Vindo de terras geladas em uma viagem de quinze horas de aviao, um casal de ursos-polares e uma das estrelas da nova area de 6000 metros quadrados que o Aqudrio de Sao Paulo, na Zona Sul, deve inaugurar na quinta (1 6), depois de um investimento de 15 milhdes de reais Carolina Giovanelli

E m dezembro, urn casal de ursos nascido na gClida Moscou em- barcou rumo ao verb brasileiro. Foram quinze horas de viagenl ate o Aeroporlo de Guarulhos. Um veteriniirio e um bi6logo es- trangeiros acompanharam o per-

curso. realizado a bordo de um avib de carga. 0 s animais vieram em comparti- mentos separados e climatizados. Che- gando aqui, os bichos. que somam 730 quilos, foram transponados de caminh3o ate o bairro do Ipiranga. As caixas em que estavam f'oram nlovidas por urn p in- daste acoplado ao veiculo e levadas em um carrinho ate um recinto de 1 500 me- tros quadrados tambem climatizado. A nova casa de Aurora e Perepino. de 4 e 5 anos, respectivamente, possui temperatu- ra m&ia de 15 graus (podendo atingir -5) e uma grande piscina.

0 public0 podera acompanhar a rotina deles a partir de quinta (16), data previs- ta para a abermra da nova ala do A q u ~ o de S3o Pado, com quase o dobro de sua Area anterior. 0 cndercqo da Zona Sul jh era o campe3o do g&nero no pais. Com 4.5 rnilhbes de litros de dgua. o local re- cebe cerca de 30000 visitantes por m&s e ostenta 3 000 exemplares de 300 esp& cies. 0 pacote de novidades conta com mais 36 moradores de sete tipos. Dedi- cados aos mamiferos, os recintos recem- consuuidos consumiranl um investimen- Lo de aproximadamente 15 milhbes de reais. Nos espaqos, alem dos bichos vin- dos da Russia, sera possivel observar animais inusitados por aqui. proyenien- tes de regioes como AustrAlia, Africa e Indonesia. a exemplo de ICmures, surica- 10s. cangurus e vombates ( w j n o quadro no lado). Veterinaries e bi6logos fizerain estiigio no exterior para aprender a lidar com a turma estrangeira.

N b foi moleza trazer animais 130 inusitados para a capital. 0 s ursos, por exemplo. habitavam um zool6gico na Russia sem espaqo suficiente para que vi- vessem de forma adequada. Ap6s dois anos de negociaq20. vieram para cA como parte de um projeto de presen 'a q- ao e re- produqb - por isso, o Aquario pagou apenas os 22 000 ddlares necessbios para o uansporte a fim de Was como atraq3o. A quest30 da reproduqrlo estA pratica- rnente resolvida. 0 casal copulou no m&s passado, e mostram-se altas as chances

de a Emea estar prenhe. Caso isso se confirme, o que deve acontecer nas pr6xi- mas semanas, existe unia niaternidade anexa pronta. Nessa fase, ela procura temperaturas mais baixas e chega a do- brar de peso. "E posstvel ter o animal que se quiser no pais. basta que seja pemiiti- do por lei, e clxo, e d x as condi@es ade- quadas para promover seu beni-estar", afinna Anael Fahel, dono do aquArio.

Em cativeiro, a dupla de grandalhiks come 43 quilos de alimentos por dia, en- ire carnes de boi, porco e (rango, peixes como sardinha e salmao, verduras. legu- mes, frutas como mela~icia e melrio, tri- go e prio de centeio. Eles devem arrancar suspiros dos frequentadores. graqas 2 aparencia graciosa e 2 mania de brincar feito crianps, mordendo piBes e bolas. Mas o jeito fofinho engana. Trata-se de carnivores ferozes. Na nalureza selva- gem, eles capm principahnente focas, quase sempre na Agua. onde se niostrani nadadores eximios.

Vindos da Oceania. seis cangurus adultos tCm potencial para rivalizar em ibopc com Aurora e Peregrine. Elcs pas- sam o lenipo saltitando em um cercado de tern batida. Hi! ainda dois recCm-nas- cidos que se acomodam na bolsa da m k , para 18 e para cd, prometendo atrair os flashes do pliblico. Espete tambem ver fi- lhotes paulistanos de outro g&nero, os su- ~icatos. Da AustrAlia, chegaranl sete. Ho- je, totalizarn treze, divididos em duas L'a- milias, separadas em recintos distintos. A maior pane dos aniniais desembarcou aqui no esquema de parceria com zoolb- gicos eswngeiros que possuem exceden- te de esp&ies e conseguem fazer conces- s&s. Em Iroca, quem os recebe ten1 de dar boas condip0es de vida a eles e n5o deve se configurar como dono. Por isso a qualquer moniento os bichos, em tese, podem voltar ao lax-original. Mas. na prA- tica, C algo basmte dificil de acontecer.

No exterior. o mercado de entreteni- mento com aniniais aqudticos e bem mais sofisticado que o do Brasil. Nos Es- tados Unidos. por exemplo, hi! o gigante Georgia Aquarium. coln 100000 criatu- ras marinhas. Fora de Srio Paulo. existem aquarios bacanas em Santos, Ubatuba e Guarujd. Mas a atraqao do lpiranga e a maior em la~nanho em compara@o com todas as outrds do pais. Alguns projetos

em andamento podem roubar scu lugar. Com inauguraqso prevista para o fin1 do ano, o AquaRio deve reunir 8000 exem- plares em uma Area de 22000 metros quadrados. Um empreendimento no Pan- tanal, em Mato Grosso do Sul. tem obras atrasadas. ao custo de pelo menos 105 milhises de reais. Em Fonaleza, o Acqua- rio Ocehico do Cearh, que esth com a construqao paralisada devido a imbro- glios governamentais, pronlete esbanjar 15 milh6es de litros de hgua.

Para n8o ficar para mas. o Aqu3rio de Siio Paulo redizou duas expans6es desde sua inauguraq80. em 2006. A atual C o terceiro projeto do tipo. 0 neg6cio come- SOU corn uma acanhada Area de Agua do- ce de 3000 metros quadrados. Em 2008, foi inaugurado um oceanArio. lar de oito lubarbec-lixa e de um tubarao-mangona. Um ano depois, surgiu por 13 uma ala es- pecial para os mamiferos aqu3ticos. Tor-

nou-sc o queridinho da Cpoca o peixc- boi, de 450 quilos. ameaqado de extinqso e vindo da AmuGnia. Um sucesso recen- te, responshvel por alavancar o publico do lugar. foram as sereias. Mqas vesti- das a carhter mergulham em um grande tanque e fazem a alegria das crianqas. Agora. corn a nova fase, o local fonalece a vocaqao para receber nao apenas ani- mah aquAticos. Isso j3 podia ser percebi- do em ra~rTo da presenqa de morcegos. cobras e uma preguiqa.

A cenografia da renovaqao do espaqo ficou aos cuidados do artista plastico Lee Oliveira. Logo na entrada, o visitante dh de card con1 algo similar a urn sagurio de aeroporto, que indica como destino aos frequentadores o pais de origem dos bi- chos. Parceiro do aquArio h9 uma d6cada. o profissional assina outros trabalhos por ali. como um passeio inspirado na era do gelo. Um carrinho passa pela replica ele-

tr6nica dc figuras do pcrlodo, con10 ma- mutes que se mexem. H3 chuva de espu- ma similar h neve e um trecho de paredes oscilantes. para dar a impressb de uma avalanche. Trata-se de uma das duas atra- q6es ainda ineditas para o publico corn custo alem do ingresso, a 10 reais. A ou- Ira C um cinema 1D. No caso dos locais reservados para os bichos, Oliveira diz ouvir especialistas antes de desenhar as criaqdes. "Converso com os bi6logos pa- ra saber as necessidades do arnbiente de cada animal e a partir disso penso em al- go atrativo". diz. No espaqo dos ursos. ele instalou piso liso, para lembrar o ge- lo, e colocou um submarino ccnogrdfico encalhado. Na Area dos morcegos. pen- sou em um aviiio catdo, corn o toque de ruinas. No setor da Africa. pintou temas baseados em uma aldeia indigena local.

Devido As obras recentes. os respon- sdveis pel0 AquArio aproveitaram para

elevar os preqos em aproximadamente 15% para crianps (o novo valor e de 40 reais) e 30% no caso de adultos (60 reais). Com isso, virou um programa ainda mais salgado para as famflias. A justificativa C que os custos de operaqao subiram mui~o com os ursos-polares e outros animais. A nova ala fez aumentar em quase 100% o numero de funciona- rios da empresa. Atualmente. a brigada possui cerca de 150 pessoas. Ajuda no bem-estar dos habitantes, por exemplo. o biblogo Rafael Gutierrez. supervisor de manejo de aquarismo. Munido de traje e equipamentos de mergulho. ele se aven- tura no ranque dos tubx6es. "Para pro- movermos o enriquecimento ambiental e a aproximaq90 com os profissionais. usamos bolhas, alpas e uma cortina de CDs que retlete a luz". explica.

0 dono do Aquario. o paulistano Anael Fahel. de 53 anos. comeqou a empreitada por acaso. Apds pequenos trabalhos, o empresario, que desistiu da faculdade de fisica. comeqou a ganhar dinheiro ainda jovem, vendendo pas- seios monitorados a turmas escolares a pontos como museus, parques e o Zoo- Ibgico. Fazia ligaqdes por meio de ore- lhbes no Terminal Jabaquara. A ativida- de foi dando certo e cresceu - chegou a seu pico com as apresentaqoes do Ho- liduy on Ice -. mas apareceram mui- tos concorrentes. Percebendo que seu trabalho poderia se tornar um negbcio, investiu. em 1997, dinheiro em um pla- netkio no lpiranga, no terreno de urn clube desativado.

A ideia do investimento no Aquario surgiu. ainda, pela falta de uma opq9o como essa na cidade. Aos poucos, foi ganhando espaqo no imdvel onde fun- cionava o planetaria, porque chamava mais pdblico, at6 que esse ultimo aca- bou, em 2008. Ha cinco anos, Fahel opera tambdm o parque Cidade da Crianqa, em S9o Bernardo do Campo. "E curioso. porque vim de uma familia pobre e n90 iamos mui~o a lugares de di- versaow, lembra. Criativo e exigente, ele investe agora na consuu@o de um zoo- logic~ coberto em Cotia. Deve levar pe- lo menos tri% anos para ficar pronto. "Quando ponho cm prhtica mcus planos. n9o penso IanIo no dinheiro, mas na adrenalinan, diz. "Para Cotia, planejo conseguir urn urso panda." rn

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