vicente estevam - federal university of rio de...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
VICENTE ESTEVAM
A MÚSICA E A CRIAÇÃO DE VALORES NA EDUCAÇÃO: UMA ANÁLISE
RETÓRICA ARGUMENTATIVA ENTRE ORADORES E AUDITÓRIOS NA
CONTEMPORANEIDADE
Rio de Janeiro
OUTUBRO /2017
Vicente Estevam
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A MÚSICA E A CRIAÇÃO DE VALORES NA EDUCAÇÃO: UMA
ANÁLISE RETÓRICA ARGUMENTATIVA ENTRE ORADORES E AUDITÓRIOS NA
CONTEMPORANEIDADE
Tese apresentada como requisito parcial para
obtenção do titulo de Doutor em programa de Pós-
graduação em Educação da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ). Área de concentração
Inclusão, Ética & Interculturalidade.
Orientador Prof. Dr. Renato Jose de Oliveira
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DEDICATORIA
A grande lei do universo e suas divindades celestiais pela força intrínseca em constante
movimento eterno que transformadas pelo espirito corporificado em argumentos evidenciam a
anima em logica-intuitiva expressiva verbal no formato de música, letras, argumentações e
teses pela própria instância vital e factual humana de criação de valores
Aos meus ascendentes ítalos-bolivianos e aos meus pais Joao Estevam, Maria do Carmo do
Nascimento, Teresa de Jesus Mestre (Madrastra) e Quitete (Padastro), como também minha
madrinha Maria Vacabarba Rosario, concomitante a meus descendentes pelo esforço em
sempre tentarem proporcionar-me as melhores noções concretas e confiáveis na vida
Aos meus amores e desamores, amigos e inimigos que de alguma forma me ensinaram a ser
forte em face das dificuldades contempladas e, que de, contribuíram com o peso certo para que
as noções fossem admitida em acordo preferíveis.
Aos meus mestres: Maestro, Compositor e Arranjador, Prof Nelson Macêdo, os violonistas;
prof. Othon G. Rocha Filho, prof. Juarez Carvalho, os prof. Dr. Paulo Pedrassoli, prof. Dr.
Adeilton Bairral, Prof Dr. José Nunes Fernandes, Vanda Bellard Freire, Renato Jose de Oliveira
e o Prof Nobuo Yanai de japonês que me ensinaram como obter a sabedoria dos conhecimentos
para conceber o caminho do meio em face da diversidade para reconhecer oradores e auditórios
particulares e invisíveis.
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AGRADECIMENTOS
Aos meus mestres professores: Othon G. Rocha Filho, Juarez Carvalho, Hélio e Carlos
Delmiro, Antônio Adolfo, Hélvius Vilela, Sérgio Benevenuto, Maestro Nelson Macêdo. Aos
professores Dr. Paulo Pedrassoli, Dr. Adeilton Bairral, Prof. Dr. Jose Fernandes, Profº Dra.
Ana Ivenick, Prof º Drº, Vanda Bellard Freire Lima, Prof. Dr. Renato Jose de Oliveira que me
ensinaram como obter a sabedoria dos conhecimentos em face da diversidade de oradores e
auditórios;
A todos os professores das disciplinas eletivas e obrigatórias que compuseram o histórico deste
curso d pós-graduação para que eu pudesse obter o conhecimento necessário para o
desenvolvimento da elaboração da tese;
A Nossa querida Solange Rosa secretaria do programa de pós-graduação da UFRJ/FE por toda
atenção dispensada a mim, durante o período do referido curso supracitado, como também por
sempre ter um cafezinho pronto para suportar os momentos difíceis, extensivos a todos os
funcionários que contribuíram pela segurança e limpeza dessa instituicáo
Ao nosso Itamar da xerox por toda atenção e confiança em seu atendimento, no sentido de
oferecer várias opções de pagamento por seus serviços; a família Bittencourt de Niterói que
contribuíram para que o alcance do foco e ótica do olhar desse estudo não se desviassem nem
se perdessem.
Aos Doutores em saúde: o cardiologista Roberto Maiolino, a angiologista Drº Solange
Chalfoun de Matos, o cirurgião cardiologista da polícia militar Dr. André , cirurgião
oftalmológico Dr. José Neto, que me proporcionaram a ideia de continuidade deste estudo e
me derem uma segunda chance em admitir possíveis acordos futuros para que eu possa
continuar ora como um orador, ora como auditório nesse grande plenário universa;
Em face das novas demandas profissionais para o músico, a todos os mestres, peritos da polícia
federal, do curso de pós-graduação do Instituto de Pós-Graduação (IPOG) da primeira turma
do Rio de janeiro em pericia criminal e ciências forenses que me permitiu abranger a visão de
orador músico para auditórios diversos e distintos e formular estatutos estáveis para a esfera da
justiça federal ;
Ao meu mestre em perícia judicial da Escola de Administração Judiciária (ESAJ) Exmº Sr.
Desembargador Reinaldo Alberto Pinto que proporcionou a possibilidade e a noção concreta
dessa função de peito a categoria profissional de músico como orador e auditório na esfera
jurídica estadual;
Ao meu mestre do curso de pós-graduação da Peritos On Line, o Exmº perito Dr. Carlos Rubens
que me deu a chance de expandir e abranger a função de perito musico orador para a esfera da
justiça trabalhista.
Em tempo agradeço aos professores da banca que me deram em última instancia a possibilidade
de arrumar as ideias em que acredito defender.
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Epigrafe
A vida humana é um processo de criação de valores e a educação deve nos orientar para esse fim
(TSUNESSABURO MAKIGUTI, 1999)
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ESTEVAM, Vicente. A Música e a Criação De Valores Na Educação: Uma Análise Retórica Argumentativa Entre Oradores E Auditórios Na Contemporaneidade. 2017. Tese
(Doutorado em Educação) -Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2017.
No contexto da educação musical novas formas de relação, por um lado, vivenciam
novas experiências espaço-temporais ligadas aos avanços, à multiplicação dos recursos
tecnológicos e à industrialização da cultura. Por outro lado, vivenciam a complexidade do
esvaziamento da música do seu papel sociocultural pela sua transformação em bem de consumo
ou em objeto isolado de suas relações socioculturais, bem como dos seus amplos significados
pela passividade e pela massificação dos ouvintes no que se refere à educação. Para o
desenvolvimento desta pesquisa, foram escolhidos como objetos de análise os Projetos Político
Pedagógicos Institucional (PPPI) do Conservatório Estadual de Leopoldina (CEL), na zona da
Mata de Minas Gerais, e da Escola de Música Villa-Lobos (EMVL), situada no município do
Rio de Janeiro. Os dois PPPIs permitem abrir problematizações referentes à educação musical,
na perspectiva de entender em que medida essas propostas pedagógicas privilegiam ou não a
construção de significados e valores culturais no momento histórico marcado pelas formas de
relação apontadas. A análise dos dois documentos foi conduzida com o aporte da Teoria da
Argumentação ou Nova Retórica elaborada por Chaïm Perelman e Lucie Olbrechts-Tyteca. A
esse referencial teórico-metodológico somaram-se contribuições de autores do campo da
educação, como Vanda Bellard Freire, e de pensadores que estudam a contemporaneidade,
como Gilles Lipovetsky e Michel Maffesoli, entre outros. A pesquisa documental realizada, de
caráter qualitativo, buscou, assim, trazer algumas respostas para questões como a
impossibilidade da quantificação do universo de significados, crenças, motivos, valores e
atitudes sobre a música no campo da educação na contemporaneidade. O estudo apontou que
os PPPs analisados apresentam lacunas e limitações em suas articulações com os pressupostos
válidos para a constituição de um novo olhar que busque superar conflitos e tensões notórias
advindas da modernidade. Isso compromete o nível de contribuição para a construção de uma
proposta que aponte para uma perspectiva social mais flexível no que diz respeito à arte e à
educação, a qual sustenta não haver fronteiras estabelecidas e sim uma outra avaliação de
espaço-tempo, tanto ética quanto moral, em suas expressivas sonoridades específicas, em seus
comportamentos, em suas reavaliações.
Palavras-Chaves: Educação Musical, Música, Teoria da Argumentação, Analise Retorica,
Criação de valores
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ABSTRACT
ESTEVAM, Vicente. Music And The Creation Of Values In Education: An Argumentative Rhetorical Analysis Between Speakers And Audiences In The
Contemporaneity. 2017. Thesis (Doctorate in Education) -Faculty of Education, Federal
University of Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.
The subject of this thesis is part of new forms of musical education relations, on the
one hand, on the path of new space-time experiments linked to the progress of the plethora of
technological resources and the industrialization of Culture. On the other hand, from the
experience of the complexity of music that empties their socio-cultural role for its
transformation into a consumer good or an object isolated from their socio-cultural relations,
large; By the passivity and the mass of the listeners in relation to Education. For the
development of this research, we chose Pedagogical Policy Projects (PPP) from Leopoldina
Music Conservatory (LMC) and the School of Music Villa-Lobos (SMVL) in Rio de Janeiro.
The two PPPs allow us to discuss musical education in order to understand to what extent these
pedagogical proposals favor the construction of meanings and cultural values in the historical
period marked by the forms of relations analyzed. These two documents were analyzed with
the theory of the Argumentation or New Rhetoric of Chaim Perelman and Lucie Olbrechts-
Tyteca. This theoretical framework is close to the contributions of authors in the field of
education, such as Vanda Bellard Freire and other thinkers who study the contemporary world,
such as Gilles Lipovetsky and Michel Maffesoli. The study sought answers to such questions
as the impossibility of quantifying the universe of meanings, beliefs, motivations, actions and
values on music in contemporary education. It has been found that the PPPs analyzed have
shortcomings and limitations in their articulations with valid assumptions so that a new look
can be built in order to seek to overcome the conflicts and the notorious tensions. This
compromises the level of contribution to the construction of a proposal that is moving towards
a more flexible social perspective on art and education, as it does not support the established
borders but a Another evaluation of space-time, both ethical and moral in their specific
expressive sounds in their behavior, in their new evaluations.
Keywords: Music Education, Music, Argument Theory, Rhetorical Analysis, Values Creation
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RÉSUMÉ
ESTEVAM, Vicente. Musique et valeurs de la création dans l'éducation: analyse de
la rhétorique argumentative entre les intervenants et auditoriums contemporanéité. 2017. Thèse
(doctorat en éducation) -scolaire de l'éducation, Université fédérale de Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro 2017.
Cette these s’agit dans le cadre de nouvelles formes de relations d'éducation musicale, d'une
part, l'expérience de nouvelles expériences espace-temps liés aux progrès de la pléthore de
ressources technologiques et l'industrialisation de la culture a. Por D'autre part, l'expérience de
la complexité de la musique vidant leur rôle socio-culturel pour sa transformation en un bien
de consommation ou d'un objet isolé de leurs relations socio-culturelles, ainsi que son sens
large par la passivité et la masse des auditeurs par rapport à educação. Par le développement
de cette recherche, nous avons été choisis comme objets d'analyse des projets politiques
pédagogiques (PPP) du Conservatoire de Leopoldina (CEL) et de l'école de musique Villa-
Lobos (EMVL), situé à Rio de Janeiro. Les deux PPP permettent des problématisations
ouvertes sur l'éducation musicale en vue de comprendre dans quelle mesure ces propositions
pédagogiques favorisent ou non à la construction des significations et des valeurs culturelles
dans la période historique marquée par les formes de relation analysées. Ces deux documents
ont été analysés avec la théorie de la Argumentation ou Nouvelle Rhétorique de Chaïm
Perelman et Lucie Olbrechts-Tyteca. A ce cadre théorique se rapprochent les contributions des
auteurs dans le domaine de l'éducation, comme Vanda Bellard Freire et d’autres penseurs qui
étudient le monde contemporain, comme Gilles Lipovetsky et Michel Maffesol. L´étude a
cherché des réponses à des questions telles que l'impossibilité de quantifier l'univers des
significations, croyances, motivations, atitudes et valeurs sur la musique dans l'éducation
contemporaine. On a constaté que les PPP analysés montrent des restrictions dans leurs
articulations avec des hypothèses valides pour former un nouveau regard qui cherche à
surmonter les conflits et les tensions notoires résultant de manque de caractère moderne. On a
identifié que ces restrictions peuvent entraver la construction d’une proposition qui point vers
une perspective sociale plus souple en ce qui concerne l'art et l'éducation, car il ne supporte pas
les frontières mis en place, mais une autre évaluation de l'espace-temps, à la fois éthique et
moral dans leurs sons expressifs spécifiques dans leur comportement, dans leurs nouvelles
évaluations.
Mots Clés: Éducation Musicale, Musique, Théorie de l’argumentation, Analyse Rhétorique,
Création de Valeurs
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 12
1. A CONTRIBUIÇÃO DA NOVA RETÓRICA COMO CAMPO DE PENSAMENTO PARA AS
ANÁLISES SOBRE MUSICA E EDUCAÇÃO NO CONTEXTO SOCIAL CONTEMPORÂNEO 32
1.1 Considerando as Contribuições da Nova Retórica ..................................................................... 32
1.1.1 A Música e a Criação de Valores pela Contribuição da Nova Retórica............................. 40
2 A INSEPARABILIDADE ENTRE MÚSICA, EDUCAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE ......... 49
2.1 Discutindo a Contemporaneidade ............................................................................................... 49
2.1.1 Discutindo a Música............................................................................................................ 55
3. A ESCOLHA DOS DADOS E A INTERPRETACÁO À LUZ DA TEORIA DA
ARGUMENTAÇÃO ............................................................................................................................. 73
3.1 Da Escolha dos Dados ................................................................................................................ 76
3.1.1 As Noções de Valores e Verdades dos Dados .................................................................... 80
4. ANÁLISE RETÓRICA DOS PPP ’s do C.E.L. e E.M.V.L ....................................................... 88
4.1 As Identidades Sociais ................................................................................................................ 89
4.1.1 Das Análises do CEL e da EMVL ..................................................................................... 91
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................................. 110
Referências Bibliográficas .................................................................................................................. 118
ANEXO I ............................................................................................................................................ 126
Projeto Político Pedagógico do Conservatório Estadual e Leopoldina (CEL)................................ 12630
ANEXO II ................................................................................................. Erro! Indicador não definido.
Projeto Político Pedagógico da Escola de Música Villa-Lobos (EMVL)................................................150
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INTRODUÇÃO
Há, sem dúvida, uma mudança notória no mundo onde não mais se permitem que as
antigas premissas e pressupostos advindos de critérios a priori, ou seja, de conceitos baseados
na lógica matemática, apoiados em verdades absolutas, respondam e equilibrem as tensões e
conflitos apresentados pelo formato sócio-orgânico de caos, neste momento histórico, por um
contexto de fome, banalização da violência, destruição do meio ambiente, corrupção na esfera
política e banalização da cultura. (OLIVEIRA, 2015)
A presença deste contexto, somada à inovação de grandes avanços tecnológicos
determinados e determinantes pelos planos políticos, sociais, econômicos e filosóficos, faz com
que a música e a educação passem a exercer, nesses planos, duas representações que
contribuem no que diz respeito à possibilidade de amenizar contradições e incompatibilidades
em um campo de disputa por pensamentos hegemônicos no qual se constata uma fragilidade
epistemológica, como salienta Frigotto (2003).
Sob o rigor de estatutos como o do movimento do multiculturalismo, música e
educação são representantes culturais de todas as vozes envolvidas nesse campo de pensamento
e, assim, podem dialogar para discutirem juízos de valor em comum acordo, que expressam a
vontade em delinear novas diretrizes, estudos e atualizações sobre antigas noções e superar os
novos desafios que se aproximam e com isso amenizar conflitos e incompatibilidades.
Por assim dizer, na atualidade, música e educação, tomadas pelo prisma multicultural,
buscam evitar o reducionismo ou a guetização de certas formas culturais, por reconhecimento
de uma pluralidade, uma diversidade pelas quais se admite pensarmos esse momento histórico
como um campo de pensamento (CANEN, 2002 PENNA, 2005).
Pela lógica do campo de pensamento, outros olhares paralelamente mais abrangentes,
permitem esse mesmo reconhecimento por análises argumentativas, tanto no âmbito da música,
quanto no âmbito da educação da contemporaneidade admitidos pela concepção da ideia de
auditório e oradores com a ênfase na racionalidade em que o Logus profere-se por uma lógica
de considerações admitidas ou com preocupação voltada para a argumentação e não para as
técnicas utilizadas sobre o Ethos e o Pathos na antiga retórica (OLIVEIRA, 2016).
Buscamos, dessa forma, entender por quais noções filosóficas subjacentes os discursos
admitem acordos ou imposições políticas, pedagógicas, sociais e filosóficas, evitar
reducionismos, o que, por sua vez, sugere uma nova tomada de decisão ao desenvolver um
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ponto de partida de argumentações para que se possa propor e, a partir daí, estabelecer novos
acordos sobre outras premissas gerais e particulares. (PERELMAN, 2005)
Acordos como estes, ou sob admissão de juízos em comum, trazem à tona a
possibilidade de interligar concepções entre o que é constituído como real para alguns e sobre
o que é constituído como preferível para outros, fora ou dentro desse campo em que se
expressam por discursos retóricos de gênero epidíctico (aqueles que buscam realçar valores ou
a comunhão acerca de determinados valores) e por meio de propagandas apoiadas em noções
hierárquicas, factuais e seus lugares de verdade. (ALVARENGA, 2013).
Outros aspectos, ainda, dentro desse imenso campo de pensamento a serem
considerados por autores que trazem em seus argumentos a possibilidade de problematizações
e questionamentos para que se possam iniciar possíveis negociações de novos acordos comuns
a todos nesse momento histórico como apresentado mais acima.
Trazendo o que Oliveira (2016) apresenta as contribuições dos conceitos de Perelman
e Olbrechts-Tyteca (2005) admitimos que todo espaço, como campo de pensamento, torna-se
um campo de oradores e auditórios, onde há interação entre o ato e a pessoa, ou seja, os atos
que envolvem a música (ouvir, escutar, apreciar, criar, executar, criticar) podem modificar o
sujeito em sua expressividade. Também consideramos que o desenvolvimento pleno da pessoa
não ocorre somente para quem aprende música, mas também para quem ensina.
Nessa perspectiva, as considerações dos oradores Estevam e Jardim (2014) permitem
conceber o espaço de educação musical como um espaço mais abrangente, além de um campo
de transmissão de conhecimentos pelo docente, algo como um campo de argumentações e
negociações de distâncias das vozes docentes e discentes e de outros envolvidos.
Essas considerações acima coadunam com o que a oradora Penna (2010, p. 13)
compreende sobre a música, a qual é vista “como uma atividade essencialmente humana, de
criação de significações, e como uma linguagem culturalmente construída, de caráter
dinâmico”.
A esse respeito, o orador Carrilho (1994) salienta que uma forma de poder agir sobre
as incompatibilidades é o abandono da “lógica que as produziu; e, muito especialmente, das
concepções que fizeram da necessidade a trava mestra da compreensão e da universalidade a
norma suprema da compreensão do sujeito e da razão”. (CARRILHO, 1994, pág 09-10 ) Isso é corroborado, igualmente, pelo orador Agamben (2007) ao afirmar que, em um
mundo onde tudo é necessário, inevitável e sagrado, só nos resta abandonar as soluções que
nos foram apresentadas na modernidade.
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Assim, é possível perceber a música, a educação e a produção humana não como
resultantes de uma visão clássica liberal ou neoliberal, mas como um imenso auditório ou
campo de pensamentos que se complementam, como também podem legitimar valores
incompatíveis nesse momento atual e que se retroalimentam, culminando no surgimento de
duas sociedades em total discrepância em seus projetos de modernismo, modernização e
modernidade. (FRIGOTTO, 2003).
A partir dessa visão de deslocamento, há a possibilidade de mudanças para olhares
mais abrangentes, portanto um estudo dentro de uma visão que possa refletir sobre os
argumentos e as noções da música e da educação na contemporaneidade. Esse olhar traz em si
uma relevante contribuição, que amplia e tenta responder reiteradas inquietações e
questionamentos, suscitados por diversos autores e profissionais e debatidos em eventos
científicos, literários e políticos para a área da educação e da música, como também
representados em normas legais. (ARIANI & CONCEIÇÃO & ESTEVAM & INÁCIO,
MILANO & TEIXEIRA & ZORZETTI, 2013)
Tais questionamentos e inquietações apresentam-se de certa forma já integrados a uma
noção de sociabilidade, pelas demandas de maior abrangência em suas práticas sociais. Entre
as considerações mais pertinentes a esse respeito está a de Queiroz(2004), que argumenta que,
para haver uma prática social abrangente, a educação musical tem que dar conta de todas as
vozes envolvidas no processo, vozes que permitem aproximar a sociedade da música e da
educação.
Em acordo com essas considerações, vislumbramos os argumentos de Canclini (2000)
que admitem na contemporaneidade o processo de reconversão de vozes que passam
despercebidas em suas expressividades por comtemplarem um novo modelo de aproximar a
sociedade da música e da educação.
Nesse caso, torna-se possível perceber no estado de cultura atual, vozes que não são
ouvidas dentro desse campo de pensamento, que Perelman (2005) conceitua como auditório, e
que a música e a educação passam conjuntamente a contribuir com seus oradores no sentido de
amenizar tensões, superando desafios ao admitir novos acordos.
A partir desses conceitos, percebemos que há acordo também com as considerações
de Freire (2017), que argumenta a impossibilidade de uma pratica educacional musical na
atualidade sem as noções de amplitudes socioculturais ou de seus auditórios, como também
com as considerações de Jardim (2007), as quais permitem entender que a aula de música
projeta-se como um evento produtivo em prol da formação de um ser humano consciente em
seus direitos e deveres.
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Procuramos, dessa maneira, com este estudo, contribuir e compreender antigos
acordos estabelecidos, fomentando, com um novo olhar, noções que possam interpretar esses
dados. Para tanto, trazemos uma nova concepção da retórica, a teoria da argumentação de
Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005), que nos permite perceber quais escolhas podem
abandonar as lógicas que as produzem e, por fim, reinseri-las em novos acordos estabelecidos
pelas participações de todas vozes, ou seja, com a participação dos seus auditores invisíveis.
A teoria da argumentação, em primeira instância, apresenta a retórica pelo olhar não
centralizado do Ethos (dimensão do orador) ou do Pathos (dimensão do auditório), mas pelo
equilíbrio entre Logos (razão), Ethos e Pathos no que se refere aos acordos a serem
desenvolvidos.
Essa visão permite situar autores como oradores ou auditórios e o público como orador
e auditor, contribuindo, assim, para torná-los visíveis em suas vozes, embora não se possa
descartar que em outros momentos históricos possam ter participado como oradores e
dialogado com outros possíveis oradores e auditórios. De todo modo, o que defendemos é
reunir as múltiplas estruturas sócio-musicais que ocorrem em um contexto cultural, permitindo
que se apresentem ora como oradores, ora como auditórios.
A guisa de exemplo, podemos dizer que caminham nessa direção as contribuições de
autores ou oradores como: Revesz (1953), Netl (1956), Gaston (1968), Blacking (1973),
Sloboda (1985), Radocy (1988), Schafer (1992), que, apesar de certas dissonâncias de
pensamento pedagógico e didático, conseguem considerar a música, a sociedade e a educação
inseparáveis de suas relações socioculturais, o que permite apontar um campo de pensamento
mais abrangente.
Autores como estes passam a ser possíveis oradores com a relevância de admissão de
acordos na medida em que amenizam as várias tensões e conflitos em face de suas pesquisas
em fronteiras epistemológicas. Por um lado, eles entendem a música em sua vertente
antropológica e filosófica formal como lógica, embora não deixem clara a questão sobre sua
origem. Por outro lado, pelos olhares da sociologia musical, Etnomusicologia e Antropologia,
percebem a música dentro da necessidade do ser humano de se comunicar em suas relações
sociais.
Outra autora e oradora Souza (1997, 2004), preconiza que pensar a música como
inserida no contexto das relações socioculturais na contemporaneidade aponta para uma
pedagogia que traga um fortalecimento discente/docente em suas capacidades reflexivas
críticas e experimentais pela profusão de um novo paradigma de status cultural de
reestruturação da linguagem, o qual podemos denominar de comunicacional e polissêmico.
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No que se refere ao paradigma referido acima, diversos autores-oradores, entre eles,
Lyotard, Rouanet, Lipovetsky, Carrilho, Boaventura Santos, Doll e Maffesoli apresentam
pressupostos para formulações de noções sobre o estado de cultura atual, denominadas de
Modernidade, Hipermodernidade, Pós-Modernidade.
Essa contemplação pelo estado de cultura ermitir entender as fronteiras não como
rupturas e sim como processos de muitos caminhos realizados que conduziram as relações
humanas presentes ou na perspectiva em futuro. Noções estas que estabeleceram critérios a
priori balizadas pelo estatuto absoluto da verdade (SANTOS, 1991; WHITROW, 2005)
Noções estas, que, ainda, podem ser avaliadas e legitimadas em seus estatutos,
verificadas em sua integridade e examinadas a partir de seus fatos, verdades, valores,
hierarquias e lugares e, assim, compor e propor novos acordos entre concepções presumíveis e
preexistentes sobre o real e as que sugerem versar sobre o preferível e determinam escolhas
existentes.
Notamos, nessas duas visões, ainda uma questão paradoxal no que diz respeito à
alteridade, à diversidade de identidades individuais e coletivas do paradigma denominado de
pós-moderno, veiculada pela cultura popular imagética, que concomitante ao paradigma da
modernidade, mescla-se aos princípios homogeneizadores e critérios de valores e, que, por sua
vez, gera conflitos, tensões e embasa as práticas educacionais, de modo a:
•Compartimentalizar e fragmentar para melhor controlar;
•Pensar segundo uma racionalidade técnica e dualista;
•Pôr em ordem, seriar, ordenar, controlar usando fortes
enquadramentos e previsibilidade absoluta;
•Conceber um planejamento linear, passando de um ponto a outro, em
sequência estabelecida previamente e tomada como ideal e absoluta.
(SANTOS & DIDER & VIEIRA & ALFONSO, 2011, p.215 ).
Penna (2005) considera que, no caso da música e da educação, a valoração da
alteridade, diversidade e do pluralismo dá-se pela criação de uma poética musical ou em um
estágio em que se promove uma possibilidade de linguagem cultural artística em comum
acordo. No caso da prática social, a música e a educação devem estar atentas às questões de
formação de caráter unilateral, essencialista ou contextualista.
Queiroz (2005, p. 55) preconiza que “toda atividade de ensino da música requer o
desenvolvimento de práticas que devem se caracterizar como expressões musicais
significativas e não simplesmente como um conjunto de exercícios para a assimilação de
aspectos técnicos e estruturais”.
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Queirós (2005) ainda complementa que, diante da complexidade em que o ensino
musical encontra-se, há a necessidade de se ressignificar as experiências na contemporaneidade
para buscar alternativas que ampliem o sentido de suas preocupações metodológicas, técnicas
e curriculares, para valores de vivência de expressão artística, social e cultural.
Assim, dentro desse panorama inicial, a problemática da arte musical na educação
aponta, além de tudo, para uma mudança na concepção sobre a educação musical, já que há
grande espaço intervalar entre a frustração de um projeto de mundo e outro, construído sobre
novas relações-culturais, sociais, políticas e econômicas. (SANTOS & DIDER & VIEIRA &
ALFONSO, 2011).
Nessa direção, surgem novas formas de trazer respostas para a problemática dos
conflitos da arte musical na educação, em restituir o significado e o papel da educação musical
na contemporaneidade, em suas configurações admitidas pelo novo ou velho paradigma
estético, político e sociocultural, denominados como Pós-Modernidade, Hipermodernidade, ou
ainda com mais denominações, a saber: Modernidade Avançada, Segunda Modernidade,
Modernidade Líquida, Modernidade Tardia.
Os efeitos dessas configurações da modernidade, no mundo contemporâneo do século
XXI, revelam também, além de mudanças nas concepções sobre a música e a educação
separadamente, visões que as concebem de modo integrado, inseparável, emergindo na
constituição de uma nova forma de visão de mundo. (ROUANET, 1987; MAFFESOLI, 1998;
LIPOVETSKY, 2004; SANTOS & DIDIER & VIEIRA & ALFONSO, 2011).
Ainda na atualidade, no que compete a uma visão da educação sobre a música e a
sociedade, novas formas de relação, por um lado, vivenciam, cotidianamente, novas
experiências espaço-temporais ligadas aos avanços, à multiplicação dos recursos tecnológicos
e à industrialização da cultura.
Por outro lado, as novas formas de relações vivenciam, cotidianamente, a
complexidade do esvaziamento da música, no tocante ao seu significado como papel agregador
sociocultural em bem de consumo ou em objeto isolado de suas relações socioculturais, bem
como dos seus amplos significados pela passividade e pela massificação dos ouvintes no que
se refere à educação. (SANTOS 1991; FREIRE, 2011).
Goergen (2011) em acordo com os oradores acima aponta um caminho sob a
responsabilidade social diante desse momento histórico, ou seja, admite que é possível uma
reformulação a partir de um novo olhar mais abrangente, ou o que Carrilho (1994) nos esclarece
como desviar-se da lógica que a produz.
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Essa complexidade referida acima traz novos questionamentos ao ensino da música
como: No estado de cultura da sociedade atual, em que sentido a música na educação da
contemporaneidade pode dar conta dos auditórios inativos ou não participativos? Que
concepção interdisciplinar a respeito da música deve ser adequada à educação na
contemporaneidade em crise a partir do reconhecimento dos auditórios invisíveis?
Oradores como Makigut (1999) e Ikeda (2010), por sua vez, trazem aportes
interessantes para a educação que podem ser adicionados à questão sociocultural da música por
preconizarem a importância de entabular discursos, ou seja, promover e legitimar a pratica da
argumentação entre oradores e auditórios, deslocando-os para todos os sentidos no sistema
educacional.
Chamamos a atenção, portanto, para a necessidade de promover o diálogo, o qual
potencializa a criação de valores. Oradores como Ikeda (2010), que acrescenta que a educação
deve encorajar o potencial precioso que os alunos possuem, levando-os a manifestar sua
personalidade com entusiasmo e vigor através do diálogo. Assim, a educação revitaliza-se ao
exigir de todos nós uma postura de mudanças que vá ao encontro do diálogo com todas as
camadas sociais.
Nesse sentido, vislumbramos na contribuição da autora-oradora Freire (2011) a
possibilidade de diálogo na questão musical, convergindo com o que Makiguti (1999) e Ikeda
(2010) preconiza, pois é possível entender que o inevitável acesso da sociedade à música,
inserida integralmente no contexto orientador educacional e social do século XXI, habilita a
pensar o seu ensino como um fenômeno sociocultural, a partir de sua inter-relação como
atividade e produto humano histórico e sociocultural (e não como um objeto isolado interligado
somente aos cânones educacionais).
A respeito da preocupação de Freire (2011) sobre a ênfase do ensino musical em
priorizar as questões metodológicas, técnicas e curriculares, podemos ainda dizer que, nesse
sentido, o orador Estevam (2013) percebe que fenômenos como evasão e fracasso escolar são
observados no sistema estadual de educação regular de Minas Gerais, que em face de um alto
índice flutuante mensal e anual de evasão evidencia, nessas circunstâncias, problemas entre
acordos admitidos por noções nobilitantes em detrimento de noções confiáveis entre o que é
real e preferível (OLIVEIRA, 2011).
Em busca de respostas, defendemos que sejam registradas em seus projetos político-
pedagógicos (PPPIs) novas inciativas interdisciplinares musicais em prol de privilegiar a
diversidade, ou seja, motivar também interação dialógica social para a música, em vez de,
somente, música para a sociedade.
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Conforme analisado (ESTEVAM, 2010), essa instituição não apresenta novas
iniciativas metodológicas significativas, o que caracteriza uma tendência em manter-se dentro
da mesma linha de pensamento pedagógico, ou seja, uma concepção humanista tradicional,
marcada pelos cânones da modernidade já referida mais acima.
Oliveira (2012, p 118) assim sintetiza essa concepção supracitada: “com o advento
dos ideais iluministas no século XVIII afirmou-se o princípio de subjetividade: as sociedades
passaram a ser compreendidas como sendo formadas por indivíduos autônomos que escolhem
os próprios destinos. Tal princípio encarnava as aspirações do homem burguês, que pretendia
universalizar sua visão de mundo”.
Percebemos até aqui, em Oliveira (2012), que, tanto no âmbito da música, quanto no
da educação, essas noções suscitadas trazem à tona acordos antigos que geram e imprimem um
caráter elitista e se separam por duas vertentes denominadas uma de cultura popular e outra de
cultura erudita.
Para o desenvolvimento desta pesquisa elegemos, entre os doze conservatórios, os
documentos do Projeto Político Pedagógico do Conservatório Estadual de Leopoldina (CEL)
localizado na zona da mata do estado de Minas Gerais, em face de vários fatores: pela
importância de sua representação como polo sociocultural responsável pela formação dessa
região; Pela localização geográfica permitir o estreitamento da distância entre as cidades do
Rio de Janeiro e Minas Gerais, no que diz respeito à questão temporal e o fácil deslocamento
do Rio de Janeiro até a cidade de Leopoldina; pelo relacionamento profissional entre o
pesquisador e a instituição facilitar o trânsito necessário à realização da investigação pretendida
nesses documentos.
O CEL embora esteja mais voltado para as questões das práticas sociais, ainda hoje,
apresenta em seu Projeto Político pedagógico (PPP) as mesmas questões que Estevam (2010;
2016) descreve como algumas incompatibilidades e contradições concebidas entre acordos
preestabelecidos e novas noções posteriormente acordadas, a saber:
•Distância entre as propostas políticas (governo do estado) e suas articulações
pedagógicas na prática
•Distância entre as vozes e expectativas dos sujeitos envolvidos no âmbito dos
Conservatórios
•Distância entre a concepção teórico-pedagógica e a prática dos atores envolvidos
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Além da possibilidade de trazer problematizações, novas questões e noções mais
confiáveis, essas distâncias permitem a oportunidade de serem diminuídas pelo âmbito de
novos acordos entre o auditórios e oradores, categorias que serão mais bem detalhadas à frente.
É importante, também, não deixar de lado que preocupações como problemas
metodológicos, técnicos, curriculares e a transmissão de conhecimento, passam a se processar
por acordos de valores, lugares, fatos e verdades voltadas para a construção de saberes na
tentativa de implementação de contribuições pedagógicas que se legitimem por significados e
valores culturais presentes num dado momento histórico. (SILVA, 2008; GABRIEL, 2007).
Dentro dessa mesma realidade a presente pesquisa volta-se para a preocupação
investigativa sobre os tipos de fatos e verdades, valores, lugares e hierarquias presentes nos
documentos dos PPPs do CEL, no sistema educacional de Minas Gerais.
Nesse sentido, a fim de desenvolver o estudo pela investigação documental, elegemos
concomitantemente ao CEL, a Escola de Música Villa-Lobos (EMVL) integrada a Secretaria
de Estado de Cultura e subordinada à Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de
Janeiro. Esta instituição é um centro de referência popular do ensino musical técnico-
pedagógico que apresenta cursos (de formação inicial, básico e técnico-profissionalizante)
oferecidos à população fluminense, destacando-se ainda a amplitude de seus projetos em
parceria com a FUNARJ (EMVL/FUNARJ) que atende a quatro municípios do estado.
Esse curso técnico de nível médio da EMVL oferece através de editais a possibilidade
de capacitar e habilitar o aluno em instrumentos de sopro (flauta transversa, oboé, saxofone,
clarineta, trombone e tuba), instrumento de cordas (violino, viola, violoncelo, e contrabaixo
acústico), piano, percussão sinfônica, canto, violão, regência coral e instrumental, produção de
áudio, documentação e editoração de partituras, composição e arranjo musical.
Percebe-se nesse pequeno perfil do curso técnico de nível médio do EMVL que o
mesmo apresenta uma formação, capacitação e habilitação profissional, possibilitando uma
formação instrumental com estrutura orquestral, duos, conjuntos regionais, canto e coral o que
supõe uma proposta pedagógica semelhante ao CEL, que, segundo Estevam (2010) e Oliveira
(2012), mantém valores pedagógicos de um dado momento histórico da modernidade.
Nesse sentido, esses formatos dos PPP’s do CEL e da EMVL permitem abrir
problematizações referentes à educação musical, na perspectiva de entender em que medida
essas propostas pedagógicas privilegiam ou não a construção de significados e valores culturais
no momento histórico marcado pelas transformações socioculturais que apontamos,
envolvendo oradores e auditórios que ainda estão invisíveis.
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Trata-se, portanto, segundo as preocupações dos autores (ou oradores) estudados, de
desenvolver um estudo de caso comparativo documental nessas instituições para entender as
incompatibilidades e as teorias contraditórias nesses projetos pedagógicos e suas práticas
relacionadas às vozes envolvidas e ao mesmo tempo invisíveis neste processo.
Formação esta relacionada a uma visão de mundo que abre espaço para a perspectiva
de um conhecimento confiável de reconhecimento sociocultural dos conteúdos, bem como para
promover uma formação interdisciplinar e multicultural. (FAZENDA, 1994, 2013; DOLL,
1997; OLIVEIRA, 2001; CANEN, 2009).
Lück (2007) aponta para uma visão interdisciplinar nesse conjunto de situações, onde
emerge a necessidade de uma atualização ou de uma visão da realidade mais abrangente que
transcenda os limites disciplinares e conceituais do conhecimento. Portanto, para a formação
de pessoas com possibilidades de enfrentar desafios em seus ambientes culturais e naturais,
com consciência da realidade humana e social.
Por esta mesma linha de pensamento, Fazenda (2013) define interdisciplinaridade
como uma atitude de ousadia e busca frente ao conhecimento, posicionando-se contrariamente
à concepção pensada como junção de disciplinas que validam o currículo apenas na formatação
de sua grade.
Assim, segundo Fazenda (1994; 2013), assumir uma perspectiva interdisciplinar
significa reconhecer competências, incompetências e limitações inerentes às próprias
disciplinas que constituem campos de pesquisa e/ou ensino. Trata-se de assumir uma postura
aberta, problematizadora e questionadora, apoiada na liberdade crítica, no diálogo e na
colaboração recíproca entre pesquisadores e/ou docentes.
Pesquisar e/ou ensinar, para essa autora referida acima, não visam apenas à
valorização técnico-produtiva, mas, ao contrário, permitem desenvolver a capacidade criativa
de transformar a realidade histórica em um sentido humanizante, isto é, libertador dos valores
padronizados, hierarquias e imposições que limitam o conhecimento e, por conseguinte, as
ações desenvolvidas pelos sujeitos sociais.
Percebemos, a partir desses aportes preconizados, que a possibilidade de formação
pela perspectiva interdisciplinar permite compreender como os conhecimentos musicais podem
estar de acordo com as premissas mais importantes para uma formação significativa,
permitindo assim mudar ou reduzir atitudes, crenças ou valores que orientam os Projetos
Políticos Pedagógicos, ainda marcados pela presença de vozes não ouvidas ou invisíveis.
Enfim, esta pesquisa propõe, além de dar continuidade a pesquisa realizada no
mestrado (que foi uma análise dialética das vozes envolvidas no fenômeno da evasão pela
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flutuação percebida anualmente naquela instituição pela escola de música da UFRJ), analisar
os argumentos apresentados nos PPP's do CEL e EMVL mais atuais.
Dessa forma, buscamos agora novos sentidos e significados em prol de uma
possibilidade de contemplar uma perspectiva da interdisciplinaridade nos PPP’s do CEL e da
EMVL, almejando que isso não se dê só no âmbito dos Conservatórios e na EMVL, mas como
possibilidade de contribuir para os debates no campo dos fundamentos para o ensino de música
em todos os níveis, bem como para a educação em geral.
O sistema educacional musical é perpassado, na contemporaneidade, por muitas
tensões entre os princípios e os critérios de valor ou ecos do paradigma moderno que
fundamentaram e embasaram toda a concepção da educação musical e dessa forma não
promovem maior amplitude de seus auditórios, que não são ouvidos.
Há um contraponto com os processos das transformações globais e os avanços
tecnológicos, bem como com a nova configuração em construção do alunado, o qual contempla
sujeitos de um mundo plural inserido em novas concepções espaço-temporais que contribuem
para a configuração das diferenças, da assimetria entre os diferentes. Esses diferentes
configuram o que chamamos de auditórios invisíveis, os quais, por meio do diálogo e não da
aquiescência passiva ao que é ditado por professores e/ou instituições, podem vir a assumir a
condição de oradores.
Face ao que comentamos até aqui, defendemos que o sistema educacional musical se
abra para novos olhares inquietos, mas inativos, não participativos ou invisíveis ou não
escutados, pelas posturas de interpretações científicas que Maffesoli (1998) aponta como uma
nova forma de organizar e compreender o mundo a partir de uma ruptura caracterizada pela
desautorização da razão na construção de possibilidades para a projeção do homem no futuro
por um homem que vive o presente. Tal ruptura, o próprio Maffesoli (2003, p.46) chama de
pós-moderna e caracteriza como “uma sucessão de agoras, uma concatenação de instantes
vividos com mais ou menos intensidade”.
Lipovetsky (2004), ao contrário, percebe tais concepções como uma inconsistência
sobre a temporalidade ou uma forma linear e pouco dialética da história. Pontua o rótulo “pós-
moderno” como um neologismo que serviu apenas para salientar uma mudança de direção ou
uma reorganização de sintomas socioculturais. Nesse contexto, diagnostica o pós-modernismo
como ultrapassado e aponta para o surgimento de uma nova modernidade, denominada de
hipermodernidade, alicerçada em três axiomas constitutivos da própria modernidade anterior:
o mercado, a eficiência técnica, o indivíduo.
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A escolha dessas abordagens não implica desconhecimento ou desinteresse em relação
a outros autores que têm estudado as sociedades atuais. De fato, desde que Lyotard (1989), nos
anos 1970, caracterizou tais sociedades como pós-modernas, diferentes abordagens vêm sendo
conduzidas, o que nos coloca frente à necessidade de fazer escolhas. Estas se deram mais em
função das aproximações existentes entre os olhares de Maffesoli (2002, 2004) e de Lipovetsky
(2004, 2005) em relação ao nosso próprio olhar do que por entendermos que há inconsistências
ou deméritos nas abordagens realizadas por outros autores.
No que compete à educação musical, a partir de oradores em diálogo com Freire
(2011), ou seja, outros representantes de auditórios especializados e não especializados, os
novos olhares referidos acima permitem vislumbrar perspectivas pedagógicas
interdisciplinares que se desenvolvam em prol da diversidade sociocultural em uma interação
dialética, à medida que ao se reformular esses movimentos de socialização e de individuação
novos conjuntos de valores são agregados.
Face ao panorama supracitado, vários fatores permitem justificar esse estudo
comparativo, entre as instituições do CEL do estado de Minas Gerias e a EMVL do estado do
Rio de Janeiro.
Destacamos a seguir os mais importantes: (a) Dar continuidade ao aprofundamento
científico iniciado pela investigação acerca da criação de subsídios para o ensino de música;
(b) Trazer novas contribuições científicas para a área da educação musical, abrangentes e
desdobradas para o campo curricular, formação de professores e ressignificações para a
superação de impasses em assuntos pedagógicos não só no âmbito da educação musical, mas
também em todos os segmentos da educação.
Há muitos estudos sobre a Educação Musical no Brasil no âmbito dos Programas de
Pós-graduação Stricto sensu. Consultando o Banco de Teses e Dissertações da Capes, ao
empregar a expressão exata “Educação Musical”, cento e cinquenta e sete (157) trabalhos
foram localizados. Este banco de dados está sendo atualizado e, no momento da presente
consulta (janeiro /2016), só disponibilizou informações até o ano de 2011. Há que ressaltar que
no banco de teses da Faculdade de Educação da UFRJ há duas teses defendidas,
respectivamente nos anos de 2012 e 2014.
Dessa forma, objetivamos de maneira geral investigar em que sentido as questões da
contemporaneidade apresentam-se nos discursos dos PPP’s e nas práticas pedagógicas das duas
instituições escolhidas para o desenvolvimento desta pesquisa (CEL e a EMVL), bem como se
há elementos que apontam para o desenvolvimento de abordagens interdisciplinares com
significados e valores multiculturais.
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Mais especificamente objetivamos:
•Analisar e comparar os PPP’s do CEL e da EMVL pela visão da teoria
da argumentação e da interdisciplinaridade;
•Compreender o que se entende por estado de cultura atual nos PPP’s
em estudo;
Para desenvolver a investigação pretendida, adotamos como referencial teórico a teoria
da argumentação de Chaïm Perelman e Lucie Olbrechts-Tyteca, (2004, 2005) a qual se
apresenta, segundo Oliveira (2011), como campo de pensamento que possibilita fazer reflexões
e análises sobre fenômenos humanos sociais e identificar todo ideário desatualizado e
embasado em dados de um certo momento histórico sob a condição de verdade inquestionável.
Na medida em que aludimos à força dos argumentos, os conceitos básicos de orador
e auditório, redimensionados da visão clássica da retórica pela teoria da argumentação de
Perelman e Olbrechts-Tyteca (2004, 2005), empregada em acordo com Oliveira já apresentado
mais acima (2016). Orador é concebido como todo aquele que profere um discurso (oral ou
escrito) voltado para a persuasão de outrem, que se constitui em seu auditório. Auditório, por
sua vez, é o conjunto daqueles a quem o orador se dirige, mas não possui apenas um papel
passivo, pois faz o julgamento dos argumentos que lhe são apresentados pelos oradores,
aderindo a eles, em diferentes níveis, ou mesmo rejeitando-os. (OLIVEIRA, 2016)
Esses conceitos permitem também deslocamentos para a prática pedagógica como
prática de natureza dialógica, tomando o aluno como sujeito de saber, pois argumentar é ter
apreço pelo interlocutor. Quando se torna efetivamente sujeito do saber, o aluno sai da condição
de auditório invisível e se torna orador, expressando sua voz e seus anseios.
Sob a ótica dos pressupostos apresentados pelos autores referidos nos itens
supracitados, a construção de conhecimento sobre uma perspectiva curricular flexível e
abrangente nesta pesquisa tomou como referencial teórico a visão da teoria da argumentação e
da interdisciplinaridade, conforme já mencionado, por ambas considerarem aspectos para o
desenvolvimento de uma visão de mundo pelo viés de uma reflexão analítica, a partir da qual
o discurso educacional pode ser discutido. (OLIVEIRA, 2011).
A esta escolha, somaram-se as contribuições de Lipovetsky (2004, 2005), Maffesoli
(2012, 2014) e Freire (1994), que trazem discussões importantes sobre o estado atual de cultura,
ou seja, compreender as relações humanas na contemporaneidade para o desenvolvimento
deste trabalho, no que refere à configuração em uma visão de acordo entre o mundo hiper ou
pós-moderna. Há entre os três autores um ponto de convergência que contempla um caráter
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mutável, interativo e dialógico que se apresenta na sociedade contemporânea, que explicitamos
abaixo.
Por um lado, Lipovetsky (2005) concebe esse caráter mutável não como ruptura, mas
como o desenvolvimento de uma nova versão sociocultural individualista pós-moralista e
democrata, em contraponto ao seu primeiro processo ambíguo e contraditório da era moderna,
voltado à cultura do sacrifício e do dever. Surgem ideologias que contradizem os seus próprios
princípios democráticos modernos individualistas, ou seja, uma sociedade que traz um
comportamento desenvolvido pela individualidade sem cultuar o dever, fixando um novo
mecanismo social de avaliação dos critérios morais.
Para o autor, as décadas finais do século XX presenciaram a aceleração da
modernidade e não a sua derrocada. Nesse contexto, cabe citar: proliferação cada vez maior de
bens de consumo e da oferta de serviços individualizados, crescimento vertiginoso da
comunicação de massas, esgarçamento do respeito às normas disciplinares de cunho
autoritário, cepticismo em relação às propostas revolucionárias de mudança social, hedonismo
e culto da estética, etc. Lipovetsky (2004, p. 53) pergunta então:
Hipercapitalismo, hiperclasse, hiperpotência, hiperterrorismo, hiperindividualismo,
hipermercado, hipertexto – o que mais não é hiper? Ao clima de epílogo segue-se
uma sensação de fuga para adiante, de modernização desenfreada, feita de
mercantilização proliferativa, de desregulamentação econômica, de ímpeto técnico-
científico, cujos efeitos são tão carregados de perigos quanto de promessas.
Por sua vez, Maffesoli (2012) concebe essa mudança como um estado de saturação
relacionada à infecundidade da matriz de pensamento da era moderna para com este novo
modelo de convergência entre o velho e o novo. Critica o modelo filosófico herdado da tradição
monoteísta, a qual afirma que só existe um verdadeiro Deus, imanente ao universo ou criador
de tudo que existe. Tal visão é própria da tradição semítica que não se adequa a uma forma
politeísta, a um modo de viver policultural caracterizado pela situação atual.
No que diz respeito à interação de opostos, a tradição, por sua vez, trata:
[...] de preservar, por medo, por dogmática, os valores que se elaboraram em um dado
momento (Séculos XVII e-XIX) em um dado lugar: Europa. Valores próprios ao
“contrato-social” e que se apresentam como sendo universais, aplicáveis sem
distinção, em todos os lugares e em todos os tempos. (MAFFESOLI, 2012, p.5)
Esboça-se neste panorama uma tensão conflitante que transcende a questão econômica
pela conquista de um projeto de futuro na concepção do aqui e agora e, assim, de novos valores,
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quais sejam, obter o que for possível no imediatismo do momento presente. Maffesoli (2012)
denomina esta tensão como uma crise “Societal”:
Conceito que expressa a natureza dos fenômenos sociais observados na pós-
modernidade. Designa, portanto, os fenômenos ligados à ocupação de novos
territórios, a emergência de novos valores que levam os indivíduos a eternizarem o
instante, vivendo-o com toda a intensidade possível. Enquanto a vida social se apega
a projetos futuros (melhores condições de trabalho, de saúde, de habitação, de
alimentação, etc.), a vida societal busca o que almeja no aqui e no agora. Tudo o que
for projetado para o depois não serve, pois o presente é o tempo de fazer, sentir e
conquistar o que for possível. (MAFFESOLI, 2012)
Maffesoli (2012) salienta ainda que essa crise societal estabelece as suas novas
interrelações como uma Proxemia:
Conceito que expressa as novas relações que os grupos comunitários ou tribos
estabelecem com os espaços e ambientes nos quais circulam. Tais relações podem ser
de natureza integradora (convivência pacífica com outras tribos) ou discriminatória,
quando determinadas tribos buscam excluir os diferentes dos espaços que
frequentam.(MAFFESOLI, 2012)
Aponta, também, outro aspecto importante da característica do pensamento pós-
moderno: A vida quotidiana se apresenta pela exploração econômica, imposição moral,
simbólica e ideológica. O senso comum passa a conceber o mundo humano-social em
contraponto às metanarrativas, que são discursos apoiados em um formalismo de caráter
dogmático que credita à razão a explicação por todo conhecimento e toda verdade absoluta, em
contraponto a uma cultura enraizada do dia-a-dia no espaço da socialidade, um concretismo
cultural que se opõe à civilização racional. Desenvolve-se o sincretismo filosófico, o levar em
conta o “não racional” (grifo do autor), mas sem que isso signifique tornar-se irracional.
(MAFFESOLI, 2012; OLIVEIRA, 2013).
A oradora Freire (1994), dentro dessa discussão, relaciona alguns aspectos
importantes do pensamento pós-moderno, no que compete à música, à sociedade e à educação
integrada à pesquisa científica: relação sujeito-objeto; relativização dos conceitos, inclusive os
de conhecimento, de verdade e de música; valorização da concepção dos sistemas abertos em
redes pluralistas, ao invés de sistemas fechados e estruturas estáticas e generalizáveis;
valorização da transitoriedade e transformação como processos permanentes;
redimensionamento dos conceitos de espaço e tempo, relativizando o enfoque cronológico;
valorização do subjetivismo, das diversidades e das minorias; em detrimento de relatos
universalistas, sem que haja, porém, perda de perspectiva total.
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Freire (1994) preconiza, ainda, que tratar de música dentro do pensamento pós-
moderno significa repensar alguns aspectos específicos fundamentais pelo fato de não se tratar
apenas de uma troca de rótulos e sim de rediscutir todos os limites e reducionismos. Nesse
sentido defende que haja:
•Revisão e relativização do campo de pesquisa, de muitos conceitos e métodos e dos
próprios limites das pesquisas;
•Valorização da heterogeneidade (inclusive das culturas);
•Valorização da subjetividade, abrindo maior espaço para as percepções dos
diferentes sujeitos que interagem nos processos (críticos, compositores, ouvintes,
intérpretes, editores, produtores musicais, professores e alunos, etc) e expressam
diferentes visões de mundo;
•Qualidade dos questionamentos (questões que abordam aspectos que dão espaço à
subjetividade), Flexibilidade metodológica (os métodos e referenciais teóricos não
são necessariamente totalmente pré-definidos), Utilização de conceitos e
metodologias com abertura de espaços para a heterogeneidade e a diversidade
cultural.
Percebemos, a partir dessas considerações, que os enfoques argumentativos são mais
indicados para interagir em prol de acordos interativos e dialógicos do que os discursos formais,
legados pelo racionalismo científico. Este, segundo Vernant (1990) e (Pessanha, 1994) se acha
separado da língua falada e se volta para uma linguagem matemática em detrimento de uma
lógica do conceito e da qualidade, pois estes se posicionam em um lugar de ordem contrário
aos questionamentos críticos.
No que diz respeito à educação musical, a teoria da argumentação apresenta-se como
construto que leva a possíveis revisões do conceito da razão, pois, conforme assinala Pessanha
(1994, p.221): “se constitui uma das mais importantes contribuições, em nosso século, à revisão
do conceito da razão, incidindo particularmente sobre a questão da cientificidade no campo das
ciências humanas e sociais”.
Pessanha (1994), por sua vez, conceitua como eterna a razão que vincula verdades
intemporais à adesão efetiva ou pressuposta de um auditório e a contrapõe com a razão histórica
que se manifesta na deliberação e na argumentação que permite passar à adesão a outras teses
que se trata de promover.
Por este viés a teoria da argumentação segundo Perelman & Olbrechts-Tyteca (2005)
permite transitar além dos limites dos territórios da racionalidade científica, pois embora estude
preferencialmente o logos, que é a parte racional do discurso, não deixa de apontar para os
condicionamentos não verbais e de ordenamento do auditório que a retórica teve como regra
por muito tempo, conforme mencionamos anteriormente: ethos e pathos. O ethos diz respeito
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à pessoa do orador (como se apresenta, como organiza os raciocínios, etc.) e o pathos às
disposições do auditório (que interesses tem, que expectativas nutre sobre o orador, etc.).
Pessanha (1994), ainda, acrescenta que a teoria da argumentação constitui também a
revitalização e a reformulação de aspectos fundamentais da razão grega que resgata a
possibilidade de um enriquecimento da questão lógica em toda amplitude. Para além da visão
clássica, essa teoria expande os conceitos de orador e de auditório.
Dentro de uma visão da contemporaneidade que contemple um contraponto filosófico
à razão como critério de conhecimento e à lógica formal como sustentáculo da objetividade, a
teoria da argumentação pode dialogar com as abordagens feitas sobre a interdisciplinaridade,
pois Fazenda (1991, p.15) defende que para o olhar interdisciplinar “nenhuma forma de
conhecimento é em si mesma exaustiva. Tenta, pois o diálogo com outras fontes de saber,
deixando-se irrigar por elas”.
Fazenda (1991, 1994, 2013) esclarece ainda que a interdisciplinaridade, por esta linha
de pensamento, assume uma atitude de ousadia e busca frente ao conhecimento pensar aspectos
que envolvem a cultura do lugar onde se formam professores. Dessa forma, vai em busca de
alternativas para conhecer mais e melhor, abrir frente à possibilidade de desvendar novos
saberes.
Em relação à elaboração de novos saberes, a visão da interdisciplinaridade para a
música apresenta uma forma de conceber possíveis acordos entre oradores e auditórios de
diferentes disciplinas para formulação de valores imprescindíveis para a construção de um
conhecimento que supere as tensões e conflitos nessa área em âmbito profissional e torne válido
seu olhar mais ajustado com essa realidade.
Para a educação, Oliveira & Mazzotti (2002) consideram a interdisciplinaridade
como uma coordenação de diversas disciplinas com vistas a tratar mais adequadamente tópicos
comuns a cada uma delas, coordenando as contribuições que possam fornecer para melhor
compreender o objeto de estudo. Esta concepção contrapõe-se à concepção limitada da
interdisciplinaridade como uma ciência unificável.
No que diz respeito ao ensino da música, observamos que o sistema educacional
estadual da educação regular de Minas Gerais está organizado em doze conservatórios como
polos socioculturais representantes legais dessa região e responsáveis pela formação básica,
fundamental e do ensino médio. Estas instituições baseiam o seu ensino no modelo do
Conservatório Francês, reguladas pelos órgãos pertinentes de cada estado, ou seja, seguem uma
lógica ou soluções apresentadas pela linha de pensamento do paradigma técnico-linear de uma
concepção humanista tradicional pertinente à linha de pensamento modernista, que objetiva o
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desenvolvimento centrado na essência, na vida e na atividade e não em uma visão abrangente
e de transformação social. (FREIRE, 1991; ESTEVAM, 2010).
Em vista disso, o escopo dessa pesquisa, de caráter qualitativo, buscou dialogar com
autores afinados com essa ótica e com autores que não se afinam com ela, evidenciando o
processo argumentativo pelas possibilidades de reflexões e de análises sobre fenômenos
humano-sociais. (OLIVEIRA, 2011).
Foi empregada uma metodologia que adota uma visão dinâmica e abrangente, visando
analisar processos e fenômenos dentro de uma totalidade. Para tanto, mostrou-se pertinente o
desenvolvimento de uma análise documental relacionada a uma interpretação argumentativa,
que trouxe dados relevantes para o estudo.
Sobre a importância da pesquisa qualitativa, André (1995) e Santos Filho (1997),
esclarece os pontos básicos principais:
(a) Visão de mundo ou premissas subjacentes:
As definições individuais ou coletivas constroem a realidade social, concebendo o
homem como sujeito e ator;
(b) Relação entre o pesquisador e o objeto pesquisado:
Por entender a realidade criada ou moldada pela mente do sujeito, a perspectiva
qualitativa não contempla a distância entre o investigador e o investigado”;
(c) Relação entre fatos e valores;
A concepção de mundo baseia-se nos interesses e situações do indivíduo,
considerando que a construção da realidade é influenciada e refletida pelos interesses
e propósitos das pessoas;
(d) Objeto da pesquisa: Considera a compreensão ou a interpretação do fenômeno
social como objeto principal da pesquisa com base nas interações da própria vida dos
atores
(e) Foco: O foco da pesquisa dá prioridade à experiência individual, , bem como ao,
processo pelo qual são construídos seus significados
(f) Método: A partir dos dados, são definidas as características principais do processo,
analisa-se em que relações de propriedade os conceitos são validados resumindo em
uma síntese holística e/ou análise comparativa;
(g) Papel do pesquisador: Caracteriza-se pela imersão do pesquisador no fenômeno a
ser interpretado
(SANTOS FILHO, 1997, p. 39-45).
O estudo de caso, segundo Trivinõs (1987), é pertinente à pesquisa qualitativa e
documental. A escolha pelo estudo de caso nesta pesquisa se deu porque a intenção foi realizar
um estudo descritivo e interpretativo de situações educacionais específicas: no conservatório
de Leopoldina (CEL) e na Escola de Música Villa-Lobos.
Quanto à interpretação dos dados coletados da análise documental, Triviños (1987)
comenta que o papel do pesquisador consiste não em captar a realidade, mas em analisar com
propriedade todos os elementos coletados na mesma.
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Com esses caminhos metodológicos e o referencial teórico adotado, o presente estudo
buscou fazer uma aproximação mais profunda com os documentos analisados. O intuito foi
construir, a partir da percepção de contradições e conflitos, revelados pelos PPPs, um
conhecimento sobre a questão, propiciando a criação de subsídios que possam contribuir para
superar as tendências de cristalização, homogeneização e hierarquização no âmbito
pedagógico.
Alguns conceitos adotados embasaram esses procedimentos, como o conceito de
música, entendido não como um significado abstrato, mas como elemento atuante na
construção da sociedade (com seus oradores e auditórios invisíveis). Sob esse panorama
teórico-metodológico, os seguintes passos foram percorridos:
(a) revisão de literatura
(b) análise documental (projeto pedagógico);
(c) análise argumentativa das informações levantadas.
Com base no que foi exposto, a investigação pretendeu desenvolver uma análise
crítica dos documentos estudados. Pretendeu-se gerar, também, subsídios para análise de outras
situações similares, ou seja, a partir dos estudos centrados no Conservatório de Leopoldina e
na Escola de Música Villa-Lobos, construir subsídios aplicáveis a outras instituições voltadas
para a educação musical.
Neste momento, apresentamos uma prévia a respeito dos capítulos deste trabalho. O
primeiro e o segundo capítulo corresponderam ao referencial teórico da pesquisa e ao diálogo
sobre a relação da música com a sua inseparabilidade sociocultural.
No primeiro capítulo, foi desenvolvida uma discussão sobre a contribuição da Nova
Retórica, apresentando suas categorias como base para as análises dos argumentos coletados
como dados.
No segundo capítulo, o estudo apresentou a discussão da Música na Educação da
contemporaneidade sob a ótica de uma visão mais abrangente, onde na inseparabilidade
sociocultural seja possível dialogar com vozes como oradoras ou auditoras até o momento não
consideradas como interlocutoras. Nesse sentido, trata-se de desenvolver a relação da música
com a educação e a sociedade, inseridas na concepção da interdisciplinaridade
No terceiro capítulo, foi discutida a escolha paradigmática metodológica no que se
refere a coleta de dados para a construção de conhecimento da pesquisa. Tratou-se de aplicar
um sistema de organização estrutural, analítico e interpretativo dentro de uma linha de
pensamento, bem como abrir possíveis diálogos interativos entre outras linhas de pensamento
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com instrumentos e ferramentas que auxiliam todo o processo de abordagem, questionamento
e problematização levado a cabo no decorrer da pesquisa.
No quarto capítulo, a análise interpretativa de todo o material coletado e interpretado
trouxe à tona uma releitura dos documentos estudados, questionados e problematizados à luz
das argumentações apresentadas.
No quinto capítulo, foram feitas considerações finais sobre o campo de pensamento
da música na educação, procurando mostrar as possíveis contribuições interativas dialógicas
que podem levar a acordos voltados para a superação de desafios e dificuldades na
contemporaneidade.
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1. A CONTRIBUIÇÃO DA NOVA RETÓRICA COMO CAMPO DE PENSAMENTO
PARA AS ANÁLISES SOBRE MUSICA E EDUCAÇÃO NO CONTEXTO SOCIAL
CONTEMPORÂNEO
1.1 Considerando as Contribuições da Nova Retórica
Pelo que podemos considerar como o campo de pensamento do mundo ocidental, na
atualidade, integrado às opiniões e ao senso comum impacta diretamente com o que a
hegemonia da filosofia ocidental classifica como uma categoria de argumentos de segunda
categoria, de uma fragilidade e inferioridade nociva à formulação de proposições que ostentam
os seus estatutos de verdade.
Estabelece-se, por este viés, dois mundos diversos: Por um lado, um mundo construído
e apreendido sem distorção da realidade. Por outro, um mundo sensível, construído pelo senso-
comum e as opiniões como enganoso, frágil e alienado à realidade.
No que se refere ao mundo, filosoficamente, oriundo da antiguidade antes do século
VI a.C. emerge a acepção da retórica não como disciplina, mas como um estado de espírito
pelas análises contínuas da comunicação ou da oratória humana organizada pelas questões na
alusão ao ideal de uma educação e nas discussões realizadas na assembleia associada aos traços
encontrados na Ilíada de Homero.
Duas formas, duas escolas ou duas linhas de racionalidade apresentam-se nestas
concepções. Remonta aos gregos do século VI a.C. a forma oral pela transmissão de um
conjunto de saber de conhecimento comum por narrativas lendárias, cantos poéticos com
acompanhamento musical com vastas composições épicas que funcionam como enciclopédia
e memória coletiva passadas de geração em geração.
Depois do século VI a.C. os gregos creditam à forma escrita o advento de um novo
modo de reflexão e inteligibilidade caracterizado pela prosa ou pela explicação de uma teoria
fundante formulada pelos Sophos ou sábios, dentre os quais destacam-se: Tales, Anaxímandro
e Anaxímenes chamados mais tarde de Philósophos por Heráclito no século V a.C.
Nos séculos vindouros a partir do século VI a.C. a consciência grega sobre a retórica
diverge, subdivide-se e traz à tona concepções diferentes nas margens que separam os antigos
e os modernos, onde a acepção ou consciência da retórica dá-se por métodos e regras como:
(a)instrumento de imposição pública pelo peso da eloquência nos julgamentos finais dos
aéropagos (tribunais); (b) poder encantatório da palavra quanto à pertinência das provas
(VERNANT, 1990 p-475; MEYER & CARRILHO & TIMMERMANNS, 2001).
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Para Meyer & Carrilho &Timmermanns (2001) a retórica de certa forma sempre esteve
presente desde a antiga Grécia voltada para análise contínua da comunicação ou da linguagem
entre duas propostas. Essa mesma presença percebe-se também nas inquietações de Nietzsche,
onde a existência dessas duas propostas embutidas subjetivamente em suas proposições
metafísicas, uma voltada para o mundo antigo da Grécia e outra voltada para o mundo moderno,
o que o traz à tona como primeiro pensador a tentar deslocar a ideia do pensamento da
passividade acrítica construída por uma proposta em relação a outra, o que evidencia uma
potência inerente para reflexões sobre a sua concretude como pensador.
A contemporaneidade que Fucks (1991) sugere como um campo diversificado de
sentidos representa-se pelo transitório, o efêmero e o passageiro em face das circunstâncias
históricas, ou seja, entre o limite do passado e do futuro. Apresenta em seu bojo uma
reaproximação com as questões espaciais e de temporalidade em: (a) Parmênides, pela noção
do Ser Perfeito; (b) Platão, pela dicotomia Aparência/Realidade ou Ilusão/Verdade; (c) Galileu,
pela decifração formal da perfeição do universo que deu ao mecanicismo um status científico
; (d) Descartes, pela prova racional e analítica que reaproxima a concepção da perfeição
mesclada com o formal lógico racional. Com os dois últimos, emerge a explicação do mundo
pelo mecanicismo tecnológico e científico pela divinização do cientificismo. (OLIVEIRA &
LEMGRUBER, 2011).
Cunha (2011), no que se refere a superar esses estágios supracitados em face de uma
nova era - expressa como um acordo entre os pressupostos da vertente de Maffesoli (1998,
2010, 2012) pós-moderna e a que Lipovetsky (2004, 2005, 2013) denomina de
hipermodernidade -, alerta sobre o perigo do mundo sem distorção da realidade na formulação
de saberes formais que, apesar de não estarem relacionados ao erro, à ilusão, ao logro, à
insegurança, apresentam-se por estratégias de persuasão como legitimação do poder. Tal
legitimação exibe algumas características: (a) há um conjunto de visões ressignificadas por
dicotomias antigas como racionalidade-irracionalidade, objetividade-subjetividade e certeza-
incerteza, com a possibilidade dessas visões exercitarem não só a legitimação do poder, mas a
dominação e o disciplinamento; (b) há o perigo de reflexos negativos que a legitimação do
poder de dominação e de disciplinamento desses conjuntos de visões formulam aos
conhecimentos produzidos pelas ciências e pela historiografia, no sentido de valida-los como
narrativas do senso comum e da religião em detrimento do saber sistematizado.
Por esse viés, há a possibilidade da Doxa (ou o saber que se dá pela relação imediata
com o objeto, no patamar das opiniões e do senso comum) substituir o Logos, no patamar do
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conhecimento mediatizado pela razão em detrimento das teorias, o que diminui o poder de
defender-se através de uma argumentação rigorosa.
Refletem-se, assim, na contemporaneidade do século XXI as afirmativas relacionadas
a concepções que sustentam a tese de autoridade científica no que diz respeito às formulações
de conhecimento pelo formal lógico que integra as concepções de verdade, Aparência/Ilusão e
a concepção da perfeição. Nesse patamar a retórica torna-se instrumento voltado para
pensadores que não se adaptam ou seguem os estatutos, parâmetros e paradigmas tradicionais.
(CUNHA, 2011).
Sob este prisma, pensar a contribuição da nova retórica na contemporaneidade,
significa trazer à tona sua renovação ou uma atitude de desvelar, reler e reintegrar a
possibilidade de libertação do pensamento integrado à Retórica em busca do verossímil, do
provável. Isso, por sua vez, significa romper com uma concepção que não privilegia a dialética
e não permite também a permanência argumentativa na retórica tradicional nos meandros das
discussões dialógicas da comunicação.
Meyer & Carrilho & Timmermanns (2001, p.211 e 212) mostram três grandes
momentos importantes nessa tentativa de reconstrução do pensamento, bem como trazem
contribuições na intenção de assinalar: (a) a derrocada dos Mythos, que transformaram
argumentos entre deuses e homens acerca de suas ações em poesias, analogias e metáforas, que
se constituíram em representações simbólica e logicamente formais elaboradas pelo logos
científico, (b) o humanismo do Renascimento ante a reformulação do logos na necessidade
absoluta de Deus, (c) a derrocada dos valores e referências do sujeito moderno.
O primeiro momento, a derrocada dos Mythos, tornou a retórica desacreditada na
passagem do século VI a.C. a partir de uma nova proposta para explicar ou responder sobre o
mundo e seus fenômenos e os homens através de conceitos e proposições formuladas pelos
Sophos e não mais pela metafísica, mas que permitiu a Aristóteles perceber seus pontos fracos
e reconstruir um esquema sistemático para a sua revalidação dialética.
O segundo momento, o humanismo, por sua vez, ante a reformulação do Logos a
partir de Descartes propõe uma nova forma de dialogar com base na busca pela verdade
certificada pela racionalidade da certeza cientifica amparada pela matemática. A retórica passa
a ser deslocada para um segundo plano e traz em si uma fragilidade em seus argumentos
comparados à Doxa. Porém as suas contradições permitiram a alguns autores mostrar novas
possibilidades dialéticas a serem reconstruídas.
O terceiro momento contribui no sentido em que se percebe o sujeito moderno passivo
e racionalizado pelas questões morais, éticas, políticas e socioculturais, voltando-se para as
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tentativas de reconstrução e renovação iniciadas pelos filósofos vienenses e alemães, assim
como pela escola de Wittgenstein, retomada nos anos sessenta do século XX (pela escola de
Bruxelas Dupréel, Perelman e Meyer). Segundo Pessanha (1994, p. 226), as correntes
filosóficas mencionadas questionam as dificuldades encontradas pelas “noções da razão única,
universal e intemporal típica do projeto do racionalismo moderno”.
A partir dessa característica intelectual para além das revoluções científicas e do papel
preponderante da linguagem, que se transforma em matriz das ciências humanas renovada pelo
que Perelman (2005) e Reboul (2000) consideram como uma nova proposta, argumenta-se a
possibilidade de um espaço de convivência ente a dialética e a razão (MEYER & CARRILHO
& TIMMERMANNS, 2001).
Percebe-se em Perelman (2005) que sua teoria da argumentação, desenvolvida pela
perspectiva do conceito de logos, apresenta os conceitos básicos da retórica tradicional, ou seja,
orador (Ethos), palavra (Logos) e auditório (Pathos) pelo referencial da dialética retira a
subalternização ou a dependência de cada um desses elementos, apresentando um grande
potencial para se pensar a educação por um novo caminho onde a linguagem (ou o Logos) não
formalizada não significa um terreno da desrazão e, sim, supõe haver um orador e um auditório
que viabiliza a natureza dialógica de seus discursos para entender a prática pedagógica, os seus
documentos e discursos educacionais. (OLIVEIRA & LEMGRUBER, 2011, P. 26)
Para Pessanha (1994) essa visão de Perelman altera a noção definitiva de auditor ou
de auditório que a retórica antiga atingia pela palavra, introduz inovações no campo da
argumentação e amplia o alcance da palavra, ou melhor, da argumentação da palavra para esse
auditor ou auditório que pode, também, ser um leitor.
Dentro desse contexto, além de Perelman (2005), entram em cena debates entre
detratores e defensores das ciências que sustentam uma sensibilidade voltada para a utilidade
da retórica segundo a teorização de Aristóteles, que a redefine por um sistema filosófico
diferente do utilizado pela erística dos sofistas.
Este termo é relativo a erística, substantivo feminino que em filosofia significa a arte
das discussões lógicas e subtis e adjetivo proveniente do grego eristikós, caracterizado por
raciocínios que participam das discussões sutis em controvérsias que gosta de disputar. O
segundo termo como substantivo masculino está caracterizado como controversista, polemista
que Reboul (2000, p. 27 e 28) preconiza como aquele que profere a controvérsia por um
raciocínio rigoroso que respeita as regras da lógica e que faz triunfar o absurdo ou o falso.
(REBOUL, 2000; CUNHA, 2011).
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Esses defensores ou pensadores apresentam-se como contrários aos parâmetros
racionais tradicionais, no sentido de tentar entender toda a complexidade em um campo de
pensamentos, de estudos e de fenômenos sociais e, ao mesmo tempo representar o papel de
destacar a retórica como instrumento de libertação de ideologias.
Outro aspecto importante é que entre todos os pensadores que se inclinam nesse
caminho há uma ligação profunda com a contribuição dos filósofos da Grécia Antiga, mas há
também, os que, como Perelman, se inclinam integralmente em sua utilização para análises da
comunicação humana por suas principais características e seus importantes efeitos. (MEYER
& CARRILHO & TIMMERMANS; CUNHA, 2001, p. 24, 25, 2011).
Meyer & Carrilho & Timmermans (2001, p. 231) permitem perceber como legitimada
e válida a proposta reabilitadora da nova retórica de Perelman, quando argumentam, como
referido mais acima, que haviam propostas sobre a renovação da retórica presente nos
pensadores da Grécia, do Renascentismo, da modernidade, ou seja, nos períodos de Homero a
Platão, no renascimento e no século XX, pensadores que buscavam demonstraram um caminho
reabilitador.
Reboul (2000), nesse sentido, explicita a contribuição importante que influenciou
Perelman (2005) na construção do seu tratado da argumentação, ou seja, a definição da retórica
por Aristóteles que desde a Grécia antiga a integra em um sistema filosófico distinto do
utilizado pelos sofistas e a interliga a uma dinâmica dialética da argumentação, onde o jogo
dialético permite instrumentalizar as velhas técnicas retóricas por outros vieses, a saber:
•A retórica é útil, porque, tendo o verdadeiro e o justo mais força natural que os seus
contrários, se os seus julgamentos não são proferidos como conviria, é
necessariamente por sua única culpa que os litigantes [cuja causa é justa] são
derrotados. Sua ignorância merece, portanto, censura;
•Ainda mais conquanto possuíssemos a ciência mais exata, há certos homens que
seria fácil persuadir fazendo nosso discurso aberrar-se apenas nessa fonte; o discurso
segundo a ciência pertence ao ensino, e é impossível emprega-lo aqu