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Page 1: VOLVO DE ÍLEO DEVIDO A ADERÊNCIA INTRA-ABDOMINAL …relatosdocbc.org.br/exportar-pdf/113/v3n3a09.pdf · rente de aderência intra-abdominal (Figura 1). RESUMO Volvo de intestino

Cunha

Volvo de íleo devido a aderência intra-abdominal em paciente sem cirurgia prévia

_______________________________________________________________________________________Relato de caso

__________________________________________ 1Universidade de Fortaleza - UNIFOR, Liga de Cirurgia Geral, Fortaleza, CE, Brasil; 2Hospital Distrital

Evandro Ayres de Moura, Fortaleza, CE, Brasil.

VOLVO DE ÍLEO DEVIDO A ADERÊNCIA INTRA-ABDOMINAL EM PACIENTE SEM CIRURGIA PRÉVIA ILEUM VOLVOLUS DUE TO INTRA ABDOMINAL ADHESION IN A PATIENT WITHOUT PRIOR

SURGERY

Carlos Magno Queiroz da Cunha1; Giovanni Troianni Neto1; Rommel Reno Porcino Reinaldo2; Everardo

Leite Gonçalves2; André Costa Matos Lima2; Francisco Julimar Correia de Menezes1.

INTRODUÇÃO Volvos intestinais são uma impor-tante causa de abdome agudo obstrutivo, surgindo em decorrência de torção de uma alça intestinal ao redor do seu ponto de fixação mesentérica. Apresentam-se com quadro inespecífico de dor, náuseas, vômi-tos e sintomas obstrutivos, podendo cursar com isquemia, necrose e perfuração, tra-tando-se de uma emergência cirúrgica1-4. É mais comum no cólon sigmoide (89%), es-pecialmente quando está cheio de fezes, e em pacientes com mais de 50 anos3-5. O volvo de intestino delgado é raro

e se apresenta 80% das vezes em neonatos, decorrente de má rotação intestinal. Sua ocorrência em outras faixas etárias é rela-cionada principalmente à cirurgia prévia, devido à torção em torno de uma aderência formada, raramente ocorrendo na ausência desses fatores5-7.

O relato a seguir tem como objetivo expor o caso de um paciente de 39 anos com volvo ileal e sem histórico de má rota-ção ou cirurgia prévia.

RELATO DO CASO

Paciente masculino, 39 anos, com queixas de dor abdominal há dois dias, em pontada, de forte intensidade e que há um dia se irradiou para todo o abdome, associ-ada a náuseas, vômitos, hiporexia e consti-pação. O paciente encontrava-se em posi-ção antálgica com dificuldade de movi-mentação devido à dor difusa. Ao exame físico, apresentava mau estado geral, pulso de 122 bpm, frequência respiratória de 30 ipm e febril. Abdome globoso, distendido, ruídos hidroaéreos aumentados, ausência de sons metálicos. Dor à palpação super-

ficial e percussão, com defesa abdominal. Paciente negou cirurgia abdominal prévia. Radiografia simples com distensão atípica de intestino delgado e ausência de gás na ampola retal. Hemograma com leucocitose (17.800/mm³) e discreta anemia. O paciente foi submetido à laparoto-mia exploratória de emergência, tendo sido observado volvo de intestino delgado decor-rente de aderência intra-abdominal (Figura 1).

RESUMO Volvo de intestino delgado é uma apresentação rara e 80% dos casos ocorrem em lactentes

decorrente de alteração na rotação intestinal. Em adultos, essa afecção é relacionada a aderências intra-abdominais após um procedimento cirúrgico prévio e raramente, ocorre na

ausência dessa condição prévia. Relatamos o caso de um homem de 39 anos de idade com

quadro de abdome agudo obstrutivo por volvo de íleo não relacionado à má rotação intestinal

ou cirurgias prévias.

Descritores: Volvo Intestinal. Obstrução Intestinal. Abdome Agudo.

ABSTRACT Small bowel volvulus is a rare presentation and 80% of cases occur in infants due to change in

bowel rotation. In adults, this condition is related to intra-abdominal adhesions after a previous

surgical procedure and rarely occurs in the absence of this prior condition. We report the case

of a 39-year-old male with acute obstructive abdomen due to ileus volvulus not related to poor

intestinal rotation or previous surgeries.

Keywords: Intestinal Volvulus. Intestinal Obstruction. Abdomen, Acute.

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Cunha

Volvo de íleo devido a aderência intra-abdominal em paciente sem cirurgia prévia

_______________________________________________________________________________________Relato de caso

Havia necrose de íleo proximal (Figura 2), tendo sido necessária a ressecção de 50 cm de alça e anastomose primária. Revisão da cavidade abdominal não revelou outras anormalidades. O paciente teve alta no sexto dia de pós-operatório.

Figura 1. Aderência em base do volvo.

Figura 2. Íleo necrosado.

DISCUSSÃO O volvo ileal forma-se a partir da tor-ção do segmento intestinal sobre si mesmo ao longo dos vasos mesentéricos superio-res, ocasionando sofrimento de alça e ele-vado potencial de necrose em um curto pe-ríodo de tempo7,8. A tomografia computado-rizada apresenta alta especificidade para volvo intestinal8,9, mas não foi possível rea-lizá-la neste caso, devido à inacessibilidade no serviço hospitalar e a instabilidade do paciente. Assim, o paciente foi operado com os achados inespecíficos de obstrução in-testinal nos exames complementares já ci-tados.

Diante dos achados e em associa-ção com o quadro clínico do paciente, a opção pela abordagem cirúrgica de urgên-cia foi a melhor conduta a ser tomada, evi-denciando no ato cirúrgico o volvo ileal por aderência, mesmo na ausência de má rota-ção ou cirurgia prévia. A escolha de realizar ou não fixação do mesentério apresenta eficácia questionável e alto risco, não ga-rantindo proteção contra recidivas, ocasio-nando muitas vezes reoperações de alto risco ao paciente8-10. A causa da torção ileal do caso em questão e da maioria dos abdomens agudos obstrutivos são as aderências peritone-

ais4,10. Essas conexões patológicas entre superfícies dentro das cavidades corporais podem ser constituídas por lâminas de te-cido conjuntivo, feixes vásculo-nervosos ou pelo contato direto entre a superfície de dois órgãos, estando intimamente relacio-nadas às complicações pós-operatórias, sendo mais prevalentes na terceira se-mana10. Com altos índices de morbimorta-lidade, as aderências podem reincidir em até 53%, chegando até a 85% se houver nova cirurgia4,8,10. Apesar de intensa rela-ção com cirurgias abdominais (até 93% das laparotomias) e com obstrução de delgado prévia (70% das reinternações), podem ocorrer em pacientes sem cirurgias ou obs-truções prévias (10%), como no paciente em questão, formando-se a partir de resposta inflamatória e fibrinolítica a infecções, irri-tação, trauma, entre outras possíveis cau-sas9,10. REFERÊNCIAS 1. Macedo M, Velhote MC. Volvo de

intestino delgado após apendicectomia laparoscópica. Einstein. 2012;10(1): 103-4.

2. Wales L, Tysome J, Lim A, Moser S, Tait P, Navarra, G. Gastrointestinal: Cecal volvulus. J Gastroenterol Hepatol. 2004;19(2): 225.

3. Vidal MAN. Obstrução intestinal: causas e condutas. Rev Bras Coloproct. 2005;25:332-8.

4. Basilio PC. Obstrução intestinal por aderências: utilização de membrana bio-reabsorvível (hialuronato de sódio + carboximetilcelulose) seprafilm® na profilaxia de complicações em reoperações abdominopélvicas. Rev Bras Coloproct. 2003;23(3):168-71.

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Cunha

Volvo de íleo devido a aderência intra-abdominal em paciente sem cirurgia prévia

_______________________________________________________________________________________Relato de caso

5. Cuadra AS, Khalife ME, Char DJ, Wax MR, Halpern D. Intestinal obstruction from midgut volvulus after laparoscopic appendectomy. Surg Endosc. 2002; 16(1):215.

6. Silva JB, Costa DR, Menezes FJC, Tavares JM, Marques AG, Escalante RD. Perfil epidemiológico e morbimor- talidade dos pacientes submetidos à reconstrução de trânsito intestinal: experiência de um centro secundário do Nordeste Brasileiro. ABCD Arq Bras Cir Dig. 2010;23(3):150-3.

7. Accetta I, Duarte AJV, Silva Júnior CA, Accetta P, Maia AM, Accetta AF.

Volvo crônico de intestino delgado. - Relato de caso. Rev Bras Coloproct. 2002;23 (4):302-4.

8. Lassandro F, Giovine S, Pinto A, De Lutio Di Castelguidone E, Sacco M, Scaglione M, et al. [Small bowell volvulus - combined radiological findings]. Radiol Med. 2001;102(1-2):43-7. Italian.

9. Blake MP, Mendelson RM. The whirl sign: a non specific finding of mesenteric rotation. Australas Radiol. 1996;40(2):136-9.

10. Araújo SEA, Caravatto PPP, Chang AJBA, Campos FGCM, Sousa M. Impacto da vídeocirurgia na prevenção de aderências. Rev Bras Colo-Proctol. 2006;26(2):208-16.

Endereço para correspondência: André Costa Matos Lima E-mail: [email protected]