violÊncia contra a pessoa com deficiÊncia … · dia internacional da violÊncia contra a pessoa...

22
VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA COM DEFICIÊNCIA E IDOSA Lúcia Thomé Reinert Defensora Pública do Estado Defensora do Núcleo dos Direitos do Idoso e da Pessoa com Deficiência –NEDIPED Conselheira Estadual do Idoso Mestre em Direito Constitucional pela PUC/SP

Upload: dangkhanh

Post on 07-Oct-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • VIOLNCIA CONTRA A PESSOA COM

    DEFICINCIA E IDOSALcia Thom Reinert

    Defensora Pblica do Estado

    Defensora do Ncleo dos Direitos do Idoso e da Pessoa com Deficincia NEDIPED

    Conselheira Estadual do Idoso

    Mestre em Direito Constitucional pela PUC/SP

  • Violncia contra a Pessoa Idosa

    No Brasil, a populao de idosos registrou um aumento proporcional naltima dcada, passando de 9,1% do total em 1999 para 11,3% em 2009, dadosdivulgados pelo IBGE. Projees estatsticas da Organizao Mundial da Sade OMS aponta que o perodo de 1975 a 2025 ser a era do envelhecimento,a populao de idosos no pas crescer 16 vezes colocando o Brasil noranque da sexta populao idosa do mundo, ou seja, mais de 32 milhes depessoas com mais de 60 anos ou mais. O ritmo de crescimento tem sidosistemtico e consistente, esta tendncia se manter segundo PesquisaNacional por Amostra por Domiclio PNAD 2011.

    No Mdulo Disque Idoso do Disque 100 Direitos Humanos, da Secretaria deDireitos Humanos, de 2010 a 2012 a segunda causa de violncia maisdenunciada foi o abuso psicol- gico (59,3%) vindo depois apenas dasnegligncias (69,7%) (SDH, 2013).

  • DIA INTERNACIONAL DA VIOLNCIA CONTRA A PESSOA IDOSA

    Apesar de muitos indicadores positivos, paradoxalmente, a pessoa idosa vitima de varias formas de violncia. Esta violao dos direitos humanos levou a Organizao das Naes Unidas ONU e a Rede Internacional de Preveno Violncia Pessoa Idosa INPEA institurem o dia 15 de junho como o Dia Mundial de Conscientizao da Violncia Contra a Pessoa Idosa. Este fenmeno representa um grave problema de sade pblica no Brasil e no mundo. Este tipo de violncia acontece em todas as raas, classes sociais, religies, escolaridades, etnia e sexo. Estudos revelam que o idoso que sofre mais violncia , na sua maioria, do sexo feminino, solteira/viva, de 75 anos ou mais, baixa escolaridade e que apresenta alguma doena neurolgica, reumtica ou psquica (Manual para Atendimento s Vitimas de Violncia, 2009).

  • Preconceitos e a discriminao da pessoa idosa

    Sinnimo de doente

    Sinnimo de problema

  • Legislao Protetiva: Pessoa Idosa

    O Estatuto da Pessoa Idosa define e ressalta a violao de direitos como violncia contra a pessoa idosa no artigo 2 e 3 e determina sanes.(Lei n 10.741 de 1 de outubro de 2003)

    o artigo 19 do Estatuto do Idoso (Lei 10.741, de 01 de outubro de 2003) ressaltou a obrigatoriedade da notificao dos profissionais de sade, de instituies pblicas ou privadas, s autoridades sanitrias quando constatarem casos de suspeita ou confirmao de violncia contra pessoas idosas, bem como a sua comunicao aos seguintes rgos: Autoridade Policial; Ministrio Pblico; Conselho Municipal do Idoso; Conselho Estadual do Idoso; Conselho Nacional do Idoso.

  • Estatuto do Idoso : Proteo

    O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade fsica, psquica e moral, abrangendo a preservao da imagem, da identidade, da autonomia, de valores, ideias e crenas, dos espaos e dos objetos pessoais ( 2).

    dever de todos zelar pela dignidade do idoso, colocando-o a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatrio ou constrangedor ( 3).

  • O SILNCIO DA PESSOA IDOSA versus MAGNITUDE DO PROBLEMA

    Os nmeros de ocorrncia de violncia contra a pessoa idosa muitas vezes subnotificada, no revelando a magnitude do problema. Este tipo de violncia na maioria das vezes repetitivo e continuo causando grande sofrimento psquico como o medo e tenso, revelando doenas psicossomticas e podendo leva-lo a bito. Existe uma conspirao do silncio por parte da vitima. No fcil para o idoso quebrar este silncio, visto que a maioria dos casos acontece no mbito familiar e so praticados pelos seus companheiros, filhos, netos parentes prximos ou cuidador. A violncia algumas vezes revela ao idoso o sentimento de incapacidade de enfrentar o problema, levando-o a solido e ao isolamento e consequentemente a desenvolver um quadro depressivo grave.

  • ESTATUTO DO IDOSO

    A aprovao do Estatuto do Idoso, Lei N 10.741, de outubro de 2003 destina a regular os direitos assegurados s pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. No seu art. 4, determina que "nenhum idoso ser objeto de qualquer tipo de negligncia, discriminao, violncia, crueldade ou opresso e todo atentado aos seus direitos, por ao ou omisso, ser punido na forma da Lei". O lugar do idoso no Brasil foi redefinido atravs desse estatuto. A populao idosa foi inserida a esfera poltica, no mundo do trabalho, na produo da cultura e da vida social.

  • A invisibilidade da informao

    DIFICULDADE NA ORGANIZAO DOS DADOS OFICIAIS

    SO ESCASSOS OS DADOS OFICIAIS

    DIFULDADE PARA IDENTIFICAR PERFIS ESPECFICOS

    PRECONCEITO (risco de suprimir a cidadania da pessoa, dando mais valor a um relato familiar do que a prpria pessoa ex: seres infantilizados.

  • O vu da invisibilidade tambm atinge as Pessoas com Deficincia

    A partir de 2011- A Secretaria de Direitos Humanos da Presidncia da Repblica passu a compartilhar com outros entes pblicos os dados do servio do Disque 100 do Sistema Nacional de Agravos e Notificaes (SINAN), do Ministrio da Sade

    Em SP, foi criado o Programa Estadual de Preveno e combate da violncia contra pessoas com Deficincia (foi criado um Grupo de Trabalho para definio das principais estratgias do plano, contando com a participao de representantes da Defensoria Pblica e das secretarias estaduais da Educao, Sade, Justia e Cidadania, Desenvolvimento Social e Segurana Pblica)

    Temos em SP o Disque-Denncia Paulista

    A Secretaria de Segurana Pblica, (maio de 2014) implantou um campo pessoa com deficincia no Registro Digital de Ocorrncias (RDO). O resultado foi impactante: em trs meses, foram registrados mais de 4 mil boletins de ocorrncia envolvendo vtimas com deficincia no estado de So Paulo, ou seja, o equivalente a quase 40% do total de denncias notificadas em trs anos.

    Criao de delegacias especializadas: 1 Delegacia de Polcia da Pessoa com Deficincia

  • Proteo Internacional: A Conveno dos Direitos das Pessoas com Deficincia

    Incorporada em 2008 e ratificada com equivalncia de emenda constitucional (artigo 5, 3 da CF/88)

    artigo 16 que trata diretamente da Preveno contra a explorao, a violncia e o abuso, estabelecendo que: 1. Os Estados Parte devero tomar todas as medidas apropriadas de natureza legislativa, administrativa, social, educacional e outras para proteger as pessoas com deficincia, tanto dentro como fora do lar, contra todas as formas de explorao, violncia e abuso, incluindo aspectos de gnero. 2. Os Estados Parte devero tambm tomar todas as medidas apropriadas para prevenir todas as formas de explorao, violncia e abuso, assegurando, entre outras coisas, formas apropriadas de atendimento e apoio que levem em conta o gnero e a idade das pessoas com deficincia e de seus familiares e atendentes, inclusive mediante a proviso de informao e educao sobre a maneira de evitar, reconhecer e denunciar casos de explorao, violncia e abuso. Os Estados Parte devero assegurar que os servios de proteo levem em conta a idade, o gnero e a deficincia das pessoas. 3. A fim de prevenir a ocorrncia de quaisquer formas de explorao, violncia e abuso, os Estados Parte devero assegurar que todos os programas e instalaes destinados a atender pessoas com deficincia sejam efetivamente monitorados por autoridades independentes.

  • Artigo 16 da Conveno

    4. Os Estados Parte devero tomar todas as medidas apropriadas para promover a recuperao fsica, cognitiva e psicolgica, inclusive mediante a proviso de servios de proteo, a reabilitao e a reinsero social de pessoas com deficincia que forem vtimas de qualquer forma de explorao, violncia ou abuso. Tal recuperao e reinsero devero ocorrer em ambientes que promovam a sade, o bem-estar, o auto respeito, a dignidade e a autonomia da pessoa e levem em considerao as necessidades de gnero e idade. 5. Os Estados Parte devero adotar efetivas leis e polticas, inclusive legislao e polticas voltadas para mulheres e crianas, a fim de assegurar que os casos de explorao, violncia e abuso.

  • Legislao protetiva: Pessoa com Deficincia

    O Decreto federal n 7.037/2010, Programa Nacional de Direitos Humanos PNDH3, expe que o Programa ser implementado de acordo com eixos orientadores, entre eles Segurana Pblica, Acesso Justia e Combate Violncia.

    O Decreto estadual n 42.209/ 1997 institui o Programa Estadual de Direitos Humanos, consubstanciado em propostas de aes que tambm visam a proteo e a defesa dos direitos das pessoas com deficincia.

    O Cdigo Penal, em sua Parte Especial, prev acrscimos s penas em ocasio de atos contra pessoas com deficincia.

    Em nvel estadual, cabe destacar a Lei N 12.907, de 15 de abril de 2008, que consolida a legislao relativa pessoa com deficincia no Estado de So Paulo; e a Portaria DGP-56, de 29 de novembro de 2010, que estabelece normas gerais para garantia de acessibilidade e de atendimento prioritrio e especial s pessoas com deficincia ou com mobilidade reduzida nas unidades da Polcia Civil de So Paulo.

    Por fim, o Decreto n 59.316, de 21 de julho de 2013 do Governo do Estado de So Paulo, que Institui o Programa Estadual de Preveno e Combate da Violncia contra Pessoas com Deficincia e d outras providncias, apresentando o conjunto de propostas consensuais entre todos os participantes. contra pessoas com deficincia sejam identificados, investigados e, se couber, processados

  • Definio da Violncia

    No h um conceito unvoco

    Violncia como violao de direito humano fundamental

    Organizao Mundial da Sade (OMS) o uso intencional da fora fsica ou do poder, real ou em ameaa, contra si prprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em leso, morte, dano psicolgico, deficincia de desenvolvimento ou privao (OMS, 2002).

    Conceito alargado possibilita inclusive ameaas e intimidaes, casos de negligncia ou atos de omisso

    A vulnerabilidade no entendida como caracterstica, mas como tratamento.

    E mais, a violncia como fenmeno social, nela compreendida a violao visvel e a invisvel (sofrimento, desesperana, depresso,medo)

  • Definio de Violncia pelo Estatuto do Idoso

    Violncia contra o idoso qualquer ao ou omisso praticada em local pblico ou privado que lhe cause morte, dano ou sofrimento fsico ou psicolgico (Estatuto do Idoso, cap.IV, art.19, 1).

    Os casos de suspeita ou confirmao de violncia, praticados contra idosos, sero objeto de notificao compulsria pelos servios de sade pblicos ou privados autoridade sanitria, bem como sero obrigatoriamente comunicados por eles a quaisquer dos seguintes rgos: autoridade policial; ministrio pblico; conselho municipal do idoso, conselho estadual do idoso; conselho nacional do idoso (art.19 do Estatuto do Idoso).

  • Formas de Violncia:

    Violncia Psicolgica (menosprezo, de desprezo e de preconceito e discriminao que trazem como consequncia tristeza, isolamento, solido, sofrimento mental e, frequentemente, depresso) ex: voc j no serve para nada; voc j deveria ter morrido mesmo; voc s d trabalho. Pode ocorrer por palavras ou por meio de atitudes e atos. MUITAS VEZES A PESSOA SENTE, ainda que NO tenha sido dito.

    Violncia Fsica (empurres, belisces, tapas, ou por outros meios mais letais como agresses com cintos, objetos caseiros, armas brancas e armas de fogo)

    Violncia Sexual (ex: para que eles no namorem ou no tenham relaes sexuais, beijos forados) Cuidar residncias geritricas.

  • Formas de Violncia

    Negligncia (Refere-se a recusa ou omisso de cuidados devidos e necessrios a pessoa idosa, se manifesta frequentemente junto com outras formas de violncia) ex: desleixo e falta de cuidado, inclusive em rgo pblico, inoperncia dos rgos de vigilncia sanitria em relao a abrigos e clnicas, falta ou precariedade de assistncia sade, existncia de pisos escorregadios, de escadas sem corrimo, de banheiros sem proteo para que possam se sentar e se levantar com segurana) ex: criam clnicas como negcio.

    Abuso financeiro e econmico (explorao imprpria ou ilegal ou ao uso no consentido de recursos financeiros e patrimoniais)

    Autonegligncia (conduta da pessoa idosa que ameaa sua prpria sade ou segurana)

  • Formas de Violncia:

    Abandono (ausncia ou desero de prestar socorro a uma pessoa que precisa de proteo, retir-la da sua casa contra sua vontade; trocar seu lugar na residncia a favor dos mais jovens, como por exemplo, coloc-la num quartinho nos fundos da casa privando-a do convvio com outros membros da famlia e das relaes familiares; conduzi-la a uma instituio de longa permanncia contra a sua vontade, para se livrar da sua presena na casa, deixando a essas entidades o domnio sobre sua vida, sua vontade, sua sade e seu direito de ir e vir; deix-la sem assistncia quando dela necessita, permitindo que passe fome, se desidrate e seja privada de medicamentos e outras necessidades bsicas, antecipando sua imobilidade, aniquilando sua personalidade ou promovendo seu lento adoecimento e morte)

  • Formas de Violncia

    Institucional (longas filas de espera para consultas e exames, marcados com intervalos de meses, quando o estado de sade da pessoa idosa vai piorando e se degradando pela falta de ateno devida, o INSS, seja pela demora na concesso dos benefcios seja pelo descaso e indiferena com que tratada nos postos) H IMPESSOALIDADE NO TRATO NA PRESTAO DOS SERVIOS

    A famosa utilizao indevida do carto de benefcio da pessoa idosa que tem algum tipo de senilidade ou dependncia, sobretudo quando ela vive sozinha, deixando-a mngua e passando necessidades.

    Violncia Intrafamiliar- a maioria da violncia invisvel ( culpa, vergonha, medo de retaliao

  • OBJETIVOS

    Buscar o empoderamento da pessoa idosa/pessoa com deficincia

    Evitar que as formas de violncia contra a pessoa idosa sejam banalizadas

    Estruturar uma ao pblica/poltica pblica multidisciplinar para o enfrentamento da violncia

    Necessidade de um olhar especfico

    Perspectiva Intersetorial(no somente pela conjuno de foras, mas tambm pelo intercmbio de experincias e conhecimentos, contribuindo para formar uma viso mais rica e complexa das realidades sobres as quais atuam)

    Capacitao dos profissionais, elaborao de cartilhas, etc.

    Fortalecer o vnculo entre a pessoa com deficincia/idoso e o ncleo familiar (ex: dificuldade financeira, stress da relao, dependncia, etc)

    Efetivar a Constituio Federal, Estatutos, Tratados Internacionais e legislao especfica.

    Criao de Polticas de Preveno e Enfrentamento

  • Objetivos

    Investir numa sociedade plural com a participao da pessoa idosa e com deficincia

    Priorizar os direitos das pessoas vulnerveis

    Prevenir dependncias e buscar a criao de espaos sociais seguros

    Fortalecer o olhar sensvel e atento dos profissionais, cuidadores e familiares

    Ouvir e acolher a pessoa vulnervel ( h uma tendncia em se calarem, sofrimento e isolamento para que os outros no tomem conhecimento da violncia, prejuzo da sade e qualidade de vida)

  • Fonte de Referncia

    BRASIL, Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidncia da Repblica -Coordenadoria Nacional para Integrao da Pessoa Portadora de Deficincia. A Conveno sobre Direitos das Pessoas com Deficincia Comentada. Coordenao de Ana Paula Crosara Resende e Flavia Maria de Paiva Vital. Braslia, 2008.

    ORGANIZAO DAS NAES UNIDAS [ONU]. Dados do Centro Regional de Informao das Naes Unidas disponveis em www.unric.org, acesso em julho 2017.

    SO PAULO (Estado). Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficincia.RelatrioMundial sobre a Deficincia. So Paulo: SEDPcD, 2012.Disponvelem:.

    Brasil. Secretaria de Direitos Humanos da Presidncia da Repblica. Brasil: manualde enfrentamento violncia contra a pessoa idosa. possvel prevenir. necessrio superar. / Secretaria de Direitos Humanos da Presidncia da Repblica;Texto de Maria Ceclia de Souza Minayo. Braslia, DF: Secretaria de DireitosHumanos da Presidncia da Repblica, 2014