vivendo em uma cápsula: o modo de vida em um edifício híbrido

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Vivendo em uma cápsula O modo de vida no edifício Híbrido Guilherme HEnrique Minoru Yamaji Trabalho de Conclusão de Curso 2013 ARQUITETURA E URBANISmO UFMS

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Trabalho Final de graduação UFMS, Campo Grande-MS 2013

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Vivendo em uma cápsulaO modo de vida no edifício Híbrido

Guilherme HEnrique Minoru Yamaji

Trabalho de Conclusão de Curso

2013

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Guilherme Henrique Minoru Yamaji

Vivendo em uma cápsula:

Modo de vida no edifício híbrido

__________________________________________

Campo Grande, M.S. 2013

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Vivendo em uma cápsula:

Modo de vida no edifício híbrido

Guilherme Henrique Minoru Yamaji

Monografia apresentada ao curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro de Ciências Exatas e Tecnologia como pré-requisito para a obtenção do título de Arquiteto e Urbanista.

Orientador: Profª. Meª. Juliana Couto Trujillo

Campo Grande, M.S. 2013

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Ficha Catalográfica preparada pela Biblioteca Central Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Yamaji, Guilherme Henrique Minoru Yamaji

Vivendo em uma cápsula: Modo de vida no edifício híbrido / Yamaji, Guilherme Henrique Minoru Yamaji

2013

50 páginas; 06 pranchas

Anexos: 01

Trabalho Final de Graduação apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da UFMS

Orientadora: Juliana Couto Trujillo

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FOLHA DE APROVAÇÃO

Autor: Guilherme Henrique Minoru Yamaji Título: Vivendo em uma cápsula: Modo de morar no edifício híbrido. Monografia defendida em 11/12/2013, pela comissão julgadora:

Profª. Juliana Couto Trujillo (orientadora) Curso de Arquitetura e Urbanismo / Universidade Federal do Mato Grosso do Sul

Prof. Gilfranco Medeiro Alves Curso de Arquitetura e Urbanismo / Universidade Federal do Mato Grosso do Sul

Denize Demirdjian Arquiteta / Professora convidada

___________________________________

Profª. Drª. Eliane Guaraldo Coordenadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabaho ao meu pai Marcelo, a minha mãe

Regina, a minha mãe de coração, tia Íris, aos meus irmãos Ana

e Vitor, que sempre estiveram ao meu lado e me apoiaram em

todas as decisões da minha vida.

Dedico também este trabalho a meus mestres Juliana e

Gilfranco que me ensinaram, apoiaram e me ajudaram a

encontrar um rumo para formação de arquiteto.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a toda minha família, meu pai

Marcelo, minha mãe Regina, minha mãe de coração, tia Íris, minha

irmã Ana, meu irmão Vítor, minha tia Flora, meu tio Marco Antônio

e toda a minha família por me apoiarem e estado ao meu lado

sempre.

Agradeço aos meus orientadores e amigos Juliana e Gilfranco,

por me apoiarem e me ensinarem a persistir e perseguir sonhos.

Agradeço aos meus amigos que estiveram comigo: Kaio,

Isadora, Thais Y, Carol, Ariel, Sérgio, Marco, Cibele, Jéssica,

Juliana, Leyce, Adalberto, Thais R.

Agradeço a toda a turma que iniciou a faculdade comigo em

2009 e todos aqueles que me ajudaram nesses anos.

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Sumário

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“Como arquiteto você projeta para o presente,

com a consciência do passado, para um futuro

que é essencialmente desconhecido”.

Norman Foster

Resumo 11

Abstract 12

Introdução 13

Habitação No Contexto Histórico 14

do Medieval ao Contemporâneo 14

Arquitetura Híbrida 20

Adensamento Social x Edifícios Híbridos 20

Breve Histórico 21

Densidade e Paisagem da Cidade 22

Forma 22

Metabolismo (1960 - 1985) 24

Processo de criação: o Design Paramétrico 27

Estudos de Caso 31

1. Nakagin Capsule Tower (1970), Tokyo - Japão. Kisho Kurokawa31

2. Pavilão Expo Chanel, Zaha Hadid revestido com placas de fibra de vidro. 31

3. Phaeno Science Centre, Zaha Hadid Architects: Pilares estruturais ocupados internamente. 31

São Paulo - SP 32

Habitação na Cidade Global 32

Programa de Necessidades: 35

O Projeto 38

Programa de Necessidades 38

O Terreno 39

O Edifício Híbrido 40

A Capsula 42

Considerações Finais 43�9

REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS 45

LIVROS 45

ARTIGOS 45

ENTREVISTA 46

REFERÊNCIAS CONSULTADAS 47

FILME 47

REFERÊNCIA DE IMAGENS 48

Fabricação Digital [Anexo] 50

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Resumo

A transição da idade média para a era industrial marca uma mudança característica e o surgimento de um núcleo familiar que, junto a uma série de acontecimentos históricos e avanços tecnológicos, acarretarão em uma série de mudanças comportamentais na sociedade. A internet foi o meio de propagação de informação e o principal responsável por conectar as pessoas de todo o mundo. Graças a ela, novos modos de comportamento surgiram e isso se refletiu também na arquitetura.

Híbrido é o termo usado para determinar uma diversidade de usos coexistindo em um mesmo edifício. Destacando-se porque é uma releitura da cidade, que possui vias e calçadas públicas e que pode ser entendido como uma extensão da cidade em sentido vertical.

Dessa forma, a capsula como habitação e arquitetura de um novo modo de morar, em meio a diversos usos, compõe um edifício híbrido. Para isso, o terreno situado na Avenida Paulista, esquina com a Rua Pamplona, que estava sendo subutilizado como estacionamento, é uma oportunidade de explorar as discussões que os arquitetos metabolistas iniciaram na década de 1960 e perpetuar para o contexto atual.

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Abstract

The transition from middle age to the industrial age marks a characteristic change and the emergence of a nuclear family that , along with a series of historical events and technological advances , will entail a series of behavioral changes in society . The internet has been the means of spreading information and main responsible for connecting people from around the world . Thanks to her, new modes of behavior emerged and this was also reflected in the architecture .

Hybrid is the term used to determine a variety of uses coexisting in the same building . Highlighting because it is a reinterpretation of the city that has roads and public sidewalks and can be understood as an extension of the city in the vertical direction .

Thus , as the capsule housing and architecture of a new way of living , amid many uses, composes a hybrid building. For this, the land situated at Avenida Paulista , corner of Rua Pamplona , which was being underutilized as parking , is an opportunity to explore the discussions that metabolistas architects began in the 1960s and to perpetuate the current context .

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Introdução

A habitação é um objeto de estudo primordial e pluridisciplinar. Requer, como todas as temáticas que permeiam a Arquitetura e Urbanismo, conhecimento de seu contexto histórico para construir perspectivas futuras. Contempla os nossos modos de vida. Morar é o abrigo, o desfecho de um dia de trabalho, é onde nossas vidas começam e onde passamos a maior parte dela. É o conjunto desses espaços e pessoas que convivemos nos definem como pessoas. Uma boa arquitetura de morar tem o papel de compreender e então construir as diferentes formas de viver, compreendendo a época em que se vive.

A tecnologia é atemporal e onipresente. Evolui de acordo com o amadurecimento, as necessidades e os anseios pelo conhecimento de toda humanidade, sempre em busca da melhor qualidade de vida e de soluções para os problemas cotidianos. Sua evolução resultou em efeitos ambientais maléficos que a arquitetura contemporânea, des de que tomou consciência, se instituiu responsável em amenizar.

Na forma de projetar, o Design Paramétrico surgiu como um processo criativo, no contexto evolutivo-tecnológico da Arquitetura, como um novo meio mais eficiente para atender às necessidades de um projeto de qualidade, através do auxílio de softwares que processam informações com uma linguagem de programação algorítmica, que permite gerar uma gama de soluções alternativas e a melhor opção entre elas.

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Casa Medieval e Habitações da Revevolução Industrial

Habitação No Contexto Histórico

do Medieval ao Contemporâneo

Temática por excelência da reflexão arquitetônica, a habitação torna-

se objeto de leituras combinatórias que buscam relacioná-la a

diferentes campos disciplinares. Se é basicamente de processos que

se compõe esse lugar, a edificação deixa de ser o principal produto

de seu estudo. Se o edifício habitação não mais encerra e qualifica

prioritariamente as ações do habitar, o foco da arquitetura e do design

desloca-se para a interação entre usuár ios e espaço.

(TRAMONTANO, 1997).

Tramontano (1997), em seu artigo “Habitações, metrópoles e modos de vida. Por uma reflexão sobre o espaço doméstico contemporâneo”, aborda sobre as alterações do modo de vida, comportamento, função e composição do grupo familiar, associados ao processo de industrialização das cidades e concentração de população nos polos industriais urbanos. A família extensa, que antes se baseava na economia agrícola, deu lugar ao modelo familiar Moderno, com o surgimento do modo de vida metropolitano dos séculos 18 e 19: a família nuclear.

Segundo Rybczynski (1987), “A casa medieval era um lugar público e não privado” , parentes do senhor dos meios de produção, servos e 1

subordinados habitavam o mesmo edifício, de tal forma que, em um mesmo cômodo, habitação , ambiente de trabalho e o espaço destinado ao uso público coexistiam em um mesmo edifício. Na sociedade industrial, o ambiente de trabalho desvinculou-se da moradia, habitada por membros de laço consangüíneo estreitos, criando o deslocamento da residência ao polo industrial, levando a moradia à regiões mais periféricas da malha urbana e à nuclearização familiar [nota de rodapé]. O ambiente fabril, predominantemente masculino e aberto ao público, difere do residencial, que é de caráter feminino e privado, dividido em cômodos e zonas, como na habitação burguesa [nota de rodapé].

RYBCZYNSKI, 1987 apud TRAMONTANO, 1997, p. 1.1

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“O Modo Americano de Vida”

No contexto pós Segunda Guerra Mundial , surge uma nova cultural 1

de família moderna, mecanizada e difundida por um dos mais influentes meios de comunicação da época: Hollywood. Um veículo de informação perfeito para divulgar o “Modo de Vida Americano” : Automóveis, eletrodomésticos, 2

máquinas, o marido no papel de trabalhador, autoritário, protetor e a esposa frágil, sentimental, intuitiva e responsável pelas tarefas e organização do espaço doméstico. Uma nova maneira de morar: uma habitação elevada ao nível de consumo e que cultua o asseio.

Na década de 60, paralelo ao surgimento de métodos contraceptivos mais eficazes, como a pílula anticoncepcional, surgiram para instigar a população feminina a lutar por um lugar no mercado de trabalho, direito ao voto, igualdade social, liberdade de ter relações sexuais sem obrigatoriedade religiosa, direito de separar-se do parceiro (ou parceira) sem ser condenada pela sociedade e a planejar sua família. Consequentemente, esse pensamento feminista levou a uma queda gradativa da taxa de fertilidade[nota de rodape], marcando, alterações nos modelos de moradia.

A partir da segunda metade do século 20, surgem novos tipos de grupos domésticos: solteiros, famílias monoparentais, os chamados DINKS - "Double Income No Kids" -, casais de união homoafetiva, casais unidos sem o compromisso religioso, grupos familiares unidos sem laços conjugais ou de parentesco. A renovação da família nuclear trouxe como conseqüência o enfraquecimento da autoridade dos pais, mas levou a uma sociedade mais autônoma, um novo padrão social: pessoas vivendo sós. Essa tendências de alteração no tamanho, estrutura e função da família, levou a repensar os padrões de moradia, tanto no seu aspecto físico - na divisão dos ambientes -, quanto funcional - na utilização desse espaço. Um processo de individualização, provavelmente irreversível, que se estende do século 16 aos dias atuais.

A partir de 1945.1

American Way Of Life2

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Novos grupos familiares emergentes

Nas décadas de 1950 e 1960, a informatização, precedida da mecanização, deu início na década de 1990 , a comunicação a distância 1

banalizou os conceitos de realidade virtual e modificou radicalmente as noções que até então haviam sobre deslocamento. Diferente da sociedade industrial, na emergente sociedade pós-industrial, a informação é levada aos indivíduos e pouco importa a localização que o mesmo se encontra. Aliado aos novos meios de telecomunicação, no modo de vida metropolitano, contribuiu para o deslocamento de população para comunidades menores a partir das grandes cidades.

Segundo Tramontano (1997), São Paulo, Paris e Tóquio sofreram de um efeito chamado doughnut , termo usado para o deslocamento de 2

população para além de suas fronteiras administrativas, causando um decréscimo de densidade populacional no centro da cidade. O resultado desse fenômeno são solteiros, jovens profissionais, trabalhadores de escritório e estudantes que preferem alugar apartamentos mais caros e diminutos no centro das cidades, ao invés de longos deslocamentos diários de transporte coletivo e bairros distantes, longe do lazer e da vida noturna urbana.

Os efeitos da globalização nas grandes cidades, de formatos familiares congêneres semelhantes, também impulsionou os meios de comunicação de massa e drásticas transformações de hábitos em curso. O resultado é a minimização da identidade e de influências culturais locais

Segundo o historiador japonês Sakae Tsunoyama (1993 apud TRAMONTANO, 1997) chama o processo de “desintegração da família na sociedade pós-industrial” de um processo de “adaptação da família às mudanças da estrutura econômica da sociedade”. Em outras palavras, na sociedade agrícola, o sistema familiar extenso baseava-se em laços de consanguinidade em que seus membros dedicavam-se na produção agrícola. A produção, consumo, suprimento, educação, saúde e lazer encontravam-se na família mas com forte apoio na comunidade. Na sociedade Industrial, a família

Década em que a internet tomou proporções mais comerciais e acessíveis.1

Tradução literal: “rosquinha”2

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Farmsworth, do arquiteto Mies Van Der Rohe. Um ícone de arquitetura residencial flexível e permeável

nuclear é uma unidade social baseada na cultura do consumo, e não de produção. O processo de produção deslocou-se para o setor fabril. Nesse contexto, a divisão sexual do trabalho toma forma, como padrão social, do marido deslocando-se para o trabalha enquanto sua esposa se encarrega de tarefas domésticas e criação de seus filhos. Nesse panorama, assim como na Idade Média, o local de trabalho tende a ocupar novamente o espaço da habitação - no entanto por um motivo diferente: os meios de comunicação a distância -, formada por um contingente menor de trabalhadores ou, com crescentes probabilidades, tendendo a um único, em um cenário de força de trabalho fragmentado.

Quanto ao desenho do espaço doméstico, Tramontano (1997) refere-se à tipologia da habitação burguesa do século 19, que ocorre em caracterizado pela trilogia de área social, íntima e de serviços, como o modelo moderno de habitação-para-todos: soluções técnicas, funcionais, economicamente viáveis e replicáveis.

O modelo da habitação européia oitocentista burguesa , abrigava 1

também quarto de empregados que, juntamente com banheiro e cozinha, eram cômodos rejeitados e distribuídos nos fundos da moradia. Salas comuns e vestíbulos, no entanto, compunham áreas mais nobres, opostas aos quartos íntimos da família. Em oposição, nas propostas Modernas, a cozinha uniu-se com a sala de estar, tornando-se um espaço de convívio privilegiado de convívio dos membros familiares da casa. A área útil da moradia procurou moldar-se em cômodo pro pessoa, através de elementos flexíveis, retrateis e portas de correr, que permitissem otimizar o espaço desses ambientes.

O Movimento Moderno europeu do entre-guerras levou aos arquitetos da época a repensar o desenho e a produção dos espaços habitáveis, sob alguns critérios, como flexibilidade e praticidade, que norteiam os projetos habitacionais até hoje. Essas reflexões trouxeram o projeto de habitação social como atribuição do arquiteto e urbanista. Como resultado, os arquitetos

Sociedade de classes onde todos nascem livres. Caracteriza-se pela possibilidade de 1

mobilidade social, igualdade no estatuto jurídico. Há distinções entre seus indivíduos no poder econômico, profissional, cultural, ideológica e comportamental.

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“As Cidades Móveis”, do grupo Archigram e o “Capsule Tower, dos arquitetos Metabolistas, em Tóquio.

modernos formularam projetos de habitação que poderiam ser replicáveis e economicamente acessível: um modelo universal, baseado na concepção biológica do indivíduo, e em uma padronização do conjunto dos espaços e da vida social - habitação-para-todos.

Nos anos 1960, na Inglaterra, assim como os modernos, que se preocupavam com as habitações no seu contexto interativo urbano, surge um grupo de arquitetos impulsionados por reflexões de novas tecnologias e conscientes do individualismo emergente, o grupo Archigram propôs projetos hiper-tecnológicos para a época em que se estabeleceu, como cidade nômade por exemplo. O resultado eram abrigos individuais e solitários, de uma vida social dispersa pela cidade e pelo território. O espaço privado, segundo os pesquisadores Julienne e Mandon (1985 apud TRAMONTANO, 1997), é “um espaço transitório, provisório e quase secundário em relação a um espaço exterior supervalorizado”.

O Achigram, com suas grandes idéias utópicas, instigou os sonhos de toda uma geração de arquitetos, através de sua visão demasiada universalista e caricaturizada, embora sua tentativa de redefinição da habitação contemporânea tenha fracassado. No entanto, foi no Japão, que um jovem grupo de arquitetos, autodenominados Metabolistas, se apropriaram dos pressupostos ingleses para propor uma rediscussão da cidade japonesa. Dos projetos concretizados, o Nakagin Capsule Tower, de 1972, projetado por Kisho Kurokawa, em Tóquio, teve sua idéia materializada nos Capsule Hotels, espalhados por todo o país.

Nessas últimas décadas, as propostas arquitetônicas que se denominaram inovadoras limitaram-se, em sua maioria, apenas ao uso de técnicas construtivas alternativas ou a novos desenhos de fachada, sem sequer questionar a função, o desenho e a articulação dos espaços na habitação (TRAMONTANO, 1997).

Entretanto, a metrópole - ou megalópole - do século 21 abriga um indivíduo que compõe eventualmente diversos formatos familiares e trabalha em casa, mas necessita de equipamentos públicos para encontro com outros.

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Sofre com os problemas de mobilidade urbano e busca meios de transporte alternativos mais baratos. Constrói sua identidade através da informação e da comunicação a distância, por meio das redes sociais.

Visto que a evolução da tecnologia - como o surgimento de automóveis, equipamentos, eletrônicos domésticos - contribuiu para as alterações composição da família nuclear, as habitações sofreram alterações em sua forma e uso dos espaços. Tais mudanças - como famílias monoparentais, casais de união homoafetiva, celibato por opção, pessoas vivendo sós - desencadearam novos modos de vida e, portanto, maneiras de habitar. Como objeto de estudo na Arquitetura e no Urbanismo, a habitação não deve meramente se preocupar apenas com seu caráter social, sua construção economicamente viável ou nas suas políticas habitacionais governamentais (que visam a população de baixa renda), mas sim com o incentivo de idéias que pretendem projetar habitações em função dos novos modelos e comportamentos emergentes, não apenas uma reprodução dos modelos existentes. Espera-se que, dessa forma, as reflexões sobre as tipologias atuais de habitação possam auxiliar a elaboração de critérios para as habitações do futuro.

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1. Project Japan: Metabolism Talks…, Rem Koolhaas e Hans Ulrich Obrist. Editora Taschen. Livro.

2. Nakagin Capsule Tower (1970), Tóquio. Kisho Kurokawa.

3. Marine City (1963). Kikutake Kiyonori.

1

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Arquitetura Híbrida

Adensamento Social x Edifícios Híbridos

Nos primeiros estudos sobre edifícios híbridos, Joseph Fenton mensiona o aparecimento dos edifícios híbridos no início do século 20, com o intuito de revitalizar as cidades norte-americanas e a melhor utilização do uso do solo.

Nessa mesma época, o movimento conhecido como construtivista, surgido na União Soviética, cria o “condensador social”, com intuito de transformar as relações entre seus cidadãos do Estado socialista, nas esferas da habitação coletiva, dos clubes e fábricas.

Com a disponibilidade de terras e a necessidade de habitação urgente, os arquitetos construtivistas da OSA (União de Arquitetos Contemporâneos) aproveitou a oportunidade de experimentar novas propostas residenciais que serviriam para abrigar as massas proletárias e influenciar o comportamento social de seus habitantes. As atividades que antes faziam parte da vida privada deram lugar a cozinhas coletivas, cantinas, lavanderia e enfermarias. Dessa forma, pela primeira vez foi necessário considerar os espaços de circulação como oportunidade de promover eventos e socialização entre os moradores, levando a população a fazer parte da vida pública.

O Condensador Social foi fruto de um pensamento funcional, onde se concentra uma comunidade fechada, de espaços controlados e relações restritas ao domínio privado da habitação. No espaço híbrido, o fluxo de usuários é tão importante quanto ao fluxo econômico, incentivando o contato com o estranho, intensivando suas relações, onde os espaços são deixados para a indeterminação.

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Projeto de edifício híbrido do escritório UN Studio.

Os edifícios híbridos são aqueles que, além da mistura de usos, consegue integrar diversos programas, de diferentes desenvolvedores, gestões e usuários. Os híbridos podem ser tão diversos quanto uma cidade quanto ao seu horário de uso, programas e usuários. No entanto, a simples configuração de várias funções subordinadas em diferentes pavimentos não torna uma edificação híbrida.

Oposto a essa idéia, os condensadores sociais diferem dos híbridos por se concentrarem em edifícios residenciais com programa de serviços associados a habitação e utilização exclusiva do mesmo por parte dos moradores. Os condensadores provém de iniciativa pública e são isolados da trama urbana.

O edifício híbrido nasce da concentração de interesses, depende do consenso da população para sua sobrevivência e não se baseia em tradições, mas sim em perspectivas de coletividade e interatividade para o futuro.

Breve Histórico

Com a invenção do elevador e as estruturas de aço, em meados do século 19, revolucionou a construção e a arquitetura, permitindo que os edifícios se verticalizassem, ascendendo aos arranha-céus. Essas invenções contribuiram para atender às demandas de alta densidade e disputa pelos espaços confinados na cidade, utilizando-se da sobreposição de programas para agregar usos e garantir vida na paisagem urbana.

Em 1916, a criação de códigos urbanísticos e leis de zoneamento em Nova York restringiram misturas de usos em edifícios, em certas partes da cidade, o que acarretou no surgimento de bairros com usos restritos, atrasando a evolução dos edifícios híbridos.

Devido a especulação imobiliária atual, a tentativa de agregar usos na malha urbana, aos avanços tecnológicos para melhorias ambientais, alterações

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nas leis de uso do solo e a promoção de mistura de funções tem se tornado uma tentativa recente de dinamizar e dar vida à cidade.

Densidade e Paisagem da Cidade

Devido a tendência desordenada e descontrolada da malha urbana, os entornos densos e complicações para o uso do solo, resultantes desse fenômeno, se tornaram situação ideal para o hibridismo das edificações, visando melhor aproveitamento do solo e justaposição de usos e programas.

Nas cidades, a inserção de um edifício híbrido na natureza, possibilita o diálogo dos edifícios com os marcos urbanos e interrelações com os espaços públicos. Geralmente, por sua grande escala, possibilita aplicações estratégicas e propícias de composição urbana que supera a arquitetura e avança para o campo do urbanismo.

Forma

Na arquitetura híbrida, a Moderna instância entre a forma e a função do edifício já não funciona mais. O edifício híbrido vai sempre contra a morfologia segregacionista para trazer usos e atividades que possam proporcionar vida ao espaço. Seu processo de criação pode adotar múltiplas formas de representação e permitir maior complexidade formal para atender a melhor performance possível.

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Esquema conceitual de diversos usos para um edifício híbrido, de acordo com os períodos do dia em que ocorrem.

Metabolismo (1960 - 1985)

No oriente, o Japão sofreu com cidades inteiras devastadas pelos ataques nucleares da Segunda Guerra Mundial quando os Estados Unidos da América bombardeou Hiroshima e Nagasaki, em 1945. Nesse contexto pós-guerra, o país devastado se viu com oportunidade de se reerguer, a partir das ruínas deixadas pela guerra. Otimista, o país retomou sua posição mundial como uma das maiores potências mundiais e impulsionou um movimento que, segundo Koolhaas (2011), foi “o último movimento que mudou a arquitetura”, com discurso de forma coerente e que apresentou soluções de desenvolvimento dos edifícios e da cidade.

No contexto da arquitetura, o CIAM (Congrès Internationaux d'Architecture Moderne) e o Team X sofreu sua dissolução em meados de 1

1960. Um ano depois, o grupo inglês Archigram iniciou suas produções, em Londres, intimamente ligadas às ideologias tecnocráticas do designer norteamericano Buckminster Fuller. Uma das produções de Ron Herron - membro do grupo -, de 1964, o projeto The Walking Cities sugere uma cidade hightech que se desloca por um cenário caótico e devastado por uma guerra nuclear, com a capacidade de resgatar homens e artefatos perdidos em meio às ruínas da guerra (Oliveira, 2011).

O Japão possui grande parte do seu território acidentado e de difícil implantação de habitações. Estima-se que até 2050, segundo OLIVEIRA (2011), a população que habita as áreas urbanas, e que corresponde atualmente a metade da população total do país, aumente para 70%, quando a população mundial terá atingido 9 bilhões de pessoas. Dessa forma, o país enfrentava o problema da superpopulação em suas cidades, que continuava a crescer e se desenvolver gradativamente. Além disso, o arquipélago japonês

Tradução do francês: Congresso Internacional da Arquitetura Moderna1

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sofre de uma série de fenômenos naturais como terremotos e maremotos, que desafia qualquer intenção de permanência e estabilidade no espaço. Foi nesse contexto de instabilidade, tanto social quanto ambiental, que o movimento dos arquitetos Metabolistas tentou, em seus projetos, sintetizar tradição, tecnologia, novos materiais, sociedade e meio ambiente. Seus projetos expressam ensaios e inovações na ocupação de espaços em dimensões terrestres, marítimas e até aéreas. Dentre os maiores nomes desse movimento que durou cerca de 25 anos estão Kenzo Tange (1913-2005), Kisho Kirokawa (1937 - 2007), Arata Isozaki (1986 - atual), Kikutake Kiyonori (1928 - 2011) e o crítico Noboru Kawazoe, que apresentou textos-manifesto na World Design Conference , em Tokyo, 1960.1

O Metabolismo é um momento em que a arquitetura teve uma atitude tecnicista inspirada em processos biológicos que surgiram em um contexto de cidade metropolitana, onde a otimização da ocupação do espaço e a harmonia de sua inserção no meio ambiente eram parâmetros imprescindíveis do movimento-manifesto. Nesse momento, era importante elaborar um sistema em que o homem mantinha o controle de sua tecnologia, atendendo a tecnologização progressista de nossa civilização (Evers, 2006).

As propostas dos arquitetos metabolistas giravam em torno de conceitos de instabilidade, mutação, adaptabilidade, flexibilidade, complexidade, dinamismo, transitoriedade, temporalidade e expectativa de vida. O objeto paradigmático de inspiração do movimento é a cápsula, vista como uma microestrutura primária, minimalista, modular, substituível a medida de suas necessidades. Quando agregada de forma associativa a uma megaestrutura primária, estabelece uma relação simbiótica (Evers, 2006).2

O Nakagin Capsule Tower, projetado em 1970 por Kisho Kurokawa, representa um dos edifícios mais emblemáticos do movimento. Seu núcleo central abriga a circulação vertical e instalações. Os módulos habitacionais rígidos, de painéis de concreto armado pré fabricados equipados que se

Tradução do inglês: Conferência Mundial de Design1

Relação de benefício mútuo, sem perdas, entre duas espécies, na natureza.2

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acoplam ao núcleo central, estabelecendo uma relação simbiótica e de crescimento metabólico (ou seja, de crescimento gradativo). A cápsula industrializada é uma unidade arquitetônica que simboliza tecnologia, redução de custos e controle de qualidade. Atualmente, os novos materiais e processos de fabricação robotizado em série, aliados ao processo criativo do design paramétrico, é possível acrescentar parâmetros a este, para gerar ensaios que resultem em modelos de maior performance, adequação ao meio ambiente e uma produção em série de unidades que podem ser diferentes uma das outras, seja pela sua função e/ou forma, seja qual for o número de produtos.

Muitos desses conceitos fazem parte de uma tradição cultural japonesa que não via a arquitetura que aspira a vida eterna, mas sim como elementos prototípicos, renováveis e mortais. Tal filosofia de expectativa de vida confronta com o monumento eterno e intocável moderno do “estilo internacional” que, ocasionalmente, era o resultado de um pensamento aborrecido e pessimista de uma sociedade que, diferente dos arquitetos metabolistas, condenavam a tentativa de solucionar os problemas do pós guerra por meio de soluções utópicas dotadas de ousadia e inovações.

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Processo de criação: o Design

ParamétricoNunca, em nenhum momento da história da construção, é possível

esquecer a tecnologia. Tecnologia está implícita, embutida, é

endêmica. Ela é central para a criação dos espaços sobre os quais

estamos falando . NORMAN FOSTER.1

Com os avanços da informação e comunicação, por meio dos avanços tecnológicos da informatização, dês da invenção e comercialização dos softwares de desenho auxiliados por computadores - softwares CAD - , o 2

processo de criação arquitetônica vem sofrendo alterações. As demandas e complexidades dos projetos fez com que arquitetos e designers repensassem seu processo criativo/representativo, experimentando meios alternativos, auxiliados pela mídia digital, buscando maior desempenho, performance , interatividade e flexibilidade.

O filósofo e educador canadense Marshall McLuhan discursa sobre seus estudos na tentativa de compreender o ambiente tecnológico em que vivemos, suas conseqüências sociais e psicológicas. Para ele, “[…] todas as formas de mídia, des da invenção do alfabeto fonético aos computadores, são extensões do corpo humano, causado mudanças profundas e permanentes tanto no seu comportamento quanto no ambiente em que vive. Tais extensões são intensificações e amplificações de um órgão, sentido ou função […] (McLUHAN, 1969) ”. Portanto, pode-se dizer que a tecnologia surge a partir 3

dos anseios do homem em solucionar um problema colocado diante dele. “O homem cria a ferramenta, a ferramenta recria o homem” (McLUHAN, 1964) .4

“You can never, any point, in the history building take away tecnology. Tecnology is implicit, 1

embedded, endemic. It’s central to creation the kind of spaces that we are talking about”. FOSTER, N. 2006.

Computer aided design.2

“[…] all media, from the phonetic alphabet to the computer, are extensions of man that cause 3

deep and lasting changes in him and transform his environment. Such an extension is an intensification, an amplification of an organ, sense or function […]”.

“We shape our tools and thereafter our tools shape us”4

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Como

criar

?Design

Paramétrico

O que Cria?

FlexibilidadeManipulação

Controle

Interatividade

Vantagens?

Complexidade

Performace

Esquema conceitual do Design Paramétrico.

Antes que se possa falar sobre o design paramétrico é preciso entender o funcionamento de sistemas e suas relações externas. Previamente, podemos definir o entorno como um sistema aberto , ou seja, que interage com 1

o meio externo. Sendo assim, o ser humano, como outras espécies, tende a modificar seu entorno para criar abrigo, através de meios e técnicas inteligentes: a tecnologia. Nesse processo, o homem buscou barreiras defensivas para se proteger e, posteriormente, fontes de energia, equipamentos e dispositivos para modificar as condições do meio ambiente em que vive, que ocasionalmente pode se tornar hostil .2

Nesse raciocínio, pode-se averiguar que quanto maior o nível de complexidade do sistema, maior será o nível de interações e, portanto, maior o nível de ligações possíveis para suas trocas. Ou seja, quanto maior o número de conexões, maior a possibilidade de desequilíbrio do sistema. Sob o ponto de vista de fenômenos naturais, o equilíbrio de um sistema tende a desequilibrar outro. Na arquitetura contemporânea, a busca pelo equilíbrio é um objetivo idealizado, já que as perdas de energias do sistema tendem a deixá-lo irreversível. Dessa maneira, a busca por esse equilíbrio, em diferentes níveis, de um sistema é conhecida como Cibernética.

Para explicar o conceito complexo de Cibernética o matemático norte-americano Wiener (1954 apud ALVES, 2012 PRATSCHKE, 2012), conhecido com o fundador da Cibernética, define-a como “a ciência do controle e da comunicação, no animal e na máquina”. Para Ashby (1956, apud ALVES, 2012), Cibernética é “uma teoria das máquinas” que não aborda coisas, mas sim modos de comportamento:

[...] a Cibernética trata tipicamente qualquer máquina dada, particular,

perguntando não “que ação individual ela produzirá aqui e agora?”,

mas “quais são todos os possíveis comportamentos que pode

produzir?” (ASHBY, 1956 apud ALVES, 2012).

Nos sistemas abertos, a interação acontece entre observador e sistema observado. Os 1

sistemas fechados geralmente não podem ser observados (UEXKÜLL, 1989 apud ALVES, 2012 e PRATSCHKE, 2012).

Por exemplo a utilização do fogo para se aquecer no inverno e que, com o tempo, sofreu 2

evolução tecnológica.�28

Nesse contexto, Cibernética funciona sob a ótica da observação, regulação e comunicação dos sistemas. Sua essência é a circularidade, através dos loops e feedbacks - laços e retroalimentação, respectivamente - , que regulam os sistemas para atingir metas.

De acordo com o raciocínio cibernético, a arquitetura deveria servir como um meio de redefinir as relações e padrões entre pessoas e instituições, com o objetivo de proporcionar melhorias para a condição humana. O Design Paramétrico permite seguir essa linha de raciocínio de que a arquitetura deveria ser de caráter antecipatório, prevendo a imprevisibilidade. Esse processo de criação permite ajustes, a busca de experiências para criar e compartilhar espaços, possibilidades de auto-organização (autopoiésis) e a retomada do equilíbrio no sistema através de loops e feedbacks. O processo de criação paramétrico permite alcançar projetos que, através da conexão e interação de regras simples entre sí, auxiliado por softwares e mediados pelo observador - o arquiteto -, geram projetos em diferentes níveis de complexidade.

Não há uma definição exata sobre o que é o Design Paramétrico (ou modelagem paramétrica) e há outros termos relacionados como: modelagem generativa, algorítmica ou associativa. Sua definição difere de cada autor. De forma bem simplificada e objetiva, Tedeschi (2010) explica que “Modelagem Paramétrica” consiste na tarefa de utilizar informações”, ou inputs , “que serão 1

usados como os parâmetros de configuração de um modelo tridimensional gerado por algoritmos” .2

Woodbury (2010) ainda vai além nas suas idéias e coloca o Design Paramétrico como uma atitude mental que procura expressar e explorar relações entre parâmetros e que a característica essencial do projetista 3

virtuoso no design paramétrico é sua dedicação para realizar vários ensaios em busca da performance ideal.

Valores de “entrada”, no que se refere à linguagem de programação.1

“The expression “Parametric Modeling” refers to the central role of the initial data, wich 2

become the configuration Parameters of a three-dimensional generated through algorithms”

“[…] is an attitude of mind that seeks to express and ecplore relationships”.3

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É importante deixar claro que o Design Paramétrico não é uma simples ferramenta de representação gráfica, mas sim um método de criação, de concepção, de projeção: “O paramétrico tem mais a ver com uma tarefa mental do que especificamente um software” (WOODBURY, 2010) .1

Por outro lado, o auxílio de um software paramétrico permite maior grau de praticidade do que simples CAD. Na concepção de um projeto, seja ele analógico ou digital, há uma série de operações repetitivas - e até monótonas - que são basicamente algoritmos. Portanto, se o melhor meio de usar algoritmos é o computador, por que realizar essa tarefa manualmente? Por exemplo, na concepção de um projeto que possui mais de 100 peças, foi determinado uma dimensão “x”, porém, durante o processo, percebe-se que a dimensão “y” ficará melhor. Não seria mais fácil utilizar de um algoritmo para as modificações de dimensão das peças? Evidentemente que sim. Além disso, com as tecnologias atuais de robótica, a fabricação em escala otimizada permite que a materialização do projeto aconteça de uma forma muito mais prática e rápida que o método manual.

“Parametrics is more about an attitude of mind than any particular software application”.1

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Estudos de Caso

1.Nakagin Capsule Tower (1970), Tokyo - Japão. Kisho Kurokawa

2.Pavilão Expo Chanel, Zaha Hadid revestido com placas de fibra de vidro.

3.Phaeno Science Centre, Zaha HadidArchitects: Pilares estruturais ocupados internamente.

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São Paulo - SP

Habitação na Cidade Global

Visto que as novas tipologias de edifício e as transformações no ambiente urbano da sociedade pós industrial evoluíram com os processos de criação emergentes na arquitetura, a escolha do cidade para o projeto não poderia ignorar a importância histórica, a realidade urbana, a carência de melhores soluções para sua infraestrutura. Tampouco poderia ignorar as oportunidades de implantar soluções para melhorar as condições ambientais -em um lugar que é essencialmente caótico - e trazer uma vida dinâmica para a cidade. Na realidade brasileira, nenhuma cidade é mais desafiadora e carente dessas soluções inteligentes que a cidade de São Paulo.

Sendo a maior cidade brasileira, a capital do estado mais populoso do Brasil, a sexta cidade mais populosa e a quarta maior megalópole do mundo - atrás de Tóquio, Mumbai e Cidade do México , respectivamente -, São Paulo é, sem dúvida, a melhor opção para implantação de um edifício híbrido, que possa trazer vitalidade, convívio entre seus habitantes, segurança pública, soluções ambientais e contribuições urbanísticas para habitar a cidade em 1

perspectivas futuras.

Devido aos efeitos da globalização e a crescente urbanização adensada nas cidades globais, como São Paulo, surgiu a necessidade de otimizar os espaços, verlticalizando seus edifícios para abrigar um contingente maior de funções, babitações e, consequentemente, moradores. Dessa forma, o edifício híbrido se torna uma solução ideal para trazer vitalidade (ou mantê-la) constante na cidade, promovendo diversidade de usos, que consiste no trinômio: Habitação, Trabalho e Lazer. Como diz o arquiteto Jaime Lerner (2003), “São principalmente as pessoas que atraem as pessoas. […] Se só

Chamaremos assim as soluções hoje denominadas “sustentáveis” porque espera-se que 1

esses critérios sejam incorporados nos projetos de forma natural, sem a necessidade de nomenclaturas.

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Megalópole Rio - São Paulo e Skyline da cidade (Fonte: Wikipedia)

existe atividade econômica e falta gente, é essencial incentivar a moradia”, e ainda:

Se falta atividade, se falta lazer durante a noite, traz-se uma estrutura de lazer. Se, por outro lado, estava faltando moradia, devem-se trazer moradias. Mas tudo isso rapidamente, quase instantaneamente. LERNER, J. 2003.

A Avenida Paulista localiza-se entre o distrito Bela Vista, na subprefeitura da Sé, e o distrito Jardim Paulista, na subprefeitura de Pinheiros foi inaugurada em 1891 como a primeira via a ser asfaltada, em uma época em que a cidade não possuía mais de 100 mil habitantes. A partir da década de 50 as construções residenciais cederam lugar a edifícios comercias e a avenida é conhecida atualmente, desde então, como o maior centro empresarial da América Latina, graças aos investimentos nessa região que possui grande infraestrutura.

A avenida recebe diariamente milhares de turistas de negócios devido à grande quantidade de sedes empresariais, bancos e hotéis. Além do seu caráter econômico, a Paulista possui algumas obras relevantes de importância histórica e cultural como: o MASP (Museu de Arte Moderna Assis Chateaubriant), a Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura e o Parque Siqueira Campos - Trianon, que hoje abriga uma área remanescente da Mata Atlântica e espécies nativas. Outros edifícios surgiram ao longo do seu desenvolvimento, como o Conjunto Nacional, que se destaca como um dos marcos da arquitetura de habitação moderna, inaugurado em 1956 e o Sanatório Santa Catarina foi o primeiro hospital particular da cidade, inaugurado em 1906.

O terreno de 11.845 m2 localizado na Av. Paulista é atualmente usado para estacionamento de automóveis. Apesar de ser uma tipologia de uso bem disputada nesse polo financeiro, tal atribuição não beneficia o entorno, deixando quadras inteiras sem movimento a noite. Os automóveis também tampouco contribuem para a mobilidade urbana. Seria desejável que o edifício híbrido desse soluções e incentivasse o uso de diversos transportes, ao invés de apenas um deles. Além disso, o terreno com esquina na Avenida Paulista e a Rua Pamplona fica a apenas 200 metros as estação de metrô Trianon-Masp, e outros pontos de ônibus. Em casos especiais, a cidade precisa ser renovada com usos que tragam benefício para as

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Subprefeitura+da+SÉ+

Av.+Paulista+

JARDIM'PAULISTA'

BELA'VISTA'

pessoas que se utilizam dela e seus múltiplos usos. Em relação a essa Reciclagem Urbana, como diz Lerner (2003):

Mas como já não é mais possível recuperar essas áreas e reviver as

antigas atividades, temos que encontrar novos usos, novas atividades

que tragam vida. Não há nada que agrade mais a uma vizinhança, e

até a uma população inteira que o reaproveitamento de um desses

espaços.” LERNER, J. 2003.

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FIESP&TRIANON&–&MASP&metrô&

MASP&CITIBANK&

Programa de Necessidades:

• Cápsulas pré fabricadas e equipadas, com uma estimativa de 8 a 12 unidades por pavimento, que serão acopladas a um núcleo central de circulação vertical e instalações.

• O núcleo central coresponderá a uma altura estimada que respeite os edifícios da Avenida Paulista, respeitando-se seu skyline, variando de 100 a 150 metros de altura (aproximadamente 33 a 50 andares).

• O terreo do edifício será de uso público, como uma praça, para acesso ao edifício, passeio, passagem, permanência e lazer. Tem o papel de atuar como uma gentileza urbana para o fluxo caótico e intenso da avenida.

• O estacionamento será subterrâneo para não atrapalhar a ocupação do terreo, destinado para uso público. Estimativa de 1 a 2 vagas por cápsula-habitação.

• Parte do pavimento térreo destinado a comércio e serviços, como aluguel de veículos e bicicletas.

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Mansão'Matarazzo'' Estacionamento+

Demolição+

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Área%do%Terreno:%11.845%m2%

103m%115m%

Av.%Paulista%

Alameda%Camoinas%

Rua%Pamplona%

Rua%São%Carlos%do%Pinhal%

N%

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N"

N" N"

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Fotos: do autor

O Projeto

Programa de Necessidades

• Cápsulas pré fabricadas e equipadas, com uma estimativa de 8 a 12 unidades por pavimento, que serão acopladas a um núcleo central de circulação vertical e instalações.

• O núcleo central corresponderá a uma altura estimada que respeite os edifícios da Avenida Paulista, respeitando-se seu skyline, variando de 100 a 150 metros de altura (aproximadamente 33 a 50 andares).

• Para que seja um edifício híbrido, deve haver diversidade de usos: comerciais, públicos, institucionais, culturais

• Pavimentos de estacionamento subterrâneo para livrar o térreo para passeio.

• Parte do edifício elevado para livrar o térreo para passagem.

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O Terreno

O terreno situado na Avenida Paulista, esquina com a Rua Pamplona e a Rua São Carlos do Pinhal abrigava a antiga Mansão Matarazo, Após a sua demolição, seus quase 13 mil metros quadrados estava sendo subutilizado como estacionamento de veículos. A declividade do terreno é praticamente nula no sentido da Rua Pamplona. Proximo ao terreno encontram-se alguns edifícios como a FIESP, o MASP e

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O Edifício Híbrido

A volumetria do edifício foi definida pelas possibilidade de fluxo de pedestres nas diagonais da quadra, formando um espaço de encontro no meio da quadra e nas esquinas. Como resultado, temos 4 volumes, sendo que um deles é a torre onde as cápsulas serão fixadas. Desse resultando, tentou-se distribuir os diversos usos que o edifício híbrido demanda como escritórios, comércio, serviços, área de encontro e a própria habitação em sí. O volume mais próximo a paulista foi definido como predominantemente corporativo, porque corresponde a identidade corporativa da avenida. os outros dois volumes laterais foram definidos como de uso comercial diversificado e o volume da torre diferencia-se pela sua base de uso comercial e da torre onde serão ficadas as capsulas. A área total do edifício é de 64.040m2, distribuídos em 38 pavimentos.

A estrutura do edifício baseia-se em 3 pilares robustos de concreto armado em cada vertice dos blocos de formato triangular, sendo que sua dimensão permite vencer grandes vãos, porém sem perder área útil, por seu interior é ocupado por usos diversos como circulação vertical, lojas e salas de escritórios, como no projeto do Phaeno Science Center, do escritório Zaha Hadid architects. Como parte da estrutura, as lajes de concreto ajudam a suportar as cargas sobre a estrutura.

Nas fachadas do edifício, foi usado o processo de criação do Design Paramétrico para definir a abertura dos brises de fibra de carbono, resultando em uma fachada responsiva e dinâmica, ou seja, peças diferentes, já que a insolação não é uniforme em toda a superfície.

Em outra fachada, foi usado um algoritmo para gerar uma esquadria com malha Voronoi, sendo que a quantidade de pontos determina a quantidade de células na esquadria.

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Esquadria VORONOI

Fachada Responsiva(brise de fibra de vidro)

Estrutura:Laje nervurada e Pilares com ocupação interna

Cápsulaem corte

A Capsula

Com apenas 12m2, a capsula possui o mínimo de funcionalidade para e viver, sendo que pode ser dividida em duas áreas: a área objetiva, onde estao os equipamentos que necessitam de instalações técnicas como tubulações, e encanamentos, e a área subjetiva que, como o próprio nome sugere, ocorrem atividades diversas como dormir, trabalhar e distrair-se.

A estrutura das capsulas é toda revestida em placas moldadas de fibra de vidro, que é um material leve, resistente e fácil de ser moldado. A base consiste em uma estrutura metálica do tipo waffle, que é fixada na laje de concreto da torre.

Su transporte é feito através de veículos que transportam as mesmas até o local, onde serão fixadas na estrutura da torre com o auxilio de guindastes.

Todo o seu revestimento, exceto a cobertura e a base foram dsenvolvidos através do design paramétrico, já que é o vetor de insolação que determina o tamanho das aberturas, sendo maior quando não há muita insolação e menor quando há muita incidência.

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Considerações Finais

A capsula reflete, em sua arquitetura, o modo de viver e a época em que foi concebida. É notável que algumas pessoas levam um modo de vida diferente. Sobretudo na metrópole paulistana, onde a distância e o transito caótico levam as pessoas a utilizarem de meios virtuais para realizar suas tarefas, como uma video conferencia ou pagar uma conta via internet, sem que sejam obrigados a enfrentar os problemas do deslocamento.

O fato é que a proximidade de habitação com as suas necessidades diminuem o tempo e a distância do seu deslocamento. Dessa forma, a proximidade alivia tanto as vias de trânsito quanto os transportes públicos, já que se pode conseguir a maior parte de suas necessidades apenas se deslocando alguns metros ou alguns pavimentos. E isso se reflete, sem dúvida, na qualidade de vida das pessoas.

Para a arquitetura e o projetista, o uso do Design Paramétrico como ferramenta e processo de criação, e a fabricação digital, possibilitou por exemplo o que os arquitetos metabolistas não conseguiram na década de 1960. Os avanços da tecnologia e das ferramentas possibilitou ao projetista usar da lógica da programação de computadores para realizar tarefas que em muitos casos seria humanamente impossível de ser realizada. Sendo assim, cabe ao projetista agora desenvolver novas habilidades, ou seja, introduzir a lógica de programação no processo criativo, tanto na prática (no mercado de trabalho), como para ser aplicado no sistema de ensino das universidades brasileiras.

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REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS

LIVROS

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LERNER, J. Acupuntura Urbana. Rio de Janeiro: Record, 2011. Formato ePub. Disponível em: <https://itunes.apple.com/br/book/acupuntura-urbana/id560170846?mt=11>. Acesso em 24 de Maio. 2013.

BENEVOLO, L. História da Cidade. Tradução Silvia Mazza. 4ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2007.

TEDESCHI, A. Parametric Architecture with Grasshopper®. Tradução: Laura Stecco. 2ª ed. Itália: Edizioni Le Penseur, 2011. 208 p.

ARTIGOS

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Instalando: arte y tecnologia. Santiago: Troyano, 2007, v. , p. 143-147. Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/site/livraria/livraria.html>Acessado em: 21 / 05 / 2013

ALVES, Gilfranco; PRATSCHKE, Anja. Processo de Criação, Emergência e Parametrização em Arquitetura. Caderno de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, São Carlos, n. 1, v. 12, verão de 2012. Disponível em: <http://www.mackenzie.br/dhtm/seer/index.php/cpgau/article/view/Alves.2012.1/640>. Acesso em 8 de Maio. 2013.

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ENTREVISTA

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THE PERCECT home. Direção e produção de Neil Crombie. Escrito e apresentado por Alain de Bottom. Reino Unido: CHANNEL FOUR TELEVISION CORPORATION, 2006. 1 DVD (125min). Baseado no livro “The Architecture of Happiness” de Alain de Botton.

MEDIANERAS: Buenos Aires na Era do Amor Virtual. Direção e Roteiro: Gustavo Taretto. Argentina: setembro de 2010 (95min.)

NORMAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS Apresentação de citações em documentos. NBR 10520:2002. Rio de Janeiro, 2002.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS Informação e documentação - referências - elaboração. NBR 6023:2002. Rio de Janeiro, 2002.

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REFERÊNCIA DE IMAGENS

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http://www.archigram.net/projects_pics/walkingcity/walking_city_1.jpg

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http://www.archdaily.com/200685/icditke-research-pavilion-icd-itke-university-of-stuttgart/

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http://www.emsampa.com.br/eventos/mapa_regiao_metropolitana.jpg

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Fabricação Digital [Anexo]

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Maquete da cápsula e suas partes que foram impressas em uma impressora 3D. Material: PLA