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1 Universidade do Estado do Pará Centro de Ciências Sociais e da Educação Programa de Pós-Graduação em Educação - Mestrado Vivianne Nunes da Silva Caetano Educação do Campo em Breves/PA: Prática Pedagógica em classe multisseriada Belém 2013

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Universidade do Estado do Pará

Centro de Ciências Sociais e da Educação

Programa de Pós-Graduação em Educação - Mestrado

Vivianne Nunes da Silva Caetano

Educação do Campo em Breves/PA:

Prática Pedagógica em classe multisseriada

Belém

2013

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Vivianne Nunes da Silva Caetano

Educação do Campo em Breves/PA:

Prática Pedagógica em classe multisseriada

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade do Estado do Pará como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Educação da Universidade do Estado do Pará.

Linha: Formação de Professores.

Orientadora: Tânia Regina Lobato dos Santos

Belém

2013

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Dados Internacionais de Catalogação na publicação

Biblioteca do Centro de Ciências Sociais e Educação da UEPA

Caetano, Vivianne Nunes da Silva

Educação do Campo em Breves/PA: prática pedagógica em classe multisseriada./ Vivianne Nunes da Silva Caetano. Belém, 2013

Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade do Estado do Pará. Belém, 2013.

Orientação de: Tânia Regina Lobato dos Santos

1. Prática de ensino. 2. Educação rural. 3. Aprendizagem. 4. Professores – Formação. I. Santos, Tânia Regina Lobato dos (Orientador). II. Título.

CDD: 21 ed. 370.733

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Vivianne Nunes da Silva Caetano

Educação do Campo em Breves/PA:

Prática Pedagógica em classe multisseriada

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade do Estado do Pará como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Educação, da Universidade do Estado do Pará.

Linha: Formação de Professores

Data de aprovação: / /2013 Banca Examinadora: _______________________________________ - Orientadora Tânia Regina Lobato dos Santos Doutora em Educação, História, Política e Sociedade (PUC/SP) Universidade do Estado do Pará - UEPA

_______________________________________ - Membro Interno Maria do Perpetuo Socorro Gomes de Souza Avelino de França - UEPA Doutora em História, Filosofia e Educação Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

_______________________________________ - Membro Externo Georgina Negrão Kalife Cordeiro - UFPA Doutora em Educação Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

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Para Arentino Viana, Maria Nunes,

Jean, Maria Eduarda, Davi, Christian,

Alexandre e Thais, que nunca me

deixaram desistir, amo vocês.

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AGRADECIMENTOS

A Deus por me conceder a vida e força para conseguir alcançar meus

objetivos sempre.

A meu pai querido e amado que esta comigo em todos os momentos Arentino

Viana da Silva, minha dedicada mãe e avó Maria Souza Nunes obrigada por estar

sempre a meu lado dando-me suporte e incentivo para não desistir nos momentos

difíceis.

A meu esposo Jean Caetano e a meus filhos amados Maria Eduarda e Davi

Silva Caetano, por todo incentivo, companheirismo e compreensão nos momentos

de ausência, amo vocês e me perdoem pelos momentos em que não pude me

dedicar integralmente a vocês e pela saudade dolorosa que fiz vocês sentirem assim

como eu.

A meus irmãos Alexandre Nunes da Silva e Thais Nunes Rocha, minhas

cunhadas Elisangela Santiago e Joyce Caetano, meu sobrinho Arthur Silva, que me

incentivaram, e a minha sogra Maria Selma Caetano por suas orações sempre.

Meu irmão amado como os outros, mas que esteve diretamente comigo

durante mais essa etapa de estudos Christian Nunes da Silva, obrigada sempre!

Tias Deolinda e Deuza, prima Deovane, meu braço esquerdo Deise, meu tio

Benedito Viana, por me ajudarem em momentos imprevisíveis e previsíveis durante

essa trajetória Breves-Belém-Breves, obrigada!

Minhas amigas (os)/irmãs (os), Marcia Mainardi, Geane Guimarães, Augusto

Câmara, Neide Ramos, Arsinoé e Bruna Avanzini, Ozana Leão, Rosenilda e

Rosangela Cardoso, Rodrigo Cunha, Márcia Cavalcante que sempre acreditaram em

mim e me alegraram nos momentos de tristeza e saudade.

A todos os que me auxiliaram na busca de dados e informações e

autorizaram minha pesquisa, a equipe geral da SEMED em especial Rosiclea

Cardoso, Domingos Martins (Gugu), Valcilene Gama, Fabiane do Nascimento, Iendy

Barros, Lucijane Bezerra, Neide Andrade, obrigada pela atenção.

A professora Maria, a Coordenadora Pedagógica, e demais funcionários e

alunos da Escola “A”, obrigada pela receptividade no período de observação e por

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me oportunizar conhecer de perto essa realidade tão marcante das classes

multisseriadas.

Aos barqueiros que me levaram todos os dias de observação na travessia do

rio que são nossas ruas no Marajó, Bianor Moura e Juvenal Paula (Marabá). E a

Alberto Lacerda e Zaquel pelo transporte nas ruas da capital Belém.

Aos meus amigos que me auxiliaram em minha participação efetiva no

mestrado: Benedita Cirino, Jeferson Otoni, Elias Beltrã, Manoela Vieira e Polyany

Gaia.

A todos que contribuíram diretamente me auxiliando com livros, apostilas e

orientações nos momentos de angustia e indecisões, desde minha entrada e

permanência no mestrado: Natamias Lima, Arlete Marinho, Cleide Matos, Josilete

Redig, Carlos Alexandre Bordalo, Eliane Costa e a Secretaria do Mestrado

Acadêmico em Educação na pessoa de Jorge Farias (Jorginho).

Aos meus colegas de turma em nome de Thamy Alves, Cristiane Santos,

Monica Araujo e Ligia Acácio, que se tornaram amigas e que espero não perder o

contato nunca, pois aprendi amar vocês nessa nossa jornada de angústia (Nathalia

Cruz).

A minha orientadora Tânia Regina Lobato, pela paciência, orientações e

incentivo, obrigada querida professora que Deus lhe abençoe sempre!

A todos os professores que estiveram presentes com nossa turma, em

especial Profas. Drªs. Ivanilde Apoluceno, Socorro França, Albene Lis.

Ao Profº. Salomão Hage por seu empenho e dedicação para com as

pesquisas sobre Classes Multisseriadas e Educação do Campo.

Obrigada a todos que contribuíram direta e indiretamente em todos os

momentos e que sabem por tudo o que me foi necessário passar nesses dois anos

de aprendizado e engrandecimento tanto em minha vida pessoal quanto acadêmica.

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Deve-se sair de olhares reducionistas de dentro. Ir além de análises comparativas entre escola da cidade versus escola rural, entre escola seriada versus multisseriada. Análises cansativas, reducionistas, que nos fecham em vez de abrir-nos a compreensões e a intervenções mais profundas, postas pela dinâmica social.

(ARROYO, 2010, p.12).

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RESUMO CAETANO, Vivianne Nunes da Silva. Educação do Campo em Breves/PA: Prática Pedagógica em classe multisseriada. 2013. 219 f. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade do Estado do Pará. Belém, 2013.

Este estudo apresenta como titulo a “Educação do Campo em Breves/PA: Prática Pedagógica em classe multisseriada”, e tem como objetivo geral verificar quais as metodologias e práticas pedagógicas que potencializam o processo de ensino-aprendizagem em uma Classe Multisseriada no Município de Breves – Pará, lócus da pesquisa, tendo como problemática: Que metodologias e práticas pedagógicas potencializam o processo de ensino-aprendizagem em uma Classe Multisseriada no município de Breves – Pará? E como questões norteadoras: Como se caracteriza a educação no Município de Breves – Pará e suas classes multisseriadas? De que forma se dá a organização do trabalho pedagógico de uma escola com classes multisseriadas? E com os seguintes objetivos específicos: 1) Realizar a caracterização da educação do Município de Breves - Pará e suas classes multisseriadas; 2) Conhecer de que forma se dá a organização do trabalho pedagógico de uma escola com classes multisseriadas. Procedemos no olhar de uma pesquisa exploratória de abordagem qualitativa, tipo estudo de caso, que utilizou como instrumentos de coleta de dados a observação participante, tipo aberta, entrevista semiestruturada, questionário semiaberto e pesquisa documental, com base nos preceitos de Ludke e André (1986), Severino (2007) e Vianna (2003). As análises de dados foram realizadas no decorrer de todo o processo. As discussões foram baseadas em autores como Arroyo (2009; 2010), Caldart (2004; 2009); Molina (2009) Hage (2005; 2006; 2012), Fernandes (2006; 2009), Oliveira (2008; 2010; 2011) Munarim (2011), Barros (2004; 2010), entre outros. Os resultados da pesquisa demonstraram uma prática pedagógica que se diferencia por utilizar metodologias e técnicas simples de aprendizado que podem ser utilizadas para potencializar o processo ensino-aprendizagem em classes multisseriadas. Palavras-chave: Classe multisseriada. Prática Pedagógica. Metodologias.

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ABSTRACT CAETANO, Vivianne Nunes da Silva. Field Education in Breves/PA: Pedagogical Practice in class multisseriate. 2013. 219 p. Dissertation (Master in Education). Universidade do Estado do Pará. Belém, 2013. This study has as its title the “Field Education in Breves/PA: Pedagogical Practice multisseriate class”, with the overall objective to verify that methodologies and pedagogical practices empower the process of teaching-learning in a class multisseriate in the city of Breves - Pará, locus research, taking as problematic: what methodologies and pedagogical practices potentiate the process of teaching-learning in a class multisseriate in the city of Breves - Pará? And as guiding questions: How is characterized education in the city of Breves - Pará and its multsseriate classes? How does the organization gives the pedagogical work of a school with multsseriate classes? And with the following specific objectives: 1 ) to characterize education in the cjty of Breves - Pará and its multsseriate classes; 2 ) Know how it gives the organization of the pedagogical work of a school with multsseriate classes. Proceeded on the look of an exploratory qualitative study, case study, which used as instruments to collect data on participant observation, open type, semi-structured interviews, semi-open questionnaire and documentary research, based on the precepts of Ludke and André (1986), Severino (2007) and Vianna (2003). Data analyzes were performed during the whole process. The discussions were based on authors like Arroyo (2009; 2010); Caldart (2004; 2009), Molina (2009) Hage (2005; 2006; 2012), Fernandes (2006; 2009), Oliveira (2008; 2010; 2011) Munarim (2011), Barros (2004; 2010), among others. The survey results showed a pedagogical practice that differentiates itself by using simple methodologies and learning techniques that can be used to enhance the teaching-learning process in multsseriate classes . Keywords: Multisseriate class. Pedagogical Practice. Methodologies.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Foto 01: “Sala de aula” na casa do professor.........................................................58

Foto 02: “Sala de aula” educação do campo no Pará.............................................59

Foto 03: Turma de educação do campo..................................................................61

Mapa 1: Localização do Município de Breves.........................................................64

Foto 04: Frente da cidade de Breves. ....................................................................65

Foto 05: Ribeirinho em canoa a remo nos furos de Breves....................................67

Foto 06: Ribeirinhos em rabeta nos rios de Breves................................................67

Foto 07: Família de ribeirinhos em sua rabeta........................................................69

Foto 08: Escola Padrão José de Matos, Rio Oleria.................................................88

Foto 09: Sala de aula na Escola José de Matos.....................................................89

Quadro 01: Dados dos participantes dos questionários..........................................91

Foto 10: Parte da comunidade Furo de Breves.....................................................114

Foto 11: Escola “A” toda em madeira a margem do rio Furo de Breves...............117

Foto 12: Sala de aula da Escola “A”......................................................................118

Foto 13: Sala de aula dividida...............................................................................119

Foto 14: Alunos no intervalo para a merenda.......................................................120

Foto 15: Alunos no horário de intervalo no corredor da escola.............................120

Foto 16: Área da copa...........................................................................................121

Foto 17: Servente preparando a merenda escolar................................................122

Foto 18: Corredor ao lado da escola.....................................................................123

Foto 19: Banheiro masculino.................................................................................124

Foto 20: Banheiro feminino...................................................................................124

Foto 21: Alunos entrando no transporte escolar...................................................125

Foto 22: Alunos acomodados no transporte escolar.............................................125

Foto 23: Alunos em transportes próprios..............................................................126

Foto 24: Alunas chegando a escola......................................................................126

Foto 25: Convite do Projeto Contação de Historias..............................................130

Foto 26: Convite do evento “A Partilha de Saberes”.............................................131

Foto 27: Frente da Escola “A” no dia do evento....................................................131

Foto 28: Sala de aula lotada para o evento...........................................................132

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Foto 29: Apresentação de slides em data show................................................133

Foto 30: Profª. Maria com seus alunos..............................................................140

Imagem 01: Caderneta do 2º ao 3º ano utilizada pela Profª. Maria...................144

Imagem 02: Caderneta do 4º ano utilizada pela Profª. Maria...........................144

Imagem 03: Projeto de Natal.............................................................................149

Imagem 04: Projeto Igualdade...........................................................................150

Quadro 02: Eixos trabalhados em 2012............................................................151

Imagem 05: Quadro com o modelo de Eixos e Temas Geradores...................152

Foto 31: Mural dos Temas Geradores...............................................................153

Foto 32: Mural dos Eixos Temáticos.................................................................153

Foto 33: Disposição dos alunos em sala de aula..............................................160

Foto 34: Alunos na sala de aula........................................................................164

Foto 35: Professora deslocando-se na sala de aula.........................................166

Foto 36: Alunos utilizando jogos educativos......................................................168

Foto 37: Momento lúdico e educativo................................................................169

Imagem 06: Atividade de Língua Portuguesa....................................................170

Imagem 07: Atividade com cruzadinha..............................................................171

Imagem 08: Atividades para o trabalho de ortografia SS..................................171

Imagem 09: Interpretação de texto....................................................................172

Imagem 10: Parte frontal da ficha de avaliação do 4º ano................................174

Imagem 11: Parte posterior da ficha de avaliação do 4º ano............................175

Foto 38: Momento de avaliação........................................................................180

Foto 39: Painel com Calendário do mês............................................................183

Foto 40: Painel dos Aniversariantes do Mês.....................................................183

Foto 41: Painel de Ciências com: Paisagens....................................................184

Foto 42: Painel com Esqueleto e Corpo Humano, Cantinho de Ciências

Naturais.............................................................................................................184

Foto 43: Pôster com Mapa Mundi......................................................................185

Foto 44: Pôster de revista sobre a natureza......................................................185

Foto 45: Painel X, para operações de multiplicação e divisão..........................186

Foto 46: Painel apresentando a linha do tempo das tecnologias......................187

Foto 47: Árvore do compromisso.......................................................................188

Imagem 12: Alguns compromissos....................................................................189

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Foto 48: Aluna utilizando o Cantinho da Leitura................................................189

Foto 49: Cantinho da Leitura.............................................................................190

Imagem 13: Cartelas de bingo para trabalhar dígrafos QUI.............................192

Foto 50: Árvore de Perguntas e Respostas......................................................193

Imagem 14: Perguntas sobre Aumentativo e Diminutivo. ................................193

Imagem 15: Questões de matemática..............................................................194

Imagem 16: Jogo da Memória com CH, J, RR, AN, Ç......................................194

Imagem 17: Jogo de Dominó com o dígrafo SS................................................195

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

LISTA DE TABELAS

Tabela 01: Distribuição do Ensino Fundamental no Município de Breves –

Pará...................................................................................................................73

Tabela 02: Municípios do Estado do Pará com maior número de

Classes Multisseriadas......................................................................................74

Tabela 03: Demonstrativo do número de Escolas com Classes Multisseriadas

por Distrito - Censo 2011...................................................................................75

Tabela 04: Aproveitamento final–Ensino Fundamental – 9 anos – 1º ao 3º ano

– 2011................................................................................................................77

Tabela 05: Aproveitamento Final – Ensino Fundamental – 8 anos– 3ª e 4ª

séries –2011......................................................................................................78

Tabela 06: Dados da Distorção idade-série – 1ª a 4ª série – 2011...................79

Tabela 07: Demonstrativo geral dos profissionais do magistério -

por nível/modalidade–URBANO E CAMPO......................................................80

Tabela 08: Profissionais do magistério - por nível/ modalidade –

Educação do Campo.........................................................................................81

Tabela 09: Identificação Individual dos participantes dos questionários..........92

Tabela 10: Distribuição do número de professores por ano/série.....................99

Tabela 11: Escola “A” - Aproveitamento final - Classe Multisseriada - Turma 01

.........................................................................................................................116

Tabela 12: Escola “A” - Aproveitamento final - Classe Multisseriada - Turma 02.....................................................................................................................116

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CEB - Câmara de Educação Básica

CFR - Casa Familiar Rural

CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil -

CNE - Conselho Nacional de Educação

CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico

DOEBEC - Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo

EDURURAL - Educação Rural

EFA - Escola Família Agrícola

EJA – Educação de Jovens e Adultos

ENERA - Encontro Nacional de Educadores da Reforma Agrária

FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

FPEC - Fóruns Paraenses de Educação do Campo

FUNDESCOLA - Fundo de Fortalecimento da Escola

GEPERUAZ – Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação do Campo na Amazônia

GETEPAR - Grupo de Estudo e Trabalho em Educação População na Amazônia

Rural

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH - Índices de Desenvolvimento Humano

IFPA - Instituto Federal do Pará

IFPA - Instituto Federal do Pará

INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

LDBEN - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC - Ministério da Educação e Cultura

MPEG - Museu Paraense Emilio Goeldi

MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

NEP - Núcleo de Educação Popular Paulo Freire

O.T.P Organização do Trabalho Pedagógico

ONGS – Organizações Não Governamentais

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P.P.P. - Projeto Político Pedagógico

PAR - Plano de Ações Articuladas

PARFOR – Plano Nacional de Formação de Professores

PDDE - Programa Dinheiro Direto na Escola

PDE - Plano de Desenvolvimento da Escola

PNAE - Programa Nacional de Alimentação Escolar

PNATE - Programa Nacional de Apoio do Transporte Escolar

PNLD - Programa Nacional do Livro Didático

Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA

PROINFO - Programa Nacional de Informática na Educação -

PRONACAMPO - Programa Nacional de Educação do Campo

SEDUC - Secretaria do Estado de Educação do Pará

SEMED - Secretaria Municipal de Educação

UEPA - Universidade do Estado do Pará

UFPA - Universidade Federal do Pará

UFRA - Universidade Federal Rural da Amazônia

UFRA - Universidade Federal Rural da Amazônia

UNB - Universidade de Brasília

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância

UVA - Universidade Vale do Acaraú

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................18

SESSÃO I: EDUCAÇÃO DO CAMPO E CLASSES MULTISSERIADAS............36

1.1 Marcos legais e históricos no Brasil ................................................................36

1.2 Marcos legais e históricos no Pará..................................................................52

SESSÃO II: O MUNICÍPIO DE BREVES A EDUCAÇÃO E AS CLASSES

MULTISSERIADAS................................................................................................64

2.1 Caracterização do Município de Breves ..........................................................64

2.2 Caracterização da Educação no Município de Breves-Pará ...........................72

2.2.1 Práticas Docentes em Classes Multisseriadas no Município de Breves-

Pará........................................................................................................................90

SESSÃO III: ESCOLA RIBEIRINHA E A PRÁTICA DOCENTE EM CLASSE

MULTISSERIADA NO MUNICIPIO DE BREVES – PARÁ..................................114

3.1 Caracterização de uma Escola Ribeirinha e sua Classe Multisseriada ........114

3.2 Prática Pedagógica e Metodologias que potencializam a aprendizagem em

Classe Multisseriada no Município de Breves – Pará..........................................136

CONSIDERAÇÕES..............................................................................................200

REFERÊNCIAS ...................................................................................................206

APÊNDICES........................................................................................................212

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18

INTRODUÇÃO

Nosso interesse pelo objeto de estudo desta pesquisa inicia-se na infância,

uma vez que crescemos na cidade ribeirinha de Breves no Estado do Pará, e neste

período tínhamos por costume familiar os passeios de barcos ou canoas que nos

levavam a sítios, igarapés e comunidades distantes de nossa cidade. Dessa forma,

continuamente tínhamos o contato com a realidade ribeirinha local que sempre nos

chamou a atenção pelo modo de vida dos caboclos1 ribeirinhos, sua forma de

sobrevivência por meio da caça, pesca, plantações, roçados, os quais estão bem

definidos por Corrêa (2008, p. 34), ao enfatizar que,

as comunidades rurais-ribeirinhas apresentam traços característicos afins heterogêneos, que desenham suas paisagens identitárias sociais, culturais, políticas, econômicas e ambientais num mapa amplo e complexo, que caracterizam as sociedades rurais amazônicas pela diversidade e multiculturalidade.

E foi convivendo, mesmo que indiretamente, com essa realidade que se deu

nosso primeiro contato com as escolas e com professores de classes multisseriadas,

observando com o olhar de visitantes curiosos frente a uma realidade diferenciada,

que surgiu para nós várias interrogações sobre o funcionamento das escolas

ribeirinhas e principalmente a indagação de como os professores de Classes

Multisseriadas conseguiam realizar um trabalho eficiente com seus alunos frente a

tamanhas dificuldades? Dificuldades estas que nos eram repassadas

frequentemente por alguns professores que desabafavam suas angustias e aflições

em conversas de roda na “beira dos trapiches” das comunidades em que

visitávamos.

Posteriormente, após o término da formação inicial no curso de Pedagogia da

Universidade Federal do Pará (UFPA), e das especializações em Informática e

Educação pela Universidade do Estado do Pará (UEPA) e Psicopedagogia Clínica e

Institucional na Universidade Salgado de Oliveira, surgiu à oportunidade de

ministrarmos em Breves nos anos de 2011 e 2012 as disciplinas Ludicidade e

1 “Ou caboco como na verdade se fala na região [...] uma mistura e „hibridação‟ cultural entre o negro,

europeu e, principalmente, o índio que já habitava na região” (SILVA, 2013, p. 01).

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Educação; Fundamentos Teóricos e Metodológicos de Educação Infantil para o

curso de Pedagogia no Plano Nacional de Formação de Professores (PARFOR) pelo

Instituto Federal do Pará (IFPA), para turmas formadas em sua maioria, (97%), por

professores do campo do Município que trabalham com classes multisseriadas e

estudam no sistema modular de ensino desse programa federal em Breves.

E foi depois desse contato direto com esses professores que nosso interesse

aumentou ainda mais, pois ouvimos por várias vezes relatos sobre a relação de

interação com os alunos, comunidade, Secretaria Municipal de Educação (SEMED),

bem como o esforço e empenho de algumas comunidades, professores e alunos em

manter as escolas funcionando, mesmo com as dificuldades de locomoção até as

mesmas, a insuficiência e/ou ausência de materiais didáticos, infraestrutura precária

em algumas escolas e principalmente a dificuldade em trabalhar mais de uma série

em uma mesma sala de aula nas classes multisseriadas, que Corrêa define (2008,

p.34) como,

espaços educativos em que um só professor ou professora atua ao mesmo tempo e no mesmo espaço atendendo educandos e educandas das quatro séries iniciais do ensino fundamental e até da educação infantil. Esses docentes acumulam várias funções: faxineiro, merendeiro, líder comunitário, diretor, etc.

E mesmo que essa realidade pareça tão próxima de um município interiorano

como Breves, ainda são muitos os cidadãos brevenses que afirmam desconhecer a

existência das classes multisseriadas, já que é uma modalidade de ensino que está

presente somente no interior desse Município.

Dessa forma, acreditamos que seria interessante um estudo mais

aprofundado sobre as escolas e classes multisseriadas de Breves, e a oportunidade

de realizar nossa pesquisa nessa área surgiu por meio do ingresso no Mestrado em

Educação da Universidade do Estado do Pará (UEPA) no ano de 2011 tendo como

objeto de estudo do projeto de dissertação as classes multisseriadas na região de

Breves-Pará, mais especificamente as metodologias que auxiliam no processo

ensino-aprendizagem dentro dessa realidade.

Após a delimitação de nosso objeto de estudo, necessitávamos também nos

aprofundar sobre o tema a nível nacional e estadual para assim podermos realizar

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uma análise mais especifica sobre a situação da educação do campo no Município

de Breves.

Para tanto, realizamos Estado da Arte no portal da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e Instituto Nacional de

Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), os quais reúnem

pesquisas dos cursos de pós-graduação stricto sensu no Brasil. Ao realizarmos o

levantamento buscamos especificamente as palavras-chaves classes multisseriadas,

educação rural, educação do campo, educação para o campo, escolas

multisseriadas, e admirável foi nos deparar com um baixo número de pesquisas

nessa área, confirmando o que diz Arroyo; Caldart e Molina (2009, p.8) que:

“somente 2% das pesquisas dizem respeito a questões do campo, não chegando a

1% as que tratam especificamente da educação escolar no meio rural”.

Assim, por meio do Estado da Arte, encontramos em âmbito nacional 17

dissertações de mestrado, 31 artigos e 10 Programas/Projetos, sendo que

procuramos delimitar um período recente de pesquisas dentre os anos de 2005 a

2013 e que tivessem como foco especificamente as Classes Multisseriadas e

Educação do Campo.

Dentre as pesquisas encontradas nos chamou a atenção à investigação de

Cardoso e Jacomeli (2010), em que apresentam um levantamento parcial de Estado

da Arte acerca das Escolas Multisseriadas, o qual confirma que “o interesse pelas

escolas multisseriadas é muito recente, data dos últimos dezesseis anos: as

centenárias escolas multisseriadas, não passam de „adolescentes‟ objetos de

pesquisas” (CARDOSO; JACOMELI, 2010, p. 174). Em vista disso, de acordo com

estas autoras, o que há de fato são temas que nos remetem a essa abordagem, em

dissertações, teses, artigos, mais propriamente sobre o tema em questão são

poucos os estudos existentes, “a maioria desses estudos apenas cita a existência de

escolas multisseriadas ou de escolas unidocentes sem, contudo, descrevê-las ou

analisá-las; e uma minoria refere-se diretamente ao objeto de nosso interesse, às

escolas multisseriadas” (CARDOSO; JACOMELI, 2010, p. 175).

Segundo Cristo; Leite Neto e Couto (2005, p. 116) a cidade de Breves em

2005 foi apontada como o Município do Estado do Pará com o maior número de

escolas com classes multisseriadas, na época contando com o total de 289 escolas

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com classes multisseriadas e 472 turmas multisseriadas, dados estes que não

tiveram alteração considerável durante os anos seguintes, já que em 2011 o número

foi de 280 escolas com classes multisseriadas e 403 turmas multisseriadas (SEMED-

Censo 2011).

É interessante ressaltar que mesmo com esses números alarmantes de

classes e turmas multisseriadas no município de Breves, dentre o estado da arte

realizado encontramos apenas cinco dissertações2 e uma tese de doutorado que

falam especificamente da região do Município de Breves-Pará, as quais são:

“Cartografias da educação na Amazônia rural ribeirinha: estudo do

currículo, imagens, saberes e identidade em uma escola do Município de Breves-

PA”, que trata sobre o planejamento curricular de uma escola rural-ribeirinha na vila

da madeireira Ivo Mainardi destacando as perspectiva das identidades e dos

saberes da população ribeirinha marajoara de Breves-PA (CRISTO, 2007);

“Alfabetização na educação/do campo: relato de professores de classes

multisseriadas da ilha do Marajó”, pesquisa realizada com grupo de 74 professores

que atuam na educação do campo em classes multisseriadas no Município de

Breves-PA, a pesquisa teve como objetivo conhecer o perfil dos professores;

descrever as dificuldades de ensino e aprendizagem da linguagem escrita nas séries

iniciais; relatar os modos de alfabetização e as projeções para um trabalho docente

eficaz; analisar os relatos dos professores sob a abordagem das relações entre

habilidades metalinguísticas e aprendizagem da língua escrita (CARDOSO JUNIOR,

2009);

“Processos educacionais e as práticas de municipalização do ensino no

município de Breves no arquipélago do Marajó”, trata sobre os processos

educacionais e as estratégias de municipalização do ensino no município de Breves

no arquipélago do Marajó (CARMO, 2010);

“Saberes culturais e modos de vida de ribeirinhos e sua relação com o

currículo escolar: um estudo no Município de Breves – PA”, que apresenta a

investigação sobre a maneira como o currículo de uma escola ribeirinha do

Município de Breves se relaciona com os saberes cultural do meio onde se encontra

inserido (LIMA, 2011);

2 Estudos esses que serão abordados no decorrer deste trabalho.

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“Memórias, cotidianos e escritos às margens dos Marajós: navegando

entre o saber e o poder”, a pesquisa foi realizada em quatro escolas multisseriadas

do Município de Breves, Marajó, Pará, tendo como objetivo analisar os discursos

sobre as classes multisseriadas, sua infraestrutura e as práticas de leitura da palavra

escrita desenvolvidas nestas escolas (AMARAL, 2012);

Tese de doutorado intitulada “Profissionalidade docente na Educação do

Campo”, que objetiva analisar o processo de constituição da profissionalidade

docente de educadores do campo em turmas multisseriadas ribeirinhas de Breves,

na ilha de Marajó, Estado do Pará (LOPES, 2013).

Com relação às pesquisas sobre educação do campo e classes

multisseriadas no Pará, salientamos os estudos realizados pelo Grupo de Estudo e

Pesquisa em Educação do Campo na Amazônia (GEPERUAZ), do Centro de

Educação da UFPA, que iniciou suas pesquisas em 2001 tendo como foco o “estudo

das classes multisseriadas e as dificuldades que os educadores e educandos

enfrentam no cotidiano de suas atividades educativas” (HAGE, 2005, p. 22), esse

grupo tem como objetivo disseminar a todos os interessados por esta temática a

realidade das classes multisseriadas no Estado do Pará, por meio de produções em

nível regional e nacional como “Educação do Campo na Amazônia: retratos de

realidade das Escolas Multisseriadas no Pará”, o qual conta com a participação de

vários autores que abordaram temáticas relacionadas à educação do campo e

classes multisseriadas na Amazônia Paraense.

Outro grupo que vem se destacando desde 2002 com relação a pesquisas

sobre educação do campo é o Grupo de Estudo e Trabalho em Educação População

na Amazônia Rural (GETEPAR), Núcleo de Educação Popular Paulo Freire

(NEP/UEPA), o qual desenvolve ações socioeducativas na comunidade de São

Domingos do Capim, com sujeitos das comunidades do campo e ribeirinhas daquela

localidade, ações essas voltadas para a Alfabetização de Jovens e Adultos;

formação continuada de educadores; formação política das lideranças comunitárias;

criação de fóruns de educação e desenvolvimento do campo.

Podemos citar ainda como produções que se destacam com a temática da

educação do campo a nível nacional os Cadernos por uma Educação do Campo,

dos quais fazem parte cinco volumes, tendo autores renomados em sua produção

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como Molina (2009), Arroyo (2009), Caldart (2009), Fernandes (2009), Oliveira

(2008) os quais por meio de suas obras apresentam os vários problemas e

dificuldades por que passa a educação do campo em âmbito nacional, mas também

apontam sugestões de como melhorar a qualidade da educação dentro dessa

realidade, essas obras servem para fortalecer e contribuir com o movimento por uma

educação do campo.

Este levantamento de Estado da Arte demonstrou que apesar de terem

iniciado algumas pesquisas, estudos e publicações sobre educação do campo no

Pará, todavia, faz-se necessário elevar ainda mais o número de pesquisas e

investimentos nessa área e mais ainda com relação às classes multisseriadas, já

que são realidades presentes em praticamente todo o estado e não percebemos

perspectivas atuais de modificação para a mesma, pois é vista como única opção

em muitas comunidades da região, sendo assim seria necessário então procurar de

alguma forma qualificá-las da melhor maneira possível às necessidades dos sujeitos

que dela usufruem.

Após esse levantamento sentimos necessidade de nos identificar com um

termo especifico para nomear a educação nesses espaços, pois entendemos que a

educação do campo não tem a mesma definição de Educação Rural já que,

para a escolinha rural qualquer coisa serve. Para mexer com a enxada não há necessidade de muitas letras. Para sobreviver com uns trocados, para não levar manta na feira, não há necessidade de muitas letras. Em nossa história domina a imagem de que a escola do campo tem que ser apenas a escolinha rural das primeiras letras. A escolinha cai não cai, onde uma professora que quase não sabe ler ensina alguém a não saber quase ler (ARROYO, 2009, p. 71).

Logo, entendemos que o termo Educação Rural trata mais especificamente

de uma educação repassada ao povo do campo, concebida por ruralistas que

tinham como intenção real somente o cumprimento de designações legais sem que

se tivessem, contudo, a preocupação com a qualidade da educação repassada.

Com a utilização da denominação Educação do Campo não houve alteração apenas

no termo a ser empregado, mas também nas concepções e interesses, pois este tipo

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de educação foi idealizada pelo povo do campo3, que passou a deixar de lado não

somente a designação de Educação Rural, mas também suas ideologias.

A designação Educação do Campo foi construída a partir das discussões do I

Encontro Nacional de Educadores da Reforma Agrária (I ENERA), em 1997, com a

participação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),

Universidade de Brasília (UNB), Organização das Nações Unidas para a Educação,

a Ciência e a Cultura (UNESCO), Fundo das Nações Unidas para a Infância

(UNICEF), Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), tendo como objetivo

“um entendimento nacional sobre a Educação dos sujeitos do campo, uma educação

que levasse em conta as especificidades do meio rural, onde o meio ambiente e o

trabalho jamais podem ser tratados em separado” (VILHENA JUNIOR; MOURÃO,

2012, p. 175). Todavia, foi somente em 1998 na I Conferência Nacional “Por uma

Educação Básica do Campo”, que surgiu às discussões sobre as diferentes

concepções de saber dos povos do campo, o intuito seria então “ver o campo como

parte do mundo e não como aquilo que sobra além das cidades” (FERNANDES,

2009, p. 136).

Após os referidos encontros essa designação difundiu-se e estão sendo

“debatidas, estudadas e praticadas por vários movimentos camponeses,

universidades, secretarias e pelo Ministério da Educação com a criação da

Coordenação Geral de Educação do Campo no Ministério da Educação e Cultura –

MEC” (FERNANDES, 2006, p. 16). Sendo assim, entende-se que a,

a Educação do Campo nasceu dos pensamentos, desejos e interesses dos sujeitos do campo, que nas últimas décadas intensificaram suas lutas, especializando-se e territorializando-se formando territórios concretos e imateriais, constituindo comunidades e politicas, determinando seus destinos na construção de suas ideologias, suas visões de mundo. A Educação Rural nasceu da cabeça dos ruralistas como forma de subordinar os camponeses, de reservar a eles um controlado espaço nas politicas de educação para “civilizar” e manter a subordinação. Assim, por quase um século, a Educação Rural não promoveu politicas autênticas, não propôs o desenvolvimento educacional campesinato. Nesse tempo, foi o espaço de controle politico dos ruralistas que determinavam como os camponeses deveriam pensar o seu mundo, conforme a visão dos ruralistas.

3 Essa diferenciação entre Educação Rural e Educação do Campo aprofunda-se na sessão Sessão 1

deste trabalho.

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Enfim, nos identificamos com autores utilizados neste trabalho como Arroyo

(2009), Hage (2005), Caldart (2009), Munarim (2011), Barros (2010), Oliveira (2008),

Souza (2006) que também utilizam-se deste termo, o qual encontra-se bem definido

nas Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo

(DOEBEC, 2001, p. 4) que diz,

a educação do campo, tratada como educação rural na legislação brasileira, tem um significado que incorpora os espaços da floresta, da pecuária, das minas e da agricultura, mas os ultrapassa ao acolher em si os espaços pesqueiros, caiçaras, ribeirinhos e extrativistas. O campo, nesse sentido, mais do que um perímetro não urbano, é um campo de possibilidades que dinamizam a ligação dos seres humanos com a própria produção das condições da existência social com as realizações da sociedade humana (Grifos nossos).

Acreditamos então que o termo educação do campo se adequa em nosso

trabalho por abranger todas as categorias do campo, distantes dos centros urbanos

e no caso desta pesquisa as margens dos rios e igarapés da região. Todavia, o

emprego das nomenclaturas educação no meio rural, área rural; rural-ribeirinha ou

escolas ribeirinhas, em alguns momentos também serão utilizadas, pois sabemos

que dependendo do contexto estes termos ainda encontram-se presentes nas

principais leis do país e ainda é a terminologia utilizada pela SEMED, em

documentos oficiais da mesma para todo espaço educacional fora dos limites

urbanos da cidade de Breves. Entretanto, a SEMED utiliza o termo educação do

campo, em projetos, oficinas, palestras, e demais eventos para a população do

campo no Município de Breves, sendo que futuramente pretende adotar o termo

Educação do Campo em todas as esferas da educação no Município.

Após as informações acima, definimos então a seguinte problemática de

investigação: “Que metodologias e práticas pedagógicas potencializam o processo

de ensino-aprendizagem em uma Classe Multisseriada no Município de Breves –

Pará?” A problemática evidenciada nos levou assim as seguintes questões

norteadoras:

1) Como se caracteriza a educação no Município de Breves – Pará e suas

classes multisseriadas?

2) De que forma se dá a organização do trabalho pedagógico de uma escola

com classes multisseriadas?

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Tendo como objetivo geral: Verificar que metodologias e práticas pedagógicas

potencializam o processo de ensino-aprendizagem em uma Classe Multisseriada no

Município de Breves – Pará.

E como específicos:

1) Realizar a caracterização da educação do Município de Breves - Pará e

suas classes multisseriadas;

2) Conhecer de que forma se dá a organização do trabalho pedagógico de

uma escola com classes multisseriadas;

Para tanto, devido nossa pesquisa evidenciar um objeto determinado e a

busca por informações precisas sobre este, passamos a considerar a pesquisa

exploratória, pois a mesma “busca apenas levantar informações sobre um

determinado objeto, delimitando assim um campo de trabalho, mapeando as

condições de manifestação desse objeto” (SEVERINO, 2007, p.123). Definimos

ainda, como base metodológica para esta pesquisa a abordagem qualitativa, pois,

a pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento [...], esta pesquisa deverá ser realizada em contato direto com o ambiente em questão, para que não haja interferência ou manipulação no objeto de pesquisa (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 11).

Em suma, a escolha por este tipo de pesquisa se deve ao fato de que

poderemos estar em contato direto com o objeto de estudo, o que será benéfico,

pois nos basearemos especialmente em fatos e não apenas no conhecimento de

outros a respeito do assunto. Esse tipo de abordagem qualitativa seguindo os

preceitos de Ludke e André (1986) se evidencia, ainda, neste trabalho, devido à

questão dos dados a serem coletados necessitarem de descrição da situação,

acontecimentos, fatos, e ainda por haver a preocupação com todo o processo,

levando em consideração o significado das coisas para as pessoas, assim,

a pesquisa qualitativa ou naturalística, segundo Bodgan e Biklen (1982), envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 13).

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Assim, a pesquisa em questão devido ser o estudo de um caso específico e

bem delimitado passou a assumir a forma de um estudo de caso seguindo as

definições de Ludke e André (1986, p. 17), pois “[...] o caso pode ser similar a outros,

mas é ao mesmo tempo distinto, pois tem um interesse próprio, singular”, e nesse

caso nunca foi alvo, até o presente momento, de uma pesquisa. Outras pesquisas

podem ter sido realizadas, mas com outros temas e focos, pois,

a preocupação central ao desenvolver esse tipo de pesquisa é a compreensão de uma instância singular. Isso significa que o objeto estudado é tratado como único, uma representação singular da realidade que é multidimensional e historicamente situada. Desse modo, a questão sobre o caso ser ou não “típico”, isto é, empiricamente representativo de uma população determinada, torna-se inadequada, já que cada caso é tratado como tendo um valor intrínseco (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 21).

Então, por meio do estudo de caso tivemos a preocupação em considerar a

interpretação do contexto, “buscando retratar a realidade de forma completa e

profunda” (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 19), sempre levando em consideração as

fontes naturalísticas, procuramos para isso durante o levantamento da pesquisa, não

interferir na realidade e no cotidiano pesquisado.

Para tanto, utilizamos como coleta de dados dentre os tipos de observação

participante (aberta ou oculta), a do tipo aberta por nos identificarmos desde o início

aos sujeitos observados e apresentarmos a pesquisa e seu propósito, justificando

dessa forma nossa presença, já que “a identidade do pesquisador é uma das muitas

questões éticas ligadas às atividades de pesquisa” (VIANNA, 2003, p. 41),

entendemos então que com isso evitaríamos que ocorressem situações que

pudessem vir a prejudicar o bom andamento da pesquisa.

Segundo Flick (1999, apud VIANNA, 2003, p. 51) esse tipo de observação

participante é a mais utilizada pela pesquisa qualitativa por ser, “uma atividade que

simultaneamente combina análise documental, entrevistas com respondentes e

informantes, participação direta, observação e introspecção [...]” (VIANNA, 2003, p.

51), e,

além das percepções apresentarem-se sob a forma verbal, temos também construções não-verbais, como expressões faciais, gestos, tom de voz, linguagem corporal e outros tipos de interação social que sugerem significados sutis de linguagem. Acrescente-se a esses elementos, o conhecimento tácito, que é pessoal e intuitivo, dificilmente articulado pelos

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indivíduos, mas que pode ser demonstrado pelas ações dos mesmos. [...] O observador, numa pesquisa participante, trabalha com múltiplas fontes de dados, decorrentes do uso que faz de múltiplos métodos (observação, conversas casuais, entrevistas, documentos), múltiplos tipos de participantes (secretarias de educação, superintendências ou delegacias de ensino, orientadores educacionais, especialistas em currículo, diretores, professores, entre outros) e varias situações (reuniões de diversos tipos, oficinas de trabalho, vida em instituições, etc.) (VIANNA, 2003, p. 55-56).

Em vista disso, a observação participante procura identificar pontos que são

sugeridos por McMillan e Shumacher (2001, apud VIANNA, 2003, p. 56-57) que

cremos ser relevantes para esta pesquisa, tais como:

quem integra o grupo – quantas pessoas participam do grupo, características que as identificam e razão de sua integração ao grupo;

o que acontece no grupo – o que fazem e dizem as pessoas; as atividades promovidas e como são organizadas e justificadas; como as pessoas no grupo se relacionam umas com as outras; como se organizam (ou não); quais os diferentes papeis que ficam evidentes no grupo; quem toma as decisões; qual o conteúdo das conversas; os assuntos mas frequentes; a linguagem verbal empregada; as diferentes formas de comunicação não-verbal; as ideias emergentes nas conversas; quem fala e quem ouve; o conhecimento tácito;

onde se localiza o grupo – características físicas; recursos utilizados, inclusive tecnológicos; uso do espaço, etc;

quando o grupo se encontra e interage – frequência e duração dos grupos; como organiza o seu tempo; como os participantes se posicionam em relação a fatos passados e outros possíveis de acontecer no futuro;

como os elementos do grupo se inter-relacionam – estabilidade do grupo; modificações ocorridas; regras e normas de organizações e/ou instituições;

qual o significado atribuído pelos participantes as suas atividades e os seus valores e visões de mundo possíveis de identificar no grupo.

Acreditamos desta forma, que seguindo estes preceitos a pesquisa foi “antes

de tudo controlada e sistemática” (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 25), para tanto, com

base nos pontos apresentados acima, optamos em elaborar um roteiro de

observação4, onde definimos quais os pontos específicos a serem observados,

todavia procuramos ter o cuidado para que os sujeitos sentissem-se a vontade em

vivenciar suas experiências cotidianas sem imposições e/ou alterações, procuramos

então ser o mais discretos possível, para que não houvesse envolvimentos que

pudessem modificar o ambiente pesquisado, por isso,

4 Encontra-se nos apêndices deste trabalho, com alguns itens baseados no roteiro utilizado pelo

Projeto Avena- FCT Avaliação, Ensino e Aprendizagem em Portugal e no Brasil: Realidades e Perspectivas (PTDC/CPE-CED/114318/2009).

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[...] a noção de contexto é importante para a pesquisa qualitativa. É preciso considerar os indivíduos em seus contextos típicos, já que é ai que seu comportamento tem significado, e é sempre relacionando sua ação e suas práticas com os elementos mais amplos que se pode determinar o significado de sua ação. Por isso, o contexto não deve ser “abstraído”, nem as suas práticas observadas isoladas de seus contextos, mas sempre, ao contrário, situadas nesses. Os fenômenos investigados devem ser tratados em toda a sua complexidade (MARCONDES, 2010, p. 29).

Utilizamos, ainda, como coleta de dados a entrevista semi-estruturada, com a

professora da turma selecionada, com a duração de 01h27m34s, e foi por meio

desta entrevista que ouvimos suas opiniões, críticas, anseios, angustias e

sugestões. Para tanto, formulamos um roteiro de entrevistas5, pois entendemos, que

“a entrevista semi-estruturada parte de um roteiro pré-estabelecido, mas na sua

aplicação, o entrevistador pode acrescentar novas perguntas, conforme o teor da

narrativa do entrevistado” (OLIVEIRA; FONSECA; SANTOS, 2011, p. 46). Assim

abordamos perguntas relacionadas à sua identificação com as Classes

Multisseriadas, formação inicial e continuada, tempo de serviço com Classes

Multisseriadas, acompanhamento pedagógico, participação dos alunos,

pais/responsáveis, SEMED, avaliação, infraestrutura, planejamentos, metodologia e

o que mais pudesse estar relacionado com sua prática docente, entendemos para

tanto que,

a entrevista é flexível e depende das circunstancias que envolvem o informante e o tema em estudo. O roteiro pode conter perguntas abertas e fechadas e permite ao informante, seguindo a linha de seu pensamento e de suas experiências em torno do assunto tratado, ser coparticipante na estruturação da pesquisa (TRIVIÑOS, 1987 apud OLIVEIRA; FONSECA; SANTOS, 2011, p. 46).

Além das observações e entrevistas, também realizamos algumas conversas

informais com funcionários, alunos e pessoas da comunidade, para a obtenção de

maiores informações sobre o tema pesquisado.

Outra forma que encontramos para obtenção de informações foi por meio da

pesquisa documental, que também se fez presente devido à necessidade de

analisarmos dados oficiais estatísticos de matrícula, reprovação, evasão, ou

técnicos, como relatórios, planejamentos, diário de classe, ou ainda trabalhos

5 Encontra-se nos apêndices deste trabalho.

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escolares, cadernos, avaliações, ou seja, utilizamos a combinação de vários tipos de

documentos que serviram para enriquecer este trabalho apresentando a prática

docente, metodologias utilizadas nas escolas pesquisadas, repassados em sua

maioria pela SEMED, pelos professores, alunos ou pelo INEP. Portanto, os

documentos aqui utilizados não são um fim em si mesmo e sim complementos para

a autenticação deste trabalho, pois,

os documentos constituem também uma fonte poderosa de onde podem ser retiradas evidências que fundamentem afirmações e declarações do pesquisador. Representam ainda uma fonte „natural‟ de informação. Não são apenas uma fonte de informação contextualizada, mas surgem num determinado contexto e fornecem informações sobre esse mesmo contexto (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 39).

Empregamos ainda, fotografias, quadros, tabelas, trabalhos e atividades

scaneadas não por mera ilustração, mas sim como elementos que servem como

comprovação de fatos e informações e que estão evidenciados de acordo com o que

aborda o contexto ao qual se direciona.

Outro fator levado em consideração foi à questão ética, que se não utilizada

poderia modificar negativamente o ambiente pesquisado, “pois assumir

responsabilidade na e com a pesquisa é assumir a presença do outro, respeitando-o

como pessoa e cidadão. É ter consciência que o ato de pesquisar não é neutro,

constituindo-se em uma ação histórica e ético-política” (TEIXEIRA; OLIVEIRA, 2010,

p. 13), assim uma demonstração que tivemos essa preocupação é quando nos

referimos à escola e aos sujeitos entrevistados nesta pesquisa por pseudônimos

respeitando sua identidade e anonimato.

Após todas essas definições, quanto à análise dos dados utilizamos o que

nos apresenta Ludke e André (1986, p. 45),

analisar os dados qualitativos significa “trabalhar” todo o material obtido durante a pesquisa, ou seja, os relatos de observação, as transcrições de entrevista, as análises de documentos e as demais informações disponíveis. A tarefa de análise implica, um primeiro momento, a organização de todo o material dividindo-o em partes, relacionando essas partes e procurando identificar nele tendências e padrões relevantes. Num segundo momento essas tendências e padrões são reavaliados, buscando-se relações e inferências num nível de abstração mais elevado. [...] A análise está presente em vários estágios da investigação, tornando-se mais sistemática e mais formal após o encerramento da coleta de dados. Desde o início do estudo, no entanto, nós fazemos uso de procedimentos analíticos quando

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procuramos verificar a pertinência das questões selecionadas frente às características especificas da situação estudada.

Assim sendo, procuramos realizar a análise de dados no decorrer de todo o

processo, todavia culminando em uma análise geral apresentada nas considerações

finais deste trabalho.

De posse de todas as definições realizadas quanto à metodologia da

pesquisa fomos à busca de autorização junto a SEMED para a realização de nossa

investigação no Município, e após estarmos devidamente autorizados, iniciamos

com um levantamento sobre o rendimento escolar, índices de aprovação,

reprovação, abandono e repetência das escolas do campo do Município, as

informações que tivemos acesso apresentaram-se com percentuais ora favoráveis e

ora desfavoráveis e que estão detalhados na Sessão 2 deste trabalho.

Realizamos ainda visitas para conhecermos algumas escolas do interior da

cidade de Breves, não mais com o primeiro olhar de visitantes, mas sim com o olhar

de pesquisadores, o que nos trouxe a oportunidade de verificar diretamente a

metodologia e a prática pedagógica em algumas escolas com classes multisseriadas

do Município de Breves-Pará.

Após as definições acima, passamos a seleção do sujeito da pesquisa,

sabemos, no entanto, que falar sobre a prática pedagógica em Classe Multisseriada

já é uma realidade em alguns estudos realizados por autores como Corrêa (2005),

Barros (2010), Oliveira; França e Santos (2011), os quais apresentam práticas que

em sua maioria utilizam metodologias evidenciadas nas escolas seriadas, somente

em alguns casos com adaptações para a educação do campo, em outros casos

nenhuma adaptação somente à metodologia urbanocêntrica6.

Essa preocupação com relação à prática pedagógica e também com a

formação dos professores do campo vem se apresentando nos últimos tempos como

uma questão a ser pesquisada, pois,

na Amazônia, essa preocupação se coloca como central, visto que a formação e a prática pedagógica do professor têm merecido estudos

6 “Se refere a uma visão de educação na qual o modelo didático-pedagógico utilizado nas escolas da

cidade é transferido para as escolas ribeirinhas, sem que sejam consideradas a cultura e as identidades locais” (ALMEIDA, 2012, p. 53).

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sistemáticos no Estado do Pará por se constituir em uma das politicas educacionais enfrentadas pelos governos. Os mais diferentes municípios que compõem o Estado, com suas singularidades e heterogeneidades em termos de desenvolvimento econômico, politico, educacional e social engendram uma zona conflituosa entre a educação do campo e da cidade, relegando aos alunos e professores das séries iniciais de escolarização uma educação destituída de sentidos e significados para o homem do campo (OLIVEIRA, FRANÇA; SANTOS, 2011, p. 24).

Acreditamos, então, ser conveniente verificarmos in locus uma prática

pedagógica com metodologias diferenciadas que possam servir para potencializar o

processo ensino-aprendizagem em Classes Multisseriadas. Para tanto a seleção de

um sujeito especifico deu-se por entendermos que prática docente se determina no

cotidiano escolar, pelo envolvimento do professor com seu trabalho, sua

metodologia e suas ações, pois entendemos,

a prática docente como algo mais que um conjunto de procedimentos técnicos e metódicos de transmissão de conhecimentos estanques, fazendo-se mesmo como um compromisso com a sociedade a partir de sua finalidade de contribuir para a formação consciente e crítica do cidadão e do profissional que atua e interage no contexto social, logo envolvendo dimensões epistemológicas, éticas e políticas (MEDEIROS; CABRAL, 2006, p. 12).

Por isso, nos preocupamos em selecionar apenas uma escola e uma sala de

aula em busca de verificarmos especificamente esses espaços, pois acreditamos

que,

a sala de aula caracteriza-se por ser o lugar da profissionalidade docente. É, neste local, onde se dá o trabalho docente, o seu sentido „stricto‟, no qual se reúnem professores e alunos. É na sala de aula que ocorre a prática pedagógica em si, onde o professor se faz professor, onde se faz o ser docente de forma especifica (CAMPOS, 2012, p. 40).

Procuramos, no entanto uma sala de aula que se diferenciasse de outras

pelas quais passamos, pois em todas as turmas em que fomos às professoras

utilizavam as mesmas metodologias de dividir os alunos, conteúdos, quadro negro,

de acordo com a série em que se encontravam no mesmo espaço da sala de aula,

confirmando que,

ser multisseriada denuncia o diálogo com a série – herança do modo de organização da escola no meio urbano. Professores reinventam espaços,

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dividindo séries por filas de carteiras, separando o quadro, contando com o apoio dos alunos mais adiantados (ANTUNES-ROCHA; HAGE, 2010, p.15).

Portanto, a busca por uma prática distinta que viesse a demonstrar que é

possível o ensino diferenciado e eficaz dentro da realidade das classes

multisseriadas, infelizmente não se constituiu como algo fácil e comum devido às

adversidades que esse modelo de educação apresenta.

Contudo, em uma de nossas visitas a SEMED e em conversas com os

técnicos de educação do campo, coordenação local do Programa Escola Ativa e

algumas professoras de educação do campo no Município, nos indicaram a Profa.

Maria7, que leciona do 2º ao 4º ano em classes multisseriadas, e que de acordo com

as informações que nos foram repassadas possui uma prática pedagógica

diferenciada, pois utiliza metodologias que envolvem jogos e atividades pedagógicas

com as quais consegue um bom rendimento de seus alunos. Assim sendo, tendo a

professora o perfil que procurávamos, a mesma aceitou tornar-se sujeito de nossa

pesquisa.

E após conhecermos a escola8 ribeirinha, com classes multisseriadas em que

a Profa. Maria leciona, decidimos então realizar sua caracterização e verificar como

se dá a organização e demais aspectos que influenciam a aprendizagem de alunos

ribeirinhos em uma classe multisseriada. E para o melhor reconhecimento do lócus

da pesquisa realizamos também, a caracterização da educação no Município de

Breves, demonstrando como se encontra a educação do campo e classes

multisseriadas no Município e em seus Distritos9 que são: Antônio Lemos, Curumú,

São Miguel e Sede Rural. Todavia será dado um maior foco ao Distrito Sede Rural

no qual se localiza o lócus desta pesquisa.

E por acreditarmos ser interessante averiguar as práticas de professores que

também atuam em classes multisseriadas no Município, fizemos a aplicação de 50

questionários10 a professores do campo (no entanto, somente 20 professores

7 Por questões éticas utilizaremos este pseudônimo.

8 Utilizaremos o pseudônimo de Escola “A”.

9 Neste trabalho são as subdivisões do Município.

10As informações dos questionários juntamente com os dados coletados na SEMED foram à base

para a construção da Sessão II deste texto. O modelo de questionário utilizado encontra-se nos apêndices deste trabalho.

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fizeram a devolução dos mesmos) que participaram de uma formação continuada do

Programa Escola Ativa no Município de Breves. Os dados dos questionários foram

divididos em quatro etapas que são: 1) Planejamento, Metodologia e Avaliação da

Aprendizagem; 2) Conhecimento Escolar, Livro Didático e Horário de Aula; 3)

Formação Inicial e Continuada: Nível de Formação, Participação em Eventos e

Cursos; 4) Classes Multisseriadas: Nível de Envolvimento, Opiniões e Sugestões.

Assim, além dos subsídios que conseguimos na SEMED, coordenação

pedagógica do campo local, acreditamos que esses questionários serão elementos

mais precisos e palpáveis que se apresentam como fonte relevante para demonstrar

por meio de relatos dos próprios professores que vivem essa realidade como esta

ocorrendo à educação e demais aspectos pedagógicos em classes multisseriadas

no Município de Breves.

Sendo assim, após todas essas definições, estruturamos este trabalho em

três sessões, assim distribuídas:

SESSÃO 1: EDUCAÇÃO DO CAMPO E CLASSES MULTISSERIADAS:

1.1 Marcos legais e históricos no Brasil; 1.2 Marcos legais e históricos no Pará:

Procuramos situar esta pesquisa historicamente com dados a partir da década de 80

até os dias atuais;

SESSÃO 2: O MUNICÍPIO DE BREVES E A EDUCAÇÃO EM CLASSES

MULTISSERIADAS: 2.1 Caracterização do Município de Breves: Localização,

economia e demais aspectos para apresentação do Município. 2.2 Caracterização

da Educação no Município de Breves-Pará: apresentamos como se encontra a

educação no Município, no campo e em classes multisseriadas no contexto do

Município de Breves-Pará. 2.2.1 Práticas Docentes em Classes Multisseriadas no

Município de Breves-Pará: com base nas informações obtidas pela SEMED e relatos

de professores que atuam diretamente em classes multisseriadas no Município de

Breves procuramos apresentar uma visão de como se encontra a prática de alguns

professores que atuam dentro dessa realidade;

SESSÃO 3: ESCOLA RIBEIRINHA E A PRÁTICA DOCENTE EM

CLASSE MULTISSERIADA NO MUNICIPIO DE BREVES – PARÁ: 3.1

Caracterização de uma Escola Ribeirinha e sua Classe Multisseriada: realizamos a

caracterização de uma escola ribeirinha e sua classe multisseriada, a organização e

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demais aspectos que influenciam a aprendizagem de alunos ribeirinhos em uma

escola com classe multisseriada 3.2 Prática Pedagógica e Metodologias que

potencializam a aprendizagem em Classe Multisseriada no Município de Breves –

Pará: Neste item apresentamos o Perfil e a Prática docente, as Metodologias e

Atividades que potencializam o processo de ensino-aprendizagem em Classe

Multisseriada; e para finalizar demonstramos as opiniões e sugestões da referida

Professora sobre essa modalidade de ensino.

Que esta pesquisa sirva então para a reflexão sobre a prática de professores

de escolas multisseriadas, ou seja, que sirva para “puxar o olhar” (ARROYO, 2010,

p.9) para essa realidade e demonstrar que apesar das dificuldades existem práticas,

conteúdos e metodologias que podem vir a fazer a diferença para a educação do

campo e mais especificamente para as classes multisseriadas, e dessa forma,

apresentar outros olhares desse contexto, pois,

as escolas multisseriadas merecem outros olhares. Predominam imaginários extremamente negativos a ser desconstruídos: a escola multisseriada pensada na pré-história de nosso sistema escolar; vista como distante do padrão de qualidade pelos resultados nas avaliações, pela baixa qualificação dos professores, pela falta de condições materiais e didáticas, pela complexidade do exercício da docência em classes multisseriadas, pelo atraso da formação escolar do sujeito do campo em comparação com aquele da cidade (ARROYO, 2010, p.10).

Em vista disso, por reconhecermos a importância da existência das classes

multisseriadas para a realidade da população do campo é que apresentamos uma

prática diferenciada, com metodologias totalmente possíveis e que podem servir

para impulsionar a reflexão na busca por melhores condições para a educação do

campo e classes multisseriadas. A seguir iniciaremos com a Sessão 1 desta

pesquisa, que apresentará os principais marcos legais e históricos da Educação do

Campo no Brasil e no Pará.

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SESSÃO 1: EDUCAÇÃO DO CAMPO E CLASSES MULTISSERIADAS

Nesta sessão trataremos sobre a Educação do Campo e Classes

Multisseriadas seus principais Marcos Legais e Históricos no Brasil e no Pará, pois

acreditamos que é de grande relevância a apresentação inicial desses aspectos

para a melhor compreensão de todo o trabalho, para tanto, nos deteremos no

período histórico da Educação do Campo no Brasil e no Pará a partir da década de

80 até os dias atuais, por entendermos que é somente após esse período que se

iniciam os movimentos em busca de uma educação de qualidade para os povos do

campo e alguns indicativos de alterações nas leis do país para essa categoria

educacional.

1.1 Marcos legais e históricos no Brasil

O aluno que ali morava Não conhecia a realidade,

Tudo o que estudava Era o contexto da cidade

Tudo o que estudava

Ao fundo lhe renegava Pois as suas culturas

Eram silenciadas

Da sua comunidade Perguntas ele se fazia

Pois a respeito da região Ele nada sabia

O menino precisava

Aprender coisas da realidade Pois a escola transmitia

O currículo da cidade

Escutou o canto dos pássaros Olhou os peixes a nadar,

Mas isso não adiantava Na escola que ia estudar

Tantas culturas negadas

Tantas culturas silenciadas Mas parecia,

Uma vida renegada

Mas esse jovem estava ali Pronto para estudar

Pois sua vida O jovem queria melhorar

Parou de estudar

Por falta de oportunidade Pois não tinha condição de manter

A vida na cidade

Aluno do PRONERA/Itaituba

Iniciamos este item com esse poema de um aluno do Programa Nacional de

Educação na Reforma Agrária - PRONERA11, da cidade de Itaituba, o qual também

abre a Sessão 1 do texto de Hage; Oliveira; Conceição; Souza; Rodrigues (2012, p.

18), “Estado, Movimentos Sociais e Políticas Públicas em Educação do Campo”, que

11

Mais a frente detalharemos esse programa.

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discute a Educação popular do campo na Amazônia: A experiência dos movimentos

sociais populares do Campo e a construção de novos espaços públicos de cidadania

e democracia participativa.

Esse poema nos chamou a atenção por nos apresentar na íntegra o que

realmente é a educação do campo na visão de um aluno, uma educação

descontextualizada e que na verdade torna-se sem sentido real na vida do

aluno/sujeito do campo, pois a educação que esse sujeito almeja e que traria

realmente a melhoria para a sua vida não é a mesma que se encontra na maioria

das escolas do campo, com currículos sem sentido para a sua realidade

desfragmentados e descontextualizados, sem levar em conta a realidade da

educação do campo, pois “[...] a rigor não existe educação rural, existem fragmentos

de educação escolar urbana introduzidos no meio rural”, (BRANDÃO apud HAGE,

2005, p. 129). Sendo assim, é perceptível que um dos maiores problemas com a

educação do campo no Brasil é a descontextualização dos conteúdos trabalhados

em sala de aula e nos programas utilizados nas escolas do campo onde se

evidencia que,

são milhões de brasileiros/as, que apesar de todos os esforços que as politicas das várias esferas governamentais vêm realizando, continuam à margem da escola ou, dentro delas, sem aprender, ou, ainda, aprendendo, mas não sabendo o que fazer com o que aprenderam em seu processo de escolarização (OLIVEIRA; FRANÇA; SANTOS, 2011, p. 17).

Esse distanciamento tem como um dos causadores a pouca valorização que

é dada a Educação do Campo e classes multisseriadas no Brasil de forma geral,

apesar da mesma concentrar “mais da metade das escolas brasileiras, 97 mil de 169

mil existentes, a metade das escolas do campo ainda é de uma sala e 64% são

multisseriada” (HAGE, 2005, p. 44). No entanto, apesar desses números alarmantes

foi somente em 1998 no “Movimento por uma Educação do Campo” e na 1ª

Conferência Nacional por uma Educação Básica do Campo, que se iniciou

efetivamente a luta da “garantia do direito de todas e todos à educação a partir do

lugar em que vivem, a partir das suas especificidades históricas, sociais, políticas e

culturais” (OLIVEIRA; FRANÇA; SANTOS, 2011, p. 49), e assim a busca por melhor

qualidade para a educação do campo. Com relação a esse período, considerado um

marco na educação do campo sabe-se que,

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esse momento de caminhada coletiva é considerado um marco histórico para a educação do campo, porque serviu para mobilizar sujeitos, aglutinar movimentos sociais, instituições governamentais e não governamentais em prol dessa educação, os quais em marcha constante vêm conseguindo juntar sujeitos de vários lugares diferentes para apoiar o movimento, que surgia tímido, mas vigoroso e ativo para ampliar as discussões (OLIVEIRA; FRANÇA; SANTOS, 2011, p. 49).

Assim, após esses movimentos desencadearam-se vários pontos positivos

que passam a dar apoio à educação do campo e a busca por uma educação

contextualizada de acordo com essa realidade, como nos apresenta Caldart (2004,

p.14 e 15),

a realização da 2ª Conferência por uma educação do campo em 2004, reafirmando a luta social por um campo visto como espaço de vida pela criação de politicas públicas especificas para atender os interesses da sua população;

a criação dos fóruns e seminários de educação do campo realizados em âmbito estadual, os quais constituem importantes espaços de debate acerca de temáticas relevantes como, políticas públicas, educação desenvolvimento e cidadania, formação de professores, projeto político pedagógico etc., socialização de experiências e de proposições para a construção de uma educação do campo com as marcas culturais dos sujeitos do campo;

a criação da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD) em 2004, no Ministério de Educação, onde existe uma coordenação de educação do campo;

a criação, dentro do MEC, do Grupo Permanente de Trabalho (GPT) sobre educação do campo com o objetivo de articular as ações do Ministério pertinentes à educação básica do campo a serem observadas nos projetos das instituições que integram os sistemas municipal e estadual de ensino;

a criação das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica do Campo, resultado das reinvindicações da rede de sujeitos que lutam por educação de qualidade para os povos do campo, constitui um importante documento para pensar e realizar a educação básica do campo voltado para educação infantil, jovens, adultos e idosos respeitando suas especificidades e diversidade cultural;

a realização de inúmeras pesquisas por diversos sujeitos e instituições com o objetivo de mapear a realidade sócio educacional dos povos do campo e apresentar a sociedade com o intuito de buscar junto ao poder público a criação de políticas públicas para atender as especificidades sócio educacionais e culturais dos sujeitos do campo;

a criação de uma rede de sujeitos que se comprometem com a questão da educação do campo e marcha rumo à garantia de educação e de uma vida com dignidade para os povos do campo;

os cursos de especialização em educação do campo que vem sendo criados dentro das Universidades públicas, garantindo aos professores uma

formação especifica para o campo (CALDART, 2004, p.14 e 15).

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Todavia, apesar dessas conquistas ainda percebemos várias problemáticas

evidentes, como é o caso do alto índice de analfabetismo no campo em nosso país,

como apresenta Hage (2005, p. 45),

no meio rural brasileiro, 28% dos jovens acima de 15 anos no campo ainda são analfabetos; e 3,4 anos é a média de anos de estudo nessa mesma faixa etária; a distorção idade-série atinge 65% dos estudantes matriculados; e somente 25% das crianças de 4 a 6 anos são atendidas.

Esses dados são realmente preocupantes e apresentam a necessidade de

políticas públicas urgentes que visem a minimizar e no futuro vir a sanar com esses

percentuais tão alarmantes.

O descaso com a educação do campo é tamanho que somente após a Carta

Magna de 1988, que também não menciona diretamente a educação para o campo,

é que se determina o direito de todos a educação. Com essa alteração, as

Constituições Estaduais e a Lei de Diretrizes e Bases passaram a apontar a

educação do campo como parte integrante do direito a educação para todos os

indivíduos sem distinção de raça, cor, credo muito menos de localização urbana ou

campo. No entanto, apesar de sutil essa citação na Lei faz a diferença já que “nem

todas as Cartas fazem referências ao respeito que os sistemas devem ter às

especificidades do ensino rural, quando tratam das diferenças culturais e regionais”

(DOEBEC, 2001, p. 19).

Esse descaso no Brasil já se apresenta desde o início da escolarização do

campo, pois a educação para o povo campesino sempre foi vista como

desnecessária, uma vez que o interesse era somente a mão de obra dessa

população, pois,

no paradigma rural, a percepção que se tem do espaço e dos seus atores sociais e culturais ainda é de um lugar atrasado, sem perspectiva, com pessoas sem cultura, ignorantes, fracas, atrasadas. Nessa visão reducionista e preconceituosa sobre o campo e dos povos que nele vivem como foi pensada a educação rural? O tipo de educação destinada para esse espaço foi definido a partir do entendimento que a sociedade tinha do mesmo (OLIVEIRA; FRANÇA; SANTOS, 2011, p. 57).

Em verdade, como para a sociedade o que importava não era o “cidadão” do

campo e sim o trabalhador do campo a educação ocorria apenas para o

cumprimento da Constituição de 1988. Foi somente após a consolidação do MST em

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1984 que surgiu com mais intensidade a questão da educação para os povos do

campo, quando no início da “década de 1980, trabalhadores e assessores

vinculados ao MST deram origem às primeiras discussões/sistematizações sobre o

que fazer com as crianças acampadas e como garantir escolas nos assentamentos

que estavam surgindo” (SOUZA, 2006, p. 31).

Mas é somente em 1996 com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional 9394/96 (LDBEN), com destaque aos Artigos 23º e 28º que começa a se

ter um real olhar para os alunos do campo, pois esta Lei diferencia-se das demais

por visar o aluno e não somente o trabalhador do campo como até então, pois a

mesma determina que as escolas possam organizar-se e realizar as adaptações

necessárias para a garantia da oferta de educação básica para o melhor

atendimento do discente do campo, como destacamos no Art. 28º (LDBEN 9394/96,

p.25),

na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente: I –conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; II – organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas; III – adequação à natureza do trabalho na zona rural.

Portanto a LDBN nº 9.394/96, ao apontar a preocupação com o calendário,

currículo, metodologias e as peculiaridades da vida do campo passa a demonstrar

alterações concretas no que diz respeito a outras leis antes promulgadas.

Em 1997 foi realizado o 1º Encontro Nacional de Educadores da Reforma

Agrária (ENERA), de onde surgiram as discussões para criação do PRONERA, que

conta com as parcerias entre o Governo Federal, universidades e movimentos

sociais, sendo que por meio desse programa “inúmeras parcerias, no formato

convênio técnico, foram estabelecidas entre governo, universidades e movimentos e

organizações sociais do campo” (SOUZA, 2006, p. 66). Assim sendo, o PRONERA é

“o resultado de um processo de luta constante em prol do reconhecimento da

Educação do Campo nas áreas de assentamento, buscando e exigindo acesso ao

direito à Educação” (TAVARES; BORGES, 2012, p. 320).

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Em 1998, houve a I Conferência Nacional por uma Educação Básica do

Campo, quando na oportunidade compareceram diversas organizações e

movimentos da sociedade civil, nacional e internacional, associações que

impulsionaram o debate sobre as políticas de Educação Básica do Campo (SOUZA,

2006, p.67). Todavia, é somente por meio da Resolução do Conselho Nacional de

Educação (CNE)/Câmara de Educação Básica (CEB) nº 1, de 03 de abril de 2002,

em seus artigos 3º, 6º e 7º, que passou-se a determinar,

que o Poder Público deve garantir a universalização do acesso da população do campo à educação básica e profissional, proporcionar a educação infantil e fundamental nas comunidades do campo, inclusive para os que não concluíram a escolarização na idade prevista, por meio de estratégias especificas de atendimento escolar nas comunidades que vivem afastadas dos centros urbanos (OLIVEIRA; FRANÇA; SANTOS, 2011, p. 19).

Instituídas na referida Resolução e aprovada em 04 de dezembro de 2001, as

Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas o Campo (DOEBEC)

teve sua primeira edição publicada e instituída em junho de 2003, a qual,

resulta das reinvindicações históricas e mais acentuadas na última década, por parte das organizações e movimentos sociais que lutam por educação de qualidade social para todos os povos que vivem no campo, com identidades diversas, tais como, Pequenos Agricultores, Sem Terra, Povos da Floresta, Pescadores, Quilombolas, Ribeirinhos, Extrativistas, Assalariados Rurais (grifo nosso) (DOEBEC, 2002, p. 2).

Em suma, a DOEBEC (2002, p.2) “implica o direito as diferenças e a politica

de igualdade, tratando a qualidade da educação escolar na perspectiva da inclusão”,

entretanto, em âmbito nacional, ainda é insuficiente a inclusão e a preocupação com

os sujeitos do campo. Percebemos isso ainda mais devido a escassa aplicação de

programas educacionais que visam atender as problemáticas das comunidades do

campo, pois os programas para o meio rural só começaram a ser implantados a

partir das décadas de 60 e 80. Destacamos aqui os Programas efetivados a partir da

década de 80, como o Projeto Educação Rural (EDURURAL), financiado pelo Banco

Mundial e implementado nos estados de Ceará, Pernambuco e Piauí, todavia sem o

sucesso esperado, pois o analfabetismo não foi extinto como propunha o projeto.

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Outro projeto de destaque nesse contexto foi o Projeto Escola Ativa

implantado no Brasil no ano de 1997, criado para “auxiliar o trabalho educativo com

classes multisseriadas [...], propõe-se reconhecer e valorizar todas as formas de

organização social, características do meio rural brasileiro, garantindo a igualdade

de condições para o acesso e permanência na escola”, (PROJETO BASE, 2010, p.

22), e assim reverter o quadro de má qualidade do ensino e de sua deficiência no

campo do país, assim,

a implantação da estratégia metodológica Escola Ativa no Brasil ocorreu no ano de 1997, com assistência técnica e financeira do Projeto Nordeste/MEC, nos estados da Região Nordeste, com exceção, de Sergipe e Alagoas, tendo como objetivo aumentar o nível de aprendizagem dos educandos, reduzir a repetência e a evasão e elevar as taxas de conclusão das series iniciais do Ensino Fundamental nas escolas multisseriadas do Campo. No final de 1998, também, os estados de Sergipe e Alagoas decidiram implantar a estratégia (PROJETO BASE, 2010, p. 14).

O Projeto Escola Ativa no seu processo de implantação foi dividido em 5

(cinco) fases que demonstram todo o processo desenvolvido, que são: Fase I –

implantação e testagem; Fase II – Expansão I; Fase III – Consolidação; Fase IV –

Expansão II; Fase V – Disseminação e Monitoramento, todavia,

em meados de 1999 o Projeto Nordeste chegou ao seu final, dando lugar a um novo momento, o surgimento do programa FUNDESCOLA (Programa Fundo de Fortalecimento da Escola), o que acarretou descontinuidade nas ações de implementação do programa Escola Ativa que já se consolidava nos estados. O projeto Escola Ativa, então, passou a fazer parte das ações do Programa FUNDESCOLA (PROJETO BASE, 2010, p. 14-15).

Para o Programa Escola Ativa, inicia-se em 2007, “um momento distinto, com

sua transferência do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação -

FNDE/FUNDESCOLA para a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e

Diversidade, ficando sua gestão a cargo da Coordenação-Geral de Educação do

Campo, como parte das ações do MEC”, (PROJETO BASE, 2010, p. 17), em prol da

Educação do Campo, sendo que,

em um esforço conjunto desta coordenação, das Instituições de Ensino Superior parceiras e das Secretarias Estaduais de Educação, o Programa teve um grande crescimento no seu campo de atuação. Em 2008, extrapolou as barreiras regionais e passou a atender às cinco regiões brasileiras e, a partir da adesão ao Programa naquele ano, sua abrangência

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foi ampliada de cerca de 10.000 escolas para cerca de 27.000 escolas. Em 2009, houve outro grande avanço, tendo em vista que 3.106 municípios e 17 estados aderiram ao Programa. Com esta adesão, em 2010 o atendimento passou de 39.732 escolas e 1.321.833 alunos de classes multisseriadas situadas em todo território brasileiro (PROJETO BASE, 2010, p.17).

Entretanto, atualmente, há um desafio para que o Programa reconheça a

realidade do campo “enquanto fonte de reflexões, e supere uma visão reducionista

do campo. O campo real é um espaço onde atuam distintos interesses e projetos

para o País” (PROJETO BASE, 2010, p. 17), o foco seria então a contextualização

do Projeto na realidade do campo.

Vale destacar ainda, a prática utilizada em algumas comunidades do campo

no país por meio da Pedagogia da Alternância, que busca articular prática e a teoria

em uma práxis, em que se alternam situações de aprendizagem escolar com

situações de trabalho produtivo, assim basicamente,

a Pedagogia da Alternância consiste na articulação entre Tempo-Escola - TE e Tempo-Comunidade – TC. No TE, os educandos permanecem de duas semanas a dois meses, dependendo do curso, no espaço da escola, em regime de internato. No TC, os educandos retornam às suas propriedades familiares, ou às comunidades, ou aos assentamentos, ou ainda aos acampamentos, para colocarem em prática os conhecimentos que foram objeto de estudo no TE, a partir da problematização dos cultivos e do manejo da criação, feita no TC (RIBEIRO, 2010, p. 292).

Percebemos, que a prática da Pedagogia da Alternância encontra obstáculos

por não haver uma formação especifica para os professores atuarem nessa

realidade, o que desencadeia o contrato de monitores, que são na maioria

agrônomos ou técnicos agrícolas, ou licenciados, que passam por cursos oferecidos

por entidades e organizações de sindicatos, associações que adotam essa

metodologia.

É perceptível atualmente que as discussões sobre novas metodologias e

qualidade na educação do campo se expandem paulatinamente, sendo que se

amplia também a preocupação com programas de apoio técnico e financeiros aos

estados, Distrito Federal e municípios para implementação da política de educação

do campo.

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Surge mais recentemente, o Programa Nacional de Educação do Campo

(PRONACAMPO), lançado no dia 20.03.2012, pelo Governo Federal que tem como

objetivo formar agricultores em universidades e em cursos técnicos para que

apliquem os conhecimentos adquiridos em ações que elevem a produtividade nas

pequenas propriedades garantindo assim a distribuição de renda. A intenção do

programa é atender escolas do campo e quilombolas, na tentativa de diminuir dados

do último censo do campo 23,18% da população com mais de 15 anos é analfabeta

e 50,95% não concluiu o ensino fundamental.

O PRONACAMPO baseará suas ações em quatro eixos: gestão e práticas

pedagógicas; formação de professores; educação de jovens e adultos e educação

profissional e tecnológica. Sendo que uma das ações previstas é a educação

contextualizada, que promova a interação entre o conhecimento cientifico e os

saberes das comunidades. O objetivo então é proporcionar as futuras gerações mais

oportunidade e qualidade na educação ofertada aos sujeitos do campo, pois o

campo “não é mais o espaço de „atraso‟ como percebido durante tantos anos.

Passou a demandar um conjunto de serviços relacionados aos direitos sociais e a

polemizar a concentração da terra e as possibilidades de construção de uma vida

digna” (SOUZA, 2006, p. 58).

Assim, na atualidade, o “campo aparece nas propostas educacionais dos

movimentos sociais com a idéia de valorização do trabalhador que atua no campo,

que possui laços culturais e valores relacionados à vida na terra” (SOUZA, 2006,

p.51). No entanto, o que se percebe é que apesar da luta contra esse paradigma

que se criou em torno da educação do campo há, na realidade, vários conflitos e

tensões, tanto sociais quanto culturais, de trabalhadores e trabalhadoras sociais,

que têm como objetivo “chamar a atenção da sociedade para a realidade do campo

e dos sujeitos que nele vivem” (OLIVEIRA; FRANÇA; SANTOS, 2011, p. 52).

Devemos então compreender que a própria educação do campo é um

movimento que conta com vários sujeitos, tendo como principal aliado o MST na luta

pela Educação do Campo, que busca melhorias não só para o povo do campo, mas

também para todos os que tiveram ou tem seus direitos negados, a torcida que se

faz então é para que esse movimento traga,

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sobretudo, a criação de politicas públicas que estejam em acordo com as realidades socieducacionais e culturais dos povos do campo. Políticas que objetivem que essas pessoas possam viver dignamente no lugar em que moram, sem que precisem sair em busca de melhores condições de vida. Políticas que rediscutam as práticas educativas que vêm sendo desenvolvidas nas escolas do campo e orientem os professores, gestores, coordenadores e demais sujeitos educativos para a construção de novas práticas, que reconheçam o campo como espaço de múltiplos saberes, com um cotidiano especifico que emana mistérios, crenças, tradições, saberes, modos próprios de viver (OLIVEIRA; FRANÇA; SANTOS, 2011, p. 63).

Como se nota os movimentos acabam sendo uma busca por libertação,

melhorias para os povos excluídos do campo, ribeirinhos, caiçaras, quilombolas,

indígenas, pescadores, assentados, agricultores, e todos mais que necessitarem de

uma educação que conteste a educação que silencia e renega o modo de vida e a

cultura dos sujeitos do campo. Assim a reprodução da escola urbana nas escolas do

campo, nega a pluralidade e riqueza da cultura e saberes dos povos do campo,

esses movimentos vem então se afirmando e combatendo a violação principalmente

de direitos a educação, saúde, pois vivem “em um contexto rico culturalmente, mas

de dimensões sociais precárias em termos de habitação, transporte, energia elétrica

e de educação”, (OLIVEIRA; FRANÇA; SANTOS, 2011, p. 20) direitos esses

negados por décadas a esses sujeitos do campo. Assim acredita-se que,

a educação do campo é um movimento que está em construção na medida em que os sujeitos que fazem parte dos movimentos sociais articulam uma luta politica pela criação de politicas públicas para garantir uma educação do campo e no campo, sinalizando para a criação de um projeto de desenvolvimento que tenha como foco as marcas culturais do povo do campo. É também um movimento permanente de reflexão das experiências pedagógicas vivenciadas pelos sujeitos do campo para afirmar a necessidade de uma educação própria às suas necessidades e especificidades (OLIVEIRA; FRANÇA; SANTOS, 2011, p. 55)

O movimento tende então a cada vez mais combater a educação

urbanocêntrica levada e imposta e que leva os educandos do campo ao fracasso

escolar e as escolas a números alarmantes de evasão e repetência, por isso o

Movimento por uma Educação do Campo tem as seguintes finalidades como nos

aponta Oliveira; França e Santos (2011, p. 65):

uma educação que expresse a realidade do povo do campo e seja no campo. Luta a favor de uma educação problematizadora e humanizadora voltada para a conscientização e libertação dos sujeitos que tomando consciência da situação de opressão a que estão submetidos lutam pela

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sua libertação e por uma vida com dignidade humana. A educação do campo marcha a favor de um projeto de desenvolvimento apoiado na agricultura familiar, porque essa, ao contrário do agronegócio, adota uma lógica apoiada na produção de múltiplas culturas, visando ao mercado interno e à exportação, à geração de emprego e à manutenção da população no campo trabalhando e marchando pela garantia dos seus direitos, como, educação, moradia e saúde, resistindo ao modo capitalista de produção. Luta também a favor da preservação ambiental, da criação de novas relações com o meio ambiente, relações humanas, solidárias, éticas e ecológicas, que consiste em uma consciência crítica que deve, por parte do ser humano, potencializar ações ecologicamente responsáveis [...] A educação do campo é a favor daqueles sujeitos que moram no campo e que são negados, marginalizados e excluídos do direito a educação e de todos os direitos necessários para garantir uma vida com dignidade.

Segundo Munarim (2011, p. 22), o Movimento Nacional por uma Educação do

Campo se apresenta por quatro dimensões que o caracterizam:

1) Dimensão Política: com ações regulares coordenadas por políticas públicas por parte dos sujeitos sociais coletivos que compõe tal movimento; 2) Dimensão Pedagógica: com projetos políticos-pedagógicos inovadores em instituições tradicionais, que vão desde escolas regulares de educação básica até universidades, passando pela educação de jovens e adultos fora dessas instituições; 3) Dimensão Epistemológica: especialmente em instituições universitárias públicas, com crescentes práticas de pesquisas, eventos científicos e publicações sobre o tema. 4) Dimensão Cultural: “movimento de transformação cultural”, na medida em que suscita mudanças na cultura escolar, bem como no conteúdo e na forma de engendramento das políticas públicas para o campo. Caracteriza-se como movimento de luta hegemônica.

Para esse autor o atual estágio do Movimento de Educação do Campo

perpassa por um “período de refluxo”, com relação a sua dimensão política, este

estado de “acomodação”, segundo Munarim (2011, p. 22) é perceptível devido a

pouca mobilização das organizações e movimentos sociais na luta por uma

Educação do Campo e que por “razões conjunturais ocorre que alguns setores

importantes desses sujeitos coletivos negam desde sempre, na essência, a

concepção político-filosófica disso que vem sendo chamado de Educação do

Campo” (MUNARIM, 2011, p. 22).

Munarim (2011) acredita então, que existem duas ordens de fatores que

“entrecruzam” na geração desse refluxo, o primeiro que é o fator de conjuntura

política, devido à chegada ao governo Lula, de representantes da categoria popular,

e com isso houve um “afrouxamento nas estratégias de pressão sobre o aparato

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estatal”, (MUNARIM, 2011, p. 23), o que leva ao segundo fator que é a

desarticulação do coletivo que atuava em prol da Educação do Campo, fato este

firmado ao se perceber a tentativa de denegrir a imagem deste movimento, por meio

de processos de criminalização por parte da mídia e de órgãos como o Ministério

Público e Tribunais de Contas, os quais procuram desmoralizar este movimento

perante a nação com medidas de proibição na atuação de instituições como

universidades que procuram de alguma forma auxiliar em uma melhor qualidade na

educação do campo.

Dentro de toda essa problemática, o que se percebe é que acaba por ocorrer

um maior distanciamento e desarticulação entre o Movimento por uma Educação do

Campo e o Governo, pois um não apoia o outro para juntos trabalharem em prol da

Educação do Campo. Assim, percebemos que um distanciamento do modelo ideal

de educação para o campo, para o qual seria uma maior compreensão de cidadania,

de democracia para a população do campo, já que a,

educação direcionada à democracia e à cidadania é aquela que se ocupa em desenvolver em todos os membros de uma sociedade a capacidade de compreensão da realidade e de participação nos processos de elaboração, execução e avaliação das políticas públicas. Em sentido amplo, e como valor maior e para todos, isto é, antes de ser pensada se para a cidade ou para o campo, a educação significa um processo de formação e aprendizagem do ser humano, processo que oferece ao sujeito condições de compreender o meio onde está e, compreendendo-o, ouse transformá-lo (MUNARIM, 2011, p. 28).

Entretanto, a questão da democracia, da cidadania, deve estar presente em

todo o processo educacional, independente do local onde ela necessita ocorrer, seja

no campo ou na cidade, entretanto para que isso aconteça deve-se primeiramente

procurar mudar esse olhar negativo que se apresenta sobre a educação do campo,

pois há a necessidade de “redefinir olhares e superar as visões inferiorizantes,

negativas, com que em nosso viciado e preconceituoso olhar classificamos os povos

do campo e seus modos de produção, a agricultura familiar e suas instituições, a

família, a escola” (ARROYO, 2010, p. 9).

Com relação especificamente as Classes Multisseriadas acreditamos que as

mesmas estão inclusas em todo esse processo, pois não há como pensar em

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classes multisseriadas sem antes pensar em educação do campo. Quanto ao início

propriamente dito das classes multisseriadas no Brasil, acredita-se que,

as classes multisseriadas surgem no Brasil após a expulsão dos Jesuítas, vinculadas ao Estado, ou sem esse vínculo, mas convivendo, no tempo, com os professores ambulantes que, de fazenda em fazenda, ensinavam as primeiras letras [...] nas pequenas vilas, nos lugarejos pouco habitados, reuniam-se crianças em torno de alguém que podia ser professor, e aí elas aprendiam a ler, escrever e contar. Mais tarde, as classes multisseriadas foram criadas oficialmente pelo governo imperial, pela Lei Geral do Ensino de 1827, que, em seu artigo primeiro, determinava: “em todas as cidades, villas e lugares mais populosos, haverão as escolas de primeiras letras que foram necessárias” (ATTA, 2003; NEVES, 2000 apud SANTOS; MOURA, 2010, p. 41).

A história das classes multisseriadas inicia-se na tentativa de solucionar o

problema da ausência de ambientes educacionais específicos, onde crianças

precisavam estudar e para isso procuravam a solução da forma mais viável possível,

ou seja, juntavam a maior quantidade de alunos, independente de idade ou nível de

aprendizagem, para alguém ensiná-los como fosse possível. Campos (2012, p. 11)

em suas pesquisas sobre o início das classes multisseriadas afirma que um “mestre-

escola assumiu a tarefa de ensinar uma seleção de conteúdos previamente

determinados – a escola de ler e escrever – juntando num mesmo local crianças e

jovens com idades diferentes e graus de conhecimentos distintos – as escolas

multisseriadas”. Quanto à definição e conceituação do termo Classes Multisseriadas,

entendemos que as mesmas podem ser definidas de acordo com a conceituação

feita por Barros (2004, p.116-117) que detalha,

quando analisamos o termo multisseriado, identificamos a justaposição de dois termos: multi e seriado. São duas conotações que expressam um olhar quantitativo frente a várias séries presentes em sala de aula, que fragmenta (na operacionalização oficial do sistema seriado) a ação educativa e estabelece um regime de hierarquização da aprendizagem escolar, através da seleção dos conteúdos que são distribuídos entre as séries. Entretanto, o prefixo multi, carrega uma realidade que está relacionada com a diversidade, com as especificidades sociais, educacionais, históricas, culturais de cada ser humano. No multisseriado, além dos alunos estarem no processo de alfabetização ortográfica e numérica somadas com as várias séries, o multi está relacionado com a expressividade de crianças nos seus mais diversos níveis de aprendizagens, com as diferenças de idade, desejos e aspirações; e se a escola rural-ribeirinha negar essa realidade, estará negando também o processo de formação e a identidade dos sujeitos que criam, recriam e dinamizam o ambiente escolar e comunitário. Assim, o multi está em cada ser humano, que na relação dialética ser humano – ser

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humano, ser humano – mundo, transformam a dinâmica sociocultural e educacional nas escolas rurais-ribeirinhas multisseriadas. Já o termo “seriado”, é derivado de série. As séries representam o modelo hegemônico de organização do ensino fundamental e médio no Brasil. O sistema seriado é resultado das reformas educacionais implementadas no país nas décadas de 60 a 80 em face da forte influência desenvolvimentista no campo das concepções curriculares estadunidenses que sobrevoam o cenário educacional brasileiro.

O termo multisseriado exprime as questões múltiplas que envolvem essa

realidade das classes multisseriadas, a multiculturalidade, multiidentidades e a

heterogeneidade que existe nesses espaços. Quanto à heterogeneidade Hage

(2005, p. 57), define que as classes multisseriadas “[...] são espaços marcados

predominantemente pela heterogeneidade ao reunir grupos com diferenças de série,

de sexo, de idade, de interesses, de domínio de conhecimentos, de níveis de

aproveitamento, etc.” todos em uma mesma sala de aula com a orientação de

apenas um professor.

Em vista disso alguns professores justificam sua dificuldade no trabalho com

classes multisseriadas devido ainda terem a visão que o modelo ideal de educação

é o modelo homogêneo, onde todos devem estar separados em espaços distintos

por série e grau de conhecimento, o que está muito distante da realidade das

classes multisseriadas que são heterogêneas.

Essa heterogeneidade, segundo Hage (2005, p. 61) é uma das características

fundamentais na Amazônia, “e deve ser valorizada e incorporada nos processos e

espaços de elaboração e implementação de políticas e propostas educacionais para

a região”, sendo então melhor aproveitada como,

um elemento potencializador da aprendizagem e que poderia ser melhor aproveitado na experiência educativa que se efetiva na multissérie, carecendo no entanto, de muitos estudos e investigações sobre a organização do trabalho pedagógico, sobre o planejamento e a construção do currículo e de metodologias que atendam às peculiaridades de vida e de trabalho das populações do campo, o que de forma nenhuma significa a perpetuação da experiência precarizada de educação que se efetiva nas escolas mutisseriadas (HAGE, 2005, p. 58).

Destarte, “faz-se necessário, a articulação entre os diferentes saberes do

trabalho docente, a comunidade e o cotidiano escolar, como condição de

aprendizagem para todos repensar o currículo e a organização do trabalho

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pedagógico da escola do campo” (BARROS at all, 2010, p. 32), e para que assim

seja reconhecida por todos à importância de uma educação de qualidade para as

classes multisseriadas já que as mesmas são até o presente momento a solução

para atender e manter as populações do campo em seu próprio espaço, sem que

precisem se desfazer dos vínculos criados há anos em busca de escolas, de

educação, nos centros urbanos, pois,

as escolas multisseriadas oportunizam as populações do campo terem acesso à escolarização no lugar em que vivem, em sua própria comunidade, fator que poderia contribuir significativamente para a permanência dos sujeitos no campo e para a afirmação de suas identidades culturais, não fossem todas as mazelas que envolvem a dinâmica educativa efetivada nessas escolas (HAGE, 2005, p. 57).

Diante desse quadro as escolas multisseriadas necessitam ser vistas e

repensadas para a busca da maior qualidade no ensino das mesmas, e esse cenário

parece estar se modificando aos poucos, como acredita Arroyo (2010, p. 10): “as

escolas multisseriadas estão sendo levadas a sério, sendo reinventadas, e não mais

ignoradas nem desprezadas como escolas do passado”, e apesar do início desse

novo olhar, ser tímido nos leva a analisar que paradigmas as escolas com classes

multisseriadas devem seguir? O mesmo das escolas urbanas? Que também se

encontram em grande dificuldade? Dessa forma “fica sem sentido propor que as

escolas do campo, multisseriadas ou não seriadas, virem seriadas” (ARROYO, 2010,

p.12). A proposta de Arroyo (2010, p. 12-13), seria então,

trabalhar uma organização que respeite os tempos humanos, de acordo com os tempos-idades geracionais. Tempos estes que possuem suas especificidades de socialização, de aprendizagens, de formação: infâncias, pré-adolescência, adolescência, juventude, vida adulta [...] A partir dessas especificidades coletivas, tenta-se organizar conhecimentos: modos de ver o mundo, de se ver; modos de pensar o real e a especificidade desses tempos e das formas de vivê-los no campo; modos de ver a terra, de aprender a lutar pela terra. Que agrupamentos são mais próximos em vivências, saberes, socializações? Respeitar as vivências e saberes, os valores e modos de pensar o real e de pensar em si, de aprender e socializar-se nos convívios coletivos que não são diferentes por idades cronológicas, por anos de idade, mas que são próximos por temporalidades geracionais, pré-adolescentes, adolescentes, jovens ou adultos. O respeito à especificidade de cada tempo humano, de formação, geracional como critério central da organização escolar [...] Respeitar organizando convívios-aprendizagens por tempos humanos vai além da lógica seriada e multisseriada. É a lógica do viver, do aprender humano, do socializar-nos como sujeitos culturais, intelectuais, éticos, sociais, políticos, identitários.

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Essa proposta sugerida por Arroyo apresenta-se como uma possibilidade

para execução, podendo a mesma ser utilizada na própria metodologia do professor

das escolas que possuem classes multisseriadas. Para tanto, essa proposição só

será possível se houver um maior envolvimento e conhecimento da realidade da

prática docente, e se especular dentro dessa heterogeneidade, como ocorre à

elaboração curricular, os planejamentos, avaliações, conteúdos e metodologias

nesse processo educacional, envoltos por fatores que perpassam os problemas

educacionais, e que também atingem esse contexto, influenciando a prática docente

e interferindo no processo de ensino-aprendizagem.

Assim, os estudos específicos sobre classes multisseriadas ainda são

insuficientes, até mesmo se comparados aos estudos efetuados sobre Educação do

Campo. E infelizmente, essa indiferença com as escolas multisseriadas é histórica,

segundo Piza e Sena (2001, p. 13 apud CARDOSO; JACOMELI, 2010, p. 175), pois,

as escolas multisseriadas são, historicamente, consideradas como de segunda categoria e, o que é pior, sem alternativa de melhoria; por isso, os educadores e os gestores optaram por esquecê-las, esperando que desapareçam como consequência natural do processo de desenvolvimento das sociedades.

Todavia, ao contrário do que se esperava houve um acréscimo considerável

em todo o país dessa modalidade de ensino, pois já “em 2007, eram 93.884 turmas

multisseriadas, sendo 19.229 na região norte, 55.618 no nordeste, 11.962 no

sudeste, 4.729 no sul e 2.346 no centro-oeste”, (CARDOSO; JACOMELI 2010, p.

176), parecendo quase inevitável, devido a vários fatores de ordem geográfica,

econômica, política e social, a existência dessa realidade na educação do campo

brasileira, faz-se necessário então repensar em uma melhor qualidade para as

mesmas na tentativa de minimizar as problemáticas existentes.

Chegamos, assim, à finalização deste item, apresentando a reflexão de Hage

(2005, p. 54-55) sobre a importância das classes multisseriadas,

as classes multisseriadas devem sair do anonimato e ser incluídas na agenda das Secretarias Estaduais e Municipais de Educação, do Ministério da Educação, das universidades e centros de pesquisa, e dos movimentos sociais do campo. Elas não podem continuar sendo tratadas como se não existissem, excluídas inclusive das estatísticas do censo escolar oficial. Não há justificativa para tamanha desconsideração do poder público e da

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sociedade civil para com os graves problemas de infra-estrutura e de condições de trabalho e aprendizagem que enfrentam os professores e estudantes das escolas multisseriadas, que em geral encontram-se abandonadas às situações contingentes próprias das comunidades em que se localizam, afinal, delas depende atualmente a iniciação escolar da maioria das crianças, adolescentes e jovens do campo.

Aguardamos desta forma, que seja dispensada uma maior atenção para essa

modalidade de ensino, pois acreditamos que o maior problema das classes

multisseriadas esta no descaso em que as mesmas se encontram, na ausência de

políticas públicas voltadas não só para a infraestrutura, mas também e

principalmente para a formação inicial e continuada dos docentes do campo que

atuam no campo e assim passem, a saber como trabalhar com os sujeitos do

campo, deixando de agir como se as escolas seriadas da cidade com seu método

urbanocêntrico, que já passam por seus próprios problemas, com seu modelo

seriado seletivo e excludente, ainda sejam vistas como paradigma a ser seguido

pelas escolas do campo.

Apresentaremos no próximo item desta Sessão um pouco mais sobre a

Educação do Campo e as classes multisseriadas, todavia agora com o foco para o

Estado do Pará.

1.2 Marcos legais e históricos no Pará

O Estado do Pará aparece, de acordo com os dados do censo escolar de

2003 apresentados por Hage (2005, p. 45) como “o segundo maior em número de

escolas multisseriadas do país”, na época contando com o número de 8.675

escolas, ficando atrás somente do Estado da Bahia, que possuía na época 14.705

escolas, assim como o número de turmas multisseriadas, que totalizavam 11.231

turmas e a Bahia com 21.451, já em 2002, segundo os dados do MEC-INEP- Censo

Escolar, esses dados também se apresentaram alarmantes, pois,

no Estado do Pará são 10.697 escolas compostas com classes multisseriadas, com 471.307 alunos matriculados de 1ª a 4ª série nesses estabelecimentos. Somente na área rural estão presentes 99% de escolas constituídas com classes multisseriadas, correspondendo a 10.588 estabelecimentos de ensino, enquanto que dos 143 municípios, Marituba e

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Quatipurú são os únicos que não apresentam a organização escolar com

mais de uma série (MEC-INEP-CENSO ESCOLAR, 2002 apud BARROS,

2004, p.115-116).

A justificativa que se apresenta para a existência das classes multisseriadas

no Estado do Pará, é que as mesmas são formadas devido às grandes distâncias

entre as comunidades do campo e as escolas urbanas e ao número insuficiente de

alunos por série o que impossibilita a formação de turmas específicas. O surgimento

das classes multisseriadas seria visto, então, como uma possibilidade de solução

para resolver o problema das distâncias educacionais entre o campo e a cidade,

promovendo o acesso e a escolarização em seus próprios ambientes de

convivência, para que, os diferentes sujeitos que vivem no campo lutem e

ultrapassem os limites territoriais, e assim superar as distâncias entre os “sujeitos

comprometidos com a causa da educação do campo e no campo para todos e

todas, com o objetivo de resistir e lutar contra as formas perversas de opressão e

desigualdades. Resistir e lutar, sobretudo, para manter as identidades dos

campesinos” (OLIVEIRA; FRANÇA; SANTOS, 2011, p.17).

No entanto, o Pará apesar de sua realidade e de todo seu diferencial não vem

garantindo aos povos do campo políticas públicas que privilegiem a qualidade de

vida do sujeito amazônida paraense, já que é,

nesse contexto singular e revelador de uma imensa diversidade cultural é que se situam as escolas do campo, com suas classes multisseriadas, regidas por professoras (es) que são de tudo um pouco (diretoras (es), merendeiras (os), faxineiras (os) e, sobretudo, docentes). Esses ambientes educacionais, na maioria das vezes, pertencem ao sistema municipal de ensino e abrigam a educação infantil e as séries iniciais do ensino fundamental (OLIVEIRA; FRANÇA; SANTOS, 2011, p. 20-21).

E apesar de toda essa realidade, infelizmente é somente a partir da década

de 1980, adentrando a década de 90, que se começa a ter outros olhares sobre a

educação do campo no Pará. Isso ocorreu devido às influências dos movimentos

sociais sobre o comportamento dos trabalhadores do campo no Brasil, que passam

a valorizar sua mão-de-obra e consequentemente a educação para seu povo. Em

1994 surge para maior incentivo dos processos educativos a organização do

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no Pará. Inicia-se também nesse

período as primeiras experiências de “Pedagogia da Alternância, em 1995 em

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Medicilândia, como Casa Familiar Rural (CFR) e em 1996, em Marabá como Escola

Família Agrícola (EFA)” (SOUZA, 2005, p.5).

De acordo com o exposto anteriormente, no Brasil os movimentos sociais

desencadearam as lutas e discussões sobre a educação do campo,

consequentemente o Pará também fez parte desse processo, pois,

a luta coletiva do Movimento, em nível local, mas que repercute em nível nacional, expressa o desejo pela garantia do direito à educação aos povos do campo. Uma educação que parta das suas realidades, dos seus territórios. Do micro espaço para o macro em que estão inseridos, garantindo assim a manutenção da cultura e das identidades que permeiam esses territórios (OLIVEIRA; FRANÇA; SANTOS, 2011, p.71).

E foi após a criação do Fórum Paraense de Educação do Campo e

Desenvolvimento Rural, (2003), que “é um espaço para discutir proposições, trocar

experiências e influir na tomada de decisão, em torno de posições que tenham plena

condição de serem pactuadas, com esforço de unidade e consenso [...]” (SOUZA,

2005, p.6), que se esperou sensibilizar as autoridades para as verdadeiras ações e

para a melhoria dessa realidade do campo paraense. Essa luta desencadeou vários

eventos no Pará, que surgem no intuito de desenvolver e intensificar a luta por uma

educação voltada realmente para as populações campesinas, pois,

falar de educação do campo é falar dos Fóruns Paraenses de Educação do Campo, um movimento que vem sendo construído desde 2004, e que aglutina entidades da sociedade civil, movimentos sociais, instituições de ensino superior, órgãos governamentais de fomento ao desenvolvimento e da área educacional (FPEC, 2005, p.5) e, sobretudo, integra e dialoga com os pequenos agricultores quilombolas, povos indígenas, pescadores, camponeses, assentados, ribeirinhos, povos da floresta, sem-terra, professores, pesquisadores, alunos, alunas, sujeitos culturais e sociais (OLIVEIRA; FRANÇA; SANTOS, 2011, p.66) (grifo nosso).

E com o Fórum Paraense veio a se consolidar o “Movimento Paraense por

uma Educação do Campo”, que incentivou a criação de eventos marcantes no

contexto da educação do campo, como o I Seminário denominado Educação do

Campo e Desenvolvimento Rural na Amazônia em 2004, o “Programa

EducAmazônia: construindo ações inclusivas e multiculturais no campo” (HAGE,

2005, p. 26), que,

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busca atender 143 municípios do Estado do Pará com ações de mobilização, sensibilização e informação sobre a problemática da Educação do Campo, e realiza uma intervenção mais intensa nos seguintes municípios: Breves, e Portel (Meso-região do Marajó), Cametá (Meso-região Baixo Tocantins), São Domingos do Capim (Meso-região do Nordeste Paraense), Santarém e Belterra (Meso-região do Baixo Amazonas). O EDUCAmazônia oportuniza ações educativas que busque a construção e efetivação de políticas (educacionais emancipatórias) dos sujeitos que vivem no meio rural do Estado do Pará (HAGE, 2005, p. 28) (grifo nosso).

Outro programa importante na região paraense é o Programa Saberes da

Terra da Amazônia Paraense, que é uma iniciativa do Ministério da Educação

articulado também com o Ministério do Trabalho e Emprego e o Ministério do

Desenvolvimento Agrário, Ministério do Meio Ambiente e Ministério da Cultura, que

foi articulado e estabelecido no Fórum Paraense de Educação do Campo em 2005 e

que tem o apoio de várias instituições que promovem no Estado do Pará a formação

de mais de 760 “jovens agricultores em nível de educação fundamental e

qualificação profissional. O Programa também atua na formação de educadores do

campo que formam os jovens agricultores” (HAGE, 2005, p. 28), com a média de

idade de 15 a 29 anos seguindo a

modalidade EJA – Ensino Fundamental completo com qualificação social e profissional inicial para atuar junto as suas comunidades; encontrando-se implantado em 15 municípios paraenses: Juruti, Concordia do Pará, Ipixuna do Pará, Santa Luzia, Paragominas, Viseu, Breves, Portel, São Sebastião da Boa Vista, Igarapé-Miri, Mojú, Marabá, Xinguara, Medicilândia e Uruará (HAGE, 2005, p. 28-29) (grifo nosso).

Esses programas contam com a participação e apoio de várias entidades

como o Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG), Universidade Federal do Pará

(UFPA), Universidade do Estado do Pará (UEPA), Universidade Federal Rural da

Amazônia (UFRA), Secretaria do Estado de Educação do Pará (SEDUC), Fundo das

Nações Unidas para a Infância (UNICEF), GEPERUAZ, que visam à execução de

ações de intercessão que venham a contribuir com a melhoria na qualidade da

educação oferecida aos sujeitos do campo na Amazônia Paraense.

Em junho de 2005 ocorreu a realização do II Seminário de Educação do

Campo: Por uma Educação do Campo na Amazônia/Pará, antes de sua realização

aconteceram 11 eventos preparatórios, com a participação de 40 municípios e mais

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de 1.550 participantes, por meio de Seminários, Conferências, Encontros, Plenárias,

realizados nos municípios de Cametá, São Domingos do Capim, Bragança,

Castanhal, Altamira, Xinguara, Moju, Marabá, Santarém, Soure e Conceição do

Araguaia, que serviram para fomentar as discussões e levantar problemas e

sugestões acerca da educação para o campo no Pará.

Tais discussões acabaram por instituir Cartas e Manifestos que serviriam para

orientar o surgimento de políticas públicas e práticas educativas para intervir na

realidade sociocultural do campo. Esses documentos foram retirados em cada

município participante dos encontros, que foram apresentados posteriormente no II

Seminário. E essas cartas por terem sido construídas diretamente com os sujeitos

que vivem a realidade do campo, apresentaram todas as necessidades e

dificuldades por que passam esses sujeitos.

Para intensificar as lutas por políticas públicas voltadas para o campo, foi

realizado o III Seminário de Educação do Campo, Educação do Campo na

Amazônia: Direito nosso, Dever do Estado, no período de 13 a 15 de junho de 2007,

no qual foram intensificadas as cobranças para com o dever do Estado nas

melhorias por uma educação do campo de qualidade. Sendo assim, por meio

dessas cobranças já se pode verificar,

a conjugação de diferentes estratégias que emerge pelo aprofundamento da compreensão dos trabalhadores e trabalhadoras rurais da importância da educação enquanto direito público, a existência de projetos de Lei na Assembleia Legislativa do Estado e em Câmaras Municipais, os projetos educativos em assentamentos, as experiências de Pedagogia da Alternância, as propostas educativas de algumas Prefeituras Paraenses, os projetos educacionais desenvolvidos por ONGS, cooperativas de técnicos em diversos locais do Estado, os cursos de graduação, pós-graduação, extensão promovidos pelas Universidades, os projetos de pesquisa, artigos, textos, as mudanças nas direções dos órgãos federais ligados as questões do campo que passam a ser ocupadas por pessoas mais voltadas para a defesa dos princípios da agricultura familiar, a implementação de projetos pelo PRONERA no Estado, além de inúmeras outras iniciativas, pessoais e coletivas, em andamento, criam as condições para a edificação de proposições mais consistentes em Educação no Campo paraense (SOUZA, 2005, p.6).

Com relação ao que diz respeito às Leis Paraenses, a Constituição do Pará

de 1989 no Art. 281, IV, “estabelece medidas destinadas ao estabelecimento de

modelos de ensino rural, que considerem a realidade estadual específica”, artigo

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este citado até mesmo nas Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas

Escolas do Campo, (2001, p. 21) e que também prioriza os valores regionais em seu

Art. 277, I, todavia assim como as demais leis de âmbito nacional, a mesma não

destaca prioritariamente um artigo ou parágrafo que evidencie as especificidades da

educação do campo, ficando restrita a outras modalidades de ensino. A

preocupação no Estado do Pará aumenta devido o mesmo estar a nível nacional em

segundo lugar com o maior número de escolas com classes multisseriadas, assim,

no Estado do Pará, [...], o relatório ao CNPq, revelou um quadro alarmante em que as escolas multisseriadas atendem 97,45% da matrícula nas séries iniciais do ensino fundamental no campo. Nessas escolas, a taxa de distorção idade-série é de 81,2%, chegando a 90,51% na 4ª série; e a taxa de reprovação equivale a 25,64%, atingindo 36,27% na 1ª série. Entre os professores que nela atuam 10% possui apenas o ensino fundamental completo, 87,5% possui o Magistério, e menos de 1% concluiu o ensino superior (HAGE, 2005 apud GEPERUAZ, 2004, p.45).

Esses dados foram apresentados no ano de 2004, todavia os números

desses percentuais não se alteraram significativamente nesses últimos anos,

continuando alarmantes os índices de escolas com classes multisseriadas no Estado

do Pará.

Em relação à formação de professores que atuam em classes multisseriadas,

Hage (2005, p. 44) nos apresenta um quadro preocupante no qual afirma que “boa

parte dos que ensinam no campo tem formação carente; e apenas 9% completaram

o ensino superior”. E esse é um dos motivos que faz com que haja um

ressentimento por parte do povo do campo com a falta de apoio de algumas

Secretarias Estaduais e Municipais de Educação, pois de acordo com esses

sujeitos, “essa situação advém do descaso dessas instâncias governamentais para

com as escolas multisseriadas, pois fica evidente que as mesmas são discriminadas

em relação às escolas da cidade, que têm prioridade em relação ao

acompanhamento pedagógico e formação docente” (HAGE, 2005, p. 50-51).

Sendo assim, a maioria dos professores critica e angustia-se pelo fato de

terem que lidar com planejamento de turmas multisseriadas, sem apoio pedagógico,

e dessa forma “como resultado, os professores se sentem ansiosos ao pretender

realizar o trabalho da melhor forma possível e ao mesmo tempo perdidos, carecendo

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de apoio para organizar o tempo escolar, numa situação em que atua em várias

séries concomitantemente” (HAGE, 2005, p. 53).

Dado o exposto, muitos são os fatores que contribuem para que os

professores tenham dificuldade em desenvolver suas atividades com vários alunos

de diferentes séries, e em alguns casos tendo que realizar outras funções dentro da

escola como servente, secretário, e outros, sem o apoio pedagógico necessário,

ainda mais que há casos em que “os professores têm sido pressionados pela

secretaria de educação a aprovar o maior número de estudantes possível no final do

ano letivo, como forma de relativizar os índices elevados de fracasso escolar”

(HAGE, 2005, p. 53).

Então são várias as peculiaridades e problemas que existem na educação do

campo no Estado do Pará, como o transporte de alunos e professores para as

escolas ribeirinhas em barcos e canoas inadequados, em que a distância pode

chegar até a 15 horas de viagem, acarretando com isso a necessidade de alguns

professores ficarem alojados na casa dos ribeirinhos para facilitar a chegada até a

escola e o cumprimento de horários ou utilizarem sua própria casa, como podemos

ver na Foto 01 abaixo, com roupas e objetos ao fundo.

Foto 01: “Sala de aula” na casa do professor.

Fonte: Fabio Gonçalves/2011.

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Nos casos em que não existem prédios escolares para atender os alunos

esses acabam por estudar em locais improvisados como igrejas, casas dos líderes

da comunidade, barracões ou estruturas montadas nas proximidades das casas dos

alunos, e quando isso ocorre normalmente algumas decisões de organização

pedagógicas como horários, dias de aula, atividades que os professores deverão ou

não exercer com seus alunos e até mesmo alguns conteúdos ficam submetidos, ao

proprietário da casa ou ao líder da igreja onde a “escola” funciona. Na Foto 02

abaixo apresentamos um espaço improvisado cedido para o funcionamento de uma

sala de aula.

Foto 02: “Sala de aula” educação do campo no Pará.

Além dos já evidenciados existem outros fatores externos a escola que

contribuem para os problemas educacionais, que acabam por interferir no processo

ensino-aprendizagem, e que refletem no aumento considerável do índice de evasão

e repetência nas escolas do campo no Pará, podemos elencar alguns como as

dificuldades de ordem econômica das famílias, que precisam retirar as crianças

desde muito cedo das escolas para ajudar no sustento familiar, pois muitos deles

trabalham na retirada do açaí, palmito, na caça predatória. Assim, Oliveira (2008, p.

Fonte: Fábio Gonçalves/2011.

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66), em seu estudo sobre as comunidades ribeirinhas, demonstra que, os

“alfabetizandos das comunidades rural-ribeirinhas encontram dificuldades para

estudarem na escola tanto por fatores sociais, econômicos e de ausência de

políticas educacionais, quanto por fatores subjetivos e pessoais” (OLIVEIRA, 2008,

p. 66).

Nesse contexto, torna-se ainda maior a dificuldade quando se tratam de

alunos adultos trabalhadores, pois entre estudar e sobreviver, a sobrevivência vem

em primeiro lugar, assim a grande maioria acaba por evadir devido à colheita ou

atividade de caça e pesca e ainda pelo fato de serem motivados pela família a

trabalharem e a deixar os estudos de lado, mesmo que os alunos tenham a

consciência da importância da educação, o trabalho prevalece, “pois antes de

pensar em qualquer outra coisa as pessoas precisam comer para sobreviver”

(CRISTO; LEITE NETO; COUTO, 2005, p. 130). Sendo assim, esses fatores

contribuem para que ocorra uma diminuição considerável no número de alunos por

série desencadeando a formação das classes multisseriadas.

O fator curricular também contribui consideravelmente para a disparidade nas

escolas do campo, pois quando o aluno consegue tempo e disposição para os

estudos ainda tem o problema da dissociação dos conteúdos à sua realidade social,

o que também é um dos fatores desmotivantes no processo ensino-aprendizagem

da população do campo, como explicam Barros; Hage; Corrêa e Moraes (2010, p.

28),

o conjunto de crenças, símbolos e conhecimentos das populações da Amazônia e seus padrões de referência e sociabilidade que são construídos e reconstruídos nas relações sociais, no trabalho e na convivência nos espaços sociais em que participam não tem sido valorizados e incorporados nas ações educativas das escolas multisseriadas, constituindo-se num fator que produz o fracasso escolar das populações do campo. Essa situação advém de uma compreensão universalizante de currículo, orientada por uma perspectiva homogeneizadora, que sobrevaloriza uma concepção mercadológica e urbanocêntrica de vida e de desenvolvimento e que desvaloriza os saberes, os modos de vida, os valores e concepções das populações que vivem e são do campo, diminuindo sua autoestima e descaracterizando suas identidades.

Assim, além do currículo outro ponto interessante a frisar é o processo de

enturmação dessas turmas de classes multisseriadas no Pará, já que se percebe

uma disparidade no número de alunos por escola, chegando algumas localidades a

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serem formadas com até 82 alunos, divididos em 03 salas, e em outras com poucos

alunos, aproximadamente 10 e 12 alunos, já que o número de educandos depende

das localidades onde as escolas estão inseridas; se comunidades/vilas grandes o

número de alunos cresce, se comunidades pequenas e distantes o número diminui

consideravelmente.

Essa questão acaba por estimular a variação nas faixa-etárias e dos vários

níveis de ensino, com professores, em alguns casos, com pouca preparação para

enfrentar essa realidade, muitos sem nível superior e possuindo somente o nível

médio em magistério, e tendo pela frente a incumbência de lidar com alunos em

faixa etária defasada para uma determinada série, juntamente com alunos na idade

certa para aquele nível de ensino. A Foto 03 abaixo apresenta o tipo de situação que

muitos professores enfrentam na educação do campo no Estado do Pará.

Foto 03: Turma de educação do campo.

Fonte: Fábio Gonçalves/2011.

Todavia, apesar de todos os problemas apresentados existem aspectos

positivos em relação às classes multisseriadas, como o fato dos alunos terem

acesso à escolarização em sua própria comunidade, e ainda mais que a multissérie

“oportuniza o apoio mútuo e a aprendizagem compartilhada, a partir da convivência

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mais próxima estabelecida entre estudantes de várias séries na mesma sala de aula,

o que em determinados aspectos é considerado salutar” (HAGE, 2005, p. 46). Enfim,

com a insuficiência de escolas e de alguns níveis de ensino nas escolas do campo,

os alunos já não terão como opção a sua permanência ou não no campo, pois,

de fato, a inexistência de escolas suficientes no campo tem imposto o deslocamento de 48% dos alunos dos anos iniciais e de 68,9% dos alunos dos anos finais do ensino fundamental para as escolas localizadas no meio urbano em todo o país, problema este que se agrava à medida que os alunos vão avançando para as séries mais elevadas, em que mais de 90% dos alunos do campo precisam se deslocar para as escolas urbanas a fim de cursar o Ensino Médio, segundo o Censo Escolar de 2002 do INEP. Se adicionarmos a esses dados as dificuldades de acesso às escolas do campo, as condições de conservação e o tipo de transporte utilizado, bem como as condições de tráfego das estradas, concluímos que a saída do local de residência torna-se uma condição para o acesso à escola, uma imposição, e não uma opção dos estudantes do campo (ANTUNES-ROCHA; HAGE, 2010, p. 17).

Por tudo isso podemos analisar até que ponto é benéfico essa migração para

as cidades? À distância da família? A trajetória de idas e vindas de horas em um

ônibus ou barco, ou pior em canoas, para a chegada as escolas? E como resolver

esses problemas? A extinção das classes multisseriadas seria então a solução? Ou

a permanência das mesmas e o maior investimento pessoal e financeiro não seriam

melhores? Essas são perguntas que ecoam em nossas mentes em busca de

soluções, que infelizmente estão longe de serem resolvidas. Essas questões se

apresentam ainda mais presentes quando dos dados do INEP, 2006, apresentados

por Antunes-Rocha e Hage (2010, p. 18), apontam que,

as escolas exclusivamente multisseriadas passaram de 62.024 em 2002 para 50.176 em 2006, e as matriculas nesses mesmo período passaram de 2.462.970 para 1.875.318; e que houve um acréscimo no deslocamento dos estudantes do meio rural no sentido campo-cidade de mais de 20 mil alunos transportados e no sentido campo-campo de mais de 200 mil estudantes transportados em 2006.

Compreendemos, portanto, que há todo um trabalho realmente na diminuição

do número de classes multisseriadas, todavia no nosso entendimento essa

modalidade de ensino ainda encontra-se distante de ser extinta, pois assim como

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apontou Antunes-Rocha e Hage (2010, p.18), ainda é uma realidade necessária

para as escolas do campo, pois,

para esses sujeitos, assim como para seus familiares e moradores das pequenas comunidades rurais localizadas nos quatro cantos de nosso país, a presença das escolas em suas próprias comunidades é fundamental para a preservação nesses espaços de redes sociais e produtivas, pois o deslocamento dos estudantes para os centros urbanos incentiva a saída das famílias de suas propriedades e aumenta sua preocupação com a segurança, o acompanhamento de seus filhos e a necessidade de lhes garantir a continuidade de estudos, em face às condições das estradas e dos transportes, à violência urbana e à convivência em ambientes diferentes de sua cultura local (ANTUNES-ROCHA;HAGE, 2010, p.18).

Portanto, as classes multisseriadas no campo, ainda são necessárias, apesar

das problemáticas evidenciadas, pois oportunizam aos sujeitos do campo

continuarem a viver dentro de sua realidade, no meio em que nasceram e foram

criados, perto de seus familiares e amigos, todavia, há a necessidade de melhorias

para educação nesses espaços, para que assim além do direito ao ingresso a

escola, passem a usufruir do direito a qualidade na educação.

Segue na próxima Sessão a caracterização do Município de Breves, sua

educação de forma geral e especifica do campo, dados e distribuição de suas

escolas com classes multisseriadas, e ainda a prática docente em algumas classes

multisseriadas no Município.

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SESSÃO 2: O MUNICÍPIO DE BREVES A EDUCAÇÃO E AS CLASSES

MULTISSERIADAS

Apresentaremos nesta Sessão a caracterização do Município de Breves como

se encontram sua educação, a prática docente e as classes multisseriadas. Para

tanto, utilizaremos elementos retirados de 20 questionários aplicados a professores

que atuam em classes multisseriadas nesse Município, bem como das observações

informais, e dados coletados na SEMED, que foram à base para a construção desta

sessão.

2.1 Caracterização do Município de Breves

O Município de Breves está localizado ao sudoeste da ilha do Marajó, Estado

do Pará, com uma extensão territorial de 9.550,474 km2 (IBGE, 2010). A sede do

Município situa-se a margem esquerda do Rio Parauaú, distante 160 km em linha

reta de Belém, tendo como principal forma de acesso o transporte fluvial, com

duração média de 12h de viagem para a capital do Estado, Belém, e por via aérea

em até 45 minutos de duração.

Abaixo podemos verificar por meio do Mapa 01 sua localização, e que faz

fronteira com vários outros municípios do arquipélago do Marajó: Afuá e Anajás (ao

norte); Melgaço e Bagre (ao sul); Anajás, Curralinho e São Sebastião da Boa Vista

(a leste) e Melgaço e Gurupá (a oeste).

Mapa 1: Localização do Município de Breves

Fonte: Google/2012.

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O Município de Breves passou a categoria de cidade em 1882, em tempos de

colonização portuguesa na Amazônia. A denominação esta diretamente ligada a

dois irmãos portugueses, Manoel Fernandes Breves e Ângelo Fernandes Breves,

que na primeira metade do século XVIII se radicaram nessa porção da ilha do

Marajó, conhecida como estreito norte do Boiuçu, na missão dos Bocas (SEMED,

2011).

Na Foto 04 abaixo apresentamos uma parte da frente da cidade de Breves

que também é conhecida como a “Capital das Ilhas” por ser a maior cidade da

mesorregião do Marajó a qual possui como destaque a imagem de sua padroeira

Nossa Senhora Sant‟Ana e a Igreja Matriz.

Foto 04: Frente da cidade de Breves.

Fonte: http://filmes.castanha.org/files/2009/04/breves.jpg

De acordo com o último censo (IBGE, 2010), Breves conta com uma

população de 92.860 habitantes, sendo 46.300 habitantes no campo e 46.560 na

área urbana do Município realidade que vive em constante mudança, já que há

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aproximadamente dez anos atrás a população do campo no Município era bem

maior que a urbana.

O acesso às comunidades ribeirinhas é realizado por pequenas e médias

embarcações que, dependendo da localidade, podem existir dificuldades para

navegar entre os furos dos rios marajoaras. Sendo que, “os ribeirinhos do meio rural

vivem em pequenas comunidades e vilas de madeireiras e, em sua maioria, habitam

residências localizadas as margens dos rios, dos igarapés, furos e igapós que

compõem o vasto e complexo estuário brevense” (CRISTO, 2007, p.66). A

locomoção desses ribeirinhos há alguns anos ocorria somente por meio de canoas a

remo, as quais com o passar dos anos devido às grandes influências tecnológicas

modificaram-se surgindo também novos meios de transporte mais modernos, como

explica Silva, (2013, p. 02),

[...] ao analisarmos as formas de transporte dos habitantes ribeirinhos da Amazônia, vemos que os antigos meios de locomoção mais lentos, caracterizados, principalmente, por canoas sem e com motor (os chamados “pópópó”, cascos ou as montarias movidas por força humana, pelo remo), que eram tão usuais há alguns anos atrás, muito disso pela falta de opção ou acesso a recursos que possibilitassem a compra de motores maiores, foram substituídos por equipamentos mais velozes nos dias de hoje. O uso de meios lentos de locomoção refletia diretamente na demora no deslocamento de uma cidade/comunidade a outra, diferente de hoje, em

que os barcos mais velozes, como lanchas e “rabetas”12

são uma realidade

visível, o que dá mais velocidade ao antigo modo de vida lento desses habitantes, uma “realidade de cidade”, no vai-e-vem dos rios, tidos como ruas, que ligam as casas e comunidades dos habitantes à beira-mar.

Em vista disso, podemos encontrar nos rios, furos e igarapés da região de

Breves vários modelos de transporte como: lanchas, rabetas, jet-skis, barcos de

todos os tamanhos, balsas, e a também sempre presente canoa a remo, como

podemos verificar nas Fotos 05 e 06 abaixo.

12

Pequenas canoas motorizadas, muito utilizadas na região.

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Foto 05: Ribeirinho em canoa a remo nos furos de Breves.

Fonte: Vivianne Nunes/2011.

Foto 06: Ribeirinhos em rabeta nos rios de Breves.

Fonte: Vivianne Nunes/2011.

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Atualmente são poucos os ribeirinhos que ainda vivem de seu próprio

sustento, por meio da pesca artesanal do peixe e camarão, da agricultura familiar de

subsistência, da pecuária (em pequena proporção), do comércio e da extração e

beneficiamento de madeira, que é extraída de forma rudimentar pelas populações

nativas (SILVA, 2008), nas pequenas fábricas que resistiram as proibições feitas

pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA) devido

ao grande devastamento de áreas verdes da região.

Todavia o que se percebe é a grande influência da tecnologia nos costumes

da área urbana no meio rural do Município, fato este que aumentou

consideravelmente após a chegada de programas do Governo Federal que

beneficiam os ribeirinhos em troca de preservação da natureza e em manter as

crianças na escola, com a distribuição de eletrodomésticos, casas próprias, rendas

mensais entre outros. Quanto a essas influências Silva (2013, p. 01), afirma que,

“[...] o „caboco‟ ribeirinho amazônico teve nos últimos anos modificações

significativas em seu modo de vida, muito expressivas se considerarmos a inserção

de tecnologias atuais em seu modo de vida, que vem mudando os seus costumes e

formas de convivência com o meio que o circunda”.

Dessa forma, a vida dos ribeirinhos da região já se modificou

consideravelmente tanto a nível social quanto econômico, pois a maioria dos

ribeirinhos que continuam a residir no “interior” já não plantam, pescam ou vivem de

seu próprio sustento, pois com o dinheiro do Bolsa Família, Bolsa Escola e outros

auxílios do Governo Federal, os mesmos pararam de produzir de forma rudimentar

como antes, e sobrevivem basicamente da renda mensal de suas “Bolsas” para

realizar compras na cidade do que costumavam produzir/criar em seus próprios

sítios e comunidades, é o caso da farinha, frangos, carnes, verduras, tudo agora é

comprado na cidade. Assim sendo, “todos esses „progressos‟ causados pelo contato

cultural com hábitos exteriores moldam igualmente os valores individuais e coletivos

dos cabocos da região, trazendo novos objetivos e ambições, diferente de anos

anteriores” (SILVA, 2013, p.04).

A Foto 07 abaixo representa o que foi enfatizado, demonstrando uma família

de ribeirinhos que se desloca nos rios da região com sua rabeta contendo

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eletrodomésticos, como freezer, fogão e uma caixa d‟agua que receberam naquele

dia do Governo Federal.

Foto 07: Família de ribeirinhos em sua rabeta.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

Essas mudanças intensificaram-se devido às várias alterações na economia

do Município que passou pelo auge da comercialização de arroz, palmito, borracha e

mais recentemente da madeira. Como ressalta Cristo (2007, p. 21) que,

até a década de 80, a indústria madeireira ainda era muito forte na região, mas o setor madeireiro começa a dar sinais de crise com a progressiva diminuição das madeiras nobres no município. A partir de 1990, há uma retração no setor madeireiro no município e inúmeras madeireiras começaram a fechar e diminuir os postos de emprego para a população.

Esses problemas econômicos e sociais influenciaram grandemente a região

de Breves, pois se anteriormente havia empregos para as famílias ribeirinhas e a

motivação para continuarem no campo do Município, após a finalização ou

diminuição na produção de cada produto acima citado, e o fechamento das grandes

madeireiras houve a mudança em grande proporção da população do campo para a

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cidade o que ocasionou um número significativo de famílias desempregadas e o

aumento na distinção entre campo e cidade. Em seus estudos Lima (2011, p. 81-82),

ressalta que Breves foi,

o principal pólo madeireiro do arquipélago de Marajó. Estudo desenvolvido, em 2010, pelo Serviço Florestal Brasileiro em parceria com o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia aponta que, em 2009, o município (incluindo dados de Curralinho) contava com 159 empresas madeireiras. Na década de 1980 houve um boom das madeireiras, foi um período de aparente desenvolvimento, tendo em vista as sérias consequências resultantes desse fenômeno. Nesse período muitos ribeirinhos deixaram suas localidades, sítios, trabalhos agrícolas em busca de emprego, somando-se a esses um grande contingente de pessoas advindas de vários municípios circunvizinhos o que resultou num crescimento acelerado e desordenado da cidade ocasionando o “inchaço” da mesma, o aumento de violência, da prostituição e outros problemas sociais.

Assim, essa mobilidade das famílias entre o campo e a cidade trouxe vários

problemas sociais, pois houve um acréscimo considerável na procura de emprego,

vagas em escolas, moradias, assistência social e saúde, acarretando com isso

grandes transformações sociais para o Município que não se encontra preparado

para suprir adequadamente as necessidades da população. Como ressalta Cristo

(2007, p. 21),

o sonho de viver em melhores condições na sede do município se acaba e os novos cenários com que passam a conviver são o da violência, da criminalidade, da prostituição, da mendicância, etc. Na cidade, é possível presenciar alguns adultos que reviram às caixas de lixos, que ficam próximas de comércios, em busca de alimentos, que muitas vezes são jogados nesses locais por estarem vencidos, estragados e impróprios para o consumo humano, porém, possivelmente, servirão de alimento na casa de pais e mães de família. É possível ver ainda, a presença de algumas crianças em situação de risco, perambulando pela rua e esmolando nos comércios, nos bares, na orla e no terminal.

Devido a todos esses fatores relatados que Breves passou a ter um dos

Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) - menores do Estado do Pará,

necessitando urgentemente de políticas públicas que possam sanar os graves

problemas sociais de violência, desemprego, saúde e educação e assim possa vir

proporcionar uma maior qualidade de vida para a população brevense.

Todos esses fatores levaram Breves a ser foco de várias reportagens a nível

nacional sobre prostituição infantil, tendo como destaque à divulgação no Jornal

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Nacional da Rede Globo de Televisão e na reportagem “As margens da Pobreza” na

série “Povos das Águas” em janeiro de 2005, feita pelo repórter Marcelo Canelas,

em que,

a matéria mostrava como as meninas atracam as canoas nas balsas para se prostituir, essa atividade que requer muita habilidade, pois as ondas causadas pela maresia são fortes, e a criança que, geralmente, pilota o casco precisa fazer muita força e ter equilíbrio e coragem. Nas palavras do próprio repórter, “uma canoa espera o momento exato. Em um golpe certeiro, um garoto prende o gancho. Depois do solavanco, a canoa fica a reboque. Mas, os meninos esperam e as meninas vão para o convés das balsas” (CANELAS, 2005, p.1, apud CRISTO, 2007, p. 80).

As reportagens trouxeram a tona indignação nacional e mais ainda em toda a

cidade de Breves, pois a maioria da população desconhecia os acontecimentos que

ocorriam no interior do Município. A comunidade então apoiou a iniciativa da

Prelazia do Marajó que exigiu uma atitude dos governantes da época os quais

infelizmente demonstraram que,

não existe interesse em solucionar este problema, que demanda investimentos em políticas sociais e de geração de renda, para as famílias que vivem no meio rural e urbano. Torna-se mais cômodo mascarar a violência sexual que se torna cotidiana e é fruto das desigualdades sociais e econômicas, e das exclusões políticas e culturais, que deixam de aparecer violentas, para serem consideradas por muitas pessoas como naturais e normais, pois não as causam indignação nem revolta (CRISTO, 2007, p. 82).

E esses problemas sociais podem aumentar ainda mais devido a economia

da cidade de Breves girar quase que exclusivamente em torno dos empregos

públicos e consequentemente de questões politicas, dessa forma, ainda pode estar

longe à solução das dificuldades da população brevense. Todavia Breves passa a

ter esperança em um novo foco comercial que agora se inicia por meio do

investimento perceptível na extração e beneficiamento do açaí,

a extração do açaí é uma das mais importantes atividades econômicas de Breves. Agregue-se a essa importância econômica o fato de que o açaí é um dos principais elementos da alimentação da população, que vai além das refeições principais e é servido como suco, sorvetes, cremes, mingaus e outras variedades típicas da região. A extração do açaí ganha mais ainda devido o aumento do seu consumo nos grandes centros urbanos de todo o país e até mesmo no exterior. Esse fator interfere no próprio comportamento

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72

da população ribeirinha não apenas de Breves como de todo o Marajó, que passam a produzir para além do consumo próprio (LIMA, 2011, p. 83).

Assim, surge a esperança que Breves consiga se reerguer economicamente e

socialmente por meio do “ouro negro”, assim chamado o açaí na região e passe

assim a proporcionar um maior investimento nas áreas da educação e saúde para a

população do Município. A partir do tópico seguinte apresentaremos como se

encontra a Educação no Município de Breves, enfatizando a Educação do Campo e

Classes Multisseriadas.

2.2 Caracterização da Educação no Município de Breves-Pará

No ano de 2012 Breves contou com 27 instituições educacionais na área

urbana (sendo 23 Escolas Municipais de Ensino Fundamental e 04 Escolas

Estaduais de Ensino Médio), e 283 escolas no campo, com o total geral no Município

de 310 escolas e 34.646 alunos (área urbana e campo). Sendo assim, ao nos referir

à educação em Breves é praticamente inviável não enfatizarmos a Educação do

Campo, pois Breves,

no ano de 2011, atendeu ao todo 27.510 alunos matriculados. O que lhe configura a nona posição dentre as maiores redes de ensino dos 144 municípios paraenses. Acrescente-se a este dado o fato de ter o município de Breves 96% das matrículas da rede de ensino público fundamental na zona rural e ser um município cujo principal tráfego é por hidrovias – e ainda tendo oficialmente sua extensão territorial calculada em 9.550,454 km². Assim, nenhuma outra experiência de gestão da multissérie no estado do Pará é tão árdua e desafiadora quanto à da cidade de Breves. Isto considerando desde a logística de transporte e de assessoramento pedagógico ao ordenamento infraestrutural da rede física das unidades escolares. Neste contexto não se deve esquecer que 96% dos alunos matriculados no ensino fundamental estão na zona rural [...] Breves é o mais expressivo contexto da multisseriação no Pará (LOPES, 2013, p. 70).

Então, o número de escolas e classes multisseriadas na educação do campo

em Breves se sobrepõem consideravelmente aos percentuais educacionais do meio

urbano do Município. Podemos verificar essa realidade na Tabela 01 abaixo que

apresenta a distribuição geral da educação do ensino fundamental no Município de

Breves de acordo com o Censo 2011:

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73

Tabela 01: Distribuição do Ensino Fundamental no Município de Breves – Pará.

MO

DA

LID

AD

E

ED. INFANTIL FUND. 8 ANOS FUND. 9 ANOS

MU

LT

ISS

ER

IE

PA

A

EJA

ED

. E

SP

EC

IAL

TO

TA

L P

/

LO

CA

LIZ

ÃO

DE

ES

CO

LA

S

PR

E-C

RE

CH

E

P

-ES

CO

LA

UN

IFIC

AD

A

TO

TA

L

1ª/4ª 5ª/8ª TOTAL 1º/5º 6º/9º TOTAL

Z

ZO

NA

UR

BA

NA

513 1.778 76 2.367 2.740 4.995 7.735 3.931 3.931 732 2.186 24 16.975 27

Z

ZO

NA

RU

RA

L

450 288 738 326 2.623 2.949 1.142 32 1.174 11.704 25 1.081 17.671 283

T

TO

TA

L P

OR

MO

DA

LID

AD

E

513 2.228 364 3.105 3.066 7.618 10.684 5.073 32 5.105 11.704 757 3.267 24 34.646 310

Fonte: SEMED/DILOT/2012.

Podemos perceber na Tabela 01 acima, que o Município ainda trabalha com o

Ensino Fundamental de 08 anos, o qual vem paulatinamente sendo eliminado de

suas escolas, pois em 2010 Breves aderiu a Lei 11.274/2006, e passou a trabalhar

com o Ensino Fundamental de 09 anos, ciclo de alfabetização de 03 anos, não

ocorrendo dessa forma retenção de alunos até o 3º ano do fundamental menor.

Atualmente como nos apresenta os estudos de Lopes (2013, p. 70), o número

de alunos do Ensino Fundamental do Município de Breves só é inferior aos das

redes de ensino fundamental dos municípios de Belém, com 207.057 alunos;

Ananindeua, com 73.957 alunos; Santarém, com 65.361 alunos; Marabá, com

47.479 alunos. Ultrapassando municípios como Cametá, com 33.273 alunos;

Castanhal, com 32.808 alunos; Abaetetuba, com 31.379 alunos e Parauapebas, com

29.302 alunos (EDUCACENSO BRASIL, 2011).

Esta realidade pode ser percebida nos dados de 2006, onde Breves

destacava-se desde então dos demais municípios do Estado do Pará no número de

escolas com classes multisseriadas, como podemos observar na tabela 02 abaixo:

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Tabela 02: Municípios do Estado do Pará com maior número de Classes Multisseriadas

Município Escolas

Multisseriadas %

Escolas Rurais

Diferença

Breves 290 99,6 291 1

Cametá 230 82,4 279 49

Santarém 211 90,2 234 23

Afuá 198 99,0 200 2

Acara 192 91,4 210 18

Portel 192 98,9 199 7

Moju 161 91,5 176 15

Novo Repartimento 154 88,0 175 21

São Domingos do capim 150 126,0 119 31

Prainha 149 89,7 166 17

Pacajá 141 92,7 152 11

Porto de Móz 133 97,8 136 3

Alenquer 131 86,7 151 20

Gurupá 131 88,5 148 17

Marabá 128 77,1 166 8

Fonte: MEC/ INEP-200613

Devido Breves apresentar no Estado do Pará esse número elevado de

classes multisseriadas, o Município tornou-se, por um tempo, alvo de estudos do

grupo de pesquisa GEPERUAZ/UFPA, que também realizou atividades em Breves e

auxiliou na criação do Grupo de Pesquisa em Educação do Campo da Ilha do

Marajó (GEPERIM), que,

é constituído por docentes, ex-docentes, discentes e egressos do Campus Universitário de Breves/UFPA e foi criado com o objetivo de desenvolver estudo e pesquisa em educação do campo na meso-região Marajó, com a perspectiva de diagnosticar e problematizar a realidade da educação no meio rural, buscando envolver entidades, segmentos educacionais, governamentais, não-governamentais e movimentos sociais, para a construção coletiva de ações inclusivas, que promovam o desenvolvimento de políticas públicas educacionais e melhorem a qualidade de vida e o ensino ofertado à população marajoara (HAGE, 2005, p. 23).

13 Relatório de Atividades do Projeto EducAmazônia: construindo ações inclusivas e multiculturais no

campo, 3ª Edição, período de setembro de 2007 a fevereiro de 2008.

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No entanto, o grupo GEPERIM encontra-se inativo, e apesar de Breves

possuir o maior número de classes multisseriadas do estado não há, no momento,

nenhum grupo de pesquisa sobre educação do campo ou classes multisseriadas

ativo na região. Esse fato parece estar passando desapercebido por grupos que já

estiveram na região mas não deram prosseguimento em suas pesquisas, focando

em municípios que não possuem a dimensão que Breves possui nessa área.

Quanto à localização das classes multisseriadas no Município as mesmas

estão distribuídas em 04 distritos que são: Sede Rural14, Antônio Lemos, São Miguel

e Curumú, distribuídos conforme a tabela 03 abaixo:

Tabela 03: Demonstrativo do número de Escolas com Classes Multisseriadas por Distrito/Censo 2011

DISTRITOS NÚMERO DE

ESCOLAS NÚMERO DE

TURMAS NÚMERO DE DOCENTES

NÚMERO DE ALUNOS

ANTÔNIO LEMOS

47 64 72 1.927

CURUMÚ 108 144 158 4.066

SÃO MIGUEL 80 123 150 3.875

SEDE RURAL 45 71 84 1.836

TOTAL 280 402 720 11.704

Fonte: SEMED/2012

A tabela 03 acima demonstra que o número de escolas e turmas muda

consideravelmente em cada distrito, pois o processo de enturmação depende do

número de habitantes por área/comunidade. Quanto à distância da cidade de Breves

aos distritos, pode levar em média de 2h à 15h de viagem até os mesmos, conforme

destacamos a seguir:

Breves Antônio Lemos: em torno de 5h;

Breves Curumú: aproximadamente 9h;

Breves São Miguel: de 12 às 15h;

Breves Sede Rural: de 20 min. a 2h.

14

A denominação Sede Rural é utilizada pela SEMED para designar esse distrito que fica mais próximo do meio urbano.

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76

Devido a essas distâncias algumas escolas que estão sob a responsabilidade

do Município de Breves, encontram-se a 15 horas longe da cidade, muitas ficam até

mais próximas do Estado do Amapá do que da cidade de Breves.

É interessante que apesar desse alto índice de escolas do campo em Breves,

não existem dados na SEMED, sobre o início das mesmas no Município, nem

mesmo do período de sua fundação e nem nas décadas seguintes, especula-se, no

entanto, que no decorrer dos anos o interior do Município foi adquirindo suas escolas

do campo de acordo com a necessidade de cada comunidade, assim como ocorre

nos dias atuais sem, contudo, existirem documentos na SEMED que apresentem

qual a primeira escola do campo no Município, como confirma Carmo (2010, p.66-

67),

não há registros que apontem quando foram implantadas as primeiras escolas no meio rural no município. Pelas informações levantadas, afirma-se que algumas têm aproximadamente entre 40 e 50 anos. Geralmente era implantada quando uma família, influente junto ao prefeito, por ter o apoiado nas eleições, reivindicava a implantação de uma escola na comunidade, funcionava como uma troca de favor. Como o gestor alegava a falta de recurso para construir a escola, oferecia-se a residência ou outro local para funcionar. Também a indicação do (a) professor (a), ficava por conta dessas pessoas junto ao prefeito, na maioria das vezes era parente seu, principalmente, a filha ou a esposa.

Além dos fatores acima, outra questão que contribuiu com a escolarização no

campo do Município foi à instalação das madeireiras na região, todavia, a prática

detalhada acima por Carmo (2010) continua até os dias atuais, somente com a

diferenciação que passaram a direcionar a construção ou criação de escolas para as

vilas que possuíam serrarias para que assim os trabalhadores e suas famílias

permanecessem no seu local de trabalho, esse fato pode ser notado até mesmo no

nome das escolas que normalmente são os mesmos nomes que homenageiam

membros das famílias dos donos das madeireiras, como por exemplo, Madeireira

Mainardi onde há a escola Ivo Mainardi.

São necessários, assim, maiores estudos sobre a história da educação do

campo no Município de Breves, contudo procuraremos realizar nesta pesquisa a

caracterização por meio dos dados encontrados no Município, priorizando a

Educação do campo, principalmente as classes multisseriadas.

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Acreditamos, ainda, ser importante destacar nesta caracterização o distrito

Sede Rural, devido o mesmo ser lócus desta pesquisa, sobre o qual Lopes (2013, p.

109), destaca,

uma descrição se faz necessária neste contexto: O distrito Sede, no ano de 2011, contou com 4.080 alunos matriculados na zona rural. Esta composição de matrícula foi proveniente do número de alunos de educação infantil, séries iniciais e finais do ensino fundamental, ensino médio e EJA. Este quantitativo em sua absoluta maioria está em escolas - padrão, nucleadas e/ou em unidades educacionais que contam com transporte escolar [...] Curiosamente, a matrícula da multissérie da sede rural corresponde a 3% do montante dos alunos jurisdicionados no distrito. Um percentual ínfimo aparente e imediatamente observado (pelo menos frente ao universo das demandas de acompanhamento docente e de estrutura educacional). Entretanto, olhando os outros 97% dos alunos dos demais níveis e modalidade, sobretudo do ensino médio e EJA, a quase absoluta totalidade são egressos ou possuem trajetória escolar com passagem em anos letivos intercalados ou de experiência outra com a multissérie e, portanto, por vezes, estão na rede com suas implicações para o IDEB e para com o IDH do município.

Dado o exposto, nos chama a atenção às peculiaridades desse distrito, como

poderemos verificar nas tabelas seguintes, que apresentam os dados do rendimento

escolar no Município com o aproveitamento final de 2011 do Ensino Fundamental de

nove anos – do 1º ao 3º ano.

Tabela 04: Aproveitamento final–Ensino Fundamental – 9 anos – 1º ao 3º ano - 2011

DISTRITOS NÚMERO

DE ESCOLAS

NÚMERO DE

TURMAS

MATRICULA INICIAL

MATRICULA FINAL

TAXA APROVAÇÃO

TAXA ABANDONO

ANTÔNIO LEMOS

47 64 1.389 1.296 94% 6%

CURUMÚ 108 144 2.872 2.514 88% 12%

SÃO MIGUEL

80 123 1.256 1.131 85% 15%

SEDE RURAL

45 71 1.612 1.450 95% 5%

Fonte: SEMED/2012

Notamos pelos percentuais apresentados acima que apesar do Distrito Sede

Rural ser o menor em número de escolas em relação aos outros distritos, todavia o

número de alunos na matrícula inicial só é menor que a do maior distrito que é o

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Curumú, sendo que a taxa de abandono é mínima se comparada aos outros distritos

e a taxa de aprovação a maior dentre estes.

Podemos perceber então que o Distrito Sede Rural possui um número

elevado em sua matricula inicial e que de acordo com a tabela 04 acima, apesar do

distrito do Curumú ser o maior em número de escolas e alunos, a aprovação nos

distritos Sede Rural e Antônio Lemos apresentam-se elevados em consideração aos

outros distritos, todavia a taxa de abandono, que é o que diminui o índice de

aprovação, é menor que São Miguel que possui um número menor de escolas.

Na tabela 05 abaixo, que demonstra o aproveitamento final do Ensino

Fundamental de 8 anos de 3ª e 4ª série, podemos perceber a taxa de reprovação

de alunos, sendo que neste último nível de ensino do fundamental menor já há a

reprovação, pois subentende-se que os mesmos já devem ter sido alfabetizados

nos três anos iniciais dentro do bloco de alfabetização.

Tabela 05: Aproveitamento Final-Ensino Fundamental–8 anos– 3ª e 4ª séries - 2011

Fonte: SEMED/2012

Quanto ao aproveitamento final percebemos, na tabela 05 acima, que o

distrito de São Miguel apresenta à taxa de aprovação com maior percentual

superando os demais distritos, apresentando, no entanto, a menor taxa de

reprovação nesse nível de ensino. Analisando a taxa de abandono verificamos que

Antônio Lemos possui o menor percentual, todavia o distrito de São Miguel supera

todos os outros distritos nesse item. Chama a atenção, neste caso, a porcentagem

DISTRITOS NÚMERO

DE ESCOLAS

NÚMERO DE

TURMAS

MATRICULA INICIAL

MATRICULA FINAL

TAXA APROVA-

ÇÃO

TAXA DE

REPROVAÇÃO

TAXA ABAN-DONO

ANTÔNIO LEMOS

47 64 630 559 68% 21% 11%

CURUMÚ 108 144 1.489 1.262 62% 23% 15%

SÃO MIGUEL

80 123 1.206 1.056 71% 7% 22%

SEDE RURAL

45 71 845 696 62% 26% 13%

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na taxa de reprovação no distrito Sede Rural, que é altíssimo com relação a São

Miguel e demais distritos.

Com relação ao quadro discente, percebemos de acordo com a tabela 06

abaixo que na educação do campo no Município de Breves o nível de faixa-etária se

altera bastante nos distritos, consequentemente o nível de distorção idade-série é

alto nas escolas com classes multisseriadas.

Tabela 06: Dados da Distorção idade-série – 1ª a 4ª série – 2011

Fonte: SEMED/2012

Analisando a tabela 06 acima o nível de distorção idade-série, apresenta-se

preocupante em todos os distritos, todavia destacamos os distritos de São Miguel e

Sede Rural, que superam os índices até mesmo do maior distrito que é o Curumú,

sendo que com relação aos alunos de 09 aos 11 anos o Sede Rural fica atrás

apenas do distrito Curumú, e na faixa etária de mais de 12 anos e no resultado final

de alunos com idade superior a série respectiva o distrito de São Miguel encontra-se

com o número maior de distorção idade-série.

Quanto aos profissionais da educação, em 2012, o Município de Breves

contava com o total de 1.512 professores em seu quadro educacional, sendo que

792 na área urbana e 720 na educação do campo do Município, distribuídos

conforme a tabela 07 abaixo, a qual apresenta por modalidade o número de

professores e o nível de escolaridade:

DISTRITOS MATRI- CULA FINAL

ATÉ 8

ANOS

ATÉ 9

ANOS

ATÉ 10

ANOS

ATÉ 11

ANOS

ATÉ 12

ANOS

+ DE 12 ANOS

Total de alunos c/ idade superior à série respectiva

TTAXA

DE DISTOR

ÇÃO

ANTÔNIO LEMOS

604 8 42 73 115 103 263 426 71%

CURUMÚ 1.262 24 96 163 185 193 601 910 72%

SÃO MIGUEL 1.064 11 27 63 138 156 669 921 87%

SEDE RURAL 828 7 39 81 153 145 394 630 76%

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Tabela 07: Demonstrativo geral dos profissionais do magistério por nível/modalidade/URBANO E CAMPO.

MODALIDADE NÍVEL MÉDIO

NIVEL SUPERIOR

INCOMPLETO

NIVEL SUPERIOR COMPLETO

TOTAL

EDUCAÇÃO INFANTIL – CRECHE

03 07 01 11

EDUCAÇÃO INFANTIL – PRÉ-ESCOLA

44 81 29 154

E. F. SÉRIES/ ANOS INICIAIS 194 346 148 688

E. F. SÉRIES/ ANOS FINAIS 13 108 251 372

E.J.A. (1ª A 4ª ETAPA) 57 26 88 171

EDUCAÇÃO ESPECIAL 20 31 65 116

TOTAL GERAL 331 599 582 1.512

Fonte: SEMED/DILOT/AGOSTO/2012.

Podemos verificar na tabela 07 acima, que ainda há um número considerável

de professores que possuem apenas o nível médio, e que são menos os professores

que tem formação em nível superior do que os que estão em formação na

graduação. Esses dados aumentaram após o início do PARFOR em 2009 no

Município, que atualmente conta com 22 turmas em andamento, sendo 12

oferecidas pela UFPA; 05 – pela UEPA; 04 – pelo Instituto Federal do Pará IFPA e

01 – pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), as quais funcionam de

forma intervalar com 10 cursos: Geografia, Letras com habilitação em Língua

Portuguesa, e Língua Inglesa, Ciências com habilitação em Biologia, Pedagogia,

História, Sociologia, Licenciatura em Computação, Matemática.

Quanto aos 720 professores que atuam especificamente no campo, podemos

verificar na Tabela 08 abaixo que ainda é alto o índice de professores que possuem

somente o nível médio, percebemos que esses professores em sua maioria

encontram-se atuando na Educação Infantil series/anos iniciais, o que é

preocupante, pois os professores que deveriam atuar nesse nível que é a base de

alfabetização deveriam possuir a graduação completa. E assim como o quadro geral

do Município anteriormente apresentado, o número de professores que estão em

formação inicial é maior do que os que já concluíram o nível superior.

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Tabela 08: Profissionais do magistério- por nível/modalidade–Educação do Campo

MODALIDADE NÍVEL MÉDIO

NIVEL SUPERIOR

INCOMPLETO

NIVEL SUPERIOR COMPLETO

TOTAL

EDUCAÇÃO INFANTIL – PRÉ-ESCOLA

10 17 06 33

ENS. FUND. SÉRIES/ ANOS INICIAIS

112 232 64 408

ENS. FUND. SÉRIES/ ANOS FINAIS

00 97 86 183

EDUC. DE JOVENS E ADULTOS (1ª A 4ª ETAPA)

40 18 11 69

EDUCAÇÃO ESPECIAL 08 03 16 27

TOTAL GERAL 170 367 183 720

Fonte: SEMED/DILOT/AGOSTO/2012.

Quanto a Educação Especial apresentada acima, existe em algumas escolas

do campo no Município, o atendimento pedagógico a alguns alunos Portadores de

Necessidades Especiais (PNE‟s), os quais ficam sob a responsabilidade especifica

de professores itinerantes15 que como apresenta a tabela 08, algumas vezes não

possui nível superior e muito menos formação especifica para atuar nessa área.

Sendo assim, percebemos então que no Município “a política de educação inclusiva

está distante das escolas multisseriadas rurais, no sentido de assegurar as

condições necessárias para que o professor atenda um aluno com necessidades

educacionais especiais” (OLIVEIRA; FRANÇA; SANTOS, 2011, p.156).

Percebemos, contudo que o problema com a qualificação dos professores do

campo no Município não ocorre somente com relação à educação especial, mas de

forma geral, pois o número de professores com formação em nível superior completo

é irrisório. Somente em 2011 foi oferecido no Município o 1º curso de graduação em

Educação do Campo, pelo IFPA, em uma turma intervalar, com 40 alunos

matriculados.

Todavia, apesar dessa conquista é notório que as próprias universidades têm

dificuldades em formar profissionais para atuar com classes multisseriadas, e

acabam por negar e desconsiderar a importância dessas classes, “pois são

escassos por demais as pesquisas sobre essa realidade. Também, os cursos de

15

Professor itinerante: faz o acompanhamento dos alunos PNE‟s, normalmente trabalham em mais de uma escola dai o nome.

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formação de professores, mesmo aqueles situados nas regiões interioranas do país,

geralmente, ignoram o multisseriamento, não o abordando como temática pertinente

em seu currículo” (SANTOS; MOURA, 2010, p. 37), sendo assim,

os professores em seu processo de formação não estão devidamente preparados para trabalhar os conteúdos escolares nem questões que permeiam a educação do meio rural da Amazônia, face às dificuldades de acesso e comunicação pelas grandes distâncias entre as comunidades locais e os centros urbanos, assim como pelo modelo de formação oferecido, voltado para uma educação urbanocêntrica, sem considerar as necessidades do professor das classes multisseriadas (OLIVEIRA; FRANÇA; SANTOS, 2011, p. 22).

No entanto, apesar dessa problemática evidente, notamos que os governos

municipal e federal estão oferecendo ações voltadas à formação inicial, como foram

apresentadas anteriormente, e formação continuada para os professores do campo

no Município de Breves. Segundo a Diretoria de Ensino da SEMED, a oferta de

cursos de formação continuada para os professores da educação do campo

acontece desde 2005, com várias oficinas e mini-cursos realizados sobre: Leitura e

Escrita, Fundamentos Teóricos e Metodológicos de todas as disciplinas da Base

Comum Nacional, Letramento e Alfabetização, Projeto Político Pedagógico,

Ludicidade, Educação Especial (Braille e Libras), História Afro-brasileira, entre

outros.

Outros pontos positivos também podem ser evidenciados com relação a uma

melhor estrutura para os professores do campo, com a implantação em 2005 no

Município do Projeto Municipal Pró-Rural, que atuou de 2005 ao início de 2008, e

era responsável pela organização pedagógica e em promover e organizar ações de

formação continuada para os educadores do campo no Município. Além de apoio

pedagógico aos professores o Pró-Rural também incentivou a leitura e escrita por

meio do Projeto intitulado “Biblioteca Itinerante”, o qual foi desenvolvido com as

crianças e adolescentes das comunidades onde o projeto realizava suas atividades.

Assim, os objetivos do Pró-Rural eram:

I. Ofertar formação continuada aos profissionais da educação que

trabalham nas escolas do campo do município de Breves; II. Construir coletivamente – facilitadores e professores (as) – propostas metodológicas que atendam as necessidades educacionais dos alunos e alunas das escolas do campo do município;

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III. Promover acompanhamento regular junto aos professores (as), afim de subsidiá-los (as) nos diversos assuntos referentes aos aspectos educacionais que incidem diretamente nas escolas do campo; IV. Acompanhar os índices de (in) sucesso escolar nestas escolas e desenvolver ações no sentido de superar tais problemas; V. Realizar encontros semestrais para apresentar as proposições da coordenação do projeto Pró-Rural direcionadas para as escolas ribeirinhas

do município de Breves (SANTOS; GAMA, 2008, p.4).

Data do ano de 2005, também, a I Jornada Pedagógica que ocorre todo início

de ano e dela demandam as demais formações que ocorrem durante o ano letivo.

De acordo com a Diretoria de Ensino, desde o início da Jornada Pedagógica são

oferecidas palestras sobre Educação do Campo, Planejamento Curricular,

Avaliação, Organização do Trabalho Pedagógico e o funcionamento de programas

do Governo Federal, como Escola Ativa, Programa Nacional de Alimentação Escolar

(PNAE), Programa Nacional de Apoio do Transporte Escolar (PNATE), Programa

Nacional do Livro Didático (PNLD), Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE),

Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE), Mais Educação, Plano de Ações

Articuladas (PAR), entre outros.

No ano de 2006, as propostas para a educação do campo do Município foram

redimensionadas no sentido de elaborar um Projeto Político Pedagógico (P.P.P.)

para todas as escolas do campo. Nesse mesmo ano o grupo também acompanhou -

prestando subsídios teóricos e orientação metodológica- quinze professores, pré-

selecionados, na realização de atividades fundamentadas na Pedagogia de Projetos.

Esses trabalhos tiveram como objetivo promover a construção de projetos de ensino

e aprendizagem de forma coletiva, por professores e alunos, cujos temas por eles

mesmos foram selecionados, tais como: O uso do recurso natural na região: a

madeira; O açaí; O lixo: da lixeira à escola; Relação escola, família e sociedade;

Tradições folclóricas.

Em 2007, houve a I Marcha Pela Educação do Campo, na I Conferência

Municipal de Educação e, após um período para as correções, em dezembro, o

P.P.P. foi socializado com os professores das escolas do campo, no mesmo dia da

socialização foi apresentada uma pesquisa que elaborou uma espécie de

diagnóstico social das comunidades ribeirinhas do campo no Município. Também no

final do segundo semestre desse ano ocorreu à alteração do Projeto Pró-Rural para

Coordenação Pedagógica do Campo.

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De modo geral pode se dizer que foi a partir das diretrizes apontadas pelo

projeto Pró-Rural que se realizaram, no período de 2005 a 2007, o trabalho de

formação continuada de todos os professores do campo do Município. Sendo que os

trabalhos de formação destes professores se orientaram nos seguintes quesitos:

planejamento, avaliação da aprendizagem, organização do trabalho pedagógico e

projetos de ensino.

No ano de 2008, foi realizado o planejamento anual das atividades dos

setores envolvidos na educação do campo. Esse trabalho foi realizado no período de

7 a 9 de fevereiro do ano de 2008, quando a coordenação pedagógica e

coordenação administrativa do campo, elaboraram em conjunto o Plano de Ação

para a Coordenação do Campo, ou seja, o planejamento anual.

Nas atividades de planejamento também participaram as Coordenações de

Educação Especial, de Educação Infantil e a do Programa de Educação de Jovens e

Adultos. Como produto final dos trabalhos realizados houve a elaboração de um

documento contendo um calendário anual das atividades, que contava com as

justificativas e os objetivos de cada atividade a ser desenvolvida. De acordo com o

documento final do Plano de Ação da Coordenação do Campo, as atribuições da

coordenação pedagógica do campo seriam:

Promover a formação continuada de todos os professores do meio rural por meio de cursos, palestras, oficinas, momentos de orientação coletiva e outros, tendo como pressuposto para cada atividade o Projeto Político Pedagógico (PPP) e as necessidades cotidianas apontadas pelos professores (as); Realizar atividades que visem à implementação das propostas contidas no PPP; Acompanhar como ocorre a relação entre a teoria – elaborada e estudada nos encontros de formação – e a prática cotidiana dos professores, bem como realizar a adequação do currículo à realidade dos sujeitos do campo; Elaborar projetos e, sempre que necessário, auxiliar professores a construírem e realizarem projetos na área da educação do campo; Fornecer todo acompanhamento que os professores necessitarem para a elaboração dos planos de aula; bem como avaliar a construção e a concretização destes planos de aula; Acompanhar o preenchimento dos diários de classes de acordo com as normas estabelecidas pela Secretaria Municipal de Educação; Acompanhar as viagens de vistorias nos distritos do município, quer seja realizando trabalhos próprios (pesquisas, orientações, etc.), quer seja auxiliando as ações das coordenações de distritos; Auxiliar no fornecimento de materiais didáticos e pedagógicos: participando da escolha do livro didático para as escolas do campo e

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auxiliar na disponibilização de materiais didáticos e pedagógicos sempre que as atividades das escolas do campo requisitarem; Acompanhar os índices de rendimento apontados pelas quatro avaliações e pelas duas recuperações anuais, a fim de se construir ações consistentes de enfrentamento ao fracasso escolar nas escolas do campo brevense. Buscar estabelecer parcerias com outras coordenações, órgãos públicos e entidades para a realização de atividades que visem não apenas o desenvolvimento da educação do campo no município, mas o aumento da qualidade de vida das comunidades ribeirinhas e rurais; Planejar as ações tanto de cunho administrativo quanto de cunho pedagógico educacional, tornando assim, o planejamento em todas as esferas um ato indispensável para subsidiar as nossas práticas (SANTOS; GAMA, 2008, p.6-7).

No ano de 2008 foram realizadas as seguintes atividades: a I Jornada

Pedagógica; a Organização do Trabalho Pedagógico (O.T.P.); as atividades de

orientação pedagógica (em março, maio e junho); cursos (dois módulos) na área da

Educação Especial. Além destas atividades membros da coordenação pedagógica

participaram das viagens de supervisão aos distritos, viagens que eram realizadas,

geralmente, apenas pelas coordenações administrativas dos distritos.

Quanto ao assessoramento da Coordenação Pedagógica do Campo, para

com as escolas do meio rural, o mesmo ocorre de forma diferenciada das escolas do

meio urbano, pois o apoio pedagógico que nas escolas urbanas é realizado pelo(s)

coordenador(es) pedagógico(s) de cada escola, no campo, na maioria das escolas,

o atendimento é feito apenas pela coordenação pedagógica do campo que atua na

SEMED e realiza visitas as escolas quando possível. Desta forma, a equipe da

referida coordenação até o ano de 2007 trabalhava com cerca de 310 (trezentos e

dez) escolas, as quais contavam com aproximadamente 470 (quatrocentos e

setenta) professores. Assim, diferentemente da área urbana, as escolas do campo –

com raras exceções16 – não têm qualquer outro órgão e/ou setor que lhes forneçam

apoio pedagógico, exceto a referida coordenação.

Após a implantação do Programa Escola Ativa em 2008 no Município houve a

necessidade de direcionar as formações de acordo com os módulos do programa,

que são: Fundamentos da Educação do Campo, Classe Multisseriada, Organização

do Trabalho Pedagógico, Gestão Democrática, Relação Escola-Comunidade,

Espaço Interdisciplinares de Pesquisa, Importância do Ato de Planejar, Práticas de

16

As exceções são as escolas do campo que possuem coordenadores.

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Avaliação da Aprendizagem. Para tanto, houve duas adesões ao Programa, a

primeira em 2008 com cinco escolas localizadas no distrito Sede Rural.

Ainda em 2008 o Projeto Pró-Rural passa a ser denominado de Coordenação

de Educação do Campo, sendo que em 2012 a Equipe Técnica e de Articulação

Pedagógica foi ampliada para atender as necessidades do campo, com três

especialistas em Educação do Campo que possuem como atribuição, além de

acompanhar e avaliar o Programa Escola Ativa, coordenar a elaboração de projetos,

planos e Proposta Curricular das Escolas do campo que são: Diversidade, Relação

Escola-comunidade, Educação Ambiental e Sustentabilidade e Direitos Humanos.

Foram realizadas quatro formações dos módulos propostos pelo programa

Escola Ativa: Módulo 1: Metodologia do Programa Escola Ativa; Modulo 2:

Introdução à Educação do Campo; Modulo 3: Alfabetização e Letramento; Modulo 4:

Práticas pedagógicas em educação do campo.

A segunda adesão foi feita pelo Município em 2009 com 285 escolas e 494

turmas, dessa adesão foram realizadas até o ano de 2012 três formações. Com a

adesão do Programa no Município, muitas escolas já foram contempladas com o

Programa Nacional de Informática na Educação - PROINFO que conta com cinco

computadores e uma impressora, além de passarem a receber o PDDE Campo.

Dos problemas evidenciados para os estudos sobre classes multisseriadas no

Município de Breves, destacam-se a questão de infraestrutura, pois ainda existem

escola em situações precárias ou em alguns casos com turmas que funcionam na

casa de moradores das comunidades, em barracões de festas, centros comunitários

ou em igrejas, problemática essa apresentada pelo Coordenador do Distrito Sede

em uma de nossas conversas,

na atual Administração Municipal o Distrito Sede Rural já foi contemplado com a construção de várias escolas padrões, no entanto, ainda temos no distrito escolas que necessitam com a máxima urgência de construções, reformas e em outros casos de novos espaços, haja vista que os espaços cedidos nos anos anteriores, já não existem e/ou não foram mais cedidos pelos respectivos donos (COORDENADOR DO DISTRITO SEDE RURAL/2012).

Essa realidade, infelizmente esta presente na maioria das escolas do campo,

o que prejudica o processo de ensino-aprendizagem devido à precariedade da

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estrutura física das escolas multisseriadas, que necessitam de reformas urgentes,

pois funcionam em espaços inadequados ao trabalho escolar e “muitas escolas

constituem-se em um único espaço físico e funcionam em salões paroquiais, centros

comunitários, varandas de residências, não possuindo área para cozinha, merenda,

lazer, biblioteca, banheiros, etc” (BARROS, HAGE, CORRÊA; MORAES, 2010, p.

27).

No entanto, felizmente, aos poucos essa realidade começa a modificar-se na

educação do campo no Município, pois em nossas visitas durante esta pesquisa nos

deparamos com algumas escolas novas recém-construídas, com alojamento para

professores, salas de aulas amplas e arejadas e com apoio pedagógico, merendeira,

serventes e merenda escolar, e ainda com escolas também recém-construídas para

o trabalho com nucleação17, que começou a ser implantada em 2010 no meio rural

de Breves. Há, ainda, algumas escolas que iniciaram o processo de extinção das

classes multisseriadas que funcionavam com turmas de 1ª a 4ª série, diminuindo o

número de séries, trabalhando com duas séries por turma e não quatro como antes.

Assim, a questão de infraestrutura das escolas vem passando por

modificações consideráveis de reformas, ou até mesmo de construção de novos

espaços, como nos apresenta Amaral (2012, p.35) em sua pesquisa,

as escolas das águas do município de Breves, por meio de muitas lutas daqueles que fazem e vivem essa educação, começa a sofrer mudanças, pequenas, porém significativas para quem há tanto tempo esperou por elas. É apenas um começo, mas que, se levadas adiante, certamente farão a diferença nesse cenário de abandono presente não só neste município marajoara, mas nas escolas brasileiras que ficam afastadas e isoladas de suas cidades. De 2009 a 2011, aproximadamente 40 (quarenta) escolas do meio rural de Breves, passaram a ser (re) construídas obedecendo ao mínimo de condições na sua infraestrutura. [...] A Escola Alípio Caramês, recém-construída já dispõe de salas de aula adequadas ao ensino, com carteiras apropriadas a faixa etária de seus alunos, quadros verdes, mesa para professor (a), sala para atividades de leitura, sala de informática adaptadas para receber internet, copa, banheiros internos separados para homens e mulheres, secretaria, casa de força de energia, água encanada.

17

“A Nucleação consiste em construir uma escola de grande porte em um determinado espaço geográfico, de forma que fique centralizada e as demais do entorno são deslocadas para esta, ou seja, na prática representa o fechamento de escolas sob o argumento da eliminação das classes multisseriadas que tem se apresentado como um problema para os sistemas de ensino municipais” (CARMO, 2010, p.161).

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Podemos observar nas fotografias 08 e 09 abaixo a Escola Padrão18 José de

Matos, no Rio Oleria, reinaugurada em abril de 2011, e que apresenta uma

infraestrutura diferenciada de algumas escolas do campo no Município de Breves,

funcionando em três turnos (manhã, tarde e noite) com 07 salas de aula, secretaria,

biblioteca, copa, laboratório de informática, sala multifuncional e toda estrutura de

uma escola urbana, ou até melhor que algumas escolas urbanas. Ao lado da escola

há ainda uma casa que funciona como alojamento dos professores, essa escola

assim como outras surgem a margens dos rios marajoaras modificando o cenário da

educação do campo da região.

Foto 08: Escola Padrão José de Matos, Rio Oleria.

18

“Escola Padrão: escola construída em madeira, com sala (s) de aula, banheiro e copa, são as que apresentam as melhores condições estruturais” (CRISTO; NETO; COUTO, 2005, p. 118).

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

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Foto 09: Sala de aula na Escola José de Matos.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

No entanto, essa realidade acima apresentada não se encontra presente na

maioria das escolas do campo no Município, pois ainda nos deparamos com

situações desfavoráveis em algumas escolas rural-ribeirinhas que acabam por se

sobressair, como: caminhos de difícil acesso, por meio de canoas ou barcos

pequenos; algumas escolas com ausência de merenda escolar; alunos de diferentes

idades e séries em uma mesma sala de aula com apenas um professor sem

formação apropriada para lecionar nesses ambientes; materiais algumas vezes

cedidos por escolas urbanas tornando o ensino urbanocêntrico e

descontextualizado.

Assim sendo, entendemos que a SEMED no Município de Breves, procura

sanar ou minimizar as problemáticas existentes nessa realidade, por meio de

programas e projetos em prol da melhoria da qualidade das escolas com classes

multisseriadas, todavia, infelizmente, ainda encontram-se insuficientes as ações na

tentativa de abarcar todo o Município, devido a sua grande extensão e as

dificuldades de locomoção para as comunidades ribeirinhas, as questões políticas e

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ao número insuficiente de alunos por turma em várias localidades, impossibilitando a

criação de turmas específicas por série.

Em suma, o quadro da educação do campo em Breves é preocupante e

necessita de ações concretas no sentido de possibilitar a diminuição dos índices de

distorção idade-série, taxa de abandono e reprovação possibilitando assim a

melhoria na qualidade da educação ofertada para o povo do campo.

O subitem a seguir apresentará a prática docente de alguns professores do

campo que atuam em classes multisseriadas no Município de Breves, com

depoimentos que servirão para evidenciar as informações que foram repassadas

neste item. Utilizaremos para tanto as informações dos questionários, bem como

algumas respostas de entrevistas e observações informais em outras escolas, os

quais serão subsídios também para ratificar as falas de alguns participantes.

2.2.1 Práticas Docentes em Classes Multisseriadas no Município de Breves-

Pará

Os questionários utilizados neste subitem foram aplicados na formação

continuada de professores no III Módulo – Práticas Pedagógicas na Educação do

Campo, do Programa Escola Ativa no Município de Breves, no período de 06 a 09

de novembro de 2012. Na oportunidade foram aplicados 50 questionários para os

professores participantes da formação, sendo que desses somente 20 fizeram a

devolução dos mesmos.

Para melhor entendimento e reconhecimento dos professores participantes

desta pesquisa, acreditamos fazer-se necessário primeiramente a apresentação

individual do perfil dos mesmos, para que assim ocorra uma melhor identificação dos

sujeitos que participaram da pesquisa e atuam em classes multisseriadas no

município de Breves. Assim o quadro 01 abaixo demonstra os dados dos

participantes desses questionários.

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Quadro 01: Dados dos participantes dos questionários

SEXO IDADE

RESIDÊNCIA

TEMPO C/ C.M.

C.H. CONCURSADO(A)

CONTRATADO (A)

COMUNIDADE EM QUE TRABALHA/

DISTRITO ESCOLAS

100h 200h S. C. S.M. A.L.

M F

09 11 21 A 56 ANOS

A maioria dos professores residem na cidade de

Breves-PA.

1 A 30 ANOS

09 08 08 12 09 05 03 03

SÃO JOSÉ

ADOLFO REBELO

JOSÉ DE MATOS

FILADELFIA

ALEGRE

SÃO DOMINGOS

BELA VISTA

BOM PASTOR

CORAÇÃO DE JESUS

Obs.: Alguns professores não responderam todas as perguntas do questionário. As respostas apresentadas nesta tabulação estão fielmente retiradas dos questionários. S. – SEDE C. – CURUMÚ S.M. – SÃO MIGUEL A. L. – ANTONIO LEMOS

Fonte: Questionários da Pesquisa/2012.

Nas informações retiradas dos questionários notamos que está praticamente

equiparado o número de homens e de mulheres; e a faixa etária dos professores

questionados varia de 21 a 56 anos de idade. No item endereço residencial a

maioria somente informou que mora em Breves, sem citar localização de bairro e

rua. Verificamos quanto ao tempo de serviço em classes multisseriadas que assim

como há professores novatos nessa modalidade há aqueles que já possuem 30

anos trabalhando dentro dessa realidade; quanto às cargas horária, é maior o

número de professores que conta apenas com 100h de trabalho, todavia 03

professores não responderam esse questionamento. Assim, apesar do número de

professores não ter sido o esperado, verificamos que houve representação de todos

os distritos, com isso podemos ter uma visão geral de como ocorre à prática

pedagógica em classes multisseriadas no meio rural de Breves.

Para cumprir com a ética nesta pesquisa os professores serão representados

por pseudônimos conforme a tabela 09 abaixo que nos apresenta a identificação

individual dos mesmos.

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Tabela 09: Identificação Individual dos participantes dos questionários.

PR

OF

. (A

)

SE

XO

IDA

DE

RE

SID

EN

CIA

TEMPO C/ C.M.

C.H. CONCURSADO (A) OU

CONTRATADO (A)

DISTRITO ESCOLA SÉRIES EM QUE ATUAM

P1 F 45 anos N.D19

. 30 anos 200h Concursada São Miguel E.M.E.F. Bom Pastor

4ª série e 4º ano

P2 F 30 anos N.D. 03 anos 100h Contratada Intel E.M.E.F.Adolfo Rebelo

4ª série e 4º ano

P3 F 21 anos N.D. N.D. 200h Contratada São Miguel N.D. Educação Infantil, 1º, 2º, 3º e 4º ano

P4 M 52 anos Breves N.D. 100h Contratado Sede Rural E.M.E.F. São José

4ª série e 4º ano

P5 M 35 anos Breves 05 anos 100h Concursado Sede Rural E.M.E.F. São Domingos

1ª a 4ª série

P6 F 30 anos Breves 06 anos 200h Contratada Curumú N.D. 1º ao 4º ano

P7 M N.D. N.D. N.D. N.D. Concursado N.D. N.D. N.D.

P8 M 56 anos Breves 03 anos 100h Contratado N.D. N.D. 1º ao 4º ano

P9 M 48 anos Breves N.D. 100h Contratado São Miguel E.M.E.F. Alegre

1º ao 4º ano e 4ª série

P10 F 33 anos Breves 09 anos 200h Contratada Sede Rural E.M.E.F. São José

1º e 2º anos e 4ª série

P11 M 45 anos Breves 01 ano 100h Contratado Sede Rural N.D. 3º, 4º ano e 4ª série

P12 F 33 anos Curumú 06 anos 100h Concursada Curumú E.M.E.F. Bela Vista

1º ao 4º ano e 4ª série

P13 F N.D. Breves 20 anos 100h Concursada Sede Rural N.D. 1º ao 4º ano

P14 M 31 anos Breves 12 anos 200h Concursada N.D. E.M.E.F. Coração de Jesus

1º ao 4º ano e 4ª série

P15 F 25 anos Breves 02 anos 100h Contratada Sede Rural E.M.E.F. José de Matos

2º e 3º ano

P16 F N.D. N.D. N.D. N.D. Concursada N.D. N.D. 1º, 2º e 3º ano

P17 M 34 anos Breves 04 anos N.D. Contratada Antônio Lemos

E.M.E.F. Filadélfia

1º ao 4º ano

P18 F 31 anos Breves 03 anos 200h Concursada Antônio Lemos

Escola 1 1º ao 4º ano

P19 F 28 anos Breves 06 anos 200h Contratado Distrito Sede Escola 2 2º e 3º ano

P20 M 29 anos Breves 05 anos N.D. Contratado Distrito Sede Escola 3 1º ao 3º ano

Fonte: Questionários da Pesquisa/2012.

Quanto ao tempo de serviço, há alteração de 01 a 30 anos de trabalho

somente com classes multisseriadas, observamos que entre os professores

participantes da pesquisa a maioria ainda não são professores efetivos, vale

19 N.D.- Não declarado. Como a identificação e informações pessoais não são obrigatórias em

pesquisas, alguns sujeitos não responderam algumas questões, todavia respondendo a outros pontos do questionário.

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ressaltar que no último concurso houve muitas vagas para a educação do campo no

Município, que foram devidamente preenchidas, sobrando ainda cadastro reserva,

mas mesmo assim ainda continua perceptível o número de contratados tanto no

campo quanto na área urbana de Breves. Esse fato desencadeia algumas vezes

situações que,

muitos professores e demais sujeitos das comunidades sofrem pressões dos grupos que possuem poder politico local [...] situação que os deixam submetidos a uma grande rotatividade, ao mudar constantemente de escola e/ou de comunidade em função de sua instabilidade no emprego (BARROS, HAGE, CORRÊA; MORAES, 2010, p. 27).

Em vista disso, notamos, que essa rotatividade, a que se refere Barros, Hage,

Corrêa e Moraes (2010) acima, afeta demasiadamente a prática docente, pois

quando o professor inicia um determinado trabalho pedagógico em uma escola e

que está se familiarizando com seus alunos e comunidade, é obrigado a se mudar

para outra escola com outra realidade, tendo que recomeçar suas atividades desde

o início, sendo assim,

muitos dos professores/das professoras do meio rural costumam fazer parte de um circulo vicioso e perverso: são vitimas de um sistema educacional que desvaloriza o seu trabalho, que coloca o meio rural como uma penalização e não uma escolha, que não viabiliza a sua qualificação profissional, que rebaixa sua auto-estima e sua confiança no futuro; como vitimas tornam-se então provocadores de novas vitimas, à medida que realizam um trabalho desinteressado, desqualificado e sem animo (FERNANDES; CERIOLI; CALDART, 2009, p. 59).

Infelizmente, em Breves essa realidade não é diferente, pois dos professores

que participaram da pesquisa quando questionados sobre o que os levou a trabalhar

com classes multisseriadas, 12 afirmaram que foi por falta de opção ou por

imposição da SEMED, sendo assim não houve escolha e o destino foram às classes

multisseriadas. Todavia, logo em seguida quando questionados se estavam

satisfeitos em atuar nessa modalidade de ensino: 10 professores afirmaram estar

satisfeitos, 04 não estão satisfeitos, 04 algumas vezes estão satisfeitos e 02 não

responderam ao questionamento. Assim, retiramos algumas falas dos professores:

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Primeiramente a necessidade financeira, eu nem sabia que existia classes assim. Não está satisfeito (P14, Breves, 2012);

Sou moradora do rural, e vendo a necessidade das crianças optei por esta profissão. Não está satisfeita (P3, Breves, 2012);

Eu não escolhi, a SEMED é que ainda não encontrou uma solução para o problema... Não está satisfeito (P2, Breves, 2012);

Leciono porque amo, agora trabalhar com classes multisseriadas é muito difícil, trabalho, pois infelizmente é assim! Não está satisfeito (P18, Breves, 2012);

O interesse pela educação das crianças e vontade de desenvolver o que escolhi de ser um educador. Sim está satisfeito (P9, Breves, 2012);

Muitas vezes não temos opção por existirem tantas turmas com multisséries, é muito difícil. Sim está satisfeito (P15, Breves, 2012);

Ingressei no município no ano de 2006 e já fui trabalhar com as classes multisseriadas, ou seja, não houve escolha. Algumas vezes está satisfeito (P12, Breves, 2012);

Então, muitos são os professores que afirmam trabalhar com classes

multisseriadas por falta de opção ou por necessidade, poucos são os que alegam

trabalhar por amor e interesse nessa modalidade de ensino. Entendemos essa

dificuldade, pois sabemos que,

na prática pedagógica em classes multisseriadas os professores encontram diversos problemas ao ter em classe alunos de séries diferentes em uma mesma turma: de aprendizagem, carência de condições satisfatórias de trabalho, equipamentos e materiais didáticos, entre outros. Esses problemas afetam tanto os alunos quanto aos professores, que, muitas vezes, assumem uma sobrecarga de tarefas para atender as especificidades da turma com alunos de diferentes series, que perpassa pelo planejamento diferenciado, pela seleção dos conteúdos curriculares e dos recursos adequados. O que se encontra na maioria das classes multisseriadas é um ensino tradicional, homogêneo e urbanocêntrico, com a reprodução de práticas que não geram aprendizagens significativas, porque elas estão desconectadas das realidades socioculturais dos alunos e não são provocadoras de curiosidades (OLIVEIRA; FRANÇA; SANTOS, 2011, p. 177).

Entendemos ainda mais essa afirmativa quando 12 dos 20 professores

acreditam que não há rendimento, que “é uma covardia com o professor”, que as

classes multisseriadas funcionam com dificuldade, que são bastante trabalhosas,

que é um absurdo agrupar tantos alunos com idades/séries e níveis de

aprendizagem diferentes, que se trabalha muito e rende-se pouco. Quando

questionados “qual sua opinião sobre as classes multisseriadas?”, 04 desses

professores acham que com a nucleação vai melhorar essa realidade, 04

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professores responderam que as mesmas devem ser extintas, como destacamos em

algumas respostas abaixo:

Elas devem ser extintas (P13, Breves, 2012);

Imediatamente tem que serem exterminadas da educação. Sobretudo agora no ciclo de ano que não pode reter e os conteúdos são diferentes! (P10, Breves, 2012);

São bastante difíceis de se trabalhar, mas o amor pelo nosso trabalho nos faz superar desafios (P15, Breves, 2012);

Covardia com o professor (P11, Breves, 2012);

É muito complicado, gostaria que a ciência da sabedoria desse um jeito um remédio para acabá-la (P9, Breves, 2012);

Trabalhosa e com o rendimento escolar comprometido (P6, Breves, 2012);

Eu acho que é um verdadeiro absurdo agrupar tantos alunos com idades/séries e níveis de aprendizagem diferentes, mas é a nossa triste realidade... (P19, Breves, 2012);

A classe multisseriada ao meu ver trabalhamos por que é necessário, mas o aluno não tem muitos rendimentos como as demais turmas (P3, Breves, 2012);

É uma realidade complexa, e não vejo um crescimento na qualidade da educação desenvolvida lá. Trabalhamos mais, rendemos pouco (P14, Breves, 2012);

Funcionam com dificuldade. O sistema de nucleação seria o ideal (P8, Breves, 2012);

Logo quando comecei fiquei desesperada, mas aos poucos fui melhorando. Hoje, graças aos avanços esta melhorando bastante e ficara ainda melhor com as escolas nucleadas, pelo menos eu acredito!!! (P12, Breves, 2012);

Essas afirmativas são de professores que atuam diretamente com classes

multisseriadas e que falam por conhecimento de causa, percebemos infelizmente a

hostilidade em suas falas e o desejo que as classes multisseriadas fossem

transformadas em seriadas. Entendemos, com isso que suas crenças são

extremamente negativas quanto às classes multisseriadas, sendo assim

acreditamos que,

hoje nada garante o sucesso do trabalho docente se os professores não superarem as suas crenças e se dedicarem ao fazer pedagógico que leve o aluno a experimentar um outro comportamento diante dos objetos de ensino. As crenças são faculdades que os docentes internalizam antes mesmo de se tornarem professores, ainda como alunos. São de caráter pessoal, emocional e se articulam como um sistema hierárquico de filtragem sobre o que é verdadeiro no ensinar e no aprender [...] Portanto, o professor ao assumir a docência, traz consigo elementos condicionantes que interferem na sua prática (CAMPOS, 2012, p. 43).

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Assim, as respostas revelam grande descontentamento da maioria dos

docentes que chegam a declarar ser uma “covardia” a existência das classes

multisseriadas, sentimentos esses de insatisfação, que podem refletir na prática de

professores desmotivados e ainda mais quando a realidade se trata de classes

multisseriadas. No entanto, poderemos perceber no decorrer deste subitem que

vários são os fatores que esses mesmos professores apresentam para que ocorra

uma ”desilusão” em relação às classes multisseriadas, pois,

[...] são as condições do trabalho docente nas classes multisseriadas que as colocam no cenário de precariedade educacional amazônico. Elas abrangem uma diversidade, não apenas cultural, mas, também, de problemas que contribuem para a manutenção de um quadro de defasagem educacional histórico das escolas do campo em relação às escolas urbanas (OLIVEIRA; FRANÇA; SANTOS, 2011, p. 23).

E dentre essas problemáticas encontra-se também a questão das distâncias e

o acesso às escolas, pois, “há dificuldades enfrentadas pelos professores e

estudantes em relação ao transporte escolar e às longas distâncias percorridas para

chegar à escola e retornar as suas casas, realizadas por diferentes vias e meios de

transportes utilizados no campo” (BARROS; HAGE; CORRÊA; MORAES, 2010, p.

27).

Assim, quando questionamos os professores sobre as distâncias das escolas,

11 responderam que moram na própria vila em que trabalham indo somente aos

finais de semana para a cidade de Breves, e os demais responderam que moram na

própria cidade de Breves e se deslocam diariamente para as escolas. Dos 20

professores12 responderam que tem dificuldades com relação ao acesso às escolas

em que trabalham,

Sim, por que é através de embarcações e é difícil o transporte para chegar à escola. (P5 – Breves, 2012).

Sim, não tem transporte para chegarmos à escola oferecido pela SEMED, pegamos carona. (P2 – Breves, 2012).

Sim, pois o meio de transporte (barco) só chega pela madrugada (P6 – Breves, 2012);

Sim, porque moro numa localidade e trabalho em outra (P3 – Breves, 2012).

Não. Saio da minha casa as 4:30h da madrugada, mas vou para a escola no barco da escola (barqueiro) (P10 – Breves, 2012);

Não! Graças a Deus sou abençoada no local onde trabalho, pois moro na vila (P20 – Breves, 2012);

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Não, porque moro ao lado da escola (P9 – Breves, 2012).

Quando inquiridos sobre a questão da SEMED não arcar com o transporte

dos professores os mesmos explicaram que recebem ajuda de custo mensal de R$

100,00 para o pagamento do transporte, sendo que esse valor é fixo para todos os

professores do campo no Município, independente da distância e localização das

escolas. Assim,

o transporte escolar também é uma discussão que precisa ser efetivada. Desde 1988, com a Constituição Federal, esse direito foi assegurado no seu artigo 208 que trata do dever do estado com a educação. No seu inciso VII, nomeia as formas de atendimento, explicitando “atendimento ao educando, no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde”. No Marajó das Águas e Florestas, por suas singularidades, a realidade demanda que se comprem centenas de barcos, o que, segundo os técnicos do MEC em visita ao município de Breves, disseram que pela localização e especificidade, tem dificuldades. Comprar barcos é mais difícil que comprar uma frota de ônibus, assim afirmou um técnico da SEMED (AMARAL, 2012, p.39).

Com todas essas dificuldades presentes no meio rural do Município, a

SEMED acredita que por meio do processo de nucleação conseguirá minimizar e

possivelmente no futuro eliminar as Classes Multisseriadas e assim espera

solucionar o problema de distância para os alunos do meio rural, pois as escolas

nucleadas estão sendo construídas o mais próximo possível das comunidades que

possuem o maior número de alunos. A nucleação está ocorrendo de forma paulatina

no Município desde 2010, com a eliminação de escolas com infraestrutura precária,

que possuem poucos alunos em Classes Multisseriadas e em escolas distantes das

comunidades. Confirmando assim que,

no âmbito desse cenário pouco animador, temos assistido ao avanço da politica de nucleação vinculada ao transporte escolar, como solução mais plausível para os grandes problemas enfrentados pelas escolas rurais multisseriadas, resultando no fechamento de escolas em pequenas comunidades rurais e na transferência dos estudantes para as escolas localizadas em comunidades rurais mais populosas (sentido campo-campo) ou para a sede dos municípios (sentido campo-cidade) (ANTUNES-ROCHA; HAGE, 2010, p.17).

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Entretanto, a política de nucleação, vem intensificar o crescimento do

deslocamento dos alunos em busca das escolas nucleadas, assim como ficou

evidenciado na sessão anterior por Antunes-Rocha e Hage (2010), pois com as

novas escolas padronizadas que estão sendo construídas em pontos estratégicos

aumenta a possibilidade de formação de turmas seriadas, na visão das secretarias,

e assim, o maior e melhor atendimento das comunidades circunvizinhas. Sobre o

processo de nucleação 13 dos professores questionados, afirmam que conhecem o

processo acham bom, muito bom, regular outros acham que é uma saída para a

melhoria da educação do campo apesar de ter seus pontos positivos e negativos,

todavia 07 alegam que desconhecem a nucleação,

Não tenho muito conhecimento sobre o mesmo (P1 – Breves, 2012);

Ainda não conheço, acredito que vai dar certo (P4 – Breves, 2012);

Não conheço o sistema citado (P6 – Breves, 2012);

Sim. Acho interessante e espero que façamos com que melhore cada vez mais, porque pelo que vejo, só dependerá da coordenação e de cada um dos professores que atuarem nelas (P12– Breves, 2012);

Sim. É tudo que a educação do meio rural esta necessitando para acabar com muitos problemas históricos, um desses problemas é a unidocência. Que a nucleação aconteça logo!!! (P17 – Breves, 2012);

Sim, desde que seja implantado de forma a contribuir com o melhoramento da aprendizagem (P13 – Breves, 2012);

Eu estou num. Há problemas, mas o beneficio sai mais (P14 – Breves, 2012);

Outro método utilizado na tentativa de minimizar a problemática das Classes

Multisseriadas é a junção de duas séries por turma, 1ª e 2ª séries, 3ª e 4ª séries, o

que somente atenua essa realidade, pois de uma forma mais branda ainda continua

a existir a multissérie. Sendo que dos 04 distritos o Sede Rural já possui a maioria

das escolas formadas com turmas seriadas ou com apenas 02 series por turma, o

que deixa claro a tentativa de extinguir essa modalidade educacional do município.

Na tabela 10 abaixo podemos verificar que dos 20 professores participantes

dos questionários, alguns já lecionam apenas em duas séries e outros ainda

continuam com turmas de 1ª a 4ª série, ou 1º ao 4º ano, conforme a tabela abaixo:

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Tabela 10: Distribuição do número de professores por ano/série

4ª SÉRIE E 4º ANO

1º AO 4º ANO

1º E 2º ANO

1º A0 4º ANO E 4ª

SÉRIE

2º E 3º ANO

3º, 4º ANO E 4ª SÉRIE

1º AO 3º ANO

03 07 01 04 02

01

02

Fonte: Questionários da pesquisa/2012.

Quanto ao nível de formação dos professores da pesquisa, dos 20 apenas 03

disseram que possuem somente o nível médio, com magistério, os outros todos tem

nível superior ou estão cursando Letras, Pedagogia, e apenas 01 cursa a Educação

do Campo, cursos esses oferecidos pelo IFPA – PARFOR – Breves. Quanto à

formação e aos custeios de seus estudos informaram que,

Me habilitei em magistério, estou cursando a última etapa no curso superior. Os custeios são com os recursos próprios (P9 – Breves, 2012).

Estou cursando o Nível Superior, o meu curso é custeado todo pela prefeitura (P7 – Breves, 2012).

Nível Superior incompleto (cursando Pedagogia), com recursos próprios (faculdade particular) (P6 – Breves, 2012).

Pedagogia (cursando). Ainda não conclui, mas sou eu mesma (P3 – Breves, 2012).

Assim, alguns professores estudam no PARFOR, como anteriormente foi

informado, e outros custeiam seu próprio estudo. Quanto à formação continuada,

quando questionados se a SEMED promove formação continuada, cursos e eventos

para os professores da educação do campo, responderam: 14 – Sim; 03 – Não; 02 -

Algumas vezes; 01 professor não respondeu essa questão. E se participam dos

mesmos, 18 responderam que Sim e 02 professores não responderam essa

questão. E se existe ajuda de custo da SEMED para os professores que participam

de formação inicial ou continuada, 05 responderam que Sim; 10 – Não; 04 - Algumas

vezes e 01 professor não respondeu essa questão. Quanto ao periodo que ficam

foram de sala de aula para aperfeiçoamento, se a SEMED disponibiliza substituto

para as turmas não serem prejudicadas, a maioria, 16 professores responderam que

não são enviados substitutos para as turmas, como destacamos abaixo,

Não, os alunos ficam sem aula (P1 – Breves, 2012);

Não. Durante os periodos de formação a turma fica a minha espera, alegam (SEMED) por ser apenas 100h (P12- Breves, 2012);

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Nós participamos do curso e em outro momento temos que repor os dias atrasados (P15 – Breves, 2012);

Não. Quando retornamos a escola, produzimos trabalhos referentes aos conteudos de classe e extra-classe, trabalhamos temas transversais (P10 – Breves, 2012);

Repasso trabalhos para cada dia que irei ficar no curso (não tem substituto) (P2 – Breves, 2012).

Contudo, apesar dos professores e da SEMED, afirmarem que são ofertados

cursos de formação, todavia não há adequação de carga horária ou qualquer outro

tipo de atividade para que as turmas não fiquem prejudicadas, sem aulas, durante o

período das formações, ficando ainda a responsabilidade para o professor da turma

de repor as aulas perdidas. Percebemos ainda que os professores em conversas

informais reclamavam quanto à questão de terem que repor as aulas dos dias da

formação, que ao invés de quatro dias completos foi reduzido para três dias de

atividades, pois a dispersão dos professores em função do pagamento salarial no

mesmo período da formação atrapalhou para a finalização no tempo correto.

Durante nossa participação na formação continuada do Programa Escola

Ativa- III Módulo: Práticas Pedagógicas na Educação do Campo, notamos que o

número de participantes foi inferior ao que esperavam os coordenadores do

programa. Quanto a essa questão de reunir os professores para reuniões e eventos

à equipe da SEMED diz que é muito difícil reuni-los e esse é mais um ponto que

dificulta a interação e o acompanhamento da secretaria para com os professores do

campo. Quando questionados sobre o que achavam do Programa Escola Ativa e

suas metodologias, responderam:

O Programa Escola Ativa é um meio a mais para nos professores do meio Rural inovar no método de Educar. Com certeza depois que participei do 1º encontro da Escola Ativa pude levar para dentro de sala de aula algumas metodologias de ensino como montar o cantinho de leitura, a chamadinha divertida e outros. (P3 – Breves, 2012);

Torna-se bom para o professor quando há novidades e não coisas repetidas que já sabemos. Sim já utilizei as atividades da Escola Ativa em classe (P2 – Breves, 2012);

Ótimo, pois nos trouxe novas metodologias, facilitando nosso trabalho, além de nos dar oportunidade de mostrar nossas habilidades. Sim procuro aplicar em sala de aula as metodologias repassadas pela equipe pedagógica (P1 – Breves, 2012);

Muito bom, pois os temas são muito importantes para o professor trabalhar. Sim, através dos livros do programa (P5 – Breves, 2012);

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Um método e socialização muito importante para o conhecimento e formação de cada professor. Sim, trabalhando com o projeto utilizando a metodologia da escola ativa (P6 – Breves, 2012);

É uma fonte de conhecimentos que nos dá uma variedade de experiências e formas de trabalhar. Eu utilizo a metodologia da Escola Ativa através de jogos, dinâmicas construídas nos encontros e a partir deles (P14 – Breves, 2012);

Bom, mas deixa muito a desejar pelo fato do tempo ser curto e por se tornar cansativo para-nos. Sim, as dinâmicas, as formas diversificadas de práticas pedagógicas, etc. Nos ajuda muito (P15 – Breves, 2012);

Assim, a maioria dos participantes dos questionários afirma que procura levar

para sua realidade em sala de aula as metodologias apresentadas nas formações do

Programa Escola Ativa, e acreditam que as mesmas podem auxiliar em seus

trabalhos com a aprendizagem de seus alunos.

No que diz respeito à infraestrutura das escolas em que atuam 10 professores

afirmam que a mesma é ruim, precária, péssima, deixando muito a desejar e

algumas funcionam em barracões de festas ou igrejas, apenas 01 professor

respondeu “muito boa”, 03 responderam “boa”, e os demais responderam “regular”,

destacamos algumas respostas abaixo,

Está precisando com urgência de outra escola nova!!! Exagero! Ainda dá para esperar a construção de outra (P12, Breves, 2012);

Deixa muito a desejar (P8, Breves, 2012);

Nada boa, pois é uma casa de festa (P5, Breves, 2012);

Péssima, tá caindo aos pedaços! (P2, Breves, 2012);

Regular, pois nos ainda temos alunos que assistem aulas no refeitorio da igreja e também não temos biblioteca, sala de leitura, etc. (P1, Breves, 2012);

Boa, temos salas amplas, limpas, banheiros, área limpa, água de qualidade, etc. (P14, Breves, 2012);

Boa apesar de que faltam alguns bens duráveis e materiais para o professor se organizar diariamente a estrutura é boa (P10, Breves, 2012);

Boa, pena que a madeira utilizada na construção não é de qualidade. Mas, temos um bom prédio (P15, Breves, 2012);

Quanto à organização do espaço de sala de aula, o que percebemos nas

escolas observadas é que são organizadas de acordo com a opção metodológica do

professor, que divide seus alunos por série/ano em que se encontram tendo

dificuldade em integrá-los e trabalhar de forma comum os conteúdos. Confirmamos

também esse fato pelas respostas dos professores nos questionários, os quais

dizem dividir seus alunos em alguns casos de acordo com a série em que se

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encontram ou ainda por nível de conhecimento, outros afirmam que não os dividem

trabalham todos juntos, como explicam,

São organizados conforme os anos, mas existem atividades que da para conciliar 1º e 2º ano e 3º e 4º ano (P17 – Breves, 2012);

Os alunos trabalham em grupos, onde os mais velhos ajudam os mais novos (P16 – Breves, 2012);

Na turma onde trabalho, os alunos ficam sentados em forma de circulo às cadeiras, para todos observarem a aula (P15 – Breves, 2012);

Por ano, de um lado os de 2º ano e do outro lado os de 2º ano (P10 – Breves, 2012);

Trabalhamos com duas lousas, os alunos organizamos eles de acordo com seu nível de estágio (P9 – Breves, 2012);

Na sala acontece uma divisão: 1º e 2º ano para um lado da sala e 3º e 4º ano para o outro lado, mas nas dinâmicas envolve-se todos os alunos para socializarem e participarem (P3 – Breves, 2012);

Convém evidenciar na fala dos professores (as) e nas observações feitas que

se encontra enraizado o modelo seriado de educação, onde mesmo sentindo

dificuldades em utilizá-lo na educação do campo, os professores insistem em

empregar essa modalidade nas suas metodologias em classes multisseriadas.

Portanto, para Hage (2005, p. 168-169),

esse modelo seriado de ensino, hegemônico na organização do sistema de ensino no país, é a referência, que condiciona a concepção e prática pedagógicas desses professores (as) e da organização do trabalho pedagógico da escola multisseriada, pois à medida que dividem a turma por série; dividem o tempo de acordo com as séries; dividem os conteúdos disciplinar e seriadamente; planejam conforme essa lógica disciplinar e o número de séries; reforçam e justificam uma lógica de organização pedagógica hierárquica, fragmentária, meritocrática/classificatória, homogeneizadora e excludente.

Essa realidade fica ainda mais nítida nas respostas sobre como os

professores desenvolvem suas atividades nas quatro horas/aulas diárias, e como se

dá a organização do horário das disciplinas que compõem o currículo nas turmas

multisséries, já que são pré-determinados os dias de cada disciplina, assim como

relatam os professores questionados,

São organizadas da seguinte forma, por semana: Português 2X; Matemática 2X; Artes 1X, Ciências 1X; Historia 1X; Religião 1X (P3 – Breves, 2012);

Fica a critério de cada professor, desde que no final do mês todas as aulas sejam contempladas. É organizado da seguinte forma: 6 aulas de

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português, 6 de matemática, 3 de geografia, 2 de ciências, 2 de artes e 1 de ensino religioso (P1 – Breves, 2012);

É organizado de acordo com o conteúdo trabalhado. 1º desenvolvimento na lousa; 2º aula explicativa com debate entre alunos e professor; 3º atividade individual (P6 – Breves, 2012);

É variado de acordo com o meu planejamento. Sendo que o sistema de ano envolve num tema várias disciplinas e na série e de acordo com a orientação da SEMED também. Como os alunos não tem opção de trabalhos de pesquisa, nós adequamos os trabalhos de aprendizagem de acordo com o meio dos alunos. E variamos nas atividades (P10 – Breves, 2012);

Trabalhamos cada dia da semana uma disciplina, se haver necessidade de continuar o assunto trabalhamos mais vezes. Tudo no seu momento, o dialogo, a exposição na lousa, atividades e leituras, ditados. Cada atividade no seu tempo (P15 – Breves, 2012);

Observamos assim, o esforço e preocupação dos professores em cumprir

com todas as disciplinas, no entanto priorizando mais umas do que outras, assim

como ocorre no ensino seriado. Percebemos que os professores detém-se

principalmente nas disciplinas de Português e Matemática, conforme os relatos

acima, sendo que,

o que pesa na versão dos próprios professores é a preocupação com a aprendizagem dos alunos, o que os leva a recorrerem aos seus próprios saberes construídos com a sua própria experiência ao se depararem com o contexto escolar que, embora se diferencie do das escolas dos centros urbanos, apresenta um currículo semelhante que tem como base os livros didáticos (OLIVEIRA; FRANÇA; SANTOS, 2011, p. 162).

E com relação ao planejamento das aulas a maioria dos professores

questionados e observados afirma que trabalha os planejamentos de acordo com

cada série ou ano dos alunos, adaptando-os quando necessário. Sobre o que levam

em consideração ao planejar suas aulas para os alunos das classes multisseriadas

responderam,

Os níveis de dificuldades observados na turma, isso nos faz ter noção de um bom planejamento das aulas. Faço um plano que atenda as duas series, mas em níveis diferentes, para o 2º ano atividades leves e para o 3º ano mais avançadas. (P15 – Breves, 2012);

Meus planos geralmente são feitos separados, mas quando é possível faço um plano para duas séries/ano. Levo em consideração a variedade de nível de aprendizado das crianças além de seu espaço e as possíveis facilidades de mistura da classe (P14 – Breves, 2012);

Faço um plano de aula para cada ano e pra série, ou faço um plano de aula diariamente para o 2º ano e o mesmo adequo para o 1º. Levo em

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consideração os aspectos físicos, psicológicos e cognitivos dos educandos (P10 – Breves, 2012);

Em primeiro lugar as dificuldades apresentadas por cada um dos alunos, em 2º a organização para os planos de aula de forma coerente, os conteúdos sendo repassados continuamente. Trabalho com eixos unificados entre os anos (1º, 2º e 3º) e plano de aula para os 4º ano e 4ª série (P12 – Breves, 2012).

Os relatos acima demonstram a preocupação em tentar facilitar os trabalhos

com os planejamentos, pois relatam que procuram unir os planos de aula para suprir

todas as séries em que atuam, confirmando assim o que Barros, Hage, Corrêa e

Moraes (2010, p. 28) explicam sobre a organização do trabalho pedagógico,

os professores têm muita dificuldade em organizar o processo pedagógico nas escolas multisseriadas justamente porque trabalham com a visão de junção de várias séries ao mesmo tempo, e têm que elaborar tantos planos de ensino e estratégias de avaliação da aprendizagem diferenciados quanto forem às séries com as quais trabalham. Como resultado, os professores se sentem angustiados e ansiosos ao pretenderem realizar o trabalho da melhor forma possível e, ao mesmo tempo, se sentem perdidos, carecendo de apoio para organizar o tempo, espaço e conhecimento escolar.

A questão do planejamento torna-se ainda mais difícil, segundo os

professores participantes da pesquisa, pois não há, na maioria das vezes, um

acompanhamento frequente, apesar de 15 dos 20 professores afirmarem que existe

planejamento anual realizado pela SEMED, apenas 02 disseram não participar e o

restante simplesmente não responderam a essa pergunta. Quanto à importância do

planejamento Borges e Silva (2012, p. 224) afirmam que,

o planejamento deve ser participativo, com a garantia de integração dos vários momentos da vida escolar; precisa ser avaliada permanentemente sua execução (atividades previstas); caso isso não aconteça, deve ser cobrado nas reuniões, no sentido de saber o porquê da não realização. Ou seja, a avaliação deve ser coletiva e de forma continua. O planejamento pode acontecer em vários níveis: coletivo estadual e regional da Educação, planejamento anual da escola, planejamento periódico, planejamento semanal e planejamento das aulas.

Notamos então, que os professores não exigem um acompanhamento das

atividades de planejamento, conformam-se em planejar anualmente, e não cobram

uma avaliação continua da execução do que foi planejado, pois fica evidente que,

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eles se sentem pressionados pelo fato de as secretarias de educação definirem encaminhamentos padronizados no que se refere à definição de horário de funcionamento das turmas e ao planejamento e à listagem de conteúdos reagindo de forma a utilizar sua experiência acumulada e criatividade para organizar o trabalho pedagógico com as várias séries ao mesmo tempo e no mesmo espaço, adotando medidas diferenciadas em face das especificidades de suas turmas (BARROS; HAGE; CORRÊA; MORAES, 2010, p. 28).

Outro ponto com relação ao planejamento que chamou a atenção nas

respostas dos questionários desta pesquisa foi em relação à seleção dos conteúdos

trabalhados nas disciplinas que fazem parte do currículo das classes multisseriadas.

Quando questionados como foi realizada a seleção dos conteúdos e se participaram

dessa escolha, a maioria (12) dos professores respondeu que há uma escolha

realizada em conjunto com professores do campo e coordenação técnico-

pedagógica da SEMED, outros disseram que é somente a SEMED que faz a

escolha, e ainda há aqueles que não participam. Como explicam os professores:

Foi reunido todos os professores do meio rural e até mesmo da cidade juntamente com a SEMED e criamos o currículo (P3, Breves, 2012);

Em jornadas pedagógicas (P8, Breves, 2012);

É elaborado pelos técnicos da SEMED (P9, Breves, 2012);

Através de reuniões na Secretaria de Educação (P11, Breves, 2012);

Através do planejamento pedagógico em conjunto com professores, coordenadores e técnicos da SEMED (P13, Breves, 2012);

Nós não temos acesso (P4, Breves, 2012);

Por sabermos da importância da escolha em conjunto dos conteúdos a serem

trabalhados nas escolas e que currículo escolar feito em gabinete não condiz com a

realidade dos educandos, é que coadunamos com Freire (1987, p. 86) quando

enfatiza a importância da participação efetiva dos professores e porque não do povo

nesse processo, pois é “na realidade mediatizadora, na consciência que dela

tenhamos, educadores e povo, que iremos buscar o conteúdo programático da

educação”. Entendemos então que,

a escola multisseriada não pode ser rígida, presa dentro de quatro paredes, presa nos conteúdos oficiais seriados que petrificam o olhar do educador e do educando em busca de uma sociedade mais urbana, mais “desenvolvida”, mais “viável” para morar. A escola não pode enterrar ou afogar a cultura rural-ribeirinha, pois levará junto às matrizes culturais e históricas, os anseios, os desejos e todas as conquistas que já foram concretizadas naquele contexto. Ela precisa reconhecer e valorizar as

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práticas educativas que acontecem dentro e fora dela, que estão presentes na textura das comunidades. Portanto, é preciso dialogar com todos os sujeitos que fazem parte da dinâmica social e escolar da comunidade, assumindo uma atitude de respeito à diversidade, ao outro, à mudança (BARROS, 2004, p. 123).

Portanto, a conformidade e aceitação de conteúdos previamente escolhidos

que são repassados somente para sua execução faz com que ainda ocorra em

muitos casos o distanciamento entre a teoria e a prática na educação do campo,

ainda mais que, “a dicotomia que existe na zona rural é ainda mais evidente, pois o

que se percebe é um total distanciamento entre o que deveria ser trabalhado e o que

é utilizado na prática, ocorrendo com isso uma discrepância entre o que seria ideal

para o que é real” (CAETANO, 2012, p. 278)

Percebe-se essa dissociação do currículo com a realidade do campo,

conforme observado por Hage (2005, p.56) em que “as escolas multisseriadas têm

assumido um currículo deslocado da cultura das populações do campo”, o que é

uma realidade na maioria das escolas ribeirinhas do campo em Breves, assim,

[...] a cultura urbana que penetra no ambiente das escolas rurais ribeirinhas multisseriadas, através dos currículos, livros didáticos, etc., desvaloriza e desconstrói esse imaginário aprendido através da convivência com seus iguais. Os professores envolvidos pela exigência dos saberes escolarizados homogeneizantes contribuem para reforçar a valorização do saber urbano. Assim as aulas nas classes multisseriadas passam a ser marcadas por uma lista de conteúdos disciplinares distantes da vivência dos alunos (CRISTO; LEITE NETO; COUTO 2005, p. 127).

Questionados se há ou não adaptação dos conteúdos para a realidade dos

alunos, 13 professores responderam que sim, que levam em consideração a

realidade, e fazem as adaptações necessárias,

Sim, porque só assim a aprendizagem vai ter sentido para os alunos todo conteúdo tem que partir dos conhecimentos dos educandos (P10, Breves, 2012);

Sim, porque ainda encontramos algo nos livros que não estão de acordo com nossa realidade e necessitamos rever antes de usá-los (P15, Breves, 2012);

Sim, porque às vezes aparece em algumas disciplinas alguns conteúdos que para a faixa de aprendizagem esta além do seu grau de instrução (P8, Breves, 2012);

Sim, porque é necessário inserir a realidade dos estudantes no contexto educacional (P14, Breves, 2012);

Não tão de acordo com a realidade (P17, Breves, 2012);

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107

A maioria dos professores afirma que realizam as adaptações necessárias

para adequar os conteúdos de acordo com a realidade dos alunos ribeirinhos.

Todavia, presenciamos em nossas observações e nas conversas informais que

alguns professores sentem muita dificuldade em realizar as adaptações de

conteúdos, pois ainda é o modelo urbanocêntrico que esta impregnado nas

propostas curriculares do campo, quando na realidade,

para a educação do campo, suas práticas devem ser orientadas por meio de um currículo que expresse as marcas culturais da população do campo. Nesse sentido, as práticas educativas devem ser ancoradas a uma perspectiva de pós-currículo, os quais estão afinados com as teorias pós-criticas, como, por exemplo, as teorias pós-estruturalistas, pós-modernistas, pós-colonialistas e multiculturalistas, que propõem o respeito às culturas, aos saberes e caminhos para a construção de uma sociedade justa, solidária e igualitária na sua multiplicidade de sujeitos culturais (OLIVEIRA; FRANÇA; SANTOS, 2011, p. 76).

Todavia essa realidade de um pós-currículo, ainda encontra-se muito distante

das classes multisseriadas, e esse distanciamento fica ainda mais evidente quando

11 dos professores desta pesquisa afirmam não participar nem mesmo da escolha

dos livros didáticos utilizados nas escolas com classes multisseriadas. Contudo,

mesmo sem participarem da escolha dos livros, 15 professores afirmam utilizá-los

para: pesquisas, auxílio no planejamento das aulas, e resolução de atividades no

próprio livro, suporte para o estudo dos eixos tematicos, trabalho extraclasse, cópias

de texto, leitura, dialogo sobre questões do livro, nas aulas expositivas, interpretação

de textos orais e escritos.

Detectamos, assim, que alguns professores reclamam do distanciamento

entre os conteúdos dos livros didáticos e a realidade dos alunos e por este motivo

constumam utilizá-los apenas como complementação de conteúdos nas aulas.

Apresentamos algumas respostas abaixo em que os professores dizem participar da

escolha dos livros e logo em seguida como os utilizam em sala de aula,

Não sei, infelizmente não participei. Eu utilizo para pesquisas e às vezes para trabalho extraclasse (P1, Breves, 2012);

Não participamos. Conforme a necessidade (P4, Breves, 2012);

Através da Secretaria, não tive participação na escolha. Para leitura, interpretação de texto oral e escrito (P8, Breves, 2012);

Através de reuniões, sim algumas vezes. Na leitura, na escrita e atividades, interpretação de textos (P11, Breves, 2012);

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Recordo que uma vez participei, mas esses livros escolhidos não chegaram. Servem para me auxiliar como um dos instrumentos no planejamento de aula. E resolução de questões diretamente nele com o meu auxilio (P10, Breves, 2012);

Foram selecionados alguns professores, mas eu não estava incluída. É utilizado da melhor maneira possível (P13, Breves, 2012);

E da mesma forma que a maioria dos professores afirma não participar da

escolha dos livros didáticos assim também o disseram sobre a elaboração do

calendário escolar. Essa não participação na construção do calendário escolar para

o campo acaba por deixá-lo, em algumas localidades, longe da realidade local, o

que acarreta em prejuízos no cumprimento dos dias letivos, pois há períodos de

chuva, safra do açaí, que não são levados em consideração e que acaba por ocorrer

à evasão escolar em algumas localidades.

Quando perguntados sobre suas participações na elaboração do calendário

escolar 10 professores afirmam que a SEMED que o constrói sem a participação dos

professores, e 11 professores disseram conseguir cumprir o calendário e 09

afirmaram que algumas vezes conseguem outras não, como explicam,

A SEMED que elabora e eu não participo. Quem tem 100 horas consegue (P13, Breves, 2012);

Algumas vezes. Este fica a criterio somente da coordenação com a participação dos professores nas primeiras reuniões anuais (P12, Breves, 2012);

Algumas vezes. A SEMED constrói. Não participo (P10, Breves, 2012);

A Secretaria nos fornece, não participo (P11, Breves, 2012);

Nunca participei, nem sei quando acontece (P2, Breves, 2012);

Se dá de forma não participativa, é feito na SEMED. Eu nunca participei (P14, Breves, 2012);

Percebemos então que as decisões ainda continuam muito centralizadas a

SEMED, a equipe técnico-pedagógica do campo. Acreditamos que esse fato se deve

a dificuldade de locomoção às escolas como podemos verificar quando do

questionamento sobre as visitas técnico-pedagógicas da SEMED, dos 20

professores somente 05 afirmaram que recebem visitas técnico-pedagógicas da

SEMED, e 15 disseram que somente algumas vezes recebem, quanto a esse

aspecto Lopes (2013, p.71) destaca que,

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o atendimento aos educandos do/no campo necessita ser procedido em um município que possui suas vias de deslocamento em sua extensão quase que na totalidade por hidrovias. Para tanto, a equipe técnica da SEMED Breves dispõe da possibilidade de efetivar os assessoramentos pedagógicos em lanchas de pequeno porte denominadas na Amazônia paraense de “voadeiras”.

Assim sendo, apesar da SEMED possuir as referidas lanchas, todavia

frequentemente há a reclamação da ausência de combustível para efetuar as visitas.

Para os professores também é difícil a locomoção até a SEMED, e dessa forma,

procuram se desdobrar em mais essa função de coordenação pedagógica para

consigo mesmos e para com os outros colegas que procuram auxilio em suas

atividades diárias.

Apesar disso, a coordenação do Distrito Sede Rural, afirma que embora com

todas as dificuldades, consegue realizar além dos trabalhos técnico-administrativos,

a função de coordenação administrativa e pedagógica, pois já realizou Oficinas

como de Jogos Pedagógicos Ludicampo x Ludiarte, proporcionando aos professores

momentos de socialização, troca de experiência e criatividade.

Em uma de nossas visitas a SEMED a coordenação do Distrito Sede relatou

que todos os servidores lotados na sala da coordenação “realizam suas atividades

com competência e responsabilidade, atendendo o público e os profissionais das

escolas do campo com respeito e atendendo, dentro das possibilidades, suas

solicitações” (COORDENADOR DO DISTRITO SEDE RURAL, 2012). Sendo assim,

acreditamos que a Coordenação do Distrito Sede Rural, procura atender da melhor

forma possível as escolas do campo no Município.

Quanto às técnicas e metodologias utilizadas pelos professores do campo, os

mesmos responderam que utilizam a roda de conversa, a leitura lúdica; a maioria,

afirma utilizar jogos educativos, dinâmicas, técnicas voltadas para o cotidiano,

atividades que envolvem a turma, trabalhos em grupo, pesquisas, trabalhos de

campo, monitoria de alunos “mais adiantados” que auxiliam os que precisam de

auxilio pedagógico. Outros afirmam ainda que utilizam aulas práticas e trabalhos de

classe; a leitura individual e em grupo, atividades no caderno e explicação do

conteúdo, desenvolvidos por meio de dialogo; aulas expositivas e dialogadas, com

cópias de textos ainda retiradas de mimeógrafos e alguns livros didáticos e

paradidáticos, jogos educativos e outros recursos didáticos que auxiliem na leitura,

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escrita, interpretação de textos narrativos e aulas explicativas; desenvolvimento da

aula na lousa e aula explicativa com debate relacionado a disciplina; aula explicativa

e depois desenvolvimento de exercícios.

No entanto, percebemos que na maioria das escolas que visitamos há uma

contradição quanto a essas afirmativas acima, pois em nossas observações

informais percebemos que em algumas escolas não há em nenhum momento as

atividades com jogos e atividades dinâmicas como afirmam, fato este que

confirmamos em conversas informais com membros da comunidade e alunos, os

quais disseram que “os professores trabalham mesmo é com quadro e giz, e quando

muito com os livros didáticos e cópia”. Assim, percebemos que alguns professores

não admitem sua real prática em classes multisseriadas, talvez com receio de

demonstrar que ainda utilizam métodos ultrapassados de ensino.

Em relação aos critérios de avaliação, quando questionados como é realizada

a avaliação da aprendizagem dos alunos e quais instrumentos são utilizados e ainda

se negociam os critérios e os indicadores de avaliação com os alunos, 12

professores afirmam que utilizam a avaliação continua, diária, por meio do

comportamento, interação, testes, participação, trabalhos de classe e extra-classe,

conversas, fichas avaliativas, leitura, participação, trabalhos em grupo, individual,

interação, frequência, debates, seminários, ficha individual, provas, atividades oral e

escrita, 08 professores não definiram o período das avaliações. A seguir destacamos

as respostas de alguns professores de como realizam a avaliação e se negociam as

mesmas com os alunos,

Eu utilizo trabalhos de classe e extra-classe, a “prova”, propriamente dita, além de analisar a participação do aluno. Algumas vezes negocio (grifos de P1, Breves, 2012);

Para avaliarmos, na verdade a avaliação acontece todos os dias, no decorrer das atividades, e nos finais dos bimestres preenchemos as fichas

20

na qual requer preencher os critérios e relatar o cotidiano do aluno. Não negocio (P3, Breves, 2012);

Atividades avaliativas, tanto individual quanto em grupo, e práticas que envolva os educandos a interação e participação. Não negocio (P15, Breves, 2012);

Diariamente, em todos os aspectos. Tudo referente ao aluno eu avalio. Desde o comportamento, interação, participação, solução dos trabalhos de classe e extraclasse, avaliações e conversas, etc. Não negocio (P10, Breves, 2012);

20

Apresentaremos essa ficha detalhadamente na Sessão 3 desta dissertação.

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111

Assim, os métodos avaliativos são frequentemente os mesmos utilizados pela

maioria dos professores da pesquisa, todavia alguns enfatizaram que não possuem

um período fechado para que ocorram as mesmas. Quanto à negociação das

avaliações com os alunos a maioria disse que não negocia devido a SEMED já

enviar fichas itens fechados para avaliação, assim cabe aos professores apenas

seguir o que lhes repassam sem que possam discutir com os alunos outras formas

de avaliação.

Outro foco de reclamações dos professores do campo em Breves é a

ausência de recursos didáticos para as aulas, quando perguntados quais os

recursos didáticos que costuma utilizar em suas aulas 13 responderam que utilizam:

cartolina, lápis, régua, computador, jornais, revistas, livros, livro didático, giz, quadro,

cadernos, jogos, mimeografo, materiais enviados pela SEMED, e do Programa

Dinheiro Direto na Escola (PDDE), e alguns adquirem de recursos próprios, todavia

os professores não especificaram como utilizam os mesmos. Quanto à questão se

recebem recursos continuamente para a realização de seus trabalhos, 02

responderam que Sim; 08 – Não; 06 - Algumas vezes; 04 professores não

responderam essa questão. Quando há a falta de material didático, merenda escolar

ou problemas com a infraestrutura da escola, qual o procedimento que adotam, eles

descrevem,

Alguns problemas resolvo com a SEMED os mais fáceis com a comunidade (P13 – Breves, 2012);

Dependendo de cada situação, tentamos resolver na comunidade com todos, inclusive com a firma local (madeireira) (P12– Breves, 2012);

Faço as minhas anotações e reivindico em reuniões (P11 – Breves, 2012);

Adequação: Essa é a palavra “adequação” e muito amor ao nosso trabalho! (grifos de P13 – Breves, 2012);

As crianças são liberadas mais cedo (P3 – Breves, 2012);

Levamos os alunos para o campo (P2 – Breves, 2012);

Assim, fica evidente que os professores evitam ao máximo procurar a SEMED

para a resolução de problemas, passando eles mesmos a buscar por soluções ou os

coordenadores das escolas em que existe esse cargo, ou em alguns casos,

procuram resolver com a comunidade em que as escolas se encontram.

Em detrimento de todos os pontos apresentados, acreditamos que ainda são

muitos os fatores que precisam de alteração para a melhoria da educação do campo

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no Município de Breves, pontos que em alguns casos são de fácil solução e outros

mais difíceis e que precisam de maiores investimentos para alterá-los.

Para finalizar esta sessão, acreditamos que as melhores sugestões para

mudar esse quadro na educação do meio rural do Município devem ser levantadas

pelos próprios professores que vivem essa realidade. Portanto, apresentamos a

seguir sugestões elaboradas pelos professores que participaram da pesquisa e

responderam aos questionários. Destacamos as seguintes sugestões:

Explorar no máximo a variedade das classes (P14, Breves, 2012);

A porta de abertura para a melhoria desses problemas é a nucleação (P13, Breves, 2012);

Acredito que minha ideia de sempre, já esta sendo contemplada com a nucleação das escolas, onde cada professor trabalhará com um único nível (P12, Breves, 2012);

A dica é a nucleação! Enquanto não houver a nucleação não temos muito o que fazer. E, assim, a aprendizagem dos educandos fica comprometida! Apesar dos nossos esforços em dá certo! (P10, Breves, 2012);

Eu particularmente gostaria que a SEMED oferecesse cursos para todos os profissionais que atuam em multissérie (P15, Breves, 2012);

Divisão das classes e mais professores disponíveis (P11, Breves, 2012);

É muito difícil acabar com esse sistema, mas para amenizar que o educador que trabalha com quatro níveis em um turno poderia ser em dois turnos (P9, Breves, 2012);

Uma proposta seria que o professor trabalhasse com no máximo dois níveis de ensino. Por exemplo, seria necessário a presença de mais um professor na sala (P6, Breves, 2012);

Deveria ser extinto! O multissérie não há um bom rendimento para as partes (P2, Breves, 2012);

Acabar com a multissérie (P3, Breves, 2012);

Como podemos perceber, são propostas diversas que vão desde a extinção

até a nucleação ou redimensionamento das classes multisseriadas. E mesmo sendo

sugestões com possíveis soluções extremas em alguns casos, mas que devem ser

levadas em consideração, pois são evidenciadas por professores que vivem essa

realidade.

Portanto, a realidade das classes multisseriadas, na região do Marajó, mais

especificamente no Município de Breves, se apresenta como um grande desafio

educacional, e chama a atenção devido às várias dificuldades vivenciadas pela

população do campo e pelo contexto em que está inserida a maioria das escolas,

com caminhos de difícil acesso por rios e furos, com o uso de barcos, canoas e

pontes inapropriadas, e em alguns casos, a ausência de estrutura física adequada,

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superlotação nas salas, realidade esta que professores e alunos enfrentam

diariamente, tentando cumprir calendários e currículos, muitos desses dissociados

de sua realidade, e contando, ainda, com vários outros fatores que contrastam com

a realidade da educação urbana.

Dessa forma, apesar das classes multisseriadas, que estão em sua totalidade

nas escolas do campo em Breves, surgirem como uma possibilidade de solução

para resolver o problema das distâncias educacionais entre campo e cidade,

procurando promover a escolarização da população do campo no Município, as

mesmas ainda possuem muitos problemas que emperram para uma melhor

qualidade na educação da população do campo da região.

Na sessão a seguir apresentaremos a realidade de uma escola rural-ribeirinha

no Município de Breves-Pá, a Escola “A”, onde atua a Profa. Maria sujeito desta

pesquisa. Demonstraremos como se dá a organização do espaço escolar e demais

aspectos que influenciam no processo ensino-aprendizagem de alunos ribeirinhos. E

apesar da realidade apresentada não ser em muitos aspectos favoráveis,

acreditamos que neste espaço existem práticas pedagógicas que se diferenciam, as

quais apresentaremos no item 3.2 Prática Docente e Metodologias que

potencializam a aprendizagem em Classe Multisseriada no Município de Breves –

Pará.

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SESSÃO 3: ESCOLA RIBEIRINHA E A PRÁTICA DOCENTE EM CLASSE

MULTISSERIADA NO MUNICIPIO DE BREVES – PARÁ

Nesta sessão apresentaremos a caracterização da Escola “A”, sendo que

dentre as 02 turmas com classes multisseriadas existentes na mesma levaremos em

consideração especificamente a turma 01 objeto de observação em nossa pesquisa

e na qual leciona a Profa. Maria. Logo em seguida exibiremos a prática pedagógica

e algumas metodologias diferenciadas utilizadas pela Profa. Maria para potencializar

o processo ensino-aprendizagem de seus alunos.

3.1 Caracterização de uma Escola Ribeirinha e sua Classe Multisseriada

A Escola “A” esta localizada na comunidade e rio Furo de Breves, a 20

minutos da cidade e faz parte do Distrito Sede Rural, a Escola começou a funcionar

no ano de 1997, em um barracão cedido por um senhor morador da comunidade

que juntamente com os outros moradores que tinham filhos na idade de estudar

empenharam-se em conseguir, junto ao prefeito da época, o funcionamento da

escola na localidade.

A Foto 10 abaixo apresenta uma parte da comunidade Furo de Breves, suas

casas ribeirinhas e ao fundo a Escola “A”.

Foto 10: Parte da comunidade Furo de Breves.

ES

CO

LA

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

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115

Verificamos na Foto 10 acima que a localização da escola se encontra no final

da comunidade, próxima de poucas casas, os quais são de estruturas humildes e

não são ligadas por pontes que levem até a escola.

No início de seu funcionamento a escola atendia em dois turnos, com apenas

dois professores. No ano de 2002 a escola passou a funcionar em três turnos,

manhã, intermediário e tarde, e mais uma professora passou a integrar o quadro de

funcionários da mesma. Em 2003, passou a contar com o auxilio de uma

coordenadora pedagógica, e em 2004 foi contratada uma senhora na função de

servente, cargo este inexistente até então, pois os próprios professores

desenvolviam essa função. Em junho ainda desse mesmo ano foi inaugurada uma

escola padrão, deixando então de ser usado o barracão como sala de aula. A nova

escola contava com duas salas de aula seguindo os tamanhos exigidos pelo MEC, e

também com 1 copa, 1 secretaria e 2 banheiros de madeira.

Em 2005 mais uma turma foi constituída e em 2008 depois de muitas

tentativas uma turma de educação infantil e outra de primeira etapa da EJA foi

formada, e depois dos diversos furtos na escola, também foi contratado um vigia. No

ano de 2009, após muitas reivindicações os alunos tiveram pela primeira vez um de

seus direitos atendidos, foi contratado um barqueiro, para fazer o transporte escolar.

Nesse mesmo ano a escola passou por uma reforma sendo pintada, gradeada e

também foram construídos dois banheiros de alvenaria um feminino e outro

masculino na área externa aos fundos da escola. No ano de 2010, depois de muitas

solicitações uma turma de 5º série foi formada e mais um barqueiro contratado. Em

2012 a escola funcionou em 04 turnos: manhã, intermediário, tarde e noite, com o

número de 165 alunos no total.

Segundo a coordenadora da escola, depois do surgimento do Programa Bolsa

Família em que as crianças inscritas devem estar regularmente matriculadas e

possuir um número de frequência determinado para poder ter direito aos benefícios

do programa, o número de evasão diminuiu consideravelmente na escola e houve

um aumento no número de matrículas, assim como afirmam Oliveira, França e

Santos (2011, p. 171) infelizmente é fato que “os professores que pedagogicamente,

têm pouco com quem contar, depõem que as famílias não se preocupam com a

aprendizagem dos filhos e sim demonstram interesse pelo Bolsa Escola”. Apesar

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dessa realidade, a coordenação e demais funcionários ficaram felizes com o

aumento de alunos na escola, todavia no ano de 2012 como não houve alunos

suficientes para formar turmas especifica de 2º, 3º e 4º ano, foi necessária a criação

de 02 turmas de classes multisseriadas, uma com o total de 22 e a outra com 24

alunos, distribuída de acordo com as tabelas 12 e 13 abaixo:

Tabela 11: Escola “A” - Aproveitamento final - Classe Multisseriada - Turma 01.

APROVEITAMENTO FINAL DISCIPLINAS COM BAIXO DESEMPENHO

1º ANO 2º ANO 3º ANO 4º ANO 4ªS DISCIPLINAS: 4º ANO 4ªS

APROVADO M - 2 7 - - PORTUGUÊS - -

F - 4 7 1 - HIST/GEO - -

REPROVADO M - - - 2 - CIÊNCIAS - -

F - - - 1 - MATEMÁTICA - -

DESISTENTE M - - - - - ED. ARTÍSTICA - -

F - - - - - TOTAL

TRANSF. RECEBIDA

M - - - - - F - - - - -

TRANSF. EXPEDIDA

M - - - - -

F - - - - -

TOTAL NA MATRÍCULA FINAL

TOTAL 6 14 4 24 Fonte: Coordenação do Distrito Sede/2013.

Tabela 12: Escola “A” - Aproveitamento final - Classe Multisseriada - Turma 02.

APROVEITAMENTO FINAL DISCIPLINAS COM BAIXO DESEMPENHO

1º ANO 2º ANO 3º ANO 4º ANO 4ªS DISCIPLINAS: 4º ANO 4ªS

APROVADO M - 5 5 - - PORTUGUÊS 3 -

F - 4 7 - HIST/GEO 1 -

REPROVADO M - - - - CIÊNCIAS 1 -

F - - - - MATEMÁTICA 3 -

DESISTENTE M - - 1 - - ED. ARTÍSTICA - -

F - - - - - TOTAL 8

TRANSF. RECEBIDA

M - - - - - F - - - - -

TRANSF. EXPEDIDA

M - - - - - F - - - - - TOTAL NA MATRÍCULA FINAL

TOTAL

9 13

22

Fonte: Coordenação do Distrito Sede/2013.

Podemos perceber nas tabelas 11 e 12 acima que na turma da Profa. Maria, a

turma 01 lócus desta pesquisa, não houve nenhuma desistência, e 03 alunos

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117

reprovados, dos quais a professora fará comentários mais a frente, quando detalhar

sobre o nível educacional de seus alunos.

No ano de 2012 foram formadas 07 turmas no total na escola, e estavam

assim distribuídas: 01 turma de 1º ano (nível de educação infantil); 01 turma de 2º e

3º ano; 01 turma de 2º, 3º e 4º ano; 01 turma de 4º ano; 01 turma de 4ª série; 02

turmas de EJA, 1ª e 2ª etapas (noite). Nesse mesmo ano o quadro de funcionários

da escola contava com 01 coordenadora pedagógica, 01 servente e 08 professores,

sendo que somente a servente reside na comunidade do Furo de Breves, os demais

residem na cidade de Breves.

A escola é toda em madeira e quase que totalmente em cima do rio, por este

motivo vem sofrendo processo de erosão do solo, o acesso à mesma se dá apenas

por uma ponte também de madeira, como podemos perceber na foto 11 abaixo:

Foto 11: Escola “A” toda em madeira a margem do rio Furo de Breves.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

O prédio escolar possui 03 salas de aula, sendo que a sala em que foi

realizada a observação é a única que segue os padrões de tamanho exigidos pelo

MEC, 4x4m, possui 04 janelas com grades de madeira, 01 lousa grande, 01 mesa

com 01 cadeira para a utilização da professora, 24 carteiras para os alunos, 01

armário com portas para os professores guardarem os materiais pedagógicos, 01

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estante para livros, 01 porta de entrada e saída, 02 ventiladores de parede grandes,

que não funcionam devido à falta de energia elétrica em toda a escola, pois apesar

de haver um motor de luz o mesmo encontra-se danificado e sem combustível,

ficando a sala durante todo o horário de aula com pouca iluminação e sem

ventilação, somente com a luz e circulação de ar natural do local, todavia os alunos

já estão acostumados a essa realidade.

Durante o turno da noite funcionam as turmas da EJA, sendo que a SEMED

disponibiliza combustível para o funcionamento do motor de luz somente para esse

horário. No entanto, quando o motor não esta funcionando por questões de

manutenção a escola com o dinheiro do PDDE paga o conserto do mesmo, ou

algumas vezes os próprios professores da noite fazem coleta e pagam para

consertarem o motor e voltar a funcionar. Desde o final do ano de 2012 há um

barqueiro a disposição somente do turno da noite para o transporte dos alunos,

entretanto quando ocorre algum problema com o barco, motor de luz ou períodos

muito chuvosos os alunos são liberados, pois de acordo com a coordenação da

escola o número insuficiente de discentes atrapalha o bom andamento das aulas.

Em relação à organização do espaço das salas de aula, em todas há

trabalhos e jogos espalhados nas paredes, como podemos verificar na Foto 12

abaixo, que apresenta a maior sala e que segue os padrões do MEC.

Foto 12: Sala de aula da Escola “A”.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

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Como apresentamos anteriormente, a escola foi construída com apenas duas

salas de aula, seguindo os padrões do MEC, todavia com o tempo e o aumento no

número de matrículas houve a necessidade de mais uma sala de aula, então a

coordenação em conjunto com os professores solicitaram a SEMED a sua

construção, no entanto não houve auxilio da secretaria, sendo assim, a direção e

professores decidiram dividir uma das salas ao meio, ficando então 01 sala ampla

nos padrões do MEC, na qual a Profa. Maria trabalha, e 02 salas menores, que

normalmente funcionam com alunos do 1º ano e demais anos iniciais do ensino

fundamental menor.

As três salas possuem cada: 01 ventilador grande de parede, 01 janela com

grades de madeira, uma porta de entrada e saída, uma mesa com cadeira para os

professores, o número de carteiras altera-se diariamente, pois depende do número

de alunos que se fazem presentes nas aulas. Apresentamos na Foto 13 abaixo uma

das salas que foram divididas com parede de madeira, utilizada por alunos do 1º

ano:

Foto 13: Sala de aula dividida.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

Percebemos que a sala de aula ficou pequena e os alunos acabam por ficar

sem lugar para suas atividades diárias, no entanto, as professoras tentaram tornar o

ambiente agradável com joguinhos e desenhos em todo o espaço.

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A escola não possui área própria para recreação ou refeitório para a

distribuição da merenda escolar, ficando como opção para os alunos nesses

momentos suas próprias salas de aula ou o pátio ao redor da escola, todavia mesmo

em espaços inapropriados os alunos conseguem brincar e aproveitar os momentos

de intervalo das aulas, conforme observamos nas Fotos 14 e 15 abaixo:

Foto 14: Alunos no intervalo para a merenda.

Fonte: Vivianne Nunes/2012

Foto 15: Alunos no horário de intervalo no corredor da escola.

Fonte: Vivianne Nunes/2012

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121

Visualizamos nas Fotos 14 e 15 acima que os alunos procuram adequar-se a

ausência de um local apropriado para o momento do lanche; sentados no chão do

corredor da escola, escorados nas paredes da mesma, ou ainda sentados na ponte

que leva a escola, em conversas animadas enquanto comem a merenda escolar e

olham para o rio e barcos que passam a todo o momento.

A escola conta com uma copa pequena com 01 fogão industrial; 01 armário

pequeno para guardar materiais e utensílios; 01 área separada com pia para lavar

louças; baldes grandes para guardar água; alguns panelões para cozinhar a

merenda escolar; não há freezer ou geladeira, pois não há energia elétrica para

mantê-los ligados. Na Foto 16 abaixo podemos ver a área da copa para o cozimento

da merenda escolar e manipulação de utensílios. Na Foto 17 apresenta a servente

lavando as louças para servir a merenda.

Foto 16: Área da copa.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

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Foto 17: Servente preparando a merenda escolar.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

Notamos durante nossa observação que a escola sempre estava limpa e que

tanto a servente, quanto os professores e alunos tinham a preocupação em mantê-la

dessa forma. Alguns alunos ofereciam-se até mesmo para varrer as salas no final

das aulas para ajudar no serviço de limpeza que a servente deveria fazer sozinha

diariamente.

Na escola não há encanação para água, existe apenas uma caixa d‟água,

mas quase não funciona, pois também depende do motor de luz que durante o dia

esta sempre desligada por estar danificado ou por falta de combustível, desta forma

a água é retirada com baldes diretamente do rio a qual é tratada para beber e

cozinhar.

Em poucas ocasiões durante nossa observação houve o funcionamento do

motor de luz, o qual quando funcionava fazia um barulho tão alto que mal podíamos

ouvir a professora falando. Presenciamos, então que enquanto nas cidades o que

atrapalha as aulas normalmente é o barulho dos carros, buzinas, carros som, zoada

dos ventiladores, nas escolas ribeirinhas são os barulhos dos motores de luz

(quando tem e funcionam), motores dos barcos que passam no rio, o bater dos

banzeiros por debaixo da escola, e o eco da sala ao lado com a outra professora

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tentando desenvolver suas atividades. Na Foto 18 abaixo podemos ver ao fundo no

chão o motor de energia vermelho, mais atrás os banheiros femininos e masculinos.

Foto 18: Corredor ao lado da escola.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

Como podemos verificar na Foto 18 acima, os 02 banheiros externos estão

localizados logo atrás da escola, estão denominados como feminino e masculino e

servem para uso comum de funcionários e alunos, são construídos em alvenaria e

vale ressaltar que durante o período de observação desta pesquisa, no turno da

manhã, apesar de não haver água encanada encontravam-se sempre limpos.

Os dois banheiros possuem vasos sanitários, mas sem funcionamento das

descargas, que se encontravam quebradas, utilizando para isso baldes com água do

rio que são pegos pela servente da escola. As pias também estavam danificadas e

mesmo que estivessem funcionando não teriam utilidade, já que a bomba da caixa

d‟água não funciona devido à ausência de energia elétrica. Podemos ver na Foto 19

abaixo o banheiro masculino, com pia e descarga quebradas, e a Foto 20 o banheiro

feminino com a descarga, porém sem o cano para a passagem da água.

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Foto 19: Banheiro masculino.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

Foto 20: Banheiro feminino

Podemos observar que a infraestrutura da Escola “A” necessita de reparos

significativos. Entramos em contato com a SEMED, e nos foi repassado que o atual

prédio futuramente será desativado, pois a escola foi contemplada por um Projeto do

Governo Federal, MEC, o qual financiará a construção de uma nova escola para

aquela comunidade, mas ainda sem período determinado para início das obras.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

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Quanto ao transporte escolar, o mesmo é fornecido pela SEMED, que

disponibilizou dois barcos contratados em 2012, para atender aos alunos da Escola

“A”, nos 4 turnos. Nas Fotos 21 e 22 abaixo podemos perceber um dos barcos

contratados pela SEMED para o transporte de alunos, barco este pequeno sem

equipamentos básicos como coletes salva-vidas para a segurança dos alunos que

se organizam como podem dentro da embarcação.

Foto 21: Alunos entrando no transporte escolar.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

Foto 22: Alunos acomodados no transporte escolar.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

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Durante nossa observação houve dias em que amanheceu com muita chuva,

mas apesar disso a maioria dos professores e alunos compareceram normalmente a

escola, com ausência de poucos alunos. Percebemos que alguns discentes vão à

escola em transporte particular como canoas, rabetas ou em barcos próprios como

podemos observar nas Fotos 23 e 24 abaixo.

Foto 23: Alunos em transportes próprios.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

Foto 24: Alunas chegando à escola.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

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Podemos observar pelas fotos 23 e 24 acima que existem crianças que se

deslocam sozinhas em canoas, sem auxilio de um adulto para transportá-las, pois a

maioria das vezes os pais e/ou responsáveis estão trabalhando. Sendo assim,

presenciamos casos de crianças que moram ao lado da escola, mas que por falta de

pontes que liguem suas casas até a mesma precisam se deslocar ou pelo mato ou

de canoa sozinhas pelos rios que são suas ruas.

Dessa forma, o que para nós torna-se um absurdo o risco que correm nesse

percurso, para os ribeirinhos é comum às crianças aprenderem desde muito cedo a

nadar e a remar, pois é disso que depende a locomoção das mesmas para qualquer

ponto fora de suas residências, mesmo para irem até a casa do vizinho mais

próximo alguns moradores precisam de canoa para esse feito, pois na comunidade

Furo de Breves não ha ligação de pontes entre algumas casas, dessa forma ou as

pessoas se embrenham pelo mato para chegar às casas dos vizinhos ou vão de

canoa até as mesmas.

Em relação ao fator econômico dos discentes e das famílias da comunidade a

que pertence a Escola “A”, a maioria possui baixo poder aquisitivo e vivem quase

que exclusivamente dos rendimentos recebidos da Bolsa Família e/ou Bolsa Escola,

percebemos esse fato até mesmo pelas condições humildes das vestimentas e

materiais escolares das crianças que frequentam a escola.

No entanto, verificamos que são poucas as pessoas que ainda trabalham com

pesca, serraria ou roçado, sendo que algumas famílias retiram lucro na venda de

bebidas e comidas vendidas em bares que funcionam como balneários aos finais de

semana na comunidade.

Outra questão que procuramos verificar foi quanto ao trabalho infantil, que

nos foi repassado que ainda há casos de crianças que trabalham com os pais, em

carvoaria, serraria, e que a maioria tem a idade de 09 a 12 anos, o que confirma o

que retrata Cristo, Neto e Couto (2005, p. 122) em sua pesquisa,

os filhos trabalham com os pais na extração vegetal e também em pequenas fábricas de cabo de vassoura e ainda nas madeireiras familiares, na roça, no plantio, na colheita, caçando, pescando, tirando açaí com os irmãos, cuidando dos irmãos menores, fazendo trabalho doméstico e artesanal, algumas destas atividades são degradantes e geram risco de graves acidentes e até morte. O trabalho infanto-juvenil é aspecto marcante no meio rural do município, pois a necessidade da contribuição na renda familiar, para subsistência exige desde muito cedo a introdução da criança

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no mundo do trabalho, nesta situação a presença nas aulas torna-se secundária, principalmente na época da colheita do açaí, da extração do

palmito e da madeira.

Devido a esse amadurecimento e responsabilidade precoce, é curioso ver

alunos de 14 ou 15 anos com rostos infantis, mas com aspecto de homens adultos

com braços de pessoas que trabalham com serviços pesados de roça, serraria ou

carvoaria. E meninas também na mesma faixa etária com filhos nos braços como se

fossem crianças brincando de bonecas, quanto a esse fato Barros, Hage, Corrêa e

Moraes (2010, p. 29) comentam,

a situação de precarização socioeconômica e de trabalho da família, que muitas vezes realizam atividades itinerantes, de pouca rentabilidade, prejudiciais à saúde e sem as mínimas condições de segurança, também contribui para levar ao fracasso dos estudantes nas escolas multisseriadas, pois a família passa a priorizar o trabalho-precário em detrimento da participação da criança-adolescente na escola.

Porém, mesmo com os benefícios que trouxe o Programa Bolsa Escola nos

índices de matricula, diminuição da evasão e desistência, na Escola “A”, no entanto

ainda há casos de trabalho infanto-juvenil em algumas famílias da comunidade.

Sobre essa questão, procuramos ainda, informações da existência de casos de

menores que podem estar atuando como pedintes na cidade ou sobre casos de

prostituição em balsas ou bares e ficamos satisfeitos em saber que não há relatos

sobre esses casos na comunidade.

Todavia, sabemos que para o sucesso escolar além da ausência desses

fatores negativos acima relatados, é importante também contar com a participação e

envolvimento dos pais, e quando nos referimos a pais estamos nos referindo a

responsáveis, pois entendemos que,

a transformação por que passou a sociedade, nos últimos anos, provocou uma completa mudança no conceito de família. Assim, o modelo de família tradicional – pai, mãe e filhos – praticamente caiu no desuso, visto que o crescimento das relações instáveis promoveram uma gradual modificação na estrutura da família nuclear-tradicional. Atualmente os modelos familiares são tão diferentes e diversos que não podemos reduzir o conceito de família baseado apenas neste paradigma. Para sermos fieis à realidade, devemo-nos ater as circunstancias da realidade enquanto tal, perceber os detalhes e os tipos de organizações familiares e reelaborarmos nossa compreensão, a partir das categorias nativas, para que o nosso olhar possa enxergar esta instituição social (CAMPOS, 2012, p. 47).

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Durante nossas observações verificamos que nos poucos momentos em que

as famílias encontravam-se presentes, dificilmente elas eram compostas por pai,

mãe e irmãos; pois na maioria das vezes as crianças são criadas por avós, tios, ou

somente pela mãe, caracterizando o que Campos (2012) evidenciam acima. Assim,

a família, de modo geral, tem sido constantemente alvo de críticas feitas pelos

professores, pois “em geral os professores têm reclamado da postura dos pais, que

muitas vezes utilizam a escola como deposito para as crianças. Faltam às reuniões,

não participam das atividades da escola, são ausentes na escola e na vida das

crianças” (CAMPOS, 2012, p. 53). Notamos que na Escola “A” essa realidade não é

diferente, pois a coordenação pedagógica afirmou que há reuniões com os pais e/ou

responsáveis bimestralmente ou quando há necessidade, havendo a participação

frequente de poucos pais, mas não da maioria.

Quanto ao nível de envolvimento entre os pais e a comunidade percebemos

que quase não há essa interação, que são poucos os pais que participam dos

eventos e reuniões. A coordenação pedagógica nos repassou que os pais que

comparecem com frequência são na maioria das vezes sempre os mesmos, e

normalmente são os pais de alunos que não tem problemas de aprendizado e de

interação na escola, ao contrário dos pais de alunos que têm algum problema de

aprendizado ou comportamento, que normalmente nunca comparecem a escola.

Nos eventos que costumam ocorrer que são normalmente as comemorações

dos Dias das Mães, Pais, ou das Crianças, acontecem de forma modesta na maior

sala da escola e são poucos os pais que participam, e na maioria das vezes são

sempre os mesmos que sempre estão presentes. Desta forma,

na dinâmica pedagógica que se efetiva nas escolas multisseriadas, a participação da família/da comunidade tem se mostrado limitada, revelando pouca integração família-escola-comunidade. [...] Em primeiro lugar, evidencia-se o fato de que os (as) professores (as) acusam os pais de não colaborarem na escolarização dos filhos, afirmando ser este um grande problema, que interfere na aprendizagem. Em segundo lugar, pais e mães afirmam que trabalham e não têm tempo para ajudar os filhos nas situações que envolvem a escola, porém, sempre que podem, ajudam, estimulam e cobram dos filhos a realização das tarefas de casa. Em terceiro, muitos pais e mães não se sentem preparados para ajudar seus filhos nos trabalhos solicitados pela escola e isso se dá pelo baixo nível de escolaridade que possuem, ainda que não deixem de reconhecer a importância e a

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necessidade de sua participação mais efetiva na escola (BARROS, HAGE, CORRÊA; MORAES, 2010, p. 29).

Com relação aos eventos da escola, a mesma possui dois eventos maiores

durante o ano que são o Projeto Contação de Historias, Fábulas, Lendas, Mitos e

Contos com varias apresentações dos alunos e conta com a participação de alguns

pais, tivemos a oportunidade de participar desse evento no dia 29.11.2012, onde

percebemos o grande empenho de todas as professoras, alunos e da coordenação

da escola, houve nesse dia a presença de representantes da SEMED, o que

infelizmente não é comum ocorrer. Abaixo na Foto 25 apresentamos o convite desse

evento que foi financiado por meio dos esforços dos funcionários da escola, assim

como os recursos utilizados, que contaram com pouco apoio da Secretaria.

Foto 25: Convite do Projeto Contação de Historias.

Fonte: Escola “A”/2012.

O outro evento semestral que a escola realiza se dá de acordo com uma

proposta em 2012 da SEMED para que a cada finalização de eixo temático, que no

caso é bimestral, se faça uma culminância com a comunidade, chamada de “A

Partilha de Saberes”, no entanto a Escola “A” não realizou em 2012 no final de cada

bimestre e sim no fim de cada semestre, tendo ficado para o encerramento de final

do ano o eixo temático “Direitos Humanos” que ocorreu no dia 14.12.12, do qual

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participamos, e que contou com apresentações de teatro e dança. Na Foto 26

abaixo apresentamos o convite deste evento.

Foto 26: Convite do evento “A Partilha de Saberes”.

Fonte: Escola “A”/2012.

Podemos perceber na Foto 27 abaixo o Dia de culminância do projeto na

escola, alunos e alguns pais chegando de canoas e rabetas para a participação no

evento que ocorreu durante toda a manhã desse dia.

Foto 27: Frente da Escola “A” no dia do evento.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

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Na Foto 28 abaixo podemos ver a sala de aula lotada com pouco espaço para

a apresentação dos alunos, é visível a presença maior de crianças do que de

adultos no local.

Foto 28: Sala de aula lotada para o evento.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

Como a comunidade e os alunos não têm quase contato com data show,

notebook e outras tecnologias, quando ocorrem apresentações em que é ligado o

motor de luz, e que são utilizados esses equipamentos, os alunos ficam

comportados prestando atenção no que esta sendo apresentado. E no evento do dia

14.12.12 foram apresentados 02 vídeos sobre cidadania, ECA, Direitos e Deveres.

Infelizmente nesse evento houve um atraso muito grande devido o motor de luz não

ter funcionado e as professoras terem que se deslocar de barco a casa de uma

moradora da comunidade para o empréstimo do motor de luz da mesma. Após a

solução desse fato, as apresentações foram feitas, com a maior parte em teatro dos

alunos e outras com uso de data show o qual chamou muita atenção como vemos

abaixo na Foto 29, todos calmos e concentrados assistindo a apresentação no

quadro negro.

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Foto 29: Apresentação de slides em data show.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

Presenciamos o quanto os discentes ficam felizes e ansiosos quando ocorrem

esses momentos de interação na escola, e notamos a participação efetiva dos

alunos, entretanto foram poucos os pais que participaram dessa programação na

escola.

Com relação à interação da Escola “A” e SEMED, durante o período de nossa

observação não houve visitas técnicas-pedagógicas da secretaria à escola, fato este

frequente nas demais escolas do campo no Município, como já relatamos

anteriormente. No entanto, na Escola “A” essa problemática é amenizada pela

presença de uma coordenadora pedagógica, que procura realizar suas atividades da

melhor forma possível, fato este evidente durante o período de nossa observação,

pois presenciamos seu envolvimento com a escola, comunidade, professores, e

demais funcionários e alunos.

No turno em que fizemos nossa pesquisa todos os dias à coordenadora

encontrava-se presente, desdobrando-se também nas atividades de administração,

secretaria e manutenção dos recursos e busca quando da ausência e necessidade

dos mesmos.

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Outro ponto que nos preocupamos em questionar com a coordenação

pedagógica da escola foi quanto à existência de um Projeto Politico Pedagógico

para a Escola “A”, essa preocupação se dá por entendermos que,

a necessidade de elaborar o Projeto Politico Pedagógico da escola esta sentada na ideia de organização do trabalho pedagógico sem perder de vista a conexão com o trabalho administrativo. A sua existência serve para nortear didaticamente as ações educativas, estabelecer prioridades no âmbito da escola, ser um contraponto aos efeitos negativos da burocracia, do poder autoritário e da centralização das ações, bem como aproximar sujeitos, estabelecer relações e possibilitar uma ambiência pedagógica que viabilize uma educação de qualidade (OLIVEIRA; FRANÇA; SANTOS, 2011, p. 106-107).

De acordo com Oliveira, França e Santos (2011, p. 107), o Projeto Politico

Pedagógico se faz necessário mais ainda nos dias atuais, pois pode servir para

“avançar na construção de um projeto de sociedade”, pois entendemos que

atualmente há uma grande carência sobre os rumos da educação e da sociedade,

dessa forma o Projeto Politico Pedagógico, torna-se uma “necessidade fundamental,

na medida em que aponta direcionamentos para construir uma nova prática

socioeducacional mais humana e democrática, que atenda as diversidades dos

sujeitos e dos loci escolares”.

Contudo, a Escola “A” não possui Projeto Político Pedagógico, pois a SEMED

tentou construir um projeto voltado para toda educação do campo do Município,

porém não conseguiu, e a Escola “A” na expectativa desse projeto geral, não

realizou a construção de seu próprio projeto. Como não houve sucesso na

implantação do projeto geral, agora a proposta é que cada escola faça o seu próprio

P.P.P.

Apesar de não haver um P.P.P. na escola, entendemos que há uma

preocupação com o planejamento dos professores em seus trabalhos, pois vimos

seus planos e projetos muito bem elaborados. Sendo assim, coadunamos com

Oliveira, França e Santos (2011, p. 113) sobre a importância do planejamento, pois

“planejar para as séries, fazer planos, dar atenção diferenciada para cada grupo de

alunos, buscar compreender a realidade social e as diferenças de aprendizagem de

cada aluno são alguns pontos que fazem parte do planejamento dos professores

que trabalham com as classes multisseriadas”.

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Sobre a construção do calendário escolar, assim como os outros professores

que responderam o questionário para esta pesquisa, as professoras da Escola “A”

afirmam que também não participaram da elaboração do mesmo. Para suprir essa

defasagem de dias a SEMED propõe que incluam sábados letivos ao calendário,

todavia, os professores acreditam que não há rendimento positivo nessas aulas aos

sábados. Quando ocorrem imprevistos, como a necessidade das professoras

participarem de reuniões, cursos, ou outros motivos, as mesmas passam trabalhos

para os alunos desenvolverem nos dias em que não haverá aula.

Sendo assim, percebemos no decorrer de nossa observação, que apesar de

existirem vários pontos convergentes com os que foram apresentados na Sessão

anterior pelos professores do campo do Município, com relação à infraestrutura,

ausência de acompanhamento dos pais e da SEMED, no entanto, a Escola “A”

possui como ponto positivo o compromisso dos funcionários e alunos da escola na

tentativa de desenvolver uma educação de qualidade.

E para melhor compor esta Sessão, apresentaremos a seguir informações

sobre a prática pedagógica da Profa. Maria, seu perfil docente: idade; residência;

tempo de serviço com classes multisseriadas; situação funcional; sua concepção de

classes multisseriadas; o acompanhamento pedagógico/SEMED em seu trabalho;

formação inicial e continuada; participação em eventos e cursos; sua opinião sobre

as múltiplas atividades docentes, bem como, informações sobre planejamento

curricular; proposta pedagógica; construção do calendário escolar; escolha do livro

didático; organização dos horários de aulas e a organização diária das disciplinas;

conteúdos; recursos didáticos; avaliações; desafios e dificuldades; e para finalizar

apresentaremos suas opiniões e sugestões referentes às classes multisseriadas no

Município.

Pretendemos assim, nesse item demonstrar a prática pedagógica da Profa.

Maria, e algumas das metodologias que potencializam o processo de ensino-

aprendizagem de seus alunos e consequentemente diferenciam sua prática na

educação do campo no Município de Breves.

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3.2 Prática Pedagógica e Metodologias que potencializam a aprendizagem em

Classe Multisseriada no Município de Breves – Pará

Como vimos anteriormente temos como sujeito desta pesquisa a Profa. Maria

que atua há 18 anos somente em classes multisseriadas, tem 41 anos de idade e

reside no Município de Breves, possui o nível médio em Magistério e é formada em

Pedagogia pela Universidade Vale do Acaraú (UVA), atualmente cursa o 4º

semestre do curso de Geografia no Programa Federal PARFOR no Município de

Breves. É professora concursada, e trabalha há três anos na Escola “A”, no Furo de

Breves, Distrito Sede Rural, com uma turma de classe multisseriada de 2º, 3º e 4º

ano, com o número de 24 alunos na faixa etária de 07 a 16 anos de idade.

A professora Maria atua em classes multisseriadas desde o início de suas

atividades como docente, devido à mesma ter residido em uma vila madeireira onde

seu esposo trabalhava, e a proposta para atuar como professora surgiu quando o

dono da madeireira que era também o dono da vila decidiu contratar pessoas que

residissem na própria vila para lecionar, devido estar ocorrendo problemas na escola

da comunidade em detrimento a pouca frequência dos professores. Essa ausência

ocorria principalmente pelo fato de que os mesmos residiam em Breves e com isso

não cumpriam horários e os dias letivos do calendário, pois iam e voltavam para a

vila todos os dias e algumas vezes não retornavam de Breves passando a escola

dias sem aulas.

Com isso, a Profa. Maria foi convidada a ministrar aulas e como só havia

classes multisseriadas na escola a mesma já iniciou suas atividades docentes

trabalhando dentro dessa realidade. Dar início como docente em uma turma de

classe multisseriada é um desafio muito grande, como nos apresenta Rodrigues e

Aragão (2010, p.308),

[...] as primeiras experiências docentes com classes multisseriadas constituem, certamente, “provas de fogo” porque são cruciais – em termos pedagógicos e profissionais docentes – para que se possa continuar ou desistir de “ser professora”. Isso em razão não só do desafio posto em termos do trabalho didático - pedagógico com quatro séries do ensino fundamental, ao mesmo tempo, em uma única sala de aula, mas também em função do preparo múltiplo em termos dos “conteúdos disciplinares específicos”, usualmente previstos nos planos de ensino escolares para

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serem desenvolvidos pelo professor, e isso exige articulação quádrupla das ideias e do tempo da aula.

Diante desse quadro, notamos que para a Profa. Maria assim como para os

demais professores desta pesquisa as classes multisseriadas não surgiram como

uma escolha, e sim por falta de opção, tendo enfrentado várias dificuldades desde

então como afirma a seguir,

eu comecei a trabalhar já tava na zona rural e na zona rural só tem esse tipo de... todas as turmas são multisseriadas, ai eu comecei a partir daí não foi uma opção foi porque eu morava na comunidade, eu comecei a trabalhar e meu marido trabalhava lá e as turmas já eram multisseriado, eu trabalhei também com série, mas na maioria dos anos foi multisseriado (PROFa. MARIA/2012).

Em sua definição de classes multisseriadas a Profa. Maria acredita que “as

classes multisseriadas são turmas heterogêneas com vários níveis de

aprendizagens e séries diferenciadas. Eu as definiria como turmas que exigem

metodologias diferenciadas das que são utilizadas no meio urbano e que estimulem

os diferentes saberes”. Desta forma, percebemos que a professora procura colocar

em prática a sua definição de classes multisseriadas, pois trabalha com

metodologias diferenciadas que potencializam a aprendizagem de seus alunos,

como poderemos perceber no decorrer deste item.

Apesar da semelhança com programas como a Escola Ativa, no entanto, a

professora alega não utilizar somente a metodologia desse programa, afirma que

integra informações e metodologias de vários projetos e programas que acha

interessante, e explica: “alguns eu utilizo, como o Cantinho, a Árvore do

compromisso, algumas coisas que eu vejo que dá pra adaptar eu peguei e coloquei

nas minhas aulas, mas todas não, todas é difícil de adaptar”. Sendo assim, quando

questionamos se acredita trabalhar uma concepção ou um método pedagógico

especifico, a mesma respondeu que,

não, eu peguei um pouquinho de cada, praticamente os livros que eu trabalho são construtivistas não todos, mas a maioria, mas pelo menos o que eu leio, mas não utilizo todo ele porque ainda existe o tradicional, o tradicional que ainda não foi totalmente excluído, mas eu tento mesclar (PROFa. MARIA/2012).

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Para a Profa. Maria a maior preocupação é trabalhar com dinâmicas e

atividades que envolvam valores, responsabilidades e aprendizagem com os alunos

em sala de aula. Mesmo não sendo o propósito desta pesquisa aprofundar na

identificação do tipo de concepção em que a professora se adequa, verificamos, no

entanto, que a prática pedagógica da mesma se aproxima da concepção crítica de

educação, pois a professora acaba por desenvolver a autonomia e aguçar a

criticidade dos alunos sobre temas sociais, por meio de discussões e

desenvolvimento de atividades que proporcionem a reflexão, o compromisso social e

a opinião individual, como explica a Profa. Maria,

eu costumo comentar com eles, “porque será que existe tanta violência”, através dos textos a gente vai lendo e vai comentando, por que será que as pessoas descriminam por raça, religião, cada um tem sua opinião, ai a gente procura dialogar com eles, geralmente chega a questão da violência lá mesmo tem alunas que tem os irmãos muito violentos que já mataram em Belém e já ficaram pra lá, então ninguém pode falar nada pra elas, ai já houve muito conflito na sala entre eles mesmos, ai eu comecei a trabalhar a questão da violência através de textos pra acabar essa tensão porque já estavam trazendo pra sala de aula.

Questionada se seu trabalho incentiva a autonomia, responsabilidade e o

pensamento crítico dos estudantes, a Profa. Maria disse que,

eu acredito que incentivo, porque eles têm a árvore do compromisso21

, cada um tem seu compromisso e eles mesmos ficam se policiando e eles dizem “olha meu compromisso era esse hoje limpar a sala, respeitar o professor”, e o censo critico eu passo através de textos pra que eles possam tá dando a opinião deles mesmo, nos textos sobre vários temas e fico perguntando pra eles “qual o tua opinião? Eu sei que você tem uma opinião”, olha a questão da discriminação e preconceito que foi um tema que a gente trabalhou bastante, ai o que é mesmo discriminação, o que é o preconceito cada vez eu tinha que falar pra eles, teve apresentação.

Fica evidente então, que a definição por uma concepção ou um método

específico de educação por parte da professora em que se adeque sua prática

pedagógica, torna-se complexa devido às várias problemáticas que cerca essa

realidade, ou ainda por não ser uma simples prática, ou não se comparar também a

prática convencional de uma professora de escola seriada, pois há grandes

diferenças. Dessa forma, coadunamos com a definição de Barros (2004 p.119), que

21

Será detalhada posteriormente.

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explica que a práxis pedagógica de uma educadora de classes multisseriadas esta

submersa em um “emaranhado sociocultural e educacional presente no contexto

existencial e multicultural das classes multisseriadas”, e mais,

[...] a práxis pedagógica compreende a relação dialética entre a escola e a comunidade e sociedade, entrelaçada entre teoria e prática, ação e reflexão, mergulhada na dinâmica escolar e nos laços culturais, políticos e ideológicos que constroem e constituem essa dinâmica. Assim, não basta apenas entender a escola por um olhar focalista, desconectado da dinâmica socioeducacional que está inserida. Pelo contrário, tomar a práxis como referência, faz-nos perceber que a ação e a reflexão só tem sentido quando considerados intrinsecamente relacionados em um contexto mais amplo, que é dinâmico e que constroem a teia de relações que estão presentes no espaço escolar e na comunidade em que está inserida (BARROS, 2004 p.119).

Assim sendo, percebemos que a Profa. Maria se utiliza frequentemente da

reflexão sobre a sua prática para assim rever as metodologias de ação em sala de

aula. Entendemos, contudo que as metodologias utilizadas nas aulas da professora

nada têm de extraordinário e revolucionário, são metodologias conhecidas por

muitos professores, mas que a Profa. Maria apenas procurou valorizar e aplicar em

seu cotidiano, e que faz toda a diferença na educação de seus alunos. No entanto,

essas metodologias como veremos posteriormente mesmo que conhecidas não são

colocadas em prática no cotidiano da maioria das salas de aulas, ainda mais nas

salas de classes multisseriadas.

De posse das informações acima, passamos de fato as observações diárias

da pesquisa, iniciamos nossa observação em uma segunda-feira no turno da manhã,

estendendo-se pelo período de 03 meses consecutivos: outubro, novembro e

dezembro de 2012, período este em que nos deslocávamos diariamente de barco

toda manhã pontualmente as 06h30min, para acompanhar o horário das aulas de 07

às 11h, na turma 01, classe multisseriada da Escola “A”. Estas observações nos

apresentaram a oportunidade de presenciar a realidade da prática docente e as

metodologias utilizadas por uma professora do campo no Município de Breves-Pará.

Ao chegarmos pela primeira vez à escola, a própria professora nos

apresentou aos alunos da turma, no início notamos um estranhamento com nossa

presença por parte de todos na escola, principalmente dos alunos que ficavam muito

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quietos na sala de aula, mas com o tempo acostumaram-se, e o comportamento de

todos ficou mais natural, com a bagunça própria dos alunos.

A Foto 30 abaixo apresenta a Profa. Maria de blusa vermelha desenvolvendo

suas atividades pedagógicas em sua Classe Multisseriada.

Foto 30: Profa. Maria com seus alunos.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

Passamos então a observar pontos como a caracterização da escola

(apresentada no item anterior); do ambiente de sala de aula; estratégias utilizadas

para gerir o espaço; desenvolvimento das atividades planejadas nas 4 horas de aula

diárias; metodologias e organização dos alunos na sala de aula; deslocamento da

docente para acompanhar as tarefas junto aos alunos; movimento dos estudantes

dentro da sala de aula; recursos didáticos utilizados nas aulas; a relação professora

e alunos e participação nas atividades; modo como a docente expõe os conteúdos;

se os estudantes eram estimulados a participar das atividades; exposição dos

conteúdos na sala de aula; nível de conhecimento dos alunos; manutenção dos

recursos pedagógicos; utilização de materiais didáticos e outros; nível econômico

dos alunos e comunidade e participação dos responsáveis; atividades em grupo;

comportamento dos alunos; avaliação; desafios e imprevistos.

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E além da observação tivemos informações relacionadas aos itens apontados

acima por meio da entrevista que realizamos com a Profa. Maria, que nos relatou

também sobre as dificuldades/desafios que acredita enfrentar com as classes

multisseriadas, sendo que aponta que as maiores são,

a questão mesmo do apoio pedagógico, acesso a materiais, acesso as novas tecnologias, ai me perguntam, mas que tecnologias, que no interior, até que celular tem, internet e todas as tecnologias que já estão avançadas a gente até discutiu sobre isso, o acesso que a gente não tem apesar de estar perto da cidade, mais essa questão do apoio, apoio financeiro pra comprar os materiais e que a partir desse ano agora o governo vai investir pra alfabetizar na idade certa em material pedagógico, acredito que vai dar uma boa melhorada, vou trabalhar com 25 professores ai eu vou buscar mais coisa ainda.

Ainda sobre o apoio ao qual a professora se refere, quando questionada se

há o apoio e visitas técnico-pedagógico da SEMED e sua periodicidade, a Profa.

Maria afirmou que,

não, acho que esse ano não sei se foram umas duas vezes porque mudou de coordenador pedagógico

22, mas não foram, foi no início da Escola Ativa,

foi uma vez no ano, eles falaram que iriam passar agora no final do ano. A escola tem coordenação então a gente contam só com o apoio dela, e não tem visita da SEMED.

Assim, a Escola “A” , ao contrário da maioria das escolas do campo do

Município, conta com o auxilio de uma coordenadora exclusiva para atuar na escola,

o que facilita na resolução de alguns problemas com materiais e infraestrutura, pois

a coordenação acaba por atuar na realidade como direção da escola e não somente

no auxilio com os trabalhos pedagógicos, como já foi relatado no item anterior.

No entanto, apesar da Escola “A” possuir coordenação pedagógica, vimos

anteriormente que não há P.P.P. na mesma, quanto a isso a Profa. Maria confirma

que,

não possui, nós não temos, foi até tentado fazer um projeto, mas pra zona rural, mas não sei o que aconteceu porque não pode ser feito pro meio rural, tem que ser feito por escola, e ainda não foi feito, eles elaboraram um, mas não foi colocado em prática, mas era pra toda zona rural, não era

22

Quando se refere a coordenador pedagógico, a professora esta referindo-se ao coordenador do Distrito Sede Rural.

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especifico, eles queriam que cada escola fizesse o seu, mas não foi feito, agora não sei como é que ta essa questão porque eles ainda não passaram isso pros coordenadores.

Enfim, a escola está no aguardo das orientações para poder efetivar a

construção do P.P.P. que servirá para auxiliar a escola nos demais aspectos

pedagógicos.

Em relação aos problemas de infraestrutura citado acima, e apresentados

anteriormente, quando questionada sobre se acredita que a escola esta adequada

para o bom desenvolvimento das atividades pedagógicas, a Profa. Maria afirmou

que,

eu acho que ela não esta adequada, pra quantidade de alunos que nos temos, e pra realizar todo o trabalho, não tem energia elétrica, tem que ser a motor, ai não dá pra utilizar outros meios como data show, só se a gente providenciar motor e gasolina ai fica difícil, então a estrutura dela não tem espaço pra brincadeiras não tem nenhum espaço que seja adequado para o desenvolvimento.

Além da infraestrutura outra grande dificuldade enfrentada que a Profa. Maria

aponta é a questão de seu acesso à escola, já que não mora na comunidade e

todos os dias têm que se deslocar até a mesma, primeiramente caminhando de sua

casa até ao porto, sendo que reside em um bairro bem distante de onde contrata

rabetas, canoas ou barcos para levá-la até a Escola “A”.

Vimos anteriormente que o transporte para as escolas do campo no Município

de Breves é mais um problema para os professores, pois os mesmos têm que pagar

pelos serviços de qualquer transporte que esteja disponível para o deslocamento,

sendo que a SEMED repassa mensalmente a ajuda de custo de R$ 100,00 para

este fim, assim como evidencia a Profa. Maria,

tem que pagar a condução, é pago por mês uma quantia pro barqueiro ir levar a gente, do porto até lá, a dificuldade é porque a gente tem que pagar ele, mas vêm no salário 100 reais pra transporte chamado “interiorização” que tá garantido no Plano de Cargos e Carreiras pra zona rural.

Apesar de sua dificuldade, no entanto, fica feliz, por ao menos seus alunos

terem direito ao transporte escolar, já que,

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eles moram distante então não tem condições de ir de canoa ai o barco escola vai buscar, até os lá de perto, mas quando não tem barco os de perto vão, e os de longe é que não vão, até quando tá chovendo eles vão porque o barco é coberto, apesar de chegarem um pouco molhados (PROFa. MARIA/2012).

Sobre a frequência dos alunos, a Profa. Maria afirma que não costumam faltar

e respondeu: “Não, eles se esforçam, eles só não vem assim no caso de doença ou

quando acontece alguma coisa com o barco, quebra o barco, ai o barqueiro não

chega”. E como a maioria dos alunos ou são parentes ou vizinhos, quando acontece

de algum aluno faltar à aula, o colega ou irmão avisava a professora o motivo da

ausência do mesmo. Para a Profa. Maria esse fator se deve ao interesse dos

mesmos, como explica,

eu acredito que a maioria são interessados, porque é difícil, eu tava falando que esse ano nós não tivemos nenhuma desistência, na minha turma, não tivemos nenhuma desistência, começaram e terminaram todos eles. Ai só acontece, quando às vezes deu um surto de hepatite pra lá acho que devido à água, ate aqui em Breves também, pois é, ai essa época eles faltaram e tem criança que faz tratamento em Belém, só nesses casos.

Quanto à forma de recuperação do conteúdo perdido, devido à ausência do

aluno, a Profa. Maria disse que: “eu faço uma apostila das atividades que já foram

trabalhadas ai eu passo pra eles, e eles trazem pra mim”. Dessa forma, com relação

à frequência dos alunos, observamos que os mesmos não costumam faltar às aulas,

e que procuram chegar no horário certo, não sendo presenciado por nós em nenhum

momento alunos chegando atrasados a aula e em poucos momentos a ausência de

um ou dois alunos, que posteriormente justificaram sua ausência para a professora.

Em relação aos diários de classe, a professora diz que trabalha “com duas

cadernetas, tem a do 4º ano é separada e a de 2º e 3º junto, ai todo o dia é feita a

frequência, ai também tem a frequência da Bolsa Família que ao final de todo mês

tem que trazer pra SEMED”. Na análise que realizamos da caderneta, verificamos

que a professora procura preencher de forma organizada todos os itens para

preenchimento que são: dias letivos, frequência dos alunos, notas de avaliação,

registro da matéria dada, total de aulas dadas e previstas e porcentagem das

mesmas durante o bimestre e ano letivo (ZÓBOLI, 2007, p. 33). Abaixo podemos

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verificar na imagem 01 a caderneta equivalente ao 2º e 3º ano, separada da

caderneta de 4º ano.

Imagem 01: Caderneta do 2º ao 3º ano utilizada pela Profa. Maria.

Imagem 02: Caderneta do 4º ano utilizada pela Profa. Maria.

Fonte: Escola “A”

Fonte: Escola “A”

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Por meio da análise das cadernetas verificamos que mais uma vez as classes

multisseriadas são subordinadas em todos os aspectos ao ensino seriado, pois nem

mesmo há cadernetas especificas para esse trabalho, tendo o professor que

adequar às cadernetas das turmas seriadas para as turmas multisseriadas. No

entanto, para a professora essa vinculação ao ensino seriado é normal e apenas

preenche as cadernetas assim como é orientado pela SEMED quando há

planejamento.

Questionamos a professora quanto a sua participação no planejamento

pedagógico realizado pela SEMED, se a mesma participa, e assim como a maioria

dos professores antes questionados nesta pesquisa a mesma respondeu que,

existe, esse ano agora eu não participei ano passado ainda participei, porque é no mesmo período em que nos estamos estudando. Quando eu parei de estudar na universidade todos que os que tiveram eu participei, mas tem, é uma semana, participa todo mundo junto, todos os distritos e os professores são divididos por ano (1º, 2º ano, etc.) (PROFa. MARIA/2012).

Quanto ao calendário escolar, quando interrogada se participou de sua

elaboração respondeu: “Não, ele já vem pronto já, os professores não participam”,

ou seja, os professores não são convocados a participar da elaboração dos

calendários, assim como foi relatado anteriormente. E quanto ao cumprimento do

mesmo afirmou que,

não a gente não consegue cumprir porque a gente já começa com uma defasagem de dias, por exemplo, agora esse ano que vem vai começar dia 04 de fevereiro, e nos vamos começar praticamente lá pelo dia 20 de fevereiro, ai já são muitos dias o que eles fizeram foi que a gente trabalhasse no sábado, mas mesmo assim, trabalhando todo sábado não daria (PROFa. MARIA/2012).

Sobre sua opinião se acredita que há rendimento nas aulas nos dias de

sábado a professora afirma que,

não, porque eles não vão no sábado é difícil à frequência, a frequência cai muito, porque o pessoal das igrejas eles fazem dia de sábado e a maioria pertencem a igreja evangélica ai eles fazem no sábado, e é no mesmo horário, ai tudo isso, ai a coordenadora foi lá e conversou com eles (SEMED), ai eles disseram, “olha vocês fazem um projeto, vocês passam a atividade na sexta-feira valendo o sábado e um sábado no mês vocês vão pra culminância”, que é aquele projeto dos mitos, dos contos de fadas, esse

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é um projeto pra recuperar as aulas perdidas, porque tava sendo muito discutido agora na reunião, ai eles (SEMED), disseram que conversaram com o pessoal das universidades pra ver se eles terminassem antes pra que as aulas não fossem até fevereiro, que terminassem antes em janeiro, mas parece que vai até dia 15 de fevereiro (PROFa. MARIA/2012).

Então, mesmo discordando das aulas aos sábados a professora cumpre a

reposição sempre que é necessário e participa dos projetos, que citamos no item

anterior, que objetivam repor os sábados letivos na tentativa de cumprir o calendário

anual escolar.

Em relação à participação dos pais e/ou responsáveis e ao auxilio nas

atividades escolares, a professora confirma o que foi apresentado na caracterização

da escola, quanto à participação dos pais no processo ensino-aprendizagem dos

alunos, e diz,

olha a maioria eu percebo que eles não ajudam os filhos nas atividades, mesmo a gente conversando com eles, muito é porque eles são analfabetos e não tem como ajudar e outros não sei é por falta de interesse, talvez seja isso né? A gente nota quando manda atividade pra casa, uns trazem e outros não, porque dizem que não tem tempo, porque trabalham na serraria ou fazem carvão ai eles dizem que nem adianta mandar pra casa que eles não têm tempo pra fazer (PROFa. MARIA/2012).

Assim, realmente a professora não pode contar com o auxilio da maioria dos

pais e/ou responsáveis de seus alunos, ficando então a responsabilidade pela

educação dos discentes voltada para a escola e principalmente para o professor.

Sendo assim, com relação às atividades extraclasses ou dever de casa, os mesmos

são poucos utilizados, como explica,

trabalho, mas não todo dia tem vezes que eles não conseguem terminar e levam pra terminar em casa ou na sexta-feira mesmo que é trabalhado os projetos ai eles levam as atividades pra levar na segunda-feira, mas nem todos levam de volta, mas a maioria leva, mas eu percebo que tem uns que é o irmão, que é a mãe, porque não é a letra, porque eu sei qual é a letra deles ai eu chamo a atenção eu falo que não pode e até falo na reunião dos pais falo pra eles que não é pra eles fazerem pra eles ensinarem mostrarem o caminho como é que é pra fazer mas não fazerem porque os pais não tem paciência e pegam e fazem tudinho logo ou o irmão, não sei, ai dos outros anos as meninas não passam dever de casa porque quando chegam é só um pedaço, já nem chega mais inteiro, as vezes eles trazem do mesmo jeito, ai a gente gasta com papel com tinta, ai eu passo assim quando é no livro ai eu vou marcando pra eles (PROFa. MARIA/2012).

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Logo, a professora evita os trabalhos a serem desenvolvidos fora do ambiente

escolar, pois acredita que não há rendimento para os alunos, devido aos fatores

apresentados acima.

Outra questão que nos chamou a atenção foi quanto à utilização dos livros

didáticos em suas aulas, pois afirmou que não utiliza,

porque tem coisas lá até que dá pra trabalha, outras não, ai eu utilizo pra passar dever de casa pra aqueles que têm mais dificuldade e que eu vejo que precisam fazer mais atividades do que os outros ai eu usei alguns no primeiro semestre[...] os do 2º ano que foi um livro que eu achei interessante, foi do 2º ano pra lá foi do 1º e do 2º que eu trabalhava cruzadinha caça-palavras ai eu utilizei com eles, mas eles terminaram tudinho antes do meio do ano, ai depois eu não trabalhei porque esses que vem do projeto Buriti parece é muita informação, que a gente já analisou livros didáticos na universidade, ai esses livros não são bons pra gente trabalhar é muita atividade, muita informação, muita coisa que a criança não entende o comando da questão então acho que é muito difícil pra eles, ai não adianta nada o professor passar e o aluno não aprender nada gastar 2 a 3 horas ate copiar pro caderno olha o tempo que vai levar ai perde-se muito tempo com isso e eles ficam cansados, por isso não utilizo muito (PROFa. MARIA/2012).

Durante nossa observação nos deparamos com a doação feita pela

professora para os alunos de livros didáticos que se encontravam na estante da sala

de aula, grande foi a alegria dos alunos que ganhavam 3 ou 4 livros cada um e

saiam sorridentes da escola com os mesmos embaixo dos braços. Quando

perguntamos o que iriam fazer com os livros a maioria respondeu que serviriam para

pesquisar os trabalhos extraclasse ou que levariam para os irmãos que poderiam

utilizá-los.

A professora nos explicou que os livros estavam defasados e que não gosta

de trabalhá-los por estar muito distante da realidade dos alunos, assim não os

utiliza, pois em sua visão poderia vir a prejudicar e não auxiliar em seu trabalho,

sendo assim, foi orientada pela coordenação da escola a doá-los aos alunos que

poderiam utilizá-los em casa para pesquisa. Questionamos então se a professora

havia participado da escolha dos livros didáticos para seus alunos, onde a mesma

afirmou, assim como os outros professores responderam nos questionários

apresentados anteriormente, que não participou, “não, e esse ano não foi livro

didático pra escola”.

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Assim sendo, infelizmente os livros didáticos que deveriam ser utilizados

como “valiosas fontes de informações para despertar nos alunos o gosto pela leitura

[...] e que o professor poderá desenvolver nos alunos o hábito de estudar sozinho

para se informar e resolver problemas, o que os levará a adquirir independência”

(ZÓBOLI, 2007, p. 101), não são, no entanto, adaptados ou redirecionados para

serem utilizados pelos alunos da educação do campo.

Após as perguntas relacionadas aos livros didáticos, questionamos se há uma

formação continuada promovida pela SEMED especificamente para os professores

da Educação do Campo e se participa a Profa. Maria respondeu que,

não a gente não tem assim, nos já tivemos alguns cursos da Educação Especial, já fiz alguns cursos, pra Educação do Campo já teve algumas, agora estava tendo tipo umas palestras, quando começou o ano esse ano que foram feitos os eixos para trabalhar, cada eixo tinha uma palestra, agora pro final não teve mais, teve ate o eixo escola e comunidade, quando chegou nesse dos direitos humanos ai não teve mais nem uma formação sobre esse eixo esse ultimo eixo, até o terceiro eixo teve palestra. Quando me convidam eu vou, tudo o que tiver eu vou, mas é difícil ter.

Outrossim, como foi explicitado anteriormente já houveram alguns cursos

voltados à educação do campo, todavia os mesmos ainda são insuficientes as reais

necessidades da realidade do campo. Dessa forma, a professora procura

desenvolver seus planejamentos tendo como base os materiais que adquire com

recursos próprios, a experiência que já possui com classes multisseriadas e sua

participação anteriormente em cursos para educadores do campo.

Quanto ao seu planejamento a mesma explica que não realiza diariamente o

plano para as 4 horas de aula, “é semanalmente, ai eu já vejo quantas atividades eu

vou passar em um dia ai já tem tudinho o que é que eu vou passar no caso, quando

ocorre algum imprevisto já fica para o outro dia, se não der tempo de terminar a

atividade no outro dia continua” (PROFa. MARIA/2012).

Percebemos, ainda que a professora trabalha seus planejamentos por meio

de Projetos educacionais utilizando para tanto,

diversas coisas, teatro, jogos, brincadeiras, mais trabalho com jogos e brincadeiras, cruzadinha e caça-palavras, essas coisas que eles gostam muito, eu trabalho bastante a questão do raciocínio deles pra tá desenvolvendo nas palavras-cruzadas nos caças-palavras e isso tem que

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ser trabalhado desde o primeiro ano com eles essa metodologia (PROFa. MARIA/2012).

Abaixo podemos observar dois dos projetos trabalhados pela Profa. Maria, na

Imagem 03, voltado à comemoração do Natal em que procura desenvolver

atividades que envolvam língua portuguesa, matemática, e outros, e textos que

demonstrem o porquê desse período comemorativo.

Imagem 03: Projeto de Natal.

Fonte: Profa. Maria/2012.

Imagem 04 abaixo o Projeto Igualdade, que em sua justificativa “visa à

valorização do ser humano, resgatando a importância das virtudes como tendência

para o bem” (PROFa. MARIA), esse projeto trabalha os valores e o reconhecimento

do outro, da coletividade, direitos e deveres do cidadão, etc.

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Imagem 04: Projeto Igualdade.

Esses Projetos estão em consonância com Eixos Temáticos e Temas

Geradores, já citados anteriormente e que são trabalhados por bimestre durante

todo o ano letivo. Abaixo apresentamos os Eixos trabalhados no ano de 2012 sendo

que podemos perceber que os mesmos são comuns aos anos letivos, modificando-

se, em alguns casos, os objetivos:

Fonte: Profa. Maria/2012.

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Quadro 02: Eixos trabalhados em 2012.

Eixo comum a todos os anos

OBJETIVOS

2º Ano 3º Ano 4º Ano

1º Bimestre: EIXO I: DIVERSIDADE

Compreender o homem como sujeito construtor de sua própria história.

Compreender o homem como sujeito construtor de sua própria história.

Compreender a importância da diversidade das comunidades ribeirinhas, bem como seus costumes e crenças.

2º Bimestre: EIXO II: EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUSTETABILIDADE

Adotar posturas de cuidados com o meio ambiente, percebendo que é parte dele.

Sensibilizar as crianças para a preservação e o cuidado com o meio ambiente

Compreender a importância do meio ambiente para a sustentabilidade dos seres vivos.

3º Bimestre:

EIXO III:

RELAÇÃO

ESCOLA/CO

MUNIDADE

Perceber-se como um ser

integrante de uma

comunidade com diversas

relações, valorizando e

respeitando seus pares.

Perceber-se como um ser

integrante de uma

comunidade com diversas

relações, valorizando e

respeitando seus pares.

Compreender a

importância da parceria

entre escola e comunidade

no processo ensino

aprendizagem

4º Bimestre:

EIXO IV:

DIREITOS

HUMANOS

Perceber-se como um ser

integrante de uma

comunidade com diversas

relações, valorizando e

respeitando seus pares.

Perceber-se como um ser

integrante de uma

comunidade com diversas

relações, valorizando e

respeitando seus pares.

Compreender a realidade

para que nela interfira de

maneira mais consciente e

positiva.

Fonte: Profa. Maria/2012.

O quadro 02 acima demonstra que os eixos e objetivos trabalhados,

concentram temas que abordam a cidadania, meio ambiente, diversidade,

integração, direitos humanos e que visam desenvolver a reflexão e valorização

sobre o meio em que vivem. Abaixo na Imagem 05 apresentamos uma ficha com os

eixos temáticos, os temas geradores, conteúdos, objetivos específicos e as

estratégias de ensino, de acordo com cada ano trabalhado.

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Imagem 05: Quadro com o modelo de Eixos e Temas Geradores.

Fonte: Profa. Maria/2012.

De acordo com a Profa. Maria o trabalho por meio dos temas geradores e

eixos temáticos torna as atividades mais direcionadas e se dá da seguinte forma,

eu faço o mural e apresento pra eles, olha a gente vai trabalhar esse eixo direitos humanos, ai cada dia vou falando de um direito e falar dos deveres e direitos e como foi trabalhado o eixo a gente fala da comunidade também e vai mudando lá o mural ai vai colocando e vai mandando eles

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observarem, não tem uma apresentação no inicio do ano de tudo o que vai ser trabalhado, é de acordo com o eixo, vai mudando o eixo ai vai sendo feita a apresentação (PROFa. MARIA/2012).

O mural que a professora se refere, são dois e estão representados nas Fotos

31 e 32 abaixo, e foram confeccionados pela própria professora de papel cartão,

T.N.T, E.V.A., cola e a cópia apresentando os temas e eixos utilizados de acordo

com cada bimestre.

Foto 31: Mural dos Temas Geradores.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

Foto 32: Mural dos Eixos Temáticos.

Fonte: Vivianne Nunes/2012

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Os temas geradores que a Professora utiliza foram selecionados pela equipe

técnica da SEMED, com a participação de alguns professores, sendo que de acordo

com Freire (1987, p. 93),

estes temas se chamam geradores porque, qualquer que seja a natureza de sua compreensão, como a ação por eles provocada, contém em si a possibilidade de desdobrar-se em outros tantos temas que, por sua vez, provocam novas tarefas que devem ser cumpridas.

Quanto à forma como são apresentados os eixos e temas geradores aos

alunos, acreditamos que deveriam ser apresentados no início do ano letivo, e como

não houve a oportunidade dos discentes participarem da escolha dos mesmos, seria

importante um maior envolvimento na organização dos trabalhos ou na confecção

dos painéis. Pois, a partir do momento em que esses temas são escolhidos a portas

fechadas eles “não se dão em termos autênticos ou críticos” (FREIRE, 1987, p. 94),

portanto acaba por ocorrer que ao invés dos temas geradores e conteúdos

trabalhados sejam adaptados de acordo com a realidade em que são utilizados, o

que acontece é que os indivíduos que os utilizam é que se adaptam a eles.

Podemos verificar essa afirmativa quando a Profa. Maria foi questionada se

participou da seleção dos conteúdos para as aulas, a mesma respondeu que “não,

porque eu tava estudando”, e quando questionada se há a preocupação de fazer

relação desses conteúdos com a realidade dos alunos percebemos que a professora

tenta adaptar os conteúdos que lhe foram repassados, pois afirma que,

acredita que sim, mas acho que ainda falta muito às pessoas estudarem mais como fazer essa adaptação, pelo menos eu tento buscar, mas não é muito fácil fazer a adaptação pra realidade deles. Tem coisas lá que é pra trabalhar, por exemplo, a comunidade, o dialeto da comunidade tem algumas coisas assim que tem haver com a comunidade, no caso da relação escola e comunidade, mas eu acho que ainda tá muito distante da

realidade mesmo de lá (PROFa. MARIA, 2012).

A professora procura adaptar o planejamento a realidade de sua turma, como

por exemplo, em uma das aulas sobre higiene e corpo humano, acrescentou alguns

elementos regionais, no lugar de itens que eles não conhecem como, por exemplo,

quando tratou sobre o sentido paladar: ao invés de jiló utilizou camarão, todavia

sempre tendo a preocupação em seguir o que esta determinado pela SEMED,

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eu sigo o que tá lá e quando da pra fazer eu faço algumas adaptações como por exemplo a pesquisa na comunidade que nos fizemos uma maquete da comunidade pra ver quantas pessoas tinha na comunidade quantas famílias qual era a renda, de que vivia essas famílias, então não há um trabalho voltado mesmo pra realidade não a gente tenta adaptar mas o que se exige da gente é mais o urbano mesmo por mais que eles já tentaram, agora esse ano vai mudar de novo já nem sei mais como vai ser trabalhado agora esse ano, até as fichas cada ano muda ano passado era outro tipo esse ano é outra (PROFa. MARIA, 2012).

Observamos, então que a professora tem dificuldades em trabalhar os

conteúdos voltados para a realidade de seus alunos, devido principalmente os

mesmos serem somente repassados a ela, pois não houve a participação da mesma

e de seus alunos na seleção dos conteúdos que são trabalhados, sua função é

“apenas” seguir a matriz curricular repassada pela SEMED. Notamos, ainda, que até

mesmo a frequência com que são modificados os eixos temáticos e temas

geradores é determinado pela Secretaria, como explica a professora,

de 2 em 2 meses, são 4 eixos, são 2 eixos trabalhados no primeiro semestre e 2 no segundo. Os temas geradores são 4 temas geradores dentro de 1 eixo e eles não tem assim um tempo, até falei com o coordenador, falei olha se no caso eu vou trabalhar um projeto que vai envolver esse tema gerador esse e esse pode abranger os 3 geradores e desenvolver só um tema ele não tem muito essa frequência dos temas geradores porque as vezes um conteúdo que eu vou trabalhar aqui ta dentro de outro tema gerador ai eu tenho que trabalhar os 3 temas (PROFa. MARIA, 2012).

No entanto, o trabalho com eixos temáticos e temas geradores é recente no

Município, e está em fase de adaptação e avaliação, como esclarece a Profa. Maria:

“Começou esse ano, muitas coisas deram certo, o problema é achar o que eles

(SEMED) colocaram lá, tem coisa que nem na internet a gente não encontrou”. Essa

dificuldade em conseguir os materiais e conteúdos a serem trabalhados nos eixos

temáticos ocorre devido os mesmos não serem disponibilizados pela secretaria e

ainda por não haver nenhuma recomendação de onde podem vir a ser encontrados,

como explica a professora,

o material é a gente que tem que correr atrás, eu tava ate perguntando pra coordenadora como foi que eles fizeram os eixos porque tem muita coisa lá que eu não concordava, muitas coisas que é difícil pra encontrar, a menina

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que trabalhou o primeiro ano achou muito difícil trabalhar aqueles conteúdos com as crianças que não tem em livros didáticos. Eu acho que eles deveriam colocar alguns materiais disponíveis mesmo que seja pra gente tirar cópia pra gente ir lá e tirar, porque da internet a maioria do pessoal da zona rural não tem acesso a internet eles vem uma vez aqui mas é difícil, ainda mais aqui que a internet as vezes só pega de madrugada, porque lá a gente uma ajuda a outra por exemplo, a gente vai trabalhar esse eixo aqui é isso, isso e isso, ai eu falo, eu vou com a Bia, reúne eu a Bia e a outra ai a gente vê o que ela (Bia) conseguir ela vai passando pra gente, ai ela diz olha eu consegui isso de direitos humanos, ai dá pra gente trabalhar isso ai o que eu acho o que eu tenho eu levo pra elas, mas é muito difícil, mas acho que vai ser mudado esse ano agora. Os conteúdos deveriam ser mais voltados para a realidade (PROFa. MARIA, 2012).

Acreditamos, então que a professora deveria desenvolver as atividades com

mais autonomia, sem seguir fielmente o planejamento enviado pela SEMED, já que

afirma que o mesmo encontra-se distante da realidade de seus alunos. Acreditamos

que o ideal seria que a professora procurasse adaptar melhor os conteúdos a

realidade ribeirinha em que atua.

Entretanto, verificamos que o planejamento por meio de eixos e temas

geradores, apesar de terem sido selecionados pela SEMED, se trabalhados

adequadamente e de acordo com o contexto em que devem ser desenvolvidos,

podem ampliar a reflexão e a valorização do educandos em relação ao meio em que

vivem, oportunizando a interpretação, leituras e o desenvolvimento de atividades

que motivem o interesse pelos estudos e pela vida no campo.

Notamos ainda, como ponto positivo na prática da professora, que a mesma

tem contato com as professoras do 1º, 2º e 3º ano, e que procura realizar um elo

entre esses níveis letivos. A professora afirma que, “nós trabalhamos fazendo a

ponte, mas quando chega lá no quarto ano quebra, porque a professora não

concorda com os métodos que nós usamos, porque ela usa o método tradicional

mesmo é só o quadro e giz e conteúdo”.

Ficou evidente então que há a preocupação na continuidade dos trabalhos

entre os anos letivos, ocorrendo uma quebra, entretanto, no 4º ano, pois não há a

colaboração da professora que atua nesta turma, como explica: “a gente tem que

trabalhar da mesma forma as três, só que a outra quando chega no quarto ano

para”. As três, que a professora se refere são as professoras do 1º, 2º e 3º ano.

Observamos, ainda que há a divisão de disciplinas específicas, todavia de

forma diferente de como ocorre normalmente em outras turmas de classes

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multisseriadas em que há um dia que se estuda Matemática e outro Português, e

assim sucessivamente. Assim, a professora explica a forma como desenvolve as

disciplinas,

durante o período das 4 horas eu passo atividades que envolva português, matemática, que é praticamente todos os dias e história e geografia e ciências que já são a carga horária menor uma vez na semana uma vez geografia, uma vez ciências, mas como os projetos abrangem tudo ai vou trabalhando assim cada dia um pouquinho ai vai envolvendo (PROFa. MARIA/2012).

Notamos, assim, que a professora procura trabalhar de forma interdisciplinar,

pois consegue desenvolver várias disciplinas ao mesmo tempo por meio das

atividades realizadas. Quando questionada se trabalha a interdisciplinaridade a

professora afirma que sim, “acabo trabalhando dessa forma, não tem horário

especifico pra nenhuma disciplina”. Para Souza (2006, p. 24), a interdisciplinaridade

na educação do campo transcende a questão disciplinar, já que,

a Educação do Campo é um espaço propício para reflexões sobre interdisciplinaridade, uma vez que o próprio campo caracteriza-se por uma diversidade cultural, social e econômica. Dar continuidade à Educação do Campo requer a análise das especificidades de cada lugar. O campo é da pequena produção, do sem-terra, do posseiro, do indígena, do quilombola, dos atingidos por barragens, dos arrendatários, meeiros, porcenteiros, bóias-frias. Cada uma das atividades gera experiência e prática social diversificada, cuja identidade pode ser construída no espaço comunicativo do movimento social e na gestão coletiva da vida na escola.

Apesar desse trabalho com a interdisciplinaridade, no entanto, em nossa

observação nos chamou a atenção à situação das disciplinas de Educação Física,

Artes e Ensino Religioso, pois,

elas já vêm em cada projeto que a gente desenvolve tem uma aula de artes e tem de ensino religioso, quando vai falar das plantas, por exemplo, vem uma de ensino religioso os próprios livros já estão montados assim, os livros que eu trabalho já vem tudinho já vem de artes, ensino religioso tudo no tema, vai trabalhar um tema e dentro desse tema já tem. A Educação Física a gente não tem muito, o que eles pedem na ficha é meio difícil é só fazendo brincadeiras com eles que a gente percebe a questão da movimentação do corpo essas coisas e também que a gente não tem tanto conhecimento como um professor de educação física pra desenvolver, mas eu tenho que avaliar, só que a gente até contestou como a gente vai avaliar a educação física, que nós não temos como, ai eles disseram “não tu faz uma brincadeira”, não tem nem espaço e através de uma brincadeira não dá

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pra avaliar tudo, a gente coloca lá porque tem que colocar, não tem jeito o que a gente acha que o aluno desenvolve a gente observa, mas não tem muito como avaliar, por isso que eu não concordo com aquela ficha lá (PROFa. MARIA, BREVES, 2012).

Assim, essas disciplinas na realidade, são de certa forma deixadas a margem,

para serem trabalhadas como for possível pelo próprio professor responsável pela

turma, seguindo orientações da própria SEMED, tendo os professores então poucas

alternativas de como trabalhá-las já que não possuem formação especifica para

ministrá-las e nem espaço para desenvolvê-las. Apesar disso, como enfatizou a

Profa. Maria tem “que colocar”. Desse modo, [...] “a ação docente ocorre numa

situação, manifestada em situações reais, imprevisíveis e inusitadas, ou seja, requer

do profissional, para ação imediata, várias competências”, (CAMPOS, 2012, p. 27).

Em relação aos seus procedimentos metodológicos, observamos que são

basicamente os mesmos todos os dias e que ocorrem por meio de jogos e

atividades pedagógicas, e o seu desenvolvimento se dá dentro das 4 horas de aula

diária, que ocorre na maioria das vezes com atraso de 15 a 30 minutos, devido ao

deslocamento até a escola depender de barco e algumas vezes acontecem

imprevistos.

Sendo assim, diariamente a professora inicia suas atividades com a

distribuição de bingos ortográficos, dos quais diz: “bingo é praticamente todos os

dias que serve pra desenvolver a leitura deles”, e tem como premiação bombons.

Depois do jogo com bingo, a professora explica o conteúdo do dia e distribui as

atividades a serem desenvolvidas, na maioria das vezes a professora utiliza cópias

de livros com atividades para trabalhar os temas geradores, raramente é utilizado o

quadro negro23, caderno e livro didático, o foco são cópias de atividades e os jogos

pedagógicos, que são desenvolvidos no decorrer das aulas de acordo com o

conteúdo trabalhado no dia.

O desenvolvimento das atividades ocorre primeiramente com a pintura de

todos os desenhos que estão nas atividades e depois com a resolução das mesmas.

Há um momento de intervalo de 15 minutos para a merenda e interação, que

algumas vezes se estende um pouco mais devido as crianças e professoras ainda

23

A sala possui apenas um quadro negro, utilizado por todos os alunos, sem diferenciação de conteúdo.

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estarem interagindo com os colegas, após o intervalo há a continuação das

atividades que se desenvolvem até as 11h. Quando não dá tempo de terminar as

atividades fica para o dia seguinte sua finalização.

Quanto à exposição dos conteúdos na sala de aula observamos que a

professora trabalha o mesmo conteúdo para todos os alunos de forma sucinta, sem

muito aprofundamento na explicação geral preocupando-se mais em esclarecer de

forma individual, ou seja, ela faz a explicação geral e depois passa individualmente

com os alunos e vai trabalhando na prática as atividades com eles, como explica:

“Primeiro eu trabalho o conteúdo, através de poesias, faço a leitura do conteúdo e

depois as atividades, de acordo com o conteúdo. Quase não uso quadro negro,

caderno, dificilmente, são mais as atividades”.

No decorrer da observação percebe-se que a Profa. Maria expõe os

conteúdos com segurança, clareza de expressão e objetividade, no momento da

explicação procura elucidar as perguntas que surgem mesmo durante a exposição

dos conteúdos, pois,

o professor educa não apenas pelo conteúdo que ele transmite mas principalmente pela linguagem que ele emprega, pela sua voz, pelas suas atitudes pessoais exemplares (gestos, vestuários). Como a criança tende a imitar as atitudes dos seus mestres, é preciso que estes sejam modelos para serem imitados (ZÓBOLI, 2007, p. 24).

Observamos ainda, que ao contrário da maioria dos professores, a Profa.

Maria não enche o quadro negro de conteúdos para os alunos copiarem e sim

trabalha por meio das atividades lúdicas que são mais prazerosas e motivantes.

Ainda mais que os alunos ficam a vontade em sala de aula, deslocando-se

livremente, sem impedimento da professora, trocando informações sobre as

atividades, todavia sem bagunça, que quando ocorre à professora pede para que se

comportem, pois como em qualquer sala de aula, há os alunos que finalizam rápido

suas atividades e há também aqueles que se dispersam e demoram a terminar as

atividades.

Ao que se refere à organização dos alunos na sala de aula observada, a

mesma não segue os padrões comuns das classes multisseriadas, com os alunos

enfileirados, e separados por ano, ou por nível de conhecimento, seus alunos estão

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todos sentados aleatoriamente em um grande circulo ou pelo meio da sala, sem que

a professora interfira na escolha de lugar dos alunos, pois as atividades são as

mesmas, só que mudam os níveis de dificuldade para cada aluno. Portanto, a

professora organiza sua sala de aula diferente da forma como nos apresenta a

pesquisa realizada por Oliveira, França e Santos (2011, p. 87),

[...] na organização da sala de aula, duas formas distintas: uma tradicional (as cadeiras enfileiradas) e outra, na forma de circulo. Nessas formas de organização, na maioria, os alunos são organizados de acordo com a série/ano em que estão. Por exemplo, se uma turma é formada por alunos de 2ª, 3ª e 4ª série/ano, então a professora os separa de acordo com suas séries/ano. No momento das atividades, a divisão do quadro segue a mesma lógica.

A Foto 33 abaixo demonstra a disposição dos alunos na sala de aula da

Profa. Maria, sem padronização comum de classes multisseriadas.

Foto 33: Disposição dos alunos em sala de aula.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

A Profa. Maria explica: “procuro colocar eles, um que já sabe mais pra ajudar

o outro, quando é o bingo, um que sabe mais que o outro que ajuda o outro, mas

tem horas que eles não querem se ajudar, por nível”. Durante nossa observação

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notamos, ainda que em apenas dois momentos foram feitos trabalhos em grupos,

todavia percebemos que isso não fazia diferença para os alunos, pois todos estão

interagindo normalmente em todos os momentos. Portanto, a socialização na sala

de aula da Profa. Maria se faz constante, pois a mesma procura “introduzir o

individuo a vida social, já que nós vivemos num mundo socializado e a escola

precisa ensinar os alunos a viverem juntos, a trabalharem juntos, a conviverem,

enfim, a serem amigos uns dos outros” (ZÓBOLI, 2007, p. 27).

De fato, a interação entre os alunos, se faz constante, pois os mesmos

auxiliam-se mutuamente durante todo o momento das atividades, os que

entenderam melhor ajudam os que ainda têm dificuldade, sem que a professora

interfira nessa interação. Dessa forma, a “multissérie oportuniza o apoio mútuo e a

aprendizagem compartilhada, a partir da convivência mais próxima estabelecida

entre estudantes de várias séries na mesma sala de aula, o que em determinados

aspectos é considerado salutar” (HAGE, 2005, p. 46), assim notamos que a Profa.

Maria consegue trabalhar a heterogeneidade em sua sala de aula, e vemos esse

fato como ponto positivo em sua prática, pois,

não obstante, não podemos desconsiderar a visão dos sujeitos envolvidos com a multissérie que consideram toda essa heterogeneidade mencionada como um fator que dificulta o trabalho pedagógico, fundamentalmente porque se tem generalizado na sociedade que as “classes homogêneas” são o parâmetro de melhor aproveitamento escolar e consequentemente, de educação de qualidade (HAGE, 2005, p. 58).

No entanto, esse trabalho com a heterogeneidade perpassa também por

dificuldades com relação ao comportamento dos alunos, o que a professora

demonstrou saber lidar também com essa realidade, pois, percebemos que algumas

vezes há a dispersão do conteúdo, das atividades, por meio de conversas paralelas.

Todavia depois há um retorno, algumas vezes sem que a professora precise pedir

para a maioria essa atitude, demonstrando com isso o interesse dos alunos pelas

atividades, raramente um ou dois alunos não finalizam as tarefas, e quando isso

ocorre fica para o dia seguinte a continuação da atividade em andamento.

Em relação ao comportamento dos alunos em sala de aula, os mesmos agem

de forma natural como em qualquer outra escola ou localidade, com brincadeiras,

conversas paralelas e discussões momentâneas, mas a questão da indisciplina

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realmente não houve no período de nossa observação, em nenhum momento

presenciamos naquele turno e turma brigas, rebeldia dos alunos para com os

colegas, professora ou demais membros da escola. Mesmo os mais velhos,

apresentam o comportamento infantil na maioria das vezes, talvez na tentativa de se

adequar a turma, sem, contudo apresentarem desentendimentos com os colegas

menores. E apesar de não existir área para recreação os alunos brincavam no

corredor da escola e na própria sala de aula, sendo que mesmo com toda a correria

não observamos tumulto e acidentes de queda com gravidade.

Quanto ao nível de aprendizado dos alunos, percebemos que a maioria

encontrava-se equiparados em nível de conhecimento, pois conseguiam

acompanhar as atividades da mesma forma. Contudo, sabendo que só a partir do 4º

ano há reprovação, dos 04 alunos do 4º ano matriculados apenas “um que vai

passar, porque um é especial e os outros dois agora que tão começando a fase da

alfabetização, porque eles já chegaram muito atrasados, num nível bem mesmo

baixo” (Profa. MARIA, 2012).

Assim, por ter que alfabetizar alunos até mesmo do 4º ano, a Profa. Maria

entende que a preocupação em sequenciar os anos letivos e uma boa base na

educação infantil faz a diferença para o melhor desenvolvimento dos alunos nos

anos iniciais. Quanto a essa diferença do aluno que vem direto de casa, sem passar

pela alfabetização na educação infantil a professora explica,

os que passaram pela educação infantil, com a professora Bia, quando eles saem já saem praticamente lendo, é uma diferença imensa do que faz a educação infantil daquele que vem direto de casa, esses alunos do 1º ano que a Bia tava, esse ano eu fiquei uma semana pra Bia no lugar dela ai eu percebi que os que fizeram educação infantil eles ate silaba complexa eles tão lendo eles não tem nenhuma dificuldade ai tudo isso a gente tem que analisar, e saber como é que a professora que vai trabalhar 1º ano vai fazer, eles já estão em um nível que eles já sabem como vão fazer, eram 5 que a Bia tinha que ainda não tinham passado pela Educação Infantil ai foi o maior sacrifício, mas agora que chegou final do ano eles já estão lendo palavras simples, mas só que com mais dificuldade (PROFa. MARIA/2012).

Ficou evidente então, que o nível maior de dificuldade encontra-se com os

alunos do 4º ano, segundo a Profa. Maria, por “só agora estarem começando a fase

da alfabetização, porque eles já chegaram muito atrasados, num nível mesmo

baixo”, ao contrário dos alunos de 2º, 3º ano que já conseguem desenvolver a maior

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parte das atividades sem maiores dificuldades. Notamos, então na interação entre os

alunos, que os mais novos sempre estão auxiliando os alunos mais velhos,

percebemos assim a maior facilidade de entendimento das atividades por parte dos

alunos mais novos.

Acreditamos que um dos fatores para essa dificuldade dos alunos mais velhos

é o fato de se encontrarem em defasagem idade/série, pois são alunos na faixa

etária de 07 a 16 anos de idade. Entendemos com isso que a professora sente

dificuldades, principalmente nos momentos de realizar as atividades de teatro e

alguns jogos pedagógicos, acreditamos que isso ocorre devido os mais velhos não

se interessarem pela atividade que os alunos mais novos gostam. Questionada se

sente dificuldade ao lidar com alunos em defasagem idade/série a Profa. Maria

afirmou, “sinto porque os maiores não gostam das mesmas atividades que os

menores fazem, eles não gostam de certas brincadeiras que os menores fazem

porque eles já estão na adolescência alguns até já entraram na idade adulta”.

Todavia a professora procura envolver da melhor forma possível todos os

alunos da turma sem imposição e sim respeitando a opinião de todos, normalmente

agindo por meio de conversas que incentivem e convençam os alunos a

participarem das atividades propostas. O motivo da defasagem de seus alunos a

professora não sabe explicar ao certo já que os mesmos chegaram à escola com

esse problema, como esclarece,

olha eles estudavam em outra escola, que não era essa uma, eles passaram muito tempo eu acho na 1ª serie quando reprovava ai vieram de uma outra escola e já vieram pra entrar ainda no primeiro ano, aqueles grandes lá que eu tenho comigo eles vieram pra entrar no primeiro ano eles fizeram 1º, 2º agora que eles estão no 3º ano então esse é o motivo da defasagem ai complica, é difícil lidar com eles que já estão maiores já estão na parte da adolescência e tudo (PROFa. MARIA/2012).

A Foto 34 abaixo apresenta alguns dos alunos da Profa. Maria, podemos

perceber até mesmo pela variação dos tamanhos que alguns alunos se encontram

em defasagem idade/série.

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Foto 34: Alunos na sala de aula.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

Como a solução para este problema esta além da sala de aula e da escola e

perpassa por questões sociais, observamos, no entanto, como relatou acima, que a

Profa. Maria procura da melhor forma possível incluir esses alunos nas atividades

para que os mesmos não se sintam a margem e desistam de estudar como é

comum ocorrer em outras turmas multisseriadas.

Sendo assim, essa dificuldade na aprendizagem em detrimento da defasagem

idade-série reflete na reprovação de três dos quatro alunos matriculados na turma

que estão no 4º ano, já que é a partir desse ano que os alunos saem do ciclo de

alfabetização e já podem ser reprovados, assim a Profa. Maria explica que “só um

que vai passar, porque um é especial e os outros dois agora que tão começando a

fase da alfabetização, porque eles já chegaram muito atrasados, num nível bem

baixo mesmo”.

O “especial” que a professora refere-se é um dos dois alunos PNE‟s, que

estão na turma, sendo um do 4º ano e outro do 2º ano, estando os dois na verdade

como se estivessem “encostados”, pois não participam das mesmas atividades

realizadas pelos outros alunos, ainda mais que possuem o acompanhamento diário

de uma professora itinerante que atua exclusivamente na Escola “A” com os alunos

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da Profa. Maria, sendo que a mesma repassa atividades diferenciadas para serem

desenvolvidas pelos PNE‟s, por considerar que não conseguem acompanhar os

demais alunos. Percebemos, no entanto, que apesar de haver essa diferenciação

metodológica, no que diz respeito à interação com os outros alunos os mesmos são

tratados sem discriminação, pois brincam e participam das demais atividades e

eventos normalmente.

Dessa forma, vários são os fatores que comprometem o nível de aprendizado

dos alunos, sendo que alguns deles perpassam como destacamos acima por

questões de distorção idade-série e por uma base ineficiente na alfabetização dos

discentes.

Todavia, acreditamos que um fator motivador para o melhor entendimento e

que serve de incentivo aos alunos da Profa. Maria é a boa relação entre a

professora e seus alunos, pois há o respeito para com a professora, mas sem que

tenham receio de procurá-la para tirar dúvidas, apesar de em alguns momentos

serem chamados a atenção com relação à dispersão nas atividades, mas nada que

ultrapasse a normalidade. Quando questionada sobre o nível de atenção dos alunos,

a professora disse que “tem uns que até prestam atenção, é difícil a gente prender a

atenção totalmente, mas eles prestam a atenção, se esforçam”.

Outro fator positivo é o deslocamento da docente as carteiras dos alunos para

o acompanhamento das atividades pedagógicas, pois, a professora procura atender

a todos os alunos, movimentando-se pela sala de aula de carteira em carteira, sem

sentar em nenhum momento, tirando dúvidas ou explicando detalhadamente a

atividade a cada aluno, mesmo que algum deles não a procure ela vai até a carteira

e pergunta se está tudo bem e já olha a atividade que o aluno esta desenvolvendo.

Podemos notar na Foto 35 que os alunos se dispõem na sala como acham melhor,

na foto percebemos a Profa. Maria em pé de blusa preta, passando nas carteiras

dos alunos para fazer explicação e elucidar dúvidas.

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Foto 35: Professora deslocando-se na sala de aula.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

Como a professora faz o acompanhamento diário individual dos alunos, a

questão da revisão dos conteúdos torna-se frequente, sem uma data especifica para

ser realizada, pois não há um acumulo de dúvidas, como explica,

olha eu passo semanalmente, sempre eu to voltando, desde os encontros vocálicos que é feito no começo do ano, a gente volta de novo, passo um texto ai volta pra ver se eles ainda lembram, porque uma vez eu tava lendo um texto de uma professora que ela falava que os alunos eles tem uma facilidade muito grande de esquecer, eles não conseguem, tu tem que ir e voltar, ir e voltar, até o final do ano, as vezes a gente chega e nota que teve coisas que eles já esqueceram, na minha ultima analise a gente vê, só pelo fato deles perguntarem, eu pergunto pra eles, mas já esqueceu, ai ele vai até que ele lembra, mas tem outros que não lembram mais, mesmo fazendo um monte de coisas pra eles (PROFa. MARIA/2012).

Percebemos que essa forma de acompanhamento individualizado motiva a

participação dos alunos, pois acreditamos que há uma maior progressão no

entendimento dos conteúdos trabalhados, assim é,

[...] muito importante para orientar e prevenir possíveis erros de raciocínio. É sempre bom o professor circular pela classe, observando as crianças enquanto elas trabalham. Acompanhando o que elas estão fazendo, observando como estão pensando e as dificuldades que estão encontrando.

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Desta maneira o professor pode detectar erros de raciocínio em tempo de corrigi-los e, assim, evitar a fixação de algum raciocínio errado (ZÓBOLI, 2007, p.34).

Observamos então que a professora leva em consideração o que o aluno

tentou acertar e trabalha o erro para que mais a frente se torne um acerto, como

explica,

eu faço no final da aula, ai eu levo em consideração os testes a ortografia, e também a opinião deles que eu não considero totalmente errado porque às vezes eles não colocam na forma deles, ai eu levo em conta isso, ai tem o conceito bom que ele ainda ta precisando de acompanhamento especifico e quando ele já sabe o que pede e que ele não me pergunta ele já consegue ler o comando da questão e consegue fazer com uma letra legível ai ele tira excelente, ai tem muitos que dizem “ah eu não tirei excelente”, é o conceito da ficha (PROFa. MARIA/2012).

Sendo assim, entendemos que às correções necessárias são feitas no

mesmo momento em que estão sendo realizadas as atividades, isso faz com que o

erro seja corrigido, imediatamente ao contrário de outras realidades em que os

alunos ficam sem saber o que erraram ou se erraram, e acabam por fixar o erro

podendo vir a utilizá-lo como se estivesse correto, nesse contexto entendemos que,

as crianças, quando estão aprendendo, costumam errar muito, mas esses erros podem ser aproveitados pelo professor. Um erro pode ser útil, desde que o professor faça o aluno perceber o que esta errado. Se ele entender por que errou, poderá evitar mais tarde o mesmo erro (ZÓBOLI, 2007, p. 37).

Em nossa presença foram poucos os momentos que os alunos foram

divididos em grupos, um desses momentos foi para a realização de jogos

pedagógicos em duplas e trios, sendo que ficou a cargo dos próprios alunos a

escolha dos colegas, caracterizando-se uma formação de grupo espontânea, o que

de acordo com Zóboli (2007, p. 27) “se dá quando os alunos se reúnem livremente,

em função da aproximação física na sala de aula, afinidade, preferência pessoal e

proximidade de residência”. Os grupos receberam na ocasião um jogo para cada

equipe, e quando finalizavam os jogos as equipes trocavam entre si os mesmos.

Apesar desse momento a professora diz que,

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eu faço mais individual à tarefa em grupo é só quando é pra eles montarem uma maquete, uma pesquisa, que é de trio, de dupla pra eles se reunirem com as meninas ai eu coloco, por exemplo, três que moram só numa casa, três irmãos, ai só que é longe da outra casa, ai tem mais dois que moram perto ai aqueles dois é assim que eu divido, em sala de aula a gente não trabalha em grupo, só quando são os jogos, eu divido na sala, de quatro, três ou de dupla com os jogos (PROFa. MARIA/2012).

Quando ocorrem jogos pedagógicos ou trabalhos em grupo as carteiras são

organizadas em um grande circulo e os discentes utilizam o centro da sala para o

desenvolvimento das atividades, como observamos nas Fotos 36 e 37 abaixo, em

que equipes de alunos jogam bingo, dominó, trilhas, etc. com disposição aleatória

em sala de aula.

Foto 36: Alunos utilizando jogos educativos.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

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Foto 37: Momento lúdico e educativo.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

Entendemos que os alunos ficam felizes e motivados no momento dessas

atividades, interagindo, trocando informações e jogos quando acham necessário.

Quando questionada a partir de quando a mesma começou a trabalhar esse método

respondeu: “a partir de quando eu fiz a universidade e também que eu consegui

comprar a máquina de cópias e de imprimir e quando eu não tinha era mais difícil

tirar, era caro, mas mesmo assim eu já usava, faz muitos anos que eu uso”.

Portanto, a professora acredita que os estudos em nível superior lhe proporcionaram

esse conhecimento dos jogos e atividades pedagógicas como forma de motivação

para os alunos. Questionada qual seu procedimento se ocorre dos alunos não

conseguirem compreender o conteúdo por meio dos jogos, explica que:

eu procuro explicar especificamente só pra ele, conversar com ele, individualmente, explicar pra ele como é, por exemplo, no jogo, eu explico o conteúdo só pra ele, eles não tem medo de mim, quando eles não estão entendendo eles perguntam eu to disponível lá, chega eu nem sento nenhum minuto, no início do ano eles eram um pouco retraídos, eles não tinham liberdade, só os que já eram meus alunos, porque ali tem uns que eu já to acompanhando desde o 1º ano ai eles não tem vergonha, uns 10 já eram meus alunos, os outros eram das outras professoras, mas só no

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Aluno do 2º ano

começo depois eles já sabiam que eu explicava pra eles ai já não tem mais vergonha de perguntar, tem alunos lá no 4º ano que eles não conseguem perguntar, a professora é assim tradicional, muito autoritária que eles não perguntam nada (PROFa. MARIA/2012).

Abaixo apresentamos algumas das atividades pedagógicas realizadas pelos

alunos, sendo que cada modelo foi aplicado a todos os alunos da sala, sem

distinção como explicou anteriormente a professora. Colocamos em cima das

imagens somente o ano letivo em que está o aluno que realizou a atividade, para

que possamos demonstrar o nível de desenvolvimento dos mesmos, pois apesar de

alguns ainda estarem no 2º ano já conseguem desenvolver atividades mais

avançadas para o seu nível de aprendizagem.

Nas imagens 06, 07, 08 e 09 abaixo apresentamos as atividades de Língua

Portuguesa: Fique de Olho, Cruzadinha, Travessuras de criança, e interpretação de

texto. Essas atividades foram desenvolvidas pela Profa. Maria com todos os alunos

da turma, retiramos para apresentação respostas de alunos do 2º, 3º e 4º ano.

Enfatizamos que a professora primeiramente faz a explicação dos conteúdos

oralmente e só depois pede para que os alunos desenvolvam individualmente os

exercícios.

Imagem 06: Atividade de Língua Portuguesa.

Fonte: PROFa. MARIA/2012.

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Aluno do 2º ano

Imagem 07: Atividade com cruzadinha.

Fonte: PROFa. MARIA/2012.

Imagem 08: Atividades para o trabalho de ortografia SS.

Aluno do 3º ano

Fonte:PROFa. MARIA/2012.

MARIA/2012).

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Aluno do 4º ano

Imagem 09: Interpretação de texto.

Fonte: PROFa. MARIA/2012.

Notamos que os alunos não tiveram grandes dificuldades em desenvolver

essas atividades, e que ficam bastante animados, alegres em pintar e respondê-las,

ainda mais que a professora retira as dúvidas que surge no momento do

preenchimento dos exercícios. Essa motivação dos alunos demonstra que a

metodologia trabalhada é positiva para o desenvolvimento da aprendizagem dos

alunos. Sendo assim, acreditamos que a professora trabalha com essas atividades

na tentativa de diversificar sua metodologia, e quando questionada se os alunos

podem opinar com relação às tarefas a serem realizadas, como esclarece,

às vezes quando eles acham que é muito a gente junta dois dias e se não dá tempo eles reclamam que é muito, mas no começo do ano eu procurava perguntar do que eles gostavam que tipo de atividade eles gostam mais de fazer pra eu poder fazer pra eles pra não reclamarem muito das tarefas,

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faço tipo uma pesquisa com eles do que eles gostam (PROFa. MARIA/2012).

Assim, a professora procura levar em consideração a opinião de seus alunos

para assim poder selecionar o material que pretende trabalhar durante o ano letivo,

pois acredita que essa forma de metodologia torna o desenvolvimento das

atividades mais agradável não somente para os alunos, mas para ambos os lados,

já que as atividades utilizadas facilitam o entendimento e o interesse dos alunos,

pois,

facilita bastante, porque o quadro é muito difícil pra eles, porque quando eles terminam já estão cansados de tanto copiar, e eu percebo que tem um interesse maior porque as atividades elas são bem diferenciadas, a cada dia é uma atividade diferente, e eu procuro nos livros, que são bem mais dinâmicos, os jogos, os jogos a gente trabalhou bastante numa gincana que teve até outubro, nos fizemos uma gincana que a gente usava todos os dias, ai era trabalhada varias atividades todos os dias de perguntas e respostas, boliche, pescaria (PROFa. MARIA/2012).

Acreditamos que as atividades desenvolvidas pela professora, levam os

alunos a motivarem-se na tentativa de elucidar as questões que nelas apresentam-

se, pois ficou evidente que os discentes gostam de solucionar rapidamente as

atividades para ter acesso a outras, como se estivessem participando continuamente

de um jogo pedagógico que desenvolve a capacidade de raciocínio lógico dos

mesmos.

Quanto aos instrumentos utilizados para avaliar a aprendizagem dos alunos, a

professora explica como realiza a avaliação que é,

através dos jogos e das atividades que eu passo pra eles, do que eles me perguntam ai já vou percebendo o que eles sabem e o que não sabem, que eu às vezes explico só uma vez eles já conseguem fazer e tem uns que não que eu tenho que explicar cada item um por um até chegar no final ai tu vê que aquele um ta com mais dificuldade e aquele outro não, o outro já consegue, ai eu digo lê o comando, interpretar texto e ler o comando pra ver o que você vai fazer, porque as vezes eles dizem eu não entendi ai eu vou ver como é as fichas, até o 3º ano as disciplinas estão todas misturadas chega no quarto ano já é por disciplina especifica e já tem que ter uma nota, já não é mais conceito eu tenho que transformar meu conceito em nota (PROFa. MARIA/2012).

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Sobre as fichas que a professora se refere, são as fichas de avaliação

organizadas pela equipe técnica da SEMED utilizadas por todas as escolas do

campo do município, questionada sobre sua participação na elaboração das fichas,

a mesma afirma que “não, eu não participei dessa elaboração, acho que foi feito só

pelos técnicos mesmo, acho que os outros professores também não foram

chamados pra fazer, pelo menos que eu saiba não”.

Podemos observar na Imagem 10 abaixo uma das fichas que a professora

utiliza com o 4º ano, sendo que essas fichas são diferenciadas pois esse ano de

estudos já trabalha com a reprovação de alunos, ao contrário dos outros dois anos

que fazem parte do Bloco de Alfabetização e não reprovam.

Imagem 10: Parte frontal da ficha de avaliação do 4º ano.

Assim, podemos perceber que na Legenda no final da parte frontal da ficha,

especifica: Critério de 1 a 7= peso 7 distribuídos (0,5; 0,75 e 1,0); no Critério 8 o

Fonte: PROFa. MARIA/2012.

MARIA/2012)..

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peso é 3 distribuídos (1,0, 2,0 e 3,0), ou seja esses pesos são lançados nos quadros

ao lado dos critérios de avaliação, sendo que os quadros do número de 1 a 7 o

peso máximo é 7, e pode se dar as notas distribuídos (0,5; 0,75 e 1,0); no Critério 8

o peso é 3 distribuídos (1,0, 2,0 e 3,0), sendo assim a nota de cada eixo equivale a

uma avaliação. No 4º ano, para cada disciplina há uma ficha com critérios

específicos da disciplina. A imagem 11 abaixo demonstra a parte frontal da ficha de

avaliação do 4º. Ano.

Imagem 11: Parte posterior da ficha de avaliação do 4º ano.

Fonte: PROFa. MARIA/2012.

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Na imagem 11 acima apresentamos a parte posterior da ficha de avaliação do

4º ano, onde a professora deve apresentar um relatório individual de cada bimestre

especificando o desenvolvimento cognitivo e social em sala de aula do (a) aluno (a).

Apresenta-se também o resultado parcial de cada bimestre, a frequência e o

resultado final dos alunos, com assinaturas da professora, coordenador pedagógico,

secretário e diretor (SEMED).

As fichas do 2º e 3º anos seguem o mesmo modelo, todavia não demonstram

notas e sim conceitos: Excelente (E) = Desenvolve as habilidades de forma

autônoma; Bom (B) = Desenvolve as habilidades com mediação de outros; Regular

(R) = Necessita de acompanhamento especifico; Aprendizagem não desenvolvida

(AND). Não há também uma ficha para cada disciplina e sim os conceitos são

evidenciados de acordo com as habilidades desenvolvidas nos eixos que são os

mesmos trabalhados no 4º ano, todavia com critérios avaliativos diferentes.

Percebemos que os critérios estão de acordo com os eixos temáticos

trabalhados bimestralmente pela professora, em relação a opinião da professora

sobre as fichas a mesma define que, “até que elas não são muito assim [...] o difícil é

transformar em nota, já que eu dei o conceito e agora vou ter que transformar, ai tem

que pensar bem como foi, tenho que olhar os trabalhos pra ver como ele foi no

trabalho pra poder transformar em nota”. Todavia, acreditam que é uma boa forma

de avaliar os alunos, “as fichas eu acho que é uma boa forma, só que eu acho que

além de todos esses itens ainda tem outros itens que tem que ser avaliados”.

Em relação ao período de avaliação e recuperação a professora afirma que

as mesmas são contínuas, pois são trabalhadas diariamente com os alunos, sendo

assim, não há um período específico, a professora verifica todos os dias o

desenvolvimento dos alunos e quando preenche as fichas avaliativas já sabe o

conceito para cada item, sendo assim, quando questionada sobre o período

específico para as avaliações a Profa. Maria diz que, “não, não tem esse período

porque esse método meche com o psicológico deles, porque quando fala olha a

prova eles já ficam com medo”.

Quanto à recuperação a professora afirma que assim como a avaliação não

ocorre em um período específico, pois, “a recuperação é através dos jogos mesmo

quando eu vejo que eles não estão aprendendo direito ai vamos jogar pra treinar a

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memória”. Assim, sobre a frequência com que ocorrem as práticas avaliativas e que

método avaliativo utiliza a Profa. Maria citou a utilização do Painel X24,

praticamente todos os dias, porque trabalho a avaliação continua, porque cada vez eu percebo que quando eles me perguntam quando eles me chamam que eu vejo que eles não sabem eu percebo o que eles não sabem ainda eu procuro utilizar alguma coisa que levem eles a entender o assunto a questão da divisão e multiplicação é uma coisa muito difícil pra cabeça deles eu não concordo que a criança nessa idade elas já tenham tudo decorado ela não consegue elas conseguem algumas coisas, que eu percebi que elas já conseguem, mas ela tem que usar o painel X, eu não posso proibir ela, mesmo eu querendo avaliar eu sei que ela sabe utilizar o painel X, porque o painel X é uma forma de ela saber como é que se chega aquele resultado ai ela vai lá e ela confere e vê quantas vezes tem aquele número, ai ela já sabe como é que se chega ao resultado ai esse é o objetivo daquele painel, e divisão como é que ela vai dividir lá, então com isso eu vou analisando se eles já sabem, se eles não sabem, não trabalho com prova, eu passo tipo um teste mas ai no que eles vão me chamando eu vou vendo o que eles já sabem e o que não sabem, porque quando eu pergunto pra eles tal coisa será que ta aqui no texto, olha ai se ta, ai se eles não souberem eu já sei que aquele lá não aprendeu (PROFa. MARIA/2012).

A Profa. Maria diz que não negocia com os alunos os critérios e os

indicadores de avaliação, pois já vem determinado da SEMED, e acredita que não

adianta argumentar com eles suas opiniões, e diz: “Eu mostro pra eles, olha esse

critério são os critérios que me deram, mas também eles não são muito de discutir,

de dizer que não esse eu não quero eles já estão acostumados não tem muito isso”.

Sendo assim, não há discussão por parte dos alunos sobre esse assunto, pois,

eles não discutem muito, eles não dão muito opinião sobre a avaliação ainda não chegou nisso, o certo seria discutir mesmo com eles, só que a gente já tem os itens que tem que avaliar e que já estão formados não posso utilizar outros porque eles já estão todos contidos nas fichas, ai mesmo que eles dissessem a gente vai tirar isso aqui, mas quando, não tem como, porque eu tenho que colocar, não pode mudar já ta estabelecido (PROFa. MARIA, BREVES, 2012).

Sabemos que a autoavaliação “pedagogicamente é importante, pois ela

permite aos próprios alunos aquilatarem os seus pontos fortes e os fracos, sendo

levados a uma atividade superimportante na escola moderna, ou seja, eles podem

participar do trabalho de avaliação no processo ensino-aprendizagem” (ZÓBOLI,

24

Apresentaremos mais adiante.

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2007, p. 149). Quanto a essa questão a professora afirma que trabalha com

autoavaliação dos alunos, mas não continuamente, como explica,

no final de um projeto ai eu dou uma ficha pra eles por exemplo dos direitos e deveres, eu dei uma ficha de autoavaliação pra eles, como eles estão na escola, com relação a sala de aula, eles colocaram sim ou não, uma carinha alegre, ou triste, como eu sou, uma autoavaliação (PROFa. MARIA/2012).

Questionada se os alunos avaliam seu trabalho, a mesma diz que já realizou

em outras ocasiões, mas que agora,

não ainda não dei, não assim, até o meio do ano eu colocava assim, o que você achou da aula, se foi bom ou não, já pro final do ano eu já não trabalhei mais esses itens bom, ótimo, não coloquei mais porque só no primeiro semestre mesmo, porque era feito tipo um livrinho ai colocava lá eles escreviam lá se eles gostavam da aula ai agora no final do ano depois de tanto tempo que eu nem lembro mais de fazer isso (PROFa. MARIA/2012).

Todavia a professora afirma que há uma discussão com os alunos dos

resultados da avaliação,

há assim eu sempre procuro conversar com eles, olha eu sei que tem assuntos que vocês ainda não conseguiram então vamos voltar vamos ver ai fica nessa questão vai e volta toda vez pra eles relembrarem de novo quando a gente vê que tem muitos que não conseguiram, que cada um ali é um diferente do outro um é mais rápido o outro é mais lento no caso de dois alunos os dois precisam assim, tem um que precisa de um acompanhamento especifico só pra ele porque ele tem dificuldade na leitura quando ele ia ler assim pra mim ai ele lia beaba BA porque ensinaram ele a ler assim ele ia soletrando, e ele já vai fazer 16 anos, ele não conseguia ler por exemplo CASA ele lia, o C e o A é CA, o S e o A é SA, ele não conseguia formar ai foi difícil, e ele ta no 3º ano, eu trabalhei ano passado com ele, esse ano ele ta mais ou menos ele tem muita dificuldade de entender, tem explicar mais de uma vez, tem explicar muito (PROFa. MARIA/2012).

Em nossa observação acompanhamos na última semana de aula a

professora passar um teste avaliativo para fechar todo o processo da 4ª avaliação.

Percebemos que os discentes não foram avisados com antecedência desse teste, e

mesmo englobando todas as disciplinas não houve reclamações ou admiração por

parte dos mesmos, demonstrando que é comum para eles testes surpresas.

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Apesar de ser um teste avaliativo e no primeiro momento os alunos serem

separados em fila indiana como ocorre em provas, todavia não houve rigidez,

cobrança e tensão como acontece normalmente nessa situação. Até mesmo as

explicações individuais continuaram a ser feitas pela professora, alguns alunos

continuaram a conversar e a locomover-se na sala, fazendo perguntas para a

professora e colegas sobre suas dúvidas e utilizando o Painel X para a solução de

multiplicações e divisões, assim tudo acabou por ocorrer como nos dias anteriores.

Podíamos perceber, ainda que a maioria dos alunos mostrava-se empenhados em

finalizar suas atividades sendo que alguns não saiam nem mesmo para o intervalo.

O teste contou com 11 laudas, e os alunos deveriam concluí-lo em 4 dias, de

segunda a quinta-feira. Como teriam uma apresentação teatral para o último dia de

aula o horário ficou divido em 02 momentos: antes do intervalo aula normal, no caso

dessa semana o teste; depois do intervalo os alunos retornavam a sala para dar

continuidade às atividades, e posteriormente iniciavam o ensaio da peça teatral. No

final de cada dia de teste os alunos devolviam as folhas de atividades para a

professora, para recebê-las novamente no outro dia e continuar a respondê-las.

Sendo assim, no 1º dia foi realizada a explicação das atividades e a pintura dos

desenhos contidos nas mesmas. A partir do segundo dia os alunos já realizavam as

atividades respondendo as questões que envolviam todas as disciplinas.

Questionada sobre quais seriam as maiores dificuldades enfrentadas por seus

alunos, a mesma respondeu,

a questão da ortografia, apesar que eu acredito que eles já estão alfabetizados mas falta ainda, apesar que o ciclo da alfabetização ir até o 3º ano, já fechou, ai tem o 4º e 5º ano pra questão da escrita, que tem palavras que eles esquecem, deixam de escrever uma letra (PROFa. MARIA/2012).

Abaixo na Foto 38 demonstramos o momento de avaliação, com a professora

explicando os procedimentos para o teste a cada aluno.

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Foto 38: Momento de avaliação.

Fonte: Vivianne Nunes/2012

Acreditamos que por ser final de ano o período desta observação à

professora e os alunos já se encontravam cansados, ocorrendo com isso uma

lentidão no desenvolvimento das atividades, ainda mais que todos os dias, dos

últimos 20 dias letivos, após o intervalo havia mais uns 20 minutos de aula e depois

ocorria o ensaio de peça teatral para o evento de final de ano. Todavia, apesar

desse ritmo de final de ano letivo comum em escolas, observamos que as atividades

avaliativas foram desenvolvidas normalmente dentro do período programado pela

professora.

Dessa forma, a professora consegue desenvolver as atividades pedagógicas

a que se propõe em seu planejamento, mesmo que muitas vezes tenha que adequar

sua metodologia devido às dificuldades de ausência de materiais e recursos

pedagógicos para o trabalho diário com seus alunos, já que recebe somente o

PDDE uma vez ao ano e não há outros auxílios financeiros para a compra de

materiais pedagógicos, como explica,

tem a compra no início do ano, e cada professor faz uma lista do que vai precisar, mas não pode ser muito, tem que ser bem pouquinho, porque o dinheiro não da pra comprar muito pra todo mundo, então o meu acaba praticamente em abril eu não tenho mais nada, ai eu faço uma venda de

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bombons, ai me ajuda um pouquinho, pra comprar papel, mas não da, porque um cartucho dura um mês, o cartucho dessa maquina dura um mês o cartucho é 60 outro é 50 ai da 110 em cartucho ai fora tinta e papel ai eu gasto muito por mês, não tem auxilio nenhum da SEMED, só quando se faz um projeto por isso agora esse ano eles tão pedindo um projeto piloto cada coordenador vai ter que levar todos os projetos que irão ser trabalhados durante do ano que é pra justamente pegar esse recurso pra ver o que é que eles vão poder ajudar ai assim vai ser melhor, mas antes não as vezes ia fazer um projeto não pro meu projeto mas pra escola toda, projeto de mães, agora não, todos vão trabalhar o mesmo projeto na escola, antes não eu trabalhava meu projeto mas se os professores não quisessem, agora não foi feita a reunião e a coordenadora falou “olha vocês tem algum projeto eu vou colocar aqui e vai se levado pra SEMED”, ai tal período vai trabalhar isso, ai no começo do ano eles vão dar o que eles puderem dar, faz uma planilha de custo ai eles mandam ai talvez melhore esse ano agora (PROFa. MARIA/2012).

Notamos que a professora tem que conseguir por conta própria todo o

material que necessitar para desenvolver suas atividades, e essa realidade esta

presente até mesmo quando do processo avaliativo que citamos acima, em que a

professora retirou de seus próprios recursos às cópias das 11 laudas, para cada

aluno. Dessa forma, para manter suas cópias, impressões, jogos pedagógicos e

outros materiais, é somente por meio de seu salário e venda de bombons para os

alunos durante o intervalo das aulas, como afirma: “Os recursos sou eu que compro

mesmo, compro, faço, são os jogos da trilha, boliche, pescaria, bingo são

elaborados por mim mesmo eu que faço mando ampliar, a SEMED não tem

participação no material didático”.

Apesar dessa dificuldade, percebemos que a professora tenta suprir da

melhor forma possível a ausência de materiais a serem utilizados com os alunos nas

aulas, mesmo porque observamos que as crianças e suas famílias não têm como

contribuir, pois até para o uso pessoal os mesmos possuem somente o básico como

01 caderno, 01 lápis e às vezes 01 borracha, e quando ocorre de algum aluno ter

algo a mais eles dividem com os demais colegas que não possuem aquele material.

Quanto à distribuição feita pela SEMED no início do ano de materiais didáticos para

os alunos, a professora explica como ocorre,

quando eles vão levar a merenda às vezes eles dão, às vezes não, se a gente for a última escola não tem mais material até chegar na nossa não tem mais lápis, não tem caderno, as vezes eles dão em toda viagem, mas as vezes quando não tem, esse ano foi pouco umas duas vezes só que foi repassado lápis, caderno e os pais eles não compram, a gente que compra lápis de cor, lápis, o problema é que eles não tem cuidado com o material,

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as vezes some, a gente sabe que as crianças as vezes mete na mochila, as vezes eu compro 5 caixas e coloco na vasilhinha e quando eu vejo, vai, vai quando chega a ficar poucos (PROFa. MARIA/2012).

Todavia, apesar dessa ausência de apoio, a professora procura utilizar vários

materiais artesanais confeccionados especificamente por ela, ou em conjunto com

os alunos, ou até mesmo por uma pessoa a qual a professora paga com recursos

próprios a confecção dos mesmos, assim na sala de aula da Profa. Maria se

encontram distribuídos nas paredes vários trabalhos pedagógicos, percebemos

dessa forma, que há toda uma preocupação da professora para que a sala de aula

seja,

um local cheio de vida, onde os alunos estudam, experimentam, pesquisam, observam. Deve, portanto, ser um local agradável e alegre. Para isso, é importante não só que haja boas relações entre a classe e o professor, senão que também o seu aspecto material e físico esteja de acordo, para facilitar e enriquecer a vivência na sala de aula (ZÓBOLI, 2007, p. 128).

Assim, nessa tentativa de enriquecer o ambiente da sala de aula, tanto no

aspecto material e físico, a professora utiliza alguns materiais que servem para

auxiliar sua prática pedagógica e potencializar o processo de ensino-aprendizagem

de seus alunos, nos quais apresentaremos individualmente a seguir: 01 cartaz

apresentando os eixos temáticos e temas geradores; 01 Árvore do Compromisso; 01

cartaz sobre o acesso as novas tecnologias, cultura e lazer; 01 Painel X de

multiplicação e divisão; 01 boneco em cartolina do corpo humano; 01 mapa mundi;

01 painel com cantinho das ciências naturais; 01 cartaz com esqueleto humano; 01

painel com aniversariantes do mês; 01 calendário.

Podemos verificar abaixo, na Foto 39 o Calendário do Mês, feito de papel

cartão, E.V.A, cola de isopor e pincel atômico; o qual é utilizado pela professora

juntamente com os alunos na marcação e reconhecimento dos dias e meses do ano

e pode desenvolver o reconhecimento de numerais, bem como a noção de presente,

passado e futuro.

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Foto 39: Painel com Calendário do mês.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

A Foto 40 apresenta o painel dos Aniversariantes do mês, confeccionado com

o mesmo material, no qual a professora juntamente com os alunos atualiza sempre

que necessário, preenchendo com as informações do nome dos aniversariantes, o

dia, mês e ano do aniversário.

Foto 40: Painel dos Aniversariantes do Mês

Fonte: Vivianne Nunes/2012

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O painel acima pode trabalhar o reconhecimento do nome do aluno e de seus

colegas, bem como a definição de datas dia, mês e ano.

Percebemos que alguns painéis são confeccionados de acordo com as

disciplinas trabalhadas na turma. Como para as aulas de Ciências, na Foto 41

abaixo em que os alunos por meio de historinhas trabalham as paisagens do

desenho.

Foto 41: Painel de Ciências com: Paisagens.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

A Foto 42 abaixo apresenta o Cantinho de Ciências Naturais, onde os alunos

podem fazer o reconhecimento do corpo e órgãos humanos todo confeccionado

artesanalmente e logo ao lado a cópia de um esqueleto também para identificação

por parte dos alunos.

Foto 42: Painel com Esqueleto e Corpo Humano, Cantinho de Ciências Naturais.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

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Para o estudo nas aulas de Geografia há um pôster do mapa mundi, o qual a

professora deixa exposto para que os alunos utilizem sempre que acharem

necessário, assim como pôsteres retirados de revistas educativas, com paisagens.

Abaixo nas Fotos 43 e 44 apresentamos os referidos painéis:

Foto 43: Pôster com Mapa Mundi.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

Foto 44: Pôster de revista sobre a natureza.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

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Outro painel utilizado nas aulas de Matemática é o Painel X, Foto 45, que

também fica na parede da sala, onde os alunos podem a qualquer momento utilizá-

lo mesmo durante testes e atividades. Nesse painel os alunos podem realizar

operações de multiplicação e divisão, todos os alunos da sala sabem usá-lo e o

utilizam sem que seja necessário à professora recomendar para que os usem,

ficando a critério de cada um utilizar conforme as suas necessidades.

Foto 45: Painel X, para operações de multiplicação e divisão.

.

Entretanto, a professora utilizar materiais didáticos confeccionados

artesanalmente à mesma compreende a importância da utilização das tecnologias

como suporte para auxiliar no trabalho didático do professor, e lamenta,

a menina lá do primeiro ano é bom porque ela tem o data show, a gente tem o data show mas ela tem o notebook ela tem um net, ai ela tem mais possibilidade de passar pra eles os vídeos, foi muito bom aqueles vídeos lá que ela trabalhou só que não é no mesmo horário do meu, se não eu ia unir as duas turmas, ia ser muito legal pra fazer as apresentações ai ficou a desejar, e isso porque ela empresta um motor de luz e leva pra lá, a gente ta pensando em comprar um motor de luz pra nos duas pra gente trabalhar esse ano que vem pra passar bastante vídeo pra eles porque agora a gente vai dar uma aula de reforço dentro do Mais Educação e eu que vou orientar a monitora e eu vou tá junto com ela pra melhorar mais, porque tem muitos meios que a gente não usa como o vídeo que eu acho uma coisa muito interessante e que eles não estão acostumados e prende a atenção deles do que eu só apresentar no mural, mas através das cópias eu tento mostrar de uma outra forma pra eles (PROFa. MARIA/2012).

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

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Sendo assim, entendemos que embora a professora não possua a sua

disposição recursos tecnológicos, “a questão da informatização é um tema muito

contraditório, cheio de prós e contras, porém todos os educadores devem

acompanhar e pesquisar sobre o uso da informatização nas escolas e coletar o

máximo de dados, já que o campo é muito vasto” (ZÓBOLI, 2007, p. 113). Desta

forma, mesmo que superficialmente, a professora procura trabalhar esse tema, como

podemos verificar na Foto 46 abaixo um painel denominado a “Linha do Tempo”, o

qual demonstra como se deu a evolução tecnológica.

Foto 46: Painel apresentando a linha do tempo das tecnologias.

Fonte: Vivianne Nunes/2012

Observamos que como não possui recursos tecnológicos a seu dispor a

professora procura trabalhar com que está dentro de suas possibilidades, para tanto

a mesma também utiliza diariamente cópias de atividades de livros de algumas

coleções que possui, que já foram apresentadas neste item, e jogos pedagógicos

como bingo, dominó, trilha, lápis de cor, caneta, e outros. Raramente são utilizados

cadernos, livros didáticos, lousa e Datashow ou qualquer outro recurso tecnológico

até mesmo porque não há energia elétrica, como foi explicitado anteriormente.

Outro painel utilizado na sala de aula da professora é a “Árvore do

compromisso”, já mencionada anteriormente, a mesma é uma proposta sugerida

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pelo Programa Escola Ativa, a qual utiliza diariamente no inicio de suas atividades.

O painel foi confeccionado pela própria professora e é feito de papel cartão e cola

branca, e possui em sua copa o nome de todos os alunos da sala. A dinâmica que

se dá é a seguinte: Toda manhã a professora distribui em cima da mesa plaquetas

com compromissos, como por exemplo: não chamar palavrão, obedecer à

professora, fazer as tarefas, os quais são escolhidos por cada aluno, que colocam a

plaquinha em cima do seu nome com o compromisso que deverão cumprir no dia e

que no final da aula por meio de uma autoavaliação o aluno analisa se conseguiu

cumprir ou não seu compromisso do dia, sem que seja feita nenhuma cobrança por

parte da professora. Nos dias seguintes ocorreu a mesma dinâmica antes do início

das aulas. Abaixo na Foto 47 apresentamos a Árvore e em seguida na Imagem 12

alguns dos compromissos:

Foto 47: Árvore do compromisso.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

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Imagem 12: Alguns compromissos.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

E como não há na escola biblioteca ou espaços para livros que podem servir

para pesquisas, a professora procura aproveitar toda a sala, utilizando um canto

para seu armário e estante com livros chamado “Cantinho da Leitura”, que nada

mais é que uma caixa de livros variados e didáticos, já bem usados como podemos

verificar nas fotografias abaixo.

Na Foto 48 abaixo uma aluna utiliza a estante de livros didáticos no canto da

sala de aula. Na Foto 49, o Cantinho em que a professora tem seu armário para

guardar materiais didáticos, jogos e livros infantis, em cima a caixa onde está escrito

“Cantinho da Leitura”, ao lado a estante com livros didáticos.

Foto 48: Aluna utilizando o Cantinho da Leitura

Fonte: Vivianne Nunes/2012

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Foto 49: Cantinho da Leitura

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

A professora afirma entristecida que apesar de procurar adaptar da melhor

forma possível o espaço da sala de aula para seus alunos, com todos os materiais

apresentados acima, ela se depara frequentemente com a destruição dos mesmos,

pois a sala não é de uso exclusivo de seus alunos, dividindo-a com mais 03 turnos,

no caso mais três turmas, do intermediário, tarde e noite, os quais não se

preocupam em manter os materiais em exposição na sala.

Dessa forma, entendemos que apesar das dificuldades com materiais a

professora procura suprir as necessidades da melhor forma possível por meio dos

materiais apresentados acima, que ajudam a desenvolver a criatividade, raciocínio

lógico e a motivação dos alunos.

Esses materiais apresentados são complementados com jogos didáticos,

dentre os quais a professora utiliza: Jogo dos Antônimos e Sinônimos; vários bingos

que trabalham ortografia, como dígrafos SS, CH, e outros; Jogo do Coelho Sabido,

em que é trabalhada a diminuição e adição; jogo do aumentativo e diminutivo; vários

dominós ortográficos do SS, AN-EN-IN-ON-UN, outros dígrafos e palavras soltas;

vários jogos da memória sobre matéria prima, animais, masculino e feminino,

dígrafos, acentuação, subtração, adição e multiplicação; trilha gramatical, e outros,

todos que servem para o desenvolvimento do raciocínio e melhor aprendizado dos

discentes. Quanto à importância dos jogos, de acordo com Santomauro (2013, p.

31),

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diante de um jogo, crianças e adolescentes dão o melhor de si: planejam, pensam em estratégias, agem, analisam e antecipam o passo do adversário, observam o erro dele, torcem, comemoram – ou lamentam – e propõem uma nova partida. Todo esse interesse faz dele um valioso recurso, que pode ser incluído nas aulas com dois objetivos: ensinar um conteúdo ou simplesmente ensinar a jogar.

Outro ponto interessante é que os jogos são escolhidos pelos próprios alunos,

ou seja, não é a professora que diz o que é para cada um jogar, como normalmente

ocorre, são os alunos que escolhem qual jogo querem desenvolver, ampliando com

isso também a autonomia do discente. O bom desenvolvimento do jogo pode assim

trazer vários benefícios para a educação de um aluno, como explica Santomauro

(2013, p. 33),

um mesmo jogo oferece desafios diversos em diferentes momentos. Se nos primeiros contatos o domínio das regras exige mais concentração, analisar os movimentos do adversário passa a ser fundamental para ganhar. Numa eventual troca de parceiros, o jogador confronta outros pontos de vista e revê as estratégias utilizadas no inicio. O aprendizado trazido por essa experiência – como saber lidar com situações adversas e conviver com pessoas que têm outras opiniões – pode beneficiar o aluno nas demais

atividades realizadas na escola.

Assim, os jogos não servem apenas para distrair ou garantir a participação

dos alunos em atividades, eles servem realmente para ensinar, pois há todo um

planejamento e um objetivo para cada jogo utilizado em sala de aula, para tanto é

levado em consideração o nível de cada discente e os jogos são variados para que

estejam disponíveis para todos os alunos, e assim todos possam participar ao

mesmo tempo, pois “tendo essa vivência durante a trajetória escolar, crianças e

adolescentes estarão preparados para muitas situações de sua vida – e para as

próximas partidas” (SANTOMAURO, 2013, p. 35). Dessa forma, a Profa. Maria utiliza

os jogos com o objetivo de ensinar de forma lúdica, como esclarece,

eu utilizo de acordo, o bingo, por exemplo, é mais pra questão de leitura e escrita e ortografia, utilizo os bingos e dominós pra questão da leitura mesmo, mas também de acordo com o tema que eu vou trabalhar, o transito eu trago um jogo pra trabalhar o transito, trabalho os jogos de acordo com o tema que eu vou trabalhar (PROFa. MARIA/2012).

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Sendo assim, apresentaremos a seguir alguns dos jogos utilizados pela Profa.

Maria os quais auxiliam sua prática pedagógica e potencializam o processo ensino-

aprendizagem de seus alunos:

BINGO: Utilizado diariamente após a Árvore do Compromisso, nesse jogo

a professora trabalha dígrafos, ortografia e a aquisição de novas palavras. As

crianças demonstravam gostar muito de jogá-lo, ainda mais que o prêmio utilizado

era sempre um pirulito para cada participante, sendo que não havia perdedores,

todos ganhavam, pois de acordo com que iam “batendo” os alunos ganhavam

pirulito e no final do jogo todos eram vencedores, portanto a professora não aguça

nos alunos o espírito de competitividade e sim é dada a importância para o

aprendizado e a participação.

Imagem 13: Cartelas de bingo para trabalhar dígrafos QUI.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

Jogo da Árvore de Perguntas e Respostas: Jogo em equipe. Nesse jogo

a professora utiliza um painel com uma árvore onde atrás dos frutos podem ser

colocadas perguntas das mais variadas, como abaixo demonstraremos as cartelas

com perguntas que trabalham Aumentativos e Diminutivos e perguntas relacionadas

à Matemática. Ganha a equipe que acertar o maior número de perguntas.

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Foto 50: Árvore de Perguntas e Respostas.

Fonte: Vivianne Nunes/2012 Imagem 14: Perguntas sobre Aumentativo e Diminutivo.

Fonte: Vivianne Nunes/2012

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Imagem 15: Questões de matemática.

Fonte: Vivianne Nunes/2012.

JOGO DA MEMÓRIA: O jogo pode ser realizado com a participação de 01

ou mais jogadores, ficando a critério da professora definir o número a ser trabalhado.

Para iniciar o jogo os alunos devem espalhar as cartas todas com o verso para cima

e palavras e figuras para baixo. Os participantes um de cada vez devem virar duas

fichas uma de cada vez e tentar formar os pares, conforme vão acertando vão

tirando as cartas, se não acertarem as cartas voltam para o lugar de origem. Vence

o jogo aquele que mais formar pares. No exemplo abaixo a Profa. Maria trabalha

com a ortografia de palavras CH, J, RR, AN, Ç.

Imagem 16: Jogo da Memória com CH, J, RR, AN, Ç.

Fonte: Vivianne Nunes/2012

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DOMINÓ: A Profa. Maria possui vários jogos de dominó, o que

colocaremos como exemplo é o dominó que trabalha o dígrafo SS. A forma de jogar

é a tradicional, com até 04 jogadores que colocarão as peças nas sequências

juntando as figuras de acordo com as palavras correspondentes.

Imagem 17: Jogo de Dominó com o dígrafo SS.

Fonte: Vivianne Nunes/2012

Assim, de acordo com a Profa. Maria os jogos e atividades lúdicas que

desenvolve estão surtindo os efeitos desejados, proporcionando a aprendizagem

dos alunos, e apesar de todas as problemáticas apresentadas, quando questionada

se esta satisfeita com esse trabalho a mesma respondeu: “Eu acho que ele é

cansativo, exige muito do professor, mas estou satisfeita sim, com o resultado que

eu tenho tido até agora, o resultado foi na minha avaliação foi um resultado bom,

bastante razoável”. Portanto, a Profa. Maria, mesmo passando por algumas

dificuldades, no final do ano letivo, acredita que conseguiu alcançar seus objetivos,

como explica,

eu acredito que sim, porque o que eu vi no começo do ano que tinha ate um teste de sondagem que eu faço no começo do ano e no final do ano a gente passa um texto pra eles fazerem ai à gente vê o que foi que melhorou a questão da leitura e da escrita, mais a questão da leitura mesmo, que todos eles leem muitos não assim respeitando todos os sinais de pontuação tudo,

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mas eles já leem, eu acredito que eles estão no caminho que falta muito, mas que eles já conseguiram eles passaram a fase alfabética. Que é a fase

que eles têm que tá no 3º ano e acho que eles estão nesse nível (PROFa.

MARIA, 2012).

Dessa forma, acredita que é essa forma de metodologia que diferencia seu

trabalho com classes multisseriadas:

acredito que é não trabalhar a série e sim trabalhar de forma igual mesmo eu tendo aluno de 2º, 3º e 4º ano, mas trabalhar a mesma atividade e não atividade diferenciada eu trabalho todo mundo junto e o mesmo assunto só diminuindo as atividades no caso do 2º ano que eles não são obrigados a fazer todas aquelas atividades, mas uma ou duas, conforme o nível, porque tem alunos de 2º ano, que eles já estão assim bem desenvolvidos que já faziam qualquer atividade, eu passava 3 atividades, pro 3º eu passava pra eles se eu visse que o aluno do 2º ano não dava conta eu passava só uma pra ele, eu entrego a apostila completa pra todos, se eu vê por exemplo que tem aluno com dificuldade e como o 2º ano não exige que tenham os itens do 3º ano, ai então eu passo uma atividade, mas não exijo que eles façam tudo porque eles não dão conta mesmo, eu vejo o que exige a ficha de 2º ano e o que exige a de 3º ano que é mais um pouco, então todos eles sabem o que é uma letra, o que é uma silaba, o que é uma palavra já estão em um nível mais, já relacionam grafemas e fonemas, já identifica no texto letras, silabas, palavras (PROFa. MARIA/2012).

Assim, podemos perceber que os alunos de 2º ao 4º ano na turma estão a

maioria no mesmo nível educacional, mas de acordo com a Profa. Maria no início do

ano esses mesmos alunos “não estavam, eu tive que alfabetizar até junho eu

alfabetizei os de 2º ano que não sabiam ler e os de 4º ano que não sabiam ler, os de

3º ano já sabiam”. Quando indagada sobre como conseguiu alfabetizá-los a mesma

afirmou,

eu fiz as atividades bastante de bingo com eles, só a questão do bingo eles já conseguem fazer a leitura das palavras, no dominó, primeiro de silabas simples, depois a gente jogava a figura e a palavra com todos eu jogava pra não ter aquela diferença, ai jogava com todos, e isso facilitou a leitura até dos outros também ai eles conseguiram já ler, e na metade do ano eles já estavam lendo sem eu ter colocado várias coisas diferentes pra eles só eram poucas atividades pra eles, por exemplo, no caso das atividades pro 2º ano e pro 4º ano eu tinha dois alunos que eles não conseguiam ler no começo nem silabas simples, e três alunos do 2º ano, não liam nada e agora tão lendo, já tão praticamente lendo historinhas, uma coisa assim, uma poesia, mas eles ainda não estão no nível pra passar pro 5º ano (PROFa. MARIA/2012).

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Para finalizarmos apresentaremos uma sequência de opiniões e sugestões da

Profa. Maria sobre a educação e as classes multisseriadas. Para a melhoria das

classes multisseriadas, sugere,

a sugestão é de fazer um trabalho integrado com todas as séries o mesmo trabalho, porque eu acredito que deu certo, porque eu já trabalhei nos outros anos eu trabalhava separado e eu via que o resultado quando chegava no final do ano não era bom não dava certo, acho que foi um laboratório minhas as turmas, mas vou tentar melhorar, esse ano já serviu de exemplo, de experiência já fazem 12 anos que eu trabalho esse método, quase 12 e eu só tive problema no meu 1º e 2º ano de trabalho que eu não tinha terminado, quando eu entrei eu tava na 8ª série eu tinha parado, ai eu voltei quando teve o Gavião fiz o Gavião I e quando fui fazer o Gavião II que eu fui ver como era, fui estudar os grandes pensadores ai fui ver como eu tava errada que não era assim, que ate então eu procurava saber mas eu não tinha estudado ainda, eu tinha uns 15 anos ou 16 mas to tentando ainda, mas já mudou muito, quando eu comecei a trabalhar a educação era abandonada não tinha merenda, não tinha caderno, não tinha lápis não tinha nada nada foi em 95 no tempo do outro Prefeito não tinha nem escola eu trabalhava lá na Intel que o meu marido foi trabalhar pra lá ai eu me mudei pra lá com ele ai não tinha professores lá, e o dono de lá queria que fosse pessoas de lá que morasse lá, porque se fosse daqui não prestava porque iam lá um dia depois passavam uma semana sem ir a educação lá tava terrível ai pegou o pessoal de lá mesmo pra trabalhar, ai foi assim que eu comecei, mas ai até que a gente foi melhorando um pouquinho, vendo os meus erros, então a sugestão seria essa, porque o multisseriado já diz é multi ai não pode trabalhar a serie, porque isso é muito questionado porque se é multisseriado como é que se trabalha a série, não pode trabalhar separado, explicar uma coisa pra um e uma coisa diferente pro outro (PROFa. MARIA/2012).

Assim, a professora procura não levar em consideração as metodologias das

escolas seriadas, pois acredita que multisseriado deve ser trabalhado de forma

integrada e não com metodologias que separem o contexto criado pelas

multisseries. Dessa forma, quando questionada o que acha das classes

multisseriadas e se deveriam ser extintas, respondeu,

não, acho o certo seria mesmo seria ter seriado mas como essa possibilidade não existe ainda, eu acredito que vai melhorar um pouco quando tiver os escolões que vão tentar acabar que é um projeto do governo fazer uma escola pólo que é a nucleação se acabar o certo mesmo seria trabalhar a serie, porque a gente pode trabalhar da forma que trabalhar ainda tem perda, mas a multisserie tem seu lado positivo também, mas não sei se vai continuar, um dia vai acabar porque o certo seria que fosse seriado, tem toda uma questão de idade também, o que é que a criança aprende naquela idade, porque os conteúdos o currículo é feito de acordo com a idade, se por exemplo eu trabalho o currículo que é pra essa idade mas o que é que eles pensam, a criança tem 08 anos que ta no 3º ano e tem “crianças” que tem 17, 18 anos (PROFa. MARIA/2012).

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Apesar de todas as problemáticas evidenciadas a professora acredita que a

educação ainda tem como mudar, melhorar, pois ainda tem esperança,

eu tenho esperança sim, porque eu vou trabalhar com 25 e acredito que esses 25 vão ter sucesso, eu vou fazer de tudo, e ainda vem uma bolsa de incentivo pra eles cada um vai ganhar uma bolsa ai eu acredito que eles não vão faltar nos cursos, porque, porque um coordenador tava falando que no Escola Ativa eles percebiam que não há um compromisso que eles fazem os curso e que não tem um compromisso do professor pra ficar ate o final eles saiam tudo isso ela tava explicando pra gente que vai trabalha com esses professores, são 25 em cada turma ai vai fazer esse acompanhamento deles de tudo pra que a criança chegue aos 08 anos alfabetizada, vai ser um desafio muito grande (PROFa. MARIA/2012).

Para finalizar deixa uma mensagem:

Os anos de experiência me mostraram muitos defeitos e que eu to tentando superar esses defeitos eu sei que não ta totalmente apagado tem muitas coisas que tenho que aprender, mas somos eternos pesquisadores, por mais que a gente aprenda tem que pesquisar sempre (PROFa. MARIA/2012).

Em detrimento de tudo aqui apresentado notamos que para ocorrer mudanças

na educação do campo deve-se iniciar pela utilização do conhecimento que já se

encontra presente nessa realidade, que faz parte do senso comum, das experiências

vividas por toda sua comunidade, para que ocorra assim, a valorização do que há no

seu entorno, sua cultura, modo de vida e todo o conhecimento sociocultural em que

se encontram, deixando de ser apenas um reflexo da educação urbana.

Percebemos então, que ao que se propõem os quatro primeiros anos do

ensino fundamental menor que é basicamente: ler, escrever e realizar as quatro

operações de matemática; a maioria dos discentes da Profa. Maria já consegue

realizar essas atividades. Sendo assim, notamos que a aprendizagem ocorre

levando em consideração o nível de cada aluno, e seu próprio limite, por exemplo,

há alunos do 2º ano que já conseguem responder todas as atividades repassadas

diariamente, mesmo as que estão em nível de 4º ano, todavia não há impedimento e

nenhuma determinação até onde devem chegar assim se forem do 2º ano e

conseguirem levar a atividade do 4º ano até ao final, excelente, mas se não a

professora entende a limitação de cada um.

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De acordo com o exposto, entendemos que as metodologias utilizadas pela

professora realmente se fazem diferenciadas de muitas escolas do campo, pois a

mesma apesar de trabalhar com três séries ao mesmo tempo e com alunos de faixa

etária variadas consegue desenvolver a real aprendizagem nesses espaços por

meio de metodologias que potencializam o aprendizado de seus alunos.

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Considerações Finais

Acreditamos que no decorrer deste texto conseguimos apresentar uma prática

pedagógica que se diferencia das demais práticas evidenciadas na educação do

campo, em classes multisseriadas, no Município de Breves-Pará, e assim

elucidamos a problemática: Que metodologias e práticas pedagógicas potencializam

o processo de ensino-aprendizagem em uma Classe Multisseriada no Município de

Breves – Pará?

Evidenciamos ainda o Objetivo Geral da pesquisa: Verificar que metodologias

e práticas pedagógicas potencializam o processo de ensino-aprendizagem em uma

Classe Multisseriada no Município de Breves – Pará, quando na oportunidade

apresentamos metodologias e práticas pedagógicas diferenciadas que potencializam

o processo de ensino-aprendizagem em uma Classe Multisseriada. Estes itens estão

apresentados na Sessão 3 deste trabalho, no item 3.2 Prática Pedagógica e

Metodologias que potencializam a aprendizagem em Classe Multisseriada no

Município de Breves – Pará, onde apresentamos a prática pedagógica diferenciada

da Profa. Maria, bem como algumas das metodologias utilizadas por ela que

auxiliam no melhor desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem de seus

alunos. Para tanto, seguimos como questões norteadoras:

1) Como se caracteriza a educação no Município de Breves – Pará e suas

classes multisseriadas? Que apresenta como objetivo especifico: Realizar a

caracterização da educação do Município de Breves - Pará e suas classes

multisseriadas; Foi feita a Caracterização da educação no Município de Breves –

Pará e suas classes multisseriadas, que consta na SESSÃO 2: O MUNICÍPIO DE

BREVES A EDUCAÇÃO E AS CLASSES MULTISSERIADAS; 2.1 Caracterização

do Município de Breves; 2.2 Caracterização da Educação no Município de Breves-

Pará 2.2.1 Práticas Docentes em Classes Multisseriadas no Município de Breves-

Pará de alguns professores da educação do campo que lecionam em classes

multisseriadas no Município, demonstrando, na maioria das vezes suas angustias,

suas aflições e crenças negativas que levam à desmotivação e ao desencantamento

em lecionar nas classes multisseriadas.

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2) De que forma se dá a organização e demais aspectos que influenciam a

aprendizagem dos alunos ribeirinhos de uma escola com classe multisseriada? Com

o Objetivo especifico: Conhecer como se dá a organização e demais aspectos que

influenciam a aprendizagem de alunos ribeirinhos de uma escola com classe

multisseriada; que foi realizada e consta na SESSÃO 3: ESCOLA RIBEIRINHA E A

PRÁTICA DOCENTE EM CLASSE MULTISSERIADA NO MUNICIPIO DE BREVES

– PARÁ, tendo no item 3.1 Caracterização de uma Escola Ribeirinha e sua Classe

Multisseriada na qual apresenta os pontos acima solicitados.

Vale ressaltar que antes de começarmos a expor os itens acima destacados,

realizamos a apresentação dos Marcos legais e históricos no Brasil (Item 1.1) e

Marcos legais e históricos no Pará (Item 1.2) na SESSÃO 1: EDUCAÇÃO DO

CAMPO E CLASSES MULTISSERIADAS, para assim podermos fundamentar

nossa pesquisa historicamente, e nos ambientar em meio aos principais marcos

legais e históricos, a partir da década de 80 no Brasil, apresentando vínculos

importantes da educação do campo com M. S. T., programas e projetos do Governo

Federal, e Leis que compreendem a educação do campo no Brasil.

E no que se refere ao Pará apresentamos um estudo com os percentuais que

demonstram que o Estado encontra-se em segundo lugar como a região do Brasil

com o maior número de classes multisseriadas. Demonstramos também os

principais fóruns, seminários e conferências sobre a educação do campo, e vimos

que são recentes as lutas por uma educação do campo de qualidade no Estado.

Citamos ainda os grupos de estudos da UFPA, UEPA que trabalham com a

pesquisa sobre educação do campo e classes multisseriadas no Pará, os quais já

são pontos de referência no norte do país sobre pesquisas nessas áreas.

Notamos então que cresce, apesar de lentamente o número de pesquisas na

área da educação do campo e classes multisseriadas, com autores e pesquisadores

que demonstram a preocupação em não apenas criticar, mas também em apontar

caminhos para a melhoria da educação do campo e consequentemente das classes

multisseriadas. Todavia, em relação ao Município de Breves, apesar de como

demonstramos, ser o Município do Estado do Pará com o maior número de classes

multisseriadas, curiosamente apresenta um percentual muito baixo de pesquisas

nessa área.

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Detectamos ainda, problemas enfrentados pelas escolas do campo comuns

em todas as regiões do Brasil assim como no Pará e consequentemente em Breves;

problemas de infraestrutura; salas de aula em espaços inadequados; currículos

descontextualizados; longas distâncias e transportes inapropriados; distorção

idade/série, além dos problemas socioculturais enfrentados pelas comunidades que

fazem parte a educação do campo. Problemas esses, que se fazem presentes no

Município de Breves e que se intensificam com a ausência de políticas públicas

sociais e educacionais.

Constatamos que se fazem amplas a tentativa de extinção no Município das

classes multisseriadas por meio do processo de nucleação e a junção de duas

séries por turma. Todavia, vimos à construção de novas escolas e um maior

investimento do governo municipal em escolas padrão e nucleadas, com espaços

mais propícios para a educação, sem, contudo conseguirem satisfazer as

necessidades da maioria das escolas com classes multisseriadas.

Presenciamos a dificuldade de professores e alunos nas idas e vindas diárias

para a escola; a ausência de materiais pedagógicos, de acompanhamento técnico

da SEMED, e a angustia dos técnicos da secretaria em não poder realizar esses

acompanhamentos, devido aos motivos apresentados. Percebemos, também, a

insatisfação dos professores quanto a esse abandono, todavia aceitando pacientes

mudanças quanto a isso, mesmo com as dificuldades em planejar, em seguir os

planejamentos, calendários e livros didáticos já prontos e escolhidos e enviados pela

SEMED. Notamos a angustia dos professores em ter que repor dias letivos aos

sábados, o que na maioria das vezes torna o trabalho ineficaz, todavia, reposição

esta cobrada pela Secretaria até mesmo quando o professor precisa ausentar-se

para ir à busca por melhor qualificação nas formações iniciais e continuadas.

Na apresentação de como se dá a organização de uma escola com classes

multisseriadas, verificamos a preocupação dos funcionários da escola em manter a

mesma em boas condições para os alunos, e a tentativa de cumprir o calendário

escolar anual bem como os planejamentos. Demonstramos também, o envolvimento

dos pais, alunos e professores em eventos na escola, o empenho por parte de

professores e demais funcionários da escola para a melhor participação e

apresentação dos alunos desde o começo da preparação para o evento, com a

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personificação dos convites, a busca por figurino e organização da sala de aula, com

os cenários e tudo o que pudesse diferenciar os dias dos eventos de outros

momentos da escola. Todavia, verificamos que há algumas questões na prática da

professora que podem ser modificadas, as quais pontuamos abaixo:

Não utilização dos livros didáticos, mesmo que seja somente para a leitura

ou outras atividades;

Não consegue trabalhar utilizando a realidade dos alunos;

Notamos certo conformismo quanto às cobranças para com a SEMED em

relação a um maior acompanhamento para com a escola e recursos financeiros,

assim como destacaram outros professores desta pesquisa;

No entanto, destacamos a seguir pontos na prática docente da Profa. Maria

que acreditamos servir para potencializar o processo ensino-aprendizagem de

alunos em classes multisseriadas:

Utilização de jogos e atividades que possibilitam uma real aprendizagem

aos alunos;

O envolvimento da professora e seus alunos;

A preocupação em acompanhar os alunos individualmente nas atividades;

O trabalho com a autonomia e auto-avaliação dos discentes;

Interação e ajuda mútua satisfatórias entre os colegas de sala de aula;

Trabalho com a interdisciplinaridade;

Elo entre os trabalhos desenvolvidos pelas professoras do 1º, 2º e 3º ano;

Adaptações no calendário e a preocupação em cumpri-lo adequadamente;

Busca em aperfeiçoar-se constantemente;

Utilização de materiais diversos para o seu trabalho com os alunos;

Esforço próprio em conseguir materiais didáticos para suas aulas;

Reflete sobre sua prática e procura melhorá-la;

Tem clareza e segurança no desenvolvimento de suas metodologias;

Não se preocupa em somente “encher” os alunos com conteúdos;

Procura confeccionar painéis, jogos e o que mais precisar para o seu

trabalho;

Deixa os alunos livres em sala de aula, porém sem que ocorra a dispersão

no momento das atividades;

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Gosta do que faz;

Não sentencia às classes multisseriadas a extinção;

Tem esperança que a educação ainda pode melhorar.

Vários são os fatores encontrados com relação à prática da Profa. Maria que

minimizam consideravelmente as dificuldades encontradas nessa realidade, pois

consegue alfabetizar os alunos, mesmo trabalhando com três séries/anos distintos e

obtém um nível de aprendizado dos alunos satisfatório ao que se propõem os três

primeiros anos da educação básica, com alunos que conseguem ler, escrever e

efetuar as quatro operações de matemática;

Sendo assim, nos sentimos satisfeitos ao perceber que ao contrário do que

afirmam algumas pesquisas realizadas nessa área, que sentenciam a prática

pedagógica em classes multisseriadas como ineficazes, incoerentes, inadequadas

para a realidade dos discentes do campo, que na verdade as Classes Multisseriadas

não são de um todo negativas, que existem formas de modificá-la e utilizá-la de

modo à realmente proporcionar uma educação de qualidade com metodologias

totalmente possíveis de serem aplicadas a prática dos professores de classes

multisseriadas.

Notamos ainda, que talvez por não termos o contato direto com a realidade

das Classes Multisseriadas, pudemos então manter a imparcialidade durante toda a

pesquisa, pois esse fato nos proporcionou outros olhares, e não um olhar já

marcado como o das pessoas que, talvez por estarem a tanto tempo convivendo

com essa realidade, não consigam mais enxergam a importância que tem essas

classes onde elas estão inseridas, como observamos na fala da maioria dos

professores que responderam os questionários, que estão na verdade com os olhos

cobertos por uma cortina de descontentamento e amargura, que é totalmente

compreensível, frente a tantos problemas que enfrentam, pois são eles na verdade

que estão dia-a-dia enfrentando todas as adversidades que lhes surgem no trabalho

com Classes Multisseriadas.

Assim, nosso olhar curioso, defrontou-se não somente com as dificuldades,

mas em reconhecer o esforço dos que estão nesse dia-a-dia, em tentar manter da

melhor forma possível certa qualidade na educação de crianças que vão diariamente

para a escola em busca de saber, de merenda, de carinho e de compreensão.

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Crianças essas que além da ausência de uma educação de qualidade, também

sentem a ausência de alimentação e moradia dignas, e a falta de uma expectativa

melhor de vida, de dignidade. E só quem tem a oportunidade de presenciar

diretamente, essa realidade para perceber o quanto aquelas mesmas crianças e

professores precisam não somente da presença das classes multisseriadas, mas

precisam também que elas estejam adequadas para as suas realidades, para que

assim tenham a esperança de dias melhores em suas vidas. Concluímos também,

que apesar dos que condenam as Classes Multisseriadas há ainda aqueles que nem

se dão conta da diferença que a ausência dela poderia acarretar.

Acreditamos, então, que conseguimos o objetivo desta pesquisa que seria

demonstrar que existe a possibilidade de uma prática possível e que proporcione

uma real aprendizagem para os discentes da educação do campo, e podemos

deixar aqui como reflexão que além dos pontos negativos há também pontos

positivos que demonstram ser possível uma educação eficiente em Classes

Multisseriadas. Apesar de todas as adversidades, há como realizar um trabalho

eficaz junto a essa modalidade de ensino, levando em consideração para isso à

heterogeneidade e criatividade de professores comprometidos com sua prática. E,

apesar das dificuldades existentes, notamos que a conservação das mesmas torna-

se indispensável, e por tempo indeterminado, tempo este necessário para o

surgimento de um método que possa tornar o espaço das Classes Multisseriadas

adequadas a uma educação de qualidade.

Sendo assim, ao chegarmos a este ponto de nossa pesquisa, temos como

conclusão que este estudo é apenas um ponto parágrafo no enorme mar de

informações que se apresentam sobre as classes multisseriadas no Município de

Breves. Enfim, acreditamos que cumprimos com nossa pesquisa ao demonstrar a

prática docente e as metodologias potencializadoras que auxiliam para o processo

ensino-aprendizagem, pois às mesmas trabalham a motivação por meio de técnicas

simples de aprendizado, atividades que além de possuir um baixo custo, são

totalmente viáveis para aplicação em classes multisseriadas.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A - ENTREVISTA COM PROFESSORA

Tempo de Duração da entrevista: ________________________________________

Nome: _____________________________________________________________

Residência:________________________Cidade: ___________________________

Idade_____________ Sexo:_______________Local de Origem:________________

Tempo de Trabalho em Classes Multisseriadas: _____________________________

Comunidade em que trabalha:______________________Distrito: ______________

Escola: ___________________________Carga Horária: Concursada ( ) _________

Contratada ( )__________

Formação: _______________________________Curso: _____________________

N. Superior, Curso:_________________________ Universidade:_______________

1. Quais são as séries que você trabalha?

2. Qual seu conceito sobre Classes Multisseriadas? Como você as definiria?

3. O que a levou a trabalhar com classes multisseriadas?

4. Você esta satisfeita com este trabalho? Por quê?

5. Nessa escola especificamente, em “A”, já faz quanto tempo que você trabalha lá?

Só com classes multisseriadas?

6. Como se dá o acesso à escola em que você trabalha? Você tem dificuldade de

acesso?

7. O que você acha da infraestrutura da escola em que você trabalha? Por quê?

8. Tem muitas escolas que trabalham com classes multisseriadas que o professor

tem que ser a merendeira, servente, e agora que você tem essa diferença que tem

coordenação, servente, você percebe alguma diferença quando possui essa

estrutura?

9. Como se da a distribuição das disciplinas no horários das aulas?

10. Então você acredita que trabalha a interdisciplinaridade?

11. Você sempre planeja as atividades para 4 horas de aula? Como se dá teu

planejamento é diário?

12. Como é feita a frequência dos alunos? Você trabalha com quantas cadernetas?

13. Os alunos costumam faltar muito? Você percebe se eles se esforçam muito para

chegar à escola?

14. Como se dá o transporte dos alunos para a escola?

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15. Essa frequência, que não faltam tanto, você acha que se deve ao que?

16. E esses alunos que faltam como eles recuperam o conteúdo perdido?

17. Como são as atividades que você trabalha? De que forma você faz a explicação

dos conteúdos?

18. E a partir de quando você começou a trabalhar esse método?

19. Você acha que usando essas atividades, facilita mais e tem maior interesse dos

alunos?

20. Podemos perceber que os alunos de 2º ao 4º ano em sua turma estão todos no

mesmo nível, mas no início do ano esses alunos já se encontravam todos no mesmo

nível?

21. Como você fez para alfabetizá-los?

22. Quantos alunos são do 4º ano?

23. Sabemos que só a partir do 4º ano que reprova, dos 4 alunos do 4º ano quantos

vão passar pro 5º ano?

24. Como se dá a participação dos pais nas atividades escolares?

25. As crianças trabalham? De que idade?

26. Qual seu nível de envolvimento com os alunos e a comunidade?

27. A SEMED promove formação continuada, especifico para Educação do Campo?

Você participa?

27. Existe planejamento pedagógico anual realizado pela SEMED? Você participa?

28. Desde quando são trabalhados os eixos temáticos? E você acha que esta dando

certo?

29. E o material para o conteúdo dos eixos é disponibilizado pela SEMED?

30. Você acredita que os conteúdos apresentados nos eixos foram pensados para

serem trabalhados de acordo com a realidade das crianças ribeirinhas?

31. Você tenta fazer uma adaptação ou segue os conteúdos como esta no

planejamento?

32.E o que você acha dessas fichas? É uma boa forma de avaliar os alunos?

33.Quem planejou essas fichas? Vocês participaram da elaboração dessas fichas?

34.A escola “A” possui algum Projeto Político Pedagógico especifico?

35. Você teve alguma participação na seleção dos conteúdos para as aulas?

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36.Dentro desse momento você acha que teve a preocupação de fazer relação

desses conteúdos com a realidade dos alunos?

37.Como você disse que a maior dificuldade é encontrar o material do conteúdo,

então qual você acha que seria a solução pra isso?

38.Você realiza revisão dos conteúdos com os alunos? Com que freqüência?

39.Você participa da construção do calendário escolar?

40.O calendário escolar é cumprido? Por quê?

41.E você acha que há rendimento nas aulas nos dias de sábado?

42.Você participou da escolha do livro didático dos seus alunos?

43.Você utiliza o livro didático nas aulas? Por quê?

44.Você tem o apoio e visitas técnico-pedagógico da SEMED? Com que

periodicidade?

45.Qual sua opinião sobre Programa Escola Ativa? Suas metodologias são viáveis?

Por quê?

46.Você acredita que trabalha um método pedagógico especifico? Qual?

47.Então além do método da Escola Ativa quais os outros métodos que você utiliza?

48.Então você tem um contato com as professoras do 1º, 2º e 3º ano?

49.Como ficam as aulas de Educação Física, Artes e Ensino Religioso?

50.Você trabalha com eixos temáticos, temas geradores e seus objetivos há uma

apresentação previa aos alunos de todos que serão trabalhados em cada bimestre?

51.Com que freqüência são modificados os eixos e temas geradores?

52.Podemos perceber que a maioria de seus alunos estão em defasagem

idade/série, que dificuldades você sente ao lidar com essa realidade?

53.Você sabe qual o motivo dessa defasagem?

54.Quais os recursos didáticos utilizados nas aulas? De onde provém estes

recursos? Como são utilizados?

55.E quanto ao PDDE?

56.Como é o acesso de material e recursos pedagógicos para os alunos?

57.Você trabalha com tarefas em grupo? Como?

58.Os alunos podem opinar com relação as tarefas a serem realizadas?

59.Você utiliza jogos pedagógicos, como você os organiza? Por nível? Grupos

aleatórios? Ou de que forma?

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60.Quando os alunos não entendem o conteúdo através dos jogos, o que você faz?

61.Em que momento você faz a correção das atividades? O que você leva em

consideração?

62.Você acredita que incentiva a autonomia, responsabilidade e o pensamento

critico dos estudantes? Como?

63.O que você faz quando surge um assunto em sala de aula como a violência, o

que você faz?

65.E ai tem recuperação?

66.Não tem um período de prova e recuperação?

67.Você trabalha atividade extra-classe, dever de casa?

68.Quais os instrumentos utilizados para avaliar a aprendizagem dos alunos? E

como são utilizados?

69.E o que você acha das fichas de avaliação?

70.Você negocia com os alunos os critérios e os indicadores de avaliação?

71.Qual a reação dos alunos a essas práticas avaliativas?

72.Você trabalha a auto-avaliação?

73.Os alunos avaliam seu trabalho?

74.Há uma discussão com os alunos dos resultados da avaliação? Como?

75.Você apresenta aos alunos e pais a situação de cada aluno? Em que momento?

76.Na sua opinião quais as maiores dificuldades enfrentadas pelos alunos?

77.E quanto ao nível de atenção dos alunos?

78.Quais as maiores dificuldades/desafios que você acredita enfrentar com as

classes multisseriadas?

79.Você acha que nem tudo ta perdido pra educação? Você ainda tem esperança?

80.Você acredita que conseguiu alcançar seus objetivos com seus alunos no final do

ano letivo?

81.O que você acredita que diferencia o teu trabalho de outras professoras de

classes multisseriadas?

82.Qual sua opinião sobre as classes multisseriadas? Que sugestões você daria

para a melhoria das classes multisseriadas?

83.Mas você acha que deveria acabar com as classes multisseriadas?

84.Você quer finalizar falando mais alguma coisa?

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APÊNDICE B - OBSERVAÇÃO REALIZADA NA ESCOLA “A” / FURO DE

BREVES

PERIODO: ________________

Séries: _________________

Horário de aula da turma observada: ___________

Número de alunos: ____________ Faixa etária dos discentes: __________

1) Caracterização da escola:

2) Caracterização do ambiente de sala de aula:

3) Estratégias utilizadas para gerir o espaço:

4) Desenvolvimento das atividades planejadas nas 4 horas de aula diárias e

metodologias utilizadas na sala de aula:

5) A organização dos alunos na sala de aula:

6) Deslocamento da docente aos lugares para acompanhar as tarefas:

7) Movimento dos estudantes dentro da sala de aula.

8) Recursos didáticos utilizados nas aulas:

9) A relação professora e alunos e participação nas atividades:

10) Modo como a docente expõe os conteúdos:

11) Os estudantes são estimulados a participar das atividades?

12) Exposição dos conteúdos na sala de aula:

13) Nível de conhecimento dos alunos:

14) Manutenção dos recursos pedagógicos:

15) Utilização dos jogos e atividades pedagógicas:

16) Nível econômico dos alunos e comunidade e participação dos responsáveis:

17) Transporte escolar:

18) Atividades em grupo:

19) Comportamento dos alunos:

20) Eventos:

21) Período de avaliação:

22) Desafios, imprevistos e conclusão.

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APÊNDICE C - QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTAS PARA OS PROFESSORES

IDADE:_____________ SEXO:_________LOCAL DE ORIGEM:________________

RESIDÊNCIA: ___________________________________________________

TEMPO DE TRABALHO EM CLASSES MULTISSERIADAS: ___________________

COMUNIDADE EM QUE TRABALHA/DISTRITO: ____________________________

CARGA HORÁRIA:______CONCURSADO (A) ( ) CONTRATADO (A) ( )

1) PLANEJAMENTO, METODOLOGIA E AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM. 1. Quais são as séries que você trabalha?

2. Como é feito o planejamento de aula para a turma multisseriada?

3. O que você leva em consideração ao planejar as aulas para os alunos da classe

multisseriada?

4. Quais as metodologias mais utilizadas na sala de aula multisseriada? Como elas

são desenvolvidas?

5. O que você acha do Programa Escola Ativa?

6. Você utiliza a metodologia do Programa Escola Ativa ou de outro programa e/ou

projeto? Qual? Como?

7. Como são organizados os alunos no espaço da sala de aula multisseriada?

8. Como é realizada a avaliação da aprendizagem dos alunos? Quais instrumentos

são utilizados?

9. Você negocia com os alunos os critérios e os indicadores de avaliação?

( )Sim ( )Não ( ) Algumas vezes

10. Quais os recursos didáticos utilizados nas aulas? De onde provém estes

recursos? Como são utilizados?

2) CONHECIMENTO ESCOLAR, LIVRO DIDÁTICO E HORÁRIO DE AULA. 1. Como foi realizada a seleção dos conteúdos das disciplinas que fazem parte do

currículo da classe multisseriada?

2. Você teve alguma participação na seleção desses conteúdos? ( )Sim ( )Não

( ) Algumas vezes

3. Você trabalha os conteúdos de acordo com a realidade dos alunos? ( )Sim ()Não

( ) Algumas vezes

4. Você realiza adaptações/ajustes no conteudo programatico. ( )Sim ( )Não ( )

Algumas vezes. Por quê?

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5. Como foi feita a escolha do livro didático? Você participou?

6. Como o livro didático é utilizado nas aulas?

7. Em que turno os alunos estudam? Existe algum critério para definir o turno de

funcionamento da escola?

8. Como é organizado o horário das aulas das disciplinas que compõem o currículo?

9. Como as atividades planejadas são desenvolvidas nas quatro horas/aulas

diárias?

3) FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA: NÍVEL DE FORMAÇÃO, PARTICIPAÇÃO EM EVENTOS E CURSOS.

1. Qual sua formação?

2. Se você possui o nível superior, quem custeou o seu curso?

3. Você participa de formação continuada? ( )Sim ( )Não ( ) Algumas vezes

4. Você é convidado (a) a participar de eventos educacionais promovidos pela

SEMED ou outros órgãos governamentais? ( )Sim ( )Não ( ) Algumas vezes

5. São ofertados cursos voltados especificamente para os professores da área rural

do município? ( )Sim ( )Não ( ) Algumas vezes

6. Quando você participa de cursos voltados à formação inicial ou continuada a

SEMED disponibiliza substituto para a turma? Ou como fica a turma durante esse

período?

7. Existe ajuda de custo da SEMED para os professores que participam de formação

inicial ou continuada? ( )Sim ( )Não ( ) Algumas vezes

8. Existe planejamento anual realizado pela SEMED? Você participa? ( )Sim

( )Não ( ) Algumas vezes

9. Como se dá a construção do calendário escolar? Você participa?

10. O calendário escolar é cumprido? ( )Sim ( )Não ( ) Algumas vezes

11. Você tem o apoio e visitas técnico-pedagógico da SEMED? ( )Sim ( )Não ( )

Algumas vezes

4) CLASSES MULTISSERIADAS: NÍVEL DE ENVOLVIMENTO, OPNIÕES E SUGESTÕES.

1. O que o (a) levou a trabalhar com classes multisseriadas?

2. Você esta satisfeito (a) com este trabalho? ( )Sim ( )Não ( ) Algumas vezes

3. Você tem dificuldade de acesso a escola? Porquê?

4. Qual sua opinião sobre as classes multisseriadas?

5. Qual seu nível de envolvimento com os alunos e a comunidade?

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6. O que você acha da infraestrutura da escola em que trabalha?

7. Você recebe todo o material didático necessário para a efetivação de seu

trabalho? ( )Sim ( )Não ( ) Algumas vezes

8. Na falta de material didático, merenda escolar ou quando há problemas com a

infraestrutura da escola, qual o procedimento que você adota?

9. Você conhece o sistema de nucleação implantado no município? O que você

acha do mesmo?

10. Que sugestões você daria para a melhoria das classes multisseriadas?

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