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Vigilância Sanitária Marcos Vilela Ribeiro (1) ; Fernanda Junges (2) . (1) Autor. Farmacêutico Clínico Industrial. Universidade de Brasília UnB. (2) Orientadora: Farmacêutica graduada pela UFRGS, Especialista em Gestão de Assistência Farmacêutica Pública pela UNB, Mestre em Ciências Farmacêuticas na área de Gestão de Assistência Farmacêutica pelo Programa de Pós Graduação em Ciências Farmacêuticas da UFRGS. RESUMO As ações de vigilância sanitária fazem parte de nossa sociedade desde as populações primitivas, sendo que desde tempos remotos as populações promovem tentativas de se controlar o meio em que vivem. No Brasil a implantação da vigilância sanitária se deu precipuamente com a vinda da família real ao país, porém foi só no final dos anos 1980 que a vigilância sanitária ganha seu corpo jurídico e conceitual, devido à edição da Constituição da República que dispõe ao Estado o dever de provedor da saúde, e em 1990 é criada a Lei Orgânica da Saúde (LOS) conceituando suas ações. O campo de atuação da vigilância é muito vasto e isso gera uma grande complexidade em realizar suas ações, demandando, dessa forma, um grupo de profissionais capacitados em promover a saúde e que tenham, principalmente, características de trabalhos multidisciplinares. Com a caracterização jurídica da Vigilância Sanitária passa-se a fazer tentativas de promover uma melhor efetividade das ações, não se resumindo a atividades fiscalizatórias, e com isso são editadas algumas normas operacionais para promover a vigilância sanitária, chegando ao modelo de descentralização das atividades de saúde, o que designa aos municípios a responsabilidade de realizar as ações de vigilância sanitária. O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão bibliográfica que trace o perfil histórico, conceitos, atuação da Vigilância Sanitária no Brasil. Conclui-se neste trabalho que a atuação da Vigilância Sanitária não deve focar apenas na ideia de simples recuperadora da saúde versus doença, mas sim focar sua atuação na prevenção e promoção da saúde. Palavras chaves: Vigilância Sanitária; Sistema Nacional de Vigilância Sanitária; Descentralização. ABSTRACT The actions of health surveillance is part of our society from primitive people, and that since ancient times people were advancing attempts to control the environment in which they live. In Brazil, one the first representation of the Health Surveillance was made with the arrival of the Portuguese royal family to the country, but only at the end of the 1980s that was the sanitary won its conceptual and legal body, because the edition of the Constitution of the Republic that the state has the duty of the health provider, and in 1990 created the Organic Law of Health (LOS) defining their actions. The field of action of monitoring is very wide and that creates a great complexity in performing its actions, demands, thus, a group of trained professionals to promote health and have, above all, characteristics of multidisciplinary work. With the legal characterization of health monitoring it is going to make attempts to promote better effectiveness of actions, not to resuming the activities of surveillance, and with it some operational standards are published to promote health surveillance, reaching the model of decentralization of activities of health, which refers to municipalities the responsibility to carry out actions for health monitoring. The aim of this paper is to review literature that trace the historical profile, concepts, performance of Health Surveillance in Brazil. We conclude this paper that the performance of Health Surveillance should not just focus on the simple idea of recovering health versus disease, but focus on its role in prevention and health promotion. Keywords: Health Surveillance; National System of Health Surveillance; Decentralization. 1. INTRODUÇÃO As ações de Vigilância Sanitária constituem a mais antiga atividade de Saúde Pública. Desde tempos remotos as organizações sociais fazem tentativas de realizar o controle sobre os pontos chaves da vida em coletividade e sobre as ameaças geradas à saúde e à própria vida (COSTA, 2000).

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Page 1: Vigilancia SAnitaria-Artigo

Vigilância Sanitária

Marcos Vilela Ribeiro (1)

; Fernanda Junges (2)

.

(1) Autor. Farmacêutico Clínico Industrial. Universidade de Brasília – UnB.

(2) Orientadora: Farmacêutica graduada pela UFRGS, Especialista em Gestão de Assistência Farmacêutica

Pública pela UNB, Mestre em Ciências Farmacêuticas na área de Gestão de Assistência Farmacêutica pelo

Programa de Pós Graduação em Ciências Farmacêuticas da UFRGS.

RESUMO As ações de vigilância sanitária fazem parte de nossa sociedade desde as populações primitivas, sendo que

desde tempos remotos as populações promovem tentativas de se controlar o meio em que vivem. No Brasil a

implantação da vigilância sanitária se deu precipuamente com a vinda da família real ao país, porém foi só no final dos

anos 1980 que a vigilância sanitária ganha seu corpo jurídico e conceitual, devido à edição da Constituição da

República que dispõe ao Estado o dever de provedor da saúde, e em 1990 é criada a Lei Orgânica da Saúde (LOS)

conceituando suas ações. O campo de atuação da vigilância é muito vasto e isso gera uma grande complexidade em

realizar suas ações, demandando, dessa forma, um grupo de profissionais capacitados em promover a saúde e que

tenham, principalmente, características de trabalhos multidisciplinares. Com a caracterização jurídica da Vigilância

Sanitária passa-se a fazer tentativas de promover uma melhor efetividade das ações, não se resumindo a atividades

fiscalizatórias, e com isso são editadas algumas normas operacionais para promover a vigilância sanitária, chegando ao

modelo de descentralização das atividades de saúde, o que designa aos municípios a responsabilidade de realizar as

ações de vigilância sanitária. O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão bibliográfica que trace o perfil histórico,

conceitos, atuação da Vigilância Sanitária no Brasil. Conclui-se neste trabalho que a atuação da Vigilância Sanitária

não deve focar apenas na ideia de simples recuperadora da saúde versus doença, mas sim focar sua atuação na

prevenção e promoção da saúde.

Palavras chaves: Vigilância Sanitária; Sistema Nacional de Vigilância Sanitária; Descentralização.

ABSTRACT The actions of health surveillance is part of our society from primitive people, and that since ancient times

people were advancing attempts to control the environment in which they live. In Brazil, one the first representation of

the Health Surveillance was made with the arrival of the Portuguese royal family to the country, but only at the end of

the 1980s that was the sanitary won its conceptual and legal body, because the edition of the Constitution of the

Republic that the state has the duty of the health provider, and in 1990 created the Organic Law of Health (LOS)

defining their actions. The field of action of monitoring is very wide and that creates a great complexity in performing

its actions, demands, thus, a group of trained professionals to promote health and have, above all, characteristics of

multidisciplinary work. With the legal characterization of health monitoring it is going to make attempts to promote

better effectiveness of actions, not to resuming the activities of surveillance, and with it some operational standards are

published to promote health surveillance, reaching the model of decentralization of activities of health, which refers to

municipalities the responsibility to carry out actions for health monitoring. The aim of this paper is to review literature

that trace the historical profile, concepts, performance of Health Surveillance in Brazil. We conclude this paper that the

performance of Health Surveillance should not just focus on the simple idea of recovering health versus disease, but

focus on its role in prevention and health promotion.

Keywords: Health Surveillance; National System of Health Surveillance; Decentralization.

1. INTRODUÇÃO

As ações de Vigilância Sanitária constituem a mais antiga atividade de Saúde Pública.

Desde tempos remotos as organizações sociais fazem tentativas de realizar o controle sobre os

pontos chaves da vida em coletividade e sobre as ameaças geradas à saúde e à própria vida

(COSTA, 2000).

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Para Costa (2001) as ações de Vigilância Sanitária sempre existiram no Brasil, porém

com pouca expressão para a população, para os profissionais e gestores de saúde, ficando

marcada apenas as atuações policiais e burocrático-cartoriais. A ausência de políticas de

Vigilância Sanitária correlacionada às políticas públicas, a pouca vontade governamental para

a área da saúde coletiva, ao incipiente desenvolvimento científico e tecnológico aprofundaram

os problemas estruturais dos serviços de vigilância sanitária no Brasil.

A Vigilância Sanitária no Brasil teve seu marco fundamental no final dos anos 1980 e

início dos anos de 1990, visto que foi em 1988 que ocorreu a promulgação da nova

Constituição da República Federativa do Brasil, o que no campo da saúde tratou de introduzir

um novo conceito e uma nova amplitude de relações, atestando, desde sua promulgação, que a

saúde é direito de todos e dever do Estado provê-la (SOUZA E STEIN, 2007).

A vigilância sanitária, tal como foi introduzida no Brasil a partir do ano de 1988

engloba em suas atividades a regulação de uma variedade de produtos e serviços, de natureza

diversa. Esses produtos e serviços podem ser agrupados em grandes ramos como cita

Lucchese (2001):

“dos alimentos; dos medicamentos; dos produtos biológicos, tais como vacinas e

derivados de sangue; dos produtos médicos, odontológicos, hospitalares e

laboratoriais; dos saneantes e desinfestantes; dos produtos de higiene pessoal,

perfumes e cosméticos, além do controle sanitário dos portos, aeroportos e estações

de fronteiras e da ampla gama de serviços de interesse à saúde.”

A grande diversidade de produtos e serviços, listados acima, expressa os mais variados

tipos e graus de complexidade das tecnologias envolvidas na promoção da vigilância sanitária,

conferindo diretamente às ações de vigilância um alto grau de especialização, visto que essas

ações podem ser defrontadas com demandas simples ou muito complexas, exigindo da

vigilância sanitária conhecimentos variados e em diferentes disciplinas, demonstrando o seu

caráter transdiciplinar e multiprofissional (LUCCHESE, 2001; IVAMA e MELCHIOR,

2007).

A abrangente e complexa atividade de vigilância sanitária adquiriu em 1990 seu corpo

conceitual e jurídico com a edição da Lei 8.080, a qual ficou conhecida como a Lei Orgânica

da Saúde (LOS), muito embora as questões relacionadas à qualidade e à segurança de

produtos e serviços estejam correlacionadas ao período colonial, instalada com a chegada da

Page 3: Vigilancia SAnitaria-Artigo

Corte Portuguesa ao Brasil (Brasil, 2001). A Lei 8.080/90 conceitua as ações de vigilância

sanitária como:

Um conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e

de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e

circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde, abrangendo o

controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionam com a

saúde da população. (grifos nossos)

Uma questão a se enfatizar é que as ações de vigilância sanitária promovem a defesa e

a proteção da saúde coletiva o que diversas vezes faz oposição à classe hegemônica e

detentora do poder na sociedade, por exemplo, a burguesia dominante dos meios mercantis

que se relacionam com a saúde da população (SOUZA e STEIN, 2007).

Com o papel definido e escopo visando à eliminação, diminuição e prevenção de

riscos à saúde, a área de abrangência da vigilância sanitária age sobre os problemas sanitários

derivados do meio ambiente, da produção e circulação de bens e consumo e da prestação de

serviço que está ligada direta ou indiretamente com a saúde (Brasil, 2001).

Contudo, após a caracterização jurídica e conceitual das atividades de vigilância

sanitária, era preciso romper com o estigma da polícia sanitária e das ações cartoriais de

vigilância, que designava aspectos plenamente burocráticos e autoritários da vigilância

sanitária, impedindo a promoção das ações educativas em vigilância (Brasil, 2001).

O processo de descentralização das atividades de saúde se tornou um ponto chave para

a efetivação da saúde com um direito de todos os cidadãos e dever do Estado. Tal fato se

justifica por ser o município a instância apropriada para realizar as ações de saúde, já que é

esse ente que se insere com maior proximidade do cidadão e dos seus problemas. Desta feita,

a municipalização promove o conhecimento da responsabilidade do município pela saúde,

para com a saúde de seus munícipes (Rio Grande do Norte, 2007).

Com os processos de descentralização e municipalização das atividades de saúde,

diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), foram construídos novos meios para efetivar a

democratização da gestão e para a concretização das ações de vigilância sanitária, que tem

objeto o ambiente, a organização social e, principalmente, as ações centradas nas pessoas

(Brasil, 2001). As definições de competências são distribuídas para as três esferas do poder,

onde a gestão municipal deve executar suas ações segundo as Normas Operacionais Básicas

(NOB), visto que nessas normas estão elencadas as condições para realizar as

Page 4: Vigilancia SAnitaria-Artigo

responsabilidades e prerrogativas que o gestor deverá assumir para as atividades que visam à

vigilância sanitária (SOUZA e STEIN, 2007).

Na atualidade o desafio para o setor saúde é acompanhar a ampliação das necessidades

da população, o que provém de interações de vários processos, como os de natureza

econômica, social, cultural, política e científico-tecnológica (COSTA, 2001).

2. OBJETIVO

O objetivo deste estudo foi traçar o perfil histórico e a atuação da Vigilância Sanitária

junto à sociedade na República Federativa do Brasil. Além de conceituar a Vigilância

Sanitária e definir suas funções e objetivos, seu campo de abrangência, verificar a sua

importância para a saúde da população, do consumidor e do meio ambiente e definir os

instrumentos para a efetividade das ações de Vigilância Sanitária.

3. MÉTODO

Para o desenvolvimento do presente projeto de pesquisa foram implantadas estratégias

de investigação, sendo que o método utilizado foi a revisão de material bibliográfico e a

análise crítica do mesmo.

Inicialmente foi feito o levantamento bibliográfico em banco de dados com o uso das

seguintes palavras-chaves: Vigilância Sanitária, Sistema Nacional de Vigilância Sanitária,

Financiamento da Vigilância Sanitária e Processo de Descentralização das Ações de

Vigilância Sanitária.

No segundo momento foram analisadas as informações relativas aos artigos obtidos e

feita uma revisão sistemática e analítica das caracterizações da Vigilância Sanitária.

Por fim foram compiladas as informações obtidas da revisão bibliográfica na forma de

redação, formulando assim uma linha temporal da estruturação, conformação e ação da

Vigilância Sanitária na República Federativa do Brasil.

4. HISTÓRICO

Existem relatos de casos nos quais indicam que as sociedades de eras remotas

demonstravam preocupações com o exercício médico, e não apenas com o estado de

conservação dos alimentos e medicamentos, mas também com a possibilidade de existência

de adulterações e falsificações dos mesmos. Como exemplo, relata-se que 16 séculos antes de

Cristo havia homens que tinham o domínio de técnicas para compor drogas, porém eles não

Page 5: Vigilancia SAnitaria-Artigo

apenas produziam-nas, mas também tinham a atribuição de ensinar como empregar essas

drogas, como conservar e qual deveria ser seu prazo de validade [MCKREY (apud COSTA,

2000)]1.

Com o advento da Revolução Industrial foi constituída uma nova configuração social,

tornando as relações sociais mais complexas devido, principalmente, ao crescimento da

produção, do mercado e do consumo de produtos. Houve também a partir desse marco a

afirmação do individualismo, da liberdade e dos direitos, onde os trabalhadores, ditos “livres”,

deveriam tomar para si novas posições e consequentemente novos deveres no universo do

trabalho. Como contrapartida a esses processos foram implementadas também estratégias de

coletivização e ampliação do espaço público. O que se nota com todo esse arcabouço de

inovações é que as funções sociais vão se tornando mais diferenciadas e especializadas

[BODSTEIN (apud COSTA 2001)]2.

O Processo de “mercantilização” do setor saúde introduziu novos elementos ao

imbricado meio de ação da vigilância sanitária devido ao aumento da produção de itens

relacionados à saúde, com serviços e informações das mais variadas fontes, direcionados a

prevenção de doenças, promoção, preservação e recuperação da saúde (COSTA, 2000).

A experiência adquirida com fatos históricos afirma que o mercado não tem a eficácia

de se autorregular, tendo em vista que o modo de produção, centrado na mercadoria, suplanta

os direitos à saúde e com isso à vida. Então o reconhecimento da vulnerabilidade do

consumidor, no mercado de consumo, leva a obrigatoriedade de regulação das práticas

mercantis que gerem interesse à saúde humana (COSTA, 2000).

4.1. Vigilância Sanitária no Brasil

Segundo Bueno (2005) a história da Vigilância Sanitária brasileira se confunde com a

história de nosso país, história do medo da doença e da morte, um relato de tragédias e figuras

heroicas, de conquistas, desafios e perdas, uma espécie de creditação de resistência às

atrocidades geradas pela via do poder, à ignorância dos governantes, ao descaso das

autoridades sanitárias que em épocas remotas faziam o isolamento dos doentes o seu método

de cura, ou purificação. Além da inércia dos gestores a população estava sujeita às ações

1 MCKRAY, G. Consumer protection: The Federal Food, Drug and Cosmetic Act. In: ROEMER, R. &

MCKRAY, G. Legal aspects of health policy. Issues and trends. Conecticut, Greenwood Press, 1980. p. 173-

211.

2 BODSTEIN, R.C. de A. Complexidade da ordem social contemporânea e redefinição da responsabilidade

pública. In: Rozenfeld, S. (Org.). Fundamentos da Vigilância Sanitária. Rio de Janeiro, Editora Fiocruz, 2000, p.

63-97.

Page 6: Vigilancia SAnitaria-Artigo

truculentas e com uso da violência para conter as comunidades revoltadas com a situação da

saúde pública.

As ações destinadas ao controle sanitário apresentam no Brasil um caminho ligado à

formação dos serviços sanitários iniciados no início do século XIX devido, principalmente, à

instalação da Família Real portuguesa em nosso território (PIMENTA, 2004).

Para Costa (apud COSTA; FERNANDES e PIMENTA, 2008) foi com a estadia da

Família Real portuguesa no Brasil que se deu inicio à fundação e criação de vários meios

normativos e diversos órgãos públicos os quais tinham a finalidade de exercer os serviços

sanitários. A singularidade desses serviços somente se consolidou como um saber específico

na área da Saúde Coletiva no final do século XX.

A história da Saúde Pública no Brasil foi impactada por vários conluios

administrativos e produção de muitas normas legais, porém tiveram pouca execução, ou seja,

pouca utilidade prática. Da instalação da família real portuguesa até a década de 1920,

República Velha, as ações de vigilância sanitária eram tidas como parte integrante da Saúde

Pública, sem distinção do que era cada uma [MACHADO et al, 1978; LUZ, 1982 (apud

COSTA, 2000)]3.

Em 1923 com o advento da primeira Constituição Republicana, foi estabelecido o

Regulamento Sanitário Federal como se fora um Código Sanitário que regulamentava os

diversos objetos de interesse da saúde, visto que essa primeira Constituição republicana em

nada abordou o tema da saúde em seu arcabouço legal (COSTA, 2000).

4.2. Da década de 1930 a 1960

As décadas de 1930 e 40 estabeleceram marcos importantes para a vigilância sanitária

no Brasil e para a saúde em geral. Com o Estado Novo (1930-45) foi apresentado um novo

projeto para promover o desenvolvimento econômico do Brasil, com isso a economia urbano-

industrial cresceu, representando uma pequena parcela da população, ampliando dessa forma

a segregação social [BRAGA e PAULA (apud COSTA, 2000)]4. Em 1934 e 1937

promulgam-se duas novas Constituições, porém essas reconheceram a saúde apenas como um

3 MACHADO, R.; LOUREIRO, A.; LUZ, R. e MURICY, K. Danação da norma: medicina social e

constituição da Psiquiatria no Brasil. Rio de Janeiro, Graal, 1978.

LUZ, MT. Medicina e ordem política brasileira: políticas e instituições de Saúde (1850-1930). Rio de Janeiro,

Graal, 1982.

4 BRAGA, JCS. e PAULA, SG. Saúde e previdência: estudos de política social. 2ª ed. São Paulo, Hucitec, 1986.

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direito do trabalhador que possuía um emprego formal, ou seja, a saúde era direito apenas da

classe trabalhadora (COSTA, 2000).

No início da década de 1940 foi instituído o Serviço Nacional de Fiscalização da

Medicina, e nos anos 50 cria-se também o da Farmácia. Em 1945 houve a expansão das

indústrias farmacêuticas nacionais, devido à quebra das patentes de produtos farmacêuticos,

transformando assim a farmácia em um estabelecimento comercial (COSTA, 2000).

Em meados dos anos 50 foi criado um laboratório específico para a realização de

análises de drogas, medicamentos e posteriormente de alimentos, o Laboratórios Central de

Controle de Drogas e Medicamentos. No final do governo de Juscelino Kubitschek foi

promulgado o Código Nacional de Saúde, esse código designou uma grande abrangência às

ações de saúde (COSTA, 2000).

4.3. Dos anos de 1970 a 1988

Até os anos 1970 a Vigilância Sanitária não se apresentava de maneira visível ao setor

saúde, tendo suas ações desenvolvidas pelo Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e

Farmácia. As ações de vigilância sanitária eram desenvolvidas a nível estadual sob a

responsabilidade de órgãos congêneres ao Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e

Farmácia, apesar de que suas atribuições não se limitavam apenas fiscalizar o exercício

profissional, como pode transparecer. Na esfera federal as atividades desenvolvidas com

maior primazia eram a regulamentação e registro de medicamentos, controle de importações e

circulação de produtos farmacêuticos e correlatos (COSTA; FERNANDES e PIMENTA,

2008).

O desenvolvimento econômico impulsionado pelo “milagre econômico” gerado no

pós-1968 gerou novas necessidades do Estado, tal qual, regulamentação para adaptação da

produção brasileira às exigências internacionais de qualidade de produtos. Soma-se a tal fato,

as questões sociais que havia mister de reestruturação nas políticas de saúde, e isso

impulsionou as reformas do setor saúde, levando consigo a vigilância sanitária (COSTA;

FERNANDES e PIMENTA, 2008).

Em 1975 foi implantada a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Consumidor,

que tinha o objetivo de averiguar as questões comerciais abusivas das indústrias farmacêuticas

e suas políticas de introdução de novos produtos no mercado. A notoriedade dos feitos

realizados por essa CPI foi de grande valia e, provavelmente, com a estratégia de diminuir as

suas conseqüências, o governo federal então propôs uma nova legislação que veio a constituir

Page 8: Vigilancia SAnitaria-Artigo

a chamada Lei de Vigilância Sanitária, Lei 6.360, que fora promulgada em 1976 [COSTA

(apud COSTA; FERNANDES e PIMENTA, 2008)]5.

Conforme mencionam Costa, Fernandes e Pimenta (2008) a Lei 6.360 significou um

avanço na conformação da vigilância sanitária, pois se insere como parte central de

modernização da legislação voltada para a área da saúde no nível de federação, e obteve forte

influencia de organismos internacionais na sua implementação, tais como Organização

Mundial de Saúde (OMS) e Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). Essa lei “dispõe

sobre vigilância sanitária a que ficam sujeitos os medicamentos, as drogas, os insumos

farmacêuticos e correlatos, cosméticos, saneantes e outros produtos”, desta forma, ela se

apresenta como ação permanente e rotineira dos órgãos de saúde de modo integrado com as

várias outras esferas de gestão.

Durante os anos de 1970 foram introduzidas várias outras legislações no sistema legal

brasileiro tais como a Lei 5.991/73, que “dispõe sobre o controle sanitário do comércio de

drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos”, a Lei 6.368/76 que “dispõe

sobre medidas de prevenção e repressão ao tráfico ilícito e uso indevido de substâncias

entorpecentes ou que determinem dependência física ou psíquica”, a Lei 6.437/77 que

“configura infrações à legislação sanitária federal, estabelece as sanções respectivas”

(COSTA; FERNANDES e PIMENTA, 2008).

Segundo Costa, Fernandes e Pimenta (2008) uma outra questão importante na década

70, foi a modificação da terminologia “fiscalização” para “vigilância”, o que demonstra um

novo conceito, visto que o termo “vigilância” remete às ações destinadas a precaução, cuidado

e prevenção, constituindo assim uma noção mais abrangente do que as ações demandadas

pelo termo “fiscalização” que é apenas de controle e punição. Tal modificação foi devido à

criação da Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS/MS) em 1976, que foi gerada

em conseqüência à reformulação do Ministério da Saúde (MS).

Conforme relata Costa (apud COSTA; FERNANDES e PIMENTA, 2008), a

instituição dessa nova Secretaria e a compilação de suas competências deu nova visão à

vigilância sanitária, tornando-a mais importante, no âmbito da Saúde Pública, porém com essa

nova secretaria foi promovida a separação entre a Vigilância Sanitária e a Vigilância

Epidemiológica, visto que se localizaram em espaços institucionais distintos no MS.

Apesar das grandes mudanças ocorridas com a promulgação das novas legislações e

com a nova instituição ministerial, a Vigilância Sanitária, conforme afirma Costa (apud

5 Costa, E.A. Vigilância Sanitária: proteção e defesa da saúde. 2ª ed. São Paulo: Sobravime; 2004.

Page 9: Vigilancia SAnitaria-Artigo

COSTA; FERNANDES e PIMENTA, 2008), ainda se apresentava de forma isolada das

demais ações de saúde, distante da população e marcada pela centralização de suas ações e

forte autoritarismo para com as instâncias estaduais.

Em meio às idéias de Reforma Sanitária, que permeou a década de 80, surgiram

algumas preocupações, tais como fazer a integração das ações entre os níveis hierárquicos das

esferas federal, estaduais e municipais, como também resolver os problemas de capacitar seus

trabalhadores (COSTA; FERNANDES e PIMENTA, 2008).

Costa (2000) diz que:

“No movimento pela redemocratização do país cresceram os ideais pela reforma da

sociedade brasileira envolvendo diversos atores sociais, sujeitos coletivos e pessoas

de destaque. Os consumidores “apareceram” no cenário político e sanitaristas

ocuparam postos importantes no aparelho de Estado. A democratização na saúde

fortaleceu-se no movimento pela Reforma Sanitária, avançando e organizando suas

propostas na VIII Conferência Nacional de Saúde de 1986 que deu as bases para a

criação do Sistema Único de Saúde.”

A maioria dos pontos discutidos durante a VIII Conferência Nacional de Saúde foi

admitida no processo Constituinte de 1988, o qual foi pressionado pelos movimentos sociais

tentando a afirmação dos direitos sociais no período pós-ditadura, que por fim teve

proclamado no artigo 196 da Constituição que “a saúde é direito de todos e dever do Estado,

garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e

de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,

proteção e recuperação” [LIMA et al; e GERSCHMAN (apud COSTA; FERNANDES e

PIMENTA, 2008)]6.

Na mesma Constituição é criado o SUS, que outorga maior visibilidade às ações de

vigilância sanitária, tornando-a integrante da normatização jurídica da saúde, proibindo a

comercialização de sangue, reconhecendo o direito à informação, determinando a defesa do

consumidor, e deferindo ao Poder Público algumas atribuições para controlar os riscos

sanitários. A sociedade brasileira obteve um imenso avanço em relação à cidadania, porém é

6 Lima N, Fonseca C, Hochman G. A saúde na construção do Estado Nacional no Brasil. In: Lima N, Gerschman

S, Edler FC, Suarez JM, organizadores. Saúde e democracia – história e perspectivas do SUS. Rio de Janeiro:

Fiocruz; 2005.

Gerschman S. A democracia inconclusa: um estudo da Reforma Sanitária brasileira. Rio de Janeiro: Fiocruz;

2004.

Page 10: Vigilancia SAnitaria-Artigo

necessário apontar que a proteção e promoção da saúde são de responsabilidade pública o que

implica dizer que é competência de todos os cidadãos do país (COSTA, 2000).

4.4. Anos de 1990

A década de 90 é institucionalizada pela contrariedade da saúde ao projeto neoliberal7.

Segundo Mendes (apud COSTA, 2000)8 a cultura desenvolvida no Brasil é a paternalista-

autoritária o que gera uma diminuição do ímpeto social na participação do desenvolvimento

de uma política de saúde pública, o que promove crises no SUS, e desta forma o setor privado

de saúde começa a obter uma maior parcela da população e por conseguinte desenvolve uma

maior capacidade de pressão política.

Com a fragilidade na área da saúde insurge-se a crise sanitária que é derivada de várias

circunstâncias, tais como desumanização do atendimento nos serviços públicos, filas e falta de

atendimentos, desta forma o cenário se torna insustentável quando ocorrem episódios de

mortes evitáveis, de falsificações e de comércio ilegal de medicamentos, todos esses fatores

incitam às modificações e à reforma institucional (COSTA, 2000).

A reforma institucional então ocorreu em 1999 culminando com a criação da Agência

Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) sob a Lei 9.782, sendo essa uma entidade que

funcionaria sob a forma de uma agência reguladora, conferindo-lhe uma administração

pública gerencial orientada por resultados. Seu modelo institucional se baseia em três

“pilares” que são independência financeira, autonomia administrativa e estabilidade dos

dirigentes (COSTA, 2000). Na Lei de criação da ANVISA fica clara em seu artigo 6º qual é

sua finalidade institucional:

“A Agência terá por finalidade institucional promover a proteção da saúde da

população, por intermédio do controle sanitário da produção e da comercialização de

produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária, inclusive dos ambientes, dos

processos, dos insumos e das tecnologias a eles relacionados, bem como o controle

dos portos, aeroportos e fronteiras.” (grifos nossos)

Além disso fica a cargo da ANVISA a coordenação do Sistema Nacional de Vigilância

Sanitária (SNVS) e também as ações de vigilância sanitária realizada por laboratórios da Rede

7 Neoliberal é a absoluta liberdade de mercado e uma restrição a intervenção estatal na economia, só devendo

esta ocorrer em setores imprescindíveis e ainda assim em um grau mínimo (Hauaiss). 8 MENDES, E.V. As políticas de saúde no Brasil nos anos 80: a conformação da reforma sanitária e a construção

da hegemonia do projeto neoliberal. In: MENDES, EV., Org. Distrito Sanitário: o processo social de mudanças

das práticas sanitárias do Sistema Único de Saúde. São Paulo, Hucitec/Abrasco, 1993. P. 19-91

Page 11: Vigilancia SAnitaria-Artigo

Oficial de Laboratórios de Controle de Qualidade em Saúde Integrante do SUS (COSTA,

2000).

5. CONCEITO DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Com a assunção pela Constituição brasileira de 1988 de tornar a saúde um direito de

todos os seres humanos, independentemente de condição social e se possui ou não uma

relação empregatícia, e apregoar ao Estado o dever de ser o provedor da saúde, a conceituação

de vigilância sanitária, constante na Lei 8.080 de setembro de 1990, está conforme o artigo 6º,

parágrafo 1º que diz que (EDUARDO e MIRANDA, 1998):

“Entende-se por vigilância sanitária um conjunto de ações capazes de eliminar,

diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários

decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de

serviços de interesse da saúde, abrangendo:

I - o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem com a

saúde, compreendidas todas as etapas e processos, da produção ao consumo;

II - o controle da prestação de serviços que se relacionam direta ou indiretamente

com a saúde.”

Desta forma, a ação de vigilância sanitária pode ser identificada sob a ótica de

intervenção do Estado, com a função de trabalho no sentido de amoldar o sistema produtivo

de bens e serviços relacionados à saúde, assim como os espaços ambientais às exigências

sociais e às necessidades do sistema de saúde (LUCCHESI, 2001).

As práticas de Vigilância Sanitária são baseadas nas concepções de risco, perigo

virtual ou ameaça de agravos. Desta forma, os problemas vivenciados pela vigilância sanitária

demandam tratamentos interdisciplinares, principalmente, sobre a ótica da epidemiologia, e

tratamentos interinstitucionais, demandando a interação entre vários setores como

saneamento, abastecimento de água, agricultura, Ministério Público (COSTA, 2000).

Necessita ainda da mediação das diferentes instâncias dos poderes, envolvendo o pode

Executivo, o Legislativo, o Judiciário além de outros setores do Estado e da sociedade, que

devem ter sua participação constituída (LUCCHESI, 2001).

Na prática, as ações de vigilância sanitária ainda conservam suas atribuições mais

antigas e estão estabelecidas nas atividades de fiscalização, observação do fato, na concessão

de licenças a estabelecimentos, no julgamento de procedimentos irregulares e nas sanções

penais, funções estas derivadas de seu poder de polícia. Características essas mais conhecidas

Page 12: Vigilancia SAnitaria-Artigo

pela população, porém ainda possuem as demandas de normatização e educacional

(EDUARDO e MIRANDA, 1998). De acordo com Costa (2000, 2003), Eduardo e Miranda

(1988), e Cunha e Freitas (2001), apesar dos avanços em termos de ordenamento jurídico, a

Vigilância Sanitária no Brasil tem apresentado, na prática, uma atuação frágil, isolada e

marcadamente cartorial.

Para Lucchesi (2001) as ações de vigilância sanitária têm a função de levar a cabo as

percepções e os propósitos éticos relacionados à qualidade das relações, dos processos de

produção, do ambiente e dos serviços. Por tal assertiva é que se entende que a área de

vigilância sanitária tem um papel importante e diferencial para a modificação do modelo

assistencial de saúde, quanto para fomentar os processos de construção da cidadania no país, a

qual se deve refletir na saúde e na qualidade de vida dos cidadãos.

6. FUNÇÕES E OBJETIVOS DA VIGILÂNCIA SANITÁRIA

As ações da Vigilância Sanitária englobam variadas categorias de objetos de cuidado,

dividindo competências com diversos órgãos e instituições de outros setores que da mesma

forma, direta ou indiretamente, realizam e promovem o controle sanitário. Como visto, as

ações de vigilância sanitária possuem um caráter multidisciplinar além de possuir a

capacidade de interferir nas relações sociais de produção-consumo para realizar a prevenção,

diminuição ou eliminação de riscos e/ou danos à saúde. São devidas à Vigilância Sanitária as

funções de desenvolver metodologias e políticas públicas destinadas a englobar o crescente

aumento da qualidade de vida (COSTA, 2003).

Conforme leciona Costa (2003), as ações de vigilância sanitária são principalmente de

caráter preventivo, percorrendo quase todas, senão todas, as atividades médico-sanitárias,

partindo da promoção chegando à proteção/recuperação e reabilitação da saúde, tendo sua

atuação sobre fatores de risco e danos em conexão a produtos, insumos e serviços que

englobam a saúde, com o meio ambiente incluindo nesse o de trabalho, com a circulação

internacional de transportes, cargas e pessoas.

“O mundo em que vivemos e trabalhamos parece cada vez mais cheio de riscos e

perigos que representam ameaças à saúde do homem, do meio ambiente e das futuras

gerações” (FREITAS e GÓMEZ, 1996-1997), o que demonstra diretamente a necessidade da

função de proteção à saúde.

Costa (2003) descreve as seguintes funções da Vigilância Sanitária:

Page 13: Vigilancia SAnitaria-Artigo

“I- Normatização e controle de bens, da produção, armazenamento, guarda,

circulação, transporte, comercialização e consumo de substâncias e produtos de

interesse da saúde, suas matérias-primas, coadjuvantes de tecnologias, processos e

equipamentos;

II- Normatização e controle de tecnologias médicas, procedimentos e

equipamentos e aspectos da pesquisa em saúde;

III- Normatização e controle de serviços direta ou indiretamente relacionados

com a saúde, prestados pelo Estado e modalidades do setor privado;

IV- Normatização e controle específico de portos, aeroportos e fronteiras,

abrangendo veículos, cargas e pessoas;

V- Normatização e controle de aspectos do ambiente, ambiente e processos de

trabalho, e saúde do trabalhador.”

Para Lucchesi (2001) a Vigilância Sanitária é uma área da saúde coletiva que possui

vínculo direto com as ameaças à saúde pública que são resultantes da maneira de vida

contemporânea, do uso e consumo de novos produtos, novas tecnologias, necessidades novas,

geralmente demandadas pela imposição da sociedade, ou seja, hábitos e formas de

relacionamentos da vida em coletividade.

7. CAMPO DE ABRANGÊNCIA DA VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Com a definição de vigilância sanitária vê-se que o seu campo de atuação é bastante

abrangente, vasto e ilimitado, pois conforme mencionam Eduardo e Miranda (1998) a

vigilância sanitária poderá atuar em todos os aspectos que exercem influência direta ou

indireta sobre a saúde dos cidadãos.

Eduardo e Miranda (1998) dividem o campo abrangente de atuação da vigilância

sanitária em dois subsistemas o de bens e serviços de saúde e o de meio ambiente.

7.1. Bens e serviços de saúde

O controle sanitário dos serviços relacionados, tanto direta quanto indiretamente, com

as questões da saúde deve possuir a capacidade de realizar a proteção da saúde da população

contras as iatrogenias, segundo Costa (2003), são as doenças relacionadas com os serviços de

saúde. Costa (2003) ainda diz que o controle sanitário deve fornecer os meios para proteção

do ambiente de “externalidades negativas” que são devidos do processo de manufatura dos

serviços, como o lixo hospitalar, resíduos de materiais radioativos.

7.2. Meio ambiente

Page 14: Vigilancia SAnitaria-Artigo

O conceito de meio ambiente neste subsistema segundo Derani9 (apud COSTA, 2003)

não é resumido em conceitos de ar, água, terra, porém ao “conjunto de condições de

existência humana que integram e influenciam o relacionamento entre os homens, sua saúde

e seu desenvolvimento”, portanto, não resumindo, mas expandido esse conceito à qualidade de

vida, que demanda não fatos pontuais e sim fatos complexos e que demandam fatores físicos,

psicológicos e, sobretudo sociais.

De modo geral, a vigilância sanitária tem sob seu escopo de atuação, a promoção do

controle sanitário sobre medicamentos, alimentos, água, bebidas, resíduos em saúde,

agrotóxicos, cosméticos, saneantes, produtos de higiene e perfumes, equipamentos, produtos

hemoterápicos, imunobiológicos, sangue e hemoderivados, órgãos e tecidos humanos usados

em processos de transplantes, radioisótopos, radiofármacos, cigarros, propaganda de produtos

que geram risco sanitário, produtos que envolvem risco à saúde, obtidos por engenharia

genética, exercer o controle sanitário dos serviços relacionados à saúde, suas instalações

físicas, equipamentos, tecnologias, ambientes, processos envolvidos nas fases de produção de

bens e produtos, transporte e a distribuição dos produtos acima referidos (EDUARDO e

MIRANDA, 1998; COSTA 2003).

8. IMPORTÂNCIA DA VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Segundo Baudrillard10

, Giovannni11

e Fanuck12

(apud COSTA, 2003) estratégias dos

mercados produtores induzem, direta ou indiretamente, o aumento do consumo de seus

produtos, devido à ideologia do consumismo que está implantada nos meios sociais. Para

Singer13

(apud COSTA, 2003) é nesse âmbito que os produtores exercem seu papel

manipulador sobre os consumidores, influenciando-os a adquirir cada vez mais mercadorias,

sendo que muitas vezes a necessidade do consumidor é só fictícia e não real, ou seja, o

mercado cria a necessidade. Como não existem diferenças nas indústrias produtoras de bens

para saúde e de indústrias de outras frentes de trabalho, as técnicas mercadológicas também

9 DERANI, C. Direito Ambiental Econômico. São Paulo, Max Limonad, 1997.

10

BAUDRILLARD, J. A Sociedade de Consumo. Lisboa, Edições 70, 1975.

11

GIOVANNI, G. A questão dos remédios no Brasil: produção e consumo. São Paulo, Livraria e Editora

Polis, 1980.

12

FANUCK, L. Justiça na Saúde: Quem Age na Defesa do Povo? Saúde em Debate, 19:12-4, 1987.

13

SINGER, P., CAMPOS, O. & OLIVEIRA, E.M. Prevenir e curar: o controle social através dos serviços de

saúde. Rio de Janeiro, Forense-Universitária, 1978.

Page 15: Vigilancia SAnitaria-Artigo

invadem e se aplicam ao setor saúde. Gerando nos consumidores a busca incessante por

serviços para/de saúde, que acabam se confundindo com a busca pela saúde, exemplo disso

são os medicamentos que se transformaram em objeto de estratégias comerciais, expandindo

as frentes apenas curativas (COSTA 2003).

Nesse contexto, as atividades de vigilância sanitária se enquadram como parte das

ações de controle dos processos econômico e social que se destinam a impedir ou evitar

contradições que interfiram na produção e/ou no processo de consumo de bens e serviços de

saúde [SINGER (apud COSTA, 2003)], interessando a todos esses processos de controle,

tanto a consumidores quanto a produtores [LIMA (apud COSTA, 2003)].

Para Mancuso14

(apud COSTA, 2003) há na atualidade um aumento dos interesses

difusos, que se relacionam para com a vigilância sanitária na noção de qualidade de vida, que

é buscada pelo ser humano, o qual é o titular dos interesses que se relacionam com uma

existência de uma vida digna.

Questões da atualidade - tais como o consumo de produtos transgênicos, uso de

embriões em pesquisas - trazem novas exigências à prática da vigilância sanitária, visto que

além da verificação dos requisitos de qualidade, eficácia e segurança das práticas e produtos

de interesse à saúde, cabe ainda à vigilância sanitária a promoção do princípio bioético do

benefício e o princípio da precaução15

para garantir a segurança e credibilidade da saúde

coletiva (COSTA, 2003). (grifos do autor)

Com os fatos históricos pode-se verificar que o mercado produtor é inábil para exercer

a sua própria função regulatória, ou seja, incapaz de se autorregular para a fixação dos

interesses sanitários da população, pois o mercado está centrado no produto e não na

promoção da saúde da coletividade, que em certos pontos apresentam questões antagônicas

uma com as outras. Existem doutrinadores que reconhecem a vulnerabilidade das populações

frente ao mercado produtor o que justifica a real necessidade de uma prática de regulação do

mercado por meio de controles sanitários que garantam a saúde humana e ambiental (COSTA,

2003).

9. SISTEMA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA

14

MANCUSO, R.C. Interesses difusos: conceito e legitimação para agir. 3.ª ed. São Paulo, Revista dos

Tribunais, 1994. 15

Este princípio foi incorporado nas reformulações promovidas pela França em seu sistema da saúde pública,

que tende a promoção da segurança sanitária [Durand (apud Costa,2003)].

Page 16: Vigilancia SAnitaria-Artigo

A organização da Vigilância Sanitária no Brasil foi modificada com a edição da Lei

9.782 de 1999, que criou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – que substituiu a antiga

Secretaria de Vigilância Sanitária integrante do Ministério da Saúde – e definiu o Sistema

Nacional de Vigilância Sanitária, entrando em consonância com os ordenamentos jurídicos

que organizam o sistema de saúde brasileiro, e se inserindo nas estratégias para se enfrentar os

problemas da época, como a crise dos medicamentos falsificados no país (DALLARI, 2001;

IVAMA & MELCHIOR, 2007; COSTA, 2003).

Com a edição dessa nova lei nacional passa a ser de responsabilidade da esfera federal

a definição da política e do sistema nacional de vigilância sanitária, as atividades de

características macro, como a normatização, o controle e a fiscalização de produtos,

substâncias e serviços que se relacionam direta ou indiretamente com a saúde da população, a

vigilância de portos, aeroportos e fronteiras. Além de atribuir a todo o sistema federativo a

atividade de manutenção de monitoramento do sistema de vigilância sanitária propriamente

dito e de um sistema de informações em vigilância sanitária [Lei 9.782/99 (apud DALLARI,

2001).

O Sistema Nacional de Vigilância Sanitária é composto na Esfera Federal pela

ANVISA, agência vinculada ao Ministério da Saúde, o Instituto Nacional de Controle de

Qualidade em Saúde (INCQS), a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), o Conselho Nacional

de Secretários Estaduais de Saúde (CONASS), o Conselho Nacional de Secretários

Municipais de Saúde (CONASEMS), o Conselho Nacional de Saúde (CNS) e a Comissão

Intergestores Tripartite (CIT). As Esferas Estaduais são compostas pelos órgãos de Vigilância

Sanitária das Secretarias Estaduais de Saúde e do Distrito Federal, que contam com os

Laboratórios Centrais (LACENs) de Saúde Publica, pelos Conselhos Estaduais e Distrital de

Saúde e pela Comissão Intergestores Bipartite (CIB). As Esferas Municipais são compostas

pelos órgãos de Vigilância Sanitária das Secretarias Municipais de Saúde, pelos Conselhos

Municipais de Saúde e Colegiados de Gestão Regional (CGR) (Rio Grande do Norte, 2007).

As ações de vigilância sanitária são realizadas na prática pelos três entes federativos

incumbidos de exercer a gestão da saúde, assim as responsabilidades são fracionadas por

áreas de competência, ficando a cargo da ANVISA a coordenação do Sistema Nacional de

Vigilância Sanitária tendo as atribuições de regulamentar e executar as ações com

abrangência nacional. As demais esferas ficam sob coordenação do estado e dos municípios

(IVAMA & MELCHIOR, 2007). Para Eduardo e Miranda (1998) as atribuições de normatizar

e fiscalizar ficam sob a responsabilidade de todos os órgãos, de modo complementar e

Page 17: Vigilancia SAnitaria-Artigo

harmônico, respeitando os princípios da hierarquização e descentralização das ações de saúde,

estando em conformidade com o que propõe o SUS.

Dentre as atribuições da ANVISA estão a de “assessorar, complementar ou

suplementar as ações estaduais, municipais e do Distrito Federal para o exercício do

controle social” (IVAMA & MELCHIOR, 2007), ou seja, as responsabilidades de cada ente

não são excludentes.

10. A DESCENTRALIZAÇÃO DAS AÇÕES DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Segundo Juliano e Assis (2004) a adoção do sistema de descentralização das ações de

vigilância sanitária são devido, principalmente, ao sistema federativo adotado pelo Brasil, o

qual possui sua organização político-administrativa compreendida na União, nos Estados, no

Distrito Federal e nos Municípios, todos autônomos, conforme o texto constitucional em seu

artigo 8º. O Brasil é dividido em 27 Estados e possui 5564 municípios com uma população

aproximada de 170 milhões de habitantes (dados do Censo Demográfico de 2000), com todo

esse tamanho e conseqüente complexidade é que se justificam as ações de descentralização

das atividades de vigilância sanitária. A descentralização, portanto, tende a atender as

variabilidades apresentadas pelas diferenças socioeconômicas, culturais, demográficas e

sanitárias que são encontradas em cada ente federado brasileiro.

Os anos 1990 para o setor saúde foram marcados pela formulação estratégica da ação

descentralizadora do sistema de saúde, identificado com a criação da Lei Orgânica da Saúde,

a Lei 8080/1990 e os seus desdobramentos, as Normas Operacionais Básicas (NOB´s) e a

Norma Operacional de Assistência à Saúde (NOAS) (JULIANO e ASSIS, 2004). E ao longo

desse período, o processo de descentralização “consolidou a reestruturação da arena

decisória em torno da saúde”, conjugando meios de transferência de responsabilidades e

competências junto à transferência de recursos financeiros para os Estados e municípios

(COHEN, MOURA e TAMAZELLI, 2004). (grifos nossos)

A descentralização, portanto, é a redistribuição de recursos e responsabilidades entre

os entes federados com base no entendimento de que o nível central, a União, só deve

executar aquilo que o nível local, os municípios e estados, não podem ou não conseguem

executar. A gestão do Sistema (SUS) passa a ser de responsabilidade da União, dos estados e

dos municípios, agora entendidos como os gestores do SUS (Brasil, 2004).

Segundo Solla e Costa (2007) o processo de descentralização das ações do setor saúde

aponta diversas vantagens nos âmbitos administrativo, político e econômico, tais como:

Page 18: Vigilancia SAnitaria-Artigo

“Possibilidade de organizar de forma mais racional o sistema de saúde com base em

áreas administrativas locais, particularmente para atenção básica à saúde; contribui

para facilitar a coordenação intersetorial; permite soluções locais para problemas

relacionados a grandes distâncias, comunicação inadequada e áreas de difícil acesso;

pode permitir maiores oportunidades para inovações e aumentar o universo de

experiências positivas de gestão; promove um contato mais próximo entre governo e

população, melhores condições para formulação de políticas, planos e programas

mais realistas e adequados à realidade local; permite melhores condições para

incrementar a provisão de atenção à saúde em regiões com baixa cobertura;

aquisição local de determinados tipos de insumos estimula a economia na região;

facilita a participação da comunidade, permitindo melhorar o controle sobre os

recursos aplicados, a aceitabilidade, cooperação e sustentabilidade da política de

saúde; possibilita às representações de vários grupos sociais, étnicos, religiosos e

políticos em diferentes regiões do país participar mais diretamente das tomadas de

decisão sobre as políticas de saúde; e permite que as políticas nacionais penetrem

em áreas distantes, onde o suporte para programas nacionais é geralmente mais

frágil.”

Tratar a saúde como direito de todos e dever do Estado tem na descentralização uma

estratégia fundamental para a efetivação desse direito, assim o processo de municipalização

das ações de vigilância sanitária é visto como primordial, tendo em vista que o município é o

nível mais próximo do cidadão e consequentemente dos seus problemas. Desta forma, passa a

ser do município a responsabilidade pela saúde pública de sua população, não cabendo mais a

possibilidade de escolha na execução ou não das ações de Vigilância Sanitária, mas, sim, de

assumir a titularidade do dever constitucional da execução das ações de Vigilância Sanitária

em seu território (Rio Grande do Norte, 2007).

Para Cohen, Lima e Pereira16

(apud COHEN, MOURA e TAMAZELLI, 2004)

“dentre as diretrizes e princípios que orientam o SUS, pode-se afirmar que a

descentralização é aquele cujos processos e resultados têm sido mais estudados e

acompanhados, e vários são os desafios e avanços registrados”.

Dando continuidade à normalização do processo de descentralização, é editada a

NOB-SUS de 1996 o qual ajusta o processo de gestão em modalidades, envolvendo estados e

municípios, sendo criadas as modalidades de gestão plena da atenção básica e gestão plena

do sistema, destinadas aos municípios; e as modalidades de gestão avançada do sistema e

16

Cohen MM, Lima JC, Pereira CRA. Normas Operacionais do SUS e a Vigilância Sanitária. Curso de

atualização em gestão da VISA para dirigentes do RJ-2003. ENSP/FIOCRUZ, 2003.

Page 19: Vigilancia SAnitaria-Artigo

gestão plena do sistema destinados aos estados, com repasse “fundo a fundo”17

. O que

diferencia essas formas de gestão são os níveis de responsabilidades que cada esfera

governamental passa a exercer, outorgando autonomia ao gestor municipal na gestão plena do

sistema para gerir o sistema como um todo, abrangendo as ações de promoção, proteção e

recuperação da saúde. A gestão plena da atenção básica concede a responsabilização pelas

ações de atenção básica ao gestor municipal, o qual se define pela equalização das

transferências de recursos por base populacional, por meio do Piso de Atenção Básica

(PAB)18

compreendendo uma parte fixa, obtido pela multiplicação de um valor per capita

nacional pela população de cada município e uma parte variável, esta é definida com base

em critérios técnicos específicos [VIANA, LIMA & OLIVEIRA19

(apud JULIANO & ASSIS,

2004); (SOUSA, 2002)] (grifos do autor).

No fim do ano 2000 quase a totalidade dos municípios brasileiros, cerca de 99%, já

faziam parte de alguma das modalidades de gestão implantada pela NOB-SUS 96 (Brasil,

2001).

Com o desenvolvimento da programação integrada, com a criação de centrais de

regulação, com o aprimoramento do controle e avaliação e com a formulação de consórcios

intermunicipais e também pela criação e implementação de planos de regionalização

promovidos pelas secretarias estaduais de saúde em conjunto com os municípios ocorreu um

aumento significativo na articulação da rede de serviços de saúde (Brasil, 2001).

Com a implementação e a transferência das responsabilidades e atribuições dos

serviços de saúde para os entes estaduais e municipais, durante a década de 1990, verificou-se

um grande crescimento das transferências “fundo a fundo”, esse fato demonstra que tais entes

passaram a fazer a substituição da lógica de pagamento por produção, atividades que eram

realizadas anteriormente no país (Brasil, 2001).

Com a Norma Operacional de Assistência à Saúde (NOAS-SUS) 2001 foram

disponibilizadas duas condições de gestão em que os municípios puderam se habilitar, sendo a

Gestão Plena da Atenção Básica Avançada (GPABA) e a Gestão Plena do Sistema Municipal

(GPSM). Sendo que em cada gestão há alguns conjuntos de prerrogativas, responsabilidades,

requisitos e instrumentos que devem ser cumpridos pelos municípios. Como exemplo são as

necessidades de se comprovar as condições para o desenvolvimento das ações básicas de

17

Repasse automático de recursos financeiros do Fundo Nacional de Saúde para os Fundos Estaduais e

Municipais de Saúde [Viana, Lima & Oliveira (apud Juliana & Assis, 2004). 18

Conforme diz Sousa (2002) o Piso de Atenção Básica consiste em um montante de recursos financeiros

destinado exclusivamente ao custeio de procedimentos e ações de atenção básica à saúde. 19

Viana ALD, Lima LD & Oliveira RG 2002. Descentralização e federalismo: a política de saúde em novo

contexto – lições do caso brasileiro. Ciência & Saúde Coletiva 7(3):1-15.

Page 20: Vigilancia SAnitaria-Artigo

vigilância sanitária e comprovar a execução de ações de maior complexidade nas áreas de

vigilância sanitária para que o município possa se habilitar em GPABA e GPSM,

respectivamente (COHEN, MOURA e TAMAZELLI, 2004).

Cohen, Moura e Tamazelli (2004) informam que:

“Um dos maiores desafios para a ação regulatória do Estado moderno na área

sanitária é a avaliação do risco das novas tecnologias, sejam elas substâncias,

aparelhos ou serviços. Para que se possa atuar nesta lógica é imprescindível que o

município assuma, pelo menos, o conjunto de procedimentos que são básicos, menos

complexos, mas fundamentais para proteção da Saúde da população.

Desta forma, a Vigilância Sanitária estadual poderá cumprir seu efetivo papel

coordenador e regulador, mesmo executando os procedimentos de maior

complexidade em Vigilância Sanitária. Não basta fiscalizar burocraticamente; é

necessário usar a técnica apropriada e identificar quais são os pontos críticos naquela

unidade, seja num estabelecimento de saúde ou em qualquer outro sujeito à

Vigilância Sanitária, buscando Boas Práticas na fabricação, comercialização ou

prestação de serviços. Daí a necessidade de divisão solidária de responsabilidades

entre os entes federativos e de capacitação permanente dos profissionais.”

Cohen, Moura e Tamazelli (2004) concluem dizendo que o desfio é fazer a

implementação dos avanços alcançados no SUS quanto ao processo de descentralização das

ações de vigilância sanitária, sem, entretanto, atribuir a este processo de descentralização uma

característica meramente burocrática, percebendo o processo como uma estratégia operacional

em freqüente aprimoramento, e não como algo estático e pontual.

11. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho observou-se que a história da Vigilância Sanitária no Brasil foi

diretamente influenciada pelos movimentos sócio-políticos que ocorreram neste país.

Constatou-se que a caracterização de uma estrutura sanitária começou a ocorrer com a

instalação da Família Real portuguesa em solo brasileiro, estrutura que se limitava a um

controle sanitário do capital imperial português.

Observou-se que com o processo de globalização da produção e da circulação de bens

e produtos sobrevieram pontos interrogativos sobre a atuação da Vigilância Sanitária, pois a

nova ordem econômica mundial não estendeu a distribuição dos benefícios gerados pela

acumulação de riquezas a todos os países do globo terrestres, mas promoveu a ampliação de

distribuição internacional dos riscos difusos à saúde humana. Torna-se claro que os países

Page 21: Vigilancia SAnitaria-Artigo

mais vulneráveis aos problemas sanitários serão aqueles que possuem sistemas de vigilância

frágeis (COSTA, 2000).

O processo evolutivo da Vigilância Sanitária no Brasil foi também influenciado pela

evolução econômica do país, tal qual o que ocorreu em meados dá década de 70 denominado

de o “milagre econômico brasileiro” que gerou a necessidade de se regular os mercados

produtivos para que os nossos produtos pudessem entrar em competição com o mercado

internacional, demonstrando que o processo evolutivo do sistema de saúde brasileiro sofria

uma determinação do capitalismo internacional.

O processo de construção de uma Vigilância Sanitária no Brasil alcançou seu ápice

nos anos 80 e 90 com o fim do regime militar e consequente redemocratização do país, o que

gerou vários movimentos sociais, sendo que um deles foi na área da saúde, neste período

começam a se discutir as ideias da Reforma Sanitária, que se consolida então em 1986 na VIII

Conferência Nacional de Saúde por lançar as bases para um sistema único de saúde, buscando

desta forma a afirmação da saúde como um direito social, universal, igualitário, sem

privilégios de grupos ou pessoas, o que leva então a criação do SUS na Constituição Federal

de 1988, o que provê juridicamente maior visibilidade ás ações da Vigilância Sanitária.

A Vigilância Sanitária como uma das partes integrantes do Sistema Único de Saúde

enfrenta vários desafios que não se restringem apenas às discórdias entre questões mercantis

versus saúde, mas a várias demandas externas como a qualidade da formação profissional, a

produção e disseminação de conhecimentos e informações atualizadas, a pontos conceituais e

doutrinários que envolvem todo o arcabouço da área da saúde, e até mesmo as tecnologias que

envolvem todo o meio em que se insere a vigilância sanitária (COSTA, 2001). Conforme

afirma Costa (2001) “é preciso romper, sobretudo, a estrutura tradicional do modelo sanitário

fragmentado e anacrônico, centrado no cuidado à doença e agravado pela pulverização de

ações similares descoordenadas em distintos espaços institucionais”, tudo afirmando que o

conceito de Vigilância Sanitária envolve aspectos não apenas de recuperação da saúde, mas

de prevenção também.

Para que a finalidade da Vigilância Sanitária seja realizada e com isso consiga obter a

sua legitimidade social é necessário promover ações integradas entre a sociedade e os

profissionais e trabalhadores de saúde, para que em “equipe” implantem políticas públicas

intra e intersetoriais com a finalidade de integrar as atividades de vigilância sanitária no

conjunto de ações de saúde e demais setores que visem à boa qualidade de vida (COSTA,

2001).

Page 22: Vigilancia SAnitaria-Artigo

Conforme diz Solla & Costa (2007) as ações de vigilância sanitária, por realizar as

atividades de regulação destinada à proteção da saúde, são integrantes tanto da ação de saúde

quanto meio de organização econômica, cultural e social. A atividade de proteção da saúde

não inclui apenas cidadãos e consumidores de gêneros que interfiram direta ou indiretamente

na saúde, mas engloba também os produtores, que atuarão em ambientes de credibilidade,

visto estarem sujeito a menos efeitos de concorrência desleal e a fraudes. A regulação

sanitária tratada do ponto de vista econômico trata de superar falhas mercadológicas,

caracterizadas pelo simples fato de o mercado não ser capaz de se auto-regular, ou seja, as

forças do mercado não são suficientes para garantir qualidade dos bens essenciais, a

segurança do consumo, ao ambiente limpo (LUCCHESE, 2001).

Na área de saúde ainda há muito por ser feito, perpassando desde fatores relacionados

ao desenvolvimento teórico-conceitual e metodológico até a formação e capacitação do corpo

humano envolvido nas ações de vigilância sanitária, visto que o movimento tecnológico está

em constante manufatura. Nota-se, porém que existe um grande processo de desenvolvimento

das ações de vigilância sanitária, ao passo do Sistema Único de Saúde, da descentralização e

municipalização da saúde, tomando como consideração também e de grande importância o

repasse de recursos do nível federal para os demais entes, propiciando assim as ações de

saúde pelos níveis mais próximos do alvo, ou seja, da população (COSTA, 2000).

Costa (2000) finaliza dizendo que:

“O processo de transformação que a atualidade requer defronta-se com imensos

desafios expressados em temáticas polêmicas, tais como a necessidade de regulação

das práticas mercadológicas de incentivo ao consumo desenfreado de produtos de

risco, medicamentos e tecnologias médicas, a necessidade de depuração do mercado

farmacêutico, de redução e controle das iatrogenias, a saúde dos consumidores, os

desastres com produtos tóxicos e perigosos, a deterioração do meio ambiente e a

extração predatória dos recursos naturais. Estas questões exigem da Saúde

Pública/Vigilância Sanitária, como campo de saberes e práticas sociais, intervenções

de natureza mais complexa que a das práticas usuais nos sistemas de saúde. Esta

exigência recompõe conceitos e noções ainda pouco elaboradas, desde o próprio

conceito de saúde, à regulação, segurança sanitária, promoção, proteção e defesa da

saúde, a serem conjugados com os princípios e diretrizes afirmados para a

constituição da saúde como um valor, um direito humano fundamental, ou seja, os

princípios de universalização, eqüidade, integralidade, ética e responsabilidade

pública, sob as diretrizes de descentralização, participação e controle social no

Sistema Único de Saúde.”

Page 23: Vigilancia SAnitaria-Artigo

REFERÊNCIAS

BAUDRILLARD, J. A Sociedade de Consumo. Lisboa, Edições 70, 1975. apud COSTA, E.

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