violÊncia contra as mulheres: conhecendo como … - lilian hesler - final.pdf · definiu a...

69
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR NORTE DO RS CAMPUS PALMEIRA DAS MISSÕES CURSO DE ENFERMAGEM VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES: CONHECENDO COMO OS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE CONCEITUAM, ATUAM E ELABORAM ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO DE ENFERMAGEM Lilian Zielke Hesler Palmeira das Missões, RS, Brasil, 2010

Upload: trandien

Post on 03-Dec-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR NORTE DO RS

CAMPUS PALMEIRA DAS MISSÕES

CURSO DE ENFERMAGEM

VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES:

CONHECENDO COMO OS AGENTES

COMUNITÁRIOS DE SAÚDE CONCEITUAM,

ATUAM E ELABORAM ESTRATÉGIAS DE

ENFRENTAMENTO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO DE ENFERMAGEM

Lilian Zielke Hesler

Palmeira das Missões, RS, Brasil, 2010

1

VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES: CONHECENDO

COMO OS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE

CONCEITUAM, ATUAM E ELABORAM ESTRATÉGIAS DE

ENFRENTAMENTO

por

Lilian Zielke Hesler

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Curso de

Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria – Centro de

Educação Superior Norte do RS, como requisito parcial para obtenção do

grau de Enfermeiro.

Orientadora: Profª Enfª Dda. Marta Cocco da Costa

Palmeira das Missões, RS, Brasil

2010

AGRADECIMENTOS

Reconheço e agradeço a todas as pessoas que, de alguma forma, contribuíram durante

essa trajetória acadêmica, com a sua amizade, carinho, atenção, paciência, assim como nos

momentos difíceis, para a concretização desse sonho, que não se acaba nesse momento, mas

assume um novo rumo.

Primeiramente agradeço a Deus, por ter me concedido a vida, e por estar sempre

presente comigo, me iluminando, orientando e conduzindo meus passos.

Ao grande amor da minha vida, amigo e eterno companheiro SILAS. Meu muito

obrigada, por tudo que tens me proporcionado durante esses anos juntos, pelo seu entusiasmo

e persistência para nos lançar nesta trajetória acadêmica. Somente nós sabemos o quanto foi

difícil permanecermos distantes um do outro. Tenho certeza, que cheguei até aqui, pela força,

compreensão, amor e carinho que sempre tens transmitido e compartilhado comigo durante

esse período.

Aos meus pais, Sigmundo e Roseli, e meus sogros Eduardo e Terezinha, agradeço todo

apoio, amor, carinho, e incentivo. Sem a ajuda de vocês, eu não teria chegado até aqui.

Também agradeço aos meus irmãos Eduardo e Mônica, meu cunhado Tomas e meu sobrinho

Mateus, e ao Opa e a Oma pelo carinho, compreensão, constante disponibilidade e incansável

apoio. Saibam que todos vocês também fazem parte desta conquista.

A minha orientadora e amiga Marta Cocco da Costa, agradeço por acompanhar e

orientar os meus passos na construção desse estudo, estando sempre presente transmitindo

seus conhecimentos e experiências de forma calma, tranquila e com muita sabedoria.

As professoras que compõem a banca desse trabalho, muito obrigada, vocês foram

extremamente importantes na elaboração desse trabalho, transmitindo seus conhecimentos,

ideias e sugestões. Agradeço a professora e amiga Darielli Gindri Resta que durante o período

da graduação plantou em mim a semente da pesquisa, instigando-me a prosseguir.

A Fundação Municipal de Saúde de Santa Rosa (FUMSSAR) e a todas as Equipes de

ESF, agradeço pelo apoio e auxílio na concretização desta pesquisa, em especial, aos sujeitos

do estudo, os ACS que me receberam e me acolheram, concordando, voluntariamente, em

participar da pesquisa.

A Universidade Federal de Santa Maria/UFSM – Centro de Educação Superior Norte

do RS/CESNORS por ter me oportunizado um ensino de qualidade.

Agradeço ainda a todos os amigos que, direta ou indiretamente, contribuíram nessa

fase de minha vida, e acreditaram na concretização desse trabalho.

4

RESUMO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (TCC)

CURSO DE ENFERMAGEM

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR NORTE DO RS

VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES: CONHECENDO COMO OS

AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE CONCEITUAM, ATUAM E

ELABORAM ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO

AUTORA: Lilian Zielke Hesler

ORIENTADORA: Marta Cocco

Data e Local da Defesa: Palmeira das Missões, 07 de julho de 2010.

O presente estudo insere-se no campo de discussões da violência contra as mulheres,

na perspectiva de gênero, e suas repercussões no âmbito da saúde. Com isso, destaca-se que o

papel dos profissionais de saúde, em especial dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), tem

importância significativa na identificação das mulheres vítimas de violência, como também na

construção de ações de enfrentamento. Neste sentido, o presente estudo tem como objetivo

conhecer e compreender como os Agentes Comunitários de Saúde conceituam, atuam e

elaboram estratégias de enfrentamento da violência contra as mulheres nas ESFs do município

de Santa Rosa-RS. Trata-se de uma pesquisa com abordagem qualitativa que utilizou, como

método para coleta das informações, a entrevista semi-estruturada e, para análise, optou-se

pela Análise de Conteúdo Temática. No que tange às conceituações de violência contra as

mulheres, essas se centram na violência enquanto construção social e de desigualdades de

gênero e enquanto construção multifatorial. Em relação às práticas assistenciais e de

enfrentamento, observou-se algumas ferramentas: a construção de estratégias de intervenção

junto com a equipe; vínculo, escuta e diálogo com a mulher vítima de violência;

encaminhamentos a serviços de apoio. Acredita-se que o desenvolvimento deste estudo

possibilitou visibilidade dessa temática como uma necessidade de saúde e, principalmente, de

assistencia. Além disso, por meio das discussões e reflexões trazidas pelos Agentes

Comunitários de Saúde, possibilitar-se-á a elaboração de estratégias de enfrentamento à

violência contra as mulheres, em suas ações na comunidade.

Palavras-Chave: Enfermagem; Serviços de saúde; Violência contra a mulher; Gênero.

5

ABSTRACT

COMPLETION OF COURSE WORK

NURSING COURSE

FEDERAL UNIVERSITY OF SANTA MARIA

HIGHER EDUCATION CENTER OF THE NORTH RS

VIOLENCE AGAINST WOMEN: LEARNING HOW COMMUNITY

HEALTH AGENTS CONCEPTUALIZE, PERFORM AND ELABORATE

STRATEGIES TO FACE IT

AUTHOR: Lilian Zielke Hesler

ODVISOR: Marta Cocco

Date and Location of Defense: Palmeira das Missões, 07 de julho de 2010.

The current study belongs to the field of discussions about violence against women

under the perspective of gender and its repercussions in the realm of health. Therefore, the

role of health professionals, especially of the Community Health Agents (ACS) stand out

because they have significant importance in the identification of women victims of violence

as well as in the construction of actions to face it. In this sense, the current study has the

objective of learning and understanding how Community Health Agents conceptualize,

perform and elaborate strategies to face violence against women at the ESFs in the

municipality of Santa Rosa-RS. It is about a research with qualitative approach that utilized as

method to collect information the semi-structured interview and the Analysis of Thematic

Content in order to analyze it. Violence conceptualizations against women are centralized on

violence as social construction and gender inequalities and as multifactor construction.

Regarding care practices and actions to face it, some tools were observed: the construction of

intervention strategies within the staff; bond, listening and dialogue with the woman victim of

violence; directing them to support services. One believes that the development of this study

made possible the visibility of this theme as a need of health and mainly of care. Besides, by

means of discussions and reflections brought by the Community Health Agents, it will be

possible to elaborate strategies to face violence against women upon their actions in the

community.

Key words: Nursing; Health services; Violence against woman; Gender.

6

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACS - Agentes Comunitários de Saúde

APAE - Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais

CESNORS - Centro de Educação Superior Norte do Rio Grande do Sul

DDM - Delegacia de Defesa da Mulher

EACS - Estratégia dos Agentes Comunitários de Saúde

ESF - Estratégia de Saúde da Família

FUMSSAR - Fundação Municipal de Saúde Santa Rosa

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

OMS - Organização Mundial de Saúde

OPAS – Organização Pan – Americana de Saúde

PACS - Programa de Agentes Comunitários de Saúde

PSF - Programa Saúde da Família

SARAH - Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação

SUS - Sistema Único de Saúde

TCC - Trabalho de Conclusão de Curso

UFSM - Universidade Federal de Santa Maria

7

LISTA DE APÊNDICES E ANEXOS

APÊNDICES A - ROTEIRO DE ENTREVISTA....................................................................60

APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO.................61

APÊNDICE C – AUTORIZAÇÃO INSTITUCIONAL......................................................63

ANEXOS A – PARECER COMITÊ DE ÉTICA.................................................................65

ANEXO B – NORMAS DA REVISTA.................................................................................66

8

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................09

2 CONSTRUÇÃO DO REFERENCIAL E DO OBJETO DE INVESTIGAÇÃO...........13

2.1 A violência no cenário da Saúde Pública........................................................................13

2.2 Violência Contra as Mulheres: aspectos históricos, conceituais e

epidemiológicos........................................................................................................................17

2.3 Agentes Comunitários de Saúde: atuação frente a problemática da violência contra

a mulher...................................................................................................................................22

3 OBJETIVO...........................................................................................................................26

4 CAMINHO METODOLÓGICO........................................................................................27

4.1 Tipo de Estudo...................................................................................................................27

4.2 Local do estudo .................................................................................................................27

4.3 Sujeitos...............................................................................................................................28

4.4 Coleta de dados..................................................................................................................28

4.5 Análise dos dados..............................................................................................................29

4.6 Considerações Bioéticas....................................................................................................30

5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS..............................................31

6 CONCLUSÕES FINAIS......................................................................................................50

REFERÊNCIAS......................................................................................................................53

9

1 INTRODUÇÃO

Este estudo desenvolveu-se com a finalidade de realizar o Trabalho de Conclusão de

Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria - Centro de

Educação Superior Norte do RS (UFSM/CESNORS), para atender aos requisitos parciais de

obtenção do grau de Enfermeira nessa instituição.

A presente pesquisa insere-se na área temática da violência contra as mulheres, com

enfoque na perspectiva dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), buscando conhecer e

compreender de que maneira os ACS conceituam, atuam e elaboram estratégias de

enfrentamento à violência contra as mulheres, em suas ações na comunidade. Pretende-se

estabelecer uma reflexão mais crítica e ampla sobre a questão, bem como dar visibilidade à

problemática e contribuir com dados empíricos para a formulação de práticas assistenciais em

Saúde, e de políticas públicas locais e municipais para o seu enfrentamento.

Reconhece-se que a violência contra as mulheres é considerada uma violação dos

direitos humanos, de sua condição como cidadã, de ir e vir com segurança, com direito à

liberdade, direito de expressar-se, de ser respeitada em sua integridade física, psíquica e

social. A violência também envolve fatores econômicos, históricos, culturais, psicológicos e

sociais que formam uma rede intrincada, complexa e multifacetada, onde se interpenetram

aspectos individuais e coletivos (PENNA, 2005).

Com isso, a Organização Mundial da Saúde destaca que as Nações Unidas, em 1994,

definiu a violência contra as mulheres como, qualquer ato de violência baseado na diferença

de gênero, no qual resulte em sofrimentos e danos psicológicos, físicos e sexuais da mulher;

inclusive ameaças de tais atos, coerção e privação da liberdade, sejam na vida pública ou

privada (OMS, 2002).

A motivação para desenvolver o presente estudo advém das experiências vivenciadas

ao longo da graduação em Enfermagem, onde tive oportunidade de trabalhar com inúmeras

temáticas voltadas à saúde coletiva, na Atenção Básica de Saúde, com atividades realizadas

nos serviços de saúde, com os respectivos profissionais e a comunidade, dentre elas

salientam-se: realização de visitas domiciliares, consulta de enfermagem, sala de espera,

grupos educativos entre outras estratégias educativas.

10

Nesse período, participei em projetos de pesquisa e extensão. Como bolsista, atuei no

projeto de pesquisa intitulado “Conhecendo o contexto de vida de adolescentes grávidas”, que

objetivou conhecer o contexto de vida de jovens que engravidam na adolescência,

identificando possibilidades para aprimorar o atendimento em saúde prestado nessa fase do

desenvolvimento humano. Além disso, trabalhei na construção e desenvolvimento do projeto

de pesquisa “Conhecendo o perfil dos portadores de diabetes: uma estratégia para melhoria da

qualidade de vida”, com o objetivo de conhecer o perfil dos portadores de diabetes tipo I e II

pertencentes à Associação Amigos Diabéticos. Além da atuação em projetos de pesquisa,

envolvi-me em um projeto de extensão “Ações educativas sobre sexualidade na APAE:

contribuições da enfermagem” que buscou promover ações educativas em saúde voltadas à

sexualidade das pessoas com deficiência mental inseridas em uma Associação de Pais e

Amigos dos Excepcionais (APAE).

A partir desses trabalhos e do envolvimento junto à comunidade e dos trabalhos

desenvolvidos na atenção básica de saúde, pude evidenciar a carência e inexistência de

serviços que proporcionem atendimento às mulheres vítimas de violência, fazendo com que

desprovidas de assistência, e sem alternativa, retornam a conviver com a violência e com o

agressor. Diante disso, desenvolveu-se o projeto intitulado “Quem são as mulheres que

procuram ajuda em situações de violência?”, com o objetivo de conhecer a realidade de vida

de mulheres em situação de violência que procuram o atendimento na Delegacia de Polícia no

Município de Palmeira das Missões/RS.

Nesta pesquisa, trabalhando e convivendo com algumas mulheres vítimas de violência,

identificaram-se as inúmeras precariedades, inseguranças e situações de violência que estas

enfrentam em seu cotidiano, tais como: o medo da morte, solidão, vergonha da sociedade,

sensação de culpa. Com isso, a preocupação e o interesse por essa problemática foram

crescendo a cada atividade e encontro realizado durante a coleta de dados, instigando-me a

leituras e reflexões sobre assuntos direcionados a essa temática. Outro fator motivante,

centrou-se no papel importante do setor saúde no atendimento e acolhimento às mulheres em

situações de violência mas, na maioria das vezes, isso não acontece, pois os profissionais não

se sentem preparados para este tipo de atendimento, e as mulheres devido à vergonha e

constrangimento acabam por ocultar a violência que lhe é praticada, tornando-a invisibilizada.

Neste enfoque, Moreira et al (2008) relatam que a invisibilidade é ainda reforçada pela

complexidade da violência, tornando-a um agravo de difícil intervenção. O que ocorre nessa

situação é que muitas mulheres não contam e muitos profissionais não perguntam, até pelo

tempo limitado para o atendimento, existindo a concepção de que a violência doméstica é um

11

problema que só pode ser resolvido em âmbito privado. Silva (2003) complementa que a

invisibilidade da violência decorre do fato de alguns setores, ainda limitarem-se a cuidar dos

sintomas das doenças e não contarem com instrumentos capazes de identificar o problema.

Estima-se que de 25% a 50% das mulheres, em geral, usuárias dos serviços de saúde,

convivem ou já conviveram com a violência. Apesar desta magnitude, o registro dos casos de

violência contra as mulheres, na maioria das vezes, não é realizado nem identificado, pois o

atendimento volta-se aos sintomas e às queixas clínicas, e é direcionado à parte do corpo

supostamente comprometida (LEAL, 2003).

Nessa perspectiva, a problemática investigada centra-se na invisibilidade da violência

contra mulheres pelo setor saúde e pelos profissionais de saúde, dentre eles os ACS, tendo

como decorrência dessa situação a baixa resolutividade nos casos de atendimento em saúde,

carência e inexistência de serviços e programas voltados ao acolhimento e o cuidado à saúde

das mulheres e de suas famílias vítimas da violência. Com isso, reconhece-se a necessidade de

tornar visível esse fenômeno no campo da saúde e da saúde pública, no sentido de fomentar a

elaboração de estratégias de enfrentamento da violência contra as mulheres, e de práticas

assistenciais, planejadas interdisciplinarmente e intersetorialmente.

Nesse cenário, o papel dos profissionais de saúde, em especial, dos agentes

comunitários de saúde (ACS) tem importância significativa na identificação das mulheres

vítimas de violência, assim como na descoberta das causas da violência, sendo os ACS o

único profissional das equipes de saúde que convivem diretamente com a população, estando

inserido nas famílias e na comunidade. Salienta-se ainda, que umas das suas atribuições

centra-se no fomentar a ligação entre a Unidade Básica de Saúde e a comunidade, buscando

melhorar a qualidade de vida destas pessoas, mediante ações domiciliares e comunitárias.

Silva e Dalmaso (2002) comentam que o Agente Comunitário de Saúde, como integrante das

equipes de Saúde da Família, é um dos elos entre as necessidades de saúde da população e o

que pode ser feito para melhorar suas condições de vida.

Assim, conhecer o que os ACS pensam e como atuam diante das situações de

violência contra as mulheres, torna-se fundamental, pois permitirá subsídios para a melhoria

da assistencia, dos registros, possibilitando elementos para a definição de políticas

assistenciais no que tange ao enfrentamento da violência contra as mulheres, assim como

subsídios à capacitação dos ACS para o reconhecimento e intervenção em situações de

violência. Reforça-se que, atualmente, a temática da violência, vem se tornando alvo de

muitas discussões, reflexões e pesquisas por atingir pessoas de diferentes idades, classes

econômicas e grupos sociais.

12

Neste contexto, Minayo (2002) propõe, para o defrontamento da violência, “a

participação dos movimentos sociais e das pessoas, e uma abordagem multiprofissional e

interdisciplinar” (2002, p.176). Neste sentido, evidencia-se a necessidade da atuação dos

profissionais da saúde, na resolutividade dessa problemática que atinge a saúde da população

e, principalmente, das mulheres, estabelecendo seu compromisso em promover a vida como

valor universal e lutar contra todas as formas de violência.

Para subsidiar essa investigação, buscou-se inicialmente abordar a construção da

problemática, combinando idéias e diferentes referências bibliográficas, e os objetivos que

dela procedem. Na seqüência, apresenta-se a trajetória metodológica, com detalhamento

contextual do tipo de pesquisa, a caracterização do local e dos sujeitos da pesquisa, coleta,

análise e questões bioéticas. E, finalizando, traça-se a apresentação e discussão dos resultados

obtidos.

13

2 CONSTRUÇÃO DO REFERENCIAL TEÓRICO

Na construção do Referencial Teórico serão apresentados elementos, os quais

possibilitam a construção da problemática de investigação. Os eixos elaborados foram: A

violência no cenário da Saúde Pública; Violência Contra as Mulheres: aspectos históricos,

conceituais e epidemiológicos; Agentes Comunitários de Saúde: atuação frente à problemática

da violência contra as mulheres.

2.1 A violência no cenário da Saúde Pública

A violência, desde a modernidade, é um problema da sociedade que tem sido tratada

no ambiente doméstico, da segurança pública e da justiça, e também como objeto de

movimentos sociais. No entanto, a violência vem tornando-se preocupação na área da saúde,

porque tudo que é considerado agravo e ameaça à vida, condições de trabalho, relações

interpessoais e qualidade da existência fazem parte do universo da saúde e da saúde pública

(PENNA, 2005).

A partir da década de 1980 e, mais intensamente, na década de 1990, a problemática

da violência adquiriu maior força nos debates políticos e sociais e no planejamento em saúde

pública. Foi somente nesse período que a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e a

Organização Mundial de Saúde (OMS) começaram a falar em violência explicitamente como

questão de saúde. Em 1994, a OPAS realizou uma conferência internacional com os Ministros

de Saúde das Américas, pesquisadores e especialistas sobre o tema. Na sequência dessa

conferência internacional, a OMS passou a desenvolver e estimular pesquisas internacionais

sobre a temática da violência em seus mais diferentes âmbitos de ocorrência, considerando as

relações de poder nas quais se inscrevem. Destaca-se, no estudo da violência no âmbito da

Saúde Pública, a publicação, em 2002, do Relatório Mundial sobre Saúde e Violência da

OMS, onde foram especificadas definições, classificações e contextualizações para o

problema (AZAMBUJA; NOGUEIRA, 2008).

14

Considerando esta situação, Souza e Santana (2007) referem que a violência como

problema de saúde e de saúde pública tem despertado reflexões de estudiosos em relação ao

tema, assim como algumas iniciativas por parte das várias esferas de governo, visto que para o

enfrentamento dessa problemática, tornam-se necessárias estratégias bem definidas, com

articulação e participação dos profissionais, dos gestores públicos, entre outros segmentos da

sociedade civil. Refere ainda que, se os profissionais compreenderem a saúde como um

processo determinado por inúmeros fatores, como sociais e individuais, provavelmente terão

mais facilidade de adicionar a violência como problema também da área da saúde, e influir na

criação de programas, políticas e ações especiais de prevenção, controle e assistencia às

vítimas. Por outro lado, se seus conceitos forem limitados, torna-se difícil a identificação das

vítimas, e a construção de ações que contemplem uma abordagem integral (SOUZA;

SANTANA, 2007).

Nesse sentido, a questão da violência transforma-se em problema para a área da saúde

no momento em que afeta a saúde individual e coletiva, demandando a criação de políticas

públicas específicas, como também a organização de serviços direcionados à prevenção e

tratamento (MINAYO, 2005). Com isso, Deslandes, Gomes e Silva (2000) mencionam que os

reflexos da violência são claramente vistos no campo dos serviços de saúde, seja pela

complexidade do atendimento que demandam, ou pelos custos que representam. Dessa

maneira, esse setor tem importante papel no enfrentamento, e de atuação na prevenção e

atenção desse agravo (LIMA; BÜCHELE; CLÍMACO, 2008).

Com base nos estudos de Penna (2005) a violência é considerada um ato social, e na

maior parte dos casos, um comportamento aprendido num contexto permeado por

desigualdades sociais baseadas no gênero, na raça, crença, na idade, classe, sendo a força

física o jeito mais comum para resolver os conflitos. No Relatório Mundial sobre Violência e

Saúde, a violência é definida como o uso intencional da força física ou do poder, real ou em

ameaça contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que

resulte ou possa resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento

ou privação de liberdade (OMS, 2002).

Complementando, Minayo (2006) salienta que a violência configura-se em um

fenômeno de múltiplas determinações. Refere-se à hierarquia de poder, conflitos de

autoridade e desejo de domínio e aniquilamento do outro. Embora não seja uma

especificidade da saúde, a violência traz impacto direto sobre ela por meio de lesões, traumas

e mortes, sejam físicas ou emocionais, representando um problema de saúde pública de graves

dimensões, transversal à sociedade atual.

15

No Brasil, as Causas Externas são a segunda causa de morte, desde o início da década

de 1980 (GAWRYSZEWSKI; KOIZUMI; MELLO-JORGE, 2004). Consideram-se Causas

Externas os eventos acidentais e intencionais, incluem-se nos agravos acidentais, as quedas,

os envenenamentos, os afogamentos, os acidentes de trânsito, de trabalho e outros tipos de

acidentes. Já os eventos intencionais são as agressões, as lesões autoprovocadas, os

homicídios e suicídios.

Conforme pesquisa desenvolvida pelos hospitais SARAH, as violências e os acidentes

constituem duas das mais importantes causas de mortalidade na sociedade brasileira

contemporânea. As distintas formas de acidentes e de violências têm sido responsáveis pela

quase totalidade das mortes de brasileiros com idades entre 15 e 24 anos (CENTRO DE

PESQUISAS EM EDUCAÇÃO E PREVENÇÃO DA REDE SARAH, 2009).

Além disso, as Agressões por Arma de Fogo foram responsáveis por um total de 236

internações em Brasília e Salvador nos hospitais SARAH, no período de 1999 a 2000,

correspondendo a um total de 16,9% das internações por Causas Externas investigadas. Esses

pacientes caracterizaram-se por serem, em sua maioria, adultos jovens, do sexo masculino

(86,9%), solteiros (58,8%), com escolaridade até o ensino fundamental (68,9%) e residente

em área urbana (87,3%) (SARAH, 2008).

Dados do Ministério da Saúde também mostram que, no Brasil, em 2005, houve

1.003.005 óbitos e 12,5% deles (125.816) foram por causas externas. Entre estes, 83,5%

(105.062) ocorreram na população masculina (IBGE, 2007). Ainda segundo o Ministério da

Saúde, entre os 125.816 óbitos por causas externas ocorridos em 2005, predominaram aqueles

causados por homicídios (37,1%), por acidentes de trânsito (28,4%) e suicídios (6,8%). Os

homicídios (40,8%) predominam na população masculina, enquanto os acidentes de trânsito

(32,1%) são a causa mais frequente dos óbitos femininos por causas externas (IBGE, 2007).

Diante destes dados, torna-se visível a predominância de internações hospitalares e

óbitos na população masculina, relacionados à violência e acidentes, no espaço público.

Conforme a Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências,

os homens sofrem mais violências que levam ao óbito e tornam-se aparentes nos índices de

mortalidade. Sobretudo o de criança, adolescente, mulher e idoso, as violências não resultam

em óbito, mas refletem, na maioria das situações, no perfil de morbidade, devido ao seu

impacto sobre a saúde (BRASIL, 2002).

Referente a essas informações, é pertinente destacar que em relação aos casos de

violência, especificamente, da violência contra as mulheres, pouco são as pesquisas que

mostram os exatos índices, isso se deve, à falta de notificação dos casos, bem como, pelo fato

16

de as ocorrências de violência contra as mulheres, na sua maioria, ocorrerem no ambiente

doméstico/privado, tornado-a ainda mais inviabilizada. Em decorrência disso, no final de

2003, foi assinada pelo Presidente da República a Lei Federal nº 10.778, que institui a

obrigatoriedade da notificação de casos de violência contra mulheres atendidas na rede

pública e privada de saúde em todo território nacional (BRASIL, 2003).

Mendes (2007) menciona que a notificação compulsória dos agravos relacionados à

violência pelo setor saúde, tem apontado importante instrumento de sensibilização dos

profissionais, colaborando com um olhar mais atento para os sinais insidiosos no cotidiano

dos atendimentos ambulatoriais e hospitalares. Neste contexto, Saliba et al, 2007 reforça que a

notificação, apresenta grande importância, pois é por meio dos registros que a violência ganha

visibilidade, permitindo o dimensionamento epidemiológico do problema e a criação de

políticas públicas voltadas à sua prevenção.

Considerando o campo das Políticas Públicas de saúde, o Ministério da Saúde instituiu

no Brasil, no ano de 2001, a Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por acidentes

e violência, que tem por objetivo a redução da morbimortalidade, por meio de ações

articuladas e sistematizadas nas diversas esferas governamentais (BRASIL, 2002). No que

tange à violência contra as mulheres, a política enfatiza que o atendimento às mulheres

contemple a melhora da autoestima e que as mesmas sintam-se fortalecidas para identificarem

soluções em conjunto com a equipe multidisciplinar, para as situações vivenciadas, como

também para prevenção de comportamentos violentos, buscando romper o ciclo da violência.

Ainda nesse sentido, o Ministério da Saúde aprovou em 2004, a estruturação da Rede

Nacional de Prevenção de Violência e Promoção da Saúde e a Implantação e Implementação

de Núcleos de Prevenção a Violência em Estados e Municípios. Tendo, como base, as

políticas, especificamente, na área da saúde, diversos instrumentos foram construídos na

perspectiva de sistematizar os atendimentos e capacitar os profissionais que atuam na atenção

às mulheres em situação de violência. Em 1998, foi elaborada a Norma Técnica de Prevenção

e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes.

Esse documento foi um marco na organização do atendimento de saúde prestado a mulheres,

crianças e adolescentes vítimas de violência sexual, representando um avanço e uma

conquista da articulação entre o Estado e movimento de mulheres e da sociedade civil

organizada (BRASIL, 2002).

Outra estratégia, elaborada em 2001, com o objetivo de orientação das práticas em

serviço dos profissionais que atuam na atenção básica à saúde, é o Caderno de Atenção Básica

sobre a Violência Intrafamiliar – Orientações para a prática em serviço, que objetiva

17

subsidiar, aos profissionais de saúde, as ações de diagnóstico, tratamento e prevenção da

violência no âmbito domiciliar.

Para Mendes (2007), a edificação de políticas públicas de saúde para o enfrentamento

da violência demanda a necessidade de um trabalho intersetorial vigilante e contínuo. A

autora salienta ser essencial a discussão do papel do setor saúde na atenção às mulheres

vítimas de violência, estando inserida na lógica do Sistema Único de Saúde (SUS), para que

tenha garantia de que seus princípios constitucionais de integridade, descentralização e

equidade sejam cumpridas.

Nessa direção, a autora ainda relata que, o SUS, nas suas diferentes esferas

governamentais, necessita encarar o desafio de edificar uma rede qualificada de atenção às

mulheres nessa condição de vulnerabilidade, ainda que a magnitude do agravo seja

subestimada, pode-se considerar que essas mulheres chegam diariamente a todos os setores de

saúde da rede pública e privada do país, continuando na maioria das vezes invisíveis.

Nesse sentido, discute-se na sequência, a problemática da violência contra as

mulheres, adotando uma abordagem direcionada aos seus aspectos históricos, dados

epidemiológicos desse agravo no Brasil, além de discutir como o setor saúde e os

profissionais atuam frente a essa problemática.

2.2 Violência contra as mulheres: aspectos históricos, conceituais e epidemiológicos

A violência contra as mulheres existe na sociedade como uma questão universal que

atinge mulheres de todas as classes sociais, etnias, religiões, idades e com níveis de

escolaridade diversos (LIMA; BÜCHELE; CLÍMACO, 2008). Os autores mencionam que

atualmente é reconhecida como um tema de preocupação internacional, no entanto, nem

sempre foi assim. Essa atual percepção e consciência foi produto de um trabalho incansável e

articulado de inúmeros grupos, movimentos de mulheres e movimentos feministas que são

considerados os principais responsáveis pela retirada da pesada e empoeirada manta de dor e

medo que gerações de mulheres e famílias sustentavam em sigilo.

Segundo Diniz et al (2003), a partir dos anos 80, a formação de movimentos

feministas possibilitou a denúncia e o combate à violência contra as mulheres que ocorria

entre quatro paredes, denominada de violência conjugal. Nesse período, começaram a ser

elaboradas, em meio a uma experiência política inovadora e ao lado de práticas de

18

sensibilização e de conscientização, atendimentos, pelas feministas, de mulheres que sofriam

violências nos chamados SOS - Mulher. Instigados por essa experiência, numa ação

internacionalmente pioneira no Brasil, instituiu-se, a primeira Delegacia de Defesa da Mulher

(DDM) em 1985. A DDM foi o primeiro recurso no combate público à violência contra as

mulheres, em especial, à violência conjugal. Seu caráter era puramente policial: detectar a

transgressão à lei, averiguar sua procedência e criminalizar a violência doméstica de acordo

com a lei federal (KISS; SCHRAIBER; D’OLIVEIRA, 2007).

Assim, diante dessa situação, a prevenção, superação e o controle da violência contra

as mulheres, somente poderá ser possível pelo efetivo exercício da democracia, capaz de

garantir os direitos civis dos cidadãos e cidadãs (PENNA, 2005). Nessa perspectiva, em 2006

foi sancionada pelo Presidente da República a Lei Maria da Penha – lei nº 11.340 que cria

mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher. A Lei

altera o Código Penal e possibilita que agressores sejam presos em flagrante ou tenham sua

prisão preventiva decretada quando ameaçarem a integridade física da mulher; inclui, ainda,

medidas de proteção para a mulher que corre risco de vida, tais como: o afastamento do

agressor do domicílio e a proibição de sua aproximação física da mulher agredida e dos filhos

(BRASIL, 2006).

Diante dessa breve contextualização histórica, pode-se evidenciar que a violência

contra as mulheres passou a ganhar visibilidade social/pública no momento que começou a ser

trabalhada no campo dos Direitos Humanos. Já no campo da saúde, mesmo não sendo objeto

específico desse setor, coloca-se a ele relacionada, na medida em que participa do conjunto

das relações em sociedade e se reconhece a insuficiência das disciplinas isoladas na

abordagem social desse fenômeno.

Incorpora-se ao estudo algumas noções de violência contra as mulheres na perspectiva

de diferentes autores. Para Minayo (2006), a violência contra as mulheres precisa ser vista sob

a perspectiva de gênero, a autora descreve que a violência de gênero distingue um tipo de

dominação, de opressão e de crueldade construído nas relações de poder entre homens e

mulheres, atravessando classes sociais, raças, etnias e faixas etárias.

Para Gomes et al, (2007), os papéis de gênero são considerados como próprios da

condição de ser homem ou mulher, configurando uma imagem idealizada do masculino e do

feminino. A categoria gênero foi introduzida, fundamentalmente, para compreender as

relações de violência perpetuadas no espaço doméstico, possibilitando compreender os papéis

de homens e mulheres pré-definidos socialmente, como perpetradores de relações hierárquicas

desiguais.

19

Nesse sentido, evidencia-se que a construção social de gênero apresenta-se como a

grande responsável pela naturalização da violência, tanto por parte dos homens ou por parte

das mulheres. Diante disso, observa-se que a barreira cultural é difícil de ser rompida,

resultando no não reconhecimento da violência pelas mulheres, pois acreditam que as

condutas dos companheiros devem ser aceitas, em respeito à posição de poder do homem na

relação.

Nessa perspectiva, a violência contra as mulheres diz respeito a sofrimentos e

agressões dirigidos especificamente às mulheres pelo fato de serem mulheres, e que pode ser

remetida também a uma construção de gênero. Em primeiro lugar, evidencia uma dada

ocorrência sobre as mulheres, que significa também a diferença de estatuto social da condição

feminina, diferença esta que faz certas situações de violência provadas pelas mulheres,

parecerem experiências de vidas usuais, especialmente, a violência que se dá por agressores

conhecidos, próximos e de relacionamento íntimo (SCHRAIBER; D’ OLIVEIRA, 1999).

Para Guimarães (2004), a violência contra as mulheres tem natureza e padrões que a

diferenciam de outras violências interpessoais. A violência que ocorre em mulheres e meninas

tem maior probabilidade de serem ocasionadas por pessoas do convívio familiar, como

marido, pai, padrasto, tios, primos entre outros, dentro do espaço privado, enquanto que a

violência sofrida pelo homem é na maioria cometida por pessoas estranhas e no espaço

público.

No que tange aos dados que se dispõem sobre a violência contra as mulheres, no

Brasil, salienta-se que não traduzem a realidade, principalmente, pela subnotificação, e pela

inexistência de sistema de informação em saúde contínuo em âmbito nacional.

Consequentemente, ao analisar alguns estudos, pode-se apenas conhecer aspectos superficiais

dessa problemática. Dentre eles, cita-se um, desenvolvido pela Organização Mundial da

Saúde, com 2645 mulheres de 15 a 49 anos, entrevistadas na cidade de São Paulo (SP) e na

Zona da Mata de Pernambuco (PE), o qual mostra que 29% das mulheres de SP e 37% de PE

relataram algum episódio de violência física ou sexual cometida por parceiro ou ex-parceiro;

as que sofreram violência relataram duas a três vezes mais a intenção e tentativa de suicídio

do que aquelas que não sofreram; as que relataram violência, declararam com maior

frequência, o uso diário de álcool e problemas relacionados à bebida. (OMS, 2005).

Outro estudo desenvolvido pela Fundação Perseu Abramo (2001), mostra que as

mulheres relataram diferentes formas de agressão em algum momento de sua vida, sendo que

33% das mulheres admitem já ter sido vítima de alguma forma de violência física, 27%

sofreram violências psíquicas e 11% afirmam já ter sofrido assédio sexual. Estima-se que de

20

20% a 50% das mulheres, no mundo todo, sofram violência física e/ou sexual por seus

parceiros ou companheiros em algum momento de suas vidas (OLIVEIRA, D’OLIVEIRA,

2008). Para Schraiber, et al (2002), parceiros ou ex-parceiros são os autores da violência em

aproximadamente 70% das denúncias registradas nas Delegacias de Defesa da Mulher.

Apesar da violência representar um fenômeno universal e destituído de fronteiras, não

faz distinção entre classes, etnia, culturas e religiões. Mas, a verdadeira incidência dos crimes

contra as mulheres é desconhecida, pois isso, deve-se a subnotificação e o sub-registro dos

casos em todo o mundo (DREZETT, 2000). Os casos tendem a não ser notificados uma vez

que a mulher tem medo de expor-se, envergonha-se do acontecido e teme represálias do

agressor que, no geral, são parentes, pessoas próximas ou conhecidas (ROTANIA et al, 2003).

Como também os profissionais do setor saúde apresentam dificuldades em lidar com esse

agravo, direcionando seus cuidados às lesões físicas, não se empenhando em compreender as

causas desses eventos e na realização da sua notificação. Esse fato pode estar relacionado à

falta de preparo profissional, ou simplesmente, à decisão de não se envolver com os casos

(SALIBA, et al, 2007).

Nesta perspectiva, Cocco (2007) menciona que em muitas situações, os profissionais

acreditam que não faz parte de suas responsabilidades aproximarem-se desse assunto, por

receio de envolverem-se em conflitos ou, ainda, por não estarem preparados para desenvolver

uma assistência integral, propondo soluções efetivas às vítimas. Para muitos, trata-se das

violências como “caso de polícia” e não de saúde pública. Outro elemento segundo a autora,

centra-se na falta de sensibilização dos profissionais de saúde diante desse agravo, pois, em

muitos casos, requer-se um elevado grau de suspeição e sensibilidade, para a sua adequada

detecção.

Conforme Souza e Santana (2007), a concepção e a compreensão que os profissionais

de saúde possuem sobre violência e suas decorrências, tendem a repercutir ou influenciar a

maneira com que tratam as vítimas no cotidiano de trabalho. Saliba, et al (2007) ainda

enfatiza que a falta de preparo dos profissionais no atendimento às vítimas de violência, deve-

se, possivelmente, ao desconhecimento acerca de como proceder frente a esses casos, pela

centralidade ainda no reducionismo biologicista e pela naturalização da violência, atestando a

persistência da dominação de gênero e da histórica aceitação da lei “do mais forte” nas

relações conjugais em ambiente doméstico.

Salienta-se um estudo que buscou identificar as limitações e possibilidades na atuação

do profissional de saúde frente à violência contra as mulheres. Tal estudo evidenciou que os

profissionais de saúde têm pouco conhecimento do quê fazer em casos de violência e, na

21

prática profissional, há uma tendência ao reducionismo biologicista e fragmentado da atenção

à saúde das mulheres. Essas condutas são justificadas pela falta de qualificação profissional

como, também, pela falta de suporte institucional e de uma equipe multidisciplinar

(LETTIERE; NAKANO; RODRIGUES, 2008).

Diante do exposto, o problema da violência, chega aos serviços de saúde em diferentes

situações e momentos, principalmente quando o evento de agressão provocou repercussões

graves. Deparando-se com essa realidade, os profissionais de saúde devem estar orientados e

preparados emocionalmente para que possam defrontar-se com momentos de tensão no

atendimento a pessoas vítimas de violência, prestando uma assistência integral (BATISTA et

al, 2004).

Neste contexto, o profissional de saúde passa a ser a escuta que as mulheres vítimas de

violência encontram em diversas ocasiões, ouvindo e ainda deixando espaço para que elas

possam falar sem temores ou cobranças sobre o ocorrido. Esse processo é lento e exige

confiança e comprometimento para que o vínculo entre o profissional e a mulher vítima de

violência, seja estabelecido de modo que os benefícios sejam adequados no sentido de

descobrir-se como cidadã de direito, que tem emoções, que necessita ser respeitada

(SALGADO, 2003). Salgado reforça ainda que, a situação de violência toma proporções

alarmantes e as transformações são pouco evidentes, pois a solução do problema, não está

somente em tirar as mulheres do local em que são vítimas da violência, mas além disso,

motivá-las a acreditar que são capazes de dar continuidade em suas vidas e que o agressor não

lhes tolhe o desejo de viver.

Nessa perspectiva, destaca-se a importância do acolhimento e o vínculo com o serviço

de saúde e com a equipe multidisciplinar, assim como, a criação de espaços acolhedores e

harmoniosos que possibilitem a reflexão e sirvam de suporte para auxiliar essas mulheres em

situação de violência. Para Salgado (2003), os serviços precisam estar preparados para o

enfrentamento da violência, considerando as fragilidades dessa problemática. Para tomar

frente a essa situação, torna-se necessário a partir dos serviços, a cooperação intersetorial, a

formação de redes, apoio e suporte. Assim, para o enfrentamento mais eficaz da violência

contra as mulheres, os serviços precisam buscar estratégias de construção de rede social de

proteção às mulheres, pois é importante para a qualidade do atendimento, um compromisso

firme e estratégias bem definidas entre os diferentes atores sociais que fazem parte da rede

(GUIMARÃES, 2004).

Nessa perspectiva, o Ministério da Saúde cria, no Brasil, em 1994 um novo modelo de

assistência em saúde centrado no usuário, o qual visa promover a saúde das famílias, assim

22

como atender as necessidades da comunidade, sendo este constituído pela Estratégia de Saúde

da Família (ESF). Esse modelo de assistência traz juntamente com suas propostas de ações a

implantação de equipes multiprofissionais visando melhorar a qualidade da assistência

prestada (BRASIL, 2004).

Diante disso, entre os membros das equipes de ESF, destaca-se o trabalho do Agente

Comunitário de Saúde no enfrentamento dos casos de violência, pois tem importante papel na

detecção da invisibilidade da violência contra as mulheres em sua área de atuação, pois é o

profissional da equipe que tem contato direto c

om as famílias e a comunidade, sendo o mediador entre o setor saúde e comunidade. Minayo

(2004), ressalta que os agentes comunitários de saúde não são somente agentes de paz, mas

podem também atuar na prevenção da violência, na notificação da violência e na denúncia

desse evento.

Nessa direção, discute-se a seguir a Estratégia de Saúde da Família (ESF), bem como

as atribuições do Agente Comunitário de Saúde (ACS) nas equipes de ESF, traçando alguns

elementos do cotidiano de trabalho dos ACS no que tange à problemática da violência contra

as mulheres.

2. 3 Agentes Comunitários de Saúde: atuação frente a problemática da violência contra

as mulheres

O agente comunitário de saúde (ACS) é um trabalhador que atua em duas estratégias

importantes do Ministério da Saúde; como a Estratégia dos Agentes Comunitários de Saúde

(EACS) e a Estratégia Saúde da Família (PSF). Essas estratégias, atualmente consolidam-se

no contexto da descentralização das ações, e municipalização da atenção primária à saúde no

Brasil (FERRAZ; AERTS, 2005).

A Estratégia dos Agentes Comunitários de Saúde (EACS) existe desde o inicio dos

anos 90 no Brasil, e foi efetivamente instituído e regulamentado no ano de 1997 (BRASIL,

2001). Destaca-se que o desenvolvimento das principais ações da EACS acontece por meio

dos ACS, pessoas escolhidas dentro dá própria comunidade para atuarem junto à população,

atendendo entre 400 e 750 pessoas, dependendo das necessidades locais.

A Estratégia dos Agentes Comunitários de Saúde é hoje considerado parte da

Estratégia Saúde da Família (ESF). Nos municípios onde há somente a EACS, este pode ser

23

considerado uma estratégia de transição para a Saúde da Família. Nesse sentido, atualmente

pode-se contar no âmbito da saúde, com a Estratégia de Saúde da Família, sendo um projeto

dinamizador do SUS operacionalizado mediante a implantação de equipes multiprofissionais

em unidades básicas de saúde, iniciada em 1994, apresentou um crescimento expressivo nos

últimos anos. A ESF é conhecida nacionalmente como um recurso para levar a saúde para

mais perto da família e, com isso, melhorar a qualidade de vida das pessoas, com intensa

participação da comunidade (BRASIL, 2004).

Diante do exposto, o Ministério da Saúde vem estimulando a ampliação do número de

equipes de saúde da família, no Brasil. Cada equipe responsabiliza-se pelo acompanhamento

de cerca de 3 mil a 4 mil e 500 pessoas ou de mil famílias de uma determinada área, e estas

passam a ter co-responsabilidade no cuidado à saúde (BRASIL, 2004). Conforme Martinez e

Chaves (2007) na ESF, o trabalho anda pelo viés da assistência integral, compreendida por

ações preventivas, curativas e de promoção da saúde, pelas quais se busca a qualidade de vida

global, vinculada à visão de equipe interdisciplinar.

Nessa perspectiva, o trabalho das equipes de Saúde da Família é considerado

elemento-chave para a busca permanente de comunicação e troca de experiências e

conhecimentos entre os integrantes da equipe, e desses, com o saber popular (BRASIL, 2004).

Dentre os profissionais da equipe multiprofissional, o trabalho desenvolvido pelo ACS

merece destaque, pois são atribuídas a eles, funções estratégicas e complexas, relacionadas ao

contato direto com a comunidade (HILDEBRAND; SHIMIZU, 2008).

Jardim e Lancman (2009) reforçam que os ACS são responsáveis pelo elo entre a

comunidade e equipe de saúde, por serem os profissionais que estão rotineiramente realizando

as visitas domiciliares. Ferraz e Aerts (2005) salientam que o ACS é um trabalhador que

possui características especiais, pois reside na comunidade onde trabalha, tornando mais

próxima a relação entre a vida social e o seu trabalho. Além disso, tem inserção singular na

atenção à saúde da família, pois exerce ações estratégicas, tendo admiráveis contribuições no

processo de trabalho em saúde, sobretudo porque acrescentam no seu trabalho dimensões:

social, política, técnica, comunicativas nas relações formadas entre serviços de saúde e

comunidade (HILDEBRAND; SHIMIZ, 2008).

Na perspectiva de diferentes autores, destacam-se as atribuições dos ACS nas

comunidades em que atuam, ajudando a compreender a relação existente entre o ACS e a

comunidade, assim como, com os serviços de saúde. Segundo o Ministério da Saúde (2001), o

ACS desenvolve atividades de prevenção de doenças, promoção da saúde por meio de ações

educativas individuais e coletivas, nos domicílios e na comunidade. Imperatori e Lopes

24

(2009), também mencionam que os ACS atuam no cadastramento das famílias, na busca ativa

de faltosos, em visitas domiciliares, ações programáticas, atividades educativas e campanhas,

assim como atividades de suporte nas unidades de saúde. Conforme, Silva e Dalmaso (2002)

os ACS atuam em duas dimensões essenciais, uma mais política, relacionada à organização da

comunidade e solidariedade, e outra estritamente técnica, relacionada ao atendimento as

famílias, prevenção e intervenção em agravos e monitoramento de doenças na comunidade.

Estudo realizado por Ferraz e Aerts (2005) nas ESFs de Porto Alegre, identificou que

a principal atividade do ACS é a Visita Domiciliar, seguida pela educação em saúde, dentre as

atividades educativas, as orientações mais comuns são relativas à higiene, calendário vacinal,

cuidados com as gestantes, recém-nascidos e puérperas. Os mesmos autores ainda mencionam

que a visita domiciliar é preconizado pelo Ministério da Saúde, pois é por meio desta que o

agente conhece melhor o ambiente das famílias sob sua responsabilidade e suas necessidades,

e ainda desenvolve o trabalho educativo. Ainda afirmam que, neste momento, os agentes têm

a oportunidade de observar as condições de moradia das famílias, e, dessa forma, identificar

problemas e dar orientações de acordo com a realidade presenciada.

Considerando essa situação de que o ACS durante a realização da visita domiciliar tem

o privilégio de estar mais presente com as famílias e a comunidade, tornando-se possível

presenciar e/ou identificar casos de violência nesse espaço, ou seja, no domicílio. É nesse

enfoque que Minayo (2004) relata que a violência também está no interior das famílias, ela

não é somente aquela que mata, e a área da saúde pode ter papel fundamental na atuação em

relação à violência que acontece nesse âmbito.

Nesta situação, um dos desafios para os profissionais da área da Saúde é o de perceber

e registrar a violência intrafamiliar, pois, conforme estimativas, somente são denunciadas 2%

dos casos de abuso sexual infantil dentro da família; enquanto fora da família são denunciados

6% desses casos, e em torno de 5 e 8% dos casos de abuso sexual contra adultos (BRASIL,

2001). Nunes et al (2002) ressaltam que o ACS tem preparo profissional peculiar, que se

fundamenta no seu conhecimento como morador da comunidade e uma formação técnica

relativamente curta com predomínio do enfoque biológico. Nesse sentido, depreende-se que a

formação de sua identidade é híbrida e polifônica, pois contém o conhecimento científico e do

senso comum, que pode consentir um diálogo entre os dois saberes.

Ainda, salienta-se que no exercício de sua prática cotidiana o ACS tem se revelado

ator instigante no que se refere às relações de trocas realizadas entre o saber popular de saúde

e os saberes médicos científicos, pela posição de intermediário que ocupa entre a comunidade

e o pessoal de saúde (FERREIRA et al, 2009). Nesse contexto, vale ressaltar que diante das

25

necessidades da comunidade, as pessoas buscam em primeiro lugar o ACS, quer seja devido a

uma informação, uma dúvida, uma reclamação, ou relacionado à solução de problemas mais

graves, e do ACS eles esperam uma resposta, em uma relação de cobranças e exigências nem

sempre tranqüila (MARTINES; CHAVES, 2007).

Nesse sentido, o Ministério da Saúde enfoca que as atividades desenvolvidas pelo

ACS são acompanhadas e orientadas por um (uma) profissional enfermeiro (a), o qual atua

como instrutor (a) – supervisor (a), sendo responsável também pela capacitação dos ACS, que

é desenvolvida conforme as necessidades indicadas na comunidade (BRASIL, 2001).

Martinez e Chaves (2007) corroboram com essas informações destacando que a ESF conta

com um trabalho de base feito pelo ACS que realiza o monitoramento de forma contínua, sob

supervisão do (a) enfermeiro (a).

Ao concordar com os autores acima, reconhece-se o papel do (a) enfermeiro (a)

enquanto profissional que instrumentaliza e prepara os agentes comunitários a desenvolverem

suas ações frente às necessidades da população. Nessa perspectiva, os ACSs necessitam ser

capacitados para desenvolver ações de educação em saúde e apoiar a comunidade onde atua

na melhoria das suas condições de vida, pois desempenha papel de interlocutor com a

comunidade, e com as Equipes de Saúde, contribuindo na identificação das necessidades e

ainda estimulando a participação da comunidade no controle da qualidade de vida.

Empenhada por uma proposta de pesquisa, pelo convívio com mulheres vítimas de

violência, pela revisão da literatura, e na tentativa de expandir a compreensão desta situação

vivenciada pelas mulheres, e de dar visibilidade a essa problemática no campo da saúde

formulam-se as seguintes questões norteadoras: Como os ACS conceituam a violência

contra mulher? De que maneira os ACS atuam em relação à violência contra mulher?

Quais são as dificuldades e facilidades enfrentadas pelos ACS na identificação, atuação e

prevenção da violência contra a mulher? Quais são as estratégias de enfrentamento da

violência elaborada pelos ACS nas suas ações na comunidade?

26

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Conhecer e compreender como os Agentes Comunitários de Saúde conceituam, atuam

e elaboram estratégias de enfrentamento à violência contra as mulheres, nas ESF do

município de Santa Rosa/RS.

3.2 Objetivos Específicos

- Caracterizar o perfil sociodemográfico dos Agentes Comunitários de Saúde;

- Identificar e refletir os conceitos que os Agentes Comunitários possuem sobre a

violência contra as mulheres e suas práticas de intervenção no âmbito da ESF;

- Conhecer as estratégias de enfrentamento à violência elaborada pelos ACS nas suas

ações na comunidade.

27

4 CAMINHO METODOLÓGICO

4.1 Tipo de estudo

Este estudo caracterizou-se como uma investigação de caráter exploratório-descritivo

com abordagem qualitativa. Foram utilizadas algumas evidências quantitativas de caráter

sociodemográfico dos indivíduos entrevistados. De acordo com Polit, Beck e Hungler (2004),

uma pesquisa desse tipo se caracteriza pela apreensão de algum fenômeno que é descrito e

aprofundado em seu significado e importância, o que ultrapassa a dimensão de apenas

observar, para investigar sua natureza complexa, assim envolvendo outros fatores com ele

relacionados. Minayo (2004) complementa salientando que, a abordagem qualitativa da

pesquisa revela a finalidade do problema em estudo, ou seja, descrever, compreender e

explicar a questão de investigação aprofundando-se no mundo dos significados, das crenças e

dos valores dos sujeitos, já que ele não pode ser captado em estatísticas.

4.2 Local do estudo

O campo de estudo foram as Unidades de Estratégia de Saúde da Família (ESF) do

município de Santa Rosa/RS, pois é neste serviço que os Agentes Comunitários de Saúde

(ACS) estão inseridos. As ESFs do município estão sob a responsabilidade de uma instituição

pública de saúde denominada de Fundação Municipal de Saúde de Santa Rosa – FUMSSAR.

Os serviços de saúde do município de Santa Rosa contam com ACS que realizam suas

atividades de segunda a sexta-feira nas unidades de ESF da comunidade em que residem,

atuando na promoção e prevenção de doenças, principalmente, por meio da realização de

visitas domiciliares, tendo a possibilidade de identificar, desta forma, os casos de mulheres

vítimas de violência neste local.

28

A Estratégia dos Agentes Comunitários de Saúde (EACS), assim como a Estratégia de

Saúde da Família (ESF) existe no município de Santa Rosa desde o ano de 1995, e foi

efetivamente instituído e regulamentado em 1998, iniciando suas atividades com oito ESF.

Atualmente, o município conta com 14 unidades de ESF, e com 75 ACS, que estão

distribuídos nas unidades de saúde da seguinte maneira: Auxiliadora com 8 ACS, Posto do

Centro com 3, Beatriz com 7 ACS, Bela União 7, Cruzeiro 6, Esperança 4, Planalto 6, Sete de

Setembro 7, Sulina 8, Glória 6, Pereira 5, Cruzeiro do Sul 4 e na Agrícola com 4 ACS.

4.3 Sujeitos

Os sujeitos deste estudo foram 35 Agentes Comunitários de Saúde pertencentes às

Unidades de Estratégia de Saúde da Família (ESF), do município de Santa Rosa, para a

seleção dos mesmos utilizaram-se alguns critérios como: atuar nas unidades de ESF a mais de

cinco anos, estarem desenvolvendo suas atividades no período da coleta dos dados, e aceitar

voluntariamente participar da pesquisa e assinar o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido. Salienta-se que dos 35 Agentes comunitários de saúde entrevistados, 97,14%

eram do sexo feminino. Em relação à escolaridade, 60% referiram ter cursado o Ensino Médio

Completo, e quanto ao tempo de atuação nas unidades de saúde da ESF, 51,43% dos

entrevistados relataram estar trabalhando de 6 a 10 anos na profissão.

4.4 Coleta dos dados

Para a coleta dos dados utilizou-se entrevista semi-estruturada com questões abertas e

fechadas. De acordo com Minayo, Deslandes e Gomes (2007) a entrevista semi-estruturada é

aquela que combina perguntas fechadas e abertas, em que o entrevistado tem a possibilidade

de discorrer sobre o tema em questão sem se prender a indagação formulada. Para este estudo

elaborou-se um roteiro de entrevista (APÊNDICE I) com base nas questões problemas

referente à pesquisa, com o intuito de conhecer e compreender como os Agentes

Comunitários de Saúde conceituam, atuam e elaboram estratégias de enfrentamento da

violência contra a mulher, nas ESF do município de Santa Rosa/RS. O roteiro estava

29

estruturado em duas partes, a primeira; com dados sociodemográfico dos Agentes

Comunitários de Saúde e, a segunda; com questões abertas referente ao problema de pesquisa.

As entrevistas realizaram-se nas Unidades de Estratégias de Saúde da Família (ESF)

do município de Santa Rosa. Os Agentes Comunitários de Saúde foram convidados a

participar da pesquisa com antecedência, sendo agendados horários individualizados para a

realização da mesma conforme a disponibilidade de cada um. As entrevistadas aconteceram

numa sala apropriada para manter um diálogo com garantia da privacidade. Solicitou-se a

gravação da entrevista em MP3, com o consentimento dos participantes, com a finalidade de

registrar integralmente a fala do sujeito, assegurando material rico e fidedigno para a análise.

Para Minayo, Deslandes e Gomes (2007), o registro fidedigno, das entrevistas e outras

modalidades de coleta de dados cuja matéria prima é a fala, torna-se crucial para uma boa

compressão da lógica interna do grupo ou coletividade estudada. Dentre os instrumentos de

garantia da fidedignidade, o mais usual é a gravação da conversa. Omitir-se-ão sempre os

dados pessoais que podem identificar os sujeitos, no sentido de respeitar seu anonimato. As

mesmas serão arquivadas por um período de cinco anos pelo pesquisador, e após, excluídas.

4.5 Análise dos dados

O material das entrevistas foi transcrito e analisado com base na Análise de Conteúdo

Temática, proposta por Minayo (2007). O desenvolvimento da Análise Temática consiste em

descobrir os núcleos de sentido que compõem uma comunicação, sendo que para o objeto

analítico visado, a presença ou a freqüência signifiquem alguma coisa. Sendo esta constituída

de três etapas: a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados obtidos e

a interpretação

A pré-análise é a etapa que consiste na escolha dos documentos a serem analisados e

na retomada das hipóteses e objetivos da pesquisa. O conjunto de dados obtidos é organizado

para uma análise mais aprofundada a seguir. Nessa etapa, é realizada uma leitura flutuante do

conjunto das comunicações obtidas. A organização inicial realizou-se no momento em que

foram registrados os dados produzidos e, após a leitura e releitura dele, foram organizados em

categorias emergentes.

Com esses elementos em mão, tornou-se possível a realização da segunda etapa da

análise temática, que é a exploração do material, para a classificação em categorias

30

emergentes. Essa fase, o investigador busca localizar categorias que são palavras ou

expressões com significado importante para a qual o conteúdo de uma fala foi organizado.

Escolhendo as categorias teóricas ou empíricas, responsáveis pela especificação dos temas da

pesquisa.

A terceira etapa da análise constituiu-se pelo Tratamento dos Resultados Obtidos e

conseqüente Interpretação, remetendo-se o significado ao contexto investigado. Nesse

sentido, realizaram-se interpretações, a partir do quadro teórico proposto inicialmente, bem

como, inferências que podem esclarecer os achados da pesquisa.

4.6 Considerações Bioéticas

O estudo teve iniciou após a aprovação e a autorização do Comitê de Ética em

Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria, processo nº 23081.012390/2009-50. Ciente

das recomendações previstas na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL,

1996), elaborou-se o termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE II), que foi

assinado pelos Agentes Comunitários de Saúde participantes da pesquisa.

O termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi assinado após os devidos

esclarecimentos em relação aos objetivos da pesquisa. Destacou-se o caráter voluntário de

participação e a liberdade de o participante poder retirar-se do estudo a qualquer momento,

sendo assegurado seu anonimato. A participação dos sujeitos na pesquisa não envolve

nenhuma forma de pagamento. Foi também solicitada à autorização para a gravação da

entrevista, com o intuito de registrar integralmente a fala do sujeito, assegurando material rico

e fidedigno para a análise.

31

5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Optou-se em apresentar e discutir os resultados dessa pesquisa em forma de artigo

científico, com a finalidade de contribuir cientificamente e para utilização dos dados em

outros estudos relacionados a essa temática, instigando outros acadêmicos a realizarem, dessa

forma, seu Trabalho de Conclusão de Curso. Diante disso, o periódico de escolha foi a

Revista Latino Americana de Enfermagem, pois esta tem por missão promover a

disseminação do conhecimento científico da enfermagem através da publicação arbitrada de

artigos que contribuam para a expansão desta área do saber e para a fundamentação das ações

profissionais. Segue em anexo as normas da referida revista (ANEXO B).

32

VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES: DIMENSÕES DESSA PROBLEMÁTICA

NAS FALAS E NAS AÇÕES DOS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE

Lilian Zielke Hesler1

Marta Cocco da Costa2

O presente estudo visou conhecer e compreender como os Agentes Comunitários de Saúde

conceituam, atuam e elaboram estratégias de enfrentamento à violência contra as mulheres

nas ESFs de um município da região noroeste do Rio Grande do Sul. Trata-se de uma

pesquisa qualitativa, realizada com 35 Agentes Comunitários de Saúde. Para a coleta dos

dados, utilizou-se entrevista semi-estruturada e os mesmos foram analisados pela modalidade

temática. As conceituações da violência contra as mulheres centram-se na violência enquanto

construção social e de desigualdades de gênero, e violência enquanto construção multifatorial.

Em relação às práticas assistenciais e de enfrentamento, observaram-se algumas ferramentas:

a construção de estratégias de intervenção junto com a equipe; vínculo, escuta e diálogo com

a mulher vítima de violência; encaminhamentos a serviços de apoio. Acredita-se que este

estudo contribuiu para a visibilidade desta temática como uma necessidade de saúde e

assistência, bem como da construção de estratégias de enfrentamento.

DESCRITORES: Saúde da Família; Serviços de saúde; Violência contra a mulher; Gênero.

VIOLENCE AGAINST WOMEN: DIMENSIONS OF THIS PROBLEM WITHIN THE

SPEECHES AND ACTIONS OF COMMUNITY HEALTH AGENTS

Universidade Federal de Santa Maria – Centro de Educação Superior Norte do Rio Grande do Sul –

UFSM/CESNORS, Palmeira das Missões/RS - Brasil: 1

Acadêmica do 8º semestre do curso de Enfermagem, e-

mail: [email protected]; 2Enfermeira, Doutoranda em Enfermagem, Professora Assistente do Departamento de Enfermagem, e-mail:

[email protected].

33

The current study has the objective of learning and understanding how Community Health

Agents conceptualize, perform and elaborate strategies to face violence against women at the

ESFs in a northeastern municipality from Rio Grande do Sul. It is a qualitative research

carried out with 35 Community Health Agents. Semi-structured interview was utilized to

collect the data which were analyzed by the thematic mode. Violence conceptualizations

against women are centralized on violence as social construction and gender inequalities and

on violence as multifactor construction. Regarding care practices and actions to face it, some

tools were observed: construction of intervention strategies within the staff; bond, listening

and dialogue with the woman victim of violence; directing them to support services. One

believes that this study contributed for the visibility of this theme as a need of health and care

as well as for the construction of strategies to face it.

DESCRIPTORS: Family health; Health services; Violence against woman; Gender.

VIOLENCIA CONTRA LAS MUJERES: DIMENSIONES DE ESA PROBLEMÁTICA

EN LAS HABLAS Y ACCIONES DE LOS AGENTES COMUNITARIOS DE SALUD

El presente estudio visa conocer y comprender como los Agentes Comunitarios de Salud

conceptúan, actúan y elaboran estrategias de enfrentamiento a la violencia contra mujeres en

unidades de ESFs de una municipalidad del noroeste del Rio Grande do Sul. Se realizó una

pesquisa cualitativa con 35 Agentes Comunitarios de Salud. Se utilizó la entrevista semi

estructurada para la recolección de los datos, analizados por la modalidad temática. Las

conceptuaciones de violencia contra mujeres la enfocan mientras construcción social y de

desigualdades de género y mientras construcción multifactorial. Sobre las prácticas

asistenciales y de enfrentamiento, se observaron algunas herramientas: la construcción de

estrategias de intervención con el equipo; vínculo, escucha y diálogo con mujeres víctimas de

34

violencia; encaminamientos a servicios de apoyo. Se acredita que este estudio contribuyó para

la visibilidad de esta temática como una necesidad de salud y asistencia bien como de la

construcción de estrategias de enfrentamiento.

DESCRIPTORES: Salud de la Familia; Servicios de salud; Violencia contra la mujer;

Género.

INTRODUÇÃO

A violência, desde a modernidade é um problema da sociedade que tem sido tratado

no ambiente doméstico, da segurança pública e da justiça, e também como objeto de

movimentos sociais. Na área da saúde, vem se tornando preocupação porque tudo que é

considerado agravo e ameaça à vida, condições de trabalho, relações interpessoais e qualidade

da existência fazem parte do universo da saúde e da saúde pública1.

Diante disso, atualmente, a violência contra as mulheres é reconhecida como um tema

de preocupação internacional, no entanto, nem sempre foi assim. Essa atual percepção foi

produto de um trabalho árduo de numerosos grupos, dos movimentos feministas que foram

considerados os principais responsáveis pela retirada dessa dor e medo que gerações de

mulheres e famílias sustentavam em sigilo2.

A partir dos anos 80, com a formação dos movimentos feministas possibilitou-se à

denúncia e o combate a violência contra as mulheres. Numa ação internacionalmente pioneira

no Brasil, instituiu-se, em 1985, a primeira Delegacia de Defesa da Mulher (DDM). A partir

dessa experiência, em 2006 o Presidente da República sancionou a Lei Maria da Penha – lei

nº 11.340 que cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a

mulher3.

Com isso, reconhece-se que a violência contra as mulheres é considerada uma

violação dos direitos humanos, de sua condição como cidadã, de ir e vir com segurança, com

35

direito à liberdade, direito de se expressar, de ser respeitada em sua integridade física,

psíquica e social. A violência também envolve fatores econômicos, históricos, culturais,

psicológicos e sociais que formam uma rede complexa e multifacetada, onde se interpenetram

aspectos individuais e coletivos1. Nessa direção, salienta-se que esse fenômeno tem suas

raízes nas desigualdades de gênero, traduzidas em relações assimétricas de poder e, ainda, que

esse poder seja relacional, a realidade tem revelado que ele muito dificilmente beneficia as

mulheres, que são alvo majoritariamente preferencial da violência de gênero4.

Fundamentados em uma perspectiva de gênero, esse tipo de violência vem sendo

entendido como o resultado das relações de poder entre homem e mulher, onde ele é quem

determina qual é o papel da mulher, tornando-se visível a desigualdade que há entre eles.

Nesse sentido, pode-se defini-la como qualquer ato baseado nas relações de gênero que

resulte em danos físicos e psicológicos ou sofrimento para a mulher, tal conduta é, muitas

vezes, usada conscientemente como um mecanismo para subordinação, o que ocorre nas

relações matrimoniais5.

No campo da saúde, a violência transforma-se em problema para a área no momento

em que afeta a saúde individual e coletiva, demandando a criação de políticas públicas

específicas, como também a organização de serviços direcionados à prevenção e tratamento6.

É nesse contexto que o trabalho das equipes de Saúde da Família configuram-se elemento-

chave na identificação de casos de violência, na criação de vínculo com mulheres vítimas

desses eventos, como também na estruturação de estratégias de enfrentamento, e ações de

prevenção e promoção.

Dentre os profissionais das equipes de Saúde da Família, o trabalho do ACS merece

ênfase, pois a ele são atribuídas funções estratégicas e complexas, além disso, são

responsáveis pelo elo entre a comunidade e a equipe de saúde7. Salienta-se que o ACS tem

apresentado destaque no enfrentamento dos casos de violência, pois durante a realização da

36

visita domiciliar tem o privilégio de estar mais presente com as famílias e a comunidade,

tendo a possibilidade de presenciar e/ou identificar os casos de violência nesse espaço, o do

domicílio. Os agentes comunitários de saúde não são somente agentes de paz, mas podem

também atuar na prevenção da violência, na sua notificação e denúncia8.

Embora o ACS esteja em contato direto com as famílias, conhecendo e identificando

os problemas da comunidade, apresentam certa dificuldade em reconhecer a violência contra

as mulheres como problema de saúde e de saúde pública. Isso justifica-se pela falta de

instrumentalização dos mesmos, no sentido de reconhecer e detectar a violência para além das

lesões visíveis, mas nas queixas e nos relatos referidos pelas mulheres, como também pelo

medo e receio ao envolver-se em situações do espaço privado.

Nesse sentido, o presente estudo buscou conhecer e compreender de que maneira os

Agentes Comunitários de Saúde conceituam, atuam e elaboram estratégias de enfrentamento à

violência contra as mulheres, nas ESFs do município de Santa Rosa/RS. Pretende-se

estabelecer uma reflexão mais crítica e ampla sobre a questão, bem como dar visibilidade à

problemática e contribuir com dados empíricos para formulação de práticas assistenciais em

saúde, e de políticas públicas locais e municipais para o seu enfrentamento.

CAMINHO METODOLÓGICO

Para atingir o objetivo proposto, optou-se por desenvolver pesquisa exploratória e

descritiva, com abordagem qualitativa. Realizou-se o estudo nas unidades de Estratégia de

Saúde da Família (ESF) de um município localizado na região noroeste do Estado do Rio

Grande do Sul. Os sujeitos foram 35 ACS. Para a seleção dos mesmos utilizaram-se alguns

critérios como: atuar nas unidades de ESF a mais de cinco anos, estarem desenvolvendo suas

atividades no período da coleta dos dados, e aceitar voluntariamente participar da pesquisa e

37

assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Salienta-se que dos 35 Agentes

comunitários de saúde entrevistados, 97,14% eram do sexo feminino. Em relação à

escolaridade 60% referiram ter cursado o Ensino Médio Completo e quanto ao tempo de

atuação nas unidades de saúde da ESF, 51,43% dos entrevistados relataram estar trabalhando

de 6 a 10 anos na profissão.

Para a coleta dos dados optou-se pela entrevista semi-estruturada, pois combina

perguntas fechadas e abertas, em que o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o

tema em questão sem se prender à indagação formulada9. Estruturou-se um roteiro guia em

duas partes, a primeira; com dados sociodemográfico dos ACS e, a segunda; com questões

abertas referentes ao problema de pesquisa. Foram realizadas em uma sala apropriada nas

unidades de ESF com duração aproximada de 30 minutos, solicitou-se a gravação em MP3,

com a finalidade de registrar integralmente a fala do sujeito, assegurando material rico e

fidedigno para a análise. Com o intuito de preservar sua identidade, a cada um dos

entrevistados atribuiu-se a letras “ACS” e o número de forma seqüencial para apresentar as

falas das mesmas. A coleta dos dados ocorreu no período de dezembro de 2009 a fevereiro de

2010.

A análise das entrevistas teve com base a Análise de Conteúdo Temática, proposta por

Minayo10

. Após a transcrição das entrevistas, estas foram lidas para que fosse possível

familiarizar-se com o todo, e os temas que convergiam para um significado comum foram

classificados em um mesmo eixo temático.

Consideraram-se as normas da Resolução nº196, de 10 de outubro de 1996, para o

desenvolvimento de pesquisas com seres humanos11

, tendo o estudo sido aprovado no Comitê

de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) processo nº

23081.012390/2009-50.

38

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Decorrem-se as discussões obtidas por meio da análise das falas dos sujeitos,

desmembrando-as em dois eixos temáticos: “Compreendendo e conceituando violência

contra as mulheres” e “Práticas de intervenção e estratégias de enfrentamento da

violência contra as mulheres”.

Compreendendo e conceituando a violência contra as mulheres

O primeiro eixo temático centra-se no conhecer como os agentes comunitários de

saúde conceituam violência contra as mulheres. Nesse eixo identificaram-se os seguintes

núcleos de sentido: violência enquanto construção social e de desigualdades de gênero e

violência enquanto construção multifatorial.

No primeiro núcleo de sentido, violência enquanto construção social e de

desigualdades de gênero, identificou-se que a violência na perspectiva dos agentes de saúde

constitui-se enquanto construção, a partir da realidade e do contexto social em que as

mulheres estão inseridas, bem como a co-influência das iniquidades de gênero, sendo este tipo

de violência perpetuada com maior frequência no âmbito doméstico, e o agressor, na maioria

dos casos, é o próprio companheiro. Os ACS trazem claramente em seus discursos a

dominação masculina em relação à feminina, ao homem está direcionado o espaço público,

assim como o poder e a autoridade como provedor e chefe da casa, já da mulher espera-se

delicadeza, subordinação e obediência, sendo vista apenas como procriadora, cuidadora do lar

e dos afazeres domésticos, permanecendo a ela direito algum de expressar e relatar seus

sentimentos e vontades. Isso pode ser evidenciado a seguir nas falas dos ACS:

39

Violência contra mulher, aí isso acontece tipo assim oh, o companheiro ou o esposo

ele se acha no direito de ele mandar e a mulher obedecer, sem ela ter escolha né,

até muitas vezes muitas relatam assim quando muitas vezes elas não querem ter

relação sexual (ACS8).

A discriminação né, por que é aquela coisa a mulher, o homem pode e a mulher não

pode né, eu já, prá mim inicia ali a violência, e daí a fora segue os outros tipos de

agressões né, a verbal e a física (ACS10).

Neste sentido, evidencia-se que a construção social de gênero apresenta-se como a

grande responsável pela naturalização da violência, tanto por parte dos homens como por

parte das mulheres. Nas falas abordadas, observa-se que a barreira cultural é difícil de ser

rompida, visto o arraigado dos valores. Disso resulta, o não reconhecimento da violência por

parte das mulheres, pois sejam em casamentos formais ou em uniões estáveis, acreditam que

as condutas dos companheiros devem ser aceitas, em respeito à posição de poder do homem

na relação.

Em estudo desenvolvido em uma Maternidade de São Paulo, buscou-se identificar os

significados atribuídos à violência e à mulher vítima de violência pelos profissionais, os

resultados corroboram com os achados do presente estudo, visto que os profissionais

reconhecem ser essencialmente como causa e conseqüência da violência contra as mulheres as

desigualdades de gênero, e colocam como um dos elementos a submissão12

.

Nas análises das falas dos ACS, identificou-se a submissão das mulheres como

constituinte de atos de violência em relação aos seus companheiros.

Elas não tem tanta liberdade, e elas são muito submissas aos maridos né, elas

casam entregam corpo, alma e identidade [...] (ACS26).

Tem mulheres muito submissas né, que não, que ficam dependentes do marido, não

correm atrás do que desejam realmente (ACS30).

Nesse sentido, os atributos e os papéis de gênero valorizam o homem em detrimento

da mulher, legitimando a dominação do homem em relação à inferioridade da mulher.

Considerado essa situação, a mulher é destituída de autonomia e do direito de decidir,

inclusive sobre o seu próprio corpo13

.

40

Nesta perspectiva, na análise das relações conjugais, mostra-se que o exercício do

poder se dá de forma desigual entre os sexos, sendo que as mulheres ocupam posições

subalternas. Esta condição de subalternidade que configura e agrava a violência contra mulher

está voltada a sua capacidade de autodeterminar-se sexualmente e socialmente, tornando-se

mais vulnerável ao abuso físico e emocional do homem, na medida em que não é sujeito de

sua própria vida14

. Alguns autores relatam que a ausência de diálogo, postura acentuada de

dominação por parte do companheiro, exigência de obediência pela mulher, sem

questionamento de suas necessidades e de seus direitos associado à falta de perspectivas de

mudança, parece ser o fermento para práticas de violência psicológica e física 14,15

.

Diante dos achados, salienta-se que, ao longo dos séculos, a idéia da mulher como

sexo frágil, submisso e imperfeito está introjetada no imaginário social, o que ainda hoje

traduz profundos efeitos na configuração do campo da assistência à saúde e da violência.

Neste sentido, menciona-se que para a grande maioria dos ACS entrevistados, a violência

contra as mulheres acaba sendo considerada “destino de gênero” resultando na naturalização e

normalização dos eventos, suas causas e, consequentemente, impedindo a ação sobre os

mesmos.

No segundo núcleo de sentido, violência enquanto construção multifatorial, incluem-

se os demais elementos relatados pelos ACS enquanto co-influências aos eventos violentos,

tais como: álcool e drogas, desigualdades sociais e desemprego.

A causa disso é falta de trabalho, precárias condições [...] Eu acho que atinge mais

na qualidade de vivência das famílias né, as mais carentes, o que traz isso ai

também é a bebida alcoólica (ACS11).

Olha, eu acho que é mais droga né, o índice de drogas que está muito alto, até

assim o planejamento familiar [...] mas o álcool é um dos fatores maiores né eu

acho que mais é isso né, a situação econômica também colabora bastante né prá

violência (ACS33).

Nesse enfoque, o uso de drogas e a violência parecem, sim, estar relacionados, porém

não de uma forma simplista e causal. Alguns estudos apontam que o consumo de álcool e

outras drogas está presente nos processos de socialização, em várias culturas. A associação

41

entre violência e dependência química é recorrente e parece abrir as portas para uma

compreensão mais ampla de ambas16

. Salienta-se pesquisa realizada com famílias de uma

comunidade de baixa renda de Recife, Pernambuco, onde verificou-se que o uso abusivo de

bebidas alcoólicas, associado às fortes pressões socioeconômicas, vividas num contexto de

práticas educativas punitivas e/ou aniquiladoras, conduz frequentemente, a comportamentos

violentos17

.

No que tange as desigualdades sociais e ao desemprego, menciona-se duas pesquisas

que corroboram com esse achado. Em pesquisa realizada com 30 profissionais de três

unidades de saúde de Natal (RN), para a maioria dos profissionais os fatores que influenciam

as situações de violência doméstica, são o machismo, as condições econômicas, o alcoolismo

e os antecedentes familiares de violência18

. Em outro estudo desenvolvido com algumas

trabalhadoras da área da saúde, também foi mencionado por elas a correlação de violência

com desigualdades sociais e violência com pobreza e desemprego19

.

Neste sentido, autor como Briceño-León20

ao refletir sobre a pobreza e a violência,

ressalta que a violência pode ser gerada pela associação da pobreza com a desigualdade social

e cita, como exemplo, o Brasil, onde os maiores índices de violência não são registrados nos

estados pobres do nordeste, mas nos estados onde se concentra o maior poder aquisitivo e as

desigualdades sociais, como no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Práticas de intervenção e estratégias de enfrentamento da violência contra as mulheres

No que se refere às práticas de intervenção e estratégias de enfrentamento utilizadas

pelos agentes comunitários de saúde identificaram-se os seguintes núcleos de sentido:

construção de estratégias de intervenção junto com a equipe; vínculo, escuta e diálogo com a

42

mulher vítima de violência; encaminhamentos a serviços de apoio e limites no enfrentamento

da violência.

No primeiro núcleo de sentido, destaca-se a construção de estratégias de intervenção

junto com a equipe. Os ACS mencionaram que, quando identificam ou são comunicados

sobre um caso de violência, sua primeira conduta é relatar para equipe, socializando e

discutindo as condutas terapêuticas e assistencias a serem conduzidas em relação ao caso. As

falas a seguir representam esse núcleo.

Eu venho e trago prá equipe, na equipe nós trabalhamos entre nós [...] eu sempre

peço ajuda porque eu nunca sei como atuar nessa parte principalmente da

violência (ACS4).

A gente trás as nossas dificuldades e problemas prá nossa reunião de equipe, a

gente conversa aqui no posto [...]a gente orienta ou junto com a equipe a gente

procura né, tentaria encaminhar prá alguma solução no caso [...] (ACS26).

Identifica-se claramente as dificuldades que os mesmos enfrentam em relação à

atuação nos casos de violência contra as mulheres, relatando, muitas vezes, não saberem o que

fazer diante de determinadas situações. Nesse sentido, os ACS compartilham as dificuldades

encontradas no cotidiano de trabalho junto à equipe, e as Equipes de Saúde da Família são os

atores principais envolvidos no processo de identificação e intervenção dos casos de violência

na Atenção Básica, porém, dá se maior visibilidade ao papel do ACS. O que ocorre, na maior

parte dos casos, é que as mulheres acabam por relatar aos ACS fatos que não diriam a outros

profissionais, tornando-os possíveis atores capazes então de prevenir ou intervir nessas

situações4.

Nesse contexto, as ações para o enfrentamento desses eventos ainda são difíceis e

desafiadoras, mas os impedimentos precisam ser continuamente desconstruídos, e a violência

de gênero precisa estar incorporada às pautas das reuniões e discussões em equipe. Assim,

entende-se que, tendo em mãos uma ferramenta norteadora para lidar com essa situação, os

profissionais podem tornar visível a violência de gênero em suas ações de saúde e promover

um atendimento integral e potencializador21

.

43

Ainda nesse núcleo de sentido, evidenciou-se que a maioria dos ACS quando

mencionou a necessidade de discussão dos casos na equipe, reforçaram em suas falas a

presença do (a) enfermeiro (a) enquanto profissional mais próximo e que acompanha o

desenvolvimento de suas ações junto à comunidade. As falas a seguir ilustram esse achado:

A primeira coisa que a gente faz é falar com a enfermeira, tudo que a enfermeira

[...] Sim eu comunico a enfermeira né, daí em reunião de equipe daí a gente levanta

o assunto com os demais também (ACS3).

Com isso, reconhece-se o papel do (a) enfermeiro (a) enquanto profissional que

instrumentaliza e prepara os agentes comunitários a desenvolverem suas ações frente às

necessidades da população, realizando ações de educação em saúde, apoiando a comunidade

na melhoria das suas condições de vida e contribuindo na identificação dos casos de violência

contra as mulheres e na formulação de intervenções assistenciais.

O segundo núcleo de sentido centra-se no vínculo, na escuta e no diálogo com a

mulher vítima de violência, nesse núcleo os entrevistados consideram o vínculo

profissional/usuária, assim como a escuta qualificada, como ferramenta importante para o

desenvolvimento da atenção às necessidades das mulheres que, muitas vezes, não é trazida ao

profissional como uma demanda explicitada, mas pode ser desvelada durante o diálogo com a

usuária, como também a possibilidade de traçar orientações. As descrições das falas elucidam:

Sempre em primeiro momento você acolhe, você ouve, você muitas vezes a gente

acaba como é que eu vou dizer assim ajudando de que forma orientando ela sobre

os direitos dela né, sobre aonde ela tem que ir, o que deve fazer, como proceder né,

então é essas coisas também (ACS8).

A gente vai mais prá escutar mesmo, que elas querem mais é falar, sabe porque tu

não pode dizer assim pega e faz isso e faz aquilo, tu pergunta tu foi na policia, tu

registrou uma parte, tu fez alguma coisa sabe, e daí elas falam (ACS7).

Nessa perspectiva, pensa-se ser necessário uma forma de agir com uma importante

dimensão interativa, baseada na escuta, na orientação, no acolhimento, com ênfase na

comunicação com a mulher usuária e entre os profissionais, na direção de projetos

assistenciais negociados e construídos em conjunto para cada caso, tendo como referência à

44

garantia de direitos e a emancipação, cuja base é a detecção, escuta e orientação qualificadas

para o trabalho com violência contra as mulheres na atenção primária à saúde22

.

Diante disso, a credibilidade que o ACS desenvolve no trabalho é um aspecto

fundamental para a concretização do mesmo, sem essa credibilidade não há confiança por

parte da comunidade, e o trabalho do agente fica impossibilitado de acontecer. A credibilidade

tem o sentido de criar relações de confiança e vínculo com os usuários para que recebam os

agentes, abram suas casas, relatem seus problemas pessoais, e que as demandas sejam

solucionadas ou encaminhadas, assegurando a continuidade da relação saudável agente-

comunidade23

.

Nesse sentido, o setor saúde pode intervir na questão da violência contra as mulheres,

ao identificar o problema, acolher e apoiar as usuárias, acompanhando estes casos, mas, no

entanto, a resolução do problema não lhe compete unicamente. É fundamental que uma rede

intersetorial (polícia, justiça, assistência social, educação etc.) organize-se de forma a garantir

que as mulheres não tenham seus direitos de cidadania usurpados24

.

É nessa perspectiva, que se insere o terceiro núcleo de sentido, encaminhamento aos

serviços de apoio, dentre os serviços mais citados estão: conselho tutelar, delegacias,

psicóloga, entre outros.

É liguei pró conselho. É e nós temos essa liberdade de ligar pró conselho tutelar,

que nós temos que ligar, que é prá denunciar [...]. (ACS2).

Foi encaminhado para o CAPS, sim, sim, primeiro aqui já com a psicóloga e

também tinha o psiquiatra, e agora não tem, mas ela se tratava com os dois, e

agora esta indo só no CAPS (ACS13).

Nessa perspectiva, em estudo realizado com 36 agentes comunitários de saúde

atuantes em sete serviços do Programa Saúde da Família, de uma região do município de

Porto Alegre, constata que, quanto aos encaminhamentos realizados para as vítimas de Causas

Externas, incluindo mulheres vítimas de violência, os quais orientam sobre os serviços

45

públicos em que podem buscar auxílio e resolução dos casos, como a Delegacia da Mulher, do

Idoso, o Conselho Tutelar, a Casa de Apoio Viva Maria25

.

Pesquisa realizada com oito profissionais das equipes do Programa de Saúde da

Mulher mostra que ao acolherem o problema, oferecem todas as informações sobre os direitos

da mulher no que tange à denúncia policial e às redes de suporte que podem ser acionadas

nesses casos, a equipe ainda busca trabalhar a dimensão afetiva, com intervenção da psicóloga

e a inserção ocupacional com a assistente social junto à usuária vítima de violência, e tenta

não oferecer alternativas, mas prepará-las em conjunto com ela23

.

Neste sentido, enfatiza-se a importância da constituição de redes institucionais

interdisciplinares, que se articulem com as organizações de mulheres e a rede social, num

processo contínuo de busca de estratégias de enfrentamento das desigualdades e das

assimetrias que afetam as mulheres.

O último núcleo de sentido, limites no enfrentamento da violência, inclui as

dificuldades dos ACS no reconhecimento desse agravo como problema de saúde e de saúde

pública e da necessidade de intervenção dos profissionais desse campo. Considerado, por

alguns entrevistados um assunto de abordagem delicada, que deve ser resolvido apenas em

âmbito doméstico. Isso pode ser evidenciado nas falas dos ACS:

É difícil tem que ser muito cauteloso [...] hoje eles estão brigando, se estapeando,

mas amanhã eles estão de amores e tu tá ferrado, então tu tem que cuidar muito o

que tu fala, é muito difícil (ACS27).

Quem sou eu prá saber se o marido dela bate, xinga, se ela tem ou não relação com

o marido [...] Eu sempre digo, eu não me enfio muito, porque amanhã ou depois eu

estou ali na casa, então tu tem que ter um certo cuidado (ACS5)

Essas falas remetem-nos a uma visão de prática assistencial fundamentada na

neutralidade e naturalização dos casos de violência contra as mulheres, e não no envolvimento

do ACS como profissional da equipe de ESF, bem como a constituição desse fenômeno como

problema do espaço privado, e não do setor saúde. Isso acaba atestando a persistência da

46

dominação de gênero e da histórica aceitação da lei “do mais forte” nas relações conjugais em

ambiente doméstico.

Em vista disso, a violência contra as mulheres, para alguns ACS torna-se fenômeno

“natural” no cotidiano, considerado e dimensionado, em muitas ocasiões, como evento

previsível e frequente, de acordo com as condições sociais, econômicas e culturais em que

acontecem. Assim sendo, destitui-se a responsabilidade ou o dever desses profissionais como

representantes do poder público de “se envolverem” nessas situações.

Com isso, acredita-se que a identificação e a compreensão das práticas profissionais

dos ACS, voltadas para as mulheres vítimas de violência, proporcionam a possibilidade de

compor elementos para a definição de políticas assistenciais de gênero no que tange ao

enfrentamento desse agravo, sendo válido o fornecimento de subsídios para a capacitação dos

ACSs para reconhecimento, atuação e intervenção em situações de violência, além de

contribuir para a visão crítica do seu próprio papel dentro da ESF4.

CONSIDERAÇÔES FINAIS

Este estudo possibilitou analisar como os ACS compreendem e conceituam violência

contra as mulheres, desvendando em suas falas uma diversidade de sentimentos e

compreensões, direcionando a violência enquanto construção social, de desigualdades de

gênero e construção multifatorial em que as condições econômicas, o álcool e as drogas são

considerados fatores influenciadores para a ocorrência desse fenômeno. No que se refere às

práticas de intervenção e estratégias de enfrentamento, relatou-se a construção de ações junto

com a equipe de saúde, tendo o (a) enfermeiro (a) como profissional mais próximo, foram

ainda relatados o vínculo, escuta e diálogo com a mulher vítima de violência, assim como, os

encaminhamentos a serviços de apoio como ao conselho tutelar, delegacias e psicólogas.

47

Além disso, identificou-se a dificuldade que os ACSs têm em reconhecer esse agravo como

problema do setor saúde e, assim propor ações de enfrentamento e preventivas na

comunidade.

O estudo mostra que a forma como o fenômeno vem sendo abordado, não tem se

traduzido em práticas efetivas para o seu enfrentamento. Com isso, as ações dos ACS

direcionadas às mulheres em situação de violência, deveriam constituir-se em ações

potencializadoras da autonomia feminina, considerando a construção social de gênero como

determinante dos processos destrutivos na vida das mulheres.

Nesta perspectiva, o setor saúde ainda não incorporou a violência contra as mulheres

com o desafio de recriar, por exemplo, linguagens de gênero para a saúde. Ainda, não

consegue redimensionar o espaço da doença e das pessoas que adoecem “ou sofrem”, isto é,

de homens e mulheres que vivem suas histórias particulares em diferentes contextos e com

diferentes necessidades. Acredita-se que essas reconstituições de sujeitos e cenários poderiam

influenciar abordagens diferenciadas com linguagens, bem como, saberes novos e adequados

para orientar intervenções sustentadas na integralidade considerando a complexidade

multidisciplinar dos saberes e fazeres nesse âmbito.

Nessa direção, pensa-se que a capacitação dos ACS, pode ser um foco importante, pois

o reconhecimento desses agravos requer um elevado grau de suspeição e sensibilidade, para a

sua adequada detecção capaz de desnaturalizar situações, estimular e fornecer subsídios para o

agir. Considera-se, nesse contexto o papel relevante do profissional enfermeiro (a) enquanto

co-participante no processo de instrumentalização desses trabalhadores em saúde, como

também a co-responsabilidade de todos os profissionais de saúde no enfrentamento das várias

formas de violência.

48

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Penna LHG. A temática da violência contra a mulher na formação da enfermeira. [tese de

doutorado em Enfermagem]. Rio de Janeiro (RJ): Instituto Fernandes Figueira/Fundação

Oswaldo Cruz. Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher; 2005. 287 p.

2. Lima DC, Büchele F, Clímaco DA. Homens, Gênero e Violência Contra a Mulher. Saúde

Soc. São Paulo. 2008; 17(2): 69-81.

3. Brasil. Secretária Especial de Políticas para as Mulheres – Presidência da República. Lei

Maria da Penha n 11. 34 de 7 de agosto de 2006. Coíbe a violência doméstica e familiar

contra a mulher / Ministério da Saúde – Brasília.

4. Fonseca RMGS, Leal AERB, Skubs T, Guedes RN, Egry EY. Domestic Violence Against

Women from the Perspective of the Community Health Agent. Rev. Latino-am Enfermagem

nov/dez 2009; 17(6). On line.

5. Watts C, Zimmerman C. Violence against women: Global scope and magnitude. Lancet

2002; 359:1232-1237.

6. Minayo MCS. Violência: um problema para a saúde dos brasileiros. In: Brasil. Ministério

da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Impacto da violência na saúde dos brasileiros.

Brasília (DF): 2005. p. 9-42.

7. Hildebrand SM, Shimizu HE. Percepção do agente comunitário sobre o Programa Família

Saudável. Revista Brasileira de Enfermagem. 2008; 61(3): 319-24.

8. Minayo MCS. Entrevistada: Cecília Minayo. Conasems, Brasília; 2004. ano I (4): 7-13.

Entrevistador: G. de Paula.

9. Minayo MCS, Deslandes SFDR, Gomes R. Pesquisa Social Teoria, método e criatividade.

25º Ed. Petrópolis (RJ): Editora Vozes; 2007. p. 64.

10. Minayo MCS. O Desafio do Conhecimento: Pesquisa Qualitativa em Saúde. 10ª ed. São

Paulo: Hucitec; 2007.

11. Brasil. Conselho Nacional de Saúde. Resolução. Resolução nº 196 de 10 de Outubro de

1996. Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos,

1996.

12. Lettiere M, Nakano MAS, Rodrigues DT. Violência contra a mulher: a visibilidade do

problema para um grupo de profissionais da saúde. Revista Escola de Enfermagem USP.

2008; 42(3): 467-73.

49

13. Gomes NP, Diniz NMF, Araújo AJS, Coelho TMF. Compreendendo a violência

doméstica a partir das categorias gênero e geração. Acta Paulista de Enfermagem. 2007; 20

(4): 504-8.

14. Andrade CJM, Fonseca RMGS. Considerações sobre violência doméstica, gênero e o

trabalho das equipes de saúde da família. Revista Escola de Enfermagem USP. 2008; 42 (3):

591-5.

15. Melo ZM, Silva DM, Caldas MT. Violência intrafamiliar: crimes contra a mulher na área

metropolitana do recife. Psicologia em Estudo, Maringá. 2009; 14(1): 111-119.

16. Granja E, Medrado B. Homens, violência de gênero e atenção integral em saúde.

Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil Psicologia & Sociedade. 2009; 21(1):

25-34.

17. Melo ZM, Caldas MT, Carvalho MMC, Lima AT. Família, álcool e violência em uma

comunidade da cidade do Recife. Psicologia em Estudo. 2005; 10(2): 163-339.

18. Moreira SNT, Galvão LLLF, Melo COM, Azevedo GD. Violência física contra a mulher

na perspectiva de profissionais de saúde. Rev. Saúde Pública. 2008; 42(6): 1053-9.

19. Leal SMC, Lopes MJM. A violência como objeto da assistência em um hospital de

trauma: “o olhar” da enfermagem. Ciência e Saúde Coletiva. 2005; 10(2): 419-431.

20. Briceño-león R. La nueva violencia urbana de América Latina. In: Briceño-león R (Org.).

Violencia, sociedade y justicia en América Latina. Buenos Aires: FLACSO; 2002. p. 13-26.

21. Pedrosa CM. A construção de uma ferramenta social para promoção da saúde e dos

direitos das mulheres. Paidéia. 2009; 19(42): 123-129.

22. D’ Oliveira AFPL, Schraiber LB, Hanada H, Durand J. Atenção integral à saúde de

mulheres em situação de violência de gênero – uma alternativa para a atenção primária em

saúde. Ciência & Saúde Coletiva. 2009; 14(4): 1037-1050.

23. Jardim TA, Lancman S. Aspectos subjetivos do morar e trabalhar na mesma comunidade:

a realidade vivenciada pelo agente comunitário de saúde. Revista Interface - Comunicação

Saúde Educação. 2009; 13(28): 123-35.

24. Borsoi TS, Brandão ER, Cavalcanti MLT. Ações para o enfrentamento da violência contra

a mulher em duas unidades de atenção primária à saúde no município do Rio de Janeiro.

Interface, comunicação, saúde educação. 2009; 13(28): 165-74.

25. Imperatori G, Lopes MJM. Estratégias de Intervenção na Morbidade por Causas Externas:

como atuam agentes comunitários de saúde? Saúde Soc. São Paulo. 2009; 18(1): 83-94.

50

6. CONCLUSÕES FINAIS

No momento em que depara-se com a etapa final desse trabalho, a de tecer-se algumas

considerações, após uma trajetória de leituras, observações, reflexões acerca da temática, e

ressalta-se que a pesquisa não esgotou, de forma alguma a temática, mas se constitui um fator

contributivo na compreensão da problemática da violência contra as mulheres.

Este estudo teve como objetivo analisar como os ACS compreendem e conceituam

violência contra as mulheres, além de conhecer as práticas de intervenção e estratégias de

enfrentamento utilizadas pelos ACS. Os resultados mostram uma diversidade de sentimentos

e compreensões trazidos pelos ACS, quanto à conceituação de violência contra as mulheres,

destacam-se no primeiro núcleo de sentido a violência enquanto construção social e de

desigualdades de gênero, sendo esse tipo de violência perpetuada com maior intensidade no

âmbito doméstico, pelo próprio companheiro, evidenciando a dominação masculina sobre a

feminina. O segundo núcleo de sentido refere-se à violência enquanto construção

multifatorial, em que as condições econômicas, o álcool e as drogas são considerados pelos

ACS fatores co-influentes na ocorrência de atos violentos.

No que se refere às práticas de intervenção e estratégias de enfrentamento da violência

contra as mulheres, foram relatados pelos ACS a construção de ações junto com a equipe de

saúde, tendo o (a) enfermeiro (a) como profissional mais próximo e que acompanha o

desenvolvimento de suas ações junto à comunidade. Foi ainda relatado o vínculo, a escuta e o

diálogo com a vítima de violência como ferramenta importante para o desenvolvimento da

atenção às necessidades das mulheres. Outra prática de intervenção realizada pelos ACS são

os encaminhamentos a serviços de apoio como ao conselho tutelar, delegacias e psicólogas.

Além disso, identificou-se dentre os limites no enfrentamento da violência, a dificuldade que

os ACSs têm em reconhecer esse agravo como problema do setor saúde e, assim propor ações

de enfrentamento e preventivas na comunidade.

O estudo mostra que a forma como o fenômeno vem sendo abordado, não tem se

traduzido em práticas efetivas para o seu enfrentamento. Com isso, as ações dos ACS

direcionadas as mulheres em situação de violência, deveriam constituir-se em ações

51

potencializadoras da autonomia feminina, considerando a construção social de gênero como

determinante dos processos destrutivos na vida das mulheres.

Nesta perspectiva, o setor saúde ainda não incorporou a violência contra as mulheres

com o desafio de recriar, por exemplo, linguagens de gênero para a saúde. Ainda, não

consegue redimensionar o espaço da doença e das pessoas que adoecem “ou sofrem”, isto é,

de homens e mulheres que vivem suas histórias particulares em diferentes contextos e com

diferentes necessidades. Acredita-se que essas reconstituições de sujeitos e cenários poderiam

influenciar abordagens diferenciadas com linguagens bem como saberes novos e adequados

para orientar intervenções sustentadas na integralidade considerando a complexidade

multidisciplinar dos saberes e fazeres nesse âmbito.

Nessa direção, pensa-se que a capacitação dos ACS, pode ser um foco importante, pois

o reconhecimento desses agravos requer um elevado grau de suspeição e sensibilidade, para a

sua adequada detecção capaz de desnaturalizar situações, estimular e fornecer subsídios para o

agir. Considera-se, nesse contexto o papel relevante do profissional enfermeiro (a) enquanto

co-participante no processo de instrumentalização desses trabalhadores em saúde, como

também a co-responsabilidade de todos os profissionais de saúde no enfrentamento das várias

formas de violência.

Acredita-se que este estudo contribui na construção do conhecimento na área da saúde,

e especificamente, para a enfermagem, no sentido de propor e instigar os(as) enfermeiros(as)

criarem ações e estratégias voltadas a promoção e prevenção da violência nas unidades de

saúde, juntamente com os Agentes Comunitários de saúde, com a equipe e a comunidade,

dando visibilidade a situações de violência existentes, assim como, para as que possam surgir.

Além disso, menciona-se a necessidade de desenvolver um trabalho intersetorial e

articulação em redes de atenção, a fim de garantir a proteção integral das mulheres. Os

profissionais que atuam nos setores considerados básicos, como saúde, educação, assistência

social e justiça, têm a responsabilidade e o compromisso de atuarem como mediadores sociais

na busca de soluções tão prementes, como é a da violência sofrida pelas mulheres. Com isso,

a responsabilidade na prevenção necessita constituir-se do esforço de toda a comunidade, em

especial, dos serviços de saúde, por meio do desenvolvimento de políticas e ações que

objetivem uma intervenção consistente e positiva nos desencadeantes dos processos violentos.

Finaliza-se com a perspectiva de que está pesquisa possa sensibilizar os serviços de

saúde e os profissionais das equipes de ESF para o reconhecimento das situações de violência

contra as mulheres como um problema social e de saúde pública, sendo capazes de criarem

juntamente com suas equipes ações efetivas de prevenção e combate a todas as formas de

52

violência, assim como ações voltadas ao cuidado integral da mulher vítima de violência e sua

família. Nesse sentido, Minayo (2006, p.122) menciona que “o setor saúde, além da tradição

de prevenção, tem a ótica do cuidado como ethos, diferenciando da práxis da segurança, e

essa tradição do cuidado e da prevenção pode fazer toda a diferença”.

53

REFERÊNCIAS

AZAMBUJA, M.P.R; NOGUEIRA, C. Introdução à violência contra as mulheres como um

problema de direitos humanos e de Saúde Pública. Saúde e Sociedade. São Paulo. v.17, n.3,

p.101-112, 2008.

BALISTA, C. et al. Representações sociais dos adolescentes acerca da violência doméstica.

Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 06, n. 03, p. 350-357, dez. 2004. Disponível em:

<www.fen.ufg.br>. Acesso em: 12 maio 2009.

BRASIL. Lei Federal nº 10778. Dispõe sobre a notificação compulsória pelos profissionais de

saúde nos casos de violência contra a mulher. Diário Oficial da União, Brasília, 24 nov.

2003.

BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Resolução. Resolução nº 196 de 10 de Outubro de

1996. Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos,

1996.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Programa Agentes Comunitários de

Saúde (PACS). Brasília; 2001.

BRASIL. Ministério da Saúde. Política nacional de redução da morbimortalidade por

acidentes e violências: Portaria MS/GM nº737 de 16 de maio de 2001. Diário Oficial da

União, n. 96, Seção 1, p. 64, 2002.

BRASIL. Ministério da Saúde. Norma técnica de prevenção e tratamento dos agravos

resultantes de violência sexual contra mulheres e adolescentes. Brasília: Ministério da

Saúde; 2002.

BRASIL. Atenção Básica e a Saúde da Família. Ministério da Saúde. 2004. Disponível em

<http://dtr2004.saude.gov.br/dab/atencaobasica.php>. Acesso em: 12 agosto 2009.

BRASIL. Secretária Especial de Políticas para as Mulheres – Presidência da República. Lei

Maria da Penha n 11. 34 de 7 de agosto de 2006. Coíbe a violência domestica e familiar

contra a mulher. Ministério da Saúde – Brasília, 2006.

54

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações

Programáticas Estratégicas. Atenção integral para mulheres e adolescentes em situação de

violência doméstica e sexual: matriz pedagógica para formação de redes / Ministério da

Saúde – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2006.

COCCO, M. Geração e Gênero na constituição de situações de vulnerabilidade aos

acidentes e violência entre jovens de Porto Alegre. 2007. 164f. Dissertação (Mestrado em

Enfermagem) - Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto

Alegre, 2007.

DESLANDES, S.F.; GOMES, R.; SILVA, C.M.F.P. Caracterização dos casos de violência

doméstica contra a mulher, atendidos em dois hospitais públicos do Rio de Janeiro. Caderno

de Saúde Publica, v.16, n.1, p. 129-37, 2000.

DINIZ, F.M.N. et al. Violência conjugal: vivências expressas em discursos masculinos.

Revista Escola de Enfermagem USP, v.37, n.2, p. 81-8, 2003.

DREZETT, J. Estudo de fatores relacionados com a violência sexual contra crianças,

adolescentes e mulheres adultas. 2000. Tese (Doutorado) - Centro de Referência da Saúde

da Mulher e de Nutrição, Alimentação e Desenvolvimento Infantil, São Paulo, 2000.

FERRAZ, L.; AERTS, D.R.G.C. O cotidiano de trabalho do agente comunitário de saúde no

PSF em Porto Alegre. Ciência e Saúde Coletiva, v.10, n.2, p. 347-355, 2005.

FERREIRA, V.S.C. et al. Processo de trabalho do agente comunitário de saúde e a

reestruturação produtiva. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.25, n.4, p. 898-906,

2009.

FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO. Pesquisas de opinião: a mulher brasileira nos espaços

público e privado. São Paulo, 2001. Disponível em:

<http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/>. Acesso em: 4 junho 2009.

GAWRYSZEWSKI, V.P.; KOIZUMI, M.S.; MELLO-JORGE, M.H.P de. As causas externas

no Brasil no ano 2000: comparando a mortalidade e a morbidade. Cad. Saúde Pública, Rio

de Janeiro, v. 20, n. 4, p.995-1003, jul./ago, 2004.

GOMES, N.P. et al. Compreendendo a violência doméstica a partir das categorias gênero e

geração. Acta Paulista de Enfermagem, v.20, n.4, p. 504-8, 2007.

55

GUIMARÂES, I. Violência de Gênero. In: Ministério da Saúde. Violência Faz Mal à Saúde.

LIMA, Cláudia Araújo de (Coord.) et al]. Série B. Textos Básicos de Saúde, 296 p – Brasília,

2004. Capitulo IX, p: 105-109.

HILDEBRAND, S.M.; SHIMIZU, H.E. Percepção do agente comunitário sobre o Programa

Família Saudável. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v.61, n.3, p.319-24, 2008.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – Ministério do Planejamento,

Orçamento e Gestão. Comunicação Social 03 de dezembro de 2007. Disponível em:

<www.ibge.gov.br/.../noticia_visualiza>. Acesso em: 25 agosto 2009.

IMPERATORI, G.; LOPES, M.J.M. Estratégias de Intervenção na Morbidade por Causas

Externas: como atuam agentes comunitários de saúde? Saúde Soc. São Paulo, v.18, n.1, p.

83-94, 2009.

JARDIM, T.A; LANCMAN, S. Aspectos subjetivos do morar e trabalhar na mesma

comunidade: a realidade vivenciada pelo agente comunitário de saúde. Revista Interface -

Comunicação Saúde Educação, v.13, n.28, p. 123-35, 2009.

KISS, L.B.; SCHRAIBER, L.B.; D’OLIVEIRA, A.F.P.L. Possibilidades de uma rede

intersetorial de atendimento a mulheres em situação de violência. Revista Interface -

Comunicação Saúde Educação, v.11, n.23, p.485-501, set/dez 2007.

LEAL, S.M.C. Violência como objeto da assistência em um hospital de trauma: o “olhar”

da enfermagem. 2003. 164f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) - Escola de

Enfermagem da Universidade Federal do Rio grande do Sul, Porto Alegre, 2003.

LETTIERE, M.; NAKANO, M.A.S.; RODRIGUES, D.T. Violência contra a mulher: a

visibilidade do problema para um grupo de profissionais da saúde. Rev Esc Enferm USP, v.

42, n. 3, p. 467-73, 2008.

LIMA, D.C.; BÜCHELE, F.; CLÍMACO, D.A. Homens, Gênero e Violência Contra a

Mulher. Saúde Soc. São Paulo, v.17, n.2, p. 69-81, 2008.

MARTINES, W.R.V.; CHAVES, E.C. Vulnerabilidade e sofrimento no trabalho do Agente

Comunitário de Saúde no Programa de Saúde da Família. Revista Escola de Enfermagem

USP, v.41, n.3, p. 426-33, 2007.

MENDES, C.H.F. Violência contra a mulher e políticas públicas no setor saúde In:

ALMEIDA, S.S. (Org.). Violência de Gênero e Políticas Públicas. Rio de Janeiro: Editora

UFRJ, 2007.

56

MINAYO, M.C.S. Violência como construção social – refletindo com os jovens. Violência

Urbana. In: Drama Social, Agenda Pública. 2ºed. FAPERJ, 2002, p.176.

MINAYO, M.C.S. O Desafio do Conhecimento: Pesquisa Qualitativa em Saúde. 3ª ed.

São Paulo: Hucitec, 2004.

MINAYO, M.C.S. Entrevistada: Cecília Minayo. Conasems, Brasília, DF, ano I, n. 4, p. 7-

13, 2004. Entrevistador: G. de Paula.

MINAYO, M.C.S. Violência e Saúde. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2006.

MINAYO, M.C.S. O Desafio do Conhecimento: Pesquisa Qualitativa em Saúde. 10ª ed.

São Paulo: Hucitec, 2007.

MINAYO, M.C.S. Violência: um problema para a saúde dos brasileiros. In: BRASIL.

Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Impacto da violência na saúde dos

brasileiros. Brasília, DF, 2005, p. 9-42.

MINAYO, M.C.S.; DESLANDES, S.F.D.R.; GOMES, R. Pesquisa Social Teoria, método e

criatividade. 25º edição. Editora Vozes, 2007, Petrópolis RJ: p. 64.

MOREIRA, S.N.T. et al. Violência física contra a mulher na perspectiva de profissionais de

saúde. Rev. Saúde Pública, v.42, n.6, p.1053-9, 2008.

NUNES, O.M. et al. O agente comunitário de saúde: a construção da identidade híbrida e

polifônica. Caderno de Saúde Pública, v.18, n.6, p. 1639- 46, 2002.

OLIVEIRA, R.A.; D’OLIVEIRA, L.P.F.A. Violência de gênero contra trabalhadoras de

enfermagem em hospital geral de São Paulo (SP). Revista Saúde Pública, v.42, n.5, p. 868-

76, 2008.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Relatório Mundial Sobre Violência e Saúde.

Genebra: OMS, 2002.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. WHO multi-country study on women’s health

and domestic violence against women: summary report of initial results on prevalence,

health outcomes and women’s responses. Genebra: OMS, 2005.

57

PENNA, L. H. G. A temática da violência contra a mulher na formação da enfermeira.

2005. 287f. Tese (Doutorado em Enfermagem) - Instituto Fernandes Figueira/Fundação

Oswaldo Cruz. Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher, Rio de

Janeiro, 2005.

POLIT, D.F.; BECK, C.T.; HUNGLER, B.P. Fundamentos de Pesquisa em Enfermagem:

métodos, avaliação e utilização. Trad. Ana Thorell. Porto Alegre: Artmed, 5ª edição, 2004.

ROTANIA, A.A. et al. Violência contra a mulher: o perigo mora da porta para dentro. Escola

Anna Nery Revista de Enfermagem, v.7, n.1, p.114-25, 2003.

SALGADO, G.H. Mulheres Agredidas: Um desafio para atenção básica de saúde. 2003.

Trabalho de Especialização em Saúde da Família - Escola de Enfermagem/Ministério da

Saúde/ESP-RS, 2003.

SALIBA, O. et al. Responsabilidade do profissional de saúde sobre a notificação de casos de

violência doméstica. Revista Saúde Pública, v.41, n.3, p. 472-7, 2007

SCHRAIBER, L.B. et al. Violência contra a mulher: estudo em uma unidade de atenção

primária à saúde. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v.36, n.4, p. 470-477, 2002.

SCHRAIBER, L.B.; D'OLIVEIRA, A.F.P.L. Violência contra mulheres: interfaces com a

saúde. Interface: comunicação, saúde, educação, v.3, p.11-26, 1999.

SARAH. Agressões por Arma de Fogo - Caracterização do Paciente. Disponível em:

<www.sarah.br/paginas/prevencao/po/PDF2008.../02_08_paf.pdf>. Acesso em: 25 agosto

2009.

SARAH – Centro de Pesquisas em Educação e Prevenção. Disponível em:

<www.sarah.br/paginas/prevencao/po/airbags.pdf>. Acesso em: 25 agosto 2009.

SILVA, I.V. Violência contra mulheres: a experiência de usuárias de um serviço de urgência e

emergência de Salvador, Bahia, Brasil. Caderno de Saúde Coletiva, v.19, n.2, p.263-72,

2003.

SILVA, J.A da.; DALMASO, A.S.W. O agente comunitário de saúde e suas atribuições: os

desafios para os processos de formação de recursos humanos em saúde. Interface -

Comunicação, Saúde, Educação. Botucatu, (SP), v.6, n.10, p. 75-96, 2002.

58

SOUZA, M.K.B.; SANTANA, J.S.S. Concepções de Enfermeiros Gestores Municipais de

Saúde sobre a Violência. Revista de Enfermagem UERJ, Rio de Janeiro, v.15, n.1, p. 94-9,

2007.

59

________________________________

APÊNDICES

60

APÊNDICE A - ROTEIRO DA ENTREVISTA COM OS AGENTES

COMUNITÁRIOS DE SAÚDE

1 Dados Sócio-Demográficos:

1. Idade: _________________

2. Sexo: ( ) masculino ( ) feminino

3. Raça: __________________

4. Estado Civil: ( ) Casada (o) ( ) separada(o) ( ) União estável

( ) Viúva (o) ( ) Solteira

5. Escolaridade:

( ) Primeiro grau incompleto ( ) Segundo grau completo

( ) Primeiro grau completo ( ) Superior completo

( ) Segundo grau incompleto ( ) Superior incompleto

6. Ocupações anteriores: ___________________________________________

7. Quanto tempo você atua como ACS: _______________________________

8. Tempo de moradia no local de atuação: _____________________________

9. Número de famílias que atende: ___________________________________

10. Área de atuação: ( ) urbana ( ) rural

2 Questões Norteadoras:

1. O que você entende por violência?

2. Como você conceitua a violência contra mulher?

3. Você tem conhecimento de quais são as formas (tipos) de violência contra mulheres

existentes? Comente?

4. No cotidiano de trabalho já vivenciou situações de violência contra mulher? Relate este

acontecimento? Qual foi a sua conduta.

5. Existe alguma forma de registro nos serviços de saúde para os casos de violência contra

mulher?

6. Você acha que a comunidade em que você atua é afetada constantemente por situações

de violência contra mulher? Por quê?

7. Para você, quais são as dificuldades e facilidades para identificar, atuar e prevenir a

violência contra a mulher?

8. Quais as estratégias, ações realizadas na comunidade para o enfretamento da violência?

O que a atenção básica realiza na comunidade?

9. Você gostaria de comentar ou falar mais alguma coisa referente à temática?

61

APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E

ESCLARECIDO

Instituição/Departamento: Universidade Federal de Santa Maria / Centro de Educação

Superior Norte do RS – CESNORS / Departamento de Enfermagem. Pesquisador

responsável: Marta Cocco

Endereço: Avenida Independência, nº3751 - Bairro Vista Alegre

CEP 98300-000 - Palmeira das Missões - RS

Telefone para contato: (0XX)55 3742-2081

Título do estudo: VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: conhecendo como os agentes

comunitários de saúde conceituam, atuam e elaboram estratégias de enfretamento.

Local da coleta de dados: Equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF) do Município de

Santa Rosa/RS.

Prezada Senhora:

Você está sendo convidada a responder às perguntas desta entrevista de forma

totalmente voluntária.

Antes de concordar em participar desta pesquisa e responder esta entrevista, é muito

importante que você compreenda as informações e instruções contidas neste

documento.

Os pesquisadores deverão responder todas as suas dúvidas antes que você se decida a

participar.

Você tem o direito de desistir de participar da pesquisa a qualquer momento, sem

nenhuma penalidade e sem perder os benefícios aos quais tenha direito.

Objetivo do estudo: Conhecer e compreender como os Agentes Comunitários de Saúde

conceituam, atuam e elaboram estratégias de enfrentamento da violência contra a mulher, nas

ESF do município de Santa Rosa/RS.

Procedimentos. Sua participação consiste em responder a uma entrevista, que contém

questões abertas e fechadas de ordem pessoal, a qual será gravada em formato digital (MP3) e

imediatamente transcrita, a fim de garantir a total veracidade das informações. Os dados

coletados permanecerão armazenados durante cinco anos no Departamento de

Enfermagem/UFSM, sob responsabilidade da pesquisadora, e após esse período serão

destruídos.

62

Benefícios. Esta pesquisa trará maior conhecimento sobre o tema abordado, contribuindo para

a construção de conhecimento teórico, reflexões e decisões para a melhoria do cuidado

prestado às mulheres em situação de violência. Também poderá favorecer a criação de

espaços de escuta e a possibilidade de incluir abordagens de prevenção de doenças e

promoção da saúde. Esta pesquisa traz aos Agentes Comunitários de Saúde o conhecimento

para prática da promoção e prevenção da violência contra a mulher, permitindo maior

conhecimento a respeito dos direitos das mulheres como cidadã, assim como a melhor

maneira de orientar a mulher nesta situação de violência.

Riscos e Desconforto. A sua participação nesse estudo, a princípio, não representará risco de

ordem física, mas poderá mobilizar alguns sentimentos por lembrar de situações que

envolvam o cuidado no cotidiano do trabalho.

Sigilo. As informações fornecidas por você terão a sua privacidade garantida pelos

pesquisadores responsáveis. Os sujeitos da pesquisa não serão identificados em nenhum

momento, mesmo quando os resultados desta pesquisa forem divulgados. Caso você tenha

alguma dúvida que não tenha sido esclarecida, por gentileza entre em contato com a

pesquisadora responsável pelo telefone acima citado.

Ciente e de acordo com o que foi anteriormente exposto, eu ______________, estou de

acordo em participar desta pesquisa, assinando este consentimento em duas vias, ficando com

a posse de uma delas.

Palmeira das Missões, ___ de ____________ de ______.

_______________________________________

Assinatura do sujeito da pesquisa

Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido

deste sujeito de pesquisa ou representante legal para a participação neste estudo.

Palmeira das Missões, ___ de _____________ de _____

_______________________________

Assinatura do responsável pelo estudo

Comitê de Ética em Pesquisa

Avenida Roraima, 1000 - Prédio da Reitoria - 7o andar - Sala 702

Cidade Universitária - Bairro Camobi 97105-900 - Santa Maria - RS

Tel.: (55)32209362 - e-mail: [email protected]

63

________________________________

ANEXOS

65

ANEXO A – CARTA DE APROVAÇÃO

66

ANEXO B - NORMAS DA REVISTA

Periódicos – Revista Latino-Americana de Enfermagem:

- título (conciso, porém informativo, excluindo localização geográfica da pesquisa e

abreviações), nos idiomas português, inglês e espanhol;

- nome do(s) autor (es) por extenso, indicando em nota de rodapé a categoria profissional, o

maior título universitário, nome do departamento e instituição aos quais o estudo deve ser

atribuído, endereço eletrônico, cidade, Estado e País;

- nome, o endereço de correio, e-mail, os números de telefone/fax do autor responsável por

qualquer correspondência sobre o manuscrito;

- também, inserir o nome de todos os autores no link inserir autores;

- fonte(s) de apoio na forma de financiamentos, equipamentos e fármacos, ou todos esses;

- agradecimentos - nome de colaboradores cuja contribuição não se enquadre nos critérios de

autoria, adotados pela RLAE, ou lista de autores que ultrapassaram os nomes indicados

abaixo do título:

- consultoria científica

- revisão crítica da proposta do estudo

- auxílio e/ou colaboração na coleta de dados

- assistência aos sujeitos da pesquisa

- revisão gramatical

- apoio técnico na pesquisa;

- vinculação do manuscrito a dissertações e teses (nesse caso, informar a instituição

responsável);

- o resumo deverá conter até 150 palavras, incluindo o objetivo da pesquisa, procedimentos

básicos (seleção dos sujeitos, métodos de observação e analíticos, principais resultados) e as

conclusões. Deverão ser destacadas as contribuições para o avanço do conhecimento na área

da enfermagem;

- incluir de 3 a 6 descritores que auxiliarão na indexação dos artigos - para determinação dos

descritores consultar o site http://decs.bvs.br// ou MESH - Medical Subject Headings

http://www.nlm.nih.gov/mesh/MBrowser.html

Arquivo do artigo

67

O arquivo do artigo também deverá apresentar, na primeira página, o título, o resumo e os

descritores, nessa sequência, nos idiomas português, inglês e espanhol.

Não utilizar abreviações no título e no resumo. Os termos por extenso, aos quais as

abreviações correspondem, devem preceder sua primeira utilização no texto, a menos que

sejam unidades de medidas padronizadas.

Documentação obrigatória

No ato da submissão dos manuscritos deverão ser anexados no sistema online os documentos:

- cópia da aprovação do Comitê de Ética ou Declaração de que a pesquisa não envolveu

sujeitos humanos;

- formulário individual de declarações, preenchido e assinado (download em

www.eerp.usp.br/rlae);

Ambos documentos deverão ser digitalizados em formato JPG, com tamanho máximo de

1Megabyte cada um.

- arquivo do checklist preenchido pelo autor responsável pela submissão (download em

www.eerp.usp.br/rlae).

Formatação obrigatória

- Papel A4 (210 x 297mm).

- Margens de 2,5cm em cada um dos lados.

- Letra Times New Roman 12.

- Espaçamento duplo em todo o arquivo.

- As tabelas devem estar inseridas no texto, numeradas consecutivamente com algarismos

arábicos, na ordem em que foram citadas no texto e não utilizar traços internos horizontais ou

verticais. Recomenda-se que o título seja breve e inclua apenas os dados imprescindíveis,

evitando-se que sejam muito longos, com dados dispersos e de valor não representativo. As

notas explicativas devem ser colocadas no rodapé das tabelas e não no cabeçalho ou título.

- Figuras (compreende os desenhos, gráficos, fotos etc.) devem ser desenhadas, elaboradas

e/ou fotografadas por profissionais, em preto e branco. Em caso de uso de fotos os sujeitos

não podem ser identificados ou então possuir permissão, por escrito, para fins de divulgação

científica. Devem ser numeradas consecutivamente com algarismos arábicos, na ordem em

que foram citadas no texto. Serão aceitas desde que não repitam dados contidos em tabelas.

Nas legendas das figuras, os símbolos, flechas, números, letras e outros sinais devem ser

identificados e seu significado esclarecido. As abreviações não padronizadas devem ser

68

explicadas em notas de rodapé, utilizando os seguintes símbolos, em sequência:

*,†,‡,§,||,,**,††,‡‡

- Ilustrações devem ser suficientemente claras para permitir sua reprodução em 7,2cm (largura

da coluna do texto) ou 15cm (largura da página). Para ilustrações extraídas de outros

trabalhos, previamente publicados, os autores devem providenciar permissão, por escrito, para

a reprodução das mesmas. Essas autorizações devem acompanhar os manuscritos submetidos

à publicação.

- Tabelas, figuras e ilustrações devem ser limitadas a 5, no conjunto. Utilize somente

abreviações padronizadas internacionalmente.

- Notas de rodapé: deverão ser indicadas por asteriscos, iniciadas a cada página e restritas ao

mínimo indispensável.

- O número máximo de páginas inclui o artigo completo, com os títulos, resumos e descritores

nos três idiomas, as ilustrações, gráficos, tabelas, fotos e referências.

- Artigos originais em até 17 páginas. Recomenda-se que o número de referências limite-se a

25. Sugere-se incluir aquelas estritamente pertinentes à problemática abordada e evitar a

inclusão de número excessivo de referências numa mesma citação.

- Artigos de revisão em até 20 páginas. Sugere-se incluir referências estritamente pertinentes à

problemática abordada e evitar a inclusão de número excessivo de referências numa mesma

citação.

- Cartas ao Editor, máximo de 1 página.

- Depoimentos dos sujeitos deverão ser apresentados em itálico, letra Times New Roman,

tamanho 10, na sequência do texto. Ex.: a sociedade está cada vez mais violenta (sujeito 1).

- Citações ipsis litteres usar apenas aspas, na sequência do texto.

- Referências - numerar as referências de forma consecutiva, de acordo com a ordem em que

forem mencionadas pela primeira vez no texto. Identificá-las no texto por números arábicos,

entre parênteses e sobrescrito, sem menção dos autores. A mesma regra aplica-se às tabelas e

legendas.

- Incluir contribuições sobre o tema do manuscrito já publicadas na RLAE.

- Quando se tratar de citação sequencial, separe os números por traço (ex.: 1-2); quando

intercalados use vírgula (ex.: 1,5,7).

A exatidão das referências é de responsabilidade dos autores.

Como citar os artigos publicados na Revista Latino-Americana de Enfermagem:

Os artigos publicados na RLAE devem ser citados preferencialmente no idioma inglês.