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João Batista Vilanova Artigas nasceu em Curitiba, Paraná em 23 de junho de 1915. Em 1932 ingressa na Escola de Engenharia da Universidade do Paraná, onde cursou o primeiro ano de engenharia. Em 1933 transfere-se para Escola Politécnica de São Paulo (que no ano seguinte, 1934 tornaria-se a Universidade de São Paulo), onde graduou-se engenheiro- arquiteto no ano de 1937. O grande interesse de Artigas pelo desenho o levou a frequentar, ainda como estudante, um curso de desenho de modelo vivo da Escola de Belas Artes. O curso, noturno, era frequentado por pessoas, em sua maioria, de origem humilde, com trabalhadores proletário e artesãos. O grupo passou a reunir-se nos ateliês de Francisco Rebolo e Mario Zanini, que ficava no centro de São Paulo, em um casarão (já demolido), denominado "Palacete Santa Helena". Este grupo ficou conhecido como “Grupo Santa Helena” e era formado por Alfredo Volpi, Francisco Rebolo, Mario Zanini, Aldo Bonadei, Humberto Rosa, Alfredo Rizzotti, Fúlvio Penacchi, Manuel Martins, Clóvis Graciano, além de Vilanova Artigas. Pela formação de seus membros, dada suas origens humildes, afastou o grupo de movimentos e grupos artísticos de elite existentes na época, como a “Sociedade Pró-Arte Moderna “(Spam) e o "Clube dos Artistas Modernos" (CAM). O valor do trabalho do “Grupo Santa Helena” foi dado pouco tempo depois por ocasião da exposição chamada "Família Artística Paulista", em 1937, e que tornou o “Grupo Santa Helena” parte do movimento dominante e expoente das artes plásticas no Brasil, e que tinha um dos fundadores Vilanova Artigas. Após concluir o curso universitário em 1937, Artigas criou, junto com o engenheiro civil Duilio Marone, formado recentemente, também pela Escola Politécnica de São Paulo, a firma de projeto e construção Marone & Artigas, que funcionou até 1944. Durante este período dividiu seu tempo também estagiando na Diretoria de Obras Públicas da 1

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Page 1: Vilanova Artigas 3

João Batista Vilanova Artigas nasceu em Curitiba, Paraná em 23 de junho de 1915.

Em 1932 ingressa na Escola de Engenharia da Universidade do Paraná, onde cursou o primeiro ano de engenharia. Em 1933 transfere-se para Escola Politécnica de São Paulo (que no ano seguinte, 1934 tornaria-se a Universidade de São Paulo), onde graduou-se engenheiro-arquiteto no ano de 1937.

O grande interesse de Artigas pelo desenho o levou a frequentar, ainda como estudante, um curso de desenho de modelo vivo da Escola de Belas Artes. O curso, noturno, era frequentado por pessoas, em sua maioria, de origem humilde, com trabalhadores proletário e artesãos. O grupo passou a reunir-se nos ateliês de Francisco Rebolo e Mario Zanini, que ficava no centro de São Paulo, em um casarão (já demolido), denominado "Palacete Santa Helena". Este grupo ficou conhecido como “Grupo Santa Helena” e era formado por Alfredo Volpi, Francisco Rebolo, Mario Zanini, Aldo Bonadei, Humberto Rosa, Alfredo Rizzotti, Fúlvio Penacchi, Manuel Martins, Clóvis Graciano, além de Vilanova Artigas.

Pela formação de seus membros, dada suas origens humildes, afastou o grupo de movimentos e grupos artísticos de elite existentes na época, como a “Sociedade Pró-Arte Moderna “(Spam) e o "Clube dos Artistas Modernos" (CAM). O valor do trabalho do “Grupo Santa Helena” foi dado pouco tempo depois por ocasião da exposição chamada "Família Artística Paulista", em 1937, e que tornou o “Grupo Santa Helena” parte do movimento dominante e expoente das artes plásticas no Brasil, e que tinha um dos fundadores Vilanova Artigas.

Após concluir o curso universitário em 1937, Artigas criou, junto com o engenheiro civil Duilio Marone, formado recentemente, também pela Escola Politécnica de São Paulo, a firma de projeto e construção Marone & Artigas, que funcionou até 1944. Durante este período dividiu seu tempo também estagiando na Diretoria de Obras Públicas da Secretaria de Viação em 1938 e em 1939 trabalhou no escritório de Gregori Warchavchik, um dos principais nomes da primeira geração de arquitetos modernistas do Brasil e autor do projeto de sua própria casa na Rua Santa Cruz, Vila Mariana-São Paulo, considerada a primeira residência modernista do Brasil, em 1927.

Com Warchavchik Artigas participou do anteprojeto do Parque de Recreio no Brás (São Paulo), do concurso público para a remodelação da Praça da República e do concurso para o Paço Municipal da cidade de São Paulo.

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Artigas era muito crítico à obra de Warchavchik, chegando ao ponto de declarar que seu relacionamento com a arquitetura de Warchavchik era quase nulo.

Em algumas declarações mais recentes chegou a considerar a “casa modernista” uma farsa. Na época (1927) a falta de tecnologia e os custos dos materiais impediram a construção da laje plana em concreto armado, um dos princípios da aplicação do conceito modernista, invés disso foi feito um telhado tradicional que foi escondido em fachada por platibanda. As alvenarias são estruturais e foram feitas com tijolo, não em concreto sendo a estrutura independente. Com tudo isso, o princípio moderno era mais de aparência que de essência.

Artigas tinha paixão pelo desenho, assim passou a desvalorizar a capacidade de Warchavchik, uma vez que este repassava este trabalho a seus estagiários e assistentes e quase nunca participava do processo completo de desenvolvimento do projeto.

Foi exatamente este olhar crítico, às vezes até depreciativo, à obra de Warchavchik que praticamente moldou o pensamento de Artigas como arquiteto, fazendo com que ele procurasse seguir o processo oposto de criação de Warchavchik. Também durante este trabalho no escritório Artigas teve acesso a publicações extrangeiras, o que possibilitou o aprofundamento na obra de Frank Loyd Wright, a principal influência na primeira fase de sua arquitetura.

Ainda com Gregori Warchavchik, Artigas conseguiu o segundo lugar no concurso para o Paço Municipal, dando-lhe visibilidade e levando a Politécnica de São Paulo a cogitá-lo como professor. Em 1940 Artigas inicia a carreira no ensino como professor assistente do professor Anhaia Melo na cadeira de “Composição Geral e Urbanismo” na Escola Politécnica de São Paulo, no curso para engenheiros-arquitetos, e em 1941 torna-se professor adjunto. Em 1948, lidera o grupo de professores que dá origem a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). Em 1962 desenvolveu o projeto de reforma do currículo da FAU-USP, onde propunha tratar a disciplina de ateliê de projeto como espinha dorsal do curso de Arquitetura e Urbanismo, sendo este modelo adotado em maioria das Faculdades de Arquitetura atuais.

Em 1964 é implantado o regime militar após um golpe. O pensamento divergente de Artigas ao novo modelo gera sua aposentadoria compulsória e afastamento da FAU. Ele mantem-se exilado por um breve período no Uruguai e ao retornar é impedido de atuar. Após o processo de anistia, Artigas retorna à FAU-USP em 1979, onde lecionou até sua morte, em 1985.

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O primeiro projeto de Artigas foi em 1938, junto com seu sócio Duilio Marone, uma pequena casa em estilo “colonial mexicano” a “Casa Henrique Arouche de Toledo”.

O desenho desta casa não refletia o pensamento do arquiteto, Artigas considerou apenas mais um trabalho

A partir de 1939, Artigas começa a implementar, ainda que não totalmente, o conceito modernista. A influência de Frank Loyd Wright era nítida, ainda que não plena. Lajes em balanço, formas modulares, uso de materiais como pedra e tijolo aparente, telhados convencionais mas livres de rebuscamento, espaços amplos. Mesmo assim, às vezes Artigas tinha que ceder ao estilo eclético/colonial vigente, nem todos os clientes estavam dispostos a aceitar o vanguardismo por ele proposto. As palavras do próprio Artigas:

“Eles só tinham medo é do escândalo, que alguém jogasse batatas nas casas deles.”

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O período de 1939 até 1942 Artigas já tinha projetado mais de 40 casas junto com seu sócio Duilio Marone. O próprio Artigas apelidou seus projetos deste período como “casinhas quadradas”.

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Casa Luiz Gonzaga Leme Monteiro. Ibirapuera, São Paulo/SP. 1941

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Em 1942 Artigas pode libertar-se do preconceito por parte de seus cliente com relação ao novo estilo, foi neste ano que ele construiu sua primeira casa e assim pode implementar todos os conceitos e tecnologias que ele desejava e romper com o ecletismo vigente.

Na “Casinha” como foi apelidada, Artigas propos novos conceitos em implantação, tratamento de fachadas e distribuição dos compartimentos. Segundo ele:

“A casinha é de 1942. Foi um rompimento formal meio grande. A partir dela, foi à primeira vez que fiz e tive coragem de fazer porque era para mim, me libertei inteiramente das formas que vinham vindo. Libertei-me da planta porque a cozinha passou a se integrar na sala. Marcou uma nova fase em todo tratamento volumétrico daquilo que podia se chamar fachada, porque a fachada desapareceu”.

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Fachada e interior da “Casinha”. Campo Grande. São Paulo/SP. 1942.

Em 1943, Artigas projetou a casa “Rio Branco Paranhos” no Pacaembu, São Paulo. Nesta casa ele aplicou o estilo “wrightiano” plenamente, chegando a uma grande semelhança com a casa Robie de 1906, de Frank Loyd Wright. Volumes prismáticos retangulares saltam do corpo principal, o telhado se prolonga, formando marquises, pérgolas apoiadas sobre lajes de concreto, grandes aberturas de janelas e o espaços interiores abertos e continuados.

Com esta casa Artigas completou e encerrou seu período wrightiano. Deste ponto em diante ele abraça o purismo racional modernista, tendo por inspiração Le Corbusier. Essa nova fase o levará ao desenvolvimento de um estilo próprio e consequentemente influenciar profundamente a arquitetura brasileira.

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Casa Rio Branco Paranhos. Pacaembu, São Paulo/SP. 1943.

Robie House, Frank Loyd Wright. Chicago, EUA. 1906.

A nova fase da arquitetura de Artigas veio após o rompimento com seu sócio Duilio Marone, em 1944. Segundo ele uma postura somente profissional já não mais o satisfazia.

Em 1945, a escola carioca era a referência da nova arquitetura brasileira e foi seguindo este modelo que Artigas projetou o Hospital São Lucas

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(Curitiba-PR). Ele empregou pilotis, janelas janelas contínuas, volumetria simplificada, rampas.

Hospital São Lucas. Curitiba, PR. 1945

Em 1946, junto com o arquiteto Carlos Cascaldi, projeta o edifício Louveiras (Higienópolis, São Paulo). Novamente artigas aplica os princípios modernos da escola carioca.São dois blocos paralelos, um de 7 pavimentos

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outro com 6 pavimentos, separados por um pátio ajardinado e apoiados em pilotis.

Ainda em 1946, após conseguir uma bolsa de estudos da Fundação Guggenheim, Artigas vai estudar a arquitetura contemporânea nos Estados Unidos. Ao retornar, em 1948 aproxima-se mais ainda da arquitetura moderna

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brasileira, mas já começa a separar-se da escola carioca ao projetar a Estação Rodoviária de Londrina.

Neste projeto , ao utilizar-se do rigor construtivo, enfatizando a estrutura e o concreto sem revestimentos inicia-se o período de formação do que seria a Escola Paulista e consequentemente o surgimento da arquitetura brutalista.

Em 1949, na residência Heitor de Almeida, Artigas cria dois blocos de edificação com pisos em desnível ligados por uma cobertura de concreto aparente e uma rampa que leva ao jardim. Essa tipologia será reafirmada na

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casa Taques Bittencourt, também em 1949, e se formalizará no projeto do prédio da FAUUSP.

Em 1952 projetou Estádio Cícero Pompeu de Toledo, o Estádio do Morumbi. Sua maior obra até então, o concreto aparente ressaltando a linguagem da estrutura iria fimar de vez a estética brutalista da escola paulista.

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Em 1961 foi convidado a projetar o novo edifício da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Por sua ligação próxima com o curso conseguiu as melhores soluções de espaço. O edifício é um grande e comprido vácuo aberto, diferenciando os departamentos pelos

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diferentes volumes suspendidos, cobertos por uma super laje estrutural de concreto.

BIBLIOGRAFIA:

JUCÁ, Christina Bezerra de Mello. “Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em História da Universidade de Brasília (UnB)”.

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SUZUKI, Juliana Harumi. “Artigas e Cascaldi: arquitetura em Londrina”.

IRIGOYEN, Adriana. “Wright e Artigas: duas viagens”.

REFERÊNCIAS DE INTERNET:

http://www.g-arquitetura.com.br/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Batista_Vilanova_Artigas

http://www.arq.ufsc.br/arq5625/modulo3/arquitetos/vilanovaartigas_arquivos/frame.htm

http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.061/449

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