vivência musical no contexto escolar

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Este artigo destina-se a professoresde música da educação infantil e séries iniciais.O objetivo é apresentar uma prática musical que tem sido desenvolvida com os alunos em nossa vivência musical. O trabalho está alicerçadoem cinco pontos que acreditamos serem essenciais para o desenvolvimento musical dacriança: apreciação musical, senso rítmico, senso melódico, voz e execução instrumental;sempre partindo do sonoro e valorizando a criação musical. Os fundamentos são esclarecidoscom exemplos de atividades práticas que demonstram as várias possibilidades do fazermusical.

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  • Vivncia musical no contexto escolarAilen Rose Balog de Lima Ellen de Albuquerque Boger Stencel

    MSICA na educao bsica

  • Resumo: Este artigo destina-se a professores de msica da educao infantil e sries iniciais. O objetivo apresentar uma prtica musical que tem sido desenvolvida com os alunos em nossa vivncia musical. O trabalho est alicer-ado em cinco pontos que acreditamos serem essenciais para o desenvolvimento musical da criana: apreciao musical, senso rtmico, senso meldico, voz e execuo instrumental; sempre partindo do sonoro e valorizando a criao musical. Os fundamentos so esclare-cidos com exemplos de atividades prticas que demonstram as vrias possibilidades do fazer musical.

    Palavras-chave: ensino de msica; repert-rio musical; audibilizao

    Abstract: The present article is targeted towards elementary school music teachers. The objective is to present a musical praxis that has been developed with the students in our musical routine. The work is fundamented in five points that we believe are essential for the musical development of the child: music appreciation, rhythmic sense, melodic sense, vocal and instrumental performance, always using sound as the starting point and valuing musical creativity. The fundamentals are clarified with examples of practical activities which demonstrate the various possibilities of music making.

    Keywords: music education; music repertory; audiation

    Ellen de Albuquerque Boger Stencel

    [email protected]

    Mestre em Msica pela Andrews University Michigan, EUA. Coordenadora e docente do curso de Licenciatura em Msica do Centro Uni-versitrio Adventista de So Paulo campus En-genheiro Coelho (UNASP-EC). Pesquisadora do Grupo de Educao Musical (UNASP). Respon-svel por 16 Encontros de Msicos para profes-sores e musicistas em geral e 17 Semanas da Arte. Atuou como professora de msica na educao bsica e leciona na Escola de Artes do UNASP.

    Ailen Rose Balog de [email protected]

    Mestre em Educao pelo Centro Universitrio Salesiano de So Paulo (UNISAL). Docente e pes-quisadora do curso de Licenciatura em Msica do Centro Universitrio Adventista de So Paulo campus Engenheiro Coelho (UNASP-EC). Respon-svel pelos estgios de Msica do UNASP. Re-gente do Coral Infanto-Juvenil do Colgio UNASP. Professora de Musicalizao da Escola de Artes do UNASP. Ministra cursos e oficinas de msica para professores da rede pblica e particular.

    LIMA, Ailen Rose B. de; STENCEL, Ellen de Albuquerque B. Vivncia musical no contexto escolar. Msica na educao bsica. Porto Alegre, v. 2, n. 2, setembro de 2010.

    V. 2 N. 2 setembro de 2010

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  • deve estar presente como vertente fundamental no contexto acadmico. Esta pode

    significar desde a atividade de cantar em sala de aula, via mtodos tradicionais de educao

    musical, ou trabalhos desenvolvidos dentro de uma viso contempornea. Devemos levar

    em considerao no s as diversas maneiras de nos relacionarmos com a msica, num

    verdadeiro contexto interdisciplinar, como tambm associarmos a ela os diversos contextos

    culturais, por meio de um repertrio que tenha significado e que parta dos alunos, valorizan-

    do a vivncia das crianas, trazendo benefcios a outras reas do currculo.

    Existem mtodos e tcnicas de ensino musical que tm alcanado propsitos rele-

    vantes para o aprendizado, porm ainda h uma lacuna no tocante criao de uma

    metodologia prpria para o iniciante da docncia musical, direcionada ao pblico infan-

    til, bem como valorizao dessa prtica. Em nossa vivncia de acompanhar estgios e

    novos professores na rea temos percebido que eles encontram dificuldades para har-

    monizar as metodologias existentes e gerar um caminho para o ensino de msica que

    evidencie prticas eficazes e prazerosas.

    Atravs da msica podem ser desenvolvidas formas de utilizao de gestos ou sons

    que substituem as palavras. Portanto, para superar um carter funcionalista e utilitarista,

    torna-se imprescindvel que o professor tenha domnio dos elementos inerentes m-

    sica e disponha de tcnicas, metodologias, recursos, materiais e espao fsico adequado.

    As atividades ldicas so de grande importncia para o aprendizado dos contedos e o

    desenvolvimento da aprendizagem musical.

    Neste artigo nos propomos a apresentar uma prtica musical que tem sido desen-

    volvida nos ltimos 20 anos e que tem dado resultados satisfatrios, e que pode ser

    utilizada no ensino infantil e bsico.

    Para fundamentar nosso trabalho, buscamos referncia histrica em alguns educa-

    dores que desenvolveram mtodos ativos no processo de ensinar crianas, e cujas ideias

    foram utilizadas para o ensino de msica infantil. Entre eles gostaramos de citar Pesta-

    lozzi (1745-1827) e Froebel (1782-1852), que buscaram uma educao mais voltada

    prtica e que fosse apropriada para crianas de acordo com o seu entendimento. Beyer

    (1999, p. 27), ao descrever historicamente a educao musical, afirma: As crianas no

    teriam que aprender a teoria, mas cantavam um amplo repertrio de canes de roda e

    de jogos musicados.

    No sculo passado, educadores musicais como Dalcroze (1865-1950), Kodaly (1882-

    1967), Willems (1890-1978) e Orff (1895-1982) buscaram uma experincia musical onde

    as crianas pudessem sentir e experimentar a msica de forma ldica e espontnea, por

    A msica

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    MSICA na educao bsica

    Ailen Rose Balog de Lima e Ellen de Albuquerque Boger Stencel

  • meio do canto, do uso do corpo, da sensibilidade auditiva tornando a msica prazerosa.

    Atualmente educadores como Schafer (1991) e Swanwick (2003) consideram importan-

    te desenvolver a criao musical, a escuta ativa, integrando as experincias musicais.

    Entendemos que musicalizar permitir que a criana seja sensibilizada pela msica de

    forma dinmica e ldica. o despertar musical na educao infantil, dando oportunidade

    para a criana fazer msica e ter prazer em ouvi-la. Musicalizar tornar a msica acessvel

    a todos, usando a msica elementar que est inserida no movimento e na palavra. fazer

    com que as crianas amem a msica, preparando-as para realizarem com alegria a prtica

    musical. construir o conhecimento com o objetivo de despertar e desenvolver o gosto

    musical atravs do estmulo, e assim contribuir para a formao global da criana. Esse

    processo de educao musical deve ser adaptado realidade social em que a criana

    vive, respeitando as fases evolutivas, sendo multidisciplinar, tendo objetivos claros e pre-

    cisos, preparando seres humanos capazes de criar, realizar e vivenciar emoes.

    Partindo dessas premissas, buscamos trabalhar com a musicalizao infantil tendo

    como propostas prticas: desenvolver o prazer de ouvir, reproduzir e criar msica, pro-

    porcionando criana oportunidade de compreender a realidade sonora que a circunda;

    focalizar o trabalho com rimas, parlendas, canes folclricas e brincadeiras tradicionais

    infantis, resgatando o repertrio tradicional e cultural do Brasil; obter uma conscincia

    sonora; ampliar a percepo auditiva, trabalhando com as qualidades do som como al-

    tura, durao, intensidade e timbre; estimular a criana a expressar-se de maneira criativa

    por meio de elementos sonoros e instigar na criana a autodisciplina para desenvolver a

    ateno e respeito ao prximo, ajudando-os na convivncia social, sempre partindo do

    fazer musical e no de forma fragmentada.

    O nosso trabalho est alicerado em cinco pontos que acreditamos serem essen-

    ciais para o desenvolvimento musical da criana: apreciao musical, senso rtmico, sen-

    so meldico, voz e execuo instrumental, sempre partindo do sonoro e valorizando a

    criao musical. Muitos desses aspectos se interligam e no podem ser separados, mas

    apenas para uma sistematizao buscaremos apresent-los por tpicos.

    Na apreciao musical necessrio desenvolver a percepo e discriminao sono-

    ra. Procura-se trabalhar a audibilizao, que o conjunto das funes relacionadas au-

    dio: percepo, discriminao, memria, figura/fundo e anlise/sntese. Para Mrsico

    (2003, p. 146), necessrio desenvolver na criana o hbito de ouvir e capacit-la a ouvir

    com discernimento e propsito. De acordo com Sousa (2003, p. 74), a percepo audi-

    tiva refere-se essencialmente apreenso de sons, e essa descoberta de rudos e sons

    do seu entorno uma das atividades que melhor proporciona o crescimento musical

    das crianas.

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  • Ouvir os sons da sala de aula, do ptio, da rua, de casa, das lojas e dos diferentes

    espaos desses lugares pode ser um exerccio importante para tornar o aluno atento a

    tudo o que acontece sua volta e desenvolver o senso crtico para aquilo que lhe diz res-

    peito ou no. As atividades de tocar, cantar e danar no incio e no fim do dia de trabalho

    na escola, em situaes de relaxamento, em preparao para momentos especficos da

    rotina de aula ou ainda em jogos interativos no ptio, podem auxiliar o professor a co-

    nhecer melhor seus alunos e desvendar o ambiente sonoro no qual eles esto imersos,

    facilitando a comunicao e a cumplicidade entre professor e alunos.

    O professor tambm pode desenvolver uma pesquisa de sons e diferentes tipos de

    msica, compartilhando as culturas dos alunos e sons que esto sua volta, motivando

    uma movimentao enquanto ouvem determinado tipo de msica. Nesse caso o pro-

    fessor poder aproveitar para fazer o seu aluno se expressar musicalmente por meio dos

    movimentos corporais.

    A msica um elemento importante na rotina diria de uma sala de aula. O contato com ela pode enriquecer a experincia da criana de inmeras for-mas. Se o professor tocar ou cantar diversas msicas em diferentes situaes durante todo o dia escolar, as crianas assimilam outras situaes de aprendizagem, tais como habilidades sociais e estruturas de lingua-gem. Assim como assimilam os sons vindos do pro-cesso de aprendizagem da linguagem, elas tambm aprendem os sons musicais experimentando-os como parte do ambiente onde esto.

    Figura 1: Audibilizao.

    Para Schafer (1991, p. 288), os ouvidos de uma pessoa verda-deiramente sensvel esto sempre abertos. Em cada momento devem-se realizar exerccios de treinamento auditivo com os sons do ambiente. interessante coletar sons dos mais variados espa-os e situaes do cotidiano. O ambiente sonoro de uma socieda-de uma fonte importante de informao (Schafer, 1991, p. 289). Ouvir, escutar, sentir e perceber so os fatores mais importantes para se ter o contato inicial com a msica.

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    MSICA na educao bsica

    Ailen Rose Balog de Lima e Ellen de Albuquerque Boger Stencel

  • Pode-se ainda utilizar livros sobre msica, levando o aluno a se interessar pelo assun-

    to, como aqueles sobre a vida dos compositores, sobre os instrumentos musicais, cultura

    musical dos diferentes pases. Isso pode gerar uma interdisciplinaridade da msica com

    outras disciplinas, tais como a geografia, histria, a linguagem e o teatro. Da mesma

    forma que os livros, pode-se usar vdeos, CDs e DVDs, possibilitando, assim, um conheci-

    mento musical complementar para o aluno.

    A obra O carnaval dos animais de Saint-Sens um excelente exemplo do que pode

    ser trabalhado com as crianas, pois as peas so pequenas e cada uma representa um

    animal diferente. Isso pode facilitar a compreenso das diferenas musicais e facilitar a

    execuo de movimentos, na criao de partituras com grficos que auxiliam na escuta

    ativa.

    Para saber mais

    FRANA, C. C. Turma da msica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009.

    HENTSCHKE, L. et al. Em sintonia com a msica. So Paulo: Moderna, 2006.

    HENTSCHKE, L. et al. A orquestra tintim por tintim. So Paulo: Moderna, 2005.

    PAREJO, E. Estorinhas para ouvir: aprendendo a escutar msica. So Paulo: Irmos Vitale, 2007.

    Outras maneiras para o professor encorajar seus alunos a vivenciar a msica cantar

    junto, ouvir e gravar as canes executadas por eles. possvel se movimentar ou andar

    com a criana enquanto se ouve msica, e tocar um instrumento para acompanhar as

    atividades delas enquanto se movimentam, brincam, escrevem ou desenham. Canes,

    histrias, jogos e movimentaes auxiliam para o amadurecimento social, emocional,

    fsico e cognitivo da criana, pois a msica tambm um meio de faz-la participar

    das atividades de grupo e de incluir crianas com diferentes graus de desenvolvimento,

    aproveitando no grupo o potencial de cada uma.

    importante valorizar a natureza do afeto, o carter individual e os interesses es-

    pontneos da criana. As canes devem ser simples e sempre que possvel implicarem

    movimentos corporais. Sugerimos como ideia algumas msicas que usamos em nossas

    aulas. importante que o professor tenha muitas canes em seu repertrio.

    93Vivncia musical no contexto escolar

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  • Boneco de pau

    A primeira uma cano que trabalha o tnus muscular, em que a criana imita os

    movimentos da letra, fazendo o corpo rgido no primeiro verso, como um boneco de

    pau, e todo flcido, mole, no segundo verso. Para iniciar, todos inclinam a cabea, levam

    a mo direita s costas e giram como se estivessem dando corda.

    Movimentar o p

    A seguir apresentamos uma cano que trabalha o movimento de pernas e ps,

    direito e esquerdo, giro, bem como a questo afetiva, abrao e abano. Pode ser feito em

    roda e o professor deve estar atento para que todos comecem com o p direito, enfati-

    zando a lateralidade.

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    MSICA na educao bsica

    Ailen Rose Balog de Lima e Ellen de Albuquerque Boger Stencel

  • o pisto

    A prxima cano relembra as locomotivas de antigamente, que possuam pisto.

    Sempre interessante explicar para os alunos o movimento do pisto, e como ser feito

    com o brao, alternando direito e esquerdo, para frente e para trs. No incio ela canta-

    da bem devagar, gradualmente vai ficando mais rpida, e no final todos saem correndo.

    interessante fazer uma fila indiana, e mudar o condutor, para fazer diferentes trajetos.

    Pula, pula palhacinho

    Geralmente antes de cantar esta cano, gostamos de falar um pouquinho do circo

    e contar uma histria de que o palhacinho ficou doente, e que, para o circo no fechar,

    todos precisam fingir que so o palhao. interessante deixar que as crianas deem

    ideias sobre que outros movimentos podem fazer, como: dormir, beijar, arrastar o p.

    95Vivncia musical no contexto escolar

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  • Quem viu um igual?

    A prxima cano pode ser usada para ensinar ou revisar contedos musicais ou da

    escola, como: formas geomtricas, nmeros, tabuada, cores, letras, instrumentos mu-

    sicais. O professor espalha no cho as figuras de acordo com os contedos que deseja

    ensinar. Exemplo: espalhar quadrados, tringulos e crculos nas cores vermelha, amarela

    e azul. Quando chegar parte na msica pode j pegar, o professor d a ordem crcu-

    los, ou crculos azuis ou azul, e, enquanto cantam l, l, l, as crianas pegam as figuras

    especificadas.

    O grilo

    Na msica do grilo, interessante imitar um grilo, ou ter um de pelcia. Ns temos

    um de pilha que se mexe e faz barulho que as crianas apreciam muito. Depois, na hora

    do canto, quando canta o cri, cri, as crianas podem usar martelinhos sonoros, clavas ou

    palmas. uma forma de introduzir a prtica instrumental especfica.

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    MSICA na educao bsica

    Ailen Rose Balog de Lima e Ellen de Albuquerque Boger Stencel

  • Joaninha

    Para encerrar a aula, sempre recomendvel fazer um relaxamento, e a msica da joa-

    ninha muito apropriada para isso. Com os menores, recomenda-se que o professor tenha

    uma luva imitando uma joaninha e faa massagem nas costas, cabea e ps das crianas.

    No senso rtmico busca-se a base no movimento e na palavra. As rimas so emprega-

    das desde as primeiras aulas, usando gestos, movimentos corporais, instrumentos mu-

    sicais e diferenciao de altura. De acordo com Orff (Penna, 1996, p. 87), o ritmo verbal

    deve ser o comeo para o estmulo musical infantil. O movimento a condio principal

    da vida da criana, e ele est presente todo o tempo na msica elementar.

    Para o desenvolvimento da leitura rtmica associam-se o texto das rimas com as figu-

    ras grandes e pequenas, conforme proposto por Kodaly (vila, 2002), no entanto no se

    usam as palavras rtmicas ta e ti-ti, mas buscou-se uma adaptao das palavras rtmicas

    usadas por Botelho (1982, p. 83) vou, vou-e, por facilitarem a dico para a lngua por-

    tuguesa e o movimento da ao. Usam-se os movimentos fundamentais de locomoo

    baseados em Stokoe (1967 apud Mrsico, 2003, p. 59) que so explorados com canes

    dirigidas e movimentos livres de locomoo.

    Em todas as idades as crianas andam com a msica. Podemos tocar o piano ou usar diversas gravaes. O importante que as crianas ouam diferentes ritmos, andamentos, alturas e estilos e que a m-sica tenha paradas sbitas, para desenvol-ver o controle corporal.

    Figura 2: Andar com a msica.

    97Vivncia musical no contexto escolar

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  • O uso de rimas muito utilizado, pois a fala ritmada um recurso na educao musi-

    cal que possibilita a vivncia rtmica e o desenvolvimento da noo mtrica. Sugerimos

    uma sequncia de ritmos que auxiliam no processo. importante lembrar que outras

    rimas podem ser usadas e que os alunos devem criar outras combinaes rtmicas, bem

    como sugerir outras palavras.

    Os alunos podem falar as rimas e bater pal-mas no ritmo da palavra, sendo uma palma para cada slaba, ou bater na pulsao, conforme os objetivos da atividade. Podem ser usadas clavas, coquinhos, martelinhos sonoros ou outros instrumentos. importante que as rimas sejam feitas de formas bem variadas, usando o movi-mento de gestos e deslocamento dos ps. Ao se-rem faladas, deve-se dar diferentes entonaes, usando sons fortes, fracos, crescendo, diminuin-do, falando de forma grave, mdia e aguda.

    Adolec

    Escolhemos algumas rimas de nosso repertrio que possuem uma sequncia rt-

    mica apropriada. Ao iniciarmos o processo, enfatizamos a primeira frase de cada rima.

    Em adolec, o aluno dever bater uma palma para cada slaba, como se fossem quatro

    semnimas. Na parte do lepeti, letom, seriam duas colcheias e uma semnima cada.

    No incio do processo ele apenas repete a rima. importante que a fala seja precisa. Os

    alunos podem bater na palma da mo do colega, podem andar ou tocar instrumentos,

    sem se preocuparem com as questes tericas envolvidas. Depois eles comeam a ler

    os cartes, nos quais as figuras grandes representam a semnima e as figuras pequenas,

    duas colcheias.

    Em seguida o professor mostra que podem ser usadas palavras rtmicas. Que para

    a figura grande ser falado vou, que seria a semnima, e, para as figuras pequenas ser

    falado vou-e, que seriam as duas colcheias.

    Figura 3: Rimas na pulsao: eco das rimas com martelinhos sonoros.

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    MSICA na educao bsica

    Ailen Rose Balog de Lima e Ellen de Albuquerque Boger Stencel

  • Adoleclepeti, letom.

    Ru ru vai pro cu

    Na prxima rima, o ritmo da primeira frase seria semnima, semnima, duas colcheias

    e semnima. importante nessa fase inicial manter os quatro pulsos.

    Ru, ru, vai pro cu,Vai buscar o meu chapu,Se for novo traga-o c,Se for velho deixa l.

    A galinha do vizinho

    Na rima A galinha do vizinho so usadas oito colcheias, divididas em quatro grupos

    de vou-e. Como gestos sugerimos que as crianas estejam sentadas e na primeira frase

    imitem a galinha mexendo os cotovelos como se fossem asas. Na segunda frase, elas

    batem as pontas dos dedos no cho em movimento circular, comeando com as duas

    mos frente e seguindo a mo esquerda para a esquerda e a mo direita para a direita.

    Na terceira e quarta frase batem palmas em bota e mostram os nmeros conforme o

    texto.

    A galinha do vizinho,Bota ovo amarelinho,Bota um, bota dois,Bota trs, bota dez.

    99Vivncia musical no contexto escolar

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  • Tico-tico no fub

    O prximo ritmo composto de trs grupos de duas colcheias e uma semnima.

    Como gestos sugerimos que as crianas faam pina com os dedos em cima da cabea

    para os dois primeiros versos e depois para a esquerda e no ltimo verso para a direita.

    Tico-tico no fub,Tico-tico vai voar,Tico-tico vem pra c,Tico-tico vai pra l.

    Caracol

    Para o Caracol o ritmo usado de duas colcheias e semnima. Pode-se fazer uma

    roda, girando para a esquerda e para a direita alternadamente, bem como formar um

    caracol, com uma roda serpenteada.

    Caracol, caracol,Roda, roda, caracol.

    Uni duni t

    Em Uni duni t, o ritmo de duas colcheias e trs semnimas.

    Uni duni t,Salame mingu,Um sorvete color,Pra voc comer.

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    MSICA na educao bsica

    Ailen Rose Balog de Lima e Ellen de Albuquerque Boger Stencel

  • Leitura rtmica

    Aps esse processo de leitura rtmica por meio das rimas as crianas podem ler as

    mais variadas sequncias rtmicas com as figuras sem nenhuma dificuldade. Na Figura

    4, o espao em branco significa pausa. Nesse momento a criana pode abrir as mos

    mantendo o pulso.

    Figura 3.

    Figura 5 Figura 6.

    Figura 7.

    Figura 4.

    Transferncia dos cartes para os palitos

    O prximo passo transferir a leitura rtmica das figuras para os palitos. As crianas

    aprendem que a figura grande um palito, que representa a semnima; as figuras peque-

    nas so trs palitos em forma de casinha, que representam duas colcheias. Eles falam as

    rimas, escrevem com os palitos e transferem a leitura das figuras para os palitos, tudo de

    forma ldica, usando os mais variados grupos rtmicos.

    101Vivncia musical no contexto escolar

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  • O senso meldico desenvolvido a partir do movimento sonoro e altura do som,

    conforme Willems (1976, p. 71) e Rocha (1998, p. 37). So usados movimentos da mo e

    do corpo, bem como grficos elaborados pelos alunos e feitos pelos professores, sendo

    cantados ou tocados pela flauta de mbolo. Aps ampla explorao sonora, trabalha-se

    com a entonao do intervalo de 3 menor usando as rimas previamente trabalhadas e

    com os nomes das crianas, de frutas, flores, animais, cores e outros. Esses sons podem

    ser representados com uma criana sentada e outra em p, colocando a mo na testa e

    no queixo, degrau de escada, desenhos de gangorra e outros.

    O trabalho com a voz comea com a imitao. O professor canta e as crianas bal-

    buciam, progressivamente fazem os gestos e emitem sons silbicos de acordo com a

    idade. importante explorar a experimentao vocal por meio do canto espontneo de

    sons, imitao dos sons de animais, balbuciar musical, experimentao livre com can-

    es, buscando desenvolver a musicalidade da criana e ajud-la a cantar com preciso

    de afinao e ritmo (Mrsico, 2003, p. 84).

    Na medida do possvel, devemos utilizar a execuo instrumental. Primeiramente de

    forma exploratria e livre, com instrumentos leves e pequenos, com formas e cores atra-

    tivas. Gradualmente os alunos vo conhecendo instrumentos de percusso diferentes e

    acompanhando canes e brincadeiras musicais.

    Outras atividades prticas que so utilizadas dentro da metodologia aplicada em nossas aulas so as brinca-deiras em rodas, nas quais usamos canes folclricas, canes com movimentos corporais, faciais e gestuais, enfatizando as partes do corpo.

    Figura 8.

    Figura 9: brincadeira de roda

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    MSICA na educao bsica

    Ailen Rose Balog de Lima e Ellen de Albuquerque Boger Stencel

  • Para saber mais

    ANNUNZIATO, V. R. Jogando com os sons e brincando com a msica I e II. So Paulo: Paulinas, 2002.

    GUIA, R. L. M.; FRANA, C. C. Jogos pedaggicos musicais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005.

    http://www.menestrel.com.br

    de suma importncia utilizar os jogos pedaggicos musicais, para uma melhor

    compreenso e fixao dos contedos aplicados nas aulas. Sempre que possvel deve-se

    desenvolver a dramatizao com histrias sonorizadas com o prprio corpo, instrumen-

    tos musicais ou outros objetos sonoros.

    Referncias

    VILA, M. B. Brincando, cantando e aprendendo. So Paulo: Parma, 2002.

    BEYER, E. Idias em educao musical. Porto Alegre: Mediao, 1999.

    BOTELHO, S. Educao musical. 2. ed. So Paulo: tica, 1982.

    MRSICO, L. O. A criana no mundo da msica. Porto Alegre: Rgel, 2003.

    PENNA, M. Revendo Orff: por uma reapropriao de suas contribuies. In: PIMENTEL, L. G. (Coord.). Som, gesto, forma e cor: dimenses da arte e seu ensino. 2. ed. Belo Horizonte: C/Arte, 1996. p. 80-110.

    ROCHA, C. M. M. Educao musical Mtodo Willems. 2. ed. Salvador: Faculdade de Educao da Bahia, 1998.

    SCHAFER, R. M. O ouvido pensante. So Paulo: Editora Unesp, 1991.

    SOUSA, A. B. Educao pela arte e artes na educao: msica e artes plsticas. Lisboa: Instituto Piaget, 2003.

    SWANWICK, K. Ensinando msica musicalmente. So Paulo: Moder-na, 2003.

    WILLEMS, E. La preparacin musical de los ms pequeos. 4. ed. Buenos Aires: Editorial Universitaria de Buenos Aires, 1976.

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