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VIDA & ESCOLA: O QUE PENSAM OS ADOLESCENTES Rita de Cássia de Souza Vaneza Lopes Freitas Paula Teresinha de Castro Introdução Quando se fala de violência ou indisciplina na escola, os alunos são sempre os primeiros culpabilizados: são rebeldes, não respeitam as normas, não respeitam os educadores ou estão sem limites. Estes temas têm sido largamente discutidos dentro e fora das escolas e há hoje uma vasta produção científica e jornalística sobre tais assuntos. Entretanto, poucos são os estudos que propõem a trabalhar o ponto de vista dos alunos e a partir de suas expectativas e interesses sobre a escola e sua formação. Esta pesquisa apresenta, justamente, uma discussão com os alunos, colocando-os no centro dos debates sobre a escola que querem, as normas que esta escola deve apresentar e o papel dos educadores e educandos neste processo. Além disso, procuramos saber quais as expectativas dos alunos em relação à sua vida como um todo e o seu futuro, visando comparar as representações de estudantes de escolas públicas e particulares de Viçosa- MG no que tange à vida e à escola. Esta pesquisa trabalha com o conceito de representações sociais criado por Serge Moscovici quando da publicação da obra La Psicanalyse: Son image et son public, primeiramente na França em 1961. Mas é de Denise Jodelet que obteremos uma definição bem precisa do que são as representações sociais: (...) é uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social. Igualmente designada como saber de senso comum ou ainda saber ingênuo, natural, esta forma de conhecimento é diferenciada, entre outras, do conhecimento científico. Entretanto, é tida como um objeto de estudo tão legítimo quanto este, devido à sua importância na vida social e à elucidação possibilitadora dos processos cognitivos e das interações sociais. (2001, p.22) De acordo com estes teóricos das representações sociais, ao nascermos, já nos deparamos com um mundo construído, que vamos conhecendo paulatinamente, não somente a partir das nossas vivências imediatas, mas também a partir das vivências

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VIDA & ESCOLA: O QUE PENSAM OS ADOLESCENTES

Rita de Cássia de Souza Vaneza Lopes Freitas Paula Teresinha de Castro

Introdução

Quando se fala de violência ou indisciplina na escola, os alunos são sempre os

primeiros culpabilizados: são rebeldes, não respeitam as normas, não respeitam os

educadores ou estão sem limites. Estes temas têm sido largamente discutidos dentro e

fora das escolas e há hoje uma vasta produção científica e jornalística sobre tais

assuntos. Entretanto, poucos são os estudos que propõem a trabalhar o ponto de vista

dos alunos e a partir de suas expectativas e interesses sobre a escola e sua formação.

Esta pesquisa apresenta, justamente, uma discussão com os alunos, colocando-os no

centro dos debates sobre a escola que querem, as normas que esta escola deve

apresentar e o papel dos educadores e educandos neste processo. Além disso,

procuramos saber quais as expectativas dos alunos em relação à sua vida como um todo

e o seu futuro, visando comparar as representações de estudantes de escolas públicas e

particulares de Viçosa- MG no que tange à vida e à escola.

Esta pesquisa trabalha com o conceito de representações sociais criado por Serge

Moscovici quando da publicação da obra La Psicanalyse: Son image et son public,

primeiramente na França em 1961. Mas é de Denise Jodelet que obteremos uma

definição bem precisa do que são as representações sociais:

(...) é uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social. Igualmente designada como saber de senso comum ou ainda saber ingênuo, natural, esta forma de conhecimento é diferenciada, entre outras, do conhecimento científico. Entretanto, é tida como um objeto de estudo tão legítimo quanto este, devido à sua importância na vida social e à elucidação possibilitadora dos processos cognitivos e das interações sociais. (2001, p.22)

De acordo com estes teóricos das representações sociais, ao nascermos, já nos

deparamos com um mundo construído, que vamos conhecendo paulatinamente, não

somente a partir das nossas vivências imediatas, mas também a partir das vivências

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mediadas, ou seja, aquelas que obtemos a partir do olhar, da opinião, do conceito de

outros, nossos familiares, nossa comunidade, a mídia, etc.

Para Abric:

Assim, a representação é um conjunto organizado de opiniões, de atitudes, de crenças e de informações referentes a um objeto ou a uma situação. É determinado ao mesmo tempo pelo próprio sujeito (sua história, sua vivência), pelo sistema social e ideológico no qual ele está inserido e pela natureza dos vínculos que ele mantém com esse sistema social. (2001, p.156)

No caso deste estudo, portanto, procuramos conhecer as representações sociais

de estudantes do último ano do ensino fundamental sobre a adolescência, a escola, o

futuro e principalmente, a disciplina escolar. Acreditamos que conhecer tais

representações é fundamental para compreender o comportamento dos alunos pois,

como nos informa Abric: “A representação precede à ação e a predetermina” (2001, p.

162).

A rigor, precisamos considerar que, como nos afirma Sá: “Os fenômenos de

representação social são mais complexos do que os objetos de pesquisa que construímos

a partir deles. Isto quer dizer que há uma simplificação quando passamos do fenômeno

ao objeto da pesquisa.” (1998, p. 22).

ADOLESCÊNCIA

A adolescência é um conceito recente na história da humanidade, que surgiu em

fins do século XIX e início do XX, influenciada primordialmente pelo fenômeno da

industrialização que direcionava um grupo de sujeitos para o trabalho enquanto um

outro contingente, de filhos de famílias de classes médias e altas, continuavam seus

estudos. Em meados do século XX, a escolarização foi se tornando obrigatória e esse

período de “moratória social”1, de preparação para a vida adulta e para um mercado de

trabalho cada vez mais exigente, foi se estendendo paulatinamente a todas as camadas

sociais.

                                                            

1 A expressão “moratória social” foi utilizada por Erikson (1987) designando este período de espera que a sociedade oferece aos jovens como momento de preparação para a vida adulta.

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Trabalharemos com o seguinte conceito de adolescência: “Por adolescência

costumamos entender a etapa que se estende, grosso modo, desde os 12 ou 13 anos até

aproximadamente os 20 anos de idade. É uma etapa de transição em que já não se é

criança, mas ainda não se tem o status de adulto”, conforme Palacios e Oliva (2004, p.

309). Consideramos que a adolescência é uma construção sócio-histórico-cultural. Ou

seja, é um período que circunscreve a puberdade – mudanças biológicas ocasionadas

pela maturação do organismo -, mas cujas características sociais e psicológicas são

construídas conforme o ambiente e os envolvidos. Portanto, não temos uma

adolescência, mas diversas formas de se vivenciar este momento único na vida de cada

ser humano.

A primeira pergunta que nos fizemos e direcionamos aos estudantes foi sobre o

que é adolescência. Eles se consideram adolescentes? Segundo o sociólogo polonês,

Zygmunt Bauman, vivemos numa sociedade “líquida”, onde tudo é fluido, inconstante,

incerto, mutável, dinâmico. Para ele, a própria identidade é um conceito novo, na

medida em que só quando há diversas possibilidades de ser – propiciadas pela quebra

das fronteiras com a globalização – cabe perguntar quem somos. Afinal, podemos ser

outro e não nós mesmos. Quando mais conhecemos outros, diferentes de nós, mais

tomamos consciência da nossa individualidade. E esta tomada de consciência é

fundamental para nos reconhecermos a partir de nossas características, hábitos e nos

distanciarmos em relação ao que não possuímos, não acreditamos, não conhecemos.

Num mundo não globalizado, das pequenas aldeias, sem muito contato com as

diferenças culturais, as pessoas tomam aquela realidade como única, as identidades

estão postas, não há muito o que discutir. Entretanto, na multiplicidade constante, no

dinamismo atual, como nos diz Bauman:

Tornamo-nos conscientes de que o “pertencimento” e a “identidade” não têm a solidez de uma rocha, não são garantidos para toda a vida, são bastante negociáveis e revogáveis, e de que as decisões que o próprio indivíduo toma, os caminhos que percorre, a maneira como age – e a determinação de se manter firme a tudo isso – são fatores cruciais tanto para o “pertencimento” quanto para a “identidade”. Em outras palavras, a idéia de “ter uma identidade” não vai ocorrer às pessoas enquanto o “pertencimento” continuar sendo o seu destino, uma condição sem alternativa. Só começarão a ter essa idéia na forma de uma tarefa a ser realizada, e realizada vezes e vezes sem conta, e não de uma só tacada. (2005, p.17-8)

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Embora o autor trate da identidade nacional, podemos estender este conceito

para a identidade de uma maneira geral, ou seja, a nossa apresentação diante do mundo.

Durante a infância, é lógico que as crianças podem fazer escolhas e agir

ativamente, mas as suas próprias limitações físicas e intelectuais levam os adultos a

direcionar mais estas escolhas. Na idade adulta, espera-se, no entanto, que o sujeito seja

capaz de fazer e responsabilizar-se por suas escolhas. Na adolescência, os sujeitos

encontram-se neste período de preparo para o exercício das suas funções futuras de

autonomia e responsabilidade, enquanto adultos.

CARACTERIZANDO OS ADOLESCENTES: QUEM SÃO E O QUE FAZEM

No total, 51% dos questionários foi preenchido por meninas e 49% por meninos.

No entanto, nas escolas particulares, maior número de meninos responderam ao

questionário totalizando 53% de meninos e 47% de meninas. Como a amostra está

muito próxima da população investigada, parece-nos que há mais meninos matriculados

em escolas particulares que em escolas públicas, pois nestas, 48% eram do sexo

masculino e 52%, do sexo feminino.

Outra diferença é em relação à idade. Nas escolas particulares, os participantes

apresentam idades entre 12 e 16 anos, e 96% estão entre 13 e 15 anos de idade. Nas

escolas públicas, a idade dos alunos variou entre 12 e 19 anos, sendo que 82% entre 13

e 15 anos. Talvez por este motivo 93% dos alunos de escolas públicas e 95% das

particulares tenham respondido que se consideram adolescentes, por diversos motivos e

as justificativas que mais apareceram foram: pela idade, pelas atitudes e

comportamentos, o modo de pensar, as mudanças que ocorrem no corpo, porque têm

maturidade e responsabilidade. Aqueles que não se consideraram adolescentes

justificaram serem ainda muito infantis, não ter maturidade ou ser pré-adolescente.

Perguntamos aos estudantes se faziam atividades extra escolares e quais eram.

Nas escolas particulares, 14% dos alunos responderam que não fazem nenhuma

atividade extra escolar, os demais, ou seja 86% fazem e, destes 77% o fazem

regularmente. As atividades citadas, em ordem de aparecimento são atividades físicas

(esportes, academia e dança); cursinho preparatório para o processo seletivo num

Colégio de Ensino Médio Federal que tem tido as notas mais altas do país em avaliações

dos alunos; fazem aulas de reforço e ainda cursos como inglês e informática. Estas

respostas indicam a expectativa de um grupo significativo de alunos de serem

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aprovados no vestibular e o acesso a carreiras que exigem mais conhecimentos como o

de línguas estrangeiras. Por outro lado, por serem estudantes de escolas particulares e,

supostamente, filhos de famílias com maiores expectativas profissionais e melhores

condições financeiras, estes possuem também maior interesse e oportunidade de

realizarem atividades extra escolares, o que não diminui a importância da escola.

Quanto ao gênero, há poucas diferenças ente meninos e meninas, embora os

meninos façam um pouco mais de atividades: 88% dos meninos tem atividades extra

escolares, sendo 81% destes regularmente, enquanto 83% das meninas o fazem e destas,

73% com regularidade.

Em relação à esta pergunta, nas escolas públicas, 1% dos estudantes não

respondeu. 44% afirmaram não fazer nenhuma atividade extra escolar, 42% afirmaram

fazer atividades extra escolares e 12% disseram fazer atividades às vezes. Dentre os que

fazem sempre as atividades extra escolares, 37% disseram praticar esportes ou alguma

outra atividade física como dança ou academia; 21% dos alunos fazem cursos de

informática, participam de projetos oferecidos pela Universidade junto a escolas

públicas, entre outras atividades e 19% disseram fazer cursinho preparatório para o

colégio público federal que oferece ensino médio gratuito e é atualmente considerado a

melhor escola pública de ensino médio de todo o país. A concorrência para o colégio é

mais alta do que a de vários vestibulares e os cursinhos preparatórios são muito

procurados. Dentre os que fazem atividades às vezes, a resposta mais comum foi

praticar esportes e outras atividades físicas com 44% de respostas. 16% fazem

cursinhos, entre eles preparatório para o Colégio Federal que oferece ensino médio.

Outras respostas foram: estudar, trabalhar, participar de fãs-clubes, tocar instrumentos

musicais entre outros. Nenhuma resposta se referia a cursos de idiomas.

  Entre os meninos, 53% afirmaram fazer atividades extra escolares e 15%

disseram que fazem, às vezes. Entre as meninas 39% responderam que realizam

atividades extra escolares com frequência e 11% às vezes.

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Gráfico: Porcentagem de realização de atividades escolares pelos alunos

Chama a atenção imediatamente o fato de que, 44% dos alunos das escolas

públicas não realizam atividades extra escolares, e 14% nas escolas particulares.

Procuramos saber, então, que atividades eram estas, que encontram-se organizadas na

tabela abaixo:

Tabela: Porcentagem de atividades extra escolares realizadas pelos estudantes

Fazem às vezes Frequência de realização das atividades Fazem Particular Pública ParticularEscolas Pública

Esportes, academia, dança 37 16 44 12 Cursinho pré-coluni 19 15 16 9

Aulas de reforço ou estuda 6 7 13 2 Cursos (inglês, iniciação científica, informática) 21 9 Participa de projetos na escola 2

Trabalho 2 8 Toca instrumentos musicais 2 3 2 2

Ajudar em casa 4 Outros 3 3 10

Não apresentaram quais 3 8

Em primeiro lugar, precisamos chamar a atenção que a pergunta seguinte, no

questionário era o que os alunos faziam no seu tempo livre e ambas as questões foram

muito confundidas. Nas atividades extra escolares, o objetivo era saber se os alunos

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faziam alguma atividade formal como trabalhar e fazer cursos fora da escola e, a

pergunta sobre o tempo livre visava identificar de que forma os alunos aproveitavam o

tempo em que não estavam na escola e nem em atividades obrigatórias, mas no período

de lazer. Mas, como isto não ficou claro, não é possível saber se os alunos fazem as

atividades formalmente ou não. É o caso, por exemplo, de “jogar futebol”, em que não

fica claro se o aluno está matriculado numa escolinha de futebol ou se joga com os

amigos para se divertir.

Chama a atenção o fato de ambos os grupos se prepararem para o Coluni,

embora os alunos 35% das respostas dos alunos das escolas públicas e 24% de alunos

das escolas particulares. Não nos parece provável que os alunos de escolas públicas

tenham mais interesse em ingressar no Coluni que os de escolas particulares. Nossa

hipótese é que os primeiros se sintam menos preparados para realizar o exame de

seleção e busquem mais reforços através cursinhos preparatórios.

Trabalhar foi uma atividade apresentada apenas por alunos de escolas públicas.

Isto pode ser por diversos motivos: necessidades financeiras, desejo de ter seu próprio

dinheiro, menor expectativa de fazer vestibular e se preparar para a Universidade ou

ainda por alguns alunos são mais velhos, 16% tinham mais de 16 a 19 anos, e apenas

3% tinham 16 anos nas escolas públicas. Nenhum acima desta idade. Este número

revela que há mais alunos com defasagem idade-série nas escolas públicas. No entanto,

não significa que exista mais reprovação nesta escola. Pode ser que estes alunos tenham

sido matriculados um pouco mais velhos ou ainda que, uma vez tendo repetido o ano na

escola particular, sejam encaminhados para escolas públicas, o que é uma prática

comum das famílias.

Outra pergunta, como dito anteriormente, foram sobre as atividades realizadas

no tempo livre. A atividade mais citada pelos alunos de escolas particulares envolve o

uso de novas tecnologias como computadores e jogos eletrônicos, vindo em terceiro

lugar no grupo dos alunos de escolas públicas muito provavelmente porque o acesso

destes a estes bens de consumo é menor. Estudar, fazer deveres e ler é outra atividade

comum entre os dois grupos e a primeira mais citada na escola pública e segunda na

escola particular perdendo para o uso das novas tecnologias. Assistir TV e filmes é

também muito comum entre os dois grupos, bem como praticar esportes ou fazer

atividades físicas, passear, conversar com amigos, dormir e ouvir música ou tocar

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instrumentos musicais. No entanto algumas respostas foram mais comuns nas escolas

públicas2 como arrumar a casa, cuidar de irmãos e trabalhar. Não fica claro se este

trabalho seria ou não remunerado já que foi classificado como atividade de tempo livre.

Namorar também apareceu mais nas escolas públicas e talvez isso se deva ao fato de

alguns alunos serem mais velhos. Por outro lado, brincar também foi mais significativo

nas escolas públicas que nas particulares. Lembrando que estes alunos tem mais

atividades extra escolar, talvez lhe sobre menos tempo para brincadeiras.

Algumas respostas despertaram a atenção entre os alunos de escolas particulares:

a primeira foi de uma aluna do sexo feminino de quatorze anos de idade que disse estar

escrevendo um livro. No que pudemos observar pelas suas repostas do questionário a

adolescente tem uma boa grafia, escreve bem e tem bons argumentos. Contrariando um

pouco as expectativas que passou de ser talvez uma escritora, ela disse que no futuro

deseja se tornar médica. Outros dois alunos do sexo masculino de quinze anos de idade

disseram que se masturbam no seu tempo livre. A princípio pareceu que estavam

brincando com o questionário, pois, nos dois casos foram deixadas muitas perguntas

sem respostas. Ao longo da análise observamos a dificuldade que esses adolescentes

tinham de se expressar não aparecendo outras questões sobre sexualidade. Durante o

preenchimento do questionário surgiram alguns comentários espontâneos dos alunos,

que desejariam ter aulas de educação sexual.

 

REPRESENTAÇÕES DOS ESTUDANTES SOBRE A ESCOLA

Nas questões a ser analisadas neste item, procuramos saber como os alunos

percebiam a escola. Foi feita, então, a seguinte questão aberta “O que significa a escola

para você?” e as respostas foram classificadas em positivas e negativas, a partir dos

conteúdos apresentados.  

Gráfico: Representações dos estudantes sobre a escola

                                                            

2 Como trabalhamos com porcentagem de respostas com números inteiros, 0 não significa respostas não citadas, mas um número percentual abaixo de 1. Portanto, pode ser que apareçam respostas no grupo mas em número inferior a 1%.

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A análise das respostas foi bastante surpreendente porque os estudantes o

número de representações positivas sobre a escola foi muito alto nos dois grupos e as

justificativas muito semelhantes também3. Mesmo as escolas públicas que tem sido

apontadas como fracas, inseguras e incapazes de ensinar aos alunos conhecimentos

básicos para a vivência na sociedade moderna, esta não parece ser a primeira

representação dos alunos. Algumas respostas significativas no questionário foram: “A

escola é um paraíso de letras e números”; “A escola é tudo de bom”; “uma segunda casa

ou uma segunda família”; “lugar onde se prepara para a vida.” Embora a oportunidade

de aprender e preparar-se para o futuro seja muito citada, os alunos também a vêem

como um lugar para fazer amigos e conviver especialmente entre alunos de escolas

particulares. Uma hipótese a ser investigada é que, em geral, alunos de escolas

particulares tem famílias menores, menos irmãos, tem menos tempo livre – com maior

número de atividades extra escolares, e utilizem mais a escola como forma de construir

relações de amizade.

Os últimos anos do ensino fundamental, em geral são aqueles em que os

professores mais lidam com a falta de motivação de alunos que, recém saídos da

infância lidam com uma série de situações novas como as mudanças físicas pela

puberdade, a sexualidade aflorada, mudanças nas relações sociais, nas exigências do

meio e na própria identidade. Mais questionadores – até pelo próprio desenvolvimento

                                                            

3 Pode-se perceber que o número de categorias é maior para escolas públicas que particulares, mas é preciso considerar que o número de alunos participantes nas escolas públicas foi muito maior, e, por isso, há mais categorias neste grupo.

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intelectual e linguístico, maiores fisicamente, mais fortes e organizados, o grupo é uma

das mais importantes referências do adolescente – estes adolescentes levam para a

escola mudanças nas atitudes que, muitas vezes, são atribuídas como desinteresse,

indisciplina e rebeldia. As atividades escolares passam a ser criticadas, os professores

alvos de chacotas, de travessuras (e, por vezes, de violência) com muito mais freqüência

que nos anos anteriores. A resposta dos alunos revela o interesse deles pela escola ou,

principalmente, pelas oportunidades que a passagem pela escola pode fornecer, mesmo

a longo prazo, tanto para alunos de escolas públicas quanto particulares.

Perguntados sobre como se sentiam dentro da escola, as respostas foram

classificadas como positivas, negativas e neutras para respostas como: “me sinto como

um aluno” ou “normal”.

Tabela: Como os estudantes se sentem na escola

Respostas Escolas Públicas

Escolas Particulares

Total

Positivas 59% 83% 71% Negativas 16% 8% 12% Neutras 21% 9% 15%

Não responderam 4% 2%    Embora aqui apareçam mais respostas negativas entre os estudantes, ainda assim

é muito superior o número de respostas positivas, sobretudo nas escolas particulares.

As principais justificativas para se sentir bem na escola foram: me sinto à vontade,

tranquilo ou feliz; ou ainda porque tenho amigos. Dentre os que se referiram a

sentimentos negativos foi principalmente ao fato de se sentirem presos, trancados e sem

espaço. Além disso, é possível perceber que a escola é vista como um lugar de

preparação para um futuro melhor e aprender é uma condição fundamental para obter

condições melhores para si e a própria família. Novamente, a justificativa de encontrar

amigos foi mais citada entre alunos de escolas particulares. No gráfico a seguir estão

representados os sentimentos dos estudantes das escolas públicas e particulares em

relação à escola.

Gráfico: Sentimentos dos estudantes em relação à escola

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Mesmo demonstrando satisfação com a escola, a questão feita a seguir poderia

investigar fatores de insatisfação, pois os estudantes responderam o que gostariam que

fosse diferente em suas escolas. As respostas foram categorizadas em cinco grupos: 1)

atividades escolares de uma maneira geral (intervalo, merenda, maior liberdade para os

alunos, entre outras), 2) na parte física da escola; 3) nas aulas; 4) em relação aos

educadores escolares, e 5) em relação aos próprios alunos. Foram também destacadas as

respostas: tudo, nada e outras que não se encaixavam nas categorias anteriores.

Tabela: O que os estudantes gostariam que fosse diferente na escola

Gostaria que fosse diferente na escola Escolas Públicas

Escolas Particulares

Total

Aulas 19 25 22 Parte física da escola 21 15 18 Atividades escolares 16 17 16

Educadores 13 10 12 Nada 10 13 12

Outros 3 18 10 Alunos 11 1 6 Tudo 3 1 2

Não respondeu 4 0 2

O grupo mais votado foi o das aulas, com 22% das respostas no total, sendo 25%

das respostas das escolas particulares. Neste grupo, os alunos solicitaram mudanças

como: ter menos aula, mudanças nos métodos de ensino, mais aulas de educação física,

ter aulas de informática, O segundo lugar geral ficou para a parte física da escola,

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primeiro item citado pelos alunos de escolas públicas e quarto entre os alunos das

escolas particulares. A principal queixa foi em relação à quadra de esportes4 nos dois

grupos, consideradas insuficientes, pequenas ou inexistentes; mas também foram

indicados salas de aulas maiores (nos dois grupos), pedido de laboratório de

informáticas (nas escolas públicas) e de escola mais limpa (em ambas). Em terceiro

lugar geral ficaram as atividades realizadas na escola de uma maneira geral. O principal

item citado foi o intervalo, quando se pediu ampliação do tempo, colocação de músicas,

melhorias na merenda (escolas públicas) e liberdade para os alunos. Um grupo solicitou

menos regras na escola enquanto outro grupo solicitou a existência de mais punições.

Os educadores também foram citados, e os alunos disseram que gostariam que estes

fossem mais respeitosos, que houvessem mais professores (itens indicados nas escolas

públicas), enquanto nas escolas particulares foram solicitados mudanças na direção e

também de alguns professores específicos – o que também aconteceu nas escolas

públicas. Um número pequeno de respostas – 6% no total – afirmava que gostaria que

os próprios alunos modificassem seu comportamento, evitando brigas, fazendo menos

bagunça e se interessando mais pelas aulas.

Uma resposta bem surpreendente foi a de que os alunos não gostariam que nada

se modificasse na escola, que apareceu em 10% das respostas dos alunos das escolas

públicas e em 13% das particulares. Por outro lado, 3% das respostas dos alunos de

escolas públicas e 1% entre as particulares sinalizava que tudo fosse modificado nas

escolas.

Em seguida à pergunta “O que você gostaria que fosse diferente na escola”,

pedia-se que respondessem o que eles, como alunos, poderiam fazer para modificar. As

respostas nos dois grupos foi bem distinta.

Tabela: O que os estudantes podem fazer para modificar a sua escola

                                                        

4 O esporte parece ser um ência importante para s adolescen Esta foi a atividade extra escolar mais citada entre s e também apareceu uito entre as vidades realizadas no tempo livre.

a refer este tes.os estudante m ati

Modificações Públicas Particulares Cada um fazendo a sua parte 24 8 Conversar com os diretores 10 17

Respeitar a todos 7 10 Preservar a escola 8 2

Fazer protestos, abaixo assinado 2 6 Não brigar, evitar conflitos 2 0

Fazer silêncio, conversar menos 3 3 Outros 15 24 Nada 17 27

Não sabe 4 1 Não responderam 8 2

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A porcentagem de alunos que responderam que nada poderiam fazer para mudar

- 17% nas escolas públicas e 27% nas escolas particulares – foi bem significativa e

mostrou uma certa visão de si próprios não como protagonistas da sua escola, mas como

expectadores, no sentido de que eles não tem poder para efetivar mudanças. Por outro

lado, foi mais elevado o número daqueles que se perceberam como agentes

transformadores, seja exigindo mudanças à direção da escola, seja mudando o próprio

comportamento.

Representações dos estudantes sobre a (in)disciplina escolar

As questões seguintes dizem respeito ao que os alunos pensam acerca da

indisciplina e da violência na escola. Em primeiro lugar, os alunos foram questionados

sobre o que consideram indisciplina escolar. A falta de respeito foi a principal resposta

que obteve a mesma porcentagem nos dois grupos de escolas. A bagunça foi a segunda

mais citada entre as escolas públicas e os alunos das escolas particulares citaram outros

comportamentos, classificando a bagunça em terceiro lugar. Não fazer nada ou não

fazer as atividades ficou em quarto lugar nos dois grupos. A conversa foi mais citada

entre os alunos de escolas particulares e os dois grupos citaram, na mesma proporção, as

brigas e a agressividade.

Solicitou-se aos alunos, então, que classificassem seu comportamento segundo a

seguinte escala: muito indisciplinado, indisciplinado, disciplinado, muito disciplinado

ou outra opção que deveriam indicar.

Tabela: Auto-classificação dos estudantes numa escala de comportamento disciplinar

Públicas Particulares Total Disciplinado 64% 60% 62% Outra opção 16% 21% 19% Muito disciplinado 9% 12% 10% Indisciplinado 8% 6% 7% Muito indisciplinado 1% 1% 1% Não respondeu 2% 1%

Mais de 60% dos estudantes de ambas as escolas classificaram-se como

disciplinados, justificando que fazem as suas obrigações, respeitam as pessoas e não

fazem bagunça. Em “outra opção” os alunos ficaram no meio-termo, ou seja, disseram

que ora são disciplinados e ora não, porque conversam ou fazem bagunças em alguns

momentos. O terceiro lugar ficou para a categoria “muito disciplinado” e os alunos

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afirmaram que são estudiosos, fazem os deveres, além das justificativas já apontadas

pelos disciplinados. Se somarmos as categorias disciplinado e muito disciplinado, temos

que 73% dos alunos das escolas públicas são disciplinados e 72% das escolas

particulares. Menos de 10% dos alunos se classificaram como indisciplinados,

afirmando que não fazem os deveres, fazem bagunça e tiram notas ruins e 1% afirmou

ser muito indisciplinado, justificando que fazem muita bagunça e tem notas ruins. No

gráfico a seguir foram apresentados os resultados totais da auto-classificação dos

alunos:

Gráfico: Auto-classificação dos estudantes segundo a disciplina escolar

Os dados chamam a atenção porque os alunos, em sua maioria, se

consideram disciplinados e aqueles que não se consideram justificaram não somente

pelo comportamento, mas também pelas notas. A questão que fica é: tem estes alunos

notas ruins e baixa aprendizagem porque são indisciplinados ou são indisciplinados

porque tem dificuldade de aprendizagem? Ter notas ruins pode ser um indicador de que

estes alunos não prestam atenção nas aulas e não fazem os deveres, por outro lado

também pode indicar que, como tem menor compreensão dos conteúdos, deixam de

fazer os deveres e ficam dispersos na sala de aula.

Haveria diferença de comportamento entre alunos de escolas públicas e

particulares? Se somarmos as opções disciplinado e muito disciplinado, temos que 73%

dos alunos das escolas públicas se consideraram disciplinados, sendo 64% de

disciplinados e 9% de muito disciplinados. O número de muito disciplinados é maior

nas escolas particulares (12%), mas somados à 60% de disciplinados, chegamos a um

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número muito próximo das escolas públicas, 72% de alunos que se classificaram como

disciplinados, com diferença de apenas 1%. Mesmo assim, se considerarmos o número

de muito disciplinados é maior nas escolas particulares, podemos afirmar que estes

alunos se consideram mais disciplinados que os da escola pública. Os alunos das escolas

particulares foram os que mais se classificaram como ora indisciplinado ora

disciplinado (12%), enquanto 9% dos alunos da escola pública o fizeram. A

porcentagem dos que se consideraram indisciplinados é maior na escola pública (8%)

que na particular (6%), mas o número que se categorizou como muito indisciplinado é o

mesmo nas duas escolas, 1%. Estes dados mostram que, pelo menos no que se refere à

classificação que os alunos fizeram, nas escolas públicas haveria mais alunos

indisciplinados, mas não há significativa diferença entre os dois grupos. Buscamos

investigar ainda se haveria diferença de gênero na classificação apresentada.

Tabela: Auto-classificação dos alunos numa escala de comportamento disciplinar por sexo

Sexo Meninos Meninas Escola Públicas Particulares Total Públicas Particulares Total

Disciplinado 55 55 55% 72 66 69%Outra opção 21 24 22% 12 17 15%

Muito disciplinado 11 11 11% 9 13 11%Indisciplinado 8 8 8% 6 4 5%

Muito indisciplinado 2 2 2% 1

Não respondeu 3 2% No gráfico seguinte, estão apresentadas as respostas dos estudantes na

escala de comportamento disciplinado por sexo.

Gráfico: Auto-classificação dos estudantes por sexo

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Em primeiro lugar, percebemos que a classificação é a mesma para meninos

e meninas, o que muda é a proporção. Enquanto 69% das meninas se considera

disciplinada, 55% dos meninos o fazem. São também os meninos que mais se

classificam como ora disciplinados ora não. A porcentagem de alunos que se

classificaram como muito disciplinados é a mesma, 11%, para meninos e meninas. Um

número muito pequeno de meninas se considerou muito indisciplinada – menos de 1% -

e 2% dos meninos o fizeram.

  Na opinião dos participantes, o que causa a indisciplina na escola são,

principalmente, os próprios alunos, que teve 50% das respostas seja pela falta de

respeito, pela bagunça, pelas conversas e brigas – motivos citados pelos dois grupos.

Mas nas escolas públicas, eles foram mais citados que nas escolas particulares. Os

professores foram também muito citados – especialmente nas escolas particulares – e a

família dos alunos – também citada nas escolas particulares. A falta de punições foi

outro aspecto considerado em ambas as escolas.

Tabela: Causas da indisciplina escolar na opinião dos estudantes

Total Particulares Causas da indisciplina Públicas Alunos 71% 50%

60%

Outros 11% 16%

13% Professores 7% 12% 10%

Família 4% 16% 10% Falta de punições 2% 3% 3%

Não responderam 5% 3% 4%

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É curioso observar que, para os professores, em geral, a família dos alunos de

escolas públicas são menos estruturadas, com menor poder aquisitivo e,

consequentemente, menores condições sociais e culturais, sendo muito

responsabilizadas tanto pelos problemas de aprendizagem quanto de comportamento

dos alunos. No entanto, a família apareceu numa proporção quatro vezes maior entre os

alunos de escolas particulares do que nas escolas públicas. Um dos motivos talvez é

que, nas escolas públicas, como os alunos são um pouco mais velhos, eles pensem que o

comportamento na escola é de responsabilidade deles próprios e não mais da sua

família.

Quando perguntados, sobre como a indisciplina escolar pode ser melhorada, as

respostas obtidas foram:

Tabela: Sugestões dos estudantes para a melhoria da indisciplina escolar

Respostas Públicas Particulares TotalPunições mais severas, castigos, mais autoridade 21% 21% 21%

Não fazer bagunça 19% 13% 16% Melhorar o relacionamento entre alunos e professores 12% 17% 15%

Com aulas mais divertidas, diferentes 9% 13% 11% Mais participação dos pais na escola 5% 8% 6%

Atividade extra escolar 5% 5% 5% Respeito entre todos 6% 4% 5% Melhorar a segurança 8% 1% 4%

Outros 10% 12% 11% Não responderam 5% 6% 6%

É bastante surpreendente que, em primeiro lugar, os alunos chamem a atenção

para a necessidade de existência de punições e autoridade por parte dos educadores. E a

porcentagem foi a mesma para os dois grupos de escolas. Em segundo lugar, chamam a

atenção para os próprios colegas, para que não façam bagunça. Esta resposta foi mais

comum entre as escolas públicas, onde também os alunos foram mais responsabilizados

pelas causas da indisciplina. Melhorar o relacionamento entre alunos e professores foi a

terceira resposta mais comum, embora ela tenha ficado em segundo lugar nas escolas

particulares, que responsabilizou mais os professores pelas causas da indisciplina.

Maior participação dos pais na escola também foi mais comum nas escolas particulares

e, como visto anteriormente, a família dos alunos foi muito citada neste grupo como

uma das causas da indisciplina. A segurança foi um item muito citado nas escolas

públicas e que pouco aparece nas escolas particulares. Os alunos também afirmaram que

aulas mais divertidas, participativas, interessantes bem como atividades extra escolares

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podem diminuir o desinteresse e a conversa durante as aulas, melhorando a disciplina

escolar. Raras foram as respostas completamente pessimistas que diziam que nada pode

ser feito, mas estas também apareceram.

Perguntados se existiam punições na escola, mais de 60% dos alunos

responderam que sim e citaram: suspensão, expulsão, advertência, ocorrência, os pais

são chamados ou há uma conversa com o aluno. No entanto este número foi maior entre

os alunos de escolas públicas.

Tabela: Existência de punições na escola

Uma das punições citadas pelos alunos de escolas públicas foi chamar o

Conselho Tutelar, que não apareceu nos questionários das escolas particulares. 31% dos

alunos de escolas particulares e 24% das escolas públicas afirmaram que existem às

vezes, citando as mesmas punições anteriores. 6% dos alunos de escolas particulares e

5% das escolas públicas afirmaram que não existem punições. Embora esta diferença

seja apenas de 1%, é bom lembrar que os alunos das escolas particulares foram também

os que mais afirmaram que uma das causas da indisciplina é a falta de punições na

escola. Os estudantes foram questionados, então, se concordam ou não com essas

punições.

Gráfico: Concordância dos alunos quanto ao uso das punições escolares

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50% dos alunos no total afirmaram que estão de acordo com as punições,

justificando que quem viola as regras deve ser punido, e se elas não existissem, a

indisciplina só iria aumentar, embora este número tenha sido maior nas escolas

públicas. Cerca de 30% dos alunos disseram que concordam às vezes, afirmando que

muitos são punidos injustamente. O número de alunos que afirmaram não concordar

com as punições utilizadas é maior entre os alunos de escolas particulares, afirmando

que algumas punições são muito severas, alguns alunos são punidos injustamente e,

principalmente, que elas não resolvem. Podemos verificar, portanto, que os alunos

criticam não somente a falta de punições, mas também a existência de punições que não

resolvem ou não são bem aplicadas.

Através dos questionários, pudemos conhecer um pouco melhor o que pensam

os adolescentes estudantes de escolas particulares de Viçosa. Surpreendem as

representações positivas em relação à escola, considerada um bom lugar para se estudar,

mas principalmente fazer amigos e se socializar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em primeiro lugar, é preciso chamar a atenção para o fato de que os dois grupos

pesquisados – das escolas públicas e particulares – não são tão distintos como se pode

supor. Algumas distinções, no entanto, podem ser destacadas: o fato dos alunos de

escolas particulares serem mais novos, terem maior facilidade de escrita e se tratarem de

um grupo significativamente menor do que o outro. No que se refere às representações

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sobre a escola, pode-se ver que estes grupos se aproximam, especialmente pelo fato de

considerarem a escola como uma oportunidade de aprenderem, prepararem-se para o

futuro e fazer amigos. Um grande destaque da pesquisa é a satisfação em estar na escola

e a crença de que este é um bom lugar em que os estudantes se sentem bem, em sua

grande maioria. Por outro lado, os educadores não deixam de ser alvos de muitas

críticas quando não planejam suas aulas, desconsideram alguns alunos, são incoerentes

nas regras que utilizam, deixam de utilizar punições prometidas, fazem ameaças e

promessas que não cumprem. Os alunos demonstraram gostar de professores

comprometidos, sérios e que tem autoridade em classe, não tendo medo dos alunos nem

impondo medo neles. Bastante impactante também são as denúncias que os estudantes

fizeram – especialmente nos grupos focais – de professores que desprezam alguns

alunos, usam de violência, xingam e até tentam seduzir algumas alunas. Embora esta

pesquisa não tenha objetivo de fazer julgamentos nem de verificar a veracidade de tais

informações. Trata-se de um alerta para que as escolas estejam atentas ao

comportamento, não apenas dos alunos mas também dos professores que são, sem

dúvidas, referências importantes para estes jovens. Acreditamos que esta pesquisa

trouxe muitas informações importantes para o conhecimento da realidade local e

esperamos levar tais resultados às escolas para que estas possam refletir sobre suas

práticas, a partir da perspectiva de seus alunos.

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