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REVISTA PORTUGUESA CIÊNCIAS VETERINÁRIAS DE VI Encontro da Sociedade Portuguesa de Epidemiologia e Medicina Veterinária Preventiva Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Técnica de Lisboa Lisboa, 10 e 11 de Novembro de 2006 SUPLEMENTO 319 Em 2005 a SPEMVP organizou a sessão científica "Epidemiologia e Saúde Pública" no seu V Encontro, no âmbito do Congresso Ciências Veterinárias, 3º Congresso da Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias, que teve lugar na Estação Zootécnica Nacional de 13 a 15 de Outubro. Foram apresentadas 13 comunicações orais na área da Epidemiologia e 11 na área da Qualidade e Segurança Alimentar e ainda cerca de 30 posters, cujos sumários foram publicados no Livro de Resumos do referido Congresso. Em 2006, o VI Encontro da SPEMVP decorreu em Lisboa, na Faculdade de Medicina Veterinária, sob os temas "Doenças Emergentes" e "Segurança Alimentar". Neste VI Encontro foram apresentadas 24 comuni- cações e 14 posters, cujos resumos aqui se apresen- tam. O evento contou com a participação de 90 profis- sionais e estudantes. O Prémio Peter Ellis, para o melhor trabalho apresentado por estudantes foi atribuído ao Poster "Dinâmica de redes e padrão de movimentos de bovinos em Portugal" da autoria de Filipa Baptista e Telmo Nunes. A organização do VI Encontro esteve a cargo de Yolanda Vaz, Virgílio Almeida e Armando Louzã e teve o patrocínio de Merial Portuguesa – Saúde Animal Lda., Controlvet e Pfizer Saúde Animal e o apoio da Faculdade de Medicina Veterinária – UTL. Comunicações orais Painel "Doenças Emergentes" Programa Entomológico para a Vigilância da Língua Azul em Portugal – resultados de 1,5 anos de actividade Isabel Pereira da Fonseca, J. Leite, L. Fidalgo, H. Catanho,T. Nunes e F. Boinas Faculdade de Medicina Veterinária, UTL Introdução: A Língua Azul (LA), também designada como Febre Catarral Ovina, é uma doença viral infec- ciosa e não contagiosa, transmitida por insectos culicóides. Em Novembro de 2004, ocorreu em Portugal uma epidemia de LA, após um silêncio epizoótico de cerca de 44 anos. Desde essa data e até Maio de 2005, foram efectuadas recolhas pontuais de insectos. Após este período foi implementado um programa entomológico estruturado, em todo o território nacional, para avalia- ção da presença de vectores do vírus da LA, cujos resultados agora reportamos. Material e métodos: Para a amostragem do plano ento- mológico definiram-se, como áreas de referência, quadrados de 50Km de lado, tendo sido estabelecidas 45 no continente, 2 nos Açores e 1 na Madeira. Os insectos foram capturados em explorações de rumi- nantes, utilizando armadilhas luminosas do tipo CDC. Estas foram colocadas e recolhidas por técnicos das Direcções Regionais de Agricultura (DRA) e das Regiões Autónomas. Os insectos capturados foram enviados para análise laboratorial entomológica, no Laboratório de Doenças Parasitárias da Faculdade de Medicina Veterinária. Na rotina laboratorial, a identificação das espécies de culicóides foi efectuada através da observação dos padrões característicos das asas destes insectos. Como complemento deste trabalho, foi feita, pontualmente, dissecção e montagem de alguns exemplares. Resultados e discussão: No período compreendido entre Maio de 2005 a Outubro de 2006 realizaram-se 1300 colheitas tendo-se capturado 2.056.024 culicóides. As

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R E V I S T A P O R T U G U E S A

CIÊNCIAS VETERINÁRIASDE

VI Encontro da Sociedade Portuguesa de Epidemiologia e MedicinaVeterinária Preventiva

Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Técnica de Lisboa

Lisboa, 10 e 11 de Novembro de 2006

SUPLEMENTO

319

Em 2005 a SPEMVP organizou a sessão científica"Epidemiologia e Saúde Pública" no seu V Encontro,no âmbito do Congresso Ciências Veterinárias, 3ºCongresso da Sociedade Portuguesa de CiênciasVeterinárias, que teve lugar na Estação ZootécnicaNacional de 13 a 15 de Outubro. Foram apresentadas13 comunicações orais na área da Epidemiologia e 11na área da Qualidade e Segurança Alimentar e aindacerca de 30 posters, cujos sumários foram publicadosno Livro de Resumos do referido Congresso.

Em 2006, o VI Encontro da SPEMVP decorreu emLisboa, na Faculdade de Medicina Veterinária, sob ostemas "Doenças Emergentes" e "Segurança Alimentar".

Neste VI Encontro foram apresentadas 24 comuni-cações e 14 posters, cujos resumos aqui se apresen-tam. O evento contou com a participação de 90 profis-sionais e estudantes.

O Prémio Peter Ellis, para o melhor trabalho apresentado por estudantes foi atribuído ao Poster"Dinâmica de redes e padrão de movimentos de bovinos em Portugal" da autoria de Filipa Baptista eTelmo Nunes.

A organização do VI Encontro esteve a cargo deYolanda Vaz, Virgílio Almeida e Armando Louzã eteve o patrocínio de Merial Portuguesa – SaúdeAnimal Lda., Controlvet e Pfizer Saúde Animal e oapoio da Faculdade de Medicina Veterinária – UTL.

Comunicações orais

Painel "Doenças Emergentes"

Programa Entomológico para a Vigilânciada Língua Azul em Portugal – resultadosde 1,5 anos de actividade

Isabel Pereira da Fonseca, J. Leite, L. Fidalgo,H. Catanho, T. Nunes e F. BoinasFaculdade de Medicina Veterinária, UTL

Introdução: A Língua Azul (LA), também designadacomo Febre Catarral Ovina, é uma doença viral infec-ciosa e não contagiosa, transmitida por insectosculicóides.

Em Novembro de 2004, ocorreu em Portugal umaepidemia de LA, após um silêncio epizoótico de cercade 44 anos. Desde essa data e até Maio de 2005, foramefectuadas recolhas pontuais de insectos. Após esteperíodo foi implementado um programa entomológicoestruturado, em todo o território nacional, para avalia-ção da presença de vectores do vírus da LA, cujosresultados agora reportamos.Material e métodos: Para a amostragem do plano ento-mológico definiram-se, como áreas de referência,quadrados de 50Km de lado, tendo sido estabelecidas45 no continente, 2 nos Açores e 1 na Madeira. Osinsectos foram capturados em explorações de rumi-nantes, utilizando armadilhas luminosas do tipo CDC.Estas foram colocadas e recolhidas por técnicos dasDirecções Regionais de Agricultura (DRA) e dasRegiões Autónomas. Os insectos capturados foramenviados para análise laboratorial entomológica, noLaboratório de Doenças Parasitárias da Faculdade deMedicina Veterinária.

Na rotina laboratorial, a identificação das espéciesde culicóides foi efectuada através da observação dospadrões característicos das asas destes insectos. Comocomplemento deste trabalho, foi feita, pontualmente,dissecção e montagem de alguns exemplares.Resultados e discussão: No período compreendido entreMaio de 2005 a Outubro de 2006 realizaram-se 1300colheitas tendo-se capturado 2.056.024 culicóides. As

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espécies de culicóides identificadas (e a percentagemrelativa em relação ao total) foram: C. imicola (82,9%),C. punctatus (4,8%), C. newsteadi (2,1%) C. obsoletus(2%), tendo cada uma das seguintes espécies - C. circumscriptus, C. maritimus, C. pulicaris, C. cataneii,C. scoticus e C. univittatus - representado individual-mente até 0,2% do total. As espécies de culicóides cujaidentificação não foi possível, utilizando como critério opadrão alar, representaram 7,9 % do total e encontram-sepresentemente em estudo através de metodologias com-plementares. Relativamente a C. imicola e C. obsoletus,as duas espécies consideradas mais relevantes na trans-missão do vírus da LA, verificou-se que o primeiro predomina nas regiões do Centro e do Sul do País,enquanto C. obsoletus predomina no Norte e Centro doPaís. As DRAs onde foram realizadas colheitas com valores médios de capturas mais elevados de C. imicolalocalizaram-se na Beira Interior (14.115 exemplares), noAlentejo (272) e no Ribatejo e Oeste (267). Pelaprimeira vez, foram reportadas, ocorrências esporádicasde C. imicola na área das DRA de Entre Douro e Minhoe, na DRA da Beira Litoral, em algumas zonas a Oeste.

Não foram identificados C. imicola nas oito colheitasrealizadas nas Regiões Autónomas. Houve sazonali-dade na ocorrência de C. imicola verificando-se asmaiores colheitas durante o Outono enquanto que, nocaso do C. obsoletus, predominaram durante aPrimavera. Registaram-se ocorrências persistentes deC. imicola em algumas áreas da DRA da Beira Interiordurante a época de Inverno, período normalmenteconsiderado como de inactividade do vector.

Para a tomada de decisões no âmbito sanitário paraa prevenção e controlo da doença pelas AutoridadesVeterinárias é considerada crucial a avaliação epide-miológica da ocorrência de culicóides vectores dovírus da LA, especialmente da espécie C. imicola emPortugal.Agradecimentos: à Dra Sara Babo Martins, FilipaBaptista e a todos os que têm colaborado nesteProjecto. Este Projecto é financiado pela DirecçãoGeral de Veterinária.

Modelação da distribuição espacial de C. imicola em Portugal

Telmo Nunes, I.M. Fonseca., F. BoinasFaculdade de Medicina Veterinária, UTL

Em Novembro de 2004, a doença da Língua Azul foireportada em Portugal, 44 anos depois do último relatodesta doença na Península Ibérica. Esta doença étransmitida por diversos insectos culicoides. Na áreaMediterrânica os insectos da espécie C. imicola sãoconsiderados como os principais vectores da doença.A identificação de áreas de actividade do vector daLíngua Azul constitui uma componente importante noprocesso de análise de risco para minimizar a proba-

bilidade de introdução do agente em áreas livres dadoença. Objectivo deste trabalho consiste na identifi-cação das variáveis explicativas mais úteis para amodelação da presença de C. imicola, e o desenvolvi-mento de mapas de superfície representando a proba-bilidade da presença de C. imicola.

Neste trabalho foram utilizados os dados do planode vigilância epidemiológica implementado a partir deMaio de 2005, para modelar a probabilidade de activi-dade de C. imicola em áreas de Portugal Continentalnão amostradas. Das 102 localizações onde foram utilizadas armadilhas de luz tipo CDC, foram selccio-nadas 52 com base no critério em que um ponto deamostragem negativo à presença de C. imicola teriaque ter pelo menos uma amostra negativa no períodode maior actividade do vector (de Agosto a Novembro).

Foram desenvolvidos dois grupos de modelos deregressão logística, utilizando num destes, variáveisbioclimáticas obtidas a partir da interpolação de dadosclimatéricos de detecção local de longo prazo(Hijmans et al., 2005), e no outro grupo dados anuaisde detecção remota como o índices de vegetação, temperatura à superfície e a banda dos infravermelhosmédios, posteriormente processados pela transfor-mação temporal de Fourier (EDEN, 2006) e dadostopográficos (SRTM, 2006). Para cada um dos gruposforam desenvolvidos 2 modelos; um para a presençaou ausência de C. imicola sendo considerado comoponto de presença um ponto com uma colheita compelo menos um individuo, e outro modelo para pontoscom contagens de C. imicola com pelo menos 10 indi-víduos, por forma a eliminar possíveis amostras posi-tivas por transporte de culicoides pelo vento.

No grupo de modelos em que se utilizou dados climatéricos, a temperatura média no trimestre maisquente constituiu uma variável significativa paraambos os modelos, sendo também significativa para apresença a temperatura mínima no mês mais frio e aprecipitação no trimestre mais frio. No modelo paracontagens superiores a 10 C. imicola foi consideradacomo significativa a temperatura média anual.

No grupo de modelos desenvolvidos a partir dedados de detecção remota apenas se conseguiu ajustarum modelo para contagens superiores a 10 C. imicolasendo a amplitude do terceiro termo da banda dosinfravermelhos médios e o valor mínimo anual dosinfravermelhos médios as variáveis significativas.

A validação interna apresentou melhores resultadosde concordância nos modelos desenvolvidos a partir dedados climatéricos do que nos desenvolvidos com dadosde detecção remota. O modelo desenvolvido para conta-gens superiores ajusta-se de forma considerável às zonasonde foi detectada actividade viral. Os pontos onde omodelo classificou como falsos negativos podem seratribuíveis ao transporte de culicoides pelo vento.

A informação obtida por este trabalho será integradaem modelos de análise de risco para a Língua Azul emPortugal.

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Bibliografia: Hijmans RJ, Cameron SE, Parra JL, Jones PG and Jarvis A

(2005). Very high resolution interpolated climate surfaces for global land areas. International Journal of Climatology, 25, 1965-1978.

ÉDEN (2006). Emerging Diseases in a changing European Environment, http://ergodd.zoo.ox.ac.uk/eden/

SRTM (2006). Shuttle Radar Topography Mission, http://srtm.usgs.gov/

Avaliação de risco da introdução daLíngua Azul na zona livre pela movimentação de animais provenientes da área geográfica sujeita a restrições

Sara Babo Martins, S. Pires, T. NunesFaculdade de Medicina Veterinária, UTL

A Doença da Língua Azul (Lista A da OIE) é umadoença infecciosa, que afecta a maioria dos rumi-nantes, causada por um vírus da família Reoviridae etransmitida por um vector – Culicoides spp.

Após ter sido notificada em Portugal em Novembrode 2004, foram accionados os Gabinetes de CriseNacional e Regional e adoptadas medidas de profilaxiasanitária e médica, assim como de controlo do vector.Foram também definidas áreas geográficas, consoante apresença ou ausência de doença – Zona Livre e Área Geo-gráfica Sujeita a Restrições – sendo a última sujeita arestrições de movimentação animal das espécies sensíveis.

Com o objectivo de estimar a probabilidade deintrodução de DLA na zona livre do país, relacionadaespecificamente com a movimentação de bovinos dazona geográfica sujeita a restrições, foi efectuada apresente avaliação de risco quantitativa. As variáveisintroduzidas contemplam as características dos testesde diagnóstico utilizados e da doença, bem como onúmero de animais movimentados entre as duaszonas. Vários cenários foram contemplados na análisee utilizando a aplicação informática @Risk estimou--se a probabilidade de ocorrência do evento.

A probabilidade média de movimentar, num dadoano, pelo menos um animal virémico, testado comresultados negativos aos testes de pré-movimentação,difere de acordo com as medidas de restrição à movi-mentação animal consideradas, com o teste de dia-gnóstico utilizado e com a prevalência da doença. Aexistência e a duração da quarentena de pré-movimen-tação assume particular importância já que permiteaumentar várias vezes vezes o número de anosnecessários para a ocorrência do evento. Contudo,para equiparar o período de quarentena ao período emque os animais são submetidos a desinsectização,importa perceber se a eficácia da desinsectização permite equivaler os dois conceitos.

EPIGRIPAVE – Projecto deEpidemiovigilância da Gripe Aviária

Yolanda Vaz, T. Nunes, V. Almeida, M. Melo,I.N. Fonseca, S. Babo Martins, M. Bragança,A. LouzãUISEE, Faculdade Medicina Veterinária, UTL

A capacidade de originar pandemias, a recenteactividade do vírus Influenza H5N1 na Ásia e a suaprogressão para a Europa e África são motivos de preocupação para os Serviços Veterinários de todo omundo e para os consumidores. Em resposta, foramimplementadas a nível da Comunidade Europeia e emcada Estado Membro, medidas preventivas de reduçãode risco como o reforço de medidas de biossegurançae da vigilância epidemiológica, a proibição de impor-tações de materiais de risco dos países afectados eforam reforçados os planos e o aprovisionamento paraa execução de medidas em caso de ocorrência defocos, quer em aves selvagens, quer nos efectivosdomésticos.

Em Portugal a epidemiovigilância da gripe aviáriainiciou-se em 2003, sendo coordenada pela Direcção--Geral de Veterinária, e desde esse ano o número deamostra analisadas anualmente pelo LaboratórioNacional de Investigação Veterinária tem vindo aaumentar. Em 2003 foram analisadas 2.400 tendo estenúmero atingido 5.000, em 2004 e 6.387, em 2005,com o aumento de aves selvagens analisadas. Em2006 foram analisados até Setembro 6.602 cadáveres,realizadas 5.108 serologias e 8.463 análises virulógi-cas (DGV, 2006). A informação sobre a vigilância dagripe aviária não está disponível em tempo real atodos os níveis de decisão e é difícil de referenciar àpopulação de origem, existindo espaço de melhora-mento do sistema.

Desde 2006, usufruindo de uma linha de financia-mento disponibilizada pela Fundação CalousteGulbenkian, está em curso o Projecto EPIGRIPAVE, quetem como principal objectivo o melhoramento da vigi-lância epidemiológica da gripe aviária no país, envolvendoem estreita colaboração a Faculdade de Medicina Vete-rinária, a Direcção-Geral de Veterinária, o LaboratórioNacional de Investigação Veterinária, o Instituto deConservação da Natureza, a Direcção de ServiçosVeterinários da Direcção Regional de Agricultura doEntre-Douro e Minho, a Escola Superior Agrária deCoimbra, a Federação Portuguesa das AssociaçõesAvícolas, a Volataria Lda., o Pygargus ServiçosVeterinários Lda., a Controlvet Lda. e a Segalab S.A.

O Projecto pretende desenvolver as actuais activi-dades de monitorização e focar a amostragem emdiferentes sub-populações de aves, melhorar a organi-zação da recolha de dados e da gestão e análise dosmesmos e, ainda, tornar mais expedita a circulação dedados e da informação. A formação de médicos veteri-nários das Direcções Regionais de Agricultura e de

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médicos veterinários Municipais em aspectos rela-cionados com a gripe aviária, metodologias de segu-rança na recolha de amostras, recolha de dados eimportância da sua colaboração nas actividades devigilância, é um dos aspectos importantes do Projecto.Finalmente, o desenvolvimento de modelos matemáti-cos sobre possíveis cenários de disseminação da gripeaviária em populações de aves em Portugal, recorrendoa dados produzidos pela rede de Epidemiovigilância e aestudos epidemiológicos específicos constitui a fasefinal deste projecto.

Está em curso o desenvolvimento do sistema infor-mativo para a vigilância activa e passiva, tendo sidoamplamente discutidos os suportes de dados para avigilância passiva. Foi também desenvolvida uma basede dados populacional para as aves de capoeira – oSIREA (Sistema Informático de Registo de EspéciesAvícolas). As actividades centraram-se ainda na for-mação de médicos veterinários, tendo sido já efectuadassessões em Lisboa, Mirandela, Coimbra e Faro.

SIREA – Sistema de Identificação eRegisto de Explorações Avícolas:resultados preliminares

Mauro Bragança1, P. Tavares Santos2,A. Cara d’Anjo2, T. Nunes1

1Faculdade de Medicina Veterinária, UTL 2 Direcção-Geral de Veterinária

O vírus da Influenza aviária é uma zoonose de reconhecida importância. Recentemente os surtos degripe aviária de alta patogenicidade provocada pelovírus Influenza A subtipo H5N1, que anteriormente seencontravam restritos ao continente asiático, ocor-reram no Médio Oriente, Norte de África e Este eCentro da Europa. As aves migratórias aquáticasassumiram um papel importante na disseminação dovírus, nomeadamente as rotas migratórias, AtlânticoEste e Mar Negro/Mediterrâneo, foram responsáveisdurante o ano de 2006, pela propagação do agente nosvários Estados Membros. O contacto de avesmigratórias com as aves domésticas assume particularrelevância nas pequenas explorações domésticas devido às condições de bio-segurança inerentes a estessistemas de produção. Assim, surgiu a necessidade deum sistema que permitisse o recenseamento e caracte-rização de pequenas explorações de espécies avícolasdomésticas. Neste âmbito, foi desenvolvido o SIREA– Sistema Informático de Registo de EspéciesAvícolas Domésticas, que utilizando tecnologia web-based permite o registo de explorações domésti-cas via Internet.

A vantagem dos sistemas web-based reside na rápida implementação do sistema e de actualizaçõesindependente dos postos de introdução de dados, nacompatibilidade universal (WC3), na centralização

imediata do dado colhido independente da distânciageográfica e aproveitamento da logística existente.

O sistema encontra-se implementado em 3659 juntas de freguesia das 4260 existentes em Portugal.Actualmente1 estão registadas 226.276 explorações, oque representa aproximadamente cinco milhões e seiscentas mil aves (5.638.671). A caracterizaçãodeste efectivo, nomeadamente no que diz respeito àscondições de bio-segurança das explorações e destinoda criação, pode igualmente ser efectuada com basenos dados colhidos pelo SIREA. Dados de 29-9-2006

Contribuição para um sistema de informação para uma pandemia de gripe

Mário CarreiraDirecção-Geral da Saúde

Avaliação do risco de infecções in uteropelo Neospora caninum nas exploraçõesleiteiras da ilha Terceira através da utilização de um ELISA indirecto emamostras de leite de tanque

Sandra Benevides1, L. Flôr1, F. Garrett1,H. Martins1, F. Lima1, P. Lima1, J. Moreira Silva2,J. Niza-Ribeiro3,4

1Laboratório Regional de Veterinária, Direcção de Serviços deVeterinária, Serviços de Desenvolvimento Agrário da ilha Terceira,Direcção Regional do Desenvolvimento Agrário, Secretaria Regionalda Agricultura e Florestas, Angra do Heroísmo, Portugal2Universidade dos Açores - Departamento de Ciências Agrárias, Angrado Heroísmo3Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto 4Laboratório de Sanidade Animal e Segurança Alimentar (Segalab,SA), Porto

Introdução: O parasita Neospora caninum tem sidoreconhecido mundialmente como uma causa impor-tante de abortos em bovinos. As vacas infectadas abortam sobretudo entre os 3 e os 8 meses de gestação(Anderson et al., 1991). A transmissão vertical ocorrecom elevada eficiência (>80%) (Dubey et al., 1996). Osvitelos congenitamente infectados permanecem infecta-dos e podem infectar os seus descendentes durantefuturas gestações (Anderson et al., 1997). Tanto asvacas de leite como as de carne, com anticorpos contrao Neospora caninum (seropositivas) possuem maioresprobabilidades de abortar do que as vacas seronegativas(Paré et al., 1997). O nosso estudo foi conduzido nosentido de avaliarmos a eficácia do ensaio ELISA, utilizado em amostras de leite de conjunto/tanque, naavaliação do risco de exposição dos vitelos ao N. caninum in utero considerando para tal, que a presençade anticorpos IgG 2 em vitelos com menos de seismeses é um indicador de uma infecção prévia in utero.Material e métodos: Foram colhidas amostras de leite

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de 799 explorações da ilha Terceira e testadas paradetecção de anticorpos contra o Neospora caninum, através de um ELISA Indirecto do LSI®

(Laboratoire Serviçe International) para amostras deleite de conjunto/tanque. Todas as explorações testadas foram geograficamente localizadas através deum Sistema Informático Geográfico (SIG), existentenos Serviços de Desenvolvimento Agrário da ilhaTerceira. Os resultados do ELISA foram expressos emS/P (sample to positive ratio), de acordo com asinstruções do fabricante. As explorações foram cate-gorizadas em quatro classes de acordo com o seuresultado S/P como se segue: Classe 1 (C1)0<S/P*100<10, Classe 2 (C2) 10≤S/P*100<30,Classe 3 (C3) 30≤S/P*100<70 e Classe 4 (C4)S/P*100≥70. Um grupo de 135 explorações, no total,foi seleccionado aleatoriamente e de forma propor-cional ao número de explorações existentes em cadaclasse. Estas explorações foram visitadas 4 a 5 mesesapós a colheita de leite de conjunto/tanque, para secolherem amostras de sangue a todos os vitelos commenos de seis meses existentes nas explorações. Osoro foi testado através da utilização de um ELISAIndirecto LSI® para detecção de anticorpos IgG 2 doNeospora caninum. Foi calculado o risco relativo(para proporções), de existir vitelos seropositivos nasquatro classes segundo Martin et al. (1987). O inter-valo de confiança utilizado para avaliar a significânciados do risco relativo (RR) foi de 95%. Resultados: A proporção global de amostras de soroindividuais positivas foi de 0,17 (135/797), distribuídapelas quatro classes como se segue: C1=0,10,C2=0,15, C3=0,22 e C4=0,31. O RR de existir viteloscom menos de seis meses seropositivos ao Neosporacaninum nas explorações pertencentes a classes comum resultado ELISA S/P elevado, nomeadamente àsclasses C3 e C4, comparado com as explorações per-tencentes à classe C1 foi RRC4=3,04 (95% IC 1,80-5,12) e RRC3=2,14 (95% IC 1,44-3,17). Todasas explorações pertencentes à Classe 3 e 4 foramgeograficamente localizadas verificando-se que estasse encontram distribuídas de forma homogénea portoda a ilha. A prevalência de explorações com níveisde anticorpos positivos do Neospora caninum no leitefoi de 63,5%.Discussão e conclusões: Um diagnóstico definitivo daNeoporose como causa de aborto requer o exame dofeto abortado. Contudo, na maioria das vezes o mate-rial fetal não está disponível, sendo difícil dia-gnos-ticar a Neosporose como causa de aborto. Sabe-se que orisco de aborto é maior nos casos em que existe umainfecção activa da mãe e do feto por Neospora can-inum e que as infecções in utero induzem a produçãode anticorpos IgG do tipo IgG 1 e 2 contra o Neosporacaninum pelo feto, assim os anticorpos IgG 2 pre-sentes no soro de vitelos com menos de seis meses sãosobretudo resultado de infecções in utero. Como ocolostro é pobre nestes anticorpos, a presença de IgG

2 neste grupo de animais dá uma boa indicação deuma infecção in utero. Com a utilização, neste estudo,do teste ELISA para detecção de anticorpos IgG 2contra o Neospora caninum no soro de vitelos, con-cluímos que o risco relativo de existir vitelos commenos de seis meses infectados nas explorações pertencentes às classes com resultados ELISA S/P noleite de conjunto/tanque elevado é significativo. Combase nestes resultados é possível sugerir que o testeELISA para amostras de leite de conjunto/tanque é umbom indicador do risco de infecções in utero peloNeospora caninum nas explorações leiteiras, o quecontribui para na interpretação de resultados epidemiológicos e para o controlo da Neosporose nasexplorações.

Resultados de um "programa sentinela"de vigilância da hidatidose em bovinos,em unidades de abate no EDM

Luciano Duarte, Ana Afonso, Virgínea CapêloDirecção-Regional de Agricultura do Entre-Douro e Minho,

Direcção de Serviços de Veterinária

São apresentados os dados, de três anos (2004-2006), de uma Rede de Epidemiovigilância daHidatidose Bovina RE-HB, implementada na Regiãodo Entre-Douro e Minho.

A rede RE-HB tem por objectivo a vigilância dahidatidose bovina, e tem por base os dados deinspecção sanitária de bovinos, abatidos na Região doEntre-Douro e Minho.

A partir dos elementos recolhidos os autores apre-sentam a dispersão geográfica do parasita Echinococcusgranulosus em várias Regiões do país.

Os dados apresentados sugerem a necessidade deimplementação de um programa nacional de controloda Echinococcose e o desenho e implementação deoutras redes a um nível mais alargado abrangendo atotalidade do território nacional, para pesquisa destazoonose.

Os autores referem a necessidade de uma maior trocade informação entre as autoridades de saúde pública eveterinária para um controlo mais eficaz da doença.

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Avaliação do impacto económico da fasciolose em bovinos leiteiros do concelho de Vagos

Anabela Fidalgo1, M. Fontes2, V. Almeida2

1Inspectora Sanitária, Direcção Regional de Agricultura da BeiraLitoral 2Faculdade de Medicina Veterinária, UTL

O presente estudo teve como principal objectivoquantificar as perdas directas resultantes da ocorrên-cia de fasciolose bovina no concelho de Vagos. O estudo foi planificado e concretizado em duas fases:

(1) Fevereiro de 2003 a Maio de 2004 – Concepção,testagem e implementação no Matadouro de Aveiroduma metodologia de inspecção sistemática de todosos fígados de bovino seguida da sua pesagem, deforma a calcular o peso médio das vísceras aprovadas,para cálculo do prejuízo decorrente da rejeição defígados com formas adultas do parasita e/ou comlesões indicativas de presença de Fasciola hepatica.

(2) Junho de 2004 a Novembro de 2004 –Construção dum modelo em Excel para cálculo doscustos directos causados pela parasitose nas explo-rações de bovinos leiteiros da área de estudo. O modelofoi concebido com base em dois cenários epidemio-lógicos: Ano de baixa prevalência (p=0,05) e ano deprevalência elevada de fasciolose (p=0,09); e quantificaos prejuízos associados: (i) à redução na produção de leite, (ii) à diminuição da fertilidade das fêmeasreprodutoras, (iii) ao menor ganho de peso nos bovi-nos destinados a abate e (iv) à rejeição de fígados nomatadouro.

Foi estimado que em 2003, ano de baixa prevalênciada doença (p=0,05), a fasciolose terá causado prejuí-zos directos ao nível da produção da ordem dos € 30.000. Se as condições meteorológicas tivessemdeterminado um ano de prevalência elevada da doença(p=0,09), os prejuízos directos ascenderiam a € 157.000. Estas estimativas sugerem que caso decor-ra um quinquénio consecutivo de baixa prevalência defasciolose as perdas são de € 373.917 por vaca leiteiradurante a sua vida produtiva (assumida no modelo em5 lactações). Num cenário de prevalência elevada estasperdas seriam de € 1.050.192/vaca/quinquénio.

Surpreendentemente, nem os produtores por opçãoindividual, nem a Organização de ProdutoresPecuários local, realizam desparasitações periódicasdos bovinos. Esperamos que esta avaliação contribuapara alterar a percepção do impacto económico da fas-ciolose, de forma a minimizar os prejuízos e a con-tribuir para gerar mais-valias para os produtores doconcelho de Vagos, tornando-os mais competitivos epromovendo o bem-estar na população de bovinos.

Desta forma, recomendamos o desenho e a imple-mentação dum programa de Educação Sanitária,dirigido a produtores, em que os conceitos biológicos,epidemiológicos e económicos, interajam de forma

simples e eficaz para motivar a comunidade de produ-tores a investir no controlo desta zoonose inserindo, acurto prazo, estratégias preventivas no programa anualda Organização de Produtores Pecuários do concelhode Vagos.

Agregados geográficos de tuberculosebovina na Direcção Regional deAgricultura do Alentejo

Virgílio Almeida, T. Nunes, Y. Vaz, M. Melo,I. Neto Fonseca, A. LouzãFaculdade de Medicina Veterinária, UTL

Introdução: Em Portugal, ocorreu uma forte reduçãona incidência de tuberculose bovina a partir de 1988com a implementação duma rede nacional deAgrupamentos de Defesa Sanitária que concretizaramum Plano Acelerado de Erradicação da TuberculoseBovina, impulsionado e co-financiado pela UniãoEuropeia. Em 2001, 95,6% das explorações de bovinos já estava certificada T3 (n=112.232). Antecedentes e objectivos: Porém, a detecção denovilhos tuberculosos, nascidos em explorações localizadas na Direcção Regional de Agricultura doAlentejo (DRAAL) e certificadas T3, no exame postmortem, em matadouros do Centro e do Norte do país,desencadeou a presente investigação epidemiológica,financiado pelo Programa AGRO (Projecto nº 125/98)com o objectivo de identificar que factores contri-buíram para este recrudescimento. Síntese metodológica: Todas as explorações-foco(n=58 no período de 2001-2005) foram visitadas pararecolha de dados realizada em entrevista presencialestruturada com base em questionário. Para o efeito,foi criada uma ficha complementar ao inquérito epidemiológico "Tuberculose dos Bovinos" Mod.266/DGV. Os dados foram posteriormente inseridos eprocessados numa base de dados. As seguintes variá-veis foram consideradas na análise estatística: tamanhodo efectivo; idade dos bovinos; entradas e saídas debovinos; localização geográfica da exploração. Porém,a escassez de informação inviabilizou a análise de variáveis de interesse como o contacto com espéciessilvestres. A elevada semelhança nas práticas demaneio nas vacadas de carne na DRAAL condicionoutambém a análise de variáveis como o pastoreio con-junto de adultos e jovens ou o acesso a pontos deabeberamento comuns nos prados (montes). Resultados: Os focos localizaram-se em 4 Divisões deIntervenção Sanitária (DIV): Elvas, Portalegre, Beja eÉvora. O tamanho dos efectivos variou de 30 a 700bovinos. Todos os focos envolveram bovinos de carne,de raça pura: Alentejana (n=3), Mertolenga (n=1) eBrava (n=1); ou cruzados (n=14). Duas das explo-rações-foco também criavam veados para coutos decaça.

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Em média, as explorações-foco tinham um efectivomais numeroso que as indemnes: 148,04 ± 131,24 ver-sus 64,21 ± 105,16 (p=0,001).

Em média, a idade dos bovinos abatidos era maiselevada nas explorações-foco que nas indemnes: 17,53± 23,95 meses versus 5,84 ± 16,61 meses (p=0,001).

Em termos absolutos, as entradas e as saídas debovinos individuais e de lotes de bovinos tambémforam mais frequentes nas explorações-foco: 116,46 ±108,71 bovinos versus 46,97 ± 74,32 bovinos(p=0,001).

A análise estatística espacial confirmou dois agre-gados geográficos de tuberculose bovina na DRAAL:

Agregado 1: Localização: 3952 N, 748 W. Freguesiade Nossa Senhora da Graça de Póvoa e Meadas, con-celho de Castelo de Vide. Casos Observa-dos/Esperados: 5/0,14. Risco relativo: 38,87; valor dep= 0,001.

Agregado 2: Localização: 3827 N, 780 W. Raio:50,23 km. Casos Observados /Esperados: 26/12,8.Risco relativo: 3,06; valor de p= 0,047.

Discussão, conclusões e recomendações: Os resulta-dos do estudo demonstram que ocorreu uma combi-nação de factores de risco em duas zonas do Alentejo(Agregados 1 e 2) que culminou numa probabilidadede ocorrência de tuberculose 39 vezes maior noAgregado 1 - freguesia de Nossa Senhora da Graça dePóvoa e Meadas no concelho de Castelo de Vide - e 3vezes maior no Agregado 2 (cerca de 50 km).

Estas duas zonas devem ser sujeitas a uma pressãode testagem diferenciada – pelo menos semestral; auma investigação de foco detalhada capaz de identi-ficar todas as explorações-contacto e de desencadearoperações de traceback e de tracefoward; e a um rigoroso controlo de movimentos que inclua tuber-culinizações pré-movimento.

Avaliação bioquímica do stresse físico dos touros de raça Brava de Lide

Ana Caria Nunes1, J. M. Prates2

1Direcção Regional de Agricultura do Ribatejo e Oeste2Faculdade de Medicina Veterinária, UTL

Os touros bravos vivem toda a sua vida (cerca de 4a 5 anos) em regime extensivo sendo "manipulados"apenas antes da lide.

O objectivo deste estudo consiste na avaliação bio-química do stresse físico dos touros, durante as fasesdo trajecto que os mesmos percorrem (o transportedos animais desde a ganadaria à praça de touros ondeirão ser lidados; a lide a cavalo; o transporte da praçade touros para o matadouro).

Assim, relacionaram-se cinco distâncias de trans-porte a partir da ganadaria até às diferentes praças detouros, avaliando o efeito do transporte com o stressprovocado aos animais, com os valores encontradospara os indicadores de stress neuro-endócrino, oxida-tivo e metabólico. Foi avaliado o efeito da lide tauromáquica a cavalo, através da comparação dosvalores indicadores de stress encontrados antes doespectáculo e logo após o mesmo e avaliou-se o efeitodo transporte dos animais desde a praça de touros, apartir das 5 distâncias distintas, até ao destino finaldos animais, o mesmo matadouro.

Para avaliação do estado geral de saúde foram efectuados hemogramas (apenas no repouso e à chegada ao matadouro); para avaliação do stresseneuro-endócrino foram determinadas as concen-trações de cortisol plasmático e a actividade daaldolase; para avaliação do stresse metabólico foramdeterminadas as actividades das enzimas AST, ALT,CK e LDH e para avaliação do stresse oxidativo deter-minou-se a concentração de TBARS e o poder antiox-idante total.

Após a realização deste estudo podemos concluirque:

- O encaminhamento dos animais, o enjaulamento eo percurso destes até à praça de touros parecem serfactores que apenas determinam stress neuro--endócrino, e metabólico, por se verificarem altera-ções comportamentais e fisiológicas (no entanto, apenas ocorre o aumento da CK), não ocorrendostresse oxidativo.

- Todos os parâmetros sobre os quais incidiu esteestudo se revelaram significativamente aumentados nafase respeitante à lide propriamente dita (comexcepção para a ALT), o que indica que se trata da fasecom maior stresse.

- O transporte da praça para o matadouro é a fasefinal do trajecto e aquela que demonstra que, apesarde não existirem alterações a nível oxidativo e dosníveis de cortisol atingirem um valor mais ou menosestável, todos os outros parâmetros sofrem alteraçõessignificativas.

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- Não parecem existir diferenças significativas entreas praças fixas e as praças móveis.

- Não existe correlação entre as distâncias efectua-das e os parâmetros avaliados como indicadores destresse.

Dinâmica de redes e padrão de movimentos de bovinos em Portugal

Filipa Baptista, T. NunesCIISA, Faculdade de Medicina Veterinária, UTL

Considera-se actualmente que a transmissão eevolução dos agentes infecciosos numa população éprofundamente influenciada pelo padrão de contactosdos indivíduos. O movimento de animais constitui umfactor crítico na transmissão de doenças na população,contudo, é ainda pouco conhecida a sua dinâmica decontactos. Deste modo, a análise de redes sociaissurge como uma ferramenta essencial para implemen-tação de medidas sanitárias mais eficazes na prevençãoe controlo de doenças.

Os dados apresentados referem-se aos movimentosde bovinos em vida, em 2005, e foram obtidos atravésda base de dados do SNIRB - Sistema Nacional deIdentificação e Registo de Bovinos. Este estudoabrange todo o território nacional, incluindo asregiões autónomas dos Açores e Madeira.

A localização das marcas foi obtida pela geo-referen-ciação dos centróides das freguesias, através do sistema de informação geográfico ArcGis®. O cálculoda distância de movimentos refere-se à distância eucli-diana entre os centróides. Os movimentos entre distritosforam representados através da extensão Flow Mapper(Flow Data Model Tools v069m). A análise estatísticafoi efectuada através do programa SPSS. Foram consi-derados vários parâmetros para caracterizar a estruturada rede - densidade, centralidade, coeficiente de agru-pamento e transitividade. Esta informação foi processa-da através de um software de análise e visualização deredes de grandes dimensões - Pajek 1.16.

Os resultados obtidos permitem concluir que: nãoexiste variação temporal significativa quer no número delotes, quer no número de animais movimentados; a geo-referenciação das "marcas" (locais de comércio, explo-rações e praças de touros) evidencia a existência de um"cluster" na região Norte, área onde também existemaior número de lotes movimentados. Por outro lado, aregião Centro-sul apresenta lotes de maiores dimensões;O número mais significativo de movimentos ocorre den-tro e entre distritos adjacentes, embora todos os distritosestejam "ligados" entre si; na sua maioria, os movimen-tos seguem uma orientação sul-norte; de entre os registosanalisados, 60% dos animais movimentados são deaptidão carne com idade inferior a 10 meses (dos ani-mais registados na população bovina activa, apenas 31%tem idade igual ou inferior a 12 meses); 80% dos movi-

mentos inserem-se em redes de "curta distância" (< 50Km).A rede analisada é constituída por um elevado número

de componentes isolados, o que reduz a probabilidade deocorrência de uma epidemia a larga escala, a nívelnacional; a distribuição do grau dos vértices analisados,permitiu estimar um valor médio de 5 marcas afectadassecundariamente a um vértice infectado; a análise dacentralidade permitiu identificar 9 vértices com papelpreponderante na estrutura, dos quais se destacam 3locais de comércio na região Norte. Estes pontos identi-ficados são responsáveis pela maior mobilização edinamização das redes e movimentos, sendo por issopontos críticos, quer pelo número, quer pelo tipo de liga-ções que possuem; a baixa densidade, transitividade ecoeficiente de agrupamento revelam a fraca coesão daestrutura global da rede. No entanto, a distância médiaque separa cada 2 vértices na rede é de apenas 6 marcas.

Epizootiologia da leptospirose canina no concelho de Coimbra

Sofia Duarte1, S. Anastácio1, M. Collares-Pereira2

1Departamento de Medicina Veterinária, Escola Universitária Vasco daGama, Coimbra 2Unidade de Leptospirose e Borreliose de Lyme, Instituto de Higiene eMedicina Tropical, Universidade Nova de Lisboa

A leptospirose, considerada a zoonose de maior dis-persão mundial, tem reconhecida importância em SaúdePública e na Produção Animal, afectando um elevadonúmero de espécies silváticas e domésticas (Batista et al.,2005). A patologia é conhecida nos cães desde 1898, soba designação de Doença de Stuttgart, sendo estes animaisconsiderados, depois dos roedores (murinos), a segundafonte de infecção para o Homem, hospedeiro acidental(Brod et al., 2005). Em Portugal Continental, os Distritosde Coimbra e Leiria são os que registam, anualmente, omaior número de casos de leptospirose humana.

De Fevereiro a Junho de 2006, efectuou-se um rastreio serológico para a leptospirose em 271 cãesabatidos no Canil Municipal de Coimbra, provenientesdas 31 freguesias que compõem o concelho. O sorodestes animais foi examinado para pesquisa de anti-corpos anti-Leptospira interrogans sensu lato pelaTécnica de Aglutinação Microscópica (técnica dereferência), utilizando 13 antigénios "vivos" represen-tativos das eventuais estirpes circulantes.

Os resultados obtidos evidenciaram um padrãoserológico diferente na espécie canina, na RegiãoCentro, a par duma importante taxa de infecção porLeptospira sp., tornando indispensável uma caracteri-zação desta zoonose e dos potenciais reservatóriosdomésticos, a nível regional, para um diagnóstico econtrolo mais eficazes, nas populações alvo.

Bibliografia citada: Batista CSA, Alves CJ, Azevedo SS, Vasconcellos SA,

Morais ZM, Clementino IJ, Alves FAL, Lima FS, Neto JOA (2005). Soro-prevalência e fatores de risco para a

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leptospirose em cães de Campina Grande, Paraíba. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., 57 (2), 179-185.

Brod CS, Aleixo JAG, Jouglard SDD, Fernandes CPH, Teieira JLR, Dellagostin OA (2005). Evidência do cão como reservatório da leptospirose humana: isolamento de um sorovar, caracterização molecular e utilização em inquérito sorológico. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 38 (4), 294-300.

Estudos de doenças virais em populaçõesde gatos

A. Duarte1, I. Castro1,Y. Vaz1, I. Pereira da Fonseca1,L. Madeira de Carvalho1, J. Meireles1, E. Delgado1,J. Sales-Luis1, V. Almeida1, N. Santos2,M. Fernandes2, M.I. Fazendeiro1, L. Tavares1

1CIISA, Faculdade de Medicina Veterinária, UTL 2Instituto para a Conservação da Natureza

O estudo de doenças virais em gatos de quatro populações distintas, com dinâmicas próprias, tevecomo objectivos:

1) Conhecer a distribuição e impacto patogénico dequatro vírus dos felinos responsáveis por patogeniasimportantes.

2) Utilizar diferentes metodologias e avaliar a suautilidade enquanto ferramentas de diagnóstico.

3) Iniciar a caracterização genética de alguns dosagentes virais estudados.

Os vírus escolhidos foram o Vírus da Imunodefi-ciência Felina (FIV), o Vírus da Leucemia Felina(FeLV), o Corona Vírus Felino (FeCoV) e o Herpes-virus Felino (FHV). As populações alvo foram (1) ani-mais com ou sem suspeita clínica de doença, (2) gatoserrantes e (3) gatos com vida silvática.

O FIV provoca nos felinos domésticos uma síndromede imunodeficiência adquirida responsável por quadrosclínicos debilitantes, facilitadores do aparecimento deinfecções secundárias com potencial impacto na saúdepública. Actualmente são conhecidos cinco subtipogenéticos com diferente potencial patogénico. Informa-ção sobre a sua prevalência e distribuição contribui parao conhecimento da epidemiologia molecular do vírus.

O FeLV é um vírus oncogénico capaz de provocarno animal infectado uma leucemia grave acompanhadade imunodeficiência, de evolução frequentementemortal. A infecção é altamente contagiosa e emboraexista uma vacina, a sua administração só é efectuadaem animais com comportamento de risco.

O FeCoV e o Vírus da Peritonite infecciosa Felina(FIPV), são considerados dois biotipos virais com diferente potencial patogénico. O FeCoV induz umadoença entérica primária, enquanto o FIPV origina umaperitonite infecciosa dos felinos, uma doença imunomediada de evolução rápida e frequentemente fatal.

O FHV é responsável por diferentes quadros clíni-cos oftalmológicos e respiratórios dos felinos. Apósrecuperação clínica uma percentagem consideráveldos animais tornam-se portadores assintomáticos.

A porção de amostras positivas e o número deamostras testadas para cada população/agente viral,apresentada entre parêntesis, foram: FIV - 15,3%(2851) (Lab. Análises Clínicas FMV) e 13,6% (224)(Proj. Gatos Errantes); FeLV - 7,7% (221) (Proj. GatosErrantes) e 25,0% (Proj. Gatos Silváticos); FHV -25,0% (38) (Rastreio de FHV); FeCov - 7,1% (127)(Proj. Gatos Errantes), 50,0% (8) (Proj. GatosSilváticos) e 46,2% (134) (Lab. Análises Virológicas).

A informação recolhida permitiu-nos aferir arelação entre prevalência e impacto patogénico dasvárias infecções virais nas populações de gatos comdiferentes características. Contribuiu igualmente paraum conhecimento mais profundo da epidemiologiamolecular do FIV e do FeCV e permitiu aferir a uti-lização de novas metodologias de diagnóstico.

Captura e marcação de anatídeos na medicina veterinária preventiva – o casoda Influenza Aviária

David Rodrigues1, Maria Ester Figueiredo2 eAntónio Fabião2

1Departamento Florestal, Escola Superior Agrária de Coimbra, Bencanta,Coimbra2Departamento de Engenharia Florestal, Instituto Superior de Agronomia,Lisboa

De 1993 até Novembro de 2006 foram capturadosmais de 11000 Anatídeos, dos quais mais de 10000foram marcados nasalmente (ver captures em http://pt-ducks.naturlink.pt). As capturas e marcações já permiti-ram a recolha de variada informação útil para veterináriadesde amostras de sangue recolhidas para a determi-nação da concentração de Chumbo (estudando oSaturnismo - ver http://pt-ducks.naturlink.pt), ou para orastreio do Vírus do Nilo e parasitas do sangue (emcolaboração com o Instituto Ricardo Jorge e o Dr. NunoSantos), até à recolha de zaragatoas cloacais para o ras-treio de Samonella spp., Vibrio spp., Plesiomonasshiguelloides, Aeromonas hydrophila, Listeria spp.,Edwardsiella tarda, E. coli (O:157:H:7) e Clostridiumspp. (em colaboração com o Prof. Fernando Bernardo eo CIISA da FMV), ou mais recentemente, no âmbito doprojecto EPIGRIPAVE, para o rastreio da InfluenzaAviária.

Os Anatídeos são considerados como um dos poten-ciais disseminadores dos vírus da Influenza Aviária.Com base nos resultados obtidos através capturas emarcações realizadas em Portugal, assim como dasrecuperações e reavistamentos em Portugal de patosanilhados no estrangeiro, determinaram-se as rotasmigratórias utilizadas nos movimentos. Os Patos-reaisAnas platyrhynchos que se reproduzem em Portugalsão basicamente residentes e as espécies migradoraschegam a Portugal maioritariamente através da rotamigratória Atlântica, passando pelos países da EuropaOcidental onde ocorreram surtos de Influenza Aviária

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no principio de 2006. Se o vírus H5N1, na sua variantealtamente patogénica, encontrar-se instalado nanatureza na Europa Ocidental, este poderá já terchegado a Portugal no Verão, e a sua probabilidade dechegar aumentará até ao fim de Dezembro / principiode Janeiro, especialmente se ocorrer uma vaga de friovinda de Norte/Este e que chegue ao Sul de França,durante esse período.

Tuberculose em javalis no centro e sul dePortugal

Nuno Santos1,3, Margarida Correia-Neves2, VirgílioAlmeida3

1Pygargus Lda, Braga 2Instituto de Biologia Molecular e Celular, Universidade do Porto3Faculdade de Medicina Veterinária, UTL

Objectivo: investigar e caracterizar a presença detuberculose em populações de javalis no centro-sul dePortugal.

Materiais e métodos: Foram recolhidas amostras depulmão e de linfonodos submandibulares, retro-faringeais, traqueo-bronquicos e mesentéricos, dejavalis caçados em 2005/06. As técnicas utilizadaspara determinar a presença de mycobacteria foram:inspecção macroscópica, coloração de Ziehl-Neelsende esfregaços e lâminas histopatológicas, PCR e cul-tura nos meios de Coletsos e 7H11. Foram registadasa idade e sexo sempre que possível e todos os animaisforam geo-referenciados ao local de captura.

Resultados: Foram recolhidas amostras de 139javalis de 7 áreas diferentes, incluindo 85 fêmeas, 30machos e 24 com sexo não registado. Em relação àidade, 12 eram menores de 1 ano, 34 entre 1 e 2 anose 67 tinham mais de 2 anos. Foram encontradas lesõesindicativas de tuberculose em 18 animais de 4 áreas, eem 13 animais foram detactadas mycobactérias emesfregaços de linfonodos corados. Estão em curso asanálises por cultura, PCR e histopatologia. As lesõesmacroscópicas estavam localizadas preferencialmentenos linfonodos submandibulares (73%), traqueo-bron-quicos (55%), retrofaríngeos (40%) e mesentéricos(25%) e nos pulmões (22%).

Conclusões: Este é o primeiro estudo epidemiológicosobre a tuberculose em javalis em Portugal. Os resul-tados preliminares sugerem que a doença se encontrapresente no centro-sul do país. Aparentemente pare-cem existir diferenças de prevalência entre zonas, masa níveis similares aos reportados para outros locais naEuropa. A localização e características das lesõesestão também em concordância com as descriçõespublicadas.

Medicina preventiva em aquacultura

Fernando AfonsoFaculdade de Medicina Veterinária, UTL

A aquacultura constitui uma forma de compensar odeclínio das populações de peixes selvagens. Nos últi-mos anos, tem-se assistido a um grande desenvolvi-mento desta actividade, representando o sector demais rápido crescimento na produção alimentarmundial. Contudo, a aquacultura tem sido confrontadacom alguns problemas. Durante muitos anos, o sectorenfrentou perdas significativas devido a doenças queprovocaram danos económicos. O controlo dasdoenças dos animais aquáticos pode apresentar difi-culdades devido a numerosos factores. Estes incluemos sistemas e os métodos de produção utilizados, adiversidade de espécies produzidas, a qualidade daágua e as doenças que afectam os animais aquáticos.

É fundamental uma observação atenta das popu-lações. Todos os esforços devem ser realizados paragarantir que a densidade das populações e a qualidadeda água sejam correctas. O meio ambiente pode serdirectamente responsável por mortalidade ou ser umfactor que desencadeia ou agrava doenças já exis-tentes. Os sistemas de recirculação em aquaculturapermitem que as características da água sejam cons-tantes e modificáveis, apresentando algumas ligeiras elentas variações. Uma das medidas de prevenção dedoenças mais eficazes é a vacinação, apesar da suaaplicação apresentar cuidados e precauções quedevem ser tomadas.

A implementação e aplicação de medidas de biosse-gurança nas explorações é fundamental para garantir asegurança alimentar, a sanidade animal e o bem-estardos animais. As estratégias de medicina preventivadevem ser estabelecidas para cada uma das unidadesde produção para assegurar o desenvolvimento e osucesso da aquacultura.

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Painel "Segurança Alimentar"

Redução de Salmonella na produçãoprimária avícola como objectivo de segurança alimentar

Ana Martins, R. SerenoControlvet, Tondela

Os produtos de origem avícola, são consideradoscomo estando na origem de uma grande parte dasintoxicações alimentares por Salmonella. Foram iden-tificados os cinco serótipos mais frequentemente asso-ciados a estas intoxicações alimentares (Salmonellaenteritidis, S. tiphymurium, S. infantis, S. hadar, S. virchow). A produção de carne de aves obedece asistema organizado, destacando-se as seguintes fases:bandos de reprodutoras (responsáveis pela produçãode ovos para produção de pintos); incubação de ovos eprodução de pinto do dia, engorda, transporte e abate,transformação e comercialização. Em qualquer umadestas fases poderá ocorrer infecção por Salmonella,contudo a transmissão vertical está identificada comouma das causas da contaminação do produto finalmais frequente. A infecção de bandos de reprodutorasproduz efeito multiplicador no número de isoladospositivos ao longo das restantes fases do processo,verificando-se o designado "efeito pirâmide" Torna-sepor isso fundamental começar por actuar na fase inicial do processo. O Regulamento 2160/2003 de 17de Novembro prevê o estabelecimento de objectivosde redução da prevalência de Salmonella na produçãoprimária e estabelece os controlos a efectuar. ORegulamento 1003/2005 de 30 Junho estabelece quaisos principais serótipos a considerar em bandos dereprodutoras, bem como o objectivo (a atingir até 31Dezembro de 2009) de redução de bandos positivos deaves adultas em reprodução, para menos de 1%. A estamedida, que por si só deverá ter um impacto conside-rável na redução de produtos cárneos positivos aSalmonella, deverão ser associadas um conjunto deoutras medidas tais como: a implementação de regrasde boas práticas nos centros de incubação diminuindoos riscos de contaminação cruzada; medidas debiossegurança adequadas nos estabelecimentos de criação de aves de carne; controlo das aves antes doabate de forma a serem conhecidos os resultados antesda saída do bando; programação da ordem de abate emfunção dos resultados analíticos obtidos e do históricodas explorações; estabelecimentos de abate com sis-tema HACCP implementado e com inter-relação coma criação de aves.

Em 2010 os critérios microbiológicos a aplicar aprodutos cárneos produzidos a partir de produtos avícolas serão alterados. Para que se consiga nessaaltura produtos que cumpram o critério é necessáriotomar medidas que visam a redução da prevalência de

Salmonella. Os objectivos de redução de Salmonellana produção primária surgem então como pioneiros nocaminho a ser traçado pela comissão Europeia no querespeita aos "FSO" (food safety objectives).

Segurança alimentar na restauração de eventos

João Villa de BritoSociedade Estoril-Sol, Escola Superior de Hotelaria do Estoril

O Turismo de Eventos é considerado um mercadoemergente e uma oportunidade para Portugal surgircomo um destino internacional na organização demega-eventos. A restauração constitui um pilar importante deste Turismo. À restauração de eventos,realizada por estabelecimentos cuja actividade sepoderá considerar de restauração comercial e tradi-cional, associada a restauração colectiva, têm sidorelacionados factores críticos, para a SegurançaAlimentar, potencialmente responsáveis por causaremDoenças de Origem Alimentar, nos consumidores. Aidentificação destes factores críticos, na restauraçãode eventos, revela-se assim essencial para a imple-mentação de medidas adequadas de prevenção deDoenças de Origem Alimentar.

O objectivo desta comunicação é apresentar o resul-tado de um estudo efectuado em estabelecimentos derestauração de eventos em Portugal, para a identifi-cação destes factores críticos.

Dentro destes factores críticos encontram-se osseguintes: a) Deficiente controlo de temperaturas namanutenção (a quente e frio) dos alimentos confec-cionados; b) Inadequados procedimentos para oarrefecimento e re-aquecimento dos géneros alimenta-res; c) Contaminação cruzada de alimentos crus paraalimentos prontos a comer; d) Contaminação a partirdos equipamentos, manipuladores ou consumidores;e) Utilização de preparações culinárias de risco, asso-ciadas epidemiologicamente a surtos de toxinfecçõesalimentares; f) Alimentos preparados com muita ante-cedência, relativamente ao momento esperado para oconsumo; g) Excesso de produção de alimentos, compossíveis sobras; h) Tempo e Temperaturas deexposição dos alimentos elevados; i) Admissão depessoal extra.

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Restauração e hotelaria – desafios emsegurança alimentar

Carlos BrandãoEscola Superior de Hotelaria do Estoril

Análise dos dados microbiológicos darestauração colectiva: INSA Lisboa 2005

Cristina Belo CorreiaLaboratório de Microbiologia dos Alimentos / Centro de SegurançaAlimentar e Nutrição, Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge,Lisboa

Desde há três décadas que o controlo higio-sanitárioda restauração colectiva é uma das actividades labora-toriais relevantes do Laboratório de Microbiologia dosAlimentos (LMA) do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) de Lisboa. Este controloconsiste, fundamentalmente, na realização de visitasperiódicas a unidades de restauração colectiva,durante as quais é efectuada a colheita de amostraspara análise microbiológica - refeições prontas acomer e esfregaços em loiças ou utensílios higieniza-dos, para além da verificação das condições estrutu-rais e de manipulação existentes.

A partir de 2005 os resultados analíticos passaram aser apreciados face aos "Valores Guia para avaliaçãoda qualidade microbiológica de alimentos prontos acomer preparados em estabelecimentos de restau-ração", documento elaborado pelos Laboratórios deMicrobiologia dos Alimentos do INSA de Lisboa ePorto, com base nos "Guidelines for the microbiolo-gical quality of some ready-to-eat foods sampled atthe point of sale".

A apresentação dos dados microbiológicos tem porobjectivo a divulgação do nosso trabalho, realizadoem 2005, no âmbito do controlo da restauração colectiva.

Após a análise dos dados que reflectem os resulta-dos da avaliação da qualidade nas diversas amostras,colhidas em diferentes unidades, verifica-se que:

1) De um total de 895 amostras de refeições anali-sadas, 40% revelaram um nível de qualidadeSatisfatório, 39% Aceitável, 20% Não Satisfatório e1% Inaceitável/Potencialmente Perigoso.

No que se refere às refeições com um nível NãoSatisfatório, 39% pertencem ao grupo II, 32% aogrupo III e 29% ao grupo I, sendo os microrganismosaeróbios mesófilos e os microrganismos indicadores,os parâmetros mais frequentemente acima do valorestabelecido. No que diz respeito à proveniência 35%destas refeições foram colhidas em Jardins deInfância/Escolas/Lares e 7% em Hospitais.

Relativamente às refeições com um nível de quali-dade Inaceitável/Potencialmente Perigoso, 40% per-tencem ao grupo I, 40% ao grupo II e 20% ao grupoIII, sendo a Listeria monocytogenes e a Escherichia

coli os microrganismos patogénicos detectados. Noque respeita à proveniência das amostras, 80% destasrefeições foram colhidas em Hospitais e 20% em esta-belecimentos de Ensino Superior, situação extrema-mente preocupante no caso dos hospitais devido aograu de vulnerabilidade dos seus utentes.

2) De um total de 478 amostras de esfregaços anali-sados, 77% revelaram um nível de qualidadeSatisfatório e 33% Não Satisfatório. Relativamente aotipo de unidades onde foram efectuados, 60% sãoprovenientes de Jardins de Infância/Escolas/Lares e13% de Hospitais.

Atendendo a que um nível de qualidade NãoSatisfatório ou Inaceitável/Potencialmente Perigosopode revelar uma ineficácia do sistema de autocontrolo,é fundamental uma análise cuidada dos resultados euma correcta interpretação dos mesmos por parte dosresponsáveis, de modo a envolver todo o pessoaldesde os manipuladores até à gestão de topo e desen-cadear as necessárias acções correctivas.

Produtos cárneos e toxinfecções alimentares – perspectivas dessa associação

Luís PatarataUniversidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, CECAV, Vila Real

A carne e produtos cárneos são frequentementeassociados a surtos de toxinfecções alimentares.Sintetizando alguma informação publicada, verifica-se que os agentes etiológicos mais frequentementeisolados nesses são Salmonella spp., S. aureus,Clostridium botulinum, Listeria monocytogenes. Nemsempre se distingue que tipos de produtos cárneosestiveram na base desses incidentes, sendo comumatribuir a responsabilidade ao grupo "carne e produtoscárneos", o que dificulta a interpretação desses surtospara compreender o que falhou. Há porém indicaçõesde que muitos desses incidentes estiveram associadosao consumo de refeições com produtos cárneos cujasegurança depende do processamento culinário, emcontextos de restauração/cafetaria, e que muitosenvolveram produtos tratados termicamente (afi-ambrados, enchidos cozidos). Aos produtos cárneosnos quais se enquadra a maioria dos de salsichariatradicional portuguesa – os secos curados/fermenta-dos – tem sido também atribuída a responsabilidadeem vários incidentes.

Num momento em que o processamento térmicopassou a ser prática comum no fabrico de uma vastagama de produtos de salsicharia tradicional portugue-sa, deve reflectir-se se, ao modificar os processos –com implicações inequívocas em termos de carac-terísticas sensoriais, variabilidade de oferta e rendi-mento – a capacidade de conservação e segurança sanitária não será afectada, pois a modificação que é

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operada no ecossistema microbiano desses produtospelo tratamento térmico pode ter consequências, nemsempre positivas.

Assim, sabe-se que no fabrico de enchidos não pas-teurizados, existe uma microflora específica quedesempenha um papel vantajoso, cuja importânciapode ser determinante ao nível sensorial e da segu-rança sanitária. Essa microflora é constituída funda-mentalmente por bactérias do ácido láctico(Lactobacillus sakei, L. plantarum). O mecanismo daacção envolvido no controlo da microflora patogénicaou deteriorativa nem sempre é passível de ser indivi-dualizado, dado a interacção entre a capacidade decompetição, produção de ácidos orgânicos e bacterio-cinas, assim como a eventual produção de outros compostos com carácter antimicrobiano. Existemevidências experimentais obtidas com enchidos portugueses que indicam que a utilização de BAL emníveis elevados conjuntamente com nitrito e a reduçãoda actividade da água, têm um efeito determinante nasegurança sanitária dos enchidos, no que se refere a S. aureus, L. monocytogenes e Salmonella spp.

Percepção do Mercado relativamente àcarne de bovino

Magda Aguiar Fontes1, M. Banovic1, A. C. Lopes2,M. M. Barreira2

1Faculdade de Medicina Veterinária, UTL2 Instituto Superior de Agronomia, UTL

A problemática da qualidade e da segurança alimentartem vindo a assumir uma importância crescente empaíses desenvolvidos e os consumidores deste novomilénio têm exigências, gostos e preferências, que vãono sentido de uma maior procura de bens alimentaresmais seguros e de maior qualidade. O sector da carnede bovino tem estado particularmente sujeito a estasexigências e uma das formas que o mercado temusado para lhes dar uma resposta é através do apareci-mento de produtos de maior qualidade e segurança,bem como o uso de sinais para o transmitir, em particular quando se tratem de atributos acreditados.Os produtos de qualidade específica são disto umexemplo. Com o objectivo de: (i) identificar os atributosmais importantes nas decisões de compra de carne debovino; (ii) tentar perceber qual o efeito da BSE noconsumo de carne de bovino no curto e no longoprazo, (iii) saber se os consumidores conheciam a designação DOP e o que esta lhes transmitia; (iv)identificar a percepção dos consumidores portuguesesem relação à qualidade da carne de bovino DOP e aavaliação que fazem desta carne em relação a outrascarnes e, por último, (v) tentar perceber o efeito daBSE no consumo de carne de bovino DOP, tudo rela-tivamente aos consumidores portugueses, foram realizados inquéritos a uma amostra de 780 consumi-

dores em Portugal, no âmbito do Projecto Agro 422.Uma análise preliminar dos dados obtidos com estesinquéritos é aqui apresentada. Para os consumidoresinquiridos, os atributos considerados como muitoimportantes na decisão de compra de carne de bovinosão: sabor, saúde e apresentação/aspecto, contudo opreço é considerado importante. Uma análise factorialpermite concluir que os inquiridos diferenciam osnove atributos considerados agrupando-os em trêsgrupos distintos: "sabor e saúde", "conveniência" e"preço e aspecto". Em termos de reacção à BSE, logoapós o seu aparecimento, cerca de 58% dos consumi-dores inquiridos referiu consumir a mesma quantidadede carne de bovino, 34% referiu consumir menos e 7%diz ter deixado de consumir. Por outro lado, em termosde carne de bovino DOP, 53% referiu não saber (o quedeverá estar relacionado com o facto de cerca de 56%dos inquiridos não saber o que significa a designaçãoDOP), 33% referiu consumir a mesma quantidade, 8%referiu consumir mais e apenas 6% disse consumirmenos, valores que parecem reflectir um comporta-mento diferente em relação à carne de bovino emgeral. Estes resultados serão agora alvo de análisesmais aprofundadas.

Critérios microbiológicos: nova legislaçãoda UE

Celcidina Pires GomesLaboratório Nacional de Investigação, Veterinária. Serviço de Microbiologia Alimentar do Departamento de HigienePública

Um dos objectivos fundamentais da legislação alimentar Europeia é assegurar um elevado nível deprotecção do consumidor no que diz respeito à segu-rança dos alimentos, tal como vem definido noRegulamento (CE) nº178/2002 do ParlamentoEuropeu e do Conselho, de 28 de Janeiro de 2002a.Este Regulamento estabelece requisitos gerais desegurança dos géneros alimentícios, segundo os quaisnão devem ser colocados no mercado os géneros alimentícios que não sejam seguros, tendo os operadores das empresas do sector alimentar o deverde retirar do mercado os alimentos não seguros.

Dos perigos associados aos alimentos, físicos,químicos ou biológicos, são estes, e mais precisa-mente os microbiológicos os que acarretam maiorrisco e de controlo mais difícil, constituindo uma dasprincipais causas de doenças transmitidas pelos ali-mentos que afectam o ser humano. Assim, os génerosalimentícios não devem conter microrganismos nemas suas toxinas e/ou metabolitos em quantidades querepresentem um risco inaceitável para a saúde humana.

A fim de contribuir para a protecção dos consumi-dores e evitar interpretações divergentes, tornou-senecessário, estabelecer critérios de segurança harmo-

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nizados em relação à aceitabilidade dos alimentos,designadamente no que se refere à presença de certosmicrorganismos patogénicos.

Enquanto a legislação Comunitária referente àhigiene dos alimentos e ao controlo das zoonoses esta-va a ser revista houve também a necessidade de reveros critérios microbiológicos na legislaçãoComunitária vigente. Assim, a Comissão entendeuque enquanto se aguardava pelas avaliações formaisde riscos, se deveria definir, com carácter transitório,critérios microbiológicos para os géneros alimentíciossob a forma de Regulamento que acompanhasse aquelepacote legislativo, tendo em consideração que osRegulamentos 853/2004b e 2160/2003c já incluíamalgumas provisões de critérios para microrganismos,parasitas e biotoxinas marinhas.

Neste contexto, o Comité Científico das MedidasVeterinárias Relacionadas com a Saúde Pública(CCMVSP) inquirido sobre o estado da legislação referente aos critérios microbiológicos dos génerosalimentícios, deu a sua opinião, elaborando um parecer em 23 de Setembro de 1999, no qual concluiuque os critérios vigentes, numerosos, variados e esti-pulados em diferentes legislações, não foram baseadosnuma avaliação formal de riscos nem em princípiosaprovados internacionalmente. O parecer recomendaque os critérios microbiológicos deverão ser rele-vantes e eficazes, em relação à protecção da saúde doconsumidor e a sua aplicação deverá ser praticável.Quando os critérios forem revistos, deverão ser harmonizados e ser considerada a existência de problemas relacionados com patogénicos emergentesde origem alimentar usando-se uma abordagem hori-zontal. Deverão ser seguidos, também, na revisão doscritérios microbiológicos vigentes ou na fixação denovos critérios, os Princípios do Codex Alimentarius eas recomendações dos Comités Científicos da UniãoEuropeia e ser consultada a Autoridade Europeia paraa Segurança dos Alimentos. Na pendência das avalia-ções formais de riscos, o CCMVSP propôs, comomedidas transitórias, determinados critérios revistos.

No seguimento destes aconselhamentos e no quadrodesta remodelação surgiu a necessidade de se estabe-lecer uma estratégia Comunitária para a fixação eimplementação dos critérios microbiológicos naUnião Europeia. Assim, a comunicação da Comissão(SANCO/1252/200d), relativa à estratégia Comunitáriapara o estabelecimento de critérios microbiológicosdestinados aos géneros alimentícios, descreve aestratégia a seguir para o estabelecimento e revisãodos critérios na legislação Comunitária. A estratégiainclui os princípios para o desenvolvimento e apli-cação dos mesmos e as propostas de medidas a seremtomadas no caso de resultados não satisfatórios. Amesma reconhece o papel limitado dos critériosmicrobiológicos neste quadro legislativo que eviden-cia o controlo dos perigos nas operações das empresasdo sector alimentar. Abrange os géneros alimentícios e

a cadeia alimentar de modo semelhante ao que estáproposto na nova legislação Comunitária sobrehigiene dos alimentos, devendo ser aplicada sempreque sejam definidos critérios microbiológicos.

a - JO L 31 de 1.2.2002, p.1. Regulamento com aredacção que lhe foi dada pelo Regulamento (CE)Nº1642/2003 (JO L 245 de 29.9.2003, p.4)

b - Reg. 853/2004 do Parlamento Europeu e doConselho de 29.04.2004, que estabelece regras especí-ficas de higiene aplicáveis aos géneros alimentícios deorigem animal (JO L 226 de 25.6.2004, p.22 )

c - Reg. 2160/2003 do Parlamento Europeu e doConselho de 17.11.2003, relativo ao controlo desalmonelas e outros agentes zoonóticos específicos deorigem alimentar (JO L 325 de 12.12.2003, p.1)

d - SANCO/1252/2001, rev 11. Discussion paperon strategy for setting microbiological criteria forfoodstuffs in Community legislation.

e - Reg. 852/2004 do Parlamento Europeu e doConselho de 29.04.2004, relativo à higiene dosgéneros alimentícios, que estabelece regras geraisdestinadas aos operadores das empresas do sector ali-mentar no que se refere á higiene dos géneros alimen-tícios (JO L 226 de 26/06/2004)

f - Reg 882/2004 do Parlamento Europeu e doConselho de 29.04.2004, relativo aos controlos oficiaisrealizados para assegurar a verificação do cumpri-mento da legislação relativa aos alimentos para ani-mais e aos géneros alimentícios e das normas relativasà saúde e ao bem-estar dos animais.

Tendo em consideração esta estratégia, a Comissãodas Comunidades Europeias colocou à discussão, em2001, o Projecto de Regulamento relativo a critériosmicrobiológicos aplicáveis aos géneros alimentícios,tornando-se importante rever os critérios microbi-ológicos estabelecidos para certas categorias de ali-mentos de origem animal em Directivas revogadas eestabelecer novos critérios em conformidade com osaconselhamentos científicos. Após 20 revisões, esteprojecto foi publicado sob a forma de Regulamento noJornal Oficial da União Europeia L338 em 22 deDezembro de 2005. Assim, o Regulamento (CE)Nº2073/2005 da Comissão de 15 de Novembro de2005, relativo a critérios microbiológicos aplicáveisaos géneros alimentícios, tem por objectivo imple-mentar provisões do Regulamento (EC) 852/2004e,que constitui a sua base legal, harmonizar os critériosmicrobiológicos na União Europeia e estabelecer doistipos de critérios, critérios de segurança dos génerosalimentícios e critérios de higiene dos processos, bemcomo regras de execução, para serem cumpridos pelosoperadores das empresas do sector alimentar. EstesCritérios deverão ser aplicados somente onde foremnecessários e a sua aplicação for praticável. As autori-dades competentes devem verificar o cumprimentodas regras e critérios estipulados neste regulamento,em conformidade com o Regulamento 882/2004f, semprejuízo de proceder a outras amostragens e análises,

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pesquisar e quantificar outros microrganismos, suastoxinas e/ ou metabolitos. Em conformidade com oRegulamento 882/2004, os Estados Membros devemassegurar que os controlos oficiais sejam realizadosregularmente, em função dos riscos e com uma fre-quência adequada, nas fases apropriadas da produção,transformação e distribuição dos géneros alimentícios,de modo a assegurar que os critérios, estipulados noRegulamento 2073/2005, são cumpridos pelos opera-dores das empresas do sector alimentar.

Os critérios microbiológicos estabelecidos noRegulamento 2073/2005 devem estar abertos a reexamee, se necessário, serem revistos ou completados tendoem conta a evolução no domínio da segurança dosgéneros alimentícios e da microbiologia alimentar, o que inclui os progressos registados na ciência, tecnologia e metodologia, as alterações de prevalênciae níveis de contaminação, a evolução da população deconsumidores sensíveis bem como os eventuais resul-tados das avaliações de riscos. A Comissão deve con-sultar a Autoridade Europeia para a Segurança dosAlimentos antes de propor critérios microbiológicos.

Posters

Quantificação da presença do Vírus da Diarreia Viral Bovina nas exploraçõesleiteiras da ilha Terceira e sua distribuição

S. Benevides1, L. Flor1, F. Garrett1, H. Martins1,F. Lima1, P. Lima1, J. Moreira da Silva2,J. Niza-Ribeiro3,4

1Laboratório Regional de Veterinária, Direcção de Serviços deVeterinária, Serviços de Desenvolvimento Agrário da ilha Terceira,Direcção Regional do Desenvolvimento Agrário, Secretaria Regional daAgricultura e Florestas, Angra do Heroísmo 2Universidade dos Açores, Departamento de Ciências Agrárias, Angrado Heroísmo 3Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto4Laboratório de Sanidade Animal e Segurança Alimentar (Segalab, SA),Porto

Introdução: O vírus da diarreia viral bovina (VDVB),agente patogénico muito comum em populações debovinos em todo o mundo, pode causar consideráveisprejuízos em explorações infectadas, devido ao seuvasto efeito quer na saúde quer na produção, incluin-do redução na produção de leite, diminuição da performance reprodutiva, atraso no crescimento, diarreias graves, refugo precoce e aumento da mortali-dade, sobretudo em animais mais jovens. Se ainfecção com o vírus da diarreia viral bovina ocorrerem fêmeas entre os 40 e 120 dias de gestação existe orisco de nascerem vitelos imunotolerantes ao vírus eque permanecem persistentemente infectados paratoda a vida (Niskanen et al., 1996). Estes animais sãoresponsáveis pela eliminação permanente de VDVBpara o ambiente, contaminando os animais cohabi-tantes e são conhecidos como PI (infectados de formapersistente). O primeiro objectivo do trabalho foideterminar a prevalência de explorações com níveis de anticorpos positivos do VDVB no leite de conjun-to/tanque na ilha Terceira, através da utilização ummétodo comercial, baseado na técnica do ELISA (LSI,Laboratoire Service International), o qual possui anti-corpos monoclonais contra a proteína não estruturaldo vírus, a p80. O segundo, consistiu na avaliação da distribuição geográfica das explorações mais infectadas com o VDVB. Material e Métodos: Foram colhidas amostras de leitede conjunto/tanque de 799 explorações leiteiras(abrangendo 21178 vacas em lactação), em Maio de2004, representando 74,6% (799/1071) das explo-rações leiteiras da ilha Terceira. Foi efectuado umquestionário estruturado a todos os produtores, paraidentificar alguns detalhes de maneio importantes,incluindo as práticas de vacinação adoptadas nasexplorações. Todas as explorações foram geografica-mente localizadas através de um Sistema InformáticoGeográfico (SIG), existente nos Serviços de Desenvol-

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vimento Agrário da ilha Terceira. As amostras de leitede conjunto/tanque foram testadas pela técnica ELISApara detecção de anticorpos do VDVB. Os resultadosdo ELISA foram expressos em percentagem deinibição (%INH), de acordo com as instruções do fab-ricante. As explorações foram categorizadas em trêsclasses de seroprevalencia esperada de acordo com oscritérios propostos por Beaudeau et al. (2001), osquais permitem correlacionar o resultado obtido noELISA em amostras de leite tanque com a proporçãode vacas em lactação que se apresentam seropositivas.Estes critérios indicam que as explorações com sero-prevalência baixa (entre 0% e 10%), moderada (entre10% e 30%) e elevada (entre 30% e 100%), apresen-tam as respectivas percentagens de inibição noELISA, %INH<35%, 35≤%INH<60% e ≥60%INH,em amostras de leite de tanque. Para a comparação defrequência de explorações encontradas nas diferentesclasses de seroprevalência esperada, utilizou-se o testeQui-quadrado (X2). A prevalência real de exploraçõescom níveis de anticorpos positivos do VDVB foi esti-mada através da correcção da prevalência aparente(Martin et al., 1987). Resultados: Entre as explorações não vacinadas aprevalência real estimada foi de 94,2%.

A proporção de resultados positivos foi a mesma emexplorações vacinadas e não vacinadas contra oVDVB (P>0,05), sugerindo que a vacinação não inter-fere significativamente com a resposta da %INH obti-da pelo ELISA em amostras de leite de conjun-to/tanque, como reportado por Niza-Ribeiro et al.(2004), no "Entre Douro e Minho". As explorações categorizadas na classe onde se espera que a sero-prevalência de vacas em lactação se encontre entre30% e 100% (%INH≥60%) representaram 71,3% dototal das explorações trabalhadas e a sua localizaçãogeográfica revelou que estas se encontram distribuídasde forma homogénea por toda a ilha.Discussão e conclusões: O nosso estudo permitiu, pelaprimeira vez, avaliar a prevalência de explorações leiteiras com níveis de anticorpos positivos do VDVBe fazer a sua localização geográfica. Os resultadosrevelam que existe uma elevada probabilidade deexposição ao VDVB entre as explorações leiteiras dailha Terceira. Devido ao facto das explorações com%INH≥60% no leite de tanque terem uma probabili-dade quatro vezes maior de possuir animais PI, comoreportado por Niza-Ribeiro et al. (2004), no "EntreDouro e Minho", espera-se que exista um númeromoderado a elevado de animais PI na ilha. Em con-clusão, certamente que o controlo do VDVB na ilhaTerceira terá um impacto importante, quer na melhoriada saúde e bem-estar animal como também na reduçãodas perdas económicas ao nível das explorações.

Avaliação da prevalência de vacasseropositivas ao Herpesvirus Bovino 1 nasexplorações leiteiras da ilha Terceiraatravés da utilização de um ELISA indirecto em amostras de leite de tanque

S. Benevides1, L. Flor1, F. Garrett1, H. Martins1,F. Lima1, P. Lima1, J. Moreira da Silva2,J. Niza-Ribeiro3,4

1Laboratório Regional de Veterinária, Direcção de Serviços deVeterinária, Serviços de Desenvolvimento Agrário da ilha Terceira,Direcção Regional do Desenvolvimento Agrário, Secretaria Regionalda Agricultura e Florestas, Angra do Heroísmo2Universidade dos Açores, Departamento de Ciências Agrárias, Angrado Heroísmo3Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto4Laboratório de Sanidade Animal e Segurança Alimentar (Segalab, SA),Porto

Introdução: A Rinotraqueíte Infecciosa Bovina/Vul-vovaginite Pustular Infecciosa (IBR/IPV), causadapelo Herpesvírus Bovino 1 (BoHV 1), é uma doençado gado bovino que se encontra mundialmente dis-tribuída, mas tem sido erradicada de vários paísescomo a Áustria, Dinamarca, Finlândia, Suécia, assimcomo na Suiça e inclusivamente têm-se iniciado pro-gramas de controlo noutros países da Europa. O nomeda doença revela os sinais clínicos mais proemi-nentes, aqueles relacionados com o tracto respiratóriosuperior tornam-se aparentes após um período deincubação de cerca de 2-4 dias. A infecção podeinduzir também o aborto e uma diminuição da pro-dução de leite. Nas explorações onde é utilizada amonta natural, as infecções genitais podem provocarvulvovaginite pustular nas fêmeas e balanopostite nosmachos. O aspecto mais importante da epidemiologiado BoHV 1 é a sua latência em animais infectados. Aavaliação e a monitorização da prevalência dasinfecções do BoHV 1 nas explorações leiteiras utilizando amostras de leite de tanque, é muito impor-tante quando estão a decorrer programas de controlo.O objectivo do presente trabalho foi analisar se a proporção de vacas seropositivas nas explorações leiteiras influência de forma significativa o resultadoobtido a partir do ensaio imunoenzimático ELISA noleite de conjunto/tanque. Para se poder categorizar,posteriormente, as explorações leiteiras da ilha deacordo com a sua classe de seroprevalência esperadaatravés da utilização de um ELISA Indirecto gB emamostras de leite de conjunto/tanque. Material e métodos: Foram colhidas amostras de leite deconjunto/tanque de 799 explorações leiteiras (abrangen-do 21178 vacas em lactação), em Maio de 2004, repre-sentando 74,6% (799/1071) das explorações leiteiras dailha Terceira. Foi efectuado um questionário estruturadoa todos os produtores, para identificar alguns detalhes demaneio importantes, incluindo as práticas de vacinaçãocontra o BoHV 1 adoptadas nas explorações. Todas asexplorações foram geograficamente localizadas através

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de um Sistema Informático Geográfico (SIG). Asamostras de leite foram testadas através de um ELISAgB indirecto para detecção de anticorpos do BoHV 1.Os resultados do ELISA foram expressos como S/P(sample to postive ratio) de acordo com as instruções dofabricante. As explorações foram categorizadas em trêsclasses de acordo com o seu resultado S/P como sesegue: Classe 1 (C1) S/P<1, Classe 2 (C2) 1≤S/P<6,Classe 3 (C3) S/P≥6. Um grupo de 36 explorações, nototal, foi seleccionado aleatoriamente e de forma pro-porcional em cada classe. Foram colhidas na mesmasemana amostras de sangue a todas as vacas das explo-rações seleccionadas, assim como amostras de leite deconjunto/tanque das respectivas explorações. Para adetecção de anticorpos do BoHV 1 nas amostras desangue utilizou-se o ELISA de bloqueio gB da SYNBI-OTICS® e para a pesquisa de anticorpos do referidoagente no leite de conjunto/tanque o ELISA indirectogB do LSI®. Os dados relativos à seroprevalência nasexplorações e a sua relação com o resultado obtido peloELISA no leite de conjun-to/tanque foram analisadosatravés do coeficiente de correlação de Pearson e deuma regressão linear. A diferença da proporção deexplorações encontrada nas diferentes classes foi avalia-da através do teste Qui-quadrado. O intervalo de confiança utilizado foisempre de 95%. A sensibilidade e especificidade aonível da exploração foram determinadas, sendo assimpossível estimar a prevalência real de explorações leiteiras da ilha Terceira com níveis de anticorpos positivos do BoHV 1, fazendo-se para tal a correcção daprevalência aparente. Resultados: O coeficiente de cor-relação de Pearson entre a seroprevalência nas explo-rações e o resultado S/P obtido no ELISA em amostrasde leite de conjunto/tanque foi de 0,78 e o beta foi sig-nificativo. A sensibilidade do ELISA indirecto para detecção de explorações infectadas com oBoHV 1, para um cut of S/P≥1, foi de 78% e a especifi-cidade foi próxima dos 100%. A seroprevalência obtidanas explorações das classes 1, 2 e 3 foi respectivamente:4,3%, 22,7% e 55,2%. A seroprevalência mediana obti-da nas explorações das classes 1, 2 e 3 foi respectiva-mente, 2,3%, 19,4% e 37,2%. Foi estimada a prevalên-cia real de explorações leiteiras da ilha Terceira em cadauma das três classes, sendo esta como se apresenta aseguir: C1=57%, C2=49% e C3= 21%. Todas as explo-rações pertencentes à classe 3 foram geograficamentelocalizadas, verificando-se que estas se encontram dis-tribuídas de forma homogénea por toda a ilha. Discussão e conclusão: Podemos concluir neste estudo,que existe uma correlação positiva estatisticamente sig-nificativa entre a proporção de vacas seropositivas aoBoHV 1 nas explorações leiteiras e as classes de resul-tados S/P obtidos no ELISA indirecto em amostra deleite de conjunto/tanque. Com base nestes resultados épossível propor que as explorações que apresentam umresultado S/P no ELISA em amostras de leite de conjun-to/tanque entre 0 e 1, possuem em uma seroprevalência

baixa – em média 4,3% (1,5%-7,1%), aquelas com umresultado entre 1 e 6 possuem uma seroprevalência mod-erada em média 22,7% (17,2%-28,2%) e as exploraçõescom resultados superiores ou iguais a 6 apresentam umaseroprevalência elevada em média 55,2% (50,8%-59,6%). Os resultados obtidos neste estudo contribuempara a interpretação de resultados epidemiológicos, namonitorização em programas de controlo ao nível daexploração ou da região ambos com base em amostrasde leite de conjunto/tanque.

Streptococcus agalactiae isolado de um casode mastite bovina: estudos num modelo deratinho

Gabriela Trigo1,2, E. B. Andrade1, M. Dinis1,2,

P. Ferreira1,2, F. Gartner1, D. Tavares1,2

1Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), Universidade do Porto2Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC), Porto

A bactéria S. agalactiae é um parasita obrigatório daglândula mamária bovina onde causa, na maioria doscasos, uma infecção crónica e subclinica com umimpacto substancial na quantidade e qualidade do leiteproduzido.

O presente estudo tem como objectivo estabelecer ummodelo experimental de mastite induzida por S. agalactiae em ratinho, e com este modelo perceber osmecanismos de patogenicidade da bactéria. A infecçãomamária foi induzida em fêmeas BALB/c, entre os 10º-15º dias de lactação com 1_108 células de S. agalactiae(serotipo II) isolado de um caso de mastite bovina.

A avaliação da colonização da glândula mamária aolongo da cinética de infecção mostrou que a bactériase multiplica na glândula mamária durante asprimeiras 24-48 horas, após o que começa a verificar-seum controlo do crescimento da bactéria por parte dohospedeiro, mantendo-se todavia a colonização atéaos 15 dias de infecção. A análise histopatológica revelou um infiltrado inflamatório mononuclear noparenquima mamário adjacente, característico de umprocesso inflamatório agudo nos tempos iniciais dainfecção. O processo evoluiu para uma mastite cróni-ca a partir dos sete dias de infecção, visível por uminfiltrado inflamatório misto multifocal e difuso, constituído por macrófagos, linfócitos, plasmócitos ealguns escassos neutrófilos. Aos quinze dias após ainfecção há atrofia do parênquima mamário, que ésubstituído por tecido adiposo. Ao longo da cinéticade infecção foi feita a avaliação da produção de anti-corpos contra as proteínas secretadas e contra as proteínas constituintes da bactéria. Verifica-se que ainfecção intramamária com S. agalactiae induz umaprodução de anticorpos IgA contra as proteínas secre-tadas e contra os antigénios totais da bactéria, na glân-

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dula mamária dos animais, detectáveis aos 7 dias deinfecção. O título de anticorpos IgG1 contra as proteínassecretadas e contra os antigénios totais é significativa-mente superior, aos 10 e 15 dias após a infecção, nosanimais infectados relativamente aos animais controlo,na glândula mamária. No soro há um aumento do títulode anticorpos IgG1 contra as proteínas secretadas aos15 dias após a infecção. O título de anticorpos IgG1,no soro, contra os antigénios totais é superior nos animais infectados, aos 10 e 15 dias de infecção, rela-tivamente aos animais controlo.

Tendo em conta os resultados obtidos, podemosconcluir que conseguimos estabelecer um modelo demastite induzida por S. agalactiae em ratinho, o quevai ser importante para o estudo e a compreensão dapatogenia da mastite por S. agalactiae com vista aobtenção de novas estratégias de prevenção da doença.

Este trabalho foi financiado pela Fundação para aCiência e a Tecnologia (FCT) POCTI/CVT/57144/2004e FEDER.

Rastreio Apícola Nacional 2006

Francisco Santos1, Y. Vaz2, M. J. Valério3,S. Quintans1

1Direcção-Geral de Veterinária2Faculdade de Medicina Veterinária - UTL3Laboratório Nacional de Investigação Veterinária

O Rastreio Apícola Nacional está inserido noPrograma Sanitário Apícola 2006 da Direcção-Geralde Veterinária (DGV) em parceria com a FederaçãoNacional dos Apicultores de Portugal (FNAP) e aFaculdade de Medicina Veterinária (FMV).

Os objectivos principais deste rastreio são: (1)Estudar a prevalência e distribuição geográfica dasdoenças das abelhas, estimar morbilidade e mortali-dade associada; (2) Avaliar a expressão económica doseu impacto na actividade apícola; (3) Formular medidasde controlo apropriadas, com vista a diminuir aincidência das doenças das abelhas, atingir o estatutode zona indemne, permitir a certificação de abelhas eprodutos da colmeia nos mercados nacional e interna-cional, e assegurar o cumprimento da legislaçãonacional, das normas comunitárias aplicáveis(Directiva 92/65/CEE) e das recomendações para ocomércio internacional (OIE).

O trabalho realizado até à data consistiu em:1 - Amostragem dos apiários: para uma população

de 30.575 apiários (prevalência esperada de 50%, IC95% e erro de 5%) a amostra aleatória simples é de385 apiários. A amostra foi estratificada por tamanhode apiário (nº de colónias) e distribuída proporcional-mente pelas Direcções Regionais de Agricultura,tendo sido ajustada para n=650.

Em cada apiário foram recolhidas amostras de partedas colmeias, seleccionando-se as que apresentaram

alguma alteração e as mais expostas (das extremi-dades). Em apiários até 5 colmeias foram colhidas até2 colmeias. Em apiários de 6 a 10 colmeias, 5; 11 a 20colmeias, 6; 21 a 60 colmeias, 9; e 61 a 100 colmeias,colheram-se amostras de 10 colmeias.

2 - Organização do rastreio: foram indicados nominalmente à FNAP, os produtores aleatoriamenteseleccionados a constar da amostra em cada DRA. Foidesenhado um questionário para ser realizado durantea visita e criada uma base de dados com acesso restri-to on-line (base dados MySQL e servidor Apache)para a sua organização.

3 - Recolha de dados e amostras: a colheita dasamostras e a recolha de dados foi organizada pelaFNAP, com recurso aos técnicos das organizações deapicultores. A introdução dos dados dos questionáriosna base de dados com acesso pela internet, é feitapelos técnicos das organizações e os resultados labo-ratoriais são introduzidos pelo LNIV e FNAP.

4 - Análises laboratoriais: o material é enviado aoLNIV para análise anatoma-patológica e pesquisade:Loque Americana, Loque Europeia, Varroose,Nosemose, Acarapisose, Senotainiose.

A base de dados está agora em fase de ser comple-tada e os dados serão analisados até ao final de 2006.Prepara-se um novo rastreio para 2007.Agradecimentos: FNAP, organizações de apicultorese Direcções Regionais de Agricultura.

Brucelose suína – dados recolhidos nosúltimos 7 anos

Ana Cristina Ferreira1, Y. Vaz2, I. Travassos Dias1,R. Cardoso1, R. Vieira1 e M. I. Corrêa de Sá1

1Laboratório Nacional de Investigação Veterinária2Faculdade de Medicina Veterinária - UTL

A brucelose suína é uma doença causada pelaBrucella suis. Os suínos podem ser infectados pelosbiovares 1, 2 e 3, sendo os reservatórios naturais dobiovar 2, o javali e a lebre. Nos suínos explorados emregime extensivo, esta infecção começa a assumir umpapel cada vez mais importante, não só em Portugalcomo noutros países da Comunidade Europeia.

Entre Janeiro de 1999 a Outubro de 2006, o LNIVrecebeu 24.307 amostras de soros de suínos para trocas intracomunitárias, controlo de reprodutores,movimentação para feiras/exposições e vigilância epidemiológica. A pesquisa do agente foi realizada em343 amostras de suínos (fetos, linfonodos, baço, fígado e zaragatoas vaginais), tendo sido isoladas 50estirpes de Brucella, sendo a maioria B. suis biovar 2e 8 estirpes de B. melitensis biovar 3. O LNIV entre2001-2002 recebeu também 2,835 amostras devísceras de javalis; contudo devido ao inadequadoacondicionamento e má conservação das amostras,1,933 amostras foram prejudicadas por putrefacção ou

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excesso de contaminantes. Nas restantes foi isoladauma estirpe de B. suis biovar 2.

Devido à inexistência de um plano de controlo eerradicação para os suínos, os dados disponíveis noLNIV não são suficientes para a avaliação adequadada brucelose suína em Portugal. O LNIV recebeuessencialmente material de suínos provenientes dasDirecções Regionais do Ribatejo e Oeste, Alentejo eAlgarve para o diagnóstico bacteriológico, tendo sidomaioritariamente isolado B. suis biovar 2. Em duasexplorações distintas, foi isolada B. melitensis biovar 3em 8 animais, confirmando assim a susceptibilidadedos suínos a esta espécie de Brucella. Em Portugal, é desconhecida a ocorrência da B. suis biovar 2 nosjavalis e nas lebres, referidos como reservatórios naturais deste biovar.

Desenvolvimento de um sistema de baixocusto para distribuição de dados sanitários e climatéricos geograficamentereferenciados

Telmo Nunes, S. Babo Martins, I. M. Fonseca,F. BoinasFaculdade de Medicina Veterinária, UTL

A doença da Língua azul é uma doença infecciosaque afecta a maioria dos ruminantes, que é causadapor um vírus da família Reoviridae e transmitida porum vector artrópode – Culicoides spp.

Após a notificação da doença em Portugal foiimplementado um Plano de Vigilância Entomológica.Este plano tem como objectivo a recolha de dadossobre os principais vectores, a sua distribuição temporale espacial, visando também aprofundar o conhecimentosobre a distribuição de outras espécies de culicoides eo seu papel na transmissão do vírus em Portugal.

De modo a facilitar o retorno da informação aosdiversos níveis de decisão, foi desenvolvida umasolução de baixo custo que permite não só validar ascoordenadas obtidas, como também a visualizaçãodinâmica da informação recolhida.

Neste sistema, os dados recolhidos são armazenadosnuma base de dados Microsoft Access®, e são deforma automatizada exportados para uma base dedados Mysql® (MySQL AB, Uppsala, Sweden) decódigo livre. No momento em que os utilizadores acedem ao sistema, estes dados são convertidos paralinguagem KML (Keyhole Markup Language) atravésde um programa em linguagem PHP desenvolvidointernamente (disponível através do autor) e alojadosnum servidor web APACHE® (The Apache SoftwareFoundation, Forest Hill, USA) de código livre.

Para cada ponto é possível obter informação asso-ciada, assim como os resultados de todas as colheitas.Para além desta informação é possível adicionar

camadas com informação estática, como a grelha deamostragem e os resultados dos modelos de risco paraa presença do vector.

A utilização da última versão do Google Earth(Versão 4) permite representar a evolução temporaldas colheitas e seus resultados na forma de animação.

Esta aplicação apresenta-se como uma ferramentaútil para a validação de coordenadas geográficas doslocais de amostragem e demonstra ser um método eficaz e de baixo custo que disponibiliza com elevadaexactidão visual e informação actualizada os resulta-dos a todas a entidades envolvidas no plano de vigi-lância. A utilização de uma aplicação familiar à maioriados utilizadores permite minimizar as necessidades deformação.

Estudo epidemiológico de toxoplasmose e triquinelose em suídeos abatidos emmatadouros e montarias no Alentejo

Catarina Valadas1,3, I. Ferreira1, A. Vilares1,M. Gargaté1, F. Camacho2, M. Vilhena3, H. Ângelo1

1Instituto nacional de saúde Dr. Ricardo Jorge - Centro de Parasitologia2Direcção Regional da Agricultura do Alentejo3 Universidade de Évora

Introdução: Segundo dados da FAO (Food andAgriculture Organization), o consumo de carne desuídeo no mundo, nos últimos anos, sofreu um cresci-mento de aproximadamente 30%, com uma taxa queexcede os 40 quilos/habitante/ano. Estes valoresdevem-se principalmente, ao facto deste tipo de carneter um valor proteíco de baixo custo e ser um tipo decarne que permite a transformação numa vasta gamade produtos derivados, tais como presuntos, fumados,linguiças e salames, que representam 65% do con-sumo desta carne no continente Europeu. Torna-seassim um produto animal importante de estudar, sob oponto de vista higieno-sanitário em termos de salubri-dade e genuidade, na medida em que, há possibilidadede adaptação de agentes patológicos, favorecendo oaparecimento e reaparecimento de doenças de origemalimentar como a toxoplasmose e a triquinelose.Objectivos: A finalidade deste estudo é a detecçãoserológica e a distribuição geográfica de suídeos (Susdomesticus e Sus scrofa) infectados com Toxoplasmagondii e Trichinella spiralis.Métodos: Obtiveram-se 708 amostras de sangue desuídeos, dos quais 501 eram Sus domesticus, divididosem: raça Alentejana, Cruzado Ibérico e Large White,abatidos nos matadouros de Beja (SAPJU, SA), Sousel(MATSEL, SA) e Reguengos de Monsaraz (MAPO-RAL, SA), desde Outubro de 2005 a Março de 2006.As restantes 207 amostras de Sus scrofa, foram obti-das em 9 montarias no Alentejo, durante Dezembro de2005 e Fevereiro de 2006. Para a realização deste estudoserológico, foram elaborados testes de aglutinação

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directa qualitativa e quantitativa com antigénio especí-fico para T. gondii, e ELISA para T. spiralis.Resultados: A seroprevalência encontrada para T.gondii em sus domesticus foi de 5,2%, apresentando araça Alentejana 5,5%, a raça Cruzado Ibérico 5,7% ea Large White 0%. Para Sus scrofa a prevalência foi de10%. Quanto às explorações, contabilizam-se 9 afectadas, das 34 existentes com criação de suínos deraça Alentejana e 2 afectadas, das 11 com suínos daraça Cruzado Ibérico. Quanto às 9 regiões de mon-tarias abrangidas pelo estudo, 4 apresentaram javalisinfectados com T. gondii.

Para a T. spiralis encontraram-se valores de sero-prevalência na ordem dos 3,19% para Sus scrofa, em2 regiões no Alentejo.Conclusão: Neste estudo são referenciadas duaszoonoses de carácter alimentar, transmitidas aohomem, por ingestão de carne de suídeo, termica-mente mal processada. Estamos perante infecções queprogridem muitas vezes, de forma assintomática noshospedeiros intermediários, onde o diagnóstico só épossível por achados de necrópsia, em matadouros ouem estudos epidemiológicos.

Amiloodiniose em tanques de terra:procuram-se soluções!

Paula RamosDepartamento de Aquicultura. Instituto Nacional de InvestigaçãoAgrária e das Pescas (IPIMAR/INIAP)

A amiloodiniose é uma doença parasitária cujoagente etiológico é um protozoário dinoflagelado,Amyloodinium ocellatum. Trata-se de um parasitaubiquitário em águas marinhas tropicais e sub-tropi-cais que atinge principalmente as brânquias e a peledos peixes. Em Portugal, situações de amiloodinioseforam diagnosticadas em robalo, dourada e pregado,tendo sido responsáveis por pesadas mortalidades.

O seu ciclo de vida trifásico incluindo uma fase parasitária (trofontes) nos peixes, uma fase de divisãoou multiplicação (tomontes) no substrato e uma faseinfectante (dinosporos) de natação livre, torna a suaerradicação difícil. Uma vez feito o diagnóstico, é pri-mordial uma intervenção rápida na implementação deum tratamento eficaz contra o Amyloodinium ocella-tum e seguro para o peixe, de forma a prevenir a perdado "stock". Em sistemas de produção intensiva orecurso à quimioterapia e a manipulação dascondições do meio são passíveis de implementação,no controlo da doença. Contudo, em sistemas de pro-dução em tanques de terra, o facto de trabalharmoscom cargas de peixes elevadas em tanques de grandesdimensões e com grandes volumes de água, colocadosem estreita proximidade, expostos às condições ambientais e em que a água é renovada com a maré,proporcionam condições ideais à dispersão do parasita

quer através de aerossóis, quer através da água e ainda,pelo contacto entre os peixes.

Esta parasitose é o exemplo de que, não havendomedidas de controlo específicas para esta situação eembora algumas regras de carácter geral possam serúteis no controlo das vias de infecção, diminuindomas não eliminando o risco de introdução do parasita,é importante aplicar medidas de vigilância epidemio-lógica no controlo desta doença neste sistema de produção.

Medicina preventiva em piscicultura marinha: "Soluções velhas para problemas emergentes"

Paula RamosDepartamento de Aquicultura. Instituto Nacional de InvestigaçãoAgrária e das Pescas (IPIMAR/INIAP)

Estamos em finais de 2006. Portugal tem um consumo de pescado elevado, o que coloca os portugueses em terceiro lugar a nível mundial depoisdo Japão e da Islândia e nos maiores consumidores depescado da União Europeia. Porém, o sector daspescas tem evidenciado uma tendência para diminuir aoportunidade de pesca pelo que, para satisfazer asnecessidades de mercado tem sido necessário recorrerà importação. Para contornar esta situação, uma dasestratégias a desenvolver no âmbito do "PlanoEstratégico Nacional para as Pescas" tem como priori-dade: reforçar, inovar e diversificar a produção aquícola.Da mesma forma que noutras espécies animais de pro-dução intensiva e devido à estreita relação peixe/meio,as patologias de natureza infecciosa têm uma fortecomponente multifactorial. Assim, a aplicação dasdiferentes estratégias de controlo das doenças passapelo conhecimento prévio dos agentes patogénicosimportantes para uma dada espécie e dos factores derisco a ela associados, num determinado sistema deprodução. Para conhecer esses factores de risco, dis-pomos de uma ferramenta importante, a vigilância epidemiológica. Uma vez identificadas asdoenças e os seus factores de risco, poderão entãoaplicar-se medidas de medicina preventiva ou terapêu-tica, importantes no crescimento do sector aquícola.

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PCR para distinção da estirpe vacinalRB51 de outras estirpes de B. abortus decampo. Considerações epidemiológicascom base em genotipagem

Ester Alves, F. Moreira, M. Geraldes,M. Rodrigues, M. MachadoLaboratório Nacional de Investigação Veterinária, Delegação do Porto,Serviço de Bacteriologia, Biologia Molecular

Brucella abortus RB51 é uma estirpe vacinalmutante rugosa estável, atenuada, derivada de umaestirpe virulenta (estirpe 2308). A caracterizaçãobaseou-se na diferenciação fenotípica e genotípica.Para a PCR, recorreu-se ao gene wboA e ao seu fragmento IS711J, com a finalidade de distinguir a B. abortus RB51 de toda as outras espécies deBrucella. Os primers específicos (1 e 3) ampliaramum fragmento de 1300 bp na estripe RB51 e de 400 bpnas outras espécies de Brucella. Num total de 17 isolamentos, identificamos 11 estirpes vacinais deRB51. Em complemento, empregou-se um novométodo de identificação e análise dos vários biovares.Este método («HOOF-prints»: Hipervariable OctamericOligonucleotide Fingerprinting) baseia-se na amplifi-cação de pequenos segmentos (8 bp) repetidos em tan-dem. Para a PCR, recorreu-se a dois alelos (locus 1 elocus 7). O tamanho dos produtos analisados variouentre 91 e 197 bp dependendo do biovar em questão.Na análise multilocus dos vários biovares da B. abortus de referência, apresentaram todos perfis electroforéticos distintos. A genotipagem das estirpesde campo, classificadas por via clássica como B. abortus biovar 1, patentearam marcada variabilidadedentro do mesmo biovar. Pelo contrário, as estirpes decampo semelhantes à estirpe vacinal RB51, evidencia-ram perfis idênticos, sinal de estabilidade destaVNTR. Neste projecto pretendeu-se analisar a varia-bilidade genética de estirpes de Brucella através douso de VNTR`s. A análise destas sequências instáveispermite avaliar fenómenos recentes relacionados coma dinâmica dos agentes infecciosos e fornecer dadosimportantes sobre a sua incidência.

Avaliação epidemiológica da BSE emPortugal de Janeiro de 2002 a Dezembrode 2005

Isabel M.L. Santos1, M.J.A. Ramos2

1Médica Veterinária licenciada pela UTAD a exercer clínica em grandesruminantes 2Laboratório Nacional de Investigação Nacional, Delegação do Porto

Neste trabalho é apresentada a avaliação epidemio-lógica da Encefalopatia Espongiforme dos Bovinos(EEB/BSE) em Portugal, no período compreendidoentre Janeiro de 2002 e Dezembro de 2005, no sentidode caracterizar a situação actual da doença a nívelnacional e, ao compará-la com estudos anteriores,descrever a sua evolução, para possibilitar uma melhorprevisão do seu enquadramento no futuro. Para tal,foram analisados parâmetros epidemiológicos rela-tivos a todos os bovinos detectados com BSE, noreferido período.

A recolha inicial dos dados relativos aos bovinospositivos à BSE, foi realizada através dos arquivos doLNIV (sede e delegação), assim como através da con-sulta de bases de dados nacionais, mais propriamentedo SNIRB e do PISA. No entanto, a informação obtidademonstrou ser insuficiente para a realização destetrabalho, pelo que, foi realizada uma recolha de dados,nas várias Divisões de Intervenção Veterinária (atravésdos inquéritos por estas realizados após a emissão doresultado positivo ao Teste Rápido e sua confirmaçãopelos exames complementares) bem como na DGV.

Assim, foi possível consultar os inquéritos epide-miológicos relativos a 367 bovinos, ou seja, 98,4% dototal de bovinos positivos à BSE, no período em estudo.Os dados recolhidos foram processados numa base dedados de Excel 2003 e SPSS.

Verificou-se que o grupo com maior número debovinos positivos à BSE foi o dos animais encontradosmortos na exploração/transporte/matadouro, sendoque os bovinos suspeitos clínicos se encontram clara-mente em regressão nos anos em estudo.

Foram detectados 114 bovinos positivos à BSE emanimais destinados a consumo, o que, tendo em contaque o controlo nestes animais apenas se realiza desde2001, nos faz reflectir no número de bovinos com BSEque terão, de facto, entrado na cadeia alimentarhumana e animal, anteriormente a 2001.

Desde 2004, que se regista uma regressão do totalde bovinos positivos à BSE, em Portugal, e verifica-seque a proporção de animais mais velhos aumentouentre 2002 e 2005, contrariamente ao que se observanas faixas etárias mais jovens. Esta tendência, já verificada antes de 2002, indica que as medidas apli-cadas no controlo destas doenças têm sido, de facto,eficazes.

As Direcções Regionais de Agricultura com maiornúmero de bovinos positivos à BSE foram o EntreDouro e Minho (EDM) e a Beira Litoral (BL), sendo

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o número de casos superior no EDM, mas a incidên-cia, relativamente ao total de bovinos com mais de 24meses, superior na BL.

Os resultados obtidos neste trabalho sustentam, deforma clara, a importância do programa de VigilânciaActiva e indicam que a BSE se encontra, de facto,numa fase de regressão, e que as características epidemiológicas da BSE são semelhantes entre osbovinos detectados positivos em Portugal e no ReinoUnido, as quais se mantiveram relativamente constantesao longo de toda a epidemia no Reino Unido.Bibliografia: Santos IML (2006). As Encefalopatias Espongiformes

Transmissíveis. Avaliação Epidemiológica da BSE em Portugal, de Janeiro de 2002 a Dezembro de 2005. Avaliação do Padrão Lesional e de Marcação da PrP observados pelos Exames Histopatológico e Imunohisto-químico. Relatório Final de Estágio, Licenciatura em Medicina Veterinária. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Vila Real.

Quadro clínico dos bovinos positivos à BSE em Portugal de Janeiro de 2002 a Dezembro de 2005

Isabel M.L. Santos1, M.J.A. Ramos2

1Médica Veterinária licenciada pela UTAD a exercer clínica em grandesruminantes2Laboratório Nacional de Investigação Nacional, Delegação do Porto

O quadro clínico da Encefalopatia Espongiformedos Bovinos (EEB/BSE) é constituído por um conjuntode sinais que vieram revelar-se relativamente cons-tantes ao longo da epidemia e a sua observação é,actualmente, a única forma de diagnóstico em vida.Caracteristicamente, um bovino afectado pela BSEevidencia, uma combinação de sinais clínicos do foroneurológico, associados a Alterações de CarácterGeral (ACG). Os sinais de foro neurológico agrupam-se,geralmente, em três categorias: Alterações do EstadoMental (AEM), Alterações de Postura e de Movimento(APM) e Alterações de Sensibilidade (AS). Estes mes-mos conceitos foram considerados na apresentaçãodos dados deste trabalho.

Os dados relativos aos sinais clínicos, reportados emcada animal positivo à BSE, no período em estudo,foram obtidos através da consulta dos seus inquéritosepidemiológicos (IE), presentes nos arquivos doDepartamento de Patologia da Delegação do Porto doLNIV, bem como nos arquivos das respectivasDivisões de Intervenção Veterinária e na Direcção--Geral de Veterinária. Do total de bovinos diagnostica-dos com BSE, neste período (373), foi possível consultar o IE de 367 animais, tendo sido descritossinais clínicos em 195 destes bovinos (53,1%). Osdados recolhidos foram processados numa base dedados de Excel 2003 e SPSS.

Foram descritos sinais clínicos em bovinos perten-

centes a todos os grupos de animais considerados nestetrabalho, sendo de realçar que os suspeitos clínicos apenas corresponderam a 37,9% dos bovinos com sinaisdescritos e registados. De facto, verifica-se que 62,0%dos bovinos com registos de sinais clínicos de BSE, nãopertenciam aos animais do grupo dos suspeitos clínicos,registando-se a percentagem mais significativa nos animais encontrados mortos (41,5%) sendo que 55% dototal de animais deste grupo apresentou, pelo menos,um sinal clínico característico de BSE.

É de salientar que 12,3% dos bovinos, com registosde sinais clínicos, pertenciam ao grupo dos animaisdestinados a consumo que, teoricamente, não deveriamapresentar qualquer sinal de doença.

A categoria de sinais mais frequentemente descritacorresponde às alterações de postura e movimento(91,8%), sendo que a maioria dos animais, com sinaisdescritos, apresentou, simultaneamente, alterações deestado mental e alterações de postura e de movimento.As quedas (50,8%) e as tetanias e tremuras (49,7%),foram os sinais clínicos com maior frequência de registos.

A comparação da frequência dos vários sinaisdescritos, com estudos anteriores, revelou frequênciasinferiores na maioria dos sinais. No entanto os sinaisdescritos foram sensivelmente os mesmos, o quesuporta da estabilidade do quadro clínico da BSE.Bibliografia: Santos IML (2006). As Encefalopatias Espongiformes

Transmissíveis. Avaliação Epidemiológica da BSE em Portugal, de Janeiro de 2002 a Dezembro de 2005. Avaliação do Padrão Lesional e de Marcação da PrP observados pelos Exames Histopatológico e Imunohisto-químico. Relatório Final de Estágio, Licenciatura em Medicina Veterinária. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Vila Real.

SIREA – Sistema de Identificação eRegisto de Explorações Avícolas:resultados preliminares

Mauro Bragança1, A. Cara d’Anjo2,P. Tavares Santos2, T. Nunes11Faculdade de Medicina Veterinária, UTL2Direcção-Geral de Veterinária

(ver resumo de comunicação oral)

Dinâmica de redes e padrão de movimentos de bovinos em Portugal

Filipa Baptista, T. NunesCIISA, Faculdade Medicina Veterinária, UTL

(ver resumo de comunicação oral)

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