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Vox Concordiana SUPLEMENTO TEOLÓGICO

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Vox Concordiana SUPLEMENTO TEOLÓGICO

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VOX CONCORDIANA SUPLEMENTO TEOLÓGICO

Editado pela faculdade da Escola Superior de Teo-logia do Instituto Concórdia de São Paulo

Editor: Paulo M. Nerbas e Ari Lange Diretor responsável: Dr. Rudi Zimmer

Faculdade: Dr. Rudi Zimmer, diretor; Ari Lange, vice-diretor; Paulo F. Flor; Paulo W. Buss; Raul Blum; Paulo M. Nerbas; Erni Seibert; Deomar Roos

Os artigos assinados são da responsabilidade de seus autores, não refletindo necessariamente a po-sição da faculdade como um todo. Devem ser enca-rados mais como ensaios para reflexão do que posi-cionamentos definitivos sobre os temas abordados.

Endereço para correspondência:

Instituto Concórdia de São Paulo Rua Raul dos Santos Machado, 25 Jardim Helga — Campo Limpo 05.794 - São Paulo - SP

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PALAVRA AO LEITOR

O terceiro número do Suplemento Teológico da revista VOX CONCORDIANA chega até o ami-go leitor fiel ao seu princípio, ou seja, levar infor-mação e subsídios que possibilitem aumentar os seus conhecimentos teológicos.

Nosso propósito é servir, informando e colo-cando diante do leitor matéria para reflexão, cre-mos estar servindo. Isso nos alegra e a boa recepti-vidade que o Suplemento tem encontrado junto

aos leitores nos anima a procurar servir melhor. Este objetivo permanece à nossa frente.

Este número foi preparado durante o período em que seu editor, Prof. Paulo W. Buss, lecionou temporariamente no Centro Educacional Concórdia de São Leopoldo. Por isso, a sua edição foi progra-mada e coordenada pelos professores Ari Lange e Paulo Moisés Nerbas.

HOMILÉTICA

"AI DE MIM SE NÃO PREGAR O EVANGELHO!"

Erní Walter Seiber O apóstolo Paulo tinha clara consciência da

importância da pregação do evangelho. Ele via a pregação do evangelho como elemento fundamen-tal do seu ministério. Não haveria sentido na sua atividade se não pregasse o evangelho. E o apósto-lo afirma em 1 Coríntios 9.16: "Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho!"

Ao longo da história da igreja cristã, a prega-ção do evangelho também foi fundamental. Foi graças à pregação do evangelho que a igreja per-maneceu e cresceu, e quando o evangelho deixou de ser pregado, ou quando o evangelho foi mal pregado, a igreja teve problemas. Este fato mostra não somente a importância da pregação do evange-lho, mas a importância do evangelho ser pregado com clareza e pureza. Acontece que o evangelho não é o fruto da imaginação humana. O evangelho é a palavra de Deus, revelada em Cristo Jesus. O evangelho é a palavra que se fez carne, cuja glória vimos, e que é cheia de graça e de verdade (Jo 1.1-14).

Os confessores luteranos tinham muito clara diante de seus olhos a importância do evangelho. Quando foi formulada a Confissão de Augsburgo, logo após o artigo a respeito da justificação, o ar-tigo principal da fé cristã, foi colocado o artigo a respeito do ofício da pregação. E os confessores declaram. "Para conseguirmos esta fé, institui Deus o ofício da pregação, dando-nos o evangelho e os sacramentos, pelos quais, como por meios, dá o Espírito Santo, que opera a fé, onde e quando lhe apraz, naqueles que ouvem o evangelho, o qual ensina que temos, pelos méritos de Cristo, não pelos nossos, um Deus gracioso, se o cremos. Con-denam-se os anabatistas e outros que ensinam al-

cançarmos o Espírito Santo mediante preparação, pensamentos e obras próprias, sem a palavra física do evangelho." (Livro de Concórdia, pp. 30-31).

Pois a pregação do evangelho continua sendo o grande desafio da igreja cristã em nossos dias. Muita coisa é dita como se fosse o evangelho. Muita ideologia é anunciada e designada de evangelho sem ser. Muitos pregadores famosos expõem suas idéias e dizem ser o evangelho. E muitos pastores simples ensinam com todo o fervor sem tocar no evangelho. Mas, apesar dos erros, o desafio continua: o evangelho deve ser pregado. E qual o conteúdo do evangelho?

O apóstolo Paulo, em 1 Coríntios 15.1-4, se propõe a lembrar aos seus leitores o evangelho que ele lhes havia anunciado. Ele faz um resumo da sua pregação. E o que o apóstolo conta é a história de Jesus Cristo, mais especificamente, que Jesus morreu pelos nossos pecados, e ressuscitou segundo o plano previsto e anunciado.

Esta história que Paulo conta, e que ele diz ser o resumo do evangelho, não é mero entretenimento, ou constatação de profecia e cumprimento. Ela é muito mais que isto. Ela é eficaz para a salvação de todos os que nela crêem. Deus promete declarar justos, no dia do juízo, os que tiverem a fé no Cristo que morreu e ressuscitou. Este evangelho livra da enfermidade do pecado e dos inimigos que não querem permitir a entrada no reino eterno.

Mas não é apenas em 1 Coríntios 15 que en-contramos um resumo do evangelho. Em Lucas 24.46-48, o próprio Senhor Jesus, ao explicar as Escrituras aos seus discípulos, mostra que o evan-gelho tem sua centralidade na paixão, morte e ressurreição de Cristo, a qual ocorreu para remissão dos pecados. Esta mensagem deve ser anunciada, diz Jesus. Sobre esta mensagem Jesus coloca

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a promessa da companhia do Espírito Santo. O apóstolo Pedro, quando foi anunciar o

evangelho para Cornélio (At 10.34-43), faz exata-mente a mesma coisa. Para anunciar o evangelho, Pedro conta a história de Jesus Cristo e sua impor-tância para a salvação.

Com base neste testemunho bíblico, é impor-tante que analisemos hoje as pregações que são fei-tas para averiguar se realmente o evangelho está sendo pregado. Percebe-se que muitos pregadores falham em pregar o evangelho, apesar de sua tradi-ção evangélica-luterana. Paul Harms, no artigo 'The Gospel as Preaching", publicado no livro The Lively Function of the Gospel, cita que William Backus escreveu uma tese, na qual examinou 200 sermões, escolhidos ao acaso, em publicações do Sínodo de Missouri. Nestes sermões ele testou oito itens que considerava básicos para que o sermão contivesse o Kerygma do evangelho. Entre estes itens constavam: a morte de Cristo na cruz; a morte de Cristo tem a ver com o pecado humano; a proclamação da ressurreição. Alguns sermões continham apenas parte destes itens e em alguns nada era encontrado. E Paul Harms diz: "... estes fatores enfatizam a asseveração que a igreja falha mais vezes do que percebe na pregação do evangelho. Dizer que a tarefa que distingue a igreja é pregar o evangelho não significa que efetivamente a igreja está pregando este evangelho."

Richard Caemerer, em Preaching for the Chur-ch, cita cinco elementos que precisariam estar pre-sentes para que houvesse pregação do evangelho. Estes elementos seriam: 1. Jesus de Nazaré, nascido em Belém, um Mestre na Galileia e Judeia,

crucificado em Jerusalém, é o Messias, planejado por Deus para redimir o seu povo. 2. De acordo com o mesmo plano, anunciado no Velho Testa-mento, Jesus ressuscitou da morte e agora vive e reina. 3. A história de sua vida, morte e ressurreição é a mensagem que seus seguidores proclamam ao mundo deles e a todo mundo. 3. Esta mensagem tem poder de converter e modificar, trazendo a confiança em Deus à vida dos que a ouvem. 5. Ela tem este poder porque transmite o perdão de pecados, que é o propósito da morte e ressurreição de Cristo.

Além deste cinco, outros dois ingredientes, segundo Caemmerer, estariam sempre implícitos na mensagem nos dias dos apóstolos: Este Cristo é ao mesmo tempo o homem Jesus e o Filho do Deus vivo; e ele vai retornar em glória para reinar para sempre.

É claro que quando o evangelho é proclamado não há necessidade da repetição mecânica de determinados pontos. Mas o conteúdo do evangelho deve estar presente de maneira implícita e até mesmo explícita em toda e qualquer pregação para que esta seja considerada pregação do evangelho.

A natureza moralista e até mesmo legalista de muitas pregações se deve justamente à ausência do evangelho. E a falta de sabor de muitas mensagens, e a indiferença de muitos cristãos se deve exatamente à falta da pregação do evangelho em sua plenitude. Cabe pois, a todos os cristãos, e es-pecialmente aos pregadores, estar atentos para que o evangelho realmente seja pregado, pois continua sendo verdade o que o apóstolo Paulo disse: "porque ai de mim se não pregar o evangelho."

50ª CONVENÇÃO NACIONAL - 26.01.1986 -Esteio, RS EPIFANIA (Série Trienal - C)

Louvem ao Senhor! (SI 146) A Escritura se Cumpriu: Deus se revelou Salvador a todos os homens. (Lc 4.14ss) É Epifania! Portanto, Buscai ao Senhor e vivei! (Am 5.6)

Queridos Irmãos e Queridas Irmãs:

Há uma urgente necessidade de buscarmos todos ao Senhor. As leituras bíblicas deste 19 domingo de Epifania e o livro do profeta Amos apresentam um quadro que comove curas d'alma e líderes que compartilham as emoções do

dia-a-dia de seus irmãos: Aí estão Os que choram, os angustiados, as viúvas, os

órfãos, os que têm fome, os cegos, os humilhados e os explorados.

Nós os conhecemos, talvez com nomes mais sofisticados:

Os marginalizados, os descasados, solitários, desempregados, deficientes e dependentes. Das últimas manchetes eles emergem em títulos como terremoto, vulcão, seca, terror, revolução e infla-ção.

Todos têm origem comum. Quando o homem deixou de buscar ao Senhor, o pecado não apenas

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minou totalmente seu interior mas irrompeu com suas marcas trágicas no seu corpo, nas suas rela-ções sociais e na natureza. E uma dessas marcas é levantarmos estes temas e esquecermos que este quadro é, antes de mais nada, um espelho. O retra-to, não retocado, da minha e da sua tragédia, meu irmão.

O diabo gosta de nos distrair com os pecados do próximo e os males do mundo em geral. Aos que perguntaram sobre a culpa das vítimas da carnificina no templo e da queda da torre de Siloé, o Mestre respondeu: — Eles não tinham mais culpa do que qualquer outro. Mas se cada um de vocês não se arrepender vai morrer da mesma maneira.

Obreiros e líderes da igreja não são exceção e devem ser exemplo de contínuo e frutífero arre-pendimento. Também quando nos reunimos como congregações, como IELB, temos que buscar ao Senhor e suplicar-lhe:

— Senhor,tem misericórdia de nós, por causa da nossa infidelidade.

Pois foi para dentro desta escuridão mortal que o Senhor veio pessoalmente, em carne.

Filho de "mãe solteira" e de um povo oprimido e desprezado, dormiu num cocho. Fugiu para onde seu povo já fora escravo, enquanto os meninos com quem brincaria foram trucidados pelo seu rei. Na seqüência do evangelho de hoje, seus conterrâneos o agarraram para jogar precipício abaixo.

Mas os magos seguiram a estrela certa e adora-ram quem de fato era rei.

Emanuel, Deus-conosco, chegou. É Epifania: O ministério foi revelado e a glória de Deus está sendo demonstrada na identificação do próprio autor da vida com o "corpo da nossa morte". Esta criança, marcada pela minha e pela sua tragédia. É o Salvador que nos nasceu, Cristo o Senhor. "É o Deus de Jacó... O criador do céu, da terra, do mar e de tudo o que neles existe", como diz nosso salmo e como entoam os piedosos cantadores de terno de reis

Em nossa terra: Meu Senhor, dono da casa, Escutai que ouvireis, Numa lapa em Belém Nasceu o Rei dos Reis.

Ali então brilha a glória Que ao universo desceu. Cantemos juntos vitória Que Jesus Cristo nasceu.

Sua ação misericordiosa e restauradora está

retratada nos evangelhos de todo o período de Epifania. A escritura que leu na sinagoga de Nazaré de fato se cumpriu ao pé da letra.

Ao ser batizado, submeteu-se à lei e à ira de Deus e, por nós, iniciou sua caminhada sob a cruz.

Em Cana da Galileia, participou da alegria da festa de casamento. Solícito, revelou sua glória fa-zendo vinho da água e livrando a família do emba-raço.

Desceu da montanha do memorável sermão para o vale do desespero do leproso e nele praticou a compaixão que ensinara. O acariciou e curou.

No humilde oficial gentio encontrou a fé exemplar e fez chegar alívio ao servo paralítico que sofria horrivelmente.

Durante todo este ano eclesiástico, o ano de Lucas, o evangelista e médico nos tomará pela mão para mostrar como esta ação redentora se concretizou na presença pessoal e solidária de Emanuel, junto aos sofredores, levando perdão, consolo, regeneração, cura, ressurreição e vida. Vi-da que lhe custou a própria vida, na sua doação sobre a cruz. Vida que dura para sempre.

Foi assim que um dia chegou à sua casa e você foi batizado. O Espírito do Senhor, o mesmo que estava sobre ele, o encontrou em sua longínqua terra dos gentios e "com Cristo você foi sepultado na sua morte; E, como ele foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, você também passou a viver uma nova vida". Pelo poder da sua palavra vivificadora gerou em seu coração a fé pela qual você o busca e vive.

Desde então ele nunca deixou de estar ao seu lado: Lhe perdoa quando peca; Lhe restaura a saúde quando está doente; o alimenta quando está com fome; o reanima quando está angustiado e socorre quando humilhado.

Ele o faz especialmente através de seus irmãos e irmãs, que na linguagem da epístola, formam com você um só corpo em Cristo, sua cabeça. Todos estes que estão aí ao seu lado neste culto; os quase 200.000 que representamos; os milhares de irmãs e irmãos de todas as denominações, tempos e lugares.

"Levanta em redor os teus olhos e vê; Todos estes se ajuntam e vêm ter contigo; Teus filhos chegam de longe E tuas filhas são trazidas nos braços."

(Is 60)

E é neste corpo de Cristo, em cada um de seus membros, em você, que está encarnada a Epifania do Senhor. É nesta igreja que o mundo deve poder buscar e encontrar ao Senhor. O ano da salvação continua — O ano do grande jubileu do perdão de todas as dívidas. O Espírito do Senhor está sobre

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você para anunciá-lo, através do seu testemunho e de sua nova vida.

Levante em redor os seus olhos e veja este outro quadro: milhares de brasileiros batizados nas igrejas cristãs, inclusive a nossa, longe da in-dispensável nutrição do evangelho, estão se despe-gando do nosso corpo.

Ao ser batizado, Cristo se solidarizou conosco. Nosso Batismo nos compromete com todos os ou-tros membros batizados e enxertados em nosso corpo.

Nos lembra também dos milhares de irmãos por nascimento no mundo inteiro que ainda não foram batizados, especialmente os que falam nossa língua. Estamos buscando ao Senhor de tal maneira que somos e vivemos Epifania para eles?

Este período do ano litúrgico é o tempo apro-priado para avaliarmos e planejarmos nossa missão.

Buscou a IELB ao Senhor nestes 80 anos de vida e 50 convenções?

Primeiramente, temos que responder: - Sim, graças à misericórdia do Senhor.

Temos dezenas de congregações e missões que são de fato um lugar onde, antes de mais nada, existe o perdão dos pecados, como Lutero gostava de dizer. Onde a preocupação central é colocar todos os fiéis em abundante e qualificado contato com a fonte única do perdão: O Santo evangelho e o corpo e o sangue do Filho do homem.

Como resposta natural, cada um perdoa, auxi-lia e suporta ao outro. Como lemos há pouco: — Se um sofre, todos sofrem com ele; se um é elogiado todos se alegram com ele.

Aí há ativa participação de todos na evangeli-zação; os novos membros recebem suficiente ins-trução; E, não havendo auto-suficiência financeira, ela é buscada com responsabilidade.

É evidente que na supervisão de tais oásis acolhedores estão obreiros e líderes, fiéis, responsáveis e estudiosos. Transbordando perdão, contagiam o rebanho e os de fora;

Muitos são jovens missionários, às vezes inexperientes e sem preparo específico que, com suas dedicadas esposas, enfrentam com galhardia e criatividade sua árdua tarefa entre um povo e uma cultura, totalmente diferentes do que sonhavam co-existir no mesmo país.

Mas, nesta avaliação, existem alguns dados que não podemos esconder: Nossa freqüência média aos cultos e à santa ceia está abaixo de 30%; a contribuição média anual por comungante foi de Cr$ 50.000 em 1985 para o orçamento nacional, onde as duas grandes contas são a formação de seus próprios pastores e a expansão missionária; nossas congregações estão participando com parcos 7%. Precisamos de 50 luteranos para trazer uma pessoa a Cristo por ano.

Claro que tais dados entristecem e envergo-nham a todos. Agora a pergunta importante é esta: - Nós podemos melhorar? — Sim, nós podemos! Esta é justamente a grande conquista de

Emanuel, para nós: Todos os dias podemos ter um novo começo. Caímos; sua graça nos levanta de novo, o buscamos e vivemos. Desta dinâmica do arrepender-se, ser perdoado, alegrar-se com o per-dão e compartilhá-lo, é que vive o cristão. É nosso batismo que se renova diariamente.

E a fonte desta vida, desta força e motivação está unicamente na palavra e no sacramento. Se quisermos crescer qualitativa e quantitativamente, é ali que temos que buscar ao Senhor. Sua manifes-tação se dá, por excelência, na proclamação e no ensino da palavra, do verbo que se fez carne. É nesta função que o encontramos no evangelho de hoje: Ensinando na sinagoga de Nazaré.

É muito freqüente vermos irmãos atribuindo a outras causas secundárias a pouca vida na sua congregação. Inventamos mil maneiras para re-formar a igreja e nos decepcionamos.

Mas o caminho para o sadio crescimento da congregação passa necessariamente pela profunda, bem preparada e atraente instrução cristã de cada membro, da família reunida, e na preparação espe-cial de um grupo de auxiliares Este deve ser o pro-jeto fundamental de qualquer plano de expansão missionária. O resto é decorrência natural.

E para tanto precisamos de obreiros compe-tentes! Temos que recrutar mais jovens que na sua vida familiar e congregacional demonstram fideli-dade e vocação. Destes temos que selecionar os melhores e aperfeiçoar sua formação e avaliação. Já no campo precisam continuar seriamente seu aprofundamento e atualização. E todo este processo precisa adequar-se constantemente às complexas necessidades e exigências deste sublime ministério, no contexto onde atuamos.

Teremos então, um ministério e uma liderança com mais autoridade e menos legalismo; com mais vibração e alegria, pois não estamos aí para anunciar um óbito, mas, como diz a leitura do AT, para "Pôr sobre os que estão de luto uma coroa em vez de cinzas, óleo de alegria em vez de pranto".

Que assim seja o ministério de todos os nossos missionários, como o jovem e recém-formado colega Itamar Schlender, hoje entre nós, para lembrar que todos nós o estamos enviando a um campo totalmente novo, a Natal, RN. Onde o queremos manter com nossas ofertas especiais deste culto, nossas orações, nossa solidariedade. Bem como a todos os missionários que aqui estão.

Cumpre capacitar-nos do momento de transi-ção por que passa a IELB. Deste abençoado sul, transplantado da Europa, estamos partindo para "Brasis" de composição étnica, tradição cultural e religiosa muito diferentes.

E preciso conhecer este Brasil, amar estes bra-sileiros assim como são, para poder evangelizá-los.

O novo impulso que a igreja dá à diaconia é indispensável nesta solidariedade Epifania que Emanuel viveu primeiro para que agora amemos assim como ele nos amou.

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O lema de Amos, que não podemos separar de seu contexto, nos dará oportuno ensejo para con-clamarmos a todos a conformarem sua vida ao seu culto, a socorrer ao invés de desprezar e explorar os mais fracos. E a levantarmos a nossa voz proféti-ca contra os poderosos que pervertem justiça e enriquecem ilicitamente.

Estamos instalando hoje novos dirigentes para a igreja e a fundação luterana, eleitos sob a ins-piração de um regimento que privilegia a congre-gação local e sua assembléia geral de todos os membros; que reforça o conselho distrital, como autêntica convenção onde toda a liderança tem oportunidade de participar. Regimento que no conselho diretor dá assento aos legítimos líderes das próprias bases.

Tudo isto está inspirado no conceito bíblico de corpo de Cristo, de família da fé, de congregação e comunhão de irmãos. Contra a idéia do indi-vidualismo e do mandonismo; do endeusamento de pessoas em detrimento de idéias e programas que nascem do conselho do grupo maior.

A ênfase do Apóstolo é de que todos os mem-bros deste corpo, com seus diferentes dons, são importantes e necessários no desempenho da mis-são comum de seu Senhor.

Querida Irmã e Querido irmão: Está aí à nossa frente, um grande plano de

expansão missionária. Sempre esteve. Cheio de

Projetos, números e cifras. Ele é possível. Muito mais é possível.

Mas é preciso que você veja, na própria humanação do Filho de Deus, que esta missão não é de papel nem de prédios. Ela é de carne, está encarnada em você.

E aí fora, ao redor de sua casa, em Natal e em todos os lugares, previstos ou não no plano, está uma enorme multidão, pessoas como você, mas que ainda gemem, sem consolo, sob a tragédia de seu pecado.

Vá. Anuncie e viva epifania para eles!: Diga-lhes que Jesus, o seu Salvador, veio. Que os ama e quer que o busquem e vivam!

Dobre hoje mesmo, sua oferta para Natal e quantas missões o Senhor lhe oferece.

Emanuel doou-se totalmente para você. Oferte-se totalmente para ele. E contagie com esta alegria a seus irmãos.

Se buscarmos ao Senhor, vamos viver! E muitos vão viver conosco. Viver para sempre. E ver o dia glorioso em que esta restauração será completa.

Amém.

Mensagem proferida pelo Rev.Bruno Felipe Rieth no culto de encerramento da 50ª Convenção Nacional.

O EVANGELHO E VIDA NA PREGAÇÃO

Com um cintilar em seus olhos e ceticismo em sua voz, um clérigo perguntou recentemente: "O que, em sua opinião, é um bom sermão?" A resposta é dificílima para alguns. Existem muitos estilos diferentes de pregação e os tipos de pessoas ouvindo são tão diversos que parece impossível tentar dar uma definição de boa pregação que permaneça verdadeira para cada um em cada situação. Mesmo os assim chamados "doutores" frequentemente não estão em acordo sobre isto. Quando os estudantes dos seminários submetem o mesmo sermão a dois professores de homilética, poderão receber críticas contraditórias a respeito dele. Os fiéis frequentemente demonstram pequena discriminação quando exclamam admirados: "Não foi esse um maravilhoso sermão?" Existe ou não um critério decisivo pelo qual possamos julgar todos os sermões?

Levando em conta que existem maneiras com-pletamente diferentes de pregar e que existem mo-dos completamente diferentes das pessoas ouvi-rem, o único critério fundamental para uma boa pregação, visto em termos do que acontece ao ouvinte, deveria ser: "Um bom sermão é aquele no

qual o ouvinte é persuadido pelo evangelho a con-fiar em Deus e amar seu próximo." Em outras pa-lavras, um bom sermão é aquele no qual o ouvinte é movido a fazer a coisa certa pelo motivo certo. Colocando de outra forma, o ouvinte é libertado em fé para amar. Entretanto, é um pouco de presunção julgar imediatamente um sermão de acordo com o seu efeito positivo nos ouvintes. Fé e amor são dádivas do Espírito, que sopra onde ele quer. Visto, então, do ponto de vista do verdadeiro sermão, um bom sermão é aquele no qual a vontade e promessa de Deus em Jesus Cristo são proclamadas de maneira significativa em relação à vida do ouvinte.

Enquanto a maioria concorda com a tese central de que uma pregação significativa e persua-siva é aquela na qual o evangelho passa a ser uma realidade para o ouvinte, nós nem sempre somos capazes de colocar o princípio em prática. É rela-tivamente fácil pregar o evangelho de maneira sig-nificativa numa ocasião, no entanto é difícil fazê-lo constantemente. É fácil dizer que os sermos devem estar centralizados em Cristo, porém não é fácil colocar Cristo realmente no centro de cada situação específica.

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Muitas vezes os pregadores fazem ousadas afir-mações em seus sermões: "Coloquem Cristo no centro do vosso matrimônio." Um pregador num sermão de casamento foi tão audacioso ao ponto de recomendar que o casal levasse Cristo para dentro da sala e do quarto. Mas o que significa isso? O que o evangelho de Deus em Cristo de fato tem a ver com o relacionamento íntimo de um casal? Como nós sentimos Cristo no centro de nossa vida? Quando o pregador fala que o evangelho é o poder de Deus para a salvação, de que forma isto se torna verdadeiro em relação à minha vida agora? Que tipo de poder é o poder do evangelho? O que você entende por "salvação"?

Na primeira parte, esforçar-me-ei por expor teologicamente qual é o significado e o poder do evangelho em nossa vida. A matéria está organi-zada sob três propostas interdependentes: o evan-gelho é a resposta de Deus ao problema fundamen-tal do homem na vida; o evangelho é poder de Deus que nos liberta em fé para amar; o evangelho é modelo de Deus para a nova vida.

Esta parte foi escrita deliberadamente em forma de ensaio sermônico. O desejo do autor não é simplesmente explanar, mas proclamar o evan-gelho; não somente falar a respeito da pregação, mas pregar. Visto que a maior parte dos que se darão ao trabalho de ler este artigo é formada por colegas no ministério de tempo integral, a expe-riência aqui relatada é tirada da vida do ministério pastoral.

I

O Evangelho como a Resposta de Deus Se você perguntasse à maioria dos pregadores:

"Qual é o problema fundamental na vida do ho-mem?" você receberia uma resposta unânime: "Pecado." Entretanto, se você perguntasse: "O que você entende por pecado?" a resposta divergiria bastante. A tendência é sempre defini-lo mora-listicamente como uma transgressão da lei. Sim, mas o pecado do homem não é apenas que ele trans-grida a lei aqui e ali. Pecado é separação de Deus. O problema do homem não tem sua origem num ato de rebelião, porém na realidade da separação. A condição de separação existe antes da manifestação exterior do fracasso moral.

A principal marca da separação na vida é a descrença do homem. Por descrença nós não que-remos dizer que o homem tenha dificuldade para crer em certas doutrinas acerca de Deus. Antes, nós queremos dizer que o homem não permanece numa absoluta relação de confiança com Deus. A comunhão entre ele mesmo e Deus foi quebrada, e ele está à deriva em incredulidade. Este é o centro do pecado. É a base de todos os pecados. Todos os problemas humanos encontram sua causa final na descrença do homem.

Por que isto é assim? Quando um homem

afasta-se de Deus em incredulidade, ele tem, si-multaneamente, necessidade de voltar o mundo todo para si mesmo em orgulho e concupiscência. O orgulho do homem já é característica de sua descrença. A vontade do homem de usar todas as coisas para o seu próprio benefício ou sua ne-cessidade de criar ídolos dentro do mundo nasce da doença fundamentei, da incredulidade.

Este ponto é tão decisivo e fundamental que precisa ser ressaltado. Muitas vezes, os pregadores cometem o erro de não se aprofundarem o sufi-ciente. Quando eles analisam os problemas hu-manos, tomam a situação superficialmente — um homem não ama a sua mulher. Fazem a análise disso e concluem, dizendo simplesmente: "Você se ama demais a si mesmo. Você é um homem sober-bo e ambicioso." Realmente ele o é. O ouvinte ou está adorando a Deus ou fazendo ídolos para si. Por isso, deve ser confrontado com o juízo severo de Deus — o "não" radical de Deus a tudo que o homem faz em incredulidade. Contudo, a questão ainda permanece: Por que ele é soberbo e ambicio-so? O que o leva a um tal direcionamento de todas as coisas para benefício de si mesmo? A resposta tem como origem a violação do primeiro manda-mento: "Você não deve ter outros deuses diante de mim." Esse egoísmo é exatamente o que ele deve manifestar por estar separado do único Deus verdadeiro em incredulidade. Seu fracasso em amar sua mulher brota do seu fracasso em amar a Deus, que é originado de sua separação de Deus por des-crença. Se o problema humano não é analisado com bastante profundidade num sermão, os pregadores fazem da Lei a chave para a solução do problema, em vez do Evangelho.

O Evangelho é a resposta de Deus para esta escravidão básica do homem. O Evangelho procla-ma que Deus em seu amor agiu em Jesus Cristo e que, em sua vida, morte e ressurreição, Cristo, de-finitivamente expiou nosso pecado e nos libertou de todo poder que nos mantinha em escravidão. O Evangelho é a palavra viva de Deus a respeito de si mesmo. "Deus estava em Cristo, reconciliando o mundo consigo" (2 Co 5.19). O Evangelho é a Palavra que proclama a verdade de que Deus é fiel mesmo que nós somos infiéis. O Evangelho responde à pergunta do homem a respeito de Deus, a qual sempre permanece como pergunta por causa de sua separação de Deus. O Evangelho não proclama simplesmente que existe um Deus, mas que este Deus é graça e que em seu incondicional "ágape" em Cristo ele nos aceita, apesar de que somos inaceitáveis.

A única pregação realmente significativa é aquela que vê o problema humano em sua profun-didade e apresenta o Evangelho como a resposta

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Page 9: Vox Concordiana 2, 1vimos, e que é cheia de graça e de verdade (Jo 1.1-14). Os confessores luteranos tinham muito clara diante de seus olhos a importância do evangelho. Quando foi

de Deus ao problema. A única tarefa do pregador é levar seu ouvinte ao mais profundo entendimento dele mesmo e dirigir a resposta de Deus à sua situação de escravidão. A resposta é o Evangelho: "Deus livrou-te dos poderes da morte."

O Evangelho Como Poder de Deus O Evangelho não é simplesmente uma palavra sobre Deus libertando o homem por seu amor em Cristo. É o poder libertador de Deus para a vida. 0 poder do amor de Deus, que de uma só vez venceu o demônio e expiou pelo pecado, está presente em nós hoje através da unção do Espírito. "Não me envergonho do evangelho porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê" (Rm 1.16). Porque Deus age em sua palavra, pois seu Espírito trabalha em e através do evangelho, este é a palavra da vida, que cria a fé pelo ouvir dela (Rm 10.17). A proclamação do evangelho é o meio pelo qual o poder libertador de Deus está em ação na igreja e no mundo atual. A palavra de Deus é Ele mesmo nos confrontando, não como um objeto para ser observado e manejado, mas como um alguém que se dirige a nós em sua vontade e graça. Nosso testemunhar do evangelho não é fundamentalmente um discurso sobre Deus, toda-via a base de um encontro com Deus em que o evento da salvação acontece agora.

Nós recordamos a explanação de Lutero no 3º artigo: "Eu creio que por minha própria razão ou força não posso crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem vir a ele; mas o Espírito Santo me chamou pelo evangelho..." As palavras "Eu creio que eu não posso... crer", se tomadas seriamente, destroem para sempre a tentação à pregação moralista, que lança o ouvinte de volta sobre ele mesmo sem referência à graça. A fé não pode ser comandada. Não pode ser produzida por medo da punição. Não pode ser provocada por meio de provas lógicas dadas por alguma autoridade superior ao próprio ouvinte. A fé é o milagre do Espírito.

O Espírito convence-nos de que Deus está presente em seu amor em Jesus Cristo. Quando uma pessoa é alcançada por esta graça, suas incertezas são vencidas e nasce dentro dela uma vi-va confiança.

O Espírito leva-nos a crer que a maldição de nosso pecado passado é coberto pelo sacrifício de Cristo. Não é mais uma maldição, apesar do indiví-duo levar as marcas de tal pecado em sua vida. Não há maneira de refazer nosso fracasso passado, de recuperar nossa vitalidade perdida. Mas a maldição é removida e o passado não nos mantém em servidão. Minha lembrança diz: "Você é um horrí-vel fracasso." Deus proclama: "Eu aceitei você."

Por meio desta palavra, seu amor nos liberta da necessidade de esconder nossos pecados e nos ca-pacita para enfrentar a verdade sobre nós mesmos.

O Espírito convence-nos de que a escravidão da morte, a qual pronuncia o grande "não" sobre a nossa vida e fecha nosso futuro, é quebrada. Deus nos tem dado vitória sobre a morte. Ele abriu nosso futuro, permanecendo firmemente em nossa presença através de Jesus Cristo. "Eu estou certo de que nem morte, nem vida, nem anjos, nem principados, nem cousas do presente, nem do por-vir, nem poderes, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Jesus Cristo nosso Senhor" (Rm 8.38-39).

A base da coragem no presente é liberdade do pecado passado e morte futura, uma liberdade que encontramos na fé. Somos capazes de correr riscos, apesar da possibilidade de fracasso, pois permanecemos no perdão dos pecados. Estamos aptos a escapar da morte no julgamento. Somos livres para morrer livremente e viver com coragem e esperança em cada momento da vida. O amor de Deus em Jesus Cristo convence-nos de nossa inte-gridade; estamos reconciliados, não mais estamos em escravidão de nós mesmos e do mundo.

Tão logo somos tornados íntegros, possuímos o poder de sair de nós próprios em direção a outros. Tão logo somos libertados em fé de nossa escravidão, nós somos livres para amar aos outros. "Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da Uberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor" (Gl 5.13). O evangelho é o poder de Deus para nos libertar dos poderes que deturpam a verdadeira vida. Somos libertados pelo evangelho para ser o que Deus pretendia que nós fôssemos — pessoas que governem o mundo de Deus como jus-tos administradores e que sirvam uns aos outros em amor.

Nossa incapacidade para amar nasce em nosso fracasso em experimentar o amor que nos deixa íntegros e que nos dá poder para sair de nós mesmo em direção aos outros. O evangelho é o poder que deixa os homens íntegros por meio da fé e assim os liberta para amar a outros.

O Evangelho Como Padrão de Deus Rigorosamente falando, o evangelho é a procla-

mação concernente à ação redentora de Deus em Jesus Cristo. Deus é o sujeito. Nós proclamamos seu amor em Cristo como uma dádiva ao ouvinte. O evangelho em sua essência é o poder de Deus que liberta um homem em fé para amar.

Ao mesmo tempo, cada vez que anunciamos o evangelho, revelamos a forma e a figura que o Deus-homem Jesus Cristo assumiu para ser servo

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de Deus no plano da salvação. Assumiu a forma de um servo sofredor que entregou toda sua vida a fim de redimir os homens. 0 proclamar do evangelho envolve não somente uma descrição da ação de Deus, porém uma revelação da figura de Deus no mundo. Através do Servo Sofredor, nós chegamos a conhecer a natureza do amor de Deus e da nova criação que ele traz. "Por isso conhecemos o amor, em que ele deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos" (1 Jo 3.16). "Nisto se manifestou o amor de Deus em nós, em haver enviado o seu único filho, para vivermos por meio dele" (1 Jo 4.9).

Ao anunciar o evangelho, não somente ofere-cemos a dádiva do amor de Deus ao ouvinte, con-tudo apontamos para a forma de vida de amor que o ouvinte passa a ter como um resultado do evan-gelho apoderando-se de sua vida. A imagem do Cristo carregando a cruz de acordo com a vontade do Pai, e sofrendo em amor por todo o mundo, é o padrão da nova vida. "Como eu vos tenho amado, assim amem um ao outro."

De que forma ele tem nos amado? Qual é o padrão do amor? O amor de Deus distingue-se fundamentalmente de todas as formas de amor hu-mano, pois não é "interesseiro", ou seja, é pura graça. Deus não ama a partir de sua própria necessidade de ser amado, mas porque ele é amor. Ele nos ama mesmo que nós o rejeitamos. Todo amor humano origina-se em alguma forma de ne-cessidade e afeição pessoal. O amor humano é motivado pelo amor do objeto e a necessidade de quem ama. Por esta razão, é seletivo e temporal. Se-leciona o bom, o belo, o verdadeiro enquanto per-manecerem neste estado. No entanto, o amor de Deus não depende de motivos e, por isso, é incon-dicional e eterno. Ele perdoa setenta vezes sete e não somente sete vezes.

Quando somos alcançados pelo amor de Deus no evangelho, nós somos movidos por ele para amar com o mesmo amor. A dádiva do Espírito não me concede somente fé, mas também o "ágape", o poder para amar igual a Deus. O impossível amor "ágape" é possível em parte. A pregação do evangelho, portanto, inclui a dádiva do amor e indica o modelo da vida de amor em Jesus Cristo.

Está mais claro agora porque a tese básica é declarada tão dogmaticamente: "A única pregação significativa e persuasiva é aquela que é evangelho para o ouvinte." O evangelho é a resposta de Deus ao problema último do homem, o da incredulidade. Ele é o poder de Deus que liberta um homem em fé para amar. Que resposta há para a pergunta do homem com respeito àquilo que é o seu problema último? O evangelho é a resposta. Que razão há para se ter esperança? O evangelho é a resposta.

Que razão há para se ter esperança? O evangelho oferece a razão. Onde encontrar o poder para amar? No amor de Deus mesmo, que ele proclamou e transmitiu no evangelho. O único meio pelo qual um homem descobre qual a coisa certa a fazer, é ver o Cristo do evangelho. A única razão certa para amar a Deus é o seu amor, que é oferecido através do evangelho. Um ouvinte não pode fazer a coisa certa pela razão certa separadamente do evangelho.

II O Problema

Aqui está um exemplo de como o evangelho está de modo significativo e poderosamente rela-cionado com um problema concreto na vida de um ministro.

Um dos problemas mais profundos que en-frentamos é aquele de ser um ministro e um ser humano ao mesmo tempo. Somos advertidos: "o bispo deve ser inculpável" Qualquer análise de nossos esforços indicaria que nós falhamos neste ideal, como acontece com todos os outros. É muito doloroso para nós tratar honestamente com tal fracasso em relação à nossa pessoa e aos nossos companheiros ministros.

Daniel D. Walker no seu livro The Humans Problemas of The Minister, coloca a questão desta maneira:

"Contudo, muitos ministros sentem uma obrigação para exemplificar a vida que eles pregam. À medida que isto significa uma séria luta para ser melhor, isto é bom. Todavia, quando envolve assumir uma jus-tiça que não esteja ali, ou esconder pecados que existem, isto é mau. O fingimento é um dos nossos riscos vocacionais e a culpa sufocada é nossa doença profissional."

Os leigos prontamente aceitam o fato que ser um leigo é ser humano, desejar dinheiro e ter fra-quezas humanas que revelam a si próprios de vez em quando. O ministro, porém, deve estar acima de tais coisas. O meu pai, que tinha alguma influência menonita em sua vida, costumava repreender-me por usar uma pulseira de relógio de ouro. Olhando para o pulso de meu pai, disse-lhe: "Mas pai, você também tem uma." "Isto é diferente", ele replicou. "Você é um homem de Deus. Você é um ministro, eu sou apenas um padeiro." Para muitas pessoas, o ministro é o exemplo de virtudes em sua vida. Em cada paróquia, há centenas de opiniões sobre o que um ministro deveria ser e fazer. A maioria delas exigem muito quanto à "espiritualidade" de sua vida.

O problema é duplo. Os pregadores não são

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apenas cavalgados pela culpa por causa da pobre figura que eles formam como ministros do evan-gelho, quando encaram a si mesmos honestamente diante do espelho da palavra de Deus, mas sentem que têm de dar as costas ao espelho e se engajar numa pretensa inocência e até mesmo numa virtude não natural, a fim de não ofender os irmãos fracos. A questão foi colocada por alguém da seguinte forma: "Nós, pregadores, devemos nos apresentar sem pecados; então como podemos confessá-los?

O problema está evidente de muitas maneiras. Algumas vezes, toda vida do pregador assume um "tom ministerial" algo semelhante ao tão censurado tom de púlpito. Ele tenta parecer justamente um pouco mais santo, um pouco melhor do que ele realmente é. Os leigos frequentemente reagem à sua própria criação. Como resultado, eles dizem: "Pastor, realmente eu não posso me relacionar com você como ser humano. Você não entende porque é um homem de Espírito."

A visão predominante dos ministros, conforme descrita na literatura é a de abstêmios irrelevantes, cuja tarefa mais árdua é dirigir uma reunião da sociedade de senhoras A visão é um exagero, contudo reflete uma verdade. Com freqüência as-sumimos um tom ministerial em nosso ministério, que nos torna irreais para as pessoas.

O problema é sentido em nossas próprias frus-trações particulares, quando nos esforçamos em ser tudo para todos. Às vezes compreendemos que aquilo que estamos fazendo não é trabalho de uma pessoa, mas de uma "personagem", para usar a dis-tinção de Tournier. Estamos agindo simplesmente como funcionários. Não estamos envolvidos como seres humanos para outros seres humanos num diálogo aberto.

Frequentemente, em nosso esforço para abrir caminho através da sutil e às vezes clara esquizo-frenia, buscamos soluções que apenas aumentam a ruína da integridade pessoal e nossa alienação das pessoas. Reagimos com muita sensibilidade às críticas da paróquia, algumas vezes em forma de uma auto-justificação messiânica: "Eles sempre têm perseguido os profetas." Outras vezes, isto toma a forma de repressão de nossa autêntica ira. Mais uma vez mencionamos Walker:

"O ministro está claramente numa posição diferente. Igual a todos os outros, ele tem seus inimigos; entretanto, diferente da maioria, sente-se compelido a fingir que eles são seus amigos. Isto se deve, em parte, à opinião popular que molda sua profissão dentro de um estereótipo. Por outra parte, se deve ao seu próprio desejo sincero de ser um fiel seguidor do Único que aconselhou os homens a amarem seus inimigos."

Em algumas ocasiões, nós tomamos a ofensiva e repreendemos a paróquia por seu fracasso fun-damental em responder à Palavra profética que lhe pregamos. Noutras vezes, nos engajamos simples-mente num duplo padrão de moralidade. Guarda-mos nossa verdadeira identidade para aquelas raras ocasiões em que nos reunimos com outros prega-dores ou com umas poças pessoas que compreen-dem nossa humanidade comum.

Na maioria das vezes, porém, o que nós fa-zemos não nos permite nos relacionar aberta e honestamente com as pessoas. Vivemos em cons-tante refreamento, repressão, submissão, em sim-ples fuga da verdade a respeito de cada um.

O Evangelho Resposta, Poder e Forma A questão decisiva é: O que o evangelho tem a

ver com tudo isso? A primeira resposta deve traçar um limite. O evangelho não resolve todos os problemas ou cada dimensão de cada problema, embora o poder curativo do evangelho pode atingir cada dimensão de cada problema. O evangelho, por si, não é resposta a todos os fatores biológicos, psicológicos e ambientais que causam essa problemática situação. O ouvinte pode precisar de conselho médico; pode simplesmente precisar de um descanso ou necessite de comer menos. Há muitas vias de solução para um problema e o ou-vinte pode fazer muito em benefício de si próprio ao trabalhar com aspectos de um problema.

A questão então é: O que o evangelho tem a ver com esse problema? Nós deveríamos aplicar a tripla distinção empregada anteriormente. O evan-gelho é a resposta de Deus para o fracasso passado em nosso ministério para outros, porque nos convence do perdão dos pecados. O evangelho é o poder de Deus que nos liberta para um ministério profético porque nos convence que Deus nos julga em misericórdia e nos dá sua graça em Cristo. O evangelho é o padrão de Deus para o nosso mi-nistério, porque nos lembra que devemos assumir a forma de servos para outros.

O evangelho convence-nos de que, através do perdão que Deus oferece em Cristo, ele nos liberta da maldição do nosso fracasso. O evangelho liberia-nos da necessidade de defender a nós próprios da crítica justa. O evangelho liberta-nos para um mi-nistério que nos está aberto através do sentimento de um novo começo a cada dia, no perdão dos pe-cados.

É difícil perdoar. É ainda mais difícil crer que você está realmente perdoado. Paul Tournier tem razão quando disse a um grupo de psiquiatras:

"Abram seus olhos e vocês verão entre seus pacientes aquele enorme grupo de feridos, angustiados, homens e mulheres vencidos,

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carregados com culpa secreta, real ou falsa, definida ou vaga; mesmo uma espécie de culpa por estar vivo, que é mais comum do que vocês pensam." Nós somos oprimidos por ambas as culpas,

real e falsa, consciente e inconscientemente. Somos compelidos a defender a nós mesmos contra a crítica, justamente quando ela pode ser correta. Um sábio professor observou: "Nunca diga a uma mulher que ela está errada, especialmente quando ela está errada. Em legítima defesa ela juntará to-dos os seus erros do passado e os lançará em seu rosto." Muito de nossa auto-defesa pode ser ver-dadeiramente compreendida à luz disto — a defesa que obscurece a questão central e procura deslocar a culpa, porém resulta em perda da integridade e comunhão com os outros.

O evangelho proclama: "Deus aceita você. Pródigo, não se preocupe com desculpas. Jamais procure encontrar algum truque para retornar à vinha. Seu Pai alegra-se quando você retorna para sua graça. Ele mata um bezerro gordo e manda pre-parar uma festa, porque, neste dia, você, que estava morto, é novamente revivido por sua graça." Não é preciso negar sua humanidade. Deus é fiel e justo e quer perdoar o seu pecado. Não é preciso dar às pessoas a impressão de que você é um santo dos santos. Se eles o vêem como ser humano e se admiram de como você, apesar disso, pode servir, diga-lhes: "Deus usa vasos de barro para fazer o trabalho que mesmo anjos não podem fazer." A graça de Deus é tão grande que me toma em minha fraqueza e realiza um milagre. Ainda que eu não esteja em paz, ele faz de mim um pacificador. Este é o milagre de minhas mãos vazias.

O perdão de Deus torna-me capaz de conviver honestamente com o fracasso passado, que ainda atormenta meu ministério no presente. Suponha-mos que eu tenha falhado ao aconselhar um casal e contribuído para um eventual divórcio! Supo-nhamos que eu tenha falhado ao atender uma mãe em sua doença e os filhos não querem me perdoar! O erro do passado persegue meu presente. Todavia, o evangelho me diz: "Isto não é uma maldição sobre você. Deus não imputa isto contra você por causa de Cristo. Você terá de conviver com algumas pontas ásperas, porém não às escondidas, corando à vista dos ofendidos, incapaz de lhes dizer: 'Perdoem-me, eu estava errado.'"

O evangelho convence-nos de que só Deus é nosso juiz e que ele nos julga na misericórdia de Jesus Cristo. O evangelho liberta-nos do julgamento ilegal das outras pessoas. O evangelho liberta-nos para um ministério profético. O após-tolo Paulo foi importunado pela igreja de Corinto. Por que você não faz isto? Por que você não

é como aquele? Ele afirma sua liberdade nas pala-vras: "Ora, além disso o que se requer dos despen-seiros é que cada um deles seja encontrado fiel. Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós, ou por tribunal humano; nem eu tio pouco julgo a mim mesmo. Porque de nada me argúi a consciência; contudo, nem por isso me dou por justificado, pois quem me julga é o Senhor" (1 Co 4.2-4).

Há críticas que devemos aceitar abertamente. Há críticas falsas que devemos rejeitar imediata e abertamente, ou corremos o risco de nos perder em falsa culpa e desintegração da individualidade. Nem sempre é fácil distinguir entre as duas. O evangelho capacita-me a dizer: "Não represente a Deus em minha vida. Eu me coloco nas mãos de Deus, que é Juiz. Faço o que sinto, enfim, que ele me manda fazer. Eu nem mesmo julgo o meu pró-prio ato." Sem esta liberdade do juízo humano não pode haver liberdade para um ministério profético — ministério que está disposto a se colocar contra a opinião da maioria, ministério que pode, se for preciso, morder a mão que o alimenta. O evangelho capacita-nos a não sentir medo de nenhum homem, porque nós tememos o Deus gracioso. No momento em que isso ocorre, eu me torno um novo homem. Passo a ser um homem do qual ninguém mais precisa ter medo, do qual ninguém mais precisa guardar distância. Por quê? Porque eu lhe digo: "Não sou seu juiz, como também você não é o meu. Deus o é. Deus julga a você com justiça, mas acima de tudo, em misericórdia. Venha façamos juntos um novo começo neste dia."

O evangelho persuade-nos de que Deus criou e conservou a igreja através do perdão dos pecados em Jesus Cristo (Jo 20.21-23). A igreja não é um ideal humano construída de ideais humanos, porém uma realidade divina nascida e nutrida no perdão dos pecados. Dietrich Bonhoeffer escreveu:

"A fraternidade cristã não é um ideal que nós podemos realizar, antes, é uma realidade criada por Deus em Cristo, na qual nós podemos participar. Quanto mais claramente nós aprendemos a reconhecer que o fundamento, a força e a promessa de toda nossa comunhão está em Jesus Cristo, mais serenamente pensaremos sobre nossa comunhão e oraremos e esperaremos por ela."

Os sonhos de homens virtuosos querendo for-mar uma comunidade ideal não foi o que levou a igreja e existir. O que levou a igreja a existir foi a misericórdia e graça de Deus. O poder da igreja não reside na virtude de seus membros, mas na graça

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de nosso Pai. O propósito da igreja não é criar uma comunidade utópica, porém continuar o poder da ressurreição de Deus no presente, através do per-dão dos pecados em Jesus Cristo.

A particularidade da igreja é que ela é uma co- munidade de perdoados e o seu poder está no fato de ela transmitir o perdão de Deus para as pessoas.

Que poder libertador possui esta proclamação quando nós nos relacionamos com nosso povo e com a igreja? O evangelho liberta-nos da desilusão quanto ao fracasso de nosso povo. Este evangelho liberta-nos para um ministério baseado num novo inicio em perdão. Muito de nossa acusação contra o nosso povo e a igreja está baseado num engano básico a respeito da igreja.

Um ótimo membro da minha congregação disse com amargura: "Eu não consigo compreender como pode haver tanta política na igreja. Isto me põe furioso." Talvez ele tenha razão para estar zangado, mas sua justa indignação estava baseada, em parte, na falsa suposição de que a igreja é uma comunidade humana ideal feita de ideais humanos. Em nossa situação, frequentemente acabamos acusando nosso povo por seu fracasso em alcançar uma espécie de ideal pré-concebido que formamos em nossas mentes a respeito do que a igreja deveria ser. Vemos nosso ministério como um esforço para trazer à existência uma Camelot, uma cidade ideal no meio de um mundo caído. Ficamos amargamente desapontados quando as pessoas se voltam contra nós e falham em responder aos apelos. O desapontamento não é válido, à medida que ele surge a partir de nossas ilusões a respeito do que a igreja é e do que deveria ser o nosso ministério nela.

Se um pregador aceita francamente a huma-nidade de seus congregados, eles não o desiludirão. Se sua alegria é compartilhar com eles o poder do perdão de Deus, então ele jamais será desapontado

pela reação deles ao seu ministério. Novamente Bonhoeffer lembra-nos:

"Mesmo quando o pecado e desentendimento castigam a vida em comum, não é o irmão pecador ainda assim um irmão, com quem eu, também, permaneço debaixo da Palavra de Cristo? Não será o seu pecado uma constante ocasião para eu dar graças porque ambos podemos viver no amor perdoador de Deus em Jesus Cristo? Desta forma, o próprio momento da desilusão com meu irmão torna-se incomparavelmente saudável porque me ensina completamente que há uma Palavra e um Feito que realmente nos une — o perdão dos pe-cados em Jesus Cristo." O evangelho liberta-me da necessidade de me

defender contra meus paroquianos e colegas, e me impede de acusá-los. O evangelho liberta-nos para uma aceitação contínua de um ao outro sem repressão da raiva. A raiva não é reprimida; ela é suprimida, quando lembro a incrível graça em Jesus Cristo, que nos une.

Meu propósito não é se exaustivo, mas dar uma ilustração concreta do evangelho de Deus pro-clamado duma forma tal que ele toma posse da vida — a vida real — sacode-a em seus fundamentos e oferece a possibilidade de nova vida em Cristo. Palavra e vida vivem juntas. A Palavra separada vida é sem sentido, um encantamento mágico. A vida separada Palavra de Cristo está nas dores da morte. É tarefa do pregador trazer a Palavra de Deus à vida do ouvinte.

Este é um trabalho de tradução do artigo THE GOSPEL AND LIFE IN PREACHING publicado na revista CONCORDIA THEOLOGICAL MON-THLY de Junho/Julho/Agosto de 1969. A tradução foi feita por alunos do 2º Básico de Teologia do ICSP, em cumprimento ao programa de Inglês Teológico do primeiro trimestre de 1986.

CONFESSAR E CONFISSÕES

No título acima, confessar significa professar, dar testemunho, declarar publicamente, e a palavra confissões designa declarações de fé.

1. Cristãos sinceramente interessados na di-fusão do evangelho sempre são confessores. Tam-bém reconhecem o dever de se empenharem no sentido de que aceitem a fé verdadeira todos os que se dizem cristãos. (Até os espíritas geralmente se dizem cristãos).

2. O sacerdócio universal dos crentes inclui a responsabilidade de todos os crentes confes-

sarem. 1 Pedro 2.9: "Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as vir-tudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz." A esse propósito convém refletir sobre um dos abusos da metáfora pastor-ovelha: o abuso de restringir ao pastor a tarefa de testemunhar.

3. É grande o número de atividades que a igreja deve promover, mas confessar é sua tarefa essencial.

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4. O confessar cristão nasce da fé. 2 Co-ríntios 4.13: "Cremos, por isso também falamos." Essa verdade impõe aos confessores o dever de enfrentar todas as manifestações de incredulidade, pois a incredulidade ameaça a sobrevivência da fé.

5. Três textos que mostram a seriedade do dever de confessar:

a. Mateus 10.32s.: 'Todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confes-sarei diante de meu Pai que está nos céus; mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai que está nos céus."

b. 1 Pedro 3:15: "Santificai a Cristo, como Senhor, em vossos corações, estando sempre pre- parados para responder a todo aquele que vos pe- dir razão da esperança que há em vós."

c. Romanos 10.9: "Se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo."

6. Orientação apostólica sobre a maneira de confessar. Colossenses 4.6: "A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para saber- des como deveis responder a cada um." Esta sín- tese feliz resume o que de mais importante se po- deria dizer sobre a maneira acertada de confessar: palavras bondosas, mas não insípidas. Palavras ao mesmo tempo brandas e sadias. (Neste texto, o Apóstolo trata dos que são de fora, dos não-cris- tãos).

7. O confessar cristão omite questões periféricas, ou sem importância, ou indiferentes (pelo menos em si), tais como cerimônias, ornamentos, vestes, formas litúrgicas, etc.

8. Duas maneiras de falar sobre religião, ou ensinar religião: a. transmitir simplesmente co-nhecimentos; b. transmitir conhecimentos e con-fessar ("Eu Creio... Nós cremos, ensinamos e confessamos"). O confessor não se limita a trans-mitir conhecimentos.

9. Análise de uma alegação muito comum: "Falta-me o necessário preparo para dar testemunho de Cristo." Importa fazer um exame honesto dessa alegação. Não vamos confundir testemunha com advogado. A testemunha não precisa de preparo especial para dizer, por exemplo: "Deus amou ao mundo de tal maneira, que deu o seu Filho unigê-nito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." Ou: "Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo." O caso do advogado é diferente. Advogado, aqui, no sentido de apologista. O advogado da religião cristã prepara-se para evidenciar a origem divina da religião cristã e re-futar os ataques dos adversários. Vamos a uma ilustração das duas atividades para as quais o apo-

logista se prepara (é claro que ele também deve ser, antes e acima de tudo, testemunha). Consideremos, por exemplo, Gálatas 1.11s.: "Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem; porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo." Uma reflexão cuidadosa sobre esse texto evidencia a origem divina do evangelho. (Os devaneios do homem, in-variavelmente, naturalmente, trazem a marca de sua origem. Mas salta aos olhos que o evangelho anunciado pelo apóstolo transgride os horizontes do homem. E não só transgride os horizontes do homem; está em conflito insanável com tudo o que o homem considera óbvio. Hostiliza todas as fantasias humanas e por elas é hostilizado. Choca-se com o que de melhor produziu a sabedoria hu-mana e com o consenso unânime dos homens. Manifestamente, esse evangelho não é katà án-thoropon, "segundo o homem".)

E uma ilustração para a outra tarefa do apo-logista: a refutação de ataques. Um dos ataques mais comuns é o seguinte: "A doutrina de Cristo fracassou." O apologista perguntará se a doutrina de Cristo fracassou ou se ainda não foi devidamente praticada pela grande maioria dos homens. Imagi-ne-se, por exemplo, o resultado da prática da Lei Áurea: "Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a lei e os profetas." (Mateus 7.12).

10. A propósito de testemunhas lembramos ainda que os confessores devem ser testemunhas no sentido que Cristo dá à palavra, e que inclui amor e mensagem, a luz de Cristo na vida e na palavra da testemunha. Em meio aos debates sobre estratégias de evangelização, não esqueçamos a estratégia ensinada e exemplificada por Cristo: o casamento entre o amor e a mensagem.

11. Confissão válida diante de Deus e que po-de produzir resultados espirituais em quem nos ou-ve é aquela que tem por conteúdo os ensinamentos divinos. Deus não promete agir através das nossas opiniões, especulações, teorias. Em outras palavras, o nihil obstat das confissões que agradam a Deus e dificam a igreja são estas palavras: "Assim diz o Senhor."

12. O centro das Confissões Luteranas é Jesus Cristo e sua obra. Soli Christo Gloria é o lema do Livro de Concórdia.

13. Segundo o Livro de Concórdia, a Escritura Sagrada é o único juiz, norma e regra de acordo com que todas as doutrinas devem ser julgadas. Fórmula de Concórdia, da Suma, 1 — Livro de Concórdia, 1 ed., p. 499 -:

1. Cremos, ensinamos e confessamos que so-mente os escritos proféticos e apostólicos do Ar-

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tigo e do Novo Testamento são a única regra e norma segundo a qual devem ser ajuizadas e jul-gadas igualmente todas as doutrinas e todos os mestres.

14. O luterano confessional vê nas Confissões Luteranas uma interpretação fiel do evangelho.

15. A posição das Confissões Luteranas sobre especulações teológicas transformados em artigos de fé está expressa, por exemplo, em Confissão de Augsburgo XXI, seção 2 (tradução o texto latino) — Livro de Concórdia, 1 ed., p. 74 —:

A Escritura. . . não ensina que invoquemos os santos ou peçamos auxílio deles....

16. Uma pergunta muito comum e mal for-mulada: "Os homens que redigiram os textos con-fessionais luteranos não podiam errar?" Sobre essa pergunta observa Carl Ferdinand Wilhelm Walther que a questão não é saber se podiam errar; a questão é saber se erraram nas doutrinas professadas. Essa é a pergunta correta.

17. O luterano que quer falar sobre doutrinas controvertidas da maneira como o fizeram os confessores luteranos do século XVI deve indagar qual é a doutrina (implícita ou explícita) deles quando à Escritura e perguntar a si mesmo se con-corda com ela.

18. A única razão legítima de um luterano de qualquer época abraçar os documentos confes-sionais luteranos do século XVI como sua confis-são pessoal é a razão que levou os adeptos da Fór-mula de Concórdia a abraçar a Confissão de Augsburgo.

Abraçamos... a Confissão de Augsburgo... não porque foi preparada por nossos teólogos, mas porque foi tirada da palavra de Deus e nela está firmemente e bem fundamentada. Fórmula de Concórdia, Declaração Sólida, da Suma, 5 — Livro de Concórdia, 1 ed., p. 542 -.

19. As Confissões Luteranas têm cará ter católico, ecumênico. Aqui tomamos essas palavras como sinônimos de apostólico, escriturístico. Quando luteranos as chamam de confissões particulares, devem deixar bem claro que o fazem apenas para distingui-las dos Credos Ecumênicos, não para indicar, contrariamente às próprias Con- fissões, que não as consideram confissões ecu- mênicas. Veja-se, por exemplo, o que dizem os confessores em 1530, ao apresentarem a Confissão de Augsburgo:

Confissão de Augsburgo, Conclusão, 1 (tra-dução do texto alemão) — Livro de Concórdia, 1 ed., p. 39s.: Visto, pois, que essa doutrina (i.e., a doutrina apresentada na Confissão de Augsburgo) se fundamenta claramente na Sagrada Escritura, e além disso não é contrária nem se opõe à igreja

cristã universal, e, na verdade, tampouco à Igreja Romana, quanto se pode coligir dos escritos dos Pais...

Tradução do texto latino — Livro de Concór-dia, 1 ed., p. 74s: Pode ver-se que nela (i.e., na doutrina da Confissão de Augsburgo) nada existe que divirja das Escrituras, ou da Igreja Católica, ou da Igreja Romana, até onde nos é conhecida dos escritores.

20. Cinco razões por que afirmamos que a doutrina exposta no Livro de Concórdia tem cará- ter ecumênico:

a. Os Credos Ecumênicos constituem a primeira parte do Livro de Concórdia.

b. A doutrina das Confissões Luteranas ba- seia-se em fonte ecumênica, a saber, as Escrituras.

c. O Livro de Concórdia não se envolve em questões periféricas, ou sem importância, ou indi- ferentes (pelo menos em si): catálogo de ritos, forma "correta" da liturgia, maneira de aplicar a água no batismo, etc.

d. As Confissões Luteranas rejeitam tudo o que é herético, cismático e sectário.

e. A doutrina das Confissões Luteranas é a mesma para todos os lugares, tempos e povos.

Uma ilustração quanto a cerimônias (Fórmula de Concórdia, Declaração Sólida, artigo X, seção 31 — Livro de Concórdia, 1 ed., p. 660):

Assim, as igrejas não se condenarão recipro-camente em razão de dissimilaridade em cerimônias, quando, em liberdade cristã, uma tem menos ou mais, desde que estejam concordes entre si na doutrina e em todos os artigos dela, como também no uso correto dos santos sacramentos. ..

21. Os confessores luteranos desejam a ver- dade unidade de todos os cristãos. Fórmula de Concórdia, Declaração Sólida,artigo XI, seção 96 — Livro de Concórdia, 1 ed., p. 678 —:

A unidade pela qual nutrimos cordial desejo e amor e que anelamos promover, estando, de nossa parte, sinceramente dispostos a empenhar tudo o que estiver em nós para fazê-la avançar, é, isto sim, aquela unidade que preserva incólume a honra de Deus, nada renuncia da divina verdade do santo evangelho, coisa nenhuma concede ao mínimo erro, conduz os pobres pecadores ao verdadeiro e genuíno arrependimento, erige-os pela fé, avigora-os na nova obediência, e destarte os justifica e lhes dá a eterna salvação pelo mérito de Cristo somente.

22. As Confissões Luteranas como norma. Vejamos o que diz sobre isso a Fórmula de Con- córdia da Declaração Sólida, Da Suma. 10 - Livro de Concórdia, 1 ed., p. 543 —:

O que até aqui se disse concernente à suma de

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nossa doutrina cristã quer significar apenas que se tenha uma forma de doutrina unânime, certa e geral, que todas as nossas igrejas evangélicas con-fessam, e da qual e de acordo com a qual, visto ser tirada da palavra de Deus, todos os outros escritos devem ser julgados e regulados, quanto a saber até onde devem ser aprovados e recebidos.

23. Que deveria significar o ato de subscrever as Confissões Luteranas ex animo? Deveria sig-nificar que o subscritor vê nelas uma reprodução correta do evangelho e que o signatário está de acordo com as Confissões quanto à administração dos sacramentos. Vid., acima, o ponto 14, e o texto transcrito no ponto 20, depois da letra "e", a título de ilustração do caráter ecumênico dos escritos confessionais luteranos.

24. Subscrever as Confissões Luteranas não significa aceitar tudo o que nelas há em matéria de argumentos, exegese de textos bíblicos, termi-nologia, ciência, posições filosóficas, traduções, enganos em citações, juízos históricos, exageros retóricos, conclusões teológicas desacompanhadas de fundamentação bíblica e para as quais não se encontre fundamento na Escritura, etc. Vamos a algumas ilustrações.

a. Argumentos. Vejamos o argumento de Lu-tero a favor do batismo infantil em Catecismo Maior, quarta parte, Batismo, seções

49-51 - Livro de Concórdia, 1 ed., p. 480s. -:

Que o batismo infantil agrada a Cristo, prova-o suficientemente sua própria obra. A muitos dentre os que assim foram batizados, Deus os santificou e lhes deu o Espírito Santo. E ainda no dia de hoje muitos há nos quais se percebe que têm o Espírito Santo, tanto à vista de sua doutrina, como por causa de sua vida. Assim também a nós outros foi dada pela graça de Deus a capacidade de podermos deveras interpretar a Escritura e conhecer a Cristo, o que não pode suceder sem o Espírito Santo. Agora, se Deus não aceitasse o batismo infantil, a nenhum deles daria o Espírito Santo, nem qualquer parte dele. Em suma, durante todo esse tempo, até o dia de hoje, homem nenhum no mundo poderia ter sido cristão. Visto, pois, que Deus confirma o batismo pela infusão de seu Espírito Santo, conforme bem se percebe em alguns Pais, como São Bernardo, Gérson, João Hus e outros, e já que a santa igreja cristã não perece até o fim do mudo, têm de reconhecer que o batismo infantil agrada a Deus. Pois, ele não pode estar em conflito consigo mesmo ou prestar auxílio à mentira e à patifaria, ou para tais fins conceder a sua graça e o seu Espírito. Essa é dentre todas as provas a melhor e mais forte para os simples e indoutos. Porque não se nos arrebatará nem derribará este

artigo: "Creio numa santa igreja cristã, a congre-gação dos santos, etc."

Filipe Melanchthon repete o argumento de Lutero em Apologia IX, 3 — Livro de Concórdia, 1 ed., p. 187s-:

Em segundo lugar, é manifesto que Deus apro-va o batismo dos pequeninos. Logo, julgam impia-mente os anabatistas, que condenam o batismo dos pequeninos. Que Deus, entretanto, aprova o ba-tismo dos pequeninos, demonstra-se com o fato de ele dar o Espírito Santo aos assim batizados. Fosse nulo esse batismo, e a nenhum seria dado o Espírito Santo, nenhum se salvaria, não haveria, enfim, igreja. Esta só razão já pode confirmar suficientemente corações bons e piedosos contra as opiniões ímpias e fanáticas dos anabatistas.

E. F. Karl Müller (Symbolik, 1896, p. 374, nota 14) diz que com essa prova de Lutero também se pode provar que "missa romana" é agradável a Deus. ("Damit kann man auch die Gottgefälligkeit der römischen Messe beweisen."). Walter Lohrmann (Glaube und Taufe in den Bekenntnisschriften der evangelisch - lutherischen Kirche, p. 39ss.) também critica severamente essa "prova racional - pragmática", como lhe chama. Peter Brunner diz que Lutero aí formula "uma espécie de prova experimental" (Peter Brunner, Pro Ecclesia p. 171). Gotthilf Dõhler comenta que Lutero aqui faz uso de um testimonium Spiritus Sancti externum ("Der Grosse Katechismus und die gegenwärtige Taufproblematik", in Lutherischer Rundblick, vol. 4, 1956, p. 133).

b. Exegese de textos bíblicos. Fórmula de Concórdia, Epítome XII, 8 - Livro de Concórdia, 1 ed., p. 536s.

(Artigos que não podem ser tolerados na igre-ja) 6. Que os filhos dos cristãos, por isso que nas-ceram de pais cristãos e crentes, são santos e filhos de Deus mesmo sem o batismo e antes dele. Por essa razão também não tem o batismo infantil em alta consideração, nem lhe encorajam a prática, contrariamente às expressas palavras da promessa de Deus, que se estende apenas àqueles que lhe guardam a aliança e não a desprezam. Gn 17.

O texto refere-se a Gênesis 17.4-8, 19-21. Segundo a exegese que aqui se faz, o batismo in-fantil está incluído no escopo de Gênesis 17.

Outra ilustração quanto a exegeses de textos bíblicos: Confissão de Augsburgo XXIII, 11 -Livro de Concórdia, 1 ed, p. 77 —

Pois também Paulo diz que se deve eleger para bispo alguém que esteja casado.

A referência é a 1 Timóteo 3.1-7, as qualifi-cações dos bispos. Na opinião de muitos exegetas, o Apóstolo entende que o bispo casado é o pastor

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mais bem qualificado para o exercício do minis-tério, mas fica a pergunta: Paulo afirma episcopum eligendum esse, qui sit maritus? Claro que não.

c. Terminologia. Vid., por exemplo, Fórmula de Concórdia, Declaração Sólida I, seções 54s.: substantia, natura, accidens. {Livro de Concórdia, 1 ed., p. 555s).

d. Ciência. Fórmula de Concórdia, Declaração Sólida I, seção 22 - Livro de Con- córdia, 1 ed., p. 550 —

(Reprovam-se e rejeitam-se... os seguintes erros...) 6. Ou que o pecado original não é espo-liação ou carência, mas apenas impedimento exter-no desses bons poderes espirituais, como suco de alho aplicado a um ímã não lhe elimina o poder natural, mas apenas o impede. ..

Vitorino Strigel traz a ilustração do ímã na Disputatio Vinaria, relato sobre a Disputa de Wei-mar de 2 a 8 de agosto de 1560. Era noção corrente no século XVI.

e. Posições filosóficas. Fórmula de Concórdia, Declaração Sólida I, 57 — Livro de Concórida, 1 ed., p. 556 —

Visto, pois, ser verdade irrefutável que tudo o que é, ou é substância, ou acidente, isto é, ou essência que subsiste por si, ou algo de acidental nela, conforme acabamos de mostrar e provar com testemunhos dos mestres da igreja, e nenhum verdadeiro entendimento jamais duvidou disso.. .

f. Traduções. Fórmula de Concórdia, Decla- ração Sólida VII, seção 119 — Livro de Concórdia, 1 ed., p. 631s.

(Rejeitamos e condenamos...) 8. Quando se ensina que Cristo, em virtude de sua ascensão ao céu, de tal maneira está confinado e circunscrito em determinado lugar no céu com seu corpo, que com ele não pode ou não quer estar presente verdadeiramente e essencialmente conosco na ceia, a qual segundo a instituição de Cristo, é celebrada na terra, mas que está tão distante ou remoto dela, quanto o céu dista da terra. Para firmar seu erro, alguns sacramentados falsificaram, de caso pensado e maliciosamente, o texto de Atos 3: oportet Christum caelum accipere, "é necessário que Cristo tome posse do céu", e em lugar dele formularam: oportet Christum coelo capi, isto é, Cristo tem de ser recebido, ou circunscrito e conti-do pelo céu ou no céu de forma tal, que de nenhum modo pode ou quer estar conosco na terra com sua natureza humana.

Texto Grego: hòn dei ouranòn mèn déxasthai, "a quem o céu, na verdade, deve receber", ou: "ao qual é necessário que o céu guarde". Vulgata Clementina: quem oportet quidem caelum suscipere. Beza e Selneccer travaram uma violenta controvérsia em torno dessa tradução. A grande

maioria diverge da tradução defendida na Fórmula de Concórdia. Claro que se deve distinguir entre a tradução do texto e a inferência dos sa-cramentários.

g. Enganos em citações. Confissão de Augs-burgo VI, 1-3 - Livro de Concórdia, 1 ed., p. 65 —

Ensinam também que aquela fé deve produzir bons frutos e que é necessário se façam as boas obras ordenadas por Deus, por causa da vontade de Deus, não para confiarmos que merecemos por essas obras a justificação diante de Deus. Pois a remissão dos pecados e a justificação são apreen-didas pela fé, como também testifica a palavra de Cristo: "Quanto tiverdes feito tudo isso, dizei: Somos servos inúteis." A mesma coisa ensinam também os antigos escritores eclesiásticos. Pois Ambrósio diz: "Foi estabelecido por Deus que quem crê em Cristo é salvo sem obra, pela fé so-mente, recebendo a remissão dos pecados de gra-ça."

Desde Erasmo de Rotterdam se dá o nome de Ambrosiaster ao autor desconhecido do mais antigo comentário latino a treze epístolas de Paulo, comentário atribuído a Ambrósio de Milão durante a Idade Média. O comentário do Ambrosiaster é da segunda metade do século IV. O texto citado na Confissão de Augsburgo e atribuído a Ambrósio de Milão pela CA é do comentário a 1 Coríntios 1.4. Migne, Series Latina, vol. 17, p. 195, traz este texto: ... quia hoc constitu- tum est a Deo, ut qui credit in Christum, salvus sit sine opere: sola fide grátis accipit remissionem peccatorum.

h. Juízos históricos. Artigos de Esmalcalde, segunda parte, quarto artigo, seção 10 - Livro de Concórida, 1 ed., p. 321. —

Esse ponto mostra poderosamente que o papa é o verdadeiro cristo do fim ou anticristo (En-dechrist oder Widerchrist), que se pôs e elevou aci-ma de Cristo e contra ele, pois não quer permitir que os cristãos se salvem sem o seu poder, ainda que esse nada é, não havendo sido ordenado nem preceituado por Deus. Isso é propriamente "le-vantar-se acima de Deus e opor-se-lhe", como diz São Paulo.

De acordo com esse juízo histórico de Lutero, 2 Tessalonicenses 2.3-6 cumpre-se no papa. Filipe Melanchthon diverge desse juízo na própria subs- crição de seu nome aos Artigos de Esmalcalde. Vid. Livro de Concórdia, 1 ed., p. 340:

Eu, Filipe Melanchthon, também considero os artigos acima corretos e cristãos. Quanto ao papa, entretanto, penso que, caso se disponha a admitir o evangelho, também nós lhe podemos conceder, por amor da paz e da unidade geral dos cristãos que também estão sob ele e possam estar

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sob ele futuramente, a superioridade sobre os bis-pos que ele possui jure humano.

Sobre a questão do anticristo nas Confissões Luteranas vid. também os textos seguintes: Apolo-gia VII, 4 - Livro de Concórdia, p. 177; Apologia VII, 48 - p. 186; Apologia XV, 18s. - p. 230; Apologia XXIV, 51 - p. 277; Apologia XXIV, 98 -p. 287; Artigos de Esmalcalde, segunda parte, Da Invocação dos Santos, seção 25 - p. 317; Artigos de Esmalcalde, terceira parte, artigo XI, seções 1-3 - p. 338; Tratado Sobre o Poder e o Primado do Papa, Livro de Concórdia, 1 ed., p. 345ss.

i.Exageros retóricos. Apologia XXIII, seção 3 - Livro de Concórdia, 1 ed., p. 254 -:

E pedem que essa sua libidinagem seja defen-dida por vossa castíssima destra, Imperador Carlos — por vós, a quem até alguns vaticínios antigos chamam rei de face pudica, pois encontra-se, a vosso respeito, o dito: "Um de face pudica reinará em toda a parte."

O texto que Melanchthon aplica a Carlos V neste salamaleque é uma profecia dos Oráculos Sibilinos (VIII, 169s.).

j. Conclusões teológicas desacompanhadas de fundamentação bíblica e para as quais não se encontre fundamento na Escritura. Vid., por exemplo, Fórmula de Concórdia, Declaração Sólida VIII, 24 - Livro de Concórdia, 1 ed., p. 638s.—

Em virtude dessa união e comunhão pessoal das naturezas, Maria, a Virgem laudatíssima, não deu à luz um mero homem, mas um homem que verdadeiramente é Filho de Deus Altíssimo, con-forme testifica o anjo. Demonstrou sua majestade divina até no seio materno, com o fato de haver nascido de uma virgem não injuriada em sua virgin-dade. Razão por que ela deveras é a mãe de Deus, e não obstante permaneceu virgem.

O texto afirma a virgindade de Maria in pariu: unvorletzt ihrer Jungfrauschaft (texto latino: quod de virgine inviolata ipsius virginitate natus est).

Nos Artigos de Esmalcalde, primeira parte, n.4 - Livro de Concórdia, 1 ed., p. 311—, onde no original germânico se lê que o Filho nasceu da pura e santa Virgem Maria, a tradução latina de Nicho-laus Selneccer, recebida como oficial no Livro de Concórdia, acrescenta o semper virgo: ex Maria pura, Sancta, semper virgine.

25. Acima, no ponto 9, analisamos a alegação dos que se dizem despreparados para dar tes-temunho de Cristo. Agora, discutidos vários pontos preparatórios, especialmente os números 19, 20 e 21, chegou o momento de lembrar e analisar outro possível motivo dos que acham difícil testemunhar o sentimento de inferioridade que

pode instalar-se em luteranos brasileiros ou lutera-nos no Brasil. Se digo que sou luterano, alguém tal-vez observe: "Já ouvi falar. É a seita de Lutero." Não pertencemos a nenhuma seita. Um especialista nas Confissões Luteranas escreve que o caráter distintivo dos escritos confessionais luteranos está no fato de eles não terem características distintivas de ordem sectária. Os congregacionalistas gostam de dizer que a denominação deles é interdenominacional. Os luteranos poderíamos di-zer que, num sentido muito importante, somos adenominacionais, isto é, não-denominacionais.

Terá exagerado esse teólogo? Afinal de contas, honestamente, será possível ser luterano sem ser, de alguma forma, sectário, estreito, particularista? Se as Confissões Luteranas constituem uma interpretação fiel do evangelho, segue-se que o luterano esclarecido, e fiel às Confissões, só será sectário, estreito, particularista, se Cristo é sectário, estreito, particularista, e os apóstolos, e a Escritura Sagrada, e os Credos Ecumênicos, e a Igreja Cristã.

26. Por ser ecumênica, no sentido de bíblica, a doutrina luterana é crida por todos os cristãos verdadeiros. Explicitamente por todos os cristãos verdadeiros e coerentes; implicitamente também por todos os cristãos verdadeiros, mas incoerentes, cristãos que erram em um ou mais artigos da fé cristã.

27. Confessar é uma das mais belas formas de agradecer a Deus pelo tesouro que ele nos deu. Confessar é privilégio. Confessar traz alegria, felici-dade, bênção espiritual.

28. O nome "luterano". - Inácio de Antioquia, escritor da igreja primitiva, escreveu, em princípios do século II: "Onde está Cristo, aí está a igreja católica." Até onde sabemos, ele foi o primeiro a chamar a igreja cristã de igreja católica. Os cristãos passaram a falar em igreja católica. para distinguir a igreja verdadeira de seitas heréticas. Quando a igreja oriental (ou grega) e a igreja ocidental (ou latina) se separaram, no século XI (em 1054, no chamado Grande Cisma, ou Cisma Oriental) a igreja oriental se chamou de ortodoxa e a igreja ocidental ficou com o nome de Igreja Católica. Desde a época da Reforma firmou-se o costume de chamar a Igreja Romana de Igreja Católica. As Confissões Luteranas queixam-se do fato de os teólogos da Igreja Romana haverem chamado o santo evangelho de luterano. (Vid. Die Be-kenntnisschiriften der evangelisch - lutherischen Kirche, edição de Göttingen, 1967 (6 ed.), p. 305, linha 52, texto alemão). Lutero queixava-se do fato de haverem chamado de luteranos os membros das igrejas da Confissão de Augsburgo, confissão católica, universal, bíblica, cristã confissão que

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não quer ser a bandeira de uma facção, mas a voz de cristãos que se dirigem à igreja cristã, para dar testemunho do evangelho. É muito importante explicar o que o adjetivo luterano significa em ex-pressões como Igreja Luterana ou Confissões Lu-teranas. E a explicação correta é a que lhe eviden-cia a relação objetiva.

Estudo apresentado à congregação de profes-sores da Escola Superior de Teologia do Instituto Concórdia de São Paulo, no dia 24 de abril de 1986.

Arnaldo Schuler

NAÇÕES DO MUNDO BÍBLICO DO ANTIGO TESTAMENTO

Prof. Deomar Roos 1. CANAÃ

Por volta de 1300 a.C. Canaã era uma provín-cia egípcia cujo território compreendia o Líbano, a Síria e o que mais tarde veio a ser a terra de Israel. Grupos distintos viviam nesta área geográfica (Dt 7.1). "Cananeu", além de referir-se a um grupo es-pecífico (moradores de Canaã), tornou-se um termo de sentido amplo que identificava moradores daquela região, independente do seu caráter étnico. Os que viviam na costa eram mercadores. Os maiores portos localizavam-se em Tiro, Sidom, Beirute e Biblos. Destes portos, riquezas iam e vinham. Eram centros comerciais importantes e de renome na antiguidade. A posição geográfica de Canaã (ponto intermediário entre a Ásia e o Egito), bem como suas atividades comerciais, faziam dela um centro aberto a todo tipo de influências culturais e religiosas. A grande contribuição de Canaã à civilização mundial foi a invenção do alfabeto (ca. 2000-1600 a.C). As cidades ca-nanéias eram protegidas por muros (erigidos com pedras e terra) a fim de manter animais selvagens e invasores fora de seus domínios. As cidades eram autóctones, auto-governavam-se, e com freqüência os seus governadores achavam-se em pé-de-guerra com seus vizinhos. O sistema religioso cananeu era politeísta. Em seu panteão figurava um bocado de deuses (exemplos: Baal e sua esposa Astarte; El, pai de Astarte, casado com Asherah, chefe dos deuses; outros...). Observando o ciclo da natureza, praticavam o culto à fertilidade. A degradação de certas cerimônias religiosas chegou a chocar até escritores gregos e romanos.

2. FILÍSTIA Os filisteus viviam principalmente em cinco

cidades ao sudoeste da terra de Israel: Asdode, Ascalom, Ecrom, Gate e Gaza. Eles controlavam a rodovia internacional que vinha do Egito ao longo da costa mediterrânea. No período dos Juízes, Samuel, Saul e Davi, os filiesteus representavam uma constante e poderosa ameaça aos israelitas.

Ambos os povos queriam controlar o mesmo ter-ritório. A necessidade de organização militar a fim de enfrentar os filisteus em pé de igualdade foi um dos fatores que levaram o povo de Israel a pedir um rei (1 Sm 8.20). Cada cidade filistéia tinha um governante. Eles dominavam a tecnologia do ferro, o que lhes dava incrível poderio militar. Eram politeístas O Antigo Testamento menciona alguns de seus deuses: Dagon (templos em Gaza e Asdode, 1 Sm 5), Baal-Zebube (cultuado em Ecrom, 2 Rs. 1.2), Astarote (1 Sm 31.10).

3. EGITO Situado ao nordeste da África, o território

egípcio é caracterizado pelo deserto do Saara e pelo Rio Nilo. Até tempos modernos, o Egito vir-tualmente devia sua existência às cheias do Nilo que traziam o rico húmus das suas cabeceiras e o depositavam ao longo de suas margens, particu-larmente no delta. Era o que de melhor havia para a agricultura. Uma cheia irregular podia significar fome e morte. Cedo eles aprenderam e dominaram a técnica do transporte fluvial. Afinal, o Nilo era a sua principal (e conveniente) "rodovia." Dos deser-tos e da península do Sinai eram extraídos metais preciosos (cobre e ouro). Dali também vinham as rochas destinadas aos projetos gigantescos. A his-tória do Egito é milenar. Esta começou muito antes de 3000 a.C. Antes dois reinos independentes, 3000 a.C. é fixado como ponto de referência para a existência do Egito como um império unificado sob um único monarca (faraó Menes). Pelos próximos 3000 anos, sua história é dividida em três períodos distintos e de muita grandeza (ao todo, 30 dinastias de faraós). 1) a "Era das Pirâmides", ou o "Reino Antigo" (ca. 2600-2200 a.C), como indica o nome, é caracterizada pelos projetos arrojados e gigantescos. 2) O "Reino Médio" (12ª dinastia, ca. 2060-1786 a.C.) expandiu o seu território e fortaleceu a economia da nação. (Este é o de 1850 a.C. durante algumas gerações. Novamente, 1200 anos mais tarde, sob Nabucodonozor,

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voltou às alturas Na verdade, a civilização começou na Babilônia em tempos muito antigos, época que se perde na bruma da história. Ali foi localizada a mais antiga forma de escrita conhecida pelo ho-mem: o cuneiforme ainda em sua forma primitiva, não desenvolvida, usando desenhos estilizados. Há registros escritos de dois povos que viviam na re-gião da Babilônia em tempos remotos: os sumeria-nos e os acádios. Artesãos do terceiro milênio (3000-2000) a.C. produziam artesanato de fino gosto em ouro, prata e pedras semi-preciosas im-portados. Também se fazia estatuetas e armas com cobre e bronze. A qualidade deste artesanato é admirável. As tabuinhas de barro com inscrições por eles deixadas são preciosa fonte para estudos lingüísticos. O mais destacado dos reis da Babilônia foi Hamurabi (1792-1750 a.C). Foi bom diplomata, também guerreiro. Porém seu nome está intimamente ligado ao Código de Hamurabi, um verdadeiro marco legal na antiguidade. Tempos depois a Babilônia sumiu de vista. Voltou ao poder em 612 a.C. quando Nabopolasar derrotou a Assíria e construiu um novo império (constituído em sua maioria por antigas províncias assírias). Nabucodonosor é o segundo grande nome ligado à Babilônia. Ele cuidou da cidade com muito carinho. Os jardins suspensos da Babilônia eram uma das sete maravilhas do mundo antigo. Porém décadas mais tarde os exércitos de Ciro, o monarca medo-persa, invadiram a Babilônia. Era o seu fim. Entre outros, a Babilônia deixou sua marca na civilização universal através de seus conhecimentos de astronomia e matemática (mais tarde copiados pelos gregos). As religiões da Assíria e Babilônia tinham elementos similares. Honravam as grandes forças do universo e tinham deuses e deusas favoritos. Os deuses controlavam tudo e tinham um comportamento imprevisível. Estavam hierarquicamente distribuídos com atribuições definidas. Demônios e espíritos maus rondavam o cidadão comum procurando atrapalhar-lhe a vida. Templos, santuários e sacerdotes estavam em funcionamento. Amuletos e simpatias eram po-pulares Cada cidade adorava o seu patrono divino em seu templo próprio. Desde que os deuses não revelavam o futuro, a adivinhação tinha livre trân-sito entre eles, nas mais variadas modalidades. Os

astrólogos eram influentes. Relatos e mitos a respeito dos deuses podem ser lidos nos textos sumerianos e acádicos. Destaca-se o relato babilô-nico da criação e do dilúvio. Os mortos habitavam o mundo subterrâneo. Havia idéias vagas de vida após a morte — tão vagas que não proporcionavam esperança alguma.

6. MÉDIA-PÉRSIA Após inteligentes manobras políticas e milita-

res, o persa Ciro derrotou o monarca medo Ciáxa-res e proclamou-se rei dos medos e persas. Era o início do império. Em 539 a.C. atacou e venceu a Babilônia e prendeu o seu último rei (Nabônido). Seu filho e sucessor Cambises, em 525 a.C, expan-diu o império persa até o Egito. Pela primeira vez, todo o Oriente Próximo (Irã, toda a Mesopotâmia, Ásia Menor, Palestina, Síria e Egito) estava subme-tido a um só rei. Uma duração de quase 200 anos estava reservada ao império persa. Os persas eram bem mais tolerantes que assírios e babilônicos. Permitiam que povos conquistados continuassem seu próprio modus vivendi em sua terra e manti-vessem seu culto nacional. (Esta atitude favoreceu de forma direta os exilados de Judá: significou li-bertação e retorno. Ciro devolveu a Israel os uten-sílios sagrados e autorizou a reconstrução do templo em Jerusalém.) O império inteiro restava dividido em grandes regiões (satrapias) governadas por sátrapas (escolhidos dentre nobres persas ou medos, com oficiais nativos sob eles). O luxo e a ostentação da corte persa, segundo a descrição do livro de Ester, são confirmados por descobertas arqueológicas em locais diversos. Ciro, Cambises, Dário, Xerxes e Artaxerxes são os nomes que se destacam na liderança do império. Os persas pri-mitivos reverenciavam deuses da natureza, da fer-tilidade e dos céus. No início do séc. VI a.C, Zoroastro proclamou uma religião com altos ideais morais baseado no princípio, "faça o bem, aborreça o mal!" Para ele havia paenas um deus, Ahura-mazde, o Bem. Em contraposição, havia também o poder negro do Mal. As doutrinas de Zoroastro se espalharam e tiveram influência internacional, chegando a ultrapassar os limites temporais do pró-prio império.

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Page 21: Vox Concordiana 2, 1vimos, e que é cheia de graça e de verdade (Jo 1.1-14). Os confessores luteranos tinham muito clara diante de seus olhos a importância do evangelho. Quando foi

BIBLIOGRAFIA

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