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Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Letras Programa de Pós-Graduação em Letras VIII Encontro do CELSUL CIRCULO DE ESTUDOS LINGÜÍSTICOS DO SUL - CELSUL Programação e Resumos 29 a 31 de outubro de 2008

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Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Letras Programa de Pós-Graduação em Letras

VIII Encontro do CELSUL CIRCULO DE ESTUDOS LINGÜÍSTICOS DO SUL - CELSUL

Programação e Resumos

29 a 31 de outubro de 2008

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Diretoria do CELSUL Biênio 2007/2008 Gisela Collischonn (UFRGS) - Presidente Sergio de Moura Menuzzi (UFRGS) - Vice-presidente Elisa Battisti (UCS) - Tesoureira Ingrid Finger (UFRGS) - Secretária

Secretaria Aline Gouveia de Medeiros Renata Pires de Souza Emanuel Souza de Quadros

Comitê Científico - Seleção de Pôsteres Bernadete Abaurre (UNICAMP) Cláudia Brescancini (PUCRS) Conrado Chagas (PPGL/UFRGS) Gabriel Roisenberg (PPGL/UFRGS) Ingrid Finger (IL/UFRGS) Luciana Pilatti Telles (PPGL/UFRGS)

Maria Lúcia de Oliveira Andrade (USP) Tatiana Keller (PPGL/PUCRS) Raquel Santana Santos (USP) Regina Mutti (FACED/UFRGS) Sabrina Abreu (IL/UFRGS) Sergio Menuzzi (IL/UFRGS) Tania Alkmim (UNICAMP)

Comitê Científico - Seleção de Comunicações nos GTs Adair Bonini (UNISUL) Adelaide Hercília Pescatori Silva (UFPR) Adriana de Carvalho Kuerten Dellagnelo (UFSC) Ana Maria de Mattos Guimarães (UNISINOS) Ana Maria Tramunt Ibaños (PUCRS) Carlos Rossa (PUCRS) Cátia de Azevedo Fronza (UNISINOS) Débora de Carvalho Figueiredo (UNISUL) Edair Maria Görski (UFSC) Eleonora Cavalcante Albano (UNICAMP) Evandra Grigoletto (UPF) Fábio José Rauen (UNISUL) Felício Wessling Margotti (UFSC) Giovana Ferreira-Gonçalves (UFSM) Giselle Mantovani Dal Corno (UCS) Iara Bemquerer Costa (UFPR) Ina Emmel (UFSC) Izabel Christine Seara (UFSC) Izete Lehmkuhl Coelho (UFSC) Jorge Campos da Costa (PUCRS) José Luiz Meurer (UFSC) Karen Pupp Spinassé (UFRGS) Leci Borges Barbisan (PUCRS) Leda Tomitch (UFSC) Luciana Pereira da Silva (UTFPR) Luciene Juliano Simões (UFRGS) Márcia Zimmer (UFSM) Márcio Renato Guimarães (UFPR)

Marcos Baltar (UCS) Marcos Goldnadel (UFRGS) Maria Ester Wollstein Moritz (UNISUL) Maria José Bocorny Finatto (UFRGS) Maria Marta Furlanetto (UNISUL) Marília dos Santos Lima (UFRGS) Mary Neiva Surdi da Luz (UNOCHAPECÓ) Neiva Maria Jung (UEM/UEPG) Odete Pereira da Silva Menon (UFPR) Otilia Lizete de Oliveira Martins Heinig (FURB) Patrícia Rodrigues (UEL) Pedro de Souza (UFSC) Pedro M. Garcez (UFRGS) Rafael Vetromille-Castro (UFRGS) Regina Ritter Lamprecht (PUCRS) Renata Vieira (PUCRS) Rosângela Gabriel (UNISC) Rosângela Hammes Rodrigues (UFSC) Rove Chishman (UNISINOS) Sandro Braga (UNISUL) Solange Mittmann (UFRGS) Teresa Cristina Wachowicz (UFPR) Terumi Koto Bonnet Villalba (UFPR) Ubiratã Kickhöfel Alves (UCPel) Valdir do Nascimento Flores (UFRGS) Valéria Monaretto (UFRGS) Vanderci de Andrade Aguilera (UEL) Verli Petri (UFSM) Vilson José Leffa (UCPel)

Organização do Livro de Programação e Resumos Marcos Goldnadel Gisela Collischonn

Capa Pedro Figueiredo de Abreu

ISBN 978-85-7590-114-4

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APRESENTAÇÃO

Desde sua criação, em 1995, o CELSUL – Círculo de Estudos Lingüísticos do Sul – tem-se constituído como ponto de convergência da profusão de estudos lingüísticos realizados na região Sul. Cada Encontro bienal do CELSUL tem sido o testemunho da diversidade e da qualidade da pesquisa lingüística desenvolvida não só na região, mas no país e no exterior, reunindo pesquisadores comprometidos com a ampliação das fronteiras do saber lingüístico. Essa ampliação resulta do esforço de pesquisa permanente de uma comunidade ciente de suas responsabilidades e do empenho continuado para a divulgação dos resultados alcançados.

Os Encontros do CELSUL constituem espaço privilegiado de discussão para todos os participantes, que têm a oportunidade de compartilhar suas descobertas com uma comunidade que, pela qualidade de sua produção, tem colaborado generosamente para o debate qualificado sobre a linguagem, tão importante para o incremento da pesquisa em Lingüística. Além disso, a reunião de pesquisadores representando o melhor da produção acadêmica tem um valor didático inestimável para as gerações de futuros pesquisadores, muitos deles envolvidos em programas de pesquisa nas universidades. Essa nova geração toma contato, nos Encontros do CELSUL, com um ambiente propício à reflexão, fundamental para a formação de quadros qualificados, principalmente neste momento, em que a universidade brasileira assiste a um aumento de oportunidades decorrente do surgimento de quantidade considerável de vagas em instituições de ensino superior. Assim, é com grande satisfação que a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), através de seu Instituto de Letras, Programa de Pós-Graduação em Letras, e com apoio da CAPES e do CNPq, realiza o VIII Encontro do CELSUL. O leitor deste livro de resumos poderá verificar, pela quantidade e diversidade das mesas-redondas, dos grupos temáticos (novidade deste Encontro) e dos pôsteres – são 9 mesas redondas, 29 grupos temáticos e 81 pôsteres nas mais diversas áreas da Lingüística – e pela consistência teórica das propostas apresentadas, o vigor de nossa produção acadêmica. Aqui o leitor encontrará um guia para a sua participação no VIII Encontro do CELSUL, com informações sobre os locais onde ocorrem as atividades da programação principal e os resumos de todas as apresentações do evento. Desejamos a todos um grande encontro.

Gisela Collischonn (UFRGS) - Presidente

Sergio de Moura Menuzzi (UFRGS) - Vice-presidente Elisa Battisti (UCS) – Tesoureira

Ingrid Finger (UFRGS) – Secretária Diretoria do CELSUL – Biênio 2007/2008

Comissão Orgnizadora do VIII Encontro do CELSUL

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SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ..................................................................... 3

SUMÁRIO .................................................................................. 5

PROGRAMAÇÃO GERAL ....................................................... 7

LISTA DOS PÔSTERES – SESSÃO I ..................................... 10

LISTA DOS PÔSTERES – SESSÃO II ....................................14

RESUMOS DAS CONFERÊNCIAS ........................................ 18

RESUMOS DAS APRESENTAÇÕES NAS MESAS-

REDONDAS ............................................................................. 20

RESUMOS DAS APRESENTAÇÕES NOS GRUPOS

TEMÁTICOS ............................................................................ 39

RESUMOS DOS PÔSTERES – SESSÃO I ........................... 416

RESUMOS DOS PÔSTERES – SESSÃO II .......................... 446

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PROGRAMAÇÃO GERAL Dia 29 de outubro – quarta-feira Manhã 8h30min – Inscrições e credenciamento 9h – Sessão de Abertura 9h15min – Conferência: Prof. Dr. Anthony Naro (UFRJ) 10h30min - Intervalo 11h – 13h Mesas-redondas Mesa 1 – Lingüística Aplicada e Ensino de Língua Portuguesa

(Salão de Atos) Ana Maria Guimarães (UNISINOS – coordenadora) Djane Antonucci Correa (UEPG) Maria de Lourdes Meirelles Matêncio (PUCMG) Luciene Juliano Simões (UFRGS)

Mesa 2 – Lexicologia, Lexicografia e Terminologia (Sala II)

Maria José Finatto (UFRGS – coordenadora) Ieda Maria Alves (USP) Herbert Welker (UnB) Felix Bugueño (UFRGS)

Mesa 3 – Estudos de Variação Lingüística (Plenarinho)

Dermeval da Hora (UFPB (coordenador) Izete Lehmkuhl Coelho (UFSC) Cláudia Brescancini (PUCRS)

Tarde 14h30min – Sessão I de comunicações dos GTs (salas Anexos I e III, FACED, Faculdade de Ciências Econômicas)

16h – Intervalo

16h30min – Sessão II de comunicações nos GTs (salas Anexos I e III, FACED, Faculdade de Ciências Econômicas)

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Dia 30 de outubro – quinta-feira Manhã 9h – Sessão I de pôsteres (Hall do Salão de Atos) 10h30min - Intervalo 11h – 13h Mesas-redondas Mesa 1 – Análises textuais e discursivas (Sala II)

Freda Indursky (UFRGS – coordenadora) Diana Luz Pessoa de Barros (USP, UPM) Anna Christina Bentes (UNICAMP) Valdir do Nascimento Flores (UFRGS)

Mesa 2 – Aquisição da escrita e fonologia (Audit. FCE)

Ana Ruth Moresco Miranda (UFPEL- coordenadora) Luciani Tenani (UNESP –SJRP) Lourenço Chacon (UNESP – Marília)

Mesa 3 – Abordagens Formais da Sintaxe e da Semântica

(Plenarinho) Maria José Foltran (UFPR – coordenadora) Carlos Mioto (UFSC) Ana Lúcia Muller (USP)

Tarde 14h30min – 16h Sessão III de comunicações nos GTs (salas Anexos I e III, FACED, Faculdade de Ciências Econômicas) 16h – Intervalo 16h30min – Sessão IV de comunicações nos GTs 18h30min – Coquetel e lançamento de livros – 2° andar da Reitoria

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Dia 31 de outubro – sexta-feira Manhã 9h – Sessão II de pôsteres - Hall do Salão de Atos 10h30min - Intervalo 11h – Mesas-redondas Mesa 1 – Ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras e

formação de professores (Sala II) Ingrid Finger (UFRGS – coordenadora) Ricardo Augusto de Souza (UFMG) Telma Gimenez (UEL) Márcia Zimmer (UCPel)

Mesa 2 – Linguagem e Contexto Social (Sala 601 FACED)

Pedro Garcez (UFRGS - coordenador) Elisa Battisti (UCS) Neiva Jung (UEM) Tarcísio Arantes Leite (USP)

Mesa 3 – Fonologia e Morfologia (Plenarinho)

Leda Bisol (PUCRS – coordenadora) Carlos Alexandre Gonçalves (UFRJ) Luiz Carlos Schwindt (UFRGS)

Tarde 14h30min – Assembléia do CELSUL (Sala II) 16h - Intervalo 16h30min – Conferência: Profa. Dra. Carmen Lúcia Barreto Matzenauer (UCPEL) (Sala II) 18h – Sessão de Encerramento 20h30min –Jantar (por adesão)

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LISTA DOS PÔSTERS – SESSÃO I 30 de outubro de 2008, das 9h às 10h30

OS SIGNIFICADOS INTERPESSOAIS NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS Valéria Fontoura Nunes (UNIFRA) Valeria Iensen Bortoluzzi (UNIFRA) A CONSTITUIÇÃO DO GÊNERO DISCURSIVO PREGAÇÃO NO ÂMBITO DO DISCURSO EVANGÉLICO Antônio Paulo Mércio de Oliveira (UFG) IDENTIDADES DISCURSIVAS QUE O RECLAMANTE (CONSUMIDOR) ASSUME EM AUDIÊNCIAS DE CONCILIAÇÃO REALIZADAS NO PROCON Thenner Freitas da Cunha (Universidade Federal de Juiz de fora) Carolina Peixoto Barros (Universidade Federal de Juiz de fora)

A REGULAÇÃO DOS DISCURSOS SOBRE LETRAMENTO NO ORKUT Patrícia Camini (UFRGS – Mestrado em Educação) O ABORTO NA FOLHA UNIVERSAL: CAMINHOS E EFEITOS DE UM DISCURSO RELIGIOSO Bruno de Matos Reis (UFF) “MAS É IMPORTANTE QUANDO PRECISO FAZER RELATÓRIOS”: UMA DISCUSSÃO ACERCA DO ATO DE ESCREVER NOS CURSOS DE LICENCIATURA Camila Thaisa Alves (FURB) A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO A PARTIR DE UM LUGAR INTERVALAR Caroline Mallmann Schneiders ( UFSM) A RELAÇÃO DO ALUNO DE LETRAS DO ENSINO A DISTÂNCIA COM O DICIONÁRIO DIGITALIZADO Elisabeth Silveira Gonçalves (UFSM, Santa Maria) A CONSTRUÇÃO DO IDEAL DE CORPO NOS MAGAZINES FEMININOS TELEVISIVOS. Aline Broetto (UCS) César Vinicius Ribeiro Massing (UCS) Franciele do Nascimento Ghiggi (UCS) Ísis Laroque Cornelli (UCS) Lucas Lizot (UCS) Nicolas de Araújo (UCS)

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A CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE DE PROFESSORES RECÉM-FORMADOS Liza Buttchevitz (FURB) ALEMÃO EM SANTA CATARINA: UM OLHAR DISCURSIVO SOBRE OS NÃO-FALANTES DESSA LÍNGUA Scheila Maas (FURB) MARCAS HESITATIVAS E SUA RELAÇÃO COM O ENUNCIADO: ANÁLISE DE ENUNCIADOS FALADOS DE SUJEITOS COM DOENÇA DE PARKINSON Roberta Vieira (UNESP – São José do Rio Preto) “O QUE SIGNIFICA SER MELHOR?”: COTAS RACIAIS EM ARTIGOS DE OPINIÃO SOB UMA PERSPECTIVA ENUNCIATIVA DA LINGUAGEM Gabriela Barboza (UFSM) ESPECIFICAÇÕES DO DIZER MARCADAS POR HESITAÇÕES EM UM SUJEITO PARKINSONIANO E EM UM SUJEITO SEM LESÃO NEUROLÓGICA Lourenço Chacon (UNESP – Marília e São José do Rio Preto/CNPq) UMA ANÁLISE BAKHTINIANA EM ‘Ó, PAÍ, Ó: O SIGNO NEGRO’ Sabrine Amaral Martins (UCPEL) OPERADORES ARGUMENTATIVOS: INDÍCIOS DE POLIFONIA EM ENTREVISTAS DA REVISTA CULT Vanessa Raini de Santana (UNIOESTE – Cascavel)

Aparecida Feola Sella (UNIOESTE – Cascavel)

O DESVIO FONOLÓGICO E SUAS IMPLICAÇÕES NA CLÍNICA FONOAUDIOLÓGICA: UM ESTUDO DE CASO Christiane de Bastos Delfrate (UFPR)

A AQUISIÇÃO DA PASSIVA NO PORTUGUÊS POR CRIANÇAS EM CONTEXTO DE EDUCAÇÃO BILÍNGÜE Luciana de Souza Brentano (UFRGS)

Ingrid Finger (UFRGS)

A AQUISIÇÃO DA FONOLOGIA DA LÍNGUA INGLESA COMO L2 Débora do Couto Pereira (Unipampa – Bagé) Débora Mariana Lopes (Unipampa – Bagé) Luciano Peres (Unipampa – Bagé) Valter Nei Feijó Bierhauls (Unipampa – Bagé) Cristiane Lazzaroto Volcão (Unipampa – Bagé)

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O USO DE PISTAS VISUAIS NA IDENTIFICAÇÃO DAS CONSOANTES NASAIS INGLESAS EM POSIÇÃO FINAL DE SÍLABAS POR FALANTES DE PORTUGUÊS BRASILEIRO Denise Cristina Kluge (UFSC/CAPES) Mara Silvia Reis (UFSC/CAPES) AVALIAÇÃO DA CORRELAÇÃO ENTRE PERCEPÇÃO E PRODUÇÃO DOS FONEMAS INTERDENTAIS INGLESES POR APRENDIZES BRASILEIROS DE INGLÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA Mara Silvia Reis (UFSC/CAPES) Denise Cristina Kluge (UFSC/CAPES) PRODUÇÃO DE PLOSIVAS SURDAS EM INGLÊS E PORTUGUÊS POR FALANTES BRASILEIROS DE INGLÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA Mariane A. Alves (UFSC) EVIDÊNCIAS DA DINAMICIDADE NA INTERLÍNGUA PORTUGUÊS – INGLÊS: O PROCESSO DE DESSONORIZAÇÃO TERMINAL Sabrina Costa (UCPel - BIC/FAPERGS) Márcia Zimmer (UCPel) A MELODIA DO FRANCÊS: ANÁLISE ENTOACIONAL DO FALAR DE DOIS RESIDENTES DE MONTREAL Sara Farias da Silva (UFSC) O FENÔMENO DA “LIAISON” NA LEITURA EM VOZ ALTA: O CASO DE APRENDIZES DE FRANCÊS LÍNGUA ESTRANGEIRA Vanessa Gonzaga Nunes (UFSC)

LÉXICO VERBAL E EXPRESSÃO DE CONCEITOS COGNITIVOS Ketlin Elis Perske (UFSM/PIBIC) Mirian Rose Brum-de-Paula (UFSM) ORDEM DAS PALAVRAS E OS ADVÉRBIOS EM –MENTE: EXPERIMENTOS DE PRODUÇÃO SEMI-ESPONTÂNEA Fernanda Lima Jardim (UFSC/PIBIC) MAIS DADOS PARA A CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS NASAIS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO Gesoel Ernesto Ribeiro Mendes Junior (UFPR)

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A LIGAÇÃO FONOLÓGICA DOS CLÍTICOS PRONOMINAIS NA VARIEDADE BRASILEIRA DO PORTUGUÊS Cristina Márcia Monteiro de Lima Corrêa (UFRJ) UM ESTUDO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE PALAVRA MORFOLÓGICA E PALAVRA FONOLÓGICA EM VOCÁBULOS COMPLEXOS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO Emanuel Souza de Quadros (UFRGS/CNPq) Luiz Carlos Schwindt (UFRGS/CNPq) AQUISIÇÃO DE SEGMENTOS NOS DIFERENTES MODELOS DE TERAPIA FONOLÓGICA Ana Rita Brancalioni (UFSM) Caroline Marini (UFSM) Karina Carlesso Pagliarin (UFSM) Marizete Ilha Ceron (UFSM) Márcia Keske-Soares (UFSM) AQUISIÇÃO DO ONSET COMPLEXO: POSIÇÃO NA PALAVRA, PONTO DE ARTICULAÇÃO E FREQÜÊNCIA LEXICAL Fabiana Veloso de Melo (UFSM/FIPE) Giovana Ferreira-Gonçalves (UFSM) AQUISIÇÃO DO ACENTO DO PORTUGUÊS: O PAPEL DO LÉXICO Joice Ines Bieger (UFSM/BIC-FAPERGS) Giovana Ferreira-Gonçalves (UFSM) O PAPEL DA FREQÜÊNCIA LEXICAL E SEGMENTAL NA AQUISIÇÃO DA NASALIDADE DAS VOGAIS: INCLUINDO PARÂMETROS CONTÍNUOS NO ESTUDO DA AQUISIÇÃO FONOLÓGICA Magnun Rochel(UCPEL/PIBIC–CNPq) Márcia C. Zimmer (UCPel) AS HIPERSEGMENTAÇÕES NA ESCRITA INICIAL DE ADULTOS E CRIANÇAS Carmen Regina Ferreira Souza (UFPEL/FaE) Natalia Devantier (UFPEL/FaE) Ana Ruth Moresco Miranda (UFPEL/PPGE-FaE) A MORFOLOGIA DO VERBO E OS DADOS DE ESCRITA INICIAL Cinara Miranda Lima (UFPel/PIC) Ana Ruth Moresco Miranda (UFPel/PPGE)

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CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA: ATIVIDADES DE RIMA E DE CONSCIÊNCIA SILÁBICA Cláudia Camila Lara (FURG) INFLUÊNCIA DA ORALIDADE NA ESCRITA: AQUISIÇÃO BILÍNGÜE PORTUGUÊS/ALEMÃO Glívia Guimarães Nunes (UFSM/PIBIC-CNPq) Giovana Ferreira-Gonçalves (UFSM) UM ESTUDO SOBRE A GRAFIA DAS VOGAIS PRETÔNICAS NO PORTUGUÊS EM DADOS DE AQUISIÇÃO DA ESCRITA Luísa Hernandes Grassi (UFPel) DADOS DA ESCRITA INFANTIL E SUA CONTRIBUIÇÃO À DISCUSSÃO FONOLÓGICA SOBRE OS DITONGOS [AJ] E [EJ] Marco Antônio Adamoli (UFPel) Ana Ruth Moresco Miranda (UFPel) DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS ERROS ORTOGRÁFICOS REFERENTES À GRAFIA DAS SOANTES PALATAIS E DISCUSSÃO SOBRE SEU STATUS FONOLÓGICO Shimene Teixeira (UFPel/FaE–PIC) LISTA DOS PÔSTERES – SESSÃO II 31 de outubro de 2008, das 9h às 10h30

FILOLOGIA PASSO A PASSO Ana Kelly Borba da Silva (UFSC) Gisele Iandra Pessini Anater (UFSC)

COMBINATÓRIAS LÉXICAS ESPECIALIZADAS DA GESTÃO AMBIENTAL: SUAS CARACTERÍSTICAS EM LÍNGUA ESPANHOLA Carolina dos Santos Carboni (UFRGS) Cleci Regina Bevilacqua (UFRGS) PADRÕES VERBAIS NAS CONSTITUIÇÕES LUSÓFONAS Carolina Rübensam Ourique (UFRGS/PIBIC) O TRATAMENTO DA VALÊNCIA VERBAL EM DICIONÁRIOS GERAIS DO PORTUGUÊS Eduardo Correa Soares(UFRGS) O DESENHO DAS TAREFAS DE RECEPÇÃO E PRODUÇÃO EM UM DICIONÁRIO MONOLÍNGÜE PARA APRENDIZES DE ESPANHOL Mariana Espíndola da Cruz (UFRGS)

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UM VOCABULÁRIO DEFINIDOR PARA UM DICIONÁRIO DE APRENDIZES DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA Vanessa da Rocha (UCPel)

“PARA NÓS APRENDER A LER E ESCREVER DIREITINHO”: ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NA PERSPECTIVA DOS ALUNOS Alícia Endres Soares (UCPel, Pelotas) CONCEPÇÕES E ENSINO DE LÍNGUA MATERNA Daiana de Nez Moura, Mary Stela Surdi (UNOCHAPECÓ) Mary Neiva S. Da Luz (UNOCHAPECÓ) SALA DE AULA DE LÍNGUA PORTUGUESA: LUGAR DE DICIONÁRIOS? LUGAR DE FALANTES? QUE RELAÇÕES SÃO ESSAS? Daiane da Silva Delevati (UFSM) PESQUISA EM ESCRITA NO BRASIL: UMA ANÁLISE DE PRINCÍPIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS Francieli Socoloski Rodrigues (UNIPAMPA, São Borja)

¿HAY RESTRICCIONES ABSOLUTAS EN LAS INTERFERENCIAS? Patrícia Mussi Escobar (FURG) María Josefina Israel Semino (FURG) TRATAMENTO DE ALOMORFES DE ARTIGO NO COMENTÁRIO DE FORMA DE UM DICIONÁRIO PARA APRENDIZES DE ESPANHOL Agnesse Radmann Gonzalez (UFRGS) OBJETOS DIGITAIS DE APRENDIZAGEM PARA O ENSINO DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA Jordane Duarte de Souza (UCPEL)

A TRADUÇÃO NO CONTEXTO EDITORIAL MIDIÁTICO: UM ESTUDO DE CASO DO ESPANHOL PARA O PORTUGUÊS Carolina Pereira Barcellos (FALE/UFMG) Kórian Leite Carvalho (FALE/UFMG) Célia Maria Magalhães (FALE/UFMG-CNPq) A QUALIDADE DAS NARRATIVAS INFANTIS ESCRITAS: INFERÊNCIAS E TERGIVERSAÇÕES Claudia Susana Dias Cespi de Capos (FAE-UFPEL)

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A RELAÇÃO DE COMENTÁRIO EM ARTIGOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA Janice Mayer (UNISINOS/BIC) Maria Eduarda Giering (UNISINOS) COESÃO LEXICAL E TRANSITIVIDADE NA TRADUÇÃO Kórian Leite Carvalho (FALE/UFMG) Carolina Pereira Barcellos (FALE/UFMG) Célia Maria Magalhães (FALE/UFMG) A INTELIGIBILIDADE NA COMUNICAÇÃO DA OBRA PRIMEIRAS ESTÓRIAS, DE GUIMARÃES ROSA Vanessa Koudsi Faustini (PUCPR) XENOFONTE E A CIROPEDIA: CAMINHOS E RECURSOS DE UMA BIOGRAFIA Vinicius Ferreira Barth (UFPR)

PROPRIEDADES DAS NOMINALIZAÇÕES A PARTIR DE VERBOS DEADJETIVAIS Adriano Scandolara (UFPR) CARACTERÍSTICAS SINTÁTICAS E SEMÂNTICAS DE VERBOS DEADJETVAIS DO PB Lara Frutos (UFPR) ORDEM DAS PALAVRAS E A TOPICALIZAÇÃO SELVAGEM: EXPERIMENTOS PERCEPTUAIS Michelle Donizetti Euzébio (UFSC/PIBIC) UMA ANÁLISE PROTOTÍPICA DO OBJETO DIRETO EM TEXTOS ESCRITOS Eduardo Elisalde Toledo (UFRGS) SENTENÇAS CLIVADAS E PSEUDO-CLIVADAS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO E DO JAPONÊS Julia Orie Yamamoto (UFSC) PADRÕES DE CONCORDÂNCIA DEFECTIVA EM PASSIVAS E PREDICATIVOS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO Leonor Simioni (USP) PRINCÍPIOS QUE INFLUENCIAM A ANTEPOSIÇÃO E POSPOSIÇÃO DE CLÁUSULAS FINAIS E TEMPORAIS Mariléia Silva da Rosa (Unipampa, Bagé)

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A SINTAXE DA ELIPSE DE VP EM PORTUGUÊS BRASILEIRO Sabrina Casagrande (UNICAMP) A LÍNGUA NA/PELA HISTÓRIA: O CASO DOS DESCENDENTES DE ITALIANO NA REGIÃO DE NOVA PALMA Aline Pegoraro (UNIPAMPA) Valesca Brasil Irala (UNIPAMPA) O MIGRANTE CARIOCA NO SUL: QUESTÕES LINGÜÍSTICO-CULTURAIS Ester Dias de Barros (UNIPAMPA) Valesca Brasil Irala (UNIPAMPA) O ESTRANGEIRO HISPÂNICO EM DISCURSO: LUGAR DE CONTRADIÇÕES Josiane da Silva Quintana Alves (UNIPAMPA) Valesca Brasil Irala (UNIPAMPA) A RETOMADA ANAFÓRICA PRONOMINAL EM TEXTOS JORNALÍSTICOS: FATORES MOTIVADORES Mariana M. Trautwein (PUCPR) Uiara Chagas (PUCPR)

QUANTO MAIS EU VIVO, MENOS SUJEITO ME APARECE: UM ESTUDO SOBRE O PREENCHIMENTO DO SUJEITO PRONOMINAL NA FALA E NA ESCRITA DE JOVENS DE FLORIANÓPOLIS Christiane Maria Nunes de Souza (UFSC) Patricia Floriani Sachet (UFSC) A ORDEM DO CLÍTICO PRONOMINAL EM CONTEXTOS DE COMPLEXOS VERBAIS – A SOCIOVARIAÇÃO NA ESCRITA ESCOLAR Adriana Lopes Rodrigues (UFRJ) APAGAMENTO DO /R/ EM FINAL DE PALAVRAS: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE FALANTES DAS VARIANTES CULTA E POPULAR Anay Batista Linares (PUCPR) Camila Rigon Peixoto (PUCPR) Tiago Moreira (PUCPR) O USO DOS PRONOMES NÓS E A GENTE NO SUL DO BRASIL André Luiz de Oliveira Almeida (UFPR) Tathyana Szmidziuk (UFPR)

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APAGAMENTO DO FONEMA /R/ PÓS-VOCÁLICO NA FALA ‘AMREQUIANA’ Ângela Regina Meira Matias (UNESC, Criciúma) Liriane Teixeira (UNESC, Criciúma) O USO DO IMPERATIVO NA MÍDIA: UMA ANÁLISE SOCIOLINGÜÍSTICA Antonio José de Pinho (UFSC) Bruno Cardoso (UFSC) VARIAÇÃO LINGÜÍSTICA EM EAD – ISSO É POSSÍVEL? Claudenir Caetano de Barros (CEAD/UFPEL) Cristiane dos Santos Azevedo (CEAD/UFPEL) Joelma Santos Castilhos (CEAD/UFPEL) VARIAÇÃO ESTILÍSTICA E GENERICIDADE: A VARIAÇÃO DE PRONOMES POSSESSIVOS DE SEGUNDA E TERCEIRA PESSOA DO SINGULAR Fernanda Mendes (UFSC) DE QUEM NÓS/A GENTE ESTÁ(MOS) FALANDO AFINAL? VARIAÇÃO SINCRÔNICA DE ESTRATÉGIAS DE DESIGNAÇÃO REFERENCIAL NO USO DA PRIMEIRA PESSOAL DO PLURAL

Ivanilde da Silva (UFSC)

RESUMOS DAS CONFERÊNCIAS AQUISIÇÃO DE FORMAS DE PRESTÍGIO: O PAPEL DO GÊNERO EM TEMPO REAL Anthony Julius Naro (UFRJ/CNPq) Maria Marta Pereira Scherre (UnB/CNPq, UFRJ) Comparamos o uso variável da concordância verbal de terceira pessoa plural em duas amostras aleatórias da comunidade de fala do Rio de Janeiro, constituídas nas décadas de 1980 e de 2000, separadas por um intervalo aproximado de 18 anos. Na análise dos dados das duas amostras em foco no presente texto, um fato é imediatamente óbvio: o uso de formas com concordância é mais alto na amostra de 2000. As médias globais de concordância verbo/sujeito nas duas

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amostras de nossa pesquisa, da mesma comunidade, em dois pontos sucessivos no tempo são:

Amostra 1980: 3424/4713=73% Amostra 2000: 1724/2079=83%

Uma análise mais detalhada revela que os homens, como um grupo, parecem não evidenciar mudança forte nas restrições sociais que afetam seus padrões de uso no intervalo de 1980 a 2000, embora eles aumentem o nível global de concordância e continuem a mostrar efeito claro e forte em função dos anos de escolarização. As mulheres, por sua vez, revelam estar em um processo etário de aquisição de formas de prestígio, abandonando o contato com a mídia e se juntando aos homens, no sentido de extrair frutos lingüísticos do ambiente escolar, similares à sua ascensão no mercado de trabalho e na arena política, em áreas inicialmente mais difíceis de serem por elas conquistadas. Neste sentido, as mulheres jovens estão se agrupando e passando à frente das mulheres mais velhas na aquisição de formas lingüísticas de prestígio social, as formas consideradas padrão. O padrão etário curvilíneo do mercado de trabalho, mais característico dos falantes masculinos nas duas amostras de fala analisadas, não mais se manifesta nos dados da amostra de 2000 para elas. As mulheres, mais do que os homens, estão mudando em direção ao sistema avaliado pela comunidade de fala brasileira como padrão, uma vez que as formas de prestígio adquiridas pelas mulheres mais velhas estão sendo passadas para as mulheres mais jovens.

SOBRE VARIAÇÃO, AQUISIÇÃO E TIPOLOGIAS DE LÍNGUAS Carmen Lúcia Barreto Matzenauer (UCPEL/CNPq)

Na observação do funcionamento de sistemas lingüísticos, três questões, dentre outras, merecem apreciação detalhada: (a) Por que os inventários fonológicos das línguas não integram apenas unidades não-marcadas, se a marcação é fator relevante em sua constituição, nas mudanças que neles se operam e no processo de sua aquisição como língua materna? (b) Por que a variação fonológica apresenta limitações vinculadas tanto ao inventário de segmentos da língua, como à sílaba, enquanto unidade prosódica? (c) Por que o processo de aquisição fonológica, apesar das diferenças individuais, tem relação direta com o inventário de segmentos da língua-alvo, em um jogo de forças com marcação? Estando a noção de inventário fonológico subjacente a essas três questões, entende-se haver a possibilidade de apresentar-se resposta que capte generalizações e bases comuns a elas pertinentes com o suporte de princípios, propostos por Clements (2006), relativos à arquitetura de inventários fonológicos de sistemas lingüísticos.

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RESUMOS DAS APRESENTAÇÕES NAS MESAS-REDONDAS

DIA 29 DE OUTUBRO – QUARTA-FEIRA Mesa 1 – Lingüística Aplicada e Ensino de Língua Portuguesa LINGÜÍSTICA, LÍNGUA PORTUGUESA E A VOZ DOS DOCENTES Ana Maria de Mattos Guimarães (UNISINOS) Se um panorama da relação lingüística/ensino de Língua Portuguesa ao longo dos últimos dez anos e’ o ponto de partida da mesa-redonda, propostas advindas dessa relação constituem o foco principal do trabalho. Tais propostas têm em comum enfatizar as relações que se estabelecem entre língua e sociedade. Djane Correa apresentará como base da discussão o fato de que ações planejadas sobre a(s) língua(s) requerem a consideração da situação sociolingüística inicial – se satisfatória ou não – e a condição que se deseja alcançar. Enquanto o trabalho se concentra na definição das diferenças entre a situação inicial e a almejada, as intervenções são da ordem das políticas lingüísticas, ao passo que a discussão sobre como passar de uma condição para outra está no âmbito do planejamento lingüístico. Fazer o planejamento de status e de corpus das variantes; refletir sobre a necessidade de equipar uma língua para que ela desempenhe determinadas funções e as implicações de tais ações para as questões de ensino serão alguns dos itens a serem desenvolvidos. Luciene Simões falará a partir de dois eixos centralizadores: 1) aprender a converter a compreensão teórica em pedagogia: 2) abrir mão do normativismo, entendendo que, se o aluno de fato aprender, poderá fazer escolhas. Maria de Lourdes Matencio abordará o que considera as grandes tarefas da lingüística na formação e atuação de professores, focalizando, particularmente, a relação entre a escolarização e as demais formas de socialização, para chegar na função do gênero e das/nas práticas de letramento. Fechando as apresentações, Ana Maria Guimarães enfatizará a possibilidade de ensinar língua portuguesa por meio de gêneros de texto, como uma forma de articular as práticas linguajeiras, entendendo-os como passíveis de serem aprendidas, mas, sobretudo, como formas de interação. CONSIDERAÇÕES SOBRE POLÍTICAS LINGÜÍSTICAS E ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA Djane Antonucci Correa (UEPG) A temática “Lingüística Aplicada e Ensino de Língua” traz uma abrangente gama de assuntos passíveis de abordagem. Dentre as perspectivas que têm sido alvo de discussão atualmente, as relações que se estabelecem entre língua e sociedade obtiveram e ainda obtêm um espaço significativo. Seguindo essa perspectiva, Faraco (2007) faz uma importante retrospectiva

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sobre os avanços dos estudos da linguagem na construção de uma pedagogia da leitura e da produção de texto, o que ainda está por ser feito após a intervenção dos lingüistas nos debates sobre o ensino do Português e verifica que os lingüistas têm que reconhecer o atraso na construção de uma pedagogia da variação lingüística, complementando que este é nosso grande desafio doravante. No encalço desse debate, também em Bagno (2007), a presente proposta tem como objetivo desenvolver alguns desdobramentos sobre o tema. A base da discussão será a de que ações planejadas sobre a(s) língua(s) requerem a consideração da situação sociolingüística inicial – se satisfatória ou não – e a condição que se deseja alcançar. Enquanto o trabalho se concentra na definição das diferenças entre a situação inicial e a almejada, as intervenções são da ordem das políticas lingüísticas, ao passo que a discussão sobre como passar de uma condição para outra está no âmbito do planejamento lingüístico (CALVET, 2007). Fazer o planejamento de status e de corpus das variantes; refletir sobre a necessidade de equipar uma língua para que ela desempenhe determinadas funções e as implicações de tais ações para as questões de ensino serão alguns dos itens a serem desenvolvidos oportunamente. ESTUDOS DO LETRAMENTO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: RETOMADAS, DESLOCAMENTOS E IMPACTOS Maria de Lourdes Meirelles Matencio (PUC Minas/CNPq) A literatura recente sobre os estudos do letramento aponta, basicamente, para duas grandes frentes de interesse. Muitos dos trabalhos desenvolvidos nas últimas três décadas salientam a relevância de as atividades de leitura e escrita serem flagradas e compreendidas no âmbito das práticas sociais em que ocorrem, dadas as relações complexas entre práticas e representações de escrita, entre construção de saberes e posicionamentos do sujeito. Além de permitir que se flagrem os usos efetivos da palavra escrita, em diferentes grupos e por diferentes sujeitos, desvelando muitas das mitificações em torno de práticas em que se recorre à escrita, essa abordagem permitiria, desse ponto de vista, a desconstrução de representações pelas quais se atribui superioridade aos grupos que detêm determinadas tecnologias e se legitimam determinados usos como “corretos”. Um segundo grupo de trabalhos, também no esteio dos novos estudos de letramento, têm focalizado as transformações sociodiscursivas e cognitivas implicadas no recurso às mídias eletrônicas, por meio de mapeamentos das práticas que se estabelecem, por exemplo, na Internet. Há, entretanto, estudos que, sem necessariamente se colocarem numa dessas perspectivas, têm considerado o letramento em diferentes instâncias sociais e relacionado esse processo ao desenvolvimento da linguagem e às situações de socialização envolvendo a escrita e o processo de aprendizagem sistemático, à luz dos gêneros do discurso. Dado o estágio em que nos encontramos e a dificuldade que vivenciamos, muitas vezes por questões institucionais – e certamente por questões

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ideológicas –, o diálogo entre essas frentes nem sempre se estabelece a contento e não tem permitido, ao que parece, que se faça um balanço sobre, de um lado, o impacto dos estudos dos gêneros para os conceitos que circundam o que temos concebido como letramento e, de outro, sobre os efeitos sociais que os resultados das pesquisas que elegem o gênero como objeto de estudo têm efetivamente acarretado. À luz de amplo estudo bibliográfico e com base em resultados obtidos em pesquisas recentes, pretende-se as possibilidades de interface entre as frentes de investigação aqui anunciadas. ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA E TAREFAS DA LINGÜÍSTICA APLICADA NO BRASIL Luciene Juliano Simões (UFRGS) Partindo de uma concepção de ensino do português que focaliza o uso da língua como eixo central, o trabalho busca estabelecer um elenco de linhas de pesquisa importantes para que a produção acadêmica responda às inquietações de professores em exercício e em formação. Procura-se demonstrar que historicamente a Lingüística e a Lingüistica Aplicada, justificadamente, vem cumprindo importante papel de reflexão sobre pressupostos para o estabelecimento de projetos pedagagócios na área da linguagem e sobre as razões por que as práticas pedagagógicas baseadas em visões tão-somente estruturais e prescritivas da língua não produzem resultados úteis para a formação de relações autorais entre os estudantes e seus usos da linguagem. Neste momento histórico, entretanto, este papel crítico, de revisão da herança cultural e de estabelecimento de novas bases epistemológicas para sua renovação, não parece suficiente, pois, na ausência de objetos materiais, cuja leitura e uso em sala de aula permitam ao professor atualizar esse conjunto de pressupostos de modo concreto, torna-se difícil, se não impossível, aos professores renovarem de fato suas relações com a linguagem, com a produção de tarefas para os alunos, e, ao fim, com os próprios alunos. Três são os eixos centrais da pesquisa para que responda a essa contradição: a análise crítica e teoricamente fundamentada de boas práticas, em oposição à crítica de práticas negativamente interpretadas; a produção de materiais de referência compatíveis com uma visão discursiva da língua, principalmente gramáticas gerais que tenham a comunidade escolar como público alvo; e, por fim, a produção de materiais didáticos flexíveis, mas norteadores de práticas de ensino de fato interativas.

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Mesa 2 – Lexicologia, Lexicografia e Terminologia NOVAS PERSPECTIVAS PARA A TERMINOLOGIA: PARA ALÉM DOS GLOSSÁRIOS E DICIONÁRIOS Maria José B. Finatto (UFRGS) Defendemos, nesta apresentação, que descrever qualquer linguagem científica ou técnica implicará descrever os seus diferentes usos em diferentes situações comunicativas. No estudo do texto técnico ou científico, a observação da linguagem não pode ser limitada às terminologias mais ou menos marcadas em relação à linguagem quotidiana, e essa é uma condição de renovação necessária no cenário dos estudos e das pesquisas em Terminologia. É importante levar em conta o todo do texto em que esses os elementos terminológicos ocorrem, bem como as tipologias textuais, os modos de estruturação macro e microestrutural. Enfim, é preciso considerar a constituição lexical e gramatical da linguagem em uso de uma forma mais ampla. Se o principal objeto de estudo em Terminologia é, sim, e sempre será, a unidade denominada termo, talvez tenha chegado o momento avaliarmos o escopo e o rendimento das diferentes unidades de análise mobilizadas em diferentes tipos de pesquisas.

PARA QUE SERVEM OS ESTUDOS NEOLÓGICOS? Ieda Maria Alves (USP) Embora trabalhos esporádicos sobre a neologia lexical sejam observados já no século XIX, os estudos sistemáticos sobre as unidades lexicais neológicas datam do início da década de 1960, quando foram criados os Archives du Français Contemporain, projeto de observação neológica vinculado ao Laboratoire de l’Université de Besançon, na cidade de Besançon, França. A esse primeiro observatório de neologia seguiram-se vários outros, a exemplo dos criados na Universidade Nova de Lisboa, na Universidade Pompeu Fabra, na Universidade de São Paulo, na Universidade de Vigo. Esses observatórios, dedicados a diferentes línguas românicas, cumpriam, inicialmente, o objetivo de contribuírem para a atualização de dicionários de língua. Com o advento da Lingüística de Corpus, que tem subsidiado a lexicografia no que concerne à busca de unidades lexicais neológicas extraídas de textos, os observatórios de neologia passaram a preencher outras funções, relativas à descrição do léxico. Nesta exposição, apresentamos algumas contribuições que a observação sistemática da neologia lexical, em um corpus jornalístico, tem trazido para o conhecimento do léxico do português brasileiro.

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SOBRE O USO DE DICIONÁRIOS Herbert Andreas Welker (UnB) Todo aprendiz de línguas, todo professor de línguas, todo tradutor - além de outras pessoas - consultam dicionários, com maior ou menor freqüência. Mesmo assim, o assunto "dicionários" é muito pouco debatido no ensino de línguas e em geral, e, considerando-se todos os países do mundo, existem poucas pesquisas sobre seu uso (em média, pouco mais de uma). Nesta apresentação, é dada uma breve visão geral do tema "uso de dicionários". São citadas algumas opiniões a favor do uso e são mencionados livros sobre o ensino de línguas nos quais falta qualquer menção às obras lexicográficas. A maior parte é dedicada às pesquisas sobre o uso de dicionários (tanto no Brasil quanto no mundo), mostrando-se os diversos métodos empregados, os assuntos estudados, problemas e resultados gerais.

OS DICIONÁRIOS DE FALSOS AMIGOS Félix B. Miranda (UFRGS) A lexicografia de falsos amigos encontra se em uma situação muito particular. Por um lado, esse fenômeno léxico chama a atenção pelos valores inusitados que cobram algumas palavras de uma língua estrangeira quando comparadas com as da nossa língua materna ou alguma outra língua que conheçamos. Por outro lado, os dicionários de falsos amigos aparecem sempre implicitamente protelados a um segundo lugar em relação aos dicionários bilíngües. Em função desses fatores, os dicionários de falsos amigos, enquanto fenótipos, isto é, manifestações reais de uma obra dicionarística, apresentam problemas de desenho que acabam comprometendo a sua qualidade. Assim, por exemplo, é muito comum registrarem curiosidades lingüísticas em lugar de fatos funcionais. Esses casos constituem o que chamamos de informações não discretas. Salienta-se também que o tratamento lexicográfico desses fenômenos é feito a partir de duas premissas erradas. Em primeiro lugar, é comum que a disposição dos verbetes siga o modelo do verbete do dicionário bilíngüe. Em segundo lugar, implicitamente, não se reconhece princípio do “anissomorfismo lingüístico”, coisa que tampouco leva em conta, aliás, em grande parte da lexicografia bilíngüe. O objetivo do presente trabalho é fazer uma exposição sobre o fenômeno dos falsos amigos, tanto do ponto de vista lexicológico como do ponto de vista (meta)lexicográfico. Essa dupla perspectiva se justifica, já que as relações formais e de conteúdo entre duas palavras de estrutura fonológica análoga ou idêntica são muito mais complexas do que normalmente se possa pensar. Como suporte metodológico, serão empregados princípios de lingüística geral, tais como as distinções entre sincronia e diacronia, uma concepção diassitêmica da língua, e princípios de estruturação metalexicográficos. Esses princípios têm sido por nós empregados na redação de um dicionário de falsos amigos espanhol-português, mas podem

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ser empregados também para outras línguas. Os resultados do nosso trabalho demonstram que esse tipo de lexicografia requer subsídios muito mais complexos para se obter resultados satisfatórios. Assim, por exemplo, no caso das línguas espanhola e portuguesa, as distinções diatópicas são fundamentais para poder obter uma “imagem léxica” o mais fiel possível. Em segundo lugar, e para respeitar as particularidades semânticas que conformam essas colisões léxicas, foi necessário desenvolver também um modelo de microestrutura que facilitasse uma apreensão mais abrangente das mesmas. Mesa 3 – Estudos de Variação Lingüística QUANDO A AVALIAÇÃO DE UM PROCESSO FONOLÓGICO PODE REFLETIR PRESTÍGIO OU ESTIGMA

Dermeval da Hora (UFPB/CNPq)

A variação, processo inerente à fala, é utilizada, inúmeras vezes, como elemento para determinar o prestígio ou a estigmatização de seus usuários. Em se tratando de processos fonológicos presentes no Português Brasileiro, observa-se que os ditongos decrescentes, em vocábulos paroxítonos, a exemplo de “ciência”, “edifício”, “espécie”, “árduo”, quando monotongados, podem estar associados, dependendo das vogais envolvidas, ao nível de escolaridade do falante. Falantes com mais anos de escolarização terão maior probabilidade de aplicar a regra de monotongação, quando a saliência entre as vogais envolvidas for menos perceptível, como em “espécie” e “árduo”, ao contrário daqueles com menos anos de escolarização que podem aplicá-la independente do grau de saliência entre as vogais. Entre estes, é possível encontrar também formas como “paciença”, “edifiço”. O interessante dessa variação é que ela evidencia a perfeita correlação entre o lingüístico e o social. O lingüístico representado pela saliência fônica que norteia as vogais envolvidas; o social, presente no uso da língua por falantes com anos distintos de escolarização. Assim, usando dados do Projeto Variação Lingüística no Estado da Paraíba (HORA,1993), será dada ênfase a um dos problemas levantados em Weinreich, Labov, Herzog (1968), o da AVALIAÇÃO.

NATUREZA E EXTENSÃO DO ENCAIXAMENTO DO PRONOME VOCÊ NO PORTUGUÊS DE SC: VARIAÇÃO OU COMPETIÇÃO ENTRE DIFERENTES SISTEMAS? Izete Lehmkuhl Coelho (UFSC) Neste trabalho, pretendo levantar questionamentos a respeito do princípio empírico de encaixamento lingüístico de Weinreich, Labov e Herzog (1968), segundo o qual uma mudança lingüística poderá ser compreendida se considerarmos sua inserção no sistema lingüístico que ela afeta. Tomo como

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ponto de partida para as reflexões a descrição da variação pronominal de segunda pessoa no sul do Brasil (tu e você), especialmente em quatro regiões de Santa Catarina: Florianópolis, Lages, Blumenau e Chapecó, para tentar compreender a natureza e a extensão do encaixamento do você no sistema lingüístico dessas comunidades, em contraposição a um sistema de tuteamento que ali já estava instaurado. Quero analisar se a mudança que essa variação provocou (ou está provocando) no sistema estaria correlacionada a outros fenômenos lingüísticos como pronomes possessivos e clíticos, concordância verbal, preenchimento e ordem do sujeito no que se refere especificamente à segunda pessoa do discurso. Essa investigação tenciona abrir questionamentos a respeito das possibilidades de co-presença em um mesmo falante ou em uma comunidade de fala de gramáticas ou sistemas mutuamente incompatíveis.

SOBRE O EFEITO DOS FATORES ESTRUTURAIS NA GENERALIDADE DE RESULTADOS: A VARIAÇÃO FONOLÓGICA EM DADOS DO VARSUL Cláudia Regina Brescancini (PUCRS) O estágio atual das pesquisas em variação fonológica no Sul do Brasil já aponta para a necessidade de composição de um quadro regional sobre o comportamento de vários dos fenômenos variáveis do português brasileiro. Para tanto, é necessário inicialmente certificar-se de que os resultados apresentados pelos diversos estudos são de fato generalizáveis. De acordo com Bailey e Tillery (2004), tal tarefa, estreitamente relacionada a um dos principais objetivos da sociolingüística variacionista, o de produzir resultados que possam ser generalizados à população, envolve necessariamente o exame cuidadoso em cada trabalho das estratégias de coleta dos dados, dos procedimentos de amostragem e dos fatores estruturais adotados. Com foco nos efeitos estruturais, um dos problemas para a constituição de uma teoria da mudança lingüística, conforme Weinreich, Labov e Herzog (1968), esta pesquisa pretende examinar os estudos referentes a três regras variáveis fonológicas do português falado no Sul do Brasil, a saber a variação da pretônica, da vibrante em coda e da elisão vocálica em fronteira de palavra, a fim de avaliar o quanto a divergência de resultados entre os estudos de cada processo reflete de fato o comportamento dos falantes ou são conseqüência da forma como a pesquisa foi conduzida. No primeiro caso, propõe-se que a confiabilidade e a intersubjetividade, condições necessárias à generalidade, são atendidas; no segundo, entende-se que os resultados são não generalizáveis.

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DIA 30 DE OUTUBRO – QUINTA-FEIRA Mesa 1 – Análises textuais e discursivas A EXTERIORIDADE CONSTITUTIVA DO TEXTO À LUZ DA ANÁLISE DO DISCURSO Freda Indursky (UFRGS)

O presente trabalho propõe-se a refletir teórica e analiticamente a relação entre a categoria analítica texto e sua exterioridade à luz da Análise do Discurso. Tal decisão implica, de imediato, pensar que texto, neste enquadramento teórico, apresenta-se sob uma dupla face: de um lado, é concebido como um objeto empírico, tangível, determinado; de outro, é tomado como um objeto aberto à exterioridade, atravessado pelo interdiscurso, indeterminado. A primeira face é a materialidade lingüística através da qual se tem acesso à segunda que, de fato, interessa: a face discursiva do texto. Para examinar as relações que o texto assim concebido estabelece com a exterioridade, serão mobilizadas, pelo menos, as noções de interdiscurso (Pêcheux, 1988), memória discursiva (Courtine, 1981, 1983), pré-construído (Pêcheux, 1988) e anáfora discursiva (Indursky, 1997) para fazer uma breve análise ilustrativa de um texto publicado inicialmente no JB Online e, posteriormente, em sua edição em papel.

UMA REFLEXÃO SEMIÓTICA SOBRE A "EXTERIORIDADE" Diana Luz Pessoa de Barros (Universidade Presbiteriana Mackenzie, USP)

Nesta exposição vamos tratar da questão da exterioridade do discurso no quadro teórico da Semiótica discursiva de origem francesa. Para isso, serão examinados conceitos e procedimentos semióticos de três tipos: as relações entre texto/discurso e contexto, consideradas, nesse quadro teórico, como relações intertextuais e interdiscursivas; os temas e figuras do discurso, que são os lugares, por excelência, das determinações sócio-históricas inconscientes do discurso; o ator da enunciação e a questão das imagens do enunciador e do enunciatário, a partir da retomada, na perspectiva da semiótica, das noções retóricas de éthos e páthos. Serão analisados alguns textos, para verificar, do ponto de vista escolhido, como se constroem os sentidos da exterioridade discursiva.

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INVESTIGANDO OS IMPACTOS DA NOÇÃO DE CONTEXTO SOBRE AS TEORIAS DO TEXTO Anna Christina Bentes (UNICAMP) Ao longo da história do campo dos estudos do texto, a noção de contexto tem desempenhado um papel fundamental na elaboração das teorias do texto. Koch e Elias (2006) apontam para as diferentes concepções de contexto assumidas ao longo do percurso da Lingüística Textual (LT): a concepção de contexto como entorno verbal (co-texto), como situação interativa imediata, como situação mediata (entorno sociopolítico-cultural) e como conjunto de suposições, baseadas nos saberes dos interlocutores, mobilizadas para a interpretação de um texto (contexto socio-cognitivo). Para as autoras, esta última noção engloba todas as outras em função do entendimento de que “o contexto seria um conjunto de dados de natureza não objetiva, mas cognitiva, que se achariam interiorizados pelos interlocutores e seriam mobilizáveis sempre que necessário em um ato de enunciação” (cf. Kerbrat-Orecchioni, 1996:42). Marcuschi (2004:87) chama a atenção para o fato de que o contexto “tem um lugar cativo na produção de sentido”. Para o autor, o sentido (de um texto, por exemplo) é fruto de uma operação complexa com signos na relação com ações situadas socialmente” (op. cit.:95). Neste trabalho, pretendemos aprofundar a discussão sobre como o texto se constitui como um objeto de estudos a partir da compreensão desse objeto como uma unidade que apenas se torna completa dada a sua união com o mundo sociocultural. Assumiremos, então, que a relação entre texto e contexto não é uma de independência e externalidade. Assim, um texto somente pode ser compreendido como uma estrutura esquemática se o considerarmos no interior de suas realizações concretas. Sua estrutura esquemática é completamente dependente da informação “de fora”(cf. Hanks, 1989/2008). É nesse sentido que o principal objetivo do trabalho é o de mostrar como o modelo de contexto desenvolvido por Hanks (2006/2008) pode fornecer ferramentas analíticas que propiciem maior visibilidade à relação de imbricação, de mútua constitutividade entre os modos de produção do texto e os modos de convivência social e de coordenação das ações humanas (cf. Marcuschi, 2004). LINGÜÍSTICA ENUNCIATIVA E EXTERIORIDADE Valdir N. Flores (UFRGS) A relação do texto com a exterioridade também toca de perto o campo da lingüística enunciativa, pois, como se sabe, a hipótese de base de toda teoria da enunciação é admitir que o sujeito se inscreve no âmago do sistema lingüístico. Essa inscrição – que marca a relação do sujeito com seu próprio enunciado – é descrita nas diferentes teorias da enunciação, no mínimo, em duas direções: a) através do estudo de certas categorias gramaticais específicas (pessoa, tempo e espaço) manifestadas, por exemplo, em pronomes, verbos,

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advérbios etc.; b) através do exame de outros fenômenos lingüísticos cuja formalização é mais difícil, tais como as funções sintáticas (de interrogação, de intimação, de asserção), as modalidades, as fraseologias, entre outros. Em ambas, conserva-se o princípio de que o sujeito se “marca” na língua. Tal princípio recebe distintas versões nas diferentes teorias da enunciação: em Antoine Culioli são estudados os fenômenos da negação, da representação metalingüística em sintaxe, da quantificação, da temporalidade e do aspecto; em Danon-Boileau, são abordadas as referências nominais; em Kerbrat-Orecchioni, são descritos substantivos, verbos, adjetivos, advérbios, ambigüidades, modalizações e implícitos; em Oswald Ducrot, são vistos os conectores, os operadores, os modalizadores, a negação e os pressupostos; em Authier-Revuz, as incisas, a pseudo-anáfora, as correções, as glosas; em Catherine Fuchs, o fenômeno da paráfrase; em Claude Hagège, o fenômeno da variação social, da conotação, da díade tema-rema, do tempo. Enfim, todos, e cada um a seu modo, esforçam-se para abordar aquilo que foi genericamente nomeado por Émile Benveniste de aparelho formal de enunciação. Assim, tendo em vista os objetivos desta mesa de trabalho, caberia indagar: que estatuto recebe, no campo enunciativo, o estudo das marcas do sujeito? Como é estudada, nesse campo, a relação entre o enunciado e sua exterioridade, ou ainda, entre enunciado e enunciação? Mesa 2 – Aquisição da escrita e fonologia ESTUDOS SOBRE AS RELAÇÕES ENTRE AS ESCRITAS INICIAIS E O CONHECIMENTO FONOLÓGICO Ana Ruth Moresco Miranda (UFPel) Nesta apresentação serão examinados os principais resultados de estudos que visam o estabelecimento de relações entre escrita espontânea e representações fonológicas. Esses trabalhos, desenvolvidos a partir da análise de dados pertencentes ao Banco de Textos de Aquisição da Escrita (FaE-UFPel), descrevem e analisam os erros ortográficos motivados fonologicamente (CUNHA, 2004; ADAMOLLI, 2006; MIRANDA, 2007, 2008a, 2008b). Tais erros, interpretados como indícios capazes de desvelar conhecimentos que a criança já construiu sobre a fonologia da língua, podem envolver tanto a grafia de segmentos como de sílabas ou palavras. Assim, os dados sobre a grafia das vogais átonas (pretônica e postônica final), dos ditongos mediais e das sílabas com coda nasal, bem como as grafias que apresentam segmentações não-convencionais, ao serem discutidos à luz dos estudos fonológicos, fortalecem nossa hipótese de que, no processo de aquisição da escrita, se abre uma via de mão dupla: da fonologia para a ortografia e da ortografia para a fonologia. Essa hipótese tem sua origem no entendimento que temos de que a criança busca, no seu conhecimento sobre

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as estruturas sonoras, referências que lhe permitam criar as representações ortográficas do sistema de sua língua materna. A CODA SILÁBICA NA ESCRITA DE JOVENS E ADULTOS Luciani Tenani (UNESP) A coda silábica tem sido objeto de várias pesquisas, por ocorrerem, nessa posição, processos fonológicos que possibilitam diferentes análises sobre a sílaba em Português. Também tem sido objeto de estudo a escrita da coda simples em textos produzidos por crianças em fase inicial do processo de aquisição da escrita. Frequentemente, a coda é vista como uma posição de difícil aquisição na escrita infantil e a dificuldade para seu preenchimento ortográfico estaria baseada na dificuldade de as crianças relacionarem suas características fonéticas em enunciados falados a características ortográficas da escrita do Português. Nesta apresentação, analisamos o preenchimento de coda em textos produzidos por adultos em fase inicial do processo de aquisição da escrita e comparamos nossos resultados àqueles encontrados na literatura sobre o preenchimento da coda em textos produzidos por crianças. Partilhando da perspectiva de análise de Chacon (2007, 2008), argumentaremos que a dificuldade de preenchimento de coda também por parte de adultos em fase inicial do processo de aquisição da escrita pode ser motivada pelo fato de a escrita de tal posição silábica mobilizar, por parte do escrevente (seja ele criança, seja ele adulto), uma integração entre diferentes aspectos da língua e da linguagem, os quais remetem ao trânsito do sujeito escrevente por práticas de oralidade e práticas de letramento. PONTOS DE CORTE EM QUADRISSÍLABOS COM HIPERSEGMENTAÇÕES Lourenço Chacon (FFC/UNESP) A proposta do presente trabalho foi verificar quais fenômenos da língua e da linguagem possivelmente atuariam nos pontos de corte de quadrissílabos hipersegmentados. Os dados foram extraídos de um total de 451 textos produzidos em contexto escolar por 22 meninos e 18 meninas que freqüentavam, no ano de 2001, a primeira série de uma escola municipal de ensino fundamental em São José do Rio Preto (SP). Fenômenos de várias dimensões da língua e da linguagem parecem determinar os pontos de corte verificados. Na dimensão fonético-fonológica da língua, o destaque ao acento e o isolamento de sílabas e de pés rítmicos são bastante freqüentes. Na dimensão léxico-semântica, a identificação de possíveis palavras no interior de palavras também parece motivar os cortes. Por um lado, na medida em que fenômenos como os de natureza fonético-fonológica parecem atuar com grande força nas hipersegmentações dos quadrissílabos, é possível supor que os pontos de corte indiciam a sensibilidade do escrevente a fatos dos enunciados falados que ele recupera das práticas de oralidade nas quais circula. Por outro lado, na medida em que se verifica a

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identificação de possíveis palavras ortográficas no interior de quadrissílabos escritos, é possível supor que os pontos de corte indiciariam também o trânsito do escrevente por práticas de letramento.

Mesa 3 – Abordagens Formais da Sintaxe e da Semântica

A INTERFACE COM O LÉXICO Maria José Foltran (UFPR/CNPq) Parece consensual que a gramática de uma língua é um sistema coerente de princípios que determina a formação das sentenças de uma língua. A gramática terá, portanto, uma unidade básica que é a sentença. Essa gramática deve especificar quais são os componentes da sentença, como eles interagem , em que ordem ocorrem, etc. Essa gramática não terá nada a dizer a respeito de unidades maiores que a sentença, tais como texto, discurso, etc, que são objeto de outro tipo de investigação. Terá, no entanto, que lidar muito, e cada vez mais, com as unidades menores, como sintagmas, palavras, morfemas, etc. Esse tipo de investigação ganha força com a teoria gerativista, desde os seus primeiros momentos. Embasada em princípios tais como o Critério Theta, Princípio de Projeção, e com o desenvolvimento das teorias lexicalistas, essa investigação ganha contornos diferentes no momento em que a estrutura argumental é reconhecida como um complexo de informações que está na base do comportamento sintático de um item lexical. Assim, a semântica e a sintaxe precisam conversar. Este trabalho mostra como certas propriedades semânticas do item lexical, como gradualidade, tipo de evento, interferem na realização sintática de certos argumentos e na expressão de certas alternâncias.

VARIAÇÃO SEMÂNTICA NA EXPRESSÃO DA SINGULARIDADE E DA PLURALIDADE Ana Müller (USP-SP/CNPq) Este trabalho enfocará a contribuição do estudo das línguas indígenas brasileiras para a compreensão da amplitude da variação semântica nas línguas naturais. Pretende debater a questão sob o enfoque teórico da semântica lógica. Muitas das principais teorias lingüísticas atuais elaboraram suas generalizações apoiadas principalmente em dados das línguas indo-européias. Dados de línguas pouco discutidas pela lingüística teórica podem por em questão fatos e enfoques estabelecidos e, ao mesmo tempo, fornecer novas perspectivas a esses enfoques. Entre os semanticistas lógicos, existem basicamente dois enfoques: (i) a hipótese de que a variação está localizada na sintaxe e a semântica de cada língua reflete com transparência sua estrutura sintática e (ii) a hipótese de uma semântica universal para todas as línguas. A primeira hipótese permite uma grande variação semântica (ver Partee 1995). Já a segunda hipótese

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assume a hipótese nula de que não há variação lingüística na semântica das línguas naturais. De acordo com essa visão, existem certas estruturas semânticas fundamentais que todas as línguas devem partilhar (Chierchia 1998 e Matthewson 2001). O trabalho discutirá a expressão das noções de singularidade e pluralidade nas línguas naturais, debruçando-se especificamente na língua Karitiana, língua da família Tupi-Guarani, falada em Rondônia. Karitiana é uma língua que não expressa a oposição singular-plural em suas expressões nominais. Por outro lado, possui uma marcação verbal de pluralidade – pluracionalidade –que expressa a ocorrência de eventos plurais. Coloca em questão, portanto, o modo como as línguas naturais expressam a noção de número.

A SINTAXE DAS PSEUDO-CLIVADAS Carlos Mioto (UFSC/CNPq) A exposição pretende ilustrar como a sintaxe formal procede para analisar construções de uma língua. A construção inicial escolhida é (1): (1) O que a Maria é é importante. A análise mostrará que a ambigüidade de (1) entre uma leitura predicacional e especificacional (pseudo-clivada) decorre da estrutura da sentença. As duas estruturas de (1) se revelam mais claramente em (2), onde a disponibilidade da concordância anula a ambigüidade: (2) a. O que a Maria é é escandaloso. (predicacional) b. O que a Maria é é escandalosa. (pseudo-clivada) A concordância em escandaloso revela que a relativa livre em (2a) é o sujeito; a concordância em escandalosa revela que o sujeito do adjetivo em (2b) é a Maria e que a relativa livre/o pronome relativo é, neste caso, de natureza diferente. Além disso, a sentença em (1) será relacionada com (3): (3) A Maria é é importante. (3) é considerada por alguns autores uma versão reduzida (pseudo-clivada reduzida) de (1) no sentido especificacional. A análise que faremos de (3) vai contra esta concepção.

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DIA 31 DE OUTUBRO – SEXTA-FEIRA Mesa 1 – Ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras e formação de professores

EFEITOS COGNITIVOS POSITIVOS DO BILINGÜISMO E DA APRENDIZAGEM DA L2 Márcia C. Zimmer (UCPel) Uma das maiores tarefas com que as ciências cognitivas se deparam é a de deslindar e explicar a aquisição e o uso de uma língua (materna ou estrangeira), processos essencialmente humanos e que dependem, em maior ou menor grau, de um grande número de variáveis, todas de natureza complexa (DEKEYSER, 2005). Nesta fala, o alto grau de interatividade com que essas variáveis se interrelacionam é visto dentro do quadro teórico conexionista, que parte do pressuposto de que a cognição em geral é dinâmica, e de que essa dinamicidade caracteriza tanto a aquisição como o uso da língua estrangeira. Além disso, ao ressaltar as características temporais intrínsecas à noção de linguagem, o conexionismo assume o dinamismo da temporalidade contínua da aquisição e do uso da linguagem, colocando em destaque a continuidade entre linguagem e processos cognitivos (SEIDENBERG & MACDONALD, 1999; MACDONALD & CHRISTIANSEN, 2002), entre memórias implícitas e explícitas (O’REILLY & NORMAN, 2005), entre processamento sensório e motor na produção e percepção da fala (ALBANO, 2007), e entre memórias procedurais e declarativas. Essa continuidade entre processamento cognitivo e lingüístico é muito bem ilustrada pelo bilingüismo. As diferentes competências desenvolvidas nos diversos contextos de uso nas duas ou mais línguas faladas pelos indivíduos coloca em destaque o modo de ativação e processamento das línguas, que, segundo Grosjean (1999), constitui um continuum, que vai do modo monolíngüe ao modo bilíngüe, passando por vários estados intermediários de processamento e ativação das línguas usadas. Além disso, há diferenças individuais na habilidade com que os bi/multilíngües mudam o modo ao longo do contínuo. Tanto o bilingüismo como o multilingüismo são dinâmicos, e não estáticos, pois o perfil dos bi/multilíngües mudam com o passar do tempo, à medida que progridem no continuum. Evidências em estudos psicolingüísticos de processamento da linguagem de adultos mostram que as duas línguas de um bilíngüe permanecem constantemente ativas durante o processamento de uma. A atividade nos dois sistemas requer um mecanismo para manter as línguas em níveis de ativação suficientemente distintos para que se chegue a uma performance fluente da língua em questão. Green (1998) propôs um modelo baseado no controle inibitório, no qual a língua não relevante em determinado contexto é desconsiderada pelas funções do sistema executivo, usado para controlar a atenção e a inibição. Se esse modelo estiver correto,

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então bilíngües têm prática massiva em exercitar o controle inibitório, uma experiência que pode ir além dos domínios cognitivos verbais. Tendo em vista essa hipótese, estudos recentes desenvolvidos no Rio Grande do Sul vêm evidenciando o fato de que as habilidades desenvolvidas ao falar uma língua estrangeira conferem vantagens a crianças e jovens adultos bilíngües/trilíngües no desempenho de funções executivas e tendem a protelar o surgimento de problemas nos mecanismos de percepção, memória e funções executivas relacionadas à memória de trabalho na estrutura cognitiva dos idosos. Os resultados desses estudos e suas implicações teórico-práticas em termos de aprendizagem de L2 são discutidos nesta apresentação. ESTUDOS DA INTERLÍNGUA SOB A ÓTICA DA ARQUITETURA PARALELA: POSSIBILIDADES DE INVESTIGAÇÃO

Ricardo Augusto de Souza (UFMG) Modelos teóricos da organização gramatical da linguagem são freqüentemente cotejados nos estudos aquisicionistas que contemplam as representações que, hipoteticamente, um aprendiz de L2 desenvolve tem acerca da língua alvo, ou seja, as representações de interlíngua (BRAIDI, 1999). Dentre tais modelos, é conhecida a influência das teorizações dentro do quadro conceitual da Gramática Gerativa nos estudos de aquisição de L2 (exs: WHITE, 2004, LARDIERE, 2008). Contudo, a centralidade e primazia do componente sintático, teorizada no referido quadro, parece engendrar hipóteses sobre a natureza das representações interlinguais que acarretam debates, tais como aquele acerca do déficit gramatical ou não na aquisição de L2, de difícil solução. A “Arquitetura Paralela” é um modelo recente sobre a organização das representações gramaticais, que vem sendo desenvolvido por Jackendoff (1997, 2002), e que guarda elementos da teorização gerativista, abandonando, entretanto, a hipótese da centralidade e da primazia da sintaxe. Nesta comunicação, pretendemos refletir sobre possibilidades abertas pelo modelo da Arquitetura Paralela para a investigação de fenômenos interlinguais e que possivelmente podem conduzir a novas perspectivas acerca da questão de déficit representacional nas interlínguas.

TENDÊNCIAS DAS PESQUISAS NA ÁREA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS Telma Gimenez (UEL) No quadro de pesquisas sobre o ensino de línguas estrangeiras, nas últimas décadas, tem havido interesse crescente pelo professor, especialmente no que diz respeito a seu pensamento e ações em sala de aula. Mais recentemente, este foco tem se ampliado para aspectos de seu trabalho e sua formação, ampliando o escopo da Lingüística Aplicada. Esse movimento tem provocado alterações no campo de pesquisa no contexto brasileiro, com

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aportes multidisciplinares e grande diversidade de estudos que procuram compreender os processos de ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras em sala de aula. Minha participação nesta mesa terá como foco uma análise das contribuições das pesquisas sobre formação de professores em nossa área para o desenvolvimento de políticas públicas para programas de ensino-aprendizagem de línguas em escolas regulares.

Mesa 2 – Linguagem e Contexto Social

O SIGNIFICADO SOCIAL NA ESTRUTURA LINGÜÍSTICA Neiva Maria Jung (UEM, UEPG-PR)

De acordo com a Sociolingüística Interacional, os participantes de uma dada interação negociam elementos dinâmicos e múltiplos que apontam para as identidades sociais construídas, a partir de sua participação prolongada em diferentes redes sociais (GUMPERZ & COOK-GUMPERZ, 1982) ou diferentes comunidades de prática (ECKERT & McCONNELL-GINET, 1992). A alternância de códigos, inclusive dentro da mesma língua, do falar culto para o falar dialetal e vice-versa, pode ser uma pista contextual que aponta para o contexto comum sustentado entre os participantes de uma dada interação. A troca de códigos pode redefinir ou enriquecer uma situação social em curso (BLOM & GUMPERZ, 2002). Dentro dessa perspectiva, o objetivo deste trabalho é realizar uma reflexão sobre a definição de contexto e sobre a co-sustentação de um contexto pela alternância de códigos somada a outros traços que se articularam a esse contexto. Os dados que serão analisados são de interação em sala de aula de uma comunidade multilíngüe (alemão, brasileiro, português) do oeste do Paraná e dados de fala de um grupo de mulheres artesãs do noroeste do Paraná. Na comunidade multilíngüe, os dados de fala-em-interação de sala de aula apontam para uma questão de gênero social, em co-construção na comunidade.

O ESTUDO SOCIOLINGÜÍSTICO DA VARIAÇÃO Elisa Battisti (UCS/CNPq) Os estudos de variação lingüística conforme a abordagem de William Labov (LABOV 1972, 1994, 2001) têm sido definidos por seus métodos e objetivos, antes que por seu objeto de estudo, a linguagem em uso. Decorre daí não só a redutora denominação sociolingüística quantitativa, mas a inadequada interpretação de que estudos nessa linha resultam apenas na correlação entre certas características lingüísticas e dados aspectos da estratificação social. O objetivo do presente trabalho é refletir sobre o caráter sociolingüístico da variação, sobre o estudo da estrutura e evolução da língua no contexto social da comunidade de fala (LABOV, 1972), entendendo-se contexto social como fatos sociais que, enquanto formas de comportamento gerais numa

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sociedade, exercem restrição inconsciente sobre os indivíduos (FIGUEROA, 1994). A investigação de uma regra variável do português brasileiro, a palatalização das oclusivas alveolares, numa pequena cidade do Rio Grande do Sul fundada por imigrantes italianos no final do século XIX, Antônio Prado, fornecerá elementos para a reflexão. É de 30% a freqüência de aplicação da palatalização no português falado em Antônio Prado, um índice moderado se comparado ao de outros falares brasileiros (HORA, 1990; BISOL, 1991; ALMEIDA, 2000; PAGOTTO, 2001; ABAURRE e PAGOTTO, 2002; KAMIANECKY, 2002; PIRES, 2003; PAULA, 2006; BATTISTI, DORNELLES FILHO, LUCAS e BOVO, 2007). Além da análise de regra variável, realizou-se análise da rede social dos informantes (MILROY, 1980; MILROY e MILROY, 1992) e de variação lingüística como prática social (ECKERT, 2000), o que permitiu verificar que a palatalização, apesar de condicionada pelos jovens, mostra sinais de estabilização na comunidade em índices modestos. A relação em rede entre os informantes reforça o emprego da alternante mais conservadora, a forma não-palatalizada, e a observação de práticas sociais dos jovens revelou uma atitude positiva em relação à comunidade, o que explica seu papel introdutor da regra de um lado, mas seu fraco papel difusor de outro. Além de permitir afirmar que a palatalização não é mudança em progresso na comunidade, a articulação das análises possibilitou explicitar a ação do contexto social, enquanto fatos sociais, sobre o indivíduo e seus hábitos de fala, ao potencializar manifestações variáveis, ou ao refreá-las. ANÁLISE GRAMATICAL EM CONTEXTO: QUAL CONTEXTO? Tarcísio Leite (USP) De maneira geral, estudos sobre gramática e estudos sobre dimensões sociais da linguagem são abordados e discutidos separadamente: ou se focaliza a língua como um sistema abstrato, ou se focaliza a significação social do discurso para os seus usuários. Contudo, sob a perspectiva de áreas de estudo da linguagem que emergiram no campo das ciências sociais (por exemplo, a análise da conversa de base etnometodológica e a antropologia lingüística, entre outras), a possibilidade de abordar a linguagem como um sistema abstrato analisável de maneira independente dos contextos de interação que lhe dão vida tem sido questionada. A presente comunicação irá reportar um estudo centrado na segmentação da Língua de Sinais Brasileira (LIBRAS) em unidades gramaticais que foi realizado com o esforço particular de não desvincular a gramática sob análise de seu contexto interacional. Com o intuito de levantar questões relevantes para o tema da mesa, a comunicação irá apresentar e problematizar as decisões tomadas neste estudo, trazendo alguns questionamentos sobre a noção de “unidade lingüística” e de “ação social, bem como sobre que nível e que tipo de participação na interação pode/deve ser considerado como “contexto” socialmente relevante para as análises gramaticais.

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Mesa 3 – Fonologia e Morfologia

O PLURAL EM DIMINUTIVOS Leda Bisol (PUCRS/CNPq) O diminutivo tem sido motivo de discussões em artigos diversos, em virtude de características que o distingue dos demais derivativos, entre essas a de permitir vogal temática no interior da palavra, oferecendo argumentos para diferentes propostas de análise. Este texto, que se detém no plural de diminutivos, situa-se entre os que o interpretam como derivativo. A análise realiza-se na linha da Teoria da Otimidade, contando com uma hierarquia de restrições em que interagem restrições de correspondência input e output, de alinhamento de níveis estruturais distintos e de marcação. Ao considerar que o diminutivo, -inho na subjacência, tem uma base morfológica, isto é, um nominal temático ou atemático, depreendem-se com naturalidade as aparentes irregularidades do output, referentes ao plural.

PROCESSOS DE MESCLAGEM VOCABULAR: UMA ANÁLISE DA INTERFACE MORFOLOGIA-FONOLOGIA PELA TEORIA DA CORRESPONDÊNCIA Carlos Alexandre Gonçalves (UFRJ/CNPq)

Também chamado de palavra-valise (Alves, 1990), mistura (Sândalo, 2001), mescla lexical (Silveira, 2002) e portmanteau (Araújo, 2000), o cruzamento vocabular, doravante CV, é quase sempre definido como um processo de formação de palavras que consiste na fusão de duas bases, a exemplo do que ocorre com ‘mautorista’ (junção de ‘mau’ com ‘motorista’, “motorista sem perícia”) e ‘craquético’ (mistura de ‘craque’ com ‘caquético’, “craque com péssima aparência física, em geral ocasionada pelo consumo de drogas”). Apesar de relevância do fenômeno tanto para a análise de questões fonológicas quanto para a descrição de aspectos morfológicos e semânticos, até a década passada o CV recebeu pouca atenção dos estudiosos contemporâneos de morfologia, merecendo não mais que menções em nota de rodapé. Nos últimos anos, o cruzamento vocabular vem perdendo o enfoque marginal e constituindo objeto de investigação tanto de pesquisadores europeus (Piñeros, 2000) quanto norte-americanos (Quinnion, 2002; Kemmer, 2003). Com base em diferentes modelos de análise, tais autores defendem que, nas línguas estudadas (espanhol, por Piñeros, e inglês, por Quinnion e Kemmer), o fenômeno de modo algum é idiossincrático, como preconiza a literatura morfológica, sendo considerado regular tanto fonológica quanto semanticamente. Dando continuidade à investigação do fenômeno, pretendo mostrar que o CV é um processo de formação de palavras que atua na interface morfologia-fonologia e, para tanto, analiso-o com base na Teoria da Correspondência (McCarthy & Prince, 1995; Benua, 1997). Diferentemente do que vinha propondo nos últimos estudos sobre o fenômeno (p. ex., Gonçalves, 2007), procuro mostrar que o termo

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cruzamento vocabular é enganoso, uma vez que, sob esse rótulo, abrigam-se, na verdade, três diferentes processos de formação de palavras: (a) o entranhamento lexical (processo em que as duas formas de base se sobrepõem, promovendo a ambimorfemia, a exemplo de ‘aborrescente’), (b) a combinação truncada (mecanismo pelo qual uma forma de base completa a outra, sem acesso à ambimorfemia, como em ‘portunhol’) e (c) a reanálise estrutural (operação em que uma forma de base é reinterpretada morfologicamente). Na apresentação, aponto as principais diferenças entre os três tipos de processos e analiso o chamado “entranhamento lexical” à luz de um ranking de restrições.

ADJUNÇÃO E INCORPORAÇÃO PROSÓDICA NA MORFOLOGIA PREFIXAL DO PORTUGUÊS BRASILEIRO: ANÁLISE BASEADA EM RESTRIÇÕES Luiz Carlos Schwindt (UFRGS/CNPq)

Neste trabalho, revisitamos a discussão em torno do estatuto prosódico e morfológico de prefixos no português brasileiro (PB), na perspectiva da Teoria da Otimidade (OT), originalmente proposta por McCarthy e Prince (1993a,b) e Prince & Smolensky (1993). Nosso objetivo é explicar padrões alomórficos envolvendo o prefixo e sua palavra-base, a partir da relação entre unidades morfológicas e unidades prosódicas, sem fazer uso de expedientes derivacionais. Orientam nossa discussão, entre outros, os trabalhos de Nespor & Vogel (1986), Selkirk (1995), Booij (1996), Peperkamp (1997), Beckman (1998), Schwindt (2000) e Vigário (2001). O mapeamento imperfeito de unidades morfológicas em unidades prosódicas e a obediência a princípios de boa-formação de unidades prosódicas podem explicar muito do que se tem entendido classicamente por alomorfia. Defendemos a idéia de que unidades morfológicas (afixos, radicais, palavras lexicais etc.) ensejam isomorfismo com unidades prosódicas (sílabas, pés, palavras fonológicas etc.) e que essa pressão se sobrepõe a condições de dominância envolvendo unidades prosódicas, como exaustividade e não-recursividade da PW. A TO mostra-se adequada para tratar de fenômenos dessa natureza, uma vez que admite que todas as restrições são universais - o que permite explicar por que esses princípios falham em sua aplicação sob determinadas condições. Nessa linha de raciocínio, retomamos nossa hipótese desenvolvida anteriormente (Schwindt, 2000), de que prefixos se organizam em três tipos de configuração prosódica: incorporados, adjuntos ou compostos à base a que se ligam: prefixos monossilábicos inacentuados são sílabas adjuntas ou incorporadas à esquerda de uma base e prefixos acentuados são palavras fonológicas independentes. As evidências para construir o ranking provêm, especialmente, dos processos de ressilabação, vozeamento intervocálico, epêntese e assimilação da nasal. A maior parte dos argumentos que apresentamos diz respeito à defesa do limite de palavra prosódica entre prefixo e base, o que diferencia a adjunção da incorporação, mas também a composição desta última.

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RESUMOS DAS APRESENTAÇÕES NOS GRUPOS TEMÁTICOS GT1 Gêneros textuais jornalísticos em suportes diversos: análise e ensino Coordenadores Adair Bonini (UNISUL, Tubarão, SC) Marcos Baltar (Universidade de Caxias do Sul) SUPORTE E GÊNERO: UMA RELAÇÃO DE INTERDEPENDÊNCIA Adair Bonini (UNISUL) A conexão entre suporte e gênero textual, ainda pouco esclarecida pela literatura da área de texto e discurso, é um problema que afeta tanto os procedimentos da pesquisa de gênero quanto as práticas de ensino de linguagem relacionadas e esse objeto. A apresentação aqui proposta consiste em uma reflexão teórica acerca desse problema. O trabalho orienta-se por uma perspectiva sócio-retórica de estudos de gênero (Swales, 1990, 1998, 2004; Bazerman, 2005) e procurou atingir quatro objetivos, quais sejam: i) revisar o modo como a literatura tem definido a noção de suporte em sua relação com o gênero (Marcuschi, 2001; entre outros); ii) retomar o conceito de hipergênero (Maingueneau, 2004; Bonini, 2003, 2004); iii) avaliar a preditibilidade das noções de suporte e hipergênero frente aos objetos que elas focalizam; e iv) avaliar a relação entre hipergênero e hierarquia, cadeia, conjunto e rede de gêneros, conceitos que Swales (2004) alocou sob o rótulo “constelações de gêneros”. ORGANIZAÇÃO RETÓRICA DO GÊNERO NOTÍCIA DE POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE PORTUGUÊS E INGLÊS Désirée Motta-Roth (UFSM) Cristina dos Santos Lovato (UFSM) Liane Beatriz Gerhardt (UFSM) O objetivo deste estudo é realizar uma análise comparativa da organização retórica de textos do gênero “notícia de popularização da ciência” (PC) em português e inglês. Textos de PC são comumente direcionados ao público não-especialista, pois têm a função de divulgar, de forma simplificada, resultados de pesquisas científico-tecnológicas. O ponto de partida para análise foi o estudo de Nowgu (1991) sobre os movimentos retóricos (conforme Swales, 1990) da versão jornalística de textos científicos. A análise em andamento aponta a necessidade de mudanças significativas nesse modelo para dar conta dos textos publicados mais recentemente na Internet. Serão apresentados os resultados da análise atualmente em andamento de um corpus de 20 textos, divididos igualmente entre os sites Ciência Hoje On-line e BBC online, publicados entre 2004 e 2008. Serão

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apresentados resultados relativos à configuração textual em movimentos e passos retóricos e à semelhança ou diferença entre os textos nas duas línguas. A análise prévia sobre PC em português e em inglês sugere que há predominância da seguinte estrutura: indicação dos resultados gerais no lide, seguida pela apresentação da nova pesquisa, que é sustentada com a indicação de observações consistentes relacionadas ao processo de pesquisa e aos dados, que na seqüência têm sua coleta e procedimentos experimentais descritos. A explicação dos resultados específicos e gerais são os últimos movimentos predominantes, marcados principalmente pela polifonia. [Este trabalho é parte do projeto PQ/CNPq (2008-2011), nº 304256/2004-8, desenvolvido pelos membros do GRPESQ/CNPQ “Linguagem como Prática Social”, sob coordenação da terceira autora]. O GÊNERO COMENTÁRIO: ANÁLISE SÓCIO-RETÓRICA DE EXEMPLARES PUBLICADOS NOS JORNAIS DIÁRIO CATARINENSE E FOLHA DE SÃO PAULO Daniela Arns Silveira Monteiro (UNISUL, Tubarão, SC) Esta pesquisa teve como objeto o gênero comentário jornalístico. A perspectiva teórica adotada é a da sócio-retórica, que concebe o gênero textual como uma forma de ação social. Foi estudado um corpus de 42 exemplares do comentário, sendo 18 textos extraídos do jornal Diário Catarinense e 24 da Folha de S. Paulo, em edições que circularam entre os dias 7 e 13 de maio de 2007. A metodologia empregada baseou-se na análise de movimentos retóricos conforme proposta por Swales (1990), nos procedimentos apontados por Paré e Smart (1994) e em diretrizes elaboradas por Bonini (2004b). Os exemplares do gênero foram analisados comparativamente entre si e em termos de seu papel como componente do jornal. Foram objetivos da pesquisa: a) determinar a organização retórica do gênero comentário; b) determinar aspectos da relação entre o comentário e o papel social do comentarista; e c) levantar a ocorrência do gênero dentro dos jornais Diário Catarinense e Folha de S. Paulo, observando as peculiaridades dessa ocorrência nos cadernos e seções desses jornais. Os principais resultados apontam para: a) uma organização do gênero em nove movimentos retóricos; b) um papel social do comentarista restrito a determinadas áreas sociais e um estilo de escrita que fica a um meio termo entre o formal e o informal; e c) uma delimitação do espaço da discussão de assuntos-alvo dos comentários, dentro dos jornais.

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O GÊNERO TEXTUAL CARTA DO LEITOR NO ENSINO DE LINGUAGEM Eliane de Fátima Manenti Rangel (UNIFRA) Este trabalho trata de gêneros textuais a partir de pressupostos teóricos baseados em autores como Bakthin, Bonini, Meurer e Motta-Roth, entre outros, que entendem a leitura de gêneros como uma prática social. Objetiva-se discutir e analisar o gênero textual carta do leitor no ensino de linguagem através de uma experiência didática. Esse trabalho procura propiciar aos alunos apreender as características gramático-textuais empregadas pelo autor da carta para opinar, reclamar, reivindicar ou defender seu ponto de vista. Desse modo, por meio da leitura e interpretação do referido gênero, procura-se discutir com os estudantes as diferentes formas utilizadas pelo autor para enfatizar a sua opinião e chamar a atenção dos leitores. O trabalho com esse gênero revela características lingüísticas e gramaticais que servem para modernizar a didática do ensino de linguagem, atingindo um resultado satisfatório, em que se percebe que a leitura e a conseqüente produção do gênero carta do leitor instigam o aluno a desenvolver seu senso crítico e aperfeiçoar a escrita. O STORY-BOARD JORNALÍSTICO: ANÁLISE DO GÊNERO A PARTIR DE EXEMPLARES PUBLICADOS NA FOLHA DE S. PAULO Emerson de Lima (UNISUL) O trabalho aqui apresentado consiste em uma pesquisa em desenvolvimento, cujo objeto é o story-board jornalístico. O gênero é estudado de acordo com a perspectiva sócio-retórica, com ênfase na análise de movimentos de Swales (1990) e no conceito de sistema de gêneros de Bazerman (1994, 2005). Objetiva-se, nessa pesquisa: 1) levantar a organização textual do gênero em questão; 2) determinar aspectos e sua produção; e 3) levantar as relações entre esse gênero, o texto ao qual serve como ilustração e o jornal como um todo. São analisados exemplares do story-board coletados nas edições do jornal folha de S. Paulo, no período de seis meses. O ESTUDO DA CRÔNICA JORNALÍSTICA NO QUADRO TEÓRICO DE SWALES E BAZERMAN: ESTRUTURA RETÓRICA E PROCESSO DE PRODUÇÃO Juliana Bernardini Francischini (UNISUL) O presente trabalho se propõe a analisar o gênero “crônica jornalística”, apresentando os critérios para sua classificação, os mecanismos lingüísticos que a caracterizam e o sistema de gêneros e atividades envolvido em seu processo de produção. Na condução das análises, são considerados os postulados teóricos da abordagem sócio-retórica de análise de gêneros de John Swales (1990), que indicam a estrutura composicional e as marcas

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formais do gênero a partir da descrição de seus movimentos retóricos. A fim de identificar o processo de produção da crônica, utilizam-se os conceitos de “conjunto de gêneros, sistema de gêneros e sistema de atividades”, propostos por Charles Bazerman. Para desenvolver a pesquisa, são explorados exemplares do gênero, extraídos de dois diferentes jornais de circulação nacional e regional (Folha de São Paulo e Zero Hora), durante o período de um mês (de 15/05/08 a 15/06/08). Essas análises são operacionalizadas dentro do quadro metodológico de Paré e Smart (1994), que consiste em verificar, entre outros aspectos, quais regularidades são observáveis em um conjunto de textos representativos de um determinado gênero e nos processos de produção desses textos. Além de ser viável para um melhor entendimento das práticas jornalísticas, esse estudo se torna relevante uma vez que não foram encontrados trabalhos ou pesquisas que apresentem uma análise da crônica jornalística nessa perspectiva teórica. O trabalho também apresenta relevância social, devido à sua potencial utilização prática no ensino, visando desenvolver entre os aprendizes (alunos de jornalismo ou de Ensino Fundamental e Médio) o conhecimento do gênero e a capacidade de produzir textos que realizem de modo bem-sucedido as características da crônica. CINEMINHA E GALERIA: GÊNEROS JORNALÍSTICOS ANALISADOS A PARTIR DE UMA VISÃO SÓCIO-RETÓRICA Lis Airê Fogolari (UNISUL) A proposta dessa pesquisa é a de analisar os gêneros fotográficos cineminha e galeria publicados no jornal Folha de S. Paulo. A pesquisa se apóia na abordagem sócio-retórica para explicar a organização desses gêneros. Além de investigar a relação de cada um deles com o texto ao qual está referenciado (matéria do jornal), também procura levantar a relação destes gêneros com o próprio jornal. A fundamentação dessa pesquisa tem base na proposta teórica de John M. Swales (1990), especialmente em termos dos conceitos de gênero textual e comunidade discursiva, e em Bazerman (1994), quanto ao conceito de sistema de atividades. Para a análise dos dados, foi considerada a metodologia proposta por Paré e Smart (1994), especialmente em relação a dois pontos: 1) organização textual: utilizando-se da análise de movimento defendida por Swales, aliada à proposta de análise do jornal de Bonini (2003); e 2) processos de produção: levantados através de entrevistas com os produtores. A pesquisa se justifica pela necessidade de estudos que se ocupem da relação entre o texto jornalístico e a imagem, já que este recurso se apresenta num crescente nos periódicos impressos.

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QUESTÕES EM TORNO DA ESCRITA E DA LEITURA: DO IMBRICAMENTO ENTRE LINGUAGEM, GÊNERO E SUPORTE EM TEXTOS DE MÍDIA IMPRESSA Luzmara Curcino Ferreira (FAFIPAR) Neste trabalho abordaremos a estreita ligação entre a(s) linguagem(s), o gênero e o suporte e as implicações desse imbricamento atualizado na escrita de textos midiáticos, em especial textos de revista impressa. Nosso objetivo é abordar a relação de homologia discursiva que se estabelece entre as linguagens verbal e não-verbal, o gênero e o suporte, considerados aqui como instâncias discursivas que atuam na produção e recepção dos discursos. Apresentaremos algumas reflexões sobre o estatuto desses elementos na construção dos sentidos dos textos tendo em vista os conceitos de materialidade discursiva, de gênero discursivo, e de suporte segundo os estudos desenvolvidos: 1) em Análise de Discurso – em especial as considerações de Michel Pêcheux e seus seguidores, acerca do problema da materialidade discursiva, e de Mikhail Bakthin, acerca dos gêneros do discurso; e 2) em História Cultural – mais especificamente da “teoria do suporte” esboçada por Roger Chartier. RÁDIO NA ESCOLA E/OU RÁDIO DA ESCOLA: FERRAMENTA DE INTERAÇÃO SOCIODISCURSIVA E DE MÚLTIPLOS LETRAMENTOS Marcos Baltar (UCS) Este trabalho investiga a potencialidade da Rádio Escolar como ferramenta de interação sociodiscursiva e de múltiplos letramentos na escola, caracterizando-se como um dispositivo de ensinagem de gêneros textuais que circulam no ambiente discursivo midiático. Tem como propósito diferenciar o trabalho com a rádio na escola do trabalho com a rádio da escola, além de construir novos caminhos para a promoção do desenvolvimento e aprendizagem de crianças, jovens e adultos. A pesquisa está ancorada nos pressupostos das teorias do letramento, em especial Street e Kleiman, e no escopo do interacionismo sociodiscursivo, especialmente Bronckart, Schneuwly e Dolz. O quadro metodológico está alinhado com os ditames do paradigma da pesquisa-ação integral de Morin. Até o presente momento envolveu cinco escolas públicas da região do entorno da Universidade de Caxias do Sul. Os resultados indicam movimentos de deslocamento dos sujeitos envolvidos no que tange aos parâmetros de contrato, participação, discurso, ação e mudança.

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ESTRATÉGIAS RETÓRICAS E ESTRUTURA COMPOSICIONAL DE ARTIGOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA MIDIÁTICA PARA CRIANÇAS: PRINCÍPIOS ASCENDENTES E DESCENDENTES Maria Eduarda Giering (UNISINOS) Esta apresentação parte de resultados quantitativos da pesquisa Divulgação Científica: Estratégias Retóricas e Organização Textual - DCEROT, em que se constatou que artigos de divulgação científica midiáticos (doravante DC) – dirigidos a crianças e jovens – possuem diferentes fins discursivos, os quais determinam organizações retóricas distintas (Bernárdez, 1995; Mann e Thompson, 1992). Aos diferentes fins discursivos, correspondem organizações retóricas prototípicas predominantes. Observou-se que a escolha do produtor por certa relação retórica entre segmentos informacionais do texto acarreta a presença de determinada(s) seqüência(s) prototípica(s) (Adam 1992). Salienta-se que a noção de retórica empregada é a da Rhetorical Structure Theory (Mann, W. C. et al, 1992), para a qual o termo retórica relaciona-se à concepção de que as estruturações das relações no texto refletem as opções de organização e de apresentação do produtor. A RST oferece um modelo de enfoque cognitivo e de descrição de processos que permite tratar das tomadas de decisão do produtor implicadas na concepção de texto como configuração de estratégias e possibilita, de forma probabilística, prever as estratégias de formação do texto, num nível macroestrutural. Nesta apresentação, expõem-se diferentes artigos DC com fins discursivos distintos, a fim de evidenciar (a) a relação entre as escolhas retóricas predominantes e os fins discursivos dos textos; (b) a correspondência entre organizações retóricas predominantes dos textos DC e seqüência (s) prototípica(s). Com base em Adam (1999), discutem-se os princípios internos (ascendentes) e externos (descendentes) que estão em jogo na organização composicional de artigos de divulgação científica midiática. O conhecimento desses princípios de organização composicional dos artigos DC oferece subsídios para o ensino da produção e da compreensão desse gênero de texto. A PESQUISA E A SALA DE AULA: MODOS DE ORGANIZAÇÃO DO DISCURSO JORNALÍSTICO Neiva Maria Tebaldi Gomes (Uniritter) A comunicação apresenta resultados parciais de uma pesquisa que propõe uma análise dos modos de organização do discurso jornalístico, visando identificar, nesse discurso – pretensamente definido contra a manipulação –, a presença de marcas lingüísticas de subjetividade do locutor, conectores, operadores argumentativos e outros recursos e procedimentos empregados para conduzir o leitor à determinada conclusão e/ou a determinado ponto de vista. O objetivo fundamental é o de aprofundar reflexões sobre a atividade lingüística de argumentação. A pesquisa justifica-se pela necessidade de a escola integrar-se, de alguma forma, à dinâmica comandada por múltiplas

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tecnologias de informação. O corpus é constituído por editoriais, textos opinativos, reportagens, notícias e charges de diferentes mídias. A semântica argumentativa, segundo estudos realizados por Ducrot, Anscombre e Carel, fornece embasamento teórico e metodológico. Estudos das conjunções do português e princípios e conceitos da lingüística da enunciação integram o apoio teórico. O estudo desenvolve-se em três etapas: a) seleção dos textos, levantamento e análise dos recursos e procedimentos lingüístico-discursivos; b) levantamento de regularidades lingüísticas e de procedimentos argumentativos a partir dos quais são propostas estratégias de leitura; e c) estudo dessas estratégias com professores de língua portuguesa da educação básica. Integrando a linha de pesquisa Linguagem, processos cognitivos e aprendizagem, o objetivo final do projeto é a construção de conhecimento relativo à organização discursiva necessário à proposição de estratégias de leitura que visem à formação de um leitor crítico, menos suscetível à manipulação do discurso de informação. Como resultado parcial, já que a pesquisa encontra-se ainda na sua primeira etapa, com esta comunicação objetiva-se socializar formas de explicitação de estratégias discursivas (argumentativas) presentes em textos já analisados. ESTUDO DA DIMENSÃO SEMIÓTICO-TEXTUAL DO GÊNERO ENTREVISTA PINGUE-PONGUE, DO JORNALISMO DE REVISTA Nívea Rohling da Silva (UFSC) Temos por objetivo apresentar uma análise da dimensão semiótico-textual do gênero entrevista pingue-pongue, do jornalismo de revista que compreende: a) a composição lingüístico-textual; b) a intercalação genérica; c) a análise do verbo-visual, que diz respeito à articulação entre os elementos verbais e os elementos pictóricos (principalmente a fotografia). A fundamentação teórico-medotodológica insere-se na teoria de gêneros do discurso e da análise dialógica do discurso do Círculo de Bakhtin. Os dados de pesquisa são compostos por todas as entrevistas pingue-pongues (52) publicadas nas revistas semanais CartaCapital, ISTOÉ e Veja, no período de 4 de outubro a 8 de novembro de 2006, época de cobertura do segundo turno das eleições presidenciais no Brasil. Os resultados de análise mostram que, com relação à composição lingüístico-textual, o gênero pesquisado caracteriza-se por seguir uma certa padronização, uma vez que sua composição textual não se altera sensivelmente de edição para edição; não permite variedade de intercalação de gêneros, com exceção da entrevista face a face e da inserção da propaganda em determinadas entrevistas. Assim, ao ler uma entrevista, o leitor já sabe, de antemão, que encontrará uma seqüência sistematizada: título, introdução, foto, “olho”, pergunta e resposta. Já com relação à análise da articulação entre elementos verbais e visuais, observamos que a integração desses elementos contribui significativamente para constituição do gênero, e que, dentre os elementos pictóricos estudados (cor, disposição gráfica dos elementos, etc.), a fotografia do entrevistado é o mais “saliente” no gênero. Isso se comprova pelo fato de que em todas as

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incidências do gênero há pelo menos uma fotografia do entrevistado. É ela a responsável por “atrair” a atenção do leitor para que ele leia a entrevista, concretizando assim a interação discursiva entre autor e leitor, além de atribuir valoração axiológica à pessoa do entrevistado. Nessa análise foi possível capturar efeitos de sentido que vão além do objetivo discursivo de “ilustrar” a entrevista, adentrando caminhos em direção à materialização ideológica de posições políticas. Assim, a relação entre o material lingüístico e o material pictórico permite uma ampliação ou redimensionamento de sentidos. E, por fim, com relação à intercalação genérica no gênero pesquisado, constatamos a intercalação do gênero entrevista face a face, da esfera jornalística. Essa intercalação ocorre de maneira implícita; é como se fosse um “vestígio” da interação face a face que se “aporta” no gênero em estudo. POLIFONIA E AVALIAÇÃO EM NOTÍCIAS DE POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA Patrícia Marcuzzo (UFSM) Désirée Motta-Roth (UFSM) Este trabalho é parte de um projeto guarda-chuva, intitulado Análise crítica de gêneros de artigos de popularização da ciência (PQ/CNPq nº. 301962/2007-3), desenvolvido no LABLER/UFSM, cujo objetivo é investigar diferentes aspectos do processo de popularização científica, com enfoque no gênero discursivo notícia de popularização científica. O objetivo mais amplo desse projeto é propor uma sistematização dos procedimentos analíticos no estudo de gêneros discursivos escritos a fim de subsidiar o ensino de leitura e redação em inglês como língua estrangeira e redação em língua materna. Nesta comunicação, enfocamos a polifonia, já que a literatura (Oliveira e Pagano, 2006) e a análise prévia do corpus indicam ser esse um traço discursivo característico do gênero. O corpus é composto por 20 notícias de popularização da ciência, publicadas entre 2004 e 2008, em dois sites: BBC News International e Scientific American. A análise dos textos foi realizada a partir da ótica sistêmico-funcional (Halliday, 2004). Nesta comunicação, serão apresentados resultados relativos às estratégias de polifonia utilizadas nos textos do corpus, mais especificamente, em relação à polifonia manifestada lingüisticamente nesses textos e à função de diferentes vozes na construção do sentido da notícia e na avaliação das pesquisas reportadas. O GÊNERO JORNALÍSTICO NOTÍCIA – DIALOGISMO, DISCURSIVIDADE E VALORAÇÃO Rodrigo Acosta Pereira (UFSC) Pesquisas contemporâneas em Lingüística Aplicada (LA) têm buscado compreender a intrínseca relação entre linguagem e sociedade, apresentando, dentre diversos percursos e abordagens, estudos direcionados à investigação da constituição e do funcionamento dos gêneros do discurso nas variadas

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interações sociais. Sob essa perspectiva, a presente pesquisa inserida no âmbito da LA transdisciplinar, busca (a) apresentar discussões acerca dos gêneros do discurso com base no Círculo de Bakhtin; (b) localizar o gênero notícia na esfera sociodiscursiva do jornalismo impresso, buscando apontar posições teórico-metodológicas sobre esse gênero com base na Teoria do Jornalismo (TJ) e na Análise Dialógica de Discurso (ADD) de Bakhtin; (c) explorar as projeções estilístico-composicionais do gênero notícia, entrecruzando a TJ e a ADD, visando a uma posição transdisciplinar de estudo e (d) investigar as relações dialógicas que engendram o gênero notícia e sua socioconstituição e funcionamento na esfera do jornalismo. Foram selecionados 20 enunciados de notícias retiradas dos jornais O Estado de S. Paulo, Diário Catarinense, Zero Hora e Correio do Povo no período do dia 13 a 20 de dezembro de 2007. Para análise, a pesquisa baseia-se na metodologia sociológica de análise da linguagem proposta pelo Círculo de Bakhtin e revisitada por Brait (2007), Rodrigues (2001) e Rojo (2005, 2007). A pesquisa apresenta-se relevante, à medida que contribui para discussões em TJ e para a consolidação de uma Teoria Sociodialógica de Gêneros do Discurso frente às demais abordagens em LA (sociossemiótica, socioretórica, interacionista-sociodiscursiva, semiodiscursiva e sociocognitivista). USOS DE TU E VOCÊ EM JORNAIS DO INÍCIO DO SÉCULO XX: UM ESTUDO CLASSIFICATÓRIO DOS GÊNEROS TEXTUAIS Sabrina Rodrigues Garcia Balsalobre (UNESP/CNPq, Araraquara) Juliana Bertucci Barbosa (UNESP/CNPq, Araraquara) Nesta pesquisa – ligada ao projeto “Para a História do Português Paulista” (PHPP), sub-projeto “Mudança gramatical no português de São Paulo” – partimos do pressuposto de que a língua não é uma realidade estática, que perdura de maneira imutável ao longo do tempo; a língua é o resultado de variações e/ou mudanças lingüísticas (WEINREICH, LABOV, HERZOG, 1968; LABOV,1972, 1982, 1994). A partir dessa perspectiva e da proposta de Bonini (2001; 2003) – que considera o jornal como um suporte para outros gêneros textuais –, refletimos sobre o uso do jornal como corpus para pesquisas sociolingüísticas. Levantamos algumas discussões sobre as características do gênero jornalístico no início do século XX, estabelecendo paralelos entre essas características e a realidade lingüística desse mesmo período. Além disso, por terem sido detectadas alterações nos resultados lingüísticos, segundo o jornal e o gênero textual em análise, fez-se necessário analisar os jornais, levando em consideração as suas características internas, para que assim, pudéssemos chegar à resultados “mais confiáveis”. Com a intenção de ilustrar a proposta deste trabalho – a elaboração de pesquisa lingüística em alguns jornais do início do século XX a partir do levantamento de seus respectivos gêneros textuais – investigamos o uso dos pronomes tu e você em diferentes seções do jornal. Para isso, analisamos amostras de jornais do início do século XX: O Kosmos e O Alfinete, que tinham por objetivo divulgar a comunidade negra, do período

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pós-abolição, com fins de inserção social; e os jornais do município de Araraquara, interior de São Paulo – O Araraquarense, O Jornal do Commercio de Araraquara – dedicados a noticiar (e a influenciar) fatos importantes, principalmente, os relacionados à política. Para a realização desse estudo, propomos o levantamento dos gêneros contidos nesses jornais, classificando-os em central e periférico, de acordo com a nomenclatura de Bonini (2003) para o estudo do hipergênero jornalístico. O resultado desse levantamento apontou para a necessidade da realização de uma tabela classificatória para cada jornal específico, respeitando a natureza interna e seus fatores histórico-sociais. Os resultados obtidos indicam, por exemplo, uma maior ocorrência de tu e você em jornais da Imprensa Negra, por haver um número maior de gêneros textuais que prevêem situações de interlocução, ou seja, situações em que o autor do texto se dirige diretamente aos leitores. Além disso, verificou-se que em um mesmo jornal há gêneros que propiciam a ocorrência de tu e outros de você, de acordo com o público alvo de cada jornal. POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA: UMA VISÃO PANORÂMICA DO DIÁRIO DE SANTA MARIA Tânia Maria Moreira (UFSM) Désirée Motta-Roth (UFSM) Este trabalho, vinculado ao projeto “Análise crítica de gêneros com foco em artigos de popularização da ciência”, em desenvolvimento no GRPesq/CNPq “Linguagem como prática social” do LABLER/UFSM, tem como objetivo investigar com que recorrência um jornal local de Santa Maria, RS, divulga textos de popularização da ciência e como esses textos se configuram retoricamente. Gêneros de popularização da ciência podem ser interpretados como uma versão re-elaborada e relativamente simplificada dos resultados de pesquisas publicadas no formato de artigo acadêmico (Pagano, 2001). Foram selecionadas 48 edições de 2007, do jornal Diário de Santa Maria, para análise da organização retórica em movimentos e passos (Swales, 1990), a partir de uma adaptação do modelo proposto por Nwogu (1990; 1991) para o gênero notícia de popularização da ciência. A análise preliminar indica uma organização retórica diferente do modelo proposto por Nwogu, o que pode sinalizar que a popularização científica em questão não se refere a uma pesquisa propriamente dita, mas ao conhecimento científico mais amplo, de um campo de estudos ou uma área do saber. O GÊNERO CARTA DO LEITOR: ANÁLISE DE EXEMPLARES PUBLICADOS NO JORNAL FOLHA DE S. PAULO Zulmar Teresinha Barbosa Corrêa (UNISUL) Esta pesquisa tem como objeto de estudo o gênero textual carta do leitor. Pelo fato de existir muitas variações desse gênero distribuídas em várias seções do jornal, de modo geral, nessa pesquisa ele é entendido como um

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subgênero da carta ao editor. A carta do leitor é um dos espaços que o jornal abre à sua audiência para feedbacks de diversas naturezas. O estudo da carta do leitor, aqui realizado, tem como diretriz teórica os trabalhos desenvolvidos dentro do campo da sócio-retórica, mais especificamente os de Swales (1990) e Bazerman (2005). O corpus da pesquisa compõe-se de: i) exemplares do gênero retirados do jornal a Folha de S. Paulo no período de 21 a 27 de maio de 2007; e ii) cartas originais do leitor (pré-edição) enviadas via e-mail pelo editor responsável pela seção de cartas do leitor nesse jornal. Com a realização desta pesquisa buscou-se atingir os seguintes objetivos: a) levantar a organização retórica do gênero carta do leitor; e b) determinar aspectos da edição das cartas como parte do processo de textualização do gênero. Além de contribuir com o estudo dos gêneros jornalísticos, a pesquisa, através de seus resultados, tem a possibilidade de auxiliar e promover o ensino de produção textual nas escolas. GT2 Evidências fonéticas e elaboração de modelos fonológicos Coordenadores Adelaide Hercília Pescatori Silva (UFPR) Eleonora Cavalcante Albano (UNICAMP) EVIDÊNCIAS PARA A ADOÇÃO DE PRIMITIVOS DOTADOS DE TEMPO INTRÍNSECO: OS RÓTICOS Adelaide H.P. Silva (LEFON/UFPR) A caracterização acústica dos róticos do português brasileiro (Silva 1996; Silva, 2002; Nishida, 2005; Clemente, 2005; Ferraz, 2005; Silva, Clemente & Nishida, 2006) tem mostrado, consistentemente, que a alofonia de variação livre, como rotulada pela literatura fonológica, não é tão livre como parece à primeira vista: os estudos citados evidenciam que a realização do rótico, tanto em início como em final de palavra, não é aleatória, mas condicionada por fatos prosódicos ou pela natureza de um segmento adjacente, como os segmentos vocálicos. Os estudos mostram, também, que a variação exibida pelos róticos não consiste tão somente na produção de uma variante ou outra, isto é, ora de uma vibrante, ora de uma fricativa: assim, por exemplo, Silva (2002) observa a existência de um contínuo físico para róticos iniciais de palavras, fato que vem se mostrando também para os róticos de final de palavra, segundo estudos recentes de Clemente (2007). A alofonia gradiente exibida pelos róticos de início e final de palavra coloca um problema para a literatura fonológica tradicional, em especial devido ao fato de que tal alofonia é condicionada, nos dois casos específicos, pela estrutura prosódica do enunciado onde os róticos se inserem. O problema está na maneira de se representar tais fatos na gramática da língua. Isto porque os modelos fonológicos tradicionalmente tomam como primitivos unidades dotadas de tempo extrínseco, i.e., unidades em que o tempo é uma variável externa à sua própria estrutura. Portanto, ainda que se tente um

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tratamento via traços distintivos, por exemplo, é impossível captar a gradiência envolvida na produção dos segmentos mencionados. Argumenta-se, então, neste trabalho, que os róticos constituem uma forte evidência empírica para se adotar modelos que tomam primitivos dotados de tempo intrínseco para a sua representação: a incorporação da variável tempo à estrutura dos primitivos de análise, aliás, é um fato para o qual a literatura atenta desde o início da década de 90 (vide, e.g., Fowler, 1980). Neste sentido, propõe-se que os róticos sejam representados à luz de um modelo dinâmico de produção da fala, como a Fonologia Gestual (Browman & Goldstein, 1992): mostrar-se-á que, neste caso, é possível dar conta da alofonia gradiente verificada. O GESTO DA NASALIDADE VOCÁLICA EM PB: BORDAS E ALTURAS Beatriz Raposo de Medeiros (USP) Através de inspeção visual acústica, em Medeiros (a sair) propôs-se que a vogal nasal do Português Brasileiro (doravante, PB) teria um murmúrio nasal diante de consoante oclusiva, mas não diante de uma fricativa. Ao aprofundar esta questão, valendo-se de medidas aerodinâmicas, Medeiros et al (2008) tiveram de lançar uma hipótese alternativa para a problemática da vogal nasal antes de fricativa e encontraram - com auxílio de medidas de duração – o seguinte: (1) o apêndice nasal (não mais murmúrio nasal ou murmúrio vocálico, já que estes termos são mais adequados aos fenômenos de consoante nasal e murmúrio vocálico de vogal oral, respectivamente) inicia-se quando do fechamento dos lábios, o que é facilmente detectável via dados aerodinâmicos quando o contexto à direita é uma consoante oclusiva. (2) quando o contexto à direita é uma fricativa, o apêndice nasal está presente, porém há poucas evidências (nem oclusão, nem perda sistemática de energia no espectro), o que pode se inferir pela comparação da duração da seqüência vogal nasal + oclusiva com a seqüência vogal nasal + fricativa. Também em Medeiros (a sair), defendeu-se que a porção inicial da vogal é nasal, uma vez que o espectro dos primeiros pulsos já é característico da vogal nasal, o que se evidenciou mais robustamente para a vogal nasal baixa. Clumeck (1976), demonstrou o que chamou de heavy nasalization das vogais do PB, sobretudo junto à vogal baixa, medindo a duração da vogal em relação à duração da nasalidade e também verificou que há diferença de abaixamento do véu segundo a altura da vogal. Tais achados nos fizeram pensar que a vogal baixa seria a vogal “mais nasal” entre as vogais nasais do PB, havendo sincronia no abaixamento do véu e posicionamento da língua, este último, o gesto responsável pela qualidade vocálica. No entanto, investigando-se o comportamento aerodinâmico da vogal anterior alta nasalizada e da vogal baixa nasalizada, em contextos [p], [k] e nulo, à esquerda, viu-se que são diferentes tanto quanto ao fluxo de ar nasal (FAN; vogal anterior alta nasalizada > vogal baixa nasalizada) como ao momento do início do mesmo (Medeiros et al, estudo em preparo). Parece

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que o contexto à esquerda possa ter alguma influência na demora do FAN para a vogal baixa, que se nasaliza tardiamente se comparada à vogal alta. Tanto os dados menos recentes (Clumeck, 1976), como os dados mais recentes (Medeiros et al, 2008 e em preparo) em torno da vogal nasal, apresentam desafios para sua explicação. Propomos discutir os ajustes articulatórios envolvidos na produção da vogal nasal no PB, tomando o gesto como primitivo fonológico (Fonologia Articulatória), pois este fornece a elasticidade necessária para representá-la, uma vez que trata-se de gesto altamente sensível à altura vocálica e contextos adjacentes. A TRANSFERÊNCIA FONÉTICO-FONOLÓGICA L2 (FRANCÊS) – L3 (INGLÊS): UM ESTUDO DE CASO Cintia Avila Blank (UCPel) Márcia C. Zimmer (UCPel) Ao observar o foco dos estudos em aquisição de língua estrangeira, não é raro encontrar trabalhos sobre as relações entre a língua materna (L1) e a língua estrangeira (L2). Contudo, investigações acerca de como o conhecimento das línguas previamente aprendidas (tanto a L1 como a L2) podem influenciar a aquisição de uma terceira língua (L3) ainda são escassas. Essa lacuna motivou um estudo de caso sobre a transferência fonético-fonológica em que se investigou se a assimilação vocálica na L3 (inglês) ocorreria em direção às características vocálicas (F1, F2 e duração) da L1 (português) ou da L2 (francês) do participante. A assimilação vocálica investigada nesta pesquisa trata-se de um tipo de assimilação do conhecimento fonético-fonológico que pode ocorrer tanto em relação a características espectrais (mudança na qualidade vocálica) quanto em relação a características ligadas ao tempo de duração das vogais. Os dados utilizados nesta pesquisa, obtidos através de tarefas de leitura oral nas três línguas faladas pelo sujeito, foram analisados acusticamente com o programa Praat. Discutidos a partir de um referencial conexionista, os resultados da análise acústica apontam para a criação, nas vogais da L3, de categorias fonéticas híbridas entre a L1 e a L2. Dessa forma, as vogais produzidas na L3 do sujeito apresentaram características que podiam ser encontradas tanto nas vogais da sua L1 quanto nas da sua L2, evidenciando a formação de categorias intermediárias entre essas duas línguas para a produção em L3. FREQÜÊNCIA DE CO-OCORRÊNCIA CV EM ESPANHOL E PORTUGUÊS: PISTAS PARA A NATUREZA GESTUAL DAS UNIDADES FÔNICAS LEXICAIS Eleonora C. ALBANO (Lafape/Unicamp) Os vieses de co-ocorrência CV já foram objeto de investigação em várias línguas (Maddieson e Precoda 1992). Reporta-se em geral um padrão de preferência pela manutenção do ponto de constrição nos pares de consoante de ataque e vogal nuclear. Assim, têm-se repetidamente freqüências relativas

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acima do aleatório em pares de: (1) consoantes coronais e vogais anteriores; (2) consoantes velares e vogais posteriores; e (3) consoantes labiais e vogais centrais. Não obstante as exceções, essa regra tem sido considerada candidata a universal probabilístico. Recentemente a discussão foi retomada no contexto da polêmica sobre as bases biológicas da linguagem oral. MacNeilage e Davis (2000) replicaram o achado para um número razoável de línguas e o relacionaram a outro – seu – concernente à aquisição da linguagem, a saber: preferências análogas são encontráveis, na aquisição de muitas línguas, durante as fases do balbucio e das primeiras palavras, tendendo, depois, a desaparecer. Segundo os autores, o desaparecimento reflete a expansão do vocabulário e ocorre apenas em corpora conversacionais, não em léxicos, onde os vieses permanecem. Afirmam, assim, que tais vieses refletem tendências biomecânicas filogenéticas que teriam determinado a seleção da oralidade enquanto canal privilegiado para a linguagem natural humana. Desse modo, a fala emergiria, filogenética e ontogeneticamente, por auto-organização, a partir de atividades tais como a deglutição e a mastigação e seus efeitos auditivos. Outra maneira de ver a economia biomecânica em questão é supor que, no ambiente humano, ela é sempre usada em favor da comunicação, sem prejuízo das demais funções. Se o ambiente interpreta as ações vocais do bebê, assim como todas as outras, como comunicativas, é porque não as vê como marcas inalienáveis da natureza e, sim, como matéria significante para a cultura. Por essa nova lógica, a suposta inércia biomecânica não se manifestaria uniformemente nos léxicos, mas estaria sujeita a restrições relacionadas à carga informacional que a língua distribui entre as posições vocabulares. O acento lexical, por exemplo, seria um fator relevante em línguas em que é distintivo. Estudos minuciosos de vários léxicos falados e escritos do português e do espanhol corroboram essa previsão. A co-ocorrência CV de base supostamente inercial é estável entre diferentes amostras do léxico de ambas as línguas, mas a força da associação C-V só se torna estatisticamente importante em posição inicial absoluta átona, ou seja, onde praticamente não concorre com qualquer outro fator – prosódico ou gramatical – que contribua para tornar a palavra previsível e facilitar o acesso lexical. Sob acento e em posições freqüentadas pela morfologia flexional ou derivacional, as tendências “naturais” tendem a retroceder ou – mais interessante – a ser contrariadas. Com efeito, ambas as línguas apresentam nessas posições efeitos probabilísticos de dissimilação (OCP) entre C e V. Pontos de vista organicistas como o de MacNeilage e Davis são incapazes de racionalizar o fino jogo entre a semelhança e o contraste encenado por qualquer fonologia. Já a Fonologia Gestual aponta confiante para esse horizonte ao subordinar a linguagem oral à lógica da ação comunicativa humana. Nesse afã, faz-se necessário lidar com graus de liberdade maiores do que os de qualquer perspectiva inatista e/ou reducionista – mas esse é o preço a pagar pelo intento de adicionar mais conteúdo empírico à teoria. Este trabalho reporta algumas tentativas de reduzir tais graus de liberdade por meio de estudos estatísticos fônicos. São usadas cinco bases de dados das línguas

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mencionadas, fonetizadas via Albano e Moreira (1996), de tamanho maior ou igual a 20.000 palavras. As freqüências de co-ocorrência CV são levantadas por posição e tratadas através da técnica estatística não-paramétrica da análise de correspondência (Benzécri 1980). O tamanho dos efeitos obtidos é avaliado e hierarquizado através do índice de Cramer. Pode-se especular que a concordância C-V “inercial” é um dos defaults universais da coordenação articulatória a comandar a redundância lexical. Por isso tenderia a ceder a vez a fatores mais marcadamente lingüísticos em posições de alta carga informacional. RETROFLEXÃO GRADIENTE EM DADOS DO PB Felipe Costa Clemente (UFPR) O estudo de Sproat e Fujimura (1993), sobre as variantes de /l/ do inglês norte-americano, aponta existência de alofonias gradientes na produção da lateral. Ou seja, os autores verificam, através de dados acústicos e articulatórios, que não existe uma variante alveolar e outra velarizada, como relatava a literatura fonético-fonológica até então; ao contrário, notam a existência de uma variação alofônica que se estende ao longo de um contínuo físico e que permite observar variantes tendendo à alveolar e outras tendendo à velarizada, sendo tal tendência determinada pela força de fronteira adjacente à lateral, de modo que, quanto mais forte a fronteira, mais a lateral tende a velarizada e, quanto mais fraca a fronteira, mais a lateral tende a alveolar. Como laterais e róticos exibem grande semelhança – atestada, e.g., por fatos sincrônicos e diacrônicos de lambdacismo e rotacismo em diversas línguas, o que faz com que a literatura fonológica de inspiração gerativista abarque todos esses segmentos numa mesma classe – levantou-se a hipótese de que também os róticos de final de palavra possam exibir retroflexão gradiente. Cabe frisar que, assim como a velarização da lateral, também a retroflexão do rótico parece requerer um tempo maior de ativação do gesto de dorso de língua relativamente ao de ponta, o que se observa pelo aspecto visual contínuo da retroflexa comparativamente ao aspecto visual descontínuo do tap, a variante de /r/ produzida pela ação de movimento de ponta de língua. Assim, pretendemos testar a hipótese acima investigando dados de um dialeto onde os informantes alternam tap e retroflexo em coda – o dialeto curitibano. Para tanto, foi elaborado um experimento em que se manipula a força de fronteira seguinte ao rótico, de modo a gerar sentenças que constituem um par mínimo prosódico: numa das sentenças, o rótico precede fronteira de vocativo – fronteira forte, portanto – e, na outra, o rótico precede a fronteira – fraca – entre o NP e o VP de uma sentença. Assim, o corpus contém pares de sentenças como: “Almir, apaga a lousa” e “Almir apaga a lousa.” A análise acústica dos dados de uma informante, realizada com o auxílio do software Praat, parece confirmar nossa hipótese, de modo que variantes tendendo a retroflexo são observadas diante de fronteira forte e variantes tendendo a tap ocorrem diante de

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fronteira fraca. Como esta é uma primeira análise, novos dados serão colhidos e analisados com o intuito de verificar se a relação ali observada se mantém. INCORPORAÇÃO DE DETALHE FONÉTICO NA REPRESENTAÇÃO DO TAP E JOGOS DE CODIFICAÇÃO DE LINGUAGEM Gustavo Nishida (UFPR) Estudos sobre os róticos do Português Brasileiro (PB) mostram que a estrutura formântica do elemento vocálico que acompanha o tap varia de acordo com a posição em que se encontra na sílaba. Isto é, quando em coda, o elemento vocálico à sua direita tem estrutura formântica tendendo a vogal centraliza (cf. Clemente 2005) e, quando em grupos, o elemento vocálico parece ser a própria vogal do núcleo silábico sendo entrecortada pelo tap após alguns milissegundos (cf. Nishida 2005). Assim, tendo em vista essas características acústicas do tap específicas de língua, faz-se necessário entender como se organizam os gestos articulatórios envolvidos na sua produção. Silva, Clemente & Nishida (2006) argumentam que somente um modelo que leve em conta primitivos de análise dotados de tempo intrínseco (como a Fonologia Articulatória, Browman & Goldstein 1992) consegue representar satisfatoriamente os fatos referentes à produção do tap. No entanto, para o PB, a única representação dinâmica para o tap intervocálico encontra-se em Silva (2002) que, ainda, não contemplava as características específicas da produção do elemento vocálico. O objetivo deste trabalho é conseguir dados referentes à produção do tap do PB buscando incorporar o detalhe fonético em sua representação. Para tanto, serão utilizados jogos de codificação de linguagem. Faz-se necessário o uso de jogos pois: 1) é possível ter controle sobre a produção dos informantes; 2) há maneiras de elicitar a produção do elemento vocálico de modo natural; 3) é difícil o acesso à informantes que realizam o tap em início de palavra. O experimento possui duas fases: 1) treinamento/aprendizagem do jogo inventado, no qual os informantes o aprendem a partir de instruções previamente gravadas; 2) e gravação das respostas dos informantes. O jogo consistia em produzir uma versão reduzida da palavra. Uma palavra como “barata”, seria codificada como “rata”. No treinamento/aprendizagem, os informantes eram corrigidos caso fossem enviesados pela ortografia, pois em palavras como “casaco” ou “marido” a codificação correta seria com a fricativa alveolar sonora (“zaco”) e com o tap em início de palavra, respectivamente. A codificação errada seria com a fricativa alveolar surda no primeiro caso e com a fricativa aspirada no segundo. Assim, foram selecionados trissílabos paroxítonos para que fossem produzidos dissílabos paroxítonos na codificação. Os dados foram submetidos à análise espectrográfica e em seguida quantificados. Os primeiros resultados (tal como os de Nishida 2005) têm corroborado a hipótese de o tap entrecorta a vogal de núcleo silábico após alguns milissegundos.

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O USO DE PISTAS VISUAIS NA IDENTIFICAÇÃO DAS NASAIS INGLESAS EM FINAL DE SÍLABA POR APRENDIZES BRASILEIROS. Denise Cristina Kluge (UFSC/CAPES) Mara Silvia Reis (UFSC/CAPES) Rosana Denise Koerich (UFSC) A produção das nasais bilabial e alveolar em posição final de sílaba (coda) difere entre o português brasileiro (PB) e o inglês. Enquanto em inglês elas são articulatória e auditivamente distintas, em PB as nasais não são pronunciadas. A vogal anterior recebe o traço nasal de modo que, via de regra, não há distinção. O presente estudo objetivou investigar a utilização, por brasileiros aprendizes de inglês, de informações fonéticas contidas em pistas visuais na percepção das consoantes nasais /m/ e /n/ do inglês em posição de coda. Os dados foram coletados com dez alunos do nível intermediário do Curso Extracurricular de Inglês da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A percepção foi aferida através de um teste de identificação no qual as consoantes nasais foram apresentadas em posição final de sílaba em três condições diferentes: (a) apenas áudio, no qual os participantes somente ouviram palavras e foram solicitados a identificar a nasal produzida; (b) apenas vídeo, no qual os participantes tiveram acesso ao estímulo visual, exclusivamente, e foram solicitados a identificar a nasal produzida, e (c) áudio e vídeo, no qual os participantes tiveram acesso aos dois tipos de estímulo e foram solicitados a identificar a nasal produzida. Quanto ao contexto fonológico antecedendo as nasais-alvo, as vogais anteriores alta, média e baixa foram selecionadas por apresentarem maior possibilidade de pares mínimos do que as demais vogais. Os resultados corroboraram a hipótese que a combinação dos dois tipos de pistas – acústicas e visuais – favoreceria a identificação das nasais inglesas em posição final de sílaba, demonstrando que os participantes tiveram melhor desempenho nas condições vídeo e áudio e apenas vídeo, que na condição apenas áudio. Em relação ao contexto fonológico, os resultados indicaram que a vogal anterior baixa parece favorecer a identificação das nasais /m/ e /n/ em posição final de sílaba, enquanto a vogal alta parece desfavorecer tal identificação. ANÁLISE DO CONTRASTE FÔNICO ENTRE OCLUSIVAS ALVEOLAR E VELAR À LUZ DE UM MODELO DINÂMICO NO CHAMADO DESVIO FONOLÓGICO Larissa Cristina Berti (UNESP, Marília) Viviane Cristina de Castro Marino (UNESP, Marília)

Na Fonoaudiologia, comumente classificam-se crianças com problemas de produção de fala como tendo alteração fonética ou fonológica, dependendo da etiologia apresentada por esses indivíduos. Os problemas fonéticos são

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caracterizados como dificuldades de produção de fala, devido a comprometimentos das estruturas envolvidas na produção da fala. Já os chamados problemas fonológicos são caracterizados por dificuldades no conhecimento dos segmentos fonéticos, das regras fonológicas ou na maneira em que se utiliza esse conhecimento, sem que os indivíduos apresentem qualquer etiologia orgânica. Observa-se, nesta área, a herança advinda da Lingüística (mais tradicional) no tocante à dissociação entre a Fonética e a Fonologia, concebendo a fala em dois níveis distintos e incomensuráveis. No entanto, nos modelos dinâmicos de produção de fala, tal como a FAR e a FAAR, a fala não precisa ser entendida como tendo duas estruturas indissociáveis, uma física e outra cognitiva, em que a relação entre ambas geralmente é descrita separadamente. Ao contrário, os modelos supracitados se propõem a tese da comensurabilidade entre essas duas áreas, a partir da adoção de uma unidade dinâmica de produção de fala, designada de gesto articulatório. À luz dos modelos dinâmicos mencionados o presente estudo procurou investigar, com auxílio de análise acústica, o estabelecimento de um contraste fonológico em um sujeito com o chamado desvio fonológico que apresenta posteriorização da oclusiva alveolar [t], realizando-a de forma semelhante, auditivamente, à oclusiva velar [k]. O corpus foi constituído por palavras dissílabas paroxítonas que combinavam as oclusivas com as vogais [i,a,u] na posição acentuada. A criança foi gravada numa sala tratada acusticamente com equipamento de alta fidelidade. Utilizou-se para análise dos dados o software PRAAT e para análise estatística o software STATISTICA. Os parâmetros acústicos adotados na análise foram: duração; pico espectral; momentos espectrais e transição formântica. O principal resultado foi a presença maciça de produções gradientes e contrastes encobertos entre as duas oclusivas investigadas, apreendidos pelos parâmetros de duração, pico espectral e transição formântica. Isso significa dizer que a criança parece estar avançando em direção ao domínio gradual dos parâmetros fonético-acústicos faltantes para o estabelecimento do contraste entre as oclusivas. Nesse processo de estabelecimento do contraste fônico a diferenciação, ajuste e coordenação de gestos articulatórios desempenham um papel fundamental. Adicionalmente, uma reinterpretação dos problemas de produção de fala poderia ser proposta, na medida em que tal problema não poderia ser visto como alterações refletidas predominantemente no aspecto motor ou simbólico, mas em ambos os domínios.

PROCEDIMENTOS PARA AVALIAÇÃO INSTRUMENTAL DA PRONÚNCIA DO PORTUGUÊS BRASILEIRO POR CRIANÇAS DE 5 A 7 ANOS DE IDADE Larissa Rinaldi (PG-UNICAMP) Existem várias abordagens teóricas que podem fundamentar a terapia fonoaudiológica para queixas de pronúncia em crianças. A abordagem articulatória no sentido fisiológico reduz as questões de linguagem a

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perturbações musculares. A abordagem que versa sobre os desvios fonológicos busca numa organização não padrão a fonte das possíveis queixas. Propõe-se neste trabalho a ótica trazida pela Fonologia Acústico-Articulatória, que leva em conta a gradiência dos processos fônicos e propõe o uso de Análise Acústica para revelar a dinâmica articulatória. Os estudos, na área, das crianças com dificuldades de pronúncia têm utilizado uma criança sem queixas como termo de comparação. Porém, a situação ideal seria ter dados de vários sujeitos coletados com base num corpus de referência. Para possibilitar a existência desse corpus, elaborou-se uma metodologia de coleta com bases lúdicas. A metodologia é baseada em um instrumento desenvolvido pela pesquisadora. Desenvolveu-se um livro infantil, cuja estória foi baseada em 57 palavras alvo dissílabas paroxítonas que incluem sons fricativos, oclusivos, nasais e líquidos em contato com as vogais [a], [i] e [u], em posição inicial e medial. Em contraponto às palavras da estória, elaboraram-se 57 logatomas, incluindo os mesmos sons da língua, que seriam utilizados também para a avaliação. Tal cuidado permite uma comparação entre dois contextos. Um contexto “balanceado” (que apresenta todos os sons da língua portuguesa em posição inicial e medial) e um contexto controlado. Associados ao livrinho foram produzidos dois jogos de tabuleiro (de percurso) que geram a produção semi-espontânea das palavras alvo em contexto de frase-veículo. O primeiro jogo utiliza palavras da própria estória, seguindo no percurso do tabuleiro a mesma sequência apresentada no livrinho. Já o segundo utiliza apenas o tema central da estória para gerar o jogo, onde os logatomas passam a ser nomes de poções mágicas. A partir de tal material, coletaram-se dados de fala infantil de crianças sem queixas fonoaudiológicas e realizaram-se análises sobre essa fala, visando caracterizar os sons fricativos, os oclusivos e as vogais. Os primeiros resultados indicam que a metodologia foi efetiva para coleta. O jogo associado à estória apresenta dados mais facilmente análisáveis do que o jogo de contexto controlado, uma vez que no contexto controlado os logatomas estão escritos nos rótulos das poções mágicas. Tal fato gera dificuldades, pois crianças dessa faixa etária estão também iniciando o processo de aquisição de escrita e diversas vezes tentam ler as palavras ao invés de somente enunciá-las, apresentando pausas excessivas. Parecem indicar também uma maior variabilidade na produção das vogais com relação à fala adulta. No caso da vogal [u] há uma maior variabilidade de F2. Espera-se demonstrar que a ótica dinâmica é capaz de refinar e renovar os procedimentos de avaliação de linguagem.

ESTRATÉGIAS DE COMPENSAÇÃO NA COPRODUÇÃO V-V Laudino Roces Rodrigues (PG-UNICAMP) Em nossos estudos anteriores, apontamos que, nas relações de coprodução V_V, as vogais médias em posição pré-tônica assimilavam as configurações formânticas das vogais em posição tônica. Os efeitos de assimilação ocorreram não só nas vogais médias pré-tônicas, mas também nas as vogais

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/i,a,u/.Tais assimilações na posição não acentuada são condizentes com os achados pioneiros de Fowler (1981) sobre a relação entre as posições relativas ao acento e sua maior ou menor resistência às influências coarticulatórias. Fowler sugeriu que a posição acentuada é a de maior resistência. Além disso, estudos posteriores, principalmente os referentes à coarticulação CV, (por exemplo, Farnetani 1997) também mostraram uma maior resistência da posição tônica à coarticulação. No entanto, os trabalhos de Magen (1997) sugeriram que não havia um padrão consistente de resistência coarticulatória relacionado com a posição acentual. Nossos trabalhos mostraram, por outro lado, que as influências de coprodução V-V ocorrem tanto nas pré-tônicas como nas tônicas. Isso nos levou a criticar a idéia de resistência coarticulatória clássica tendo em vista a coprodução V-V. Classicamente, a resistência está sempre ligada à relação CV ou VC, fazendo com que a relativa independência V-V, característica da coprodução, fique em segundo plano. Os testes realizados com as vogais /i,a,u/ apontaram para uma maior quantidade de efeitos significativos quando essas vogais foram testadas em posição pré-tônica, em comparação com os testes com as mesmas na posição tônica. Tal constatação está de acordo com a previsão de Fowler. No entanto, nossos achados também mostraram que o mesmo não vale para as vogais médias, pois essas, em posição tônica, sofreram efeitos tanto no sentido de assimilar a configuração formântica da vogal precedente (F2), quanto no de dissimilar dessa configuração formântica (F1). Outro achado importante são os indícios de que, na posição tônica, os valores de F1 das vogais médias são menores nos dados com foco, que apresentam durações maiores, do que nos dados sem foco, com durações menores. De acordo com a literatura, uma duração maior teria, necessariamente, que ser acompanhada de uma subida no valor de F1 (para o PB, ver Arnold 2005). Tal diminuição de F1 mostraria uma compensação tendo em vista o possível aumento de F1 em função da maior duração decorrente do foco. De acordo com a Teoria da Perturbação, um maior espaço faríngeo diminui F1, assim como um menor espaço o aumenta. Assim, uma posição mais alta da língua tende a aumentar mecanicamente a cavidade faríngea e diminuir F1. Por outro lado, a abertura da mandíbula tende a diminuir mecanicamente a mesma cavidade, aumentando F1. Em nossos dados, uma relação entre a dissimilação formântica em V-V e diminuição de F1 em duração maiores, poderia residir numa estratégia que visasse restabelecer a qualidade da vogal apesar da abertura de mandíbula associada, seja à coprodução V_V, seja ao foco. Assim, em posições de proeminência, em que a vogal deve manter-se distinta visando à inteligibilidade, a maior duração ou a coprodução dos segmentos poderia provocar a obliteração de algumas distinções. A retração da raiz da língua compensaria esses efeitos nas vogais médias, que são relativamente próximas entre si do ponto de vista acústico-auditivo. O corpus utilizado neste trabalho foi composto com dados de 6 falantes femininos do PB e dividido em 2 partes, de acordo com a presença de foco na não- palavra (pV1CV2) utilizada. Foi utilizado o modelo estatístico GLM para medidas

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repetidas, com cada sujeito constituindo uma unidade experimental, de acordo com o trabalho de Max & Onghena (1999). O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE SONS RÓTICOS POR CRIANÇAS COM QUEIXA FONOAUDIOLÓGICA Luciana Lessa Rodrigues (PG - UNICAMP) O interesse no estudo da aquisição dos róticos por crianças com queixa fonoaudiológica relacionada ao sistema fônico partiu, sobretudo, do fato de ser uma classe de sons de estabilização tardia, mesmo para crianças sem dificuldades na aquisição desse sistema. Nesse processo, as crianças apresentam tanto produções que correspondem às categorias fônicas da língua quanto produções gradientes em relação a essas categorias. Na maioria das vezes, essas produções gradientes não são suficientemente audíveis, fazendo com que uma avaliação apenas por meio de análise de outiva seja ineficiente. Dessa forma, a utilização de análise instrumental torna-se fundamental para revelar diferenças entre duas produções aparentemente semelhantes via outiva. Face ao exposto, a proposta deste estudo foi avaliar o processo de aquisição dos róticos partindo de um modelo dinâmico de produção da fala, a Fonologia Acústico-Articulatória – FAAR (ALBANO, 2001). Esse modelo teórico prevê a ocorrência de fenômenos fônicos categóricos e gradientes, e, por essa razão, propõe a utilização de informação acústica para a análise desses fenômenos. Foram analisados dados de fala de dois sujeitos – LF e MD – que apresentavam queixa fonoaudiológica relacionada ao sistema fônico. LF omitia o tap em posição de ataque silábico simples, enquanto que MD semivocalizava esse som nessa mesma posição silábica, além de semivocalizar a aproximante retroflexa (realização fonética preferencial do rótico em posição de coda no interior do estado de SP). Foram realizadas, durante cinco meses, gravações digitais longitudinais da fala de LF e MD, com o objetivo de acompanhar o processo de aquisição desses sons por parte dos sujeitos. Os parâmetros acústicos utilizados na análise foram: (a) Duração; (b) Trajetória Formântica de F1, F2 e F3; e (c) Medidas espectrais – tap. Os resultados das medidas das trajetórias formânticas foram de extrema importância para resgatar, acusticamente, distinções fônicas em andamento ainda não perceptíveis via outiva, o que sugere que os sujeitos já realizavam constrições no trato vocal ainda não suficientemente sinalizadas auditivamente. Dados referentes à duração mostraram que, em momentos de mudança do padrão de pronúncia, os sujeitos apresentaram maior variação (flutuação) em suas produções, o que permitiu concluir que, nesses momentos, a criança experencia diversas tentativas/possibilidades para a estabilização de um novo padrão, o que caracteriza, portanto, a flutuação como um processo fundamental na estruturação e na formação de padrões do sistema fônico da criança. Quanto às medidas espectrais do tap, foi encontrada uma grande variação dos valores entre os sujeitos. Entretanto, essas produções – distintas do ponto de

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vista acústico – eram sempre percebidas, auditivamente, como o tap. Os resultados obtidos trouxeram importantes contribuições para o entendimento do processo de aquisição dos róticos, tais como: (a) a observação de contrastes encobertos nas produções de fala dos sujeitos; (b) a relevância da flutuação em momentos de reestruturação do sistema fônico; (c) o indício de que diferentes configurações articulatórias podem gerar resultados auditivamente semelhantes entre si, como se pode inferir a partir dos resultados encontrados nas medidas espectrais do tap; e (d) o reconhecimento de que os processos de percepção e produção de fala não são lineares, como revelam os resultados relacionados aos contrastes encobertos e às medidas espectrais do tap. Os achados desse estudo foram possíveis devido à metodologia e análise dos dados baseadas na FAAR, que permitiram uma investigação de fenômenos fônicos tanto categóricos quanto gradientes, resgatando, portanto, a natureza dinâmica do processo de aquisição dos róticos. REPRESENTAÇÕES DE TRAÇOS PARA AS CONSOANTES SOANTES EM VISTA DA OBSERVAÇÃO DOS FENÔMENOS FONOLÓGICOS Luciane Trennephol da Costa (UFPR) A representação dos traços de modo é controversa na teoria dos traços fonológicos distintivos. Uma das abordagens possíveis é postular a existência de um nó organizador comum na estrutura interna dos segmentos soantes, o nó Spontaneous Voice (SV). Nessa abordagem, os traços nasal e lateral são dependentes desse nó que une as consoantes nasais, laterais e vibrantes; possibilitando justificar vários processos fonológicos do português brasileiro como o rotacismo e a assimilação de ponto das nasais em coda silábica. Neste trabalho, discutimos algumas questões residuais desta propost,a como a localização dos traços de modo em laterais e vibrantes com especificação de ponto e o valor do traço contínuo para as laterais. O valor do traço contínuo para as laterais é variável nas línguas e estudos, como o de Mielke (2005), demonstram que laterais e nasais são segmentos ambivalentes, sons cujo padrão nas línguas é variável criando contradições para a teoria os traços fonológicos distintivos. As soluções apontadas para este impasse, a mesma propriedade fonética com diferentes representações nas línguas, é o desdobramento do traço contínuo conforme a região do trato vocal ou aceitar a emergência dos traços fonológicos. Quanto à localização dos traços de modo, existem propostas que postulam a sua localização variável conforme o segmento, um mesmo traço fonológico localizado diferentemente na hierarquia interna de traços dependendo do segmento. A reflexão sobre os traços controversos e a representação das consoantes soantes e líquidas adequada aos fenômenos impõem a observação objetiva desses com o aporte da tecnologia disponível de modo a examinar as propriedades fonéticas que são ou não realmente relevantes.

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REDISCUTINDO A NOÇÃO DE DESVOZEAMENTO TERMINAL NO INGLÊS (L2): INCLUINDO PISTAS ACÚSTICAS NO ESTUDO DA INTERLÍNGUA Márcia Zimmer (UCPel) Ubiratã Alves (UCPel) O presente estudo pretende discutir, sob uma perspectiva dinâmica, o status do processo de Dessonorização Terminal como um processo de interlíngua entre alunos brasileiros de Inglês, tendo por base os pressupostos do Conexionismo e da Fonologia Acústica Articulatória (ALBANO, 2001, 2002). Sob a abordagem fonológica tradicional, o processo de dessonorização terminal consiste na perda do traço sonoro em algumas obstruintes em posição final e, para Eckman (1981,1987), esse processo seria usado apenas na interlíngua. Ao revisitar essa discussão, Zimmer (2004) e Zimmer & Alves (2007) propõem um novo estudo a fim de responder se a dessonorização terminal é um processo caracterizado pela neutralização total do contraste surdo-sonoro, ou se consiste no desvozeamento parcial desse contraste por falantes brasileiros aprendizes de Inglês, analisando a duração da vogal que antecede a consoante para a distinção entre as obstruintes surdas do inglês falado pelos alunos brasileiros. O trabalho aqui proposto dá continuidade à pesquisa de Zimmer & Alves (2007), de modo a ampliar o escopo da investigação para a verificação do comprimento da vogal que precede o segmento plosivo final, produzido por vinte participantes brasileiros, 10 homens e 10 mulheres. Para tanto, investigamos os efeitos de fatores lingüísticos (tal como o ponto de articulação do segmento plosivo final e nível de proficiência) e extra-lingüísticos (sexo dos participantes) na produção do vozeamento do segmento plosivo final e no tempo do segmento vocálico que precede tal consoante. O instrumento de coleta consistiu na leitura oral de seis itens terminados em plosivas sonoras: bad, pad, bob, cab, rag, bag; seis itens terminados em plosivas surdas: bat, pat, bop, cap, rack, back; oito itens distratores. Esses vinte itens foram apresentados em Power point, de forma aleatória na tela de computador, dentro de dois tipos de frase-veículo: "Say ______." e “Say _____ again”. Cada item, dentro de cada uma das frases-veículo, foi repetido 5 vezes, totalizando duzentas frases. Os dados foram analisados acusticamente e os parâmetros medidos foram a duração da vogal que antece a obstruinte final e a porcentagem de vozeamento na closura. A partir da análise acústica e do tratamento estatístico dos dados, discutimos o status da Dessonorização Terminal, propondo uma revisão do processo a partir de uma concepção dinâmica do sistema fônico-fonológico (ALBANO, 2007; SILVA, 2008), o que redunda na interpretação das características parciais do desvozeamento terminal como uma evidência a favor do continuum fonética-fonologia e da dinamicidade desse processo de interlíngua.

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RELAÇÕES ENTRE FLUÊNCIA E AQUISIÇÃO FÔNICA EM CRIANÇAS COM DESVIOS FONOLÓGICOS Maria Cláudia Camargo de Freitas (UNICAMP) Com o objetivo de apreender características do processo de estabelecimento de contrastes fônicos em crianças com desvios fonológicos foi realizado um estudo longitudinal que focou, particularmente, sons obstruintes coronais surdos. Dentre os achados desse estudo, destacou-se neste momento a apreensão de disfluências aparentemente motivadas por questões fônicas. Tais disfluências consistiram em pausas, alongamentos e inserções de sons que antecediam produções da categoria fônica em aquisição pelas crianças. Foram utilizados dados de duas crianças (S1 e S2) com desvios fonológicos que apresentavam produções não convencionais de obstruintes coronais surdas. No início do processo de coleta, S1 produzia as fricativas coronais surdas de forma semelhante à plosiva dental-alveolar surda. Diferentemente, S2 produzia a fricativa palatal surda de forma semelhante à fricativa alveolar surda. No total, foram analisadas quatro coletas com S1 e três com S2 – com intervalo de um mês. Utilizou-se um sujeito controle (SC), sem dificuldades fônicas e com idade, sexo e escolaridade compatíveis aos de S1 e S2. Cada criança foi gravada separadamente, em sala acusticamente tratada, por meio de equipamento digital de alta fidelidade. O corpus foi composto por palavras dissílabas paroxítonas iniciadas por obstruintes coronais surdas seguidas, preferencialmente, das vogais [a], [i] e [u]. Para obter o registro das palavras do corpus, as mesmas foram inseridas em uma frase-veículo. Foram registradas 5 repetições de cada palavras do corpus. Foi realizada análise acústica dos dados por meio do software livre Praat. Inicialmente, foi feita a identificação das produções em que ocorreram disfluências. Tanto S1 quanto S2 apresentaram disfluências em sua terceira coleta, momento em que passaram a produzir os contrastes entre obstruintes coronais surdas de forma mais próxima ao considerado padrão na língua. No total, S1 apresentou dezoito produções consideradas disfluentes – onze pausas silenciosas, quatro inserções de ruídos, dois alongamentos, uma pausa seguida de um alongamento e uma inserção seguida de um alongamento – e S2 dezessete – treze pausas silenciosas e quatro inserções de ruídos. Na análise acústica das produções consideradas fluentes objetivou-se identificar possíveis alterações na fluência não percebidas auditivamente. Tal análise foi direcionada pelos parâmetros: voice onset time, stop gap e devoicing interval – parâmetros apontados como sensíveis para evidenciar descoordenações entre movimentos orais e laríngeos. Os resultados não apontaram diferenças significativas entre as produções consideradas fluentes de S1 e S2 quando comparadas às de SC. Tal achado pode ser indício de que as disfluências seriam particularidades de momentos específicos da aquisição fônica, nos quais uma maior atenção seria exigida da criança para a realização de um som de acordo com as convenções da língua. Apesar de marcarem uma aparente quebra nas produções infantis, as disfluências seriam sinais de uma sistematização em curso e evidenciariam uma

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negociação da criança entre diferentes possibilidades fônicas em concorrência. Face ao exposto, acredita-se que as disfluências podem ser pensadas como um tipo de produção gradiente presente durante o processo de aquisição de contrastes fônicos. Conseqüentemente, a identificação e caracterização dessas disfluências podem trazer importantes contribuições para o entendimento do processo de estabelecimento de contrastes fônicos em crianças com padrões não mais esperados para sua faixa etária. AVALIAÇÃO DA CORRELAÇÃO ENTRE PERCEPÇÃO E PRODUÇÃO DOS FONEMAS INTERDENTAIS INGLESES POR APRENDIZES BRASILEIROS DE INGLÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA Mara Silvia Reis (UFSC/CAPES) Denise Cristina Kluge (UFSC/CAPES) No que concerne à área da interfonologia, pesquisas indicam que a precisa percepção dos sons da língua estrangeira é capaz de influenciar positivamente a produção dos mesmos (Major, 1994; Flege, 1993, 1995; Munro & MacKay, 1996; Wode, 1995; Rochet, 1995; Best, 1995; Kuhl & Iverson, 1995; Baker & Trofimovich 2001; Koerich 2002; Best & Tyler, 2007). O presente estudo foi conduzido com o propósito de investigar se tal correlação está presente entre a percepção e a produção dos fonemas interdentais ingleses por brasileiros aprendizes de inglês como língua estrangeira (EFL). O estudo focou na percepção e produção dos fonemas vozeados e não-vozeados em posição inicial de palavras. Cinco falantes nativos de inglês e vinte e quatro aprendizes de EFL, igualmente divididos em dois grupos de iniciantes e avançados, participaram da pesquisa. Ambos os grupos de aprendizes pertenciam ao Programa Extracurricular de Ensino de Línguas Estrangeiras da Universidade Federal de Santa Catarina. Os dados foram coletados por meio de três testes de produção, (a) leitura de texto, (b) relato do texto lido, e (c) leitura de sentenças, e três testes de percepção, (a) percepção geral de erros de pronúncia, (b) teste de discriminação categórica, e (c) teste de identificação forçada. Os resultados indicam que (a) não há uma diferença significativa de percepção dos fonemas entre os grupos de aprendizes, e (b) que a percepção mais acurada dos fonemas alvo não necessariamente acarreta numa produção mais precisa dos mesmos. A FISSURA LÁBIO-PALATINA SOB O OLHAR DA FONOLOGIA ARTICULATÓRIA Rita de Cassia Tonocchi (UFPR) Adelaide H. P. Silva (UFPR) Quadros de alterações no desenvolvimento da linguagem constituem um lugar privilegiado para refletir sobre a natureza da clínica fonoaudiológica. Nessa direção, ressaltamos as alterações vinculadas à fissura lábio-palatina,

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que decorre de alteração na fusão dos processos faciais embrionários e se caracteriza por má-formação crânio-facial congênita, devido a uma interrupção na continuidade dos tecidos do lábio e/ou palato. As fissuras de lábio e/ou palato assumem importância: pela sua acentuada incidência, representando uma das mais freqüentes anomalias faciais e responsável por 25% de todos os defeitos congênitos; pela complexidade de comprometimentos que acarreta no indivíduo, como inadequações articulatórias e peculiariedades na voz de valor mais ou menos considerável. Comumente, constata-se um quadro “padronizado” nas alterações de fala de indivíduos portadores de fissura lábio-palatina, ou seja, uma tendência em posteriorizar os sons para região faríngea ou glotal, decorrente de suas alterações anátomo-funcionais. Entretanto, verifica-se que certas ocorrências são recorrentes, como as dificuldades na produção de sons alveolares, independente do tipo de fissura. Desse modo, tornam-se intrigantes, o que motiva e aponta para a necessidade de aprofundar a reflexão acerca de tais ocorrências. Nesse sentido, é preciso considerar parâmetros fonéticos-acústicos na análise de fala de sujeitos com fissura lábio-palatina, buscando uma maior compreensão da dinâmica de produções dos sons do português brasileiro. Para tanto, é preciso conduzir análises acústicas acuradas da fala desses sujeitos, ao invés da análise de outiva que comumente se realiza na prática clínica e que acaba embasando todo o trabalho terapêutico. A análise acústica, porém, pode relevar fatos imperceptíveis ao ouvido humano, como é o caso de contrastes encobertos, i.e., produções que evidenciam que crianças em fase de aquisição e portadores de patologias fazem distinções que adultos ou pessoas não portadoras de patologias não percebem. A observação de fatos como esses pode dar outro rumo à prática clínica e, neste sentido, serão apresentados dados de uma análise acústica preliminar dos segmentos alveolares produzidos por um sujeito fissurado, que servirá de base para a montagem de um experimento de produção controlado o qual, por sua vez, constituirá a base para um estudo que pretende explicar a razão de tal dificuldade, tomando como arcabouço teórico a Fonologia Gestual, modelo que permite uma ponte direta entre representação e realização dos segmentos e, por isso, parece se afigurar como um arcabouço teórico mais adequado para se lidar com patologias de fala. A INFLUÊNCIA DA FALA BILÍNGÜE HUNSRÜKISCH-PB NA APRENDIZAGEM DA ESCRITA DO PB Sabrina Gewehr Borella (UCPEL) Várias são as definições de bilingüismo encontradas na literatura. De uma maneira geral, podemos defini-lo como uma habilidade de comunicação em duas línguas, onde um indivíduo utiliza um ou outro sistema dependendo do contexto em que se encontra (Zimmer, Finger, Scherer, 2008). O Brasil, por ser um país formado por culturas híbridas, possui um grande número de comunidades bilíngües. Dentre as diversas variantes existentes, a pesquisa em questão irá se voltar para um dos principais dialetos alemães do

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sul do país: o Hunsrückisch. Tal dialeto foi selecionado devido a uma coleta de dados escritos realizada no ano de 2000, em uma primeira série do Ensino Fundamental no interior da cidade de Ivoti/RS, em que grande parte da população fala essa variante como língua materna. Os participantes dessa amostra, por utilizarem o Português Brasileiro muito pouco, antes de entrarem para o colégio, podem ser caracterizados como aprendizes de L2 no contexto de aprendizagem de leitura e escrita do PB. A experiência de professores alfabetizadores mostra que aprendizes dessas comunidades, durante a aprendizagem da escrita, alternam grafemas representando as plosivas surdas e sonoras em posição inicial de sílaba (onset) com maior freqüência que crianças monolingües. Alguns alunos escrevem, por exemplo, a palavra caderno, no estágio silábico, da seguinte forma: “GTO”, “trocando” a surda [k] pela sonora [g] e a sonora [d] pela surda [t]. Considerando que no alemão padrão somente em posição final de sílaba (coda) as obstruintes são neutralizadas (Gafos, 2003, Piroth e Janker, 2003), algumas questões devem ser pesquisadas, dentre elas: Por que os alunos estariam passando a neutralização para a posição de onset? Por que estariam “trocando” também as surdas pelas sonoras nesta posição? Partindo das indagações apresentadas, esta pesquisa visa a investigá-las através: a) da observação da fala em PB de habitantes da região em que os dados foram coletados, para a identificação dos processos fonético-fonológicos de transferência, a partir de uma visão dinâmica da produção da fala (Albano, 2007); e b) da análise da transferência grafo-fônico-fonológica (MacWhinney, 2001, Zimmer, 2004, Zimmer e Alves, 2006), que acontece quando as crianças estão aprendendo a escrever, nos dados de escrita constantes do corpus produzido em 2000, e de crianças monolíngües, para fins de comparação. FLUTUAÇÕES NAS PRODUÇÕES COMPENSATÓRIAS DE UMA CRIANÇA COM FISSURA DE PALATO: INDÍCIOS DE UMA CONSTRUÇÃO DO SISTEMA FONOLÓGICO. Viviane Cristina de Castro Marino (UNESP, Marília) Larissa Cristina Berti (UNESP, Marília) Crianças com fissura de palato (FP) e/ou disfunção velofaríngea (DVF) podem apresentar dificuldades para produzir as consoantes que necessitam de alta pressão intra-oral. A falta de habilidade para gerar e/ou manter níveis adequados de pressão intra-oral necessária para a produção dos fonemas obstruintes pode justificar o desenvolvimento das chamadas articulações compensatórias (ACs) apresentadas por sujeitos que apresentam FP e/ou DVF. Assim, o bebê com FP aberta e/ou DVF ao apresentar uma perda de ar nasal muito grande, não encontra meios para gerar e/ou manter a quantidade de pressão intra-oral necessária para a produção da plosão e/ou da fricção envolvida nos fonemas obstruintes orais. Ao tentar reproduzir os sons ouvidos em seu meio ambiente, muitos destes bebês passam a usar pontos articulatórios alternativos no trato vocal onde conseguem obter a pressão

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necessária para a produção mais aproximada possível do som alvo. Essas produções passam, então, a fazer parte do sistema fonológico da criança, na medida em que as crianças utilizam essas ACs para marcarem contrastes fônicos da língua, prejudicando a inteligibilidade de sua fala de forma consistente e persistente. Considerando as implicações das chamadas ACs na produção de sujeitos com FP e/ou DVF, profissionais da área da Fonoaudiologia preocupam-se, fundamentalmente, em descrever essas compensações tanto pela avaliação de outiva quanto por informações advindas da análise instrumental. Na maioria desses estudos, as chamadas ACs são entendidas como tendo o modo articulatório preservado enquanto o ponto articulatório é posteriorizado. Não se observa, contudo, uma maior preocupação em (i) interpretar possíveis flutuações que possam ocorrer durante a produção das chamadas ACs; (ii) levantar qual o papel dessas flutuações na aquisição do sistema fonológico. Neste estudo pretende-se realizar uma análise acústica das ACs descritas como oclusivas glotais (“golpe de glote”) presentes na fala de uma criança com FP reparada cirurgicamente durante a produção das oclusivas velares e fricativas palatais. O corpus será constituído por palavras dissílabas paroxítonas que combinam as oclusivas e fricativas com as vogais [i,a,u] na posição acentuada. A criança será gravada numa sala tratada acusticamente com equipamento de alta fidelidade e a análise dos dados será realizada a partir dos softwares PRAAT e STATISTICA. A hipótese que se pretende defender é a de que se trata, em muitas das ACs descritas como oclusivas glotais, de flutuações na produção, sugerindo uma tentativa de estabelecimento de contraste fonológico. Além de contribuições para o estudo das ACs, também se esperam contribuições para os modelos fonológicos que incorporam explicitamente o detalhe fonético, tal como a FAR e a FAAR. GT3 A linguagem na escola: contextos, desafios e perspectivas em Lingüística e Educação Coordenadores Cátia de Azevedo Fronza (UNISINOS) Otilia Lizete de Oliveira Martins Heinig (FURB) A HIPOSSEGMENTAÇÃO DA ESCRITA E OS PROCESSOS DE SÂNDI Ana Paula Nobre da Cunha (UFPel) Ana Ruth Moresco Miranda (UFPel) Na ressilabação vocálica do português acontecem, segundo Bisol (1992, 1996, 2000), três processos fonológicos distintos de sândi externo: a elisão, a ditongação e a degeminação. O processo de elisão, em geral, ocorre com a vogal baixa átona /a/ diante de outra vogal (ex. camisa usada > cami[zu]sada). A ditongação pode acontecer quando a última vogal de uma palavra forma um ditongo com a vogal inicial da palavra seguinte, desde que

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uma delas seja alta (ex. camisa usada > cami[zaw]sada). A degeminação é possível no encontro de duas vogais idênticas (ex. camisa amarela > cami[za]marela) ou, também, no caso de duas vogais semelhantes (ex. vende isqueiros > vend[i]squeiros). Tenani (2006), com o objetivo de investigar qual a relação entre os processos de sândi e a organização rítmica de uma língua, descreve, além dos processos fonológicos já citados, o vozeamento da fricativa (ex. o arro[za]marelo), o tapping (ex. açúca[ra]marelo) e a haplologia (ex. a faculda[dzi]nâmica). O vozeamento da fricativa e o tapping são considerados pela autora como processos do mesmo tipo, visto que ambos se caracterizam por uma reestruturação de sílabas, na qual o elemento da coda da sílaba final do primeiro vocábulo torna-se o onset da primeira sílaba do segundo vocábulo. O resultado dessa reestruturação é a formação de duas sílabas CV. A haplologia também é um processo de sândi que envolve duas sílabas, mas, segundo Tenani (2006), se particulariza por ocorrer entre duas sílabas semelhantes que já são inicialmente CV. Embora a aquisição da linguagem e a aquisição/aprendizagem da escrita sejam processos diferentes, estudos como os de Abaurre (1987, 1990, 1999), Capistrano (2003, 2004), Chacon (2004, 2005, 2006), Cunha (2004), Fronza (2002, 2003, 2004), Miranda (2005, 2006, 2007) e Tenani (2004), entre outros, trazem importantes análises sobre as relações estabelecidas entre a escrita inicial produzida de forma espontânea e aspectos do conhecimento lingüístico infantil. Com base nessa relação – oralidade / escrita –, Cunha (2004) descreve e analisa dados de hipo e hipersegmentação em textos de crianças de primeira a quarta série. Os processos de sândi, segundo a autora, revelam-se de maneira significativa nos dados de hipossegmentação. Partindo-se da análise desses e de outros dados extraídos do Banco de Textos de Aquisição da Escrita – FaE/UFPel, busca-se com esse trabalho: a) descrever como acontecem os processos de sândi na escrita, pois se acredita que a descrição e a análise desses dados podem auxiliar o professor de séries inicias, na medida em que o conhecimento da linguagem é de fundamental importância para quem trabalha com a aquisição/aprendizagem da escrita; b) estabelecer uma discussão em torno da possibilidade dos dados de escrita contribuírem, nesse caso em particular, para o desenvolvimento de argumentos que auxiliem a discussão de um tema relativamente polêmico na fonologia: o ritmo lingüístico do Português Brasileiro. CONSTRUÇÕES LINGÜÍSTICAS, IDENTITÁRIAS E CULTURAIS NA APRENDIZAGEM DA LIBRAS: IMPLICAÇÕES PARA O ENSINO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES Audrei Gesser (UENP/Faficop, Cornélio Procópio) Este trabalho, parte da tese de doutoramento, descreve a interação social face a face entre um professor surdo e seus alunos ouvintes em um contexto de ensino e aprendizagem de LIBRAS. Orientada por princípios teóricos da Sociolingüística Interacional (Schiffrin, 1996) e da Etnografia Escolar

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(Erickson, 1986), ilustro, a partir de alguns fragmentos interacionais, como é a relação dos alunos ouvintes com a LIBRAS e como as identidades e culturas ouvintes e surdas são manifestadas e co-construídas no e através do uso de linguagem na interação face a face (Goffman, 1981, 2002; Gumperz, 1982a/b, Jacob & Ochs, 1995). O contexto investigado é inerentemente complexo, uma vez que envolve variáveis sociolingüísticas e valores atribuídos a essas variáveis pelos interactantes, ou seja, a interação compõe uma complexa rede de negociações sociais organizadas, reunindo indivíduos (surdos e ouvintes) com realidades e experiências diversas, isto é, “com várias subjetividades” (Cavalcanti & Moita Lopes, 1991). Tal investigação abre questionamentos para o ensino de uma língua espaço-visual, por exemplo, em relação à formação de professores surdos, pedagogia surda e aprendizagem da LIBRAS por ouvintes. ESCRITA CRIATIVA, LEITURA E EXPLICITAÇÃO GRAMATICAL EM SALA DE AULA DE EJA – EIXOS CONVERGENTES PARA A AQUISIÇÃO DA ESCRITA COM APRENDENTES ADULTOS Cristiane dos Santos Azevedo (PPGE FaE/UFPEL) Ana Ruth Moresco Miranda (PPGE FaE/UFPEL) Este trabalho é uma síntese da dissertação de mestrado defendida em setembro de 2007 na Faculdade de Educação da UFPEL e orientada pela professora Ana Ruth Moresco Miranda. Nesse trabalho, acompanhamos quatro sujeitos adultos, que na época (2005) cursavam a aceleração de estudos de 5ª/6ª série do ensino fundamental em uma escola municipal da cidade de Pelotas, RS. Nossa hipótese era a de que se tais alunos fossem expostos a uma prática de sala de aula voltada para a produção sistematizada de textos narrativos, de leitura de narrativas em sala de aula semanalmente e de explicitação de certos aspectos gramaticais específicos que ocorriam nos seus textos, que esses, ao final do processo, qualificariam sua produção textual. As categorias de análise utilizadas para a análise dos textos foram as seguintes: erros ortográficos motivados pela fonética da língua, aquisição de elementos de coesão referencial e presença de estrutura narrativa nos textos. Ao todo foram analisados 51 textos produzidos pelos quatro alunos coletados entre março e dezembro de 2005 e os resultados obtidos mostraram que em relação aos erros motivados pela fonética, que esses não mostraram diminuição, embora o número de linhas produzidas tenha aumentado significativamente; em relação à aquisição de elementos de coesão referencial (formas remissivas referencias, não-referenciais presas e livres) constatamos que, mesmo sem a explicitação teórica de tais elementos, os informantes adquiriram tais elementos de coesão no decorrer do processo, utilizando-os de forma efetiva e, finalmente que em relação à presença de

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estrutura narrativa nos textos produzidos pelos alunos, que a partir do meio do ano letivo todos os textos produzidos pelos sujeitos apresentaram a estrutura narrativa esperada. Tais constatações parecem mostrar a importância do professor de Língua materna trabalhar os três eixos concomitantemente, a saber: explicitação gramatical, escrita e leitura em sala de aula. DESENVOLVIMENTO DA NARRATIVA EM JOVENS COM SÍNDROME DE DOWN Gilsenira de Alcino Rangel (UFPel) Este trabalho é fruto de uma pesquisa que vem sendo feita sobre o processo de aprendizagem da leitura e da escrita por crianças e jovens com síndrome de Down. Apesar de muitos diagnósticos negativos quanto ao desenvolvimento cognitivo da pessoa com síndrome de Down, o que se pode observar é que muitas vezes os limites são impostos por nós. Há um número grande de jovens com a síndrome que não foram alfabetizados em decorrência do mito de que seriam incapazes de tal proeza. Atualmente, por terem se tornado mais visíveis à sociedade, as pessoas com síndrome de Down têm alcançado sucesso em tarefas como aprender a ler/escrever, tocar instrumentos musicais, chegar ao ensino médio e até mesmo universitário. Para Vigotsky, “o desenvolvimento incompleto das funções superiores está ligado ao desenvolvimento cultural incompleto da criança mentalmente retardada, à sua exclusão do ambiente cultural, da nutrição ambiental. Freqüentemente as dificuldades secundárias são o resultado de uma educação incompleta, de uma negligência pedagógica” (1977, p. 144). Levando em consideração as idéias de Vigotsky, estamos trabalhando com um grupo de jovens com síndrome de Down, com idades que variam de 19 a 27 anos proporcionando-lhes o contato mais direto com práticas de leitura e escrita e pudemos, no decorrer de um ano de intervenção, verificar a evolução apresentada quanto ao desenvolvimento da estrutura narrativa. PESQUISA EM LINGUISTICA APLICADA NO BRASIL: UM LUGAR DO FAZER PEDAGÓGICO Hilario I. BOHN (UCPel/FURB) A educação brasileira enfrenta inúmeros desafios entre os quais se destacam a ausência de políticas públicas coerentes propostas pelas autoridades governamentais e educacionais; a precária formação dos professores; a carência e a falta de qualidade dos materiais pedagógicos; a relação conflituosa entre as autoridades educacionais e da sociedade com os professores, conflitos que se filtram para a sala de aula; não menos importante são as dificuldades que os professores encontram em organizar o

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tempo e o espaço escolar como um lugar de interação, de dialogia, constituindo-se assim uma comunidade de práticas empenhada na construção de saberes e formação cidadã. Um dos resultados destas carências é a dificuldade de os professores oferecerem oportunidades de aprendizagem para os alunos e de nem todos os alunos sentirem-se convidados a participarem das práticas de aprendizagem propostas. As relações que se estabelecem entre os atores presentes na sala de aula, professores e alunos, vinculados à instituição e sociedade, parecem ser constitutivas e elas são o produto dos discursos produzidos por estes atores. Recentemente a academia, mais particularmente os pesquisadores das áreas de educação e linguistica aplicada, produziram reflexões importantes sobre a formação e as identidades do professor e dos alunos; procurou-se compreender a diferença, a heterogeneidade presentes entre os membros da sala de aula, os pertencimentos culturais, linguisticos, identitários trazidos pelos alunos. Esta complexidade tem sido descrita pelos pesquisadores, mas raramente se questionam os discursos que perpassam os relatos de pesquisa em relação aos sentidos que se produzem nestes textos quanto à definição de linguagem, identidades dos aprendizes e às tentativas de formar comunidades de prática que se organizam nas salas de aula, aspectos essenciais para a aprendizagem porque são estas definições que produzem os discursos e as atividades pedagógicas priorizadas pelos professores e definem a aprendizagem como uma atividade social. Neste trabalho propõe-se analisar um conjunto de relatos de pesquisa sobre a leitura, publicados em periódicos de Linguistica Aplicada brasileiros, procurando-se compreender as abordagens privilegiadas pelos pesquisadores quando relatam os resultados de suas pesquisas. Faz-se este recorte porque a leitura, juntamente com a produção textual, parecem ser o eixo organizador das atividades pedagógicas, porque definem a relação do sujeito com a linguagem e os letramentos privilegiados pela escola, neste sentido também espelhos dos processos de inclusão e exclusão do fazer pedagógico. A análise se limita aos textos publicados nos últimos dez anos em três periódicos nacionais de Linguistica Aplicada (Trabalhos de Linguistica Aplicada, UNICAMP, Linguagem e Ensino, UCPel e a Revista Brasileira de Linguistica Aplicada, UFMG). OS SENTIDOS DE ALFABETIZAÇÃO PARA OS PROFESSORES ALFABETIZADORES Jociane Stolf (FURB) Otilia Lizete Martins de Oliveira Heinig (FURB) Esse artigo está vinculado ao projeto de pesquisa A compreensão do letramento e suas implicações na educação que visa investigar professores que trabalhem na área da alfabetização com turmas de primeiro ano ou primeira série. O aporte teórico está ancorado em Bakhtin, Vigotsky, Cagliari, Cardoso e Teberosky. Nosso principal objetivo é analisar a concepção de linguagem que permeia a prática pedagógica do professor

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alfabetizador. Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo que se constituiu de um levantamento de dados norteado pelas seguintes questões: O que você associa com a palavra Alfabetização? O que significa Alfabetização para você? A coleta de dados iniciou-se com a escolha de um sujeito de cada município que fizesse parte da AMMVI (Associação dos Municípios do Médio Vale do Itajaí) a fim de analisar através dos dizeres desses sujeitos qual era a concepção de linguagem que permeia a prática pedagógica do professor alfabetizador. A amostra é composta por oito sujeitos que representam dez dos quatorze municípios da AMMVI. As entrevistas ocorreram de forma não-diretiva e foram gravadas. A análise dos dizeres dos sujeitos aponta para uma descrição do que é ser alfabetizar e não há um conceito teórico de alfabetização. O PROCESSO DE AQUISIÇÃO/APRENDIZAGEM DOS DITONGOS ORAIS MEDIAIS EM TEXTOS INFANTIS Marco Antônio Adamoli (UFPel) Ana Ruth Moresco Miranda (UFPel) Por caracterizar-se como um período bastante complexo para a criança que está em fase de alfabetização, a produção escrita dessa fase constitui um material lingüístico extremamente interessante para fins de análise, se quisermos entender um pouco melhor como a criança processa o conhecimento que está adquirindo e como ela o representa em suas primeiras produções escritas. A análise de 940 textos produzidos por alunos de 1ª e 2ª séries do ensino fundamental de duas escolas da cidade de Pelotas/RS revelou erros ortográficos envolvendo a grafia dos ditongos orais mediais, cujas semivogais ora eram grafadas, ora suprimidas, ora, ainda, substituídas por consoantes. Tal observação revelou a ambigüidade gerada por essas estruturas às crianças, bem como a dificuldade que possuem em relação à sua escrita. Alguns ditongos, especialmente os fonéticos [aj], [ej] e [ow], vêm sendo, a longa data, discutidos sob diferentes perspectivas, quer pela da gramática tradicional, quer pela dos estudos variacionistas, quer ainda pela das recentes teorias fonológicas, resultando, assim, em um vasto material acerca desse assunto. Entretanto, muitas questões sobre esses constituintes silábicos ainda permanecem em aberto. Na tentativa, então, de contribuir para com a discussão a respeito do status dos ditongos do PB, porém com base agora em dados da escrita infantil, este estudo tem o propósito de apresentar os resultados obtidos por Adamoli (2006) acerca do processo de aquisição/aprendizagem gráfica dos ditongos orais mediais. A pesquisa revelou, entre outras questões, que os ditongos ai, ei e ou, igualmente ao que ocorre na língua oral, foram os grupos vocálicos que mais sofreram as alterações gráficas. Além disso, os dados mostraram também que as variáveis contexto seguinte e tipo de escola foram decisivas para supressão das semivogais dos ditongos mediais orais na escrita infantil.

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ANDAIMENTO COLETIVO NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS Vanessa de Oliveira Dagostim Pires (UNISINOS)

Inspirada no trabalho de Richard Donato, publicado em 1997, que buscou identificar a presença da prática do andaimento nas interações entre pares em sala de aula de língua francesa como segunda língua, a presente pesquisa investiga como os alunos surdos de uma escola especial co-constroem experiências de língua portuguesa no contexto de sala de aula. Também analisa como o desenvolvimento desta L2 é trazido para o plano social, partindo da hipótese de que os aprendizes podem, de certa maneira, em algumas circunstâncias, prover o mesmo tipo de suporte e orientação uns aos outros, assim como os adultos fazem com as crianças, segundo o conceito de scaffolding investigado por Wood, Bruner e Ross (1976). Para isto, serão gerados dados mediante observação participante de aulas e aplicação de seqüência didática elaborada especialmente para este fim em uma turma de 6ª série do Ensino Fundamental de uma escola estadual especial para surdos da região metropolitana de Porto Alegre. Essas aulas foram gravadas em vídeo, transcritas e analisadas. Durante este período, os alunos foram convidados a estudar e reconhecer a estrutura de uma carta de reclamação, e, posteriormente, a produzirem, em conjuntos, uma carta de reclamação a respeito da escola onde estudam. Analisaremos as interações entre alunos e algumas intervenções da professora e pesquisadora no momento da produção das cartas e como essas práticas de atividades em conjunto geram estratégias facilitadoras de aprendizagem de LP.

ATIVIDADES EM CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA NA METODOLOGIA DE ALFABETIZAÇÃO: IMPORTANTE FERRAMENTA NO DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E A EVOLUÇÃO DA ESCRITA Ana Paula Rigatti Scherer (PUCRS) O trabalho apresenta o desenvolvimento da consciência fonológica e da escrita, ao longo do ano letivo da 1ª série do Ensino Fundamental, de 22 alunos da rede municipal de ensino do município de Guaíba-RS. A pesquisa foi realizada com alunos pertencentes a 5 turmas de diferentes escolas. Os professores destas turmas receberam treinamento da pesquisadora sobre consciência fonológica e explicitação do princípio alfabético. As turmas dos alunos foram acompanhadas ao longo do ano letivo e os alunos avaliados em 3 momentos distintos: março, julho e novembro. Somente participaram das avaliações nestes meses, os alunos indicados para a pesquisa, os quais deveriam estar, em março, no nível pré-silábico da Psicogênese da Escrita (Ferreiro e Teberosky, 1985). Em cada avaliação era realizada uma coleta de amostra de escrita para verificar em qual hipótese os alunos se encontravam e era aplicado o instrumento CONFIAS (Moojen e cols, 2002)

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para verificar o nível de consciência fonológica dos alunos. Com relação à escrita, verificou-se que houve diferentes evoluções ao longo do ano, formando-se, assim, 3 grupos de alunos: G1, classificado de “rapidamente ótimo” - 13 alunos que iniciaram o ano pré-silábicos e avançaram, já no mês de julho para o nível alfabético; G2, classificado de “moderadamente muito bom” - 7 alunos que iniciaram pré-silábicos, avançaram para silábico-alfabético em julho e chegaram ao nível alfabético em novembro e G3, classificado de “lentamente muito bom” - 2 alunos que iniciaram pré-silábicos, avançaram para o nível silábico em julho e chegaram ao alfabético em novembro. Com relação à consciência fonológica, verificou-se que os 22 alunos obtiveram aumento da pontuação no CONFIAS a cada aplicação realizada, porém nem sempre esse aumento não ocorreu no mesmo período do ano. Comparando os resultados do teste CONFIAS com os dados de escrita, verificou-se que quanto mais avanços os alunos obtinham na escrita, maior era o aumento de pontuação no CONFIAS. Confirma-se com esse trabalho, a relação recíproca que existente entre consciência fonológica e aquisição da escrita, pois o nível elementar em consciência fonológica que os sujeitos tinham em março auxiliou na aquisição da escrita e esta aprimorou níveis mais complexos de consciência fonológica ao longo do ano. Verifica-se, também, que atividades de consciência fonológica aliadas à metodologia de ensino facilitam a aquisição da escrita. AS VOGAIS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO: ORTOGRAFIA E FONOLOGIA NA ESCRITA INFANTIL Carolina Reis Monteiro (UFPel) Ana Ruth Miranda (UFPel) Estudos sobre a aquisição ortográfica, como os de Miranda (2007, 2008a e b), têm mostrado que a criança, no processo de aquisição da escrita, estabelece relações com outro objeto de natureza semelhante, a linguagem oral, ou seja, a criança utiliza o conhecimento que já possui a respeito da estrutura lingüística ao representar graficamente as palavras de sua língua. No entanto, por não haver relação direta entre esses conhecimentos, surgem os erros ortográficos. Este estudo tem o objetivo de descrever e analisar os erros relacionados à grafia das vogais presentes em textos espontâneos, pertencentes ao Banco de Textos de Aquisição da Escrita (FaE/UFPel), produzidos por crianças de 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental de duas escolas de Pelotas, uma particular e outra pública, bem como, estabelecer relações entre os processos fonológicos na aquisição do sistema vocálico do português brasileiro, observados por Rangel (2002), e os erros envolvendo as vogais encontrados nos dados de escrita. Os resultados até agora obtidos mostram que as crianças, ao grafarem as vogais, utilizam conhecimentos fonológicos e fonéticos que produzem erros, interpretados como o resultado de “vazamentos” da fonologia na ortografia (Miranda, 2007); e apontam para a presença de diferentes tipos de substituições nos erros de escrita semelhantes àquelas verificadas por Rangel (2002). Estudos como este

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reforçam a idéia segundo a qual o professor deve conhecer a natureza da ortografia e suas relações com a fonologia e a fonética para tornar mais eficaz sua intervenção pedagógica. O ERRO ORTOGRÁFICO NAS REDAÇÕES DE VESTIBULAR Daiani de Jesus Garcia (UFPel) Ana Ruth Moresco Miranda (UFPel) A escola (e, por que não, a sociedade, no geral) cobra de seus alunos uma escrita escorreita, no entanto, pouco proporciona momentos de reflexão sobre as dificuldades ortográficas da língua. Talvez alguns professores apresentem resistência em trabalhar a ortografia com receio de serem tachados de tradicionais e obsoletos. Todavia, é de suma importância um trabalho reflexivo, que oriente os aprendizes, a fim de que eles, sem constrangimentos, possam redigir seus textos sem medo de errar. Com o intuito de averiguar o quão produtivo tem sido o trabalho da escola a este respeito, este estudo busca analisar a freqüência dos erros ortográficos cometidos pelos egressos do ensino médio a partir da análise das redações do processo seletivo de Verão/2007, da Universidade Federal de Pelotas. A amostra é constituída por 100 dissertações escolhidas aleatoriamente, cujos erros encontrados são classificados, de acordo com Morais (2003), em duas categorias: regulares e irregulares. Os erros pertencentes à primeira categoria são aqueles ocasionados pela não observância de regras contextuais, como a regra de uso do dígrafo ‘rr’, por exemplo. Os irregulares dizem respeito àqueles casos em que não se pode definir contexto para o uso de determinado grafema e há no mínimo dois disponíveis, embora apenas um seja definido pela norma. Nossa hipótese era de que estes últimos aparecessem com mais freqüência, o que se confirmou. No entanto, não esperávamos encontrar tantos erros regulares, visto que já deveriam ter sido sanados no contexto escolar. Incorporar as normas ortográficas é um longo processo e a escola deve se conscientizar que não é apenas pelo simples contato com a escrita que se aprende ortografia. É necessário um trabalho sistemático que auxiliará o aluno a adquirir certos automatismos que lhe permitirá não perder tanto tempo com a escolha das letras na hora da escrita, ficando, segundo Morais (2003), mais livre para organizar suas idéias no papel. O PAPEL DA LIBRAS E DA LÍNGUA PORTUGUESA NOS CONTEXTOS DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA ESCRITA PARA SURDOS Gisele Farias Muck (UNISINOS) Cátia de Azevedo Fronza (UNISINOS) Este estudo integra a dissertação de Mestrado em Lingüística Aplicada, desenvolvida na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, e tem como base a proposta educacional bilíngüe e bicultural, segundo a qual a língua de sinais

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(Libras) é considerada a língua própria dos surdos e a Língua Portuguesa, na modalidade escrita, é a sua segunda língua, que deverá ser aprendida com base na primeira. Essa pesquisa pretende identificar o papel que a Libras e a Língua Portuguesa desempenham nos contextos de ensino-aprendizagem da escrita do Português para crianças surdas, refletindo sobre a forma como os dois sistemas lingüísticos são abordados, na escola, para proporcionar aos surdos a sua integração com o mundo social e um ensino adequado as suas capacidades. Nessa perspectiva, o presente trabalho discute aspectos relacionados a concepções de língua, à proposta educacional bilíngüe e bicultural, à estrutura da Libras e a sua aquisição como primeira língua dos surdos e à aprendizagem da Língua Portuguesa, na modalidade escrita, como segunda língua desses sujeitos. Para a realização dessa investigação, está sendo feito um estudo de cunho qualitativo, com base em entrevistas com professores, em coletas de atividades escritas de crianças surdas e em observações e filmagens, no ambiente de sala de aula, de uma turma de primeira, de segunda, de quarta e de quinta série do Ensino Fundamental, de uma escola regular da região do Vale do Rio dos Sinos, que atende alunos surdos. Mediante autorização dos professores envolvidos e dos pais ou responsáveis pelas crianças, foi feita a entrevista com os profissionais, a respeito de suas concepções de surdo e ouvinte e de Libras e Língua Portuguesa, e, no momento, estão sendo realizadas as observações e filmagens das aulas de língua dessas turmas, além da coleta de atividades escritas dos alunos surdos, as quais representam o trabalho desenvolvido em sala de aula. As informações obtidas estão sendo transcritas e analisadas pela pesquisadora, com base nos pressupostos teóricos e nos objetivos da pesquisa. Este trabalho traz, portanto, algumas considerações a respeito da dissertação de Mestrado referente ao papel da Libras e da Língua Portuguesa nos contextos de ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa escrita para crianças surdas. ME DIGAM EM QUE SOU DIFERENTE DE VOCÊS? : SENTIDOS DE UMA ESCOLA INCLUSIVA PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA EM UM PROGRAMA DA EJA Jamile Delagnelo Fagundes da Silva (FURB) Vivenciamos hoje, no Brasil, um amplo movimento político para a inclusão de pessoas com deficiência nas diferentes instituições, particularmente nas escolas de ensino regular e nas empresas. A obrigatoriedade legal de inserção das pessoas com deficiência em instituições educacionais e empresarias resulta de lutas históricas de movimentos sociais por garantia de direitos de cidadania e igualdade de oportunidade para todos. Neste contexto, a solicitação crescente das indústrias catarinenses para a capacitação educacional e profissional da mão-de-obra potencial constituída pelas pessoas com deficiência foi fator determinante para o surgimento de uma escola inclusiva no norte de Santa Catarina. Nesta escola de Educação de Jovens e Adultos são atendidas pessoas que apresentam algum tipo de

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deficiência e por algum motivo abandonaram seus estudos na idade regular. O que se pretende neste artigo é desvelar os sentidos que esta escola têm para estes sujeitos, refletir sobre como acontece o processo de interação e inclusão na voz de quem dele participa: alunos e professores. Os dados da pesquisa foram coletados através de um comando enviado pelo correio eletrônico para 03 professores e 11 alunos. Neste comando foi solicitado para que escrevessem sobre o que acreditam ser uma educação inclusiva e que sentido tem estudar/trabalhar nesta escola. Os discursos produzidos pelos sujeitos apontam para questões relacionadas a Identidade e Diferença. Nesta perspectiva os dados foram analisados à luz de Silva e Baumann considerando Identidade e diferença em uma estreita relação de dependência, ligadas a sistemas de significação e o processo de inclusão foi discutido a partir de autores que abordam a educação inclusiva na perspectiva da interculturalidade como Fleuri e Rodrigues. Segundo Rodrigues (2003), a educação inclusiva deve se constituir como um processo educacional, simultaneamente “para todos e para cada um”. A educação inclusiva busca partir de múltiplos contextos (culturais, subjetivos, sociais e ambientais) promover com as pessoas e grupos, simultânea e articuladamente, a articulação da diversidade de sujeitos, contextos, linguagens, de ações e produções culturais. FLUTUAÇÕES NOS REGISTROS ESCRITOS DO FONEMA /A/ EM CONTEXTO DE NASALIZAÇÃO EM PRÉ-ESCOLARES. Larissa Cristina Berti (UNESP) Lourenço Chacon (UNESP) Alessandra Pagliuso (UNESP) Na aquisição inicial da escrita infantil observa-se, freqüentemente, a presença de flutuações nos registros escritos das crianças. Um exemplo de flutuação que podemos explorar diz respeito aos registros do fonema /a/ em contexto de nasalização. Nesse sentido, no presente trabalho procurou-se investigar: (a) em que medida as crianças, na fase de aquisição da escrita, registram o fonema /a/ em contexto de nasalização e (b) em caso de registros, a que tipos de registros escritos (convencionais ou desviantes) as crianças utilizariam para marcarem o fonema acima referido. Para tanto, foram selecionadas ocorrências desse registro extraídas de uma proposta textual desenvolvida em contexto escolar de 20 sujeitos que freqüentavam o Pré III da Escola Municipal de Educação Infantil Raio de Sol da cidade de Marília/SP. Nessa proposta textual havia a possibilidade de ocorrência de registro do fonema /a/ em contexto de nasalização em nove palavras, computando um total de 180 possibilidades de ocorrência. Foram descartadas da análise as palavras não interpretáveis (escrita refratária). Constatou-se que dentre os registros interpretáveis (150), apenas 27 (18%) registros estavam de acordo com as convenções ortográficas, e 123 (82%) eram registros desviantes. Dentre os registros desviantes, observou-se que: 6 (4%) corresponderam ao não registro do fonema /a/ em contexto de

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nasalização; 47 (31%) corresponderam apenas ao registro do elemento vocálico; 9 (6%) corresponderam apenas ao registro do elemento nasal e 61 (40,66%) corresponderam ao registro desviante do elemento vocálico mais elemento nasal. No que se refere aos 47 registros apenas do elemento vocálico, 26 (55%) foram marcados com o grafema “a”, 11 (24%) foram marcados com o grafema “o”, 9 (19%) foram marcados com o grafema “e” e apenas 1 (2%) marcado com o grafema “i”. Em relação aos 9 registros apenas do elemento nasal, 7 (78%) foram marcados com o grafema “n”, 1(11%) foi marcado com o grafema “m” e 1 (11%) com o grafema “nh”. Finalmente, dentre os 61 registros desviantes do elemento vocálico mais o elemento nasal, 7 (11%) foram grafados de forma que não alteraram a configuração fonológica da palavra; e 54 (89%) foram grafados de forma que alteraram a configuração fonológica da palavra. Um entrecruzamento de fatores (fonoacústico, gráfico-visual e fonotático) parece estar na base de uma possível explicação para as principais tendências das flutuações na grafia do fonema /a/ em contexto de nasalização, apontando para o caráter heterogêneo da escrita. TEXTO DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO: UM OLHAR ACERCA DO DISCURSO SOBRE O PANORAMA POLÍTICO Rafaela Lorena Vieira Otte (FURB) Este trabalho intenciona analisar o dizer do sujeito sobre seu próprio texto, numa espécie de exercício metalingüístico. Trata-se do recorte da dissertação de mestrado intitulada “o que veio na cabeça eu escrevi: a heterogeneidade nos textos de alunos do ensino médio”, que tem como objeto o texto de alunos de ensino médio, mais especificamente do terceiro ano de uma escola pública de Blumenau/SC. Esta pesquisa tem como lugar a sala de aula, por isso os sujeitos foram convidados a participar de uma aula de produção de textos, baseada numa seqüência didática (Dolz e Schneuwly), que culminou com a escritura de um artigo de opinião. O sujeito, um dos que participaram dessa aula, foi entrevistado e comentou o texto que havia produzido naquela aula. A partir desses dizeres - o artigo de opinião e a entrevista - é que analisaremos a heterogeneidade mostrada marcada, fundamentada por Authier-Revuz. Neste artigo, buscamos o discurso deste sujeito sobre a temática do panorama político daquela ocasião, já que dos textos que compunham a seqüência didática, ele escolheu escrever seu artigo sobre essa temática. A análise se pauta em algumas questões como de onde vêm os dizeres desse sujeito e o que o leva aos posicionamentos que afirma. As marcas lingüísticas no fio do discurso nos sinalizaram alguns lugares que o sujeito aponta como origem do seu dizer. Esse exercício metalingüístico realizado pelo sujeito indica muitas reflexões acerca da família e da mídia, sobretudo de como o discurso sobre política é construído pelo sujeito, bem como a imagem social do político.

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O USO DE MECANISMOS DE COESÃO REFERENCIAL NA PRODUÇÃO ESCRITA DE ALUNOS DE 5ª SÉRIE Arlete Amaral Corrêa (UFPel) Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Língua Portuguesa preconizam uma discussão acerca da necessidade de melhorar a qualidade da educação no País. Resultados de testes de qualidade como os realizados pelo Inep (2005/2007) e Saers (2007) apontam que os alunos apresentam baixos índices quanto ao seu desempenho em leitura e escrita, mostrando que a situação atual no que concerne ao ensino de língua não é satisfatória. Apesar dos avanços dos estudos da Psicolingüística, da Lingüística Aplicada e da Lingüística Textual, os trabalhos desenvolvidos na sala de aula continuam presos a antigas formas de trabalho com a gramática, as quais se mantêm preponderantemente prescritiva, sem preocupação com a leitura e a produção textual. Neste estudo será analisado o modo como os alunos fazem uso dos mecanismos de coesão referencial, conforme descritos por Koch (2002). A amostra é constituída por vinte resumos, produzidos por dez alunos de 5ª série da Escola Municipal Mate Amargo, da cidade de Rio Grande. A hipótese deste trabalho é a de que um ensino baseado em uma metodologia centrada na produção de textos, leituras e ensino produtivo (Halliday, McIntosh e Strevens, 1974) pode levar o aluno a ampliar suas práticas de leitura bem como qualificar a sua produção escrita, tanto em relação a aspectos lingüísticos como discursivos. Na metodologia de ensino utilizada a produção textual decorre se atividades de leitura e são propostos exercícios que visam o desenvolvimento da habilidade de síntese e o mapeamento (esquemas) do texto; as tarefas de escrita visam à ampliação da habilidade de escrever um resumo coeso, baseado na leitura de um livro, utilizando elementos coesivos referenciais (artigos, pronomes e conjunções), ampliação de vocabulário e a distinção entre oralidade e escrita; o conjunto de ações de explicitação gramatical é regularmente utilizado. Para este estudo são analisados dois textos de cada aluno, o primeiro produzido antes da intervenção e o segundo, depois. Os resultados mostram que no primeiro texto há a predominância de formas remissivas gramaticais presas; enquanto no texto 2, ocorre uma variabilidade entre remissivas presas e livres. Houve a seleção de informações significativas para compor o resumo, deixando assim evidenciado que uma prática pedagógica que reserva um espaço igualitário para tarefas de leitura, escrita e gramática, articulando-as de forma sistemática, melhora significativamente o desempenho dos alunos em relação aos usos da língua escrita. A CO-CONSTRUÇÃO DA NARRATIVA EM UMA SALA DE AULA BILÍNGÜE Cristiane Ely Lemke (UNISINOS) O presente trabalho, a Co-construção da Narrativa em uma Sala de Aula Bilíngüe, faz parte de um projeto maior intitulado A co-construção da

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narrativa na família e na escola, coordenado pela professora Dra. Ana Maria Stahl Zilles. Tendo em vista o importante papel das narrativas nas diferentes culturas e a sua contribuição para a formação da identidade e da linguagem, este estudo tem como objetivo analisar como se dá a contação de histórias em uma sala de aula bilíngüe, procurando responder a alguns questionamentos: Como alunos e professores co-constroem significado e compreensão em um outro idioma, nesse caso o inglês? Como o andaime é fornecido durante esses momentos? Como se configura a estrutura de participação durante a contação de uma história em uma sala de aula? Como o turno é negociado entre esses participantes? Qual o estilo escolhido pela professora ao narrar: o de contadora ou de co-construtora da história? Para respondermos a essas perguntas, momentos de contação estão sendo gravados e então transcritos de acordo com as convenções por Jefferson (1984) e traduzidas e adaptadas por Schnack, Pisoni e Ostermann (2005). Os dados até agora mostram que os alunos se orientam para os momentos em que há um ponto relevante para a tomada de turno e o tomam quando isto acontece, co-narrando a história e co-construindo significado do que foi dito, através do andaime provido pela professora e também por outros alunos. Mostram também que o estilo adotado pela professora, como descrito por Blok em 1999, de falar com a criança ou falar para a criança, influencia a estrutura de participação dos alunos durante este momento. A apresentação do trabalho terá uma parte inicial de fundamentação teórica e, em seguida, serão analisadas partes de transcrições de momentos de contação de histórias. A APRENDIZAGEM DE INGLÊS EM SALA DE AULA DE LÍNGUA ESTRANGEIRA EM ESCOLA PÚBLICA NO BRASIL Elisabete Andrade Longaray (UFRGS) Estampada em jornais, digna de pesquisa realizada por consultores internacionais, ou na sala de estar em meio ao debate daquelas famílias que podem apostar num futuro melhor para seus filhos, a importância do domínio de uma língua estrangeira, principalmente o inglês, vem chamando a atenção de uma série de pesquisadores da área de Aquisição de Segunda Língua nos últimos anos. Muitos desses autores estão preocupados em estabelecer relações entre a aprendizagem da língua estrangeira e questões identitárias que podem resultar num maior ou menor investimento por parte dos aprendizes de inglês em sala de aula. O trabalho aqui relatado explora pesquisas recentes que dão conta de tais questões e investiga a existência de movimentos de não participação, resistência ou de adesão ao discurso predominante na escola, nas famílias e nos meios de comunicação de acordo com os quais o conhecimento da língua inglesa exerce influência direta no futuro de grande parte dos jovens brasileiros. Até onde isso tudo é verdade e, se a língua inglesa é mesmo tão importante, o que acontece com aqueles que não falam, não lêem, tampouco escrevem nessa língua? Após uma breve introdução na qual a autora revela sua própria experiência enquanto aprendiz

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e professora de língua inglesa, este trabalho discute uma série de estudos que têm caráter seminal para a pesquisa do ensino de Língua Estrangeira em sala de aula no que diz respeito às questões de língua e identidade. A autora faz uso de seu estudo (Longaray, 2005) realizado junto aos alunos de uma escola pública da região sul do Brasil para revelar a ambivalência existente entre o discurso politicamente correto sustentado pela maioria de seus entrevistados que defendem o aprendizado da língua inglesa em sala de aula e os diferentes movimentos de resistência apresentados pelos mesmos quando em situação real de sala de aula. O TEXTO EM SALA DE AULA: A VOZ DOS PROFESSORES DE LÍNGUA MATERNA Henriette Luise Steuck (FURB) Otilia Lizete Martins de Oliveira Heinig (FURB) Este trabalho é resultado de uma pesquisa mais ampla inserida no projeto Investigação sobre o ensino de língua materna: ponte entre formar e ensinar. Dentro desse projeto foi desenvolvido o subprojeto O ensino da língua materna sob o ponto de vista do professor formado pela FURB (Universidade Regional de Blumenau) que nos permitiu chegar aos dados aqui apresentados. Essa pesquisa foi realizada no período de 2004 a 2005 com o objetivo de identificar o perfil dos alunos do curso de Letras no que diz respeito ao ensino-aprendizagem de língua materna. O objetivo deste trabalho aqui apresentado é então compreender as estratégias que os sujeitos, professores de língua materna, utilizam para trabalhar o texto em suas aulas tanto para a produção textual quanto para a leitura, e ainda verificar como avaliam os textos produzidos por seus alunos. Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo com foco na teoria da enunciação. A coleta de dados foi realizada através de entrevistas não-diretivas gravadas com egressos do curso de Letras da Universidade Regional de Blumenau (FURB) que, no momento da coleta de dados, estavam atuando como professores de Língua Portuguesa. São sujeitos egressos dos anos de 1993 a 2003 (dos últimos dez anos contando da data de realização da pesquisa). A partir da transcrição e análise das entrevistas, notou-se que os sujeitos, como professores de Língua Portuguesa, procuram realizar um trabalho compreendendo a escrita e a leitura de textos como atividades indispensáveis para a internalização das regras gramaticais. A maioria dos dizeres dos sujeitos aponta para um trabalho gramatical realizado a partir de textos lidos em sala de aula ou então produzidos pelos alunos. Quanto à avaliação dos textos escritos por seus alunos, observou-se que os sujeitos têm o cuidado de considerar quem é o aluno que escreveu o texto a ser corrigido, afirmam realizar uma correção junto aos alunos comentando os problemas que mais aparecem nos textos com toda a turma. Alguns ainda trabalham com a reescrita dos textos. Os dizeres dos sujeitos apontam para o compromisso que tem com o outro e a dificuldade que surge da necessidade de atribuir uma nota numérica aos textos de seus alunos. Além disso, depreendeu-se que os sujeitos têm uma

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maior preocupação com a estrutura textual, bem como com a questão da coesão e da coerência em detrimento da exclusiva preocupação com os erros relacionados à norma. PROGRAMA DE EXTENSÃO SENTIDOS PARA ATIVIDADES DE LEITURA E ESCRITA NA ESCOLA: UMA COMUNICAÇÃO ENTRE UNIVERSIDADE E COMUNIDADES. Jeice Campregher (FURB) Osmar de Souza (FURB) Este artigo objetiva refletir sobre a comunicação estabelecida entre comunidades de Blumenau e FURB – Fundação Universidade Regional de Blumenau – através do Programa de Extensão “Sentidos para atividades de leitura e escrita na escola”. O termo “comunicação” é utilizado, pois o programa se propõe a estabelecer uma via de mão dupla, ou seja, que sejam provocadas mudanças tanto na comunidade como na universidade. O Programa e os projetos vinculados a ele – (1) Ler e escrever histórias familiares e (2) Ler e escrever histórias de comunidades – estão em desenvolvimento em escolas públicas municipais e estaduais de Blumenau, Santa Catarina, desde o início de 2007, com duração até o final de 2008. A finalidade do Programa é permitir que alunos de quartas-séries leiam e escrevam textos sobre questões familiares e comunitárias, em oposição a uma prática escolar que privilegia textos do livro didático, que nem sempre pertencem ao universo sócio-cultural dos alunos. Um dos objetivos do Programa é contribuir na conscientização da relevância de um trabalho como esse. O meio para isso é a socialização das atividades desenvolvidas nos dois projetos, dos objetivos e da teoria que os embasa. Através da socialização, um maior número de pessoas é alcançado indiretamente. A socialização está sendo feita em mídia – TV e rádio –, participação em eventos e exposições em turmas de Letras da universidade. Os fundamentos teóricos que orientam o Programa têm como base outro similar, na Universidade do Minho, Uminho, em Braga, Portugal, em que alunos, de camadas populares resgatam a história de seus nomes. Esta comunicação relatará como o Programa em questão está sendo desenvolvido. Serão apresentados alguns dados coletados através da produção de textos das crianças. E, ainda, apontadas algumas questões acerca da relevância do programa nas dimensões acadêmica, social e institucional. CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E ALFABETIZAÇÃO: UM OLHAR PARA A NÃO-BIUNIVOCIDADE ENTRE A CODIFICAÇÃO E DESCODIFICAÇÃO DOS GRAFEMAS “E” E “O” Lucimar Ferreira da Silva Oliveira (UNISUL) Este trabalho aborda a importância do desenvolvimento da consciência fonológica como principal facilitador da aprendizagem da leitura e da escrita

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pela criança. Tem como objetivo verificar a influência de um curso de formação sobre os princípios do sistema alfabético do português do Brasil, com base em Scliar-Cabral (2003a; b), nas competências teórico-metodológicas de docentes das séries iniciais do ensino fundamental no que diz respeito a estratégias de ensino aprendizagem sobre a relação não-biunívoca entre a codificação e descodificação dos grafemas “e” e “o”. Entende-se como correspondência biunívoca aquela em que “um elemento de um conjunto corresponde a apenas um elemento de outro conjunto, ou seja, é de um para um a correspondência entre os elementos, em ambas as direções.” (Lemle, 2006, p. 17). Para dar conta deste objetivo será ministrado um curso em regime de formação continuada a nove professores que atuam nas séries iniciais do ensino fundamental da rede municipal de Imbituba (SC). O referido curso será constituído de três estágios: aplicação de um pré-teste, que se caracteriza como uma atividade diagnóstica sobre as estratégias utilizadas pelos docentes no ensino-aprendizagem do fenômeno em questão; desenvolvimento do curso; e reaplicação de um pós-teste (mesmo teste ao término do curso) para avaliação do progresso (ou não) na formação do professor em relação ao objeto em estudo. Na análise dos dados coletados, com base em Scliar-Cabral (2003a; b), serão considerados os conhecimentos apontados pelo professor antes e depois do curso. UM ESTUDO SOBRE O CONHECIMENTO MORFOLÓGICO DE UM GRUPO DE ALUNOS DE 5ª SÉRIE Taiçara Farias Canez Duarte (UFPel) Este trabalho insere-se em uma linha de estudos que procura compreender o que sabe o aluno/aprendiz acerca da estrutura de sua língua materna bem como o modo como constrói seus conhecimentos sobre esse objeto. Vários aspectos da língua poderiam ser explorados, entretanto foram selecionados aqueles relacionados à morfologia da palavra. Estudos como o de Titone (1983) e o de Figueira (1998) evidenciam que a criança, desde cedo, é sensível aos recursos morfológicos da língua; e estudos como os de Basílio (2004) revelam que o reconhecimento dos morfemas da língua nos permite produzir e entender palavras nunca antes ouvidas. Com base nesses resultados e considerando-se o trabalho de Duarte (2006), que ao estudar a relação ortografia-morfologia mostrou que um trabalho de explicitação da estrutura morfológica em sala de aula pode auxiliar os alunos a resolverem problemas ortográficos que envolvem este componente do sistema da língua, o estudo agora proposto tem a finalidade de desvelar os conhecimentos que alunos de uma 5ª série do Ensino Fundamental, de uma escola da rede pública municipal de Pelotas, possuem acerca da morfologia da Língua Portuguesa, para, após, investigar a relação existente entre esses conhecimentos e o desempenho ortográfico dos alunos bem como a possível conexão entre esses conhecimentos e a complexidade ou produtividade dessas unidades na língua. Além disso, a pesquisa pretende propor estratégias de ensino que permitam ao aluno trabalhar de modo consciente a

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relação ortografia-morfologia. Na primeira etapa da pesquisa pretende-se, através do método clínico piagetiano (Carraher, 1989), investigar os conhecimentos que um grupo de alunos possui acerca da morfologia da língua portuguesa. Os resultados preliminares vêm mostrando que os alunos, embora lancem mão dos morfemas da língua de modo adequado desde uma idade bastante precoce, não possuem metalinguagem para explicitar seus conhecimentos, especialmente, no que diz respeito a morfemas gramaticais da língua, fato que pode ser um dos responsáveis pelos erros ortográficos encontrados nos textos dos alunos ao longo de todo o Ensino Fundamental. GT4 Cognição, relevância e interface semântico-pragmática Coordenadores Fábio José Rauen (UNISUL) Jorge Campos da Costa (PUCRS) O PROCESSAMENTO COGNITIVO-INFERENCIAL DA INFORMAÇÃO PELA RELEVÂNCIA: UMA EXEMPLIFICAÇÃO ATRAVÉS DE UMA PEÇA PUBLICITÁRIA AUDIOVISUAL Aline Aver Vanin (PUCRS) O objetivo deste trabalho é aplicar a Teoria da Relevância, de Sperber & Wilson (1995), a uma peça publicitária audiovisual, a fim de demonstrar como ocorre a compreensão dos enunciados nas trocas comunicativas cotidianas. De acordo com essa teoria, o processamento cognitivo de informações leva os indivíduos a reconhecerem as intenções comunicativas de seus interlocutores, dando-lhes condições de construir as melhores hipóteses interpretativas possíveis dos enunciados produzidos, indo além do nível do dito. Nesse sentido, a formação de inferências ocorre através de uma comunicação do tipo ostensivo-inferencial, na qual o mecanismo dedutivo mental opera com o propósito de formar potenciais inferências no decorrer da interação para então levar à compreensão do que o interlocutor quer transmitir. Pensa-se ser pertinente utilizar como ferramenta um filme publicitário por esse representar uma situação-tipo de comunicação cotidiana através das trocas entre os personagens. Dessa forma, é possível corroborar e exemplificar aspectos básicos previstos pela Teoria, investigando-se, no próprio comercial, as possíveis inferências formadas, as quais podem ser divididas para fins metodológicos. Em primeiro plano, analisam-se as inferências internas, as quais são resultados da interação entre os personagens, como uma imitação do que ocorre no dia-a-dia. Em segundo, as inferências externas ao comercial são examinadas, ou seja, aquelas construídas pelo público-alvo do filme pelo reconhecimento das intenções do anunciante. Assim, mesmo tratando-se do mesmo processo, a investigação desses dois tipos de inferência separadamente permite que se entenda como os implícitos dos atos comunicativos são percebidos e, da mesma forma, como um filme publicitário é capaz de chamar a atenção para

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seu produto, para então se extraírem benefícios cognitivos maiores de esforços mentais mínimos na interpretação dos enunciados. Acrescenta-se que essa relação de efeito e esforço é explorada na análise por ser essa de crucial importância na definição do que é a Relevância, um dos princípios que regem o desenrolar da comunicação. HUMOR EM QUADRINHOS: HIBRIDIZAÇÃO DE ELEMENTOS IMAGÉTICOS E VERBAIS METAFÓRICOS Arlene Koglin (UFSC) Sila Marisa de Oliveira (UFSC) A partir de uma perspectiva cognitivista, este trabalho se propõe discutir o papel da linguagem metafórica verbal e sua relação com as imagens, necessárias para a geração de humor nos quadrinhos da Mafalda, de criação do cartunista argentino Quino. As tiras são provenientes do livro 1, versão publicada no Brasil e traduzida por Mouzar Benedito. O critério para a seleção foi a presença de linguagem metafórica. A análise será conduzida sob a concepção cognitivista de metáfora, cujos aportes teóricos fundamentam-se na premissa de que a linguagem metafórica permeia nosso modo de pensar, agir e expressar-nos lingüisticamente (LAKOFF; JOHNSON, 1980). Acredita-se que o efeito de humor, neste estudo, acontecerá com base na incongruência semântica e/ou ambigüidade, visto que a metáfora apresenta uma duplicidade de planos – literal e metafórico – embora nem sempre o primeiro deles seja acessado (GIORA, 1997, 2002). Análises preliminares dos quadrinhos selecionados apontam para o fato de que a imagem não apenas constitui-se um elemento imprescindível para a compreensão das metáforas como, em alguns casos, é essencial para a identificação e constituição metafórica. O efeito humorístico, por sua vez, sustenta-se no aspecto da hibridização das linguagens envolvidas e tem o enunciado metafórico como fio condutor para sua criação. INTERPRETAÇÕES DO POEMA O BARRO, DE PAULO LEMINSKI: UMA ANÁLISE COM BASE NA TEORIA DA RELEVÂNCIA DAS JUSTIFICATIVAS DE AVALIAÇÃO ATRIBUÍDAS POR DOCENTES DE LÍNGUA PORTUGUESA. Eva Lourdes Pires (UNISUL) O presente estudo de caso faz parte do Projeto Teoria da Relevância: práticas de leitura e produção textual em contexto escolar, do Curso de Mestrado do Programa de Pós-graduação em Ciências da Linguagem da Unisul. Neste trabalho, descrevo e explico os processos ostensivo-inferenciais que permeiam justificativas de cinco docentes de Língua Portuguesa para a atribuição de notas avaliativas a interpretações do poema O barro, de Paulo Leminski. Para atingir esse objetivo, tomei por base o trabalho de Vandresen (2005) e Silveira (2005). Vandresen analisou o poema, com base nos conceitos de forma lógica, explicatura e implicatura de

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Sperber e Wilson (1986, 1995) e Carston (1988), gerando critérios de avaliação para interpretações desse texto poético. Com base nesses critérios, a autora analisou trinta interpretações redigidas por docentes em capacitação. Dessas trinta interpretações, selecionei doze exemplares, simulando doze estudantes do terceiro ano ensino médio, para então solicitar que os docentes lessem, avaliassem, atribuíssem nota e justificassem essa nota, nos moldes do trabalho de Silveira. Esta comunicação apresenta os resultados da pesquisa. EXPLICITAÇÃO EM TRADUÇÃO: UMA ANÁLISE À LUZ DA TEORIA DA RELEVÂNCIA Geraldo de Carvalho (UFMG, Belo Horizonte) Este trabalho visa a contribuir, à luz da Teoria da Relevância (Sperber e Wilson, 1986/1995), para o estudo de processos de explicitação em tradução (Blum-Kulka, 1986; Steiner, 2005; Hansen-Schirra, Neumann e Steiner, 2007, Séguinot, 1988; Englund-Dimitrova, 2005, entre outros). Tomando como exemplo um excerto talmúdico em hebraico do Tratado de Bava Metsia, o presente estudo tem como ponto de partida os conceitos de explicatura e implicatura postulados por Sperber e Wilson (id.) e objetiva perscrutar o processo inferencial em curso durante a tarefa de meta-representação pelo tradutor tanto do ambiente cognitivo da audiência do texto-fonte quanto daquele da audiência do texto-alvo. Segundo Gutt (2005), o tradutor busca criar em seu texto-alvo o maior efeito cognitivo possível com o mínimo de esforço processual necessário, guiando-se pelas codificações conceituais e procedimentais, assim como pelas pistas comunicativas do texto-fonte. Valendo-se de tais conceitos dentro do arcabouço teórico da Teoria da Relevância, o trabalho pretende analisar explicaturas e implicaturas, fortes e fracas, veiculadas pelo texto-fonte e, a partir desta análise, mapear os processos de explicitação nos textos-alvo. Para tanto, serão tomadas as traduções feitas por 08 (oito) tradutores expertos do hebraico para o português brasileiro, tendo como suporte metodológico os relatos retrospectivos, a observação direta e dados processuais capturados em tempo real por meio do programa Camtasia@. Busca-se entender o processo meta-representacional em curso durante a tarefa tradutória, e de que forma este processo guia o tradutor na resolução de problemas advindos das codificações do texto-fonte. A proposta de análise poderá contribuir para a compreensão de processos de explicitação em tradução, através do viés inferencial e do monitoramento da atividade de tradutores expertos, em tempo real, na maneira como lidam com suas habilidades pragmáticas para a decodificação lingüística, sobretudo tratando-se de textos produzidos em ambientes cognitivos (parcialmente) desconhecidos do ambiente cognitivo da audiência do texto-alvo.

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PROCESSOS INFERENCIAIS EM SEMÂNTICAS COGNITIVAS: AUTONOMIA PARCIAL E PRINCÍPIO DA RELEVÂNCIA Heloísa Pedroso de Moraes Feltes (UCS) Nesta comunicação, visa-se levantar algumas questões problemáticas relativas ao tratamento de processos inferenciais em modelos de Semântica em Lingüística Cognitiva, como a Teoria dos Modelos Cognitivos Idealizados, a Teoria da Metáfora Conceitual Reformulada e a Teoria de Blending, tomando como base o ponto de vista de Harder (1999). Harder afirma que a Lingüística Cognitiva não estabelece uma distinção nítida entre competência e performance. É um modelo baseado no uso sem marcar uma distinção entre a linguagem, de um lado, e a experiência humana, de outro, pois seu propósito é imbricar a linguagem em um contexto cognitivo e experiencial mais amplo. Também não faz uma distinção nítida entre fenômenos cognitivos e fenômenos biológicos, porque as habilidades lingüísticas são mediadas por padrões neurológicos. Tais fenômenos são tratados num continuum. A Lingüística Cognitiva nega, segundo Harder, a existência de um nível sintático puramente formal. Em função disso, esse “continuísmo” pode ser responsável por muitos equívocos. O autor defende uma ontologia baseada na autonomia parcial, que é entendida como “um fato central sobre as relações entre domínios relacionados: fatos cognitivos são parcialmente autônomos de fatos brutos; fatos lingüísticos são parcialmente autônomos de fatos experienciais; fatos sintáticos são parcialmente autônomos de fatos sobre o significado de elementos, e fatos sociais são parcialmente autônomos de fatos mentais”. (p. 196). Pela autonomia parcial seria possível capturar um quadro integrado dos fenômenos sintáticos, semânticos e pragmáticos e, em nosso ponto de vista, avaliar o papel de uma teoria (de interface) da inferência, como a Teoria da Relevância, em que o Princípio da Relevância e conceitos co-dependentes, pudessem ser operacionalmente reconstruídos no quadro epistemológico da Lingüística Cognitiva, fornecendo as bases para o tratamento sistemático dos processos inferenciais envolvidos principalmente em acarretamentos metafóricos e metonímicos e operações de blending. REDISCUTINDO O CONCEITO DE COMPETÊNCIA DE UMA PERSPECTIVA RELEVANTISTA. José Luiz Vila Real Gonçalves (UFOP) O conceito de competência, nas últimas décadas, tem se fixado a partir das propostas da abordagem modularista nos estudos da cognição e da linguagem (Fodor, 1983; Chomsky, 1980). Podemos dizer, grosso modo, que esta abordagem postula competência como um fenômeno derivado de uma pré-configuração filogenética que permite a ativação de um conjunto de módulos inatos, os quais seriam responsáveis pela manifestação de uma série de fenômenos cognitivos, bio-mecânicos e interacionais observáveis, ou seja, o desempenho. Em linhas gerais, essa abordagem defende que um indivíduo

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só pode desempenhar determinada tarefa ou um conjunto de ações se tiver internalizada(s) a(s) devida(s) competência(s). Por outro lado, há nas abordagens conexionistas da cognição (e.g. Elman et al., 1996) a postulação de que competências e fenômenos cognitivos em geral se dão não pela ativação de módulos pré-configurados geneticamente, mas pela progressiva construção de redes neuronais e pela estabilização de rotinas processuais nessas redes, as quais derivam, entre outros fatores, da história de interações e estímulos vivenciados pelo indivíduo. Neste trabalho, pretendo discutir a noção de competência a partir de uma perspectiva mais abrangente, adotando as bases teóricas e epistemológicas das abordagens conexionistas, fundamentado-me em trabalhos recentes acerca do tema (Gonçalves, 2003; Alves e Gonçalves, 2006; 2007; Rothe-Neves, 2007) e concentrando o foco do debate na competência do tradutor, sobre a qual tenho me debruçado mais detidamente. Além disto, adotarei conceitos e princípios da Teoria da Relevância (Sperber & Wilson, 1986/1995), os quais têm se mostrado consistentes e promissores para as questões tratadas neste âmbito. Em linhas gerais, procurarei expandir a noção modularista de competência internalizada, que é tida como a contrapartida para o desempenho, argumentando em favor do caráter indissociável dos fenômenos cognitivos e sócio-interativos, que, da perspectiva aqui adotada, são domínios essenciais para a constituição de qualquer competência. Tais reflexões têm se desenvolvido no âmbito da pesquisa Avaliando a Competência do Tradutor em Formação: uma pesquisa empírico-experimental, realizada na Universidade Federal de Ouro Preto, como parte do projeto interinstitucional UFMG-UFOP/FAPEMIG 8763, intitulado Competência em Tradução: o papel dos conhecimentos declarativo e procedimental na formação de tradutores aprendizes. TEORIA DAS INFERÊNCIAS PRAGMÁTICAS DO TIPO IMPLICATURA: POR UMA POTENCIAL APLICAÇÃO PARA O ENSINO DO PORTUGUÊS COMO L2. Silvana Souza Silveira (PUCRS) Conhecer o léxico de uma língua e ser capaz de decodificá-lo não é o suficiente para compreender o significado implícito dessa língua. É necessário, também, reconhecer as intenções do falante no momento da enunciação. Este estudo apresentará, primeiramente, os fundamentos da significação explícita e da significação implícita, por meio de teorias semânticas e pragmáticas, respectivamente. Argumentaremos que é impossível pensar nessas teorias como autônomas, se levarmos em consideração que a língua é composta de aspectos semânticos e pragmáticos, prova de que há uma forte interface entre esses dois níveis. A fim de mostrarmos como os falantes de uma língua inferem no significado implícito, escolhemos a Teoria das Implicaturas de Grice (1975), refinada pela proposta de Costa (1984, 2005). Elaboramos um questionário composto de 21 diálogos composto de Implicaturas Convencionais e Conversacionais

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para testar o potencial teórico das duas teorias e, também, para verificar se falantes nativos do português do Brasil e falantes não-nativos do português, especificamente falantes do mandarin, com um período de imersão na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, Porto Alegre/RS, Brasil, apresentam diferenças significativas em suas inferências. Concluímos que Grice e Costa oferecem explicações consistentes e sistemáticas de como inferências pragmáticas são realizadas. O resultado do questionário mostrou que os dois grupos estudados não apresentam diferenças estatísticas significantes, embora, do ponto de vista qualitativo, tais diferenças parecem ser significantes, especialmente no que diz respeito à comunicação oral. Além disso, será oferecida como sugestão que os professores de L2 conheçam as teorias do significado abordadas nesta tese para que possam, dessa forma, otimizar a sua prática pedagógica. COMO ANALISAR A INTERFACE SEMÂNTICO/PRAGMÁTICA DA NEGAÇÃO MÚLTIPLA? Ana Maria Tramunt Ibaños (PUCRS) Suponha diferentes tipos de negação múltipla, ilustrados com exemplos de línguas românicas. Português Brasileiro: (1) Ninguém não me disse nada; (2) Eu não vi nunca jamais nada; (3) Não fui a nenhum lugar com ninguém. Francês: (4) Personne ne m´a rien dit ; (5) Je n´aime ni le vin ni la bière ; (6) Je n´y suis jamais allé avec personne. Espanhol: (7) Nadie me dijo nada; (8) No vino nadie comigo; (9) Nunca fui com nadie a parte alguna. E considere as seguintes questões relevantes para o tópico: (a) De que maneira, a negação padrão da Lógica de Predicados é capaz de lidar com a negação das línguas naturais? (Horn,2001); (b) Que propriedades semânticas podem ser atribuídas a tal variação sintática, dado o Princípio de Isomorfia entre duas subteorias lingüísticas? (Cann, 1993); (c) Dado o princípio de economia, como a Navalha de Occam Modificada (Grice 1978, p. 118-119) que sugere que os sentidos não podem ser multiplicados, o que dizer sobre negações múltiplas como nos exemplos? Semanticamente falando, a que esta redundância está conectada?; e (d) Será possível que a redundância em (c) possa ser explicada através do princípio pragmático da Relevância? (Sperber & Wilson, 1995). Costa (2005) apresenta interessantes insights sobre (a), (b) e (c) via uma tentativa de descrever e explicar tais problemas introduzindo mecanismos formais de regras não-triviais que podem evitar características tautológicas das contrapartes lógicas da negação. Da mesma forma, será que o uso de dupla negação pode ser explicado via Relevância? Este trabalho se propõe a fazer interface entre semântica e pragmática, para dar conta de um problema que perpassa todas as subteorias da Lingüística.

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A INTERFACE SEMÂNTICO-PRAGMÁTICA NA INTERPRETAÇÃO DOS NUMERAIS: UM ESTUDO EMPÍRICO Carine Haupt (UFSC) Leandra Cristina de Oliveira (UFSC) Neste trabalho, discutimos o significado dos numerais a partir da interface teórica Semântica e Pragmática. Com base nos pressupostos dessas áreas, diversos autores têm se dedicado a analisar a interpretação que os indivíduos fazem dos números. A conseqüência desses múltiplos olhares é a existência de teorias convergentes e conflitantes. Nossa atenção está voltada a duas abordagens teóricas divergentes: i) de um lado, a teoria neo-griceana, afirmando que ‘um número x’ significa ‘pelo menos x’, e a interpretação ‘exatamente x’ é concebida pragmaticamente; ii) de outro, estudos que se opõem aos pressupostos neo-griceanos, defendendo que ‘um número x’ significa ‘exatamente x’; determinados contextos, entretanto, podem gerar a interpretação de ‘pelo menos x’. Tais posicionamentos motivaram-nos a realizar um estudo empírico que pudesse corroborar uma das teorias supracitadas. Assim, elaboramos um teste e o aplicamos com crianças e adultos com o objetivo de verificar: a) se o numeral pode gerar diferentes interpretações conforme o contexto em que se insere; b) se crianças e adultos interpretam da mesma forma os numerais. Em seguida, relacionamos os resultados com os estudos: Levinson (2000), defendendo que ‘dois’ (por exemplo) significa ‘pelo menos dois’; e Geurts (2006), sustentando que ‘dois’ significa ‘exatamente dois’, porém certos contextos podem conduzir à interpretação de ‘pelo menos dois’. Em suma, segundo esta última abordagem, os numerais, como outros itens lexicais, são polissêmicos. Os resultados de nosso teste mostram que a teoria de Levinson, bem como de outros pesquisadores neo-griceanos, é contestável no que se refere à interpretação dos numerais. O primeiro aspecto que sustenta essa afirmação é a proximidade nos resultados do teste com crianças e adultos. Considerando que as crianças fazem interpretações lógicas e adultos fazem implicatura, o esperado seria que os resultados fossem discrepantes, já que a interpretação lógica dos numerais é ‘pelo menos’ e a interpretação pragmática é ‘exatamente’, isto é, crianças e adultos interpretariam de maneira diferente as sentenças com numerais, caso a abordagem neo-griceana se sustentasse. Nossos resultados corroboram a teoria de Geurts: números são polissêmicos – diferentes contextos favorecem diferentes interpretações. Segundo Geurts, enquanto predicado, os numerais são interpretados como ‘exatamente x’, e, enquanto quantificadores, podem ser interpretados tanto como ‘exatamente x’ quanto ‘pelo menos x’, sendo a segunda interpretação derivada da primeira. A partir desta teoria, conseguimos explicar a diferença de tratamento que nossos informantes (crianças e adultos) deram aos dois grupos de frases, o que não seria possível com base na proposta neo-griceana.

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EXPLICITUDE E EXPLICITAÇÃO EM TRADUÇÃO: UMA ANÁLISE DA INTERFACE SEMÂNTICO-PRAGMÁTICA COM BASE NA TEORIA DA RELEVÂNCIA Fabio Alves (UFMG) Este trabalho tem por objetivo contribuir, à luz da Teoria da Relevância (Sperber e Wilson, 1986; 1995), para o estudo de processos de explicitação em tradução. Parte-se do princípio, consoante Steiner (2005), que a noção de significado implícito é central para a compreensão da explicitação. Este significado pode ser analisado tanto no domínio da pragmática quanto no domínio da semântica. O significado implícito no domínio da semântica estaria condicionado a uma interpretação dependente das propriedades da codificação. Por outro lado, o significado implícito no domínio da pragmática estaria vinculado a uma interpretação dependente de um contexto específico. Tomando por base a diferenciação feita por Hansen-Schirra, Neumann e Steiner (2007) entre processos de explicitude (explicitness), de base semântica, e processos de explicitação (explicitation), de base pragmática, o trabalho busca estabelecer uma distinção entre um conceito de explicitação que assume a existência de uma contrapartida implícita, no nível do texto e/ou do discurso, para a identificação de um processo de explicitação (Steiner, 2005) e um conceito de explicitação com base na Teoria da Relevância (Carston, 2002) que defende uma redução do escopo da semântica neste processo e, conseqüentemente, uma ampliação do domínio da pragmática, uma vez que os significados codificados lingüisticamente dependem de forma crucial do processamento inferencial. A fim de aferir a força de argumentação de cada uma dessas propostas, este trabalho utiliza como corpus de análise um fragmento do romance "A Hora da Estrela” de Clarice Lispector e suas traduções para o alemão, espanhol e inglês. Com base nesses dados, o trabalho busca indagar quais são os fatores que levam tradutores a contornar problemas, quer seja no nível da codificação lingüística ou no nível contextual, através da explicitação, no texto-alvo, de trechos do texto-fonte cujas características, sob uma perspectiva semântica e/ou pragmática, impossibilitam que a tradução tome por base apenas a codificação lingüística da língua-fonte. A análise dos dados sugere que os processos de tomada de decisão em tradução dependem fundamentalmente de uma sinergia entre processos de decodificação lingüística e o processamento contextual de pistas comunicativas (Gutt, 2000), indicando que, de acordo com os pressupostos da Teoria da Relevância, os processos inferenciais não se resumem à recuperação de implicaturas, mas estão envolvidos também na recuperação de explicaturas.. Em síntese, as conclusões parecem confirmar a proposta de Carston (2002; 2006) de se alocar um peso maior à pragmática na recuperação de explicaturas, avançando em espaços tradicionalmente ocupados pela semântica.

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O USO DE MAPAS CONCEITUAIS NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM: UMA QUESTÃO DE RELEVÂNCIA Gilberto Keller de Andrade (PUCRS) A Teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel deu origem à criação dos Mapas Conceituais por Novak. A organização de um conteúdo (um conceito mais geral que se deseja estudar) na forma de um mapa de conceitos estruturados hierarquicamente (conceitos mais específicos ajudam a esclarecer ou compreender conceitos mais gerais) oferece a opção de uma aprendizagem mais econômica (do ponto de vista da Teoria da Relevância) ao estudante. Esta é a nossa hipótese central. A pesquisa fará a investigação desta hipótese, na avaliação de resumos produzidos por diferentes estudantes em duas situações: um grupo gerará o resumo a partir do texto original e um segundo grupo gerará o resumo a partir dos mapas conceituais construídos pelos próprios integrantes do grupo. PUBLICIDADE: UMA QUESTÃO DE RELEVÂNCIA Jane Rita Caetano da Silveira (PUCRS) Muito se tem questionado o papel da publicidade como uma comunicação caracterizada ora pela imagem que se impõe à palavra, ora pela palavra que se fortalece com a imagem, gerando pouca capacidade de reflexão nos receptores e, conseqüentemente, uma aceitação/submissão, às vezes inconsciente, da mensagem apresentada. Embora as muitas divergências teórico-críticas sobre essa questão, há um acordo mais ou menos tácito sobre a importância, em maior ou menor grau, em diferentes esferas, que a publicidade continua assumindo no mundo contemporâneo, ao invadir, sem pedir licença, nossa visão, nossa mente, nossa vida. Neste trabalho, sem deixar de reconhecer a polêmica subjacente, e mantendo-a como pano de fundo, o nosso propósito a extrapola. Centra-se no profissional de publicidade e na sua necessidade de domínio e conhecimento dos mecanismos lingüísticos, imagéticos e cognitivos que dão vida à “fala” publicitária, cujo objetivo maior é convencer/persuadir o potencial consumidor para a escolha do produto, serviço ou idéia “à venda”. Ou seja, a preocupação é mostrar como texto e imagem, quando usados adequadamente, podem se tornar estímulos que chamam a atenção do receptor, desencadeando nele a construção de inferências para a compreensão, e quais os fatores pragmático-cognitivos estão envolvidos nesse processamento inferencial da informação. Para desenvolver essa proposta, seguimos uma abordagem pragmático-cognitiva da comunicação humana, a Teoria da Relevância, de Sperber e Wilson (1986, 1995), enfatizando, particularmente, duas propriedades indissociáveis neste modelo teórico: a ostensão, por parte do comunicador, e a inferência, por parte do receptor, num processo em que custo mental e benefício cognitivo-interpretativo são inerentes. Em outras palavras, buscamos mostrar como uma peça publicitária pode constituir um estímulo ostensivo que, ao levar à compreensão da mensagem pretendida,

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com eficiência e economia, também objetiva criar uma resposta específica no receptor, pois, da mesma forma que qualquer ato comunicativo, a publicidade pressupõe interação humana, com uma participação ativa entre comunicador e destinatário. A RELEVÂNCIA NO PROCESSO DE LEITURA PARA A PRODUÇÃO DE RESUMOS ESCOLARES: UMA QUESTÃO DE ESCOLHA OU UM PROCESSO ORIENTADO PELA MODALIDADE TEXTUAL? Marisa Helena Degasperi (PUCRS) Este estudo aborda a questão da seleção de elementos que se processa, já na leitura, quando a atividade está voltada para a produção de resumos escolares. O resumo escolar é uma atividade que se apresenta como um tipo particular de texto que se adequa às estruturas de um texto fonte, mas que tem características particulares e, entre elas, a principal é a de apresentar o conteúdo daquele sumarizado. A fidelidade às idéias contidas no texto fonte é também peculiar a um tipo de resumo, entre diferentes tipos que existem. Cabe a este trabalho, com base na Teoria da Relevância, através de relatos e de produto final de escritura de resumo, verificar que elementos evidenciam-se como relevantes em detrimento de outros e se a seleção é feita de maneira orientada por uma rigidez do modelo textual ou por escolha pessoal do indivíduo. Também se aborda a necessidade de conhecimentos estruturais de gêneros textuais para que a seleção se acomode à atividade de resumir, exigindo maior ou menor esforço cognitivo para essa adequação e se as condições de produção exercem influências nos efeitos cognitivos. O resultado final foi originado de entrevistas com estudantes de segundo ano de Ensino Médio e de suas produções nas aulas de Português, em uma escola pública do Estado. Através dele se constata que o maior esforço gerado na produção é originado por lacunas cognitivas de ordem conceitual, estrutural e organizacional do texto. Também se percebe que o esforço cognitivo para a produção, resultado da seleção das informações essenciais do texto fonte, está projetado para o menor esforço cognitivo do leitor, ou seja, para a geração de efeitos cognitivos positivos dos enunciados. Isso se explica pela intenção de oferecer, de forma mais simplificada para o leitor do resumo, os enunciados que exigiram maior esforço cognitivo do autor na leitura do texto fonte, intenção esta verificada tanto nos relatos quanto nas produções finais. Entende-se que o resumo escolar constitui-se num instrumento de peculiar importância para aplicação didática nas aulas de línguas e de outras disciplinas que trabalham com textos. Por isso, esta investigação pretende contribuir substancialmente com o desenvolvimento de estudos voltados para esse tipo de texto e atribuir-lhe o valor necessário como instrumento de aprendizagem.

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PRAGMÁTICA DO CONFLITO E HISTORIOGRAFIA DA LINGÜÍSTICA Rodrigo Borges de Faveri (UFPR) O objetivo da proposta é apresentar o intrumental analítico-pragmático da teoria dos discursos polêmicos, ou, como também é conhecida, da teoria das controvérsias (Dascal, 1989, 1995, 1998, 2005). Na apresentação da proposta de interpretação pragmática, enquanto ferramenta e modelo para a teoria das controvérsias, será discutido comparativamente as aproximações e os distanciamentos desta abordagem em relação ao modelo comunicativo da teoria da relevância (Sperber & Wilson, 1982, 1986, 1995). Partindo da noção de ‘literalismo moderado’ (Dascal, 1981), que trata das implicações na interface semântica-pragmática as diferentes formas de conceber o contexto, apresentarei como uma abordagem puramente semântica das interações polêmicas é insuficiente para a compreensão do fenômeno dos discursos polêmicos, sendo necessária a consideração de elementos interpretativos pragmáticos. A concepção de contexto decorrente desta abordagem, a que denomino por ‘contexto cognitivo’, permite compreender as interações polêmicas como interações dialógicas. Discuto também a concepção de contexto elaborada por Sperber & Wilson e suas implicações para os discursos polêmicos. Em seguida, exploro os mecanismos cognitivos envolvidos nos processos inferenciais de geração de implicaturas envolvendo as noções de ‘exigência conversacional’ e de ‘reação’ a esta exigência (Dascal, 1977). Desta forma, torna-se evidente a necessidade de reavaliar a idéia de ‘unidade mínima’ em pragmática (Clark, 1992, 2004) e a importância da concepção cognitiva de contexto, proporcionando o equilíbrio entre as estruturas semânticas e pragmáticas da significação nos processos de interpretação e compreensão. Na apresentação desta proposta, elaboro o levantamento comparativo das suas características em relação à teoria da relevância de Sperber & Wilson, elencando as vantagens e desvantagens de ambas as abordagens para a análise das interações polêmicas. Aplico este aparato analítico a um caso empírico de discurso polêmico na historiografia lingüística representado pelo debate Searle-Chosmky. Apesar de parecer consensual que a gramática gerativa (GG) representa uma revolução científica na história da lingüística, opondo-se ao pensamento lingüístico que a antecedeu, os contínuos debates científicos e filosóficos envolvendo a GG, foram paulatinamente inserindo a perspectiva gerativista na história do pensamento lingüístico e também propiciando o seu desenvolvimento. Minha proposta considera que o desenvolvimento historiográfico e epistemológico da GG é caracterizado por um processo dialógico que pode ser melhor compreendido através da aplicação da teoria pragmática, mais especificamente na forma de uma pragmática do conflito, que combina elementos pragmáticos com a interpretação histórico-filosófica proporcionado pela teoria das controvérsias. Esta abordagem possibilita interpretar e compreender a chamada “revolução chomskyana” como uma série de controvérsias.

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A RELEVÂNCIA EM LITERATURA: A CONSTRUÇÃO DA COERÊNCIA EM “O MEZ DA GRIPPE”, DE VALÊNCIO XAVIER Ana Sueli Ribeiro Vandresen (FAPI) Este estudo de caso em desenvolvimento visa investigar a consistência da Teoria da Relevância, de Sperber e Wilson (1986; 1995), no tratamento da construção da coerência textual em textos literários pós-modernistas. Essa teoria é um modelo de comunicação e cognição humana que postula ser esta última – a cognição humana, operada por inferências, com base na relevância. A fim de investigar essa consistência, selecionou-se cinco fragmentos de “O Mez da Grippe”, de Valêncio Xavier, por tratar-se de um texto que mescla linguagem verbal com linguagem visual. A seguinte pergunta norteia este estudo: A Teoria da Relevância é, realmente, consistente para a reconstrução dos processos inferenciais necessários para a atribuição de coerência a textos literários pós-modernistas? Apesar de inconcluso, este estudo aponta para a consistência desta teoria nesse processo. TEORIA DA RELEVÂNCIA EM NEVE SOBRE OS CEDROS Célia Maria da Silva (UNISUL-Florianópolis) A Teoria da Relevância – de Sperber e Wilson (1986, 1995) e Carston (1988) – analisa os atos comunicativos e descreve-os como processos ostensivo-inferenciais inerentes ao ser humano. Para a Teoria, as atitudes proposicionais que acompanham uma ação comunicativa são importantes para que o interlocutor/ouvinte acione sua memória enciclopédica, juntamente com um processo de lógica e infira as intenções (comunicativa e informativa) deste interlocutor/falante. Com base nesta Teoria, foram analisadas as ações comunicativas do personagem Ishmael Chambers no filme Neve sobre os cedros, de Scott Hicks (1999), que se angustia entre ajudar ou não o réu no julgamento. SOBRE RELEVÂNCIA E IRRELEVÂNCIAS: PRINCÍPIO DE RELEVÂNCIA E VARIÁVEIS DE EXAUSTÃO E DE SATURAÇÃO Fábio Jose Rauen (UNISUL-Tubarão) Para a teoria da relevância, a noção de relevância decorre de uma economia baseada na relação entre custos e benefícios, de modo que quanto maiores são os benefícios e menores os custos, maior é a relevância de um input. Costa (2005), porém, apresenta sete eventos comunicativos que desafiam essa relação. Neste ensaio, analisam-se esses casos, defendendo-se a tese de que em estados tensos ou distensos os seres humanos tendem a ser guiados para a maximização da relevância, mas essa maximização é moderada pelas variáveis de exaustão e saturação.

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RELEVÂNCIA, FALÁCIAS E KLUGES Jorge Campos da Costa (PUCRS) A Teoria da Relevância (TR) de Sperber e Wilson, desde suas formas clássicas de 1986 e 1995, tem sido sustentada por dois princípios fundamentais, o Princípio Cognitivo da Relevância e o Princípio Comunicativo da Relevância, ambos enraizados numa relação de custo/benefício, cuja direção básica é explicar a racionalidade da comunicação humana. Nessa perspectiva, as inferências não-triviais, não-demonstrativas, ou cotidianas, em oposição às formas dedutivas desenhadas pela Lógica Clássica, justificam-se como orientadas pela noção de relevância que se sobrepõe às regras tradicionais de derivação, especialmente às de introdução. O trabalho que se propõe aqui é o questionamento de como funcionam as falácias argumentativas, dado que são persuasivas na comunicação cotidiana, mas ancoradas, por definição, na invalidade dedutiva. Como compatibilizar na TR relevância e invalidade, ou como considerar invalidade argumentativa, que leva a conclusões indevidas, um processo relevante? Recentemente, Costa (2006) tem considerado o processo inferencial dedutivo, em sua expressão comunicativa rotineira, como sujeito a interferências semântico-pragmáticas que levam a falácias. Como ficam os referidos princípios da TR nesse tipo de situação em que sobre falácias, lingüisticamente justificáveis, constrói-se uma racionalidade problemática? Marcus (2008) tem-se valido do raciocínio falacioso, persuasivo e convincente como um tipo de evidência para a metáfora de que a mente humana é construída sobre “Kluges”, ou peças imperfeitas, ainda que eficientes. Seriam os processos falaciosos justificáveis por “kluges” e estes ameaças à racionalidade relevante? INFERÊNCIAS: A FORÇA PERSUASIVA DO DITO PELO NÃO DITO EM TEXTOS DE ALEGORIA Reginaldo Nascimento Neto (UNIOESTE) Este artigo pretende defender que as inferências lingüísticas têm força persuasiva capaz de retratar, reforçar e estabelecer condicionamentos sociais de forma sub-reptícia. Parte-se do pressuposto de que a manipulação de processos inferenciais pode instilar veladamente silhuetas ideológicas múltiplas anulando o arbítrio da individualidade. Após expor que os textos escritos são estruturas permeadas de poros e ambigüidades, discute-se o papel da inferência como dispositivo que preenche as lacunas textuais com significado e coerência em conformidade ao conhecimento previamente estabelecido durante a primeira socialização que, via linguagem, cunha os arbítrios mentais que determinarão seus juízos de valor e significação de mundo. Nesse sentido, buscou-se respaldo teórico nos escritos de Pinker (1997), Chemiak (1983), Vigotsky (1993), e Dennet (1987) no que concerne ao funcionamento do pensamento; Silva (2001), Charaudeau (2007), quanto ao discurso e persuasão; Labov (1994), Damke(1992), no que trata a

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sociolingüística, Goffman (2002), Bourdieu (2005) Berger e Luckman(1994) quanto à relação linguagem e sociedade, Lipton (2004), Sperber & Wilson (1995), Goodman (1970), Kleiman (1989), Koch (1993) e Marcuschi(1994) referente à inferência. Segue-se a perspectiva sócio-cognitiva concluindo-se que a leitura centra-se no leitor. É nele que ocorrem as inferências, isto é, o leitor é quem completa, sob a égide das pistas lingüísticas, os poros inerentes a um texto por meio de conhecimentos partilhados ou situados que lhe são acumulados desde a socialização primária. INFLUÊNCIA DA INTERVENÇÃO ESCRITA DO DOCENTE EM TEXTOS DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVOS REESCRITOS: ANÁLISE COM BASE NA TEORIA DA RELEVÂNCIA Rosane Maria Bolzan (UNISUL, CEFET-SC-São José) Com base na Teoria da Relevância, esta pesquisa analisou a influência do registro escrito de questões de segunda ordem (perguntas-QU) pelo docente na explicitação lingüística dos elementos da forma lógico-proposicional dos enunciados da reescrita de produções textuais dissertativo-argumentativas de estudantes do ensino médio. Para tanto, trabalhamos com estudantes da 1ª fase do ensino médio do CEFET/SC – em São José. O trabalho desenvolveu-se em três etapas. Na primeira, solicitamos aos alunos que escrevessem uma dissertação com base em um texto de base. Na segunda tarefa, analisamos os textos e elaboramos perguntas-QU em enunciados com lacunas lógicas. A terceira tarefa consistiu na reescrita das dissertações pelos alunos, considerando as perguntas-QU registradas nas redações. Dos trinta e um textos coletados, selecionamos quinze, considerados problemáticos sob a ótica da falta de estrutura lógico-proposicional. Desses quinze alunos, devido à repetição dos casos, selecionamos os dados do aluno 1. Dos outros textos, selecionamos e analisamos alguns recortes sob o ponto de vista das várias marcas deixadas pelo aluno na reescrita do texto, a saber, do texto de base, da primeira produção do aluno, da intervenção docente e também marcas inéditas. Os resultados demonstraram a adequação dos três níveis representacionais – forma lógica, explicatura e implicatura – propostos por Sperber e Wilson (1986, 1995 [2001]) e Carston (1988) para a descrição e a explicação dos processos ostensivo-inferenciais envolvidos na interpretação e na produção textual. Com base no instrumento de análise de dados e na metodologia adotada por Rauen (2005), observamos que os enunciados da reescrita foram mais explícitos, formando escalas focais completas influenciadas pelas perguntas-QU do docente. Nessa reescrita, houve influência dos ambientes cognitivos de fases anteriores: marcas do texto de base, marcas da primeira produção textual dos alunos, marcas da intervenção do professor, através de perguntas-QU, e marcas inéditas.

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GT 5 Processos de Construção Textual Coordenadores Iara Bemquerer Costa (UFPR) Luciana Pereira da Silva (UTFPR) O ENSINO DA ESCRITA E A REDAÇÃO DE VESTIBULAR Márcia Dresch (UniRitter) Este trabalho, produzido a partir de uma pesquisa com provas de redação de vestibular, ao mesmo tempo em que busca apreender nas produções escritas como se constrói a argumentação do ponto de vista lingüístico – coerência entre as partes, articulação de frases e parágrafos, ocorrência de marcação temporal, etc. –, avança na investigação dos discursos que perpassam esses textos. A pesquisa oferece contribuição ao ensino da escrita na escola e toma como pressupostos teóricos os estudos sobre texto e discurso. Num primeiro momento, coteja os textos que compõem o corpus (200 redações de vestibular do Estado do Rio Grande do Sul- Brasil) com as orientações de manuais de ensino utilizados por escolas de ensino médio e cursinhos pré-vestibulares, estabelecendo relação entre essas orientações e a estrutura do texto, sua conformação argumentativa e a constituição da autoria. Como resultados parciais da pesquisa, destacam-se nos textos a alta produtividade de advérbios de tempo e de lugar, a uniformidade no uso de alguns elementos seqüencializadores e o diálogo manifesto com discursos que circulam na sociedade. A COERÊNCIA COMO CRITÉRIO DE AVALIAÇÃO PARA TEXTOS PRODUZIDOS EM SITUAÇÃO DE EXAME VESTIBULAR Luciana Pereira da Silva (UTFPR) O presente trabalho objetiva discutir a avaliação de produções originadas em resposta a questões do exame vestibular da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Nessa avaliação, pretende-se empregar a perspectiva da coerência textual ¾ importante fator de legibilidade dos textos. Teoricamente partilhamos das elaborações presentes nos trabalhos desenvolvidos por Beaugrande e Dressler (1981), Charolles (1978), Koch (1997) e Koch e Travaglia (1989, 1990). A partir desses autores, pode-se apresentar a coerência como um critério de interpretabilidade, de atribuição de sentido. Tal sentido não está no texto, mas é construído a partir de elementos subjacentes à superfície textual e vinculado ao contexto a aos parceiros da interação. Para tanto, são elencados fatores responsáveis por essa interpretabilidade; fatores esses de ordem cognitiva, situacional, sociocultural e interacional. Com esse arcabouço teórico, pode-se examinar tanto os textos que compõem as propostas de produção de texto quanto as produções decorrentes dessas, atentando-se para a pertinência da atribuição da coerência, por parte do candidato, das primeiras para a elaboração eficaz das segundas.

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O GÊNERO RESUMO NA PROVA DE PRODUÇÃO DE TEXTO DO VESTIBULAR Josélia Ribeiro (UFPR) O ensino, hoje, quando trata da análise de textos, de leitura e produção textual se pauta nos estudos sobre gêneros, os quais são tratados como objeto de ensino de leitura, compreensão e produção de textos escritos e orais. Dentro dessa perspectiva estabelecida, ao fim do Ensino Médio, o aluno deve mostrar-se apto a ler e produzir os mais diversos gêneros textuais nas atividades de que participar; isto é, deve dominar diferentes gêneros textuais que circulam mais comumente em seu universo cotidiano. Na prova de produção de textos da UFPR, o candidato se vê frente a um desafio: deve reconhecer, ou, ainda, produzir textos com características de um determinado gênero textual. Artigo de opinião, editorial, charge, gráfico, resumo, tira, entrevista, tabela, poema são alguns dos gêneros mais recorrentes da prova da UFPR. Os textos que representam esses gêneros são “pinçados” de veículos de comunicação de abrangência nacional, tais como Folha de São Paulo, IstoÉ, Veja, Superinteressante, Ciência Hoje etc., ou seja, acredita-se que esses textos circulam em esferas sociais das quais os candidatos a uma vaga na instituição fazem parte. Tomando por referência a proposta de produção textual que exige o gênero resumo, serão analisados três textos produzidos por candidatos no vestibular 2008. Na proposta em questão, um “trabalho de mão dupla” acontece: o candidato deve reconhecer o gênero artigo de opinião e produzir o gênero resumo. Com relação a esses gêneros, o que será significativo para que o candidato confeccione um texto adequado ao que é solicitado na proposta? Como o candidato se sai nos textos selecionados para análise? Essas questões constituirão o foco maior deste trabalho que tem o objetivo de contribuir para o estudo dos processos de construção do gênero resumo, o qual, acredita-se, fará parte da vida acadêmica do candidato aprovado. A ARGUMENTAÇÃO EQUÍVOCA EM TEXTOS DE VESTIBULANDOS Claudia Mendes Campos (UFPR) O projeto de extensão “Pensando o letramento na educação básica”, promovido pelo grupo de pesquisa Processos de Construção Textual, propôs-se a investigar algumas das características dos textos produzidos por candidatos na prova de Compreensão e Produção de Textos do Processo seletivo 2007/2008 da UFPR, com vistas a identificar os principais problemas apresentados por eles. Dentre tais características, está a articulação textual, mais especificamente os encadeamentos argumentativos. É interessante observar o aparente encontro entre a escrita desses vestibulandos e a escrita infantil, no que diz respeito à imprevisibilidade das ocorrências ali encontradas e mesmo a certa indeterminação identificadas

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tanto na escrita da criança quanto nos textos investigados neste projeto. Isto é, também no texto dos vestibulandos os efeitos de argumentação são produzidos ora pela atualização de encadeamentos do tipo X conectivo Y, ora por sua orientação argumentativa, sendo que nem sempre o preenchimento das variáveis dos encadeamentos argumentativos se dá de modo claro e adequado. Nesses casos, a sua interpretação fica suscetível à identificação, pelo leitor, da orientação argumentativa do texto, prejudicando a clareza esperada em textos produzidos nesse contexto e produzindo certa indeterminação quanto ao posicionamento argumentativo sustentado. A imprevisibilidade mencionada acima diz respeito aos deslizamentos de sentido identificados na escrita da criança, que se fazem presentes também na escrita produzida em situação de exame vestibular sempre que o preenchimento da cadeia se dá de modo equívoco do ponto de vista do leitor(-examinador), representante da língua constituída. Em outras palavras, encontramos nesta escrita, do mesmo modo que na da criança, ainda que em menor extensão, preenchimento insólito das variáveis abertas na cadeia pelo conectivo, uso equívoco do conectivo, contradições entre os segmentos encadeados, cruzamento de estruturas sintáticas, incompletude (ou mesmo ausência) de uma das variáveis do encadeamento. Nesta comunicação, pretendo discutir a caracterização de tais encadeamentos em alguns dos textos desse corpus, focalizando a imprevisibilidade do preenchimento das variáveis nos encadeamentos. Para desenvolver esta investigação, recorro à concepção de argumentação da semântica da enunciação, segundo a qual a constituição dos sentidos no texto pode ser estudada através de uma relação entre texto e discurso que leve em consideração a estrutura e a orientação argumentativa, os jogos polifônicos e o interdiscurso. A RELAÇÃO ENTRE REFERENCIAÇÃO E GÊNERO TEXTUAL NA CONSTRUÇÃO DO SENTIDO NO TEXTO Daniela Zimmermann Machado (UFPR) Este trabalho tem como objetivo averiguar a relação entre referenciação - especificamente as anáforas indiretas (AI) - e gênero textual. Com este intento, analisamos os processos de referenciação textual, no caso as anáforas indiretas, presentes nas redações dos candidatos do vestibular da UFPR, nos anos de 2007 e 2008. Estão sendo analisadas 600 redações, embasadas em 6 questões que contemplam as seguintes seqüências textuais: argumentativa, descritiva e expositiva, de Adam (2001). Entendemos por referenciação o processo coesivo que diz respeito à relação anafórica de retomada, inferência e referência de elementos do/no texto, sendo as anáforas indiretas os elementos referenciais da ordem da inserção de elementos novos, porém previsíveis na estrutura textual. As seqüências textuais podem ser vistas, aqui, como mecanismos de construção da infraestrutura do texto (Bronckart 2003), que, acreditamos, possuem certas características de determinação e composição de determinado tipo textual. Ou seja, há elementos que constituem cada seqüência textual. Pensamos em

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uma possível relação entre o gênero textual, a seqüência que constitui tal gênero, e os elementos de referenciação, tentando estabelecer e encontrar alguma correspondência, entre essas características textuais, que contribua na constituição do sentido do texto. Até o momento, o corpus analisado sinalizou para o uso de AI em opções argumentativas pressupostas em qualquer propósito comunicativo, conforme sinalizado pelas novas teorias da Retórica (Reboul 1998, Perelman & Olbrechts-Tyteca, 2005) e notado também em Ducrot 1989. Até o Encontro do Celsul, teremos condições de expor os resultados finais de nossa investigação, bem como as confirmações (ou não) da possível relação entre gênero e referenciação na construção do sentido de um texto. Para este estudo, buscamos fundamentos na retórica, a partir dos trabalhos de Perelman & Olbrechts-Tyteca (2005) e Reboul (2004), observando os tipos de argumentos (lógicos, simétricos etc.), relacionando-os com os elementos anafóricos presentes nos textos dos candidatos; apoiamo-nos também em Ducrot (1989), no que diz respeito à argumentação; Adam (1999/2001), no que concerne ao estudo das seqüências textuais; em Marcuschi (2002), Koch (2002/2005) e Cavalcante (2005), no estudo das anáforas indiretas, e Bronckart (2007) no que diz respeito ao estudo interacionista sociodiscursivo, uma vez que é a partir desta teoria que pensamos e relacionamos as noções de argumentação, de referenciação, de texto e de produção escrita dos candidatos. ASPECTOS DA PROGRESSÃO TEMPORAL EM NARRATIVAS ORAIS E ESCRITAS Lou-Ann Kleppa (UNICAMP) Renato Miguel Basso (UNICAMP) Neste trabalho, apresentamos uma análise da progressão temporal em narrativas construídas numa situação experimental, utilizando as ferramentas propostas pela DRT. A análise da progressão temporal de uma narrativa organiza os eventos contidos na estória numa suposta linha do tempo, na qual eventos são apresentados como tendo ocorrido anteriormente ou posteriormente a outros eventos e em relação ao momento de fala ou a algum outro que sirva de ponto de consideração temporal. A progressão temporal pode ser marcada de diferentes formas: (i) no verbo, através de marcas de tempo e aspecto; (ii) com advérbios (depois, então, antes); (iii) através de estruturas retóricas específicas (causa e efeito, explicação, etc.). Buscamos essas marcas e como se dá seu uso, por meio de narrativas criadas por adultos com nível universitário, a partir de oito fotografias que lhes foram apresentadas, sempre na mesma ordem para cada sujeito. Solicitou-se aos participantes do experimento que iniciassem suas narrativas com ‘Era uma vez’, na expectativa de que o gênero dos contos de fada lhes servisse de base para as estórias. Trabalhamos com dados obtidos de duas maneiras: um grupo de 9 professores (das disciplinas de Português, Educação Física e Artes), participantes do programa de formação continuada ‘Teia do Saber’, de uma escola estadual em Pindamonhangaba escreveu suas narrativas a

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partir das imagens que lhe eram mostradas pela investigadora; enquanto o outro grupo composto de 8 universitários e recém-formados (que cursa(ra)m Letras, Lingüística, Midialogia, Química e Educação Física) contou suas estórias oralmente para a mesma investigadora, que as gravou em áudio. Além de investigarmos como se dá a estruturação temporal das narrativas nessa situação experimental específica, i.e. a seqüência de fotografias, apresentamos também diferenças que encontramos na comparação dos gêneros oral e escrito, tanto do ponto de vista quantitativo (quais os recursos mais utilizados num e noutro gênero), quanto qualitativo (as diferentes estratégias mobilizadas acarretam que tipos de efeito semântico-pragmático no ouvinte ou leitor que acompanha essas narrativas). Por fim, resta dizer que a DRT nos proporcionará também o formalismo utilizado para a apreensão da progressão temporal. A CONSTRUÇÃO DO TEXTO: O USO DA ANÁFORA EM TEXTOS DE ALUNOS DO 3º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL AO 3º ANO DO ENSINO MÉDIO Marileide dos Santos de Oliveira (UESC – Ilhéus) Nossa pesquisa foi direcionada para a produção de textos, escritos ao longo da vida escolar, tendo como objeto de estudo a coesão textual, em especial a Anáfora Associativa. Com esse direcionamento, analisamos cem textos escolares, da 3ª série do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio, coletados em dois momentos distintos: nas aulas de História e nas de Língua Materna. O objetivo era verificar se havia diferença no uso das Anáforas Associativas nos dois tipos de textos e se esse uso se intensificava ao longo da vida escolar. Após a análise e discussão dos dados, chegamos aos seguintes resultados: a) nos textos de História não há, em resultados percentuais, um maior uso das AA, mas é relevante a predominância das anáforas construídas com SN definidos e expressões nominais definidas. Em função disso, pode-se deduzir que os alunos, ao usarem em maior intensidade esses recursos, de acordo com o modelo teórico de BERRENDONNER (1995), assim o fazem pela variedade de informações que os SN definidos e as expressões nominais definidas comportam, perceptíveis através dos seus atributos e que vão aumentando, em quantidade e em qualidade, à medida que os alunos amadurecem como produtores de textos; b) as estratégias de uso da Anáfora Associativa são adquiridas ao longo da vida escolar e, durante esse período, os alunos vão especializando-se e passando a usá-las, progressivamente, com mais intensidade e desenvoltura. Portanto, foi possível concluir que a Anáfora Associativa é usada como elemento de coesão nos textos escolares e que ela é resultado de operações mentais, implementadas no interior de um sistema de conhecimentos de mundo partilhado pelos interlocutores, através do qual é possível encontrar os referentes não presentes na co-textualidade e preencher os vazios textuais.

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A COESÃO TEXTUAL NA TESSITURA DO TEXTO: A REFERENCIAÇÃO COMO ARTIFÍCIO DE CONSTRUÇÃO DE OBJETOS DISCURSIVOS Marly de Fátima Gonçalves Tavares Biezus (Unioeste) Aparecida Feola Sella (Unioeste) Justifica-se o presente trabalho de pesquisa pela necessidade de se estudarem os elementos referenciais na construção do texto. O ensino da língua reclama resultados de práticas efetivas, significativas e contextualizadas para que o leitor seja capaz de interagir com os textos. Essa interação pauta-se, entre outras tantas habilidades, no reconhecimento das funções dos elementos lingüísticos que os deixam coesos e coerentes. A referenciação segundo Koch (2005) é um recurso que assinala uma forma particular de retratar conhecimento de mundo, por exemplo. O ensino da língua, nessa ótica, rende um olhar múltiplo nos elementos lingüísticos que colaboram para a tessitura do texto e a referenciação um exercício de construção de juízos de valor, de opiniões, e também de desvelamento do entendimento do produtor do texto. Este trabalho consiste em analisar as estratégias de referenciação do conto O Cinturão, de Graciliano Ramos. A referenciação é tida, então, como parte integrante da coesão textual, estudada no âmbito da lingüística textual, a qual trata o texto como um ato de comunicação unificado num complexo universo de ações humanas. Intenciona – se não só possibilitar ao leitor o entendimento de como os textos, produzidos em língua escrita, contam com o aparato da referenciação para construção de objetos discursivos, mas também criar situações em que os leitores tenham oportunidades de refletir sobre os textos, que lêem e/ou escrevem. ANÁFORA INDIRETA: UMA ESTRATÉGIA DO DISCURSO PUBLICITÁRIO Maria Elizabete Borges Vargas (UPF) Neste trabalho, fazemos uma leitura dos slogans publicitários de duas instituições privadas, veiculados na mídia impressa, na perspectiva da teoria da enunciação, de Benveniste e dos estudos de referenciação – mai precisamente sobre as anáforas indiretas. Parte-se do pressuposto de que esse gênero textual deve ter a interação produto-consumidor como foco principal, utilizando-se, para isso, de recursos lingüísticos. Tratamos de analisar os textos – slogans do Banco Banrisul e do Mc Donald’s -, observando o funcionamento enunciativo do vocábulo “tudo”. Partimos da hipótese de que há, nesse “pronome indefinido” bastante lacunoso, uma ocorrência explícita de anáfora indireta, cujo papel principal é, além de encapsular, fazer uma ancoragem a partir de um processo cognitivo. Essa âncora situa-se em elementos contextuais – focos implícitos armazenados em nossa memória a partir de conhecimentos de mundo organizados - e não (co-)textuais, para que se dê uma inferência discursiva. Para tanto,

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fundamentamos essa abordagem nos estudos sobre referenciação, sob a orientação teórica de Koch e Marcuschi. A ATIVIDADE ESTRATÉGICA REALIZADA POR MEIO DAS ANÁFORAS ASSOCIATIVAS. Mara Terezinha dos Santos (Unioeste) Aparecida Feola Sella (Unioeste) Segundo Koch (2004), o texto institui-se como o lugar próprio da interação, por meio do qual os sujeitos interagem e, para isso, mobilizam os recursos lingüísticos que a língua nos põe a disposição, ao quais se constituem como uma série de estratégias que funcionam como instruções ou sinalizações na orientação do sentido. Nessa perspectiva, o processo de referenciação, como recurso lingüístico que atua não só na progressão textual, mas também na orientação discursiva, configura-se, por isso, como uma escolha estratégica empreendida pelo autor do texto. Com base nessas considerações, o presente trabalho propõe uma análise acerca do processo referencial, realizado pelas anáforas associativas, na crônica A cigarra e a formiga: a nova versão, de Moacyr Scliar, veiculada pelo Jornal Folha de São Paulo. Nessa pesquisa, ainda inicial, objetiva-se analisar a constituição da teia referencial dada pelas anáforas associativas, como recurso lingüístico e discursivo empreendido estrategicamente pelo produtor do texto, com vistas à construção do sentido. Para tanto, tomaram-se, como aporte teórico, os estudos de Zamponi (2003), Koch (2004, 2005, 2006), Marcuschi (2007), entre outros, numa análise que compreende o processo referencial como um trabalho criativo e estratégico que visa à construção do sentido e do viés humorístico dado ao fato narrado, na sua recriação por meio da crônica. META-DISCURSO: A CONSOLIDAÇÃO DE UM GÊNERO ESTILÍSTICO Lígia Negri (UFPR) A concepção de que a linguagem é heterogeneamente constituída já é um consenso, senão um truísmo. Dessa forma, analisar os gêneros textuais como processos interdiscursivos não traz nenhuma novidade. Contudo, embora os textos – aqui chamados de estéticos por força de uma generalização necessária –, produzidos em diversas chaves semióticas, tenham sempre lançado mão de referências explícitas a outros discursos como glosas, motes, epígrafes ou citações, conforme se pode atestar desde a Antigüidade Clássica, esse processo de construção interdiscursiva como trama intencional do próprio texto é uma marca recorrente e de largo uso no final do último milênio, um traço que passou a ser o identificador do que se chama usualmente de pós-modernidade. O presente trabalho pretende focalizar duas narrativas cinematográficas desse período, mais exatamente das duas últimas décadas do século passado, Carmen, do diretor espanhol Carlos Saura (1983) e Ricardo III – um ensaio, do diretor americano Al Pacino (1996), sob a

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perspectiva da narrativa meta-lingüística e, assim, verificar diferentes processos de construção de meta-discurso e suas diferentes maneiras de construção de sentido. Pretende-se, ainda, confrontar as considerações relevantes para esse tipo de discurso estético com as construções similares encontradas em outras mídias narrativas. AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DOS GÊNEROS TEXTUAIS NA ESFERA DA ATIVIDADE EMPRESARIAL Fernanda Pizarro de Magalhães (UCPEL) O presente trabalho apresenta os resultados de um estudo piloto que visou conhecer a realidade do ensino de disciplinas voltadas à comunicação em cursos técnicos profissionalizantes e a descrever e a sistematizar os novos gêneros textuais que vêm se consolidando no contexto empresarial, no intuito de dar subsídios aos professores da área para uma prática pedagógica que atenda as reais necessidades do aluno e do mercado de trabalho. O estudo apóia-se na proposta de Bakhtin sobre Gêneros do Discurso e de seus seguidores como Schneuwly e Dolz e Marcuschi. Para atingir os objetivos da pesquisa, foram entrevistados 4 professores de cursos técnicos do CEFET/RS e 6 alunos egressos da Instituição e já atuantes no mercado de trabalho. Os resultados, em termos teóricos, comprovaram que toda atividade humana está ligada ao uso da linguagem, e o caráter e as formas desse uso são tão multiformes quanto aos campos da própria atividade; e, em termos práticos, reafirmaram a necessidade de se estabelecer uma prática interdisciplinar que promova efetivamente o desenvolvimento das atividades de linguagem dos alunos e conseqüentemente de suas práticas sociais. A ORGANIZAÇÃO SEQÜENCIAL NO GÊNERO DEPOIMENTO DO ORKUT Carla Edila Santos da Rosa Silveira (UFPR) Em análise preliminar de depoimentos publicados na versão brasileira do site orkut, buscamos caracterizar o comportamento do gênero depoimento do orkut sob a perspectiva bakhtiniana. O gênero apresenta um comportamento marcado pelo uso de recursos de escrita hipertextual (reiteração de pontuação e letras, escrita em letras minúsculas, abreviações) e por certo hibridismo visto através de marcas de oralidade deixadas no texto escrito, como vocativos, dêiticos pessoais e marcadores discursivos. A presença desses traços era esperada por se tratar de um gênero próprio do contexto digital. Na estrutura composicional, verificamos uma disposição em seqüências textuais (Adam, 1993), dentre as quais somente não apareceu a seqüência dialogal. Outra verificação é o uso de SN indefinido anafórico, que, segundo Lima (2003), tem a finalidade de recategorizar um referente de natureza existencial no discurso. Quanto ao conteúdo temático, reconhecemos uma projeção de imagem positiva do outro com base na estratégia referencial que descarta manifestações depreciativas sobre o

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objeto de discurso (Mondada & Dubois, 1995). Diante dessa caracterização, propomos um estudo da organização seqüencial do gênero depoimento do orkut. Segundo a concepção de Adam (1993), assumimos as seqüências textuais como unidades constituintes do texto e constituídas por um conjunto de macroproposições distribuídas em relação hierárquica. Com esta proposta, visamos à especificação lingüística do esquema seqüencial existente nos depoimentos do orkut. Para tanto, observamos a disposição de seqüências descritivas e suas relações com as demais seqüências porque, dentre as características levantadas, a seqüência de natureza descritiva chamou atenção pela presença recorrente no corpus e, em vários casos, por apresentar uso anafórico de SNs indefinidos. Presumimos que há uma ligação entre seqüências descritivas e anáforas de SNs indefinidos, pois a ocorrência associada desses aspectos não parece fortuita, tendo em vista a descrição valorativa do enunciatário pelo produtor, a constante categorização e recategorização do receptor de depoimento, bem como o desenvolvimento de uma temática inclinada para a projeção de imagem positiva do outro. A IMPORTÂNCIA DO GÊNERO NA CONSTRUÇÃO DE SENTIDO DA PRODUÇÃO TEXTUAL Magali Pagnoncelli (FAERS) Classificar uma produção escrita como texto ou não, e entender a diversidade de textos existentes na sociedade tem sido objeto de estudo de vários lingüistas, que procuram critérios para classificá-los, surgindo dentre os conceitos selecionados os de tipos textuais, gêneros textuais e gêneros do discurso. O objetivo deste artigo, ancorado na Teoria Bakhtiniana, é expor que a classificação tipológica deve considerar critérios lingüísticos, funcionais e contextuais; observando o texto como um produto social, inserindo-o no dia-a-dia do aluno. O presente trabalho consiste em: estudar os níveis de conhecimento necessário ao domínio da escrita formal e mostrar que os tradicionalmente mais trabalhados com o aluno, na escola, não são suficientes para o domínio da escrita de textos com real função social; demonstrar que o conhecimento das características textuais, lingüísticas e discursivas do texto a ser escrito é pré-requisito para a produção e que esse só pode ser bem construído se a motivação do aluno for satisfatória e se ele possuir o domínio do conceito de gênero textual. Sabe-se que a prática da escrita é fundamental para o aprendizado da mesma, no entanto, não é suficiente. A leitura de diferentes gêneros textuais, sob um mesmo tema, por exemplo, é primordial para que o estudante/escritor perceba as diferentes finalidades e os diferentes interlocutores possíveis para este processo. Portanto, para aprender o enredamento dos usos escritos, é preciso haver atividades de ensino e aprendizagem que prevejam a existência de conhecimentos específicos relacionados com as particularidades dos gêneros descritos a ensinar. Pretende-se ainda apontar a diversidade de gêneros de que se dispõe, questionando o próprio ensino de redação nas escolas, muitas vezes, calcado na tradicional trilogia narração, descrição e dissertação,

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enquadrando-se apenas ao uso normativo da língua, evidenciando-se que essa classificação não dá conta das diferentes práticas sociais através da linguagem, ou seja, não contempla os inúmeros gêneros textuais existentes, além de limitar o prazer do aluno em relação à escrita, principalmente, na produção textual da escola. Visto de outra perspectiva, as atividades de ensino por si mesmas, sem oferecer aos alunos oportunidades para escrever em situações diferentes, não seriam suficientes para aprender a escrever textos que devem responder à complexidade dos contextos interativos. Partindo desse pressuposto, salienta-se a necessidade de orientar os alunos sobre a multiplicidade de gêneros textuais existentes e seus usos, uma vez que já se tornou consenso que o trabalho com os gêneros no ensino de língua é relevante, de modo particular em relação à produção textual, vê-se a urgência de relacionar a prática com a reflexão. SEQÜÊNCIA ARGUMENTATIVA EM TEXTOS ESCOLARES Fábio Gusmão da Silva (UFPR) O objetivo deste trabalho é verificar se os alunos do Ensino Médio empregam a seqüência argumentativa proposta por Jean-Michel Adam (2001) em suas produções dissertativas. Seqüências, para Adam, são unidades estruturais relativamente autônomas que integram e organizam macroproposições que, por sua vez, combinam diversas proposições, e formam uma organização linear do texto. Assim, o texto pode ser concebido a partir de combinações e da articulação de diferentes tipos de seqüência. Os textos analisados, neste estudo, foram escritos por alunos do primeiro ano do Ensino médio, como parte das atividades realizadas em sala de aula. A proposta de texto motivadora que faz parte desse trabalho foi extraída da prova do ENEM, Exame nacional do Ensino Médio, do ano de 2003. O interesse em desenvolver o trabalho partiu de um questionamento levantado no momento da correção desses textos, já que, muitas vezes, alguns alunos não seguiam um modelo esperado e construíam seus textos de maneiras diversas, diferente da que era sugerido e preconizado pelos manuais didáticos, bem como proposto por Adam, além de fugirem ao padrão de um texto dissertativo-argumentativo. A hipótese aqui levantada é que os textos sem seqüência argumentativa, ou seja, sem a seqüência elucidada por Adam, comum nos textos argumentativos, são bons e não fogem ao seu propósito, ou seja, mesmo que haja subversão dessa seqüência por parte do aluno, o gênero textual se mantém. Um estudo nessa área se mostra necessário uma vez que tanto o interesse dos gêneros quanto suas aplicações têm assumido grande relevância nas áreas que se dedicam ao estudo da interação humana, principalmente da Lingüística textual.

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INTERFACES ENTRE LINGÜÍSTICA TEXTUAL E TEORIA DA TRADUÇÃO Álvaro Kasuaki Fujihara (PG-UFPR) Livy Maria Real Coelho (PG-UFPR) No âmbito dos estudos da tradução, determinadas vertentes teóricas por vezes reconhecem a produtividade (e mesmo a necessidade) de se considerar as convenções textuais específicas de cada cultura durante o ato tradutório. Dadas vertentes, como a funcionalista (Cf. Nord), são categóricas ao afirmar essa necessidade. Por outro lado, a prática tradutória é eventualmente invocada como exemplo, no âmbito da lingüística textual, a fim de justificar a necessidade de uma taxonomia tipológica, ou mesmo para reafirmar sua produtividade prática enquanto ramo do conhecimento. Contudo, essas duas áreas parecem transcorrer em paralelo, sem que haja grande diálogo entre elas. Há mesmo uma recusa por vezes categórica em se manter um diálogo (cf. Vermeer) alegando-se que a Lingüística Textual ainda não colocou as questões que interessam aos teóricos dos Estudos da Tradução. O presente trabalho pretende verificar em que medida há e em que medida poderia haver uma interface entre as duas áreas, e quais os eventuais ganhos dessa interação. Entendemos que tal interação é favorecida pela ênfase dada por diversas vertentes teóricas dos Estudos da Tradução no caráter textual da tradução (i.e. no fato de que uma tradução é um texto traduzido, uma produção textual na língua de chegada). AS MÚLTIPLAS VOZES QUE ATRAVESSAM O TEXTO Magna Diniz Matos (UFMG) A questão sobre as diferentes vozes que atravessam o texto ou o discurso vem sendo amplamente discutida por teóricos sob diferentes prismas. Termos como polifonia, heterogeneidade, intertextualidade e interdiscurso, entre outros, ora se distinguem, ora se misturam ao tratar de tais conceitos. Apoiando-se no conceito polifônico bakhtiniano, Ducrot desenvolveu uma noção lingüística da polifonia, partindo da tese de que, no enunciado, várias vozes se fazem ouvir. Ducrot distingue vozes no enunciado que pertencem a elementos distintos: o sujeito falante, o locutor e o enunciador. O sujeito falante é o autor, o ser empírico, o produtor do enunciado. O locutor (L) “é o responsável pela enunciação considerada unicamente enquanto tendo esta propriedade” (1987:188). O terceiro elemento apresentado, o enunciador, são aqueles que se expressam através da enunciação, “sem que para tanto que atribuam palavras precisas.” (1987: 192). Koch (2007:16) afirma que todo texto é “um objeto heterogêneo, que revela uma relação radical de seu interior com seu exterior. Dele fazem parte outros textos que lhe dão origem, que o predeterminam, com os quais dialoga, que ele retoma, a que alude ou aos quais se opõe”. Nas palavras de Greimas (1966, apud KOCH, idem, p.14) “todo texto redistribui a língua. Uma das vias dessa reconstrução é a de permutar textos, fragmentos de textos que existiram ou existem em redor do

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texto considerado, e, por fim, dentro dele mesmo.” Na mesma orientação que os autores acima, Bazerman (2006:88) afirma que “nós criamos os nossos textos a partir do oceano de textos anteriores que estão a nossa volta e do oceano de linguagem em que vivemos. E compreendemos os textos dos outros dentro desse mesmo oceano”. Pode-se perceber como ponto comum na definição desses autores, o postulado do dialogismo bakhtiniano, que deu origem ao que Júlia Kristeva (1974), em seus estudos literários, na década de 60, denominou como intertextualidade. A autora considera que cada texto se constrói como um “mosaico de citações” e é a absorção e transformação de um outro texto. Na apresentação no grupo temático “PROCESSOS DE CONSTRUÇÃO TEXTUAL”, pretendemos ampliar a discussão sobre os conceitos de polifonia, heterogeneidade, interdiscursividade e intertextualidade, tendo como base os trabalhos de autores como Ducrot, Maingueneau, Koch e Genette. Para finalizar a discussão, utilizaremos os conceitos tratados em uma análise textual, no qual procuraremos identificar as diferentes vozes discursivas presentes no mesmo. INTERTEXTUALIDADE E ESTILO NO ARTIGO DE OPINIÃO Iara Bemquerer Costa (UFPR) Entre os diversos gêneros textuais que se agrupam em cada exemplar de jornal ou revista, os artigos de opinião parecem ser os que admitem maior flexibilidade para o autor fazer escolhas pessoais, ou seja, produzir textos em que a manifestação do estilo individual se torne mais perceptível do que o estilo do gênero. Tais escolhas podem se dar em vários níveis – opções sintáticas, lexicais, de articulação textual etc - e são o resultado do trabalho do autor, que procura produzir determinados efeitos de sentido. Como publicações que têm como tema eventos de interesse social e personalidades em evidência na política, arte, esportes, os discursos dessas pessoas (declarações, entrevistas, artigos, livros) são temas constantes dos artigos de opinião publicados em jornais e revistas. Os pontos de vista dos autores opinião são construídos em uma relação intertextual com os discursos de pessoas públicas que tenham se manifestado sobre os temas sobre os quais opinam. Assim, o processo de construção dos textos apresenta sempre formas de heterogeneidade mostrada. A intertextualidade pode se manifestar de formas diferenciadas e, conseqüentemente, produzir efeitos também diversos, já que a escolha das formas de expressão da intertextualidade resulta do trabalho do autor e revela o jogo entre seu estilo pessoal, suas escolhas, e o estilo do gênero. Para estudar essa questão, foram escolhidos dois autores que têm colunas semanais na revista Veja: Diogo Mainardi e Roberto Pompeu de Toledo. Procuramos caracterizar o estilo desses dois jornalistas a partir da forma prototípica de expressão da intertextualidade que adotam. O estudo foi feito a partir de 36 artigos de cada um dos autores, publicados no período de julho de 2007 a junho de 2008 e faz parte de um projeto mais amplo, que inclui também outros jornalistas.

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INTERGENERICIDADE Acir Mário Karwoski (UFTM, Uberaba) Beatriz Gaydeczka (PG-DL/USP) Pesquisas na temática “análise de gêneros textuais” concentram-se em questões cognitivas, lingüísticas, históricas e sociais a fim de explicar diversos efeitos tais como o de intergenericidade (MARCUSCHI, 2008; DELL’ISOLA, 2007, 2008; KARWOSKI, 2007, 2008). A intergenericidade é o fenômeno composicional híbrido de um gênero com forma e/ou função de outro gênero. Nosso trabalho faz parte do grupo de pesquisa em andamento no curso de Letras da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) em Uberaba – MG e tem por objetivo relatar os resultados acerca da análise de num corpus de anúncios publicitários. Pretendemos mostrar que a identificação e a nomeação de um gênero dependem não apenas da forma estrutural, mas do conteúdo temático, do propósito comunicativo, do meio e do suporte de circulação, do contexto, dos papéis dos interlocutores envolvidos no processo de comunicação, dentre outros fatores. Concluímos, preliminarmente, neste trabalho: a) que não existe privilégio exclusivo para a forma ou para a função sócio-comunicativa de determinados gêneros de textos hibridizados; b) que reconhecer até mesmo as intenções subversivas de alguns textos, especialmente os anúncios publicitários, depende diretamente da competência metagenérica do leitor. A CONSTRUÇÃO MULTIMODALIZADA DOS DIVERSOS GÊNEROS TEXTUAIS PRESENTES NO SUPORTE REVISTA PEPSI TWIST: UMA ANÁLISE DA PRESENÇA INTERGENÉRICA Atilio Augustinho Matozzo (PG-UFPR) O objetivo central deste trabalho é analisar a construção dos diversos gêneros textuais presentes no suporte Revista Pepsi Twist (junho de 2008, edição número 01), a partir da presença da multimodalidade e da intergenericidade. Nossa análise parte, primeiramente, da discussão acerca da constituição do suporte, pois esta revista, que nos serve de corpus de análise, vem agregada a outra revista de circulação nacional (Mundo Estranho, junho de 2008), como se fosse um adendo. Outro ponto que nos interessa é a construção da linguagem utilizada na produção dos gêneros, pois, o uso de gírias, piadas e sarcasmos delimita o público alvo da revista, os jovens. Tudo isso é reforçado com a presença dos dois limões (personagens centrais), os quais são os editores dessa revista, eles aparecem em todas as páginas, reforçando a marca de intergenericidade e multimodalidade. Num terceiro momento nos dedicamos em observar a intergenericidade, diferenciado-a de hibridismo, por considerarmos duas vertentes distintas na teoria dos gêneros textuais. Assim, aprofundamos, também, a discussão em torno do uso da multimodalidade na construção de toda a revista, a qual reforça o processo dialógico entre os gêneros presentes nela. Para isso, embasamo-nos em alguns teóricos como: Swales (1990),

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Marcuschi (2002, 2005 e 2006), Bakhtin (2002), Bazerman (2005, 2006), Dionisio (2006), entre outros. GT6 Abordagens Acústicas em Estudos Segmentais e Supra-Segmentais Coordenadores Izabel Christine Seara (UFSC) Adelaide Hercília Pescatori Silva (UFPR) ANÁLISE ACÚSTICA DE VOGAIS DEGEMINADAS NO ITALIANO EM FRASES FONOLÓGICAS REESTRUTURADAS Denise Nauderer Hogetop (PUCRS/CAPES) Nesta comunicação, apresentamos a análise acústica de vogais degeminadas no italiano em frases fonológicas reestruturadas. Estas frases foram elaboradas como instrumento de nossa pesquisa desenvolvida no curso de mestrado da Pucrs e seus resultados foram apresentados no ano de 2006. A degeminação é a fusão de duas vogais de igual qualidade em seqüência VV, na qual a primeira vogal é final da primeira palavra e a segunda vogal é o início da palavra seguinte. Com base nos pressupostos da Teoria Prosódica (Nespor e Vogel, 1986), da Fonologia Rítmica (Nespor, 1993) e nos estudos de sândi externo em português brasileiro (Bisol, 1996a, 1996b, 2003) constatamos, através de nosso trabalho, que o verdadeiro bloqueio para a aplicação da regra de degeminação no italiano é o acento principal da frase fonológica, assim como ocorre no português brasileiro. Em nosso trabalho realizamos uma análise perceptual do instrumento elaborado e testado com 14 informantes, cuja língua materna é o italiano. Posteriormente, com o objetivo de verificar a qualidade das vogais resultantes do processo de degeminação, submetemos as frases ao programa de computador PRAAT 5.0.29, desenvolvido por Boersma, Paul & Weenink, David (2008). Praat: doing phonetics by computer (Version 5.0.29) [Computer program]. Retrieved July 14, 2008, from http://www.praat.org/. Através da análise dos dados, foi possível caracterizar acusticamente estas vogais e estabelecer os valores de duração dos segmentos resultantes do processo de degeminação. O ESTATUTO DA ANÁLISE ACÚSTICA NOS ESTUDOS FÔNICOS Adelaide Hercília Pescatori Silva (LEFON/UFPR) Com o surgimento da ciência lingüística e, sobretudo, do estabelecimento do objeto de estudo e da metodologia de análise da fonologia, com Trubetzkoy (1939), a fonética é relegada a um segundo plano nos estudos lingüísticos: por influência do próprio Trubetzkoy, para quem a fonética se aproximava mais das ciências naturais do que das ciências sociais, essa disciplina passa a ser vista como um “acessório”, utilizado para corroborar impressões auditivas sobre a cadeia da fala, sob um ponto de vista inicialmente articulatório e até mesmo impressionístico. Esse caráter acessório da fonética persiste durante o estruturalismo lingüístico: apesar da definição

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acústica dos traços distintivos por Jakobson, Fant & Halle (1952), o papel da fonética no modelo de Jakobson & Halle (1956) continua sendo meramente acessório. A diferença é que, nele, focaliza-se a análise acústica da cadeia da fala. Da dissociação entre fonética e fonologia resultam definições para as duas disciplinas – ainda correntes em alguns manuais – segundo as quais à fonologia cabe o estudo das unidades distintivas de uma língua, enquanto a fonética deve descrever os sons de uma língua sob aspectos articulatórios, acústicos e perceptuais. Por outro lado, avanços tecnológicos, ocorridos especialmente no pós-guerra, permitiram passar a empregar técnicas mais sofisticadas de análise do sinal de fala – sobretudo acústica. Conseqüentemente, foi possível passar a enxergar no sinal de fala fatos até então não percebidos, o que colocava a necessidade de se repensar os modelos disponíveis de análise fonológica (vide, e.g. Fowler, 1981) e inclusive a relação entre fonética e fonologia. Dessas reflexões surgem os modelos dinâmicos de produção de fala, cujo principal expoente é a Fonologia Articulatória (Browman & Goldstein, 1986, 1989, 1990, 1992). Ao propor um novo primitivo de análise – o gesto articulatório – esse modelo torna comensuráveis fonética e fonologia, desfazendo a fronteira entre ambas. Apesar desse inegável avanço, há trabalhos que ainda insistem atribuir à fonética um papel meramente descritivo e que visa, não raro, a corroborar impressões auditivas do pesquisador sobre a cadeia da fala. Não se trata mais de uma fonética impressionística, mas da análise acústica, que se tornou extremamente acessível com o advento de softwares livres para análise acústica, como o Praat. Este trabalho, então, argumenta que o estatuto da análise acústica não é o de confirmar análises impressionísticas do sinal de fala. Ao contrário, assumindo-se a perspectiva de comensurabilidade entre fonética e fonologia, a análise acústica tem precedência sobre a análise de outiva, dado que permite observar o detalhe fonético que, muitas vezes, é essencial para se compreenderem fatos fônicos que, de outro modo, permaneceriam obscuros. O TAP [(] NA FALA NORMAL E COM DESVIO: UMA ANÁLISE QUALITATIVA Helena Ferro Blasi (Faculdade Estácio de Sá) Nesta pesquisa, é feita uma análise acústica da realização do tap [(], procurando-se mostrar uma descrição visual detalhada, principalmente com o auxílio de espectrogramas dos sinais de fala com e sem desvio, a partir da emissão de palavras contendo a realização do fonema em estudo produzido por três sujeitos portadores de distúrbios articulatórios com características perceptualmente semelhantes, relacionadas a esse segmento. A pesquisa configura-se como um estudo acústico qualitativo, representando uma importante contribuição à clínica fonoaudiológica, na medida em que revela os parâmetros acústicos sobre os segmentos normais e com distúrbios, que permitem a avaliação do processo de reabilitação de pacientes submetidos a tratamento. Primeiramente é descrito o segmento em questão, na fala

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normal, isto é, na ausência de desvios em sua emissão, através de espectrogramas representando os fatos acústicos e articulatórios de uma emissão considerada adequada para os falantes do português do Brasil. A seguir, é apresentado o segmento com desvio, em espectrogramas que registram a produção dos sujeitos da pesquisa, acompanhados da análise e descrição dos aspectos visuais desencadeados pela distorção na produção do segmento realizada pelos sujeitos. A pesquisa realizada é do tipo experimental e de cunho qualitativo, visto que, descreve apenas os parâmetros acústicos que caracterizam o segmento em estudo em fala normal e com desvios, sem recorrer a dados numéricos referentes aos formantes ou a dados estatísticos mais apurados. Os sujeitos da pesquisa são três adultos na faixa etária de 20 a 25 anos, falantes do português do Brasil, moradores de localidades do estado de Santa Catarina, portadores de distúrbio articulatório envolvendo somente a realização do tap /(/. A fala dos sujeitos que constitui o corpus desta pesquisa apresenta um padrão de alteração perceptualmente similar, isto é, aproxima-se de um rótico fricativo velar ou uvular. A coleta dos dados foi realizada, através da gravação individual da fala dos sujeitos, a partir da emissão oral de uma lista de palavras lidas isoladamente e inseridas em frases-veículo. Após a gravação, procedeu-se à análise acústica com a utilização de espectrogramas criados pelo programa PRAAT. A partir das análises realizadas, foi possível constatar que o contexto aparece de fato como um facilitador para a produção do tap sem desvios. Essas análises permitem acompanhar a evolução do tratamento fonoaudiológico voltado à adequação das produções orais da fala de sujeitos com desvios articulatórios, traduzindo-se em uma valiosa ferramenta terapêutica para pacientes e fonoaudiólogos. “INADEQUAÇÕES ACÚSTICAS” NA FALA INFANTIL: PRODUÇÃO E PERCEPÇÃO Carla Cristofolini e Izabel Christine Seara (PGL - UFSC) A análise acústica da fala permite estudar em maiores detalhes a produção dos segmentos de uma língua. Com esse enfoque acústico, analisaram-se consoantes oclusivas e fricativas do português brasileiro (PB) na fala de crianças com idades entre 10 e 12 anos. As crianças falam adequadamente o PB, mas parte delas apresenta, em suas escritas, trocas grafêmicas relativas ao traço de sonoridade. Este estudo focaliza-se então no vozeamento de segmentos oclusivos e fricativos, uma vez que esse é o traço que traz dificuldades na escrita para as crianças analisadas. O corpus a ser gravado foi baseado nas palavras que apresentaram trocas nas redações das crianças. Essas palavras foram inseridas em pequenos textos e em frases veículo. As gravações e análises acústicas foram realizadas no PRAAT (disponível em � � � HYPERLINK "http://www.praat.org" www.praat.org ). Tradicionalmente, a literatura da área caracteriza consoantes vozeadas, dentre outros parâmetros (por exemplo: VOT e duração), como aquelas que apresentam pulsos glotais, o que evidencia a vibração das pregas vocais. A

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não ocorrência de tais pulsos caracterizaria as consoantes não-vozeadas. Análises qualitativas detalhadas realizadas no presente estudo encontraram características acústicas diferentes daquelas apontadas pela literatura para a distinção do traço de sonoridade. Assim, esta pesquisa pretende descrever e classificar essas características, aqui denominadas de inadequações acústicas, em segmentos oclusivos e fricativos na fala de crianças que apresentavam trocas (grupo trocas) e naquelas que não apresentavam tais trocas ortográficas na escrita (grupo controle). Como exemplo dessas inadequações, tem-se a interrupção do vozeamento em fonemas vozeados, ou a presença do vozeamento em fonemas não vozeados (tanto oclusivos quanto fricativos), consoantes fricativas com explosão e oclusivas com múltiplas explosões. Uma diferença relevante entre os dois grupos de crianças recai sobre a quantidade de inadequações. Enquanto, no grupo controle, as inadequações estão presentes em apenas 4% das oclusivas e fricativas; no grupo trocas, este número é bem maior: 18% nas oclusivas e 17% nas fricativas. Foram realizados testes perceptuais, nos quais se comparavam dois pares de sílabas: uma com inadequação e outra não. O objetivo desses testes era verificar como os segmentos com inadequações eram percebidos pelos sujeitos envolvidos nesta pesquisa e se as trocas ortográficas poderiam estar associadas a produções inadequadas que trouxessem dificuldades de percepção do traço de sonoridade. Os resultados dos testes apontam para a correta percepção dos segmentos em 87% dos casos. O VOT NO PORTUGUÊS BRASILEIRO: ESTUDO NA FALA CATARINENSE Simone Klein (LINSE-UFSC) Há diversas pistas que podem ser utilizadas na distinção entre segmentos sonoros e surdos de uma língua. No caso das consoantes oclusivas, um dos parâmetros mais eficazes é o Voice Onset Time (VOT) – relação temporal entre a soltura da oclusão e o início da excitação glotal. O VOT apresenta três categorias que irão caracterizá-lo, a saber, pré-sonorização, em que a sonorização é anterior à soltura; retardo curto, no qual a sonorização é simultânea ou imediatamente posterior à soltura; e retardo longo, cujo vozeamento é posterior à soltura em cerca de 35 ms a 100 ms. Todas as línguas que fazem o contraste sonoro versus surdo irão apresentar ou as três categorias, ou apenas duas. O português brasileiro, que distingue entre oclusivas sonoras e surdas, apresenta as categorias de pré-sonorização e retardo curto. Foram selecionados, para o presente estudo, quatro sujeitos, falantes nativos do português brasileiro, todos catarinenses. Para a montagem do corpus, foram empregados logatomas e palavras reais. Os segmentos tinham, todos, a estrutura CV (consoante + vogal), e consistiram das oclusivas /b, d, g/ e /p, t, k/ e das vogais /e, a, o/ do português brasileiro, inseridos em frases-veículo (FV). As gravações dos dados e análises posteriores foram realizadas em um microcomputador com dispositivo de

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análise e síntese de fala – o Computer Speech Lab (CSL Modelo 4300 B da Kay Elemetrics). Os valores de VOT foram obtidos a partir da forma-de-onda, vinculada ao espectrograma. Nossos resultados revelaram uma precedência longa de sonorização para as oclusivas sonoras e retardo curto para as oclusivas surdas, embora estas últimas tenham apresentado valores encaminhando-se para a área de retardo longo, ou seja, uma certa aspiração. O valor médio de VOT para a oclusiva sonora bilabial foi de -104,98 ms; para a sonora dental foi de -93,31 ms e para a velar, de -76,93 ms. Para as oclusivas surdas, os valores médios de VOT foram de 15,49 ms para a bilabial; 17,13 ms, para a dental, e 33,90 ms para a velar. OS RÓTICOS NA ILHA DE SANTA CATARINA Ana Kelly Borba da Silva (PGL-UFSC) À luz da Teoria da Variação e Mudança e da Fonética Acústica, pretende-se, neste estudo, investigar as marcas dialetais e sociais da língua falada na ilha de Santa Catarina (região sul do estado), destacando as diferentes realizações dos fonemas róticos, ou seja, da pronúncia dos “erres”. O corpus para a pesquisa constitui-se de quatro entrevistas gravadas em estúdio com informantes do sexo masculino nascidos em Florianópolis (capital de Santa Catarina). Apresentam-se como objetivos específicos: (i) analisar os aspectos fonético-acústicos dos róticos no falar florianopolitano e (ii) verificar as relações sócio-dialetais existentes no uso dos róticos na língua falada em Florianópolis - suas marcas fonéticas, diatópicas (regionais) e diastráticas (sociais) que o distinguem de outros falares catarinenses e regionais. A categorização dos dados e a análise estatística serão feitas com a utilização do software de análise de fala - PRAAT - e do pacote VARBRUL, respectivamente. Os dados serão codificados de acordo com grupos de fatores (GF) lingüísticos e sociais, bem como de acordo com a posição (posição intervocálica (palavras diferentes), final de sílaba interna, final de palavra seguida de consoante e final absoluto). Far-se-á a análise qualitativa destes dados do ponto de vista fonético-acústico, com abordagens sociolingüísticas. A análise qualitativa será realizada por meio de espectrogramas, nos quais será avaliada a configuração acústica (freqüência, duração, amplitude) dos segmentos produzidos. Dessa forma, objetiva-se obter as variantes dos róticos no falar do florianopolitano, traçando-se o perfil sócio-dialetal do falar de Florianópolis. Os resultados gerais desta pesquisa apontam para um predomínio da variante fricativa, do apagamento e algum uso da variante tepe. PROPRIEDADES ACÚSTICAS DA LATERAL /L/ EM CODA SILÁBICA NO PB Lílian Elisa Minikel Brod (PGL - UFSC) Estudos sobre o segmento lateral no português do Brasil (PB) demonstram que a forma vocalizada tem sido recorrente nos dados encontrados.

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Considerando que o processo de vocalização é uma tendência observada no PB, esta pesquisa caracteriza-se como um estudo das propriedades acústicas da consoante lateral e da semivogal que é freqüentemente produzida em coda silábica no lugar da lateral na fala de três (03) informantes falantes do PB. Para tanto, o estudo da variação entre a realização da consoante lateral e da semivogal assume um caráter relevante na investigação do comportamento acústico desses fonemas. Interessa à pesquisa não somente o levantamento de dados, mas observar o contexto que favorece a variação. Para alcançar os objetivos deste estudo, os participantes foram cuidadosamente selecionados com o intuito de controlar possíveis variáveis. Os dados foram coletados em sessões e posteriormente analisados utilizando o software Praat 5.0 para observação dos parâmetros acústicos dos fonemas em coda silábica. Na análise dos dados, foram consideradas como variáveis lingüísticas: item lexical, tonicidade, contextos precedente e seguinte, e posição na sílaba, com o objetivo de verificar se estes aspectos favorecem ou inibem a vocalização. As propriedades acústicas dos fonemas em estudo, como duração e freqüência dos formantes também foram avaliadas na tentativa de estabelecer valores que determinem de maneira mais adequada a vocalização do segmento em coda silábica, uma vez que não são tão evidentes as diferenças acústicas entre a semivogal posterior e a consoante lateral. UM ESTUDO SOBRE VOZEAMENTO DA FRICATIVA E TAPPING NA REGIÃO DA GRANDE FLORIANÓPOLIS Cristina de Souza Prim (UFSC) Tenani (2002) estuda evidências segmentais e entoacionais dos domínios prosódicos superiores à palavra fonológica (a frase fonológica, a frase entoacional e o enunciado fonológico) com o objetivo de comparar as estruturas prosódicas do português brasileiro e do português europeu. Após a identificação de evidências entoacionais dos três domínios citados acima, Tenani passou a investigar as evidências segmentais para verificar se esses mesmos domínios são relevantes para a organização da cadeia da fala em unidades maiores do que a palavra. Para isso, foram analisados seis processos segmentais que envolvem fronteiras de palavra, a saber: vozeamento da fricativa, tapping, haplologia, degeminação, elisão e ditongação. Os resultados dos experimentos revelaram que o sândi externo em PB ocorre entre todas as fronteiras prosódicas, mesmo quando há choque de acentos entre as sílabas envolvidas no processo, e que somente a pausa inibe o sândi. Com base nesta pesquisa, investiga-se neste trabalho se as relações entre processos fonológicos que afetam a estrutura silábica e a implementação de um padrão rítmico preferencial, em especial o vozeamento da fricativa e o tapping, são igualmente consistentes se nos basearmos em informantes florianopolitanos. A pesquisa de Tenani baseou-se em três informantes que residiam há, pelo menos, quatro anos em São José do Rio Preto (SP), com

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idades entre 21 e 28 anos, do sexo feminino e grau universitário. Para este estudo, foram analisadas, através do Praat, 25 frases lidas e repetidas por seis informantes – três do sexo feminino, três do sexo masculino – de mesma faixa etária e escolaridade observados por Tenani, porém residentes na região da grande Florianópolis há pelo menos dez anos. A hipótese é que o sândi seja predominante, porém não ocorra entre todas as fronteiras prosódicas. DESCRIÇÃO ACÚSTICA DOS SONS VOCÁLICOS ANTERIORES DO INGLÊS E DO PORTUGUÊS REALIZADOS POR PROFESSORES DE INGLÊS LÍNGUA ESTRANGEIRA NO OESTE POTIGUAR Clerton Luiz Felix Barboza (UERN - Mossoró) O estudo comparou acusticamente as vogais anteriores do Português Brasileiro (PB) com as vogais correlatas do Inglês Língua Estrangeira (ILE) produzidas por professores de inglês no oeste do Rio Grande do Norte. Analisamos as vogais [i, e, eI, E] do PB e [i, I, eI, E, Q] do ILE. Em nossa metodologia, utilizamos quatro experimentos. Os dois primeiros foram denominados POR1 e ING1. Constituíram-se da produção de vogais anteriores tônicas, entre consoantes plosivas, em palavras dissílabas com acento na primeira sílaba no PB, e palavras monossílabas no ILE, inseridas nas frases-veículos “Diga X alto” e “Say X again”. Os experimentos seguintes POR2 e ING2 fizeram uso de algumas palavras utilizadas nos experimentos anteriores inseridas como nomes de ruas em um pequeno mapa. Solicitamos aos nossos informantes que verbalizassem o caminho de um ponto a outro, fazendo uso, portanto, das vogais a serem analisadas. Onze hipóteses foram elaboradas visando à comparação das vogais anteriores do PB e do ILE: (1) o par [i, I] do ILE seria realizado sem diferenças espectrais significativas; (2) o som [i] do ILE seria realizado sem diferenças espectrais significativas em relação ao som [i] do PB; (3) o som [I] do ILE seria realizado sem diferenças espectrais significativas em relação ao som [i] do PB; (4) o som [i] do ILE seria realizado com uma duração significativamente maior que o som [I] do ILE; (5) o som [I] do ILE seria realizado sem diferença significativa de duração em relação ao som [i] do PB; (6) o primeiro elemento do som [eI] do ILE e do PB seriam realizados sem diferenças espectrais significativas; (7) o par [E, Q] do ILE seria realizado sem diferenças espectrais significativas; (8) o som [E] do ILE seria realizado sem diferenças espectrais significativas em relação ao som [E] do PB; (9) o som [Q] do ILE seria realizado sem diferenças espectrais significativas em relação ao som [E] do PB; (10) o som [Q] do ILE seria realizado com uma duração significativamente maior que o som [E] do ILE; (11) o som [E] do ILE seria realizado sem diferença significativa de duração em relação ao som [E] do PB. As hipóteses (1), (2), (3), (5), (8), (9), (10) e

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(11) foram refutadas, as hipóteses (6) e (7) parcialmente confirmadas e a (4) confirmada. EFEITOS DE TREINAMENTO PERCEPTUAL NA PRODUÇÃO DAS PLOSIVAS NÃO-VOZEADAS INGLESAS POR APRENDIZES BRASILEIROS DE INGLÊS Mara Silvia Reis (PGI - UFSC) Denise Cristina Kluge (PGI - UFSC) Rosana Denise Koerich (PGI - UFSC) O treinamento perceptual tem sido usado em estudos investigando a relação entre a percepção e a produção de línguas estrangeiras (Hazan, Sennema, Iba, & Faulkner, 2005; Pruitt, Jenkins, & Strange, 2006). Dados experimentais têm demonstrado que o treinamento perceptual é capaz de, não somente alterar a percepção de sons não-nativos, como também de modificar a produção dos mesmos (Clarke, & Luce, 2005). Entretanto, a utilização de treinamento perceptual não é prática corriqueira no ensino de línguas estrangeiras. O presente estudo apresenta os resultados de um experimento envolvendo treinamento perceptual das plosivas não-vozeadas (/p, t, k/) conduzido com onze aprendizes brasileiros de inglês como língua estrangeira. Embora as medidas do ataque do vozeamento da consoante (Voice Onset Time – VOT) de cada plosiva não apresentem um valor absoluto, sabe-se que existe uma diferença nos valores de tais fonemas entre o português brasileiro (PB) e o inglês. O principal objetivo deste estudo é verificar se o treinamento perceptual é capaz de alterar os valores de produção de VOT no inglês dos brasileiros. Tarefas de identificação e discriminação perceptual foram utilizadas como instrumentos no treinamento perceptual. A produção foi aferida através da leitura de uma lista de palavras nos pré e pós-testes em PB e em inglês, e analisada através da utilização do software de análise de fala - Praat. Os resultados sugerem que o treinamento perceptual pode modificar a produção dos valores de VOT aproximando-os dos valores do inglês. ESTUDO ACÚSTICO DAS VOGAIS ORAIS TÔNICAS DO PORTUGUÊS EM QUATRO TIPOS DE DISFARCE Sandra G. Kafka (LINSE-UFSC) As características físicas e estruturais do trato vocal podem ser alteradas intencionalmente (com o uso, por exemplo, de um disfarce) para a adulteração do sinal de fala. O propósito, quando se utiliza um disfarce, é o de que a informação própria da voz do falante não seja totalmente impressa no sinal de fala. Essas alterações na voz dificultam a determinação da relação entre a voz e o indivíduo, prejudicando, por exemplo, o trabalho de perícia do foneticista responsável pela tarefa de identificação do falante. Nesta pesquisa, analisou-se, através do parâmetro acústico ‘medida de formantes’, as freqüências de F1 e F2 das vogais orais tônicas do português

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brasileiro alteradas por quatro tipos de disfarce, comparando-as com produções de fala normal (sem disfarce). Como disfarce foi utilizado um objeto entre os dentes em uma linha perpendicular ao plano sagital e outras três variantes deste disfarce. Selecionou-se um grupo de quatro informantes do sexo masculino, adultos, com idade entre 20 e 40 anos, provenientes de quatro cidades brasileiras diferentes. Para o corpus foi selecionado um texto de 118 palavras, segmentado em sentenças curtas visando minimizar o efeito lista. Os informantes reproduziram as sentenças oralmente em duas seções: primeiramente em condições de fala dita normal; em segundo lugar com voz adulterada pelo uso dos disfarces em estudo. Os registros foram realizados em uma câmara acústica com a finalidade de obter dados sem interferências, como: eco, reverberações, ruídos de fundo, etc. Para a coleta dos valores de F1 e F2 das vogais, utilizaram-se análises em freqüência (FFT), com o auxílio de espectrogramas, através do sistema de análise e síntese de fala (CSL - Computerized Speech Lab) da KAY Elemetrics (modelo 4300b). Os resultados das análises acústicas demonstraram que os formantes referentes à vogal [a], independentemente do informante, apresentam suas freqüências sempre abaixadas em fala disfarçada. As alterações no padrão formântico para os demais segmentos vocálicos não são, no entanto, análogos para os quatro informantes avaliados. Possivelmente, há questões de ordem idiossincrática que implicam nesse tipo de procedimento de mascaramento da voz. ACENTO SECUNDÁRIO E INTENSIDADE EM PORTUGUÊS BRASILEIRO Flaviane Romani Fernandes-Svartman (UNICAMP) Maria Bernadete Marques Abaurre (UNICAMP - CNPq) Verônica Andrea González-López (UNICAMP) Trabalhos de cunho acústico, como os trabalhos de Gama Rossi (1998), Arantes & Barbosa (2002), Moraes (2003) e Arantes (2005), têm buscado, em correlatos acústicos, como duração, freqüência fundamental, intensidade e configuração formântica, evidências para a existência do acento secundário em português brasileiro (doravante, PB). Tais trabalhos, com foco na implementação fonética da sílaba percebida como portadora de acento secundário, especificamente, e com base em dados experimentais constituídos por frases isoladas, afirmam não haver correlato estatisticamente robusto para a existência deste acento percebido pelos falantes de PB. Dado o fato de o acento secundário se constituir em um fenômeno de natureza supra-segmental, nossa hipótese é a de que os correlatos acústicos a ele associados se manifestam predominantemente em outra(s) sílaba(s) adjacentes à sílaba portadora de acento secundário e precedentes à sílaba portadora de acento primário (sílaba tônica) no âmbito da palavra prosódica. Os resultados preliminares deste trabalho, provenientes da análise de dados produzidos a partir de leitura de um mesmo texto por falantes de PB, trazem

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evidências de que a variação de intensidade manifestada na sílaba percebida como portadora de acento secundário, bem como nas outras sílabas adjacentes a ela, configura-se como um correlato robusto para a presença do acento secundário percebido auditivamente pelos falantes desta variedade de português. Há uma correlação entre os valores de intensidade da sílaba percebida como portadora de acento secundário e as outras ao seu entorno e precedentes à tônica, o que permite postular que a intensidade resumida pela(s) sílaba(s) pré-tônica(s) resulta em um preditor natural da intensidade da sílaba portadora de acento secundário. A metodologia deste trabalho consiste: (i) na análise do sinal acústico, em termos de intensidade dos núcleos silábicos precedentes à sílaba tônica de palavras prosódicas constantes de um corpus de PB nas quais foram identificadas perceptualmente ocorrências de acentos secundários por falantes nativos desta variedade; e (ii) na aplicação de análises estatísticas a estes dados, ajustando-se um modelo de regressão de efeitos fixos, cujo objetivo é o de extrair a influência do locutor e o de estimar a intensidade média associada a ambos os processos: intensidade observada na sílaba percebida como portadora de acento secundário e intensidade média observada na(s) outra(s) sílaba(s) pré-tônica(s). A análise do sinal acústico e as análises estatísticas dos dados foram realizadas, respectivamente, através do uso do programa de análise de fala Praat (http://www.fon.hum.uva.nl/praat/) e do programa estatístico R-project, disponível na página: http://www.r-project.org/. OBSERVAÇÕES SOBRE O SÂNDI VOCÁLICO NA REGIÃO DA GRANDE FLORIANÓPOLIS Flávio Martins de Araújo (UFSC) Este trabalho tem como objetivo a observação de contextos de sândi externo, em especial os de sândi vocálico, buscando averiguar se há consistência entre os dados em que se vê a aplicação desse processo de reestruturação silábica, no dialeto florianopolitano, e os dados apresentados em Tenani (2002), para o dialeto de São José do Rio Preto (SP). Os resultados relatados em Tenani (2002) foram obtidos através de um estudo que buscava evidências segmentais e entoacionais para a existência de domínios prosódicos superiores à palavra fonológica – frase fonológica, frase entoacional e enunciado – tendo como objetivo a comparação entre os resultados encontrados para o português brasileiro e os apresentados por Frota (1998), para o português europeu. Após confirmar, através de evidências entoacionais, a existência desses três domínios maiores que a palavra fonológica, Tenani passou a investigar a relevância deles para a organização rítmica do português brasileiro. Para tanto, foram utilizados seis processos segmentais envolvendo fronteiras de palavras e de domínios prosódicos – vozeamento da fricativa, tapping, haplologia, degeminação, elisão e ditongação – os quais revelaram a possibilidade de ocorrência de sândi entre todas as fronteiras prosódicas

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envolvidas, mesmo quando há ocorrência de choques de acento, e que somente a pausa inibe os processos de sândi. Deste modo, busca-se aqui, também, examinar o comportamento segmental das vogais encontradas nesses locais nos quais o sândi ocorreu, procurando descrever modificações que possam indicar a implementação de algum dos processos observados. Para a construção do experimento utilizou-se como base o experimento encontrado em Tenani (2002). Depois de escolhidos os contextos, foram feitas gravações, utilizando o programa PRAAT, com seis informantes – três do sexo masculino e três do sexo feminino – com idades entre 20 e 30 anos e com grau universitário. As primeiras observações indicaram a ocorrência dos processos sândi nos contextos gravados. A ENTOAÇÃO DAS SENTENÇAS CLIVADAS EM PORTUGUÊS BRASILEIRO E A INTERFACE SINTAXE-FONOLOGIA Flaviane Romani Fernandes-Svartman (UNICAMP) O uso de estruturas clivadas é uma das maneiras de expressar focalização em português brasileiro (PB) - cf., entre outros, Kato & Raposo, 1996; Modesto, 2001; Fernandes, 2007. Nesta mesma variedade do português, encontramos diferentes tipos de estruturas clivadas, dentre elas: sentenças clivadas, pseudo-clivadas, clivadas invertidas, clivadas invertidas reduzidas. Trataremos aqui apenas das sentenças clivadas, clivadas invertidas e clivadas invertidas reduzidas do PB, como exemplificado em (1a), (1b) e (1c) respectivamente: [Contexto: Estamos à espera das governadoras no gabinete. Percebo que você vê chegar alguém, então, pergunto a você:] Quem chegou? (1) a. Foram as governadoras que chegaram. b. As governadoras é que chegaram. c. As governadoras que chegaram. De acordo com os trabalhos de Frota (1994), Vigário (1998) e Fernandes-Svartman (2007), em estruturas sintáticas especiais do português europeu (como sentenças com elementos deslocados, sentenças com advérbios em diferentes posições e com diferentes escopos, sentenças pseudo-clivadas), o contorno entoacional sofre alterações locais e, algumas vezes, globais. Com base nesta afirmação, nosso objetivo é verificar se, também em PB, a mesma afirmação pode ser feita, ou seja, se também em PB, estruturas sintáticas especiais, como o caso das sentenças clivadas e clivadas invertidas (reduzidas ou não), podem ser codificadas prosodicamente através do contorno entoacional. Os resultados obtidos por este trabalho revelam que a estrutura entoacional das sentenças clivadas e clivadas invertidas pode diferir da estrutura

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entoacional das sentenças neutras do PB. Enquanto no contorno entoacional das sentenças neutras encontramos acentos tonais (T*) associados a cada palavra fonológica (w) do sintagma entoacional (I) e ausência de acentos frasais (T-), no contorno das sentenças clivadas e clivadas invertidas (reduzidas ou não) do PB, encontramos acento tonal associado obrigatoriamente apenas à w cabeça do sintagma fonológico (f) no qual o sujeito é mapeado e acento frasal associado opcionalmente à fronteira direita deste mesmo sintagma. Exemplos: � A metodologia utilizada aqui consiste: (i) na gravação de sentenças neutras, clivadas, clivadas invertidas e clivadas invertidas reduzidas produzidas por falantes do PB e; (ii) na análise do contorno entoacional destas sentenças, através do uso do programa de análise de fala Praat (http://www.fon.hum.uva.nl/praat/) e com base no quadro teórico da Fonologia Entoacional. PROSÓDIA DE SENTENÇAS SV NO PORTUGUÊS BRASILEIRO: EXPERIMENTOS PERCEPTUAIS Maria Cristina Figueiredo Silva e Izabel Christine Seara (PGL - UFSC) Defende a literatura especializada (cf. dentre outros BERLINCK, 1988; KATO, 2000) que o português brasileiro (doravante PB) está perdendo a construção Verbo-Sujeito. Assim, vê-se a realização da ordem Sujeito-Verbo nesta língua qualquer que seja o contexto discursivo ou gramatical. Mas como são os padrões entoacionais de SV no PB atual? A distribuição desses padrões varia segundo as situações discursivas do mesmo modo que observamos em inglês? Nosso objetivo com o presente estudo é discutir questões colocadas por um experimento de produção de sentenças com verbos monoargumentais. Nesse experimento, eram apresentadas aos informantes narrativas e itens lexicais, com os quais deveriam ser elocucionadas sentenças com o padrão entoacional adequado em função de o sujeito ser ou não parte da pressuposição discursiva. Esperava-se que, quando o sujeito fizesse parte da pressuposição, houvesse um evento tonal H realizado sobre o verbo e, quando não, o evento H se realizasse sobre o próprio sujeito, como em inglês (cf. CINQUE, 1993; LADD, 1996). Contudo, os resultados mostram que os informantes produzem sentenças com eventos tonais H simultaneamente sobre o sujeito e sobre o verbo em ambas as situações. Por essa razão, foram elaborados dois testes perceptuais com falantes do PB, que ouviam como estímulos as respostas dadas pelos informantes no experimento de produção nas diferentes situações discursivas. No primeiro, os falantes deveriam escolher entre duas respostas, optando pela mais adequada à narrativa ouvida. No segundo, havia três possibilidades de resposta: as duas apresentadas no primeiro teste e uma terceira que seria escolhida no caso de ambas as respostas do primeiro teste

Sentença Neutra (2) [[(as meNInas)w(BElas)w]f[(laVAram)w]f[(as LUvas)w]f]I | | | | | L*+H L*+H L*+H H+L* L% Sentença Clivada (3a) [[(FOram)w]f[(as venezueLAnas)w]f[(que laVAram)w]f[(as LUvas)w]f]I | | |

L*+H L- L%

Sentença Clivada Invertida Reduzida (3b) [[(as aLUnas)w(JOvens)w]f[(que leVAram)w]f[(as MAlas)w]f]I | | |

L*+H L- L%

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parecerem adequadas à situação da narrativa. Os scripts foram rodados no Programa PRAAT. Para esta avaliação foi usado o teste de avaliação comparativa de categorias (CCR) (cf. JILKA e al. 1996). Os primeiros resultados deste experimento perceptual mostram que, independentemente da situação discursiva, a maior amplitude do contorno de pitch da curva que apresenta evento tonal tanto sobre o sujeito quanto sobre o verbo, comparada a uma relativa monotonia na curva melódica com evento tonal em somente um dos constituintes, parece levar o ouvinte a considerar esta como a sentença mais aceitável, mesmo exibindo evento tonal H sobre os dois constituintes. Um exemplo que reforça essa conclusão é a Narrativa 7, na qual as duas respostas exibem eventos tonais sobre V; porém, 60% das opções foram pela primeira resposta, que se diferencia da segunda por sua maior amplitude da curva de pitch. GT7 Estudos em Análise Crítica do Discurso: questões de gênero social, da mídia e da educação. Coordenadores José Luiz Meurer (UFSC) Débora de Carvalho Figueiredo (UNISUL) MANIFESTO: EM NOME DA NATUREZA A BELEZA PÕE A MESA NA TV Najara Ferrari Pinheiro (UCS) O presente trabalho, vinculado ao GrPesq/CNP/UCS Discurso, Mídia e Sociedade e à pesquisa Corpo na TV: estratégias verbais e não-verbias de representação de gênero no discurso dos magazines femininos televisivos, discute as estratégias discursivas que revelam ou mascaram no discurso dos programas femininos da TV, o culto ao corpo e a representação das relações sociais de gênero como uma das formas de disseminação de práticas sociais conservadoras. A análise do discurso dos programas Bem Família (Rede Bandeirantes) e Mais Você (Rede Globo), destacando a relação entre estratégias verbais e não-verbais, com base nos fundamentos da Análise Crítica do Discurso (ACD), revela que esses produtos, apesar de se mostrarem inovadores e diferenciados, inseridos na dinâmica e na construção identitária da sociedade contemporânea, reforçam o poder do corpo e da beleza feminina como uma das molduras para garantir adesões a projeto sociais e causas que devem/deveriam ser função do Estado. Os programas investigados apontam que para aquém e além das causas e dos projetos, como o “Amazônia para sempre” (disponível em http://www.amazoniaparasempre.com.br/) estão as celebridades e suas performances, validando assim a estética do belo (e engajado), do politicamente correto e das concepções de mundo que, mesmo enfatizando a exposição do novo, reproduzem práticas (sociais e econômicas) consagradas, reforçando, assim, a manutenção de modelos hegemônicos vigentes.

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CRÍTICA DO DISCURSO; ESTRATÉGIAS DISCURSIVAS; PRÁTICAS SOCIAIS REPRESENTAÇÕES VISUAIS DE GÊNERO NO JORNAL IMPRESSO Susana Bornéo Funck (UCPel) Em trabalho anterior, que analisava a representação da mulher no Jornal de Domingo, pude perceber uma certa recorrência estrutural na representação visual de homens e mulheres, em fotografias ilustrativas de notícias de interesse geral. Na presente investigação, buscarei verificar se há realmente um padrão implícito na representação de homens e de mulheres, isolados ou em pares (ou grupos mistos) no que concerne às relações dos indivíduos entre si e à relação entre as fotografias e o/a leitor/a. Minha hipótese é a de que homens são representados “em ação”, ou seja, realizando algo relacionado com sua atividade ou profissão, enquanto que mulheres são representadas num estilo “medalhão”. Suspeito, ainda, que quando juntos o homem apareça em primeiro plano e a mulher em segundo. Embora eu não trabalhe de maneira formal com a Gramática Sistêmico Funcional, procurarei utilizar algumas das categorias propostas por Kress & van Leeuwen (1996). Meu corpus será retirado da seção “Geral” de um conjunto de exemplares do Diário Catarinense (RBS Florianópolis) coletados durante o ano de 2007.

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CURVAS PERIGOSAS: LEITURAS POSSÍVEIS Márcia Maria Severo Ferraz (UFSM) Utiliza-se, nesta pesquisa, o método de comparação qualitativa de elementos discursivos, enunciativos e imagéticos para se verificar como as representações sobre as feminilidades e as masculinidades são veiculadas pela mídia nos cartuns intitulados Curvas Perigosas, na revista Cláudia. Os pressupostos teóricos utilizados associam as teorias culturais de gênero à multimodalidade (Kress e van Leeuwen, 1996) e à enunciação (Kerbrat-Orecchioni, 1980). Dessa forma, analisam-se as representações sociais na linguagem, considerando-se as visões femininas e masculinas, bem como as diferenças de gênero subordinadas aos processos sociais e considera-se que os paradigmas culturais de gênero são referenciais que estruturam toda a vida dos indivíduos, determinando seus discursos e suas condutas. Assim, objetiva-se detectar, especialmente, no gênero discursivo cartum, as ocorrências dos processos de desenvolvimento das estratégias de leitura, referentes aos gêneros feminino e masculino, verificar as suas motivações em relação às estratégias discursivas utilizadas e também relacionar as produções desses gêneros, relacionando-os aos processos de compreensão dos significados. Para tanto, pode-se considerar que as identidades de gênero são construídas, enfatizando-se as desigualdades as quais, desde a antigüidade, sempre foram incutidas e tornadas naturais a fim de conformar as condutas de mulheres e homens. Contudo, essas desigualdades devem ser banidas da sociedade e buscam-se estabelecer focos de resistência que promovam as diferenças centradas nas identidades de mulheres e homens. DISCUTINDO A DOMINAÇÃO MASCULINA EM PROPAGANDAS DE CASAS NOTURNAS Vitor Hugo Chaves Costa (UFSM) Nos últimos anos, a questão de gênero social tem sido bastante investigada dentro dos estudos lingüísticos (HERBELE, 1997; PIRES, 2008; MORAES,2002; MOITA-LOPES, 2004; OSTERMANN, 2006; FIGUEIREDO, 2006). As pesquisas lingüísticas que abordam essa temática tratam de assuntos tais como: a masculinidade e o homoerotismo (PRADO & MOTTA-ROTH, 2006; MOITA-LOPES, 2006), a construção da identidade feminina em revistas (FIGUEIREDO, 1994; OSTERMANN, 1994; HERBELE, 1997) e as relações de gênero social (PIRES, 1999). Nessa apresentação, buscamos analisar, com base na Análise Crítica do Discurso, como a dominação masculina é legitimada no gênero discursivo/textual propaganda de casas de noturnas a partir de três anúncios publicados no Jornal A Razão, de Santa Maria-RS. Pudemos notar que, nas propagandas analisadas, a figura masculina é colocada em um lugar privilegiando, sendo o participante que tem o poder (dinheiro) para consumir o produto e deve ser agradado e persuadido a desfrutá-lo. A figura feminina, em contrapartida, assume um papel de produto de consumo sexual, descrita

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com atributos que agradem os homens e apresentadas com imagens que, de certa forma, provoquem e estimulem o interesse e o desejo por parte dos homens. Em relação às imagens, notamos também que elas colocam os homens em uma relação de maior poder. Somente imagens de mulheres são apresentadas nas propagandas, o que as coloca numa posição inferior, de quem deve mostrar os atributos físicos (corpo) e ser adquirido ou recusado. As poses sensuais as colocam no papel de quem deve “agradar” sexualmente os homens, ou seja, serviçais. A ausência de imagens masculinas e a não delimitação do público masculino que pode consumir o produto põem os homens em uma posição de maior poder. Em suma, não importam quais são os atributos físicos dos homens, o que interessa para os anunciantes é o dinheiro do público masculino, enquanto que as mulheres devem ser bonitas, novas, atraentes e sensuais. Levando em consideração esses aspectos, podemos concluir que a dominação masculina é altamente legitimada nessas propagandas, reforçando a idéia de que os homens são os indivíduos que tem o poder aquisitivo maior e as mulheres devem servi-los sexualmente. LITERATURA E DISCURSO Renata Kabke-Pinheiro (UCPel) A Análise Crítica do Discurso (FAIRCLOUGH, 2001; WODAK, 2004) freqüentemente trabalha com textos presentes em veículos de ampla circulação, tais como jornais e revistas, porém pouca atenção tem sido dada a um meio cuja permanência entre nós é muito mais duradoura e sua circulação em muitos casos, ainda que não tão rápida, muito maior: o livro. A literatura já foi considerada um estranhamento em relação às rotinas diárias da língua e da realidade (EAGLETON, 2003) mas hoje não se pode deixar de reconhecer que ela é uma ferramenta poderosa na propagação e perpetuação de diversos discursos. Cranny-Francis (1990), por exemplo, nos diz que “as práticas e convenções que definem e caracterizam os textos para os leitores […] não são neutras: elas carregam ou codificam as funções ideológicas do texto no mínimo tanto quanto o faz a história”. Entre os diversos discursos circulantes em textos literários encontram-se muitas vezes os referentes às questões de gênero, abordados extensivamente pela crítica literária feminista. A Análise Crítica do Discurso (ACD), no entanto, parece não haver dado a devida importância a esse meio de circulação, não havendo muitos trabalhos que se dediquem à interface entre literatura e discurso sob a ótica da ACD e, principalmente, dedicados às questões de gênero. Assim, neste trabalho nos propusemos a abordar tal questão, refletindo sobre a importância de estudos feitos a partir do ponto de vista teórico e metodológico dessa linha de pesquisa e enfocando o(s) discurso(s) circulantes em textos literários.

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PERFORMANCES DE GÊNERO EM INTERAÇÕES EM COMUNIDADES DE PRÁTICA DE SALA DE AULA Beatriz Fontana (UNISINOS) Este estudo descreve as rotinas de aulas de inglês como língua estrangeira (LE) numa escola da rede pública municipal da área metropolitana de Porto Alegre, considerando a contribuição multidisciplinar da Sociologia, da Sociolingüística Interacional, da Análise da Conversa, dos Estudos Culturais, da Lingüística Feminista e da Análise Crítica do Discurso, além dos pressupostos da Lingüística Aplicada. Com tal aporte teórico pretendeu-se o desvelamento de como os participantes de interações em situação regida por mandato institucional (SCHEGLOFF, 1992) co-constroem identidades sociais, na perspectiva de identidade como uma construção social situada (ECKERT e McCONNEL-GINET, 1999), dinâmica e multifacetada (CANCLINI, 1997), realizada através da linguagem em uso (CLARK, 2000) e de gênero como algo que se faz (CAMERON, 1998), ou, conforme Butler (1990), algo que se desempenha. Também se considerou que a linguagem é parte integrante das ações que realizamos na vida social porque, na medida em que agimos e interagimos de formas específicas, segundo situações específicas nas comunidades das quais fazemos parte, constituímos identidades enquanto formas de ser no mundo, da mesma forma que constituímos a representação de mundo em si (CHOULIARAKI e FAIRCLOUGH, 2000). Este estudo confirma as observações de Swann (1996), segundo a qual os meninos dominam o uso dos turnos, tanto por serem preferencialmente nomeados pelo professor, quanto por interromperem os turnos dos demais participantes. Também ficou evidenciado que as diferentes comunidades de prática (WENGER, 1998) que coexistem nessa sala de aula, muitas vezes disputando o controle das atividades que se realizam durante o período determinado para as aulas de língua inglesa, produzem diferentes trajetórias de participação. Os meninos iniciam mais pisos conversacionais e orientam a maioria das atividades de sala de aula, seja por desafiarem a identidade institucional do professor, seja por estabelecerem interações segundo seus interesses, provocando trajetórias periféricas para as meninas. Os acontecimentos analisados contribuíram para a percepção de que durante as aulas de inglês, esses meninos e essas meninas exercitam papéis sociais que consolidam relações de gênero que favorecem os meninos. Por fim, também ficou evidenciado que a naturalização com que se avalia a escola publica como lugar de insucesso fica sob rasura (STUART, 2000), já que o andaimento (MOITA LOPES, 2003) necessário à construção de conhecimento em inglês é promovido por uma aluna, nas situações de cumprimento de tarefas em sala de aula.

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RELAÇÕES DE GÊNERO NA PUBLICIDADE: PALAVRAS E IMAGENS CONSTITUINDO IDENTIDADES Graziela Frainer Knoll (UFSM) Vera Lúcia Pires (UFSM) Através das mais diversas práticas sociais, as pessoas se constituem como mulheres e homens em um processo nunca finalizado, pelo contrário, sempre em construção. Dentre tais práticas, destaca-se o papel da comunicação midiática e, especialmente, do discurso publicitário na produção e manutenção das identidades de gênero. Em vista disso, desenvolvemos no presente trabalho um estudo que aborda a construção discursiva do gênero na publicidade pelo prisma teórico-metodológico da análise de discurso crítica (ADC). Como a publicidade tem como característica a multimodalidade, que consiste na combinação de diferentes códigos semióticos, no caso da publicidade impressa, palavras e imagens, nossas análises abrangem os textos verbais e não-verbais. Procuramos averiguar o papel da linguagem em sua relação dialética com a sociedade, na produção de sentidos e na manutenção das relações sociais. Combinamos a metodologia da ADC com conceitos de Mikhail Bakhtin, a saber os de signo ideológico e dialógico, considerado por muitos o precursor das teorias do discurso. Além dos textos verbais, nossa análise contempla os textos não-verbais, utilizando um modelo de análise da imagem (Kress e van Leeuwen, 1996) bastante peculiar, uma vez que propicia a relação entre processos lingüísticos e visuais. Procuramos também conduzir estas reflexões de maneira transdisciplinar, pois se trata de um estudo discursivo de gênero, um estudo lingüístico e, ao mesmo tempo, sociológico, cujo foco principal está na linguagem em uso e seu papel na produção, reprodução ou ainda transformação das relações de gênero. Com isso, levamos ao debate acadêmico a questão das relações de gênero produzidas e reproduzidas nas práticas sociais, esperando que esse debate alcance de alguma maneira a vida comum, intervindo na prática discursiva publicitária ou favorecendo uma leitura crítica por parte dos leitores desses anúncios. Tem, portanto, relevância também para a área da comunicação, especificamente, da publicidade. DO TEXTO LITERÁRIO AO TEXTO FÍLMICO - A SAGA DE D. SEBASTIÃO, O DESEJADO, REVIVIDA POR QUADERNA, EM A PEDRA DO REINO, DE ARIANO SUASSUNA: O RECONHECIMENTO DO SEBASTIANISMO EM SOLO BRASILEIRO Eunice Lopes de Souza Toledo (FCLAssis - UNESP) No castelo artístico-literário de Ariano Suassuna o Rei D. Sebastião, de Portugal, se desencanta na figura de Quaderna, um palhaço “multifacetado” que revive a saga do rei português em pleno sertão brasileiro. Impulsionado pelo desejo de compreender a história do próprio país, universalizando os

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sonhos e as lutas do sertanejo nordestino, repleto de uma religiosidade profunda que o fortalece diante da vida e da morte, Suassuna conquista o encantamento do diretor cinematográfico Luiz Fernando Carvalho que se propõe a estender os horizontes intertextuais das palavras para as imagens, por meio da formatação de uma mini-série, homônima, veiculada pela Rede Globo de Televisão, bem como por variados cinemas digitais espalhados pelo país. Munida do conceito de intertextualidade – pela ótica da Lingüística textual ou da Análise Crítica do Discurso - bem como dos conceitos de dialogismo e polifonia, pela ótica da Filosofia da Linguagem de Bakhtin, buscarei decifrar o emaranhado polifônico que perpassa o texto literário, adaptado para texto fílmico. A IDENTIDADE FEMININA NO GÊNERO TEXTUAL MÚSICA FUNK Edinéia Aparecida Chaves de Oliveira (UNISUL, Tubarão) O presente trabalho analisa a representação da identidade feminina em uma seleção de 24 letras de músicas da terceira geração funk brasileira (ano 2000 em diante), uma fase do movimento funk caracterizada pela sensualidade e erotismo. A pesquisa baseou-se na ACD (Análise Crítica do Discurso) como teoria de suporte. Em termos metodológicos, foram utilizadas duas categorias analíticas da Lingüística Sistêmica Funcional. Primeiro, o sistema de transitividade (metafunção ideacional, e textual), e o sistema de modo/modalidade (metafunção interpessoal), através dos quais investiguei como as escolhas léxico-gramaticais representam a mulher na comunidade funkeira e quais são as relações sociais mantidas entre os participantes desses textos. Essas categorias mostraram como as escolhas feitas dentro do sistema de transitividade (processos, participantes e circunstâncias) e dos modos oracionais são usadas para criar uma representação social de inferiorização feminina, como a voz masculina é majoritariamente representada como superior a feminina, e como o homem detém o poder nessas representações. A segunda categoria analítica foi o conceito de registro (campo, relação e modo), que permitiu identificar traços do contexto da situação na qual essas músicas são criadas, circulam e são consumidas. As análises macro e micro textual indicaram que as músicas analisadas representam uma mulher a disposição sexual do homem, cuja imagem é um produto de venda para o Funk. Os resultados corroboram a noção de que a linguagem veicula e dissemina ideologias, e que os valores misóginos e sexistas que circulam, de forma naturalizada, numa comunidade como a funkeira, se refletem nas músicas aí produzidas, assim como essas músicas ajudam a naturalizar as representações sociais depreciativas da identidade feminina dentro da comunidade consumidora do funk.

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ÍNDICES DE MODALIZAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DE SI Maria do Socorro de Almeida Farias (UFSM) Vera Lúcia Pires (orientadora- UFSM) Os estudos sobre a linguagem versam sobre diversos campos de saberes, dentre eles a relação entre gênero social e discurso. Nesse contexto, muitos são os trabalhos que ocupam lugar expressivo na Lingüística Aplicada, o que pode ser comprovado com os inúmeros estudos e publicações que versam sobre a construção do feminino e do masculino materializada no discurso. Este trabalho está vinculado ao grupo “Estudos de gênero nos discursos do cotidiano”, e à linha de pesquisa “Linguagem como prática social”, do Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal de Santa Maria (PPGL/UFSM). Temos como objetivo, na comunicação proposta, verificar no nosso corpus, composto pelo gênero discursivo “carta de aconselhamento” publicado na revista Veja.com, como os índices de modalização auxiliam na construção da imagem de si no discurso das mulheres autoras das cartas enviadas para a revista. A partir desse objetivo, pretendemos observar se essas imagens e discursos veiculados e disseminados pela mídia rompem com o estereótipo tradicional da figura feminina e seus papéis sociais, ou indicam a manutenção de papéis conservadores. Para tanto, temos como apoio teórico estudos sobre relações sociais de gênero, ethos (Amossy e Maingueneau) e os estudos de Kerbrat-Orecchioni, que discutem os índices de modalização como inscrição do sujeito no discurso. O IMPERATIVO DO CORPO MAGRO E IDENTIDADES CORPORAIS ADOLESCENTES NA REVISTA CAPRICHO: UMA ANÁLISE A PARTIR DA GRAMÁTICA VISUAL Adriana Alves Daufemback (UNISUL) Esta pesquisa teve como objetivo analisar como o discurso da revista Capricho representa, através das imagens presentes em anúncios e textos promocionais veiculados nessa revista, o imperativo do corpo magro. Partindo do pressuposto de que a Capricho, como outros suportes midiáticos de massa, compartilha, constrói e dissemina o culto ao corpo e o padrão de corpo magro, foram selecionados 20 anúncios, coletados de 15 revistas publicadas entre os meses de janeiro de 2006 a outubro de 2007. A fundamentação teórica utilizada foi a abordagem da Análise Crítica do Discurso (ACD), e a metodologia de análise a Gramática Visual (GV) de Kress e van Leeuwen. Os resultados obtidos mostram que as imagens veiculadas pela Capricho seduzem e estimulam em suas leitoras o desejo de um único modelo de corpo - o magro -, e o consumo de produtos ligados a esse modelo (especialmente roupas e acessórios de moda). Deste modo, as imagens promocionais constituem um importante campo de construção de identidades adolescentes na revista Capricho, uma vez que produzem formas

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de pensar, agir e se relacionar com e no mundo. Pode-se dizer que as imagens da revista Capricho não apenas orientam ou informam as leitoras sobre o próprio corpo, mas, sobretudo, produzem e disseminam um tipo único de corpo a ser desejado, influenciando, desta forma, a construção das identidades corporais das leitoras adolescentes e seus padrões de consumo. O RISO E O ESCATOLÓGICO A SERVIÇO DA MÍDIA Gregory Weiss Costa (UCPel) A mídia, enquanto aparelho ideológico do estado, se baseia em discursos que agem no inconsciente coletivo para interpelarem os sujeitos. Atualmente, além da comédia, ela tem articulado a escatologia em seu âmbito, valendo-se assim de novas estratégias para a edificação das práticas sociais. Norteado pelo questionamento de qual é a pretensão ideológica da mídia ao utilizar o escatológico como estratégia publicitária, o presente trabalho propõe uma análise de uma propaganda da aguardente Velho Barreiro, veiculada na mídia no ano de 2007, para explicitar as relações travadas entre práticas discursivas e sociedade, embando-se no modelo tridimensional da linguagem proposto por Fairclough (2001) e nos elementos de análise visual de Kress e Van Leeuwen (1996), além das concepções teóricas de Bakhtin (1993) sobre o cômico e grotesco. “UMA PROFESSORA MUITO MALUQUINHA” - PROPOSIÇÕES DO GÊNERO INFANTO-JUVENIL MODERNO Márcia Cristine Agustini (UFSC) A perspectiva teórica da Análise do Discurso Crítica (ACD) considera a linguagem como prática social. Isto significa dizer que as práticas sociais, ao serem mediadas pela linguagem influenciam e são influenciadas por esta. Este caráter constitutivo do discurso confere à linguagem outras características que lhe são intrínsecas. A linguagem, ao intermediar práticas sociais, apresenta traços dessas rotinas que, eventualmente são cristalizados em forma de ideologias, que podem perpetuar relações de poder. Além disso, estes fragmentos discursivos estão em permanente conexão com outros textos (Fairclough, 1989, 1992a; Fairclough & Wodak, 1997, Meurer, 2005). Em um estudo comparativo de textos do gênero infanto-juvenil de um modo geral, e o texto “Uma professora muito maluquinha” de Ziraldo especificamente, procuramos levantar similaridades e disparidades em termos de finalidade discursiva e a forma como a relação texto/leitor é proposta. A ACD propõe uma análise de texto que se funde em três dimensões: textual, prática discursiva e prática social. O foco de nosso trabalho recai sobre a prática discursiva, e, a partir da perspectiva dialógica de Batkhin (1992), analisamos o texto proposto levando em consideração conceitos como intertextualidade, interdiscursividade e finalidade discursiva.

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A QUESTÃO DE GÊNERO NO DISCURSO DE POLICIAIS SOBRE A DELEGACIA DA MULHER Márcia Cristiane Nunes Scardueli (UNISUL – Araranguá) Dentre as políticas públicas de repressão e enfrentamento da problemática da violência de gênero, considerada um grave problema social, a instituição da Delegacia da Mulher (DM) assume lugar de destaque. Porém, devido à pouca compreensão das questões e políticas de gênero por parte dos policiais civis, essa unidade policial muitas vezes é limitada quanto ao tipo de serviços que oferece. Assim, a presente comunicação objetiva apresentar os resultados alcançados na pesquisa “A representação da Delegacia da Mulher para policiais civis da 19ª Região Policial Catarinense”, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Linguagem da Universidade do Sul de Santa Catarina, que investigou as representações da DM na perspectiva de policiais civis catarinenses. A fundamentação teórica utilizada para a pesquisa foi baseada na Análise Crítica do Discurso e no modelo de representação dos atores sociais proposto por Theo van Leeuwen. O corpus foi composto de questionários aplicados a policiais civis da 19ª região. A análise dos dados coletados permitiu concluir que esses policiais representam a DM como um órgão policial ativo e importante na instituição policial civil, mas também apontou a presença, no discurso dos policiais, de crenças e mitos baseados em noções do senso comum a respeito da DM e das questões de gênero a ela relacionadas. COMODIFICAÇÕES DE GÊNERO NA MÍDIA: ANÁLISE DE UMA MARCA REGISTRADA Nara Widholzer (UCPel) Em 2003, Nigel Cole levou às telas o filme Calendar Girls, baseado na história real de um grupo de mulheres que decidiu arrecadar fundos para a causa do combate ao câncer. Residentes em uma localidade conservadora do condado de Yorkshire (Inglaterra), as senhoras conceberam o projeto nada ortodoxo de publicarem um calendário ilustrado por nus artísticos delas mesmas. Ao final, não apenas obtiveram dinheiro, mas também conquistaram sucesso internacional. Inspirada nessa idéia, em 2005, a psicóloga brasileira Márcia Papaléo criou, em Porto Alegre, o projeto beneficente As Gurias do Calendário, em prol de idosos. O calendário foi patenteado como marca, e as “gurias” tornaram-se “modelos da maturidade”, personagens midiáticas, empreendedoras e estrelas de um bloco carnavalesco. As selecionadas a cada ano, mulheres na faixa etária dos 50 aos 80 anos, recebem aulas de etiqueta, postura, maquiagem e passarela. Neste trabalho, examinam-se o calendário das “gurias”, textos publicados no Pediódico MP e conteúdos do site da MP Marketing & Psicologia, empresa responsável pela promoção do grupo. Tendo-se por marco teórico a Análise Crítica do Discurso, analisam-se os discursos veiculados nessas publicações e as práticas sociais a eles relacionadas. Focalizam-se especialmente

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questões de gênero social, entendendo-se ser essa uma categoria analítica atravessada por variáveis como idade, sexo e classe econômica, entre outras. Consoante a noção de semiose proposta por Norman Faircloug (2002), o gênero é aqui situado como um aparato semiótico, representação que atribui significados aos indivíduos em sociedade (cf. Lauretis, 1996). Os dados apontam que a proposta das calendar girls, inicialmente subversiva, preservou com as Gurias do Calendário sobretudo sua faceta comercial, ao ser espetacularizada pela mídia. A imagem corpórea adequou-se a padrões de beleza e comportamento socialmente aceitos a fim de ser comodificada, aproximando-se as gurias às pin ups, já cristalizadas na memória discursiva do Ocidente. PRÁTICAS DISCURSIVAS DA MODERNIDADE TARDIA: O DISCURSO DE PROFESSORES DE LÍNGUA ESTRANGEIRA Nilceia Bueno de Oliveira (SEED/PR) As práticas sociais da modernidade tardia têm levado o professor à reflexão constante sobre o ensino-aprendizagem. Assim, a investigação do discurso dos professores de Língua Estrangeira se fez relevante, especialmente sob a ótica de abordagens críticas como a da Análise Crítica do Discurso e da Lingüística Sistêmica Funcional. O presente trabalho orienta-se por uma perspectiva teórico-metodológica de estudo na qual o discurso é entendido como prática social (Fairclough, 2001), e os dados analisados procuram relacionar o discurso dos professores com as noções de mudança social, ideologia e empoderamento. Exemplares do discurso dos professores, coletados através de questionários, foram analisados a partir de dois grandes temas: o da competência e o da formação do professor de Língua Estrangeira. A pesquisa aponta que as crenças dos professores são híbridas, apresentando traços de ideologias que vão do tradicional ao contemporâneo, posições mais críticas e menos críticas, reproduzindo e também subvertendo as representações tradicionais sobre ensinar e aprender uma língua estrangeira. AS REPRESENTAÇÕES DE PROFESSOR E ALUNO EM PROPAGANDAS DE LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA INGLESA Richarles Souza de Carvalho (UNESC - Criciúma) Este trabalho, parte de minha dissertação de mestrado, teve como objetivo investigar o discurso publicitário presente em propagandas de livros didáticos de língua inglesa de 1a. a 8a. série do Ensino Fundamental, utilizados no município de Criciúma-SC em 2005-2006. Os 23 textos promocionais sobre oito livros didáticos foram retirados das contra-capas dos livros, dos websites das editoras e de catálogos impressos. Esses textos utilizam diferentes semioses verbais e não-verbais para convencer os docentes a adotar determinados livros didáticos nas escolas em que lecionam. A Análise Crítica do Discurso e a Abordagem da Avaliatividade (MARTIN; WHITE, 2005) serviram de fundamentação teórica e

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metodológica para a análise das práticas discursivas e sociais presentes nas propagandas. Os resultados mostram que, por meio da hibridização do discurso publicitário com o discurso acadêmico de ensino de línguas – com o primeiro se valendo do segundo para ganhar cientificidade, prestígio e poder –, e das escolhas léxico-gramaticais que supervalorizam a qualidade de seus produtos, as editoras constroem um ambiente favorável para a venda de materiais de ensino e exercem um forte poder de persuasão sobre seus compradores em potencial, os professores. Representações de alunos e professores também estão presentes nos textos analisados: o contexto do professor em sala de aula, sua formação, suas necessidades e dificuldades, freqüentemente aparecem nas entrelinhas dos textos publicitários analisados; da mesma forma, quando a propaganda explica porque o material foi feito e quais suas vantagens, determinadas representações de aluno, em especial do aluno “pós-moderno”, das “turmas heterogêneas”, do “aluno que gosta de jogos”, são estabelecidas e exploradas instrumentalmente, numa relação interdiscursiva com o discurso acadêmico de ensino de línguas. O ESTUDO DA CHARGE E A REPRESENTAÇÃO DO POLÍTICO Silmara Siqueira Batistel (Unioeste) A pesquisa objetiva desenvolver análise do corpus teórico pautado no estudo da galeria de charges de viés político do cartunista Angeli, veiculadas na mídia escrita denominada Revista Veja, sob o enfoque da Análise do Discurso. Neste sentido, sob o aporte teórico da AD, discutiremos a representação e a materialização do discurso do político. Nesta perspectiva, o estudo das charges políticas concerne a dicotomia humor/política que permeia os principais suportes de comunicação midiática do século XXI. As charges de Angeli constituem a representação da imagem do político e a materialização ideológica do discurso proferido por tais representantes, visto que estabelecem um cotejo entre o discurso imagético que retrata a figura do político, especificamente, do presidente Lula e o contexto sociopolítico e econômico que remonta ao período do governo petista. Logo, faz-se pertinente compreender o contexto em que as charges foram produzidas, visando descortinar o signo ideológico que as caracterizam e o discurso metafórico, polifônico e intertextual que compõe o estilo do gênero, bem como do autor. Discutiremos os conceitos de polifonia, intertextualidade e signo lingüístico embasados na concepção Bakhtiniana e, no que tange à construção da imagem do político e suas representações, em estudos de Bourdieu e Weber. INVESTIGANDO PRÁTICAS DE LETRAMENTO PELA PERSPECTIVA DA ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO Viviane M. Heberle (UFSC) Estudos em lingüística sistêmico-funcional e em análise crítica do discurso apontam para a possibilidade de se pesquisar outros sistemas semióticos

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além da linguagem verbal. A gramática visual proposta por Kress e van Leeuwen (1996/2006), baseada na lingüística sistêmico-funcional de Halliday, vem sendo utilizada como aparato teórico dentro dessa nova perspectiva pedagógica de multiletramento, que engloba diferentes formas multimidiáticas e tecnologias de comunicação. Neste trabalho, com fundamentação teórica da lingüística sistêmico-funcional, da análise crítica do discurso e da gramática visual, discuto minha pesquisa sobre práticas de letramento de alunos do ensino médio de três escolas públicas de Santa Catarina. Resultados parciais mostram que ainda predominam práticas discursivas convencionais nas aulas e pouca diversidade em relação à incorporação de formas multimidiáticas. Espera-se que a pesquisa possa contribuir para um maior discernimento sobre a relevância de se considerar diferentes recursos semióticos no ensino. A IDENTIDADE FEMININA NA MATURIDADE: O GÊNERO CARTA AO LEITOR NAS REVISTAS FEMININAS Fátima Andréia Tamanini-Adames (UFSM) Vera Lúcia Pires (UFSM) No século XIX, a menopausa marcava o término da feminilidade. Hoje, a mulher madura exerce sua sexualidade, trabalha e consome, mas parece estar ainda presa a um padrão de beleza estereotipado. Em conseqüência, a identidade da “vovó” não é mais a mesma, e o mercado editorial está atento. O gênero carta ao leitor ou editorial possui uma base argumentativa, apresenta-se de forma diversificada, o que pode oferecer modos diferentes de argumentação, e mostra, não o ponto de vista de uma só pessoa, mas o ponto de vista de uma instituição, com públicos e propósitos distintos. Nas revistas femininas, servindo também como uma introdução às matérias principais, esse gênero é um bom representante para a verificação de como o referencial do gênero feminino está em processo de mudança. O principio dialógico de Bakhtin e a análise crítica do discurso (ACD), através do sistema da transitividade, oportunizam o estudo do discurso da mídia e da construção de identidades, ou seja, o processo de mudança do imaginário social da identidade feminina na maturidade a partir de referentes reais. Na ACD, a transitividade tornou-se um instrumento lingüístico importante para a interpretação de aspectos ideológicos, socioculturais ou estilísticos. Então, tomamos como parâmetros quatro processos considerados significativos na análise de editoriais de revistas femininas: materiais, mentais, verbais e relacionais. A análise da transitividade no exemplar selecionado mostra que a revista fala também àquelas mulheres de mais idade que, neste ano de 2008, já ocupam cargos importantes e outrora masculinos. Mas, embora se reconheça a grande mudança na condição feminina, fato observado desde o título “O dia-a-dia do poder”, o qual refere-se a uma mulher poderosa, independente e muitas vezes de uma faixa etária mais alta, ainda estão presentes estereótipos pré-feministas, como a exigência de um padrão de beleza feminino estabelecido, a maternidade, e a insegurança em assumir

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cargos de responsabilidade e influência. Neste estudo, a ACD e o princípio dialógico de Bakhtin se mostraram recursos eficientes para evidenciar a contradição entre a identidade nova – mulher autônoma e livre, e a identidade velha – mulher símbolo de fragilidade diante do ainda dominante gênero masculino. Entretanto, seria necessário analisar muitos outros exemplares deste gênero discursivo para comprovar esta afirmação, principalmente referindo-se à identidade da mulher na maturidade. GT8 Ensino De Línguas, Tecnologia E Paradigmas Da Complexidade Coordenadores Vilson José Leffa (UCPel) Rafael Vetromille-Castro (UFRGS) DE AULAS DE GRAMÁTICA, QUERO DISTÂNCIA! Ana Cláudia Pereira de Almeida (UCPel) O uso de objetos digitais de aprendizagem em uma sala de aula virtual pode ser uma boa estratégia para ensino de Língua Portuguesa - afinal, se os meios e os estudantes já não são mais os mesmos, não faz sentido manter velhas fórmulas. Assim, em um curso de português redacional básico a distância foram propostos objetos digitais de aprendizagem, com conteúdo determinado pelas necessidades mostradas pelos participantes. A idéia de se escolher o ambiente virtual para proceder à investigação justifica-se por a comunicação nesse espaço acontecer apenas por meio de textos escritos, o que "obriga" os participantes a mostrarem-se e às suas necessidades em relação à norma culta da Língua Portuguesa e pela atitude lingüística dos sujeitos-pesquisados em ambiente virtual, onde costumam priorizar o conteúdo e preterir a forma, postura que demonstra de maneira mais genuína os tópicos gramaticais a ser discutidos. Dessa forma, reconhecendo as necessidades dos estudantes, cria-se demanda; reinaugurando-se as formas de ensinar - tal qual os recursos dos ambientes virtuais de aprendizagem permitem -, torna-se possível ensinar mais efetivamente os conteúdos da gramática. A INTERATIVIDADE E OS PAPÉIS ASSUMIDOS EM UM CONTEXTO INFORMATIZADO DE PRODUÇÃO DE LINGUAGEM Andréia Vielmo de Quadros (UNISINOS) Dinorá Moraes de Fraga (UNISINOS) A idéia do conceito de interação e interatividade ainda causa confusão no mundo moderno, no qual as pessoas interagem com outras pessoas e com máquinas. Essa dualidade, a grosso modo, é chamada de interação quando formada somente por pessoas e de interatividade quando há pessoas e máquinas envolvidas no contexto. Este trabalho tem por objetivos estudar os papéis assumidos por professor, aluno e computador na atividade de

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desenvolvimento de um site e também pretende refletir sobre as relações entre interação e interatividade na perspectiva da teoria de Paul Ricoeur e Jean-Paul Bronckart, em que se prioriza o conceito de ação e de agir. A pesquisa foi delimitada a oficinas para desenvolvimento de um site educacional, realizadas pela pesquisadora na Escola Municipal de Ensino Fundamental Incompleto Doutor Alfredo Bemfica Filho na cidade de Novo Hamburgo-RS. Essas oficinas ocorreram de setembro a dezembro de 2007, com alunos de 5ª série, que, em turno oposto, desenvolveram o site da referida escola. A INTERATIVIDADE PROPOSTA PELOS OBJETOS DE APRENDIZAGEM EM CURSOS ON-LINE DE ESPANHOL Arice Cardoso Tavares (CEFETRS, Pelotas) É cada vez mais freqüente no ensino de línguas estrangeiras a utilização das tecnologias interativas. O uso dos objetos de aprendizagem, vistos como artefatos culturais capazes de promover a aprendizagem, tem recebido destaque recentemente. O objetivo deste trabalho é descrever e analisar o conteúdo pedagógico desses objetos e detectar sua presença nos cursos que propõem o ensino da língua espanhola na rede mundial de computadores. Procuraremos, desta forma, aferir o valor educacional desses objetos, com destaque para a interatividade. WEB 2.0 E A FORMAÇÃO DE COMUNIDADES VIRTUAIS Christiane Heemann (UCPEL) Web 2.0 é o termo usado para referir-se à segunda geração da internet que é marcada fortemente pela interação e dinamismo e pelos conteúdos gerados pelos próprios usuários, criando uma grande personalização. Os usuários na Web 2.0 passam de agentes passivos para agentes altamente ativos que escrevem, criticam e avaliam, e também são criticados e avaliados, gerando uma grande troca de informações, formando, assim, uma grande rede de comunidades virtuais que compartilham saberes e opiniões. Na Web 2.0, cujos conceitos chave são publicação e participação, blogs, wikis , redes sociais e os sites de compartilhamento unem pessoas muito mais que informação. A escrita na Web 2.0 cumpre um papel fundamental, uma vez que é por meio de textos que as pessoas se comunicam. A Web 2.0 nos leva a pensar em Pierre Levy e a Inteligência Coletiva (1998), que é um princípio no qual as inteligências individuais são somadas e compartilhada por toda a sociedade, sendo potencializadas com as tecnologias de informação como a internet.

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APRENDENDO INGLÊS NA INTERNET: UMA EXPERIÊNCIA COM BLOGS NA ESCOLA PÚBLICA Débora Lisiane Carneiro Tura (UNIFRA) Tânia Maria Moreira (UNIFRA) Este trabalho, vinculado ao curso de Pós-Graduação em Metodologia de Ensino de Língua Inglesa da UNIFRA, tem como objetivo apresentar as atividades elaboradas e desenvolvidas no projeto “Aprendendo Inglês na Internet”, bem como reflexões acerca dos tipos de interações estabelecidas entre os interagentes mediante o uso de blogs. No experimento, uma professora e um grupo de treze alunos da 5ª série do Ensino Fundamental de uma escola pública interagiram e estabeleceram um sistema de cooperação e colaboração mútua no ciberespaço com internautas, alunos e professores de escolas brasileiras e estrangeiras, por meio de blogs e o engajamento em tarefas de leitura e escrita. Nesse período, as atividades e tópicos básicos de LI foram organizados de modo que os aprendizes utilizassem as funções da linguagem mais recorrentes na comunicação via web. O embasamento teórico adotado partiu de estudos sociointeracionistas (VYGOTSKY, 1998), dos princípios da teoria da complexidade (POLÔNIA, 2003; PAIVA, 2005; VETROMILLE-CASTRO, 2007), da teoria da interação (PRIMO, 2007) e da noção de LI como uma prática social (PAIVA, 2001). Além disso, discute-se o uso de blogs como uma ferramenta de comunicação que permite o oferecimento de andaimes (WOOD et al, 1976) em uma interação pedagógico-digital, a partir da formação de sistemas complexos em redes sociais virtuais. A análise preliminar das postagens e comentários nos blogs indica que em um sistema complexo os participantes do processo de ensino e aprendizagem se alteram, passando a ser constituídos por alunos, professores e internautas. Isso demanda mais autonomia na atuação dos aprendizes, uma atuação do professor como orientador das atividades e um grande interesse por parte do internauta em se envolver em atividades de interação e comunicação. Nas trocas interativas estabelecidas, observam-se relações mútuas e alterações recíprocas no que diz respeito à leitura e escrita em LI de tópicos recorrentes em qualquer contato social, tais como: informações pessoais, preferências e interesses, informações sobre a família e amigos, bem como informações sobre o que fazem na escola e no tempo livre, informações sobre “rotina”, viagem, férias e informações sobre a cultura do local em que vivem. DESIGN DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL: INCORPORANDO CONCEPÇÕES QUALITATIVAS E QUANTITATIVAS DE LÍNGUA E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA. Delfina Cristina Paizan (UNIOESTE, Institute of Education/University of London) Ensinar é reconhecidamente um processo complexo. Considerando o ensino de uma língua estrangeira especificamente, as complexidades que se

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apresentam também são muitas e vão desde qual língua estrangeira deve ser ensinado em um país de proporções continentais como o Brasil, até qual a seqüência a ser seguida na apresentação do conteúdo a ser ensinado (Bohn, 2003). Uma outra complexidade, e de interesse aqui, é a integração da tecnologia dentro desse contexto de ensino e aprendizagem de língua estrangeira. Esta comunicação trata de uma pesquisa de doutorado em seu estágio final que buscou envolver os alunos no design de tecnologia para investigar como a construção que os alunos fazem da sala de aula de Inglês Instrumental pode influenciar – e ser influenciado pela – a participação dos alunos nesse processo. Para conduzir tal pesquisa, uma abordagem participativa para o design de tecnologia foi adotada: a pesquisadora convidou alunos de ciência da computação, a professora de Inglês Instrumental e uma tecnóloga para, juntos desenharem um Portal da Web com o objetivo de ajudar a aprendizagem de Inglês Instrumental. Dados foram coletados através de entrevistas, observação da participação dos alunos nas sessões de design, e diário online. A estrutura analítica proposta por Benson e Lor (1999), baseada na distinção feita por Marton et al (1997) entre concepções qualitativa e quantitativa de aprendizagem, foi utilizada para dar acesso às concepções de crenças sobre, e abordagens para a aprendizagem de línguas dos alunos e, assim, à construção que eles têm da sala de aula de Inglês Instrumental. Os dados indicam que os alunos constroem a sala de aula de Inglês Instrumental como um ambiente de aprendizagem pobre. Por outro lado, a participação deles no processo de design ajudou a criar um ambiente de aprendizagem mais rico ao incorporar tanto concepções qualitativas quanto quantitativas de língua e de aprendizagem de língua. PROJETO HIPERTEXTO PARA LICENCIATURA EM LETRAS - INGLÊS NA MODALIDADE A DISTÂNCIA: A APLICAÇÃO DA TEORIA DOS SISTEMAS COMPLEXOS À CONSTRUÇÃO DE CONTEÚDOS PARA UM CURRÍCULO EM REDE Eunice Polônia (UFRGS) Apresento a estruturação hipertextual de um curso de Licenciatura em Letras de Língua Inglesa a distância, tomando por base a teoria dos sistemas complexos aplicados à aprendizagem de línguas (Larsen-Freeman, 1997) e transposta para a criação de currículos e organização de desenvolvimento de seus conteúdos (Polonia, 2003; 2007). Tomando por princípio que os sistemas são abertos, auto-organizáveis, sensíveis ao feedback e adaptáveis, abandono a idéia de linearidade da aprendizagem de itens lingüísticos, onde nos encaminhamos para um novo item após dominar o anterior, observando que a curva de aprendizagem de cada item também não é linear. Esta fluidez concretiza-se em planos processuais – o baseado em tarefas e o processual – intrinsecamente mais flexíveis que os tradicionais, por estarem voltados às formas como os aprendizes podem alcançar os objetivos e à como eles navegam a rota em si. Aplicados aos ambientes digitais, verifica-se a total

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aplicabilidade destes modelos à arquitetura hipertextual. O projeto Hipertexto para Pró-Licenciatura de Inglês a Distância da REGESD (Rede Gaúcha de Ensino Superior a Distância), concebido pelo Instituto de Letras da UFRGS, visa desenvolver um hipertexto de aprendizagem para disciplinas a serem ministradas durante o curso de licenciatura a distância para formação de professores leigos de inglês da rede pública gaúcha, conforme projeto do MEC ─ o PROLIC. Ele será aplicado dentro do convênio REGESD formado pela UFRGS, UNISC, UFSM e UCS através da plataforma MOODLE. Discorrerei sobre aspectos pedagógicos e de desenvolvimento envolvidos no processo de criação deste hipertexto e concluirei com indicações para a efetivação plena do potencial integrativo, interativo e cooperativo previsto no uso pedagógico adequado de um currículo em rede digital tal como proposto neste projeto. A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS DE TIC EM CURSOS DE LETRAS INGLÊS: CRENÇAS DE PROFESSORES E ALUNOS Fernanda Ramos Machado (UFSC) O acesso à informação tornou-se independente de tempo e espaço com os avanços da tecnologia e o advento da internet em 1969 e do World Wide Web (WWW) em 1991 (Paiva, 2001), afetando não apenas o cenário político e econômico, mas também a área da educação. No Brasil, o ministério da educação lançou em 1997 o Programa Nacional de Informática na Educação (ProInfo), em uma iniciativa de acompanhar a tendência global de incluir tecnologias de informação e comunicação (TICs) na educação. Na área de ensino e aprendizagem de língua estrangeira, especificamente, o número crescente de pesquisas investigando e reportando investigações sobre o uso de TICs nesta área aponta para a relevância e o potencial dessas ferramentas em auxiliar professores e alunos no processo de ensino e aprendizagem da língua alvo. Pesquisas mostram que a utilização de TICs pode ajudar os estudantes na aprendizagem das quatro habilidades lingüísticas (compreensão oral, compreensão escrita, produção oral e produção escrita) oferecendo a oportunidade de desenvolver letramento digital e habilidades relacionadas que estão se tornando cada vez mais importantes nos dias atuais para acompanhar o progresso e manter-se qualificado num mercado competitivo. Para tanto, é primordial para o sucesso da integração de TICs nas salas de aula de língua estrangeira, que diretores de escolas, juntamente com coordenadores pedagógicos e professores se unam para avaliarem e buscarem soluções relacionadas à infra-estrutura, à adequação das TICs dentro do currículo da disciplina e ao treinamento especializado e capacitação de professores. Entretanto, alguns estudos encontraram que apesar de alguns professores disponibilizarem de infra-estrutura apropriada e terem recebido treinamento específico, eles continuam não incluindo ferramentas de TIC em suas práticas pedagógicas. Uma maneira de tentar compreender este fenômeno é investigar as crenças desses professores em relação à utilização dessas ferramentas, uma vez que, “crenças em relação a

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um objeto levam a atitudes em relação a este, que por sua vez levam a intenções comportamentais em relação ao mesmo objeto” (Fishbein e Ajzen, 1975, p.128, citado em Levine & Donitsa-Schimidt, 1998). Neste sentido, o presente trabalho reporta os resultados preliminares de um estudo, ainda em andamento, que tem como objetivo investigar (1) o uso de TICs no curso de Letras Inglês de universidades federais brasileiras, (2) as crenças de professores e estudantes dessas universidades em relação às TICs e, (3) a relação entre as suas crenças e a utilização de TICs para o ensino e aprendizagem de inglês. ESCRITA COLETIVA EM LÍNGUA INGLESA REALIZADA POR ADOLESCENTES DE ESCOLA PÚBLICA EM UM AMBIENTE DIGITAL Ingrid Kuchenbecker Broch (UFRGS) O presente trabalho investiga uma atividade de escrita coletiva em língua inglesa em ambiente digital realizada por adolescentes do Ensino Médio de uma escola pública. Com base nas Teorias da Atividade e da Complexidade são levantadas as seguintes questões: 1) Como se dá a participação de adolescentes em um texto coletivo? 2) Como eles lidam com as diversas situações que emergem no processo? Qual o papel do professor na atividade? Os dados foram gerados a partir do projeto Drama Club Webwriters desenvolvido nas aulas de Língua Inglesa do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Os participantes são oito alunos do primeiro ano do Ensino Médio divididos em quatro díades, que, após a leitura de uma obra adaptada em inglês, discutem e adaptam a história a um roteiro de peça teatral através do Fórum do ambiente virtual de aprendizagem ALED (www.ufrgs.br/aled) e o editor de texto colaborativo EquiText (http://equitext.pgie.ufrgs.br As interações entre pares são vistas, nesse estudo, como momentos significativos no processo de ensino e aprendizagem de uma língua estrangeira, exigindo um aprendiz mais autônomo, consciente e voluntário. Os resultados apontam a atividade de escrita coletiva de texto teatral em ambiente virtual de aprendizagem como uma nova proposta pedagógica de abordagem processual que favorece a construção de significados. Por ser realizada em um ambiente digital, esta atividade pode desencadear um desequilíbrio nas ações dos participantes, em função da imediata publicação e do contato com a escrita do outro, oportunizando uma reflexão que pode resultar em uma aprendizagem mais significativa. Por fim, conclui-se que a atividade de escrita coletiva em AVA requer uma mudança de paradigma de ensino e aprendizagem, visando uma aprendizagem mais autônoma.

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VIGOTSKY.COM UM PRIMEIRO ENCONTRO ENTRE PROFESSORES EM FORMAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS DO PONTO DE VISTA DA TEORIA DA ATIVIDADE Marcus Vinícius Liessem Fontana (UCPel/UFPel) Este trabalho é o resultado do acompanhamento feito a um grupo de alunos de 5º semestre da Licenciatura em Língua Espanhola e Literaturas da Universidade Federal de Pelotas durante o primeiro semestre letivo de 2008 na disciplina A Internet no Ensino do Espanhol/Língua Estrangeira. Nesta cadeira, que existe há apenas 3 anos, os estudantes são apresentados a vários recursos gratuitos disponíveis na Internet, aprendem a montar sites, a editar e a utilizar áudios e vídeos com finalidades pedagógicas e conhecem programas de autoria para professores, como o HotPotatoes e o ELO. O projeto de conclusão da disciplina configura-se na elaboração de uma unidade didática on-line que demonstre que os alunos conseguiram assimilar adequadamente o uso das ferramentas estudadas. O trabalho desenvolvido pelos alunos ao longo do semestre, nesta comunicação, é analisado com os olhos da Teoria da Atividade (TA), teoria cuja base está assentada nos estudos do psicólogo russo Lev Vygotsky e que foi elevada a novos patamares por Luria, sendo atualmente pensada e aprofundada por importantes nomes como Engeström, Wertsch e Cole. Com base nesta teoria, busca-se entender o processo que permitiu que os alunos, muitos dos quais com um conhecimento quase nulo em informática, fossem capazes de desenvolver uma interação, pelo menos, eficiente com as ferramentas que lhes foram apresentadas. A análise é realizada levando-se em consideração os 6 princípios básicos da TA elencados por Kaptelinin (1996): união entre consciência e atividade, orientação a objeto, estrutura hierárquica, internalização-externalização, mediação e desenvolvimento ou evolução histórica da atividade. Cada um desses princípios é detidamente observado e minuciosamente analisado no marco desta disciplina, a fim de lograr a compreensão integral do processo de aprendizagem pelo qual passaram estes professores em formação e demonstrar a importância da inclusão de tópicos relacionados ao uso de novas tecnologias em um curso de licenciatura. A COMPLEXIDADE NA/DA FORMAÇÃO TECNOLÓGICA DE PROFESSORES DE INGLÊS Maximina M. Freire (PUCSP) Esta apresentação visa a compartilhar reflexões e discutir a formação tecnológica de professores de inglês, a partir da ótica de uma formadora que, interpretando um curso semipresencial de formação continuada em/para contextos mediados pelo computador, desenhado a partir da perspectiva dos 6R’s (Freire, 2006,2007), embasa sua construção de sentidos no viés da complexidade (Morin,1996,2000, 2005; Moraes,2002). Partindo do pressuposto de que a escola é um sistema complexo, caracterizado por

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ordem, desordem, interação e reorganização (Morin, 2005; Tescarolo, 2005), e considerando as naturais contradições e ambigüidades que o confronto entre teoria e prática provoca, a formação tecnológica de professores de inglês é, aqui, entendida como resultante de questionamentos e reflexões sobre vivências (reais e vicárias) em ambientes de aprendizagem mediados pelo computador, bem como de certezas e conflitos delas emergentes, confirmando a não-linearidade na construção de conhecimentos e, portanto, na própria formação docente. Os resultados da interpretação do curso em questão ilustram uma relação sistêmica indissolúvel que interconecta a formação tecnológica à formação docente, garantindo-lhes uma totalidade indivisível, uma auto-organização constante e uma inconclusividade que justifica o desenvolvimento profissional ao longo da vida, sob um olhar paradigmático complexo, transformador e emancipador. A PRÁTICA DO DESIGN INSTRUCIONAL ALIADA AO CURRÍCULO BASEADO EM TAREFAS Patrícia da Silva Campelo Costa (UFRGS) Baseando-se na discussão de Filatro(2004) acerca do design instrucional contextualizado e nos estudos de Ellis(2003) e Willis(1996) sobre tarefas, a proposta deste trabalho é articular essas pesquisas a fim de propor currículos que propiciem a flexibilização de conteúdos em ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs). Partindo da idéia de um ciclo que envolva análise, projeto, desenvolvimento, implementação e avaliação, a composição do design instrucional é de caráter dinâmico e permite a contextualização de tarefas didáticas à medida que é implantado. Desse modo, esse modelo está de acordo com as características do meio digital, que dispõe de imprevisibilidade e requer currículos processuais (Breen,1987) de modo não-linear, conforme a noção de sistemas auto-organizáveis da Teoria da Complexidade. A proposta de design instrucional contextualizado pode partir de uma questão norteadora e se moldar de acordo com os objetivos de aprendizes e professores. Em relação à análise de dados desse estudo, a partir de atividades propostas em um curso online para professores, é discutido em que medida um currículo baseado em tarefas e no design instrucional pode ser aplicado em cursos a distância. Para tanto, os dados coletados são confrontados com as noções de currículo processual e currículo baseado em tarefas. Os resultados remetem a reflexões sobre a composição de tarefas em ambiente digital. OFICINAS PRESENCIAIS TEMÁTICAS: COMPLEXIDADE E IDENTIDADE EM UM CURSO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA REFUGIADOS Paulo Rezende (PUCSP) Este trabalho apresenta uma proposta de investigação do processo de re/co-construção identitária dos alunos de um curso de língua portuguesa para

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refugiados no Brasil, considerando a utilização do computador em Oficinas Presenciais Temáticas. Considerando a ótica do pensamento complexo, a pesquisa procurará revelar os possíveis papéis que as oficinas desempenham no processo de reconstrução da identidade a partir da interpretação das experiências vividas. As Oficinas Presenciais Temáticas fundamentam-se no conceito de Oficinas Virtuais Temáticas (Rezende, 2003), que, por sua vez, representam uma releitura do conceito de Oficinas Virtuais propostas por Freire (2000, 2003), as quais, embasadas na abordagem tridimensional (Freire, 1998, 2000), buscam promover uma associação entre experiência, reflexão e prática. A partir dos textos coletados que compreendem, mensagens eletrônicas trocadas entre pesquisador e professora, informações registradas nos encontros presenciais entre pesquisador e professora, e professora e alunos, será possível investigar o fenômeno de re/co-construção de identidade da professora do curso. CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO E REFLEXÃO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE LÍNGUAS A DISTÂNCIA Renata Costa de Sá Bonotto (UFRGS) Esta pesquisa constitui uma reflexão sobre a formação de professores de línguas na modalidade a distância. Os dados são gerados a partir de um curso a distância com duração de 10 semanas. O curso tem como participantes professores de LE em serviço na rede pública e particular de ensino de diferentes áreas do estado do Rio Grande do Sul. O ambiente virtual de aprendizagem usado é o ALED (www.ufrgs.br/aled). A organização e a condução do curso têm como base a Teoria Sociocultural. Para a análise dos dados são consideradas as discussões sobre a formação de professores em Lingüística Aplicada e o Paradigma da Complexidade com o objetivo de analisar as interações que ocorrem e como elas se relacionaram com a construção de conhecimento e a reflexão. Os resultados revelam o estabelecimento de padrões de interações variados e a formação de sistemas complexos no ambiente virtual conducentes a maior ou menor engajamento na proposta do curso, a saber, o desenvolvimento de interações para levar à construção de conhecimento e reflexão. Quanto às práticas pedagógicas, destaca-se a importância da elaboração das tarefas para promover o estabelecimento de interações significativas e que possam favorecer a aprendizagem de todos. Como as instâncias de interações mútuas e de engajamento dos participantes são mais freqüentes nos momentos em que há uma postura de colaboração, sugere-se que as tarefas de cursos a distância semelhantes enfatizem o desenvolvimento de colaboração como proposta orientadora. Parece ser importante também estabelecer ações para promover a autonomia e a responsabilidade pessoal em relação à aprendizagem assim como a reflexão sobre as concepções de ensino e de aprendizagem dos professores nos cursos de formação com base na sua experiência de aprendizagem a distância e através das TICs.

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OBJETOS DE APRENDIZAGEM: IMPLEMENTANDO OS PRESSUPOSTOS DE VYGOTSKY Simone Carboni Garcia (UCPEL) As tecnologias de informação e comunicação apresentam novas possibilidades ao processo de ensino e de aprendizagem escolar, principalmente no que se refere à construção e uso de materiais educativos envolvendo multimídia e interatividade. Conhecidos como objetos de aprendizagem (OAs), esses materiais são na grande maioria desenvolvidos sem a preocupação de um embasamento pedagógico, priorizando, essencialmente, questões técnicas. A análise dos OAs disponíveis em repositórios evidencia que o foco do processo de ensino e de aprendizagem reside na díade estímulo-resposta, fato que aponta para uma perspectiva empirista do conhecimento e gera dificuldades na compreensão dos conteúdos trabalhados. Dessa forma, o objetivo deste trabalho reside na tentativa de elaboração de OAs que privilegiem a construção do conhecimento. Para tanto, são adotados os pressupostos epistemológicos de Vygotsky, no que tange ao processo de mediação, a formação de conceitos, a colaboração e ao trabalho na zona de desenvolvimento proximal dos estudantes. O estudo visa evidenciar os OAs como instrumentos facilitadores e potencializadores da aprendizagem no contexto da era digital. AS TENDÊNCIAS TEÓRICAS EM ESTUDOS DE CALL NO BRASIL: IDENTIFICANDO O ESTADO DA ARTE Susana Cristina dos Reis ( PPGL-UFSM) A necessidade do estabelecimento da agenda de pesquisa em CALL tem sido foco de investigação de diferentes pesquisadores da área na última década (Chapelle, 2000; Levy, 2004; Felix, 2005; 2008; Paiva, 2005; Leffa, 2006). Tendo em vista essa tendência, neste trabalho tenho por objetivo identificar as teorias que têm orientado as diferentes fases de pesquisas em CALL no Brasil, ao investigar os objetivos das pesquisas e as tendências teóricas publicadas em artigos, dissertações e teses da área. Resultados iniciais apontam que os estudos em CALL têm sido orientados por quatro teorias, a saber, a teoria sociocultural, os estudos de gêneros, a teoria da atividade e a teoria da complexidade. Os dados coletados sobre essas tendências serão apresentados e discutidos com vistas a contribuir para a delimitação das tendências teóricas que orientam os estudos de CALL em nosso país, bem como essas teorias têm sido implementadas na elaboração de objetos de aprendizagem e em discussões sobre a prática pedagógica. O DISCURSO UNIVERSITÁRIO SOBRE AS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS: UM DEBATE EM ABERTO Valesca Brasil Irala (PPGL-UCPel, UNIPAMPA)

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Neste trabalho, à luz de duas teorias sócio-históricas, a teoria da atividade (TA) e a teoria enunciativa de Bakhtin (TE), busco analisar o material coletado durante o segundo semestre de 2007, em que ministrei a disciplina Letramento Digital em um curso de Letras em uma universidade federal do interior do Rio Grande do Sul. O material em questão consiste em gravações em vídeo dos debates ocorridos em sala de aula a partir de 18 artigos teóricos versando sobre tecnologias educacionais e de perguntas e respostas elaboradas pelos alunos dessa disciplina em um blog criado para esse fim. Diante da amplitude do corpus, as análises enfatizam os processos de metaforização produzidos, a seleção lexical e a introdução de aspas no discurso dos alunos ao referir-se ao tema em questão. A tônica aqui levantada é o tratamento do signo verbal como ferramenta capaz de produzir mediação, assim como outros artefatos culturais. O signo, marcado socialmente, é engendrado em um sistema de gêneros, assumindo esses como atividade. Nessa lógica, a internalização das mudanças é perpassada em todo momento pelo social, embora não de forma determinística. A ampliação na oferta de disciplinas dessa natureza é apenas um índice de que essas mudanças poderão ser efetivadas. WEB 2.0: DE BLOGS A WIKIS – A COLABORAÇÃO EM MASSA NA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE LÍNGUA ESTRANGEIRAS Vanessa Ribas Fialho (FAMES, UCPEL) A web 2.0, como está sendo chamada a segunda geração de ferramentas da Internet, possui um caráter bastante colaborativo. Como exemplo dessas ferramentas, temos os ambientes ou ferramentas wikis e os também conhecidos blogs. Nos wikis, por exemplo, é possível criar hipertextos de forma coletiva, rápida e simplificada. A Wikipédia, enciclopédia virtual construída a partir da colaboração de voluntários, é um dos principais exemplos desse tipo de ambiente bastante controversial. O blog, novo gênero de circulação na Internet, já conhecido e difundido em várias esferas (pessoais, educacionais, comerciais), pode ser definido como uma página da web atualizada com freqüência e que depende da participação/colaboração de vários autores através de posts para que de fato funcione, descaracterizando sua relação anterior com o gênero diário pessoal, no qual a participação de outros era inviável. Assim, tendo em mente os conceitos de Blogs e Wikis, esta comunicação tem como objetivo definir o que é colaboração em massa, exemplificando alguns lugares onde essa colaboração acontece e de que forma acontece, destacando suas vantagens; exemplificar ambientes de colaboração como Blogs e Wikis e destacar suas potencialidades para a formação continuada de professores de línguas estrangeiras.

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ENTROPIA SÓCIO-INTERATIVA: LIDANDO COM O INEVITÁVEL E COM A COMPLEXIDADE DAS INTERAÇÕES EM AMBIENTES (VIRTUAIS) DE APRENDIZAGEM Rafael Vetromille-Castro (UFPel) As teorias da Complexidade e do Caos (MORIN, 1995; GLEICK, 1989; RUELLE, 1993; LEWIN, 1999) permitem que o processo de aprendizagem seja visto de modo diferente daquele da Ciência Clássica. Na sala de aula sob a perspectiva complexa, a imprevisibilidade, a não-linearidade e a susceptibilidade às condições iniciais e aos fatores externos ao contexto educacional – dentre outras características dos sistemas complexos – são fundamentais e, portanto, consideradas na compreensão dos comportamentos emergentes dos elementos. O objetivo deste trabalho é definir grupos de professores de línguas em serviço e pré-serviço em um ambiente virtual de aprendizagem como um sistema complexo, analisar os elementos envolvidos e seus comportamentos, apresentar o conceito de entropia sócio-interativa (VETROMILLE-CASTRO, 2007) e, a partir dela, discutir o funcionamento desse tipo de sistema, especialmente no que diz respeito à emergência e à manutenção da interação, aspecto essencial para a construção do conhecimento sob a ótica sócio-construtivista. Para a discussão da interação, complementam o suporte teórico os Estudos Sociológicos de Jean Piaget (1973) e a Sustentação Solidária (ESTRÁZULAS, 2004), na medida em que dão espaço para a compreensão das trocas interindividuais associadas à colaboração e à autonomia. Pretende-se também estender algumas constatações oriundas do ambiente virtual de aprendizagem para os contextos de Educação presencial. "YO SOY YO Y MIS CIRCUNSTANCIAS": EMERGÊNCIA, COMPLEXIDADE E ENSINO DE LÍNGUAS Vilson J. Leffa (UCPEL) O objetivo da apresentação é introduzir o conceito de emergência sob a perspectiva das teorias da complexidade. Mostra-se que a sala de aula é um sistema complexo, caracterizado pela mudança constante, que ocorre pela interação de seus elementos. Essa interação não se dá apenas dentro do sistema, (incluindo, por exemplo, professor, aluno e material didático), mas também com elementos de outros sistemas, na medida em que condições externas (um temporal que causa transtornos no trânsito) podem afetar o que acontece dentro da sala de aula. Argumenta-se que a perspectiva da complexidade traz desafios e affordances (possibilidades de ação) para o professor. Entre os desafios, destaca-se a imprevisibilidade, que é a impossibilidade de estabelecer, com antecedência, relações de causa e efeito nas ações da sala de aula, como preconiza a ciência clássica. O professor não tem como garantir o resultado de suas ações; a mesma estratégia que funciona numa determinada aula pode ser desastrosa em outra. Entre as affordances, está a abertura dos sistemas complexos, que são extremamente

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sensíveis não só às condições iniciais, mas também às condições externas. Entre as condições iniciais está o princípio de que os sistemas complexos emergem em algum momento em algum lugar. Já as condições externas mostram que os sistemas, depois de iniciados, podem ser modificados ao longo de seu percurso. São essas condições que dão ao professor a possibilidade de interferir no sistema. A conclusão é de que, devido às relações que se estabelecem entre elementos do próprio sistema e de elementos externos, o ensino da língua, materna ou estrangeira, precisa ir além dos estratos meramente lingüísticos (sistemas fonológico, morfológico, sintático e semântico) para incorporar outros sistemas, incluindo aqueles trazidos pelo aluno. Ignorar o que ele traz é correr o risco de dar aula par um aluno que não existe. GT9 Plurilingüismo e Contato Lingüístico Coordenadores Karen Pupp Spinassé (UFRGS) Ina Emmel (UFSC) BILETRAMENTO: QUANDO E COMO DESENVOLVÊ-LO? REFLEXÕES SOBRE BILETRAMENTO EM CURRÍCULOS BILÍNGÜES DE PRESTÍGIO Vanessa Viega Prado (UFRGS) Com os estudos sobre a educação bilíngüe e com o aumento de escolas que proporcionam programas bilíngües, principalmente os de prestígio como no caso do Brasil, surge a questão do biletramento: como tornar o indivíduo letrado em duas línguas, desempenhando sua competência lingüística de compreensão e produção escrita nas duas línguas de forma proficiente. Essa é uma preocupação que surge com esse novo tipo de proposta escolar, o currículo bilíngüe. A pesquisa sobre bilingüismo e currículos bilíngües vem aumentando ao longo dos anos, no entanto a questão do biletramento parece ainda ser pouco discutida e estudada, sendo a literatura recente escassa. Sendo assim, o presente estudo busca refletir sobre alguns aspectos do biletramento e responder à seguinte pergunta: o biletramento deve ser desenvolvido simultaneamente através da língua materna e da segunda língua ou primeiramente em uma língua e após na outra? Para responder a essa pergunta, o estudo é baseado em algumas discussões teóricas e conceitos sobre bilingüismo, letramento e biletramento e em reflexões a respeito do ensino bilíngüe. Além disso, apresenta as considerações de dois professores de educação bilíngüe do Rio Grande do Sul, coletadas através de entrevista. Com esse estudo, busca-se então contribuir para as discussões a respeito da educação bilíngüe no Brasil

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“MINHA LÍNGUA ENTRE A VIDA E A MORTE”, OU: O COMPLEXO JOGO DE RELAÇÕES ENTRE MONOLINGUALIZAÇÃO E BILINGÜISMO Marley Pertile (UFRGS) Cléo V. Altenhofen (UFRGS) Apesar dos benefícios da aquisição bilíngüe, apontados pelas pesquisas de bilingüismo, nas mais diferentes perspectivas – tanto cognitiva (Bialystok 2005) quanto social ou sociológica (Fishman 2006; Romaine 1995) – ainda predomina no contexto brasileiro a visão essencialmente monolíngüe e monolingualizadora, que conseqüentemente conduz a uma perda de grande parte dessas habilidades. A presente contribuição tem por objetivo identificar os diferentes fatores que, de um lado, aceleram a morte de uma língua, fomentando o lingüicídio (Skutnabb-Kangas. & Phillipson 1996), ou, na melhor das hipóteses, mantêm e até mesmo revitalizam uma língua (Fishman 2006). Para tanto, toma-se por base a pesquisa de doutorado de M. Pertile (em andamento) sobre “O talian entre o italano-padrão e o português brasileiro: manutenção e substituição lingüística no Alto Uruguai/RS”. A pesquisa aponta para a ausência de uma conscientização (language awareness, Hélot 2006) e de uma política lingüística adequada para o plurilingüismo, no Brasil. É o que acontece na região do Alto Uruguai Gaúcho, foco do estudo, onde se registra a presença significativa de comunidades bilíngües formadas por descendentes de imigrantes italianos, alemães, poloneses e judeus, onde, contrariamente, os benefícios apontados para as habilidades bilíngües se perdem em virtude dessa visão monolíngüe e monolingualizadora que leva à mortandade lingüística e cultural dessas línguas minoritárias. Afinal, perguntamos quais os fatores que levam à progressiva substituição ou perda do talian, nas novas gerações, e o que isso representa em termos sociais e educativos? Os dados analisados até agora apontam para uma dupla substituição, tanto de substituição maciça do talian pelo português, quanto de substituição, embora em grau menor, do talian pelo italiano-padrão. Constitui, por isso, um dos objetivos principais da Tese determinar os fatores mais relevantes e a proporção em que contribuíram para a manutenção ou substituição dessa língua alóctone, seja no contato das diferentes variantes da língua italiana entre si e com o italiano-padrão, seja no contato com a língua majoritária do novo país. A base teórica e metodológica utilizada orienta-se pelos princípios da geolingüística pluridimensional e relacional (Thun 1998). Dados preliminares apontam que é bastante difícil manter uma língua por várias gerações se não há um suporte social e se a língua é usada puramente no ambiente familiar. Por outro lado, a transmissão intergeracional é um fator-chave na transmissão e vitalidade de uma língua (Fishman 2006). A configuração local de cada contexto em particular mostra a convergência de diversos fatores. A presente contribuição busca explicitar a complexidade dessas relações e seu papel no processo de vitalidade e perda do talian nas comunidades específicas de pesquisa.

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O TALIAN EM CASCAVEL Alessandra Regina Ribeiro Honório (UNIOESTE) Cavalcanti (1999) afirma que existe hoje, no Brasil, o mito do monolingüismo. Sabe-se que uma língua atua como um forte instrumento de poder social, e que fatores históricos/políticos determinam a língua de prestígio a ser veiculada como sendo a norma “culta”. Apesar de se acreditar que a língua portuguesa no Brasil é o único veículo de comunicação, existem minorias lingüísticas faladas no dia-a-dia em território brasileiro. O contexto objeto deste estudo será o município de Cascavel localizado na região oeste do Paraná, o qual tem grande parte de sua história marcada pelas mãos de imigrantes italianos. Existem, neste município, várias manifestações da cultura italiana, entre elas, o Talian, o dialeto italiano trazido do Rio Grande do Sul. Com o objetivo de colaborar com a desmistificação de que no Brasil só se fala o português, apresentaremos partes de uma pesquisa de mestrado realizada na Universidade Estadual do Oeste do Paraná- UNIOESTE, no campus de Cascavel, que revelam situações de bilingüismo no referido município. O MITO DA PUREZA LINGÜÍSTICA CONFRONTADO PELO CONCEITO DE CODE-SWITCHING Isabella Mozzillo (UFPel) Partimos do pressuposto de que as conversações que ocorrem entre falantes não monolíngües, e que sabem que partilham o mesmo par de línguas, sempre apresentam características próprias, quais sejam, a presença, em maior ou em menor grau, de traços das duas línguas em contato. Interessa-nos discutir situações de contato lingüístico sob diversas perspectivas para esclarecer que a alternância lingüística ou code-switching não apenas é inevitável, como é útil do ponto de vista pragmático de negociação de significados. Os fenômenos advindos do contato de línguas são naturais e inerentes à condição de usuários de mais de um idioma e constituem estratégias de adaptação comunicativa altamente desejável e benéfica, organizando-se como um comportamento de ativação-desativação de uma ou outra língua segundo elementos particulares a cada situação interativa. Numa sociedade que preza a pureza e a separação das línguas e que despreza as mesclas, as misturas e os hibridismos lingüísticos, é importante ressaltar os fenômenos inerentes às conversações bilíngües para contribuir na diminuição do preconceito.

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MULTILINGÜISMO, VOZES PARALELAS EM ESPIRAL: LÍNGUAS INTEGRADAS OU CINDIDAS OU, MAIS DO QUE ISTO, LÍNGUAS TRADUZIDAS? Lúcia Valquíria Souza Grigoletti (UCPEL) Dando seguimento a seus estudos sobre o processo identitário do multilíngüe, a autora se propõe a olhar, nesse momento, um outro vértice de um mesmo prisma: a tradução. Hodierno a identidade do multilíngüe é uma realidade compartilhada por muitos indivíduos da esfera global e, pode-se dizer, uma identidade não mais em crise – conflito vivido em curto espaço de tempo – mas em estado constante. Sendo este estado de ser uma vivência cada vez mais tendente do indivíduo na contemporaneidade, o presente trabalho objetiva criar um espaço de reflexão sobre alguns aspectos que possam levar o multilíngüe a um processo de tradução que contribuirá na integração ou na cisão psico/lingüística. Sabe-se que tal vivência (multilíngüe) é motivo de divergência de acordo com os autores. Alguns a entendem como cisão, irreparável dano ao eu do sujeito, outros acreditam que o tecido das diversas línguas permite dizer e pensar os antigos conflitos com novas palavras, como uma forma de reparação. Numa linguagem Psicanalítica a autora utiliza-se da concepção kleiniana de cisão/integração para melhor entender e traduzir o processo do multilíngüe aqui focalizado. Muitos são os autores que compartilham a idéia da complexidade e necessidade de intensos estudos para entender melhor essa torre de Babel. Ciente dos inúmeros vértices que o trabalho possa contemplar é focalizado a tradução – uma imposição que resulta da incompletude de qualquer língua. E é nessa incompletude – é impossível para um signo de uma língua ocupar o mesmo lugar que ocupa na sua o signo com o qual é traduzido – que o conflito cisão X integração se desenvolve. Focalizar o olhar na tradução é contemplar, inevitavelmente, espaço e tempo, concepções tão bem trabalhadas na visão bakhtiniana de enunciado, cronotopia e exotopia. Interligando a estes conceitos é destacado o lugar do silêncio e da transgressão ao estabelecido. Traduzindo em sua língua materna, a Psicanálise, a autora entende que a tradução possa ser visualizada em três níveis: intrapessoal; interpessoal e transgeracional. E será numa vivência relacional polifônica na intralíngua, na interlíngua e na translinguagem, que o conflito cisão X integração poderá na tradução, no microkairos, transformar-se em novos percursos de linguagem para o polilíngüe, o poliglota e o monolíngüe. Portanto, para o multilíngüe transladar, de forma integrada, em outra, ou outras, língua, é necessário um vínculo seguro à língua materna e, simultaneamente, será na agoridade, na différance, que irá co-construir, junto com o outro, sua língua subjetiva e des-cobrir sua competência na translinguagem ao traduzir e traduzir-se e ao transmitir a transmissão em qualquer língua. Co-escrevendo e inscrevendo sua história em uma outra língua e em outro contexto de linguagem, resgata sua competência de natureza individual – instinto epistemofílico (desejo de conhecer) e escopofílico (desejo de ver) – e social (ser de interação e

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narração). Des-cobre a própria competência de transitar, de transformar-se e historicizar-se como sujeito autônomo em seu saber implícito: competência para comunicar-se nas três mil línguas faladas por 200 Estados politicamente individualizados. Línguas interligadas/traduzidas, paralelas e em espiral! O PORTUGUÊS DOS “HOLANDESES” DE CARAMBEÍ: IDENTIDADE E R-FORTE Letícia Fraga (UEPG, Ponta Grossa/UNICAMP) Carambeí, uma pequena cidade no interior do Paraná, é a primeira colônia holandesa do Brasil, fundada em 1911. Apesar de ser bastante antiga, até hoje temos a impressão de que saímos do Brasil quando vamos a Carambeí e conhecemos sua gente. Mas o que é fato e o que é impressão? Quem são os carambeienses? São holandeses ou são brasileiros? Considerando que essas questões ainda não foram suficientemente respondidas e que o município de Carambeí é bastante complexo cultural e lingüisticamente, este estudo pretende: a) discutir a identidade dos “holandeses” de Carambeí; b) analisar a variedade de português falada pelos “holandeses” de Carambeí no que diz respeito ao uso do r-forte; e c) estabelecer que tipo de relação se dá entre identidade e uso de determinada variante de r-forte no português. No que diz respeito à identidade manifesta pelos “holandeses”, percebe-se que se estabelecem dois grupos distintos: o dos “brasileiros” (parte do Grupo 2F e Grupos 3M e 3F) e dos “holandeses” (Grupos 1M, 1F, 2M, e parte do Grupo 2F). No que diz respeito ao uso de r-forte, os grupos 1M e 1F usam vibrante múltipla e tepe; o Grupo 2M também usa a vibrante e o tepe; já o Grupo 2F foi dividido: o Grupo 2Fa usa somente vibrante e tepe e o Grupo 2Fb usa fricativa e vibrante. Os Grupos 3M e 3F usam somente fricativa. Enfim, pode-se dizer que a manifestação da identidade holandesa contribui para o uso de tepe. Já para o uso de vibrante, parecem contribuir mais para uma identidade indefinida, mas oposta à “brasileira”. O uso de vibrante e fricativa parece estar relacionado à identidade “brasileira”. Finalmente, o uso exclusivo de fricativa parece estar ligado à total indiferença quanto ao holandês e à total identificação com a identidade de “brasileiro”. EFEITOS DO CONTATO PORTUGUÊS-ESPANHOL NO CONTÍNUO LINGÜÍSTICO BRASILEIRO-URUGUAIO Jorge Espiga (UCPEL, CEFET/RS) Ao referirmos o contato lingüístico brasileiro-uruguaio, tentamos conferir ao espaço fronteiriço caráter central, por considerarmos que um contínuo que transcende os limites territoriais ou políticos entre o Brasil e o Uruguai – não apenas no lingüístico – deve ter a fronteira como epicentro e o fronteiriço deve ser a sua essência. Trata-se de uma fronteira móvel, difusa, permeável e permeante, que também transcende, por si, as delimitações ou recortes artificiais que a metodologia lingüística pretenda impor-lhe e o imaginário discursivo queira atribuir-lhe, ao tentar analisar, separadamente, um

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português que suponha o espanhol como vizinho ou vice-versa. Nessa realidade complexa, dificilmente divisível, observamos alguns efeitos que o contato lingüístico acarreta para a sincronia e diacronia do espanhol fronteiriço e do português fronteiriço – este considerado aqui como o conjunto de dialetos de português falados de ambos os lados da fronteira: o português do Uruguai (os DPU – Dialetos Portugueses do Uruguai) e o português sul-rio-grandense ou gaúcho. De tais cenários de variabilidade extraímos alguns casos de interferências de um domínio sobre outro, no contínuo de contato português-espanhol, aportando, quando possível, resultados estatísticos que respaldem as observações qualitativas. Além disso, discutiremos que impactos ou repercussões são projetadas no contínuo, ao longo do tempo, a partir da reiteração do contato. Para tal, utilizaremos resultados do Projeto VCPF – Variação e Contato do Português Fronteiriço -, desenvolvido na Universidade Católica com o apoio do CNPq, e acessaremos dados do BDS Pampa – Banco de Dados da Fronteira e da Campanha Sul-Rio-Grandense, do BDPU – Banco de Dados do Português do Uruguai – e do BDEF – Banco de Dados do Espanhol Fronteiriço –, residentes na Universidade Católica de Pelotas e construídos conjuntamente com a Universidade da República, do Uruguai. INFLUÊNCIA DO PORTUGUÊS SOBRE O SEGMENTO /S/ DO ESPANHOL EM ZONAS FRONTEIRIÇAS Luciana Rodrigues Alves Ribeiro (FURG/UFPEL) Jorge Walter Rocha Espiga (UCPEL/CEFET-RS) Este trabalho com uma aproximação metodológica quantitativa propõe um enfoque diacrônico da possível influência do português sobre o espanhol na realização fônica do segmento /s/ nas zonas de contato entre as línguas. Segue os critérios metodológicos labovianos e tem como base gravações feitas em dois períodos (1988/2008) em comunidades fronteiriças onde ocorre tal contato: Rivera - Sant’Ana do Livramento e Chuy – Chuí. Ao selecionar os informantes os critérios avaliados foram: idade, escolaridade, nível de contato com o português e local de nascimento. O trabalho parte da suposição que nessa zona de fronteira a evolução do segmento /s/ do espanhol não apresenta apenas as realizações fônicas do dialeto distantes do contato português/espanhol. O estudo usa como base o espanhol de Montevidéu, uma vez que é de onde procede o espanhol que estabelece contato com o português do espaço fronteiriço. O ESPANHOL DA REGIÃO DO RIO DA PRATA. CONTATO LINGÜÍSTICO COM O PORTUGUÊS DO BRASIL Marcelo Pastafiglia (UNESC - Criciúma) A variante do espanhol do Rio da Prata caracteriza-se por um fenômeno lingüístico conhecido como lunfardo. O lunfardo tem suas origens em Buenos Aires, no final do século XIX. Surgido como jargão carcerário,

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converteu-se, nas primeiras décadas do século XX, em patrimônio lexical do espanhol do Rio da Prata. Tão estranho como vigente, o lunfardo incorporou-se aos diferentes níveis da língua castelhana de Argentina e Uruguai. Pelo contato lingüístico, muitos termos e expressões lunfardas passaram ao português do Brasil. O assunto deste trabalho de pesquisa consiste em definir a evolução do idioma espanhol na região do Rio da Prata e como o lunfardo se incorpora à linguagem popular, coloquial e familiar desses países. Segundo Espíndola, quando se diz que um indivíduo fala ou escreve em lunfardo, não significa que exista uma sintaxe lunfarda própria, alheia à espanhola; significa que o indivíduo se expressa segundo os moldes e mecanismos do espanhol, mas fazendo uso, predominantemente, de vocábulos e expressões de extração lunfarda. (ESPÍNDOLA; 2003: 295). A primeira vez que se tem notícia da presença de termos lunfardos na imprensa escrita argentina data de um artigo de 6 de julho de 1878, em La Prensa, sob o título de "El dialecto de los ladrones”, que comenta a existência desse “dialeto carcerário”:“Estando en el bolín polizando, se presentó el mayorengo: A portarlo en cana vengo, su mina lo ha delatado.”(Trad: Estando no meu quarto dormindo, apresentou-se o policial: Venho levá-lo à prisão, sua mulher o delatou.). O lunfardo era um jargão criado pelos ladrões para entendimento entre si, e para dificultar a compreensão entre eles e a polícia ou entre eles e suas possíveis vítimas. (GOBELLO,1998:159-160). Observamos que termos tais como “mina” e “cana” passaram ao português do Brasil, ainda que considerados como parte da gíria brasileira. Composto, primitiva e primordialmente, de palavras relacionadas ao exercício do delito, na última década do século XIX e nos primeiros anos do século XX, o lunfardo excede o âmbito do submundo delitivo. É adotado pelos nativos de Buenos Aires e Montevidéu, quando estas duas cidades começam a receber o processo imigratório europeu. As camadas baixas da população, no contato lingüístico com os imigrantes dos conventillos (cortiços), transformam o lunfardo original, restrito às camadas socialmente desfavorecidas, em fala popular. O primitivo jargão se abre à incorporação de novas vozes, enriquecendo-se com a adoção de locuções trazidas pela imigração, e expandindo seu uso como veículo verbal de comunicação cotidiana, familiar, e literária. (ESPÍNDOLA, 2003: 293). O lunfardo, como fenômeno lingüístico, continuou evoluindo e consolidando-se nas décadas sucessivas até a atualidade. A análise dessa evolução pode colaborar para a compreensão da realidade idiomática do espanhol da região do Rio da Prata que tanto a diferencia das outras comunidades de fala espanhola. A GESTÃO DAS LÍNGUAS EM UM CONTEXTO MULTILÍNGÜE:

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CONFRONTO ENTRE LÍNGUA OFICIAL, LÍNGUA DE IMIGRAÇÃO E LÍNGUA ESTRANGEIRA Cibele Krause-lemke (UNICENTRO, PG/FEUSP) O objetivo desta comunicação é apresentar um estudo ainda em desenvolvimento sobre o ensino/aprendizagem de língua espanhola em contexto multilíngüe. Trata-se de uma região do centro-sul do Paraná, de imigração majoritariamente ucraniana. Neste contexto, há o confronto entre a língua de imigração, a língua oficial e as línguas ensinadas na escola: o espanhol e o inglês. Através da modalidade de pesquisa etnográfica e da análise da conversação, de um lado, o estudo focalizará como ocorre a gestão das línguas em sala de aula, por professores e alunos, a partir da observação da existência de alternância de línguas. De outro, lançará um olhar sobre as políticas e práticas lingüísticas e questionará o papel monolíngüe atribuído ao nosso país. GRAUS DE DIALETALIDADE DO HUNSRÜCKISCH EM CONTATO COM O PORTUGUÊS Cléo V. Altenhofen, (UFRGS) Martina Meyer (UFRGS) Estudos prévios sobre o Hunsrückisch em contato com o português têm mostrado a variação interna dessa língua de imigração alemã (Altenhofen 1996). Esse fato é evidenciado através dos diferentes traços presentes na fala de teuto-brasileiros, seja de base germânica (interesse germanístico), seja motivado pelo contato com o português (foco em aspectos romanísticos). Considerando o Hunsrückisch um contínuo lingüístico que varia entre um tipo [+dialetal], de base francônio-moselana ou -renana e, de outro lado, um tipo [-dialetal], portanto [+padrão], pretende-se neste estudo, a) definir parâmetros para a medição do grau de dialetalidade do Hunsrückisch (Herrgen & Schmidt 1989), bem como b) identificar os processos e as relações que subjazem à composição dessa língua de contato nas diferentes localidades analisadas pelo projeto ALMA-H (Atlas Lingüístico-Contatual das Minorias Alemãs da Bacia do Prata: Hunsrückisch). A coleta e análise dos dados do Projeto seguem os pressupostos da geolingüística pluridimensional e relacional (Thun 1998), ou seja são de ordem macroanalítica e abarcam diferentes dimensões de análise da variação lingüística. Para tanto, servem de base para a análise não apenas variáveis fonético-fonológicas, morfossintáticas e semântico-lexicais, mas também as atitudes dos falantes em relação às diferentes variantes da língua (dimensão diarreferencial). As análises preliminares de dados coletados até agora permitem reconhecer duas subvariedades do Hunsrückisch, que se opõem pelo status que lhes é atribuído em virtude de seu grau de dialetalidade maior – o tipo reconhecido como deitsch (ou Plattdeitsch) – ou menor, neste caso uma variedade que denominamos de deutsch, e que não deve ser confundida com o Hochdeutsch, associado ao alemão-padrão falado na

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Alemanha. A ocorrência de variantes do deitsch e do deutsch obedece a uma série de fatores de ordem diatópica, diageracional e diacrônica (imigrantes mais antigos ou mais recentes), contatual ou dialingual (nivelamento lingüístico), entre outros aspectos que serão sumariamente apresentados. (Auxílio: Fundação Alexander von Humboldt, Alemanha – 2008-2010) A LEGITIMAÇÃO DO LÉXICO DO HUNSRÜCKISCH: REFLEXÕES E PROPOSTAS LEXICOGRÁFICAS PARA A CRIAÇÃO DE UM DICIONÁRIO BILÍNGÜE HUNSRÜCKISCH-PORTUGUÊS Fábio Anschau (UFRGS) Por necessidade do aumento da integração entre os povos, surgem os primeiros dicionários bilíngües e multilíngües. Dicionário é, segundo KRIEGER (1993), um lugar de representação do bem-dizer, ou seja, no momento em que um vocábulo está registrado (dicionarizado) ele adquire legitimidade, podendo assim, ser utilizado sem causar contravenções lingüísticas. A legitimação do léxico e a consagração do significado atribuem ao dicionário um certo status (poder). Esse poder faz com que os dicionários se revelem obras dinâmicas, ou melhor, se tornem dinâmicos, pois a língua está em constante mudança. Nesse sentido, a presente pesquisa busca dar um tratamento léxico ao Hunsrückisch, uma vez que não existe dicionário para tal variante da língua alemã. Como subprojeto do ALMA (Atlas Lingüístico-Contatual das Minorias Alemãs da Bacia do Prata) se encontra o Dicionário do Hunsrückisch e, por isso, quer-se aqui não apenas analisar e traçar um paralelo entre os principais dicionários bilíngües dialetais da língua alemã: Hunsrücker Wörterbuch (Diener), Rheinisches Wörterbuch, Pfälzisches Wörterbuch e o Dicionário Enciclopédico Pomerano-Português (Tressmann), mas também apresentar algumas propostas lexicográficas para a criação de um dicionário bilíngüe Hunsrückisch-Português. Por fim, pretende-se refletir acerca da importância da legitimação do léxico das línguas minoritárias. ENSINO DE LÍNGUAS EM CONTEXTOS MULTILÍNGÜES Karen Pupp Spinassé (UFRGS) Em um país multilíngüe como o Brasil, muitos são ainda os obstáculos que impedem um ensino de línguas bem-sucedido, principalmente no que concerne a um contexto envolvendo línguas minoritárias. A desinformação a respeito do fator bilíngüe em diferentes âmbitos da sociedade, a falta de políticas lingüísticas mais eficazes e a complexidade do fenômeno bilíngüe em si são fatores que estimulam o preconceito lingüístico, a substituição lingüística e, em conseqüência disso, podem levar a um aprendizado de línguas deficiente – o que poderia ser diferente se esses fatores fossem levados em consideração.

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A partir de exemplos concretos de localidades de fala do hunsrückisch, uma variedade minoritária de base alemã, bem como baseados na teoria do bilingüismo e nas pesquisas que vêm sendo realizadas nos nossos projetos na UFRGS, buscamos, nessa comunicação, apresentar algumas considerações a respeito do ensino de línguas em contextos multilíngües, discutindo a problemática acima levantada para que reflitamos sobre a pergunta condutora de nossos estudos: Qual é a Educação Bilíngüe que queremos? ATITUDES E CONCEPÇÕES LINGÜÍSTICAS E SUA RELAÇÃO COM AS PRÁTICAS SOCIAIS DE PROFESSORES EM COMUNIDADES BILÍNGÜES ALEMÃO-PORTUGUÊS DO RIO GRANDE DO SUL Maria Nilse Schneider (UFRGS) Este estudo investiga atitudes e concepções lingüísticas (crenças e preconceitos lingüísticos) de 20 professores e a relação com as suas práticas sociais em três escolas de comunidades bilíngües alemão-português do Rio Grande do Sul. Primeiramente, descreve o repertório lingüístico, a dinâmica das competências lingüísticas na dimensão diageracional e a manutenção do Hunsrückisch. Em seguida, discute atitudes e concepções lingüísticas desses professores e analisa como as suas concepções se refletem na valoração e no tratamento que conferem às variedades lingüísticas, aos traços de fala e ao uso de alemão na interação em aula. Este estudo insere-se na Sociolingüística Interacional e na Sociolingüística, mais precisamente, nos estudos de interação social, bilingüismo, política lingüística e de atitudes e concepções lingüísticas. Na geração e análise dos dados combina instrumentos e categorias de análise das abordagens quantitativa e qualitativa. Os resultados evidenciam um alto grau de manutenção do Hunsrückisch e conflitos identitários e educacionais, os quais se refletem nas atitudes de solidariedade e de distinção lingüística e nas práticas sociais dos professores. LÍNGUAS EM CONTATO/CONFLITO: EM FOCO UMA ESCOLA RURAL EM ZONA DE IMIGRAÇÃO ALEMÃ NO SUL DO BRASIL Maristela Pereira Fritzen (FURB) O Vale do Itajaí, em Santa Catarina, se constituiu como um cenário multicultural e plurilingüístico, em função do modo de colonização da região. Apesar das campanhas de nacionalização do ensino, cuja premissa principal baseava-se no lema “uma língua, uma nação”, entrecruzam-se, hoje ainda, neste contexto, ao lado do português, línguas de imigração como o alemão, o italiano e o polonês. Porém, o bilingüismo desses grupos minoritarizados, que conservam a língua de seu grupo étnico, não é reconhecido pela sociedade majoritária. O que circula, em geral, na região, são discursos hegemônicos de estigmatização das línguas de herança e de seus falantes. Na escola, o bilingüismo das crianças é tratado, não raro, como um problema

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para a aprendizagem do português escrito e das demais disciplinas ou é simplesmente apagado do contexto escolar. Nesta comunicação, pretendemos socializar e discutir no GT Plurilingüismo e Contato Lingüístico parte de nossa pesquisa desenvolvida no Programa de Doutorado em Lingüística Aplicada da Unicamp, na linha de pesquisa Multiculturalismo, Plurilingüismo e Educação Bilíngüe. O estudo de natureza etnográfica foi realizado em uma escola rural multisseriada, inserida em contexto bilíngüe alemão/português de Blumenau, SC. Com apoio teórico do campo de estudos do bilingüismo como fenômeno social e dos estudos culturais, o objetivo é (i) problematizar o contato/conflito lingüístico presente na sociedade e na escola, (ii) combater o preconceito lingüístico, (iii) visibilizar o grupo estudado e (iv) desvelar as intersecções entre as línguas em uso e questões sócio-históricas, políticas e identitárias presentes nesse cenário sociolinguisticamente complexo, a fim de contribuir para o reconhecimento do direito das crianças bilíngües ao ensino formal da língua e da cultura do seu grupo étnico, como apregoa a Declaração Universal dos Direitos Lingüísticos, de 1996. A VARIAÇÃO NA ESCRITA DE CRIANÇAS EM PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DECORRENTE DO BILINGÜISMO-PORTUGUÊS/HUNSRÜCK Rosemari Lorenz Martins (PUCRS, Feevale) Regina Ritter Lamprecht (PUCRS) Este trabalho tem como objetivo principal verificar se crianças bilíngües - falantes de Português Brasileiro e do dialeto Hunsrück falado no Rio Grande do Sul - apresentam variações na escrita quanto ao uso de p / b; t / d; q – c / g; f / v; ch – x / j – g ; R / r no processo de alfabetização em decorrência do bilingüismo, a fim de contribuir com seu processo de alfabetização. A área de estudos em que se inscreve o tema é a da Aquisição da Linguagem, mais precisamente a Aquisição da Escrita e da Fonologia. O problema que este projeto propõe verificar é se essas crianças bilíngües apresentam variação na escrita quanto ao emprego das consoantes surdas e sonoras acima referidas. Embora o dialeto esteja desaparecendo, ainda se mantém em algumas regiões, em que as crianças aprendem o dialeto como primeira língua. Quando chegam à escola, contudo, acabam substituindo sua língua materna pelo Português, que acaba fluindo mais facilmente. As marcas do dialeto, entretanto, continuam enraizadas e podem ser percebidas de várias formas, tanto na seleção de palavras, como na sintaxe, e, principalmente, na fonologia. Muitos dos descendentes de alemães, inclusive os que não falam mais o dialeto, apresentam variação fonética quanto ao uso de diversos fonemas em Português. Esse fato é umas das justificativas usadas por muitos pais para não ensinarem o dialeto a seus filhos, pois julgam que ele prejudicará as crianças na escola durante a alfabetização. Isso até pode acontecer, mas as vantagens de se dominar mais de uma língua são bem maiores do que as pequenas variações lingüísticas que poderão ser

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facilmente corrigidas por professores preparados para tanto e, além disso, corrigir essas variações é muito mais fácil do que ensinar uma segunda língua que poderia ser aprendida naturalmente no seio familiar. A metodologia a ser utilizada para a realização deste projeto consiste em três grandes etapas: revisão teórica, coleta de dados e compreensão e análise dos dados coletados com base na revisão teórica realizada. A coleta de dados far-se-á em uma escola da rede municipal de uma cidade do Vale dos Sinos com uma turma de alunos da 1ª série em 2009. Coletar-se-ão dados das crianças e de seus pais. Acredito que este trabalho seja importante para evitar que o dialeto, que foi preservado por mais de duzentos anos no Brasil, desapareça entre os descendentes de alemães no Rio grande do Sul. O TRILINGÜISMO NO COLÉGIO FRITZ KLIEWER DE WITMARSUM (PARANÁ) Elvine Siemens Dück (UFRGS) O presente trabalho tem por objetivo analisar o uso e a alternância das línguas Plautdietsch (alemão-baixo), Hochdeutsch (alemão standard) e português no Colégio Estadual Fritz Kliewer. Trata-se, neste caso, de um Colégio situado na Colônia Witmarsum, município de Palmeira (PR), cuja comunidade é formada predominantemente por descendentes menonitas-alemães que vieram em 1930 ao Brasil. No início da fundação do Colégio Fritz Kliewer em 1952 e nas seguintes duas décadas a grande maioria de alunos menonitas-alemães se comunicava entre si em Plautdietsch e/ou em Hochdeutsch. No entanto, nos últimos anos este quadro teve grandes mudanças no que se refere ao emprego das línguas, conforme demonstra o estudo de DÜCK (2005). Ao invés de haver um estímulo para a continuidade do trilingüismo entre os jovens, vários fatores levaram praticamente ao abandono do uso do Plautdietsch no ambiente escolar e uso restrito do Hochdeutsch, com exceção nas aulas de língua alemã. O presente trabalho pretende contribuir, com isso, para um entendimento melhor da dinâmica dos contatos lingüísticos no ambiente escolar, observando a relação entre o uso das diferentes línguas (prestígio/estigma, número de falantes etc) e apontar para as principais tendências lingüísticas no uso diário dos alunos menonitas-alemães no Colégio. FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM CONTEXTOS PLURILÍNGÜES: A (DES)ESTABILIZAÇÃO DAS FRONTEIRAS Ângela Derlise Stübe Netto (UNICAMP) Neste estudo – fruto de nossa tese de doutoramento -, analisamos a constituição identitária de professores de língua portuguesa (LP), que não possuem exclusivamente essa língua (normalmente tomada como língua materna de quem é brasileiro) em sua inscrição no campo da linguagem para, com isso, pensar seu processo de formação. Participaram de nossa pesquisa 14 professores da educação básica, da rede pública de ensino, da região de

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Concórdia/SC, cuja história sócio-cultural é marcada pela imigração européia. A construção metodológica orientou-se por relatos escritos sobre a história de formação lingüística e profissional do professor, seguida de uma entrevista pautada em elementos desse relato. O pressuposto que norteia nossa investigação é de que, no imaginário, circula a idéia de que a LP é a língua materna (LM) de quem nasce no Brasil. Entretanto, muitos enunciadores – como podemos verificar em nosso corpus - não possuem exclusivamente a LP como LM. Frente a esse contexto, formulamos a hipótese de que essa história de vida, caracterizada por uma constituição lingüística marcadamente plural, traz incidências para a formação de professores de LP. Do ponto de vista teórico, situamo-nos na interface de teorias que trabalham com a noção de sujeito da linguagem, compreendido na sua contradição inerente, sustentado pelo desejo e pelo inconsciente. Nas análises, percebemos a tentativa dos professores de se manterem filiados a uma kultur. Entretanto, essa filiação não se dá sem tensões, embates e conflitos, grandemente influenciados pela política lingüística, como, por exemplo, a interdição das línguas estrangeiras no Estado Novo. Essa discursividade produz efeitos na memória dos descendentes de imigrantes, na maneira como eles formulam discursivamente seu passado e nas incidências sobre sua constituição identitária. Além disso, observamos que a escola assume uma prática de silenciar essa história marcadamente plural, sem torná-la dizível, deixando, assim, de trabalhar a relação com a alteridade lingüística e com as memórias outras que constituem os enunciadores de nossa pesquisa. O real da língua irrompe e – no dizer, no fio do discurso-, (des)constroem a representação de língua una, homogênea e de nação monolíngüe. A partir dessas análises, concebemos a noção de língua atravessada pela heterogeneidade, movimento de entre-línguas. A alteridade (des)mascarada no dizer desses enunciadores conduzem a uma experiência de estranhamento – unheimlich -, e isso nos leva a (re)pensar os processos de formação de professores nesse locus. GT10 Inferências em Linguagem Natural, uma Abordagem via Interface Externa Lingüístico-lógico-computacional e Interface Interna Sintático-semântico-pragmática dos Operadores Sentenciais Coordenadores: Jorge Campos da Costa (PUCRS) Ana Maria Tramunt Ibaños (PUCRS) PROPRIEDADES LÉXICO-SINTATICO-SEMÂNTICO-PRAGMÁTICAS PROBLEMÁTICAS PARA UM TRATAMENTO FORMAL DA INFERÊNCIA DEDUTIVA Jorge Campos da Costa (PUCRS) O tratamento formal das inferências dedutivas na Lógica Proposicional depende , como se sabe, dos conetivos veritativo-funcionais, como “se...então...”, “e”, “ou”, etc. A validade ou invalidade de um argumento

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depende da forma lógica que o sustenta. “se P então Q e P, permite inferir validamente Q”. Já a forma lógica “se P então Q e Q não conduz validamente a P, ou seja é uma falácia. Ocorre que propriedades do léxico, da sintaxe, da semântica e, especialmente, da pragmática das línguas naturais interferem sobre a forma lógica, gerando aceitabilidade de falácias e inaceitabilidade de tautologias. Isso dificulta uma abordagem formal de argumentos da linguagem natural e, conseqüentemente, traz problemas para o tratamento computacional de inferências desse tipo. HANDLING UNLIKE COORDINATED PHRASES IN TAG BY MIXING SYNTACTIC CATEGORY AND GRAMMATICAL FUNCTION Carlos A. Prolo (PUCRS) Coordination of phrases of different syntactic categories has posed a problem for generative systems based only on syntactic categories. Although some prefer to treat them as exceptional cases that should require some extra mechanism (as for elliptical constructions), or to allow for unrestricted cross-category coordination, they can be naturally derived in a grammatical functional generative approach. In this paper we explore the idea on how mixing syntactic categories and grammatical functions in the label set of a Tree Adjoining Grammar allows us to develop grammars that elegantly handle both the cases of same- and cross-category coordination in an uniform way. CONDICIONAIS INDICATIVOS, SUBJUNTIVOS E CONTRAFACTUAIS NUMA PERSPECTIVA INTERDISCIPLINAR Karina Veronica Molsing (PUCRS) O objetivo dessa apresentação é levantar questões e problemas com respeito ao estado da arte de certos fenômenos envolvendo condicionais. Muitas vezes, ao embarcar num projeto de pesquisa particular sobre condicionais, deve-se delimitar o escopo a poucos aspectos empíricos específicos da construção geral, o que invariavelmente remete a uma literatura grande filosófica que está por trás. Há muitos estudos que fizeram isso com respeito a elementos sintático-semântico-pragmático dos condicionais, fazendo diferentes tipos de interfaces e tratando de alguns assuntos empíricos, ao mesmo tempo em que reconhece os desafios filosóficos. Por outro lado, alguns podem se concentrar em questões ou empíricas ou filosóficas, deixando outras de lado. Os estudos influentes mais recentes têm reconhecido o que foi e não foi analisado nos seus trabalhos respectivos, e ao mesmo tempo esperam que uma fusão seja possível entre todas as análises. Entretanto, parece que esse fenômeno complexo ficou mais disperso com as linhas de pesquisa saindo por tangentes diferentes, deixando uma fusão cada vez menos provável. O foco particular dessa apresentação trata da relação entre os condicionais indicativos e subjuntivos, as suas

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concepções nos fundamentos Lingüísticos – Filosóficos – Lógicos tanto quanto os seus diagnósticos mais superficiais, a saber, o papel de tempo e aspecto no significado dos dois tipos de condicionais. Algumas questões importantes são levantadas com respeito a possibilidade de uma fusão teórica, cujo propósito seria tratar tais fenômenos relacionados dentro de uma abordagem mais geral. Essas questões incluem: i) se o condicional indicativo de linguagem natural é equivalente à implicação material lógica; ii) se as diferenças entre indicativos, subjuntivos e contrafactuais podem ser acomodadas dentro da mesma abordagem; e iii) qual é o papel de tempo, aspecto e modo? PREDICADOS SECUNDÁRIOS DESCRITIVOS: UMA COMPLEXA TEIA DE RELAÇÕES ENTRE SINTAXE, SEMÂNTICA E LÉXICO Gabriela Betania Hinrichs Conteratto (PUCRS) Neste trabalho, o objetivo principal é mostrar que a hipótese de que as paráfrases com o conectivo quando são as mais adequadas para estruturas com predicado secundário descritivo é limitada, ou até mesmo, inconsistente, pois o conectivo quando não dá conta de todas as implicações contidas na relação entre predicado primário e predicado secundário descritivo (i.e. Paulo escreveu o relatório nervoso/ Paulo estava nervoso quando escreveu o relatório). Um dos primeiros estudos que discute a questão do conectivo quando como paráfrase perfeita para os predicados descritivos é de Dowty (1972) (i.e. The girl married young/ The girl married when she was young). Ao assumir tal pressuposto, Dowty (1972) quer apontar simplesmente que os dois predicados compartilham o mesmo tempo e nada mais. No entanto, essa questão não é tão simples quanto aparenta ser. O próprio autor se dá conta disso ao observar que, em termos de pressuposição, tais sentenças são diferentes: uma sentença com predicado secundário descritivo somente vincula a verdade deste, enquanto que uma sentença com conectivo quando pressupõe a verdade da when-clause. Aqui, argumenta-se que o predicado descritivo, apesar de estar temporalmente relacionado com o predicado primário, não pode ser reduzido a isso, pois pode estabelecer relações de outras naturezas. Jackendoff (1990), por exemplo, afirma que a relação do predicado secundário com o predicado primário parece ser do tipo de dependência mútua não específica que ele codifica como um modificador de acompanhamento. Para ele, o acompanhamento é um tipo de subordinação que é assimétrica e que implica uma relação entre estruturas conceptuais principais e subordinadas. Segundo Jackendoff, essa subordinação é mais do que uma conjunção, mas menos do que uma causação. Foltran (1999) e Conteratto (2005) parecem não corroborar em parte tal afirmação, pois as autoras afirmam que, em alguns casos da língua portuguesa, a relação entre predicado primário e secundário pode ser assumida como sendo de causa (i.e. Maria esperava o lanche irritada. (irritada por esperar)/ Carla dirigiu o carro nervosa. (nervosa por dirigir)). Essa constatação também parece fragilizar a conclusão de Rothsthein (2003) de que o evento denotado pelo

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predicado secundário descritivo assume um lugar no passado em relação ao predicado primário, pois, quando a relação entre predicado primário e predicado secundário é assumida como sendo de causa, isso não acontece. Uma das hipóteses levantadas neste trabalho é de que dependendo da natureza semântica do predicado primário e do predicado secundário, a relação entre eles pode ser diferente, acarretando ou não certas restrições. Acredita-se também que, independentemente da natureza da relação entre essas duas eventualidades, elas sempre vão compartilhar um argumento e ter uma correlação temporal. Logo, o conectivo quando não esclarece todas as implicações relativas a essa relação. Assim, defende-se que somente uma análise composicional pode dar conta de descrever a relação entre a eventualidade denotada pelo predicado primário e a eventualidade denotada pelo predicado secundário. NEGAÇÃO DE DICTO E DE RE : PROBLEMAS PARA O TRATAMENTO COMPUTACIONAL . Ana Maria T. Ibanos (PUCRS) A negação tem sido, nas línguas naturais , um problema constante do ponto de vista léxico, sintático, semântico e pragmático. Na perspectiva lexical, por exemplo, chamam atenção redundâncias como (a) Ninguém nunca diz nada. e (b) Não vi ninguém . Na sintaxe, a negação de uma sentença como (c) João é vegetariano. pode ser expressa em duas formas diferentes em (d) e (e): (d) João não é vegetariano.(e) Não é verdade que João seja vegetariano. Semanticamente, proposições como (f) O Rei da França não existe. geram o clássico problema de, sendo verdadeiras, não saberemos sobre quem estamos falando. Do ponto de vista pragmático, como se sabe, um enunciado (g), afirmativo, pode ser entendido como uma negação: (g) (x) Gostarias que a tua sogra fosse junto? (y) Claro que sim (ironicamente) Dadas essas aparentes idiossincrasias no processo de negação , como oferecer-lhe um tratamento computacional adequado se argumentos problemáticos podem ser obtidos pelo uso da negação ? Em (h), por exemplo, (h) (x) Se esta é uma flor, então não é uma rosa. (y) é uma rosa. ------------------------------- (z) Portanto, não é uma flor A regra de derivação Modus Tollens é corretamente aplicada e, mesmo assim, leva a incongruência da conclusão Z.

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SOBRE A RELAÇÃO ENTRE ANTECEDENTE E CONSEQÜENTE EM PROPOSIÇÕES COM OPERADORES CONDICIONAIS Gabriel Othero (PUCRS) Em linguagem natural, parece ser obrigatória a existência de uma relação de sentido entre o antecedente e o conseqüente em uma proposição com operadores condicionais do tipo se... então. Essa relação não está inerentemente ligada à forma lógico-semântica do operador, P --> Q (se P, então Q), nem à sua sintaxe. Sempre nos esforçamos para interpretar a relação entre antecedente e conseqüente, de alguma forma. Quando a interpretação é difícil, acreditamos estar diante de sentenças pragmaticamente mal formadas. Por isso, a interpretação de um condicional parece depender de inferências pragmáticas que o falante pode construir com a ajuda do contexto. A interpretação do condicional, em uma interface lingüística x comunicação, depende de elementos que vão além de uma análise formal. A estrutura de uma sentença condicional é determinada por sua sintaxe; a semântica da proposição garante que o uso do condicional dispare uma inferência de relação entre P e Q; e, em contexto, via pragmática, podemos determinar a natureza dessa inferência. PADRONIZAÇÃO DO CONETIVO "OU" EM ARGUMENTOS DEDUTIVOS NO PORTUGUÊSBRASILEIRO: UMA PESQUISA BASEADA EM CORPUS. Heloísa Orsi Koch Delgado (PUCRS) Este trabalho tem por objetivo realizar uma descrição lingüística do conetivo ou em argumentos dedutivos no português brasileiro. Pretende-se ilustrar como a investigação da linguagem baseada em corpus pode colaborar para um melhor entendimento da léxico-gramática do português. Para tal será utilizado um corpus eletrônico que permitirá o estudo sistemático da padronização (patterning), ou seja, das regularidades formadas pela recorrência de itens co-ocorrentes. O corpus utilizado será o Corpus do Português, disponível em (http://www.corpusdoportugues.org/x.asp). Para a análise de padronização é necessária a observação dos contextos de ocorrência do item em questão, com a utilização dos instrumentos de concordância e a lista de colocados. Busca-se responder a duas questões básicas: Quais são os padrões de que ou faz parte? Quais os sentidos associados a tais padrões? Essa pesquisa é inspirada na metodologia consagrada para a descrição léxico-gramatical do inglês baseada em corpus, fundamentada teoricamente no princípio idiomático (Sinclair, 1991). Segundo esses princípios (BERBER-SARDINHA, 2004): (1) as escolhas léxicogramaticais não são feitas em isolamento, mas sim em cadeia; (2) as palavras possuem padronização, observável a partir da exploração de um corpus computadorizado; (3) não há distinção entre palavras gramaticais e palavras lexicais; (4) formas derivadas

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de uma mesma raiz devem ser consideradas itens lexicais distintos; e (5) diferenças entre padrões colocacionais indicam diferença de sentido. PADRONIZAÇÃO DO CONETIVO “E” EM ARGUMENTOS DEDUTIVOS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO: UMA PESQUISA BASEADA EM CORPUS Simone Sarmento (PUCRS) Este trabalho tem por objetivo realizar uma descrição lingüística do conetivo “e” em argumentos dedutivos no português brasileiro. Pretende-se ilustrar como a investigação da linguagem baseada em corpus pode colaborar para um melhor entendimento da léxico-gramática do português. Para tal será utilizado um corpus eletrônico que permitirá o estudo sistemático da padronização (patterning), ou seja, das regularidades formadas pela recorrência de itens coocorrentes. O corpus utilizado será o Corpus do Português, disponível em (http://www.corpusdoportugues.org/x.asp). Para a análise de padronização é necessária a observação dos contextos de ocorrência do item em questão, com a utilização dos instrumentos de concordância e a lista de colocados. Busca-se responder a duas questões básicas: Quais são os padrões de que “e” faz parte? Quais os sentidos associados a tais padrões. Essa pesquisa é inspirada na metodologia consagrada para a descrição léxico-gramatical do inglês baseada em corpus, fundamentada teoricamente no princípio idiomático (Sinclair, 1991). Segundo esses princípios (BERBER-SSARDINHA, 2004): (1) as escolhas léxico-gramaticais não são feitas em isolamento, mas sim em cadeia; (2) as palavras possuem padronização, observável a partir da exploração de um corpus computadorizado; (3) não há distinção entre palavras gramaticais e palavras lexicais; (4) formas derivadas de uma mesma raiz devem ser consideradas itens lexicais distintos; e (5) diferenças entre padrões colocacionais indicam diferença de sentido. TRATAMENTO COMPUTACIONAL DE CONECTORES PREPOSITIVOS PARA RESSIGNIFICAÇÃO PROPOSICIONAL Celso Augusto Conceição (UNILASALLE) Os conectores preposicionais exercem funções sintático-semântico-pragmáticas e são provocados pela transitividade de léxicos específicos: nomes e verbos. Como têm formas distintas e cada uma com funções específicas, alguns alteram os significados das sentenças e outros as tornam agramaticais ou, até mesmo, com significações incoerentes. Essa pluralidade de significação pode ser justificada pelo caráter polissêmico dessa categoria gramatical, pois esses conectivos caracterizam as relações estabelecidas pelos segmentos lingüísticos que compõem as proposições. Tudo na língua é semântico. Neste trabalho, os conectores prepositivos estarão inseridos entre vocábulos e serão analisados na interface com a computação, com o objetivo de criar recursos para que as máquinas os identifiquem. Isso possibilitará

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fazer um estudo da sua função de ressignificar quando a sentença permitir substituições dessa natureza. Com o corpus estruturado em proposições, o sintagma preposicional será tratado nos níveis gramaticais em seu sentido lato, possibilitando assim analisar essas variações significativas provocadas pela transitividade lexical. POR QUE A TROCA DE ORDEM DAS PROPOSIÇÕES LIGADAS PELO CONETIVO “E” COMO: JOÃO ESTUDOU E PASSOU NO VESTIBULAR, GERA IMPLICATURAS ? Adriana Quinelo (PUCRS) O conetivo “e”, do tipo “veritativo-funcional”, garante que o resultado/significado do todo venha do significado das partes. Em um tratamento formal, o “e” serve apenas para articular o conteúdo das proposições, não possuindo sentido em si mesmo, como na lingüística. Dessa diferença no tratamento do “e” tem-se a geração de implicaturas. Portanto, numa interface lógico-lingüística, um argumento depende da maneira como é construído. Temos que entender como tais operadores/conetivos funcionam na interface para entender o que podemos significar através deles. OS CONECTIVOS LÓGICOS ‘®’ (O IMPLICADOR MATERIAL) E O ‘«’ (O DUPLO IMPLICADOR) NA INTERFACE SEMÂNTICA-PRAGMÁTICA Gustavo Brauner (UFRGS) A linguagem é um dos principais mecanismos de asserção da cognição humana. Os estudos cognitivos, tal como têm sido desenvolvidos nos últimos cinqüenta anos, buscam, através de pesquisas envolvendo a linguagem, descrever como a mente/cérebro realmente funciona (‘mente’ e ‘cérebro’ são aqui entendidos como a mesma coisa). Nesse sentido, o advento do computador se mostrou mais do que instrumental – um verdadeiro pivô, uma base comum para todo tipo de estudo da cognição humana, seja qual for a perspectiva escolhida. Os softwares, os programas de computador, são escritos em linguagem de máquina, em uma das muitas linguagens de programação. Essas ‘linguagens das máquinas’, entretanto, devem compartilhar de características comuns à linguagem humana, uma vez que foram desenvolvidas por seres humanos, capazes de desenvolver a linguagem. Uma das bases – na verdade, a principal base – das linguagens de programação é a Lógica Clássica e suas variações. Mas a própria Lógica Clássica também tem como sua mãe a linguagem humana, uma vez que foi desenvolvida por um ser humano – Aristóteles. Assim, deve existir um ponto comum entre os operadores lógicos, em especial os conectivos lógicos, e sua contraparte na linguagem natural. O presente trabalho visa a explorar, através de uma adequação metodológica envolvendo uma interface entre sintaxe, semântica e pragmática, exemplos em Português Brasileiro

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envolvendo os conectivos da linguagem natural, exemplos com os conectivos lógicos ‘®’ (o implicador material) e o ‘«’ (o duplo implicador), descrever as semelhanças e diferenças entre esses conectivos lógicos e suas contrapartes na linguagem natural, e desenvolver uma reflexão sobre a base comum existente entre a linguagem natural e a linguagem lógico-computacional, visando sempre os interesses computacionais. O PAPEL DOS CONECTORES NA COMPREENSÃO DE EBOOKS EDUCATIVOS Ronei Guaresi (PUCRS) Sob o ponto de vista da compreensão, especialmente dos significados implícitos, o presente estudo objetiva analisar ebooks com fins educativos, especificamente os conectores (predominantemente preposições e conjunções) como marcadores que influenciam na compreensão do leitor. Questão central: como um ebook, com fins instrucionais, poderia abordar os conectores a fim de viabilizar a compreensão do leitor. GT11 - Estudos Enunciativos - Fundamentos e Teorias Coordenadores Leci Borges Barbisan (PUCRS) Valdir do Nascimento Flores (UFRGS) A METAENUNCIATIVIDADE NO DISCURSO INFANTIL Marlete Sandra Diedrich (UPF) O propósito deste texto é, com base em considerações epistemológicas da área da enunciação, discutir aspectos da aquisição de habilidades metaenunciativas a partir do discurso infantil. A metaenunciação é representada lingüisticamente pelo ato em que o enunciador se desdobra em dois, um que diz e o outro que se pronuncia de alguma forma sobre esse dizer. Assim, propomo-nos a discutir a seguinte questão: na construção do seu discurso, uma criança produz formas metaenunciativas reveladoras da reflexividade em torno da própria enunciação à semelhança do que faz o enunciador adulto? Se produz, a que campos da heterogeneidade do dizer elas pertencem e o que revelam acerca da aquisição da competência de negociação por parte do enunciador com as não-coincidências do dizer? O que dizem essas formas acerca da capacidade da criança, a partir da sua posição de domínio metaenunciativo, de controlar seu dizer? Para tornar o estudo possível, buscamos nos trabalhos da lingüista francesa Jaqueline Authier-Revuz a base teórica para a investigação de nosso objeto, mais precisamente, nos quatro tipos de metaenunciatividade denominados pela autora de não-coincidências. A autora elenca as seguintes manifestações: a não-coincidência interlocutiva, a não-coincidência entre as palavras e as coisas; a não-coincidência do discurso consigo mesmo e, finalmente, a não-

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coincidência das palavras consigo mesmas, as quais trataremos mais detalhadamente na seqüência deste artigo. Para Authier-Revuz, a metaenunciatividade representa lingüisticamente o ato de dizer em que o enunciador se desdobra em dois, um que diz e o outro que se pronuncia de alguma forma sobre esse dizer. Neste trabalho, baseamo-nos nas pesquisas da autora para investigar, na perspectiva da enunciação, como se estruturam tais enunciados nos textos falados produzidos pela criança, uma vez que acreditamos ser possível, em investigações posteriores, chegarmos à descrição de um processo de aquisição de habilidades metaenunciativas. Trata-se de um trabalho em estágio inicial, o qual ainda não é capaz de apontar considerações conclusivas acerca da questão, mas revela algumas análises preliminares do objeto em foco. Representa um primeiro passo na busca de investigação do fenômeno metaenunciativo no discurso produzido por um enunciador criança. Lembramos que nosso trabalho se volta para tal fenômeno entendendo-o como uma marca da enunciação revelada no texto produzido pela criança e, portanto, capaz de apontar considerações importantes acerca das condições de produção do discurso e do sujeito que nele se manifesta. Assim, buscamos atingir os seguintes objetivos: investigar formas metaenunciativas pelas quais, no discurso, os enunciadores duplicam a enunciação como representação reflexiva desta, descrever essas formas metaenunciativas produzidas pela criança, explicitando-lhes características formais e funcionais determinadas pela heterogeneidade revelada na busca da construção do sentido.

UM ESTUDO ENUNCIATIVO SOBRE AS ATIVIDADES DE CORREÇÃO DA FALA NA CONVERSAÇÃO ENTRE AFÁSICOS E NÃO-AFÁSICOS Carolina Hebeling (IEL/UNICAMP) No âmbito dos estudos da linguagem que conferem ao aspecto sócio-interacional papel explicativo decisivo em suas análises, o fenômeno da correção tem sido oferecido às abordagens teóricas desafios investigativos referentes a situações “problemáticas” que os sujeitos enfrentam em meio às práticas de linguagem cotidianas(cf.Fávero, 2003). No campo da Afasiologia, o caráter consciente/inconsciente dos atos lingüísticos realizados pelos sujeitos afásicos tem guiado os questionamentos relativos à metalinguagem e à reflexividade observadas neste contexto empírico. Via de regra, os fenômenos ditos "corretivos" são vistos a partir de uma concepção de afasia que afirma o comprometimento da capacidade reflexiva dos sujeitos de maneira a torná-los incompetentes (meta)lingüisticamente (cf.Morato, 2003,2005;Morato et alli, 2008). Retomando uma discussão fecunda dentro da Semântica Enunciativa (Culioli, 1983; Authier-Revuz, 1995, etc.) e dentro da Psicolingüística Interacionista (Gombert, 1993, De Lemos, 1998, etc.) sobre a distinção entre metalinguagem e epilinguagem, o presente estudo tem se dedicado, no ambiente empírico afasiológico, à identificação e à caracterização do

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trabalho reflexivo e intersubjetivo que os sujeitos empreendem nos processos interlocutivos em situações conflituosas, de instabilidade de sentido, em que observamos atividades de correção da fala. Privilegiando instâncias de uso real da linguagem para nos perguntarmos sobre a estrutura e o funcionamento das atividades de correção, partimos de um corpus constituído por dados transcritos de encontros semanais do CCA(IEL/UNICAMP), espaço interativo de que participam sujeitos afásicos e pesquisadores em uma espécie de “réplica da sociedade” na qual atuam em um “jogo discursivo” que os obriga a “constantes tarefas de reformulação, de ajustes enunciativos, de indicações de intuições manifestas ou pretendidas, de adequação do estilo e do ‘código’ comum” (cf.Morato, 2005). Tomando a referenciação como "ato de enunciação" no qual o sujeito transforma os referentes lingüísticos em “objetos de discurso”, averiguamos que processos como promptings, especularidade, complementaridade e reformulações são levados a cabo por afásicos e não-afásicos, de acordo com escolhas lexicais dos sujeitos, reconhecimento de implícitos, das posições enunciativas que os sujeitos ocupam, etc. Neste sentido, discutimos o quanto a interlocução revela o caráter não apenas colaborativo, mas mais profundamente, dialógico na emergência de atividades epilingüísticas em situações de reformulação, adequação, negociações de sentido. Investigar o caráter mais ou menos consciente da metalinguagem (tomada num sentido amplo), permite observar na afasia não uma perda estrita da capacidade reflexiva ou do controle da referência, mas a constante ação dos falantes (afásicos e não afásicos) com e sobre a linguagem. REFERENCIAÇÃO E AFASIA: REFLEXÕES ACERCA DA CATEGORIZAÇÃO Carolina Raizer (IEL/UNICAMP) O objetivo deste trabalho é trazer à cena uma reflexão acerca da referenciação e de como a língua a organiza. Interessa-nos observar de que maneira se estabelecem na enunciação as redes lexicais, que formam, por sua vez, redes de relações nas quais os elementos se integram com a cultura e com as ações praticadas pelos falantes em interação. Nesse sentido, a categorização é um tipo de processo referencial significativo, porque através dela é possível verificar como ocorre a determinação referencial, dada a rede lexical em que as palavras se encontram e seu contexto lingüístico e situacional. A Afasiologia se mostra como uma área em que se pode visualizar na língua o sentido como sendo construído conjuntamente pelos sujeitos em interação porque, não obstante suas dificuldades neurológicas e alterações na capacidade de realizar operações metalingüísticas, os afásicos predicam, e isso porque as alterações metalingüísticas, próprias das afasias, parecem não afetar de todo a competência lingüística lato sensu dos sujeitos, que inclui outros processos semiológicos que extrapolam o estritamente lingüístico, como os aspectos pragmáticos. O interesse dessa abordagem sócio-cognitiva, que parte dos processos gerais e abstratos para a análise de

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atividades situadas local e historicamente, consiste em interpretar as práticas discursivas dos sujeitos, mas não necessariamente tratando a variabilidade como erro, negligência ou imprecisão, pois isso só faria sentido num universo etiquetado, cujos objetos são estáveis e há uma cartografia perfeita entre as palavras e as coisas. Nossa perspectiva parte do pressuposto de que as categorias não podem ser evidentes nem dadas porque as suas ocorrências, ligadas tanto a processos de enunciação como a atividades cognitivas não verbalizadas, acarretam instabilidades, resolvidas e negociadas contextualmente. A hiperonímia, uma atividade específica de categorização, foi tratada por Monteiro (2001) a partir da idéia de que, estando os hiperônimos fundados em uma hierarquização semântica, haveria a mobilização de uma organização mental capaz de dar conta do enquadre cognitivo, o qual, não sendo natural, estaria disposto e se manifestaria de forma diferente para sujeitos cujo grau de instrução variava de “iletrados a formados no terceiro grau” (estes, por exemplo, quando instados a agrupar as palavras conforme os comandos, o faziam a partir de uma base taxonômica mais específica do que genérica, ao contrário dos informantes menos escolarizados e letrados). Respostas ao comando “Eu vou te dizer três palavras e você vai me dizer o que essas três coisas são” se deram da seguinte forma: -FHC, Lula, Enéas a políticos -genro, nora, cunhada a parentes -FHC, Lula, Enéas a três sem-vergonha -genro, nora, cunhada à ruma p. briga de foice Com relação à análise desse corpus sobre hiperônimos, Marcuschi (2002), a partir da perspectiva sócio-cognitiva aqui esboçada, propôs um viés teórico distinto para a apreciação dos dados: ao invés da suposição de um sistema de representações mentais, parece mais interessante a adoção de uma hipótese que trata as escolhas dos sujeitos como sendo as mais representativas de suas práticas cotidianas. Essa interpretação nos motivou a adotar tal perspectiva de sentido construído (por oposição à de sentido imanente) através da elaboração de um protocolo a ser aplicado especialmente para este fim, entre sujeitos afásicos. A análise das estratégias de categorização elaboradas por falantes e observadas em tarefas metalingüísticas como a de hiperonímia, que acabam por não descartar os elementos pragmáticos, discursivos e interativos que caracterizam a prática social da linguagem, é pertinente para a Afasiologia justamente pelo fato de que, se, como se viu, a categorização envolve processos meta, e se os afásicos, na atividade de construção de sentido, de fato predicam, um estudo que envolve objetos semânticos e pragmáticos parece ser um lugar motivador e fértil de investigação.

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A ENUNCIAÇÃO DA SUBJETIVIDADE: DÊIXIS E ENUNCIAÇÃO Gabriela Barboza (UFSM) Vera Lúcia Pires (UFSM) Este trabalho pretende abordar a importância da categoria dêixis nos estudos enunciativos, partindo das elaborações feitas por É. Benveniste bem como dos estudos de R. Jakobson. A partir desse aporte teórico, cogita-se investigar sua aplicação nas linguagens do cotidiano. À noção de dêixis remetem certos signos lingüísticos que se definem como marcas que mostram o sujeito no ato de produção do enunciado. Ducrot e Todorov (1982: 379) referem a equivalência da dêixis à enunciação, por parte da maioria dos lingüistas, ao atribuírem a denominação aos elementos da língua, cuja significação somente pode ser definida conforme a situação de discurso em que são empregados. Assim, os autores, ao conceituarem enunciação, priorizam os elementos que pertencem ao código da língua, mas cujo sentido depende de fatores que variam de uma enunciação para outra. Os exemplos são: eu, tu, aqui, agora, etc. Eles reconhecem em Jespersen, Jakobson e, principalmente, Benveniste os lingüistas que maiores contribuições trouxeram ao tema naquele momento. Benveniste, em seus textos sobre a questão, segue a terminologia de Jakobson, empregando o termo embrayeurs, e denomina os dêiticos por indicadores da subjetividade ou índices da enunciação ou do discurso. Dessa forma, em situação comunicacional ou dialógica, a dêixis é aquele signo que representa ou aponta ou, ainda, indica aquele que fala. Entendemos que a noção de dêixis é fundamental para os estudos enunciativos. A categoria contém elementos da língua, na sua modalidade oral ou escrita, que são, muito mais que outros signos, próprios do ato de dizer, no entendimento de que a sua existência e os seus sentidos são promovidos a partir de uma referência interna, ou seja, a referência ao contexto discursivo em que se apresentam. Além disso, os dêiticos só existem porque um indivíduo no mundo assume-os e o faz pela necessidade que tem de comunicar-se com outros membros de sua comunidade social. Ao tomar essas formas da língua, o sujeito dá-lhes vida, conquistando, simultaneamente, a possibilidade de interação com o outro e a sua realização enquanto sujeito desse mundo, uma vez que ele próprio testemunha sua existência ao proferir EU para um TU. Considerando a linguagem como uma prática social que tem na língua (especialmente no aparelho pronominal) a sua realidade material, Benveniste reformula as dicotomias saussurianas e promove uma superação ao abrir a análise da língua para a enunciação, resgatando, com esse fato, o sujeito anteriormente excluído da lingüística. A INTERROGAÇÃO COMO MARCA POLIFÔNICA NA PUBLICIDADE Vânia Scalabrin (PUCRS) Noemi Luciane dos Santos (PUCRS) O presente trabalho discorre sobre a qualidade polifônica da interrogação em

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anúncios publicitários. Pretende-se mostrar que a interrogação traz consigo diferentes vozes, as quais contribuem na construção do sentido da propaganda, sentido este que pode ser o de uma negação veemente e/ou o de uma afirmação sobre certas questões referentes ao que é veiculado pelo anúncio. Tais sentidos são, além do que trazem em suas particularidades, mostras evidentes da capacidade argumentativa do ato de interrogar. A análise do corpus está pautada nos pressupostos estabelecidos por Oswald Ducrot e Jean-Claude Anscombre, notadamente em Interrogation et Argumentation (1981), e em variada bibliografia relacionada ao tema proposto SAUSSURE E BENVENISTE: ULTRAPASSAGEM OU ROMPIMENTO? Elisa Marchioro Stumpf (PPG Letras) Neste trabalho pretendemos fazer uma reflexão epistemológica sobre a relação entre dois dos maiores expoentes da lingüística moderna, a saber, Ferdinand de Saussure, considerado seu criador, e Émile Benveniste, um dos seus discípulos. Essa reflexão servirá de base para tentarmos responder à seguinte pergunta: Benveniste rompe com o paradigma iniciado por Saussure ou apenas ultrapassa-o em alguns pontos da teoria, conservando-o em outros? Partimos da idéia que Benveniste retorna a Saussure em uma tentativa de elaborar questões surgidas a partir de sua leitura da obra de Saussure (referimo-nos aqui ao Curso de Lingüística Geral). Para tanto, iniciaremos por uma reflexão sobre a constituição da lingüística como ciência. Como afirma Flores (1999), “a língua, definida como um sistema de signos, é o ponto de partida para Saussure – e sobre o qual a lingüística se nomeia como Um”. Em um segundo momento, faremos uma exposição de alguns aspectos da obra de Benveniste que julgamos pertinentes para a reflexão, em especial a questão da significação, pois é na oposição semiótico/semântico que podemos encontrar um momento de ultrapassagem do pensamento de Benveniste em relação a Saussure. Nas palavras de Benveniste (2006, p. 67), “é necessário ultrapassara noção saussuriana do signo como princípio único”. Como síntese, discutiremos possíveis interpretações da relação entre os autores em questão, com base em Normand (1996) e Teixeira (2004) e, por fim, mostraremos quais são as possibilidades de retorno à obra de Benveniste sobre as quais se detém as pesquisas atuais. A MASCULINIDADE NA CONTEMPORANEIDADE: UM ESTUDO ENUNCIATIVO EM CANÇÕES DE CHICO BUARQUE Sabrina Vier (UNISINOS) Este trabalho visa a investigar as representações do masculino que emergem da enunciação em canções de Chico Buarque de seu último disco (Carioca, 2006). Para tanto, procura derivar da teoria da enunciação de

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Émile Benveniste uma proposta de análise, sem deixar de contemplar o intralingüístico, que possa ser aplicada no âmbito de uma obra (cf. indicado no texto de 1969, “Semiologia da Língua”). Na análise, a psicanálise é convocada a interferir de dois modos: (1) na descrição da materialidade lingüística, a partir da consideração da hipótese do inconsciente, interferindo no modo como o analista olha para os fatos de linguagem, isto é, na escuta da palavra em busca de um sujeito que se constitui como efeito da enunciação; (2) na busca de colocar a análise “micro” numa dimensão “macro”, ou seja, em correspondência com o que se passa no laço social, a partir do apoio em psicanalistas que trabalham o sujeito do inconsciente como sujeito social – Jurandir F. Costa, Maria Rita Kehl, Joel Birman, entre outros. Isso porque, segundo Kehl (2005), o social e a subjetividade apresentam estreita relação na medida em que a subjetividade não é uma dimensão do indivíduo: ela é atravessada pelo que acontece no laço social. A LÍNGUA SOB UM OLHAR ENUNCIATIVO Claudia Stumpf Toldo (UPF) O presente trabalho tem como objetivo principal o estudo dos efeitos de sentido de algumas entidades lexicais previstas no sistema lingüístico, e que podem ser explicados a partir de seu funcionamento em textos/discursos. Ressaltamos a pertinência do tema a ser abordado, na medida em que este estudo prioriza a análise do sentido na linguagem em uso, ou seja, no discurso. Sabemos que a atividade voltada para a descrição do funcionamento da língua, de forma isolada, não contribui para o desenvolvimento das habilidades de uso da língua. Isso será feito com base em diferentes teorias enunciativas, principalmente, as abordagens propostas por Benveniste e Ducrot. Cabe lembrarmos que é através da língua que construímos a cultura, construímos mundos, criamos e (re) criamos realidades e tornamos nossas posições conhecidas. Assim, a língua está à disposição do homem, a serviço do homem. E é a linguagem em uso, ou seja, o texto/discurso, que possibilita conhecermos o homem que vive e atua em sociedade. Sendo assim, não basta saber o que significa ou como se classifica cada uma das unidades da língua que compõem um enunciado, mas é preciso perceber que relações essas unidades do sistema lingüístico mantém com outras unidades em dada situação de uso. A REFERÊNCIA AOS ESTUDOS DA ENUNCIAÇÃO NO BRASIL Karina Giacomelli (UNIPAMPA) A enunciação pode ser pensada como um dos primeiros domínios do estudo da linguagem que escapou ao formalismo, à imanência do sistema saussuriano, fazendo parte, por isso, de diversas correntes que estudam o uso da linguagem: a pragmática lingüística, a semiótica, a análise de discurso, por exemplo. Pode-se, ainda, tomá-la como um domínio mais específico, no qual a enunciação é, ela mesma, objeto de estudo, como nas teorias de

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Benveniste, Bakhtin, Ducrot, entre outros –; vê-se, então, um conjunto que se designou como teorias da enunciação. Há também obras em que aparece o sintagma lingüística da enunciação, como no caso dos livros de M. Lahud (A propósito da noção de dêixis) e F. Dosse (História do Estruturalismo, volume II), para citar duas apenas. Assim, considerando essas três denominações, cabe indagar se elas todas fazem referência ao mesmo domínio ou são usadas diferentemente, de acordo com determinado autor ou teoria. É nesse sentido que este trabalho procura fazer um apanhado de algumas obras da área para verificar como, quando e onde elas são citadas, tomando como recorte as citações feitas em diferentes décadas, a partir de 1970, ano em que a publicação do texto O aparelho formal da enunciação encontra “eco” na Lingüística moderna. COMO OS “MODIFICADORES” MODIFICAM O SENTIDO DO DISCURSO Cristiane Dall Cortivo (PUCRS/CNPq) Marcela Cristiane Nesello (PUCRS/CAPES) Este trabalho tem como objetivo estudar o sentido construído no discurso pelo uso dos “modificadores”, denominação dada por Oswald Ducrot e Marion Carel, em sua Teoria dos Blocos Semânticos, a determinadas palavras que atuam sobre a força argumentativa de outras, com as quais se relacionam. A Teoria dos Blocos Semânticos inscreve-se no âmbito da Semântica Lingüística, trazendo a idéia de um estudo do sentido contido na língua em uso, sentido esse que é puramente argumentativo e que fundamenta a tese que constitui o centro da investigação: a de que a argumentação está na língua, ou seja, ser argumentativa faz parte da natureza da linguagem. Em sua investigação, Ducrot e Carel colocam a sua idéia de semântica como uma semântica sintagmática, aquela que calcula o sentido do enunciado levando em consideração a relação entre as palavras que o compõem, e não apenas isso, mas também o fato de ser produto de uma enunciação. Esse tipo de estudo semântico opõe-se a outros por considerar, primeiramente, as palavras que constituem o enunciado umas em relação às outras, não de forma matemática, como uma soma de seus significados, mas como uma combinação de palavras escolhidas por um locutor que, dessa forma, constrói um sentido particular tendo em vista a posição que deseja expressar diante de determinado fato. Ainda para os autores, o sentido de uma entidade lingüística está constituído pela sua capacidade de evocar discursos, ou, ainda, de modificar discursos com os quais se relaciona, sendo que os discursos considerados para estudo são os chamados encadeamentos argumentativos, constituídos por dois segmentos relacionados através de um conector. A fim de realizar um estudo mais detalhado das palavras da língua, Ducrot (2002) propõe a classificação dessas palavras em palavras lexicais, que são aquelas que possuem uma argumentação interna – AI e uma argumentação externa – AE (AI e AE são encadeamentos evocados pela palavra em análise), e palavras instrumentais, que são aquelas as quais não é

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possível associar ou evocar um conjunto de discursos. Os “modificadores”, objeto de estudo deste trabalho, se enquadram nessa última categoria e possuem a função de atuar sobre a força argumentativa da palavra ou segmento de discurso com o qual se relaciona. Essa categoria não constitui um grupo homogêneo, visto que é no seu uso que a sua função é determinada: em certo enunciado pode desempenhar a função de modificador, já em outro, pode não desempenhar. A partir dessa revisão teórica sobre nosso objeto de estudo colocamos o nosso objetivo: observar o funcionamento de determinadas palavras que em um discurso exercem a função de modificador e, em outros podem não exercer. Nossa hipótese é a de que a presença de tal palavra atua não apenas sobre o enunciado em que se encontra, mas sobre o discurso todo. O VALOR EXPLICATIVO DA POLIFONIA PARA A APREENSÃO DO SENTIDO NO DISCURSO Rejane Flor Machado (PUCRS) Leci Borges Barbisan (PUCRS) Valéria Raymundo (PUCRS) A teoria da polifonia, criada por Oswald Ducrot, tem importância fundamental para o estudo da enunciação. Entendendo a linguagem como um diálogo cristalizado, Ducrot formulou o conceito de polifonia, visando à apreensão de sentidos produzidos pela relação entre discursos. O termo “polifonia” foi primeiramente utilizado por Bakhtin para designar as diferentes vozes existentes no texto literário. Na tentativa de trazer para o estudo da linguagem o conceito de Bakhtin, Ducrot busca inspiração em uma releitura de alguns trechos da primeira parte de Linguistique Générale et Linguistique Française de Bally. Em 1980, Ducrot apresenta os princípios fundamentais de sua teoria, que põem em ação Locutor e Enunciadores, responsáveis, respectivamente, pelo enunciado e por pontos de vista implícitos veiculados pelo discurso. A teoria polifônica da enunciação tem sido repensada ao longo do desenvolvimento da Semântica Argumentativa. Em sua forma atual, a Polifonia inscreve-se no quadro da Teoria dos Blocos Semânticos. Partindo do princípio de que o sentido não está nas palavras, de que significar é argumentar por meio de contextos discursivos e de enunciadores argumentadores, busca-se esta visão, fundamentada em aspectos lingüísticos, que mostra como o sentido se constrói no discurso. Procura-se compreender de que modo o Locutor e o Enunciador relacionam-se para significar.

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O VALOR POLIFÔNICO DE “AINDA” NO DISCURSO Alessandra da Silveira Bez (PUCRS) Patrícia Valente (PUCRS) Paula Dreyer Ortmann (PUCRS-CNPq) O presente trabalho estuda a função da linguagem na construção do sentido no discurso. Para tanto, será utilizado um conceito fundamental da Teoria da Argumentação na Língua, desenvolvida por Oswald Ducrot e colaboradores: a noção de polifonia. Optou-se por essa abordagem, porque a Teoria da Argumentação na Língua, de base estruturalista e enunciativa, analisa a natureza da linguagem, ao considerar que a sua função é, antes de tudo, a de argumentar. Por se tratar de uma concepção polifônica, essa teoria preconiza que a construção do sentido é o resultado do confronto das diferentes vozes contidas no enunciado. Dessa forma, Ducrot afirma que, ao se interpretar um discurso evidencia-se uma pluralidade de vozes distintas das do locutor. O fenômeno da negação é um dos exemplos mais recorrentes utilizado por Ducrot, pois se pode perceber claramente a polifonia contida no enunciado, uma vez que permite expressar, ao mesmo tempo, duas vozes contrárias, ou seja, dois enunciadores: um positivo e outro negativo. No exemplo utilizado por Ducrot: Pedro não veio, pode-se evidenciar o enunciador positivo: Pedro veio, e o enunciador negativo, o que explicita uma recusa do ponto de vista Pedro não veio. Assim, esta pesquisa pretende discutir a importância e a aplicabilidade da noção de polifonia, estendendo o estudo dessa abordagem às diferentes ocorrências do advérbio ainda no discurso. Para tanto, analisar-se-ão textos de diferentes gêneros. ESTUDO DA POLIFONIA: UMA BUSCA PELA IRONIA Aline Wieczikovski Rocha (UPF) A Teoria da Argumentação na Língua (ADL), criada por Oswald Ducrot, e J.C. Anscombre (1983), propõe uma semântica argumentativa, em que a base, está no pressuposto de que a língua é, em sua essência, argumentativa e o sentido encontra-se no encadeamento discursivo. Para sua teoria, Ducrot desenvolve noções semânticas, que julga importantes no entendimento de seu estudo, criando, inclusive, uma Teoria Polifônica da Enunciação, na qual se sustenta a construção de sua concepção de sentido: o sentido de um enunciado apresenta pontos de vista que se originam dos enunciadores. Na teoria polifônica de Ducrot, o locutor tem atitudes frente aos enunciadores que colocou em cena, podendo assimilar, concordar e opor-se aos pontos de vista relacionados a eles. Essas atitudes do locutor revelam a existência de duas maneiras de se comunicar, uma séria e outra não-séria. Este trabalho propõe-se a observar, através da análise do texto de opinião, Os brasileiros − uma nova interpretação, extraído da revista Veja, quais são as atitudes do locutor diante dos enunciadores e como, nele, se estabelece a comunicação não-séria, ou humorística. Para isso, se utilizará as três condições

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estabelecidas por Ducrot, ao definir um enunciado como humorístico ou irônico: no enunciado, o locutor apresenta, pelo menos, um ponto de vista absurdo; este não é atribuído ao locutor; nenhum ponto de vista é suscetível de corrigir o primeiro. Se o ponto de vista absurdo estiver destinado ao interlocutor, o enunciado se caracteriza, também, como irônico. A análise do texto tem como base o discurso do presidente do INSS, V.M. Simão, que declarou que a existência de filas em frente aos postos da Previdência, ocorre por uma “questão cultural”. No texto, estão presentes o L1 (Simão), cujo enunciador tem como ponto de vista, a existência da questão cultural, portanto existência de filas, e o L2 (autor) responsável pelo texto e também pelo enunciador que discorda de L1. O L2 ao não concordar com os pontos de vista absurdos, apresentados na íntegra do texto, identifica-os a L1 e critica não só o responsável pelo enunciado, mas o partido político do PT como um todo. Ao finalizar esse estudo, se observou o cumprimento das condições exigidas por Ducrot para os enunciados humorísticos, inclusive a condição da ironia, respeitando, sobretudo, a crença de que o humor é também um fenômeno lingüístico que as teorias lingüísticas devem permitir compreender. DESFAZENDO MAL-ENTENDIDOS PELA TEORIA DOS BLOCOS SEMÂNTICOS Silvane Costenaro (UPF) Telisa Furlanetto Graeff (UPF) Este trabalho procura explicitar a origem de mal-entendidos que ocorrem em diálogos, com base em princípios e conceitos de semântica argumentativa, especialmente os desenvolvidos por Ducrot e Carel na Teoria dos Blocos Semânticos (daqui em diante TBS), iniciada por Carel em 1992. Essa teoria mantém e consolida a tese de que a argumentação está marcada na própria estrutura lingüística (Ducrot e Anscombre, 1983). Segundo a TBS, argumentar é convocar blocos semânticos. Nessa direção, propõe que se atribua como “sentido” a uma entidade lingüística um conjunto de encadeamentos argumentativos em DC( = portanto) e em PT (= mesmo assim) e postula dois modos pelos quais um aspecto argumentativo pode estar associado às palavras cujo sentido ele constitui: o externo, referente aos encadeamentos argumentativos que podem preceder ou seguir a entidade, e o interno, que corresponde aos encadeamentos que a parafraseiam. Assumindo essa noção de argumentação discursiva, são analisados dois diálogos em que se pode perceber o surgimento do mal-entendido, em virtude das diferentes possibilidades de argumentação externa de uma entidade lingüística e do fato de o sentido argumentativo se constituir unicamente no bloco semântico, sendo expresso por rum encadeamento argumentativo desse bloco. Percebe-se que o mal-entendido foi ocasionado pelo fato de os interlocutores associarem a uma mesma entidade lingüística argumentações externas diferentes, as quais produziram sentidos completamente diversos. Como o sentido se constitui no bloco, resultou que o objeto do discurso não era o

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mesmo, daí o mal-entendido. A análise realizada é mais uma evidência de que os blocos formados revelam não o sentido que deriva dos conceitos das palavras tomadas isoladamente, mas o sentido produzido pela interdependência existente entre elas, isto é, que o bloco semântico, expresso no encadeamento argumentativo, constrói. UM OLHAR SOBRE O USO DA LINGUAGEM A PARTIR DE SAUSSURE Cláudio Primo Delanoy (PUCRS) Cristina Rörig (PUCRS) Joseline Tatiana Both (PUCRS) O objetivo deste trabalho é desenvolver os conceitos saussurianos de língua, fala e relação a fim de mostrar como eles fundamentam um olhar sobre o uso da linguagem, especificamente na Teoria da Argumentação na Língua (TAL), de Oswald Ducrot. Saussure estabeleceu a oposição língua/fala e propôs a língua como objeto de estudo da Lingüística. A língua, para Saussure, é um sistema de signos, entendidos como elementos que só se definem por sua relação com outros signos, o que resulta na noção de valor semântico. Saussure não associa língua e fala e considera que a fala está relacionada ao extralingüístico. Ducrot vai além da proposta saussuriana por meio de uma relação entre língua/fala. Assim, na TAL o sentido se constrói na articulação desses elementos e se verifica nas relações estabelecidas entre o uso das palavras no enunciado. Ducrot propõe dois tipos de hipóteses para o desenvolvimento de sua pesquisa: as hipóteses externas são relativas à fase empírica de observação do objeto, ou seja, o fundamentam. Uma vez estabelecidas, não podem ser alteradas, sob pena de invalidar o trabalho. As hipóteses internas referem-se à explicação do fenômeno e podem, portanto, ser modificadas. Ducrot toma como hipóteses externas o estruturalismo de Saussure e a enunciação. Para o lingüista, a enunciação é o surgimento de um enunciado. Prevê um locutor produzindo um enunciado a um interlocutor, sendo ambos seres discursivos. O locutor é o ser responsável pelo enunciado e no qual se marca ao produzir eu, aqui, agora. O interlocutor é o destinatário do enunciado. Para o lingüista, o enunciado é a descrição da sua enunciação. Essa descrição envolve também a presença de enunciadores, que não têm palavras, mas suas “vozes” estão implícitas no enunciado. Os enunciadores são argumentativos, pois são responsáveis pelos pontos de vista que indicam. O locutor, ao tomar atitudes frente aos enunciadores, também argumenta. Considerando o sentido que decorre da relação língua/fala, que a argumentação está contida na língua, e que argumentar é expressar um ponto de vista num discurso, verifica-se que a TAL estuda as relações entre as palavras, frases e entre discursos. Propõe-se, assim, primeiramente, uma discussão sobre os conceitos de Saussure para o estudo da linguagem, seguido da abordagem de Ducrot. Após, apresenta-se a proposta de um olhar sobre o uso da linguagem a partir de Saussure, no enfoque da TAL.

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O MECANISMO ENUNCIATIVO DE CONJUNÇÃO NO ATO DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM Carmem Luci da Costa Silva (UFRGS) Este trabalho apresenta um estudo sobre aquisição da linguagem do ponto de vista da Teoria da Enunciação oriunda de Émile Benveniste. Com base no trabalho de Silva (2007), a aquisição da linguagem é concebida como um ato de enunciação constituído através do dispositivo enunciativo (eu-tu/ele)-ELE. Esse dispositivo é considerado como comportando os sujeitos (eu-tu), a língua (ele) e a cultura (ELE). Deste dispositivo, é destacado, para fins de análise da linguagem da criança, nesta proposta, a relação diádica de conjunção eu-tu, na qual a criança constitui uma realidade mútua com o outro, condição de ela preencher um lugar na estrutura da enunciação para se marcar como pessoa no discurso. Os dados analisados foram constituídos longitudinalmente a partir de filmagens da interação de uma criança com seus familiares. O período de coleta abrangeu a faixa etária dos onze meses aos três anos e quatro meses. A análise dos recortes enunciativos da criança evidencia a transversalidade da relação de conjunção eu-tu no ato aquisição da linguagem pela criança, pois, a cada nova estrutura lingüístico-enunciativa que emerge na enunciação, esse dispositivo tem papel fundamental para a inscrição da criança na linguagem. A análise enunciativa da fala da criança mostra a instância de discurso constituindo o ato e concomitantemente fundamentando o sujeito em seu movimento singular de apreensão do sistema da língua (ele). Da constituição de um lugar para se enunciar com formas enunciativas distantes das formas da língua, o locutor-criança, ajustando sentidos com o seu alocutário na enunciação passa a instanciar as formas da língua na sintagmatização do discurso. É a condição de intersubjetividade enunciativa tornando possível a língua-discurso e por conseguinte a constituição da criança como sujeito falante de sua língua materna. AS RELAÇÕES SUJEITO PREDICADO OBJETO NA VOZ MÉDIA Oscar Luiz Brisolara (FURG) Rossana Dutra Tasso (FURG) O objetivo deste trabalho é, ao mesmo tempo, analisar as relações enunciativas entre sujeito, predicado e objeto na voz média grega, e demonstrar a presença dessa voz na língua portuguesa. Não tem, a voz média, um correspondente formal em nossa língua, como, de modo geral, não o tem nas línguas modernas. É expressa perifrasticamente, mais comumente com um verbo na voz ativa e um pronome reflexivo. Línguas como o grego e o sânscrito expressavam-na por meio de uma forma sintética específica para tal fim. A voz passiva tem surgimento tardio e originou-se da voz média grega. Em português, “curar a doença” e “curar-se da doença” seriam exemplos respectivamente da voz ativa e da voz média. Na voz

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média, o processo verbal tem efeito sobre o sujeito, porém vai além da reflexiva portuguesa. Benveniste afirma que a voz média envolve “... processos que afetam fisicamente o sujeito, sem que, no entanto, o sujeito se tome a si mesmo por objeto...” e dá como exemplo: “... ele carrega presentes...”. Isso, numa situação em que os presentes são para ele mesmo. (BENVENISTE, 1976, pp. 187/89). Na língua latina, há uma categoria completa de verbos denominados media tantum, trata-se dos verbos depoentes. Na Índia antiga, Panini apresenta também a voz média em sua gramática no sânscrito. O que caracteriza o médio é o fato de ele definir o sujeito como interior ao processo: “no/mouj tiqe/qai `estabelecer leis incluindo-se` (dar-se leis)” (BENVENISTE. 1976 p. 189). Além das abordagens acima, verificaremos se as relações semânticas de voz são lingüísticas ou extralingüísticas. MARCAS DA ENUNCIAÇÃO EM LETRAS DE MÚSICAS DE CHICO BUARQUE DE HOLLANDA Márcia Elisa Vanzin Boabaid (SEIFAI - Itapiranga) O presente estudo, ancorado na Teoria da Enunciação de Émile Benveniste, objetiva fazer uma análise de alguns poemas-canção de Chico Buarque de Hollanda produzidos durante o regime militar, destacando expressões lingüísticas que revelam a subjetividade na linguagem. Essa análise atende a dois propósitos: verificar fatores que interferem constitutivamente nas cenas enunciativas das letras e observar as implicações das marcas do tempo, do lugar e dos sujeitos (eu/tu) nas letras das músicas analisadas, considerando suas relações semânticas. Pretendemos, assim, revelar que toda enunciação comporta, ao mesmo tempo, um apontar para o objeto do enunciado e outro para o ato de enunciação, uma vez que cada enunciação, ao remeter um eu e um tu diferentes, propõe um sentido singular, dado que é único e irrepetível em cada ato enunciativo. Um dos motivos que norteia nosso estudo é a constatação de que as letras das músicas de 1964 a 1985, lidas na atualidade são as mesmas, mas o sentido construído é diferente, as condições de produção dos textos são diferentes, uma vez que o momento enunciativo dessas é distinto. Outro motivo foi o estudo sobre a enunciação e dentro desse, a leitura da teoria de Émile Benveniste, ao descobrir que a língua, nessa dimensão, se atualiza na enunciação e a mesma construção lingüística, em diferentes contextos tem sentidos diferentes e quando posta em uso assume outras interpretações. Refletindo sobre essas considerações, queríamos comprovar como, de fato, isso acontece. Chamamos a atenção para o fato de que, à medida que as músicas são analisadas, o conteúdo expresso nelas passa a ser entendido, isso porque as canções se inserem em uma determinada situação comunicativa, possibilitada pelo processo de interação, em que o locutor e alocutário se entendem. O primeiro utiliza-se de meios para realizar suas intenções comunicativas e o segundo manifesta sua atitude de tomar parte do discurso, decodificando o que foi posto, por ser objeto amplo de interação entre um eu e um tu em dado tempo e lugar.

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O ESTUDO DA NEGAÇÃO NA PERSPECTIVA DA TEORIA DOS BLOCOS SEMÂNTICOS Andréia Inês Hanel (UPF) O presente trabalho tem como objetivo investigar como o locutor encadeia argumentativamente os encadeamentos de seu enunciado marcado no estudo da palavra “não”, em um texto da seção “Ponto de Vista” da revista Veja, publicado no mês de fevereiro de 2007. Com base na Teoria dos Blocos Semânticos (TBS) proposta por Marion Carel e Oswald Ducrot, versão mais recente da ADL (Teoria da Argumentação na Língua), busca-se mostrar que para evidenciar a reiteração da posição principal defendida pelo locutor responsável pelo discurso “acho, sim, que família deve ser careta, e que isso há de ser um bem incomparável neste mundo tantas fascinante e tantas vezes cruel”, o mesmo seleciona inicialmente aspectos transgressivos do Quadrado Argumentativo, rompendo com as idéias do senso comum. Pois, como defende Ducrot a argumentação está na língua, na maneira como o locutor encadeia seu enunciado e não na relação argumento-conclusão, numa relação já pronta ou estabelecida. A TBS proposta por Ducrot e Carel como os próprios autores mostram mantém o caráter estruturalista das idéias de Saussure, na medida em que defende “que o sentido é uma entidade lingüística não é um conceito, não é uma idéia, nem um fato material, nem um objeto, sendo simplesmente um conjunto de relações entre essa entidade e as outras entidades da língua...” Os autores ainda esclarecem que

Para a TBS, o sentido de uma expressão qualquer, seja ela uma palavra ou um enunciado, está constituído pelos discursos que essa expressão evoca. E a esses discursos chamaremos encadeamentos argumentativos. Um encadeamento argumentativo é um encadeamento entre dois e somente dois segmentos, por conseqüência sua forma é sempre do tipo X CONECTOR Y. Reconhecemos somente dois tipos de conectores: os conectores normativos, que são do tipo de PORTANTO (DONC) e os conectores transgressivos, que são do tipo MESMO ASSIM (PT) (CAREL e DUCROT, 2005, p.29)

Como pudemos observar na análise do artigo de opinião selecionado o locutor elege o aspecto transgressivo D para reforçar a tese inicial de que mesmo em famílias caretas há respeito e tolerância entre seus membros. Posição marcada no uso da palavra “NÃO” , anteriormente estudado e classificado como negação polêmica, versão anterior da teoria que estudava a polifonia no enunciado. O estudo mostra que o uso da palavra não, não tem compromisso com nenhum dos aspectos do Bloco Semântico e que quem decide qual aspecto selecionar é o locutor, estabelecendo um debate de posicionamentos, graças a virtualidade dos aspectos que se apresentam no bloco, sempre que um dos aspectos é selecionado. Assim, a seleção de argumentos que trazem marcas, como a negação, que o locutor deixa no dito, referem-se à posição que locutor assume no texto, que pode ser

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transgressiva ou normativa, marcando, também, o gênero de opinião, e não apenas pelo assunto do qual o locutor fala. Essa pesquisa pode tornar-se um rico instrumento pedagógico na medida que explicita como e por quais motivos o locutor seleciona um aspecto do quadrado em detrimento dos outros. PRINCÍPIOS PARA UMA ANÁLISE ENUNCIATIVA DE FATOS DE LÍNGUA: UM CASO DE FALA DE CRIANÇA Tanara Zingano Kuhn (UFRGS) O presente trabalho busca problematizar a análise enunciativa de fatos de língua. A justificativa diz respeito ao fato de Benveniste não apresentar um modelo de análise dado a priori, e sim pressupostos teóricos que, ao mesmo tempo em que sustentam a criação de um modo de tratamento dos dados, dão espaço para a convocação de exterioridades à lingüística (cf. Flores, no prelo), circunscritas, neste trabalho, à psicanálise Lacaniana. Nesse sentido, não pretendemos indicar uma metodologia de análise, e sim princípios que norteiem o tratamento de fatos de língua. Para tanto, o trabalho deverá combinar dois movimentos: um, generalizante, deverá esclarecer em que condições as palavras análise e enunciativa ganham sentido na expressão análise enunciativa; o outro, empírico, buscará analisar um fato de fala de criança. No que tange ao primeiro movimento, este buscará explicitar os termos implicados pela palavra análise - quem faz a análise, “o analista” e o dado de análise, “os fatos de língua” – além de expor os termos a que se refere enunciativa - à teoria de Benveniste e à sua releitura por Flores (no prelo), que proporciona o alargamento da teoria. Dessa forma, poderemos discutir a expressão análise enunciativa, estabelecendo, portanto, o nosso ponto de vista a respeito de princípios de análise. Quanto ao segundo movimento, traremos uma análise de um fato de língua em especial: um caso de fala de criança, onde procuraremos evidenciar em que medida a reflexão desenvolvida na parte anterior serve de base para esta análise. DISCURSO DIDÁTICO: TESTAGEM DE UM MODELO PARA DESCRIÇÃO DO SENTIDO PELA SEMÂNTICA ARGUMENTATIVA Tânia Maris de Azevedo (UCS) Vania Morales Rowell (FSG) Pensar a leitura e a produção de textos/discursos implica necessariamente pensar a construção do sentido. Seguindo esse raciocínio, Azevedo elaborou sua tese de doutorado (Semântica Argumentativa – uma possibilidade para a descrição do sentido do discurso), em que propôs o redimensionamento de alguns conceitos metodológico-operacionais da Teoria da Argumentação na Língua, de Oswald Ducrot e Marion Carel – mais especificamente, da Teoria dos Blocos Semânticos –, com a finalidade de aplicá-la à descrição semântico-argumentativa do discurso. Tal redimensionamento originou um

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modelo teórico-metodológico para a descrição do sentido do discurso, cuja construção fundamentou-se no fato de que a referida teoria foi proposta para a descrição de unidades lingüísticas de nível simples, a palavra e o enunciado, não abarcando o nível complexo da realização lingüística: o discurso. Conseqüência natural de uma investigação é a testagem do modelo criado. Essa testagem constitui-se no cerne da pesquisa desenvolvida por Azevedo e Rowell, que, por sua vez, é apenas a primeira etapa de um estudo bem mais amplo rumo à transposição didática do referido modelo para o ensino de língua materna, fim último e essencial do trabalho iniciado com a tese de Azevedo. Como o objetivo deste estudo é o de subsidiar pedagogicamente professores para que usem os textos/discursos de que dispõem no sentido de tornar mais significativas as aprendizagens de seus alunos, o corpus da pesquisa constitui-se de textos explicativos veiculados em livros didáticos destinados aos quatro anos finais do Ensino Fundamental. A constituição do corpus deve-se ao fato de que todos os livros didáticos têm no texto explicativo o principal veículo dos conceitos a serem “ensinados/aprendidos” e, também, à necessidade de tornar mais competentes os leitores desse tipo de texto, já que é pela compreensão leitora que se dá, no contexto escolar, a maior parte das aprendizagens. A SINTAGMATIZAÇÃO EM LINGUÍSTICA DA ENUNCIAÇÃO: UMA PROPOSTA DE REPRESENTAÇÃO Silvana Silva (UNISINOS) Este trabalho tem por objetivo estudar a sintagmatização, a singularidade sintática da enunciação em um conto literário. Partimos da sintagmatização da conjunção coordenativa “e” no conto I love my husband, de Nélida Pinon, uma vez que ela apresenta um sentido bastante particular neste texto. Estudamos o significado que a conjunção apresenta em gramáticas de língua portuguesa. Para observarmos a singularidade sintática da enunciação, apoiamo-nos no conceito de sintaxe formulado por Benveniste em “A forma e o sentido da linguagem” (1989). A seguir, formularemos uma metodologia de análise do conto a partir de uma proposta de representação da ordem do dizer e do mostrar (Flores, 2006). Constatamos que a sintagmatização da conjunção aditiva “e” no conto literário não produz um sentido da ordem da fusão de dois elementos, da “conjunção” em favor de um todo maior; produz uma união de dois elementos que permanecem juntos mas paralelos um ao outro. Concluímos que, se para Benveniste, a língua não diz, nem oculta, mas significa, o signo resultante da conjunção “e”, no texto em análise, é uma união não realizada entre duas paralelas que nunca se cruzam.

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GT12 Cognição, aprendizagem de L2 e bilingüismo Coordenadores Lêda Maria Braga Tomitch (UFSC) Márcia Cristina Zimmer (UCPel) EFEITOS DO MULTILINGÜISMO EM TAREFAS NÃO VERBAIS DE CONTROLE COGNITIVO Márcia Zimmer (UCPel) Ingrid Finger (UFRGS) O presente trabalho faz parte de um projeto maior sobre a relação entre habilidades lingüísticas verbais e habilidades cognitivas não verbais em indivíduos multilíngües. Neste recorte, tivemos por objetivo investigar possíveis vantagens cognitivas de um grupo de chineses, falantes de inglês como L2 e aprendizes de português como L3, sobre um grupo monolíngüe de brasileiros em duas tarefas envolvendo demandas de atenção e controle inibitório. A hipótese de que partimos é a de que o indivíduo bi/multilíngüe possui maior controle inibitório relacionado à memória de trabalho devido à prática de inibir uma língua quando fala outra, durante a competição por ativação inerente ao processamento bilíngüe (GREEN, 1998; BIALYSTOK, 2001, 2004). Assim, essa prática se refletiria em outras tarefas envolvendo a seleção e controle inibitório. Para testar essa hipótese, dois grupos, um de 30 brasileiros universitários monolíngües, e outro de 30 estudantes universitários da China, morando no Brasil há um ano, participantes de programas de intercâmbio estudando Português Brasileiro na UFRGS e na PUCRS, e aprovados no teste de proficiência de Português para estrangeiros, CELPE-BRas, participaram de duas tarefas testando demandas relacionadas à memória de trabalho. A Tarefa Simon (LU & PROCTOR, 1995) foi escolhida por ser relativamente livre de conteúdo, mas ao mesmo tempo dependente de processos cognitivos que envolvem seleção de estímulos e controle inibitório. As duas versões da tarefa Simon foram replicadas de Bialystok et al (2004): uma simples, envolvendo apenas dois tipos de estímulos, e outra mais longa e mais complexa, envolvendo quatro tipos diferentes de estímulos. Em ambas as tarefas, os participantes multíngües obtiveram vantagem significativa sobre os participantes monolíngües. Os resultados são discutidos dentro de um referencial teórico emergentista, baseado no modelo de Competição de MacWhinney (2001, 2007). COMPARAÇÃO ENTRE O DESEMPENHO DE CRIANÇAS BILÍNGÜES E MONOLÍNGÜES EM TAREFAS ENVOLVENDO A MEMÓRIA DE TRABALHO Marta Tessmann Bandeira (UCPel) O município de Arroio do Padre – RS foi colonizado por imigrantes pomeranos e alemães e caracteriza-se como uma região geográfica de acesso relativamente limitado, fato que contribui para que os habitantes desse

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município continuem usando cotidianamente o pomerano e/ou o alemão como sua primeira língua. Hoje, com o acesso facilitado às mídias, as pessoas – principalmente crianças – falam dois idiomas: o pomerano e o português. Bialystock (2001) realizou um estudo aplicando um teste, denominado Simon Task, com adultos jovens e adultos com mais idade para medir tempo de reação e acurácia em tarefas envolvendo funções executivas e de controle. Esse teste consiste de exercícios envolvendo a apresentação de estímulos coloridos tanto no lado esquerdo ou direito da tela do computador. Cada uma das cores é associada à chave de resposta, que também está em um dos lados do teclado, alinhado com dois estímulos de posição. Em provas congruentes, a chave que é a resposta correspondente à cor está no mesmo lado do estímulo; em provas incongruentes, a chave está do lado oposto. Muitos estudos com esta tarefa têm confirmado que a irrelevante informação da localização resulta em tempos de reação (RTs) fidedignos para itens incongruentes. O aumento de tempo necessário para responder os itens incongruentes é o efeito de Simon. Como resultado da pesquisa, Bialystock (2001) mostrou que pessoas bilíngües desenvolviam processos de controle ligados à memória de trabalho mais rapidamente do que monolíngües. Evidências em estudos psicolingüísticos de processamento da linguagem de adultos mostram que as duas línguas de um bilíngüe permanecem constantemente ativas durante o processamento de uma. Atividade nos dois sistemas requer um mecanismo para manter as línguas separadas para que se chegue a uma performance fluente da língua em questão. Green (1998) propôs um modelo baseado no controle inibitório, no qual a língua não relevante é eliminada pelas funções do sistema executivo usado normalmente para controlar a atenção e a inibição. Se esse modelo estiver correto, então bilíngües têm prática massiva em exercitar o controle inibitório, uma experiência que pode ir além dos domínios cognitivos verbais. Para averiguar tais diferenças cognitivas, principalmente de atenção e inibição, está em andamento uma pesquisa com a aplicação da Simon Task em dois grupos – um monolíngüe e um bilíngüe - de vinte crianças da 3ª e 4ª série de escolas municipais de Arroio do Padre. Este estudo está em fase inicial e será utilizado como subsídio para um estudo de larga escala. O BILINGÜISMO E SUA RELAÇÃO COM A CONSCIÊNCIA METALINGÜÍSTICA DE CRIANÇAS Johanna Dagort Billig (UFRGS) Patrícia Piantá Frederes (UFRGS) O presente trabalho se insere na área de estudos que pesquisam o desenvolvimento lingüístico-cognitivo de indivíduos bilíngües e teve por meta investigar a relação entre bilingüismo e consciência metalingüística. Dois tipos de tarefas foram utilizados para verificar a consciência metalingüística dos participantes: teste de arbitrariedade da língua e teste de substituição de símbolos, construídos a partir de Ben-Zeev (1977). Para investigar a relação entre bilingüismo e consciência metalingüística, dois

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grupos de crianças entre sete e oito anos foram comparados: monolíngües (n=11) e bilíngües (n=10). Como as tarefas empregadas no experimento exigem grande controle de atenção seletiva, a hipótese era de que os bilíngües apresentariam melhor desempenho em comparação com os monolíngües em ambos os testes, conforme apontado em estudos anteriores (Bialystok, 2001, 2006, 2008). Entretanto, os resultados obtidos não confirmaram essa expectativa e o presente estudo traz como maior contribuição uma reflexão sobre a dificuldade de selecionar a amostra de bilíngües e a importância de termos um cuidado metodológico nesse tipo de pesquisa. METÁFORA, CORPOREIDADE E LÍNGUA ESTRANGEIRA Luciane Ferreira (PRODOC – CAPES/UFC) O presente estudo investiga a compreensão da metáfora por aprendizes de língua inglesa e por falantes nativos de inglês. Selecionou-se dez metáforas lingüísticas novas em edições online de jornais ingleses e norte-americanos. Depois, identificou-se a metáfora conceptual subjacente com base no inventário de metáforas conceptuais apresentado por Lakoff e Johnson (1980, 1999) e no inventário de metáforas primárias de Grady (1997). Considerando as dificuldades que as metáforas lingüísticas representam para a compreensão de textos por falantes não-nativos, buscou-se investigar que tipo de conhecimento os aprendizes de LE empregam ao tentar compreender metáforas lingüísticas. Para isso, foi analisada a maneira como os aprendizes compreendem (LITTLEMORE e LOW, 2006) metáforas lingüísticas, primeiramente sem usar o contexto e, depois, utilizando o contexto. Em um segundo experimento, investigou-se como os falantes nativos de inglês compreendem as mesmas expressões metafóricas (GIBBS, 1994). A amostra incluiu 221 estudantes brasileiros de graduação e 16 estudantes norte-americanos de graduação da Universidade da Califórnia, Santa Cruz. Os resultados apontam que metáforas conceptuais relacionadas com os domínios experienciais VISÃO, MOVIMENTO e RAIVA foram avaliadas com uma pontuação alta no experimento realizado com falantes não-nativos. As mesmas metáforas foram julgadas como mais comuns e mais fáceis de serem compreendidas pelos 16 falantes nativos de inglês norte-americano. A comparação dos resultados dos dois experimentos corrobora a nossa hipótese de que existe um padrão universal na estruturação de conceitos abstratos que aumenta a compreensão da metáfora em uma língua estrangeira de maneira semelhante ao que ocorre com a compreensão da metáfora na língua materna. Enfim, tais resultados revelam que o processo de compreensão tanto na língua materna como na língua estrangeira é fortemente influenciado pela corporeidade (GIBBS, 2006).

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O PAPEL DOS PROCESSOS METACOGNITIVOS DE REPETIÇÃO E DE PLANEJAMENTO PARA REPETIÇÃO NO DESEMPENHO ORAL DE APRENDIZES DE INGLÊS COMO SEGUNDA LÍNGUA Raquel Carolina Souza Ferraz D’Ely (UFSC/CAPES) Este estudo, desenvolvido sob a perspectiva da teoria de processamento da informação, investigou o impacto de dois processos metacognitivos - repetição (Bygate, 2001), e planejamento estratégico para a repetição (D’Ely, 2004) no desempenho oral de uma vídeo-narrativa por um grupo de 29 alunos de Inglês como segunda língua (L2). Os participantes deste estudo, matriculados nos cursos de Letras-Licenciatura, Letras-Secretariado e Extra-curriculares da Universidade Federal de Santa Catarina, foram divididos em 3 grupos: (1) controle, (2) repetição – onde os aprendizes tiveram oportunidade de repetir a mesma tarefa e (3) planejamento estratégico para repetição – condição que oportunizou aos aprendizes atuar sem planejamento estratégico num primeiro encontro, ter sessões instrucionais durante 4 semanas acerca da tarefa e repetir a mesma tarefa planejando-a previamente. Seguindo Foster e Skehan (1996) e Fortkamp (2000), a produção oral dos alunos foi examinada em quatro dimensões: fluência, complexidade, densidade lexical e acurácia. Questionários pós-tarefa foram administrados para desvendar a avaliação dos alunos em relação ao tipo de tarefa, seu desempenho oral e as condições experimentais nas quais eles atuaram. Em geral, as análises estatísticas revelaram um efeito positivo e significativo da repetição em algumas das dimensões da atuação oral, a saber: fluência, densidade lexical e acurácia; e acurácia e densidade lexical no grupo do planejamento estratégico para a repetição. O grupo do planejamento estratégico para a repetição também obteve ganhos significativos em complexidade, ainda que tenha tido perdas em fluência. Com base nesses resultados, a repetição pode servir como um caminho para ativar o conhecimento procedural dos aprendizes, onde o conhecimento prévio é reagrupado numa mesma tarefa, fato que pode permitir que todo o processo da fala passe a ser mais automatizado. A questão da familiaridade com a tarefa também pode ajudar a diminuir a tensão entre as funções de armazenamento e processamento na memória de trabalho dos aprendizes. Em geral, os resultados corroboram o efeito de troca atencional entre as diferentes dimensões do desempenho oral (Foster e Skehan, 1997). Ademais, os resultados multifacetados sinalizam que a maneira com que os alunos encaram as diferentes condições experimentais é idiossincrática e que uma série de variáveis interage afetando o desempenho oral dos aprendizes. Entre estas variáveis estão a natureza da tarefa, o foco de atenção dos alunos enquanto atuam, e o impacto de outras atividades de aprendizagem. O estudo contribui para a construção de aspectos teóricos relacionadas ao desempenho oral em L2 e ao tratamento pedagógico dessa habilidade.

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O PAPEL DA INSTRUÇÃO EXPLÍCITA NA AQUISIÇÃO DA PRAGMÁTICA DA L2 Lydia Tessmann Mulling (UCPel) Márcia Zimmer (UCPel) Este estudo tem como objetivo analisar o papel que a instrução de caráter explícito desempenha em relação à aquisição da pragmática da L2, nesta pesquisa, a língua inglesa. Investiga-se, portanto, se alunos proficientes, futuros professores de inglês como língua estrangeira, conseguem perceber inadequações pragmáticas e produzir pedidos em inglês como L2, e que papel a atenção ao insumo, ativada pela instrução explícita, pode desempenhar frente às situações de escolhas pragmáticas na percepção e na produção dos sujeitos da amostra. Dezessete alunos, estudantes de Letras – Inglês da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), tiveram sua produção pragmática analisada por dois avaliadores e realizaram um teste de percepção e julgamento acerca de enunciados que continham violações tanto de ordem pragmática quanto gramatical. Para analisar o efeito desempenhado pela instrução explícita, os dados foram coletados em duas etapas: uma anterior à instrução explícita e uma posterior à instrução. Além disso, os sujeitos foram divididos em dois grupos (experimental e controle), segundo o nível de proficiência lingüística. Com a finalidade de se verificar a influência da instrução explícita de cunho conexionista, o trabalho pedagógico acerca da pragmática da L2, especialmente sobre a realização de pedidos, foi realizado somente com o grupo experimental. A análise dos dados e a comparação entre as duas etapas demonstrou o efeito benéfico da instrução explícita tanto em relação à percepção de enunciados pragmaticamente inadequados quanto à produção de pedidos em língua inglesa. Assim, a instrução acerca da pragmática auxiliou os aprendizes a prestar atenção ao aspecto pragmático do insumo junto à análise do contexto que ambienta o ato comunicativo. A AQUISIÇÃO DO PRESENT PERFECT POR APRENDIZES BRASILEIROS DE INGLÊS: UMA ANÁLISE ASPECTUAL Ingrid Finger (UFRGS) Simone Mendonça (UFRGS) Juliana Feiden (UFRGS) Na tentativa de expressar o conteúdo semântico intrínseco ao Present Perfect em português brasileiro, faz-se uso de três estruturas verbais distintas, a saber: Presente Simples, Pretérito Perfeito Simples e Pretérito Perfeito Composto. A partir dessa constatação, o presente estudo teve por objetivo geral analisar a transferência de traços aspectuais do português na aquisição do Present Perfect por um grupo de aprendizes brasileiros de inglês. Os objetivos específicos foram verificar (a) se existem diferenças no grau de dificuldade de aquisição do Present Perfect, de acordo com o tipo de estrutura utilizada no português para expressar um mesmo conteúdo

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semântico; (b) se os advérbios utilizados nas frases, principalmente for e since, interferem no uso do Present Perfect pelos aprendizes; e (c) se existe transferência de traços do aspecto lexical intrínsecos aos sintagmas verbais do português na aquisição do Present Perfect do inglês. Para tanto, lançamos mão da aplicação de testes de tradução para o inglês de sentenças escritas em português por aprendizes brasileiros pertencentes a diferentes níveis de proficiência. Resultados preliminares indicam que o conteúdo semântico que no português é expresso pelo Pretérito Perfeito Simples, mesmo que sem a marcação de tempo passado explícita na frase, foi o mais difícil de ser representado no inglês pelos aprendizes, o que parece caracterizar uma situação clara de interferência de trações aspectuais da língua materna na aquisição da L2. Além disso, o uso dos advérbios for e since influenciou as respostas dos aprendizes, favorecendo a escolha do uso do Present Perfect correspondente ao Pretérito Perfeito Simples do português. AVALIAÇÃO DA HABILIDADE DE LEITURA EM INGLÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA: REFLEXÕES SOBRE O NÍVEL DE COMPREENSÃO EXIGIDO POR ITENS DE TESTES Celso Henrique Soufen Tumolo (UFSC) Muitos testes têm sido desenvolvidos e usados para avaliar o conhecimento de Inglês como língua estrangeira. Além dos diferentes propósitos apontados por Hughes (2003) para testes, a saber, diagnóstico, progresso, proficiência e colocação, esses testes podem ter, também, o propósito de seleção. No Brasil, testes para avaliar a habilidade de leitura em Inglês como língua estrangeira para seleção de candidatos para ingresso no ensino superior têm sido parte dos vestibulares, e têm tido características diversas no que se refere a escolha de tópicos e itens usados. De qualquer forma, um teste será defensável se ele permite interpretações e ações baseadas no(s) fator(es) relevante(s) sendo avaliado(s). Discriminação baseada em qualquer outro fator, neste caso irrelevante, violará o princípio de justiça. Um fator apontado na literatura como fonte potencial de injustiça em teste é conhecimento prévio (Kunnan, 2000), que pode somente ser considerado irrelevante quando não incluído no construto avaliado. Bachman e Palmer (1996) oferecem três opções para definição do escopo de um construto para testes de línguas estrangeiras: a) construto incluindo somente habilidade lingüística; b) construto incluindo habilidade lingüística e conhecimento prévio; e c) construtos separados para habilidade lingüística e conhecimento prévio. Como as provas de línguas estrangeiras dos exames de vestibular têm sido desenvolvidas para avaliar somente a habilidade lingüística, o conhecimento prévio torna-se fator irrelevante. Este trabalho pretende discutir o papel de conhecimento prévio no processo de compreensão, incluindo sua contribuição para a eficiência dos processos inerentes à memória de trabalho e como isso está relacionado com as discussões sobre justiça e injustiça em testes. Pretende, também, apontar para características de teste e itens de testes que podem minimizar os efeitos do conhecimento

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prévio, reduzindo injustiça em processos de seleção. Ao fazer isso, ele contribui com discussões e sugestões para o desenvolvimento de testes com características de justiça. INVESTIGANDO O PROCESSAMENTO DE NARRATIVAS EM L2: UM ESTUDO COM FNIRS Lilian C. Scherer (UNISC) Lêda M.B. Tomitch (UFSC) Estudos de neuroimagem têm demonstrado um maior envolvimento do hemisfério cerebral direito em atividades lingüísticas desenvolvidas por falantes não proficientes de uma segunda língua (L2). A presente comunicação apresenta uma investigação sobre o desempenho de falantes nativos de inglês ao lerem textos em francês, língua na qual possuem proficiência intermediária. Buscou-se verificar, em termos comportamentais, a acurácia e o tempo de resposta desses leitores ao processarem três diferentes níveis textuais (a macro- e a micro-estrutura e o modelo situacional), e em termos da atividade cerebral, analisou-se a participação dos hemisférios cerebrais no processamento desses níveis, através do uso da técnica de neuroimagem fNIRS (functional Near-Infrared Spectroscopy). Participaram do estudo 10 adultos jovens falantes nativos de inglês, com um nível intermediário de proficiência na L2 – francês, e 10 adultos jovens falantes nativos de francês. Os resultados mostram diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos em termos da acurácia na compreensão da macro-estrutura e do modelo situacional, bem como no tempo de resposta nos três níveis de processamento das narrativas. Os resultados de neuroimagem demonstraram um participação estatisticamente significativa das 4 regiões de interesse (ROIs) frontais investigadas no hemisfério direito durante o processamento da macro-estrutura, bem como de regiões temporais e frontais do hemisfério esquerdo na compreensão da micro-estrutura. O BILINGÜISMO E A MANUTENÇÃO DE FUNÇÕES EXECUTIVAS NA TERCEIRA IDADE Léa Maria Coutinho Pinto (UNIRITTER, FAPA) A experiência de vida de um bilíngüe, ao processar duas línguas, parece proporcionar-lhe benefícios cognitivos. Pesquisas atuais em Psicologia Cognitiva e Neurolingüística atestam que o declínio cognitivo na terceira idade é constatado, principalmente, na memória episódica, na memória de trabalho e na memória de curta duração. A diminuição da memória de trabalho deve-se a perdas neuronais do córtex pré-frontal. E o decréscimo da memória de curta duração corresponde a prejuízos neuronais no hipocampo, no córtex entorrinal ou, eventualmente, parietal. Os processos executivos centrais demandados na memória do idoso bilíngüe evidenciam um incremento nos mecanismos de percepção, memória, resolução de problema

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e eficiência do processo inibitório, isto é, aquele processo que permite à pessoa descartar as opções irrelevantes de uma tarefa e concentrar a atenção nos seus aspectos mais relevantes (Bialystok et al., 2004). A partir destas constatações e com a finalidade de averiguar a hipótese do incremento, ensejado pelo bilingüismo nas funções cognitivas ligadas à memória de trabalho, esta comunicação traz resultados parciais de uma pesquisa em andamento no Centro Universitário Ritter dos Reis, em uma amostra de população (português – alemão) do Rio Grande do Sul. A amostra, constituída por oitenta pessoas, moradores da mesma cidade e de nível sócio-econômico-cultural similares, foi selecionada por meio de questionário de sondagem. Constituíram-se dois grupos de idade (adultos jovens entre 30 a 50 anos de idade e idosos entre 60 e 89 anos de idade) e dois grupos de língua (monolíngües e bilíngües). Os instrumentos utilizados para a investigação da amostra, nesta fase da pesquisa, são: o Teste Raven de Matrizes Progressivas, que avalia a habilidade não-verbal argumentativa abstrata; o Simon Task, que mede inteligência verbal, espacial e a capacidade do processo inibitório e o teste Peaboby Vocabulary Test-PPVT-4th,, avaliação padrão de vocabulário receptivo. Os dados deste estudo estão sendo analisados à luz do conexionismo. ENVELHECIMENTO, BILINGÜISMO E SEMI-INSTITUCIONALIZAÇÃO: INFLUÊNCIAS NA CONSCIÊNCIA METALINGÜÍSTICA DOS PESQUISADOS? Sabrine Amaral Martins (UCPel) O envelhecimento é um processo que leva à diversas alterações no cérebro, incluindo a morte de neurônios em estruturas como o hipocampo – o que dificulta a construção de novas memórias. Além disso, cogita-se que haja perda de neurônios em outras estruturas. O processo é variável entre os indivíduos e, assim, como se sabe que determinados fatores aceleram a perda de neurônios, é preciso desacelerar essa perda, protegendo o cérebro. As pessoas podem influenciar no declínio das funções cerebrais, através de hábitos como álcool dentre outros. Já os exercícios físicos parecem retardar a perda das células nervosas em áreas envolvidas na memória. Então, para favorecer um envelhecimento saudável, é vital praticar exercícios com freqüência, fazer uma dieta saudável e possuir uma vida mental rica. Há estudos tentando provar que o bilingüismo é um fator positivo para aumentar essa saúde mental. Entretanto, não se tem resultados concretos quando se trata de idosos bilíngües e semi-institucionalizados. Quando as pessoas envelhecem, a quantidade de células nervosas no cérebro geralmente diminui, embora essa perda varie de pessoa para pessoa. No entanto, o cérebro tem determinadas características que ajudam a compensar as perdas, como exemplo a redundância, a formação de novas conexões e a produção de novas células nervosas (GOLDMAN, S.A., 2007). Através de pesquisas (DUTRA, G.R, MACHADO, A.P.G, 2006), mostrou-se que idosas institucionalizadas apresentaram um grau menor de acertos no mini exame

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mental adaptado (FREITAS et al., 2002) em comparação às não institucionalizadas. Por essa razão, o objetivo do presente trabalho concentra-se em analisar a consciência metalingüística de dois idosos bilíngües semi-institucionalizados em relação à dois idosos monolíngües, através de testes não-cronométricos como testes de segmentação e de julgamento com escala. Os pesquisados são duas mulheres e dois homens, com idade média de 79 anos e 81,5 anos, respectivamente. Eles possuem um grau de escolaridade bastante baixo, até quarta série do Ensino Fundamental. Um dos participantes bilíngües possui como segunda língua o espanhol e como língua materna o português, o outro possui como segunda língua o português e língua materna o espanhol. Ambos são bilíngües porque adquiriram a segunda língua devido à necessidade do seu uso e interagem através dela em momentos específicos. A investigação justifica-se ao contribuir com pesquisas das áreas da neuropsicologia e neurologia, além da neurolingüística, haja vista que os estudos sobre o assunto ainda são muito incipientes. MEMÓRIAS EXPLÍCITAS E IMPLÍCITAS E ESTRUTURAÇÃO DAS LÍNGUAS EM UM AFÁSICO TRILÍNGÜE Frederico Gomes e Silva Moreira (UCPel) O presente trabalho visa a comparar processos de memória explícita e implícita nas três línguas faladas por um paciente afásico de 54 anos, trilíngüe, falante de Português Brasileiro (L1), francês (L2) e inglês (L3), em tarefas nas três línguas, envolvendo: 1) aprendizagem de pares associativos, para testar a memória hipocampal; e 2) priming semântico, para testar a memória neocortical. A proficiência do paciente no francês (L2) e no inglês (L3) foi atestada através de exames de proficiência validados, como o TOEIC e o DELF-DALF, para o inglês e o francês, adaptados para participantes com curto span de concentração. Além disso, o paciente foi testado com o Mini Exame de Estado Mental (MEEM), que compreende uma série de tarefas relacionadas a diferentes áreas da cognição, tal como memória, (a)praxias, recordação, fluência verbal. A relação entre os resultados obtidos pelo paciente em todos os testes arrolados está sendo investigada com vistas a estabelecer relações entre afasia, organização cerebral das três línguas em termos de sistemas de memórias (MCCELLAND et al, 1995) e grau de proficiência nas línguas, discutindo-as a partir da combinação de um referencial teórico emergentista (MacWhinney, 2007; ELLIS, 2008) e neurolingüístico (FABBRO, 2001). CONSTRUINDO UMA SEGUNDA LÍNGUA Fernando Ferreira-Junior (CEFET Ouro Preto, UFMG) Este trabalho investiga a natureza dos processos cognitivos básicos envolvidos na aquisição de uma segunda língua (L2) a partir de mecanismos de construção que utilizam fórmulas lingüísticas fixas ou entrincheiradas

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(i.e., sociocognitivamente determinadas). Processos de chunking, que operaram desde o nível neurobiológico e são mediados por processos probabilísticos e de atenção, parecem guiar o desenvolvimento de nosso conhecimento lingüístico. O caráter dinâmico e emergente de tal concepção de aprendizagem requer a adoção do paradigma conexionista, cujo dinamismo é altamente compatível com a noção de aprendizagem, representação e processamento de línguas naturais aqui defendida (i.e., a língua como um sistema complexo adaptativo). Além disso, uma abordagem de cunho construcionista e a concepção de um continuum léxico-gramatical na aprendizagem de línguas orientam as análises empíricas conduzidas neste trabalho. O estudo consistiu numa análise da aquisição espontânea de três construções em língua inglesa (VL = verbo + locativo, VOL = verbo + objeto + locativo, e VOO = verbo + objeto + objeto ou bitransitivo) em um subcorpus longitudinal de aprendizes de inglês como L2 no Projeto ESF (PERDUE, 1993). Os resultados revelaram que tais construções são totalmente dominadas pelos verbos altamente freqüentes go, put e give, respectivamente, revelando um padrão de desenvolvimento semelhante para todos os sete aprendizes investigados, independentemente de sua língua nativa. Os dados analisados mostraram, ainda, que a distribuição probabilística observada na estrutura de línguas naturais, por meio da qual algumas palavras revelam-se mais freqüentes, mais genéricas e mais prototípicas, tende, posteriormente, a facilitar a aprendizagem de construções mais abstratas da estrutura argumental da L2. Finalmente, uma análise mais qualitativa dos dados encontrados em nosso estudo revelou que 1) protótipos semânticos possibilitam a aprendizagem de estruturas esquemáticas mais complexas de uma L2, resultantes, acima de tudo, de processos cognitivos contínuos de categorização, generalização e indução de regularidades presentes no insumo lingüístico de uma dada língua; 2) que tal processo é dependente da freqüência de types e tokens com os quais as construções ocorrem no insumo lingüístico; 3) que o desenvolvimento de interlínguas é pautado por um processo lento e gradual, inicialmente calcado em itens bastante concretos até o desenvolvimento de estruturas lingüísticas mais abstratas; e 4) que a aprendizagem de fórmulas ou chunks depende da freqüência de tokens, ao passo que os processos de esquematização e abstração dependem da freqüência de types. UM ESTUDO CONEXIONISTA SOBRE A TRANSFERÊNCIA DO CONHECIMENTO SUPRASSEGMENTAL ENTRE L1 E L2 Ana Cristina Cunha da Silva (UFC) Devido à sua grande capacidade de aprendizado e generalização, o paradigma conexionista tem-se mostrado um aliado muito eficiente nos estudos sobre o processamento de aspectos fonéticos/fonológicos e aprendizado da língua-alvo. O presente trabalho visa a projetar uma rede neural que consiga simular os principais processos de transferência do conhecimento suprassegmental do português brasileiro presentes durante a

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leitura de itens lexicais ambíguos de língua inglesa entre adultos brasileiros aprendizes de língua inglesa. O ato de elencar e simular esses processos de transferência do conhecimento sobre a relação sílaba-acento-entoação, bem como as produções desviantes geradas, partiu da hipótese de que algumas estratégias metacognitivas adotadas pelos aprendizes, juntamente com a apresentação de conhecimento explícito, influenciam no desempenho de tarefas de leitura (em voz alta) que incluam a identificação e produção de padrões silábicos, acentuais e entoacionais de português e inglês. Pretende-se apresentar os resultados parciais coletados de 60 falantes monolíngues de português brasileiro e aprendizes de EFL divididos em três diferentes níveis de proficiência e ainda mostrar os primeiros resultados obtidos na simulação dos processos em questão. O SISTEMA DE MEMÓRIA HIPCORT E O PAPEL DE GRAFIA NA TRANSFERÊNCIA FONÉTICO-FONOLÓGICA L2 (FRANCÊS) – L3 (INGLÊS) Cíntia Ávila Blank (UCPel) As pesquisas na área de língua estrangeira apresentam uma forte tendência em investigar a relação entre a L1 e a L2, deixando de lado a explicação dos processos de transferência que podem ocorrer quando da aprendizagem de mais de uma língua estrangeira. Este trabalho apresenta os resultados de um estudo de caso que tratou, numa perspectiva conexionista, do efeito da grafia na transferência de padrões fonético-fonológicos do francês (L2) para o inglês (L3), durante uma tarefa de acesso lexical medindo tempo de reação. Para aplicar a tarefa de acesso lexical, foi utilizado o programa E-Prime em conjunto com uma Serial Response Box. Os resultados obtidos evidenciam efeitos significativos da grafia tanto na transferência fonético-fonológica L2-L3, como na transferência L3-L2. Esses achados estão em consonância com o modelo conexionista HipCort (McClelland et al, 1995), de acordo com o qual o processamento dos sistemas de memória hipocampal e neocortical funcionariam de forma colaborativa, possibilitando a interação entre o conhecimento prévio da L1 e da L2 (mais consolidados) e o conhecimento novo da L3 (menos estabilizado).

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GT13 Práticas Escolares em Língua Materna Coordenadores Ana Maria de Mattos Guimarães (UNISINOS) Luciene Juliano Simões (UFRGS) REFLEXÕES SOBRE O AGIR DOCENTE: O TRABALHO REPRESENTADO ATRAVÉS DA AUTOCONFRONTAÇÃO Rafaela Fetzner Drey (UNISINOS) A concepção e validação de novas formas de mediação didática, baseadas no quadro epistemológico interacionista sociodiscursivo (Bronckart, 2006, Schneuwly, 2004), permitem focar o estudo da produção de textos na escola como um processo de comunicação e interação social, e não como uma mera atividade escolar avaliativa. Partindo destes pressupostos, sabe-se que uma proposta a partir de gêneros de texto pode ser determinante para mudar o quadro de fracasso da escola com relação à produção de textos, como têm apontado vários estudos (Guimarães, 2004; Cordeiro; Azevedo; Mattos, 2004; Rojo, 2000).Nesse sentido, este estudo apresenta os resultados de uma pesquisa de dissertação de mestrado cujo objetivo principal consistiu em verificar se a experimentação de uma nova metodologia para a produção textual – organizada em seqüências didáticas a partir da perspectiva dos gêneros textuais delineada pelo interacionismo sociodiscursivo, aliada à auto-reflexão do docente acerca de sua atuação através do momento de autoconfrontação (Clot, 2006) podem oportunizar transformações no sentido que os docentes dão à sua própria prática na sala de aula de Língua Portuguesa. A base teórica deste projeto se constitui na conjugação de duas perspectivas distintas, que se encontram em determinados momentos: no quadro epistemológico proposto pelo ISD (interacionismo sociodiscursivo); e nos estudos da ergonomia da atividade de linha francesa propostos pela Clínica da Atividade. A escolha do ISD como base teórico-filosófica principal deste trabalho se consolida com o objetivo de mudar a perspectiva sobre o texto presente na sala de aula de língua materna, além de aprofundar o foco de estudo do agir docente como trabalho através das dimensões que o constituem. Enquanto isso, os conceitos da Clínica da Atividade se aproximam da proposta do ISD no sentindo de tentarem explicar melhor a questão do trabalho, através da metodologia de autoconfrontação - utilizada para geração dos dados nesta pesquisa. A proposta apresentada analisou a constituição do trabalho representado no agir de duas docentes de língua materna de uma escola pública de Ensino Médio na região serrana do RS enquanto desenvolveram uma seqüência didática com seus alunos. Os dados consistem nos comentários das próprias professoras sobre seu agir no momento de autoconfrontação. Apoiadas em determinados elementos lingüísticos, as análises buscaram, nestas falas, revelar como as pesquisadas concebem seu trabalho e de que forma assumem (ou não) seu agir.

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NOVAS PRÁTICAS DE LEITURA, ESCRITA E ORALIDADE: A CRIANÇA E A INTERNET Evelyse Ramos Itaqui (UFRGS) Este trabalho busca examinar como estão ocorrendo as práticas sociais de leitura, escrita e oralidade no ambiente digital. Os sujeitos da pesquisa são compostos por um grupo de crianças em idade entre nove e 10 anos, alunos da terceira série do ensino Fundamental e pertencentes a classe média baixa. Os materiais coletados durante essa investigação têm origem variada: entrevista com as crianças, um questionário respondido por esses alunos e análise dos sites mais visitados por eles. Para a realização das análises, este trabalho conta com os aportes dos estudos sobre letramento, ancorada na perspectiva dos Estudos Culturais. Como ferramenta metodológica faz uso das análises textuais, uma vez que as respostas dadas pelas crianças nos questionários são examinadas e permitem a produção dos dados. Tais respostas indicam como esse local está sendo utilizado como material para as pesquisas escolares. A internet ainda surgi como um ambiente de lazer, sendo que os sites Orkut, MSN e os relacionados a jogos são nomeados como os preferidos das crianças, locais estes que se mostraram propícios em práticas sociais de leitura, escrita e oralidade. Sob o efeito pedagógico, percebe-se que não se pode mais negar a importância da internet no cotidiano das crianças, constituindo-se, então, como um novo ambiente de aprendizagem. O JOGO DIGITAL NOS PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA – UM ESTUDO ATRAVÉS DAS SEQUÊNCIAS NARRATIVAS Vanessa Doumid Damasceno (UNISINOS) Este estudo tem como objetivo principal apresentar o jogo num ambiente digital, possibilitando o ensino e a aprendizagem de Língua Portuguesa através da construção de narrativa. O trabalho foi desenvolvido na rede particular de ensino, com alunos das séries finais do Ensino Fundamental. Os encontros foram semanais, todas as sextas-feiras, duas horas de gravação, totalizando dezesseis horas (de jogo analisado) no período de novembro de 2004 a agosto de 2006. As histórias produzidas pelos alunos confirmaram as hipóteses do estudo. Elas se mostraram úteis à compreensão das práticas lingüísticas digitais ao contribuírem para a compreensão das narrativas não lineares, entendidas como estruturas complexas. “REPÓRTER MIRIM NA ERA DO RÁDIO”: O PAPEL DA ESCOLA NA INTERAÇÃO E APLICAÇÃO DOS GÊNEROS ORAIS. Thaís Hoffmann dos Reis (UNISINOS) O gênero oral é utilizado diariamente por todos nós, contudo, percebo no cotidiano escolar, a priorização do gênero escrito. Dessa forma, proponho

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uma pesquisa que resgate para o contexto sala de aula, o uso e aplicação do oral; visando a interação entre a prática escolar e o contexto social e cultural. Sabe-se que tanto o gênero escrito como oral, são de fundamental relevância para indivíduo na interação com o seu contexto sócio-historico-cultural. Contudo, cabe a escola, como espaço constituinte de relações de ensino e aprendizado, mediar a interação dos alunos com os saberes formais, de maneira que estes conhecimentos sejam relevantes para o educando e oportunizem novas situações de interação sócio- culturais. No município de Novo Hamburgo, existe um projeto da Secretaria Municipal de Educação (Smed), chamado “Repórteres mirins na era do radio”, que visa oportunizar aos alunos momentos de interação com os acontecimentos da sua escola, do seu município, culturais, sociais e da sua comunidade. O grupo de repórteres mirins é coordenado por um professor responsável, que organiza as pesquisas, entrevistas, reivindicações, recados, avisos entre outros assuntos que serão apresentados na rádio da escola. Esse projeto, tem a parceria da rádio ABC900 (AM) de Novo Hamburgo. Não são todas as escolas que participam do projeto, pois é dada a liberdade de escolha para a adesão no mesmo. Na escola onde leciono há a Rádio, e percebo que é de fundamental importância que os alunos construam e desenvolvam conhecimentos e habilidades dos gêneros orais, para melhor elaboração e condução das entrevistas radiofônicas, das reivindicações, dos avisos, dos debates. Para isso, é importante que tanto os alunos repórteres, como os ouvintes, entendam a relevância do papel de cada um, pois o repórter, acaba tornando-se um mediador entre o publico, o entrevistado e/ou reivindicação junto à equipe diretiva escolar e o município. Dessa forma, proponho o resgate do gênero oral dentro da escola, que se fará através de seqüências didáticas sobre os gêneros aplicados no cotidiano da rádio, enfatizando a entrevista. Sendo assim, será possível apontar os pontos positivos, que realmente foram relevantes, e os pontos que não ofereceram grandes mudanças, ou nos quais os alunos apresentaram mais dificuldade. Também, espera-se que os alunos sejam capazes de estabelecer relações com os gêneros orais e a aplicabilidade dos mesmos no desenvolvimento da rádio QUEM LÊ TANTA NOTÍCIA? – UMA BUSCA PELOS SENTIDOS DA LEITURA DE JORNAIS NA FOLHA DE S. PAULO Cristina Charão Marques (UFRGS) O leitor de jornal está no topo da pirâmide do letramento. Independente do paradigma de letramento utilizado para se definir uma relação hierárquica entre as diferentes práticas letradas – a saber, o modelo autônomo e o modelo ideológico –, é lá no alto desta pirâmide que se pode avistar o leitor de jornal. Buscar saber o que se diz a respeito dele, quais os sentidos que dominam a imagem da leitura de jornal é um passo para compreender os valores relacionados à leitura e, mais especificamente, aos sujeitos leitores no Brasil contemporâneo, considerando que estes são valores em disputa na sociedade. É dentro desta perspectiva que este trabalho, lançando mão de

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ferramentas teórico-metodológicas da Análise do Discurso, busca identificar quais as imagens atribuídas aos seus leitores pelo jornal de maior circulação do país, a Folha de S. Paulo. Analisando textos publicados pela Folha acerca da mais recente reforma gráfica por que passou o jornal, em 2006, é possível apontar três formações discursivas que compõem a imagem do leitor de jornal: uma que define o leitor como um sujeito premido pelo tempo (um “leitor com tempo contado”); outra que indica a inépcia do leitor para compreender e mesmo achar as informações dentro do jornal (um “leitor perdido”) e ainda uma terceira FD, a do “leitor participativo”, aquele que interage ou pretende interagir não necessariamente com o que lê, mas com os responsáveis pelo produto que lê. VISÃO NÃO-FORMALISTA DO ENSINO DA ESCRITA: UMA EXPERIÊNCIA REAL Letícia Santos (UFRGS) Este trabalho propõe-se a relatar uma prática de ensino ocorrida no ano de 2005 na cidade de Porto Alegre. Nossa prática de ensino foi desenvolvida em uma turma de curso técnico em mecânica, pós-médio, na disciplina de redação. O relato desta prática é relevante por ter sido fundamentado nas teorias lingüísticas atuais, basicamente, em Bakhtin. Conectamos nossa prática de ensino a um projeto de pesquisa que vem sendo desenvolvido na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a partir de uma visão não-formalista de ensino de escrita, projeto este coordenado pelo Prof. Dr. Paulo Coimbra Guedes. Tanto na Universidade quanto na Escola de Ensino Médio, obteve-se um resultado muito satisfatório, visto que conseguimos que os alunos ampliassem qualitativa e quantitativamente suas produções escritas. Isto nos faz prosseguir pesquisando esse assunto, a fim de obter subsídios para um ensino de escrita eficaz, baseado em métodos não formalistas, capaz de oportunizar ao aluno, um maior contato com o mundo da escrita. LETRAR PARA ALFABETIZAR: A CONTRIBUIÇÃO DO LETRAMENTO FAMILIAR E ESCOLAR PARA O “SUCESSO” DA ALFABETIZAÇÃO Luiza da Silva Costa (UFRGS) Este trabalho pretende examinar como um ambiente familiar letrado e suas práticas de leitura e escrita influenciam no processo de alfabetização. Para a análise teórica, a pesquisa trabalha com os Estudos sobre Letramento a partir da perspectiva dos Estudos Culturais. Os dados para a pesquisa foram coletados por meio de um questionário, em forma de um “mini-censo”, aplicado numa turma de alfabetização de uma escola da rede pública estadual, contendo perguntas acerca das práticas de leitura e escrita que ocorrem no ambiente familiar, bem como sobre a escolarização e profissão dos familiares de cada aluno. Além disso, foi analisada a prática pedagógica realizada na turma em questão, onde atividades buscavam trabalhar a

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aquisição da leitura e da escrita, bem como os usos sociais de tais práticas. Através de um cruzamento de dados entre as respostas dadas aos questionários, as atividades que ilustraram as aulas e os perfis traçados contemplando a evolução de cada aluno no processo de alfabetização no decorrer do período, chegou-se a conclusão de que os alunos que vivem em ambientes domésticos, onde as práticas de leitura e escrita são valorizadas e estimuladas, chegam à escola com maiores habilidades de leitura e escrita, favorecendo, assim, a sua alfabetização, ao longo da 1ª série. DIVISÃO DE GRUPOS POR NÍVEL DE HABILIDADES: DIFERENTES NÍVEIS DE ALFABETIZAÇÃO, DIFERENTES OPORTUNIDADES DE LETRAMENTO Carmen Ângela Lazarotto (UFRGS) Este estudo investiga o modo como alunos e professora constroem o letramento em uma sala de aula de primeiro ano do Ensino Fundamental. Os resultados da pesquisa mostram que os padrões organizacionais a partir dos quais os estudantes estavam divididos não apenas indicavam seus níveis de habilidades, mas indicavam modos específicos e complexos de se apropriar e de lidar com a leitura e com a escrita, a partir das diversas oportunidades de letramento que lhes eram oferecidas. EM BUSCA DA AUTONOMIA NA SALA DE AULA DE LÍNGUA PORTUGUESA Marilia de Melo Costa (Unesp, Araraquara) Nossa proposta é investigar o grau de autonomia já existente em uma turma de oitava série do Ensino Fundamental e de que forma uma intervenção em sala de aula de Língua Portuguesa pode fomentar a autonomia do aluno. Na perspectiva em que trabalhamos a idéia de autonomia, definida abaixo, os trabalhos têm se restringido à área de ensino e aprendizagem de língua estrangeiras. Nossa intenção é verificar como isso pode ser aplicado ao ensino de língua materna. A intervenção aconteceu em uma escola em Belém, no Pará, e busca contribuir para um melhor entendimento sobre a responsabilidade que o aluno se atribui no processo de aprendizagem. Nessa pesquisa, autonomia é definida como o controle sobre o próprio processo de aprendizagem e pode se manifestar de diferentes formas para diferentes indivíduos, ou para o mesmo indivíduo, em diferentes contextos (BENSON, 2001). De modo mais específico, procuramos verificar o nível de controle da autonomia desenvolvido pelos alunos e verificar quais as mudanças ocorridas após a intervenção quanto à responsabilidade do aluno por seu próprio processo de aprendizagem. Os resultados apresentados mostram que é possível desenvolver a autonomia – dentro da perspectiva adotada por nós – na sala de aula e proporcionar ao aluno a construção de uma competência autônoma que ele possa mobilizar dentro e fora da escola, nas mais diversas situações de aprendizagem. Este estudo se fundamenta nos quadros teóricos

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do Sócio-Interacionismo de Vygotsky (1991,1993) e em vários estudos sobre autonomia na aprendizagem de línguas. A NARRATIVA INFANTIL E O ENSINO DA PONTUAÇÃO Pascoalina Bailon de Oliveira Saleh (UEPG) Neste trabalho investiga-se a relação entre a pontuação e a configuração das instâncias narrativas no texto infantil e, a partir daí, tecem-se algumas considerações sobre o ensino da pontuação. Para tanto, numa abordagem interacionista, analisam-se longitudinalmente textos produzidos por uma criança entre os 5 e 12 anos, nos quais chama atenção a emergência, desde muito cedo, de parênteses, asterisco, e o uso de aspas, sublinhas e maiúsculas. A presença desses elementos aumenta significativamente ao longo dos anos, começando a decair apenas ao final do período da coleta. Essas marcas peculiares à escrita constituem elementos importantes na configuração das instâncias narrativas nos textos dessa criança, uma vez que elas estão estreitamente relacionadas à perspectiva através da qual os fatos são apresentados e à forma que é dada voz aos personagens. A história desse modo singular de pontuar permite tomar a pontuação como um elemento importante no modo de subjetivação da criança pela linguagem; permite ainda interpretá-la como a história da emergência e consolidação de um estilo peculiar. Vale ressaltar que o estilo é concebido enquanto efeito das marcas de subjetividade inscritas no texto da criança, isto é, como efeito dos pontos em que o sujeito se mostra na cadeia textual (Bernardes, 2002). Diante disso, toma-se a configuração do narrador como um dos aspectos privilegiados para uma reflexão sobre a relação língua, texto e pontuação nos textos infantis escritos. Com esse recorte, salienta-se que a pontuação, no texto infantil, merece ser vista como um mecanismo que ultrapassa em muito não só a questão meramente gramatical, seja numa perspectiva normativa ou não, mas também a questão textual tomada em sentido genérico, já que se trata de um importante elemento na construção do texto em suas especificidades, no caso, o texto narrativo. REPETÊNCIA EM PORTUGUÊS NOS ANOS INICIAIS: A COMPLEXIDADE DAS APRENDIZAGENS ESCOLARES Eli Terezinha Henn Fabris (UNISINOS) Fernanda da Silva Ziegler (UNISINOS) Apresentamos um recorte da pesquisa “As tramas do currículo e o desempenho escolar: as práticas pedagógicas nos anos iniciais do ensino fundamental” que está em fase inicial, portanto, os dados e as análises são preliminares. Procuramos problematizar o elevado grau de repetência na área de conhecimento de português e, o material de análise se compôs de 23 pareceres pedagógicos de alunos repetentes e duas entrevistas com professoras de uma escola da rede municipal de São Leopoldo. Destacamos que os pareceres pedagógicos dos alunos repetentes do 2º ano do Ensino

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Fundamental (antiga 1ª série) - do ano de 2007 – descrevem as dificuldades na leitura, na formação de palavras e na escrita como fatores determinantes para a reprovação dos alunos. Porém verificamos uma dissonância entre os depoimentos das professoras que atendem os referidos alunos em 2008 e os pareceres pedagógicos dos mesmos. Apesar do histórico de repetência, eles demonstram bom desempenho escolar quando comparados com o restante da turma. Entretanto, as professoras manifestaram suas angústias quanto à condução do processo de alfabetização dos alunos iniciantes. Precisamos ter presente a complexidade que envolve as aprendizagens escolares. Não são apenas as questões sociais e familiares que interferem no processo de aprendizagem. As condições pedagógicas e da área específica precisam ser consideradas. O material analisado possibilita algumas hipóteses preliminares sobre as dissonâncias entre pareceres pedagógicos versus depoimentos das professoras: os alunos repetentes destacam-se nas aprendizagens iniciais da alfabetização, pois já executaram práticas, no mínimo, semelhantes; a preocupação mais acentuada dessas professoras com os alunos iniciantes aponta para uma compreensão limitada do processo de alfabetização; as professoras não escolhem alfabetizar e têm dificuldades ao iniciar o processo de alfabetização; são direcionadas para essas turmas por motivos alheios às suas vontades e experiências e, uma vez colocadas nas turmas, desenvolvem atividades orientadas pela cultura escolar e/ou por ações pedagógicas previstas em manuais pedagógicos e/ou advindos de sua formação. Ousamos dizer que as dificuldades não são apenas dos alunos, mas também dos professores alfabetizadores. A ênfase na dimensão metodológica da alfabetização pode indicar um conhecimento limitado do funcionamento da língua portuguesa. Portanto, ao analisar os processos de repetência nos anos iniciais, precisamos considerar também os conhecimentos dos professores alfabetizadores na área específica de português. O ENSINO DE LÍNGUA E LITERATURA NO CURSO NORMAL DE NÍVEL MÉDIO Marinês Andrea Kunz (Feevale) Simone Daise Schneider (Feevale) Rosemari Lorenz Martins (Feevale) Este projeto de pesquisa tem por objetivo verificar se a mudança de paradigma proposta nos PCNs, na área dos estudos da língua e da literatura, está sendo colocada em prática no curso Normal – curso de magistério em nível médio, na região do Vale do Rio dos Sinos. Esta pesquisa é de natureza bibliográfica e de campo, de cunho qualitativo. As teorias sobre linguagem, língua, letramento, leitura e literatura, bem como sobre o construtivismo e o interacionismo servem de base para o desenvolvimento da pesquisa, que está centrada na metodologia do ensino de língua materna, leitura, literatura e, conseqüentemente, no desenvolvimento da linguagem. Na revisão bibliográfica, além do estudo das Diretrizes Curriculares Nacionais, do

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PCNEM, e dos PCNs das séries iniciais do Ensino Fundamental no que tange ao ensino de língua e literatura, da legislação que rege os cursos de Normal em nível médio, estão sendo analisados os documentos das escolas – regimento e Projeto Político Pedagógico - que regem o curso Normal em cinco escolas do Vale do Rio dos Sinos, onde estão sendo realizadas entrevistas com os professores que ministram as disciplinas da área e com vinte estagiárias, sendo que cinco delas terão suas aulas observadas. Esses dados serão analisados à luz da revisão teórica, com o intuito de verificar se prática e teoria são compatíveis, ou se convergem, em que medida. Caso não seja, serão propostas alterações no Projeto Político pedagógico bem como o investimento na formação de professores. A PRODUÇÃO TEXTUAL A PARTIR DO GÊNERO HQs Lenaide Gonçalves Innocente (UNISUL, Tubarão) Esta pesquisa tem como objeto a análise do gênero História em Quadrinhos com o propósito de contribuir para a compreensão da estrutura do gênero estudado com a finalidade de apresentar propostas pedagógicas que priorize uma pedagogia que contemple articulações entre ensino-aprendizagem e conhecimento-sociedade. Propõe-se, para tanto, integrar metodologicamente os conteúdos das disciplinas curriculares, através da produção textual. Tal pesquisa, se justifica pelo fato de haver uma tendência nos livros didáticos, nas propostas educacionais e, nas abordagens pedagógicas atuais (nas quais se baseiam tanto a Proposta Curricular de Santa Catarina, como também os PCNs) em propor um trabalho com leitura e produção textual com base em gêneros textuais. Neste sentido, a fim de produzir subsídios para o ensino, principalmente, da língua materna, procura-se aprofundar tais estudos, pois este gênero (HQ) contribui de forma singular para a compreensão das práticas discursivas presentes no universo infantil, adolescente e, inclusive, o adulto. O aporte teórico que se utilizou se insere na abordagem sócio-retórica de análise de gênero proposta por Swales (1990, 1992, 2004); o pensamento a cerca de Gênero de Bakhtin (2003); Bazerman (2005) entre outros. LETRAMENTO E FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE LÍNGUA MATERNA: REFLEXÕES SOBRE OS USOS SOCIAIS DA ESCRITA. Mary Elizabeth Cerutti-Rizzatti (UFSC) Esta comunicação tematiza atividades orientadas, realizadas com graduandos em Letras – Licenciatura Português –, cujo foco é a identificação de concepções sobre o fenômeno do letramento e de implicações desse fenômeno na escolarização, tomando-o em dois vértices distintos: a) modelos vigentes no ideário acadêmico; e b) relações entre entorno sociocutural e ampliação de esquemas cognitivos ativados na construção de sentidos por ocasião do uso social da escrita. A ancoragem teórica são estudos seminais de Street (1984) e Heath (1982) e teorizações

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de Barton (1994) e Graff (1994). O conteúdo da comunicação descreve quatro diferentes estudos sobre esses eixos e narra seus resultados. Os dois primeiros estudos focalizam concepções prevalecentes de letramento no meio acadêmico, evidenciando a quase unanimidade da correlação letramento e erudição, o que ganha especial contorno quando essa concepção revela-se por meio de um processo de coleta de dados realizado via ferramenta MSN: os informantes enunciam conceitos sobre letramento que dicotomizam leitura e escrita, fazendo isso em um evento de letramento em que tais fronteiras estão, em grande medida, diluídas. Os dois últimos estudos tematizam relações entre níveis de letramento familiar e ampliação de esquemas cognitivos ativados pelos usos sociais da escrita, em se tratando de crianças de grupos socioculturalmente diversos. Tais estudos dimensionam, no âmbito de sua realização, a forma como a ambientação familiar e o entorno sociocultural atuam na ampliação ou não dos esquemas cognitivos infantis no que diz respeito aos usos da escrita em uma sociedade grafocêntrica. Os quatro estudos convergem ao apontar para a necessidade de se considerar, de modo mais efetivo, na Universidade – especialmente no processo de formação de docentes de língua materna -, as relações entre os usos sociais da escrita, as práticas de letramento das diferentes configurações socioculturais e a natureza da ação escolar. Os trabalhos permitem inferir que, a despeito de mais de duas décadas das considerações de B. Street e S. Heath sobre a prevalência do modelo autônomo de letramento na ação escolar, mantém-se, mesmo no âmbito da formação de docentes de língua materna, a biunivocidade entre letramento e erudição. No entorno de escolarização das crianças, tal biunivocidade parece se revelar em posturas pedagógicas nas quais modelos apriorísticos de escrita revelam-se artificiais para um grupo expressivo de indivíduos egressos de núcleos de letramento distintos do padrão escolar. A NOÇÃO DE GÊNERO EM BAKHTIN: ANÁLISE DA PRODUÇÃO TEXTUAL DE ALUNOS DE PORTUGUÊS COMO SEGUNDA LÍNGUA Simone Soares (UFRGS) Graziela Andrighetti (UFRGS) Simone Carvalho (UFRGS) Simone Kunrath (UFRGS) O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre a interlocução produzida em uma situação de avaliação, relacionando uma tarefa de prova, as respostas dos alunos a tal tarefa e a respectiva grade de avaliação. Os dados analisados provêm da produção textual de 19 alunos falantes de Português como Segunda Língua (PLE), do curso Intermediário do Programa de Português para Estrangeiros (PPE) da UFRGS e a grade de correção criada para tal tarefa. A base teórica do trabalho está fundamentada na noção bakhtiniana de gênero discursivo, que estabelece uma relação dinâmica entre aquilo que é enunciado (oral ou escrito) e suas funções na

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interação, ou, dito de outro modo, entre os gêneros discursivos e o que é feito com eles na atividade social em si. Para o autor, um enunciado é caracterizado pela relação entre o enunciador, o interlocutor e o propósito por eles estabelecido em uma situação de comunicação. Dessa forma, ressalta-se a relação estabelecida entre eu/outro, a unicidade do evento e a dimensão axiológica socialmente construída no momento da interação. Assim sendo, o foco analítico do trabalho é colocado sobre três eixos. O primeiro diz respeito à tarefa e ao texto que a acompanha, o qual se caracteriza por não ser autêntico, retirado de um livro didático (Falar...Ler...Escrever...-Português – Um curso para estrangeiros. Emma Eberlein, O. F. Lima e Samira A. Iunes), que apresenta uma mistura de gêneros, mostrando marcas de formalidade e de oralidade. O segundo eixo trata da produção dos alunos, baseando-se nas seguintes questões: (a) como eles lidaram com tal mistura de gêneros discursivos e suas marcas; (b) como eles resolveram as dificuldades relativas ao texto da tarefa; e (c) como interpretaram as marcas de formalidade/oralidade. Finalmente, o último eixo está relacionado à grade de correção da tarefa: (a) como a grade dá conta (ou não) de toda uma contextualização necessária para que a questão dialógica não se perca; (b) como a grade dá conta de frases que abrem o sentido para leituras diferentes. Dessa forma, esse estudo pretende contribuir para a discussão acerca da avaliação em sala de aula, refletindo sobre os descritores presentes na grade de correção e até que ponto esses descritores abarcam a relação dialógica presente na situação avaliativa, bem como o que é tornado relevante para que o texto configure interlocução. GT14 Semântica, Sintaxe e Interfaces – Abordagens Formais Coordenadores Marcos Goldnadel (UFRGS) Márcio Renato Guimarães (UFPR) CLIVADAS BÁSICAS E PSEUDO-CLIVADAS EXTRAPOSTAS: UMA ANÁLISE UNIFICADA Carlos Felipe da Conceição Pinto (UNICAMP) Este trabalho tem a finalidade de discutir construções, como “Foi João QUE chegou” (clivada básica) e “Foi João QUEM chegou” (pseudo-clivada extraposta), que, têm sido analisadas como construções diferentes em diversas línguas e propor, assim, uma análise unificada, que procura derivar as duas construções a partir da mesma estrutura sintática básica, tendo em vista o Programa Minimalista da Gramática Gerativa, que propõe que movimento sintático tem apenas finalidade de checar os traços dos núcleos e deve ser último recurso. Embora os dados discutidos neste trabalho sejam predominantemente do PB, a análise se aplica e explica as construções equivalentes em outras línguas. Na seção 1, apresento o tema de pesquisa. Na seção 2, apresento e discuto a definição de clivagem que é adotada neste

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trabalho e discuto algumas características semânticas das construções de clivagem que as distinguem de outras construções superficialmente idênticas que, porém, não representam construções de clivagem. Em seguida, apresento detalhadamente o problema, com base na discussão sobre a alternância who/that do inglês e a fixação do valor da variável. Na seção 3, revejo algumas análises apresentadas para explicar a estrutura das duas construções de clivagem discutidas aqui. Na seção 4, apresento o referencial teórico no qual a nova proposta é baseada, tendo em vista o critério WH e a concordância dinâmica do operador movido para a posição de especificador de CP e o núcleo Cº, na periferia da sentença. Na seção 5, apresento algumas evidências empíricas com base em dados do inglês, do francês e do espanhol da Espanha e da América. Evidências de que o complementizador pode apresentar traços de concordância são dadas com base no holandês, língua que apresenta concordância entre o complementizador e o sujeito da oração subordinada. Em seguida, apresentado uma análise unificada para as duas construções propondo que a diferença entre elas se deve à variação no traço [±concordância] entre o operador movido (que representa o elemento focalizado) para especificador de CP e o núcleo focal em Cº: as construções clivadas básicas apresentariam o traço [-concordância], que seria realizado pelo complementizador “que” invariável; de forma contrária, as construções pseudo-clivadas extrapostas apresentariam o traço [+concordância], que seria realizado pelo complementizador “quem”, “o que”, “quando”, “onde” etc. a depender do XP focalizado ocupando a posição de especificador de CP. O CONFLITO ENTRE A NEGAÇÃO SENTENCIAL E O QUANTIFICADOR “TODO” DO PB Ana Paula Quadros Gomes (USP) Um fenômeno separa a língua portuguesa das demais: a incompatibilidade da negação sentencial com os universais (cf. 3). Em outras línguas, eles co-ocorrem (1/2), gerando até mesmo ambigüidade de escopo (2):

(1) Every student didn’t read a book. (">Ø)/ (Ø>"). (2) Tutti gli studenti non hanno letto il libro. (">Ø)/*(Ø>") (3) Todos os alunos (*não) leram o livro. *(">Ø)/*(Ø>")

O conceito que não pode ser construído com “todo” e a negação sentencial em (4) pode ser cunhado com negação lexical em ( (5):

(4) Toda criança (*não) sossega. (5) Toda criança é desassossegada.

Há uma assimetria quanto à negação entre “todo” em posição de sujeito e em posição de objeto:

(6) Todos os convidados (*não) comeram bolo/ Nem todos os convidados comeram bolo.

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(7) Os convidados não comeram todo o bolo/ Os convidados comeram (*nem) todo o bolo.

Só “todo” em posição de sujeito aceita modificação por “nem”; a negação nominal não é licenciada quando “todo” é o argumento interno. Já “todo” objeto pode co-ocorrer com negação sentencial, e “todo” sujeito, não. A assimetria decorre da forma lógica diferente:

(8) Todos [restrição os convidados] [escopo(*não) comeram o bolo] (9) [restriçãoOs convidados não comeram] todo[escopo o bolo]

A negação é da quantidade: (9) não nega a existência um evento em que os convidados comeram o bolo, mas informa que nesse evento não foi comido o bolo inteiro. Para explicar esses dados, analisamos “todo” como um introdutor de escala, contribuindo com o grau máximo de completude. O quantificador divide a sentença em dois constituintes lógicos, o sujeito da predicação e o predicado, requerendo que o predicado seja verdadeiro das partes da denotação do sujeito. Se a negação sentencial ficar no escopo nuclear do quantificador, não será obtida a incrementalidade característica da escala. A análise de “todo” como um introdutor de grau máximo também explica porque esse quantificador permite a negação sentencial em sua restrição (cf 10)mas não no seu escopo nuclear:

(10) Todos [restrição os convidados que não comeram o bolo] [escopo tomaram sorvete].

(8)*Todos [restrição os convidados ] [escopo não comeram o bolo]. ASPECTOS DA SEMÂNTICA DA COMPARAÇÃO METALINGÜÍSTICA Luisandro Mendes de Souza (PG – UFSC/CNPq) Roberta Pires de Oliveira (UFSC/CNPq) Nosso objetivo neste trabalho é apresentar alguns resultados da análise de um conjunto de sentenças comparativas que têm sido referidas na literatura como “comparação metalingüística” (CM), exemplo em (1), que difere da chamada comparativa canônica, exemplificada em (2):

(1) João é mais esperto do que inteligente. (2) João é mais inteligente do que Maria

A sentença (1) é ambígua: ela pode indicar que o grau de esperteza do João é maior do que o seu grau de inteligência, aproximando-se da comparação canônica em (2), que pode ser parafraseada, seguindo já uma longa tradição (von Stechow, 1984; Kennedy, 1997; Heim, 2001, entre

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outros) como o grau de inteligência de João é maior do que o grau de inteligência de Maria. Na interpretação metalingüística, o falante faz uma espécie de “correção”, indicando que é mais apropriado dizer do João que ele é esperto do que dizer que ele é inteligente. Nesse sentido, ela se aproxima da negação metalingüística (‘João não é esperto, é inteligente). Mostraremos algumas propriedades gerais da construção de CMs em PB, quais categorias podem ser alvo deste tipo de comparação, contrastando com exemplos de outras línguas como o inglês e, em particular, com o grego, já que essa língua possui gramaticalizado uma expressão que ocorre somente em construções de CM (cf. Giannakidou & Stavrou, 2008). Descreveremos a possibilidade de algumas estruturas serem ambíguas entre uma leitura canônica e uma leitura metalingüística. Iremos ainda mostrar que a CM não se confunde nem com a comparação de desvio (‘João é mais gordo do que Pedro é alto), nem com a comparação de protótipo (‘Essa cadeira é mais cadeira do que aquela’) Por fim, o trabalho critica a proposta semântica de Giannakidou & Stavrou (2008) para esse tipo de sentença. Essa proposta é inadequada porque a estrutura semântica é radicalmente diferente da estrutura sintática, na medida em que apenas na estrutura semântica há um predicado intensional que indica o grau de apreciação do falante; além disso, ela gera resultados incorretos, precisamente por colocar um predicado intensional, o que leva a leituras de dicto, que não são empiricamente atestadas. O QUE HÁ DE DIFERENTE ENTRE ‘PODE’ E ‘PODIA’ ? Ana Lucia Pessotto dos Santos (UFSC/PIBIC) Roberta Pires de Oliveira (UFSC/CNPq) Este trabalho estuda a semântica e a sintaxe de 'pode' e 'podia' no português brasileiro (PB), que, como veremos, são diferentes, embora ambos expressem possibilidade (entendido no quadro da Semântica de Mundos Possíveis em que modalidade é a expressão da necessidade ou possibilidade (von Fintel, 2002) e modalidade a la Kratzer (1981, 1991)). As diferenças são: a modalidade expressa, a força da possibilidade (forte vs fraca), a força ilocucionária de permissão, a aceitação de leitura contrafactual e a existência de projeção de tempo. ‘Podia’ expressa pelo menos uma modalidade que ‘pode’ não expressa: desejo em (1) e conselho em (2). Aambos expressam as modalidades epistêmica, deôntica, de normalidade e de capacidade. :

(1) João podia ser solteiro. (2) Você podia casar.

Na modalidade epistêmica, ‘pode’ expressa uma possibilidade mais forte do que ‘podia’, pois veicula a possibilidade “positiva”, enquanto ‘podia’ veicula baixa probabilidade do evento ocorrer ( por implicatura, a posição de incredulidade do falante):

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(3) [Por tudo o que sabemos] Pode chover amanhã. (4) [Por tudo o que sabemos] Podia chover amanhã.

Uma terceira diferença está na força ilocucionária de permissão. Apenas sentenças com ‘pode’ são um ato de fala indireto, isto é, têm caráter performativo. Essa diferença mostra que ‘podia’ ou indica um relato de permissão, via tempo/aspecto, ou um conselho. Só ‘pode’ expressa permissão:

(5) Você pode sair. (= O falante realiza um ato de fala de permissão) (6) Você podia sair. (= Tinha permissão ou O falante realiza um ato de sugestão/conselho)

Quanto à contrafactualidade, apenas ‘podia’ é compatível com um fundo conversacional contrafactual. Ofalante pode proferir a sentença (1) sabendo que João não é solteiro, mas isso não ocorre com ‘João pode ser solteiro`, porque a semântica de ‘pode’ indica o estado epistêmico do falante, via uso do presente; logo o falante desconhece o valor de p, assim tanto p quanto não-p. Considera-se que a aceitação da contrafactualidade está relacionada à expressão do estado epistêmico do falante: enquanto ‘pode’ expressa que o falante não sabe.; ‘podia’ é “neutro”: aceita tanto um contexto em que o falante sabe positivamente, quanto um em que é ignorante. A conclusão é : ‘pode’ expressa possibilidade no presente, e ‘podia’ expressa possibilidade no passado ou no presente. É “neutro”. Sintaticamente, enquanto ‘pode’ apresenta projeção de tempo, ‘podia’ é não-marcado: (8) # João pode ter casado, mas não casou. (9) João podia ter casado, mas não casou. Essas diferenças levam a concluir que ‘pode’ e ‘podia’ são sintática e semanticamente distintos. O final aponta para uma harmonia das diferenças. QUANTIFICADORES DE JULGAMENTO DE VALOR: PARA UMA ANÁLISE UNIFICADA Márcio Renato Guimarães (UFPR) O desafio que este trabalho se propõe é o do tratamento unificado das expressões de julgamento de valor (value judgment), em todos os seus contextos sintáticos de ocorrência, fundamentado em uma teoria semântica de condições de verdade. Propostas de formalização desse tipo de expressão foram feitas para suas ocorrências como determinantes – nomeadamente o determinante many, do inglês. Ocorre que, ao menos em português, expressões como muito, pouco, demais e bastante figuram em mais

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contextos sintáticos do que como determinantes, e mesmo em suas ocorrências como determinantes não se restringem à denotação de quantidades plurais contáveis (moleculares). Assim que não é possível efetuar a simples transposição da avaliação de quantidade representada nessas análises para outras “escalas” de quantificação, ainda que intuitivamente a relação denotada pelas expressões de julgamento de valor do português seja essencialmente a mesma. A SINTAXE DOS VERBOS AUXILIARES DE COMPLEMENTAÇÃO NÃO IMEDIATA Marcus Vinicius da Silva Lunguinho (USP) Nesse trabalho, trato da sintaxe de uma classe de verbos auxiliares que denomino auxiliares de complementação não imediata, cujos representantes típicos são os auxiliares aspectuais (começar a, terminar de, viver a, estar por entre outros) e o auxiliar modal ter que / ter de. Esses auxiliares têm em comum o fato de apresentarem a estrutura Vauxiliar + XP + Vinfinitivo , estrutura essa em que a relação do auxiliar com o infinitivo é mediada por uma outra palavra, que pode ser, em termos tradicionais, uma preposição (a, de, por entre outras) ou que, uma conjunção. O trabalho tem por objetivo maior discutir o estatuto de tais palavras que acompanham esses auxiliares. Essas palavras serão discutidas em termos de: sua natureza, seu papel na oração, sua localização e sua estrutura abstrata de traços. Em relação à primeira tarefa do trabalho, mostrarei que as palavras em estudo não são de natureza lexical e sim de natureza funcional, gramatical. Uma vez apresentada a natureza funcional das palavras em questão, o segundo passo da análise se volta a discussão do seu papel na oração. No tocante a isso, quatro possibilidades lógicas se delineiam: a) elas são marcadoras de aspecto (Gonçalves, 1995; Andrade, 2007); b) elas estão relacionadas a Caso (Rochette, 1989, 1999), c) elas funcionam como elementos atratores (ao estilo de Kayne, 2002; 2004) e d) elas são parte do verbo (Burzio, 1986; Boff, 2004). No que diz respeito à localização exata desses constituintes na arquitetura oracional, duas possibilidades serão avaliadas: a) tais palavras não se encontram na derivação, pois são constituintes inseridos na Forma Fonética por razões de Caso, b) elas são a lexicalização de um núcleo funcional da oração (Complementador, Tempo ou Aspecto). Por fim, no que tange à estrutura abstrata de traços dessas palavras, avaliarei se elas possuem uma estrutura com traços-j e EPP e como tais traços se manifestam na sintaxe dos verbos auxiliares de complementação não imediata.

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AS RELATIVAS LIVRES INFINITIVAS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO Ani Carla Marchesan (UFSC) Carlos Mioto (UFSC) As relativas livres (RLs) são sentenças encaixadas que apresentam um constituinte que é compartilhado com a sentença matriz. Além disso, uma RL só é gramatical no PB se a expressão-wh for da categoria requerida por um núcleo da sentença matriz: (1) a. *João detesta [de quem a filha gosta ec]. b. João gosta de [quem a filha ama ec]. Em (1a), a expressão [de quem] é da categoria PP e, como o verbo [detestar] requer um DP, a sentença fere os MRs. Por outro lado, (1b) é gramatical, pois o verbo [gostar] rege uma preposição depois da qual tem que ocorrer um DP exatamente como é a categoria de [quem]. Porém, existe um tipo de sentença considerada RL que se caracteriza por: ter verbo no infinitivo; ocorrer principalmente como complemento de verbos existenciais e poder ser parafraseada por um DPindefinido. Essas sentenças constituem um problema porque a expressão-wh nem sempre satisfaz os requisitos da sentença matriz: (2) João tem [com quem conversar ec]. Observe que, em (2), a expressão-wh, sendo um PP, não satisfaz os requisitos categoriais do verbo existencial ter. Para reconciliar esta aparente exceção com a regra geral, vamos defender que nem todas as relativas infinitivas são RLs. As que são RLs se enquadram perfeitamente na regra geral que requer que a expressão-wh tenha uma categoria compatível com aquela exigida pelo verbo matriz. Vejamos: (3) João tem [quem incomodar ec]. Diferentemente de (2), a expressão-wh [quem] em (3) satisfaz os MRs do verbo existencial. Neste caso, concordamos que as infinitivas são RLs. A questão é, então, encontrar alguma propriedade que distingue a sentença (3) da de (2). Para tanto, a propriedade que apontamos pode ser observada em (4): (4) a. João tem uma pessoa [com quem conversar]. b. *João tem uma pessoa [quem incomodar]. A propriedade é que (2) pode ser parafraseada por uma relativa com núcleo, sem mudar a expressão-wh, enquanto a sentença de (3) não pode. Esse

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comportamento é inesperado se o comparamos a sentença de (2) com o de uma RL verdadeira: (5) a. Ela gosta de [quem gosta de poesia]. b. Ela gosta das pessoas [que gostam de poesia]. Em (5b) a preposição de, requerida pelo verbo [gostar] se mantém. Ao mesmo tempo, o pronome relativo-wh em (5b) muda de forma: de [quem] para [que]. Observe que, em (4a), o pronome relativo-wh mantém crucialmente a mesma forma que tem em (2), enquanto em (5) não. ORDEM VS E O PAPEL DA ESTRUTURA INFORMACIONAL NO DISCURSO Sergio Menuzzi (UFRGS/CNPq) Guilherme Fialho (UFRGS/CNPq)

Neste trabalho, apresentamos um estudo qualitativo de um conjunto de ocorrências reais da ordem VS em português brasileiro padrão cujas características semântico-pragmáticas ainda não foram observadas na literatura (Pontes 1987, Givón 1993, Naro & Votre 1999, Berlinck 1997). As ocorrências provêm de textos recentes da imprensa nacional (revistas, jornais, etc.) e o que nelas nos interessa são, especificamente, as correlações entre “articulação informacional” da frase (tópico, foco, etc., cf. Vallduví 1993, Lambrecht 1994, van Kuppevelt 1995) e a “estrutura do discurso” (i.é, sua segmentação temática, cf. van Kuppevelt 1995, Asher & Lascarides 2003). Empiricamente, nosso principal objetivo será demonstrar que, embora as ocorrências de ordem VS que identificamos sejam informacionalmente caracterizadas pelo fato de que o sujeito é parte do foco (não-contrastivo) da frase, as ocorrências não possuem as “funções discursivas” apontadas pela literatura: a oração VS não possui nem “função apresentativa” (i.é, de introdução de um referente que se tornará “tópico” da unidade temática, cf. Pontes 1987, Givón 1993) nem “função de sinalização de background”, (i.é, de sinalização de função não-tópica do sujeito, cf. Naro & Votre 1999). Nenhuma destas caracterizações não consegue explicar um traço constante das ocorrências em questão: do ponto de vista da segmentação temática do discurso, ocorrem em “posição final”, e não inicial ou medial, de uma “unidade temática”. O exemplo (1) abaixo ilustra o tipo de ocorrência que discutiremos, por oposição por exemplo a (2), que pode ser assimilado à função apresentativa:

(...) Dez anos atrás, hospedei-me num hotel e m Uberaba. Chico [Xavier] estava doente e raramente aparecia no centro [espírita]. Após dias de plantão, ele surgiu, sentou-se e começou a ler um texto. (1) Estávamos eu e mais cinco pessoas. (2) Aí veio a arrogância do jovem da cidade grande, a arrogância motivada pela ignorância, mas que acabou sendo útil. Parei em frente dele e mandei: “Sou um jornalista do Rio de Janeiro

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(...)”. (“Surra em horário nobre”, Isto É On line de 03/11/2004, http://www.terra.com.br/istoe/)

Além de identificar as principais características semântico-pragmáticas deste tipo de ocorrência, procuraremos indicar as questões que elas levantam para abordagens semântico-veritativas correntes para a estrutura do discurso e sua relação com a estrutura informacional da frase (van Kuppevelt 1995, Roberts 1996, Büring 2003; Asher & Lascarides 2003, Umbach 2004).

A AQUISIÇÃO DE COMPLEMENTAÇÕES SENTENCIAIS: OS PADRÕES DE COMPLEMENTAÇÃO EM LÍNGUAS DE SUJEITO NULO E NÃO-NULO Vivian Meira (UNICAMP, UNEB) Visa-se a investigar os padrões de complementação sentencial, tanto as completivas finitas (indicativo e subjuntivo) quanto as não-finitas (especificamente o infinitivo), buscando descrever como se desenvolve essas ocorrências na aquisição do Português e do Inglês. Tomando como base a Teoria de Princípios e Parâmetros (cf. Chomsky, 1981), parte-se da hipótese de que, em línguas de sujeito nulo, as estruturas de complementação são adquiridas a partir de padrões distintos dos padrões de línguas não pro-drop. Para tanto, toma-se como base a Hipótese da Oposição Semântica (cf. Hyams, 2001), segundo a qual há uma hierarquia semântica no que se refere aos modos verbais no período da aquisição. A oposição Realis versus Irrealis é marcada por distintos padrões de complementação, ou seja, o infinitivo e o indicativo, por serem adquiridos antes do subjuntivo, tendem a expressar os traços [+- realis]. Nesse sentido, o marcador morfológico de infinitivo assume o traço [- realis] (que será posteriormente assumido pelo subjuntivo) e o indicativo, em orações finitas, expressa o traço [+ realis]. O corpus de falantes de língua portuguesa será composto por três crianças, duas pertencentes ao CEALL, do Rio Grande do Sul, com idade entre 1,8 e 3,7 e uma pertencente ao CEDAE, da UNICAMP, com idade entre 1,0 e 5,0. O corpus de falantes de língua inglesa será composto por três crianças do CHILDES, com idade correspondente à idade das crianças brasileiras. Busca-se definir as restrições que dizem respeito ao efeito de referência disjunta e sua relação com a complementação sentencial no período da aquisição, já que a referência disjunta é uma propriedade tradicionalmente associada ao subjuntivo. Acredita-se que o infinitivo e o indicativo são complementações inicialmente usadas pelas crianças no processo de aquisição, daí partimos da hipótese de que, no período inicial da aquisição, o infinitivo expressa modo irrealis, contrapondo-se ao realis do indicativo. Visa-se a investigar categorias funcionais como tempo e negação no licenciamento dessas complementações sentenciais, visto que essas categorias estão intrinsecamente relacionadas com a modalidade verbal. Tomando isso como pressuposto, acredita-se que as complementações

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sentenciais apresentam padrões diferenciados em línguas de sujeito nulo. A questão universal se refere ao principio de que todas as línguas apresentam um padrão para marcar modo realis e irrealis, mas esse padrão é marcado de forma distinta nas línguas e o desenvolvimento da gramática na aquisição infantil também se processa de forma diferenciada. SINTAGMAS LOCATIVOS E CONTEXTOS DE RESTRIÇÃO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO Marcos Eroni Pires (UNICAMP) Assumindo uma configuração clausal para os constituintes preposicionados (Koopman, 1997; Dikken, 2003; Svenonius, 2004, 2007), paralelo ao assumido para os domínios sentenciais, este trabalho analisa a modificação de DPs por constituintes construídos a partir de preposições locativas complexas (em cima de, dentro de, fora de, em frente a etc.). O trabalho mostrará que os DPs modificados impõem condições para que o seu PP locativo modificador receba a interpretação restritiva que caracteriza a função dos chamados “adjuntos adnominais”. Adotando o que Avelar (2006) chama de “gradação de referencialidade”, o estudo apresentará dados que mostram ser impossível interpretar PPs locativos junto a DP bare nouns como um adjunto adnominal (cf. (1a)), caso em que o PP pode ser interpretado apenas como um adjunto adverbial; com quantificadores existenciais ou artigos indefinidos, a interpretação como um adjunto adnominal não é natural (cf. (1b)); DPs introduzidos por artigos definidos e pronomes demonstrativos são, ao contrário, os que naturalmente licenciam a interpretação de um constituinte preposicionado como adjunto adnominal (cf. (1c-d)). Para explicar esse paradigma, recorro à hipótese de que para um PP locativo ter uma função predicativa, funcionando como um adjunto adnominal, o nome o qual ele modifica deve ser mais referencial, pois, caso contrário, o PP só conseguirá ser adjungido ao verbo, funcionando como um adjunto adverbial. (1) a. A Maria usou sapato em cima do tapete. (*adn/adv) b. A Maria usou um sapato em cima do tapete. (?adn/adv) c. A Maria usou o sapato em cima do tapete. (adn/adv) d. A Maria usou aquele sapato em cima do tapete. (adn/adv) INFERÊNCIAS RELACIONADAS AO USO DE ITERATIVOS EM ENUNCIADOS COM OPERADOR DE POSSIBILIDADE: QUESTÃO DE CONVENÇÃO OU DE CONVERSAÇÃO? Marcos Goldnadel (UFRGS) Pressuposições permanecem oferecendo consideráveis desafios descritivos às teorias lingüísticas. Atualmente, teorias semânticas discursivas, como DRT e FCS, têm ocupado um importante espaço destinado à discussão do problema da projeção de pressuposições, questão que, desde a década de

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setenta, tem-se constituído em desafio à elaboração de um modelo formal capaz de descrever adequadamente o mecanismo através do qual pressuposições idealmente disparadas por gatilhos resultam (ou não) em pressuposições efetivas dos enunciados. A teorias semântico-discursivas, embora se diferenciem em muitos aspectos das tentativas pragmáticas anteriores de lidar com o problema da projeção, compartilham com elas vários pressupostos teóricos. Assim como as abordagens de Karttunen, Karttunen e Peters, Gazdar e Soames, as semânticas discursivas são herdeiras da intuição de Stalnaker, segundo a qual pressuposições são conteúdos apresentados como mutuamente compartilhados entre interlocutores. Esses conteúdos, segundo essa visão amplamente aceita, são disparados por gatilhos, que, ainda nessa perspectiva, são recursos lingüísticos convencionais. Na perspectiva referida, a força dos gatilhos, que decorre de seu caráter convencional, seria responsável pelo fenômeno da acomodação, que ocorre nos casos em que, mesmo não sendo mutuamente compartilhado pelos interlocutores, um conteúdo lingüisticamente pressuposto resulta incorporado ao contexto. De fato, qualquer teoria que suponha a existência de um gatilho, recurso convencional, está atrelada à idéia de acomodação, que parece justificada pela observação de enunciados como (1a)-(3a), que, mesmo quando proferidos em contextos que não contêm os conteúdos em (1b)-(3b), os pressupõem. (1a) Desculpem o atraso, mas meu carro estragou. (1b) O falante tem um carro. (2a) – Te peguei fumando! – É... Eu não parei de fumar. (2b) O falante fumava. (3a) Lia caiu na pegadinha de novo? (3b) Lia caiu na pegadinha anteriormente. Para as abordagens em DRT, o conteúdo disparado pelos gatilhos pode ser acomodado em vários sítios. Nos casos apresentados em (1a)-(3a), em que a pressuposição é sentida como efetiva, o conteúdo pressuposto é acomodado na DRS principal. Nos casos de suspensão do conteúdo pressuposto, a acomodação ocorre em uma DRS mais encaixada (uma sub-DRS). Neste segundo caso, enquadram-se os casos problemáticos, envolvendo operadores em linguagem verbal análogos aos operadores lógicos (conjunção, disjunção e condicional). No primeiro caso estão os exemplos em que a acomodação é sentida como efetiva. Há, no entanto, uma série de circunstâncias em que a representação discursiva não disponibiliza uma sub-DRS para acomodar o conteúdo supostamente disparado por um gatilho e, mesmo assim, a pressuposição não é sentida como efetiva, como ilustram os exemplos a seguir. (4) – Olha só aquele rapaz ali. Ele não para de roer um lápis. O que será que ele tem?

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– Talvez ele tenha parado de fumar. (5) (Em uma locadora de vídeo que dá um desconto para quem retira um filme pela segunda vez.) Cliente: – Quero retirar Manhatan. Atendente: – O senhor está retirando Manhatan de novo? Em (4), embora não haja uma sub-DRS onde acomodar o conteúdo pressuposto pelo segundo enunciado, a presença do verbo aspectual não é suficiente para projetar a pressuposição. Em (5), da mesma forma, o conteúdo idealmente disparado pelo iterativo de novo não permanece como uma pressuposição efetiva do enunciado. Esses casos são exemplos do que Mandy Simons chamou de contextos de ignorância explícita, contextos em que a ignorância do enunciador a respeito do conteúdo pressuposto impede a sua acomodação. Contextos de ignorância explícita são um desafio para as teorias constituídas justamente porque elas estão, em virtude da suposição de um caráter convencional dos gatilhos, comprometidas com a projeção das respectivas pressuposições. Abandonar a idéia de acomodação, no entanto, seria desastroso para essas teorias, uma vez que dela depende tanto a descrição de casos como (1) – em que a pressuposição se mantém – como a descrição das suspensões por acomodação local (nas sentenças condicionais, por exemplo). O trabalho a ser apresentado fundamenta-se em uma visão distinta a respeito daquilo que tem sido considerado pressuposição pelas teorias tradicionais. Na perspectiva a ser apresentada, pressuposições são inferências de caráter conversacional (e não convencional). O que há de convenção limita-se à descrição semântica dos gatilhos, restrita ao reconhecimento de seus acarretamentos. O efeito de compartilhamento, nessa abordagem, resulta da ação de um mecanismo pragmático que conta com o reconhecimento de estados epistêmicos dos interlocutores nas trocas conversacionais e de alguns princípios pragmáticos amplamente aceitos na literatura especializada. O resultado é uma descrição adequada para casos como os apresentados em (4) e (5), bem como para casos de suspensão. Formalmente, a proposta faz uso de operadores epistêmicos, anteriormente utilizados para descrever a projeção de pressuposições nas propostas de Gazdar(1979) e Soames (1982). Esses operadores, utilizados na representação de conteúdos supostos como compartilhados e de conteúdos disponibilizados pela própria enunciação, permitem tornar explícito o cálculo inferencial que conduz, ao fim, à conclusão representada pelo conteúdo tido como pressuposto. A proposta, no entanto, diferentemente do que se encontra nos autores que já fizeram uso desses operadores, considera pressuposições como o resultado de um conjunto de passos inferenciais, passíveis de explicitação formal. Na apresentação da proposta, analisa-se o comportamento de iterativos em enunciados com operador de possibilidade.

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SOBRE A EXAUSTIVIDADE DAS ESTRUTURAS CLIVADAS Gabriel Roisenberg (UFRGS/Capes) Sergio Menuzzi (UFRGS/CNPq) Parece ser consenso que as orações clivadas, no que diz respeito à estrutura informacional, são segmentadas em duas unidades: o foco e a pressuposição (Prince 1978, Atlas & Levinson 1981, Kiss 1998, Lambrecht 2001, e.o.). Em particular, a literatura gerativista costuma caracterizar o foco envolvido nas clivadas como foco exaustivo (ou identificacional), em oposição ao foco informacional (Kiss 1998; em PB, Mioto & Negrão 2007). Segundo Kiss (1998: 245), o foco identificacional “representa um subconjunto do conjunto de elementos dados contextualmente ou situacionalmente para os quais o sintagma predicativo pode potencialmente valer; e é identificado como o subconjunto exaustivo desse conjunto para o qual o predicado se aplica de fato”. Assim, o constituinte clivado em (1a) abaixo é interpretado “exaustivamente”, i.é, não é possível que Maria tenha ficado com mais de um menino; já a continuação (1b), com foco informacional, é compatível com uma tal situação:

(1) A Maria gostava de três guris – o João, o Pedro e o Marcelo – e...

(a) foi com o JOÃO que ela ficou. (b) ela ficou com o JOÃO.

Contudo, há problemas para explicar clivadas apenas em termos de “identificação exaustiva”. Considere (2) abaixo: uma explicação possível para o contraste entre as continuações (2a) e (2b) é que a primeira é uma clivada (foco identificacional, leitura exaustiva) e a segunda uma pseudo-clivada (foco informacional, não exaustiva). Note que ambas exibem o mesmo material pressuposicional:

(2) A: (E nessa turma,) quem é que foi reprovado? B: (a) ?? (Nessa turma) Foi o JOÃO que foi reprovado.

(b) (Nessa turma) Quem foi reprovado foi o JOÃO.

Entretanto, ao aplicarmos os testes de exaustividade de Szabolcsi (1981, apud Kiss 1998: 250) a pseudo-clivadas análogas a (2b), concluímos que elas também têm uma interpretação exaustiva, cf. (3) e (4) abaixo: (3a) e (3b) não podem ser simultaneamente verdadeiras – uma conseqüência, segundo Szabolcsi, da exaustividade –, enquanto a verdade de (4a) é compatível com a de (4b).

(3) (a) Quem comprou as cervejas foi o JOÃO e a MARIA. (b) # Quem comprou a cerveja foi o JOÃO.

(4) (a) Ontem, o Pedro encontrou o JOÃO e o MARCELO. (c) Ontem, o Pedro encontrou o JOÃO.

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Curiosamente, os julgamentos para clivadas e pseudo-clivadas parecem se inverter em outros contextos de pergunta-resposta, como em (5) abaixo, em que a resposta “ótima” para a pergunta exige (aparentemente) dois focos (adaptado de Lambrecht 2001: 484) :

(5) A: Por que você vive indo pra Paris? B: (a) Foi em PARIS que eu encontrei minha ESPOSA. (b) ?Foi em PARIS que eu encontrei minha esposa. (c) ??Onde eu encontrei minha esposa foi em PARIS.

E mais, há contextos em que a exaustividade parece não ser condição necessária para a clivagem:

(6) Quando eu vi o Hitler discursando na TV, eu tive vontade de cuspir nela.

(a) E foi isso que eu fiz – além de chutá-la e jogá-la pela janela. (b) *E foi somente isso que eu fiz – além de chutá-la e jogá-la pela janela.

Essas observações indicam que a leitura exaustiva pode ser interpretação “não-marcada” das clivadas, mas não é a única interpretação possível – isto é, é uma inferência pragmática, e não um acarretamento da estrutura. Nosso objetivo será discutir a natureza desta inferência e que elementos da estrutura clivada a acionam. COMPOSICIONALIDADE SEMÂNTICA EM EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS NÃO-COMPOSICIONAIS Pablo Nunes Ribeiro (UFRGS/CAPES) As expressões idiomáticas sempre representaram um problema para a gramática gerativa, em parte devido à idéia de que não são composicionais do ponto de vista semântico. Entretanto, segundo Nunberg, Sag & Wasow (1994), definir todas as expressões idiomáticas como não-composicionais é um equívoco, pois muitas distribuem o seu sentido entre as partes. Com isso, os autores classificam as expressões idiomáticas em “expressões idiomáticas combinatórias”, nas quais o sentido idiomático da expressão “divide-se” entre seus elementos – sendo estas, portanto, composicionais –, e “sintagmas idiomáticos”, que não distribuem seu sentido entre as partes. As expressões idiomáticas em (1) seriam exemplos do primeiro tipo, enquanto as expressões em (2) seriam exemplos do segundo tipo:

(1) a. Maria armou um grande barraco na festa. (armar um barraco)

b. João quebrou definitivamente o gelo com uma piada. (quebrar o gelo) (2) a. Pedro bateu as botas ontem. (bater as botas)

b. Paula jogou a toalha depois do vexame. (jogar a toalha)

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Em (1a) pode-se perceber intuitivamente que o sentido da expressão armar um barraco, que seria algo como “criar uma confusão”, é dividido entre os elementos: armar sugere a idéia de “criar” (cf. João armou um plano.), e um barraco é metáfora de “uma confusão” (cf. Que barraco é este?!). Assim, em armar um barraco, parece que cada parte da expressão está ligada a um “segmento de sua estrutura conceitual”, nos termos de Culicover & Jackendoff (2005). O mesmo acontece em (1b), em que quebrar significa “romper” e o gelo é metáfora para “frieza do ambiente” e, por extensão, de “uma barreira para a interação”. Estas intuições sobre o “caráter composicional” do sentido das expressões em (1) parece ter conseqüências sintáticas: estas expressões são suscetíveis à aplicação da passiva, como em (3) abaixo, o que é evidência para algum grau de “composicionalidade gramatical”:

(3) a. O barraco foi armado por Maria no momento que Paula chegou.

b. O gelo foi finalmente quebrado quando João contou uma piada.

Note-se, por outro lado, que o mesmo não ocorre com as expressões em (2), cf.

(4) a. *As botas foram batidas por Pedro ontem. b. * A toalha foi jogada por Paula depois do vexame.

Há lógica no contraste. Em (2a), a expressão bater as botas apresenta um sentido idiomático próximo ao de “morrer”, conceito que não exige argumentos e, portanto, não parece estar dividido em partes que exijam lexicalização independente. O mesmo ocorre com (2b) – cf. (4b) – e, de modo semelhante, jogar a toalha significa algo como “desistir”, que também é um “conceito intransitivo”. Portanto, a ausência de uma leitura idiomática para os exemplos em (4) parece estar intimamente ligada à “não-composicionalidade conceitual” de bater as botas e jogar a toalha. Contudo, mesmo expressões fixas e aparentemente não-composicionais como bater as botas apresentam características interessantes, que as diferenciam dos itens lexicais com os quais parecem estar “associadas conceitualmente”. Compare-se:

(5) a. João morreu de câncer/com a hemorragia/ sofrendo muito.

b. João bateu as botas *de câncer/ ??com a hemorragia/ ??sofrendo muito.

Como podemos ver em (5), a expressão bater as botas parece impor restrições a determinados modificadores que ocorrem normalmente com o verbo morrer: Por exemplo, os que implicam duração parecem não

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funcionar com bater as botas. Possivelmente, esta expressão não denota um processo, mas um evento pontual, enquanto o verbo morrer pode ser interpretado como processual. E, aparentemente, os elementos conceituais responsáveis por esta distinção estão disponíveis para as combinações sintáticas de bater as botas. Finalmente, é fundamental observar que o verbo bater, em seu significado lexical básico, também denota um evento pontual. Em nosso trabalho, discutiremos vários casos que, como bater as botas, demonstram: (a) que expressões como as em (2) mantém algum grau de “composicionalidade conceitual”; e (b) que a fonte desta composicionalidade são elementos de significado de suas partes. UMA ANÁLISE DOS “QUANTIFICADORES CHULOS” Roberta Pires de Oliveira (UFSC/CNPq) Renato Miguel BASSO ( UNICAMP/FAPESP) O presente trabalho trata do uso das palavras ‘puta’ e ‘baita’ nos seguintes contextos:

(1) Ontem eu vi um puta/baita filme. (2) João disse que viu um puta/baita filme ruim.

Nessas sentenças, ‘puta’ e ‘baita’ funcionam como intensificadores, ou seja, como quantificadores sobre graus (ver Guimarães (2006)) de um adjetivo explícito ((2)) ou não ((1)). Analisaremos alguns aspectos interessantes de tal uso dessas palavras, que não encontram contraparte em outros quantificadores sobre graus, como ‘muito’ e ‘bastante’, que podem atuar sobre verbos e adjetivos, estes últimos necessariamente explícitos. Por exemplo, é possível usar ‘puta’ sem um adjetivo explícito e a interpretação resultar sempre em algo positivo: com (1), não se pode estar falando de um filme ruim. Um outro aspecto é a impossibilidade de usar ‘puta’ ou ‘baita’ diretamente antes de um adjetivo, como abaixo:

(3) Maria é (uma) puta legal. (levar em conta o trecho entre parêntesis só permite uma interpretação literal de ‘puta’). Finalmente, ‘puta’ ou ‘baita’ não se combinam com verbos:

(4) João * fala puta/ * puta fala. Assim, eles têm uma forma como:

(5) Det puta/baita N (adj) Argumentaremos que para interpretarmos (1) não precisamos propor que há, na estrutura semântica, um adjetivo presente sobre o qual ‘puta’ ou ‘baita’ atua. Para tanto vamos aproximar (1) do fenômeno conhecido como comparação de protótipo.Juntamente com essas duas palavras, analisaremos brevemente, a título de comparação, o uso como quantificadores chulos de locuções como ‘pra caralho’, ‘pra cacete’, ‘pra chuchu’, etc. Diferentemente de ‘puta’ e ‘baita’, essas locuções não funcionam sem um adjetivo explícito ((6)) e podem indicar iteração ((7)), duração ((8)) ou alguma intensificação do evento indicado pelo predicado verbal ((9)):

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(6) * João assistiu um filme pra caralho. (com ‘pra caralho’ atuando sobre ‘um filme’) (7) João assistiu Blade Runners pra caralho. (8) João leu pra caralho hoje. (9) João estudou pra caralho. (não em relação ao tempo, mas à dedicação do estudo). Feito isso, apresentamos uma discussão sobre o estatuto de classe de palavra de ‘puta’ e ‘baita’, procurando decidir se eles são adjetivos ou advérbios. Concluiremos que são advérbios. Finalmente, esboçamos uma semântica para ‘puta’. Informalmente, ele aponta para um grau acima do grau considerado padrão em certo contexto. Assim, para (1) dada uma escala de filmes, ele situa o filme em questão acima de um filme tomado como padrão. Ou seja, trata-se de um filme acima do padrão. Na presença explícita de um adjetivo, como em (2), ele opera da mesma maneira: indica que o filme em questão está acima da média numa escala de filmes ruins, isto é, ele é ruim acima da média (do que o falante considera um filme ruim). Dessa forma, semanticamente ele se aproxima de ‘muito’. CONSTRUÇÕES RELATIVAS DE NOVO Luiz Arthur Pagani (UFPr) No capítulo 8 de sua Introdução às Gramáticas Categoriais (texto ainda não publicado, de 1999), intitulado “As construções relativas”, José Borges Neto propõe um tratamento unificado para as construções relativas através de uma versão da Gramática Categorial, chegando principalmente a uma unificação polimórfica das três categorias inferidas para as várias ocorrências do pronome relativo. Além desse capítulo, Borges também orientou uma dissertação de mestrado, intitulada Gramáticas Categoriais: O Modelo AB e as Orações Subordinadas Adjetivas, de Wanderley Vieira Paris Júnior, na qual também se trata do mesmo tipo de estrutura. Em ambos os tratamentos, porém, o modelo de Gramática Categorial que é usado não é poderoso o suficiente para dar conta das construções relativas. Tanto o modelo AB, usado por Paris Júnior, quanto a Gramática Categorial Clássica, empregada por Borges, só conseguem dar conta de fenômenos que envolvem contigüidade; ou seja, quando as construções mais complexas são resultado apenas da concatenação seqüencial de unidades mais simples. Assim, ambas as tentativas só conseguem dar conta de relativas como “um amigo que você conhece” ou “um amigo que conhece você”, em que o pronome indica uma posição ausente numa das margens da quasesentença: “você conhece ___” ou “___ conhece você”; caso o elemento faltante não estivesse numa das margens, como em “o livro que você colocou na estante” (para a quase-sentença “você colocou ___ na estante”), nenhuma das duas explicações se aplicariam. Além disso, em sua tentativa, Borges recorre a uma suposta categoria S*, estipulada por ele mesmo, que parece não estar definida de acordo com a metodologia das Gramáticas Categoriais, principalmente em

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suas vertentes ligadas à Dedução Natural, em que é preciso identificar uma regra de introdução e outra de eliminação para cada conectivo categorial. Nesta minha comunicação, apresentarei detalhadamente o problema estrutural das construções relativas, resumirei ambas as tentativas mencionadas acima e demonstrarei como elas não dão conta completamente da questão. Na conclusão, empregarei o conectivo definido por Moortgat, em seu livro Categorial Investigations, de 1988, para lidar com as dependências ilimitadas (unbounded dependencies), de forma a oferecer uma explicação mais consistente para as construções relativas dentro do espírito das Gramáticas Categoriais. De acordo com esta definição, uma expressão da categoria A↑B deve ser entendida como uma expressão na qual falta uma expressão da categoria B para ela ser uma expressão da categoria A; com este novo conectivo, não apenas o problema sintático fica resolvido, mas também a questão semântica das relações anafóricas também deixa de ser um problema. AS DINÂMICAS REFERENCIAIS DE “ISSO” Renato Miguel Basso (PG-UNICAMP/FAPESP) O presente trabalho analisa os usos dêiticos e anafóricos do pronome demonstrativo 'isso', conforme exemplificado pelas sentenças abaixo:

(1) Pegue isso pra mim. (com um apontamento adequado) (2) João caiu. Isso deixou sua mãe preocupada..

As principais teorias sobre demonstrativos, como a de Kaplan (1989), dizem que eles são termos de referência direta, ou seja, contribuem com um indivíduo na proposição em que estão sendo empregados. Sendo assim, 'isso' e outros demonstrativos não poderiam participar de interações de escopo, dado que termos referenciais têm apenas escopo amplo. Procuramos mostrar, com base em exemplos como os acima e outros, que (i) apesar de 'isso' não conter nenhum material descritivo explícito, como o predicado que segue um determinante (exemplos (3) e (4)), (ii) 'isso' apresenta interações de escopo (5) e participa de anáforas (6), o que nos leva a concluir que 'isso', assim como as descrições demonstrativas, deve ser tratado como uma descrição (i.e., um termo quantificacional): (3) ? Isso jogo é meu. (4) ? Isso grande é meu. (5) Os jornalistas vão querer escrever sobre isso que explodiu o prédio, seja lá o que eles acreditem que isso seja... (6) (numa manchete de jornal) “[Desenvolvimento de novo software]1 pela Microsoft” Leia mais sobre [isso]1 nas páginas seguintes. É interessante notar em (6) que o antecedente preferencial para 'isso' é 'o desenvolvimento (de novo software)', e não '(novo) software'. Essa preferência seria invertida se ao invés de 'isso' tivéssemos 'ele'.

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Por fim, analisaremos também as restrições com relação ao uso anafórico de 'isso' quando se trata de um antecedente concreto: (7) João deitou n[uma cama]1, e # [isso]1 machucou suas costas. (8) João comprou [um caderno novo]1 .# [Isso]1 custou 5 reais. (9) João comprou [um caderno novo, um apontador e 5 lápis]1 . [Isso]1 custou 15 reais. (10) João: Onde eu guardo [a bicicleta]1? Pedro: Ah, [ela]1 / [isso]1 fica lá na edícula. (11) João: Onde fica [o Monte Everest]1? Pedro: Eu acho que [isso]1 fica no Nepal ou na China, por que? João : Porque eu queria escalar [ele]1 / # [isso]1 . Em contraste com restrições para retomada de objetos concretos, o 'isso' pode ser usada para retomar diferentes entidades abstratas e conjuntos ou conglomerados dessas entidades: (12) João sofreu um acidente. (12a) Eu não acredito nisso! (proposição) (12b) Quando isso aconteceu? (evento) (12c) Puxa, isso é terrível! (fato) (12d) Isso é realmente um jeito estranho de descrever o que aconteceu... (dictum) (13) [As tropas do exército invadiram a vila. Pelo que se soube, estupraram as mulheres e mataram os homens e as crianças, num ato absurdo de crueldade]1. [Isso]1 deixou o general extremamente irritado. A partir de tais exemplos, proporemos uma forma semântica para 'isso' que o aproxima das descrições definidas e demonstrativas, associando a ele uma pressuposição de familiaridade e de não-animado, tendo seu uso anafórico restrito através de efeitos de marcação com relação a outros definidos. GT15 Gêneros do discurso, autoria e ensino Coordenadores Maria Marta Furlanetto (UNISUL) Rosângela Hammes Rodrigues (UFSC) GRAFITE E PICHAÇÃO COMO GÊNEROS DISCURSIVOS: UM OLHAR DIALÓGICO NOS ENUNCIADOS URBANOS Alícia Endres Soares (UCPel) Compreendendo a paisagem urbana como uma das esferas de comunicação discursiva, de uso da linguagem, de criatividade ideológica, esta reflexão visa analisar o grafite e a pichação como gêneros do discurso (GD), observando pistas de autoria nos enunciados analisados. Tendo como base os pressupostos da teoria dos gêneros discursivos (Bakhtin 1952-1953/2003) e

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a metodologia de análise proposta por Bakhtin/Volochinov (1929/2004), parte-se do preceito de que à medida que se desenvolve e se complexifica uma determinada esfera, o repertório de GD também cresce e se atualiza. Temas polêmicos, normalmente apagados ou excluídos em outras esferas sociais, são manifestados, articulando elementos verbais e não-verbais, no visual da cidade, tanto de forma explícita como indecifrável. Grafites e pichações circulam há bastante tempo na sociedade, no entanto é possível verificar uma expansão cada vez mais significativa dessas produções nas cidades. Muros, prédios, construções abandonadas, monumentos, ônibus, trens, etc. funcionam como portadores de discurso lançados na/da esfera urbana, fazendo emergir uma pluralidade de efeitos de sentido. Dessa forma, o grafite e a pichação instauram-se como práticas discursivas reconhecidas de uma dada comunidade as quais revelam, por um lado, formas híbridas e plurivocais e, por outro, aspectos peculiares próprios. Como metodologia, foram observadas quatro produções discursivas, duas consideradas grafites, registradas por fotografia e inscritas na esfera urbana da cidade de Pelotas/RS, e duas consideradas pichações, selecionadas de um site da Internet, inscritas na cidade de São Paulo. A análise do material contempla a relação intrínseca entre esfera social e gênero do discurso, observando-se características da forma composicional, tema e estilo verbal das formas discursivas. Considerando o autor como posição avaliativo-valorativa que imprime em seu dizer inúmeras vozes sociais (Bakhtin 1934-1935/2003; Bakhtin 1979/2003), é possível apreender índices de autoria a partir de efeitos de subjetividade observados no estilo individual impresso nos enunciados urbanos. Espera-se que essa análise contribua para a reflexão sobre GD e autoria em grafites e pichações, suscitando um movimento dialógico de sentidos com os múltiplos, inacabados e contraditórios olhares que passam pela esfera urbana. ENSINO MÉDIO OU MÉDIO ENSINO? Ana Kelly Borba da Silva (UFSC) Esta pesquisa foi realizada para a disciplina do Programa de Pós-Graduação em Lingüística (UFSC) intitulada “S.E. em Lingüística Aplicada: Como a escola trabalha os gêneros do discurso?” sob a orientação da Professora Drª Rosângela Hammes Rodrigues. De acordo com as Orientações Curriculares para o Ensino Médio “[...] o papel da disciplina Língua Portuguesa é o de possibilitar, por procedimentos sistemáticos, o desenvolvimento das ações de produção de linguagem em diferentes situações de interação” (2006, p. 27). Contudo, na maioria das vezes, as atividades de linguagem desempenhadas nas escolas são do tipo ideal (descrição, narração e dissertação), a famosa trilogia clássica, desligando-se assim, das práticas sociais ou do contexto histórico-social do aluno. Objetivou-se analisar a coleção de livro didático “Português: literatura, gramática, produção de texto” (volume único) – dedicado aos três anos do Ensino Médio, a fim de observar os conteúdos relacionados ao ensino de produção textual, bem

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como as sugestões apresentadas no Manual do Professor. Para nortear minhas reflexões tomei como referência, em especial, os seguintes questionamentos: (i) o que diz o Manual do Professor? A proposta do Manual do Professor é coerente com o material? (ii) como os “Manuais do Professor” são recebidos pelos docentes? (iii) as atividades de linguagem efetuadas nas escolas, geralmente, enfatizam: a descrição, a narração e a dissertação. E na obra em questão? e (iv) trabalhar com a noção de gêneros é possibilitar aos discentes uma articulação entre as práticas cotidianas de interações sociais e os objetos escolares, portanto como o livro aborda essa noção? No decorrer da análise da obra pude perceber que não houve muita preocupação por parte dos autores em trazer as práticas de linguagem que circulam na sociedade, assim como, em geral, os textos foram empregados como pretextos, priorizando a forma em detrimento à função discursiva. Os autores seguem uma linha mais tradicional e fixada nas gramáticas, não levando em conta o uso real do PB segundo o julgamento dos falantes deste século, tampouco discussões de questões relativas à concepção sociointeracionista da linguagem. Enfim, é muito importante que o professor esteja atento às situações de sala de aula e utilize o livro como um material de apoio, ancorando-se nas aulas que preparou e enfatizando a relação de sala de aula como um lugar de interação verbal, de diálogo e troca de saberes. O LUGAR DOS GÊNEROS DO DISCURSO EM DOIS LIVROS DESTINADOS AO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NO ENSINO MÉDIO – UMA ANÁLISE COMPARATIVA Ana Paula Kuczmynda da Silveira (UFSC) Esta comunicação tem suporte teórico na teoria dos gêneros do discurso, conforme sugerida por Bakhtin, e objetiva discutir a abordagem metodológica e conceitual dos gêneros em dois livros recomendados pelo Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio – PNLEM – para adoção em todo o território nacional: Português: Linguagens, de William Roberto Cereja e Thereza A.C. Magalhães; e Português – Língua e Cultura, de Carlos Alberto Faraco. A escolha das obras deveu-se ao fato de a primeira constituir o livro didático mais adotado na rede pública de ensino (conforme estatística do MEC), e de a segunda apresentar uma abordagem diferenciada das questões contempladas pela disciplina de Língua Portuguesa, tendo ficado em quinto lugar entre as mais adotadas em 2006 e em quarto lugar em 2008. Ambos os livros são edições em volume único, destinadas às três séries do ensino médio, e englobam os conteúdos de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. A análise dos livros didáticos foi realizada em dois momentos: (1) no manual do professor, para verificação do conceito de gênero que permeia a obra; (2) ao longo das atividades de leitura e produção textual, para apreensão da abordagem teórico-metodológica que ali se materializa. Para atingir tal objetivo, parte-se de uma reflexão sobre o papel do livro didático como instrumento mediador do processo de ensino-aprendizagem; revisitam-se as noções de texto,

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enunciado e gênero, conforme sugeridas por Bakhtin; e reflete-se sobre a discussão teórico-metodológica encetada pelos documentos oficiais de ensino para o ensino médio a respeito do gênero. Ao apresentar os resultados provenientes da análise dos dados, almeja-se discutir o lugar destinado aos gêneros do discurso nos espaços pesquisados (manual do professor, atividades de leitura e atividades de produção textual) e o entrelaçamento, ou não, da abordagem teórico-metodológica que se materializa em cada um deles. CONCEPÇÕES DE LEITURA E GÊNEROS DO DISCURSO: IMPLICAÇÕES TEÓRICAS E DIDÁTICAS E A FORMAÇÃO DO LEITOR. Andréia Regina Sarmento (UFSC) O trabalho com a leitura no ambiente escolar é ainda um grande desafio para lingüistas e professores de língua e também de outras disciplinas, pois ora a leitura é trabalhada como um suporte para o ensino da gramática, ora com o objetivo de responder questionários, não se levando em conta a formação do aluno-leitor autônomo. Este trabalho objetiva: analisar as práticas de leitura nas aulas das 7ª e 8ª séries do ensino fundamental de uma Escola particular na cidade de Joinville - SC, os diferentes gêneros trabalhados em sala de aula e sua contribuição à formação do aluno-leitor. Também investiga qual a concepção de leitura do professor e dos alunos. A fundamentação teórica insere-se numa visão bakhtiniana da linguagem, que propõe a necessidade de se considerar a língua como uma atividade social, a teoria dos gêneros do discurso e as concepções de leitura de alguns estudiosos contemporâneos. A partir desse olhar, é possível rever a função e os conteúdos do ensino da leitura no âmbito escolar e propor metodologias de trabalho didático através dos gêneros do discurso. Dessa forma, pode-se apresentar uma breve discussão baseada na observação das aulas e diversas concepções de leitura, oferecendo possibilidades de refletir sobre concepção que circula na esfera escolar, sobretudo durante as aulas observadas. OS GÊNEROS DO DISCURSO NA PROPOSTA CURRICULAR DO MUNICÍPIO DE CRICIÚMA (SC). Carlos Arcângelo Schlickmann (UNESC – Criciúma) O objetivo desta comunicação é evidenciar as situações em que os gêneros do discurso aparecem como elementos norteadores das práticas de linguagem arroladas no texto da Proposta Curricular de Criciúma (SC), com ênfase nas atividades de elaboração didática apresentadas. A Proposta Curricular do município de Criciúma (SC) foi elaborada em 2007 e pretende introduzir um currículo voltado para a diversidade tendo como fundamento a perspectiva histórico-cultural. Esta opção evidencia um trabalho com a linguagem vista como atividade humana, histórica e social – haja vista que toda proposta curricular explicita um projeto educativo, traduz uma

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concepção de sociedade e aponta os caminhos para sua concretização. Na década de oitenta, momento histórico em que se discutiam no Brasil a finalidade e o objeto de ensino da disciplina Língua Portuguesa, Geraldi (2000) propõe uma mudança de foco no objeto de ensino, da metalinguagem (estudos gramaticais) para as práticas de linguagem, sugerindo que essas práticas sejam exploradas a partir de três unidades básicas de ensino: prática de leitura, prática de produção textual e prática de análise lingüística. Essas práticas são três eixos que se integram. O estudo da sistematização da língua, quando necessário para melhor construção textual, precisa ser explorado nestas práticas. Para isso, é necessário trabalhar com textos de gêneros diversificados que representem o mundo da linguagem verbal; é necessário organizar atividades de leitura e escuta necessárias para o grau de proficiência exigido, explorando as interfaces da oralidade e da escrita, desenvolvendo o conhecimento lingüístico de forma articulada e ensinando a produzir textos com procedimentos metodológicos adequados. GÊNERO CHARGE NO CONTEXTO ESCOLAR: ESTRATÉGIA PARA O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA Cristiane Gonçalves Dagostim (UNISUL) A Teoria da Análise de Discurso, em uma visão geral, pretende compreender a linguagem e seu funcionamento no interior da sociedade. Esta atividade lingüística pressupõe a interação homem-língua-mundo. E, segundo Orlandi (2001), a linha francesa entende o sujeito, a linguagem e os sentidos como partes de um todo interacional e indissociável. O sujeito é clivado, dividido entre o “eu” e “o outro”; nisso o discurso se configura como a relação entre sujeitos e sentidos entendidos como aquilo que coloca o lingüístico em articulação com a história, com a ideologia. Desta forma, este trabalho, tendo como pressuposto a teoria da Análise do Discurso, procura demonstrar como o gênero charge poderá subsidiar as aulas de Língua Portuguesa. Por meio da compreensão e do funcionamento das charges, o educador conseguirá seduzir o educando, transformando-o em leitor crítico e aguçando o gosto pela leitura e escrita de textos em língua materna. A aplicação da Teoria da Análise de Discurso na linguagem visual, ou seja, na charge, tendo como objeto específico os trabalhos veiculados no jornal Diário Catarinense no ano de 2008, mostra-se uma tentativa de entendimento mais abrangente de uma dimensão do uso da linguagem. Com isso, espera-se que este estudo contribua para o aumento do conhecimento sobre a Teoria da Análise do Discurso e do discurso selecionado, e de que forma ela poderá guiar a comunicação na sociedade e a formação de verdadeiros leitores.

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APRENDENDO COM HUMOR: O GÊNERO HUMOR E O SUBGÊNERO HUMOR NEGRO Helena Maria Gramiscelli Magalhães (UFMG, PUC Minas) Diferentemente do gênero humor e do riso, o subgênero humor negro não tem desfrutado do privilégio de, desde a Antigüidade, ser contemplado com muitos estudos ou teorias. No Brasil, por exemplo, ele sequer constitui alvo da atenção de sociólogos, filósofos, psicólogos ou lingüistas. Na literatura estrangeira ocidental, se em algum momento os autores se interessaram por esse subgênero do humor, analisaram-no, geralmente, sob os aspectos históricos e psicológicos. Por essas razões, o objeto deste trabalho é o humor e o humor negro do Brasil. Para empreender essa tarefa, são utilizados os trabalhos Thomas Veatch, Victor Raskin e Sírio Possenti por narrarem a história do riso e por delinearem as condições de construção do texto de humor, o trabalho de André Breton por discorrer a filosofia do subgênero humor negro e, principalmente, o do historiador Elias Thomé Saliba, por descrever a representação humorística na história brasileira e por apontar o momento do surgimento do humor negro do Brasil. Levando-se em conta que tanto a linguagem quanto os sujeitos envolvidos se instituem e se definem na interação e que dela sentidos múltiplos emergem, analisam-se as relações entre língua, interlocutores e (inter)discursos e, principalmente, os mecanismos lingüístico-discursivo-pragmáticos da construção de textos de humor e de humor negro brasileiro. Esses procedimentos, que acabam por revelar as visões que a rede social brasileira tem sobre ética, moral e verdade, são valiosos para se esclarecer a questão do efeito perlocucional-riso dos brasileiros, diante dos textos de ambos os gêneros do humor. Este trabalho visa, em síntese, a apontar e a descrever o humor e o humor negro brasileiro, classificar seus textos e, em última instância, apresentar uma proposta de utilização de textos de humor como material didático valioso para o ensino da língua portuguesa do Brasil. PRODUÇÃO TEXTUAL E ESCOLHA DO GÊNERO TEXTUAL: A PUBLICAÇÃO NO MEIO DIGITAL COMO ALGO MUITO ALÉM DA UNIDADE TEMÁTICA E DA “FÓRMULA DISSERTATIVA” Lia Schulz (UFRGS) Este trabalho tem como objetivo analisar diferentes qualidades discursivas de produções textuais, de acordo com o gênero textual escolhido pelo autor como adequado à sua produção em tarefas de sala de aula. Os participantes da pesquisa fazem parte de duas turmas do curso de Comunicação Social de uma universidade pública federal. Cinco atividades de produção textual foram analisadas, assim como informações adicionais sobre os autores foram obtidas por meio da realização de entrevistas. A proposta de trabalho da disciplina de comunicação em Língua Portuguesa tem como base um manual de redação que indica a unidade temática como uma das qualidades fundamentais de um texto. Há, no entanto, evidências de que de acordo com

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o gênero escolhido, observa-se que nem sempre a construção de tal unidade textual se faz presente, especialmente quando os textos foram produzidos para serem publicados em meio digital. Quando os alunos puderam escolher em que gênero adequariam seus textos e onde os publicariam, a maioria escolheu o meio digital, especialmente blogs, produzindo textos mais variados e criativos. Quando foi proposta uma dissertação, no entanto, os autores não souberam responder em que gênero enquadrariam seus textos, repetindo a conhecida (e por eles mesmos descrita) “fórmula dissertativa”, aprendida durante toda a vida escolar, que tem como única função a avaliação, seja do professor de Português, seja do corretor do vestibular. O trabalho pretende contribuir para o ensino de produção textual, discutindo a metodologia de trabalho utilizada para que se possa pensar como são cada vez mais relevantes atividades que envolvam a produção de textos “reais”, que tenham uma função em contextos específicos, como formas de interação e ação social. Também é apontada a necessidade dos educadores apropriarem-se do meio digital para pensar em materiais didáticos que levem em conta as características específicas dos gêneros produzidos para esse meio, muitas vezes tão diferenciados dos que são trabalhados tradicionalmente em sala de aula. A ESCRITA COMO INSTÂNCIA DE SUBJETIVAÇÃO DO ALUNO Maria de Lourdes Fernandes Cauduro (UNIFIN) Este estudo tematiza a escrita como instância/lugar de subjetivação do aluno. Analisa textos de alunos escritos em uma disciplina intitulada “Laboratório de Escrita”, ministrada no Ensino Superior, em um curso de ciências exatas. A pesquisa apóia-se em elementos teóricos da linha da Análise de Discurso, fundada por Pêcheux, e em estudos foucaultianos sobre educação. Do nosso ponto de vista teórico, o autor é uma “posição”, produz um lugar de interpretação, esta é a sua particularidade. A interpretação instaura a autoria; esta é tecida de historicidade. O discurso pedagógico que norteou o trabalho de textualização entende que a função-autor é tarefa da escola (ORLANDI, 1996, 2002a); propõe que a escola não inclua o aluno apenas na autoria já constituída, mas dê atenção aos deslocamentos produzidos pela interpretação. Entendemos a identidade como “identificações” do sujeito, como movimento na história. As práticas da disciplina enfatizaram o “gesto de interpretação”; os textos manifestam diferentes posições-sujeito, a filiação a diferentes dizeres. Nos textos analisados chamam a atenção adjetivos, advérbios e pronomes. Essas marcas lingüísticas são consideradas palavras “avaliativas” (ORECCHIONI, 1980, TEIXEIRA, 2001); são pistas, rastros, indícios do posicionamento discursivo dos alunos. Indicam posições, identificações dos sujeitos-alunos ao interdiscurso. Exemplifico com o fragmento abaixo: F1- “Bem, minha visão não difere do texto. O Brasil, de fato, é um garimpo (bem garimpado). Além de servirmos de fornecedores de matéria prima a preço de custo (garimpo de matéria), somos compradores

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imediatos dos produtos “made in Países de Primeiro Mundo com material brasileiro” logo: garimpo de consumidores. Como pagamos em proporção à cotação do dólar, somos garimpo, também, de dinheiro”. O uso de palavras apreciativas/avaliativas (adjetivos e advérbios), bem como os pronomes, dão visibilidade a processos identificatórios dos alunos, sua filiação a dada memória discursiva. Na seqüência “garimpo bem garimpado”, o particípio funciona como palavra avaliativa; dá a ver a posição que o aluno assume no discurso; as expressões “de fato” e “minha” ratificam essa posição discursiva. Trata-se da mesma formação discursiva que produz o interdiscurso manifesto no texto “Garimpo Brasil”, que fez parte da prática de textualização, na qual os alunos estabeleceram interlocução com os autores, com seus pares e com a professora. Esta enunciação, como acontecimento de linguagem perpassado pelo interdiscurso, remete à memória histórica, à assunção de uma posição na qual o sujeito-aluno se inscreve e com a qual se identifica. A TRANSPOSIÇÃO DE GÊNEROS DISCURSIVOS PARA O SUPORTE LIVRO DIDÁTICO Mirian Schröder (PG-UFPR) Diante das críticas dirigidas ao ensino dos gêneros escolares (descrição, narração e dissertação) dado seu caráter generalista, sua valorização dos modelos globais e a ausência de vínculo com o uso, produção e circulação textual, o trabalho com o texto em sala de aula careceu de mudanças e novo enfoque foi dado: o texto em seu funcionamento e em seu contexto de produção. A publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (PCNs) auxiliou nesta mudança de enfoque e propulsionou o emprego da noção de gêneros discursivos no Brasil. Considerando o Livro Didático como suporte convencional para reunião de diversos gêneros (MARCUSCHI, 2003), o presente trabalho objetiva investigar como se dá a transposição da teoria dos gêneros discursivos no material didático “Língua Portuguesa e Literatura”. Este livro didático público abrange as três séries do Ensino Médio, foi elaborado por vários autores (professores da rede estadual de ensino) e foi distribuído, em 2006, pela Secretaria de Estado da Educação (SEED-PR) aos alunos e professores da rede pública estadual paranaense. Para tanto, será levada a efeito a análise de um dos capítulos iniciais do livro. A obra é apresentada como possibilidade de interação do estudante com o mundo, de modo que os autores buscaram “contemplar as práticas da oralidade, da escrita e da leitura” (2006, p. 12) e se valeram de tipologia variada (gêneros): poemas, crônicas, contos, letras de músicas, charges, entre outros. O material é composto por 16 (dezesseis) capítulos cujo conteúdo estruturante é o discurso enquanto prática social: tanto na oralidade como na leitura ou na escrita. Os capítulos são elaborados a partir de tipologia textual variada e atividades (orais e escritas) que deverão ser realizadas pelos alunos sob orientação do professor. Para desenvolver a análise, concentrando-nos no ensino de gêneros discursivos, na composição

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do capítulo e na proposição das atividades, utilizamos como aparato teórico os trabalhos de Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004) sobre seqüências didáticas focalizadas em gêneros textuais. O PROCESSO DE AUTORIA DE AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA: UMA REAÇÃO-RESPOSTA ÀS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES Maria Izabel de Bortoli Hentz (UNIVALI) Os ecos do movimento de reorganização curricular, de meados da década de 1980, ainda se fazem ouvir em ações de formação continuada de professores, em municípios que visam à elaboração e implementação de propostas curriculares próprias. Ações dessa natureza contribuem para fazer chegar aos professores da Educação Básica os resultados das pesquisas acadêmicas sobre o quê (conteúdos) e como ensinar (metodologia) nas diferentes áreas do conhecimento. Um exemplo disso são os trabalhos que abordam o ensino-aprendizagem da língua, pautados na perspectiva dos gêneros do discurso. A presença do texto na sala de aula passa a representar a possibilidade de professores e alunos se reapropriarem do seu papel produtivo, ou seja, de se constituírem autores. Uma experiência vivenciada com professores da rede municipal de ensino de São José (SC) permite analisar o processo de construção da aula de Língua Portuguesa a partir da concepção de linguagem como forma de interação, particularmente na perspectiva dos gêneros do discurso. O objeto de análise deste estudo é o planejamento de trabalho elaborado e desenvolvido, em dois momentos distintos, por uma professora de Língua Portuguesa dessa rede de ensino, resultado de sua participação em processos de formação. Como orientação teórico-metodológica assume-se a perspectiva sócio-histórica. Para analisar especificamente as elaborações didáticas (Halté) realizadas pela professora, recorre-se a alguns dos pressupostos da teoria dialógica do discurso, do Círculo de Bakhtin. Para contextualizar as atividades focalizadas, faz-se necessária uma breve explicação dos processos de formação de professores, que visavam à implementação da Proposta Curricular do município de São José. Na análise, fica evidenciada a mudança no objeto de ensino da aula de Língua Portuguesa nos dois momentos. O que diferencia um e outro é a forma de abordagem que a professora faz do gênero em estudo: no primeiro momento, o trabalho com o texto se limita à forma de composição textual do gênero; no segundo momento, se evidencia uma significativa preocupação com a abordagem da dimensão social do gênero, implicando necessariamente na relação autor-leitor e no espaço de circulação. Ainda que não se possa generalizar, este trabalho é representativo do processo de autoria assumido pelo professor, quando da elaboração de suas próprias aulas e evidencia a compreensão responsiva ativa do professor aos discursos que circularam nas ações de formação continuada.

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GÊNEROS E AUTORIA: RELAÇÃO, POSSIBILIDADES E PERSPECTIVAS DE ENSINO Maria Marta Furlanetto (UNISUL, Tubarão) Neste trabalho retomo parte da discussão teórica desenvolvida no ensaio Função-autor e interpretação: uma polêmica revisitada (In: Furlanetto; Souza (Orgs.). Foucault e a autoria. Florianópolis: Insular, 2006), em que, a partir de Foucault, examino essa função subjetiva e assumo sua adaptação no contexto da Análise do Discurso, levantando questões relativas à possibilidade de autoria e às múltiplas formas de sua realização. Examino aqui, relativamente à formulação em determinados gêneros do discurso, passíveis de tratamento sistemático na instituição escolar, um tópico que se destaca na produção escrita na busca subjetiva por autonomia autoral, e o modo como pode ser desenvolvida considerando o trabalho escolar: o querer-dizer (o projeto discursivo, conforme Bakhtin), ou, em outra perspectiva, a intencionalidade em sua orientação para o outro. A partir do querer-dizer, especifico questões em torno da necessidade de iterar (repetir, retornar à memória do dizer) e alterar (produzir enunciativamente para obter um efeito de atualidade), desenvolvendo simultaneamente uma identidade numa comunidade discursiva – um efeito de autoria. Esse efeito de autoria está indelevelmente ligado ao processo de interpretação: ao escutar ou ler, nos conectamos com a exterioridade, com o mundo vivido (atividade centrífuga); simultaneamente, tentamos delimitar o “círculo do significado” (atividade centrípeta) (Scholes, 1991: Protocolos de leitura). Produzir pressupõe dispersar e controlar a dispersão pelo fechamento (obter efeito de unidade pelo princípio de autoria). A constituição da autoria é caracterizada em função dos vários discursos, de seu modo de acontecimento e circulação. Como isso pode ser exercitado para a produção de gêneros no contexto escolar? A proposta inicial, passível de avaliação, envolve um jogo entre polissemia e paráfrase, em graus variados em correspondência com os gêneros que sejam focalizados, e preconiza atividades que permitam a manipulação de estratégias envolvendo uma miríade de escolhas possíveis – o que deve levar a uma avaliação constante dos efeitos provocados em virtuais leitores até que a construção de um texto se dê por “fechada”. O PAPEL DOS INTERLOCUTORES E A DEFINIÇÃO DE TEMAS NO GÊNERO ‘REUNIÃO DE DISCIPLINA’ EM UMA ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA Nara Caetano Rodrigues (UFSC) Alguns gêneros da esfera do trabalho – tanto empresarial quanto escolar – vêm ganhando espaço nas discussões acadêmicas nos últimos anos, em função de seu papel regulador e legitimador das práticas de linguagem nesses ambientes discursivos. Nosso objetivo nesta comunicação é investigar as (re)definições de pauta nas reuniões de disciplina (reunião escolar) de um grupo de professores de Língua Portuguesa em uma escola pública federal

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de educação básica. Para tanto, serão analisados exemplos de interações nas quais há negociação em torno dos temas a serem discutidos, tanto nas situações cujos interlocutores possuem uma relação simétrica, como negociações entre interlocutores cuja posição é assimétrica. As reuniões de disciplina, que ocorrem semanalmente na instituição pesquisada, constam do plano de trabalho dos professores e constituem-se uma instância de discussão de assuntos relacionados a questões pedagógicas e administrativas. As reflexões acerca das condições de produção dos embates que antecedem a definição dos temas a serem discutidos nessas reuniões serão feitas à luz de alguns princípios do pensamento do Círculo de Bakhtin sobre as interações sociais. O corpus analisado é composto por gravações/transcrições de reuniões realizadas nos anos de 2006 e 2007 e é parte de uma pesquisa maior, cujo objetivo é a análise da construção socioaxiológica do discurso dos professores em processos de reestruturação curricular desencadeados institucionalmente. O CONHECIMENTO DOS GÊNEROS DO DISCURSO NA ESFERA ESCOLAR Nelita Bortolotto (UFSC/CED) O presente trabalho é uma proposta de discussão teórica que focaliza a esfera social escolar em práticas com linguagem relativas ao envolvimento da experiência participante de professores no conjunto complexo da compreensão histórica, teórica e prática dos processos educacionais, naquilo que se tem apresentado como “novo” objeto de ensino da língua portuguesa: os gêneros do discurso. Tal situação se faz acompanhar da compreensão da especificidade com que tal objeto de conhecimento vem sendo “incorporado” como “fenômeno educacional” inserido, sobremaneira, nas formulações de propostas de trabalho escolar e em documentos oficiais de orientação pedagógica e curricular. Essa tendência requer reflexões sobre o que representa (o sentido) conceber os “gêneros do discurso” no ensino, não subtraído da compreensão histórica, teórica e prática no âmbito do ensino da linguagem e do conhecimento humano. O que se observa nos diferentes movimentos que vêm legitimando essa dominância é a incorporação por vezes naturalizada do uso dos gêneros do discurso no campo educacional ao modo do que foi retido pela memória histórica e social da pedagogia da língua portuguesa para as práticas discursivas de outros tempos, como foi o caso da “redação”, “produção textual” etc. Há uma história legitimada revestida por certa autoridade da tradição, com ascendência sobre o entendimento da realidade objetiva e que interfere no real investigado. Essa legitimidade encontra-se agregada a valores axiológicos positivos. Acentuo, com essa comunicação, a necessidade de se ter em conta, no estudo da constituição dos gêneros do discurso, o caráter dialógico das relações discursivas e sociais implicadas no domínio das atividades humanas, articuladas com a produção do conhecimento em linguagem e educação. Nesse sentido, a teoria do dialogismo de Bakhtin e membros do seu Círculo

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é fonte teórica importante para o exercício da crítica quanto ao entendimento da prática social, a escolar, do ato pedagógico da docência individual e coletivo nas diferentes instâncias de atuação (pesquisa e ensino). Estudos acompanhados de uma visão teórica que pressupõe as “fronteiras dialógicas” na produção do conhecimento e suas especificidades implicadas são entrada para um agir pedagógico com visão de direção e profundidade. PRODUÇÃO DE TEXTOS ACADÊMICOS SOBRE AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA LICENCIATURA Regina Maria Varini Mutti (PPGEDU/UFRGS) Analisa-se, tomando como referencial a Análise de Discurso, principalmente, a interpretação do sujeito-acadêmico de pedagogia no estabelecimento de sua posição pedagógica no ensino de língua. Enfocam-se os títulos das seguintes produções textuais: projeto para ensino de língua na escola, elaborado numa disciplina, e versões representadas no projeto de estágio e relatório. No título do projeto-fonte: (1) Projeto Conhecer Interpretar e Recriar Dom Quixote, “projeto” e “Dom Quixote” sintonizam a metodologia da disciplina no destaque ao gênero. Os infinitivos: “conhecer”, “interpretar”, “recriar”, tendo como objeto “Dom Quixote”, apontam não só ao aluno-alvo quanto à professora, que busca interpretar e recriar os referenciais que a afetaram, destacando-se o sentido de conhecer como produção de sentido na diferença. Na “Apresentação” do livro de co-autoria, reforça o prazer e a imaginação para o acesso à obra: “... o gosto pela leitura e a curiosidade intelectual”, “a paixão e o profundo apreço por Dom Quixote...desde a infância”(Relatório), como opostos à obrigação e às fórmulas prontas de ensinar. O encontro com Calvino, autor de sua escolha, surte o efeito de inserção no discurso acadêmico que a acolhe em sua diferença e a autoriza a compartilhar a paixão pela leitura ao recriar uma pedagogia. Nos títulos do Projeto de Estágio: (2) Viajando no Túnel do Tempo da incrível biblioteca de Dom Quixote” e da coletânea: (3) “Dom Quixote no Túnel do Tempo; uma experiência de leitura em sala de aula”, ressalta a estratégia de aproximação entre a turma e a obra: a ficção túnel do tempo e biblioteca de Dom Quixote. O gerúndio viajando aponta ao deslocamento imaginário a um lugar incrível no passado, para encontrar uma biblioteca e dialogar com autores e personagens. Incrível é a sala de aula, palco de aventuras fabulosas, é o sonho de trabalhar o apego à literatura. A mediação das mensagens entre La Mancha e Porto Alegre possibilita um jogo mágico de interlocuções: os alunos criam suas próprias aventuras, e a professora é parceira no brincar. O efeito de sentido de encantamento com a experiência incrível condiz com o modo de posicionar-se no discurso pedagógico da área, na prática de ensino, por meio das textualizações empreendidas; das formulações discursivas heterogêneas emerge a afirmação de uma voz singular no coletivo que produz sentidos, atestando o modo como os sujeitos participam da formação da área educacional com os seus sentidos.

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A CONSTRUÇÃO DA AUTORIA NO GÊNERO DO DISCURSO ARTIGO ASSINADO Rosângela Hammes Rodrigues (UFSC) Objetiva-se, nesta comunicação, analisar como se constitui discursivamente a autoria - aqui entendida como postura de autoria, com sua responsabilidade discursiva (BAKHTIN, Estética da Criação Verbal) - no gênero do discurso artigo assinado, da esfera jornalística. A partir da análise dos dados, artigos assinados publicados na seção de opinião de três jornais, um de circulação estadual (Diário Catarinense) e dois de circulação nacional (Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo), observou-se que a autoria desse gênero está ligada à questão da notoriedade social e da imagem de homem público. A postura de autoria é construída a partir da posição privilegiada que o articulista ocupa no cenário sócio-político e/ou da profissão de notoriedade que exerce. Esse reconhecimento outorga credibilidade a sua fala, colocando-o como “articulador” de um ponto de vista autorizado, como um formador de opinião autorizado e legitimado socialmente. O articulista incorpora o ethos de competência social e profissional (o qual se constrói e se manifesta de modo “mostrado” no seu discurso), que legitima seu ponto de vista e funciona como garantia do seu discurso. Esse ethos é, ao mesmo tempo, garantia de credibilidade e argumento de autoridade do discurso do articulista. No artigo assinado, o cronotopo do gênero e o ethos da autoria são o lugar do estabelecimento e da ancoragem da entonação desse gênero: um tom de autoridade legitimado a expor e formar opiniões. OS GÊNEROS DO DISCURSO NA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: A DISCIPLINA PRODUÇÃO DE TEXTO Víctor César da Silva Nunes (FURB, UFSC) Este trabalho descreve o projeto interinstitucional (FURB, UNIFEBE, UNESC, UNIVILLE e UNOCHAPECÓ), promovido pela ACAFEVirtual, de cooperação e colaboração na autoria e produção do material para a Disciplina LPT (Leitura e Produção de Textos), a qual passará a se chamar, na FURB, Produção de Texto, e será ofertada, primeiramente, aos acadêmicos dos cursos de licenciatura desta Universidade. Essa escolha acontece porque a disciplina já é oferecida presencial e regularmente às licenciaturas da FURB, fazendo parte da matriz curricular desses respectivos cursos. O planejamento e estruturação, bem como a produção desse material, são baseados nos gêneros do discurso, por opção do grupo de autores. A disciplina “Produção de Texto” tem como objetivo aprimorar a leitura e produção escrita de textos da esfera acadêmica, capacitando o acadêmico a reconhecer características essenciais do resumo, da resenha e do ensaio, bem como produzir esses gêneros do discurso. Essa disciplina utilizará o Ambiente Virtual de Aprendizagem da FURB, cuja plataforma é o Modlle. Como base teórica, este trabalho aborda os gêneros discursivos e o uso das

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tecnologias da informação e da comunicação voltadas à modalidade de Educação a Distância. “ESTAMOS EN JAPONÉS!”: FORMAS DE RELACIONAMENTO DE APRENDIZES – LEITORES DE PLE COM TEXTOS ACADÊMICOS Virginia Orlando (FHCE – UdelaR, Montevideo) Este trabalho visa analisar a forma de estabelecer as relações autor/texto/leitor a respeito de diversos gêneros discursivos em processos de ensino-aprendizagem que acontecem em cursos de português para aprendizes adultos hispano-falantes. O cenário de pesquisa consiste em aulas de leitura, concebidas como apoio para a leitura de bibliografia especializada, e endereçadas a alunos universitários (graduação e pós-graduação), no âmbito de uma universidade pública. O arcabouço teórico que sustenta a pesquisa recupera a conceituação bakhtiniana sobre a linguagem dialógica e a compreensão, junto a uma visão dos letramentos como práticas sociais (Street 1995, Gee 1996), inseridas em comunidades de prática (Wenger 1999). Conforme Coste (1978/ 2002), é possível pensar em públicos diversos nas práticas de leitura em LEs de adultos, dependendo não tanto do conhecimento global da língua, mas, e entre outras coisas, do domínio situacional e relacional da produção, recepção e circulação dos textos-alvo, do domínio textual de determinados formatos, assim como do domínio referencial geral da área de conhecimento em questão. Em Orlando (2007) exploravam-se as percepções dos sujeitos “aprendizes-leitores” a respeito da “leitura de textos em geral” vs. “leitura de textos especializados na área”. As (re)lexificações e as construções discursivas (Fairclough 2001) presentes nos dados analisados apontavam para o estabelecimento de uma associação entre gêneros discursivos e graus de complexidade lingüística que parece interessante revisar. A análise de eventos de letramento acontecidos no cenário de pesquisa mostraria uma relação autor/texto/leitor percebida diferentemente nos diferentes gêneros, o que pareceria evidenciar abordagens de leitura em que as diversas “línguas” empregadas em textos pertencentes a diversos gêneros discursivos não são dialogicamente correlatas (Bakhtin, 1934-1935/ 1998). Para o ensino-aprendizagem de leitura em LEs endereçado a aprendizes adultos, parece importante buscar formas de fazer sair do estado de equilíbrio essas diversas línguas (registros), o que talvez poderia contribuir para a quebra de certas percepções que se apresentam como construções de sentido comum (Fairclough, 1989).

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LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS: GÊNEROS TEXTUAIS E INTERDISCIPLINARIDADE Normelio Zanotto (UCS) Tânia Maris de Azevedo (UCS) Este trabalho apresenta uma experiência de realização de oficinas de leitura e produção de textos sob a perspectiva interdisciplinar, efetivadas com um grupo de coordenadores pedagógicos que atuam na rede municipal de Ensino Fundamental de Caxias do Sul (RS). Esses profissionais desempenham suas funções junto aos professores das áreas/disciplinas em todos os anos/ciclos que compõem o currículo escolar. Essas oficinas decorreram de solicitação da Secretaria Municipal de Educação, graças aos resultados altamente positivos advindos da oferta de oficinas anteriores integrantes do experimento realizado na pesquisa Leitura e escrita em sala de aula para professores de 5ªs séries, com base na teoria dos gêneros de texto – GENERA 2. Nas oficinas dirigidas aos coordenadores, foram desenvolvidos os seguintes tópicos: análise dos objetivos do Ensino Fundamental constantes dos PCNs focando recepção e produção de textos; leitura e escrita em sala de aula nas diferentes áreas – práticas vigentes e alternativas metodológicas; gêneros de texto como ferramenta para o ensino nos diversos componentes curriculares; práticas de leitura e escrita numa perspectiva sociointeracionista e interdisciplinar; hipertexto e multimodalidade como formas de integrar as competências de linguagem; análise, caracterização e produção de constelações de gêneros de texto; análise do texto global; análise de unidades de ensino de livros didáticos destinados às diversas áreas/disciplinas curriculares; planejamento, execução e avaliação de projetos interdisciplinares de intervenção didático-pedagógica junto ao corpo docente, com base nos gêneros de texto. A relevância dessa experiência, desde a implementação da pesquisa até a realização das oficinas, centra-se especialmente no fato de ter possibilitado tornar concreta a integração das três dimensões acadêmicas: ensino, pesquisa e extensão. GÊNEROS DO DISCURSO, AUTORIA E ENSINO “O QUE É QUE EU ESCREVO?” UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE A PRODUÇÃO ESCRITA ARGUMENTATIVA EM SALA DE AULA. Silvana Schork (FURB) Esta pesquisa tem como objeto de investigação a prática de escritura nas aulas de Língua Portuguesa, especificamente dos gêneros da ordem do argumentar, visto serem estes os que possibilitam ao aluno desenvolver diferentes interações, com diferentes interlocutores nas práticas sociais em que está inserido. O trabalho com esses gêneros textuais pressupõe o ato de pensar, tomar decisões e estabelecer sentidos ao que se pretende dizer e são essas as situações discursivas que pretendemos compreender, na voz do aluno, enquanto autor, durante os momentos de produção textual. A pesquisa fundamenta-se em uma abordagem de natureza qualitativa buscando um

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envolvimento mais dinâmico entre sujeito e objeto de estudo. Sendo assim, adentrar a sala de aula é um dos meios para que se aprofunde e se perceba o papel do professor e do aluno no processo de ensino-aprendizagem da produção do texto escrito o que permite examinar efetivamente as questões: Que sentidos são atribuídos pelo aluno à construção de textos de caráter dissertativo em contexto de sala de aula? Que atitudes responsivas do aluno são percebidas durante a produção destes textos? Tomando como bases teóricas-Bakhtin, Bronckart, Vygotsky Dolz e Schneuwly, nas perspectivas do sócio-interacionismo, gêneros discursivos e interacionismo sócio-discursivo, na análise dos primeiros dados, coletados durante as gravações das aulas de produção textual de alunos do Ensino Médio, observou-se que há um cuidado excessivo com o uso das palavras quando se trata de produção escrita em um ambiente de sala de aula, havendo o monitoramento e a influência do professor. Fica evidente a submissão do texto e da produção escrita em função da norma da escrita. Os alunos não se arriscam, não ousam na produção textual, o que contribui para que os textos que se produzem na escola sejam muito parecidos entre si (pouca informatividade - predomínio do senso comum). GT16 Lexicografia, Terminologia e Lexicologia Coordenadores Maria José Bocorny Finatto (UFRGS) Giselle Mantovani Dal Corno (UCS) A LINGUAGEM ESPECIALIZADA DO DIREITO PREVIDENCIÁRIO E A ESTRUTURA DO TEXTO SENTENÇA Alexandra Feldekircher Müller (UFRGS) Neste trabalho, objetivamos apresentar a pesquisa de mestrado desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação em Letras da UFRGS e, em especial, discutir aspectos da constituição e caracterização do texto sentença e de sua linguagem especializada. O estudo do texto sentença se mostra fundamental para nosso propósito de identificar a terminologia do Direito Previdenciário contida nas sentenças do Juizado Especial Federal Previdenciário (JEFP) para constituir um glossário. A sentença previdenciária é um texto normativo proferido pelo Juiz, visando um parecer final sobre o pedido do autor do processo – usuário do sistema jurídico, leigo ou semileigo. Apresenta como característica sua linguagem altamente especializada, com inúmeros termos técnicos não compreendidos pelos seus leitores em potencial - autores dos processos. Logo, a necessidade que os usuários do sistema da Justiça Federal têm de compreender a linguagem empregada nos processos jurídicos justifica nossa investigação. A pesquisa se fundamenta na Teoria Comunicativa da Terminologia (CABRÉ, 2001), por sua abordagem comunicativa e por centrar-se nas unidades terminológicas, considerando a dimensão textual e discursiva de ocorrência dos termos. Adotamos também

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os pressupostos da teoria do texto especializado de Hoffmann (1998) e de Ciapuscio (1997), a qual trata da possibilidade de o produtor do texto, caracterizado como especialista, reformular ou modificar um termo, para atender as dificuldades de compreensão do interlocutor. Para a constituição e manuseio do córpus - 240 sentenças previdenciárias da 4ª. Região da Justiça Federal (RS, SC e PR), nos valemos dos preceitos da Lingüística de Córpus (Sardinha, 2004). Para processamento das informações do córpus, utilizamos as ferramentas do Corpógrafo. Como primeiros resultados, destacamos a identificação da macroestrutura do texto sentença composta por três segmentos: introdução, desenvolvimento e conclusão, e a predominância e recorrência de termos sempre nas mesmas partes do texto (ex. Vistos, etc. na introdução, Decido no desenvolvimento), como elementos que caracterizam o gênero textual e a função que os termos podem exercer junto a ele. O reconhecimento da presença de mais de um grupo de terminologia jurídica no texto (Direito, Direito Previdenciário, sentença, autor do processo) e, de maneira geral, um perfil de usuário incapaz de compreender o significado dos termos, logo, do texto, acarretando em implicações legais ao se tratar de documento de valor jurídico normativo, também são importantes resultados. (484 palavras) ESTUDIO DE UNIDADES FRASEOLÓGICAS Y SUS SENTIDOS METAFÓRICOS EN DOS DICCIONARIOS BILINGÜES ESPAÑOL-PORTUGUÉS, PORTUGUÊS-ESPANHOL Ana Maria Barrera Conrad Sackl (UFSC) Las unidades fraseológicas, a pesar de siempre haber estado presentes en diccionarios bilíngües españoles y brasileños, han sido objeto de pocos estudios que analicen los criterios que rigen su inclusión en los diccionarios. La traducción de unidades fraseológicas en un contexto donde el objetivo sea provocar risa es un desafio para el traductor que, constatará si los ejemplos que constan el diccionario pueden ser aplicados en cómics. Esta investigación considera también los procesos de metaforización de los contenidos desde la perspectiva de la lingüística cognitiva, que destaca la existencia de modelos de conceptualizaciones compartidas. O VERBO PERFORMATIVO NA LINGUAGEM LEGAL Anna Maria Becker Maciel (UFRGS) O objetivo desta comunicação é apresentar um recorte de uma pesquisa em andamento cujo foco é o verbo jurídico. Neste trabalho é explorado o papel do verbo performativo na configuração da especificidade da linguagem da lei em português. O verbo performativo é priorizado, por sua importância como a palavra que expressa a ação diretiva do Direito quando considerado em sua função ordenadora da vida em sociedade, a constituição é escolhida como campo preferencial de pesquisa por sua relevância como texto de maior hierarquia no sistema jurídico. O estudo, situado na perspectiva da

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teoria dos atos de fala e da teoria semiótica do texto, desenvolve-se no quadro dos princípios fundamentais dos estudos terminológicos de tendência comunicativa e sociocognitiva, aliados aos pressupostos básicos da lingüística de corpus. Foi construído um corpus com o texto constitucional de cada um dos oito países lusófonos, Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste, membros integrantes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Com auxílio de ferramentas informatizadas, foram produzidas listas de palavras, geradas concordâncias, combinatórias e colocações com o propósito de selecionar os verbos que, no contexto constitucional, realizam ações especificas do Direito. A análise dos dados levantados mostrou que um macroato de fala é instaurado pelo verbo na fórmula da promulgação da lei e que esse ato atribui caráter performativo a outros verbos no texto, os quais, em conseqüência, dotam, com o caráter de unidades de significação especializada, as entidades que ocorrem como seu sujeito e complementos. Assim, como um pólo catalisador, esses verbos atuam na configuração da especificidade conceitual das unidades lexicais que ocorrem em sua estrutura argumental. O estudo evidencia que o verbo utilizado na linguagem legal deve ser examinado dentro do ambiente semiótico-pragmático do texto legal considerado como um evento comunicativo de um domínio temático prescritivo. UM NATURALISTA ITALIANO NO BRASIL: RADDI E OS EMPRÉSTIMOS DO LÉXICO PORTUGUÊS PARA A LÍNGUA ITALIANA Benilde Socreppa Schultz (UNIOESTE) O Brasil, pela pujança de sua fauna e flora atraiu, desde o seu descobrimento, a atenção dos europeus, interessados em conhecer as suas riquezas minerais, vegetais e animais. As primeiras descrições sobre a fauna e flora do território brasileiro foram feitas por Pero Vaz de Caminha, na sua famosa carta a El rei Don Manoel de Portugal. Nela ficou registrada não somente a beleza, mas, sobretudo, a riqueza da nossa terra. A partir dessa carta, que se difundiu por toda a Europa, teve início uma série de relatórios de viagens, escritos seja por escrivães de bordo das caravelas, seja por aventureiros ou pessoas comissionadas por mercantes italianos para comerciar os produtos de além-mar. Porém, foi com a vinda de Dom João ao Brasil e com a criação, em 1808, do Horto Botânico Real, que a pesquisa científica começou a vigorar intensamente no país. Segundo Isenburg (1989, p.13), o estímulo para a renovação da agricultura, o aproveitamento das florestas, a variedade da flora e o pouco conhecimento que se tinha até então das variedades existentes – aliados à honra de encontrar e nomear uma nova espécie – foi a mola propulsora para a vinda de cientistas de todas as partes da Europa: franceses, alemães, italianos etc. Os naturalistas italianos, ao nomear, em suas crônicas, as plantas e

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animais, além de colaborar com a história natural, davam a sua contribuição lingüística, pois, como não existia determinado termo na língua italiana, para nomear essa nova realidade, valiam-se do termo corrente no Brasil. Muitos desses empréstimos entraram a fazer parte do léxico italiano, outros circularam somente nos seus escritos. Seguramente, Giuseppe Raddi, florentino, nascido em 1770, é considerado o maior naturalista italiano a coletar e classificar espécimes das nossas florestas. Fazia parte da comitiva que em 1817 trazia ao Brasil a arquiduquesa Leopoldina da Áustria, futura esposa do Príncipe Dom Pedro I. Nos seus oito meses de permanência no Brasil, contribuiu sobremaneira para a classificação da fauna e flora brasileiras, relacionando exemplares coletados nos arredores da cidade do Rio de Janeiro. Neste trabalho, pretendemos fazer um levantamento dos empréstimos, lexicalizados ou não, registrados na obra de Raddi. AVALIAÇÃO E PROPOSTA DE CRITÉRIOS PARA IDENTIFICAÇÃO DE UNIDADES FRASEOLÓGICAS ESPECIALIZADAS: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO Sue Anne Christello Coimbra (UFRGS) Cleci Regina Bevilacqua (UFRGS) Este trabalho tem por objetivo discutir os critérios caracterizadores das unidades fraseológicas especializadas, a fim de verificar sua pertinência para identificação dessas unidades em textos de língua portuguesa. Em princípio, tais unidades podem ser definidas como combinações de dois ou mais lexemas, um dos quais é uma unidade terminológica. Neste tipo de combinatória, há uma restrição de seleção determinada pelas especificidades da área em que ocorrem. Dessa maneira, no âmbito da Gestão Ambiental, por exemplo, utilizam-se as combinatórias poluir a água e contaminar a água, mas não *contagiar a água. Para a realização deste estudo, primeiramente, fez-se um levantamento das propostas de diferentes autores, buscando identificar as propriedades que cada um atribui a essas unidades. Após, procedeu-se à análise e contraste entre as distintas propostas para, assim, chegar a um conjunto de critérios a serem aplicados para seu reconhecimento em corpora textuais. Os corpora textuais a partir dos quais se realizará o estudo serão das áreas de Gestão Ambiental e de Cardiologia. Serão utilizadas como ferramentas de apoio propostas pelo Acervo Termisul (www.ufrgs.br/termisul), tais como o gerador de N-Gramas e o concordanciador. A partir dessa aplicação, pretende-se analisar os resultados obtidos para avaliar a eficácia de tais critérios. Se necessário, serão propostos critérios complementares que auxiliem na extração dessas unidades. Pensamos que esses podem ser de ordem morfossintática e qualitativa. A justificativa deste estudo deve-se a importância da fraseologia como elemento caracterizador de textos especializados, uma vez que transmitem e representam conhecimento especializado. Nessa perspectiva, conhecê-la torna-se fundamental na redação e tradução de textos

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especializados. Assim, pretende-se que os resultados deste trabalho ofereçam um conjunto de elementos que permita caracterizar de forma mais detalhada tais unidades e que sirva de subsídio para os profissionais do texto. Este trabalho constitui-se parte do objeto de pesquisa a ser desenvolvido no âmbito do mestrado na linha de pesquisa Lexicografia e Terminologia: Relações Textuais, do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. SOLUCIONANDO DILEMAS EPISTEMOLÓGICOS E METODOLÓGICOS EM OBRA LEXICOLÓGICA DE SENTIMENTOS E EMOÇÕES Cristiane de Melo Aranda (UEM) Atuando na elaboração de Obra Lexicológica de Emoções e Sentimentos, esta autora deparou-se com um dilema próprio do fazer científico: qual o posicionamento epistemológico e o método científico mais apropriado que possibilitará o alcance dos objetivos almejados para a obra lexicológica em questão? Para responder a este dilema, quatro pressupostos foram considerados: 1) produzir uma obra lexicológica de interesse geral; 2) de abordagem científica; 3) que contribua com o desenvolvimento da inteligência emocional; 4) que alie teoria e prática, podendo, assim, ser caracterizada como obra-útil tanto para pesquisadores quanto para o público em geral. Este artigo apresenta os caminhos percorridos para a supressão do dilema e os argumentos teóricos que contribuíram para o estabelecimento do posicionamento epistemológico e metodológico, tais como: Lexicologia/Lexicografia; Terminologia/Terminografia; formalismo e funcionalismo. Apresenta ainda as categorias possíveis para a obra, e finaliza com os posicionamentos tomados. O artigo inclui o corpus desta pesquisa lexicológica de emoções e sentimentos. A RETOMADA DE UNIDADES DE SIGNIFICAÇÃO ESPECIALIZADA EM TEXTOS EM LÍNGUA PORTUGUESA E ALEMÃ Cristiane Krause Kilian (UFRGS) Este trabalho tem o objetivo de apresentar os resultados da pesquisa de doutorado que consiste em um estudo comparativo sobre o funcionamento de unidades de significação especializada formadas por um núcleo eventivo e um núcleo terminológico na área de gestão de resíduos, em textos escritos em língua alemã e portuguesa. Analisa-se o modo como essas unidades especializadas são retomadas ao longo do texto nessas duas línguas e quais conseqüências essas diferenças ou semelhanças trazem para o processo de tradução. A análise é efetuada a partir de um corpus comparável formado por textos em língua alemã e língua portuguesa extraídos de revistas especializadas e também de um corpus paralelo composto por textos nas duas direções tradutórias. Para a categorização das formas de retomada

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textual, são integrados aportes da Lingüística Textual e da Terminologia, mais especificamente abordagens sobre coesão e variação terminológica. No âmbito dos Estudos da Tradução, é proposta uma categorização das modalidades tradutórias que embasam a análise das escolhas feitas pelos tradutores. Verificaram-se algumas diferenças nos textos em relação aos mecanismos de retomada das unidades analisadas. Enquanto nos textos em língua alemã percebe-se uma tendência a usar a forma plena da unidade de significação especializada, nos textos em língua portuguesa evidencia-se uma preferência pela forma reduzida. Essas particularidades trazem conseqüências para a tradução, pois, conforme verificamos, as modalidades tradutórias não apresentam a mesma distribuição. Depois da substituição terminológica, que se mostrou a modalidade mais usada nas duas direções tradutórias, os textos traduzidos para o alemão empregam o acréscimo, enquanto, nos textos traduzidos para o português, há uma preferência pelo apagamento. A PRODUTIVIDADE DO DICIONÁRIO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA O ENSINO DO LÉXICO: UMA PROPOSTA ALÉM DO LIVRO DIDÁTICO Fernanda Quartieri dos Santos (UNISINOS) Este trabalho tem por objetivo evidenciar o dicionário como um instrumento didático capaz de oferecer informações relevantes sobre o léxico da Língua Portuguesa e de ampliar a competência lexical dos alunos. Para a realização deste estudo, investigamos de que maneira os livros didáticos de Língua Portuguesa, das séries finais do Ensino Fundamental, abordam as questões do léxico como polissemia, sinonímia, e derivação de palavras. A partir dessas análises, o intuito do trabalho é fazer proposições de uso do dicionário em sala de aula, enfatizando-o como um instrumento didático muito produtivo. A abordagem teórica utilizada é baseada nos estudos da Lexicografia Didática, juntamente com os PCNs da Língua Portuguesa e a teoria da Semântica Lexical. Fizemos a análise de aproximadamente 20 livros didáticos, 5 livros para cada série final do Ensino Fundamental. Os dicionários utilizados são aqueles considerados pelo MEC como pertencente ao tipo 3 e, em média, usamos cerca de 4 obras lexicográficas. Esta pesquisa é de extrema relevância, pois o que pretendemos mostrar é a verdadeira produtividade dos dicionários, enfatizando de que maneira essas obras podem contribuir, juntamente com os livros didáticos, para uma melhoria na aprendizagem do léxico da Língua Portuguesa, principalmente aquelas que envolvem questões semânticas. Dessa forma, exploramos as diferentes características dos dicionários, incentivando assim o professor a repensar sobre a funcionalidade das obras lexicográficas.

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DESENHO DE UM DICIONÁRIO PASSIVO INGLÊS/PORTUGUÊS PARA ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO Isabel Cristina Tedesco Selistre (UFRGS) Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio/ Língua Estrangeira Moderna em suas três versões – PCNEM (1999), PCN+ Ensino Médio (2002) e Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2006) - salientam a importância do desenvolvimento da habilidade de leitura nos estudantes do ensino médio, que amplia seu acesso ao conhecimento e possibilita a continuidade de seus estudos. Acreditamos que o uso de um dicionário bilíngüe passivo possa auxiliar, de forma bastante eficaz, no desenvolvimento de tal habilidade. No Brasil, apesar de existir uma variedade de dicionários escolares inglês/português disponíveis no mercado, não parece haver uma percepção clara sobre a função que o dicionário deve satisfazer. O objetivo da presente comunicação é apresentar os fundamentos do desenho de um dicionário passivo inglês/português que possa realmente satisfazer as necessidades do usuário escolar do ensino médio, ou seja, satisfazer as funções de recepção e de ganho léxico. Como metodologia, empregaremos os princípios da lexicografia bilíngüe para definir coerentemente os segmentos canônicos (micro, médio e macroestrutura) e os não- canônicos (outside matter: front matter, middle matter e back matter) que compõem esse instrumento lexicográfico. Embora a pesquisa esteja na sua fase inicial, é possível constatar que se carece completamente de estudos lexicométricos que permitam calcular o escopo léxico que um dicionário para tal função deva ter. A PRESENÇA DO INGLÊS NA LINGUAGEM DA MINERAÇÃO Karoll Ribeiro e Silva Ferreira (UFRGS) Este trabalho visa, a partir de um estudo exploratório de textos da área da Mineração, investigar a ocorrência de anglicismos terminológicos e descrever a natureza interna, entorno lingüístico e textual que permitem sua existência e funcionamento. Com base nos pressupostos da Teoria Comunicativa da Terminologia e nos paradigmas da Terminologia Textual, postula-se que o termo estrangeiro deve ser analisado em sua inserção no contexto, uma vez que seu valor especializado é ativado pelas condições de uso. Buscou-se apoio nos mestres dos estudos de neologia, empréstimo e estrangeirismo para explicar o anglicismo terminológico como o empréstimo inglês de uma palavra da linguagem especializada utilizada nos textos de Mineração escritos em português do Brasil e, ao mesmo tempo, para identificar os traços que os aproximam ou diferenciam, bem como as formas que se enquadram em um ou outro tipo. A pesquisa parte da observação de um corpus de artigos científicos em português brasileiro, coletados de periódicos correntes da área da Mineração, divididos em subcorpus A e subcorpus B, ambos constituídos de textos de mesma temática e entorno comunicativo, porém com um nível de especialização diferenciado. Os

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anglicismos coletados apresentam-se basicamente como unidades lingüísticas de valor especializado sem qualquer alteração morfo-fonológica e/ou unidades que conservam a base original inglesa com o acréscimo de sufixos vernáculos. Com o aplicativo WordSmith Tools, listas foram geradas para o levantamento dos anglicismos comuns aos subcorpora e para a extração de seus contextos, os quais forneceram dados, cuja análise permitiu a proposta de critérios possíveis para uma classificação dos anglicismos empregados na linguagem da Mineração, tais como: presença de tradução, definição, incorporação ortográfica vernacular, classe gramatical e concordância de gênero e número. Através desses critérios procurou-se estabelecer a representatividade dos anglicismos a partir do que foi possível observar de regular e específico de cada subcorpus. Tal investigação abre portas para estudos mais detalhados sobre o emprego dos anglicismos na Mineração que vão além de meras classificações, como a elaboração de glossários, por exemplo, muito importantes para preencher a lacuna de instrumentos de referência lingüística aos interessados na Engenharia de Minas. É importante ter em vista que tudo isso só é possível mediante o reconhecimento da relevância do intercâmbio da área de especialidade com a dos estudos da linguagem, sem o qual pouco pode ser feito no sentido de melhorar a comunicação, garantir o avanço da ciência e da técnica, a transmissão e o progresso do conhecimento. COLOCAÇÕES ESPECIALIZADAS: UMA PROPOSTA DE CONTRASTE ALEMÃO-PORTUGUÊS EM TEXTOS DE CARDIOLOGIA Leonardo Zilio (UFRGS) Este trabalho, partindo de um estudo de mestrado em andamento, tem por objetivo descrever colocações especializadas presentes em textos alemães e brasileiros para auxiliar o tradutor. O material textual sob exame é da área de Cardiologia e Doenças Cardiovasculares. Por objetivarmos descrever as colocações especializadas em contextos reais de uso, temos como aporte teórico a Lingüística de Corpus. As bases para o trabalho com textos especializados são fornecidas pela Pesquisa de Linguagens de Especialidade e pela Terminologia Textual e, tendo em vista o caráter do estudo de contrastar as línguas alemã e portuguesa, recorremos também à Lingüística Contrastiva. Dentre as propostas existentes na área da Fraseologia e da Fraseologia Especializada, optamos por mesclar observações de alguns autores, de forma a obter uma proposta satisfatória para um estudo contrastivo. Por colocação especializada entendemos uma associação sintagmática entre um composto nominal, formado por dois ou mais substantivos, e outra unidade lingüística representada por um verbo ou um elemento deverbal (adjetivo ou substantivo). Para reconhecermos uma associação como colocação especializada, observamos a freqüência, a distribuição no corpus e o contraste entre os candidatos fraseológicos nas duas línguas. O corpus comparável bilíngüe utilizado no estudo contém

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2.817.567 tokens e é constituído por 493 papers em alemão e 490 papers em português. Partimos sempre do alemão para o português, visando a emular um processo que poderia ser empregado pelo tradutor na busca por equivalências. Os passos seguidos foram: seleção dos compostos nominais mais freqüentes no corpus em alemão, através da ferramenta Wordlist do WordSmith Tools 3.0; análise da ocorrência desses compostos nominais junto a verbos e/ou deverbais; estabelecimento, no contraste com o corpus em português, de equivalências para os compostos nominais; análise da ocorrência elementos fraseológicos associados aos equivalentes em português; e contraste dos contextos fraseológicos em alemão com os contextos fraseológicos em português para confirmação das colocações especializadas e das equivalências fraseológicas. Escolhemos compostos nominais como ponto de partida por eles representarem um problema para o tradutor, pois apresentam mais de uma possibilidade de tradução. Como exemplo de equivalência fraseológica, mencionamos Herzkatheteruntersuchung wurde durchgeführt e cateterismo cardíaco foi realizado. As equivalências fraseológicas obtidas parecem relevantes não somente para o tradutor, que seria auxiliado em sua árdua tarefa de produzir textos que não causem um estranhamento ao leitor, mas também para os estudos de Fraseologia Especializada, por mostrar mais um enfoque possível no reconhecimento dessas unidades tão complexas que são as colocações. (470 palavras) NÃO INFORMOU TITULAÇÃO NEM ENDEREÇO A DESCRIÇÃO DA LÍNGUA ALEMÃ EM USO: AS COMBINATÓRIAS TEXTUAIS A PARTIR DOS COMPOSTOS NOMINAIS Luciane Leipnitz (UFRGS) A pesquisa busca as combinatórias textuais junto aos compostos nominais alemães através da exploração de corpora de textos, de modo a chamar a atenção do aprendiz de tradução ao funcionamento sintagmático da língua alemã. A Lingüística de Corpus se constitui como apoio fundamental, tendo em vista a observação da língua alemã em contextos reais de uso. Trata-se igualmente de uma pesquisa de Terminologia Textual, visto que observa os termos, os compostos nominais alemães, em seus ambientes de produção, os textos de diferentes áreas do conhecimento. Ao reconhecer segmentos textuais a partir dos compostos nominais alemães, faz-se um estudo das combinatórias de palavras, para identificar os modos de constituição de tais unidades, as partes que as constituem e as dificuldades do aprendiz de uma língua estrangeira com relação a tais formações. Os compostos nominais provenientes de textos médicos e jurídicos são utilizados como palavras de busca para o levantamento de segmentos co-ocorrentes. A observação de tais segmentos aponta as formas verbais como elementos-chave na formação de combinatórias textuais. Utilizam-se então os verbos como palavras de busca para o levantamento de novas composições nominais vinculadas às áreas do conhecimento escolhidas – Medicina e Direito. A observação das formas

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verbais aponta um número significativo de verbos prefixados o que conduz a uma análise mais aprofundada desses verbos e dos prefixos que os constituem. Uma categorização quanto aos modos de ação ligados aos prefixos dos verbos permite uma associação entre as combinatórias e os gêneros textuais nos quais se inserem. O levantamento de evidências empíricas de tais combinatórias permite a descrição e a categorização dessas unidades em língua alemã. Os resultados disponibilizam conhecimentos úteis ao ensino/aprendizagem de tradução da língua alemã, apontando que a conscientização por parte do aprendiz sobre a sintagmatização da língua alemã a partir dos compostos nominais é peça fundamental para a qualificação de sua competência tradutória. Os compostos nominais alemães apresentam-se como núcleos terminológicos que selecionam formas verbais específicas, diretamente relacionadas à área do conhecimento. A aproximação a esses segmentos textuais visa igualmente capacitar o aprendiz de tradução ao trabalho com textos de âmbitos de maior especialização, a partir da compreensão de que essas relações sintagmáticas se efetivam igualmente em textos técnico-científicos, desmistificando a concepção de que tais textos seriam exclusivamente constituídos por terminologias, o que dificultaria seu processo tradutório. POLISSEMIA E PRODUTIVIDADE LEXICAL DO PREFIXO DES- AS MÚLTIPLAS FACETAS SEMÂNTICAS DE UM MORFEMA PRESENTE Luizane Schneider (UNIOESTE) Este trabalho tem por objetivos investigar o grau de produtividade lexical do prefixo des-, bem como as alterações semânticas por ele provocadas ao se antepor às palavras que o admitem como prefixo. Para tanto, são considerados textos do jornal on-line Observatório da Imprensa como objeto de análise, já que se refere a um ambiente lingüístico de credibilidade e situado num viés sincrônico. Para essa discussão, são considerados os valores semânticos atribuídos ao prefixo pelas gramáticas tradicionais e a grande fragilidade das mesmas ao abordar essa questão. Assim, essa pesquisa insere-se na área de Lexicologia no momento em que investiga a produtividade lexical do prefixo des-, um simples elemento lingüístico capaz de produzir inúmeros vocábulos com diferentes acepções semânticas na língua. Dessa forma, ao se ter em mãos apenas a parte morfológica para análise, qualquer pesquisa nessa área torna-se pobre e restrita. Devido a esse fato busca-se, nesse artigo, englobar outras correntes da Lingüística como a semântica, por exemplo, que trata de questões de polissemia relacionadas ao prefixo em questão. Recorre-se à teoria morfológica a partir de Basílio (1980 e 1991) e Rocha (1998) que trabalham com questões de produtividade lexical, estrutura morfológica, morfema, léxico e, principalmente, aborda-se a teoria semântica por meio de autores como Lyons (1997), Ullmann (1964) e Tamba-Mècz (2006) que tratam acerca de polissemia, homonímia, importância da polissemia no ambiente das línguas naturais. Conforme

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Ullmann (1964) a polissemia já foi considerada por Aristóteles um defeito na linguagem pois corria-se o risco de causar mal-entendidos na comunicação. Porém, com o passar dos tempos e com mais pesquisas nessa área, a polissemia é considerada uma virtude no ambiente das línguas, uma vez que revela o crescimento intelectual e social de um povo. Assim, percebe-se na polissemia a riqueza lingüística de um povo. Nesse sentido, é que se pretende estudar o prefixo des-, i.e., a partir de um viés polissêmico e, ao mesmo tempo, inserido no contexto lexicológico, porque ele se revela um elemento que o falante dispõe para formar antônimos, dar a idéia de intensidade, aumento, ação contrária, positividade além de outras facetas semânticas.Também, para esse artigo, entende-se a produtividade lexical não enquanto elemento de quantidade, ou seja, o número de palavras não importa, mas sim, a multiciplidade de sentidos que o des- atribui às palavras com as quais se adjunge. HIPERONÍMIA E SINONÍMIA NO SISTEMA E NO DISCURSO Márcia Sipavicius Seide (UNIOESTE) Nesta comunicação, algumas reflexões são feitas sobre a sinomínia e a hiperonímia no sistema e no discurso tendo-se por base uma pesquisa piloto sobre o uso de recursos coesivos lexicais em revistas de circulação nacional (Época, Veja e Isto é ). Enquanto o estudo destas relações de sentido entre palavras no nível sistêmico faz parte, tradicionalmente, do escopo da Lexicologia, a investigação de como sinônimos, hiperônimos e hipônimos são utilizados em textos tem sido feita pela Lingüística Textual. Os resultados obtidos na pesquisa apontam para algumas questões sobre a segmentação das unidades lingüísticas postas em relação de coesão ao longo do texto e a relação sistema - uso. De um lado, a distinção entre sinonímia e paráfrase segundo a unidade lingüística utilizada não são operacionais quando se estudam fenômenos textuais, devendo ser estabelecidos outros critérios para se delimitarem os segmentos a serem considerados para análise. De outro, no nível sistêmico, a hiperonímia implica uma relação de inclusão entre palavras; não obstante, quando um hiperônimo é utilizado como mecanismo de coesão de um texto em relação anafórica, o que se estabelece é uma relação de equivalência. Têm-se, então, dois usos diferenciados: hiperonímia propriamente dita (quando o hiperônimo é utilizado como tal, em geral em relação catafórica) e hiperônimo a funcionar como um sinônimo textual, fenômeno parcialmente estudado por Antunes (2005) como sendo um caso caracterização situacional (2005), mas ainda não classificado ou caracterizado de modo sistemático.

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ASPECTOS MORFOSSINTÁTICOS E COMPUTACIONAIS DA SEQÜÊNCIA DEPOIS QUE: UMA ABORDAGEM DE BASE EM CORPUS Marco Rocha (UFSC) A comunicação apresenta um estudo de base em corpus da seqüência depois que, tendo em vista o aperfeiçoamento de um sistema capaz de analisar textos em português e atribuir uma categoria morfossintática a cada uma das palavras e expressões multipalavra do texto em questão, através de uma etiqueta codificadora selecionada dentre um conjunto de etiquetas previamente definido segundo critérios lingüísticos. A análise de corpus teve como base uma amostra de 1864 ocorrências da seqüência depois que extraídas da versão etiquetada do Corpus NILC. A investigação incluiu também outras amostras menores extraídas da Web através de ferramentas de busca como a Webcorp, a fim de verificar aspectos específicos de fenômenos de coocorrência detectados na análise da primeira amostra. O foco da análise é a delimitação de parâmetros que permitam distinguir com segurança as ocorrências da seqüência depois que em que a etiquetação linguisticamente adequada é a expressão multipalavra, uma locução conjuntiva (etiqueta LC) subordinativa adverbial temporal, daquelas em que as categorias morfossintáticas apropriadas são advérbio de tempo (etiqueta ADV) + conjunção integrante (etiqueta KS), onde o item lexical depois é um modificador do verbo, independente da conjunção integrante que o segue, cuja função é introduzir uma oração subordinada objetiva direta que serve de objeto do verbo. No primeiro caso, temos sentenças como: O caso ganhou as páginas dos jornais depois que_LC grupos ecologistas fizeram pressão sobre o governo da Lombardia. No segundo caso, estão sentenças como: Os trabalhadores são recrutados em áreas afetadas por seca ou desemprego e levados para trabalhar a centenas de quilômetros de suas casas, tendo depois_ADV que_KS pagar aos empregadores transporte, alimentação, hospedagem e ferramentas. Além da versão automaticamente etiquetada do Corpus NILC, foram discutidas também as soluções do LACIOWEB MACMORPHO, corpus também compilado pelo NILC cuja etiquetação foi revisada manualmente, e os resultados de etiquetadores de categorias morfossintáticas do CEPRIL e da XEROX. A pesquisa conclui com a definição de padrões de coocorrência relacionados a cada uma das alternativas de análise, baseados numa tipologia dos verbos das orações principais e suas relações com seus objetos diretos nominais ou oracionais, a fim de permitir o reconhecimento automático da distinção apontada acima. Espera-se que estes padrões, se integrados ao léxico computacional, contribuam para o aperfeiçoamento do processo de etiquetação de categorias morfossintáticas em sistemas computacionais no âmbito de aplicações em tecnologia das línguas humanas.

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POR QUE LEXICOGRAFIA E TERMINOLOGIA: RELAÇÕES TEXTUAIS? Maria da Graça Krieger (UNISINOS) Nesta exposição, viso a tratar de Lexicografia e Terminologia como duas áreas que integram as Ciências do Léxico, mas que explicam melhor seus objetos específicos ao estabelecerem relações com conceitos de teorias de texto e de discurso. Tal perspectiva fundamenta-se na teoria semiótica francesa que, no eixo da Lexicografia, leva a entender e analisar o dicionário como um objeto produtor e não reprodutor de significação. No eixo da Terminologia, a mesma teoria semiótica, por tratar de questões de produção de significação, permite compreender as condições de gênese das terminologias e das fraseologias no âmbito dos distintos universos de discurso do saber especializado. Dessa forma, ilustro e justifico o ponto de vista fundador da área de estudos a que dei início no âmbito do PPG –Letras, UFRGS: Lexicografia e Terminologia: relações textuais. Ao mesmo tempo, procuro traçar um rápido panorama do percurso de investigação da área, referindo a produtividade de pesquisas sustentadas pelas relações léxico/texto. Assim , este trabalho tem uma dupla proposição: justificar a razão de adoção do princípio textual para desenvolver estudos de Lexicografia e de Terminologia, bem como redimensionar a história inaugural desses estudos no Programa de Pós-Graduação da UFRGS e nos produtos do Projeto TERMISUL. A TERMINOLOGIA EMPREGADA PELA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO RS Maria Izabel Plath da Costa (UFRGS) A Polícia Civil do RS (PC/RS), como área especializada, emprega uma terminologia na sua comunicação, que até agora não foi organizada, inventariada ou explicada. Não existe um dicionário ou glossário que dê conta de explicar os termos empregados na comunicação da PC/RS. Esse cenário comunicativo envolve diferentes competências lingüísticas, pois nem todos os policiais, a exceção dos delegados, têm formação jurídica. O registro de ocorrência policial, documento que desencadeia a investigação, forma uma via de mão dupla: de um lado estão os cidadãos comuns que fornecem os dados para o registro da ocorrência e, do outro, os destinatários dos textos produzidos pela Polícia Judiciária, que são os próprios policiais, advogados, promotores, juízes e o cidadão comum, que acorre a um órgão policial para registrar a ocorrência. Nem todos os policiais da PC/RS são gaúchos, alguns vêm de outros Estados do Brasil para prestar concurso no RS, por isso deve-se ter atenção especial às peculiaridades regionais dessa comunicação, já que alguns termos são específicos da nossa polícia, a exemplo de furto chuca, furto descuido, furto mão grande e furto punga, que designam o modus operandi do crime de furto. Não existe definição, com base em teorias terminológicas, para esses termos, por isso o entendimento

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entre os policiais sobre tais termos é controverso e embasado no conhecimento empírico de cada um. Encontramos uma anotação com 16 definições dos modus operandi do crime de furto, efetuadas por um policial em meados de 1940, com a justificativa de que reúne modos os de atuação mais utilizados e, nessa anotação figuram os quatro modos que citamos. Na pesquisa procedemos a um recorte na terminologia policial e trabalhamos com os termos furto chuca, furto descuido, furto mão grande e furto punga. .Com base na TCT, os objetivos da pesquisa são: reconhecer como termo esses quatro modus operandi; sistematizar a terminologia estudada através da elaboração de mapas conceituais, com base no registro dessas 16 definições elaboradas por um policial; estabelecer critérios para a seleção de um corpus; selecionar um corpus composto de textos policiais de ocorrências registradas acerca desses quatro modus operandi do crime de furto; constatar se os registros das definições correspondem ao emprego desses termos na linguagem policial escrita, com base nos registros de ocorrências policiais que tratam desses quatro modus operandi; adotar parâmetros de definição para os quatro termos do modus operandi de furto e apresentar uma proposta de definição para os termos analisados. VARIAÇÃO TERMINOLÓGICA NO PORTUGUÊS DO BRASIL: EXEMPLOS DO CONTEXTO DA ECONOMIA MONETÁRIA Odair Luiz Nadin Da Silva (Universidade Estadual de Maringá) O fenômeno da variação em terminologia, assim como o termo e a definição, também era abordado a partir de diferentes posturas teóricas. Inicialmente, os teóricos da Terminologia, sobretudo Wüster e seus discípulos, não admitiam qualquer tipo de variação terminológica. Consideravam-na inerente à língua natural e, como não se considerava a “língua de especialidade” como uma língua natural, esta não poderia possuir tal fenômeno lingüístico. Essa concepção foi o resultado da adoção de princípios teóricos rígidos que defendiam, entre outras coisas, fronteiras claras e bem delimitadas entre a Lexicologia e a Terminologia. A Lexicologia encarregada de estudar o léxico da língua comum, com todas as deformações que pudessem incorrer nele. A Terminologia, por sua vez, era a responsável pela descrição e análise do termo que, por não pertencer à língua natural, era uniforme, não possuía variação de qualquer tipo - temporal, histórica, social, regional - bem como isento de qualquer marca ideológica. Partia-se, portanto, de uma língua supostamente ideal e homogênea cujo objetivo era a padronização da comunicação especializada. A partir dos anos 80 (sobretudo na década de 90), no entanto, com as reavaliações da TGT o fenômeno da variação terminológica começou a receber a devida atenção. Assim, neste texto, dedicaremo-nos à problemática da variação em terminologia. Descreveremos e analisaremos exemplos de ocorrências de variação terminológica no âmbito da Economia Monetária bem como algumas possíveis motivações desse fenômeno. Demonstraremos e

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analisaremos contextos extraídos de corpus textual, a fim de refletir sobre a manifestação de variação terminologia em contextos reais de uso. A INFLUÊNCIA DE N-GRAMAS PADRONIZADOS COM BASE EM EXIGÊNCIAS NORMATIVAS NA CARACTERIZAÇÃO DA MODALIZAÇÃO EM BULAS Regina Márcia Gerber (UFSC) O objetivo deste trabalho é demonstrar que a modalização, nas bulas de medicamentos brasileiras, sofrem grande influência da legislação imposta pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Para atingir tal objetivo, parti da análise dos n-gramas padronizados com base em exigências desta legislação. O estudo se baseia, principalmente, na especificação dos itens lexicais típicos, distintivos ou mais característicos deste tipo textual, explicitando, desta maneira, de que modo a linguagem das bulas difere da de outros tipos textuais. Esta explicitação de diferenças requer a comparação de corpus de estudo de bulas de medicamentos com corpus de referência. O corpus de estudo é constituído de 415 textos de bulas de medicamentos brasileiras, contendo 2.288.993 tokens em português direcionado aos pacientes e aos profissionais da saúde. O corpus de referência é o do NILC, contendo 37.294.140 tokens em português. Todos os textos dos corpora mencionados são arquivos legíveis em meio eletrônico. A metodologia usada no estudo faz uso de princípios da Lingüística de Corpus, Lingüística Computacional e Estatística. A comparação dos corpora de estudo com de referência depende da identificação de diferenças estatisticamente significativas na freqüência relativa dos itens lexicais, determinando, assim, quais itens são palavras-chave dentro das bulas de medicamentos brasileiras. Os resultados mostraram que nas bulas há ocorrência tanto de modalidade deôntica quanto epistêmica. Além disso, que a legislação brasileira, por meio da Portaria nº. 140 da ANVISA, influencia na elaboração deste tipo de texto e, consequentemente, no tipo de modalidade ali existente, seja ela deôntica ou epistêmica. As normas impostas por esta legislação permitem que as bulas sejam caracterizadas pela presença de grandes grupos de palavras adjacentes, como, por exemplo, dondecagramas, decagramas, heptagramas, hexagramas, pentagramas, quadrigramas, dentre outros. PROPOSTAS PARA O TRATAMENTO DAS COLOCAÇÕES SUBSTANTIVO + ADJETIVO EM DICIONÁRIOS ATIVOS PORTUGUÊS-ESPANHOL: ASPECTOS MACRO E MICROESTRUTURAIS Renata Beneduzi (UFRGS) As colocações correspondem a combinações léxicas idiossincráticas, ou seja, particulares a cada idioma, o que as torna uma grande dificuldade para os aprendizes de uma língua estrangeira no momento da produção de textos.

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Em decorrência desse fato, consideramos que a inclusão dessas combinações seja fundamental em dicionários bilíngües, os quais, além de serem os mais consultados pelos estudantes, ressaltam as divergências existentes entre os idiomas contrastados. O objetivo de nosso trabalho é proporcionar um tratamento lexicográfico mais apropriado para as colocações formadas por substantivos e adjetivos, tendo em vista as diferentes formas possíveis de sua apresentação no que diz respeito à macro e à microestrutura. Nossa metodologia consistiu em identificar as principais variáveis que condicionam a elaboração de qualquer dicionário bilíngüe, quais sejam: (a) línguas envolvidas; (b) função do dicionário e (c) necessidades do usuário. A partir disso, foi possível delimitar (a) os idiomas português e espanhol, correspondendo, respectivamente, às línguas de partida e de chegada de nossa proposta de dicionário bilíngüe, (b) a função ativa da obra, auxiliando no processo de produção textual, e (c) dois grupos distintos de usuários: por um lado, um estudante com um nível de conhecimento básico da língua estrangeira e, por outro, um usuário de nível avançado, os quais foram identificados através das diretrizes propostas pelo “Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas: aprendizagem, ensino, avaliação”. Como resultado de nossa pesquisa, percebemos que as colocações devem ser incluídas de forma diferenciada nos dicionários, conforme sejam destinadas a um usuário de nível mais básico ou mais avançado. Para os primeiros, no plano macroestrutural, é necessário oferecer combinações que apresentem um caráter mais simples e usual, incluídas sob a entrada da base em uma microestrutura integrada. Já para os usuários mais avançados, a macroestrutura conta com colocações que apresentam um vocabulário mais específico, sendo incluídas também sob a entrada da base, mas em uma microestrutura semi-integrada. Ao fim de nosso trabalho, foi possível concluir que a delimitação de um perfil de usuário, bem como da função do dicionário, constituem etapas fundamentais para o tratamento lexicográfico das colocações, visto que tais fatores são responsáveis por orientar toda a elaboração da obra. A partir do reconhecimento das necessidades do público-alvo e da função específica que um dicionário que pretende incluir colocações deve desempenhar, a saber, auxiliar na produção de textos, entendemos ir ao encontro das dificuldades enfrentadas pelos estudantes na aprendizagem dessas combinações léxicas. (479 palavras) EQUIVALÊNCIAS TRADUTÓRIAS LACANIANAS Patrícia Chittoni Ramos Reuillard (UFRGS) Esta comunicação tem o objetivo de apresentar a análise e a classificação de 298 neologismos lacanianos – recolhidos de um corpus formado pelos vinte e cinco Seminários de Jacques Lacan –, empreendidas em nossa tese de doutoramento, assim como compartilhar os primeiros resultados da busca de equivalentes. Tendo em vista que os neologismos criados por Jacques Lacan ainda não receberam um tratamento sistematizado por parte da comunidade lingüística ou psicanalítica brasileira, analisamos sua constituição em francês

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e propusemos uma nova classificação para essas inovações lexicais, a fim de lhes oferecer princípios de equivalência, a que denominamos neologia tradutória lacaniana. Classificamos então os neologismos lacanianos de acordo com critérios formais (derivação, palavras-valise, composição, criação por associação, empréstimo, decalque, semântico e lexicalização de nome próprio) e funcionais (funções denominativa, estilística, analógica, de adequação, de terminologização e de desterminologização). Buscamos fundamento nos estudos de neologia, de tradução, de neologia tradutória e em reflexões sobre a construção do discurso psicanalítico lacaniano. A imbricação entre tradução, terminologia e lexicografia permitiu o estabelecimento da proposta de princípios de neologia tradutória lacaniana, ora aplicada aos neologismos elencados: a) primeiro princípio: ao significante deve ser atribuída uma importância equivalente à do significado; por conseguinte, o tradutor deverá não apenas restituir o significado, mas também produzir um significante que considere a forma e a função do neologismo original; b) segundo princípio: complementa o primeiro e estabelece que a busca dessa equivalência que leva em conta também o significante não pode ignorar o significado; c) terceiro princípio: respeito às matrizes terminogênicas da psicanálise lacaniana. O resultado da aplicação desses princípios é submetido à validação por especialistas em psicanálise de orientação lacaniana, franceses e brasileiros. Pretende-se, com este trabalho, propor um glossário bilíngüe francês-português de neologismos lacanianos. RELAÇÕES ASSOCIATIVAS: UM ESTUDO DE TERMOS DESIGNATIVOS DE ESTADOS AFETIVOS SUSCITADOS PELA CONSCIÊNCIA DO PERIGO Sabrina Abreu (UFRGS) Este trabalho objetiva contribuir com reflexões acerca do fazer terminográfico. Para tanto, tecerei considerações sobre a organização do conteúdo lexical dos termos, a partir de relações de sentido que eles estabelecem uns com os outros e que se manifestam através das denominadas relações semânticas (ou associativas). Essas relações se organizam essencialmente através fenômenos conhecidos como sinonímia, hiponímia e antonímia. Neste trabalho, tratarei das duas primeiras e de uma terceira, a relação de meronímia, que evidencia propriedades denotacionais de um termo. Basicamente, essas associações partem das relações que se estabelecem entre termos que: a) podem ser substituídos em contextos idênticos sem alteração do sentido literal (sinonímia: entendida como associação imediata entre referentes de classes similares); b) deixam explícita a subordinação de uma espécie ao seu gênero (hiponímia: associação entre espécie e classe); e c) denotam a parte constitutiva de outro (meronímia: associação entre o constituinte de uma entidade referencial e a própria entidade). De forma ainda preliminar, procurarei mostrar que, para o estabelecimento das entradas lexicais, das definições e da remissão a termos sinônimos, podemos nos valer das inter-relações dos significados [afins],

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[constituinte de] e [parte-todo]. Para fins de exemplificação, estarão em evidência termos do campo semântico da Psicologia que qualificam estados afetivos suscitados pela consciência do perigo; em especial, medo, temor, receio e apreensão. Em síntese, este trabalho objetiva: a) revisitar certas relações associativas (sinonímia, hiponímia e meronímia) na perspectiva dos estudos terminológicos; e b) analisar termos do domínio da Psicologia no que atine às relações associativas que serão revisitadas. OS SUFIXOS VERBALIZADORES –EAR E -EJAR Solange Mendes Oliveira (UFSC) Neste estudo, descrevem-se e analisam-se as peculiaridades dos sufixos verbalizadores –ear e –ejar, com o objetivo de formalizar o conjunto de restrições e propriedades que devem ter as bases a que os afixos em questão se adjungem. A adjunção dos sufixos –ear e –ejar às bases nominais forma verbos derivados, como golpear, bombardear, gotejar, lacrimejar etc.; entretanto, esta adjunção não ocorre de forma aleatória, pois temos, por exemplo, esfaquear, e não *esfaquejar, assim como gaguejar, e não *gaguear. Sendo assim, explora-se a hipótese de que nas formações derivadas há restrições de cunho semântico-aspectual impostas pelas raízes aos afixos, que vão permitir ora a adjunção da base nominal ao sufixo verbalizador –ear, ora ao sufixo verbalizador –ejar. Para descrever e analisar as formações derivadas, este estudo fundamenta-se no arcabouço teórico da Morfologia Distribuída (Halle e Marantz 1993; Marantz 1996, 1997; Halle 2000; Embick 2000; Embick e Noyer 2004, Arad 1998). Os dados que constituem o corpus foram coletados em fontes diversas, como: a) Dicionário Novo Aurélio (1999) e Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001); b) jornais e revistas de grande circulação, como Folha de S. Paulo, O Estado de São Paulo e revista Veja. Para esclarecer o procedimento metodológico, as palavras são analisadas sob o ponto de vista sincrônico. TRATAMENTO DADO AS UNIDADES LEXICAIS PECADO, PECADOR E PECADORA EM DICIONÁRIOS DE LÍNGUA PORTUGUESA Vilma de Fátima Soares (FFLCH/USP) Este trabalho foi apresentado como conclusão da disciplina “Lexicologia, Lexicografia, Terminologia: Teorias e Práticas”, ministrada pela Profa. Dra. Maria Aparecida Barbosa, FFLCH/USP-2007, e faz parte de um projeto de dissertação de mestrado que visa o estudo terminológico para educação ambiental, no que concerne a responsabilidade do lexicógrafo e/ou terminógrafo na organização dos dados, no registro das informações e na elaboração das definições. Partimos da premissa de que o dicionário monolingüe é um depósito da memória social sintetizada em vocábulos e em significados que, segundo

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Lara (1997), é concebido, pela comunidade lingüística, como verdadeiro e, muitas vezes, inquestionável. Segundo Jean Claude Boulanger (1996), l’ idéologie des fabricants de dictionaires n’ est pas inoffensive [...] La morale sociale devient de plus souvent la voix de la conscience du lexicographe. Esta afirmação nos chama a atenção para a inquestionabilidade dos registros em dicionários, e aponta para a responsabilidade do lexicógrafo que, com sua ideologia, recebe e exerce influência na transmissão das informações, podendo distorcer a realidade, ser-lhe fiel, ou apreendê-la de um ponto específico. Nesta perspectiva, procuramos constatar por meio da análise da microestrutura dos verbetes relativos às unidades lexicais pecado, pecador e pecadora, como o dicionário de língua portuguesa reflete elementos ideológicos de uma determinada época e, por vezes, do lexicógrafo. Estabelecemos para corpus de análise os seguintes dicionários: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001); Dicionário Contemporâneo de Língua Portuguesa de Caldas Aulete (1881); Grande Diccionario Portuguez ou Thesouro da Língua Portuguesa de Frei Domingos Vieira (1871); inserimos, mesmo sendo bilíngüe, o Vocabulario Portuguez e Latino de Raphael Bluteau (1712). Foram usados para confirmações e comparações de dados e datas o Novo Dicionário da Bíblia (1986); e os dicionários etimológicos Corominas (1957) e Cunha (1982). Para embasarmos teoricamente nossos argumentos, utilizamos, principalmente, os estudos de Barbosa (1990-2007) e Alves (1990), as colocações de Lara (1997); Jean-Claude Boulanger (1996) e as análises críticas de Biderman (2003) em seu artigo Dicionários do Português: Da Tradição à Contemporaneidade. Nos pautamos, também, nos estudos de Cabré (1993), em Terminologia Y ciencia cognitiva: Formación de Conceptos, e em Bakhtin (1992), para tratarmos da ideologia. Analisando comparativamente as entradas nos dicionários selecionados, observamos que não são neutros, isto é, nas definições, abonações, marcas de uso, remissivas, há a presença de elementos ideológicos, que retratam as diferentes gerações. A ideologia trazida por essas obras reflete, além do momento histórico, a postura do lexicógrafo, a representação do pensamento da classe dominante de uma época. Fica aqui uma questão: o lexicógrafo, ou terminógrafo, é ciente de sua responsabilidade na transmissão de informações e busca pela neutralidade? (511 palavras) AVANÇOS NO DESENHO DE UM DICIONÁRIO ESCOLAR DE LÍNGUA PORTUGUESA Virginia Sita Farias (UFRGS) Nos últimos anos, a preocupação com os dicionários, em especial no âmbito da chamada lexicografia pedagógica, aumentou consideravelmente. Essa preocupação, por sua vez, repercute tanto no que concerne à produção de obras lexicográficas, quanto no que concerne à própria reflexão acerca do fazer dicionarístico. O objetivo desta comunicação é apresentar os avanços na concepção de um dicionário escolar para o ensino fundamental. Para

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tanto, além de definir tipologicamente o dicionário, foi necessário avaliar as competências lingüísticas exigidas do aluno do ensino fundamental. Nossa metodologia consistiu, pois, em atrelar a definição tipológica proposta ao perfil de usuário gerado, buscando que o cruzamento desses dois fatores refletisse nos componentes canônicos da obra: macroestrutura, microestrutura, medioestrutura e partes introdutórias. O princípio fundamental observado nessa transposição foi o de que todas as informações devem corresponder rigorosamente a fatos de norma, ao mesmo tempo em que possam ser usadas pelos alunos no aprimoramento de sua competência lingüística. A aplicação da metodologia descrita acima tem garantido resultados satisfatórios na concepção dos componentes canônicos do dicionário escolar. O desenho da macroestrutura já foi completamente concluído. Inicialmente, propusemos distinguir entre definição macroestrutural quantitativa e qualitativa. No âmbito da definição quantitativa, procurou-se determinar a densidade da nomenclatura desejável em um dicionário escolar. No entanto, a discussão dos problemas metodológicos envolvidos no processo de reconhecimento e imputação diassistêmica de regionalismos e neologismos, por exemplo, levou-nos a concluir que ainda não há uma resposta definitiva para essa questão, sendo possível apresentar somente uma estimativa da porcentagem de lexemas desusados ou de baixa freqüência que deveriam ser eliminados dos dicionários escolares. No âmbito da definição qualitativa, por sua vez, determinamos os tipos de unidades léxicas que devem conformar a nomenclatura, discutimos a apresentação dos types e tokens, decidimos por uma solução polissêmica em detrimento de uma solução homonímica para os casos de homonímia e apresentamos uma proposta para o arranjo das entradas. Neste momento, estamos iniciando a definição microestrutural do dicionário escolar. Para tanto, observamos o princípio de que o programa constante de informações deve obedecer a uma divisão rigorosa entre: 1) comentário de forma e comentário semântico, e 2) função de recepção e função de produção. De posse dos resultados obtidos até agora, já é possível concluir que a definição tipológica e a delimitação do perfil do usuário são pressupostos básicos para conceber um dicionário escolar de qualidade superior aos disponíveis hoje no mercado. TURPILÓQUIO – O LÉXICO DO FALAR TORPE NA LINGUAGEM ORAL DA REGIÃO DE COLONIZAÇÃO ITALIANA DO NORDESTE DO RIO GRANDE DO SUL (RCI) Vitalina Maria Frosi (UCS) Carmen Maria Faggion (UCS/CARVI) Giselle Olivia Mantovani Dal Corno (UCS) Com o objetivo de estudar o turpilóquio como expressão étnica e elemento cultural ítalo-brasileiro, o Projeto Turpilóquio (sob a coordenação da profa. Dra. Vitalina Frosi – DELE/UCS) pretende identificar, no contexto da RCI, qual é o sistema usado na produção do falar torpe, prevendo uma

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sistematização das diversas formas de insulto e desafogo. Através de entrevistas semi-estruturadas que preservam a identidade do falante, a investigação pretende escolher sujeitos que tenham histórico de vida na RCI, considerando as variáveis da faixa etária e do gênero. Após transcrever as gravações e confrontá-las com os dados obtidos por oitiva, haverá seleção e agrupamento dos dados por categorias e por esferas de significados, até chegarmos à descrição e explicação do léxico do falar torpe. O estudo de autores como Benveniste (1989), Tomás de Aquino (1980), Härin (1960), Hughes (1991) e Garrioch (1997) mostra a necessidade de se estabelecer precisão terminológica, definindo em português os âmbitos de significação do palavrão, da blasfêmia, da imprecação, do insulto, do tabu. O estudo da obra de Tartamella (2006) evidencia a necessidade de aprofundar análise de elementos culturais e contextuais na própria identificação do turpilóquio, e mostra a diversidade de empregos da linguagem torpe conforme o estado emocional do falante. Tartamella (2006) aponta também para a história, anotando exemplos claros do uso do palavrão, por ele considerado um passo a mais no rumo da civilização, pois a agressão com palavras substituiu a agressão com paus e pedras (TARTAMELLA, 2006, cap. 1). Enquanto as entrevistas são efetuadas, a análise da utilização de linguagem torpe em ruínas antigas de Pompéia e Óstia revela longínquos ancestrais de palavrões itálicos. Revela também uma maneira de ver o mundo, que parece ter encontrado mais tarde, na moral cristã, um novo alvo para ofensas, na expressão da raiva, da insatisfação e do medo. Há marcas desse percurso nos palavrões empregados hoje na RCI. LÉXICO E GÊNERO: UMA RELAÇÃO FUNDAMENTAL Sílvia Mara de Melo (UNESP)

Propomos examinar o conjunto lexical presente nos autos de instituições jurídicas, as quais são representadas por promotores, advogados e juízes. O emprego de unidades léxicas do cenário jurídico é alvo hoje de controvérsia no que diz respeito ao “juridiquês”. Tanto magistrados quanto os não iniciados nas práticas jurídicas demonstram suas inquietações em relação ao léxico erudito em processos judiciais. Entendemos que o emprego de um conjunto lexical em que figuram expressões em latim, palavras arcaicas e eruditas possam ser compreendidas à luz de uma abordagem tanto do gênero quanto do discurso. Partimos do pressuposto de que o gênero impõe uma determinada maneira de se escrever e de se expressar. A escolha lexical que um sujeito faz ao elaborar um enunciado está relacionada à coerção do gênero. Desse modo, acreditamos que as unidades lexicais que figuram nas petições estão submetidas a esse tipo de coerção. A discussão em relação ao gênero é hoje bastante calorosa, e há, entre várias vertentes lingüísticas, autores que abordam a problemática sob diferentes óticas. Tomamos os dizeres de Bakhtin e de Maingueneau no que se refere ao gênero, pois ambos levam em consideração os aspectos da língua na sua relação com atividades sociais e institucionais envolvendo o indivíduo. Não estamos propondo um

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casamento entre as teorias de Bakhtin e de Maingueneau, pois sabemos que fazem parte de círculos lingüísticos diferentes. No entanto, o que eles têm a dizer sobre gênero vai ao encontro do que propomos examinar no léxico. Tendo em vista que o conjunto lexical que nos chama a atenção nas petições é bastante vasto, iremos aqui delimitá-lo. São objeto deste trabalho apenas os enunciados em que figura a unidade lexical diapasão. Essa palavra foi escolhida por figurar nos autos de todos os enunciadores, e por ser freqüente nas petições examinadas. Vale lembrar que não estamos propondo analisar os termos da área jurídica, ou seja, a língua de especialidade, mas sim, palavras de uso geral que figuram no cenário jurídico. Diapasão, assim como outras palavras que compõem o cenário jurídico, provoca o efeito de estranhamento. As palavras da língua geral acabam por ter o mesmo efeito dos termos específicos em se tratando do discurso jurídico, o distanciamento, tendo em vista que para o leigo tornam-se incompreensíveis tanto os termos específicos de uma determinada área quanto o léxico que pertence à língua geral. O VERBETE NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA Sandra Cristina Porsche (UCS) Maria Helena Menegotto Pozenato (UCS) Fabiele Stockmans De Nardi (UCS) Elisa Battisti (UCS) Um dos gêneros textuais que tem sido esquecido por professores de diferentes disciplinas em contexto escolar é o verbete. Objetiva-se, principalmente, com o presente trabalho, promover uma sensibilização para a potencialidade do verbete como instrumento auxiliar em atividades de leitura e de compreensão textual, bem como fornecer subsídios teóricos para a análise do gênero. Para tanto, busca-se explicitar a estrutura do “verbete” baseados em autores como Lara (1989) e Krieger (1993), entre outros, partindo-se da estrutura do dicionário enquanto texto organizado, mostrando diferentes tipos de definição, que podem ser encontrados tanto em dicionários como em outros textos, para, enfim, tratar do verbete como gênero a ser utilizado em atividades pedagógicas em sala de aula. Ainda, com base em relatos de experiências e sugestões de atividades que podem ser desenvolvidas, não somente na disciplina de língua portuguesa nas escolas, pretende-se promover junto aos professores uma reflexão sobre os critérios de seleção de dicionários escolares.

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GT17 Lingüística Sistêmico-Funcional Coordenadores Maria Ester Wollstein Moritz (UNISUL) Adriana de Carvalho Kuerten Dellagnelo (UFSC) UMA ANÁLISE DO SIGNIFICADO IDEACIONAL DO PCN-EM ATRAVÉS DE UMA PERSPECTIVA SOCIAL Célia Gabriela da Luz (UFSC) Kátia Eliane Muck (UFSC) PCNs são documentos elaborados pelo governo federal do Brasil com o objetivo de servir como guia para educadores de escolas públicas. A primeira edição do guia (1998) já foi considerada inovadora por suas estratégias próprias de discurso. Porém, pesquisas revelaram que a maioria dos educadores não compreendia sua aplicabilidade em sala de aula por conta de sua subjetividade/falta de objetividade. Nesse sentido, o objetivo desta pesquisa é analisar o fragmento “Competências e habilidades a serem desenvolvidas em Línguas Estrangeiras Modernas”, dos PCNs-EM (Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Médio, 2000) com o intuito de determinar o papel de cada participante social no processo educativo. Assim, a partir de uma análise de transitividade, por meio da qual foram identificados os papéis relativos ao professor e ao aluno, os dados foram analisados utilizando os conceitos de prescrição de papéis e práticas sociais de Giddens. A conclusão é de que parece, de fato, haver uma falta de objetividade no referido documento marcada por significados implícitos ali presentes. Por essa razão, talvez, ao invés de funcionar como um guia do professor, o PCN parece servir como uma estratégia do governo em manter a mesma estrutura social que é constantemente reproduzida, para que os opressores possam ser sempre os detentores dos recursos em nossa sociedade e, ao mesmo tempo, aparentem estar fazendo algo de positivo para alterar a estrutura vigente. A RELEVÂNCIA DO TEMA HALLIDAYANO PARA A CONSTRUÇÃO DO SENTIDO DISCURSIVO. Raymundo da Costa Olioni (PUCRS) A presente pesquisa estabelece, a partir da análise de textos, a relação entre as Estruturas Temática e de Informação, ambas concernentes à Metafunção Textual, um dos níveis de análise propostos pela Lingüística Sistêmico-Funcional (LSF) de M. A. K. Halliday e colaboradores. A Metafunção Textual sistematiza as duas outras Metafunções hallidayanas – a Ideacional e a Interpessoal –, organizando a oração como mensagem em dois sistemas independentes, mas interligados, de análise: (1) a Estrutura Temática, com as funções de (1a) Tema e (1b) Rema, respectivamente, e (2) a Estrutura de Informação, com as funções de (2a) Informação Dada e (2b) Informação Nova. O Tema, visto sob o enfoque da LSF (Halliday: 1985; 1994; 2004),

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tem relevância funcional para além da oração, na caracterização da construção de sentido textual, a partir do mapeamento temático ao longo das orações e dos complexos oracionais, o que vai ao encontro do Método de Desenvolvimento Textual proposto por Fries (1981, 1983; 1994; 1995; 1997; 2002). Assim, a identificação da Progressão Temática (Daneš: 1974), na perspectiva da LSF, sinaliza os movimentos do texto e a constituição deste como unidade de sentido, verificando-se como o falante/escritor realiza escolhas para (re)velar seu ponto de vista sobre o assunto abordado em sua produção. ESTUDO DE CASO EM TRADUÇÃO MIDIÁTICA E MULTILÍNGÜE: A INFLUÊNCIA DOS DETERMINANTES INSTITUCIONAIS. Carolina Pereira Barcellos (UFMG) Célia Maria Magalhães (UFMG - CNPq) A tradução executada dentro das grandes corporações midiáticas está sujeita a um processo editorial definido também por fatores extralingüísticos. Embora seja possível, até certo ponto, rastrear os movimentos executados pelo tradutor apenas, há um crescente interesse na reconstituição dos processos editoriais, pelos quais o trabalho traduzido passa, antes de sua efetiva publicação. O presente estudo reuniu diferentes traduções feitas por uma mesma instituição buscando traços pertinentes desse processo. Foram analisadas a carta “Mensaje del Comandante en Jefe” do então presidente cubano Fidel Castro, publicada em espanhol pelo jornal Granma Internacional – afiliado ao governo de Cuba - e suas traduções para o inglês, o francês e o português, assinadas também pelo jornal Granma e publicadas simultaneamente ao texto original. Esta pesquisa foi realizada no Laboratório Experimental de Tradução – LETRA – da FALE/UFMG como parte integrante do projeto Tradução, Mídia e Globalização/CNPq 302454/2007-1, sob orientação da professora Dra. Célia Magalhães. Utilizou-se a abordagem descritiva baseada nos pressupostos da lingüística sistêmico-funcional (LSF) e, mais especificamente, o aparato instrumental hallidayano provido pela gramática sistêmico-funcional (GSF) - onde os significados realizados por um texto podem ser descritos em termos das metafunções textual, interpessoal e ideacional. Os dados foram analisados com relação ao complexo oracional (tratado em tabelas comparativas), transitividade e modalidade (tratados no software UAM Corpus Tools ®) e a relação types/tokens, densidades lexicais e maior ocorrência de palavras (gramaticais ou de conteúdo) para cada texto (tratados no software Wordsmith Tools 4 ®). Após, foram comparadas as propriedades presentes no texto fonte com aquelas constatadas nos textos alvo. Além da análise lingüística nos termos da GSF, foram considerados conceitos da lingüística de edição de notícias e de gatekeeping. No que concerne ao processo editorial midiático foram adotados especificamente os pressupostos da supressão de informações, das substituições lexicais e das regras de edição.

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Os resultados obtidos demonstraram alterações mais significativas nas escolhas lexicais feitas pelo tradutor, sendo essas repetidas vezes acompanhadas de variações na ordem sintática dentro do complexo oracional. Em geral, houve uma opção pela forma em detrimento do conteúdo, ou seja, nos termos da GSF não houve identificação plena entre texto fonte e textos alvo no nível ideacional. Seguindo a perspectiva da LSF, de três ângulos distintos, complementares e simultâneos de analisar a linguagem em uso, este trabalho especificou e descreveu realizações multilíngües intra-institucionais as quais revelaram uma comunicação de significados organizada dentro de um contexto específico e não explicável apenas em termos lingüísticos. A LEXICO-GRAMÁTICA DE LETRAS DE RAP E O CONCEITO HALLIDAYANO DE ANTILINGUAGEM. Marcos Morgado (UEL) O presente estudo tem como objetivo a investigação de letras de rap e o estabelecimento da conexão entre os itens lexicais e gramaticais usados por rappers e o conceito de antilinguagem de Halliday (1978). O inglês Afro-americano e o português brasileiro, ou, mais especificamente, o ‘dialeto’ usado pelos rappers nas suas letras podem ser exemplos de dialetos não-padrão ou de uma antilinguagem que cria tanto um mecanismo de construção de identidade quanto oposição aos discursos dominantes. Uma investigação cross-cultural usando letras de músicas de rap Afro-americanas e brasileiras foi conduzida, com o objetivo de investigar algumas das características dessas letras tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. Os resultados revelam que os rappers dos dois grupos culturais usam variedades não-padrão de inglês e de português brasileiro, com grande número de novos itens lexicais – ou de relexicalização, usando o termo de Halliday – e estruturas gramaticais diversificadas, características dessas variedades não-padrão. INVESTIGANDO O PAPEL ATRIBUÍDO POR UMA PROFESSORA ESTAGIÁRIA AOS ALUNOS E A SI MESMA: PLANO DE AULA, PRÁTICA E RELATÓRIO DE AUTO-AVALIAÇÃO Márcia Gromoski (UFSC) Adriana Kuerten Dellagnelo (UFSC) Este estudo é resultado parcial de uma pesquisa realizada com uma professora estagiária no 7° período do Curso de Letras da UFSC e tem como propósito explorar sua compreensão em relação ao processo de ensino de língua estrangeira através da lingüística sistêmico-funcional (LSF). A LSF (HALLIDAY, 1978, 1985, 2004; MATTHIESSEN & HALLIDAY, 2004) permite o estudo da linguagem em uso. Conforme Halliday (1994) a língua não pode ser estudada em isolamento sendo necessário que se considere o contexto social na qual cada texto esta inserido. Sendo aqui a língua objeto

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de estudo, o discurso da professora estagiária foi investigado em três diferentes estágios: a) enquanto plano de aula; b) enquanto prática; c) enquanto relatório de auto-avaliação. O foco de análise concentrou-se em examinar através do sistema de transitividade: qual é o papel dos indivíduos presentes em sala de aula partindo do ponto de vista da professora estagiária?; Como a relação e a interação entre alunos/professora estagiária é estruturada nos diferentes momentos?; É possível detectar homogeneidade e/ou assimetria entre os envolvidos através da análise dos papéis? O resultado da análise de transitividade realizada nas orações em que a professora estagiária, o(s) aluno(s) ou ambos apareciam como participantes geradores de ação revelou diferentes resultados em cada estágio. Enquanto plano de aula a professora estagiária atribuiu a si mesma a maior parte do papel de participante principal (aquele que age) havendo também uma predominância de processos materiais. Essa configuração inverte-se durante a prática onde a professora confere aos alunos o poder de ação. Essa dimensão de análise também apresentou uma característica singular, pois é o único momento em que a participante divide seu papel de agente com os alunos. Finalmente a investigação do discurso da informante no relatório de auto-avaliação revelou uma configuração semelhante a aquela obtida na análise do plano de aula onde a professora estagiária aparece como agente principal. De modo geral pode-se afirmar que a informante estruturou diferentemente sua relação com os alunos em cada estágio. A relação manteve-se quase sempre assimétrica com exceção da prática onde a professora incluiu-se como também a seus alunos nas ações propostas. Considerando os textos analisados também como um fenômeno social e não somente como um emaranhado de orações é possível sugerir que o contexto social no qual a professora encontrava-se em cada um dos momentos poder ter tido uma grande influência em sua performance, ora resultando numa professora mais adepta a abordagens comunicativas (RICHARDS & RODGERS, 2001) e outros momentos resultando em performances mais tradicionais. O IDEAL DE PROFESSOR EM “UMA PROFESSORA MUITO MALUQUINHA” E A ESTRUTURA NARRATIVA ANALISADA ATRAVÉS DE PADRÕES DE TRANSITIVIDADE Márcia Cristine Agustini (UFSC) Adriana Kuerten Dellagnelo (UFSC) A Lingüística Sistêmica Funcional (LSF) desenvolvida pelo lingüista Michael Halliday (1978, 1985, 1989, 1994; HALLIDAY & MATTHIESSEN, 2004) é a teoria cujo arcabouço utilizamos para a análise do texto aqui nomeado. A LSF apregoa que a linguagem é sistêmica - consiste de um sistema que oferece ao falante diferentes escolhas para se expressar - e funcional uma vez que a linguagem serve ao propósito dado pelo falante na situação social que se lhe apresenta. Neste trabalho, propomo-nos investigar a estrutura narrativa do texto “Uma professora

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maluquinha” de Ziraldo (1995) através de padrões de transitividade. Com a análise da transitividade, o foco recai no significado experiencial que se quer transmitir, i.e., na mensagem construída através das escolhas gramaticais e lexicais, que mostram o nosso entendimento de certos fenômenos sociais. Consideramos que a construção do personagem da professora “Maluquinha” perpassa etapas pelas quais diferentes dimensões de seu trabalho e personalidade são apresentadas. A finalidade de tais etapas parece ser a de apresentar uma proposta ideológica coerente e convincente sobre o que é ser professor. Essa consideração é justificada pelo conceito de ideologia que seguimos e que está em consonância com a Lingüística Sistêmica Funcional - de que as escolhas lexicais que fazemos expressam nosso posicionamento ideológico em relação ao tópico sobre o qual nos debruçamos. SEX AND THE CITY E A REPRESENTAÇÃO DA IMAGEM FEMININA Fábio Alexandre Silva Bezerra (UFSC) Este trabalho traz uma investigação sistêmico-funcional (Halliday, 1994; Halliday e Matthiessen, 2004), mais especificamente de transitividade, da imagem feminina construída através do [e no] discurso da personagem-narradora do seriado estadunidense ‘Sex and the City’, Carrie Bradshaw. O foco da análise é a metafunção ideacional, que trata da forma como nós expressamos nossas experiências no mundo através das escolhas léxico-gramaticais presentes no texto. Tal investigação nos permite ver a linguagem como algo pulsante, pois compreendemos que através dela produzimos representações com objetivos diferentes e em momentos e lugares também diversos. No texto analisado, vemos a representação, feita através do discurso da personagem-narradora, de uma mulher que está num momento histórico decorrente de duras conquistas, um momento em que pode expressar o que pensa sobre variados tópicos, tais como: sexo, trabalho, amizades, espiritualidade e casamento. No entanto, também temos como resultado que essa sua atuação ainda se restringe à esfera privada, em que suas preocupações, anseios, ações e relações não estão representadas como tendo impacto no âmbito social/público, esfera que historicamente vem sendo reservada aos homens. Desta forma, demonstramos e discutimos como a LSF pode servir como um instrumento analítico efetivo em investigações que tenham como objetivo o estudo da língua em uso, a fim de estimularmos uma visão crítica dos mais diversos textos.

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O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA NO BRASIL: UM ESTUDO DE CASO COM UMA ABORDAGEM SISTÊMICO-FUNCIONAL AO DISCURSO PEDAGÓGICO. Kátia Eliane Muck (UFSC) Adriana Kuerten Dellagnelo (UFSC) Discursos constroem conhecimento tanto quanto determinam comportamentos sociais, fato que torna qualquer discurso altamente revelador. Dada a falta de estudos voltados ao Discurso Pedagógico (como proposto por Bernstein) sobre o ensino de língua inglesa como língua estrangeira no Brasil, este estudo pretende ser um ponto de partida no intuito de contribuir para preencher essa lacuna. Como tal, esta pesquisa considera as concepções de linguagem de Fairclough (1992) e Halliday (1985; 2004), para os quais a linguagem reflete, reforça e até mesmo constrói o que a sociedade, como um todo, percebe como realidade. Os dados do estudo foram obtidos de gravações de áudio, de uma entrevista semi-estruturada com o principal participante da pesquisa – uma professora de estudantes de nível intermediário de Língua Inglesa –, e de um questionário aplicado aos alunos. Com a intenção de delinear algo que ilumine nossa compreensão acerca da definição dos papéis sociais do professor e sua construção de conhecimento, bem como nossa compreensão da formação da ordem social, este estudo foca como o discurso regulativo e instrucional da professora se manifesta lingüisticamente. Uma vez que o estudo está em andamento, conclusões não foram formuladas plenamente. ESTRUTURA TEMÁTICA NA LÍNGUA PORTUGUESA: CLASSIFICAÇÃO DE TEMAS MARCADOS Elaine Espindola (UFSC) Maria Lúcia B. de Vasconcellos (UFSC) Viviane M. Heberle (UFSC) Esta pesquisa faz parte de um trabalho de doutorado em andamento o qual visa explorar um dos aspectos da metafunção textual: a organização temática do texto. Para tal, o estudo observa a tradução/legenda da estrutura temática usada por um personagem em particular – Yoda – nos seis episódios do filme Americano Star Wars escrito e dirigido por George Lucas. Para fins do presente trabalho, uma revisão teórica acerca da estruturação temática no português será conduzida uma vez que a o arcabouço teórico da Lingüística Sistêmico-Funcional (LSF) pressupõe que a presença do Sujeito em posição inicial seja considerada uma estrutura temática não-marcada, o que se torna problemático para a língua portuguesa pelo fato de que o sistema de inflexão verbal traz em si noções de número, tempo e pessoa, possibilitando a recuperação gramatical do Sujeito (Gouveia, C. & L. Bárbara, 2001). Sendo assim, a Gramática Sistêmico-Funcional (GSF) (Halliday & Matthiessen, 2004) prova-se eficiente para a análise de estrutura temática da língua inglesa e para muitas outras línguas S-V-O; porém este não é o caso para a

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língua portuguesa, pois somente alguns estudos isolados (Bárbara, L. & C. Gouveia, 2001; Lima−Lopes, R.E., 2001; Siqueira, C.P., 2000) observam as especificidades da língua em questão. Assim, o propósito deste trabalho é o de discutir alguns problemas encontrados na descrição e identificação de Tema em língua portuguesa sugerindo alternativas de análise. A STREET CAR NAMED DESIRE: UMA ANÁLISE LINGÜÍSTICA DA CONSTRUÇÃO DA PERSONAGEM BLANCHE DUBOIS Luciany Margarida da Silva (UFSC) Este estudo investiga a linguagem usada na produção cinematográfica de Tennessee Williams “A street car named desire”(1951), focando, mais especificamente, na maneira em que a personagem principal, Blanche DuBois, é construída através do modo em que a sua experiência, tanto do mundo externo quanto do mundo interno, é revelada na linguagem por ela usada no decorrer do filme. O arcabouço teórico desse estudo é a abordagem lingüística fornecida pela versão Hallidayana da lingüística sistêmico-funcional, principalmente no componente ideacional, que é realizado pelo sistema da transitividade. O estudo concentra-se na análise dos tipos de processos (verbos) nos quais Blanche DuBois se inscreve em quatro cenas específicas do filme, a saber, cena um, dois, dez e onze, de modo a investigar os efeitos de estilo das escolhas feitas na construção da personagem principal. RELAÇÕES IMPLICACIONAIS ENTRE PRÁTICAS DISCURSIVAS E PRÁTICAS SOCIAIS NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DE UM PROFESSOR-ESTAGIÁRIO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS Adriana Kuerten Dellagnelo (UFSC) Este estudo focaliza implicações entre práticas discursivas e práticas sociais; para tanto, parte sobremodo de concepções de Fairclough (1992) e Halliday, (1985-1994) – para os quais a linguagem reflete, reforça e até mesmo constrói o que toda uma sociedade percebe por realidade. Esse aporte teórico, que busca investigar a construção da identidade de uma professora estagiária de Letras– Inglês no que respeita a valores e ideologias legitimados, sustenta uma análise de textos produzidos por essa mesma professora em suas reflexões pós-aula. O estudo contém uma análise que busca desvelar em que medida conhecimento teórico e conhecimento experiencial/prático dialogam ou divergem na construção da identidade do professor-estagiário. Os resultados apontam que, de acordo com sua prática discursiva, a professora-estagiária aqui pesquisada tende a ser influenciada mais por seu conhecimento experiencial do que pelo conhecimento teórico aprendido ao longo do seu curso de Letras. Esses resultados corroboram a literatura na área de educação de professores (Bailey et al, 1996; Freeman, 1996; Freeman & Johnson, 1998; Flowerdew, 1998) ao sugerir que professores-estagiários tendem a ser influenciados pelo conhecimento experiencial a um

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grau mais elevado, reiterando, também, a afirmação de que são necessários tempo e esforço para que práticas sociais vivenciadas sejam alteradas. RELATOS DE CRIMES EM JORNAIS BRITÂNICOS: O USO DE MARCADORES DE MODALIDADE NA DESCRIÇÃO DA VIOLÊNCIA FEMININA E MASCULINA Murilo Matos Mendonça (UNISUL) A modalidade é uma categoria lexicogramatical típica da oração com meio de interação (Halliday, 1994). O conceito de modalidade tem sido amplamente utilizado para desconstruir textos que expressam as atitudes dos escritores em relação a eles mesmos, aos seus interlocutores e ao assunto em questão (Fowler et al., 1979: 200). O presente estudo investiga o uso de duas classes de marcadores de modalidade, operadores verbais modais e adjuntos modais, respectivamente, encontrados em relatos de crimes em jornais sobre um caso específico em que um homem e uma mulher, um casal de assassinos em série, foram descritos como agentes de violência. Setenta e seis artigos de quatro jornais britânicos foram analisados. Conduziu-se uma análise e um levantamento informatizado dos marcadores de modalidade encontrados nos textos, através de um concordance. Os resultados parciais apontam uma tendência significativa em utilizar marcadores de modalidade para afirmar e enfatizar a culpabilidade e o comportamento fora dos padrões mais forte e frequentemente quando se referindo à mulher do que ao homem. Esse dado reforça a hipótese de que há uma inclinação nos discursos da mídia em jornais em direção a uma conivência com a noção de violência como uma característica inerente à masculinidade em contraste à sua ferrenha condenção como um elemento da feminilidade. A MODALIDADE NO DISCURSO ACADÊMICO: UMA ANÁLISE DE CONCLUSÕES DE ARTIGOS DE PESQUISA. Maria Ester Wollstein Moritz (UNISUL) O discurso acadêmico tem sido constantemente investigado nas últimas décadas (Ozturk, 2006; Flowerdew, 2001; Motta-Roth, 1995). Uma das linhas de investigação concentra-se no uso de características específicas como o uso de marcadores de modalidade. A modalidade é um recurso lingüístico característico do discurso acadêmico que pode servir a dois propósitos, a saber, a necessidade da aceitação do escritor pelo leitor de modo a dar crédito ao conhecimento que está sendo proposto, e a necessidade de demonstrar consideração com sua audiência. Consciente dessa dupla função, o presente estudo analisa o uso da modalidade com base na lingüística sistêmico-funcional Hallidayana (1994). O corpus é composto por 12 conclusões de artigos acadêmicos na área de lingüística aplicada escritos em inglês como L2. Os resultados indicam a presença de 281 de orações e 85 marcadores de modalidade, representando uma densidade de 3,30, isto é, um modal é usado em cada 3,30 orações. A alta ocorrência de

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modais nos textos de conclusão parece indicar que, em geral, os escritores têm a tendência a evitar a assertividade, usando um discurso modalizado/modulado nas suas seções de conclusão de artigos acadêmicos. Dessa forma, os escritores constroem suas identidades de acordo com o discurso que prevalece na academia, demonstrando-se solidários com relação a seus leitores e não assertivos quanto ao conteúdo de seus textos; e, portanto, comprometidos com o status probabilístico da ciência. GT18 Ensino e Aprendizagem de L2: o foco na forma e o ensino da gramática Coordenadores Marília dos Santos Lima (UFRGS) Terumi Koto Bonnet Villalba (UFPR) A HABILIDADE ORAL EM L2: UMA EXPERIÊNCIA COM TAREFAS Gisele L. Cardoso (UFSC) Mailce Borges Mota (UFSC) Gicele V. Vieira Prebianca (UFSC) Cecilia A. Willi de Souza (UFSC) O objetivo do presente trabalho foi investigar o efeito da implementação de uma tarefa no desempenho oral de alunos de inglês como língua estrangeira (ILE) de nível avançado. Este estudo foi conduzido a partir dos princípios da abordagem baseada em tarefas, como expostos por Skehan (1998). No âmbito da abordagem de ensino baseada em tarefas, vários estudos ( Bygate, Skehan &Swain, 2001; D’Ely & Fortkamp, 2003; D’Ely, 2006, entre outros) têm demonstrado que o planejamento do desempenho é uma variável importante no desenvolvimento da habilidade oral em LE, pois permite ao aprendiz manipular seus recursos atencionais para focar na forma e no significado sistematicamente, o que resulta em produção oral mais fluente e precisa. Estes estudos têm demonstrado também que o tempo de planejamento afeta a produção oral em LE de formas diferentes. O presente estudo examina o efeito de uma tarefa oral que é antecedida por um minuto de planejamento no desempenho oral de 15 aprendizes de ILE. A tarefa oral consistiu da narração individual de um sonho. A habilidade oral foi mensurada através de variáveis de fluência, acurácia e complexidade. Os resultados do estudo, que foram analisados tanto quantitativamente como qualitativamente, demonstraram que houve equilíbrio entre sentido e forma durante o desempenho da tarefa; que a auto-percepção de planejamento dos participantes pareceu não se adequar com a real implementação das suas anotações no tempo de planejamento e que houve efeitos de troca atencional no desempenho oral de L2, mesmo com planejamento provido.

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UNINDO FOCO NA COMUNICAÇÃO E FOCO NA FORMA: O AUMENTO DA CONSCIÊNCIA LINGÜÍSTICA DO APRENDIZ NA PRODUÇÃO ESCRITA A PARTIR DE UM PROJETO DE UM CADERNO DE CRÍTICAS SOBRE FILMES. Maurício Seibel Luce (UFRGS) Ingrid Finger (UFRGS) Uma das críticas muitas vezes direcionada à proposta de ensino de línguas por tarefas (ELT) diz respeito a uma suposta pouca atenção à ênfase em aspectos gramaticais na sala de aula, intrínseca a essa metodologia de ensino. O presente trabalho teve como objetivo demonstrar que uma tarefa comunicativa bem planejada pode efetivamente primar pelo foco na comunicação e, ao mesmo tempo, dar atenção a aspectos gramaticais (Foco na Forma) dentro de um contexto comunicativo e significativo para o aprendiz, tomando como base a sua própria produção escrita. Levando em conta a noção de noticing (Schmidt,1995) e partindo do pressuposto de que atividades de pré-tarefa e pós-tarefa possuem um papel altamente relevante na execução de uma tarefa, buscamos testar neste estudo de que maneira tais atividades afetariam a produção escrita dos aprendizes, tanto em relação a questões de gênero textual como correção gramatical. Os participantes, aprendizes de inglês como LE, divididos em três grupos (dois experimentais e um de controle), escreveram, ao longo de quatro semanas de participação de contexto instrucional, três resenhas críticas sobre filmes, com o objetivo de elaborar um caderno de críticas feitas por eles mesmos. Os sujeitos do grupo A foram submetidos ao que poderíamos chamar de estrutura completa de tarefa, que se assemelha ao proposto por Willis (1996), consistindo de três etapas: pré-tarefa, tarefa e foco lingüístico. Enquanto que as atividades de pré-tarefa buscaram aumentar a percepção dos sujeitos em relação a elementos comuns ao gênero “crítica de filme”, as atividades de pós-tarefa consistiram também na análise dos erros gramaticais, através da discussão em grupos dos erros gramaticais das críticas elaboradas pelos sujeitos. Já o grupo B não realizou a pós-tarefa de análise gramatical, e o grupo C não realizou a pré-tarefa com foco em aspectos do gênero “crítica de filme”. Resultados preliminares levam-nos a ratificar a hipótese de que pré-tarefas e pós-tarefas que busquem o aumento da consciência e percepção do aprendiz resultam em melhor produção escrita, tanto em relação a aspectos gramaticais como a recursos discursivos de um determinado gênero textual (neste caso, crítica de filme). O PAPEL DA INSTRUÇÃO – EXPLÍCITA E IMPLÍCITA – NO ENSINO/ APRENDIZAGEM DE LOCUÇÕES VERBAIS EM INGLÊS Daniela Nascimento (UFRGS) Ingrid Finger (UFRGS) No decorrer dos últimos anos, um dos questionamentos da pesquisa em aquisição de segunda língua (doravante L2) diz respeito ao papel das

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instruções explícita e implícita de formas gramaticais. A maneira através da qual os conhecimentos implícito e explícito são construídos de modo mais eficiente é, ainda, fonte de discordância. Alguns pesquisadores afirmam que o conhecimento implícito não deriva do aprendizado explícito e, tampouco, pode ser adquirido através da instrução explícita; outros argumentam que o conhecimento implícito da L2 pode ser adquirido ou facilitado pelo conhecimento explícito. O presente trabalho teve sua origem no interesse pela investigação do efeito das instruções explícita e implícita na aquisição de uma L2, e na observação das diferenças entre os aprendizados implícito e explícito. Acima de tudo, este estudo deriva da percepção de que a maioria de gramáticas e livros didáticos normalmente introduz estruturas gramaticais – em particular, o uso de locuções verbais, que são aqui analisadas – de maneira isolada, sem recorrerem a uma descrição de seu uso por falantes da L2 proficientes, e dando prioridade à memorização de listas de verbos. Assim, seis grupos de alunos (três de nível de proficiência básico e três de nível de proficiência avançado) do curso de Letras de uma universidade pública foram avaliados por meio de pré e pós-testes, compostos de questões de múltipla escolha (tarefas de compreensão) e de exercícios de produção (tarefa de produção). Entre a aplicação dos testes, foi feita instrução implícita a dois grupos experimentais e implícita a outros dois grupos experimentais com as mesmas características. Os grupos de controle não receberam instrução (básico e avançado). Os resultados dos testes serviram como fonte de análise dos papéis dos dois tipos de instrução mencionados, e mostraram que tanto a instrução explícita quanto a instrução implícita influenciaram positivamente no desempenho dos participantes nos pós-testes, principalmente quanto aos verbos que podem ser combinados tanto com gerúndios e com infinitivos. Tal resultado pode ser atribuído ao fato de estes verbos representarem uma dificuldade maior para os aprendizes.

ENSINO COM FOCO NA FORMA: INVESTIGAÇÃO SOBRE A CONCORDÂNCIA NOMINAL EM ITALIANO-L2 Daniela Norci Schroeder (UFRGS)

Nesta comunicação apresento os resultados de uma pesquisa de doutoramento que investigou a eficiência do ensino com foco na forma na produção escrita da concordância nominal, em gênero e número, entre substantivo e adjetivo, em italiano por aprendizes brasileiros. O suporte teórico e metodológico da pesquisa baseia-se em estudos de autores canadenses, como Lightbown, Spada e Swain. Spada (1997) definiu o ensino com foco na forma como ‘a ação pedagógica utilizada para chamar a atenção dos aprendizes para uma determinada forma lingüística de modo implícito ou explícito’. Os dados analisados na pesquisa são resultantes da aplicação de testes em três momentos sucessivos (pré-teste, pós-teste e teste postergado) com um grupo de alunos de italiano-L2, falantes nativos do português brasileiro, matriculados no nível básico de um curso de extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em cada teste, foram

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aplicados três instrumentos: teste de julgamento de gramaticalidade, produção livre e descrição a partir de uma figura, com o objetivo de apresentar diferentes situações de uso referentes à concordância nominal. Entre o pré-teste e o pós-teste, o grupo foi submetido a um tratamento intensivo sobre a concordância nominal. O estudo se apresenta como uma contribuição empírica do italiano-L2 aos estudos de lingüística aplicada baseados no tratamento com foco na forma. FOCO NA FORMA NO ENSINO DE ESPANHOL PARA FALANTES BRASILEIROS ADULTOS: ENFOQUE COGNITIVISTA. Terumi Koto Bonnet Villalba (UFPR) Este estudo aborda o lugar da gramática na aprendizagem de espanhol por falantes brasileros adultos, levando em consideração os resultados de uma pesquisa anterior (Villalba, 2002) que apontam para a tênue fronteira entre o nível intermediário e avançado. A necessidade de revisar a metodologia comunicativa como vem sendo praticada, com ênfase no sentido e no desenvolvimento da estratégia comunicativa, abre um espaço de estudo e discussão sobre a importância do conhecimento do sistema lingüístico (Doughty; Williams, 2003), principalmente no caso de aprendizes brasileiros, cuja língua materna está gramaticalmente muito próxima da língua estrangeira em questão. A proposta de enfocar a forma (Fonf) pode ganhar sustentação na perspectiva cognitivista de aprendizagem de língua estrangeira, usando as noções andersonianas (1983) de ‘conhecimento declarativo’ e ‘conhecimento procedimental’. POTENCIAL PEDAGÓGICO DA GRAMÁTICA COGNITIVA María Alejandra Oliveira (UNILASALLE) O presente trabalho tem como objetivo analisar alguns conceitos da Gramática Cognitiva aplicada ao ensino de segunda língua. A visão cognitiva supõe uma visão alternativa da natureza do conhecimento lingüístico, assim como da forma como os falantes dispõem desse conhecimento. Esta proposta esta embasada nos estudos de Langacker ( 1987, 1991, 1994, 2000, 2001), Alejandro Castañeda (2006) e José Plácido Luiz Campillo (2007). Propõe a aplicação de um enfoque operacional do fato lingüístico, fazendo ênfase nas propriedades de comunicação e significado dos próprios aspectos formais, assim como na lógica da sua articulação sintática. A lógica a que se refere o enfoque cognitivo é a lógica natural, a lógica dos esquemas cognitivos com que construímos a representação do mundo, o senso comum. Para Langacker (2000) as estruturas lingüísticas se distinguem por oferecerem uma configuração representacional distinta de uma mesma situação concebida; as categorias lingüísticas são polissêmicas,ou seja, os significados dos signos devem ser concebidos como redes conceptuais. Pretende mostrar o que é uma gramática significativa e operativa aplicada ao ensino da língua, entendendo

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que cada forma está dotada de um valor de operação, um valor de significado, sendo este significado equivalente a um produto lógico. Descreve os recursos lingüísticos em diferentes níveis de abstração. Em vista disso, resulta relevante para a lingüística cognitiva o conceito do “modelo cognitivo idealizado” como uma estrutura mental complexa, de caráter esquemático, com a qual interpretamos o mundo. Existe uma metáfora conceitual : o tempo é espaço. A língua representa a realidade tal e como o sujeito a percebe, por tanto a gramática tem a finalidade de favorecer diferentes perspectivas representacionais de um mesmo fato “objetivo”. Ela não opera sobre as formas, senão sobre o significado com que o falante utiliza essas formas. Uma gramática embasada nas normas e que deprecie os aspectos da atuação, em termos gerativos, será incapaz de descrever adequadamente o funcionamento de uma língua. Salienta-se a importância de estimular uma compreensão cognitiva do significado gramatical. Em suma, o enfoque cognitivo oferece uma filosofia prática que permite levar à sala de aula os aspectos formais , sem renunciar aos benefícios do comunicativismo clássico. “DIGAN LO QUE DIGAN” NO FAMOSO “POR QUÉ NO TE CALLAS?, O PROBLEMA RESIDE NA FORMA DE TRATAMENTO. Lídia Beatriz Selmo Foti (UFPR) Este trabalho pretende analisar por que o breve enunciado (discurso) emitido pelo Rei Juan Carlos I da Espanha, na Cúpula Ibero - americana, motivou tantos efeitos de sentido, implicações e respostas de seu interlocutor (o presidente da Venezuela, Chávez), assim como de outras autoridades, meios de comunicação, jornais, e do público em geral. Acreditamos que a forma de tratamento utilizada pelo rei da Espanha teve um papel preponderante neste incidente diplomático. As formas de tratamento condicionam um bom relacionamento entre os “Interlocutores”. Porém, às vezes por vários fatores, são utilizadas inadequadamente provocando problemas de comunicação, ao romperem com a expectativa do interlocutor que espera ser tratado de acordo com o protocolo ou a norma. O incidente diplomático de conhecimento público, aconteceu no dia 10-11-2007, na Cúpula Ibero-Americana, quando Juan Carlos I mandou que o presidente da Venezuela se calasse dizendo: “Por que no te callas?”. Para muitas pessoas que não falam espanhol a reação foi adequada, posto que Chávez não respeitava a ordem para falar e interrompia constantemente ao presidente do governo espanhol, Zapatero. Assim, o bolivariano estaria quebrando o protocolo desrespeitando este chefe de estado. Contudo, há aqui outro fator além do protocolo; o lingüístico. Constatável na forma de tratamento utilizada quando o rei se dirigiu a Chávez, a forma de tratamento “Tú” utilizada pelo rei (o pronome reflexivo “te” de segunda pessoa informal) foi totalmente inadequada por tratar-se da reunião de autoridades. Assim, quando inesperadamente o rei proferiu a já famosa frase, utilizou um tratamento de cima para baixo (eixo

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do poder), e não de entre iguais (eixo da solidariedade entre iguais) em modelo nos termos de Brown & Gilman (1965). PROFESSORES DE INGLÊS EM FORMAÇÃO: ENSINO DE LÍNGUA E DE GRAMÁTICA Luciane Sturm (UPF) A concepção que se tem de língua, pode ser considerada uma referência básica para que os professores possam traçar as linhas de seu trabalho em sala de aula. Além disso, é a partir dessa concepção de língua que o professor define seus princípios de ensino, sua filosofia de trabalho, norteando suas atividades, a partir de uma determinada abordagem. Isso, no entanto, nem sempre acontece de forma consciente, pois, muitas vezes, o professor age intuitivamente, sem se preocupar com o lado científico do seu fazer pedagógico. Entende-se que os aspectos que envolvem o processo de amadurecimento profissional do professor de línguas estrangeiras (LE) é relativamente complexo, demorado, pois depende de diversas variáveis, como: sua formação, seu interesse e sua motivação, local de trabalho, crenças, estudo continuado, além das suas próprias características pessoais. Considerando-se esse contexto, esta pesquisa de natureza qualitativa, apresentará os dados parciais de uma pesquisa que está sendo desenvolvida com alunos de Letras, futuros professores de inglês, no último estágio do curso. Por meio de dados coletados com questionários e com os projetos de estágio dos alunos participantes, o estudo descreverá o perfil desses alunos, em fase de conclusão, focalizando suas crenças sobre o papel da gramática no processo de ensino e aprendizagem da língua inglesa. Dados preliminares indicam que, apesar desses alunos evidenciarem uma concepção de língua atualizada e condizente com a visão comunicativa de ensino, eles demonstram dificuldades em preparar e executar aulas que busquem a partir da abordagem comunicativa, um ensino contextualizado e significativo da gramática. Para dar suporte teórico a este trabalho utiliza-se, principalmente, estudos sobre (a) foco na forma e feedback corretivo de Long (1983; 1990; 1991), Fotos & Ellis (1991); Fotos (1993, 1994), Lightbown & Spada (1993, 1997, 1999), Doughty & Williams (1998), Lima & Freudenberger (2006), Lima (2002, 2004); (b) sobre crenças e o processo de formação de professores de Barcelos (2001; 2003; 2003b; 2004; 2006), Silva (2006), Vieira-Abrahão (2004, 2006) e Sturm (2007). O QUE PENSAM ALUNOS E PROFESSORES DE INGLÊS SOBRE A INSTRUÇÃO COM FOCO NA FORMA INTEGRADA E ISOLADA Marília Dos Santos Lima (UFRGS) Nina Spada (University Of Toronto) A aprendizagem pode ser afetada de modo negativo quando as expectativas dos alunos diferem dos professores na realidade da sala de aula. Dificuldades podem ser geradas quando há conflitos entre as atitudes de

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professores e seus alunos (Schulz, 2001). O propósito desta comunicação é relatar as preferências de professores e alunos de inglês em dois contextos: como língua estrangeira (LE) no Brasil e como segunda língua (L2) no Canadá. A investigação trata de instrução com foco na forma (IFF) integrada e isolada. Ambas as práticas devem ser vistas numa abordagem comunicativa. No primeiro caso, a instrução gramatical é dada dentro de uma prática com foco no conteúdo, enquanto que, no segundo, ela é dada em momentos isolados da prática comunicativa. A investigação inclui dois estudos: o primeiro foi desenvolvido a partir de um questionário especialmente elaborado e validado quanto a medidas de IFF integrada ou isolada. Participaram do estudo 50 professores e 175 aprendizes brasileiros e 47 professores e 294 alunos canadenses. As respostas dos participantes nos dois contextos (LE e L2) foram comparadas. O segundo estudo aqui focalizado, de cunho qualitativo, refere-se ao ensino de um item gramatical a cinco turmas de aprendizes de inglês no Brasil em duas ocasiões, uma com IFF integrada e outra com IFF isolada. São considerados os pontos de vista dos alunos e professores quanto às duas práticas. Os resultados são discutidos em relação a diferentes necessidades e expectativas dos envolvidos no processo e em relação a outras pesquisas que investigam os pontos de vista de professores e alunos sobre o ensino da gramática. PERSPECTIVAS DE PROFESSORES E GRADUANDOS DE LETRAS ACERCA DA APRENDIZAGEM DA GRAMÁTICA EM SALA DE AULA DE LE – FOCO NA FORMA OU FOCO NAS FORMAS? Ana Paula de Araujo Cunha (CEFET-RS, Pelotas) Élen Susana Inácio Borges (CEFET-RS, Pelotas) A atenção a formas lingüísticas dentro do contexto de realização de atividades comunicativas tem sido rotulada de “foco na forma” (Long, 1991). Este contrasta com os tipos mais tradicionais de instrução focalizada na forma (referida por Long como “foco nas formas”), onde traços lingüísticos específicos são isolados para tratamento intensivo, freqüente em atividades não-comunicativas. Norteada por questões que perpassam esta temática, esta pesquisa compreende uma investigação qualitativa, cujo foco precípuo é identificar e analisar as perspectivas de professores de inglês como LE em serviço e em pré-serviço acerca de aspectos pertinentes ao ensino-aprendizagem da gramática em contexto de sala de aula, sobretudo no que se refere a abordagens tradicionais de foco isolado nas formas e a proposta de uma abordagem que se configura em um foco dual forma/sentido na interação comunicativa. Os dados que constituem o corpus de análise do estudo são oriundos de questionários e entrevistas estruturados de tal modo a propiciarem a elicitação da visão de professores e graduandos de Letras-Habilitação em Inglês, de duas Universidades da cidade de Pelotas (uma pública e outra privada) concernentes a tópicos como o significado de saber uma língua estrangeira, a pertinência e as formas de abordar a gramática

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dessa língua. Os dados coletados são analisados à luz de teoria veiculada em importantes estudos apontados pela literatura da área de ASL cujo escopo abrange temáticas como instrução focada na forma e no sentido, competência lingüística e interação, dentre os quais sublinhamos Ellis (2001), Long (1991), Long & Robinson (1998), Larsen-Freeman (1997), e Lightbown & Spada (1990, 1999). O ENSINO DA GRAMÁTICA NAS AULA DE LÍNGUA INGLESA: CRENÇAS DE ALUNOS-PROFESSORES EM FORMAÇÃO Juliana Freitag Schweikart (UNISINOS, UNEMAT-Sinop) Este trabalho se propõe a apresentar resultados parciais de uma pesquisa sobre crenças relacionadas ao ensino de gramática nas aulas de Língua Inglesa. É parte de uma pesquisa maior de mestrado que investiga possíveis mudanças de crenças causadas pelo período de práticas pedagógicas em uma turma de 9º semestre de Letras de uma universidade pública do estado de MT. A coleta de dados está acontecendo através de três fases, a primeira se realizou através de um questionário/inventário de crenças, a segunda, através de gravação em vídeo de aulas dos alunos-professores, dados estes que ainda estão em fase de transcrição, e a terceira fase será uma entrevista semi-aberta, que acontecerá mediante a análise das duas primeiras coletas, e finalmente será feita uma triangulação de todos os dados. Foram feitas várias leituras de dissertações e teses já defendidas, porém os trabalhos utilizados até o momento se baseiam em Almeida Filho (1993), Alvarez (2007), Barcelos (2004/2007), Silva (2006) e Alonso e Fogaça (2007), além dos PCN de língua estrangeira. Os dados coletados até o momento, através de um questionário/inventário de crenças, mostram discordância em relação ao ensino de gramática nas aulas de Língua Inglesa, bem como relações que podem ser estabelecidas entre esta língua e a Língua Portuguesa. Esses alunos-professores mostraram concordância quanto a uma facilidade de aprendizagem causada pelo inatismo. Também quanto ao início do processo de aprendizagem, há o indicativo de que quanto mais cedo se inicia o processo de aprendizagem, melhor. E é baseado nesses tópicos que este trabalho se desenvolve, com a intenção de demonstrar as relações entre a primeira coleta de dados e a segunda, a prática, além de verificar se há semelhanças e diferenças, ou melhor, alterações de crenças entre o que responderam no questionário e o planejamento e execução das aulas dadas. APRENDIZES DE PE COMO L3 OU LÍNGUA ADICIONAL EM CONTEXTO MULTICULTURAL/MULTILÍNGÜE: ASPECTOS GRAMATICAIS RECORRENTES NA PRODUÇÃO ESCRITA Lucia Rottava (UERGS) Trata-se de um estudo que investiga a produção escrita de aprendizes de português como terceira língua (L3) ou língua adicional em contexto multicultural/multilíngue. O estudo envolve aprendizes, cuja língua materna

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é diversa, que foram e estão sendo expostos a mais de uma língua estrangeira em contexto acadêmico e social. Serão analisadas dados de produções escritas produzidas no período de três anos letivos (ou três níveis de proficiência) consecutivos desses participantes, considerando o contexto a que estão inseridos e as línguas que interagem e∕ou as línguas que estão aprendendo. Objetivando identificar e analisar aspectos gramaticais de tais produções, investiga-se como os aprendizes produzem e situam seus textos no que tange a (1) aspectos gramaticais recorrentes que revelam dificuldades e/ou facilidades no escrita de português como L3 ou LE adicional; (2) influência de outras LE aprendidas e/ou usadas e o contexto onde estão inseridos. Os resultados indicam diferentes origens dessas dificuldades/facilidades. A contribuição é concernente a tarefas a que os aprendizes são expostos em sala de aula. UM ESTUDO SOBRE AS ESTRATÉGIAS BOTTOM-UP EM LIVROS DIDÁTICOS DE PORTUGUÊS PARA ESTRANGEIROS Cândida Martins Pinto (CEFET-SVS, São Vicente do Sul) O objetivo deste trabalho é investigar como autores de livros didáticos de português para estrangeiros trabalham a habilidade de leitura no que se refere ao uso das estratégias bottom-up. A fim de verificar como se dá a relação entre habilidade de leitura e competência lingüística, escolheu-se analisar as seções de leitura de quatro livros didáticos de Português para estrangeiros que possuem livros do professor e estão sendo usados atualmente em sala de aula. Nesse contexto, a metodologia de análise dos dados foi pautada, primeiramente, na Teoria da Atividade na versão de Leontiev (1977), procurando identificar quais são as ações desenvolvidas pelo aluno durante a atividade de aprender Português e se essas ações podem vir a se transformar em operações. Em um segundo momento, buscou-se sedimentação teórica no Modelo Holístico de Richter (2004, 2005), como forma de descrever as tarefas de leitura dos livros e de elaborar um modelo de aula padrão. Esse modelo, embasado a favor de um ensino de leitura interativo, aplicado a uma visão em espiral de complexidade, foi cotejado com o corpus deste estudo, no intuito de verificar qual material estaria mais próximo do ideal para a internalização de itens formais específicos. Os resultados obtidos sugerem uma tendência dos autores do corpus analisado a considerar as estratégias bottom-up irrelevantes para que o aluno construa o significado do texto. O FOCO NA FORMA ATRAVÉS DE UMA TAREFA COOPERATIVA Patrícia da Silva Campelo Costa (UFRGS) Marília dos Santos Lima (UFRGS) Baseado nos estudos de Swain e Lapkin (1994, 2001), este estudo tem como objetivo analisar quais estruturas lingüísticas tendem a ser mais focalizadas

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pelos aprendizes quando da realização de uma tarefa colaborativa na aprendizagem de inglês como língua estrangeira (LE). Para tanto, foram investigados os diálogos decorrentes da aplicação da tarefa cooperativa quebra-cabeça (jigsaw), na qual os aprendizes constroem conjuntamente uma história, com duas duplas de alunos de inglês como língua estrangeira do nível intermediário de um curso de línguas. O diálogo colaborativo estabelecido entre as díades quando da realização da tarefa foi gravado em áudio e posteriormente transcrito a fim de serem examinados que tipos de estruturas eram mais negociadas pelos aprendizes no momento da co-construção. Desse modo, no presente estudo, são discutidas quais estruturas tendem a ser mais facilmente detectadas como erro pelo interlocutor no processo de diálogo colaborativo e podem, dessa maneira, ser reformuladas pelo aprendiz. A análise dos dados revela que os informantes refletiram sobre a língua alvo, reformulando seu insumo ao receber evidência negativa de seu interlocutor. A partir da análise das transcrições, percebe-se que as estruturas mais negociadas se relacionam a questões relativas ao léxico e ao uso de tempos verbais. O FEEDBACK CORRETIVO E SEU PAPEL NA REVERSÃO DA FOSSILIZAÇÃO EM APRENDIZES ADULTOS DE L2 Alessandra Herlin de Bona (Feevale) Este estudo investiga como se dá a reversão da fossilização em aprendizes adultos de Língua Estrangeira (LE), e como isso está relacionado com as diferenciadas abordagens e métodos de instrução − como instrução explícita, foco na forma, feedback corretivo e o processo de tomada de consciência. Trata-se de um estudo que busca verificar até que ponto o fenômeno da fossilização pode ser revertido através do fornecimento de feedback corretivo em um ambiente formal de aprendizagem. Analisa, também, um aspecto considerado restritivo no processo de ensino-aprendizagem – o período crítico – com as respectivas implicações no que diz respeito à fossilização. A metodologia usada para a geração dos dados consistiu na observação participante em aulas de língua inglesa, em uma turma de terceira idade, em um curso de idiomas pertencente a uma universidade do Vale dos Sinos. Dessa turma, foram selecionados dois sujeitos, com os quais se organizou um estudo de caso, analisando em profundidade diferentes aspectos que normalmente são considerados importantes no estudo da língua estrangeira, desde a motivação para o estudo do idioma até os erros cometidos na produção oral e escrita. Os instrumentos consistiram de um diário de campo, uma entrevista estruturada com os dois sujeitos, avaliações escritas e orais e instrumentos de verificação de progresso lingüístico. É importante considerar que o planejamento das aulas e o livro didático foram escolhidos visando à aplicação de uma abordagem de instrução de cunho explícito, com especial foco no fornecimento de variados instrumentos de correção. Os resultados sugerem que fatores como idade e motivação têm grande influência na sensibilidade dos aprendizes ao fornecimento de

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feedback corretivo. Sugerem também, confirmando os estudos de Larry Selinker, que sem um estudo longitudinal não é possível comprovar a ocorrência do fenômeno de reversão da fossilização em aprendizes ou falantes de língua estrangeira. A GRAMÁTICA NO ENSINO DE LÍNGUA ESPANHOLA: UM ESTUDO REFLEXIVO NA SUA APLICAÇÃO. Mª Pía Mendoza-Sassi (UFPel) Janaina Soria (UFPel) Manuella Carvalho (UFPel) Os resultados e os processos que estão presentes neste documento, são a continuidade do trabalho que começou a alguns anos no ensino da gramática dos professores em formação do idioma espanhol como língua estrangeira. A pergunta é a seguinte: Ensinar gramática descontextualizada ou reflexionar sobre ela dentro de um contexto? Durante muito tempo e ainda hoje, aprender um idioma é ensinar a gramática através da memorização e das regras, traduzir textos, exercícios de repetição, etc. é aprender fragmentadamente o que não leva o aluno a uma reflexão de seu uso em uma forma integrada e contextualizada. Os próprios estudantes vão construir os conhecimentos a partir dos estudos de investigações interagindo com os colegas e com os docentes. Seria fazer do ensino de LE uma atividade mais dinâmica e participativa, na qual os alunos vão por si mesmo participando de seu processo de aprendizagem através da reflexão da língua meta. A gramática contextualizada não só apenas enfoca os estudos lingüísticos, como também, direciona-se a uma abordagem discursiva, sociolingüisticamente e estrategicamente – desenvolvendo a competência comunicativa (Canale e Swain 1980) – interessados em desenvolver as habilidades leitora, oral, escrita e auditiva. É um enfoque inovador, onde se unem as teorias recentes da lingüística com uma gramática reflexiva (Camps 2003, Travaglia 2005, Lopez Gracia 2005,Castañeda 2006) e de uso com as teorias educativas, principalmente as de Vigostky e Leontiev, aproximando o aluno a cultura, a realidade social e lingüística da língua meta. Por isso, este enfoque não se limita tão só as prescrições da variedade padrão do idioma e sim as situações cotidianas da comunicação buscando um estudo mais atrativo, dinâmico e enriquecedor.

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GT19 Fala-em-Interação Social Coordenadores Neiva Maria Jung (UEM/UEPG) Pedro M. Garcez (UFRGS)

A COMPETÊNCIA LINGÜÍSTICA COMO TRABALHO INTERACIONAL REALIZADO EM SEQÜÊNCIAS DE FALA-EM-INTERAÇÃO Maria de la O López Abeledo (UFRGS) A descrição de competência que apresento está fundamentada no entendimento etnometodológico da intersubjetividade como procedimental, da reflexividade das ações e descrições, e da indicialidade da linguagem natural (Garfinkel, 1967; Heritage, 1984), e na perspectiva analítica êmica da Análise da Conversa etnometodológica. Nessa abordagem, as práticas interacionais dos participantes constituem recursos analíticos. Com base na análise de dados de fala-em-interação de sala de aula de espanhol como língua estrangeira, segmentados de um corpus de quase 23 horas de registro audiovisual gerado em um curso de línguas no Brasil, descrevo a aprendizagem de língua estrangeira como (a) uma realização pública, intersubjetiva, emergente e contingente, produzida para os fins práticos das atividades desenvolvidas em interações particulares; (b) observável nos métodos que constituem o trabalho dos participantes para produzir essa realização, que não são generalizáveis, mas adequados a um contexto e a identidades que eles reflexivamente instauram -institucionais ou não -, e a um objeto de aprendizagem que eles definem e tornam relevante; e (c) que produz relações de participação e pertencimento, já que isso implica a produção pública e intersubjetiva de competência para participar em atividades levadas a cabo em uma comunidade. Nesta apresentação, destaco ações dos participantes pelas quais eles produzem conhecimento compartilhado na seqüência de interação e ações pelas quais eles se orientam para esse conhecimento interacionalmente produzido, ações que constituem a competência ou pertencimento (Garfinkel & Sacks, 1970). A competência lingüística é descrita, portanto, como um trabalho interacional produzido intersubjetivamente, isto é, como uma seqüência de ações que produzem um fato social particular. Por outro lado, o trabalho de produção de conhecimento compartilhado reorganiza as relações de participação, portanto, a competência lingüística é inseparável da noção de pertencimento a uma comunidade e da realização de atividades em interação. A partir dessa análise, destaco, como contribuição da Análise da Conversa etnometodológica para a pesquisa de Aquisição de Segunda Língua, o fato de proporcionar uma abordagem teórica e metodológica que permite descrever e evidenciar empiricamente a aprendizagem de Língua Estrangeira e a produção de competência lingüística na fala-em-interação, superando a divisão competência / atuação, ou conhecimento / uso da linguagem (Firth & Wagner, 1997).

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AS POSIÇÕES DE CONSUMIDOR-RECLAMANTE EM AUDIÊNCIAS DE CONCILIAÇÃO NO PROCON Sonia Bittencourt Silveira (UFJF) Lílian Márcia Ferreira Divan (UFJF) Este estudo tem como objetivo examinar a forma como o consumidor se posiciona e é posicionado, em sua identidade institucional de reclamante, em audiências de conciliação no PROCON. Focalizamos como são construídas/negociadas a atribuição/assunção de responsabilidade entre as partes em litígio e a explicabilidade do problema que deu origem à reclamação. Esta atividade de fala é marcada pelo conflito aberto entre as partes (consumidores e fornecedores de bens e serviços) e pela tentativa de produção de um acordo, mediada por uma terceira parte, representante do PROCON, órgão de Proteção e Defesa do Consumidor. Adotando-se a Teoria do Posicionamento e uma perspectiva interacional em Estudos do Discurso, investigamos como operam, nesse contexto de fala, três dos principais princípios que devem regular, segundo o Código de Defesa do Consumidor (CDC), as relações de consumo: o princípio da vulnerabilidade; o princípio da boa-fé e o princípio da informação. O princípio da vulnerabilidade tem como uma de suas conseqüências a possibilidade de inversão de ônus da prova, o princípio da boa-fé, determina que as partes ajam de forma honesta, antes, durante e depois do contrato e o princípio da informação garante, ao consumidor, o direito de ter informações precisas sobre produtos e serviços contratados. A análise das audiências de conciliação que compõem nosso banco de dados tem mostrado que o consumidor não tem seus direitos assegurados a priori, mesmo quando estes estão aparentemente garantidos pelo CDC. A forma como as reclamações são apresentadas discursivamente e a forma como os participantes descrevem (categorizam) as pessoas e os eventos em questão têm um importante papel na solução do conflito. SOBRE A REALIZAÇÃO DE ATIVIDADES PEDAGÓGICAS EM EQUIPE E A CO-CONSTRUÇÃO DE CONTEXTOS COLABORATIVOS Gabriela da Silva Bulla (UFRGS) Este trabalho tem como objetivo investigar como participantes de uma sala de aula de Português como língua estrangeira realizam uma atividade pedagógica em equipe específica: a edição de textos. Para tal, três segmentos de fala-em-interação social foram selecionados, transcritos e analisados, segundo pressupostos teórico-metodológicos da Análise da Conversa Etnometodológica e Sociolingüística Interacional. Os segmentos fazem parte de uma seqüência de cerca de 30 minutos de interação, gravada em vídeo, durante a realização da atividade pedagógica colaborativa de edição de textos de um jornal online escrito pela turma. A análise dos segmentos

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demonstra a construção conjunta por parte dos interagentes de um modus operandis para a realização da atividade pedagógica de edição de textos. Revela como os participantes coordenam suas ações, em processos interacionais de adaptação mútua (Erickson, 2004), de modo a realizarem a atividade pedagógica em conjunto, co-construindo contextos colaborativos, nos quais a participação de ambos para a realização da atividade pedagógica é valorizada, mesmo que as opiniões sejam divergentes (Bulla, 2007). Também é possível observar-se, através da análise das transcrições multimodais (prosódicas e gestuais), os elementos constitutivos dessas ações que ajudam os interagentes a co-construírem tais contextos. ESTRATÉGIAS INTERACIONAIS E O PROCESSO IDENTITÁRIO EM CONTEXTO ESCOLAR MULTILÍNGÜE/MULTIDIALETAL Maria Elena Pires Santos (UNIOSTE) Segundo dados estatísticos do Sistema de Avaliação da Educação Básica/2003, o desempenho de alunos de 4ª e 8ª. séries em Língua Portuguesa é crítico (conf. Bortoni-Ricardo, 2007). Estes dados parecem se agravar em contextos multilíngües/multidialetais de fronteira como, por exemplo, quanto ao “letramento” – compreendido como prática social (conf. Kleiman, 1999) – de alunos “brasiguaios”. A escola, por geralmente ser o primeiro espaço com que a criança tem contato fora do ambiente homogeneizador da família e também por ser um local em que os alunos passam uma parcela considerável de seu tempo, torna-se particularmente importante para os processos identitários (conf. Bhabha, 2001, Sarup, 1996; Cavalcanti, 2003) aqui entendidos como construídos nas interações (conf. Moita Lopes, 2003; Cavalcanti, 2003; Heller, 1995, 1999, entre outros), resultando em representações (conf. Sarup, 1996; Silva, 2000) que induzem ao preconceito em relação aos usos lingüísticos dos alunos, o que contribui para a insegurança, baixa-estima e fracasso escolar. Considerando o exposto, o objetivo do presente trabalho é investigar como a interação construída em atividades de letramento interfere no processo identitário do aluno “brasiguaio”. Seguindo uma perspectiva de cunho etnográfico (conf. Erickson, 1988, 1989; Heller, 2000; Cavalcanti, 2003; Kleiman, 1998; Bortoni-Ricardo, 1999) para a geração de registros, a análise incidirá sobre uma aula de leitura em contexto escolar multilíngüe/multidialetal rural. DO MANUAL À PRÁTICA: UMA ANÁLISE INTERACIONAL DAS LIGAÇÕES ENTRE MULHERES E TELEATENDENTES DO DISQUE SAÚDE Joseane de Souza (UNISINOS) Este estudo é um subprojeto de um projeto maior de pesquisa, da Profa. Dra. Ana Cristina Ostermann, do PPG de Lingüística Aplicada da Unisinos, que se intitula Gênero, violência e sexualidade: uma investigação sociolingüística interacional dos atendimentos à saúde da mulher (Ostermann, 2005). O objetivo é investigar o que acontece na fala-em-

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interação entre mulheres atendidas e teleatendentes do Disque Saúde, o serviço de disseminação de informações sobre a saúde do Ministério da Saúde. Neste subprojeto especificamente, examina-se como os Estoques de Conhecimento Interacional (e.g. Stocks of Interactional Knowledge – SIKs, Peräkylä & Vehviläinen, 2003) são traduzidos (ou não) em práticas interacionais, a partir do que ocorre nas ligações avaliadas como plenamente satisfatórias pelas supervisoras dos/as teleatendentes e também o que acontece naquelas classificadas por elas como ainda necessitando de melhorias para atingir o que foi preestabelecido no manual de treinamento, isto é, os Estoques de Conhecimento Interacional do Disque Saúde. A abordagem teórica e metodológica utilizada é a da Análise da Conversa (Sacks, 1992), que propõe investigações de dados naturalísticos, os quais são, nessa pesquisa, 126 interações do Disque Saúde gravadas em áudio, coletadas no Setor de Ouvidoria. Reúnem-se aos dados anotações de observações sobre o contexto local. Após a gravação, as interações são transcritas de acordo com as convenções de Jefferson (1984). Ao analisarmos especificamente o início da interação (momento em que os/as participantes chegam a um entendimento da razão da ligação), notamos que há uma lacuna entre a maneira como alguns/algumas teleatendentes procedem interacionalmente e as instruções do manual de treinamento, porque o “como fazer” raramente consta ali. Também verificamos que há estratégias utilizadas pelos/as teleatendentes que parecem atender com sucesso à instrução do manual de “captar a mensagem”, como acontece quando teleatendentes utilizam questões de afunilamento e formulações, e que não necessariamente constam no manual ou são encorajadas pelas pessoas que avaliam o trabalho realizado. Com esta análise, pretendemos poder sugerir uma nova dimensão ao manual de treinamento do local pesquisado, diminuindo essa lacuna entre teoria e prática, justamente mostrando através das ações dos/as próprios/as teleatendentes uma forma de fazer aquilo que é preestabelecido no manual. “PODE PERGUNTÁ”: UMA ANÁLISE DA CONSTRUÇÃO INTERACIONAL DA CREDIBILIDADE DE SUSPEITOS EM INTERROGATÓRIOS POLICIAIS Caroline Rodrigues da Silva (UNISINOS) Daniela Negraes (UNISINOS) Este estudo propõe uma análise de interações entre suspeitos e inspetores criminais da polícia civil coletadas em uma delegacia de polícia localizada na região metropolitana de Porto Alegre. Em interações dessa natureza, há uma evidente assimetria, perceptível tanto pelo poder institucionalizado conferido aos inspetores quanto pelo formato dos turnos de fala dos participantes (pergunta-resposta). Através de uma averiguação prévia desses turnos, percebe-se que os suspeitos recorrem a uma estratégia lingüística para assegurar a aplicação do que Bourdieu (1996) denomina de capital simbólico. É pertinente pensar que os suspeitos são participantes de uma

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interação em que, além de terem que lidar com um papel interacional que lhes confere menos poder, se vêem impelidos a construir uma imagem, através de suas falas, de sujeitos merecedores de credibilidade. Tomaremos como base uma perspectiva êmica, que orienta que se olhe para o modo como os participantes co-constrõem as ações que os próprios participantes parecem apontar como interacionalmente relevantes. Para realizar essas análises nos valeremos das ferramentas oferecidas pela Análise da Conversa e pela Sociolingüística Interacional. “HOW CAN I SAY ÚTERO?” E “HOW CAN I SAY /SE: IU/?: APRENDER A FAZER APRENDER EM DOIS MOMENTOS INTERACIONAIS DE UMA ATIVIDADE PEDAGÓGICA Paola Guimaraens Salimen (UFRGS) Este trabalho é parte de minha pesquisa de Mestrado sobre pedidos e ofertas de ajuda durante os momentos de ensaio e apresentação da atividade pedagógica de encenação em grupos. Os dados foram gerados para os estudos Salimen e Garcez (2005), Freitas (2006) e Salimen (2006), sendo o corpus da minha pesquisa a realização dessa atividade pedagógica em um único encontro (aproximadamente 20 minutos). Neste trabalho examino pela perspectiva da Análise da Conversa Etnometodológica duas ocorrências de pedidos de ajuda em que os participantes dessa sala de aula de Língua Estrangeira solicitam um item lingüístico na língua alvo e, para tanto, envolvem o uso da pergunta “como se diz...”. Em ambas as seqüências os participantes que fazem o pedido de ajuda apresentam um possível candidato sujeito à confirmação e esses candidatos são identificados como fonte de problema de entendimento e são descartados para que o pedido de ajuda possa ser atendido. Em ambos os segmentos, além do item solicitado, o próprio modo como o pedido de ajuda é feito é tornado relevante como objeto de aprendizagem. Um dos segmentos foi registrado no momento da atividade pedagógica em que os participantes ensaiavam a encenação para apresentá-la posteriormente ao restante dos participantes. O outro foi registrado durante a apresentação. Discuto as diferenças e semelhanças da organização seqüencial na realização e problematização dos pedidos de ajuda em ambos os momentos, bem como o uso de “how can I say...” como um método de se fazer o trabalho interacional de aprender. ESTRATÉGIAS DE CATEGORIZAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE DE CONSUMIDOR (NO DISCURSO) EM AUDIÊNCIAS DE CONCILIAÇÃO Thenner Freitas da Cunha e Carolina Peixoto Barros (UFJF) O presente trabalho tem como objetivo identificar as estratégias de categorização utilizadas para a construção de identidade através do discurso da fala-em-interação. A contribuição da Análise da Conversa, de base etnometodológica, ao estudo da identidade remonta aos primeiros trabalhos

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de Sacks (1992), sobre a importância fundamental do uso que as pessoas fazem dos mecanismos de categorização na linguagem (cf. a expressão cunhada pelo autor “membership categorization devices”), sendo a categoria “identidade” um tipo particular de categorização. Agrupar as pessoas em categorias A, B, C, etc., coloca em cena uma gama de características e atributos associados aos rótulos atribuídos a tais categorias. Por outro lado, as pessoas podem ser membros de uma infinidade de categorias, que serão atualizadas, no discurso, via rótulo categórico ou características/atributos associados. O corpus analisado corresponde a audiências de conciliação realizadas no PROCON de uma cidade de Minas Gerais. Os dados foram gravados em áudio e transcritos de acordo com as convenções da Análise da Conversa Etnometodológica (SSJ.1974). Focalizamos, neste estudo, as estratégias de categorização envolvidas na construção da identidade de consumidor pelos participantes das audiências de conciliação no PROCON, examinando as diversas identidades discursivas que o reclamante torna relevante no curso da interação, através de atividades seqüencialmente organizadas e das estratégias de categorização utilizadas por ele e pelas outras partes, mostrando como esses recursos estão relacionados à construção de identidades discursivas. BUSCANDO COMPREENDER UMA NEGOCIAÇÃO DE IDENTIDADES: ENTENDENDO MELHOR PRÁTICAS DE LETRAMENTO A PARTIR DE DADOS INTERACIONAIS Luanda Rejane Soares Sito (UNICAMP) Este trabalho apresenta uma microanálise interacional de um evento de negociação entre lideranças quilombolas e representantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), a partir de um dado audiovisual de fala-em-interação social de uma reunião pública ocorrida no próprio INCRA. O objetivo da análise é focar como os participantes negociam suas identidades ao interagirem. O trabalho é parte de nosso projeto de mestrado, o qual pretende descrever e analisar como lideranças de uma comunidade quilombola lidam com interações em que necessitam usar a escrita, em especial no contexto que vivenciam atualmente de regularização de suas terras, principalmente no âmbito da Associação Comunitária, considerando as relações de poder dessa instituição local. Este projeto dá continuidade à pesquisa realizada entre 2005 e 2006, que teve como objetivo maior entender as práticas de letramento locais num contexto de disputa por terras, envolvendo identidades quilombolas. Nessa pesquisa anterior, observou-se que a visibilidade e o contato com a escrita aumentaram no âmbito da Associação, organização construída por conta do processo de titulação das terras que exigiu práticas letradas para sua administração. Percebeu-se também tensão entre a concepção de confiança local, baseada na oralidade, e o valor de confiança dos agentes públicos externos, calcado na escrita. Utilizando a perspectiva dos Estudos de Letramento, temos como foco de análise o evento de letramento (Heath,

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1982). Em nossa análise para este trabalho, que segue a orientação teórica e epistemológica dos Estudos do Letramento (Heath, 1982, Kleiman, 1995), utilizamos o aporte teórico-metodológico da Sociolingüística Interacional e da Análise da Conversa Etnometodológica, afim de compreender melhor a negociação de identidades ocorridas no evento. A partir dessa análise, pretendemos entender melhor sua repercussão para a compreensão das práticas de letramento de uma das comunidades participantes, tendo em vista que a negociação das identidades tem relação com a concepção de confiança local. FORMAS DE TRATAMENTO NO COMÉRCIO PORTO-ALEGRENSE Thiago Bolívar (UNICAMP) Este trabalho apresenta os resultados de uma investigação sociolingüística do uso de formas de tratamento em interações comerciais na cidade de Porto Alegre, RS. Foram delimitados, de acordo com caracterizações de ordem socioeconômica, três ambientes para a coleta de dados: o shopping center Iguatemi, o shopping center Praia de Belas e o comércio (ambulante ou não) de determinadas ruas do centro da cidade. Por meio de uma pesquisa rápida e anônima (rapid and anonymous survey) tal como descrita por Milroy & Gordon (2003), foi constatado, na situação de atendimento de vendedores a clientes, que a forma você tem uma freqüência de uso comparativamente alta no Iguatemi e praticamente nula no Centro, enquanto que o Praia de Belas apresenta números intermediários. Constatou-se também uma maior freqüência de uso da forma você por parte de falantes do sexo feminino. POR UMA NOVA DEFINIÇÃO DE NEUTRALIDADE Roberto Perobelli de Oliveira (UFJF) O presente trabalho tem por finalidade discutir a noção de neutralidade a partir de algumas práticas conversacionais de uma assistente social, atuando como mediadora em um processo de regulamentação de visitas, na Vara de Família do fórum de uma cidade no interior do estado do Rio de Janeiro. Tomaremos por base uma das transcrições dos encontros de mediação gravados em áudio e realizados nas circunstâncias do referido processo, do qual participaram, além da assistente social, o requerente e a requerida do processo. Tais transcrições foram feitas de acordo com a orientação teórico-metodológica dos estudos em análise da conversa. Algumas práticas locais serão descritas, tais como: discordância, pedido de esclarecimentos, tentativa de “refocalizar” a discussão e repreensão de ambas ou de apenas uma das partes. A descrição dessas práticas demonstrará que o conceito de neutralidade não é algo a ser definido abstratamente, mas em uma perspectiva êmica, em que se leve em conta a perspectiva dos participantes, tanto da mediadora em relação às partes, quanto no sentido inverso.

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SOBREPOSIÇÕES DE VOZES, PARTICIPAÇÃO E CONSTRUÇÃO DE APRENDIZAGEM NA FALA-EM-INTERAÇÃO DE UMA ESCOLA PÚBLICA MUNICIPAL Carmen Alessandra Gonçalves Reis (UFRGS) Pedro de Moraes Garcez (UFRGS) Este trabalho analisa sobreposições (Schegloff 2000; 2002) na fala-em-interação de sala de aula de uma turma de 1º ano do 2º ciclo de uma escola pública da rede municipal de Porto Alegre. Tem-se por objetivo observar esse fenômeno em “momentos quentes de aprendizagem”, isto é, “seqüências interacionais em que os múltiplos participantes de eventos interacionais em situações de fala-em-interação institucional escolar criam condições para a produção conjunta de conhecimento, que é legitimada como relevante entre eles” (Garcez, 2007, p. 31). O interesse para tal investigação surgiu, sobretudo, de acreditar que tais momentos de aprendizagem emergem do trabalho colaborativo dos participantes, e que as sobreposições podem ocorrer quando há empenho das partes envolvidas em construir a ação em favor da aprendizagem. Para este trabalho, foram visualizados cerca de 30 horas de dados audiovisuais de fala-em-interação de sala de aula e examinadas as transcrições de dados já segmentados e diários de campo de observação relativos ao ano escolar de 2003. Em seguida, foi feita a segmentação e transcrição de um dado, também gerado em 2003, que foi comparado a outros dados já analisados e apresentados em trabalho anterior (Schulz, 2003). Observou-se a ocorrência de sobreposições de vozes em quatro momentos, dois deles em que o participante aponta um questionamento relacionado com a pauta em questão naquele momento da interação e dois em que há produto emergente, ou seja, a questão levantada surge de tema não relacionado à pauta institucional e é tornada relevante por diversos participantes, havendo disputa para a tomada de turnos e auto-seleção por mais de um participante, resultando em sobreposição de vozes. Em um desses momentos, a ratificação do produto emergente pela professora é feita através de uma oferta de ajuda que dá lugar a uma seqüência de ações, promovendo a construção de currículo e de aprendizagem por todos os participantes. Os dados foram gerados em uma escola cujo projeto político-pedagógico se propõe a formar cidadãos participativos (Schulz, 2007) e tem como eixo central a noção de que todos os alunos podem aprender. A análise dos dados demonstra que todos podem aprender, em alguns casos, também a professora regente, corroborando a realização prática e situada do projeto político-pedagógico da escola conforme descrita em trabalhos anteriores.

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INSERÇÕES PARENTÉTICAS: MECANISMOS DE INTERAÇÃO SOCIAL Luciane Braz Perez Mincoff (UEL) A Análise da Conversação procura verificar a funcionalidade e a contribuição de recursos lingüísticos utilizados na fala capazes de promover ou favorecer a interação entre os membros das mais variadas situações de interação sócio-comunicativas. Desenvolvemos uma pesquisa tomando por base a contação de histórias como situação de interação social. Assim, reconhecendo a importância do ato de contar histórias para crianças, precisamos salientar a necessidade da preocupação com a maneira de contar as histórias, pois, muitas vezes, o sucesso do ato de contar histórias se dá por meio das estratégias escolhidas, das histórias selecionadas e do envolvimento do contador com história. Ao praticarmos essa atividade, que é oral, conseqüentemente, fazemos uso de recursos específicos da língua falada, assim, utilizamos como suporte teórico-metodológico apontamentos e conceituações da Análise da Conversação. Entre os recursos da língua falada que podemos utilizar na contação de histórias podemos citar pausas, truncamentos, repetições, reformulações, correções, hesitações, paráfrases, elipses, anacolutos, digressões e parênteses. Os parênteses ocupam um lugar de realce neste trabalho, pois foi este o elemento ou recurso da língua falada que selecionamos para servir de “mola-mestra” dessa pesquisa. Nosso objetivo com esta apresentação é divulgar o resultado de um estudo realizado acerca das inserções parentéticas em relatos orais de narrativas infantis consagradas. Este trabalho foi desenvolvido com o cumprimento das seguintes etapas: a. Levantamento bibliográfico a respeito do tema, pesquisa e leituras; b. seleção dos contos que constituem o corpus do trabalho; c. contato com os professores/contadores e com as Instituições; d. coleta das narrativas orais; e. seleção das narrativas escritas, na versão clássica e nas versões atualizadas; f. transcrição dos dados; g. análise e discussão dos dados. Neste evento, esperamos que com a realização e partilha dos resultados dessa pesquisa possamos contribuir com todos aqueles que valorizam o ensino de línguas e que, como nós, buscam os mais variados meios de efetivar o encantamento pela aprendizagem de língua materna, além de poder contribuir, também, com a melhoria da qualidade de ensino, nas atividades que devem ser desenvolvidas nos ambientes educacionais.

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GT20 Variação e mudança em morfossintaxe Coordenadores Odete Pereira da Silva Menon (UFPR) Edair Maria Görski (UFSC) O USO VARIÁVEL E O VALOR SOCIAL DE NÓS E A GENTE EM TEXTOS ESCRITOS Ana Kelly Borba da Silva (UFSC) Esta pesquisa trata sobre o uso variável das formas pronominais “nós” e “a gente” na posição de sujeito e do valor social dessas formas nas escolas. Com base nos princípios da Sociolingüística Quantitativa Laboviana, foram levantados fatores lingüísticos e sociais, com a finalidade de explicar sua diferente distribuição, bem como os possíveis condicionadores. O estudo focaliza o uso das formas “nós” e “a gente” no 6º ano (5ª série) e no 9º ano (8ª série) do Ensino Fundamental em duas escolas: uma da rede pública e outra da rede privada de ensino de Florianópolis. Realizou-se uma coleta de dados, a partir de uma mesma proposta de narração solicitada a todos os discentes, a saber: eles deveriam relatar a respeito de um momento marcante de suas histórias (triste ou alegre), vivenciado com outras pessoas – para se resgatar, preferencialmente, a primeira pessoa do plural. Após a coleta, foram realizadas a categorização dos dados e a análise estatística, utilizando-se do pacote VARBRUL, assim como foi feita uma análise qualitativa. Os resultados gerais desta pesquisa atestam estudos já realizados a respeito da influência do entorno social no contínuo oralidade-letramento (cf. BORTONI-RICARDO, 2004), uma vez que apontam para um uso menos monitorado da forma “a gente” nas duas séries da Escola Pública em contraposição a um uso mais monitorado das mesmas formas nas duas séries da Escola Privada. A MANIFESTAÇÃO MORFOSSINTÁTICA DA ORDEM PRONOMINAL NO RIO DE JANEIRO E NO RIO GRANDE DO SUL: UM EXAME VARIACIONISTA DO EMPREGO DOS CLÍTICOS EM TEXTOS LITERÁRIOS DO SÉCULO XX Daniely Cassimiro de Oliveira Santos (UFRJ) É propósito da presente investigação descrever, de modo pormenorizado, as regras de colocação pronominal que efetivamente atuam no Português Brasileiro (PB) do século XX, em sua modalidade escrita literária, aquela que tradicionalmente serve de “corpus” às descrições lingüísticas. Isto posto, promove-se um estudo contrastivo entre as variedades do idioma correspondentes aos estados Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, em décadas do século passado. Esta pesquisa, de estatuto variacionista, vale-se das premissas preconizadas pela Sociolingüística Laboviana, orientação investigativa que concebe o sistema das línguas como uma instância legítima de variação intrínseca não-

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arbitrária, passível de descrição, uma vez que fatores de ordem lingüística e extralingüística atuam na ocorrência do fenômeno em variância e/ou mudança. Para a abordagem específica da cliticização, estuda-se o Parâmetro de Precedência, proposto por Klavans (1985), haja vista o caráter eminentemente morfossintático da investigação. Para o exame do fenômeno, procede-se à análise dos dados extraídos dos corpora criteriosamente constituídos por textos literários do século já mencionado, cuja eleição se deveu à autoria de escritores representativos da Literatura Brasileira desenvolvida no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul. No que respeita ao tratamento estatístico das ocorrências de pronomes átonos obtidas na amostra, a presente pesquisa vale-se do Pacote de Programas GOLDVARB (2001), instrumental que fornece, entre outras informações, os índices matemáticos que permitem julgar a relevância dos grupos de fatores para a regra variável. À luz dos respaldos de estudos predecessores, pode-se, de forma preliminar, postular algumas tendências particulares acerca do evento de colocação pronominal na modalidade escrita do PB, a saber: as variáveis de cunho lingüístico “presença de um possível elemento proclisador”, “tipo de clítico” e “tempo e modo verbais” apresentam-se como fatores relevantes à compreensão do fenômeno examinado. Em termos extralingüísticos, presume-se, por ora, que as variedades contempladas não apresentam diferenças substanciais na modalidade escrita literária. Por todos os esclarecimentos, aqui prestados, constate-se que esta investigação – ao descrever as normas que presidem a ordem em registros literários do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, suscitando novos questionamentos que garantem o prosseguimento de estudos futuros sobre o tema – contribui por apresentar informações ao parco conhecimento de que se dispõe acerca do fenômeno de colocação no PB do século XX, cuja descrição a gramática contemporânea do idioma pede seja revisitada. DUAS REALIDADES SOCIOLINGÜÍSTICAS DISTINTAS – A VARIAÇÃO DA CONCORDÂNCIA VERBAL NO SUL E NO NORDESTE DO BRASIL Caroline Rodrigues Cardoso (UnB) Há vasto conjunto de resultados provenientes de pesquisas sobre o fenômeno da variação da concordância verbal implementadas no país desde a década de 80 (Naro, 1981; Guy, 1981; Naro & Scherre, 1998; Scherre & Naro, 2004) em diversas comunidades do Sudeste, do Nordeste e do Sul. Aqui, pretende-se confrontar, à luz da Sociolingüística Variacionista (Labov, 1972; Sankoff, 1988; Robinson et al., 2001), resultados obtidos em pesquisas com as comunidades florianopolitana (Monguilhott, 2001) e porto-alegrense (Liege, 2004), de um lado, com a comunidade pessoense (Anjos, 1999) e com uma falante maranhense radicada em Brasília (Cardoso, 2005), de outro lado. Num pólo, encontra-se uma área de homogeneidade dentro da heterogeneidade quando se olham os pesos relativos de variáveis lingüísticas como saliência fônica do verbo, traço semântico do sujeito, adjacência do

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sujeito em relação ao verbo e paralelismo formal. Em outro pólo, encontram-se freqüências relativamente diferentes quando se analisam variáveis externas como a escolaridade. Até o momento, as variáveis lingüísticas têm realmente se revelado bastante homogêneas no cenário nacional e parece que variáveis sociais como a escolaridade não, a depender da região. O que pode estar influenciando a constituição desses dois pólos dentro de análises análogas do mesmo fenômeno? Isso pode ser reflexo de diferenças no sistema educacional ou no ensino, na aquisição do português como segunda língua na região Sul, no contato com a mídia e com pessoas letradas, no perfil socioeconômico-cultural de cada região, enfim, é necessário investigar. O fato é que quanto mais alto o grau de escolaridade, mais alta a taxa de concordância: pesquisa de Naro & Scherre (2003) demonstra aumento da taxa de concordância proporcionalmente ao aumento da escolaridade na fala de pessoas recontactadas 20 anos depois de apresentarem baixa taxa de concordância. Encontra-se em implementação trabalho para tentar desvendar essa disparidade entre as taxas de concordância das regiões Sul e Nordeste. Por ora, nossa intenção é confrontar os resultados já obtidos, salientando as semelhanças de comportamento das variáveis lingüísticas e levantando hipóteses para as diferenças regionais no campo extralingüístico. A EMERGÊNCIA DOS MARCADORES DISCURSIVOS OLHA E VÊ: INVESTIGAÇÃO ENTRE LÍNGUAS Cláudia Andrea Rost-Snichelotto (UFSC) Verbos de percepção associados à 2ª pessoa do discurso (P2) em enunciados de comando na forma imperativa, como olhar e ver, tendem a derivar Marcadores Discursivos (MDs) em diversas línguas, tais como em espanhol mira (cf. Pons Borderi’a, 1998a, 1998b), francês regarde (cf. Dostie, 1998), inglês look, alemão sieh mal / sehen Sie / schauen Sie e italiano guarda (cf. Waltereit, 2002), olha/veja (cf. Rost, 2002). Todavia, conforme Waltereit (2002, p. 1008), ainda que, em muitas línguas, existam MDs derivados de imperativo, não têm necessariamente as mesmas funções. Pretende-se, neste trabalho, com base numa amostra de dados de informantes do Banco VARSUL (Variação Lingüística Urbana no Sul do Brasil) do estado de Santa Catarina, investigar se os contextos favorecedores para a emergência dos MDs nessas línguas são os mesmos do PB. VARIAÇÃO NO FUTURO DO SUBJUNTIVO NO PB: UM ESTUDO SOCIOFUNCIONALISTA Diana Liz Reis (UFSC) O objetivo deste trabalho é abordar alguns questionamentos acerca do modo como as gramáticas da língua portuguesa abordam o futuro do subjuntivo e o modo como seu uso variável se dá na fala de Florianópolis, como em Quando eu propor/propuser o acordo, por exemplo. Parte-se dos pressupostos teórico-metodológicos da Sociolingüística Variacionista

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(Labov, 1972) e Funcionalismo Lingüístico (Givón 1993; Bybee, Perkins & Pagliuca, 1994). Para estes últimos autores, o subjuntivo vai se gramaticalizando nas línguas através de formas verbais específicas, influenciado por mecanismos de mudanças semânticas que são construídos em contextos sintáticos específicos. As modalidades orientada-ao-agente, orientada-ao-falante e epistêmica podem ser um “mecanismo alimentador” para o surgimento das orações subordinadas, se o tipo de oração subordinada for harmônico com o sentido dos usos desses modos. Nossa hipótese é de que os resultados caracterizem o fenômeno em estudo como um domínio funcional complexo, que sofre influência de motivações de natureza diversa. A REGÊNCIA DE VERBOS DE MOVIMENTO – UMA ABORDAGEM VARIACIONISTA Maria José Blaskovski Vieira (UNIRITTER) No Português brasileiro, é possível constatar-se o uso variável de preposições que regem verbos de movimento. A tradição gramatical brasileira prescreve a seleção de preposições direcionais para verbos como “chegar”, “vir”, “ir”. No entanto, na fala coloquial, é a preposição locativa “em” que se realiza juntos a esses verbos. Neste trabalho, pretende-se discutir o processo de alternância que atinge as preposições que regem esse tipo de verbo. Para tanto, serão utilizados, do Banco de Dados VARSUL, dados de 16 informantes de cada uma das três capitais da Região Sul: Porto Alegre, Florianópolis e Curitiba, dados esses que serão submetidos a uma análise quantitativa. Busca-se, através da análise variacionista, identificar os fatores lingüísticos e extralingüísticos que condicionam a escolha da preposição que rege esses verbos e, com base no Funcionalismo, uma explicação teórica para a variação. Interessa a este trabalho o princípio funcionalista da iconicidade e, mais especificamente, um princípio a ele associado: o princípio da proximidade. De acordo com esse princípio, a contigüidade na codificação lingüística tende a refletir uma proximidade existente no plano conceptual. Trabalha-se com a hipótese de que a variação no uso das preposições com verbos de movimento pode ser resultado de um afrouxamento, no plano conceptual, da relação entre a preposição e o verbo, por um lado, e do estreitamento da relação entre preposição e argumento do verbo ou adjunto, por outro lado. A CONCORDÂNCIA VERBAL DE TERCEIRA PESSOA DO PLURAL EM PANAMBI/RS Rosane Werkhausen Luersen (UFRGS) A variação na concordância verbal de 3ª pessoa do plural é um aspecto comum ao português popular brasileiro. Muitos estudos já foram desenvolvidos com o intuito de elucidar as variáveis lingüísticas e sociais relacionadas com essa variação. Nesse contexto, este trabalho vem se acrescentar a essas pesquisas, levando em conta, mais especificamente, o

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contexto bilíngüe em que os informantes estão inseridos. Busca-se, por isso, analisar fatores lingüísticos e sociais relacionados à variação na concordância verbal de terceira pessoa do plural (P6), na fala de 25 informantes bilíngües de Panambi/RS, do gênero masculino e feminino, entre 26 e 72 anos, que fazem parte do Banco de Dados do VARSUL, totalizando 2.599 ocorrências. O trabalho orienta-se pelo modelo variacionista de análise do uso da linguagem e as ocorrências foram analisadas em uma perspectiva quantitativa, a partir das rodadas feitas no programa computacional VARBRUL (Cedergren & Sankoff, versão Pintzuk, 1988). Pretendeu-se estudar os fatores lingüísticos e sociais associados à ausência e presença de desinência, padrão e não-padrão, de concordância verbal na terceira pessoa do plural. A primeira das hipóteses é de que: a) por ser uma comunidade bilíngüe, em que o português, para a maioria dos falantes, foi adquirido na escola, há uma presença significativa de desinência de 3ª pessoa do plural, mesmo que seja não-padrão e que, conseqüentemente, os informantes mais escolarizados tendem a aplicar mais a regra da concordância. Além dessa hipótese, tem-se também que: b) o sujeito posicionado antes do verbo facilita a concordância entre ambos; c) o grau de saliência morfológica entre a forma singular e plural esteja relacionado com a probabilidade de aplicação da regra de concordância; d) os jovens usam mais a concordância padrão (devido a sua maior escolaridade); e) os informantes que trabalham em atividades mais intelectuais tendem a aplicar mais a regra da concordância verbal. DE FALANTES NÃO ESCOLARIZADOS A FALANTES COM FORMAÇÃO SUPERIOR: UMA OBSERVAÇÃO DA REALIZAÇÃO DO OBJETO DIRETO ANAFÓRICO Niguelme Cardoso Arruda (CNPQ/UNESP-Araraquara) Alicerçado nos pressupostos teórico-metodológicos da Sociolingüística Variacionista, este trabalho se propõe a verificar como se comportam lingüisticamente, em relação à realização do objeto direto (OD) anafórico, os falantes do português brasileiro (PB). Nessa observação, os usuários do referido sistema lingüístico serão considerados dentro de um continuum que abrange pessoas sem qualquer escolaridade a falantes com grau superior de escolaridade. Isso oferecerá uma base empírica para que este estudo discuta, ainda, a relação entre o que se tem considerado como PB culto e PB popular. Para tanto, entende-se que, na medida em que o falante avança em seu grau de escolaridade, um maior contato com o que se denomina norma culta é estabelecido. A esse respeito, Matos e Silva (2004) afirma que a instrução escolar sistemática deve ser o veículo mais eficiente e evidente de difusão da norma culta. Será considerado, também, que um sistema lingüístico contempla tanto uma norma popular como uma culta, devendo, talvez, serem entendidas, ambas, de forma plural, dado que se percebe tanto em uma como em outra um continuum constituidor da variação, podendo esse caráter ser sustentado pelo fato de que “as linhas que delimitam essas variedades,

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porém, são tão tênues que se entrecruzam” (PRETI, 2004, p. 14). Essa possível proximidade entre as normas, permite-nos supor que as diferenças quantitativas apresentadas pelos dados, sobretudo no que diz respeito ao uso de clíticos em função de OD, variante canonizada pela Gramática Tradicional – mecanismo normatizador do que se considera norma padrão –, não se mostrarão tão acentuadas. Para tanto, serão considerados os resultados apresentados pelos estudos sincrônicos de Silva (2004), Matos (2005) e Arruda (2006). Esses estudos nos permitirão, ainda, verificar (e comparar) como se comportam lingüisticamente falantes de diferentes regiões do país, uma vez que Silva (2004) desenvolve seus estudos tendo como informantes pessoas que compõem uma comunidade baiana; Matos (2005) apresenta como informantes moradores de uma pequena cidade sergipana (esses dois estudos utilizam-se de informantes com pouca ou nenhuma escolaridade); e Arruda (2006) tem seu estudo desenvolvido com informantes com formação superior, uma vez que estrutura seu corpus a partir de inquéritos do projeto NURC (Norma Urbana Culta), modalidade DID (Diálogo entre informante e documentador), das cinco capitais por ele compreendidas. ¨NÃO É QUE EU NÃO APROVE.¨ Tatiana Schwochow Pimpão (UFSC) A regra variável, um dos pilares da teoria sociolingüística laboviana, precisa ser eventualmente revisitada, especialmente com a extensão dos estudos sociolingüísticos para a análise de fenômenos sintáticos e discursivo-pragmáticos. Nesses casos, apresentam-se ao pesquisador duas possibilidades: restrição da noção de mesmo valor de verdade e de contexto, sob pena de exclusão de alguns dados, ou expansão da noção de mesmo valor de verdade e de contexto, o que permite abarcar a totalidade de dados. Essa segunda opção foi escolhida por mim para o tratamento da variação entre o presente do modo subjuntivo (PS) e o presente do modo indicativo (PI). Em Pimpão (1999), propus desvincular modo verbal de modalidade, tratando modo como uma categoria morfológica e modalidade como uma categoria discursivo-pragmática, ou seja, uma propriedade da interação comunicativa e não da flexão verbal. Nesse estudo, considerei o traço de incerteza como sendo o ¨mesmo contexto¨ para ocorrência do PS e do PI. Entretanto, dados reais de fala, como o apresentado no título, que cancelam inferência pragmática, levaram-me a reconsiderar a noção de regra variável, que prevê duas variantes sendo utilizadas no mesmo contexto e com o mesmo valor de verdade. Mantendo o traço de incerteza como mesmo contexto, eliminaria esses dados que, embora não sejam numerosos, mostram uma nítida variação entre PS e PI. Assim, a proposta desse trabalho é alargar a noção de regra variável, de modo a contemplar todos os casos em que as variantes em análise aparecem. Para tanto, o embasamento teórico centra-se essencialmente em Labov (1972), em Weiner & Labov (1977), no estudo sobre a passiva sem agente, que suscitou o debate entre Lavandera

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(1977) e Labov (1978) acerca da validade da regra variável no estudo de fenômenos não-fonológicos e da natureza social dos fenômenos lingüísticos. Para constituição da amostra, utilizo entrevistas de Florianópolis, armazenadas no Banco de Dados do Projeto VARSUL (Variação Lingüística Urbana da Região Sul do País), totalizando 319 ocorrências da variável. A CONCORDÂNCIA VERBAL DE P6 EM PELOTAS E SUA RELAÇÃO COM A DIMENSÃO ‘CLASSE SOCIAL’ Luís Centeno do AMARAL (UFPel) Giane Rodrigues dos SANTOS (UPF) Aos muitos estudos de concordância verbal no Brasil, soma-se este, que pretende analisar os processos variáveis na aplicação da regra de concordância, contrastando formas marcadas (padrão ou não-padrão) com não-marcadas. Para tanto, adotamos a abordagem da Teoria da Variação Laboviana, pois essa perspectiva teórica procura depreender as relações entre o uso lingüístico e o contexto social. ‘Classe Social’ esteve dentre as variáveis selecionadas. A interação de Classe Social com gênero conduz à interpretação de que homens de classe social baixa produzem metade da concordância produzida pelas mulheres de sua classe e um terço da produzida por homens de classe média alta. Demonstra também, a análise, que as taxas de aplicação das marcas de concordância estão estáveis nos últimos cinqüenta anos na classe baixa. De modo análogo, a relação entre concordância padrão e não-padrão na comunidade favorece ligeiramente os usos mais próximos do padrão. Entretanto, a classe média-alta utiliza preferencialmente concordância padrão, enquanto que a classe baixa utiliza maiormente concordância não-padrão, ainda que, nas últimas cinco décadas, a taxa de concordância padrão nesta classe tenha passado de doze para cinqüenta e sete por cento. OCORRÊNCIAS DE MODO SUBJUNTIVO NAS ENTREVISTAS DO VARSUL NO PARANÁ E AS POSSIBILIDADES DE VARIAÇÃO COM O MODO INDICATIVO Edson Domingos Fagundes (UTFPR) Nesta comunicação apresentamos os resultados obtidos e discutidos na pesquisa de doutorado de FAGUNDES (2007). Nela é tratada a descrição das ocorrências de modo subjuntivo, bem como se discorre a respeito das possibilidades de alternância entre as formas verbais do indicativo e do subjuntivo nas cidades de Curitiba, Irati, Londrina e Pato Branco, pertencentes ao banco de dados do Projeto VARSUL no estado Paraná. A descrição dos dados é feita considerando como variável dependente o modo verbal, já para o entendimento do fenômeno de alternância entre os modos verbais foram trabalhadas as seguintes variáveis lingüísticas: tipo de oração, tempo verbal da oração principal, tempo verbal da ocorrência (na oração subordinada ou na independente) e modalidade.

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Desse conjunto de fatores, o programa estatístico Varbrul selecionou como grupos de fatores estatisticamente relevantes tipo de oração e modalidade, indicando que as orações subordinadas substantivas e independentes e a modalidade conduta e desejo favorecem as ocorrências de modo subjuntivo. A pesquisa analisa ainda as variáveis extralingüísticas: cidade, faixa etária, grau de escolaridade e sexo do informante. Nesse caso, somente a distribuição dos dados por cidade se mostrou relevante do ponto de vista estatístico. As ocorrências de modo indicativo têm maior probabilidade de ocorrência em Curitiba e as de modo subjuntivo em Irati. UM ESTUDO DIACRÔNICO DESCRITIVO SOBRE AS FORMAS DE FUTURIDADE Adriana Gibbon (FURG) Este trabalho tem como objetivo descrever quantitativamente as formas de expressão do tempo futuro na língua escrita através da coleta e análise de dados de peças teatrais que totalizam desde os primórdios do século XIX até o início do século XX. A escolha do corpus se dá pela tentativa de aproximar ao máximo a língua escrita da falada, uma vez que as peças teatrais contêm muito diálogo e que, em determinados autores, há uma preocupação em retratar a fala vigente do seu tempo. Esta pesquisa tem como pressuposto teórico a sociolingüística diacrônica. Há três formas produtivas principais encontradas no corpus: o presente do indicativo, a forma perifrástica (IR + Infinitivo) e o futuro do presente. Além dessas, encontramos outras formas que, em determinados períodos, revelaram-se produtivas, tais como: perífrase haver + infinitivo, futuro perifrástico, futuro perifrástico com gerúndio, perífrase estar (futuro) + particípio e perífrase estar (futuro) + gerúndio. A distribuição das formas ao longo dos períodos permite-nos avaliar a entrada da forma perifrástica (IR + Infinitivo) na língua e o desaparecimento do futuro do presente nesse tipo de texto. O COMPLEXO COMPORTAMENTO DA ORDEM DOS CLÍTICOS EM COMPLEXOS VERBAIS Silvia Rodrigues Vieira (UFRJ) Perseguindo o principal objetivo de apresentar a norma de uso relativa à ordem dos pronomes átono em complexos verbais, o presente trabalho, que tem por referência os parâmetros de cliticização propostos por Klavans (1986), considera a modalidade escrita da Língua Portuguesa em gêneros textuais do domínio jornalístico da variedade brasileira (PB). Analisam-se dados extraídos de textos jornalísticos do fim do século XX, disponibilizados pelo Projeto VARPORT – Análise Contrastiva de Variedades do Português, além de textos coletados especialmente para o desenvolvimento da presente pesquisa. O “corpus” utilizado contempla os gêneros textuais anúncios, editoriais e notícias. A pesquisa baseia-se no arcabouço teórico-metodológico da Teoria da Variação Laboviana e no

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instrumental básico para análise oferecido pelo pacote de programas GOLDVARB. Tais programas são utilizados no tratamento estatístico dos dados, cujos índices fornecem subsídios para a interpretação dos resultados. A análise dos dados permitiu observar que a cliticização pronominal se apresenta de forma diferenciada em função do contexto morfossintático em que se insere o clítico: em início absoluto de oração ou nos demais contextos. Além disso, os resultados preliminares da investigação sugerem que a regra de colocação pronominal parece estar condicionada fundamentalmente às seguintes variáveis lingüísticas: a presença de elemento proclisador, a forma do verbo principal e o tipo de clítico. Espera-se que o presente trabalho – que determina o condicionamento lingüístico e extralingüístico das estruturas sob análise – colabore para a ampliação das informações referentes à ordem dos clíticos pronominais na Língua Portuguesa, considerando especialmente a “complexidade dos complexos verbais”, contextos pouco estudados no que se refere ao tema pesquisado. O SISTEMA DE COLOCAÇÃO PRONOMINAL DA COMUNIDADE DE PORTO ALEGRE Márcia Silva de Castro (PUCRS) Este trabalho tem como principal objetivo colaborar com as investigações variacionistas, de acordo com Pagotto (1998), Faraco (2002), Camacho (1985), Mattos e Silva (2002) etc., que buscam redefinir o conceito de norma-padrão a fim de contribuírem para a melhoria do ensino de nosso vernáculo. Pretende-se especificamente apresentar a distribuição sincrônica do sistema de colocação pronominal usado na fala e em textos escritos da comunidade porto-alegrense. A questão que será levada em conta é se existe uma uniformidade no sistema de colocação dos pronomes, ou seja, independente da modalidade de uso da língua (tanto oral como escrita) há predominância de próclise, mesmo em contextos onde a norma-padrão estipula como ênclise. Para tanto, primeiramente será apresentado resultados de Castro (2002) a cerca da análise de um corpus de fala dos moradores de Porto Alegre, registrado no banco de dados do VARSUL. Essa pesquisa teve como suposição inicial que o dialeto dos porto-alegrenses era mais conservador do que os demais estados brasileiros quanto à colocação e ao uso dos pronomes. Na análise das entrevistas, foram observados fatores lingüísticos (como, por exemplo, a ordem do pronome em sentenças com verbos simples e em sentenças com grupos verbais) e fatores extralingüísticos (escolaridade e faixa etária) considerados relevantes pela literatura estudada e chegou-se à conclusão de que o sistema pronominal desse dialeto representa basicamente o mesmo estágio de mudança das demais variedades do português brasileiro conforme atestado em estudos paramétricos de Pagotto,1992, 1993; Cyrino, 1993, 2000; Nunes, 1991; entre outros. Quanto à modalidade escrita, pretende-se apresentar um estudo ainda em andamento. Trata-se de uma mostra de dados retirados de quatro principais jornais de Porto Alegre (Zero Hora, Correio do Povo, O Sul e

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Diário Gaúcho) publicados no período de 27 de novembro a 03 de dezembro de 2004. Soma-se um total de 28 periódicos e aproximadamente 1000 dados de ocorrência de clíticos pronominais distribuídos em textos pertencentes às colunas policial, geral, política, econômica e esportiva. O que se pretende aqui é observar a tendência de colocação pronominal da cultura escrita, ou seja, até que ponto há aproximação com as regras da norma-padrão ou há utilização de regras próxima aos da fala conforme já verificado em corpus de fala. EVIDÊNCIAS DA REANÁLISE DA POSIÇÃO DO TÓPICO NO PORTUGUÊS EUROPEU DOS SÉCULOS XVIII E XIX Edivalda Alves Araujo (UNEB, Santo Antonio de Jesus) Temos como objetivos neste trabalho (i) avaliar a proposta de Raposo e Uriagereka (2004) em relação às construções de tópico (do tipo CLLD e Tópico Pendente) e a posição do clítico, com dados do português europeu dos séculos XVIII e XIX constantes no Projeto Tycho Brahe (http://www.ime.usp.br/~tycho/corpus); e (ii) apresentar uma perspectiva de análise sintática para as construções em que se observa próclise com tópico. Os dados dos séculos XVIII e XIX parecem indicar que, na gramática do português desse período, a posição sintática que o tópico ocupava lhe permitia licenciar tanto a ênclise quanto a próclise. Embora a próclise apareça em menor escala com as construções de tópico nesse período, é ela que nos interessa porque acreditamos que é a partir de sua existência que se evidencia uma reanálise da posição sintática do tópico. Na verdade, a possibilidade das construções de tópico com próclise remonta ao período do século XVI, quando se verifica próclise generalizada, como foi observado por Ribeiro (1995), em construções do tipo Topicalização V2. Nos séculos XVIII e XIX, entretanto, apesar de haver uma maior tendência para a ênclise com as construções de tópico, a próclise também é encontrada nesse tipo de construção, talvez como resquício da gramática do século XVI. Os dados de pesquisas realizadas sobre esse assunto parecem indicar que entre os séculos XVII e XIX ocorreram mudanças sintáticas que restringiram a possibilidade de a posição sintática do tópico licenciar a próclise e que derivaram o português europeu moderno, em que as construções de tópico licenciam somente ênclise (cf. GALVES, 2001). Nesse trabalho, defendemos que a posição sintática do tópico sofreu reanálise nos séculos XVIII e XIX a partir da gramática do século XVI, derivando a gramática do português moderno, em que não lhe é permitido licenciar a próclise. FORMATAÇÃO DE UMA IDENTIDADE LINGÜÍSTICA GOIANA? Shirley Eliany Rocha Mattos (UnB) Apresenta-se, em corpus de falantes goianos, composto por homens e mulheres com nível mínimo de escolaridade de 11 anos de estudo (Ensino Básico completo), uma análise variacionista laboviana com indicações da

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predominância do pronome “nós” sobre o “a gente” na fala informal e de uma tendência de variação no registro verbal, ora no singular, ora no plural. O trabalho dialoga com os resultados apresentados em Zilles (2005), Naro, Gorski e Fernandes (1999) e Muniz (2007); e propõe a hipótese de que esteja em curso a formatação de uma identidade lingüística de Goiás, estado reconhecido por um amplo cultivo de suas tradições rurais, pelo recurso de abolir, na informalidade, o estigma contra o uso da forma verbal na terceira pessoa do singular com o pronome nós. A VARIÁVEL “INFORMANTES” E A ALTERNÂNCIA TU/VOCÊ NO SUL DO BRASIL Loremi LOREGIAN-PENKAL (UNICENTRO, Campus de Irati) Em artigo publicado por MENON e LOREGIAN-PENKAL (2002), analisou-se o comportamento da variação no indivíduo e na comunidade, tendo como foco de análise o uso de tu/você no Sul do Brasil. Como o objetivo, à época, era descrever e analisar a variação no uso de tais pronomes, foram eliminados da análise os informantes categóricos (os de só tu e os de só você), por se acreditar que os indivíduos que têm ambos os pronomes são o elo na cadeia da mudança: no processo de transmissão lingüística, eles seriam os possuidores de uma gramática que disponibilizaria à geração seguinte a escolha/alternância entre os dois pronomes. Dessa forma, constatou-se que na amostra analisada (que compreendia as 03 capitais do Sul e 03 cidades do interior de Santa Catarina; do banco de dados VARSUL) havia a seguinte distribuição: 14 informantes categóricos em Porto Alegre; 13 em Florianópolis; 01 em Lages; 02 em Blumenau e 06 em Chapecó, totalizando 36 informantes categóricos no uso de só tu, de um universo de 24 informantes de cada cidade. Assim, pretende-se, nesta análise, retomar a variável “informantes” para verificar se há indeterminação e discurso relatado nos informantes categóricos: aqueles que só usaram tu ao longo da entrevista. É nosso intento, com isso, (re)discutir a importância do traço + genérico e os contextos mais vulneráveis de entrada do você no sistema dos falantes que têm tu. MARCADORES DISCURSIVOS INTERACIONAIS: ANÁLISE CONTRASTIVA ENTRE DUAS VARIEDADES DO PORTUGUÊS FALADO NO BRASIL Raquel Meister Ko. Freitag (UFS) Este trabalho insere-se na discussão do primeiro aspecto proposto para o GT Variação e mudança em morfossintaxe: em que medida o português do sul do país se difere das demais variedades do português do Brasil? A comparação entre resultados obtidos para fenômenos variáveis é um método analítico que permite grandes avanços teóricos para a pesquisa lingüística, uma vez que transcender os limites de uma única variedade lingüística possibilita o estabelecimento, refinamento e fortalecimento de

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generalizações e princípios de variação e mudança universais. Assim, são apresentados resultados do projeto “Procedimentos discursivos na fala de Itabaiana/SE” (Edital Universal 03/2007 FAPITEC/FAP-SE), o qual se propõe a analisar estratégias gramaticalizadas de interação, seqüenciação e modalização em banco de dados de fala constituído nos moldes da sociolingüística variacionista. Especificamente, são apresentados resultados acerca do uso e funcionamento de marcadores discursivos interacionais (requisitos de apoio discursivo) característicos da fala de Itabaiana/SE, os quais são comparados com resultados relativos à fala de Florianópolis/SC, com dados coletados do banco VARSUL, tendo em vista uma análise contrastiva entre as variedades do português falado no Brasil. Em termos de diversidade formal, a fala de Itabaiana/SE não difere da de Florianópolis/SE, sendo encontrados basicamente os mesmos itens já descritos por Valle (2001), Freitag (1999), à exceção de não tem?, presente em Florianópolis/SC e fortemente relacionado à descendência açoriana (VALLE, 2001; GORSKI; FREITAG, 2006). O comportamento do marcador viu? na fala de Itabaiana/SE também merece destaque, uma vez que a forma funciona como tanto como requisito de apoio discursivo, como questão tag, em situações tais como “E: agora vou lhe fazer algumas perguntas, viu? F: viu.”. Os resultados encontrados em Itabaiana/SE também apontam uma correlação entre formas e grupos sociais, influenciados pelos fatores sexo e faixa etária, a exemplo do que ocorre na fala de Florianópolis/SE (GORSKI; FREITAG, 2006). O PROBLEMA DA ‘AVALIAÇÃO’ PROPOSTO POR WEINREICH, LABOV E HERZOG NA SOCIOLINGÜÍSTICA Carlos Eduardo de Oliveira Lara (PGLg-UFSC) Esta pesquisa objetiva investigar como alguns dos principais trabalhos de sociolingüística inserem o problema da ‘Avaliação’ e como esse problema aparece nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). A Avaliação das Variáveis Lingüísticas (postas por WHL, 1968) trata do reconhecimento da heterogeneidade estrutural pelos falantes e da hierarquização das variáveis concorrentes, ou seja, do contínuo prestígio-estigma, em determinada comunidade de fala. Hoje em dia, nota-se que muitos professores de língua portuguesa (LP) estão perdidos em meio à guerra das pesquisas recém saídas das universidades e à tradição do ensino de línguas. Assim, concomitantemente, há críticas à falta de habilidade dos alunos em produzir textos em situações que exijam maior monitoração e há críticas à tradição gramatical de ensino, já que nas salas de aula “...certas inconsistências da gramática, são, freqüentemente, trazidas à tona, e cresce o incentivo a atitudes não-preconceituosas, em relação ao uso das normas não-padrão.” (ANTUNES, 2004). O que se espera discutir é: (i) se o ensino de LP deve ou não concentrar sua atenção às normas prestigiadas, com o intuito de habilitar os alunos à produção de textos em situações de maior relevância; e (ii) qual é o espaço que a norma culta deve ocupar para que se dê esse processo. Em

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suma, procura-se ver como os PCNs, a obra de Bortoni-Ricardo – Educação em Língua Materna: a Sociolingüística na sala de aula - e a obra de Marcos Bagno – Nada na Língua é por Acaso – Por uma Pedagogia da Variação Lingüística concebem essas discussões, se baseando nas questões avaliativas propostas por WHL. Além disso, estima-se verificar qual é o foco que a norma culta recebe nessas obras e se há questões relacionadas ao valor social das formas em variação. QUANDO ELES NÃO TEM ANTECEDENTE MAS TEM CONCORDÂNCIA VERBAL Odete Pereira da Silva Menon (UFPR) Fernanda Rosário de Mello (UFPB /UFPR) Ao examinar vários trabalhos concernentes à concordância verbal de terceira pessoa do plural, comecei a me indagar sobre a natureza dos dados neles apresentados e os resultados previstos e/ou obtidos. Pareceu-me, face aos resultados sobre dois dos recursos de indeterminação — ÆV3PP (verbo na 3.ª pessoal do plural sem sujeito) e eles — no córpus do NURC de São Paulo (MENON, 2004), que poderia haver uma diferença na aplicação da regra de concordância se dado fosse de sujeito determinado, ou de indeterminado. Como a variante de indeterminação eles se mostrou mais produtiva no NURC/SP que a tradicionalmente considerada protótipo da indeterminação, ÆV3PP, aventei a possibilidade de que a regra de preenchimento do sujeito já estaria implementada na indeterminação, pois esse eles não tinha referente localizável no texto (em alguns casos retrocedi a dez turnos de fala, nas entrevistas do NURC, para tirar a cisma). Se isso se revelasse verdadeiro, estaríamos frente a dois tipos de abordagem quando tratássemos da concordância verbal da terceira pessoa do plural (doravante CV3P): (i) no caso da indeterminação do sujeito, o verbo permaneceria no plural e a primeira regra aplicável seria a do preenchimento do sujeito, o que “seguraria” a CV; (ii) nos demais casos, de sujeito determinado (eles anafórico e demais pronomes e SNs) se aplicaria a regra variável geral de concordância verbal. A partir dessa premissa, pretendo testar vários córpus de dialetos do PB, em especial do VARSUL (região sul) e do VALPB (Paraíba), este com a colaboração da co-autora, para verificar se há diferenças na CV3P determinada e indeterminada, a fim de refinar os resultados já obtidos e tentar balizar uma escala de aplicabilidade das regras gramaticais, em termos de prioridades.

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GT21 Subjetividade na voz e na escrita Coordenadores Pedro de Souza (UFSC) Sandro Braga (UNISUL) DO CORPO À PALAVRA: O EFEITO SUJEITO Aracy Ernst Pereira (UCPEL) No trabalho, ora proposto, busco verificar a interferência da direção de sentidos, engendrada historicamente, em produções nas quais o sujeito é solicitado a falar de si, autodesignando-se em função da cor da pele, com vistas ao reconhecimento de mecanismos discursivos constituídos a partir do imaginário sobre raça. Ao falar de si, como se categoriza o sujeito frente a seu corpo? De que forma essa categorização é afetada pelas injunções históricas? Como esse processo se materializa discursivamente? Em síntese, como se estrutura e modela o discurso de si quando o sujeito é instado a pensar e falar sua cor? A essas questões procurarei fornecer algumas respostas, partindo da descrição de alguns aspectos do que entendo por autodesignação enquanto um tipo singular de relação entre sujeito que fala e sujeito/objeto falado. As referências deste trabalho, localizadas no domínio da Análise de Discurso, colocam a escrita de si na ordem do discurso, articulando-a com a subjetividade, a identidade e a memória. Proponho considerar a ordem do discurso nesse campo como uma modalidade de existência de uma memória histórica, cujos traços atravessam discursos, atuando nos efeitos imaginários dos processos identificatórios do sujeito. Para responder às questões propostas, parto da hipótese, cuja premissa diz respeito ao fato de todo discurso, sendo derivado das condições de produção, construir um efeito-sujeito, de que essa construção é necessariamente pelo Outro, enquanto objeto de demanda, em sua dupla dimensão: lugar do simbólico e do semelhante, pólo da relação imaginária. MENTIRA E PROSÓDIA: MARCAS DA SUBJETIVIDADE Clóris Maria Freire Dorow (UCPEL, CEFETRS) Mentir ou dizer a verdade? Eis a questão! Parodiando Shakespeare, diria que esta também é uma das questões fundamentais que permeia a vida da humanidade desde que o homem começou a utilizar o pensamento para resolver suas questões culturais e sociais. Para Nietzsche, a verdade é uma mentira construída para tornar mais estável e racional a vida do homem, aliando o que é verdadeiro com aquilo que pode ser mostrado, conceituado. Segundo ele, buscar um princípio no que é racional não traz ao homem nenhum prazer, por isso, inconscientemente, o homem mente e através desse esquecimento ele encontra o sentimento da verdade, usando a abstração e não a razão. O homem liga a “verdade” a conceitos, a concretude, esquecendo de perceber a metáfora, a representação que ele mesmo criou para as coisas e que pode refletir vários significados e não apenas um

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significado, o que tolhe o “real”, que só é descoberto se o homem retirar o véu da razão, dos limites, que ele mesmo criou para tornar seu mundo mais estável, mais palpável, mais fácil de ser controlado. O que se pretende, pois, neste trabalho, que tem como base a Análise de Discurso francesa, é analisar a mentira sob a ótica de filósofos, psicanalistas até chegar ao Discurso de Direito, principalmente aquele que é colocado em prática em um tribunal do júri. E é no discurso jurídico que se pretende analisar marcas prosódicas que denotam a subjetividade e direcionam para uma “outra verdade”. “OLHO MUITO TEMPO O CORPO DE UM POEMA”: A REFLEXÃO SOBRE A LINGUAGEM NO DISCURSO POÉTICO DE ANA C. Janaina Cardoso Brum (UCPel) O discurso poético é visto constantemente como locus privilegiado de reflexão sobre a linguagem, não sendo poucos(as) os(as) poetas que colocam a preocupação com os modos de significar como tema central de suas obras. O trabalho com a linguagem neste espaço gera inquietações várias em torno das relações entre a linguagem e os objetos do mundo. A correspondência entre palavra e coisa é freqüentemente questionada e, mais do que uma inquietação sobre a representação através da linguagem no momento da escritura, torna-se o cerne do trabalho poético. A brasileira Ana Cristina César coloca-se como uma dentre as(os) poetas que pensam essa relação de modo que a reflexão sobre a linguagem se torna muitas vezes o foco de seu trabalho artístico. Sua persistência em pensar a linguagem na sua relação com o sujeito e, conseqüentemente, em sua opacidade constitutiva, mesmo que não esteja assim expressa em seus escritos, faz de sua obra um lugar privilegiado para se pensar a metalinguagem/metapoesia. Na poesia de Ana C., essa reflexão sobre a linguagem desemboca, algumas vezes, em uma tentativa de fundir corpo e palavra no discurso. A percepção de que a linguagem é falha ao significar leva a poeta a querer transformar a palavra em corpo. Nosso objetivo aqui é analisar os processos discursivos através dos quais a escrita de Ana C. reflete a incompletude da linguagem. É preciso tomar o discurso poético como lugar de reprodução/transformação dos sentidos, que não existem por si mesmos, mas são determinados pela ideologia. Trabalhar o discurso poético significa trabalhar o discurso em suas contradições, significa pensar sobre as condições de (re)produção e transformação da linguagem. A VOZ (RITMADA) QUE EMBALA O BERÇO DO EU-BEBÊ Lúcia Valquíria Souza Grigoletti (UCPEL) No presente trabalho a autora se propõe a estabelecer a influência do ritmo da palavra falada musicalizada – a prosódia, o mamanhês e demais “músicas” que habitam o psiquismo do infans – no nascimento do Eu-bebê,

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sujeito da própria história. Para tal inicia uma caminhada do desenvolvimento rítmico desde a etapa intra-útero até o momento em que o bebê, ser de interação e narração, se denomina EU. Ao denominar-se Eu numa linguagem falada, o bebê inaugura, no psiquismo sua subjetividade. Até chegar a esse momento, uma caminhada sonora, audiofônica, se estabeleceu entre a díade. Mais do que um diálogo, a mãe estabelece um monólogo, com seu bebê. Utilizando-se de sua competência rítmica ele decodifica o enunciado presente na prosódia de sua maestrina! Entendendo o indivíduo por natureza, um ser de interação e, portanto, de enunciação, na díade mãe e bebê muitas vozes se entrecruzam em um instante histórico – subjetivo e sociocultural. Os bebês nascem entre palavras! Palavras que os denominam, ignoram, acolhem ou excluem, acariciam ou maltratam. Mas todas elas acompanhadas de sua musicalidade. Cada sujeito nasce embalado por um ritmo! Por parte da mãe, ela trás marcado em sua pauta transgeracional, a presença do alocutário, o Eu-bebê, capaz de transformar os sons isolados, que poderiam ser apenas barulhos, em melodia. Este fluxo enunciativo se organiza pautado em um ritmo, e que constitui a flutuação do sujeito e, por conseqüência, lhe dá sentido. Sentido e subjetividade se co-constroem no ritmo da linguagem. O ritmo lingüístico consiste na organização de um fenômeno específico (a linguagem), desenvolvida em fluxo continuo (o discurso). É também a estruturação em sistema do que ainda não é sistema. Caracteriza-se por uma propriedade antitética: a continuidade/descontinuidade e esta subjaz à organização (disposição, configuração) de qualquer atividade lingüística (discurso). Portanto, para a autora, o ritmo é visto, simultaneamente, como sistema e como discurso. É no intervalo rítmico: descontinuidade/continuidade, tanto do próprio enunciado materno, quanto do movimento dialógico da díade, que se apresenta o silêncio, primeiro distanciamento a marcar a separação-diferenciação entre mãe e filho. Esse silêncio interior é a essência da alteridade. Ao prestar atenção à linguagem musical vinda da mãe, o bebê descentraliza-se de si próprio. Ele sente, ao mesmo tempo, estar acompanhado pela sonoridade materna e entrar em contato com a competência musical de seu grande ouvido, co-construindo sua ritmicidade, sua capacidade de se auto-regular, inaugurando assim, sua subjetividade. Esse ritmo, sempre o acompanhará. Basta, no silêncio de seu EU, ter sensibilidade e competência sonora, não só disponível para escutar a própria música, mas para estar exposto a ela. O entrecruzamento rítmico inter e transgeracional de vozes presentes, passadas e futuras do enunciado materno, descortinam uma página de pautas musicais para o EU-bebê escrever sua própria partitura. Dedicar algumas linhas ao ritmo da palavra musicalizada, numa etapa inicial do desenvolvimento do sujeito, tem a intenção de contribuir, num espaço de reflexão, na importância da língua materna, literalmente falando, no processo de distanciamento/separação de L1 e na conseqüente aproximação/aquisição de L2.

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HÁ UM LUGAR PARA A SUBJETIVIDADE? Mariana Aparecida de Oliveira Ribeiro (FeUSP/Fapesp) Essa pesquisa intitulada em um primeiro momento de Percursos e Percalços: da voz do Outro à singularidade, deixava entrever em seu título algumas chaves de leitura do que acreditávamos ser essa investigação. Acompanharíamos um processo, para tanto o corpus escolhido foram três produções de uma mesma informante, escritos em etapas diferentes de sua formação como pesquisadora: o relatório de Iniciação Científica, a dissertação de mestrado e a tese de doutorado. Acompanhar um processo significava visualizar a existência de duas etapas, a da pesquisadora de IC, que em seu primeiro contato com o texto acadêmico não consegue se posicionar subjetivamente e acaba por colar-se a voz do outro; e o que acreditávamos ser o momento final em que no doutorado encontraríamos uma posição subjetiva. Porém, os dados nos mostraram que essas etapas não eram tão nítidas, como suponhamos, e em uma análise dos dados não conseguimos verificar subjetividade em um texto acadêmico. Por isso, o que propomos para essa comunicação é verificar como a subjetividade não comparece na escrita de um texto acadêmico, em que medida isso ocorre e quais os recursos utilizados para não se posicionar subjetivamente. Nesse sentido, retomaremos o conceito de discurso universitário (LACAN, 1968-1969) e algumas discussões a respeito da história da universidade. POLIFONIA E POLIRRITMIA VOCAL: A GLOSSOLALIA NA CONSTITUIÇÃO SUBJETIVA Maurício Eugênio Maliska (UFSC) A glossolalia é comumente estudada num escopo cultural, fortemente marcada pelo cunho místico-religioso. Neste texto, tentaremos tomar a glossolalia não como um fenômeno de cunho religioso ou cultural, mas como uma manifestação vocal, demonstrando a sua polifonia e polirritmia presente em cada vocalização. Trata-se de entendê-la como um fenômeno vocal constituinte da subjetividade, na medida em que ela é uma manifestação da própria voz, enquanto articulação entre som e ritmo. Em outras palavras, a voz é glossolálica; o sujeito, no seu balbucio vocal, emana uma enunciação sem enunciado, vocaliza na sua fala algo que não é discurso, algo que não está atrelado ao sentido e sim ao puro som e ritmo, elementos esses que são centrais na glossolalia da voz. A glossolalia é a quebra do sentido para a emergência da voz enquanto corpo, ou melhor, um pedaço de corpo que dele se desprende para ganhar o não sentido do som. A aposta fundamental é que a glossolalia é um fenômeno vocal que todo sujeito experimenta na constituição subjetiva e, ao mesmo tempo, sente essa polifonia e porritmia vocal em cada vocalise que se desprende de sua boca.

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AUTORIA NA PSICOSE: GESTOS DE INSCRIÇÃO E “ESCRIÇÃO” Patrícia Laubino Borba (UFRGS) Nosso trabalho tem como objetivo estudar dois textos de pacientes psicóticos institucionalizados e, mais especificamente, a possibilidade de haver, nesses textos, efeito de autoria. Compreendemos autoria a partir de dois gestos diferentes: 1. o da inscrição, ou seja, o assujeitamento à língua, à ideologia, a submissão às coerções inerentes à materialidade escrita e a inserção social; 2. o da “escrição”, ou seja, o se escrever no texto, dar a ela singularidade, assumir uma posição no texto. Nosso estudo está embasado na corrente francesa da Análise do Discurso e se dividirá em três partes. Inicialmente, faremos uma reflexão teórica a respeito de como compreendemos as noções de inscrição e de “escrição”. Em seguida, tentaremos perceber se há esses gestos de inscrição e “escrição” em dois textos de diferentes pacientes psicóticos participantes de um grupo terapêutico denominado “Atelier de Escrita” do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) região Centro de Porto Alegre. Finalmente, veremos como as questões a respeito da autoria estariam relacionadas à prática clínica da psicose. DISCURSO E SUBJETIVIDADE: PROCESSOS DE CONSTITUIÇÃO PELA VOZ Pedro de Souza (UFSC) Este trabalho pretende demonstrar como a relação entre os indivíduos e certos discursos comportam modos de subjetivação que não passam apenas pela palavra falada ou escrita. Assim vamos explorar a voz como um dos dispositivos fundamentais sem os quais não acontece o sujeito, conforme o discurso de referencia considerado. O objeto de trabalho a que se aplica a proposta será a voz feminina no canto popular abordando a modalidade de enunciação e o discurso que na e pela voz articula certa forma de subjetividade. A PROSÓDIA COMO ÍNDICE DE SUBJETIVAÇÃO: PERFORMANCE E SINGULARIDADE NAS CANTORAS DE RÁDIO. Pedro de Souza (UFSC) Amanda Cadore da Silva (UFSC) A pesquisa pretende analisar comparativamente, a partir do levantamento de traços de prosódia na palavra cantada, as diferenças e semelhanças entre a voz das cantoras do rádio nos anos 1950, com base no pressuposto de que as cantoras detinham como referência e modelo suas antecessoras. Tomando como objeto de análise Dalva de Oliveira e Ângela Maria, esta fase da pesquisa pretende valer-se metodologicamente do recurso de gráficos produzidos informaticamente a partir do software Praat, programa de

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análise acústica de voz. O objetivo é descrever traços prosódicos mais marcantes que permitam observar as influências que uma cantora exerce sobre outra, considerando o dado histórico de que Ângela Maria sucede Dalva de Oliveira, tomando desta a coroa de rainha do rádio em 1954. As cantoras de rádio compunham uma linhagem de cantantes que se definia por uma propriedade comum de interpretação vocal. O pressuposto histórico é de que, na era do rádio, uma cantora inicia-se no canto legitimando-se no apoio a um ídolo inspirador. Mas o desafio maior para vir a ser uma grande estrela era a estreante mostrar a que veio, construindo um jeito próprio de cantar. Neste aspecto é que buscamos realizar uma análise acústica da voz. Precisamente queremos usar um método analítico que auxilie a demonstrar o modo como uma cantora, no momento em que é tomada em uma marcante referência àquela que lhe antecede, busca, em seu desempenho vocal, a construção de suas características subjetivas. Para chegar às características que singularizam uma cantora e outra, procedemos, no interior do repertório de cada uma, ao recorte das mesmas canções interpretadas e gravadas por ambas cantoras em análise. Em síntese, este trabalho objetiva analisar acusticamente a voz de duas cantoras de rádio dos anos 50, especificamente as vozes de Dalva de Oliveira e Ângela Maria. Nesta fase do trabalho, estabelecemos uma comparação entre os traços significativos da voz de uma e de outra, destacando marcas semelhantes e diferentes realizadas pelas duas cantoras, em uma mesma frase melódica. Delineia-se, assim, a subjetividade de ambas. Para chegar a processo de diferenciação vocal na palavra cantada, recorremos ao levantamento de elementos prosódicos pertinentes (duração, pitch, entoação, ritmo, entre outros). Tais levantamentos podem ser visualizados através da leitura e interpretação de imagens gráficas fornecidas pelo software Praat. . Os dados obtidos pelo recurso servirão de base para descrever as características individuais e subjetivas das duas cantoras em foco nesta pesquisa. ALGUMAS ANOTAÇÕES PARA LEITURA DE FRANZ KAFKA E JEAN TARDIEU Renata Azevedo Requião (UFPEL) Este trabalho é resultado parcial do projeto de pesquisa de longa duração, intitulado Poéticas contemporâneas: produção de leitura, produção de escritura, produção de sentido. A riqueza e a complexidade do mundo contemporâneo, sua dinâmica, exigem do homem reaprender a ler. Os avanços tecnológicos, os avanços científicos e os avanços dos saberes menos duros, aqueles produzidos nos diversos campos que tentam compreender as coisas humanas, têm apontado para um certo modo, uma certa configuração, que, curiosamente se repetindo, é diverso em cada caso. A possibilidade de compreendermos/lermos as várias manifestações do mundo através de uma “dinâmica de rede” nos permite conhecer uma história associada a tal forma de organização. Isto é, permite que nos liberemos do falocentrismo

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logocêntrico a cuja hierarquia organizacional nos habituamos, e que nos encaminhemos para reler “a história secreta do pensamento descentralizado”. A proximidade entre dois procedimentos antevistos pelos gregos, poiesis e techné, é o ponto de partida para buscarmos relações entre a expressão poética, e o fazer das técnicas e o das diferentes expressões humanas, na contemporaneidade. As expressões poéticas, entendidas aqui como produções de escrituras prestes a serem submetidas a produções de leitura, compreendem as manifestações estéticas em geral. O valor tanto da expressão poética quanto da produção de sua leitura é dimensionável a partir de produções de sentido. Produções essas que resultam necessariamente da articulação do discurso do leitor. Assim, são os procedimentos de leitura, os interstícios do texto (essa “máquina produtora de sentidos”), a produção de leitura, os movimentos do leitor; questões como o prazer do texto, as afinidades eletivas, e um certo movimento cognitivo que retoma os princípios de Paulo Freire acrescentando a eles uma contraparte estética, que constituem os princípios ativos desta proposta. Talvez apontando em direção próxima à que os pensadores Gilles Deleuze e Felix Guattari propõem quando sugerem “uma certa semiótica perceptiva”. Os dois primeiros exercícios de leitura: das narrativas curtas de Franz Kafka e de alguns poemas em prosa de Jean Tardieu. Em ambos a expressão poética é autobiografia, ambos produzem um corpo poético para além, ou aquém, do sistema literário, ambos se expressam e exprimem textualmente. A discussão, se antiga, ainda provoca discursos. E neles se inclui o leitor. Com que timbre de voz, com que corpo de leitora sou capaz de enunciar tais poetas? PALAVRAS E NÃO-PALAVRAS NA ENUNCIAÇÃO DO AFÁSICO Renata Mancopes (UNIVALI) No campo das afasias, a célebre discussão quanto à relação lesão-sintoma não contribuiu para tocar a problemática dos sujeitos que na clínica se apresentam. O corpo do afásico fala do quanto o organismo depende da fala para alçar a condição de sujeito. Além disso, diante das afasias, parece pertinente interrogar pela relação que o sujeito entretém com sua fala, já que daí parece advir o mal estar do sujeito. Tal é a especificidade nas afasias: o mal estar do sujeito em sua fala indicia necessariamente a relação subjetividade e linguagem.Pelo viés da articulação entre língua, fala e sujeito propõe-se compreender o modo particular de funcionamento das expressões ditas como jargão nas afasias. Na literatura clássica sobre as afasias o jargão é descrito ora como o tipo de fala característico das lesões posteriores, ora como sinônimo de neologismo recorrente. Os neologismos têm sido definidos como produções que são usadas como palavras sem que pertençam ao inventário daquela língua e as parafasias seriam substituições de palavras semelhantes na forma ou significado. No entanto, quando se percorre a literatura, vê-se que a decisão sobre qual produção é um neologismo e qual é uma parafasia não é simples e os impasses gerados são apontados por muitos autores. Na análise do funcionamento do jargão na enunciação do afásico,

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realizada a partir da interlocução entre sujeitos afásicos e não afásicos em um grupo de atendimento, discute-se o jargão sob a ótica e funcionamento do discurso. Observa-se que o modo como se constroem essas produções revela aspectos particulares do funcionamento de linguagem e que os critérios clássicos utilizados para classificá-las encobrem características deste funcionamento na linguagem dos afásicos. Pensar no jargão como uma espécie de não-palavra, conforme propõem Robson et alii (2003), parece interessante porque metaforiza a condição de conversão da experiência, de um algo antes do discurso. O jargão pode funcionar como índice ( expresso no corpo, pela emissão da voz) de uma língua pura que emerge num discurso em vias de se estabelecer. A ESCRITA DE SI: A PALAVRA QUE REVELA O CORPO EM ANÚNCIOS DE JORNAIS Sandro Braga (UNISUL) A proposta é mostrar como através da prática de anunciar um corpo em classificados de jornais já está implicado um modo de o sujeito produzir a si. Dito de outro modo, pretende-se evidenciar como sujeitos podem inscrever seu corpo abandoando-os e deixando-os representar-se somente através da forma material da escrita. Sob este ponto de vista, cabe investigar como os leitores (re)constroem, na trama da escritura, o corpo como (d)escrito. No caso específico deste trabalho, pretende-se mostrar a ambigüidade do corpo de sujeitos travestis traduzida pela representação sígnica da palavra. O PASTOR NEOPENTECOSTAL: “A MATERIALIZAÇÃO DA DIVINDADE” Wesley Knochenhauer Carvalho (UNISUL) Nossa comunicação visa à observação de elementos 'supra-humanos', transcendentais, nas modulações da voz, fala, termos-frase, gestos e êxtases inerentes à imagem divina que um pastor neopentecostal pode fornecer a fim de alçar o fiel que se põe a divinizá-lo. Partimos da observação de um dos aspectos mais interessantes da humanidade, que toma o sujeito em uma posição de projeção a outros sujeitos e que pode ser observado na alucinada busca por “ídolos”, ou “deuses” humanos, estes últimos homens divinizados. No que diz respeito a esses “deuses”, “guardiões da fé das massas”, surgem em inúmeros locais sacros: nas catedrais da fé, nos templos neo-pentecostais. No entanto projetam-se também para outros lugares de enunciação, tais como nas programações de TV, novelas, jornais, no círculo das celebridades, nos campos de futebol e no cenário político. Inseridos no discurso religioso, esses líderes espirituais são designados ou designam-se pastores, padres, bispos, missionários, apóstolos, entre outros tantos títulos. Nesse contexto, nossa análise pretende mostrar um deslocamento do lugar do discurso religioso como estratégia para arrebanhar um número maior de fiéis.

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AMEAÇA FEMININA: O DISCURSO FEMININO EM QUESTÃO Luciana Portella Kohlrausch (UFSM) A escritura de um texto transparece traços de quem o escreve. Isso ocorre tanto nas idéias apresentadas quanto nas escolhas lingüísticas feitas pelo sujeito autor do texto. As idéias apresentadas através de diálogos - por exemplo, em romances - são uma maneira de caracterizar o autor da obra. A segunda maneira foi eleita para sustentar esse trabalho. A caracterização do discurso será analisada a partir das escolhas lingüísticas utilizadas pelo autor. Mais precisamente, através das metaenunciações presentes no texto, ou seja, através das voltas que o autor faz no discurso para explicar sua enunciação. A análise será de um texto da escritora Clarice Lispector. Essa análise será feita a partir da teoria das heterogeneidades de Jacqueline Authier-Revuz. A nossa hipótese é que os textos de Clarice sejam textos que desacomodem qualquer sujeito, pois parece que o que Clarice faz, com suas personagens, é denunciar uma angústia constitutiva dos sujeitos ditos neuróticos, ou seja, dos sujeitos barrados. E o intento é abranger, através do discurso, o querer feminino, derivado de uma falta, que pode ser reinventado ao invés de tentar ser preenchido. Para esse objetivo, a intenção é analisar e interpretar o discurso feminino, buscando pontos da materialidade lingüística que dêem indícios de como fala uma mulher. Essas materialidades Authier-Revuz demonstra em seus achados. Ela chama de heterogeneidade constitutiva sua teoria de que a linguagem não é um todo fechado e a heterogeneidade mostrada são essas não-coincidências do dizer que apresentam algumas voltas na enunciação com o objetivo de explicá-la, ou seja, durante a enunciação, o locutor retoma o que foi dito para modificá-lo. Para desenvolver o trabalho, serão utilizado conceitos tanto da lingüística como da psicanálise – Lingüística da enunciação de Authier-Revuz e psicanálise freudo-lacaniana. GT22 Aquisição fonológica Coordenadores Regina Ritter Lamprecht (PUCRS) Giovana Ferreira-Gonçalves (UFSM) PROCESSOS MORFOLÓGICOS NA FALA INFANTIL: A PERCEPÇÃO DA GRAMÁTICA DA LÍNGUA PELA CRIANÇA Aline Lorandi (PUCRS) Regina Ritter Lamprecht (PUCRS) A presente pesquisa ocupa-se de fenômenos morfológicos encontrados na fala de crianças de 2:0 a 5:0 anos de idade, em processo de aquisição da linguagem, que evidenciam o uso de recursos morfológicos do Português Brasileiro, os quais apontam para uma percepção das estruturas internas das palavras. Este estudo parte da dissertação de mestrado intitulada “Formas

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Morfológicas Variantes: um estudo à luz da Teoria da Otimidade”. O estudo de processos morfológicos na fala infantil é motivado pela necessidade de uma explicação desses fenômenos presentes na gramática infantil a partir de uma Teoria Lingüística, a Teoria da Otimidade, e de uma descrição morfológica desses dados de fala, de modo a oferecer subsídios para que se pense nesses dados como evidência de um processo de aquisição da língua. Esses dados foram descritos morfologicamente e alguns deles, referentes à regularização, analisados sob a perspectiva da Teoria da Otimidade. O olhar lançado aos demais visa a que se entendam essas produções como um primeiro passo rumo à consciência morfológica que a criança desenvolve ao longo do seu contato com a língua. Essas análises nos mostram que a criança demonstra conhecimento da gramática de sua língua muito cedo e encaminham para a hipótese de que esse tipo de produção mostra uma sensibilidade aos recursos morfológicos que, em um momento posterior, poderá ser entendido como consciência morfológica, à medida que essa criança conseguir expressar seu conhecimento não só em termos de uso, mas também em termos de habilidades metalingüísticas. METÁTESE E EPÊNTESE - UM EXEMPLO DE HETEROGENEIDADE DO PROCESSO E HOMOGENEIDADE DO ALVO Clarissa Diassul da Silva Redmer Morales Carmen Lúcia Barreto Matzenauer (UCPEL) Os diferentes estágios por que passam as crianças na aquisição da fonologia de uma língua caracterizam-se por apresentar diferentes processos para evitar estruturas complexas do sistema-alvo. Dentre esses processos estão a Metátese e a Epêntese. O objetivo principal desta pesquisa foi verificar a motivação para que ocorresse a aplicação de Metátese e de Epêntese, buscando particularmente investigar a possibilidade de uma mesma motivação para o emprego de ambos os processos durante a aquisição da fonologia por crianças. Foram analisados os dados de 10 informantes, com idade entre 2:4 e 3:11 (anos: meses), adquirindo o português brasileiro (PB) como língua materna, cujos sistemas apresentaram o emprego dos dois processos aqui investigados: Metátese e Epêntese. Na descrição do corpus estudado, foram confrontadas as estruturas silábicas originais de cada palavra com as estruturas silábicas resultantes da aplicação dos referidos processos. Pôde-se verificar que, com o emprego dos dois processos referidos, as crianças simplificam estruturas silábicas consideradas marcadas na língua, fato que permitiu a proposição de uma base comum, a ambos os processos, durante a aquisição da fonologia da língua. Os resultados foram analisados com base nos pressupostos da Teoria da Otimidade, revelando que Restrições de Marcação, em posição alta na hierarquia de restrições, são capazes não somente de explicar o emprego de Metátese e de Epêntese na aquisição da fonologia do PB, mas particularmente de evidenciar a motivação comum subjacente ao uso dos dois processos por algumas

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crianças, durante os estágios de aquisição de estruturas silábicas marcadas da língua. Ao explicitar tal motivação comum aos dois processos citados, a Teoria da Otimidade mostrou-se formalmente adequada para dar conta de um caso de conspiração presente na aquisição do PB como língua materna, tornando evidente que Metátese e Epêntese são processos diferentes que podem buscar o mesmo alvo. AQUISIÇÃO DAS VOGAIS DO INGLÊS POR FALANTES DE PORTUGUÊS BRASILEIRO: ANÁLISE ATRAVÉS DA TEORIA DA OTIMIDADE Cristine Ferreira Costa (PRODOC/UFSM) Giovana Ferreira Gonçalves Bonilha (UFSM) Nesta comunicação, examinamos o processo de aquisição das vogais do inglês por falantes nativos do português brasileiro. Mais precisamente, analisamos os resultados obtidos por Nobre-Oliveira (2007). Nesse estudo, a autora defende a relevância do treinamento perceptual na aprendizagem da L2 e mostra, a partir de pesquisa experimental, que há uma melhora na percepção e na produção do sistema vocálico quando o aprendiz é exposto a esse tipo de metodologia. Esses dados são interpretamos sob a perspectiva da Teoria da Otimidade (TO). Para tanto, adotamos o modelo bidirecional de Boersma (1998, 2007, 2008), que capta tanto o processo de compreensão quanto o de percepção lingüística. A partir dessa proposta e do Algoritmo de Aprendizagem Gradual (Boersma e Hayes, 2001), delineamos o processo de aquisição das vogais do inglês. PROCESSOS FONOLÓGICOS EM DEFICIENTE AUDITIVO: INVESTIGAÇÃO E ANÁLISE PELA GEOMETRIA DE TRAÇOS Clarinha Bertolina de Matos (UFSC) Lílian Elisa Minikel Brod (UFSC) Vanessa Flávia Scherer (UFSC) Teresinha de Moraes Brenner (UFSC) O objetivo desta pesquisa foi investigar os processos fonológicos na realização dos fonemas \r\, \s\ e \l\ e de suas variantes na fala de um indivíduo deficiente auditivo de 11 anos que apresenta diagnóstico de surdez moderada e freqüenta a 6ª série do Ensino Fundamental em uma escola da rede pública de Santa Catarina e analisá-los sob a perspectiva da Fonologia de Geometria de Traços (Feature Geometry). Esse modelo assume uma organização interna dos sons da fala em camadas ou níveis, permitindo a manipulação dos traços individualmente ou em grupo. Os dados foram coletados durante atendimento fonoaudiológico realizado pela fonoaudióloga Vanessa Scherer na Fundação Catarinense de Educação Especial – FCEE, São José, SC. Para a coleta de dados foram utilizadas figuras, de acordo com o modelo Yavas, e um gravador modelo Panasonic. A partir da análise dos dados foram observadas operações de apagamento,

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substituição e redução de elementos. Na realização do fonema \r\ foram observados processos fonológicos de apagamento do segmento em posição início de vocábulo, final de vocábulo e coda silábica; assimilação do ponto de articulação e redução de encontro consonantal. Processos fonológicos de apagamento e substituição restrita foram observados no fonema \s\. Na realização do fonema \l\ foram observados processos de apagamento do segmento em posição início de sílaba; apagamento do fonema \´\ e substituição pelo glide \y\; processos de vocalização e redução do fonema palatal \´\. Os resultados mostram as alterações sonoras que ocorrem no processo de aquisição da linguagem do informante e confirmam a contribuição significativa da Fonologia de Geometria de Traços na investigação de processos fonológicos no indivíduo deficiente auditivo. AQUISICÃO DAS FRICATIVAS INTERDENTAIS DO INGLÊS: UMA ABORDAGEM VIA RESTRIÇÕES Emilia Lorentz de Carvalho Leitão (UFSM) Giovana Ferreira-Gonçalves (UFSM) Neste trabalho, investiga-se a aquisição das fricativas interdentais por aprendizes brasileiros de inglês como segunda língua (L2). Os dados foram colhidos a partir da leitura de palavras contextualizadas, leitura de um texto e narrativas orais produzidas por três grupos de estudantes de inglês. O Grupo 1 é composto por estudantes universitários que estavam cursando, no momento da coleta, o sexto semestre do curso de Letras do Centro Universitário Franciscano. Os Grupos 2 e 3 são formados por estudantes que freqüentavam o projeto extracurricular de ensino de línguas da Universidade Federal de Santa Catarina e estavam no terceiro e décimo semestres, respectivamente. Após a transcrição fonética e seleção das palavras que continham as fricativas interdentais, foi feita a análise dos dados. Essa análise tem como base a Teoria da Otimidade Conexionista proposta por Bonilha (2004) que, através da hierarquia de restrições, demonstra a gramática da interlíngua apresentada pelo aprendiz. Os resultados apontaram para a emergência precoce da fricativa interdental desvozeada, para as substituições do segmento /θ/ pelo [t] e do segmento /ð/ pelo [d] e também a interferência do tipo de coleta realizada nos percentuais de produções corretas. Foi constatada ainda uma grande influência da freqüência lexical no comportamento dos sujeitos estudados. A INTERFERÊNCIA DA FALA NA ESCRITA DE ALUNOS DE UMA ESCOLA PÚBLICA Cristiano Egger Veçossi (UFSM) Giovana Ferreira Gonçalves (UFSM) A aquisição da escrita envolve o desenvolvimento de uma série de saberes, tais como a compreensão do caráter simbólico da linguagem e a percepção auditiva. Considerando o caráter alfabético do sistema ortográfico do

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português brasileiro, torna-se fundamental para o aprendiz perceber a relação de simbolização entre os sons da fala e as letras, isto é, que os grafemas representam fonemas. Quando o alfabetizando descobre essa equivalência, logo perceberá que um som pode ser representado por mais de uma letra, do mesmo modo que uma letra pode representar mais de um som, ou seja, como afirma Lemle (2003), entre letra e som não há um “casamento monogâmico”. Desse modo, mesmo admitindo que a aquisição da escrita e a da fala são processos distintos, podemos encontrar nos “erros” cometidos nas produções escritas muitos indícios de ‘”vazamento”, para o espaço da escrita, de elementos que, por sua natureza, pertencem ao espaço da oralidade’ (Abaurre et all, 2006, p. 23). Nesse sentido, torna-se relevante investigarmos estes “erros” de escrita, partindo da hipótese de que muitos deles têm motivação fonológica. É isso que fazemos neste estudo. Entretanto, nosso corpus não é composto por produções escritas de crianças recém iniciadas no sistema de escrita alfabética, como poderia se esperar, mas por alunos de duas turmas de 8ª série de uma escola pública, sendo uma pertencente ao ensino diurno regular e a outra, ao noturno, organizada em módulos. Os erros são categorizados de acordo com proposta adaptada de Zorzi (1998) e a análise dos dados inclui discussões acerca da redefinição do sistema fonológico dos sujeitos a partir da aquisição da escrita. GRAVIDADE DOS DESVIOS FONOLÓGICOS: CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DA OTIMIDADE Ana Rita Brancalioni (UFSM) Giovana Ferreira-Gonçalves (UFSM) Márcia Keske-Soares (UFSM) Estudos focados na fonologia gerativa trouxeram diversas contribuições acerca da descrição, análise e tratamento dos desvios fonológicos, principalmente aqueles calcados na Fonologia Natural e na Geometria de Traços. Mais recentemente, contribuições também têm surgido de um outro modelo teórico, a Teoria da Otimidade, esta calcada em pressupostos gerativistas e conexionistas. Este trabalho tem como objetivo apontar como a Teoria da Otimidade pode contribuir para a classificação da gravidade do desvio fonológico. Para isto, revisitamos a pesquisa de Lazzarotto (2005) e reanalisamos os dados ali considerados. Os resultados de Lazzarotto (2005) apontam que a quantidade das restrições de marcação pode ser um indicador para a gravidade do desvio fonológico. Assim, quanto mais severo é o desvio, maior é o número de restrições de marcação utilizadas na análise. Além disso, quanto mais restrições de Identidade forem necessárias para representar o sistema em estudo, mais próximo estará do sistema alvo da comunidade. Em nossa análise, verificamos que, além da quantidade das restrições de marcação e de fidelidade envolvidas no processo, os tipos de restrições devem também ser considerados como parâmetro para análise da gravidade do desvio fonológico. Também identificamos que, em relação às restrições de fidelidade, o ordenamento dessas restrições mais abaixo na

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hierarquia é característico de sistema fonológico de grau mais severo, enquanto o ranqueamento em posições mais acima configura graus de desvio mais leve. Esses achados revelam que a análise a partir da Teoria da Otimidade pode contribuir para caracterização da gravidade dos desvios fonológicos, gerando maior conhecimento sobre o sistema fonológico avaliado. AS ESTRATÉGIAS DE REPARO EMPREGADAS NO CONSTITUINTE SILÁBICO CODA Janaína Baesso (UFSM) Carolina Lisboa Mezzomo (UFSM) Objetivo: Descrever as estratégias de reparo empregadas por crianças com desvio fonológico evolutivo (DFE) no constituinte coda; e analisar a influência de variáveis lingüísticas e extralingüísticas na ocorrência destas estratégias. Metodologia: Foram utilizados dados de fala de 40 crianças com DFE, 24 meninos e 16 meninas, com idades entre 3 e 9 anos. As amostras foram coletadas transversalmente, através do instrumento Avaliação Fonológica da Criança, e fazem parte do projeto “Estudo comparativo da eficácia de três modelos de terapia fonológica no tratamento de crianças com desvios fonológicos evolutivos”. As 1029 palavras levantadas foram codificadas conforme a estratégia aplicada. Consideraram-se como variáveis intervenientes: idade, sexo, grau de desvio, vogal precedente, consoante seguinte, tonicidade, posição na palavra e número de sílabas. Posteriormente, os dados foram analisados estatisticamente pelo programa VARBRUL. Resultados: As estratégias constatadas foram: omissão do segmento-alvo (70%), omissão do segmento-alvo com mudança da vogal precedente (23%), semivocalização (11%), substituição de líquida (7%), omissão da sílaba-alvo (5%), metátese (3%), epêntese (2%), palatalização (2%), outras realizações (1%), e coalescência (0,29%). Para algumas estratégias, o VARBRUL selecionou variáveis como relevantes: tonicidade, contexto precedente, contexto seguinte, tipo de fonema, grau de desvio, sexo, idade e número de sílabas – na omissão do segmento-alvo; tipo de fonema e posição do segmento – na omissão de segmento com mudança da vogal precedente; contexto seguinte, tipo de fonema, idade, grau de desvio, tonicidade e sexo – na semivocalização; idade, tipo de fonema, contexto seguinte e grau de desvio – na substituição de líquida; sexo, tipo de fonema e número de sílabas – na omissão da sílaba-alvo; grau de desvio, tipo de fonema e tonicidade – na metátese; número de sílabas – na epêntese. Conclusão: A omissão foi o recurso mais empregado e, estratégias mais elaboradas, como semivocalização, substituição de líquida e outras, ocorreram menos freqüentemente. Além disso, variáveis lingüísticas e extralingüísticas exerceram papel relevante.

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A PRODUÇÃO DE OXÍTONAS SUFIXADAS DO INGLÊS POR FALANTES NATIVOS DE PORTUGUÊS BRASILEIRO: UMA ANÁLISE VIA TEORIA DA OTIMIDADE CONEXIONISTA Amanda Post da Silveira (UFSM-CAPES) Giovana Ferreira-Gonçalves (UFSM) Por meio deste trabalho, buscamos investigar a aquisição do acento primário de palavra da língua inglesa por falantes de PB, em específico, a produção das oxítonas sufixadas, e a interferência da língua materna no processo de aquisição. Contamos para tal com a colaboração de doze sujeitos, acadêmicos do curso de Letras – Hab. Inglês de uma universidade do sul do país, falantes nativos de português e aprendizes de inglês como língua estrangeira. A coleta consistiu em duas gravações. Na primeira, os informantes leram o instrumento de coleta, composto de 138 palavras e 138 frases. Posteriormente, houve a instrução explícita dos padrões acentuais que apresentaram menor percentual de acertos nas produções dos informantes. A segunda gravação, que aconteceu posteriormente a instrução explícita, consistiu em nova leitura do instrumento de coleta. As gravações foram feitas em aparelho digital e tiveram em média 12 minutos cada, e as transcrições foram feitas com base no Alfabeto Fonético Internacional, sendo sujeitas a pelo menos duas conferências. Observamos que, em ambas as coletas, o padrão que foi menos produzido correspondeu ao oxítono sufixado, muito embora as duas línguas sejam sensíveis ao peso silábico, o ordenamento de restrições responsáveis pela atribuição desse padrão não são correspondentes, o que denota a não aquisição da hierarquia específica da L2. Os dados mostram também que os padrões corretamente produzidos na interlíngua dos informantes deviam-se, em grande parte, à militância da gramática da L1 e que os padrões da L2, por conseqüência, não haviam sido de fato adquiridos. A estratégia de reparo mais utilizada nas produções corrobora essa hipótese, pois foi o padrão trocaico, padrão acentual predominante da língua materna e da língua estrangeira. A partir de uma única sessão de instrução explícita do padrão acentual primário do inglês, não nos foi possível constatar acréscimo de produções corretas, valendo ser investigado se outro método de instrução explícita, possivelmente que proponha mais sessões de instrução e a observação longitudinal dos informantes, seja mais apropriada para o fim de nos prover dados mais conclusivos quanto a validade ou não deste recurso para a aquisição do padrão acentual primário do inglês por falantes nativos de português brasileiro.

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AQUISIÇÃO DE ONSETS COMPLEXOS POR CRIANÇAS DE 2 ANOS: UM ESTUDO LONGITUDINAL COM BASE NA TEORIA DA OTIMIDADE Letícia Bello Staudt (UNISINOS) Cátia de Azevedo Fronza (UNISINOS) Este trabalho visa a apresentar uma discussão acerca da aquisição de onsets complexos por crianças com desenvolvimento fonológico normal, cuja faixa etária está entre 2 e 5 anos, aproximadamente. Por ser a última estrutura silábica adquirida pela criança, a seqüência CCV nos leva a refletir sobre as peculiaridades de sua aquisição, visto que estruturas mais simples, como V e CV, já fazem parte do sistema fonológico de crianças entre as idades de 1:0 e 1:4, como afirma Matzenauer (2003). A pesquisa conta com a descrição do percurso de aquisição da sílaba complexa de oito informantes, cujos dados fazem parte de dissertação de mestrado em fase final de elaboração. Nesta comunicação, tecem-se algumas considerações sobre contextos de não-realização do onset complexo pelos sujeitos mencionados, relacionando-as com resultados de estudos já realizados, como os de Magalhães (2000), Ribas (2002) e Redmer (2007), entre outros. Tais reflexões têm como base a Teoria da Otimidade, que parece ter grande poder explicativo no que se refere aos processos fonológicos observados na fala das crianças durante as diferentes etapas do desenvolvimento. Este estudo, então, pretende contribuir com reflexões sobre a aquisição da linguagem e da fonologia, além de trazer contribuições para o fortalecimento da Teoria da Otimidade e possibilitar relações entre Lingüística, Fonoaudiologia, Psicologia e Educação, por exemplo, uma vez que se volta para aspectos da linguagem infantil. GT23 Estudos cognitivos da linguagem: leitura e aprendizado de línguas Coordenadores Rosângela Gabriel (UNISC) Carlos Rossa (PUCRS) POTENCIAL PEDAGÓGICO DA GRAMÁTICA COGNITIVA María Alejandra Oliveira (UNILASALLE) O presente trabalho tem como objetivo analisar alguns conceitos da Gramática Cognitiva; innovação metodológica aplicada ao ensino de segunda língua. A visão cognitiva supõe uma visão alternativa da natureza do conhecimento lingüístico, assim como, da forma como os falantes dispõem desse conhecimento. Esta proposta esta embasada nos estudos de Langacker ( 1987, 1991, 1994, 2000, 2001), Alejandro Castañeda (2006) e José Plácido Luiz Campillo (2007). Propõe a aplicação de um enfoque operacional do fato lingüístico, fazendo ênfase nas propriedades de comunicação e significado dos próprios aspectos formais, assim como, na

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lógica da sua articulação sintática. A lógica a que se refere o enfoque cognitivo é a lógica natural, a lógica dos esquemas cognitivos com que construímos a representação do mundo; o senso comum. Normatividade e operatividade no ensino dos aspectos formais da língua. Para Langacker (2000) as estruturas lingüísticas se distinguem por oferecer uma configuração representacional distinta de uma mesma situação concebida; as categorias lingüísticas são polissêmicas ,ou seja, os significados dos signos devem ser concebidos como redes conceptuais. Pretende mostrar o que é uma gramática significativa e operativa aplicada ao ensino da língua. Entendendo que cada forma está dotada de um valor de operação, um valor de significado, sendo este significado equivalente a um produto lógico. Descreve os recursos lingüísticos em diferentes níveis de abstração. Em vista disso, resulta relevante para a lingüística cognitiva o conceito do “modelo cognitivo idealizado” como uma estrutura mental complexa, de caráter esquemático, com a qual interpretamos o mundo. Existe uma metáfora conceitual : o tempo é espaço. As metáforas são exercícios de representação completamente lógicos, com ela somos capazes de construir conceitos complexos a partir de experiências simples. Campillo (2007) afirma que não é a forma em si mesma nem o significado em si mesmo, mas uma unidade simbólica na qual a forma e significado são inseparáveis. A língua representa a realidade tal e como o sujeito a percebe, por tanto a gramática tem a finalidade de favorecer diferentes perspectivas representacionais de um mesmo fato “objetivo”. Ela não opera sobre as formas, senão sobre o significado com que o falante utiliza essas formas. Uma gramática embasada nas normas e que deprecie os aspectos da atuação, em termos gerativos, será incapaz de descrever adequadamente o funcionamento de uma língua. Deve-se travalhar então desde a linguagem do pensamento, o que Pinker (1995) chama “mentalés” ,que é a linguagem do pensar, independente da língua falada. As normas e regras gramaticais devem ser apreendidas e pensadas a traves do raciocínio lógico. Salienta-se então , a importância de estimular uma compreensão cognitiva do significado gramatical. Em suma, o enfoque cognitivo oferece uma filosofia prática que permite levar à sala de aula os aspectos formais , sem renunciar aos benefícios do comunicativismo clásico. O ENSINO DE EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS SOB A PERSPECTIVA DA LINGÜÍSTICA COGNITIVA Luciane Corrêa. Ferreira (PRODOC/CAPES-UFC) Débora Abreu (UNISINOS) O presente trabalho investiga materiais didáticos para a mediação de expressões idiomáticas no ensino de língua estrangeira e tem como ponto de partida um estudo sobre a compreensão da metáfora por aprendizes de língua inglesa (FERREIRA, 2007). Os lingüistas cognitivos argumentam que a compreensão ocorre por meio de um mapeamento conceptual entre domínios,

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isto é de um domínio experiencial fonte concreto para um domínio-alvo de nossa experiência, geralmente o mais abstrato. A lingüística cognitiva vê a linguagem como interagindo com outras faculdades mentais, como percepção, visão, memória e habilidades sensório-motoras (CIENKI, 2005). Esses mecanismos gerais são responsáveis por toda a aprendizagem, e não somente pela aprendizagem da linguagem. A aquisição é acionada pelo insumo lingüístico e ocorre por meio da interação e da experiência com o ambiente ao redor do aprendiz. Selecionou-se duas expressões idiomáticas (animal idioms) em edições de livros didáticos de língua inglesa. Depois, analisou-se tais expressões com base nos estudos de Gibbs (1994) e Gibbs e O'Brien (1990). Considerando as dificuldades que as expressões idiomáticas representam para a compreensão de textos por falantes não-nativos, buscou-se investigar que tipo de abordagem os materiais didáticos apresentam para o seu ensino. Postula-se que a consciência do background metonímico de expressões como to smell a rat ou to be gentle as a lamb ajudará os aprendizes a compreender tais expressões, como constatou Niemeier (2005) sobre o ensino das expressões red tape (procedimento burocrático) or blue movie (filme pornográfico). Certamente, conhecer a motivação metafórica de tais expressões ajuda os aprendizes a lembrar o significado devido a sua saliência (GIORA, 1997). A crença de que a compreensão da motivação metonímica ajuda na compreensão de metáforas e expressões idiomáticas já é idéia corrente nos escritos de alguns lingüistas cognitivos e pode ser constatada na descrição de Sweetser (1990) da motivação metonímica da metáfora conceptual SABER É CONHECER nas línguas indo-européias. Enfim, os resultados apontam que o processo de compreensão na língua estrangeira é fortemente influenciado pela corporeidade (GIBBS, 2006), por isso mesmo recomenda-se ensinar as metáforas e metonímias conceptuais aos aprendizes de língua estrangeira. OS ASPECTOS COGNITIVOS NA LEITURA DE HISTÓRIAS EM QUADRINHOS EM L2 Karin Claudia Nin Brauer (UNISC) Márcia Just Do Nascimento (UNISC) Suzana De Fátima Fardin Berto (UNISC) Verlaine De Carvalho (UNISC) O presente trabalho analisará a leitura de histórias em quadrinhos (HQ) como uma ferramenta na aprendizagem de uma língua estrangeira, colocando em evidência o inglês como segunda língua. Trata-se de um gênero textual interessante para ser usado no ensino da língua inglesa, pois é bem recebido pelos estudantes nas aulas de leitura, contribuindo para a construção de vários tipos de informação na compreensão textual, entre eles a relação entre os aspectos verbais do texto (lingüístico) e os não verbais (extralingüísticos). A leitura caracteriza-se como uma atividade complexa realizada exclusivamente pelo ser humano, envolvendo vários níveis de cognição, além disso, sob o olhar da psicologia cognitiva, o leitor pode usar

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estratégias de leitura que facilitam a construção do sentido num texto de língua estrangeira. Neste trabalho, observa-se uma história em quadrinho famosa chamada “Garfield”, a qual pode ser encontrada na língua portuguesa e na inglesa. Nesses textos, apesar de serem consideradas histórias curtas e com uma forte interferência visual, pode-se perceber a intertextualidade na leitura, buscando-se caminhos para o ensino da leitura através de uma análise das histórias e, com isso, merece uma maior atenção do professor nas aulas de língua inglesa como segunda língua. RELAÇÃO ENTRE AS HABILIDADES DE CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E O NÍVEL DE COMPREENSÃO LEITORA EM ALUNOS DA QUINTA E SEXTA SÉRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL Gracielle Tamiosso Nazari; (PUCRS) Clarice Lehnen Wolff (PUCRS) Esta pesquisa tem por objetivo verificar a relação existente entre as habilidades de consciência fonológica e o nível de compreensão leitora em três alunos, com diferentes desempenhos em leitura - bom, médio e baixo –, pertencentes às classes de quinta e sexta séries do Ensino Fundamental. Utilizou-se para verificação da compreensão em leitura o instrumento elaborado pelas pesquisadoras e também o CONFIAS – Consciência Fonológica: Instrumento de Avaliação Seqüencial. Os resultados parciais mostraram uma correlação positiva entre o desempenho nas atividades de consciência fonológica e o nível de compreensão da leitura. UMA PROPOSTA DE ESTRATÉGIA DE RESUMO COM BASE NA TEORIA DOS BLOCOS SEMÂNTICOS Sandra Maria Leal Alves (PUCRS) O objetivo deste artigo é apresentar uma proposta de elaboração de resumo com base na Teoria dos Blocos Semânticos (TBS), última versão da Teoria da Argumentação na Língua (TAL), elaborada na década de 1980, por Oswald Ducrot em parceria com Jean-Claude Anscombre e revisada na década de 1990, desta feita com a colaboração de Marion Carel. Os resultados experimentais deste estudo mostraram que para desenvolver, de forma eficiente, a capacidade de compreensão leitora com vistas à elaboração de resumo é necessária a utilização de uma metodologia que seja ao mesmo tempo complexa e funcional; complexa no sentido de ancorar-se numa teoria que, a princípio, não é voltada para essa finalidade – necessitando, portanto de adaptação – e funcional no que se refere ao fato de basear-se naquilo que é efetivamente dito em um texto e na capacidade do sujeito resumidor para fazer inferências. O que se pretende, portanto, é apresentar um trabalho envolvendo leitura/compreensão/redução de informação baseada nos princípios da TBS e na capacidade de inferenciação

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que, de acordo com os resultados da testagem piloto, poderá se transformar em recurso pedagógico em situação real de ensino.

ELABORAÇÃO E VALIDAÇÃO DE UM INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA LINGÜÍSTICA Valéria Pinheiro Raymundo (PUCRS)

O objetivo desta pesquisa foi o de elaborar e validar um instrumento de avaliação do nível de consciência lingüística do aprendiz adulto de inglês, falante nativo de português. Para atingirmos esse objetivo, elaboramos dez instrumentos, enfocando formas certas e erradas de frases simples, distribuídas em dois grupos, erros interlinguais e intralinguais, de diferentes tempos e aspectos verbais. Efetivamos três tipos de validação − conteúdo, critério e construto − seguindo um roteiro de procedimentos estipulado por nós. Os testes foram aplicados em uma amostra composta de alunos dos cursos de Inglês Geral, Letras e Ciências Aeronáuticas da PUCRS entre 2004 e 2005. O exame da validade desse tipo de instrumento mostrou que é possível construir um teste fidedigno, fundamentado em níveis de consciência lingüística definidos como pré-consciente 1, pré-consciente 2, consciente e plenamente consciente a partir do julgamento, identificação, correção e/ou explicação do erro. A análise de questões complementares permitiu constatar a existência de diferença significativa entre o nível de consciência dos alunos do grupo feminino e do grupo masculino, e de relação significativa entre nível de consciência e desempenho dos alunos do Curso de Inglês Geral e de Letras. A interpretação dos dados obtidos através do instrumento validado possibilitou uma classificação dos sujeitos em superusuários, subusuários e ótimos usuários do monitor e uma reorganização dos alunos dos diferentes cursos.

A POBREZA DE ESTÍMULOS EXPLICADA ATRAVÉS DA TEORIA INATISTA E DO PARADIGMA CONEXIONISTA: HÁ MESMO TÃO POUCOS ESTÍMULOS? Carlos Rossa (PUCRS) Gabriela Berto (PUCRS)

O tópico deste trabalho foi inicialmente teorizado por Platão em um de seus diálogos, Meno. O problema diz respeito ao processo de aprendizagem de uma criança durante o seu desenvolvimento. Platão questionou como era possível a uma criança produzir estruturas complexas sendo exposta ao ambiente por um período tão curto. A isto ele chamou de pobreza de estímulos ou o problema de Platão. Este trabalho foi feito considerando-se dois paradigmas principais para a aquisição da linguagem: Nativismo e Conexionismo. Enquanto a hipótese nativista utiliza uma teoria abdutiva e acredita na existência de um dispositivo de aquisição da linguagem o qual contém regras comuns a todas as línguas, o paradigma conexionista explica a aquisição da linguagem através dos achados da neurociência, sem

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considerar que nascemos com um dispositivo específico para aquisição da linguagem. Os pesquisadores conexionistas defendem que aprendemos através da construção de redes neuronais e da maturação do cérebro. Em conseqüência disso, o conexionismo é capaz de fornecer mais respostas para o problema de Platão do que o nativismo. Utilizando redes computacionais como seu principal instrumento, o paradigma conexionista possui uma área mais ampla para estudos futuros, uma vez que a tecnologia utilizada para experimentos desenvolve-se rapidamente dia após dia. BILINGÜISMO E LETRAMENTO: ANÁLISE DA INTERAÇÃO ENTRE DUAS LÍNGUAS Sheila Corrêa Soares (UNISC) Onici Claro Flôres (UNISC) Este estudo propôs-se a averiguar a influência de um dialeto alemão falado na região de Vera Cruz (interior do RS) sobre o processo de letramento em português brasileiro. A pesquisa investigou alguns casos de transferência do conhecimento fonético-fonológico, lexical, sintático, semântico e pragmático do dialeto alemão dessa região para o português por um participante que começara a desenvolver a oralidade em português brasileiro na escola, juntamente com colegas bilíngües (dialeto alemão da região/ português brasileiro) e demais alunos, monolíngües em português. O estudo buscou analisar se os processos de generalização observados decorrem do conhecimento da L1 interferindo sobre o aprendizado de L2, ou se traduz um reforço inadequado de L2, e se o ambiente de ensino-aprendizagem (professor, metodologia de ensino, linguagem falada em contextos informais e colegas de turma) auxilia na superação ou reforça os processos de transferência e generalização. Para obter resultados fidedignos fez-se necessário formar um corpus representativo, para o qual foi selecionada uma turma de alunos do 1o ano do ensino fundamental de escola pública, no interior de Vera Cruz. A investigadora acompanhou a turma durante o ano letivo de 2007, promovendo situações interativas diversas (clipes, músicas, teatro, jogos no computador, rimas), dando ênfase especial à oralidade. A coleta de dados foi feita através de gravações, filmagens e tomada de notas. Ao todo foram realizados quinze encontros centrados sobretudo sobre os processos de textualização utilizados pelos participantes. As hipóteses de trabalho foram confirmadas, pois se comprovou haver transferência da L1 para a L2, em termos fonético-fonológicos, sintáticos e mesmo lexicais. Por outro lado, também se observou interinfluência de um código sobre o outro, devido ao contato direto e constante entre falantes nativos e falantes do dialeto. O intercâmbio do aluno monolíngüe no dialeto alemão local com seus pares, bem como sua adaptação a um novo meio, o escolar, apresentou os resultados esperados. Confirmou-se, então, a hipótese de que o núcleo duro lingüístico é o fonológico, havendo-se evidenciado ainda a tendência a uma interpenetração de L1 e L2 no que diz respeito ao nível pragmático, tal como referido por Arabski (2007). Ou seja, a contatação adicional diz

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respeito à alteração da L1, sob a influência da L2. Ao que tudo indica essa modificação começa a processar-se a partir do nível pragmático e vai aos poucos modificando o dialeto, tornando-o bastante diferente do alemão falado na Alemanha (Hochdeutsch). ENSINA-SE A LER EM INGLÊS NO ENSINO MÉDIO? – UMA ANÁLISE DE MATERIAIS DIDÁTICOS E DA PRÁTICA DOCENTE Verlaine de Carvalho (UNISC) Lilian Cristine Scherer (UNISC) A leitura em LE, apesar de representar uma habilidade fundamental no atual contexto, parece não estar sendo adequadamente explorada em sala de aula. A leitura em uma segunda língua é extremamente importante, especialmente em inglês, uma vez que é nessa língua que as informações costumam ser disponibilizadas no mundo inteiro. A comunicação aqui proposta pretende apresentar um estudo em implementação sobre o ensino da leitura em inglês como L2, estruturado sob uma perspectiva sócio-cognitiva, tendo em vista analisar e buscar subsídios para aprimorar o ensino da compreensão leitora em língua estrangeira. Partindo de uma análise dos processos sócio-cognitivos envolvidos na leitura em L2, serão apresentados e discutidos aspectos relacionados à prática docente para o ensino da leitura, confrontando-os com a forma como vêm sendo aplicados em salas de aula de Ensino Médio de escolas estaduais em uma região do interior do RS. A comunicação será organizada em duas seções. A primeira seção discutirá aspectos ligados à leitura em L1 e em L2, apresentando reflexões trazidas por autores como Kleiman (2004), Marcuschi (1985), Aebersold e Field (1997), Daneman (1991), entre outros. Esta seção será subdividida em duas partes. A primeira mostrará os fatores sociais e individuais que interagem com o processamento da leitura e a parte seguinte, apresentará os modelos de leitura responsáveis pela compreensão leitora. A segunda seção discutirá aspectos relacionados à leitura em segunda língua (L2), em especial ao papel da escola. Após uma análise teórica, conclui-se que uma das razões para a precariedade em geral vista no ensino de leitura em L2 reside na pequena quantidade de materiais didáticos de boa qualidade usados nas aulas de leitura em Língua Inglesa, além da forma como este material é explorado. Percebe-se também o importante papel da escola e do professor na escolha do material a ser usado durante as aulas, tendo em vista a realidade sociocultural dos alunos, uma vez que as diferenças culturais podem se impor como uma dificuldade adicional de compreensão leitora numa segunda língua. Finalmente, ressalta-se o papel do professor como mediador e facilitador do processamento de leitura por seus alunos.

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A COMPREENSÃO DE TEXTOS ARGUMENTATIVOS E NARRATIVOS POR LEITORES DE DIFERENTES FAIXAS ETÁRIAS E NÍVEIS DE ESCOLARIDADE Rosângela Gabriel (UNISC) Jorge Alberto Molina (UNISC) Onici Claro Flôres (UNISC) Lilian Cristine Scherer (UNISC) A leitura é um dos principais meios de que o indivíduo dispõe para se apropriar de conhecimentos. O texto por si só não possui sentido, uma vez que seu sentido é produzido através da interação do leitor com o texto. Em nosso país, apesar de os índices de analfabetismo estarem em redução gradativa, o analfabetismo funcional, manifestado na incapacidade de o indivíduo compreender o texto, persiste. Além de habilidades e competências individuais, outros fatores podem levar a diferenças na capacidade de compreensão leitora, entre eles o nível de escolaridade e a faixa etária dos leitores. E ainda, aspectos relacionados à capacidade de memória, de controle inibitório e atencional parecem exercer um papel relevante na capacidade de processamento de um texto e, por conseguinte, de sua compreensão. O projeto de pesquisa “A compreensão de textos argumentativos e narrativos por leitores de diferentes faixas etárias e níveis de escolaridade” tem por objetivo geral investigar o processamento cognitivo da inferenciação e da intencionalidade na leitura de textos argumentativos e narrativos por leitores agrupados por idade e nível de escolaridade, considerando-se também a influência de variáveis individuais relacionadas à memória, ao controle inibitório e atencional. Pretende-se, ainda, ao longo da execução do projeto: 1. validar instrumentos de avaliação de compreensão leitora de textos argumentativos e narrativos que contemplem o processamento de inferências e reconhecimento de intencionalidade; 2. analisar as estratégias de compreensão leitora utilizadas pelos participantes da pesquisa na resolução das questões dos instrumentos de coleta de dados; 3. analisar o tempo de resposta necessário para que os sujeitos cumpram as tarefas de leitura e compreensão textual, bem como a acuidade nas respostas dadas a cada tipo de questão; 4. avaliar processos cognitivos relacionados à memória de trabalho, à memória de curto e de longo prazo, ao controle inibitório relacionado à inferenciação, ao controle atencional, a fim de investigar a interação desses fatores com a acuidade e com o tempo de resposta na compreensão leitora; e 5. verificar a interação entre a) funções executivas como a capacidade de atenção e de inibição, b) memória de curta duração (incluindo a de trabalho), e c) capacidade de aprendizagem através da avaliação do desempenho na compreensão em leitura dos participantes nos diferentes componentes investigados por meio dos instrumentos de testagem, a fim de estabelecer um cruzamento entre esses resultados segundo a faixa de idade e de escolaridade. O estudo proposto por este projeto pretende, portanto, investigar duas áreas de conhecimento ainda bastante incipientes em nosso país, quais sejam

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questões cognitivas relacionadas ao envelhecimento e ao nível de escolaridade, mais especificamente em relação à capacidade de processamento e de compreensão leitora dessas populações. A COMPREENSÃO EM LEITURA EM CRIANÇAS COM TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE Ângela Inês Klein (PUCRS) Muitos professores têm observado um alto índice de reprovação de alunos com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Então se questionam: qual será o real motivo dessa reprovação? Há algum fator específico interferindo no desempenho escolar desses alunos? Há alguma área do conhecimento em especial na qual essas crianças encontram dificuldades? Refletindo acerca dessas perguntas, a presente pesquisa objetiva verificar a natureza da compreensão em leitura em crianças com TDAH. A pesquisa foi realizada em julho de 2008 no município de Teutônia com crianças que freqüentavam a quarta série do ensino fundamental. A amostragem é composta de três crianças com o diagnóstico de TDAH que estavam naquele momento sob orientação médica e tomando a medicação por ele indicada. O grupo controle é constituído de doze crianças do mesmo município. O intuito é comparar os escores de cada um dos três alunos com TDAH em relação a três colegas de sala de aula, que não apresentam esse transtorno. Os escores partem dos resultados obtidos em dois testes que verificam a qualidade da compreensão em leitura. O primeiro é uma avaliação qualitativa, que analisa a compreensão de maneira oral. Já a segunda avaliação é constituída pelo procedimento cloze, o qual foi realizado de forma escrita e é quantitativo. Dessa forma, observou-se a compreensão em leitura tanto de forma oral quanto escrita, questão interveniente para este estudo. A discussão dos resultados tem como base teorias psicolingüísticas, relacionando linguagem e cognição. LEITURA DE LIVRO ELETRÔNICO Vera Wannmacher Pereira (PUCRS/FALE) Gilberto Keller de Andrade (PUCRS/FACIN) Aline Conceição Job da Silva (PUCR/FALE) A presente comunicação está vinculada a uma pesquisa realizada em ação integrada, na PUCRS, pela FALE/CELIN, pela FACIN e pela EDIPUCRS. Contou com a participação dos professores Vera Wannmacher Pereira (coordenadora), Gilberto Keller de Andrade (EDIPUCRS), Milene Selbach Silveira (FACIN) e Vera Teixeira de Aguiar (FALE) e dos acadêmicos Alexsander Demartini Cruz, Aline Conceição Job da Silva e Luzia Azevedo Mendes. Orientada pelas linhas de pesquisa em “Processos Cognitivos da Linguagem e Conexionismo” (FALE) e “Interação Humano-Computador” (FACIN), teve como direção teórica o processamento cognitivo da leitura no meio digital, apoiada pelos estudos da Psicolingüística, especialmente de

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Goodman (1991), Smith (1999 e 2003), Leffa (1996), Kleiman (1989), Piccini; Pereira (2006), Pereira (2003) e pelos estudos da Informática, mais especificamente de Mack; Nielsen (1994), Nielsen (1993), Procópio (2005) e Rubin (1994). Teve como objetivos: contribuir para a orientação de autores e editores de publicações em mídia eletrônica; construir um livro eletrônico dirigido a acadêmicos de Letras (“A Pesquisa em Letras”, que pode ser encontrado na página da EDIPUCRS) e investigar, em relação a esse artefato tecnológico, o processamento da leitura, a adesão do leitor e os resultados de seu uso no que se refere à compreensão leitora. A metodologia de pesquisa contou com o uso de teste de conhecimentos prévios eletrônico (para categorização dos sujeitos – acadêmicos de Letras), de um software de captura, de um instrumento de compreensão eletrônico e de um roteiro de observação. O objeto de pesquisa constituiu-se num livro eletrônico em três diferentes formatos – PDF, HTML, LIT. A situação de coleta de dados foi organizada com base nas variáveis objetivo de leitura, nível de conhecimentos prévios e tipo de formato eletrônico. De acordo com os dados coletados, a organização de um livro eletrônico deve considerar alguns pontos: a) é necessário que os usuários recebam instruções para navegação com vistas à otimização das funcionalidades, do processamento e da compreensão; b) é importante que a extensão do livro seja considerada para a otimização do processamento e da compreensão; c) convém que o objetivo de leitura e o nível de conhecimentos prévios dos sujeitos sejam levados em conta com vistas especialmente ao processamento; d) é importante que a freqüência de uso do formato PDF seja reconhecida e, portanto, a natural disposição do leitor para ele. COMPREENSÃO EM LEITURA: PREPARAÇÃO E ESCOLHA DE MATERIAIS Adriane Marchese Chiodi (UNISC) Onici Claro Flôres (UNISC) Fundamentando-se em uma concepção interacionista de linguagem e em um conceito de leitura também sócio-interacionista, a base teórica desta investigação apoiou-se, sobretudo, em autores como Vygotsky (1983, 1984, 1993), Kleiman (1995, 1997, 1998), Marcuschi (1985, 1996, 2001), Koch (1998, 2002, 2005), Dascal (2006) entre outros, e tem o objetivo de aprofundar o conhecimento sobre a compreensão em leitura e a relação com a aprendizagem, a memória e a atenção. Sua meta é enfocar a inter-relação entre as habilidades citadas, testando-as através de um instrumento constituído de vários testes que enfatizam ora uma ora outra, visando ao detalhamento um pouco mais efetivo do processo de compreensão leitora, ao aprimoramento do trabalho do professor e ao desenvolvimento da capacidade de compreensão e interpretação do aluno-leitor. Em vista disso, recorreu-se à metodologia experimental, sendo criada e adaptada uma bateria de testes que, no seu conjunto, pôde fornecer dados mais específicos a respeito das falhas de compreensão, obtendo-se maior grau de

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fidedignidade dos resultados e das análises propostas. As hipóteses de trabalho foram, em primeiro lugar, a de que os testes de tipo padronizado não conseguem estabelecer quais são exatamente as dificuldades de compreensão existentes, e também se elas estariam vinculadas à aprendizagem, à memória ou à atenção, e de que modo isso afetaria a compreensão; a segunda hipótese é que a organização de testes especiais, em que as habilidades cognitivas sejam dissociadas, sendo testadas através de atividades diferenciadas, permitiria uma melhor avaliação da competência leitora dos alunos; e, por fim, a terceira hipótese é a de que os professores de língua portuguesa podem produzir seus próprios materiais de ensino, validando-os em suas turmas, desde que recebam apoio técnico para tal. Os resultados obtidos confirmaram as hipóteses formuladas. Com relação à primeira delas, a confirmação foi parcial, pois os dados indicaram que, de fato, uma bateria de testes cuja formulação preveja a dissociação das habilidades envolvidas na compreensão e distintas ênfases na proposta de testagem permitem uma análise mais segura dos dados. Porém não foi possível detectar até que ponto uma ou outra das habilidades investigadas afetaria a compreensão. A segunda hipótese também foi confirmada, uma vez que foi possível estabelecer com base nos dados obtidos, se a maior dificuldade do aluno seria, por exemplo, memorizar ou inferir. Por fim, com relação à possibilidade de o próprio professor produzir seus materiais de leitura os resultados além de confirmados são promissores. A proponente do estudo considera que a experiência feita foi extremamente instigante, trazendo excelentes conseqüências em nível profissional e pessoal. Espera-se que a natureza da pesquisa realizada, que as idéias defendidas e as sugestões feitas sejam úteis e possam contribuir para que os professores conheçam melhor os materiais e atividades que utilizam em suas ações pedagógicas que envolvam leitura, compreensão e interpretação. TRANSLENDO LÍNGUA, LITERATURA E CULTURA Cyana Leahy-Dios (UFF) A realidade social é o próprio dinamismo da vida individual e coletiva com toda a riqueza de significados dela transbordante. Essa mesma realidade é mais rica que qualquer teoria, qualquer pensamento e qualquer discurso que possamos elaborar sobre ela (Minayo, p. 15). A língua é um sistema de diferenças: sua identidade se faz através dos contrastes entre seus próprios elementos. Relaciona-se ao pensamento e traduz concepções próprias dos sistemas sociais. A língua não etiqueta categorias preexistentes; ela as cria, possibilitando a manifestação concreta da ideologia, bem como seu espaço de questionamento. O mesmo se pode dizer da obra literária. A língua/palavra é o primeiro elemento de constituição da obra de arte literária, seu meio de realização ético-estética através do duplo uso da linguagem (Ver a respeito dos elementos transdisciplinares da educação literária LEAHY-DIOS, Educação Literária como Metáfora Social. Niterói: EdUFF (2000)/Ed. Martins Fontes, 2a ed. (2004)) Nesse sentido, não se justifica a

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dicotomia imposta entre estudos lingüísticos e estudos literários, característica de vários paradigmas acadêmicos ocidentais. A influência da lingüística na renovação das perspectivas de leitura é reconhecida do estruturalismo à teoria da recepção. Ler a palavra integra a leitura do mundo; assumir o processo de conscientização dessa leitura exige o reconhecimento das construções sociais, políticas, econômicas e culturais. A literatura se faz na combinação dos elementos palavra, arte, sociedade, inseparáveis, sempre presentes na realização do literário. A complexidade da análise (da obra de arte) literária está relacionada à complexidade social de sua própria composição. Quanto maior for a competência de leituras do usuário da língua, incluindo as várias possibilidades interpretativas, maior e melhor será sua inserção e interação no universo lingüístico-literário de dada cultura. A leitura é espaço privilegiado de construção do saber. O projeto de ‘transleitura’ visa a construir releituras aprofundadas e plurais que problematizem o universo lingüístico, matéria-prima dos variados textos, estimulando a diferença e a suspeição (Culler) na análise textual e na síntese interpretativa extratextual. A partir desses pressupostos, é possível propor re-interpretações significativas de leitura da palavra/língua, trabalhando sobre competências de uso e de produção de sentido. A INTERAÇÃO ENTRE AS INSTRUÇÕES IMPLÍCITA-EXPLÍCITA DE ATOS DE FALA EM INGLÊS POR APRENDIZES BRASILEIROS Márcia Hyppolito Macedo dos Santos (UCPel) O presente trabalho tem por objetivo destacar os efeitos da interação entre a instrução implícita e a explícita da pragmática do inglês (L2) entre alunos brasileiros da língua inglesa. A interação entre esses dois tipos de aprendizagem está fundamentada no modelo Hipcort (McCLELLAND et al., 1995) que postula uma relação de complementariedade e de interação entre dois sistemas de memória, um relacionado ao hipocampo e o outro, ao neo-córtex. Este trabalho relata resultados parciais de um estudo longitudinal com dois grupos de alunos de nível intermediário, um experimental e um controle, com oito participantes cada, envolvendo atos de fala. Os participantes fizeram pré-testes de julgamento e de produção de atos de fala envolvendo recusas e pedidos. Após a pré-testagem, o grupo experimental participou de 8 sessões de instrução explícita e implícita envolvendo o uso desses atos de fala durante episódios da série de TV intitulada “House” (2ª temporada), cujas conversas selecionadas e utilizadas neste trabalho demonstram aspectos da pragmática da língua inglesa como L2. Após o término da coleta longitudinal, os participantes do grupo experimental e controle serão testados, e seus desempenhos comparados, a fim de se analisar o efeito das sessões de instrução explícita e implícita sobre a performance dos participantes do grupo experimental.

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CONCEPÇÕES DE LEITURA INERENTES À PROVA BRASIL Maristela Juchum ( UNISC) Rosângela Gabriel (UNISC) Nas últimas duas décadas, a política educacional brasileira visou prioritariamente à universalização do acesso ao ensino fundamental, em cumprimento à exigência estabelecida pela Constituição de 1988, que determinou a obrigatoriedade desse nível de ensino e o dever dos sistemas públicos de assegurarem sua oferta. Apesar disso, as avaliações externas, entre elas a Prova Brasil, têm revelado o baixo desempenho dos alunos no quesito da competência leitora. Na verdade o que está em jogo são, sobretudo, duas lacunas em nossa realidade escolar: de um lado, os alunos sequer dominam o código a contento – isto transparece, por exemplo, na cifra de quase 20% de alunos que, estando já na 4ª série do ensino fundamental, não sabiam quase nada em Língua Portuguesa, em 2003 (INEP, 2004); de outro, grande parte dos alunos chega à 8ª série sem entender o que lê. E, é aí que surgem alguns questionamentos: Por que os alunos apresentam tantas dificuldades na leitura? Esta o problema nos alunos, nos professores, nas provas, em todos esses atores ou, talvez, em outra variável? O propósito desta pesquisa é ajudar professores e outros profissionais que atuam na educação escolar a entender por que um número tão elevado de alunos conclui o ensino fundamental sem um domínio real das competências leitoras. Para isso, será realizada uma análise das concepções de leitura subjacentes à Prova Brasil, realizada pelo INEP, Instituto Nacional de estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, do Ministério da Educação, confrontando-as com as concepções de leitura de professores do ensino fundamental, nas disciplinas de Língua Portuguesa, História, Matemática e Ciências. O PROCESSO COGNITIVO NA ESCRITA Rui Manuel Cruse (UNISINOS) Isabella de Bem (ULBRA) Apesar de complexa e complicada, a escrita parece exibir um tipo de trabalho consistente entre os escritores. Hughey (1983) sugere que o processo da escrita pode ser dividido num número de estágios distintos, compreendendo a discussão inicial das idéias (brainstorming), passando pela pesquisa, descoberta, criação, revisão e edição com vistas à publicação. O papel do professor é de apoio fundamental em cada uma das etapas, mas o tema da redação deve ser escolha dos alunos, bem como a autoria da escrita durante todo o processo. Assim, sugere o autor, os alunos adquirem sua voz autêntica na escrita e o trabalho da escrita terá um desenvolvimento natural, incluindo a atenção às feições mais aparentes como ortografia e caligrafia. Fatores psicológicos, lingüísticos e cognitivos fazem da escrita um meio discursivo mais complexo e difícil para a maioria das pessoas, seja na língua materna ou numa segunda língua. Se considerarmos apenas fatores

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cognitivos, normalmente se aprende a escrita antes através de instrução formal do que pelo processo natural de aquisição. A escrita exige aprendizagem prévia e muito mais esforço mental (SKEHAN, 2003). Quem escreve vê-se forçado a se concentrar no sentido das idéias, garantindo que aquilo que escrevem transmite a mensagem pretendida, bem como na produção das idéias, da forma linear em que elas de fato aparecem na página. A produção quase nunca é rápida ou fluente, e nem sempre o sentido fica claro. A competência na escrita via de regra se desenvolve muito lentamente na primeira língua. Normalmente aprende-se a escrever depois de se ter completado a aquisição da gramática da fala, de modo que durante o ato da escrita as idéias tomam forma muito mais lentamente do que na fala. A mente serve de monitor para quem escreve. Conforme se formula mentalmente as sentenças, elas podem sofrer alterações por já que são monitoradas pelas experiências aprendidas sobre a língua em sua estrutura e emprego. Segundo Scovel (2004), como muitos alunos de ESL pensam na sua primeira língua e traduzem frase a frase em vez de idéia a idéia, com freqüência eles experimentam uma enorme frustração quando escrevem numa segunda língua.

APRENDER A LER NO SÉCULO XXI: COM A PALAVRA AS NEUROCIÊNCIAS Sonia Regina Victorino Fachini (USCP) Essa comunicação pretende promover a reflexão a respeito do processamento de leitura a partir das mais recentes descobertas feitas pelas neurociências, em específico às tratadas por Stanislas Dehaene em seu livro “Lês neurones de la lecture”. Os progressos das neurociências e da psicologia cognitiva conduziram a uma decodificação dos mecanismos neuroniais do ato de ler. Atualmente, graças à imagem por ressonância magnética, são necessários apenas alguns minutos para visualizar as regiões cerebrais ativadas quando da decodificação das palavras. Segundo Dahaene, por trás de cada leitor se esconde uma intricada mecânica neural precisa e eficaz, capaz de decodificar qualquer sistema de escrita estudados e conhecidos. A imagem cerebral nos mostra entre o leitor adulto que em todos os indivíduos, em todas as culturas do mundo, a mesma região cerebral, com diferenças mínimas de milímetros, intervém para decodificar as palavras escritas. Essa região é chamada de região occipto temporal esquerda, sendo então considerada a área cerebral responsável pelo processamento da palavra escrita. O autor assevera que nosso cérebro é um órgão estruturado que faz o novo com o velho. Por isso, para aprender novas competências, reciclamos nossos antigos circuitos cerebrais na medida em que permitem um mínimo de mudança. Muito antes de detectar e de analisar as letras e as palavras, os neurônios foram se especializando no reconhecimento dos objetos. O sistema visual de todos os primatas foi-se adaptando a determinadas regularidades presentes no ambiente por via de neurônios altamente especializados no seu próprio reconhecimento. Portanto

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pode-se inferir que aqueles que conceberam os diversos sistemas de escrita fizeram-no através de uma vagarosa simplificação, com o intuito de obter formas minimalistas das respectivas letras, muito mais ajustadas ao nosso sistema nervoso e muito mais simples de desenhar. Olhando na perspectiva da aprendizagem da criança, o que acontece é que o “aprendiz de leitor” desencadeia todo um mecanismo de reciclagem funcional, de uma parte de neurônios relacionados ao sistema visual, e potencia a sua especialização, precisamente, para a leitura. Assim, o tratamento da escrita começa no olho. Somente o centro de nossa retina, chamado de fóvea, possui uma resolução suficientemente elevada para reconhecer os detalhes das letras. A ativação cerebral vai, pouco a pouco, focalizando-se sobre a região occipto temporal esquerda, assumindo-se, assim, como um autêntico marco biológico da aprendizagem da leitura. O trabalho de Stanislas Dehaene fornece alguns pontos que direcionam o fato de não podermos ignorar a complexidade das operações de que nosso cérebro lança mão para ler e que “compreender melhor o órgão que nos faz ler, transmitir melhor a nossas crianças esta invenção preciosa que é a leitura, tornar estes conhecimentos úteis para o maior número de pessoas, estes são os desafios para o futuro”. CONSTRUÇÕES GRAMATICAIS E GERENCIAMENTO DISCURSIVO: O CASO DAS NÃO-FINITAS PARTICIPAIS Maraisa Magalhães Arsénio (Universidade de Lisboa) Este trabalho investiga as construções participais em posição pré-nuclear no Português do Brasil sob a ótica da Linguística Cognitiva. Baseado nos trabalhos de Fauconnier (1994,1997) Fauconnier & Sweetser(1996), Chafe (1994), Golberg (19995), Langacker (1985,1991) e Ferrari (1999), a presente comunicação lança luz sobre as especificidades sintático-semânticas das Construções Participais. Primeiramente, parte-se do pressuposto de que tais construções são pareamentos únicos de forma e significado nos termos propostos por Langacker (1987) e Golberg (1995). Desta forma, estas construções podem ser representadas por um esquema genérico do tipo [V particípio DP PP1 PP2] associado ao sentido geral de “resultado de um processo” (1). A partir de tal esquema genérico, temos outros sub-esquemas, associados aos valores semânticos de tempo (2), causa (3) e modo (4). Em segundo lugar, postula-se que as Construções Participais são introdutoras de espaços temporais e locativos (5), além de espaços de domínio de atividade (física, psicológica ou social) – (6). Também argumenta-se que as Construções Participais contribuem para o gerenciamento do fluxo discursivo, uma vez que o papel cognitivo de tais construções é o de retomar espaços anteriormente abertos ou de introduzir espaços a partir de modelos cognitivos ativados previamente. (7). Exemplos: (1) Terminada a aula no auditório pelo professor catedrático, todos se retiraram.

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(2) Acabada a festa, limpamos a casa. (3) Estimulado pela ideia do professor, resolvo fazer também minhas observações sobre o assunto. (4) Desesperada, pensando em morrer, a moça procurou uma pensão, e já pensava em retornar a Belo Horizonte, quando descobriu que estava grávida. (5) Findo o jantar, sentaram-se na sala, a irmã mais velha acendeu um cigarro, ofereceu à mais nova. A Construção Participial Pré-Nuclear “FINDO” propicia a construção de um espaço temporal: Depois que terminou o jantar, sentaram-se na sala.(Gostaria de deixar claro que não estou tomando uma construção pela outra, ou seja, não considero como equivalentes as construções não-finitas e finitas, o teste visa apenas destacar o sentido temporal da não-finita.) (6) Os vizinhos de cima fazem barulho, mas os vizinhos de baixo são os piores. Os vizinhos de baixo reclamam do nosso barulho. Cansada de tanto ouvir desaforo da vizinha de baixo, Magali resolveu vender o apartamento. A Construção Participial Pré-Nuclear com Sprep “CANSADA de tanto ouvir desaforo da vizinha de baixo” propicia a construção de um espaço de domínio de atividade psíquica (implicatura causal): o estado psicológico de cansaço, causado pelo desaforo da vizinha de baixo, acarreta na venda do apartamento. (7) Bem, mas isolada no seu canteiro estava uma rosa apenas entreaberta cor-de-rosa-vivo. Ex 112

MEspaço Espacial

Isolada em seu canteiro...

Em termos de espaços mentais, temos a abertura de novo espaço a partir do space-builder “isolada”. Tal abertura de espaço é totalmente preditível no

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discurso, pois decorre de um MCI ativado previamente: “Plantação de flores nos jardins”. ATIVIDADES DE COMPREENSÃO LEITORA EM LÍNGUA INGLESA Adriana Rossa (PUCRS) Mariane Rieger (PUCRS) A aplicação de teorias sobre estratégias de compreensão leitora em L2 na prática docente parece, por vezes, ser pouco observada por professores. O conhecimento relativo às habilidades e estratégias para a leitura por parte dos instrutores possibilita uma abordagem de compreensão textual com maiores chances de sucesso pelo aprendiz. Desenvolvemos e descrevemos um conjunto de atividades de compreensão textual com embasamento nas principais teorias sobre o tema. O grupo-alvo para ilustrar a aplicação teórica é supostamente composto de estudantes adultos em nível intermediário de língua inglesa, em um curso livre. Um texto autêntico é explorado em termos de seus significados explícitos e inferenciais, bem como sua micro e macro-estrutura. GT24 Lingüística e Computação Coordenadores Rove Chishman (UNISINOS) Renata Vieira (PUCRS) PROCESSAMENTO DA LINGUAGEM NATURAL APLICADO À BIOLOGIA E BIOMEDICINA Rodrigo Rafael Villarreal Goulart Vera Lúcia Strube de Lima Estudos colocam que o volume e as características particulares do texto científico das áreas de Biologia e Biomedicina dificultam o acesso às informações que atualmente estão disponíveis em artigos científicos via Internet. Sites de busca tradicionais, como o Goolge, classificam seus resultados pela popularidade/autoridade que estes representam, mas no domínio das ciências todos os resultados de uma busca podem ser relevantes, pois qualquer um deles pode ser útil na elaboração de novas hipóteses. A variabilidade ortográfica, léxica e semântica de textos é uma das questões em aberto que motiva a pesquisa na área do Processamento da Linguagem Natural (PLN), por influenciar diretamente o desempenho de procedimentos automatizados de busca. De forma específica, o reconhecimento preciso de termos e seus significados torna possível a classificação de documentos ou o estabelecimento de relacionamentos entre os conceitos contidos nos mesmos. O reconhecimento de termos é tema de pesquisa antigo na área de PLN. O emprego de dicionários, sistemas de regras e aprendizado de máquina são

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exemplos de técnicas que empregadas em domínios específicos do conhecimento. Dicionários são ricos em informações sobre os termos relacionados mas são limitados quanto a generalização. Sistemas de regras e aprendizado de máquina conseguem se adaptar melhor as variações léxicas e sintáticas mas são dependentes da sua manutenção ou da quantidade de informações disponível para sua construção, respectivamente. Dentre os trabalhos investigados neste trabalho, a perspectiva de desenvolver sistemas que auxiliem os pesquisadores das áreas biológicas e biomédicas na elaboração de novas hipóteses é uma das finalidades mais avançadas e promissoras que se apresentam. Dada a sobrecarga de dados e informações, todos os relatos remetem ao fato de que não será possível desenvolver inovações tecnológicas nessas áreas, num curto espaço de tempo, sem o emprego de mecanismos que minerem as informações disponíveis. A mineração de textos de biologia e biomedicina é uma área abrangente que está amadurecendo e se especializando de tal forma que subáreas estão se destacando, como os da extração e elaboração de recursos léxicos, terminológicos e ontológicos, a manutenção automática desses recursos, e finalmente a recuperação de informações. Este trabalho reúne informações e alguns resultados de pesquisas desenvolvidas para este fim na comunidade de pesquisadores do Processamento da Linguagem Natural. UMA ABORDAGEM CONEXIONISTA AO ESTUDO DO LÉXICO Juliano Bellinazzi Nequirito (UNICAMP) O propósito deste artigo é mostrar como o conexionismo e suas ferramentas computacionais oferecem recursos para a construção de estruturas semântico-lexicais, com a finalidade de viabilizar a compreensão das relações lexicais entre as palavras pertencentes a essa estrutura, bem como lançar alguma luz sobre a forma como ocorre o acesso lexical na mente humana. Em primeiro lugar, faço um sobrevôo sobre as histórias do conexionismo e das teorias de acesso lexical, bem como sobre o impacto, sofrido não somente por estas, mas por todas as idéias mentalistas, a partir do ressurgimento do conexionismo na década de 80, trazido de volta às linhas de pesquisa por autores como Kohonen, Rumelhart, McClelland, Elman, dentre outros. Em seguida mostrarei como, através dos chamados Mapas Auto-Organizáveis de Kohonen (Self-Organizing Maps, ou simplesmente SOM), é possível construir uma estrutura semântico-lexical a partir de um determinado corpus lingüístico, obtido através de testes de associação de palavras. Os Mapas de Kohonen são representações topológicas, e portanto visuais, de seu input, tornando visíveis as diferentes áreas de ativação correspondentes às suas entradas lexicais, de forma que é possível se obter o que se poderia chamar de “equivalentes visuais” dos mapas semânticos. Ademais, tais representações permitem uma melhor compreensão de algumas das mais aceitas teorias de acesso lexical. Por fim, mostro como os recursos computacionais presentes na ferramenta SOM oferecem meios para se analisar tanto as relações semânticas entre as

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palavras do léxico gerado (sinonímia, hiponímia/hiperonímia e taxonomias, etc.), bem como a prototipicidade das diferentes classes de palavras que o compõem. Para que o estudo fosse frutífero, as palavras-alvo dos testes de associação pertencem a um domínio conceitual específico (o alcoolismo), de forma a se obter um corpus lexicologicamente coeso e, dessa forma, possível de ser analisado conforme os objetivos acima expostos. RECONHECIMENTO AUTOMÁTICO DE RELAÇÕES ENTRE ENTIDADES MENCIONADAS EM TEXTOS DE LÍNGUA PORTUGUESA Mírian Bruckschen (UNISINOS) Renata Vieira (PUCRS) Sandro Rigo (UNISINOS/UFRGS) O reconhecimento de entidades mencionadas (ou EMs, entidades com nome próprio) e relações entre estas é uma importante questão para a Linguística Computacional, e é também o objeto deste trabalho. Considera-se que esta tarefa é um primeiro e importante passo na análise semântica de textos. Numa iniciativa pioneira no cenário de processamento da língua portuguesa, é proposto o HAREM ("HAREM é uma Avaliação de Reconhecedores de Entidades Mencionadas"), uma avaliação conjunta de sistemas reconhecedores de EMs. Na edição atual, foi criada uma trilha de reconhecimento de relações entre estas EMs, na qual participamos com o presente trabalho, que reconhece relações entre EMs identificadas pelo analisador PALAVRAS. São reconhecidas através de regras lingüísticas relações de: i) identidade entre EMs, atribuída a EMs que refiram-se ao mesmo objeto no mundo ("Carmen Miranda", "Carmen Miranda" e "Carmen", em diferentes posições do texto); ii) inclusão entre EMs referentes a lugar, atribuída à EMs de lugar cujos objetos no mundo possuam relação de inclusão ("Europa" inclui "Budapeste") ; e iii) ocorrência entre EMs de evento/organização em EMs de lugar ( "Exército Zapatista de Libertação Nacional" ocorre_em "México"). Cada relação tem heurísticas próprias para seu reconhecimento. A relação de identidade entre EMs, que obteve os melhores resultados dentre as três (com Medida F de 68%), é reconhecida através dos seguintes passos: i) matching exato dos sintagmas entre as EMs analisadas ("México" e "México"); ii) sigla entre EMs ("EZLN" e "Exército Zapatista de Libertação Nacional") e iii) parte do nome entre EMs que refiram-se a pessoas ("Carmen Miranda" e "Carmen"). Quanto às relações mais complexas, de inclusão e ocorrência, estas tiveram resultados menos expressivos, mas ainda assim razoáveis para uma primeira abordagem, com Medida F de 7% e 12% respectivamente. As regras para reconhecimento destas relações estão relacionadas à posição das EMs de lugar, organização e evento nas sentenças, além da existência de preposição de localização/inclusão entre elas. Isto posto, atribuímos os resultados destas últimas relações a vários fatores combinados: o pré-processamento pelo PALAVRAS (atribuição errônea de categoria às EMs, como nos casos de

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EMs de lugar físico que foram marcadas como organização); ao reduzido número de heurísticas para tratamento destas relações; e, em particular, à dificuldade em tratar relações complexas apenas fazendo uso de regras lingüísticas, sem a utilização de bases de dados externas. Este trabalho está em andamento, e as técnicas aqui apresentadas já estão sendo revisadas com o objetivo de melhorar os resultados. NECESSIDADE E DISPONIBILIDADE DE ONTOLOGIAS NA LÍNGUA PORTUGUESA Larissa Astrogildo de Freitas (PUCRS) Renata Vieira (PUCRS) A Web é um enorme repositório de dados e administrá-los é uma missão um tanto trabalhosa. Sendo assim, estudos sobre ontologias ganharam novo impulso com a finalidade de incentivar uma representação formal do conhecimento, facilitando a sua administração. No entanto, trabalhos relacionados à ontologia na língua portuguesa ainda são pequenos e pontuais, embora exista um grande interesse da academia e da indústria. Inúmeras ciências utilizam e reconhecem sua importância, dentre elas podemos citar: ecologia, nanotecnologia, direito, pediatria e geografia. Neste trabalho apresentamos uma visão geral sobre ontologias e sua necessidade, bem como algumas propostas disponíveis nessa área. A importância das ontologias para a representação do conhecimento fica clara quando se verifica a extensa lista de projetos de pesquisa e publicações existentes sobre o assunto. As ontologias são o ponto mais elevado já atingido em termos de representação, compartilhamento e reutilização do conhecimento. Constatamos a dificuldade de encontrar ontologias na língua portuguesa e a existência de poucas propostas para o nosso idioma. Além disso, a dificuldade de compartilhá-las torna o trabalho moroso. Ao longo do trabalho realizamos uma revisão bibliográfica sobre o grande projeto da Web Semântica proposto por Tim Berners-Lee, em especial, o modelo de camadas nos anos de 2000 e 2005, e o papel das ontologias neste contexto. Familiarizamos o leitor com os seguintes conceitos sobre ontologias: tipos (alto nível, domínio, tarefa e aplicação) e níveis (vocabulário, taxonomia, relacional, axiomático), construção automática e semi-automática, metodologias de construção (Cyc, Enterprise Ontology, Toronto Virtual Enterprise, KACTUS, Methontology, Sensus e On-to-Knowledge), linguagem Web para representação de ontologias OWL, ferramenta para edição Protégé, áreas de aplicação, interoperabilidade (alinhamento, mapeamento, combinação e integração) e uma breve descrição sobre projetos (OntoLP: Construção Semi-automática de Ontologias a partir de textos da Língua Portuguesa e SiSe: Medida de similaridade semântica entre ontologias em português) já existentes no português. As ontologias encontradas para a língua portuguesa não têm ainda relação com aplicações para a Web Semântica, mas é natural que com a evolução deste grande projeto, a construção, o uso e o reuso de ontologias em língua portuguesa se torne freqüente. Como trabalho futuro deste

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levantamento inicial, queremos conhecer mais detalhes a respeito das ontologias da língua portuguesa identificadas, bem como verificar a viabilidade de seu reuso para pesquisas sobre ontologias e desenvolver aplicações computacionais, como mapeamento e integração. A DIFICULDADE DA TAREFA DE RESOLUÇÃO DE CORREFERÊNCIA EM PLN Tatiane de Moraes Coreixas (PUCRS) Renata Vieira (PUCRS) A resolução de correferência é uma tarefa importante em várias aplicações de Processamento da Linguagem Natural (PLN), como a sumarização automática e a extração de informação. Define-se correferência como a relação entre elementos lingüísticos que se referem a uma mesma entidade de mundo. Sua resolução tem como intuito deixar a relação entre as entidades evidenciadas. Essa tarefa é, muitas vezes, dependente da compreensão do contexto textual e conhecimento de mundo. Estas são questões lingüísticas e extralingüísticas complexas relacionadas às habilidades cognitivas humanas e que não são facilmente reproduzidas por sistemas computacionais. O problema de resolução de correferência pode ser visto como: tendo um conjunto de expressões referenciais de um texto, necessita-se identificar quais são os subconjuntos de sintagmas que fazem referência a mesma entidade. Para resolver as referências automaticamente, faz-se necessário o uso de conhecimento dos variados níveis de processamento lingüístico. É preciso realizar a análise sintática das frases, análise do contexto e da semântica, o que pode envolver conhecimento de mundo. Com uma combinação dessas informações é possível realizar a identificação das expressões correferentes. Porém, capturar um modelo do contexto é ainda um desafio grande para a área. Entre os casos de fácil resolução estão as repetições simples (anáforas diretas). Os principais problemas encontrados por esses sistemas estão relacionados com os tipos de anáfora indireta (incluindo anáforas pronominais) e associativa. Nesses tipos de anáfora, o núcleo das expressões correferentes não são os mesmos, como ocorre no caso das anáforas diretas. Identificar a relação entre os referentes neste caso depende do conhecimento semântico que se estabelece não só através das relações entre as palavras (como no caso de relações de sinonímia e hiperonímia), mas também é influenciado pelo contexto textual e conhecimento de mundo. Durante o levantamento das entidades correferentes, geralmente, mais de uma expressão é considerada como candidata a entidade. Decidir quais antecedentes são válidos para montar as cadeias de correferência não é, também, uma tarefa simples. Uma cadeia de correferência pode ser definida como o conjunto de todas as expressões referenciais a uma determinada entidade encontrada em um texto. Selecionar automaticamente a expressão mais informativa dessa cadeia é outra questão igualmente complexa para as aplicações de PLN. Existem alguns sistemas recentemente desenvolvidos para tratar resolução de correferência em língua

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portuguesa. Neste trabalho discutimos alguns deles, mas ainda há muito o que pesquisar nessa área. A POLISSEMIA DOS VERBOS PSICOLÓGICOS: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O ESPANHOL E O PORTUGUÊS COM BASE NO PARADIGMA FRAMENET. Silvia Matturro Panzardi Foschiera (UNISINOS) O objetivo deste trabalho é realizar uma investigação semântico-computacional de léxico. Busca desenvolver um estudo comparativo entre a língua espanhola e a portuguesa de vertente brasileira, abordando a polissemia dos verbos psicológicos e utilizando como base o uso de redes semânticas. A investigação se circunscreve teoricamente dentro da área da Lingüística Cognitiva e baseia-se na Semântica de Frames. O léxico computacional Spanish FrameNet servirá como ponto de partida para a realização de um mapeamento quanto à informação relativa à estrutura semântica e sintática dos verbos psicológicos nos idiomas Espanhol e Português. Como o Spanish FrameNet está conectado ao FrameNet através dos frames semânticos, objetiva-se realizar a mesma conexão entre os dados lexicais do Spanish FrameNet com os dados da língua portuguesa, comparando ambas línguas. A anotação dos textos em todos os projetos interligados está em Língua Inglesa, sendo assim, a investigação adquire um caráter multilíngüe ao envolver três idiomas. Para o estudo dos verbos classificados como psicológicos será adotada uma perspectiva semântico-conceitual e relacional na classificação, identificando o domínio cognitivo-conceptual. Esta perspectiva se revela tanto no núcleo semântico de suas designações como no tipo de relações semânticas que mantém com o verbo e/ou entre si as diferentes entidades actanciais evocadas. Ao estudar os padrões de lexicalização entre espanhol e português dos verbos polissêmicos de processamento mental, será possível verificar quais os itens lexicais que possuem padrões diversos nestas línguas e propor, a partir da análise, uma nova classificação para esses verbos. FRAMECORP: REFLEXÕES PRELIMINARES SOBRE A ANOTAÇÃO DO CORPUS SUMMIT Rove Chishman (UNISINOS) João Gabriel Padilha (BIC, FAPERGS, UNISINOS) Carla ten KatheN (PIBIC, CNPq, UNISINOS) O objetivo desta comunicação é apresentar os resultados preliminares dos estudos empreendidos no âmbito do projeto FrameCorp, cujo objetivo geral é a investigação semântico-computacional do léxico do Português do Brasil a partir da utilização de corpus eletrônico. É nosso propósito verificar em que medida a teoria dos frames de Fillmore (1982, 1985) se presta à descrição semântica de verbos. Justifica-se esta proposta ressaltando a

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escassez de investigações voltadas para a construção de recursos computacionais com base em estudos semânticos. Em termos teóricos, pretende-se não apenas validar a Semântica dos Frames, verificando sua capacidade descritiva e explanatória, como também contribuir para seu avanço, haja vista que ocupamo-nos de dados lingüísticos do Português. Em termos aplicados, interessa a esta investigação a construção de corpus com anotação semântica a partir de evidência empírica. Em seu primeiro semestre de execução, o Projeto se ocupou em levar a cabo dois experimentos: um estudo-piloto a partir da descrição do frame Statement e a anotação do subcorpus SUMMIT. Ambos os experimentos partiram do mesmo subcorpus, formado por 50 textos do domínio ciência da Folha de São Paulo. Para o primeiro experimento, partimos dos resultados da extração dos itens lexicais e suas freqüências. Daí a escolha pelo frame Statement, que agrupa verbos como dizer, falar, alegar, declarar. O segundo experimento, por sua vez, tratou de completar a anotação, procurando dar conta dos demais verbos. Como conseqüência, deparamo-nos com uma maior diversidade de frames e suas peculiaridades. Partindo do relato desta primeira fase do projeto, é nosso propósito aqui refletir sobre tal experiência, refletindo sobre seus acertos e dificuldades. Em termos teóricos, uma série de questões emergem: (i) a validação da descrição da base de dados FrameNet para os dados do Português; (ii) os diferentes padrões de lexicalização entre as línguas portuguesa e inglesa e (iii) a semântica verbal e sua diversidade no corpus. Em termos aplicados, destacamos a experiência de usar a ferramenta SALTO, desenvolvida pelo grupo de Lingüística Computacional da Saarland University (Erk et al, 2003; Burchardt, 2006). Destacamos aqui as dificuldades enfrentadas no que tange às etapas de pré-processamento do corpus, em especial o uso do parser PALAVRAS e do conversor XML Tiger, e a etapa de anotação e posterior confrontação das anotações. TRATAMENTO AUTOMÁTICO DA LINGUAGEM Mirian Rose Brum-de-Paula (UFSM) Abordar a linguagem e a informática focalizando a tradução automática da linguagem (TAL) pressupõe pesquisar sobre as relações existentes entre o homem e a máquina. Duas questões importantes – intimamente ligadas a essas relações – precisam ser evocadas: 1) Por que a linguagem humana é tão difícil de ser compreendida, decifrada, modelizada? e 2) por que as regras responsáveis pela transformação de intenções em produção oral ou escrita - e pela transformação da produção oral escrita em sentido - são tão difíceis de serem identificadas para que possamos fornecê-las aos computadores? Para tentar responder a essas questões, propomos um breve panorama histórico centrado no tema homem-máquina e o estado atual referentes aos trabalhos em TAL.

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LINGÜÍSTICA E COMPUTAÇÃO Maristela Maria Kohlrausch (UNISINOS) Este trabalho está vinculado a um projeto de pesquisa maior (CHISHMAN, 2007) que tem como objetivo fazer uma investigação semântico-computacional do léxico do Português do Brasil a partir da utilização de corpus eletrônico. A abordagem teórica e metodológica utilizada é a Semântica de Frames (Fillmore 1982, 1985), que está inserida na área da Lingüística Cognitiva. Sob a perspectiva da Semântica de Frames, foi criada a base de dados FrameNet, que apresenta as possíveis combinações semânticas e sintáticas (valências) de cada palavra, juntamente com cada um dos seus sentidos, os quais são, nesta pesquisa, os verbos de elocução. Este trabalho apresenta uma proposta de estudo destes verbos a partir deste paradigma e, nossa escolha se justifica ao fato destes verbos serem uma classe que expressa uma série de nuances semânticas, como, por exemplo, a subjetividade e a expressão da emoção, permitindo que diferentes perspectivas se voltem para seu estudo. Esta comunicação vai apresentar os resultados de um estudo empírico realizado a partir da extração dos verbos de elocução classificados por Neves (2000) de um corpus constituído por 158 textos. Para a extração utilizou-se uma das ferramentas da Lingüística de Corpus, mais especificamente, o concordanciador AntConc 3.2.1w. Como resultado parcial, destacamos que nem todos os verbos de elocução pertencem, conforme descrição do FrameNet, ao Frame Statement, que seria o equivalente aos verbos de elocução no português. Embora alguns verbos, como “dizer” e “afirmar” tenham apresentado uma descrição semelhante ao do FrameNet, ocorreram casos, como “argumentar” e “considerar”, que não apresentaram nenhuma relação com o Frame Statement. Percebemos que, ao compararmos duas línguas, questões como os diferentes níveis de granularidade e paralelismos entre as mesmas são totalmente relevantes. Este estudo contribui para o desenvolvimento de sistemas computacionais que necessitam processar a linguagem humana, em especial à pesquisadores do processamento da linguagem natural (PLN). UTILIZANDO FERRAMENTAS DA LINGÜÍSTICA DE CORPUS PARA A COLETA DE PHRASAL VERBS Marcos Aninkvicius Gazzana (UNISINOS) Os Phrasal Verbs são construções verbais características da língua inglesa constituídas por um verbo e uma ou duas partículas. Tais estruturas são sintática e semanticamente complexas, uma vez que não se enquadram em regras lógicas e homogêneas. Os Phrasal Verbs apresentam sentidos mais ou menos metafóricos além de uma variação no número de seus componentes, o que faz com que os concordanciadores não dêem conta de sua identificação e coleta automática. No entanto, através de uma combinação de ferramentas da Lingüística de Corpus e cálculos estatísticos é possível obter resultados satisfatórios na identificação dos Phrasal Verbs. Através de um software

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gratuito chamado AntConc 3.2.1w foi realizada a coleta de Phrasal Verbs que fizeram parte de uma pesquisa mais ampla em nível de mestrado realizada recentemente. O AntConc 3.2.1w é um conjunto de ferramentas que permite a análise lingüística de um determinado corpus eletrônico e a aplicação de cálculos estatísticos, como, por exemplo o T-score. Tendo em vista tais considerações, esta comunicação tem por objetivo apresentar os procedimentos metodológicos utilizados para a identificação e coleta de Phrasal Verbs abordando alguns aspectos relacionados aos problemas encontrados durante tais procedimentos metodológicos e descrevendo os critérios adotados durante tal processo. Além disso, será apresentada uma breve descrição das ferramentas do AntConc 3.2.1w a fim de demonstrar sua utilização durante o processo de identificação e coleta de dados. TEORIA DO CONSTRUCIONISMO DINÂMICO (TCD) E MODELO HIPOTÉTICO DE COMPUTAÇÃO DA LINGUAGEM Wagner Ferreira Lima (UEL) A presente comunicação propõe apresentar os pressupostos básicos que sustentam a Teoria do Construcionismo Dinâmico (TCD) e o plano geral de um modelo hipotético de processamento da linguagem. Essa teoria tanto quanto o seu modelo estão em fase de aprimoramento, ajuste e incrementação; contudo seus princípios norteadores já se encontram estabelecidos. A TCD defende o caráter construcionista e dinâmico dos sistemas humanos, ou seja, o fato de que nossa compreensão dos eventos não constitui um reflexo especular dos mesmos, mas sim um processo dinâmico e holístico de construção dos sentidos. Esse processo é formado pela interação de quatro classes de rotinas psíquicas, denominadas conforme o efeito geral que produzem: o sentir (S), o interagir (I), o compreender (C) e o expressar (E). O sentir orienta-se para a subjetividade do falante, como, p. ex., a preservação da auto-estima; o compreender, para as relações interpessoais, como, p. ex., a persuasão; o compreender, para a verdade/falsidade das descrições lógico-semânticas; e, por fim, o expressar, para a socialização das experiências dos interlocutores. A TCD postula que tais classes de rotinas são fruto da experimentação de disposições psíquicas inatas e que, por isso mesmo, estão entranhadas nas experiências. O modelo hipotético que disso deriva prevê a articulação de algumas rotinas que constituem tais classes de processos psíquicos. Por ora, tais processos estão escritos em linguagem formal, baseados nos símbolos e operadores da lógica clássica, e não em linguagem de programação. Apesar disso, a forma de computação que pretendemos simular distancia-se dos princípios rígidos da lógica clássica. As principais características de seu modus operandi são muito semelhantes ao do processamento neuropsicológico: a) computação paralela e distribuída; b) emprego de cálculos estatísticos, e não categóricos, dos dados; b) processamento por parentesco de família, e não por critérios de necessidade e suficiência; c) processamento retroativo e dinâmico das informações. Com isso, a TCD pretende ser uma teoria geral da linguagem

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em uso, pois permite integrar sob um mesmo princípio teórico-epistemológico aspectos das experiências humanas tratados até então separadamente, como a linguagem verbal, a cognição e os afetos. COMPILAÇÃO E ANOTAÇÃO DE CORPUS – UM ESTUDO SOBRE OS COMPOSTOS NOMINAIS Lílian Figueiró Teixeira (UNISINOS) Lucas Lermen (UNISINOS) A utilização de recursos computacionais para o estudo da língua tem se tornado cada vez mais freqüente. Além de facilitar o trabalho do lingüista, com dados mais precisos e obtidos rapidamente, é possível compilar corpora (conjuntos de textos organizados com fins de pesquisa) consideravelmente grandes. No entanto, encontrar um corpus apropriado aos propósitos de um determinado estudo nem sempre é fácil. Nesta comunicação, nosso objetivo é refletir sobre a metodologia que adotamos para realizar a coleta e compilação de corpus paralelo. Como parte de pesquisa em nível de mestrado, cujo propósito é estudar a semântica dos compostos nominais através da sua tradução do inglês para o português, a compilação do corpus exigiu uma série de procedimentos computacionais. Inicialmente foi feita a coleta de dez edições da revista National Geographic em inglês e a sua tradução em português. Essa revista foi escolhida por ser conceituada e os mesmos artigos publicados em inglês são traduzidos na íntegra na edição brasileira. Além disso, as principais reportagens estão disponíveis gratuitamente on-line. Após a compilação do corpus, precisava-se encontrar os compostos nominais formados por dois substantivos (NN), já que posteriormente a semântica dessas expressões seriam analisadas. Assim, tornou-se necessário a etiquetação dos textos em inglês, tarefa que constitui na classificação morfológica feita com o auxílio de uma ferramenta (etiquetador). Por ser gratuito e confiável, utilizou-se o TreeTagger, que exige um pré-processamento, ou seja, o corpus precisa esta itemizado, uma palavra por linha. Para realizar esta tarefa, foi desenvolvido um itemizador que utiliza a arquitetura Java J2SE. Com o corpus devidamente etiquetado, a extração dos compostos foi possível através de uma outra ferramenta, um extrator desenvolvido com a mesma arquitetura. Através dessa ferramenta, buscaram-se os compostos formados por dois substantivos sem que houvesse outros substantivos imediatamente antes ou depois e a sua freqüência foi medida. Entre os resultados da extração, encontram-se predominantemente compostos que ocorrem uma única vez no corpus (hapax). Isso não configura um problema, já que, na fase de análise semântica, os compostos são organizados de acordo com características gerais e são atribuídas etiquetas semânticas que especificam as relações entre os dois substantivos do composto. Para o estudo da tradução dos compostos, o corpus foi alinhado através da ferramenta Vanilla Aligner, que foi desenvolvida na PUCSP (grupo de pesquisa do LAEL) e é disponibilizada gratuitamente.

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Espera-se com este estudo contribuir para as pesquisas em PLN e em especial para as tarefas de tradução automática. COMUNICAR E KOMMUNIZIEREN: PROPOSTA DE DESCRIÇÃO À LUZ DA SEMÂNTICA DE FRAMES Jaqueline Beatriz ten Kathen (UNISINOS) Isa Mara da Rosa Alves (UNISINOS,UNESP) Este trabalho estuda a Semântica de frames, que está inserida na área da Língüística Cognitiva. À luz da Semântica de Frames, foi criada e projetada a ferramenta FrameNet (FN), que apresenta cenários ou situações de uso de unidades lexicais (LU). Para a descrição destes cenários são previstos elementos frame que assumem papéis situacionais. O estudo aqui apresentado é um subprojeto do projeto FrameCorp, desenvolvido no contexto do Programa de Pós-Graduação em Lingüística Aplicada da UNISINOS. Para realizarmos este estudo, analisamos os verbos comunicar no português e kommunizieren no alemão. O verbo comunicar é um verbo relevante no corpus de análise do projeto maior, fato que justifica sua escolha. O verbo kommunizieren foi escolhido por conter os sentidos semelhantes a comunicar mais freqüentes no corpus do projeto, além disso, é bastante freqüente na língua alemã. A análise empírica possibilitou identificar padrões de lexicalização distintos entre português, alemão e o inglês (língua do FN de Berkeley, que serviu de referência para a descrição dos frames e elementos frame). Tais reflexões possibilitaram concluir que o frame Communication é evocado pelos verbos nas três línguas, entretanto, ele não contempla todos os sentidos denotados pelo verbo comunicar, sendo que alguns desses sentidos evocam o frame Connectos. Além disso, observa-se também que comunicar é mais polissêmico do que kommunizieren, ou seja, assim como ocorre no inglês, o verbo do alemão também não codifica todos os sentidos evocados pelo verbo do português. Os resultados não são conclusivos, entretanto, evidenciam a importância de estudos multilíngües para auxiliar nas decisões necessárias para a construção do FN Brasil e para a anotação de corpus proposta pelo projeto FrameCorp. LINGÜÍSTICA E TECNOLOGIAS INFORMATIZADAS: UMA EXPERIÊNCIA DO GRUPO INTERDISCIPLINAR DE PESQUISAS EM LINGÜÍSTICA INFORMÁTICA Zilda Maria Zapparoli (USP/CNPq) Neide Ferreira Gaspar (USP) Edenis Gois Cavalcanti (USP) Certificado pela Universidade de São Paulo e cadastrado no Diretório de Grupos de Pesquisa no Brasil do CNPq em 2002, o Grupo Interdisciplinar de Pesquisas em Lingüística Informática reúne docentes, pós-graduandos e ex-lunos de pós-graduação da USP, com o objetivo de promover intercâmbio de

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experiências entre pesquisadores das ciências exatas e da ciência da linguagem. As investigações do Grupo dão especial atenção a aplicações de tecnologias informatizadas em análises lexicais, textuais e discursivas, pela geração de bases de dados de diferentes tipologias de textos (verbais orais ou escritos, de caráter técnico, literário, jurídico, jornalístico, publicitário, patológico), em diferentes línguas, para diferentes finalidades (ensino, pesquisa, perícia, diagnóstico), e da análise das bases geradas mediante a utilização de ferramentas informáticas e de métodos estatístico-descritivos. Na exploração da constituição lexical, textual e discursiva, aplica-se o método de análise de textos de André Camlong (Universidade de Toulouse II). Fundado na matemática e na estatística paramétrica, o método permite a análise quantiqualitativa do léxico, que indica apontamentos para a análise textual e discursiva. Da aplicação do método resultam: (1) levantamento lexical, com constituição de vocabulários de freqüência e de tabelas de distribuição de freqüências - cálculo aritmético - tratamento quantitativo; (2) constituição de vocabulários preferenciais, normais e diferenciais, a partir de tabelas de desvios reduzidos - cálculo algébrico - tratamento quantiqualitativo; (3) aplicação de testes estatísticos - normalidade de distribuição lexical, correlação, entre outros. Esses resultados dão a conhecer o léxico através de uma descrição lexical quantiqualitativa. Os resultados são descritos em trabalhos relativos à análise dos seguintes corpora: - Corpus de Discursos Orais - Português Falado de São Paulo (Zilda Maria Zapparoli); - Corpus de Discursos Literários - Fernando Pessoa (João Martins Ferreira); Machado de Assis (Daniela Fregonese Bragazza); Realismo Fantástico (Neide Ferreira Gaspar); Guimarães Rosa (Márcia Angélica dos Santos); - Corpus de Discursos Bíblicos - Epístolas de São Paulo (Edenis Gois Cavalcanti); - Corpus de Discursos Públicos – Greve da Educação em Pernambuco, 1987-1990 (Maria Cristina Hennes Sampaio); - Corpus de Discursos Escolares (Luís Rogério da Silva). Por permitir uma análise dos dados a partir de um tratamento lexical quantiqualitativo, o método empregado descortina aos pesquisadores novas perspectivas em análises do discurso, numa abordagem por excelência interdisciplinar. TRABALHANDO COM SINTAXE EM AMBIENTE COMPUTACIONAL: O PARSER GRAMMAR PLAY Gabriel De Ávila Othero (PUCRS) Neste trabalho, apresentaremos uma aplicação computacional da teoria X-barra (Haegeman 1994, Mioto et al. 2004), através do programa Grammar Play, um parser sintático em Prolog. O Grammar Play analisa sentenças

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declarativas simples do português brasileiro, identificando sua estrutura de constituintes. Sua gramática é implementada em Prolog, com o recurso das DCGs, e é baseada nos moldes propostos pela teoria X-barra. O parser é uma primeira tentativa de expandir a cobertura de analisadores semelhantes, como o esboçado em Pagani (2004), Othero (2004, 2006) E David (2007). Os objetivos que guiam a presente versão do Grammar Play são o de implementar computacionalmente modelos lingüísticos coerentes aplicados à descrição do português e o de criar uma ferramenta computacional que possa ser usada didaticamente em aulas de Sintaxe e Lingüística Computacional, por exemplo. CONSTRUÇÃO DE SOFTWARE PARA O ESTUDO DA LÍNGUA GREGA CLÁSSICA: O SISTEMA NOMINAL DO DIALETO ÁTICO NA VISÃO TEMÁTICA Edenis Gois Cavalcanti (USP) Esta pesquisa tem por objeto de estudo a flexão nominal do dialeto ático – uma das variantes dialetais do grego antigo, juntamente com o jônico, o dórico e o eólico – em ambiente digital. A justificativa central está relacionada ao preenchimento de uma lacuna existente nos estudos das línguas clássicas, isto é, ao uso das tecnologias digitais nos estudos das línguas antigas.Os objetivos principais são: 1) a construção de programa de computador que viabilize a flexão nominal, fornecendo a análise da palavra digitada, isto é: o tema nominal , o caso , o gênero, o número, tabela com todas as combinações propostas pelo programa e entrada no dicionário; 2) criação de corpus do dialeto ático que permita a geração de um léxico em banco de dados, visando verificar a existência das formas criadas pelo programa e fornecer subsídios para eventual análise lingüística; 3) criação de mecanismo de busca direta no corpus do TLG, Thesaurus Linguae Graecae (Centro de Pesquisa da Universidade da Califórnia, Irvine, fundado em 1972), com 99 milhões de palavras – de Homero até o século XVI. A intenção de alargar o universo de busca é pôr em prova, através de um corpus "gigante", as combinações das formas propostas. Se houver convergência entre as combinações propostas e a busca realizada no corpus, isto é, se a busca estornar resultado positivo, isso indica que as formas propostas pelo programa procedem. Na geração do programa, empregamos a linguagem Pascal orientada a objetos, desenvolvida pela Borland Delphi, da Enterprise Software Corporation, e na constituição da base de dados – léxico, tabela de desinências e vocabulário - o Gerenciador de Banco de Dados SQL Server 2005 Express, da Microsoft Corporation. Manipulamos elementos da linguagem relacionados a arquivos em formato texto (*.txt) − abertura e fechamento de arquivos, leitura de strings, linhas, etc. O programa faz “leitura” dos textos e fornece o léxico correspondente. São duas as contribuições deste projeto: uma – estritamente lingüística –, quando apresentamos as desinências nominais sinteticamente, sem as longas

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descrições tradicionais, facilitando a visualização e compreensão, para o estudioso da língua. Outra – interdisciplinar, na convergência das novas tecnologias digitais com as letras clássicas –, quando disponibilizamos a análise morfológica em ambiente digital de forma integral e simultânea. As informações são fornecidas em curto espaço de tempo e com margem de erro desprezível. CONSTRUÇÃO DE ONTOLOGIAS BASEADAS NA WIKIPEDIA Clarissa Castellã Xavier (PUCRS) A palavra "ontologia" deriva do grego onto (ser) e logia (discurso escrito ou falado). Na Filosofia, a ontologia é a ciência do que é, dos tipos de estruturas dos objetos, propriedades, eventos, processos e relacionamentos em todas as áreas da realidade. Seu objetivo é fornecer sistemas de categorização para organizar a realidade. Pesquisadores da Web e de inteligência artificial adaptaram o termo aos seus próprios jargões e, para eles, uma ontologia pode ser um documento ou arquivo que define formalmente as relações entre termos mais gerais e termos mais específicos. Os recentes desenvolvimentos relacionados à gestão do conhecimento e à Web Semântica têm mostrado a necessidade de ontologias para descrever de modo formal conceitos compartilhados a respeito dos mais diferentes domínios. Para que computadores e pessoas possam trabalhar em cooperação é necessário que as informações por eles utilizadas, tenham significados bem definidos e compartilhados. Ontologias são instrumentos viabilizadores dessa cooperação. Entretanto, a construção de ontologias envolve um processo complexo e longo de aquisição de conhecimento, o que tem dificultado a utilização desse tipo de solução em mais larga escala. Em resposta a essa dificuldade, a comunidade científica vem explorando novas técnicas e abordagens que possam reduzir esse esforço. Quando se observa o grande número de domínios para os quais não existem ontologias especificadas e compartilhadas, fica evidente a importância do estabelecimento de métodos de construção mais ágeis, tanto no momento de aquisição de conhecimento e construção inicial, quanto em momentos de atualização e ajuste das ontologias. Verifica-se que, nas comunidades baseadas em ferramentas Wiki, em especial a Wikipedia, encontram-se um grande número de usuários habilitados a criar um expressivo domínio de representações, identificadores e definições de conceitos. A versão em inglês da Wikipedia atualmente contém mais de dois milhões de entradas. A possibilidade da utilização de metodologias que auxiliem na geração de ontologias baseadas na Wikipedia é útil e promissora. Este estudo propõe-se a realizar um levantamento dos trabalhos realizados nesta direção, as técnicas que estão sendo utilizadas e os resultados obtidos através da análise de cinco artigos científicos propondo técnicas de extração de ontologias a partir da Wikipedia.

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JUR-FRAMECORP: REFLEXÕES PRELIMINARES Anderson Bertoldi (CAPES –UNISINOS) O objetivo deste trabalho é apresentar o Jur-FrameCorp, um projeto de doutorado em fase inicial. O Jur-FrameCorp analisa a viabilidade de uso do FrameNet para a criação de um corpus jurídico com anotação semântica. Esta pesquisa tem como pressupostos teóricos a Lingüística Cognitiva e a Semântica de Frames e utiliza a base de dados de Língua Inglesa FrameNet para a anotação semântica de textos. A utilização de tal metodologia para a anotação semântica implica enfrentar questões bilíngües como paráfrases e equivalentes de tradução e os diferentes padrões de lexicalização entre o Inglês e o Português. Essas diferenças lexicais entre o Inglês e o Português podem interferir na anotação semântica, tendo em vista que os frames semânticos, de base cognitiva, são lexicalizados de formas diferentes nessas duas línguas. A pergunta de pesquisa até o momento é em que medida podemos lidar, em um trabalho de anotação semântica, com estas diferenças. GT25 O Discurso Nos Estudos Da Linguagem Coordenadores Solange Mittmann (UFRGS) Evandra Grigoletto (UPF) A DETERMINAÇÃO INTRADISCURSIVA: UMA CATEGORIA PARA A ANÁLISE Ana Josefina Ferrari (FACINTER) No presente trabalho, temos por objetivo observar o funcionamento da determinação intradiscursiva. Para tal, faremos um percurso pelos diferentes autores que, no quadro teórico da Análise do Discurso, trabalham o problema da determinação. Esses autores são, Pêcheux (1975), Henry (1975), Haroche (1992), Payer (1995), Indursky (1997), Zoppi (1997). A partir desse marco teórico propomos observar o funcionamento discursivo de dita categoria em um corpus composto de anúncios de fuga de escravos publicados nos jornais da cidade de Campinas entre 1870 e 1880. Acreditamos que as relações intradiscursivas participam de um processo discursivo novo, que provoca uma ruptura semântica. Desse modo temos novos sentidos em velhas palavras. Junto com Indursky sugerimos que a determinação interdiscursiva, na tentativa de saturar sentidos, se transforma no vestígio de discursos silenciados pelo sujeito de discurso. Estas determinações evocam outros determinantes recalcados justapondo-se a modo de elipse discursiva. A saturação só se dá através de relações interdiscursivas. Ela é a última face de determinação. Propomos, então, que: quando no intradiscurso encontramos adjetivos, como no caso da descrição, que saturam o sentido do referente, é sinal de que há um deslocamento em

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curso no interdiscurso, acontecendo um maior grau de saturação no intradiscurso (deslocamento para dentro). Esse é o caso dos anúncios de fuga. No presente trabalho visamos observar o funcionamento mencionado acima nas descrições presentes em anúncios de fuga de escravos publicados nos jornais da cidade de Campinas entre 1870 e 1880. A EROTIZAÇÃO DA MULHER EM ANÚNCIOS PUBLICITÁRIOS DE PERFUMES COMO MARCA DE SUA SUBMISSÃO Graziela Tais Baggio Piveta (UPF) Sandra Novello Silvestri (UPF) Este artigo propõe uma análise da presença de Formações Discursivas que se contrapõem em anúncios publicitários dos perfumes Live e Deseo da grife Jennifer Lopez, ambos publicados na Revista Nova, respectivamente em janeiro e maio de 2008. A fundamentação teórico-metodológica está pautada na teoria da Análise do Discurso de linha francesa. Considerando que é no discurso que os sentidos se confrontam e que estes, por sua vez, não estão prontos e acabados no enunciado, tornam-se, segundo Pêcheux (1997, p. 53) “uma série de pontos de deriva possíveis, oferecendo lugar à interpretação”, novos efeitos de sentido vão surgindo porque a Formação Discursiva da qual fazem parte não é una nem homogênea e os sentidos vão sendo determinados, não somente pela materialidade lingüística, como também pelas condições de produção. È nas análises dos anúncios publicitários que compõem o corpus deste artigo que podemos perceber o “atravessamento” de FDs diferentes e contraditórias: uma que nos revela a independência que as mulheres conseguiram nos últimos anos, principalmente em relação a sua sexualidade; e outra que nos mostra a sua submissão, mesmo que de forma não declarada, a um discurso machista que as torna femmes fatales, tomando a imagem dessa mulher como uma forma de movimentar o capitalismo presente na sociedade atual. A REPRESSÃO DISCURSIVIZADA EM VÍDEO NO CIBERESPAÇO: CRUZAMENTOS DE MATERIALIDADES, DE CENÁRIOS E DE FORMAÇÕES Solange Mittmann (UFRGS) Neste trabalho, pretendo discutir alguns aspectos envolvidos na constituição do discurso a partir da análise de um vídeo postado pelo Coletivo Martin Fierro de Video Ativismo no Youtube (http://www.youtube.com/watch?v=aQsnP2sy8_c). Esse vídeo apresenta cenas de uma manifestação ocorrida em Porto Alegre, seguida de repressão policial, em junho de 2008, entremeadas por cenas de uma entrevista com o comandante geral da Brigada Militar a respeito do ocorrido. As imagens dos dois cenários são alinhavadas por quadros de uma narração escrita. O discurso será aqui considerado no cruzamento da materialidade histórica com uma materialidade que se compõe de imagem, som e escrita. Por

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materialidade histórica, estou considerando o interdiscurso, como lugar de constituição de sentidos e de relações entre formações ideológicas, que, por sua vez, possuem um caráter regional e de posições de classes numa dada formação social (Pêcheux, 1975). Considero também as formações discursivas, como lugar de manifestação, na linguagem, das formações ideológicas. Ou seja, pretendo discutir a questão da constituição do discurso a partir do seu caráter constitutivamente heterogêneo e contraditório, analisando como se dá o domínio das formações ideológicas na determinação dos sentidos através das formações discursivas. No cenário do ciberespaço, as diferentes cenas do vídeo são organizadas a partir de uma ordem própria de um outro cenário: o do confronto entre formações ideológicas. Assim, confronto, cruzamento e contradição serão palavras-chave na análise do vídeo. AMEAÇA FEMININA: O DISCURSO FEMININO EM QUESTÃO Luciana Portella Kohlrausch (UFSM) [email protected] A escritura de um texto transparece traços de quem o escreve. Isso ocorre tanto nas idéias apresentadas quanto nas escolhas lingüísticas feitas pelo sujeito autor do texto. As idéias apresentadas através de diálogos - por exemplo, em romances - são uma maneira de caracterizar o autor da obra. A segunda maneira foi eleita para sustentar esse trabalho. A caracterização do discurso será analisada a partir das escolhas lingüísticas utilizadas pelo autor. Mais precisamente, através das metaenunciações presentes no texto, ou seja, através das voltas que o autor faz no discurso para explicar sua enunciação. A análise será de um texto da escritora Clarice Lispector. Essa análise será feita a partir da teoria das heterogeneidades de Jacqueline Authier-Revuz. A nossa hipótese é que os textos de Clarice sejam textos que desacomodem qualquer sujeito, pois parece que o que Clarice faz, com suas personagens, é denunciar uma angústia constitutiva dos sujeitos ditos neuróticos, ou seja, dos sujeitos barrados. E o intento é abranger, através do discurso, o querer feminino, derivado de uma falta, que pode ser reinventado ao invés de tentar ser preenchido. Para esse objetivo, a intenção é analisar e interpretar o discurso feminino, buscando pontos da materialidade lingüística que dêem indícios de como fala uma mulher. Essas materialidades Authier-Revuz demonstra em seus achados. Ela chama de heterogeneidade constitutiva sua teoria de que a linguagem não é um todo fechado e a heterogeneidade mostrada são essas não-coincidências do dizer que apresentam algumas voltas na enunciação com o objetivo de explicá-la, ou seja, durante a enunciação, o locutor retoma o que foi dito para modificá-lo. Para desenvolver o trabalho, serão utilizado conceitos tanto da lingüística como da psicanálise – Lingüística da enunciação de Authier-Revuz e psicanálise freudo-lacaniana.

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DISCURSO POLÍTICO E MÍDIA: O ACONTECIMENTO POLÍTICO EM ANÁLISE Magda Regina Lourenço Cyrre (UNISINOS) Em Discurso político e mídia: o acontecimento político em análise propõe-se um estudo semântico filiado à Análise do Discurso, e tem-se como pressupostos teóricos as obras: O Discurso: estrutura ou acontecimento (2006) de Michel Pêcheux, O Desentendimento: Política e Filosofia (1996) de Jacques Ranciere e Semântica do Acontecimento de Eduardo Guimarães (2005). Busca-se com este estudo investigar como o acontecimento discursivo político da divulgação das gravações feitas por Paulo Feijó em diálogo com César Busatto foi explorado pela mídia impressa de Porto Alegre. O objeto de estudo deste trabalho é um pequeno recorte de acontecimentos de linguagem pertencentes à Língua Portuguesa, publicados em jornal de circulação no Rio Grande do Sul, na seção de Política da mídia impressa. O trabalho analisa como o discurso desses dois políticos foi explorado em reportagens publicados em Zero Hora, O Sul e Correio do Povo e compara as interpretações diversas provenientes de enunciações dos sujeitos políticos envolvidos enquanto seres que ocupam lugares sociais específicos em nossa sociedade e seres locutores origem de um dizer. Os objetivos específicos são: a) investigar como a mídia explorou o acontecimento discursivo gravado por Paulo Feijó b) analisar como o sentido se faz através da posição que ocupam os diferentes sujeitos envolvidos nas cenas discursivas apresentadas nas reportagens dos jornais diários. O presente estudo se justifica por propor uma análise em que verifica como o texto organizado em sua discursividade e materialidade histórica possibilita várias leituras. DISCURSO SINDICAL DA CUT: REFLEXÕES SOBRE A CONSTITUIÇÃO DO DISCURSO PELA MEMÓRIA Renata Silva (UCPEL) O presente trabalho, sob o referencial da Análise do Discurso de linha francesa, objetiva refletir sobre o discurso, tal como o compreende Pêcheux (1997): constituído pelas redes de memória e simultaneamente possibilidade de “desestruturação-reestruturação” dessas redes. Para tanto, analisa o discurso sindical da Central Única dos Trabalhadores (CUT) produzido em dois momentos históricos: décadas de 80 e 90. No primeiro período, ocorre a fundação da Central, um acontecimento oriundo de outro, o início do “novo sindicalismo”. A época é marcada por uma prática sindical combativa e pela entrada na cena política de uma massa de trabalhadores, silenciados desde 1964. No segundo período, o Brasil sente com mais veemência as mudanças do mundo do trabalho e a política neoliberal torna-se predominante. A CUT tem sua ação combativa estagnada e passa a preferir a negociação ao confronto. O corpus dessa investigação são seqüências discursivas de referência extraídas de textos publicados pela Central nessas duas fases.

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Mesmo com as mudanças das condições de produção, observamos no intradiscurso dessas seqüências a repetição de expressões lingüísticas que se inter-relacionam a uma representação do tempo como mutável. Apesar da nova conjuntura econômica e política, um novo futuro, com novas condições de vida e trabalho, continua sendo possível, via ação sindical. Na análise, observamos a rede de memória precedente às materialidades e atentamos para a determinação que a linearidade sofre do interdiscurso. Este é duplamente concebido: como produtor de um efeito de consistência ou de inconsistência (COURTINE, 1999). Na primeira fase, a combativa, a representação da temporalidade no discurso cutista funciona como estabilizadora em virtude da determinação do interdiscurso, produtor de um efeito de consistência. Na segunda fase, a negociadora, a imagem do tempo desestabiliza o discurso cutista. Nesse caso, ocorre uma movimentação de saberes na memória e o interdiscurso produz um efeito de inconsistência. Através desse estudo, demonstramos ser o tipo de relação do discurso com a rede de memória determinante para a manutenção da aparência de homogeneidade ou para a irrupção da equivocidade Também evidenciamos como as materialidades analisadas não são somente determinadas pela memória, também a determinam, provocando um deslocamento de seus saberes. HIP-HOP: NARRATIVIDADE URBANA Raquel Bevilaqua (CEFET-SVS – São Vicente do Sul / UFSM) Uma definição de cidade passa pela idéia de quantidade, de multidão, de desigualdade sócio-econômica, de violência urbana, de caos. Discursivamente, a cidade é entendida enquanto o espaço de sujeitos e de significantes, espaço esse em que conceitos como normatização e homogeneização (de sentidos, de significados) são constituintes. Os sujeitos da cidade produzem o seu dizer considerando-se a Formação Discursiva à qual fazem parte. A interpretação desse dizer pode deslocar aquilo que está estabilizado no senso comum, ou no discurso do urbano, que se autolegitima através da política, pois simula um processo de inclusão dos sujeitos, apagando a divisão desigual do real (Orlandi, 2001). O discurso do Hip-Hop, por exemplo, reverbera outros modos de significar a cidade, de lhe atribuir sentidos que não se ‘enquadrariam’ nos padrões da imposição homogeneizante do espaço urbano. Isto porque esse discurso apresenta-se como uma fala que desorganiza o discurso do urbano, o senso comum. A partir de três textos musicados do grupo de Hip-Hop Racionais MC’s, da periferia de São Paulo, procuramos entender a forma como a cidade produz efeitos de sentido em seus sujeitos-habitantes e de que forma o discurso do Hip-Hop, ou melhor, o rap lança mão de estratégias lingüístico-discursivas que desafiam a imposição homogeneizante do discurso do urbano.

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IMAGENS DO COMPROMISSO E DA REALIZAÇÃO: QUE DISCURSO É ESSE? Rodrigo Oliveira Fonseca (UFRGS) A discussão teórica do discurso por (e com) imagens nos permite repensar a própria relação língua-discurso, originalmente pensada na Análise do Discurso pecheutiana nos termos de base-processo. Acreditamos que no imagético (ainda mais que no lingüístico) a produção de efeitos ideológicos de evidência é constante, por mais paradoxal que possa ser pensarmos em imagem transparente. Nesta comunicação alguns pressupostos da semiótica são contrapostos em função de um olhar historicizante da leitura de imagens. Para isso, apresento a análise de duas cartilhas ilustradas, materiais de promoção do Orçamento Participativo de Porto Alegre. Na primeira cartilha, a discursividade imagética evoca uma memória do dizer e do visualizar que tece uma região de sentidos marcada por desafios e dificuldades. Prefeitura e movimento comunitário são apresentados enquanto sujeitos solidários e compromissados com uma gestão democrática. Na outra cartilha, o personagem-guia Cid Cidadão – tomando a posição discursiva e o plano visual anteriormente ocupados pelo sujeito-do-discurso Administração Popular – é peça importante no apagamento de compromissos e sujeitos. Os dizeres e visibilidades do movimento comunitário são silenciados, apagados e derrotados no processo discurso, ao ponto de sua participação já não fazer tanto sentido. Temos assim o deslizamento de um dizer/visualizar tenso rumo a práticas discursivas que desenham uma participação popular evidente, estabilizada e consensual: a participação no Orçamento Participativo. LEITURA E ESCRITA NO EDUCAREDE: QUE DISCURSO É ESSE? Evandra Grigoletto (UPF) O presente trabalho propõe uma reflexão acerca do discurso que atravessa as noções de leitura e escrita no site EducaRede, um portal educativo, cujo objetivo “é contribuir para a melhoria da qualidade da educação, estimulando a integração da Internet no cotidiano da escola pública e possibilitando a inclusão digital aos milhares de jovens que o freqüentam”. Também dirigido a educadores, o portal possui ferramentas específicas para uso de educadores, como é o caso do fórum, da oficina de criação e bate-papo. As discussões sobre leitura e escrita empreendidas nesses espaços, bem como um Caderno de orientações Didáticas – Ler e Escrever – Tecnologias na Educação, desenvolvido a partir de uma parceira entre o EducaRede e a Secretária Municipal de Educação de SP, e dirigido aos professores da Rede Municipal de SP, constituirão o corpus de análise deste trabalho. Considerando que, numa perspectiva discursiva, as noções de leitura e escrita são tomadas enquanto práticas sociais, que não estão desvinculadas nem do sujeito, nem da ideologia, a análise do referido corpus consistirá num mapeamento dessas noções, observando que referencial teórico, no escopo dos estudos do discurso, perpassa a discussão sobre o ler

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e o escrever na escola, a partir da utilização das novas tecnologias. Nesse sentido, a análise pode apontar diferentes dizeres/saberes que vão embasar o discurso sobre essas duas atividades: a leitura e a escrita. Portanto, dependendo da perspectiva teórica subjacente às noções de leitura e escrita, as relações dessas noções com outras, como a de discurso, sujeito, sentido, ideologia, serão ou não contempladas na discussão do site, trazendo algumas implicações para a prática pedagógica do ensino da Língua Portuguesa. O DISCURSO DA ANÁLISE DO DISCURSO: QUANDO LÍNGUA E HISTÓRIA SE ENCONTRAM Gláucia da Silva Henge (UFRGS) Rosângela Leffa Behenck (UFRGS) Neste trabalho, sob a perspectiva teórica da Análise do Discurso de linha francesa, nos propomos a discutir a noção de discurso, compreendendo-a fundamentalmente como objeto teórico, onde a articulação entre o lingüístico e o histórico tece redes de significação, configurando o sentido. É na/pela materialidade lingüístico-histórica que sentidos e sujeitos se constituem, evidenciando o caráter sempre tenso e movente do discurso. Assim, é na relação do sujeito com a exterioridade, mediada por práticas sociais simbólicas, que podemos compreender os processos de significação materializados no discurso. Não há, no entanto, como vislumbrar o processo de configuração de um sentido sem remeter às condições de produção em que veio à tona do interdiscurso, perpassando formações ideológicas e discursivas. Pensar a noção de discurso significa compreender a relação entre língua – sujeito – sentido – história. Diferentemente de outras perspectivas teóricas, a AD toma como determinante para sua análise a materialidade de seu objeto de estudo sendo esta materialidade, sempre, lingüístico-histórica. Desta forma, em cada prática discursiva, conforme a materialidade específica do objeto discursivo e as condições sócio-históricas em que o discurso é produzido, as relações acima pontuadas são novamente postas em questão, impondo um modo singular de análise. Portanto, é a partir de nosso corpus de análise, composto por charges sobre a temática Informática, que constituímos nosso dispositivo teórico, buscando compreender o funcionamento do discurso de humor pensando-o como espaço que torna visível dois movimentos distintos do sujeito em relação à língua e à história, pelo discurso: (1) movimento de identificação (retorno do já-dito como efeito de literalidade) de um sentido tomado como mais evidente e de um outro sentido também possível, mas que sofre um deslocamento (apontando para o deslize, a falha, o equívoco) e (2) movimento de cicatrização, pelo riso, de um corte na estabilização do sujeito e do sentido, “balançado” pela possibilidade do não-um dos discursos.

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O ESCATOLÓGICO NA MÍDIA: EVIDÊNCIAS DE UM DISCURSO ESTRANHO Gregory Weiss Costa (UCPEL) Este trabalho tem como objetivo investigar os efeitos de sentido que um discurso concebido como “estranho” causa em um espaço alheio às suas condições de produção, no caso, o escatológico no espaço da mídia publicitária. Definido como subversivo, o discurso escatológico é marcado pela linguagem obscena, sórdida, relativa à coprologia e aos excrementos corpóreos. Por sua materialidade singular e seu caráter anti-social, o discurso escatológico normalmente é ocultado e silenciado, ocorrendo geralmente nos espaços dos banheiros públicos. Nesses espaços, têm-se amostras claras das relações traçadas entre o que pode ser dito e o espaço discursivo em que isso é permitido. No entanto, mesmo às avessas das coerções sociais, o escatológico tem o seu lugar comum. E é desse lugar comum que a mídia, em contraponto, vem atualmente se apropriando como recurso de marketing. É o caso dos anúncios publicitários, em que há a utilização de estratégias de apelo coletivo, agindo em consonância com pré-construídos e com o padrão social. Diante de evidências do discurso escatológico em propagandas veiculadas pela mídia televisiva no ano de 2007, a presente pesquisa busca compreender os efeitos de sentido derivados do funcionamento desse discurso num espaço que não lhe é próprio. Para elucidar essa questão, a pesquisa tem como objeto de análise três propagandas publicitárias que manifestam em seu intradiscurso a “estranha” presença do escatológico. OS DISCURSOS NOS CÍRCULO RESTAURATIVO: UMA ABORDAGEM BAKHTINIANA DA LINGUAGEM Ana Beatriz Ferreira Dias (UFSM) Este estudo tem como objetivo investigar os discursos produzidos em uma esfera enunciativa específica, o Círculo Restaurativo promovido pelo Projeto Justiça Para o Século 21 que visa implementar práticas da Justiça Restaurativa na pacificação de situações de violência envolvendo crianças e adolescentes na cidade de Porto Alegre, RS. Para realizar essa pesquisa, tomar-se-á como orientação teórica os estudos do filólogo Mikhail Bakhtin. Como bem atesta Pires (2003), o autor russo, antecedendo em décadas certas reflexões, ressaltava a necessidade de encontrar um elo entre a forma material exterior e o elemento semântico-ideológico interior de modo a lhes manter em equilíbrio. A enunciação seria esse elo de ligação entre o sentido e a forma da língua. Para Bakhtin (2003), o discurso só tem existência através de enunciações concretas dos falantes, que são os sujeitos do discurso e fora dessa condição a existência do discurso é impossível. A língua é entendida não como um sistema abstrato de formas normativas de elementos lingüísticos, mas como processo de evolução ininterrupto (Idem, 1990, p.127), cuja realização concreta ocorre através da interação social entre os locutores. A língua enquanto sistema de formas lingüísticas existe

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como uma potencialidade de sentido, já a língua vista como discurso não pode ser dissociada dos seus falantes e dos seus atos, bem como das esferas sociais e dos valores ideológicos em que são produzidos. Assim, deve-se pensar o signo lingüístico como pertencente tanto ao domínio da língua, quanto ao domínio do discurso, o que equivale a pensar, neste último caso, na relação da língua com a vida. A proposta dessa pesquisa é tomar o texto produzido no momento do Círculo Restaurativo como uma realidade imediata para o estudo do homem e da sua linguagem, uma vez que a constituição do homem e da sua linguagem é mediada pelo texto. O texto concebido através dessa perspectiva discursiva da linguagem, portanto o texto como um enunciado, resultante de um processo de enunciação, pode representar umas das formas possíveis de se reconstruir as relações, os processos de interação verbal e os significados da realidade social. SOBRE A INCOMENSURABILIDADE: O DISCURSO EM PÊCHEUX E FOUCAULT Atílio Butturi Junior (UFSC) Este trabalho tem como objetivo discutir as relações de incomensurabilidade entre a Análise do Discurso de Linha Francesa (AD) conforme elaboração de Michel Pêcheux e a teoria arqueológica do discurso de Michel Foucault. Seguindo alguns princípios genealógicos – não teleologia, não cumulatividade, interdiscursividade e o conseqüente entendimento da constituição das ciências humanas no interior de relações de saber-poder – a intenção é avaliar a implosão de práticas de análise marcadamente estruturalistas nos estudos discursivos da França a partir da crise de legitimação de uma Crítica/Teoria Geral fundada na grade de estudos marxistas de Althusser e a conseqüente tentativa de assimilação das concepções foucauldianas no empreendimento de redefinição desse campo de saber. Dessa perspectiva, o corpus de análise serão textos escritos por Foucault entre 1961 e 1977 e textos escritos por Pêcheux entre 1969 e 1978, que recobrem os períodos de ascensão da maquinaria lingüístico-marxiana na AD e sua primeira negação, de 1978. A fim de problematizar essa conversão do olhar supostamente realizada pela AD a partir da assunção da temática discursiva foucauldiana, o debate retoma então o projeto arqueogenealógico segundo a leitura diagramática elaborada por Deleuze, apontando finalmente, via Arqueologia do saber (1969), a descontinuidade entre o conceito científico (coordenada) lingüístico-marxiano elaborado pela AD e o conceito filosófico elaborado pela discussão foucauldiana do discurso como dispersão e raridade no mesmo período. A partir desse contraste, será possível estabelecer a hipótese de diferentes configurações para cada uma dos empreendimentos discursivos: por um lado, a AD como entendida por Pêcheux lançaria mão da radicalização da experiência moderna baseada no conceito forte de teoria althusseriano, enquanto a discussão acerca do discurso elaborada por Foucault não contemplaria nenhuma reapropriação crítica possível na relação entre linguagem, formas

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de subjetivação e objetividade – o que apontaria para concepções pós-modernas de incredulidade perante as metanarrativas. SUJEITOS E FLÂNEURS: PERSPECTIVA DA HIPERLEITURA Tânia Flores (UFRGS) No despontar desse milênio, encontramo-nos frente a desafios que nos situam no limite de nossa antiga percepção de realidade, em que tudo era verdadeiro ou falso, certo ou errado, altamente previsível e material, dado o fato contundente de que princípios como exatidão, clareza e univocidade pautavam nosso viver e nossa relação com o conhecimento. O velho mundo revestiu-se de uma roupagem nova e o indivíduo, habitante desse planeta, urge significar. De forma vertiginosa, aí estão as tecnologias digitais e, com elas, linguagens, relações e interações, tempo e espaço. Aí está uma concepção de realidade estranha à univocidade, à lógica e a paradigmas formais. Aí está uma perspectiva de produção de conhecimento que rompe com um campo epistemológico estabilizado por verdades construídas e dadas aprioristicamente. É como fazer dobras da própria existência, “dobras que incorporam sem totalizar, internalizam sem unificar, juntam-se de maneira descontínua na forma de plissês, formando superfícies, espaços, fluxos e relações” (Domènech, 2001:124). Ícone desse novo ambiente, a Internet e, nela, destacamos o hipertexto, está hoje presente em nossas vidas e, incontestavelmente, com ela incorporamos uma nova maneira de conceber o tempo, o espaço e, consequentemente, o lugar do sujeito em meio a tais transformações. Para tanto, tomaremos como base de nossa reflexão sobre o sujeito as idéias trazidas por Walter Benjamim (1989) em “Charles Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo”. Trata-se de uma obra que possibilita a compreensão dessa nova idéia de uso do espaço e o momento histórico que gerou uma transformação radical dos processos culturais da modernidade. Benjamin (1989) nos traz os flâneurs como sujeitos desenraizados que traduzem o espírito de mobilidade que se instala nas cidades com a revolução tecnológica. Há, nos dizeres do autor, uma aproximação entre o ato da flânerie e a produção intelectual. Isso nos interessa sobremaneira, pois o Benjamim mostra que o tema do distanciamento e da (re)construção constante do objeto são relevantes, tanto para o flâneur-detetive quanto para a reflexão nas ciências sociais. A idéia de dispersão, de cruzamento inseriu o homem num verdadeiro ambiente rizomático, o que, de forma cabal, transformou sua maneira e ver o mundo e, sobretudo, de estar nele.

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“TRAPACEANDO” A LÍNGUA NO GOVERNO MÉDICI: UM ESTUDO SOBRE O IMAGINÁRIO DE LÍNGUA PELO JORNAL PASQUIM Carme Regina Schons (UPF) Cinara Sabadin Dagneze (UPF) O presente estudo pretende refletir sobre o modo como as relações de poder e/ou resistência atuam na construção de um imaginário sobre língua. Considerando que o estudo da língua é também uma questão política e que mudanças ocorrem, sejam elas determinadas pela lei ou pelas práticas sociais, buscamos analisar discursos de jornalistas, publicados em edições do Pasquim, entre os anos 69 e 70. Por se tratar de um jornal de resistência, partimos da indagação inicial: Que impacto identitário tais discursos teriam produzido socialmente, uma vez que se contrapunham a práticas do governo militar através do humor? É, pois, nesse contexto que, por meio de uma escrita simbólica, o humor perpassa a estrutura língua trabalhada em manuais que orientam a redação da imprensa brasileira no governo Médici. O texto jornalístico é resultado da prática de uma escrita especializada profissionalmente, institucionalizada em manuais de redação, mas que pode ser pensada como espaço de resistências, de equívocos e de subjetividades. HABERMAS E O DISCURSO POLÍTICO DA MODERNIDADE Júnia Diniz Focas (UFMG/UNICAMP) Na análise do Discurso Político da Modernidade, referimo-nos a uma manifestação discursiva específica, cujos mecanismos de sentido são acionados na construção de uma fala hegemônica que reproduz ideologias em uma Modernidade marcada pelo desenvolvimento tecnológico, pelo conhecimento científico e atormentada por uma incalculável dívida social. Para tanto, analisaremos um discurso do primeiro ministro britânico Tony Blair, contrastando-o com outro do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e verificaremos de que forma ambos repercutem a fala do poder político. Partiremos do conceito de performatividade, fundamentado, segundo Habermas, no postulado de que “dizer não é fazer”, mas sim “o fazer implica um dizer”, produzindo então uma inversão no princípio clássico da teoria dos atos de fala. Para Habermas, a linguagem, analisada por esse ângulo, encerra um dialogismo que se manifesta não no estabelecimento a priori de uma ação, mas sim de que a ação já é em si um “fazer através do ato de fala”. Se então “fazer é dizer”, a instância dialógica do discurso encontra-se recuperada e assim a performatividade institui “um fazer político” através do qual a fala política constrói um discurso fundador. É dessa perspectiva que situaremos nossa discussão sobre o Discurso Político da Modernidade, consumado no sentimento coletivo de incerteza e de exclusão, característico de uma globalização que institui políticas sem poder e, paradoxalmente, poder sem políticas. É a política que constrói o discurso e se ela assim o procede é porque a sociedade exprime ou exige,

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através do discurso político, seus vínculos solidários ou não com o processo interno de sua constituição ideológica. O papel do Estado encontra-se assim neutralizado pelo Estado globalizado, desprovido agora de instituições capazes de promover a união poder/política, essas articuladas no âmbito do discurso e de suas enunciações políticas. Nas articulações desses discursos, percebemos falas marcadas por um certo lugar discursivo, lugar esse estribado muito mais em uma formulação ideológica na qual a dominação se efetiva de forma implícita, logo, prepondera o “discurso invertido”, em que a igualdade e a democracia transmudam-se no simulacro de valores humanos inquestionáveis na construção de um mundo próspero e humanitário. A questão do discurso político e de suas caracterizações discursivas aparece discutida por Habermas, ao elaborar a Teoria da Ação Comunicativa, na qual a performatividade constitui uma ação de fala que institui relações dialógicas racionalmente e consensualmente motivadas. O Discurso Político da Modernidade é então constituído por um processo dialético que se manifesta no interior das relações sociais, nas quais os atos de fala ou os proferimentos ilocucionais efetuam um entendimento do mundo socialmente estruturado em uma Ação Comunicativa. GT26 Verbo E Estrutura Argumental Coordenadores Teresa Cristina Wachowicz (UFPR) Patrícia Rodrigues (UEL) O LUGAR SEMÂNTICO E SINTÁTICO DAS ALTERNÂNCIAS VERBAIS DO PB Márcia Cançado (UFMG) Este trabalho tem como objetivo descrever os principais tipos de alternâncias verbais do PB, mostrando a relação entre as características sintáticas e semânticas desses fenômenos lingüísticos. As construções analisadas são do tipo: a) construções causativas: (1) a. A chave sumiu. b. João sumiu (com) a chave. b) construções com dupla causação: (2) a. A filha casou bem. b. O pai casou a filha bem. c) construções ergativas: (3) a. João quebrou o vaso. b. O vaso quebrou.

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d) construções ergativas cindidas: (4) a. A perna do João quebrou. b. João quebrou a perna. e) construções com agente e beneficiário: (5) a. O dentista extraiu o dente de João b. João extraiu o dente. f) construções passivas: (6) a. João quebrou o vaso. b. O vaso foi quebrado. g) construções de indeteminação: (7) a. João quebrou o vaso. b. O vaso quebrou-se. h) construções mediais: (8) a. João quebrou o vaso. b. Vasos (se) quebram facilmente. i) construções recíprocas e reflexivas: (9) a. João ama Maria. b. João e Maria se amam. Em relação a essas ocorrências, o trabalho tratará das perspectivas usadas pelo falante para falar dos eventos no mundo (organização da estrutura argumental sob o ponto de vista de papéis temáticos e aspectos acionais envolvidos nessas ocorrências); instrumentos sintáticos disponíveis na lingua para a realização dessas perspectivas; as vozes verbais envolvidas nessas perspectivas (ativa, média e passiva); e as semelhanças e diferenças entre essas alternâncias. Essa pesquisa tem como sustentação teórica e empírica os trabalhos desenvolvidos pelo NUPES (Núcleo de Pesquisa em Semântica – FALE/UFMG: Cançado (2005, 2006 e 2008), Ciríaco (2007), Ciríaco e Cançado (2006 e 2007), Godoy (2008) e Amaral (em prep.). Todos os trabalhos encontram-se disponíveis para download nas páginas: www.letras.ufmg.br/nupes www.letras.ufmg.br/marciacancado . O ESTATUTO DA PREPOSIÇÃO COM EM CONSTRUÇÕES COM ALTERNÂNCIA SINTÁTICA Heloisa Maria M. L. Salles (UnB) Rozana Reigota Naves (UnB) O presente estudo examina construções em que a preposição COM introduz um argumento realizado com o papel temático de instrumento (seja no sentido denotativo ou metafórico). Na discussão, verifica-se que os predicados relevantes – os locativos (1), os psicológicos (2) e os causativos

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(3) – admitem mapeamento sintático em que o argumento interpretado como instrumento ocorre em diferentes funções sintáticas: ora como complemento direto ou indireto (em (1)), ora como sujeito ou argumento oblíquo (em (2) e (3)). Adotando-se uma abordagem em termos do aspecto lexical, postula-se que a preposição COM constitui marcador gramatical do estatuto argumental do complemento. (1) Alternância locativa: a. Maria bordou lantejoula no vestido. b. Maria bordou o vestido com lantejoula. (2) Alternância psicológica: a. Maria preocupa João. b. João se preocupa com Maria. (3) Alternância causativa: a. Maria abriu a porta com a chave. b. A chave abriu a porta. PREDICAÇÃO E ESTRUTURA ARGUMENTAL: CONTRIBUIÇÕES PARA O ESTUDO DOS PREDICADOS COMPLEXOS Cristine Henderson Severo (UFRGS) Segundo Lobato (2004, p. 146), uma construção com predicado complexo possui dois núcleos predicados, sendo que um é verbal e o outro é secundário. Ainda de acordo com a autora (2004, p. 146), as construções com predicado complexo podem ser: (a) resultativas: quando a predicação secundária caracteriza um estado que resulta da ação ou do processo descrito pelo verbo, como em João cortou a grama curta; (b) depictivas: quando a predicação secundária pode ser retirada da sentença sem prejuízo para a sua gramaticalidade, como em Maria comeu a carne crua; e (c) epistêmicas: em que essa predicação faz parte de uma proposição selecionada pelo verbo da sentença, como em Maria considera João inteligente. Outro tipo de construção com predicado complexo ocorre quando a predicação secundária se refere ao sujeito da sentença, como em João partiu triste. Cada estrutura parece ocorrer com um determinado tipo de verbo: as estruturas epistêmicas, por exemplo, somente ocorrem com verbos que c-selecionam proposições, já que a declaração selecionada pelo verbo pode ser expressa através de uma oração finita, como em Maria considera que João é inteligente. Já os predicados resultativos, quanto ao seu lugar na estrutura argumental do verbo, são tratados como adjuntos, pois a sentença João cortou a grama, em que o adjetivo curta é apagado, continua gramatical. Porém, se o adjetivo é interpretado como o resultado de uma ação descrita pelo verbo, o adjetivo deveria aparecer como argumento desse verbo. As estruturas com predicações secundárias são chamadas, na abordagem gerativa, de Small Clauses (SCs). Nessa perspectiva, se, por um lado, não parece haver dúvidas

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de que categorias funcionais estão presentes na representação sintática de SCs, por outro lado, não parece clara a relação entre a representação da estrutura interna das SCs e a estrutura argumental dos verbos envolvidos nessas construções. Desse modo, é objetivo deste trabalho investigar como essa relação é realizada em sentenças com predicado complexo do Português Brasileiro. Para tanto, utilizaremos como referência os trabalhos de Rapoport (1990), Cardinaletti & Guasti (1995), Basílico (2003), Lobato (2004) e Pereira (2005). TRAÇOS SEMÂNTICOS E TIPOS DE CONSTRUÇÕES DE PREDICADORES EXPERIENCIAIS Evelyne Dogliani (UFMG) A comunicação apresenta os resultados de três etapas do projeto Avaliando o modelo da difusão lexical em processos sintáticos: as construções ergativas, em que se estudaram predicadores experienciais, observando-se evidências de correlação sintático-semântica-morfológica. A constituição dos corpora, estabelecida com base em dados reais, levou em conta todo tipo de construção experiencial – construções perifrásticas como Eu tenho medo e formas verbais como Eu me amedronto. Na primeira etapa, analisaram-se as construções de predicadores psicológicos mais freqüentes com base em corpus constituído de dados da modalidade oral e escrita do século XX. Integram esse corpus 299 ocorrências, que correspondem a predicadores que ocorreram sete vezes, pelo menos. A análise demonstra que a maior parte dos predicadores privilegia as estruturas em que o experienciador se estrutura na função de sujeito sintático (doravante ExpS) e, nesse caso, as construções perifrásticas emergem em maior volume. Um grupo menor privilegia as estruturas em que o expeirenciador está na função de objeto (doravante ExpO), nesse caso, as formas verbais, e não as construções perifrásticas são favorecidas. A segunda etapa da análise procurou observar se a perspectiva preferencial (estruturas ExpS), detectada na primeira etapa, seria tributária do tipo discursivo – o interativo – característico das entrevistas orais e dos romances dos quais se extraíram as ocorrências analisadas. Efetivou-se nova coleta em seções específicas da revista Veja, que ilustrassem o tipo discursivo teórico monologado. A análise desse corpus, constituído de 92 ocorrências de predicadores psicológicos, mostrou que o tipo discursivo pesquisado apresentou um aumento de enunciados estruturados na perspectiva da causa, sem que, todavia, esse tipo extrapolasse o número de construções ExpS. Também nessa análise, observou-se maior volume de construções perifrásticas nas estruturas ExpS. A terceira etapa, considerou outras classes de predicadores experienciais, quais sejam, os que expressam fenômenos físicos, de percepção e de cognição, com base em corpus constituído de 236 ocorrências, extraídas de textos de diferentes períodos. Também essa análise permite a associação entre construções perifrásticas e estruturas ExpS, limitando-a, todavia, às classes semânticas que ilustram a propriedade afetado (Cançado 2002,

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2005). Contempla-se, ainda, a questão acerca do papel das construções perifrásticas (Madureira (2000, 2002). Dogliani (2007): se sua presença se associa a predicadores ergativo-causativos, e se sua ocorrência reduz o espaço das construções verbais ergativas, é possível atribuir-lhes algum papel no apagamento do pronome ergativo? A ALTERNÂNCIA MÉDIA NO PORTUGUÊS DO BRASIL Juliana Pacheco (USP/Capes) Ana Paula Scher (USP) Este presente trabalho trata sobre a agentividade na alternância de transitividade conhecida na literatura como alternância média (Keyser & Roeper, 1984; Stroik 1992, 1999; Ackema & Schoorlemmer, 1994; Rodrigues, 1998), caracterizada, no PB, por sentenças como as exemplificadas em (1).

(1a) Dissertação de mestrado não se escreve fácil. (1b) Documento confidencial não arquiva em qualquer lugar.

Nota-se que essas sentenças carregam consigo particularidades que as distinguem de outras sentenças intransitivas do idioma, como: (i) o caráter não-episódico; (ii) a interpretação de propriedade; (iii) a necessidade da presença de um modificador e (iv) a interpretação de que há um agente ou causa implícita. Em relação ao agente implícito, a favor do qual diversos autores têm trabalhado (Keyser & Roeper, 1984; Stroik 1992, 1999; Dikken & Sybesma, 1998), o PB oferece dados bastante interessantes. Nessa língua, as construções médias (CM) podem ser formadas com ou sem a presença do clítico SE. Esses dados apontam que existe um agente apenas nas sentenças em que o SE está presente. As sentenças nas quais há a ausência desse clítico, o agente não é expresso sintaticamente, apesar de estar semanticamente implícito. Dessa forma, tentamos responder a questão sobre como é possível que os falantes interpretem que médias possuem um agente implícito mesmo quando não há nenhum elemento sintaticamente ativo funcionando como tal. Trabalhando dentro do arcabouço teórico da Morfologia Distribuída (Halle & Marantz, 1993), tivemos como ponto de partida para este estudo sobre a agentividade nas sentenças médias do PB os apontamentos feitos por Marantz (1997) a respeito de certas nominalizações do inglês, nas quais o autor verifica que agentividade pode estar codificada na raiz verbal. A partir dessa observação de Marantz, passamos a investigar se a intuição dos falantes a respeito da agentividade nas médias pode estar relacionada à raiz envolvida na construção e não à presença de um agente na estrutura. Ao longo deste estudo, chegamos à conclusão de que a razão pela qual falantes entendem que existe alguém, um agente, que é capaz de levar adiante a eventualidade expressa pelo radical verbal é devida a informações sintático-semânticas da raiz envolvida na derivação. Uma sentença média construída a partir de uma raiz tipicamente agentiva, como em (1), é

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necessariamente agentiva, mesmo que não haja um agente expresso na estrutura. BLOQUEIO DE PREDICADOS COMPLEXOS RESULTATIVOS EM PB: RESTRIÇÕES SOBRE A ESTRUTURA ARGUMENTAL Julio William Curvelo Barbosa (USP) Neste trabalho, discutiremos os modelos sintáticos propostos para as construções resultativas do inglês (Simpson 1983, Hoekstra 1988, 1992, Carrier & Randall 1992, Levin & Rappaport-Hovav 1995, inter alia), do tipo de (1). (1) She laughed him out of his patience. Ela riu ele (acusativo) fora da dele paciência ‘Ela tirou-o do sério rindo/riu até tirá-lo do sério’

(Hoekstra 1988:115; tradução nossa)

As propostas de representação sintática de sentenças como (1) variam em três tipos de formação sintática: (i) small clauses (Kayne 1985, Hoekstra 1988, 1992, Kratzer, 2005, Harley 2007); (ii) predicados secundários em adjunção (Levin & Rappaport-Hovav 1995); (iii) predicados complexos (Carrier & Randall 1992, Neeleman & van de Koot 2002, Embick 2004). Com base em evidências empíricas e teóricas, tentaremos defender que o terceiro tipo de construção é o mais adequado para representar construções resultativas, pois é também o mais adequado para representar estruturalmente a impossibilidade de ocorrência desse tipo de fenômeno sintático em línguas como PB, conforme aponta Barbosa (2008). A partir da teoria de estrutura argumental de Hale & Keyser (1993, 2002), formularemos uma proposta de representação sintática para o inglês que capture as restrições de formação de predicados complexos em línguas românicas (Snyder, 1995) a partir da formação de verbos deadjetivais (Hale & Keyser, 2002). Na estrutura proposta, evidenciaremos a relação entre a tipologia de verbos de movimento de Talmy (2000) e a formação de resultativas, graças à capacidade do inglês em expressar amálgama de modo tantos nas sentenças com verbos de movimento, quanto nas resultativas (Talmy, 2000, Mateu, 2002). Enquanto inglês é capaz de amalgamar o modo ao verbo (2), PB faz amálgama do estado resultante (3): (2) John hammered the metal flat. ‘John [causou com marteladas] o metal [ficar achatado]’ CAUSA + MODO ESTADO RESULTANTE

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(3) João pintou a casa bem amarelinha. ‘João [causou _ ficar pintada] a casa [bem amarelinha]’ CAUSA + ESTADO RESULTANT ????? No caso do inglês, marcado positivamente pelo Parâmetro de Composicionalidade (PC) (Snyder, 1995), as raízes podem ser marcadas como [+Afixais], o que permite a formação de resultativas (4). No caso do PB, as raízes não podem ser marcadas com esse traço, o que explica a impossibilidade de leitura resultativa (5), bloqueando a estrutura (6): (4) V 3 DP V 5 3 the metal V [+Afixal] R g g hammer flat

[+Afixal] (5) ≠ O João martelou o metal plano. (6) * V 3 DP V 5 3 o metal V [+Afixal] R g g martelar plano

[-Afixal] A partir dessa proposta de estrutura, mostraremos que a impossibilidade de formação de resultativas se dá devido à relação entre a incapacidade de amálgama de modo nos verbos em PB e pela restrição imposta pelo PC. Nossa proposta sintática mostra que graças à marcação negativa do PC em PB, nessa língua, as raízes formadoras de verbos deadjetivais são obrigadas a mover-se para preencher o núcleo verbal via conflation, impedindo a formação de um predicado complexo, fato que privilegia esse tipo de análise sintática para as construções resultativas do inglês. O ESTATUTO DAS CONSTRUÇÕES MEDIAIS EM PORTUGUÊS Larissa Ciríaco (UFMG) Este trabalho tem como objetivo uma investigação acerca do estatuto das construções mediais (middle constructions) em português e sua relação com as construções ergativas. Para o inglês, Levin (1993) assume a independência das mediais em relação às ergativas. Bassac e Bouillon (2002) propõem uma análise com base no léxico gerativo para a alternância

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transitivo-medial, distinguindo-a da alternância causativo-incoativa. Isso significa que a medial possui um estatuto de construção, ou alternância, dentro da gramática, exibindo propriedades de sentido específicas e obedecendo a restrições próprias. Essa visão se estende em trabalhos sobre outras línguas, Lekakou (2002), por exemplo, aborda as construções mediais para o inglês e o grego. Bayona (2005) apresenta uma definição para as mediais no espanhol, num estudo sobre aquisição dessas construções. Já Steinbach (1999), chega à conclusão de que as mediais não possuem um estatuto teórico dentro do alemão, sendo, na verdade, apenas uma das interpretações possíveis de sentenças transitivo-reflexivas. Para o português, Perini (2005), seguindo de perto as características dadas por Levin (1993), defende que as construções mediais não passam de uma subclasse das construções ergativas, não se constituindo em alternância autônoma. Camacho (2002) apresenta uma defesa à categoria de voz média em português, mas não inclui aí as construções mediais (ou middle constructions) às quais se refere este trabalho e sim as construções com verbos pronominais ou médios. Em síntese, tem havido um debate sobre a existência das construções mediais em português. Assim, a partir das definições mais comumente adotadas para mediais e de um paralelo entre elas e as construções ergativas, se procurará verificar se as mediais podem ser tratadas como uma alternância de diátese independente ou não. Para proceder com essa investigação, lidar-se-á principalmente com noções como estrutura argumental, classe acional e propriedades semânticas. AS ESTRUTURAS FRASAIS E SUA AQUISIÇÃO POR CRIANÇAS BRASILEIRAS Julieane Pohlmann-Bulla (PUCRS) As propriedades das palavras seguem pressupostos lógicos inerentes a cada entrada lexical. A criança adquire o léxico de sua língua, suas propriedades temáticas e subcategorização dos itens, e o relaciona com os princípios da Teoria X-barra. Há uma interação de princípios que leva à aquisição das representações sintáticas. Quando um verbo exige um complemento, não é somente necessário que esse complemento seja um sintagma nominal ou um sintagma preposicionado; além da sua categorização sintagmática, também é imprescindível que ele assuma determinados papéis consoantes com suas características semânticas, ou seja, que ele tenha uma estrutura temática onde papéis sejam assumidos a fim de fechar a cadeia argumentativa do predicado. O conteúdo semântico do léxico determina a estrutura sintática através do Princípio da Projeção (HAEGEMAN, 2006:55). O presente trabalho procura, dentro do escopo da Teoria da Regência e Ligação (CHOMSKY, 1980), analisar aspectos das diferentes etapas da aquisição das estruturas frasais e suas relações temáticas por crianças brasileiras entre 2 e 3 anos de idade. Até os dois anos, a produção lingüística infantil é predominantemente lexical e só então as estruturas mais complexas começam a aparecer na fala.

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ASPECTO E ALTERNÂNCIA CAUSATIVA Rozana Reigota Naves (UnB) Marcus Vinicius da Silva Lunguinho (USP) O presente trabalho visa analisar a interação entre o aspecto gramatical e o aspecto lexical (Aktionsart) no licenciamento da alternância causativa-inacusativa. Especificamente o trabalho se volta a identificar as propriedades gramaticais que tornam tal tipo de alternância possível, mesmo em contextos nos quais se esperaria que ela não ocorresse. Uma amostra dos dados relevantes é dada a seguir: (1) a. Minha mãe lavou a roupa. b. *A roupa lavou. c. ?A roupa já lavou. d. A roupa (es)tá lavando. e. ??A roupa começou a lavar. f. A roupa continua lavando. g. ??A roupa terminou de lavar. (2) a. Os pedreiros pintaram o portão. b. *O portão pintou. c. ?O portão já pintou. d. O portão (es)tá pintando. e. ??O portão começou a pintar. f. O portão continua pintando. g. ??O portão terminou de pintar. Conforme se vê a partir dos dados 1(a,b) e 2(a,b), verbos como lavar e pintar não licenciam a alternância causativa. Essa afirmação não parece ser correta quando se leva em consideração dois conjuntos de dados:

a) os dados 1(c) e 2(c), em que a presença do advérbio temporal já torna a alternância mais aceitável e b) os dados 1(d,f) e 2(d,f), nos quais a presença dos verbos auxiliares estar e continuar torna a alternância possível.

Os dados com auxiliares se tornam mais interessantes quando comparamos, de um lado, os dados 1(d,f) e 2(d,f), em que a alternância é possível, e, de outro, os dados 1(e,g) e 2(e,g), em que a agramaticalidade da alternância reaparece, independentemente da presença de auxiliares como começar e terminar. Para explicarmos os fatos em questão, adotaremos a hipótese de trabalho segundo a qual existe uma interação entre a informação aspectual (seja ela gramatical ou lexical) dos auxiliares e de advérbios temporais com a informação aspectual dos predicados denotados pelos verbos principais. Dessa interação resulta que certos auxiliares e advérbios temporais podem interferir na classe aspectual de predicados (como lavar e pintar), tornando a alternância sintática possível.

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A PARTÍCULA ZAI DO MANDARIM - EVIDÊNCIA PARA A CLASSE DOS SEMELFACTIVOS? Érica Ken Yi Hsu (UFPR) Este trabalho tem como objetivo mostrar que a partícula zai do Mandarim pode ser uma evidência para a existência da classe dos semelfactivos, conforme proposta de Smith (1991). O Mandarim é uma língua sem marca morfológica de tempo verbal e o aspecto é atualizado por meio de partículas ou advérbios – algumas partículas exercem diferentes funções na língua. A partícula zai indica que a evento está em andamento, com uma particularidade: combina-se somente com verbos de atividade e accomplishments (Vendler 1967). A idéia é mostrar que zai incide sobre o processo presente nesses tipos de eventos, focalizando a duração e deixando encobertos os pontos inicial e final, quando é o caso. No entanto, alguns verbos achievement podem ocorrer com zai, curiosamente aqueles para os quais Smith estipulou uma quinta classe: a dos semelfactivos. Se a previsão de que zai incide sobre o processo é verdadeira, precisaríamos admitir que essa classe compreende na sua estrutura interna um processo. Isso nos leva a um debate existente na literatura: Smith afirma a pertinência da classe dos semelfactivos; Bertinetto (a sair) também mostra a necessidade de se falar de uma quinta classe. Rothstein (2004), por sua vez, argumenta contra a classe dos semelfactivos, afirmando que esses verbos devem ser tratados como atividades. O Mandarim seria uma evidência para se afirmar que esses verbos têm uma fase de processo. Nesse sentido, ou postulamos que os semelfactivos devem compreender uma duração, ou argumentamos que eles devem ser realmente tratados como atividades. Por outro lado, não podemos desconsiderar os argumentos de Smith de que os verbos semelfactivos, ao contrário dos verbos de atividade, têm sub-eventos completos. Este trabalho pretende buscar no comportamento desses verbos em Mandarim argumentos para contribuir com esse debate. ‘CASAR’ NO LÉXICO GERATIVO Angela Cristina Di Palma Back (UFSC/UNESC) Com este trabalho, sistematiza-se a estrutura semântica do verbo casar que ora se apresenta sintaticamente como x casa com y e ora como x casa y com z. Diante dessas duas possibilidades de expressão, defendemos a proposição de que estamos diante de uma estrutura polissêmica. O estudo se pretende sincrônico, considerando não somente o significado dicionarizado, como também o conhecimento que os falantes nativos possuem intuitivamente. A fim de defender a idéia posta, faremos do uso do aparato teórico do Léxico Gerativo, com base em Pustejovsky (1995), a partir do qual se mapeia a estrutura semântica do item lexical levando em conta seu uso criativo no contexto sentencial no qual se estabelece o significado atribuído às expressões. Por meio do mapeamento semântico envolvendo três dos quatro

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níveis de representação, a saber: estrutura de argumentos, eventos e qualia, conclui-se que esse item lexical pode apresentar uma nova estrutura semântica, ainda não prevista pelo autor, por apresentar subespecificação quanto ao núcleo (focalização) de um dos subeventos e à ordem temporal na estrutura de eventos, o que, necessariamente, coloca-nos frente à polissemia lógica. CONSTRUÇÕES GERUNDIVAS DA MARGEM DIREITA: RESULTATIVAS VS DE MODO Maraisa Magalhães Arsénio (Universidade de Lisboa) As Gerundivas em Português da margem direita com relação à subordinante têm comportamentos sintáctico-semânticos distintos. Destacamos as de modo – small clauses adjuntas/ eventos simultâneos ao da matriz – e as resultativas – orações plenas defectivas periféricas/ eventos distintos do da subordinante. Resultativas: Levin e Rappaport (1999) argumentam que há dois tipos de Resultatividade em Inglês: (i) ocorre uma dependência temporal; o movimento descrito pela resultativa é termporalmente co-extensivo com a atividade descrita pela principal –único evento (1). (ii) envolve dois eventos separados: a resultativa descreve um evento posterior ao da matriz (2); (3-5) resultativas em Português: (1) Jack painted the barn red. (2) a) Clara rocked the baby to sleep. b) Clara embalou o bebé adormecendo-o. (3) O navio afundou (-se) matando 100 pessoas. (4) O avião despistou-se assustando os passageiros. (5) João empurrou o carrinho esbarrando-o na prateleira. (2)(5) diferem de (3)(4) com relação às propriedades de selecção sintáctica dos predicadores das orações gerundivas resultativas. Os sujeitos são co-referentes com os da subordinante (2) (5); em (3,4), não são co-referentes: os verbos inacusativos morrer, assustar-se exibem um único argumento interno - funciona como sujeito. Semanticamente, as propriedades temáticas do predicador da resultativa são afectadas pelo predicador da frase subordinante: (3-4) os sujeitos da subordinante e da gerundiva são ambos pacientes; em (2,5) os sujeitos são agentes com relação ao evento da matriz mas não ao da subordinada: na gerundiva, o sujeito não realizado denota uma entidade que não tem a intenção de causar Z, portanto, é o tema. Modo: Semanticamente, apresentam eventos simultâneos veiculados pela oração subordinante (6). Sintacticamente, são small clause adjuntas que projectam até AspP: não podem ter uma negação frásica e serem afectadas por um auxiliar de tempos compostos (7): (6) Eu sai cantando./ A Maria estuda falando.

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(7) *Eu sai não cantando./ *Eu sai tendo cantando. (≠eu cantava enquanto saía). Resultativas vs modo: testes de clivagem (9) e de focalização com partícula só, (10) demonstram diferenças: (8) Foi cantando que eu sai. *Foi adormecendo-o que Clara embalou o bebé. (9) Eu só sai cantando (e não dançando)./ *Clara só embalou o bebé adormecendo-o ( e não acalmando-o). Os testes revelam: as de modo são integradas; as resultativas são periféricas. O mesmo teste em (8) nas resultativas prova que projectam até IP: (10) Clara embalou o bebé não o adormecendo (mas o acalmando)./ Clara embalou o bebé tendo o adormecido. Há diferenças sintáctico-semânticas válidas entre elas. COMPLEMENTOS GERUNDIVOS ORACIONAIS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO Patrícia Rodrigues (UEL) Este trabalho se propõe a discutir as propriedades dos complementos gerundivos oracionais em português brasileiro e dos predicados que os introduzem, como os ilustrados pelos exemplos em (1). (1a) Os professores não querem [os alunos fumando na sala de aula]. (1b) Eu prefiro [meus filhos viajando comigo]. (1c) Não agüento [esses garotos chegando tarde todo dia]. É geralmente aceito nos estudos sobre complementação sentencial que as propriedades semânticas dos predicados matrizes, além de determinar o tipo de complemento que eles podem introduzir, são também responsáveis pela interpretação e pelas características particulares desses complementos. Assim, a realização sintática dos complementos, bem como suas propriedades, seriam previsíveis a partir do sentido dos predicados matrizes. Considerando as categorias semânticas propostas por Rochette (1988) para os verbos matrizes (Proposicionais, Emotivos e Efetivos), bem como as categorias semânticas por eles selecionadas (Proposição, Evento e Ação), propomos que os complementos gerundivos estudados nesse trabalho pertencem à categoria semântica Evento, que é selecionada por verbos Emotivos. Para Rochette, um Evento corresponde a um complemento oracional que denota uma situação distinta da situação denotada pelo verbo principal. Um Evento carrega portanto informações temporais ou aspectuais. Nos dados analisados por Rochette (provenientes principalmente do francês), a principal propriedade dos predicados Emotivos é a de apresentar complementos no infinitivo ou no subjuntivo, que aparecem, na maioria dos casos, em distribuição complementar. O sujeito da oração subjuntiva complemento apresenta interpretação disjunta em relação ao sujeito da oração matriz (efeito de obviação do subjuntivo). Os predicados do PB

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estudados neste trabalho se comportam da mesma maneira, como pode ser observado em (2). (2a) Os professores não querem [que os alunos fumem na sala de aula]. (2b) Os professores não querem [fumar na sala de aula]. (2c) *Os professoresi não querem [que elesi fumem na sala de aula]. (2d) Os professoresi não querem [que elesj fumem na sala de aula]. O complemento gerundivo desses predicados apresenta igualmente uma interpretação disjunta do seu sujeito em relação ao sujeito da oração principal (3). (3a) *Os professoresi não querem [elesi fumando na sala de aula]. (3b) Os professoresi não querem [elesj fumando na sala de aula]. A partir do exame das propriedades dos complementos gerundivos e com base nas realizações canônicas propostas por Rochette para as categorias semânticas dos verbos matrizes, argumentaremos que esses complementos se realizam, minimamente, como uma projeção do núcleo aspecto. PREDICADOR EM SENTENÇAS COM “COISAR” – ESTRUTURA TEMÁTICAS Sonia R. Rocha (DL/USP) Em português falado em diversos lugares do Brasil, o termo coisa é usado no lugar de uma palavra da qual o falante não se recorda no momento da fala. Em geral, isso ocorre porque o falante não tem acesso imediato à palavra que ele necessita dizer. As três sentenças abaixo podem ter o mesmo significado: Eu quebrei o copo. (1) Eu quebrei o vaso (2) Eu coisei o vaso (3) Eu quebrei o coiso Quando alguma sentença cois- é pronunciada, o sentido da sentença que o falante quis dizer é conservado. Nos dados apresentados de (1) a (3), vaso tem a interpretação de “aquilo que se quebrou/ que está quebrado”, seja o verbo da sentença quebrar ou coisar. Assumo que argumentos de um predicado devem ter sua interpretação dada pelos termos com que eles se relacionam na composição sintática. De acordo com Williams (1995), qualquer NP tem de ter alguma interpretação e precisa ser argumento de algum verbo (ver também McGinnis (2001)). A atribuição de papéis temáticos está diretamente relacionada com as configurações estruturais, (MCGINNIS, 2001). Com base no princípio do subconjunto, assumido pela Morfologia Distribuída, um item de Vocabulário que corresponde a um nó terminal não necessita ter um conjunto idêntico dos traços do nó terminal cuja fonologia esse item de Vocabulário realizará (MARANTZ, 1997; EMBICK

& NOYER, 2004; etc.). A partir desse princípio do Subconjunto, eu defendo que cois- é um item de vocabulário default disponível em Português. A manutenção do sentido das sentenças em que cois- aparece apontam para a idéia de que a estrutura sintática construída para a sentença é conservada do

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início ao fim da derivação. A partir dessa discussão, defenderei que temos a possibilidade de competição entre raízes no mecanismo de inserção de Vocabulário. Essa possibilidade se deve à ocorrência do item de vocabulário cois- em contextos de ausência do item de Vocabulário esperado para o morfema resultante da derivação sintática. ANÁLISE DA ASSIMETRIA DE ERROS NO MAPEAMENTO ARGUMENTAL ENTRE VERBOS DOS TIPOS “ENCHER” E “DESPEJAR”. Tyffanne Serra Paraná Rodrigues (UFPR) A Teoria da Estrutura Semântica, defendida no trabalho de 1991 de Gropen, Pinker, Hollander & Goldberg prevê a compreensão de ocorrências que as teorias primitivas de listas de papéis temáticos consideravam, até então, não-canônicas, como a construção “*Encha água no copo!”, que é uma alternância não prevista pelas teorias primitivas da forma correta “Encha o copo com água!”, enquanto o verbo “despejar” só costuma admitir entre falantes a forma como em “Eu despejei água no copo”, em que a alternância é bem mais rara entre falantes. A Teoria de Estrutura Semântica, abriu, portanto, a possibilidade do estudo das propriedades semânticas de verbos que também funcionam, em relação às habilidades de alternância, como “encher” e “despejar”. A partir da análise de comportamentos de alternância de dois grupos principais (os de verbos objeto-alvo que funcionam como “encher; e os de verbos objeto-figura, que funcionam como “despejar”) verificou-se um padrão de repetição de ocorrências semelhantes aos verbos em questão, o que pressupõe diferenças fundamentais entre propriedades semânticas destes verbos. Para a análise de tais propriedades, primeiramente foi realizado um teste proposto por Dowty (1979) para a verificação da existência de Accomplishment, que detectou que todos os verbos objeto-alvo do tipo “encher” são Accomplishment, o que implicou um estudo das propriedades previstas por esta classe aspectual. Para tanto, utilizou-se as análises presentes nos estudos de Rothstein (2004), Rappaport & Levin (1996; 1996) e Tenny (1994), mais especificamente para as propriedades aspectuais, e de Pinker et al. (1991) para a análise das propriedades semânticas mais abstratas dos verbos principais “encher” e “despejar”; estes estudos permitiram algumas considerações a respeito do porquê da assimetria de erros; além disso, como foi percebido que os estudos foram coerentes com os diferentes padrões de ocorrências de alternância e de suas construções possíveis da amostra, notou-se a importância de análises que integrem tanto as propriedades semânticas mais abstratas, quanto as propriedades aspectuais.

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UM TRATAMENTO ASPECTUAL PARA VERBOS DENOMINAIS DO PB Teresa Cristina Wachowicz (UFPR) O objetivo desta comunicação é levantar aspectos sintático-semânticos de verbos denominais do PB com leitura accomplishments: engavetar, enjaular, encurralar, etc. Nossa hipótese é que esses verbos carregam em sua morfologia derivacional a leitura de mudança de estado, através do prefixo en-, bem como a leitura de telicidade do aspecto lexical da estrutura accomplishment, garantida pelo nome do qual o verbo deriva. Alguns testes nos permitem checar esses fenômenos: 1) a ausência de produtividade com outros afixos de mudança de estado, ticos de verbos deadjetivais: *agavetar; *engavetecer, em detrimento de acalmar e engrandecer; 2) a impossibilidade de aplicar a estrutura do paradoxo do perfectivo (Singh 1999) em sentenças como *João engavetou o aparelho, mas não terminou de engavetá-lo, em detrimento da possibilidade em sentenças cujo objeto plural neutraliza a telicidade: João engavetou os aparelhos, mas não terminou de engavetar todos. Com relação à estrutura morfológica, defendemos uma estrutura argumental interna ao verbo, em que, por mecanismo de conflação, a raiz nominal ocupa núcleo lexical de projeção PP (Hale & Keiser 2002). Este estudo filia-se ao projeto “SINTAXE E SEMÂNTICA DO LÉXICO VERBAL EM

PB”, alocado no departamento de Lingüística da UFPR. PERÍFRASES DURATIVAS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO Sirlei Cavalli (UFPR) A proposta do trabalho é demonstrar que as perífrases verbais, com os verbos auxiliares aspectuais viver, andar, ficar e continuar, denotam leitura aspectual durativa. Essa leitura se dá de forma ambígua: a duração e/ou a repetição de um evento em um dado intervalo de tempo, possibilitada pelo uso do auxiliar no presente do indicativo mais a flexão do gerúndio do verbo pleno. São exemplos: (1) “A Polícia já anda vigiando este negócio” (Folha Online). (2) “Ana Maria Braga falou que não tem medo da concorrência. Ana vive perdendo da Record (Folha Online). (3)” Eu vi no jornal aí esses guris ficam pedindo na feiras livres” (Varsul/ PR). (4) “A polícia continua procurando pistas do crime, mas sem sucesso” (Folha Online). O auxiliar é aspectual por carregar historicamente traços de duração, além de, no processo de gramaticalização, manter por “persistência semântica” (Hopper 1991) parte de seu significado original. O verbo principal, na formação da perífrase, é responsável por denotar a repetição do evento no tempo, devido à flexão –ndo (Bertinetto 1996). Também seleciona os

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argumentos: interno (objeto direto) e externo (sujeito). Os auxiliares, além de marcar as determinações gerais de número, pessoa, modo, tempo e aspecto, perdem transitividade e atribuição temática. Também, devido ao uso de alguns adjuntos temporais, de forma recursiva, pode somar-se à duratição/iteração a leitura freqüêncial. Essa diz “quantas vezes” o evento se repete dentro de um intervalo de tempo. Veja: (5) A Polícia já anda vigiando este negócio todo dia/a cada semana/uma vez por mês, etc (Folha Online). Além de apresentar essas perífrases como durativas, este trabalho apresenta uma classificação a elas (conforme Bertinetto 2002): 1. Perífrase durativa contínua: marca um evento que está em andamento, em processo num continum temporal, homogeneamente e/ou com iteração, como nos exemplos (1), (2) e (3) acima. 2. Perífrase durativa fasal: marca um evento que tem continuidade em um intervalo de tempo (homogeneamente e/ou com iteração), porém há a pressuposição que houve o início do evento anteriormente ao intervalo de tempo dado (devido ao significado do auxiliar continuar), como no exemplos (4) acima. AS RAÍZES E A ESTRUTURA ARGUMENTAL NA MORFOLOGIA DISTRIBUÍDA Rafael Dias Minussi ( DL/USP, São Paulo) O lexicalismo coloca como seu principal texto fundador o artigo de Chomsky (1970). No entanto, a Morfologia Distribuída (MD) (Cf. HALLE; MARANTZ, 1993; MARANTZ, 1997; HALLE, 1997), um dos desenvolvimentos da Teoria Gerativa, de caráter não-lexicalista, encontra nesse mesmo texto de Chomsky as primeiras sementes da sua proposta que começou a ser desenvolvida a partir da década de 90. Atualmente, muitos trabalhos, como Alexiadou; Schäfer (2007), procuram discutir a questão da estrutura argumental dos nominais derivados, levando em consideração a seleção da estrutura argumental pela raiz, tal qual entendida pela MD (Cf. MARANTZ (1997)). Ao estudarmos as nominalizações, a principal pergunta que se coloca é sobre a necessidade de um nível verbal anterior ao nível nominal, o qual seria o responsável pela seleção de argumentos. Desse modo, esta pesquisa possui como objetivo maior a investigação sobre como, dentro do arcabouço teórico da MD, é feita a seleção dos argumentos de um núcleo: se pelas raízes, ou por núcleos categorizadores, por exemplo, o núcleo v. Como objetivo mais específico, a presente pesquisa estudará as nominalizações da língua hebraica. As raízes hebraicas são formadas geralmente por três consoantes. Tais raízes são desprovidas de categoria. Desse modo, elas recebem uma categoria (verbo, nome, adjetivo) por meio

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da combinação de vogais, ou seja, há padrões vocálicos para nome, verbo, adjetivo. Vejamos um exemplo de raiz e alguns padrões vocálicos possíveis.

(1) √gdl (Raiz)

Padrão Vocálico Palavra formada a) CaCaC (v) gadal (crescer) b) CiCCeC (v) gidel (elevar, criar, cultivar (padrão causativo)) c) CaCoC (a) gadol (grande) d) CoCeC (n) godel (tamanho) e) miCCaC (n) migdal (torre) f) CCiCa (n) gidla (crescimento)

A possibilidade de uma mesma raiz pode ser categorizada diversas vezes nos faz pensar sobre as seguintes questões: (i) o que faz a seleção de argumentos? ou seja, a seleção é feita pela raiz gdl ou pelo padrão vocálico que a categoriza?; (ii) a estrutura da raiz hebraica se mantém no nominal derivado?; (iii) há resquícios do padrão vocálico na nominalização? e (iv) há um padrão vocálico próprio para as nominalizações? A partir dessas perguntas, chegamos a alguns resultados parciais: (i) os padrões vocálicos selecionam os argumentos; (ii) a diferença no número de argumentos de um verbo para uma nominalização sugere que a seleção de argumentos não é realizada pela raiz e (iii) há um padrão vocálico próprio para as nominalizações, como podemos ver abaixo, sugerindo que não há uma camada verbal anterior à nominal nas nominalizações. (2) CCiCa

a) mexinat ‘apagamento’ b) harisat ‘destruição’ c) sgirat ‘fechamento’ d) štifat ‘enxágüe’

Acreditamos que o estudo sobre as raízes hebraicas e sobre os padrões vocálicos pode lançar luz para o estudo da estrutura argumental e das raízes dentro da MD, na medida em que este estudo procura determinar o conteúdo das mesmas. Também acreditamos que esta pesquisa pode contribuir para o estudo da estrutura argumental nas línguas naturais de modo geral. A ALTERNÂNCIA DE DIÁTESE DOS VERBOS RECÍPROCOS E A NOÇÃO DE PAPEL TEMÁTICO Luisa Godoy (UFMG) Este trabalho oferece uma análise semântico-lexical para a alternância de diátese apresentada por verbos como conversar em português brasileiro (PB). Essa alternância consiste na oscilação entre duas formas: como João e Maria conversaram e como João conversou com Maria. Chamaremos os verbos como conversar de recíprocos, pois expressam uma relação de reciprocidade entre os participantes denotados por seus argumentos. Buscaremos responder

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a uma questão recorrente na literatura: as duas formas alternantes são sinônimas? Adotaremos a proposta de Dowty (1989, 1991) de se investigar o conteúdo semântico dos papéis temáticos, encarando-os não mais como primitivos semânticos na análise lingüística, mas como noções derivadas. Os primitivos seriam propriedades semânticas atribuídas por um predicador a seus argumentos e os papéis temáticos seriam grupos de propriedades. Usaremos o encaminhamento de Cançado (2005) para essa reformulação da noção de papel temático. A autora lida apenas com as propriedades, identificando quais são as mais abrangentes e relevantes na descrição e análise das sentenças do PB. Assim, ao invés de postular poucos proto-papéis temáticos, compostos por inúmeras propriedades semânticas, como no encaminhamento de Dowty, usaremos poucas propriedades, que, combinadas, podem compor inúmeros papéis temáticos. Argumentaremos, por meio dos resultados de Godoy (2008), que esse encaminhamento é adequado para se analisar a relação de sentido entre as formas alternantes dos verbos recíprocos, permitindo-nos descrever de maneira fina a interpretação das sentenças com esses verbos e levando-nos a uma reflexão sobre a natureza das alternâncias de diátese. GT27 Teoria Fonológia e suas Interfaces Coordenadores Valéria Monaretto (UFRGS) Ubiratã Kickhöfel Alves (UCPel) RELAÇÃO ENTRE O PROCESSO DE APAGAMENTO DAS VOGAIS POSTÔNICAS MEDIAIS, NO DIALETO DO NOROESTE PAULISTA, E A ORGANIZAÇÃO RÍTMICA DO PORTUGUÊS DO BRASIL Adriana Perpétua Ramos (IBILCE/UNESP)

Nesta apresentação, nosso objetivo geral é analisar o processo de apagamento das vogais postônicas mediais, nos nomes, no dialeto da região de São José do Rio Preto, São Paulo. Por meio da análise proposta, buscamos: (i) descrever o comportamento do processo de apagamento das vogais postônicas mediais e (ii) apresentar explicações para a aplicação desse processo, embasados na Teoria Métrica. Essa teoria afirma que o acento pode ser analisado a partir de uma relação entre sílabas de modo que se estabelece um contorno de proeminência entre elas. Ao realizarmos uma análise métrica do apagamento das proparoxítonas, podemos investigar como se dá a distribuição de proeminências em um dado domínio prosódico e, desse modo, elaborar hipóteses para explicar a motivação do apagamento. Nossos objetivos específicos são: (a) verificar se há influência das relações métricas na aplicação do processo, no dialeto do noroeste paulista e, caso haja, se ela ocorre no nível prosódico do pé, como proposto por Lee (2004); ou se ocorre em níveis maiores que o pé, como na frase entoacional e (b)

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verificar em que medida as relações métricas, presente no contexto pós-lexical na qual a proparoxítona está inserida, por exemplo, a frase entoacional, influencia o processo. Objetivamos também apresentar um trabalho que pretende fundamentar, por meio de procedimentos acústicos, a percepção do apagamento das vogais postônicas mediais. Para a realização de nossa análise, consideramos dados controlados por meio de experimento. Por meio desse procedimento podemos criar situações, nas quais, pode-se observar a interação das variáveis relevantes para respondermos às questões teóricas. O experimento foi dividido em duas partes, para que pudéssemos controlar (i) a realização da proparoxítona isolada e (ii) as alternâncias métricas da frase entoacional e a localização do item neste domínio prosódico. Os resultados obtidos, a partir das análises perceptual e acústica dos dados, sobre o comportamento do apagamento das proparoxítonas revelaram que, no dialeto em questão, o processo não parece estar relacionado com questões métricas, e sim, com a possibilidade de boa formação silábica, sendo os contextos em que há líquidas no onset da sílaba final e as sibilantes /s, z/ no onset da sílaba medial, os únicos contextos que, de fato, estão diretamente relacionados com a aplicação do processo. Por fim, ao caracterizarmos o dialeto do noroeste paulista; pretendemos contribuir para o desenvolvimento da pesquisa das vogais no contexto de postônica medial no Português Brasileiro. UM ESTUDO PRELIMINAR SOBRE PRODUTIVIDADE DERIVACIONAL NO PORTUGUÊS BRASILEIRO Aline Grodt (UFRGS) Luiz Carlos Schwindt (UFRGS) O presente trabalho propõe-se discutir o fenômeno da derivação, na perspectiva de sua produtividade no português brasileiro. Segundo Rocha (1998), há sete tipos de derivação: a derivação prefixal, a sufixal, a parassintética, a regressiva, a conversiva, a siglada e a truncada. Nossa discussão circunscreve-se às três primeiras. É nosso objetivo geral tentar descrever, na medida do alcance deste trabalho, a gramática subjacente dos falantes do português brasileiro, no que tange à produtividade derivacional. Nosso estudo norteia-se pelas seguintes questões: i) quais as categorias de base que são preferencialmente selecionadas nos processos de derivação? ii) quais as formas derivadas que são mais produtivas? e iii) quais fatores de caráter fonológico estariam envolvidos na escolha e na localização dos sufixos no léxico? Como hipóteses, acreditamos que i) a sufixação é mais produtiva do que a prefixação, uma vez que pode mudar a categoria lexical do produto em relação à base; ii) o uso que os falantes fazem de palavras derivadas condiz com o inventário do dicionário institucionalizado da língua. Os dados estão sendo coletados de entrevistas da cidade de Porto Alegre pertencentes ao banco do Projeto Varsul (Variação Lingüística Urbana da Região Sul). Embora o presente estudo não se enquadre na perspectiva variacionista, controlamos a estratificação dos informantes, a fim de

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verificar possíveis fatores determinantes na escolha dos afixos (falantes menos escolarizados x mais escolarizados / mais jovens x mais velhos). Para a escolha dos afixos, nosso ponto de partida foi o trabalho de Sandmann (1989). A partir do que o autor encontrou como afixos pertencentes a regras produtivas, selecionamos para nossa análise afixos de acordo com seu tipo de formação. A análise preliminar do corpus já coletado foi feita à luz da Morfologia Lexical (Aronoff, 1976; Basílio, 1980; entre outros) e da Fonologia e Morfologia Lexical (Kiparsky, 1982). O PROCESSO DE ELISÃO NO PORTUGUÊS FALADO NO SUL DO BRASIL Ana Paula Mello Alencastro (PUCRS) Cláudia Regina Brescancini (PUCRS) A partir de pesquisas realizadas sobre o processo de elisão das vogais /a/, /e/ e /o/ no português falado na região Sul do Brasil, a saber Bisol (2002), Barbosa (2005), Vargas (2006) e Alencastrro (2008), este estudo pretende discutir e analisar os procedimentos adotados para composição das amostras e das estratégias de análise adotadas com o objetivo de licenciar uma comparação entre os resultados obtidos que conduza à elaboração de um panorama a respeito do comportamento da regra. Tal proposta coaduna-se com o posicionamento defendido por Bailey e Tillery (2004) sobre a importância da busca pela comprovação da generalidade de regras variáveis no inglês. Os trabalhos que constituem o corpus de análise desta pesquisa consideram apenas amostras pertencentes ao banco de dados do Projeto Varsul. Os resultados indicam que, embora as taxas de aplicação da regra variem de acordo com a qualidade fonética da vogal, a elisão é um processo de condicionamento preferencialmente lingüístico, em que o acento e os constituintes prosódicos apresentam papéis relevantes. A EPÊNTESE MEDIAL NA APRENDIZAGEM DE INGLÊS COMO LE: UMA ANÁLISE MORFOFONOLÓGICA André Schneider (UFRGS/CAPES) Luiz Carlos Schwindt (UFRGS/CNPq) Neste trabalho, pretende-se apresentar uma análise preliminar sobre a aplicação do fenômeno de epêntese vocálica medial em português brasileiro (PB) e em inglês a partir de dados da fala de aprendizes brasileiros de inglês como língua estrangeira. A pesquisa tem como base os estudos sobre Teoria da Sílaba, desenvolvidos por Selkirk (1982), para o inglês, e por Bisol (1999), para o PB, além dos trabalhos de Collischonn (2002) e Pereyron (2007) sobre a epêntese em PB. Pretende-se verificar, em dados do PB, as diferenças de recorrência existentes entre a aplicação da epêntese nos contextos (a) prefixo + base (por ex., sub[i]produto) e (b) interior da base (por ex., p[i]sicólogo). Pretende-se, ainda, investigar a aplicação de epêntese medial que pode ser atestada na produção oral da língua inglesa de

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aprendizes brasileiros. Com relação ao primeiro objetivo, partimos do pressuposto de que a recorrência da epêntese nos contextos morfológicos de fronteira entre prefixo + base (no PB e em inglês) e base + sufixo (em inglês) seja maior do que no interior de uma base. No que diz respeito à análise da inserção vocálica em palavras do inglês produzidas por falantes do PB, parte-se da idéia de que haja uma transposição, inicialmente total, do padrão silábico do PB para a língua inglesa, no momento em que esta começa a ser aprendida. Assim, pressupõe-se que o aprendiz iniciante de inglês, diante de palavras como submarine e magnet, tenda a produzi-las como sub[i]marine e mag[i]net, respectivamente. Gradualmente, o falante, ainda que inconscientemente, passa a ter maior noção das diferenças existentes entre os moldes silábicos de cada uma das línguas. Os resultados, ainda que preliminares, indicam haver diferenças estatísticas (e, conseqüentemente, qualitativas) entre a aplicação da epêntese que ocorre no interior de uma base e a que ocorre na fronteira entre afixos e suas bases, tanto em PB quanto na língua inglesa. A recorrência de aplicação da epêntese mostra-se, de fato, mais expressiva na fronteira entre afixos e bases. REANALISANDO AS VOGAIS FRONTAIS ARREDONDADAS DO FRANCÊS (CALABRESE, 2005) Cíntia da Costa Alcântara (UFPEL) Este trabalho propõe uma reanálise das vogais frontais arredondadas do francês, /y O ¿/, por falantes nativos do PB (Alcântara, 1998) – à luz dos pressupostos teóricos de Calabrese (2005), cujas bases se encontram em Calabrese (1995). Fundamentalmente, o novo modelo fonológico traz importantes reformulações acerca das noções de condições de marcação e operações de reparo. As condições de marcação passam a ser interpretadas à luz da escala proposta por Clements (2004) – robustness scale – que aponta serem os traços perceptualmente mais salientes explorados antes do que traços perceptualmente menos salientes. A robustez de um traço, segundo seu proponente, é estabelecida não mediante o exame dos traços em si, mas através do exame de contrastes estabelecidos entre traços. Por conseguinte, os contrastes que envolvem traços mais robustos seriam mais freqüentes nas línguas do mundo do que os menos robustos. A partir dessas considerações, Calabrese (2005) assume que uma condição de marcação, composta por pares de traços, não mais salienta o traço marcado do feixe em questão, ou seja, o menos robusto, uma vez que tal informação pode ser depreendida da robustness scale. Quanto à nova visão de operações de reparo, essas se referem tão-somente a operações básicas da fonologia não-linear – inserção e apagamento, às quais são reduzidos os três diferentes procedimentos de simplificação defendidos pelo autor (1995) – desligamento, fissão e negação. A presente exposição atém-se, não obstante, às condições de marcação e à nova proposta de que a fissão é desencadeada por uma operação de inserção de traços (Calabrese, 2005:144). Os resultados obtidos permitem uma compreensão mais acurada de aspectos concernentes

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ao processo de aquisição do francês como LE e apontam para a pertinência do modelo proposto por Calabrese (op. cit.). UMA PROPOSTA DE CLASSIFICAÇÃO DOS DESVIOS FONOLÓGICOS COM BASE EM TRAÇOS DISTINTIVOS Cristiane Lazzarotto Volcão (UCPel, Unipampa) Carmem Lúcia Barreto Matzenauer (UCPel)

O grau de severidade dos desvios fonológicos tem sido proposto pela literatura a partir de dois métodos: o quantitativo e o qualitativo. As formas que avaliam uma gramática com desenvolvimento desviante, a partir de dados estatísticos, apresentam algumas desvantagens, tais como: não levam em conta a natureza fonológica do erro, uma vez que dão o mesmo tratamento para uma substituição de uma líquida por outra líquida e de uma líquida por uma plosiva, por exemplo, e não consideram que, muitas vezes, as crianças podem evitar a produção de itens lexicais que contenham fonemas ainda problemáticos, o que pode elevar os índices referentes aos “erros” da criança. Em Lazzarotto (2005), foi feita uma proposta de classificação do grau de severidade que teve por base o funcionamento da fonologia desviante, a partir da presença e/ou ausência de traços (ou co-ocorrências de traços) definidores das grandes classes de consoantes do Português Brasileiro (PB), segundo os pressupostos da Fonologia Autossegmental. Neste trabalho, fazemos uma adaptação dessa primeira proposta, uma vez que, ao utilizá-la com um maior número de sujeitos, verificamos que foi necessário desmembrar uma das categorias, já que ela reunia, em um mesmo grupo, sistemas fonológicos de natureza distinta, como, por exemplo, gramáticas que não incluem em seu quadro fonológico apenas a líquida /r/ e gramáticas que não apresentam as fricativas coronais e as líquidas não-laterais. A proposta aqui apresentada foi testada com dados de cinco sujeitos com desvio, integrantes do Banco de Dados do Programa de Pós-Graduação em Letras da UCPel, o AQUIFONODES. Acreditamos que a classificação do grau de severidade dos desvios, com base em um modelo teórico, seja a alternativa mais adequada, tanto para pesquisadores que lidam com dados dessa natureza, quanto para a prática clínica do fonoaudiólogo, se comparado àquelas que utilizam dados numéricos. A partir da reformulação aqui apresentada, também acreditamos que a presente proposta é capaz de expressar de forma adequada o grau de severidade dos desvios. ELISÃO EM LATIM Evellyne Patrícia Figueiredo de Sousa Costa (PUCRS) Apresentamos, nesse trabalho, uma descrição da elisão em latim tendo como foco a aplicação do fenômeno dentro do grupo clítico formado pela preposição + palavra regida. Elisão é o apagamento de uma vogal átona final quando há, no verso, uma palavra iniciada também por vogal de qualidade

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diferente. Se a elisão não se aplicar, a vogal átona final se alonga formando um hiato com a vogal do vocábulo seguinte. O corpus desse trabalho é constituído de três obras da literatura latina: Odes, de Horácio; Eneida, de Virgílio; Metamorfoses, de Ovídio. Os versos que continham preposições com o ambiente de aplicação da elisão foram escandidos e esse conjunto de versos passou a constituir o corpus final para a análise. A elisão se aplicou na maioria dos dados do nosso corpus, tendo o hiato uma aplicação bem inferior, demonstrando que, como em português, o domínio da elisão é a frase fonológica, mas o processo também se aplica no constituinte prosódico grupo clítico. ANÁLISE OTIMALISTA DE SEQÜÊNCIAS DE OBSTRUINTES NO PORTUGUÊS Gabriela Donadel (UFRGS)

Afirmam os gramáticos que estudam a evolução do Latim para o Português Antigo que as seqüências de obstruintes foram desaparecendo por meio de processos como vocalização (noctem > noite), assimilação (dictum > ditto) e apagamento (pigmenta > pimenta). Dessa forma, no Português Antigo, essas seqüências não existiriam mais. Contudo, basta uma simples consulta ao Dicionário Aurélio Eletrônico – Século XXI para verificar que, hoje, encontramos cerca de 5 mil itens lexicais com seqüências de obstruintes: advogado, néctar, pacto, etc. A análise de 11 gramáticas antigas da LP, começando com Oliveira (1536), nos revela que seqüências de obstruintes reaparecem no Português Moderno (século XVI). No Renascimento, o latim foi a fonte onde beberam nossos primeiros gramáticos, com o objetivo de fixar o idioma e nomear as descobertas do novo mundo. Assim, por influência clássica, estruturas pouco comuns à nossa língua voltam a fazer parte de nosso léxico: palavras novas mantêm a escrita “original” e palavras antigas ora recuperam o étimo, ora não (sustantivo > substantivo, mas fruito~frutto > *fructo). De acordo com Câmara Jr (1976), ao reingressarem na língua, por via erudita, sílabas travadas por oclusivas adequaram-se às condições de boa formação silábica do português, sendo então conseqüente a realização da epêntese para resolver esses casos (dig-no > di-gui-no). Tal afirmação parece ser verdadeira sincronicamente, contudo pode não o ser em termos diacrônicos. O que garantiu que uma estrutura marcada fosse reinserida na língua portuguesa pode não ser essa reestruturação silábica, uma vez que a epêntese é um fenômeno típico do Brasil e apresenta variação em sua ocorrência, podendo ocorrer apagamento ou manutenção em coda silábica da última consoante (Bisol, 1999). Neste trabalho, buscamos entender a recuperação das seqüências de obstruintes quanto ao encaixamento lingüístico: o que ocorreu na gramática do português na recuperação dessas formas marcadas? A resposta a essa pergunta buscamos nos pressupostos teóricos da Teoria da Otimidade (Prince & Smolensky, 1993), em especial no trabalho de Holt (1997), que pesquisou a eliminação das oclusivas geminadas e a vocalização de clusters velares-coronais do

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Latim para o Português Antigo. Observando as alterações ocorridas do Português Antigo para o Clássico, analisaremos a possibilidade de essa mudança ser descrita como resultado de alteração no ranking de restrições de nossa língua.

VARIANTES DA LATERAL PÓS-VOCÁLICA NA REGIÃO SUL: O PAPEL DAS VARIÁVEIS LINGÜÍSTICAS ENVOLVIDAS Gisela Collischonn (UFRGS) Laura Rosane Quednau (UFRGS) O português brasileiro caracteriza-se pela realização predominante da lateral pós-vocálica como semivogal; há, no entanto, outras realizações possíveis, como a lateral alveolar ou a velarizada. Essas parecem restritas, de acordo com diversos levantamentos realizados, à região Sul. Apresentamos uma análise de cunho variacionista da realização de /l/ pós-vocálico em localidades do VARSUL, destacando o papel das variáveis lingüísticas envolvidas no fenômeno. A pesquisa faz parte de um conjunto de pesquisas sobre regras variáveis do português falado na região Sul e tem por meta completar o levantamento de análises precedentes, no sentido de abranger a totalidade das localidades da região Sul constantes do Banco de Entrevistas do Projeto VARSUL. Neste sentido, são apresentados aqui resultados de localidades de Pato Branco (PR), Irati (PR), Londrina (PR), Curitiba (PR), Lages (SC) e São José do Norte (RS). Realizamos também uma análise combinada destas amostras com as analisadas em Quednau (1993), a saber: Taquara (RS), Monte Bérico (RS), Livramento (RS) e Porto Alegre (RS). CONDICIONAMENTO PARA A REGRA VARIÁVEL DO APAGAMENTO DO /R/ NA FALA DO SUL Giselle Silveira (UFRGS) Valéria Monaretto (UFGRS) O apagamento do /r/ é uma das variantes da vibrante mais estudada no português brasileiro, por seu caráter variável e por prospectar uma possível mudança lingüística em curso (Oliveira, 1993;. Callou, Moraes; Leite, 1986). Na fala do Sul do Brasil, através de dados do Projeto Variação Lingüística Urbana no Sul do Brasil (VARSUL), a descrição e análise do comportamento variável do apagamento confirmam condicionamentos lingüísticos, como a posição na sílaba e a classe morfológica. Contudo, o avanço dessa variante na fala do Sul não se verifica como em resultados obtidos em outras regiões brasileiras. A queda do r-final, em uma análise em tempo real, parece manter-se estável em verbos (Monaretto 2002). Este trabalho propõe apresentar um panorama e generalizações sobre os resultados obtidos e trazer uma reflexão, a partir de uma nova amostra, explorando-a na perspectiva do modelo da Difusão Lexical (Wang, 1969), que considera o papel do item lexical como condicionador da regra variável.

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O USO DO PARTICÍPIO EM FORMAÇÕES VERBAIS NO PORTUGUÊS DO SUL DO BRASIL Inaciane Teixeira da Silva (UFRGS)

A forma padrão para formação de tempos compostos no Português Brasileiro, segundo a Gramática Tradicional (GT), é: a) Tempo Composto = verbos ter e haver + particípio regular (tinha chegado); b) Voz passiva = verbos ser e estar + particípio irregular (é pago). Quando o verbo apresenta somente particípio irregular, é com ele que se forma o tempo composto (tinha escrito), e quando apresenta somente particípio regular, é com ele que se forma a voz passiva (é chegado). A partir de observações informais, percebeu-se, contudo, que alguns falantes estão usando o particípio irregular em detrimento do regular, mesmo no tempo composto. Além disso, criam-se formas participiais inesperadas, como tinha chego, que privilegiam a construção irregular mesmo quando ela não é prevista pela GT. Esta pesquisa estuda o uso do particípio na construção de formações verbais participiais no português do sul do Brasil. Os objetivos específicos são (1) verificar qual a forma mais produtiva/recorrente do particípio em formações verbais; (2) tentar verificar a influência de fatores lingüísticos e extralingüísticos na opção do falante pelo uso da forma regular ou da forma irregular de particípio e; (3) realizar uma análise comparativa entre a norma ditada pela gramática tradicional e o uso do particípio nas formações verbais participiais em situações reais de fala. A metodologia utilizada na pesquisa é a análise quantitativa de dados. O corpus é constituído de dados de duas naturezas: dados de 24 informantes com até 9 anos de escolaridade, provenientes de entrevistas do Projeto VARSUL, por caracterizarem o uso do particípio na fala espontânea; e dados de 22 informantes com ensino superior completo ou em andamento, provenientes de testes de produtividade, porque desejávamos levantar usos específicos do particípio irregular, como tinha chego, por exemplo, o que dificilmente seria alcançado nas entrevistas do VARSUL. Para a análise dos dados, fizemos um uso adaptado dos programas que compõem o Pacote VARBRUL:considerando que nossa pesquisa não trata de um fenômeno tipicamente variável, mas, sobretudo, contempla um fenômeno de alternância, optamos por aproveitar somente as informações referentes à freqüência (porcentagem) de aplicação do objeto em estudo. Os resultados preliminares apontam para o uso predominante do particípio regular nos dados retirados do Banco de Dados do VARSUL, ainda que o irregular apareça em contextos específicos. Quanto aos resultados preliminares obtidos com os testes, o uso do particípio se mostra alternante, isto é, os falantes alternam as formas regulares e irregulares de particípio em formações com voz passiva e tempo composto, e, outras vezes, manifesta-se como variável.

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O ACENTO DE PALAVRA DO LATIM AO PORTUGUÊS ATUAL: EM BUSCA DE REGULARIDADES José Sueli de Magalhães (UFU)

Este trabalho é fruto de uma ampla pesquisa cujo propósito fora investigar as possíveis regularidades do acento de palavra da Língua Portuguesa, averiguando dados do Latim Clássico – caracterizado pela presença de palavras com acento antepenúltimo e pela ausência de acento final – passando pelo Latim Vulgar e pelo Português Arcaico, ambos definidos como isentos não somente de vocábulos proparoxítonos como também de palavras com acento final. Com base em elementos históricos documentados em Vasconcélloz (1900), Michaëlis de Vasconcelos (1956), Silva Neto (1956), Williams (1975), Massini-Cagliari (1995), entre outros, e buscando sustentação teórica nos princípios da Fonologia Métrica (Liberman e Prince 1977; Halle e Vergnaud 1987 e Hayes, 1995), indagamos se o sistema de acento do Português pode ser tratado como uma continuação linear, sem desvios representacionais, dos períodos que antecederam o estágio atual da língua. Nossas avaliações permitem-nos afirmar que um sistema de constituintes binários de natureza trocaica, independentemente da relevância que se atribua à configuração silábica nos dá a resposta à indagação feita.

A ELISÃO EM SÃO BORJA Juliana Ludwig Gayer (UFRGS) Gisela Collischonn (UFRGS) Esta pesquisa propõe uma análise variacionista do fenômeno da elisão em dados do Projeto VARSUL. Em português, a aplicação da elisão ocorre em fronteira de palavras, ou constituintes maiores, e afeta a vogal baixa /a/, a qual é elidida (ou apagada) no contexto /a+V/, ou seja, sempre que temos a vogal /a/ seguida de outra vogal – diferente de /a/. A partir da quantificação de 784 dados, extraídos da fala de oito informantes da cidade de São Borja, verificamos quais fatores lingüísticos e extralingüísticos são favorecedores (ou não) da aplicação da regra. Dessa forma, consideramos na análise os contextos a#e, a#i, a#o e a#u. Nesses contextos, podemos encontrar ainda, quando a elisão não se aplica, a ocorrência da ditongação. Por exemplo, em vida inteira, podemos ter a aplicação da elisão, vid[i]nteira, ou ainda a ditongação, vid[aj]nteira. Para a análise variacionista, em um primeiro momento, verificamos acusticamente cada um dos dados selecionados através do programa Wavesurfer; e partimos para a análise estatística com o pacote de programas VARBRUL, versão Goldvarb-windows. Nesta etapa, analisamos os dados de uma forma eneária, isto é, trazendo as possíveis variantes do fenômeno: aplicação da elisão, não-aplicação da elisão e aplicação da ditongação; e consideramos os seguintes grupos de fatores em relação à aplicação da elisão: acento, domínio prosódico, extensão do vocábulo, distância entre os acentos, combinação de palavras, estrutura silábica de V2, categoria de V2, sexo, idade, escolaridade e informante. Os

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resultados obtidos, após a análise estatística, mostraram que a regra da elisão foi a mais atestada, com 55% de aplicação, contra 35% de não-aplicação e 8% de ditongação. Dentre as variáveis independentes consideradas na pesquisa, o programa selecionou como relevantes: domínio prosódico, acento, combinação de palavras, distância entre os acentos, categoria de V2 e extensão do vocábulo. Indicando os seguintes fatores como favorecedores à aplicação da regra: frase fonológica, atonicidade máxima, combinação não-funcional+outra palavra, distância de duas ou mais sílabas entre os acentos, V2 anterior média e combinação de palavras maiores que V. A LATERAL SOB UMA PERSPECTIVA DIACRÔNICA Laura Helena Hahn (UFRGS) No português brasileiro, a lateral em posição final de sílaba é realizada de forma variável como [l] alveolar, [:] velar ou [w] variante vocalizada. Conforme a literatura, essa variação ocorre tanto em razão de condicionantes extralingüísticos quanto lingüísticos. Uma das possíveis explicações para tal variação é a estrutura silábica do português brasileiro. Entretanto, para compreender o funcionamento da língua hoje, é importante conhecer o seu passado, pois, como afirma Mattoso Câmara (1976), as mudanças lingüísticas apresentam uma diretriz: “há sempre um rumo definido que as vai encadeando, isto é, elas não se verificam ao acaso nem são desconexas; há um sentido, uma corrente nas mudanças”. Dessa forma, o presente trabalho apresenta um levantamento diacrônico do comportamento da lateral como fase inicial de um estudo que analisou o /l/ pós-vocálico sob a ótica da Teoria da Variação e da Teoria da Sílaba. Quando pensamos diacronicamente na língua portuguesa do Brasil, nos remetemos aos seguintes estágios: latim clássico, latim vulgar, português arcaico e português moderno. De acordo com o levantamento histórico realizado com base nos trabalhos de Mattoso Câmara (supracitado), Grandgent (1952), Teyssier (2004), Callou, Leite e Moraes (2002), entre outros, podemos observar que a vocalização é um fenômeno bastante antigo, que teve seu início no latim, em torno do século VI, e que se tornou uma regra praticamente categórica no português brasileiro. CONSIDERAÇÕES SOBRE O ACENTO PRIMÁRIO NO ITALIANO Luciana Pilatti Telles (UFRGS) Há controvérsias com relação à análise do sistema de acento italiano no que se refere ao parâmetro de sensibilidade à quantidade. A favor da proposta de insensibilidade, temos a maior freqüência de palavras paroxítonas nesta língua (Borrelli, 2002) e a formação de troqueu como o pé básico. D’Imperio & Rosenthal (1999) reconhecem o italiano como uma língua de acento geralmente insensível à quantidade pela atuação de FT FORM, que prefere pés formados por duas sílabas. Porém, consideramos que a necessidade de formação de pés bimoraicos reconhecida por D’Imperio &

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Rosenthal (1999) para defender a motivação fonológica do alongamento vocálico na penúltima sílaba acentuada aberta indique sensibilidade ao peso. Além disso, os dados de Krämer (2006) sobre a variação na distribuição do acento em palavras trissílabas quando constituídas por três sílabas leves nos mostram moldes conflitantes em palavras de mesmo tamanho, o que, segundo Dresher (2003, p.14) pode nos indicar sistema de sensibilidade à quantidade. Neste trabalho, analisamos o acento em substantivos e adjetivos do italiano a partir dos pressupostos da Teoria da Otimidade (Prince & Smolensky, 1993). Assim como Wetzels (2007, p. 45), em análise do acento no PB, supomos que uma restrição como FT FORM – ou BINARITY - , que requer que pés sejam constituídos por duas sílabas leves, seja dominada por restrições referentes ao peso silábico. O STATUS PROSÓDICO DOS CLÍTICOS PRONOMINAIS DO PORTUGUÊS Luciene Bassols Brisolara (FURG) Este trabalho constitui-se em um estudo sobre o status prosódico dos clíticos pronominais ‘-me’, ‘-te’, ‘-se’, ‘-lhe(s)’, ‘-o(s)’, ‘-nos’, ‘-lo(s)’ do Português Brasileiro, tomando como base a análise do comportamento da regra de elevação das vogais /e/ e /o/ desses elementos em duas variedades de fala existentes no Estado do Rio Grande do Sul: a metropolitana e a fronteiriça com país de fala espanhola. O estudo utiliza dados de Santana do Livramento, região que faz fronteira com o Uruguai, em diferentes épocas: uma amostra coletada em 1978 e uma amostra coletada em 2003-5, além de utilizar dados de uma terceira amostra, a da cidade de Porto Alegre – região metropolitana. A opção por investigar a regra de elevação de vogais átonas de clíticos pronominais em uma variedade fronteiriça deve-se ao fato de, na língua espanhola, as vogais médias altas não se converterem em vogais altas em posição final. Por essa razão, confrontamos uma variedade fronteiriça com uma não fronteiriça, a fim de verificar o comportamento das vogais dos clíticos com respeito à preservação das médias. Com esse encaminhamento, além da busca de subsídios para a verificação do status prosódico dos clíticos, é possível também revelar se essa regra apresenta um estágio de variação estável ou um processo de mudança em curso. A análise dos dados é realizada sob a perspectiva da Fonologia Prosódica (Nespor e Vogel, 1986) e da Fonologia Lexical (Kiparsky, 1985; Mohanan, 1986), as quais se complementam, como também da Teoria da Variação (Labov, 1972, 1982, 1994). Com esse suporte teórico, além de verificarmos o status prosódico dos clíticos pronominais do Português Brasileiro, também estabelecemos uma comparação com os clíticos do Português Europeu. Tal comparação fundamenta-se na hipótese de que a integração dos clíticos pronominais com seu hospedeiro nesses dialetos dá-se de maneira diferente. Além disso, a pesquisa inclui uma análise estatística da regra de elevação dos clíticos pronominais, o que, além de contribuir para o estudo em questão, também apresenta um caráter descritivo do Português Brasileiro.

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ASPECTOS DA FONOLOGIA PROSÓDICA DO GUARANI MBYÁ Marci Fileti Martins (Universidade do Sul de Santa Catarina, UNISUL) Este artigo propõe uma discussão sobre a organização do sistema prosódico do Mbyá, notadamente, no nível da palavra. O Mbyá é um dialeto da língua Guarani, da família lingüística Tupi-Guarani (TG). Os dados analisados são da variante falada nos assentamentos de Morro dos Cavalos e Maciambu, município de Paulo Lopes (SC). Busca-se com essa discussão determinar em que medida cada um dos constituintes prosódicos (sílaba, pé, palavra fonológica) vai servir como domínio para a aplicação de processos fonéticos e de regras fonológicas como i) o apagamento de vogais adjacentes idênticas, ii) a ditongação, iii) o alongamento de vogais em palavras monossilábicas tônicas e iv) a duplicação de segmentos bissilábicos. Além disso, propõe-se que o sistema acentual do Mbyá pode ser entendido como um sistema iâmbico (Hayes, 1995), sendo que o alongamento de núcleo silábico e a ditongação final de radical, processos fonológicos que no Mbyá vão formar sílaba pesada, garantem o requerimento de peso exigido pelo sistema iâmbico. AS VOGAIS PRETÔNICAS DOS VERBOS NO DIALETO DO INTERIOR DO ESTADO DE SÃO PAULO E AS TEORIAS AUTOSSEGMENTAL E LEXICAL Márcia Cristina do Carmo (UNESP, São José do Rio Preto) Nesta comunicação, são apresentados resultados parciais de uma pesquisa de Mestrado, intitulada “As vogais pretônicas dos verbos na variedade do interior paulista” (FAPESP 06/59141-9), realizada na UNESP, câmpus de São José do Rio Preto (SP). Como córpus de pesquisa, são utilizados dezesseis inquéritos com amostras de fala espontânea retirados do banco de dados IBORUNA, resultante do Projeto ALIP (UNESP/SJRP – FAPESP 03/08058-6). Em nosso córpus, os informantes têm o seguinte perfil social: sexo feminino, grau de escolaridade superior completo ou em andamento e pertencem a uma das seguintes faixas etárias: de 16 a 25; de 26 a 35; de 36 a 55; e acima de 56 anos. No que diz respeito à metodologia utilizada, foram realizadas as seguintes etapas: (i) extração das ocorrências de vogais pretônicas dos verbos; (ii) identificação dos fatores lingüísticos controlados; (iii) análise do conjunto de dados, procedendo à transcrição fonética de base perceptual; (iv) identificação dos contextos de variação; e (v) quantificação das ocorrências selecionadas. A partir da observação e da análise dos dados, verificou-se que o processo que ocorre com as vogais pretônicas dos verbos dessa variedade é o alçamento, em que as vogais médias [e] e [o] são pronunciadas, respectivamente, como as altas [i] e [u], como em d[i]via e c[u]mer. Como exemplos de resultados encontrados, podem ser citados: (i) as taxas de 16% de alçamento para a pretônica /e/ e de 10% para a pretônica /o/; (ii) a tonicidade da vogal alta como um fator relevante, mas não

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determinante para a aplicação do processo, confirmando afirmações de Bisol (1981); e (iii) a atuação do sufixo modo-temporal de futuro do pretérito /-ria/ como forte desfavorecedor do processo, como em d[e]v[e]ria e p[o]d[e]ria. As teorias fonológicas utilizadas neste trabalho são: (i) a Autossegmental, que explica o alçamento como o resultado de um espraiamento de traços; e (ii) a Lexical, por meio da qual lidamos com os aspectos morfofonológicos envolvidos no alçamento das vogais pretônicas dos verbos. ANÁLISE VARIACIONISTA DA AQUISIÇÃO DE CODAS SIMPLES DO INGLÊS POR FALANTES DE PORTUGUÊS BRASILEIRO Rubens Marques de Lucena (UEPB) Uma das dificuldades mais comuns na aquisição do inglês por brasileiros é a produção de segmentos em coda silábica, visto que o português brasileiro (PB) licencia, para essa posição silábica, apenas as soantes /n, r, l/, o segmento fricativo não especificado /S/ e os glides. Assim, a sílaba no PB só admite codas do tipo [-vocálico, +soante] ou [-soante, +contínuo, +coronal]. Na maior parte dos dialetos do PB, no entanto, /l/ e /n/ nunca são realizados na superfície, produzindo formas como ‘mal’ /maw/ ou ‘bom’ /bõ/. Assim, os únicos segmentos que de fato são produzidos como elementos da coda são /r/, /S/ e os glides. No caso da língua inglesa, a situação é completamente diversa: as codas simples podem ser preenchidas por qualquer segmento do inglês, com exceção da fricativa /h/ (Hammond 1999). Há, portanto, uma grande disparidade na condição de coda entre o português e o inglês, o que produz importantes conseqüências na aquisição de segunda língua. De fato, freqüentemente, durante o processo de aquisição da língua estrangeira, os aprendizes modificam as formas da língua-alvo, adaptando-as às regras fonotáticas da língua materna. Nesse processo de adaptação, os aprendizes se utilizam de estratégias de reparo, tais como a substituição, inserção e apagamento de segmentos e a ressilabificação. A ênfase aqui será nos processos de inserção vocálica. Este trabalho segue a linha metodológica da Sociolingüística laboviana (Labov 1966, 1972), e procura fornecer uma análise preliminar do comportamento variável da aquisição da coda do inglês por falantes nativos de português brasileiro. Para tanto, foram analisadas as produções de coda simples em seis falantes, divididos em dois níveis de proficiência (iniciantes e intermediários) e em duas modalidades de entrevista (lista de palavras e conversação espontânea). Os dados coletados foram estratificados de acordo com oito variáveis independentes (tipo de coda, modalidade da entrevista, nível de proficiência, ponto de articulação da coda, modo de articulação da coda, vozeamento, tonicidade e extensão do vocábulo) e, em seguida, submetidos a uma análise estatística pelo software Goldvarb X (Sankoff, Tagliamonte & Smith 2005). Os resultados preliminares indicam que todas as variáveis foram relevantes para a variação na aquisição da coda, com especial destaque para a modalidade de entrevista, nível de proficiência do falante e extensão do vocábulo.

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FORMAÇÃO DE PALAVRAS COMPOSTAS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO: ANÁLISE POR RESTRIÇÕES Taís Bopp da Silva (UFRGS-CNPq) A composição é um fenômeno de formação de palavras que se utiliza de dispositivos morfológicos sintáticos e fonológicos. A morfologia está presente neste tipo de formação uma vez que se trata de um processo de concatenação de bases. Ao mesmo tempo, por buscar em estruturas sintáticas matéria-prima para a geração de novos itens lexicais, a composição também faz uso de dispositivos sintáticos. A fonologia, que constitui o foco principal deste trabalho, integra esse processo na medida em que muitas palavras compostas podem apresentar modificação na estrutura interna de seus componentes, como fusão de sílabas e de segmentos e/ou agrupamento de seus elementos sob um único acento principal, o que nos dá pistas sobre o seu estatuto lexical. Buscamos, neste estudo, compreender melhor como a formação de palavras (morfologia) se relaciona com o domínio da frase (sintaxe) e com o domínio da palavra prosódica (fonologia), através da análise dos compostos do português brasileiro (PB) pela Teoria da Otimidade. Essa teoria nos permitirá conjugar os três níveis de análise através da utilização de restrições que levam em conta a interação de categorias morfossintáticas e categorias prosódicas (Restrições de Alinhamento Generalizado, conforme McCarthy e Prince, 1993 e Selkirk 1995) e de outras que fazem referência a aspectos que subjazem aos pressupostos da fonologia (Strict Layer Hypothesis, de acordo com Nespor e Vogel, 1986). A etapa atual deste trabalho consiste no exame da compatibilidade entre restrições já utilizadas em outros estudos e os dados do PB, a fim de propormos uma explanação adequada do fenômeno. A REPRESENTAÇÃO SUBJACENTE DOS GLIDES PRÉ-VOCÁLICOS EM PB Taíse Simioni (UFRGS) O objetivo deste trabalho é discutir a representação subjacente dos glides pré-vocálicos em português brasileiro (PB). A existência de glides em PB é inquestionável. Interessa-nos, então, verificar se tais glides são subjacentes ou derivados. Para tal, partimos da análise de Levi (2004), para quem glides subjacentes existem nas línguas do mundo, e comparamos processos do PB com processos do yawelmani, língua em que, segundo Levi, há glides subjacentes. Nossa finalidade é mostrar que, em PB, ao contrário do que acontece em yawelmani, glides e vogais não se comportam de maneira diferenciada. Desta forma, trazemos evidências para a hipótese de que os glides pré-vocálicos do PB são derivados.

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A FORMA E O USO DOS DIMINUTIVOS -INHO E -ZINHO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO Taize Winkelmann Teixeira (UFRGS) Neste trabalho, investiga-se a distribuição dos sufixos -inho e -zinho no português falado no sul do Brasil. A partir dos estudos de Moreno (1977), Menuzzi (1993), entre outros, olhamos para fatores de natureza lingüística, tais como Classe gramatical (nomes, não-nomes), Tonicidade (oxítona, paroxítona e proparoxítona), Significado (grau, suavização / eufemismo, afetivo / outro), Segmento final da forma primitiva (vogal baixa, vogal média-baixa frontal e posterior, -i, - u primitivos, -e, - o primitivos, terminados em -s / -z, terminados em -r / -m, terminados em ƚ / w), Onset da sílaba final (nasal dorsal, labiais, coronais, dorsais, onset vazio), e para fatores de natureza extralingüística, como Escolaridade (primário, ginásio, secundário), Sexo (masculino e feminino), Faixa etária (menos de 50 anos e mais de 50 anos), Localidade (Porto Alegre e Curitiba). A pesquisa faz uso de dois expedientes metodológicos: dados de fala e testes de produtividade que se utiliza de pseudopalavras. O corpus do primeiro é constituído por 24 informantes do Projeto VARSUL e o do segundo por 20 entrevistados selecionados de acordo com a escolaridade. Para análise quantitativa dos resultados, fazemos um uso adaptado dos programas que compõem o pacote VARBRUL, lançando mão tão-somente de freqüências, já que não se trata de um fenômeno tipicamente variável. A análise preliminar dos resultados mostra que -inho é o sufixo mais usado, ainda que -zinho seja o preferido no contexto de pseudopalavras. Além disso, observou-se um padrão predominantemente alternante, conforme já previu a literatura, definido pela tonicidade, ainda que algum lugar para usos variáveis esteja preservado. ASSIMETRIAS NOS ENCONTROS DE SIBILANTE + C E OBSTRUINTE + C EM INÍCIO DE PALAVRA EM PORTUGUÊS E CATALÃO Tatiana Keller (PUCRS) Em português e em catalão, a distância mínima de sonoridade entre duas consoantes em um ataque complexo é +3, por exemplo, pr (prato) e bl (blusa). Nessas línguas, encontros consonantais (EC) tautossilábicos que não apresentam essa distância, por exemplo, sp (sport) e pt (ptose), não são permitidos e são desfeitos por epêntese (inicial ou medial) ou apagamento. Em início de palavra, encontros de sibilante + C são precedidos por uma vogal (epêntese inicial – [ispa]) nas duas línguas; ao passo que encontros de obstruinte + C em português brasileiro são separados por uma vogal (epêntese medial – [pineu]) e em catalão há o apagamento da primeira consoante do encontro ([neu]). No âmbito da Teoria da Otimidade, observamos que as restrições de marcação *ONS DIST +2, *ONS DIST +1, *ONS DIST 0 (Gouskova, 2004), que proíbem ECs tautossilábicos com distãncia de sonoridade maior do que +2, ocupam uma posição alta nos

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rankings do português e do catalão. Para que essas restrições sejam satisfeitas violações das restrições de fidelidade MAX (contra apagamento), DEP (contra epêntese) e OUTPUT CONTIGUITY (contra epêntese medial) são necessárias. Neste trabalho, mostramos como essas restrições são ranqueadas para dar conta das assimetrias dos encontros de sibilante + C e de obstruinte + C nas línguas em análise. AS SEQÜÊNCIAS FINAIS DE [FRICATIVA+PLOSIVA] DO INGLÊS PRODUZIDAS POR FALANTES DO SUL DO BRASIL: FORMALIZAÇÃO E RANQUEAMENTO DE RESTRIÇÕES Ubiratã Kickhöfel Alves (UCPel) No estágio atual das pesquisas em OT, uma dificuldade a ser enfrentada pelo analista diz respeito à escolha da restrição de marcação a ser adotada. Com o grande número de trabalhos de análise já desenvolvidos, encontramos, na literatura, uma variedade considerável de restrições que, apesar de exercerem o mesmo papel em termos de marcas de violação, apresentam diferentes descrições estruturais e, até mesmo, diferentes nomes e definições. O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma proposta de formalização da marcação referente à coda silábica. Nossa proposta terá como base os dados de produção das codas complexas [ft], [st], [sp] e [sk] e das codas simples [f], [t], [p] e [k], na fala em língua inglesa de aprendizes gaúchos. Os dados de L2 revelam a necessidade de formalização de restrições de marcação diferentes em função do segmento que figura em posição final de sílaba, além de comprovarem que a aquisição de uma coda de dois elementos se mostra mais difícil do que a de duas codas simples que contenham os elementos da seqüência consonantal em questão. Com base nos dados de aquisição de L2, nossa proposta de formalização de restrições desenvolve-se a partir das escalas lingüísticas primitivas, com base em dois mecanismos formais de obtenção de restrições, na Teoria: o Alinhamento Harmônico (para formalizar, em termos de ranking, as diferenças de sonoridade entre os segmentos de coda) e a Conjunção Local (para expressar as diferenças de ponto). Argumentamos que o mecanismo de Conjunção Local se mostra disponível ao longo do processo de aquisição de L2, sendo tal mecanismo restrito a condições que limitam o seu poder de atuação. Esperamos que o presente trabalho expresse a principal premissa que motiva o seu desenvolvimento: a concepção de que o dado de aquisição de L2 constitui um material rico para o desenvolvimento dos modelos formais de Análise Fonológica.

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GT28 Estudos Geolingüísticos no Brasil Coordenadores Vanderci de Andrade Aguilera (UEL) Felício Wessling Margotti (UFSC) ATLAS LINGÜÍSTICO DO ESPÍRITO SANTO: DADOS DO QUESTIONÁRIO FONÉTICO-FONOLÓGICO Catarina Vaz Rodrigues (UFES) O Atlas Lingüístico do Espírito Santo tem como objetivo descrever as principais variantes lexicais, fonéticas e morfossintáticas do português capixaba seguindo princípios de Geolingüística. A seleção dos municípios que compõem a rede incluiu, entre seus critérios, a distribuição das localidades e sua formação histórica. O Estado foi dividido assim em células de 5.000 km2, seguindo-se aqui um parâmetro já utilizado no Atlas Lingüístico-Etnográfico da Região Sul. Procurou-se também selecionar localidades com densidade demográfica de baixa a média e que fossem representativas histórica e culturalmente. Foram selecionados assim trinta e cinco pontos na zona rural, estando previstos inquéritos em quatro centros urbanos. Em relação aos informantes, foram estabelecidos, entre outros critérios, que seriam inquiridos uma mulher e um homem em cada localidade, ambos com idade entre 30 e 55 anos, e com pouca escolaridade. Na elaboração dos questionários, foram incluídas questões já formuladas em outros atlas, garantindo-se assim um balizamento do alcance das variantes. A essas questões foram acrescidas aquelas que são específicas para o Estado e incluídos temas para discursos semidirigidos. O questionário lexical (QL) inclui 220 questões (onomasiológicas e semasiológicas) distribuídas pelos seguintes campos semânticos: acidentes geográficos, fenômenos atmosféricos, astros e tempo, flora, atividades agro-pastoris, fauna, convívio e comportamento social, ciclos da vida, corpo humano, religião e crenças, jogos e brincadeiras, habitação alimentação e cozinha, vestuário e acessórios. As questões morfossintáticas nem sempre apresentam diferenciação dialetal significativa e, como não havia pesquisas prévias que pudessem orientar o planejamento de um questionário focalizando itens com provável variação, o questionário morfossintático (QMS) investiga apenas seis itens. Entre eles há questões referentes à utilização de pronomes, gênero, número e grau. O questionário fonético-fonológico (QFF) apresenta 25 questões que averiguam a realização de consoantes e vogais em ambientes previamente estabelecidos. As transcrições do QL e do QFF estão em fase final. Apresentamos, neste trabalho, questões do QFF que investigam a realização das vogais pretônicas e do rotacismo.

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GEOLINGÜÍSTICA PLURIDIMENSIONAL: DESAFIOS METODOLÓGICOS Felício Wessling Margotti (UFSC) Reportando-nos a uma pesquisa que fizemos sobre o português de contato com o italiano no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, nosso objetivo aqui é fazer um relato dessa experiência, enfocando, sobretudo, as dificuldades e as soluções na elaboração dos mapas complexos e sintéticos, que contemplam, simultaneamente, a variação em diferentes dimensões. Esse estudo foi realizado de acordo com o modelo da dialetologia pluridimensional, que, conforme Radke & Thun (1996), visa a superar as deficiências da geolingüística tradicional, incorporando à dimensão espacial as dimensões sociais e estilísticas. Nesse caso, a elaboração das cartas lingüísticas assume características de maior complexidade, pois, além da variação no espaço, tais mapas devem dar conta da variação em diferentes grupos sociais em cada uma das localidades investigadas. Nessa perspectiva, a dialetologia deixa de ser exclusivamente diatópica para ser, também, diastrática e diafásica. Em síntese, deixa de ser monodimensional para ser pluridimensional. Optamos por representar a variação através de escalas percentuais associadas a cinco símbolos, indicadores da intensidade da difusão. Por outro lado, a apresentação simultânea e sucessiva de quatro diferentes grupos de informantes em cada ponto, permitindo o contraste entre a fala de falantes urbanos e rurais, mais velhos e mais jovens, mais escolarizados e menos escolarizados, além de falantes luso-brasileiros e ítalo-brasileiros, dá aos mapas não só a capacidade de representar a intensidade da variação, mas também o modo como ela acontece, ou seja, quais grupos de fatores atuam de modo mais intenso na variação. CERRO E SANGA – EMPRÉSTIMOS LEXICAIS NO PORTUGUÊS DE CONTATO COM O ESPANHOL Patrícia Graciela da Rocha (PGLg – UFSC) Felício Wessling Margotti (UFSC) Este trabalho é parte de um estudo realizado com base em dados e mapas lingüísticos do ALERS sobre variantes lexicais de origem castelhana incorporadas ao português falado no Sul do Brasil. O objetivo é analisar as variantes cerro e sanga e delimitar as áreas de uso dessas variantes nos três estados sulinos. Considerando que esses empréstimos resultam do contato do português com o espanhol, supõe-se que as ocorrências e distribuição no espaço geográfico estejam fortemente associadas às áreas de fronteira, o que não significa que a difusão das variantes lingüísticas seja homogênea em todas essas áreas. Os itens selecionados foram obtidos por meio do Questionário Semântico Lexical do ALERS, e fazem parte da área semântica I – Acidentes Geográficos. Tais itens foram arealizados, descritos e analisados com base na bibliografia consultada. Derivado de zanga (espanhol platino), sanga apresenta grande difusão no Rio Grande do Sul,

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Sul, Planalto e Oeste de Santa Catarina e Sudoeste do Paraná (cf. MARGOTTI; VIEIRA, 2006, p. 254). Segundo Koch (2000), cerro e o sinônimo coxilha “representam as formas absolutamente predominantes no Rio Grande do Sul, não sendo registrados nos estados vizinhos, onde o heterônimo é morro”. O estudo segue os princípios da teoria dialetológica, que tem a tarefa identificar, escrever e situar os diferentes usos em que uma língua se diversifica, conforme sua distribuição espacial, sociocultural e cronológica. O método utilizado é o da Geolingüística Tradicional ESTUDO VARIACIONISTA SOBRE A PALATALIZAÇÃO DE -S EM CODA SILÁBICA NA FALA FLUMINENSE Silvia Figueiredo Brandão (UFRJ) Estudos de cunho sociolingüístico realizados por Rodrigues (2001) e Brandão (1997, entre outros) demonstram que, nas Regiões Norte e Noroeste do Rio de Janeiro, predomina a variante alveolar de S pós-vocálico, ao contrário do que ocorre na capital e na sua região metropolitana em que a variante palatalizada constitui norma (cf. e AFeBG: Lima, 2006). Na fala das duas primeiras mencionadas áreas, embora com percentuais e inputs ainda pouco representativos, o processo de palatalização é fortemente condicionado pelo ponto/modo de articulação do segmento subseqüente e, ainda, por fatores de natureza extralingüística, em que sobressaem as variáveis área geográfica e faixa etária. Neste trabalho, realizado na linha sociolingüística variacionista com base nas elocuções livres do acervo do Micro Atlas Fonético do Estado do Rio de Janeiro (Almeida:2008), estende-se a pesquisa à fala das demais seis regiões do Estado, cada qual representada por uma ou duas localidades: Metropolitana (Itaguaí), Serrana (Cantagalo e Santa Maria Madalena), das Baixadas Litorâneas (Cabo Frio e Cachoeiras de Macacu), Médio Paraíba (Resende e Valença), Centro Sul (Três Rios) e da Baía da Ilha Grande (Paraty). Assim, objetiva-se, primordialmente, analisar a palatalização de S pós-vocálico em contexto interno e externo, de modo a (1) detectar os fatores estruturais e extralingüísticos que a condicionam; (2) verificar se, na fala espontânea, o processo mantém ou aumenta sua produtividade em comparação com os índices obtidos por meio de Questionário e registrados nas cartas do referido Atlas. Observa-se, conforme as hipóteses iniciais, que, (i) em Itaguaí e Cabo Frio, predomina a variante palatalizada em contexto tanto interno quanto externo, independentemente dos segmentos adjacentes ao -S; (ii) nas demais áreas, a variante alveolar só tende a não ser implementada quando o S se encontra diante de /t/ e de /d/ ou, ainda, quando fecha sílaba que contenha uma vogal anterior média, alteada ou não. O confronto dos resultados obtidos na presente pesquisa com os das Regiões Norte e Noroeste e com os das cartas do MicroAFERJ permite formular a hipótese de que a palatalização de S – fortemente condicionada por fatores de ordem estrutural, como vêm demonstrando diversos outros estudos sobre o tema (Mota, 2002) – é mais produtiva em Macaé, Cabo Frio e Itaguaí, localidades, em que,

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respectivamente, a exploração de petróleo, o afluxo turístico permanente ou o fato de seus habitantes trabalharem na capital do Estado acabam por determinar uma maior influência da norma da cidade do Rio de Janeiro. PROGRAMA DE MAPEAMENTO GEOLINGÜÍSTICO DIGITAL Abdelhak Razky (UFPA) Tenho por objetivo nessa comunicação apresentar o estado da arte do programa Geoling (Geografia lingüística Digital). Trata se de uma proposta de desenvolvimento de um software interativo e de fácil manuseio que tem em vista auxiliar o lingüista que, trabalhando na área de geografia lingüística, deseja adotar também a dimensão sociolingüística. O programa possibilitará a entrada e organização de dados lingüísticos de natureza fonética e lexical, bem como de arquivos sonoros correspondentes, num mapa geográfico que represente uma região definida pelo pesquisador. O programa GeoLin é uma maneira mais eficiente de organizar dados lingüísticos e digitais dentro de uma interface computacional. A pesquisa fundamental na área da geografia lingüística será a primeira a se beneficiar desse programa. O impacto do programa GeoLing na educação pode ser considerável. Os pesquisadores podem colocar os dados lingüísticos regionais coletados no referido programa. Esses dados poderão ser distribuídos nas escolas no formato de CD-ROM, a fim de que os educadores possam demonstrar durante as aulas, por exemplo, a realidade lingüística brasileira, apresentando e discutindo, de forma inovadora e agradável, questões relativas à diversidade lingüística no Brasil.O programa Geoling poderá ser usado na sala de aula desde que uma equipe de pesquisa disponibilize um banco de dados de uma dada região ou estado. VOGAIS ÁTONAS FINAIS: UM ESTUDO PRELIMINAR NAS CAPITAIS BRASILEIRAS Aparecida Negri Isquerdo (UFMS, Campo Grande) Auri Claudionei Matos Frubel (UFMS, Aquidauana) As últimas cinco décadas registraram um significativo avanço no quadro das pesquisas geolingüísticas no Brasil – até os anos noventa do século passado foram produzidos cinco atlas estaduais – Atlas Prévio dos Falares Baianos – APFB (1963), Esboço de um Atlas Lingüístico de Minas Gerais – EALMG (1977), Atlas Lingüístico da Paraíba – ALPB (1984), Atlas Lingüístico de Sergipe – ALSE (1987) e Atlas Lingüístico do Paraná – ALPR (1994). Já na primeira década do século XX seis outros vieram a lume, um regional – Atlas Lingüístico-etnográfico da Região Sul do Brasil – ALERS (2002) – e cinco estaduais – Atlas lingüístico sonoro do Pará – ALISPA (2004), Atlas Lingüístico do Amazonas – ALAM (2004), Atlas Lingüístico de Sergipe II – ALSE II (2005), Atlas Lingüístico do Paraná II (2007) e Atlas Lingüístico de Mato Grosso do Sul (2007). Impulsionados, sobretudo pelo Projeto do Atlas Lingüístico do Brasil (Projeto ALiB), inúmeros outros projetos de atlas

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estaduais, regionais e municipais surgiram, alguns deles já concluídos e muitos outros se encontram em estágios diferentes de execução. Os atlas regionais já publicados e/ou concluídos e, especialmente, os dados já documentados pelo Projeto ALiB, têm fornecido dados concretos que apontam para singularidades lingüísticas que individualizam as diferentes regiões brasileiras. A análise dos dados recolhidos nas 25 capitais brasileiras pela equipe do Projeto ALiB, de um lado, vem confirmando conclusões já apontadas pelos atlas regionais e, de outro, revelando novas realidades lingüísticas decorrentes da história social que marcou as cinco regiões brasileiras nas últimas décadas, motivada em especial pelos movimentos migratórios que são responsáveis pelo deslocamento de brasileiros para diferentes estados da Federação em busca de melhores condições de vida. Particularmente o nível fonético da língua evidencia as diferentes áreas dialetais que caracterizam o português brasileiro falado em todo o território nacional. Este trabalho discute resultados preliminares de estudo em desenvolvimento sobre a questão das vogais átonas finais, na fala de habitantes de baixa e de alta escolaridade (Ensino Fundamental/Ensino Superior), de ambos os sexos, nascidos e criados nas capitais dos estados brasileiros, com o objetivo de apontar possíveis áreas dialetais, no que se refere à atualização desse tipo de vogal. ESTUDOS DA VARIAÇÃO LINGÜÍSTICA EM SANTA CATARINA, UM OLHAR SOBRE LAGES Claci Ines Schneider (UFSC) Uma das principais marcas de um povo é a sua fala, sua língua, algo que facilmente o identificará nas mais diversas situações. Como a língua não é algo estático é algo que evolui, que se altera, principalmente em casos de territórios de grandes dimensões e variedades populacionais muito grandes como o Brasil, percebe-se que registrar este traço cultural é algo fundamental para preservar, estudar e melhor entender nossa história. A proposta deste trabalho é relatar uma experiência pessoal como inquiridor e como transcritor das entrevistas realizadas no ponto 231, cidade catarinense de Lages, realizada em novembro de 2007 e debater as principais marcas do falar lageano encontradas nas entrevistas. CAMINHOS PARA A CONSTITUIÇÃO DE UM ATLAS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS: ALLIBRAS Gisele Iandra Pessini Anater (Pós-Graduação em Lingüística – UFSC) Shirley Vilhalva (Pós-Graduação em Lingüística – UFSC) Quando falamos em línguas, é natural que pensemos em variação, em culturas diferentes, em outros países, em outros povos. As variações, porém, podem estar bem mais próximas, dentro de cada língua, no mesmo tempo e espaço. Assim acontece com a língua de sinais no Brasil. Há diferenças fortes relacionadas ao espaço geográfico, ou seja, à diatopia; e por essa ser

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uma realidade, também podemos pensar em um estudo geolingüístico que busque traçar um panorama acerca da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. É importante realçar que ela teve o seu reconhecimento legal marcado pela Lei 10.436 de 24 de abril de 2002 regulamentada pelo Decreto 5.626, de 22 de dezembro de 2005, que a considera como meio de comunicação e expressão daqueles que interagem com o mundo através de suas experiências visuais. Por ser uma língua altamente visual, é possível perceber a sua variação face-a-face, conforme região em que se desenvolve. O contato entre os surdos brasileiros, sobretudo aqueles que têm acesso aos recursos tecnológicos e institucionais de educação, é intenso. Devido à utilização de meios de comunicação virtual e de encontros promovidos através de Associações de Surdos ou das Universidades, a LIBRAS tem ganhado espaço; podemos perceber o contato lingüístico figurando como fator principal de variação. Não sabemos muito sobre sua história e o que conhecemos vem da trajetória de educadores e de surdos dentro do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES-RJ). Sobre variação ainda há pouco registro; o que afirmamos normalmente vem de algum conhecimento empírico, de experiências vividas com a língua e do contato surdo-surdo e ouvinte-surdo. Como nosso objetivo é contribuir para o crescente interesse de pesquisa sobre a língua de sinais, entendemos que a modernização das tecnologias e os recursos metodológicos, são também meios essenciais para o seu registro e contribuem para o trabalho de análise e descrição. Diante do que temos observado acerca da metodologia utilizada para a pesquisa dentro do Projeto ALiB, pensamos em alguns passos que podem auxiliar o início dos trabalhos com a LIBRAS, uma vez que a Geolingüística já avançou em sua trajetória nesses últimos cinqüenta anos e nada ainda temos de registro sobre essa língua brasileira. Através dos princípios da Geolingüística e de alguns elementos que conduzem os trabalhos em Sociolingüística, pretendemos também sugerir e elaborar uma metodologia que colabore para o desenvolvimento de um inquérito que priorize a modalidade da língua na coleta e no registro dos dados. ESTUDOS GEOLINGÜÍSTICOS NO BRASIL: UM PROFÍCUO JUBILEU DE OURO Sanimar Busse (Unioeste, UEL) Tomando a fala como catalisadora do comportamento dos grupos sociais, das suas atividades e das interações estabelecidas com outros grupos em diferentes momentos da história, a presente pesquisa tem por objetivo registrar e descrever as variantes fonético-fonológicas, semântico-lexicais e morfossintáticas da fala na Região Oeste do Paraná. Com base nos princípios da dialetologia e do método geolingüístico, pretende-se estudar a fala viva e buscar na infinidade de vozes uma representação da história da língua quanto ao seu aspecto mais móvel e ativo (ALVAR, 1996). Partimos da possibilidade de combinar os estudos da variação areal e as variáveis sociolingüísticas como elementos para um estudo bidimensional da variação.

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Dentre as tarefas do trabalho proposto, a mais importante é a “dupla arealização” do fenômeno da variação, percorrendo da superfície ao eixo social ou, no movimento inverso, do eixo social à superfície (THUN, 2005). A geolingüística pluridimensional na sua dimensão topodinâmica e cronodinâmica tenta imprimir à descrição da fala o registro da dinamicidade da língua, permitindo acompanhar o caminho de uma inovação lingüística, cujo registro pode representar o estado da fala no movimento dinâmico das relações sociais. Tem-se, então, a possibilidade de capturar a língua em movimento, registrando e descrevendo, no interior dos níveis lingüísticos, as fases pelas quais ocorrem e ocorreram as mudanças na língua, bem como a identificação do que foi conservado. As características geográficas da região Oeste do Paraná favorecem sobremaneira uma análise pautada na interface etnográfica, em que os movimentos de colonização podem ser apontados como responsáveis pelo polimorfismo na fala paranaense e para a formação de áreas de maior conservação e formação de ilhas lingüísticas, conforme estudos de Mercer (1993) e Aguilera (1994). A análise do movimento cronodinâmico da variação na fala se dará por meio da análise contrastiva, na identificação dos fenômenos estáveis, dos fenômenos em curso e das mudanças acabadas. Para tal, devem ser tomados como referência os dados do Atlas Lingüístico do Paraná – ALPR (AGUILERA, 1994), do Atlas Lingüístico-Etnográfico da Região Sul do Brasil - ALERS (ALTENHOFEN, KOCH, KLASSMANN, 2002), do Atlas Lingüístico do Brasil (ALiB) e do Atlas Lingüístico-Contatual das Minorias Alemãs na Bacia do Prata (ALMA-H): Hunsrückisch. O ATLAS LINGÜÍSTICO-ETNOGRÁFICO DOS AÇORES E OS ATLAS BRASILEIROS: A QUE NOS CONDUZEM OS SEUS DADOS. Suzana Alice Marcelino Cardoso (UFBA/CNPq) A publicação do Atlas Lingüístico-Etnográfico dos Açores (Volume I – A criação de gado) permite uma reflexão sobre o léxico, nesse campo semântico, nas áreas açoriana e brasileira. Nesta comunicação, examinam-se, prioritariamente, os dados do atlas açoriano e dos atlas regionais brasileiros, já publicados e que oferecem informações de cunho lexical — Atlas Prévio dos Falares Baianos, Atlas Lingüístico da Paraíba, Atlas Lingüístico de Sergipe, Atlas Lingüístico do Paraná, Atlas Lingüístico do Mato Grosso do Sul, a que se agregam resultados de duas teses de doutorado referentes ao Amazonas e ao Rio Grande do Norte—, e se procura contemplar, de forma ilustrativa, uma visão geral do Brasil com o que oferece o Projeto ALiB no tocante às capitais de Estados com aos resultados obtidos da aplicação do Questionário Semântico-Lexical, sub-área “Atividades agropastoris”, com vistas a (i) verificar o que esse conjunto de fontes registra na área semântica “a criação de gado”, (ii) analisar os itens lexicais documentados nesses dois lados do atlântico, (iii) estabelecer uma relação entre o léxico açoriano e o léxico corrente no Brasil. Esse exame deverá/poderá permitir a identificação dos laços lexicais Brasil/Açores.

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OS DOIS ATLAS LINGÜÍSTICOS DO PARANÁ: METODOLOGIAS Fabiane Cristina Altino (UEL) A década de 50 no Brasil foi proveitosa para os estudos dialetológicos por meio da metodologia geolingüística. Dois momentos são significativos para a história da Dialetologia: o primeiro refere-se à década de 50 propriamente, quando entre 1951 e 1954, Serafim da Silva Neto, em suas conferências por diversas IES do país (MG – RS – SP – RJ – BA), expôs a necessidade de documentação dos falares brasileiros. Em seguida, em 1957, Silva Neto e Celso Cunha, no II Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros, reafirmavam a urgência de estudos dialetológicos pelo método geolingüístico, ressaltando a importância de atlas regionais, pela exaustão com que os dados coletados são trabalhados, fornecendo materiais para o estudo da formação da língua e da sua história. Em 1958, Antenor Nascentes publica Bases Para a Elaboração do Atlas Lingüístico do Brasil, pela Casa de Rui Barbosa, obra fornece as diretrizes para os inquéritos lingüísticos. Essas obras, fundamentais para os estudos dialetológicos, no Brasil, renderam frutos imediatos e levaram ao segundo momento que se inicia em 1963, com a publicação do Atlas Prévios dos Falares Baianos – APFB, o primeiro atlas estadual brasileiro. Nascia, desta forma, o primeiro estudo dialetológico com base na geografia lingüística, possibilitando conhecer um dos falares brasileiros e, posteriormente, servir como ponto de partida para a elaboração do Atlas Lingüístico do Brasil, tornando possível o registro de uma parte da história dos falares nacionais. O Atlas Lingüístico do Paraná - ALPR, de Aguilera (1994), também é fruto desta “mentalidade dialetológica” e investiga a unidade e a diversidade de usos do português brasileiro falado no Paraná. Esta comunicação pretende discutir as metodologias aplicadas ao ALPR publicado em 1994 e o segunda do volume, objeto de tese de doutoramento em 2007. O “R CAIPIRA” NO ESTADO DO PARANÁ: UM ESTUDO COM BASE EM DADOS DO ATLAS LINGÜÍSTICO DO BRASIL (ALIB) Dra. Vanderci de Andrade Aguilera (UEL/CNPq) Os róticos, em particular o /r/ em coda silábica, fonema com possibilidade de se realizar com o maior número de variantes no Português Brasileiro, principalmente quando se consideram as dimensões diatópico-regionais, são uma das variantes fonético-fonológicas que mais mereceram a atenção dos estudiosos sob os mais diversos enfoques teórico-metodológicos. Basta lembrar que Brandão (2007), em recente artigo, discutiu mais de trinta textos publicados nos últimos oitenta anos, cujos autores tomaram como objeto de estudo o fonema /r/ tanto em distribuição diatópica nos atlas lingüísticos, na ótica da Geolingüística, como em distribuição diastrática à luz da Sociolingüística Variacionista. Neste trabalho, busca-se apresentar e discutir, em caráter experimental, a variação do /r/ em coda silábica nos dados do

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Atlas Lingüístico do Brasil – ALiB, em particular nos dados coletados no Paraná, junto a setenta e dois informantes, dos quais oito são da capital e os demais sessenta e oito estão distribuídos por dezesseis pontos lingüísticos do interior. O desenvolvimento da pesquisa permitiu caminhar mais de perto junto ao /r/ retroflexo ou “caipira” [}], devido à alta freqüência de seu uso na fala dos informantes urbanos dessas localidades paranaenses que compõem a rede de pontos lingüísticos do ALiB nesse Estado. De certa forma, os resultados vêm contrariando os prognósticos de Amaral (1920) que antevia para o dialeto caipira uma vida, ou sobrevida, relativamente curta e encantoada em alguns grotões de nosso país. MICROAFERJ: O -S EM CODA SILÁBICA Fabiana da Silva Campos Almeida (CEFETQ, Rio de Janeiro) O MicroAtlas Fonético do Estado do Rio de Janeiro (Almeida: 2008), enquadra-se no âmbito da geolingüística pluridimensional, uma vez que nele, além da variável diatópica (12 pontos de inquérito), controlam-se as variáveis diassexual e diageracional (três faixas etárias: 18-35 anos; 36-55 anos e 56 anos em diante). Constituído por 306 cartas fonéticas, apresenta entre elas 58 que possibilitam a observação da variação do –S em coda silábica. Assim, neste trabalho, além de se apresentarem os critérios que nortearam a elaboração do Atlas, focalizam-se, em especial, as referidas 58 cartas, que retratam a variável na fala de Itaguaí (Região Metropolitana), Porciúncula (Região Noroeste), São Francisco do Itabapoana, Quissamã (Região Norte), Cantagalo, Santa Maria Madalena (Região Serrana), Cabo Frio, Cachoeiras de Macacu (Região das Baixadas Litorâneas), Resende e Valença (Região do Médio Paraíba, Três Rios (Região Centro Sul) e Paraty (Região da Baía da Ilha Grande)). Observa-se que, (i) na Região Metropolitana e em Cabo Frio, predomina a variante palatalizada em contexto tanto interno quanto externo, independentemente dos segmentos adjacentes ao -S; (ii) nas demais áreas, a variante alveolar constitui norma, embora, em Santa Maria Madalena, já se observe que a variante palatalizada está em franco processo de difusão. Os resultados do MicroAFERJ permitem (1) concluir que a palatalização de S – fortemente condicionada por fatores de ordem estrutural, como vêm demonstrando diversos outros estudos sobre o tema (cf., em especial, a síntese realizada por Mota, 2002) – tende a generalizar-se na fala de localidades cujos habitantes se encontram em maior interação com os da cidade do Rio de Janeiro; (2) traçar – com o aporte dos dados de quatro pontos de inquérito do AFeBG (Lima, 2006), que segue a mesma metodologia – uma isófona provisória que separa as áreas de –S fricativo alveolar das de –S fricativo palatalizado.

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O APROVEITAMENTO DOS DADOS DO ALIB EM CARTAS FONÉTICAS Jacyra Andrade Mota (UFBA/CNPq) Para a constituição do corpus do Projeto Atlas Lingüístico do Brasil (ALiB) previu-se, além do questionário semântico-lexical, característico dos trabalhos de natureza geolingüística do século XX, questionários especificamente dirigidos à obtenção de dados lingüísticos fonéticos (inclusive prosódicos), morfossintáticos, pragmáticos, metalingüísticos, dentro da tendência atual de contemplar também outros níveis de estudo da língua. Os diferentes tipos de questionários, assim como as propostas de temas para a obtenção de discurso livre e de leitura de texto, apresentadas aos informantes, no final do inquérito, têm possibilitado número maior de informações e fornecido elementos para a análise da dimensão diafásica. Por outro lado, a inclusão de informantes estratificados quanto ao gênero, à idade e, nas capitais, ao grau de escolaridade, de acordo com os princípios da Geolingüística Pluridimensional Contemporânea, tornou possível a documentação de variantes diagenéricas, diageracionais e diastráticas, assim como a depreensão de mudanças em curso nas áreas analisadas. Apresentam-se, nesta comunicação, sugestões para o aproveitamento dos dados do ALiB, em cartas fonéticas, com utilização do questionário fonético-fonológico (QFF) e o aproveitamento de respostas obtidas a propósito de outros questionários, a partir da análise dos oito inquéritos documentados em cada uma das capitais do Nordeste (Salvador, Aracaju, Maceió, Recife, João Pessoa, Fortaleza, Natal e São Luís). Analisam-se, principalmente, as realizações para o /S/ em coda silábica, em posição medial de vocábulos como fósforo, casca, estrada, rasgar, mesma, ou em final de palavra, como em luz, arroz, dez, temas, respectivamente, das questões 015, 031, 067, 088, 156, 009, 021 e 064 do QFF. As realizações alveolares e palatais, nesse caso, distinguem, como destacado por vários pesquisadores, subáreas dialetais no português do Brasil e as laríngeas configuram-se, sobretudo, como variantes diastráticas ou diafásicas. Pretende-se, com as sugestões cartográficas apresentadas, contribuir para a discussão sobre a elaboração das cartas fonéticas que deverão constituir o 1º. volume do ALiB. VARIAÇÃO DO /S/ EM FINAL DE VOCÁBULOS E DITONGAÇÃO: O ALIB EM VITÓRIA Shirley Vieira (UFSC) Esta pesquisa tem o propósito de descrever, sob uma abordagem sociogeolingüística, duas regras variáveis no mesmo contexto fonético: /s/ em posição final de vocábulos e a ditongação precedente. O material foi coletado pelo Atlas Lingüístico do Brasil na região metropolitana da capital do Espírito Santo em oito entrevistas, nas quais os informantes representam a fala de homens e mulheres, pessoas mais jovens e mais velhas, pouco

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escolarizadas e mais escolarizadas, permitindo, assim, associar a variação lingüística a fatores diagenéricos, diageracionais e diastráticos. Acreditamos que este estudo seja relevante, dadas as “fortes” marcas lingüísticas dos estados que circundam o Espírito Santo: BA, RJ e MG, inclusive com relação às regras a serem analisadas. Nesta fase da pesquisa, verificaremos qual a tendência no português falado na região metropolitana de Vitória e, num segundo momento, verificaremos isso em outras regiões capixabas, escorados na hipótese de que a difusão diatópica de certos traços lingüísticos no Espírito Santo está associada ao modo de falar dos estados lindeiros. Para a realização deste estudo, incluiremos as respostas a algumas das perguntas do Questionário Fonético-Fonológico (QFF) do ALiB, para as quais as respostas esperadas são: cruz, arroz, três, dez, giz, voz e paz. Quanto à metodologia, os dados (já transcritos) serão processados com o auxílio do Sistema de Processamento de Dados Geolingüísticos (SPDGL), gerando, assim, relatórios de dados e cartas geolingüísticas. Para maior segurança na análise do material, os dados serão também submetidos a rodadas estatísticas. Ressaltamos que este trabalho é um projeto-piloto que visa a obter subsídios para uma pesquisa mais ampla, a ser estendida a todo o Estado do Espírito Santo, incluindo dados do ALiB e do Atlas Lingüístico do Espírito Santo (ALES). ESTUDOS GEOLINGÜÍSTICOS NO BRASIL: UM PROFÍCUO JUBILEU DE OURO Dra. Vandersí Sant’ Ana Castro (Unicamp) Em 1920, Amaral descreve, do ponto de vista fonético, morfológico, sintático e lexical, o dialeto caipira, variedade do português popular falada no território da antiga província de S. Paulo até por volta do final do século XIX. Segundo Amaral (1920), o dialeto, que teria exibido grande vigor, vai perdendo sua importância a partir das últimas décadas do século XIX, em decorrência das profundas alterações que passam a se verificar no meio social, encontrando-se, no início do século XX, restrito a pequenas localidades ou ao uso dos falantes mais velhos. Em face desse quadro, Amaral (1920) acredita que o dialeto “acha-se condenado a desaparecer em prazo mais ou menos breve”. Todavia, 50 anos mais tarde, Rodrigues (1974) constata o vigor do dialeto na região de Piracicaba. Mais recentemente, Castro (2006) atestou a resistência de variantes fonéticas do dialeto em Minas Gerais e Paraná, em estudo realizado com base em dados dos atlas lingüísticos desses Estados (Ribeiro 1977, Aguilera 1994). Desde o trabalho de Rodrigues (1974), não se desenvolveu nenhuma pesquisa sistemática no Estado de São Paulo para verificar a resistência do dialeto caipira nessa área. A oportunidade se coloca agora, quando podemos dispor de dados do ALiB referentes a S. Paulo. Nesse sentido, nosso estudo, analisando dados coletados através do questionário fonético-fonológico (QFF) do ALiB, procura verificar a ocorrência do “r caipira” em São Paulo, considerando a posição de coda silábica (em final e interior de palavra). O

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Projeto ALiB investiga todo o território paulista (38 localidades), inquirindo 4 informantes por localidade (com escolaridade até a 8ª série, dos dois sexos e duas faixas etárias – 18 a 30 e 50 a 65 anos); na capital são entrevistados mais 4 informantes, com nível universitário (dos dois sexos e das duas faixas etárias). Nesta primeira abordagem, consideraremos as localidades situadas em uma faixa ao longo das duas margens do Tietê, caminho usado pelos bandeirantes em seu avanço para o oeste. Dada a relação histórica dos bandeirantes com o dialeto caipira, e considerando que as povoações que foram se formando nesse trajeto se transformaram em cidades que hoje conhecemos, justifica-se o recorte espacial proposto. Para o estudo foram selecionados os seguintes pontos do ALiB: Sorocaba, Campinas, Piracicaba, Botucatu, Bauru, Araraquara, Ibitinga, Lins, Araçatuba, Andradina, São José do Rio Preto, Jales. FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS E PRIMEIROS RESULTADOS DO ATLAS LINGÜÍSTICO-CONTATUAL DAS MINORIAS ALEMÃS DA BACIA DO PRATA (ALMA) Cléo V. Altenhofen (UFRGS) Harald Thun (Univ. Kiel) Constituem um desafio à parte à pesquisa geolingüística os contatos de línguas de imigração com o português e o espanhol na área da Bacia do Prata (envolvendo Paraguai, sul do Brasil, Argentina e Uruguai). A presente comunicação objetiva apresentar os pressupostos teórico-metodológicos e primeiros resultados do Atlas Lingüístico-Contatual das Minorias Alemãs da Bacia do Prata (ALMA), projeto de pesquisa binacional, interinstitucional e interdisciplinar, na área de dialetologia pluridimensional e relacional (Thun 1996), desenvolvido em conjunto por equipes de pesquisa do Instituto de Letras (UFRGS, Brasil) e do Instituto de Romanística (Univ. Kiel, Alemanha), sob a coordenação de Cléo V. Altenhofen e Harald Thun. A fase atual do macro-projeto ocupa-se com o Hunsrückisch – definido como uma coiné de contato com o português derivada historicamente do contínuo dialetal de base francônio-renana e francônio-moselana do alemão como língua de imigração trazida ao Rio Grande do Sul a partir da primeira metade do séc. XIX (cf. Altenhofen 2004). São objetivos principais do Projeto ALMA-H 1) a constituição de um banco de dados lingüísticos e etnográficos da variedade Hunsrückisch, bem como 2) a elaboração, a partir desse conjunto de dados, de um amplo mapeamento da variação, atitudes lingüísticas, manutenção / substituição e uso do Hunsrückisch em contato com o português e espanhol na área em estudo. São igualmente objeto de análise as competências dos falantes nas respectivas variedades germânicas e românicas, a alternância de código, preferências lingüísticas e aspectos pragmático-funcionais, como o uso das variedades tanto em contextos culturais diferentes como também em relação à produção oral e escrita. A metodologia de coleta e análise dos dados segue três princípios fundamentais do modelo teórico: pluralidade de informantes

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(ideal de quatro informantes por entrevista), comparabilidade dos dados (para fins de cartografia e de comparação com outros estudos) e pluridimensionalidade da variação lingüística. São coletados dados de 38 localidades (dimensão diatópica), sendo quatro entrevistas por ponto, inquirindo duas gerações (dimensão diageracional: GI, entre 18 e 36 anos, e GII, acima de 55 anos), com escolaridade superior (Ca) ou ensino secundário incompleto e ocupação agrícola ou operária (Cb). As entrevistas seguem um questionário-base, para obtenção de dados comparáveis. Além disso, são reunidos etnotextos (envolvendo temas de conversas semi-dirigidas), bem como dados iconográficos incluindo a presença visual da língua na localidade. Os primeiros resultados, após levantamentos em 12 localidades, apontam uma série de configurações geográficas e sociais, que se pretende sumariamente apresentar na comunicação. (Auxílio Fundação Alexander von Humboldt – 2008-2010). TOPODINÂMICA DOS CONTATOS LINGÜÍSTICOS DO PORTUGUÊS EM ÁREAS BILÍNGÜES DE FRONTEIRA E DE IMIGRAÇÃO Cléo V. Altenhofen Fernanda Cardoso de Lemos (UFRGS) A presente pesquisa tem por foco principal os contatos lingüísticos e seu papel na variação do português falado no sul do Brasil. Como tal, busca contribuir com o aprofundamento de questões relativas à dimensão dialingual (Thun 1996) nos dados do ALiB (Atlas Lingüístico do Brasil). Considerando a diversidade de situações e contextos de contato do português no Brasil, incluindo cerca de 180 línguas indígenas e mais de 30 línguas de imigração, além de contatos de fronteira (espanhol e crioulos), práticas lingüísticas afro-brasileiras e contatos intra-linguais envolvendo variedades regionais do próprio português, é o objetivo central desse estudo compreender melhor os mecanismos que orientam o uso e a variação lingüística em diferentes tipos de contato lingüístico. Para tanto, escolheram-se duas situações específicas representativas da paisagem lingüística do sul do Brasil: os fenômenos do português de contato com línguas alóctones (de imigração) e do português de fronteira com o espanhol no sul do país. Neste sentido, constitui o interesse central da pesquisa analisar o papel do contato lingüístico na determinação do corpus e do status do português localmente falado e os aspectos que distinguem cada uma das situações. Para tanto, cinco questões iniciais são suscitadas: a) Como determinar os parâmetros para uma descrição acurada do corpus e do status da língua em cada situação? b) O que possui em comum e em que se distingue o português falado em ambos os contextos? c) É possível identificar categorias gerais na topodinâmica desses contatos? d) Quais os condicionamentos sociais determinantes dessa relação? E, finalmente, e) quais são as marcas características do português derivadas desses contatos? A pesquisa segue as perspectivas da geolingüística pluridimensional (Radtke & Thun 1996);

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opta, portanto, por uma visão macro-analítica que aponte para a projeção dos diferentes fatores sociais e lingüísticos no espaço e sua representatividade geográfica, ou seja, até onde vão determinados comportamentos lingüísticos e através de quais segmentos e situações sociais. A metodologia de coleta dos dados do estudo (rede de pontos, questionário, informantes, dimensões de variação etc.) é determinada pelo projeto ALiB, que contempla, de modo sistemático, não só a dimensão diatópica, mas também as dimensões diastrática, diassexual e diageracional. O recorte de análise centra-se nos dados de 14 pontos de pesquisa do ALiB, situados no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, sendo 07 pontos de contato português-língua alóctone e 07 pontos de contato de fronteira. GT29 Língua, sujeito e história Coordenadores Verli Petri (UFSM) Mary Neiva Surdi da Luz (UNOCHAPECÓ) A FLOR DA PALAVRA Maurício Beck (UFSM) Na Quarta Declaração da Selva Lacandona o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) do México afirmou que a flor da palavra não pode morrer ou ser arrancada pela soberba do poder, pois vem do fundo da história e da terra. Em nossa interpretação o sintagma “flor da palavra” remete ao entrecruzamento de duas memórias históricas: a dos remanescentes dos antigos Maias e a memória das revoluções camponesas do início do século XX. No entanto, é o efeito de sentido decorrente do discurso Zapatista que articula a palavra a uma forma de resistência não perecível que pretendemos analisar nesta comunicação. Que lugar é dado à palavra, às línguas Maias no discursos zapatistas? Um lugar de politico, mítico e literário? Visto que aquele que se faz porta-voz, tradutor e interprete de uma gama variada de línguas ameríndias, como é o caso do subcomandante Marcos, é também um escritor de romances e histórias infantis, de cartas e comunicados. O lugar privilegiado dado à palavra na luta travada desde as selvas de Chiapas é o diferencial do EZLN frente a outras guerrilhas da América Latina e é, para a Análise de Discurso de linha franco-brasileira, um tema investigações fértil e inquietante. Neste estudo visamos a descrever e interpretar as articulações sintático-semânticas entre palavra, resistência e revolta; línguas ameríndias e história; e discorrer, de maneira ainda introdutória, sobre o modo de funcionamento e as contradições das posições de porta-voz, líder militar, tradutor e interprete assumidas pelo subcomandante Marcos.

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MONUMENTALIZAÇÃO DA POLÍTICA, DILUIÇÃO DO POLÍTICO: UM EXEMPLO Rejane Maria Arce Vargas (UFSM) Neste trabalho, objetivamos problematizar em cotejo as concepções de político esboçadas por Rancière (1996), Orlandi e Guimarães (2005), no que concerne à análise da prática política de sentidos no cenário cotidiano, sob o aporte teórico-metodológico oferecido pela Análise do Discurso. Para tanto, valemo-nos de um exemplo representativo do modo pelo qual a política se monumentaliza em prejuízo do político que engendra os sentidos. Trata-se de uma imagem entendida como materialização de um modo possível de funcionamento da política, na medida em que é produzida em torno de um litígio sobre uma área urbana. Interessa-nos problematizar duas noções em embate: política X político, pautando-nos no entendimento de que as mesmas não se confundem (fundem), antes, porém são distintas e mesmo contraditórias. Lançaremos mão de imagem ilustrativa de um evento político abordado em nossa dissertação e nos ocuparemos em trazer à tona seu processo de constituição. Nesse sentido, mobilizaremos as noções de condições de produção e, especialmente, de memória enquanto virtualidade do interdiscurso, não esboçada na materialidade imagética, tampouco inscrita na materialidade lingüística, mas uma memória lacunar, descontínua e fluida que imprime aos dizeres da política não só a efemeridade do ‘vento’, mas também efeitos de ‘verdade’, ao serem colocados em circulação. MEMÓRIA E PROJETOS POLÍTICOS NOS CONSELHOS GESTORES MUNICIPAIS: HISTÓRIA, TEXTO E CONTEXTO Gustavo Biasoli Alves (Unioeste) Este estudo tem como recorte a Tríplice Fronteira (região Oeste do Paraná) e os projetos políticos em construção ou disputa, envolvendo as concepções de sociedade civil, papel, modelo de Estado, participação e cidadania no discurso dos Conselheiros Municipais enfocando a memória das lutas pela redemocratização na construção atual destes conceitos. Se tem por base o fato de que a região teve um passado de protagonismo da sociedade civil no final da década de 1970 e início da 1980, que são hoje (região/redemocratização) marcadas por uma disputa entre os projetos políticos democrático-participativo e neoliberal, ocorrendo deslizamentos de sentido e confluências perversas entre eles no que diz respeito aos temas elencados. Há também trânsito para posições do Estado de membros da Sociedade Civil. O foco central de estudo é o papel que a memória daqueles que participaram do processo de redemocratização desempenha no embate entre projetos políticos conflitantes presentes nos processos que o país está passando. O estudo tem por base a memória discursiva, ou seja, discursos ou falas pré-existentes que podem aparecer na fala dos conselheiros coletada in loco através de gravações das reuniões dos Conselhos ou entrevistas.Discurso é um texto que expressa relações sociais e políticas a

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partir de um sujeito que o emite, tentando buscar um eco do receptor com vistas a reconstruir posições sociais e discursivas, conferindo um todo à vida social. As perguntas e hipóteses são: Que conhecimentos estão expressos nos discursos sobre o passado da região e como o (re)significam? Como esses discursos expressam as noções de Sociedade Civil, Estado, democracia e participação? Qual o papel da memória aí? Consideram-se três hipóteses básicas. Primeira: que o posicionamento dos emissores será articulado por elementos das experiências passadas. Segunda: como estes emissores transitam entre Sociedade Civil e Estado seus discursos apresentarão elementos cuja estará presente, como através de deslizamentos de sentido entre democracia, papel e modelo de Estado, cidadania e participação. A pesquisa contribui com os estudos já realizados, diagnosticando de que forma os diversos emissores tentam fixar o sentido sobre as relações entre Estado e Sociedade Civil, ou seja, se o sentido dado por eles coaduna com o projeto neoliberal, ou com o democrático-participativo, reforçando a confluência perversa e o papel que a memória aí representa. PROJETO “BRAGUAY” E UMA PROPOSTA DE RE-SIGNIFICAÇÃO DA FRONTEIRA: DO LIMITE À INTEGRAÇÃO Sara dos Santos Mota (UFSM) Este trabalho foi desenvolvido a partir das reflexões realizadas no decorrer disciplina “Sujeito e Discurso Módulo I”, no programa de pós-graduação em Letras – Estudos Lingüísticos (UFSM). Adotando os pressupostos teóricos da Análise de Discurso de Linha Francesa, desenvolvemos uma análise dos efeitos de sentido produzidos por alguns enunciados presentes nas Edições nº170 e nº171 da Revista digital www.derivera.com.uy, na qual os criadores do empreendimento cultural intitulado “Braguay” explicitam quais os objetivos das atividades que vêm sendo desenvolvidas pelo projeto na região fronteiriça de Livramento-Rivera. Através da análise realizada, procuramos identificar alguns dos possíveis efeitos de sentido atribuídos a certos enunciados veiculados na referida revista digital, e como o discurso proferido por seus organizadores pretende promover um deslocamento na maneira como a “fronteira” é entendida, resignificando-a e tentando apagar sentidos outros, ignorando a relação com diferentes discursos. Para tal, necessitamos mobilizar alguns conceitos da Análise de Discurso para compreender o processo que envolve a constituição dos sentidos, tais como Memória discursiva, Formações Imaginárias, Simbólico e Esquecimentos.

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SUJEITO CENTRADO E SUJEITO CINDIDO: PREFERIDO E PRETERIDO NAS METODOLOGIAS DE ENSINO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS Giovani Forgiarini Aiub (PPGLet/UFRGS – CAPES) O ensino de línguas estrangeiras tem se caracterizado principalmente por um ecletismo metodológico. Tal ecletismo está presente desde as escolas de educação básica até as escolas de línguas. Entretanto, a heterogeneidade no modo de ensinar não tem garantido sucesso na aprendizagem dessas línguas outras, pelo contrário, Revuz (1998) afirma que é destacável a alta taxa de insucesso na aprendizagem de línguas estrangeiras. Fazendo uma breve visita a tais modelos de ensino – como o behaviorista, o cognitivista, o construtivista, o interacionista, além de outros –, é possível perceber, através de uma análise prévia, que, embora sejam metodologias distintas, a concepção de língua nestas abordagens permanece a mesma, isto é, uma concepção de língua transparente, imanente, uma língua não atravessada pela historicidade, como se fosse possível uma relação termo a termo entre as “coisas” do mundo e a linguagem. Além disso, nestas abordagens, o sujeito é visto como centrado, cartesiano, um sujeito que não é perpassado pelo inconsciente. Nesta perspectiva, pensando a língua, seja ela materna ou estrangeira, como ideal(izada), como um mero instrumento de comunicação e o sujeito como indiviso, centrado, não há espaços para trabalhar com equívocos, com falhas no processo interpretativo, não há lugar para um sujeito constituído pela linguagem, um sujeito cindido, não há espaço para uma tomada da palavra em língua estrangeira. Nesse sentido, este trabalho, ao se filiar à teoria da Análise do Discurso de linha francesa, procura discutir como esta concepção de língua transparente e de sujeito centrado acaba por, inevitavelmente, preterir a historicidade, que, diga-se de passagem, não é idêntica de uma língua para outra. Assim, sem essa ligação entre o sujeito, a língua e a historicidade, não haveria a possibilidade de produção de efeitos de sentidos, não haveria brechas para a interpretação. Dessa forma, o objetivo deste trabalho é, além de discutir as metodologias de ensino apresentadas, mostrando as suas concepções de sujeito e de língua, mostrar que a tomada da palavra em língua estrangeira, que a produção de sentido se torna de fato possível quando a historicidade é levada em conta. E, para que isto ocorra, é preciso que haja uma concepção de língua e de sujeito distinta da que esses métodos abarcam. A DISTINÇÃO ENTRE ETIMOLOGIA E SEMÂNTICA POR MARCO TERÊNCIO VARRÃO Giovanna Mazzaro Valenza (UFPR) Marco Terêncio Varrão (116-27 a.C.), o primeiro gramático latino de que temos conhecimento, expõe, em sua obra Sobre a língua latina, a diferença entre etimologia e semântica. Nas palavras do autor, “aquela primeira parte, em que eles buscam o motivo e de onde surgem as palavras, os gregos

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chamam de ετυμολογίαν ‘etimologia’, a outra parte, que estuda para que o vocábulo é imposto, de περί σημαινομήνων ‘semântica’” (V, 2). Neste trabalho pretendo apresentar a tradução dos parágrafos 1-13 do livro V, em que o autor demonstra clareza sobre a diferença entre origem e uso das palavras, uma vez que separa os estudos etimológicos dos estudos do significado. Também será possível estabelecer relações entre a teoria do gramático latino com autores posteriores que tratam de diacronia e sincronia, como, por exemplo, Ferdinand de Saussure (1857-1913). DISSOI LOGOI: ANÁLISE, INTERPRETAÇÃO E VALORAÇÃO PARA A HISTÓRIA DAS IDÉIAS LINGÜÍSTICAS. Joseane Prezotto (PG – Letras, UFPR) O Dissoi Logoi é um tratado anônimo transmitido em adendo aos escritos de Sexto Empírico. A maioria dos estudiosos considera legítima a interpretação da passagem 1,8: “Na guerra (e falarei primeiro sobre os fatos mais recentes), a vitória dos lacedemônios sobre os atenienses e aliados...”, como uma alusão à guerra do Peloponeso e concluem que a data de composição do escrito deva ser situada por volta do ano 404 a.C. Corrobora esta datação o fato de todas as alusões e citações serem de autores e personagens anteriores a este ano. A questão da datação é relevante pois, considerando ser este o período de composição do tratado e atentando para os temas ali abordados e à estrutura do mesmo, conclui-se estarmos diante de um escrito oriundo do movimento sofista pré-platônico e assim, sendo ele uma via direta de acesso ao pensamento sofista, uma fonte independente, poderemos contrapô-lo à visão tendenciosa legada por Platão e Aristóteles e com isso estarmos em condições de julgar mais objetivamente este período. Este texto seria um modelo de construção refletindo uma prática sofística da qual se encontra um exemplo também nas Antilogiai de Protágoras; este modelo constitui-se da oposição de duas teses diferentes acerca de um mesmo tema. Platão mesmo teria empregado este modelo para a estrutura da refutação socrática. A finalidade de minha comunicação é apresentar a análise e interpretação deste texto advindas do estudo de seu contexto gerador, trazendo informações históricas e/ou filosóficas que permitam caracterizá-lo enquanto produção sofística. Esta caracterização possibilita expôr sua estrutura e argumentos com vistas à compreensão das questões tratadas e de sua importância no momento em que foram levantadas e a problemática suscitada por elas. Tais questões, além do interesse histórico e filosófico, são importantes para o entendimento do pensamento sofista acerca da linguagem. Os sofistas, ainda que não tenham sistematizado nenhum estudo acerca da linguagem, tinham um grande interesse pelos aspectos persuasivos e contraditórios dela e a incluíram no âmbito de suas especulações. Podemos flagrar, em suas opiniões filosóficas e/ou políticas, o princípio de debates acerca de maneiras de ver a linguagem, mais propriamente de maneiras de ver o mundo expressas na reflexão sobre a linguagem. Esta reflexão, tal como a encontramos no Dissoi Logoi, é o que pretendo evidenciar e valorar,

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enquanto contribuição histórica para a constituição do estudo da linguagem como área do conhecimento. Meu trabalho advém de uma pesquisa em desenvolvimento no programa de Pós-Graduação em Lingüística da UFPR que tem por objetivo desenvolver um estudo do movimento sofista com a intenção de expôr as idéias acerca da linguagem características deste período (séc. V, IV a.C.). O Dissoi Logoi é o texto base da reflexão proposta e está sendo traduzido por mim para o português. O LUGAR E O FUNCIONAMENTO DO TÍTULO EM HIL Juciele Pereira Dias (UFSM) Em nossa proposta de comunicação, a partir da perspectiva teórico-metodológica da História das Idéias Lingüísticas no Brasil, temos como finalidade refletir sobre o título como um lugar, que tem fronteiras simbólicas (espaço/tempo) constituídas por movimentos descontínuos de constantes retomadas de leituras ao longo da história. Se pensarmos nos catálogos on-line de bibliotecas na contemporaneidade, observamos que o título é um lugar que possibilita o acesso a um conhecimento materializado linguisticamente em, por exemplo, obras de autores de anos, décadas, séculos passados. Para uma busca bibliográfica, o nome do autor, o ano da obra, a editora, a cidade de publicação, entre outros, são elementos constitutivos da e imprescindíveis para a identificação de um trabalho. Já o título é um lugar singular de leitura, pois se coloca frente ao leitor como um espaço fronteiriço que o traz de um movimento de fora, do suporte (obra, papel, programa de computador), para dentro (texto/discurso) por uma relação de representatividade estabelecida com o conhecimento representado e os elementos constitutivos (obra, ano, editora, cidade etc.). Nesse espaço fronteiriço, entre leitor e texto da obra, o lugar do título pode ser tomado como um ponto para realizarmos gestos de leituras em relação a partir de um horizonte de retrospecção e um horizonte de projeção (Auroux, 1992a). Esse movimento temporal, conforme observaremos, imprime ao título um espaço de possibilidades de sentidos a partir da relação Língua, História e Sujeito, buscando compreender o lugar e o funcionamento discursivo do título em obras que colocam em circulação um conhecimento lingüístico. Dessa forma, buscaremos desenvolver uma leitura sobre o título como um lugar de representação do conhecimento. Lugar este constituído por tomadas de posição do sujeito em relação à regulação do Estado e em relação ao lugar que ocupa, institucionalmente, em determinadas condições de produção e circunstâncias de enunciação específicas. A DESIGNAÇÃO NAS LÍNGUAS DE FRONTEIRA DA LÍNGUA DO OUTRO Isaphi Alvarez (UFSM) A pesquisa desenvolvida nos Estudos Lingüísticos toma as teorias da Enunciação para refletir sobre a designação da língua do outro, ou seja,

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como se dá um nome à Língua ‘do outro’ que já está nomeada. Para tanto consideramos o conceito de espaço de enunciação fronteiriço, Sturza (2006), no qual os sujeitos significam as línguas que praticam. Nesse sentido, retomamos os conceitos de Enunciação por Ducrot (1988) e de Espaço de Enunciação, Guimarães (2002), como constitutivos da relação entre línguas ou mais especificamente, pelos diferentes modos de designar as línguas praticadas em um espaço de enunciação diferenciado que é constituído de línguas em contato. Este trabalho se efetiva a partir de uma revisão bibliográfica, dando ênfase ao suporte teórico adotado para este estudo. O corpus se constitui de recortes de enunciados orais produzidos por falantes fronteiriços. A partir disso, é interessante pensar que essa relação que se estabelece entre a língua e o falante nos remete à questão do sujeito na linguagem, ao falante que se manifesta ao enunciar, desse modo às implicações ou efeitos que produz a enunciação desse locutor ao apropriar-se da língua para fazê-la funcionar e significar. Uma hipótese é que o sujeito praticante de Línguas de Fronteira ao falar sobre a língua ‘do outro’ a manifeste de diferentes modos, significando-a. Assim, nessa relação entre línguas e falantes é que se configura o espaço de enunciação, que também se constitui como um espaço “entrelínguas”. Coloca-se por isso, a escolha de uma língua de enunciar e/ou para enunciar. É esta escolha, sempre regulada pelo caráter hierarquizante das línguas, que define enunciação como um lugar político do sujeito. Pensando no funcionamento e significação da linguagem, evidenciamos também a questão do funcionamento presente, que possui um passado de memórias instaurado pela temporalidade. Tal temporalidade permite que as línguas constituam sentidos ao se relacionarem em um mesmo espaço enunciativo. Dessa forma, por ser uma área de estudo através da qual se tem pensado sobre as relações entre as línguas, entende-se como relevante uma proposta de investigação no que diz respeito à designação dada pelos próprios falantes às línguas portuguesa e espanhola, às línguas que se praticam (ou não), considerando o espaço de enunciação fronteiriço. A CONSTITUIÇÃO E O PAPEL DO SUJEITO NA PUBLICIDADE: CHÁ DE HORTELÃ – ROYAL BLEND. Karen Denise Cunha (PPGLETRAS – UFSM) Verli Petri (UFSM) O presente artigo acadêmico aborda a temática do sujeito histórico segundo a teoria Análise do Discurso de abordagem francesa. O referencial teórico baseia-se nas atribuições dos seguintes autores: Michel Pêcheux, Eny Orlandi entre outros, eles são extremamente importantes para a compreensão da análise do discurso como um todo e também para questões específicas como o sujeito, considerado parte da análise do discurso. O corpus analisado tem-se o texto publicitário e a partir da leitura dele pretende-se realizar uma análise relevando os seguintes aspectos: a constituição e o papel do sujeito neste discurso. No processo de análise do sujeito objetiva-se compreender a

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linguagem verbal e não-verbal expressa na publicidade, em que o não-verbal manifesta-se pela imagem de dois seres humanos seminus e cobertos por uma simples folha. Para interpretação essa imagem necessita-se acionar a memória discursiva, por sua vez ela resgata o já dito que se encontra na exterioridade do discurso do texto publicitário. Mediante esse resgate pode-se verificar o acontecimento histórico de Adão e Eva no paraíso presente no texto bíblico, esse é o já dito que até então estava implícito. A respeito disso se apresenta algumas contribuições: “E o fato que exista o outro interno em toda memória é, a meu ver, a marca do real histórico como remisso necessária ao outro exterior”. (ACHARD apud PECHEUX, 1999, p. 56). O acontecimento histórico de Adão e Eva resgatado pela memória discursiva contribui para a constituição do sujeito histórico (Adão e Eva), aquele que se constitui sujeito conforme ORLANDI: “... temos a interpelação do indivíduo em sujeito, pela ideologia, no simbólico, constituindo a forma-sujeito histórica” (2006, p.3); e o verbal está na metáfora presente no slogan “Chegou chá de Hortelã - Royal Blend - o mais fiel a folha”, qual o significado existente do adjetivo fiel na relação do chá e a folha? Assim como Adão foi fiel a Eva (aqui como sujeitos históricos, no texto bíblico já conhecido acionada pela memória discursiva) o chá é fiel a folha. Essa relação de fidelidade mediante interpretação da metáfora permite inferir o papel do sujeito histórico na publicidade: expressar quanto o chá de hortelã - Royal Blend é natural, por isso é fiel a folha. DO SUJEITO ENTRE LÍNGUAS: CONJECTURAS A PROPÓSITO DE UM ENTRE-LUGAR Marluza Terezinha da Rosa (Laboratório Corpus-UFSM) Nesta comunicação, temos por objetivo refletir sobre movimentos na constituição do sujeito, que produz sentidos, na relação com/entre línguas. Tratamos este modo de subjetivação, distanciando-nos da situação comumente tratada como interlíngua e, com esse intuito, propomo-nos a concebê-lo como mediado por um entre-lugar. Em outras palavras, entendemos que a constituição desse sujeito se configuraria permeada por um espaço de oscilação entre o pertencer e o não-pertencer às línguas, ou seja, entre a submissão e a não-submissão a esses sistemas simbólicos, pelos quais o sujeito é tomado e constituído. Nesse sentido, o entre-lugar seria delineado, não somente, pela existência de fronteiras – ora tênues e porosas, ora intransponíveis – entre as línguas, mas também, pelo embate de forças estabelecido entre estas, visto que, embora podendo se emaranhar na constituição do sujeito, as línguas carregam consigo uma cultura, uma história e uma memória, que não podem ser esquecidas, quando postas em relação. Além disso, compreender a constituição do sujeito em um entre-lugar, conforme pensamos, tem suas implicações, que não se restringem à consideração da incerteza, da opacidade e do tatear do sujeito pelas línguas. A noção de entre-lugar nos leva a afirmar um descentramento desse “ser-entre”, que pode ser pensado em oposição a um sujeito visto como centro do

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processo discursivo e origem do dizer. Sendo assim, buscamos tocar, com nossa reflexão, o fato de, no entre-lugar, mais do que falar as línguas, o sujeito ser falado por elas. Situação contraditória que, ao mesmo tempo em que afirma a relação do sujeito com/na multiplicidade das línguas, também diverge da lógica da soma, da dominação de códigos lingüísticos por esse sujeito. O PROFESSOR DE PORTUGUÊS EM SITUAÇÃO DE AVALIAÇÃO: UMA ANÁLISE DISCURSIVA DO SUJEITO E SEUS MOVIMENTOS Leticia Santos (PPGLET-UFRGS) Neste trabalho propomos uma reflexão sobre a avaliação, a partir de uma análise discursiva do professor de português enquanto sujeito. Interessa-nos olhar o modo como os professores se colocam frente a este processo, como se vêem diante desta situação. Para analisar esta questão, utilizamos o material produzido durante a avaliação de redações do Exame Supletivo da SEC-RS, ocorrida no ano de 2003, em que foi solicitado, pela equipe de coordenação, que os professores envolvidos escrevessem um texto de ‘avaliação do processo de avaliação’, partindo de um ponto de vista bem pessoal – a partir das experiências vividas por eles –, numa proposta que lembrava à equipe de avaliadores o que eles queriam encontrar nos textos produzidos pelos alunos naquele exame. É a partir dos textos escritos por estes professores, que propomos lançar nosso olhar sobre este discurso, procurando mostrar como o sujeito-professor se constitui, que saberes e sentidos estão em movimento nesta situação, como se dá a relação desse sujeito com a língua e com o imaginário construído historicamente sobre o “lugar professor”, e que efeitos de sentido este imaginário produz. Cabe salientar que este trabalho se inscreve nos estudos da Análise do Discurso de linha francesa, a saber, aquela iniciada por Michel Pêcheux. O LIVRO DIDÁTICO NO PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA Graziela Lucci de Ângelo (UFSM) Vários são os postos de observação a partir dos quais é possível investigar o processo de constituição do ensino da disciplina língua portuguesa no Brasil. Interessada em investigar esse processo, selecionei para o exercício da pesquisa um dos postos, a saber, aquele ocupado pelo livro didático de português, tomado não como objeto material a ser descrito ou analisado em suas transformações e permanências, ao longo do tempo, sob aspectos variados a ele relacionados, mas como objeto em torno do qual posições são defendidas e tomadas, e que se traduzem na aceitação ou recusa desse material como recurso didático. Para conhecer como esse processo de constituição do ensino se dá pelas posições assumidas em relação ao livro didático, serão analisados trechos de entrevistas com algumas professoras de

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língua portuguesa, hoje aposentadas, e que trabalharam no ensino fundamental da escola pública paulista por toda sua carreira docente. Pretende-se a partir dessa análise conhecer possíveis discursos que circularam sobre o livro didático na esfera docente ao longo da segunda metade do século XX e verificar em que medida essas posições se aproximam ou se distanciam do discurso dos lingüistas sobre o livro didático, produzido na esfera acadêmica a partir dos anos 1970, discurso esse que teve um papel de destaque no processo de reformulação do ensino de língua materna no país. A análise a ser realizada é fundada na perspectiva sócio-histórica bakhtiniana, que toma a linguagem como um fenômeno sempre estratificado, fundamentalmente saturado pelos índices sociais de valor. Para a elaboração do trabalho, conceitos como dialogia e heteroglossia dialogizada serão mobilizados dessa vertente teórica. A IMAGEM DE UM PRESIDENTE DA REPÚBLICA SOBREDETERMINADO PELA HISTÓRIA Vanessa Diânifer Lopes Paula (PPGL-LETRAS UFSM) Este trabalho tem como objetivo principal, compreender o funcionamento do discurso articulado pela escrita/imagem, na produção de um “discurso complexo”, bem como é pensado por Tânia Zen em sua tese, e procurando observar o processo histórico-discursivo destas duas materialidades, que revelam sentidos e que mobilizam diferentes Formações Discursivas (FDs). Pretende-se com isso, pensar de que maneira a História sobredetermina a imagem de um presidente da República, mesmo que se trate, como no caso, de sujeitos diferentes (Lula e Collor), sob condições de produção e momentos históricos diferentes. Significa, portanto, que o discurso reflete uma visão de mundo determinada e que, necessariamente, está vinculada a de seu(s) autor(es) e à sociedade em que vive(m). O trabalho que proponho é a análise de duas fotografias, relativas à política, que estabelecem uma aproximação do Governo Lula (2005) com o Governo de Collor (1992). Ambas fotografias foram veiculadas numa matéria da Revista Veja-seção Brasil-Edição 1917, do dia 10 de Agosto de 2005. Para tanto, as reflexões serão sustentadas pela Análise de Discurso de linha francesa. As relações a serem analisadas vão ao encontro dos estudos que hoje estão sendo feito, na perspectiva da Análise do Discurso, pela pós-graduação em Letras, no Brasil, a respeito do discurso, da imagem e das formas que a linguagem assume no discurso político. Dessa forma, deseja-se estudar essa temática para contribuir com os estudos e a prática da AD uma vez pensada por Michel Pêcheux e defendida aqui no Brasil, fundamentalmente, por Eni Pulcinelli Orlandi. Com as mudanças na atualidade, mudam-se os objetos e a mídia impressa apresenta-se como uma fonte rica para a discussão da Análise de Discurso, porém pouco explorada ainda, pois nos fornece diversas materialidades e as distribui de formas diferentes, o que lhes confere sentidos outros.

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HESITAÇÃO E SUBJETIVIDADE Julyana Chaves Nascimento (IBILCE/UNESP, São José do Rio Preto) Neste trabalho apresentaremos algumas reflexões acerca de relações entre hesitação e autoria.A hesitação será tomada como um fenômeno cujas marcas se constituem em pontos de negociação do sujeito com os outros do discurso. A autoria será entendida como a manipulação das significações empreendidas pelo autor, posição sujeito, que, ao retroagir sobre o processo de produção dos sentidos, procura ‘amarrar’ a dispersão que está sempre virtualmente se instalando, conferindo à materialidade do discurso uma unidade aparente. Sendo o autor um lugar afetado pelo inconsciente e pelo desejo, hipotetizamos que as hesitações se constituiriam em pontos em que o sujeito assumiria uma posição, ou seja, buscaria sustentar o efeito de homogeneidade do dizer e, para tanto, remeteria à sua história (discursiva). Visando sustentar essa relação entre hesitação e autoria, selecionamos quatro fragmentos de duas sessões de conversação: uma entre JN (documentador e fonoaudiólogo) e NL (portador da doença de Parkinson) – ambos se conheceram por ocasião de reuniões de orientação sobre a doença de Parkinson – e outra entre JN e AP (portadora da doença de Parkinson) – sendo AP tia-avó de JN, embora ambas não tivessem contato estreito antes do início das entrevistas. Sendo a conversação um processo de co-autoria, supusemos que NL e AP assumiriam esse processo de autoria, e que cada um poderia assumir diferentes posições autor que necessariamente remeteriam à sua relação com JN – aspecto que pretendemos destacar em nossa análise. Verificamos que as hesitações marcavam a posição de NL como parkinsoniano e a posição de AP como mãe e esposa. Deste modo, as marcas de hesitação indiciaram momentos em que os sujeitos, autores, relançavam o processo de organização do texto para uma dimensão do significado-significante que remetia “à história de vida e à memória discursiva de cada um”. Esse redirecionamento se deu, nos dados de conversação entre JN e NL, com NL tematizando sobre suas limitações como portador da doença de Parkinson e JN, de um lugar outro, realizando um discurso de “promoção de saúde”. Nos dados de conversação entre JN e AP, o redirecionamento ocorreu com AP tematizando sobre sua família e se colocando num papel de “receptividade” às sugestões de JN, e JN, de um lugar próximo, realizando um discurso de familiar com um “eco” de “promoção de saúde”.Destacamos, desta análise, a emergência da subjetividade marcada pelas hesitações, pontos em que NL, AP e JN remetem, na negociação discursiva, à sua história de vida. A LÍNGUA: O “DIFERENTE” NO INTERIOR DO MESMO NA GRAMÁTICA Marcia Ione Surdi (UFSM, UNOCHAPECÓ) A idéia de que a língua não se constitui como um objeto homogêneo e sim como um conjunto em que tem lugar a

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diversidade/variedade/heterogeneidade, não causa maior estranhamento àqueles que tomam a língua e suas materialidades como objeto de estudo e análise. Para a elaboração deste trabalho, partimos da possibilidade do “diferente” fazer parte do mesmo, da heterogeneidade ser constitutiva daquilo que aparentemente é da ordem do homogêneo: as gramáticas normativas. Tomamos por base teórica a Análise de Discurso, destacando as noções de gramatização e gramática, segundo Auroux (1992) e Orlandi (2007), respectivamente; a noção de designação, conforme Guimarães (1995/2005), bem como as noções de normal e anormal, a partir de Canguilhem (2002). Partimos da noção de que gramáticas, conforme Orlandi (2007), são objetos históricos, são instrumentos lingüísticos e constituem um lugar de construção e representação da unidade e da identidade (Língua/Nação/Estado), através do conhecimento, em uma tentativa de salvaguardar a língua. Esse movimento de salvaguardar a língua está ligado ao processo de gramatização, ou seja, sistematizar para transmitir o saber lingüístico. Isso implica em distinguir quem sabe e quem não sabe a língua corretamente. O saber gramatical indica a escolaridade do sujeito e lhe dá o estatuto de falar corretamente porque domina as regras da língua através da sua descrição. Quanto à gramatização, Auroux a define (1992, p. 65) como “o processo que conduz a descrever e a instrumentar uma língua na base de duas tecnologias, que são ainda hoje os pilares de nosso saber lingüístico: a gramática e o dicionário.” Caracterizamos o processo de designação de acordo com Guimarães (1995, p. 74), o qual afirma que “a relação de designação é uma relação instável entre a linguagem e o objeto, pois o cruzamento de discursos não é estável, é ao contrário, exposta à diferença”. Quando se designa, um sentido é instaurado e, como conseqüência, apagam-se outros possíveis sentidos. Para constituir nosso corpus de análise, tomamos como materialidade lingüística o texto que compõe a Introdução da 31ª edição da Gramática Normativa da Língua Portuguesa, de autoria de Rocha Lima. Foram selecionadas seqüências discursivas que apresentam termos e definições que remetem aos sentidos de norma e “diferente”. Em relação à noção de norma, destacamos: a unificação, força coercitiva, disciplinante, conservadora. Para a noção de diversidade e heterogeneidade, “diferente”, destacamos: a diferenciação, força natural, espontânea desagregadora. Os primeiros resultados indicam que, mesmo a gramática sendo normativa, há espaços em que o “diferente” emerge, escapa do controle prescritivo. AS PRÁTICAS DISCURSIVAS EM EMPREENDIMENTOS AUTOGESTIONÁRIOS CONSTITUÍDOS A PARTIR DE MASSA FALIDA: UM ESTUDO NA PERSPECTIVA DA ANÁLISE DO DISCURSO Darlene Arlete Webler (UFRGS) Nossa abordagem enfoca as práticas discursivas de trabalhadores-associados em empreendimentos de produção industrial autogestionária – que se

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instauraram a partir de empresas de gestão capitalistas falidas (massa falida) – para tecer uma reflexão sobre os sentidos que são produzidos na vivência da cooperação, articuladamente a um movimento de práticas sociais e políticas confluentes, contraditórias e até antagônicas. A opção teórica do estudo está alicerçada na perspectiva da Análise do Discurso, de linha francesa, a partir de Michel Pêcheux, caracterizando-se pelo enfoque nos processos de produção de sentido e de suas determinações histórico-sociais, em uma compreensão de que a ideologia é constitutiva desses processos e determinante dos discursos, dos sujeitos e dos sentidos. Destacamos a articulação de noções como a Contradição (categoria marxista-leninista), Condições de Produção (CP), Formação Ideológica (FId) e Formação Discursiva (FD), fundamental para a análise das práticas sociais e discursivas de trabalhadores da autogestão. Tais práticas desnudam um fascinante novo jeito e, ao mesmo tempo, possível de ser encontrado ao longo da história, de organização coletiva de trabalhadores em uma dinâmica adversa à das empresas tradicionais capitalistas. Considerando que esses empreendimentos de autogestão provêm de empresas capitalistas falimentares – cujos processos produtivos e relações de produção são individualistas e competitivos – e que foram assumidas coletivamente pelos trabalhadores, observamos como e em que medida as formas de exploração capitalista são “desarranjadas” e “re-arranjadas” para ter, no cooperativismo autogestionário, uma dinâmica de estabelecimento democrático e transparente no gerenciamento de tarefas e decisões, bem como de critérios de distribuição dos resultados econômicos. Isso nos permite dizer que a autogestão não remete apenas a espaços democráticos de decisão, mas à apropriação do próprio processo e estratégias produtivas e de comercialização por parte dos trabalhadores. A materialidade discursiva, que utilizamos para fins de análise, toma discursos de trabalhadores-associados em empresas de autogestão, de representantes sindicais de trabalhadores e de representantes políticos, obtidos através de entrevistas e de materiais de formação e informação. UMA ABORDAGEM DISCURSIVA DO PREFÁCIO DO LIVRO DIDÁTICO PORTUGUÊS: A CONSTITUIÇÃO DE UM SUJEITO-AUTOR Joceli Cargnelutti (UFSM) A instituição escolar, há muito tempo, tem sido objeto de estudo nas mais diversas áreas e sob diferentes perspectivas. Pesquisas recentes sobre tal instituição têm levado em conta as práticas discursivas dos sujeitos que dela fazem parte. Ao levar em conta os caminhos possíveis para estudar a instituição escolar, constituímos como objeto de estudo o discurso de um livro didático, tomado como um importante instrumento lingüístico utilizado na instituição escolar. Selecionamos o livro didático Português, de Domingos Paschoal Cegalla, publicado na década de 1960 do século XX, no Brasil. A partir dessa materialidade discursiva, livro didático, elegemos o

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elemento prefácio como representativo do discurso para a análise. O prefácio é o caminho de entrada da obra, podendo funcionar como um engrandecimento para o que está sendo exposto ou, sendo apenas, um discurso com o objetivo de vender o produto. Nesse objeto de estudo limitamo-nos a abordar o funcionamento do discurso do sujeito enquanto autor do livro didático e a posição ideológica assumida em relação a um discurso oficial do Conselho Federal de Educação, denominado Instruções do Conselho Federal de Educação, que é apresentado no início do livro. Para tanto, mobilizamos noções de discurso e sujeito, de gesto de leitura e gesto de interpretação da Análise do Discurso de linha francesa, trazendo autores como Pêcheux (1990, 1995) e Orlandi (1996, 1997, 1999). No gesto interpretativo do corpus em questão, percebemos o processo de identificação do sujeito-autor com o discurso oficial do Conselho Federal de Educação. No interior da Formação Discursiva em que os dois discursos se inscrevem são estabelecidas relações de identificação dos sujeitos, ou seja, o sujeito-autor procura tornar claro o que o documento oficial prescreve. Esse sujeito-autor ocupa um lugar de autoridade nesse espaço discursivo por se constituir como alguém que possui uma trajetória junto à instituição escolar. No momento em que esse mesmo sujeito se autoriza a parafrasear o que um documento oficial propõe, já está revestido por uma autoridade constitutiva. Tais reflexões nos permitiram considerar que este espaço, no prefácio, torna-se um lugar do dizer, povoado por diferentes tomadas de posição que se relacionam e que provocam diferentes gestos de interpretação. Este é apenas um gesto de interpretação, pois vários outros são possíveis, porque o espaço da interpretação é marcado pela incompletude. POSIÇÃO-SUJEITO: DISPERSÃO E UNIDADE Scheila Patrícia de Borba Curry (UFSM) O sujeito, na Análise de Discurso Francesa, se constitui pela heterogeneidade discursiva, pela interpelação ideológica que o movimenta da categoria de indivíduo para a posição de sujeito do dizer e do discurso. Nesse sentido, estamos investigando como se constrói, se institui e funciona a posição-sujeito falante da língua e seu “deslizamento” para a posição-sujeito gramático. A posição-sujeito falante, ao movimentar dizeres dispersores de sentido, é silenciado pela unidade trazida com a exatidão da norma. Para tal estudo, delimitamos como corpus de análise a Apresentação da Gramática Normativa da Língua Portuguesa, de Carlos Henrique de Rocha Lima, publicada em 1991. Em nosso recorte, olharemos a seção de Apresentação, que abarca as posições assumidas pelo sujeito produtor do conhecimento gramatical. A partir da relação da posição-sujeito com a materialidade lingüística que (o) fundamenta, acontece sua relação com a língua, com a história, com o simbólico, o que norteia as relações de significação, filiando o sujeito a ‘este’ e não ‘aquele’ sentido (Orlandi, 2003). A partir disso, buscaremos compreender como se constrói discursivamente esse espaço que “desliza” de uma posição para outra, entendido como

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intervalar. Como aporte teórico, nos embasaremos em Pêcheux (1995) e Orlandi (2003), os quais tratam das relações entre sujeito, língua e história. Palavras-chave: gramática, análise de discurso, posição-sujeito O DISCURSO DA OBJETIVIDADE E AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DA MÍDIA QUE FALA DE SI Caciane Souza de Medeiros (UFSM/PPGL) Nesta comunicação, e dentro do grupo de trabalho no qual estamos envolvidos, tratamos de focar nosso olhar para a questão que nos move: a do papel de bem informar que a imprensa brasileira toma para si, no desenrolar de sua história, e sua relação com as normas lingüísticas da objetividade jornalística que permeia os acessos midiáticos de formação profissional, as redações, a produção jornalística noticiosa e, no exemplo que traremos à reflexão, a autopromoção que a imprensa faz de si no espaço publicitário. A partir dos pressupostos teóricos de Michel Pêcheux, devemos considerar as marcas das condições de produção desse discurso, acerca da história da imprensa no Brasil, pensando que os vestígios históricos de constituição e produção sucessiva de informação na mídia, são determinantes para a construção, disseminação (circulação) e manutenção do discurso que se sustenta no papel da imprensa como um regulador social de saberes. Estamos ancorados em um campo teórico que trabalha com a língua ligada, necessariamente, à produção de sentidos e à história, dos sujeitos e do dizer. Estas condições são, portanto, condição (aportando uma redundância voluntária) para pensar a língua em relação à exterioridade e trilhar em uma busca que concebe o discurso em abertura com o simbólico, constituído em uma rede formada por um processo cultural, histórico e político de produção de informação na mídia. A IDENTIDADE DO PROFESSOR DE LÍNGUA INGLESA: UMA HISTÓRIA CONSTRUÍDA POR CONFLITOS Maria Cristina Keller Frutuoso (Unesc/Grupo Identitare) Este trabalho é um recorte de uma pesquisa que descreveu e interpretou o discurso de dois grupos de acadêmicos de Letras da Universidade do Extremo Sul Catarinense-Unesc sobre suas percepções relacionadas com o processo ensino/aprendizagem da Língua Inglesa como uma língua estrangeira. O estudo tentou investigar quais são suas crenças, a origem dessas crenças e como esse sistema de crenças atua no seu entendimento de aprendiz e futuro professor (BARCELOS 2004, 2003, 2001, JOHNSON 1999 e 1994, GIMENEZ 1994, PAJARES 1992). Os dados foram coletados por relatos escritos de histórias pessoais e sociais dos acadêmicos, suas percepções sobre o discurso em panfletos de três escolas particulares de inglês da cidade, e de uma entrevista com questionamentos sobre suas experiências sobre ser um aprendiz de inglês. A análise revela que as crenças são formadas principalmente por histórias vividas e pela prática de seus

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antigos professores de língua inglesa, fato que corrobora resultados de pesquisas prévias. Os discursos foram considerados espaços de subjetividade e mostraram que a identidade do futuro professor de língua inglesa é permeada muito mais por concepções anteriores aos seus estudos acadêmicos. Dessa forma, os resultados indicam que, os discursos dos acadêmicos são complexos e contraditórios e seus posicionamentos como aprendizes não permitem espaços de reflexão sobre suas crenças nem um confronto com suas maiores dificuldades relacionadas ao ensino/aprendizagem de inglês dentro do curso de Letras. RESUMOS DOS PÔSTERES – SESSÃO I Análise da Conversação OS SIGNIFICADOS INTERPESSOAIS NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS Valéria Fontoura Nunes (UNIFRA) Valeria Iensen Bortoluzzi (UNIFRA) Halliday (1985) propõe na Gramática Sistêmico-Funcional que a linguagem seja vista como um sistema sócio-semiótico, ou seja, que seja concebida como um sistema de significação que medeia as atividades da esfera humana. Nesse sentido, Halliday sugere três metafunções: ideacional, interpessoal e textual. Na pesquisa realizada, o enfoque recai sobre a metafunção interpessoal e o principal objetivo traçado foi analisar como a modalidade ajuda a identificar as relações interpessoais nas histórias em quadrinhos da Turma da Mônica. Os objetivos específicos eram verificar quais os personagens que mais realizam e sofrem as ações do discurso nos quadrinhos; investigar a modalidade nas historinhas a partir da linguagem; pesquisar como a modalidade está inserida nas relações sociais e elaborar atividades com histórias em quadrinhos para o Ensino Fundamental e, desse modo, trabalhar a leitura crítica dos alunos em relação à identidade de cada personagem. Os resultados obtidos demonstram, por meio da modalidade, que os principais personagens da Turma da Mônica se relacionam com grande afinidade e amizade. Além disso, os recursos de modalidade empregados nos quadrinhos mostram a diversidade de estratégias dos personagens para marcar suas intenções. A CONSTITUIÇÃO DO GÊNERO DISCURSIVO PREGAÇÃO NO ÂMBITO DO DISCURSO EVANGÉLICO Antônio Paulo Mércio de Oliveira (UFG) A presente comunicação se propõe a descrever o gênero discursivo “pregação” no âmbito do discurso evangélico, bem como seu impacto social, focalizando, entre outras, suas formações discursivas (Foucault, 2007). Por

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“pregação” entenda-se o momento em que o pastor ou o preletor convidado recebem a oportunidade, dentro do culto evangélico, para expor e explicar a Bíblia, livro autoritativo na esfera religiosa evangélica. Pregar é interpretar a vida hoje, à luz das Escrituras Sagradas, de modo que as necessidades do ouvinte sejam satisfeitas e que o mesmo seja orientado na realização da vontade de Deus amanhã (Elwell, 1998). A abordagem teórica proposta serve-se de postulados da Análise do Discurso Crítica, sobretudo como os encontramos nos trabalhos de Norman Fairclough (1999; 2001; 2003), que concebem a linguagem como forma de prática social; e serve-se também dos conceitos tanto de gêneros do discurso como de dialogia (Bakhtin 2000; 2006); e se baseia ainda nos trabalhos de Bourdieu (2002; 2004). IDENTIDADES DISCURSIVAS QUE O RECLAMANTE (CONSUMIDOR) ASSUME EM AUDIÊNCIAS DE CONCILIAÇÃO REALIZADAS NO PROCON Thenner Freitas da Cunha (Universidade Federal de Juiz de fora) Carolina Peixoto Barros (Universidade Federal de Juiz de fora) O presente trabalho tem como objetivo analisar as identidades discursivas do reclamante, Lucas, a partir da leitura do texto de Zimmerman Identity, context and Interaction. Zimmerman trata a identidade como um elemento do contexto da fala-em-interação e discute diferentes tipos de identidades, a saber: identidades discursivas, identidades situadas e identidades transportáveis. Em nossa análise, focalizaremos as diversas identidades discursivas que o reclamante assume enquanto se engaja no momento-a-momento da interação, através de atividades seqüencialmente organizadas. De acordo com Zimmerman, ao iniciar uma ação, uma das partes da interação assume uma identidade específica e projeta uma identidade recíproca para a outra parte. Assim, cada interagente pode assumir diferentes identidades no curso da interação, orientando os participantes para o tipo de atividade implícita e para os seus respectivos papéis dentro dela. As identidades discursivas, ainda de acordo com o autor, fornecem o foco para o tipo de atividade discursiva projetada e reconhecida pelos participantes. O corpus analisado corresponde a uma audiência de conciliação realizada no PROCON de uma cidade de Minas Gerais. Os dados foram gravados em áudio e transcritos de acordo com a simbologia da Análise da Conversa Etnometodológica. Participam da acareação o reclamante (consumidor, Lucas), o reclamado (Rui) e duas mediadoras (Ana, mediadora 1 e Bruna, mediadora 2). O problema que originou a audiência foi a insatisfação do consumidor Lucas (reclamante) com os serviços prestados pela instituição financeira “Banco Sul”. O consumidor alega que foi obrigado a adquirir um seguro contra a sua vontade, ao fazer um pedido de empréstimo no Banco.

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Análise do Discurso A REGULAÇÃO DOS DISCURSOS SOBRE LETRAMENTO NO ORKUT Patrícia Camini (UFRGS) O objetivo deste trabalho é examinar um recorte das produções discursivas sobre letramento no espaço virtual do Orkut. Ele se inscreve no âmbito das discussões que procuram estabelecer relações entre poder e produção de significados para as práticas docentes na alfabetização. À luz dos estudos de Michel Foucault sobre a análise do discurso, são analisadas algumas regularidades discursivas presentes nos comentários dos professores, em que centralmente se opera, para esse fim, com os conceitos de discurso, enunciado, comentário, saber e poder. Mais especificamente, os enunciados que interessam ao presente trabalho são os que se relacionam ao letramento, de forma que pretende-se analisar as condições de possibilidade de emergência dos discursos sobre letramento no Orkut e as estratégias que os fazem funcionar. Para tal fim, o trabalho está organizado em quatro partes. Na primeira, situa-se a pertinência do estudo, seus objetivos e filiação teórica. Na segunda, destacam-se alguns aspectos em tópicos do Orkut que se dispunham a discutir sobre letramento, expondo as estratégias discursivas colocadas em funcionamento pelos professores, membros do site, que tentam regular o que é verdadeiro ou não sobre o assunto em foco. É mostrado, ainda, que o discurso do letramento é bastante circulante entre os professores, e analisam-se os discursos que pretendem ampliar o sentido de letramento para outras práticas, que não apenas as que envolvem a leitura e a escrita. Na terceira parte do trabalho, são abordados os sentidos atribuídos pelos professores às relações entre alfabetização e letramento. Por último, o trabalho é finalizado com algumas reflexões acerca da regulação da produção discursiva no Orkut sobre letramento. Nesse empreendimento, a pesquisa destacou que há uma competição entre dois discursos por regular as relações entre letramento e alfabetização e dizer “a verdade” sobre o letramento. Além disso, há dois entendimentos acerca da relação entre as ações de alfabetizar e letrar: o primeiro postula que se pode ser letrado sem ser alfabetizado, ao passo que o segundo localiza o letramento como uma condição decorrente da alfabetização. Ficou visível, também, o discurso de que alfabetização e letramento são processos de naturezas diferentes, mas que se complementam. O ABORTO NA FOLHA UNIVERSAL: CAMINHOS E EFEITOS DE UM DISCURSO RELIGIOSO Bruno de Matos Reis (UFF) O discurso religioso cristão, confundindo-se e aliando-se a outros, tem há muito tempo permeado diferentes áreas da cultura ocidental. Considerando esse fato, meu objetivo é verificar os caminhos de produção e os efeitos de

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sentido produzidos por cinco reportagens retiradas das edições de número 838 e 783 de um conhecido periódico de cunho religioso, a Folha Universal. Para isso, sirvo-me do aparato teórico da Análise do Discurso de linha francesa, segundo Pêcheux (AD), e faço a análise de um corpus que tem como tema a questão do aborto no Brasil. Num exame que leva em conta aspectos ideológicos, observo no material analisado a predominância de um discurso que questiona a criminalização do aborto através da produção de efeito de evidência, corroborado por um sujeito que aparenta abandonar questões morais ou religiosas e incluir-se numa formação discursiva em que a imagem da criminalização do aborto dá-se tão-somente por seus aspectos sócio-políticos. Esse aparente afastamento ocorre, porém, sem que se percam – no material analisado – fortes marcas do discurso religioso. Nesse sentido, verifico que o discurso presente em meu corpus de análise encontra força principalmente no distanciamento de uma formação discursiva que – quando não combinada e apoiada na ilusória imparcialidade da crítica laica – tem pouca abertura na sociedade. Assim, levando em conta a abrangência e o reconhecimento do periódico em território nacional, considero que o discurso religioso no material de análise, mesclado e permeado por outros sentidos, acaba por ver potencializado o seu poder catequizador, uma vez que se afeiçoa a diferentes identidades ideológicas. “MAS É IMPORTANTE QUANDO PRECISO FAZER RELATÓRIOS”: UMA DISCUSSÃO ACERCA DO ATO DE ESCREVER NOS CURSOS DE LICENCIATURA Camila Thaisa Alves (FURB) Esta investigação pertence à linha de pesquisa Discurso e Práticas Educativas do Programa de Pós-Graduação/Mestrado em Educação da Universidade Regional de Blumenau (FURB). Realizada nos cursos de licenciatura de uma instituição de ensino superior de Santa Catarina, Brasil, esta pesquisa é motivada pela falta do ato de escrever nessa modalidade de graduação. Essa falta é apontada por pesquisas realizadas anteriormente. Nesse sentido, intenciona-se: (a) compreender os sentidos de escrever na academia, especificamente no espaço das licenciaturas; (b) evocar os sentidos de escrever no espaço da universidade; e (c) contribuir para a reflexão sobre o ato de escrever nas licenciaturas. A pesquisa está ligada ao paradigma qualitativo de investigação e tem como sujeitos quatro acadêmicos que, na época da coleta de dados, estavam concluindo o segundo semestre de um curso de licenciatura. Fez-se a seleção desses sujeitos por terem cursado as disciplinas Produção de Texto I e II. Cursando essas disciplinas, os sujeitos tiveram contato com a escrita na academia, já que as ementas dessas disciplinas mencionam a produção de diversos gêneros discursivos típicos da academia, como a resenha, o resumo, o artigo científico. A geração de registros deu-se através de textos escritos pelos sujeitos. Esses textos foram produzidos através de um comando proposto aos sujeitos pela pesquisadora. Os dados foram analisados na perspectiva da

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análise do discurso de orientação francesa. Os dizeres dos sujeitos nos levam na direção da escrita como expressão de idéias e como ferramenta para a produção de trabalhos acadêmicos. Após a análise dos dados, pôde-se perceber que a escrita não é privilegiada pelos acadêmicos de licenciatura, assumindo, na perspectiva dos sujeitos, papel coadjuvante naquele espaço acadêmico. A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO A PARTIR DE UM LUGAR INTERVALAR Caroline Mallmann Schneiders (UFSM) Propõe-se analisar, no presente trabalho, como o sujeito, sob uma perspectiva discursiva, subjetiva-se no interior das proposições sobre a língua em obras sobre o estudo da língua portuguesa no/do Brasil. No caso, estaremos trabalhando com a obra Introdução ao estudo da Língua Portuguesa no Brasil (1ª edição, 1951), de Serafim da Silva Neto. É preciso ter em vista que a materialidade discursiva tomada como corpus de análise está sob o olhar do filólogo, sendo esta a ideologia que predomina nos estudos da linguagem nesse determinado contexto sócio-histórico. Mas também é necessário considerar que é nesse período que a Lingüística Moderna se expande no Brasil, ganhando força perante os estudos da linguagem, ou seja, esse período é caracterizado por uma transição de saberes, que vai do filólogo para o lingüista. Diante disso, procuramos explicitar o processo da constituição do sujeito no discurso científico em voga na década de 50, atentando, em especial, para duas posições-sujeito que perpassam os estudos da linguagem desse período: a posição-sujeito do filólogo e a posição-sujeito do lingüista. Nosso estudo se orienta pelos pressupostos teóricos da Análise do Discurso derivada dos trabalhos de Pêcheux, buscando inserir-se na História das Idéias Lingüísticas, ancorada na equipe da lingüista Eni Orlandi. A RELAÇÃO DO ALUNO DE LETRAS DO ENSINO A DISTÂNCIA COM O DICIONÁRIO DIGITALIZADO Elisabeth Silveira Gonçalves (UFSM) O presente trabalho tem como objetivo apresentar os resultados parciais da nossa pesquisa sobre a utilização e o funcionamento de dicionários digitalizados em turmas do Curso de Letras do Ensino à Distância. Temos como propósito contribuir com dados para uma reflexão crítica sobre o ensino de Língua Portuguesa e a utilização do dicionário nessa nova realidade virtual. Junto com a criação de novas tecnologias, principalmente a Internet, surgem inúmeras outras transformações. Podemos citar como exemplo, o aparecimento de um novo sujeito e, conseqüentemente, novas formas de relações sociais e novas formas de adquirir cultura. Essa mutação da sociedade/sujeito acaba criando novos paradigmas como, por exemplo, a Educação à Distância (EAD), que é uma forma de ensino superior, posta em

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prática recentemente, diferente do modelo tradicional, esta alia a alta tecnologia ao conhecimento. Isso nos leva a questionar a presença/ausência do dicionário nas horas de estudo desses alunos virtuais. Há um funcionamento diferenciado; mas, nesse caso, o dicionário continua sendo tido como detentor do saber sobre a língua? É ainda um lugar de interdito da dúvida? Interessamo-nos, de fato, na observação da relação que o sujeito graduando do EAD tem com o dicionário digitalizado, ambos construindo uma nova visão de mundo; são novas as relações entre linguagem e sociedade, entre língua e sujeito, entre discurso e produção de sentidos. O dicionário precisa ser tomado como uma materialidade muito mais do que lingüística e instrumental: trata-se de uma materialidade discursiva, em que observamos as formas de nomear e de designar as coisas do nosso mundo, os possíveis funcionamentos desse ou daquele sentido. Sendo o dicionário um instrumento que estabelece e apaga sentidos sobre a língua e, conseqüentemente, sobre o mundo dos falantes; e a produção do sentido, um processo que se realiza na prática do discurso, na língua em funcionamento, nossa perspectiva teórico-metodológica segue os pressupostos da Análise de Discurso (AD) em articulação com a História das Idéias Lingüísticas (HIL). A Análise de Discurso a que nos filiamos é de linha francesa, tal como foi concebida por Michel Pêcheux e como vem sendo desenvolvida no Brasil nas últimas décadas, em que inúmeras pesquisas a vinculam à História das Idéias Lingüísticas, a partir dos trabalhos de Sylvain Aroux. A CONSTRUÇÃO DO IDEAL DE CORPO NOS MAGAZINES FEMININOS TELEVISIVOS. Ísis Laroque Cornelli (UCS) Nicolas de Araújo (UCS) Lucas Lizot (UCS) César ViniciusRibeiro Massing (UCS) Aline Broetto (UCS) Franciele do Nascimento Ghiggi (UCS) Este trabalho apresenta resultados parciais da pesquisa “Corpo na TV: estratégias verbais e não-verbais de representação de gênero no discurso dos magazines femininos televisivos”, que está sendo desenvolvida pelos Departamentos de Letras e Comunicação da Universidade de Caxias do Sul, com auxílio do CNPq. O objetivo da investigação é analisar as estratégias discursivas que possibilitam os sistemas de trocas e de produção de sentidos que constroem identidades e representações do gênero feminino nos programas de televisão destinados a esse público. Para isso, foram selecionados dois quadros de programação matinal: um do programa Bem Família, da Rede Bandeirantes, e outro do Mais Você, da Rede Globo. A análise realizada revela que há um conjunto de estratégias verbais e não-verbais sendo utilizadas nesses programas, sugerindo um ideal de corpo feminino, corroborando as exigências das práticas sociais contemporâneas.

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A CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE DE PROFESSORES RECÉM-FORMADOS Liza Buttchevitz (FURB) A pesquisa, em fase inicial, pretende investigar como os alunos, egressos de um curso de Letras de uma universidade do estado de Santa Catarina, se constituíram professores durante sua graduação. O objetivo do presente trabalho é, também, compreender a concepção que esses sujeitos têm acerca da gramática, da língua e da linguagem. Embora todos os sujeitos estivessem inseridos em um mesmo curso, com a mesma grade curricular, cada um trouxe as suas singularidades. Portanto, ao dar a voz aos professores recém-formados, em seu ciclo inicial no trabalho do magistério, poder-se-á compreender a constituição de sua identidade e o papel que a universidade, enquanto agência formadora, exerce sobre seus discentes. O viés teórico-metodológico é o do círculo de Bakhtin que possibilita analisar a linguagem e o contexto social. Para a compreensão dos espaços educacionais, foram selecionados Tardif e Nóvoa. ALEMÃO EM SANTA CATARINA: UM OLHAR DISCURSIVO SOBRE OS NÃO-FALANTES DESSA LÍNGUA Scheila Maas (FURB) Este trabalho é parte de uma pesquisa que está sendo realizada no Mestrado em Educação da FURB – Universidade Regional de Blumenau – na Linha Discurso e Práticas Educativas e tem como objetivo compreender o discurso de alunos não-falantes de alemão acerca da obrigatoriedade do ensino dessa língua no currículo escolar de uma cidade de contexto bilíngüe no Vale do Itajaí - SC. Essa pesquisa é de cunho qualitativo e está filiada à Análise do Discurso da linha francesa e justifica-se porque não se encontraram trabalhos desenvolvidos em contexto bilíngüe que levem em consideração os dizeres de sujeitos não-falantes de alemão. O Vale do Itajaí é uma região, em Santa Catarina, que foi colonizada por imigrantes, em sua maioria, alemães e italianos. Existem cidades nessa região ainda muito preocupadas com a preservação da cultura alemã. Levando em consideração que a entrada de pessoas de outras localidades é crescente, compreende-se a preocupação de discutir o sentido do ensino da Língua Alemã para alunos que não são usuários dela. Um dos municípios do Vale instituiu, em 2005, a partir de Lei Municipal, que inclusive os alunos do 1º. ano do Ensino Fundamental passariam a ter aulas de alemão obrigatórias. A Proposta Curricular desse município justifica o ensino obrigatório de diversas maneiras, entre elas, como preparação para o mercado de trabalho exigente, tendo em vista as multinacionais alemãs que ali se instalaram, a ampliação dos conhecimentos de usuários da Língua Alemã como língua materna. Dentre as justificativas, a que mais chama atenção é a que considera a aprendizagem da Língua Alemã como forma de acesso à cultura, integração e participação social permitindo ao indivíduo que desenvolva e exerça plenamente sua cidadania

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e inclusão na sociedade. Os sujeitos da pesquisa serão alunos do 9º. ano do Ensino Fundamental, por já terem um considerável percurso com a aprendizagem do alemão em sala de aula. A coleta de dados será feita através de entrevistas com esses alunos. Os discursos dos sujeitos serão analisados a fim de que se percebam os sentidos de estudar alemão aos não-falantes da língua inseridos em contexto bilíngüe. Enunciação MARCAS HESITATIVAS E SUA RELAÇÃO COM O ENUNCIADO: ANÁLISE DE ENUNCIADOS FALADOS DE SUJEITOS COM DOENÇA DE PARKINSON Roberta Vieira (UNESP, São José do Rio Preto) Considerando as freqüentes hesitações nos enunciados falados de sujeitos com doença de Parkinson, entendidas pela literatura biomédica como decorrentes de problemas motores relacionados à doença, nossa proposta foi investigar momentos de hesitação de um sujeito parkinsoniano. Extraímos dados de uma sessão de conversação entre esse sujeito e um documentador e selecionamos 49 marcas hesitativas (H), que nos chamaram a atenção por apresentarem uma relação fonético-fonológica fortemente marcada com os trechos que (A) as antecediam e (B) as sucediam. Um primeiro tipo de relação, que chamamos (H/B), foi detectado em 12 enunciados, sendo que, em 7, conseguimos recuperar, além da relação fonético-fonológica, uma relação semântica fortemente marcada entre H e B. Encontramos 31 enunciados com um segundo tipo de relação (A/H/B), sendo que, em 14, observamos uma relação semântica entre a marca e os trechos que a circundavam. Restaram, portanto, 6 enunciados, que continham um funcionamento peculiar. Tratava-se de uma relação entre a marca hesitativa e o trecho que chamamos A’, presente não mais no enunciado do sujeito, mas ou (a) no enunciado de seu interlocutor, ou, ainda, (b) num fato característico das condições de produção do discurso do sujeito, a saber, sua relação com a doença. Dentre esses 6 enunciados, 3 apresentavam relação entre o enunciado do interlocutor, a marca hesitativa e o trecho que a sucedia (relação A’/H/B), dos quais apenas em um recuperamos uma relação semântica marcada entre tais trechos. Os outros 3 enunciados apresentavam relação semântica fortemente marcada apenas entre A’ e H. Para este sujeito, os dados encontrados apontam para o fato de as hesitações, muito mais do que resultantes de dificuldades motoras causadas pela doença, mostrarem-se como momentos de deslizamentos no dizer, nos quais conflitos e tensões envolvendo vários planos da linguagem (como o fonético-fonológico, o semântico, o enunciativo e o discursivo), relacionados com o discurso que atravessa e constitui o sujeito, são escancarados. As marcas hesitativas conteriam, portanto, pistas de conflitos que constituem o sujeito e que foram, de alguma forma, reprimidos. Os resultados a que chegamos com esse sujeito suscitam a curiosidade de verificarmos, numa análise comparativa

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entre mais sujeitos parkinsonianos e sujeitos sem lesão neurológica, em que medida os dados obtidos remetem a fatos que a doença mobilizaria nos sujeitos, ou a fatos que são característicos da própria subjetividade (e não decorrentes apenas da condição de parkinsoniano, como se verifica na literatura biomédica). “O QUE SIGNIFICA SER MELHOR?”: COTAS RACIAIS EM ARTIGOS DE OPINIÃO SOB UMA PERSPECTIVA ENUNCIATIVA DA LINGUAGEM Gabriela Barboza (UFSM) A aprovação das cotas raciais nas universidades públicas tem gerado inúmeras polêmicas em todos os âmbitos da sociedade. Dívida histórica e social? Racismo? Democracia racial brasileira? A partir da criação desse espaço de conflitos ideológicos, propomo-nos a desenvolver um estudo acerca das representações lingüísticas que a enunciação oferece do sujeito aprovado no concurso vestibular por meio de cotas. Para isso, teremos como alicerce fundamental a teoria enunciativa de Émile Benveniste, principalmente em seus postulados sobre os indicadores de subjetividade na linguagem, ou dêiticos. Entendemos que a noção de dêixis é fundamental para os estudos enunciativos. A categoria contém elementos, que são, muito mais que outros signos, próprios do ato de dizer, no entendimento de que a sua existência e os seus sentidos são promovidos a partir de uma referência ao contexto discursivo em que se apresentam. Ao tomar essas formas da língua, o sujeito dá-lhes vida, conquistando, simultaneamente, a possibilidade de interação com o outro e a sua assunção enquanto sujeito, uma vez que ele próprio testemunha sua existência ao proferir EU para um TU. Partindo do pressuposto que a enunciação é o lugar de instauração do sujeito, procuraremos identificar como a marcação da subjetividade se manifesta em artigos de opinião, de autoria de Juremir Machado da Silva, divulgados na mídia impressa, especificamente no jornal Correio do Povo no período de janeiro a fevereiro de 2008, bem como investigar de que efeitos de sentido a presença dessa categoria é diretamente responsável no discurso. Buscaremos verificar, a partir dos resultados, para que sentido as representações lingüísticas apontam: para a reafirmação da discriminação racial ou se para moldes que subvertam os paradigmas atuais. A escolha pelo título “O que significa ser melhor” deve-se ao fato de ser esse o título de uma das crônicas a que nos dispusemos a analisar. Este trabalho faz parte do projeto de pesquisa de iniciação científica intitulado A enunciação da subjetividade: dêixis e interação, que integra a linha de pesquisa Linguagem como prática social da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

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ESPECIFICAÇÕES DO DIZER MARCADAS POR HESITAÇÕES EM UM SUJEITO PARKINSONIANO E EM UM SUJEITO SEM LESÃO NEUROLÓGICA Lourenço Chacon (UNESP - Marília e São José do Rio Preto/CNPq) Partindo da concepção de que as hesitações marcariam momentos de tensão entre elementos concorrentes do dizer, observamos, neste estudo-piloto, momentos hesitativos que envolviam especificações de sentido na atividade enunciativo-discursiva de um sujeito com doença de Parkinson e de um sujeito sem lesão neurológica – com características sociolingüísticas comuns, como faixa etária, escolaridade e atividade profissional. Nosso objetivo foi verificar em que medida a condição patológica do sujeito parkinsoniano o distanciaria do sujeito sem lesão neurológica, no que diz respeito a especificarem sentidos de seu dizer. Foram identificados todos os momentos hesitativos que corresponderam ao nosso objetivo, presentes em duas sessões de conversação (em torno de 40 minutos de duração, cada): uma, entre um documentador e um sujeito parkinsoniano; outra, entre o mesmo documentador e um sujeito sem lesão neurológica. Esses momentos hesitativos introduziram, em ambos os sujeitos, expressões especificadoras de lugares, de pessoas, de atividades e de quantidades. No sujeito sem lesão neurológica, as hesitações antecederam, ainda, momentos de especificação de foco, de causa/efeito, de tradução de sentidos e de confirmação de informações. Nossos resultados, embora circunscritos ao recorte metodológico da investigação, permitem as seguintes considerações: (1) no sujeito parkinsoniano e na sessão de conversação em análise, são mais restritas as noções semânticas envolvidas nos momentos de hesitação; (2) no entanto, pelo menos no grau de doença em que se encontra o sujeito, esta restrição não parece, ainda, ter afetado sua capacidade geral de controle da deriva do dizer (possibilidade sempre marcada nos momentos de hesitação em qualquer condição discursiva – patológica ou não), na medida em que as marcas hesitativas que emergiram não apenas em seus enunciados, mas também naqueles produzidos pelo sujeito sem lesão neurológica, funcionaram como momentos em que foi contida uma abertura do dizer que provocasse deslocamento da direção de sentido; (3) estudos com mais sessões de comparação entre esses dois sujeitos (e entre mais sujeitos de ambas as condições) devem ser realizados, para se verificar em que medida essas semelhanças e diferenças se mantêm ou são deslocadas; (4) embora se trate de um estudo-piloto, seus resultados levantam indícios de que, longe de se serem apenas efeito de dificuldades motoras características da doença de Parkinson, como as vê a literatura biomédica, as hesitações em enunciados falados de sujeitos parkinsonianos apontam, também, para processos complexos da linguagem que esses sujeitos ainda preservam (em maior ou menor condição), mesmo com as dificuldades que a doença lhes impõe.

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UMA ANÁLISE BAKHTINIANA EM ‘Ó, PAÍ, Ó: O SIGNO NEGRO’ Sabrine Amaral Martins (UCPEL) Segundo dados do IBGE, 6,3 % da população se autodeclaram pretos e 43,2% pardos, totalizando 80 milhões de brasileiros. Quando se analisa sob o viés dos estudos genéticos, percebe-se que 86% das pessoas possuem algum grau de ascendência africana. Embora estes sejam números bastante expressivos, o país ainda apresenta um quadro de preconceito racial na sociedade. Um dos meios de consagrar ou excluir determinadas ideologias como essa é o cinema. No filme Ó, Paí, Ó, de Monique Gardenberg, ao suscitar determinados signos, a personagem Boca, interpretada por Wagner Moura, expõe seu preconceito em relação à personagem negra Roque, de Lázaro Ramos. Em ambos os contextos, diversos signos são proferidos com efeito de sentido pejorativo; todavia, o signo negro, emitido por ambas as personagens, ganhou atenção devido às diferenças temáticas nas diversas enunciações. Por isso, tornou-se foco da análise que se segue. Para tal, será utilizada a teoria de Mikhail Bakhtin, já que, para este autor, a palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial (Bakhtin, 1929, p.95), portanto, expressa um acento de valor. Ressalta-se ainda que essa mesma palavra é tanto social como histórica (Faraco, 2003, p.47), bem como é totalmente determinada por seu contexto (Bakhtin, 1929, p.106). Sendo assim, o presente trabalho tem por objetivo analisar o percurso do signo negro e suas possíveis interfaces nas falas das duas personagens – Boca e Roque – em duas cenas do filme Ó, Pai, Ó, considerando a circulação temática que pode ser assumida por tal signo e pelas interfaces em cada etapa enunciativa. Da mesma maneira, ainda os efeitos de sentido adquiridos mediante o contexto, bem como pela contribuição dos signos “negro”, “cão”, dentre outros, para a formação da ideologia discriminatória do racismo. Por último, visa-se compreender como os diferentes signos, através do acento de valor, acentuam os preconceitos raciais nas cenas do filme. Por conseguinte, este trabalho justifica-se pelas reflexões que podem ser relevantes para entender os conflitos históricos brasileiros e suas conseqüências para a sociedade contemporânea. OPERADORES ARGUMENTATIVOS: INDÍCIOS DE POLIFONIA EM ENTREVISTAS DA REVISTA CULT Vanessa Raini de Santana (UNIOESTE, Cascavel) Aparecida Feola Sella (UNIOESTE, Cascavel) Ao se elaborar determinado enunciado, há sempre a preocupação com o sentido que o interlocutor desse enunciado pode lhe atribuir. É possível, então, que pontos de vista, oriundos de instâncias discursivas socialmente estabelecidas, possam figurar na constituição dos enunciados, conforme propõe Ducrot (1987). Essas vozes podem indicar conclusões das quais o locutor e mesmo o interlocutor se apropriam para a constituição de embalos argumentativos. Isso pode se dar a partir da utilização de elementos que

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refletem o fenômeno da polifonia. É o caso, por exemplo, da utilização de determinados operadores argumentativos que podem apresentar perspectivas diferentes sobre certo assunto (como pode ocorrer no caso da utilização do operador mas), ou retificação do que se disse (com o uso do aliás, por exemplo), etc. A partir dessa possibilidade de se encontrar polifonia em enunciados que apresentam operadores argumentativos em seu interior, essa proposta de trabalho é desenvolvida visando a identificar esses possíveis enunciados em textos oral-dialogados, transformados posteriormente em entrevistas, e veiculados, impressos, na Revista Cult. Com o presente trabalho, pretende-se realizar uma breve exploração de projeto de Iniciação Científica a ser desenvolvido. Aquisição interacionismo O DESVIO FONOLÓGICO E SUAS IMPLICAÇÕES NA CLÍNICA FONOAUDIOLÓGICA: UM ESTUDO DE CASO Christiane de Bastos Delfrate (UFPR) O desvio fonológico é uma das patologias da linguagem mais presentes na fala da criança em período de aquisição de linguagem. O objetivo deste trabalho é analisar o processo terapêutico de uma criança diagnosticada como tendo alteração fonológica sob o posto de observação de uma teoria interacionista. Os dados dessa pesquisa foram coletados em sessões de atendimento fonoaudiológico de uma criança com desvio fonológico. O sujeito aqui estudado, no momento da pesquisa, estava com cinco anos de idade, sendo que apresenta queixa familiar de alterações na oralidade desde que iniciou sua linguagem. O paciente está em atendimento fonoaudiológico com a investigadora/terapeuta desta pesquisa há 18 meses. O corpus deste trabalho foi obtido por meio de transcrições, realizadas após gravações de parte das sessões de atendimento. A análise foi feita com dados de enunciados dialógicos desta criança de forma exploratória, através das transcrições das sessões terapêuticas. Para isso, a pesquisa teve como posto de observação uma linguística interacionista, em que se privilegiou os momentos de interação e dialogia para a coleta de dados. Percebeu-se que após os dezoito meses de tratamento fonoaudiológico, as mudanças ocorridas na relação da criança com sua linguagem e com a linguagem do outro lhe permitiram adquirir novos processos fonológicos, modificando a inteligibilidade de seus enunciados. Na concepção em que baseamos nosso trabalho, ultrapassa-se a fala da criança para investigar a natureza da relação de um falante com a língua. A heterogeneidade é a marca do sujeito no processo de aquisição da criança, tomado aqui como singular. Assim, não é possível supor a aquisição da linguagem ordenada em componentes: por exemplo, que o léxico preceda a aquisição da fonologia e da sintaxe. O sujeito, assim, modifica sua posição nessa estrutura (da língua). Posições

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essas em que o sujeito movimenta-se com relação à fala do outro, à língua e à própria fala. Aquisição LE Bilingüismo A AQUISIÇÃO DA PASSIVA NO PORTUGUÊS POR CRIANÇAS EM CONTEXTO DE EDUCAÇÃO BILÍNGÜE Luciana de Souza Brentano (UFRGS) Ingrid Finger (UFRGS) Vários estudos têm evidenciado que o bilingüismo na infância leva ao um desenvolvimento precoce de certos processos cognitivos, lingüísticos e metalingüísticos em comparação com crianças monolíngües (Bialystok, 2001, 2005, 2006, entre outros). Tem sido também constatado que tais vantagens são evidentes quando se trata de crianças com proficiência avançada nas duas línguas em questão. Nesse contexto, o presente trabalho teve como objetivo investigar se um grupo de crianças brasileiras, que estão inseridas num contexto de escolarização bilíngüe e são expostas a um total de apenas 10h semanais de contato com a língua inglesa, também demonstram possuir vantagens em termos de consciência lingüística em comparação com crianças monolíngües. Para tanto, foi analisado o desempenho dos participantes numa tarefa envolvendo compreensão e produção de construções ativas e passivas em português. O instrumento utilizado foi desenhado por Gabriel (2005); nele as crianças assistem a um vídeo contendo 12 cenas em que vários personagens animais e humanos realizam seis ações simples (um evento) e seis complexas (2 eventos). Os resultados preliminares indicam que os benefícios lingüísticos atestados para crianças bilíngües de proficiência avançada também parecem ocorrer no caso das crianças investigadas no estudo, que demonstraram ter maior consciência das estruturas passivas do que as crianças monolíngües que fizeram parte do grupo de controle. Aquisição LE Fonologia A AQUISIÇÃO DA FONOLOGIA DA LÍNGUA INGLESA (L2) Débora do Couto Pereira (Unipampa – Bagé) Débora Mariana Lopes (Unipampa – Bagé) Luciano Peres (Unipampa – Bagé) Valter Nei Feijó Bierhauls (Unipampa – Bagé) Cristiane Lazzaroto Volcão (Unipampa – Bagé) O estudo e a análise da aquisição fonológica por parte de aprendizes do Inglês (L2) têm fundamentado a prática do professor de língua estrangeira, especialmente aqueles realizados com base em modelos teóricos. Esse tipo

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de abordagem possibilita analisar de modo mais acurado o funcionamento das línguas envolvidas (L1 e L2), bem como entender o processo de aquisição da língua estrangeira, a partir de unidades menores que os próprios fonemas, ou seja, os traços distintivos. Diante disso, este trabalho tem como objetivo analisar o processo de aquisição da fonologia do Inglês por um aprendiz falante nativo de português brasileiro, que está cursando o terceiro semestre de um curso de Licenciatura em Letras. Os dados foram obtidos a partir de gravações realizadas durante um programa de rádio fictício. Esta atividade foi proposta para a disciplina de Inglês III, e a análise do processo de aquisição, para a disciplina de Fonologia do Português, através de um trabalho transdisciplinar. A análise dos dados se deu a partir do Modelo de Traços de Chomsky e Halle (1968) e mostrou que, no atual estágio de interlíngua, o sujeito desta pesquisa já adquiriu alguns traços ausentes na fonologia de sua língua materna, enquanto que outros ainda não emergiram em sua produção fonética. A partir disso, foi possível uma melhor compreensão do funcionamento das fonologias de ambas as línguas. Além disso, ao conhecer o estágio de interfonologia em que se encontra um aluno, o professor pode pensar em estratégias de instrução explícita que possam favorecer ou, talvez, acelerar o processo de aquisição da fonologia da língua-alvo. O USO DE PISTAS VISUAIS NA IDENTIFICAÇÃO DAS CONSOANTES NASAIS INGLESAS EM POSIÇÃO FINAL DE SÍLABAS POR FALANTES DE PORTUGUÊS BRASILEIRO Denise Cristina Kluge (UFSC/CAPES) Mara Silvia Reis (UFSC/CAPES) A produção das nasais bilabial e alveolar em posição final de sílaba (coda) difere entre o português brasileiro (PB) e o inglês — enquanto em inglês elas são visual e auditivamente distintas, em PB elas não são completamente pronunciadas. Este estudo objetiva investigar se aprendizes brasileiros de inglês utilizam informações fonéticas contidas em pistas visuais quando identificam as consoantes nasais /m/ e /n/ do inglês em posição de coda. Os dados foram coletados com dez alunos de nível intermediário do curso extracurricular de inglês da Universidade Federal de Santa Catarina. A percepção foi aferida através de um Teste de Identificação no qual as consoantes nasais foram apresentadas em posição de coda em três condições diferentes: (a) apenas áudio, os participantes somente ouvem palavras e são solicitados a identificar qual nasal está sendo produzida; (b) apenas vídeo, os participantes somente vêem a articulação de palavras enquanto devem identificar qual nasal está sendo produzida, e (c) áudio e vídeo, os participantes vêem e ouvem a produção de palavras com as nasais em coda e são solicitados a identificar qual nasal está sendo produzida. Quanto ao contexto fonológico, as vogais anteriores alta, média e baixa foram consideradas variáveis na identificação das nasais alvo em coda. Foi previsto que a combinação de pistas acústicas e visuais favoreceria a identificação

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das nasais inglesas em posição final de sílaba. Os resultados corroboraram essa hipótese, demonstrando que os participantes tiveram um melhor desempenho nas condições vídeo e áudio e apenas vídeo do que na condição apenas áudio. Em relação ao contexto fonológico, os resultados indicaram que a vogal anterior baixa parece favorecer a identificação das nasais /m/ e /n/ em posição final de sílaba, enquanto a vogal alta parece desfavorecer tal identificação. AVALIAÇÃO DA CORRELAÇÃO ENTRE PERCEPÇÃO E PRODUÇÃO DOS FONEMAS INTERDENTAIS INGLESES POR APRENDIZES BRASILEIROS DE INGLÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA Mara Silvia Reis (UFSC/CAPES) Denise Cristina Kluge (UFSC/CAPES) No que concerne à área da interfonologia, pesquisas indicam que a precisa percepção dos sons da língua estrangeira é capaz de influenciar positivamente a produção dos mesmos (Major, 1994; Flege, 1993, 1995; Munro & MacKay, 1996; Wode, 1995; Rochet, 1995; Best, 1995; Kuhl & Iverson, 1995; Baker & Trofimovich 2001; Koerich 2002; Best & Tyler, 2007). O presente estudo foi conduzido com o propósito de investigar se tal correlação está presente entre a percepção e a produção dos fonemas interdentais ingleses por brasileiros aprendizes de inglês como língua estrangeira (EFL). O estudo focou na percepção e produção dos fonemas vozeados e não-vozeados em posição inicial de palavras. Cinco falantes nativos de inglês e vinte e quatro aprendizes de EFL, igualmente divididos em dois grupos de iniciantes e avançados, participaram da pesquisa. Ambos os grupos de aprendizes pertenciam ao Programa Extracurricular de Ensino de Línguas Estrangeiras da Universidade Federal de Santa Catarina. Os dados foram coletados por meio de três testes de produção: (a) leitura de texto, (b) relato do texto lido, e (c) leitura de sentenças, e três testes de percepção: (a) percepção geral de erros de pronúncia, (b) teste de discriminação categórica, e (c) teste de identificação forçada. Os resultados indicam que (a) não há uma diferença significativa de percepção dos fonemas entre os grupos de aprendizes, e (b) que a percepção mais acurada dos fonemas-alvo não necessariamente acarreta numa produção mais precisa dos mesmos. PRODUÇÃO DE PLOSIVAS SURDAS EM INGLÊS E PORTUGUÊS POR FALANTES BRASILEIROS DE INGLÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA Mariane A. Alves (UFSC) A presente pesquisa teve como objetivo investigar, acusticamente, a produção da aspiração em consoantes “plosivas” surdas do português brasileiro (PB) e do inglês, produzidas por falantes brasileiros que estudam

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inglês como língua estrangeira (L2). Para isso, conduziu-se uma análise espectrográfica das amostras de fala para medição de VOT (voice onset time), que é um dos parâmetros levados em conta para a classificação das plosivas. Os índices de VOT são em geral agrupados em três categorias: retardo curto (de zero a 25ms); retardo longo (de 60 a 100ms) e pré-sonorização (valores negativos de VOT). As duas primeiras definem as plosivas não vozeadas do PB e do inglês, respectivamente. Foram analisadas leituras de quatro falantes, dois estudantes de um curso de graduação em Letras-Inglês, que nunca tiveram experiência no exterior, e outros dois que já tiveram experiência com a língua estrangeira no exterior. Apesar de estudos sobre consoantes oclusivas do PB não considerarem a aspiração como uma das possíveis realizações para essa língua, verificou-se que tal aspiração ocorre de fato, sendo, no entanto, classificada como uma leve aspiração, ou seja, com valores de VOT compreendidos em uma faixa entre 25 e 60ms. As médias encontradas nos dados analisados foram de 25, 30 e 43 ms para, respectivamente, /p/, /t/ e /k/ no PB, e de 36, 46 e 53 ms para as mesmas consoantes no inglês. Com base em tais resultados e comparando-os aos valores que seriam produzidos por falantes nativos do inglês (entre 60 e 100ms), percebeu-se que os valores de VOT de nossos sujeitos são inferiores aos dos falantes nativos, ficando, no entanto, próximos ao que se observa quando se tem consoantes levemente aspiradas (o caso do PB). Contudo, pode-se observar um leve aumento nos valores de VOT se comparadas as produções dos mesmos falantes nas duas línguas estudadas. Observou-se também que o contato direto com a língua estrangeira parece não influenciar necessariamente na fluência dessa língua. Análises estatísticas serão necessárias para a comprovação dos resultados preliminares. EVIDÊNCIAS DA DINAMICIDADE NA INTERLÍNGUA PORTUGUÊS – INGLÊS: O PROCESSO DE DESSONORIZAÇÃO TERMINAL Sabrina Costa (UCPel/BIC/FAPERGS) Márcia Zimmer (UCPel) O presente estudo pretende discutir, de forma dinâmica, o status da Dessonorização Terminal como um processo de interlíngua entre alunos brasileiros de Inglês à luz do Conexionismo e da Fonologia Acústica Articulatória (ALBANO, 2001, 2002). O processo de dessonorização terminal consiste na perda do traço sonoro em algumas obstruintes em posição final e, para Eckman (1981,1987), esse processo seria usado apenas na interlíngua. Major (1987) afirma que a interlíngua de brasileiros aprendizes de inglês teria uma regra de dessonorização terminal que não ocorreria nem na L1 – Português Brasileiro, nem na L2 – Língua Inglesa; essa regra não ocorreria no PB, pois a única obstruinte encontrada em posição final é a fricativa alveolar surda /s/ e no Inglês os contrastes sonoros não seriam neutralizados. Ao revisitar essa discussão, Zimmer (2004) e Zimmer & Alves (2007) propõem um novo estudo a fim de responder se a

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dessonorização terminal é um processo caracterizado pela neutralização total do contraste surdo-sonoro ou se consiste no desvozeamento parcial desse contraste por falantes brasileiros aprendizes de Inglês, investigando a importância da vogal anterior para a distinção entre as obstruintes surdas do inglês falado pelos alunos brasileiros. Para tanto, foram analisados dados de produção de segmentos plosivos alveolares, labiais e dorsais em posição final de palavra, obtidos de 10 estudantes brasileiros do sexo feminino e 10 do sexo masculino com diferentes níveis de proficiência. A partir da análise acústica dos dados, o processo foi revisitado de acordo com uma visão dinâmica dos sistemas fônicos – via abordagem da Fonologia Acústico-Articulatória e do Conexionismo, que interpreta as características parciais do desvozeamento terminal como uma evidência contra a neutralização total de contrastes e a favor da gradiência desse processo de interlíngua. A MELODIA DO FRANCÊS: ANÁLISE ENTOACIONAL DO FALAR DE DOIS RESIDENTES DE MONTREAL Sara Farias da Silva (UFSC) Este estudo, embora preliminar, tem como objetivo discutir a melodia do francês no falar de dois informantes do sexo masculino com idades entre 25 e 30 anos. Um é nascido no México, residente em Montreal há cinco anos com curso técnico superior. O outro, de nacionalidade brasileira, também com curso técnico superior, reside em Montreal há 20 anos. Ambos são fluentes em português, espanhol, inglês e francês. A pesquisa foi realizada com base na metodologia de coleta de dados do Projeto Atlas Multimídia Prosódico do Espaço Românico (AMPER), considerando frases do tipo Sujeito – Verbo – Complemento nas modalidades: declarativa e interrogativa total. O sintagma nominal sujeito assim como o sintagma que complementa o verbo possuem extensões adjetivais. As gravações foram feitas a partir de imagens que induzem os informantes a produzirem as frases desejadas. O software usado para a análise dos dados foi o Praat. Os resultados preliminares das análises das frases declarativas e interrogativas mostram diferenças entre os dois falantes com relação ao padrão francês. Nas declarativas, para o falante que reside há mais tempo em Montreal, nota-se um contorno de pitch característico do francês: uma elevação de pitch na sílaba tônica final do primeiro grupo rítmico e um contorno final descendente. Já o falante que reside há menos tempo apresenta justamente nestes dois pontos diferenças marcantes: uma elevação de pitch na primeira sílaba do grupo rítmico e um contorno descendente-ascendente ao final da frase declarativa. Nas frases interrogativas, o padrão francês apresenta uma elevação gradativa do pitch nas sílabas iniciais do primeiro grupo rítmico, depois há uma curva descendente e, ao final da frase sobre a sílaba tônica final, ocorre uma subida abrupta do pitch sobre a vogal desta última sílaba. Nossos informantes apresentam variações em posições diferentes. Aquele com mais tempo de residência mostra um contorno de pitch que se diferencia do padrão francês apenas pelo contorno ao final da frase: subida

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abrupta na palavra final da frase e não somente sobre a sílaba tônica final. Já o que tem menos tempo de residência apresenta diferenças no contorno inicial da frase com uma elevação de pitch sobre a primeira sílaba do primeiro grupo rítmico e não sobre as três primeiras sílabas desse grupo, o que seria o padrão esperado. O FENÔMENO DA “LIAISON” NA LEITURA EM VOZ ALTA: O CASO DE APRENDIZES DE FRANCÊS LÍNGUA ESTRANGEIRA Vanessa Gonzaga Nunes (UFSC) A maior parte dos estudantes de francês vê a língua francesa como extremamente padronizada, com uma fonologia prescritiva e “nobre”. Tal idéia parece ser fruto de um ensino pouco permeado pela sociolingüística, a qual considera a variação como parte da língua e vê os diferentes dialetos como diferenças e não como o certo e o errado. Estudos revelam que a língua possui uma estrutura, apesar da variação, inerente a ela, ou seja, essa estrutura não impede que se reconheçam os usos e as variações presentes na fala. Assim, é por esse viés que se pretende analisar os dados coletados para o presente estudo. Seu objetivo é observar o fenômeno fonológico de “liaison” ou ligação, típico do francês e do português brasileiro. Para isso, será analisada a leitura em voz alta de frases em francês, produzidas por dois aprendizes de francês língua estrangeira (FLE), nativos do português brasileiro, um do sexo masculino e o outro do feminino. Ambos encontram-se no último ano de um curso de Licenciatura em Letras Francês, o que provavelmente lhes confere um nível avançado em leitura nesta língua estrangeira. A partir da observação das fronteiras de palavras, ou seja, dos pontos em que haverá ocorrência de “liaisons” obrigatórias, facultativas e proibidas, será analisada a produção dos sujeitos em estudo. Este estudo tenta responder às seguintes questões: (a) o que os aprendizes de FLE fazem em relação às ligações obrigatórias? (b) como se comportam diante de ligações facultativas? (c) há hesitações em suas produções, mostrando que estão em dúvida quanto ao fenômeno estudado? (d) que tipo de transposições fazem do português para o francês? As análises acústicas serão realizadas com o auxílio do software Praat. Os dados foram gravados com uma taxa de amostragem de 22 kHz, suficiente para as análises das consoantes, principalmente fricativas, presentes nos dados estudados. As frases lidas pelos informantes serão etiquetadas e analisadas acusticamente, verificando o ensurdecimento ou vozeamento dos segmentos consonantais ou ainda a constatação da não realização da “liaison”. Os resultados aqui obtidos serão comparados a outros estudos realizados sobre o português brasileiro, principalmente com relação a inadequações acústicas verificadas também na presente pesquisa.

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Aquisição Léxico LÉXICO VERBAL E EXPRESSÃO DE CONCEITOS COGNITIVOS Ketlin Elis Perske (PIBIC/UFSM) Mirian Rose Brum-de-Paula (UFSM) Os estudos referentes à aquisição da linguagem articulada raramente consideram a progressão rápida e gradual do léxico verbal e sua relação com os desenvolvimentos cognitivo e lingüístico da criança. É possível constatar o papel central do léxico verbal em dados orais de locutores de línguas distintas, por exemplo. Neles, encontra-se uma maior complexidade do léxico verbal (se comparado ao léxico dos nomes), pois as línguas do mundo se caracterizam tipologicamente por esquemas diferentes de lexicalização de processos (acontecimentos, ações, atividades, processos, estados, propriedades). Partindo da hipótese de que existiria um “pensar para falar” (Slobin, 1991) – isto é, um certo tipo de pensamento ligado à língua, mobilizado durante a produção do discurso (Slobin, 1991; Talmy, 1985; Klein, 1994) –, focalizaremos aspectos relacionados às relações existentes entre léxico e cognição. Desse modo, tentaremos identificar variações que possam estar relacionadas à expressão de conceitos cognitivos. O corpus é constituído de narrativas orais produzidas por crianças da 2ª, 4ª e 6ª séries de uma escola de ensino fundamental da cidade de Agudo-RS. Essas narrativas foram realizadas a partir da história Frog, where are you?, de Mayer (1969). Visamos obter resultados que possam auxiliar na identificação: a) dos processos cognitivos subjacentes aos percursos de aquisição e suas relações com as características tipológicas das línguas adquiridas (no caso, o dialeto alemão e a língua portuguesa); b) do modo como os acontecimentos relatados (diferentes, similares ou idênticos) são tratados pelos informantes, ou seja, como eles são conceitualizados, formulados e articulados (Levelt, 1989) por crianças e adolescentes que possuem pelo menos duas línguas disponíveis. Fonética ORDEM DAS PALAVRAS E OS ADVÉRBIOS EM –MENTE: EXPERIMENTOS DE PRODUÇÃO SEMI-ESPONTÂNEA Fernanda Lima Jardim (UFSC/PIBIC) Este trabalho pretende aprofundar o estudo da estrutura entoacional de sentenças do PB com advérbios em –mente do tipo raramente, que podem aparecer em diversas posições da sentença: (1) a. Raramente a Maria vai no cinema aos domingos b. A Maria raramente vai no cinema aos domingos c. A Maria vai raramente no cinema aos domingos

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d. A Maria vai no cinema raramente aos domingos e. A Maria vai no cinema aos domingos raramente A liberdade de deslocamento é mais aparente do que real, porque nem todas as sentenças são igualmente naturais para os falantes e em algumas delas a interpretação é diferente: enquanto (1a) ou (1b) são afirmações sobre a raridade do evento de a Maria ir no cinema aos domingos, (1d) afirma a raridade de o evento se passar aos domingos, mas não se diz que o evento em si é raro. Assim, parece que não estamos frente a uma só sentença, mas frente a sentenças distintas. Os experimentos efetuados com o advérbio raramente mostram o padrão á obtido anteriormente: sentenças com advérbios em -mente apresentam tipicamente um movimento do contorno entoacional sobre o advérbio, mesmo que outros movimentos de pitch se encontrem em outros pontos da sentença. É preciso dizer, no entanto, que nos estágios anteriores da pesquisa com advérbios, trabalhamos apenas com a leitura das sentenças, obtendo todas as ordens de palavras possíveis, mas sabemos que a leitura dá um caráter muito mecânico às produções, de modo que a uniformidade no contorno entoacional pode ser resultado da leitura. O maior desafio deste estudo, portanto, é obter sentenças naturais. Por isso, ao lado do experimento de leitura, estamos elicitando elocuções produzidas de modo semi-espontâneo. Nosso experimento piloto trabalha com pequenas estórias que permitem que o informante monte a frase com os itens lexicais sugeridos e assim o informante escolhe não apenas a entoação da sentença ,mas também o lugar em que deseja colocar o advérbio, quando há vários lugares possíveis. Estamos utilizando as ferramentas do "power point" para a apresentação das estórias, de modo que é possível introduzir os itens lexicais em ordem aleatória e vindos de diferentes pontos e em diferentes direções na tela. Ainda que os primeiros resultados apontem um problema com o tamanho das sentenças, porque trabalhando com uma sentença como (1) o informante freqüentemente esquece itens ou hesita na produção deles; eles mostram também diferentes estruturas entoacionais nas sentenças com advérbios. MAIS DADOS PARA A CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DAS VOGAIS NASAIS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO Gesoel Ernesto Ribeiro Mendes Junior (UFPR) O estudo da nasalidade vocálica dentro de um sistema lingüístico pode ser feito de inúmeros ângulos como, por exemplo: (1) quais as pistas acústicas necessárias para julgar determinada vogal como nasal; (2) como essas vogais se relacionam com suas respectivas contrapartes orais; e (3) como se dão as relações acústico-articulatórias desses sons. Este trabalho incide principalmente sobre as questões (2) e (3). Um experimento fonético-acústico com dois informantes é apresentado. O corpus de palavras-alvo desse experimento foi montado com logatomas em que se manipulou posição acentual em que as vogais nasais [iN], [aN] e [uN] estão inseridas

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dentro de um vocábulo. Os resultados foram então comparados com trabalhos anteriores a respeito da produção dessas vogais no português brasileiro (Sousa 1994; Seara 2000). Os resultados também foram comparados com o estudo de Gregio (2006) a respeito da configuração supra-glótica das vogais do português brasileiro via imagens de ressonância magnética. De modo geral, os resultados do meu experimento não se apresentaram muito diferentes dos trabalhos anteriores. Foi identificada uma redução no valor de F1 para a vogal [aN], devido ao fato de sua articulação ser feita com a mandíbula mais elevada que sua contraparte oral. Foi detectada também uma tendência de elevação dos valores de F2 para a vogal [iN], e em alguns casos para [aN], e de redução desse formantes para [uN] quando comparadas com suas respectivas contrapartes orais, com algumas exceções. A hipótese de que tais variações de F2 se devem a manobras articulatórias realizadas pela língua durante a produção dessas vogais – e não somente a um efeito acústico de sobreposição da nasalidade a essas vogais – é reforçada pelo trabalho de Gregio (2006). Além disso, para os dois informantes do experimento, um formante nasal em torno 1000Hz foi identificado para as vogais [iN] e [uN], e outro, em torno de 240Hz, para a vogal [aN]. Com relação à duração, as vogais nasais se mostraram, como era esperado, mais longas que suas vogais orais correspondentes. Fonologia A LIGAÇÃO FONOLÓGICA DOS CLÍTICOS PRONOMINAIS NA VARIEDADE BRASILEIRA DO PORTUGUÊS Cristina Márcia Monteiro de Lima Corrêa (UFRJ) Compõe um fenômeno variável a ligação fonológica dos clíticos pronominais, pois o pronome pode se ligar prosodicamente à direita ou à esquerda de seu hospedeiro fonológico. O trabalho objetiva descrever a sistematicidade dessa variação na variedade brasileira do Português. O desenvolvimento desta pesquisa é justificado pela necessidade de se averiguar a hipótese de que a forma não-marcada no Brasil seria a ligação do pronome à direita. Para isso, definiram-se os parâmetros acústicos caracterizadores dos pronomes átonos, a fim de compará-los com as sílabas átonas vocabulares, pois pronomes átonos e sílabas átonas vocabulares apresentariam semelhanças acústicas. Frases que formam possíveis pares homônimos (ex.: me nino e menino) foram gravadas, de modo que as sílabas átonas do vocábulo formal fossem comparadas às dos pronomes. A partir desse “corpus”, mediram-se os parâmetros de duração, intensidade e freqüência fundamental. Finalmente, quantificaram-se e analisaram-se os resultados. O estudo fundamentou-se nos preceitos de cliticização propostos por Klavans (1985), sobretudo no fato de que o clítico pode ocorrer proclítico ou enclítico ao hospedeiro fonológico, que nem sempre coincide com o hospedeiro sintático. Além disso, foi de suma importância a obra de Vieira (2002), cuja análise se centra na interface prosódia-morfossintaxe dos

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clíticos pronominais em variedades do Português. Os resultados preliminares confirmam, por ora, a hipótese de que as sílabas átonas vocabulares e a sílaba clítica se assemelham, principalmente no que toca aos parâmetros de duração e intensidade. Entretanto, somente com o prosseguimento da pesquisa permitir-se-á verificar se, de fato, a realização não-marcada do clítico, no Brasil, é à direita. UM ESTUDO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE PALAVRA MORFOLÓGICA E PALAVRA FONOLÓGICA EM VOCÁBULOS COMPLEXOS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO Emanuel Souza de Quadros (UFRGS/CNPq) Luiz Carlos Schwindt (UFRGS/CNPq) Inserido no projeto “Morfofonologia do Português Brasileiro: perspectiva de restrições”, o presente trabalho investiga a relação entre palavra morfológica e palavra fonológica no português brasileiro. Tais categorias nem sempre são isomórficas, o que as torna de grande interesse teórico, dada a necessidade de caracterizar as condições que regem a correspondência entre elas. Contribuímos para essa discussão por meio do estudo de palavras resultantes de processos morfológicos do português. As palavras morfológicas formadas por tais processos podem ser realizadas como uma ou mais palavras fonológicas. A fim de averiguar essa realização, baseamo-nos no status das vogais médias das bases que participam dessas formações. Sabemos que, em algumas variedades do português, incluindo a da região sul, vogais médias-baixas realizam-se apenas em posições tônicas. Assim, por exemplo, a realização de uma vogal média-baixa na primeira sílaba de medicozinho aponta para a existência de mais um acento nessa palavra, além do que recai sobre a penúltima sílaba; temos, portanto, um indício de que essa palavra morfológica corresponde a duas palavras fonológicas: medico e zinho. Nossa discussão é alimentada por dados de compostos e palavras sufixadas extraídas do banco de dados do Projeto VARSUL e por resultados provenientes de um experimento envolvendo palavras compostas e prefixadas, aplicado a informantes porto-alegrenses. Fonologia Aquisição AQUISIÇÃO DE SEGMENTOS NOS DIFERENTES MODELOS DE TERAPIA FONOLÓGICA Ana Rita Brancalioni (UFSM) Caroline Marini (UFSM) Karina Carlesso Pagliarin (UFSM) Marizete Ilha Ceron (UFSM) Márcia Keske-Soares (UFSM) A inteligibilidade de fala está diretamente relacionada à quantidade de segmentos estabelecidos no sistema fonológico. Assim, uma das principais

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formas de verificar a evolução terapêutica é analisar o número de segmentos adquiridos no sistema fonológico da criança ao longo da terapia. Este trabalho teve como objetivo verificar o percentual de segmentos adquiridos no sistema fonológico nas diferentes gravidades do desvio fonológico, no tratamento em três diferentes modelos de terapia e comparar o percentual de aquisição de sons entre os três modelos. A amostra foi constituída por 66 crianças com desvio fonológico e idades entre 4:4 e 8:2, de ambos os sexos, integrantes do banco de dados de uma clínica escola. As crianças foram avaliadas, antes e após um período de 15 a 25 sessões de terapia fonológica, através da Avaliação Fonológica da Criança (Yavas, Hernandorena e Lamprecht, 1991), a partir da qual foi determinada a gravidade do desvio fonológico conforme o Percentual de Consoantes Corretas – PCC (Shriberg e Kwiatkowski, 1982) e o percentual de segmentos adquiridos após o período de tratamento. Do total, foram tratadas 36 crianças pelo Modelo ABAB-Retirada e Provas Múltiplas, sendo 4 com Desvio Severo (DS), 7 com Moderado-Severo (DMS), 17 com Médio-Moderado (DMM), e 8 com Médio (DM). No Modelo de Oposições Máximas Modificado foram tratadas 17 crianças, 1 com DS, 4 com DMS, 9 com DMM e 3 com DM. No Modelo de Ciclos Modificado 13 crianças foram tratadas, sendo 3 com DMS, 9 com DMM e 1 com DM; neste modelo não houve criança tratada com DS. Posteriormente, realizou-se análise estatística dos dados, utilizando o Teste T para amostras iguais, considerando-se p<0,05. Os resultados mostraram que todos os grupos tratados pelos diferentes modelos de terapia aumentaram o percentual de segmentos adquiridos após o período de tratamento. Observou-se que o número de segmentos adquiridos foi proporcional à gravidade do desvio fonológico, isto é, quanto mais severa a gravidade mais sons foram adquiridos no sistema fonológico. Além disso, a análise estatística revelou não haver diferença estatisticamente significante entre os modelos de terapia aplicados. Isso mostra que todos os modelos foram igualmente eficazes no tratamento. Esses achados revelam que a aplicação dos modelos promoveu a aquisição de segmentos no sistema fonológico das crianças, e conseqüentemente melhoras na fala. AQUISIÇÃO DO ONSET COMPLEXO: POSIÇÃO NA PALAVRA, PONTO DE ARTICULAÇÃO E FREQÜÊNCIA LEXICAL Fabiana Veloso de Melo (UFSM – FIPE) Giovana Ferreira-Gonçalves (UFSM) Este trabalho, vinculado ao projeto de pesquisa O papel da freqüência lexical e segmental na formação da gramática fônica em crianças de 1 – 4 anos, propõe-se a discutir, a partir de dados de um sujeito longitudinal, monolíngüe, com desenvolvimento fonológico considerado normal e idade entre 2:6 e 3:4 (anos: meses), como se dá o processo de aquisição do onset complexo. De acordo com Ribas (2007), a estrutura silábica CCV apresenta maior grau de complexidade tanto para crianças com desenvolvimento fonológico normal como para crianças que apresentam distúrbios da

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linguagem com desvios fonológicos. E, conforme Lamprecht (1990), essa estrutura é a última a ser adquirida, visto que, por volta dos 5 anos, é esperado que a aquisição dessa estrutura esteja estabilizada no sistema fonológico da criança. Trabalhos sobre a aquisição do onset complexo, como Ribas (2002, 2004), por exemplo, mostram resultados a respeito das estratégias de reparo aplicadas pelos aprendizes e sobre os ambientes favoráveis ou não para a produção dos encontros consonantais. Este trabalho, no entanto, visa a investigar o papel da posição do onset complexo na palavra, do ponto de articulação da obstruinte e da freqüência lexical na emergência dessa estrutura silábica. Os dados indicam que, assim como acontece com a aquisição de outros constituintes silábicos, a posição do onset complexo na palavra e o ponto de articulação da obstruinte podem desempenhar um papel facilitador na emergência dessa estrutura silábica. Também constatou-se que os grupos de onset complexo (labial, coronal e dorsal) em palavras com maior freqüência no léxico da criança são adquiridos primeiramente, evidenciando um padrão de aquisição por item lexical. A análise dos dados relacionados à aquisição do onset complexo constituído pela líquida lateral trouxe considerações acerca do papel da marcação – complexidade articulatória – no processo de aquisição. AQUISIÇÃO DO ACENTO DO PORTUGUÊS: O PAPEL DO LÉXICO Joice Ines Bieger (UFSM – BIC-FAPERGS) Giovana Ferreira-Gonçalves (UFSM) Os estudos sobre a aquisição fonológica do português são, em sua grande maioria, voltados para a aquisição segmental e de estruturas silábicas, sendo ainda poucos os voltados para a aquisição do acento primário, como Santos (2001) e Bonilha (2004). Este trabalho pretende investigar a aquisição do acento primário em português. Para tanto, foram utilizados dados de dois sujeitos longitudinais com idade entre 1:7 e 4:0 (anos:meses), monolíngües, com desenvolvimento fonológico considerado normal, para investigar como se dá o processo de aquisição do acento primário no que se refere ao padrão marcado proparoxítono. Alguns estudos evidenciam o papel da aquisição do acento primário em português, mas tais pesquisas não investigaram o papel da freqüência lexical nesse processo. Dessa forma, pretende-se verificar qual a relação que se dá entre a freqüência de tipos e tokens produzidos pela criança e a aquisição do padrão proparoxítono. Para a realização dessa pesquisa, parte-se da hipótese de que a freqüência lexical é diretamente relacionada ao output da criança, influenciando, dessa forma, o processo de aquisição fonológica – neste caso, o processo de aquisição do acento primário do português. O PAPEL DA FREQÜÊNCIA LEXICAL E SEGMENTAL NA AQUISIÇÃO DA NASALIDADE DAS VOGAIS: INCLUINDO

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PARÂMETROS CONTÍNUOS NO ESTUDO DA AQUISIÇÃO FONOLÓGICA Magnun Rochel (UCPEL/PIBIC/CNPq) Márcia C. Zimmer (UCPel) Partindo da premissa de que a gramática e o léxico são inseparáveis durante a aquisição da linguagem (BATES E GOODMAN, 2001), e de que os processos fônicos são sensíveis a efeitos de freqüência, pois a entrada lexical envolve a passagem de um alvo dinâmico a outro, este estudo investiga efeitos de freqüência na aquisição da nasalidade das vogais no PB. A freqüência é tomada dentro de uma noção de gramática estocástica, observando-se a convergência entre a visão probabilística e a dinamicidade dos sistemas fônicos (ALBANO,1999). Em virtude da discussão do status das vogais nasais, não se encontra nenhum estudo de aquisição dessas vogais na literatura de aquisição fonológica no PB. Historicamente, há duas correntes que polemizam o status dessas vogais: a primeira corrente parte da hipótese de que existem vogais nasais no PB, e de que, além da oposição entre pares como ‘cito-cinto’, ‘leda-lenda’, ‘ata-anta’, ‘boba-bomba’, ‘juta-junta’ ser devida ao contraste fonológico entre vogais orais e vogais nasais, há diferença entre vogais nasais e vogais nasalizadas, como em ‘cama’ (PONTES, 1972, LEITE, 1974, MEDEIROS, DEMOLIN, 2006). A segunda corrente é a de que a distinção entre os pares citados advém do acréscimo de um segmento consonântico nasal à vogal oral (CÂMARA JR, 1970; SILVA, 2002; GREGIO, 2006). O objetivo desse estudo é observar a idade de aquisição da nasalidade vocálica; observar o papel da freqüência lexical dessas palavras (no repertório dos bebês e de seus cuidadores) na aquisição da nasalidade das vogais, bem como contribuir com dados de aquisição para a discussão dos status das vogais nasais. Utilizamos dados, coletados longitudinalmente, de seis bebês constantes do banco de dados de freqüência segmental e lexical do desenvolvimento da fala de crianças de 1-4 anos (UCPel), ainda em construção. Pesquisamos as ocorrências de palavras do corpus que contêm vogais nasais no PB, excluindo as vogais nasalizadas, e atribuímos a elas uma freqüência lexical. Posteriormente, fizemos um levantamento estatístico, através do qui-quadrado, dos dados observados na interação dos seis bebês de faixa etária de 1:00 a 2:07, selecionando os tipos de palavras (types) contendo vogais nasais e suas respectivas produções (tokens). Em virtude do andamento deste estudo, os resultados a serem apresentados ainda são parciais e a inclusão de dados de interação de outros bebês com faixas etárias maiores pode ser considerada.

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Fonologia Aquisição Escrita AS HIPERSEGMENTAÇÕES NA ESCRITA INICIAL DE ADULTOS E CRIANÇAS Carmen Regina Ferreira Souza (FaE-UFPEL) Natalia Devantier (FaE-UFPEL) Ana Ruth Moresco Miranda (PPGE- FaE-UFPel) As segmentações não-convencionais presentes em textos infantis têm sido tema de vários trabalhos, mas pouco se sabe sobre o que ocorre com os textos de adultos no que diz respeito a esse fenômeno. Segundo Ferreiro e Teberosky (1999), a criança quando começa a escrever tem muita dificuldade em considerar seqüências de uma ou duas letras como palavras, por isso, muitas vezes, junta esses segmentos à palavra seguinte. Mas, assim como ela junta tais seqüências de maneira não-convencional, ao reconhecer formas lexicais pode segmentá-las também de modo inadequado. Essas ocorrências podem ser classificadas como hipersegmentações (quando ocorrem mais espaços em branco do que os previstos na grafia convencional), as quais podem ser decorrentes da instabilidade na conceituação por parte da criança do que seja uma “palavra” e de quais sejam seus limites gráficos. Pesquisas sobre a aquisição da escrita por crianças (Abaurre, 1991, e Cunha, 2004) têm mostrado que, ao se separarem as palavras de forma não-convencional, há uma tendência à preservação de pés métricos, o que pode ser indício de que a criança estaria interpretando-as como duas palavras lexicais integrantes do seu vocabulário. Os dados de escrita infantil analisados neste estudo foram extraídos do Banco de Textos de Aquisição da Escrita (FaE-UFPel). Ao todo foram consultados 100 textos produzidos por crianças da 1ª série dos anos iniciais de duas escolas de Pelotas, uma pública e outra particular. A análise de textos espontâneos revelou que a criança, ao lidar com problemas de segmentação na escrita, opera com um tipo de forma canônica da palavra na língua, o que, segundo Abaurre (1991), pode estar contribuindo para a percepção que ela já possui da organização rítmica e prosódica dos enunciados. Em todos os casos analisados, as crianças preservaram as estruturas silábicas da língua. Os texto dos adultos, todos alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), estão ainda sendo coletados, mas a análise preliminar mostra que há uma estreita relação entre o comportamento de crianças e adultos em fase de aquisição da escrita, especificamente no que diz respeito à influência dos constituintes prosódicos sobre os casos de hipersegmentação. A MORFOLOGIA DO VERBO E OS DADOS DE ESCRITA INICIAL Cinara Miranda Lima (PIC-UFPel) Ana Ruth Moresco Miranda (PPGE-UFPel) Neste trabalho, tem-se o objetivo de descrever e analisar a forma como as crianças grafam o morfema número-pessoal –u dos verbos na 3ª pessoa do

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singular do pretérito perfeito. Tais morfemas, objetos de estudo da morfologia, área da gramática que estuda as palavras a partir de sua estrutura e formação, são exemplos de unidades mínimas significativas de uma língua. De acordo com Câmara Jr. ([1970]1997), a classe dos verbos tem papel de destaque dentro da morfologia, uma vez que suas flexões nos indicam noções gramaticais importantes. As formas flexionadas dos verbos da 3ª pessoa do singular, em foco neste trabalho, podem ser pronunciadas de maneiras distintas dependendo da conjugação do verbo (-ar, -er ou –ir). A monotongação é o fenômeno mais freqüente nos casos dos verbos de primeira conjugação, nos quais a vogal alta é ordinariamente apagada na fala dos usuários da língua, como em ‘ele pego[ø]’, por exemplo. Já nos outros casos, relativos à segunda e à terceira conjugações, a vogal alta é mantida, como em ‘ele comeu’ e ‘ele pediu’, respectivamente. Os resultados encontrados na análise dos dados de escrita de crianças das séries iniciais, pertencentes ao Banco de Textos de Aquisição da Escrita (FaE-UFPel), revelam que os processos de apagamento e substituição estão condicionados à qualidade da vogal temática. No caso dos verbos de 1ª conjugação verifica-se um maior índice de apagamento, o que caracteriza uma escrita que sofre a influência da forma fonética; já nos verbos de 2ª e 3ª conjugações ocorre a substituição da vogal alta por uma vogal média ou pela consoante líquida lateral, casos interpretados como decorrentes de supergeneralização. Dentre os erros computados, o maior índice encontrado é relativo aos verbos de 3ª conjugação. Tais resultados são importantes à medida que explicitam a motivação para a ocorrência dos erros e podem auxiliar o professor a planejar uma intervenção pedagógica para o ensino da ortografia capaz de levar os alunos a uma aprendizagem mais significativa, pautada na reflexão sobre a língua. CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA: ATIVIDADES DE RIMA E DE CONSCIÊNCIA SILÁBICA Cláudia Camila Lara (FURG) O presente trabalho tem por objetivo apresentar atividades envolvendo a consciência fonológica de rimas e de sílabas as quais estão sendo aplicadas com crianças cursando o primeiro ano do ensino fundamental. Esse está inserido no projeto Elaboração de uma coletânea de atividades envolvendo consciência fonológica. Consciência Fonológica refere-se à habilidade de manipular as palavras nos níveis de complexidade lingüística, tais como: rima > aliteração > sílaba > constituintes silábicos: ataque (simples e complexo) e rima (núcleo e coda) > fonema. De acordo com estudos envolvendo a Consciência Fonológica, Chard & Dickson (1999) apontam para um contínuo de complexidade de atividades, de forma gradual, partindo das menos complexas como, identificação de rimas, segmentação de frases em palavras separadas, segmentação de palavras em partes iniciais (aliteração) e em rimas, consciência silábica para as atividades mais complexas como constituintes menores da sílaba (ataque simples ou

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complexo e rima) e fonemas. Com base em Adams et. Al. (2006), aplicamos atividades para sensibilização aos sons, subdivididos em sons da natureza, de objetos, de animais e do homem, bem como atividades com poesias, músicas e trava-línguas para desenvolver a sensibilização de rimas e aliterações. Outras sugestões de atividades para desenvolver a consciência silábica, mencionadas por Capovilla & Capovilla (2000), são os jogos de trilha, combinação de sílabas para formar palavras, identificação de sílabas iniciais, mediais e finais que são constituídas pelas estruturas silábicas: ataque simples e núcleo, ataque e rima (núcleo e coda), ataque complexo e núcleo. Para o desenvolvimento da consciência fonêmica seguem-se atividades de identificação de fonemas, solicitação para retirar e/ou inserir fonemas para formar novas palavras e, finalmente, para estabelecer a relação Fonema/Letra atividades como apresentação das letras e seus respectivos sons em posição de ataque no início da palavra, observando que letras e seus respectivos sons consonantais em posição de ataque no início da palavra podem ocupar também a posição de coda no meio e no final da palavra (coda medial/final). O referido trabalho contempla adaptações de sugestões de atividades citadas acima (poesia com rima e aliteração, parlendas, trava-línguas e atividades de identificação de rima e atividades de separação silábica). Estas estão sendo aplicadas semanalmente em três turmas cursando o primeiro ano do Ensino Fundamental, perfazendo um total de 60 crianças. Anteriormente, em 2007, o Projeto foi executado em uma escola Municipal de Ensino Fundamental, sob a forma de encontros quinzenais durante certo período de aula de uma turma com 26 alunos. Percebeu-se uma grande aceitabilidade e participação das atividades pelos alunos, ressaltando, dessa forma, a importância da Consciência Fonológica como uma ferramenta para auxiliar no processo de leitura e escrita de crianças cursando os primeiros anos dos anos iniciais. Baseando-se nas atividades desenvolvidas durante a elaboração da coletânea, pretende-se validar, por meio de um projeto de pesquisa, a eficácia de um programa de atividades de consciência fonológica para auxiliar crianças em processo de aquisição da escrita, cursando os anos iniciais do ensino fundamental de escolas públicas. INFLUÊNCIA DA ORALIDADE NA ESCRITA: AQUISIÇÃO BILÍNGÜE PORTUGUÊS/ALEMÃO Glívia Guimarães Nunes (UFSM – PIBIC-CNPq) Giovana Ferreira-Gonçalves (UFSM) A influência da oralidade na produção escrita tem sido constatada em várias pesquisas acerca da aquisição da escrita no português brasileiro, como Cagliari (1989), Scliar-Cabral (2003) e Zorzi (1998). Nos falantes de língua portuguesa que apresentam interferências de dialetos alemães, freqüentemente, ocorrem, na oralidade e na escrita, algumas trocas de fonemas, por exemplo: /d/ e /t/, como em dente [tente], /p/ e /b/, como em bolacha [polaʃa]. Outra variação é em relação ao fonema /v/ que é pronunciado como [f], - levado e veneno, que são pronunciados e escritos

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como [lefado] e [feneno]. Tais diferenças são, portanto, passíveis de exercerem interferência tanto na língua falada quanto na língua escrita, considerando o contato do aprendiz com as duas línguas. O presente trabalho busca descrever e analisar as dificuldades de escrita, originadas da interferência da aquisição bilíngüe português/alemão. O corpus é constituído de setenta narrativas orais e escritas, a partir de coletas longitudinais feitas com crianças da 2°, 4°, 6° série de uma escola de ensino fundamental da cidade de Agudo-RS. Essas narrativas são baseadas na história Frog, where are you?, de Mayer (1969). Os erros apresentados nas produções orais e escritas foram transcritos e agrupados segundo a seguinte classificação: erros decorrentes de (i) motivações fonológicas relacionadas à aquisição bilíngüe e de (ii) motivações fonológicas relacionadas à aquisição da língua materna. Também foram considerados aspectos como freqüência de tipos e tokens na análise das interferências constatadas. UM ESTUDO SOBRE A GRAFIA DAS VOGAIS PRETÔNICAS NO PORTUGUÊS EM DADOS DE AQUISIÇÃO DA ESCRITA Luísa Hernandes Grassi (UFPel) O sistema ortográfico do português conta com cinco grafemas, a, e ,i ,o e u, mais acentos agudo, circunflexo e til, para representar as sete vogais existentes na posição tônica das palavras nesta língua (Mattoso Câmara Jr.1988, 41-42). Já na posição pretônica, mesmo havendo uma diminuição das vogais de sete para cinco - em virtude da neutralização que ocorre entre as vogais médias baixas e médias altas, conservando-se as médias altas – os grafemas, dos quais o sistema dispõe, continuam sendo os mesmos. O presente trabalho tem como objetivo verificar o que ocorre com a grafia das vogais em posição pretônica, em textos espontâneos produzidos por crianças de 1ª a 4ª série dos anos iniciais, pertencentes a duas escolas de Pelotas, uma pública e a outra particular. Os textos analisados estão sendo extraídos do Banco de Textos de Aquisição da Escrita (FaE/UFPel). A análise de acordo com o tipo de escola – feita com duas coletas do já mencionado Banco de Textos – mostrou que na escola pública a incidência de erros na grafia das vogais pretônicas é maior do que na escola particular. Os resultados até agora obtidos, apontam para a predominância de erros motivados pela fonética na grafia das pretônicas em ambas as escolas pesquisadas. Outro resultado relevante é a proporcional distribuição do número de erros de supergeneralização, fenômeno que, segundo Menn & Stoel Gammon (1997), é o marco da verdadeira aprendizagem da regra. Foram encontrados dez casos de supergeneralização – de um total de quarenta e três erros – na escola particular; e dezenove – de um total de sessenta e oito – na escola pública. Assim percebemos que, mesmo as crianças da escola pública errando mais a grafia das vogais pretônicas, as crianças das duas escolas demonstram estarem pensando sobre a língua escrita ao não observarem sub-regularidades do sistema, estendendo uma regra a contextos onde ela não se aplica.

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DADOS DA ESCRITA INFANTIL E SUA CONTRIBUIÇÃO À DISCUSSÃO FONOLÓGICA SOBRE OS DITONGOS [AJ] E [EJ] Marco Antônio Adamoli (UFPel) Ana Ruth Moresco Miranda (UFPel) Pesquisas variacionistas, ao abordarem a supressão das semivogais dos ditongos fonéticos nas mais variadas regiões do país (MENEGHINI, 1983; CABREIRA, 1996; PAIVA, 1996; ARAÚJO, 2000), têm constatado uma forte tendência à preferência apenas pela vogal-base dos ditongos [aj], [ej] e [ow]. Essa constatação levou Bisol (1989, 1994), com base nas teorias fonológicas não lineares, a afirmar que os ditongos fonéticos ou os falsos ditongos, como denomina a autora, ocupam apenas uma posição no nível CV, ou seja, as vogais altas desses ditongos não existem na forma subjacente. Dados da aquisição fonológica também corroboram com essa afirmativa, já que as crianças, em fase de aquisição da linguagem, nunca realizam os falsos ditongos, conforme observou por Bonilha (2000). Adamoli (2006), ao descrever e analisar o processo de aquisição gráfica dos ditongos orais mediais em 940 textos de alunos das duas primeiras séries de duas escolas de Pelotas/RS, observou uma grande quantidade de erros ortográficos de naturezas diversas relacionados à grafia dos ditongos mediais, cujas semivogais ora eram grafadas, ora suprimidas, ora, ainda, substituídas por consoantes. Tal observação revelou a ambigüidade no tratamento destas estruturas pelas crianças, bem como a dificuldade que as crianças apresentam em relação à escrita desses constituintes silábicos. Na tentativa, então, de contribuir com a discussão a respeito do status fonológico dos ditongos do PB, este estudo pretende discutir, a partir de dados de aquisição de escrita infantil, parâmetros relativos à fonologia do português brasileiro, mais especificamente no que diz respeito à proposta de Bisol (1989/1994) sobre a origem do glide epentético dos ditongos fonéticos. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS ERROS ORTOGRÁFICOS REFERENTES À GRAFIA DAS SOANTES PALATAIS E DISCUSSÃO SOBRE SEU STATUS FONOLÓGICO Shimene Teixeira (FaE – Pic/UFPel) O presente trabalho tem o objetivo de descrever e analisar os erros ortográficos referentes à grafia das soantes palatais ‘nh’ e ‘lh’ para, posteriormente, discutir a relação possível entre essas incidências e o status fonológico de tais consoantes. Para o desenvolvimento do estudo serão analisados tanto resultados relativos à aquisição fonológica desses segmentos (cf. Lamprecht, 2004) como as discussões teóricas acerca de seu status fonológico (cf. Wetzels, 2000). As pesquisas sobre a aquisição fonológica do português têm mostrado uma certa tendência hierárquica, na aquisição dos fonemas da língua. Evidenciou-se, através de tais estudos, que a palatal nasal /ñ/ é adquirida por volta de 1:7, enquanto a palatal líquida /l/

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é um dos últimos fonemas a serem adquiridos, por volta dos 4 anos de idade. Quanto à fonologia, essas consoantes podem ser interpretadas como geminadas ou como consoantes complexas, de acordo com Wetzels (2000) e Matzenauer-Hernandorena (1994), respectivamente. Os erros ortográficos analisados serão extraídos de produções escritas espontâneas, pertencentes ao Banco de Textos de Aquisição da Escrita (Fae/UFPel). Os textos foram produzidos por crianças de 1ª a 4ª série dos anos iniciais do ensino fundamental, de duas escolas de Pelotas, uma pública e outra particular. Os resultados mostram que a incidência deste tipo de erro é bastante baixa, visto que a grafia das palatais obedece a regularidades do sistema ortográfico, exceto em algumas palavras que envolvem a liquida. Há, porém, dados que mostram casos de substituição e de outras estratégias utilizadas pelas crianças ao representarem graficamente esses fonemas, os quais oferecem indícios para que se discuta a fonologia dessas consoantes. RESUMOS DOS PÔSTERES – SESSÃO II Filologia FILOLOGIA PASSO A PASSO Ana Kelly Borba da Silva (UFSC) Gisele Iandra Pessini Anater (UFSC) Esta pesquisa filológica trata sobre a preparação de um glossário para a obra Bulha d’Arroio de Tito Carvalho. Este foi defensor da literatura regionalista e costumava enfatizar, em especial, as particularidades e diversidades de sua região. Nessa perspectiva, a língua tinha uma grande importância para o autor. A Filologia é uma ciência muito antiga que se ocupa da linguagem de várias maneiras. Aborda, entre outras formas, a “edição crítica de textos”, a qual procura reconstituir o texto original (a partir de manuscritos ou edições antigas, de vida do autor) adaptando para o leitor, desfazendo abreviaturas, atualizando a pontuação, interpretando passos obscuros, podendo inclusive substituir o sistema ortográfico, sempre buscando, entretanto, respeitar a obra original e o autor. Ressaltamos que a edição crítica pode ter diversas formas, dependendo do público a que se dirige. Por essa razão, é imprescindível que, em um prefácio ou em uma introdução metodológica, o filólogo-editor determine os princípios e as normas adotadas. A escritora Danila Varella produziu uma edição crítica de Bulha d’ Arroio usando como texto base a primeira e única edição, datada de 1939. Danila colheu as versões que saíram nos periódicos para o cotejo com aquele texto. Procedeu a atualização ortográfica e publicou sua edição crítica, destacando em notas de rodapé a ortografia do texto original (isto é, da primeira edição) e as divergências ortográficas encontradas nos jornais. No entanto, a autora suprimiu o vocabulário produzido pelo autor, parte integrante da obra, sem sequer mencionar sua existência. A partir disso, passamos à restauração do

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texto original da obra. O processo de restauração do texto fundamenta-se nos pressupostos teóricos de Spina (1994), dispostos em Introdução à Edótica: crítica textual. Com base nos procedimentos definidos pelo autor, buscamos reproduzir da forma mais adequada e com a maior fidelidade possível a última forma desejada pelo autor, restituindo ao texto sua genuinidade e, com isso, permitindo ao leitor fruir uma narrativa confiável e ao crítico o exercício seguro de sua tarefa analítica. Coletamos todas as edições da obra; trabalhamos com três contos: “Bulha d’Arroio”, “Valentia” e “Luta de Touros” e também com o vocabulário. O produto final do nosso trabalho é a íntegra da obra, respeitada na sua autenticidade. Concluímos que não temos uma reedição fidedigna da obra, no que se refere ao texto de fato produzido por Tito Carvalho. Lexicografia COMBINATÓRIAS LÉXICAS ESPECIALIZADAS DA GESTÃO AMBIENTAL: SUAS CARACTERÍSTICAS EM LÍNGUA ESPANHOLA Carolina dos Santos Carboni (UFRGS) Cleci Regina Bevilacqua (UFRGS) Este trabalho tem o objetivo de descrever um conjunto de combinatórias léxicas especializadas (CLEs) da área da Gestão Ambiental em língua espanhola em contraste com a língua portuguesa. Seguindo a proposta de L'Homme (2000), definimos as CLEs como combinações de dois ou mais lexemas, um dos quais é uma unidade terminológica, para as quais há uma restrição de seleção determinada pelas especificidades da área em que são utilizadas. Tal restrição pode ser observada nas combinações do termo meio ambiente, que seleciona combinatórias como conservar o meio ambiente e preservar o meio ambiente, mas não admite outras como *guardar o meio ambiente, *amparar o meio ambiente ou *reter o meio ambiente. Pretende-se analisar a constituição dessas combinatórias e identificar suas características semânticas a fim de reconhecer suas especificidades. Iniciamos pela análise das CLEs do termo água, em que se constata que os traços semânticos de água se constituem em função dos verbos com os quais o termo ocorre. Assim, quando água se combina com conservar, adquire os traços de [+recurso natural, +bem público, +potável], e, quando se combina com reciclar, adquire os traços [+recurso natural, +bem público, +usada, -potável, +passível de reuso]. Considerando os resultados desta análise, objetiva-se verificar se, em espanhol, ocorrem essas mesmas mudanças na constituição das CLEs em relação ao termo água ou se há outras especificidades. Para a identificação das combinatórias em espanhol, construímos um corpus constituído por textos acadêmicos de revistas argentinas e espanholas, totalizando cerca de 130 mil palavras. Para a extração das combinatórias geraram-se os contextos do termo água utilizando a ferramenta Concord do software Wordsmith Tools 4.0. A partir

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deles, selecionaram-se as combinatórias formadas com o termo referido, que foram analisadas segundo suas características semânticas. Uma análise prévia dos dados coletados nos permite afirmar que as CLEs dos textos da Espanha caracterizam água como um bem de consumo e não como um bem público. Com os resultados obtidos, espera-se estabelecer parâmetros tanto para a compreensão da conformação das CLEs em língua espanhola como para a identificação dos equivalentes das combinatórias identificadas em língua portuguesa. Pretende-se ainda incluir tais resultados na base de dados de combinatórias que estará disponível na página do ACERVO TERMISUL (http://www6.ufrgs.br/termisul/acervotermisul.php). PADRÕES VERBAIS NAS CONSTITUIÇÕES LUSÓFONAS Carolina Rübensam Ourique (PIBIC/UFRGS) No quadro das teorias comunicativa e sociocognitiva da terminologia e com o aporte dos princípios básicos da gramática de valências e da lingüística de corpus, investigam-se os padrões verbais característicos da linguagem das constituições em português. Para tanto, foi construído um corpus contendo o texto das constituições vigentes nos países lusófonos (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste). Por meio de ferramentas informatizadas, foram produzidas listas de palavras, das quais se selecionaram os verbos. A partir dos verbos, foram então geradas as listas de contextos, a fim de observar o entorno de ocorrência de cada verbo e visualizar o sujeito e os complementos na estrutura argumental. Nesse âmbito, os verbos são analisados como unidades lexicais, sendo identificadas suas características morfológicas de voz, tempo, modo, número e pessoa e demais propriedades sintático-semânticas. Essa análise possibilita a organização dos verbos em grupos e subgrupos homogêneos. Espera-se, assim, contribuir com subsídios que apontem para uma possível tipologia verbal que venha auxiliar na descrição da linguagem formal (de cunho legal) em língua portuguesa. O TRATAMENTO DA VALÊNCIA VERBAL EM DICIONÁRIOS GERAIS DO PORTUGUÊS Eduardo Correa Soares (UFRGS) No núcleo de pesquisa do projeto Bases teórico-metodológicas para um dicionário monolíngüe de espanhol como L2 para estudantes universitários brasileiros, vimos desenvolvendo teorias meta-lexicográficas que dão conta de uma série de procedimentos que devem ser adotados pelo lexicógrafo, não somente voltado para o ensino da língua espanhola, mas também voltado para o ensino de língua materna. Nesse contexto, tem-nos ficado evidente que determinados problemas que ocorrem em dicionários de língua espanhola ocorrem, muitas vezes, também em obras voltadas para o português. O objetivo deste trabalho é, portanto, avaliar a pertinência das

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informações referentes à valência em dicionários gerais de língua portuguesa. Como metodologia, empregaremos uma teoria de valência que distinga entre actantes obrigatórios, actantes contextualmente facultativos e actantes facultativos, articulada sob dois parâmetros: a) Uma explicação coerente das opções de valência, descritas tanto como parte fundamental do comentário semântico, como parte do comentário de forma; b) A relevância dessas informações e a capacidade de decodificá-las por parte do estudante de língua materna (português). Apesar de o trabalho se encontrar em seu estágio inicial, com os estudos preliminares, levanta-se a hipótese de que usuário brasileiro não conte com muitos subsídios para extrair informações dessa natureza das obras lexicográficas gerais do português. O DESENHO DAS TAREFAS DE RECEPÇÃO E PRODUÇÃO EM UM DICIONÁRIO MONOLÍNGÜE PARA APRENDIZES DE ESPANHOL Mariana Espíndola da Cruz (UFRGS) Este trabalho faz parte de um projeto de pesquisa que visa a elaborar as bases teórico-metodológicas de um dicionário monolíngüe de espanhol como língua estrangeira (L2) para estudantes universitários brasileiros. Entre as funções que um dicionário de aprendizes deve satisfazer estão as de recepção e de produção. O objetivo do presente trabalho é determinar que tipos de tarefas de recepção e produção são exigidas do aprendiz iniciante de espanhol pelo “Marco Comum Europeu de Referência para as Línguas” e como os dicionários de aprendizes usados no Brasil reagem a essas tarefas. Como metodologia, empregaremos os princípios da Análise Contrastiva e os princípios da Teoria Metalexicográfica, a fim de estabelecer uma correlação entre as dificuldades que o usuário da língua materna portuguesa possa vir a ter no espanhol, especificamente nas tarefas de recepção e produção, e a representação dessas mesmas tarefas nos componentes canônicos do dicionário. Resultados prévios no tratamento de questões ortográficas permitem-nos prever que a disposição dessas informações é muito mais complexa do que aquilo que é feito corriqueiramente na lexicografia de dicionários de aprendizes. UM VOCABULÁRIO DEFINIDOR PARA UM DICIONÁRIO DE APRENDIZES DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA Vanessa da Rocha (UCPel) O objetivo da apresentação é descrever os critérios que foram usados para a seleção e elaboração de verbetes de um dicionário básico de português como língua estrangeira. Vê-se o dicionário como um artefato cultural que faz a mediação entre o aprendiz e o conteúdo a ser desenvolvido, partindo da Teoria da Atividade, com base em Vygotsky, Leontiev, Engestrom, Cole e Wertsch, principalmente. A metodologia usada constou inicialmente do levantamento de um léxico definidor. Como esse léxico ainda não existe em

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língua portuguesa, usou-se para isso dicionários de aprendizes de inglês como língua estrangeira, incluindo o Longman Dictionary of Contemporary English (primeira edição lançada em 1978), o Collins COBUILD English Dictionary (primeira edição em 1987), e o Cambridge Advanced Learner's Dictionary (1995). Todos esses dicionários usam um léxico básico, em torno de 2.000 palavras, para definir cada termo que é introduzido. O procedimento usado na metodologia constou de uma tradução inicial do vocabulário básico de cada um desses dicionários, que foi posteriormente mesclado num léxico único, refinado e avaliado num corpus de 3.000 palavras de uso freqüente na língua portuguesa. Chegou-se, assim, a um vocabulário definidor de 2.362 palavras. Esse vocabulário foi testado na elaboração de um dicionário eletrônico experimental, com verbetes estruturados em cinco itens, assim delineados: (1) transcrição da cabeça do verbete; (2) uso de ilustrações para esclarecer o significado da palavra, quando adequado; (3) transcrição de cada acepção, do modo mais simples possível, usando apenas o léxico do vocabulário definidor; (4) transcrição de exemplo de uso da palavra, usando uma frase curta ou um segmento menor; (5) tradução da palavra para a língua inglesa. A conclusão, considerando cerca de 2.000 palavras já introduzidas no dicionário através do vocabulário definidor, sugere sua viabilidade, embora ocasionalmente alguns ajustes ainda precisem ser feitos. Lingüística Aplicada ao Ensino “PARA NÓS APRENDER A LER E ESCREVER DIREITINHO”: ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NA PERSPECTIVA DOS ALUNOS Alícia Endres Soares (UCPel) Dentro da escola parece não haver espaço para refletir ou apontar o porquê de se ter, de ensinar e de aprender, determinadas disciplinas. De acordo com Geraldi (1984/2004) “para que ensinamos o que ensinamos?” e “para que as crianças aprendem o que aprendem?” são perguntas esquecidas, sendo que tais questões são as que deveriam nortear todas as diretrizes do ensino. Compreendemos o ensino de língua materna com base em Faraco & Castro (2000); Antunes (2003); Possenti (1996) e Geraldi et alii (1984/2004). Quando se trata do ensino de Língua Portuguesa (LP), Antunes alerta para a necessidade de se: assumir uma concepção de língua, ter uma concepção de gramática e repensar o objetivo/objeto de ensino. O presente trabalho decorre de uma pesquisa realizada em escolas públicas e particulares da cidade de Pelotas/RS (de 5ª série a 2º ano do Ensino Médio) no intuito de verificar as concepções e idéias acerca do ensino de LP tanto entre os professores como entre os alunos; para este pôster, especificamente, pretende-se apresentar os objetivos do ensino de LP na perspectiva dos alunos. Eles responderam de forma escrita à pergunta “Pra que a escola

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oferece aulas de Língua Portuguesa aos alunos?”. Observou-se neles certa surpresa diante de tal questionamento, já que quase não se discutem as razões/finalidades das aulas de língua materna do/no espaço escolar. Entende-se que as falhas e as possíveis distorções no ensino de LP surgem por nem sempre existirem respostas claras e coerentes sobre o verdadeiro papel dessa disciplina na escola. A ação de esclarecer os objetivos e os propósitos desse ensino parece ser o ponto de partida para um trabalho produtivo e significativo em sala de aula. Algumas das respostas dos alunos revelam justificativas para as aulas de LP como (nas palavras deles): “se sair melhor na vida”, “Para nós aprender a ler e escrever direitinho”, “melhorar a pronúncia”, “preparar-nos para o mercado de trabalho”, “sem ela não há progresso em área nenhuma”. CONCEPÇÕES E ENSINO DE LÍNGUA MATERNA Daiana de Nez Moura (UNOCHAPECÓ) Mary Stela Surdi (UNOCHAPECÓ) Mary Neiva S. Da Luz (UNOCHAPECÓ) O ensino de língua portuguesa tem sido tema de problematizações nas últimas décadas e objeto de estudo em diversos trabalhos de pesquisa que analisam diferentes facetas envolvidas no processo de ensino-aprendizagem da língua. Lançando um olhar sob a figura do professor de língua, este projeto teve como objetivo geral diagnosticar e analisar quais são as concepções teórico-metodológicas que norteiam o ensino de língua portuguesa nas séries finais do ensino fundamental. Para desenvolver a pesquisa, foram entrevistados sete professores que atuam em escolas da rede pública estadual no município de Chapecó/SC. A partir dos dados coletados, constatou-se que o professor tem mudado sua postura quanto ao sistema educacional, já que a maioria dos entrevistados leva em consideração o aluno, suas dificuldades e bagagem cultural para o planejamento de suas aulas. No entanto, o papel da teoria, na prática, fica um tanto distorcido na visão de alguns deles, que afirmam lembrar das idéias sociointeracionistas aprendidas em sua formação, mas que continuam utilizando em suas aulas formas tradicionais de ensino, como o ensino da gramática descritiva. Em suas falas, os professores revelam como se constrói o fazer em sala de aula, quais são suas práticas cotidianas, como se deu sua formação e quais dificuldades enfrentam. Por meio dos dados levantados foi possível constatar que os professores planejam suas aulas procurando articular alguns elementos como os projetos da escola, os interesses dos alunos e os livros didáticos disponíveis. Também mostram uma preocupação com o trabalho com os gêneros textuais e a gramática a partir do texto. Apesar de ainda se revelarem alguns problemas, como em relação ao trabalho com a oralidade em sala de aula, pode-se observar que os professores revelam-se conectados às atuais orientações oficiais em relação ao ensino de língua.

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SALA DE AULA DE LÍNGUA PORTUGUESA: LUGAR DE DICIONÁRIOS? LUGAR DE FALANTES? QUE RELAÇÕES SÃO ESSAS? Daiane da Silva Delevati (UFSM) Esse trabalho visa refletir sobre os resultados obtidos através do desenvolvimento do projeto "O Lugar do Dicionário como Instrumento Didático-Pedagógico no Ensino de Língua Portuguesa". Dessa forma, apresentaremos as reflexões acerca do estudo do funcionamento do dicionário, por meio de atividades desenvolvidas em sala de aula, com uma turma de sétima série do Ensino Fundamental de uma escola pública de Santa Maria. Este estudo foi realizado a partir de uma perspectiva teórico-metodológica que segue os pressupostos da Análise de Discurso (AD) de linha francesa, fundada por Michel Pêcheux. Para este trabalho, selecionamos o ponto de vista que estabelece relações entre o que está posto na língua (o saber do falante) e o que passa a ser institucionalizado pela língua (o saber constante do dicionário). Assim, focaremos as contradições, os distanciamentos e também as aproximações entre esses saberes. Trata-se de um trabalho de observação / revelação do funcionamento das relações entre referente, designação e produção de sentidos no interior de um instrumento lingüístico da maior importância para o ensino de língua portuguesa - o dicionário. PESQUISA EM ESCRITA NO BRASIL: UMA ANÁLISE DE PRINCÍPIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS Francieli Socoloski Rodrigues (UNIPAMPA) O ponto de partida para este trabalho foi o pressuposto de que a análise das formas de investigação exerce papel fundamental na construção da epistemologia de uma dada área (MOITA LOPES, 1994; MOTTA-ROTH, 2005). A fim de contribuir para o debate metodológico em Lingüística Aplicada (LA), em minha dissertação de mestrado, tomei como objeto de investigação a pesquisa sobre escrita publicada em periódicos de circulação nacional. O objetivo do estudo foi identificar discursos sobre a escrita (princípios teórico-metodológicos) presentes nos artigos. O corpus foi composto por vinte relatos de pesquisa publicados em três dos mais importantes periódicos de LA do Brasil. A referência teórica para identificar discursos sobre a escrita foi o enquadre analítico proposto por Ivanic (2004), que descreve seis diferentes discursos sobre a escrita, os quais foram reagrupados em três grandes posições epistemológicas: o discurso da escrita como estrutura, o discurso da escrita como processo cognitivo e o discurso da escrita como prática social. O discurso da escrita como prática social aparece como a tendência predominante em termos de como a linguagem e a escrita são teorizadas. A construção desse discurso é materializada por escolhas semânticas que evocam o caráter situado da escrita, como “evento situado”, “contextos específicos” e “propósitos específicos”. No entanto, se

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os princípios teóricos projetados sobre a escrita a destacam como um fenômeno social, os desenhos de pesquisa propostos enfatizam os níveis textuais e cognitivos de entendimento da escrita. Os estudos tomam textos como o principal corpus de análise, enquanto há rara investigação dos contextos de escrita, dos sistemas de atividade e das práticas socioculturais em que a escrita desempenha papel constitutivo. Isso pode ser interpretado como um sinal de que a área de investigação passa por um momento de transição e que os desenhos de pesquisa ainda estão sendo elaborados para dar conta das mudanças recentes de paradigma na área da escrita: de uma visão cognitivista para uma visão social da linguagem e de sua aprendizagem. Lingüística Aplicada LE ¿HAY RESTRICCIONES ABSOLUTAS EN LAS INTERFERENCIAS? Patrícia Mussi Escobar (FURG) María Josefina Israel Semino (FURG) Nuestra base teórica es la Escala Invertida de Interferencias de María J. Israel Semino (2007), que estudiando el contacto lingüístico español-portugués en situación formal, en el habla de alumnos universitarios brasileños que aprenden español en la ciudad de Rio Grande (Brasil), sostiene que no hay restricciones absolutas a las interferencias. Esa posición se contrapone a la asumida anteriormente por Whitney (1914), Meillet y Sapir (1921), Timm (1975), Klavans (1983); Poplack (1980), Weinreich (1953) y Aitchison (1991), Di Sciullo, Muysken y Singh (1986), entre otros, que sostienen la tesis de que hay restricciones absolutas a las interferencias, aunque con diferencias en relación a las categorías afectadas por dichas restricciones. Nuestro estudio consistirá en oír grabaciones de informantes de la región fronteriza del Uruguay con el Brasil, que fueron entrevistados para la elaboración del Atlas Lingüístico Diatópico y Diastrático del Uruguay (ADDU), para verificar si hay o no restricciones absolutas al fenómeno de la interferencia. Nos fijaremos en especial en lo que sucede en el nivel gramatical-morfológico: entre el vínculo del pronombre sujeto y objeto; en el orden estructural superficial de las lenguas en contacto; con verbos principales vinculados a verbos auxiliares o en infinitivo; entre la raíz y la desinencia de algunas formas verbales y en la regencia preposicional de los verbos.

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TRATAMENTO DE ALOMORFES DE ARTIGO NO COMENTÁRIO DE FORMA DE UM DICIONÁRIO PARA APRENDIZES DE ESPANHOL Agnesse Radmann Gonzalez (UFRGS) O aprendiz de Espanhol tem dificuldade em calcular o artigo a ser empregado em uma série de substantivos do espanhol que têm como traço comum possuir um ‘a’ tônico em posição inicial absoluta. O objetivo do presente trabalho é propor estratégias para representar essas particularidades morfo-fonológicas das unidades léxicas no comentário de forma. Como metodologia, empregaremos princípios da análise contrastiva e da morfo-fonologia aliados a princípios metalexicográficos. Nossos primeiros resultados indicam que é necessário empregar estratégias complementares à simples marcação de gênero, empregada atualmente nos dicionários de espanhol. OBJETOS DIGITAIS DE APRENDIZAGEM PARA O ENSINO DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA Jordane Duarte de Souza (UCPEL) A introdução das novas tecnologias, mediadas pelo computador e pela Internet, tem trazido novas possibilidade de ensino e aprendizagem da língua portuguesa como língua estrangeira. Umas dessas possibilidades é o uso de objetos digitais de aprendizagem (Churchill, 2005; Wiley, 2006; Leffa, 2006). Em que pese, no entanto, o esforço do Ministério de Educação (Projeto RIVED), de órgãos de fomento (FAPESP), de associações científicas (ABED), e mesmo de grandes empresas como a Microsoft, a existência de objetos para aprendizagem da língua portuguesa é inexpressiva. No caso de Português como Língua Estrangeira, são praticamente inexistentes. O objetivo deste trabalho é avaliar a potencialidade desses objetos como instrumentos mediadores da aprendizagem da língua portuguesa por alunos estrangeiros. A metodologia constou de um levantamento inicial dos recursos disponíveis na Internet, incluindo textos, imagens, áudio e vídeo. Num segundo momento, procurou-se incorporar esses recursos em atividades de ensino, produzindo objetos digitais de aprendizagem, através de um sistema de autoria. Seis tipos de objetos foram produzidos, incluindo atividades como cloze, ditado musical, leitura acompanhada de textos, jogo da memória, ordenação de segmentos textuais e testes de múltipla escolha. O uso de um dicionário acoplado ao texto foi também explorado, visando facilitar a construção do significado pelo leitor aprendiz. A conclusão, ainda preliminar, é de que os objetivos de aprendizagem para o ensino de português como língua estrangeira oferecem possibilidades e desafios. Entre as possibilidades está o uso integrado da multimodalidade, incluindo imagens, áudio e vídeo, o que pode contribuir para tornar a atividade mais interessante e produtiva para o aluno. Entre os

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desafios, destaca-se a necessidade de domínio das novas tecnologias por parte do professor. Lingüística Textual A TRADUÇÃO NO CONTEXTO EDITORIAL MIDIÁTICO: UM ESTUDO DE CASO DO ESPANHOL PARA O PORTUGUÊS Carolina Pereira Barcellos (FALE/UFMG) Kórian Leite Carvalho (FALE/UFMG) Célia Maria Magalhães (FALE/UFMG - CNPq) A tradução de notícias tem sido estudada a partir da noção de gatekeeping, levando-se em consideração um conjunto de estratégias de escolhas e edição no processo de produção textual midiática. Esse processo sofre a influência de um conjunto de regras determinantes, cujo modus operandi apresenta-se fragmentado por diferentes instâncias de poder, assim como por diferentes graus de acesso aos fatos/informações a ser veiculados. Tendo como base a abordagem descritiva, fundamentada na lingüística sistêmico-funcional (LSF), partiu-se da noção de que as línguas estão organizadas em torno de componentes funcionais no plano semântico-discursivo. Tal concepção permitiu a descrição do corpus escolhido nos termos das três metafunções hallidayanas (a saber: metafunções ideacional, textual e interpessoal). Ao considerar a linguagem como sistema e comportamento, este trabalho tomou, mais especificamente, o aparato de análise proposto pela gramática sistêmico-funcional (GSF), colocando em evidência as funções que uma oração pode realizar dentro de um complexo oracional e as relações de transitividade estabelecidas entre os seus segmentos. Foram utilizados, ainda, além do conceito de gatekeeping, os recursos de análise pertinentes à lingüística de edição de notícias, tais como a supressão de informações, as substituições lexicais e as regras para a edição sintática. O corpus escolhido para esta análise consistiu na carta “Mensaje del Comandante en Jefe” do então presidente cubano Fidel Castro, a qual foi publicada em espanhol pelo jornal Granma Internacional – publicação afiliada ao governo de Cuba –, e as suas traduções para o português, feitas e publicadas pelo próprio Granma, pelo jornal Folha de S. Paulo, pelo website do Partido dos Trabalhadores e pela revista Bohemia – publicação cubana não afiliada ao governo. Os resultados obtidos demonstraram alterações principalmente nas estruturas dos complexos oracionais dos textos-alvo. Foram constatadas ainda mudanças na ordem sintática de determinados segmentos, acompanhadas de variações lexicais. Embora essas ocorrências pertençam a pontos específicos do discurso, são devidas a escolhas do tradutor e/ou editor, e não exclusivamente a distinções lingüísticas pertinentes aos sistemas da língua espanhola e da portuguesa.

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A QUALIDADE DAS NARRATIVAS INFANTIS ESCRITAS: INFERÊNCIAS E TERGIVERSAÇÕES Claudia Susana Dias Cespi de Capos (FAE-UFPEL) Este estudo pretende apresentar resultados parciais referentes à qualidade das narrativas infantis escritas quanto à presença de modificações (Landsmann, 1995). O corpus é constituído de textos de 50 crianças com idades entre 7 e 11 anos, freqüentando da 1ª à 4ª série, em uma escola da rede pública municipal de Pelotas. Os textos pertencem ao Banco de Textos da FaE – UFPel, e foram escolhidos por terem sido produzidos a partir de um texto de referência, especificamente, o conto de fadas “Chapeuzinho Vermelho”. A qualidade das narrativas escolares pode estar relacionada à presença de vários fatores que a enriquecem, entre eles, a forma de interpretação dos acontecimentos lidos/ouvidos. Segundo Landsmann, aquilo que o leitor/ouvinte sabe ou viveu filtra o texto e isso se evidencia através do esquecimento, transformação ou acréscimo de informações com relação ao texto de referência. As informações experienciais e extratextuais são, em grande parte, as responsáveis por inferências e modificações realizadas, mas estas também poderão ocorrer devido ao que Bettelheim chamou de “Sentido profundo do relato”, ou seja, aquilo que não aparece expresso lingüisticamente, mas simbolizado. A análise preliminar dos textos estudados mostrou que as modificações mais freqüentemente ocorridas são: a invenção de acontecimentos, as inferências, as tergiversações locais (alterações no sentido do texto) e as tergiversações generalizadas (alterações no sentido geral do texto). Como exemplos de modificações, podemos citar dois trechos. O primeiro ilustra as invenção de acontecimento: “ (...) um lemhador ele estava com um um chamdo cortou a barrigo do bolo e pegou a vovó e todo viveram feliz para sempre com delicios cois boas debois do suas tomavam um chá gostoso (...)”. Na história de referência, nada mais acontece após a morte do Lobo; o chá com coisas boas é um novo acontecimento, inventado pela criança. O segundo trecho ilustra uma inferência a partir do texto original: “(...) e esta boca tão grande é pra te comer e a chapeusinho vermeleo gritou socorro socorro e um lenla dor estava passando quando escutou socorro e o lenhador arronbou a porta e cortou a barriga do lobo e ti-rou a vovó de dentro do lobo (...)”. A criança inferiu que Chapeuzinho gritou por socorro e que o lenhador arrombou a porta, embora não haja nenhuma indicação desses fatos na história de referência. A RELAÇÃO DE COMENTÁRIO EM ARTIGOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA Maria Eduarda Giering (UNISINOS) Janice Mayer (BIC-UNISINOS) Este trabalho apresenta resultados parciais do projeto de pesquisa “Divulgação Científica: Estratégias Retóricas e Organização Textual –

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DCEROT” e objetiva identificar a relação de comentário em 62 artigos de divulgação científica dirigidos a jovens e publicados na versão on line das revistas Ciência Hoje das Crianças, Recreio, Mundo Estranho e do caderno Folhinha do jornal Folha de São Paulo. Além disso, quer-se também verificar a incidência do comentário, a sua posição no texto e as relações que o antecedem, bem como identificar as ações discursivas do produtor do texto presentes nesta relação e os efeitos por elas produzidos. Os dois pilares teóricos que sustentam este trabalho são a noção de texto como estratégia, conforme os postulados do lingüista textual Enrique Bernárdez (1995), e a Teoria da Estrutura Retórica (RST), idealizada por Mann e Thompson (1992), a qual proporciona uma explicação da coerência textual por meio de relações entre as unidades de informação de um texto. A relação de Comentário é uma dentre as várias estratégias de continuidade textual de que o produtor pode valer-se e consiste em uma nota subjetiva introduzida pelo produtor numa perspectiva diferente da apresentada no segmento anterior do texto. O comentário foi identificado por meio dos critérios da RST e do reconhecimento do fim discursivo dos textos do corpus. Dos 31 textos da revista Ciência Hoje das Crianças analisados, 26 possuem comentário, dos 14 textos do caderno Folhinha, 9 apresentam Comentário, enquanto que 4 dos 9 da revista Mundo Estranho possuem esta relação. Já todos os 8 textos da revista Recreio apresentam comentário. Assim, 47 dos 62 textos que compõem o corpus desta pesquisa apresentam comentário, sendo esta a relação de fechamento em 46 dos 47 textos em que se observa a sua incidência. Constatou-se também que o comentário é precedido pela relação de solução em 27 textos, pela relação de elaboração em 17 textos e pela relação de fundo em três textos. No que tange às ações discursivas presentes no comentário, verificou-se que o produtor insere informações adicionais ou curiosidades sobre o tema abordado no texto, aconselha o leitor ou convida-o, por meio de uma interrogação, a imaginar novas situações e descobertas além daquelas presentes no texto. Os efeitos visados pelo produtor com essas ações discursivas são de aproximar o leitor ao objeto do texto e de instigar a sua imaginação. COESÃO LEXICAL E TRANSITIVIDADE NA TRADUÇÃO Kórian Leite Carvalho (FALE/UFMG) Carolina Pereira Barcellos (FALE/UFMG) Célia Maria Magalhães (FALE/UFMG- CNPQ) A pesquisa em lingüística aplicada integrando a coesão lexical e os estudos da tradução tem sido desenvolvida no Brasil por pesquisadores associados ao Corpus Discursivo para Análises Lingüísticas e Literárias – CORDIALL, desenvolvido no LETRA (Laboratório Experimental de Tradução) da FALE/UFMG. O presente trabalho está vinculado a esse corpus e seu objetivo foi analisar padrões coesivos em corpora de tradução. Foram analisados os padrões das relações coesivas e dos processos em um texto original e sua tradução. Tal pesquisa apontou a necessidade de uma análise

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das relações coesivas em textos originais e traduzidos. Dentro dessa perspectiva, trechos selecionados de livros de literatura infantil contemporâneos foram estudados segundo as diferentes metodologias para a coesão lexical propostas pela gramática sistêmico-funcional (GSF). O corpus utilizado conta com um trecho do livro The English Roses, de Madonna, originalmente escrito em inglês, e a sua tradução para o português brasileiro, intitulada As Rosas Inglesas. Foi investigada a coesão lexical em um trecho de um corpus paralelo de literatura infantil através da metodologia de análise proposta pela GSF. Além disso, analisaram-se as semelhanças e diferenças quanto à coesão lexical, tentando identificar possíveis padrões. O presente estudo mostrou que as mudanças identificadas quanto aos recursos coesivos da tradução em relação ao original podem ser explicadas parcialmente por diferenças entre os sistemas de transitividade das línguas em estudo. Não há mudanças significativas na tradução quanto aos tipos de processos, porém escolhas tradutórias relacionadas a estes interferem nas redes coesivas. Houve a constatação de padrões no texto original que foram alterados na tradução. As escolhas dos processos modificaram as redes coesivas e os campos semânticos construídos no texto através da transitividade. No texto em inglês, a rede coesiva com processos relacionais realizados pelo verbo to be é mais freqüente que na tradução. Embora seja necessário expandir o trecho analisado, este trabalho mostrou que a maior parte das diferenças no corpus, como é o caso daquelas relativas ao uso da repetição e da colocação, está relacionada ao sistema lingüístico de cada idioma em questão. Por fim, o referencial teórico adotado e a metodologia aplicada se mostraram eficientes para identificar diferenças e semelhanças entre texto original e tradução. A INTELIGIBILIDADE NA COMUNICAÇÃO DA OBRA PRIMEIRAS ESTÓRIAS, DE GUIMARÃES ROSA Vanessa Koudsi Faustini (PUCPR) Como pode ser tão difícil compreender os textos de alguém que escreve na minha língua materna? É esta pergunta que dá início ao artigo em questão, o qual pretende demonstrar as diferentes formas de inteligibilidade que João Guimarães Rosa utiliza na produção dos contos de Primeiras Estórias. De acordo com Koch (1995), a linguagem humana pode ser percebida como a união de três concepções: “uma representação do mundo e do pensamento, um instrumento de comunicação, uma forma de ação e interação”, ou seja, nada nela pode ser considerado estático ou imutável. Neste contexto, pode-se afirmar que Guimarães Rosa corrobora a dinamização da língua ao criar recursos lingüísticos que consentem numa leitura de diversas interpretações. Para compor este artigo foi necessário limitar a pesquisa em três partes: análise lexical, análise sintática e análise dos neologismos, especificidades que permitiram ao autor a invenção de uma nova literatura, não apenas uma literatura regionalista, mas sim, intimista e inovadora, repleta de experimentações da própria linguagem, as quais instituem uma “plumagem e

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canto das palavras”, na junção dos aspectos auditivos e visuais, compondo uma verdadeira orquestra sonora. XENOFONTE E A CIROPEDIA: CAMINHOS E RECURSOS DE UMA BIOGRAFIA Vinicius Ferreira Barth (UFPR) Pretendo, com este trabalho, investigar os recursos biográficos empregados por Xenofonte para a constituição da obra que conhecemos hoje como Ciropedia. Traçarei um raciocínio que abordará questões relativas ao modo como o gênero biográfico era pensado na Antigüidade e como se separava do gênero romanesco. Considerarei também a teoria de que Xenofonte teria ficado mais à vontade na Ciropedia (ou Educação de Ciro) para expor suas teorias educacionais, as quais julgava convenientes a um futuro soberano. Sendo considerada por alguns como pertencendo a um estilo próximo do romance histórico, a Ciropedia de Xenofonte é uma biografia permeada da idéia de ficção. Identificarei os meios empregados pelo autor para a conclusão do texto e quais as intenções implícitas que esse texto sugere ao seu leitor, tal como recursos retóricos, publicidade ou idealismo. Abordo também os motivos pelos quais Xenofonte foi levado a compor a biografia do soberano persa, filho de Dario II, estando esses motivos intimamente ligados ao estilo de escrita adotada pelo autor. Este estudo abrange não só questões de delimitações estilísticas na Antiguidade, como as fronteiras entre gênero romanesco e gênero biográfico, como também abrange as suas respectivas funções sociais e recursos estéticos e estilísticos na composição e construção da biografia. Sintaxe PROPRIEDADES DAS NOMINALIZAÇÕES A PARTIR DE VERBOS DEADJETIVAIS Adriano Scandolara (UFPR) O objetivo deste trabalho é apresentar as propriedades semânticas das nominalizações a partir de verbos deadjetivais, como modernização, mistificação, privatização, enriquecimento, enlouquecimento, entristecimento, etc. Segundo Grimshaw (1994), a possibilidade de os nomes tomarem ou não argumento depende de sua natureza como atribuidor temático. Alguns nomes são como os verbos, outros não. Essa diferença já foi descrita tendo em vista a oposição concreto x abstrato, mas não parece ser este o critério mais confiável. Para Grimshaw, esta diferença se deve ao fato de o nome estar ou não associado a uma estrutura de evento. Os chamados nominais de eventos complexos tem uma estrutura argumental interna e tomam argumentos e isso torna-os diferentes dos outros nominais. Para estabelecer essa diferença, a autora apresenta alguns testes: uso de

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expressões que modificam o evento (modificadores aspectuais), o uso de by-phrase, pluralização, comportamento em relação à propriedade contável e incontável, a ocorrência com “sujeitos” indefinidos, etc. Aplicamos esses testes aos nominais que estão sob investigação e concluímos que não é possível afirmar que eles teriam uma estrutura de evento interna, tal qual a proposta de Grimshaw. Por outro lado, como a base inicial é um adjetivo, mostramos que certos traços dos adjetivos permanecem na semântica do nome. Nosso trabalho procura também buscar generalizações para a estrutura morfológica desses nominais. CARACTERÍSTICAS SINTÁTICAS E SEMÂNTICAS DE VERBOS DEADJETVAIS DO PB Lara Frutos (UFPR) Este trabalho tem o objetivo de descrever e analisar verbos que se formam a partir de adjetivos, como “enrijecer”, “endurecer”, “engrandecer”, etc., avaliando as contribuições dos afixos e das propriedades lexicais dos adjetivos para a acionalidade e a estrutura argumental desse tipo de verbo. A hipótese aqui levantada é a de que os afixos representam uma marcação morfológica de aspecto, influenciando também a estrutura argumental do verbo. A análise proposta por este trabalho sugere que os verbos deadjetivais pertencem à classe acional dos degree achievements (Dowty, 1979) por causa da natureza vaga dos adjetivos. Além disso, esses verbos, por denotarem uma mudança de estado em função da contribuição dos afixos en+ADJ+ecer, passam a possuir necessariamente um argumento interno afetado e, na maior parte dos casos, um argumento externo que é responsável por desencadear o processo de mudança. Ambos os argumentos se encaixam na descrição dos proto-papéis temáticos propostos por Dowty (1991). Assim, a morfologia desses verbos, em função da contribuição dos afixos, marca uma mudança de estado (e, conseqüentemente, um ponto de culminação), o que define uma estrutura argumental diádica; isso, em conjunto com a natureza vaga dos adjetivos formadores desses verbos, acaba por delimitar a classe acional a que eles pertencem. ORDEM DAS PALAVRAS E A TOPICALIZAÇÃO SELVAGEM: EXPERIMENTOS PERCEPTUAIS Michelle Donizetti Euzébio (UFSC/PIBIC) Este trabalho pretende aprofundar o estudo sobre as relações entre diferenças melódicas e estruturais em um conjunto de sentenças com fronteamento de algum constituinte. O alvo específico de interesse são as construções de topicalização “selvagem” como a geladeira queimou o motor. Trabalhos anteriores mostraram que é possível encontrar evidências de que estas construções se comportam da mesma maneira que estruturas SVO sob o ponto de vista entoacional. Os dados para tanto foram obtidos por meio de gravação da leitura de um conjunto de sentenças que envolvem fronteamento

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de constituintes. Para a gravação dos informantes, foi usado o programa PRAAT, que fornece a curva de pitch das frases gravadas. Utilizou-se ainda o script MOMEL para a síntese dos dados e descrição dos eventos tonais presentes nas sentenças. Os resultados deste experimento de produção indicaram que as estruturas de topicalização selvagem se comportam, sob o ponto de vista entoacional, de maneira muito semelhante às estruturas SVO triviais da língua. O padrão entoacional obtido exibe dois eventos tonais, um em geral no início da sílaba pré-tônica do verbo e outro no DP objeto. Se há diferença, ela está na sílaba em que se encontra o evento H no objeto: no caso das sentenças SVO banais, ele está no início da pré-tônica do DP, mas no caso da topicalização selvagem, ele se localiza predominantemente no início da tônica do objeto. Pretende-se agora confirmar esses resultados por meio de um teste de percepção. O procedimento consiste em submeter as frases ao processo de “passa banda”, disponível dentro do PRAAT, que efetua a retirada da informação segmental da sentença filtrando o material acústico acima de 300 Hz e deixando apenas a informação entoacional. O teste é composto de duas partes: na primeira, o falante ouve uma sentença filtrada e deve escolher, dentre quatro frases apresentadas no power point, qual delas corresponde àquela melodia. Na segunda parte, o informante vê uma frase na tela do power point, ouve três sentenças filtradas distintas e deve dizer qual das três corresponde àquela sentença. Um experimento piloto revela que os informantes conseguem com bastante acerto discernir que entoação é possível para que estrutura, mas, quando defrontados com estruturas SVO e topicalização selvagem, os informantes confundem as duas num número significativo de vezes. UMA ANÁLISE PROTOTÍPICA DO OBJETO DIRETO EM TEXTOS ESCRITOS Eduardo Elisalde Toledo (UFRGS) Com base na proposta de Perini (1989), que propõe a descrição de funções sintáticas a partir de protótipos, isto é, de matrizes sintáticas constituídas de traços distintivos, este trabalho tem como objetivo descrever os traços morfológicos, sintáticos e semânticos que definem o protótipo do objeto direto (OD) no PB, através da análise de 100 redações do Concurso Vestibular UFRGS (2007). Nossas hipóteses fundamentais estão expressas em uma matriz que inclui traços morfológicos, sintáticos e semânticos. Quanto aos traços morfológicos, consideramos substantivo simples (Ele vendeu o carro), substantivo composto (Ele conhece São Paulo e Rio de Janeiro), palavra substantivada (Não aceito talvez), pronome relativo (O livro que ele recomendou está esgotado), pronome oblíquo (Não o conheço), pronome reto (Os meninos encontraram ela), pronome/outros (Ele não comeu isso), oração subordinada (Esqueceu que a noção de tempo é relativa ) e oração infinitiva (Ele deseja perder o medo de voar). No que diz respeito aos traços sintáticos, pré-verbal (Ele não os percebeu), apassivação

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(O menino quebrou o vidro > O vidro foi quebrado...), substituição pronominal (Ele perdeu os documentos > Ele os perdeu) e retomada por quem ou (o) que (Não vimos o porteiro na entrada > Não vimos quem?). Em relação aos traços semânticos, animado (O caçador acertou a raposa), concreto (Ele abriu a porta) e humano (Abraçou a filha). Do ponto de vista metodológico, optamos por analisar todas as sentenças presentes nos textos, transcrevendo-as em uma planilha e, após a classificação, levantar os percentuais de emprego de cada traço da matriz. A discussão gira em torno do protótipo alcançado em contraste com o que prevê a norma gramatical. Por ora, foram analisados 10 textos e, preliminarmente, os resultados apontam para as seguintes características predominantes da função de objeto direto: substantivo simples, pronome oblíquo (características morfológicas), apassivação, substituição pronominal, retomada por quem ou o que (características sintáticas) e concreto (característica semântica). SENTENÇAS CLIVADAS E PSEUDO-CLIVADAS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO E DO JAPONÊS Julia Orie Yamamoto (UFSC) Este estudo trata do processo sintático de focalizar um constituinte em uma sentença (clivagem) e envolve comparação entre o português brasileiro (PB) e o japonês (JP). Tem-se como objetivo apresentar, com base na Teoria Gerativa, a distinção dos dois tipos de sentenças que o processo de clivagem produz: as chamadas clivadas e as pseudo-clivadas. A comparação entre o PB e o JP reforça argumentos presentes na literatura sobre essa distinção, a partir da diferença de preenchimento do CP encaixado, na periferia esquerda da sentença. As clivadas destacam o foco entre uma cópula e um complementizador - que no PB, e, no no JP. Enquanto isso, as pseudo-clivadas têm uma expressão Wh encabeçando o CP (oração relativa na posição inicial). Entende-se, portanto, que as clivadas do PB apresentam estrutura conforme (1.a), e as do JP a estrutura conforme (1.b), cujo foco não apresenta morfologia marcadora de caso. E, no que se refere às pseudo-clivadas, o PB apresenta estrutura conforme (2.a), e o JP apresentará, além da ausência da morfologia de caso do elemento focalizado, uma sentença como em (2.b): a. Foi maçã que Marcos comeu. b. [Marcos-ga tabeta no]-wa ringo-ø (da). ( [Marcos-NOM comeu C ]-TOP maçã-ø COP ) (2) a. O que Marcos comeu foi maçã. b. [Marcos-ga tabeta mono ] - wa ringo-ø (da). ( [Marcos-NOM comeu PRON.REL-COISA]-TOP maçã-ø COP )

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Entende-se portanto, que a propriedade do CP das pseudo-clivadas permite considerar tal sentença como um tipo de relativa, fato que não ocorre com as clivadas. PADRÕES DE CONCORDÂNCIA DEFECTIVA EM PASSIVAS E PREDICATIVOS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO Leonor Simioni (USP) O Programa Minimalista (Chomsky, 1995 e seguintes) tem enfatizado o estudo da concordância como um dos tópicos centrais da sua agenda. Nesse cenário, o português brasileiro (PB) representa uma fonte interessante de dados, por conta de alguns fenômenos peculiares relacionados à concordância de gênero e número. No presente trabalho, enfocaremos a concordância em estruturas de passiva e predicativos. Nas passivas padrão do PB, o DP objeto, o particípio e o verbo apresentam morfologia de concordância, esteja o argumento movido ou in situ: (1) a. As provas foram deixadas na sala. b. Foram encontradas umas provas no armário. Todavia, também encontramos construções passivas que apresentam incongruência na concordância de gênero e número, como em (2): (2) a. Foi encontrado umas provas no armário. b. Foi encontrado as provas no armário. Crucialmente, a incongruência só é permitida quando o objeto está in situ, independente de ser um DP definido ou indefinido, como podemos ver em (3): (3) a. *Umas provas foi encontrado no armário. b. */? Os telegramas de Natal foi enviado. Encontramos os mesmos efeitos de concordância defectiva com DPs movidos versus DPs in situ em estruturas de predicativo: (4) a. Tá caro a passagem pra Porto Alegre. b. Era divertido aqueles brinquedos. c. */? A passagem pra Porto Alegre tá caro. d. */? Aqueles brinquedos era divertido. A partir dos padrões acima, esse trabalho apresentará uma comparação crítica entre três análises recentes dos mecanismos de concordância, a saber, a proposta de Nunes (2007), Boskovic (2007) e Hornstein (a sair). Nossos objetivos são fornecer uma explicação para os dados do PB apresentados em (1) – (4), e também verificar em que medida esses dados podem contribuir para um melhor entendimento da concordância em geral.

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PRINCÍPIOS QUE INFLUENCIAM A ANTEPOSIÇÃO E POSPOSIÇÃO DE CLÁUSULAS FINAIS E TEMPORAIS Mariléia Silva da Rosa (Unipampa, Bagé) O suporte teórico para a realização deste estudo é o funcionalismo lingüístico, o qual prevê a regularidade do uso, tomando como base a língua no discurso, isto é, vê a língua como instrumento de interação social, que é o estabelecimento da comunicação entre os usuários. A proposta desta pesquisa é analisar as orações subordinadas adverbiais finais e temporais nas produções textuais de alunos das duas últimas séries do Ensino Fundamental. Nessas redações, observa-se um grupo de seis variáveis, dando-se destaque para uma delas: a posição que a oração adverbial ocupa em relação à principal. A análise se vale de princípios funcionalistas, como o da “informação” e o da “linearidade”. Dessa perspectiva, as expressões lingüísticas são consideradas no seu funcionamento dentro de um dado contexto, sendo determinadas tanto pela informação contextual (pragmática) quanto pela situacional (conhecimento de mundo). Os resultados mostram que os principais causadores da anteposição e posposição das orações adverbiais são justamente os princípios da informação e da linearidade. O primeiro princípio diz respeito à importância de se introduzir uma informação nova ou de se resgatar algo que já foi mencionado no contexto; o segundo apresenta a linearidade dos fatos, isto é, a cronologia em que os fatos acontecem (um após o outro). Enfim, a tendência da oração subordinada, na posição posposta, é seguir a ordem dos fatos, enquanto que, na posição anteposta, é seguir o princípio da informação. Assim, considera-se, até o momento, que a oração final é regulada pelo princípio da informação, enquanto que a oração temporal é regida pelo princípio da informação e da linearidade. Assim, os princípios funcionalistas são utilizados para explicar a ocorrência dos fenômenos em estudo. A SINTAXE DA ELIPSE DE VP EM PORTUGUÊS BRASILEIRO Sabrina Casagrande (UNICAMP) Este trabalho investiga as condições de licenciamento da elipse de VP em PB, contrastando com o PE. Cyrino & Matos (2002) e Cyrino (2006) argumentam que o núcleo funcional que licencia a elipse de VP em PE e PB é diferente; em PE seria TP, enquanto em PB seria AspP. Testes de julgamento de preferência e interpretação foram aplicados a falantes do PB e mostraram que há diferenças entre os julgamentos de elipse de VP testados e os apresentados nos dois trabalhos. Segundo as autoras, em (1) e (2) as interpretações seriam diferentes: (1) O carro foi atribuído à Maria, mas os outros prêmios não foram atribuídos [-]

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a. [-]=[t] à Maria PB b. [-]=[t] a ninguém PE (2) Ela está lendo/a ler livros às crianças, mas ele não está lendo [-]. a. [-]=[t] livros às crianças PB b. [-]=[t] nada PE Em PE, a interpretação da lacuna envolvendo perífrases verbais com auxiliar passivo (1) e progressivo (2) seria de objeto nulo indefinido (1b e 2b), enquanto em PB a interpretação seria de elipse de VP (1a e 2a). Com essas mesmas sentenças, quando apenas o auxiliar é manifesto, a interpretação é de elipse de VP nas duas variedades. As autoras também testaram o posicionamento do advérbio também nas seqüências verbais, quando havia lacuna: (3) a. O João fez isso antes de a Maria também ter feito [-]. (PE/ PB) b. (...) ter também feito [-]. (??/* PE/PB) c. (...) ter feito [-] também. (?PE/ PB) Como mostrado em (3b), quando o advérbio quebra a seqüência verbal, a interpretação da elipse de VP é perdida em PE, mas não em PB. Os contrastes em (1), (2) e (3) indicam que a elipse de VP é licenciada por TP lexicalizado em PE, e em PB, também por AspP lexicalizado (o verbo auxiliar estaria ocupando o núcleo de TP, enquanto o lexical estaria em AspP). Os testes para o PB mostraram que, ao contrário dos julgamentos apresentados pelas autoras, (1) e (2) também são interpretadas como ON indefinido e a sentença (3b) é praticamente não aceita pelos falantes. Isso indica que se AspP também pode ser o núcleo licenciador da elipse de VP em PB, não é o caso dessas sentenças, já que nesse caso TP parece ser o licenciador. Sendo assim, alguns aspectos dessas previsões devem ser revistos para melhor caracterizar o fenômeno da elipse de VP em PB. Sociolingüística A LÍNGUA NA/PELA HISTÓRIA: O CASO DOS DESCENDENTES DE ITALIANO NA REGIÃO DE NOVA PALMA Aline Pegoraro (UNIPAMPA) Valesca Brasil Irala (UNIPAMPA) O sentimento de estranheza é comum àqueles que chegam a um novo país e se defrontam com uma nova língua, uma nova cultura. Partindo do pressuposto de que a identidade do sujeito jamais será homogênea, havendo a tendência de mescla lingüística e cultural. Baseados nos textos de Coracini (2007), Payer (2003), Frosi (2000), Sponchiado (1996), Santos (2006), Irala (2005) e em gravações de áudio digitalizadas, percebemos a miscigenação

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lingüística existente na fala de uma parcela da população de uma região fortemente colonizada por descendentes de italianos: a cidade de Nova Palma, no interior do estado do Rio Grande do Sul. Na referida região, foram encontrados registros de sujeitos que inconscientemente afirmam possuir uma identidade homogênea, mas que em suas falas denunciam a existência de um sujeito híbrido. Isso acontece tanto com pessoas que tiveram como língua materna o dialeto italiano e dizem saber separar uma língua da outra no momento da fala, como com as pessoas que tiveram como língua materna a língua portuguesa e dizem que suas falas não têm influência do dialeto italiano corrente na região. Pessoas que tiveram o dialeto italiano como língua materna relatam a necessidade que tiveram de deixar de lado sua língua por motivos históricos e sociais e, também, o sentimento que possuem hoje em relação à própria identidade. Por outro lado, aqueles que tiveram a língua portuguesa como materna descrevem o interesse que possuem pela língua que os cerca até hoje, por viverem em uma região de colonização italiana. O MIGRANTE CARIOCA NO SUL: QUESTÕES LINGÜÍSTICO-CULTURAIS Ester Dias de Barros (UNIPAMPA) Valesca Brasil Irala (UNIPAMPA) Por fazermos parte de um país com uma vasta diversidade lingüística e cultural, o objetivo desta pesquisa consiste em analisar questões de linguagem que envolvem migrantes no sul do país. O corpus utilizado para a análise foram gravações feitas em áudio com cariocas migrantes na cidade de Bagé (cidade gaúcha próxima à fronteira com o Uruguai) onde através dos discursos dos falantes foram analisadas as suas marcas lingüísticas e identitárias, a fim de comparar os dados dessas entrevistas com os aportes teóricos de Coracini (2007a; 2007b), Irala (2005), Moita Lopes (2003), com o objetivo de compreender como o falante se sente e se percebe quando imerso numa outra região, onde em contato com um novo dialeto faz sentir-se estrangeiro com relação ao dialeto do “outro”. O falante pertencente a um determinado meio lingüístico, que por inúmeras razões necessita migrar-se, comporta-se de forma análoga ao que acontece em uma situação de luto, pois assumirá em sua constituição identitária duas possibilidades: ou a condição de permanecer velando o morto por tempo indeterminado ou a de enterrá-lo para sempre, sem possibilidade de volta. No caso dos dados analisados, como predomina o caráter temporário da migração, a situação dominante indica a recorrência do primeiro caso.

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O ESTRANGEIRO HISPÂNICO EM DISCURSO: LUGAR DE CONTRADIÇÕES Josiane da Silva Quintana Alves (UNIPAMPA) Valesca Brasil Irala (UNIPAMPA) Encontramo-nos em um mundo globalizado; com isso, a diversidade cultural que nos cerca tornou-se imensa. Assim sendo, deparamo-nos em nossas cidades com vários imigrantes – que no Rio Grande do Sul, em particular, são representados de forma expressiva por aqueles que possuem o espanhol como língua materna. O presente trabalho tem como objetivo avaliar a relação do imigrante com a pátria acolhedora e com a sua de origem a partir de análises feitas com base em seu discurso. O estrangeiro, ao chegar a um novo país, muitas vezes sente a necessidade de perder (ou não) suas características identitárias. A principal, para não sentir-se excluído, é a identidade lingüística. Porém isso não é possível. Por mais que não queira demonstrá-la, ela se manifestará. Neste pôster apresento como o estrangeiro se vê ou não incluído (por características lingüísticas) no novo ambiente que está inserido e sua aceitação quanto a isso. Utilizei a analogia feita por Coracini (2007) do luto com a experiência de inserção dos imigrantes em uma nova cultura. Fiz diversas análises a partir de entrevistas realizadas com três estrangeiros residentes em Bagé-RS, para saber qual é a relação deles com sua origem e a necessidade de sentirem-se membros do novo grupo. Para a classificação desses sujeitos, as definições de Irala (2005) e Sarriera (2004) foram de extrema importância. Apresento como o preconceito lingüístico ainda ocorre (apesar de muitas vezes ser negada sua existência), o constrangimento que ele causa principalmente em imigrantes que não querem se desvincular de sua cultura e como isso influencia nas relações cotidianas do estrangeiro. A RETOMADA ANAFÓRICA PRONOMINAL EM TEXTOS JORNALÍSTICOS: FATORES MOTIVADORES Mariana M. Trautwein (PUCPR) Uiara Chagas (PUCPR) A freqüência com que as retomadas anafóricas diretas aparecem em diferentes contextos jornalísticos é um tópico tão interessante que merece nossa consideração. A diferença de público-alvo de cada jornal gera uma adequação de linguagem que leva a optar esse ou aquele recurso lingüístico textual. Constata-se a alta freqüência com que acontecem as retomadas por anáforas de pronomes pessoais retos como um recurso coesivo que normalmente serve como lembrete ao leitor. Por outro lado, não se encontra ocorrência alguma de anáforas indiretas e raros são os casos de elipse. Neste trabalho, considerando-se dados de jornais destinados a indivíduos de diferentes classes socioeconômicas, com idade, escolaridade e mesmo sexo distintos, residentes em Curitiba e Região Metropolitana, objetiva-se analisar em que medida esses fatores (ou outros, se os houver) estariam

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condicionando os jornais em questão a optar pela referência anafórica pronominal em detrimento da elipse ou das anáforas indiretas, como querem nos revelar os dados. As bases teóricas deste estudo vêm da Lingüística Textual, especificamente dos trabalhos de Koch (2000, 2002, 2005), de Marcuschi (2001, 2005) e de Ilari (2005). Variação QUANTO MAIS EU VIVO, MENOS SUJEITO ME APARECE: UM ESTUDO SOBRE O PREENCHIMENTO DO SUJEITO PRONOMINAL NA FALA E NA ESCRITA DE JOVENS DE FLORIANÓPOLIS Christiane Maria Nunes de Souza (UFSC) Patricia Floriani Sachet (UFSC) Foi observado o preenchimento do sujeito pronominal em orações coordenadas no dialeto de jovens estudantes do Ensino Médio e do Ensino Fundamental em um colégio da Grande Florianópolis. O corpus foi constituído de dados de fala e de escrita. Dos quatro tipos de variação existentes, nós utilizamos a variação diamésica, ou seja, variação através do meio. Fizemos uma comparação entre o preenchimento do sujeito pronominal na fala e na escrita, observando a grande distância que há entre estes dois meios. "A variação diamésica compreende, antes de mais nada, as profundas diferenças que se observam entre a língua falada e a língua escrita. Uma longa tradição escolar acostumou as pessoas a vigiar a escrita e a dar menos atenção à fala, por isso muita gente pensa que fala da mesma forma que escreve” (BASSO e ILARI, 2006, p.181). Comprovamos que na escrita há menos preenchimento do sujeito pronominal, já que é mais monitorada e conservadora, enquanto na fala encontramos um aumento do preenchimento do sujeito pronominal, pois esta é menos monitorada. Partimos do princípio de que a língua portuguesa do Brasil era classificada como uma língua pro-drop, ou seja, que apresentava um grande índice de não-preenchimento da posição de sujeito ou de sujeito nulo, e nos últimos tempos vem apresentando uma mudança em direção ao pro, ou seja, um aumento da realização do sujeito pronominal. Esta mudança deu-se devido à outra mudança – fenômeno de encaixamento lingüístico -, que foi a mudança morfêmica no paradigma verbal flexional do português do Brasil, o que acarretou a necessidade de preencher o sujeito, para que a oração não apresentasse ambigüidade. Nossa pesquisa deu ênfase ao fator externo da escolaridade, pois um de nossos objetivos foi comprovar que, à medida que aumentamos o grau de escolaridade, preenchemos menos o sujeito pronominal. Defendemos, também, a hipótese de a língua portuguesa do Brasil ter passado do fator mais "pro-drop" para o menos "pro-drop". Nossas hipóteses foram levantadas com o suporte teórico da lingüista Maria Eugênia Lamoglia Duarte, já conhecida por sua atuação em pesquisas sobre o preenchimento do sujeito pronominal. Como resultados, reforçamos as

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conclusões que outros lingüistas vêm apresentando: com a mudança flexional do paradigma verbal do português do Brasil, o preenchimento do sujeito pronominal, que antes era menos freqüente, passou a ser mais utilizado, principalmente na fala dos jovens. Já na escrita, este preenchimento vai sendo reduzido conforme o nível de escolaridade. A ORDEM DO CLÍTICO PRONOMINAL EM CONTEXTOS DE COMPLEXOS VERBAIS – A SOCIOVARIAÇÃO NA ESCRITA ESCOLAR Adriana Lopes Rodrigues (UFRJ, Rio de Janeiro) O presente trabalho, integrado ao projeto “A interface prosódia-morfossintaxe em variedades do português”, consiste numa investigação sociolingüística dos mecanismos envolvidos no fenômeno da cliticização pronominal em contextos de complexos verbais, no gênero textual redação escolar, abarcando diferentes níveis de instrução. A pesquisa focaliza a ordem do clítico pronominal, buscando esclarecimentos que se fazem necessários diante da variação que se percebe a respeito do assunto.O corpus utilizado para o desenvolvimento deste trabalho compreende uma coletânea de textos de tipologia dissertativa, produzidos por alunos de diferenciados níveis escolares, matriculados em turmas diurnas da rede privada de ensino. Para a constituição do corpus, contou-se com a colaboração de escolas de diversas localidades do Estado do Rio de Janeiro. Dessa forma, este estudo procura investigar o fenômeno da cliticização pronominal considerando realidades lingüísticas geograficamente diversificadas.Objetiva-se, com esta pesquisa, identificar os fatores lingüísticos e extralingüísticos que exercem, de fato, influência no condicionamento do fenômeno, determinando a escolha do aluno pela variante pré-complexo verbal (nos podemos livrar), intracomplexo verbal (podemos nos livrar) ou pós-complexo verbal (podemos livrar-nos). Com isso, busca-se responder às seguintes perguntas: Quais as variáveis lingüísticas e extralingüísticas que determinam a ordem clítico pronominal? Existem diferenças significativas no que concerne à ordem do clítico pronominal em relação à região de origem do aluno ou ao nível de escolaridade? Como respostas aos questionamentos acima, levantaram-se as seguintes hipóteses: a escolha pelas variantes em questão estaria relacionada às diferentes regiões consideradas; as redações cujos autores pertencem a níveis escolares mais avançados apresentariam dados em maior consonância com os padrões prescritos pela tradição, refletindo uma implementação gradativa dos traços normativos na escrita dos alunos. Tem-se como suporte teórico-metodológico a Sociolingüística Variacionista Laboviana. Para o tratamento estatístico dos dados coletados e posteriormente codificados de acordo com os fatores estabelecidos para cada variável considerada, utiliza-se o pacote de programas GOLDVARB (versão 2001). A partir dos resultados obtidos preliminarmente, pode-se concluir que, no que concerne às variáveis lingüísticas, o contexto morfossintático apresenta relevância no condicionamento do fenômeno da cliticização

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pronominal; quanto às variáveis extralingüísticas, o nível escolar dos alunos associa-se a um diferente comportamento lingüístico. Espera-se que os resultados obtidos possam auxiliar a atividade docente acrescentando novos conhecimentos acerca da ordem do clítico pronominal, sobretudo nos contextos de complexos verbais e, ainda, contribuir para o reconhecimento das peculiaridades lingüísticas da variedade brasileira da língua portuguesa. APAGAMENTO DO /R/ EM FINAL DE PALAVRAS: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE FALANTES DAS VARIANTES CULTA E POPULAR Anay Batista Linares (PUCPR) Camila Rigon Peixoto (PUCPR) Tiago Moreira (PUCPR) Este pôster tem como objetivo investigar o apagamento da consoante /r/ em final de palavras e relacionar esse fenômeno lingüístico à posição social, levando-se em conta, em um primeiro momento, a profissão e o nível de instrução dos informantes. Posteriormente, considerando-se um mesmo grupo social, busca-se estudar quem é mais conservador: o falante do sexo feminino ou o falante do sexo masculino. Para finalizar as investigações, pretende-se evidenciar, dentre o corpus levantado, em qual classe morfológica é mais recorrente o apagamento, se na dos nomes ou na dos verbos. Para isso, foram utilizados os dados do projeto VARPORT, coletados entre os anos de 1991 e 1998. Analisam-se vinte entrevistas, sendo nove de falantes do padrão culto/informal (cinco informantes do sexo feminino e quatro do sexo masculino) e onze do popular/informal (todos do sexo masculino). O motivo de se optar pela questão do apagamento do /r/ final é devido à recorrência com que esse apagamento ocorre na fala e também pelo preconceito existente, principalmente por parte dos falantes com um nível de instrução mais alto, para com os falantes que utilizam a variação recuperação, inclusive em hipercorreções. Usando a metodologia da sociolingüística quantitativa laboviana, serão analisados os dados e esmiuçados os resultados para assim ter-se um panorama, ainda que reduzido, da recorrência da variação estudada. O USO DOS PRONOMES NÓS E A GENTE NO SUL DO BRASIL André Luiz de Oliveira Almeida (UFPR) Tathyana Szmidziuk (UFPR) O presente trabalho tem como objetivo apresentar pesquisa, feita por alunos da graduação em disciplinas obrigatórias e optativas de Sociolingüística na UFPR, sobre a distribuição dos pronomes nós e a gente em entrevistas do corpus do Projeto VARSUL em cidades do Sul do Brasil. Numa primeira fase, pesquisou-se a distribuição da pronúncia de nós com e sem ditongação nas cidades do Sul do Brasil. Numa segunda fase, pesquisou-se a distribuição de nós e a gente nas três capitais do Sul do Brasil. Investigou-se,

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também, a influência das variáveis extralingüísticas clássicas (escolaridade, idade e sexo dos falantes) nos casos em variação. Como era esperado, constatou-se que a escolaridade é o fator mais influente de todos, embora os resultados não apresentem, em todas as localidades, o mesmo perfil inicialmente esperado (que era o da redução das formas ditongadas conforme aumentava a escolaridade). APAGAMENTO DO FONEMA /R/ PÓS-VOCÁLICO NA FALA ‘AMREQUIANA’ Ângela Regina Meira Matias (UNESC) Liriane Teixeira (UNESC) O apagamento do fonema “R” pós-vocálico no final de vocábulos verbais e não-verbais em discursos orais é um fenômeno que tem se tornado objeto de estudo de várias pesquisas lingüísticas em diversas regiões de nosso país, devido ao fato de os falantes, independente da idade, sexo, grau de escolaridade ou condição social, não estarem pronunciando o fonema “R”, principalmente em vocábulos verbais. Portanto, torna-se relevante verificarmos se os falantes da região carbonífera têm ou não pronunciado tal fonema e quais os contextos lingüísticos e extralingüísticos têm influenciado a ocorrência deste fenômeno. O estudo tem como objetivo descrever o apagamento do fonema “R” pós-vocálico nas classes verbais e não-verbais do português brasileiro como uma variante inserida na expressão da língua materna e os fatores lingüísticos e extralingüísticos que condicionam esse fenômeno, em entrevistas orais de informantes registrados no Atlas Sociolingüístico, sob a perspectiva da sociolingüística laboviana. O USO DO IMPERATIVO NA MÍDIA: UMA ANÁLISE SOCIOLINGÜÍSTICA Antonio José de Pinho (UFSC) Bruno Cardoso (UFSC) Baseados na teoria da Variação Lingüística (Labov, 1983 [1972]) e em alguns trabalhos de Maria M. P. Scherre (2000, 2002, 2004, 2005), buscaremos verificar e compreender a variação no uso da forma verbal imperativa no português brasileiro, especificamente a influência de aspectos sintáticos, fonológicos e contextuais no uso das variantes na forma indicativa (Me liga) e na subjuntiva (Ligue para...). Para cumprir este objetivo, utilizaremos um corpus formado por transcrições das formas imperativas utilizadas em diálogos da novela Desejo Proibido (Rede Globo) e do seriado Malhação (Rede Globo), de episódios transmitidos entre os dias 4 e 25 de março de 2008, e em anúncios publicitários encontrados em vinte edições da revista Veja do ano de 2007. Assim, com amostras de língua escrita e falada, visamos encontrar – comparando os dados – uma sistematicidade na variação do uso do imperativo, de acordo com fatores de ordem estrutural (fatores sintáticos e fonológicos) e contextual (a natureza do momento de

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uso da língua), admitindo-se que nos anúncios publicitários e na escrita, de forma geral, temos um contexto mais formal de comunicação, ao passo que nos diálogos de telenovela temos um ambiente mais informal. Evidências preliminares indicam que, nestes casos, o imperativo na forma indicativa tende a predominar, enquanto que, na escrita, a forma subjuntiva é detectada em quase 100% das ocorrências. VARIAÇÃO LINGÜÍSTICA EM EAD – ISSO É POSSÍVEL? Claudenir Caetano de Barros (CEAD/UFPEL) Cristiane dos Santos Azevedo (CEAD/UFPEL) Joelma Santos Castilhos (CEAD/UFPEL) Atualmente, a Educação a Distância tem contribuído para que, mesmo nos lugares mais distantes dos grandes centros de formação acadêmica, possam ser abertos cursos superiores nas mais diversas áreas do conhecimento. No caso específico do curso de Pedagogia a Distância da UFPEL, temos ao todo, nesse momento, sete pólos em funcionamento (Paranaguá, Cachoeira do Sul, Seberi,Camargo, São Francisco de Paula, e Herval, Arroio dos Ratos), com 350 alunos no total e cada um desses pólos com suas especificidades culturais e principalmente lingüísticas. Partimos, pois, da hipótese de que, na EAD, a escrita dos alunos, em determinados contextos e atividades propostas, pode vir a representar a sua fala mais coloquial e, para confirmá-la, pretendemos, a partir da descrição e da análise de uma atividade de criação de um Glossário com a ferramenta WIKI do modlle, proposta no eixo “Cultura, Escola e Sociedade”, I semestre, feita por todos os alunos dos sete pólos, tentar identificar as possíveis variantes lingüísticas utilizadas pelos alunos e posteriormente, compará-las com os dados coletados no próprio local, a fim de verificarmos se a nossa hipótese se confirma. Fizemos, assim, nesse momento, um recorte mostrando as variantes encontradas nas WIKIS dos pólos que acompanhamos. VARIAÇÃO ESTILÍSTICA E GENERICIDADE: A VARIAÇÃO DE PRONOMES POSSESSIVOS DE SEGUNDA E TERCEIRA PESSOA DO SINGULAR Fernanda Mendes (UFSC) O presente estudo tem por objetivo descrever a variação entre os pronomes possessivos de segunda e terceira pessoa do singular, respectivamente, teu/seu e seu/dele em entrevistas de quatro cidades do Paraná – Curitiba, Irati, Londrina e Pato Branco –, que compõem o banco de dados do VARSUL. Baseia-se em estudos realizados anteriormente em outras cidades da Região Sul e se apóia em textos de Arduin (2005), Neta (2004), Labov (1972) e Weinreich, Labov e Herzog (1968). O objetivo principal deste trabalho é observar o grau de motivação que a variação estilística exerce sobre a ocorrência da forma seu, designando segunda pessoa do singular, em co-ocorrência com a forma teu. Sendo essa variação entendida, grosso modo,

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neste estudo, como o grau escalar entre um contexto [+formal] e um contexto [-formal] de fala. E o grau de motivação que a genericidade da estrutura exerce sobre a ocorrência da forma seu, designando terceira pessoa do singular, em co-ocorrência com a forma dele. Sendo essa genericidade, neste estudo, entendida como o fator semântico que permite a recuperação de sintagmas nominais [+ genéricos] pelo possessivo seu. Dito de outro modo, se é o grau de genericidade que motiva a permanência da forma seu para terceira pessoa do singular, então é a variação estilística que força a ocorrência da forma seu para a segunda pessoa do singular. Espera-se que a análise dos resultados encontrados dê suporte a esta hipótese, evidencie os condicionadores deste fenômeno e acentue a discussão acerca do assunto, mesmo que já existente na literatura. DE QUEM NÓS/A GENTE ESTÁ(MOS) FALANDO AFINAL? VARIAÇÃO SINCRÔNICA DE ESTRATÉGIAS DE DESIGNAÇÃO REFERENCIAL NO USO DA PRIMEIRA PESSOAL DO PLURAL Ivanilde da Silva (UFSC) A partir das análises e da descrição dos dados coletados sob os pressupostos teóricos e metodológicos da sociolingüística variacionista, os resultados gerais da utilização dos pronomes nós e a gente e suas respectivas realizações –mos e zero apontam mudança na medida em que o pronome a gente se estabiliza como pronome pessoal. Ele, aos poucos, disputa espaço também no campo da determinação, concorrendo com o pronome nós. Com base nas concepções teóricas de Benveniste (1988 e 1989), Mondada & Dubois (1995/2003), Apothéloz (1995/2003) e Milner (1995/2003), pretendemos mostrar que os pronomes nós e a gente são multirreferenciais – ou seja, que podem designar, dentro de uma escala de possibilidades, pessoas do discurso e referentes genéricos. As amostras dessa pesquisa foram constituídas por 32 entrevistas: 16 foram colhidas na cidade de Blumenau/SC, da fala de profissionais, alguns deles vinculados a um hospital da mesma cidade, no período de 2001 a 2002; as demais foram coletadas do Programa do Jô, atração televisiva veiculada pela Rede Globo de Televisão, no período de 2003 a 2004. Os informantes dessas amostras de fala possuem grau de escolaridade superior, classificados de acordo com o sexo e duas faixas etárias.