violência p olicial ignacio cano laboratório de análise da violência setembro 2007

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Violência Policial Ignacio Cano Laboratório de análise da Violência Setembro 2007

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Page 1: Violência P olicial Ignacio Cano Laboratório de análise da Violência Setembro 2007

Violência Policial

Ignacio CanoLaboratório de análise da Violência

Setembro 2007

Page 2: Violência P olicial Ignacio Cano Laboratório de análise da Violência Setembro 2007

Violência Policial O uso da força ou a ameaça de tal uso é

componente intrínseco da função policial Polícia como executora do Monopólio da Violência

Legítima Questão é quando e quanta violência Controle e Minimização do Uso da Força:

– PRINCÍPIOS BÁSICOS SOBRE O USO DA FORÇA E ARMAS DE FOGO PELOS FUNCIONÁRIOS RESPONSÁVEIS PELA APLICAÇÃO DA LEI, adotado pelas Nações Unidas em 1990 em Havana

– CÓDIGO DE CONDUTA PARA OS FUNCIONÁRIOS RESPONSÁVEIS PELA APLICAÇÃO DA LEI, adotado pela Assembléia Geral das Nações Unidas, no dia 17 de Dezembro de 1979,

Page 3: Violência P olicial Ignacio Cano Laboratório de análise da Violência Setembro 2007

PRINCÍPIOS BÁSICOS SOBRE O USO DA FORÇA E ARMAS DE FOGO PELOS FUNCIONÁRIOS

Artigo 9:

Os responsáveis pela aplicação da lei não usarão armas de fogo contra pessoas, exceto em casos de legítima defesa própria ou de outrem contra ameaça iminente de morte ou ferimento grave; para impedir a perpetração de crime particularmente grave que envolva séria ameaça à vida; para efetuar a prisão de alguém que represente tal risco e resista à autoridade; ou para impedir a fuga de tal indivíduo, e isso apenas nos casos em que outros meios menos extremados revelem-se insuficientes para atingir tais objetivos. Em qualquer caso, o uso letal intencional de armas de fogo só poderá ser feito quando estritamente inevitável à proteção da vida

Page 4: Violência P olicial Ignacio Cano Laboratório de análise da Violência Setembro 2007

Princípios no Uso da Força Policial

LegalidadeProporcionalidadeNecessidadeModeraçãoOportunidade

Page 5: Violência P olicial Ignacio Cano Laboratório de análise da Violência Setembro 2007

Uso da Força Policial no Brasil

Moderação não é condizente com:– Tradição policial de controle social

da classe baixa por meios violentos

– Paradigma da Guerra na Segurança Pública

Page 6: Violência P olicial Ignacio Cano Laboratório de análise da Violência Setembro 2007

Indicadores do Uso da Força Número de opositores mortos pela polícia:

– para cada 100.000 habitantes– para cada 10.000 policiais– para cada 1.000 armas arrecadadas– para cada pessoa presa (ilesa)

Número anual de balas disparadas em serviço por policial:– para cada 1.000 policiais– para cada 100 prisões– para cada 100 armas apreendidas

Percentagem dos homicídios dolosos provocados por intervenções policiais

Page 7: Violência P olicial Ignacio Cano Laboratório de análise da Violência Setembro 2007

Indicadores do Uso da Força Número de opositores mortos em confronto

dividido pelo número de policiais mortos nesses confrontos. Se a desproporção é superior a 10 por 1: abuso da força (Chevigny)

Número de opositores mortos por cada opositor ferido, denominado “índice de letalidade”. Qualquer valor superior a 1: abuso

Indicadores médico-legais: proporção das vítimas que apresentam:– disparos na região posterior– disparos na cabeça – disparos à queima-roupa– alto número de disparos

Page 8: Violência P olicial Ignacio Cano Laboratório de análise da Violência Setembro 2007

Efeitos das mortes em intervenções policiais

1. Perda de vidas humanas2. Risco para policiais e para a população3. Aumento da sensação de insegurança4. Ressentimento dos criminosos, e às

vezes das comunidades, que se volta contra os policiais

5. Impossibilidade de continuar a investigação

6. Erosão da legitimidade policial

Page 9: Violência P olicial Ignacio Cano Laboratório de análise da Violência Setembro 2007

1. Legais e tecnicamente adequados (inevitáveis para proteger a vida do policial ou de terceiros)

2.Legais, mas tecnicamente inadequados, que poderiam ter sido evitados com melhor treinamento ou uma operação melhor planejada

3.Ilegais, culposos como os que colocam em risco indevido a terceiros (balas perdidas) ou dolosos: execuções sumárias

A distinção é mais tênue do que poderia parecer

Confrontos armados policiais

Page 10: Violência P olicial Ignacio Cano Laboratório de análise da Violência Setembro 2007

Mortos e feridos em confrontos com a Polícia por Tipo de Vítima

Município do Rio de Janeiro. Janeiro 93- Julho 96

Tipo de Vítima

PolicialIgnorado (civil)

Vítima AcidentalOpositor

Núm

ero

de V

ítim

as

Mortos

Feridos

Fontes: R.Os, IPMs, Prom. Bravura (ISER))

1000

800

600

400

200

0

Pesquisa 1993-1996 RJ :Victimizacão em confrontos armados com a Polícia

Page 11: Violência P olicial Ignacio Cano Laboratório de análise da Violência Setembro 2007

Pesquisa no RJ 1993-1996

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

1° Trim 2° Trim 3° Trim 4° Trim

LesteOesteNorte

São PauloRio de Janeiro

HoustonLos AngelesNew York

Philadelphia

Chicago

Proporção dos Hom. Dolosos Cometidos pela Polícia, por Cidade

Fontes: R.Os, IPMs, Pr. Bravura (ISER)/ Sec.Seg. SP.(só PM). Ano 1995.

Fontes para as cidades USA: Geller & Scott (92). Ano 1991.

PE

RC

EN

TA

GE

M

15

10

5

0

Page 12: Violência P olicial Ignacio Cano Laboratório de análise da Violência Setembro 2007

P esqu isa 1993 -19 96 : R J

Buenos Aires

Jamaica São Paulo

Rio de Janeiro

HoustonLos Angeles

New YorkPhiladelphiaChicago

Ind ice de Le ta lidade da ação po lic ia l po r Lugar

Fontes: R.Os, IPMs, Prom. Bravura (ISER). 1995./ Secr.Seg. SP jan-ago 95

Outras fontes: Geller & Scott (92) / Chevigny (90)

Indi

ce d

e Le

talid

ade

3

2

1

0

Page 13: Violência P olicial Ignacio Cano Laboratório de análise da Violência Setembro 2007

Letalidade da Ação Policial RJ-SPPesquisa Ouvidoria

Polícia SP1999

Pesquisa ISER RJ1993-1996

Número de Civis Mortos para cada Policial Morto 13,1 37,4

Número Médio de Perfurações de Arma de Fogo por Cadáver 3,2 4,3

Disparos na parte posterior do corpo (nas costas) 51% dos cadáveres 65% dos cadáveres

Disparos na Cabeça 36% dos cadáveres 61% dos cadáveres

Outras lesões diferentes das produzidas por

arma de fogo 23% dos cadáveres 32% dos cadáveres

Sem testemunhas 44% dos casos83% dos casos sem

testemunha civil

Vítima morreu no hospital 73% dos mortos 78% dos mortos

Raça Das Vítimas: % de vítimas pretas e pardas 54% 65%

Page 14: Violência P olicial Ignacio Cano Laboratório de análise da Violência Setembro 2007

MG: Feridos e mortos nas ações policiais

Ouvidoria de Polícia MG

Page 15: Violência P olicial Ignacio Cano Laboratório de análise da Violência Setembro 2007

MG: Índice de Letalidade da ação policial

Ouvidoria de Polícia MG

0,36

?

0,64

0,45 0,37

0,2

0,4

0,6

0,8

2002 2003 2004 2005 2006

Índ

ice

de

Let

alid

ade

Page 16: Violência P olicial Ignacio Cano Laboratório de análise da Violência Setembro 2007

Letalidade Policial e Razão entre Mortos e Feridos em Serviço

Razão entre Pessoas Mortas e Feridas em Serviço por Pm´s

6543210-1

Taxa

de

Mor

tes

por

PM

´s e

m s

ervi

ço p

or 1

00.0

00 h

abita

ntes 3,0

2,5

2,0

1,5

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,5

0,0

TO

SP

RS

RO

RN

RJ

PRPI PE

PB

PA

MS

MGMA

ES

DF

BA

AM

Page 17: Violência P olicial Ignacio Cano Laboratório de análise da Violência Setembro 2007

Letalidade Policial e Homicídios, por estado

Registros de Homicídio Doloso (e Lesão com Morte) por 100.000 hab

50403020100

Taxa

de

Mor

tes

por

PM

´s e

m s

ervi

ço p

or 1

00.0

00 h

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-,5

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MGMA

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DF

BA

AMAC

Page 18: Violência P olicial Ignacio Cano Laboratório de análise da Violência Setembro 2007

Tratamento Legal da Violência Policial Sérgio Verani: Assassinatos em nome da lei Pesquisa na Auditoria Militar do RJ:

– categoria de “Autos de Resistência” ou “Resistência seguida de morte”, para evitar a tipificação como homicídio doloso

– De 301 casos encontrados, 295 foram arquivados a pedido da promotoria e os 6 que foram a julgamento acabaram em absolvição a pedido dos próprios promotores

– Irregularidades:• sindicância ao invés de inquérito • “arquivamento preventivo”, nos quais o promotor pede

arquivamento apesar de existir prova de autoria e materialidade

Page 19: Violência P olicial Ignacio Cano Laboratório de análise da Violência Setembro 2007

Tratamento Legal da Violência Policial Pesquisa da Ouvidoria de Polícia de

SP:– De 176 inquéritos, 141 qualificavam o fato

como “resistência seguida de morte”, apenas 18 como homicídio doloso

– não encaminhados ao Juri, mas às Varas Criminais comuns

– Morte desaparece do processo, qualifica-se o crime cometido pela vítima fatal

Page 20: Violência P olicial Ignacio Cano Laboratório de análise da Violência Setembro 2007

Tratamento Legal da Violência Policial– Tratamento superficial e ritual– Ausência de punição– Mecanismo de acobertamento e

legitimação:• Promotores• Juízes• Políticos• Imprensa• Amplos setores sociais

Page 21: Violência P olicial Ignacio Cano Laboratório de análise da Violência Setembro 2007

Contexto violento em que a polícia trabalha Doutrina difusa ou contrária aos princípios

internacionais Tradição Violenta das Polícias do Brasil desde

sua criação Subculturas policiais em certas unidades ou em

certos chefes policiais proclives ao confronto Demanda social de certos setores por uma

polícia truculenta – ‘bandido bom é bandido morto’

Treinamento escasso e deficiente:– Dinâmico e não estático– Tiro Defensivo (método Giraldi, Cruz Vermelha)

Causas da excessiva letalidade policial

Page 22: Violência P olicial Ignacio Cano Laboratório de análise da Violência Setembro 2007

Ausência de Armas não Letais Armas de alto poder de destruição Omissão do MP, o Judiciário e da sociedade em

relação às Execuções Sumárias O estresse do policial e o seu trabalho na

segurança privada A visão da Segurança Pública como uma guerra:

• ‘baixas’ causadas ao inimigo

A cultura do policial-herói Ausência de programas preventivos: PROAR

Causas da excessiva letalidade policial