se tambeacutem alguns corredores eoacutelicos episoteio moderado A previsatildeo da localizaccedilatildeo da linhade costa em 2050 considerando a aceleraccedilatildeo daelevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar e a eventualocorrecircncia de um temporal com periacuteodo de retornode 50 anos indica que eacute expectaacutevel um recuo da ordemdos 70m ou seja que atingiraacute as edificaccedilotildees aiacuteexistentes (Ferreira et al 2006)

311 Barra de Tavira

A Barra de Tavira artificial separa as ilhas deTavira e de Cabanas e tem largura de 60m (Fig2) Foiaberta artificialmente em 1927 quase em frente agrave fozdo Rio Gilatildeo conduzindo ao encerramento da antigabarra em 1930 (Vila-Concejo et al 2006) Os dadosdisponiacuteveis sugerem uma velocidade de migraccedilatildeo daantiga barra de cerca de 40mano (Weinholtz 1978)A barra artificial teve que ser sujeita a vaacuterias operaccedilotildeesde dragagem entre 1930 e 1935 e estabilizada pordois esporotildees em 1936 devido ao constanteassoreamento (Esaguy 1987) Um ciclone ocorridoem 1941 abriu uma nova barra a cerca de 1100m aEste da barra artificial (Barra do Cochicho-Almargem) a qual rapidamente alargou e comeccedilou amigrar para oriente A existecircncia da nova barra levouao aumento do assoreamento da Barra de Tavira queteve que ser reaberta em 1961 face agraves dificuldades denavegaccedilatildeo Posteriormente foram efectuadas diversasobras de dragagem estabilizaccedilatildeo e fortalecimento dediques no sentido de diminuir o assoreamento(Esaguy 1987) A eficiecircncia hidrodinacircmica da Barrade Tavira eacute muito pequena representando cerca de4 do prisma de mareacute total do sistema (Andrade1990a)

312 Ilha de Cabanas

A Ilha de Cabanas eacute a ilha mais oriental e a maispequena do sistema com um comprimento de cercade 6km e uma largura maacutexima de 300m (Fig2) Narealidade constitui a extremidade natural da Ilha deTavira tendo sido convertida numa ilha autoacutenomapela abertura artificial da Barra de Tavira (Dias 1988)Foi completamente destruiacuteda durante o ciclone de1941 e novamente no decurso de um violentotemporal em 1961 os quais provocaram extensosgalgamentos oceacircnicos e a formaccedilatildeo de uma novabarra (Barra de Cabanas) para aleacutem da Barra doCochicho-Almargem as quais juntas formaram umaabertura uacutenica com cerca de 2500m de extensatildeo apartir da meia mareacute (Matias 2000)Consequentemente o cordatildeo dunar eacute relativamenterecente fraacutegil e elevando-se apenas a uma cota meacutediade 25m (Dias et al 2003)

A Ilha de Cabanas foi a primeira zona a serintervencionada ao abrigo do programaldquoRequalificaccedilatildeo do sistema lagunar da Ria Formosardquoentre Abril e Junho de 1999 Natildeo existem estimativasda quantidade de sedimentos perdidos para o marNo entanto os dragados usados na realimentaccedilatildeoeram grosseiros ajudando agrave naturalizaccedilatildeo dos aterrosefectuados (Saacute-Pires et al 2001) Aleacutem destaintervenccedilatildeo foi construiacutedo mais um pequeno esporatildeoa oriente da Barra de Tavira pelo que a erosatildeo que aiacutese verifica ficou atenuada pela existecircncia de doisesporotildees As intervenccedilotildees parecem ter sidodeterminantes na protecccedilatildeo da praia uma vez quenatildeo se tecircm registado galgamentos ou erosatildeo do cordatildeodunar nos locais intervencionados os mesmosapresentam alguma colonizaccedilatildeo por vegetaccedilatildeopioneira (Saacute-Pires et al 2001) No entanto uma vezque a realimentaccedilatildeo foi localizada e o cordatildeo dunareacute de baixa altitude as intervenccedilotildees natildeo impedem quenum futuro proacuteximo ocorram galgamentossobretudo junto aos apoios de praia existentes

313 Barra do Laceacutem

A Barra do Laceacutem corresponde agrave barra natural dolimite Este da Ilha de Tavira se esta natildeo fosseinterrompida pela barra artificial de Tavira (Fig2)Vaacuterios autores documentaram a evoluccedilatildeo da mesma(eg Weinholtz 1978 Esaguy 1986b Dias 1988

68

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Pilkey et al 1989 Andrade 1990a Bettencourt 1994Matias 2000 Vila-Concejo et al 2002) A barra separaa Ilha de Cabanas e a Peniacutensula de Cacela deriva dajunccedilatildeo em 1985 das Barras de Cochicho-Almargem(aberta pelo ciclone de 1941) e de Cabanas (abertapelo temporal de 1961) (Esaguy 1986b) A velocidademeacutedia de migraccedilatildeo da barra tem sido de 97mano(Vila-Concejo et al 2006)

Mais recentemente em 2004 abriu-se uma novabarra natural localizada a oriente da antiga Barra doLaceacutem A nova barra conduziu ao assoreamento daantiga Barra do Laceacutem com o seu consequenteencerramento

314 Peniacutensula de Cacela

A Peniacutensula de Cacela localiza-se no extremooriental da Ria Formosa Tem cerca de 3km decomprimento e entre 100 a 250m de largura (Fig2)

Em 1976 a cota meacutedia do cordatildeo dunar singularrobusto e vegetado era de 34m atingindo um maacuteximode 61m (Esaguy 1986c) A posterior degradaccedilatildeo doscorpos dunares devido ao pisoteio conduziu a umgrande aumento da frequecircncia de galgamentos (Diaset al 2004) Em 1990 Andrade (1990b) verificou quea Peniacutensula de Cacela apresentava um maacuteximo desusceptibilidade a galgamentos oceacircnicos De factodurante o Inverno de 19951996 ocorreramgalgamentos generalizados em quase toda a peniacutensulaque conduziram agrave abertura de uma nova barra nocentro da mesma (Barra da Faacutebrica) a qual emOutubro de 1996 chegou a ter cerca de 35m de largurae uma profundidade de 07m (Matias et al 2004) Casonatildeo se efectuasse qualquer intervenccedilatildeo era de preverque as dunas remanescentes desaparecessem porcompleto

Assim no sentido de diminuir a vulnerabilidade agalgamentos e de manter a produccedilatildeo de bivalves(actividade econoacutemica mais importante da zona)foram efectuadas entre Outubro de 1996 e Fevereirode 1997 grandes intervenccedilotildees que consistiramprincipalmente na ldquoreconstituiccedilatildeordquo do cordatildeo dunarda Peniacutensula de Cacela na colmataccedilatildeo da Barra daFaacutebrica e na dragagem da Barra do Laceacutem e do canallagunar (Ramos amp Dias 2000 Matias et al 2005) Oobjectivo era elevar a cota do topo do cordatildeo dunarateacute aos 75m acima do Zero Hidrograacutefico (ZH)reconstituindo uma situaccedilatildeo semelhante agrave existente

nos anos 60 (Ramos amp Dias 2000) Todavia devidoagrave existecircncia de formaccedilotildees consolidadas queimpossibilitaram a dragagem agraves cotas inicialmenteestabelecidas a quantidade de sedimentos repulsadospara a peniacutensula foi bastante inferior ao previstoestimando-se que o material deposto no cordatildeo dunartenha atingido apenas 325000m3 (Ramos amp Dias2000) Tal obrigou agrave reformulaccedilatildeo do projectoelevando-se a cota de topo da duna apenas para os5m acima do ZH Segundo Matias et al (1999) cercade 32 do sedimento depositado perdeu-seimediatamente apoacutes a deposiccedilatildeo no cordatildeo arenosoTal verificou-se devido aos processos de acomodaccedilatildeodo perfil de praia submerso mas tambeacutem porquegrande parte do material natildeo apresentava agranulometria adequada Depois da realimentaccedilatildeo avegetaccedilatildeo pioneira comeccedilou rapidamente a colonizara duna reconstituiacuteda (Matias et al 2004)

Outras intervenccedilotildees tecircm vindo a ser efectuadasdepois do robustecimento do cordatildeo dunar foramconstruiacutedos passadiccedilos de madeira procedeu-se agravecolocaccedilatildeo de paliccediladas no sentido de propiciar odesenvolvimento de dunas naturais e agrave plantaccedilatildeo deAmmophila arenaria Posteriormente entre Abril de1999 e Julho de 2000 efectuaram-se em quase todoo sistema novas dragagens nos canais natildeoconsiderados de navegaccedilatildeo integradas no Projectode Requalificaccedilatildeo do Sistema Lagunar com oobjectivo de intensificar a circulaccedilatildeo assim mantendoas condiccedilotildees ecoloacutegicas do sistema Nesta intervenccedilatildeovoltou-se a dragar a Barra do Laceacutem em Junho de1999 Segundo Ramos amp Dias (2000) as intervenccedilotildeesatingiram os objectivos tendo a vulnerabilidade aogalgamento sido drasticamente reduzida e do ladonascente verificando-se o estabelecimento dasucessatildeo fitogeneacutetica conferindo um aspecto naturalao novo cordatildeo dunar

Mais recentemente na parte central da zonaintervencionada verificou-se erosatildeo completa daldquodunardquo reconstruiacuteda o que tinha sido previsto nosestudos de monitorizaccedilatildeo realizados no decurso eimediatamente apoacutes a intervenccedilatildeo tendo-se na alturasugerido a possibilidade de nova pequena intervenccedilatildeopontual Todavia quando se verificou a ruptura natildeohouve possibilidades de efectuar essa pequenaintervenccedilatildeo pelo que se abriu naturalmente novabarra o que nos uacuteltimos anos provocou a colmataccedilatildeo

69

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

da antiga barra e erosatildeo de grande parte das ldquodunasrdquoreconstruiacutedas no final do seacuteculo XX

4 DISCUSSAtildeO

41 Evoluccedilatildeo Geral do Sistema

Como se deduz dos pontos anteriores o sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa eacute extremamentedinacircmico e como tal bastante vulneraacutevel As taxasde crescimento longitudinal de algumas ilhas satildeo dasmais notaacuteveis a niacutevel mundial (Dias et al 1997)

Segundo Pilkey et al (1989) os principais processosque contribuem para a evoluccedilatildeo das ilhas-barreira daRia Formosa satildeo (1) recuo da linha de costa (2) derivalitoral (3) galgamentos oceacircnicos (4) formaccedilatildeo decorpos dunares e de estabelecimento da respectivavegetaccedilatildeo (5) constituiccedilatildeo de deltas de mareacute e suaagregaccedilatildeo agraves ilhas (6) comportamento das barras e(7) erosatildeoacumulaccedilatildeo provocada pelas mareacutes-vivasdesignadamente nos canais de mareacute

Recuo da linha de costaOs valores observados na evoluccedilatildeo da linha de

costa indicam a existecircncia de recuo generalizado dasilhas e peniacutensulas (com excepccedilatildeo das zonasimediatamente a barlamar dos molhes das barras denavegaccedilatildeo) a qual varia consoante a localizaccedilatildeogeograacutefica e a interacccedilatildeo com os processos oceacircnicosA linha de costa move-se em resposta aos factoresnaturais de forma a manter o equiliacutebrio (Williams2001) O recuo da linha de costa eacute mais acentuadonos extremos do sistema e na parte ocidental das ilhase peniacutensulas Na parte central do sistema e nosextremos orientais das ilhas verifica-se algumaacreccedilatildeo Nas duas aacutereas mais intensamente ocupadas(Praia de Faro e Farol) existe estabilizaccedilatildeo da linha decosta devido a artificializaccedilatildeo desta com estruturasfixas de engenharia costeira A acreccedilatildeo verificada aoriente das ilhas da Barreta e de Tavira deve-se agravedeposiccedilatildeo de sedimentos a barlamar dos molhes dasbarras artificiais

Deriva litoralTorna-se evidente que o sistema da Ria Formosa

tem grande carecircncia de sedimentos principalmentenalgumas zonas mais expostas Contudo grande partedeste problema tem origem a barlamar do sistemaonde foram construiacutedos os molhes da marina deVilamoura e o campo de esporotildees de Quarteira que

interromperam a deriva litoral provocando a orienteintensificaccedilatildeo da erosatildeo nas arribas situadas entreQuarteira e a Praia do Garratildeo Actualmente as arribassatildeo o principal elemento abastecedor de areias aosistema da Ria Formosa (Correia et al 1997) Noentanto estas natildeo chegam para colmatar as carecircnciassedimentares do sistema da Ria Formosa o quesignifica que se forem construiacutedas obras riacutegidas deengenharia costeira neste sector se verificaraacuteintensificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico do sistemaampliando o grau de ruptura em que este jaacute seencontra Um exemplo que ilustra esta vulnerabilidadefoi a conclusatildeo da construccedilatildeo dos molhes da barraartificial de Faro-Olhatildeo em meados do seacuteculopassado que induziu grandes alteraccedilotildees com efeitosdraacutesticos no suprimento de sedimento agrave parte orientalNa realidade a abertura desta barra estabilizada pelosmolhes respectivos fez com que o sistema naturalentrasse em ruptura modificando radicalmente ascaracteriacutesticas hidro-sedimentoloacutegicas Segundo Dias(1990) as uacutenicas acccedilotildees de protecccedilatildeo realmenteeficazes satildeo as que possibilitam a reconstituiccedilatildeo daderiva litoral com os consequentes volumes desedimentos necessaacuterios

Galgamentos oceacircnicosAs ilhas-barreira da Ria Formosa satildeo

periodicamente sujeitas a galgamentos oceacircnicosdurante temporais de SW e SE Estes galgamentosconstituem um elemento muito importante nadinacircmica e na evoluccedilatildeo natural do sistemacontribuindo com fornecimento de sedimentos parao interior da laguna e abertura de novas barras quandoas antigas jaacute natildeo apresentam eficiecircncia (Andrade1990a) Tecircm sido assumidos como principalmecanismo de migraccedilatildeo das ilhas-barreira(Leatherman 1976 Bray amp Carter 1992) induzindoum efeito construtivo de acreccedilatildeo (Matias et al 2003)Assim sendo a gestatildeo deve integrar uma adaptaccedilatildeoaos galgamentos naturais uma vez que satildeo vitais parao funcionamento natural do sistema

Do ponto de vista da ocupaccedilatildeo os galgamentosoceacircnicos satildeo um factor importante que necessita deser avaliado para propiciar uma gestatildeo mais eficazuma vez que induz seacuterios danos nas infra-estruturasexistentes (Andrade et al 1998) Verifica-se que ospontos mais vulneraacuteveis a galgamentos satildeo a Praia deFaro Barreta W Culatra E Armona E Tavira W toda

70

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

a Ilha de Cabanas e a Peniacutensula de Cacela Nesteslocais mesmo a ocorrecircncia de pequenos temporaisdurante a preia-mar de mareacutes vivas podem provocargalgamentos Alguns pontos como a Ilha de Cabanase a Peniacutensula de Cacela viram reduzida avulnerabilidade a galgamentos apoacutes as intervenccedilotildeesefectuadas com algum sucesso embora essavulnerabilidade comece a ser actualmente elevada nosegundo caso devido aos factos aludidos mais acimaEm geral os locais de maior vulnerabilidade satildeo osque apresentam perfis de praia de pouca inclinaccedilatildeocordatildeo dunar fraacutegil e proximidade das barras

Cordatildeo dunar e vegetaccedilatildeo dunarAo longo das ilhas existiu um cordatildeo dunar frontal

contiacutenuo com 5 a 10m de altura sem cortes eoacutelicos ede galgamento muito significativos e bem cobertosde vegetaccedilatildeo (Pilkey et al 1989) No entanto o cordatildeodunar encontra-se na actualidade completamenteocupado em alguns locais por edificaccedilotildees comoacontece na Praia de Faro na povoaccedilatildeo do Farol e naIlha da Armona A vegetaccedilatildeo tornou-se escassa natildeosomente nas zonas ocupadas mas tambeacutem noutroslocais como na parte ocidental da Ilha da Barreta ena oriental das ilhas da Armona e da Culatra

Com a crescente pressatildeo antroacutepica exercida sobreo sistema especialmente para fins balneares verifica-se que em vaacuterios locais a quantidade de cortes eoacutelicostem aumentado devido ao pisoteio Este facto podeconduzir em periacuteodos de agitaccedilatildeo mariacutetima maisenergeacutetica agrave ocorrecircncia de galgamentos oceacircnicosRamos amp Dias (2000) referem que grande parte doscortes de galgamento oceacircnico do sistema da RiaFormosa eacute devido ao pisoteio dos corpos dunares enatildeo a causas naturais

A instalaccedilatildeo intensiva nos uacuteltimos anos depaliccediladas para recuperaccedilatildeo dunar complementadacom plantaccedilatildeo de vegetaccedilatildeo tiacutepica destes ambientescorresponde a uma acccedilatildeo de gestatildeo com efeitos muitopositivos com a qual se tem conseguido robustecero cordatildeo dunar do sistema

Deltas de mareacuteA incorporaccedilatildeo de deltas de enchente e posterior

migraccedilatildeo ou encerramento da barra respectivaconstitui importante mecanismo de evoluccedilatildeo dasilhas-barreira estando na origem da grande larguradas ilhas da Armona e de Tavira (Pilkey et al 1989)

A formaccedilatildeo de deltas de enchente em associaccedilatildeo comos galgamentos oceacircnicos contribui para a migraccedilatildeodas ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continente o quepoderaacute estar a suceder com o caso particular daPeniacutensula de Cacela (Andrade et al 2004)

Comportamento das barrasA Ria Formosa eacute caracterizada por apresentar

elevadas taxas de migraccedilatildeo das barras A estabilizaccedilatildeode duas das barras no sector oriental provocou fortesmodificaccedilotildees na dinacircmica do sistema Segundo Vila-Concejo et al (2002) a estabilizaccedilatildeo da Barra Faro-Olhatildeo (1929-1955) teve maiores consequecircncias nasbarras do Ancatildeo e da Armona enquanto que aabertura artificial da Barra de Tavira (1927-1985)produziu maiores efeitos nas barras da Fuzeta e doLaceacutem

A Barra da Armona era a principal barra dosistema controlando a maior parte da circulaccedilatildeo daRia Formosa na parte central Com a abertura da BarraFaro-Olhatildeo projectada para manter profundidadesentre-molhes da ordem de 45m ZH mas queprogressivamente se foi aprofundando ateacuteprofundidades superiores a 40 metros as trocashiacutedricas com o oceano passaram a efectuar-sepredominantemente por esta barra Os molhesprovocaram grande acumulaccedilatildeo a barlamar pelo quenos 12 anos seguintes agrave sua construccedilatildeo a Ilha daBarreta registou alargamento superior a 220 metrosna zona por eles influenciada (Bettencourt 1985) Emconsequecircncia a barra da Armona perdeu eficaacuteciareduzindo progressivamente largura e profundidadeNos anos 80 do seacuteculo XX tinha ainda cerca de 2000metros de largura mas actualmente essa largura eacuteapenas da ordem de 200 metros

O sentido de migraccedilatildeo das barras natildeo estabilizadaseacute para oriente (agrave excepccedilatildeo da Barra da Armona quetem mantido a sua posiccedilatildeo) Essa migraccedilatildeo efectua-se quer progressivamente (mantendo ou natildeo a largura)ou por ldquosaltosrdquo na sequecircncia de temporais em quenova barra se abre em geral a sotamar da barraexistente seguindo-se frequentemente a posteriorcolmataccedilatildeo desta (Dias 1988 Pilkey et al 1989Andrade et al 1998)

Erosatildeo provocada pelas mareacutes-vivasA Ria Formosa eacute um sistema lagunar com uma

grande aacuterea de zona intertidal (cerca de 13 do total

71

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

da aacuterea) Em cada ciclo de mareacute 50 a 75 da aacutegua eacuterenovada (Sprung 1994) Devido agrave diferenccedila deamplitude entre mareacutes-vivas e mareacutes-mortas as zonasde menor elevaccedilatildeo das ilhas-barreira satildeo regularmenteinundadas durante as primeiras causando transportesignificativo de sedimentos Estes fluxos satildeoresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo de canais de mareacute eaumento da erosatildeo das ilhas-barreira

Como jaacute foi referido os periacuteodos de mareacutes-vivassatildeo bastante problemaacuteticos especialmente noInverno na medida em que potenciam o efeito detempestades que ocorrem durante mareacutes-cheiasTodos os anos nos pontos criacuteticos do sistema comoa Praia de Faro a probabilidade de ocorrer umasituaccedilatildeo muito grave aumenta principalmente se seconsiderar a elevaccedilatildeo do NMM

42 Intervenccedilatildeo

Como eacute reconhecido por Scheele amp Westen (1996)os planos de gestatildeo costeira devem apontar para aprotecccedilatildeo ambiental de longo prazo o que implica(1) uma estrateacutegia com objectivos claros e concisos(2) uma metodologia praacutetica e realista (3)monitorizaccedilatildeo contiacutenua (4) forte aposta nosprogramas de educaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo ambiental e(5) envolvimento da comunidade local no processode planeamento e tomada de decisotildees

Sendo a Ria Formosa um sistema muito dinacircmicocom elevada vulnerabilidade e que reage rapidamentea elevaccedilotildees do niacutevel do mar os muacuteltiplos interesseseconoacutemicos e sociais aiacute existentes fazem com que aaacuterea seja caracterizada por elevado grau de conflitosde interesses A situaccedilatildeo torna-se ainda mais complexaquando se considera que o sistema corresponde a umParque Natural onde haacute que compatibilizar interesseseconoacutemicos com a conservaccedilatildeo da Natureza Nestecontexto soacute eacute possiacutevel proceder agrave conservaccedilatildeo daNatureza atraveacutes de intervenccedilotildees tendentes a minoraros impactes negativos induzidos pelas actividadesantroacutepicas (Ramos amp Dias 2000)

De acordo com as actividades desenvolvidas osprincipais grupos de interesse na Ria Formosa satildeo(1) o PNRFICNB (2) a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeoe Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR-Algarve) (3) as entidades promotoras do turismo (4)as associaccedilotildees comerciais e industriais (incluindo oporto) (5) os pescadores e autoridades responsaacuteveis

por este sector (6) as entidades regionais e locais (7)as associaccedilotildees de defesa do ambiente e osambientalistas e (8) a populaccedilatildeo local incluindoresidentes e natildeo residentes Como sugere Antunes etal (2006) o entendimento entre os diferentes gruposconduz a uma sinergia que beneficia as potencialidadesque contribuem para uma gestatildeo eficaz

Os principais problemas das ilhas-barreira estatildeolocalizados nos nuacutecleos urbanos devido agraves estruturasedificadas Dos principais nuacutecleos existentes apenasos de Hangares e Culatra natildeo tecircm problemas erosatildeocosteira pois que se localizam junto agrave parte lagunar(e consequentemente afastados da praia oceacircnica eportanto resguardados dos temporais) Os restantespoacutelos de ocupaccedilatildeo (Praia de Faro Farol etc) satildeoproblemaacuteticos sendo os riscos de inundaccedilatildeo e erosatildeobastante elevados Para resolver estes problemasexistem fundamentalmente trecircs estrateacutegias deintervenccedilatildeo (1) intervenccedilatildeo riacutegida (ex esporotildeesparedotildees) (2) retirada estrateacutegica programas natildeoestruturais (ex demoliccedilatildeo de infra-estruturas) e (3)intervenccedilatildeo suave (ex realimentaccedilatildeo de praias) (Pilkeyamp Dixon 1996) Qualquer uma destas estrateacutegias temproacutes e contras sendo praticamente impossiacutevel quequalquer uma delas satisfaccedila todos os grupos deinteresse afectados

Intervenccedilatildeo riacutegidaAteacute haacute poucas deacutecadas em todo o mundo a

construccedilatildeo de estruturas riacutegidas e permanentesconstituiu o meacutetodo mais utilizado de protecccedilatildeo dopatrimoacutenio edificado no litoral Embora estasestruturas se revelem eficazes na defesa de imobiliaacuterioem risco de ser danificado pela erosatildeo costeiraprovocam fortes impactes negativos a sotamar dolocal onde satildeo construiacutedas (Inman 1978 Mangor1998 Greene 2002) pelo que internacionalmente severifica tendecircncia para adoptar outros tipos deprotecccedilatildeo ambientalmente menos agressivos

A construccedilatildeo dos molhes da marina de Vilamourae do campo de esporotildees de Quarteira provocou forteaumento da erosatildeo a oriente e consequentementegraves problemas de gestatildeo Por outro lado a aberturae fixaccedilatildeo das barras de Faro-Olhatildeo e de Tavira parapropiciar melhor funcionamento das estruturasportuaacuterias existentes no meio lagunar econsequentemente beneficiar as actividades socio-econoacutemicas da regiatildeo provocaram grandes alteraccedilotildees

72

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

no sistema fazendo com que o seu funcionamentonatural tivesse entrado em ruptura e que a erosatildeocosteira tivesse sido fortemente amplificada a sotamarComo se veraacute na parte dedicada agraves intervenccedilotildeessuaves a utilizaccedilatildeo de teacutecnicas de transposiccedilatildeo dosmolhes (ldquoby-passingrdquo) permitiria reduzirsubstancialmente alguns destes impactes negativos

A construccedilatildeo de mais estruturas riacutegidas na RiaFormosa (ou a barlamar desta) traduzir-se-ia numaforte amplificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico em queo sistema jaacute se encontra tendendo a meacutedio ndash longoprazo para a completa artificializaccedilatildeo da Ria Formosaconsignada por legislaccedilatildeo nacional como ParqueNatural e reconhecida internacionalmente comoimportante aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental

Retirada estrateacutegica Programas natildeo estruturaisOs programas natildeo estruturais satildeo intervenccedilotildees em

que se procede agrave demoliccedilatildeo de infra-estruturasameaccediladas pela erosatildeo costeira ou transferecircncia dasmesmas para locais mais seguros o que eacute tambeacutemconhecido como ldquoretirada estrateacutegicardquo Viabiliza-seassim a evoluccedilatildeo natural dos sistemas Com amigraccedilatildeo das ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continentecomo resposta agrave elevaccedilatildeo do NMM este tipo deintervenccedilatildeo comeccedilou por ser aplicado em algunslocais da costa Leste dos EUA em 1972 (NRC 1995)A deslocalizaccedilatildeo de infra-estruturas pode ser eficazem locais pouco povoados ou quando existe interessena salvaguarda de patrimoacutenio como aconteceu como farol do Cabo Hatteras nos EUA No entantotorna-se impraticaacutevel em grandes nuacutecleos urbanosdevido aos elevados custos e dificuldades logiacutesticas

Na Ria Formosa este tipo de intervenccedilatildeo temencontrado grandes dificuldades de execuccedilatildeodesignadamente no que se refere agrave demoliccedilatildeo de casasconstruiacutedas ilegalmente em Domiacutenio Hiacutedrico Domiacutenio Puacuteblico Mariacutetimo o que aleacutem de tender aperpetuar situaccedilotildees de muito alto risco potildee em causaa imagem do Paiacutes como Estado de direito (Dias 2002)

Intervenccedilatildeo SuaveA intervenccedilatildeo suave tambeacutem designada por

protecccedilatildeo dinacircmica desde haacute algumas deacutecadas que eacuteutilizada preferencialmente como alternativa agravesteacutecnicas de intervenccedilatildeo riacutegida Apresentam menoresimpactes ambientais sendo uma soluccedilatildeo maisapropriada para aacutereas sensiacuteveis como as ilhas-barreira

As teacutecnicas de protecccedilatildeo suave tais como arealimentaccedilatildeo de praias a reconstruccedilatildeo dunar atransposiccedilatildeo de molhes (by-passing) a abertura debarras (para as deixar evoluir naturalmente) e asldquodragagens ecoloacutegicasrdquo correspondem em geral auma intervenccedilatildeo inicial deixando depois a Naturezaldquotrabalharrdquo Por essa razatildeo estas teacutecnicas satildeo tambeacutemfrequentemente designadas por ldquobuilding with NaturerdquoSatildeo com frequecircncia menos dispendiosas e maiseficientes a longo prazo do que as intervenccedilotildees riacutegidas(Koster amp Hillen 1995 Griggs 1999 Dias et al 2003)

Poreacutem estas teacutecnicas tecircm que ser executadas comforte suporte cientiacutefico e devem envolver o conceitode protecccedilatildeo de trechos costeiros na sua globalidadee natildeo apenas a protecccedilatildeo local de patrimoacutenio edificadoem zonas de risco Se forem concretizadas de formadeficiente podem mesmo revelar-secontraproducentes Eacute o que se passa por exemploquando a realimentaccedilatildeo de praias eacute efectuada comareias extraiacutedas da praia submersa (acima daprofundidade de fecho) nestes casos nenhumsedimento eacute adicionado ao sistema (Wells amp McNinch1991) havendo apenas transferecircncias dentro dosistema com consequecircncias negativas para o seufuncionamento natural tanto ao niacutevel morfodinacircmicocomo bioloacutegico

Desde 1996 que o PNRFICN tem realizadointervenccedilotildees de caraacutecter suave na tentativa demelhorar o funcionamento do sistema e diminuir avulnerabilidade ao galgamento e ao mesmo tempomanter a dinacircmica dos processos naturais (Dias et al2004) Entre as intervenccedilotildees efectuadas procedeu-seao robustecimento da Peniacutensula de Cacela agrave aberturadas Barras do Ancatildeo e da Fuzeta (deixando-as deseguida evoluir naturalmente) agrave dragagem de muitoscanais que natildeo satildeo de navegaccedilatildeo para melhorar acirculaccedilatildeo no sistema agrave repulsatildeo de sedimentos parao cordatildeo arenoso agrave colocaccedilatildeo de paliccediladas parareconstruccedilatildeo dunar agrave plantaccedilatildeo de Ammophila arenariae agrave construccedilatildeo de passadiccedilos sobrelevados

Segundo Dias et al (2003) as intervenccedilotildees suavesrealizadas na Ria Formosa propiciaram melhorprotecccedilatildeo das ilhas-barreira tendo-se em geralatingido os objectivos esperados Os mesmos autoresreferem que os sistemas naturais de elevadaimportacircncia soacutecio-econoacutemica e ambiental (como aRia Formosa) podem ser geridos utilizando este tipo

73

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

de teacutecnicas lucrando com o aproveitamento dosrecursos existentes

A transposiccedilatildeo (by-passing) dos molhes das barrasartificiais meacutetodo utilizado desde haacute muito um poucopor todo o mundo permitiria que as areias retidaspelos molhes a barlamar fosse transferido parasotamar aiacute reconstituindo a deriva litoral econsequentemente minimizando alguns dos impactesnegativos induzidos por estas estruturas Vaacuteriosestudos que demonstram que esta tecnologia natildeoaparenta ter efeitos ambientais negativos associados(eg Lindeman 1997 in Greene 2002)

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Com vista a avaliar a vulnerabilidade das ilhas-barreira da Ria Formosa o presente trabalho incidiuna actualizaccedilatildeo desta problemaacutetica na oacuteptica da gestatildeouma vez que se trata de um sistema em permanentetransformaccedilatildeo Nesta anaacutelise eacute imprescindiacutevel tersempre em consideraccedilatildeo que o sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa estaacute consignado legalmentecomo aacuterea de protecccedilatildeo ambiental desde 1978 anoem que lhe foi atribuiacutedo o estatuto de Reserva Naturaltendo ficado protegido pelo estatuto de ParqueNatural em 1987 (Decreto-lei 37387) e Rede Natura2000 tendo ainda sido integrado desde 1980 na Listade Siacutetios da Convenccedilatildeo de Ramsar (zonas huacutemidasde importacircncia internacional)

Da anaacutelise efectuada conclui-se que eacuteimprescindiacutevel compatibilizar os diversificados valoresnaturais (bioloacutegicos geomorfoloacutegicos fiacutesico-quiacutemicos geoloacutegicos etc) intriacutensecos ao sistema comos muacuteltiplos interesses soacutecio-econoacutemicos decorrentesda sua exploraccedilatildeo (pesca maricultura aquaculturaturismo portos comerciais e de pesca navegaccedilatildeo derecreio etc) Estando influenciado por fortesimpactes antroacutepicos directos e indirectos tais comoentre muitos outros a erosatildeo costeira e a intensificaccedilatildeodo assoreamento lagunar a sobrevivecircncia do sistemaldquonaturalrdquo e a sustentabilidade da sua exploraccedilatildeocarecem de intervenccedilotildees correctivas frequentes porforma a minimizar os impactes negativos aludidosTais intervenccedilotildees teratildeo que ser cautelosas e contiacutenuastentando o mais possiacutevel aproximar-se do que seriaa dinacircmica natural do sistema

Eacute ainda urgente resolver vaacuterios conflitos deinteresses existentes privilegiando as actividades

indutoras de menores impactes negativos e quesimultaneamente viabilizem uma melhor exploraccedilatildeosustentaacutevel do sistema Aponta-se a tiacutetuloexemplificativo o caso do turismo haacute quedesincentivar o turismo de massas directo nesta aacuterea(ateacute porque nas proximidades haacute poacutelos turiacutesticos destegeacutenero bem consolidados) desenvolvendo emalternativa outros tipos de turismo complementardesignadamente o turismo de Natureza a observaccedilatildeode aves (bird watching) e de peixes (fish watching) emambiente natural os passeios no meio lagunar emembarcaccedilotildees natildeo poluentes o turismo gastronoacutemicoetc

A maior parte da zona de barreira do sistema natildeoestaacute ainda ocupado por estruturas imobiliaacuterias Comvista agrave exploraccedilatildeo sustentaacutevel do sistema eacuteimprescindiacutevel que estas zonas continuem semocupaccedilatildeo permanente mantendo algumascaracteriacutesticas pristinas ainda aiacute existentes Nos poucosnuacutecleos urbanos piscatoacuterios existentes cujo casoparadigmaacutetico eacute a povoaccedilatildeo da Culatra onde natildeoexistem problemas realmente graves pois que selocalizam na margem lagunar (relativamente afastadado litoral oceacircnico) devem-se adoptar algumasmedidas correctivas pontuais por forma a preservara sua identidade cultural a melhorar a qualidade devida da populaccedilatildeo e a impedir um crescimentoexagerado Nos restantes nuacutecleos urbanos comcaracteriacutesticas ldquoturiacutesticasrdquo vaacuterios dos quais localizadosnas zonas de maior risco do sistema seria altamentedesejaacutevel que se procedesse agrave completa reformulaccedilatildeoda ocupaccedilatildeo ou sempre que possiacutevel se optasse peladesocupaccedilatildeo

No sentido de tentar resolver os problemas deerosatildeo costeira existentes (que se agravaratildeo no futuro)recomenda-se vivamente que a) natildeo se construamobras de protecccedilatildeo riacutegida (esporotildees paredotildees etc)na Ria Formosa nem na zona a barlamar desta daqual o sistema depende b) se continuem a executaracccedilotildees de robustecimento do cordatildeo dunar e decolmataccedilatildeo dos cortes de galgamento utilizando tantoquanto possiacutevel sedimentos provenientes dadragagem dos canais de navegaccedilatildeo c) se implementea transposiccedilatildeo dos molhes portuaacuterios com relevacircnciaespecial para os molhes da Barra de Faro-Olhatildeo d)efectivamente se proceda agrave demoliccedilatildeo das edificaccedilotildeessituadas em zonas de maior risco e sobre a duna

74

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

primaacuteria concretizando finalmente decisotildeesgovernamentais que tecircm vindo a ser repetidamentetomadas haacute quase trecircs deacutecadas mas nunca executadascabalmente e) sejam amplificadas as acccedilotildees deintervenccedilatildeo e protecccedilatildeo dinacircmica na linha do que severificou desde finais do seacuteculo passado (abertura debarras quando necessaacuterio para as deixar evoluirnaturalmente dragagens ldquoecoloacutegicasrdquo etc) e quetransformaram a Ria Formosa num siacutetio de referecircnciainternacional nesta mateacuteria e que nos uacuteltimos anosapenas tecircm sido executadas de forma extremamentemoderada

Finalmente eacute altamente recomendaacutevel que emtodos os actos de gestatildeo envolvendo quer ascomponentes geomorfoloacutegicas quer as ecoloacutegicasquer as soacutecio-econoacutemicas se tenham sempre emconsideraccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas principalmenteno que se refere agrave elevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar

BIBLIOGRAFIA

Andrade CF (1990a) - O Ambiente de barreira da RiaFormosa Algarve ndash Portugal Dissertaccedilatildeo deDoutoramento 645p Universidade de LisboaPortugal (natildeo publicado)

Andrade CF (1990b) - Estudo da susceptibilidadeao galgamento da Ria Formosa Geolis IV(1-2)69-76 Lisboa Portugal

Andrade CF Barata A amp Teles M (1998) - Ananalysis of the vulnerability to overwash of theRia Formosa barrier island system (Portugal)Using a simple multi-attribute technique (SMART)approach Proceedings of Littoralrsquo98 Conferencepp511-519 Barcelona Espanha

Andrade CF Freitas MC Moreno J amp CraveiroSC (2004) - Stratigraphical evidence of LateHolocene barrier breaching and extreme stormsin lagoonal sediments of Ria Formosa AlgarvePortugal Marine Geology 210339ndash362(doi101016jmargeo200405016)

Antunes P Santos R amp Videira N (2006) -Participatory decision making for sustainabledevelopment - the use of mediated modellingtechniques Land Use Policy 2344ndash52(doi101016jlandusepol200408014)

Bernardo P Bastos R amp Dias JA (2002) - Historicroots for barrier island occupation in the RiaFormosa Littoral 2002 Porto 4 p (disponiacutevel em

httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI02_Lit_91_PBpdf)

Bettencourt P (1985) - Geomorphologie et processusdlsquoeacutevolution reacutecente de la cocircte sotavento (Algarve ndash SudPortugal) Thegravese DEA 92p Universiteacute deBordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Bettencourt P (1994) - Les environnements sedimentairesde la cocircte sotavento (Algarve SudPortugal) et leur eacutevolutionHoloceacutene et actuelle PhD Thesis University ofBordeaux I Franccedila (unfinished)

Bray Jr T amp Carter C (1992) - Physical processesand sedimentary record of a moderntransgressive lacustrine barrier island MarineGeology 105(1-4)155-168 (doi 1010160025-3227(92)90187-M)

Correia F Dias JA Boski T amp Ferreira Oacute (1996)- The retreat of the Eastern Quarteira cliffed coast(Portugal) and its possible causes In Jones PSHealy MG amp Williams AT (eds) Studies inCoastal Management p129-136 Samara PublLtd Cardigan UK (disponiacutevel emht tp w3 u a l g p t j d i a s JA D pape r s CLinternac96_Studies_129_FCpdf)

Correia F Ferreira Oacute amp Dias JA (1997) - Contributodas arribas para o balanccedilo sedimentar do sectorcosteiro Quarteira - Vale do Lobo (Algarve -Portugal) Seminaacuterio sobre a zona costeira doAlgarve 31-39 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_031_FCpdf)

Costa CL (1994) - Final report of sub-project A ldquoWindwave climatology of the Portuguese coastrdquo InstitutoHidrograacutefico Report PO-WAVES 694-A 80 pLisboa Portugal (natildeo publicado)

Dias JA (1988) - Aspectos geoloacutegicos do litoralalgarvio Geonovas 10 113-128 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN88_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (1990) - A Evoluccedilatildeo Actual do LitoralPortuguecircs Geonovas 11 15-29 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN90_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (2002) - Manual de Sobrevivecircncia eVilanagem Diaacuterio de Notiacutecias - SuplementoldquoAmbiente e Desenvolvimento Sustentaacutevelrdquo 30de Julho de 2002 Lisboa Portugal (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersxCS02_DNADpdf)

75

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Dias JA Ferreira Oacute Matias A Vila-Concejo Aamp Saacute-Pires C (2003) - Evaluation of softprotection techniques in barrier islands bymonitoring programs case studies from RiaFormosa (Algarve-Portugal) Journal of CoastalResearch SI35117-131

Dias JA Ferreira Oacute amp Moura D (2004) - O sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa 3ordm SIPRES ndashSimpoacutesio Interdisciplinar sobre Processos Estuarinos 18p Faro Portugal

Dias JA amp Neal WJ (1992) - Sea cliff retreat insouthern Portugal profiles processes andproblems Journal of Coastal Research 8641-654

Dias JA amp Taborda R (1992) - Tidal gauge data indeducing secular trends of relative sea level andcrustal movements in Portugal Journal of CoastalResearch 8655-659

Dias JA Teixeira SB amp Ferreira Oacute (1997) - LivroGuia da Excursatildeo Seminaacuterio sobre a Zona Costeirado Algarve 43 p Faro Portugal

Douglas BC (1995) - Global sea level changedetermination and interpretation US NationalReport to IUGG 1991-1994 Geophys 33 Suppl11 p (disponiacutevel em httpwwwaguorgrevgeophysdougla01dougla01html)

Duarte C Matias A Dias JA amp Ferreira Oacute (1999)- Vulnerabilidade dos corpos dunares do Algarve10ordm Congresso do Algarve 477-490 (disponiacutevelem httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN99_10CA_477_CDpdf)

Esaguy AS (1984) - Ria de Faro Barra da ArmonaEvoluccedilatildeo 1873-1983 5 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1986a) - Ria de Faro Barra de Faro-OlhatildeoEvoluccedilatildeo 1955ndash1985 10p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986b) - Ria de Faro Ilha de TaviraEvoluccedilatildeo 1950ndash1985 8 p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986c) - Ria de Faro Ilha do AncatildeoEvoluccedilatildeo 1950-1985 7 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1987) - Ria de Faro Barra de TaviraEvoluccedilatildeo 13 p Direcccedilatildeo Geral de Portos LisboaPortugal

Ferreira Oacute Dias JA amp Taborda R (2008) -Implications of sea-level rise for Portugal Journal

of Coastal Research 24(2)317-324 (doi 10211207A-00061)

Ferreira Oacute Garcia T Matias A Taborda Ramp DiasJA (2006) - An integrated method for thedetermination of set-back lines for coastal erosionhazards on sandy shores Continental ShelfResearch 261030ndash1044 (doi 101016jcsr200512016)

Ferreira Oacute Martins JC amp Dias JA (1997) -Morfodinacircmica e vulnerabilidade da Praia de FaroSeminaacuterio sobre a zona costeira do Algarve 67-76 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_067_OFpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias Aamp Dias JA (2002)- Recent evolution of Culatra Island (Algarve ndashPortugal) Littoral 2002 The Changing Coast 289-294 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers02_LitTGpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2005)ndash Coastal Hazards Representation for Praia doBarril (Algarve Portugal) Continental ShelfResearch SI4928-33

Granja H (1984) - Eacutetude geacuteomor phologiquesedimentoloacutegique et geacuteoquimique de la Ria Formosa(Algarve-Portugal) These 3eme Cycle 254 pUniversiteacute de Bordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Greene K (2002) - Beach nourishment a review ofthe biological and physical impacts 174 p AtlanticStates Marine Fisheries Commission WashingtonDC (disponiacutevel em httpwwwasmfcorgpublicationshabitatbeachNourishmentpdf)

Griggs GB (1999) - The protection of Californialsquoscoast past present and future Shore amp Beach67(1)18-28

Hoyt JH (1967) - Barrier Island FormationGeological Society of America Bulletin 781125-1136 (doi 1011300016-7606(1967)78[1125BIF]20CO2)

Inman D (1978) - The impact of coastal structureson shorelines Proceedings of Coastal Zoneacute78 ASCE2265-2272

Koster MJ amp Hillen R (1995) - Combat erosion bylaw Coastal defence policy for the NetherlandsJournal of Coastal Research 67(2-3)43-49

Leatherman S (1976) - Barrier islands dynamicsoverwash processes and aeolian transportProceedings of Coastal Engineering Conference ASCE1958-1973

76

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Mangor K (1998) - Coastal restorationconsiderations Proceedings of Coastal Engineeringrsquo98Conference ASCE 3425-3438

Marcelo MJ amp Fonseca LC (1998) - Ria Formosada gestatildeo e conservaccedilatildeo de uma aacuterea protegidaRevista de Biologia 2ordm ENEC 16(1-4)125-133

Martins JT Ferreira Oacute Ciavola Pamp Dias JA (1996)- Monitoring of profile changes at Praia de FaroAlgarve a tool to predict and solve problems InTaussik J amp Mitchell J (eds) Partnership in CoastalZone Management pp 615-622 Samara Publ LtdCardigan UK

Matias A (2000) - Estudo morfosedimentar da Peniacutensulade Cacela Dissertaccedilatildeo de Mestrado 244pUniversidade do Algarve Faro Portugal (natildeopublicado)

Matias A Dias JA Williams AT amp Ferreira Oacute(1997) - Vulnerabilidade das dunas da RiaFormosa 9ordm Congresso do Algarve 231-239Vilamoura Portugal

Matias A Ferreira Oacute amp Dias JA (1999) -Preliminary results on the Cacela Peninsula dunereplenishment Boletiacuten del Instituto Espantildeol deOceanografiacutea 15(1-4)283-288 (disponiacutevel emhttpwwwieoespublicacionesboletinpdfsbol1515_283-288PDF)

Matias A Ferreira Oacute Dias JA amp Vila-Concejo A(2004) - Development of indices for the evaluationof dune recovery techniques Coastal Engineering51261-276 (doi 101016jcoastaleng200402002)

Matias A Ferreira Oacute Mendes I amp Dias JA (1998)- Monitorizaccedilatildeo da alimentaccedilatildeo artificial daPeniacutensula de Cacela Seminaacuterio sobre DragagensDragados e Ambientes Costeiros 47-56

Matias A Ferreira Oacute Mendes I Dias JA amp Vila-Cconcejo A (2005) - Artificial construction ofdunes in the South of Portugal Journal of CoastalResearch 21(3)472-481 (doi 10211203-00471)

Matias A Vila-Concejo A Ferreira Oacute amp Dias JA(2003) - Field measurements of morphologicvariations during an overwash event 4ordm Simpoacutesiosobre a Margem Ibeacuterica Atlacircntica Thalassas19(2b)164-165 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI03_4SM_b164_AMpdf)

NRC - National Research Council (1995) - Beach

Nourishment and Protection 334 p Washington DCNational Academy Press (ISBN 9780309052900)

Pacheco A Carrasco AR Vila-Concejo A FerreiraOacute amp Dias JA (2007) - A coastal managementprogram for channels located in backbarriersystems Ocean amp Coastal Management 50119-143 (doi101016jocecoaman200608008)

Pilkey OH amp Dixon K (1996) - The Corps and theShore 286p Island Press Washington DC USA(ISBN 9781559634380)

Pilkey OH Neal WJ Monteiro JH amp Dias JA(1989) - Algarve Barrier Islands A Noncoastal-Plain System in Portugal Journal of Coastal Research5(2)239-261

Ramos L amp Dias J A (2000) - Atenuaccedilatildeo davulnerabilidade a galgamentos oceacircnicos nosistema da Ria Formosa mediante intervenccedilotildeessuaves 3ordm Simpoacutesio sobre a Margem ContinentalIbeacuterica Atlacircntica Faro 361-362 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers00_SMLRpdf)

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2001)- Avaliaccedilatildeo de realimentaccedilotildees artificiais de praiasda Ria Formosa Casos das ilhas de Cacela e deTavira Congresso do Algarve 2001 8 p

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2002)- Preliminary Evaluation of the MorphologicalEvolution of Contrasting Beaches of the RiaFormosa With Relation to Differences inRefracted Wave Height Littoral 2002 TheChanging Coast 423-429 (disponiacutevel emht tp www2 00 8 i o -war nemu ende dehomepagesschernewskiLittoral2000docsvol3Littoral2002_79pdf)

Scheele RJ amp Westen CJ (1996) - Planning for acoastal policy - the 3A4 approach In Taussik Jamp Mitchell J (eds) Partnership in Coastal ZoneManagement pp 65-71 Samara Publ LtdCardigan UK

Sprung M (1994) - Macrobenthic secondaryproduction in the intertidal zone of Ria Formosaa lagoon in southern Portugal Estuarine Coastaland Shelf Science 38539ndash558 (doi 101006ecss19941037)

Van Den Belt M Videira N Antunes P Santos Ramp Gamito S (2000) - Modelaccedilatildeo Participada na RiaFormosa 36 p Ediccedilatildeo Fundaccedilatildeo do Mar LisboaPortugal

77

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Vila A Dias JMA Ferreira Oacute amp Matias A (1999)- Natural evolution of an artificial inlet CoastalSedimentslsquo99 21478-1488 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI99_CS99_1478_AVpdf)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Ciavola P Matias Aamp Dias JA (2004a) - Tracer studies on the updriftmargin of a complex inlet system Marine Geology20843-72 (doi 101016jmargeo200404020)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA(2003) - The first two years of an inlet sedimentarydynamics Continental Shelf Research 231425-1445 (doi 101016S0278-4343(03)00142-0)

Vila-Concejo A Matias A Ferreira Oacute Duarte Camp Dias JA (2002) - Recent evolution of thenatural inlets of a barrier island system in southernPortugal Journal of Coastal Research (ICS 2002proceedings) SI36741-752

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Morris BD MatiasA amp Dias JA (2004b) ndash Lessons from inletrelocation examples from Southern PortugalCoastal Engineering 51(10)967-990(doi101016jcoastaleng200407019)

Vila-Concejo A Matias A Pacheco A FerreiraOacute amp Dias JA (2006) - Quantification of inlet-related hazards in barrier island systems Anexample from the Ria Formosa (Portugal)Continental Shelf Research 261045-1060(doi 101016jcsr200512014)

Weinholtz MB (1978) - Contribuiccedilatildeo para o estudo daevoluccedilatildeo das flechas de areia na costa sotavento do Algarve(Ria de Faro) Relatoacuterio da Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Wells JT amp McNinch J (1991) - Beach scraping inNorth Carolina with special reference to itseffectiveness during Hurricane Hugo Journal ofCoastal Research SI8249-261

Williams SJ (2001) - Coastal erosion and land lossaround the United States strategies to manage andprotect coastal resources ndash examples fromLouisiana Coastal Ecosystems and FederalActivities Technical Training SymposiumProceedings 15 p (disponiacutevel emhttpwwwfwsgovnc-esecoconfwilliamspaperpdf)

Page 11: Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na

67

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

onde se situam estruturas de apoio com algumaenvergadura designadamente um parque decampismo (Fig1) Na actualidade apesar dos impactesantroacutepicos serem elevados satildeo concentrados elimitados Segundo Dias et al (2004) o Arraial doBarril pode ser apontado como um bom exemplo deexploraccedilatildeo turiacutestica sustentaacutevel natildeo haacute habitaccedilatildeopermanente o acesso eacute efectuado por uma pontepedonal e por um pequeno comboio ou pelo passeioque o ladeia (o que evita impactes generalizados) asantigas instalaccedilotildees da companhia de pesca queestavam abandonadas tiveram reaproveitamentolucrativo Contudo o cordatildeo dunar frontal estaacute sujeitoa alguma erosatildeo e a pequenos galgamentos oceacircnicosdetectando-se tambeacutem alguns corredores eoacutelicos episoteio moderado A previsatildeo da localizaccedilatildeo da linhade costa em 2050 considerando a aceleraccedilatildeo daelevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar e a eventualocorrecircncia de um temporal com periacuteodo de retornode 50 anos indica que eacute expectaacutevel um recuo da ordemdos 70m ou seja que atingiraacute as edificaccedilotildees aiacuteexistentes (Ferreira et al 2006)

311 Barra de Tavira

A Barra de Tavira artificial separa as ilhas deTavira e de Cabanas e tem largura de 60m (Fig2) Foiaberta artificialmente em 1927 quase em frente agrave fozdo Rio Gilatildeo conduzindo ao encerramento da antigabarra em 1930 (Vila-Concejo et al 2006) Os dadosdisponiacuteveis sugerem uma velocidade de migraccedilatildeo daantiga barra de cerca de 40mano (Weinholtz 1978)A barra artificial teve que ser sujeita a vaacuterias operaccedilotildeesde dragagem entre 1930 e 1935 e estabilizada pordois esporotildees em 1936 devido ao constanteassoreamento (Esaguy 1987) Um ciclone ocorridoem 1941 abriu uma nova barra a cerca de 1100m aEste da barra artificial (Barra do Cochicho-Almargem) a qual rapidamente alargou e comeccedilou amigrar para oriente A existecircncia da nova barra levouao aumento do assoreamento da Barra de Tavira queteve que ser reaberta em 1961 face agraves dificuldades denavegaccedilatildeo Posteriormente foram efectuadas diversasobras de dragagem estabilizaccedilatildeo e fortalecimento dediques no sentido de diminuir o assoreamento(Esaguy 1987) A eficiecircncia hidrodinacircmica da Barrade Tavira eacute muito pequena representando cerca de4 do prisma de mareacute total do sistema (Andrade1990a)

312 Ilha de Cabanas

A Ilha de Cabanas eacute a ilha mais oriental e a maispequena do sistema com um comprimento de cercade 6km e uma largura maacutexima de 300m (Fig2) Narealidade constitui a extremidade natural da Ilha deTavira tendo sido convertida numa ilha autoacutenomapela abertura artificial da Barra de Tavira (Dias 1988)Foi completamente destruiacuteda durante o ciclone de1941 e novamente no decurso de um violentotemporal em 1961 os quais provocaram extensosgalgamentos oceacircnicos e a formaccedilatildeo de uma novabarra (Barra de Cabanas) para aleacutem da Barra doCochicho-Almargem as quais juntas formaram umaabertura uacutenica com cerca de 2500m de extensatildeo apartir da meia mareacute (Matias 2000)Consequentemente o cordatildeo dunar eacute relativamenterecente fraacutegil e elevando-se apenas a uma cota meacutediade 25m (Dias et al 2003)

A Ilha de Cabanas foi a primeira zona a serintervencionada ao abrigo do programaldquoRequalificaccedilatildeo do sistema lagunar da Ria Formosardquoentre Abril e Junho de 1999 Natildeo existem estimativasda quantidade de sedimentos perdidos para o marNo entanto os dragados usados na realimentaccedilatildeoeram grosseiros ajudando agrave naturalizaccedilatildeo dos aterrosefectuados (Saacute-Pires et al 2001) Aleacutem destaintervenccedilatildeo foi construiacutedo mais um pequeno esporatildeoa oriente da Barra de Tavira pelo que a erosatildeo que aiacutese verifica ficou atenuada pela existecircncia de doisesporotildees As intervenccedilotildees parecem ter sidodeterminantes na protecccedilatildeo da praia uma vez quenatildeo se tecircm registado galgamentos ou erosatildeo do cordatildeodunar nos locais intervencionados os mesmosapresentam alguma colonizaccedilatildeo por vegetaccedilatildeopioneira (Saacute-Pires et al 2001) No entanto uma vezque a realimentaccedilatildeo foi localizada e o cordatildeo dunareacute de baixa altitude as intervenccedilotildees natildeo impedem quenum futuro proacuteximo ocorram galgamentossobretudo junto aos apoios de praia existentes

313 Barra do Laceacutem

A Barra do Laceacutem corresponde agrave barra natural dolimite Este da Ilha de Tavira se esta natildeo fosseinterrompida pela barra artificial de Tavira (Fig2)Vaacuterios autores documentaram a evoluccedilatildeo da mesma(eg Weinholtz 1978 Esaguy 1986b Dias 1988

68

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Pilkey et al 1989 Andrade 1990a Bettencourt 1994Matias 2000 Vila-Concejo et al 2002) A barra separaa Ilha de Cabanas e a Peniacutensula de Cacela deriva dajunccedilatildeo em 1985 das Barras de Cochicho-Almargem(aberta pelo ciclone de 1941) e de Cabanas (abertapelo temporal de 1961) (Esaguy 1986b) A velocidademeacutedia de migraccedilatildeo da barra tem sido de 97mano(Vila-Concejo et al 2006)

Mais recentemente em 2004 abriu-se uma novabarra natural localizada a oriente da antiga Barra doLaceacutem A nova barra conduziu ao assoreamento daantiga Barra do Laceacutem com o seu consequenteencerramento

314 Peniacutensula de Cacela

A Peniacutensula de Cacela localiza-se no extremooriental da Ria Formosa Tem cerca de 3km decomprimento e entre 100 a 250m de largura (Fig2)

Em 1976 a cota meacutedia do cordatildeo dunar singularrobusto e vegetado era de 34m atingindo um maacuteximode 61m (Esaguy 1986c) A posterior degradaccedilatildeo doscorpos dunares devido ao pisoteio conduziu a umgrande aumento da frequecircncia de galgamentos (Diaset al 2004) Em 1990 Andrade (1990b) verificou quea Peniacutensula de Cacela apresentava um maacuteximo desusceptibilidade a galgamentos oceacircnicos De factodurante o Inverno de 19951996 ocorreramgalgamentos generalizados em quase toda a peniacutensulaque conduziram agrave abertura de uma nova barra nocentro da mesma (Barra da Faacutebrica) a qual emOutubro de 1996 chegou a ter cerca de 35m de largurae uma profundidade de 07m (Matias et al 2004) Casonatildeo se efectuasse qualquer intervenccedilatildeo era de preverque as dunas remanescentes desaparecessem porcompleto

Assim no sentido de diminuir a vulnerabilidade agalgamentos e de manter a produccedilatildeo de bivalves(actividade econoacutemica mais importante da zona)foram efectuadas entre Outubro de 1996 e Fevereirode 1997 grandes intervenccedilotildees que consistiramprincipalmente na ldquoreconstituiccedilatildeordquo do cordatildeo dunarda Peniacutensula de Cacela na colmataccedilatildeo da Barra daFaacutebrica e na dragagem da Barra do Laceacutem e do canallagunar (Ramos amp Dias 2000 Matias et al 2005) Oobjectivo era elevar a cota do topo do cordatildeo dunarateacute aos 75m acima do Zero Hidrograacutefico (ZH)reconstituindo uma situaccedilatildeo semelhante agrave existente

nos anos 60 (Ramos amp Dias 2000) Todavia devidoagrave existecircncia de formaccedilotildees consolidadas queimpossibilitaram a dragagem agraves cotas inicialmenteestabelecidas a quantidade de sedimentos repulsadospara a peniacutensula foi bastante inferior ao previstoestimando-se que o material deposto no cordatildeo dunartenha atingido apenas 325000m3 (Ramos amp Dias2000) Tal obrigou agrave reformulaccedilatildeo do projectoelevando-se a cota de topo da duna apenas para os5m acima do ZH Segundo Matias et al (1999) cercade 32 do sedimento depositado perdeu-seimediatamente apoacutes a deposiccedilatildeo no cordatildeo arenosoTal verificou-se devido aos processos de acomodaccedilatildeodo perfil de praia submerso mas tambeacutem porquegrande parte do material natildeo apresentava agranulometria adequada Depois da realimentaccedilatildeo avegetaccedilatildeo pioneira comeccedilou rapidamente a colonizara duna reconstituiacuteda (Matias et al 2004)

Outras intervenccedilotildees tecircm vindo a ser efectuadasdepois do robustecimento do cordatildeo dunar foramconstruiacutedos passadiccedilos de madeira procedeu-se agravecolocaccedilatildeo de paliccediladas no sentido de propiciar odesenvolvimento de dunas naturais e agrave plantaccedilatildeo deAmmophila arenaria Posteriormente entre Abril de1999 e Julho de 2000 efectuaram-se em quase todoo sistema novas dragagens nos canais natildeoconsiderados de navegaccedilatildeo integradas no Projectode Requalificaccedilatildeo do Sistema Lagunar com oobjectivo de intensificar a circulaccedilatildeo assim mantendoas condiccedilotildees ecoloacutegicas do sistema Nesta intervenccedilatildeovoltou-se a dragar a Barra do Laceacutem em Junho de1999 Segundo Ramos amp Dias (2000) as intervenccedilotildeesatingiram os objectivos tendo a vulnerabilidade aogalgamento sido drasticamente reduzida e do ladonascente verificando-se o estabelecimento dasucessatildeo fitogeneacutetica conferindo um aspecto naturalao novo cordatildeo dunar

Mais recentemente na parte central da zonaintervencionada verificou-se erosatildeo completa daldquodunardquo reconstruiacuteda o que tinha sido previsto nosestudos de monitorizaccedilatildeo realizados no decurso eimediatamente apoacutes a intervenccedilatildeo tendo-se na alturasugerido a possibilidade de nova pequena intervenccedilatildeopontual Todavia quando se verificou a ruptura natildeohouve possibilidades de efectuar essa pequenaintervenccedilatildeo pelo que se abriu naturalmente novabarra o que nos uacuteltimos anos provocou a colmataccedilatildeo

69

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

da antiga barra e erosatildeo de grande parte das ldquodunasrdquoreconstruiacutedas no final do seacuteculo XX

4 DISCUSSAtildeO

41 Evoluccedilatildeo Geral do Sistema

Como se deduz dos pontos anteriores o sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa eacute extremamentedinacircmico e como tal bastante vulneraacutevel As taxasde crescimento longitudinal de algumas ilhas satildeo dasmais notaacuteveis a niacutevel mundial (Dias et al 1997)

Segundo Pilkey et al (1989) os principais processosque contribuem para a evoluccedilatildeo das ilhas-barreira daRia Formosa satildeo (1) recuo da linha de costa (2) derivalitoral (3) galgamentos oceacircnicos (4) formaccedilatildeo decorpos dunares e de estabelecimento da respectivavegetaccedilatildeo (5) constituiccedilatildeo de deltas de mareacute e suaagregaccedilatildeo agraves ilhas (6) comportamento das barras e(7) erosatildeoacumulaccedilatildeo provocada pelas mareacutes-vivasdesignadamente nos canais de mareacute

Recuo da linha de costaOs valores observados na evoluccedilatildeo da linha de

costa indicam a existecircncia de recuo generalizado dasilhas e peniacutensulas (com excepccedilatildeo das zonasimediatamente a barlamar dos molhes das barras denavegaccedilatildeo) a qual varia consoante a localizaccedilatildeogeograacutefica e a interacccedilatildeo com os processos oceacircnicosA linha de costa move-se em resposta aos factoresnaturais de forma a manter o equiliacutebrio (Williams2001) O recuo da linha de costa eacute mais acentuadonos extremos do sistema e na parte ocidental das ilhase peniacutensulas Na parte central do sistema e nosextremos orientais das ilhas verifica-se algumaacreccedilatildeo Nas duas aacutereas mais intensamente ocupadas(Praia de Faro e Farol) existe estabilizaccedilatildeo da linha decosta devido a artificializaccedilatildeo desta com estruturasfixas de engenharia costeira A acreccedilatildeo verificada aoriente das ilhas da Barreta e de Tavira deve-se agravedeposiccedilatildeo de sedimentos a barlamar dos molhes dasbarras artificiais

Deriva litoralTorna-se evidente que o sistema da Ria Formosa

tem grande carecircncia de sedimentos principalmentenalgumas zonas mais expostas Contudo grande partedeste problema tem origem a barlamar do sistemaonde foram construiacutedos os molhes da marina deVilamoura e o campo de esporotildees de Quarteira que

interromperam a deriva litoral provocando a orienteintensificaccedilatildeo da erosatildeo nas arribas situadas entreQuarteira e a Praia do Garratildeo Actualmente as arribassatildeo o principal elemento abastecedor de areias aosistema da Ria Formosa (Correia et al 1997) Noentanto estas natildeo chegam para colmatar as carecircnciassedimentares do sistema da Ria Formosa o quesignifica que se forem construiacutedas obras riacutegidas deengenharia costeira neste sector se verificaraacuteintensificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico do sistemaampliando o grau de ruptura em que este jaacute seencontra Um exemplo que ilustra esta vulnerabilidadefoi a conclusatildeo da construccedilatildeo dos molhes da barraartificial de Faro-Olhatildeo em meados do seacuteculopassado que induziu grandes alteraccedilotildees com efeitosdraacutesticos no suprimento de sedimento agrave parte orientalNa realidade a abertura desta barra estabilizada pelosmolhes respectivos fez com que o sistema naturalentrasse em ruptura modificando radicalmente ascaracteriacutesticas hidro-sedimentoloacutegicas Segundo Dias(1990) as uacutenicas acccedilotildees de protecccedilatildeo realmenteeficazes satildeo as que possibilitam a reconstituiccedilatildeo daderiva litoral com os consequentes volumes desedimentos necessaacuterios

Galgamentos oceacircnicosAs ilhas-barreira da Ria Formosa satildeo

periodicamente sujeitas a galgamentos oceacircnicosdurante temporais de SW e SE Estes galgamentosconstituem um elemento muito importante nadinacircmica e na evoluccedilatildeo natural do sistemacontribuindo com fornecimento de sedimentos parao interior da laguna e abertura de novas barras quandoas antigas jaacute natildeo apresentam eficiecircncia (Andrade1990a) Tecircm sido assumidos como principalmecanismo de migraccedilatildeo das ilhas-barreira(Leatherman 1976 Bray amp Carter 1992) induzindoum efeito construtivo de acreccedilatildeo (Matias et al 2003)Assim sendo a gestatildeo deve integrar uma adaptaccedilatildeoaos galgamentos naturais uma vez que satildeo vitais parao funcionamento natural do sistema

Do ponto de vista da ocupaccedilatildeo os galgamentosoceacircnicos satildeo um factor importante que necessita deser avaliado para propiciar uma gestatildeo mais eficazuma vez que induz seacuterios danos nas infra-estruturasexistentes (Andrade et al 1998) Verifica-se que ospontos mais vulneraacuteveis a galgamentos satildeo a Praia deFaro Barreta W Culatra E Armona E Tavira W toda

70

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

a Ilha de Cabanas e a Peniacutensula de Cacela Nesteslocais mesmo a ocorrecircncia de pequenos temporaisdurante a preia-mar de mareacutes vivas podem provocargalgamentos Alguns pontos como a Ilha de Cabanase a Peniacutensula de Cacela viram reduzida avulnerabilidade a galgamentos apoacutes as intervenccedilotildeesefectuadas com algum sucesso embora essavulnerabilidade comece a ser actualmente elevada nosegundo caso devido aos factos aludidos mais acimaEm geral os locais de maior vulnerabilidade satildeo osque apresentam perfis de praia de pouca inclinaccedilatildeocordatildeo dunar fraacutegil e proximidade das barras

Cordatildeo dunar e vegetaccedilatildeo dunarAo longo das ilhas existiu um cordatildeo dunar frontal

contiacutenuo com 5 a 10m de altura sem cortes eoacutelicos ede galgamento muito significativos e bem cobertosde vegetaccedilatildeo (Pilkey et al 1989) No entanto o cordatildeodunar encontra-se na actualidade completamenteocupado em alguns locais por edificaccedilotildees comoacontece na Praia de Faro na povoaccedilatildeo do Farol e naIlha da Armona A vegetaccedilatildeo tornou-se escassa natildeosomente nas zonas ocupadas mas tambeacutem noutroslocais como na parte ocidental da Ilha da Barreta ena oriental das ilhas da Armona e da Culatra

Com a crescente pressatildeo antroacutepica exercida sobreo sistema especialmente para fins balneares verifica-se que em vaacuterios locais a quantidade de cortes eoacutelicostem aumentado devido ao pisoteio Este facto podeconduzir em periacuteodos de agitaccedilatildeo mariacutetima maisenergeacutetica agrave ocorrecircncia de galgamentos oceacircnicosRamos amp Dias (2000) referem que grande parte doscortes de galgamento oceacircnico do sistema da RiaFormosa eacute devido ao pisoteio dos corpos dunares enatildeo a causas naturais

A instalaccedilatildeo intensiva nos uacuteltimos anos depaliccediladas para recuperaccedilatildeo dunar complementadacom plantaccedilatildeo de vegetaccedilatildeo tiacutepica destes ambientescorresponde a uma acccedilatildeo de gestatildeo com efeitos muitopositivos com a qual se tem conseguido robustecero cordatildeo dunar do sistema

Deltas de mareacuteA incorporaccedilatildeo de deltas de enchente e posterior

migraccedilatildeo ou encerramento da barra respectivaconstitui importante mecanismo de evoluccedilatildeo dasilhas-barreira estando na origem da grande larguradas ilhas da Armona e de Tavira (Pilkey et al 1989)

A formaccedilatildeo de deltas de enchente em associaccedilatildeo comos galgamentos oceacircnicos contribui para a migraccedilatildeodas ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continente o quepoderaacute estar a suceder com o caso particular daPeniacutensula de Cacela (Andrade et al 2004)

Comportamento das barrasA Ria Formosa eacute caracterizada por apresentar

elevadas taxas de migraccedilatildeo das barras A estabilizaccedilatildeode duas das barras no sector oriental provocou fortesmodificaccedilotildees na dinacircmica do sistema Segundo Vila-Concejo et al (2002) a estabilizaccedilatildeo da Barra Faro-Olhatildeo (1929-1955) teve maiores consequecircncias nasbarras do Ancatildeo e da Armona enquanto que aabertura artificial da Barra de Tavira (1927-1985)produziu maiores efeitos nas barras da Fuzeta e doLaceacutem

A Barra da Armona era a principal barra dosistema controlando a maior parte da circulaccedilatildeo daRia Formosa na parte central Com a abertura da BarraFaro-Olhatildeo projectada para manter profundidadesentre-molhes da ordem de 45m ZH mas queprogressivamente se foi aprofundando ateacuteprofundidades superiores a 40 metros as trocashiacutedricas com o oceano passaram a efectuar-sepredominantemente por esta barra Os molhesprovocaram grande acumulaccedilatildeo a barlamar pelo quenos 12 anos seguintes agrave sua construccedilatildeo a Ilha daBarreta registou alargamento superior a 220 metrosna zona por eles influenciada (Bettencourt 1985) Emconsequecircncia a barra da Armona perdeu eficaacuteciareduzindo progressivamente largura e profundidadeNos anos 80 do seacuteculo XX tinha ainda cerca de 2000metros de largura mas actualmente essa largura eacuteapenas da ordem de 200 metros

O sentido de migraccedilatildeo das barras natildeo estabilizadaseacute para oriente (agrave excepccedilatildeo da Barra da Armona quetem mantido a sua posiccedilatildeo) Essa migraccedilatildeo efectua-se quer progressivamente (mantendo ou natildeo a largura)ou por ldquosaltosrdquo na sequecircncia de temporais em quenova barra se abre em geral a sotamar da barraexistente seguindo-se frequentemente a posteriorcolmataccedilatildeo desta (Dias 1988 Pilkey et al 1989Andrade et al 1998)

Erosatildeo provocada pelas mareacutes-vivasA Ria Formosa eacute um sistema lagunar com uma

grande aacuterea de zona intertidal (cerca de 13 do total

71

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

da aacuterea) Em cada ciclo de mareacute 50 a 75 da aacutegua eacuterenovada (Sprung 1994) Devido agrave diferenccedila deamplitude entre mareacutes-vivas e mareacutes-mortas as zonasde menor elevaccedilatildeo das ilhas-barreira satildeo regularmenteinundadas durante as primeiras causando transportesignificativo de sedimentos Estes fluxos satildeoresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo de canais de mareacute eaumento da erosatildeo das ilhas-barreira

Como jaacute foi referido os periacuteodos de mareacutes-vivassatildeo bastante problemaacuteticos especialmente noInverno na medida em que potenciam o efeito detempestades que ocorrem durante mareacutes-cheiasTodos os anos nos pontos criacuteticos do sistema comoa Praia de Faro a probabilidade de ocorrer umasituaccedilatildeo muito grave aumenta principalmente se seconsiderar a elevaccedilatildeo do NMM

42 Intervenccedilatildeo

Como eacute reconhecido por Scheele amp Westen (1996)os planos de gestatildeo costeira devem apontar para aprotecccedilatildeo ambiental de longo prazo o que implica(1) uma estrateacutegia com objectivos claros e concisos(2) uma metodologia praacutetica e realista (3)monitorizaccedilatildeo contiacutenua (4) forte aposta nosprogramas de educaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo ambiental e(5) envolvimento da comunidade local no processode planeamento e tomada de decisotildees

Sendo a Ria Formosa um sistema muito dinacircmicocom elevada vulnerabilidade e que reage rapidamentea elevaccedilotildees do niacutevel do mar os muacuteltiplos interesseseconoacutemicos e sociais aiacute existentes fazem com que aaacuterea seja caracterizada por elevado grau de conflitosde interesses A situaccedilatildeo torna-se ainda mais complexaquando se considera que o sistema corresponde a umParque Natural onde haacute que compatibilizar interesseseconoacutemicos com a conservaccedilatildeo da Natureza Nestecontexto soacute eacute possiacutevel proceder agrave conservaccedilatildeo daNatureza atraveacutes de intervenccedilotildees tendentes a minoraros impactes negativos induzidos pelas actividadesantroacutepicas (Ramos amp Dias 2000)

De acordo com as actividades desenvolvidas osprincipais grupos de interesse na Ria Formosa satildeo(1) o PNRFICNB (2) a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeoe Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR-Algarve) (3) as entidades promotoras do turismo (4)as associaccedilotildees comerciais e industriais (incluindo oporto) (5) os pescadores e autoridades responsaacuteveis

por este sector (6) as entidades regionais e locais (7)as associaccedilotildees de defesa do ambiente e osambientalistas e (8) a populaccedilatildeo local incluindoresidentes e natildeo residentes Como sugere Antunes etal (2006) o entendimento entre os diferentes gruposconduz a uma sinergia que beneficia as potencialidadesque contribuem para uma gestatildeo eficaz

Os principais problemas das ilhas-barreira estatildeolocalizados nos nuacutecleos urbanos devido agraves estruturasedificadas Dos principais nuacutecleos existentes apenasos de Hangares e Culatra natildeo tecircm problemas erosatildeocosteira pois que se localizam junto agrave parte lagunar(e consequentemente afastados da praia oceacircnica eportanto resguardados dos temporais) Os restantespoacutelos de ocupaccedilatildeo (Praia de Faro Farol etc) satildeoproblemaacuteticos sendo os riscos de inundaccedilatildeo e erosatildeobastante elevados Para resolver estes problemasexistem fundamentalmente trecircs estrateacutegias deintervenccedilatildeo (1) intervenccedilatildeo riacutegida (ex esporotildeesparedotildees) (2) retirada estrateacutegica programas natildeoestruturais (ex demoliccedilatildeo de infra-estruturas) e (3)intervenccedilatildeo suave (ex realimentaccedilatildeo de praias) (Pilkeyamp Dixon 1996) Qualquer uma destas estrateacutegias temproacutes e contras sendo praticamente impossiacutevel quequalquer uma delas satisfaccedila todos os grupos deinteresse afectados

Intervenccedilatildeo riacutegidaAteacute haacute poucas deacutecadas em todo o mundo a

construccedilatildeo de estruturas riacutegidas e permanentesconstituiu o meacutetodo mais utilizado de protecccedilatildeo dopatrimoacutenio edificado no litoral Embora estasestruturas se revelem eficazes na defesa de imobiliaacuterioem risco de ser danificado pela erosatildeo costeiraprovocam fortes impactes negativos a sotamar dolocal onde satildeo construiacutedas (Inman 1978 Mangor1998 Greene 2002) pelo que internacionalmente severifica tendecircncia para adoptar outros tipos deprotecccedilatildeo ambientalmente menos agressivos

A construccedilatildeo dos molhes da marina de Vilamourae do campo de esporotildees de Quarteira provocou forteaumento da erosatildeo a oriente e consequentementegraves problemas de gestatildeo Por outro lado a aberturae fixaccedilatildeo das barras de Faro-Olhatildeo e de Tavira parapropiciar melhor funcionamento das estruturasportuaacuterias existentes no meio lagunar econsequentemente beneficiar as actividades socio-econoacutemicas da regiatildeo provocaram grandes alteraccedilotildees

72

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

no sistema fazendo com que o seu funcionamentonatural tivesse entrado em ruptura e que a erosatildeocosteira tivesse sido fortemente amplificada a sotamarComo se veraacute na parte dedicada agraves intervenccedilotildeessuaves a utilizaccedilatildeo de teacutecnicas de transposiccedilatildeo dosmolhes (ldquoby-passingrdquo) permitiria reduzirsubstancialmente alguns destes impactes negativos

A construccedilatildeo de mais estruturas riacutegidas na RiaFormosa (ou a barlamar desta) traduzir-se-ia numaforte amplificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico em queo sistema jaacute se encontra tendendo a meacutedio ndash longoprazo para a completa artificializaccedilatildeo da Ria Formosaconsignada por legislaccedilatildeo nacional como ParqueNatural e reconhecida internacionalmente comoimportante aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental

Retirada estrateacutegica Programas natildeo estruturaisOs programas natildeo estruturais satildeo intervenccedilotildees em

que se procede agrave demoliccedilatildeo de infra-estruturasameaccediladas pela erosatildeo costeira ou transferecircncia dasmesmas para locais mais seguros o que eacute tambeacutemconhecido como ldquoretirada estrateacutegicardquo Viabiliza-seassim a evoluccedilatildeo natural dos sistemas Com amigraccedilatildeo das ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continentecomo resposta agrave elevaccedilatildeo do NMM este tipo deintervenccedilatildeo comeccedilou por ser aplicado em algunslocais da costa Leste dos EUA em 1972 (NRC 1995)A deslocalizaccedilatildeo de infra-estruturas pode ser eficazem locais pouco povoados ou quando existe interessena salvaguarda de patrimoacutenio como aconteceu como farol do Cabo Hatteras nos EUA No entantotorna-se impraticaacutevel em grandes nuacutecleos urbanosdevido aos elevados custos e dificuldades logiacutesticas

Na Ria Formosa este tipo de intervenccedilatildeo temencontrado grandes dificuldades de execuccedilatildeodesignadamente no que se refere agrave demoliccedilatildeo de casasconstruiacutedas ilegalmente em Domiacutenio Hiacutedrico Domiacutenio Puacuteblico Mariacutetimo o que aleacutem de tender aperpetuar situaccedilotildees de muito alto risco potildee em causaa imagem do Paiacutes como Estado de direito (Dias 2002)

Intervenccedilatildeo SuaveA intervenccedilatildeo suave tambeacutem designada por

protecccedilatildeo dinacircmica desde haacute algumas deacutecadas que eacuteutilizada preferencialmente como alternativa agravesteacutecnicas de intervenccedilatildeo riacutegida Apresentam menoresimpactes ambientais sendo uma soluccedilatildeo maisapropriada para aacutereas sensiacuteveis como as ilhas-barreira

As teacutecnicas de protecccedilatildeo suave tais como arealimentaccedilatildeo de praias a reconstruccedilatildeo dunar atransposiccedilatildeo de molhes (by-passing) a abertura debarras (para as deixar evoluir naturalmente) e asldquodragagens ecoloacutegicasrdquo correspondem em geral auma intervenccedilatildeo inicial deixando depois a Naturezaldquotrabalharrdquo Por essa razatildeo estas teacutecnicas satildeo tambeacutemfrequentemente designadas por ldquobuilding with NaturerdquoSatildeo com frequecircncia menos dispendiosas e maiseficientes a longo prazo do que as intervenccedilotildees riacutegidas(Koster amp Hillen 1995 Griggs 1999 Dias et al 2003)

Poreacutem estas teacutecnicas tecircm que ser executadas comforte suporte cientiacutefico e devem envolver o conceitode protecccedilatildeo de trechos costeiros na sua globalidadee natildeo apenas a protecccedilatildeo local de patrimoacutenio edificadoem zonas de risco Se forem concretizadas de formadeficiente podem mesmo revelar-secontraproducentes Eacute o que se passa por exemploquando a realimentaccedilatildeo de praias eacute efectuada comareias extraiacutedas da praia submersa (acima daprofundidade de fecho) nestes casos nenhumsedimento eacute adicionado ao sistema (Wells amp McNinch1991) havendo apenas transferecircncias dentro dosistema com consequecircncias negativas para o seufuncionamento natural tanto ao niacutevel morfodinacircmicocomo bioloacutegico

Desde 1996 que o PNRFICN tem realizadointervenccedilotildees de caraacutecter suave na tentativa demelhorar o funcionamento do sistema e diminuir avulnerabilidade ao galgamento e ao mesmo tempomanter a dinacircmica dos processos naturais (Dias et al2004) Entre as intervenccedilotildees efectuadas procedeu-seao robustecimento da Peniacutensula de Cacela agrave aberturadas Barras do Ancatildeo e da Fuzeta (deixando-as deseguida evoluir naturalmente) agrave dragagem de muitoscanais que natildeo satildeo de navegaccedilatildeo para melhorar acirculaccedilatildeo no sistema agrave repulsatildeo de sedimentos parao cordatildeo arenoso agrave colocaccedilatildeo de paliccediladas parareconstruccedilatildeo dunar agrave plantaccedilatildeo de Ammophila arenariae agrave construccedilatildeo de passadiccedilos sobrelevados

Segundo Dias et al (2003) as intervenccedilotildees suavesrealizadas na Ria Formosa propiciaram melhorprotecccedilatildeo das ilhas-barreira tendo-se em geralatingido os objectivos esperados Os mesmos autoresreferem que os sistemas naturais de elevadaimportacircncia soacutecio-econoacutemica e ambiental (como aRia Formosa) podem ser geridos utilizando este tipo

73

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

de teacutecnicas lucrando com o aproveitamento dosrecursos existentes

A transposiccedilatildeo (by-passing) dos molhes das barrasartificiais meacutetodo utilizado desde haacute muito um poucopor todo o mundo permitiria que as areias retidaspelos molhes a barlamar fosse transferido parasotamar aiacute reconstituindo a deriva litoral econsequentemente minimizando alguns dos impactesnegativos induzidos por estas estruturas Vaacuteriosestudos que demonstram que esta tecnologia natildeoaparenta ter efeitos ambientais negativos associados(eg Lindeman 1997 in Greene 2002)

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Com vista a avaliar a vulnerabilidade das ilhas-barreira da Ria Formosa o presente trabalho incidiuna actualizaccedilatildeo desta problemaacutetica na oacuteptica da gestatildeouma vez que se trata de um sistema em permanentetransformaccedilatildeo Nesta anaacutelise eacute imprescindiacutevel tersempre em consideraccedilatildeo que o sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa estaacute consignado legalmentecomo aacuterea de protecccedilatildeo ambiental desde 1978 anoem que lhe foi atribuiacutedo o estatuto de Reserva Naturaltendo ficado protegido pelo estatuto de ParqueNatural em 1987 (Decreto-lei 37387) e Rede Natura2000 tendo ainda sido integrado desde 1980 na Listade Siacutetios da Convenccedilatildeo de Ramsar (zonas huacutemidasde importacircncia internacional)

Da anaacutelise efectuada conclui-se que eacuteimprescindiacutevel compatibilizar os diversificados valoresnaturais (bioloacutegicos geomorfoloacutegicos fiacutesico-quiacutemicos geoloacutegicos etc) intriacutensecos ao sistema comos muacuteltiplos interesses soacutecio-econoacutemicos decorrentesda sua exploraccedilatildeo (pesca maricultura aquaculturaturismo portos comerciais e de pesca navegaccedilatildeo derecreio etc) Estando influenciado por fortesimpactes antroacutepicos directos e indirectos tais comoentre muitos outros a erosatildeo costeira e a intensificaccedilatildeodo assoreamento lagunar a sobrevivecircncia do sistemaldquonaturalrdquo e a sustentabilidade da sua exploraccedilatildeocarecem de intervenccedilotildees correctivas frequentes porforma a minimizar os impactes negativos aludidosTais intervenccedilotildees teratildeo que ser cautelosas e contiacutenuastentando o mais possiacutevel aproximar-se do que seriaa dinacircmica natural do sistema

Eacute ainda urgente resolver vaacuterios conflitos deinteresses existentes privilegiando as actividades

indutoras de menores impactes negativos e quesimultaneamente viabilizem uma melhor exploraccedilatildeosustentaacutevel do sistema Aponta-se a tiacutetuloexemplificativo o caso do turismo haacute quedesincentivar o turismo de massas directo nesta aacuterea(ateacute porque nas proximidades haacute poacutelos turiacutesticos destegeacutenero bem consolidados) desenvolvendo emalternativa outros tipos de turismo complementardesignadamente o turismo de Natureza a observaccedilatildeode aves (bird watching) e de peixes (fish watching) emambiente natural os passeios no meio lagunar emembarcaccedilotildees natildeo poluentes o turismo gastronoacutemicoetc

A maior parte da zona de barreira do sistema natildeoestaacute ainda ocupado por estruturas imobiliaacuterias Comvista agrave exploraccedilatildeo sustentaacutevel do sistema eacuteimprescindiacutevel que estas zonas continuem semocupaccedilatildeo permanente mantendo algumascaracteriacutesticas pristinas ainda aiacute existentes Nos poucosnuacutecleos urbanos piscatoacuterios existentes cujo casoparadigmaacutetico eacute a povoaccedilatildeo da Culatra onde natildeoexistem problemas realmente graves pois que selocalizam na margem lagunar (relativamente afastadado litoral oceacircnico) devem-se adoptar algumasmedidas correctivas pontuais por forma a preservara sua identidade cultural a melhorar a qualidade devida da populaccedilatildeo e a impedir um crescimentoexagerado Nos restantes nuacutecleos urbanos comcaracteriacutesticas ldquoturiacutesticasrdquo vaacuterios dos quais localizadosnas zonas de maior risco do sistema seria altamentedesejaacutevel que se procedesse agrave completa reformulaccedilatildeoda ocupaccedilatildeo ou sempre que possiacutevel se optasse peladesocupaccedilatildeo

No sentido de tentar resolver os problemas deerosatildeo costeira existentes (que se agravaratildeo no futuro)recomenda-se vivamente que a) natildeo se construamobras de protecccedilatildeo riacutegida (esporotildees paredotildees etc)na Ria Formosa nem na zona a barlamar desta daqual o sistema depende b) se continuem a executaracccedilotildees de robustecimento do cordatildeo dunar e decolmataccedilatildeo dos cortes de galgamento utilizando tantoquanto possiacutevel sedimentos provenientes dadragagem dos canais de navegaccedilatildeo c) se implementea transposiccedilatildeo dos molhes portuaacuterios com relevacircnciaespecial para os molhes da Barra de Faro-Olhatildeo d)efectivamente se proceda agrave demoliccedilatildeo das edificaccedilotildeessituadas em zonas de maior risco e sobre a duna

74

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

primaacuteria concretizando finalmente decisotildeesgovernamentais que tecircm vindo a ser repetidamentetomadas haacute quase trecircs deacutecadas mas nunca executadascabalmente e) sejam amplificadas as acccedilotildees deintervenccedilatildeo e protecccedilatildeo dinacircmica na linha do que severificou desde finais do seacuteculo passado (abertura debarras quando necessaacuterio para as deixar evoluirnaturalmente dragagens ldquoecoloacutegicasrdquo etc) e quetransformaram a Ria Formosa num siacutetio de referecircnciainternacional nesta mateacuteria e que nos uacuteltimos anosapenas tecircm sido executadas de forma extremamentemoderada

Finalmente eacute altamente recomendaacutevel que emtodos os actos de gestatildeo envolvendo quer ascomponentes geomorfoloacutegicas quer as ecoloacutegicasquer as soacutecio-econoacutemicas se tenham sempre emconsideraccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas principalmenteno que se refere agrave elevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar

BIBLIOGRAFIA

Andrade CF (1990a) - O Ambiente de barreira da RiaFormosa Algarve ndash Portugal Dissertaccedilatildeo deDoutoramento 645p Universidade de LisboaPortugal (natildeo publicado)

Andrade CF (1990b) - Estudo da susceptibilidadeao galgamento da Ria Formosa Geolis IV(1-2)69-76 Lisboa Portugal

Andrade CF Barata A amp Teles M (1998) - Ananalysis of the vulnerability to overwash of theRia Formosa barrier island system (Portugal)Using a simple multi-attribute technique (SMART)approach Proceedings of Littoralrsquo98 Conferencepp511-519 Barcelona Espanha

Andrade CF Freitas MC Moreno J amp CraveiroSC (2004) - Stratigraphical evidence of LateHolocene barrier breaching and extreme stormsin lagoonal sediments of Ria Formosa AlgarvePortugal Marine Geology 210339ndash362(doi101016jmargeo200405016)

Antunes P Santos R amp Videira N (2006) -Participatory decision making for sustainabledevelopment - the use of mediated modellingtechniques Land Use Policy 2344ndash52(doi101016jlandusepol200408014)

Bernardo P Bastos R amp Dias JA (2002) - Historicroots for barrier island occupation in the RiaFormosa Littoral 2002 Porto 4 p (disponiacutevel em

httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI02_Lit_91_PBpdf)

Bettencourt P (1985) - Geomorphologie et processusdlsquoeacutevolution reacutecente de la cocircte sotavento (Algarve ndash SudPortugal) Thegravese DEA 92p Universiteacute deBordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Bettencourt P (1994) - Les environnements sedimentairesde la cocircte sotavento (Algarve SudPortugal) et leur eacutevolutionHoloceacutene et actuelle PhD Thesis University ofBordeaux I Franccedila (unfinished)

Bray Jr T amp Carter C (1992) - Physical processesand sedimentary record of a moderntransgressive lacustrine barrier island MarineGeology 105(1-4)155-168 (doi 1010160025-3227(92)90187-M)

Correia F Dias JA Boski T amp Ferreira Oacute (1996)- The retreat of the Eastern Quarteira cliffed coast(Portugal) and its possible causes In Jones PSHealy MG amp Williams AT (eds) Studies inCoastal Management p129-136 Samara PublLtd Cardigan UK (disponiacutevel emht tp w3 u a l g p t j d i a s JA D pape r s CLinternac96_Studies_129_FCpdf)

Correia F Ferreira Oacute amp Dias JA (1997) - Contributodas arribas para o balanccedilo sedimentar do sectorcosteiro Quarteira - Vale do Lobo (Algarve -Portugal) Seminaacuterio sobre a zona costeira doAlgarve 31-39 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_031_FCpdf)

Costa CL (1994) - Final report of sub-project A ldquoWindwave climatology of the Portuguese coastrdquo InstitutoHidrograacutefico Report PO-WAVES 694-A 80 pLisboa Portugal (natildeo publicado)

Dias JA (1988) - Aspectos geoloacutegicos do litoralalgarvio Geonovas 10 113-128 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN88_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (1990) - A Evoluccedilatildeo Actual do LitoralPortuguecircs Geonovas 11 15-29 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN90_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (2002) - Manual de Sobrevivecircncia eVilanagem Diaacuterio de Notiacutecias - SuplementoldquoAmbiente e Desenvolvimento Sustentaacutevelrdquo 30de Julho de 2002 Lisboa Portugal (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersxCS02_DNADpdf)

75

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Dias JA Ferreira Oacute Matias A Vila-Concejo Aamp Saacute-Pires C (2003) - Evaluation of softprotection techniques in barrier islands bymonitoring programs case studies from RiaFormosa (Algarve-Portugal) Journal of CoastalResearch SI35117-131

Dias JA Ferreira Oacute amp Moura D (2004) - O sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa 3ordm SIPRES ndashSimpoacutesio Interdisciplinar sobre Processos Estuarinos 18p Faro Portugal

Dias JA amp Neal WJ (1992) - Sea cliff retreat insouthern Portugal profiles processes andproblems Journal of Coastal Research 8641-654

Dias JA amp Taborda R (1992) - Tidal gauge data indeducing secular trends of relative sea level andcrustal movements in Portugal Journal of CoastalResearch 8655-659

Dias JA Teixeira SB amp Ferreira Oacute (1997) - LivroGuia da Excursatildeo Seminaacuterio sobre a Zona Costeirado Algarve 43 p Faro Portugal

Douglas BC (1995) - Global sea level changedetermination and interpretation US NationalReport to IUGG 1991-1994 Geophys 33 Suppl11 p (disponiacutevel em httpwwwaguorgrevgeophysdougla01dougla01html)

Duarte C Matias A Dias JA amp Ferreira Oacute (1999)- Vulnerabilidade dos corpos dunares do Algarve10ordm Congresso do Algarve 477-490 (disponiacutevelem httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN99_10CA_477_CDpdf)

Esaguy AS (1984) - Ria de Faro Barra da ArmonaEvoluccedilatildeo 1873-1983 5 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1986a) - Ria de Faro Barra de Faro-OlhatildeoEvoluccedilatildeo 1955ndash1985 10p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986b) - Ria de Faro Ilha de TaviraEvoluccedilatildeo 1950ndash1985 8 p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986c) - Ria de Faro Ilha do AncatildeoEvoluccedilatildeo 1950-1985 7 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1987) - Ria de Faro Barra de TaviraEvoluccedilatildeo 13 p Direcccedilatildeo Geral de Portos LisboaPortugal

Ferreira Oacute Dias JA amp Taborda R (2008) -Implications of sea-level rise for Portugal Journal

of Coastal Research 24(2)317-324 (doi 10211207A-00061)

Ferreira Oacute Garcia T Matias A Taborda Ramp DiasJA (2006) - An integrated method for thedetermination of set-back lines for coastal erosionhazards on sandy shores Continental ShelfResearch 261030ndash1044 (doi 101016jcsr200512016)

Ferreira Oacute Martins JC amp Dias JA (1997) -Morfodinacircmica e vulnerabilidade da Praia de FaroSeminaacuterio sobre a zona costeira do Algarve 67-76 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_067_OFpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias Aamp Dias JA (2002)- Recent evolution of Culatra Island (Algarve ndashPortugal) Littoral 2002 The Changing Coast 289-294 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers02_LitTGpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2005)ndash Coastal Hazards Representation for Praia doBarril (Algarve Portugal) Continental ShelfResearch SI4928-33

Granja H (1984) - Eacutetude geacuteomor phologiquesedimentoloacutegique et geacuteoquimique de la Ria Formosa(Algarve-Portugal) These 3eme Cycle 254 pUniversiteacute de Bordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Greene K (2002) - Beach nourishment a review ofthe biological and physical impacts 174 p AtlanticStates Marine Fisheries Commission WashingtonDC (disponiacutevel em httpwwwasmfcorgpublicationshabitatbeachNourishmentpdf)

Griggs GB (1999) - The protection of Californialsquoscoast past present and future Shore amp Beach67(1)18-28

Hoyt JH (1967) - Barrier Island FormationGeological Society of America Bulletin 781125-1136 (doi 1011300016-7606(1967)78[1125BIF]20CO2)

Inman D (1978) - The impact of coastal structureson shorelines Proceedings of Coastal Zoneacute78 ASCE2265-2272

Koster MJ amp Hillen R (1995) - Combat erosion bylaw Coastal defence policy for the NetherlandsJournal of Coastal Research 67(2-3)43-49

Leatherman S (1976) - Barrier islands dynamicsoverwash processes and aeolian transportProceedings of Coastal Engineering Conference ASCE1958-1973

76

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Mangor K (1998) - Coastal restorationconsiderations Proceedings of Coastal Engineeringrsquo98Conference ASCE 3425-3438

Marcelo MJ amp Fonseca LC (1998) - Ria Formosada gestatildeo e conservaccedilatildeo de uma aacuterea protegidaRevista de Biologia 2ordm ENEC 16(1-4)125-133

Martins JT Ferreira Oacute Ciavola Pamp Dias JA (1996)- Monitoring of profile changes at Praia de FaroAlgarve a tool to predict and solve problems InTaussik J amp Mitchell J (eds) Partnership in CoastalZone Management pp 615-622 Samara Publ LtdCardigan UK

Matias A (2000) - Estudo morfosedimentar da Peniacutensulade Cacela Dissertaccedilatildeo de Mestrado 244pUniversidade do Algarve Faro Portugal (natildeopublicado)

Matias A Dias JA Williams AT amp Ferreira Oacute(1997) - Vulnerabilidade das dunas da RiaFormosa 9ordm Congresso do Algarve 231-239Vilamoura Portugal

Matias A Ferreira Oacute amp Dias JA (1999) -Preliminary results on the Cacela Peninsula dunereplenishment Boletiacuten del Instituto Espantildeol deOceanografiacutea 15(1-4)283-288 (disponiacutevel emhttpwwwieoespublicacionesboletinpdfsbol1515_283-288PDF)

Matias A Ferreira Oacute Dias JA amp Vila-Concejo A(2004) - Development of indices for the evaluationof dune recovery techniques Coastal Engineering51261-276 (doi 101016jcoastaleng200402002)

Matias A Ferreira Oacute Mendes I amp Dias JA (1998)- Monitorizaccedilatildeo da alimentaccedilatildeo artificial daPeniacutensula de Cacela Seminaacuterio sobre DragagensDragados e Ambientes Costeiros 47-56

Matias A Ferreira Oacute Mendes I Dias JA amp Vila-Cconcejo A (2005) - Artificial construction ofdunes in the South of Portugal Journal of CoastalResearch 21(3)472-481 (doi 10211203-00471)

Matias A Vila-Concejo A Ferreira Oacute amp Dias JA(2003) - Field measurements of morphologicvariations during an overwash event 4ordm Simpoacutesiosobre a Margem Ibeacuterica Atlacircntica Thalassas19(2b)164-165 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI03_4SM_b164_AMpdf)

NRC - National Research Council (1995) - Beach

Nourishment and Protection 334 p Washington DCNational Academy Press (ISBN 9780309052900)

Pacheco A Carrasco AR Vila-Concejo A FerreiraOacute amp Dias JA (2007) - A coastal managementprogram for channels located in backbarriersystems Ocean amp Coastal Management 50119-143 (doi101016jocecoaman200608008)

Pilkey OH amp Dixon K (1996) - The Corps and theShore 286p Island Press Washington DC USA(ISBN 9781559634380)

Pilkey OH Neal WJ Monteiro JH amp Dias JA(1989) - Algarve Barrier Islands A Noncoastal-Plain System in Portugal Journal of Coastal Research5(2)239-261

Ramos L amp Dias J A (2000) - Atenuaccedilatildeo davulnerabilidade a galgamentos oceacircnicos nosistema da Ria Formosa mediante intervenccedilotildeessuaves 3ordm Simpoacutesio sobre a Margem ContinentalIbeacuterica Atlacircntica Faro 361-362 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers00_SMLRpdf)

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2001)- Avaliaccedilatildeo de realimentaccedilotildees artificiais de praiasda Ria Formosa Casos das ilhas de Cacela e deTavira Congresso do Algarve 2001 8 p

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2002)- Preliminary Evaluation of the MorphologicalEvolution of Contrasting Beaches of the RiaFormosa With Relation to Differences inRefracted Wave Height Littoral 2002 TheChanging Coast 423-429 (disponiacutevel emht tp www2 00 8 i o -war nemu ende dehomepagesschernewskiLittoral2000docsvol3Littoral2002_79pdf)

Scheele RJ amp Westen CJ (1996) - Planning for acoastal policy - the 3A4 approach In Taussik Jamp Mitchell J (eds) Partnership in Coastal ZoneManagement pp 65-71 Samara Publ LtdCardigan UK

Sprung M (1994) - Macrobenthic secondaryproduction in the intertidal zone of Ria Formosaa lagoon in southern Portugal Estuarine Coastaland Shelf Science 38539ndash558 (doi 101006ecss19941037)

Van Den Belt M Videira N Antunes P Santos Ramp Gamito S (2000) - Modelaccedilatildeo Participada na RiaFormosa 36 p Ediccedilatildeo Fundaccedilatildeo do Mar LisboaPortugal

77

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Vila A Dias JMA Ferreira Oacute amp Matias A (1999)- Natural evolution of an artificial inlet CoastalSedimentslsquo99 21478-1488 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI99_CS99_1478_AVpdf)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Ciavola P Matias Aamp Dias JA (2004a) - Tracer studies on the updriftmargin of a complex inlet system Marine Geology20843-72 (doi 101016jmargeo200404020)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA(2003) - The first two years of an inlet sedimentarydynamics Continental Shelf Research 231425-1445 (doi 101016S0278-4343(03)00142-0)

Vila-Concejo A Matias A Ferreira Oacute Duarte Camp Dias JA (2002) - Recent evolution of thenatural inlets of a barrier island system in southernPortugal Journal of Coastal Research (ICS 2002proceedings) SI36741-752

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Morris BD MatiasA amp Dias JA (2004b) ndash Lessons from inletrelocation examples from Southern PortugalCoastal Engineering 51(10)967-990(doi101016jcoastaleng200407019)

Vila-Concejo A Matias A Pacheco A FerreiraOacute amp Dias JA (2006) - Quantification of inlet-related hazards in barrier island systems Anexample from the Ria Formosa (Portugal)Continental Shelf Research 261045-1060(doi 101016jcsr200512014)

Weinholtz MB (1978) - Contribuiccedilatildeo para o estudo daevoluccedilatildeo das flechas de areia na costa sotavento do Algarve(Ria de Faro) Relatoacuterio da Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Wells JT amp McNinch J (1991) - Beach scraping inNorth Carolina with special reference to itseffectiveness during Hurricane Hugo Journal ofCoastal Research SI8249-261

Williams SJ (2001) - Coastal erosion and land lossaround the United States strategies to manage andprotect coastal resources ndash examples fromLouisiana Coastal Ecosystems and FederalActivities Technical Training SymposiumProceedings 15 p (disponiacutevel emhttpwwwfwsgovnc-esecoconfwilliamspaperpdf)

Page 12: Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na

68

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Pilkey et al 1989 Andrade 1990a Bettencourt 1994Matias 2000 Vila-Concejo et al 2002) A barra separaa Ilha de Cabanas e a Peniacutensula de Cacela deriva dajunccedilatildeo em 1985 das Barras de Cochicho-Almargem(aberta pelo ciclone de 1941) e de Cabanas (abertapelo temporal de 1961) (Esaguy 1986b) A velocidademeacutedia de migraccedilatildeo da barra tem sido de 97mano(Vila-Concejo et al 2006)

Mais recentemente em 2004 abriu-se uma novabarra natural localizada a oriente da antiga Barra doLaceacutem A nova barra conduziu ao assoreamento daantiga Barra do Laceacutem com o seu consequenteencerramento

314 Peniacutensula de Cacela

A Peniacutensula de Cacela localiza-se no extremooriental da Ria Formosa Tem cerca de 3km decomprimento e entre 100 a 250m de largura (Fig2)

Em 1976 a cota meacutedia do cordatildeo dunar singularrobusto e vegetado era de 34m atingindo um maacuteximode 61m (Esaguy 1986c) A posterior degradaccedilatildeo doscorpos dunares devido ao pisoteio conduziu a umgrande aumento da frequecircncia de galgamentos (Diaset al 2004) Em 1990 Andrade (1990b) verificou quea Peniacutensula de Cacela apresentava um maacuteximo desusceptibilidade a galgamentos oceacircnicos De factodurante o Inverno de 19951996 ocorreramgalgamentos generalizados em quase toda a peniacutensulaque conduziram agrave abertura de uma nova barra nocentro da mesma (Barra da Faacutebrica) a qual emOutubro de 1996 chegou a ter cerca de 35m de largurae uma profundidade de 07m (Matias et al 2004) Casonatildeo se efectuasse qualquer intervenccedilatildeo era de preverque as dunas remanescentes desaparecessem porcompleto

Assim no sentido de diminuir a vulnerabilidade agalgamentos e de manter a produccedilatildeo de bivalves(actividade econoacutemica mais importante da zona)foram efectuadas entre Outubro de 1996 e Fevereirode 1997 grandes intervenccedilotildees que consistiramprincipalmente na ldquoreconstituiccedilatildeordquo do cordatildeo dunarda Peniacutensula de Cacela na colmataccedilatildeo da Barra daFaacutebrica e na dragagem da Barra do Laceacutem e do canallagunar (Ramos amp Dias 2000 Matias et al 2005) Oobjectivo era elevar a cota do topo do cordatildeo dunarateacute aos 75m acima do Zero Hidrograacutefico (ZH)reconstituindo uma situaccedilatildeo semelhante agrave existente

nos anos 60 (Ramos amp Dias 2000) Todavia devidoagrave existecircncia de formaccedilotildees consolidadas queimpossibilitaram a dragagem agraves cotas inicialmenteestabelecidas a quantidade de sedimentos repulsadospara a peniacutensula foi bastante inferior ao previstoestimando-se que o material deposto no cordatildeo dunartenha atingido apenas 325000m3 (Ramos amp Dias2000) Tal obrigou agrave reformulaccedilatildeo do projectoelevando-se a cota de topo da duna apenas para os5m acima do ZH Segundo Matias et al (1999) cercade 32 do sedimento depositado perdeu-seimediatamente apoacutes a deposiccedilatildeo no cordatildeo arenosoTal verificou-se devido aos processos de acomodaccedilatildeodo perfil de praia submerso mas tambeacutem porquegrande parte do material natildeo apresentava agranulometria adequada Depois da realimentaccedilatildeo avegetaccedilatildeo pioneira comeccedilou rapidamente a colonizara duna reconstituiacuteda (Matias et al 2004)

Outras intervenccedilotildees tecircm vindo a ser efectuadasdepois do robustecimento do cordatildeo dunar foramconstruiacutedos passadiccedilos de madeira procedeu-se agravecolocaccedilatildeo de paliccediladas no sentido de propiciar odesenvolvimento de dunas naturais e agrave plantaccedilatildeo deAmmophila arenaria Posteriormente entre Abril de1999 e Julho de 2000 efectuaram-se em quase todoo sistema novas dragagens nos canais natildeoconsiderados de navegaccedilatildeo integradas no Projectode Requalificaccedilatildeo do Sistema Lagunar com oobjectivo de intensificar a circulaccedilatildeo assim mantendoas condiccedilotildees ecoloacutegicas do sistema Nesta intervenccedilatildeovoltou-se a dragar a Barra do Laceacutem em Junho de1999 Segundo Ramos amp Dias (2000) as intervenccedilotildeesatingiram os objectivos tendo a vulnerabilidade aogalgamento sido drasticamente reduzida e do ladonascente verificando-se o estabelecimento dasucessatildeo fitogeneacutetica conferindo um aspecto naturalao novo cordatildeo dunar

Mais recentemente na parte central da zonaintervencionada verificou-se erosatildeo completa daldquodunardquo reconstruiacuteda o que tinha sido previsto nosestudos de monitorizaccedilatildeo realizados no decurso eimediatamente apoacutes a intervenccedilatildeo tendo-se na alturasugerido a possibilidade de nova pequena intervenccedilatildeopontual Todavia quando se verificou a ruptura natildeohouve possibilidades de efectuar essa pequenaintervenccedilatildeo pelo que se abriu naturalmente novabarra o que nos uacuteltimos anos provocou a colmataccedilatildeo

69

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

da antiga barra e erosatildeo de grande parte das ldquodunasrdquoreconstruiacutedas no final do seacuteculo XX

4 DISCUSSAtildeO

41 Evoluccedilatildeo Geral do Sistema

Como se deduz dos pontos anteriores o sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa eacute extremamentedinacircmico e como tal bastante vulneraacutevel As taxasde crescimento longitudinal de algumas ilhas satildeo dasmais notaacuteveis a niacutevel mundial (Dias et al 1997)

Segundo Pilkey et al (1989) os principais processosque contribuem para a evoluccedilatildeo das ilhas-barreira daRia Formosa satildeo (1) recuo da linha de costa (2) derivalitoral (3) galgamentos oceacircnicos (4) formaccedilatildeo decorpos dunares e de estabelecimento da respectivavegetaccedilatildeo (5) constituiccedilatildeo de deltas de mareacute e suaagregaccedilatildeo agraves ilhas (6) comportamento das barras e(7) erosatildeoacumulaccedilatildeo provocada pelas mareacutes-vivasdesignadamente nos canais de mareacute

Recuo da linha de costaOs valores observados na evoluccedilatildeo da linha de

costa indicam a existecircncia de recuo generalizado dasilhas e peniacutensulas (com excepccedilatildeo das zonasimediatamente a barlamar dos molhes das barras denavegaccedilatildeo) a qual varia consoante a localizaccedilatildeogeograacutefica e a interacccedilatildeo com os processos oceacircnicosA linha de costa move-se em resposta aos factoresnaturais de forma a manter o equiliacutebrio (Williams2001) O recuo da linha de costa eacute mais acentuadonos extremos do sistema e na parte ocidental das ilhase peniacutensulas Na parte central do sistema e nosextremos orientais das ilhas verifica-se algumaacreccedilatildeo Nas duas aacutereas mais intensamente ocupadas(Praia de Faro e Farol) existe estabilizaccedilatildeo da linha decosta devido a artificializaccedilatildeo desta com estruturasfixas de engenharia costeira A acreccedilatildeo verificada aoriente das ilhas da Barreta e de Tavira deve-se agravedeposiccedilatildeo de sedimentos a barlamar dos molhes dasbarras artificiais

Deriva litoralTorna-se evidente que o sistema da Ria Formosa

tem grande carecircncia de sedimentos principalmentenalgumas zonas mais expostas Contudo grande partedeste problema tem origem a barlamar do sistemaonde foram construiacutedos os molhes da marina deVilamoura e o campo de esporotildees de Quarteira que

interromperam a deriva litoral provocando a orienteintensificaccedilatildeo da erosatildeo nas arribas situadas entreQuarteira e a Praia do Garratildeo Actualmente as arribassatildeo o principal elemento abastecedor de areias aosistema da Ria Formosa (Correia et al 1997) Noentanto estas natildeo chegam para colmatar as carecircnciassedimentares do sistema da Ria Formosa o quesignifica que se forem construiacutedas obras riacutegidas deengenharia costeira neste sector se verificaraacuteintensificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico do sistemaampliando o grau de ruptura em que este jaacute seencontra Um exemplo que ilustra esta vulnerabilidadefoi a conclusatildeo da construccedilatildeo dos molhes da barraartificial de Faro-Olhatildeo em meados do seacuteculopassado que induziu grandes alteraccedilotildees com efeitosdraacutesticos no suprimento de sedimento agrave parte orientalNa realidade a abertura desta barra estabilizada pelosmolhes respectivos fez com que o sistema naturalentrasse em ruptura modificando radicalmente ascaracteriacutesticas hidro-sedimentoloacutegicas Segundo Dias(1990) as uacutenicas acccedilotildees de protecccedilatildeo realmenteeficazes satildeo as que possibilitam a reconstituiccedilatildeo daderiva litoral com os consequentes volumes desedimentos necessaacuterios

Galgamentos oceacircnicosAs ilhas-barreira da Ria Formosa satildeo

periodicamente sujeitas a galgamentos oceacircnicosdurante temporais de SW e SE Estes galgamentosconstituem um elemento muito importante nadinacircmica e na evoluccedilatildeo natural do sistemacontribuindo com fornecimento de sedimentos parao interior da laguna e abertura de novas barras quandoas antigas jaacute natildeo apresentam eficiecircncia (Andrade1990a) Tecircm sido assumidos como principalmecanismo de migraccedilatildeo das ilhas-barreira(Leatherman 1976 Bray amp Carter 1992) induzindoum efeito construtivo de acreccedilatildeo (Matias et al 2003)Assim sendo a gestatildeo deve integrar uma adaptaccedilatildeoaos galgamentos naturais uma vez que satildeo vitais parao funcionamento natural do sistema

Do ponto de vista da ocupaccedilatildeo os galgamentosoceacircnicos satildeo um factor importante que necessita deser avaliado para propiciar uma gestatildeo mais eficazuma vez que induz seacuterios danos nas infra-estruturasexistentes (Andrade et al 1998) Verifica-se que ospontos mais vulneraacuteveis a galgamentos satildeo a Praia deFaro Barreta W Culatra E Armona E Tavira W toda

70

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

a Ilha de Cabanas e a Peniacutensula de Cacela Nesteslocais mesmo a ocorrecircncia de pequenos temporaisdurante a preia-mar de mareacutes vivas podem provocargalgamentos Alguns pontos como a Ilha de Cabanase a Peniacutensula de Cacela viram reduzida avulnerabilidade a galgamentos apoacutes as intervenccedilotildeesefectuadas com algum sucesso embora essavulnerabilidade comece a ser actualmente elevada nosegundo caso devido aos factos aludidos mais acimaEm geral os locais de maior vulnerabilidade satildeo osque apresentam perfis de praia de pouca inclinaccedilatildeocordatildeo dunar fraacutegil e proximidade das barras

Cordatildeo dunar e vegetaccedilatildeo dunarAo longo das ilhas existiu um cordatildeo dunar frontal

contiacutenuo com 5 a 10m de altura sem cortes eoacutelicos ede galgamento muito significativos e bem cobertosde vegetaccedilatildeo (Pilkey et al 1989) No entanto o cordatildeodunar encontra-se na actualidade completamenteocupado em alguns locais por edificaccedilotildees comoacontece na Praia de Faro na povoaccedilatildeo do Farol e naIlha da Armona A vegetaccedilatildeo tornou-se escassa natildeosomente nas zonas ocupadas mas tambeacutem noutroslocais como na parte ocidental da Ilha da Barreta ena oriental das ilhas da Armona e da Culatra

Com a crescente pressatildeo antroacutepica exercida sobreo sistema especialmente para fins balneares verifica-se que em vaacuterios locais a quantidade de cortes eoacutelicostem aumentado devido ao pisoteio Este facto podeconduzir em periacuteodos de agitaccedilatildeo mariacutetima maisenergeacutetica agrave ocorrecircncia de galgamentos oceacircnicosRamos amp Dias (2000) referem que grande parte doscortes de galgamento oceacircnico do sistema da RiaFormosa eacute devido ao pisoteio dos corpos dunares enatildeo a causas naturais

A instalaccedilatildeo intensiva nos uacuteltimos anos depaliccediladas para recuperaccedilatildeo dunar complementadacom plantaccedilatildeo de vegetaccedilatildeo tiacutepica destes ambientescorresponde a uma acccedilatildeo de gestatildeo com efeitos muitopositivos com a qual se tem conseguido robustecero cordatildeo dunar do sistema

Deltas de mareacuteA incorporaccedilatildeo de deltas de enchente e posterior

migraccedilatildeo ou encerramento da barra respectivaconstitui importante mecanismo de evoluccedilatildeo dasilhas-barreira estando na origem da grande larguradas ilhas da Armona e de Tavira (Pilkey et al 1989)

A formaccedilatildeo de deltas de enchente em associaccedilatildeo comos galgamentos oceacircnicos contribui para a migraccedilatildeodas ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continente o quepoderaacute estar a suceder com o caso particular daPeniacutensula de Cacela (Andrade et al 2004)

Comportamento das barrasA Ria Formosa eacute caracterizada por apresentar

elevadas taxas de migraccedilatildeo das barras A estabilizaccedilatildeode duas das barras no sector oriental provocou fortesmodificaccedilotildees na dinacircmica do sistema Segundo Vila-Concejo et al (2002) a estabilizaccedilatildeo da Barra Faro-Olhatildeo (1929-1955) teve maiores consequecircncias nasbarras do Ancatildeo e da Armona enquanto que aabertura artificial da Barra de Tavira (1927-1985)produziu maiores efeitos nas barras da Fuzeta e doLaceacutem

A Barra da Armona era a principal barra dosistema controlando a maior parte da circulaccedilatildeo daRia Formosa na parte central Com a abertura da BarraFaro-Olhatildeo projectada para manter profundidadesentre-molhes da ordem de 45m ZH mas queprogressivamente se foi aprofundando ateacuteprofundidades superiores a 40 metros as trocashiacutedricas com o oceano passaram a efectuar-sepredominantemente por esta barra Os molhesprovocaram grande acumulaccedilatildeo a barlamar pelo quenos 12 anos seguintes agrave sua construccedilatildeo a Ilha daBarreta registou alargamento superior a 220 metrosna zona por eles influenciada (Bettencourt 1985) Emconsequecircncia a barra da Armona perdeu eficaacuteciareduzindo progressivamente largura e profundidadeNos anos 80 do seacuteculo XX tinha ainda cerca de 2000metros de largura mas actualmente essa largura eacuteapenas da ordem de 200 metros

O sentido de migraccedilatildeo das barras natildeo estabilizadaseacute para oriente (agrave excepccedilatildeo da Barra da Armona quetem mantido a sua posiccedilatildeo) Essa migraccedilatildeo efectua-se quer progressivamente (mantendo ou natildeo a largura)ou por ldquosaltosrdquo na sequecircncia de temporais em quenova barra se abre em geral a sotamar da barraexistente seguindo-se frequentemente a posteriorcolmataccedilatildeo desta (Dias 1988 Pilkey et al 1989Andrade et al 1998)

Erosatildeo provocada pelas mareacutes-vivasA Ria Formosa eacute um sistema lagunar com uma

grande aacuterea de zona intertidal (cerca de 13 do total

71

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

da aacuterea) Em cada ciclo de mareacute 50 a 75 da aacutegua eacuterenovada (Sprung 1994) Devido agrave diferenccedila deamplitude entre mareacutes-vivas e mareacutes-mortas as zonasde menor elevaccedilatildeo das ilhas-barreira satildeo regularmenteinundadas durante as primeiras causando transportesignificativo de sedimentos Estes fluxos satildeoresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo de canais de mareacute eaumento da erosatildeo das ilhas-barreira

Como jaacute foi referido os periacuteodos de mareacutes-vivassatildeo bastante problemaacuteticos especialmente noInverno na medida em que potenciam o efeito detempestades que ocorrem durante mareacutes-cheiasTodos os anos nos pontos criacuteticos do sistema comoa Praia de Faro a probabilidade de ocorrer umasituaccedilatildeo muito grave aumenta principalmente se seconsiderar a elevaccedilatildeo do NMM

42 Intervenccedilatildeo

Como eacute reconhecido por Scheele amp Westen (1996)os planos de gestatildeo costeira devem apontar para aprotecccedilatildeo ambiental de longo prazo o que implica(1) uma estrateacutegia com objectivos claros e concisos(2) uma metodologia praacutetica e realista (3)monitorizaccedilatildeo contiacutenua (4) forte aposta nosprogramas de educaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo ambiental e(5) envolvimento da comunidade local no processode planeamento e tomada de decisotildees

Sendo a Ria Formosa um sistema muito dinacircmicocom elevada vulnerabilidade e que reage rapidamentea elevaccedilotildees do niacutevel do mar os muacuteltiplos interesseseconoacutemicos e sociais aiacute existentes fazem com que aaacuterea seja caracterizada por elevado grau de conflitosde interesses A situaccedilatildeo torna-se ainda mais complexaquando se considera que o sistema corresponde a umParque Natural onde haacute que compatibilizar interesseseconoacutemicos com a conservaccedilatildeo da Natureza Nestecontexto soacute eacute possiacutevel proceder agrave conservaccedilatildeo daNatureza atraveacutes de intervenccedilotildees tendentes a minoraros impactes negativos induzidos pelas actividadesantroacutepicas (Ramos amp Dias 2000)

De acordo com as actividades desenvolvidas osprincipais grupos de interesse na Ria Formosa satildeo(1) o PNRFICNB (2) a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeoe Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR-Algarve) (3) as entidades promotoras do turismo (4)as associaccedilotildees comerciais e industriais (incluindo oporto) (5) os pescadores e autoridades responsaacuteveis

por este sector (6) as entidades regionais e locais (7)as associaccedilotildees de defesa do ambiente e osambientalistas e (8) a populaccedilatildeo local incluindoresidentes e natildeo residentes Como sugere Antunes etal (2006) o entendimento entre os diferentes gruposconduz a uma sinergia que beneficia as potencialidadesque contribuem para uma gestatildeo eficaz

Os principais problemas das ilhas-barreira estatildeolocalizados nos nuacutecleos urbanos devido agraves estruturasedificadas Dos principais nuacutecleos existentes apenasos de Hangares e Culatra natildeo tecircm problemas erosatildeocosteira pois que se localizam junto agrave parte lagunar(e consequentemente afastados da praia oceacircnica eportanto resguardados dos temporais) Os restantespoacutelos de ocupaccedilatildeo (Praia de Faro Farol etc) satildeoproblemaacuteticos sendo os riscos de inundaccedilatildeo e erosatildeobastante elevados Para resolver estes problemasexistem fundamentalmente trecircs estrateacutegias deintervenccedilatildeo (1) intervenccedilatildeo riacutegida (ex esporotildeesparedotildees) (2) retirada estrateacutegica programas natildeoestruturais (ex demoliccedilatildeo de infra-estruturas) e (3)intervenccedilatildeo suave (ex realimentaccedilatildeo de praias) (Pilkeyamp Dixon 1996) Qualquer uma destas estrateacutegias temproacutes e contras sendo praticamente impossiacutevel quequalquer uma delas satisfaccedila todos os grupos deinteresse afectados

Intervenccedilatildeo riacutegidaAteacute haacute poucas deacutecadas em todo o mundo a

construccedilatildeo de estruturas riacutegidas e permanentesconstituiu o meacutetodo mais utilizado de protecccedilatildeo dopatrimoacutenio edificado no litoral Embora estasestruturas se revelem eficazes na defesa de imobiliaacuterioem risco de ser danificado pela erosatildeo costeiraprovocam fortes impactes negativos a sotamar dolocal onde satildeo construiacutedas (Inman 1978 Mangor1998 Greene 2002) pelo que internacionalmente severifica tendecircncia para adoptar outros tipos deprotecccedilatildeo ambientalmente menos agressivos

A construccedilatildeo dos molhes da marina de Vilamourae do campo de esporotildees de Quarteira provocou forteaumento da erosatildeo a oriente e consequentementegraves problemas de gestatildeo Por outro lado a aberturae fixaccedilatildeo das barras de Faro-Olhatildeo e de Tavira parapropiciar melhor funcionamento das estruturasportuaacuterias existentes no meio lagunar econsequentemente beneficiar as actividades socio-econoacutemicas da regiatildeo provocaram grandes alteraccedilotildees

72

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

no sistema fazendo com que o seu funcionamentonatural tivesse entrado em ruptura e que a erosatildeocosteira tivesse sido fortemente amplificada a sotamarComo se veraacute na parte dedicada agraves intervenccedilotildeessuaves a utilizaccedilatildeo de teacutecnicas de transposiccedilatildeo dosmolhes (ldquoby-passingrdquo) permitiria reduzirsubstancialmente alguns destes impactes negativos

A construccedilatildeo de mais estruturas riacutegidas na RiaFormosa (ou a barlamar desta) traduzir-se-ia numaforte amplificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico em queo sistema jaacute se encontra tendendo a meacutedio ndash longoprazo para a completa artificializaccedilatildeo da Ria Formosaconsignada por legislaccedilatildeo nacional como ParqueNatural e reconhecida internacionalmente comoimportante aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental

Retirada estrateacutegica Programas natildeo estruturaisOs programas natildeo estruturais satildeo intervenccedilotildees em

que se procede agrave demoliccedilatildeo de infra-estruturasameaccediladas pela erosatildeo costeira ou transferecircncia dasmesmas para locais mais seguros o que eacute tambeacutemconhecido como ldquoretirada estrateacutegicardquo Viabiliza-seassim a evoluccedilatildeo natural dos sistemas Com amigraccedilatildeo das ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continentecomo resposta agrave elevaccedilatildeo do NMM este tipo deintervenccedilatildeo comeccedilou por ser aplicado em algunslocais da costa Leste dos EUA em 1972 (NRC 1995)A deslocalizaccedilatildeo de infra-estruturas pode ser eficazem locais pouco povoados ou quando existe interessena salvaguarda de patrimoacutenio como aconteceu como farol do Cabo Hatteras nos EUA No entantotorna-se impraticaacutevel em grandes nuacutecleos urbanosdevido aos elevados custos e dificuldades logiacutesticas

Na Ria Formosa este tipo de intervenccedilatildeo temencontrado grandes dificuldades de execuccedilatildeodesignadamente no que se refere agrave demoliccedilatildeo de casasconstruiacutedas ilegalmente em Domiacutenio Hiacutedrico Domiacutenio Puacuteblico Mariacutetimo o que aleacutem de tender aperpetuar situaccedilotildees de muito alto risco potildee em causaa imagem do Paiacutes como Estado de direito (Dias 2002)

Intervenccedilatildeo SuaveA intervenccedilatildeo suave tambeacutem designada por

protecccedilatildeo dinacircmica desde haacute algumas deacutecadas que eacuteutilizada preferencialmente como alternativa agravesteacutecnicas de intervenccedilatildeo riacutegida Apresentam menoresimpactes ambientais sendo uma soluccedilatildeo maisapropriada para aacutereas sensiacuteveis como as ilhas-barreira

As teacutecnicas de protecccedilatildeo suave tais como arealimentaccedilatildeo de praias a reconstruccedilatildeo dunar atransposiccedilatildeo de molhes (by-passing) a abertura debarras (para as deixar evoluir naturalmente) e asldquodragagens ecoloacutegicasrdquo correspondem em geral auma intervenccedilatildeo inicial deixando depois a Naturezaldquotrabalharrdquo Por essa razatildeo estas teacutecnicas satildeo tambeacutemfrequentemente designadas por ldquobuilding with NaturerdquoSatildeo com frequecircncia menos dispendiosas e maiseficientes a longo prazo do que as intervenccedilotildees riacutegidas(Koster amp Hillen 1995 Griggs 1999 Dias et al 2003)

Poreacutem estas teacutecnicas tecircm que ser executadas comforte suporte cientiacutefico e devem envolver o conceitode protecccedilatildeo de trechos costeiros na sua globalidadee natildeo apenas a protecccedilatildeo local de patrimoacutenio edificadoem zonas de risco Se forem concretizadas de formadeficiente podem mesmo revelar-secontraproducentes Eacute o que se passa por exemploquando a realimentaccedilatildeo de praias eacute efectuada comareias extraiacutedas da praia submersa (acima daprofundidade de fecho) nestes casos nenhumsedimento eacute adicionado ao sistema (Wells amp McNinch1991) havendo apenas transferecircncias dentro dosistema com consequecircncias negativas para o seufuncionamento natural tanto ao niacutevel morfodinacircmicocomo bioloacutegico

Desde 1996 que o PNRFICN tem realizadointervenccedilotildees de caraacutecter suave na tentativa demelhorar o funcionamento do sistema e diminuir avulnerabilidade ao galgamento e ao mesmo tempomanter a dinacircmica dos processos naturais (Dias et al2004) Entre as intervenccedilotildees efectuadas procedeu-seao robustecimento da Peniacutensula de Cacela agrave aberturadas Barras do Ancatildeo e da Fuzeta (deixando-as deseguida evoluir naturalmente) agrave dragagem de muitoscanais que natildeo satildeo de navegaccedilatildeo para melhorar acirculaccedilatildeo no sistema agrave repulsatildeo de sedimentos parao cordatildeo arenoso agrave colocaccedilatildeo de paliccediladas parareconstruccedilatildeo dunar agrave plantaccedilatildeo de Ammophila arenariae agrave construccedilatildeo de passadiccedilos sobrelevados

Segundo Dias et al (2003) as intervenccedilotildees suavesrealizadas na Ria Formosa propiciaram melhorprotecccedilatildeo das ilhas-barreira tendo-se em geralatingido os objectivos esperados Os mesmos autoresreferem que os sistemas naturais de elevadaimportacircncia soacutecio-econoacutemica e ambiental (como aRia Formosa) podem ser geridos utilizando este tipo

73

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

de teacutecnicas lucrando com o aproveitamento dosrecursos existentes

A transposiccedilatildeo (by-passing) dos molhes das barrasartificiais meacutetodo utilizado desde haacute muito um poucopor todo o mundo permitiria que as areias retidaspelos molhes a barlamar fosse transferido parasotamar aiacute reconstituindo a deriva litoral econsequentemente minimizando alguns dos impactesnegativos induzidos por estas estruturas Vaacuteriosestudos que demonstram que esta tecnologia natildeoaparenta ter efeitos ambientais negativos associados(eg Lindeman 1997 in Greene 2002)

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Com vista a avaliar a vulnerabilidade das ilhas-barreira da Ria Formosa o presente trabalho incidiuna actualizaccedilatildeo desta problemaacutetica na oacuteptica da gestatildeouma vez que se trata de um sistema em permanentetransformaccedilatildeo Nesta anaacutelise eacute imprescindiacutevel tersempre em consideraccedilatildeo que o sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa estaacute consignado legalmentecomo aacuterea de protecccedilatildeo ambiental desde 1978 anoem que lhe foi atribuiacutedo o estatuto de Reserva Naturaltendo ficado protegido pelo estatuto de ParqueNatural em 1987 (Decreto-lei 37387) e Rede Natura2000 tendo ainda sido integrado desde 1980 na Listade Siacutetios da Convenccedilatildeo de Ramsar (zonas huacutemidasde importacircncia internacional)

Da anaacutelise efectuada conclui-se que eacuteimprescindiacutevel compatibilizar os diversificados valoresnaturais (bioloacutegicos geomorfoloacutegicos fiacutesico-quiacutemicos geoloacutegicos etc) intriacutensecos ao sistema comos muacuteltiplos interesses soacutecio-econoacutemicos decorrentesda sua exploraccedilatildeo (pesca maricultura aquaculturaturismo portos comerciais e de pesca navegaccedilatildeo derecreio etc) Estando influenciado por fortesimpactes antroacutepicos directos e indirectos tais comoentre muitos outros a erosatildeo costeira e a intensificaccedilatildeodo assoreamento lagunar a sobrevivecircncia do sistemaldquonaturalrdquo e a sustentabilidade da sua exploraccedilatildeocarecem de intervenccedilotildees correctivas frequentes porforma a minimizar os impactes negativos aludidosTais intervenccedilotildees teratildeo que ser cautelosas e contiacutenuastentando o mais possiacutevel aproximar-se do que seriaa dinacircmica natural do sistema

Eacute ainda urgente resolver vaacuterios conflitos deinteresses existentes privilegiando as actividades

indutoras de menores impactes negativos e quesimultaneamente viabilizem uma melhor exploraccedilatildeosustentaacutevel do sistema Aponta-se a tiacutetuloexemplificativo o caso do turismo haacute quedesincentivar o turismo de massas directo nesta aacuterea(ateacute porque nas proximidades haacute poacutelos turiacutesticos destegeacutenero bem consolidados) desenvolvendo emalternativa outros tipos de turismo complementardesignadamente o turismo de Natureza a observaccedilatildeode aves (bird watching) e de peixes (fish watching) emambiente natural os passeios no meio lagunar emembarcaccedilotildees natildeo poluentes o turismo gastronoacutemicoetc

A maior parte da zona de barreira do sistema natildeoestaacute ainda ocupado por estruturas imobiliaacuterias Comvista agrave exploraccedilatildeo sustentaacutevel do sistema eacuteimprescindiacutevel que estas zonas continuem semocupaccedilatildeo permanente mantendo algumascaracteriacutesticas pristinas ainda aiacute existentes Nos poucosnuacutecleos urbanos piscatoacuterios existentes cujo casoparadigmaacutetico eacute a povoaccedilatildeo da Culatra onde natildeoexistem problemas realmente graves pois que selocalizam na margem lagunar (relativamente afastadado litoral oceacircnico) devem-se adoptar algumasmedidas correctivas pontuais por forma a preservara sua identidade cultural a melhorar a qualidade devida da populaccedilatildeo e a impedir um crescimentoexagerado Nos restantes nuacutecleos urbanos comcaracteriacutesticas ldquoturiacutesticasrdquo vaacuterios dos quais localizadosnas zonas de maior risco do sistema seria altamentedesejaacutevel que se procedesse agrave completa reformulaccedilatildeoda ocupaccedilatildeo ou sempre que possiacutevel se optasse peladesocupaccedilatildeo

No sentido de tentar resolver os problemas deerosatildeo costeira existentes (que se agravaratildeo no futuro)recomenda-se vivamente que a) natildeo se construamobras de protecccedilatildeo riacutegida (esporotildees paredotildees etc)na Ria Formosa nem na zona a barlamar desta daqual o sistema depende b) se continuem a executaracccedilotildees de robustecimento do cordatildeo dunar e decolmataccedilatildeo dos cortes de galgamento utilizando tantoquanto possiacutevel sedimentos provenientes dadragagem dos canais de navegaccedilatildeo c) se implementea transposiccedilatildeo dos molhes portuaacuterios com relevacircnciaespecial para os molhes da Barra de Faro-Olhatildeo d)efectivamente se proceda agrave demoliccedilatildeo das edificaccedilotildeessituadas em zonas de maior risco e sobre a duna

74

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

primaacuteria concretizando finalmente decisotildeesgovernamentais que tecircm vindo a ser repetidamentetomadas haacute quase trecircs deacutecadas mas nunca executadascabalmente e) sejam amplificadas as acccedilotildees deintervenccedilatildeo e protecccedilatildeo dinacircmica na linha do que severificou desde finais do seacuteculo passado (abertura debarras quando necessaacuterio para as deixar evoluirnaturalmente dragagens ldquoecoloacutegicasrdquo etc) e quetransformaram a Ria Formosa num siacutetio de referecircnciainternacional nesta mateacuteria e que nos uacuteltimos anosapenas tecircm sido executadas de forma extremamentemoderada

Finalmente eacute altamente recomendaacutevel que emtodos os actos de gestatildeo envolvendo quer ascomponentes geomorfoloacutegicas quer as ecoloacutegicasquer as soacutecio-econoacutemicas se tenham sempre emconsideraccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas principalmenteno que se refere agrave elevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar

BIBLIOGRAFIA

Andrade CF (1990a) - O Ambiente de barreira da RiaFormosa Algarve ndash Portugal Dissertaccedilatildeo deDoutoramento 645p Universidade de LisboaPortugal (natildeo publicado)

Andrade CF (1990b) - Estudo da susceptibilidadeao galgamento da Ria Formosa Geolis IV(1-2)69-76 Lisboa Portugal

Andrade CF Barata A amp Teles M (1998) - Ananalysis of the vulnerability to overwash of theRia Formosa barrier island system (Portugal)Using a simple multi-attribute technique (SMART)approach Proceedings of Littoralrsquo98 Conferencepp511-519 Barcelona Espanha

Andrade CF Freitas MC Moreno J amp CraveiroSC (2004) - Stratigraphical evidence of LateHolocene barrier breaching and extreme stormsin lagoonal sediments of Ria Formosa AlgarvePortugal Marine Geology 210339ndash362(doi101016jmargeo200405016)

Antunes P Santos R amp Videira N (2006) -Participatory decision making for sustainabledevelopment - the use of mediated modellingtechniques Land Use Policy 2344ndash52(doi101016jlandusepol200408014)

Bernardo P Bastos R amp Dias JA (2002) - Historicroots for barrier island occupation in the RiaFormosa Littoral 2002 Porto 4 p (disponiacutevel em

httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI02_Lit_91_PBpdf)

Bettencourt P (1985) - Geomorphologie et processusdlsquoeacutevolution reacutecente de la cocircte sotavento (Algarve ndash SudPortugal) Thegravese DEA 92p Universiteacute deBordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Bettencourt P (1994) - Les environnements sedimentairesde la cocircte sotavento (Algarve SudPortugal) et leur eacutevolutionHoloceacutene et actuelle PhD Thesis University ofBordeaux I Franccedila (unfinished)

Bray Jr T amp Carter C (1992) - Physical processesand sedimentary record of a moderntransgressive lacustrine barrier island MarineGeology 105(1-4)155-168 (doi 1010160025-3227(92)90187-M)

Correia F Dias JA Boski T amp Ferreira Oacute (1996)- The retreat of the Eastern Quarteira cliffed coast(Portugal) and its possible causes In Jones PSHealy MG amp Williams AT (eds) Studies inCoastal Management p129-136 Samara PublLtd Cardigan UK (disponiacutevel emht tp w3 u a l g p t j d i a s JA D pape r s CLinternac96_Studies_129_FCpdf)

Correia F Ferreira Oacute amp Dias JA (1997) - Contributodas arribas para o balanccedilo sedimentar do sectorcosteiro Quarteira - Vale do Lobo (Algarve -Portugal) Seminaacuterio sobre a zona costeira doAlgarve 31-39 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_031_FCpdf)

Costa CL (1994) - Final report of sub-project A ldquoWindwave climatology of the Portuguese coastrdquo InstitutoHidrograacutefico Report PO-WAVES 694-A 80 pLisboa Portugal (natildeo publicado)

Dias JA (1988) - Aspectos geoloacutegicos do litoralalgarvio Geonovas 10 113-128 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN88_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (1990) - A Evoluccedilatildeo Actual do LitoralPortuguecircs Geonovas 11 15-29 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN90_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (2002) - Manual de Sobrevivecircncia eVilanagem Diaacuterio de Notiacutecias - SuplementoldquoAmbiente e Desenvolvimento Sustentaacutevelrdquo 30de Julho de 2002 Lisboa Portugal (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersxCS02_DNADpdf)

75

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Dias JA Ferreira Oacute Matias A Vila-Concejo Aamp Saacute-Pires C (2003) - Evaluation of softprotection techniques in barrier islands bymonitoring programs case studies from RiaFormosa (Algarve-Portugal) Journal of CoastalResearch SI35117-131

Dias JA Ferreira Oacute amp Moura D (2004) - O sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa 3ordm SIPRES ndashSimpoacutesio Interdisciplinar sobre Processos Estuarinos 18p Faro Portugal

Dias JA amp Neal WJ (1992) - Sea cliff retreat insouthern Portugal profiles processes andproblems Journal of Coastal Research 8641-654

Dias JA amp Taborda R (1992) - Tidal gauge data indeducing secular trends of relative sea level andcrustal movements in Portugal Journal of CoastalResearch 8655-659

Dias JA Teixeira SB amp Ferreira Oacute (1997) - LivroGuia da Excursatildeo Seminaacuterio sobre a Zona Costeirado Algarve 43 p Faro Portugal

Douglas BC (1995) - Global sea level changedetermination and interpretation US NationalReport to IUGG 1991-1994 Geophys 33 Suppl11 p (disponiacutevel em httpwwwaguorgrevgeophysdougla01dougla01html)

Duarte C Matias A Dias JA amp Ferreira Oacute (1999)- Vulnerabilidade dos corpos dunares do Algarve10ordm Congresso do Algarve 477-490 (disponiacutevelem httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN99_10CA_477_CDpdf)

Esaguy AS (1984) - Ria de Faro Barra da ArmonaEvoluccedilatildeo 1873-1983 5 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1986a) - Ria de Faro Barra de Faro-OlhatildeoEvoluccedilatildeo 1955ndash1985 10p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986b) - Ria de Faro Ilha de TaviraEvoluccedilatildeo 1950ndash1985 8 p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986c) - Ria de Faro Ilha do AncatildeoEvoluccedilatildeo 1950-1985 7 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1987) - Ria de Faro Barra de TaviraEvoluccedilatildeo 13 p Direcccedilatildeo Geral de Portos LisboaPortugal

Ferreira Oacute Dias JA amp Taborda R (2008) -Implications of sea-level rise for Portugal Journal

of Coastal Research 24(2)317-324 (doi 10211207A-00061)

Ferreira Oacute Garcia T Matias A Taborda Ramp DiasJA (2006) - An integrated method for thedetermination of set-back lines for coastal erosionhazards on sandy shores Continental ShelfResearch 261030ndash1044 (doi 101016jcsr200512016)

Ferreira Oacute Martins JC amp Dias JA (1997) -Morfodinacircmica e vulnerabilidade da Praia de FaroSeminaacuterio sobre a zona costeira do Algarve 67-76 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_067_OFpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias Aamp Dias JA (2002)- Recent evolution of Culatra Island (Algarve ndashPortugal) Littoral 2002 The Changing Coast 289-294 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers02_LitTGpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2005)ndash Coastal Hazards Representation for Praia doBarril (Algarve Portugal) Continental ShelfResearch SI4928-33

Granja H (1984) - Eacutetude geacuteomor phologiquesedimentoloacutegique et geacuteoquimique de la Ria Formosa(Algarve-Portugal) These 3eme Cycle 254 pUniversiteacute de Bordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Greene K (2002) - Beach nourishment a review ofthe biological and physical impacts 174 p AtlanticStates Marine Fisheries Commission WashingtonDC (disponiacutevel em httpwwwasmfcorgpublicationshabitatbeachNourishmentpdf)

Griggs GB (1999) - The protection of Californialsquoscoast past present and future Shore amp Beach67(1)18-28

Hoyt JH (1967) - Barrier Island FormationGeological Society of America Bulletin 781125-1136 (doi 1011300016-7606(1967)78[1125BIF]20CO2)

Inman D (1978) - The impact of coastal structureson shorelines Proceedings of Coastal Zoneacute78 ASCE2265-2272

Koster MJ amp Hillen R (1995) - Combat erosion bylaw Coastal defence policy for the NetherlandsJournal of Coastal Research 67(2-3)43-49

Leatherman S (1976) - Barrier islands dynamicsoverwash processes and aeolian transportProceedings of Coastal Engineering Conference ASCE1958-1973

76

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Mangor K (1998) - Coastal restorationconsiderations Proceedings of Coastal Engineeringrsquo98Conference ASCE 3425-3438

Marcelo MJ amp Fonseca LC (1998) - Ria Formosada gestatildeo e conservaccedilatildeo de uma aacuterea protegidaRevista de Biologia 2ordm ENEC 16(1-4)125-133

Martins JT Ferreira Oacute Ciavola Pamp Dias JA (1996)- Monitoring of profile changes at Praia de FaroAlgarve a tool to predict and solve problems InTaussik J amp Mitchell J (eds) Partnership in CoastalZone Management pp 615-622 Samara Publ LtdCardigan UK

Matias A (2000) - Estudo morfosedimentar da Peniacutensulade Cacela Dissertaccedilatildeo de Mestrado 244pUniversidade do Algarve Faro Portugal (natildeopublicado)

Matias A Dias JA Williams AT amp Ferreira Oacute(1997) - Vulnerabilidade das dunas da RiaFormosa 9ordm Congresso do Algarve 231-239Vilamoura Portugal

Matias A Ferreira Oacute amp Dias JA (1999) -Preliminary results on the Cacela Peninsula dunereplenishment Boletiacuten del Instituto Espantildeol deOceanografiacutea 15(1-4)283-288 (disponiacutevel emhttpwwwieoespublicacionesboletinpdfsbol1515_283-288PDF)

Matias A Ferreira Oacute Dias JA amp Vila-Concejo A(2004) - Development of indices for the evaluationof dune recovery techniques Coastal Engineering51261-276 (doi 101016jcoastaleng200402002)

Matias A Ferreira Oacute Mendes I amp Dias JA (1998)- Monitorizaccedilatildeo da alimentaccedilatildeo artificial daPeniacutensula de Cacela Seminaacuterio sobre DragagensDragados e Ambientes Costeiros 47-56

Matias A Ferreira Oacute Mendes I Dias JA amp Vila-Cconcejo A (2005) - Artificial construction ofdunes in the South of Portugal Journal of CoastalResearch 21(3)472-481 (doi 10211203-00471)

Matias A Vila-Concejo A Ferreira Oacute amp Dias JA(2003) - Field measurements of morphologicvariations during an overwash event 4ordm Simpoacutesiosobre a Margem Ibeacuterica Atlacircntica Thalassas19(2b)164-165 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI03_4SM_b164_AMpdf)

NRC - National Research Council (1995) - Beach

Nourishment and Protection 334 p Washington DCNational Academy Press (ISBN 9780309052900)

Pacheco A Carrasco AR Vila-Concejo A FerreiraOacute amp Dias JA (2007) - A coastal managementprogram for channels located in backbarriersystems Ocean amp Coastal Management 50119-143 (doi101016jocecoaman200608008)

Pilkey OH amp Dixon K (1996) - The Corps and theShore 286p Island Press Washington DC USA(ISBN 9781559634380)

Pilkey OH Neal WJ Monteiro JH amp Dias JA(1989) - Algarve Barrier Islands A Noncoastal-Plain System in Portugal Journal of Coastal Research5(2)239-261

Ramos L amp Dias J A (2000) - Atenuaccedilatildeo davulnerabilidade a galgamentos oceacircnicos nosistema da Ria Formosa mediante intervenccedilotildeessuaves 3ordm Simpoacutesio sobre a Margem ContinentalIbeacuterica Atlacircntica Faro 361-362 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers00_SMLRpdf)

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2001)- Avaliaccedilatildeo de realimentaccedilotildees artificiais de praiasda Ria Formosa Casos das ilhas de Cacela e deTavira Congresso do Algarve 2001 8 p

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2002)- Preliminary Evaluation of the MorphologicalEvolution of Contrasting Beaches of the RiaFormosa With Relation to Differences inRefracted Wave Height Littoral 2002 TheChanging Coast 423-429 (disponiacutevel emht tp www2 00 8 i o -war nemu ende dehomepagesschernewskiLittoral2000docsvol3Littoral2002_79pdf)

Scheele RJ amp Westen CJ (1996) - Planning for acoastal policy - the 3A4 approach In Taussik Jamp Mitchell J (eds) Partnership in Coastal ZoneManagement pp 65-71 Samara Publ LtdCardigan UK

Sprung M (1994) - Macrobenthic secondaryproduction in the intertidal zone of Ria Formosaa lagoon in southern Portugal Estuarine Coastaland Shelf Science 38539ndash558 (doi 101006ecss19941037)

Van Den Belt M Videira N Antunes P Santos Ramp Gamito S (2000) - Modelaccedilatildeo Participada na RiaFormosa 36 p Ediccedilatildeo Fundaccedilatildeo do Mar LisboaPortugal

77

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Vila A Dias JMA Ferreira Oacute amp Matias A (1999)- Natural evolution of an artificial inlet CoastalSedimentslsquo99 21478-1488 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI99_CS99_1478_AVpdf)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Ciavola P Matias Aamp Dias JA (2004a) - Tracer studies on the updriftmargin of a complex inlet system Marine Geology20843-72 (doi 101016jmargeo200404020)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA(2003) - The first two years of an inlet sedimentarydynamics Continental Shelf Research 231425-1445 (doi 101016S0278-4343(03)00142-0)

Vila-Concejo A Matias A Ferreira Oacute Duarte Camp Dias JA (2002) - Recent evolution of thenatural inlets of a barrier island system in southernPortugal Journal of Coastal Research (ICS 2002proceedings) SI36741-752

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Morris BD MatiasA amp Dias JA (2004b) ndash Lessons from inletrelocation examples from Southern PortugalCoastal Engineering 51(10)967-990(doi101016jcoastaleng200407019)

Vila-Concejo A Matias A Pacheco A FerreiraOacute amp Dias JA (2006) - Quantification of inlet-related hazards in barrier island systems Anexample from the Ria Formosa (Portugal)Continental Shelf Research 261045-1060(doi 101016jcsr200512014)

Weinholtz MB (1978) - Contribuiccedilatildeo para o estudo daevoluccedilatildeo das flechas de areia na costa sotavento do Algarve(Ria de Faro) Relatoacuterio da Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Wells JT amp McNinch J (1991) - Beach scraping inNorth Carolina with special reference to itseffectiveness during Hurricane Hugo Journal ofCoastal Research SI8249-261

Williams SJ (2001) - Coastal erosion and land lossaround the United States strategies to manage andprotect coastal resources ndash examples fromLouisiana Coastal Ecosystems and FederalActivities Technical Training SymposiumProceedings 15 p (disponiacutevel emhttpwwwfwsgovnc-esecoconfwilliamspaperpdf)

Page 13: Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na

69

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

da antiga barra e erosatildeo de grande parte das ldquodunasrdquoreconstruiacutedas no final do seacuteculo XX

4 DISCUSSAtildeO

41 Evoluccedilatildeo Geral do Sistema

Como se deduz dos pontos anteriores o sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa eacute extremamentedinacircmico e como tal bastante vulneraacutevel As taxasde crescimento longitudinal de algumas ilhas satildeo dasmais notaacuteveis a niacutevel mundial (Dias et al 1997)

Segundo Pilkey et al (1989) os principais processosque contribuem para a evoluccedilatildeo das ilhas-barreira daRia Formosa satildeo (1) recuo da linha de costa (2) derivalitoral (3) galgamentos oceacircnicos (4) formaccedilatildeo decorpos dunares e de estabelecimento da respectivavegetaccedilatildeo (5) constituiccedilatildeo de deltas de mareacute e suaagregaccedilatildeo agraves ilhas (6) comportamento das barras e(7) erosatildeoacumulaccedilatildeo provocada pelas mareacutes-vivasdesignadamente nos canais de mareacute

Recuo da linha de costaOs valores observados na evoluccedilatildeo da linha de

costa indicam a existecircncia de recuo generalizado dasilhas e peniacutensulas (com excepccedilatildeo das zonasimediatamente a barlamar dos molhes das barras denavegaccedilatildeo) a qual varia consoante a localizaccedilatildeogeograacutefica e a interacccedilatildeo com os processos oceacircnicosA linha de costa move-se em resposta aos factoresnaturais de forma a manter o equiliacutebrio (Williams2001) O recuo da linha de costa eacute mais acentuadonos extremos do sistema e na parte ocidental das ilhase peniacutensulas Na parte central do sistema e nosextremos orientais das ilhas verifica-se algumaacreccedilatildeo Nas duas aacutereas mais intensamente ocupadas(Praia de Faro e Farol) existe estabilizaccedilatildeo da linha decosta devido a artificializaccedilatildeo desta com estruturasfixas de engenharia costeira A acreccedilatildeo verificada aoriente das ilhas da Barreta e de Tavira deve-se agravedeposiccedilatildeo de sedimentos a barlamar dos molhes dasbarras artificiais

Deriva litoralTorna-se evidente que o sistema da Ria Formosa

tem grande carecircncia de sedimentos principalmentenalgumas zonas mais expostas Contudo grande partedeste problema tem origem a barlamar do sistemaonde foram construiacutedos os molhes da marina deVilamoura e o campo de esporotildees de Quarteira que

interromperam a deriva litoral provocando a orienteintensificaccedilatildeo da erosatildeo nas arribas situadas entreQuarteira e a Praia do Garratildeo Actualmente as arribassatildeo o principal elemento abastecedor de areias aosistema da Ria Formosa (Correia et al 1997) Noentanto estas natildeo chegam para colmatar as carecircnciassedimentares do sistema da Ria Formosa o quesignifica que se forem construiacutedas obras riacutegidas deengenharia costeira neste sector se verificaraacuteintensificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico do sistemaampliando o grau de ruptura em que este jaacute seencontra Um exemplo que ilustra esta vulnerabilidadefoi a conclusatildeo da construccedilatildeo dos molhes da barraartificial de Faro-Olhatildeo em meados do seacuteculopassado que induziu grandes alteraccedilotildees com efeitosdraacutesticos no suprimento de sedimento agrave parte orientalNa realidade a abertura desta barra estabilizada pelosmolhes respectivos fez com que o sistema naturalentrasse em ruptura modificando radicalmente ascaracteriacutesticas hidro-sedimentoloacutegicas Segundo Dias(1990) as uacutenicas acccedilotildees de protecccedilatildeo realmenteeficazes satildeo as que possibilitam a reconstituiccedilatildeo daderiva litoral com os consequentes volumes desedimentos necessaacuterios

Galgamentos oceacircnicosAs ilhas-barreira da Ria Formosa satildeo

periodicamente sujeitas a galgamentos oceacircnicosdurante temporais de SW e SE Estes galgamentosconstituem um elemento muito importante nadinacircmica e na evoluccedilatildeo natural do sistemacontribuindo com fornecimento de sedimentos parao interior da laguna e abertura de novas barras quandoas antigas jaacute natildeo apresentam eficiecircncia (Andrade1990a) Tecircm sido assumidos como principalmecanismo de migraccedilatildeo das ilhas-barreira(Leatherman 1976 Bray amp Carter 1992) induzindoum efeito construtivo de acreccedilatildeo (Matias et al 2003)Assim sendo a gestatildeo deve integrar uma adaptaccedilatildeoaos galgamentos naturais uma vez que satildeo vitais parao funcionamento natural do sistema

Do ponto de vista da ocupaccedilatildeo os galgamentosoceacircnicos satildeo um factor importante que necessita deser avaliado para propiciar uma gestatildeo mais eficazuma vez que induz seacuterios danos nas infra-estruturasexistentes (Andrade et al 1998) Verifica-se que ospontos mais vulneraacuteveis a galgamentos satildeo a Praia deFaro Barreta W Culatra E Armona E Tavira W toda

70

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

a Ilha de Cabanas e a Peniacutensula de Cacela Nesteslocais mesmo a ocorrecircncia de pequenos temporaisdurante a preia-mar de mareacutes vivas podem provocargalgamentos Alguns pontos como a Ilha de Cabanase a Peniacutensula de Cacela viram reduzida avulnerabilidade a galgamentos apoacutes as intervenccedilotildeesefectuadas com algum sucesso embora essavulnerabilidade comece a ser actualmente elevada nosegundo caso devido aos factos aludidos mais acimaEm geral os locais de maior vulnerabilidade satildeo osque apresentam perfis de praia de pouca inclinaccedilatildeocordatildeo dunar fraacutegil e proximidade das barras

Cordatildeo dunar e vegetaccedilatildeo dunarAo longo das ilhas existiu um cordatildeo dunar frontal

contiacutenuo com 5 a 10m de altura sem cortes eoacutelicos ede galgamento muito significativos e bem cobertosde vegetaccedilatildeo (Pilkey et al 1989) No entanto o cordatildeodunar encontra-se na actualidade completamenteocupado em alguns locais por edificaccedilotildees comoacontece na Praia de Faro na povoaccedilatildeo do Farol e naIlha da Armona A vegetaccedilatildeo tornou-se escassa natildeosomente nas zonas ocupadas mas tambeacutem noutroslocais como na parte ocidental da Ilha da Barreta ena oriental das ilhas da Armona e da Culatra

Com a crescente pressatildeo antroacutepica exercida sobreo sistema especialmente para fins balneares verifica-se que em vaacuterios locais a quantidade de cortes eoacutelicostem aumentado devido ao pisoteio Este facto podeconduzir em periacuteodos de agitaccedilatildeo mariacutetima maisenergeacutetica agrave ocorrecircncia de galgamentos oceacircnicosRamos amp Dias (2000) referem que grande parte doscortes de galgamento oceacircnico do sistema da RiaFormosa eacute devido ao pisoteio dos corpos dunares enatildeo a causas naturais

A instalaccedilatildeo intensiva nos uacuteltimos anos depaliccediladas para recuperaccedilatildeo dunar complementadacom plantaccedilatildeo de vegetaccedilatildeo tiacutepica destes ambientescorresponde a uma acccedilatildeo de gestatildeo com efeitos muitopositivos com a qual se tem conseguido robustecero cordatildeo dunar do sistema

Deltas de mareacuteA incorporaccedilatildeo de deltas de enchente e posterior

migraccedilatildeo ou encerramento da barra respectivaconstitui importante mecanismo de evoluccedilatildeo dasilhas-barreira estando na origem da grande larguradas ilhas da Armona e de Tavira (Pilkey et al 1989)

A formaccedilatildeo de deltas de enchente em associaccedilatildeo comos galgamentos oceacircnicos contribui para a migraccedilatildeodas ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continente o quepoderaacute estar a suceder com o caso particular daPeniacutensula de Cacela (Andrade et al 2004)

Comportamento das barrasA Ria Formosa eacute caracterizada por apresentar

elevadas taxas de migraccedilatildeo das barras A estabilizaccedilatildeode duas das barras no sector oriental provocou fortesmodificaccedilotildees na dinacircmica do sistema Segundo Vila-Concejo et al (2002) a estabilizaccedilatildeo da Barra Faro-Olhatildeo (1929-1955) teve maiores consequecircncias nasbarras do Ancatildeo e da Armona enquanto que aabertura artificial da Barra de Tavira (1927-1985)produziu maiores efeitos nas barras da Fuzeta e doLaceacutem

A Barra da Armona era a principal barra dosistema controlando a maior parte da circulaccedilatildeo daRia Formosa na parte central Com a abertura da BarraFaro-Olhatildeo projectada para manter profundidadesentre-molhes da ordem de 45m ZH mas queprogressivamente se foi aprofundando ateacuteprofundidades superiores a 40 metros as trocashiacutedricas com o oceano passaram a efectuar-sepredominantemente por esta barra Os molhesprovocaram grande acumulaccedilatildeo a barlamar pelo quenos 12 anos seguintes agrave sua construccedilatildeo a Ilha daBarreta registou alargamento superior a 220 metrosna zona por eles influenciada (Bettencourt 1985) Emconsequecircncia a barra da Armona perdeu eficaacuteciareduzindo progressivamente largura e profundidadeNos anos 80 do seacuteculo XX tinha ainda cerca de 2000metros de largura mas actualmente essa largura eacuteapenas da ordem de 200 metros

O sentido de migraccedilatildeo das barras natildeo estabilizadaseacute para oriente (agrave excepccedilatildeo da Barra da Armona quetem mantido a sua posiccedilatildeo) Essa migraccedilatildeo efectua-se quer progressivamente (mantendo ou natildeo a largura)ou por ldquosaltosrdquo na sequecircncia de temporais em quenova barra se abre em geral a sotamar da barraexistente seguindo-se frequentemente a posteriorcolmataccedilatildeo desta (Dias 1988 Pilkey et al 1989Andrade et al 1998)

Erosatildeo provocada pelas mareacutes-vivasA Ria Formosa eacute um sistema lagunar com uma

grande aacuterea de zona intertidal (cerca de 13 do total

71

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

da aacuterea) Em cada ciclo de mareacute 50 a 75 da aacutegua eacuterenovada (Sprung 1994) Devido agrave diferenccedila deamplitude entre mareacutes-vivas e mareacutes-mortas as zonasde menor elevaccedilatildeo das ilhas-barreira satildeo regularmenteinundadas durante as primeiras causando transportesignificativo de sedimentos Estes fluxos satildeoresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo de canais de mareacute eaumento da erosatildeo das ilhas-barreira

Como jaacute foi referido os periacuteodos de mareacutes-vivassatildeo bastante problemaacuteticos especialmente noInverno na medida em que potenciam o efeito detempestades que ocorrem durante mareacutes-cheiasTodos os anos nos pontos criacuteticos do sistema comoa Praia de Faro a probabilidade de ocorrer umasituaccedilatildeo muito grave aumenta principalmente se seconsiderar a elevaccedilatildeo do NMM

42 Intervenccedilatildeo

Como eacute reconhecido por Scheele amp Westen (1996)os planos de gestatildeo costeira devem apontar para aprotecccedilatildeo ambiental de longo prazo o que implica(1) uma estrateacutegia com objectivos claros e concisos(2) uma metodologia praacutetica e realista (3)monitorizaccedilatildeo contiacutenua (4) forte aposta nosprogramas de educaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo ambiental e(5) envolvimento da comunidade local no processode planeamento e tomada de decisotildees

Sendo a Ria Formosa um sistema muito dinacircmicocom elevada vulnerabilidade e que reage rapidamentea elevaccedilotildees do niacutevel do mar os muacuteltiplos interesseseconoacutemicos e sociais aiacute existentes fazem com que aaacuterea seja caracterizada por elevado grau de conflitosde interesses A situaccedilatildeo torna-se ainda mais complexaquando se considera que o sistema corresponde a umParque Natural onde haacute que compatibilizar interesseseconoacutemicos com a conservaccedilatildeo da Natureza Nestecontexto soacute eacute possiacutevel proceder agrave conservaccedilatildeo daNatureza atraveacutes de intervenccedilotildees tendentes a minoraros impactes negativos induzidos pelas actividadesantroacutepicas (Ramos amp Dias 2000)

De acordo com as actividades desenvolvidas osprincipais grupos de interesse na Ria Formosa satildeo(1) o PNRFICNB (2) a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeoe Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR-Algarve) (3) as entidades promotoras do turismo (4)as associaccedilotildees comerciais e industriais (incluindo oporto) (5) os pescadores e autoridades responsaacuteveis

por este sector (6) as entidades regionais e locais (7)as associaccedilotildees de defesa do ambiente e osambientalistas e (8) a populaccedilatildeo local incluindoresidentes e natildeo residentes Como sugere Antunes etal (2006) o entendimento entre os diferentes gruposconduz a uma sinergia que beneficia as potencialidadesque contribuem para uma gestatildeo eficaz

Os principais problemas das ilhas-barreira estatildeolocalizados nos nuacutecleos urbanos devido agraves estruturasedificadas Dos principais nuacutecleos existentes apenasos de Hangares e Culatra natildeo tecircm problemas erosatildeocosteira pois que se localizam junto agrave parte lagunar(e consequentemente afastados da praia oceacircnica eportanto resguardados dos temporais) Os restantespoacutelos de ocupaccedilatildeo (Praia de Faro Farol etc) satildeoproblemaacuteticos sendo os riscos de inundaccedilatildeo e erosatildeobastante elevados Para resolver estes problemasexistem fundamentalmente trecircs estrateacutegias deintervenccedilatildeo (1) intervenccedilatildeo riacutegida (ex esporotildeesparedotildees) (2) retirada estrateacutegica programas natildeoestruturais (ex demoliccedilatildeo de infra-estruturas) e (3)intervenccedilatildeo suave (ex realimentaccedilatildeo de praias) (Pilkeyamp Dixon 1996) Qualquer uma destas estrateacutegias temproacutes e contras sendo praticamente impossiacutevel quequalquer uma delas satisfaccedila todos os grupos deinteresse afectados

Intervenccedilatildeo riacutegidaAteacute haacute poucas deacutecadas em todo o mundo a

construccedilatildeo de estruturas riacutegidas e permanentesconstituiu o meacutetodo mais utilizado de protecccedilatildeo dopatrimoacutenio edificado no litoral Embora estasestruturas se revelem eficazes na defesa de imobiliaacuterioem risco de ser danificado pela erosatildeo costeiraprovocam fortes impactes negativos a sotamar dolocal onde satildeo construiacutedas (Inman 1978 Mangor1998 Greene 2002) pelo que internacionalmente severifica tendecircncia para adoptar outros tipos deprotecccedilatildeo ambientalmente menos agressivos

A construccedilatildeo dos molhes da marina de Vilamourae do campo de esporotildees de Quarteira provocou forteaumento da erosatildeo a oriente e consequentementegraves problemas de gestatildeo Por outro lado a aberturae fixaccedilatildeo das barras de Faro-Olhatildeo e de Tavira parapropiciar melhor funcionamento das estruturasportuaacuterias existentes no meio lagunar econsequentemente beneficiar as actividades socio-econoacutemicas da regiatildeo provocaram grandes alteraccedilotildees

72

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

no sistema fazendo com que o seu funcionamentonatural tivesse entrado em ruptura e que a erosatildeocosteira tivesse sido fortemente amplificada a sotamarComo se veraacute na parte dedicada agraves intervenccedilotildeessuaves a utilizaccedilatildeo de teacutecnicas de transposiccedilatildeo dosmolhes (ldquoby-passingrdquo) permitiria reduzirsubstancialmente alguns destes impactes negativos

A construccedilatildeo de mais estruturas riacutegidas na RiaFormosa (ou a barlamar desta) traduzir-se-ia numaforte amplificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico em queo sistema jaacute se encontra tendendo a meacutedio ndash longoprazo para a completa artificializaccedilatildeo da Ria Formosaconsignada por legislaccedilatildeo nacional como ParqueNatural e reconhecida internacionalmente comoimportante aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental

Retirada estrateacutegica Programas natildeo estruturaisOs programas natildeo estruturais satildeo intervenccedilotildees em

que se procede agrave demoliccedilatildeo de infra-estruturasameaccediladas pela erosatildeo costeira ou transferecircncia dasmesmas para locais mais seguros o que eacute tambeacutemconhecido como ldquoretirada estrateacutegicardquo Viabiliza-seassim a evoluccedilatildeo natural dos sistemas Com amigraccedilatildeo das ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continentecomo resposta agrave elevaccedilatildeo do NMM este tipo deintervenccedilatildeo comeccedilou por ser aplicado em algunslocais da costa Leste dos EUA em 1972 (NRC 1995)A deslocalizaccedilatildeo de infra-estruturas pode ser eficazem locais pouco povoados ou quando existe interessena salvaguarda de patrimoacutenio como aconteceu como farol do Cabo Hatteras nos EUA No entantotorna-se impraticaacutevel em grandes nuacutecleos urbanosdevido aos elevados custos e dificuldades logiacutesticas

Na Ria Formosa este tipo de intervenccedilatildeo temencontrado grandes dificuldades de execuccedilatildeodesignadamente no que se refere agrave demoliccedilatildeo de casasconstruiacutedas ilegalmente em Domiacutenio Hiacutedrico Domiacutenio Puacuteblico Mariacutetimo o que aleacutem de tender aperpetuar situaccedilotildees de muito alto risco potildee em causaa imagem do Paiacutes como Estado de direito (Dias 2002)

Intervenccedilatildeo SuaveA intervenccedilatildeo suave tambeacutem designada por

protecccedilatildeo dinacircmica desde haacute algumas deacutecadas que eacuteutilizada preferencialmente como alternativa agravesteacutecnicas de intervenccedilatildeo riacutegida Apresentam menoresimpactes ambientais sendo uma soluccedilatildeo maisapropriada para aacutereas sensiacuteveis como as ilhas-barreira

As teacutecnicas de protecccedilatildeo suave tais como arealimentaccedilatildeo de praias a reconstruccedilatildeo dunar atransposiccedilatildeo de molhes (by-passing) a abertura debarras (para as deixar evoluir naturalmente) e asldquodragagens ecoloacutegicasrdquo correspondem em geral auma intervenccedilatildeo inicial deixando depois a Naturezaldquotrabalharrdquo Por essa razatildeo estas teacutecnicas satildeo tambeacutemfrequentemente designadas por ldquobuilding with NaturerdquoSatildeo com frequecircncia menos dispendiosas e maiseficientes a longo prazo do que as intervenccedilotildees riacutegidas(Koster amp Hillen 1995 Griggs 1999 Dias et al 2003)

Poreacutem estas teacutecnicas tecircm que ser executadas comforte suporte cientiacutefico e devem envolver o conceitode protecccedilatildeo de trechos costeiros na sua globalidadee natildeo apenas a protecccedilatildeo local de patrimoacutenio edificadoem zonas de risco Se forem concretizadas de formadeficiente podem mesmo revelar-secontraproducentes Eacute o que se passa por exemploquando a realimentaccedilatildeo de praias eacute efectuada comareias extraiacutedas da praia submersa (acima daprofundidade de fecho) nestes casos nenhumsedimento eacute adicionado ao sistema (Wells amp McNinch1991) havendo apenas transferecircncias dentro dosistema com consequecircncias negativas para o seufuncionamento natural tanto ao niacutevel morfodinacircmicocomo bioloacutegico

Desde 1996 que o PNRFICN tem realizadointervenccedilotildees de caraacutecter suave na tentativa demelhorar o funcionamento do sistema e diminuir avulnerabilidade ao galgamento e ao mesmo tempomanter a dinacircmica dos processos naturais (Dias et al2004) Entre as intervenccedilotildees efectuadas procedeu-seao robustecimento da Peniacutensula de Cacela agrave aberturadas Barras do Ancatildeo e da Fuzeta (deixando-as deseguida evoluir naturalmente) agrave dragagem de muitoscanais que natildeo satildeo de navegaccedilatildeo para melhorar acirculaccedilatildeo no sistema agrave repulsatildeo de sedimentos parao cordatildeo arenoso agrave colocaccedilatildeo de paliccediladas parareconstruccedilatildeo dunar agrave plantaccedilatildeo de Ammophila arenariae agrave construccedilatildeo de passadiccedilos sobrelevados

Segundo Dias et al (2003) as intervenccedilotildees suavesrealizadas na Ria Formosa propiciaram melhorprotecccedilatildeo das ilhas-barreira tendo-se em geralatingido os objectivos esperados Os mesmos autoresreferem que os sistemas naturais de elevadaimportacircncia soacutecio-econoacutemica e ambiental (como aRia Formosa) podem ser geridos utilizando este tipo

73

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

de teacutecnicas lucrando com o aproveitamento dosrecursos existentes

A transposiccedilatildeo (by-passing) dos molhes das barrasartificiais meacutetodo utilizado desde haacute muito um poucopor todo o mundo permitiria que as areias retidaspelos molhes a barlamar fosse transferido parasotamar aiacute reconstituindo a deriva litoral econsequentemente minimizando alguns dos impactesnegativos induzidos por estas estruturas Vaacuteriosestudos que demonstram que esta tecnologia natildeoaparenta ter efeitos ambientais negativos associados(eg Lindeman 1997 in Greene 2002)

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Com vista a avaliar a vulnerabilidade das ilhas-barreira da Ria Formosa o presente trabalho incidiuna actualizaccedilatildeo desta problemaacutetica na oacuteptica da gestatildeouma vez que se trata de um sistema em permanentetransformaccedilatildeo Nesta anaacutelise eacute imprescindiacutevel tersempre em consideraccedilatildeo que o sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa estaacute consignado legalmentecomo aacuterea de protecccedilatildeo ambiental desde 1978 anoem que lhe foi atribuiacutedo o estatuto de Reserva Naturaltendo ficado protegido pelo estatuto de ParqueNatural em 1987 (Decreto-lei 37387) e Rede Natura2000 tendo ainda sido integrado desde 1980 na Listade Siacutetios da Convenccedilatildeo de Ramsar (zonas huacutemidasde importacircncia internacional)

Da anaacutelise efectuada conclui-se que eacuteimprescindiacutevel compatibilizar os diversificados valoresnaturais (bioloacutegicos geomorfoloacutegicos fiacutesico-quiacutemicos geoloacutegicos etc) intriacutensecos ao sistema comos muacuteltiplos interesses soacutecio-econoacutemicos decorrentesda sua exploraccedilatildeo (pesca maricultura aquaculturaturismo portos comerciais e de pesca navegaccedilatildeo derecreio etc) Estando influenciado por fortesimpactes antroacutepicos directos e indirectos tais comoentre muitos outros a erosatildeo costeira e a intensificaccedilatildeodo assoreamento lagunar a sobrevivecircncia do sistemaldquonaturalrdquo e a sustentabilidade da sua exploraccedilatildeocarecem de intervenccedilotildees correctivas frequentes porforma a minimizar os impactes negativos aludidosTais intervenccedilotildees teratildeo que ser cautelosas e contiacutenuastentando o mais possiacutevel aproximar-se do que seriaa dinacircmica natural do sistema

Eacute ainda urgente resolver vaacuterios conflitos deinteresses existentes privilegiando as actividades

indutoras de menores impactes negativos e quesimultaneamente viabilizem uma melhor exploraccedilatildeosustentaacutevel do sistema Aponta-se a tiacutetuloexemplificativo o caso do turismo haacute quedesincentivar o turismo de massas directo nesta aacuterea(ateacute porque nas proximidades haacute poacutelos turiacutesticos destegeacutenero bem consolidados) desenvolvendo emalternativa outros tipos de turismo complementardesignadamente o turismo de Natureza a observaccedilatildeode aves (bird watching) e de peixes (fish watching) emambiente natural os passeios no meio lagunar emembarcaccedilotildees natildeo poluentes o turismo gastronoacutemicoetc

A maior parte da zona de barreira do sistema natildeoestaacute ainda ocupado por estruturas imobiliaacuterias Comvista agrave exploraccedilatildeo sustentaacutevel do sistema eacuteimprescindiacutevel que estas zonas continuem semocupaccedilatildeo permanente mantendo algumascaracteriacutesticas pristinas ainda aiacute existentes Nos poucosnuacutecleos urbanos piscatoacuterios existentes cujo casoparadigmaacutetico eacute a povoaccedilatildeo da Culatra onde natildeoexistem problemas realmente graves pois que selocalizam na margem lagunar (relativamente afastadado litoral oceacircnico) devem-se adoptar algumasmedidas correctivas pontuais por forma a preservara sua identidade cultural a melhorar a qualidade devida da populaccedilatildeo e a impedir um crescimentoexagerado Nos restantes nuacutecleos urbanos comcaracteriacutesticas ldquoturiacutesticasrdquo vaacuterios dos quais localizadosnas zonas de maior risco do sistema seria altamentedesejaacutevel que se procedesse agrave completa reformulaccedilatildeoda ocupaccedilatildeo ou sempre que possiacutevel se optasse peladesocupaccedilatildeo

No sentido de tentar resolver os problemas deerosatildeo costeira existentes (que se agravaratildeo no futuro)recomenda-se vivamente que a) natildeo se construamobras de protecccedilatildeo riacutegida (esporotildees paredotildees etc)na Ria Formosa nem na zona a barlamar desta daqual o sistema depende b) se continuem a executaracccedilotildees de robustecimento do cordatildeo dunar e decolmataccedilatildeo dos cortes de galgamento utilizando tantoquanto possiacutevel sedimentos provenientes dadragagem dos canais de navegaccedilatildeo c) se implementea transposiccedilatildeo dos molhes portuaacuterios com relevacircnciaespecial para os molhes da Barra de Faro-Olhatildeo d)efectivamente se proceda agrave demoliccedilatildeo das edificaccedilotildeessituadas em zonas de maior risco e sobre a duna

74

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

primaacuteria concretizando finalmente decisotildeesgovernamentais que tecircm vindo a ser repetidamentetomadas haacute quase trecircs deacutecadas mas nunca executadascabalmente e) sejam amplificadas as acccedilotildees deintervenccedilatildeo e protecccedilatildeo dinacircmica na linha do que severificou desde finais do seacuteculo passado (abertura debarras quando necessaacuterio para as deixar evoluirnaturalmente dragagens ldquoecoloacutegicasrdquo etc) e quetransformaram a Ria Formosa num siacutetio de referecircnciainternacional nesta mateacuteria e que nos uacuteltimos anosapenas tecircm sido executadas de forma extremamentemoderada

Finalmente eacute altamente recomendaacutevel que emtodos os actos de gestatildeo envolvendo quer ascomponentes geomorfoloacutegicas quer as ecoloacutegicasquer as soacutecio-econoacutemicas se tenham sempre emconsideraccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas principalmenteno que se refere agrave elevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar

BIBLIOGRAFIA

Andrade CF (1990a) - O Ambiente de barreira da RiaFormosa Algarve ndash Portugal Dissertaccedilatildeo deDoutoramento 645p Universidade de LisboaPortugal (natildeo publicado)

Andrade CF (1990b) - Estudo da susceptibilidadeao galgamento da Ria Formosa Geolis IV(1-2)69-76 Lisboa Portugal

Andrade CF Barata A amp Teles M (1998) - Ananalysis of the vulnerability to overwash of theRia Formosa barrier island system (Portugal)Using a simple multi-attribute technique (SMART)approach Proceedings of Littoralrsquo98 Conferencepp511-519 Barcelona Espanha

Andrade CF Freitas MC Moreno J amp CraveiroSC (2004) - Stratigraphical evidence of LateHolocene barrier breaching and extreme stormsin lagoonal sediments of Ria Formosa AlgarvePortugal Marine Geology 210339ndash362(doi101016jmargeo200405016)

Antunes P Santos R amp Videira N (2006) -Participatory decision making for sustainabledevelopment - the use of mediated modellingtechniques Land Use Policy 2344ndash52(doi101016jlandusepol200408014)

Bernardo P Bastos R amp Dias JA (2002) - Historicroots for barrier island occupation in the RiaFormosa Littoral 2002 Porto 4 p (disponiacutevel em

httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI02_Lit_91_PBpdf)

Bettencourt P (1985) - Geomorphologie et processusdlsquoeacutevolution reacutecente de la cocircte sotavento (Algarve ndash SudPortugal) Thegravese DEA 92p Universiteacute deBordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Bettencourt P (1994) - Les environnements sedimentairesde la cocircte sotavento (Algarve SudPortugal) et leur eacutevolutionHoloceacutene et actuelle PhD Thesis University ofBordeaux I Franccedila (unfinished)

Bray Jr T amp Carter C (1992) - Physical processesand sedimentary record of a moderntransgressive lacustrine barrier island MarineGeology 105(1-4)155-168 (doi 1010160025-3227(92)90187-M)

Correia F Dias JA Boski T amp Ferreira Oacute (1996)- The retreat of the Eastern Quarteira cliffed coast(Portugal) and its possible causes In Jones PSHealy MG amp Williams AT (eds) Studies inCoastal Management p129-136 Samara PublLtd Cardigan UK (disponiacutevel emht tp w3 u a l g p t j d i a s JA D pape r s CLinternac96_Studies_129_FCpdf)

Correia F Ferreira Oacute amp Dias JA (1997) - Contributodas arribas para o balanccedilo sedimentar do sectorcosteiro Quarteira - Vale do Lobo (Algarve -Portugal) Seminaacuterio sobre a zona costeira doAlgarve 31-39 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_031_FCpdf)

Costa CL (1994) - Final report of sub-project A ldquoWindwave climatology of the Portuguese coastrdquo InstitutoHidrograacutefico Report PO-WAVES 694-A 80 pLisboa Portugal (natildeo publicado)

Dias JA (1988) - Aspectos geoloacutegicos do litoralalgarvio Geonovas 10 113-128 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN88_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (1990) - A Evoluccedilatildeo Actual do LitoralPortuguecircs Geonovas 11 15-29 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN90_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (2002) - Manual de Sobrevivecircncia eVilanagem Diaacuterio de Notiacutecias - SuplementoldquoAmbiente e Desenvolvimento Sustentaacutevelrdquo 30de Julho de 2002 Lisboa Portugal (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersxCS02_DNADpdf)

75

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Dias JA Ferreira Oacute Matias A Vila-Concejo Aamp Saacute-Pires C (2003) - Evaluation of softprotection techniques in barrier islands bymonitoring programs case studies from RiaFormosa (Algarve-Portugal) Journal of CoastalResearch SI35117-131

Dias JA Ferreira Oacute amp Moura D (2004) - O sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa 3ordm SIPRES ndashSimpoacutesio Interdisciplinar sobre Processos Estuarinos 18p Faro Portugal

Dias JA amp Neal WJ (1992) - Sea cliff retreat insouthern Portugal profiles processes andproblems Journal of Coastal Research 8641-654

Dias JA amp Taborda R (1992) - Tidal gauge data indeducing secular trends of relative sea level andcrustal movements in Portugal Journal of CoastalResearch 8655-659

Dias JA Teixeira SB amp Ferreira Oacute (1997) - LivroGuia da Excursatildeo Seminaacuterio sobre a Zona Costeirado Algarve 43 p Faro Portugal

Douglas BC (1995) - Global sea level changedetermination and interpretation US NationalReport to IUGG 1991-1994 Geophys 33 Suppl11 p (disponiacutevel em httpwwwaguorgrevgeophysdougla01dougla01html)

Duarte C Matias A Dias JA amp Ferreira Oacute (1999)- Vulnerabilidade dos corpos dunares do Algarve10ordm Congresso do Algarve 477-490 (disponiacutevelem httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN99_10CA_477_CDpdf)

Esaguy AS (1984) - Ria de Faro Barra da ArmonaEvoluccedilatildeo 1873-1983 5 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1986a) - Ria de Faro Barra de Faro-OlhatildeoEvoluccedilatildeo 1955ndash1985 10p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986b) - Ria de Faro Ilha de TaviraEvoluccedilatildeo 1950ndash1985 8 p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986c) - Ria de Faro Ilha do AncatildeoEvoluccedilatildeo 1950-1985 7 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1987) - Ria de Faro Barra de TaviraEvoluccedilatildeo 13 p Direcccedilatildeo Geral de Portos LisboaPortugal

Ferreira Oacute Dias JA amp Taborda R (2008) -Implications of sea-level rise for Portugal Journal

of Coastal Research 24(2)317-324 (doi 10211207A-00061)

Ferreira Oacute Garcia T Matias A Taborda Ramp DiasJA (2006) - An integrated method for thedetermination of set-back lines for coastal erosionhazards on sandy shores Continental ShelfResearch 261030ndash1044 (doi 101016jcsr200512016)

Ferreira Oacute Martins JC amp Dias JA (1997) -Morfodinacircmica e vulnerabilidade da Praia de FaroSeminaacuterio sobre a zona costeira do Algarve 67-76 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_067_OFpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias Aamp Dias JA (2002)- Recent evolution of Culatra Island (Algarve ndashPortugal) Littoral 2002 The Changing Coast 289-294 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers02_LitTGpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2005)ndash Coastal Hazards Representation for Praia doBarril (Algarve Portugal) Continental ShelfResearch SI4928-33

Granja H (1984) - Eacutetude geacuteomor phologiquesedimentoloacutegique et geacuteoquimique de la Ria Formosa(Algarve-Portugal) These 3eme Cycle 254 pUniversiteacute de Bordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Greene K (2002) - Beach nourishment a review ofthe biological and physical impacts 174 p AtlanticStates Marine Fisheries Commission WashingtonDC (disponiacutevel em httpwwwasmfcorgpublicationshabitatbeachNourishmentpdf)

Griggs GB (1999) - The protection of Californialsquoscoast past present and future Shore amp Beach67(1)18-28

Hoyt JH (1967) - Barrier Island FormationGeological Society of America Bulletin 781125-1136 (doi 1011300016-7606(1967)78[1125BIF]20CO2)

Inman D (1978) - The impact of coastal structureson shorelines Proceedings of Coastal Zoneacute78 ASCE2265-2272

Koster MJ amp Hillen R (1995) - Combat erosion bylaw Coastal defence policy for the NetherlandsJournal of Coastal Research 67(2-3)43-49

Leatherman S (1976) - Barrier islands dynamicsoverwash processes and aeolian transportProceedings of Coastal Engineering Conference ASCE1958-1973

76

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Mangor K (1998) - Coastal restorationconsiderations Proceedings of Coastal Engineeringrsquo98Conference ASCE 3425-3438

Marcelo MJ amp Fonseca LC (1998) - Ria Formosada gestatildeo e conservaccedilatildeo de uma aacuterea protegidaRevista de Biologia 2ordm ENEC 16(1-4)125-133

Martins JT Ferreira Oacute Ciavola Pamp Dias JA (1996)- Monitoring of profile changes at Praia de FaroAlgarve a tool to predict and solve problems InTaussik J amp Mitchell J (eds) Partnership in CoastalZone Management pp 615-622 Samara Publ LtdCardigan UK

Matias A (2000) - Estudo morfosedimentar da Peniacutensulade Cacela Dissertaccedilatildeo de Mestrado 244pUniversidade do Algarve Faro Portugal (natildeopublicado)

Matias A Dias JA Williams AT amp Ferreira Oacute(1997) - Vulnerabilidade das dunas da RiaFormosa 9ordm Congresso do Algarve 231-239Vilamoura Portugal

Matias A Ferreira Oacute amp Dias JA (1999) -Preliminary results on the Cacela Peninsula dunereplenishment Boletiacuten del Instituto Espantildeol deOceanografiacutea 15(1-4)283-288 (disponiacutevel emhttpwwwieoespublicacionesboletinpdfsbol1515_283-288PDF)

Matias A Ferreira Oacute Dias JA amp Vila-Concejo A(2004) - Development of indices for the evaluationof dune recovery techniques Coastal Engineering51261-276 (doi 101016jcoastaleng200402002)

Matias A Ferreira Oacute Mendes I amp Dias JA (1998)- Monitorizaccedilatildeo da alimentaccedilatildeo artificial daPeniacutensula de Cacela Seminaacuterio sobre DragagensDragados e Ambientes Costeiros 47-56

Matias A Ferreira Oacute Mendes I Dias JA amp Vila-Cconcejo A (2005) - Artificial construction ofdunes in the South of Portugal Journal of CoastalResearch 21(3)472-481 (doi 10211203-00471)

Matias A Vila-Concejo A Ferreira Oacute amp Dias JA(2003) - Field measurements of morphologicvariations during an overwash event 4ordm Simpoacutesiosobre a Margem Ibeacuterica Atlacircntica Thalassas19(2b)164-165 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI03_4SM_b164_AMpdf)

NRC - National Research Council (1995) - Beach

Nourishment and Protection 334 p Washington DCNational Academy Press (ISBN 9780309052900)

Pacheco A Carrasco AR Vila-Concejo A FerreiraOacute amp Dias JA (2007) - A coastal managementprogram for channels located in backbarriersystems Ocean amp Coastal Management 50119-143 (doi101016jocecoaman200608008)

Pilkey OH amp Dixon K (1996) - The Corps and theShore 286p Island Press Washington DC USA(ISBN 9781559634380)

Pilkey OH Neal WJ Monteiro JH amp Dias JA(1989) - Algarve Barrier Islands A Noncoastal-Plain System in Portugal Journal of Coastal Research5(2)239-261

Ramos L amp Dias J A (2000) - Atenuaccedilatildeo davulnerabilidade a galgamentos oceacircnicos nosistema da Ria Formosa mediante intervenccedilotildeessuaves 3ordm Simpoacutesio sobre a Margem ContinentalIbeacuterica Atlacircntica Faro 361-362 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers00_SMLRpdf)

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2001)- Avaliaccedilatildeo de realimentaccedilotildees artificiais de praiasda Ria Formosa Casos das ilhas de Cacela e deTavira Congresso do Algarve 2001 8 p

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2002)- Preliminary Evaluation of the MorphologicalEvolution of Contrasting Beaches of the RiaFormosa With Relation to Differences inRefracted Wave Height Littoral 2002 TheChanging Coast 423-429 (disponiacutevel emht tp www2 00 8 i o -war nemu ende dehomepagesschernewskiLittoral2000docsvol3Littoral2002_79pdf)

Scheele RJ amp Westen CJ (1996) - Planning for acoastal policy - the 3A4 approach In Taussik Jamp Mitchell J (eds) Partnership in Coastal ZoneManagement pp 65-71 Samara Publ LtdCardigan UK

Sprung M (1994) - Macrobenthic secondaryproduction in the intertidal zone of Ria Formosaa lagoon in southern Portugal Estuarine Coastaland Shelf Science 38539ndash558 (doi 101006ecss19941037)

Van Den Belt M Videira N Antunes P Santos Ramp Gamito S (2000) - Modelaccedilatildeo Participada na RiaFormosa 36 p Ediccedilatildeo Fundaccedilatildeo do Mar LisboaPortugal

77

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Vila A Dias JMA Ferreira Oacute amp Matias A (1999)- Natural evolution of an artificial inlet CoastalSedimentslsquo99 21478-1488 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI99_CS99_1478_AVpdf)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Ciavola P Matias Aamp Dias JA (2004a) - Tracer studies on the updriftmargin of a complex inlet system Marine Geology20843-72 (doi 101016jmargeo200404020)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA(2003) - The first two years of an inlet sedimentarydynamics Continental Shelf Research 231425-1445 (doi 101016S0278-4343(03)00142-0)

Vila-Concejo A Matias A Ferreira Oacute Duarte Camp Dias JA (2002) - Recent evolution of thenatural inlets of a barrier island system in southernPortugal Journal of Coastal Research (ICS 2002proceedings) SI36741-752

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Morris BD MatiasA amp Dias JA (2004b) ndash Lessons from inletrelocation examples from Southern PortugalCoastal Engineering 51(10)967-990(doi101016jcoastaleng200407019)

Vila-Concejo A Matias A Pacheco A FerreiraOacute amp Dias JA (2006) - Quantification of inlet-related hazards in barrier island systems Anexample from the Ria Formosa (Portugal)Continental Shelf Research 261045-1060(doi 101016jcsr200512014)

Weinholtz MB (1978) - Contribuiccedilatildeo para o estudo daevoluccedilatildeo das flechas de areia na costa sotavento do Algarve(Ria de Faro) Relatoacuterio da Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Wells JT amp McNinch J (1991) - Beach scraping inNorth Carolina with special reference to itseffectiveness during Hurricane Hugo Journal ofCoastal Research SI8249-261

Williams SJ (2001) - Coastal erosion and land lossaround the United States strategies to manage andprotect coastal resources ndash examples fromLouisiana Coastal Ecosystems and FederalActivities Technical Training SymposiumProceedings 15 p (disponiacutevel emhttpwwwfwsgovnc-esecoconfwilliamspaperpdf)

Page 14: Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na

70

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

a Ilha de Cabanas e a Peniacutensula de Cacela Nesteslocais mesmo a ocorrecircncia de pequenos temporaisdurante a preia-mar de mareacutes vivas podem provocargalgamentos Alguns pontos como a Ilha de Cabanase a Peniacutensula de Cacela viram reduzida avulnerabilidade a galgamentos apoacutes as intervenccedilotildeesefectuadas com algum sucesso embora essavulnerabilidade comece a ser actualmente elevada nosegundo caso devido aos factos aludidos mais acimaEm geral os locais de maior vulnerabilidade satildeo osque apresentam perfis de praia de pouca inclinaccedilatildeocordatildeo dunar fraacutegil e proximidade das barras

Cordatildeo dunar e vegetaccedilatildeo dunarAo longo das ilhas existiu um cordatildeo dunar frontal

contiacutenuo com 5 a 10m de altura sem cortes eoacutelicos ede galgamento muito significativos e bem cobertosde vegetaccedilatildeo (Pilkey et al 1989) No entanto o cordatildeodunar encontra-se na actualidade completamenteocupado em alguns locais por edificaccedilotildees comoacontece na Praia de Faro na povoaccedilatildeo do Farol e naIlha da Armona A vegetaccedilatildeo tornou-se escassa natildeosomente nas zonas ocupadas mas tambeacutem noutroslocais como na parte ocidental da Ilha da Barreta ena oriental das ilhas da Armona e da Culatra

Com a crescente pressatildeo antroacutepica exercida sobreo sistema especialmente para fins balneares verifica-se que em vaacuterios locais a quantidade de cortes eoacutelicostem aumentado devido ao pisoteio Este facto podeconduzir em periacuteodos de agitaccedilatildeo mariacutetima maisenergeacutetica agrave ocorrecircncia de galgamentos oceacircnicosRamos amp Dias (2000) referem que grande parte doscortes de galgamento oceacircnico do sistema da RiaFormosa eacute devido ao pisoteio dos corpos dunares enatildeo a causas naturais

A instalaccedilatildeo intensiva nos uacuteltimos anos depaliccediladas para recuperaccedilatildeo dunar complementadacom plantaccedilatildeo de vegetaccedilatildeo tiacutepica destes ambientescorresponde a uma acccedilatildeo de gestatildeo com efeitos muitopositivos com a qual se tem conseguido robustecero cordatildeo dunar do sistema

Deltas de mareacuteA incorporaccedilatildeo de deltas de enchente e posterior

migraccedilatildeo ou encerramento da barra respectivaconstitui importante mecanismo de evoluccedilatildeo dasilhas-barreira estando na origem da grande larguradas ilhas da Armona e de Tavira (Pilkey et al 1989)

A formaccedilatildeo de deltas de enchente em associaccedilatildeo comos galgamentos oceacircnicos contribui para a migraccedilatildeodas ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continente o quepoderaacute estar a suceder com o caso particular daPeniacutensula de Cacela (Andrade et al 2004)

Comportamento das barrasA Ria Formosa eacute caracterizada por apresentar

elevadas taxas de migraccedilatildeo das barras A estabilizaccedilatildeode duas das barras no sector oriental provocou fortesmodificaccedilotildees na dinacircmica do sistema Segundo Vila-Concejo et al (2002) a estabilizaccedilatildeo da Barra Faro-Olhatildeo (1929-1955) teve maiores consequecircncias nasbarras do Ancatildeo e da Armona enquanto que aabertura artificial da Barra de Tavira (1927-1985)produziu maiores efeitos nas barras da Fuzeta e doLaceacutem

A Barra da Armona era a principal barra dosistema controlando a maior parte da circulaccedilatildeo daRia Formosa na parte central Com a abertura da BarraFaro-Olhatildeo projectada para manter profundidadesentre-molhes da ordem de 45m ZH mas queprogressivamente se foi aprofundando ateacuteprofundidades superiores a 40 metros as trocashiacutedricas com o oceano passaram a efectuar-sepredominantemente por esta barra Os molhesprovocaram grande acumulaccedilatildeo a barlamar pelo quenos 12 anos seguintes agrave sua construccedilatildeo a Ilha daBarreta registou alargamento superior a 220 metrosna zona por eles influenciada (Bettencourt 1985) Emconsequecircncia a barra da Armona perdeu eficaacuteciareduzindo progressivamente largura e profundidadeNos anos 80 do seacuteculo XX tinha ainda cerca de 2000metros de largura mas actualmente essa largura eacuteapenas da ordem de 200 metros

O sentido de migraccedilatildeo das barras natildeo estabilizadaseacute para oriente (agrave excepccedilatildeo da Barra da Armona quetem mantido a sua posiccedilatildeo) Essa migraccedilatildeo efectua-se quer progressivamente (mantendo ou natildeo a largura)ou por ldquosaltosrdquo na sequecircncia de temporais em quenova barra se abre em geral a sotamar da barraexistente seguindo-se frequentemente a posteriorcolmataccedilatildeo desta (Dias 1988 Pilkey et al 1989Andrade et al 1998)

Erosatildeo provocada pelas mareacutes-vivasA Ria Formosa eacute um sistema lagunar com uma

grande aacuterea de zona intertidal (cerca de 13 do total

71

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

da aacuterea) Em cada ciclo de mareacute 50 a 75 da aacutegua eacuterenovada (Sprung 1994) Devido agrave diferenccedila deamplitude entre mareacutes-vivas e mareacutes-mortas as zonasde menor elevaccedilatildeo das ilhas-barreira satildeo regularmenteinundadas durante as primeiras causando transportesignificativo de sedimentos Estes fluxos satildeoresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo de canais de mareacute eaumento da erosatildeo das ilhas-barreira

Como jaacute foi referido os periacuteodos de mareacutes-vivassatildeo bastante problemaacuteticos especialmente noInverno na medida em que potenciam o efeito detempestades que ocorrem durante mareacutes-cheiasTodos os anos nos pontos criacuteticos do sistema comoa Praia de Faro a probabilidade de ocorrer umasituaccedilatildeo muito grave aumenta principalmente se seconsiderar a elevaccedilatildeo do NMM

42 Intervenccedilatildeo

Como eacute reconhecido por Scheele amp Westen (1996)os planos de gestatildeo costeira devem apontar para aprotecccedilatildeo ambiental de longo prazo o que implica(1) uma estrateacutegia com objectivos claros e concisos(2) uma metodologia praacutetica e realista (3)monitorizaccedilatildeo contiacutenua (4) forte aposta nosprogramas de educaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo ambiental e(5) envolvimento da comunidade local no processode planeamento e tomada de decisotildees

Sendo a Ria Formosa um sistema muito dinacircmicocom elevada vulnerabilidade e que reage rapidamentea elevaccedilotildees do niacutevel do mar os muacuteltiplos interesseseconoacutemicos e sociais aiacute existentes fazem com que aaacuterea seja caracterizada por elevado grau de conflitosde interesses A situaccedilatildeo torna-se ainda mais complexaquando se considera que o sistema corresponde a umParque Natural onde haacute que compatibilizar interesseseconoacutemicos com a conservaccedilatildeo da Natureza Nestecontexto soacute eacute possiacutevel proceder agrave conservaccedilatildeo daNatureza atraveacutes de intervenccedilotildees tendentes a minoraros impactes negativos induzidos pelas actividadesantroacutepicas (Ramos amp Dias 2000)

De acordo com as actividades desenvolvidas osprincipais grupos de interesse na Ria Formosa satildeo(1) o PNRFICNB (2) a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeoe Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR-Algarve) (3) as entidades promotoras do turismo (4)as associaccedilotildees comerciais e industriais (incluindo oporto) (5) os pescadores e autoridades responsaacuteveis

por este sector (6) as entidades regionais e locais (7)as associaccedilotildees de defesa do ambiente e osambientalistas e (8) a populaccedilatildeo local incluindoresidentes e natildeo residentes Como sugere Antunes etal (2006) o entendimento entre os diferentes gruposconduz a uma sinergia que beneficia as potencialidadesque contribuem para uma gestatildeo eficaz

Os principais problemas das ilhas-barreira estatildeolocalizados nos nuacutecleos urbanos devido agraves estruturasedificadas Dos principais nuacutecleos existentes apenasos de Hangares e Culatra natildeo tecircm problemas erosatildeocosteira pois que se localizam junto agrave parte lagunar(e consequentemente afastados da praia oceacircnica eportanto resguardados dos temporais) Os restantespoacutelos de ocupaccedilatildeo (Praia de Faro Farol etc) satildeoproblemaacuteticos sendo os riscos de inundaccedilatildeo e erosatildeobastante elevados Para resolver estes problemasexistem fundamentalmente trecircs estrateacutegias deintervenccedilatildeo (1) intervenccedilatildeo riacutegida (ex esporotildeesparedotildees) (2) retirada estrateacutegica programas natildeoestruturais (ex demoliccedilatildeo de infra-estruturas) e (3)intervenccedilatildeo suave (ex realimentaccedilatildeo de praias) (Pilkeyamp Dixon 1996) Qualquer uma destas estrateacutegias temproacutes e contras sendo praticamente impossiacutevel quequalquer uma delas satisfaccedila todos os grupos deinteresse afectados

Intervenccedilatildeo riacutegidaAteacute haacute poucas deacutecadas em todo o mundo a

construccedilatildeo de estruturas riacutegidas e permanentesconstituiu o meacutetodo mais utilizado de protecccedilatildeo dopatrimoacutenio edificado no litoral Embora estasestruturas se revelem eficazes na defesa de imobiliaacuterioem risco de ser danificado pela erosatildeo costeiraprovocam fortes impactes negativos a sotamar dolocal onde satildeo construiacutedas (Inman 1978 Mangor1998 Greene 2002) pelo que internacionalmente severifica tendecircncia para adoptar outros tipos deprotecccedilatildeo ambientalmente menos agressivos

A construccedilatildeo dos molhes da marina de Vilamourae do campo de esporotildees de Quarteira provocou forteaumento da erosatildeo a oriente e consequentementegraves problemas de gestatildeo Por outro lado a aberturae fixaccedilatildeo das barras de Faro-Olhatildeo e de Tavira parapropiciar melhor funcionamento das estruturasportuaacuterias existentes no meio lagunar econsequentemente beneficiar as actividades socio-econoacutemicas da regiatildeo provocaram grandes alteraccedilotildees

72

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

no sistema fazendo com que o seu funcionamentonatural tivesse entrado em ruptura e que a erosatildeocosteira tivesse sido fortemente amplificada a sotamarComo se veraacute na parte dedicada agraves intervenccedilotildeessuaves a utilizaccedilatildeo de teacutecnicas de transposiccedilatildeo dosmolhes (ldquoby-passingrdquo) permitiria reduzirsubstancialmente alguns destes impactes negativos

A construccedilatildeo de mais estruturas riacutegidas na RiaFormosa (ou a barlamar desta) traduzir-se-ia numaforte amplificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico em queo sistema jaacute se encontra tendendo a meacutedio ndash longoprazo para a completa artificializaccedilatildeo da Ria Formosaconsignada por legislaccedilatildeo nacional como ParqueNatural e reconhecida internacionalmente comoimportante aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental

Retirada estrateacutegica Programas natildeo estruturaisOs programas natildeo estruturais satildeo intervenccedilotildees em

que se procede agrave demoliccedilatildeo de infra-estruturasameaccediladas pela erosatildeo costeira ou transferecircncia dasmesmas para locais mais seguros o que eacute tambeacutemconhecido como ldquoretirada estrateacutegicardquo Viabiliza-seassim a evoluccedilatildeo natural dos sistemas Com amigraccedilatildeo das ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continentecomo resposta agrave elevaccedilatildeo do NMM este tipo deintervenccedilatildeo comeccedilou por ser aplicado em algunslocais da costa Leste dos EUA em 1972 (NRC 1995)A deslocalizaccedilatildeo de infra-estruturas pode ser eficazem locais pouco povoados ou quando existe interessena salvaguarda de patrimoacutenio como aconteceu como farol do Cabo Hatteras nos EUA No entantotorna-se impraticaacutevel em grandes nuacutecleos urbanosdevido aos elevados custos e dificuldades logiacutesticas

Na Ria Formosa este tipo de intervenccedilatildeo temencontrado grandes dificuldades de execuccedilatildeodesignadamente no que se refere agrave demoliccedilatildeo de casasconstruiacutedas ilegalmente em Domiacutenio Hiacutedrico Domiacutenio Puacuteblico Mariacutetimo o que aleacutem de tender aperpetuar situaccedilotildees de muito alto risco potildee em causaa imagem do Paiacutes como Estado de direito (Dias 2002)

Intervenccedilatildeo SuaveA intervenccedilatildeo suave tambeacutem designada por

protecccedilatildeo dinacircmica desde haacute algumas deacutecadas que eacuteutilizada preferencialmente como alternativa agravesteacutecnicas de intervenccedilatildeo riacutegida Apresentam menoresimpactes ambientais sendo uma soluccedilatildeo maisapropriada para aacutereas sensiacuteveis como as ilhas-barreira

As teacutecnicas de protecccedilatildeo suave tais como arealimentaccedilatildeo de praias a reconstruccedilatildeo dunar atransposiccedilatildeo de molhes (by-passing) a abertura debarras (para as deixar evoluir naturalmente) e asldquodragagens ecoloacutegicasrdquo correspondem em geral auma intervenccedilatildeo inicial deixando depois a Naturezaldquotrabalharrdquo Por essa razatildeo estas teacutecnicas satildeo tambeacutemfrequentemente designadas por ldquobuilding with NaturerdquoSatildeo com frequecircncia menos dispendiosas e maiseficientes a longo prazo do que as intervenccedilotildees riacutegidas(Koster amp Hillen 1995 Griggs 1999 Dias et al 2003)

Poreacutem estas teacutecnicas tecircm que ser executadas comforte suporte cientiacutefico e devem envolver o conceitode protecccedilatildeo de trechos costeiros na sua globalidadee natildeo apenas a protecccedilatildeo local de patrimoacutenio edificadoem zonas de risco Se forem concretizadas de formadeficiente podem mesmo revelar-secontraproducentes Eacute o que se passa por exemploquando a realimentaccedilatildeo de praias eacute efectuada comareias extraiacutedas da praia submersa (acima daprofundidade de fecho) nestes casos nenhumsedimento eacute adicionado ao sistema (Wells amp McNinch1991) havendo apenas transferecircncias dentro dosistema com consequecircncias negativas para o seufuncionamento natural tanto ao niacutevel morfodinacircmicocomo bioloacutegico

Desde 1996 que o PNRFICN tem realizadointervenccedilotildees de caraacutecter suave na tentativa demelhorar o funcionamento do sistema e diminuir avulnerabilidade ao galgamento e ao mesmo tempomanter a dinacircmica dos processos naturais (Dias et al2004) Entre as intervenccedilotildees efectuadas procedeu-seao robustecimento da Peniacutensula de Cacela agrave aberturadas Barras do Ancatildeo e da Fuzeta (deixando-as deseguida evoluir naturalmente) agrave dragagem de muitoscanais que natildeo satildeo de navegaccedilatildeo para melhorar acirculaccedilatildeo no sistema agrave repulsatildeo de sedimentos parao cordatildeo arenoso agrave colocaccedilatildeo de paliccediladas parareconstruccedilatildeo dunar agrave plantaccedilatildeo de Ammophila arenariae agrave construccedilatildeo de passadiccedilos sobrelevados

Segundo Dias et al (2003) as intervenccedilotildees suavesrealizadas na Ria Formosa propiciaram melhorprotecccedilatildeo das ilhas-barreira tendo-se em geralatingido os objectivos esperados Os mesmos autoresreferem que os sistemas naturais de elevadaimportacircncia soacutecio-econoacutemica e ambiental (como aRia Formosa) podem ser geridos utilizando este tipo

73

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

de teacutecnicas lucrando com o aproveitamento dosrecursos existentes

A transposiccedilatildeo (by-passing) dos molhes das barrasartificiais meacutetodo utilizado desde haacute muito um poucopor todo o mundo permitiria que as areias retidaspelos molhes a barlamar fosse transferido parasotamar aiacute reconstituindo a deriva litoral econsequentemente minimizando alguns dos impactesnegativos induzidos por estas estruturas Vaacuteriosestudos que demonstram que esta tecnologia natildeoaparenta ter efeitos ambientais negativos associados(eg Lindeman 1997 in Greene 2002)

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Com vista a avaliar a vulnerabilidade das ilhas-barreira da Ria Formosa o presente trabalho incidiuna actualizaccedilatildeo desta problemaacutetica na oacuteptica da gestatildeouma vez que se trata de um sistema em permanentetransformaccedilatildeo Nesta anaacutelise eacute imprescindiacutevel tersempre em consideraccedilatildeo que o sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa estaacute consignado legalmentecomo aacuterea de protecccedilatildeo ambiental desde 1978 anoem que lhe foi atribuiacutedo o estatuto de Reserva Naturaltendo ficado protegido pelo estatuto de ParqueNatural em 1987 (Decreto-lei 37387) e Rede Natura2000 tendo ainda sido integrado desde 1980 na Listade Siacutetios da Convenccedilatildeo de Ramsar (zonas huacutemidasde importacircncia internacional)

Da anaacutelise efectuada conclui-se que eacuteimprescindiacutevel compatibilizar os diversificados valoresnaturais (bioloacutegicos geomorfoloacutegicos fiacutesico-quiacutemicos geoloacutegicos etc) intriacutensecos ao sistema comos muacuteltiplos interesses soacutecio-econoacutemicos decorrentesda sua exploraccedilatildeo (pesca maricultura aquaculturaturismo portos comerciais e de pesca navegaccedilatildeo derecreio etc) Estando influenciado por fortesimpactes antroacutepicos directos e indirectos tais comoentre muitos outros a erosatildeo costeira e a intensificaccedilatildeodo assoreamento lagunar a sobrevivecircncia do sistemaldquonaturalrdquo e a sustentabilidade da sua exploraccedilatildeocarecem de intervenccedilotildees correctivas frequentes porforma a minimizar os impactes negativos aludidosTais intervenccedilotildees teratildeo que ser cautelosas e contiacutenuastentando o mais possiacutevel aproximar-se do que seriaa dinacircmica natural do sistema

Eacute ainda urgente resolver vaacuterios conflitos deinteresses existentes privilegiando as actividades

indutoras de menores impactes negativos e quesimultaneamente viabilizem uma melhor exploraccedilatildeosustentaacutevel do sistema Aponta-se a tiacutetuloexemplificativo o caso do turismo haacute quedesincentivar o turismo de massas directo nesta aacuterea(ateacute porque nas proximidades haacute poacutelos turiacutesticos destegeacutenero bem consolidados) desenvolvendo emalternativa outros tipos de turismo complementardesignadamente o turismo de Natureza a observaccedilatildeode aves (bird watching) e de peixes (fish watching) emambiente natural os passeios no meio lagunar emembarcaccedilotildees natildeo poluentes o turismo gastronoacutemicoetc

A maior parte da zona de barreira do sistema natildeoestaacute ainda ocupado por estruturas imobiliaacuterias Comvista agrave exploraccedilatildeo sustentaacutevel do sistema eacuteimprescindiacutevel que estas zonas continuem semocupaccedilatildeo permanente mantendo algumascaracteriacutesticas pristinas ainda aiacute existentes Nos poucosnuacutecleos urbanos piscatoacuterios existentes cujo casoparadigmaacutetico eacute a povoaccedilatildeo da Culatra onde natildeoexistem problemas realmente graves pois que selocalizam na margem lagunar (relativamente afastadado litoral oceacircnico) devem-se adoptar algumasmedidas correctivas pontuais por forma a preservara sua identidade cultural a melhorar a qualidade devida da populaccedilatildeo e a impedir um crescimentoexagerado Nos restantes nuacutecleos urbanos comcaracteriacutesticas ldquoturiacutesticasrdquo vaacuterios dos quais localizadosnas zonas de maior risco do sistema seria altamentedesejaacutevel que se procedesse agrave completa reformulaccedilatildeoda ocupaccedilatildeo ou sempre que possiacutevel se optasse peladesocupaccedilatildeo

No sentido de tentar resolver os problemas deerosatildeo costeira existentes (que se agravaratildeo no futuro)recomenda-se vivamente que a) natildeo se construamobras de protecccedilatildeo riacutegida (esporotildees paredotildees etc)na Ria Formosa nem na zona a barlamar desta daqual o sistema depende b) se continuem a executaracccedilotildees de robustecimento do cordatildeo dunar e decolmataccedilatildeo dos cortes de galgamento utilizando tantoquanto possiacutevel sedimentos provenientes dadragagem dos canais de navegaccedilatildeo c) se implementea transposiccedilatildeo dos molhes portuaacuterios com relevacircnciaespecial para os molhes da Barra de Faro-Olhatildeo d)efectivamente se proceda agrave demoliccedilatildeo das edificaccedilotildeessituadas em zonas de maior risco e sobre a duna

74

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

primaacuteria concretizando finalmente decisotildeesgovernamentais que tecircm vindo a ser repetidamentetomadas haacute quase trecircs deacutecadas mas nunca executadascabalmente e) sejam amplificadas as acccedilotildees deintervenccedilatildeo e protecccedilatildeo dinacircmica na linha do que severificou desde finais do seacuteculo passado (abertura debarras quando necessaacuterio para as deixar evoluirnaturalmente dragagens ldquoecoloacutegicasrdquo etc) e quetransformaram a Ria Formosa num siacutetio de referecircnciainternacional nesta mateacuteria e que nos uacuteltimos anosapenas tecircm sido executadas de forma extremamentemoderada

Finalmente eacute altamente recomendaacutevel que emtodos os actos de gestatildeo envolvendo quer ascomponentes geomorfoloacutegicas quer as ecoloacutegicasquer as soacutecio-econoacutemicas se tenham sempre emconsideraccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas principalmenteno que se refere agrave elevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar

BIBLIOGRAFIA

Andrade CF (1990a) - O Ambiente de barreira da RiaFormosa Algarve ndash Portugal Dissertaccedilatildeo deDoutoramento 645p Universidade de LisboaPortugal (natildeo publicado)

Andrade CF (1990b) - Estudo da susceptibilidadeao galgamento da Ria Formosa Geolis IV(1-2)69-76 Lisboa Portugal

Andrade CF Barata A amp Teles M (1998) - Ananalysis of the vulnerability to overwash of theRia Formosa barrier island system (Portugal)Using a simple multi-attribute technique (SMART)approach Proceedings of Littoralrsquo98 Conferencepp511-519 Barcelona Espanha

Andrade CF Freitas MC Moreno J amp CraveiroSC (2004) - Stratigraphical evidence of LateHolocene barrier breaching and extreme stormsin lagoonal sediments of Ria Formosa AlgarvePortugal Marine Geology 210339ndash362(doi101016jmargeo200405016)

Antunes P Santos R amp Videira N (2006) -Participatory decision making for sustainabledevelopment - the use of mediated modellingtechniques Land Use Policy 2344ndash52(doi101016jlandusepol200408014)

Bernardo P Bastos R amp Dias JA (2002) - Historicroots for barrier island occupation in the RiaFormosa Littoral 2002 Porto 4 p (disponiacutevel em

httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI02_Lit_91_PBpdf)

Bettencourt P (1985) - Geomorphologie et processusdlsquoeacutevolution reacutecente de la cocircte sotavento (Algarve ndash SudPortugal) Thegravese DEA 92p Universiteacute deBordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Bettencourt P (1994) - Les environnements sedimentairesde la cocircte sotavento (Algarve SudPortugal) et leur eacutevolutionHoloceacutene et actuelle PhD Thesis University ofBordeaux I Franccedila (unfinished)

Bray Jr T amp Carter C (1992) - Physical processesand sedimentary record of a moderntransgressive lacustrine barrier island MarineGeology 105(1-4)155-168 (doi 1010160025-3227(92)90187-M)

Correia F Dias JA Boski T amp Ferreira Oacute (1996)- The retreat of the Eastern Quarteira cliffed coast(Portugal) and its possible causes In Jones PSHealy MG amp Williams AT (eds) Studies inCoastal Management p129-136 Samara PublLtd Cardigan UK (disponiacutevel emht tp w3 u a l g p t j d i a s JA D pape r s CLinternac96_Studies_129_FCpdf)

Correia F Ferreira Oacute amp Dias JA (1997) - Contributodas arribas para o balanccedilo sedimentar do sectorcosteiro Quarteira - Vale do Lobo (Algarve -Portugal) Seminaacuterio sobre a zona costeira doAlgarve 31-39 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_031_FCpdf)

Costa CL (1994) - Final report of sub-project A ldquoWindwave climatology of the Portuguese coastrdquo InstitutoHidrograacutefico Report PO-WAVES 694-A 80 pLisboa Portugal (natildeo publicado)

Dias JA (1988) - Aspectos geoloacutegicos do litoralalgarvio Geonovas 10 113-128 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN88_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (1990) - A Evoluccedilatildeo Actual do LitoralPortuguecircs Geonovas 11 15-29 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN90_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (2002) - Manual de Sobrevivecircncia eVilanagem Diaacuterio de Notiacutecias - SuplementoldquoAmbiente e Desenvolvimento Sustentaacutevelrdquo 30de Julho de 2002 Lisboa Portugal (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersxCS02_DNADpdf)

75

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Dias JA Ferreira Oacute Matias A Vila-Concejo Aamp Saacute-Pires C (2003) - Evaluation of softprotection techniques in barrier islands bymonitoring programs case studies from RiaFormosa (Algarve-Portugal) Journal of CoastalResearch SI35117-131

Dias JA Ferreira Oacute amp Moura D (2004) - O sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa 3ordm SIPRES ndashSimpoacutesio Interdisciplinar sobre Processos Estuarinos 18p Faro Portugal

Dias JA amp Neal WJ (1992) - Sea cliff retreat insouthern Portugal profiles processes andproblems Journal of Coastal Research 8641-654

Dias JA amp Taborda R (1992) - Tidal gauge data indeducing secular trends of relative sea level andcrustal movements in Portugal Journal of CoastalResearch 8655-659

Dias JA Teixeira SB amp Ferreira Oacute (1997) - LivroGuia da Excursatildeo Seminaacuterio sobre a Zona Costeirado Algarve 43 p Faro Portugal

Douglas BC (1995) - Global sea level changedetermination and interpretation US NationalReport to IUGG 1991-1994 Geophys 33 Suppl11 p (disponiacutevel em httpwwwaguorgrevgeophysdougla01dougla01html)

Duarte C Matias A Dias JA amp Ferreira Oacute (1999)- Vulnerabilidade dos corpos dunares do Algarve10ordm Congresso do Algarve 477-490 (disponiacutevelem httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN99_10CA_477_CDpdf)

Esaguy AS (1984) - Ria de Faro Barra da ArmonaEvoluccedilatildeo 1873-1983 5 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1986a) - Ria de Faro Barra de Faro-OlhatildeoEvoluccedilatildeo 1955ndash1985 10p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986b) - Ria de Faro Ilha de TaviraEvoluccedilatildeo 1950ndash1985 8 p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986c) - Ria de Faro Ilha do AncatildeoEvoluccedilatildeo 1950-1985 7 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1987) - Ria de Faro Barra de TaviraEvoluccedilatildeo 13 p Direcccedilatildeo Geral de Portos LisboaPortugal

Ferreira Oacute Dias JA amp Taborda R (2008) -Implications of sea-level rise for Portugal Journal

of Coastal Research 24(2)317-324 (doi 10211207A-00061)

Ferreira Oacute Garcia T Matias A Taborda Ramp DiasJA (2006) - An integrated method for thedetermination of set-back lines for coastal erosionhazards on sandy shores Continental ShelfResearch 261030ndash1044 (doi 101016jcsr200512016)

Ferreira Oacute Martins JC amp Dias JA (1997) -Morfodinacircmica e vulnerabilidade da Praia de FaroSeminaacuterio sobre a zona costeira do Algarve 67-76 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_067_OFpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias Aamp Dias JA (2002)- Recent evolution of Culatra Island (Algarve ndashPortugal) Littoral 2002 The Changing Coast 289-294 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers02_LitTGpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2005)ndash Coastal Hazards Representation for Praia doBarril (Algarve Portugal) Continental ShelfResearch SI4928-33

Granja H (1984) - Eacutetude geacuteomor phologiquesedimentoloacutegique et geacuteoquimique de la Ria Formosa(Algarve-Portugal) These 3eme Cycle 254 pUniversiteacute de Bordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Greene K (2002) - Beach nourishment a review ofthe biological and physical impacts 174 p AtlanticStates Marine Fisheries Commission WashingtonDC (disponiacutevel em httpwwwasmfcorgpublicationshabitatbeachNourishmentpdf)

Griggs GB (1999) - The protection of Californialsquoscoast past present and future Shore amp Beach67(1)18-28

Hoyt JH (1967) - Barrier Island FormationGeological Society of America Bulletin 781125-1136 (doi 1011300016-7606(1967)78[1125BIF]20CO2)

Inman D (1978) - The impact of coastal structureson shorelines Proceedings of Coastal Zoneacute78 ASCE2265-2272

Koster MJ amp Hillen R (1995) - Combat erosion bylaw Coastal defence policy for the NetherlandsJournal of Coastal Research 67(2-3)43-49

Leatherman S (1976) - Barrier islands dynamicsoverwash processes and aeolian transportProceedings of Coastal Engineering Conference ASCE1958-1973

76

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Mangor K (1998) - Coastal restorationconsiderations Proceedings of Coastal Engineeringrsquo98Conference ASCE 3425-3438

Marcelo MJ amp Fonseca LC (1998) - Ria Formosada gestatildeo e conservaccedilatildeo de uma aacuterea protegidaRevista de Biologia 2ordm ENEC 16(1-4)125-133

Martins JT Ferreira Oacute Ciavola Pamp Dias JA (1996)- Monitoring of profile changes at Praia de FaroAlgarve a tool to predict and solve problems InTaussik J amp Mitchell J (eds) Partnership in CoastalZone Management pp 615-622 Samara Publ LtdCardigan UK

Matias A (2000) - Estudo morfosedimentar da Peniacutensulade Cacela Dissertaccedilatildeo de Mestrado 244pUniversidade do Algarve Faro Portugal (natildeopublicado)

Matias A Dias JA Williams AT amp Ferreira Oacute(1997) - Vulnerabilidade das dunas da RiaFormosa 9ordm Congresso do Algarve 231-239Vilamoura Portugal

Matias A Ferreira Oacute amp Dias JA (1999) -Preliminary results on the Cacela Peninsula dunereplenishment Boletiacuten del Instituto Espantildeol deOceanografiacutea 15(1-4)283-288 (disponiacutevel emhttpwwwieoespublicacionesboletinpdfsbol1515_283-288PDF)

Matias A Ferreira Oacute Dias JA amp Vila-Concejo A(2004) - Development of indices for the evaluationof dune recovery techniques Coastal Engineering51261-276 (doi 101016jcoastaleng200402002)

Matias A Ferreira Oacute Mendes I amp Dias JA (1998)- Monitorizaccedilatildeo da alimentaccedilatildeo artificial daPeniacutensula de Cacela Seminaacuterio sobre DragagensDragados e Ambientes Costeiros 47-56

Matias A Ferreira Oacute Mendes I Dias JA amp Vila-Cconcejo A (2005) - Artificial construction ofdunes in the South of Portugal Journal of CoastalResearch 21(3)472-481 (doi 10211203-00471)

Matias A Vila-Concejo A Ferreira Oacute amp Dias JA(2003) - Field measurements of morphologicvariations during an overwash event 4ordm Simpoacutesiosobre a Margem Ibeacuterica Atlacircntica Thalassas19(2b)164-165 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI03_4SM_b164_AMpdf)

NRC - National Research Council (1995) - Beach

Nourishment and Protection 334 p Washington DCNational Academy Press (ISBN 9780309052900)

Pacheco A Carrasco AR Vila-Concejo A FerreiraOacute amp Dias JA (2007) - A coastal managementprogram for channels located in backbarriersystems Ocean amp Coastal Management 50119-143 (doi101016jocecoaman200608008)

Pilkey OH amp Dixon K (1996) - The Corps and theShore 286p Island Press Washington DC USA(ISBN 9781559634380)

Pilkey OH Neal WJ Monteiro JH amp Dias JA(1989) - Algarve Barrier Islands A Noncoastal-Plain System in Portugal Journal of Coastal Research5(2)239-261

Ramos L amp Dias J A (2000) - Atenuaccedilatildeo davulnerabilidade a galgamentos oceacircnicos nosistema da Ria Formosa mediante intervenccedilotildeessuaves 3ordm Simpoacutesio sobre a Margem ContinentalIbeacuterica Atlacircntica Faro 361-362 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers00_SMLRpdf)

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2001)- Avaliaccedilatildeo de realimentaccedilotildees artificiais de praiasda Ria Formosa Casos das ilhas de Cacela e deTavira Congresso do Algarve 2001 8 p

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2002)- Preliminary Evaluation of the MorphologicalEvolution of Contrasting Beaches of the RiaFormosa With Relation to Differences inRefracted Wave Height Littoral 2002 TheChanging Coast 423-429 (disponiacutevel emht tp www2 00 8 i o -war nemu ende dehomepagesschernewskiLittoral2000docsvol3Littoral2002_79pdf)

Scheele RJ amp Westen CJ (1996) - Planning for acoastal policy - the 3A4 approach In Taussik Jamp Mitchell J (eds) Partnership in Coastal ZoneManagement pp 65-71 Samara Publ LtdCardigan UK

Sprung M (1994) - Macrobenthic secondaryproduction in the intertidal zone of Ria Formosaa lagoon in southern Portugal Estuarine Coastaland Shelf Science 38539ndash558 (doi 101006ecss19941037)

Van Den Belt M Videira N Antunes P Santos Ramp Gamito S (2000) - Modelaccedilatildeo Participada na RiaFormosa 36 p Ediccedilatildeo Fundaccedilatildeo do Mar LisboaPortugal

77

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Vila A Dias JMA Ferreira Oacute amp Matias A (1999)- Natural evolution of an artificial inlet CoastalSedimentslsquo99 21478-1488 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI99_CS99_1478_AVpdf)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Ciavola P Matias Aamp Dias JA (2004a) - Tracer studies on the updriftmargin of a complex inlet system Marine Geology20843-72 (doi 101016jmargeo200404020)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA(2003) - The first two years of an inlet sedimentarydynamics Continental Shelf Research 231425-1445 (doi 101016S0278-4343(03)00142-0)

Vila-Concejo A Matias A Ferreira Oacute Duarte Camp Dias JA (2002) - Recent evolution of thenatural inlets of a barrier island system in southernPortugal Journal of Coastal Research (ICS 2002proceedings) SI36741-752

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Morris BD MatiasA amp Dias JA (2004b) ndash Lessons from inletrelocation examples from Southern PortugalCoastal Engineering 51(10)967-990(doi101016jcoastaleng200407019)

Vila-Concejo A Matias A Pacheco A FerreiraOacute amp Dias JA (2006) - Quantification of inlet-related hazards in barrier island systems Anexample from the Ria Formosa (Portugal)Continental Shelf Research 261045-1060(doi 101016jcsr200512014)

Weinholtz MB (1978) - Contribuiccedilatildeo para o estudo daevoluccedilatildeo das flechas de areia na costa sotavento do Algarve(Ria de Faro) Relatoacuterio da Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Wells JT amp McNinch J (1991) - Beach scraping inNorth Carolina with special reference to itseffectiveness during Hurricane Hugo Journal ofCoastal Research SI8249-261

Williams SJ (2001) - Coastal erosion and land lossaround the United States strategies to manage andprotect coastal resources ndash examples fromLouisiana Coastal Ecosystems and FederalActivities Technical Training SymposiumProceedings 15 p (disponiacutevel emhttpwwwfwsgovnc-esecoconfwilliamspaperpdf)

Page 15: Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na

71

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

da aacuterea) Em cada ciclo de mareacute 50 a 75 da aacutegua eacuterenovada (Sprung 1994) Devido agrave diferenccedila deamplitude entre mareacutes-vivas e mareacutes-mortas as zonasde menor elevaccedilatildeo das ilhas-barreira satildeo regularmenteinundadas durante as primeiras causando transportesignificativo de sedimentos Estes fluxos satildeoresponsaacuteveis pela formaccedilatildeo de canais de mareacute eaumento da erosatildeo das ilhas-barreira

Como jaacute foi referido os periacuteodos de mareacutes-vivassatildeo bastante problemaacuteticos especialmente noInverno na medida em que potenciam o efeito detempestades que ocorrem durante mareacutes-cheiasTodos os anos nos pontos criacuteticos do sistema comoa Praia de Faro a probabilidade de ocorrer umasituaccedilatildeo muito grave aumenta principalmente se seconsiderar a elevaccedilatildeo do NMM

42 Intervenccedilatildeo

Como eacute reconhecido por Scheele amp Westen (1996)os planos de gestatildeo costeira devem apontar para aprotecccedilatildeo ambiental de longo prazo o que implica(1) uma estrateacutegia com objectivos claros e concisos(2) uma metodologia praacutetica e realista (3)monitorizaccedilatildeo contiacutenua (4) forte aposta nosprogramas de educaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo ambiental e(5) envolvimento da comunidade local no processode planeamento e tomada de decisotildees

Sendo a Ria Formosa um sistema muito dinacircmicocom elevada vulnerabilidade e que reage rapidamentea elevaccedilotildees do niacutevel do mar os muacuteltiplos interesseseconoacutemicos e sociais aiacute existentes fazem com que aaacuterea seja caracterizada por elevado grau de conflitosde interesses A situaccedilatildeo torna-se ainda mais complexaquando se considera que o sistema corresponde a umParque Natural onde haacute que compatibilizar interesseseconoacutemicos com a conservaccedilatildeo da Natureza Nestecontexto soacute eacute possiacutevel proceder agrave conservaccedilatildeo daNatureza atraveacutes de intervenccedilotildees tendentes a minoraros impactes negativos induzidos pelas actividadesantroacutepicas (Ramos amp Dias 2000)

De acordo com as actividades desenvolvidas osprincipais grupos de interesse na Ria Formosa satildeo(1) o PNRFICNB (2) a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeoe Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR-Algarve) (3) as entidades promotoras do turismo (4)as associaccedilotildees comerciais e industriais (incluindo oporto) (5) os pescadores e autoridades responsaacuteveis

por este sector (6) as entidades regionais e locais (7)as associaccedilotildees de defesa do ambiente e osambientalistas e (8) a populaccedilatildeo local incluindoresidentes e natildeo residentes Como sugere Antunes etal (2006) o entendimento entre os diferentes gruposconduz a uma sinergia que beneficia as potencialidadesque contribuem para uma gestatildeo eficaz

Os principais problemas das ilhas-barreira estatildeolocalizados nos nuacutecleos urbanos devido agraves estruturasedificadas Dos principais nuacutecleos existentes apenasos de Hangares e Culatra natildeo tecircm problemas erosatildeocosteira pois que se localizam junto agrave parte lagunar(e consequentemente afastados da praia oceacircnica eportanto resguardados dos temporais) Os restantespoacutelos de ocupaccedilatildeo (Praia de Faro Farol etc) satildeoproblemaacuteticos sendo os riscos de inundaccedilatildeo e erosatildeobastante elevados Para resolver estes problemasexistem fundamentalmente trecircs estrateacutegias deintervenccedilatildeo (1) intervenccedilatildeo riacutegida (ex esporotildeesparedotildees) (2) retirada estrateacutegica programas natildeoestruturais (ex demoliccedilatildeo de infra-estruturas) e (3)intervenccedilatildeo suave (ex realimentaccedilatildeo de praias) (Pilkeyamp Dixon 1996) Qualquer uma destas estrateacutegias temproacutes e contras sendo praticamente impossiacutevel quequalquer uma delas satisfaccedila todos os grupos deinteresse afectados

Intervenccedilatildeo riacutegidaAteacute haacute poucas deacutecadas em todo o mundo a

construccedilatildeo de estruturas riacutegidas e permanentesconstituiu o meacutetodo mais utilizado de protecccedilatildeo dopatrimoacutenio edificado no litoral Embora estasestruturas se revelem eficazes na defesa de imobiliaacuterioem risco de ser danificado pela erosatildeo costeiraprovocam fortes impactes negativos a sotamar dolocal onde satildeo construiacutedas (Inman 1978 Mangor1998 Greene 2002) pelo que internacionalmente severifica tendecircncia para adoptar outros tipos deprotecccedilatildeo ambientalmente menos agressivos

A construccedilatildeo dos molhes da marina de Vilamourae do campo de esporotildees de Quarteira provocou forteaumento da erosatildeo a oriente e consequentementegraves problemas de gestatildeo Por outro lado a aberturae fixaccedilatildeo das barras de Faro-Olhatildeo e de Tavira parapropiciar melhor funcionamento das estruturasportuaacuterias existentes no meio lagunar econsequentemente beneficiar as actividades socio-econoacutemicas da regiatildeo provocaram grandes alteraccedilotildees

72

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

no sistema fazendo com que o seu funcionamentonatural tivesse entrado em ruptura e que a erosatildeocosteira tivesse sido fortemente amplificada a sotamarComo se veraacute na parte dedicada agraves intervenccedilotildeessuaves a utilizaccedilatildeo de teacutecnicas de transposiccedilatildeo dosmolhes (ldquoby-passingrdquo) permitiria reduzirsubstancialmente alguns destes impactes negativos

A construccedilatildeo de mais estruturas riacutegidas na RiaFormosa (ou a barlamar desta) traduzir-se-ia numaforte amplificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico em queo sistema jaacute se encontra tendendo a meacutedio ndash longoprazo para a completa artificializaccedilatildeo da Ria Formosaconsignada por legislaccedilatildeo nacional como ParqueNatural e reconhecida internacionalmente comoimportante aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental

Retirada estrateacutegica Programas natildeo estruturaisOs programas natildeo estruturais satildeo intervenccedilotildees em

que se procede agrave demoliccedilatildeo de infra-estruturasameaccediladas pela erosatildeo costeira ou transferecircncia dasmesmas para locais mais seguros o que eacute tambeacutemconhecido como ldquoretirada estrateacutegicardquo Viabiliza-seassim a evoluccedilatildeo natural dos sistemas Com amigraccedilatildeo das ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continentecomo resposta agrave elevaccedilatildeo do NMM este tipo deintervenccedilatildeo comeccedilou por ser aplicado em algunslocais da costa Leste dos EUA em 1972 (NRC 1995)A deslocalizaccedilatildeo de infra-estruturas pode ser eficazem locais pouco povoados ou quando existe interessena salvaguarda de patrimoacutenio como aconteceu como farol do Cabo Hatteras nos EUA No entantotorna-se impraticaacutevel em grandes nuacutecleos urbanosdevido aos elevados custos e dificuldades logiacutesticas

Na Ria Formosa este tipo de intervenccedilatildeo temencontrado grandes dificuldades de execuccedilatildeodesignadamente no que se refere agrave demoliccedilatildeo de casasconstruiacutedas ilegalmente em Domiacutenio Hiacutedrico Domiacutenio Puacuteblico Mariacutetimo o que aleacutem de tender aperpetuar situaccedilotildees de muito alto risco potildee em causaa imagem do Paiacutes como Estado de direito (Dias 2002)

Intervenccedilatildeo SuaveA intervenccedilatildeo suave tambeacutem designada por

protecccedilatildeo dinacircmica desde haacute algumas deacutecadas que eacuteutilizada preferencialmente como alternativa agravesteacutecnicas de intervenccedilatildeo riacutegida Apresentam menoresimpactes ambientais sendo uma soluccedilatildeo maisapropriada para aacutereas sensiacuteveis como as ilhas-barreira

As teacutecnicas de protecccedilatildeo suave tais como arealimentaccedilatildeo de praias a reconstruccedilatildeo dunar atransposiccedilatildeo de molhes (by-passing) a abertura debarras (para as deixar evoluir naturalmente) e asldquodragagens ecoloacutegicasrdquo correspondem em geral auma intervenccedilatildeo inicial deixando depois a Naturezaldquotrabalharrdquo Por essa razatildeo estas teacutecnicas satildeo tambeacutemfrequentemente designadas por ldquobuilding with NaturerdquoSatildeo com frequecircncia menos dispendiosas e maiseficientes a longo prazo do que as intervenccedilotildees riacutegidas(Koster amp Hillen 1995 Griggs 1999 Dias et al 2003)

Poreacutem estas teacutecnicas tecircm que ser executadas comforte suporte cientiacutefico e devem envolver o conceitode protecccedilatildeo de trechos costeiros na sua globalidadee natildeo apenas a protecccedilatildeo local de patrimoacutenio edificadoem zonas de risco Se forem concretizadas de formadeficiente podem mesmo revelar-secontraproducentes Eacute o que se passa por exemploquando a realimentaccedilatildeo de praias eacute efectuada comareias extraiacutedas da praia submersa (acima daprofundidade de fecho) nestes casos nenhumsedimento eacute adicionado ao sistema (Wells amp McNinch1991) havendo apenas transferecircncias dentro dosistema com consequecircncias negativas para o seufuncionamento natural tanto ao niacutevel morfodinacircmicocomo bioloacutegico

Desde 1996 que o PNRFICN tem realizadointervenccedilotildees de caraacutecter suave na tentativa demelhorar o funcionamento do sistema e diminuir avulnerabilidade ao galgamento e ao mesmo tempomanter a dinacircmica dos processos naturais (Dias et al2004) Entre as intervenccedilotildees efectuadas procedeu-seao robustecimento da Peniacutensula de Cacela agrave aberturadas Barras do Ancatildeo e da Fuzeta (deixando-as deseguida evoluir naturalmente) agrave dragagem de muitoscanais que natildeo satildeo de navegaccedilatildeo para melhorar acirculaccedilatildeo no sistema agrave repulsatildeo de sedimentos parao cordatildeo arenoso agrave colocaccedilatildeo de paliccediladas parareconstruccedilatildeo dunar agrave plantaccedilatildeo de Ammophila arenariae agrave construccedilatildeo de passadiccedilos sobrelevados

Segundo Dias et al (2003) as intervenccedilotildees suavesrealizadas na Ria Formosa propiciaram melhorprotecccedilatildeo das ilhas-barreira tendo-se em geralatingido os objectivos esperados Os mesmos autoresreferem que os sistemas naturais de elevadaimportacircncia soacutecio-econoacutemica e ambiental (como aRia Formosa) podem ser geridos utilizando este tipo

73

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

de teacutecnicas lucrando com o aproveitamento dosrecursos existentes

A transposiccedilatildeo (by-passing) dos molhes das barrasartificiais meacutetodo utilizado desde haacute muito um poucopor todo o mundo permitiria que as areias retidaspelos molhes a barlamar fosse transferido parasotamar aiacute reconstituindo a deriva litoral econsequentemente minimizando alguns dos impactesnegativos induzidos por estas estruturas Vaacuteriosestudos que demonstram que esta tecnologia natildeoaparenta ter efeitos ambientais negativos associados(eg Lindeman 1997 in Greene 2002)

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Com vista a avaliar a vulnerabilidade das ilhas-barreira da Ria Formosa o presente trabalho incidiuna actualizaccedilatildeo desta problemaacutetica na oacuteptica da gestatildeouma vez que se trata de um sistema em permanentetransformaccedilatildeo Nesta anaacutelise eacute imprescindiacutevel tersempre em consideraccedilatildeo que o sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa estaacute consignado legalmentecomo aacuterea de protecccedilatildeo ambiental desde 1978 anoem que lhe foi atribuiacutedo o estatuto de Reserva Naturaltendo ficado protegido pelo estatuto de ParqueNatural em 1987 (Decreto-lei 37387) e Rede Natura2000 tendo ainda sido integrado desde 1980 na Listade Siacutetios da Convenccedilatildeo de Ramsar (zonas huacutemidasde importacircncia internacional)

Da anaacutelise efectuada conclui-se que eacuteimprescindiacutevel compatibilizar os diversificados valoresnaturais (bioloacutegicos geomorfoloacutegicos fiacutesico-quiacutemicos geoloacutegicos etc) intriacutensecos ao sistema comos muacuteltiplos interesses soacutecio-econoacutemicos decorrentesda sua exploraccedilatildeo (pesca maricultura aquaculturaturismo portos comerciais e de pesca navegaccedilatildeo derecreio etc) Estando influenciado por fortesimpactes antroacutepicos directos e indirectos tais comoentre muitos outros a erosatildeo costeira e a intensificaccedilatildeodo assoreamento lagunar a sobrevivecircncia do sistemaldquonaturalrdquo e a sustentabilidade da sua exploraccedilatildeocarecem de intervenccedilotildees correctivas frequentes porforma a minimizar os impactes negativos aludidosTais intervenccedilotildees teratildeo que ser cautelosas e contiacutenuastentando o mais possiacutevel aproximar-se do que seriaa dinacircmica natural do sistema

Eacute ainda urgente resolver vaacuterios conflitos deinteresses existentes privilegiando as actividades

indutoras de menores impactes negativos e quesimultaneamente viabilizem uma melhor exploraccedilatildeosustentaacutevel do sistema Aponta-se a tiacutetuloexemplificativo o caso do turismo haacute quedesincentivar o turismo de massas directo nesta aacuterea(ateacute porque nas proximidades haacute poacutelos turiacutesticos destegeacutenero bem consolidados) desenvolvendo emalternativa outros tipos de turismo complementardesignadamente o turismo de Natureza a observaccedilatildeode aves (bird watching) e de peixes (fish watching) emambiente natural os passeios no meio lagunar emembarcaccedilotildees natildeo poluentes o turismo gastronoacutemicoetc

A maior parte da zona de barreira do sistema natildeoestaacute ainda ocupado por estruturas imobiliaacuterias Comvista agrave exploraccedilatildeo sustentaacutevel do sistema eacuteimprescindiacutevel que estas zonas continuem semocupaccedilatildeo permanente mantendo algumascaracteriacutesticas pristinas ainda aiacute existentes Nos poucosnuacutecleos urbanos piscatoacuterios existentes cujo casoparadigmaacutetico eacute a povoaccedilatildeo da Culatra onde natildeoexistem problemas realmente graves pois que selocalizam na margem lagunar (relativamente afastadado litoral oceacircnico) devem-se adoptar algumasmedidas correctivas pontuais por forma a preservara sua identidade cultural a melhorar a qualidade devida da populaccedilatildeo e a impedir um crescimentoexagerado Nos restantes nuacutecleos urbanos comcaracteriacutesticas ldquoturiacutesticasrdquo vaacuterios dos quais localizadosnas zonas de maior risco do sistema seria altamentedesejaacutevel que se procedesse agrave completa reformulaccedilatildeoda ocupaccedilatildeo ou sempre que possiacutevel se optasse peladesocupaccedilatildeo

No sentido de tentar resolver os problemas deerosatildeo costeira existentes (que se agravaratildeo no futuro)recomenda-se vivamente que a) natildeo se construamobras de protecccedilatildeo riacutegida (esporotildees paredotildees etc)na Ria Formosa nem na zona a barlamar desta daqual o sistema depende b) se continuem a executaracccedilotildees de robustecimento do cordatildeo dunar e decolmataccedilatildeo dos cortes de galgamento utilizando tantoquanto possiacutevel sedimentos provenientes dadragagem dos canais de navegaccedilatildeo c) se implementea transposiccedilatildeo dos molhes portuaacuterios com relevacircnciaespecial para os molhes da Barra de Faro-Olhatildeo d)efectivamente se proceda agrave demoliccedilatildeo das edificaccedilotildeessituadas em zonas de maior risco e sobre a duna

74

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

primaacuteria concretizando finalmente decisotildeesgovernamentais que tecircm vindo a ser repetidamentetomadas haacute quase trecircs deacutecadas mas nunca executadascabalmente e) sejam amplificadas as acccedilotildees deintervenccedilatildeo e protecccedilatildeo dinacircmica na linha do que severificou desde finais do seacuteculo passado (abertura debarras quando necessaacuterio para as deixar evoluirnaturalmente dragagens ldquoecoloacutegicasrdquo etc) e quetransformaram a Ria Formosa num siacutetio de referecircnciainternacional nesta mateacuteria e que nos uacuteltimos anosapenas tecircm sido executadas de forma extremamentemoderada

Finalmente eacute altamente recomendaacutevel que emtodos os actos de gestatildeo envolvendo quer ascomponentes geomorfoloacutegicas quer as ecoloacutegicasquer as soacutecio-econoacutemicas se tenham sempre emconsideraccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas principalmenteno que se refere agrave elevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar

BIBLIOGRAFIA

Andrade CF (1990a) - O Ambiente de barreira da RiaFormosa Algarve ndash Portugal Dissertaccedilatildeo deDoutoramento 645p Universidade de LisboaPortugal (natildeo publicado)

Andrade CF (1990b) - Estudo da susceptibilidadeao galgamento da Ria Formosa Geolis IV(1-2)69-76 Lisboa Portugal

Andrade CF Barata A amp Teles M (1998) - Ananalysis of the vulnerability to overwash of theRia Formosa barrier island system (Portugal)Using a simple multi-attribute technique (SMART)approach Proceedings of Littoralrsquo98 Conferencepp511-519 Barcelona Espanha

Andrade CF Freitas MC Moreno J amp CraveiroSC (2004) - Stratigraphical evidence of LateHolocene barrier breaching and extreme stormsin lagoonal sediments of Ria Formosa AlgarvePortugal Marine Geology 210339ndash362(doi101016jmargeo200405016)

Antunes P Santos R amp Videira N (2006) -Participatory decision making for sustainabledevelopment - the use of mediated modellingtechniques Land Use Policy 2344ndash52(doi101016jlandusepol200408014)

Bernardo P Bastos R amp Dias JA (2002) - Historicroots for barrier island occupation in the RiaFormosa Littoral 2002 Porto 4 p (disponiacutevel em

httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI02_Lit_91_PBpdf)

Bettencourt P (1985) - Geomorphologie et processusdlsquoeacutevolution reacutecente de la cocircte sotavento (Algarve ndash SudPortugal) Thegravese DEA 92p Universiteacute deBordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Bettencourt P (1994) - Les environnements sedimentairesde la cocircte sotavento (Algarve SudPortugal) et leur eacutevolutionHoloceacutene et actuelle PhD Thesis University ofBordeaux I Franccedila (unfinished)

Bray Jr T amp Carter C (1992) - Physical processesand sedimentary record of a moderntransgressive lacustrine barrier island MarineGeology 105(1-4)155-168 (doi 1010160025-3227(92)90187-M)

Correia F Dias JA Boski T amp Ferreira Oacute (1996)- The retreat of the Eastern Quarteira cliffed coast(Portugal) and its possible causes In Jones PSHealy MG amp Williams AT (eds) Studies inCoastal Management p129-136 Samara PublLtd Cardigan UK (disponiacutevel emht tp w3 u a l g p t j d i a s JA D pape r s CLinternac96_Studies_129_FCpdf)

Correia F Ferreira Oacute amp Dias JA (1997) - Contributodas arribas para o balanccedilo sedimentar do sectorcosteiro Quarteira - Vale do Lobo (Algarve -Portugal) Seminaacuterio sobre a zona costeira doAlgarve 31-39 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_031_FCpdf)

Costa CL (1994) - Final report of sub-project A ldquoWindwave climatology of the Portuguese coastrdquo InstitutoHidrograacutefico Report PO-WAVES 694-A 80 pLisboa Portugal (natildeo publicado)

Dias JA (1988) - Aspectos geoloacutegicos do litoralalgarvio Geonovas 10 113-128 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN88_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (1990) - A Evoluccedilatildeo Actual do LitoralPortuguecircs Geonovas 11 15-29 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN90_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (2002) - Manual de Sobrevivecircncia eVilanagem Diaacuterio de Notiacutecias - SuplementoldquoAmbiente e Desenvolvimento Sustentaacutevelrdquo 30de Julho de 2002 Lisboa Portugal (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersxCS02_DNADpdf)

75

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Dias JA Ferreira Oacute Matias A Vila-Concejo Aamp Saacute-Pires C (2003) - Evaluation of softprotection techniques in barrier islands bymonitoring programs case studies from RiaFormosa (Algarve-Portugal) Journal of CoastalResearch SI35117-131

Dias JA Ferreira Oacute amp Moura D (2004) - O sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa 3ordm SIPRES ndashSimpoacutesio Interdisciplinar sobre Processos Estuarinos 18p Faro Portugal

Dias JA amp Neal WJ (1992) - Sea cliff retreat insouthern Portugal profiles processes andproblems Journal of Coastal Research 8641-654

Dias JA amp Taborda R (1992) - Tidal gauge data indeducing secular trends of relative sea level andcrustal movements in Portugal Journal of CoastalResearch 8655-659

Dias JA Teixeira SB amp Ferreira Oacute (1997) - LivroGuia da Excursatildeo Seminaacuterio sobre a Zona Costeirado Algarve 43 p Faro Portugal

Douglas BC (1995) - Global sea level changedetermination and interpretation US NationalReport to IUGG 1991-1994 Geophys 33 Suppl11 p (disponiacutevel em httpwwwaguorgrevgeophysdougla01dougla01html)

Duarte C Matias A Dias JA amp Ferreira Oacute (1999)- Vulnerabilidade dos corpos dunares do Algarve10ordm Congresso do Algarve 477-490 (disponiacutevelem httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN99_10CA_477_CDpdf)

Esaguy AS (1984) - Ria de Faro Barra da ArmonaEvoluccedilatildeo 1873-1983 5 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1986a) - Ria de Faro Barra de Faro-OlhatildeoEvoluccedilatildeo 1955ndash1985 10p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986b) - Ria de Faro Ilha de TaviraEvoluccedilatildeo 1950ndash1985 8 p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986c) - Ria de Faro Ilha do AncatildeoEvoluccedilatildeo 1950-1985 7 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1987) - Ria de Faro Barra de TaviraEvoluccedilatildeo 13 p Direcccedilatildeo Geral de Portos LisboaPortugal

Ferreira Oacute Dias JA amp Taborda R (2008) -Implications of sea-level rise for Portugal Journal

of Coastal Research 24(2)317-324 (doi 10211207A-00061)

Ferreira Oacute Garcia T Matias A Taborda Ramp DiasJA (2006) - An integrated method for thedetermination of set-back lines for coastal erosionhazards on sandy shores Continental ShelfResearch 261030ndash1044 (doi 101016jcsr200512016)

Ferreira Oacute Martins JC amp Dias JA (1997) -Morfodinacircmica e vulnerabilidade da Praia de FaroSeminaacuterio sobre a zona costeira do Algarve 67-76 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_067_OFpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias Aamp Dias JA (2002)- Recent evolution of Culatra Island (Algarve ndashPortugal) Littoral 2002 The Changing Coast 289-294 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers02_LitTGpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2005)ndash Coastal Hazards Representation for Praia doBarril (Algarve Portugal) Continental ShelfResearch SI4928-33

Granja H (1984) - Eacutetude geacuteomor phologiquesedimentoloacutegique et geacuteoquimique de la Ria Formosa(Algarve-Portugal) These 3eme Cycle 254 pUniversiteacute de Bordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Greene K (2002) - Beach nourishment a review ofthe biological and physical impacts 174 p AtlanticStates Marine Fisheries Commission WashingtonDC (disponiacutevel em httpwwwasmfcorgpublicationshabitatbeachNourishmentpdf)

Griggs GB (1999) - The protection of Californialsquoscoast past present and future Shore amp Beach67(1)18-28

Hoyt JH (1967) - Barrier Island FormationGeological Society of America Bulletin 781125-1136 (doi 1011300016-7606(1967)78[1125BIF]20CO2)

Inman D (1978) - The impact of coastal structureson shorelines Proceedings of Coastal Zoneacute78 ASCE2265-2272

Koster MJ amp Hillen R (1995) - Combat erosion bylaw Coastal defence policy for the NetherlandsJournal of Coastal Research 67(2-3)43-49

Leatherman S (1976) - Barrier islands dynamicsoverwash processes and aeolian transportProceedings of Coastal Engineering Conference ASCE1958-1973

76

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Mangor K (1998) - Coastal restorationconsiderations Proceedings of Coastal Engineeringrsquo98Conference ASCE 3425-3438

Marcelo MJ amp Fonseca LC (1998) - Ria Formosada gestatildeo e conservaccedilatildeo de uma aacuterea protegidaRevista de Biologia 2ordm ENEC 16(1-4)125-133

Martins JT Ferreira Oacute Ciavola Pamp Dias JA (1996)- Monitoring of profile changes at Praia de FaroAlgarve a tool to predict and solve problems InTaussik J amp Mitchell J (eds) Partnership in CoastalZone Management pp 615-622 Samara Publ LtdCardigan UK

Matias A (2000) - Estudo morfosedimentar da Peniacutensulade Cacela Dissertaccedilatildeo de Mestrado 244pUniversidade do Algarve Faro Portugal (natildeopublicado)

Matias A Dias JA Williams AT amp Ferreira Oacute(1997) - Vulnerabilidade das dunas da RiaFormosa 9ordm Congresso do Algarve 231-239Vilamoura Portugal

Matias A Ferreira Oacute amp Dias JA (1999) -Preliminary results on the Cacela Peninsula dunereplenishment Boletiacuten del Instituto Espantildeol deOceanografiacutea 15(1-4)283-288 (disponiacutevel emhttpwwwieoespublicacionesboletinpdfsbol1515_283-288PDF)

Matias A Ferreira Oacute Dias JA amp Vila-Concejo A(2004) - Development of indices for the evaluationof dune recovery techniques Coastal Engineering51261-276 (doi 101016jcoastaleng200402002)

Matias A Ferreira Oacute Mendes I amp Dias JA (1998)- Monitorizaccedilatildeo da alimentaccedilatildeo artificial daPeniacutensula de Cacela Seminaacuterio sobre DragagensDragados e Ambientes Costeiros 47-56

Matias A Ferreira Oacute Mendes I Dias JA amp Vila-Cconcejo A (2005) - Artificial construction ofdunes in the South of Portugal Journal of CoastalResearch 21(3)472-481 (doi 10211203-00471)

Matias A Vila-Concejo A Ferreira Oacute amp Dias JA(2003) - Field measurements of morphologicvariations during an overwash event 4ordm Simpoacutesiosobre a Margem Ibeacuterica Atlacircntica Thalassas19(2b)164-165 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI03_4SM_b164_AMpdf)

NRC - National Research Council (1995) - Beach

Nourishment and Protection 334 p Washington DCNational Academy Press (ISBN 9780309052900)

Pacheco A Carrasco AR Vila-Concejo A FerreiraOacute amp Dias JA (2007) - A coastal managementprogram for channels located in backbarriersystems Ocean amp Coastal Management 50119-143 (doi101016jocecoaman200608008)

Pilkey OH amp Dixon K (1996) - The Corps and theShore 286p Island Press Washington DC USA(ISBN 9781559634380)

Pilkey OH Neal WJ Monteiro JH amp Dias JA(1989) - Algarve Barrier Islands A Noncoastal-Plain System in Portugal Journal of Coastal Research5(2)239-261

Ramos L amp Dias J A (2000) - Atenuaccedilatildeo davulnerabilidade a galgamentos oceacircnicos nosistema da Ria Formosa mediante intervenccedilotildeessuaves 3ordm Simpoacutesio sobre a Margem ContinentalIbeacuterica Atlacircntica Faro 361-362 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers00_SMLRpdf)

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2001)- Avaliaccedilatildeo de realimentaccedilotildees artificiais de praiasda Ria Formosa Casos das ilhas de Cacela e deTavira Congresso do Algarve 2001 8 p

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2002)- Preliminary Evaluation of the MorphologicalEvolution of Contrasting Beaches of the RiaFormosa With Relation to Differences inRefracted Wave Height Littoral 2002 TheChanging Coast 423-429 (disponiacutevel emht tp www2 00 8 i o -war nemu ende dehomepagesschernewskiLittoral2000docsvol3Littoral2002_79pdf)

Scheele RJ amp Westen CJ (1996) - Planning for acoastal policy - the 3A4 approach In Taussik Jamp Mitchell J (eds) Partnership in Coastal ZoneManagement pp 65-71 Samara Publ LtdCardigan UK

Sprung M (1994) - Macrobenthic secondaryproduction in the intertidal zone of Ria Formosaa lagoon in southern Portugal Estuarine Coastaland Shelf Science 38539ndash558 (doi 101006ecss19941037)

Van Den Belt M Videira N Antunes P Santos Ramp Gamito S (2000) - Modelaccedilatildeo Participada na RiaFormosa 36 p Ediccedilatildeo Fundaccedilatildeo do Mar LisboaPortugal

77

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Vila A Dias JMA Ferreira Oacute amp Matias A (1999)- Natural evolution of an artificial inlet CoastalSedimentslsquo99 21478-1488 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI99_CS99_1478_AVpdf)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Ciavola P Matias Aamp Dias JA (2004a) - Tracer studies on the updriftmargin of a complex inlet system Marine Geology20843-72 (doi 101016jmargeo200404020)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA(2003) - The first two years of an inlet sedimentarydynamics Continental Shelf Research 231425-1445 (doi 101016S0278-4343(03)00142-0)

Vila-Concejo A Matias A Ferreira Oacute Duarte Camp Dias JA (2002) - Recent evolution of thenatural inlets of a barrier island system in southernPortugal Journal of Coastal Research (ICS 2002proceedings) SI36741-752

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Morris BD MatiasA amp Dias JA (2004b) ndash Lessons from inletrelocation examples from Southern PortugalCoastal Engineering 51(10)967-990(doi101016jcoastaleng200407019)

Vila-Concejo A Matias A Pacheco A FerreiraOacute amp Dias JA (2006) - Quantification of inlet-related hazards in barrier island systems Anexample from the Ria Formosa (Portugal)Continental Shelf Research 261045-1060(doi 101016jcsr200512014)

Weinholtz MB (1978) - Contribuiccedilatildeo para o estudo daevoluccedilatildeo das flechas de areia na costa sotavento do Algarve(Ria de Faro) Relatoacuterio da Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Wells JT amp McNinch J (1991) - Beach scraping inNorth Carolina with special reference to itseffectiveness during Hurricane Hugo Journal ofCoastal Research SI8249-261

Williams SJ (2001) - Coastal erosion and land lossaround the United States strategies to manage andprotect coastal resources ndash examples fromLouisiana Coastal Ecosystems and FederalActivities Technical Training SymposiumProceedings 15 p (disponiacutevel emhttpwwwfwsgovnc-esecoconfwilliamspaperpdf)

Page 16: Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na

72

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

no sistema fazendo com que o seu funcionamentonatural tivesse entrado em ruptura e que a erosatildeocosteira tivesse sido fortemente amplificada a sotamarComo se veraacute na parte dedicada agraves intervenccedilotildeessuaves a utilizaccedilatildeo de teacutecnicas de transposiccedilatildeo dosmolhes (ldquoby-passingrdquo) permitiria reduzirsubstancialmente alguns destes impactes negativos

A construccedilatildeo de mais estruturas riacutegidas na RiaFormosa (ou a barlamar desta) traduzir-se-ia numaforte amplificaccedilatildeo do desequiliacutebrio dinacircmico em queo sistema jaacute se encontra tendendo a meacutedio ndash longoprazo para a completa artificializaccedilatildeo da Ria Formosaconsignada por legislaccedilatildeo nacional como ParqueNatural e reconhecida internacionalmente comoimportante aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental

Retirada estrateacutegica Programas natildeo estruturaisOs programas natildeo estruturais satildeo intervenccedilotildees em

que se procede agrave demoliccedilatildeo de infra-estruturasameaccediladas pela erosatildeo costeira ou transferecircncia dasmesmas para locais mais seguros o que eacute tambeacutemconhecido como ldquoretirada estrateacutegicardquo Viabiliza-seassim a evoluccedilatildeo natural dos sistemas Com amigraccedilatildeo das ilhas-barreira em direcccedilatildeo ao continentecomo resposta agrave elevaccedilatildeo do NMM este tipo deintervenccedilatildeo comeccedilou por ser aplicado em algunslocais da costa Leste dos EUA em 1972 (NRC 1995)A deslocalizaccedilatildeo de infra-estruturas pode ser eficazem locais pouco povoados ou quando existe interessena salvaguarda de patrimoacutenio como aconteceu como farol do Cabo Hatteras nos EUA No entantotorna-se impraticaacutevel em grandes nuacutecleos urbanosdevido aos elevados custos e dificuldades logiacutesticas

Na Ria Formosa este tipo de intervenccedilatildeo temencontrado grandes dificuldades de execuccedilatildeodesignadamente no que se refere agrave demoliccedilatildeo de casasconstruiacutedas ilegalmente em Domiacutenio Hiacutedrico Domiacutenio Puacuteblico Mariacutetimo o que aleacutem de tender aperpetuar situaccedilotildees de muito alto risco potildee em causaa imagem do Paiacutes como Estado de direito (Dias 2002)

Intervenccedilatildeo SuaveA intervenccedilatildeo suave tambeacutem designada por

protecccedilatildeo dinacircmica desde haacute algumas deacutecadas que eacuteutilizada preferencialmente como alternativa agravesteacutecnicas de intervenccedilatildeo riacutegida Apresentam menoresimpactes ambientais sendo uma soluccedilatildeo maisapropriada para aacutereas sensiacuteveis como as ilhas-barreira

As teacutecnicas de protecccedilatildeo suave tais como arealimentaccedilatildeo de praias a reconstruccedilatildeo dunar atransposiccedilatildeo de molhes (by-passing) a abertura debarras (para as deixar evoluir naturalmente) e asldquodragagens ecoloacutegicasrdquo correspondem em geral auma intervenccedilatildeo inicial deixando depois a Naturezaldquotrabalharrdquo Por essa razatildeo estas teacutecnicas satildeo tambeacutemfrequentemente designadas por ldquobuilding with NaturerdquoSatildeo com frequecircncia menos dispendiosas e maiseficientes a longo prazo do que as intervenccedilotildees riacutegidas(Koster amp Hillen 1995 Griggs 1999 Dias et al 2003)

Poreacutem estas teacutecnicas tecircm que ser executadas comforte suporte cientiacutefico e devem envolver o conceitode protecccedilatildeo de trechos costeiros na sua globalidadee natildeo apenas a protecccedilatildeo local de patrimoacutenio edificadoem zonas de risco Se forem concretizadas de formadeficiente podem mesmo revelar-secontraproducentes Eacute o que se passa por exemploquando a realimentaccedilatildeo de praias eacute efectuada comareias extraiacutedas da praia submersa (acima daprofundidade de fecho) nestes casos nenhumsedimento eacute adicionado ao sistema (Wells amp McNinch1991) havendo apenas transferecircncias dentro dosistema com consequecircncias negativas para o seufuncionamento natural tanto ao niacutevel morfodinacircmicocomo bioloacutegico

Desde 1996 que o PNRFICN tem realizadointervenccedilotildees de caraacutecter suave na tentativa demelhorar o funcionamento do sistema e diminuir avulnerabilidade ao galgamento e ao mesmo tempomanter a dinacircmica dos processos naturais (Dias et al2004) Entre as intervenccedilotildees efectuadas procedeu-seao robustecimento da Peniacutensula de Cacela agrave aberturadas Barras do Ancatildeo e da Fuzeta (deixando-as deseguida evoluir naturalmente) agrave dragagem de muitoscanais que natildeo satildeo de navegaccedilatildeo para melhorar acirculaccedilatildeo no sistema agrave repulsatildeo de sedimentos parao cordatildeo arenoso agrave colocaccedilatildeo de paliccediladas parareconstruccedilatildeo dunar agrave plantaccedilatildeo de Ammophila arenariae agrave construccedilatildeo de passadiccedilos sobrelevados

Segundo Dias et al (2003) as intervenccedilotildees suavesrealizadas na Ria Formosa propiciaram melhorprotecccedilatildeo das ilhas-barreira tendo-se em geralatingido os objectivos esperados Os mesmos autoresreferem que os sistemas naturais de elevadaimportacircncia soacutecio-econoacutemica e ambiental (como aRia Formosa) podem ser geridos utilizando este tipo

73

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

de teacutecnicas lucrando com o aproveitamento dosrecursos existentes

A transposiccedilatildeo (by-passing) dos molhes das barrasartificiais meacutetodo utilizado desde haacute muito um poucopor todo o mundo permitiria que as areias retidaspelos molhes a barlamar fosse transferido parasotamar aiacute reconstituindo a deriva litoral econsequentemente minimizando alguns dos impactesnegativos induzidos por estas estruturas Vaacuteriosestudos que demonstram que esta tecnologia natildeoaparenta ter efeitos ambientais negativos associados(eg Lindeman 1997 in Greene 2002)

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Com vista a avaliar a vulnerabilidade das ilhas-barreira da Ria Formosa o presente trabalho incidiuna actualizaccedilatildeo desta problemaacutetica na oacuteptica da gestatildeouma vez que se trata de um sistema em permanentetransformaccedilatildeo Nesta anaacutelise eacute imprescindiacutevel tersempre em consideraccedilatildeo que o sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa estaacute consignado legalmentecomo aacuterea de protecccedilatildeo ambiental desde 1978 anoem que lhe foi atribuiacutedo o estatuto de Reserva Naturaltendo ficado protegido pelo estatuto de ParqueNatural em 1987 (Decreto-lei 37387) e Rede Natura2000 tendo ainda sido integrado desde 1980 na Listade Siacutetios da Convenccedilatildeo de Ramsar (zonas huacutemidasde importacircncia internacional)

Da anaacutelise efectuada conclui-se que eacuteimprescindiacutevel compatibilizar os diversificados valoresnaturais (bioloacutegicos geomorfoloacutegicos fiacutesico-quiacutemicos geoloacutegicos etc) intriacutensecos ao sistema comos muacuteltiplos interesses soacutecio-econoacutemicos decorrentesda sua exploraccedilatildeo (pesca maricultura aquaculturaturismo portos comerciais e de pesca navegaccedilatildeo derecreio etc) Estando influenciado por fortesimpactes antroacutepicos directos e indirectos tais comoentre muitos outros a erosatildeo costeira e a intensificaccedilatildeodo assoreamento lagunar a sobrevivecircncia do sistemaldquonaturalrdquo e a sustentabilidade da sua exploraccedilatildeocarecem de intervenccedilotildees correctivas frequentes porforma a minimizar os impactes negativos aludidosTais intervenccedilotildees teratildeo que ser cautelosas e contiacutenuastentando o mais possiacutevel aproximar-se do que seriaa dinacircmica natural do sistema

Eacute ainda urgente resolver vaacuterios conflitos deinteresses existentes privilegiando as actividades

indutoras de menores impactes negativos e quesimultaneamente viabilizem uma melhor exploraccedilatildeosustentaacutevel do sistema Aponta-se a tiacutetuloexemplificativo o caso do turismo haacute quedesincentivar o turismo de massas directo nesta aacuterea(ateacute porque nas proximidades haacute poacutelos turiacutesticos destegeacutenero bem consolidados) desenvolvendo emalternativa outros tipos de turismo complementardesignadamente o turismo de Natureza a observaccedilatildeode aves (bird watching) e de peixes (fish watching) emambiente natural os passeios no meio lagunar emembarcaccedilotildees natildeo poluentes o turismo gastronoacutemicoetc

A maior parte da zona de barreira do sistema natildeoestaacute ainda ocupado por estruturas imobiliaacuterias Comvista agrave exploraccedilatildeo sustentaacutevel do sistema eacuteimprescindiacutevel que estas zonas continuem semocupaccedilatildeo permanente mantendo algumascaracteriacutesticas pristinas ainda aiacute existentes Nos poucosnuacutecleos urbanos piscatoacuterios existentes cujo casoparadigmaacutetico eacute a povoaccedilatildeo da Culatra onde natildeoexistem problemas realmente graves pois que selocalizam na margem lagunar (relativamente afastadado litoral oceacircnico) devem-se adoptar algumasmedidas correctivas pontuais por forma a preservara sua identidade cultural a melhorar a qualidade devida da populaccedilatildeo e a impedir um crescimentoexagerado Nos restantes nuacutecleos urbanos comcaracteriacutesticas ldquoturiacutesticasrdquo vaacuterios dos quais localizadosnas zonas de maior risco do sistema seria altamentedesejaacutevel que se procedesse agrave completa reformulaccedilatildeoda ocupaccedilatildeo ou sempre que possiacutevel se optasse peladesocupaccedilatildeo

No sentido de tentar resolver os problemas deerosatildeo costeira existentes (que se agravaratildeo no futuro)recomenda-se vivamente que a) natildeo se construamobras de protecccedilatildeo riacutegida (esporotildees paredotildees etc)na Ria Formosa nem na zona a barlamar desta daqual o sistema depende b) se continuem a executaracccedilotildees de robustecimento do cordatildeo dunar e decolmataccedilatildeo dos cortes de galgamento utilizando tantoquanto possiacutevel sedimentos provenientes dadragagem dos canais de navegaccedilatildeo c) se implementea transposiccedilatildeo dos molhes portuaacuterios com relevacircnciaespecial para os molhes da Barra de Faro-Olhatildeo d)efectivamente se proceda agrave demoliccedilatildeo das edificaccedilotildeessituadas em zonas de maior risco e sobre a duna

74

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

primaacuteria concretizando finalmente decisotildeesgovernamentais que tecircm vindo a ser repetidamentetomadas haacute quase trecircs deacutecadas mas nunca executadascabalmente e) sejam amplificadas as acccedilotildees deintervenccedilatildeo e protecccedilatildeo dinacircmica na linha do que severificou desde finais do seacuteculo passado (abertura debarras quando necessaacuterio para as deixar evoluirnaturalmente dragagens ldquoecoloacutegicasrdquo etc) e quetransformaram a Ria Formosa num siacutetio de referecircnciainternacional nesta mateacuteria e que nos uacuteltimos anosapenas tecircm sido executadas de forma extremamentemoderada

Finalmente eacute altamente recomendaacutevel que emtodos os actos de gestatildeo envolvendo quer ascomponentes geomorfoloacutegicas quer as ecoloacutegicasquer as soacutecio-econoacutemicas se tenham sempre emconsideraccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas principalmenteno que se refere agrave elevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar

BIBLIOGRAFIA

Andrade CF (1990a) - O Ambiente de barreira da RiaFormosa Algarve ndash Portugal Dissertaccedilatildeo deDoutoramento 645p Universidade de LisboaPortugal (natildeo publicado)

Andrade CF (1990b) - Estudo da susceptibilidadeao galgamento da Ria Formosa Geolis IV(1-2)69-76 Lisboa Portugal

Andrade CF Barata A amp Teles M (1998) - Ananalysis of the vulnerability to overwash of theRia Formosa barrier island system (Portugal)Using a simple multi-attribute technique (SMART)approach Proceedings of Littoralrsquo98 Conferencepp511-519 Barcelona Espanha

Andrade CF Freitas MC Moreno J amp CraveiroSC (2004) - Stratigraphical evidence of LateHolocene barrier breaching and extreme stormsin lagoonal sediments of Ria Formosa AlgarvePortugal Marine Geology 210339ndash362(doi101016jmargeo200405016)

Antunes P Santos R amp Videira N (2006) -Participatory decision making for sustainabledevelopment - the use of mediated modellingtechniques Land Use Policy 2344ndash52(doi101016jlandusepol200408014)

Bernardo P Bastos R amp Dias JA (2002) - Historicroots for barrier island occupation in the RiaFormosa Littoral 2002 Porto 4 p (disponiacutevel em

httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI02_Lit_91_PBpdf)

Bettencourt P (1985) - Geomorphologie et processusdlsquoeacutevolution reacutecente de la cocircte sotavento (Algarve ndash SudPortugal) Thegravese DEA 92p Universiteacute deBordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Bettencourt P (1994) - Les environnements sedimentairesde la cocircte sotavento (Algarve SudPortugal) et leur eacutevolutionHoloceacutene et actuelle PhD Thesis University ofBordeaux I Franccedila (unfinished)

Bray Jr T amp Carter C (1992) - Physical processesand sedimentary record of a moderntransgressive lacustrine barrier island MarineGeology 105(1-4)155-168 (doi 1010160025-3227(92)90187-M)

Correia F Dias JA Boski T amp Ferreira Oacute (1996)- The retreat of the Eastern Quarteira cliffed coast(Portugal) and its possible causes In Jones PSHealy MG amp Williams AT (eds) Studies inCoastal Management p129-136 Samara PublLtd Cardigan UK (disponiacutevel emht tp w3 u a l g p t j d i a s JA D pape r s CLinternac96_Studies_129_FCpdf)

Correia F Ferreira Oacute amp Dias JA (1997) - Contributodas arribas para o balanccedilo sedimentar do sectorcosteiro Quarteira - Vale do Lobo (Algarve -Portugal) Seminaacuterio sobre a zona costeira doAlgarve 31-39 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_031_FCpdf)

Costa CL (1994) - Final report of sub-project A ldquoWindwave climatology of the Portuguese coastrdquo InstitutoHidrograacutefico Report PO-WAVES 694-A 80 pLisboa Portugal (natildeo publicado)

Dias JA (1988) - Aspectos geoloacutegicos do litoralalgarvio Geonovas 10 113-128 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN88_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (1990) - A Evoluccedilatildeo Actual do LitoralPortuguecircs Geonovas 11 15-29 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN90_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (2002) - Manual de Sobrevivecircncia eVilanagem Diaacuterio de Notiacutecias - SuplementoldquoAmbiente e Desenvolvimento Sustentaacutevelrdquo 30de Julho de 2002 Lisboa Portugal (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersxCS02_DNADpdf)

75

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Dias JA Ferreira Oacute Matias A Vila-Concejo Aamp Saacute-Pires C (2003) - Evaluation of softprotection techniques in barrier islands bymonitoring programs case studies from RiaFormosa (Algarve-Portugal) Journal of CoastalResearch SI35117-131

Dias JA Ferreira Oacute amp Moura D (2004) - O sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa 3ordm SIPRES ndashSimpoacutesio Interdisciplinar sobre Processos Estuarinos 18p Faro Portugal

Dias JA amp Neal WJ (1992) - Sea cliff retreat insouthern Portugal profiles processes andproblems Journal of Coastal Research 8641-654

Dias JA amp Taborda R (1992) - Tidal gauge data indeducing secular trends of relative sea level andcrustal movements in Portugal Journal of CoastalResearch 8655-659

Dias JA Teixeira SB amp Ferreira Oacute (1997) - LivroGuia da Excursatildeo Seminaacuterio sobre a Zona Costeirado Algarve 43 p Faro Portugal

Douglas BC (1995) - Global sea level changedetermination and interpretation US NationalReport to IUGG 1991-1994 Geophys 33 Suppl11 p (disponiacutevel em httpwwwaguorgrevgeophysdougla01dougla01html)

Duarte C Matias A Dias JA amp Ferreira Oacute (1999)- Vulnerabilidade dos corpos dunares do Algarve10ordm Congresso do Algarve 477-490 (disponiacutevelem httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN99_10CA_477_CDpdf)

Esaguy AS (1984) - Ria de Faro Barra da ArmonaEvoluccedilatildeo 1873-1983 5 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1986a) - Ria de Faro Barra de Faro-OlhatildeoEvoluccedilatildeo 1955ndash1985 10p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986b) - Ria de Faro Ilha de TaviraEvoluccedilatildeo 1950ndash1985 8 p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986c) - Ria de Faro Ilha do AncatildeoEvoluccedilatildeo 1950-1985 7 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1987) - Ria de Faro Barra de TaviraEvoluccedilatildeo 13 p Direcccedilatildeo Geral de Portos LisboaPortugal

Ferreira Oacute Dias JA amp Taborda R (2008) -Implications of sea-level rise for Portugal Journal

of Coastal Research 24(2)317-324 (doi 10211207A-00061)

Ferreira Oacute Garcia T Matias A Taborda Ramp DiasJA (2006) - An integrated method for thedetermination of set-back lines for coastal erosionhazards on sandy shores Continental ShelfResearch 261030ndash1044 (doi 101016jcsr200512016)

Ferreira Oacute Martins JC amp Dias JA (1997) -Morfodinacircmica e vulnerabilidade da Praia de FaroSeminaacuterio sobre a zona costeira do Algarve 67-76 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_067_OFpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias Aamp Dias JA (2002)- Recent evolution of Culatra Island (Algarve ndashPortugal) Littoral 2002 The Changing Coast 289-294 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers02_LitTGpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2005)ndash Coastal Hazards Representation for Praia doBarril (Algarve Portugal) Continental ShelfResearch SI4928-33

Granja H (1984) - Eacutetude geacuteomor phologiquesedimentoloacutegique et geacuteoquimique de la Ria Formosa(Algarve-Portugal) These 3eme Cycle 254 pUniversiteacute de Bordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Greene K (2002) - Beach nourishment a review ofthe biological and physical impacts 174 p AtlanticStates Marine Fisheries Commission WashingtonDC (disponiacutevel em httpwwwasmfcorgpublicationshabitatbeachNourishmentpdf)

Griggs GB (1999) - The protection of Californialsquoscoast past present and future Shore amp Beach67(1)18-28

Hoyt JH (1967) - Barrier Island FormationGeological Society of America Bulletin 781125-1136 (doi 1011300016-7606(1967)78[1125BIF]20CO2)

Inman D (1978) - The impact of coastal structureson shorelines Proceedings of Coastal Zoneacute78 ASCE2265-2272

Koster MJ amp Hillen R (1995) - Combat erosion bylaw Coastal defence policy for the NetherlandsJournal of Coastal Research 67(2-3)43-49

Leatherman S (1976) - Barrier islands dynamicsoverwash processes and aeolian transportProceedings of Coastal Engineering Conference ASCE1958-1973

76

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Mangor K (1998) - Coastal restorationconsiderations Proceedings of Coastal Engineeringrsquo98Conference ASCE 3425-3438

Marcelo MJ amp Fonseca LC (1998) - Ria Formosada gestatildeo e conservaccedilatildeo de uma aacuterea protegidaRevista de Biologia 2ordm ENEC 16(1-4)125-133

Martins JT Ferreira Oacute Ciavola Pamp Dias JA (1996)- Monitoring of profile changes at Praia de FaroAlgarve a tool to predict and solve problems InTaussik J amp Mitchell J (eds) Partnership in CoastalZone Management pp 615-622 Samara Publ LtdCardigan UK

Matias A (2000) - Estudo morfosedimentar da Peniacutensulade Cacela Dissertaccedilatildeo de Mestrado 244pUniversidade do Algarve Faro Portugal (natildeopublicado)

Matias A Dias JA Williams AT amp Ferreira Oacute(1997) - Vulnerabilidade das dunas da RiaFormosa 9ordm Congresso do Algarve 231-239Vilamoura Portugal

Matias A Ferreira Oacute amp Dias JA (1999) -Preliminary results on the Cacela Peninsula dunereplenishment Boletiacuten del Instituto Espantildeol deOceanografiacutea 15(1-4)283-288 (disponiacutevel emhttpwwwieoespublicacionesboletinpdfsbol1515_283-288PDF)

Matias A Ferreira Oacute Dias JA amp Vila-Concejo A(2004) - Development of indices for the evaluationof dune recovery techniques Coastal Engineering51261-276 (doi 101016jcoastaleng200402002)

Matias A Ferreira Oacute Mendes I amp Dias JA (1998)- Monitorizaccedilatildeo da alimentaccedilatildeo artificial daPeniacutensula de Cacela Seminaacuterio sobre DragagensDragados e Ambientes Costeiros 47-56

Matias A Ferreira Oacute Mendes I Dias JA amp Vila-Cconcejo A (2005) - Artificial construction ofdunes in the South of Portugal Journal of CoastalResearch 21(3)472-481 (doi 10211203-00471)

Matias A Vila-Concejo A Ferreira Oacute amp Dias JA(2003) - Field measurements of morphologicvariations during an overwash event 4ordm Simpoacutesiosobre a Margem Ibeacuterica Atlacircntica Thalassas19(2b)164-165 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI03_4SM_b164_AMpdf)

NRC - National Research Council (1995) - Beach

Nourishment and Protection 334 p Washington DCNational Academy Press (ISBN 9780309052900)

Pacheco A Carrasco AR Vila-Concejo A FerreiraOacute amp Dias JA (2007) - A coastal managementprogram for channels located in backbarriersystems Ocean amp Coastal Management 50119-143 (doi101016jocecoaman200608008)

Pilkey OH amp Dixon K (1996) - The Corps and theShore 286p Island Press Washington DC USA(ISBN 9781559634380)

Pilkey OH Neal WJ Monteiro JH amp Dias JA(1989) - Algarve Barrier Islands A Noncoastal-Plain System in Portugal Journal of Coastal Research5(2)239-261

Ramos L amp Dias J A (2000) - Atenuaccedilatildeo davulnerabilidade a galgamentos oceacircnicos nosistema da Ria Formosa mediante intervenccedilotildeessuaves 3ordm Simpoacutesio sobre a Margem ContinentalIbeacuterica Atlacircntica Faro 361-362 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers00_SMLRpdf)

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2001)- Avaliaccedilatildeo de realimentaccedilotildees artificiais de praiasda Ria Formosa Casos das ilhas de Cacela e deTavira Congresso do Algarve 2001 8 p

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2002)- Preliminary Evaluation of the MorphologicalEvolution of Contrasting Beaches of the RiaFormosa With Relation to Differences inRefracted Wave Height Littoral 2002 TheChanging Coast 423-429 (disponiacutevel emht tp www2 00 8 i o -war nemu ende dehomepagesschernewskiLittoral2000docsvol3Littoral2002_79pdf)

Scheele RJ amp Westen CJ (1996) - Planning for acoastal policy - the 3A4 approach In Taussik Jamp Mitchell J (eds) Partnership in Coastal ZoneManagement pp 65-71 Samara Publ LtdCardigan UK

Sprung M (1994) - Macrobenthic secondaryproduction in the intertidal zone of Ria Formosaa lagoon in southern Portugal Estuarine Coastaland Shelf Science 38539ndash558 (doi 101006ecss19941037)

Van Den Belt M Videira N Antunes P Santos Ramp Gamito S (2000) - Modelaccedilatildeo Participada na RiaFormosa 36 p Ediccedilatildeo Fundaccedilatildeo do Mar LisboaPortugal

77

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Vila A Dias JMA Ferreira Oacute amp Matias A (1999)- Natural evolution of an artificial inlet CoastalSedimentslsquo99 21478-1488 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI99_CS99_1478_AVpdf)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Ciavola P Matias Aamp Dias JA (2004a) - Tracer studies on the updriftmargin of a complex inlet system Marine Geology20843-72 (doi 101016jmargeo200404020)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA(2003) - The first two years of an inlet sedimentarydynamics Continental Shelf Research 231425-1445 (doi 101016S0278-4343(03)00142-0)

Vila-Concejo A Matias A Ferreira Oacute Duarte Camp Dias JA (2002) - Recent evolution of thenatural inlets of a barrier island system in southernPortugal Journal of Coastal Research (ICS 2002proceedings) SI36741-752

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Morris BD MatiasA amp Dias JA (2004b) ndash Lessons from inletrelocation examples from Southern PortugalCoastal Engineering 51(10)967-990(doi101016jcoastaleng200407019)

Vila-Concejo A Matias A Pacheco A FerreiraOacute amp Dias JA (2006) - Quantification of inlet-related hazards in barrier island systems Anexample from the Ria Formosa (Portugal)Continental Shelf Research 261045-1060(doi 101016jcsr200512014)

Weinholtz MB (1978) - Contribuiccedilatildeo para o estudo daevoluccedilatildeo das flechas de areia na costa sotavento do Algarve(Ria de Faro) Relatoacuterio da Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Wells JT amp McNinch J (1991) - Beach scraping inNorth Carolina with special reference to itseffectiveness during Hurricane Hugo Journal ofCoastal Research SI8249-261

Williams SJ (2001) - Coastal erosion and land lossaround the United States strategies to manage andprotect coastal resources ndash examples fromLouisiana Coastal Ecosystems and FederalActivities Technical Training SymposiumProceedings 15 p (disponiacutevel emhttpwwwfwsgovnc-esecoconfwilliamspaperpdf)

Page 17: Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na

73

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

de teacutecnicas lucrando com o aproveitamento dosrecursos existentes

A transposiccedilatildeo (by-passing) dos molhes das barrasartificiais meacutetodo utilizado desde haacute muito um poucopor todo o mundo permitiria que as areias retidaspelos molhes a barlamar fosse transferido parasotamar aiacute reconstituindo a deriva litoral econsequentemente minimizando alguns dos impactesnegativos induzidos por estas estruturas Vaacuteriosestudos que demonstram que esta tecnologia natildeoaparenta ter efeitos ambientais negativos associados(eg Lindeman 1997 in Greene 2002)

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Com vista a avaliar a vulnerabilidade das ilhas-barreira da Ria Formosa o presente trabalho incidiuna actualizaccedilatildeo desta problemaacutetica na oacuteptica da gestatildeouma vez que se trata de um sistema em permanentetransformaccedilatildeo Nesta anaacutelise eacute imprescindiacutevel tersempre em consideraccedilatildeo que o sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa estaacute consignado legalmentecomo aacuterea de protecccedilatildeo ambiental desde 1978 anoem que lhe foi atribuiacutedo o estatuto de Reserva Naturaltendo ficado protegido pelo estatuto de ParqueNatural em 1987 (Decreto-lei 37387) e Rede Natura2000 tendo ainda sido integrado desde 1980 na Listade Siacutetios da Convenccedilatildeo de Ramsar (zonas huacutemidasde importacircncia internacional)

Da anaacutelise efectuada conclui-se que eacuteimprescindiacutevel compatibilizar os diversificados valoresnaturais (bioloacutegicos geomorfoloacutegicos fiacutesico-quiacutemicos geoloacutegicos etc) intriacutensecos ao sistema comos muacuteltiplos interesses soacutecio-econoacutemicos decorrentesda sua exploraccedilatildeo (pesca maricultura aquaculturaturismo portos comerciais e de pesca navegaccedilatildeo derecreio etc) Estando influenciado por fortesimpactes antroacutepicos directos e indirectos tais comoentre muitos outros a erosatildeo costeira e a intensificaccedilatildeodo assoreamento lagunar a sobrevivecircncia do sistemaldquonaturalrdquo e a sustentabilidade da sua exploraccedilatildeocarecem de intervenccedilotildees correctivas frequentes porforma a minimizar os impactes negativos aludidosTais intervenccedilotildees teratildeo que ser cautelosas e contiacutenuastentando o mais possiacutevel aproximar-se do que seriaa dinacircmica natural do sistema

Eacute ainda urgente resolver vaacuterios conflitos deinteresses existentes privilegiando as actividades

indutoras de menores impactes negativos e quesimultaneamente viabilizem uma melhor exploraccedilatildeosustentaacutevel do sistema Aponta-se a tiacutetuloexemplificativo o caso do turismo haacute quedesincentivar o turismo de massas directo nesta aacuterea(ateacute porque nas proximidades haacute poacutelos turiacutesticos destegeacutenero bem consolidados) desenvolvendo emalternativa outros tipos de turismo complementardesignadamente o turismo de Natureza a observaccedilatildeode aves (bird watching) e de peixes (fish watching) emambiente natural os passeios no meio lagunar emembarcaccedilotildees natildeo poluentes o turismo gastronoacutemicoetc

A maior parte da zona de barreira do sistema natildeoestaacute ainda ocupado por estruturas imobiliaacuterias Comvista agrave exploraccedilatildeo sustentaacutevel do sistema eacuteimprescindiacutevel que estas zonas continuem semocupaccedilatildeo permanente mantendo algumascaracteriacutesticas pristinas ainda aiacute existentes Nos poucosnuacutecleos urbanos piscatoacuterios existentes cujo casoparadigmaacutetico eacute a povoaccedilatildeo da Culatra onde natildeoexistem problemas realmente graves pois que selocalizam na margem lagunar (relativamente afastadado litoral oceacircnico) devem-se adoptar algumasmedidas correctivas pontuais por forma a preservara sua identidade cultural a melhorar a qualidade devida da populaccedilatildeo e a impedir um crescimentoexagerado Nos restantes nuacutecleos urbanos comcaracteriacutesticas ldquoturiacutesticasrdquo vaacuterios dos quais localizadosnas zonas de maior risco do sistema seria altamentedesejaacutevel que se procedesse agrave completa reformulaccedilatildeoda ocupaccedilatildeo ou sempre que possiacutevel se optasse peladesocupaccedilatildeo

No sentido de tentar resolver os problemas deerosatildeo costeira existentes (que se agravaratildeo no futuro)recomenda-se vivamente que a) natildeo se construamobras de protecccedilatildeo riacutegida (esporotildees paredotildees etc)na Ria Formosa nem na zona a barlamar desta daqual o sistema depende b) se continuem a executaracccedilotildees de robustecimento do cordatildeo dunar e decolmataccedilatildeo dos cortes de galgamento utilizando tantoquanto possiacutevel sedimentos provenientes dadragagem dos canais de navegaccedilatildeo c) se implementea transposiccedilatildeo dos molhes portuaacuterios com relevacircnciaespecial para os molhes da Barra de Faro-Olhatildeo d)efectivamente se proceda agrave demoliccedilatildeo das edificaccedilotildeessituadas em zonas de maior risco e sobre a duna

74

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

primaacuteria concretizando finalmente decisotildeesgovernamentais que tecircm vindo a ser repetidamentetomadas haacute quase trecircs deacutecadas mas nunca executadascabalmente e) sejam amplificadas as acccedilotildees deintervenccedilatildeo e protecccedilatildeo dinacircmica na linha do que severificou desde finais do seacuteculo passado (abertura debarras quando necessaacuterio para as deixar evoluirnaturalmente dragagens ldquoecoloacutegicasrdquo etc) e quetransformaram a Ria Formosa num siacutetio de referecircnciainternacional nesta mateacuteria e que nos uacuteltimos anosapenas tecircm sido executadas de forma extremamentemoderada

Finalmente eacute altamente recomendaacutevel que emtodos os actos de gestatildeo envolvendo quer ascomponentes geomorfoloacutegicas quer as ecoloacutegicasquer as soacutecio-econoacutemicas se tenham sempre emconsideraccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas principalmenteno que se refere agrave elevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar

BIBLIOGRAFIA

Andrade CF (1990a) - O Ambiente de barreira da RiaFormosa Algarve ndash Portugal Dissertaccedilatildeo deDoutoramento 645p Universidade de LisboaPortugal (natildeo publicado)

Andrade CF (1990b) - Estudo da susceptibilidadeao galgamento da Ria Formosa Geolis IV(1-2)69-76 Lisboa Portugal

Andrade CF Barata A amp Teles M (1998) - Ananalysis of the vulnerability to overwash of theRia Formosa barrier island system (Portugal)Using a simple multi-attribute technique (SMART)approach Proceedings of Littoralrsquo98 Conferencepp511-519 Barcelona Espanha

Andrade CF Freitas MC Moreno J amp CraveiroSC (2004) - Stratigraphical evidence of LateHolocene barrier breaching and extreme stormsin lagoonal sediments of Ria Formosa AlgarvePortugal Marine Geology 210339ndash362(doi101016jmargeo200405016)

Antunes P Santos R amp Videira N (2006) -Participatory decision making for sustainabledevelopment - the use of mediated modellingtechniques Land Use Policy 2344ndash52(doi101016jlandusepol200408014)

Bernardo P Bastos R amp Dias JA (2002) - Historicroots for barrier island occupation in the RiaFormosa Littoral 2002 Porto 4 p (disponiacutevel em

httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI02_Lit_91_PBpdf)

Bettencourt P (1985) - Geomorphologie et processusdlsquoeacutevolution reacutecente de la cocircte sotavento (Algarve ndash SudPortugal) Thegravese DEA 92p Universiteacute deBordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Bettencourt P (1994) - Les environnements sedimentairesde la cocircte sotavento (Algarve SudPortugal) et leur eacutevolutionHoloceacutene et actuelle PhD Thesis University ofBordeaux I Franccedila (unfinished)

Bray Jr T amp Carter C (1992) - Physical processesand sedimentary record of a moderntransgressive lacustrine barrier island MarineGeology 105(1-4)155-168 (doi 1010160025-3227(92)90187-M)

Correia F Dias JA Boski T amp Ferreira Oacute (1996)- The retreat of the Eastern Quarteira cliffed coast(Portugal) and its possible causes In Jones PSHealy MG amp Williams AT (eds) Studies inCoastal Management p129-136 Samara PublLtd Cardigan UK (disponiacutevel emht tp w3 u a l g p t j d i a s JA D pape r s CLinternac96_Studies_129_FCpdf)

Correia F Ferreira Oacute amp Dias JA (1997) - Contributodas arribas para o balanccedilo sedimentar do sectorcosteiro Quarteira - Vale do Lobo (Algarve -Portugal) Seminaacuterio sobre a zona costeira doAlgarve 31-39 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_031_FCpdf)

Costa CL (1994) - Final report of sub-project A ldquoWindwave climatology of the Portuguese coastrdquo InstitutoHidrograacutefico Report PO-WAVES 694-A 80 pLisboa Portugal (natildeo publicado)

Dias JA (1988) - Aspectos geoloacutegicos do litoralalgarvio Geonovas 10 113-128 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN88_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (1990) - A Evoluccedilatildeo Actual do LitoralPortuguecircs Geonovas 11 15-29 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN90_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (2002) - Manual de Sobrevivecircncia eVilanagem Diaacuterio de Notiacutecias - SuplementoldquoAmbiente e Desenvolvimento Sustentaacutevelrdquo 30de Julho de 2002 Lisboa Portugal (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersxCS02_DNADpdf)

75

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Dias JA Ferreira Oacute Matias A Vila-Concejo Aamp Saacute-Pires C (2003) - Evaluation of softprotection techniques in barrier islands bymonitoring programs case studies from RiaFormosa (Algarve-Portugal) Journal of CoastalResearch SI35117-131

Dias JA Ferreira Oacute amp Moura D (2004) - O sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa 3ordm SIPRES ndashSimpoacutesio Interdisciplinar sobre Processos Estuarinos 18p Faro Portugal

Dias JA amp Neal WJ (1992) - Sea cliff retreat insouthern Portugal profiles processes andproblems Journal of Coastal Research 8641-654

Dias JA amp Taborda R (1992) - Tidal gauge data indeducing secular trends of relative sea level andcrustal movements in Portugal Journal of CoastalResearch 8655-659

Dias JA Teixeira SB amp Ferreira Oacute (1997) - LivroGuia da Excursatildeo Seminaacuterio sobre a Zona Costeirado Algarve 43 p Faro Portugal

Douglas BC (1995) - Global sea level changedetermination and interpretation US NationalReport to IUGG 1991-1994 Geophys 33 Suppl11 p (disponiacutevel em httpwwwaguorgrevgeophysdougla01dougla01html)

Duarte C Matias A Dias JA amp Ferreira Oacute (1999)- Vulnerabilidade dos corpos dunares do Algarve10ordm Congresso do Algarve 477-490 (disponiacutevelem httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN99_10CA_477_CDpdf)

Esaguy AS (1984) - Ria de Faro Barra da ArmonaEvoluccedilatildeo 1873-1983 5 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1986a) - Ria de Faro Barra de Faro-OlhatildeoEvoluccedilatildeo 1955ndash1985 10p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986b) - Ria de Faro Ilha de TaviraEvoluccedilatildeo 1950ndash1985 8 p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986c) - Ria de Faro Ilha do AncatildeoEvoluccedilatildeo 1950-1985 7 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1987) - Ria de Faro Barra de TaviraEvoluccedilatildeo 13 p Direcccedilatildeo Geral de Portos LisboaPortugal

Ferreira Oacute Dias JA amp Taborda R (2008) -Implications of sea-level rise for Portugal Journal

of Coastal Research 24(2)317-324 (doi 10211207A-00061)

Ferreira Oacute Garcia T Matias A Taborda Ramp DiasJA (2006) - An integrated method for thedetermination of set-back lines for coastal erosionhazards on sandy shores Continental ShelfResearch 261030ndash1044 (doi 101016jcsr200512016)

Ferreira Oacute Martins JC amp Dias JA (1997) -Morfodinacircmica e vulnerabilidade da Praia de FaroSeminaacuterio sobre a zona costeira do Algarve 67-76 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_067_OFpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias Aamp Dias JA (2002)- Recent evolution of Culatra Island (Algarve ndashPortugal) Littoral 2002 The Changing Coast 289-294 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers02_LitTGpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2005)ndash Coastal Hazards Representation for Praia doBarril (Algarve Portugal) Continental ShelfResearch SI4928-33

Granja H (1984) - Eacutetude geacuteomor phologiquesedimentoloacutegique et geacuteoquimique de la Ria Formosa(Algarve-Portugal) These 3eme Cycle 254 pUniversiteacute de Bordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Greene K (2002) - Beach nourishment a review ofthe biological and physical impacts 174 p AtlanticStates Marine Fisheries Commission WashingtonDC (disponiacutevel em httpwwwasmfcorgpublicationshabitatbeachNourishmentpdf)

Griggs GB (1999) - The protection of Californialsquoscoast past present and future Shore amp Beach67(1)18-28

Hoyt JH (1967) - Barrier Island FormationGeological Society of America Bulletin 781125-1136 (doi 1011300016-7606(1967)78[1125BIF]20CO2)

Inman D (1978) - The impact of coastal structureson shorelines Proceedings of Coastal Zoneacute78 ASCE2265-2272

Koster MJ amp Hillen R (1995) - Combat erosion bylaw Coastal defence policy for the NetherlandsJournal of Coastal Research 67(2-3)43-49

Leatherman S (1976) - Barrier islands dynamicsoverwash processes and aeolian transportProceedings of Coastal Engineering Conference ASCE1958-1973

76

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Mangor K (1998) - Coastal restorationconsiderations Proceedings of Coastal Engineeringrsquo98Conference ASCE 3425-3438

Marcelo MJ amp Fonseca LC (1998) - Ria Formosada gestatildeo e conservaccedilatildeo de uma aacuterea protegidaRevista de Biologia 2ordm ENEC 16(1-4)125-133

Martins JT Ferreira Oacute Ciavola Pamp Dias JA (1996)- Monitoring of profile changes at Praia de FaroAlgarve a tool to predict and solve problems InTaussik J amp Mitchell J (eds) Partnership in CoastalZone Management pp 615-622 Samara Publ LtdCardigan UK

Matias A (2000) - Estudo morfosedimentar da Peniacutensulade Cacela Dissertaccedilatildeo de Mestrado 244pUniversidade do Algarve Faro Portugal (natildeopublicado)

Matias A Dias JA Williams AT amp Ferreira Oacute(1997) - Vulnerabilidade das dunas da RiaFormosa 9ordm Congresso do Algarve 231-239Vilamoura Portugal

Matias A Ferreira Oacute amp Dias JA (1999) -Preliminary results on the Cacela Peninsula dunereplenishment Boletiacuten del Instituto Espantildeol deOceanografiacutea 15(1-4)283-288 (disponiacutevel emhttpwwwieoespublicacionesboletinpdfsbol1515_283-288PDF)

Matias A Ferreira Oacute Dias JA amp Vila-Concejo A(2004) - Development of indices for the evaluationof dune recovery techniques Coastal Engineering51261-276 (doi 101016jcoastaleng200402002)

Matias A Ferreira Oacute Mendes I amp Dias JA (1998)- Monitorizaccedilatildeo da alimentaccedilatildeo artificial daPeniacutensula de Cacela Seminaacuterio sobre DragagensDragados e Ambientes Costeiros 47-56

Matias A Ferreira Oacute Mendes I Dias JA amp Vila-Cconcejo A (2005) - Artificial construction ofdunes in the South of Portugal Journal of CoastalResearch 21(3)472-481 (doi 10211203-00471)

Matias A Vila-Concejo A Ferreira Oacute amp Dias JA(2003) - Field measurements of morphologicvariations during an overwash event 4ordm Simpoacutesiosobre a Margem Ibeacuterica Atlacircntica Thalassas19(2b)164-165 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI03_4SM_b164_AMpdf)

NRC - National Research Council (1995) - Beach

Nourishment and Protection 334 p Washington DCNational Academy Press (ISBN 9780309052900)

Pacheco A Carrasco AR Vila-Concejo A FerreiraOacute amp Dias JA (2007) - A coastal managementprogram for channels located in backbarriersystems Ocean amp Coastal Management 50119-143 (doi101016jocecoaman200608008)

Pilkey OH amp Dixon K (1996) - The Corps and theShore 286p Island Press Washington DC USA(ISBN 9781559634380)

Pilkey OH Neal WJ Monteiro JH amp Dias JA(1989) - Algarve Barrier Islands A Noncoastal-Plain System in Portugal Journal of Coastal Research5(2)239-261

Ramos L amp Dias J A (2000) - Atenuaccedilatildeo davulnerabilidade a galgamentos oceacircnicos nosistema da Ria Formosa mediante intervenccedilotildeessuaves 3ordm Simpoacutesio sobre a Margem ContinentalIbeacuterica Atlacircntica Faro 361-362 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers00_SMLRpdf)

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2001)- Avaliaccedilatildeo de realimentaccedilotildees artificiais de praiasda Ria Formosa Casos das ilhas de Cacela e deTavira Congresso do Algarve 2001 8 p

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2002)- Preliminary Evaluation of the MorphologicalEvolution of Contrasting Beaches of the RiaFormosa With Relation to Differences inRefracted Wave Height Littoral 2002 TheChanging Coast 423-429 (disponiacutevel emht tp www2 00 8 i o -war nemu ende dehomepagesschernewskiLittoral2000docsvol3Littoral2002_79pdf)

Scheele RJ amp Westen CJ (1996) - Planning for acoastal policy - the 3A4 approach In Taussik Jamp Mitchell J (eds) Partnership in Coastal ZoneManagement pp 65-71 Samara Publ LtdCardigan UK

Sprung M (1994) - Macrobenthic secondaryproduction in the intertidal zone of Ria Formosaa lagoon in southern Portugal Estuarine Coastaland Shelf Science 38539ndash558 (doi 101006ecss19941037)

Van Den Belt M Videira N Antunes P Santos Ramp Gamito S (2000) - Modelaccedilatildeo Participada na RiaFormosa 36 p Ediccedilatildeo Fundaccedilatildeo do Mar LisboaPortugal

77

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Vila A Dias JMA Ferreira Oacute amp Matias A (1999)- Natural evolution of an artificial inlet CoastalSedimentslsquo99 21478-1488 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI99_CS99_1478_AVpdf)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Ciavola P Matias Aamp Dias JA (2004a) - Tracer studies on the updriftmargin of a complex inlet system Marine Geology20843-72 (doi 101016jmargeo200404020)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA(2003) - The first two years of an inlet sedimentarydynamics Continental Shelf Research 231425-1445 (doi 101016S0278-4343(03)00142-0)

Vila-Concejo A Matias A Ferreira Oacute Duarte Camp Dias JA (2002) - Recent evolution of thenatural inlets of a barrier island system in southernPortugal Journal of Coastal Research (ICS 2002proceedings) SI36741-752

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Morris BD MatiasA amp Dias JA (2004b) ndash Lessons from inletrelocation examples from Southern PortugalCoastal Engineering 51(10)967-990(doi101016jcoastaleng200407019)

Vila-Concejo A Matias A Pacheco A FerreiraOacute amp Dias JA (2006) - Quantification of inlet-related hazards in barrier island systems Anexample from the Ria Formosa (Portugal)Continental Shelf Research 261045-1060(doi 101016jcsr200512014)

Weinholtz MB (1978) - Contribuiccedilatildeo para o estudo daevoluccedilatildeo das flechas de areia na costa sotavento do Algarve(Ria de Faro) Relatoacuterio da Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Wells JT amp McNinch J (1991) - Beach scraping inNorth Carolina with special reference to itseffectiveness during Hurricane Hugo Journal ofCoastal Research SI8249-261

Williams SJ (2001) - Coastal erosion and land lossaround the United States strategies to manage andprotect coastal resources ndash examples fromLouisiana Coastal Ecosystems and FederalActivities Technical Training SymposiumProceedings 15 p (disponiacutevel emhttpwwwfwsgovnc-esecoconfwilliamspaperpdf)

Page 18: Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na

74

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

primaacuteria concretizando finalmente decisotildeesgovernamentais que tecircm vindo a ser repetidamentetomadas haacute quase trecircs deacutecadas mas nunca executadascabalmente e) sejam amplificadas as acccedilotildees deintervenccedilatildeo e protecccedilatildeo dinacircmica na linha do que severificou desde finais do seacuteculo passado (abertura debarras quando necessaacuterio para as deixar evoluirnaturalmente dragagens ldquoecoloacutegicasrdquo etc) e quetransformaram a Ria Formosa num siacutetio de referecircnciainternacional nesta mateacuteria e que nos uacuteltimos anosapenas tecircm sido executadas de forma extremamentemoderada

Finalmente eacute altamente recomendaacutevel que emtodos os actos de gestatildeo envolvendo quer ascomponentes geomorfoloacutegicas quer as ecoloacutegicasquer as soacutecio-econoacutemicas se tenham sempre emconsideraccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas principalmenteno que se refere agrave elevaccedilatildeo do niacutevel meacutedio do mar

BIBLIOGRAFIA

Andrade CF (1990a) - O Ambiente de barreira da RiaFormosa Algarve ndash Portugal Dissertaccedilatildeo deDoutoramento 645p Universidade de LisboaPortugal (natildeo publicado)

Andrade CF (1990b) - Estudo da susceptibilidadeao galgamento da Ria Formosa Geolis IV(1-2)69-76 Lisboa Portugal

Andrade CF Barata A amp Teles M (1998) - Ananalysis of the vulnerability to overwash of theRia Formosa barrier island system (Portugal)Using a simple multi-attribute technique (SMART)approach Proceedings of Littoralrsquo98 Conferencepp511-519 Barcelona Espanha

Andrade CF Freitas MC Moreno J amp CraveiroSC (2004) - Stratigraphical evidence of LateHolocene barrier breaching and extreme stormsin lagoonal sediments of Ria Formosa AlgarvePortugal Marine Geology 210339ndash362(doi101016jmargeo200405016)

Antunes P Santos R amp Videira N (2006) -Participatory decision making for sustainabledevelopment - the use of mediated modellingtechniques Land Use Policy 2344ndash52(doi101016jlandusepol200408014)

Bernardo P Bastos R amp Dias JA (2002) - Historicroots for barrier island occupation in the RiaFormosa Littoral 2002 Porto 4 p (disponiacutevel em

httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI02_Lit_91_PBpdf)

Bettencourt P (1985) - Geomorphologie et processusdlsquoeacutevolution reacutecente de la cocircte sotavento (Algarve ndash SudPortugal) Thegravese DEA 92p Universiteacute deBordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Bettencourt P (1994) - Les environnements sedimentairesde la cocircte sotavento (Algarve SudPortugal) et leur eacutevolutionHoloceacutene et actuelle PhD Thesis University ofBordeaux I Franccedila (unfinished)

Bray Jr T amp Carter C (1992) - Physical processesand sedimentary record of a moderntransgressive lacustrine barrier island MarineGeology 105(1-4)155-168 (doi 1010160025-3227(92)90187-M)

Correia F Dias JA Boski T amp Ferreira Oacute (1996)- The retreat of the Eastern Quarteira cliffed coast(Portugal) and its possible causes In Jones PSHealy MG amp Williams AT (eds) Studies inCoastal Management p129-136 Samara PublLtd Cardigan UK (disponiacutevel emht tp w3 u a l g p t j d i a s JA D pape r s CLinternac96_Studies_129_FCpdf)

Correia F Ferreira Oacute amp Dias JA (1997) - Contributodas arribas para o balanccedilo sedimentar do sectorcosteiro Quarteira - Vale do Lobo (Algarve -Portugal) Seminaacuterio sobre a zona costeira doAlgarve 31-39 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_031_FCpdf)

Costa CL (1994) - Final report of sub-project A ldquoWindwave climatology of the Portuguese coastrdquo InstitutoHidrograacutefico Report PO-WAVES 694-A 80 pLisboa Portugal (natildeo publicado)

Dias JA (1988) - Aspectos geoloacutegicos do litoralalgarvio Geonovas 10 113-128 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN88_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (1990) - A Evoluccedilatildeo Actual do LitoralPortuguecircs Geonovas 11 15-29 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersRN90_Geonovas_ADpdf)

Dias JA (2002) - Manual de Sobrevivecircncia eVilanagem Diaacuterio de Notiacutecias - SuplementoldquoAmbiente e Desenvolvimento Sustentaacutevelrdquo 30de Julho de 2002 Lisboa Portugal (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersxCS02_DNADpdf)

75

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Dias JA Ferreira Oacute Matias A Vila-Concejo Aamp Saacute-Pires C (2003) - Evaluation of softprotection techniques in barrier islands bymonitoring programs case studies from RiaFormosa (Algarve-Portugal) Journal of CoastalResearch SI35117-131

Dias JA Ferreira Oacute amp Moura D (2004) - O sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa 3ordm SIPRES ndashSimpoacutesio Interdisciplinar sobre Processos Estuarinos 18p Faro Portugal

Dias JA amp Neal WJ (1992) - Sea cliff retreat insouthern Portugal profiles processes andproblems Journal of Coastal Research 8641-654

Dias JA amp Taborda R (1992) - Tidal gauge data indeducing secular trends of relative sea level andcrustal movements in Portugal Journal of CoastalResearch 8655-659

Dias JA Teixeira SB amp Ferreira Oacute (1997) - LivroGuia da Excursatildeo Seminaacuterio sobre a Zona Costeirado Algarve 43 p Faro Portugal

Douglas BC (1995) - Global sea level changedetermination and interpretation US NationalReport to IUGG 1991-1994 Geophys 33 Suppl11 p (disponiacutevel em httpwwwaguorgrevgeophysdougla01dougla01html)

Duarte C Matias A Dias JA amp Ferreira Oacute (1999)- Vulnerabilidade dos corpos dunares do Algarve10ordm Congresso do Algarve 477-490 (disponiacutevelem httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN99_10CA_477_CDpdf)

Esaguy AS (1984) - Ria de Faro Barra da ArmonaEvoluccedilatildeo 1873-1983 5 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1986a) - Ria de Faro Barra de Faro-OlhatildeoEvoluccedilatildeo 1955ndash1985 10p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986b) - Ria de Faro Ilha de TaviraEvoluccedilatildeo 1950ndash1985 8 p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986c) - Ria de Faro Ilha do AncatildeoEvoluccedilatildeo 1950-1985 7 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1987) - Ria de Faro Barra de TaviraEvoluccedilatildeo 13 p Direcccedilatildeo Geral de Portos LisboaPortugal

Ferreira Oacute Dias JA amp Taborda R (2008) -Implications of sea-level rise for Portugal Journal

of Coastal Research 24(2)317-324 (doi 10211207A-00061)

Ferreira Oacute Garcia T Matias A Taborda Ramp DiasJA (2006) - An integrated method for thedetermination of set-back lines for coastal erosionhazards on sandy shores Continental ShelfResearch 261030ndash1044 (doi 101016jcsr200512016)

Ferreira Oacute Martins JC amp Dias JA (1997) -Morfodinacircmica e vulnerabilidade da Praia de FaroSeminaacuterio sobre a zona costeira do Algarve 67-76 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_067_OFpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias Aamp Dias JA (2002)- Recent evolution of Culatra Island (Algarve ndashPortugal) Littoral 2002 The Changing Coast 289-294 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers02_LitTGpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2005)ndash Coastal Hazards Representation for Praia doBarril (Algarve Portugal) Continental ShelfResearch SI4928-33

Granja H (1984) - Eacutetude geacuteomor phologiquesedimentoloacutegique et geacuteoquimique de la Ria Formosa(Algarve-Portugal) These 3eme Cycle 254 pUniversiteacute de Bordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Greene K (2002) - Beach nourishment a review ofthe biological and physical impacts 174 p AtlanticStates Marine Fisheries Commission WashingtonDC (disponiacutevel em httpwwwasmfcorgpublicationshabitatbeachNourishmentpdf)

Griggs GB (1999) - The protection of Californialsquoscoast past present and future Shore amp Beach67(1)18-28

Hoyt JH (1967) - Barrier Island FormationGeological Society of America Bulletin 781125-1136 (doi 1011300016-7606(1967)78[1125BIF]20CO2)

Inman D (1978) - The impact of coastal structureson shorelines Proceedings of Coastal Zoneacute78 ASCE2265-2272

Koster MJ amp Hillen R (1995) - Combat erosion bylaw Coastal defence policy for the NetherlandsJournal of Coastal Research 67(2-3)43-49

Leatherman S (1976) - Barrier islands dynamicsoverwash processes and aeolian transportProceedings of Coastal Engineering Conference ASCE1958-1973

76

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Mangor K (1998) - Coastal restorationconsiderations Proceedings of Coastal Engineeringrsquo98Conference ASCE 3425-3438

Marcelo MJ amp Fonseca LC (1998) - Ria Formosada gestatildeo e conservaccedilatildeo de uma aacuterea protegidaRevista de Biologia 2ordm ENEC 16(1-4)125-133

Martins JT Ferreira Oacute Ciavola Pamp Dias JA (1996)- Monitoring of profile changes at Praia de FaroAlgarve a tool to predict and solve problems InTaussik J amp Mitchell J (eds) Partnership in CoastalZone Management pp 615-622 Samara Publ LtdCardigan UK

Matias A (2000) - Estudo morfosedimentar da Peniacutensulade Cacela Dissertaccedilatildeo de Mestrado 244pUniversidade do Algarve Faro Portugal (natildeopublicado)

Matias A Dias JA Williams AT amp Ferreira Oacute(1997) - Vulnerabilidade das dunas da RiaFormosa 9ordm Congresso do Algarve 231-239Vilamoura Portugal

Matias A Ferreira Oacute amp Dias JA (1999) -Preliminary results on the Cacela Peninsula dunereplenishment Boletiacuten del Instituto Espantildeol deOceanografiacutea 15(1-4)283-288 (disponiacutevel emhttpwwwieoespublicacionesboletinpdfsbol1515_283-288PDF)

Matias A Ferreira Oacute Dias JA amp Vila-Concejo A(2004) - Development of indices for the evaluationof dune recovery techniques Coastal Engineering51261-276 (doi 101016jcoastaleng200402002)

Matias A Ferreira Oacute Mendes I amp Dias JA (1998)- Monitorizaccedilatildeo da alimentaccedilatildeo artificial daPeniacutensula de Cacela Seminaacuterio sobre DragagensDragados e Ambientes Costeiros 47-56

Matias A Ferreira Oacute Mendes I Dias JA amp Vila-Cconcejo A (2005) - Artificial construction ofdunes in the South of Portugal Journal of CoastalResearch 21(3)472-481 (doi 10211203-00471)

Matias A Vila-Concejo A Ferreira Oacute amp Dias JA(2003) - Field measurements of morphologicvariations during an overwash event 4ordm Simpoacutesiosobre a Margem Ibeacuterica Atlacircntica Thalassas19(2b)164-165 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI03_4SM_b164_AMpdf)

NRC - National Research Council (1995) - Beach

Nourishment and Protection 334 p Washington DCNational Academy Press (ISBN 9780309052900)

Pacheco A Carrasco AR Vila-Concejo A FerreiraOacute amp Dias JA (2007) - A coastal managementprogram for channels located in backbarriersystems Ocean amp Coastal Management 50119-143 (doi101016jocecoaman200608008)

Pilkey OH amp Dixon K (1996) - The Corps and theShore 286p Island Press Washington DC USA(ISBN 9781559634380)

Pilkey OH Neal WJ Monteiro JH amp Dias JA(1989) - Algarve Barrier Islands A Noncoastal-Plain System in Portugal Journal of Coastal Research5(2)239-261

Ramos L amp Dias J A (2000) - Atenuaccedilatildeo davulnerabilidade a galgamentos oceacircnicos nosistema da Ria Formosa mediante intervenccedilotildeessuaves 3ordm Simpoacutesio sobre a Margem ContinentalIbeacuterica Atlacircntica Faro 361-362 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers00_SMLRpdf)

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2001)- Avaliaccedilatildeo de realimentaccedilotildees artificiais de praiasda Ria Formosa Casos das ilhas de Cacela e deTavira Congresso do Algarve 2001 8 p

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2002)- Preliminary Evaluation of the MorphologicalEvolution of Contrasting Beaches of the RiaFormosa With Relation to Differences inRefracted Wave Height Littoral 2002 TheChanging Coast 423-429 (disponiacutevel emht tp www2 00 8 i o -war nemu ende dehomepagesschernewskiLittoral2000docsvol3Littoral2002_79pdf)

Scheele RJ amp Westen CJ (1996) - Planning for acoastal policy - the 3A4 approach In Taussik Jamp Mitchell J (eds) Partnership in Coastal ZoneManagement pp 65-71 Samara Publ LtdCardigan UK

Sprung M (1994) - Macrobenthic secondaryproduction in the intertidal zone of Ria Formosaa lagoon in southern Portugal Estuarine Coastaland Shelf Science 38539ndash558 (doi 101006ecss19941037)

Van Den Belt M Videira N Antunes P Santos Ramp Gamito S (2000) - Modelaccedilatildeo Participada na RiaFormosa 36 p Ediccedilatildeo Fundaccedilatildeo do Mar LisboaPortugal

77

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Vila A Dias JMA Ferreira Oacute amp Matias A (1999)- Natural evolution of an artificial inlet CoastalSedimentslsquo99 21478-1488 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI99_CS99_1478_AVpdf)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Ciavola P Matias Aamp Dias JA (2004a) - Tracer studies on the updriftmargin of a complex inlet system Marine Geology20843-72 (doi 101016jmargeo200404020)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA(2003) - The first two years of an inlet sedimentarydynamics Continental Shelf Research 231425-1445 (doi 101016S0278-4343(03)00142-0)

Vila-Concejo A Matias A Ferreira Oacute Duarte Camp Dias JA (2002) - Recent evolution of thenatural inlets of a barrier island system in southernPortugal Journal of Coastal Research (ICS 2002proceedings) SI36741-752

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Morris BD MatiasA amp Dias JA (2004b) ndash Lessons from inletrelocation examples from Southern PortugalCoastal Engineering 51(10)967-990(doi101016jcoastaleng200407019)

Vila-Concejo A Matias A Pacheco A FerreiraOacute amp Dias JA (2006) - Quantification of inlet-related hazards in barrier island systems Anexample from the Ria Formosa (Portugal)Continental Shelf Research 261045-1060(doi 101016jcsr200512014)

Weinholtz MB (1978) - Contribuiccedilatildeo para o estudo daevoluccedilatildeo das flechas de areia na costa sotavento do Algarve(Ria de Faro) Relatoacuterio da Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Wells JT amp McNinch J (1991) - Beach scraping inNorth Carolina with special reference to itseffectiveness during Hurricane Hugo Journal ofCoastal Research SI8249-261

Williams SJ (2001) - Coastal erosion and land lossaround the United States strategies to manage andprotect coastal resources ndash examples fromLouisiana Coastal Ecosystems and FederalActivities Technical Training SymposiumProceedings 15 p (disponiacutevel emhttpwwwfwsgovnc-esecoconfwilliamspaperpdf)

Page 19: Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na

75

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Dias JA Ferreira Oacute Matias A Vila-Concejo Aamp Saacute-Pires C (2003) - Evaluation of softprotection techniques in barrier islands bymonitoring programs case studies from RiaFormosa (Algarve-Portugal) Journal of CoastalResearch SI35117-131

Dias JA Ferreira Oacute amp Moura D (2004) - O sistemade ilhas-barreira da Ria Formosa 3ordm SIPRES ndashSimpoacutesio Interdisciplinar sobre Processos Estuarinos 18p Faro Portugal

Dias JA amp Neal WJ (1992) - Sea cliff retreat insouthern Portugal profiles processes andproblems Journal of Coastal Research 8641-654

Dias JA amp Taborda R (1992) - Tidal gauge data indeducing secular trends of relative sea level andcrustal movements in Portugal Journal of CoastalResearch 8655-659

Dias JA Teixeira SB amp Ferreira Oacute (1997) - LivroGuia da Excursatildeo Seminaacuterio sobre a Zona Costeirado Algarve 43 p Faro Portugal

Douglas BC (1995) - Global sea level changedetermination and interpretation US NationalReport to IUGG 1991-1994 Geophys 33 Suppl11 p (disponiacutevel em httpwwwaguorgrevgeophysdougla01dougla01html)

Duarte C Matias A Dias JA amp Ferreira Oacute (1999)- Vulnerabilidade dos corpos dunares do Algarve10ordm Congresso do Algarve 477-490 (disponiacutevelem httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN99_10CA_477_CDpdf)

Esaguy AS (1984) - Ria de Faro Barra da ArmonaEvoluccedilatildeo 1873-1983 5 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1986a) - Ria de Faro Barra de Faro-OlhatildeoEvoluccedilatildeo 1955ndash1985 10p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986b) - Ria de Faro Ilha de TaviraEvoluccedilatildeo 1950ndash1985 8 p Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Esaguy AS (1986c) - Ria de Faro Ilha do AncatildeoEvoluccedilatildeo 1950-1985 7 p Direcccedilatildeo Geral de PortosLisboa Portugal

Esaguy AS (1987) - Ria de Faro Barra de TaviraEvoluccedilatildeo 13 p Direcccedilatildeo Geral de Portos LisboaPortugal

Ferreira Oacute Dias JA amp Taborda R (2008) -Implications of sea-level rise for Portugal Journal

of Coastal Research 24(2)317-324 (doi 10211207A-00061)

Ferreira Oacute Garcia T Matias A Taborda Ramp DiasJA (2006) - An integrated method for thedetermination of set-back lines for coastal erosionhazards on sandy shores Continental ShelfResearch 261030ndash1044 (doi 101016jcsr200512016)

Ferreira Oacute Martins JC amp Dias JA (1997) -Morfodinacircmica e vulnerabilidade da Praia de FaroSeminaacuterio sobre a zona costeira do Algarve 67-76 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasJADpapersCN97_SZCA_067_OFpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias Aamp Dias JA (2002)- Recent evolution of Culatra Island (Algarve ndashPortugal) Littoral 2002 The Changing Coast 289-294 (disponiacutevel em httpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers02_LitTGpdf)

Garcia T Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2005)ndash Coastal Hazards Representation for Praia doBarril (Algarve Portugal) Continental ShelfResearch SI4928-33

Granja H (1984) - Eacutetude geacuteomor phologiquesedimentoloacutegique et geacuteoquimique de la Ria Formosa(Algarve-Portugal) These 3eme Cycle 254 pUniversiteacute de Bordeaux I Franccedila (natildeo publicado)

Greene K (2002) - Beach nourishment a review ofthe biological and physical impacts 174 p AtlanticStates Marine Fisheries Commission WashingtonDC (disponiacutevel em httpwwwasmfcorgpublicationshabitatbeachNourishmentpdf)

Griggs GB (1999) - The protection of Californialsquoscoast past present and future Shore amp Beach67(1)18-28

Hoyt JH (1967) - Barrier Island FormationGeological Society of America Bulletin 781125-1136 (doi 1011300016-7606(1967)78[1125BIF]20CO2)

Inman D (1978) - The impact of coastal structureson shorelines Proceedings of Coastal Zoneacute78 ASCE2265-2272

Koster MJ amp Hillen R (1995) - Combat erosion bylaw Coastal defence policy for the NetherlandsJournal of Coastal Research 67(2-3)43-49

Leatherman S (1976) - Barrier islands dynamicsoverwash processes and aeolian transportProceedings of Coastal Engineering Conference ASCE1958-1973

76

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Mangor K (1998) - Coastal restorationconsiderations Proceedings of Coastal Engineeringrsquo98Conference ASCE 3425-3438

Marcelo MJ amp Fonseca LC (1998) - Ria Formosada gestatildeo e conservaccedilatildeo de uma aacuterea protegidaRevista de Biologia 2ordm ENEC 16(1-4)125-133

Martins JT Ferreira Oacute Ciavola Pamp Dias JA (1996)- Monitoring of profile changes at Praia de FaroAlgarve a tool to predict and solve problems InTaussik J amp Mitchell J (eds) Partnership in CoastalZone Management pp 615-622 Samara Publ LtdCardigan UK

Matias A (2000) - Estudo morfosedimentar da Peniacutensulade Cacela Dissertaccedilatildeo de Mestrado 244pUniversidade do Algarve Faro Portugal (natildeopublicado)

Matias A Dias JA Williams AT amp Ferreira Oacute(1997) - Vulnerabilidade das dunas da RiaFormosa 9ordm Congresso do Algarve 231-239Vilamoura Portugal

Matias A Ferreira Oacute amp Dias JA (1999) -Preliminary results on the Cacela Peninsula dunereplenishment Boletiacuten del Instituto Espantildeol deOceanografiacutea 15(1-4)283-288 (disponiacutevel emhttpwwwieoespublicacionesboletinpdfsbol1515_283-288PDF)

Matias A Ferreira Oacute Dias JA amp Vila-Concejo A(2004) - Development of indices for the evaluationof dune recovery techniques Coastal Engineering51261-276 (doi 101016jcoastaleng200402002)

Matias A Ferreira Oacute Mendes I amp Dias JA (1998)- Monitorizaccedilatildeo da alimentaccedilatildeo artificial daPeniacutensula de Cacela Seminaacuterio sobre DragagensDragados e Ambientes Costeiros 47-56

Matias A Ferreira Oacute Mendes I Dias JA amp Vila-Cconcejo A (2005) - Artificial construction ofdunes in the South of Portugal Journal of CoastalResearch 21(3)472-481 (doi 10211203-00471)

Matias A Vila-Concejo A Ferreira Oacute amp Dias JA(2003) - Field measurements of morphologicvariations during an overwash event 4ordm Simpoacutesiosobre a Margem Ibeacuterica Atlacircntica Thalassas19(2b)164-165 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI03_4SM_b164_AMpdf)

NRC - National Research Council (1995) - Beach

Nourishment and Protection 334 p Washington DCNational Academy Press (ISBN 9780309052900)

Pacheco A Carrasco AR Vila-Concejo A FerreiraOacute amp Dias JA (2007) - A coastal managementprogram for channels located in backbarriersystems Ocean amp Coastal Management 50119-143 (doi101016jocecoaman200608008)

Pilkey OH amp Dixon K (1996) - The Corps and theShore 286p Island Press Washington DC USA(ISBN 9781559634380)

Pilkey OH Neal WJ Monteiro JH amp Dias JA(1989) - Algarve Barrier Islands A Noncoastal-Plain System in Portugal Journal of Coastal Research5(2)239-261

Ramos L amp Dias J A (2000) - Atenuaccedilatildeo davulnerabilidade a galgamentos oceacircnicos nosistema da Ria Formosa mediante intervenccedilotildeessuaves 3ordm Simpoacutesio sobre a Margem ContinentalIbeacuterica Atlacircntica Faro 361-362 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers00_SMLRpdf)

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2001)- Avaliaccedilatildeo de realimentaccedilotildees artificiais de praiasda Ria Formosa Casos das ilhas de Cacela e deTavira Congresso do Algarve 2001 8 p

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2002)- Preliminary Evaluation of the MorphologicalEvolution of Contrasting Beaches of the RiaFormosa With Relation to Differences inRefracted Wave Height Littoral 2002 TheChanging Coast 423-429 (disponiacutevel emht tp www2 00 8 i o -war nemu ende dehomepagesschernewskiLittoral2000docsvol3Littoral2002_79pdf)

Scheele RJ amp Westen CJ (1996) - Planning for acoastal policy - the 3A4 approach In Taussik Jamp Mitchell J (eds) Partnership in Coastal ZoneManagement pp 65-71 Samara Publ LtdCardigan UK

Sprung M (1994) - Macrobenthic secondaryproduction in the intertidal zone of Ria Formosaa lagoon in southern Portugal Estuarine Coastaland Shelf Science 38539ndash558 (doi 101006ecss19941037)

Van Den Belt M Videira N Antunes P Santos Ramp Gamito S (2000) - Modelaccedilatildeo Participada na RiaFormosa 36 p Ediccedilatildeo Fundaccedilatildeo do Mar LisboaPortugal

77

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Vila A Dias JMA Ferreira Oacute amp Matias A (1999)- Natural evolution of an artificial inlet CoastalSedimentslsquo99 21478-1488 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI99_CS99_1478_AVpdf)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Ciavola P Matias Aamp Dias JA (2004a) - Tracer studies on the updriftmargin of a complex inlet system Marine Geology20843-72 (doi 101016jmargeo200404020)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA(2003) - The first two years of an inlet sedimentarydynamics Continental Shelf Research 231425-1445 (doi 101016S0278-4343(03)00142-0)

Vila-Concejo A Matias A Ferreira Oacute Duarte Camp Dias JA (2002) - Recent evolution of thenatural inlets of a barrier island system in southernPortugal Journal of Coastal Research (ICS 2002proceedings) SI36741-752

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Morris BD MatiasA amp Dias JA (2004b) ndash Lessons from inletrelocation examples from Southern PortugalCoastal Engineering 51(10)967-990(doi101016jcoastaleng200407019)

Vila-Concejo A Matias A Pacheco A FerreiraOacute amp Dias JA (2006) - Quantification of inlet-related hazards in barrier island systems Anexample from the Ria Formosa (Portugal)Continental Shelf Research 261045-1060(doi 101016jcsr200512014)

Weinholtz MB (1978) - Contribuiccedilatildeo para o estudo daevoluccedilatildeo das flechas de areia na costa sotavento do Algarve(Ria de Faro) Relatoacuterio da Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Wells JT amp McNinch J (1991) - Beach scraping inNorth Carolina with special reference to itseffectiveness during Hurricane Hugo Journal ofCoastal Research SI8249-261

Williams SJ (2001) - Coastal erosion and land lossaround the United States strategies to manage andprotect coastal resources ndash examples fromLouisiana Coastal Ecosystems and FederalActivities Technical Training SymposiumProceedings 15 p (disponiacutevel emhttpwwwfwsgovnc-esecoconfwilliamspaperpdf)

Page 20: Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na

76

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Mangor K (1998) - Coastal restorationconsiderations Proceedings of Coastal Engineeringrsquo98Conference ASCE 3425-3438

Marcelo MJ amp Fonseca LC (1998) - Ria Formosada gestatildeo e conservaccedilatildeo de uma aacuterea protegidaRevista de Biologia 2ordm ENEC 16(1-4)125-133

Martins JT Ferreira Oacute Ciavola Pamp Dias JA (1996)- Monitoring of profile changes at Praia de FaroAlgarve a tool to predict and solve problems InTaussik J amp Mitchell J (eds) Partnership in CoastalZone Management pp 615-622 Samara Publ LtdCardigan UK

Matias A (2000) - Estudo morfosedimentar da Peniacutensulade Cacela Dissertaccedilatildeo de Mestrado 244pUniversidade do Algarve Faro Portugal (natildeopublicado)

Matias A Dias JA Williams AT amp Ferreira Oacute(1997) - Vulnerabilidade das dunas da RiaFormosa 9ordm Congresso do Algarve 231-239Vilamoura Portugal

Matias A Ferreira Oacute amp Dias JA (1999) -Preliminary results on the Cacela Peninsula dunereplenishment Boletiacuten del Instituto Espantildeol deOceanografiacutea 15(1-4)283-288 (disponiacutevel emhttpwwwieoespublicacionesboletinpdfsbol1515_283-288PDF)

Matias A Ferreira Oacute Dias JA amp Vila-Concejo A(2004) - Development of indices for the evaluationof dune recovery techniques Coastal Engineering51261-276 (doi 101016jcoastaleng200402002)

Matias A Ferreira Oacute Mendes I amp Dias JA (1998)- Monitorizaccedilatildeo da alimentaccedilatildeo artificial daPeniacutensula de Cacela Seminaacuterio sobre DragagensDragados e Ambientes Costeiros 47-56

Matias A Ferreira Oacute Mendes I Dias JA amp Vila-Cconcejo A (2005) - Artificial construction ofdunes in the South of Portugal Journal of CoastalResearch 21(3)472-481 (doi 10211203-00471)

Matias A Vila-Concejo A Ferreira Oacute amp Dias JA(2003) - Field measurements of morphologicvariations during an overwash event 4ordm Simpoacutesiosobre a Margem Ibeacuterica Atlacircntica Thalassas19(2b)164-165 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI03_4SM_b164_AMpdf)

NRC - National Research Council (1995) - Beach

Nourishment and Protection 334 p Washington DCNational Academy Press (ISBN 9780309052900)

Pacheco A Carrasco AR Vila-Concejo A FerreiraOacute amp Dias JA (2007) - A coastal managementprogram for channels located in backbarriersystems Ocean amp Coastal Management 50119-143 (doi101016jocecoaman200608008)

Pilkey OH amp Dixon K (1996) - The Corps and theShore 286p Island Press Washington DC USA(ISBN 9781559634380)

Pilkey OH Neal WJ Monteiro JH amp Dias JA(1989) - Algarve Barrier Islands A Noncoastal-Plain System in Portugal Journal of Coastal Research5(2)239-261

Ramos L amp Dias J A (2000) - Atenuaccedilatildeo davulnerabilidade a galgamentos oceacircnicos nosistema da Ria Formosa mediante intervenccedilotildeessuaves 3ordm Simpoacutesio sobre a Margem ContinentalIbeacuterica Atlacircntica Faro 361-362 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasGESTLITpapers00_SMLRpdf)

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2001)- Avaliaccedilatildeo de realimentaccedilotildees artificiais de praiasda Ria Formosa Casos das ilhas de Cacela e deTavira Congresso do Algarve 2001 8 p

Saacute-Pires C Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA (2002)- Preliminary Evaluation of the MorphologicalEvolution of Contrasting Beaches of the RiaFormosa With Relation to Differences inRefracted Wave Height Littoral 2002 TheChanging Coast 423-429 (disponiacutevel emht tp www2 00 8 i o -war nemu ende dehomepagesschernewskiLittoral2000docsvol3Littoral2002_79pdf)

Scheele RJ amp Westen CJ (1996) - Planning for acoastal policy - the 3A4 approach In Taussik Jamp Mitchell J (eds) Partnership in Coastal ZoneManagement pp 65-71 Samara Publ LtdCardigan UK

Sprung M (1994) - Macrobenthic secondaryproduction in the intertidal zone of Ria Formosaa lagoon in southern Portugal Estuarine Coastaland Shelf Science 38539ndash558 (doi 101006ecss19941037)

Van Den Belt M Videira N Antunes P Santos Ramp Gamito S (2000) - Modelaccedilatildeo Participada na RiaFormosa 36 p Ediccedilatildeo Fundaccedilatildeo do Mar LisboaPortugal

77

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Vila A Dias JMA Ferreira Oacute amp Matias A (1999)- Natural evolution of an artificial inlet CoastalSedimentslsquo99 21478-1488 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI99_CS99_1478_AVpdf)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Ciavola P Matias Aamp Dias JA (2004a) - Tracer studies on the updriftmargin of a complex inlet system Marine Geology20843-72 (doi 101016jmargeo200404020)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA(2003) - The first two years of an inlet sedimentarydynamics Continental Shelf Research 231425-1445 (doi 101016S0278-4343(03)00142-0)

Vila-Concejo A Matias A Ferreira Oacute Duarte Camp Dias JA (2002) - Recent evolution of thenatural inlets of a barrier island system in southernPortugal Journal of Coastal Research (ICS 2002proceedings) SI36741-752

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Morris BD MatiasA amp Dias JA (2004b) ndash Lessons from inletrelocation examples from Southern PortugalCoastal Engineering 51(10)967-990(doi101016jcoastaleng200407019)

Vila-Concejo A Matias A Pacheco A FerreiraOacute amp Dias JA (2006) - Quantification of inlet-related hazards in barrier island systems Anexample from the Ria Formosa (Portugal)Continental Shelf Research 261045-1060(doi 101016jcsr200512014)

Weinholtz MB (1978) - Contribuiccedilatildeo para o estudo daevoluccedilatildeo das flechas de areia na costa sotavento do Algarve(Ria de Faro) Relatoacuterio da Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Wells JT amp McNinch J (1991) - Beach scraping inNorth Carolina with special reference to itseffectiveness during Hurricane Hugo Journal ofCoastal Research SI8249-261

Williams SJ (2001) - Coastal erosion and land lossaround the United States strategies to manage andprotect coastal resources ndash examples fromLouisiana Coastal Ecosystems and FederalActivities Technical Training SymposiumProceedings 15 p (disponiacutevel emhttpwwwfwsgovnc-esecoconfwilliamspaperpdf)

Page 21: Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na

77

Filipe Rafael CeiaRevista de Gestatildeo Costeira Integrada Journal of Integrated Coastal Zone Management 9(1)57-77 (2009)

Vila A Dias JMA Ferreira Oacute amp Matias A (1999)- Natural evolution of an artificial inlet CoastalSedimentslsquo99 21478-1488 (disponiacutevel emhttpw3ualgpt~jdiasJADpapersCI99_CS99_1478_AVpdf)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Ciavola P Matias Aamp Dias JA (2004a) - Tracer studies on the updriftmargin of a complex inlet system Marine Geology20843-72 (doi 101016jmargeo200404020)

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Matias A amp Dias JA(2003) - The first two years of an inlet sedimentarydynamics Continental Shelf Research 231425-1445 (doi 101016S0278-4343(03)00142-0)

Vila-Concejo A Matias A Ferreira Oacute Duarte Camp Dias JA (2002) - Recent evolution of thenatural inlets of a barrier island system in southernPortugal Journal of Coastal Research (ICS 2002proceedings) SI36741-752

Vila-Concejo A Ferreira Oacute Morris BD MatiasA amp Dias JA (2004b) ndash Lessons from inletrelocation examples from Southern PortugalCoastal Engineering 51(10)967-990(doi101016jcoastaleng200407019)

Vila-Concejo A Matias A Pacheco A FerreiraOacute amp Dias JA (2006) - Quantification of inlet-related hazards in barrier island systems Anexample from the Ria Formosa (Portugal)Continental Shelf Research 261045-1060(doi 101016jcsr200512014)

Weinholtz MB (1978) - Contribuiccedilatildeo para o estudo daevoluccedilatildeo das flechas de areia na costa sotavento do Algarve(Ria de Faro) Relatoacuterio da Direcccedilatildeo Geral dePortos Lisboa Portugal

Wells JT amp McNinch J (1991) - Beach scraping inNorth Carolina with special reference to itseffectiveness during Hurricane Hugo Journal ofCoastal Research SI8249-261

Williams SJ (2001) - Coastal erosion and land lossaround the United States strategies to manage andprotect coastal resources ndash examples fromLouisiana Coastal Ecosystems and FederalActivities Technical Training SymposiumProceedings 15 p (disponiacutevel emhttpwwwfwsgovnc-esecoconfwilliamspaperpdf)