vox objetiva edição 39

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setembro/12 • edição 39• Ano IV • Distribuição gratuita Luz sobre a história Museu relembra os horrores cometidos em nome da fé Terapia sonora A música como aliada nos tratamentos de saúde Fim da linha Decisão do Conselho Federal de Medicina de permitir a pacientes terminais que recusem tratamento divide juristas e parentes. Polêmica pode acabar nos tribunais.

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Edição 39 da revista Vox Objetiva

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Luz sobrea história Museu relembraos horrorescometidos emnome da fé

Terapiasonora A música comoaliada nostratamentosde saúde

Fim da linhaDecisão do Conselho Federal de Medicina de permitir a pacientes terminais que recusem tratamento divide juristas e parentes. Polêmica

pode acabar nos tribunais.

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MetrOpOlIS • OLHAR BH

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Delírio visuale eis que a primavera chega, repaginando um dos mais belos cartões-postais da capital mineira. As cores da es-tação, a temperatura alta e o céu claro deixam a Praça da Liberdade ainda mais harmônica e convidativa. em meio ao trânsito intenso de veículos que tangenciam o espaço, rosas vermelhas, margaridas e os exuberantes ipês-lila-ses, cujas flores brotam de galhos secos, colorem e perfu-mam o local. É, sem dúvida, o palco mais apropriado para namoros e passeios no fim de tarde. À medida que o sol se põe, a praça adquire um ar bucólico e muito romântico.

André Martins

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edItOrIal

A decisão do Conselho Federal de Medicina de permitir a Ortotanásia em nosso país chega com pelo menos sete anos de atraso. Esse foi o tempo em que as autoridades brasileiras debateram as questões jurídicas e sobre como avançar em um assunto que tem sido polêmico até mesmo nos países mais desenvolvidos. Na base de toda a discussão estavam, e ainda estão, as questões religiosas, sempre utilizadas como argumento de resistência e “chantagem espiritual”.

Ao analisarmos a questão na visão de um país laico e que deve permitir a livre escolha aos cidadãos sobre si mesmo, a Ortotanásia é, na verdade, um direito que deveria constar na Carta Magna brasileira como forma de permitir o alívio de momentos intensos de sofrimento para pacientes e familiares.

Naturalmente que não estamos falando aqui do suicídio nem de outras formas de morte que não estejam no contexto de uma fase final irreversível. Também não podemos menosprezar, em nenhum sentido, a colaboração do debate por meio da visão religiosa, que é base importante para a formação de milhões de pessoas.

Dar a um portador de doença terminal o direito de escolher a hora de partir, sem se submeter a tratamentos ineficazes e que prolonguem a dor, é um passo maduro. É o resultado de um Estado de Direito que, ao longo do tempo, está aprendendo a respeitar e garantir a liberdade das decisões tomadas no âmbito da individualidade. Essa liberdade deve ser garantida, agora por lei, independentemente da negativa ou do desacordo de posicionamentos religiosos.

A decisão final cabe à pessoa e não aos governos. Em muitos casos, não será tarefa fácil para pacientes nem para os familiares desligar os aparelhos que garantem uma sobrevida. Sem culpa judicial nem religiosa, essa deve ser uma decisão, acima de tudo, livre.

Sinal dos tempos

A revista Vox é uma publicação mensal da Vox Domini editora Ltda. rua tupis, 204, sala 218, Centro - belo Horizonte - mG CeP: 30190-060.

“... o povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32)

• eDItor e jornALIstA resPonsáVeLCarlos Viana

• DIAGrAmAção e ArteGraziele martins

• CAPAeduardo mendes

• rePortAGemAndré martinsFernanda CarvalhoThiago Madureira

• estAGIárIAs bianca nazaréLuísa reiff Guimarães

• CorresPonDentesGreice rodrigues -estados UnidosIlana rehavia - reino Unido

• DIretorIA ComerCIALsolange Viana

• Anú[email protected](31) 2514-0990

[email protected](31) 2514-0990www.voxobjetiva.com.br

• reVIsãoVersão Final

• tIrAGem 30 mil exemplares

Os textos publicados em forma de arti-gos, produzidos por colunistas convida-dos, expressam o pensamento individual e são de responsabilidade dos autores. todos os direitos reservados. Os textos publicados na revista Vox Objetiva só poderão ser reproduzidos com autoriza-ção dos editores.

CarlOS VIanaEditor-Chefe

[email protected]

expedIente

Page 5: Vox Objetiva edição 39

nOtaS

Diagnóstico de câncer

O Instituto de Tecnologia de Israel desenvolveu um tipo de bafômetro que permite a identificação de nódulos no pulmão. O aparelho pode substituir exames invasivos e permitir um diagnóstico precoce. Desde 2009, o aparelho vem sendo testado em voluntários norte- -americanos. Os resultados têm sido exitosos.

Racismo na literatura?

Representantes do Ministério da Educação, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e da AGU discutem a utilização do livro Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, em escolas da rede pública. Professores foram orientados a contextualizar a história à realidade da época em que foi escrita, em 1933. Ainda assim, trechos como “Tia Nastácia... trepou que nem uma macaca de carvão” podem ser considerados ofensivos e levar à exclusão do livro das bibliotecas escolares.

Retirada venezuelana

Foi formalizado o pedido da Venezuela de retirar- -se da Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA). O governo justifica a decisão alegando a falta de imparcialidade nos julgamentos e nas decisões tomadas. O Chanceler Nicolás Maduro cita como violações cometidas pela Organização o caso de Raúl Diaz Peña, considerado terrorista por promover ataques às embaixadas colombiana e espanhola, e o do suposto massacre dos Yanomamis. A OEA questiona o respeito aos direitos humanos na Venezuela. Dentro de um ano, o processo deve ser concluído.

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Alô! Os amantes da tecnologia ao redor do mundo po-dem comemorar! No dia 21 de setembro começou a circular nas lojas americanas o novo modelo de celular da Apple, o Iphone 5. Dentre as inovações muito bem-vindas está o suporte à conexão 4G LTE e a tela ampla, que apresenta espaço para mais uma linha horizontal de ícones na página inicial.

Reprodução

Divulgação/ Apple

Page 6: Vox Objetiva edição 39

Capa .................................................................. SAÚDE • ortotAnásIA Paciente terminal pode definir até onde os médicos devem ir com um tratamento. O problema é a lei

SalutarIS ................................................. COMPORTAMENTO • VoLUntArIADo A vida de quem partilha um pouco com quem precisa

VerbO .......................ENTREviSTA • Marcio LacerdaCandidato à re-eleição, Lacerda desconversa sobre possibilidade de brigar pelo governo do estado em 2014

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SuMárIO

artIgOS.............................................................................POLÍTICA • Paulo Filho Tiros que podem sair pela culatra .........................................12

IMOBILIÁRIO • Kênio Pereira Para não pagar além do justo ................................................17

PSICOLOGIA • maria Angélica Falci Onde você está? ..................................................................27

JUSTIÇA • robson sávio A Copa do Mundo é nossa? ................................................33

Adão de souza

stock.xchng

METEOROLOGIA • ruibran dos reis Sinais de mudanças climáticas .............................................37

CRÔNICA • joanita Gontijo Depois do amor ................................................................. 50

SalutarIS ....................................................................... RECEiTA • PALADAr Cordeiro ao forno .............................................................28

viNHOS • DeGUstAção Vida gourmet ...................................................................29

22MetrOpOlIS ............................................. SOCiEDADE• DeFICIentes VIsUAIsA dificuldade de se integrar em cidades despreparadas

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stock.xchng

Page 7: Vox Objetiva edição 39

SalutarIS ................................................. SAÚDE • músICA Ciência investiga os benefícios dasnotas musicais para a saúde da mente

Vanguarda ............................................. TECNOLOGiA • ALternAtIVAs Minas Gerais desponta na produção de energias limpas

pOdIuM......................................................... ESPORTES • brAsILeIrãoCampeonato entra em fase decisiva. Qua-tro times são apontados como favoritos

kultur ......................................................... HiSTÓRiA • mUseU DA InQUIsIção Parte do passado sombrio da história é redescoberta em museu

kultur ......................................................... RETRÔ E viNTAGE • DAnçA Última matéria da série apresenta danças que continuam nos palcos e nas pistas

kultur ......................................................... CiNEMA • 360 Em novo filme, Meirelles investigalógica dos relacionamentos modernos

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nelson Perez

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Guto muniz

Divulgação/ Cemig

André martins

Divulgação/ Paris Filmes

Page 8: Vox Objetiva edição 39

Candidato à reeleição, marcio Lacerda se diz centrado no pleito de outubro e desconversa quando o assunto é a disputa pelo governo do estado em 2014

Um passo de cada vez

Contribuindo com o papel da imprensa na democracia em Belo Horizonte, a Vox Objetiva dá continuidade à série de entrevistas com os candidatos mais bem-avaliados nas pesquisas de intenção de voto. Nesta edição, o leitor de Vox Objetiva confere a conversa com o candidato Marcio Lacerda (PSB).

Na entrevista, o prefeito comenta os acertos da atual administração e os desafios implicados na sua permanência na prefeitura, com uma possível reeleição. Lacerda demonstra serenidade em relação às estratégias de ataque da oposição e prefere manter-se distante das brigas internas do PT mineiro.

Com o programa “BH Metas e resultados” você revelou aos belo-horizontinos a sua forma de governar, que é bem ao estilo de um grande apoiador seu, o senador Aécio Neves. Você se considera um tecnocrata?

Nossa campanha não tem um grande apoiador. Os grandes apoiadores são os moradores de Belo Horizonte, que reconhecem e aprovam a nossa gestão. É claro que recebo com satisfação e orgulho o apoio do senador Aécio Neves, que é o grande representante do povo de Minas no Congresso Nacional. Quanto a essa colocação pejorativa de alguns poucos adversários da atual administração municipal, estou certo de que isso não passa de uma tentativa de polarizar as eleições municipais. Eu me conceituo como um gestor experiente, zeloso no trato com a administração pública, dedicado à

melhoria da qualidade de vida e sensível às causas sociais.

Você acredita que a aliança feita em 2008 e a dissolução dela, quatro anos depois, deixa o PT e o PSB em situação desconfortável? Você aceitaria, no futuro, uma nova aliança com o PT mineiro?

No campo do diálogo, não há desconforto da nossa parte. O PSB manteve a coerência durante todo o processo. O partido assumiu o compromisso de aceitar que o candidato a vice-prefeito fosse do PT. Cumprimos esse compromisso até o último momento, e o PT chegou a indicar o candidato a vice. Contudo, em um dado momento das articulações, o PT decidiu romper a aliança. Quero deixar claro que o nosso objetivo primordial, nos últimos anos e durante o

período eleitoral, é a constante busca pela qualidade de vida do povo de Belo Horizonte. Com esse foco, nossa administração não faz distinção de quem quer que seja.

Se pudesse, corrigiria algo ou faria diferente?

Nesses pouco mais de três anos e meio, trabalhei pelas pessoas e com as pessoas em busca de melhorias para a nossa cidade. Na educação, por exemplo, houve conquistas muito significativas. O rigor no Boletim Escolar e a ampliação do atendimento à Educação Infantil são bons exemplos.

“Interesses partidários jamais prevalecem sobre a gestão das prio-ridades da cidade”

André Martins

VerbO

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nidin sanches

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1010

VerbO

Nós triplicamos o número de Escolas Integradas. O resultado disso é que a qualidade do ensino nas escolas da Prefeitura melhorou bastante em todos os índices de avaliação. Na saúde foram realizadas mais de 70 mil cirurgias eletivas. Apenas este ano, nomeei mais de 600 médicos aprovados em concurso. Já para a segurança pública, nós vamos aumentar os efetivos da Guarda Municipal, fortalecer a Defesa Civil Municipal e a integração com os órgãos estaduais de Defesa Social. Vamos, também, ampliar a instalação de câmeras de vigilância pela cidade. Além disso, a cidade passa pelo maior conjunto de obras viárias de sua história. Ainda há muito a ser feito. Não digo que faria algo diferente, mas reitero que tenho como prioridade dar andamento a todas as obras, aos programas e projetos sociais que estão em curso.

Quais as obras o senhor considera as mais importantes para a cidade? Elas vão garantir a reeleição?

As obras vão, antes de tudo, garantir a melhoria na qualidade de vida. A reeleição é uma consequência que passa, sobretudo, pela aprovação dos cidadãos. Uma

obra sempre é importante e muda a vida da população para melhor. Mas quem garante o voto é o eleitor. Os desafios da mobilidade urbana, por exemplo, sempre foram enfrentados com planejamento e seriedade em minha gestão. O BRT já está em fase de implantação. As vantagens dessa modalidade de transporte, que tem capacidade para transportar 750 mil pessoas por dia, incluem a redução do tempo de espera e de viagem, mais conforto, confiabilidade e segurança, facilidade de acesso e menores custos. Ainda nesse contexto, nós estabelecemos importantes parcerias e estamos realizando o maior programa de obras viárias da história de Belo Horizonte. Há também a conclusão das obras de duplicação das avenidas Antônio Carlos, Pedro I e a ampliação do Boulevard Arrudas. São ações e investimentos que darão a nossa cidade papel de protagonismo na Copa das Confederações de 2013 e na Copa do Mundo de 2014. Também destaco a construção de Escolas Integradas. Quando assumi eram 50. Agora são 170, com 65 mil alunos beneficiados. As escolas infantis passaram de 53 para 79, com mais de 46 mil crianças atendidas. Estamos construindo o Hospital Metropolitano do Barreiro, o primeiro hospital municipal a ser implantado na cidade em 70 anos. Atualmente BH conta com 50 Academias da Cidade. Antes eram oito. Por meio de programas sociais, foram entregues mais de 5,2 mil moradias na minha gestão. Nós criamos o maior programa de prevenção de enchentes de todos os tempos. Construímos, no Barreiro, o maior Restaurante Popular do Brasil. São resultados concretos de quem fala pouco e trabalha muito.

Alguns cientistas políticos apontam que a cultura é uma área em crise em Belo Horizonte. O que você pretende fazer para recompor a base da política cultural da cidade?

Nós desconhecemos a expressão ‘crise’ no que tange esse setor. Durante a minha gestão, a cultura contou com inúmeros investimentos para a promoção da vitalidade cultural de Belo Horizonte, a democratização do acesso, com os grandes festivais, os centros culturais, a ampliação e qualificação das bibliotecas. Mais que isso: a volta da Secretaria Municipal de Cultura é um compromisso assegurado em nossa nova Lacerda tenta a reeleição com Délio malheiros (PV) como vice

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nidin sanches

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VerbO

gestão. Eu entendo que a existência de uma secretaria para o setor facilita o diálogo com outras instâncias de governo, em níveis estadual e federal. Além disso, a necessidade da volta da Secretaria Municipal de Cultura é praticamente um consenso entre todos os militantes do setor cultural. A iniciativa vai representar uma conquista para o setor que faz de Belo Horizonte uma referência cultural para o Brasil e para o mundo. Além da recriação da secretaria, vamos ampliar a oferta e a produção de atividades culturais. Entendo que, além de um instrumento de desenvolvimento, a produção cultural é uma das formas que define nosso jeito de ser. Estamos construindo um plano cujo primeiro grande passo é que a estrutura da administração pública municipal de Belo Horizonte passa a ter a cultura devidamente representada em seu mais alto escalão, por meio de uma secretaria.

Hoje a Prefeitura realiza e apoia mais de mil eventos gratuitos por ano nas praças, nos parques e em outros locais da cidade, além dos espaços da Fundação Municipal de Cultura, como os centros culturais. Em 2012, nós promovemos o maior Festival Internacional de Teatro de Palco e Rua da história. Também na nossa gestão, o desfile das escolas de samba voltou a ser realizado no Centro, incrementando o carnaval espontâneo. Nesses três anos e meio da nossa gestão, a Lei de Incentivo à Cultura ganhou mais recursos, e novos programas contribuíram para o fortalecimento do setor. Os repasses da Lei de Incentivo à Cultura passaram de R$ 5 milhões, em 2008, para R$ 13 milhões em 2012.

Nos bastidores políticos se diz que você será candidato a governador em 2014 com apoio de Aécio Neves. Há algo de verdade nisso?

Sou candidato à reeleição em Belo Horizonte, com o apoio de 19 partidos, maior arco de aliança política da história da cidade. Estou trabalhando muito pelo desenvolvimento de nossa cidade e quero continuar

esse trabalho. Em 2014, se o povo de Belo Horizonte assim decidir, estarei cumprindo, com afinco e dedicação, meu mandato como prefeito.

Qual o seu conceito sobre o principal oponente da corrida pela prefeitura de Belo Horizonte, o ex- -prefeito Patrus Ananias? Qual a sua relação com ele?

A minha relação com o ex-ministro é republicana, da mesma forma como faço questão de lidar com aliados e lideranças de oposição. As diferenças são um marco natural da democracia. O ex-ministro integrou importante cargo de conselheiro em minha administração e teve o nome postulado pelo próprio PT

para ocupar a vaga de candidato a vice-prefeito na nossa chapa. Eventuais divergências jamais vão se sobrepor aos interesses da cidade.

Se for vencedor, qual será o saldo para o PT revoltoso com a aliança?

Não posso opinar sobre como será o futuro do partido. É uma questão que diz respeito ao partido. O que se percebe é que há disputas internas que fragilizam o próprio partido.

Obviamente as disputas internas são saudáveis, mas, nesse caso, muitas vezes geram claras divergências.

Todos disputam o apoio e a imagem da presidente Dilma. Esse palanque duplo confunde o eleitor?

Está muito claro para o eleitor quais são as nossas propostas. Essa discussão só surgiu porque o meu partido, o PSB, integra a base de apoio da presidente Dilma Rousseff. Mas o eleitor é testemunha que a nossa campanha está centrada no debate propositivo de ideias. Cada ação da prefeitura - seja por meio de grandes obras seja de programas, projetos e investimentos - tem como foco a busca constante por melhorias na qualidade de vida dos cidadãos. Quem está no meu palanque é o povo de Belo Horizonte.

“Em 2014, se o povo de Belo Hori-

zonte assim decidir, estarei cumprindo, com afinco e dedi-

cação, meu manda-to como prefeito”

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paulO fIlHO jornalista e consultor de Comunicação social

[email protected]

artIgO - POLÍTiCA

Tiros que podem sair pela culatra

A eleição em Belo Horizonte entra na reta final com o prefeito Marcio Lacerda liderando a disputa. Faltando menos de dez dias para o pleito, a vantagem do atual prefeito se mantém em um patamar ainda confortável, conforme revela a maioria das pesquisas.

A campanha do petista Patrus Ananias tem insistido na desconstrução do adversário. A estratégia até que tem conseguido diminuir a diferença, já que o uso dos padrinhos Lula e Dilma não tem ajudado muito. Contudo, parece que não haverá tempo suficiente para alterar o quadro e levar a disputa para o segundo turno.

A estratégia de impulsionar outra candidatura para forçar o segundo turno nasceu morta. É que o grupo do ex-governador Aécio Neves fez uma jogada de muita esperteza: cooptou o deputado Délio Malheiros (PV/MG) e o tirou do páreo. É lícito especular que talvez tenha sido prometido a Malheiros, dentre outras coisas, a vaga para a disputa da próxima eleição na capital. Além da vaga, a promessa pode ter incluído dois anos de mandato como prefeito, porque Marcio Lacerda pode ser o candidato do grupo aecista à sucessão do governador Anastasia. O fato é que alguma coisa bem vantajosa deve ter sido negociada. Como principal opositor à gestão do prefeito até então, o deputado tinha prestígio crescente e não abriria mão de sua reputação, colocando-se meramente como

oportunista, por pouca coisa.

Talvez a maior dificuldade da campanha petista seja a incongruência percebida por um grande número de eleitores ou, pelo menos, dos mais informados. Lula

e Dilma apoiaram e defenderam a aliança com o PSB e sempre cobriram Marcio Lacerda de elogios. Lá atrás, Lula quis a aliança, mas os contrários do PT local tiveram que se curvar à vontade do ex-presidente. Pouco antes do período eleitoral, Dilma esteve em Belo Horizonte e declarou em alto e bom som que estava com o melhor prefeito do Brasil. E Patrus fazia parte da gestão de Marcio Lacerda, assim como muitos outros petistas. Como membro do Conselho de Administração da prefeitura

montado pelo prefeito, Patrus também colocou seu nome à disposição do partido para compor chapa como vice de Lacerda, mas foi preterido pela maioria do PT municipal em prol do deputado Miguel Correia.

É difícil para muita gente entender Patrus desqualificando um governo do qual ele e seus correligionários faziam parte e aceitar as críticas a um prefeito que era querido e admirado por todos do seu partido. Na eleição passada, a própria militância petista foi às ruas de forma aguerrida pela eleição de Marcio Lacerda. Se alguém tem dúvida sobre isso, pergunte a Leonardo Quintão e a Jô Moraes.

“Não parece haver tempo

suficiente para alterar o quadro e levar a disputa

para um segundo turno”

12

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MetrOpOlIS • SOCiEDADE

A sonhada inclusão Com cidades desestruturadas e sociedade despreparada, os deficientes visuais

aguardam o dia em que terão direitos plenamente assegurados

Depois de passar por todos os tratamentos e intervenções cirúrgicas disponíveis na década de 60, José Carlos Dias Filho se viu obrigado a aceitar uma imposição da vida. Aos 8 anos, o menino era enviado pelos pais, da cidade natal, Ponte Nova, para a capital mineira. Do futuro ele pouco sabia. Uma das certezas era a de que perder totalmente a visão se tratava de uma questão de tempo.

Era preciso se adaptar à nova vida. No Instituto São Rafael, referência na assistência ao deficiente visual em todo o estado de Minas Gerais, ele concluiu os estudos. Cercado por pessoas nas mesmas condições, ele se muniu de forças para encarar o desafio. “Eu sabia que aconteceria em algum momento, mas foi tudo muito complicado”, expõe.

A vida de Alexandro Alves, de 28 anos, seguiu um percurso similar. Aos 6 anos ele deu entrada no Instituto São Rafael, foi alfabetizado com o método Braille e concluiu o ensino médio. O menino só saía da instituição nos finais de semana – quando ia para a casa de uma família da capital que o acolheu como filho – e em feriados para visitar os pais. Alexandro nasceu com ritinose pigmentar. Por isso, nunca enxergou.

Residente na zona rural de Gouveia, no Vale do Jequitinhonha, a família do jovem sempre encarou a deficiência com serenidade. Na medida do possível, tentavam fazer com que a criança não se sentisse incapaz. “Com 5 anos, meus pais me davam uma enxadinha para brincar e entender o trabalho na roça. Eles são lavradores. Sempre me estimularam e queriam que eu fosse independente. Sem eles, eu não sei como seria a minha vida, devido às muitas barreiras que tive que enfrentar”, explica.

André Martins

Luzia Bueno Manzoli também nasceu cega. Desde pequena, teve que aprender a interagir o mundo particular com aquele no qual estava inserida. “A vida é um pouco diferente. A gente cresce sem a formação da imagem e das cores. Só é possível ter

Apesar das dificuldades, Alexandro se formou em Letras, tem dois empregos e dá aulas particulares de português, inglês e informática.........................................................................................................................

André martins

Page 14: Vox Objetiva edição 39

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MetrOpOlIS • SOCiEDADE

ideia da imagem real do que é possível alcançar com os outros sentidos. É um processo de aprendizagem, de adequação”, aponta.

Assim como Alexandro e José Carlos, Luzia passou a infância e o início da adolescência em regime de internato, numa escola especial. Na juventude, conheceu o ex-marido em consecutivas travessias de rua. Casou-se e teve duas filhas. Lílian, a mais velha, sempre acompanha e auxilia a mãe nas dificuldades cotidianas. A parceria ultrapassou os limites de casa. As duas se formaram juntas em Direito no ano

passado.

O elemento que amarra as histórias de José Carlos, Alexandro e Luzia está presente na realidade brasileira mais do que se possa imaginar. O IBGE registra 6,5 milhões de deficientes visuais em todo o país. Só em Belo Horizonte, 430.328 pessoas têm algum grau de perda de visão. A despeito de representarem uma parcela apreciável da população, os cegos ainda estão longe de terem a cidadania plena garantida.

O Brasil tem uma das mais avançadas legislações voltadas para a pessoa com deficiência. No entanto, grande parte das leis figura apenas no papel, aumentando a “dívida” do governo ao longo dos anos. A ONU listou prerrogativas como obrigação do poder público para assegurar a acessibilidade aos deficientes. Prerrogativas que são colocadas em prática de forma parcial, quando não são ignoradas.

O tempo passa, mas as queixas dos deficientes visuais são as mesmas: restrições ao acesso à educação e à cultura, dificuldade de colocação no mercado de trabalho, falta de acessibilidade e preconceito continuam sendo as maiores barreiras.

eduCaÇÃO e trabalHO

Os quatro anos que compreenderam a graduação de Alexandro foram um período de desafios. Ao iniciar o curso de Letras na capital, pra ele ficaram mais evidentes as falhas no sistema educacional presentes em todos os cantos. Além da falta de pessoal capacitado para lidar com o deficiente, grande parte das instituições de ensino não oferece estrutura nem metodologia adequadas.

“No que diz respeito ao material trabalhado em sala, há uma grande dificuldade. O indivíduo tem que pegar o texto proposto pelo professor, sair da escola e procurar um local que tenha o serviço de voluntariado. Com a ajuda de alguém, é preciso gravar ou transcrever o texto em Braille e, aí sim, preparar-se para a aula. Outro problema é ter que ficar relembrando o professor da deficiência, pedindo a ele que possa ditar o que estiver escrevendo no quadro”, expõe.o semáforo com sinal sonoro tornaria so cegos mais independentes

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Page 15: Vox Objetiva edição 39

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MetrOpOlIS • SOCiEDADE

Com a conclusão dos estudos, o deficiente visual passa para um novo estágio: as tentativas de inserção no mercado de trabalho. Segundo Alexandro, esse fator é algo também crítico. Na percepção dele, o cego só consegue o emprego a partir do momento em que é superado o preconceito de achar que o deficiente não consegue executar o trabalho ao qual se propõe com a eficiência de quem enxerga.

De acordo com o presidente da União dos Cegos do Brasil, Climério Rangel, a cegueira é uma das deficiências que mais impõem desafios no mundo do trabalho. “O empresariado não atentou para o fato de que a perda da visão se associa a três fases: a fase do ‘ficar’, do ‘estar’ e do ‘ser’ cego. O ‘ficar’ é o momento da perda, o ‘estar’ é o período de adaptação e o ‘ser’ é o momento em que há a consolidação e que você passa a ter uma percepção de outros sentidos que acabam suprindo a perda da visão”, entende. A falta de estrutura para a adaptação do deficiente visual em uma empresa é outro fator que preocupa. Muitas organizações não têm interesse de investir.

deSCOnHeCIMentO e preCOnCeItO

A mudança de consciência em relação à figura do deficiente na sociedade é um processo natural que ocorre a partir das discussões acerca do termo “cidadania”. Para Climério, a aceitação e o convívio com os portadores de deficiência hoje são muito diferentes, se comparados com outrora. Houve uma significativa evolução. Entretanto, no dia a dia, fica clara a falta de preparo das pessoas para abordar e até mesmo oferecer ajuda.

“O povo brasileiro é muito solidário, mas entre a solidariedade e o acerto na condução disso,... é complicado. Por exemplo: ao atravessar a rua, em vez

de a pessoa permitir que o cego coloque a mão no ombro dela, ela pega o deficiente pelo braço e vai levando sem saber que isso dá uma sensação de muita insegurança a ele. Eu sempre tenho a preocupação de instruir aqueles que me oferecem ajuda”, revela.

Outra reclamação comum é a dependência para se locomover de ônibus. “Uma das coisas que mais me chateiam nos pontos é pedir ajuda, mas a pessoa pegar o ônibus dela e não dizer que está indo embora. Foram várias as vezes em que fiquei esperando no

ponto achando que a pessoa ainda estava lá”, relata uma deficiente visual atendida na Associação de Cegos Louis Braille, em Belo Horizonte, que prefere não ser identificada.

Luzia partilha da opinião de Climério. As coisas têm mudado, mas o preconceito ainda existe e é o principal desafio dos cegos. “Mesmo as pessoas do nosso convívio têm muita resistência. A dificuldade maior ainda é o preconceito. Porque isso vem de dentro, então demora mais para mudar”, opina.

Luzia se lembra de situações constrangedoras e comportamentos muitas

vezes involuntários, que revelam um tratamento diferenciado e preconceituoso velado. “Sempre que uma pessoa cega está acompanhada por alguém que enxerga, quase nunca as pessoas se dirigem ao deficiente, em situações que deveriam se dirigir. Elas perguntam ‘como é que ela se chama?’, “o que ela quer?’. É como se pensassem que, por eu ter um tipo de deficiência, eu seria incapaz de fazer outras coisas”, conta.

aCeSSIbIlIdade

Sombreiros, toldos, orelhões, pisos irregulares, buracos, sacos de lixo abandonados em calçadas.

“O que torna a pessoa deficien-te muitas vezes

é aquilo que é colocado como

obstáculo para a superação”

Climério Rangel,

presidente da Associação

dos Cegos do Brasil

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MetrOpOlIS • SOCiEDADE

Obstáculos diversos – fixos e móveis – se impõem diante do portador de deficiência nas grandes cidades. Além de ser difícil, sair de casa é perigoso e arriscado. Não são raros os casos de acidentes graves envolvendo cegos.

José Carlos é o coordenador municipal de Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência – órgão vinculado à Secretaria Municipal Adjunta de Direitos de Cidadania. O papel dele e da equipe que chefia é o de reunir as demandas dos deficientes de todas as ordens e apresentar à municipalidade. A partir daí, é possível criar mecanismos de resposta que incidam na melhoria da qualidade de vida dos deficientes.

A prefeitura se esforça, mas há ainda uma série de demandas a serem atendidas. O direito de ir e vir não é suprimido, mas é possível afirmar que locomover--se em Belo Horizonte e pela maior parte das cidade brasileiras é algo praticamente inviável. Faltam pisos

direcionais e sinais sonoros em semáforos e pontos de ônibus, por exemplo. Falta até o básico: rampas e elevadores em prédios públicos.

Desde 2005, a legislação de Belo Horizonte estabelece que, para serem aprovados, os projetos arquitetônicos têm que obedecer às regras de acessibilidade. O problema é que a fiscalização é falha, e as obras não são executadas exatamente como previsto na planta.

“Discute-se muito o termo ‘deficiência’. Nas palestras que promovemos, nós tentamos fazer com que as pessoas esqueçam um pouco as limitações do corpo e comecem a pensar nas demandas da coletividade e na possibilidade de construir uma cidade mais acessível, seja para os deficientes seja para os idosos. Tendo condições, qualquer um consegue atingir um bom grau de independência. Dessa forma, a discussão acerca das deficiências em si tem importância minorada”, analisa José Carlos.

O psicológico

Garantir a acessibilidade e propiciar a inserção dos deficientes visuais na sociedade é apenas um dos eixos a serem trabalhados. Lidar com a perda da visão muitas vezes requer acompanhamento psicoterapêutico. recompor-se inter-namente ordenando as emoções é o passo a ser dado pelo deficiente simultaneamente com a necessária mudança de consciência política e social.

“Caso a deficiência ocorra em decorrência de um acidente, torna-se uma questão mais complicada do que quando se trata de uma deficiência de nascença. É mais traumático e vai exigir um esforço muito maior para a adaptação. Há também o esforço para a superação do trauma, a questão da autoestima e a aceitação das pessoas”, aponta a psicóloga Lucília Pereira.

o processo psicoterapêutico varia de acordo com a faixa etária, como explica a também psicóloga e voluntária no Ins-tituto benjamin Constant, no rio de janeiro, maria Cristina barczinski. “no caso da criança, é necessário auxiliar no aprendizado do método braille, das novas técnicas eletrônicas e estimular o brincar criativo e o social. Com os adoles-centes, trabalhamos a identidade, o grupo de iguais, a descoberta do amor, da escolha do parceiro, o medo da rejeição e os preparamos para a busca da profissão. na reabilitação do adulto, o mais importante é referente à vida no trabalho. Por fim, com os idosos a atividade é desenvolvida levando em consideração que a perda da visão se associa a patologias e ao fato de o parceiro ou a parceira também ser uma pessoa idosa e de os filhos estarem criados e trabalhando. Há um processo de isolamento que precisa ser acompanhado”, explica.

o apoio psicológico, o estímulo da família e social associados à efetividade das políticas públicas voltadas para os cegos refletiriam na busca pela independência. De acordo com maria Cristina, tornar-se independente é imprescindível. “não a independência sonhada, mas a possível”, arremata.

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Para não pagar além do justo

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kÊnIO de SOuZa pereIraPresidente da Comissão de Direito

Imobiliário da [email protected]

Muitos brasileiros adoram ver o valor dos bens pessoais subir e o saldo da aplicação render elevados juros. Quem comprou imóvel no período de 2007 a 2010 ficou feliz com a alta dos preços. Agora os valores estão se ajustando, o que é normal num mercado cíclico. Entretanto, há corretores de imóveis e alguns vendedores lutando contra a maré. Eles estão alardeando preços especulativos, fora da realidade, para dar a impressão de que a euforia de 2009/10 ainda vigora.

Ocorre que a oferta de imóveis por preços ilusórios pode gerar prejuízo aos compradores. A Secretaria da Fazenda de Belo Horizonte pode vir a ser induzida a avaliar o imóvel num valor acima do de mercado e emitir uma guia do Imposto de Transmissão Bens Imóveis Inter-Vivos (ITBI) no valor mais elevado.

nOVO CenárIO

O mercado de imóveis sempre teve baixa liquidez. É um investimento mais seguro do que os financeiros e de ações, que são voláteis. Os imóveis têm variação de preços lenta e duradoura. E não há margens para mudanças repentinas.

Milhares foram os imóveis vendidos na planta. E o construtor afirmou que a unidade pronta teria uma valorização extraordinária. Acontece que agora, diante da grande oferta de imóveis prontos em determinadas regiões e com a demanda reduzida,

verificamos que, caso o investidor deseje auferir seu ganho, terá que vender por menos do que esperava. Há casos de construtores concedendo descontos de 20% para reduzir o estoque.

Enfim, o imóvel continua lucrativo, mas estamos numa fase de ajustes. O vendedor tem sofrido a pressão dos custos com IPTU, taxa de condomínio e outros gastos que se tornam pesados, caso permaneça muitos meses ou até anos com o imóvel à venda.

COrretOr “SeM-nOÇÃO”

Diante do recuo do mercado, há corretor anunciando imóvel com valor irreal. Alguns avaliam o imóvel por um valor astronômico para seduzir o proprietário e captar o imóvel. E para colaborar com a confusão, existem os anúncios grátis de site que distorcem qualquer pesquisa.

Vários são os grupos econômicos com receio de ter muito dinheiro no banco. Eles acabam comprando edifícios por preço bem acima do normal. Na realidade, o que desejam é diversificar para proteger parte de seu patrimônio. Utilizar essas situações como base para avaliar certamente acarreta distorção. É importante o comprador conferir no ITBI se a avaliação do imóvel corresponde ao valor justo. Com orientação técnica, é viável requerer a sua revisão na municipalidade para economizar.

“Os imóveis têm variação de

preços lenta e duradoura. E não há margens para

mudanças repentinas”

artIgO • iMOBiLiÁRiO

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Resignados perante a morte

Pesquisa aponta que um quarto da população brasileira não atingiu o nível básico de alfabetização, mesma proporção de brasileiros letrados

Rita Jacinta Tomás tem 76 anos. Como a maioria das pessoas, não lhe ocorreu antecipar o que viria na maturidade. Faz parte da rotina da intensa senhora assistir aos cultos da Igreja Santo Inácio de Loyola, aos sábados e domingos. Lá ela renova a fé e vive momentos de distração. Apraz Rita a comunhão com as outras senhoras, que a estimam igualmente. As idas e vindas pelo bairro vendendo cosméticos fez de Rita uma daquelas pessoas conhecidas pelos vizinhos.

Viúva, mãe de quatro filhos, Rita limpa a casa e varre o terreiro cheio de folhas caídas das árvores. O neto é quem lhe faz companhia desde a adolescência. Com o passar dos anos, Cleiton percebe algumas anormalidades na atitude da avó. Chega do trabalho e encontra a comida ardendo no fogo. No outro dia, a mesma cena. Inês também estranha que a mãe cozinhe em uma panela tão grande. Ela mora sozinha. O alerta vermelho veio, quando viram o café misturado no arroz. Trancaram o botijão de gás.

O verbo no presente representa a vida que ela conserva, mas o fato é que essa Rita não existe mais. Pouco a pouco ela foi deixando de ser quem era. A família percebeu isso há três anos, em mais um domingo de missa. Rita foi seguindo em sentido contrário ao caminho de origem, ao voltar para casa. Ficou perdida. E só se deu conta disso, quando os vizinhos a encontraram em um bairro distante. Estranharam. Levaram-na de volta.

Rita não previu a velhice nem a doença que aos poucos se instala em sua cabeça e que a priva de

faculdades básicas. Se previsse, talvez tivesse decidido o que fazer, quando estivesse totalmente incapaz de falar por si. Escolheria as ações médicas, as internações e sobre a futura sonda que vai invadir o corpo dela, quando não estiver mais em condições de engolir a sopa que Inês faz todos os dias, servida na boca. Evitaria sofrer no fim da vida.

Essa autonomia foi defendida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), ao publicar a Resolução 1.995, no último dia 31 de agosto. A norma estabelece aos médicos o respeito às decisões do doente em estado terminal. Com a Resolução, o paciente que expressar previamente o seu desejo a alguém ou ao médico

médicos devem respeitar paciente com doença incurável que expressar vontade antecipada de morrer naturalmente. os juristas não concordam

Bianca Nazaré

rita depende da filha Inês (foto) para realizar tarefas básicas.........................................................................................................................

bianca nazaré

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deve ter a terapia guiada por sua lúcida vontade, caso queira interromper algum tratamento inútil. Mesmo saudável, o indivíduo pode elaborar um testamento declarando o que gostaria que fosse feito no fim da vida ou o que não quer que seja feito.

A Diretiva Antecipada de Vontade, inédita no Brasil, norteia a prática da ortotanásia. Esse cuidado é diferente da eutanásia, que abrevia a vida do paciente a pedido dele e feito pela mão médica – prática proibida no país. A ortotanásia é o impedimento da distanásia. O método diz respeito aos tratamentos ou às ações que prolongam a vida do indivíduo com doença incurável. São os chamados tratamentos fúteis, que nada ajudam nem beneficiam o paciente. Em termos leigos, a ortotanásia é a aceitação de que a morte é a consequência natural de uma doença incurável.

“Algumas pessoas têm doenças que vão se arrastando... Tornam-se fora da realidade um tratamento adequado que lhes dê, além de conforto, dignidade”, define Hermann Alexandre Tiesenhausen, conselheiro do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais. No Brasil, a diretiva ainda não é lei nem carece de ser registrada em cartório. Mas o registro público pode ser feito por segurança. Somente maiores de idade ou emancipados podem fazê-lo.

Tiesenhausen lembra que a diretiva antecipada de vontade pode ser feita ou desfeita em qualquer momento da vida. É imprescindível que a pessoa esteja em gozo das capacidades mentais para expressar como ela gostaria de ser atendida no final da vida. “Eu faço esse documento, porque se eu for acometido por um evento e não tiver capacidade de expressar a minha vontade, vai prevalecer aquilo que eu queria, quando estava em plena consciência da minha vontade”.

O documento vale somente nos casos de doenças crônicas ou degenerativas e em fase terminal. Assim é possível impedir o prolongamento da vida por meio de respiradores, diálise ou mesmo a ressuscitação, etc., caso a pessoa não queira ter uma sobrevida artificial. A diretiva não vale em casos agudos, provocados por acidentes ou doenças que sejam passíveis de cura. A resolução é um meio de guiar questões não previstas

no novo Código de Ética Médica, em vigor desde abril de 2010. O novo Código previa a não utilização de tratamentos fúteis em pacientes terminais.

Na visão do conselheiro, muitos médicos avançam além do limite da ciência. “Se o médico tiver dúvidas sobre o que fazer diante da vontade antecipada de um paciente, ele tem três caminhos: recorrer aos Comitês de Bioética, que são raros nos hospitais, ou às Comissões de Ética. Se esse médico estiver em um local onde não haja Comissão de Ética, como fora de um hospital, ele pode recorrer ao Conselho Regional ou Federal de Medicina para pedir orientação”.

O Alzheimer foi enfraquecendo Rita física e psicologicamente. Ela voltou a brincar com bonecas como se fosse criança. Ficava irritada com a família: queria agredir as pessoas e sair de casa. Os médicos receitaram alguns remédios que a enfraqueceram ainda mais. Primeiro foram as pernas. Depois, a memória: algumas pessoas foram se tornando estranhas para ela. A fala se perdeu. Atualmente Rita vive na cama,

tiesenhausen explica que a resolução do CFm norteia os médicos emquestões que esbarravam no Código de Ética..........................................................................................................................

Divulgação/ CrmmG

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após muitas consultas médicas e trocas de remédios que a abalaram muito. Seu olhar vazio está sempre a mirar a parede do quarto-sala onde ela dorme sobre a cama reclinável, adquirida pelos filhos. Às vezes, ela observa a filha parecendo reconhecê-la, mas logo volta a mirar a parede.

Rita contraiu diversas pneumonias e começava a engasgar com a comida preparada pelas filhas Inês e Maria da Conceição. Os médicos aconselharam a sonda, já que os sinais eram de enfraquecimento dos músculos respiratórios. Mas os filhos recusaram. “A sonda incomoda e pode causar infecção. Enquanto ela conseguir comer assim, tudo bem”.

pOntO dISCOrdante

A sensibilidade da família impediu que Rita recebesse um tratamento muito utilizado na medicina: a tentativa de manter um ser humano vivo por meio da tecnologia recente, por mais desconforto que isso provoque. No dia 3 de setembro, o Ministério Público de Goiás abril Inquérito Civil para apurar as disposições

da norma. O MP é contra o que reza a Resolução 1.995 do Conselho Federal de Medicina. Para o responsável pela abertura da apuração, o Procurador da República Ailton Benedito, a resolução do CFM vai contra os direitos básicos garantidos na Constituição Federal. “Essa resolução, em alguma medida, toca direitos fundamentais, como a inviolabilidade do direito à vida, do direito fundamental à saúde, que é direito de todos e dever do Estado, e do direito à dignidade da pessoa humana”.

O procurador justifica que o MP não afirma que a resolução estaria violando esses direitos, mas considera necessária a apuração. Assim é possível evidenciar as bases técnicas, científicas e jurídicas que sustentem a nova norma médica. Benedito entende que a família não deveria ser excluída da decisão de continuar ou não o tratamento de um ente em fase terminal. “No ordenamento jurídico brasileiro, à luz da Constituição, a família tem o dever de cuidar dos seus integrantes, desde a concepção até depois da morte. Eu não vejo nesse ordenamento a possibilidade de excluir a família nesse momento que é capital”.

resolução do CFm impede que médicos realizem procedimentos agressivos em pacientes terminais, quando não forem solicitados por eles..............................................................................................................................................................................................................................................................

Cartum do Dr. Lor publicado no jornal da AmmG

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O Conselho Federal de Medicina estaria inovando no ordenamento jurídico por ato próprio. Essa ação é questionável, na visão do procurador. Benedito alerta para a possibilidade de haver contrastes entre a Resolução e os direitos de ordem penal, que seriam matérias de competência do Congresso Nacional. “As possibilidades dessa resolução não excluem a aplicação das normas penais. O médico que suspende o tratamento de um paciente pode ser processado criminalmente. Estou falando de omissão de socorro, de negligencia médica, de homicídio. Não foi atribuída ao Conselho Federal de Medicina competência para legislar sobre matéria penal”.

A geriatra Ana Paula Abranches Peixoto comenta que a diretiva antecipada de vontade surgiu nesse momento em que a sociedade brasileira envelhece mais e, por isso mesmo, desenvolve mais neoplasias (câncer) e doenças degenerativas. Somando-se essa tendência com o avanço da tecnologia médica, os profissionais da saúde têm dificuldade de lidar com a morte, evento considerado um fracasso técnico no meio médico. “A própria cultura ocidental tem essa dificuldade de aceitar a morte como evento natural da vida”, reforça a geriatra.

Ana Paula é membro e ex- -presidente da Sociedade de Tanatologia e Cuidado Paliativo de Minas Gerais (Sotamig). A especialista observa que o Brasil vive um processo de consolidação da filosofia dos cuidados paliativos, mesmo estando uma década atrás dos países do hemisfério norte. O cuidado paliativo visa não agredir o paciente com a aplicação indiscriminada de protocolos clínicos. Pode ser chamado de ortotanásia.

“A Diretiva Antecipada é um documento para pessoas como eu, Ana Paula, que agora não tenho doença grave. Pelo menos conscientemente, eu não sei que eu tenho. Mas eu posso conversar com o meu médico-assistente e dizer: ‘olha, se um dia eu desenvolver uma

demência, na fase avançada, eu não quero ir para um CTI. Eu não quero ser alimentada à força com sonda. Eu gostaria que os cuidados básicos necessários para a higiene do meu corpo fossem feitos diariamente’. Isso é uma Diretiva Antecipada. Eu vou direcionar o meu médico-assistente sobre o que eu gostaria que fosse feito comigo. Essa decisão significa evitar a distanásia. Tentar prolongar a vida do paciente é o que a gente mais faz na prática clínica”.

Ana Paula Peixoto acredita na autonomia do paciente sobre as decisões relativas ao fim da vida. Segundo a geriatra, as ações devem ser calcadas no compartilhamento e não no paternalismo médico. Ela lembra alguns procedimentos que afligem o doente no final da vida na tentativa de mantê-lo vivo, como

a sonda que faz com que muitos fiquem agitados. “Algumas vezes, eles vão prender a mão do paciente. Ele fica igual a Jesus Cristo na cama. A gente fica pensando... Imagina um paciente com 90 anos chegando a essa fase tão importante, que são os momentos finais da vida, preso com as duas mãos amarradas!”. Ela lembra que existem outros procedimentos que mantêm o paciente nutrido e garantem o conforto dele, como a hipodermóclise – infusão de fluidos no tecido subcutâneo para exercer a hidratação

impossibilitada pela dificuldade do paciente ingerir líquidos. “Esse é o momento para fazer todas as discussões. A resolução está fazendo todo mundo parar para pensar”, ressalta.

Mesmo com esforços e com a total dedicação que Inês oferece à Rita para mantê-la, ela se diz satisfeita em ver a mãe bem. Para Inês, Rita ainda está presente e sente as coisas negativas que são ditas perto dela. “A mãe não falava o que ia acontecer. Acho que ela não previa. Não falava em morte. Falava que ia viajar, que ia a Fabriciano, à casa dos meus irmãos. Ia até lá e voltava sozinha. Ela não previa como ia ficar. Ela simplesmente vivia o hoje, eu acho”.

“As ações devem ser calcadas no

compartilhamento e não no paterna-

lismo médico”Ana Paula Peixoto,

geriatra

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Doando tempo As experiências de quem encontrou no trabalho voluntário

uma oportunidade de ajudar os outros e se ajudar

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SalutarIS • COMPORTAMENTO

Luisa Reiff Guimarães

Não há datas mais apropriadas que outras para fazer boas ações e ajudar quem precisa. Muitas pessoas têm vontade de realizar trabalhos voluntários, mas acabam deixando os planos unicamente no campo das ideias. E aí se acomodam, mantendo-se inertes. Mesmo não dependendo de dia, mas de boa vontade, o Dia das Crianças é um dos que mais mobilizam os voluntários de carteirinha. Nessa época, eles visitam creches, abrigos e hospitais com o único propósito de espalhar sorrisos.

O número de voluntários no Brasil tem aumentado. Neste ano, o Dia V – ação que mobiliza voluntários

promovida pelo Sistema Federação das Indústrias de Minas Gerais (Sistema Fiemg), reuniu 60 mil pessoas em 152 cidades mineiras. Na primeira edição, em 2001, 11 mil pessoas se disponibilizaram para os trabalhos sem remuneração com crianças, adolescentes e idosos.

Foi justamente o Dia V que incentivou Eliziane Silva a praticar trabalhos voluntários, quando trabalhou como fotógrafa no evento, em 2005. Desde então, ela está empenhada nesse propósito. Há três anos, Eliziane faz visitas mensais à Aura, um abrigo que hospeda crianças abusadas física e psicologicamente ou maltratadas no próprio ambiente familiar. Lá ela conversa, brinca e acompanha os pequenos em visitas a parques e museus. “Cada sorriso é o que me move a estar com elas para dar colo, contar histórias, ir ao parque ou simplesmente chupar um picolé ou uma bala”, comenta.

Eliziane se tornou mãe recentemente e teve que diminuir a frequência no abrigo, mas assim que a filha crescer, ela garante que vai levar a filha para ajudar no abrigo. Dessa forma, a criança vai aprender a doar tempo e dividir um pouco do que tem. A voluntária diz que os trabalhos fazem dela uma pessoa melhor. “É uma chance de oferecer um pouco daquilo que as crianças não têm e dar um pouco de alento àquelas pessoinhas tão encantadoras. Para mim, é um processo contínuo de aprender a ser gente. E, no final, ficam boas lembranças de todos os rostinhos felizes que encontrei por lá.

Tânia Trajano, assistente social, trabalha há quatro anos no mesmo abrigo frequentado por Eliziane. Ela conta que as crianças chegam ao local em péssimas condições psicológicas. Apesar da negligência e dos abusos sofridos em casa, a separação da família é,

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SalutarIS • COMPORTAMENTO

ainda assim, muito dolorosa. E é aí que profissionais e voluntários entram, amenizam a experiência traumática com muito colo, atenção e carinho e, aos poucos, ajudam as crianças a se adaptarem ao novo lar e à nova vida.

Quem não tem muito tempo livre também pode participar. Tânia afirma que um voluntário que vai apenas uma vez ao abrigo já faz a diferença, porque traz o mundo exterior para as crianças. Segundo ela, esse contato é imprescindível. O voluntário pode desempenhar diversas funções, como contar histórias, levar um lanche, bolo ou apenas brincar. Todos podem ajudar. Inclusive passaram pelo abrigo homens, mulheres e até mesmo pais que levaram os filhos para conhecer o lugar e se divertirem com as crianças internas.

Para o Dia das Crianças deste ano ainda não há nada programado no abrigo, mas Tânia revela que, mesmo de última hora, alguma coisa é feita para que a data não passe em branco.

O dia 12 de outubro está marcado na agenda da estudante de jornalismo Janaína Praeiro. Há cinco anos, ela é voluntária no Abrigo Irmão Fábio,

instituição que abriga crianças com câncer. Grande parte delas são do interior do estado e não têm condições de se manter em Belo Horizonte.

Janaína conta que sempre teve vontade de fazer algum trabalho para ajudar outras pessoas. Quando viu alguns cartazes na porta da instituição, entrou em contato e marcou uma visita. Desde então, ela volta semanalmente para dedicar parte do tempo às crianças. “É algo muito bom, gratificante e energizante. É uma troca de tudo: valores, experiência e aprendizado. Toda vez que saio de lá, eu me sinto realmente útil e capaz de não somente pensar e viver em função de saciar minhas vontades. Dedicar, nem que seja um mínimo de tempo ao outro, é sentir-se realmente pertencente ao mundo”, expressa.

O trabalho voluntário pode ir muito além de depósitos bancários mensais. A doação de si mesmo também ajuda a alegrar vidas. Doar tempo, palavras contadas e cantadas, doar um dia do final de semana ou uma tarde para divertir e divertir-se, para ajudar a crescer e crescer junto, muda vidas.

Ilustrações: stock.xchng

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Há vários anos, cientistas do mundo todo tentam entender como o comportamento humano poderia ser influenciado pelos vários tipos de música. Dois deles são os pesquisadores Dolf Zillmann e Azra Bhatia. Em 1989, os cientistas demonstraram haver certa relação entre a atração heterossexual e os diversos gêneros musicais.

Os autores concluíram que estilos musicais são associados a estereótipos que, por sua vez, influenciariam a forma como percebemos o outro,

Para todo tipo de doençaÉ possível afirmar que a música faz bem para a alma,

para o cérebro e auxilia o tratamento de doenças

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até mesmo de maneira inconsciente. Essa visão é a base para os relacionamentos interpessoais e para a atração entre casais.

Na década de 1990 ficou famosa a hipótese de que a Sonata para dois pianos em ré maior, de Wolfgang Amadeus Mozart, teria uma frequência sonora estimulante para o cérebro de crianças com menos de 3 anos. A pesquisa conduzida pelos doutores Gordon Shaw e Frances Rauscher foi realizada com ratos ainda no útero da mãe e, depois, com 60 dias de nascidos. A melhora dos ratos ao se movimentarem em um labirinto demonstrou o desenvolvimento no raciocínio espaço-temporal comparado àqueles não expostos à música.

Nenhum outro pesquisador conseguiu repetir o experimento obtendo os mesmos resultados, mas o fato é que Shaw e Rauscher conseguiram vender CDs para estimular a inteligência de bebês mundo afora. Há controvérsias sobre o real efeito Mozart até hoje. Alguns cientistas negam haver qualquer tipo de reflexo positivo no cérebro, mas, existem aqueles que acreditam haver algum tipo de impacto.

“Creio que o efeito Mozart exista, assim como deve existir o efeito Beethoven, efeito Tchaikovsky, efeito Wagner, assim como percebemos os efeitos Beatles, Elvis Presley, U2, Chico Buarque, Caetano Veloso, dentre tantos outros”, explica o especialista em neurociência e comportamento e professor de música da Escola Superior de Música e da UEMG, Daniel da Costa Campos.

O professor elaborou uma dissertação sobre a influência da música na atividade motora de crianças prematuras com peso inferior a 1,5 kg. “Os resultados

SalutarIS • SAÚDE

Bianca Nazaré

ouvir mozart poderia deixar as pessoas mais inteligentes.........................................................................................................................

reprodução/ Pintura de barbara Krafft

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SalutarIS • SAÚDE

apontaram uma relação estatisticamente significativa entre música estimulante e aumento da atividade motora corporal, bem como entre a música calmante e a redução da atividade motora nos dois grupos investigados”, explica Campos.

O médico e pianista João Gabriel Marques relata que fazer uma criança ouvir música tem pouca influência sobre o comportamento dela. Segundo ele, o bebê não distingue aquilo que ouve, vê ou sente. “Se a pessoa faz a música, canta e produz sons na frente da criança, a interação com ela faz mágica. Aqui no Hospital das Clínicas existe esse trabalho com prematuros. Isso é concreto. Uma criança que nasceu com meio quilo e correu risco de morte, a partir de certa idade já está igual a uma criança que nasceu no tempo certo, porque teve estimulação musical”.

A música evoca quatro tipos de efeitos nas pessoas, segundo Marques. O médico explica que o efeito mais visível é a resposta motora. “Você toca um baião, e as pessoas começam a dançar. Bate o pé, bate palma. Ela está evocando em você uma resposta motora. Há músicas que fazem você dormir, ficar quietinho. Você fica sem movimento”.

A segunda resposta é a emocional. Uma melodia

que cativa ou que traga alguma lembrança emotiva ou mesmo aversão. A música também provoca respostas fisiológicas, como a alteração na frequência cardíaca, na pressão arterial ou na produção de hormônios. “Isso é muito utilizado na musicoterapia. Há experimentos que já têm resultados interessantes. Pessoas com a doença de Parkinson, que não conseguem andar devido aos espasmos musculares, quando ouvem músicas feitas especificamente para isso, andam normalmente enquanto estão ouvindo. Quando a música para, volta tudo”. A última resposta é a cognitiva, quando evoca pensamentos, reflexões.

A musicoterapia é uma área da saúde para o tratamento de doenças por meio do estímulo musical. Renato Sampaio conta que a terapia existe desde 1960 no Brasil, mas há apenas sete cursos para formação desse profissional no país. O professor do curso de Música da UFMG explica que a terapia é indicada para vários tipos de doenças, desde problemas físicos, depressão, até distúrbios mentais graves, como esquizofrenia, psicoses e Alzheimer. “O órgão do sentido audição é um dos primeiros a ficar pronto no nosso desenvolvimento e um dos últimos a morrer. Então uma pessoa que tem um quadro de demência do tipo Alzheimer, por exemplo, muitas vezes perde a memória e a noção de identidade. Se você consegue

stock.xchng

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SalutarIS • SAÚDE

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saber dados da história dessa pessoa por ela ou por meio de relatos familiares e cantar músicas conhecidas do passado dela, muitas vezes esse paciente consegue cantar a canção inteira. Aí se lembra dos fatos que estavam relacionados com aquelas pessoas e o local daquela música e verbalizar sobre isso”.

Sampaio trabalha com crianças e adolescentes com problemas de desenvolvimento, como Mateus Moreira, de 4 anos, que tem Autismo. Mateus faz musicoterapia com Sampaio há três meses para desenvolver a habilidade de se relacionar com outras pessoas, uma das dificuldades desses pacientes.

O menino chega à terapia com o pai, Maurício Moreira, e nem é preciso mostrar a sala porque sabe onde encontrar os objetos que produzem barulhos interessantes. A criança explora com interesse os instrumentos, enquanto Sampaio conversa com o pai.

Na sala de consulta, o musicoterapeuta improvisa uma canção infantil para despertar a atenção dele. Mas Mateus anda pela sala tirando sons do tambor e do carrilhão e, de vez em quando, de outros objetos que, ao tocar, ele percebe não se tratar de instrumentos. Maurício conta que, desde que iniciou o tratamento, o filho está mais atento, menos agitado e menos irritado com os sons da rua.

O pai explica que Mateus faz outras terapias e que é difícil afirmar se foi a musicoterapia que promoveu o desenvolvimento do filho. “O Mateus chega em casa e sempre faz esse movimento que ele está fazendo no tambor. Ele quer tocar tudo que vê”.

Sampaio esclarece que não faz parte da musicoterapia ensinar o paciente a tocar instrumentos e cantar. A música é usada para promover o estado de saúde de uma pessoa. A música é um meio para alcançar saúde e não um fim.

Renato Sampaio e Daniel Campos explicam que ainda não se sabe com certeza o que acontece no cérebro, quando as pessoas ouvem ou fazem música. “Quando os elementos musicais ritmo, intensidade, altura e timbre puderem ser bem explicados quanto aos processamentos no cérebro, aí teremos condições de compreender melhor a relação de causa e efeito”, explica. Sampaio esclarece que os avanços dos equipamentos de avaliação médica contribuíram para os estudos da área, mas ainda não é possível dizer o que a musicoterapia provoca no cérebro. “A gente sabe que acontece alguma coisa, que existe um potencial para reabilitação”, completa.

Para o professor da Escola Municipal Paulo Freire e do Parque-Escola Cariúnas, Reginaldo Costa, o importante é que a música provoca em seus alunos, a maioria de baixa renda, a sensação de pertencerem a um grupo e a melhora da autoestima. “Uma coisa é ouvir; outra é tocar e, principalmente, tocar em grupo. É em grupo que a criança se identifica com aquele tipo de música e atividade que está sendo proposta. A partir daí, ela vai se moldar a essa exigência que a música tem: a necessidade de um comportamento adequado”.mateus faz musiterapia para estimular a habilidade de se relacionar

cada vez melhor com o mundo externo.........................................................................................................................

bianca nazaré

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MarIa angélICa falCIPsicóloga clínica e especialista em saúde mental

[email protected]

A partir deste mês inicio uma pequena série sobre questões que envolvem o universo do desenvolvimento infantil. Nesta edição, o assunto é a agressividade. Muitos pais questionam esse tema e suas motivações. É evidente que não existe um fator específico, mas sabe-se que, quando são descartados os distúrbios fisiológicos, uma família desestruturada apresenta mais chances de constituir filhos com maiores sofrimentos. A agressividade pode se apresentar de várias formas, mas em seu íntimo encontra-se ligada ao sentimento de rejeição. Atitudes agressivas surgem diante da necessidade de ser visto e compreendido.

Todo ser humano tem pilares constitutivos e, de certa forma, idealizados para promover segurança. Nossos pilares são os pais ou as pessoas responsáveis para fornecer o sustento emocional e a formação adequada. Uma possível causa da agressividade na infância é a separação de um casal: um processo sempre doloroso, decorrente das alterações sofridas nos sentimentos e na rotina. Mesmo quando a mudança é para melhor, sobretudo haverá presença de filhos perdidos entre inseguranças, receios e falsas culpas. Os pais deveriam ser sábios e focar no bem--estar das crianças. Mas nem sempre isso acontece. As crianças podem ficar deprimidas, melancólicas, desobedientes, com rompantes agressivos, alterações do sono, pesadelos, agitação psicomotora, inapetentes, ter tiques diversos, gagueira, concentração reduzida, queda no rendimento escolar e perda do interesse pela vida social.

As crianças com idade entre 2 e 3 anos podem desenvolver atitudes mais medrosas e regressões

comportamentais. As de 4 e 5 anos podem fantasiar a separação como passageira, assim como brigam com seus amigos e depois fazem as pazes. As crianças de 5 e 6 anos se sentem culpadas, como se tivessem feito ou pensado algo muito errado. Como consequência disso, elas deduzem que os pais brigaram e vão se separar. O medo e a culpa são os inimigos que podem levar ao adoecimento mental das crianças. Não podemos apontar que todos os filhos de pais separados serão “filhos-problema”, mas, em geral, apresentam sintomas emocionais pela má condução do processo,

muitas vezes pela negligência ou insensibilidade dos pais. É essencial que a criança entenda que o amor que o pai e a mãe lhe dedicam não vai sofrer alterações.

E o que acontece quando um pai é imaturo e se torna totalmente ausente, após o rompimento? Ou aquele pai que não se importa com o(a) filho(a)? Com certeza, danos emocionais muitas vezes irreversíveis farão parte da vida da

pessoa. Sabemos que o sofrimento de um rompimento é grande até mesmo em adultos. Imagine no caso de uma criança em plena formação de personalidade. O filho pode vir a desenvolver uma construção psíquica com forte retraimento, depressão grave, egocentrismo exacerbado, mau humor constante, sentimentos de inveja, hostilidade social, relacionamentos ruins e muitos outros comprometimentos severos.

Portanto, é necessário que os pais, mesmo tendo histórias parecidas, compreendam que repetir é algo que gera uma destruição emocional. O AMOR e a presença real precisam prevalecer para ajudar na superação. A responsabilidade de colocar uma pessoa no mundo vai além de si mesmo. É um ato de doação.

Onde você está?

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artIgO • PSiCOLOGiA

“Atitudes agressi-vas surgem dian-te da necessida-de de ser visto e compreendido”

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InGreDIentes:

1 perna de cordeiro

500 g de minicebolinha

500 g de minibatatas

5 tomates

Alecrim

Azeite

Alho

Aipo

Sal

SalutarIS • RECEiTA

Cordeiro ao forno

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moDo De PrePAro:

Cozinhe o cordeiro em uma panela grande com água, sal a gosto, quatro dentes de alho inteiros, os tomates cortados em cruz e três galhos de aipo.

Depois de cozido, coloque em um tabuleiro com um pouco da água do cozimento. Junte as batatas e as cebolinhas. Em seguida, salpique o alecrim e adicione o azeite. Leve ao forno coberto com papel-alumínio e mantenha por 30 minutos. Retire o papel e deixe dourar. Sirva com arroz branco.

Rendimento: 4 porções

Tempo de Preparo: 2 horas

Divulgação/ Saatore

Fonte: saatore

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Com a economia aquecida e o poder aquisitivo do brasileiro em alta, podemos dizer que vivemos um momento especial nos nossos hábitos gastronômicos. Antes, ficávamos limitados a uma gama de produtos que cumpriam apenas o papel de compor e acompanhar nossas refeições. Não tínhamos acesso a produtos diferenciados e gourmets por alguns motivos: desconhecimento, dificuldade em encontrá-los e o alto preço.

Além do fator econômico, outro já contribuía para o novo cenário: os brasileiros viajam com mais frequência para outros estados e países. Esse novo hábito nos permitiu conhecer e experimentar novos produtos e sabores. Uma vez inserido nesse mundo gourmet, o brasileiro cumpre bem o seu papel de desbravar tudo o que a gastronomia tem a lhe oferecer: boa comida, bebida, boas companhias e, claro, momentos inesquecíveis.

Atualmente encontrados no mercado, os produtos gourmets nos animam cada vez mais a mergulhar nesse emaranhado de sentidos e prazeres. De ingredientes a produtos finais, somos surpreendidos e nos encantamos com as incríveis e inúmeras opções que nos são apresentadas. Queijos, geleias, cremes balsâmicos, azeites, molhos, conservas, temperos, presuntos, antepastos, sucos, cortes de carnes, massas, dentre outros, são exemplos característicos desses produtos.

Não é por acaso que as escolas e os cursos de gastronomia estão em franca expansão e recebem cada vez mais adeptos, curiosos e apaixonados pela vida gourmet. Sem dúvida, esse estilo de vida é um poço de prazer.

Dentre as várias empresas que atuam no segmento, destaco a Casa Madeira, que pertence ao grupo da Casa Valduga. A Casa Madeira fica no Vale dos Vinhedos,

Danilo Schirmer

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SalutarIS • viNHOS

em Bento Gonçalves (RS). A empresa tem a filosofia de elaborar produtos de altíssima qualidade, diferenciados e voltados para o segmento gourmet. No seu portfólio, é possível encontrar sucos de uva integral, orgânico e varietal. O suco varietal é exclusivo no mercado nacional. Ainda em relação aos sucos, a Casa Madeira trabalha com a linha Kosher, destinada à comunidade judaica. E complementando a linha, vinagre e creme balsâmico, antepastos e geleias (com o suco e pedaços da fruta).

Vale a pena conhecer a linha gourmet das geleias. É possível encontrar geleias de sabores, como vinho Malbec e Cabernet Sauvignon, Mirtilo, Physalis, Morango com Pimenta, Café e até Caipirinha. Essa linha de geleias é voltada para um público exigente, que gosta de conhecer novos sabores e criar receitas.

Vida gourmet Divulgação/ Casa Madeira

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Thiago Madureira

conseguiu dar padrão de jogo à equipe”, avalia o comentarista da Rádio Globo, Marcelo Bechler.

Mesmo sem ter jogadores consagrados, o setor defensivo conta com bons números. A defesa do Fluminense disputou 11 jogos sem ser vazada e em apenas três das 25 partidas levou mais de um gol: nos empates contra o Figueirense, em Florianópolis, e no Rio de Janeiro, ambos por 2 a 2, além da derrota para o Atlético-GO, em Volta Redonda, por 2 a 1.

“Atlético, Grêmio e Vasco têm mais chances de oscilar, porque o Fluminense vem forte demais, desde a redenção de 2009”, acredita o comentarista e escritor André Rocha, referindo-se ao ano em que o time carioca safou-se do rebaixamento, mesmo tendo 99% de risco de queda, segundo declararam alguns analistas de números.

A grande dor de cabeça para os tricolores é o excessivo número de contusões. Aos 36 anos, Deco, titular absoluto no meio-campo do técnico Abel Braga, passa mais tempo no departamento médico do que em campo. Fred, por sua vez, já perdeu um terço dos jogos. Rafael Moura, seu substituto natural, foi vendido ao Internacional.

atlétICO MIneIrO

O sucesso do Atlético tem nome e sobrenome: Ronaldinho Gaúcho. Desde a chegada do astro, jogadores importantes cresceram de rendimento. É o caso do meia Bernard. Além da organização das jogadas, Ronaldinho tem participação decisiva nas bolas aéreas, explorando a impulsão, principalmente, de Jô, Réver e Leonardo Silva. Dos 36 gols marcados, 11 foram de cabeça.

pOdIuM • ESPORTE

Faltam ao Campeonato Brasileiro a organização, o investimento e os craques das grandes ligas europeias. Por outro lado, nenhum torneio no mundo é tão competitivo.

“Estou completando 20 anos como profissional. Mesmo disputando muitos campeonatos, acho o Brasileiro o mais difícil. São sempre quatro ou cinco equipes brigando”, certifica o meio-campo do Grêmio, Zé Roberto, com passagens destacadas pelo futebol espanhol, alemão e pela seleção brasileira.

Chegada a fase final do Brasileirão deste ano, quatro clubes têm possibilidades matemáticas de título: Fluminense, Atlético Mineiro, Grêmio e Vasco. Os cálculos são do professor da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Tristão Garcia.

Para conhecer melhor os postulantes à taça, a Vox Objetiva fez um levantamento com os destaques e as fragilidades de cada equipe.

fluMInenSe

Dono do ataque mais positivo e da defesa menos vazada, o Fluminense conseguiu manter a base qualificada do Campeonato Brasileiro passado - no qual terminou na terceira colocação. Embora nenhum reforço de peso tenha chegado, os principais nomes permaneceram: Fred, artilheiro do torneio com 11 gols, Deco e Thiago Neves.

“É quase o mesmo time do ano passado, que fez um excelente segundo turno. Neste ano, o Flu participou da Copa Libertadores e foi o melhor time da primeira fase. Desde quando chegou, o técnico Abel Braga

Fluminense, Atlético, Grêmio e Vasco são os clubes com possibilidades matemáticas de conquistar o Campeonato Brasileiro. Conheça as fragilidades

e os destaques dos postulantes à taça

Corrida pelo título

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Como uma andorinha só não faz verão, o elenco encorpado com boas opções para todas as posições é outro fator preponderante para buscar o título. Peças importantes no esquema do técnico Cuca, além de Ronaldinho Gaúcho, chegaram durante o campeonato. O goleiro Victor, o lateral-esquerdo Júnior César e o atacante Jô estão entre eles. “A diretoria e o treinador souberam encontrar ótimas opções no mercado. Agora os reservas estão à altura dos que estão em campo”, destaca o ex-jogador e hoje comentarista Marques.

O Estádio Independência também tem sido decisivo, com média de 18,3 mil pagantes. Dos 12 jogos em casa, o Galo venceu dez e empatou dois. Sofreu sete gols e marcou 25. É o melhor aproveitamento como mandante na competição. “É pressão no adversário, na arbitragem e injeção de ânimo nos próprios jogadores”, reconheceu o técnico do Grêmio, Vanderlei Luxemburgo, adversário do Atlético em busca de mais um título nacional.

No entanto, fora de casa, o desempenho tem deixado a desejar. Nos últimos seis jogos, o Atlético empatou quatro (Fluminense, Atlético-GO, Cruzeiro e Bahia) e perdeu duas partidas (Corinthians e Náutico). Mesmo atuando bem, os comandados de Cuca não souberam tirar proveito do bom momento. Foi assim contra o Cruzeiro (vencia até os 56 minutos do segundo tempo), Atlético-GO (jogou com um jogador a mais durante grande parte da partida) e Bahia (teve as melhores oportunidades).

grÊMIO

Vanderlei Luxemburgo é um técnico multicampeão. Venceu o Campeonato Brasileiro em cinco oportunidades, mas nos últimos anos não fez bons trabalhos. O Grêmio resolveu apostar no passado vitorioso do treinador e se deu bem.

O clube gaúcho também investiu alto para sonhar com o título. Trouxe os meias Zé Roberto, do Catar, Facundo Bertoblio, do Dínamo de Kiev, Elano, do Santos, e o lateral-esquerdo Fábio Aurélio, do Liverpool.

Luxemburgo montou um time interessante taticamente, mesclando a experiência de Zé Roberto, Kleber e Gilberto Silva com a juventude de Fernando, Marcelo Grohe e Marcelo Moreno.

“Acredito que o ataque seja a grande força do time. Elano e Zé Roberto chegam com qualidade. Kleber e Marcelo Moreno estão em boa fase. O time, porém, depende muito da imposição física”, explica Marcelo Bechler.

O Grêmio, no entanto, faz campanha intermitente. Enquanto o

pOdIuM • ESPORTE

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pOdIuM • ESPORTE

Fluminense perdeu duas partidas e o Atlético três, o clube gaúcho soma sete reveses.

VaSCO

Dos clubes que brigam pelo título, o Vasco é o que vive a fase mais instável. Nas últimas rodadas, foi goleado pelo Bahia, em São Januário, por 4 a 0, e viu seu técnico Cristóvão Borges abandonar o cargo.

O clube da Colina começou o campeonato bem, mas foi caindo de rendimento à medida que foi vendendo seus titulares. O lateral-direito Fagner foi para o Wolfsburg, o meio-campo Diego Souza saiu para o Al-Ittihad, o volante Allan acertou com a Udinese e Rômulo apresentou-se ao Spartak Moscou.

“Perdeu jogadores fundamentais e os que chegaram não eram do mesmo nível. Consequentemente se enfraqueceu”, diz o ex-jogador Marques. Algumas apostas feitas são questionáveis: “é difícil levar a sério um time que dá mais uma oportunidade ao meio- -campo Carlos Alberto”, critica Bechler.

Outro problema é atuar fora de São Januário. Dos 12 jogos como visitante, perdeu três, empatou cinco e venceu quatro. A esperança de recuperação está na chegada do novo treinador, Marcelo Oliveira.

Vaga na Copa Libertadores

o professor tristão Garcia também calculou as possibilidades dos clubes de conquistar vaga na Copa Liber-tadores. Além dos candidatos ao título, botafogo, são Paulo, Internacional e Cruzeiro têm chances. o comentarista André rocha analisa os concorrentes: “botafogo e Internacional seguem tendências dos últimos anos. mentalmente não são tão fortes, e os reveses recentes no Campeonato brasileiro parecem pesar. são Paulo tenta reencontrar sua identidade - venceu em 2006, 2007 e 2008, mas depois não se adaptou às mudanças na dinâmica do futebol. Cruzeiro não tem time, nem elenco e muito menos treinador para brigar na frente”, pondera. mesmo com possibilidades, o Cruzeiro parece cada vez mais distante do G-4. o técnico Celso roth ainda não conseguiu dar um padrão tático ao time, que é constantemente modificado. “o nível técnico e tático é muito fraco. o time é limitado e tem muitos problemas. o oitavo lugar é a posição real”, acredita o comen-tarista marcelo bechler.

ronaldinho é apontado como o principal responsável pelo ótimo de-sempenho do Atlético mineiro no brasileirão..........................................................................................................................

bruno Cantini

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A Copa do Mundo é nossa?

rObSOn SáVIO reIS SOuZa Filósofo especialista em segurança pública

[email protected]

artIgO • JuSTiçA

Várias intervenções urbanas estão sendo feitas nas cidades-sede da Copa do Mundo de 2014. E tudo está respaldado no discurso quase unânime de que é preciso executar um conjunto de obras, a qualquer custo, senão inviabiliza a realização do evento. A Copa virou vitrine política e a desculpa para a gastança de dinheiro público.

Recentemente Christopher Gaffney, pesquisador do Observatório das Metrópoles, apresentou resultados de estudos sobre o legado de grandes eventos em outros países. Na Coreia do Sul e no Japão foram construídos cerca de 20 estádios para a Copa de 2002 pelo poder público. A utilidade deles hoje é quase nula. Por outro lado, em Los Angeles, em 1984, não se usou dinheiro público, e os jogos daquele ano foram avaliados como exitosos. Em 1992, a Olimpíada ajudou Barcelona a se transformar num dos principais centros turísticos do mundo, mas a cidade tinha um plano diretor desde o início da década de 80.

O exemplo mais recente vem da Copa da África do Sul. Ressalvada a visibilidade dada àquele país, a dívida pública com as obras do Mundial era de U$S 4 bilhões – coincidentemente a mesma quantia que a Fifa anunciou como lucro. Em outras palavras, uma transferência direta de dinheiro público para uma entidade privada: a Fifa. Isso, sem contar que nove dos dez estádios construídos não estão sendo utilizados.

Mas tudo pode ser diferente e melhor no Brasil, dirão os otimistas e os interessados nesses grandes negócios. Só que não podemos esquecer, nem apagar da nossa memória e história, as experiências recentes que nos deixam apreensivos. Vamos rememorar os jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro. Qual o legado desse evento para aquela cidade? Ninguém se esquece é dos

fortes indícios de superfaturamento das obras: orçado em R$ 400 milhões, o evento custou R$ 4 bilhões, ou seja, dez vezes mais.

No início deste ano, o ministro do Esporte informou que o governo federal investiria R$ 23,3 bilhões na Copa do Mundo, no Brasil. Mas pode-se afirmar, com certeza, que esse valor será facilmente superado. O exemplo mais próximo: a reforma do Mineirão, originalmente orçada em R$ 426,1 milhões, subiu para R$ 743,4 milhões – valor publicado na licitação vencida pelo consórcio formado por três empreiteiras.

Além da gastança de dinheiro público, outros problemas têm chamado a atenção em relação às obras dos megaeventos. A relatora especial da ONU pelo Direito à Moradia Adequada, Raquel Rolnik, divulgou documento afirmando ter recebido várias denúncias de despejos, remoções e desalojamentos de moradores com violações dos direitos humanos em cidades que vão sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas. As denúncias incluem as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Natal e Fortaleza.

Será que os investimentos para a Copa vão melhorar a qualidade de vida nas cidades? Em relação aos impactos econômicos: haverá aumento sobre a dívida pública? Qual a sustentabilidade dos investimentos realizados, seus impactos sociais e sobre o setor informal da economia? Quais serão as modalidades de parceria público-privada? Haverá concessões na gestão dos equipamentos esportivos e urbanos construídos para os eventos esportivos? Caso positivo, quais serão as contrapartidas do setor privado? Haverá ampliação do acesso da população aos equipamentos urbanos e sociais?

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A partir de dezembro, consumidores que optarem por produzir a própria energia com painéis solares ou pequenas torres eólicas terão benefícios

O futuro movido somente pela geração de energia elétrica originada do sol, do vento ou de matérias- -primas é uma mera fantasia na opinião de uma das mulheres mais poderosas do mundo. A presidente fez questão de deixar claro, dois meses antes da Rio+20, que o evento não seria palco de ideias utópicas. As hidrelétricas continuariam sendo as principais matrizes energéticas do país. A declaração deixou defensores do meio ambiente, contrários à instalação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, transtornados.

A reunião terminou sem uma conclusão que efetivasse a tomada de decisões transformadoras no cenário da energia global, decepcionando entusiastas. Mas, ainda assim, o investimento em energias limpas cresce no mundo todo.

Em 2011, o Brasil era o décimo na lista dos países que mais investiram na área. Foram US$ 8 bilhões e, em 2010, US$ 6,9 bilhões para o desenvolvimento de energias alternativas. Nada comparado aos US$ 48 bilhões dos Estados Unidos ou aos US$ 45 bilhões da China, primeiro e segundo lugares na corrida da energia limpa da Pew Environment Group, que mostra os investimentos do mundo em energia no ano passado. Segundo o documento, o Brasil (10ª posição) tem um potencial de 15 gigawatts (GW) de energia criada a partir de fontes renováveis, China 133 GW (1ª posição) e Estados Unidos 93 GW (2ª posição).

O gerente de alternativas energéticas da Cemig, Marco Aurélio Dumont Porto, reforça que as energias alternativas seriam um complemento para a matriz hidrelétrica, considerada mais segura, por permitir o armazenamento de suprimentos em reservatórios das grandes usinas. “Não tem como apostar somente em energia solar ou de biomassa, porque não temos o suprimento garantido. Então não há como ter contratos garantindo uma energia firme. Precisamos da energia hidráulica para garantir a confiabilidade energética”.

Ao contrário do que pensa a presidente Dilma Rousseff, Porto lembra que o tema não pode ser tratado como utopia. “Existem grandes entraves sob o ponto de vista socioambiental para a construção de hidrelétricas, como temos acompanhado em Belo Monte. Os melhores empreendimentos ainda disponíveis estão na Região Amazônica. Portanto, devemos sim considerar e ter no nosso radar todo tipo de energia, caso o Brasil deseje continuar crescendo. Isso inclui a energia nuclear”, complementa.

A Cemig produz 98% de energia proveniente de hidrelétricas e 2% de termelétricas. De olho no novo mercado, este ano a empresa realizou estudo para identificar os pontos mais favoráveis do estado para a instalação de torres eólicas. A pesquisa mostrou que Minas Gerais tem grande potencial de geração de energia pela força dos ventos: 40 GW. O valor é três vezes e meia maior que o potencial de Belo Monte, que

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Vanguarda • TECNOLOGiA

Agora é pra valer

Bianca Nazaré

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Vanguarda • TECNOLOGiA

vai gerar 11,2 GW de energia, e seis vezes maior que a usina de Itaipu, que gera 7 GW. O levantamento demonstrou que o local mais favorável para a instalação das torres é o Norte do estado, a partir de Sete Lagoas, rumo à Serra do Espinhaço.

Por enquanto, o investimento da empresa em força eolielétrica é feito somente no Ceará e na Bahia. A Cemig declara que ainda não há previsão sobre quando serão instaladas as torres eólicas em Minas Gerais, porque não há uma conclusão sobre os custos do empreendimento até o momento. Caso sejam instaladas, as torres podem multiplicar seis vezes a capacidade de geração de energia da companhia.

energIa gerada eM CaSa

A partir de dezembro deste ano, consumidores poderão instalar painéis solares para gerar a própria energia e disponibilizar na rede elétrica o que não for consumido. O excedente distribuído na rede será transformado em crédito pago pela concessionária de energia elétrica. A decisão foi estabelecida pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), por meio da Resolução 482, publicada em 17 de abril deste ano.

As empresas têm até dezembro para se adequar.

Em resposta à revista Vox Objetiva, a Aneel esclareceu que o consumidor que instalar pequenos geradores, como painéis solares fotovoltaicos ou pequenas turbinas eólicas, poderá abater o consumo de energia elétrica das concessionárias com a energia gerada por conta própria que não foi utilizada. Esse sistema é chamado de geração distribuída.

A Agência esclarece que a nova regra possibilita o crescimento do mercado de energias alternativas. “Quando a geração for maior que o consumo, o saldo positivo de energia poderá ser utilizado para abater o consumo em outro posto tarifário ou na fatura do mês subsequente. Os créditos de energia gerados continuam válidos por 36 meses. Há também a possibilidade de o consumidor utilizar esses créditos em outra unidade, desde que as duas unidades consumidoras estejam

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stock.xchng

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Vanguarda • TECNOLOGiA

na mesma área de concessão e sejam reunidas por comunhão de fato ou de direito”.

A geração de energia no próprio local de consumo traria vantagens em comparação à geração centralizada tradicional, segundo a Aneel. Pode haver ganhos com economia de investimentos em transmissão e redução de perdas nas redes, melhorando a qualidade do serviço. Para o coordenador do Centro de Inovação em Bioenergia do Estado de Minas Gerais (Bioerg), José Roberto Branco, esse sistema é um marco no setor de energia renovável, porque permite que as pessoas se beneficiem economicamente.

Branco explica que cada watt de energia alternativa instalado em casa custaria de US$ 2 a US$ 5: um custo aparentemente alto. “O que assusta é o investimento que você faz. Digamos que uma casa de classe média precisasse de 10 kW. O investimento pode chegar a pelo menos uns US$ 20 mil. Estou falando se o consumidor fosse viver exclusivamente dessa matriz energética. Valeria muito a pena. Mas a resolução da Aneel não permite esse uso com tanta facilidade. Você não pode utilizar tudo que estiver produzindo e disponibilizando. É preciso vender parte da energia. Então Belo Horizonte vai continuar dependendo da Cemig. Por isso, talvez a conta ainda não seja favorável. Mas se você tiver seu gerador ali durante o período de sol, sem armazenar energia, você teria eletricidade por quase a metade do que a Cemig está cobrando de você. Que tal?”.

Existem dois projetos para a implantação do sistema de geração de energia distribuída no estado. Os mais adiantados estão no Mineirão e na Arena do Jacaré, em Sete Lagoas, ambos coordenados pela Cemig. O engenheiro de tecnologia e normalização da Cemig e gerente do projeto da Arena do Jacaré, Márcio Eli Moreira de Souza, explica que a energia gerada será medida e compensada com a energia consumida proveniente da rede da concessionária. A adoção desse sistema pode ser solicitada a partir do dia 13 de dezembro deste ano. A Cemig está testando o sistema no estádio do Democrata (Arena do Jacaré) com a instalação de geradores de energia alternativa que custaram R$ 6,5 milhões.

A geração distribuída vai incentivar o uso particular de painéis sola-res e pequenas turbinas eólicas.........................................................................................................................

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Nas últimas duas décadas, muito se tem discutido nas reuniões do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), organismo das Nações Unidas, se o clima do planeta Terra está se alterando. Especialistas procuram definir os responsáveis pelas mudanças e os prováveis impactos de tudo isso. Pesquisadores do mundo todo se reúnem e propõem discussões sérias. Entretanto há sempre aqueles que procuram desviar a atenção, alegando que o fato é mais político do que técnico.

Este é o primeiro de uma série de artigos que vou escrever sobre os impactos que as mudanças climáticas estão trazendo para o nosso planeta.

Machu Picchu, elevado à categoria de Patrimônio da Humanidade em 1983, pela Unesco, é um dos lugares mais visitados do Peru. Localizada a 2400 m de altitude, no vale do Rio Urubamba, a cidade foi construída por ordens do imperador Inca Pachacuti, que governou entre os anos 1438 e 1471. A imponente cidade de pedra recebe cerca de 2,5 mil visitas diárias.

Em janeiro de 2010, fortes chuvas causaram inundações na região, provocando mortes e deixando milhares de turistas presos nas montanhas peruanas. As fortes chuvas causaram vários deslizamentos de terras. Segundo os pesquisadores, a combinação das alterações do clima e o fenômeno El Niño têm causado um aumento na intensidade dos temporais na região. Além de deteriorar Machu Picchu, as tempestades são ameaça para o turismo local.

ruIbran dOS reISDiretor regional do Climatempo

Professor da PUC [email protected]

Sinais de mudanças climáticas

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artIgO • METEOROLOGiA

O fenômeno El Niño voltou a se configurar no mês de julho, e a previsão é de que ganhe intensidade nos próximos meses. Portanto, as chuvas de forte intensidade podem voltar a acontecer neste próximo período chuvoso.

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artIgO • METEOROLOGiA

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Réplicas de quadros antigos mostram homens e mulheres com chapéus pontiagudos e roupas coloridas sendo ridicularizados em praça pública. Alguns aparecem diante de tribunais religiosos imobilizados por eficientes engenhocas medievais. Com membros desarticulados ou partes do corpo expostas em carne viva, os condenados padecem em desumanas seções de tortura ou em calabouços escuros. O tempo também torturava até dar cabo do serviço iniciado pelos carrascos.

A intolerância religiosa da Igreja Católica foi institucionalizada por meio da Inquisição. A repressão aos cátaros – considerados hereges – marca o início da atividade dos Tribunais do Santo Ofício na região francesa de Languedoc, no ano de 1182. A Igreja passava a assumir uma postura radical contra aqueles que se opunham à fé e aos ensinamentos católicos.

Os crimes passíveis de punição eram vastos como os instrumentos de tortura. Bigamia, homossexualismo, blasfêmia, apostasia e os mais graves: judaísmo e heresia eram motivos para castigos severos. Enquanto a Inquisição julgava, era a justiça secular que se encarregava de executar as penas. “A intenção era não manchar as mãos com o sangue das vítimas. A Inquisição era um tribunal eclesiástico, conduzido por juízes formados em Direito Canônico, formado para julgar os delitos de fé”, detalha a professora do Departamento de História da UFMG, Adriana Romeiro.

Para fugir da fogueira, uma das punições mais cruéis infligidas aos réus, físicos e astrônomos tiveram que negar constatações científicas que tiravam da Terra o lugar de primazia no Universo. Questionar a soberania de Deus também era algo inconcebível. A Igreja se viu ainda mais desafiada com o humanismo, um dos ideais renascentistas que exaltavam a criatura, colocando-a na condição de criador.

Tendo os primeiros desdobramentos na chamada Idade das Trevas, a Inquisição é o objeto de observação proposto pelo primeiro museu das Américas dedicado ao tema. Um acervo que inclui documentos antigos, imagens, artefatos e réplicas de verdadeiras máquinas da engenharia do terror desvenda esse sombrio momento histórico que perdurou até o fim do século 19.

O Museu da História da Inquisição, inaugurado em agosto, é uma das iniciativas da Associação Brasileira dos Descendentes de Judeus da Inquisição (Abradjin) para a preservação da memória do povo de origem judaica disperso pelo Brasil. Os cristãos-novos ou anussin, judeus forçados a negar a própria fé e adotar a religião católica, foram os principais alvos da perseguição promovida com requintes de crueldade,

kultur • HiSTÓRiA

Os horrores da Inquisição são relembrados no primeiro museu das Américas dedicado exclusivamente ao tema

Confessa teus pecados

André Martins

reprodução/ Pintura de Francisco Goya

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A heroína francesa joana D’Arc foi queimada viva pelo crime de bru-xaria. em 1920 foi beatificada pela Igreja e teve a honra recobrada.........................................................................................................................

kultur • HiSTÓRiA

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especialmente na Espanha, a partir do século XV.

No início da década de 90, o presidente da Abradjin, Marcelo Miranda, descobriu que a história de judeus portugueses oprimidos pela Igreja se confundia no próprio passado. Marcelo é um dos milhões de brasileiros descendentes de cristãos-novos que até então desconheciam as origens. Ao tomar conhecimento do fato, Miranda viajou para a Europa, realizou pesquisas e reuniu documentos. “Em determinado momento, percebi que tinha um acervo considerável. Com esses documentos, era possível revelar uma história não contada nos livros curriculares. Assim surgiu a ideia da criação do museu”, revela.

Localizado na rua Cândido Naves, 55, no bairro Ouro Preto, o museu possui um extenso acervo bibliográfico com obras antiquíssimas. Dentre elas há um pedaço de uma Torá, o pentateuco judeu. Das fogueiras da Inquisição, restaram quatro dos 50 metros totais dos livros. Painéis ilustrados, detalhados com informações pontuais, e tabelas que ilustram os horrores da Inquisição com números preenchem as paredes de sete das oito salas que compreendem o espaço.

Objetos referentes ao cotidiano dos judeus fugidos da repressão implacável da Igreja também estão disponíveis para os visitantes. Chama a atenção um objeto decorativo que projeta na parede uma estrela de Davi – símbolo do povo judeu, assim que uma vela é acesa na haste. Era uma das formas encontradas para praticar a fé sem levantar suspeitas.

Por ter ocupado lugar de destaque no ciclo do ouro, Minas Gerais foi um dos principais redutos dos cristãos-novos. A presença judaica no estado foi investigada pela historiadora Neuza Fernandes. O minucioso trabalho da pesquisadora foi transformado em painéis de fotografias de famílias judias que fincaram raízes em Minas. Outro apresenta os muitos costumes judaicos incorporados à cultura mineira.

No museu é possível também realizar pesquisas relacionadas com o tema e até descobrir sobrenomes de origem anussin. Do computador, o visitante pode passar à busca de informações aprofundadas no

reprodução/ Ilustração de jules eugène Lenepveu

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dez anos, com a ajuda dos associados da Abradjin. Segundo Miranda, essa é apenas a primeira etapa do projeto. A intenção é enriquecer ainda mais o acervo cultural e histórico do museu.

De São Paulo, a professora de história da USP Anita Novinsky, referência internacional nos estudos sobre a Inquisição, contribuiu para a reunião de dados e documentos. Ela acredita que o museu vá provocar uma reflexão válida. “Felizmente a nova geração de historiadores brasileiros se conscientizou da necessidade de reescrever a história do Brasil. A inauguração do Museu da Inquisição é apenas um começo para que os brasileiros conheçam a própria história e pensem nos crimes cometidos no passado, ajudando a formular um futuro melhor”, pontua.

As máquinas e os objetos de tortura utilizados no período da Inquisição tinham o propósito de prolongar o sofrimento e matar lentamente..............................................................................................................................................................................................................................................................

acervo bibliográfico.

O último recinto é o que mais impressiona e assombra. No espaço estão réplicas de objetos e máquinas utilizadas na tortura dos condenados. Há o queima-pés; o quebra-joelhos; as unhas de gato, que dilaceravam corpos içados, e o garrote, que podia ser associado a uma forquilha de ponta dupla. A junção da máquina e do acessório era mortal, pois provocava a perfuração simultânea da glote e do pescoço.

Quase todo o material disponível no Museu da História da Inquisição foi adquirido em leilões internacionais voltados para colecionadores ou comprados em antiquários israelitas. Os recursos financeiros para a reunião do acervo foram angariados ao longo de

André martins

kultur • HiSTÓRiA

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dO braSIl para a eurOpa

Ao contrário das nações europeias, no Brasil não houve Inquisição. Por isso, não houve tortura. A aparente tranquilidade na maior colônia portuguesa era um convite à vinda dos cristãos-novos portugueses e espanhóis. Segundo pesquisadores, boa parte da tripulação das esquadras que chegaram ao litoral brasileiro em 1500 era composta por descendentes de judeus. Especula-se até mesmo que o sobrenome Álvares, do conhecido “descobridor” do Brasil, Cabral, seja de origem anussin.

Livre da tortura, mas não da repressão. De acordo com a professora Adriana Romeiro, algumas localidades da colônia chegaram a receber visitas itinerantes dos inquisidores portugueses ou dos comissários do Santo Ofício – homens que tinham por finalidade verificar a existência de delitos de natureza religiosa.

“Os hereges chegavam até os cárceres do Santo Oficio por meio de denúncia ou confissão. Quando o tribunal se instalava no Brasil, as pessoas tinham um período de 30 dias para confessar os pecados.

origens

Historiadores divergem em relação ao número de descendentes de cristãos-novos no brasil. Alguns contam 40 mi-lhões. o fundador do museu da História da Inquisição, marcelo miranda, acredita que o número gire em torno dos 25 milhões. A grande quantidade se deve ao fato de Portugal ter forçado o êxodo dos judeus residentes no país, que cor-respondia a 25% da população em 1500. A maioria procurou abrigo nas colônias portuguesas.

Acredita-se que, dos 40 mil processos presentes no Arquivo nacional da torre de tombo, em Portugal, apenas mil te-nham sido analisados por historiadores. Isso reforça a ideia de que o número de vítimas seja ainda maior. “espero que o museu seja uma pá que abrirá as covas, os túmulos da omissão da história, restabelecendo a dignidade dos descen-dentes dessas vítimas silenciadas, repulsadas e esquecidas pela intolerância e ignorância humana”, desabafa miranda.

Era o tempo da graça. Depois disso, elas perdiam a imunidade e podiam ser denunciadas. A Inquisição sempre foi muito hábil para rastrear e prender vítimas. Vale lembrar que, quando o Tribunal chegava a uma localidade, a população entrava em pânico, pois sabia que todos podiam ser denunciados pelos seus desafetos”, detalha.

Uma vez sentenciados, os condenados eram encaminhados para Portugal. Lá as penas eram executadas. Os chamados autos de fé eram grandes eventos de tom festivo que atraíam multidões. Além de terem caráter coercitivo, as cerimônias de punição cumpriam outra função. “Mais que um culto a Deus, comparecer aos autos de fé era como estabelecer um pacto com a Igreja Católica, com o Estado Monárquico. No momento em que as pessoas passaram a sentir empatia pelo réu, a Inquisição entrou em declínio”, expõe.

Em 1820, os tribunais são extintos na Espanha. Um ano

depois, em Portugal. De acordo com a professora Anita Novinsky, milhares de pessoas morreram nesse período, numa escala comparável apenas à perseguição dos judeus na Alemanha nazista.

“Felizmente a nova geração de

historiadores brasileiros se cons-

cientizou da ne-cessidade de reescrever a

história do Brasil”Anita Novinsky,

historiadora

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Ritmos africanos entrelaçados na mesma dança. O maracatu, o candomblé e o congado se unem na coreografia que retorna às raízes da cultura brasileira, enaltecendo o passado africano no país do verde e amarelo. Os movimentos dos humanos curvados pelo tempo e mecanizados pelo ofício aludem a festivos rituais e a danças tribais. Por trás de cada ação, a complexidade da técnica clássica está presente em todos os bailarinos. Criado em 1998, o espetáculo Benguelê, do grupo Corpo, é a marca da heterogeneidade de culturas que permeia cada tão

pensada coreografia das danças do pós-moderno.

São pesquisas históricas de passos e de cada movimento de braços, tronco, cabeça, pernas, pés e mãos. Segundo o diretor do Grupo Sarandeiros e doutorando em Processos e Poéticas da Cena, Gustavo Côrtes, para coreografar um espetáculo como o Benguelê é preciso estudar cada detalhe do que se estabeleceu na cultura popular. “Tudo faz ter um novo contexto. Os bailarinos e as intencionalidades dão cara ao grupo e fazem com que se diferencie dos trabalhos tradicionais”.

Depois de séculos de existência, danças se reinventam e se misturam em uma combinação que une a tradição ao contemporâneo

Fernanda Carvalho

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kultur • SÉRiE RETRÔ

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De acordo com o professor, coreógrafo e pesquisador na área de danças cênicas, Arnaldo Alvarenga, tudo que é feito hoje é contemporâneo. “Podem existir produções contemporâneas voltadas para a pesquisa histórica, para remontagens ou que lançam mão de uma técnica, mas que produzem um espetáculo cuja estética seja moderna”. Segundo ele, a técnica do balé está presente tanto no Lago dos Cisnes quanto no Benguelê, que tem elementos de uma tradição antiga, mas que não quer dizer que seja vintage ou retrô. “É um recurso técnico. A gente come pão de queijo, que é uma reminiscência nossa muito antiga, e isso não pode ser chamado de retrô ou vintage; é simplesmente tradição”, analisa.

A cultura do balé acompanha as gerações, desde o período das cortes europeias. A dança começou a se organizar na Itália e foi levada para a França, quando a italiana Catarina de Médicis se casou com o soberano francês Henrique II, no início da década de 1530. Na virada para o século XIX, deslocou-se para a Rússia. “O balé russo, na verdade, é uma tradição francesa. Da Rússia, o balé volta para o ocidente e novamente é transformado. O estilo se desloca e se renova”, explica o pesquisador de danças cênicas. Segundo ele, no Brasil, o balé surgiu no início do século XX, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Foi graças a Maria Olenewa que foi fundada a primeira escola oficial da dança no país, em 1927. Em Belo Horizonte, a escola foi inaugurada por Carlos Leite – um dos discípulos de Maria.

fOlClOre

De geração em geração, a cultura da dança é passada de forma quase artesanal. Esta é justamente uma das principais características das danças folclóricas: a tradição. Segundo Gustavo Côrtes, os outros dois pontos-chave são a espontaneidade e a funcionalidade, seja ela sagrada seja para rememorar um fato simbólico importante para a comunidade. “Tem que ter um tempo estabelecido naquele local para se integrar à cultura das pessoas. Por isso, algumas danças que se estabelecem como populares no Brasil não são folclóricas, como o funk e o axé. Podem até vir a ser, mas não têm uma tradição nem uma função específica, embora sejam espontâneas”, pondera.

Por se tratar de uma dança coreografada, não espontânea, Gustavo Côrtes não considera que o próprio grupo seja folclórico. O Sarandeiros foi criado em 1980 como Grupo de Dança Experimental da Escola de Educação Física e tinha suas bases nas danças internacionais. A partir de 1986, o grupo começou a se aproximar do que é hoje. Desde 1997 é chamado por Grupo de Produções Folclóricas Sarandeiros. O objetivo agora é outro: “trazer o universo das tradições e das manifestações culturais brasileiras como possibilidade de aprendizado dos alunos e de trabalho em escolas”. Além dessas atividades, o grupo tem um batente internacional de apresentações que passou por vários países da Europa e que agora tem priorizado a América do Sul.

o sarandeiros resgata as tradições brasileiras por meio da dança.........................................................................................................................

mauro stofel/ www.sarandeiros.com.br

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No último DVD lançado pelo Sarandeiros, 40 pessoas integraram o corpo do grupo. “Há uma tentativa de utilização artística das pesquisas que fazemos em relação às matrizes e às manifestações tradicionais brasileiras, numa intenção não de cópia ou de resgate, mas de trabalhar técnica e artisticamente com as possibilidades que essas manifestações e essas tradições trazem para o campo das artes”, explica o diretor.

a danÇa nO MundO e aS partICularIdadeS braSIleIraS

O primeiro registro de dança no mundo ficou gravado simbolicamente por desenhos nas paredes das cavernas. “Aconteciam em agradecimento a uma boa colheita. Essas danças folclóricas passaram a ser também a representação de determinados grupos ou de formações nacionais”, acrescenta Côrtes. Em todo o mundo, as danças se destacam como um meio de reconhecer culturalmente uma determinada região. As nipônicas, por exemplo, são facilmente distinguidas como pertencentes ao Japão.

No Brasil, a variação cultural de um estado para o outro faz com que as danças também sejam plurais. “Com essa enorme quantidade de manifestações, quando a gente leva o espetáculo ‘Dança, Brasil!’ para fora, as pessoas dizem: ‘quantos Brasis tem o Brasil?’; porque é uma quantidade muito grande de possibilidades. Por exemplo: uma dança do Rio Grande do Sul, com aqueles vestidos enormes, é característica de lá. Se sobe um pouco, tem São Paulo, Minas Gerais, com uma tradição de Congado ou Folia de Reis. Sobe mais um pouco, vai ao Nordeste – a região mais rica que nós temos. Tem a Bahia, com os orixás e os afoxés. Sobe para o Maranhão, tem o bumba meu boi. Passa pelo Pará e vai para o Amazonas, onde tem as tradicionais festas do boi bumbá e as festas indígenas. Desce para Goiás, na região Centro-Oeste, tem as Catiras... Existe uma infinidade de possibilidades”, resume o pesquisador.

Por mais que as tradições permaneçam e sempre sejam retomadas, todos os tipos de danças precisam ser reinventados e modificados constantemente. O balé é um exemplo. Há pouco tempo, costumava-se dizer que era a dança que escolhia o bailarino e que era preciso

segundo jomar mesquita, o casal se individualizou ao longo dos séculos, e o baile se tornou o que é hoje........................................................................................................................

Guto muniz

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ter o corpo apropriado. Atualmente existem escolas especializadas para pessoas com deficiência física.

Além da democratização, a produção se abre, amplia e multiplica em alta velocidade. A causa disso, para Arnaldo Alvarenga, é que os seres humanos são insaciáveis e facilmente se cansam de tudo. “Isso acontece para a gente não ter a sensação de que está parado. Mas impede o aprofundamento. As coisas se esgotam com muita facilidade. Eu vejo meus sobrinhos ouvindo coisas que eu escutava na infância, ouvindo Duran Duran, Tom Jobim, Roberto Carlos da época da Jovem-Guarda. Acho que há sempre um olhar para o passado, seja pela curiosidade, pelo gosto, pela memória, seja porque as coisas se esgotam. Quando não encontramos muita inspiração, buscamos os velhos tempos e as releituras. Isso denota um pouco desse esgotamento de ideias”, considera.

O pesquisador de dança cênica considera a facilidade de acesso positiva, mas, ao mesmo tempo, entende que a dança cênica é uma forma de banalizar, porque tudo é facilmente copiado e descartado. “Quando tem uma variedade muito grande, a gente fica um pouco confuso, como em um self-service. A gente se esgota muito rapidamente. O excesso de acesso cansa, banaliza”. Segundo ele, as possibilidades na dança são tantas, que a pessoa perde a referência e tem mais dificuldade de escolher o que fazer para si. É possível misturar os gêneros ou até mesmo incrementar o que faz parte de lutas marciais e Le parkour, por exemplo, a um balé ou a outra dança.

a dOIS

Danças eufóricas, com muitos pulos, saltos, sacudidas, giros,..., tudo em alta velocidade. Essas danças mais parecem terem saído de um filme da década de 50, mas podem ser encontradas em várias das academias de dança de salão Brasil afora. Lindy hop, Charleston, Authentic Jazz e Collegiate Shag são alguns dos tipos de danças surgidos há muitas décadas e que estão de volta, principalmente desde o início da década de 90.

Junto do balé clássico, as danças de salão surgiram na corte francesa. Depois de pouco tempo, o clássico

e o acadêmico se distanciaram dos salões, enquanto danças, como a valsa, permaneceram como práticas sociais. Segundo o diretor da escola e da academia de dança Mimulus, Jomar Mesquita, o balé foi para os palcos de teatros, enquanto as outras danças se desenvolveram, primeiramente, em grupos, “como a contradança, o minueto,... Depois, ao longo dos séculos, foram se modificando com as mudanças da própria sociedade, o modo de vestir, o comportamento do homem diante da mulher, e se tornando individualizadas. O casal se individualizou, e o baile foi se modificando até chegar ao que é hoje”.

No final do século XIX, com a abolição da escravatura, acontece, de forma intensa, uma fusão da cultura negra, dos escravos que vieram para o Brasil, com a cultura europeia do colonizador. Segundo Mesquita, nessa época, os negros começaram a ir para as cidades com o objetivo de se socializarem, levando com eles as próprias músicas e a maneira de dançar. Dessa junção surge o maxixe que, posteriormente, vem a ser o samba. Na Argentina, o tango se desenvolve. Outras danças aparecem na América Central, principalmente em Cuba. Nos Estados Unidos, o jazz nasce e abre espaço para a origem do swing e, depois, do rock.

As décadas de 30 e 40 são chamadas de “época de ouro” da dança. Com o feminismo e o fortalecimento do rock n’ roll, porém, as danças a dois perdem força nas décadas de 60 e 70. É a fase de dançar separadamente, quando o tradicional em pares passa a ser démodé, cafona. Na década de 90, os jovens voltam a se interessar pelas danças de salão. É o boom. Samba, salsa, zouk, bolero, tango, lindy hop, west coast swing,... A cada dia aparecem mais danças, com novos passos e outras misturas, todas advindas de várias décadas.

Em frente à escola de dança, a personagem do início dessa série de reportagens estacionou o New Beetle. Desceu do carro com a câmera analógica na mão e entrou pela porta com o vestido rodado preto de bolinhas brancas. A aula de lindy hop havia começado. Com movimentos enérgicos, pôs-se a dançar com o companheiro, como se fosse integrante do Whitey’s Lindy Hoppers, importante grupo na história do gênero, e representasse a protagonista de um filme dos anos 40. Era apenas o início da aula.

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KULTUR • CiNEMA

Amores e desamores ao redor do mundo de Fernando Meirelles

Estradas e bifurcações

O novo longa do diretor Fernando Meirelles começa com uma moça se despindo para uma sessão de fotos. A atriz tcheca Lúcia Siposová é Mika, uma jovem recém-inserida no mundo das acompanhantes de luxo. A personagem cita um ditado que funciona como um prenúncio, que dará o tom do filme: “um homem sábio uma vez disse: se há uma bifurcação na estrada, pegue-a”.

Baseado na peça La Ronde, do dramaturgo austríaco Arthur Schnitzler, 360 traz uma série de pequenas histórias de vidas que se cruzam acidentalmente em determinado momento. Cada história toca, mesmo que de leve, a outra, como num dominó montado em 360 (graus). São fragmentos de vidas aleatórias.

Outras experiências, como a de Meirelles em 360, foram feitas no cinema. Babel, do mexicano Alejandro González Iñárritu, e o vencedor do Oscar de melhor filme em 2006, Crash – No limite, de Paul Haggis, são alguns exemplos.

Em 360 não existe um protagonista nem personagens centrais. Cada um deles aparece por um curto período ao longo do filme, sem receber mais nem menos destaque que os outros. Não há envolvimento do público com os personagens. Portanto, não se cria muita empatia. O espectador pode observar de fora as histórias de vida que vão sendo apresentadas.

O enredo moderno e urbano mostra diferentes relações afetivas ao redor do mundo. Eventos inesperados (bifurcações) acontecem e, diante dessas surpresas, os personagens revelam relacionamentos amorosos, sexuais e familiares. Talvez a antítese do ditado inicial também seja válida, porque nem sempre as bifurcações são os melhores caminhos.

Recheado de boas atuações, o filme conta com um elenco que inclui Anthony Hopkins, Jude Law, Ben Foster, Rachel Weisz e os atores brasileiros Maria Flor e Juliano Cazarré. A embalada trilha sonora do filme é assinada pela mulher do diretor, Ciça Meirelles.

Luísa Reiff Guimarães

esse é o segundo trabalho de rachel Weisz com Fernando meirelles; o primeiro, o jardineiro fiel, de 2005, rendeu um oscar à atriz inglesa..............................................................................................................................................................................................................................................................

Divulgação/ Paris Filmes

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kultur • LiTERÁRiA

Autora: E. L. JamesEditora: Intrínseca Páginas: 480 A trilogia 50 Tons de Cinza, 50 Tons Mais Escuros de Cinza e 50 Tons de Liberdade foi ins-pirada na saga Crepúsculo e escrita pela inglesa Erika Leo-nard James. Os livros que ser-viram de base para a autora são voltados para o público adoles-cente. Ao contrário deles, em 50 Tons de Cinza, o leitor tem acesso a detalhes mais descri-tivos e eróticos. A obra é cen-trada na história de uma jovem universitária seduzida por um misterioso empresário milio-nário durante uma entrevista. A partir daí, eles desenvolvem uma confusa relação. Duzentos mil exemplares da obra foram vendidos no Brasil em apenas três semanas - um recorde.

Autor: Walter IsaacsonEditora: Companhia das Letras Páginas: 624 Mais de 40 entrevistas com o próprio Steve Jobs e outras cem com familiares, amigos, colegas de trabalho e concorrentes for-mam a biografia do homem que está por trás de grandes inova-ções tecnológicas deste século. Jobs foi um dos responsáveis por avanços em diversos campos da tecnologia, do cinema de anima-ção, da música e da telefonia. O livro traz detalhes sobre a per-sonalidade difícil, as manias e o perfeccionismo do criador da Apple, além de diversos relatos das pessoas com quem Jobs con-viveu. Apesar de não ter colabo-rado com a obra, Jobs, que fal-eceu no dia 5 de outubro de 2011, não impôs nenhuma restrição ao autor Walter Isaacson.

50 tons de cinza Steve Jobs

Reprodução

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em outubro acontece em belo Horizonte a 18ª edição da Casa Cor minas Gerais. o tema do aclamado evento de decoração e arquitetura serão as novas tendências de moda, estilo e tecnologia. o evento surgiu em são Paulo, em 1987. Atualmente a exposição acontece em 18 cidades do brasil, além do Chile, Panamá, Uruguai e Peru. no ano passado, o evento na América Latina recebeu mais de 620 mil visitantes.

Local: boulevard shoppingPeríodo: 1º de setembro a 16 de outubroHorários: quarta a sexta, às 16h, e sábados, domingos e feriados às 13hmais informações pelo site www.casacor.com.br/minasgerais

A Festa Push é um projeto itinerante que há dois anos vem promovendo festas diferentes, temáticas e inusitadas belo Horizonte afora. A edição de outubro vai trazer uma atração internacional: Flo rida. o artista realizou parcerias com nomes de peso no mundo da música pop, como o Dj David Guetta, bruno mars, timbaland, Kesha, entre outros.

Local: expominasData: 6 de outubroHorário: 15hmais informações pelo e-mail [email protected]

Casa Cor Festa PUSH!

kultur • AGENDA CuLTuRAL

Divulgação/ Casa Cor

A mostra Udigrudi mundial de Animação chega a sua 10ª edição. o evento procura desenvolver a produção audiovisual de animações e aborda questões, como linguagem e formato. A mumia também leva a público produções independentes.

Locais: diversos teatros e centros culturais da cidadePeríodo: 5 a 31 de outubromais informações pelo site www.mostramumia.blogspot.com

Mumia

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A banda inglesa formada em 1994 volta ao brasil para promover o novo álbum, Fallen empires. Além de belo Horizonte, são Paulo e rio de janeiro vão receber o show do grupo. É a primeira vez do conjunto na capital mineira. o quinteto vendeu mais de 12 milhões de CDs em todo o mundo e teve diversos singles emplacados nas paradas de sucesso, como run e open your eyes. o novo álbum foi descrito por Gary, vocalista da banda, como maduro e divertido e teve influência de grupos, como LCD soundsystem e U2 na sua composição.

Local: Chevrolet HallData: 11 de outubroHorário: 21hmais informações pelo site www.chevrolethallbh.com.br

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os teatros oi Futuro, marília, Galpão Cine Horto e as praças da cidade serão palco do Festival estudantil de teatro. o evento promove a produção artística e as artes cênicas entre estudantes, além de ofertar palestras, oficinas e encontros abertos ao público.

Locais: teatros oi Futuro, marília, Galpão Cine Horto e praças da cidadePeríodo: 10 a 21 de outubro mais informações pelo site www.fetobh.art.br

Festival Estudantil de Teatro

KULTUR • AGENDA CuLTuRAL

Divulgação/ FETO

Divulgação

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JOanIta gOntIJOjornalista e autora do blog tresoumais.blogspot.com

[email protected]

CrÔnICa

Depois do amor... Não reparei nas marcas no corpo, quando a vi

pela primeira vez. Frequentamos a academia no mesmo horário. Depois de algumas conversas sobre a aversão aos exercícios para o abdômen e o rompimento mais recente de um casal de celebridades, ela me contou a própria história – digna das páginas policiais.

Esteve entre a vida e a morte. O ex-marido invadiu sua casa, a amarrou, jogou álcool e ateou fogo. Teve 70 por cento do corpo queimado. A dor passou. Ficaram as cicatrizes e muitas perguntas sem respostas.

Casos como esse não são raros. Ex-namorados, ex- -maridos e ex-companheiros que, revoltados com o fim das relações, reservam-se o direito de ferir e matar. Alguns extrapolam os limites da perturbação e fazem valer esta sentença: “se você não for minha, não será de mais ninguém”. Há cada vez mais filhos órfãos de mães assassinadas e de pais suicidas.

Orgulho ferido? Dinheiro e patrimônio? Traição? Amor insano? Nada parece explicar a razão para esses crimes. Eles não escolhem classe social nem comportamento moral. Acontecem em qualquer lugar onde um homem seja rejeitado por uma mulher.

Não estou sendo feminista nem preconceituosa. Também há exemplares do “sexo frágil” nesse manicômio. Apenas ouso dizer que, no caso dos homens, o motivo pode ser cultural. Ao longo

de séculos, as esposas foram como mercadorias vendidas em lojas. Uma vez adquirida, será para sempre sua propriedade.

Os tempos mudaram, e aprendemos a amar não só o marido e os filhos, mas também nós mesmas. Conquistamos o direito de ficar ou ir embora! Para a maioria dos homens (eu quero acreditar que realmente seja a maior parte...), essa força feminina é motivo de admiração. Mas, para alguns, as separações não estão previstas no “contrato” de compra.

O tormento nem sempre se arma de facas, pistolas ou garrafas de álcool. Existem os “ex” mais discretos e não menos nocivos. Ouvi de uma amiga que o ex-marido descobriu que ela estava namorando. Mesmo separada há quase dois anos, ela foi alvo de agressões verbais e de cobranças tresloucadas.

Sei que não é fácil ver seu último grande amor se tornar a atual e fogosa paixão de outra pessoa. Vale chorar no banheiro, “encher a cara” e falar mal do(a) ex. Mas atrasar a pensão alimentícia, não dividir os custos da farmácia e ainda “furar” o compromisso de ficar com as crianças no fim de semana também pode ser considerado crime!

Atenção, homens e mulheres possessivos: amor nem sempre é eterno. Divórcio não depende de carta de alforria. Evitem se comportar como senhores de escravos ou crianças birrentas. A fila anda. Torturar psicologicamente um ou uma “ex” não dá cadeia, mas deveria...

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“Evitem se compor-tar como senhores

de escravos ou crianças birrentas.

A fila anda”

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