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VISITA ÀS TERRAS RIBEIRAPENENSES “ROTEIRO CAMILIANO” 2º CICLO DE VISITAS GUIADAS 9 de Setembro de 2017

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VISITA ÀS TERRAS RIBEIRAPENENSES

“ROTEIRO CAMILIANO”

2º CICLO DE VISITAS GUIADAS9 de Setembro de 2017

Camilo Castelo Branco

CAMILO E RIBEIRA DE PENA

Quando Camilo Castelo Brancodesceu de Vilarinho da Samardã dePena, atravessando as áridas paisa-gens do Alvão, seria um rapaz im-berbe, com apenas quinze anosfeitos. Convivendo com o drama daorfandade, integrado numa famíliapara quem era mais um encargo doque alegria, Camilo começava adespontar para a vida, para o amor,para o sonho e para a ansiedade depossuir o mundo.Acredito que ao descer de Vidoedo e vislumbrar todo o vale do Tâmega verde-jante, viçoso, a seus pés, tenha sentido arroubos de liberdade.

Esperava-o, lá no fundo, junto ao rio,sua prima Maria do Loreto, casadacom um lavrador da Casa do Moreira,em Friúme.Em Friúme, Camilo conviveu com oboticário Macário Afonso que lhe en-sinou a jogar “às damas e ao gamão”;com o tabelião José de Mesquita Cha-ves, de quem foi “ama-nuense” pelomenos durante um mês; com os fi-dalgos da Casa de Fontes com osquais organizou entremezes.Frequentou as aulas do Padre Manuelda Lixa, na Granja Velha “sujeito denão vulgar lição e bom velho,sobretudo”.Calcorreou rios e montes atrás detrutas e de coelhos.

Casou na Igreja do Salvador a 18 deAgosto de 1841 com Joaquina Pereirade França.Camilo conta que saiu de Ribeira dePena fugido “aos punhos de ummorgado visigótico”, que ridiculariza-ra em versos. Os punhos eram certa-mente verdadeiros, o castigo acreditoque merecido, mas tudo não terápassado de um pretexto para iniciarnovos voos, que uma terra pequena efechada como Ribeira de Pena nãopermitiam ao génio do futuroromancista.Que ficou de tudo isto? Páginas ines-quecíveis onde a memória da Ribeiraperpassa com grande riqueza deelementos.

Personagens com o Santo daMontanha ou o Fidalgo Mendigo,delírios como os do Fantasma doCapitão-Mor de Santo Aleixo ou oenredo de “Como Ela o Amava!”.Essa pequena jóia da literaturaportuguesa, a “Maria Moisés”, todaela ribeirapenense. Segura-mente,Ribeira de Pena não era terra paraCamilo Castelo Branco. Mas a suaarte teria sido bem mais pobre sem omanancial humano que o escritor alibebeu em dois curtos anos de vida.

Francisco Botelho, 12.4.06

CAPELA DE NOSSA SENHORA DA GUIA

A Capela de Nossa Senhora da Guiaergue-se numa das encostas do Alvão,sobranceira ao vale do Tâmega e é opalco de uma das maiores romarias doconcelho. Consagrada como padroeirado concelho em 1952, envolve adevoção das gentes de Trás-os-Montese do Minho, que religiosamente, todosos 15 de Agosto, assistem à suaprocissão e cumprem promessas aoredor da Capela.A Capela que hoje existe foiconstruída na primeira metade doséculo XVIII, por devoção e voto dossenhores da Casa de Santa Marinha eda Casa do Mato, em Ribeira de Pena.

CAPELA DE NOSSA SENHORA DA GUIA

Foi seu construtor o mestre LucquasRodriguez, da Galiza, no seguimentodo modelo da Capela da GranjaVelha, então recentemente cons-truída.É um belo exemplar do barroco rural,com um portal encimado pelo nichoem que figura, em granito, a imagemda Senhora da Guia.O pormenor arquitectónico maissignificativo é precisamente aqueleque encima a fachada, uma grandeconcha (vieira) em granito.Sabendo que o mestre construtor era

galego, não é difícil conotá-la com ainfluência de Santiago de Compos -tela, cujo símbolo é, precisamente aconcha.

No interior, para além do altar,recentemente restaurado, há que terem conta o tecto, todo em granito, comcaixotões sem figuração.Camilo, que certamente assistiu àromaria da Senhora da Guia, integra-ano Sexto dos seus "Doze CasamentosFelizes".

Francisco Botelho 16.4.06

FRIÚME E A CASA DE CAMILO

A povoação de Friúme, na freguesiado Salvador, foi uma das maisimportantes do concelho ao longo doséculo XIX. Situada na margemesquerda do Tâmega, era atravessadapela estrada que, desde a Ponte deCavez, contornava o rio e que, apartir de Friúme, começava a subir aencosta em direcção à Portela deSanta Eulália para, depois, se internarno Alvão em direcção a Vila Real.Esta situação privilegiada fez comque Friúme tivesse desempenhadoum importante papel nas transacçõescomerciais da região, sendo entre-posto de recoveiros que asseguravama circulação das mercadorias paraGuimarães e Porto.

Da importância de Friúme ao tempoem que Camilo a habitou – 1840/1842– é testemunho o facto de a povoaçãopossuir boticário (Macário Afonso) etabelião (José de Mesquita Chaves).Para além disso possuía uma loja denomeada, propriedade de José Mar-tins dos Santos, comerciante no Portoque aqui se estabeleceu com a família,fugido ao Cerco da cidade nas lutasliberais. É neste enquadramento queCamilo Castelo Branco vai viver,entre um a dois anos da sua vida,depois de abandonar a Samardã.Alojado em casa de sua prima, Mariado Loreto, casada com o lavrador daCasa do Moreira, daqui podia seguiras aulas do padre mestre na GranjaVelha.

Casa de Camilo em Friúme . Hoje núcleo interpretativo da ligação do escritor a Ribeira de Pena.

E aqui encontrou as suas primeirasasas de liberdade. Asas, que lhepermitiram percorrer as redondezas,pescando, caçando, namoriscando...Perto da Casa do Moreira, em Friú-me, ficava a casa de SebastiãoMartins dos Santos, que tinha umafilha fresca e provavelmente bonita,chamada Joaquina.No Tâmega, perto de Friúme, ficava aIlha dos Amores, assim chamada atroco da utilidade. Não será deestranhar que isso, acrescido ao factode casamento significar liberdadepara Camilo (que assim poderiaassumir a sua legítima por morte dopai) e cobiça para o sogro, tenhalevado ao casamento dos dois jovens,Camilo então com 16 anos, ela com14.

Em Friúme terá trabalhado com otabelião Maximiliano Lemos mas, do-cumentalmente, só está provado quetenha sido amanuense do tabeliãoJosé de Mesquita Chaves.Segundo ele próprio vem a declararmais tarde, ali “aprendeu a jogar àsdamas e ao gamão”. Hoje, perdida aimportância como povoação, Friúmepermite ainda observar alguns en-quadramentos do tempo de Camilo e,acima de tudo, a chamada “Casa deCamilo”, local onde terá vivido coma mulher Joaquina e que depois derecuperada passa a ser um núcleointerpretativo da ligação do escritor aRibeira de Pena.

Francisco Botelho | 14.4.06

A IGREJA MATRIZ DO SALVADOR

A Igreja Matriz do Divino Salvador,que domina na sua majestade a vila deRibeira de Pena, é um edifícioconstruído na segunda metade doséculo XVIII e que se ficou a dever àbenemerência de um emigranteribeirapenense no Brasil, Manuel Joséde Carvalho. A lenda conta queManuel José de Carvalho, muito novo,terá ido para o Brasil, onde veio afazer fortuna.Quando abandonou a terra natal, fez apromessa de, em caso de sucesso,mandar edificar uma igreja "como nãohouvesse outra em dez léguas aoredor".

IGREJA MATRIZ DO SALVADOR

De como angariou fortuna, nãoficou memória.O certo é que, em 1759, envia paraRibeira de Pena uma carta em quemanifesta o desejo de mandaredificar uma igreja, garantindo opagamento de todas as despesas, àexcepção do carreto das pedras.A Igreja vem a ser edificada, tendo-se deitado abaixo a antiga Igreja doSalvador para aproveitamento dapedra. A primeira sagração vem aser feita em 1793, já depois damorte de Manuel José de Carvalho,que nunca chegou a ver a sua obra.A fachada manifesta ainda umatraça barroca, com alguns elemen-tos rocaille.

Apresenta uma orientação invulgar anascente e possui, por sobre o portal deentrada, um medalhão evocativo dofundador, ladeado de dois querubinscom toucado de penas e um enormenicho com uma imagem do DivinoSalvador. No interior, sóbrio masimponente, é de referenciar o altar-mor,as guardas em madeira e os beloscadeirais confessionário. Foi nesta Igrejaque casou, em 18 de Agosto de 1841,Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco,na altura com 16 anos de idade, comJoaquina Pereira de França, uma jovemde 14 anos, natural de Gondomar eresidindo na povoação de Friúme comseus pais . A Igreja está ainda ligada aoepisódio com que Camilo justifica a suasaída de Ribeira de Pena.

Francisco Botelho 15.4.06

PONTE DO ARAMENos períodos invernais mais rigorosos, orio era intransponível.Terá sido isso, aliás, que motivou asgentes da Ribeira e de Santo Aleixo aconstruir uma ponte pênsil que permi-tisse o trânsito de pessoas e bens ao longode todo o ano.

E se a Ponte de Arame não é con-temporânea de Camilo, ela é um localextremamente agradável para acom-panhar a leitura de dois textos alu-sivos à travessia do Tâmega e escritospor Camilo. Um, através das poldras,figura na novela “Maria Moisés”. Ooutro, uma travessia de barca, é des-crito no Sexto dos “Doze CasamentosFelizes”.

Francisco Botelho 20.4.06

PONTE DO ARAME

PONTE DO ARAME

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SOLAR DE SANTA MARINHA