viii seminário de dissertações e teses do programa de pós ... · partir da enef, constituiu-se...

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  • VIII Seminrio de Dissertaes e Teses do Programa de Ps-Graduao em Educao

    2

    REITOR

    Prof. Dr. Targino de Arajo Filho

    VICE-REITOR Prof. Dr. Adilson Jesus Aparecido de Oliveira

    PR-REITORA DE PS-GRADUAO ProPG

    Prof. Dr. Dbora Cristina Morato Pinto

    PR-REITORA DE EXTENSO ProEx Prof. Dr. Cludia Maria Simes Martinez

    DIRETORA DO CENTRO DE EDUCAO E CINCIAS HUMANAS CECH

    Prof. Dr. Wanda Aparecida Machado Hoffmann

    COORDENADORA DO PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO PPGE Prof. Dr. Rosa Maria Moraes Anunciato de Oliveira

    VICE-COORDENADOR DO PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO PPGE

    Prof. Dr. Flvio Caetano de Silva

    COORDENAO DO EVENTO Prof. Dr. Flvio Caetano da Silva

    Prof. Dr. Daniel Mill

    COMISSO ORGANIZADORA Prof. Dr. Flvio Caetano da Silva

    Prof. Dr. Daniel Mill Prof. Dr. Rosa Maria Moraes Anunciato de Oliveira

    COMISSO DE APOIO A ORGANIZAO / EDIO

    Amanda Gonalves Andr Luis Duarte

  • VIII Seminrio de Dissertaes e Teses do Programa de Ps-Graduao em Educao

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    APRESENTAO

    VIII Seminrios de Dissertaes e Teses do PPGE-UFSCar A Comisso Organizadora do VIII Seminrios de Dissertaes e Teses do

    Programa de Ps-Graduao em Educao (PPGE) da Universidade Federal de So Carlos (UFSCar) tem a grata satisfao de apresentar os Anais desta oitava edio do evento. Realizado entre os dias 17 e 20 de outubro de 2016, o VIII Seminrios de Dissertaes e Teses, sob a coordenao dos professores Flvio Caetano da Silva e Daniel Mill, contar com mesas comemorativas dos 40 anos do PPGE, com participao da profa. Bernadete Gatti, do Prof. Dermeval Saviani e outros convidados. Alm desta e outras atividades, durante o Seminrio sero apresentados quase 90 trabalhos cientficos dos estudantes de mestrado e doutorado do Programa.

    Desejando um timo evento a todos, os organizadores desta oitava edio do

    Seminrios de Dissertaes e Teses do PPGE espera que sejam promovidas timas reflexes e discusses.

    Atenciosamente,

    Prof. Daniel Mill Prof. Flvio Caetano da Silva

  • VIII Seminrio de Dissertaes e Teses do Programa de Ps-Graduao em Educao

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    SUMRIO A CONSTITUIO DA EDUCAO FINANCEIRA NO BRASIL NEOLIBERAL ......................................................... 9

    A CONTAO DE HISTRIAS PELA PERSPECTIVA DE QUEM OUVE: SIGNIFICADOS ATRIBUDOS PELAS CRIANAS .............................................................................................................................................................. 18

    A DEFESA DO MUNDO PBLICO: UM ESTUDO DO CONCEITO DE AUTOGESTO EM ROSA LUXEMBURGO . 23

    A DIFUSO DA NEW AMERICAN UNIVERSITY NO BRASIL: CAPITALISMO ACADMICO E PRODUO DE CONHECIMENTO MATRIA-PRIMA ..................................................................................................................... 34

    A EXPERIMENTAO VERDE NAS LICENCIATURAS EM QUMICA DA UFSCar ................................................. 42

    A GESTO DEMOCRTICA NA VISO DE DIRETORES VINCULADOS AO CENTRO PAULA SOUZA: PROXIMIDADES E DISPARIDADES FRENTE A REALIDADE ESCOLAR ................................................................ 47

    A GESTO ESCOLAR, A FORMAO INICIAL DE PROFESSORES E A EXPERINCIA COM A APRENDIZAGEM DIALGICA: UM ESTUDO DE CASO DO ESTGIO DOCENTE EM EJA ................................................................. 53

    A HISTRIA DA EDUCAO NO CAMPO DISCIPLINAR NOS CURRCULOS DE PEDAGOGIA DO ESTADO DE SO PAULO .......................................................................................................................................................... 60

    A PESQUISA-AO NA PRTICA PEDAGGICA DO FILOSOFAR NA PERFORMANCE ...................................... 70

    A PRTICA DA FOTOGRAFIA NA COLETA SELETIVA SOLIDRIA E OS PROCESSOS EDUCATIVOS DECORRENTES: DILOGOS ENTRE ARTE, CATAO E ECOLOGIA DE SABERES ............................................... 75

    A VISIBILIDADE LSBICA NAS PEDAGOGIAS DO CINEMA ................................................................................. 80

    AES AFIRMATIVAS NA UFSCAR: DESENVOLVIMENTO DO PROGRAMA NO PERODO DE 2008 A 2016. .... 87

    ANA MARIA POPPOVIC E A EDUCAO DE CRIANAS MENORES DE 10 ANOS: UMA ANLISE DE SUAS IDEIAS EDUCACIONAIS ........................................................................................................................................ 92

    ANLISE BIBLIOMTRICA DA PRODUO CIENTFICA SOBRE LETRAMENTO: AVALIAO DAS TESES DA BDTD (1997-2016) ................................................................................................................................................ 106

    ANLISE DA IMPLEMENTAO DO PROGRAMA NACIONAL DE FORTALECIMENTO DOS CONSELHOS ESCOLARES E DE SEUS EFEITOS EM ALGUNS MUNICPIOS DO ESTADO DO TOCANTINS .............................. 117

    APRENDENDO A SER PROFESSOR: CONTRIBUIES DA REDE DE APRENDIZAGEM DA DOCNCIA ............ 126

    AS AES DO CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAO DO INTERIOR DO ESTADO DE SO PAULO NA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS ................................................................................................................... 131

    AS CONDIES DE TRABALHO DO PROFESSOR DO ENSINO MUNICIPAL RURAL EM PIRACICABA-SP (2002-2016) .................................................................................................................................................................... 136

    AS PROPOSTAS EDUCACIONAIS DAS ESQUERDAS VEICULADAS EM SEUS PERIDICOS NA DCADA DE 1920. ............................................................................................................................................................................. 142

    BARREIRAS PARA A IMPLEMENTAO DE PRTICAS DOCENTES COM USO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAO E COMUNICAO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL ..................................... 146

    BRINCADEIRA QUE VIROU VERDADE: O RESGATE DA INFNCIA TRANSEXUAL NO CONTEXTO ESCOLAR .. 152

  • VIII Seminrio de Dissertaes e Teses do Programa de Ps-Graduao em Educao

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    CANTOS, DANAS, RODAS E RESISTENCIA NA COMUNIDADE CORAL TROVADORES DO VALE VALE DO JEQUITINHONHA - MG ........................................................................................................................................ 157

    CONCEPES DE ESTUDANTES DO CURSO TCNICO EM ENFERMAGEM SOBRE PRTICAS POPULARES EM SADE .................................................................................................................................................................. 168

    CONCEPES PEDAGGICAS E AS ESCOLAS MULTISSERIADAS NO ESTADO DO TOCANTINS: UMA ANLISE A PARTIR DA PEDAGOGIA HISTRICO-CRTICA NOS IDERIOS PEDAGGICOS PARA AS ESCOLAS NO E DO CAMPO ................................................................................................................................................................ 175

    CYBERBULLYING: UM ESTUDO SOBRE OS EXPECTADORES DA VIOLNCIA VIRTUAL ................................... 182

    DE ANASTCIA YALOD: UMA ANLISE DOS CONTEDOS DE BLOGS E CANAIS DE YOU TUBE, QUE DISCUTEM A MULHER NEGRA NA SOCIEDADE CONTEMPORNEA ................................................................ 187

    DE PROFESSORA INICIANTE EXPERIENTE: PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL ............ 194

    DESENVOLVIMENTO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL: EMBATE ENTRE OS SETORES PBLICO E PRIVADO A PARTIR DA DCADA DE 1980 .......................................................................................................................... 202

    DESENVOLVIMENTO PSICOLGICO DA ATENO EM CRIANAS PR-ESCOLARES ..................................... 209

    DO SER AO TORNAR-SE PROFESSOR(A) NAS ESCOLAS DAS PRISES: SABERES CONSTRUDOS NAS PRTICAS COTIDIANAS ...................................................................................................................................... 218

    EDUCAO E FORMAO HUMANA: DIREITO EDUCAO E CLASSES MULTISSERIADAS ........................ 226

    EDUCAO EMANCIPADORA? A QUESTO DA FORMAO PARA A AUTONOMIA ATRAVS DA EXTENSO UNIVERSITRIA .................................................................................................................................................. 236

    EDUCAO FSICA NA MEDIDA: A CORPOREIDADE DO JOVEM EM PRIVAO DE LIBERDADE ...................245

    EDUCAO POPULAR E PRTICAS EXTENSIONISTAS EM UNIVERSIDADE PBLICA A TRANSGRESSO EM PRXIS DE EXTENSO UNIVERSITRIA POPULAR .......................................................................................... 250

    ENSINO DOS PRINCPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO ( ARTIGO 1,3 E 4 DA CF/88), NA EDUCAO BSICA, PARA CONSTRUO E EFETIVIDADE DE UMA MENTALIDADE CIDAD E DEMOCRTICA ............................. 261

    ESCOLA NOVA E HIGIENIZAO: OS MANUAIS DA COLEO ATUALIDADES PEDAGGICAS (1931-1943) .. 263

    EXISTNCIAS INFAMES: CRIANAS POBRES, RFOS, ESCRAVOS E DESVALIDOS EM DOCUMENTOS JUDICIAIS NA RIBEIRO PRETO DO FINAL DOS OITOCENTOS ........................................................................ 271

    FAZ DE CONTA QUE EU CRESCI: A PARTICIPAO DAS CRIANAS NA GESTO ESCOLAR ........................... 280

    FORMAR CIDADOS CRTICOS: A IMPORTNCIA DA FILOSOFIA NO ENSINO MDIO ................................... 291

    FTBOL CALLEJERO: PROCESSOS EDUCATIVOS EMERGENTES DAS INTERFACES ENTRE JOGO, MOTRICIDADE HUMANA E PEDAGOGIA DIALGICA ....................................................................................... 296

    HANNAH ARENDT A CRISE NA EDUCAO COMO CRISE DA MODERNIDADE ........................................... 305

    HISTRIAS INFANTIS E MATEMTICA: A MOBILIZAO DE CONHECIMENTOS NO CICLO DE ALFABETIZAO ................................................................................................................................................. 312

    IDENTIDADES E CONCEPES NA FORMAO DE PROFESSORES NO PROGRAMA DE INICIAO DOCNCIA (PIBID) DE GEOGRAFIA .................................................................................................................... 317

  • VIII Seminrio de Dissertaes e Teses do Programa de Ps-Graduao em Educao

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    IDENTIFICAO DE ELEMENTOS PARA CONCEPO E AVALIAO DE INSTALAES INTERATIVAS DE MUSEUS DE CINCIAS ....................................................................................................................................... 328

    INSTITUCIONALIZAO DA EDUCAO A DISTNCIA: UMA ANLISE A PARTIR DAS RELAES SOCIAIS QUE PERPASSAM O PROCESSO ......................................................................................................................... 516

    INTEGRAO CURRICULAR EM UM CURSO DE GRADUAO EM MEDICINA: CONCEPES MANIFESTADAS PELOS DOCENTES QUE O VIVENCIAM ............................................................................................................... 525

    LETRAMENTOS E EDUCAO MATEMTICA NA FORMAO INICIAL DE PROFESSORES EM EDUCAO DO CAMPO ............................................................................................................................................................... 530

    LUZ, CMERA, CINCIA: A FICO CIENTFICA COMO MEDIADORA DA DISCUSSO SOBRE CINCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE NA SALA DE AULA ............................................................................................... 538

    MEMRIA E CULTURA CAIPIRA: UM ESTUDO DE CASO DA CULTURA CAIPIRA NA CIDADE DE SO CARLOS ............................................................................................................................................................................ 546

    MEMRIAS LDICAS DE INFNCIAS DE PROFESSORES/AS: NARRAR E (RE)APRENDER A DOCNCIA PARA CRIANAS ............................................................................................................................................................ 557

    MINHA VIDA O ROCK AND ROLL: PROCESSOS EDUCATIVOS NA PRTICA SOCIAL DO ROCK ENTRE MSICOS DE SO CARLOS ................................................................................................................................ 563

    NO S UM JOGO: AS RELAES E SIGNIFICADOS DO FUTEBOL PARA JOVENS ESTUDANTES DE UMA TURMA DE 2 ANO DO ENSINO MDIO ............................................................................................................ 570

    NATURALIZAO E/OU BANALIZAO DA(S) VIOLNCIA(S): CRIANAS E JOVENS QUE ESTO EM SITUAO DE VULNERABILIDADE SOCIAL ........................................................................................................ 575

    O ACESSO DOS POVOS INDGENAS AO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL: A CONCRETIZAO DAS POLTICAS PBLICAS AFIRMATIVAS ................................................................................................................................... 580

    O COLGIO SO BENEDITO e A EDUCAO DA POPULAO NEGRA EM CAMPINAS SP NO INCIO DO SCULO XX ......................................................................................................................................................... 586

    O CONCEITO ATUAL DE INFNCIA NOS PROJETOS EDUCACIONAIS: UMA ANLISE CRTICA DO SIGNIFICADO DA INFNCIA NAS POLTICAS EDUCACIONAIS E NA FORMAO ESCOLAR DAS CRIANAS . 591

    O ENSINO DA AGROECOLOGIA NAS ESCOLAS FAMLIA AGRCOLAS DO ESTADO DE GOIS: QUE AGROECOLOGIA ESSA? ................................................................................................................................... 596

    O ENSINO DE BIOLOGIA MEDIADO PELOS OBJETOS EDUCACIONAIS DIGITAIS: UMA ANLISE A PARTIR DO LIVRO DIDTICO ................................................................................................................................................ 603

    O ESTGIO SUPERVISIONADO NA FORMAO INICIAL DE PROFESSORES DE CINCIAS E BIOLOGIA: SUA FUNO E CONFIGURAO EM UNIVERSIDADES FEDERAIS NACIONAIS ..................................................... 609

    O IMPACTO DA EDUCAO PROFISSIONAL TCNICA INTEGRADA AO ENSINO MDIO SUA IMPORTNCIA NA FORMAO DO SUJEITO .............................................................................................................................. 619

    O PAPEL HUMANIZADOR DO ARRANJO MUSICAL NO CONTEXTO DE UM GRUPO COMUNITRIO ........... 624

    O PLANO DE AES ARTICULADAS (PAR) NA VISO DE DIRIGENTES DE EDUCAO MUNICIPAL DE MUCICPIOS PAULISTAS ..................................................................................................................................... 631

    O PROFESSOR YOUTUBER: DOCNCIA E PROCESSO FORMATIVO ATRAVS DAS VIDEOAULAS DO YOUTUBE ............................................................................................................................................................................ 636

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    O QUE H DE NOVO COM A EDUCAO DO CAMPO? UM ESTUDO SOBRE AS TRANSFORMAES PRODUTIVAS E AS CONDIES DE OFERTA EDUCACIONAL EM ASSENTAMENTOS RURAIS NO ESTADO DE SO PAULO ........................................................................................................................................................ 645

    O QUE PENSAM OS PROFESSORES DE CINCIAS E BIOLOGIA SOBRE SEU INCIO DE CARREIRA ................ 655

    O TRABALHO EM SALA DE AULA COM SITUAES DESENCADEADORAS DE APRENDIZAGEM: CONSTRUINDO O CONHECIMENTO MATEMTICO POR MEIO DA PERSPECTIVA HISTRICO-CULTURAL ... 660

    ORGANIZAO DO TRABALHO DOCENTE NA EDUCAO A DISTNCIA: IMPLICAES DA POLIDOCNCIA ............................................................................................................................................................................ 665

    OS GINSIOS ORIENTADOS PARA O TRABALHO NO CONTEXTO DA DITADURA CIVIL-MILITAR: UMA PGINA DA HISTRIA NA EDUCAO PARANAENSE .................................................................................................... 670

    OS PROCESSOS DE PRODUO DOS SUJEITOS NAS POLTICAS DE GNERO E SEXUALIDADES NO ESPAO UNIVERSITRIO: PEDAGOGIAS NO CONTEXTO DE EMERGNCIA E VISIBILIDADE NA UFSCar (2004-2016) . 681

    PERSONALIDADE AUTORITRIA NA ERA DA CULTURA DIGITAL: RESSENTIMENTO E SADISMO NA RELAO ENTRE PROFESSORES E ALUNOS ...................................................................................................................... 691

    POLTICA MENOR PARA OS PEQUENOS: DIAGNSTICO DA EDUCAO INFANTIL DE UM MUNICPIO PAULISTA ........................................................................................................................................................... 704

    POLTICAS PBLICAS DE AVALIAO DA EDUCAO BSICA NO BRASIL: REPERCUSSES NO TRABALHO DOCENTE ............................................................................................................................................................. 713

    POR QUE ENSINAR FSICA NO ENSINO MDIO? COM A PALAVRA PROFESSORES DE FSICA DA EDUCAO BSICA ................................................................................................................................................................. 723

    PRTICAS ECONMICAS, PRTICAS SOCIAIS: EDUCAO POPULAR E O DISCURSO DA ECONOMIA POLTICA EM ASSENTAMENTOS DA REFORMA AGRRIA DE SO CARLOS/SP .............................................. 733

    PROFISSIONALIDADE DOCENTE: COMPREENSES DE LICENCIANDAS EM PEDAGOGIA NA REDE DE APRENDIZAGEM DA DOCNCIA (ReAD) ........................................................................................................... 745

    QUERIDO DIRIO: O QUE DIZEM AS NARRATIVAS SOBRE A FORMAO E FUTURA PRTICA DO PROFESSOR QUE ENSINAR MATEMTICA NOS ANOS INICIAIS ................................................................... 750

    RAYMOND WILLIAMS E EDUCAO: ELEMENTOS PARA UM CURRCULO COMPATVEL COM A IDEIA DE CULTURA COMUM ............................................................................................................................................. 759

    REFLEXES SOBRE O HABITUS ESCOLAR DE ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL I EM SEU PROCESSO DE ESCOLARIZAO ................................................................................................................................................ 767

    SIGNIFICADOS, SENTIDOS E DESEJOS DE JOVENS EM SITUAO DE PRIVAO DE LIBERDADE: REPENSANDO OS PROCESSOS EDUCATIVOS NO CENTRO DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO DE CUIAB/MT .......................................................................................................................................................... 773

    TRANGENERIDADE NO CINEMA: PENSAR O CINEMA PARA A EDUCAO ..................................................... 781

    TRILHANDO OS CAMINHOS DO INCIO DA DOCNCIA: CONCEPES SOBRE O PAPEL DA FORMAO INICIAL NO PROCESSO DE TORNAR-SE PROFESSOR ....................................................................................... 786

    UM CAMINHO PARA COMPREENDER E VALORIZAR A DIVERSIDADE NA EDUCAO FSICA ESCOLAR ..... 794

    UM OLHAR PARA A NATUREZA DA MATEMTICA EM ATIVIDADES DE MODELAGEM ................................. 799

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    VIOLNCIA CONTRA A MULHER NA UNIVERSIDADE: CONTRIBUIES PARA SUA SUPERAO ................ 803

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    A CONSTITUIO DA EDUCAO FINANCEIRA NO BRASIL NEOLIBERAL Luzia de Fatima Barbosa Fernandes (Doutoranda) Prof. Dr. Denise Silva Vilela (Orientadora) Linha de Pesquisa: Educao em Cincias e Matemtica RESUMO: Esta pesquisa tem como objeto de estudo a Educao Financeira que est entre os temas para compor a Base Nacional Comum Curricular e vem se inserindo nas escolas. Em 2010, o Governo Federal instituiu a Estratgia Nacional para a Educao Financeira. A partir da ENEF, constituiu-se o Comit Nacional de Educao Financeira, que lanou uma coleo de livros didticos sobre o tema, para todos os anos da Educao Bsica. Esta pesquisa se prope analisar este material, com o intuito de identificar os diferentes campos dos agentes que esto envolvidos nesta publicao, discutindo suas trajetrias. A partir disso, outras estratgias de investigao sero delineadas, tal como relao de pesquisadores a serem entrevistados, inclusive da rea da Educao Matemtica, que se dedicam ao tema. Com isso pretende-se compreender os princpios e influncias dos diferentes campos do conhecimento, a Educao Matemtica, Matemtica e Economia, que permeiam o trabalho desta temtica em ambientes escolares. PALAVRAS-CHAVE: Educao Financeira. Educao Matemtica. Material Didtico. BREVE DELIMITAO DO TEMA

    Este projeto se insere na linha de pesquisa Educao em Cincias e Matemtica e no eixo da Educao Matemtica, tendo como temtica de estudo a Educao Financeira e suas relaes com a rea da Educao Matemtica. Dos materiais empricos a serem analisados, destaco os materiais didticos produzidos pelo Comit Nacional de Educao Financeira, que contempla desde o 1 ano do Ensino Fundamental at o 3 ano do Ensino Mdio, envolvendo os exemplares do professor e do aluno.

    Esse Comit surgiu a partir da constituio da Estratgia Nacional de Educao Financeira - ENEF, que foi instituda no ano de 2010, pelo Governo Federal por meio da publicao do Decreto n 7.397 (22/12/2010). A ENEF tem como finalidade, disseminar a educao financeira em vrios setores da sociedade, dentre eles, a escola. Assim, foi criado o Comit Nacional de Educao Financeira (CONEF), responsvel por definir planos, programas, aes e coordenar a execuo da ENEF (BRASIL, 2013). Esse Comit formado por quatro organizaes da sociedade civil, a Associao Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA), a Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de So Paulo (BMF&Bovespa), a Confederao Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdncia Privada e Vida, Sade Suplementar e Capitalizao (CNseg) e a Federao Brasileira dos Bancos (FEBRABAN) e por oito rgos e entidades de Governo, entre eles o Banco Central do Brasil, a Comisso de Valores Mobilirios e o Ministrio da Educao.

    A escolha desta pesquisa est pautada pelo interesse em estudar o assunto quando atuava como docente do Ensino Fundamental II, a partir do ano de 2009. Esses estudos culminaram na publicao do livro O Consumo Consciente (ZERO e FERNANDES, 2011). Nele buscamos desenvolver alguns temas envolvendo a Educao Financeira, tendo como pblico alvo crianas e adolescentes, considerando os contatos iniciais desse pblico com questes envolvendo dinheiro.

    Atualmente, no desenvolvimento da pesquisa de doutorado, busco investigar, iniciando pela anlise do material didtico desenvolvido pelo CONEF, a maneira como

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    este tema tem chegado s escolas brasileiras. Com essa anlise, tendo como base a teoria de Pierre Bourdieu (1983, 2008, 2013, 2014), buscarei estudar as trajetrias dos agentes envolvidos, identificando os campos de conhecimento envolvidos nesta publicao e que exerceram influncias para a sua elaborao.

    Para dar continuidade investigao, alm da anlise das trajetrias dos agentes envolvidos na publicao deste material especfico, ampliarei na anlise de trajetrias de pesquisadores da rea da Educao Matemtica que, atualmente, vem se dedicando ao tema. Nestas anlises, buscar-se- conhecer as influncias dos diferentes campos de conhecimento, tais como: Economia, Sociologia, Administrao, Finanas, Educao, Matemtica e Educao Matemtica, os quais se envolveram no desenvolvimento das pesquisas acadmicas. Ao compor este cenrio no qual as pesquisas em Educao Financeira so desenvolvidas, tenho como finalidade compreender de que forma este assunto est chegando s escolas da Educao Bsica, ampliando e contribuindo com as pesquisas atuais sobre o assunto. REVISO DA LITERATURA

    Para Arajo e Calife (2014), a Educao Financeira voltada para o pblico brasileiro, passou por trs fases. A primeira fase, at o fim dos anos de 1990, foi determinada por orientaes financeiras que eram direcionadas para consumidores com renda disponvel, com foco em investimentos. Na segunda fase, segundo os autores, com a melhoria das condies econmicas internas e externas cria-se assim um ambiente favorvel para a expanso de crdito, no qual o consumo passa a ser pea-chave do crescimento do pas e o maior smbolo de ascenso social, incluso econmica e sucesso na vida. Para os autores, essa fase leva a um aumento do endividamento e da inadimplncia, levando a educao financeira a ser ferramenta de socorro referncia de milhes de pessoas que se encontram nessa situao. Os problemas criados nessa segunda fase de ascenso ao crdito do origem terceira fase, que os autores consideram como sendo uma oportunidade para que, finalmente, a educao financeira promova o planejamento como caminho sustentvel para a prosperidade, socorrendo os consumidores que passam a se interessar mais por programas que melhorem a sua relao com o dinheiro no longo prazo. (ARAJO E CALIFE, 2014, p. 11)

    Considerando este referencial, na fase atual da Educao Financeira no Brasil, destacam-se as aes desencadeadas pelo Governo Federal, sobre a urgncia do trabalho envolvendo o tema com a populao brasileira, incluindo neste pblico, as crianas e jovens da escola bsica, como tambm as discusses que buscam incluir a Educao Financeira como um dos temas para compor a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

    Em relao s pesquisas acadmicas que discutem a Educao Financeira, de acordo com os registros obtidos no Banco de Teses da CAPES, a partir do ano de 2013 at os dias atuais, constam 108 trabalhos que usam o termo Educao Financeira em seu ttulo, sendo 24 na rea de concentrao em Educao Matemtica. Das pesquisas produzidas, podemos notar um grande nmero de trabalhos que articulam tendncias em Educao Matemtica com a temtica da Educao Financeira, surgindo termos como Educao Matemtica Financeira (LIMA, 2015), Educao Financeira Crtica (CAMPOS, 2013), Educao Financeira Escolar (ALMEIDA. 2015).

    Alm de considerar tendncias j consolidadas no campo da Educao Matemtica, algumas dessas pesquisas desenvolvidas apontam para o uso de publicaes no acadmicas sobre Educao Financeira, como por exemplo, sobre finanas pessoais

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    do autor Gustavo Cerbasi, o qual possui inmeras publicaes sobre o assunto, tais como: Os Segredos dos Casais Inteligentes (CERBASI, 2012), Casais Inteligentes Enriquecem Juntos (CERBASI, 2014) Como organizar sua vida financeira: inteligncia financeira pessoal na prtica (CERBASI, 2009).

    Considerando outras produes da rea, destacamos as publicaes de Cassia DAquino, como o livro Dinheiro compra tudo? (DAQUINO, 2016). A educadora financeira, alm da publicao de livros que tratam do assunto, criou um Programa de Educao Financeira voltado para escolas pblicas de todo o pas.

    Outros tipos de produes podem ser mencionadas, como as Histrias em Quadrinhos da Turma da Mnica, do renomado autor Maurcio de Sousa que, com iniciativa do Servio de Proteo ao Crdito (SPC Brasil), tem produzido histrias que colocam os seus personagens consagrados em situaes variadas envolvendo o tema Educao Financeira.

    Neste cenrio de produes brasileiras, selecionamos tambm os materiais didticos, como os da Editora DSOP, a qual possui coleo de livros destinados Educao Infantil e Educao Bsica, intitulados Coleo Dsop de Educao Financeira (DOMINGOS, 2001), e paradidticos sobre o tema; a Editora FTD, com a publicao de livros voltados para o Ensino Fundamental I e II, intitulado Educao Financeira e Valores (HORNOS, 2015), bem com os livros publicados pelo Comit Nacional de Educao Financeira, com a finalidade de trabalhar a temtica, desde o 1 ano do Ensino Fundamental at o 3 ano do Ensino Mdio, com o ttulo Educao Financeira nas escolas (BRASIL, 2013, 2014).

    Esse material produzido pelo CONEF visa iniciar o assunto com os estudantes do mbito individual at chegar ao mbito social, considerando duas dimenses, a espacial e a temporal (BRASIL, 2013). Com as atividades propostas, busca-se mobilizar nos estudantes a compreenso de suas atitudes individuais e com a vida em sociedade, com vistas a uma formao voltada para a cidadania. Para Campos et al (2015), o trabalho com a Educao Matemtica Crtica alinhada ao trabalho com a Educao Financeira, favorece o desenvolvimento da cidadania e desenvolve um conhecimento reflexivo.

    Sobre os livros de autoajuda que a envolvem finanas pessoais, a pesquisa de Leite (2011), afirma que diante de um cenrio propcio para a discusso de temas que envolvam finanas, agentes de diversas reas aproveitam para palpitarem sobre o assunto. Ou seja,

    A educao financeira tornou-se, pois, uma espcie de trunfo social compartilhado pelos diversos agentes e grupos produtores dessa construo. Pode-se dizer, ento, que se observa a formao de um espao social envolto nessa temtica, o qual se constitui como cenrio perfeito para a promoo do mundo das finanas, j que qualquer pauta em relao aos aspectos econmicos como crdito, endividamento, poupana e investimento motivo para consultores, acadmicos e demais profissionais palpitarem sobre a necessidade de educao financeira. (LEITE, 2011, p.139)

    A Educao Financeira que vem sendo compartilhada pelos diversos agentes e

    grupos produtores, ser estudada nesta tese com a finalidade de saber de que forma este assunto tem chegado s escolas e quais so as trajetrias dos agentes (autores de LD, dos acadmicos que se dedicam ao tema, professores, etc.) que esto influenciando esta nova rea de conhecimento.

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    A pesquisa de Leite (2011) traz para o cenrio da Educao Financeira a teoria do socilogo Pierre Bourdieu. Com esse autor, nos aproximamos da rea de pesquisa da Sociologia da Educao, sendo constituda a partir das dcadas de 1950 e 1960. Para Nogueira (1990), esse ramo da Sociologia surge em decorrncia da universalizao do ensino secundrio e, associado a isso, um novo iderio relativo ao papel social da escola (NOGUEIRA, 1990, p. 50).

    Buscando pesquisas que tratam da Sociologia da Educao com vistas aos trabalhos de Bourdieu, encontro o trabalho de Nogueira e Nogueira (2002). Para esses autores, a grande contribuio da Sociologia da Educao de Pierre Bourdieu foi, sem dvida, a de ter fornecido as bases para um rompimento frontal com a ideologia do dom e com a noo moralmente carregada de mrito pessoal (NOGUEIRA e NOGUEIRA, 2002, p. 34). Pierre Bourdieu fornece um quadro macrossociolgico de anlise das relaes entre o sistema de ensino e a estrutura social (NOGUEIRA e NOGUEIRA, 2002, p. 35).

    Os estudos de Hey e Catani (2008) revelam como a dominao feita por pequenos grupos na sociedade que, com seu poder, definem o que deve ser considerado como verdade. Para os autores, Bourdieu,

    procurou questionar, nas sociedades de classe, temtica que persegue muitos intelectuais: a compreenso de como e por que pequenos grupos de indivduos conseguem se apoderar dos meios de dominao, permitindo nomear e representar a realidade, construindo categorias, classificaes e vises de mundo s quais todos os outros so obrigados a se referir. Compreender o mundo, para ele, converte-se em poderoso instrumento de libertao. (HEY e CATANI, 2008, p. 62)

    Hey e Catani (2008) consideram que o espao escolar legitima a cultura das classes privilegiadas, tendo seu ensino voltado para a autenticao desse conhecimento, conservando esse patrimnio. Neste espao h a dominao de certos contedos que buscam representar a realidade como sendo nica e verdadeira. Segundo Bourdieu (2014), o sistema de ensino cumpre com a funo social de legitimao da cultura dominante (p. 159)

    Para Valle (2013), a cultura no um conjunto de transmisses transcendentais, mas um conjunto de atitudes, de modos de ver, pensar e sentir, existindo, assim, diversas culturas. E continua dizendo que nas sociedades desiguais, o grupo dominante tende a fazer reconhecer sua cultura como a nica cultura legtima (p. 424).

    A Educao Financeira como conhecimento a ser abordado nas escolas, vindo de diversos agentes e reas de conhecimento, tende a legitimar um tipo de Educao Financeira que satisfaa aos interesses desses grupos.

    Com esses trabalhos da Sociologia da Educao, que buscam estudar o espao escolar baseando-se na teoria de Bourdieu, bem como o trabalho de Leite (2011), o qual relaciona a mesma teoria com a Educao Financeira, realizar esta pesquisa com base na teoria deste socilogo, mostra-se pertinente ao possibilitar questionamentos que podem auxiliar na busca pelos agentes e, portanto, suas reas de conhecimento, que esto influenciando a forma como a Educao Financeira est sendo estruturada para ser trabalhado na Educao Bsica, com foco no ensino brasileiro.

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    Para isso, importante destacar os conceitos de trajetria e doxa. Para Bourdieu, conhecer a trajetria dos agentes envolvidos pode contribuir para entender as influncias que cada um carrega e de que forma chegaram temtica em questo. A doxa, ou senso comum, seria um ponto de vista particular, o ponto de vista dos dominantes, que se apresenta e se impe como ponto de vista universal (BOURDIEU, 2008, p. 120). Com esse conceito, busco entender qual esse ponto de vista sobre a Educao Financeira que est sendo considerado para a escola bsica.

    Alm desses conceitos, parece-me ser importante a verificao da Educao Financeira como um possvel campo. Para isso, tomando por referncia a pesquisa desenvolvida por Leite (2011), ela afirma que os modelos e frmulas que so criados pelos consultores financeiros, tornam-se legtimos para prescreverem ao pblico aes que envolvam o tema, tornando-se como um guia cultural, reforado pela mdia e pelos diversos agentes interessados em escrever a histria econmica, como jornalistas, acadmicos e mesmo seus crticos que, consequentemente, se tornam agentes legitimadores do campo em construo. (LEITE, 2011, p. 173)

    A autora refora que esses consultores financeiros apresentam receitas de sucesso diferentes, o que os torna concorrentes, mas essa concorrncia contribui para atrair a ateno de diversos setores da sociedade, principalmente, para a temtica da educao financeira. (LEITE, 2011, p. 173). O comportamento desses consultores financeiros, como j destacados por Leite (2011), se aproxima da teoria de Bourdieu, quando o autor trata das atitudes de agentes que atuam dentro de um determinado campo.

    Para Bourdieu, essas atitudes visam o fortalecimento do campo. O campo cientfico um lugar de luta mais ou menos desigual, entre os agentes, que so dotados desigualmente de capital especfico para aquele campo (BOURDIEU, 1983, p. 136, grifos do autor). A estrutura de distribuio do capital especfico e as relaes de fora entre os agentes definem a estrutura do campo. Assim, a posio social e o poder especfico atribudos aos agentes em um campo particular dependem, antes de mais nada, do capital especfico que eles podem mobilizar, seja qual for sua riqueza em outra espcie de capital. (BOURDIEU, 2013, p.107)

    OBJETIVOS E QUESTO NORTEADORA

    A investigao tem os seguintes objetivos:

    Objetivos especficos

    A partir do material didtico analisado, identificar os campos envolvidos na elaborao do material e analisar a trajetria dos agentes envolvidos;

    Descrever a trajetria dos pesquisadores da Educao Matemtica que investigam sobre a Educao Financeira;

    Compreender como o olhar de cada pesquisador, de acordo com seu modelo terico, caracteriza as diferentes formas de entender a Educao Financeira;

    Investigar, de que maneira, os conhecimentos relativos Educao Financeira so mobilizados para se adequar realidade escolar, considerando que a escola sanciona, consagra, legitima e transforma saberes cientficos em saberes escolares;

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    Tendo em vista que a Educao Financeira no surge em espaos educacionais, mas sim, importado de outros espaos que possuem premissas que no so pedaggicas, qual o papel dos educadores na Educao Financeira?

    Investigar uma possvel configurao de campo da Educao Financeira como um espao que vem se constituindo por agentes de procedncia de diversos outros e, assim, recebe influncias e crenas de diversos campos (Economia, Matemtica, Educao Matemtica, Finanas entre outros);

    Objetivo geral

    Analisar os discursos da Educao Financeira presentes nos materiais didticos produzidos pelo Comit Nacional de Educao Financeira, identificando qual a doxa que sustenta a necessidade da Educao Financeira no ambiente escolar. Assim, a questo norteadora da pesquisa, formulada em termos da teoria de

    Pierre Bourdieu:

    Quais as crenas ou as doxas dos diferentes campos que permeiam o discurso da Educao Financeira que chega s escolas brasileiras?

    Com o desenvolvimento desses objetivos, a pesquisa buscar entender a constituio

    da Educao Financeira no Brasil e responder questo, contribuindo com as pesquisas que se preocupam em entender de que forma a Educao Financeira est sendo desenvolvida para o espao escolar.

    METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS

    Para a realizao da presente pesquisa, que tem como objeto de anlise os livros didticos produzidos pelo CONEF, a produo de pesquisas acadmicas da rea da Educao Matemtica e entrevistas, desenvolveremos uma anlise de contedo por meio do emparelhamento, utilizando a teoria de Bourdieu. Neste caso, de acordo com Fiorentini e Lorenzato (2007), pode-se analisar os contedos e a forma como so abordados; os erros conceituais; a ideologia subjacente ao texto e s ilustraes (p. 138). A anlise dos contedos pode ser realizada por emparelhamento ou associao, estratgia que consiste em analisar as informaes a partir de um modelo terico prvio (FIORENTINI e LORENZATO (2007, p. 138).

    Com a anlise deste material didtico, busca-se identificar seus agentes e as instituies que esto envolvidas na produo deste material. Na identificao destes agentes, busca-se estudar a trajetria individual de cada um, buscando compreender o seu capital, entendendo, de acordo com Bourdieu (2013), que determinado volume de capital herdado corresponde um feixe de trajetrias praticamente equiprovveis que levam a posies praticamente equivalentes trata-se do campo dos possveis oferecido objetivamente a determinado agente (BOURDIEU, 2013, p. 104, grifos do autor)

    Com a anlise de contedo e, a partir deste referencial terico, outras fontes tambm podero ser consideradas, tais como os livros de autoajuda, as produes acadmicas de outras reas do conhecimento, bem como outros materiais didticos publicados no Brasil.

    Para completar a pesquisa emprica, algumas entrevistas podero ser realizadas, tendo como pblico alvo, pesquisadores da rea da Educao Matemtica. Para a escolha desses pesquisadores, pode-se levar em considerao o maior nmero de pesquisas

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    sobre a temtica, de acordo com o Banco de Teses e Dissertaes da CAPES. Alm desses pesquisadores, alguns educadores financeiros que publicam sobre o assunto tambm podero ser entrevistados.

    O olhar dado ao tema nesta pesquisa nos aponta a possibilidade de interpretar e entender quais so as doxas, das diversas reas de conhecimento, que influenciam a temtica para a sala de aula.

    RESULTADOS PARCIAIS OU ESPERADOS

    Com a anlise dos materiais selecionados para a pesquisa e as trajetrias dos agentes envolvidos na publicao destes materiais, ser possvel responder aos questionamentos e contemplar os objetivos da investigao, contribuindo com os estudos que esto relacionados ao tema da Educao Financeira no Brasil.

    Ao analisar as trajetrias dos pesquisadores que atuam na rea da Educao Matemtica e pesquisam, atualmente, o tema Educao Financeira, poderemos compreender de que forma esta temtica, estudada por esse pblico especfico, est sendo pensada para o ambiente escolar, com vistas a identificar tambm as influncias que a ENEF tem exercido nas posies assumidas por esses pesquisadores. CRONOGRAMA / FASE DA PESQUISA

    Para realizao desta pesquisa, foi elaborado um cronograma (Fiorentini e Lorenzato, 2007), com o objetivo de organizar os trabalhos que sero desenvolvidos:

    Atividade/Periodo 1 sem.

    2 sem.

    3 sem.

    4 sem.

    5 sem.

    6 sem.

    7 sem.

    8 sem.

    Cursar disciplinas (indicar se obrigatrias (Ob) e/ou

    optativas (Op))

    Ob. e Op.

    Ob. Ob. e Op.

    Ob.

    Definio do tema/problema de

    pesquisa

    X X

    Definio metodolgica X X X

    Levantamento bibliogrfico

    X X X X

    Leitura e reviso bibliogrfica

    X X X X

    Coleta de dados X X X

    Organizao e anlise dos dados

    X X X

    Redao preliminar X X X

    Redao para exame de qualificao

    X X

    Redao final X X

    Defesa X

    REFERNCIAS

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    ALMEIDA, R.M. O Estado da Arte das pesquisas em Educao Financeira no contexto Educao Financeira Escolar. In: XIX Encontro Brasileiro de Estudantes de Ps-Graduao em Educao Matemtica, Juiz de Fora, MG, Anais... Juiz de Fora, MG: UFJF, 2015. ARAJO, F.C.; Calife, F.E. A Histria no contada da Educao Financeira no Brasil. In: Roque, J.R.R. (Org.) Otimizao na Recuperao de Ativos Financeiros, So Paulo: IBeGi, vol. 4, 2014. BOURDIEU, P. A Distino: critica social do julgamento. 2. ed. Porto Alegre, RS: Zouk, 2013. BOURDIEU, P., Passeron, J.C. A Reproduo: elementos para uma teoria do sistema de ensino. 7 ed. Petrpolis, RJ: Vozes, 2014. BOURDIEU, P. O Campo Cientfico. In: ORTIZ, R. Sociologia. So Paulo: tica, p. 122-155, 1983. BOURDIEU, P. Razes Prticas: sobre a teoria da ao. 9 ed. Campinas, SP: Papirus, 2008. BRASIL. Educao financeira nas escolas: ensino fundamental. 1 ed., Elaborado pelo Comit Nacional de Educao Financeira (CONEF) Braslia: CONEF, 2014. BRASIL. Educao financeira nas escolas: ensino mdio. Elaborado pelo Comit Nacional de Educao Financeira (CONEF) Braslia: CONEF, 2013. CAMPOS, A. B. Educao Financeira Crtica e a Tomada de Decises de Consumo de Jovens-Indivduos-Consumidores. In: Encontro Nacional de Estudantes de Ps-Graduao em Educao Matemtica, 17, 2013, Vitria ES, Anais... Vitria, ES: IFES/UFES, 2013. CAMPOS, C.R., TEIXEIRA, J., COUTINHO, C.Q.S. Reflexes sobre a Educao Financeira e suas interfaces com a Educao Matemtica e a Educao Crtica. Educao Matemtica e Pesquisa, So Paulo, v. 17, n. 3, p. 556-577, 2015. CERBASI, G. Casais Inteligentes Enriquecem Juntos. 1 ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2014. CERBASI, G. Como organizar sua vida financeira: inteligncia financeira pessoal na prtica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. CERBASI, G. Os segredos dos Casais Inteligentes. Rio de Janeiro: Sextante, 2012. DAQUINO, C. Dinheiro compra tudo? 1 ed., So Paulo: Moderna, 2016. DOMINGOS, R. Coleo DSOP de Educao Financeira, So Paulo: DSOP, 2001. FIORENTINI, D.; LORENZATO, S. Investigao em Educao Matemtica: percursos tericos e metodolgicos. Campinas: Autores Associados, 2007 (Coleo Formao do Professor). HEY, A. P. e CATANI, A. M. Bourdieu e a Educao. In: Cult: Revista Brasileira de Cultura, n. 128, ano 11, set/2008. HORNOS, A. P. Educao Financeira e Valores, So Paulo: FTD, 2015. LEITE, E. S. Reconverso de Habitus: o Advento do Iderio de investimento no Brasil. 2011. 190 p. Tese (Doutorado em Sociologia) Centro de Educao e Cincias Humanas, Programa de Ps-Graduao em Sociologia, Universidade Federal de So Carlos, So Carlos. LIMA Jr, H. A. Educao Matemtica Financeira: uma proposta de desenvolvimento com alunos do Ensino Fundamental na perspectiva ambiental. In: XIX Encontro Brasileiro de Estudantes de Ps-Graduao em Educao Matemtica, Juiz de Fora, MG, Anais... Juiz de Fora, MG: UFJF, 2015. NOGUEIRA, M. A. A Sociologia da Educao do final dos anos 60/incio dos anos 70: o nascimento do paradigma da reproduo. Em Aberto, Braslia, ano 9, n. 46, p. 49-58, abr./jun, 1990. NOGUEIRA C. M. M. e NOGUEIRA, M. A. A Sociologia da Educao de Pierre Bourdieu: limites e contribuies. Educao & Sociedade, ano XXIII, n. 78, Abril, p. 15-36, 2002.

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    VALLE, I. R. O Lugar da educao (escolar) na sociologia de Pierre Bourdieu. Rev. Dilogo Educ., Curitiba, v. 13, n. 38, p. 411-437, jan./abr. 2013. ZERO, A.H., FERNANDES, L.F.B, O Consumo Consciente. Campinas: Edio do autor, 2011.

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    A CONTAO DE HISTRIAS PELA PERSPECTIVA DE QUEM OUVE: SIGNIFICADOS ATRIBUDOS PELAS CRIANAS

    Bianca Mayra Cellani (Mestranda) Prof. Dr. Aline Sommerhalder (Orientadora) Linha de Pesquisa: Prticas Sociais e Processos Educativos

    RESUMO: O presente projeto de pesquisa apresenta proposta de investigao acerca dos significados que crianas atribuem a contao de histrias em contexto de Educao Infantil. Tm-se como questo de pesquisa: Que significados crianas de Educao Infantil atribuem s histrias infantis que lhe so contadas? O objetivo geral da pesquisa compreender significados expressos por crianas em relao s histrias infantis que escutam em momentos de contaes na Educao Infantil. Como objetivos especficos, pretendemos identificar estes significados expressos pelas crianas e analis-los. A perspectiva desta pesquisa qualitativa, por meio de estudo de caso. Os participantes sero crianas de 4 a 6 anos, matriculadas em uma turma de Educao Infantil. Ser realizada observao participante, com registro em dirios de campo, e rodas de conversa, utilizando de filmagens para registro de narrativas infantis. Para a anlise dos dados, ser utilizada a anlise de contedo. PALAVRAS-CHAVE: Contao de histrias. Educao infantil. Prticas Sociais e Processos Educativos. BREVE DELIMITAO DO TEMA

    Durante minha trajetria profissional enquanto Pedagoga, a contao de histrias foi se constituindo uma caracterstica do meu trabalho. Com o passar do tempo, fui compreendendo a potencialidade que a contao de histrias possui em relao ao desenvolvimento infantil. Uma compreenso que encontra ressonncia em autores como Zane (2013), Radino e Oliveira (2006) e Marques (2013), os quais, mesmo que de diferentes perspectivas tericas, afirmam que as histrias so importantes ao desenvolvimento infantil, sejam elas contos de fadas, contos tradicionais, fbulas ou mitos, por exemplo.

    No entanto, as histrias infantis, ainda que respaldadas por produes cientficas que evidenciam sua importncia a aprendizagem e desenvolvimento da criana, por pertencerem ao universo fantstico, assim como os jogos, as brincadeiras e os brinquedos, ainda so marginalizadas no contexto escolar. Isto se deve a prpria trajetria histrica da educao escolar, ao modo como ela foi se constituindo ao longo do tempo. Vasconcelos (2006) em uma espcie de retrospectiva histrica, demonstra como o brincar (e assim, a fantasia e as emoes), ao passo em que comeou a ser valorizado por filsofos e educadores a partir do sculo XIX, tendo ressaltado seu valor social e cultural, foi, concomitantemente, desconsiderado do projeto da Escola Tradicional, este pautado na concepo dualista de homem, em que razo e emoo so esferas distintas e estanques. Com este pressuposto, a formao pretendida por essa escola propunha que o aspecto racional prevalecesse sobre o emocional.

    Hoje em dia, apesar de esta dicotomia entre razo e emoo estar superada no mbito cientfico, segundo Vasconcelos (2006), a concepo dualista de ser humano continua presente no imaginrio dos educadores quando, por exemplo, estes se referem s crianas em relao aos seus aspectos cognitivos e afetivos, como se fossem aspectos separados do desenvolvimento humano e pudessem desenvolver-se

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    independentemente um do outro. Cognitivo e afetivo, portanto, apresentam-se como uma nova terminologia utilizada para propagar uma crena muito antiga, afinal, o aspecto cognitivo ou a razo ainda tende a ser mais valorizado nas escolas, enquanto o afetivo ou emocional, no qual est compreendido o brincar e neste, as histrias e seus objetos ldicos de apoio para este contar (como o livro de histrias infantis), continua sendo desvalorizado.

    No mesmo esforo de compreender as origens da escola tradicional e traar paralelos com o atual cenrio de desvalorizao do ldico na escola contempornea, temos ainda Oliveira (2006) e Freire (2006).

    Ancorados no pressuposto de que o ldico, o humor, o prazer, o jogo e, portanto, tambm a contao de histrias, so ainda hoje marginalizados dentro da Escola, vtimas da concepo ainda presente de que a razo e a emoo, o cognitivo e o afetivo, so esferas estanques, em que a esfera racional mais valorizada que a emocional/afetiva, pretendemos investigar, pela perspectiva das crianas, que significados elas atribuem as histrias. J conhecemos produes cientficas que apontam a concepo que o ldico e atividades que o permeiam, tais como a contao de histrias, vem assumindo ao longo da Histria da Educao e se efetivando nas prticas pedaggicas. Assim, pretendemos, neste trabalho, investigar as concepes das crianas em relao a contao de histrias.

    Alm de tratar-se de uma pesquisa que prope escutar e conhecer as vozes de crianas, como protagonistas tambm de seu processo educativo, justifica-se ainda sua relevncia como produo e divulgao, a posteriori, de um conhecimento cientfico sobre as histrias infantis (e com isso, da fantasia e da imaginao) na educao e cuidado de crianas e seus processos de aprendizagem, em contextos de Educao Infantil.

    Nesse sentido, tem-se como questo de pesquisa: Que significados crianas de Educao Infantil atribuem s histrias infantis que lhe so contadas? OBJETIVOS

    O objetivo geral da pesquisa compreender significados expressos por crianas em relao s histrias infantis que escutam em momentos de contaes na Educao Infantil. Como objetivos especficos, pretendemos (1) identificar significados expressos por crianas em momentos de contao de histrias infantis e (2) analisar estes significados.

    METODOLOGIA

    A presente pesquisa configura-se como de natureza qualitativa, uma vez que atende as caractersticas apontadas por BOGDAN e BIKLEN (1994), como: ir at o ambiente natural em que ocorrem as aes que pretendemos investigar; ser descritivo em relao s observaes realizadas, por meio de notas de campo, por exemplo; interessar-se mais pelo processo do que pelo produto final, exatamente porque o que pretendemos capturar o sentido que as crianas atribuem a contao de histrias, algo processual e que no se traduz pontualmente em determinado resultado ou produto. Faz deste trabalho qualitativo, ainda, o fato de realizarmos anlise indutiva, pois no estamos indo a campo com hipteses pr-concebidas a serem confirmadas ou refutadas. Alm disso, como j indicado, nos coloca em conformidade com este tipo de pesquisa, ainda, o fato de darmos importncia crucial ao significado que os participantes atribuem aos processos, a vida, as suas realidades, dado que o prprio objetivo geral do trabalho , justamente, capturar os significados que as crianas atribuem a contao de histrias.

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    Esta pesquisa, ainda, define-se enquanto um estudo de caso (YIN, 2001). Segundo Ludke e Andr (1986), os estudos de caso pretendem representar pontos de vista diferentes ou conflitantes presentes em uma situao social. Pensamos que tal afirmao justifica nossa escolha por realizarmos a pesquisa em uma Escola na qual j tivemos oportunidade de verificar, por meio de minha experincia enquanto docente nesta instituio e, recentemente, por meio de insero participante por ocasio do trabalho para a disciplina de Prticas Sociais e Processos Educativos, que a fantasia valorizada em suas prticas pedaggicas, tendo, por exemplo, contaes de histrias diariamente em toda a Educao Infantil, algo que, como a literatura indica, contraria a histria da educao, a qual evidencia que a fantasia foi desvalorizada em face da valorizao da racionalidade, como j apontado anteriormente.

    Em relao aos instrumentos de coleta, optamos pela observao participante dos momentos de contao de histrias infantis para as crianas, com registros em dirios de campo, tal como propem Bogdan e Bilklen (1994). Tambm sero realizadas rodas de conversa, com registro de narrativas infantis, a partir das consideraes de Medeiros (2010). As rodas de conversa sero realizadas no mesmo espao da Educao infantil, aps a contao de histrias, tomando como referncia as proposies de Moura e Lima (2014) que anunciam que na roda, a conversa ocorre de maneira mais profunda e ponderada, uma vez que as falas so construdas a partir do ponto de vista do outro, concordando-se ou no com ele, tendo um mediador presente. Desta forma, a roda de conversa configura-se como um instrumento vlido para coleta de narrativas infantis e possibilitar que as crianas se expressem e reflitam sobre os temas propostos.

    A opo pelos dirios de campo como registro da observao participante justifica-se pelo fato de que as narrativas infantis, que viro em momento posterior observao participante, diro respeito ao momento da observao, de modo que o registro destas observaes se faz importante para conferir as narrativas o contexto a que se referem. J a opo pelas narrativas justifica-se porque este processo de recontar os fatos vividos - assim como as histrias ouvidas - promove que as crianas revivam os momentos do passado, no simplesmente recontando-os fielmente, mas impregnando suas narrativas dos sentidos que elas prprias atribuem este passado ou a estas histrias, como o nosso caso

    Para a anlise dos dados, ser utilizada a anlise de contedo com construo de categorias a posteriori, tomando como referncia Bardin (2010) e Franco (2007). RESULTADOS PARCIAIS OU ESPERADOS CRONOGRAMA / FASE DA PESQUISA

    2016

    DATA ATIVIDADE

    Continuamente Leitura e estudo de literaturas (conceitos e metodologia)

    Maro a junho Realizao de Disciplinas, Reunies de Orientao e Finalizao do Projeto de Pesquisa (junho)

    Maio, Junho e Julho Elaborao do levantamento bibliogrfico

    Julho e Agosto Elaborao com entrega do Primeiro Texto de Captulo de Referencial Terico (entrega em final de agosto)

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    Setembro a Dezembro Pesquisa de Campo Coleta de Dados

    Agosto a Dezembro Elaborao, entrega e Aprimoramento da escrita dos captulos de referencial terico

    2017

    DATA ATIVIDADE

    Janeiro e Fevereiro de 2017 Elaborao do captulo de caminho metodolgico com entrega da primeira verso escrita e Finalizao da construo dos captulos de Referencial Terico.

    Maro, abril e maio Maro Finalizao do Captulo de Caminho Metodolgico Abril e Maio - Organizao e Primeira escrita do captulo de apresentao dos resultados

    Abril e Maio Produo de texto de introduo para exame de qualificao

    Maio Finalizao do Captulo de Apresentao dos Resultados para exame de qualificao

    Final de Junho Exame de qualificao

    Julho a Dezembro Aprimoramento do relatrio de dissertao apresentado aps qualificao (em atendimento ao exame de qualificao), Elaborao do Captulo de Anlise e Discusso de Resultados e do Captulo de Consideraes Finais - Concluso

    2018

    DATA ATIVIDADE

    Janeiro Finalizao do relatrio de dissertao para solicitao de exame de defesa

    At fevereiro Exame de defesa

    REFERNCIAS RODARI, Gianni. Gramtica da Fantasia, So Paulo: Summus, 1982 ZANE, Valria Cristina. Processos de desenvolvimento afetivo e sociomoral e sua importncia para relaes interpessoais saudveis. In: KOBAYASHI, Maria do Carmo Monteiro (Org.). Literatura Infantil na formao do leitor. Bauru, SP: Canal 6 Editora. 2013 RADINO, Glria e OLIVEIRA, Maria Lcia de. As transformaes da bruxa na literatura infantil contempornea. In: OLIVEIRA, Maria Lcia de (Org.). Pesquisa em Educao e Psicanlise. Araraquara: FCL- UNESP Laboratrio Editorial; So Paulo: Cultura Acadmica Editora, 2006. MARQUES, Gustavo Orlandeli. Psicologia analtica e literatura infantil. In: KOBAYASHI, Maria do Carmo Monteiro (Org.). Literatura Infantil na formao do leitor. Bauru, SP: Canal 6 Editora. 2013.

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    COELHO, Nelly Novaes. O conto de Fadas: smbolos mitos arqutipos. So Paulo: Paulinas, 2012. VASCONCELOS, Mrio Srgio. Ousar brincar. In: ARANTES, Valria Amorim (org.). Humor e Alegria na Educao. So Paulo: Summus, 2006. OLIVEIRA, Maria Lcia de. Escola no lugar de brincar? In: In: ARANTES, Valria Amorim (org.). Humor e Alegria na Educao. So Paulo: Summus, 2006. FREIRE, Joo Batista. Uma pedagogia ldica. In: In: ARANTES, Valria Amorim (org.). Humor e Alegria na Educao. So Paulo: Summus, 2006. BOGDAN, Robert C. e BIKLEN, Sari Knopp. Investigao Qualitativa em Educao uma introduo teoria e aos mtodos. Porto : Porto Editora, 1994. LUDKE, Menga e ANDR, Marli. E. A. Pesquisa em Educao: Abordagens Qualitativas. So Paulo: E.P.U, 1986. MACHADO, Regina. Acordais: Fundamentos Terico-Poticos da Arte de Contar Histrias. Ilustraes de Luiz Monforte. So Paulo: DCL, 2004. MEDEIROS, A. B. de. Crianas e Narrativas: modos de lembrar e de compreender o tempo na infncia. Cad. Cedes, Campinas, vol. 30, n. 82, p. 325-338, set.-dez. 2010. Disponvel em http://www.cedes.unicamp.br MOURA, Adriana Ferro; LIMA, Maria Glria. A reinveno da roda: roda de conversa: um instrumento metodolgico possvel. Revista Temas em Educao, Joo Pessoa, v.23, n.1, p.98-106, jan.-jun.2014.

    http://www.cedes.unicamp.br/
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    A DEFESA DO MUNDO PBLICO: UM ESTUDO DO CONCEITO DE AUTOGESTO EM ROSA LUXEMBURGO

    Ana Maria Stabelini (Doutoranda) Prof. Dr. Sandra Aparecida Riscal (Orientadora) Linha de Pesquisa: Educao, Cultura e Subjetividade RESUMO: Este projeto tem como proposta um estudo conceitual da obra de Rosa Luxemburgo, com o intudo de apreender e refletir sobre a concepo de autogesto e sua articulao com as concepes de conselhos, espao pblico e realizao da liberdade humana, em seus escritos. Parte-se de discusses que se apresentam como aspectos fundamentais na elaborao conceitual de sua obra, quais sejam: a crtica a burocracia e a defesa da liberdade poltica, a sua concepo de socialismo democrtico e histria, suas contribuies acerca da questo da formao de Estados Nacionais e da formao de rgos participativos como os conselhos de operrios. Partimos da hiptese de que os conselhos autogestionrios, constitudos como espaos de realizao de autonomia e liberdade, visariam a formao de uma conscincia pblica, fundada na ao poltica de carter revolucionrio. Para que se atinjam os objetivos aqui propostos, ser realizado um estudo conceitual, com vistas anlise de concepes presentes na obra de Rosa Luxemburgo que podem explicitar seu conceito de autogesto. PALAVRAS-CHAVE: Filosofia da educao, Autogesto, Rosa Luxemburgo INTRODUO

    Este projeto de pesquisa aborda alguns aspectos das concepes apresentadas nos textos de Rosa Luxemburgo com a finalidade de propor um estudo sobre o conceito de autogesto presente nas elaboraes tericas desta autora. A obra de Rosa Luxemburgo oferece perspectivas interessantes e atuais para a compreenso de questes pertinentes aos estudos sobre as formas de gesto pblica. Sua perspectiva de autonomia, bem como a nfase democracia relevante, particularmente, por assumirem caractersticas inovadoras para sua poca e atual para os debates contemporneos.

    Durante o desenvolvimento deste projeto buscar-se- realizar uma pesquisa conceitual na obra de Rosa Luxemburgo, tendo como finalidade abordar aspectos relevantes que no tm a necessria ateno no campo educacional. Em particular, no que diz respeito a seu conceito de autogesto, visando explorar sua obra de forma a propor discusses que possam contribuir para a rea da educao e de gesto educacional. Tomaremos como ponto de partida o estudo de Maurcio Tragtenberg, que foi um estudioso da rea da gesto e tambm leitor de Rosa Luxemburgo para verificarmos, em seguida, a importncia dos escritos de Rosa Luxemburgo sobre as questes como autonomia, autogoverno e conselhos de operrios.

    Rosa Luxemburgo (1871-1919) foi uma importante terica polonesa do campo da cincia poltica. Em decorrncia de sua participao no movimento operrio polons, refugiou-se na Sua e l iniciou seus estudos na Universidade de Zurique onde anos depois, em 1897, defendeu sua tese de doutorado sobre o desenvolvimento econmico da Polnia. No final da dcada de 1890, mudou-se para a Alemanha e se tornou militante do Partido Social Democrata Alemo (SPD) com o qual rompeu, tempos depois, pela discordncia em relao s posies majoritrias do partido. Foi uma mulher ativa politicamente, envolvendo-se em debates sobre o socialismo democrtico durante

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    momentos importantes dos movimentos de esquerda de sua poca, fato que lhe proporcionou uma rica reflexo sobre esses momentos histricos. Por sua militncia ativa foi presa trs vezes e sua quarta deteno em 1919 culminou em seu assassinato. Ela viveu em um perodo histrico peculiar em que ocorreram dois momentos revolucionrios que ficaram conhecidos como a revoluo Russa de (1905) e a revoluo Alem (1918) posterior, fatos que possibilitaram a Luxemburgo envolver-se com o movimento revolucionrio e exercer uma crtica coerente s posies adotadas pelos partidos socialistas (Bolcheviques 1917 e SPD 1918) perante esses acontecimentos.

    Hannah Arendt (1987), em seu artigo sobre Rosa Luxemburgo, estabelece um dilogo com a bibliografia da autora escrita por John Peter Nettl e faz seus apontamentos acerca das polmicas, erros e acertos que envolvem essa importante figura. De forma clara, firme e coerente ela faz uma interpretao da biografia como uma das mais completas a respeito deste tempo histrico (incio do sc. XX) atravessado e refratado pelo prisma de um grande carter (Arendt, 1987.p. 37) e aponta elementos da vida e obra dessa autora que deixam ntidas algumas questes que so, muitas vezes, mal compreendidas, destacando o fato de Rosa Luxemburgo ter sido considerada uma figura marginal no movimento de esquerda alemo.

    Foi um golpe de gnio da parte do Sr. J. P Nettl escolher a vida e a obra de Rosa Luxemburgo, a candidata mais improvvel, como tema adequado a um gnero que aparece como apropriado apenas s vidas de grandes estadistas e outras figuras do mundo. Ela certamente no era dessa espcie. Mesmo em seu mundo pessoal do movimento socialista europeu, era uma figura antes marginal com momentos relativamente breves de esplendor e grande brilho, cuja influencia por gestos e palavras escritas dificilmente pode-se comparar de seus contemporneos a Plekahnov, Trotski e Lenin, a Babel e Klautsky, a Jaures e Millerand. (Arendt, 1987. p. 38)

    Nos momentos revolucionrios que vivenciou seu apoio foi dado aos conselhos de operrios1, considerando-os como rgos legtimos para exercerem o poder. Sua discordncia em relao s posies majoritrias do SPD e seu profundo desgosto aps a aprovao dos crditos da primeira guerra mundial pelo partido levaram-na, neste momento, a romper com o SPD e criar juntamente a Karl Liebknechte outros socialistas o Grupo Internacional que em novembro de 1918 passa a se chamar Liga dos Spartakus.

    Loureiro (2004) em Rosa Luxemburgo: os dilemas da ao revolucionria realiza um trabalho filosfico, buscando estabelecer uma conexo entre teoria e prtica nos temas fundamentais para compreenso de sua obra. Neste sentido, afirma que a teoria poltica de Rosa Luxemburgo uma teoria de ao revolucionria, ou seja, uma teoria voltada para a prtica. Em suas palavras: para ela a teoria est a servio da prtica (Loureiro, I. 2004. p. 45.). E esse entrelaamento entre teoria e prtica se d de tal forma na vida e na obra da referida autora que impossvel compreender uma sem a outra. A prpria figura de Rosa Luxemburgo transmite a noo de unidade. Por esse motivo sua obra no linear e fechada, por mais contraditrio que isso possa parecer, a questo

    1 Os conselhos de operrios e soldados (COS) surgiram na Alemanha no perodo da revoluo que resultou na queda da Monarquia (1918-1919).

    http://www.goodreads.com/author/quotes/778017.John_Peter_Nettl
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    justamente que sua ao enquanto militante acompanha os questionamentos constantes presentes em seus escritos e sua trgica morte tambm revela essa faceta (Loureiro, 2004).

    A seguir, ser exposta, uma reviso da literatura que aborda questes presentes na obra de Rosa Luxemburgo, retomando os pontos que so considerados fundamentais para o desenvolvimento deste projeto: a crtica burocracia, a defesa da liberdade poltica, sua concepo de socialismo democrtico e de histria, as questes acerca da autonomia, autogoverno e dos conselhos de operrios

    MAURCIO TRAGTENBERG E OS ESTUDOS SOBRE GESTO E ROSA LUXEMBURGO

    Para uma discusso inicial escolhemos abordar o estudo de Maurcio Tragtenberg sobre Rosa Luxemburgo. Ele, que se denominava um marxista anarquizante, tem uma leitura especfica desta autora e prope uma discusso acerca dos movimentos de esquerda e suas limitaes quanto a seus objetivos a partir de pontos que so centrais para a compreenso dos escritos de Rosa Luxemburgo: a crtica burocracia e a defesa da liberdade.

    Tragtenberg (1991), em um artigo intitulado Rosa Luxemburgo e a crtica aos fenmenos burocrticos, destaca que os movimentos de esquerda at hoje no apresentaram uma proposta que visasse implementao do modelo socialista. Entretanto, as teorias e movimentos anarquistas avanaram, contribuindo para reflexes sobre superestrutura, com anlises de movimentos sociais, na luta contra a burocracia e na defesa da liberdade como valor.

    H uma confuso entre as interpretaes da obra de Rosa Luxemburgo em relao ao socialismo e a social democracia. Ela , por vezes, interpretada como social democrata, mas Tragtenberg (1991) chama ateno para essa confuso, explicitando que a social democracia de origem Lassaliana2. Principalmente na Alemanha em termos de socialismo nacional. Esta concepo apresenta-se como a forma moderna de reproduo do capital e no tem relao com a obra de Marx: Lassalle era mais bismarckiano do que propriamente marxista (Tragtenberg, 1991. p.38)

    Na obra de Rosa Luxemburgo, a concepo de democracia adquire um sentido particular, diferenciando-se da democracia liberal e se aproximando das perspectivas de autogesto, por ser este um elemento que traz a possibilidade de pensar o socialismo como um sistema que ao mesmo tempo elimine a sociedade de classes e a explorao burguesa (Rotolo, 2006). Para ela se o poder poltico for realizado via parlamento, mesmo que por um partido socialista, haveria a reproduo das relaes de poder burguesas e pouca participao popular. A democracia, neste sentido, no entendida como uma forma de luta, mas sim como um valor que deve estar presente tanto no decorrer das lutas como no objetivo final destas.

    Neste sentido, a democracia parece estar ligada ao desenvolvimento pleno do espao pblico, que ela considera como local privilegiado para a livre circulao de opinies, embate de ideias. Luxemburgo destaca ainda que h impossibilidade em se concretizar uma revoluo socialista como projeto de uma minoria, porque esta depende, necessariamente, da ao das massas.

    H duas elaboraes que so originais na obra de Rosa Luxemburgo: 1) A relao reciproca entre espontaneidade e conscincia na ao das massas; 2) A relao entre processo evolutivo objetivo da histria e ao revolucionria. O socialismo para

    2 Refere-se s concepes do alemo Ferdinand Lassalle.

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    Luxemburgo significa uma possibilidade histrica objetiva e o desfecho dessa possibilidade dependeria da dupla e inseparvel dialtica entre condies histricas concretas e ao consciente do ser humano (Soares, 2009).

    Rosa Luxemburgo entende a revoluo como um processo de construo de uma forma completamente nova de se relacionar com o mundo pblico, por esse motivo, no podem existir modelos prvios. Ela defende tambm a emancipao subjetiva com liberdade de imprensa e opinio e faz uma crtica a revoluo russa por no respeitar esses aspectos. Portanto, ela considera que no desenvolvimento das lutas que poderiam ser criadas estruturas igualitrias que so contraditrias com as relaes da sociedade capitalista.

    Portanto, Rosa Luxemburgo estava atenta ao problema da participao de base, ao papel de conselho dos trabalhadores e sua importncia para o movimento socialista. E essa preocupao pertinente a tradio marxista porque, de acordo com Tragtenberg, Marx valoriza um conceito que foi esquecido no marxismo-leninismo: o conceito de associao

    A I Internacional de Trabalhadores chamou-se Associao Internacional dos Trabalhadores. Marx dizia que o operrio vale como fora coletiva, mas pouco como indivduo. S tem valor como fora coletiva. E o que vai ocorrer? O operrio, para suprimir a concorrncia que o capital estabelece entre ele, parte para a luta reivindicatria. A se organiza em forma de associao entre iguais e organizaes horizontais em que todos so iguais, e nenhum mais igual que o outro. (Tragtenberg, 1991. p.43)

    No estudo das organizaes realizado por Tragtenberg (1991) ele realiza uma forte crtica burocracia, identificando Max Weber como um dos maiores crticos da dominao burocrtica. Por esse motivo, simpatiza com as teses conselhistas de Rosa Luxemburgo, pois valoriza, alm da autogesto, a autonomia do indivduo. E, de acordo com suas colocaes nas manifestaes anarquistas, a educao assume enorme importncia no processo revolucionrio tema tratado por Rosa Luxemburgo em A questo nacional e a autonomia, que abordaremos a seguir.

    QUESTO NACIONAL, AUTONOMIA E AUTOGOVERNO

    No livro A questo nacional e autonomia h uma srie de artigos escritos por Rosa Luxemburgo e que datam de 1908 1909 e foram traduzidos tardiamente, permanecendo inditos em outras lnguas at 1971, ano em que foi publicada uma parte desses artigos na revista francesa Politique aujourdhui e outra parte na Partisans. Em 1979 o texto foi integralmente editado na revista argentina Cuadernos de passado y presente, n. 81 em uma traduo direta do polons. Em 1980 foram publicados dois artigos em Questo nacional e marxismo. Apenas em 1988 Primeira verso desses artigos na integra em portugus que foram traduzidos da verso em espanhol. Entretanto, essas edies no esto completas. H apenas uma edio francesa deste livro que contm todos os artigos dessa poca escritos por Rosa Luxemburgo3.

    Nessa srie de artigos Rosa Luxemburgo discute o apoio da social democracia dado a formao de Estados Nacionais, utilizando como exemplo a questo polonesa no

    3 Luxemburgo, R. La question nationale et l'autonomie. Le Temps des cerises, 2001.

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    imprio russo e demais exemplos em contexto internacional que lhe serviram como base para discutir essa questo. A partir dessa temtica ela discute com profundidade questes referente formao dos Estados modernos e alguns aspectos de modelos polticos e administrativos como o federalismo, o centralismo, o particularismo e o autogoverno, passando tambm por questes como: necessidades pblicas, burocracia, cultura e consumo. Tais artigos, que contm parte de suas concepes contrrias as de Lnin, receberam a rplica dele em dois ensaios: Notas crticas sobre a questo nacional e Sobre o direito das naes a autodeterminao.

    J.P Netll (1974), em sua biografia sobre Rosa Luxemburgo, faz um apndice ao final do livro com um artigo especificamente para comentar a questo nacional nas perspectivas da autora. Segundo ele a polemica acerca da questo nacional preocupou socialistas poloneses no incio da dcada de 1880. A questo passa pelo imprio russo e a autonomia dos Estados que o compunham. Em 1892 foi fundado na Polnia o Partido Socialista Polons (em polons: Polska Partia Socjalistyczna, PPS) em um contexto de luta pelo renascimento do Estado polaco inicialmente Rosa Luxemburgo participa desse partido, mas j em 1893 ela e um grupo de amigos deixam o PPS. O motivo foi a divergncia em relao questo nacional.

    Assim, em 1885 elabora sua primeira fundamentao da posio terica do SDKP, partido fundado pelos dissidentes do PPS, acerca da questo nacional e entre 1895 e 1897 ela escreveu os artigos que so a base terica de sua posio anti-nacionalista, discutindo o tema para alm da questo polaca. Para ela o programa de autodeterminao era um primeiro indcio do oportunismo burgus presente nos partidos socialistas, conceito que ela se debruaria tempos depois. (Netll, 1974)

    O que nos admira nesta frmula o fato dela no ter nenhuma ligao especfica com o socialismo ou com a poltica operria. Parece-nos j a primeira vista, que o direito das naes a autodeterminao uma parfrase do velho slogam do nacionalismo burgus de todos os pases e de todos os pases: o direito natural das naes liberdade era a forma dos nacionalistas, da Associao Democrtica Pobudka de Limanowski e da Pobudka socialista nacional anti-socialista liga nacional, antes que ela abandonasse o programa da independncia. (Luxemburgo, 1988. p. 58)

    No que diz respeito questo do nacionalismo, considera que a formula do direito das naes no basta para justificar a atitude de apoio dos socialistas quanto questo da formao de Estados por nacionalidades por no considerarem aspectos fundamentais como: as condies histricas desiguais (tempo e espao); a direo geral do desenvolvimento das condies universais e a teoria fundamental do socialismo moderno: a sociedade de classes. O conceito de nao considerado como um todo, representando assim uma unidade social e poltica hegemnica, entretanto, na sociedade de classe no existe a nao como entidade sociopoltica hegemnica, pois em cada nao existem classes com interesses e direitos antagnicos. Por esse motivo, a frmula de direito das naes no pode ser determinante para o ponto de vista de um partido socialista sobre a questo nacional (Luxemburgo, 1988).

    Um dos aspectos mais interessantes da argumentao era que a ideia mesma de nao temporal. Em lugar de ser uma norma absoluta e permanente de uma meno

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    indicava talvez no fora se no uma forma particular em que a sociedade burguesa condensava sua disposio estrutural, e que passaria a chegar ao estgio final capitalista da histria.

    Em um dos artigos que fazem parte do livro mencionado acima, denominado Centralismo e Autogoverno Rosa Luxemburgo discute a constituio do Estado moderno e a tendncia dupla ao centralismo e ao autogoverno. De acordo com ela a economia burguesa exige homogeneidade e eficcia e eficincia na execuo das funes estatais e a apario da burocracia est relacionada ao centralismo dos Estados modernos. No Estado medieval em economia de servido as funes pblicas estavam vinculadas propriedade rural, enquanto no absolutismo na idade mdia foram separadas as funes pblicas das propriedades agrrias dando origem a um grupo de funcionrios (Luxemburgo, 1988).

    Com o desenvolvimento moderno dos Estados capitalistas, a execuo de funes pblicas passou totalmente para as mos de funcionrios pagos; esse grupo social cresceu numericamente e gerou a burocracia estatal moderna. Se por uma parte a entrega de todas as funes pblicas a um corpo de funcionrios, dedicados totalmente a suas instituies e dirigidos mecanicamente atravs das decises e dos procedimentos de um centro poltico forte, esta de acordo com o esprito da economia burguesa [...], por outro lado, do ponto de vista da mesma economia a burocracia tem srios defeitos. (Luxemburgo, 1988. p. 108).

    Portanto, apesar da tendncia centralista da burocracia, isso tambm desfavorvel em alguns termos ao modo de produo capitalista porque o mesmo exige flexibilidade. Com o desenvolvimento de grandes centros urbanos surge a previdncia pblica como funo social, o interesse pela sade e instruo pblicas e ainda a necessidade de estradas e de meios de comunicao e a proteo de pessoas e propriedades. E com isso, junto a tendncia ao centralismo h tambm a tendncia a apario de autogovernos locais, baseado na participao da populao na execuo de funes estatais. (Luxemburgo, 1988). OS CONSELHOS E O ESPAO PBLICO

    Por meio dos escritos sobre os conselhos, Rosa Luxemburgo desata mais um n a questo da conscincia revolucionria. Ela adota uma concepo de educao poltica na prtica, recusando o papel de vanguarda intelectual do partido como algo descolado da massa. possvel, portanto, verificar nesse ponto o exemplo dos soviets4. Eles apresentam um esquema de luta que at aquele momento nunca fora empreendido. Tratava-se de um novo tipo de organizao proletria, que reforava a perspectiva de que a conscincia revolucionria formada mais no interior da luta em uma situao revolucionria, do que com uma educao rgida e formal de um partido. Tragtemberg

    4Os soviets surgiram de forma espontnea e semi-espontnea durante a revoluo russa e tinham como base a democracia direta. O incio desta forma de atuao poltica se deu a partir dos comits de greve, que se ampliaram, assumindo caractersticas de um rgo democrtico, amplo e flexvel. Sua estrutura era horizontal. Os delegados sovietes de operrios, camponeses e soldados eram eleitos com base em regras que variavam de acordo com as necessidades da populao local. Este rgo teve um funcionamento aberto e democrtico at aproximadamente o ano de 1918.

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    (2007) destaca que a teoria de Rosa Luxemburgo parecia ter encontrado sua forma na prtica, precisamente, no modelo de gesto utilizado pelos soviets.

    A notvel nfase que Rosa Luxemburgo atribui aos conselhos parece conectar os pontos centrais de sua obra: autonomia, espontaneidade e liberdade poltica. Rotolo (2008) afirma que os conselhos operrios so manifestaes que surgem no calor da revoluo como, por exemplo: nas sociedades populares na revoluo francesa; a comuna de paris (1871); os sovietes(1905) e o conselho de operrios e soldados (1917). H nesses modelos de gesto uma tentativa de realizar uma ao que se apresenta como uma alternativa para o controle do poder institudo na poca, modificando radicalmente sua forma. Segundo Arendt(1987):

    Naturalmente, seu primeiro contato com a revoluo real ensinou-lhe mais e melhores coisas do que a desiluso e as refinadas artes do desdm e da desconfiana. Da decorreu sua percepo sobre a natureza da ao poltica, que o Sr. Nettl considera corretamente como sua mais importante contribuio para a teoria poltica. O ponto principal que ela aprendera com o conselho de operrios revolucionrios (os posteriores sovietes) que a boa organizao no precede a ao, mas seu produto [...] (Arendt, 1987. p. 53).

    O conselho constituiria, neste sentido, um espao do exerccio da liberdade humana como uma forma de realizao do espao pblico de maneira autnoma. Destaca-se por se constituir como um meio de aprendizagem poltica na prtica, vivenciando a experincia de participao direta no conselho. Para Rosa Luxemburgo impossvel que se realize a democracia nos conselhos sem a liberdade de pensamento e, pois sua funo fundamentalmente democrtica seria distorcida.

    No caso da Alemanha o COS, produto da ao espontnea das massas, representaram para Rosa Luxemburgo um meio para se chegar ao socialismo, naquele momento, desde que fossem adotadas algumas medidas, quais sejam: o confisco da propriedade dos nobres e da propriedade fundaria; a aniquilao dos antigos rgos administrativos, jurdicos e do exrcito; Exerccio do poder poltico pelos COS. Tais medidas no se concretizaram dado que muitos de seus membros os viam como transitrios (Loureiro, 2004).

    Neste sentido, a experincia de novas formas de organizao, para Rosa Luxemburgo, exige a manuteno da ordem democrtica, e sua concepo de democracia parece consistir, justamente, na afirmao do carter pblico da ao poltica. Por este motivo, as experincias dos conselhos em momentos revolucionrios representaram para ela uma alternativa coerente e esquerda, diferenciando do que estava sendo proposto. As caractersticas apresentadas por esses rgos como, por exemplo, a existncia de fruns permanentes, a personificao de um novo poder, o espao de exerccio da liberdade humana, a articulao entre indivduo e coletividade caracterizariam a realizao do espao pblico (Rotolo, 2006). JUSTIFICATIVA

    O tema de pesquisa aqui proposto considerado original e relevante para a rea de educao na medida em que tem como objetivo realizar um estudo acerca do conceito de autogesto presente na obra de Rosa Luxemburgo, autora que demonstra oferecer perspectivas tericas pertinentes e atuais. A educao uma rea que converge saberes

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    e produz seus prprios significados a partir do estudo das problemticas atuais, das transformaes nas relaes humanas e dos novos paradigmas. A iniciativa de estudos conceituais de cunho filosfico proporciona a rea em que se insere uma perspectiva sobre autores ainda pouco explorados ou abordados por olhares diferentes, e pode contribuir para futuras pesquisas, colaborando tambm com estudos na rea de gesto escolar.

    Em pesquisa realizada no portal de banco de testes da CAPES no foi encontrada nenhuma tese que aborde esse tema. Foram encontrados alguns trabalhos com temas prximos, entretanto, tais estudos tm enfoque diferente do indicado por este projeto: a tese de Isabel Loureiro defendida na faculdade de filosofia e cincias humanas da Universidade de So Paulo (USP) foi publicada como livro: Rosa Luxemburgo e os dilemas da ao revolucionria. Duas dissertaes apresentam temas com alguma proximidade, so elas: 1) O socialismo democrtico segundo Rosa Luxemburgo de Tatiane de Macedo Soares Rotolo; 2) Organizao e espontaneidade: A relao dialtica e o papel de agente transformador na teoria de Rosa Luxemburgo de Sheila Aparecida Rodrigues Soares.

    Foi consultado tambm o portal da Associao Nacional de Pesquisa em Educao (ANPED) desde sua 32 reunio anual no Grupo de Trabalho (GT) 17 Filosofia da educao. Verificamos que nenhum trabalho aborda o problema proposto por este projeto. Neste sentido, consideramos que o tema aqui proposto original e relevante para os a rea em que se insere. OBJETIVOS E PROBLEMA DA PESQUISA

    A hiptese, da qual parte este estudo, foi formulada nos seguintes termos: os conselhos autogestionrios, tal como concebidos por Rosa Luxemburgo, constituiriam espaos de realizao de autonomia e liberdade, visariam a formao de uma conscincia pblica, fundada na ao poltica de carter revolucionrio.

    OBJETIVOS

    Temos como objetivo compreender, em que medida, os conselhos, concebidos como espao do exerccio da liberdade humana, constituiriam um campo propicio constituio de uma nova concepo de espao pblico, de carter participativo, que se traduziriam na aprendizagem de uma pratica poltica de autogoverno, autonomamente vivenciada.

    Buscar-se-, ainda, realizar um estudo voltado para caracterizao do conceito de autogesto, com a finalidade de realizar um trabalho a partir da reflexo sobre o pensamento desta autora, abordando as contribuies e possibilidades de dilogo desta produo com o campo da educao.

    Especificamente, buscaremos verificar sua concepo de ao educativa nos conselhos de forma a considerar: a) as possveis relaes entre os pontos centrais de sua obra: autonomia, autogoverno, liberdade e ao poltica e suas articulaes e mediaes, de forma a explicitar e compreender sua concepo de autogesto; b) Em que medida a anlise da gesto exercida pelos conselhos pode contribuir para a compreenso de uma relao entre conscincia e processo evolutivo da histria a partir da teoria de Rosa Luxemburgo; c) Em que medida a relao reciproca entre espontaneidade e conscincia na ao das massas aparece e justifica a teoria da autora; d)Analisar a atualidade e possveis conexes da obra de Rosa Luxemburgo com os movimentos polticos e as teorias polticas contemporneas.

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    PLANO DE TRABALHO E CRONOGRAMA DE SUA EXECUO A pesquisa est em desenvolvimento com estudos realizados, no Grupo de

    Estudos sobre Poltica Educacional, Soberania e Relaes de Poder, nas disciplinas de doutorado cursadas em programas de ps-graduao e a partir da leitura da obra de Rosa Luxemburgo e de seus estudiosos. Nossa inteno realizar uma parte desta pesquisa no exterior por meio de um programa de doutorado sanduche.

    Para a realizao desta etapa da pesquisa estabelecemos contato com o renomado socilogo Michael Lwy, que atualmente Directeur de recherches emerite no Centre dEtudes en Sciences Sociales du religieux (CeSor) da Ecole des Hautes Estudes em Sciences Sociales (EHESS) em Paris. Entendemos que o intercmbio entre pesquisadores para a realizao de pesquisas acadmicas de extrema importncia para a qualidade do estudo, pois a partir dessas iniciativas possvel o aprofundar a pesquisa em questo alm do acesso a cursos e bibliografias diferentes das disponveis aqui.

    Atividades/Semestre/Ano 1 15

    2 15

    1 16

    2 16

    1 17

    2 17

    1 18

    2 18

    1 19

    Cursar Disciplinas X X X X

    Reviso Bibliogrfica X X X X X

    Levantamento das Fontes Documentais X X X

    Consolidao dos referenciais tericos e metodolgicos

    X X X X X

    Estgio de Pesquisa no Exterior X X

    Elaborao de Relatrios semestrais X X X X X X X

    Anlise dos dados X X X

    Exame de Qualificao X

    Elaborao da Tese X X

    Defesa X

    MATERIAL E MTODOS

    Para a realizao da pesquisa conceitual proposta neste projeto ser utilizada fontes bibliogrficas j pesquisadas e outras que ainda sero investigadas. Pretende-se realizar a leitura completa da obra de Rosa Luxemburgo, particularmente do material ainda no traduzido para o portugus, recorrendo, sempre que necessrio, a obra original e quando no for possvel suas tradues. A partir da leitura inicial da obra, passaremos ao estudo dos temas centrais para a discusso sobre o conceito de autogesto aqui proposta. FORMA DE ANLISE DOS RESULTADOS

    Ser realizada uma leitura atenta de obras consideradas fundamentais para o desenvolvimento deste projeto e, aps a leitura inicial, proceder-se- a escolha das categorias de anlise que sero fundamentais para o trabalho argumentativo. Essas categorias sero escolhidas a partir da verificao de concepes que podem auxiliar na explicitao do conceito de autogesto presente na obra de Rosa Luxemburgo, de acordo com o cronograma exposto acima. Prope-se realizar tambm a leitura dos estudiosos da obra desta autora, visando verificar qual o debate acerca de suas ideias e como eles podem auxiliar a discusso aqui proposta. Pretendemos, ao realizar um estudo conceitual de sua teoria, possibilitar reflexes pertinentes ao campo da educao.

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    REFERNCIAS ARENDT, H. Rosa Luxemburgo 1871 1979. In: Homens em tempos sombrios. Trad. Denise Bottman; Posfcio Celso Lafter. So Paulo: Companhia das Letras, 1987. GORDON, U. Anarchism and Political Theory: Contemporary Problems. 2007. Disponvel em: http://theanarchistlibrary.org/library/uri-gordon-anarchism-and-political-theory-contemporary-problems. Acesso em: 29/05/2014. GURIN, Daniel. Rosa Luxemburgo et la spontaneite revolutionnaire. Amsterdam: Flammarion, 1971 LOUREIRO, I. Rosa Luxemburgo: Os dilemas da ao revolucionria. So Paulo, Ed.UNESP, 2004. ______. A atualidade de Rosa Luxemburgo. UFMG. 2012. Disponvel em: http://web.cedeplar.ufmg.br/cedeplar/site/economia/seminario/2012/ECN_30_05.pdf. Acesso em: 29/07/2014. LWY, M. Rosa Luxemburgo. In: Mtodo dialtico e teoria poltica. So Paulo: Paz e Terra, 1989. _