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Vinculada ao Curso de Letras: Licenciatura e Bacharelado e ao Programa de Mestrado em Letras
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Dorcelina Folador: Mulheres e suas Vozes na Construção do Projeto
Político Educacional
Adma Cristhina Salles de Oliveira1
UEMS/PG-UFRGS
Resumo: Este estudo discute e analisa alguns depoimentos dos sujeitos envolvidos com a construção e implantação do projeto político educacional, no município de Mundo Novo-MS entre 1997 a 2000, durante a gestão da líder política prefeita Dorcelina de Oliveira Folador. Nosso recorte para análise, está centrado nas narrativas relacionadas ao fazer da mulher na sociedade mundonovense, por meio do registro de suas memórias. A líder foi construída ao longo de uma trajetória, suas experiências a qualificaram para que fosse a mediadora entre os princípios do MST, do projeto político do PT na construção do projeto educacional. O projeto representou a concretização de uma identificação (HALL, 2003) cultural e emancipação educacional da mulher na sociedade mundonovense. A sociedade civil organizada, em diversos segmentos, foi liderada em sua grande maioria, por mulheres. A administração propiciou a conquista de um espaço político de um segmento social que estava à margem, pois o projeto educacional da população incluiu a educação da mulher que possuía autonomia não só nos argumentos, mas no âmbito das relações com o poder público, bem como acompanhava e influenciava as decisões do legislativo, infelizmente o projeto foi interrompido com o assassinato de Dorcelina Folador. Palavras - chave: Movimento de Mulheres, Identidade, Memória.
Introdução
O presente artigo tem como objetivo analisar alguns enunciados dos sujeitos
envolvidos com o projeto educacional, desenvolvido durante o processo de construção e
implantação do projeto político educacional do PT, no município de Mundo Novo, no período
de 1997 a 2000. O projeto foi forjado no seio dos movimentos sociais, identificava-se com os
princípios educacionais da “pedagogia do movimento”, do MST, (CALDART, 2004) que
visavam uma nova prática educacional com vistas à educação política e social da população.
Recortamos esse período de gestão por considerarmos que houve a construção de um
projeto político educacional no município de Mundo Novo, MS, fronteira entre Brasil e
Paraguai. Nosso recorte para análise neste artigo está centrado nas narrativas relacionadas ao
fazer da mulher na sociedade mundonovense, durante a gestão da prefeita Dorcelina de Oliveira
Folador.
1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Letras, Disciplina:
Seminário Avançado de Estudos Culturais, Profa. Dra. Rita Terezinha Schmidt.
Recebido até abril/2011, aprovado até maio/2001.
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Sua gestão foi inspirada na experiência de participação popular, durante administração
do Partido dos Trabalhadores (PT), em Porto Alegre. A prefeita administrou o município de
1997-2000. Dorcelina foi uma líder política construída ao longo de uma trajetória, mediante
participação em atividades na Igreja Católica, e militância no MST. Suas experiências a
qualificaram para que fosse a mediadora entre os princípios do MST, do projeto político do PT
na construção do projeto educacional, em sua gestão administrativa de Mundo Novo.
A administração propiciou a conquista de um espaço político de um segmento social
que estava à margem, pois o projeto educacional da população incluiu a educação da mulher.
Representou a concretização de uma identificação (HALL, 2003) cultural e emancipação
educacional da mulher na sociedade mundonovense.
Esta política educacional, centrada na participação social, teve como um dos
instrumentos de materialização o orçamento participativo (O.P), responsável pela elaboração,
implantação e execução dos projetos sociais. A sociedade civil organizada, em diversos
segmentos, foi liderada em sua grande maioria, por mulheres. Eram eleitas e faziam parte de um
conselho, que era composto com representação de diferentes segmentos da sociedade, possuía
autonomia não só nos argumentos, mas no âmbito das relações com o poder público, bem como
acompanhava e influenciava as decisões do legislativo. Nas palavras de Dorcelina:
O orçamento participativo é coisa séria, e você tem de estar preparado para perder poder, pois vai repartir poder, mas conquistará co-responsáveis na luta por uma boa administração. A gente diversifica com o que tem, pois temos que fazer o ‘milagre’ da multiplicação dos poucos recursos que o município tem. (fragmento de discurso proferido pela prefeita em 1997)
A proposta ousada, de construção coletiva de um projeto social, diante das imposições
de um contexto político histórico, foi o desafio para implantar o Orçamento Participativo, o
poder público e a sociedade civil precisavam mostrar que era possível ser sério, ser ético e
transparente na utilização dos recursos públicos, investidos em benefício da sociedade.
Consideramos importante destacar que o campo de investigação está circunscrito a
esta região fronteiriça, pois o projeto político educacional representou uma alternativa de gestão
do bem público. Para melhor situar essa representação, discutiremos ao longo do trabalho os
conceitos históricos de Estado e suas implicações na administração pública.
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Mundo Novo, MS, é um município lindeiro2, situado na divisa de MS com o PR. A
cidade abrigava na época, do recorte da pesquisa, conflitos entre acampados (sem-terras) e
latifundiários. Cabe ressaltar que os acampados eram grupos de trabalhadores da terra que
migraram dos estados vizinhos na crise de 70, brasiguaios e indígenas, povos expulsos de suas
terras, em decorrência do processo de colonização.
Em tal contexto, podemos entender as tensões do tecido social, que representavam um
quadro de diversidade, precariedade e exclusão social, principalmente das mulheres, agravado
no final da década de 70, por um processo histórico, econômico, político, cultural não só no
estado do Mato Grosso do Sul, mas em todo Brasil.
Metodologia
A partir da necessidade de considerar todos esses elementos, e do fato do projeto
educacional não ter sido registrado, a pesquisa utilizou-se de uma metodologia pautada na
transcrição dos relatos, que se subsidiou na história oral. Segundo Queiróz (2003), esta é capaz
de captar uma experiência individual e coletiva, procurando destacar os acontecimentos de um
período, ou como neste caso, a existência e efeito de um projeto político educacional
diferenciado em Mundo Novo.
No trabalho foram realizadas entrevistas com os sujeitos que participaram direta ou
indiretamente da construção do projeto político educacional. Neste artigo, selecionamos a voz
da coordenadora do programa bolsa-escola, a qual trabalhou diretamente com a proposta de
emancipação social, cultural e educacional das mulheres no município e no Estado. Também a
voz da diretora de uma escola, para ilustrar a questão da administração pública. Destacamos
quatro enunciados, um da diretora, e três da coordenadora, para representar o fazer educacional
na emancipação da mulher no município, infelizmente a proposta iniciada foi interrompida com
o assassinato de sua mentora, Dorcelina de Oliveira Folador.
Recorremos à história oral para registrar a memória dos sujeitos sociais que
participaram desta construção. Consideramos que a “memória é um fenômeno construído.”
(POLLAK 1989, 1992) Halbwachs (2004) entende a memória coletiva a partir de sua
dinâmica, pois esta se forma nas disputas políticas, religiosas, sociais, no processo de 2 Município lindeiro é a nomenclatura dada aos munípios que sofreram os impactos: sociais ,
econômicos e ambientais causados pela construção da usina hidrelétrica de Itaipu.
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construção de identidade do sujeito, com diferentes grupos sociais, nos quais idéias e
concepções entram em disputa. Assim, a memória individual constitui-se sob a
influência social, pois não é independente, ela é dialética.
De acordo com Bosi (2004), quando trabalhamos com a memória, utilizamos a
lembrança dos depoimentos individuais, que são fruto das relações: familiares, grupais,
escolares, da igreja. Estas lembranças compõem a memória pessoal e coletiva. Podemos afirmar,
portanto que:
... registrar a voz e, através dela, a vida e o pensamento de seres que já trabalharam por seus contemporâneos e por nós. Este registro alcança uma memória pessoal que, como se buscará mostrar, é também uma memória social, familiar e grupal. Desde sua concepção o trabalho situava-se, portanto, naquela fronteira em que se cruzam os modos de ser do indivíduo e de sua cultura: fronteira que é um dos temas centrais da psicologia social. (p.37)
A memória não é isenta na sua constituição, é um caleidoscópio, ela se transforma por
meio da experiência, do convívio. A partir da narrativa registrada, podemos observar como os
movimentos sociais influenciaram as organizações populares, na construção do projeto político
e educacional, como esta se deu no âmbito da coletividade, das memórias.
A produção de narrativas, no processo de interação entre História Oral – Memória, é permeada por sensibilidades trazidas pelo caráter dialógico, que se concretiza na arte da produção do conhecimento da e sobre a história de vida. (TUMA, 2007, p. 114)
Estas narrativas demonstram como a mulher foi protagonista e elemento chave na
materialização da formação política do município. Como foi importante a ampliação dos
investimentos, que foi essencial para a consolidação do projeto educacional, embora este não
tenha sido registrado, em um documento oficial, sua existência não pode ser negada, pois as
testemunhas desse processo nos falam nessa pesquisa. Nesse sentido, destacamos o conceito de
memória individual presente na constituição da memória coletiva. (HALBWACHS, 2004)
Para Halbwachs, cada memória individual é um ponto de vista sobre a memória coletiva. Nossos deslocamentos alteram esse ponto de vista: pertencer a novos grupos nos faz evocar lembranças significativas
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para este presente e sob a luz explicativa que convém à ação atual. (BOSI, 2001, p. 413).
Essa é uma das características da história oral, sua dinamicidade. Quando falamos de
história oral abrimos uma nova possibilidade de registro dos fatos, pois esta possibilita a
narrativa dos sentimentos, das emoções, do envolvimento ideológico, da subjetividade inerente
ao homem e a sua cultura. De acordo com Alberti (1990, apud SILVA, 1998, p.118), a história
oral é:
[...] um método de pesquisa (histórica, antropológica, sociológica, etc.) que privilegia a realização de entrevistas com pessoas que participam de, ou testemunharam acontecimentos, conjunturas, visões de mundo como forma de se aproximar do objeto de estudo [...] Trata-se de estudar acontecimentos históricos, instituições, grupos sociais, categorias profissionais, movimentos, etc., à luz de depoimentos de pessoas que deles participaram ou os testemunharam.
Cada narrador enriquece o relato de sua memória pessoal com detalhes, um mesmo
fato pode ter versões diferentes. Ainda como afirma Alberti (2004, p.42).
A subjetividade nestas narrativas pode adquirir objetividade ao se considerar a presença das considerações das representações que, aliadas aos fatos, permitem a interação e entrecruzamento do individual e o coletivo, do imediato com a tradição e do subjetivo com o objetivo, possibilitando melhor entendimento do passado sem a perda da dimensão da responsabilidade do pesquisador na interpretação da análise do material colhido.
Ao realizarmos as entrevistas semi estruturadas ficou evidente como é importante o
registro da memória, para valorizar a transformação do homem. A função da memória é
relembrar situações marcantes que representem o compromisso com as ações de transformação,
tanto com as mudanças singulares quanto com a valorização do ser humano em sua totalidade.
A história oral, do ponto de vista de quem relata, aproxima o sujeito do objeto, embora tenha
um grau de ingenuidade e singularidade, não podemos negar sua totalidade sintética.3 “Quando
o indivíduo vivencia e relata sua trajetória, se identifica a um grupo social do qual ele é
elemento constitutivo” (MARRE, 1991, p.128).
3 A idéia de que a totalidade só é formada por um conjunto de individualidades.
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Toda a história de vida encerra um conjunto de depoimentos. O termo foi muito cedo definido juridicamente, significando interrogações com a finalidade de estabelecer a verdade dos fatos. Perde, porém esta conotação nas ciências sociais, para significar algo que o informante efetivamente presenciou, experimentou,ou de alguma forma conheceu, podendo assim certificar. [...] Desta forma, nas ciências sociais, o depoimento perde sentido de estabelecimento da verdade para manifestar somente o que o informante presenciou e conheceu (QUEIRÓZ, 1991, P.7).
A coleta de informações ela se fez pelo registro das narrativas, por meio de um roteiro
de perguntas que visavam a condução dos diálogos, entrevistando os sujeitos envolvidos no
projeto.
Considerando a análise proposta no presente artigo, procuramos compreender o relato
e a análise da narrativa do fazer local de Mundo Novo, a partir da perspectiva do espaço cultural
no qual as mulheres atendidas pelo projeto estavam inseridas. Qual a identidade construída
naquele local? Para Hall (2003, p. 18) “A identidade se modifica de acordo com o modo como o
sujeito é tratado ou representado...” no caso do município houve a representatividade da
sociedade civil, nas decisões orçamentárias, pertinente ao poder público.
A mulher em um novo modelo de gestão
Homens e mulheres criaram uma estética corporal, uma linguagem neurolinguística
(GARDNER 2004), que se integraram na cultura brasileira, por receber influência dos diferentes
hábitos e costumes dos povos colonizados/colonizadores. Muitas vezes nos apropriamos de
estereótipos discursivos, com a valorização de uma cultura em detrimento de outra, nesta
relação de poder o sujeito se torna submisso, sofre a imposição do sentido ideológico.
De acordo com Pêcheux (1988 apud RODRIGUES, 2011), o sujeito e o sentido se
interrelacionam, estão entrelaçados codependentes um do outro, ou seja, o sujeito, o sentido, a
ideologia, são construídos de forma em que um explora e impõe uma forma de pensar e de agir.
Contudo o sujeito é historicamente construído, estamos imbricando a significação do trinômio:
sujeito - sentido – ideologia.
No caso da nossa pesquisa, observamos a relação deste trinômio por meio das
entrevistas, dos diálogos, dos envolvidos com a construção do projeto político educacional. Este
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processo de construção coloca em evidencia as dificuldades encontradas pelos sujeitos daquele
município, nas relações do interdiscurso e do intradiscurso. (PÊCHEAUX, 1975).
Exemplo disso é a narrativa coletada da diretora da escola; pois relata a construção do
projeto político pedagógico educacional. A diretora é uma das vozes que coparticiparam da
implantação do projeto, o fragmento esclarece e apresenta argumentos possibilitando a vazão
interpretativa:
[...] A nova forma de gestão responsabilizou a comunidade, por um projeto mais amplo a educação. Um dos diferenciais foi a derrubada dos muros, escola com grade e não com muro, permitindo maior visão do que poderia acontecer dentro e fora da periferia da escola. Facilitava a nossa visão, pois antes os traficantes aliciavam ou estavam aliciando nossos menores, ficavam escondidos atrás do muro, nós derrubamos o muro,[grifo nosso] e colocou-se um muro alegre e atrativo, grades em forma de lápis colorido, assim nós professores e a vizinhança, e toda a comunidade envolvida com a escola cuidava. Cuidava de algo estranho que poderia ocorrer perto da escola Carlos Chagas.
Ao situar a voz de uma das narradoras, a diretora da escola estamos materializando a
conquista da implantação do projeto, pois embora parecesse um projeto assistencialista, ele não
era, tinha cunho social, educacional. Os envolvidos com a construção do projeto político
educacional objetivavam ir além das paredes da escola, da sala de aula, como afirmou a diretora
da escola “derrubamos os muros da escola”. Estavam comprometidos com ações não apenas
pedagógicas, mas políticas, com a formação da consciência da cidadania, principalmente em
romper com o binarismo das desigualdades sociais e de gênero estabelecida entre homens e
mulheres no município na concepção ideológica. As memórias aqui destacadas demonstram esta
concepção e parte da história individual e coletiva.
Podemos interpretar que o sentido de “derrubar” traz em seu bojo um duplo significado,
existe uma metáfora inserida nesta afirmação que são exploradas, são interpretadas de acordo
com a pretensão do discurso. De acordo com o contexto inserido, literalmente excluíram o muro
da escola, mas esta exclusão tem um objetivo social de beneficio coletivo.
Ao citar esta afirmação “dos muros da escola”, estamos conotando que estes muros
representam a concepção de um novo modelo de gestão, uma administração participativa,
rompendo com o modelo de Estado oligárquico, onde a centralização do poder das decisões até
então conhecido, pertencia a um determinado grupo político, patriarcal e dominante.
Este rompimento significa uma estrutura diferenciada, onde a relação de poder e decisão
são compartilhadas por aqueles que estão à margem da sociedade, pela representatividade
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democrática da sociedade civil, homens e mulheres sem estruturas mínimas educacionais se
descobrem como administradores dos bens públicos, isto prova que a competência se conquista
com o fazer coletivo. As mulheres não só experimentam a responsabilidade decisória mas
evidencia-se neste momento o Estado participativo uma reversão do modelo de gestão.
Selecionamos o segundo fragmento, agora de outra narradora, coordenadora do
programa bolsa-escola, para análise da organização do movimento de mulheres, na participação
e conscientização destas mulheres no exercício da cidadania, e na ruptura com o modelo de
gestão vigente.
[...] Trabalhávamos por meio de reuniões mensais e quinzenais discutindo um assunto político, educacional polêmico da atualidade; [...]
A leitura do primeiro enunciado, tem sentido social, a ser construído, pela representação
da mulher neste contexto, a questão da temporalidade é imprescindível na formação da
consciência social e a autonomia da mulher. A instituição escolar como pilar e instrumento na
formação da consciência política desse sujeito sub julgado, ora pela condição social, ora por
questões econômicas.
A administração pública de Mundo Novo problematiza-se por ser polêmica e por
contrariar o modelo patriarcal até então executado. Apresenta também a condição trabalhista da
luta de classe, pela política da diferença, que está implícita muito mais nas questões culturais de
gênero do que na luta de classes, pois superar o binarismo da igualdade de direitos, entre
homens e mulheres, a fim de alcançar a autonomia e independência política é o grande desafio.
Mulheres que até pouco tempo não se preocupavam com situações políticas, com causas
de conquista do espaço feminino, viram-se a representar e se identificar como cidadãs.
Perceberam-se subjugadas a uma ideologia dominante, observaram que podem mudar esta
condição com a construção de um projeto político educacional, com a representação de uma
mulher na liderança da prefeitura municipal de Mundo Novo. É o caso das mães analfabetas que
frequentaram a escola, no combate ao analfabetismo. Exigência incondicional estendidos a
todos os contemplados e pertencentes ao programa bolsa escola.
Neste sentido, a participação na construção do projeto político educacional se faz a
partir da presença das mulheres nas instâncias de decisão. Por meio dessas narrativas,
compreendemos a reversão do conceito de gestão do aparelho ideológico do Estado, e como é
constituído o processo na construção das relações sociais e culturais. Entender qual a
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contribuição desse espaço social e estatal na formação do sujeito político historicamente
construído. Nossa intenção é perceber como a voz de uma liderança feminina consegue agregar
diferentes segmentos e lideranças de um espaço cultural oligárquico.
Ao analisar os discursos envolvidos no processo de construção e percebermos as
características destas narrativas, entendemos ser preciso uma análise na qual fundamentaremos
os conceitos de Estado, a fim de situarmos de que lugar estamos falando. Que características de
Estado tínhamos em Mundo Novo e que Estado democrático e participativo o município estava
construindo na época da pesquisa.
Façamos uma retrospectiva histórica para compreender a relação do Estado - Trabalho
- homens/mulheres, dentro da ética, dentro da temporalidade política. Este trinômio relativiza
hoje a busca de superação do binarismo (homem/mulher; Estado/trabalho) e nos põe no
paradoxo do que é ideológico, pois não há isenção diante das relações de poder, sempre há uma
ação política.
No começo do século XX Marx afirmava que a igualdade, a solidariedade e justiça
social seriam alcançadas por meio da luta de classes. A industrialização e a relação do binômio
homem e trabalho, que se configuravam neste contexto, exigiam a criação de um novo Estado
do homem omnilateral.
Na Idade Moderna, especificamente no séc. XV, o conceito de Estado incorporava
uma instituição de monopólio, sendo a única força a prestar serviços públicos. Segundo Cambi
(1999), o Estado, na Era Moderna, ocupa um espaço organizativo social que evidencia o
trabalho e o controle social, essa organização perdura até os dias atuais com poucas
modificações.
A aceleração dos modos de produção do capitalismo comercial e o desenvolvimento
do pensamento liberal produziram um novo conceito de Estado. O pensamento liberal do séc.
XVIII atendia aos anseios da burguesia (comerciantes e industriais). O conceito de Estado para
os teóricos liberais deste período, resguardadas suas singularidades, são distintos, pois Locke
definia o Estado como monarquia parlamentar, Hobbes defendia o Estado absolutista,
Montesquieu o poder do Estado limitado, Rousseau um Estado democrático e Hegel a
monarquia constitucional, em que o Estado seria o fundamento da sociedade, ele superaria a
contradição entre o público e o privado, pois a sociedade civil, lugar das atividades econômicas
é onde prevalecem os interesses privados, traz em si rivalidades que implicam nas necessidades
de soberania do Estado.4 Neste conceito de Estado, a leitura sempre é ocidentalizada, a
4 Para maior aprofundamento ver Bobbio (1999, p.55)
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racionalidade cartesiana e linear está presente na contemplação da literatura, da pintura, enfim
nas artes (BOBBIO, 1999). Segundo Bruno:
Nas fases iniciais do capitalismo, o Estado Nacional era a instituição de poder central, era ele o coordenador das atividades, das unidades econômicas, mediando suas disputas, definindo e garantindo prioridades de investimentos e garantindo a existência de condições gerais de produção tanto materiais, quanto sociais e políticas. Dada a importância desse aparelho de poder era essencial nesse período que o acesso a ele ficasse restrito às classes capitalistas, que detinham o direito exclusivo do sufrágio e da elegibilidade essa situação prosseguiu até fins do século XIX e as primeiras décadas do século XX. (2001, p. 12)
Na Era Contemporânea, o conceito de Estado sofre influências do contexto histórico, e
foi definido por diferentes teóricos, com diferentes posicionamentos: O filósofo alemão Engels
(s/d), na obra A origem da família, da propriedade privada e do Estado, definia Estado como a
forma de manutenção e de dominação de uma classe sobre a outra. Para ele, a propriedade
privada e a divisão do trabalho provocaram a divisão da sociedade em classes, nascendo o poder
político, dando origem ao Estado. Nesta obra, o teórico discute o papel da mulher, observando
que o capital a vê como propriedade, isto é, ela é considerada propriedade privada do marido,
propõe a superação do modelo de família vigente.
Segundo Karl Marx, o Estado é o reflexo das contradições da sociedade civil, defende
interesses da classe dominante, garantindo a manutenção da dominação de uma sobre a outra,
negando a teoria de Hegel. A superação desta dominação só terminaria com a revolução da
classe trabalhadora que levaria ao fim a instituição do Estado. (BOBBIO, 1999, p.59)
Para Gramsci existem duas esferas de Estado; a esfera civil e a esfera política, que
contam tanto com hegemonia quanto pelo consenso é o que ele chama de superestrutura.
(COUTINHO, 1987, p.65)
Embora pertençam a uma mesma ideologia política, existe uma grande diferença entre
Marx e Gramsci. Se para o primeiro o Estado é um aparelho coercitivo, para Gramsci o Estado
não é algo impermeável às lutas de classe, mas é atravessado por elas. Gramsci vive outra
situação histórica, ele leva em conta a crise do Estado liberal e o fortalecimento do capitalismo
devido uma nova sociedade, grandes partidos de massas, e grandes sindicatos econômicos e se
diferencia na responsabilidade das instituições da relação do estado e a sociedade civil, ele
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escreve por meio de metáforas e avança na discussão dos aparelhos ideológicos, nos parece que
leva em consideração a questão cultural da sociedade civil.. (COUTINHO, 1987, p.65).
Segundo Simionato (2004, pg.72), Marx explicou o caráter de classe para o Estado,
Gramsci se preocupou em encontrar as mediações que estabelecem as dominações das relações
entre o Estado e a sociedade civil.
De acordo com Poulantzas (Apud FREITAS, 2003), o conceito de Estado permeia
as relações sociais, na busca do poder temos a possibilidade de romper com a hegemonia de
dominação. Os diferentes segmentos da sociedade utilizam-se das forças internas do aparelho do
Estado por meio da conquista das lutas políticas, buscando a representatividade, de forma
gradativa, conquistando a democracia representativa no exercício desta, com gestão
democrática. Para Poulantzas “O Estado não é uma torre de marfim”. (Apud FREITAS, 2003, p.
22), esta idéia é de comum acordo por Althusser, que o entende como o leque de representações
do mundo.
Para Mundo Novo, o O.P. (Orçamento Participativo) representou um instrumento de
luta, que contribuiria para a formação da consciência do homem livre e omnilateral, por meio da
participação popular, representaria um espaço de construção coletiva. Seu objetivo foi formar
cidadãos críticos, por meio de debates e discussões, nos quais o exercício de decisão
concretizava ações que beneficiariam as classes populares.
De acordo com Toneto, Gremaut e Vasconcelos (2007, p.111- 112) o orçamento
participativo é uma alternativa de administração dos recursos públicos:
Algumas experiências municipais mostram que é possível, com base em algumas instituições que estão sendo criadas, potencializar a eficiência da alocação e dos recursos e dos serviços municipais, de modo que estes possam atuar de forma mais eficaz no desenvolvimento econômico e social. Entre os programas e ações bem sucedidas pode-se destacar algumas experiências como o orçamento participativo, [...] .
A política neoliberal comandava a sociedade e controlava os gastos públicos. O
orçamento participativo representaria uma forma de resistir a hegemonia do projeto
neoliberal. Ele não era utópico, mas passível de se concretizar, a partir da reorganização
da sociedade civil e do Estado, por meio da participação popular.
O Orçamento Participativo estabeleceria o exercício da democracia diante de duas
instâncias na sociedade, uma ligada ao exercício da democracia representativa, a que temos
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hoje, na qual são eleitos os representantes do povo nos cargos executivo e legislativo, e a outra
na democracia participativa, que era a proposta defendida no O.P., de ampla participação da
sociedade nas decisões. De acordo com Avritzer (2003, p.14), há o estabelecimento de quatro
metas a serem alcançadas a partir das práticas democráticas:
1) cessão de soberania por quem detém o poder representativo local;
2) reintrodução de elementos de participação local (assembléias regionais, conselhos
etc.), combinando-se métodos de democracia participativa;
3) auto-regulação soberana, a partir da definição de regras e procedimentos pelos
participantes do OP;
4) reversão das prioridades de recursos públicos locais em prol das populações mais
carentes.
A participação da sociedade civil na gestão pública introduzia uma mudança
qualitativa, na medida em que inaugurava outra instância de poder, além do poder do Estado,
representado pela prefeitura e pela câmara dos vereadores. Configurava-se como direito de
autogestão, que pode ser alcançado por uma sociedade participativa para contribuir na formação
da cidadania e de sua qualidade de vida.
A presença da mulher no discurso local: a voz feminina nas relações de poder
Ao utilizarmos das narrativas como registro dos discursos, estamos percebendo a
questão do outro a partir de identificações e significados culturais. Implantadas no projeto
político, as relações de poder são constantemente deslocadas para margem, para as fronteiras do
que é lingüístico e do que é discursivo, explicando melhor podemos afirmar que há distinção
entre a língua e os processos discursivos principalmente do setor político.
Os processos são fontes dos efeitos do sentido no discurso e na língua. A relação
estabelecida entre ambos, discurso e língua, parece ser autônoma, mas isto é relativo, depende
da voz ideológica, do espaço que se ocupa, ou de onde se está falando. O que colabora com a
formação da identidade do sujeito, no caso de Mundo Novo, dependia da mobilização de todos
os segmentos da sociedade civil e do poder do Estado. A ideologia gramsciana se materializava
naquele fazer local, os segmentos representativos foram movidos pelas necessidades e
prioridades, que foram votadas democraticamente nos conselhos.
Em relação aos efeitos de sentido podemos destacar três aspectos das identidades
sociais e dos sujeitos: tipos de eu, por exemplo, um projeto que tinha uma mulher como
mentora e delegava políticas pontuais de emancipação feminina; segmento, relaciona-se à
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responsabilidade das mulheres em serem multiplicadoras ideológicas de um projeto
educacional; representativo, onde grande parte das representantes dos diferentes segmentos da
sociedade eram liderados por mulheres, representando a organização das mulheres.
Concordamos com Foucault quando este esclarece que o discurso colabora na
construção das relações sociais entre as pessoas, ele também contribui para a construção de
sistemas de conhecimento e crença. Existe neste bojo de sentido discursivo três funções em
relação a linguagem: relacional, identitárias, e ideacional. (HALLIDAY, 1976).
O teórico esclarece que as funções da linguagem, identitárias e ideacional são
interpessoais e que a dimensão do sentido se inter-relaciona em todo o discurso. Em se tratando
do contexto escolar, os discursos podem ser criativos, reprodutivos ou transformadores, estes
espaços fazem parte dos sistemas de conhecimento e de crença. A identidade dos professores e
dos alunos e as relações estão no centro da educação, pois são transformadoras quando há
durabilidade e perpetuação da fala no interior desse discurso, por isso é neste espaço que
devemos exercitar as vozes de denúncia, de conflitos e de contradição, de debates, muitas vezes
omitidas por intenção ideológica.
A partir da década de sessenta, no Brasil, começa uma nova configuração de
conquistas das mulheres, no campo político-ideológico e social, afinal os papéis sociais
exercidos por elas foram impostos ao longo do tempo. Estes, nunca antes discutidos,
despertaram nas mulheres a necessidade de argumentar em favor da organização das mulheres.
Auxiliaram na percepção do fazer inconsciente: que não colaborava para a identificação delas
como sujeito feminino; e como a tatuagem cultural, do modelo patriarcal, era forte no discurso
da família e nos valores defendidos por elas. Os papéis, no modelo tradicional, tinham a
desigualdade de responsabilidade, pois a ordem das conjunturas históricas, políticas e
ideológicas não estimulava a emancipação dos menos favorecidos.
Dentro do contexto de discussão de identificação da mulher, apresentamos os
enunciados proferidos pela coordenadora do programa bolsa-escola, relacionados a atuação
política, do projeto de emancipação da sociedade, junto às mães e mulheres que se beneficiaram
do projeto político educacional.
[...] Hoje vamos discutir a autoridade do pai, discutia só sobre a autoridade do pai na família, as mães falavam, falavam, falavam a gente orientava,... na outra reunião a gente ia discutir postura sexual da mulher. [...] [...] Discutia os mais variados assuntos, na outra reunião a sexualidade da menina, na outra a sexualidade do filho homem, como os pais
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podem lidar como namoro dos filhos a gente trabalhava a multidisciplinaridade, tudo isso a gente fazia (...)
A leitura do enunciado tem sentido social, é nítida a preocupação com a formação e
emancipação da consciência das mulheres, o programa bolsa-escola, reunia as mulheres
quinzenalmente, para o debate das questões pertinentes ao fazer na sociedade. A representação
da mulher neste contexto, a questão da temporalidade é imprescindível na formação da
consciência social e a autonomia da mulher. Podemos perceber como o sentido do discurso é
contundente e pragmático representando um compromisso social.
A afirmativa da discussão coletiva de todos os problemas que cercam a vida da mulher
no seio da família carrega, em seu sentido, a ação coletiva de engajamento político. Neste caso,
a construção desta identidade constitui-se a história desse grupo, das vozes do local da cultura,
no qual elas estão inseridas (BHABHA, 1998). A importância dessas vozes se dá pelo resgate da
memória do que elas foram, do que são.
Fundamentamos a autodeterminação desta identidade com o conceito de identidade de
Hall (2003, 18 e 19), o qual declara:
que a identidade se modifica de acordo com o modo como o sujeito é tratado ou representado, a identificação não é automática, mas pode ser ganha ou perdida. Ela tornou-se politizada. Isto é algumas vezes descrito como uma passagem política de identidade (de classe) para uma política da diferença.
Podemos entender que a representação deste conhecimento acerca de si e de seus
pares, só tem poder valorativo quando estiver inserido num contexto cultural, pois o que é
significativo para um determinado grupo social, pode não ser para outro. A construção desses
valores acontece por uma troca de via de mãos dupla, uma interpelando a outra, na rotina do
dia-a-dia, mediado pelas imposições das ordens sociais e culturais, pois conforme a narradora
“as mães falavam, falavam, falavam a gente orientava”.
As relações do trabalho são culturais, temos que reconhecer que buscar a
identidade cultural é respeitar a diferença do outro. É por meio da cultura que exercitamos a
ética e a cidadania, com tolerância diante da diversidade, das questões etnocêntricas. A prática
do debate no interior das reuniões do programa bolsa-escola propiciava essa formação cidadã às
mulheres, pois elas: “Discutia os mais variados assuntos”.
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A linguagem ocupa lugar de destaque tanto quanto o fator cultural, ela é observável,
sua importância se dá pela aplicabilidade dos métodos lingüísticos, por meio da análise
componencial (Keesing, 2009, p.59 a 61). O teórico define cultura como sistema cognitivo.
Lévi-Strauss (2009, p.61) define cultura como sistema simbólico, que é uma criação
cumulativa psíquica da mente humana, ou seja, na estruturação dos domínios culturais sua teoria
da unidade psíquica da humanidade estabelece uma condição de dependência, inconsciente
diante dos fenômenos sociais. Para ele somos receptáculos de dados “com” ou “sem” sentido,
isto depende do nosso compromisso social e das redes sociais a quem determinadas políticas
servem. No entanto, a polêmica sobre o conceito de cultura continua e a única certeza que temos
é que cultura significa compreender e respeitar a natureza humana. (LARAIA, 2009)
No caso de Mundo Novo, respeitava-se o conhecimento e leitura de mundo das
mulheres, pois as mesmas trocavam suas experiências, e a partir dos debates, eram
encaminhadas ações políticas, a gestão pública estava em comum acordo com o que era
decidido pelo grupo.
Retomamos as questões do modelo neoliberal que individualiza as relações, mas
dependendo da ideologia de quem participa dessas relações, possibilita a busca de meias
verdades, verdades estas que se tornam inteiras quando são colocadas em xeque nas relações
culturais, exemplo disso é a problemática da mulher.
A história mostra por meio dos estudos culturais em que se tratando de uma
política falocêntrica, privilegia a reprodução de um discurso dominante. Um exemplo é o
enunciado sobre o poder da autoridade paterna: “Hoje vamos discutir a autoridade do pai,
discutia só sobre a autoridade do pai na família, as mães falavam, falavam, falavam a gente
orientava...” O modelo patriarcal está reproduzido na fala das mulheres.
Podemos observar esta mesma reprodução na literatura, na política partidária, nas
lideranças sociais, pelas lutas: pelos direitos da mulher, pela liberdade da sexualidade feminina,
pela identificação de gênero. Existem registros literários, desde o sec. XIX, nos quais a voz
feminina aparece em algumas obras literárias, mas Scmith (1995), Navarro (1995) alertam que
são poucas e problemáticas as vozes do ser feminino que ocupam lugar de evidencia na escrita
literária, e por que não dizer, nos espaços políticos, assim como os relatos da identidade
feminina.
Em geral as mulheres reproduzem e carregam em seu discurso patriarcal estético, o
modelo machista, e andocêntrico, perpetuando a ideologia propriedade privada do“ser”
masculino, sobre o “ser” feminino. Confirmando psicanaliticamente o complexo edipiano de
Freud e Lacan.
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Schmidt (1997) destaca em seu artigo a obra de Virginia Woolf (A room of
one’sown, de 1929, trad. Um teto todo seu, Nova Fronteira,1985). Neste texto a pesquisadora
analisa que não foi construído, ao longo da história secular, o enfrentamento literário, o qual
estimula a mulher a ter uma posição estética, embora sempre houvesse esta posição. Mas
quando ocorriam publicações nas quais esta posição estética era evidenciada, as autoras foram
marginalizadas, inclusive pelas próprias mulheres, que não compreendem sua identidade.
A voz feminina fica subjugada e relegada a estigmas e estereótipos, colocada
sempre em segundo plano. A voz masculina, mesmo quando as mulheres escrevem, não
valoriza e nem evidencia a mulher livre. As conquistas históricas, políticas e culturais das
causas feministas, são histórias omitidas, elas não são contadas. Caso uma história trate desta
temática, será relegada, não terá o grau de destaque que merece. Os textos, as narrativas estão
sobre o olhar mais masculino do que feminino.
No final do séc. XIX o movimento feminista aparece no cenário mundial, inclusive
com escritoras na literatura, mas é no séc. XX com a segunda guerra mundial, que a mulher
assume outras práticas sociais e trabalhistas. Em meados da década de 50, 60 e 70 ela ganha
espaço político e social de destaque nas questões trabalhistas e sexuais. Apesar da luta pela
igualdade de direitos não se superam ainda as questões culturais do pensamento de propriedade
privada, segmentado culturalmente, embora houvesse avanços sociais.
Na contemporaneidade, as massas sociais conservadoras continuam enxergando a
relação entre homem e mulher dentro de patamares binários, de opressor e oprimido. Somos
cercadas pelas injustiças salariais, pela violência familiar e emocional, com uma carga de
deveres tanto quanto a dos homens. Os deveres das mulheres são praticamente os mesmos,
herdamos a sombra do triângulo edipiano, mas os direitos não são legitimados por pertencer a
uma hegemonia cultural, as conquistas continuam subjugadas à cultura de gênero.
A cultura é permeada por estas relações dos segmentos sociais, pelas: experiências,
memórias, valores, emoções, desejos, sentimentos que estão presentes nas narrativas e no
empreendimento da construção do projeto educacional. Ao freqüentar estas reuniões estas
mulheres vêem a necessidade de mudar a realidade, por meio de luta, de fases onde o tempo
pode ser um aliado, ou um inimigo, dependendo da escolha que fizerem. A realidade será
reinventada a partir de suas escolhas, pois seu referencial será o valor de sua representatividade.
A análise deste enunciado reafirma que a identidade dessas mulheres não é construída
apenas pela condição de serem mulheres, mas por estar dialeticamente, na representação
política, no exercício consciente da cidadania, independente da ideologia partidária.
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No fragmento “Hoje vamos discutir a autoridade do pai, discutia só sobre a autoridade
do pai na família, as mães falavam, falavam, falavam a gente orientava,... na outra reunião a
gente ia discutir postura sexual da mulher.” Podemos entender as relações de poder familiar a
partir da premissa tradicional, na qual o homem é considerado chefe da família, por prover o
orçamento da família, ficando a encargo da mulher a criação dos filhos e os afazeres
domésticos, determina-se dessa forma a ordem dos relacionamentos diários.
No entanto a mulher tem dupla jornada, pois trabalha dentro de casa e muitas vezes
fora também, constata-se neste caso a desigualdade de divisão de tarefas. A mulher possui
competência de atividades trabalhistas e não de direitos, parece que estamos vivendo a realidade
da modernidade, no final do sec.XIX e início do séc.XX.
Nas narrativas da experiência do município de Mundo Novo as vozes femininas
exerciam o ato de denúncia, com isso quebraram com o medo, o silêncio, no meio social. As
mulheres sabiam o quanto incomodavam a ordem do discurso político centralizador dos
políticos da época.
Para ilustrar essa afirmativa, temos a narrativa não transcrita neste artigo de um fato
acontecido durante uma sessão pública na câmara de vereadores. Uma mulher, mãe,
amamentando seu bebê, foi presa porque denunciou com palavras de ordem a corrupção e o
autoritarismo da câmara de vereadores. Essa sessão pública aconteceu um ano antes das eleições
de 1997. Foi exatamente a um ano antes da implantação do projeto educacional, a voz de uma
mulher se manifestou em relação a outras vozes femininas, na indignação da sociedade civil
mundonovense.
Uma semana após a prisão desta mãe, o movimento de mulheres apareceu na câmara.
As mulheres foram caracterizadas com roupas pretas, simbolizando o luto e amordaçadas,
ocupando boa parte da plenária. A cena foi impactante, embora não se ouvisse a voz das
mulheres, a linguagem do manifesto e de repúdio, estava presente. Nesse sentido, podemos
compreender que o movimento de ação política marca a passagem de uma nova ordem social, a
ordem do processo de aprendizagem.
Estas mulheres reelaboram esta aprendizagem quando percebem a que estão
subjugadas, pois enxergam as diferenças sociais representadas por elas mesmas na reprodução e
na manutenção do poder oligárquico daquela ordem autocrática. Este fato serve para ilustrar a
aprendizagem e a tomada de consciência política, as quais são constantes na convivência, na
construção e orientação do projeto político educacional.
Continuando nossa análise, destacamos o enunciado abaixo:
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[...] Discutia os mais variados assuntos, na outra reunião a sexualidade da menina, na outra a sexualidade do filho homem, como os pais podem lidar como namoro dos filhos a gente trabalhava a multidisciplinaridade, tudo isso a gente fazia [...]
No fragmento, a posição política e a postura sexual da mulher continuavam rompendo
paradigmas nas discussões, construindo o real. Mulher é ser sexualizado na busca do
interdiscurso e no intradiscurso, nesse caso, as mulheres dialogavam, socializando angústias e
afetividades, compartilhavam dúvidas sobre desejos e prazer sexual, sem tabus.
A narrativa elucida um discurso subjetivo que precisa ser compartilhado, pelo
interesse de gênero, o qual induz uma estética no sentido do discurso sexual. A sexualidade
representada pelo corpo traduz significado social de ocupação de espaço, feminino e político.
Ao discutirem postura sexual feminina, temas como desejo, formas de prazer, poder da mulher,
a liberdade em fazer as escolhas sexuais, na busca pela felicidade, as mulheres compreendiam
que os conceitos e tabus da imaginação acerca de si, nem sempre correspondiam ao imaginário
feminino. Sendo este o real que as constitui como mulheres livres. A discussão acerca do
imaginário facilitava as mediações de identidade, da formação da consciência política e do
poder de escolha sobre o próprio corpo.
A teórica Showalter (1985, apud. Zolin 2003), defende a autodescoberta, na busca de
identidade própria, nas obras literárias. Percebemos no discurso do fragmento não apenas a
preocupação de se descrever a estética corporal da mulher, mas sim em valorizar o Ser
MULHER em todas suas instâncias. Esta valoração foi independente da idade, do peso, de suas
formas, de suas experiências, há uma preocupação com o ser humano feminino, que embora
pareça frágil, possuí a ousadia do debate sobre a sexualidade.
O projeto propiciava a formação da mulher como sujeito do seu discurso, nesse
sentido, destacamos uma citação de Schmidt (1995, p.188), na qual esta afirma literalmente a
posição da mulher como sujeito “(...) a posição da mulher como sujeito de enunciação do
discurso crítico”.
É perceptível a posição do discurso da narradora que de forma contundente, não só
defende o projeto de emancipação consciente da mulher, como a preocupação em orientar as
mesmas a ocuparem suas representações no contexto social. Como ser emancipada socialmente
se o bem maior que é sua sexualidade pertence ao sexo oposto? Que conceito de liberdade é
esse que faz acepções de limites sexuais? Como “ser” uma mulher emancipada se esta está presa
a preceitos da era medieval, tão patriarcais em relação à sexualidade? As normas impostas pelo
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universo masculino impõem uma linguagem absoluta de verdade, pois qualquer contrariedade a
mesma é considerado desvio.
Em se tratando de um tema tão polêmico quando a discussão sobre sexualidade, pode-
se dizer que as contradições aparecem e as ambivalências também. As relações de forças sociais
são processuais e a tomada de consciência se dá pelas práxis diárias, do exercício da ação
política, de quem se envolve com a causa, se identifica com o movimento, mesmo sem ter
consciência de estar em um movimento feminista, com princípios de ética e de justiça humana.
A ruptura com o modelo patriarcal perpassa construções linguísticas, debates,
enfrentamentos dos argumentos culturais, como destaca Schmidt (1995), quando analisa a obra
de Beauvoir, O segundo sexo, a diferença de gênero não só se dá pelas questões de sexo, mas
pelas construções socioculturais dos códigos linguísticos, pois as representações culturais de
desigualdade estão sedimentadas, na produção e reprodução da ideologia patrilinear.
Schmidt também discute as idéias de Derrida, quando este se posiciona declarando
que a lógica ocidental nos impulsiona a este pensar unilateral. Podemos considerar que a
imagem da mulher se apresenta de forma natural e por isto é inferiorizada, já a imagem do
homem define-se como sujeito consciente universal. Estas considerações estão presentes na
perspectiva do capital, do modelo cultural liberal ou neoliberal, que reduz o feminino ao silêncio
ou ao apatismo.
Assim se constitui o discurso hegemônico de gênero, caracterizando-se pelo
binarismo: sujeito/objeto, espírito/corpo, razão/emoção, cultura/natureza, inteligível/sensível,
gerando assim o sistema falogocêntrico. Neste contexto, o sexo está ligado a fatores biológicos,
a anatomia e o gênero são entendidos como identidade masculino/feminino. Apropriamo-nos da
citação de Schmidt (1995):
A desarticulação do sistema binário de gênero e das relações de poder nele embutidas - a partir da reconstrução da noção de diferença e de sujeito, cujos os efeitos ocorrem no nível da subjetividade e da auto- representação através das funções de significações e representações - por si só produz a ruptura definitiva da hegemonia do idêntico, redimensionando a noção da cultura em termos de inclusão e multiplicidade, heterogeneidade e legitimidade de outros sujeitos sociais e discursivos. (1995, p.188, apud. Navarro org.)
As conquistas de igualdade dessa diferença não dependem da questão genética,
biológica, elas dependem de uma construção de ordem sócio-cultural. De acordo com Schimit
(1995), a pensadora pós-estruturalista Judith Buther defende que o gênero é um processo, sua
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construção pode ter afirmações ou negações, mas o conceito de gênero não é isento de
influências, de mediações, estas acontecem por meio das práticas discursivas.
No caso do fazer local de Mundo Novo, o rompimento com esta ordem era um
processo que estava em construção. A corresponsabilidade das mulheres em todas as instancias
administrativas e dos segmentos representativos da sociedade reafirmava e concretizava as
práticas discursivas. De acordo com Fiorin (1998), estas práticas são defendidas pela teoria da
análise do discurso, quando se nomeiam de forma genérica e discursiva.
Neste contexto, a forma de organização das mulheres, as experiências e relações de
poder exercitadas pelos mais diferentes segmentos representantes da sociedade mundonovense,
causam não só uma descoberta de identidade feminina, mas um envolvimento de consciência e
de compromisso social. Pela primeira vez quebra-se o binarismo secular de subjugar uma
cultura, um gênero sobre o outro. Prova-se que é possível com ética transparência implantar um
projeto em grupo, revertendo a situação de apatismo e opressão oligárquica sobre os menos
favorecidos.
Considerações finais
As narrativas relembram a luta pela sobrevivência das mulheres em Mundo Novo, na
qual viver, trabalhar, aprender e acreditar na emancipação, não só de si mas da família como um
todo, foi uma experiência impar. A permanência, sem evasão nas reuniões quinzenais e da
frequência escolar tanto delas quanto dos filhos, comprovam que a resistência e o trabalho
deram-se por meio da educação. Parafraseando Berger (1974), podemos considerar que o
conhecimento é processo histórico, social, constituído, construído, conforme defendiam as
feministas francesas. (CIOUXS e KRISTEVA, 1997.apud Nitrini p. 174).
As vozes das mulheres materializaram o espaço democrático, no qual se processava a
construção da figura feminina, como uma ação sócio – histórico – cultural. Um espaço de
representação da mulher, que ocupava lugar de destaque, nas decisões familiares e políticas do
município. Dar voz ao discurso feminino é uma forma de assegurar, de reverter o apagamento
social.
A gestão participativa do projeto educacional promovido pela prefeita Dorcelina de
Oliveira Folador propiciou o processo de emancipação das mulheres no município. Relatos
nesse sentido estão presentes na pesquisa defendida no Mestrado em Educação da UEL, com o
título Movimentos Sociais e Ação Educativa: Uma experiência em Mundo Novo. No estudo
citado, encontramos narrativas sobre estas mulheres, afirmando que resgataram sua auto-estima
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e estão inseridas no mercado de trabalho, ou frequentando as instituições escolares do ensino
básico ou superior.
O envolvimento das lideranças femininas promoveu a inversão das prioridades da
gestão, evidenciando a força do fazer coletivo. A busca de autonomia das mulheres,
impulsionou-as a se descobrirem como lideranças na família e na sociedade, a
representatividade das mulheres estava presente em todos os espaços políticos e familiares.
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Recebido até abril/2011, aprovado até maio/2001.